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Universidade do Porto Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação CONSTRUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE ESTIMULAÇÃO EXECUTIVA EM IDOSOS SAUDÁVEIS Ana Sofia Nogueira Chousa Junho 2014 Dissertação apresentada no Mestrado Integrado de Psicologia, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, orientada pela Professora Doutora Selene Vicente (FPCEUP).

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Universidade do Porto

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

CONSTRUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE ESTIMULAÇÃO

EXECUTIVA EM IDOSOS SAUDÁVEIS

Ana Sofia Nogueira Chousa

Junho 2014

Dissertação apresentada no Mestrado Integrado de Psicologia, Faculdade

de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto,

orientada pela Professora Doutora Selene Vicente (FPCEUP).

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AVISOS LEGAIS

O conteúdo desta dissertação reflete as perspetivas, o trabalho e as interpretações do autor

no momento da sua entrega. Esta dissertação pode conter incorreções, tanto conceptuais

como metodológicas, que podem ter sido identificadas em momento posterior ao da sua

entrega. Por conseguinte, qualquer utilização dos seus conteúdos deve ser exercida com

cautela.

Ao entregar esta dissertação, o autor declara que a mesma é resultante do seu próprio

trabalho, contém contributos originais e são reconhecidas todas as fontes utilizadas,

encontrando-se tais fontes devidamente citadas no corpo do texto e identificadas na secção

de referências. O autor declara, ainda, que não divulga na presente dissertação quaisquer

conteúdos cuja reprodução esteja vedada por direitos de autor ou de propriedade industrial.

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DEDICATÓRIA

À minha Cláudia, o meu anjo que partiu cedo de mais, a quem prometi lutar pelos meus

sonhos com todas as forças. Em mim deixou muito mais do que alguém possa imaginar.

“Angel of mine,

Let me thank you?

You have saved me time and time again.

After all these years,

one thing is true

Constant force within my heart is you,

You touch me, I feel I'm moving into you

I treasure every day I spent with you”

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AGRADECIMENTOS

Esta dissertação representa a etapa final de uma longa caminhada, repleta de

conquistas e percalços, que foi partilhada com pessoas maravilhosas que tanto contribuíram

para o meu crescimento e aprendizagem. A elas fica o meu agradecimento:

À professora doutora Selene Vicente, que aceitou orientar-me quando não era

obrigada a tal, por todo o apoio, pela imensa aprendizagem, pela disponibilidade e por me

fazer acreditar que, apesar dos obstáculos, há sempre uma forma de realizar os objetivos.

Um enorme agradecimento a todas as pessoas que fizeram parte deste estudo e ao

centro multigeracional “Com Vida” de Palmaz, que sempre me recebeu tão carinhosamente

nos seus braços, do primeiro ao último dia! Agradeço a amizade e o carinho inesquecíveis

que tornaram a implementação deste projeto numa experiencia sem igual. Agradeço ainda à

enfermeira Sílvia, companheira de trabalho neste estudo, que me fez compreender na prática

que a confluência entre profissionais não só é possível, como é um trabalho muito

gratificante. Por tudo, obrigada Sílvia!

Agradeço também à doutora Joana Pais, à doutora Cátia Mateus e à minha querida

Andreia Sousa não só pela aprendizagem, mas por todas as dúvidas esclarecidas, pelo apoio

e pela sempre presente preocupação. À Helena Moreira agradeço todo o apoio, e por ter

contribuído de forma sem igual para que desse os primeiros passos neste projeto.

E a quem as palavras não são suficientes …

Agradeço, de coração repleto de amor, aos meus pais, por me tornarem na pessoa que

sou hoje, por todo o amor, pelo apoio incondicional, pelos valores tão bonitos que me

transmitiram e por me possibilitarem a realização deste sonho. Ao meu irmão que sempre

foi um exemplo a seguir, companheiro de aventuras, maluqueiras e alegrias, obrigada. A

toda a família que me incute o sentido de união, alegria, amor e solidariedade.

Por quem o meu sorriso brilha, por estar presente em cada momento, por me tornar

uma pessoa melhor e pelo imenso carinho, um obrigada ao meu amor e meu melhor amigo

Daniel. Que sempre caminhemos de mãos dadas, de objetivos traçados e de sonhos na

bagagem, por este mundo fora!

E claro, um enorme obrigado às minhas meninas: Míssil, minha NM, que sempre me

acompanhou, limpou as tristezas e semeou as mais bonitas alegrias, “nunca mudará”;

Amiguinha, a quem prometi os “5 anos e mais além”, obrigada pela bonita amizade que

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construímos desde os primeiros dias; Bárbara, que se tornou uma amiga tão especial e

sempre me apoiou em tudo; Rabujas, que tão bem transforma todos os momentos em alegria

e animação, pelo sempre apoio e amizade, obrigada! Vocês fizeram destes 5 anos os

melhores de sempre!

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Resumo

A estrutura etária da população portuguesa tem demonstrado um envelhecimento

demográfico cada vez mais acentuado, fenómeno com tendência para aumentar no futuro. Com

o envelhecimento ocorrem algumas alterações a nível da estrutura cerebral (e.g., diminuição do

volume do hipocampo, aparecimento de emaranhados neurofibrilares e placas senis), que podem

ter consequências no funcionamento cognitivo e funcional do indivíduo. Assim, com a

senescência, pode verificar-se algum declínio no funcionamento da memória, atenção e

velocidade de processamento, bem como ao nível do funcionamento executivo (planeamento,

flexibilidade cognitiva, controlo inibitório, iniciativa, memória de trabalho). O

treino/estimulação cognitiva, direcionado para domínios do funcionamento executivo, tem

revelado ser uma forma de intervenção que pode trazer benefícios a idosos cognitivamente

saudáveis, na medida em que se verificam melhorias ao nível do funcionamento cognitivo, da

realização das AIVD’s, e podendo mesmo retardar o aparecimento de processos demenciais.

O presente estudo empírico possui um desenho metodológico quasi-experimental, tendo

sido construído e implementado um programa de estimulação executiva – o Programa Eureka

Seniores, PES – organizado em torno de 20 sessões com periodicidade bi-semanal e uma duração

de 3 meses. O PES é constituído por atividades de papel e lápis e dinâmicas de grupo, tendo sido

administrado a um grupo de idosos saudáveis com mais de 50 anos (N = 15), sendo também

definido um grupo de controlo passivo que não foi submetido ao programa de intervenção. Todos

os participantes foram avaliados com um protocolo neuropsicológico em dois momentos

distintos, pré e pós-intervenção. As provas utilizadas foram o MMSE, Memória de Dígitos,

Controlo Mental, Memória Lógica (I, II e Percentagem de Retenção) da WMS-III, Trail Making

Test (parte A e B), Teste de Fluência Verbal, Teste de Stroop, Teste do Desenho do Relógio, e

Escala de Atividades Instrumentais de Vida Diária.

Os resultados demonstraram que o grupo experimental beneficiou do programa

PES e obteve melhorias significativas no TMT-A (velocidade de processamento e flexibilidade

cognitiva), na Memória Lógica I e II (memória imediata e diferida), no Controlo Mental (atenção

e velocidade de processamento) e na Fluência Verbal (iniciativa e flexibilidade cognitiva). No

entanto, estes benefícios não se repercutiram ao nível da funcionalidade. Os resultados serão

discutidos e a eficácia do programa PES avaliada. Salvaguarda-se a necessidade de realizar

estudos de follow-up, de forma a verificar a manutenção dos ganhos cognitivos.

PALAVRAS-CHAVE: Estimulação Cognitiva; Idosos; Funcionamento Cognitivo e

Executivo.

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Abstract

The age structure of the Portuguese society has demonstrated an increasingly

demographic aging, a phenomenon with tendency to increase in the future. With aging some

alterations occur at a cerebral structure level (e.g., decrease of hippocampus volume, senile

plaq and neurofibrillary tangles arise), that may have consequences in the cognitive and

functional function of the subject.

Thus, with senescence, a decline of memory function, attention and processing

velocity may be observed, as well as the level of executive function (planning, cognitive

flexibility, inhibitory control, initiative, working memory). The cognitive

training/stimulation, directed to executive function domains, as revealed being a mean of

intervention that may benefit the cognitively healthy elderly, in a way that improvement of

cognitive function, execution of daily life instrumental activities has been verified, being

able to retard the appearance of dementia processes.

The present empiric study has a methodological design quasi-experimental, which

was constructed and implemented in a program of executive stimulation – the Eureka

Seniores Program, PES – organized by 20 sessions with bi-weekly periodicity, during three

months. PES is constituted by paper and pencil activities and group dynamics, this being

administrated to a group of healthy elderly people with more than 50 years of age (N = 15),

it was also defined a passive control group, that was not submitted to an intervention

program. As the participants were evaluated by a neuropsychological protocol at two

different times, pre and post intervention. The utilized tests were MMSE, Digit Memory,

Mental Control, WMS-III Logic Memory (I, II and retention percentage), Trail Making Test

(part A and B), Verbal Fluency test, Stroop test, Clock Drawing Test, Daily Life

Instrumental Activities Scale.

The results showed the experimental group benefited from the PES program and

obtained significant improvements at TMT-A (processing velocity and cognitive flexibility),

Logic Memory I and II (immediate and deferred memory), Mental Control (attention and

processing velocity) and Verbal Fluency (initiative and cognitive flexibility). However,

these benefits didn’t reverberate at a functionality level. These results will be discussed and

the efficiency of the PES program will be evaluated. However, follow-up studies will be

necessary, in order to verify the upkeep of the cognitive gain.

KEY-WORDS: cognitive stimulation, elderly, cognitive and executive function

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Résumé

La structure par âge de la population portugaise a démontré un vieillissement démographique

de plus en plus accentué, un phénomène qui a une tendance à augmenter dans le futur. Avec le

vieillissement, certaines altérations se manifestent au niveau de la structure cérébrale (e.g. diminution

du volume de l’hippocampe, le surgissement des fibrilles emmêlées et des plaques séniles), qui

peuvent avoir des conséquences dans le fonctionnement cognitif et fonctionnel de l’individu. Ainsi,

avec la sénescence, on peut vérifier un déclin du fonctionnement la mémoire, attention, vitesse de

traitement de l’information, aussi bien au niveau du fonctionnement exécutif (planification,

flexibilité mentale, contrôle d’inhibition, initiative et mémoire de travail).

L’entrainement/stimulation cognitive, orienté vers les domaines do fonctionnement exécutif, s’est

révélé une forme d’intervention qui peut apporter des gains aux personnes âgées qui sont

cognitivement sains, de tel sorte que des améliorations peuvent être observer au niveau du

fonctionnement cognitif, de la réalisation des activités instrumentales de la vie quotidienne, pouvant

même retarder le surgissement de processus démentiels.

L’étude empirique que l’on présente a un dessin méthodologique quasi-expérimental, vue la

création et implémentation d’un programme de stimulation des fonctions exécutives – le Programme

Eureka Séniors, PES – organisé selon 20 sessions de périodicité bihebdomadaire avec une duration

de trois mois. Le PES est constitué par des activités en papier et des activités de groupes et le

programme a été appliqué à un groupe d’âgés sains, avec plus de 50 ans (N= 15), ayant un groupe

de contrôle passif qui n’a pas été soumis à aucun programme d’intervention. Tous les participants

ont été évalués avec un protocole neuropsychologique en deux moments distincts, avant et après

l’intervention. Les épreuves utilisées ont été le MMSE, l’Empan Numérique, le Contrôle Mental, la

Mémoire Logique (I, II et Pourcentage de Rétention) de la WMS-III, le Trail Making Test (partie A

et B), le Teste de Fluence Verbale, le Teste de Stroop, le Teste l’horloge et l’Échelle des Activités

Instrumentales de la Vie Quotidienne.

Les résultats ont démontrés que le groupe expérimental a bénéficié du programme PES et

des améliorations ont été observées dans les épreuves du TMT-A (vitesse de traitement de

l’information et flexibilité mentale), la Mémoire Logique I et II (mémoire immédiate et différée),

Contrôle mentale (attention et vitesse de traitement de l'information) et la fluence verbale (initiative

et flexibilité mentale). Cependant, ces gains n’ont pas eu d’impact au niveau de la fonctionnalité. Les

résultats seront discutés et l’efficacité du programme PES sera évaluée. On souligne le besoin de

réaliser des études de suivi, de façon à vérifier la continuation des gains cognitifs.

MOTS-CLÉS: Stimulation cognitif ; Personnes âgées ; Fonctionnement Cognitif et Exécutif.

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Índice

1. Introdução Geral ………………………………………………………………….….1

1.1.Neurobiologia do envelhecimento cognitivo………………...…………………1

1.2.Envelhecimento: que mudanças no funcionamento cognitivo de idosos

saudáveis?.............................................................................................................3

1.3.Envelhecimento: que mudanças no funcionamento executivo de idosos

saudáveis?.............................................................................................................5

1.4.Estimulação cognitiva: que mudanças no funcionamento executivo de idosos

saudáveis ?............................................................................................................9

2. Método………………………………………………………………………………..17

2.1.Participantes…………………………………………………………………...17

2.2.Material………………………………………………………………………..17

2.2.1. Protocolo de Avaliação Neuropsicológica………………………….....18

2.2.2. Material e Atividades do programa de estimulação executiva: O programa

de estimulação executiva Eureka Seniores (PES) ……………………….…….….21

2.3.Procedimento …………………………………………………………....….....23

2.3.1. Avaliação neuropsicológica pré e pós-intervenção………………..…….24

2.3.2. Implementação do programa de estimulação executiva Eureka Seniores,

PES………………………………..………………………………………….……25

2.3.3. Análise dos resultados: Racional estatístico………………………..…....26

3. Resultados………………………………………………………..……..…….……28

4. Discussão.……………………………………………………….…………….…....37

5. Conclusão ……………………………………………………………………….….43

6. Referências Bibliográficas …………………………………..………………….…45

7. Anexos……………………………………..……...………………………………...51

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Índíce de Anexos

Anexo digital 1.1 Protocolo de avaliação neuropsicológica e caderno de estimulação

executiva e materiais em formato digital

Anexo 1. Anamnese ………………………………………………..…………………….52

Anexo 2. Autorização dirigida ao responsável da instituição onde foi aplicado o PES….53

Anexo 3. Consentimento Informado……………………………………………………...54

Índice de Quadros e Figuras

Quadro 1. Média (M) e Desvio Padrão (DP) dos resultados brutos obtidos nas medidas

neuropsicológicas pelo grupo experimental (N = 15), e separadamente para os dois

momentos de pré e pós-intervenção. Apresentam-se os valores de Z e de p para o teste de

Wilcoxon ……………………………………………………………………………………………..29

Quadro 2. Média (M) e Desvio Padrão (DP) dos resultados obtidos nas medidas

neuropsicológicas no momento de pré-avaliação, separadamente para o grupo experimental

(n = 4) e o grupo de controlo (n = 4). Apresentam-se os valores U e de p obtidos com o teste

Mann-Whitney………………………………………………………………………………….…...32

Quadro 3. Média (M) e Desvio Padrão (DP) dos resultados obtidos nas medidas

neuropsicológicas no momento de pós-intervenção, separadamente para o grupo

experimental (n = 4) e o grupo de controlo (n = 4). Apresentam-se os valores U e de p

obtidos com o teste Mann-Whitney……………………………………………………………….34

Quadro 4. Média (M) e Desvio Padrão (DP) dos resultados obtidos nas medidas

neuropsicológicas no momento de pós-avaliação, separadamente para o subgrupo

experimental dos mais novos (n = 7) e o subgrupo dos mais velhos (n = 8). Apresentam-se

os valores U e de p obtidos com o teste Mann-Whitney………………………………………..35

Figura 1. Média dos resultados obtidos nas várias medidas neuropsicológicas nos dois

momentos pré e pós- intervenção …………………………………………………………………28

Figura 2. Resultados médios obtidos nas medidas neuropsicológicas, no momento de avaliação

pós-intervenção, separadamente para o grupo experimental e grupo controlo..........................34

1 Por questões éticas, relacionadas com os direitos de autor, este anexo apenas se encontra disponível para a

Orientadora, Presidente de Júri e Arguente da presente dissertação.

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Lista de Abreviaturas

AIVD’S Atividades Instrumentais de Vida Diária

AVC Acidente Vascular Cerebral

cf Confrontar

cit in Citado em

DP Desvio Padrão

EC Estimulação Cognitiva

e.g. Por exemplo (do latim exempli gartia)

et al. E outros (do latim et alli)

FE Funções Executivas

i.e. Isto é

K-S Kolmogorov-Smirnov

M Média

MMSE Mini Mental State Examination

p Nível de significância dos resultados

PES Programa Eureka Seniores

SPSS Statistical Package for the Social Sciences

t Valor do teste t-Student

TCE Traumatismo Crânioencefálico

TDR Teste do Desenho do Relógio

TMT Trail Making Test

U Valor do teste Mann-Whitney

WMS Wechsler Memory Scale- III

Z Valor do teste Wilcoxon

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1. Introdução Geral

A estrutura etária atual da população Portuguesa evidencia os desequilíbrios

observados na última década, demonstrando que a tendência para o envelhecimento

demográfico dos últimos anos se mantem. Este fenómeno deve-se essencialmente à redução

da população jovem, resultado da baixa natalidade, que é acompanhada pelo aumento do

número de pessoas idosas (INE, 2012, 2013). Pode também ser justificado pelas atuais

conquistas médico-tecnológicas da medicina moderna que têm possibilitado a prevenção e a

cura de doenças que antes eram consideradas fatais, reduzindo desta forma a mortalidade e

aumentando a esperança média de vida (Souza, & Chaves, 2005).

Assim, entre 2001 e 2011 a proporção de jovens e indivíduos em idade ativa

decresceu, verificando-se em simultâneo o aumento da percentagem de idosos, conduzindo

a um aumento do índice de envelhecimento que se revela atualmente na existência de 128

idosos por cada 100 jovens (INE, 2013). O agravamento do envelhecimento populacional

tem vindo a ocorrer de forma generalizada por todo o território, sendo considerado um dos

fenómenos mais preocupantes das sociedades atuais. Como tal, torna-se essencial

compreender e estudar as mudanças que ocorrem ao longo desta etapa da vida, tornando

possível a implementação de planos de intervenção que contribuam para um envelhecimento

ativo.

Com isto, é possível compreender que o envelhecimento na população é um

fenómeno incontornável e, uma vez que este é acompanhado por várias mudanças a nível da

estrutura cerebral e no funcionamento cognitivo, torna-se essencial relatar as alterações que

podem ocorrer, sendo que as mesmas serão descritas de seguida.

1.1. Neurobiologia do envelhecimento cognitivo

Estudos de neuroimagem recentes têm demonstrado que com o envelhecimento

ocorrem algumas mudanças a nível da estrutura cerebral do indivíduo. As alterações mais

proeminentes são a diminuição a nível do volume cerebral, hipocampo e córtices associados,

cerebelo, córtice entorrinal, córtice temporal inferior e matéria branca (Raz, & Rodrigue,

2006; Raz et al., 2005; Raz, 2004). Pode também ocorrer o depósito de pigmento

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lipofuscínico nas células nervosas (Braak, & Braak, 1997, citado por Luca, & Leventer,

2008) assim como o aparecimento de placas senis e emaranhados neurofibrilares (Kausler,

Kausler, & Krupsaw, 2007). Um estudo longitudinal, realizado por Raz e colaboradores

(2005), de ressonância magnética em indivíduos com 20 a 77 anos de idade concluiu que,

em algumas regiões cerebrais, a diminuição do volume, especialmente no hipocampo, parte

pré-frontal da massa branca e cerebelo, é notável com o avançar da idade, mesmo em idosos

saudáveis que não apresentam declínio cognitivo significativo. Observou-se ainda que a

diminuição do volume do cerebelo ocorre durante a passagem da juventude para a idade

adulta, sendo que aumenta desta última para a terceira idade. Contudo, estas mudanças não

se sucedem uniforme e aleatoriamente, sendo que a sua magnitude varia em função das

regiões cerebrais ou seja, são difundidas de forma seletiva e diferencial (Raz et al.,2005;

Raz, & Rodrigue, 2006).

É de referir que não são apenas as mudanças estruturais cerebrais que levam às

alterações cognitivas que ocorrem na senescência. Devem também ser tidos em conta fatores

relacionados com mudanças hormonais e neuro-químicas (e.g., metabolismo da glicose,

libertação de cortisol, alteração cinética da dopamina), assim como mudanças no fluxo

sanguíneo cerebral (Raz, 2004). A diminuição da quantidade de neurotransmissores como a

acetilcolina, dopamina, serotonina, noradrenalina e ácido gama-aminobutírico, que tornam

possível a troca de informação entre neurónios (Kausler, Kausler, & Krupsaw, 2007), tem

especial relevância. Adicionalmente, as predisposições genéticas e doenças como a

hipertensão, diabetes, problemas pulmonares e insuficiências cardiovasculares (Raz, 2004;

Raz et al., 2005; Raz, & Rodrigue, 2006) são fatores importantes, sendo que estas últimas

levam a uma aceleração significativa do envelhecimento do cérebro, especialmente na zona

do hipocampo e regiões posteriores (Raz, & Rodrigue, 2006). Todas estas variáveis podem

exercer efeitos negativos a nível do desempenho cognitivo ao longo do processo de

envelhecimento, especialmente nas funções executivas (Raz, 2004).

Embora todas estas mudanças sejam consideradas como integrantes de um processo

de envelhecimento cognitivo normativo (Luca, & Leventer, 2008), tal não significa que não

tenham impacto na cognição do sujeito saudável, uma vez que a diminuição de volume das

regiões cerebrais parece estar ligada a um menor desempenho. Por exemplo, uma execução

mais pobre em tarefas de funcionamento executivo tem vindo a ser associada com uma

diminuição do volume na zona do córtice pré-frontal (Raz, & Rodrigue, 2006).

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Todas estas mudanças que ocorrem a nível da biologia cerebral podem ter

consequências no funcionamento cognitivo e executivo do indivíduo, tornando-se relevante

ter conhecimento acerca de quais funções estão iminentes em entrar em declínio na

senescência, sendo que as mesmas serão referidas abaixo.

1.2. Envelhecimento: que mudanças no funcionamento cognitivo de idosos saudáveis?

Assim como as mudanças que ocorrem na estrutura e funcionamento cerebral não

são uniformes, o mesmo acontece com aquelas que se dão ao nível da cognição do indivíduo

que envelhece. É de referir que existe uma preocupação inegável entre a população idosa

acerca das mudanças cognitivas que experienciam à medida que envelhecem, sendo que

alguns deles tendem geralmente a associar esta deterioração mental a uma condição

patológica. Contudo, estas mudanças, podem ser consideradas como inerentes ao processo

de envelhecimento (Fernández-Prado, Conlon, Mayán-Santos, & Gandoy-Crego, 2011).

O declínio cognitivo é um dos aspetos mais temidos do envelhecimento uma vez que

poder ter consequências no bom funcionamento a nível da participação e realização das

atividades diárias e comprometer o nível de independência do indivíduo, podendo tornar-se

bastante custoso em termos pessoais e sociais (Deary et al., 2009) na medida em que pode

comprometer o bem-estar bio-psico-social dos idosos impedindo a participação ativa na sua

vida social (Sousa, & Chaves, 2005) bem como levar à institucionalização.

Os maiores declínios ocorrem principalmente nas funções relativas à memória e

atenção. Contudo, alguns aspetos destas mesmas funções cognitivas permanecem intactos

ao longo do envelhecimento, tornando-se desta forma importante descrever mais

detalhadamente que tipo de mudanças ocorrem em cada uma das capacidades do indivíduo

(Glisky, 2007). Assim, no que diz respeito às funções cognitivas básicas, é de referir a

atenção que possui múltiplos subprocessos especializados em diferentes aspetos do seu

processamento. Uma das suas componentes é a atenção seletiva que pode ser definida como

a capacidade em atender a alguns estímulos enquanto outros, que são irrelevantes para a

tarefa em questão, são ignorados. Neste tipo de tarefas, a população idosa apresenta um

desempenho mais lento do que o de jovens adultos, sendo que os défices podem ser

explicados pela diminuição no processamento de informação e talvez não tanto por défices

na atenção seletiva em si. Outra componente da atenção que sofre declínio significativo com

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o envelhecimento é a atenção dividida, particularmente quando a natureza da tarefa é

complexa, uma vez que exige o processamento de duas ou mais fontes de informações no

desempenho de duas ou mais tarefas realizadas simultaneamente (Glisky, 2007; Hahn, Wild-

Wall, & Falkenstein, 2011; Hein, & Shubert, 2004). Relativamente à atenção sustentada, os

resultados dos vários estudos não são consistentes, sendo necessária mais investigação neste

âmbito (Staub, Doignon-Camus, Deprés, & Bonnefond, 2013). Concluindo, no que diz

respeito à atenção, a população idosa apresenta mais dificuldades em tarefas que envolvem

o controlo flexível da atenção, função que está associada aos lobos frontais. Contudo, torna-

se importante referir que estes tipos de tarefas parecem ser sensíveis ao treino. Por outro

lado, os défices atencionais referidos poderão ter impacto negativo em certas capacidades

do individuo que lhe permitem funcionar de forma adequada e independente no seu dia-a-

dia, como é o caso da tarefa de condução que exige troca constante de estímulos a ter em

atenção (Glisky, 2007).

Os processos mnésicos sofrem também alterações com o envelhecimento e, tal como

a atenção, a memória não é um constructo unitário, encontrando-se organizada em alguns

subtipos. Um deles, diz respeito à memória episódica que integra um dos subtipos da

memória a longo prazo, referindo-se às memórias de experiências e eventos pessoais que

ocorreram num tempo e espaço particular. Esta parece ser a mais suscetível no processo

normativo de envelhecimento, uma vez que sofre declínio (Glisky, 2007; Charlton, Barrick,

Markus, & Morris, 2010; Kausler et al., 2007). Este tipo de memória envolve processos de

codificação, armazenamento e recuperação da informação, podendo os défices encontrarem-

se patentes nestes diferentes sistemas. Já ao nível da memória semântica, que se refere ao

conhecimento que o indivíduo possui acerca do mundo, incluindo informação factual,

conceitos e palavras, os idosos parecem não demonstrar défices significativos, sendo que

esta capacidade pode mesmo ser superior à de indivíduos mais jovens. A memória

autobiográfica também se encontra largamente preservada ao longo do envelhecimento,

sendo que inclui memórias que envolvem a história de vida de cada pessoa podendo ser de

natureza episódica e/ou semântica (Glisky, 2007; Hedden, & Gabrieli, 2004). No que

concerne à memória de procedimento, que se refere ao conhecimento de habilidades e

procedimentos (e.g., guiar uma bicicleta, tocar viola, ler um livro), também se encontra

preservada ao longo do ciclo de desenvolvimento. Por fim, a memória implícita, que se

encontra preservada na maioria dos indivíduos, refere-se a mudanças que ocorrem a nível

comportamental como resultado da experiência prévia sendo que o indivíduo pode não

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possuir consciência explícita de que a possui. A memória a longo prazo é um dos domínios

cognitivos que mais atenção tem recebido no estudo das mudanças que ocorrem no

envelhecimento, podendo este interesse ser explicado pelo facto de que a maioria dos adultos

se queixa de falhas na memória (Glisky, 2007). Por exemplo, a maioria dos participantes do

estudo realizado por Cargin, Collie, Masters, e Maruff (2008), revelou como principais

dificuldades o lembrar nomes e ações, sendo que estas estavam mais fortemente associadas

ao estado de humor e sentimentos de bem-estar do que ao estado cognitivo e idade.

As capacidades percetivas do idoso podem também sofrer alterações e, uma vez que

os declínios sensoriais têm fortes implicações na sua vida, torna-se de extrema importância

a utilização de estratégias que permitam compensar as dificuldades sentidas. Estas últimas

podem ocorrer a nível da audição e visão, que são fulcrais nos processos de interação com

os outros e o meio (Glisky, 2007). No que concerne às funções cognitivas de nível superior,

é importante referir que os processos da fala e linguagem se encontram intactos, embora

possam ocorrer de forma mais lentificada em comparação com a população jovem. No

entanto, a capacidade para manter uma conversa e se expressar mantem-se intacta uma vez

que as aptidões de linguagem se encontram preservadas. A nível da tomada de decisão,

poucos estudos têm sido realizadas contudo, défices nesta função podem dever-se a declínios

na memória episódica, em particular falhas na memória para detalhes e fontes.

Uma vez que a literatura tem vindo a demonstrar que indivíduos de idade mais

avançada demonstram algumas dificuldades a nível do funcionamento executivo torna-se

relevante realizar uma descrição mais específica em torno deste constructo.

1.3. Envelhecimento: que mudanças no funcionamento executivo de idosos saudáveis?

No respeitante ao funcionamento executivo (FE) é importante referir que este possui

um papel fulcral no desempenho das atividades de vida diária do sujeito na medida em que

um declínio a este nível está associado com a perda de independência e diminuição nas

capacidades para cuidar de si ou manter o normal funcionamento social (Lezak et al., 2004).

Assim sendo, torna-se importante referir quais as funções implicadas neste conceito e como

podem ser influenciadas pelo declínio cognitivo associado ao envelhecimento.

Os modelos teóricos mais recentes acerca do funcionamento executivo possuem uma

perspetiva unitária e homogénea considerando as FE como sendo um constructo

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6

multidimensional (Amieva, Phillips, & Della Sala, 2003; Glisky, 2007) que incluem um

conjunto de várias capacidades cognitivas, que se encontram relacionadas (Anderson,

Jacobs, & Anderson, 2008). Estas funções são implicadas, essencialmente, na execução de

tarefas novas ou complexas que requerem a formulação de objetivos, o planeamento e a

tomada de decisão por entre uma sequência alternativa de comportamentos, com direção a

um objetivo definido (Anderson, 2008; Lezak et al., 2004; Rabbit, 1997). Desta forma, são

responsáveis pelo planeamento de uma determinada ação e formas de agir perante as

diferentes exigências no decorrer da mesma, desempenhando um papel essencial na

verificação deste processo, uma vez que permite que o indivíduo inicie esse plano e

possibilita a inibição ou substituição de respostas automáticas ou habituais por outras mais

apropriadas às exigências da tarefa e/ou contexto (Rabbit, 1997). Contudo, atualmente, a

investigação ainda não é consensual no que concerne às diferentes funções que integram as

FE (Packwood, Hodgetts, & Tremblay, 2011). Packwood e colaboradores (2011), através da

realização de uma análise de revisão de vários estudos, afirmam que os conceitos que são

mais comumente utilizados na literatura como associados às FE são a inibição, flexibilidade

cognitiva, planeamento, memória operatória, fluência verbal e raciocínio abstrato. Tendo

estes conceitos principais em consideração, apenas irão ser referenciados o planeamento,

flexibilidade cognitiva, inibição, memória operatória, a flexibilidade cognitiva e a fluência

verbal, na medida em que são passíveis de sofrerem declínio com o envelhecimento (Allain

et al., 2005; Andrés, & Van der Linden, 2000; Hahn et al., 2011; Lezak et al., 2004; Lin et

al., 2007).

O planeamento diz respeito à capacidade do indivíduo em organizar o seu

comportamento tendo em consideração determinado objetivo. Esta função pode ocorrer

através de dois diferentes processos: a nível da formulação do plano em si e da execução

deste mesmo. A formulação diz respeito à capacidade que o sujeito tem em definir as

estratégias necessárias que predeterminem o bom curso da ação. Já a execução do plano

requer capacidades para monitorizar e gerir uma execução do plano de forma eficiente, não

descurando o objetivo pretendido (Allain et al., 2005). Para que todo este processo decorra

com sucesso é essencial que o indivíduo possua capacidades ligadas ao nível da atenção

sustentada e que consiga pensar de forma abstrata, permitindo antecipar o futuro e ter

diferentes formas de atuar em consideração (Lezak et al., 2004; Rabbit, 1997). A inibição é

definida como sendo um conjunto de processos que possibilitam a supressão de conteúdos

cognitivos prévios, tornando mais claro quais ações são irrelevantes, negligenciando estas

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últimas que possam interferir no foco atencional do estímulo relevante (Bjorklund, &

Harnishfeger, 1995 citado por Amieva, Philips, Della Salla, & Henry, 2004). É também

importante referir a flexibilidade cognitiva, que pode ser definida como a capacidade de

alterar determinada cognição ou conduta tendo em consideração as exigências do ambiente

(Lezak et al., 2004). Já a memória operatória diz respeito à competência para armazenar e

manipular informações por curtos períodos de tempo (Zinke et al., 2014) e é uma função

cognitiva na qual os indivíduos idosos demonstram défices. Está implicada em tarefas que

exigem o envolvimento da memória a longo prazo e linguagem assim como a capacidade

para resolver problemas, tomar decisões e planear ações (Buitenweg, Murre, & Ridderinkhof

2012; Glisky, 2007.).

Por último é importante referir a fluência verbal, que permite compreender a forma

como os indivíduos organizam o seu pensamento (Lezak et al., 2004). A realização de provas

que avaliem esta função aprovisiona informações acerca da capacidade de armazenamento

a nível da memória semântica, de recuperar informação e do processamento do

funcionamento executivo. A perda de iniciativa é resultado do comprometimento a nível da

fluência verbal (Rodrigues, Yamashita, & Chiappetta, 2008) sendo que uma capacidade

reduzida para gerar palavras pode ser justificado pelo declínio cognitivo relacionado com a

idade (Lezak et al., 2004).

Vários estudos têm sindo realizados, comparando o funcionamento entre indivíduos

de idade mais avançada e pessoas mais jovens e, realmente, a população idosa confronta-se

com alguns declínios que serão exemplificados, com estudos, de seguida.

Um estudo realizado por Lin e colaboradores (2007) teve como objetivo explorar o

funcionamento executivo de idosos, revelando que o envelhecimento pode estar associado a

uma diminuição executiva, pelo menos para indivíduos que têm entre 60 a 85 anos de idade.

Os participantes de idade mais avançada demonstraram que as componentes executivas mais

afetadas eram o planeamento, a iniciativa, e a atenção. Allain e colaboradores (2005),

utilizaram a tarefa de Zoo Map Test com o objetivo de avaliar o desempenho de idosos e

jovens numa tarefa de planeamento, sendo que os resultados revelaram que os primeiros têm

mais dificuldades que os segundos no que diz respeito à formulação e não tanto a nível de

execução, sugerindo que os participantes mais velhos demonstram dificuldades em

desenvolver estratégias lógicas embora sejam capazes de executar planos. Ou seja, o

envelhecimento normativo afeta mais a capacidade de representar mentalmente planos

complexos do que a habilidade para executar esses planos comprovando assim que existe

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uma relação entre o envelhecimento e a capacidade de planeamento. Também Andrés e Van

der Linden (2000) exploraram o efeito da idade no funcionamento executivo, usando 3

tarefas designadas para avaliar o planeamento, inibição e abstração de regras lógicas, sendo

que o desempenho de tarefas por parte dos idosos foi significativamente mais pobre em

comparação com o desempenho por parte de jovens adultos.

Na senescência pode também entrar em declínio a capacidade de flexibilidade

cognitiva, que está implicada na execução de mais do que uma tarefa sendo que podem

possuir dificuldades em diferenciar estímulos relevantes de outros menos importantes em

situações de tarefas simultâneas (Hahn, et al., 2011).

Contudo, é necessário considerar que o funcionamento cerebral e cognitivo do

indivíduo quando este se encontra na senescência, é resultado de uma variedade de efeitos

que ocorrem ao longo da sua vida não estando apenas relacionado com a idade (Deary et al.,

2009; Lin et al.,2007), uma vez que também podem estar relacionadas com o nível

educacional na medida em que indivíduos idosos com baixo nível de escolaridade parecem

estar mais propensos a sofrer declínio a nível do funcionamento executivo do que aqueles

que possuem um nível superior de educação (Lin et al., 2007).

Alguns fatores que podem ser considerados como protetores no envelhecimento

cognitivo são a envolvência em estilos de vida ativos na medida em que, a participação em

atividades mentais e inteletuais estimulantes, parece estar relacionada com uma redução do

declínio cognitivo (Deary et al., 2009). A ocupação e a participação em atividades de

exercício físico parecem estar associadas, com efeito, a um bom funcionamento cognitivo e

isto desde a juventude até à idade mais avançada (Kramer, Bherer, Colcombe, Dong, &

Greenough, 2004; Deary, et al., 2009). Assim, um estilo de vida cognitivamente estimulante

poderá proteger e retardar o aparecimento de demências, como o Alzheimer (Fratiglioni,

Paillard-Borg, & Winblad, 2004), sendo considerado um fator essencial no envelhecimento

cognitivo com sucesso (Deary et al., 2009).

A manutenção da saúde cognitiva do individuo desempenha um papel essencial na

prevenção de aparecimento ou aumento de compromisso cognitivo e até mesmo no atraso

da instalação de um quadro demencial. Assim, e considerando todas as alterações referidas

anteriormente que podem ocorrer ao longo do envelhecimento, torna-se essencial que se

realizem intervenções no sentido de prevenir ou atrasar possíveis défices cognitivos,

promovendo a manutenção das capacidades desta população. De seguida serão apresentados

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9

vários estudos que demonstram que a estimulação cognitiva pode ser um tipo de intervenção

com um papel sem igual na manutenção do funcionamento cognitivo.

1.4. Estimulação cognitiva: que mudanças no funcionamento cognitivo e executivo de

idosos saudáveis?

Tendo em conta as mudanças demográficas atuais, que evidenciam uma população

cada vez mais envelhecida, e o declínio cognitivo associado à idade, torna-se necessário

implementar planos de intervenção centrados no idoso no sentido de prevenir ou atrasar

processos demenciais e défices cognitivos associados ao envelhecimento normativo. O

treino, a reabilitação, e a estimulação cognitiva são diferentes formatos complementares de

intervenção, sendo que a opção por um deles depende dos objetivos da intervenção assim

como do perfil da população alvo. Estas abordagens podem ser úteis para idosos com

limitações cognitivas, embora apenas o treino e a estimulação cognitiva sejam adequados

para idosos saudáveis (Tardif, & Simard, 2011). O treino cognitivo pode ser definido como

uma forma específica de intervenção que inclui a prática repetida de tarefas inerentes a um

problema, com foco em domínios cognitivos específicos, sendo que pode trazer benefícios

a idosos cognitivamente saudáveis e àqueles que se encontram em risco de défices cognitivos

ligeiros e doença de alzheimer (Gates, & Valenzuela, 2010).

A literatura é consistente, evidenciando que os programas de treino e estimulação

cognitiva levam a melhorias a nível do desempenho de diferentes tarefas, podendo até

mesmo lentificar e adiar o aparecimento de declínio cognitivo e demências (Ball et al., 2002;

Fratiglioni et al., 2004; Valenzuela, & Sachdev, 2009; Willis et al., 2006; Wilson et al.,

2002). Tal como La Rue (2010; p.6) refere, “O facto de que os idosos beneficiam de

programas de treino que focam habilidades cognitivas específicas encontra-se bem

documentado e comprovado”. Este tipo de programas cognitivos auxilia também na

manutenção e no aumento das funções cognitivas (Ball et al., 2002; Cavallini, Pagnin, &

Vecchi, 2003; Fernández-Prado et al., 2011; O’Hara et al., 2007; Willis et al., 2006), bem

como pode influenciar a qualidade de vida e bem-estar psicológico dos idosos, contribuindo

desta forma para uma velhice bem-sucedida (Fernández-Prado et. al, 2011; Irigaray,

Schneider & Gomes, 2011; Winocur et al., 2007).

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Este tipo de intervenção deve potenciar não apenas as áreas alvo mas possibilitar

também a transferência dos benefícios e resultados para diferentes domínios, prevenindo

desta forma o aparecimento de demências, melhorando o funcionamento cognitivo e a

realização das atividades instrumentais de vida diária (Valenzuela & Sachdev, 2009).

Programas de estimulação cognitiva podem também atrasar ou prevenir a

necessidade de ajuda por parte de enfermeiras, hospitais, e cuidados de saúde domiciliários,

permitindo não só evitar gastos com a saúde mas também promover a independência e

dignidade da população idosa (Ball et al., 2002). Assim, a estimulação cognitiva e uma maior

envolvência em atividades mentais estimulantes estão associadas a uma diminuição do risco

de declínio cognitivo, da perturbação depressiva, e a uma maior autonomia dos idosos,

aumentando a proteção contra o aparecimento de demências (Apóstolo, Cardoso, Marta, &

Amaral, 2011; Tesky, Thiel, Banzer, & Pantel, 2011; Wilson et al., 2002; Scarmeas, Levy,

Tang, Manly, & Stern, 2001). É de realçar a importância em manter a família próxima e

envolvida nestes programas, permitindo que os familiares também aprendam estratégias que

permitam atingir os objetivos do indivíduo, ajudando-o a ultrapassar algumas dificuldades

do dia-a-dia (Tardif, & Simard, 2011).

A qualidade e conteúdo dos vários estudos que têm vindo a ser realizados no âmbito

do treino e estimulação cognitiva são bastante heterogéneos, tornando difícil a sua

comparação e generalização (Tardif, & Simard, 2011). Alguns realizam treino cognitivo

combinado com exercício físico (Oswald, Gunzelmann, Rupprecht, & Hagen, 2006; Shatil,

2013; Smith et al., 2010), demonstrando que a intervenção através da combinação destes

diferentes treinos leva a melhorias a nível cognitivo, físico, e emocional assim como a nível

do desempenho em tarefas que envolvem o funcionamento da atenção, velocidade de

processamento, funcionamento executivo, memória (Shatil, 2013; Smith et al., 2010),

coordenação visuo-manual, nomeação, e processamento visuo-espacial (Shatil, 2013). Deste

modo, a combinação de treino cognitivo com treino físico pode levar a maiores benefícios

cognitivos do que o treino isolado (Valenzuela, & Sachdev, 2009), devendo ser considerada

como uma forma de atuar na prevenção da perda de independência (Oswald et al., 2006).

Vários estudos dão maior incidência à estimulação de atividades de lazer, tentando

explorar os seus efeitos ao nível do funcionamento cognitivo (e.g., Scarmeas et al., 2001;

Tesky et al., 2011). Foram observadas melhorias a nível do processamento de informação e

memória subjetiva (Tesky et al.,2011). Estes mesmos estudos, revelaram também que existe

uma relação entre o nível das atividades de lazer em que o sujeito se envolve e o risco de

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desenvolver doença de Alzheimer, sendo que atividades como ler, visitar amigos e

familiares, fazer caminhadas, ir ao cinema e a restaurantes foram as mais associadas a uma

redução do risco de incidência de demência (Scarmeas et al., 2001; Tesky et al., 2011),

indicando assim que intervenções que objetivem o aumento de experiências e atividades do

sujeito se encontram relacionadas com uma menor incidência de doenças de foro

neuropsicológico.

Outros estudos focam a atenção apenas no treino de funções cognitivas, tal como

como a memória (e.g., Cavallini et al., 2003; Fairchild, & Scogin, 2010). Mostram que é

possível alcançar melhorias em aspetos concretos da mesma assim como a nível da memória

subjetiva, sendo exequível a melhoria do desempenho através da aprendizagem de diferentes

estratégias a serem aplicadas em diferentes situações, capacitando o indivíduo com

ferramentas que lhe permitirão melhorar o seu dia-a-dia através da seleção das estratégias

mais adequadas aos diferentes contextos. Contudo, os ganhos acabam por se dissipar com o

passar dos anos, sendo que apenas permanecem aqueles que englobam tarefas praticadas

comummente na vida diária (e.g., associação cara-nome), revelando que o treino de memória

é mais útil através da utilização de tarefas ecológicas (Cavallini et al., 2003), uma vez que

permite aos indivíduos manter os efeitos a longo prazo através da sua utilização recorrente

nas tarefas de vida diária (Bottiroli, Cavallini, & Vecchi, 2008). A velocidade de

processamento tem também sido estimulada em alguns estudos (Ball, Edwards, & Ross

2007; Edwards et al., 2005), sendo que os resultados indicam que o treino desta função

permite melhorar o seu desempenho. São visíveis benefícios ao nível das atividades

instrumentais de vida diária, permitindo manter a independência do idoso, assim como a sua

qualidade de vida. Estes resultados foram encontrados em idosos com dificuldades na

velocidade de processamento, não sendo claro se indivíduos sem essas mesmas dificuldades

também poderão beneficiar do treino.

Estudos com maior duração temporal (follow-up) envolvendo o treino de diversas

componentes do funcionamento cognitivo e um elevado número de participantes, permitem

retirar conclusões mais compreensivas e passíveis de serem generalizadas, ajudando a ter

uma maior perceção acerca dos efeitos do treino cognitivo em idosos saudáveis. Ball e

colaboradores (2002) levaram a cabo o maior estudo de larga escala (“ACTIVE”) que avaliou

a efetividade e durabilidade de três intervenções cognitivas distintas (treino de memória,

treino de raciocínio e treino de velocidade de processamento) no desempenho de 2,832

idosos saudáveis em tarefas cognitivas e atividades instrumentais de vida diária. Os

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resultados indicaram que as intervenções cognitivas ajudaram os idosos a melhorar o seu

desempenho em tarefas cognitivas específicas nas quais foram treinados, não demonstrando

no entanto evidências de transferência dos ganhos para outros domínios, nem para as

atividades instrumentais de vida diária. Contudo, o follow-up realizado após 5 anos (Willis

et al., 2006) reportou mudanças no desempenho de atividades instrumentais de vida diária

assim como na manutenção dos ganhos, revertendo assim declínios cognitivos relacionados

com a idade.

Um estudo longitudinal randomizado realizado por Buiza e colaboradores (2008),

teve como principal objetivo investigar a efetividade de intervenções cognitivas não-

farmacológicas em idosos sem deterioração cognitiva ou défices de memória associados à

idade. As áreas cognitivas em que as intervenções se edificaram foram a atenção, orientação,

memória, linguagem, capacidade visuo-construtiva, funcionamento executivo e praxia. Um

dos grupos experimentais foi alvo de um programa estruturado semanal e mensalmente,

sendo um segundo grupo exposto a um programa sem qualquer tipo de estrutura. O grupo

de controlo foi apenas avaliado não sendo alvo de intervenção. Os resultados revelaram um

aumento nos três grupos a nível da memória imediata e memória de trabalho sendo que

apenas no grupo que obteve uma estimulação estruturada se observou melhorias a nível do

potencial de aprendizagem. É de realçar que embora todos os grupos melhorassem, estes

benefícios eram mais visíveis no grupo experimental 1. Em ambos os grupos experimentais

foi observada uma diminuição a nível das capacidades visuo-construtivas. Já Kwok, Bai, Li,

Ho, e Lee (2013) avaliaram os efeitos a curto e longo prazo de um treino cognitivo na

melhoria do funcionamento cognitivo de pessoas idosas sem demência mas com queixas de

memória subjetivas. Centraram-se na estimulação das funções da atenção, memória e

raciocínio, demonstrando que o treino cognitivo foi efetivo para aqueles idosos que possuíam

escolaridade mais baixa, sendo que o efeito positivo foi durável durante pelo menos 9 meses

na área da memória e concetualização. Por sua vez, Oswald e colaboradores (2006),

compararam os efeitos de um treino cognitivo, físico e combinado em idosos saudáveis por

um período de 5 anos, sendo que 30 sessões de treino através de tarefas papel-e-lápis levaram

a melhorias significativas que permaneceram pelo menos até ao follow-up realizado após 5

anos.

Resumindo, os programas de treino cognitivo têm sempre como objetivo maximizar

as funções cognitivas e prevenir futuros declínios cognitivos, podendo diferir em relação à

duração, capacidades cognitivas a treinar, assim como à metodologia e design experimental

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utilizado. Os vários estudos, de um modo geral, dirigiram-se a idosos com mais de 55 anos

(Ball et al; Buiza et al., 2008; Cavallini et al., 2003; Edward set al., 2005; Fairchild & Scogin,

2010; Kwok et al., 2013; Oswald et al., 2006; Scarmeas et al., 2001; Shatil, 2013; Tesky et

al., 2011;) os quais passaram por uma avaliação neuropsicológica do funcionamento

cognitivo em dois momentos distintos do programa de intervenção: pré e pós intervenção.

Esta avaliação foi feita através do recurso a uma variedade de instrumentos que permitem a

realização de um rastreio cognitivo global (e.g., Mini Mental State Examination, Dementia

Rating Scale, WAIS-III, Alzheimer Disease Assessment Scale, Self Rating Depression,

Memory Complaint Questionnaire, Quality of Life Scale, Trail Making Test, Rivermead

Behavioral Memory Test). A duração dos programas de intervenção é variável, sendo que

alguns apresentam uma longa duração com cerca de 180 sessões (e.g., Buiza et al., 2008) e

outros uma duração mais curta com 6 a 12 sessões (e.g., Fairchild, & Scogin, 2010; Kwok

et al., 2013). A duração de cada sessão varia entre uma hora (Ball et al., 2002; Edwards et

al., 2005; Fairchild, & Scogin, 2010;) a uma hora e meia ou mesmo duas horas (Buiza et al.,

2008; Fairchild, & Scogin, 2010; Kwok et al., 2013; Oswald et al., 2006), sendo a frequência

habitual de 1 a 2 sessões por semana.

Apesar de todas as vantagens evidenciadas por muitos programas de estimulação e

treino cognitivo, a maioria não demonstra efeitos positivos generalizados nas habilidades

cognitivas do dia-a-dia do indivíduo, ou mesmo no atraso ou abrandamento da progressão

do estado de demência (Owen et al., 2010; Papp, Walsh, & Snyder, 2009). Esta limitação

pode ser explicada pelo facto de as sessões de treino se realizarem em situações artificiais,

ou seja, o treino cognitivo não é integrado na rotina diária dos sujeitos, pressupondo com

isto que os mesmos não sejam capazes de transpor as estratégias aprendidas para o contexto

real das suas vidas. Por outro lado, após as sessões de intervenção os participantes tendem a

voltar para ambientes não estimulantes (Rebok, Carlson, & Langbaum, 2007) levando ao

desaparecimento dos efeitos adquiridos previamente (Lustig, Shah, Seidler, & Reuter-

Lorenz, 2009; Tesky et al., 2011). A falta de realização de follow-up em muitos estudos

impede também uma melhor compreensão acerca dos resultados dos treinos cognitivos a

longo termo (Papp et al., 2009). Relativamente ao treino centrado em múltiplos domínios

cognitivos, este parece ter mais benefícios do que o treino de apenas um domínio (Gates, &

Valenzuela, 2010). É de referir que “pequenas melhorias ou mesmo a estabilização das

funções cognitivas podem ser considerados ganhos de saúde significativos” (Apóstolo et al.,

2011). É sobretudo importante e necessário ultrapassar as dificuldades sentidas ao nível da

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transferência dos ganhos e da adequação das estratégias ensinadas para que as aprendizagens

possam ser aplicadas eficazmente às tarefas de vida diária, prolongando no tempo os efeitos

do treino e estimulação e assim contribuir para a diminuição do declínio cognitivo e de

demências associadas ao processo de envelhecimento.

No respeitante à modalidade utilizada pelos programas de estimulação e treino

cognitivo, as atividades podem ser realizadas através de tarefas de papel-e-lápis e/ou tarefas

computorizadas. As primeiras são tradicionais, sendo implementadas em grupo ou de forma

individual através de um instrutor, diferindo em relação às capacidades treinadas, duração,

frequência e estratégias ensinadas. Neste sentido, a implementação de programas que

envolvem este tipo de tarefas requerem contacto presencial, podendo ter o viés relativo aos

gastos e capacidade de deslocação e coordenação de horários de cada indivíduo (Kueider,

Parisi, Gross, & Rebok, 2012).

Os benefícios dos programas de estimulação e treino cognitivo são evidentes,

apelando para a importância e necessidade de estabelecer este tipo de intervenção junto de

idosos, quer seja com o objetivo de prevenir a deterioração quer seja para promover ou até

manter as suas capacidades cognitivas (Fernández-Prado et al., 2011). Os estudos realizados

recentemente a nível do treino e estimulação cognitiva dirigem-se na sua maioria a idosos

com Défices Cognitivos Ligeiros ou Demência (e.g., Doença de Alzheimer) e não tanto a

idosos cognitivamente saudáveis, isto é, sem qualquer doença neurológica, surgindo a

importância e necessidade de promover e realizar investigações dirigidas a esta população.

Agir de forma precoce, através da implementação de programas de estimulação cognitiva,

poderá ser visto como uma forma de prevenção, na medida em que a EC está associada a

uma diminuição do declínio cognitivo e à melhoria da autonomia dos idosos, aumentando a

proteção contra o possível aparecimento de demências degenerativas que incapacitam o

individuo de forma gradual. Assim, consegue-se compreender que a EC deve ser considerada

como algo essencial no cuidado à população idosa. Em Portugal este tipo de intervenções

são raras, surgindo a necessidade de realizar investigações deste índole junto dos idosos,

podendo estas serem realizadas em contexto institucional.

Como tal, o presente estudo objetiva, primeiramente, a criação de um programa de

estimulação cognitiva dirigido a pessoas com mais de 50 anos. Doravante é esperado que, a

implementação do programa, tenha repercussões benéficas a nível do funcionamento

cognitivo e executivo, isto é, objetiva-se que o grupo de idosos, após realizarem EC,

demonstrem melhorias nas várias vertentes do funcionamento executivo. É ainda esperado

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que o programa tenha impacto na realização das AIVD’s, promovendo um funcionamento

independente e adaptado às dificuldades normativas da idade. Melhorias a estes níveis

poderão levar ao adiamento de aparecimento de demências, de declínios cognitivos e

funcionais, promovendo simultaneamente o bem-estar e qualidade de vida da população.

O presente programa tenta ainda ultrapassar algumas barreiras encontradas em

estudos anteriores. Buitenweg e colaboradores (2012) realizaram uma revisão acerca de

programas de EC que têm vindo a ser realizados com idosos saudáveis, sendo que propõe

que futuros estudos tenham em consideração as diferenças individuais. Para poder

ultrapassar esta barreira, foram realizados alguns exercícios com níveis de dificuldade

variáveis, para que todos fossem capazes de executar os mesmos. Esta realização de tarefas

de dificuldade gradual possibilitou que os indivíduos fossem sendo preparados para estas

mesmas, fornecendo a oportunidade para se ambientarem à tarefa e evoluírem. Além disso,

em algumas dinâmicas, o grupo foi divido em duas partes (um grupo de pessoas com mais

dificuldades, e outro grupo constituído por pessoas com menos dificuldades), para que desta

forma, não sentissem que o nível de dificuldade do exercício fosse excessivo para as suas

capacidades, acontecimento este que podia levar à desistência da sua realização. Outra

limitação que por vezes é encontrada no decorrer deste tipo de intervenções é o facto de a

EC não ser incluída na rotina dos indivíduos, sendo que com o término das sessões voltarão

para ambientes não estimulantes e os ganhos dissipam-se. Pode também ser limitante o facto

de as sessões de treino muitas vezes ocorrerem em ambientes artificiais, dificultando a

transferências das aprendizagens para a vida diária (Tesky et al., 2011). No sentido de

combater as limitações anteriormente referidas, inclui-se no programa de estimulação uma

série de exercícios de consideração ecológica, para que os idosos conseguissem facilmente

perceber em que contextos poderiam ser utilizadas as estratégias e exercícios realizados. Por

exemplo, exercícios de planeamento de várias tarefas que realizam diariamente, dinâmicas

de memória que exigiam decorar os produtos de uma receita, entre outros. Para além disso

tentou-se incluir a EC na rotina diária dos participantes através das fichas de trabalho para

casa, que exigiam por exemplo, a leitura de uma notícia, promovendo a participação de

atividades estimulantes.

Considerando as informações supramencionadas, é proposto com o presente estudo

a criação e implementação de um programa de estimulação cognitiva a um grupo de pessoas

idosas saudáveis. É esperado que:

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(Hipótese 1) No momento pós-intervenção, por comparação à fase de pré-

intervenção, o grupo de idosos saudáveis do grupo experimental apresenta um desempenho

significativamente superior em vários testes neuropsicológicos.

(Hipótese 2) No momento de pré-intervenção, o grupo experimental e o grupo de

controlo não demonstram diferenças significativas no desempenho dos vários testes

neuropsicológicos.

(Hipótese 3) No momento pós-intervenção, o grupo experimental apresenta um

desempenho significativamente superior em vários testes neuropsicológicos,

comparativamente ao grupo de controlo.

(Hipótese 4) No momento pós-intervenção, o grupo experimental apresenta níveis de

funcionalidade significativamente superiores comparativamente ao grupo de controlo.

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2. Método

2.1.Participantes

No presente estudo colaboraram 19 participantes com mais de 50 anos de idade (M

= 68.95 anos; DP = 7.75; amplitude = 53 - 83), sendo 16 do sexo feminino. A escolaridade

média dos participantes é de 3.63 anos (DP = 0.76; amplitude = 3 - 6). Nenhum dos

participantes tem qualquer doença neuropsicológica diagnosticada, apresentando no entanto

algumas doenças de risco como a hipertensão arterial. Doze sofrem de colesterol e 7 de

diabetes. Os critérios de inclusão no grupo foram essencialmente dois: inexistência de

qualquer diagnóstico de doença neuropsicológica (e.g., Alzheimer, Parkinson, TCE, AVC,

Esquizofrenia), assim como possuir uma idade igual ou superior a 50 anos. Esta informação

foi obtida através da realização de uma breve Anamnese implementada previamente à

avaliação neuropsicológica (cf. Anexo 1).

Todos são de nacionalidade Portuguesa e têm como língua materna o Português

Europeu. Frequentam o Pólo Multigeracional “Com Vida”, que é uma instituição onde os

idosos se reúnem durante a semana, da parte da tarde, e realizam atividades lúdicas (e.g.,

fazer malha, ponto cruz, ver televisão, jogar xadrez, jogar cartas, entre outras). Todos

residem em áreas rurais, num concelho pertence à região de Entre o Douro e Vouga.

Os participantes foram organizados em dois grupos: grupo experimental e grupo de

controlo. O grupo experimental é constituído por 15 sujeitos que frequentaram a totalidade

das 20 sessões do programa de estimulação executiva de que foram alvo ao longo de 3 meses.

Por sua vez, o grupo de controlo é constituído por 4 sujeitos que participaram em menos de

5 sessões do programa de estimulação. O grupo de controlo apresenta um número reduzido

de sujeitos devido a constrangimentos de ordem temporal, embora se encontre em curso a

seleção e avaliação de mais participantes com o objetivo de alcançar um número de 15.

2.2. Material

O material utilizado consiste no protocolo de avaliação neuropsicológica (cf. Anexo

Digital 1) e nos materiais/atividades desenvolvidos no âmbito do programa de estimulação

executiva construído para o efeito (cf. Anexo digital 1).

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2.2.1 Protocolo de Avaliação Neuropsicológica

Para realizar um breve rastreio cognitivo global foi utilizado o Mini Mental State

Examination (Folstein, Folstein, & McHugh, 1975), tendo sido usada a versão portuguesa

de Guerreiro, Silva, Botelho, Leitão, e Garcia (1994). Relativamente à avaliação do

funcionamento executivo, utilizaram-se várias medidas: (1) o Trail Making Test (A e B) para

avaliar o planeamento, flexibilidade cognitiva, atenção dividida, e velocidade de

processamento; (2) o Teste do Relógio; (3) o Teste de Stroop para avaliar a capacidade de

controlo inibitório, velocidade de processamento, flexibilidade cognitiva, e atenção seletiva;

(4) Subtestes de Memória de Dígitos e Controlo Mental da WMS-III; (5) Subteste de

Memória Lógica (I e II e Percentagem de Retenção) da WMS-III como medida da

capacidade de recordar informação; (6) Teste de Fluência verbal para avaliar a iniciativa e

flexibilidade cognitiva; e (7) Escala de Lawton para avaliar a funcionalidade de cada sujeito

relativamente à realização das atividades instrumentais de vida diária (AIVD’s)

Mini mental State Examination (MMSE)

O Mini-exame do estado mental (MEEM) (Folstein, Folstein, & McHugh, 1975) é

um instrumento frequente e globalmente utilizado em contexto clínico e investigação.

Permite a realização de um de rastreio cognitivo global e realizar um acompanhamento das

mudanças que podem ocorrer ao longo do tempo, possibilitando avaliar a evolução de uma

patologia e os efeitos de mediação no funcionamento cognitivo. Este teste avalia

sucintamente a capacidade cognitiva do indivíduo em 5 áreas que incidem sobre a orientação

(alopsíquica); atenção/concentração e cálculo; linguagem expressiva (repetição, nomeação,

leitura e escrita) e linguagem recetiva (compreensão); memória (retenção e posteriormente

evocação) e capacidade construtiva (Lezak et al., 2004; Strauss, Sherman & Spreen, 2006).

Embora a utilização do MMSE seja uma forma de realizar um rastreio cognitivo, esta prova

não pode ser um método de diagnóstico por si só, pelo que não substitui uma avaliação

clínica mais abrangente (Guerreiro, 1998). A primeira validação deste teste foi realizada por

Guerreiro e colaboradores (1998) sendo que, recentemente, foi replicada numa amostra

populacional contemporânea, com idade igual ou superior a 50 anos. Os resultados

provenientes deste estudo sugerem que os pontos de “corte” são os seguintes: 22 (0 a 2 anos

de escolaridade), 24 (3 a 6 anos de literacia) e 27 (escolaridade igual ou superior a 7 anos)

(Morgado et al., 2009).

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Wechler Memory Scale

Os subtestes da Wechsler Memory Scale-III (WMS-III) utilizados no presente

protocolo de avaliação neuropsicológica foram a Memória Lógica (I, II e Percentagem de

Retenção) e a Memória de Dígitos que permitem retirar conclusões acerca da capacidade do

individuo recordar informação imediatamente após a sua apresentação oral. Ou seja, na

Memória Lógica I são apresentados oralmente ao sujeito dois textos curtos sendo que o

primeiro é lido apenas uma vez e o segundo duas vezes. O sujeito deve ser capaz de evocar,

através da memória, os conteúdos de ambos os textos. Já no subteste Memória Lógica II,

que é aplicado 25 a 35 minutos após a primeira apresentação, o indivíduo deverá recordar

ambos os textos que lhe foram lidos anteriormente, repetindo os conteúdos através da

memória, permitindo avaliar a memória diferida. Por fim, o sujeito terá que responder a uma

séria de perguntas de resposta Sim/Não, acerca dos dois textos, de forma a perceber se

reconhece a informação previamente adquirida (Wechsler, 2008). No subteste Memória de

Dígitos são apresentadas ao sujeito sequências de números, oralmente, sendo que deverá

repetir as mesmas por ordem (sentido direto) e de seguida repete-se a mesma tarefa contudo

em sentido inverso, avaliando não só a memória, mas também a atenção/concentração.

Foi ainda aplicado o subteste Controlo Mental, onde é pedido ao sujeito que realize

algumas tarefas, o mais rápido que conseguir. A primeira parte é composta por uma série de

tarefas simples e bem aprendidas tal como contar de 1 até 20, dizer o alfabeto, os dias da

semana e os meses do ano, tudo em sentido direto. A segunda parte é composta por outras

novas tarefas tais como a alternância entre os dias da semana e os números múltiplos de seis,

dizer os dias da semana e os meses do ano no sentido inverso, e contar de 20 até 1. Todo este

processo permite avaliar a capacidade de recuperação de informação bem aprendida e

manipula-la mentalmente com rapidez, ou seja permite inferir acerca da velocidade de

processamento e atenção.

Teste de Stroop

O Teste de Stroop (Stroop, 1935) permite avaliar várias funções desde o controlo

inibitório, a flexibilidade cognitiva, a velocidade de processamento, e também a atenção

seletiva (Lezak et al., 2004). É constituído por duas tarefas: primeiramente uma de leitura e,

posteriormente outra de nomeação da cor. Ambas as partes possuem uma folha de estímulo

com nomes de cores impressos numa cor incongruente, que provoca um efeito de

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interferência na nomeação da cor (efeito stroop-cor; e.g., a palavra “azul” impressa a verde),

sendo que o sujeito deve apenas nomear a cor a que está impressa a palavra (Castro, Cunha,

& Martins, 2000; Strauss, Sherman, & Spreen, 2006).

Teste do desenho do Relógio (TDR)

O TDR tem como objetivo principal avaliar o funcionamento frontal e tempo-

pariental, estando associado a diversas funções cognitivas: representação simbólica e

grafómotora, hemiatenção, memória semântica, competências conceptuais, e funcionamento

executivo (organização, planeamento e atenção dividida; Santana, Duro, Freitas, Alves, &

Simões, 2013). Consiste na representação de um desenho em forma de um relógio analógico,

sendo que a pessoa tem que realizar o contorno, distribuir de forma correta os números e

colocar os ponteiros a marcar as 11 horas e 10 minutos.

Trail Making Test

O Trail Making Test (TMT) é constituído por duas partes (A & B), sendo que na

primeira parte (A) o sujeito tem de ligar 25 círculos, que se encontram nomeados de 1 a 25,

distribuídos de forma aleatória pela folha. Já na segunda parte do teste (B) o sujeito tem de

ligar círculos, numerados de 1 a 13, e intercala-los com as letras do alfabeto (de A a L),

respeitando a ordem numérica crescente e a ordem alfabética das letras. Ambas as tarefas

devem ser realizadas através de uma linha contínua, sendo que o sujeito deve tentar não

levantar o lápis do papel. A segunda parte do teste é mais complexa e também mais sensível

à possível existência de défices cognitivos e nas inferências acerca da flexibilidade cognitiva

(Kortte, Horner, & Windham, 2002). A realização deste teste permite avaliar a atenção

dividida, flexibilidade cognitiva, velocidade de processamento mental, planeamento,

organização e sequência visuo-motora (Lezak et al., 2004).

Teste de Fluência Verbal

O teste de fluência verbal pretende avaliar a iniciativa verbal, linguagem, estratégias

de evocação e também flexibilidade cognitiva. Consiste em pedir ao sujeito que, no espaço

de 1 minuto, evoque o maior número de palavras que conseguir de uma determinada

categoria (e.g. itens de supermercado, alimentos, palavras começadas por uma determinada

letra:“p”, “m”). (Lezak et al., 2004). No presente estudo a categoria utilizada foi “alimentos”.

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Escala de Atividades Instrumentais de Vida Diária

O Lawton Brody IADL (Lawton & Brody, 1969; versão portuguesa de Araújo,

Ribeiro, Oliveira, Pinto, & Martins, 2008), é um instrumento utilizado para avaliar o nível

de independência de uma pessoa idosa, tendo em conta a realização das atividades

instrumentais de vida diária (AIVD’s), que compreendem tarefas como: usar telefone, fazer

compras, preparar a alimentação, lida da casa, uso de transportes, tomar medicação e gerir

dinheiro. No final é atribuída uma pontuação que permite inferir acerca da capacidade do

indivíduo em realizar essas mesmas atividades (Araújo et al., 2008). Rodrigues (2007)

adaptou um questionário de avaliação multidimensional de idosos onde inclui a escala de

Lawton, sendo que a cotação utilizada no presente estudo está de acordo com a realizada por

este autor, onde a pessoa obtém 2 pontos na pergunta se for capaz de realizar sem ajuda, 1

ponto se precisar de alguma ajuda e 0 pontos se for incapaz de realizar a tarefa em questão.

Assim, o sujeito poderá obter um máximo de 14 pontos sendo que, quanta mais pontuação

possuir, mais autónoma na realização das AIVD’s. A pontuação torna-se útil para perceber

qual o funcionamento atual da pessoa, e em identificar se há melhorias ou declínio ao longo

do tempo.

2.2.2. Material e Atividades do programa de estimulação executiva: O programa de

estimulação executiva Eureka Seniores (PES)

Foi construído um programa de estimulação/treino executivo, o programa Eureka

Seniores (PES), organizado para um total de 20 sessões com a duração prevista de 45

minutos. A construção do programa inspirou-se na consulta de vários livros com exercícios

de estimulação e reabilitação cognitiva para pessoas idosas com Alzheimer, Parkinson, entre

outras doenças degenerativas, assim como também em diversas dinâmicas de grupo e jogos

passíveis de serem adaptados ao contexto da estimulação.

O programa PES é constituído por uma grande variedade de exercícios de papel-e-

lápis bem como dinâmicas de grupo que pretendem estimular os seguintes domínios

executivos alvo: atenção, velocidade de processamento, planeamento, flexibilidade

cognitiva, memória, e controlo inibitório. As atividades construídas consistiram, na sua

maioria, em tarefas de papel-e-lápis cuja descrição pode ser consultada em anexo (cf. Anexo

digital 1). As tarefas utilizadas para estimular a capacidade de atenção consistiam em cortar

números, letras ou símbolos previamente definidos, ou em detetar diferenças entre duas

colunas com números, letras ou imagens. Era solicitado a máxima rapidez na realização

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destes exercícios, permitindo a estimulação da capacidade de velocidade de processamento.

A memória foi estimulada através de dinâmicas realizadas em grupo, que consistiram na

leitura de uma notícia ou receita num período de tempo estipulado pelo psicólogo, sendo que

depois deveriam ser capazes de transmitir detalhadamente a informação memorizada,

promovendo a oportunidade de todos participarem. Foram também realizadas dinâmicas que

consistiram na categorização de imagens (recorrendo à utilização de cartões com imagens

de alimentos) e tarefas que exigiam a memorização de vários ingredientes necessários à

realização de uma determinada receita, sendo que depois tiveram que selecionar esses

mesmos a partir de uma grande variedade de cartões. A capacidade de flexibilidade cognitiva

foi estimulada de forma individual, através de tarefas de papel-e-lápis, que consistiram em

unir diferentes imagens respeitando uma determinada regra (e.g., unir bolas escuras com

bolas claras; unir a seta que aponta para a esquerda com a que aponta para a direita, de forma

consecutiva, até que não existissem mais imagens). Foram também realizadas tarefas que

exigiam que fossem completados espaços em branco, considerando uma determinada

sequência lógica. A capacidade de planeamento também foi estimulada através de tarefas de

papel-e-lápis e consistiram no planeamento de tarefas, através da ordenação de vários passos

ou da própria formulação destes, de forma sequencial (e.g., escrever os passos necessários

para organizar um jantar de família, ou para lavar a roupa, entre outros.) Estes eram

realizados de forma individual contudo, também existiram dinâmicas de grupo que

consistiram em planear, por exemplo, uma receita. O controlo inibitório foi estimulado

através de uma dinâmica de grupo onde, um participante de cada vez, teve que tentar que os

outros adivinhassem qual a tarefa/objeto em causa (escrita na parte superior de um papel).

Para tal, tinham que descrever a tarefa, tendo o cuidado de não referir determinadas palavras

(palavras proibidas). Para além destas tarefas, foi ainda incluído no PES uma série de fichas

de estimulação para os participantes realizarem, individualmente, em casa. Estas iniciavam

sempre com uma orientação espácio-temporal onde o sujeito tinha de indicar a data e hora a

que realizou a sua ficha. De seguida, havia sempre ou uma tarefa de memória que consistia

na leitura de uma notícia e da sua escrita a partir da memória, ou uma tarefa que exigia a

descrição detalhada do seu dia. Para além disto, estas fichas eram ainda compostas por

exercícios de atenção, fluência verbal, memória e flexibilidade cognitiva, permitindo uma

estimulação mais global. De forma a não descurar as diferenças individuais, os vários

exercícios foram construídos e implementados respeitando níveis de dificuldade. Começou-

se por aplicar os níveis mais fáceis, aumentando gradualmente a dificuldade conforme o

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feedback do grupo. Isto permitiu que todos fossem capazes de executar os exercícios, pois

foram sendo preparados dando a oportunidade de se prepararem para níveis de exigência

acrescidos. Além disto, em algumas dinâmicas (e.g., nas dinâmicas de memória) o grande

grupo era dividido em duas partes (um grupo de pessoas com mais dificuldades, e outro

grupo constituído por pessoas com menos dificuldades), para que, desta forma, não

sentissem que o nível de dificuldade do exercício fosse excessivo para as suas capacidades,

evitando a desistência.

Para além das atividades de papel-e-lápis e das dinâmicas de grupo, o programa PES

inclui sessões iniciais de psicoeducação. Nestas, foi explicado aos idosos, recorrendo a uma

linguagem bastante informal e a fichas previamente preparadas, as diferentes áreas

cognitivas que podem ser afetadas no decorrer do processo de envelhecimento. Há também

informação adicional sobre as várias funções cognitivas e exemplos de tarefas do dia-a-dia

em que estas são utilizadas (e.g., a atenção está implicada na visualização de um filme e

leitura das legendas, a memória na memorização de uma lista de compras).

Após a realização das tarefas de estimulação executiva, dirigidas pelo psicólogo,

foram ainda implementadas sessões complementares de educação para a saúde, que ficaram

a cargo de uma enfermeira. Esta profissional abordou temas acerca da alimentação, higiene

oral, diabetes, hipertensão arterial, colesterol, segurança em casa e na estrada, quedas, entre

outros. Os participantes, em grupo, ouviram as várias informações transmitidas pela

enfermeira, sendo que tiveram sempre a oportunidade de tirar todas as dúvidas e colocar em

prática alguns procedimentos, como por exemplo, medir corretamente a tensão arterial.

2.3.Procedimento

A aplicação do programa de estimulação executiva Eureka Seniores, PES, decorreu

no Polo Multigeracional “Com Vida”, situado na freguesia de Palmaz pertencente ao

concelho de Oliveira de Azeméis. Foi assinada uma autorização pelo responsável da

instituição, após o mesmo tomar conhecimento dos objetivos do programa (cf. Anexo 2).

Realizou-se uma primeira sessão com os participantes no estudo de modo a realizar

a apresentação da psicóloga que iria implementar o programa PES, da enfermeira que rira

realizar sessões de educação para a saúde, bem como os objetivos do mesmo. Nesta sessão

foi fornecida informação sobre os principais défices cognitivos que podem aparecer ao longo

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do envelhecimento, salientando o significado e o importante papel da estimulação cognitiva.

Os sujeitos foram ainda informados acerca da periodicidade e duração total do programa a

ser implementado assim como da necessidade de realizar uma avaliação neuropsicológica

pré e pós-intervenção. Foram também distribuídos os Consentimentos Informados (cf.

Anexo C). Todos os sujeitos demonstraram interesse em participar e, por questões éticas,

nenhum foi excluído das sessões de estimulação, mesmo que apresentasse critérios para tal

no contexto do presente estudo. No entanto, os resultados desses sujeitos não foram tidos em

conta na análise dos resultados.

O estudo encontra-se organizado em torno de 4 momentos principais: (1) avaliação

neuropsicológica inicial pré-intervenção; (2) a implementação do programa PES ao longo

de 3 meses; (3) avaliação neuropsicológica pós-intervenção; e (4) follow-up 3 meses mais

tarde com nova sessão de avaliação (ainda em curso e não completada no decorrer do

presente trabalho).

2.3.1. Avaliação neuropsicológica pré e pós-intervenção

As sessões de avaliação neuropsicológica foram realizadas individualmente, sendo

que os participantes se dirigiram à instituição no horário combinado à priori.

Antes da realização da avaliação neuropsicológica foi realizada uma breve anamnese

(cf. Anexo 1) e, após esta, foi fornecida uma breve explicação acerca das diferentes tarefas

que iriam ser realizadas bem como os seus objetivos. Foi sempre assegurado que o

participante percebesse a finalidade da avaliação e que não havia problema algum se errasse

ou se não soubesse a resposta a alguma pergunta, pois o importante era dar o seu melhor

naquilo que conseguia fazer, garantindo desta forma um bom desempenho do sujeito. A

administração dos testes neuropsicológicos decorreu numa sala da instituição, reservada de

possíveis ruídos e interrupções, onde existia uma secretária e duas cadeiras que permitiam

uma boa comunicação. A administração do protocolo de avaliação teve a duração de 45 a 60

minutos, e todos os idosos foram capazes de realizá-la sem demonstrar sinais de fadiga e

ansiedade. Os testes foram administrados pela seguinte ordem: Anamnese, MMSE, Memória

Lógica I, Memória de Dígitos, Controlo Mental, TMT (A e B), Teste de Fluência Verbal,

Teste do relógio, Teste de Stroop e por fim a Memória Lógica II. No final da avaliação pós-

intervenção, realizada 3 meses mais tarde, foi entregue um relatório final aos sujeitos

interessados, que especificava de forma sucinta os ganhos nas capacidades cognitivas

obtidos com o programa PES.

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2.3.2. Implementação do programa de estimulação executiva Eureka Seniores, PES

As sessões de estimulação executiva foram realizadas na sala de grande grupo da

instituição onde estavam disponíveis os materiais necessários à distribuição do grupo de

forma confortável (e.g., mesas, cadeiras, canetas). As datas das mesmas foram combinadas

com o animador sócio-cultural da instituição, que acompanha os idosos diariamente, sendo

que eram passíveis de sofrerem alterações conforme a existência de atividades (e.g.,

passeios, visitas a outros lares). As sessões realizaram-se na instituição, sendo que a maioria

dos idosos teve transporte diretamente do domicílio ao Pólo Multigeracional, transporte este

disponibilizado pela própria instituição. É de referir que os participantes frequentam a

instituição referida todos os dias, da parte da tarde, não havendo a necessidade de virem

propositadamente para as sessões de estimulação.

O programa PES teve a duração de 3 meses, tendo sido organizado em torno de 20

sessões com uma duração de 45 a 60 minutos e uma periodicidade de duas vezes por semana.

No entanto, embora a implementação do programa estivesse planeada para 20 sessões, os

exercícios não foram distribuídos de forma rígida por cada uma delas, uma vez que iam

sendo constantemente adaptados conforme o feedback do grupo. Por exemplo, no momento

da realização do exercício, se a instrução não estivesse totalmente clara para os sujeitos, esta

era reformulada para que em exercícios semelhantes pudessem compreender melhor. O

número de exercícios por sessão também não se encontrava pré-estabelecido, uma vez que

dependia da velocidade a que iam realizando as diferentes tarefas.

O programa PES é constituído por tarefas de papel-e-lápis e dinâmicas de grupo que

visavam estimular o funcionamento cognitivo, realizadas com a supervisão da psicóloga.

Cada participante tentava realizar os exercícios papel-e-lápis sendo que, muitas vezes, eram

fornecidas ajudas no sentido dos sujeitos utilizarem determinadas estratégias que pudessem

ser úteis à correta realização dos mesmos. É importante referir que a solução do exercício só

era fornecida nos casos em que algum participante não o conseguisse realizar e após

tentativas falhadas. Assim sendo, era dada a solução para que a pessoa tivesse oportunidade

de aprender quais as estratégias a utilizar numa tarefa futura semelhante, impedindo assim a

aprendizagem por erro. Mais importante que todas as explicações e ajudas fornecidas, era da

responsabilidade da psicóloga promover a motivação, uma vez que era constante alguns

participantes desistirem de tentar realizar os exercícios (e.g., “Eu não sou capaz de fazer isto,

é muito difícil”). Uma vez que em cada sessão estavam sempre presentes mais de 15 pessoas,

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foi também importante manter e assegurar o bom funcionamento do grupo (e.g., respeitar a

vez de cada um falar e poder tirar as suas dúvidas).

Nas sessões complementares de educação para a saúde, da responsabilidade de uma

enfermeira, foi constantemente promovida a adoção de estilos de vida ativos, realçando a

importância em realizar tarefas como ler jornais, praticar atividades de lazer, conversar, fazer

sopas de letras, entre outras. Tudo isto tinha o propósito de fazer o grupo compreender o

porquê da necessidade e importância em executar os exercícios, promovendo assim a

motivação para a realização dos mesmos.

2.3.3. Análise dos resultados: Racional estatístico

Para realizar a análise e tratamento estatístico dos dados utilizou-se o programa

Statistical Package for Social Sciences (SPSS – versão 21). Os procedimentos de análise e

tratamento dos dados foram selecionados de acordo com a natureza dos dados recolhidos e

do tipo de informações que pretendíamos verificar. Antes de se iniciar o tratamento foi feita

uma análise à normalidade das variáveis em estudo, através da aplicação dos testes

Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk. Foram observados os valores referentes ao teste

Shapiro-Wilk, uma vez que este é o mais apropriado e preferível ao K-S, dado que estamos

perante uma população de pequena dimensão (n < 30) (Maroco, 2007). Uma vez que várias

variáveis em estudo não respeitam uma distribuição normal, optou-se pela utilização de

testes não-paramétricos, pois estes não exigem que a distribuição da variável seja conhecida

(normal), sendo aplicados como alternativa aos testes paramétricos. É usualmente referido

que os testes não-paramétricos são menos potentes que os paramétricos contudo, em estudos

em que as amostras são pequenas e não são se verificam os pressupostos que os testes

paramétricos exigem, os testes não paramétricos podem ser mais potentes (Maroco, 2007).

No que concerne à análise dos dados recolhidos nas duas fases de avaliação pré e

pós-intervenção, realizou-se o teste de Wilcoxon uma vez que é o teste não paramétrico a

usar em alternativa ao teste t student, de forma a observar se existiam diferenças

significativas nos diferentes momentos.

Dado que o grupo controlo se encontra ainda a ser recolhido, estando apenas

disponíveis dados para 4 sujeitos, procedeu-se a uma análise comparativa entre 4

participantes extraídos do grupo experimental (i.e., que foi alvo do programa de intervenção

PES), com os 4 sujeitos do grupo controlo (i.e. que realizaram menos de 5 sessões). A seleção

dos 4 sujeitos do grupo experimental obedeceu a critérios de emparelhamento com o grupo

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controlo. Esta análise teve como objetivo testar as diferenças entre estes dois grupos

independentes e, para tal, foi realizado o teste Mann-Whitney, uma vez que é a alternativa

não paramétrica ao t teste para amostras independentes quando há violação da normalidade

e para amostras com n ≤ 30.

Por último, de forma a perceber se existiriam melhorias mais significativas no

desempenho nos testes neuropsicológicos entre os participantes mais novos e os mais velhos,

procedeu-se à divisão do grupo experimental em dois subgrupos etários: com idade <70 anos

e com idade ≥ 70 anos. Após esta partição e, de forma a testar as diferenças entre estes dois

grupos independentes, foi realizado o teste Mann-Whitney, uma vez que é a alternativa não

paramétrica ao t teste para amostras independentes quando há violação da normalidade e

para amostras com n ≤ 30.

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3. Resultados

Apresentaremos em seguida os resultados obtidos pelo grupo experimental nos dois

momentos de avaliação, pré e pós-intervenção, explorando eventuais melhorias no

desempenho após os 3 meses de exposição ao programa PES. Adicionalmente,

procederemos à comparação entre um subgrupo de participantes do grupo experimental com

um grupo de controlo passivo constituído por sujeitos que não foram submetidos ao

programa PES. O objetivo é o de averiguar se os efeitos encontrados se poderão atribuir à

intervenção com o programa Eureka Sénior. Por último, analisaremos o desempenho do

grupo experimental em função da idade.

Resultados do grupo experimental nos dois momentos de avaliação pré e pós-

intervenção

Os resultados brutos obtidos pelo grupo experimental (N = 15) nos testes

constituintes do protocolo de avaliação neuropsicológica, e nos dois momentos de pré e pós-

intervenção, apresentam-se no Quadro 1 e ilustram-se na Figura 1.

Nota. No teste TMT-A e TMT-B quanto menor for o resultado maior é a capacidade.

Em todos os outros testes, quanto mais elevado for o resultado maior é a capacidade.

Figura 1

Média dos resultados obtidos nas várias medidas neuropsicológicas nos dois momentos pré

e pós-intervenção.

Quadro 1

020406080

100120140160180200

Pré- Intervenção Pós-Intervenção

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Média (M) e Desvio Padrão (DP) dos resultados brutos obtidos nas medidas neuropsicológicas

pelo grupo experimental (N = 15), e separadamente para os dois momentos de pré e pós-

intervenção. Apresentam-se os valores de Z e de p para o teste de Wilcoxon.

Medidas

Neuropsicológicas

AIVD

Pré-intervenção

M (DP)

Pós-intervenção

M (DP)

Wilcoxon

Z p

13.27 (1.75) 13.13 (1.92) -.58 .564

MMSE 26.53 (3.23) 27.87 (2.10) -2.14 .032

TMT- A 75.87 (32.41) 68.07 (28.14) -1.54 .124

TMT- B 180.89 (80.99) 143.60 (75.54) -1.12 .263

Controlo Mental 22.13 (6.21) 25.67 (6.75) -2.72 .007

Dígitos 9.87 (2.64) 10.93 (2.05) - 2.10 .036

Memória Lógica I 14.87 (6.94) 21.07 (6.95) -3.08 .002

Memória Lógica II 15.4 (7.21) 23.20 (8.33) -2.99 .003

Mem. Lógica % Ret 78.27 (20.88) 92.93 (8.85) -2.26 .024

Fluência Verbal 17.93 (3.33) 19.07 (3.595) -1.04 .248

Stroop 66.2 (21.44) 68.13 (22.91) -.377 .706

Relógio 12.27 (4.59) 13.53 (4.27) -1.97 .049 Nota. AIVD = Atividades Instrumentais de Vida Diária; MMSE = Mini Mental State Examination; TMT =

Trail Making Test; % Ret = Percentagem de Retenção

Com o objetivo de verificar se o desempenho nas medidas neuropsicológicas variou

do momento de pré-intervenção para o de pós-intervenção, foi realizada uma análise com o

teste de Wilcoxon na medida em que este é considerado o teste não paramétrico utilizado

como alternativa ao teste t student para amostras emparelhadas. As variáveis em análise

constituem os diversos testes neuropsicológicos administrados: AIVD’S, MMSE; TMT-A;

TMT-B; Subtestes Controlo Mental, Memória de Dígitos, Memória Lógica I, Memória

Lógica II, Memória Lógica Percentagem de Retenção, da WMS-III; Teste de Fluência

Verbal, Teste de Stroop, Teste do Desenho do Relógio.

No que diz respeito ao MMSE, medida da cognição global, a pontuação obtida no

momento pós-intervenção (M = 27.87, DP = 2.10) foi significativamente superior à do

momento pré-intervenção (M= 26.53, DP= 3.23; Z = 2.144, p = .032). Relativamente ao

TMT, a leitura do Quadro 1 permite observar que os sujeitos demoraram menos tempo a

completar a parte A em relação à parte B em ambos os momentos de avaliação. No que diz

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30

respeito à parte A, levaram menos tempo a completar a prova no momento pós-intervenção

do que no pré-intervenção (M = 68.07, DP = 28.14; M = 75.87, DP = 32.41, respetivamente).

No entanto, embora exista melhoria esta não é estatisticamente significativa (Z = -1.54, p =

.124). Na parte B também se verifica que os participantes demoraram menos tempo a

concluir a prova no momento de pós-intervenção (M = 143.60, DP = 75.54) em comparação

com o momento de pré-intervenção (M = 180.89, DP = 80.99), ainda que estas diferenças

não sejam estatisticamente significativas (Z = -1.12, p = .263).

Na prova de Controlo Mental, os sujeitos apresentaram melhores pontuações no

segundo momento de pós-intervenção comparativamente à fase inicial de pré-intervenção

(M = 25.67, DP= 6.75; M = 22.13, DP = 6.21, respetivamente), sendo a diferença

estatisticamente significativa (Z = -2.72, p = .007). Também na prova de Memória de

Dígitos, os resultados foram significativamente superiores no momento de pós-intervenção

comparativamente ao momento de pré-intervenção (M = 27.87, DP = 2.10; M = 26.53, DP

= 3.23, respetivamente; Z= -2.10, p = .036).

Nas provas de Memória Lógica é possível verificar que o grupo melhorou nos três

testes após a implementação do programa PES. Na prova de Memória Lógica I os resultados

foram superiores no segundo momento (M = 21.07, DP = 6.95) em relação à fase de pré-

intervenção (M = 14.87, DP = 6.94), sendo esta diferença estatisticamente significativa (Z =

-3.08, p = .002). Esta melhoria repetiu-se na prova de Memória Lógica II onde os resultados

do momento de pós-intervenção foram significativamente superiores aos obtidos antes da

implementação do programa de intervenção executiva (M = 23.20, DP = 8.33; M = 15.4, DP

= 7.21, respetivamente; Z = -2.99, p = .003). Consequentemente a esta melhoria, a

percentagem de retenção no segundo momento (M = 92.93, DP = 8.85) foi superior à

percentagem de retenção no momento de pré-intervenção (M = 78.27, DP = 20.88), sendo a

diferença estatisticamente significativa (Z = -2.26, p = .024).

No teste de Stroop, o desempenho foi superior na fase de pós-intervenção (M = 68.13,

DP = 22.91), relativamente à pré-intervenção (M = 66.2, DP = 21.44), contudo esta melhoria

não é estatisticamente significativa (Z = -.377, p = .706). Já no respeitante às pontuações

obtidas no teste do desenho do relógio, estas foram superiores no momento pós-intervenção

por comparação à pré-intervenção (M = 13.53, DP = 4.27; M = 12.27, DP = 4.59,

respetivamente), sendo que estas diferenças foram estatisticamente significativas (Z = -1.97,

p = .049).

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31

No teste de Fluência Verbal verificou-se também que no momento de pós-

intervenção os participantes produziram um maior número de palavras (M = 19.07, DP =

3.59), comparativamente à fase de pré-intervenção (M = 17.93, DP = 3.33) no entanto, esta

melhoria não foi estatisticamente significativa (Z = -1.04, p = .248). Por último, o

desempenho e participação nas Atividades Instrumentais de Vida Diária, avaliado pela

escala de Lawton e Brody, obteve uma ligeira diminuição da pontuação na fase de pós-

intervenção (M=13.13, DP= 1.92) vs. pré-intervenção (M = 13.27, DP = 1.75), sendo que

não é uma mudança estatisticamente significativa (Z = -.58, p = 564).

Comparação do grupo experimental com o grupo de controlo nos dois momentos

de avaliação pré e pós-intervenção

Para além da comparação do desempenho do grupo experimental nos dois momentos

de avaliação, pré e pós-intervenção, procedeu-se também à comparação entre o grupo

experimental e o grupo de controlo. Importa averiguar se as melhorias observadas em alguns

domínios executivos se poderão atribuir ao programa PES ou não. Dado que o grupo de

controlo conta apenas com dados para quatro participantes (processo que se encontra ainda

em curso; o grupo de controlo é um grupo passivo que não foi alvo do programa PES), optou-

se por extrair do grupo experimental um subconjunto de quatro participantes emparelhados

em idade e escolaridade com o grupo de controlo.

No Quadro 2 apresentam-se os resultados obtidos pelos dois grupos, experimental e

controlo, no momento de avaliação pré-intervenção. Para avaliar se as diferenças no

desempenho são ou não significativas, recorreu-se ao teste de Mann-Whitney dado que é o

teste não-paramétrico alternativo ao t teste para amostras independentes. As variáveis em

análise constituem os diversos testes neuropsicológicos administrados nomeadamente:

AIVD’S, MMSE; TMT-A; TMT-B; Subtestes Controlo Mental, Memória de Dígitos,

Memória Lógica I, Memória Lógica II, Memória Lógica Percentagem de Retenção, da

WMS-III; Teste de Fluência Verbal, Teste de Stroop, Teste do Desenho do Relógio.

Como é possível observar no Quadro 2, não existem diferenças significativas nos

resultados obtidos em nenhuma das provas de avaliação neuropsicológica no que concerne

ao primeiro momento de avaliação pré-intervenção. Ou seja, o grupo experimental e o grupo

de controlo não se diferenciaram significativamente no desempenho no momento pré-

avaliação.

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32

Quadro 2

Média (M) e Desvio Padrão (DP) dos resultados obtidos nas medidas neuropsicológicas

no momento de pré-avaliação, separadamente para o grupo experimental (n = 4) e o grupo

de controlo (n = 4). Apresentam-se os valores U e de p obtidos com o teste Mann-Whitney.

Medidas

Neuropsicológicas

AIVD

Grupo Experimental

M (DP)

Grupo Controlo

M (DP)

Mann-Whitney U

U p

14 (<0) 11.5 (5) -1 .317

MMSE 28 (1.83) 27.25 (2.22) -.438 .661

TMT- A 61.5 (26.19) 72.25 (8.99) -.436 .663

TMT- B 150.33 (40.15) 238.67 (133.19) -.655 .513

Controlo Mental 25.5 (4.44) 24.25 (5.44) .292 .770

Dígitos 11.5 (2.08) 11.5 (2.38) -.146 .884

Memória Lógica I 18.25 (7.81) 19.25 (2.36) -.298 .766

Memória Lógica II 20.75 (8.77) 22.25 (2.22) -.436 .663

Mem. Lógica % Ret 84.5 (23.23) 97.5 (2.89) -.893 .372

Fluência Verbal 18,75 (3.5) 17.75 (3.5) -.447 .655

Stroop 67.5 (24.28) 54.5 (28.59) -.866 .386

Relógio 12.25 (4.57) 10.5 (4.79) -.726 .468

Nota. AIVD = Atividades Instrumentais de Vida Diária; MMSE = Mini Mental State Examination; TMT =

Trail Making Test; % Ret = Percentagem de Retenção

Já no momento de pós-intervenção, é possível verificar através da observação do

Quadro 3 que os grupos apresentam algumas diferenças significativas no desempenho. No

que diz respeito ao teste MMSE, a pontuação obtida pelo grupo experimental (M = 29, DP

=.82) foi superior à do grupo controlo (M = 27, DP = 3.16) embora esta diferença não seja

estatisticamente significativa (U = -.744, p = .457). Relativamente ao TMT, o grupo

experimental demorou menos tempo que o grupo controlo a completar ambas as provas, A

e B. No que diz respeito à parte A, esta diferença revelou ser estatisticamente significativa

(U = -2.31, p = .021), sendo que os participantes do grupo experimental realizaram a prova

de forma mais rápida (M = 47.25, DP = 11.99) que o grupo controlo (M = 95, DP = 38.83).

Já na parte B, as diferenças não demonstraram ser significativas (U = -1.41, p = .157),

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33

embora o grupo experimental também fosse mais rápido (M =140.75, DP = 68.24) do que o

grupo controlo (M = 237.67, DP = 77.02).

Na prova de Controlo Mental foram também verificadas diferenças significativas

entre os dois grupos (U = -2.18, p = .029), sendo que o grupo experimental obteve melhores

resultados que o grupo controlo (M = 29.25, DP = 2.5; M = 23.25, DP = 2.75,

respetivamente). No que diz respeito ao desempenho dos participantes na prova de Memória

de Dígitos, é possível verificar que o desempenho quase não diferiu entre os dois grupos,

com o grupo experimental a obter melhores resultados (M = 11.5, DP = 1.73) que o grupo

controlo (M = 11, DP = 1.83) não sendo esta diferença estatisticamente significativa (U = -

.607, p = .544).

Nas provas de Memória Lógica é possível verificar que o grupo experimental

melhorou em duas das provas em comparação com o grupo controlo. Esta melhoria foi

significativamente estatística na parte I da prova (U = -2.34, p =.019), uma vez que o grupo

experimental demonstrou melhores resultados (M = 26.25 DP = 5.12) que o grupo controlo

(M = 19.75, DP = 3.2). Também foram verificadas diferenças significativas na Memória

Lógica II (U = -2.34, p = .019) onde, uma vez mais, o grupo experimental demonstrou

melhores resultados que o grupo controlo (M = 29.25, DP = 7.32; M = 19.5, DP = 1.73).

Quanto à Percentagem de Retenção, não se observaram diferenças significativas (U = -1.18,

p = .237) entre os grupos, embora o grupo experimental tivesse obtido resultados superiores

aos do grupo controlo (M = 96.25, DP = 2.5; M = 89.75, DP = 3.86).

Na Fluência Verbal, o grupo experimental apresentou, uma vez mais, melhores

resultados (M = 21.5, DP = 2.08) do que o grupo de controlo (M = 15.5, DP = 4.79), sendo

a diferença significativa (U = -2.02, p = .043). No Teste de Stroop, o desempenho foi superior

no grupo experimental (M = 75.75, DP = 19.92) em relação ao grupo controlo (M = 55.25,

DP = 31.62) contudo, esta melhoria não demonstrou ser estatisticamente significativa (U =

-.726, p = .468). Também no TDR os resultados foram superiores no grupo experimental (M

= 15.75, DP = 2.87) em relação ao grupo controlo (M = 14, DP = 4.97), sendo que estas

diferenças não foram estatisticamente significativas (U = -592, p = .554). Por último, o

desempenho nas AIVD’S, avaliado pela escala de Lawton, foi superior no grupo

experimental (M = 14, DP= <.001) quando comparado ao do grupo controlo (M = 9, DP =

6), sendo que não é uma diferença estatisticamente significativa (U = -1, p = .317).

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34

Quadro 3

Média (M) e Desvio Padrão (DP) dos resultados obtidos nas medidas neuropsicológicas no

momento de pós-intervenção, separadamente para o grupo experimental (n = 4) e o grupo

de controlo (n = 4). Apresentam-se os valores U e de p obtidos com o teste Mann-Whitney.

Medidas

Neuropsicológicas

AIVD

Grupo Experimental

M (DP)

Grupo Controlo

M (DP)

Mann- Whitney U

U p

14 (<0) 9 (6) - 1 .317

MMSE 29 (.82) 27 (3.16) -.744 .457

TMT- A 47.25 (11.99) 95 (33.83) -2.31 .021

TMT- B 140.75 (68.24) 237.67 (77.02) -1.41 .157

Controlo Mental 29.25 (2.5) 23.25 (2.75) -2.18 .029

Dígitos 11.5 (1.73) 11 (1.83) -.607 .544

Memória Lógica I 26.25 (5.12) 19.75 (3.2) -2.34 .019

Memória Lógica II 29.25 (7.32) 19.5 (1.73) -2.34 .019

Mem. Lógica % Ret 96.25 (2.5) 89.75 (3.86) -1.18 .237

Fluência Verbal 21.5 (2.08) 15.5 (4.79) -2.02 .043

Stroop 75.75 (19.92) 55.25 (31.62) -.726 .468

Relógio 15.75 (2.87) 14 (4.97) -.592 .554

Nota. AIVD = Atividades Instrumentais de Vida Diária; MMSE = Mini Mental State Examination; TMT =

Trail Making Test; % Ret = Percentagem de Retenção

Nota. No teste TMT-A e TMT-B quanto menor for o resultado maior é a capacidade.

Em todos os outros testes, quanto mais elevado for o resultado maior é a capacidade.

0

50

100

150

200

250

G. Experimental G. Controlo

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35

Figura 2

Resultados médios obtidos nas medidas neuropsicológicas, no momento de avaliação pós-

intervenção, separadamente para o grupo experimental e grupo controlo.

Análise do desempenho em função da idade no grupo experimental (N = 15)

Com o objetivo de realizar uma análise do desempenho em função da idade,

organizamos o grupo experimental em dois subgrupos: mais novos vs. mais velhos. O grupo

etário mais jovem inclui todos os participantes com idade inferior a 70 anos (n = 7), e o

grupo etário mais velho sujeitos com idade igual ou superior a 70 anos (n = 8). Para proceder

à análise recorreu-se ao teste de Mann-Whitney, dado que é o teste não-paramétrico

alternativo ao t teste para amostras independentes. As variáveis em análise constituem os

diversos testes neuropsicológicos administrados nomeadamente: AIVD’S, MMSE; TMT-A;

TMT-B; Subtestes Controlo Mental, Memória de Dígitos, Memória Lógica I, Memória

Lógica II, Memória Lógica Percentagem de Retenção, da WMS-III; Teste de Fluência

Verbal, Teste de Stroop, Teste do Desenho do Relógio.

Os resultados obtidos pelo subgrupo dos mais novos vs. mais velhos encontram-se

descritos no Quadro 4. No momento de avaliação pré-intervenção, não se verificaram

diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos etários (p > 0.05). Já no

momento pós-avaliação, verifica-se que o grupo etário mais novo obteve pontuações mais

elevadas na escala de AIVD’s (M = 14, DP= <.001), do que o grupo etário mais velho (M =

12.38, DP = 2.45), sendo a diferença estatisticamente significativa (U = 2.08, p = 0.308).

Outra medida onde se verificaram diferenças estatisticamente significativas foi o TMT-A (U

= -2.14, p = 0.21) onde o grupo etário mais novo demonstrou realizar a tarefa mais

rapidamente (M = 52, DP = 15.51) do que o grupo etário mais velho (M = 82.13, DP =

29.89). Em todos os outros testes neuropsicológicos não se encontraram diferenças

significativas no desempenho entre os dois grupos etários.

Quadro 4

Média (M) e Desvio Padrão (DP) dos resultados obtidos nas medidas neuropsicológicas

no momento de pós-avaliação, separadamente para o subgrupo experimental dos mais

novos (n = 7) e o subgrupo dos mais velhos (n = 8). Apresentam-se os valores U e de p

obtidos com o teste Mann-Whitney.

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36

Medidas

Neuropsicológicas

Grupo Etário < 70 anos

M (DP)

Grupo Etário ≥ 70 anos

M (DP)

Mann- Whitney U

U p

Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste

AIVD 14 (<0.001) 14 (<0.001) 12.63 (2.26) 12.38 (2.45) -1.74 .082 -2.08 .038

MMSE 26.57 (3.26) 28.29 (2.06) 26.5 (3.42) 27.5 (2.2) -.12 .907 -.82 .41

TMT- A 61.43 (19.65) 52 (15.51) 88.5(37.13) 82.13

(29.89)

-1-45 .148 -2.14 .021

TMT- B 106.86(86.39) 162.71(58.18) 220 (97.74) 144 (101.82) -1.59 .558 -.59 .558

Controlo Mental 23.71 (6.08) 28 (6.06) 20.75 (6.39) 23.50 (6.99) -.986 .324 -1.45 .147

Dígitos 9.86 (2.12) 10.43 (1.51) 9.88 (3.18) 11.38 (2.45) -.059 .953 -1.11 .265

Mem. Lóg. I 113.14 (7.9) 22.57 (7.44) 16.38 (6.09) 19.75 (6.69) -.932 .352 -.755 .45

Mem. Lóg. II 15.29 (8.38) 25.71 (7.65) 15.50 (6.61) 21 (8.77) -.116 .907 -1.258 .145

Mem. Lóg % Ret 77.71 (19.52) 93.43 (8.44) 78.75 (23.34) 92.5 (9.74) -.348 .728 -.488 .626

Fluência Verbal 17.57 (3.51) 18.86 (3.67) 18.25 (3.37) 19.25 (3.77) -.175 .861 -.175 .861

Stroop 74 (24.97) 79.71 (21.97) 59.38 (16.46) 58 (19.63) -1.1 .271 -1.51 .132

Relógio 13.71 (3.82) 14.29 (2.23) 11 (5.07) 12.88 (4.45) -1.12 .281 -.587 .613

Nota. AIVD = Atividades Instrumentais de Vida Diária; MMSE = Mini Mental State Examination; TMT =

Trail Making Test; % Ret = Percentagem de Retenção

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37

4. Discussão de Resultados

O presente estudo teve como objetivo principal a construção e implementação de um

programa de estimulação/treino executivo - o Programa Eureka Seniores - em idosos

neurologicamente saudáveis. Para perceber os efeitos do mesmo na população em estudo

foram realizados dois principais tipos de análise: primeiramente compararam-se os

resultados obtidos no grupo experimental nos dois momentos de avaliação, pré e pós-

intervenção. A comparação do desempenho entre um subgrupo do grupo experimental e o

grupo controlo foi realizada para assegurar que as mudanças possivelmente verificadas no

grupo experimental não são justificadas por outras variáveis que não tenham relação com a

condição em estudo (efeito da testagem repetida). Procedeu-se ainda a uma análise dos

resultados em função da idade: participantes com idade inferior a 70 anos e participantes

com idade igual ou superior a 70 anos, todos do grupo experimental, com o objetivo de

avaliar se o programa de intervenção PES teria efeitos diferenciais em função da idade dos

participantes.

Com a administração do PES esperava-se que se gerassem melhorias significativas

na cognição dos idosos, em especial nos domínios executivos treinados e,

concomitantemente, melhorassem os níveis de funcionalidade relativos às atividade

instrumentais de vida diária. Os resultados obtidos revelaram que o PES foi eficaz, uma vez

que puderam ser observadas melhorias significativas em alguns componentes executivos.

Na análise comparativa dos dois momentos de avaliação (pré e pós-intervenção) no grupo

experimental, foi possível verificar que existiu uma melhoria significativa nos resultados

obtidos no MMSE, e nos seguintes subtestes da WMS-III: Controlo Mental, Memória de

Dígitos, Memória Lógica I, Memória Lógica II, e Percentagem de Retenção. Desta forma, é

possível verificar a existência de melhorias significativas em alguns domínios executivos

como a atenção, velocidade de processamento, memória (imediata e diferida). Assim,

confirma-se a primeira hipótese (H1) previamente avançada de que no momento pós-

intervenção, por comparação à fase de pré-intervenção, o grupo de idosos saudáveis do

grupo experimental apresenta um desempenho significativamente superior em vários testes

neuropsicológicos.

Por sua vez, na comparação entre o grupo experimental e o grupo controlo, observou-

se a não existência de diferenças significativas no desempenho entre os dois grupos no

momento de avaliação pré-intervenção. Este resultado é concordante com a segunda hipótese

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38

(H2), que postulava precisamente a ausência de diferenças no padrão de desempenho

executivo no momento anterior à implementação do programa PES. Pelo contrário, já no

momento de pós-intervenção, verificou-se a existência de melhorias significativas nas

medidas neuropsicológicas TMT-A e no Teste de Fluência Verbal, melhorias estas que não

foram visíveis na comparação do desempenho nos dois momentos de avaliação no grupo

experimental. Assim, o PES parece ter tido efeitos muito positivos e significativos ao nível

das capacidades de velocidade de processamento, flexibilidade cognitiva e iniciativa. O PES

teve ainda um impacto significativo no desempenho das provas de Memória Lógica I e II, e

no Controlo Mental. Ou seja, foram colocadas em destaque melhorias significativas nas

capacidades executivas de memória (imediata e diferida) e atenção. Tal vai ao encontro da

terceira hipótese (H3) avançada que previa ganhos significativos em grande parte das

funções executivas treinadas.

No que diz respeito aos níveis de funcionalidade nas AIVD’s, não se observaram

melhorias significativas da fase de pré-intervenção para a fase de pós-intervenção,

contrariando a quarta hipótese (H4) que previa níveis de funcionalidade significativamente

superiores no grupo experimental comparativamente ao grupo de controlo.

Por último, pretendeu-se também avaliar se existiriam diferenças quanto à eficácia

do programa PES entre os participantes mais novos (< 70 anos) e os mais velhos (≥ 70 anos)

do grupo experimental. Verificou-se a existência de diferenças significativas no grupo etário

mais novo na escala de AIVD’s e no TMT-A, significando isto que as pessoas mais novas

do grupo experimental apresentam maiores níveis de funcionalidade e maiores índices de

velocidade de processamento mental no momento pós-intervenção. Passaremos em seguida,

tendo em conta os resultados acima referidos, a uma reflexão acerca dos mesmos com base

na literatura.

Como foi possível evidenciar nos resultados, o grupo experimental apresentou

melhorias significativas no domínio da memória, mais especificamente na memória imediata

(considerando o desempenho no teste Memória Lógica I), e também na memória diferida

(tendo em conta o desempenho no teste Memória Lógica II). Estudos prévios relataram

também melhorias ao nível memória após a implementação de programas de estimulação

cognitiva (Ball et al., 2002; Bottiroli et al., 2008; Buiza et al., 2008; Cavallini et al., 2003;

Fairchild & Scogin, 2010; Irigaray et al., 2011; Kwok et al., 2013; Shatil, 2013; Smith et al.,

2009).

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No domínio da velocidade de processamento (resultados no TMT-A e Controlo

Mental da WAIS-III), verificaram-se diferenças significativas em ambas as medidas

neuropsicológicas do momento de pré-intervenção para o de pós-intervenção, tendo também

o desempenho do grupo experimental aumentado significativamente em relação ao do grupo

controlo. Vários estudos demonstraram resultados semelhantes ao nível da velocidade de

processamento, havendo portanto consistência com o padrão relatado na literatura (Ball et

al., 2002; Ball et al., 2007; Edwards et al., 2005; Shatil, 2013; Smith et al., 2009; Tesky et

al., 2011).Os resultados obtidos em ambos os testes referidos não só justificam melhorias a

nível do processamento mental mas também da atenção, uma vez que o desempenho dos

mesmos permite inferir acerca do funcionamento em termos atencionais (Wechsler, 2008).

A capacidade de iniciativa, que é uma componente do funcionamento executivo,

medida aqui através do Teste de Fluência Verbal, no momento de avaliação pós-intervenção,

obteve melhorias significativas no grupo experimental por comparação ao grupo de controlo.

Melhorias neste teste não só revelam uma maior iniciativa como também podem significar

maiores índices de flexibilidade cognitiva (Lezak, 2004). Estes resultados vão de encontro

aos obtidos num estudo realizado por Buiza e colaboradores (2008), mas contrariando outros

dados de investigação (Lima-Silva et al., 2012).

Não foram verificadas melhorias significativas no desempenho, em ambas as análises

realizadas (comparação dos dois momentos de avaliação no grupo experimental e

comparação do grupo experimental com o grupo controlo), nas medidas neuropsicológicas

TMT-B e Stroop o que é consistente com dados de investigação relatados por Edwards e

colaboradores (2005). Ou seja, não se observaram melhorias na flexibilidade cognitiva,

controlo inibitório, e atenção dividida. Tal poderá ser justificado pelo facto de que a

população idosa demonstra mais dificuldades em tarefas que envolvem o controlo flexível

da atenção (Glisky, 2007).

É de realçar que no teste utilizado para realizar um rastreio global do funcionamento

cognitivo (MMSE), não se verificaram diferenças significativas entre os dois grupos,

experimental e controlo, contudo tal poderá ser explicado pelo facto dos participantes terem

obtido pontuações altas no momento da pré-intervenção (> 27), existindo assim pouca

margem se verificar algum benefício. O mesmo acontece com o resultado no teste do

desenho do relógio, no qual não existiram melhorias significativas, o que é concordante com

dados de estudos anteriores (e.g. Lima-Silva et al., 2012). No entanto, é de salientar que no

momento pós-intervenção, o grupo experimental obteve sempre melhores resultados que o

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grupo de controlo em todas as provas, apesar de nem todas estas melhorias terem sido

significativas.

No respeitante aos resultados obtidos na escala de AIVD’s, não se verificam

melhorias significativas após a implementação do programa PES, o que se coaduna com

alguns estudos referidos na literatura (Apóstolo et al., 2011; Ball et al., 2002; Edwards et al.,

2005). Contudo, outros estudos revelaram transferências dos ganhos cognitivos para as

atividades instrumentais de vida diária (Ball et al., 2007; Edwards et al., 2005; Oswald et al.,

2006). A ausência de melhorias a nível das AIVD’s verificada no presente estudo, sugere

que os idosos, apesar de apresentarem uma diminuição no funcionamento cognitivo,

caraterística do processo de envelhecimento, demonstram pouco ou nenhum declínio no

desempenho de competências bem aprendidas, ou seja, é pouco provável que se encontrem

em declínio a nível funcional. Logo, é menos presumível que demonstrem melhorias nas

AIVD’s uma vez que os seus resultados já indiciam que são independentes a este nível (Fisk,

& Rogers, 2000). Lindolpho, Sá, e Cruz (2010) sugerem que os idosos sujeitos a programas

de estimulação cognitiva mantêm a sua autonomia nas AIVD’s, tal como foi observado nos

sujeitos que participaram no presente estudo. No entanto, este facto nem sempre pode ser

visto como uma consequência da estimulação/intervenção (Spector, et al., 2003).

A análise realizada, tendo em consideração a idade dos participantes do grupo

experimental (subgrupo etário < 70 anos, e subgrupo etário > 70 anos de idade), permitiu

evidenciar que os participantes mais novos revelaram melhores resultados na realização das

AIVD’s. Este resultado é consistente com aquilo que a literatura tem vindo a demonstrar no

sentido de que o envelhecimento é acompanhado por um declínio funcional progressivo

encontrando-se ligado com a capacidade que o sujeito possui para realizar as atividades

necessárias que assegurem o seu bem-estar (Rodrigues, 2007). O grupo de participantes mais

novos revelou também melhores resultados nas prova TMT-A, onde demonstraram ser

capazes de a realizar de forma mais rápida. Este teste encontra-se relacionado com o

funcionamento a nível da velocidade de processamento, e o resultado obtido está, uma vez

mais, em sintonia com a literatura em que se propõe que com o envelhecimento a velocidade

de processamento pode entrar em declínio (Lezak, 2004).

Resumindo, o grupo experimental melhorou nas seguintes medidas

neuropsicológicas no momento pós-intervenção: TMT-A, Teste de Fluência Verbal e nos

subestes da WMS-III (Controlo Mental, Memória Lógica I, e Memória Lógica II). Tal

traduz-se, em ganhos nos domínios da memória (imediata e diferida), atenção, velocidade

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de processamento, iniciativa e flexibilidade cognitiva. Estes resultados sugerem que o

programa PES foi eficaz, corroborando os dados de estudos que referem que os idosos

beneficiam deste tipo de programas de intervenção, na medida em que podem manter ou

aumentar o seu funcionamento cognitvo (Ball et al., 2002; Cavallini et al., 2003; Fernández-

Prado et al., Fratiglioni et al., 2004; 2011; La Rue, 2010; O’Hara et al., 2007; Valenzuela, &

Sachdev, 2009; Willis et al., 2006; Wilson et al., 2002). É de realçar positivamente o facto

de existirem melhorias significativas nos domínios da memória, uma vez que as queixas

subjetivas apresentadas pela população que integrou o estudo se prendiam essencialmente

com falhas de memória que ocorriam no seu dia-a-dia e, na verdade, esta é uma das áreas

onde ocorrem os maiores declínios (Glisky, 2007).

Não descurando os resultados obtidos e a eficácia do programa PES, o presente

estudo apresenta no entanto algumas limitações metodológicas inerentes às dificuldades

associadas a este tipo de estudos. Uma questão relevante em qualquer investigação que seja

realizada é o tamanho da amostra, uma vez que quanto maior ela for mais poder estatístico

os resultados possuirão. Desta forma, considerando o tamanho reduzido da amostra do

presente estudo, estes resultados não devem ser generalizados para a população em geral,

uma vez que possuem uma certa incerteza quanto à inferência estatística (Loureiro &

Gameiro; citado por Apóstolo et al., 2011). De qualquer modo, o número de 15 participantes

conseguido no grupo experimental é por considerado um ponto forte do trabalho dada a

dificuldade em reunir participantes para este tipo de intervenção. Por sua vez, o número

reduzido de participantes no grupo controlo prende-se exclusivamente com limitações de

ordem temporal, salientando-se no entanto que a avaliação de mais participantes se encontra

em curso. No entanto, é importante ressaltar que, se com esta pequena amostra já se

verificaram melhorias significativas no desempenho, é bastante provável que com um maior

número de sujeitos nas duas condições se encontrem ganhos maiores. Outra questão

importante a ser referida é o espaço de tempo que separa os dois momentos de avaliação

(i.e., 3 meses). Contudo, ainda que seja um período relativamente curto, foram encontrados

efeitos que poderiam ser potenciados com um programa mais extenso no tempo. O ideal

seria que estas atividades fossem incorporadas no quotidiano dos indivíduos e que as

instituições as incluíssem na sua agenda semanal.

É de notar ainda a dificuldade inerente à prática deste tipo de intervenções com um

grande grupo de participantes, uma vez que algumas sessões contaram com a presença de

mais de 20 sujeitos. Tal aconteceu porque o presente estudo foi desenvolvido num centro

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multigeracional onde os idosos estão presentes todos os dias. Assim, por uma questão de

ética, todos aqueles que frequentavam o centro poderiam participar no programa PES se

assim o desejassem. Tendo em consideração a experiência obtida na aplicação deste

programa, o ideal seria trabalhar com um grupo com um máximo de 13 a 15 elementos.

É de referir também que o programa PES foi concebido não só com exercícios de

papel-e-lápis mas também com atividades de dinâmica de grupos. Contudo, por vezes

tornou-se difícil a realização em grupo de atividades estimulassem algumas das funções

executivas (e.g., inibição). Esta dificuldade pode justificar o facto de não se terem

encontrado ganhos no Teste de Stroop e, consequentemente, a ausência de melhorias a nível

do controlo inibitório. Esta limitação talvez possa ser ultrapassada, em futuras intervenções,

através da implementação de sessões extra de estimulação cognitiva individual.

Fazendo uma análise global, o programa PES mostrou-se eficaz e foi muito bem

recebido pela instituição e pelos idosos. Esta experiência possibilitou um conhecimento

detalhado acerca de quais os exercícios mais adequados a este tipo de população, e quais os

mais fáceis e mais complicados de realizar. Esta informação será útil em futuros estudos,

onde a implementação deste programa seja considerada útil. Foi também possível levar o

grupo a perceber quais as mudanças que podem ocorrer no envelhecimento a nível do

funcionamento cognitivo assim como a utilidade da estimulação cognitiva e das atividades

realizadas.

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5. Conclusão

O programa de estimulação executiva Eureka Sénior, PES, foi administrado a uma

população idosa sem doenças neurológicas mas com alterações da neurocognição associadas

ao próprio processo de envelhecimento (Fernández-Prado et al., 2011). Estas alterações

podem ter consequências no funcionamento do indivíduo, tornando-se importante o

desenvolvimento de programas de intervenção que promovam a manutenção e/ou melhoria

do funcionamento cognitivo do sujeito, com implicações na melhoria da qualidade de vida,

bem-estar psicológico (Fernandéz-Prado et al., 2011; Irigaray et al., 2011; Winocur et al.,

2007) e realização das atividades instrumentais de vida diária (Valenzuela, & Sachdev,

2009).

O presente estudo teve como objetivo principal averiguar o impacto da

implementação de um programa de estimulação executiva, PES, em idosos saudáveis e, tal

como se previa (Hipótese 3), no momento de avaliação pós-intervenção foi possível verificar

ganhos significativos no desempenho do grupo experimental em alguns domínios

executivos. Também se esperava que no momento inicial de pré-intervenção o grupo

experimental e controlo não apresentassem diferenças no desempenho (Hipótese 2), sendo

que esta hipótese foi também corroborada. Por outro lado, tendo em conta a literatura no

domínio, era esperado que uma melhoria a nível do funcionamento executivo também

demonstrasse ganhos a nível do funcionamento nas AIVD’s (Hipótese 4) (Ball et al., 2007;

Edwards et al., 2005; Oswald et al, 2006). No entanto, tal não se verificou embora seja

importante ter em consideração que os participantes eram pessoas idosas saudáveis e

independentes a nível funcional como referem alguns investigadores (e.g., Fisk, & Rogers,

2000).

Conclui-se que o programa PES teve efeito não só ao nível da melhoria de alguns

domínios do funcionamento executivo (atenção, velocidade de processamento, iniciativa,

flexibilidade cognitiva, memória imediata, e memória diferida), como também permitiu

manter os níveis de desempenho dos restantes. É de realçar que foram encontrados

incrementos no desempenho em todos os testes e, quando estes não são estatisticamente

significativos, não devem ser desprezadas uma vez que podem ser clinicamente relevantes

(Loureiro, & Gameiro, 2011; citado por Apóstolo et al., 2011). Esta manutenção no

desempenho entre os dois momentos de avaliação é fulcral, na medida em que a estabilização

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das funções cognitivas não pode ser vista como algo negativo. Muito pelo contrário, pode

ser equacionada como ganhos de saúde significativos (Apóstolo et al., 2011)

No que concerne à eficácia do programa PES construído e implementado no âmbito

do presente estudo com os idosos, este parece ser uma ferramenta eficaz não só para

promover ganhos executivos como também para favorecer a sua manutenção e estabilização

no tempo evitando o declínio. Os resultados encontrados podem contribuir para a

preservação da funcionalidade e independência dos idosos, sendo que a melhoria a nível

cognitivo e executivo é comumente relacionada com a autonomia, independência, e

melhores níveis de saúde (Lima-Silva et al., 2012; Apóstolo et al., 2011).

A multidisciplinaridade subjacente ao tipo de intervenção implementada (trabalho do

psicólogo em colaboração com as atividades de promoção para a saúde conduzidas por uma

enfermeira) parece também ter tido um papel importante nos resultados do PES. Foi possível

articular esforços, algumas dinâmicas e exercícios, como forma de promover temáticas com

um maior caráter mais ecológico (e.g., memorizar receitas saudáveis em vez de ter que

memorizar uma história). Esta coadjuvação com outras especialidades terapêuticas que

visem a promoção da qualidade de vida e funcionamento dos idosos poderá ser uma forma

de manter o funcionamento global nesta população.

Embora o follow-up não tenha ainda sido realizado, está previsto e agendado para o

mês de Agosto, isto é, 3 meses depois do momento de pós-intervenção.

Embora ainda exista um vasto caminho a ser percorrido na investigação sobre a

estimulação/treino executivo em idosos saudáveis e, não obstante às limitações

metodológicas inerentes a este tipo de estudos, os resultados encontrados podem levar à

conceção de novas perspetivas e ao desenvolvimento de mais investigação nesta área que é

muito escassa em Portugal. A população encontra-se cada vez mais envelhecida e sendo este

um fenómeno demográfico com tendência a permanecer e aumentar nas próximas décadas,

é fulcral que se coloquem em prática diferentes intervenções que tenham como prioridade o

bom funcionamento dos indivíduos idosos, aos mais variados níveis: psicológico, cognitivo,

saúde, funcional, entre outros.

Ficou comprovado que a estimulação e treino têm benefícios e, quando colocados

em prática a nível clínico e incluídos em programas de intervenção dirigidos a pessoas

idosas, podem contribuir para a manutenção do funcionamento cognitivo que está tão

interligado com uma boa qualidade de vida e manutenção da funcionalidade do ser humano.

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7. Anexos

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Anexo 1. Anamnese

Inicial:_____ Final:_______ Codificação:

____/____/____/____

Nome do/a entrevistador/a___________________________________________________________

Data____/____/________ Local de Entrevista_______________________________________________

Identificação

1- Idade: 2 - Data de Nascimento: ___/___/__________

3 - Sexo: 1-F ( ); 2- M ( )

4- Estado Civil: 1- Solteiro ( ); 2-Casado ou em União de Facto ( ); 3-Viúvo ( ); 4-Divorciado e/ou

Separado ( )

5- Profissão: Reformado: 1-Sim ( ); 2- Não ( ) 3 ( ) Invalidez

6. Anos de Escolaridade

7. Que doença (s) hgraves teve na sua vida? (AVC, TCE, Depressão, EAM, Demência) ________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________

8. Tem sequelas dessas doenças?

1. SIM 0.NÃO 9.NS/NR 9. Que doenças tem neste momento? ________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________

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Anexo 2. Autorização dirigida ao responsável da instituição onde foi aplicado o PES

Exma. Direção da Comissão de Melhoramentos

Locais de Palmaz

Ana Sofia Nogueira Chousa, com o cartão de cidadão nºXXXXXXXX, a residir em

XXXXXXXX com o contacto telefónico XXXXXXXXX, aluna do 5º ano do Mestrado

Integrado do curso de Piscologia da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da

Universidade do Porto na área da Psicologia da Saúde, pretende desenvolver a sua

dissertação de Mestrado nesta área, sob orientação da Professora Doutora Selene Vicente. A

sua temática é Estimulação Cognitiva na população idosa, sendo seu objetivo implementar

um programa de treino executivo a idosos a residir no domicílio, verificando os efeitos da

estimulação cognitiva nesta população, certos dos ganhos já explorados na bibliografia

noutros grupos de idosos.

Sabendo da existência do V. centro multigeracional, com a presença frequente de idosos,

solicita a V. Exa. a oportunidade de implementar o referido programa num grupo de idosos

que frequentem o pólo multigeracional de Palmaz e que, voluntariamente, queiram

participar.

O programa será implementado duas vezes por semana durante 3 meses (num total de 20

sessões), em datas a articular com a instituição e com os idosos, em sessões de 60 minutos

cada. Será realizada uma avaliação cognitiva inicial e uma final, a partir da qual será

concretizado um relatório final e fornecido um exemplar a cada participante.

Será solicitado a cada participante a validação de um Consentimento Informado, explicando

que apenas serão divulgados dados gerais sem qualquer identificação.

Para a implementação apenas será necessária a disponibilização do espaço, estando ao nosso

encargo qualquer necessidade acrescida de material, fotocópias ou outros.

Ao dispôr para qualquer esclarecimento adicional.

Certa da V. colaboração,

Pede deferimento,

Palmaz, 29 de Janeiro de 2014

_____________________________________________

(Ana Sofia Nogueira Chousa)

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Anexo 3. Consentimento Informado

CONSENTIMENTO INFORMADO

AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA DA POPULAÇÃO QUE FREQUENTA OS

CLUBES SÉNIOR DE OLIVEIRA DE AZEMÉIS

Com este programa de intervenção, pretende-se implementar um Programa de

Estimulação Cognitiva. Numa primeira fase será realizada uma avaliação inicial, cuja

finalidade é caracterizar cognitivamente a população sénior que frequenta o Clube

Sénior de Palmaz em Oliveira de Azeméis. A mesma avaliação será replicada no final da

implementação do programa, bem como 3 meses após, a fim de verificar os efeitos do

mesmo.

O entrevistador:

Confirmo que expliquei de forma adequada à pessoa abaixo indicada e/ou seu

representante a sua participação no referido programa que se pretende levar a cabo.

Respondi a todas as perguntas que me foram colocadas e assegurei-me de que houve

um período de reflexão adequado para tomada de decisão. Esclareci que toda a

informação é confidencial e que apenas serão divulgados publicamente dados gerais

bem como, no caso de recusa, que não serão adoptados quaisquer procedimentos

discriminatórios em relação à participação no programa.

O entrevistado/representante/informante:

Declaro que concordo ser entrevistado, através do questionário referente à avaliação

inicial, final e 3 meses após, que permite realizar a minha avaliação cognitiva, para

implementação do programa de intervenção que se pretende levar a cabo, conforme

me foi explicado pelo entrevistador que assina este documento, tendo tido oportunidade

de colocar todas as questões e solicitado todos os esclarecimentos sobre o ato e/ou

assunto da entrevista.

________________(localidade), __/__/____

NOME ____________________________________________________________________

Assinatura X________________________________________________________________

Se não for o participante a assinar:

Nome: ____________________________________________________________________

BI/CD n.º: __________________________________, data/validade ___/___/_______

Morada_____________________________________________________________________________

_________________________________________________________________

Grau de parentesco ou tipo de representação:

_____________________________________

Nome legível do entrevistador:_______________________________________________

Data: __/__/_____ Assinatura:______________________________________________