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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Michele Maria de Jesus O Lúdico no processo de ensino-aprendizagem na Educação Infantil São Paulo 2011

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Michele Maria de Jesus

O Lúdico no processo de ensino-aprendizagem na Educação Infantil

São Paulo

2011

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Michele Maria de Jesus

O Lúdico no processo de ensino-aprendizagem na Educação Infantil

Trabalho de Graduação Inter-disciplinar

apresentado à Universidade Presbiteriana

Mackenzie..

Orientadora: Profª. Ms. Marcia Regina Vital

São Paulo

2011

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Agradecimentos

Começo agradecendo a minha mãe que sempre se esforçou para conseguir me

dar àquilo que ela não conseguiu ter. Agradeço por ela sempre estar lá quando eu precisei, por

ter que me agüentar nos momentos de mais estresse e raiva durante o período de realização

deste curso. Também agradeço meu pai que me apóia sempre, mesmo que nem sempre de

forma ativa.

Agradeço a minha irmã Gabriela por ser minha grande companheira e sempre

me fazer desligar do TCC e ficar conversando e rindo com ela. Além dela também agradeço

as minhas irmãs de alma Cássia Oliveira, Kelly Cristina e Ana Nave que sempre estiveram me

apoiando durante todo o curso, mesmo nos momentos em que eu mais me encontrava perdida,

mas mesmo assim elas continuaram lá. Agradeço também os meus amigos da faculdade

Daniele, Karen, Débora, Patrícia e Elisangela que me fizeram rir bastante durante todo esse

tempo juntas.

Os meus amigos de longa data não poderiam ficar de fora, agradeço a Marina

Bulla, a Jéssica Roxo, ao Caio Grecco, ao Marcos Tibau e a Fernanda Moreira por

continuarem sendo meus amigos mesmo com a minha enorme ausência e por sempre estarem

lá quando eu precisava espairecer porque Amigo tem que ser Honesto.

Agradeço também minha orientadora por me ajudar a desenvolver esse

trabalho, apesar das grandes dificuldades que encontrei durante o processo de produção.

Por último agradeço, mesmo que ele não entenda, ao meu gato Lui que sempre

esteve comigo nas longas noites de produção do TCC, mesmo que muitas vezes ele estivesse

dormindo.

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Resumo

Por ser o primeiro contato que a criança tem com o mundo escolar a Educação Infantil está

repleta de brincadeiras e jogos que podem ser utilizados com enfoque didático dentro da sala

de aula como, por exemplo, os jogos didáticos e os jogos educativos. Sua utilização pode

ajudar no desenvolvimento social, psicológico e no aprendizado das crianças. Deste modo, a

pergunta que se coloca pra este trabalho é: os professores utilizam o jogo para ensinar as

crianças? Para responder a questão, o objetivo proposto é verificar a concepção que os

professores têm sobre o lúdico e como este é utilizado no processo ensino-aprendizagem.

Foram realizadas duas entrevistas semi-estruturadas com duas professoras da Educação

Infantil de uma escola particular da cidade de São Paulo. A partir das entrevistas realizadas

foi possível perceber que o lúdico é utilizado na escola, algumas vezes como um auxiliador do

processo de aprendizagem, entretanto não sabemos até que ponto, pois ele também pode ser

visto como uma atividade normal das crianças que não está diretamente relacionada ao

ensino. Deste modo temos o lúdico, como atividade auxiliadora, sendo excluído da escola.

A atividade lúdica é uma ferramenta bastante importante para auxiliar no processo de ensino-

aprendizagem das crianças, pois consegue envolvê-las e transmitir um conhecimento.

Entretanto, é importante que tanto as crianças como o professor saibam utilizar esse material

de forma a gerar um aprendizado realmente significativo, pois senão só teremos a sua

utilização como uma atividade relacionada à recreação.

Palavras-chave: Lúdico, Ensino-Aprendizagem, Educação Infantil.

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Abstract

As the first contact that the child has with the world of the kindergarten school is full of fun

and games that can be used to focus teaching in the classroom, for example, educational

games. It use can help to develop social, psychological and learning of children. Thus, the

question that arises is to this work: teachers use the game to teach children? To answer the

question, the proposed objective is to verify the concept that teachers have about the play and

how it is used in the teaching-learning process. There were two semi-structured

interviews with two teachers from kindergarten at a private school in São Paulo. From

the interviews it was revealed that the play is used in school, sometimes as a helper of the

learning process, however we do not know to what extent, because it can also be seen

as a normal activity of children is not directly related to teaching. Thus we have the play, such

as helper activity, being excluded from school.

The play activity is a very important tool to assist in the process of teaching and learning of

children as they can involve them and transmit knowledge. However, it is important that both

children and teachers know how to use this material to generate a truly meaningful learning,

otherwise we will only have its use as an activity related to recreation.

Keywords: The play, Teaching and Learning, Early Childhood Education.

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Sumário

Introdução.............................................................................................................................. 7

1.Educação Infantil ................................................................................................................ 9

1.1 Breve Histórico da Educação Infantil ........................................................................... 9

2. O Lúdico .......................................................................................................................... 14

2.1. Jogo .......................................................................................................................... 15

2.2 Brinquedo .................................................................................................................. 17

2.3 Brincadeira ................................................................................................................. 18

3. O jogo na educação .......................................................................................................... 20

4. Procedimentos Metodológicos ......................................................................................... 25

5. Análise ............................................................................................................................. 27

Considerações Finais ........................................................................................................... 33

Referências ......................................................................................................................... 35

APÊNDICE 1 ...................................................................................................................... 37

APÊNDICE 2 ...................................................................................................................... 38

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Introdução

A escolha do tema do meu trabalho de conclusão de curso está relacionada com

a admiração, carinho e afinidade que tenho com as crianças. A falta de contato com elas no

meu dia-a-dia, principalmente porque não tenho irmãos pequenos, e com os jogos,

brincadeiras e brinquedos que são utilizados nessa faixa etária também foram fatores que

influenciaram a escolha do tema. Quando somos crianças os brinquedos, brincadeiras e jogos

fazem parte do nosso cotidiano e estão envolvidos nos momentos de lazer e recreação tanto na

escola como em casa. Na educação infantil ocorre o primeiro contato formal da criança com a

educação e é comum encontrar os elementos lúdicos neste local. Sendo assim, é necessário

que o professor compreenda a importância do lúdico no processo ensino-aprendizagem não o

utilizando somente nos períodos de recreação.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº

9.394/96), a Educação Infantil faz parte da Educação Básica e tem por objetivo o

desenvolvimento integral da criança. Os locais encarregados da Educação Infantil são as

creches e as pré-escolas, sendo que nas creches serão atendidas crianças de até 3 anos e nas

pré-escolas crianças de até 6 anos.

Por ser o primeiro contato que a criança tem com o mundo escolar a Educação

Infantil está repleta de brincadeiras e jogos que podem ser utilizados com enfoque didático

dentro da sala de aula como, por exemplo, os jogos didáticos e os jogos educativos. Sua

utilização pode ajudar no desenvolvimento social, psicológico e no aprendizado das crianças.

Deste modo, a pergunta que se coloca pra este trabalho é: os professores utilizam o jogo para

ensinar as crianças? Para responder a questão, o objetivo proposto é verificar a concepção que

os professores têm sobre o lúdico e como este é utilizado no processo ensino-aprendizagem.

Com relação à metodologia, optou-se pela qualitativa, por meio de

levantamento bibliográfico sobre o lúdico e a realização de 2 entrevistas semi-estruturadas

(Apêndice 2) com 2 professoras da pré-escola de uma escola particular da cidade de São

Paulo. O trabalho está organizado em 5 capítulos: no primeiro, intitulado Educação Infantil,

apresenta-se breve histórico sobre a Educação Infantil. No segundo, O Lúdico, apresenta-se o

lúdico e a definição de jogo, brinquedo e brincadeira. No terceiro, o Jogo na Educação,

comenta-se sobre a importância do lúdico no processo ensino-aprendizagem, no quarto

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capítulo apresenta-se os procedimentos metodológicos. O quinto apresenta a análise das

entrevistas realizadas com as professoras; depois são feitas as considerações finais e por

último apresento as referências.

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1. Educação Infantil

Neste capítulo será apresentado um breve histórico da Educação Infantil.

1.1 Breve Histórico da Educação Infantil

A Educação Infantil teve sua origem quando foi questionado, na sociedade, o

papel da criança e como esse papel seria desenvolvido. Oliveira (2002) nos mostra que

autores como Erasmo e Montaigne pensavam numa educação para as crianças na qual

valorizava-se a própria criança e associava-se seu aprendizado ao jogo.

Segundo a autora, muitas estruturas foram construídas para assegurar que as

crianças tivessem um lugar adequado para ficar, como por exemplo: “charity schools”,

“infants schools” e “nursery schools” em Londres; “knitting schools” (criadas por um pastor

francês). Esses locais tinham como objetivo cuidar dos filhos de trabalhadores e ensinar a ser

obediente, ter moralidade, devoção e valorizar o trabalho.

Comênio (1592-1670), educador e bispo protestante, pensava na educação das

crianças menores de 6 anos e que seu início começava com a família. Ele elaborou, em 1637,

“um plano material de escola maternal” (OLIVEIRA, 2002, p. 64) no qual dava

recomendação da utilização de materiais audiovisuais para auxiliar na educação das crianças.

Utilizou a palavra “jardim-de-infância” , em 1657, para nomear o local de aprendizado das

crianças.

Rousseau (1712-1778) também influenciou a área da educação infantil quando

se opôs aos modos utilizados e criou uma proposta educacional que era contra preconceitos e

autoritarismo. Defendia uma educação que fosse resultado do livre exercício das crianças, ou

seja, a aprendizagem deveria ocorrer por meio “da experiência, de atividades práticas, da

observação, da livre movimentação, de formas diferentes de contato com a

liberdade”(OLIVEIRA, 2002, p. 65).

Pestalozzi (1746-1827) também fez contribuições para a Educação Infantil

tendo como base as idéias de Comênio e Rousseau. Afirmava que o desenvolvimento das

crianças é importante no momento da construção, do que poderia ser ensinado e como algo

deveria ser ensinado como, por exemplo, a utilização de atividades relacionadas à música, arte

entre outras.

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Na Alemanha, Froebel, em 1837, cria o jardim de infância (kindergarten),

utilizando as idéias de Pestalozzi como base. A diferença entre as creches que existiam e o

jardim de infância era que este apresentava na sua proposta educacional atividades de

cooperação e o jogo como auxílio da educação das crianças. Ou seja, a pedagogia froebeliana

utilizava-se de recursos auxiliares para a aquisição de conhecimento pela criança (Kishimoto,

1998).

A Educação Infantil foi defendida pelos médicos Decroly (1871-1932) e

Montessori (1879-1952) que tinham como princípio a utilização de materiais confeccionados

especialmente para as crianças. Decroly era a favor de “um ensino voltado para o intelecto”

(OLIVEIRA, 2002, p.74) dando ênfase ao conteúdo que seria ensinado e defendia a

classificação dos alunos para que fosse possível a formação de classes homogêneas. Foi ele

quem expandiu “a noção de jogos educativos” (KISHIMOTO, 1998, p. 23). Montessori, ao

contrário de Decroly, tinha como proposta trabalhar envolvendo o psicológico das crianças e

seus interesses. Montessori estava focada na utilização de material pedagógico na educação e

na criação de um local que ajudaria no desenvolvimento da criança sendo que o professor

teria como papel arrumar o ambiente e observar a criança.

Após a primeira guerra mundial o Movimento das Escolas Novas apareceu e

tinha como objetivo ter uma aprendizagem feita pelas experiências da criança ao invés de

decorar conteúdos. Além disso, esse movimento era contra a concepção que a sociedade

atribuiu à escola como só uma preparação para a vida; o movimento queria que a visão da

criança e seus interesses também fossem levados em conta para construir uma escola que

estivesse compromissada com a aprendizagem das crianças.

Os psicólogos também influenciaram a história da Educação Infantil como, por

exemplo, Vygotsky, Piaget e Wallon. Vygotsky, afirmava que as crianças eram introduzidas

na cultura pelos pais ou pelos adultos que as rodeavam, ou seja, o meio onde elas estavam

inseridas contribuía para sua formação. Ele acreditava que as representações mentais,

juntamente com a utilização de símbolos, auxiliavam na relação do indivíduo com o mundo.

Para Wallon a afetividade era importante na diferenciação da criança e desenvolveu uma

teoria tendo como premissa que a “emoção é a primeira forma de adaptação do sujeito ao

meio que o circunda” (REIS, 2010, p. 41).

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Piaget também contribui com a Educação Infantil e assim como Wallon

também acreditava que o ambiente onde o indivíduo estava inserido auxiliava no

desenvolvimento e construção de conhecimento. Para o autor, o desenvolvimento cognitivo da

criança apresenta o mecanismo da assimilação e da acomodação e está dividido em quatro

etapas: sensório-motor (0 a 2 anos), pré-operatório (2 a 7 anos); operações concretas (7 a 11

anos) e operações formais (11 anos em diante). É na etapa do pré-operatório que Piaget traz a

importância do jogo simbólico e do desenho porque é nessa fase que a criança está envolvida

com conceituações e representações das coisas, e a partir daí consegue fazer representações

do que aprendeu, do que foi compreendido.

Freinet (1896-1966) pensava que a educação deveria extrapolar as paredes da

sala de aula e integrar-se à vida social da criança ajudando-a no desenvolvimento das suas

capacidades. Mesmo propondo essa idéia Freinet nunca trabalhou com crianças, mas foi em

locais como creches e pré-escolas de vários países que suas práticas tiveram mais impacto

sobre as práticas didáticas. No período da década de 50, após a segunda guerra mundial,

aumentou-se o interesse em relação às crianças e com isso as brincadeiras são mais

valorizadas; criam-se lugares denominados “play groups” onde as crianças podiam brincar

em determinados horários durante a semana.

A pedagogia froebeliana, que era a mais aceita entre os educadores, se

espalhou pelo mundo, auxiliada pelo Movimento das Escolas Novas principalmente nos

Estados Unidos, devido à ênfase que essa pedagogia dava às atividades em grupo. Com a

disseminação desta idéia tanto o Movimento das Escolas Novas quanto a pedagogia de

Froebel acabaram chegando ao Brasil.

O Brasil, até a primeira metade do século XIX, não apresentava um local onde

as crianças podiam ficar, uma vez que cabia a família a incumbência da sua educação. Com o

passar do tempo e com a ida da mulher para o mercado de trabalho ficou a cargo das creches o

papel de educar as crianças. A pedagogia froebeliana apareceu aqui no Brasil por volta do

final do século XIX e foi rodeada de muitas críticas, como sendo uma pedagogia que criava

locais para guardar as crianças, e muitos elogios. Foi apresentada juntamente com o

Movimento das Escolas Novas devido à influência dos Estados Unidos e da Europa

(OLIVEIRA, 2002).

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Em 1875 e 1877 foram criados os primeiros jardins de infância particulares no

Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente. Tempos depois, os jardins de infância

públicos foram criados tendo como base a pedagogia froebeliana, mas ainda atendiam

crianças cujas famílias tinham melhores condições financeiras. Outros órgãos foram criados

para atender as crianças como, por exemplo, o Instituto de Proteção e Assistência à Infância.

Por muito tempo os jardins de infância e as creches foram denominados instituições

assistencialistas e de educação compensatória, sendo que a educação compensatória indicava

a diferença entre as classes de maior renda e menor renda.

O cunho assistencialista dado às creches e jardins de infância foi relacionado

com o papel da escola ficar como educadora enquanto a família estava trabalhando. Alguns

educadores preocupados com a qualidade do trabalho pedagógico que era realizado nessas

instituições começaram a apoiar o “escolanovismo”, movimento que pretendia fazer e trazer

uma renovação pedagógica na educação. Em 1924, é fundada a Associação Brasileira de

Educação, tendo como base as idéias do Movimento das Escolas Novas. Em 1929, as novas

idéias e concepções que surgiram com esse movimento foram apresentadas para a sociedade

por meio de um livro intitulado Introdução ao estudo da Escola Nova, lançado por Lourenço

Filho (OLIVEIRA, 2002).

Em São Paulo, Mário de Andrade propôs a divulgação das Praças de Jogos que

seriam semelhantes aos jardins de infância propostos por Froebel e influenciadas pelo

Movimento da Escola Nova. Em 1953, o Departamento Nacional da Criança, que foi

substituído tempos depois pela Coordenação de Proteção Materno-Infantil, divulga que

creches e pré-escolas deveriam ter material para educação das crianças, mas as creches ainda

continuaram com o mesmo caráter assistencialista e sendo tratadas como locais onde as

questões da saúde poderiam ser amenizadas.

Em 1961, foi aprovada a Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei

nº4.026/61) que “aprofundou a perspectiva apontada desde a criação dos jardins-de-infância:

sua inclusão no sistema de ensino” (OLIVEIRA, 2002, p 102). Segundo a lei, a educação pré-

primária seria oferecida para crianças de até 7 anos e ocorreria em escolas maternais e jardins-

de-infância. Em 1967, houve influência do tecnicismo sobre as entidades orientadoras

refletindo em maior preocupação com os aspectos da educação formal. Essa ação teve como

objetivo ser uma compensação cultural, devido à desigualdade entre as creches e os jardins

particulares. Durante o período militar, houve uma diminuição das discussões sobre a

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educação infantil e seus locais de apresentação; após esse período, houve a retomada das

discussões e elaboração de programas para romper com a visão assistencialista e

compensatória, e propor uma pedagogia que desenvolvesse a criança.

Nas décadas de 80 e 90 houve muitos avanços na área da Educação Infantil:

promulgação da Constituição Federal de 1988, que determinou que “50% da aplicação

obrigatória de recursos em educação fosse destinado a programa de alfabetização”

(OLIVEIRA, 2002, p 116); promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA,

1990) e aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº

9.394/96).

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2. O Lúdico

Neste capítulo apresenta-se, de maneira breve, o lúdico e a definição de jogo,

brinquedo e brincadeira.

O lúdico envolvia tanto os adultos como as crianças, mas estas também tinham

seus próprios jogos que ocorriam em determinados momentos sem a interferência dos adultos.

Conforme Friedmann (1998), a brincadeira era um “elemento da cultura do riso, do carnaval e

do folclore” e “um fenômeno social” (FRIEDMANN, 1998, p. 29). Pode-se entender que o

lúdico também é um elemento da cultura e deste modo precisa ser visto “como produto e

como processo” (MARCELLINO, 1989, p. 29) desta cultura. Com o passar do tempo, a

brincadeira, desenvolvida nos momentos lúdicos, se tornou individual e foi transformada ou

abandonada, tendo também o abandono por parte dos adultos ocorrendo, assim, a segregação

das crianças em relação aos adultos, (FRIEDMANN, 1998). Deste modo, adultos e crianças

não compartilhavam mais o momento lúdico e as crianças ficaram como “detentoras” da ação

de brincar.

O lúdico é estudado por vários autores e para a maioria deles é uma atividade

que está associada ao prazer e a vida. Olivier (2003) comenta que o lúdico tem como objetivo

a vivência prazerosa, é realizado sem motivo, é espontâneo; privilegia a criatividade devido à

sua ligação com o prazer, não tem regras pré-estabelecidas e seu local de manifestação é o

lazer, e o lazer “tem no prazer uma das suas características fundamentais” (OLIVIER, 2003,

p.21). Para Silva (2007) é definido como “qualquer atividade em que existe uma concentração

espontânea de energias com finalidade de obter prazer da qual os indivíduos participam com

envolvimento profundo e não por obrigação” (p.7). Sendo assim, a relação do lúdico com o

lazer é estabelecida porque ambos possuem uma atitude voluntária (MARCELLINO, 1989).

Huizinga (2004) relaciona o lúdico com o jogo; essa relação ocorre porque o

jogo é uma atividade livre, “não-séria” (p. 16), é exterior a vida habitual, tem a capacidade de

absorver o jogador, não está ligada a interesses materiais, é praticado em tempo e local

determinado, segue regras e possui uma ordem. O lúdico possui as seguintes características:

“ordem, tensão, movimento, mudança, solenidade, ritmo e entusiasmo. “(HUIZINGA, 2004,

p.21)” que também podem ser vistos no jogo.

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Ao contrário de Huizinga (2004) que define o lúdico relacionando-o com as

atividades nas quais ele está presente, Marcellino (1989) afirma que o lúdico não pode ser

definido deste modo, como por exemplo, relacionando-o com o jogo, a brincadeira e o

brinquedo. Para o autor, o lúdico tem que ter uma abordagem como um componente da

cultura historicamente situada, sem tentar definir em qual atividade ele se encontra (jogo,

brinquedo, brincadeira).

O lúdico está relacionado com a vida e desta forma está relacionado com o

desenvolvimento do ser humano, principalmente no período da infância. No caso do

desenvolvimento infantil (o psicológico, o físico, o social e o cognitivo) seu alicerce está no

lúdico. Para Marcellino (1989) é por meio do lúdico que a criança consegue se expressar.

Sempre houve a utilização de jogos e brincadeiras na escola, principalmente na educação

infantil, para que a criança se desenvolva e aprenda. E, com base nisto, o autor traz que é por

meio da atividade lúdica que ocorre a integração entre o desenvolvimento da criança e o

desenvolvimento educacional.

2.1. Jogo

Silva (2007) afirma que o conceito de jogo está mais relacionado com o lúdico;

assim como o lúdico, o jogo faz parte da história da humanidade e é por meio dele que nos

desenvolvemos. Marcellino (1989) também acredita que o lúdico ajuda na formação do ser

humano e que essa formação servirá para torná-lo participante da cultura da sociedade e não

somente um indivíduo. De acordo com Huizinga (2004) o jogo é toda e qualquer atividade

humana, está presente em tudo que nos cerca; é um fenômeno cultural e não biológico. O

autor caracteriza o jogo da seguinte maneira:

- atividade livre, que se não for voluntária e existir ordens teremos uma

“imitação forçada” do jogo; - “não-séria”, mas ele pode ocorrer na seriedade;

- exterior a vida habitual;

- absorve o jogador intensamente e totalmente, ele é fascinante e excitante; - atividade desligada de interesses materiais, ele se realiza na satisfação da

sua realização;

- é praticado dentro de limites espaciais e temporais próprios;

- segue determinadas regras; - “fazer de conta”;

- possui ordem e cria ordem;

- ajuda na formação de grupos sociais (p. 16).

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Christie (apud Kishimoto, 1998) identifica o jogo com basicamente as mesmas

características indicadas por Huizinga. Contudo, Kishimoto comenta que as características de

livre escolha (sem essa escolha o jogo é trabalho ou ensino) e controle interno (o jogo

educativo pode não ter a liberdade do aluno) são características que podemos utilizar para

averiguar se os professores concebem atividades escolares como jogo ou trabalho. O jogo,

para Mello (2003), é uma relação dialética entre a realidade e a fantasia, e o seu conteúdo e

significado dependem do local de realização.

Volpato (2002) traz, outra visão sobre os jogos: “Jogos infantis, são

impregnados de comportamentos miméticos, que não se limitam de modo algum à imitação

de pessoas, pois as crianças não brincam apenas de ser comerciante ou professor, mas também

de moinho-de-vento e trem.” (p. 222) Neste caso a capacidade mimética, ou seja, de repetição

auxilia na formação da criança, porque como sabemos é na Educação Infantil que ela começa

a se apropriar dos elementos culturais e representar os objetos e coisas ao seu redor.

O jogo acabou perdendo espaço na sociedade e na escola e essa perda de

espaço na sociedade está relacionada com a não preocupação com a cultura da criança pelos

adultos, conforme afirma Marcellino (1989). A exclusão do jogo da escola também está

relacionada com as características que ele apresenta como, por exemplo, não parecer ser uma

atividade séria. Contudo, Huizinga (2004) caracteriza os jogos infantis como atividades

realizadas na seriedade, porque a partir do momento em que as crianças começam a brincar se

transportam para um mundo de fantasia, no qual elas são atores interpretando uma realidade

que por ser realizada intensamente acaba se tornando uma atividade séria. Entretanto, as

crianças sabem que essa realidade é um jogo e é por isso que ele é caracterizado como sério.

Com base nisso, o autor afirma que “os jogos infantis possuem a qualidade lúdica em sua

própria essência, e na forma mais pura dessa qualidade” (p. 21).

Mesmo sendo excluído da escola, o jogo é utilizado nela como uma proposta

pedagógica. É importante lembrar que a exclusão mencionada aqui é a do jogo como auxiliar

do aprendizado; o jogo feito pelas crianças e por vontade própria; o jogo sem a imposição dos

professores. Oliveira (2002) comenta que o jogo é visto como um recurso que auxilia no

desenvolvimento e aprendizagem da criança, por meio de conteúdos e habilidades que devem

ser trabalhados, e que o jogo de faz-de-conta auxilia na autonomia e criatividade da criança,

podendo ser usado para dar sentido às atividades descontextualizadas que são realizadas.

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2.2 Brinquedo

O brinquedo, no senso comum, é definido como objeto utilizado na

brincadeira, mas para Kishimoto (1998) é um objeto que dá suporte e orienta a brincadeira,

tem uma atribuição lúdica e pode ser usado como recurso de ensino ou como material

pedagógico. Para Vygotsky (apud Reis, 2010) é um meio utilizado para satisfazer desejos das

crianças que não podem ser realizados imediatamente. Deste modo, o brinquedo contribui,

juntamente com a brincadeira, para o desenvolvimento e construção dos saberes da criança.

Marcellino (1989) define brinquedo como um objeto cuja utilização é marcada “pelo

exercício individual e pela gratuidade” (p. 26) e é por meio dele que a criança se expressa;

assim como a brincadeira ele também é um instrumento do brincar.

Outra concepção de brinquedo é a de Brougère, a qual Volpato (2002) nos

apresenta. Para esse autor o brinquedo além de orientar a brincadeira também lhe traz

conteúdo e matéria. O autor afirma que só podemos brincar com aquilo que temos “e a

criatividade, tal como a evocamos, permite, justamente, ultrapassar esse ambiente, sempre

particular e limitado.” ( p. 224-225).

Os brinquedos eram utilizados tanto pelas crianças como pelos adultos e eram

produzidos por pessoas diferentes, ou seja, não existia uma loja especializada em brinquedos.

Contudo, com o passar do tempo, essa forma de produção individual foi substituída pela

especialização dos brinquedos (Volpato 2002). O autor explica que “com o desenvolvimento

do capitalismo, o brinquedo passou a ser comercializado com fins lucrativos. A partir daí, os

objetivos do brinquedo começam a se afastar da sua origem.” (p. 220).

Os brinquedos já possuíram várias formas e de um modo geral, todos tinham

como principal função entreter as crianças e “ “ ensinar” comportamentos, gestos, atitudes,

valores, considerados “corretos” em nossa sociedade. Por isso, a maioria deles já vem pronta,

catalogada, contendo todas as instruções de uso, idade, sexo, número de participantes, de

duração do jogo, basta segui-las (Volpato, 1999. IN: VOLPATO, 2002, p. 220-221).”

Volpato (2002) traz a idéia, de que o brinquedo está inserido na sociedade e

por isso ele suporta as funções sociais e isso confere sua razão de ser, existir. O adulto acabou

apoderando-se do brinquedo e o transformando em pura comercialização e o tornou um

artifício para mostrar para crianças as regras e conduta dos adultos. O autor ainda traz a

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definição de brinquedo de Brougère (1997) que afirma que o brinquedo se tornou algo

planejado pelos adultos para as crianças.

Além dos tipos de brinquedos que conhecemos também existe o brinquedo

educativo; ele teve sua origem no renascimento e ganhou força no século XX devido à

expansão da Educação Infantil. Este tópico será abordado com maior ênfase no próximo

capítulo.

2.3 Brincadeira

A brincadeira está relacionada com a ação de brincar. Essa ação está

relacionada ao jogo porque ao brincarmos e jogarmos nos divertimos (Silva, 2007). As

brincadeiras são caracterizadas como atividades livres, têm um enfoque individual, segundo

Winicott (apud Marcellino, 1989), e possuem um fim em si mesmas. Por isso as brincadeiras

“são organizadas apenas por recreação e divertimento”, sendo consideradas atividades lúdicas

(VITAL, 2003, p. 39).

Para Rosa (2002) a brincadeira é “como uma atividade separada e

independente da criança que brinca” (p. 40). A autora relaciona esse sentido da brincadeira

com o sentido de brincar, de Winnicott, que atribui à palavra brincar “uma experiência num

continuum espaço-tempo, uma forma básica de viver” (p. 40). Vital (2003) traz que a

brincadeira é um “recurso que ensina, desenvolve e educa de forma prazerosa; o brinquedo

educativo encontra-se exemplificado no quebra-cabeça, nos brinquedos de tabuleiro” (p. 41).

Oliveira (2002) também faz a relação do brincar com o desenvolvimento. A

autora comenta que ao brincar a criança se desenvolve, pois seus processos psicológicos são

acionados e desenvolvidos. Para ela a “brincadeira infantil beneficia-se de suportes externos

para sua realização: rituais interativos, objetos e brinquedos” (p.231). Outra visão de

brincadeira é a trazida por Vygotsky (apud Reis, 2010), na qual o faz-de-conta auxilia na

experimentação do mundo pela criança e também contribui para o seu desenvolvimento.

Mello (2003) afirma que é por meio da brincadeira que as crianças conseguem

expressar “suas fantasias, seus sentimentos, suas ansiedades e suas experiências” (p. 30) de

forma a construir uma identidade e conhecimento. Friedmann (1998) apresenta um raciocínio

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parecido quando afirma que e a partir da socialização e experimentação das situações a

criança aprende.

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3. O jogo na educação

“O brincar é uma das formas privilegiadas de as crianças se expressarem, se

relacionarem, descobrirem, explorarem, conhecerem e darem significado ao

mundo, bem como de construírem sua própria subjetividade, constituindo-se como sujeitos humanos em determinada cultura. É, portanto, uma das

linguagens da criança e, como as demais, aprendida social e culturalmente.”

(FARIA E SALLES, 2007, p. 70)

A brincadeira como atividade específica há muito tempo foi reconhecida como

“interessante e produtiva estratégia de ensino especialmente na educação infantil” (ROSA,

2002, p. 57). É por meio das brincadeiras realizadas ao longo da infância que as crianças

aprendem, se expressam e constroem sua “identidade tanto pessoal quanto social” (FARIA E

SALLES, 2007, p.71).

Rosa (2002) afirma que brincar e aprender apresentam diferenças; contudo,

eles não são opostos, existem na escola e cada um têm o seu lugar. A escola, para essa autora,

“é um lugar onde também se pode (no sentido de que cabe o é “permitido”) brincar. O que

não sabemos é até que ponto o professor-educador, carregando todo peso da imagem de

“seriedade” associada ao seu “fazer”, se permite brincar.” (p. 68). Ou seja, não sabemos até

onde para o professor é possível ensinar brincando. A autora ainda apresenta um estudo

realizado por Irene Caspari (com contribuições de Winnicott) no qual a aprendizagem

apresenta-se “como um estágio posterior do brincar compartilhado, mas com uma exigência

muito maior da criança em levar em conta a realidade externa” (p. 60).

Outros autores também fazem a relação entre o brincar e a aprendizagem,

como por exemplo, Vital (2003). Para a autora o brincar envolve a utilização do jogo, da

brincadeira e do brinquedo e é o modo mais eficiente para a aprendizagem porque ao

brincarmos desenvolvemos a habilidade de aprender a pensar. Assim como Vital, Volpato

(2002) também reconhece que ao brincar a criança realiza uma remodelagem da sua realidade,

construindo e reconstruindo-a e isso auxilia o seu desenvolvimento.

Podemos relacionar essa ideia proposta por Volpato, com a de Faria e Salles

(2007). Esses autores afirmam que o brincar é um “importante espaço de expressão de

aprendizagem sobre o mundo físico e social.” (p. 71). Deste modo, podemos perceber que o

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brincar é visto por muitos autores como parte importante na aprendizagem, além disso,

Kishimoto (1998) também relaciona o brincar e o aprender.

Kishimoto (1998) afirma que a “expansão dos jogos na área da educação dar-

se-á (...) estimulada pelo crescimento da rede de ensino infantil e pela discussão sobre as

relações entre o jogo e a educação” (p. 17). A autora também traz a ideia de teóricos da área

da educação, como Chateu (1979), Veal (1991) e Alain (1986) que “assinalam a importância

do jogo infantil como recurso para educar e desenvolver a criança, desde que respeitadas as

características da atividade lúdica.”(p. 10)

Como vimos, as atividades lúdicas são bastante importantes na aprendizagem;

entretanto, fazer a relação da escola, que é um local de aprendizagem tradicional, com a

atividade lúdica que realmente leva a aprendizagem parece ser complicado uma vez que na

escola parece que o aprender deve ser feito por meio de repetições e seguir regras bem rígidas.

Mas conforme Rosa (2002), a escola também é um local de criação e por ser um local de

criação deveria utilizar o lúdico. Entretanto ele acaba sendo excluído por ser entendido como

uma atividade que não ajuda na aprendizagem devendo ser realizado somente em momentos

de recreação.

Olivier (2003) traz essa visão da exclusão do lúdico na escola e afirma que ele

vem sendo excluído não somente da escola, mas também das crianças (furto do lúdico). Isso

deve ocorrer provavelmente porque o principal foco da escola é a produção de atividades

educacionais e somente após essa produção o prazer e o lazer (que estão conectados ao

lúdico) podem ser realizados. Um exemplo desta situação é a frase dita no senso comum:

“primeiro o dever, depois o prazer”, a qual sempre ouvimos na escola e em casa.

Marcellino (1989) comenta que quando o jogo ganha uma perspectiva

instrumental é desfigurado, ou seja, perde seu objetivo. Friedmann (1998) afirma que é por

isso que a “brincadeira livre” (p.33) não é utilizada na escola, pois ela demonstra ser

improdutiva ao ser incluída no ambiente escolar. Deste modo, mesmo com a presença dos

jogos na escola o lúdico ainda é furtado no processo educativo principalmente “quando a

possibilidade da atividade lúdica se transforma em atividade utilitária” (MARCELLINO,

1989, p. 61). Analisando as idéias dos dois autores percebemos que para que não haja mais a

exclusão do lúdico no âmbito escolar, primeiramente, a escola deve saber quem ela está

educando.

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Mesmo com a exclusão das atividades lúdicas (jogo, brincadeira e brinquedo)

da escola é necessário que saibamos a diferença entre elas e o material pedagógico, porque o

conceito de material pedagógico está presente na escola tanto quanto os conceitos

relacionados às atividades lúdicas e ambos são utilizados quando falamos de ensino-

aprendizagem. Se soubermos diferenciá-los, provavelmente, a utilização das atividades

lúdicas será diferente da utilização dos materiais pedagógicos.

Para Kishimoto (1998) o jogo se realiza pelos brinquedos, é auxiliador na ação

docente e ajuda na aprendizagem de conceitos, noções e habilidades. Para a autora, quando o

brinquedo é utilizado como material pedagógico ele deixa de realizar sua função lúdica. Essa

teoria também é apresentada por Marcellino (1989) quando este afirma que ao

funcionalizarmos o brinquedo o lúdico é morto e desta forma o jogo acaba virando puro

entretenimento. Para os autores, quando o jogo é utilizado para realizar uma atividade escolar

que tem como foco adquirir conhecimento e habilidades, ele perde sua característica de ser

uma ação livre, deixando de ser o jogo propriamente dito e passando a ser um instrumento

pedagógico.

Este instrumento pedagógico, mencionado por Kishimoto, receberá o nome de

Jogo Educativo e seu início, segundo Rabecq-Maillard (apud Kishimoto, 1998), ocorre

“quando o jogo deixa de ser objeto de reprovação oficial, e incorpora-se no cotidiano de

jovens, não como diversão, mas como tendência natural do ser humano” (p. 15). Christie

(apud Kishimoto, 1998) comenta que quando o jogo educativo é utilizado na sala de aula pode

ocorrer um desvirtuamento da prioridade do processo de brincar porque existe a priorização

do produto ao invés da aprendizagem de noções e habilidades, causando um desequilíbrio

entre as funções que esse jogo possui.

Para Kishimoto (1998) o jogo educativo apresenta duas funções: a lúdica, que

implica na escolha voluntária do jogo e a educativa, sendo que o jogo é colocado como algo

que auxilia na aprendizagem e na compreensão do mundo. O jogo educativo ocorre pela união

das características da educação e do jogo, sendo necessário o equilíbrio entre a liberdade

característica do jogo e o objetivo de ensinar conteúdos da educação. Quando ocorre o

desequilíbrio entre essas características o brinquedo utilizado no jogo deixa de ser brinquedo

para se tornar um material pedagógico ou didático e isso acaba interferindo na aprendizagem,

uma vez que as características principais se perdem (KISHIMOTO, 1998).

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Com base nesses aspectos, percebemos que o jogo educativo nada mais é do

que o jogo utilizado para ensinar fornecendo um suporte para o trabalho pedagógico.

Contudo, Kishimoto (1998) nos traz a idéia de Pape-Carpantier (1849) que se mostra

contrário a idéia do jogo ser utilizado como um recurso pedagógico, porque para ele o jogo é

utilizado na recreação, é um momento de descanso.

As diferenças entre o jogo educativo e o jogo didático, trazidas por Kishimoto

(1998), são que o jogo educativo, ao contrário do didático, é mais dinâmico, aberto a

exploração é “utilizado como material ou situação que exige ações orientadas com vistas à

aquisição ou treino de conteúdos específicos ou de habilidades intelectuais” (p. 22). Alguns

exemplos de jogos que podemos utilizar como jogos educativos são: os de regras, os de

construção, os tradicionais infantis e os de faz-de-conta.

Marcellino (1989) comenta que quando a atividade lúdica é considerada na

escola as propostas que a envolve “são carregadas pelo adjetivo “educativo”, que perdem as

possibilidades de realização do brinquedo, da alegria, da espontaneidade, da festa” (p. 85).

Podemos perceber que o jogo educativo é um recurso que pode ser bastante

produtivo; contudo, não adianta possuir o melhor jogo educativo se o professor não souber

estimular as crianças, tornar a sua utilização significativa e participar dos jogos e brincadeiras

propostos. Para o jogo ser realmente eficiente o professor tem que participar durante o

desenvolvimento da atividade lúdica, sendo que deve ocorrer à mediação entre a atividade

lúdica e o aprendizado que ela trará. Sendo que esta mediação pode ser realizada por meio de

sujeitos (como o professor, a mãe ou um amigo), de objetos e artefatos, por que a mediação é

importante para os processos educativos, conforme afirma Kishimoto (2011).

Como no ambiente escolar o professor é o encarregado da aprendizagem das

crianças será ele quem fará o convite para a realização das atividades lúdicas e quem irá

promover “as condições de sustentação da experiência lúdica que está na origem do processo

de conhecer” (ROSA, 2002, p. 104), ou seja, o professor agirá como mediador enquanto a

criança estiver realizando uma atividade lúdica.

Kishimoto (2001) afirma que a utilização do brinquedo pode ser de dois tipos:

o primeiro é aquele utilizado de forma livre, onde o professor valoriza a socialização das

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crianças; e o outro é aquele no qual ocorre a valorização da escolarização e aquisição de

conteúdo, que a autora chama de brincar dirigido e jogo educativo.

Faria e Salles (2007) afirmam algo parecido às idéias de Kishimoto quando

exemplificam as ideias que professores da Educação Infantil apresentam em relação ao

brincar na escola. Para alguns profissionais, o brincar é apenas uma estratégia para ensinar os

conteúdos; outros professores utilizam-se do brincar como o tempo livre dado as crianças para

“brincarem” juntas. Podemos perceber que esses dois tipos de profissionais educacionais não

conseguem reconhecer a importância do brincar na aprendizagem, sendo necessário mostrar a

ela como o brincar pode auxiliar. Assim como existem profissionais que não conseguem

compreender o brincar na educação também existem aqueles que utilizam-se deste recurso

para ensinar.

Leite (2010) nos traz a idéia de Friedmann de atividade lúdica dirigida no qual

o professor ajuda no desenvolvimento da criança e escolhe atividades (jogos e brincadeiras)

que tragam algum conteúdo importante para as crianças. A autora ainda comenta que o

professor tem que orientar a criança para que ela possa ter independência ao realizar a

atividade; não somente orientar, mas também deve observar como as crianças realizam as

atividades, por meio da utilização do lúdico.

Rosa (2002) comenta que se nem o aluno nem o professor tiverem a

capacidade de brincar não haverá um “espaço potencial” (p. 57), não haverá a comunicação

necessária para o desenvolvimento da aprendizagem. Com essa idéia podemos perceber que

não adianta o professor não saber usar o material, do mesmo modo que não adianta saber

utilizar sem que exista a interação necessária com seus alunos para desenvolver o trabalho

adequado. Será por meio do auxílio do professor que a brincadeira, que traz um “não-saber”

(IBID, p. 104), vai se converter em um saber que fará sentido em determinado momento para

a criança.

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4. Procedimentos Metodológicos

Por possuir um enfoque no professor da Educação Infantil a pesquisa, que foi

aprovada com processo CIEP nºL005/03/11 pela Comissão Interna de ética em Pesquisa do

Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie, tinha

como principal idéia realizar a entrevista com três professores da Educação Infantil, sendo

especificamente professores que lecionam para crianças com idades entre 4 e 5 anos, pois é

neste período que encontramos maior enfoque na aprendizagem dos alunos como, por

exemplo, a aprendizagem relacionada aos números e letras do alfabeto.

Entretanto, não foi possível entrar em contato com três professores, por isso

foram realizadas 2 entrevistas com professoras que lecionam em uma Instituição de Educação

infantil, em uma escola particular, da cidade de São Paulo. Após escolher a escola na qual iria

realizar a entrevista com as professoras, entrei em contato com a diretora e expliquei porque

pretendia realizar uma entrevista com as professoras, deixando claro que ninguém seria

exposto durante a realização do trabalho. Após o aceite da diretora entrei em contato com as

professoras. Elas ficaram sabendo do propósito da entrevista e como os dados coletados

seriam utilizados.

Os instrumentos escolhidos para realização deste trabalho foram: levantamento

bibliográfico, para obter uma base teórica sobre o assunto e entrevista semi-estruturada, que

foi gravada mediante aceitação das professoras da instituição. As entrevistas consistem em 4

perguntas (Apêndice 1) e visa à realização de uma análise qualitativa a partir das opiniões

apreendidas.

As perguntas tiveram como objetivo saber das professoras como o lúdico é

visto por elas e, de forma indireta, no ambiente escolar. Como a entrevista semi-estrutura

permite a flexibilidade na conversa entre o entrevistador e entrevistados, apareceram durante a

realização das 4 perguntas originais outras que serviram para o entrevistador fazer a relação

entre as falas das professoras.

As perguntas foram elaboradas visando abordar de maneira mais ampla o

lúdico no processo ensino-aprendizagem, sendo que com a primeira questão o foco foi

conhecer qual era o significado do lúdico que tinham as professoras. Entretanto, esta questão

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fez com que as professoras dessem exemplos de atividades lúdicas que elas utilizavam,

complementando a primeira questão.

Na segunda e terceira questões o foco foi identificar se as professoras

compreendem o significado da utilização do lúdico no processo ensino-aprendizagem e saber

como elas o utilizam para esse fim. Na última questão, o foco era saber como o lúdico é

utilizado na escola onde as professoras lecionam e como os outros professores utilizam.

A coleta dos dados foi realizada no dia 30 de Junho deste ano. Antes de iniciar

as perguntas e a gravação das respostas foi explicado para as docentes que elas não eram

obrigadas a realizar a entrevista; e que poderiam se retirar a qualquer momento quando se

sentissem desconfortáveis. As entrevistas transcorreram normalmente e os dados coletados

foram literalmente transcritos, conforme apêndice 2.

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5. Análise

A seguir apresento a análise das respostas das entrevistas realizadas com as

professoras.

O lúdico, de maneira geral, é uma atividade relacionada ao prazer e a vida; com

o desenvolvimento do ser humano, é um elemento da cultura e o meio de integração entre o

desenvolvimento da criança e o desenvolvimento educacional, segundo Marcellino (1989).

Quando perguntado a professora B o que o lúdico significa para ela obtivemos que:

“O lúdico pra mim é o meio onde as crianças podem aprender brincando;

então, antes de dar qualquer atividade de registro, a gente dá um meio de uma brincadeira

pra eles. O lúdico na verdade na Educação Infantil é o meio mais importante para eles

aprenderem. (...)”

A relação feita pela professora traz de forma mais explícita a relação do lúdico

com a aprendizagem e como ele auxilia no processo de ensino-aprendizagem e também a

relação do lúdico com o brincar, já que essa ação também ajuda no desenvolvimento.

Entretanto, não foi possível perceber na fala da professora B nenhuma ligação do lúdico como

sendo a atividade realizada naturalmente pelo ser humano, conforme Huizinga (2004)

comenta.

Como visto no referencial teórico Marcellino (1989) comenta que o lúdico não

pode ser definido somente pela relação com jogos, brincadeiras e brinquedos, ou seja, com

base na ação que ele auxilia; ele tem que ser definido pela sua natureza. A professora B,

entretanto caracteriza o lúdico por meio da atividade na qual ele está inserido. Podemos

perceber o mesmo na resposta da questão 1, “Qual o significado do lúdico, para você?”, da

professora A:

“Eu como educadora, acredito que a criança ela consegue... como é que eu

posso dizer... ela consegue compreender melhor a matéria, a atividade, enfim quando ela

brinca, no brincar ela consegue entender, porque brincando né. (...)”

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Podemos perceber que ambas professoras relacionam o lúdico com a educação,

entretanto, sabemos que essa relação existe porque o lúdico é um meio auxiliar no

desenvolvimento infantil (o psicológico, o físico, o social e o cognitivo), como afirma

Marcellino (1989).

Podemos perceber que, segundo as professoras a utilização de jogos,

brinquedos e brincadeiras ajudam na aprendizagem de conceitos, noções e habilidades, tal

como afirma Kishimoto (1998).

A professora A ao responder a primeira questão, “Qual o significado do lúdico,

para você?”:

“(...) Justamente no processo de aprendizagem da criança, porque a criança

está deixando de brincar, a criança não sabe mais, ta deixando de brincar, não sabe mais o

que é brincar. (...)”

Traz-nos um pouco da ideia da perda do brincar pela criança, o que para

Olivier (2003) é nomeado como o furto do lúdico da criança. O que essa frase nos mostra,

juntamente com a idéia de Olivier, é que as crianças já não brincam tanto, fora da escola,

como antigamente e provavelmente essa carência do lúdico tenha se refletido na escola

também.

Como percebemos a utilização do jogo, como atividade lúdica, é algo bastante

relacionada ao ensino, principalmente na educação infantil. Entretanto, quando nos referimos

às atividades lúdicas (jogo, brincadeira e brinquedo) inseridos na escola temos que saber de

que modo eles são utilizados, pois não é por estarem sendo utilizados na escola que estarão

ajudando no processo de ensino-aprendizagem.

Marcellino (1989) comenta que quando o jogo não é utilizado na sua forma

natural, ou seja, como uma atividade realizada por meio do ato voluntário, como uma

“brincadeira livre” ele passa a ser um instrumento, perdendo assim suas características. O

autor ainda afirma que a funcionalização do brinquedo acaba matando o lúdico.

Entretanto é possível utilizar o jogo no ambiente escolar sem que ele perca suas

características, sendo que esse jogo recebe o nome de Jogo educativo (KISHIMOTO, 1998).

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A professora B ao responder a primeira pergunta, “Qual o significado do

lúdico, para você?”, traz uma ideia importante sobre o jogo educativo:

“(...) E não adianta você só colocar a prática tem que colocar esse lúdico pra

eles associarem, porque senão eles não, se der só uma atividade: olha é isso, isso e isso eles

não vão conseguir entender eles precisam associar com alguma coisa que eles vivenciaram,

então eles tem que ter essa parte lúdica para poder ir pro registro.”

Como comenta Kishimoto (1998), o jogo educativo pode ser utilizado na

escola; contudo, ele tem que possuir o equilíbrio entre as suas duas funções: a educativa e a

voluntária, porque ao obter o equilíbrio entre essas funções obtêm-se o jogo educativo, e as

crianças encontrarão sentido na aprendizagem. Caso contrário, se ocorrer um desequilíbrio

entre as funções podemos ter ou o total ensino ou o total jogo. Na resposta da professora

podemos perceber o resultado do desequilíbrio entre as funções quando ela menciona que não

adianta o aluno ter somente a prática, que seria a parte educativa, sem ter a parte lúdica.

Podemos perceber que o jogo educativo é utilizado para ensinar, fornecendo

suporte para o trabalho pedagógico, e isso é bastante visível na fala das professoras, quando

descrevem as atividades que realizam com os seus alunos.

É importante saber como o jogo será utilizado no processo de ensino-

aprendizagem, pois sabemos que por ser uma atividade lúdica ajuda no desenvolvimento,

fazendo com que as crianças desenvolvam a habilidade de pensar, compreender, refletir sobre

determinada situação.

A fala da professora A ilustra a utilização do jogo:

“(...) no caso eu ensinando pra eles as vogais então eu montei pra eles um

dominó de vogais. Então, por exemplo, tem o desenho de uma árvore tem a letra I, ai depois

em outra peçinha tem o desenho de uma igreja e a letra O, ai em outra peçinha tem a letra A

e o desenho de uma uva né. Então eles teriam que ir montando no dominó, cada criança

ficava com duas ou três peças então daí eles iriam montando(...)”

Ela utiliza o dominó com vogais para as crianças na compreensão do alfabeto.

Da mesma forma que a professora B utiliza o quebra-cabeça para as crianças fazerem as

associações entre a foto e a formação do nome de cada uma. Esses exemplos de utilização do

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lúdico mostram o quão importante é a utilização do jogo no processo ensino-aprendizagem e

como as funções do jogo devem estar balanceadas.

A professora A na questão 1, “Qual o significado do lúdico, para você?”, faz

um comentário relacionando a interação entre as crianças:

“(...) No caso, um grupo, enquanto eles brincam, eles trocam as informações

então uma criança que de repente tem um conhecimento maior ela passa esse conhecimento

para outra criança e assim eles vão aprendendo. (...)”

Assim como a professora B ao responder a segunda questão do questionário,

“Como o lúdico pode ser usado no processo ensino-aprendizagem?”:

“(...) Antes de dar essa atividade eu peguei um jogo de quebra-cabeça pra eles

montarem uma cena, uma cena qualquer sem ter nome, sem ter nada, pra eles irem montando

e encaixando as peças de quebra-cabeça, onde teve crianças que não tinham contato ainda

com o quebra-cabeça então isso era importante pra elas. Então mesmo assim a criança que

não teve contato, os outros que tiveram ajudaram essa criança que nunca teve contato. Então

eles iam ajudando e quando foi pra parte de registro ela compreendeu mais o que era pra ser

feito nessa atividade e ela consegui realizar melhor a atividade.”

No referencial teórico foi visto que esta interação auxilia na mediação do

processo de aprendizagem, como afirma Kishimoto (2011). Então contrariamente ao que é

natural pensar, ou seja, no professor como principal mediador podemos confirmar, com base

na fala da professora A, que a mediação pela ajuda dos colegas é bastante significante para o

aluno, podendo ser mais significativa do que a do professor.

Com relação à exclusão do lúdico na escola a resposta da professora B na

questão 1, “Qual o significado do lúdico, para você?”:

“(...) O lúdico na verdade na Educação Infantil é o meio mais importante para

eles aprenderem. E é uma parte que está sendo muito esquecida hoje em dia e que tá sendo

cobrado da nossa coordenadora também (...)”

Assim como a sua resposta da terceira questão, “Você utiliza o lúdico para

ensinar os seus alunos?”:

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“Sim, é fundamental e é cobrado até pela nossa coordenadora.”

A exclusão, que é abordada por Olivier (2003), ocorre pela diferença no foco

da escola e da atividade, entretanto essa exclusão não parece ser tão grande assim na escola na

qual as professoras lecionam, porque percebemos uma preocupação da coordenação na

utilização de atividades lúdicas para ensinar as crianças. Isso acaba mostrando que o lúdico,

nesta escola, está tentando ser incluído, entretanto não sabemos se esse lúdico é o relacionado

somente ao processo de aprendizagem ou também o lúdico como atividade natural do homem.

Ao longo da entrevista foi possível perceber na fala das duas professoras que a

utilização do lúdico sempre está presente, um exemplo é a seguinte fala da professora A na

questão 1, “Qual o significado do lúdico, para você?”, e 3, “Você utiliza o lúdico para ensinar

os seus alunos?”, respectivamente:

“(...) Então em primeiro lugar a gente aplicando o lúdico para depois a gente

colocar isso no papel, no registro eu acredito que as dúvidas que eles têm são menores do

que se só a gente transmitisse isso pra eles né, oralmente e no papel.”

“(...) Eles transmitirem o que eu passei pra eles em sala de aula, depois eles

passam pra mim num desenho ou mesmo numa roda de conversa. Eu brinco, peço, a gente

transforma isso em personagens, vamos brincando.”

Como sabemos a primeira relação que fazemos ao pensar no lúdico é com a

Educação Infantil, já que é nessa fase que mais utilizamos o lúdico. A professora B, ao

responder a quarta pergunta, “Na escola onde você leciona os professores utilizam o lúdico

como recurso pedagógico? Como?”, também traz essa ideia, mas também complementa ao

dizer que na escola o lúdico é mais utilizado na educação infantil devido à pequena

quantidade de matéria que essa faixa do desenvolvimento educacional apresenta. Entretanto, é

importante lembrar que o lúdico não se restringe somente ao universo infantil, como foi

mostrado no início do capítulo 2 “O Lúdico”.

Ao longo deste trabalho foi possível perceber que a utilização do lúdico não é

realizada pontualmente pelas professoras. Elas fazem a sua utilização inicialmente para

incentivar as crianças, depois trazem a parte teórica e no final as crianças, com mediação das

professoras, realizam uma discussão. Rosa (2002) traz a idéia de que deve ocorrer a interação

entre o professor e o aluno, construindo assim um “espaço potencial”, que é um espaço

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propício para construção do conhecimento, onde a comunicação entre eles ocorre de maneira

a auxiliar na aprendizagem.

Sabemos que é importante ter um jogo no processo de aprendizagem, contudo

não adianta possuir o melhor jogo se o professor não souber estimular as crianças para que a

aprendizagem se torne significativa. O professor tem que saber instigar o aluno e a partir da

curiosidade gerada construir, junto com o aluno, as associações necessárias.

Como nos traz Faria e Salles (2007), os professores podem utilizar o lúdico

(jogos, brincadeiras e brinquedos) apenas como uma estratégia para conseguir transmitir

determinado conteúdo; não sendo importante para esses docentes se o lúdico auxiliaria no

processo ensino-aprendizagem das crianças. A professora A deixa visível na sua fala, na

segunda questão, “Como o lúdico pode ser usado no processo ensino-aprendizagem?”, que ela

utiliza a curiosidade como um modo de despertar a curiosidade das crianças, depois as

crianças fazem uma atividade e depois conversam sobre a atividade e ela consegue saber o

que as crianças conseguiram entender e aprender a partir da atividade.

Pude perceber, após analisar todos os pontos discutidos neste trabalho que a

utilização do lúdico na educação infantil, não somente como um meio no qual as crianças

brincam livremente, mas também como uma grande ferramenta no desenvolvimento cognitivo

das crianças é bastante importante. Sendo necessário que ambos os lados, professor e aluno,

entrem em harmonia para conseguir ter um bom trabalho que irá resultar no aprendizado

significativo.

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Considerações Finais

No início deste trabalho tinha como objetivo verificar a concepção dos

professores com relação ao lúdico e como ele é utilizado no processo de ensino-

aprendizagem.

Ao longo do referencial teórico pude perceber que o lúdico além de ser uma

atividade livre, exterior a vida e capaz de absorver o jogador, é um dos meios pelos quais os

professores e alunos podem construir o conhecimento, sendo necessário que eles consigam

interagir entre si. A sua utilização parece estar crescendo devido ao olhar que os educadores

estão construindo em relação à forma de utilização das atividades lúdicas, como jogos,

brincadeiras e brinquedos.

Por meio das entrevistadas pude perceber que essas atividades vêm deixando

de ser utilizadas para pura recreação e sendo relacionadas à construção de conhecimento,

como podemos perceber na fala das professoras A e B, nas questões 1 e 3, respectivamente:

“(...) Então em primeiro lugar a gente aplicando o lúdico para depois a gente

colocar isso no papel, no registro eu acredito que as dúvidas que eles têm são menores do

que se só a gente transmitisse isso pra eles né, oralmente e no papel.”

“(...) Eles transmitirem o que eu passei pra eles em sala de aula, depois eles

passam pra mim num desenho ou mesmo numa roda de conversa. Eu brinco, peço, a gente

transforma isso em personagens, vamos brincando.”

Em ambas as falas, podemos perceber que o lúdico auxilia no desenvolvimento

da atividade, também sendo um importante meio de registro para o professor e para os alunos.

Em minha opinião, o lúdico é uma das grandes ferramentas que o professor possui, pois

existem muitas atividades lúdicas que ajudam na aprendizagem da criança de uma forma fácil.

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As pesquisas sobre a utilização do lúdico no processo de ensino-aprendizagem

na Educação Infantil devem continuar ocorrendo e ficar acessível aos professores que estão

lecionando porque desta forma eles terão informações novas que ajudarão na aplicação das

atividades lúdicas no processo de aprendizagem.

Com base nisso o meu trabalho pode ser visto como um auxiliador porque a

partir das ideias das professoras sobre como o lúdico pode ser utilizado, podemos começar a

pensar como outros professores da Educação Infantil se relacionam com o lúdico.

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APÊNDICE 1

TCC Licenciatura Ciências Biológicas

Questões para a entrevista semi-estruturada:

1) Qual o significado do lúdico, para você?

2) Como o lúdico pode ser usado no processo ensino-aprendizagem?

3) Você utiliza o lúdico para ensinar os seus alunos?

4) Na escola onde você leciona os professores utilizam o lúdico como recurso pedagógico?

Como?

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APÊNDICE 2

Entrevistas

Apresento, abaixo, a transcrição das entrevistas realizadas com as duas

professoras. Utilizei as siglas PA para professora A, PB para professora B, E para a

entrevistadora.

Entrevista 1

Professora A leciona para crianças de 4 e 5 anos numa escola particular.

1) E: Qual o significado do lúdico, para você?

PA: “Eu como educadora, eu acredito que a criança ela consegue... como é que

eu posso dizer... ela consegue compreender melhor a matéria, a atividade, enfim quando ela

brinca, no brincar ela consegue entender, porque brincando né. No caso, um grupo, enquanto

eles brincam, eles trocam as informações então uma criança que de repente tem um

conhecimento maior ela passa esse conhecimento para outra criança e assim eles vão

aprendendo. Então em primeiro lugar a gente aplicando o lúdico para depois a gente colocar

isso no papel, no registro eu acredito que as dúvidas que eles têm são menores do que se só a

gente transmitisse isso pra eles né, oralmente e no papel.”

2) E: Como o lúdico pode ser usado no processo ensino-aprendizagem?

PA: “Como pode ser usado? Não então, por exemplo, no caso eu ensinando pra

eles as vogais então eu montei pra eles um dominó de vogais. Então, por exemplo, tem o

desenho de uma árvore tem a letra I, ai depois em outra peçinha tem o desenho de uma igreja

e a letra O, ai em outra peçinha tem a letra A e o desenho de uma uva né. Então eles teriam

que ir montando no dominó, cada criança ficava com duas ou três peças então daí eles iriam

montando. Então eu acredito dessa forma, primeiro introduzindo o lúdico, brincando com eles

pra depois né, lógico que ali em roda a gente conversar, mostrar, trabalhar não só o som das

letras, mas trabalhar também a grafia primeiro com os dedinhos né, atividades com tinta para

eles soltarem a mãozinha. E depois...”

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3) E: Você utiliza o lúdico para ensinar os seus alunos?

PA: “Utilizo. Utilizo tanto em sala de aula como tem atividades que eu procuro

levar eles na sala de vídeo, a gente trabalha com imagens, com filmes, trabalhamos com

recursos do Power point, Power point não do Paint pra eles desenharem enfim. Eles

transmitirem o que eu passei pra eles em sala de aula, depois eles passam pra mim num

desenho ou mesmo numa roda de conversa. Eu brinco, peço, a gente transforma isso em

personagens, vamos brincando.”

4) E: Na escola onde você leciona os professores utilizam o lúdico como

recurso pedagógico? Como?

PA: “Utilizam. Então utilizam como culinária, a gente faz culinárias;

atividades no parque com giz de lousa; atividades com desenhos; atividades na sala de vídeo

mostrando alguns vídeos, tanto com eles mexendo no computador como a gente mostrando

vídeos pra eles, brincadeiras, enfim.”

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Entrevista 2

Professora B leciona para crianças de 4 anos numa escola particular.

1) E: Qual o significado do lúdico, para você?

PB: “O lúdico pra mim é o meio onde as crianças podem aprender brincando;

então, antes de dar qualquer atividade de registro, a gente dá um meio de uma brincadeira pra

eles. O lúdico na verdade na Educação Infantil é o meio mais importante para eles

aprenderem. E é uma parte que está sendo muito esquecida hoje em dia e que tá sendo

cobrado da nossa coordenadora também, porque na faculdade eles ensinam muito a parte

teórica mais deixam de focar o lúdico e pra gente é até uma coisa que faz falta na faculdade de

pedagogia.”

A entrevistadora não compreende a frase e pergunta (esta pergunta não está

inserida no roteiro): Porque você acha que ele é muito importante?

A professora responde: “Justamente no processo de aprendizagem da criança,

porque a criança está deixando de brincar, a criança não sabe mais, ta deixando de brincar,

não sabe mais o que é brincar. Tem aquelas brincadeiras “bobas” né vamos dizer, que nem, a

gente não costuma mais ver. Se você der uma pipa, vamos dizer, pra uma criança hoje ela

sabe nem pra que serve ela vai pegar e “tacar” na cabeça de outra criança. Vai achar que é

guerrinha, vai fazer guerrinha com ela e não, a pipa você tem que ensinar pra ela pra quê que

é. Então coisas assim de uma criança pegar, vamos supor o pau de uma vassoura que

antigamente a criança pegava, ela pode pegar e fazer um cavalinho, ela pode fazer várias

coisas. Ela usa a imaginação dela pra aquele cabo de vassoura, ela pega uma bola ela usa a

imaginação dela, então ela da vários sentidos pra aquele objeto. Então isso é muito legal pra

criança, então ela desenvolve essa parte pra ela, então isso é legal pro processo de

aprendizagem deles também. E não adianta você só colocar a prática tem que colocar esse

lúdico pra eles associarem, porque senão eles não, se der só uma atividade: olha é isso, isso e

isso eles não vão conseguir entender eles precisam associar com alguma coisa que eles

vivenciaram, então eles tem que ter essa parte lúdica para poder ir pro registro.”

2) E:Como o lúdico pode ser usado no processo ensino-aprendizagem?

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PB: “Por exemplo, vou citar uma atividade que eu dei pra eles outro dia. Eu

dei uma atividade de quebra-cabeça pra eles, que eles tinham que montar o quebra cabeça da

foto deles, mas antes de dar essa atividade que era a foto deles e o nome deles que eles tinham

que organizar o nome deles, a letra do nome deles. Antes de dar essa atividade eu peguei um

jogo de quebra-cabeça pra eles montarem uma cena, uma cena qualquer sem ter nome, sem ter

nada, pra eles irem montando e encaixando as peças de quebra-cabeça, onde teve crianças que

não tinham contato ainda com o quebra-cabeça então isso era importante pra elas. Então

mesmo assim a criança que não teve contato, os outros que tiveram ajudaram essa criança que

nunca teve contato. Então eles iam ajudando e quando foi pra parte de registro ela

compreendeu mais o que era pra ser feito nessa atividade e ela consegui realizar melhor a

atividade.”

3) E: Você utiliza o lúdico para ensinar os seus alunos?

PB: “Sim, é fundamental e é cobrado até pela nossa coordenadora.”

4) E: Na escola onde você leciona os professores utilizam o lúdico como

recurso pedagógico? Como?

PB: “Nem todos. Na Educação Infantil isso é cobrado muito, é mais na

educação infantil porque o fundamental não tem tempo devido a quantidade de matérias, mas

na educação infantil isso é muito cobrado da gente mesmo. Justamente pelo crescimento deles

né, pela formação.”

A professora B menciona alguns exemplos de brincadeiras:

PB: “Uma brincadeira que eles gostam muito também é com o bambolê. O

bambolê as vezes a gente acha que só coloca na cintura e sai rebolando, eles adoram colocar

no braço e sair rodando, eles pegam o bambolê e usam como roda, eles ficam competido entre

eles pra ver quem chega primeiro com o bambolê quando eles jogam então parece duas rodas,

então eles usam assim. Eles pulam dentro do bambolê então dá pra gente trabalhar o dentro e

o fora, dentro do bambolê, então o bambolê é uma peça muito legal pra trabalhar o lúdico.

Outro é o cone, o cone que a gente tem na rua, a gente trabalha o zigue-zague entre os cones,

a corda também. São materiais simples e que a gente consegue trabalhar de várias formas,

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então a corda você vai trabalhando: passa por baixo, passa por cima, faz a cobrinha pra eles

irem pulando então são objetos super simples que dá pra trabalhar de várias formas com eles.”

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Estou ciente do conteúdo da Monografia “O LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL”

________________________________________________

Profª. Ms. Marcia Regina Vital (Orientadora – Universidade Presbiteriana Mackenzie)

_________________________________________________ Michele Maria de Jesus

(Aluna – Código de Matrícula 4088618-2)

Trabalho a ser apresentado em: Dezembro/2011