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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA DIEGO DE SOUZA GEMELLE LEAL Avaliação da eficácia de projetos de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) para a restauração florestal em propriedades rurais: Estudo do Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá Lorena 2018

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

DIEGO DE SOUZA GEMELLE LEAL

Avaliação da eficácia de projetos de Pagamento por Serviços Ambientais

(PSA) para a restauração florestal em propriedades rurais: Estudo do

Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá

Lorena

2018

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DIEGO DE SOUZA GEMELLE LEAL

Avaliação da eficácia de projetos de Pagamento por Serviços Ambientais

(PSA) para a restauração florestal em propriedades rurais: Estudo do

Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá

Monografia apresentada à Escola de

Engenharia de Lorena – Universidade de

São Paulo como requisito parcial para

obtenção do título de Engenheiro

Ambiental.

Orientadora: Profª. Dra. Danúbia

Caporusso Bargos

Lorena

2018

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIOCONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizadoda Escola de Engenharia de Lorena,

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Leal, Diego de Souza Gemelle Avaliação da eficácia de projetos de Pagamento porServiços Ambientais (PSA) para a restauração florestalem propriedades rurais: Estudo do Projeto PSARibeirão Guaratinguetá / Diego de Souza GemelleLeal; orientadora Danúbia Caporusso Bargos. -Lorena, 2018. 76 p.

Monografia apresentada como requisito parcialpara a conclusão de Graduação do Curso de EngenhariaAmbiental - Escola de Engenharia de Lorena daUniversidade de São Paulo. 2018

1. Pagamento por serviços ambientais. 2.Restauração florestal. 3. Mata atlântica. I. Título.II. Bargos, Danúbia Caporusso, orient.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Paulo e Waldira, que nunca mediram esforços para que eu

pudesse ter uma educação de qualidade, sempre me dando todo suporte

necessário e me apoiando em todos os períodos da minha vida. A eles e ao meu

irmão, Gabriel, o meu amor eterno.

Aos meus amigos, que me ajudaram e me incentivaram a continuar nos

momentos mais difíceis, sempre com bom humor e carinho. Àqueles que

estiveram comigo desde o começo da graduação e a partir de agora, além de

amigos, serão colegas de profissão. Aos que conquistei durante a minha estadia

em Lorena e que tornaram este período da minha vida, inesquecível. À Ana

Beatriz, que desde o ensino médio está do meu lado e escuta minhas loucuras e

devaneios, me mostrando o verdadeiro valor da amizade. À todo time de

cheerleaders da EEL, Bluehell Cheerleaders, a qual tenho imenso carinho e amor

por tornarem meus momentos finais na faculdade os mais divertidos e prazerosos

possíveis.

Ao Prof. Lucas Gonçalves Queiroz, que me acompanhou e orientou

durante a etapa de projeto deste trabalho e depois contribuiu com sua experiência

como membro da banca avaliadora. À Profª. Dra. Danúbia Caporusso Bargos,

pela paciência e dedicação como minha orientadora, me ajudando a realizar este

trabalho da melhor forma. Ao Prof. Dr. Marco Aurélio Kondracki de Alcântara que

enriqueceu ainda mais esta monografia com sua avaliação minuciosa como

membro da banca avaliadora.

Ao Rodrigo Laud, que me auxiliou durante todo o processo envolvido na

confecção deste trabalho, não só com conhecimentos técnicos, mas como

companheiro e amigo.

A todos que me ajudaram direta ou indiretamente na realização deste

trabalho, o meu muito obrigado.

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RESUMO

LEAL, D. S. G. Avaliação da eficácia de projetos de Pagamento por Serviços

Ambientais (PSA) para a restauração florestal em propriedades rurais:

Estudo do Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá. 2018. 75 p. TCC (Graduação) –

Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2018.

A Mata Atlântica é um dos biomas mais degradados do Brasil, devido a

maior parte da população brasileira viver nela. Mesmo com esforços para

conservação, a falta de infraestrutura na manutenção das unidades de

remanescentes florestais nativos ainda é um problema. Nos últimos anos, os

projetos de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) vêm se difundindo no

Brasil como forma de recuperar ou preservar este bioma. Entretanto,

pouquíssimas publicações sistematizam essas experiências e fazem uma análise

crítica desse instrumento no país. O objetivo deste trabalho consiste em analisar

os resultados da implantação do projeto de PSA na área rural do município de

Guaratinguetá para a restauração florestal em duas propriedades envolvidas no

Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá. A metodologia adotada considerou tanto

aspectos quantitativos como qualitativos. Foi feita uma caracterização da área

onde foi desenvolvida a pesquisa; uma avaliação e classificação do processo de

restauração florestal nas duas propriedades através de uma análise da cobertura

vegetal; e a identificação da motivação dos gestores do projeto através de uma

entrevista com roteiro semiestruturado. Os resultados mostraram que, após dois

anos de implantação do projeto, o plantio de mudas realizado em uma das

propriedades apresentou melhor desenvolvimento em comparação a outra.

Apesar disto, devido a problemas na gestão do projeto e falta de manutenção do

plantio, as porcentagens médias de cobertura florestal das áreas das duas

propriedades não atingiram o valor esperado. Portanto, para o desenvolvimento

de novos projetos em PSA, é necessário pensar no modelo de gestão que mais

se adequa à realidade do projeto, otimizando os processos e políticas envolvidos.

Sendo assim, a iniciativa do PSA se mostra de grande valia como forma de

reparar os danos causados pelo desmatamento da Mata Atlântica, garantindo um

futuro sustentável.

Palavras-chave: Pagamento por Serviços Ambientais; Restauração florestal; Mata

Atlântica.

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ABSTRACT

LEAL, D. S. G. Evaluation of the effectiveness of Payment for Environmental

Services projects (PES) for forest restoration in rural properties: Study of the

PSA Ribeirão Guaratinguetá Project. 2018. 75 p. TCC (Graduação) – Escola de

Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2018.

The Atlantic Forest is one of the most degraded biomes in Brazil, due to the

majority of the Brazilian population living in it. Even with conservation efforts, the

lack of infrastructure in the maintenance of units of native forest remnants is still a

problem. In recent years, Payment for Environmental Services (PES) projects

have been spreading in Brazil as a way to recover or preserve this biome.

However, very few publications systematize these experiences and make a critical

analysis of this instrument in the country. The objective of this work is to analyze

the results of the implementation of the PES project in the rural area of the

municipality of Guaratinguetá for the forest restoration in two properties involved in

the PSA Ribeirão Guaratinguetá Project. The adopted methodology considered

both quantitative and qualitative aspects. A characterization of the area where the

research was developed; an evaluation and classification of the forest restoration

process in the two properties through an analysis of the vegetation cover; and the

identification of the motivation of the project managers through an interview with

semi-structured script. The results showed that, after two years of project

implementation, the planting of seedlings at one of the properties presented better

development compared to the other. Despite this, due to problems in the project

management and lack of maintenance of the plantation, the average percentages

of forest cover of the areas of the two properties did not reach the expected value.

Therefore, for the development of new projects in PES, it is necessary to think

about the management model that best suits the reality of the project, optimizing

the processes and policies involved. Therefore, the PES initiative proves to be of

great value as a way of repairing the damages caused by the deforestation of the

Atlantic Forest, guaranteeing a sustainable future.

Keywords: Payment for Environmental Services; Forest restoration; Atlantic Forest

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Biomas brasileiros ................................................................................ 17

Figura 2 – Tipologia de florestas distribuídas pelo bioma Mata Atlântica .............. 18

Figura 3 – Desmatamento total na Mata Atlântica até 2009 ................................. 20

Figura 4 – EAP do Projeto de PSA Ribeirão Guaratinguetá ................................. 31

Figura 5 – Mapa de localização das propriedades do Projeto PSA Ribeirão

Guaratinguetá ....................................................................................................... 35

Figura 6 – Localização do Município de Guaratinguetá no Estado de São Paulo . 37

Figura 7 – Bacia do Ribeirão Guaratinguetá ......................................................... 39

Figura 8 – Uso do solo da Bacia do Ribeirão Guaratinguetá ................................ 41

Figura 9 – Esquema de estimativa da cobertura de copas em parcelas

retangulares .......................................................................................................... 45

Figura 10 – Distribuição das áreas de plantio na Propriedade 1 ........................... 49

Figura 11 – Distribuição das áreas de plantio na Propriedade 11 ......................... 53

Figura 12 – Plantio na Propriedade 1 .................................................................... 56

Figura 13 – Ataque de formigas a uma muda na Propriedade 1 ........................... 57

Figura 14 – Plantio na Propriedade 11 .................................................................. 58

Figura 15 – Muda atacada por formigas na Propriedade 11 ................................. 58

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Resumo de informações referentes ao plantio nas áreas da

Propriedade 1 ........................................................................................................ 50

Quadro 2 – Cobertura florestal das áreas de plantio da Propriedade 1 ................ 50

Quadro 3 – Resumo de informações referentes ao plantio nas áreas da

Propriedade 11 ...................................................................................................... 54

Quadro 4 – Cobertura florestal das áreas de plantio da Propriedade 11 .............. 54

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Quantitativo das ações de restauração florestal por propriedade ....... 33

Tabela 2 - População residente no município de Guaratinguetá, por situação de

domicílio e sexo (2010) ......................................................................................... 42

Tabela 3 – Porcentagem do PIB do município de Guaratinguetá, divido por setor

de influência .......................................................................................................... 43

Tabela 4 – Número de parcelas amostrais usadas no monitoramento das áreas do

PRG. ..................................................................................................................... 45

Tabela 5 – Parâmetros e diagnósticos sugeridos para o monitoramento de

reflorestamentos e de áreas de condução da regeneração natural de espécies

florestais nativas ................................................................................................... 46

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS (continua)

AEM Avaliação Ecossistêmica do Milênio

AGEVAP Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do

Rio Paraíba do Sul

ANA Agência Nacional de Águas

APP Área de Preservação Permanente

CATI Coordenadoria de Assistência Técnica Rural

CBH-PS Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul

CEIVAP Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do

Sul

CPTI Cooperativa de Serviços e Pesquisas Tecnológicas e

Industriais

DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio

DQO Demanda Química de Oxigênio

EAP Estrutura Analítica do Projeto

EDR Escritório de Desenvolvimento Regional

GEF Fundo Global de Meio Ambiente

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LUPA Levantamento Cadastral de Unidades de Produção Agrícola

MMA Ministério do Meio Ambiente

ONG Organização Não Governamental

PER Projeto Executivo de Restauração

PIB Produto Interno Bruto

PIP Planejamento Integrado da Propriedade

PRG Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá

PSA Pagamento por Serviço Ambiental

SFB Serviço Florestal Brasileiro

SEAMA Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS (conclusão)

SMA Secretaria do Meio Ambiente

SUFRAMA Superintendência da Zona Franca de Manaus

SNIF Sistema Nacional de Informações Florestais

TNC The Nature Conservancy

UGP Unidade Gerenciadora de Projeto

UTM Universal Transversa de Mercator

ha Hectare

m Metro

m2 Metro quadrado

Km Quilômetro

Km2 Quilômetro quadrado

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 12

2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 15

2.1 Geral ............................................................................................................... 15

2.2 Específicos ...................................................................................................... 15

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 16

3.1 Mata Atlântica ................................................................................................. 16

3.2 Uso do solo e seus impactos .......................................................................... 20

3.3 Recursos hídricos e a qualidade da água ....................................................... 22

3.4 Área de Preservação Permanente e Reserva Legal ....................................... 24

3.5 Pagamento por serviços ambientais (PSA) ..................................................... 27

3.5.1 Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá (PRG) ................................................. 30

4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .................................................. 37

4.1 Localização ..................................................................................................... 37

4.2 Aspectos físicos .............................................................................................. 38

4.2.1 Relevo e Bacia hidrográfica ......................................................................... 38

4.2.2 Solo e vegetação ......................................................................................... 40

4.3 Aspectos socioeconômicos ............................................................................. 41

5 METODOLOGIA ................................................................................................ 44

5.1 Quantitativa ..................................................................................................... 44

5.2 Qualitativa ....................................................................................................... 46

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 48

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 63

8 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS ................................................ 64

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 65

APÊNDICE A ........................................................................................................ 72

ANEXO A .............................................................................................................. 73

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1 INTRODUÇÃO

Na história da humanidade, a conservação da sobrevivência pode ser

considerada um instinto natural. A produção de alimentos e o desenvolvimento da

agricultura e pecuária estão diretamente ligados a este impulso. No século XVIII,

Thomas Malthus começa a discutir formalmente os problemas referentes à

expansão da população. Pelo fato de a quantidade de terras férteis ser limitada,

Malthus acreditava que a quantidade de alimentos disponíveis chegaria ao ponto

de não ser suficiente para demanda populacional. O que tornou esta teoria

obsoleta foi o avanço da tecnologia, a revolução industrial e o surgimento da

indústria alimentícia, que suportaram essa demanda. Sendo assim, as condições

alimentares foram asseguradas, além de outros fatores, que levaram a população

continuar a crescer (OLIVEIRA, 2017).

A degradação do meio ambiente e dos seus ecossistemas em função da

modernização da agricultura e o aumento da produção agropecuária, são os

principais assuntos discutidos quando se trata da sustentabilidade do processo

produtivo agrícola (FONTOURA e VERDUM, 2010). Segundo Wang et al. (2016),

a erosão proveniente desse desenvolvimento agrícola é um dos maiores

problemas ambientais da atualidade, em escala global. Além de causar a perda

de nutrientes do solo e a degradação da terra, também leva a muitos problemas

ambientais secundários como inundações, sedimentação de rios e poluição da

água.

A erosão hídrica ocorre com maior frequência em áreas utilizadas para

pastagem de gado, pois o solo compactado acaba dificultando a infiltração de

água. O impacto direto da gota de chuva causa a perda dos nutrientes do solo e a

degradação da terra. Para que este tipo de degradação seja evitado, é necessário

um manejo apropriado da área. Desta forma, a rugosidade superficial do solo é

aumentada pela formação de agregados maiores e mais estáveis, o que facilita a

infiltração de água, diminuindo o escoamento superficial (ALMEIDA et al., 2016).

Santos et al. (2016) consideram algumas barreiras à conservação do bioma

Mata Atlântica, como a especulação imobiliária e o avanço das fronteiras

agrícolas, que alteram a paisagem, levando à fragmentação, à perda das belezas

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cênicas e da diversidade biológica através da supressão das áreas. Ainda

segundos os autores, um grande problema para a conservação é a substituição

da floresta nativa visando o benefício comercial. Essa substituição ocorre devido

ao plantio de espécies exóticas com algum valor comercial, mas com pouca ou

nenhuma função ecológica para o bioma, como Eucalyptus e Pinus, o que

acarreta em danos ao ecossistema e seus serviços.

No Decreto Estadual nº 55.947, de 24 de junho de 2010 que regulamenta a

Lei nº 13.798, de 9 de novembro de 2009, que dispõe sobre a Política Estadual de

Mudanças Climáticas do Estado de São Paulo, fica definido serviços ambientais

como serviços ecossistêmicos (entendidos como benefícios que as pessoas

obtêm dos ecossistemas) que têm impactos positivos além da área onde são

gerados (SÃO PAULO, 2010).

As matas ciliares são exemplos de serviços ambientais que evitam a

contaminação das águas fluviais pois atuam como proteção do solo de áreas de

encostas de morros e de margens de corpos hídricos. Outros exemplos de

serviços ambientais diretamente relacionados com as atividades agropecuárias

são a simbiose entre plantas e fungos, a polinização das flores das plantas, o

ciclo do carbono, absorvido e fixado pelas plantas quando fazem a fotossíntese

(WERLE, 2013).

Nos últimos anos, os projetos de Pagamento por Serviços Ambientais

(PSA) vêm se difundindo no Brasil, trazendo muito aprendizado aos seus

implementadores. Entretanto, pouquíssimas publicações sistematizam essas

experiências e fazem uma análise crítica desse instrumento no Brasil. Sendo

assim, a criação de novos projetos é dificultada, justamente pelos problemas

encontrados no decorrer da implantação e nas dúvidas conceituais sobre os

mecanismos relacionados (GUEDES e SEEHUSEN, 2011).

Em 2015, foi iniciado um projeto de PSA no município de Guaratinguetá –

SP, que tem como objetivo principal a restauração florestal de 38,30 ha em área

de manancial da Bacia do Ribeirão Guaratinguetá. Este projeto visa contribuir

para o aumento de áreas florestais, de modo a trazer efeitos benéficos quanto ao

controle do regime de vazão hídrica (qualidade e quantidade de água),

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substituição de controle de processos erosivos e preservação da fauna e da flora

na região de inserção (VALE VERDE, 2015a).

O presente trabalho busca analisar os resultados da implantação do projeto

de PSA, especificamente no município de Guaratinguetá, e discutir a eficácia da

restauração florestal em algumas propriedades do projeto. Por se tratar de um

tema com influência econômica, social e ambiental, mas que ainda é pouco

abordado no meio acadêmico, esta pesquisa pode ser uma forma de incentivo ao

desenvolvimento de outros trabalhos e projetos que busquem o desenvolvimento

rural através do PSA.

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2 OBJETIVOS

2.1 Geral

O objetivo geral do presente trabalho consiste em analisar os resultados da

implantação do projeto de PSA na área rural do município de Guaratinguetá para

a restauração florestal em duas propriedades rurais envolvidas no Projeto PSA

Ribeirão Guaratinguetá do Programa de Pagamento por Serviços Ambientais com

foco em Recursos Hídricos – PSA HÍDRICO.

2.2 Específicos

Como objetivos específicos deste trabalho, têm-se:

• Caracterizar a área onde foi desenvolvida a pesquisa;

• Avaliar e classificar, através da metodologia desenvolvida pelo Pacto pela

Restauração da Mata Atlântica, o processo de restauração florestal em

duas propriedades inscritas no Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá;

• Discutir os resultados da metodologia aplicada no Projeto PSA Ribeirão

Guaratinguetá;

• Identificar a motivação dos gestores do projeto por este tipo de iniciativa.

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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Mata Atlântica

Pela definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o

bioma é “o conjunto de vida (vegetal e animal) definida pelo agrupamento de tipos

de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições

geoclimáticas similares e histórias compartilhadas de mudanças, o que resulta em

uma diversidade biológica própria” (IBGE, 2012).

Coutinho (2006), em referência a diversos autores, define bioma como uma

área do espaço geográfico que tem por características a uniformidade de um

macroclima definido, de uma determinada fitofisionomia ou formação vegetal, de

uma fauna e outros organismos vivos associados e de outras condições

ambientais, como a altitude, o solo, os alagamentos, o fogo, a salinidade, entre

outros. São essas características que garantem uma ecologia própria além de

uma estrutura e funcionalidade peculiares.

Segundo Guedes e Seehusen (2011), o bioma Mata Atlântica é constituído

por um conjunto de formações florestais além de outros tipos de vegetações, que

tinha em sua totalidade, originalmente, 1.300.000 Km2 distribuídos em 17 estados

do território brasileiro. Considerada uma região de importância global, é uma das

regiões mais ricas do mundo em biodiversidade além de ser um sumidouro de

carbono de extrema significância para o clima. Importantíssima na regulação do

fluxo dos mananciais, ela protege escarpas e encostas das serras, assegura a

fertilidade do solo e controla o equilíbrio climático, além de preservar um

patrimônio histórico e cultural, serviços ambientais vitais para aproximadamente

120 milhões de brasileiros que vivem em seu domínio.

Leitão Filho (1987) considera que ao longo de uma faixa litorânea de

largura variável que se estendia do Ceará até Santa Catarina, a cobertura da

Floresta Atlântica era praticamente contínua. Outros autores, como Silva (1980) e

Ogawa et al. (1990), afirmam que essa cobertura era um pouco maior, se

estendendo pela costa desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul.

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Pelo IBGE (2012), além de se estender pela zona costeira brasileira, a Floresta

Atlântica adentrava o interior do Brasil, cobrindo o estado de São Paulo, Rio de

Janeiro e Espírito Santo na região sudeste, quase que totalmente, além de

algumas partes do estado de Minas Gerais. Ao Sul, cobria quase que totalmente

os estados do Paraná e Santa Catarina, além de algumas partes do Rio Grande

do Sul. (Figura 1).

Figura 1 – Biomas brasileiros

Fonte: IBGE, adaptado SFB (2016).

Uma parcela significativa da biodiversidade do Brasil e do mundo se

encontram no bioma Mata Atlântica, por apresentar diferentes ecossistemas. A

grande distribuição latitudinal garante os altos níveis de riqueza e endemismo,

que conferem à floresta características edafoclimáticas variadas, que favorecem o

crescimento e desenvolvimento de espécies endêmicas. O fato de possuir um

grau de riqueza elevado junto ao desmatamento coloca a Mata Atlântica no

cenário mundial como um dos 34 hotspots de biodiversidade (MITTERMEIER et

al., 2004). Estes hotspots são áreas com uma grande parte da biodiversidade

mundial, consideradas prioritárias para conservação.

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Se tratando de vegetação, os autores Oliveira Filho e Fontes (2000)

afirmam que o bioma Mata Atlântica possui dois grandes grupos: as Florestas

Ombrófilas, de clima com temperaturas amenas e sem estação seca, e as

Florestas Deciduais, que possuem um período do ano relativamente seco. A

altitude, o regime de chuvas e a temperatura são responsáveis pela diferenciação

florística entre essas duas formações, podendo ser de abrupta à gradual e

complexa. A figura a seguir (Figura 2) mostra a tipologia de florestas distribuídas

pelo mapa do bioma Mata Atlântica (SNIF, 2016).

Figura 2 – Tipologia de florestas distribuídas pelo bioma Mata Atlântica

Fonte: MMA (2009), adaptado SFB.

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A Floresta Ombrófila Densa possui as principais características ecológicas

encontradas em locais úmidos e sombreados, portanto as espécies são

adaptadas a estes ambientes, que muitas vezes só ocorrem nesta formação

florestal. Por apresentar chuvas bem distribuídas ao longo do ano, pode-se dizer

que as características dessa floresta estão diretamente ligadas aos seus fatores

climáticos (IBGE, 2012).

Em relação ao solo do bioma, em geral, é bastante raso, com pouca

ventilação. Como recebe pouca luz, devido à absorção dos raios solares pelo

estrato arbóreo, está sempre úmido e é extremamente pobre, com pH ácido. Pelo

fato da umidade e da grande quantidade de matéria orgânica depositada na

superfície do solo favorecerem a ação de microrganismos decompositores

(fungos e bactérias), há um aproveitamento maior dos nutrientes e sais minerais

pelos vegetais (CARVALHAL, 2009).

Outra característica do solo é que por ser raso e encharcado, ele favorece

o deslizamento de terra e à erosão, que acabam ocorrendo com bastante

frequência na floresta atlântica. De forma natural, esses deslizamentos e erosões

ocorrem nas partes mais altas e a deposição de matéria orgânica nas partes mais

baixas, criando um ciclo que garante a renovação do solo, formando clareiras e

dando espaço para o início de novas associações. A sustentação da vegetação

de grande porte ocorre, mesmo no solo raso, através de raízes tabulares e raízes

escora, paralelas ao solo e intrincadas, que formam uma espécie de “manta de

raízes” (CARVALHAL, 2009).

A Mata Atlântica possui uma diversidade cultural muito grande, pois abriga

povos indígenas, como os guaranis e também culturas tradicionais não indígenas,

como os caiçaras, quilombolas, roceiros e caboclos ribeirinhos. Pelo fato de

dependerem diretamente deste bioma, a relação destes povos com o ambiente

em que vivem é muito forte. Apesar disso, é um dos biomas mais degradados do

Brasil, devido a maior parte da população brasileira viver nela. Por ser o bioma

presente na região costeira do Brasil, foi onde se formaram os primeiros

aglomerados urbanos. Mais para a frente surgiram os polos industriais e as

principais metrópoles (CAMPANILI; SCHAFFER, 2010).

Mesmo com esforços para conservação, a falta de infraestrutura na

manutenção das unidades de remanescentes florestais nativos ainda é um

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problema, além da maior parte ainda estar sem proteção. Desta forma, fica clara a

necessidade da ampliação de investimentos na preservação da biodiversidade,

através de novas estratégias, tais como: o uso sustentável da vegetação nativa e

a recuperação das áreas degradadas (SANTOS et al. 2016).

3.2 Uso do solo e seus impactos

Durante a colonização e exploração econômica, extensas áreas de

cobertura vegetal da Mata Atlântica foram destruídas. Da área original restam

cerca de 22% de cobertura vegetal (Figura 3) com remanescentes de vegetação

nativa e, apenas 7,3% da cobertura original estão bem conservados e com

fragmentos florestais maiores de 100 ha (GUEDES e SEEHUSEN, 2011).

Figura 3 – Desmatamento total na Mata Atlântica até 2009

Fonte: SFB (2016), adaptado autor.

O crescimento populacional muito rápido junto a industrialização,

submeteram os recursos hídricos a pressões que, até então, não poderiam ser

revertidas ou amenizadas por serem consideradas oriundas ao desenvolvimento.

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Antigamente, acreditava-se que os recursos naturais disponíveis nunca iriam se

esgotar, portanto não havia necessidade de qualquer ação para preservá-los. O

rompimento desse paradigma, percebendo-se que a expansão populacional é

mais rápida que a capacidade regenerativa do planeta, leva a busca de

alternativas para melhor gerir e aproveitar os recursos disponíveis, dentre os

quais a água tem um papel de destaque (LIMA et al., 2016).

Segundo a Divisão Populacional das Nações Unidas (2015), em 2015, o

mundo abrigava aproximadamente 7 bilhões de pessoas. Esta estimativa equivale

a quase três vezes mais do que o total de indivíduos vivos em 1950. Apesar

dessa taxa de crescimento decrescer com o passar dos anos, ela é contínua.

Considerando uma variação média de fertilidade, em 2100 estima-se que haverá

11 bilhões de pessoas no planeta, o que significará, dentre outras, um aumento

da demanda por alimentos e água e das atividades industrial e agropecuária.

A relação entre “crescimento populacional” e “agropecuária” é uma

discussão de caráter circular, ou seja, não caminha em apenas uma direção. De

um lado, a raça humana é capaz de providenciar mão de obra e tecnologia para o

cultivo e criação de gado. Por outro lado, a agricultura e pecuária são capazes de

suprir as carências alimentares e proporcionar segurança para a expansão

populacional (OLIVEIRA, 2017).

No Brasil, a pastagem ocupa uma área de 173 milhões de hectares, em

que 117 milhões são de pastagens cultivadas. Nestas áreas, a estimativa é de

que 70% possuem algum tipo de degradação, onde uma grande parte já se

encontra em estágio avançado. Das pastagens cultivadas, mais de 70% são do

gênero Brachiaria, caracterizando quase uma monocultura, que, em solos de

baixa fertilidade e com manejo inadequado, apresenta grande risco para a

pecuária nacional, principalmente com o acelerado processo de degradação

dessas áreas (ZIMMER et al. 2012).

Bigardi (2016), em sua dissertação para o programa de Pós-Graduação em

Agroecologia, investiga a melhoria da qualidade do solo e de forragens através de

árvores na pastagem, na região da Zona da Mata em Minas Gerais. O autor

afirma que, em regiões tropicais, como a Mata Atlântica, tais processos de

degradação tendem a ser mais recorrentes. Isso ocorre pelo fato dos sistemas de

monocultivo, assim como as pastagens, apresentarem um fluxo de exportação de

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nutrientes elevado, o que não favorece a manutenção e ciclagem da matéria

orgânica. No caso das pastagens, mesmo com a ciclagem de parte desses

nutrientes pelo esterco, o efeito de degradação não é minimizado.

Segundo Zimmer et al. (2012), a maioria da produção animal no Brasil é

realizada a pasto, sendo assim, pondera-se que um dos maiores problemas da

pecuária brasileira é a degradação das pastagens, o que reflete diretamente na

sustentabilidade do sistema produtivo. A presença e distribuição destas áreas de

pasto se dá em todos os Estados e biomas do Brasil, em diferentes níveis de

degradação, os quais são proporcionais à área ocupada pelas pastagens. Como a

área ocupada é muito extensa, as consequências dessa degradação são ainda

mais graves, causando impactos negativos nos recursos hídricos.

3.3 Recursos hídricos e a qualidade da água

De acordo com Souza e Gastaldini (2014), a ocupação do solo juntamente

com as atividades antrópicas afeta diretamente a qualidade da água de uma

determinada região. Quando acontecem de maneira desordenada, sem os

devidos cuidados e precauções que promovam a conservação, acabam induzindo

a poluição dos recursos hídricos. Seguindo esta afirmação, Wang et al. (2016)

dizem que a poluição dos corpos hídricos está associada a um dos maiores

problemas ambientais da atualidade, a erosão do solo. Esse problema ocorre em

escala global e, além de poluir os corpos hídricos, está associada à inundações,

assoreamentos e perda do solo e de nutrientes.

Para gerenciar os recursos hídricos, inicialmente é necessário delimitar a

área que será administrada. No entanto, apesar de parecer simples, esta tarefa se

complica devido aos diversos interesses relacionados ao uso do recurso.

Atualmente, a gestão das águas é feita através da divisão do espaço físico de

acordo com as drenagens que nele estão contidas. Este espaço é denominado

bacia hidrográfica e pode ser definido como uma área de superfície terrestre

delimitada topograficamente que drena, para uma saída comum em um

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determinado ponto de um canal fluvial, água, sedimentos e materiais dissolvidos

(COELHO, 2006).

O comportamento de uma bacia hidrográfica ao longo do tempo pode ser

alterado por dois fatores, sendo eles, de ordem natural, responsáveis pela pré-

disposição do meio à degradação ambiental e, antrópicos, onde as atividades

humanas interferem de forma direta ou indireta no funcionamento da bacia

(SANTOS et al., 2014).

Tanto nas áreas urbanas quanto nas áreas rurais, as bacias hidrográficas

sofrem grandes alterações, especialmente pela impermeabilização excessiva do

solo, que reduz as áreas de infiltração das águas pluviais tornando o escoamento

superficial mais rápido, aumentando a frequência de enchentes e gerando

mudança na vazão dos cursos d’água. Desta forma, a qualidade e quantidade dos

recursos hídricos é prejudicada e consequentemente, as condições de vida da

população (SOUZA; SILVA; DIAS, 2012).

Uma das formas de se avaliar a qualidade ambiental de uma bacia

hidrográfica é através das análises de parâmetros físico-químicos e

microbiológicos das águas dos rios. Essa análise de parâmetros é feita através de

algumas variáveis da qualidade da água, como, por exemplo, cor, turbidez,

demandas química e bioquímica de oxigênio (DQO e DBO), fósforo total, oxigênio

dissolvido, coliformes, entre outros (CETESB, 2012).

A Fundação SOS Mata Atlântica (2017) através do projeto “Observando os

Rios” apresenta um panorama atual sobre a qualidade da água de 240 pontos de

coleta distribuídos em 184 rios, córregos e lagos de bacias hidrográficas do bioma

Mata Atlântica. Destes pontos, apenas 2,5% possuem qualidade boa, enquanto

70% estão em situação regular e 27,5% com qualidade ruim ou péssima. O que

se entende disso é que 66 pontos monitorados estão impróprios para o

abastecimento humano, lazer, pesca, produção de alimentos, além de não terem

condições de abrigar vida aquática. Nenhum dos pontos analisados foi avaliado

como ótimo. Neste mesmo projeto, a especialista em Recursos Hídricos da

Fundação SOS Mata Atlântica afirma que “a principal causa da poluição dos rios

monitorados é o despejo de esgoto doméstico junto a outras fontes difusas de

contaminação, que incluem a gestão inadequada dos resíduos sólidos, o uso de

defensivos e insumos agrícolas, o desmatamento e o uso desordenado do solo”.

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Rezende (2016), em sua pesquisa na região do Vale do Paraíba Paulista,

afirma que a presença ou ausência da cobertura vegetal afeta diretamente os

processos hidrológicos, principalmente as variações das taxas de infiltração e

escoamento. Considerada um ecótono, a zona ripária é responsável por serviços

ambientais essenciais que mantêm os recursos hidrológicos, como vazão,

qualidade da água e processos vitais do ecossistema aquático (LIMA, 2003). Se

tratando de cursos de água, é essencial a presença da mata ciliar, pois é ela que

fornece condições ideais de infiltração e permeabilidade, as quais dependem da

porosidade do solo para retenção da água, facilitadas por detritos vegetais,

troncos e caules (VALENT; GOMES, 2005).

As fontes energéticas, nutricionais e o refúgio para fauna em cursos de

água de baixa ordem são, principalmente, da serapilheira das matas ciliares.

Sendo assim, qualquer alteração na estrutura dessa vegetação e nos grupos

funcionais que compõe essa zona ripária, faz com que esse ecossistema perca a

sua resiliência com o tempo, levando à degradação dos recursos hídricos (LIMA,

2003).

3.4 Área de Preservação Permanente e Reserva Legal

O código florestal brasileiro, instituído na lei federal nº 12.651 de 25 de

maio de 2012 (BRASIL, 2012), que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa,

estabelece e define dois conceitos muito importantes para a preservação da

vegetação em propriedades rurais. São elas: Área de Proteção Permanente

(APP) e Reserva legal, que podem ser entendidas como:

Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.

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A definição das Áreas de Preservação Permanente, de acordo com o

Código Florestal (BRASIL, 2012), ocorre seguindo os seguintes critérios:

I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e

intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em

largura mínima de:

a) 30 metros, para os cursos d’água de menos de 10 metros de largura;

b) 50 metros, para os cursos d’água que tenham de 10 a 50 metros de

largura;

c) 100 metros, para os cursos d’água que tenham de 50 a 200 metros de

largura;

d) 200 metros, para os cursos d’água que tenham de 200 a 600 metros de

largura;

e) 500 metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600

metros;

II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura

mínima de:

a) 100 metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20

hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 metros;

b) 30 metros, em zonas urbanas;

III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de

barramento ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na

licença ambiental do empreendimento;

IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes,

qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 metros;

V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°,

equivalente a 100% na linha de maior declive;

VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

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VII - os manguezais, em toda a sua extensão;

VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do

relevo, em faixa nunca inferior a 100 metros em projeções horizontais;

IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de

100 metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da

curva de nível correspondente a 2/3 da altura mínima da elevação sempre em

relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície

ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de

sela mais próximo da elevação;

X - as áreas em altitude superior a 1.800 metros, qualquer que seja a

vegetação;

XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura

mínima de 50 metros, a partir do espaço permanentemente brejoso e encharcado.

No artigo 7º da Lei nº 12.651 (BRASIL, 2012) fica estabelecido também que

a vegetação situada em Área de Preservação Permanente deve ser mantida pelo

proprietário da propriedade e, se essa vegetação tiver sido suprimida, cabe a ele

também promover a recomposição da vegetação, visto que a supressão da

vegetação em área de APP somente é possibilitada se for de utilidade pública, de

interesse social ou de baixo impacto.

Já para a Área de Reserva Legal, a legislação (BRASIL, 2012) estabelece

que imóveis rurais têm que possuir uma área com cobertura vegetal nativa

seguindo percentuais mínimos específicos dependendo de sua localidade e área

do imóvel. Os percentuais são os seguintes:

Se localizado na Amazônia Legal:

a) 80% no imóvel situado em área de florestas;

b) 35% no imóvel situado em área de cerrado;

c) 20%, no imóvel situado em área de campos gerais;

Porém, se localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).

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A localização para as áreas de Reserva Legal segue os seguintes critérios:

I - o plano de bacia hidrográfica;

II - o Zoneamento Ecológico-Econômico

III - a formação de corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com

Área de Preservação Permanente, com Unidade de Conservação ou com

outra área legalmente protegida;

IV - as áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade; e

V - as áreas de maior fragilidade ambiental.

Novamente, a conservação da área de Reserva Legal deve ser realizada

pelo proprietário do imóvel rural, e sua exploração econômica é possível somente

se utilizado o manejo sustentável aprovado por órgão competente (BRASIL,

2012).

Visto que a exploração da vegetação e outras ações que sejam contrárias

às estabelecidas no Código Florestal implicam em sanções previstas no Código

de Processo Civil (lei nº 13.105/15) (BRASIL, 2015) e na Política Nacional do

Meio Ambiente (lei nº 6.938/81) (BRASIL, 1981), é necessário que haja um

processo de adequação a essa lei baseado principalmente no reflorestamento

dessas áreas. Para apoiar e incentivar a conservação do meio ambiente, o Poder

Executivo federal instituiu programas para esse fim que, dentre outras linhas de

ação, estejam relacionados ao “pagamento ou incentivo a serviços ambientais

como retribuição às atividades de conservação e melhoria dos ecossistemas e

que geram serviços ambientais” (BRASIL, 2012).

3.5 Pagamento por serviços ambientais (PSA)

No Decreto Estadual nº 55.947, de 24 de junho de 2010 que regulamenta a

Lei nº 13.798, de 9 de novembro de 2009, que dispõe sobre a Política Estadual de

Mudanças Climáticas do estado de São Paulo, fica definido serviços ambientais

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como serviços ecossistêmicos (entendidos como benefícios que as pessoas

obtêm dos ecossistemas) que têm impactos positivos além da área onde são

gerados (SÃO PAULO, 2010).

De acordo com a Avaliação Ecossistêmica do Milênio (AEM), os serviços

ambientais que garantem o bem-estar humano estão cerca de 60% degradados e

sob pressão, como resultado da contínua destruição e sobre-exploração dos

recursos naturais e da biodiversidade. Com intuito de amenizar e reverter esses

processos faz-se necessário promover a proteção, o uso sustentável e a

recuperação dos ecossistemas; e, dessa forma, podem-se garantir importantes

serviços ambientais dos quais todos precisam, como a manutenção dos ciclos

hídricos, a captura de carbono e a proteção da biodiversidade e das belezas

cênicas para a sociedade (GUEDES e SEEHUSEN, 2011). A AEM é um

programa internacional lançado em 2001 pelo Secretário Geral das Nações

Unidas, Kofi Annan, que teve como objetivo fornecer bases científicas para

tomada de decisão sobre ações necessárias no melhoramento da conservação

dos ecossistemas avaliando as consequências de suas mudanças para o bem-

estar humano (UNITED NATIONS, 2005).

A Avaliação Ecossistêmica do Milênio (UNITED NATIONS, 2005) ainda

classifica, por questões operacionais, os serviços ecossistêmicos nas seguintes

classes:

• Serviços de Provisão: São os produtos obtidos dos ecossistemas. Incluem

comida e fibras, combustíveis, água fresca; recursos genéticos (informação

genética usada na reprodução de animais e plantas, e biotecnologia); recursos

ornamentais (produtos como peles de animais, conchas e flores usadas em

ornamentos).

• Serviços de Regulação: Benefícios obtidos de processos de regulação do

ecossistema. São elas: manutenção da qualidade do ar, regulação do clima,

regulação da água, controle de erosão, purificação de água e tratamento de

resíduos, regulação de doenças humanas, controle biológico, polinização e

proteção a tempestades;

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• Serviços Culturais: benefícios não materiais que pessoas obtêm dos

ecossistemas por meio de enriquecimento espiritual, desenvolvimento cognitivo,

reflexão, recreação e estético-paisagístico. Incluem diversidade cultural, valores

espirituais e religiosos, sistemas de conhecimento, valores educacionais,

inspirações, valores estéticos, relações sociais, herança cultural, ecoturismo e

recreação.

• Serviços de Suporte: serviço que é necessário para a produção de todos os

outros serviços ecossistêmicos. Difere dos demais por seus impactos sobre as

pessoas serem indiretos ou terem uma longa duração.

Considerando a situação exploratória dos serviços ambientais nutrida ao

longo dos anos, existem várias iniciativas, ações, projetos e programas para a

proteção, recuperação e uso sustentável da Mata Atlântica (GUEDES e

SEEHUSEN, 2011). Um instrumento econômico que surgiu para apoiar a

proteção e o uso sustentável dos recursos naturais, além de melhorar a qualidade

de vida de pequenos produtores rurais em áreas de florestas tropicais, é o PSA,

que, de acordo com o Decreto Estadual nº 55.947, define-se como:

Transação voluntária por meio da qual uma atividade desenvolvida por um provedor de serviços ambientais, que conserve ou recupere um serviço ambiental previamente definido, é remunerada por um pagador de serviços ambientais, mediante a comprovação do atendimento das disposições previamente contratadas nos termos deste decreto. (SÃO PAULO, 2010).

Previsto ainda no decreto nº 55.947, as ações que podem ser incluídas nos

projetos voltados ao Pagamento de Serviços Ambientais são:

a) conservação de remanescentes florestais; b) recuperação de matas ciliares e implantação de vegetação nativa para a proteção de nascentes; c) plantio de mudas de espécies nativas e/ou execução de práticas que favoreçam a regeneração natural para a formação de corredores de biodiversidade; d) reflorestamentos com espécies nativas ou com espécies nativas consorciadas com espécies exóticas para exploração sustentável de produtos madeireiros e não madeireiros; e) implantação de sistemas agroflorestais e silvo-pastoris que contemplem o plantio de, no mínimo, 50 indivíduos de espécies arbóreas nativas por hectare; f) implantação de florestas comerciais em áreas contíguas aos remanescentes de vegetação nativa para a minimização de efeito de borda; g) manejo de remanescentes florestais para controle de espécies competidoras, especialmente espécies exóticas invasoras (SÃO PAULO, 2010).

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Este instrumento é fundamental para uma gestão ambiental que segue os

mesmos conceitos de protetor-recebedor e usuário-pagador, reconhecendo o

valor econômico da proteção de ecossistemas e dos usos sustentáveis,

promovendo um incentivo econômico a aqueles que prestam esses serviços

ambientais e cobrando daqueles que usufruem destes mesmos serviços

(GUEDES e SEEHUSEN, 2011).

3.5.1 Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá (PRG)

Em 2015, a Organização Não Governamental (ONG) Vale Verde, sediada

no município de São José dos Campos, iniciou um projeto de PSA no município

de Guaratinguetá – SP, tendo como instituição financiadora o Comitê de

Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (CEIVAP) e a Prefeitura

de Guaratinguetá, e como instituição organizadora a Associação Pró-Gestão das

Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (AGEVAP) (VALE VERDE,

2015a).

Divido em seis etapas, o PRG estava previsto para ser realizado em dois

anos. A Figura 4 apresenta a Estrutura Analítica do Projeto (EAP) do Projeto de

PSA Ribeirão Guaratinguetá (VALE VERDE, 2015a).

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Figura 4 – EAP do Projeto de PSA Ribeirão Guaratinguetá

Fonte: VALE VERDE (2015a).

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O projeto contemplou incialmente, através de Edital de Chamamento

publicado pela Prefeitura Municipal de Guaratinguetá (Editais de Seleção nº

01/2011 e nº 01/2012) desenvolvidos no contexto do Programa Produtor de Água,

18 propriedades rurais localizadas na bacia hidrográfica do Ribeirão

Guaratinguetá, contribuinte do rio Paraíba do Sul, em áreas pertencentes ao

município de Guaratinguetá (VALE VERDE, 2015b). No entanto, quatro

propriedades desistiram antes mesmo da implantação do projeto, sendo supridas

pela inserção de outras três propriedades (VALE VERDE, 2015c).

As ações de restauração florestal foram planejadas, inicialmente, pela

Coordenadoria de Assistência Técnica Rural (CATI), replicando-se o modelo de

Planejamento Integrado da Propriedade (PIP), utilizado pelo Programa Estadual

de Microbacias Hidrográficas – SP (VALE VERDE, 2016).

Entre setembro de 2015 e abril de 2016 foram realizadas ações de

planejamento, isolamento, plantio e manutenção nas 17 propriedades

participantes na época. Porém, entre novembro e fevereiro de 2016, ocorreram

problemas na coordenação do projeto em relação ao acompanhamento das

atividades e elaboração dos relatórios e, em março de 2016, foi contratado um

novo coordenador técnico do projeto. (VALE VERDE, 2016)

Em abril de 2016, o novo coordenador realizou uma nova visita às

propriedades e suspeitou que pudessem ter ocorrido problemas no planejamento

e implantação das áreas de plantio. Isso poderia implicar na superestimativa da

área plantada, pelo fato de não considerar os fragmentos de conservação

existentes no interior da área isolada (VALE VERDE, 2016).

Afim de resolver esses problemas, entre maio e junho de 2016, foram

realizadas visitas técnicas pelo coordenador do projeto junto ao proprietário ou um

indicado, que percorreram as áreas de plantio utilizando um GPS de navegação

como instrumento de auxílio (VALE VERDE, 2016). Mesmo assim, devido aos

contratempos enfrentados pela ONG, outras cinco propriedades acabaram saindo

do projeto, restando apenas 12 em setembro de 2017, onde foi realizada uma

nova manutenção das áreas de plantio (VALE VERDE, 2017).

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Em abril de 2018 foi inserida outra propriedade ao projeto, devido ao

descumprimento, por parte do proprietário, do acordo em relação às áreas

disponíveis para plantio, totalizando 13 propriedades no projeto (VALE VERDE,

2018a).

Na Tabela 1, estão apresentadas todas as propriedades e os respectivos

quantitativos das ações de restauração florestal (VALE VERDE, 2018a).

Tabela 1 – Quantitativo das ações de restauração florestal por propriedade

Propriedade Restauração florestal (ha)

Propriedade 1 2,55

Propriedade 2 1,09

Propriedade 3 0,42

Propriedade 4 0,28

Propriedade 5 1,52

Propriedade 6 1,56

Propriedade 7 2,32

Propriedade 8 0,34

Propriedade 9 0,35

Propriedade 10 0,61

Propriedade 11 0,88

Propriedade 12 19,26

Propriedade 13 7,12

Total 38,30

Fonte: VALE VERDE (2018a).

A partir do Planejamento Integrado das propriedades elaborado

previamente, a Vale Verde utilizou estes documentos como base para a

elaboração do Projeto Executivo de Restauração (PER). Conforme estrutura do

PER, foi gerado um mapa por propriedade, visando à apresentação dos limites da

propriedade; da localização das nascentes e corpos hídricos; APPs existentes,

sendo diferenciadas as áreas com e sem vegetação nativa; áreas de uso

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consolidado; principais vias de acesso à propriedade; isolamento previsto e; as

áreas selecionadas para restauração florestal (VALE VERDE, 2018a).

A Figura 5 representa o mapa da localização de todas as propriedades

dentro da bacia do Ribeirão Guaratinguetá.

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Figura 5 – Mapa de localização das propriedades do Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá

Fonte: VALE VERDE (2015a), adaptado autor.

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A metodologia e as atividades de restauração foram aplicadas de acordo

com a caracterização de cada área e consulta ao referencial dos conceitos e

ações de restauração florestal do Pacto Pela Restauração da Mata Atlântica. Em

sua maioria, as áreas apresentaram alta infestação de gramíneas invasoras e

baixa regeneração natural. Para essas áreas optou-se pelo plantio total no

espaçamento 3 m x 2 m, a uma densidade de 1.667 mudas/ha, aplicando o

método das linhas de preenchimento e diversidade. Em áreas onde já existia

regeneração natural, utilizou-se o método de plantio de enriquecimento no

espaçamento 3 m x 4 m, a uma densidade de 834 mudas/ha (VALE VERDE,

2018a).

O plantio das mudas foi feito de acordo com a classe sucessional e grupo

funcional, conforme previsto na Resolução SMA nº 32/2014 para as áreas

degradadas e pastagens, com padrão de mudas definido para plantio de 0,50 m

de altura em berço de 0,30 m de profundidade. Para limpeza das áreas foram

realizadas roçada seletiva manual e roçada química com aplicação de herbicida

glifosato. Foi realizado para todas as áreas adubação, calagem e combate de

formigas com aplicação de isca formicida (VALE VERDE, 2018a).

Os responsáveis pelo programa de PSA Hídrico para a bacia do Ribeirão

Guaratinguetá esperam como resultado o aumento de áreas florestais,

proporcionando a melhoria do fluxo gênico da fauna e da flora; a redução da

perda de solo por processos erosivos devido às áreas desmatadas e à melhoria

na qualidade e quantidade da água dos mananciais da região. Adicionalmente,

essas melhorias se refletirão no equilíbrio dos processos hidrológicos da bacia,

sendo a mesma de grande relevância para o abastecimento do município de

Guaratinguetá (VALE VERDE, 2015a).

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4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

4.1 Localização

O município de Guaratinguetá está situado na porção leste do estado de

São Paulo e pertence a região administrativa de São José dos Campos, no Vale

do Paraíba (Figura 6), fazendo fronteira ao norte com os municípios de Piquete e

Wenceslau Braz, no estado de Minas Gerais, a leste com Lorena, a oeste com

Pindamonhangaba, Potim e Aparecida, e a sul com Lagoinha e Cunha. As

coordenadas geográficas do município são 22º 48’ 45” S e 45º 11’ 15” W (IBGE,

2016).

Figura 6 – Localização do Município de Guaratinguetá no Estado de São Paulo

Fonte: Próprio autor

O principal acesso à cidade é através da Rodovia Presidente Dutra (BR-

116) (BRAGA e HENKES, 2017). De acordo com a prefeitura municipal de

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Guaratinguetá (2017), o munícipio está a 163 Km da capital de São Paulo e a 237

Km da capital do Rio de Janeiro.

4.2 Aspectos físicos

4.2.1 Relevo e Bacia hidrográfica

O vale do rio Paraíba do Sul distribui-se na direção leste-oeste entre as

Serras do Mar e da Mantiqueira, situando-se numa das poucas regiões do país de

relevo muito acidentado, com colinas e montanhas de mais de 2.000 metros nos

pontos mais elevados, e poucas áreas planas (CEIVAP, 2017). Guaratinguetá

possui grande parte de seu território dentro da depressão do Rio Paraíba do Sul.

A sua área urbana é relativamente plana, a 540 m de altitude em relação ao nível

do mar; porém, ao norte, as altitudes ultrapassam os 1.700 m, e ao sul, chegam a

900 m em relação ao nível do mar (BRAGA e HENKES, 2017).

Inserido na Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, o Município de

Guaratinguetá tem seus afluentes como principais corpos d’água, como o Rio

Paturi e os Ribeirões Guaratinguetá, dos Lemes, dos Mottas, Gomeral, São

Gonçalo, Pilões e Jararaca (CEIVAP, 2017).

A bacia do Ribeirão Guaratinguetá (Figura 7) é responsável pelo

abastecimento de água de mais de 90% da população da cidade de

Guaratinguetá, estimada em 120.417 habitantes (IBGE, 2017). Além disso, as

águas superficiais da bacia possuem outras utilidades como irrigação de cerca de

300 hectares de arroz, dessedentação de animais domésticos e para recreação

(CEIVAP, 2017).

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Figura 7 – Bacia do Ribeirão Guaratinguetá

Fonte: CEIVAP (2017), adaptado autor.

O aumento na carga de sedimentos nas águas superficiais do ribeirão

Guaratinguetá deve-se à ocupação das APPs e de seus afluentes, bem como a

falta de práticas de manejo e conservação de solo nas áreas agrícolas e

pecuárias. Isso tem trazido consequências como o assoreamento de trechos dos

corpos hídricos, dificuldade no tratamento da água para abastecimento, aumento

excessivo da vazão na época das chuvas e diminuição da vazão na época seca

(PAGIOLA et al., 2013).

De acordo com o Plano de Bacia do Rio Paraíba do Sul elaborado pelo

Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (CBH-PS), em 2000, o

ribeirão Guaratinguetá é a bacia de afluente prioritária para ações de melhoria,

tanto da qualidade quanto da quantidade de água do manancial. Para poder

priorizar as bacias de afluentes, o Comitê estabeleceu alguns critérios, sendo

eles: (1) uso da água para abastecimento público; (2) taxa de urbanização da

bacia; (3) existência de conflito pelo uso da água; e (4) número de usos múltiplos

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da bacia. Seguindo estes critérios, foram priorizados nove afluentes para

composição do plano de bacia, de um total de 137 no trecho paulista do rio

Paraíba do Sul. Neste ranking, a bacia do ribeirão Guaratinguetá ficou com a

segunda prioridade mais alta entre todas as bacias hidrográficas (CPTI, 2000).

O espaço geográfico definido para a instalação do Programa Estadual de

Microbacias Hidrográficas no município de Guaratinguetá foi a microbacia do

ribeirão Guaratinguetá. Após um amplo debate com agentes locais, representados

pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural, essa escolha serviu para

corroborar com o programa preconizado pelo plano do CBH-PS. Em acréscimo, a

microbacia do ribeirão Guaratinguetá foi uma das três bacias do rio Paraíba do

Sul contempladas para implantação do Projeto Mata Ciliar, da Secretaria do Meio

Ambiente (SMA) do Estado de São Paulo, com apoio do Banco Mundial e do

Fundo Global de Meio Ambiente (GEF) (PAGIOLA et al., 2013).

4.2.2 Solo e vegetação

O município de Guaratinguetá tem seu território situado, ao norte e ao sul,

sobre Cambissolo Háplico, ao centro, sobre Latossolo Vermelho-Amarelo e ao

centro sul, sobre Argilossolo Vermelho-Amarelo. Em relação à geologia, encontra-

se sobre rochas gnáissicas de origem magmática e/ou sedimentar de médio grau

metamórfico e rochas graníticas desenvolvidas durante o tectonismo, no extremo

norte e centro de seu território. Já ao centro-norte do município encontra-se sobre

sedimentos arenosos e argilosos, podendo incluir níveis carbonosos do Terciário.

No centro-sudoeste do território encontra-se sobre sedimentos arenosos e argilo-

carbonáticos de grau metamórfico fraco a médio. E por fim, na porção centro-

sudeste, encontra-se sobre rochas magmáticas de composição félsica e máfica

(BRAGA e HENKES, 2017).

Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica (2017), o município de

Guaratinguetá está completamente inserido no bioma Mata Atlântica. Com uma

área de mata de 905 ha, possui 16% de remanescentes florestais nativos.

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Mesmo a cobertura florestal da bacia sendo considerada relativamente

elevada em relação aos outros tipos de ocupação do solo (Figura 8), essa se

concentra na parte superior da bacia. A maior parte da terra é utilizada para

pastagem (54%) e, boa parte está degradada, sujeita à erosão. As APPs da bacia

totalizam 2.644 ha, no entanto, apenas em 1.349 ha podem-se encontrar

cobertura florestal, ou seja, há um déficit de cobertura florestal em APP de 1.294

ha. Analisando esse déficit nota-se que a maior parte, cerca de 1.105 ha, está

sendo utilizada atualmente para pastagem. Deste valor, mais da metade está

concentrado em propriedades menores que 200 ha (PAGIOLA et al., 2013).

Figura 8 – Uso do solo da Bacia do Ribeirão Guaratinguetá

Fonte: TNC (2006).

4.3 Aspectos socioeconômicos

No trecho paulista do Vale do Paraíba, a produção de café trouxe

prosperidade econômica para a região. No período de decadência da produção, a

política de defesa do preço do café foi o que manteve o fluxo de capital no Vale

(RICCI, 2006). O fato de o setor agrícola estar enfrentando dificuldades, foi o que

começou a dar espaço para a instalação de indústrias na região (VIEIRA, 2009).

Em 1877 foi inaugurada a ferrovia que ligava as duas principais capitais do

Sudeste, São Paulo e Rio de Janeiro. Foi graças a essa ferrovia que as novas

atividades econômicas alavancaram, contribuindo para a urbanização, a

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consolidação da nova vocação regional e a atividade manufatureira, voltada para

atender às demandas dos grandes centros urbanos (RICCI, 2006).

Com a queda do ciclo do café, as grandes propriedades cafeeiras

começaram a dar espaço para o desenvolvimento e consolidação das atividades

de silvicultura. O setor primário da economia na região do Vale do Paraíba é

baseado, além da silvicultura, na agricultura de arroz e na produção de leite,

enquanto o secundário é representado pelas indústrias automotivas, bélicas e

aérea, sendo este setor o responsável por grande parte da renda dos moradores

(CARRIELLO, 2012). Além dessas atividades, o turismo, tanto o ecológico quanto

o religioso movem o capital na região.

A população do município de Guaratinguetá estimada em 2017 pelo IBGE

é de 120.417 pessoas. Comparado ao ano de 2010, este valor cresceu

aproximadamente 7%. Em 2010, a população rural era equivalente a

aproximadamente 5% da população urbana (Tabela 2) (IBGE, 2017).

Tabela 2 - População residente no município de Guaratinguetá, por situação de domicílio e sexo (2010)

Urbana Rural

Homens 51.197 2.749

Mulheres 55.565 2.561

Total 106.762 5.310

Fonte: IBGE, Censo demográfico 2010.

Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) do município de Guaratinguetá,

em 2013, o IBGE em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística,

Secretarias Estaduais de Governo e Superintendência da Zona Franca de

Manaus (SUFRAMA), indicaram que a agropecuária é responsável por

aproximadamente 0,6% (Tabela 3) (IBGE, 2017).

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Tabela 3 – Porcentagem do PIB do município de Guaratinguetá, divido por setor de influência

Setor PIB (%)

Agropecuária 0,59

Indústria 30,93

Serviços 42,33

Administração e Serviços públicos 8,82

Impostos 17,33

Fonte: IBGE em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo e SUFRAMA, 2013.

De acordo com dados do Levantamento Cadastral de Unidades de

Produção Agrícola (LUPA), 154 unidades de produção agropecuária foram

cadastradas no município de Guaratinguetá, indicando que a pecuária leiteira e de

corte são as atividades rurais predominantes nas propriedades, com pastagens

manejadas em sistema extensivo e semi-intensivo (SÃO PAULO, 2008).

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5 METODOLOGIA

O presente trabalho se baseou em uma revisão bibliográfica sobre o tema

pesquisado, bem como a avaliação dos resultados da implantação do projeto de

PSA Ribeirão Guaratinguetá (PRG) e da pesquisa de campo quantitativa e

qualitativa, através de entrevista com roteiro semiestruturado.

Sendo assim, foram pesquisados artigos, teses, livros e sites relevantes ao

assunto, que expunham as ideias e os estudos já produzidos por outros autores

sobre o tema. Foi pesquisado também o histórico do PRG afim de ilustrar o

panorama geral do plantio e identificar os órgãos envolvidos no projeto.

5.1 Quantitativa

Segundo o Protocolo de Monitoramento para Programas e Projetos de

Restauração Florestal do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica (2013), o

Princípio Ecológico da Restauração Florestal está dividido em duas fases: Fase I

ou de Estruturação do Dossel, cujo objetivo é avaliar a formação de uma

cobertura florestal na área em processo de restauração; e, a Fase II ou de

Monitoramento da Trajetória Ecológica, que objetiva monitorar se a dinâmica

natural está ocorrendo na fisionomia florestal em restauração e se está

conduzindo a restauração dentro da trajetória desejada e esperada.

Para o presente trabalho foi realizado apenas o monitoramento da Fase I

proposta pelo Protocolo de Monitoramento para Programas e Projetos de

Restauração Florestal do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica (2013),

devido ao fato das plantas estarem em estágio de crescimento, com

aproximadamente dois anos no momento da análise, sendo necessário no mínimo

quatro anos para implantação da Fase II. Para isso foram escolhidas duas

propriedades participantes do projeto considerando diferentes níveis de

desenvolvimento das mudas nelas plantadas, Propriedade 1 e Propriedade 11.

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A princípio foi definido o número de parcelas amostrais em cada área

(Tabela 4), com base no Protocolo de Monitoramento para Programas e Projetos

de Restauração Florestal do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica (2013).

Cada parcela foi disposta aleatoriamente de forma que abrangessem a maior

parte das áreas de plantio, sendo retangular com um comprimento de 25 m,

definido por uma trena, e largura de 4 m, totalizando 100 m2.

Tabela 4 – Número de parcelas amostrais usadas no monitoramento das áreas do PRG.

Área do projeto (ha) = A Número de parcelas amostrais

A ≤ 0,50 Desprezar projeto para fins de monitoramento

0,50 < A ≤ 1,00 5

A > 1,00 5 + (1 por hectare adicional)*

*limitado a um número máximo de 50 parcelas, independente da área do projeto

Fonte: PACTO PELA RESTAURAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA, 2013.

As parcelas foram utilizadas para a avaliação da cobertura florestal, ou

seja, da cobertura de espécies arbustivas e arbóreas. Ao longo do comprimento

da parcela (25 m), foi medido com uma trena a distância entre as sombras

projetadas pelas copas das espécies arbóreas não invasoras. A estimativa da

cobertura florestal teve como base a soma destas distâncias em relação ao

comprimento total da parcela (Figura 9).

Figura 9 – Esquema de estimativa da cobertura de copas em parcelas retangulares

Fonte: PACTO PELA RESTAURAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA, 2013.

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Os valores de cobertura florestal obtidos foram confrontados com o

diagnóstico sugerido pelo Referencial dos Conceitos e Ações de Restauração

Florestal do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica (Tabela 5).

Tabela 5 – Parâmetros e diagnósticos sugeridos para o monitoramento de reflorestamentos e de áreas de condução da regeneração natural de espécies florestais nativas

Cobertura da área

Diagnóstico

Demanda ações corretivas Preocupante Aceitável

Após 1 ano Abaixo de 20% 20 a 40% 40 a 60%

Após 2 anos Abaixo de 40% 40 a 60% 60 a 100%

Após 3 anos Abaixo de 70% 70 a 100% 100%

Fonte: PACTO PELA RESTAURAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA, 2009.

5.2 Qualitativa

Foi realizada uma pesquisa de campo de caráter exploratório (FRÖHLICH

e DORNELES, 2011), seguindo a metodologia de pesquisa qualitativa, utilizada

para análise dos dados obtidos através dela. Gerhardt e Silveira (2009) afirmam

que a metodologia qualitativa “[...] não se preocupa com representatividade

numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo [...]”.

Ainda, segundo as mesmas autoras:

Os pesquisadores que utilizam os métodos qualitativos buscam explicar o porquê das coisas, exprimindo o que convém ser feito, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se submetem à prova de fatos, pois os dados analisados são não métricos (suscitados e de interação) e se valem de diferentes abordagens. (GERHARDT e SILVEIRA, 2009, p. 32).

Sendo assim, foi feita uma entrevista com um dos gestores do projeto,

formado em Engenharia Florestal, em busca de uma visão técnica referente à

implementação do projeto e seus objetivos.

O roteiro (APÊNDICE A) aplicado na entrevista para um dos gestores do

projeto foi adaptado de Werle (2013). Foram elaboradas 12 questões que

nortearam a entrevista, focando nas informações sobre as motivações que

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levaram a criação do PRG, do seu funcionamento, das concepções do gestor

entrevistado sobre PSA, das dificuldades enfrentadas e, principalmente, qual foi o

aprendizado adquirido com o desenvolvimento e implementação do projeto.

As respostas foram utilizadas para corroborar com os dados obtidos de

maneira quantitativa, além de servirem como base e incentivo ao

desenvolvimento de outros trabalhos que busquem desenvolvimento rural através

do PSA.

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6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após avaliar o histórico da implantação do Projeto de PSA do Ribeirão

Guaratinguetá, foi possível selecionar duas propriedades que apresentam

diferentes níveis de desenvolvimento das mudas nelas plantadas, considerando

uma que apresentou um melhor desempenho perante as outras e outra que

enfrentou maiores dificuldades. Para essa decisão, levou-se em consideração,

principalmente, o tempo de plantio e a facilidade de acesso à propriedade, dentre

outros fatores.

As propriedades escolhidas para realização da análise quantitativa da

cobertura florestal foram as propriedades 1 e 111 e a coleta de dados ocorreu em

novembro de 2018, em torno de dois anos após o plantio.

A Propriedade 1 possui cerca de 96,26 ha, onde apenas uma pequena

parte se encontra dentro da Bacia do Ribeirão Guaratinguetá. O uso

predominante no imóvel é pastagem. Segundo a ONG Vale Verde (2018b), foram

mapeadas quatro nascentes ao longo da propriedade e a APP dos recursos

hídricos presentes no imóvel equivale a 13,72 ha, com cerca de 37,2% coberto

por vegetação nativa.

As áreas disponibilizadas pelo proprietário para a restauração florestal do

projeto totalizam 2,55 ha e estão divididas em três polígonos distintos (Figura 10),

onde 1,70 ha se encontram em área de APP (VALE VERDE, 2018b).

1 Figura 5, pág 35.

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Figura 10 – Distribuição das áreas de plantio na Propriedade 1

Fonte: VALE VERDE (2018b), adaptado autor.

O Quadro 1 traz de forma resumida informações sobre o tamanho, método

de restauração, extensão da cerca e número de mudas a serem plantadas em

cada área da Propriedade 1.

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Quadro 1 – Resumo de informações referentes ao plantio nas áreas da Propriedade 1

Polígono Método de plantio* Área (ha) Cercamento (m) Nº de mudas

A1 PT 1,27 901 2114

EN 0,08 0 69

A2 PT 0,85 710 1416

A3 PT 0,35 372 592

Total - 2,55 1983 4191

*PT: Plantio total; EN: Enriquecimento Fonte: VALE VERDE (2018b), adaptado autor.

O plantio das mudas foi feito de acordo com a classe sucessional e grupo

funcional, conforme previsto na Resolução SMA nº 32/2014 para as áreas

degradadas e pastagens, com padrão de mudas definido para plantio de 0,50 m

de altura em berço de 0,30 m de profundidade. O método de plantio total seguiu o

espaçamento 3 m x 2 m, a uma densidade de 1667 mudas/ha, com linhas de

preenchimento e diversidade utilizando espécies vegetais listadas no Anexo A.

Em um trecho do polígono A1 já existia regeneração natural, sendo assim,

utilizou-se o método de plantio de enriquecimento no espaçamento 3 m x 4 m, a

uma densidade de 834 mudas/ha (VALE VERDE, 2018b).

No Quadro 2 são apresentados os dados referentes a cobertura florestal

das parcelas dispostas nas áreas de plantio da Propriedade 1.

Quadro 2 – Cobertura florestal das áreas de plantio da Propriedade 1 (continua) Parcela Seção sem cobertura florestal Comprimento (m) Cobertura

1

L1 0,80

67%

L2 0,90 L3 1,10 L4 1,00 L5 1,20 L6 1,10 L7 0,90 L8 1,20

2 L1 1,50

56% L2 1,30 L3 1,20

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(continuação) Parcela Seção sem cobertura florestal Comprimento (m) Cobertura

2

L4 1,20

56% L5 1,30 L6 1,60 L7 1,40 L8 1,60

3

L1 1,80

48%

L2 1,60 L3 1,60 L4 1,20 L5 1,50 L6 1,70 L7 1,80 L8 1,70

4

L1 1,60

40%

L2 1,80 L3 1,70 L4 1,70 L5 1,30 L6 1,60 L7 1,80 L8 2,00 L9 1,50

5

L1 2,10

35%

L2 1,70 L3 1,80 L4 1,90 L5 1,50 L6 2,00 L7 1,80 L8 1,80 L9 1,60

6

L1 1,80

47%

L2 1,70 L3 1,80 L4 2,00 L5 1,50 L6 1,50

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(conclusão) Parcela Seção sem cobertura florestal Comprimento (m) Cobertura

6 L7 1,60

47% L8 1,40

Cobertura florestal média das áreas de plantio* 49% *Referente há 2 anos de plantio

Fonte: Próprio autor.

A Propriedade 11 possui cerca de 27,67 ha e o uso predominante no

imóvel também pastagem. Foi mapeada apenas uma nascente ao longo da

propriedade segundo a ONG Vale Verde (2018b) e a APP dos recursos hídricos

presentes no imóvel equivale a 6,28 ha, com cerca de 35% coberto por vegetação

nativa.

As áreas disponibilizadas pela proprietária para restauração florestal do

projeto foram de apenas 0,88 ha e também estão divididas em três polígonos

distintos (Figura 11), onde 0,36 ha situam-se em APP (VALE VERDE, 2018b).

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Figura 11 – Distribuição das áreas de plantio na Propriedade 11

Fonte: VALE VERDE (2018b), adaptado autor.

O Quadro 3 traz de forma resumida informações sobre o tamanho, método

de restauração, extensão da cerca e número de mudas a serem plantadas em

cada área da Propriedade 11.

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Quadro 3 – Resumo de informações referentes ao plantio nas áreas da Propriedade 11

Polígono Método de plantio* Área (ha) Cercamento (m) Nº de mudas

A1 PT 0,09 139 158

A2 PT 0,33 385 544

A3 PT 0,46 441 765

Total - 0,88 965 1467

*PT: Plantio total Fonte: VALE VERDE (2018b), adaptado autor.

Seguindo o mesmo modelo da Propriedade 1, o plantio das mudas nos três

polígonos também foi feito de acordo com a classe sucessional e grupo funcional,

conforme previsto na Resolução SMA nº 32/2014 para as áreas degradadas e

pastagens, com o mesmo padrão de mudas definido para plantio de 0,50 m de

altura em berço de 0,30 m de profundidade. Na Propriedade 11, todas as áreas

de plantio seguiram a metodologia de plantio total, com espaçamento 3 m x 2 m, a

uma densidade de 1667 mudas/ha, com linhas de preenchimento e diversidade

utilizando espécies vegetais listadas no Anexo A (VALE VERDE, 2018b).

O Quadro 4 dispõe os dados referentes a cobertura florestal das parcelas

dispostas nas áreas de plantio da Propriedade 11.

Quadro 4 – Cobertura florestal das áreas de plantio da Propriedade 11 (continua) Parcela Seção sem cobertura florestal Comprimento (m) Cobertura

1

L1 2,10

28%

L2 2,10 L3 1,90 L4 1,80 L5 1,80 L6 2,30 L7 1,90 L8 2,00 L9 2,10

2

L1 2,10

29% L2 1,90 L3 2,10 L4 2,30

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(conclusão) Parcela Seção sem cobertura florestal Comprimento (m) Cobertura

2

L5 2,00

29% L6 1,80 L7 1,80 L8 2,00 L9 1,80

3

L1 2,40

26%

L2 2,30 L3 2,30 L4 2,10 L5 2,20 L6 2,20 L7 2,40 L8 2,50

4

L1 1,80

32%

L2 1,70 L3 1,80 L4 1,80 L5 1,90 L6 2,00 L7 2,10 L8 2,00 L9 1,90

5

L1 2,10

33%

L2 2,00 L3 2,30 L4 2,40 L5 2,10 L6 2,00 L7 1,90 L8 2,00

Cobertura florestal média das áreas de plantio* 30% *Referente há 2 anos de plantio

Fonte: Próprio autor.

Os resultados apresentados referentes as porcentagens médias de

cobertura florestal das áreas de plantio das Propriedades 1 (49%) e 11 (30%),

indicam que em dois anos de plantio, a Propriedade 1 apresenta um melhor

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desenvolvimento em comparação a 11. Apesar disso, ao confrontar estes valores

aos sugeridos pelo protocolo de monitoramento do Pacto pela Restauração da

Mata Atlântica, nenhuma das duas mostrou um diagnóstico aceitável (entre 60 e

100%).

Conforme o citado protocolo, após dois anos de plantio (Figura 12), a

Propriedade 1 apresentou um diagnóstico preocupante (entre 40 e 60%) o que

sugere que o plantio enfrentou alguns problemas no decorrer dos dois anos

iniciais após o plantio. Durante a coleta dos dados foi identificado que houve

ataque de formigas às folhas das árvores e algumas haviam morrido (Figura 13).

O responsável técnico pela manutenção das áreas disse que as medidas quanto

ao ataque de formigas e o possível sufocamento das árvores por espécies

invasoras estão sendo controladas, porém o período entre uma manutenção e

outra é grande, o que acaba acarretando em dificuldades no desenvolvimento. O

cercamento das áreas de plantio estava em bom estado, seguindo o padrão

descrito no projeto. Sobre a taxa de mortalidade, o responsável técnico informou

que até 15% é considerado um valor esperado e que o replantio já está

programado para acontecer.

Figura 12 – Plantio na Propriedade 1

Fonte: Próprio autor.

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Figura 13 – Ataque de formigas a uma muda na Propriedade 1

Fonte: Próprio autor.

O plantio na Propriedade 11 (Figura 14) apresentou uma situação ainda

pior, pois a porcentagem de cobertura florestal indica que ações corretivas devam

ser tomadas (abaixo de 40%) para que se desenvolva de maneira satisfatória.

Além de enfrentar os mesmos problemas de ataque de formigas (Figura 15) e

mortalidade que ocorreram na Propriedade 1, o responsável técnico informou que

um outro fator que acabou interferindo no plantio foi a entrada de gado nas áreas

de plantio. Assim como em outras propriedades, a presença de gado interferiu

diretamente no processo de restauração florestal, o que dificultou ainda mais o

desenvolvimento adequado das mudas.

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Figura 14 – Plantio na Propriedade 11

Fonte: Próprio autor.

Figura 15 – Muda atacada por formigas na Propriedade 11

Fonte: Próprio autor.

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Analisando as Figura 12 e Figura 14, destaca-se a presença de uma

mesma espécie vegetal (Sangra-d’água2), facilmente identificada pela coloração

alaranjada de algumas de suas folhas. Por se tratar de exemplares da mesma

espécie e estágio de desenvolvimento no momento do plantio, é possível

comparar o nível de desenvolvimento dessas mudas em cada uma das

propriedades. Como o plantio aconteceu no mesmo período, pode se dizer que a

muda da Propriedade 1 teve um melhor desenvolvimento do que a da

Propriedade 11 durante os dois anos de plantio.

Analisando as respostas da entrevista com um dos gestores do PRG, foi

possível entender um pouco mais sobre o funcionamento do projeto, as

dificuldades enfrentadas durante o processo e como isso interferiu no

desenvolvimento do plantio.

O entrevistado ocupa atualmente o cargo de gestor do contrato entre a

ONG executora Vale Verde e a instituição organizadora AGEVAP. Em entrevista,

ele informou que o Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá, diferentemente dos

outros projetos inscritos no programa de PSA Hídrico da AGEVAP, é uma

continuidade do Programa Produtor de Águas, desenvolvido pela Agência

Nacional de Águas (ANA) no município de Guaratinguetá.

Segundo o gestor, como instituição executora, a ONG Vale Verde foi a

responsável pela parte técnica e estratégica do projeto, que contemplam a busca

das informações sobre a microbacia, as questões socioeconômicas, entre outras

informações necessárias para elaboração do mesmo. A função da AGEVAP neste

contexto foi a contratação do projeto e fiscalização do recurso disponibilizado pelo

CEIVAP.

Como estratégia principal, ele afirmou que o projeto previu apenas a

restauração florestal em áreas de APP e Reserva Legal, não possuindo nenhuma

ação de conservação florestal, mesmo existindo fragmentos de florestas dentro

das propriedades. No ponto de vista econômico, ele acredita que essa não tenha

2 Espécie nº 75 no Quadro de espécies vegetais empregadas no Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá (ANEXO A), pág. 75.

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sido a melhor escolha, pois a conservação, através do cercamento dos

fragmentos florestais já existentes nas propriedades, seria uma forma mais barata

de atingir o objetivo esperado.

Em relação à estratégia adotada pela ONG, a Vale Verde (2018a) afirma

que fez uma caracterização de cada área e consultou o referencial dos conceitos

e ações de restauração florestal do Pacto Pela Restauração da Mata Atlântica.

Como as áreas apresentaram alta infestação de gramíneas invasoras e baixa

regeneração natural, optaram pela metodologia do plantio total.

Os principais pontos negativos do PRG apontados na entrevista foram: a

terceirização do serviço de plantio por parte da executora sem a devida

fiscalização, o mal funcionamento da Unidade Gerenciadora de Projeto (UGP) e a

mobilização de alguns proprietários que acabou se perdendo durante a

implementação do projeto. Isso indica a falta de uma definição clara das linhas de

ação dos órgãos envolvidos no processo, o que acarreta, segundo o gestor, em

problemas de responsabilidade.

Um grande problema que ocorreu logo no início do projeto foi a contratação

de uma empresa terceirizada, por parte da instituição executora, para realizar as

ações de campo. Pelo fato da ONG se situar em São José dos Campos, ela se

disse impossibilitada de acompanhar e fiscalizar as ações de plantio

frequentemente, o que gerou uma perda de qualidade nos serviços prestados

repercutindo na perda da qualidade da restauração. Como consequência, houve

um longo período em que as áreas ficaram sem manutenção, o que corrobora

com o panorama visto em campo do mal desenvolvimento das árvores devido ao

sufocamento das mudas por espécies invasoras e do ataque de formigas, entre

outras intempéries.

No edital do programa PSA Hídrico, publicado pela AGEVAP em julho de

2014, consta que:

A instituição executora é a responsável pela mobilização, ações de isolamento, conservação florestal, restauração florestal e demais ações necessárias ao bom andamento do projeto (AGEVAP, 2014).

Sendo assim, o ônus da má execução destas atividades devia ser

empregado a ONG, porém, no mesmo edital também consta que:

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Os serviços executados pela contratada serão apresentados através de relatórios, com indicação das atividades desenvolvidas no período, cabendo à AGEVAP acompanhar e atestar a execução dos serviços (AGEVAP, 2014).

Analisando o histórico do projeto, constatou-se que as atividades foram

acompanhadas pela AGEVAP e que a ONG foi responsabilizada pela má

execução do plantio, sendo necessário a incorporação de novas propriedades ao

projeto para atingir o objetivo de 38,30 ha. Porém, as áreas onde já haviam sido

realizadas as ações de plantio, incluindo as propriedades 1 e 11, foram afetadas

até que houvesse a troca do novo coordenador técnico responsável pelo plantio.

Outro ponto citado foi o mal funcionamento da UGP que trouxe uma

debilidade muito grande para o projeto, pois era através dela que a AGEVAP tinha

um controle sobre as ações que estavam sendo feitas em campo e que garantiam

o padrão dentro do programa de PSA hídrico. O entrevistado acredita que a UGP

desempenha um papel fundamental dentro do processo e que se faz necessário

repensar o modelo de gestão utilizado.

Em adição, alguns dos proprietários não se mantiveram mobilizados no

decorrer do processo, muito provavelmente por falhas na comunicação entre eles

e a executora, o que acabou dificultando ainda mais o desenvolvimento do

plantio. O gestor afirma que alguns deles permitiram a entrada de gado nas áreas

rompendo o cercamento e outros não cuidaram das áreas como era o esperado.

Como informado em campo pelo responsável técnico, a resposta do gestor

confirma o porquê da Propriedade 11 estar em uma situação mais crítica que a

Propriedade 1.

Por se tratar de um programa piloto, o entrevistado avaliou o projeto como

uma unidade demonstrativa que gerou dados importantes que serviram de base

para aprender e compreender a melhor forma de desenvolver projetos de PSA na

bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, otimizando as operações e políticas

envolvidas nesse processo. Ele espera que, futuramente, o programa seja

fortalecido e consolidado ao ponto de permitir novos desdobramentos, como a

avaliação dos efeitos sobre os corpos hídricos; visto que, nas dimensões atuais

do projeto, as ações não conseguem gerar um resultado expressivo que possa

ser medido com os instrumentos disponíveis atualmente.

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Sendo assim, o gestor acredita que, com o crescimento do programa, seja

capaz de estabelecer novas parcerias com instituições privadas que poderão

investir um capital mais consistente e consequentemente promover a

regularização ambiental das propriedades rurais, tendo o mínimo necessário de

cobertura florestal em harmonia com as produções agrícolas e as atividades

humanas.

Por fim, quando perguntado sobre sua opinião em relação ao pagamento

por serviços ambientais, ele afirmou ser uma forma justa de retribuição àquele

que disponibiliza a sua propriedade para produção de serviços ecossistêmicos,

onde há um custo inerente. Ou seja, transferir o valor cobrado pelo uso da água

para reinvestir em propriedades que a produzem é uma solução que beneficia

todos.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o principal objetivo de melhorar a quantidade e qualidade da água do

Ribeirão Guaratinguetá, a ONG Vale Verde, financiada pelo CEIVAP em parceria

com a prefeitura do município de Guaratinguetá, implementou o Projeto PSA

Ribeirão Guaratinguetá em 13 propriedades rurais do município.

Confrontando as informações referentes a implantação do PRG com dados

obtidos através de uma metodologia quantitativa, o presente trabalho destacou

como os principais problemas envolvidos na gestão do projeto interferiram na

efetividade da restauração florestal. A baixa cobertura arbustiva-arbórea

encontrada nas Propriedades 1 e 11 refletem um baixo índice de manutenção nas

áreas, sendo necessário um acompanhamento mais frequente para que o plantio

se desenvolva sem maiores complicações e para que os objetivos de restauração

florestal na bacia sejam efetivamente alcançados.

Em entrevista, um dos gestores do PGR, deixou claro a necessidade de

otimização dos processos e políticas envolvendo o programa de PSA hídrico.

Para futuros projetos em PSA é de extrema importância que sejam definidos as

responsabilidades e os deveres de cada órgão envolvido, desde a instituição

financiadora, até o proprietário rural. É necessário também levar em consideração

o modelo de gestão adotado além da melhor estratégia para atingir o objetivo

esperado, seja ele de conservação ou restauração florestal.

Como o projeto serviu de unidade demonstrativa dentro do programa de

PSA hídrico, espera-se utilizar os resultados nele alcançados como base para

novos projetos. Apesar dos problemas enfrentados na implantação do PGR, a

iniciativa do PSA se mostra de grande valia como forma de reparar os danos

causados pelo desmatamento da Mata Atlântica, assim como outros biomas, pois

traz benefícios ambientais, econômicos e socias que irão garantir a

sustentabilidade necessária para as gerações futuras.

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8 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS

Considerando que o presente trabalho foi desenvolvido após um curto

prazo de implantação do Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá e contemplou

apenas 2 das 13 propriedades participantes do projeto, sugere-se uma

continuidade das análises para acompanhamento dos desdobramentos das ações

desenvolvidas em cada propriedade participante do PRG.

Como sugestões para futuros trabalhos, tendo como base esta monografia

e o PRG, tem-se as seguintes pautas:

1) Comparação através de imagens de satélite de alta resolução ou drone

do progresso da restauração florestal nas propriedades rurais inseridas

no projeto;

2) Avaliação da qualidade da água antes e depois da consolidação da

restauração florestal;

3) Avaliação dos aspectos socioeconômicos envolvendo o PSA no

município de Guaratinguetá;

4) Comparação da metodologia empregada no PRG com outros projetos

de PSA;

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TNC – The Nature Conservancy. Relatório técnico: Interpretação de uso e

ocupação do solo da Bacia de Guaratinguetá. Guaratinguetá: TNC. 2006.

VALE VERDE. Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá. São José dos Campos,

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______. Relatório 3 – Edital de Chamamento. São José dos Campos, 2015b.

______. Relatório 7 – Relatório de visita a propriedades habilitadas. São José

dos Campos, 2015c.

______. Relatório 13, 14 e 15 – Relatório de Isolamento das áreas, de

Restauração florestal de acordo com os PIPs e de Manutenção das Áreas.

São José dos Campos, 2016.

______. Produto 15.3 – Relatório de conservação e manutenção de áreas.

São José dos Campos, 2017.

______. Produto 10.3 – Elaboração do Projeto Executivo de Restauração –

PER (Propriedade das Palmeiras). São José dos Campos, 2018a.

______. Produto 10.1 – Elaboração do Projeto Executivo de Restauração –

PER (11 propriedades). São José dos Campos, 2018b.

______. Produto 10.2 – Elaboração do Projeto Executivo de Restauração –

PER (Fazenda Santa Terezinha). São José dos Campos, 2018c.

VALENTE, O. F.; GOMES, M. A. Conservação de Nascentes: hidrologia e

manejo de bacias hidrográficas de cabeceiras. 1° ed. Editora Aprenda Fácil:

Viçosa, MG, 2005.

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invertebrados bentônicos, em riachos de primeira ordem na bacia do Baixo Rio

Iguaçu. In: VII Jornada de Iniciação Científica e Tecnológica. Anais...

Erechim/RS: 2017

VIEIRA, E. T. Industrialização e Políticas de Desenvolvimento Regional: o Vale do

Paraíba Paulista na segunda metade do século XX. V Encontro de Pós-

graduação em História Econômica. p. 177, 2009.

WANG, X. et al. Assessment of soil erosion change and its relationships with land

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WERLE, W. Pagamento por prestação de serviços ambientais: um estudo do

programa nacional de recuperação de nascentes de Três Passos/RS.

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Três Passos, p. 71, 2013.

ZIMMER, A. H. et al. Degradação, recuperação e renovação de pastagens.

Embrapa Gado de Corte, p. 42, 2012

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APÊNDICE A

Roteiro de entrevista

1. Qual cargo ocupa enquanto gestor do Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá?

2. Qual a motivação para criação do Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá?

3. Quais fontes de informações foram utilizadas para criação do mesmo?

4. Quais os objetivos do projeto?

5. Como é o funcionamento (operacional) do projeto?

6. Qual é o benefício, ou, quais são as vantagens para a prefeitura e para o

município em ter o programa?

7. Quais os resultados esperados com o projeto?

8. Diante dos problemas enfrentados, quais os pontos negativos que são

importantes serem ressaltados dentro do Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá?

9. Em sua opinião, quais os principais pontos a serem considerados antes de

iniciar um projeto de PSA?

10. Como você avalia o programa?

11. Como você vê o futuro do programa?

12. Qual sua opinião sobre pagamento por serviços ambientais?

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ANEXO A

Quadro de espécies vegetais empregadas no Projeto PSA Ribeirão Guaratinguetá (continua)

Nº Nome usual Nome científico Sínd. Dispersão

Grupo Ecológico

Grupo Funcional

1 Açoita-cavalo Luchea divaricata ANE P P

2 Aldrago Pterocarpus violaceus

ANE P P

3 Alecrim-de-campinas

Holocalyx balansae

AUT NP D

4 Alelueiro Senna multijuga ZOO P P

5 Algodoeiro Helioocarpus americanus

ANE P P

5 Anda-assu Joannesia princeps

AUT NP P

7 Anjico-branco Anadenanthera colubrina

AUT NP D

8 Anjico vermelho

Anadenanthera macrocarpa

AUT P P

9 Araucária Araucaria angustifólia

AUT/ZOO NP D

10 Aroeira pimenteira

Schinus terebinthifolius

ZOO P P

11 Branquilio Sebastiania commersoniana.

AUT/ZOO P P

12 Cabreúva-vermelha

Myroxylon balsamum

ANE NP D

13 Cabreúva parda

Myroxylon peruiferum

ANE NP D

14 Canafístula Phethoforum dubium

AUT P P

15 Camboatá Cupania vernalis ZOO NP D

16 Cambucá Plinia edulis ZOO NP D

17 Candeia Gochnatia polymorpha

ANE P P

18 Canela-vassouta

Cinnamomum stenophyllum

ZOO NP D

19 Canudo-de-pito

Senna bicapsularis AUT P P

20 Capixingui Croton floribundus AUT P P

21 Capororoca preta

Rapanea ferruginea

ZOO P D

22 Capororoca-branca

Sparattosperma leucanthum

ANE P D

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(continuação)

Nº Nome usual Nome científico Sínd.

Dispersão Grupo

Ecológico Grupo

Funcional

23 Castanha-do-maranhão

Bombacopsis glabra

ZOO NP D

24 Cedro Cedrela fissilis ANE NP D

25 Cereja-do-rio-grande

Eugenia involucrata

ZOO NP D

26 Chico-pires Pithecolobium incuriale

AUT P P

27 Copaíba Copaifera langsdorffi

ZOO NP D

28 Coração de negro

Poecilanthe parviflora

AUT NP D

29 Dedaleiro Lafoensia pacari ANE NP D

30 Embira-de-sapo

Lonchocarpus guillemianeus

AUT NP D

31 Falso-barbatimão

Cassia leptophylla AUT NP D

32 Figueira Ficus carica ZOO NP D

33 Goiaba Psidium guajava ZOO NP D

34 Guamirim-pitanga

Eugenia florida ZOO NP D

35 Guarantã Esenbeckia leiocarpa

AUT NP D

36 Embiumçu Pseudobombax longiflorum

ANE NP D

37 Ingá-ferradura Inga sessilis ZOO P P

38 Ingá-mirim Inga marginata ZOO NP P

39 Ingá-quatro-quinoas

Inga uruguensis ZOO P P

40 Ingá-banana Inga affinis ZOO P P

41 Ipê-amarelo Tabebuia chrysotricha

ANE NP D

42 Ipê-amarelo-do-brejo

Tabebuia umbellata

ANE NP D

43 Ipê-branco Tabebuia roseo-alba

ANE NP D

44 Ipê-felpudo Zeyheria tuberculosa

ANE P D

45 Ipê-rosa Tabebuia impetiginosa

ANE NP D

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(continuação)

Nº Nome usual Nome científico Sínd.

Dispersão Grupo

Ecológico Grupo

Funcional

46 Ipê-roxo Tabebuia impetiiginosa

ANE NP D

47 Ipê-roxo-sete-folhas

Tabebuia heptaphyllus

ANE NP D

48 Jacarandá-branco

Jacaranda cuspidifolia

ANE NP D

49 Jaracatiá Jacaratia spinosa ZOO NP D

50 Jequitibá-branco

Cariniana estrellensis

ANE NP D

51 Jequitibá-vermelho Cariniana legalis ANE NP D

52 Jerivá Syagrus romanzoffiana

ZOO NP D

53 Limão-bravo Seguieria langsdorffii

ANE P D

54 Louro-pardo Cordia trichotoma ANE NP D

55 Manacá-da-serra

Tibouchina mutabilis

ANE P P

56 Maria-mole Dendropanax cuneatus

ZOO P D

57 Maricá Mimosa bimucronata

AUT P P

58 Mirimdiba Lafoensia glyptocarpa

ANE NP D

59 Monjoleiro-vermelho Acacia polyphylla AUT P P

60 Mulungu Erytrina speciosa AUT P P

61 Mutambo Gazuma ulmifolia ZOO P P

62 Oiti Licania tomentosa ZOO NP D

63 Pacová-de-macaco

Swartzia langsdorffii

ZOO NP D

64 Paineira-rosa Chorista speciosa AUT P P

65 Palmito-jussara

Euterpe edulis ZOO NP D

66 Pau-d’alho Gallesia integrifolia ANE NP D

67 Pau-ferro Caesalpina férrea AUT NP P

68 Pau-viola Citharexyllum myrianthum

ZOO P P

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(conclusão)

Nº Nome usual Nome científico Sínd.

Dispersão Grupo

Ecológico Grupo

Funcional

69 Pessegueiro-bravo

Prunus sellowii ZOO NP D

70 Pinha-do-brejo Magnolia ovata ZOO NP D

71 Pitanga Eugenia uniflora ZOO NP D

72 Pitanga-preta Eugenia florida ZOO NP D

73 Quaresmeira-roxa

Tibouchina granulosa

ANE P P

74 Sabão-de-soldado

Sapindus saponaria

ZOO NP D

75 Sangra-d’agua Croton urucurana AUT P P

76 Sibipiruna Caesalpinia peltoporoides

AUT NP P

77 Sombreiro Clitoria fairchildiana

AUT NP D

78 Suinã Erythrina verna AUT NP D

79 Tauíva Maclura tinctoria ZOO NP D

80 Tamboril Enterolobium contortisiliquum

AUT P P

81 Tapiá Alchornea sidifolia ZOO P P

82 Urucum Bixa ollerana ZOO P D

83 Uvaia Eugenia Pyriformis ZOO NP D

84 Gravitinga Solanum granulosoleprosum

ZOO P P

85 Pata-de-vaca Bauhinia forticata AUT P P

86 Araçá Psidium cattleyanum

ZOO NP D

ANE: Anemocórica, AUT: Autocórica, ZOO: Zoocórica P: Pioneira, NP: Não Pioneira D: Diversidade, P: Preenchimento Fonte: VALE VERDE (2018b), adaptado autor.