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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE CIENCIAS HUMANAS - DCH III CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA PARA CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO BRASILEIRO Plantas medicinais da Caatinga: uso e conhecimento popular em área urbana do município de Juazeiro-BA RICARDO DA CRUZ MARTINS Juazeiro- Bahia 2012

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

DEPARTAMENTO DE CIENCIAS HUMANAS - DCH III

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO

CONTEXTUALIZADA PARA CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Plantas medicinais da Caatinga: uso e conhecimento popular em área urbana do

município de Juazeiro-BA

RICARDO DA CRUZ MARTINS

Juazeiro- Bahia

2012

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RICARDO DA CRUZ MARTINS

Plantas medicinais da Caatinga: uso e conhecimento popular em área urbana do

município de Juazeiro-BA

Monografia apresentada ao Departamento de

Ciências Humanas - DCH–III, da Universidade

do Estado da Bahia – UNEB, como requisito

para obtenção do título de Especialista em

Educação Contextualizada para a Convivência

com o Semiárido Brasileiro, sobre a orientação

da Drª Lúcia Helena Piedade Kiill, Pesquisadora

da EMBRAPA SEMIÁRIDO.

Juazeiro-Bahia

2012

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Martins, Ricardo da Cruz

Plantas medicinais da Caatinga: uso e conhecimento popular em área urbana do

município de Juazeiro-BA./Ricardo da Cruz Martins. –Juazeiro,2012.

59f. il.

Orientadora: Lucia Helena Piedade Kiill

Trabalho de conclusão de curso (Especialização)- Universidade do Estado da

Bahia. Departamento de ciências Humanas, Campos III, 2012.

Contém referências e apêndices.

1.Plantas medicinais 2. Plantas medicinais Brasil-Nordeste 3 Plantas medicinais-

uso terapêutico- Brasil-Nordeste I.Universidade do Estado da Bahia-

Departamento de Ciências Humanas. II Titulo.

CDD 615.32

FICHA CATALOGRÁFICA

Universidade do Estado da Bahia

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RICARDO DA CRUZ MARTINS

Plantas medicinais da Caatinga: uso e conhecimento popular em área urbana do

município de Juazeiro-BA

Trabalho de Conclusão do Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do grau

de Especialização em Educação Contextualizada para Convivência com o

Semiárido Brasileiro, pela banca examinadora:

JUAZEIRO, 31/07/2012

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, pela vida e pelas oportunidades.

A toda a minha família, pelo apoio de sempre, carinho e compreensão, sem os quais não

conseguiria alcançar meus objetivos.

A minha orientadora, Doutora Lúcia Helena Piedade Kiill- Pesquisadora da EMBRAPA

SEMIÀRIDO, pela dedicação, incentivo e amizade, a qual sou profundamente grato.

Aos meus colegas de especialização, em especial a Gildenor e Marilúcia, por serem além de

colegas bons amigos.

Ao Programa de Pós-Graduação em Educação Contextualizada para a Convivência com o

Semiárido Brasileiro e a Universidade do Estado da Bahia, pelo excelente ensino e a todos os

seus professores e funcionários pela competência.

A Magda Oliveira Mangabeira de Feitoza, pela contribuição na escolha do tema e da linha de

pesquisa.

A Tatiana Ayako Taura pela elaboração dos mapas que enriqueceram a apresentação da

monografia.

A Jhonatan Thiago Lacerda Santos pelo auxilio com a montagem das fotos e ilustrações.

A Helena Moreira de Q. Bezerra pelo auxílio nas referências bibliográficas.

A todos os entrevistados, sem exceção. Todos foram extremamente prestativos e atenciosos.

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DEDICAÇÃO

Aos meus pais, José Martins e Umbelina da Cruz Martins, exemplos de força, coragem e

honestidade;

Aos meus irmãos e sobrinhos, pela confiança e incentivo;

Em especial a minha esposa e companheira Carla Tatiana de Vasconcelos Dias Martins

presença essencial em minha vida, e pela dedicação e contribuição na execução dos

trabalhos;

Ao meu filho Rafael Dias Martins, inspiração para essa caminha em busca do conhecimento;

Aos professores, estudantes e funcionários do curso de Especialização em Educação

Contextualizada para Convivência com o Semiárido Brasileiro da UNEB, que acreditam e

podem contribuir para uma sociedade mais justa e menos desigual;

A todas as pessoas que tentam viver com a natureza respeitando-a e buscando formas para

isso;

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RESUMO

O presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de identificar e comparar o

conhecimento tradicional e uso de plantas medicinais da Caatinga em áreas urbanas do

município de Juazeiro e suas relações com perfil socioeconômico das comunidades.

Para tal foi aplicado, no período de abril a maio de 2012, um questionário composto de

25 questões, dividido em duas partes, sendo a primeira relacionada com o perfil

socioeconômico e a segunda com uso das plantas medicinais. Os bairros escolhidos para

a amostragem foram o João Paulo II, situado na periferia da cidade e o Cajueiro,

localizado na parte central. Em cada bairro foram entrevistadas 30 pessoas. Os

resultados obtidos mostraram que a maioria dos entrevistados é do sexo feminino e,

com relação à idade, observou-se que, no João Paulo II, houve maior participação de

idosos, não havendo registro de entrevistados menores de 25 anos. Por outro lado, no

Cajueiro registrou-se um número significativo de pessoas com idade inferior a 25 anos.

Em relação ao nível de escolaridade, os moradores do Cajueiro apresentaram formação

mais qualificada do que os do João Paulo II. Quanto ao uso de plantas, não houve

diferença entre os dois bairros amostrados, onde 73,3% dos entrevistados informaram

que não usa com frequência a fitoterapia para o tratamento das doenças, indicando que

as plantas medicinais são pouco valorizadas nos dois bairros, independente das

condições socioeconômicas apresentadas. No que se refere ao conhecimento, 80% e

86,7% dos entrevistados, responderam que o mesmo foi adquirido com familiares,

mostrando que a tradição de uso dessas plantas vem sendo transmitida pelas gerações.

Nas entrevistas foram citadas 68 e 64 plantas no bairro João Paulo II e Cajueiro,

respectivamente. Porém desse total, a maioria são de plantas medicinais já consagradas

como erva cidreira, capim santo, boldo, babosa, hortelã e eucalipto, indicando que as

plantas nativas ainda são pouco valorizadas. Em relação ao cultivo em casa, verificou-se

que, no bairro João Paulo II, 80% dos entrevistados cultiva algum tipo de planta

medicinal no quintal, enquanto que no Cajueiro somente 20% faz esta prática. No que se

refere ao desaparecimento de plantas que eram utilizadas como remédio verificou-se

que, no bairro João Paulo II, 83,3% dos entrevistados não conhecia nenhuma planta

nessa situação. Os demais citaram oito plantas, das quais 62,5% são nativas, sendo que

a maioria consta na lista de plantas ameaçadas de extinção. No bairro Cajueiro, 93,3%

dos entrevistados responderam que não conheciam plantas nessa situação. Os demais

citaram três plantas, sendo todas espécies exóticas, indicando o desconhecimento das

plantas nativas ou de ocorrência na região. Com esse estudo pode-se concluir que

estudos em etnobotânica são importantes para resgatar o conhecimento popular que está

desaparecendo conforme a sociedade se torna mais urbanizada. A geração mais nova

demonstra certo desconhecimento das plantas nativas do bioma Caatinga ou de sua

ocorrência na região, indicando que há necessidade do tema ser abordado,

principalmente nas escolas, para que esse conhecimento seja amplamente divulgado e

não se perca.

Palavras-chave: Etnobotânica, plantas medicinais, conhecimento tradicionais.

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ABSTRACT

The present study was developed in order to identify and compare the traditional

knowledge and the use of medicinal plants of Caatinga in urban areas of Juazeiro and its

relationship with socio-economic profile of communities. In the period from April to

May 2012, it was applied a questionnaire comprising 25 questions, divided into two

parts, the first one related to the socioeconomic profile and the second to use of

medicinal plants. The districts selected for sampling were the João Paulo II, situated on

the outskirts of the city and Cajueiro, located in downtown. In each district were

interviewed 30 people. The results showed that most respondents are female and, with

respect to age, it was observed that, in João Paulo II, there were more elderly, with no

record of respondents younger than 25 years. Moreover, in the Cajueiro there were a

significant number of people younger than 25 years. Regarding educational level,

residents of Cajueiro had more qualified formation than those of João Paulo II.

Regarding the use of plants, there was no difference between the two districts sampled,

where 73.3% of respondents reported that they do not often use medicinal plant for the

treatment of the diseases, indicating that these plants are undervalued in the two

neighborhoods, independent of socioeconomic conditions presented. With regard to

knowledge, 80% and 86.7% of respondents said that it was purchased with family,

showing that the tradition of using these plants has been passed through generations. In

the interviews were cited 68 and 64 plants in the neighborhood João Paulo II and

Cajueiro, respectively. But this total, most medicinal plants are already established as

lemon grass, holy grass, Boldo, Aloe vera, mint and eucalyptus, indicating that native

plants are still undervalued. Concerning cultivation at home, it was found that in the

neighborhood of João Paulo II, 80% of respondents cultivating any type of medicinal

plants in the garden, whereas in Cajueiro only 20% do this practice. With regard to the

disappearance of plants which were used as medicine it was found that in the

neighborhood João Paulo II, 83.3% did not know any plant in this situation. The

remaining eight plants cited, of which 62.5% are native, with the majority on the list of

endangered plants. In Cajueiro, 93.3% of respondents did not know the plants in that

situation. The other cited three plants, all exotic species, indicating the lack of native

plants or occurrence in the region. With this study we can conclude that studies in

ethnobotany are important to rescue the popular knowledge that is disappearing as

society becomes more urbanized. The younger generation shows some ignorance of the

native plants of the Caatinga biome, or of its occurrence in the region, indicating that

the subject need to be addressed, especially in schools, so that this knowledge is widely

disseminated and not lost.

Key-words: Ethnobotany, Medicinal plants, Traditional knowledge.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Localização de Juazeiro em relação aos municípios da Ride.................... 28

Figura 2: Localização dos bairros selecionados para o levantamento (a) e detalhe

dos bairros Cajueiro (b) e João Paulo II (c) mostrando a organização espacial das

quadras......................................................................................................................

28

Figura 3: Mapas e fotos dos bairros de Juazeiro que foram estudados. Distribuição

das casas amostradas no João Paulo II (a) e Cajueiro (d); Fotos das ruas do João

Paulo II (b e c) e do Cajueiro (d e f)..........................................................................

30

Figura 4: Distribuição dos entrevistados por sexo nos dois bairros amostrados..... 33

Figura 5: Distribuição dos entrevistados por faixa etária nos dois bairros

amostrados.................................................................................................................

33

Figura 6: Distribuição dos entrevistados por grau de escolaridade nos dois bairros

amostrados.................................................................................................................

34

Figura 7: Demonstrativo do rendimento familiar dos entrevistados nos dois

bairros amostrados......................................................................................................

35

Figura 8: Demonstrativo da condição de moradia dos entrevistados nos dois

bairros amostrados......................................................................................................

36

Figura 9: Demonstrativo da quantidade de moradores por casa nos dois bairros

amostrados...................................................................................................................

37

Figura 10: Demonstrativo do tempo de residência dos entrevistados nos dois

bairros amostrados......................................................................................................

37

Figura 11: Demonstrativo do tipo de tratamento nos dois bairros amostrados.......... 38

Figura 12: Demonstrativo da frequência de uso de plantas medicinais nos dois

bairros amostrados......................................................................................................

40

Figura 13: Demonstrativo de plantas medicinais usadas pelas famílias. Legenda:

barras seguidas de mesma letra não diferem pelo teste 2, gl=1.................................

42

Figura 14: Comparação entre os bairros em relação ao cultivo de plantas

medicinais na residência. Legenda: barras seguidas de mesma letra não diferem

pelo teste 2, gl=1........................................................................................................

43

Figura 15: Resultados da distribuição de plantas medicinais cultivadas nas

residências nos bairros amostrados.............................................................................

43

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Figura 16: Resultados referentes às formas de propagação de plantas medicinais

encontrados nos bairros amostrados. Legenda: barras seguidas de mesma letra não

diferem pelo teste 2, gl=1..........................................................................................

44

Figura 17: Resultados obtidos em relação ao local onde as plantas nativas da

Caatinga são adquiridas pelos usuários nos dois bairros amostrados.........................

44

Figura 18: Resultados obtidos em relação a forma de uso ou preparo do remédio

nos a base de plantas nativas da Caatinga nos dois bairros amostrados. Legenda:

barras seguidas de mesma letra não diferem pelo teste 2, gl=1.................................

46

Figura 19: Resultados obtidos em relação ao perfil do público que faz uso dos

remédios naturais nos dois bairros amostrados. Legenda: barras seguidas de

mesma letra não diferem pelo teste 2, gl=1...............................................................

47

Figura 20: Espécies citadas pelos entrevistados do bairro João Paulo II,

consideradas como plantas que já foram usadas como remédio e que hoje já não

são encontradas...........................................................................................................

48

Figura 21: Espécies citadas pelos entrevistados do bairro João Paulo II,

consideradas como plantas que já foram usadas como remédio e que hoje já não

são encontradas...........................................................................................................

48

Figura 22: Resultados em relação a origem das espécies citadas pelos

entrevistados nos dois bairros.....................................................................................

49

Figura 23: Resultados em relação à forma de manipulação das plantas medicinais

nos dois bairros amostrados........................................................................................

50

Figura 24: Demonstrativo da forma de armazenamento dos remédios naturais nos

dois bairros amostrados...............................................................................................

50

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Doenças mais citadas nos bairros estudados e suas frequências de

ocorrência................................................................................................................

40

Tabela 2: Frequência e porcentagem das doenças que são tratadas com plantas

medicinais da Caatinga...........................................................................................

45

Tabela 3: Resultados em relação a parte da planta utilizada no preparo do

remédio nos dois bairros amostrados......................................................................

47

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SIGLAS

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis 16

WHO Organização Mundial de Saúde......................................................... 16, 21

IRPAA Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada................. 25

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional............................... 26

PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais.................................................... 26

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia E Estatística................................... 27

RIDE Região Integrada de Desenvolvimento Econômico........................... 27

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 14

2. OBJETIVOS....................................................................................................... 15

2.1. Objetivo Geral....................................................................................... 15

2.2. Objetivos Específicos............................................................................ 16

3. JUSTIFICATIVA............................................................................................... 16

4. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................ 19

4.1. Uso e Estudos de Plantas Medicinais.................................................... 19

4.2. Etnobotânica.......................................................................................... 22

4.3. Populações e Conhecimento Tradicionais............................................. 23

4.4. A experiência popular e o conhecimento científico: uma

oportunidade de contextualização.........................................................

25

5. METODOLOGIA.............................................................................................. 27

5.1. Caracterização da área de estudo........................................................... 27

5.2. Seleção das áreas e amostragem............................................................ 28

5.3. Aplicação de questionário..................................................................... 29

5.4. Analise dos dados.................................................................................. 29

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................... 31

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................ 51

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 52

ANEXO I................................................................................................................ 59

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1. INTRODUÇÃO

A Etnobotânica inclui todos os estudos concernentes à relação mútua entre

populações tradicionais e as plantas (COTTON, 1996). Esta parte da Botânica apresenta

como característica básica de estudo o contato direto com as populações tradicionais,

procurando uma aproximação e vivência que permitam conquistar a confiança das

mesmas, resgatando, assim, todo conhecimento possível sobre a relação de afinidade

entre homem e as plantas de uma determinada comunidade. Esta área pode servir como

auxílio na identificação de práticas adequadas ao manejo da vegetação. Além do mais, a

valorização e a vivência das sociedades humanas locais podem embasar estudos sobre o

uso adequado da biodiversidade, incentivando, não apenas o levantamento das espécies,

como contribuindo para sua conservação (FONSECA-KRUEL & PEIXOTO, 2004).

O Brasil destaca-se por ser o país com maior biodiversidade mundial possuindo,

de acordo com Marques (2000), 22% de todas as espécies biológicas do mundo. No que

se refere a diversidade vegetal, estima-se cerca de 350 à 550 mil espécies, das quais

apenas aproximadamente 55 mil foram catalogadas (GUERRA & NODARI, 2001;

PILLON, 2002). Dentro desse leque único de riquezas biológicas, o país também se

destaca em outro aspecto no que diz respeito às plantas: as florestas brasileiras guardam

um número significativo de espécies que têm fins terapêuticos e medicinais. Assim, o

Brasil possui um imenso potencial genético a ser explorado e estima-se que esse

patrimônio vegetal represente cerca de 16,5 bilhões de genes (RAMOS, 2000).

Entretanto, devido à expansão das fronteiras agrícolas e urbanas, a flora

medicinal brasileira, aos poucos, tem sido modificada por serem espécies nativas de alto

potencial, sua coleta de forma irracional pode provocar o desaparecimento de diversas

espécies na região (QUEIROZ, 2011). Todos esses impactos na flora trazem uma

redução expressiva das espécies vegetais consideradas medicinais, antes mesmo de

serem estudadas.

Entre os biomas brasileiros, a Caatinga se destaca por apresentar uma

diversidade de plantas medicinais já consagradas pela farmacopéia. Porém, o

conhecimento popular sobre essas plantas, embora rico de informações, ainda é

freqüentemente mal aproveitado.

A diversidade de plantas medicinais conhecida na Caatinga é elevada e sua

obtenção na própria comunidade sugere uma forte correlação entre uso e conhecimento

tradicional dessas plantas. Na maioria das vezes, as comunidades obtêm esses materiais

nas proximidades de suas casas, sugerindo que seu conhecimento está embasado em

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estratégias de manejo focalizadas nas espécies de maior interesse, o que pode ser

fundamental no uso sustentável e conservação da vegetação (LYKKE, 2000).

De acordo com Maciel et al. (2002), o conhecimento etnobotânico sobre plantas

medicinais não difere entre homens e mulheres e o uso de medicamentos

industrializados e de plantas medicinais indica uma complementaridade entre a

medicina moderna e a medicina popular. Os autores comentam, ainda, que a

transmissão do conhecimento geralmente é feita na própria comunidade, com pais, avós

e vizinhos, demonstrando uma rica herança cultural local sobre essas plantas e que esse

conhecimento simboliza muitas vezes o único recurso terapêutico de diversas

comunidades e grupos étnicos.

Porém, observa-se que as novas gerações não demonstram tanto interesse por

este conhecimento, fato que contribui para o consequente desaparecimento de algumas

espécies ou uma grande dificuldade em encontrá-las. Diante desta situação, torna-se

necessário uma maior valorização desta cultura e a recuperação do conhecimento que a

população detém sobre o uso dos recursos naturais.

O resgate de tais informações assume um papel indispensável, impedindo a sua

perda com o passar dos anos, além de contribuir para a ciência contemporânea

(VENDRUSCOLO et a.l., 2005; LEITÃO et al., 2009). Trabalhos de campo intensos,

com o registro de todas as informações possíveis acerca da utilização das plantas

medicinais de uma determinada região, devem ser realizados para que esses

conhecimentos possam ser preservados (MARODIN & BAPTISTA, 2002).

Assim, com a presente monografia, pretendeu-se registrar como está o

conhecimento e uso popular das plantas na Caatinga em área urbana do município de

Juazeiro-BA e se há diferenças entre as comunidades estudadas, de acordo com a

realidade local.

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

Identificar e comparar o conhecimento tradicional e uso de plantas medicinais da

Caatinga em áreas urbanas do município de Juazeiro-BA e suas relações com perfil

socioeconômico dos bairros estudados.

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2.2.. Objetivos Específicos

Identificar as plantas medicinais nativas da Caatinga mais utilizadas por dois

bairros do município de Juazeiro-BA;

Identificar aspectos do perfil socioeconômico e cultural dos bairros;

Avaliar as formas de transmissão do conhecimento etnobotânico nos bairros

estudados;

Avaliar a influência da urbanização e da cultura tradicional local no conhecimento

e no uso de plantas da Caatinga com potencial medicinal.

3. JUSTIFICATIVA

Nos últimos anos, a crescente preocupação com as questões ambientais, tem

levado a um visível retorno do uso de fitoterápicos em todo o mundo, sendo que

problemas ligados à conservação de plantas medicinais tornaram-se pontos importantes

de discussão. Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO) cerca de 3,5 bilhões de

pessoas de países em desenvolvimento confiam e fazem uso no tratamento à base de

plantas medicinais. De acordo com Rai et al. (2000), aproximadamente, 85% das

pessoas são praticantes de sistemas tradicionais de cura a base de plantas e cerca de

25% dos medicamentos farmacêuticos são derivados químicos de vegetais.

O Brasil, onde se estima haver a maior biodiversidade existente no mundo e uma

ampla variedade de ambientes naturais, apresenta um crescente aumento na destruição

de seus biomas, dentre os quais pode-se destacar os avanços das atividades agrícolas, a

extração madeireira e o crescimento desordenado nas cidades (OLIVEIRA, 2010).

Com esta preocupação, em 2002, a Embrapa Recursos Genéticos e

Biotecnologia, em parceria com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis (IBAMA), organizaram uma reunião técnica sobre os recursos

genéticos de plantas medicinais e aromáticas, onde foram identificadas as espécies

medicinais e aromáticas prioritárias para a conservação nos principais biomas

brasileiros com base na pressão antrópica, freqüência e mercado/demanda. Para a

Caatinga, as espécies priorizadas foram: aroeira do sertão (Myracrodruon urundeuva Fr.

All. – Anacardiaceae), umburana de cheiro (Amburana cearensis (Fr. All.) A.C. Smith –

Leguminosae), barbatinão (Stryphnodendron adstrigens (Mart.) Coville –

Leguminosae), juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart. – Rhamnaceae), angico

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(Anandenanthera colubrina (Benth.) Brenan – Leguminosae), mulungu (Erythrina

velutina Wild. – Leguminosae) e alecrim-pimenta (Lippia sidoides Cham. –

Verbenaceae) (VIEIRA et al., 2002).

Albuquerque (2002) comenta que uma das estratégias para se garantir a

conservação da biodiversidade deve incluir o conhecimento das populações locais, uma

vez que vários estudos comprovaram que essas populações possuem um conhecimento

refinado do ambiente em que vivem. Para o autor, existe um estreito relacionamento

entre as pessoas e as plantas, podendo as primeiras intervir na distribuição das mesmas,

afetando a sua abundância. Assim, a valorização do saber popular é essencial na

conservação da diversidade vegetal, pois permite conhecer melhor o uso das espécies

nativas e, conseqüentemente, identificar as pressões a que elas estão submetidas, sendo

este um aspecto muito importante ao se traçar ações que visem conciliar as demandas

das populações com a disponibilidade dos recursos naturais.

Albuquerque & Andrade (2002) comentam que, uma vez perdido o

conhecimento advindo da cultura popular se torna irrecuperável. Do mesmo modo

Guarim Neto & Moraes (2003) advertem que os recursos naturais, se extintos, não mais

se encontrarão disponíveis às futuras gerações. Assim, o “Saber Local”, contextualizado

cultural e ambientalmente, está cada vez mais chamando a atenção de pesquisadores de

distintas áreas (AMOROZO, 2002).

No caso particular de Juazeiro-BA, verifica-se que o perfil socioeconômico do

município tem sofrido mudanças significativas na estrutura econômica, organizacional e

dinâmica territorial, creditadas à agricultura irrigada. Essa atividade transformou o pólo

Juazeiro em um dos maiores centros de produção agroindustrial do Estado, incentivando

o fluxo imigratório no município (JUAZEIRO, 1988).

Com essas mudanças, inúmeras informações do saber local vêm se perdendo,

entre eles a relação da população com a vegetação nativa. Em levantamento realizado

no comércio local de Petrolina-PE e Juazeiro-BA, Lima & Kiill (2002) observaram que

a venda de plantas medicinais e aromáticas era praticada há mais de 10 anos, onde as

espécies nativas se destacam com 96% das ocorrências, sendo a umburana de cheiro e a

aroeira as mais utilizadas. Hoje, raros são os pontos de venda desses produtos, que

ficaram restritos mais às feiras-livres.

Em um estudo realizado nas feiras livres de Petrolina em Pernambuco e Juazeiro

e Sento Sé na Bahia, Gomes et al. (2007) catalogou 111 plantas, identificadas em 53

espécies, 50 gêneros e 28 famílias botânicas, com destaque para a família Leguminosae,

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que representou 19% das amostras, com 10 espécies. As espécies Erytrina sp.

(mulungú), Bauhinia sp. (mororó), Bowdichia virgilioides (sucupira), Anadenanthera

sp. (angico), Amburana cearensis (umburana de cheiro) e Myracrodruon urundeuva

(aroeira), foram encontradas em todas as feiras livres, e por serem espécies nativas de

alto potencial medicinal além de uso madeireiro, sua coleta de forma irracional pode

provocar o desaparecimento destas espécies na região.

Diante desta realidade, pesquisas voltadas para o uso e conhecimento popular

das plantas com potencial medicinal da Caatinga são importantes, principalmente

aquelas voltadas para os centros urbanos, visando resgatar e documentar como os

conhecimentos tradicionais encontram-se atualmente.

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4. REFERENCIAL TEÓRICO

4.1. Uso e Estudos de Plantas Medicinais

Ao longo dos tempos a sabedoria popular vem sendo transmitida de forma

empírica entre as gerações. O conhecimento tradicional sobre o uso das plantas é vasto

e, em diversos casos, é o único recurso disponível que a população rural de países em

desenvolvimento tem ao seu alcance (PASA et al., 2005; AGRA et al., 2008; JESUS,

2009). Porém, atualmente, observa-se que as novas gerações não demonstram tanto

interesse por este conhecimento, fato que contribui para o seu consequente

desaparecimento.

A humanidade acumula um acervo de informações sobre o ambiente que o cerca,

possibilitando assim interagir com ele para prover suas necessidades de sobrevivência.

Neste acervo, inscreve-se o conhecimento relativo ao mundo vegetal com o qual estas

sociedades estão em contato (AMOROZO, 1996).

O conhecimento sobre o uso de plantas medicinais ocorreu nas civilizações

chinesas há 3.000 anos a.C., enquanto os assírios, egípcios e hebreus têm registro desta

prática desde 2.300 anos a.C. (MARTINS et al., 1994). Dessa forma, verifica-se que a

Fitoterapia foi amplamente empregada, no passado, por várias civilizações fazendo

parte até hoje da cultura das mesmas (ROBINSON, 1994).

Nessa época, Botânica e Medicina caminhavam juntas e os médicos eram

verdadeiros botânicos, uma vez que a maior parte dos remédios era preparada a partir de

plantas medicinais. O registro da utilização dessas plantas foi feito por meio de

documentos manuscritos, onde as mesmas eram listadas e acompanhadas de seus

valores terapêuticos. Os naturalistas que acompanhavam as expedições exploratórias às

terras do Novo Mundo referendavam as plantas, sem, contudo, contextualizar seu

manejo pelas sociedades consideradas primitivas, tais como observado em Thevet

(PIRES, 1984). Esse mesmo procedimento foi adotado pelos comerciantes,

missionários, antropólogos e botânicos, que também registravam os usos de plantas por

culturas diferentes daquelas presentes no continente europeu (DAVIS, 1995).

Depois da II Guerra Mundial houve difusão do uso fármacos sintéticos,

principalmente dos antibióticos e da vacinação em massa, o que causou a ilusão de que

a tecnologia moderna venceria a guerra contra a doença. Tais acontecimentos fizeram

com que as terapias naturais perdessem o prestígio e a credibilidade (FARIA, 1998).

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No Brasil, já no século XVII, os holandeses Guilherme Piso e Georg Markgraf

coletaram plantas e registraram usos conhecidos pelos nordestinos. No século XIX, os

alemães J. B. Von Spix e Carl F. P Von Martius fizeram notas do uso de plantas pelos

indígenas (ALBUQUERQUE, 2002), sendo estas também associadas às tradições

africanas, oriundas de três séculos de tráfico escravo e da cultura européia trazida pelos

colonizadores (ALMEIDA, 2003).

O uso de vegetais entre as populações nordestinas indica um grande

conhecimento dos recursos do ambiente e um sistema particular de classificação desses

recursos. Estas comunidades possuem uma vasta farmacopéia natural, boa parte

proveniente dos recursos vegetais encontrados nos ambientes naturais ocupados por

estas populações, ou mantidos em ambientes de cultivo antrópico.

Na medicina natural existem premissas importantes, como o reconhecimento dos

locais de aquisição, parte utilizada das plantas e principalmente o modo de preparo das

espécies nativas, resgatando as técnicas terapêuticas amplamente utilizadas no passado,

preocupando-se em registrar o modo informal de aplicação dos saberes para a

valorização da medicina popular (GOMES, 2007).

O uso das plantas para fins terapêuticos está inserido em um contexto social e

ecológico que vai, de várias formas, moldá-lo, de forma que várias das peculiaridades

deste emprego não podem ser entendidas se não se levar em consideração fatores

culturais envolvidos, além do ambiente físico onde ele ocorre (AMOROZO, 1996).

Segundo Amoroso & Gely (1988), planta medicinal é definada como a espécie

vegetal que tenha um valor de caráter curativo para determinada comunidade, ou seja,

que possua uma propriedade real ou imaginária, aproveitada pela comunidade para um

ou mais fins específicos de cura, quer seja empregada na prevenção, no tratamento, na

cura de distúrbios, disfunções ou doenças do homem e animais.

O conhecimento sobre plantas medicinais simboliza muitas vezes o único

recurso terapêutico de várias comunidades e grupos étnicos. Ainda hoje nas regiões

mais pobres do país e até mesmo nas grandes cidades brasileiras, plantas medicinais são

comercializadas, em feiras livres, mercados populares e encontradas em quintais

residenciais (MACIEL et al., 2002).

Recentemente, os estudos com plantas medicinais têm sido responsáveis por

inúmeras e importantes descobertas, entretanto resultados promissores dependem de

uma maior inter-relação entre as várias áreas que compõem o estudo das plantas

medicinais, pois a continuidade dos mesmos de forma isolada perpetuará a não

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integralização dos resultados, impedindo conseqüentemente o desenvolvimento de

novos medicamentos.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO), cerca de 3,5 bilhões de

pessoas de países em desenvolvimento confiam e fazem uso no tratamento à base de

plantas medicinais. Em todo o mundo, aproximadamente 85% das pessoas são

praticantes de sistemas tradicionais de cura a base de plantas e cerca de 25% dos

medicamentos farmacêuticos são derivados químicos de vegetais (RAI et al., 2000).

Albuquerque (1997) comenta que as feiras livres, existentes em praticamente

todo o País, têm se tornado uma fonte para a prática da comercialização de espécies

vegetais ou parte dessas, em cuja atividade pode-se vislumbrar a prática de

investigações etnobotânicas, as quais facultam fornecer informações importantes para o

conhecimento da diversidade, manejo, universo cultural e usos sustentáveis por parte

dessas populações.

Segundo Calixto & Ribeiro (2004), as plantas medicinais desempenham também

um importante papel socioeconômico, tanto para as populações rurais como para as

urbanas, sendo que no primeiro caso a utilização de espécies medicinais, na maioria das

vezes, nativas da sua região ou cultivadas em seu quintal, reduz e, muitas vezes elimina

os gastos com medicamentos sintéticos que constitui um item pesado no orçamento

doméstico.

Desta forma, verifica-se que as comunidades rurais estão intimamente ligadas

aos usos de planas medicinais, por estas serem, na maioria das vezes, o único recurso

disponível para o tratamento de doenças. Para Pilla et al. (2006), à medida que a relação

com a terra passa por uma modernização e o contato com centros urbanos se intensifica,

a rede de transmissão do conhecimento sobre plantas medicinais pode sofrer alterações,

sendo necessário com urgência fazer o resgate deste conhecimento e das técnicas

terapêuticas, como uma maneira de deixar registrado este modo de aprendizado

informal.

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4.2. Etnobotânica

A etnobotânica pode ser definida como o estudo das sociedades humanas,

passadas e presentes, e todos os tipos de inter-relações: ecológicas, evolucionárias e

simbólicas, entre humanos e plantas em sistemas dinâmicos (ALCORN, 1995; DAVIS,

1995; ALEXIADES, 1996),

Segundo Albuquerque (1997), a etnobotânica é basicamente entendida como a

disciplina científica que se ocupa da inter-relação entre plantas e populações humanas e

vem ganhando prestígio cada vez mais pelas suas implicações ideológicas, biológicas,

ecológicas e filosóficas.

De acordo com Balick & Cox (1997) e Albuquerque (1999), a etnobotânica pode

ajudar na compreensão de como as pessoas se relacionam com as plantas e quais os

relacionamentos produzidos nos diversos sistemas culturais e o que as plantas

expressam sobre a sociedade que produziu esse conhecimento.

Para Steenbock (2006), o estudo etnobotânico pode ser utilizado como mediador

entre o saber acadêmico e o saber tradicional, uma vez que o conhecimento adquirido

pela tradição herdada dos mais velhos pode levar à manutenção e ao uso sustentável do

ambiente, o que tem motivado inúmeros estudiosos a desenvolverem pesquisas neste

campo. O autor afirma, ainda, que os trabalhos em etnobotânica geralmente estão

direcionados para comunidades locais e tradicionais, justificado pelo isolamento e

disponibilidade de recursos naturais. Por apresentarem características interessantes de

serem analisadas sob a ótica da etnobotânica contemporânea, especialmente visando

entender as inter-relações entre homem e planta para a promoção da conservação

ambiental e cultural.

Para Guarim-Neto et al. (2000), é por meio da etnobotânica que se busca o

conhecimento e o resgate do saber botânico tradicional, particularmente relacionado ao

uso dos recursos da flora. Albuquerque (2002) assinala que todas as ciências que se

ocupam de investigar a relação pessoas e plantas estão preocupadas em registrar e

conhecer as estratégias e conhecimentos dos povos locais, procurando também usar essa

informação em benefício dessas próprias pessoas. Para Hanazaki (2006), “abordagens

etnobotânicas podem fornecer respostas importantes tanto para problemas de

conservação biológica como para questões direcionadas para o desenvolvimento local”.

No Brasil, esses estudos são importantes, uma vez que seu território abriga uma

das floras mais ricas do mundo, da qual 99% são desconhecidas quimicamente

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(GOTTLIEB et al.,1998; SIMÕES, 1998). Na última década estudos etnobotânicos vêm

apresentando uma abordagem quantitativa, diferindo dos dados qualitativos que

nortearam os primeiros estudos. Esta mudança de enfoque deveu-se especialmente à

necessidade de dados que permitissem mensurar a importância de cada espécie vegetal

para uma dada comunidade (MAGALHÃES, 2006).

De acordo com Silva (1997), a adoção de métodos quantitativos permitiu

perceber a importância que o ambiente representa para uma determinada comunidade,

estabelecendo em termos numéricos o significado e a importância cultural das plantas

para os moradores locais. Nesta perspectiva, Prance et al. (1987), utilizaram em suas

pesquisas métodos quantitativos, como valor de uso, visando estabelecer a importância

de cada espécie vegetal para uma determinada comunidade.

4.3. Populações e Conhecimentos Tradicionais

As comunidades tradicionais são sociedades que vivem em associação direta

com seus habitats naturais, possuindo conhecimentos sobre solo, agricultura, animais e

remédios que são transmitidos por meio das gerações como forma de perpetuar a

identidade do grupo. Freqüentemente, povos tradicionais têm sido vistos como simples

exploradores de seus ambientes e não como conservadores, manipuladores e

manejadores de recursos naturais (FRIKEL,1959; BALÉE,1989).

Diegues (2000) afirma que as comunidades tradicionais, em função da forte

influência do meio natural, apresentam modos de vida e cultura diferenciados. Seus

hábitos estão diretamente submetidos aos ciclos naturais e a forma como apreendem a

realidade é baseada não só em experiência e racionalidade, mas em valores, símbolos,

crenças e mitos. O autor comenta ainda que a relação simbiótica entre homem e

natureza – presente tanto nas atividades produtivas, quanto nas representações

simbólicas do ambiente – permite que tais sociedades acumulem amplo conhecimento

sobre os recursos naturais ocorrentes em seus territórios.

Para Barreto Filho (2006), “população tradicional” expressa um conjunto de

valores culturais coletivos relativos ao meio ambiente, às percepções, aos valores e às

estruturas de significação que orientam e estão na origem de certas políticas ambientais.

Segundo Diegues (1996), nas populações tradicionais, o uso dos recursos

vegetais está fortemente presente na cultura popular que é transmitida de pais para

filhos no decorrer da existência humana, e/ou contemporâneas, e pelo que se tem

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observado, tende à redução ou mesmo ao desaparecimento, quando sofre a ação

inexorável da modernidade.

De acordo com Amorozo e Gely (1988), as populações tradicionais têm sido

submetidas a crescentes pressões econômicas e culturais impostas pela sociedade

urbanoindustrial, o que tem deixado consequências nefastas para as suas práticas

cotidianas. O conhecimento acumulado por estas populações, através de séculos de

estreito contato com o meio, possibilita concretamente a obtenção de informações

acerca do uso dos recursos naturais, sobretudo nos trópicos.

Quanto ao conhecimento tradicional, este é definido como um sistema integrado

de crenças e práticas características de grupos culturais diferentes, sendo que os povos

tradicionais, geralmente, afirmam que a “natureza” para eles não é somente um

inventário de recursos naturais, mas representa também as forças espirituais e cósmicas

que fazem da vida o que ela é (POSEY, 1992).

O conhecimento tradicional foi, por várias décadas, subestimado pelos cientistas.

A valorização do saber tradicional por parte dos etnobiólogos e etnoecólogos está

produzindo alternativas para os paradigmas correntes, com efeitos benéficos para o

conhecimento científico (POSEY, 1987).

Os estudos do conhecimento tradicional, em especial a medicina popular tem

merecido atenção cada vez maior devido ao contingente de informações que vem

oferecendo às ciências do homem. Constituindo um corpo de conhecimentos e práticas

médicas de características empíricas, não enquadradas, pois, no sistema médico oficial,

a medicina popular desenvolve-se numa dinâmica própria, segundo o contexto sócio-

cultural e econômico em que se insere (CAMARGO, 1985).

O acúmulo de informações sobre o uso de recursos naturais por populações

tradicionais tem oferecido aos cientistas, modelos de uso sustentável desses mesmos

recursos (ALBUQUERQUE, 1997), pois essas populações sabem usar e conservar seus

recursos biológicos (POSEY, 1990).

Para Pilla et al. (2006), à medida que a relação com a terra passa por uma

modernização e o contato com centros urbanos se intensifica, a rede de transmissão do

conhecimento sobre plantas medicinais pode sofrer alterações, sendo necessário com

urgência fazer o resgate deste conhecimento e das técnicas terapêuticas, como uma

maneira de deixar registrado este modo de aprendizado informal.

Pesquisas demonstram que a cultura local e a memória são cruciais para a

conservação da biodiversidade, porque ambas podem contribuir para a renovação de

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alternativas visando manter a diversidade cultural e biológica em ascensão. Neste

contexto, o crescente reconhecimento das comunidades tradicionais em ações de

conservação da biodiversidade vem incentivando a realização de estudos sobre a relação

entre homem e natureza (MORAIS et al., 2009).

Segundo Albuquerque (2002), o conhecimento acumulado pelas populações

locais constitui uma poderosa ferramenta da qual desenvolvimentistas e

conservacionistas podem se valer no planejamento e manutenção dessas áreas. Em

função disso, estudos dentro dessa perspectiva não podem estar ausentes das discussões

sobre meio ambiente (ALBUQUERQUE, 1999).

4.4. A experiência popular e o conhecimento científico: uma oportunidade de

contextualização

Barbosa (2007) considera que a disjunção entre o saber produzido pela ciência e

o saber “popular” está na base da fragmentação disciplinar empreendida na educação

formal e, portanto, reconhecê-la pode ser o ponto de partida para construir um novo

modo de pensar que articule os conhecimentos em lugar de separá-los, de

compartimentar saberes.

O tema “Plantas medicinais” poderia ser um dos abordados na Educação

Contextualizada, como uma alternativa para facilitar o aprendizado de diferentes

disciplinas. Melo et al. (2011), em estudos realizados com discentes do Instituto

Educacional Rui Barbosa, em Aracajú-SE, trabalharam a abordagem de conteúdos de

Química referentes às principais funções orgânicas, por meio da utilização de plantas

medicinais, presentes no cotidiano. As autoras comentam que ao final do trabalho os

alunos puderam perceber que há uma grande diversidade de substâncias presentes no

princípio ativo de um fármaco e/ou planta medicinal e, com isso, permitiu que se abrisse

um leque de oportunidades para o processo de ensino-aprendizagem, pois alia aquilo

que é familiar e cotidiano para o aluno àquilo que, para ele, é um campo árido, abstrato

e de difícil compreensão.

Na Bahia, a proposta de educação para a convivência com o Semiárido teve a

sua semente germinada a partir de um trabalho desenvolvido pelo Instituto Regional da

Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), no Município de Curaçá (BA), do qual

resultou a elaboração de uma proposta político-pedagógica para aquele município,

publicada no ano de 2001. Essa proposta é respaldada pela Lei de Diretrizes e Bases da

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Educação Nacional (LDB), Lei Nº 9.394/96, e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais

(PCNs). Foi uma proposta sistematizada pioneiramente, embora na região a idéia de

uma educação contextualizada para o semiárido já estivesse em discussão (PINTO,

2004). Neste contexto, vem sendo trabalho a biodiversidade da Caatinga e seu potencial

frutífero, tendo o umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda – Anacardiaceae) como

destaque.

No que se referem às plantas medicinais nativas da Caatinga, estas ainda não

foram abordadas neste contexto e poderiam ser uma ferramenta de ensino

multidisciplinar envolvendo conteúdos como ciências e biologia, química, matemática,

ciências sociais, entre outras. O tema é amplo e poderia ser desenvolvido de formas

diversas, sendo a montagem de hortos medicinais nas escolas uma delas. Com isso, o

aluno poderia conhecer de perto a diversidade de plantas nativas e seus potenciais.

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5. METODOLOGIA

5.1. Caracterização da área de estudo

O Município de Juazeiro está situado à margem direita do rio São Francisco, no

extremo Norte do Estado da Bahia, na zona do Médio e Baixo São Francisco, limitando-

se a Leste com o Município de Curaçá, a Sul com Jaguarari e Campo Formoso, a Oeste

com Sobradinho, e a Norte com o Estado de Pernambuco (Beltrão et al., 2005). Este

município fica situado a cerca de 500 km da capital do estado e apresenta uma

população estimada de 197.965 habitantes distribuídos em uma área de 6.389 km²

(IBGE, 2012). Em divisão territorial datada de 1988, o município é constituído de 8

distritos: Sede, Abóbora, Carnaíba do Sertão, Itamotinga, Junco, Juremal, Massaroca e

Pinhões (IBGE, 2012).

A vegetação dominante é a de Caatinga arbórea (densa ou aberta), embora em

determinados trechos haja cobertura vegetal estratificada de arbustos e árvores, a

exemplo do umbuzeiro, quebra facão, mandacaru e juazeiro (LIMA, 2008). O relevo

distingue-se por extenso pediplano, interposto por várzeas e terraços aluviais. Os tipos

de solo variam de planossolo a vertissolo, até a cambissolo e, localmente, neossolos. A

principal drenagem está representada, principalmente, pelos rios Salitre e Curaçá, que

fazem parte da bacia hidrográfica do São Francisco, rio este que limita o município na

sua borda norte (Beltrão et al., 2005).

De acordo com a classificação de Koppen, o clima da região se enquadra no tipo

BSwh’, caracterizado pela escassez e irregularidade, definido como árido ou Semiárido.

As precipitações pluviométricas ocorrem entre os meses de novembro a abril, sendo

março o mês com maior índice pluviométrico. As secas mais rigorosas ocorrem nos

meses de julho e agosto e a pluviosidade média anual varia entre 400 e 500 mm.

Apresenta temperaturas que variam de 20,3 ºC a 43,6 ºC, com media anual de 24,2ºC .

Segundo o Ministério da Integração, o município de Juazeiro faz parte da Região

Integrada de Desenvolvimento Econômico (Ride) do Pólo Petrolina (PE) e Juazeiro

(BA), que foi criada pela Lei Complementar nº 113, de 19 de setembro de 2001,

abrangendo quatro municípios de Pernambuco - Petrolina, Lagoa Grande, Santa Maria

da Boa Vista e Orocó - e quatro da Bahia - Juazeiro, Casa Nova, Sobradinho e Curaçá.

Cidades do Interior que se unem e aceleram o desenvolvimento (Figura 1).

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Figura 1: Localização de Juazeiro em relação aos municípios da Ride.

5.2. Seleção das áreas e amostragem

De posse do mapa da área urbana de Juazeiro, foram escolhidos dois bairros com

base no perfil socioeconômico, área, população e localização em relação ao centro da

área urbana. Com base nesses indicadores, escolheu-se o bairro João Paulo II, por ser o

mais populoso e mais afastado da área central e o bairro Cajueiro, por sua localização

central e nas proximidades da Universidade (Figura 2).

Figura 2. Localização dos bairros selecionados para o levantamento (a) e detalhe dos

bairros Cajueiro (b) e João Paulo II (c) mostrando a organização espacial das

quadras.

a c

b

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De acordo com a Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde de Juazeiro-

BA, o bairro João Paulo II, conta com cerca de 6.247 habitantes, 2059 casas,

cadastrados no programa de Saúde da Família e não conta com saneamento básico e

pavimentação (Figura 3a e b), enquanto que o bairro Cajueiro, conta com cerca de 3.321

habitantes, 886 casas cadastrados no programa de Saúde da Família, é 100% saneado e

maioria das ruas são calçadas (Figura 3c e d).

Em cada bairro, foram amostradas 30 casas de forma aleatória e respeitando a

organização espacial de cada um. No bairro João Paulo II, as casas estão agrupadas em

36 quadras retangulares, que estão dispostas de forma irregular como pode ser

observado na Figura 2b. Nesse caso, foram selecionadas aleatoriamente 27 quadras, o

que corresponde a 75% das quadras do bairro. No bairro Cajueiro, as casas estão

agrupadas em quadras distribuídas de forma regular o que possibilitou a amostragem

por rua, e das 11 existentes no bairro, nove foram selecionadas, o que representa 81,8%.

5.3. Aplicação de questionário

Após a seleção da quadra ou rua a ser amostrada, inicialmente foram feitas

visitas informais às casas, no intuito de criar uma primeira aproximação com os

moradores para identificar aqueles que tinham interesse em participar voluntariamente

das entrevistas. As pessoas que mostraram disponibilidade foram convidadas a

responder o questionário de forma verbal. Para registrar as entrevistas, algumas

fotografias foram tomadas com o consentimento do entrevistado.

As entrevistas foram feitas, no período de março a abril de 2012, por meio da

aplicação de um questionário semi-estruturado, composto de 25 perguntas, divididas em

duas partes, sendo a primeira com relação ao perfil sócio-demográfico e a segunda sobre

o uso e conhecimento das plantas medicinais (Anexo I).

5.4. Analise dos dados

De posse dos questionários, as respostas de cada pergunta foram organizadas em

planilhas Excel para análise comparativa. Os dados obtidos foram avaliados de forma

quantitativa e qualitativamente. A análise estatística foi feita por meio de testes não

paramétricos Qui-quadrado (2), utilizando o programa Statistica 7.0.

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Figura 3. Mapas e fotos dos bairros de Juazeiro que foram estudados. Distribuição das

casas (■) amostradas no João Paulo II (a) e Cajueiro (d); Fotos das ruas do

João Paulo II (b e c) e do Cajueiro (d e f).

b c

e f

a

d

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6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante a aplicação dos questionários, verificou-se que houve diferenças em

relação à receptividade por parte dos entrevistados nos dois bairros. No bairro João

Paulo II, no princípio houve resistência a participar das entrevistas, porém a partir do 2º.

dia, os moradores foram mais receptivos e se disponibilizaram a responder o

questionário. Geralmente, entrevistados permitiam o acesso a casa, inclusive mostrando

as plantas que cultivavam no quintal. Nesse bairro, também houve o envolvimento de

outras pessoas da casa para auxiliar o entrevistado nas respostas, lembrando os nomes

das plantas e sua procedência, bem como as formas de propagação das mesmas.

No bairro Cajueiro, houve resistência maior em participar das entrevistas, onde

algumas pessoas se negarão a responder o questionário. As entrevistas foram feitas

geralmente no lado de fora da residência, sendo raras as entrevistas que foram feitas na

sala ou interior da casa. Na maioria das entrevistas, somente o entrevistado respondeu o

questionário, sem pedir ajuda para os demais moradores.

Ao concluir as entrevistas, verificou-se que os moradores do bairro João Paulo

II foram bem mais receptivos e participativos do que os do bairro Cajueiro. Fato este

que pode ser associado não só ao conhecimento tradicional adquirido como também as

características socioeconômicas.

Quanto aos aspectos socioeconômicos, verificou-se que houve diferenças entre

os dois bairros. No João Paulo II, com relação à naturalidade do entrevistado, 30% dos

entrevistados são juazeirenses (n=9), 6,7% são de Missão Velha-CE (n=2). Os demais

entrevistados (n=19) são naturais de Ibimirim, Garanhus, Cabrobó, Serra Talhada,

Belém do São Francisco, Petrolina, Orocó, em Pernambuco; Barros, Maurití, Juazeiro

do Norte, Crato e Cedro, no Ceará; Paulistana e Acauã, no Piauí e Casa Nova,

Alagoinhas, Jaguarari, Salvador e Santa Bárbara, na Bahia. Para cada um desses

municípios foram registrado somente uma ocorrência, que corresponde a 3,3% do total

de entrevistados.

No bairro do Cajueiro, 53,3% dos entrevistados são juazeirenses (n=16) e 6,7%

são paulistas. Os 40% restantes são naturais de municípios da Bahia, como Jaguarari,

Salvador, Curaçá, Cariranha, Xorroxó, Gentil do Ouro, Paulo Afonso, Cícero Dantas e

Sento Sé, com poucos registros para Pernambuco (Petrolina), Paraíba (Cajazeiras) e

Alagoas (Belmiro Gouveia). Para cada localidade houve apenas um registro.

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Comparando os dois bairros, verificou-se que no João Paulo os moradores são

naturais de uma maior diversidade de municípios (n= 21) em relação ao Cajueiro

(n=14), indicando maior heterogeneidade do grupo.

Em relação a profissão, verificou-se que 40% dos entrevistados no João Paulo II

são aposentados (n=12), 26,7% são donas de casa (n=8) e 6,7% são desempregados

(n=2). Os 26,7% restantes são representados por serviços gerais, assessor parlamentar,

pedreiro, reciclador, recepcionista, pescador, executiva de vendas e motoristas,

mostrando a heterogeneidade de profissões no grupo. No Cajueiro, observou-se que

40% dos entrevistados são aposentados ou estudantes com índice de 20% (n=6), para

cada grupo e 13,3% são donas de casa (n=4), totalizando 53,3%. Os 46,7% são

representados por operador de máquinas, professora, empregada domestica, vendedor,

conferente, vigilante, manicure, massoterapeuta, analista de sistema, funcionaria publica

federal e municipal, auxiliar administrativo financeiro, taxista e porteiro. Entre as

profissões citadas, algumas são de nível médio ou superior indicando um perfil mais

qualificado do grupo.

Quanto ao gênero, observou-se que houve maior número de entrevistados do

sexo feminino do que masculino nos dois bairros (Figura 4). Fato semelhante foi

registrado por Pinto et al. (2006), em levantamento etnobotânico feito em Itacaré na

região Sul da Bahia, onde dos 26 entrevistados, 80,76% são do sexo feminino (n=21).

Em outros trabalhos com etnobotânica, Medeiros et al. (2004); Silva & Andrade (2005)

e Sousa et al. (2007) comentam que a maioria dos entrevistados também foram do sexo

feminino. Porém, vale ressaltar que no presente estudo, como as entrevistas foram

realizadas durante o dia (manhã e tarde), nesse horário as mulheres puderam participar

da pesquisa por estarem em casa. A participação masculina poderia ter sido maior se as

entrevistas fossem realizadas a noite, quando os homens encontram-se nos seus

domicílios.

Em entrevista realizada por Aguiar (2009), entre os moradores no município de

Demerval Lobão (PI), 72% foram mulheres, as quais dedicam grande parte do seu

tempo em contato direto com o quintal, produzindo e beneficiando alimentos e remédios

para a família e, também, gerando excedentes para comercialização. Além dos

benefícios da renda, visto que produzindo não é necessário comprar, uma produção de

subsistência diversificada contribui com a segurança alimentar. Já em trabalhos

realizados Ming & Junior (2012) na Reserva Extrativista “Chico Mendes” no Acre,

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33

apresentaram nas entrevistas maior quantidade de homens, os quais demonstraram

maior conhecimento sobre as potencialidades medicinais das plantas.

Figura 4. Distribuição dos entrevistados por sexo nos dois bairros amostrados.

Em relação as 25 perguntas feitas, verificou-se no que se refere a faixa etária

(Figura 5), o maior número de entrevistados no Bairro João Paulo II apresentou mais de

66 anos, não sendo encontradas pessoas na faixa inferior a 25 anos. Já no Bairro

Cajueiro, foram registrados entrevistados em todas as faixas etárias, com maior número

registrado na primeira faixa. Tal resultado indica que no João Paulo II os moradores são

mais velhos, geralmente aposentados enquanto que no Cajuzeiro, a presença da faixa

etária inferior a 25anos é geralmente representada pelos estudantes.

Figura 5. Distribuição dos entrevistados por faixa etária nos dois bairros amostrados.

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34

Quanto ao grau de escolaridade (Figura 6), foi verificado que o bairro João

Paulo II apresentou maior índice de pessoas com ensino médio (36,7%; n=11 registros),

seguido de ensino fundamental (26,7%; n=8). Porém, o número de analfabeto (n=7

registros) representativo, que corresponde a 23,3% do total. Não houve registro de

pessoas com ensino superior nesse Bairro. Já no bairro Cajueiro, verificou-se um

desempenho melhor quanto ao nível de escolaridade, apresentando maior registro de

pessoas com ensino médio (n=16), seguido pelos ensinos fundamental (n=6) e superior

(n=5). Nesse bairro foi registrado somente um pessoa analfabeta.

Figura 6. Distribuição dos entrevistados por grau de escolaridade nos dois bairros

amostrados.

Essa diferença no perfil escolar dos bairros era esperada e no caso do João Paulo

II, o numero de analfabetos pode ser justificado pela presença de pessoas com idade

acima de 60 anos e que não tiveram acesso à escola quando jovens. Além disso, o bairro

é caracterizado pela presença de representativa de trabalhadores rurais das lavouras

temporárias de cana de açúcar e da fruticultura irrigada que também não tiveram acesso

a instrução. Quanto ao Cajueiro, por estar localizado no centro da cidade e nas

proximidades da Universidade do Estado da Bahia, agregou moradores que tiveram

mais acesso ao ensino médio e superior.

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Quanto à renda familiar (Figura 7), verificou-se que dos 30 entrevistados no

João Paulo II, 63,3% vivem com rendimento até um salário mínimo, não havendo

registro de renda igual ou superior a cinco salários. No Cajueiro, 36,7% dos

entrevistados vivem com rendimento familiar de 3 a 4 salários; 26,7% com 5 a 6

salários e 26,7% com menos de um salário. Esses resultados podem ser considerados

como um reflexo do grau de escolaridade, pois o bairro João Paulo II foi o que

apresentou maior índice de analfabetismo, enquanto que no Cajueiro, encontrou-se

pessoas com nível médio e superior.

Figura 7. Demonstrativo do rendimento familiar dos entrevistados nos dois bairros

amostrados.

Reis & Ramos (2011), constataram que filhos de pais menos escolarizados têm

as suas características individuais pior remuneradas no mercado de trabalho do que

indivíduos cujos pais alcançaram níveis mais elevados de educação, diferenças essas

que têm impacto sobre a distribuição de rendimentos.

Segundo Schultz (1988), crianças com pais mais escolarizados teriam um

ambiente domiciliar mais favorável à absorção de conhecimentos e, com isso, os custos

de aprendizagem seriam reduzidos, assim como a eficiência desse aprendizado seria

aumentada. Além disso, é possível que crianças com pais com maior nível de instrução

se beneficiem de maiores investimentos na formação e na qualidade da educação

recebida, possibilitando o ingresso em melhores empregos. Fato semelhante é registrado

no presente estudo, onde o rendimento familiar esteve diretamente associado com o

nível de escolaridade, propiciando a melhoria de renda familiar. Porém, o mesmo não

foi observado com relação ao conhecimento tradicional de uso de plantas, indicando que

este independe da renda familiar (ver página 45).

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Quanto ao tipo de moradia não houve diferença significativa entre os dois

bairros, com 100% e 96,7% de domicílios do tipo casa, respectivamente para o João

Paulo II e Cajueiro. Fato similar foi registrado em relação às condições do domicilio

(Figura 8), com maior índice de moradia própria tanto no João Paulo II (83,3%) como

no Cajueiro (73,3%) de moradia própria.

Figura 8. Demonstrativo da condição de moradia dos entrevistados nos dois

bairros amostrados.

Com relação ao número de moradores por domicílio (Figura 9), em ambos os

bairros houve maior ocorrência na faixa de duas a cinco pessoas por casa, porém no

João Paulo II, a maior frequência ocorreu nos domicílios com quatro pessoas (n=11),

enquanto que no Cajueiro maior frequência ocorreu nas casas com dois moradores

(n=9). Quanto ao tempo de residência (Figura 10), situação similar foi observada nos

dois bairros, com um predomínio de moradores com mais de 10 anos, com 56,7% e

40%, respectivamente para o João Paulo II e Cajueiro. Porém, lembrando que o bairro

Cajueiro é mais antigo do que o João Paulo II, esperava-se que no primeiro fosse

registrado maior porcentagem de moradores antigos, fato que não ocorreu, indicando

que nesse bairro pode estar havendo maior movimentação dos moradores.

Os resultados obtidos indicam que a maioria dos entrevistados de ambos os

bairros residem a mais de 10 anos e possuem residência própria, mostrando a fixação

das pessoas nesses locais. Caso semelhante foi registrado por Lima e Silva (2002) em

levantamento etnobotânico feito na comunidade quilombola do Curiaú, na cidade de

Macapá-AP, mostrando que a maioria dos entrevistados reside no local há mais de 10

anos, tempo este que é fundamental para a integração sócio-econômica e cultural do

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local. Porém, no presente estudo, o mesmo não foi observado uma vez que os

entrevistados, embora fossem moradores mais antigos, os mesmos não apresentaram

conhecimento em relação às plantas da região, como será discutido posteriormente (pag.

45, Figuras 20 e 21).

Figura 9. Demonstrativo da quantidade de moradores por casa nos dois bairros

amostrados.

Figura 10. Demonstrativo do tempo de residência dos entrevistados nos dois

bairros amostrados.

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38

Quando perguntado sobre o tipo de tratamento mais usado pela família (Figura

11), constatou-se que no bairro João Paulo II os tratamentos mais citados foram posto

médico ou hospital e posto + remédios naturais, com 46,7% cada. Fato similar foi

observado no bairro Cajueiro, com posto + remédios naturais (46,7%) e posto ou

hospital (40%), os tipos mais citados. No João Paulo II houve apenas um registro para

uso exclusivo de remédios naturais (3,3% do total), e no Cajueiro não houve registro

para esse tipo de tratamento. Esses resultados indicam que, de modo geral, nos dois

bairros o uso exclusivo de fitoterápicos é praticamente inexistente, mostrando que

aparentemente não há relação direta com o fator socioeconômico. A baixa ocorrência de

uso de fitoterápicos pode ser atribuída a vários fatores, entre eles a existência de

programas governamentais, a exemplo do Programa de Saúde da Família, que visam a

prevenção e cura de doenças, com investimento nos Agentes Comunitários de Saúde e

equipe multidisciplinar, com fornecimento gratuito de medicamentos, que na maioria

das vezes é sintético.

Figura 11. Demonstrativo do tipo de tratamento nos dois bairros amostrados.

Em estudos etnobotânicos realizados no município de Macapá-AP, Lima & Silva

(2002) registraram que 100% (n=42) declararam ir ao posto médico ou hospital em

casos de doença na família, destes 33,33% (n=14) disseram ir a outra cidade em casos

mais graves e 80,95% dos entrevistados (n=34) informaram que além desses

procedimentos, fazem tratamento com remédios naturais. Já Pinto et al. (2006), em

levantamento sobre plantas medicinais feito em Itacaré, BA, verificaram que houve uma

alteração no comportamento dos entrevistados que informaram que doenças que eram

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tratadas com as plantas existentes no próprio quintal do informante, passaram a ser

tratadas com remédios de farmácia.

No sentido tradicional, isso traz dois prejuízos: a perda da prática do uso da

medicina popular e um gasto financeiro muito alto com remédios. Dessa forma pode

ocorrer à substituição de valores, o que significa que a cultura industrial, na qual os

remédios já estão prontos e é só comprar, diminui a procura ou deixa cair no

esquecimento espécies de plantas que curariam aqueles males, não sendo mais

necessário procurar um vegetal de tão difícil acesso (Amorozo, 2002).

Na Tabela 1 são apresentadas as frequências obtidas em relação às doenças

citadas pelos entrevistados nos dois bairros. No João Paulo II, a gripe foi a doença mais

citada (23,3%), seguida pela gripe associada a hipertensão (16,7%) e hipertensão

associada a diabetes (10%). No Cajueiro, a gripe também se destacou, porém com

percentual superior (30%) ao registrado no João Paulo II. Os problemas respiratórios e

hipertensão também foram destacados por 10% dos entrevistados no Cajueiro.

De acordo com a frequência de uso de plantas (Figura 12), não houve diferença

entre os dois bairros amostrados, onde 73,3% dos entrevistados (n= 22 registros)

informaram que não usa com frequência as plantas medicinais para o tratamento das

doenças citadas anteriormente. Esses resultados indicam que as plantas medicinais são

pouco valorizadas nos dois bairros, independente das condições socioeconômicas

apresentadas, indicando que parte do conhecimento tradicional vem se perdendo nessas

comunidades e as facilidades de acesso a programas de promoção a saúde e a remédios

sintéticos, vem colaborando para isso.

Em estudo realizado em Lages e Anita Garibaldi, em comunidades da Serra

Catarinense, Maia et al. (2011) verificaram que nos dois municípios o uso frequente de

remédios naturais foi registrado em mais de 50% das residências, demonstrando que,

mesmo com tantas outras fontes alternativas de tratamento, o uso de plantas medicinais

ainda é bastante difundido. Fato similar foi observado por Lima & Silva (2002) em

levantamento feito na comunidade quilombola de Curiaú, Macapá-AP, onde mais de

50% dos entrevistados responderam fazer o uso de espécies medicinais na prevenção e

cura de doenças na família.

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Tabela 1: Doenças mais citadas nos bairros estudados e suas frequências de ocorrência.

DOENÇA João Paulo II Cajueiro

N % N %

Gripe 7 23.3 9 30.0

Hipertenção 2 6.7 0 0

Diabetes 0 0.0 1 3.3

Gripe + hipertenção 5 16.7 2 6.7

Gripe + diabetes 0 0.0 1 3.3

Gripe + gastrite 0 0.0 1 3.3

Gripe + dor de cabeça 1 3.3 0 0

Gripe + hipertenção + gastrite 2 6.7 2 6.7

Gripe + anemia + reumatismo 1 3.3 0 0

Gripe + hipertenção + diabetes + prob. cardíaco + gastrite 1 3.3 0 0

Hipertenção + diabetes 3 10.0 0 0

Hipertenção + diabetes + gastrite 1 3.3 0 0

Diabetes + gastrite 1 3.3 1 3.3

Problemas respiratórios + anemia 1 3.3 0 0

Problemas respiratórios + gripe 1 3.3 3 10

Problemas respiratórios +hipertenção 1 3.3 1 3.3

Problemas respiratórios + gripe + anemia 1 3.3 0 0

Problemas respiratórios + gripe + hipertenção 1 3.3 2 6.7

Problemas respiratórios + gripe + hipertenção + gastrite +

anemia 1 3.3 1 3.3

Problemas respiratórios + gripe + hipertenção + gastrite 0 0.0 1 3.3

Problemas respiratórios + gripe + gastrite 0 0.0 1 3.3

Problemas respiratórios + gastrite + diabetes 0 0.0 1 3.3

Problemas respiratórios + hipertenção + gastrite + diabetes 0 0.0 1 3.3

Problemas respiratórios + gripe + hipertenção + problemas

cardíacos 0 0.0 2 6.7

TOTAL 30 100.0 30 100.0

Figura 12. Demonstrativo da frequência de uso de plantas medicinais nos dois bairros

amostrados.

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Porém no presente estudo, o inverso foi observado, onde mais de 70% dos

entrevistados informaram não utilizar com frequência esse tipo de medicamento. Como

comentado anteriormente, tal fato pode estar relacionado com a facilidade de acesso a

outras formas de tratamento, a exemplo do Programa de Saúde da Família que trabalha

na prevenção de doenças, disponibilizando medicamentos de forma gratuita a

população. Esse fácil acesso ao medicamento e sua distribuição de forma gratuita pode

ser um dos fatores que tem levado a diminuição do uso de plantas no tratamento e

prevenção de algumas doenças.

Quando perguntado sobre “de onde vem o conhecimento do uso de plantas

medicinais?”, 80% e 86,7% dos entrevistados responderam que esse conhecimento foi

adquirido com familiares, mostrando que a tradição de uso dessas plantas vem sendo

passado de pai para filho. Quando perguntado “quais as plantas mais usadas pela

família?” foram citadas 68 e 64 plantas no bairro João Paulo II e Cajueiro,

respectivamente. Porém desse total, a maioria são de plantas medicinais já consagradas

como erva cidreira, capim santo, boldo, babosa, hortelã e eucalipto.

De acordo com a Figura 13, as plantas foram agrupadas em 3 categorias, sendo

que 75% e 56,3% das plantas citadas respectivamente para o João Paulo II e Cajueiro

foram consideradas como plantas medicinais originárias de outras regiões. Fato similar

foi registrado por Oliveira et al. (2011) em estudos feitos em Comunidade do Entorno

da Reserva Biológica do Tinguá, RJ, a comunidade estudada usa preferencialmente

plantas medicinais que não fazem parte da flora típica da região. Os autores comentam

que o maior número de citações de espécies não nativas pode ser justificado pela

facilidade em cultivar e coletar as plantas medicinais tradicionais, levando em

consideração, inclusive, a sua disponibilidade em feiras populares.

Fato similar pode estar ocorrendo nos bairros estudados, onde é comum

encontrar o cultivo em vasos ou no quintal de plantas medicinais já consagradas pela

facilidade do cultivo, por serem plantas de pequeno e médio porte, bem como serem

facilmente encontradas em supermercados, floriculturas e feiras livres. Outro ponto que

pode ser destacado é que a maioria das espécies nativas de potencial medicinal são

arbóreas, de lento crescimento e que não são manejadas para esse fim. Dessa foram,

essas espécies adquiridas no comercio local, facilitando assim sua aquisição.

No que se refere às plantas nativas da Caatinga, verificou-se que maior

porcentagem foi citada no Cajueiro (39,1%) do que no João Paulo II (20,6%), porém

esta diferença não foi significativa pelo teste 2.

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Figura 13. Demonstrativo de plantas medicinais usadas pelas famílias. Legenda: barras

seguidas de mesma letra não diferem pelo teste 2, gl=1.

Os resultados das entrevistas em relação ao cultivo em casa de plantas

medicinais mostraram que, no bairro João Paulo II, 80% dos entrevistados cultiva

algum tipo de planta medicinal no quintal de casa, enquanto que no Cajueiro somente

20% faz esta prática, sendo esta diferença significativa pelo teste 2

(Figura 14).

Diferenças também foram observadas em relação a diversidade de plantas cultivadas

nos dois bairros (Figura 15). No total foram citadas 38 plantas medicinais já

consagradas, ou seja nenhuma espécie nativa da Caatinga é cultiva em casa, indicando

que embora as mesmas sejam utilizadas pela população, ainda não há um cultivo

doméstico das mesmas. Do total de plantas, 55% das espécies foram citadas somente

pelos entrevistados no bairro João Paulo II, 11% espécies foram citadas somente no

bairro Cajueiro. Essa diferença justifica-se pela área disponível para o plantio no João

Paulo II, em todas as casas visitadas a presença de quintal nos fundos ou na frente da

residência que possibilita o plantio associado à cultura dos moradores de fazer uso de

plantas medicinais. Já no Cajueiro o número foi inferior, sendo este fato pode ser

atribuída a menor disponibilidade de área para o plantio, uma vez que nem todas as

casas possuem quintal ou quando tem é pequeno inviabilizando a pratica do cultivo de

plantas medicinais, como também pelo perfil apresentado por esses moradores.

a

a

a

a

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Figura 14. Comparação entre os bairros em relação ao cultivo de plantas medicinais na

residência. Legenda: barras seguidas de mesma letra não diferem pelo teste 2, gl=1.

Figura 15. Resultados da distribuição de plantas medicinais cultivadas nas residências

nos bairros amostrados.

Na Figura 16 encontram-se os resultados obtidos em relação à forma de

propagação das plantas medicinais cultivadas, mostrando que nos dois bairros as plantas

são propagadas por meio de mudas, com 33,3% e 20%, respectivamente para o João

Paulo II e Cajueiro. Porém, com relação à frequência de pessoas que não cultivam

diferenças foram observadas, com registro de 30% e 70% para o João Paulo II e

Cajueiro, respectivamente, sendo esta diferença significativa pelo teste 2.

a

b

b

a

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Figura 16. Resultados referentes às formas de propagação de plantas medicinais

encontrados nos bairros amostrados. Legenda: barras seguidas de mesma letra não

diferem pelo teste 2, gl=1.

Quando perguntado aos entrevistados se além das plantas cultivadas havia a

utilização de plantas da Caatinga como remédio e medicamento, verificou-se que não

houve diferenças entre os bairros, pois 86,7% e 83,3% dos entrevistados para o João

Paulo II e Cajueiro afirmaram que fazem uso dessas plantas. Quanto à origem e para

que doenças as plantas nativas são utilizadas também não foram observadas diferenças

entre os bairros, com predominância de materiais obtidos na região de Juazeiro-BA

(Figura 17) e utilizados principalmente como digestivo e anti-inflamatório (Tabela 2).

Figura 17. Resultados obtidos em relação ao local onde as plantas nativas da Caatinga

são adquiridas pelos usuários nos dois bairros amostrados.

a

b

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Em levantamento sobre plantas Medicinais como Recurso Terapêutico realizado

em Comunidade do Entorno da Reserva Biológica do Tinguá, RJ, Oliveira et al. (2011)

relataram o uso de diversas espécies no tratamento de má digestão e anti-inflamatório,

entre outras doenças. Os autores comentam ainda que a maioria dos informantes obtém

as espécies medicinais por meio de cultivo caseiro (66%) ou adquirem diretamente no

habitat natural (34%).

Tabela 2. Frequência e porcentagem das doenças que são tratadas com plantas

medicinais da Caatinga.

DOENÇA João Paulo II Cajueiro

N % N %

Analségico 5 8.3 1 1.4

Anemia 0 0.0 2 2.8

Anti inflamatório 7 11.7 12 16.9

Anti-térmico 5 8.3 3 4.2

Cicatrizante 3 5.0 4 5.6

Circulação 0 0.0 1 1.4

Colesterol 1 1.7 2 2.8

Coluna 1 1.7 3 4.2

Diabete 3 5.0 2 2.8

Diarreia 1 1.7 2 2.8

Dor de cabeça 3 5.0 1 1.4

Dor na garganta 1 1.7 2 2.8

Dor no estomago 11 18.3 19 26.8

Dor no ouvido 0 0.0 1 1.4

Dores musculares 1 1.7 0 0.0

Emagrecedor 1 1.7 1 1.4

Falta de apetite 1 1.7 0 0.0

Gases 0 0.0 1 1.4

Hematoma 0 0.0 1 1.4

Infecção no útero 1 1.7 0 0.0

Infecção urinária 2 3.3 3 4.2

Insônia 1 1.7 0 0.0

Pressão alta 2 3.3 2 2.8

Problemas intestinais 2 3.3 2 2.8

Problemas respiratório 4 6.7 1 1.4

Próstata 0 0.0 1 1.4

Relaxante 1 1.7 0 0.0

Ressecamento 0 0.0 1 1.4

Reumatismo 1 1.7 1 1.4

Sinusite 1 1.7 1 1.4

Tontura 0 0.0 1 1.4

Vermífugo 1 1.7 0 0.0

TOTAL 60 100.0 71 100.0

No que se refere à forma de uso, não houve diferença entre os dois bairros,

sendo os maiores índices de uso, os registrados para chá, xarope e banho (Figura 18).

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Esses resultados concordam com as observações feitas por Lopes (2011) em entrevista

com os feirantes do município de Paulo Afonso-BA, onde os preparos para uso

terapêutico mais utilizado foram o cozimento, a infusão e o suco, seguido pelo uso do

xarope.

Figura 18. Resultados obtidos em relação a forma de uso ou preparo do remédio nos a

base de plantas nativas da Caatinga nos dois bairros amostrados. Legenda:

barras seguidas de mesma letra não diferem pelo teste 2, gl=1.

Na tabela 3, encontram-se os resultados obtidos com relação à parte da planta

utilizada no preparo do remédio ou medicamento, mostrando que no bairro João Paulo

II a forma mais frequente é “casca e folha” com 36,7%, seguida pela “folha” com 13,3%

e “casca, folha e fruto” com 10% de frequência de uso. No Cajueiro, “folha” (23,3%),

“casca e folha” (23,3%) e “casca, folha e fruto” (13,3%) foram as formas mais de

frequência.

a

a

a

a

a a

a

a

a

a

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47

Tabela 3. Resultados em relação a parte da planta utilizada no preparo do remédio nos

dois bairros amostrados.

PARTE DA PLANTA

UTILIZADA

João Paulo II Cajueiro

N % N %

Casca e flor 0 0.0 1 3.3

Casca e folha 11 36.7 7 23.3

Casca e fruto 0 0.0 1 3.3

Casca, folha e raiz 2 6.7 1 3.3

Casca, folha e semente 1 3.3 0 0.0

Casca, folha, flor e semente 1 3.3 0 0.0

Casca, folha, fruto 3 10.0 4 13.3

Casca, folha, fruto e raiz 1 3.3 2 6.7

Casca, folha, fruto e semente 0 0.0 1 3.3

Casca, fruto e semente 1 3.3 0 0.0

Caule casca e folha 0 0.0 1 3.3

Caule e semente 2 6.7 0 0.0

Folha 4 13.3 7 23.3

Folha e fruto 2 6.7 0 0.0

Folha e raiz 1 3.3 1 3.3

Folha e semente 1 3.3 2 6.7

Planta inteira 0 0.0 1 3.3

Raíz,folha e semente 0 0.0 1 3.3

TOTAL 30 100.0 30 100.0

Quanto a quem utilizada o remédio à base de plantas medicinais em casa,

verificou-se que no João Paulo II 56,7% dos entrevistados informaram que todos

(crianças, adultos e idosos), utilizam remédios naturais. Já no Cajueiro, 36,7% dos

entrevistados informaram que somente os adultos fazem uso dos remédios naturais.

Porém, somente no primeiro caso houve diferença estatística entre os bairros

amostrados (Figura 19).

Figura 19. Resultados obtidos em relação ao perfil do público que faz uso dos remédios

naturais nos dois bairros amostrados. Legenda: barras seguidas de mesma letra não

diferem pelo teste 2, gl=1.

a

a

a

b

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48

Em relação ao conhecimento dos entrevistados quanto às plantas que eram

utilizadas como remédio e que hoje já não são encontradas, verificou-se que no bairro

João Paulo II, 83,3% dos entrevistados respondeu que não conheciam nenhuma planta

nessa situação. Os demais entrevistados citaram oito plantas, das quais 37,5% são

plantas exóticas e 62,5% são nativas. Neste último caso, do total de espécies citadas

60% estão na lista de plantas ameaçadas de extinção (Figura 20), indicando o

conhecimento dessas pessoas quanto a flora local. No bairro Cajueiro, 93,3% dos

entrevistados respondeu que não conheciam plantas nessa situação. Os demais citaram

três plantas, sendo todas espécies exóticas (Figura 21), indicando o desconhecimento

das plantas nativas ou de ocorrência na região.

Angico19%(n=2)

Aroeira18%(n=2)

Hortelã9%

(n=1)Novalgina

9%(n=1)

Pau d'arco9%

(n=1)

Poejo9%

(n=1)

Quixabeira18%(n=2)

Umb. de cheiro9%

(n=1)

João Paulo II

Figura 20. Espécies citadas pelos entrevistados do bairro João Paulo II, consideradas

como plantas que já foram usadas como remédio e que hoje já não são

encontradas. Legenda: espécie exótica; espécie nativa.

Figura 21. Espécies citadas pelos entrevistados do bairro Cajueiro, consideradas como

plantas que já foram usadas como remédio e que hoje já não são encontradas. Legenda: espécie exótica.

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Esses resultados indicam que o conhecimento tradicional não está relacionado

com o nível de escolaridade e fatores socioeconômico, uma vez que os moradores do

Cajueiro, embora tenha melhor nível de escolaridade e maior renda familiar, não tem

conhecimento da flora nativa, como pode ser observado pelas espécies citadas. Já os

moradores do João Paulo II, embora apresentem maior índice de analfabetismo e

menores rendimentos, conhecem melhor a flora local e sua utilização na medicina

popular. Esses resultados indicam que o conhecimento tradicional vem se perdendo e

que há falta da contextualização do ensino, nos diferentes níveis de escolaridade para

que o tema possa ser melhor abordado nos conteúdos programáticos.

Quanto aos exemplos de plantas da Caatinga citados pelos entrevistados,

verificou-se que no bairro João Paulo II foram citadas 45 espécies e no Cajueiro, 33

espécies. Desses totais, observou-se que, respectivamente para o João Paulo II e

Cajueiro, 48,9% e 69,7% eram espécies nativas da Caatinga (Figura 22). As demais ou

eram procedentes de outras regiões ou não foram identificadas.

Figura 22. Resultados em relação a origem das espécies citadas pelos entrevistados nos

dois bairros.

Quanto à forma de manipulação das plantas medicinais para consumo, não

houve diferenças entre os dois bairros, sendo que a maioria (percentuais superiores a

50%) dos entrevistados informou que fazem uso imediato das mesmas sem

condiciomento posterior (Figura 23). No que se refere à forma de armazenamento dos

remédios naturais, verificou que 40% e 63,3% dos entrevistados no João Paulo II e

Cajueiro, respectivamente, não guardam ou armazenam os medicamentos. Somente,

23% dos entrevistados em cada bairro guardam os medicamentos em geladeira e os

demais, mantém em temperatura ambiente (Figura 24).

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Figura 23. Resultados em relação à forma de manipulação das plantas medicinais nos

dois bairros amostrados.

Figura 24: Demonstrativo da forma de armazenamento dos remédios naturais nos dois

bairros amostrados.

Em levantamentos feitos por Pinto (2008) e Maia et al. (2011), os autores

mencionam que o armazenamento de partes vegetais não é uma prática corrente entre os

informantes, visto que a maioria colhiam as plantas no momento de sua utilização e

faziam uso imediato, concordando com o observado no presente estudo. Esse consumo

imediato pode ser atribuído a vários fatores, entre eles o fácil acesso às plantas

utilizadas, bem como a falta de orientação no armazenamento desses materiais.

Nesse sentido, Badke et al. (2011) mencionam a importância de atentar para a

validade das plantas secas para que não fique mofado, e que passa impossibilitar o seu

uso. Os autores recomendam que a secagem deve ser feita à sombra, para que as

propriedades curativas das plantas não sejam alteradas pelo sol. Posteriormente, esses

materiais devem ser guardados em vidros ou em sacos plásticos com pequenos furos,

colocando-os em locais secos e protegidos da claridade indicando uso de papel alumínio

ao redor dos vidros ou guardá-los em armário.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao realizar essa pesquisa observou-se que, há diferenças entre os bairros

estudados em relação ao nível de escolaridade, rendimento familiar e conhecimento

sobre as plantas nativas. Os entrevistados do bairro João Paulo II demonstraram ser

mais receptivos e ter maior conhecimento das plantas medicinais nativas da região, em

consequência de sua origem (rural) e do conhecimento acumulado com a idade (pessoas

idosas).

O perfil dos entrevistados do bairro Cajueiro mostrou que os jovens demonstram

certo desconhecimento das plantas nativas do bioma Caatinga ou de sua ocorrência na

região, indicando que há necessidade do tema ser abordado, principalmente nas escolas,

para que esse conhecimento seja amplamente divulgado e não se perca.

Os resultados obtidos nesse trabalho refletem a importância de se haver estudos

em etnobotânica, primeiro pela necessidade de resgatar um conhecimento popular que

está desaparecendo conforme a sociedade se torna mais urbanizada.

A transmissão do conhecimento tradicional feito localmente e por via oral

demonstra uma rica herança cultural da região, porém observa-se que este vem se

perdendo ao longo do tempo, indicando que os costumes antigos de se tratar doenças

com plantas medicinais continuam sendo uma prática presente principalmente na

população mais carente.

Por fim, ressalta-se que o tema deve ser incluído na educação contextualizada de

convivência com o Semiárido como uma das prioridades, dada sua natureza

multidisciplinar.

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Suplemento 1.

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ANEXO I

PESQUISA DE CAMPO

I. Questionário para o levantamento do potencial de uso de plantas medicinais nas comunidades dos

bairros João Paulo II e Cajueiro (centro), no município de Juazeiro-BA, aplicados para os moradores.

N° de ordem:_____,data:___/___/2012 Bairro:__________________..

Rua:_____________________________________________N°_____

ENTREVISTADOR: Ricardo da Cruz Martins

1. DADOS PESSOAIS DO ENTREVISTADO.

NOME DO ENTREVISTADO:_______________________________________

NATURALIDADE:___________________, PROFISSÃO:_________________

SEXO: ( ) Masculino ( ) Feminino

1. IDADE DO ENTREVISTADO.

1. Até de 25 anos

2. De 26 a 35 anos

3. De 36 a 45 anos

4. De 46 a 55 anos

5. De 56 a 65 anos

6. Acima de 65 anos

2. GRAU DE ESCOLARIDADE

1. ( )Analfabeto

2. ( )Lê e escreve

3. ( )Primeiro grau: ( )completo, ( )incompleto.

4. ( )Segundo grau: ( )completo, ( )incompleto.

5. ( )Superior: ( )completo, ( )incompleto.

3. QUAL O RENDIMENTO MENSAL DA FAMÍLIA?

1. ( ) até 1 Salário Mínimo (SM)

2. ( ) de 1 a 2 SM

3. ( ) de 3 a 4 SM

4. ( ) de 5 a 6 SM

5. ( ) de 6 a 10 SM

6. ( ) Mais de 10 SM

CARACTERÍSTICAS DA UNIDADE DOMICILIAR

4. TIPO DE DOMICÍLIO:

1. ( ) Casa

2. ( ) Apartamento

3. ( ) Cômodo

4. ( ) Outro: _____________________________________________________

5. ESTE DOMICÍLIO É:

1. ( ) Próprio

2. ( ) Alugado

3. ( ) Cedido

4. ( ) Outra forma: _______________________________________________

6. QUANTAS PESSOAS MORAM NO DOMICÍLIO? ______

1. Quantos homens? ________

2 Quantas mulheres? _______

7.HÁ QUANTO TEMPO MORA NESTE ENDEREÇO:

1. ( ) menos de 2 anos

2. ( ) de 2 a 4 anos

3. ( ) de 5 a 7 anos

4. ( ) de 8 a 10 anos

5. ( ) mais de 10 anos

8 EM CASO DE DOENÇA NA FAMÍLIA, ONDE PROCURA TRATAMENTO?

1. ( ) Posto médico ou hospital

2. ( ) Farmácia

3. ( ) Faz tratamento com remédios naturais

4. ( ) Outros: _______________________________________________________________

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9. QUAIS AS DOENÇAS MAIS COMUNS NA FAMÍLIA?

16. ( ) Outros:______________________________________________________________

10. O (A) SR. UTILIZA PLANTA PARA TEMPEROS, REMÉDIOS OU AROMATIZANTE?

1. ( )sim, sempre

2. ( )sim, mas não com freqüência

3. ( ) não usa

11. DE ONDE VEM O CONHECIMENTO DE USO DE PLANTAS MEDICINAIS?

1. ( ) De conhecimento tradicional familiar;

2. ( ) De conhecimento oriundo de contatos com fontes externas à cultura local(migrantes ou veículos de

comunicação);

3. ( ) De contatos com técnicos (médicos, enfermeiros, biólogos, professores, etc);

4. ( ) Com amigos e visinhos;

5. ( )Outros:___________________________________________________________________

12 QUAIS AS PLANTAS MEDICINAIS USADAS PELA FAMÍLIA?

___________________________________________________________________________

13. O (A) SR(A), CULTIVA ALGUM TIPO DE PLANTA MEDICINAL?

1. ( )Sim

2. ( )Não

14. QUAIS PLANTAS VOCÊ CULTIVA?

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

15. QUAL A PARTE DA PLANTA UTILIZA NO PLANTIO?

16. ALÉM DAS PLANTAS DO QUINTAL, UTILIZA PLANTAS DA CAATINGA COMO

REMÉDIO?

1. ( ) Sim

2. ( ) Não

17. QUAL O LOCAL ONDE A PLANTA FOI ADQUIRIDA?

1. ( )No município de Juazeiro

2. ( )Outra região do estado (BA)

3. ( )Outro estado

4. ( )Outro país

18. PARA QUAL DOENÇA É UTILIZADA? _______________________________________________________________________________

19. QUAL A PARTE DA PLANTA UTILIZADA PARA FAZER O REMEDIO?

10. ( ) Outros: _______________________________________________________________

01. ( ) Problemas respiratórios 06. ( ) Sarampo 11. ( ) Diabetes

02. ( ) Febre amarela 07. ( ) Verminose 12. ( ) Problemas cardíacos

03. ( ) Hanseníase 08. ( ) Diarréia 13. ( ) Hipertensão

04. ( ) Tuberculose 09. ( ) Catapora 14. ( ) Gastrite

05. ( ) Leishmaniose 10. ( ) Gripe 15. ( ) Anemia

1. ( )Folha 3. ( )Muda 5. ( )Rizoma

2. ( )Galho 4. ( )Raiz 6. ( )Semente

01. ( ) Raiz 04. ( ) Folha 07. ( ) Raiz

02. ( ) Caule 05. ( ) Flor 08. ( ) Semente

03. ( ) Casca 06. ( ) Fruto 09. ( ) Planta inteira

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20. QUAL A FORMA DE PREPARO DO REMÉDIO?

21.QUEM UTILIZA ESSE REMÉDIO EM CASA?

22. É DE SEU CONHECIMENTO PLANTAS QUE ERAM UTILIZADAS COMO REMÉDIO,

MAS NÃO SÃO MAIS ENCONTRADAS? QUAIS?

____________________________________________________________________________________

23. O (A) SR. (A) PODE DAR EXEMPLOS DE ALGUMAS PLANTAS DA CAATINGA MAIS

USADAS?

_________________________________________________________________________________

24. DEPOIS DE COLETAR USA LOGO OU FAZ ALGUM PREPARO PARA GUARDAR?

_________________________________________________________________________________

25. SE NÃO USA DE IMEDIATO COMO GUARDA (ARMAZENA)?

_____________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________

01. ( ) Banho 05. ( ) Inalação 09. ( ) Sumo

02. ( ) Chá 06. ( ) Maceração 10. ( ) Ungüento

03. ( ) Compressa 07. ( ) Lavagem 11. ( ) Xarope

04. ( ) gargarejo 08. ( ) Suco

1. ( )Crianças 2. ( )Adultos 3. ( )Idosos 4. ( )Todos