Universidade do Estado do Rio de Janeiro Instituto de ... · ... a grupos de sete alunos de turmas...
Transcript of Universidade do Estado do Rio de Janeiro Instituto de ... · ... a grupos de sete alunos de turmas...
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Instituto de Química
Curso de Licenciatura em Química
Diego Ramos Motta
ABORDAGENS DE TEMAS QUÍMICOS SOCIAIS EM FEIRAS DE CIÊNCIAS
NO ENSINO MÉDIO
Rio de Janeiro
2014
2
Diego Ramos Motta
Abordagens de Temas Químicos Sociais em Feiras de
Ciências no Ensino Médio
Monografia submetida ao corpo docente do Instituto de
Química da Universidade do Estado do Rio de Janeiro como
requisito final para obtenção do diploma de Licenciatura em
Química.
Orientadora: Professora Dra. Maria de Fátima Teixeira Gomes
Rio de Janeiro
2015
3
Diego Ramos Motta
Abordagens de Temas Químicos Sociais em Feiras de Ciências
no Ensino Médio
Monografia submetida ao corpo docente do Instituto de
Química da Universidade do Estado do Rio de Janeiro como
requisito final para obtenção do diploma de Licenciatura em
Química.
Aprovado em: ____________________________________ Banca Examinadora: __________________________________________________ Prof. Dr. Maria de Fátima Teixeira Gomes DQGI/IQ/UERJ ___________________________________________________ Prof. M. Sc. José Ilton Pinheiro Jornada DQGI/IQ/UERJ ___________________________________________________ Prof. Denise Gutman Almada C. E. Professor Ernesto Faria/SEEDUC-RJ
Rio de Janeiro
2015
4
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia ao meu avô Mauro Lucius Loretti Motta, que sempre foi o
pilar de sustentação da minha família, exemplo de honestidade, moral e caráter.
Devo a ele grande parte do meu crescimento como ser humano e acadêmico.
5
AGRADECIMENTOS
A meus pais por todo o suporte, amor e incentivo durante minha vida.
À minha irmã por todo o amor e pelo apoio emocional que necessitei nos
momentos de fragilidade.
À minha namorada que esteve ao meu lado nas horas mais difíceis da minha
trajetória acadêmica, sempre me motivando a alcançar meus objetivos e me
acolhendo em seus braços quando precisei.
Aos meus amigos/irmãos Daniel, José Victor e Marco Aurélio por todas as
alegrias e tristezas compartilhadas desde aos tempos de Ensino Médio.
Aos meus amigos Pedro, Haroldo, Pâmella, Gisele, Klícia e Magno pela
grande contribuição para a minha evolução acadêmica e por terem tornado minha
passagem pela universidade mais feliz.
Aos meus professores pela contribuição para a minha formação acadêmica,
em especial para o professor Ayres Guimarães Dias por ter me dado a motivação
inicial para ser professor.
À professora Denise Gutman Almada e aos alunos do Colégio Estadual
Professor Ernesto Faria por terem me acolhido e me dado a oportunidade de realizar
este trabalho.
Aos funcionários da Secretaria do Instituto de Química, Agnelo e Ney, por toda
a ajuda na resolução de problemas burocráticos durante minha trajetória na
universidade.
À minha sogra por todo o carinho e pela ajuda essencial que me deu na
produção desta monografia.
À professora Fátima Gomes pela imensa paciência e por ter sido a principal
contribuinte para a minha formação como professor.
6
"Saber muito não lhe torna inteligente. A inteligência se traduz na forma que você
recolhe, julga, maneja e, sobretudo, onde e como aplica esta informação."
Carl Sagan
7
RESUMO
MOTTA, Diego Ramos. Uma abordagem de temas sociais em feiras de ciências no
Ensino Médio. Monografia (Graduação em Licenciatura em Química) – Instituto de
Química – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.
Esta monografia relata como foram planejados e desenvolvidos projetos didáticos relacionados a temas químicos sociais e como se deu a socialização de seus produtos finais em Feiras de Ciências. O trabalho foi desenvolvido por um bolsista PIBID/Capes de Licenciatura em Química da UERJ, em 2012 e 2013, em uma escola de Ensino Médio, no Rio de Janeiro. Os projetos didáticos “Lixo, coleta seletiva e reciclagem” e “Tratamento, consumo e desperdício de água” foram aplicados, respectivamente, a grupos de sete alunos de turmas do 1º ano e do 3º anos, visando à contextualização de conhecimentos químicos no cotidiano dos aprendestes, assim como a conscientização acerca dos problemas sociais e ambientais relacionados a cada um dos temas. No primeiro projeto foram organizadas discussões baseadas em um questionário, seguidas de pesquisas sobre conceitos, dados importantes e formas de minimizar os problemas gerados pelo descarte incorreto do lixo e sobre a importância da coleta seletiva e da reciclagem para a sociedade e para o ambiente. Foram distribuídos recipientes coletores de lixo pelas salas de aula da escola, os rejeitos foram recolhidos, classificados e quantificados. Também foi realizado experimento de separação de polímeros com base em suas densidades. No segundo projeto didático, um questionário foi utilizado para guiar as pesquisas dos estudantes por diversas fontes cujas respostas originaram os slides apresentados na Feira de Ciências. Além disso, foram realizados dois experimentos sobre a etapa de clarificação da água, pela coagulação de impurezas utilizado o tratamento químico convencional, com sulfato de alumínio e cal, e também por eletrofloculação. Destacamos a participação e o interesse dos grupos e da comunidade escolar pelos temas sociais abordados. As produções dos estudantes exigiram que eles realizassem várias leituras, resgatassem dados do cotidiano, elaborassem suas ideias sobre os temas e falassem a respeito delas, o que contribuiu para a apropriação de um conhecimento que poderá ser utilizado em outros momentos de suas vidas. Com isso, acreditamos ter nos aproximado do objetivo de formar cidadãos capazes de exercerem sua cidadania.
Palavras-chave: Temas Químicos Sociais. Contextualização. Água. Tratamento de
água. Lixo. Coleta Seletiva. Feira de Ciências.
8
ABSTRACT
This monograph aims to report how didactic projects related to social chemical themes where planned and developed and how was the socialization of the final products in science fairs. The project was developed by PIBID/CAPES scholarship in Chemistry Bachelor of UERJ, 2012 and 2013, in a high school in Rio de Janeiro. The didactic projects “Trash, Waste Separation and Recycling” and “Treatment, Water Consumption and Waste” were applied, respectively, in groups of seven students form 1st and 3rd grades, in order to contextualize chemical knowledge in daily lives of the learners, as well as raising awareness about social and environmental problems related to the themes. In the first project, discussions were organized based on a questionnaire, followed by research on concepts, important data and ways to mitigate the problems generated by incorrect discard of waste and about the importance of selective waste and recycling for society and environment. Waste containers were distributed in the classrooms, the objects collected, classified and quantified. Also, was realized an experiment of polymer separation based on the density. In the second project, a questionnaire was used to guide the research of students from different sources whose answers originated the presentation developed for the Science Fair. In addition, two experiments were realized, by the conventional treatment of impurities coagulation stage of water, using aluminum sulfate and lime, and by electrofloculation. The students products demanded them to make several readings, rescued daily data, draw up them ideas about the themes and talk about them, what contributed for an appropriation of a knowledge that can be used in other moment of them lives. Therewith, we believe that we’ve got close to the objective of forming citizens capable of exercising them citizenship.
Keywords: Social Issues, Contextualization, Water, Water Treatment, Trash,
Waste Separation, Recycling, Science Fair
9
Sumário:
Introdução........................................................................................................10
Objetivos..........................................................................................................13
1. Justificativas para os Temas Escolhidos....................................................14
1.1 Tema: Lixo, coleta seletiva e reciclagem...................................................14
1.2 Tema: Tratamento, consumo e desperdício de água.................................16
2. Levantamentos sobre o uso de temas sociais no ensino de Química.......18
3. Algumas considerações sobre o tratamento de água................................23
4. Metodologia...............................................................................................26
4.1 Tema: Lixo, coleta seletiva e reciclagem...................................................26
4.2 Tema: Tratamento, consumo e desperdício de água................................27
5. Discussão de Resultados...........................................................................28
5.1 Tema: Lixo, coleta seletiva e reciclagem...................................................28
5.2 Tema: Tratamento, consumo e desperdício de água.................................32
6. Considerações Finais.................................................................................35
7. Referências.bibliográficas..........................................................................37
8. Anexos.......................................................................................................41
8.1 Anexo I.......................................................................................................42
8.2 Anexo II......................................................................................................42
8.3 Anexo III.....................................................................................................43
8.4 Anexo IV....................................................................................................44
8.5 Anexo V.....................................................................................................45
8.6 Anexo I.....................................................................................................47
8.7 Anexo VII...................................................................................................49
10
INTRODUÇÃO
A educação é, indiscutivelmente, um dos meios pelo qual se pode alcançar
uma sociedade igualitária, onde todos os indivíduos estão cientes de seus direitos e
deveres e podem, através de uma participação ativa, influenciar no meio em que
vivem, tornando-o melhor para todos. Aquele que preenche tais requisitos pode ser
considerado um cidadão capaz de exercer satisfatoriamente sua cidadania.
A escola é, na sociedade moderna, o local para onde os cidadãos mais jovens
vão à busca de educação. Sendo assim, é papel da escola educar os jovens para
exercer sua cidadania com responsabilidade, formar cidadãos conscientes de suas
realidades e de que podem mudá-las, se necessário. Como afirmam Santos e
Schnetzler (2010, p. 30), “(...) educar para a cidadania é preparar o indivíduo para
participar em uma sociedade democrática, por meio da garantia de seus direitos e
do compromisso de seus deveres”.
Para tal, é necessário que o que se ensina nas escolas esteja diretamente
ligado à vivência dos estudantes, ou seja, que o ensino seja contextualizado em
aspectos do cotidiano, pois, desta forma, os estudantes poderão conhecer os
questionamentos mais importantes de sua cultura, de seu meio social, refletir, julgar
e discutir sobre seus aspectos mais relevantes e propor mudanças ou soluções para
os problemas envolvidos.
A Química está presente em diversos problemas e pode enriquecer muitos
dos debates em voga na sociedade, em especial quando se trata de questões
ambientais. Entretanto, um ensino de Química conteudista, fragmentado, ainda
arraigado à metodologia tradicional, em quase nada auxilia nesses debates,
tornando-o, como considera Chassot, “literalmente – inútil. Isto é, mesmo que não
existisse, muito pouco (ou nada) seria diferente” (CHASSOT, 2014, p. 40). O autor
faz um alerta aos Professores de Química: “[...] não educamos só para o tempo
presente”....”O que será aproveitável (do ensino da Química) no mundo dos filhos de
nossos filhos?” (idem, p.100).
Esse tipo de ensino, distante da realidade, pode “embaçar a visão” dos
estudantes, dificultando a percepção da Química como integrante de sua vida, de
seus problemas e dos problemas gerais, de influência global e, como afirma
Chassot, “tem se mostrado muito útil para manter, ainda mais, a dominação.”
11
(ibidem, p. 40).
Sobre a importância do aprendizado de Química na formação do cidadão,
Newbold (apud Santos e Schnetzler, 2010, p. 47) considera que:
Atualmente a química é a chave para a maior parte das grandes preocupações das quais depende o futuro da humanidade, sejam elas: energia, poluição, recursos naturais, saúde ou população. De fato, a química tornou-se um dos componentes do destino do gênero humano. Entretanto, quantas pessoas, entre o público geral, sabem um pouco que seja a respeito da relevância da química para o bem-estar humano? Infelizmente, muito poucas, conforme parece... Certamente, é essencial que se faça com que cada cidadão ao menos tome consciência de algumas das enormes contribuições da química à vida moderna. Deveria ser fascinante perceber que todos os processos da vida, do nascimento à morte, estão intimamente associados às transformações químicas. A qualidade de vida que desfrutamos depende em larga escala dos benefícios advindos de descobertas químicas, e nós, como cidadãos, somos continuamente requisitados para tomar decisões em assuntos relacionados com a química. Não devemos, entretanto, ignorar os aspectos negativos associados a progressos baseados na química, pois fazê-lo seria fechar os olhos à realidade.
Pelos motivos acima apresentados constata-se a importância de associar o
conhecimento químico a aspectos sociais, uma vez que a educação científica do
cidadão está intimamente vinculada a um ensino de ciências que valorize o debate
sobre as relações entre ciência, tecnologia e sociedade (CTS). De um modo geral, o
enfoque CTS na educação, que tem como objetivo central a preparação para a
cidadania, visa desenvolver nos estudantes a capacidade de tomada de decisão em
relação à “solução de problemas da vida real, que envolvem aspectos sociais,
tecnológicos, econômicos e políticos, o que significa preparar o indivíduo para
participar na sociedade democrática” (Santos e Schnetzler, 2010, p. 75).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, Lei 9394/96), em
seu Art. 35, define como finalidades do Ensino Médio a preparação para a
continuidade dos estudos, a preparação básica para o trabalho e o exercício da
cidadania. A formação para o exercício da cidadania está consubstanciada nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) ao associar o ensino da Biologia, da
Física, da Química e da Matemática às suas tecnologias correlatas, em uma
perspectiva de promover a aquisição de competências e habilidades que levem o
estudante a assumir uma postura questionadora e crítica.
Pinheiro e colaboradores (2007) consideram que:
12
...os objetivos propostos na LDB e configurados nos PCNEMs encontram aplicações no enfoque CTS, pois, como a proposta para o Ensino Médio foi estabelecida, percebe-se a relevância em aproximar o aluno da interação com a ciência, a tecnologia e com todas as dimensões da sociedade. Assim, consideram-se suas relações recíprocas, oportunizando ao educando uma concepção ampla e social do contexto científico-tecnológico.
Nas últimas décadas, as preocupações com as questões ambientais e suas
relações com a ciência, a tecnologia e a sociedade conduziram a inúmeras
pesquisas em ensino de ciências, denominadas, usualmente, educação CTSA -
Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente. No enfoque CTSA, soma-se, ao objetivo
do movimento CTS de desenvolver no educando a capacidade de tomada de
decisão, a promoção de uma educação ambiental (Santos, 2007).
Santos e Schnetzler (2010) consideram que os temas sociais são
mecanismos poderosos no auxilio à formação do cidadão e sugerem a inclusão, nos
programas escolares, de temas químicos sociais, tais como química ambiental,
química dos metais, recursos energéticos, alimentos e aditivos químicos, energia
nuclear, medicamentos, química na agricultura, água, petróleo, etc. Para os autores:
Os temas químicos sociocientíficos desempenham papel fundamental no ensino de química para formar o cidadão, pois propiciam a contextualização do conteúdo químico com o cotidiano do aluno, além de permitirem o desenvolvimento das habilidades básicas relativas à cidadania, como a participação e a capacidade de tomada de decisão, pois trazem para a sala de aula discussões de aspectos sociais relevantes, que exigem dos alunos posicionamento crítico quanto a sua solução. (p. 112).
Todas essas considerações apontam para um ensino de Química bem
diferente daquele que ainda se presencia em grande parte das escolas brasileiras. O
Ensino de Química para a cidadania pauta-se em uma organização dos conteúdos
diferente da tradicionalmente adotada, e modificá-la não é uma tarefa simples,
especialmente devido à extensão e rigidez dos currículos escolares, ao formato das
avaliações internas e externas e ao escasso tempo disponível, geralmente duas
aulas semanais de cinquenta minutos, para concretização das atividades.
Neste contexto, os projetos escolares e as Feiras de Ciências ou Culturais
surgem como um artifício para contornar os problemas gerados pelo ensino
conteudista, ao propor, com base em temas estruturadores, o estudo de conceitos e
o desenvolvimento de habilidades e procedimentos, relacionados a temas
sociocientíficos.
13
Mancuso (2006 apud FENACEB, 2010) define Feiras de Ciências como
eventos que podem ser desenvolvidos, apenas, em uma pequena comunidade, nas
escolas locais, ou ser de abrangência nacional, realizadas em congressos ou
eventos patrocinados, onde são divulgados e discutidos conhecimentos científicos,
culturais e/ou sociais estudados e organizados pelos alunos, geralmente com o
auxílio de um orientador, para os ouvintes.
Pavão (2006 apud FENACEB 2010) salienta que nas Feiras de Ciências é
possível abordar os temas de interesse de diferentes formas, como a reprodução de
atividades experimentais explicativas de fenômenos e a elaboração de montagens
para demonstração, que estimulam a criatividade dos alunos e permitem a
discussão de problemas sociais. Com isso os mesmos podem aprofundar seus
estudos e adquirir novos conhecimentos e a escola pode se aproximar da sociedade
e, ao mesmo tempo, que se aproxima da comunidade científica.
Para Borba (1996 apud FENACEB, 2010):
A feira desenvolve no aluno a ação democrática de participação coletiva. Permite a troca de experiências, libera o aluno para um pensar criativo em que a sua capacidade de comunicação é exercitada. Consequentemente, após atuar em uma feira de ciências, nosso aluno retornará à sala de aula com maior capacidade de decisão em relação aos problemas do nosso cotidiano.
Esta Monografia refere-se à utilização de temas químicos sociais como
temáticas para projetos de ensino, que visavam as Feiras de Ciências realizadas em
uma escola pública de Ensino Médio, do Rio de Janeiro, nos dois últimos anos
letivos, onde tive a oportunidade de estagiar como bolsista do Subprojeto PIBID-
Química-UERJ, integrante do Projeto “Saber escolar e formação docente na
Educação Básica”, do Programa de Bolsas de Iniciação á Docência, Capes.
OBJETIVO
Esta monografia tem por objetivo relatar como foram planejados e
desenvolvidos projetos didáticos envolvendo os temas sociais “Lixo, coleta seletiva e
reciclagem” e “Tratamento, consumo e desperdício de água” e como se deu a
socialização de seus produtos finais em Feiras de Ciências, realizadas em uma
escola de Ensino Médio, no Rio de Janeiro.
14
1- JUSTIFICATIVAS PARA OS TEMAS ESCOLHIDOS
1.1- Tema “Lixo, coleta seletiva e reciclagem”
O consumismo, estimulado pela alta produtividade das indústrias advinda dos
avanços tecnocientíficos do século XX, é o ato de comprar indiscriminadamente, ou
seja, adquirir produtos que não são fundamentais para a sobrevivência em grande
quantidade. Esse comportamento acontece de maneira cíclica. Para que os
consumidores que já possuem determinado produto continuem comprando, as
indústrias necessitam lançar produtos novos e atrativos periodicamente.
“Podemos dizer que consumir é uma necessidade, a qual passa a ser um
problema quando suas proporções extrapolam os limites necessários a um viver
saudável” (OLIVEIRA, MARTINS, APPELT, 2010), portanto, é essencial para a
sociedade o consumo de água, alimentos, vestimentas, energia elétrica,
medicamentos, ferramentas, assim como a manutenção de moradia, de ambientes
de trabalho, escolares, hospitalares, agrícolas, bem como a utilização de meios de
transporte, a propagação de informação por meios de comunicação. Para tudo isso
é necessário o consumo de manufaturados.
O consumismo, definido como “Hábito ou ação de consumir muito, em geral
sem necessidade” (Dicionário Aurélio), tem crescido progressivamente devido ao
desenvolvimento da produção industrial, facilitando cada vez mais a obtenção de
produtos novos e mais baratos. Os maiores problemas causados pelo consumismo
são a imensa quantidade de matérias-primas extraídas para manter a produção e,
posteriormente, consumo desenfreado, o que poderá ocasionar esgotamento das
mesmas, e a igualmente imensa quantidade de lixo gerado. O lixo, definido como
“Qualquer matéria ou coisa que repugna por estar suja ou que se deita fora por não
ter utilidade” (Dicionário Aurélio) ou “Resíduo resultante de atividades domésticas,
comerciais, industriais, etc.” (Dicionário Aurélio), se for descartado de maneira
incorreta, por exemplo, em terrenos a céu aberto (lixões), pode causar problemas
ambientais tais como, a contaminação do solo, de lençóis freáticos e da atmosfera,
devido à produção de chorume, líquido escuro gerado na decomposição de matéria
orgânica; aumento da produção de gases estufa, especialmente de metano, e
favorecer infestações de vetores de doenças, como pássaros, ratos e uma
diversidade de insetos. As dificuldades de sobrevivência de uma parcela carente da
15
população levam a que busquem comida e materiais recicláveis para vender nos
lixões, de onde catadores - adultos, adolescentes e inclusive crianças - em
condições insalubres, tiram seus sustentos, configurando um grave problema social.
Existem várias alternativas viáveis, de simples execução, que podem
contribuir para minimizar parte dos problemas supracitados, dentre elas: a redução
da produção de lixo, através do consumo consciente e responsável; a reutilização de
materiais que seriam descartados como, por exemplo, o reuso de frascos de
alimentos, de vidro ou plástico, para acondicionar outros materiais, e a reciclagem,
que é a produção de matéria-prima a partir da modificação das propriedades físicas
e químicas de determinados materiais como, por exemplo, a produção de novas
folhas de papel a partir da celulose de folhas já utilizadas e descartadas.
Além disso, a coleta seletiva, definida como “(...) a coleta efetuada por
diferentes tipologias dos resíduos sólidos” (Ministério do Meio Ambiente), ou seja, a
separação do lixo por tipo (papéis, metais, vidros, pilhas e baterias, materiais
orgânicos e materiais não recicláveis), é essencial para tornar viável tais
procedimentos. Entretanto, grande parte da população não a pratica - apenas 13%
dos cidadãos brasileiros têm acesso a programas de coleta seletiva -, resultando em
grande acúmulo de lixo que não pode ser reciclado.
Dar um destino adequado aos resíduos descartados é um grande desafio da
administração pública no Brasil, onde somente uma pequena parcela de municípios
possui algum tipo de programa de coleta seletiva de lixo. Dados recentes mostram
que atualmente, somente 927 cidades praticam algum tipo de coleta, o que
representa 17% do total de municípios. (Exame.com, 18/09/2014).
Por ser uma problemática muito presente no cotidiano de qualquer cidadão de
grandes cidades, o tema “lixo” é de grande importância social. Sendo assim, é
necessário abordá-lo com os estudantes, visando conscientizá-los a respeito da
importância da coleta seletiva, como uma forma de diminuir ao máximo a quantidade
de resíduos produzida sem potencial de reciclagem, além de esclarecê-los sobre
que tipos de materiais podem ser reciclados e como podem ser reciclados e, ainda,
sobre a necessidade de se consumir com responsabilidade, sem exageros. A
Química pode fornecer os instrumentos necessários para a busca de novas soluções
para os problemas enfrentados na atualidade. Por outro lado, o Professor pode
favorecer o debate e estimular a criticidade dos estudantes e, assim, contribuir para
almejada formação de cidadãos conscientes.
16
1.2- Tema “Tratamento, consumo e desperdício de água”
O fornecimento de água de boa qualidade é essencial para a saúde, para a
produção agrícola, pecuária e também para diversos processos industriais. É de
extrema importância que haja abastecimento suficiente para consumo em todos os
setores da sociedade. Todavia, ainda existem localidades onde o abastecimento de
água potável é insuficiente para prover boas condições de vida e produção.
A escassez de água potável é comumente noticiada em diversas regiões do
Brasil, apesar de ser o país com mais oferta de água potável do mundo. O caso de
maior repercussão atualmente é a seca vivida na região Sudeste.
Na região metropolitana de São Paulo, principal afetada, o volume do Sistema
Cantareira, responsável pelo abastecimento de mais de nove milhões de pessoas, é
o mais baixo registrado na história, já tendo sido utilizados dois volumes mortos
(reservas que ficam abaixo das comportas de represas), e continua a diminuir, em
2015, por conta da estiagem dos últimos dois anos, vivida em todo o Sudeste e do
desperdício nas etapas de captação e de tratamento, na distribuição e no consumo.
No Rio de Janeiro, a reserva de Paraibuna, principal responsável pelo
abastecimento da região metropolitana e do interior do Estado, o que totaliza mais
de nove milhões de pessoas, entrou em seu primeiro volume morto em janeiro de
2015, causando muita preocupação em relação ao fornecimento de água e à
geração de energia, já que a reserva possui função dupla.
Em Minas Gerais, a Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais)
trabalha com 30% do volume do reservatório, também devido à estiagem. Cerca de
300 municípios da capital mineira ficaram sem água em outubro de 2014.
O Nordeste sofreu entre 2012 e 2014 a pior seca dos últimos cinquenta anos,
registrando prejuízos bilionários. Foi decretada situação emergencial em 1400
municípios. O governo foi obrigado a ajudar a alimentar a população de cinco dos
nove estados da região, as fontes elétricas foram severamente afetadas e mais de
quatro milhões de animais morreram, só em 2012, causando grande prejuízo ao
setor agropecuário.
Na região Sul, os três Estados decretaram situação de emergência, em 532
municípios, afetando a distribuição e a produção agropecuária de quase quatro
milhões de pessoas.
17
A região Amazônica sofreu com a estiagem entre 2009 e 2010, causando a
diminuição do volume, o menor registrado desde 1902, do Rio Negro, ameaçando o
transporte fluvial, muito utilizado na região, e as comunidades dependentes da
pesca. Entre os sessenta e dois municípios de Manaus, quarenta decretaram estado
de emergência. Outra consequência foi a grande mortandade de árvores, que
poderia, de acordo com especialistas, diminuir drasticamente a absorção de gás
carbônico, tornando a floresta amazônica emissora desse gás ao invés de
absorvedora.
A preocupação com a manutenção dos recursos hídricos torna urgente que se
evite o desperdício e a poluição das fontes. Há também a necessidade de se estudar
formas alternativas de captação de água, visto que o método tradicional é, ou se
torna em determinado período, inviável em certas regiões.
Os problemas gerados pela finitude deste recurso que, caso sejam tratados
com displicência, sendo desperdiçados ou poluídos em grande escala, podem
chegar à escassez ou até ao esgotamento estão causando preocupação em esfera
internacional, entretanto a sociedade, em geral, dá pouca importância a isso, pois
trata a água potável como recurso infinito, consumindo-a indiscriminadamente.
Visto que, caso não haja uma mudança no comportamento das pessoas em
relação ao consumo e poluição das águas, haverá necessidade de racionamento, ou
a situação se tornará drástica, se faz necessária a conscientização populacional,
baseada em aspectos científicos, pelo conhecimento sobre a qualidade e
composição da água potável e sobre os malefícios da presença de impurezas e
micro-organismos; tecnológicos, pelo estudo dos processos de tratamento de água e
de esgoto para compreensão do seu funcionamento; sociais, pela análise de
informações sobre a maneira como a água é consumida, como evitar desperdícios e
pelos problemas gerados pelo consumo de água não tratada; e ambientais, pelos
problemas causados pela poluição de rios, lagos, lagoas, bacias hidrográficas,
mananciais, etc.
A temática “Tratamento, consumo e desperdício de água” viabiliza estudar as
diversas formas de captação de água, os principais aspectos do seu tratamento e
sua necessidade para a saúde humana. Possibilita discutir com os estudantes os
problemas supracitados, instrumentalizando-os, desse modo, a melhor julgar suas
atitudes, em relação ao consumo e desperdício de água, e também a dos outros
cidadãos, em vários setores da sociedade.
18
2- LEVANTAMENTOS SOBRE O USO DE TEMAS SOCIAIS NO ENSINO DE
QUÍMICA
Dada a grande variedade de temas químicos sociais, ou seja, de “assuntos
relacionados com o conhecimento químico que afetam diretamente a sociedade”,
listados por Santos e Schnetzler (2010, pp. 102-103), apresentamos, a seguir,
somente trabalhos relacionados às temáticas “lixo” e “água”.
Franchetti e Marconato (2003), em A Importância das Propriedades Físicas
dos Polímeros na Reciclagem, fazem um apanhado dos principais polímeros e
discutem diferentes maneiras de reciclá-los para evitar problemas ambientais
decorrentes do descarte impróprio dos mesmos, citando a necessidade da coleta
seletiva para isso. Propõem também atividades experimentais de separação de
vários tipos de polímeros utilizando soluções de diferentes densidades e testes para
verificação de certas propriedades macroscópicas, por observação e manuseio, e de
propriedades térmicas, pela imersão em água aquecida.
Santa Maria et al. (2003), no artigo denominado Coleta Seletiva e Separação
de Plásticos, relatam uma aula expositiva com a temática polímeros desenvolvida
com alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma escola. Nela foram discutidos
aspectos social e ambientalmente relevantes acerca dos plásticos, tais como sua
importância, potencial de poluição, existência de coleta seletiva local, destinação e
possíveis soluções para os problemas ambientais gerados. A discussão foi elucidada
com a utilização de um texto, este distribuído aos alunos, com informações sobre a
importância e as implicações dos plásticos no meio ambiente. Ao abordar a
reciclagem como uma das maneiras de diminuir os problemas ambientais causados
pelo lixo e enfatizar que para procedê-la é necessário que se faça a separação por
tipo de material, dois procedimentos experimentais de separação de polímeros
foram realizados, um por queima, pela observação da mudança de aspecto e cheiro,
quando em contato com o fogo, e outro por densidade, pela utilização de diferentes
soluções.
Sanches et al. (2005), no artigo intitulado A Importância da Compostagem
para a Educação Ambiental nas Escolas, propõem uma discussão socioambiental,
com a participação de professores, alunos, funcionários e a comunidade local, para
promover a conscientização acerca do potencial de reciclagem do material orgânico
residual, bem como seus benefícios e malefícios. Os autores também propõem que
19
a compostagem do material produzido no restaurante da escola sirva como tema
para trabalhar diversos conteúdos de forma interdisciplinar, assim a Matemática,
seria utilizada na realização dos cálculos para a produção da composteira; a
Biologia, no estudo de micro-organismos compositores e consumidores primários
que apareceram durante o processo e a Química, no estudo da composição ideal do
composto, na determinação de sua qualidade pela avaliação do pH, da temperatura,
umidade e aeração e na caracterização de nitritos, utilizando reações simples.
Menezes et al. (2005) em Lixo, Cidadania e Ensino: Entrelaçando Caminhos
relatam trabalho desenvolvido com alunos do 9º ano do Ensino Fundamental,
“utilizando uma abordagem contextualizada, a partir do tema lixo, com o objetivo de
levar os alunos a compreenderem as relações existentes entre o lixo, sua produção,
seus impactos ambientais e os conceitos químicos envolvidos, como propriedades e
transformações da matéria” (p. 38). O trabalho iniciou com a aplicação de um
questionário para levantamento dos conhecimentos prévios, que depois, ao final das
atividades, foi reaplicado para comparação e análise das concepções dos alunos
antes e depois da execução da proposta pedagógica. Os alunos realizaram
pesquisas, em sites eletrônicos, livros, revistas e jornais, sobre fatores sociais e
ambientais relacionados ao tema lixo, que foram complementadas por debates, em
sala de aula; por visitas ao “lixão” e ao aterro celular e pela realização de
experimentos, propostos em livros didáticos, sobre diferentes transformações que
ocorrem com materiais descartados e sobre o uso de suas propriedades
organolépticas e físicas para separá-los. Também foi realizada a atividade de
investigação do lixo doméstico dos alunos, propondo aos mesmos e aos seus
responsáveis, que adotem a coleta seletiva em suas casas.
Mateus, Machado e Brasileiro (2009) descrevem, em Articulação de
Conceitos Químicos em um Contexto Ambiental por Meio do Estudo do Ciclo de Vida
dos Produtos, o desenvolvimento de projetos para a contextualização do ciclo de
vida de produtos comuns no cotidiano urbano com conteúdos químicos. Os projetos
envolveram a exibição de vídeos explicativos; a resolução de um questionário
esmiuçando constituição, origem, transformações e propriedades dos materiais
presentes em diferentes bens de consumo; a investigação dos processos de
produção e dos transportes desses bens; as implicações sociais, econômicas e
ambientais envolvidas na produção, no uso e no descarte desses produtos e, por
fim, a construção de um esquema elucidativo de todas as etapas estudadas.
20
Melo et al. (2010), em O Lixo e o Ensino de Química com Foco na Cidadania,
relatam uma atividade realizada com alunos do 3º ano do Ensino Médio, na qual foi
aplicado um questionário para avaliação dos conhecimentos químicos dos
estudantes relacionados ao tema lixo e sobre educação ambiental. Em seguida,
foram discutidos os problemas ambientais observados durante a visita ao “lixão”
local, objetivando chamar a atenção dos alunos para problemática do lixo na cidade.
Foram produzidos objetos de uso comum com materiais recicláveis, promovidas
ações de conscientização no ambiente escolar e arrecadada verba para compra de
tambores para a realização de coleta seletiva na escola, incentivando, desse modo,
a mudança de hábitos dos estudantes.
Santos et al. (2011) propõem uma abordagem interdisciplinar e social
utilizando o tema Lixo e Reciclagem para contextualizar os conteúdos escolares e
discutir problemas ocasionados pelo descarte do lixo e as alternativa de reciclagem,
em turmas do 6º ano do Ensino Fundamental e do 2º ano do Ensino Médio. Para tal,
foram feitas, inicialmente, pesquisas em diversas mídias e observações de campo
nos arredores da escola. Em seguida, foram realizados debates em sala de aula
sobre questões relevantes acerca das consequências do mau gerenciamento do
lixo, bem como do gerenciamento adequado; investigações sobre o lixo doméstico
de cada aluno; fabricação em laboratório de papel reciclado e sabão de óleo usado e
levantamento de questões sobre a responsabilidade de cada aluno como cidadão.
Maia, Oliveira e Osório (2003) propõem um experimento demonstrativo, com
posterior apresentação de relatório contendo observações dos fenômenos
envolvidos, sobre a clarificação da água turva utilizando soluções de hidróxido de
cálcio e sulfato de alumínio ou alúmen de potássio, para promover a coagulação das
impurezas. Na oportunidade, faz também uma discussão a respeito do
funcionamento de estações de tratamento de água (ETAs).
Quadros (2004), em Água como Tema Gerador de Conhecimento, aborda a
necessidade de se utilizar eixos temáticos, com reflexão sobre o mundo material, em
detrimento ao ensino fragmentado de conteúdos. Evidencia que a tendência de
utilização de contextualizações que trazem a Química como “vilã”, exclusivamente
prejudicial à saúde e/ou ao ambiente, pode reforçar uma imagem negativa dessa
Ciência. Propõe o estudo do tema através da pesquisa guiada por um questionário e
pela apresentação, em sala de aula, por parte dos alunos, do ciclo da água, com o
enfoque na agricultura, buscando relacioná-lo com conceitos químicos.
21
Oliveira et al. (2010) mostram a importância do ensino de Química
contextualizado em aspectos históricos do consumismo, analisando o papel da
química nas sociedades humanas, desde a descoberta do fogo, passando pela
revolução industrial, até os dias atuais, mostrando como as principais descobertas
influenciaram o desenvolvimento das mesmas. Em seguida, debate a alienação da
maioria da população sobre como a Química está presente na vida de todos,
fazendo questionamentos relevantes para salientar isso. Discute também aspectos
positivos e negativos, mostrando como os avanços científico-tecnológicos facilitaram
e incentivaram o consumo, que é necessário para a vida, mas quando desenfreado
pode trazer junto problemas ambientais gerados pela poluição, pela alta produção
de lixo.
Azevedo (1999) discute, em Poluição vs. Tratamento de Água: Duas Faces da
Mesma Moeda, os conceitos de poluição e a necessidade de se conhecer o
ambiente para que se possa definir que substâncias podem ser consideradas
poluentes. O autor sugere o uso do termo poluição para a “degradação do meio
ambiente causada pelas atividades humanas, sobretudo a partir de meados do
século XX - resultado do intenso desenvolvimento industrial desses últimos 50 anos”
(p. 22). Em seguida, discute a importância da água para o ser humano, os altos
índices de poluição, suas principais fontes e efeitos, e a finitude dos recursos
hídricos. Por fim, detalha formas de tratamento de efluentes e exemplifica como se
pode contribuir para minimizar o descarte de rejeitos poluidores.
Neto e Andrade (2010) propõem, em Descontaminação da Água por
Eletrofloculação, um experimento, simples e de baixo custo, alternativo ao usual
para a descontaminação da água. Os autores afirmam que a proposta de realização
desse experimento em aulas no Ensino Fundamental e Médio, visa “alertar e
despertar os alunos” para questões ambientais, “introduzindo uma postura mais
crítica” em relação ao tema poluição da água (p.57). Argumentam que dada a
escassez dos recursos hídricos, várias alternativas e tecnologias, conhecidas
“processos verdes”, têm sido desenvolvidas para o tratamento de águas residuais,
visando à eliminação dos poluentes, e “uma das técnicas mais utilizadas é a
eletrofloculação” (p.61), na qual se baseia a proposta pedagógica que descrevem.
Lima et al. (2011) analisam, em Água: Uma Abordagem de Química no Ensino
Médio, os planos de cursos, bem como os livros didáticos utilizados em duas
escolas para investigar a utilização da temática “água” no ensino de Química,
22
constatando a ausência, em ambas, de abordagens de temas visando a educação
ambiental, em geral. Em um segundo momento, foram aplicados questionários para
avaliar a relevância dessa temática na vida dos estudantes.
Silva e Mortimer (2012) relatam as atividades executadas no âmbito do PIBID-
Química/Biologia-UFMG, relacionadas às ações do projeto Água em foco: qualidade
de vida e cidadania, que vem sendo desenvolvido em escolas das redes pública e
particular de Minas Gerais desde 2004. Segundo os autores: “As atividades desse
projeto fornecem subsídios para que os estudantes do ensino médio respondam a
um problema real relativo à qualidade da água na Lagoa da Pampulha e ao
consumo dos peixes” (p.242). Nesse projeto, os conteúdos científicos da Biologia e
da Química são ensinados levando em conta a sua função social e visando o
desenvolvimento, nos estudantes, da capacidade de tomada de decisão, ao envolvê-
los na discussão sobre problemas ambientais reais, caracterizando-se, desse modo,
por uma abordagem educacional que considera as relações CTSA. Os autores
salientam que a inserção dos licenciandos no projeto e no ambiente escolar
possibilitou o planejamento e a aplicação de atividades interdisciplinares,
relacionadas com conhecimentos adquiridos em sala de aula de Química e Biologia,
que trabalham a problemática da qualidade da água em centros urbanos, focando a
qualidade de vida e a cidadania. Para tal, foram utilizados questionários, realizadas
coletas de água da Lagoa da Pampulha para a análise de sua qualidade, utilizando
parâmetros físico-químicos e biológicos previamente estabelecidos, entrevistas com
pescadores que trabalham na região, pesquisas sobre forma de despoluição,
produção de tabelas e gráficos explicativos, etc.
Coelho et al. (2013), em Explicando Fenômenos a Partir de Aulas com a
Temática Água: A Evolução Conceitual dos Estudantes, relatam o desenvolvimento
de cursos de aprofundamento extracurriculares que abordaram os temas: ciclo da
água; água na natureza (doce, salgada, destilada, deionizada etc.); água nas
plantas; solo e ar, estes no módulo I, e feromônio e cosméticos; tratamento da água;
energia; plásticos e efeito estufa, no módulo II. Neles foram desenvolvidos
questionários para determinação dos conhecimentos prévios dos alunos, assim
como um pós-teste para avaliação da evolução dos estudantes e, planejamentos de
aulas temáticas objetivando problematizar, investigar e interpretar situações e fatos
relevantes social e ambientalmente, considerando o contexto dos alunos.
Candal, Silva e Gomes (2013) relatam, em Água: de onde vem? Para onde
23
vai?, o projeto didático desenvolvido com estudantes do Ensino Médio, no âmbito do
PIBID-Química-UERJ, visando contextualizar conteúdos químicos utilizando a
temática “água”. O projeto envolveu o levantamento dos conhecimentos prévios dos
estudantes; aulas expositivas, com apresentação de seminário que abordou o ciclo
da água, suas principais fontes naturais, tratamento, distribuição da água potável,
uso racional e reaproveitamento; debates; visitação a uma estação de tratamento de
água (ETA-Guandu); produção de textos, cartazes e maquetes sobre o
conhecimento adquirido e exposição do material produzido, pelos alunos, em uma
Feira de Ciências realizada na escola.
Pedro et al. (2013) utilizam, em Explorando os Aspectos Físicos, Químicos e
Biológicos da água no Ensino de Química, uma abordagem interdisciplinar da
temática “água” com turmas do 2º ano do Ensino Médio, incentivados pela falta de
saneamento básico nas redondezas da escola. Para tal, desenvolveram atividades
de pesquisa englobando a importância da água no corpo humano, principais
doenças provenientes de seu consumo, bem como aspectos históricos, geográficos
e da gestão dos recursos hídricos. Debateram e, posteriormente, propuseram
soluções para o problema das enchentes locais. Além disso, coletaram água de
diversas fontes para realizar testes de qualidade para a discussão de fatores
ambientais e sociais relevantes. Por fim, elaboraram cartazes para a
conscientização da comunidade acerca do que foi estudado.
3- ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO DE ÁGUA
A água potável é um recurso natural indispensável ao ser humano, tanto para
consumo como para a utilização na higienização pessoal e na do ambiente. Todavia,
estudos apontam para uma escassez crescente da oferta de água, aumentando a
preocupação com a manutenção dos recursos hídricos, com o desperdício e a
poluição das fontes. Para que haja abastecimento adequado é necessário que a
água coletada de qualquer fonte passe por processos de tratamento, a fim de
remover sedimentos em suspensão, destruir micro-organismos causadores de
doenças e controlar aspecto e gosto.
Dos vários métodos de tratamento de água, o mais conhecido e usual é o
24
convencional ou clássico, que também é utilizado pela Companhia Estadual de
Águas e Esgoto (CEDAE), empresa responsável pelo tratamento e distribuição de
água no Rio de Janeiro. O manancial que abastece a Estação de Tratamento de
Água (ETA) vem do rio Guandu, que é formado pelos rios Ribeirão das Lajes, Piraí e
Paraíba do Sul. Em Barra do Piraí, dois terços da vazão do rio Paraíba, cerca de
160m3/s de águas, são captados e bombeados na elevatória de Santa Cecília para
as usinas do Sistema Light e são conduzidas ao reservatório de Santana, formando
então o rio Guandu, onde se localizam a captação e a estação de tratamento de
água da CEDAE.
Na ETA-Guandu (Anexo I) a água passa por vários processos, até se tornar
adequada para ser distribuída a população, os quais são brevemente descritos, a
seguir. A etapa inicial é o gradeamento, que é responsável por remover impurezas
de grande porte da água captada do manancial. Após essa etapa, a água é
transferida para um tanque onde ocorre a retirada de partículas de areia em
suspensão (etapa de desarenação). Em seguida, a água é conduzida para uma
caixa de tranquilização, onde perde a força da correnteza, para então receber sulfato
de alumínio e cal, responsáveis pela coagulação química, que consiste na
aglutinação de sólidos finos, ainda presentes, formando flocos (etapa de floculação),
com maior densidade que as impurezas. Na sequência, a água passa para um
tanque de decantação, onde os flocos gerados sedimentam, formando um lodo, que
é retirado por espátulas raspadoras e descargas hidráulicas. Em seguida, a água é
conduzida para o tanque de filtração cujo filtro é formado por camadas de areia e/ou
carvão antracinoso, para a remoção de partículas que ainda estejam presentes na
água. Por fim, a água, agora livre de impurezas, passa por processos de
desinfecção, pela adição de cloro, que elimina grande parte das bactérias presentes,
de fluoretação, para auxiliar na prevenção da cárie dentária e de correção de pH,
para evitar a corrosão ou a formação de incrustações nas tubulações.
O processo de remoção de sólidos finos, em suspensão, que são
responsáveis pela turbidez da água é denominado clarificação, que envolve as
etapas de coagulação química e de sedimentação das partículas. Para que ocorra a
coagulação, é necessário adicionar à agua substâncias iônicas que contenham
cátions com cargas elevadas, tais como Al+3 e Fe+3, que fazem com que as miscelas
se agregem e formem flocos que se aglomeram. Os compostos geralmente usados
para fornecer estes cátions são sais de alumínio ou de ferro (III), como: sulfato de
25
alumínio, Al2(SO4)3 . 18 H2O, alúmem amoniacal, Al2(SO4)3 . (NH4)2SO4 . 24 H2O,
alúmen de potássio, Al2(SO4)3 . K2SO4 . 24 H2O, sulfato férrico, Fe2(SO4)3, e cloreto
férrico, FeCl3. 6 H2O. O sal mais utilizado é o sulfato de alumínio cuja reação com a
cal hidratada (hidróxido de cálcio) pode ser representada pela equação abaixo:
Al2(SO4)3 (aq) + 3 Ca(OH)2 (aq) 2 Al(OH)3 (gel) + 3 CaSO4 (s)
Em meio aquoso, levemente alcalino, os íons Al+3 e Fe+3, formam hidróxidos
gelatinosos pouco solúveis que adsorvem os sedimentos em suspensão e os
desestabilizam, fazendo com que aconteça a floculação e a decantação dos
mesmos, que posteriormente são removidos por filtração.
Existem outros métodos para a formação de hidróxidos gelatinosos insolúveis.
Um de fácil reprodução em pequena escala, possibilitando sua demonstração no
ambiente escolar, é a eletrofloculação, um processo de eletrólise entre pregos de
ferro e a água a ser purificada. Com o meio eletrolítico necessário e uma pequena
bateria, é possível produzir hidróxido ferroso e hidróxido férrico, também insolúveis
em água e de boa adsorção de impurezas, obtendo-se o mesmo efeito do
procedimento supracitado. De acordo com Neto e Andrade (2010) o processo
eletrolítico descrito, pode ser representado pelas equações químicas abaixo:
Anodo:
Fe (s) Fe+2 (aq) + 2 e-
Fe+2 (aq) + 2 OH- Fe(OH)2 (s)
Catodo:
2 H2O (l) + 2 e- H2 (g) + 2 OH- (aq)
Equação global:
Fe (s) + 2 H2O (l) Fe(OH)2 (s) + H2 (g)
26
4- METODOLOGIA
4.1- Tema: Lixo, coleta seletiva e reciclagem
O projeto de ensino “Lixo, coleta seletiva e reciclagem”, foi planejado com o
auxílio da coordenadora e da supervisora do Subprojeto PIBID-Química-UERJ, foi
desenvolvido com um grupo de sete alunos, de uma turma do primeiro ano do
Ensino Médio, do Colégio Estadual Professor Ernesto Faria, localizado no Rio de
Janeiro, para a Feira de Ciências de 2012.
No primeiro momento os alunos foram instigados a refletir, através do debate
entre eles e o bolsista de Iniciação à Docência, orientador do projeto de ensino, em
um tempo de aula, disponibilizado por um dos professores da escola, sobre a
temática “Lixo, coleta seletiva e reciclagem”. Após a discussão, foram apresentadas
as questões para nortear as pesquisas, a serem realizadas pelos alunos, de forma
que o assunto pudesse ser abordado segundo vários aspectos, todos socialmente
relevantes. O questionário está disponível no Anexo II. A principal fonte de consulta
foi o livro didático adotado pelos professores de Química do Colégio, no ano de
2011: Química e Sociedade, de Wildson Luiz Pereira dos Santos, Gerson de Souza
Mól e colaboradores. Volume único. Esse livro se caracteriza por abordar em cada
unidade um tema social, por meio do qual é contextualizado um conjunto de
conhecimentos químicos fundamentais. A primeira unidade do livro trata da temática
“A Ciência, os Materiais e o Lixo”.
No segundo momento, utilizando as classificações anteriormente
pesquisadas, foram distribuídos recipientes coletores de lixo pelos diversos
ambientes da escola, com o objetivo de classificar e quantificar os rejeitos recolhidos
para, posteriormente, comparar as proporções dos vários tipos de materiais
encontrados no lixo do ambiente escolar com as de diferentes ambientes, utilizando
valores de referência.
No terceiro momento foi apresentado aos integrantes do grupo, no contra
turno, um experimento de separação de polímeros por densidade (SANTA MARIA et
al., 2003), para que fossem analisadas e discutidas diferentes maneiras de separar o
lixo.
Por fim foi definida a forma de apresentação, bem como as informações
relevantes que deveriam ser divulgadas nela.
27
4.2- Tema: Tratamento, consumo e desperdício de água
O projeto de ensino “Tratamento, consumo e desperdício de água”, também,
foi planejado, com o auxílio da coordenadora e da supervisora do Subprojeto PIBID-
Química-UERJ, e desenvolvido em um grupo de sete alunos de uma turma do
terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Professor Ernesto Faria, para a
Feira de Ciências de 2013.
No primeiro momento foi promovido um debate visando conscientizar sobre a
importância da manutenção da oferta de recursos hídricos, sobre aspectos
relevantes do abastecimento de água e sobre as principais fontes de desperdício de
água potável, bem como diminuí-lo. Em seguida foi entregue aos alunos um
questionário (Anexo III) para guiá-los em suas pesquisas por sites eletrônicos e
livros didáticos.
No segundo momento foram apresentados dois experimentos relacionados ao
processo de clarificação da água. No primeiro experimento, esse processo foi
reproduzido no laboratório adicionando solução de sulfato de alumínio, Al2(SO4)3, a
uma amostra de água turva, cujo pH foi elevado usando água de cal (MAIA et al.,
2003). O procedimento experimental está descrito no Anexo IV.
No segundo experimento, a clarificação ocorreu via um processo eletrolítico –
eletrofloculação - que conduz a formação simultânea de íons ferro II e III no anodo e
íons hidroxila no catodo, o que resulta na formação de hidróxidos gelatinosos que
atuam de forma similar ao hidróxido de alumínio no experimento anterior (NETO e
ANDRADE, 2011). O procedimento experimental está descrito no Anexo V.
Os dois experimentos foram apresentados com o objetivo de se discutir quais
as vantagens e desvantagens de cada método e identificar qual é o mais apropriado
para o tratamento da água.
Por fim foi definida a forma de apresentação do trabalho na Feira de Ciências,
bem como quais seriam as informações relevantes a serem divulgadas.
28
5- RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1- Tema: Lixo, coleta seletiva e reciclagem
O projeto teve início com a discussão da proposta, em grupo, mediada pelo
bolsista de Iniciação à Docência que orientou os trabalhos. Foi requisitado aos
alunos que definissem “lixo” e as respostas mais citadas foram: “aquilo que não
precisamos mais”, “coisas inúteis”, “aquilo que não queremos mais”, “coisas
quebradas, sujas, de nenhuma importância”. Tais respostas mostraram a falta de
conhecimento acerca da capacidade de reutilização, reaproveitamento e reciclagem
dos diversos materiais encontrados no lixo.
Em seguida, os alunos foram questionados sobre que materiais,
normalmente, são encontrados no lixo. As respostas foram muito variadas:
“embalagens de comida”, “embalagens de remédios”, “restos de comida”, “garrafas
PET”, “latinhas de alumínio”, “papel higiênico”, “papel para escrever”, “garrafas de
vidro”, “frascos de vidro”, “restos de borracha”, “papelão”, “restos de giz”,
“absorventes”, “lixo hospitalar”, entre outros. A maioria dos materiais citados provém
do descarte doméstico ou do contexto escolar, sendo excluídos materiais
usualmente classificados como lixo industrial (restos de madeira, restos de tecido,
couro, metais, rejeitos laboratoriais) e lixo nuclear (rejeitos de usinas nucleares).
Visando ensinar a forma correta de se separar os diferentes resíduos
descartados no dia a dia, foi analisada a tabela “Classificação do Lixo”, do livro
Química & Sociedade (2008, p. 48), onde são apresentadas seis classificações para
lixo, oriundas do estabelecimento dos três critérios, a seguir: (i) quanto à natureza
física do lixo – seco ou úmido; (ii) quanto à origem do lixo em relação aos seres
vivos - orgânico ou inorgânico e (iii) quanto à origem do lixo em relação à atividade
humana - domiciliar ou comercial.
A análise possibilitou que todos compreendessem a importância da separação
do lixo úmido, composto basicamente por alimentos estragados, restos de comida,
cascas e bagaços de frutas, verduras, ovos e legumes; do lixo seco, composto
basicamente de papéis, plásticos, metais, couros tratados, tecidos, vidros, madeiras,
cerâmicas, guardanapos e toalhas de papel, isopor, lâmpadas, porcelanas, espumas
e cortiças, pois a decomposição natural do lixo úmido acaba por inviabilizar o
29
reaproveitamento ou a reciclagem dos materiais do lixo seco, pois os contamina.
Após esse estudo, partiu-se para outras classificações do lixo seco, através
da observação de propriedades organolépticas, físicas ou químicas dos materiais
que o compõe. Houve certa dificuldade, por parte dos estudantes, em reconhecer a
composição de alguns objetos de uso comum. Assim, foram orientados a ler os
rótulos das embalagens.
O grupo ficou responsável por conseguir vinte e quatro tambores coletores,
quatro para cada uma das seis salas de aula da escola. Os tambores foram
identificados por etiquetas contendo a classificação do lixo destinada a ele. As
classificações utilizadas foram: papéis, plásticos, metais e outros. Ao fim de uma
semana, foi contabilizada a quantidade de lixo gerada, por categoria. A
contabilização foi feita de maneira não ideal, através das quantidades de sacos
cheios de cada um, pois não dispunham de balança industrial para pesar todo o lixo.
Com essas informações, o bolsista orientador pediu para que os estudantes,
baseados em dados do IBGE (2000), refletissem sobre a necessidade do descarte
correto do lixo e sobre a importância da coleta seletiva e da reciclagem para a
sociedade e para o ambiente.
A coleta seletiva em um ambiente público como a escola, esta com turno
matutino, vespertino e noturno, é uma atividade que somente pode ser realizada
com a colaboração dos indivíduos inseridos nesse contexto, ou seja, diretoria,
professores, alunos e demais funcionários. Para isso, foi necessário conscientizar
todos sobre os objetivos do trabalho e sobre a importância da coleta seletiva,
através de cartazes explicativos do procedimento de separação do lixo, produzidos
pelos integrantes do grupo, identificação dos recipientes coletores e esclarecimento
verbal, em sala de aula, realizado pelos alunos no período da manhã e pelos
professores e membros da diretoria nos demais períodos.
No terceiro momento, os alunos foram questionados sobre como seria
possível separar diferentes tipos de materiais plásticos. Nenhum soube responder
satisfatoriamente. Quando se sugeriu a possibilidade do uso da propriedade
densidade para separar esses materiais, um dos integrantes do grupo disse achar
que nenhum plástico boiaria, pois pareciam mais “pesados” que a água.
Para desmistificar essa concepção do senso comum, de que todo sólido é
mais denso que um líquido, realizou-se o experimento de separação dos plásticos e,
no momento em que alguns dos pedaços boiaram e outros afundaram, os alunos
30
perceberam que havia realmente diferença entre as suas propriedades.
No experimento, foram misturados pedaços de polipropileno (PP) e
poliestireno (PS), retirados de copos descartáveis, politereftalato de etileno (PET),
retirado do corpo de uma garrafa de refrigerante, e polietileno de alta densidade
(PEAD), retirado da tampa de uma garrafa de refrigerante, todos os materiais
compunham o lixo recolhido na escola.
Quando à mistura foi adicionado água, PS e PET boiaram e PP e PEAD
afundaram. Para as novas misturas, cuja separação também foi requisitada pelo
bolsista orientador, dois dos alunos propuseram que mudássemos o líquido utilizado
para a separação, evidenciando assim que eles tinham compreendido que materiais
diferentes têm propriedades diferentes, inclusive a densidade. Foram, então,
apresentadas outras substâncias, o álcool (etanol 96%) e sal de cozinha (cloreto de
sódio e outros sais).
Após a explicação que, em comparação com a água, o álcool tem menor
densidade e o sal de cozinha maior, um dos alunos propôs que se adicionasse
álcool à água contendo os plásticos que flutuaram e sal de cozinha à água contendo
os plásticos que afundaram. A proposta do aluno evidenciou que, através da
discussão e do experimento, foi possível construir uma boa compreensão das
propriedades das misturas e como modificá-las para um fim específico. O
procedimento proposto pelo aluno foi realizado e os polímeros foram separados. Os
componentes do grupo ficaram satisfeitos com o experimento e valorizaram o
conhecimento adquirido.
Duas semanas após o primeiro encontro, os integrantes do grupo trouxeram,
para o bolsista orientador, como proposta de trabalho para a Feira de Ciências, a
confecção de cartazes elucidando aspectos relevantes sobre lixo, coleta seletiva e
reciclagem para apresentar para a comunidade local, principalmente a comunidade
escolar.
Foram produzidos seis cartazes com textos e figuras. O primeiro cartaz,
intitulado “O nosso lixo”, apresentava informações sobre o que se pode encontrar no
lixo, enfatizando o lixo domiciliar e o escolar. O segundo, intitulado “Coleta seletiva”,
informava sobre a necessidade de separar o lixo, como separá-lo adequadamente e
onde descartá-lo. O terceiro cartaz, intitulado “Dados importantes”, trazia dados
estatísticos obtidos do site do IBGE (2000) e do livro didático sobre o alto potencial
de reaproveitamento dos resíduos urbanos, que pode chegar a 95%; a porcentagem
31
média nacional dos materiais presentes no lixo; a quantidade de lixo gerada per
capita, por dia, no Brasil ( que chega a 1 kg) e nos países mais desenvolvidos, como
os EUA (que chega a 3,2 kg) e a destinação dada ao lixo, o qual é depositado em
lixões, nas cidades brasileiras, em 71,5% dos casos. O quarto cartaz, intitulado “Em
que o lixo que pode ser transformado?”, apresentava ideias, umas um tanto simples,
outras mais elaboradas sobre como reciclar os principais materiais presentes no lixo
e, também, sobre as vantagens de reciclagem. O quinto cartaz, denominado “As
consequências”, mostrava os graves problemas ambientais e sociais decorrentes da
má gestão do lixo. No sexto cartaz, intitulado “A composição do lixo da nossa escola”
foi apresentado um gráfico que mostrava a porcentagem de cada uma das quatro
classes de lixo que o grupo coletou na escola, em seis salas de aula, nos três turnos
da escola, durante uma semana. O gráfico está reproduzido na figura 1.
Figura 1. Composição do lixo coletado em seis salas de aula
Além disso, os estudantes também exibiram o experimento “Separação de
polímeros por densidade”, para alertar para a importância de se conhecer as
propriedades dos materiais para poder separá-los corretamente e, assim, poder
reaproveitá-los de maneira eficiente.
Para exemplificar o alto potencial de reutilização e/ou reciclagem de alguns
dos materiais separados na coleta seletiva realizada na escola, foi feita uma
pesquisa sobre maneiras de produzir diversos objetos de uso cotidiano empregando
o que foi descartado. Os estudantes, com a ajuda de uma conhecida de um dos
integrantes do grupo, que trabalha com artesanato, produziram vários itens, a partir
do lixo coletado na escola, tais como mural de fotos feito com caixas de ovos;
17%
43%
27%
13%
Alumínio
Papel
Plástico
Outros
32
assentos, lâmpadas, estojo e porta-joias de PET; porta canetas e cestas de café da
manhã de papel reciclado, etc.
Outro artifício utilizado pelos alunos foi o jogo “Coleta Correta” para, de uma
maneira lúdica, explicar como proceder para descartar resíduos de forma
responsável, como realizar a coleta seletiva e destinar os materiais, quando
possível, para a reciclagem.
5.2- Tema: Tratamento, consumo e desperdício de água
A primeira tarefa dos alunos foi responder as perguntas do questionário que
serviu de base para a preparação da apresentação do trabalho na Feira de Ciências.
Para auxiliá-los nas pesquisas, o bolsista orientador, com a supervisão de seus
superiores, selecionou sites eletrônicos que continham textos, tabelas e gráficos que
os auxiliariam na obtenção de respostas.
Após uma semana, os integrantes do grupo apresentaram suas respostas,
que estão disponíveis no Anexo VI. As questões 1, 2, 4, 8 e 9 foram respondidas
adequadamente, não havendo necessidade de fazer correções. Entretanto, as
questões 3, 5, 6, 7 e 10 estavam incorretas ou incompletas. A questão 3 estava
demasiadamente simplificada, sem algumas explicações necessárias sobre o
processo de tratamento convencional de água como, por exemplo, a desarenação e
a coagulação. Na questão 5 houve erro na interpretação das tabelas do site
eletrônico do IBGE (2008), pois foram apresentados dados referentes ao
saneamento básico, não à distribuição de água tratada. A questão 6 estava
incompleta, pois faltou responder quais são os pontos positivos e negativos dos
métodos alternativos de captação de água. A questão 7 teve resposta superficial,
não havendo qualquer tipo de especificação de quais são os setores da sociedade e
de como a água é utilizada nesses setores. A questão 10 também foi respondida
superficialmente, pois só levava em consideração aspectos do terceiro setor da
sociedade (residencial e comercial), não levando em consideração o setor
agropecuário e o industrial.
Todas as ressalvas foram informadas aos membros do grupo. As devidas
alterações foram feitas e resultaram em respostas mais completas, que estão
disponíveis no Anexo VII. A única dificuldade que persistiu foi para responder a
33
questão 5, pois, de acordo com um dos alunos, “os gráficos disponibilizados pelo
IBGE estavam difíceis de entender”. Para contornar essa dificuldade, o bolsista
orientador agendou uma data no contraturno para que, no laboratório de informática
da escola, pudessem analisar as tabelas juntos, esclarecendo assim quaisquer
dúvidas a respeito de sua interpretação. Com isso, todos foram capazes de
compreender como procurar as informações desejadas e o significado dos valores
encontrados nas tabelas.
Posteriormente foi agendado outro encontro, também no contraturno, para a
discussão e execução de dois experimentos. O primeiro (Anexo III), foi adaptado do
experimento sugerido no artigo “Da Água Turva à Água Clara: o papel do
coagulante” (MAIA et. al., 2003), que apresenta a forma tradicional de proceder à
coagulação de impurezas para a eliminação da turbidez da água.
No experimento, para simular a água a ser clarificada, foi adicionada uma
colher (de chá) de pó de café a, aproximadamente, 80 mL de água. Em seguida a
mistura foi filtrada e a água ficou turva e com coloração amarronzada. Os alunos
perceberam que a água estava com a aparência de “suja”.
Em seguida foi adicionada uma pequena quantidade de sulfato de alumínio e,
posteriormente, foi adicionada solução de hidróxido de cálcio, lentamente, até a
formação do hidróxido gelatinoso de alumínio que aglutinou as impurezas da mistura
gradativamente, precipitando em seguida. Após nova filtração, a água voltou a ter
aspecto incolor e transparente. Os alunos ficaram curiosos com a formação da
substância gelatinosa, questionando que tipo de transformação teria ocorrido.
Para a explicação, foi requisitado que os membros do grupo escrevessem a
reação a partir das substâncias adicionadas e, após uma breve discussão,
chegaram à conclusão que houve formação do hidróxido de alumínio. Então se
iniciou a explicação das propriedades dos hidróxidos de alumínio e de ferro, como a
baixa solubilidade em água e a capacidade de adsorver determinadas impurezas.
Com isso, os alunos foram capazes de perceber como funciona a coagulação
efetuada pela CEDAE e a importância de se conhecer as propriedades das
substâncias e as transformações químicas necessárias para processos essenciais
para a sociedade.
O segundo experimento realizado foi de eletrofloculação. Neste, 30 mL de
uma mistura semelhante à usada no primeiro experimento foi preparada. A ela foi
adicionada uma colher (de chá), aproximadamente 100 mg, de sal de cozinha
34
(NaCl), formando assim uma solução eletrolítica. Quando o sistema formado pelos
pregos de ferro ligados a uma bateria de 9 V por fios de cobre foi montado, um dos
integrantes do grupo imediatamente perguntou se o processo que seria iniciado se
tratava de uma eletrólise, pois lembrou-se que processos eletrolíticos necessitam de
uma fonte de energia externa para acontecer. Com isso, ficou evidente a relação do
experimento com o conteúdo de sala de aula, aumentando o interesse dos alunos.
Ao mergulhar o sistema na solução eletrolítica, a reação se iniciou
instantaneamente, formando o que foi definido por um dos alunos como uma
“gelatina verde”. A explicação das propriedades dos hidróxidos de ferro e alumínio
no experimento anterior remeteu diretamente a este, o que foi evidenciado quando
um dos integrantes do grupo disse que “isso deve ser um hidróxido também” e outro
disse logo depois que “deve ser hidróxido de ferro, por causa do prego de ferro”. No
decorrer do experimento, a produção crescente do hidróxido de ferro II (precipitado
gelatinoso verde claro) fez um dos alunos questionar a eficiência do processo, já
que, para ele, “a água está ficando cada vez mais suja”. Passados,
aproximadamente, sete minutos, a filtração foi feita e a água contaminada voltou a
ter aspecto translúcido, evidenciando o sucesso do experimento.
Depois de realizados os dois experimentos, os alunos foram questionados do
motivo da CEDAE utilizar o primeiro procedimento em detrimento do segundo.
Iniciou-se uma discussão em que surgiram respostas como “o primeiro é mais rápido
que o segundo, por isso é melhor” e “o primeiro deve ser mais barato que o
segundo”. A diferença de tempo entre os processos é um fator muito significativo,
pois no primeiro experimento a formação do hidróxido de alumínio é praticamente
instantânea, enquanto a de hidróxido de ferro demorou cerca de sete minutos para
se obter a quantidade necessária. Em maior escala a diferença de tempo seria maior
ainda, inviabilizando a utilização do procedimento do segundo experimento.
Quanto à questão financeira, foi requisitado aos integrantes do grupo que
especificassem que aspectos tornam o segundo processo mais caro que o primeiro.
Um dos integrantes do grupo logo questionou a diferença de valor entre o sulfato de
alumínio e os pregos de ferro. O bolsista orientador então explicou que a
discrepância entre os custos não é pela diferença de preço dos reagentes, mas sim
da utilização da bateria no segundo experimento, que não é necessária no primeiro.
Em larga escala seria necessária uma grande quantidade de energia elétrica para
clarificar toda a água que é tratada pela CEDAE, caso fosse utilizado o segundo
35
processo, por isso a escolha da clarificação pela adição de sulfato de alumínio.
Desse modo, os alunos puderam perceber que em qualquer processo é necessário
que se façam estudos para se alcançar a melhor relação custo/benefício.
Para exibição na Feira de Ciências, os alunos decidiram preparar uma
apresentação em slides que continha uma tabela com informações sobre doenças
transmitidas pela água (SAUNDERS, 1983); fotos da estação de tratamento de água
da CEDAE - ETA Guandu; uma figura ilustrativa com todas as etapas do tratamento
de água, na ordem que acontecem; imagens dos processos de coagulação,
floculação, decantação, filtração, desinfecção, correção de pH e fluoretação;
equações química correspondentes as reações que acontecem no processo de
eletrofloculação; imagens explicativas das maneiras alternativas de captação de
água (captação de água da chuva e dessalinização, por exemplo); uma tabela sobre
a quantidade de água consumida em cada setor da sociedade; gráficos sobre o
consumo de água no Brasil e no mundo; dados estatísticos sobre a população
atendida pela distribuição de água potável, pela coleta e pelo tratamento de esgoto;
possível economia advinda do investimento em saneamento público - considerando
a probabilidade de uma pessoa com acesso a rede de esgoto faltar às suas
atividades normais em relação a uma pessoa que não tem acesso à rede; número
de falecimentos por infecções gastrointestinais e custos com internação - e imagens
de desperdício de água.
Na Feira de Ciências, o grupo que apresentou os slides aos espectadores, fez
ponderações sobre o uso e o desperdício de água, alertando para a urgência na
mudança de hábitos da sociedade; realizaram os experimentos para demonstrar um
dos processos utilizados no tratamento da água, a clarificação, destacando a
importância da água não chegar suja e poluída nas estações de tratamento, para
que haja menos gastos e consumo de reagentes químicos para torna-la potável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer dos projetos ficou evidente a satisfação dos estudantes em
realizar as atividades. O grupo que desenvolveu o tema “Lixo, coleta seletiva e
reciclagem” se mostrou muito responsável e engajado com o projeto, seja orientando
36
colegas e fiscalizando a coleta seletiva organizada na escola, seja na busca de
informações adicionais e de produtos de reciclagem, que pudessem enriquecer o
trabalho, sempre trazendo, com entusiasmo, os resultados das pesquisas para o
bolsista orientador.
O grupo responsável pelo tema “Tratamento, consumo e desperdício de
água”, a princípio, mostrou-se pouco interessado na pesquisa inicial, tratando-a
como mais uma avaliação de conteúdo, a que estavam acostumados. Após a
realização de discussões sobre o tema, o interesse aumentou significativamente,
originando respostas muito mais elaboradas e reflexões mais profundas a respeito
do desperdício e dos problemas gerados pelo alto consumo de água. Todos os
membros do grupo participaram ativamente na produção dos slides e na
apresentação oral e reprodução do experimento na Feira de Ciências.
Gostaríamos de destacar o grande interesse com que os estudantes e a
comunidade escolar observaram a realização dos experimentos. Os comentários
feitos e os debates gerados no decorrer das apresentações mostraram o auxílio
importante da atividade prática para facilitar a compreensão ambos os temas.
Sendo assim, os dois projetos didáticos aplicados na escola chegaram a
resultados satisfatórios, na minha concepção e também nas das professoras
Coordenadora e Supervisora do Subprojeto Pibid Química UERJ, pois
proporcionaram a realização de trabalhos em equipe, o envolvimento dos estudantes
nas atividades propostas, o desenvolvimento do pensamento crítico e a
conscientização sobre as problemáticas abordadas, além de promover o ensino e o
aprendizado de diversos conhecimentos escolares de Química.
As produções dos alunos exigiram que eles realizassem várias leituras,
resgatassem dados do cotidiano, elaborassem suas ideias sobre os temas e
falassem a respeito delas, o que contribuiu para a apropriação de um conhecimento
que poderá ser utilizado em outros momentos de suas vidas. Com isso, acreditamos
ter nos aproximado do objetivo de formar cidadãos capazes de exercerem sua
cidadania.
37
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, Eduardo. B. Poluição e Tratamento de Água. Química nova na escola, n. 10, p. 21-25, nov., 1999. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf>. Acesso em: 20 de out. de 2014. ______. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Ensino Médio. Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. 2002. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/CienciasNatureza.pdf>. Acesso em: 20 de out. de 2014. ______. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares Para o Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 2006. ______. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 2000. ______. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Programa Nacional de Apoio às Feiras de Ciências na Educação Básica. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/EnsMed/fenaceb.pdf>. Acesso em: 5 de dez. de 2014. CALIXTO, Bruno; IMERCIO, Aline. Crise da água em São Paulo: Quanto falta para o desastre? São Paulo: Revista Época, 2014. Disponível em: <http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2014/06/crise-da-agua-em-sao-paulo-quanto-falta-para-bo-desastreb.html>. Acesso em: 10 de jan. 2015. CANDAL, Haroldo; SILVA, Magno; GOMES, Maria de F. T. Água de onde vem? Para onde vai? In: XVI ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE QUÍMICA, Salvador, 2012. Anais do Encontro, disponível em <http://www.portalseer.ufba.br/index.php/anaiseneq2012/index>. Acesso em: 30 de jan. de 2015. CHASSOT, Attico. Para que(m) é útil o ensino? 3. ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2014 (Coleção educação em química).
38
COELHO, Tâmara S. F.; LÉLIS, Isabela S. S.; FERREIRA, André C.; PIUZANA, Tiago M.; QUADROS, Ana Luiza. Explicando Fenômenos a Partir de Aulas com a Temática Água: A Evolução Conceitual dos Estudantes. Química nova na escola, São Paulo, v. 36, n. 1, p. 71-81, fev., 2014. COMPANHIA ESTADUAL DE ÁGUAS E ESGOTOS. Apresenta informações sobre o grupo que gere o tratamento de águas e esgotos na cidade do Rio de Janeiro. Disponível em <http://www.cedae.com.br/div/GUIA2012.pdf>. Acesso em: 5 de mai. de 2013. Dicionário Do Aurélio Online. Disponível em: <http://www.dicionariodoaurelio.com/>. Acesso em: 27 dez. 2014. FRANCHETTI, Sandra M. M.; MARCONATO, José Carlos. A importância das Propriedades Físicas dos Polímeros na Reciclagem. Química nova na escola, n. 18, p. 42-45, nov., 2003. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Apresenta dados sócio econômicos, geográficos e outros mais sobre a população brasileira. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/…/estatistica/populacao/co…/pnsb2008/>. Acesso em: 5 de mai. de 2013. INSTITUTO TRATA BRASIL. Apresenta dados sobre o saneamento e tratamento de água no Brasil. Disponível em <http://www.tratabrasil.org.br/ranking-do-saneamento>. Acesso em: 20 de mai. de 2013. LIMA, M. M. G.; SILVA, E. C.; RODRIGUES, E. N. B.; SANTOS, C. B. R. Água: uma abordagem de Química no Ensino Médio. In: 51º CONGRESSO BRASILEIRO DE QUÍMICA, São Luís, 2011. Anais do Encontro, disponível em <http://www.abq.org.br/cbq/2011/>. Acesso em: 20 de jan. de 2015. MACIEL, Marina. Apenas 13% dos brasileiros têm acesso à coleta seletiva. São Paulo: Revista Exame, 2014. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/apenas-13-dos-brasileiros-tem-acesso-a-coleta-seletiva>. Acesso em: 18 de set. de 2014. MAIA, Alessandra S.; OLIVEIRA, Wanda; OSÓRIO, Viktoria Klara L. Da Água Turva à Água Clara: O Papel do Coagulante. Química nova na escola, n. 18, p. 49-51, nov., 2003.
39
MATEUS, Alfredo Luis M. L.; MACHADO, Andréa H.; BRSILEIRO, Lilian B.; Articulação de Conceitos Químicos em um Contexto Ambiental. Química nova na escola, v. 31, n. 4, p. 231-234, nov., 2009. MELO, Maria Jucilene M.; LIMA, Maria José S.; SOUTO, Maria Veronilda M.; SANTOS, José Carlos O. O Lixo e o Ensino de Química com Foco na Cidadania. In: 62ª REUNIÃO ANUAL DA SBPC, Natal, 2010. Anais do Encontro, disponível em <http://www.sbpcnet.org.br/natal/home/>. Acesso em: 20 de jan. de 2015. MENEZES, Marilia G.; BARBOSA, Rejane M. N.; JÓFILI, Zélia M. S.; MENEZES, Anna P. A. B. Lixo, Cidadania e Ensino: Entrelaçando Caminhos. Química nova na escola, n. 22, p. 38-41, nov., 2005. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Informações sobre coleta seletiva fornecida pelo governo do país. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/catadores-de-materiais-reciclaveis/reciclagem-e-reaproveitamento>. Acesso em: 28 de nov. de 2014. OLIVEIRA, Julieta S.; MARTINS, Márcio M.; APPELT, Helmoz R. Trilogia: Química, Sociedade e Consumo. Química nova na escola, v. 32, n. 3, p. 140-144, ago., 2010. PEDRO, Nádia C. S; IACK, Rafael dos S.; OLIVEIRA, Nayane de; BARROS, Cláudia V. T.; SILVA, Joaquim F. M.; GUERRA, Antonio C. O. Explorando os Aspectos Físicos, Químicos e Biológicos da Água no Ensino de Química. In: 36ª REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUÍMICA, Águas de Lindóia, 2013. Anais do Encontro, disponível em <http://www.sbq.org.br/36ra/>. Acesso em: 20 de jan. de 2015. PINHEIRO, Nilcéia. A. M. A.; SILVEIRA, Rosemari M. C. F.; BAZZO, Walter A. Ciência, Tecnologia e Sociedade: a relevância do enfoque CTS para o contexto do Ensino Médio. Ciência & Educação, v. 13, n. 1, p. 71-84, 2007. QUADROS, Ana L.. Água como Tema Gerador do Conhecimento Químico. Química nova na escola, n. 20, p. 26-31, nov., 2004. SANCHES, Sérgio M.; SILVA, Carlos H. T. P.; VESPA, Izabel C. G.; VIEIRA, Eny M. A Importância da Compostagem para a Educação Ambiental nas Escolas. Química nova na escola, n. 23, p. 10-13, maio, 2006. SANTA MARIA, Luiz C.; LEITE, Marcia C. A. M.; AGUIAR, Mônica R. M. P.; OLIVEIRA, Rachel O.; ARCANJO, Maria Elena; CARVALHO, Elaine L. Coleta
40
Seletiva e Separação de Plásticos. Química nova na escola, n. 17, p. 32-35, maio, 2003. SANTOS, P. T. A.; DIAS, J.; LIMA, V. E.; OLIVEIRA, M. J.; NETO, L. J. A.; CELESTINO, V. Q. Lixo e Reciclagem como Tema Motivador no Ensino de Química. Eclética Química, São Paulo, v. 36, n.1, p. 78-92, 2011. SANTOS, Wildson L. P. Contextualização no ensino de ciências por meio de temas CTS em uma perspectiva crítica. Ciência & Ensino, v. 1, n. especial: Educação em Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente, nov. 2007. Disponível em: <http://prc.ifsp.edu.br/ojs/index.php/cienciaeensino/issue/view/15>. SANTOS, Wildson L. P. dos; MÓL, Gerson de S.; MATSUNAGA, Roseli T. Química e Sociedade. Volume único, ensino médio. São Paulo: Editora Nova Geração, 2008. SANTOS, Wildson L. P; SCHNETZLER, Roseli P. Educação em química: compromisso com a cidadania. 4. ed, Ijuí: Ed. Unijuí, 2010. (Coleção educação em química). SAUNDERS, Robert J. Abastecimento de água em pequenas comunidades. Brasília: Ed. Abes, 1983. SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DE SÃO PAULO. Doenças relacionadas à água ou de transmissão hídrica. São Paulo, 2009. Disponível em <ftp://ftp.cve.saude.sp.gov.br/doc_tec/hidrica/doc/dta09_pergresp.pdf>. Acesso em: 8 de mai. de 2013. SILVA, Penha S.; MORTIMER, Eduardo F. O Projeto Água em Foco como uma Proposta de Formação PIBID. Química nova na escola, v. 34, n. 4, p. 240-24, nov., 2012. SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUÍMICA. A Química Perto de Você: Experimentos de baixo custo para a sala de aula do ensino fundamental e médio. São Paulo: Sociedade Brasileira de Química, p. 57-64, 2010.
41
ANEXO I
Representação esquemática das etapas de tratamento de água na ETA-Guandu
Fonte: http://www.cedae.com.br/div/GUIA2012.pdf
42
ANEXO II
Perguntas utilizadas para nortear as pesquisas realizadas pelos alunos
no projeto didático “Lixo, coleta seletiva e reciclagem”.
1. O que é lixo?
2. Quais são os tipos de materiais encontrados no lixo? Como são
classificados?
3. Qual é a quantidade de lixo produzida diariamente por pessoa, nas
principais capitais brasileiras e em vários países?
4. Por que devemos separar o lixo?
5. Que destino podemos dar ao lixo para que sua quantidade seja diminuída?
43
ANEXO III
Perguntas utilizadas para nortear as pesquisas realizadas pelos alunos no
projeto didático “Tratamento, consumo e desperdício de água”.
1. De onde vem a água que abastece o seu bairro e os bairros vizinhos?
2. Por que motivo a água é tratada antes de chegar as nossas residências?
3. Quais são as principais etapas do tratamento convencional da água?
4. Quais as principais doenças transmitidas pela água não tratada?
5. No Brasil, quantos municípios possuem rede de distribuição de água tratada
regulamentada, recebem água parcialmente tratada e não possuem água
tratada?
6. Quais são as maneiras alternativas de captação de água? Quais são os
fatores positivos e negativos desses métodos?
7. Em que setores da sociedade a água é utilizada?
8. Em qual deles há maior consumo de água?
9. Qual é o consumo residencial médio de água por pessoa por dia no Brasil? E
na sua região?
10. Quais são os principais focos de desperdício de água? Como evitá-los?
44
ANEXO IV
Roteiro experimental da clarificação da água por coagulação.
Material utilizado
- 2 béqueres de 1000 mL (ou jarros transparentes de boca larga)
- 1 bastão de vidro (ou espeto de madeira para churrasco)
- 2 funis
- 2 papéis de filtro qualitativos (ou filtro de papel para coar café)
- 2 béqueres de 600 mL (ou copos de vidro)
- 1 pipeta de 1 mL (ou seringa descartável)
- 1 proveta de 50 mL (ou copinho de café descartável)
- Água a ser clarificada, obtida dispersando terra em água da torneira e
filtrando em papel qualitativo (visando evitar acidentes e/ou contaminações,
não se recomenda o emprego de água turva natural de rio ou represa)
Água de cal (solução 0,02 mol/L de Ca(OH)2)
- Solução de sulfato de alumínio (0,9 mol de Al/L) ou de alúmen de potássio
(0,18 mol de Al/L)
- Retroprojetor
Procedimento experimental
Coloque a água a ser clarificada, que simula uma água de represa, nos dois
béqueres de 1 L até cerca da metade de sua capacidade e disponha os mesmos
sobre um retroprojetor ligado, para serem iluminados de baixo para cima. Reserve
um dos béqueres para comparação e adicione ao outro 1 mL de solução de
sulfato de alumínio ou, alternativamente, 5 mL de solução de alúmen. Agite e em
seguida acrescente aos poucos 50 mL de água de cal. Agite brandamente e deixe
em repouso, observando os dois sistemas. Após cerca de 15 minutos, filtre
separadamente os conteúdos dos dois béqueres e compare os dois filtrados,
iluminados no retroprojetor.
45
ANEXO V
Roteiro experimental da clarificação da água por eletrofloculação.
Material utilizado
- bateria de 9 V
- 2 pregos comuns
- 2 fios de cobre (aproximadamente de 20 cm comprimento)
- garras do tipo “jacaré”
- 1 béquer de 50 mL
- Cloreto de sódio (sal de cozinha)
- Corante alimentício, café ou refrigerante de cola
- Filtro de papel de poro fino e coador (do tipo para café)
Procedimento experimental
1) Adicione aproximadamente 30 mL de H2O em um béquer (ou um pequeno
copo de vidro) de 50 mL, contendo cerca de 100 mg (1 colher de café) de sal
de cozinha (NaCl) (que atua como eletrólito ou “carregador dos elétrons”) e
algumas gotas de corante alimentício, café ou refrigerante de cola.
2) Monte o sistema como demonstrado na Figura 1, de forma que os dois pregos
fiquem completamente imersos na solução em lados opostos.
46
3) Os pregos serão, a seguir, conectados a uma fonte de corrente contínua (DC,
uma bateria de 9 V ou 3 pilhas em série), por meio de fios de cobre comuns
utilizando garras do tipo “jacaré”. Os pregos não devem ser tocados para
impedir a ocorrência de um curto-circuito. A partir desse momento, o anodo da
célula começa a ser lentamente dissolvido por oxidação, enquanto é possível
observar bolhas de hidrogênio sendo produzidas sobre o catodo.
O corante imediatamente começará a mudar de cor ao redor do catodo
e uma espécie de lama (contendo hidróxido de ferro, como descrito acima)
começará a se formar. Dentro de poucos minutos haverá lama suficiente para
absorver a maior parte do corante e o experimento poderá ser encerrado.
Agite bem a célula e seu conteúdo; então, derrame a solução em um funil
contendo filtro de papel de poro fino (coador de café) e colete o filtrado.
47
ANEXO VI
Respostas iniciais dos alunos para o questionário elaborado para o projeto
“Tratamento, consumo e desperdício de água”.
1. A água que abastece a região metropolitana e a baixada fluminense vem da
estação de tratamento de água do rio guandu.
2. A água pode servir como um meio de transporte de vermes, parasitas e
bactérias que podem ser prejudiciais à saúde. Por isso é necessário tratá-la
para torná-la própria para o consumo.
3. Primeiro a água passa por uma grade que serve para reter vegetais e
impurezas de tamanho expressivo, logo em seguida é realizado o processo
chamado de floculação, onde é adicionado um reagente químico (sulfato de
alumínio), aglomerando as impurezas ali contidas. Após isso ocorre o
processo de decantação, dessas impurezas aglomeradas. Logo depois, a
água passa por um processo de filtração, passando por filtros compostos de
carvão, areia e cascalho, retendo essas impurezas restantes. No Brasil, por
lei, foi introduzido a fluoretação da água, por ultimo é feito o processo de
controle do pH.
4. Diarréia, cólera, leptospirose, hepatite A, esquistossomose e febre tifoide.
5. Cerca de 5564 possuem algum tipo de serviço de saneamento, sendo apenas
1810 por instrumentos reguladores e 33 não possuem rede de abastecimento.
6. Através de poços, captação da água da chuva e dessalinização.
7. Em todos os setores.
8. Setor agropecuário. (consenso em torno de 70 % do consumo total).
48
9. O consumo médio brasileiro é de 159 litros/dia. Na região sudeste o consumo
é de 185,9 litros/dia.
10. Vazamentos, mau uso. Fechar as torneiras, não tomar banhos demorados,
não limpe a calçada com água, deixar a roupa acumular para lavá-las, etc.
49
ANEXO VII
Respostas definitivas dos alunos para o questionário elaborado para o
projeto “Tratamento, consumo e desperdício de água”.
1. A água que abastece a região metropolitana e a baixada fluminense vem da
estação de tratamento de água do rio Guandu.
2. A água pode servir como um meio de transporte de vermes, parasitas e
bactérias que podem ser prejudiciais à saúde. Por isso é necessário tratá-la
para torná-la própria para o consumo.
3. O tratamento da água é composto pelas seguintes fases:
Gradeamento – Retirada de impurezas brutas com a utilização de grades.
Desarenação – Retirada de partículas de areia da água bruta.
Coagulação – A remoção das partículas de sujeira se inicia no tanque de
mistura rápida com a dosagem de sulfato de alumínio ou cloreto férrico.
Floculação – Na floculação, a água já coagulada movimenta-se de tal forma
dentro dos tanques que os flocos misturam-se, ganhando peso, volume e
consistência.
Decantação – Na decantação, os flocos formados anteriormente separam-se
da água, sedimentando-se, no fundo dos tanques.
Filtração – A água ainda contém impurezas que não foram sedimentadas no
processo de decantação. Por isso, são utilizados filtros de areia ou carvão
para remover essas impurezas.
Desinfecção – A água já está limpa quando chega a esta etapa. Mas ela
recebe ainda o cloro, que elimina as bactérias presentes.
Correção de pH – Para proteger as canalizações das redes e das casas
contra corrosão ou incrustação, a água recebe uma dosagem de cal, que
corrige seu pH para um valor próximo de 7.
Fluoretação – Finalmente a água é fluoretada, em atendimento à Portaria do
Ministério da Saúde, para auxiliar no controle de cáries.
50
4. Diarreia, cólera, leptospirose, hepatite A, esquistossomose e febre tifoide.
5. Quase todos os municípios brasileiros têm rede de abastecimento de água.
116 municípios brasileiros, ou 2% do total, não têm abastecimento de água
por rede geral; a maior parte deles situada nas regiões Norte e Nordeste. No
que se refere aos domicílios brasileiros, no entanto, a cobertura é de 63,9%, e
se caracteriza por um desequilíbrio regional. Na região Sudeste, a proporção
de domicílios atendidos é de 70,5%. Já nas regiões Norte e Nordeste, o
serviço alcança, respectivamente, 44,3% e 52,9% dos domicílios. Os menores
municípios apresentam maior deficiência nos serviços e apenas 46% dos
domicílios situados em municípios com até 20000 habitantes contam com
abastecimento de água por rede geral.
6. Através de poços artesianos, captação da água da chuva e dessalinização.
Vantagens:
Poço artesiano – Em locais sem rede de abastecimento, pode ser a única
alternativa de captação de água.
Captação de água da chuva – Facilidade de armazenamento.
Dessalinização – Abundância da fonte de água.
Desvantagens:
Poço artesiano – Alta chance de contaminação do lençol freático ou na
perfuração do poço.
Captação de água da chuva – Em locais com altos níveis de poluição existe
chuva ácida que não pode ser usada para beber, preparar comida, etc. E em
períodos de seca não há maneiras de captação pela chuva.
Dessalinização – Alto custo para a produção de água potável a partir da água
salgada.
7. No setor primário para irrigação da vegetação, no secundário principalmente
em siderúrgicas para o resfriamento de metais e equipamentos, e no terciário
para residências e comércio e para o consumo próprio.
51
8. Setor agropecuário (consenso em torno de 70 % do consumo total).
9. O consumo médio brasileiro é de 159 litros/dia. Na região sudeste o consumo
é de 185,9 litros/dia.
10. Agropecuária – Por ser o maior foco de uso de água, cerca de 70% da água é
utilizada nesta área.
Indústria – As indústrias utilizam a água de diversas maneiras no resfriamento
e na lavagem de seus equipamentos, como solvente ou ainda na diluição de
emissões poluentes. Em termos globais, a indústria é responsável por 21% de
toda a água doce consumida. Essa porcentagem é muito maior em países
ricos - 59% - e bem menor nos países pobres - apenas 8%.
Residências – De acordo com as Nações Unidas, crianças nascidas no
mundo desenvolvido consomem de 30 a 50 vezes mais água que as dos
países pobres. Mas as camadas mais ricas da população brasileira têm
índices de desperdício semelhantes, associados a hábitos como longos
banhos ou lavagem de quintais, calçadas e carros com mangueiras. Isso
corresponde a 10% do uso da água.
Como evitar:
Agropecuária – Pelo sistema de gotejamento - um duto passa ao longo das
raízes das plantas, pingando apenas a água necessária. Produzir tomates
com os sistemas de irrigação tradicionais exige 40% mais água que nos
sistemas de gotejamento.
Indústria – Racionalização da água por meio de novas tecnologias.
Residências – Evite tomar banhos demorados. Cinco minutos de chuveiro são
suficientes. Feche a torneira enquanto escova os dentes ou faz a barba. Não
use o vaso sanitário como lixeira ou cinzeiro, porque, além de gastar mais
água, os objetos despejados ainda podem causar entupimento. Procure
manter a válvula de descarga sempre regulada para evitar o desperdício.