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1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM CRISTIANE DA SILVA GISELE ZULMA DE OLIVEIRA O IMPACTO DO RESULTADO HIV POSITIVO PARA O PACIENTE INFECTADO E SUA FAMILIA Biguaçu 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

CRISTIANE DA SILVA

GISELE ZULMA DE OLIVEIRA

O IMPACTO DO RESULTADO HIV POSITIVO PARA O PACIENTE

INFECTADO E SUA FAMILIA

Biguaçu

2008

2

CRISTIANE DA SILVA

GISELE ZULMA DE OLIVEIRA

O IMPACTO DO RESULTADO HIV POSITIVO PARA O PACIENTE INFECTADO

E SUA FAMILIA

Trabalho de Conclusão de Curso Apresentado como requisito parcial

para a obtenção do título de Enfermeiro, na Universidade do Vale do Itajaí,

Centro de Educação Biguaçu.

Orientadora: Prof (a). Mestre Maria Catarina da Rosa

Biguaçu

2008

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CRISTIANE DA SILVA

GISELE ZULMA DE OLIVEIRA

O Impacto do Resultado HIV Positivo para o Paciente Infectado e sua Família

Esta monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Enfermeiro e

aprovada pelo Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Itajaí, Centro

de Educação Biguaçu.

Área de Concentração: Enfermagem

Biguaçu, __ de _____ de 2008.

______________________________________________________________

Prof. Msc. Maria Catarina da Rosa

UNIVALI – Campus Biguaçu

Orientadora

______________________________________________________________

Professora Msc. Maria Lígia dos Reis Belaguarda

UNIVALI – Campus Biguaçu

Membro

_____________________________________________________

Professora Especialista Janelice de Azevedo Neves Bastiani

UNIVALI – Campus Biguaçu

Membro

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DEDICATÓRIA DE GISELE

Dedico este trabalho de conclusão de curso às pessoas que mais amo ao longo de minha

existência. “Á Deus, á minha mãe Zulma Sodré de Oliveira, meu pai Indalécio Amaro

de Oliveira (in memoriam), meus irmãos e irmãs, minha filha Emily Maria da Luz e

meu esposo Jean Carlo da Luz”.

AGRADECIMENTOS DE GISELE

Á Deus por ter me dado força, coragem, saúde e fé para poder concretizar este curso.

À minha mãe Zulma que tanto amo, pela força, incentivo, apoio e carinho que jamais

faltaram durante toda a trajetória de minha vida.

Ao meu pai Indalécio (in memoriam) que me ensinou em vida que jamais devemos

desistir do sonho.

A minha filha Emily pelos momentos de ausência e pela compreensão quando queria

brincar e passear e mamãe tinha que estudar, te amo minha linda!

Ao meu esposo Jean de quem roubei horas preciosas de convívio e compreensão e que

nesta etapa da minha vida me ajudou e me incentivou para esta conquista.

Aos meus amigos do Pronto Atendimento de Biguaçu, Arlene, Claudinéia, Rogério,

Gisele, Luana, Arthur, Antônio, Fernanda, Fabiana, Carol, Márcia, Ronaldo, Junior,

Bruna, Luciane, Jane, Fernando, Roberta e Robson pelo apoio e incentivo.

À orientadora Profª. Msc Maria Catarina da Rosa pela amizade, cumplicidade,

compreensão e apoio, sem os quais certamente este TCC não chegaria ao fim.

Ao meu amigo e companheiro de todas as horas Guto que hoje também realiza seu

objetivo de TCC, e no próximo semestre estará realizando sua conquista como

Enfermeiro.

À Banca Examinadora professoras Maria Ligia e Janelice que mais do que professoras

foram amigas, e me ensinaram que o trabalho bem executado, traz-nos a alegria do

dever cumprido.

À Profª Msc Angela M. Blatt à qual tenho grande admiração por seu esforço e

competência, obrigado pela compreensão e o apoio na concretização deste estudo.

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A minha companheira e amiga Cristiane da Silva que se tornou minha irmã de coração,

por ter me acompanhado nesta trajetória acadêmica. Juntas nós rimos, choramos,

brigamos mais hoje dividimos está vitória.

Aos meus amigos de turma todos sem exceção Parabéns, pois não foi fácil chegarmos

até aqui.

Aos meus amigos inseparáveis, a turma da fumaça: Zé, Josi, Debora, Karin, Karina,

Bianca, Cris e Ana Paula... Amigos de verdade não se separam apenas seguem

caminhos diferentes e mesmo distantes levarei pra sempre cada um de vocês no coração,

obrigado por tudo, Amo vocês!

Aos pacientes e familiares que aceitaram e fizeram parte desta monografia, sem eles não

poderíamos alcançar nossos objetivos.

A Unidade Central de Saúde de Biguaçu e o programa DST/AIDS que nos abriram suas

portas juntamente com a Enfª Caroline, Enfª Alcina, Josiane e a Diretora desta unidade

Aparecida que nos apoiaram na realização deste estudo. Á todos vocês o meu muito

obrigado!

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DEDICATÓRIA DE CRISTIANE

Dedico este trabalho à minha mãe Nilza Filomena Machado da Silva, meu pai João

Leonel da Silva e ao meu noivo Cristiano da Silva Ferreira.

AGRADECIMENTOS DE CRISTIANE

À Deus que me faz levantar a cada novo dia; que velou meu sono cansado e esteve

comigo nos momentos mais difíceis me dando sua bênção para chegar até aqui.

Aos meus pais que muitas vezes, tiveram que trabalhar dobrado, renunciando os seus

sonhos em favor dos meus. Nesse momento tão especial, procuro entre as palavras a que

melhor exprime esta emoção, e só encontro uma: Obrigada. Sem vocês eu jamais teria

alcançado este sonho.

Ao meu noivo Cristiano pelo grande incentivo e compreensão nos meus dias de

ausência.

À família do Cristiano, pelo apoio que sempre me deram.

Aos meus amigos da Unidade Central de Saúde de Biguaçu, Aline, Josiane, Caroline,

Cristiane, Helena, Priscila Oliveira, Priscila Cardoso, Leonardo, Sirlen, Cláudia,

Isabela, Magali, Jane, Patrícia, Nilcinéia, Grasiela, Wiviane, Juliana e Carlos Eduardo

pela atenção e apoio. Hoje, posso dizer que a presença de vocês foi muito importante

para esta conquista.

Às minhas amigas Vanda, Cristiane, Taís e Lucinéia por me fazerem acreditar em meus

sonhos sempre.

À orientadora Profª. Msc Maria Catarina da Rosa por todo apoio, cooperação, paciência

e disponibilidade recebida.

À minha amiga e companheira Gisele Zulma de Oliveira por estender as suas mãos nas

horas mais incertas da vida e pela participação na realização deste trabalho.

Aos pacientes que viram em nós conforto para suas dores, e sem saberem o quanto

estavam contribuindo para o nosso aprendizado, confiaram os segredos de seus

sofrimentos e nos aceitaram sem nos escolher, agradeço pela confiança em nossas

capacidades de iniciantes.

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À banca examinadora: Professora Msc. Maria Lígia dos Reis Belaguarda e Professora

Especialista Janelice de Azevedo Neves Bastiani, deixo aqui nossa grande admiração e

o nosso Muito Obrigado.

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RESUMO

Título: O Impacto do Resultado HIV Positivo para o Paciente Infectado e sua Família

Autoras: Cristiane da Silva e Gisele Zulma de Oliveira

Orientadora: Maria Catarina da Rosa

Poucas doenças têm suscitado questões tão complexas quanto a Aids em todos os

segmentos onde o soropositivo se encontra circunstanciado. Ao longo do

desenvolvimento da doença ocorrem perdas significativas na vida do indivíduo afetado,

tais como saúde, aparência física e família. Impõe-se a necessidade de hábitos em

decorrência da doença, ingerir medicamentos, conviver com a ameaça do aparecimento

de doenças oportunistas e da morte. Essas alterações no cotidiano suscitam, na família e

no paciente, reações de adaptação às demandas e mudam o relacionamento com a

sociedade. Optamos por esse tema para que, possamos refletir sobre a epidemia do

HIV/AIDS e Conhecer o Impacto do Resultado do HIV Positivo para o Paciente

Infectado e sua Família. Utilizamos como marco conceitual a teoria de Joyce Travelbee.

Por acreditarmos, assim como a autora, que para uma relação seja ela qual for, são

necessários: o respeito; a boa comunicação e o ato de vontade com o outro. Como o

tema desta pesquisa envolveu o estudo da percepção do portador de HIV e a relação

com seus familiares, optamos por uma pesquisa descritiva com abordagem

metodológica qualitativa. Ouvimos suas histórias de vida e suas dificuldades, e

percebemos que a revelação e o compartilhar do diagnóstico HIV positivo é muito

difícil, pois o portador do HIV não é o único a sofrer as conseqüências; seus familiares,

amigos e parceiros sexuais também enfrentam junto com ele o preconceito e estigma.

Observamos também como o apoio da família é importante para o portador de HIV,

sendo muitas vezes os que desempenham o papel principal de cuidadores dos doentes.

A saúde física e emocional dos membros da família ocupa um papel importante no seu

funcionamento. É importante que nós profissionais da saúde estejamos atentos às

necessidades específicas de seus pacientes e devemos estabelecer com os mesmos uma

relação de confiança, que permita a troca de informações relevantes para a condução de

seu tratamento e correções durante sua evolução.

Palavras-Chave: HIV positivo; Família; Enfermagem.

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ABSTRACT Title: The Impact of the Result Positive HIV for the Infected Patient and his Family

Authors: Cristiane da Silva and Gisele Zulma de Oliveira

Tutor: Maria Catarina da Rosa

Few diseases have been raising subjects as complex as Aids in all of the segments.

Along the development of the disease it happens significant losses in the affected

individual's life, such as health, physical appearance and family. The need of habits is

imposed due to the disease, to ingest medicines, to live together with the threat of the

diseases opportunists' emergence and death. Those alterations in the daily raise, in the

family and in the patient, adaptation reactions to the demands and they change the

relationship with the society. We opted for that theme so that, we can think about the

epidemic of HIV/AIDS and Know the Impact of the Result of Positive HIV for the

Infected Patient and his Family. We used as conceptual mark Joyce Travelbee's theory.

For we believe, as well as the author, for a relationship there are some points which are

necessary: the respect; the good communication and the action of will with the other. As

the theme of this research involved the study of the perception of the bearer of HIV and

the relationship with their relatives, we opted for a descriptive research with qualitative

methodological approach. We heard their life histories and their difficulties, and we

noticed that the revelation and sharing of the diagnosis positive HIV is very difficult,

because the bearer of HIV is not the only to suffer the consequences; their relatives,

friends and sexual partners also face with him the prejudice and stigma. We also

observed as the support of the family is important for the bearer of HIV, being a lot of

times the ones that plays the caretakers' of the patient’s main part. The physical and

emotional health of the members of the family occupies an important paper in his

operation. It is important that us, professionals of the health, are attentive to their

patients' specific needs and we should establish with the same ones a trust relationship

that allows the change of relevant information for the transport of his treatment and

corrections during his evolution.

Word-key: Positive HIV; Family; Nursing.

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SUMÁRIO

1 – Introdução..................................................................................................................12

2 – Justificativa................................................................................................................16

3 – Objetivos Geral e Específico.................................................................................. 18

3.1 – Objetivo Geral........................................................................................................18

3.2 – Objetivos Específicos.............................................................................................18

4 – Revisão de Literatura..............................................................................................19

4.1 – Aids e seus Aspectos Epidemiológicos..................................................................19

4.2 – Programa DST/AIDS no Município Estudado.......................................................22

4.3 – A Aids e a Saúde Coletiva......................................................................................23

4.4 – Família e Aids.........................................................................................................24

4.5 – O que acontece com o ser humano que foi infectado pelo HIV, o vírus da

AIDS................................................................................................................................25

4.6 – Os Sintomas da Aids...............................................................................................26

4.7 – Aspectos Clínicos...................................................................................................28

4.8 – Tratamento para a Aids..........................................................................................29

4.9 – Ética na Assistência ao portador do HIV/AIDS....................................................31

5 – Marco Conceitual....................................................................................................35

5.1 – Breve histórico de Joyce Travelbee........................................................................35

5.2 – Pressuposições básicas de Joyce Travelbee............................................................36

5.3 – Conceitos inter-relacionados de Joyce Travelbee..................................................36

5.4 – Conceitos Adotados...............................................................................................40

6 – O Percurso Metodológico........................................................................................43

6.1 – Caracterização geral do estudo............................................................................. 43

6.2 – Caracterização dos sujeitos do estudo................................................................... 43

6.3 – O Campo da Ação..................................................................................................44

6.4 – Coleta de Dados......................................................................................................44

6.5 – Registro de Dados................................................................................................ 45

6.6 – Plano e Implementação...........................................................................................46

6.7 – Avaliação dos Dados..............................................................................................46

7 – Resultado Metodológico........................................................................................... 48

8 – Evidenciando os aspectos éticos................................................................................50

9 – Análise e discussão dos dados.................................................................................52

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9.1 – Impacto do resultado HIV positivo........................................................................52

9.1.1 – Significado da doença..........................................................................................53

9.1.2 – Planos para o futuro.............................................................................................55

9.2 – Relacionamento Familiar........................................................................................56

9.2.1 – O compartilhar do Diagnóstico........................................................................... 59

9.2.2 – A reação da família..............................................................................................60

9.2.3 – A convivência após o Diagnóstico......................................................................62

9.3 – Dificuldades encontradas sobre o conhecimento da doença e os sinais e

sintomas...........................................................................................................................64

9.3.1 – Falta de Informação.............................................................................................65

9.3.2 – Medo de ficar doente (ou do aparecimento dos sinais e sintomas).....................66

10 – Considerações Finais............................................................................................ 70

11 – Referências ............................................................................................................74

12 – Apêndices................................................................................................................79

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1- INTRODUÇÃO

Este relato é o resultado do Trabalho de Conclusão de Curso de Enfermagem, da

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, e foi desenvolvida através de pesquisa

envolvendo o estudo da percepção do portador de HIV e a relação com seus familiares.

Em 1981, o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos da América, depois de

estudos e observações, chegou à conclusão de que havia descoberto um novo tipo de

doença, que recebeu o nome de AIDS. As pessoas que sofreram desta síndrome estavam

tão fracas que ninguém conseguia trata-lás das muitas doenças que, mesmo tendo têm

cura, acometiam-nas.

No caso daqueles primeiros doentes dos Estados Unidos, o organismo deles não

reagia, e os glóbulos brancos, as células encarregadas de defender nosso organismo da

maioria das doenças não funcionavam direito. Os cientistas estudaram muito estes

doentes e finalmente descobriram que um vírus diferente atacava as células guerreiras

destas pessoas. E o nome dado a ele foi HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana. O

HIV é o microorganismo que causa AIDS, estado de doença causado pela falta de

defesa do organismo humano, e apresenta dois tipos conhecidos: o HIV-1,

predominante no Brasil, e o HIV-2. O HIV – 1 foi isolado em 1983 em pacientes na

França e Robert Gallo em 1981, nos EUA. Em 1986, foi identificado um segundo

agente etiológico, também retrovírus, com características semelhantes ao HIV–1,

denominado HIV-2. O termo HIV (Human Immunodeficiency Vírus ou Vírus da

Imunodeficiência Humana) foi recomendado por um comitê internacional, reunido

nesse mesmo ano, reconhecendo-o como capaz de infectar seres humanos (BRASIL,

2006).

A AIDS é caracterizada por uma disfunção grave do sistema imunológico do

indivíduo infectado pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Sua evolução é

marcada por uma considerável destruição de linfócitos TCD4 e pode ser dividida em

três fases: infecção aguda, que pode surgir semanas após a infecção inicial, com

manifestações variadas que podem se assemelhar a um quadro gripal ou, mesmo, a uma

mononucleose. Nessa fase, os sintomas são autolimitados e quase sempre a doença não

é diagnosticada devido à semelhança com outras doenças virais. A seguir, o paciente

entra na fase de infecção assintomática, de duração variável por alguns anos. Na terceira

fase evolutiva, a doença sintomática, da qual a AIDS é manifestação mais grave da

imunodepressão, e é definida por diversos sinais e sintomas, tais como febre

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prolongada, diarréia crônica, perda de peso importante (superior a 10% do peso anterior

do indivíduo), sudoreses noturna, astenia, adenomegalia, tuberculose, pneumonia por

Pneumocistis carinii, toxoplasmose cerebral, candidiase e meningite por criptococos,

dentre outras. Tumores como o sarcoma de Kaposi e linfomas não-Hodgkin também

podem surgir (BRASIL, 2006).

A transmissão pelo HIV se dá sexualmente, sanguíneamente (via parenteral e da

mãe para o filho, no curso da gravidez, durante ou após o parto) e pelo leite materno.

São fatores de risco associados aos mecanismos de transmissão do HIV: variações

freqüentes de parceiros sexuais sem uso de preservativos; utilização de sangue ou seus

derivados sem controle de qualidade; uso compartilhado de seringas e agulhas não

esterilizadas (como acontece entre usuários de drogas injetáveis); gravidez em mulher

infectada pelo HIV; e recepção de órgãos ou sêmen de doadores infectados (BRASIL,

2003).

O período de incubação é compreendido entre infecção pelo vírus HIV e o

aparecimento de sinais e sintomas da fase aguda, podendo variar de cinco a 30 dias. O

período de latência é compreendido entre a infecção pelo HIV e os sinais e sintomas que

caracterizam a doença por ele causada, a AIDS. Atualmente, esse período está entre 5 e

10 anos, dependendo da via de infecção (BRASIL, 2006).

Alguns dos impactos conhecidos frente a qualquer resultado de doença incurável

nos pacientes o que eles provavelmente irão passar são os estágios descritos por Kübler

Ross, ano 2001, de choque, negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Costa

(1994) refere que o paciente, e principalmente sua família, frente ao resultado a doença,

tem a idéia de morte compartilhada além da consciência de morte pelo indivíduo. Assim

a morte do indivíduo em casa passa a ser evitada, passando os familiares a desejar a

morte no hospital e a evitar longos velórios e enterros, preferindo a cremação dos

corpos.

Esse pensamento começou a mudar no século XV, com a crença que no

momento da própria morte, o indivíduo, cristão ou não, teria uma oportunidade para se

arrepender de seus pecados. Tal pensamento torna a salvação dependente do próprio

indivíduo, que podia assim, viver fora dos valores religiosos e no momento da morte

harmonizar-se com a religião. Até o século XVIII, o indivíduo fazia um testamento,

onde incluía condições para a salvação de sua alma. Estas condições, que deviam ser

realizadas, perdem seu sentido após este século, quando o ritual passa a consistir no

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culto às sepulturas, desenvolvendo o sentimento de efetividade familiar (BRASIL,

2006).

O paciente de AIDS provoca raiva, desprezo, medo e pouco desejo de ajuda por

parte da sociedade, o que acarreta nele, sentimentos de ansiedade e dificulta as

possibilidades de intervenções sociais.

Conforme Bonança (2005), infelizmente, mesmo com os avanços obtidos no

tratamento e com os meios de contágios identificados, a sociedade continua a evitar o

soropositivo como se o mero contato social fosse capaz de transmitir o vírus, o que

infelizmente coloca a pessoa portadora do HIV frente a dois desafios: um seria manter o

seu estado de saúde, e outro, lutar contra o preconceito e a discriminação da sociedade

que ainda confunde a evitação do vírus com a evitação do portador do vírus, como se

pessoa e vírus fossem a mesma coisa, fundidos em um só estado de existência e

identidade. O mesmo autor enfatiza que, a família bem informada sabe que o vírus HIV

não se transmite no contato social, ou seja, através de ações comuns do dia a dia. Se

você convive com uma pessoa soro positiva, saiba que o vírus não se transmite através

do uso de copos, talhares, pratos ou outros objetos que se utilizam para a alimentação. A

utilização do mesmo vaso sanitário, chuveiros, bancos e cadeiras também não colocam

os familiares em contato com o vírus. Beijo, abraço, suor, lágrimas, tosse, espirro e

intercâmbio de roupa não são meios de contagio. Ademais, é fundamental que os

familiares se informem sobre as características do HIV, sobre o acesso gratuito aos

exames e tratamento no sistema público de saúde, e sobre os efeitos colaterais dos

medicamentos.

Nelson Solano (1989), em um artigo, coloca que, na verdade, percebe-se que a

AIDS provocou grandes traumas na sociedade. Houve alterações profundas nas relações

do portador com sua família, grupo social e profissional. Parece que, no nível Social, a

AIDS está sendo comparada a peste negra; os pacientes carregam um estigma que

apesar de não ter amparo legal, pode ser reconhecido nos discursos correntes. O autor

reforça a importância de que a sociedade se organize para exigir do governo benefícios

sociais, programas de informação e prevenção às doenças. Este autor faz uma revisão na

história e conclui que tudo que se conseguiu junto ao governo, foi fruto do trabalho de

organizações e movimentos de resistências que exigiam a tomada de providencias com

relação aos segmentos sociais prejudicados. Nesta sociedade desorganizada, em relação

à Síndrome, surgiram as organizações não governamentais, Ongs, criadas para cobrar,

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junto ao governo e autoridades legais, as medidas necessárias em relação ao tratamento

e prevenção da doença, bem como proteger, dar apoio e solidariedade ao paciente.

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2 - JUSTIFICATIVA

Segundo o Ministério da Saúde, 2007 Falar de HIV/Aids não é uma tarefa fácil,

porque traz à tona o que é de mais íntimo: valores, crenças, conceitos, preconceitos,

idéias, desejos, prazer, vida e morte. Carrega consigo os fantasmas construídos no

imaginário social: aquilo que se pensa sobre a sexualidade e a morte, sobre a

desfiguração e o enfraquecimento físico, sobre a própria percepção de risco e a sensação

de finitude. Embora alguém com HIV possa manter-se saudável por muitos anos, existe

um enorme medo, prejuízo e mal-entendido na sociedade sobre HIV/AIDS e as pessoas

que a contraem. Elas podem deparar-se com hostilidade e rejeições mesmo de pessoas

mais próximas; podem perder seus empregos, suas casas ou relações importantes como

resultado de atitudes negativas com relação à doença.

A tristeza e depressão ostentada por muitas pessoas que vivem com HIV não

raro estão relacionadas a certo sentimento de abandono e solidão ocasionado pela perda

progressiva de bens preciosos que fazem parte de sua vida. Mesmo que não se

verifiquem no concreto ou de imediato, essas perdas são vividas de forma intensa e

percebidas em todas as suas sutilezas, deixando uma marca indelével na forma como a

pessoa vai lidar com a experiência do HIV/AIDS em sua vida.

Um teste positivo para o HIV representa bem mais do que o sinal de uma doença

orgânica potencial. O resultado positivo em longo prazo na doença AIDS implica uma

redefinição de posturas, prioridades e necessidades frente à vida que, de acordo com

elementos facilitadores fornecidos e disponibilizados pelos profissionais que

acompanham o doente e pela comunidade, podem ser significados de forma positiva e

otimista. Caso isso não ocorra, idéias persecutórias e fatalistas emergem dificultando

inclusive o projeto de tratamento e acompanhamento clínico que se faz necessário para

manutenção ou recuperação da saúde do indivíduo.

A presença do HIV dentro do organismo de uma pessoa a torna diferente das

demais, mas não a transforma em alguém nem melhor nem, muito menos, pior que o

restante da população que não apresenta o vírus em seu organismo. Daí a necessidade

de se prestar atenção adequada ao indivíduo levando-se em conta a especificidade

apresentada pela presença do HIV em seu organismo, todavia sem considerá-lo

desigual. A singularidade do indivíduo com sorologia positiva para o HIV requer uma

ação adequada e particularizada, ainda que não seja especial no sentido lato do termo.

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Optamos por esse tema pelo fato de já trabalharmos com os pacientes com HIV,

conhecendo suas histórias de vida e suas dificuldades, e para que possamos refletir

sobre a epidemia do HIV/AIDS, tendo como perspectiva seus aspectos psicossociais,

requerendo analisar pelo menos dois momentos distintos, porém inter-relacionados do

processo de se viver com HIV/AIDS: o impacto do resultado HIV positivo no paciente e

o reflexo sobre a família. Diante da situação apresentada à pergunta de pesquisa

definida para este estudo foi: Qual o impacto de um resultado HIV positivo para o

paciente e sua família?

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3 - OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICO

3.1 - Objetivo Geral

♥ Conhecer o Impacto do Resultado do HIV Positivo no Paciente Infectado e em

sua Família

3.2 - Objetivos Específicos

♥ Descrever as dificuldades encontradas no decorrer do resultado do HIV positivo

para o paciente e qual o impacto causado no seu cotidiano;

♥ Descrever as dificuldades encontradas no decorrer do resultado do HIV positivo

para os familiares do pacientes e qual o impacto causado na relação entre estes;

♥ Relatar o conhecimento do paciente infectado em relação ao conjunto de sinais e

sintomas que sugerem a infecção pelo HIV;

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4 - REVISÃO DE LITERATURA

Este capítulo tem o objetivo de listar os tópicos que foram desenvolvidos neste

trabalho em uma linha lógica de raciocínio, considerando a importância da compreensão

do leitor a respeito do que foi tratado, abordando os seguintes assuntos: AIDS e seus

aspectos epidemiológicos; Programa DST/AIDS no município estudado; A AIDS e a

Saúde Coletiva; Família e AIDS; O que acontece com o Ser - Humano que foi infectado

pelo HIV, o vírus da AIDS; Os sintomas da AIDS; Aspectos Clínicos; Tratamento da

AIDS; Ética na Assistência ao Portador do HIV/AIDS.

4.1 AIDS E SEUS ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS

A AIDS foi reconhecida em 1981, nos EUA, a partir da identificação de um

número elevado de pacientes adultos do sexo masculino com comprometimento do

sistema imune, o que levou à conclusão de que se tratava de uma nova doença.

Posteriormente, alguns casos, ocorridos nos últimos anos da década 70, foram

identificados como tendo sido AIDS (BRASIL, 2006).

No Brasil, a AIDS foi identificada pela primeira vez em 1982, quando foi

detectado o diagnóstico em pacientes homo ou bissexuais. Um caso foi reconhecido

retrospectivamente, no estado de São Paulo, como tendo ocorrido em 1980 (BRASIL,

2006).

Importantes mudanças em seu perfil epidemiológico vêm ocorrendo: em sua

primeira fase, de 1980 a 1986, caracterizava-se pela transmissão homo/bissexual

masculino, de escolaridade elevada. Em seguida, de 1987 a 1991, caracterizava-se pela

transmissão sanguínea e pela participação de usuários de drogas injetáveis – UDI, dando

inicio nessa fase a um processo mais ou menos simultâneo de pauperização e

interiorização da epidemia (BRASIL, 2006).

Nos últimos anos, de 1992 até os dias atuais, um grande aumento de casos por

exposição heterossexual vem sendo observado, assumindo cada vez maior importância

o número de casos em mulheres (feminização da epidemia) (BRASIL, 2006).

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Hoje, a principal via de transmissão em crescimento é a heterossexual (em 1991,

15,7%; em 1997, já se atinge a cifra de 36,3%; em 2003, 58,3%, mantendo-se essa

tendência até os dias atuais) (BRASIL, 2006).

Observa-se que de 1980 a 31 de Dezembro de 2003, foram diagnosticados no

Brasil 310.310 casos de Aids. As regiões Sudeste e Sul concentram 84% dos casos. No

ano de 2003, foi diagnosticado um total de 9.762 casos de Aids, com taxa de incidência

de 5,5/100.000 hab. As taxas de incidência por 100.000 hab., para o ano de 2003, são:

de 8,5 para a região Sul; 7,5 para o Sudeste; 3,5 para o Centro-Oeste; 2,3 para o

Nordeste e 2,5 para a região Norte (BRASIL, 2004).

Comparando-se os municípios com maior incidência no período de 1992-2003

no País é de 93,5/100.000hab., no município de Itajaí (SC), seguindo-se pelo município

de Caçapava, com 90,6/100.000hab. Dentre os 100 municípios brasileiros com maior

incidência, 80 deles são das regiões Sul e Sudeste (BRASIL, 2006).

A estatística mostra a incidência de Aids nos municípios (por 100.000hab.),

sendo que os municípios com maiores números de casos de Aids, notificados segundo

tipo de exposição, diagnosticados no Brasil entre 1980-2003, foram da região Sul e

Sudeste. Os primeiros 10 municípios são: Itajaí (SC), seguida de Balneário Camboriú

(SC), Porto Alegre (RS), Caçapava (SP), Criciúma (SC), São José do Rio Preto (SP),

Florianópolis (SC), São José (SC), Ribeirão Preto (SP), São Leopoldo (RS). Estes dados

nos apontam que cinco municípios catarinenses estão entre os dez primeiros municípios

no ranking de incidência no país, o que justifica a preocupação com a epidemia e seus

enfrentamentos em nosso estado (BRASIL, 2006).

A distribuição de casos de Aids, segundo a faixa etária e sexo diagnosticados

entre os anos de 1980 e 2003, demonstra um número de 220.783 em homens, ou seja,

71,1% do total de casos registrado no país. Sendo a faixa etária mais acometida a de 25

a 49 anos, na qual 79% dos da doença estão no sexo masculino (BRASIL, 2006).

Já entre o sexo feminino, foram diagnosticados no País, entre 1983 e 2003,

89.527 casos, representando 28,8% do total do País. A razão de sexo nesse período foi

de 2,5 casos masculinos para cada caso feminino com diagnóstico de Aids. Com relação

à faixa etária, entre mulheres de 20 a 49 anos concentram-se 83,4% dos casos da

doença diagnosticados (BRASIL, 2006).

Com relação à categoria de exposição dos casos diagnosticados de 1980 e 2003,

197.902 (63,8%) tiveram exposição sexual; 63.000 (20,3%) sangüínea; e 8.900 (2,9%)

foram perinatal. Optamos por essas categorias por serem as mais encontradas. Observa-

21

se ainda que, na categoria de exposição sexual, o maior número de casos está na

subcategoria heterossexual, assim como na categoria sangüínea chama atenção a

subcategoria de usuários de drogas (BRASIL,2004).

Os dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2005) apontam que de 1980 a junho

de 2004 foram registrados 362.364 casos de Aids no país, sendo que, destes, 15.646

casos em Santa Catarina. A razão de casos masculinos e femininos já está em 1, 5,

sendo que nos 24 anos de epidemia 251.050 casos são masculinos e 111.314 entre

mulheres. Ao alisarmos a incidência por 100.000 habitantes, observamos que a região

sul continua com a incidência mais alta do país, com 26,8 casos por 100.000 habitantes

(SC-25,9, RS-31,4 e PR-21,7). Entre os adultos, a categoria de transmissão principal é a

sexual, com 56,48% dos casos, representados na sua maioria, pela transmissão

heterossexual. Ao analisarmos somente a incidência de 2004, identificamos que 81%

dos casos novos foram através da transmissão sexual, sendo 94,9% dos casos entre

mulheres e 67,3% entre homens. Isto comprova as tendências da epidemia de

hetereossexualização e feminização.

O indivíduo infectado pelo HIV pode transmiti-lo em todas as fases de infecção,

risco esse proporcional à magnitude da viremia. A detecção laboratorial do HIV é

realizada por meio de técnicas que pesquisam anticorpo, antígenos, material genético

(biologia molecular) ou que isolem o vírus (cultura). Os testes que pesquisam anticorpos

(sorológicos) são os mais utilizados em indivíduos com mais de 18 meses. O

aparecimento de anticorpos detectáveis por testes sorológicos ocorre em torno de 30

dias após a infecção em indivíduos imunologicamente competentes. Esse intervalo entre

a infecção e a detecção de anticorpos por técnicas laboratoriais é denominado “janela

imunológica”. Nesse período, as provas sorológicas podem ser falso-negativas. Para os

menores de 18 meses, pesquisa-se o RNA ou DNA viral, considerando-se que a

detecção de anticorpos nesse período pode dever-se à transferência passiva de

anticorpos maternos ocorrida durante a gestação, razão pela quais os testes sorológicos

não devem ser realizados. Devido à importância do diagnóstico laboratorial,

particularmente pelas conseqüências do resultado positivo para HIV, o Programa

Nacional de DST e AIDS, da secretaria de vigilância em saúde do Ministério da Saúde,

regulamentarem os procedimentos de realização dos testes. Esta regulamentação esta

contida na Portaria nº. 59, GM/MS, de 28 de janeiro de 2003 e na Portaria nº.

34/SVS/MS de julho de 2005, a qual deve ser rigorosamente seguida, de acordo com a

natureza de cada situação.

22

Nos últimos anos, foram obtidos grandes avanços no conhecimento da

patogênese da infecção pelo HIV. Várias drogas anti-retrovirais em uso combinado, o

chamado “coquetel”, mostram-se eficazes na elevação da contagem de linfócitos TCD4

e na redução nos títulos plasmáticos de RNA do HIV (carga viral). Com isso, temos

diminuído a progressão da doença, o que se demonstra por uma redução da incidência

das complicações oportunistas e da mortalidade, substituídas por uma maior sobrevida,

bem como por uma significativa melhora na qualidade de vida dos indivíduos. A partir

de 1995, o tratamento com monoterapia foi abandonado, passando a ser recomendação

do Ministério da Saúde a utilização de terapia combinada com duas ou mais drogas anti-

retrovirais. São numerosas as possibilidades de esquemas terapêuticos indicados pelo

Programa Nacional de DST e AIDS, que variam, em adultos e crianças de acordo com a

presença ou não de doenças oportunistas, com o tamanho da carga viral e com a

dosagem de CD4. Por esse motivo, recomenda-se a leitura das “Recomendações para

Terapia Anti-retroviral em crianças infectadas pelo HIV-2006” e “Recomendações para

Terapia Anti-retroviral em Gestantes – 2006”, distribuídos pelo Ministério da Saúde e

secretarias estaduais de Saúde para as instituições com tais pacientes. Não menos

importante é enfatizar que o Brasil é um dos poucos países que financia integralmente a

assistência ao paciente com AIDS, com uma estimativa de gastos de 2% do orçamento

nacional (BRASIL, 2006).

4.2 - PROGRAMA DST/AIDS NO MUNICIPIO ESTUDADO

O programa DST-AIDS trabalha com a prevenção das doenças sexualmente

transmissíveis, fazendo a distribuição de preservativos e materiais explicativos, coleta

dos exames de HIV, Hepatite, Toxoplasmose, Rubéola e Citomegalovirus, bem como a

distribuição mensal de coquetéis e cestas básicas para portadores do vírus HIV.

Além disso, a municipalidade distribui às mães soro-positivo leite para

amamentação de seus filhos até completarem dois anos de idade. A equipe do DST é

composta por um médico infectologista, uma enfermeira, uma técnica de enfermagem,

uma psicóloga e uma técnica administrativa.

O horário de atendimento é de 2ª à 6ª feira das 08h00min às 12h00minh e das

13h00min às 19h00minh. A coleta de exames de HIV ocorre todas 2ª, 3ª, 4ª e 6ª feira,

das 13h00min às 16h00minh.

23

4.3 - A AIDS E A SAÚDE COLETIVA

A ciência tem progredido muito desde o século XVIII, principalmente no que diz

respeito à ciência médica. A descoberta dos antibióticos levou a uma crença de que as

doenças infecciosas e as epidemias, já não constituíam ameaças para a humanidade,

cujo comportamento deixa de ser “fantasiosamente” desvinculado dos riscos de morrer

ou adoecer, pois se acreditava poder recorrer sempre à medicina, que possuía uma

terapia infalível para torná-lo saudável (COMELLI, 2005).

Assim, muitas doenças ainda matam, todavia, na maioria dos casos, a ameaça

não é concretizada por inexistência de tratamento, mas por falta de acesso aos serviços

de saúde, visto que os avanços da medicina não foram acompanhados pela melhoria dos

níveis de vida e saúde da população. Hoje, já no século XXI, os problemas principais da

saúde não foram resolvidos, nem mesmo nos países mais industrializados (COMELLI,

2005).

O surgimento da AIDS como epidemia, trouxe novos problemas à saúde publica.

Foi necessário rever os poderes e limites da medicina, que há muito não se defrontava

com uma doença que ameaçasse toda a humanidade. Esforços não têm sido medidos

para encontrar a cura da AIDS. Quinze anos já se passaram desde o primeiro caso

registrado e um extenso caminho foi percorrido, com pesquisadores do mundo inteiro

tentando contribuir para a cura (COMELLI, 2005).

As formas terapêuticas existentes para combater as doenças acometidas pelos

pacientes têm sido utilizadas, mas ainda não há cura para a doença: a medicina retarda

um fim que todos sabem ser inevitável. Nos pacientes com AIDS, penso ser

possível verificar o processo da doença como um problema social, no qual as origens e

desenvolvimentos de determinadas patologias dependem dos grupos sociais. A analise

da doença a partir do nível social, reformula, sem excluir os outros níveis,

demonstrando que os processos sociais determinam à saúde coletiva (SZAPIRO, 2004).

Os caminhos percorridos pela ciência na procura da cura. Bem como as

campanhas de prevenção precisam ser analisadas sob a luz da saúde pública. Num

primeiro momento, há indicações de que a saúde pública pretende enquadrar os

profissionais da área em padrões exigidos pela organização de uma produção cada vez

maior. No entanto, qualquer programa a ser implementado na rede pública exige uma

reflexão mais profunda e elaborada, o que com o encerramento prematuro do trabalho,

infelizmente não foi possível realizar (SZAPIRO, 2004).

24

4.4 - FAMÍLIA E AIDS

A família é definida como ligação de duas ou mais pessoas através do

casamento, consangüinidade ou adoção. Segundo a visão de Koller (1997), a forma de

estruturação de uma família é determinada pelos aspectos culturais de cada sociedade

em particular, os valores culturais, as tradições e a perspectiva histórica, que

determinam à forma de organização familiar.

Já para Mioto (1999), a família faz parte do universo de experiência (real e/ou

simbólica) dos seres humanos no decorrer de sua história. Isto abrange muitas

contradições no que diz respeito a aspectos cultural, religioso e social, já que hoje é

vista dentro dos parâmetros dos tempos e do espaço, e articulada “dialeticamente” com

a sociedade na qual está inserida. Já não é possível restringir família, simplesmente

num modelo de família ou de arranjos familiares como o tradicional pai, mãe, e filhos;

as composições familiares por afinidades sócio-culturais são diversificadas de modelos

convencionais.

Ainda para ele as famílias não são unidades homogêneas, elas apresentam

características diferenciadas que as permitem ser definidas com o passar do tempo em

virtude da evolução humana.

De acordo com Saraceno (1999), já se pode ter estabelecimento de alguns

critérios que possam delimitar as fronteiras da convivência familiar, isto se refere tanto

aos limites relacionados ao espaço físico da convivência, quanto àqueles relativos entre

diversas pessoas, como relações familiares, ou seja, “quem e por que vive com quem”.

Entendemos a família como uma unidade de cuidados, onde se aprofundam os

laços de solidariedade, podendo possuir laços de consagüinidade ou laços emocionais,

partilhando ou não o mesmo ambiente. (baseado em SOUZA et.al.,2000,p.191).

Em virtude da Aids ser uma doença que não dispõe de uma terapêutica de

eficácia comprovada para a sua cura, o vírus causador da doença é visto como inimigo

inevitável. Consequentemente, por um desconhecimento sobre o que realmente significa

a doença as pessoas afetadas, doentes e familiares são envolvidas em uma experiência

de desesperança, de sofrimento físico e emocional durante o curso da enfermidade. Sem

dúvida, as representações sobre a Aids foram e são, segundo Koller (1992),

preconceituosas e amedrontadoras, não contribuindo para fornecer informações

esclarecedoras sobre a enfermidade.

25

Souza, Kantorski, Bielemann e Ornellas (2000), referem que os profissionais de

enfermagem devem compreender que a pessoa com Aids e sua família adoecem

conjuntamente e que sofrem todas as ambigüidades e dúvidas que emergem durante a

experiência de conviver com a pessoa acometida por esta enfermidade. Eles ressaltam a

importância que, frente à experiência de cuidar de pessoas com Aids e de seus

familiares, os profissionais de enfermagem devem estar preparados para assisti-los,

visando à diminuição do medo e preconceito que é conferido à doença, e para respeitar a

experiência de vida de cada indivíduo e de sua família no seu contexto.

Nós devemos tentar entender a família do paciente que cuidamos. Felizmente,

existem gratificações para os terapeutas: muitos pacientes vivem com pessoas sempre

presentes e de qualquer forma, mesmo as famílias dilaceradas podem permitir

satisfações relacionadas variadas. O terapeuta se coloca na posição de um confidente, de

uma ajuda, de uma referência, por vezes tudo isso ao mesmo tempo, o que é difícil, mas

apaixonante para quem cuida (MIOTO 1999).

Um membro da família acometido pelo HIV/Aids implica ou influencia todos os

outros membros da família, por isso é importante que a enfermagem considere as

implicações do impacto, não apenas sobre o portador do HIV/Aids, mas também sobre

os familiares.

4.5 - O QUE ACONTECE COM O SER-HUMANO QUE FOI INFECTADO

PELO HIV, O VIRUS DA AIDS

Após a entrada do vírus da AIDS no organismo, uma pessoa pode infectar

outras pessoas, mesmo que ela não esteja sentindo nada e nem saiba que tem o vírus da

AIDS.

Quando o HIV está no organismo, ele entra num tipo de glóbulos brancos

especiais, que são chamados linfócitos. O vírus fica trabalhando escondido durante

muito tempo, usando e destruindo os linfócitos para se multiplicar. Quando destrói um

linfócito, ele vai em busca de outros, até que o sistema imunológico da pessoa fica fraco

e sem condições de reagir ao ataque de outros agentes/patógenos.

É nesse momento que microorganismos causadores de doenças podem causar

várias patologias chamados de oportunistas.

26

Já o período de incubação é o tempo em que a pessoa já está infectada pelo HIV

e não apresenta nenhum sintoma, que mostre que ela está doente. Isto pode demorar

muitos anos.

As pessoas infectadas pelo HIV que ainda não desenvolveram a doença, são

chamadas de soropositivos ou portadores assintomáticos. E não é possível saber quando

a pessoa que tem o HIV vai começar a ter os sintomas da doença, nem se todas vão

adoecer (BRASIL, 2007).

4.6 - OS SINTOMAS DA AIDS

Como nessa doença a pessoa fica com o organismo muito fraco, as doenças que

aparecem podem ser de vários tipos e os sintomas são parecidos com os sintomas de

muitas doenças comuns.

É preciso ter cuidado para não assustar as pessoas. Às vezes, um doente está

com sintomas parecidos com os da AIDS, mas não significa que ele está infectado pelo

vírus. Só o pessoal de saúde pode avaliar o problema da pessoa e encaminhá-la para

fazer os exames necessários.

Se alguém da comunidade procura informações sobre a AIDS com o agente de

saúde, professor ou outras pessoas é porque confia nelas. Então, é importante que a

pessoa consultada esteja tranqüila e segura para dar as respostas e explicar bem

direitinho que ter sintomas não significa necessariamente estar infectado pelo HIV e ter

AIDS.

Cada pessoa reage diferentemente após ter sido infectada pelo vírus da AIDS, o

HIV. Algumas delas, algumas semanas após a infecção, podem apresentar um quadro

parecido ao de outras doenças causadas por vírus, como rubéola ou dengue (COMELLI,

2005).

A pessoa pode apresentar:

* febre baixa (38 a 38,5 Cº) todos os dias;

* dor nos músculos e nas articulações;

* dor na garganta;

* manchas vermelhas na pele;

* aparecimento de gânglios (caroços) no pescoço e nas axilas.

27

Esses sintomas desaparecem sozinhos. Muitas pessoas não sentem nada nestas

semanas depois da infecção. A maioria dos infectados com o vírus da aids passa em

média cinco anos sem sentir nada. Algumas pessoas podem passar até dez anos sem os

sintomas.

Durante essa fase em que a pessoa não sente nada, o único sinal que pode

aparecer no exame físico são os gânglios aumentados (ínguas). Estes gânglios aparecem

no pescoço, entre o ombro e o pescoço, debaixo do braço e nas virilhas. Podem também

aparecer gânglios internos que não são palpáveis (LIMA, 2005).

À medida que o organismo vai perdendo a batalha no combate ao vírus da AIDS,

o numero de vírus vai aumentando cada vez mais; enquanto isso o número de células de

defesa vai diminuindo.

Nesta fase, dizemos que a pessoa está imunodeprimida. Ela passa então a

apresentar os sinais e sintomas relacionados à infecção pelo HIV. Esses no inicio, são

leves e, depois, vão se tornando mais graves.

Mas os sintomas não colocam em risco imediato a vida do paciente, eles podem

aparecer devido a muitas outras doenças.

As pessoas que apresentarem esses sintomas e exposição à situações de risco

devem procurar o serviço de saúde. O médico é quem fará baseado nos exames, o

diagnóstico da infecção pelo HIV e vai propor o tratamento adequado.

À medida que o sistema de defesa do organismo vai enfraquecendo até quase

não funcionar mais, alguns micróbios, que antes viviam normalmente no organismo,

aproveitam a oportunidade e começam a causar as doenças que chamamos de doenças

oportunistas.

Aqui no Brasil, as doenças oportunistas que mais aparecem nas pessoas que

desenvolvem a AIDS são:

- candidíase;

- pneumonia por Pneumocistys carinii;

- tuberculose pulmonar/disseminada;

- toxoplasmose;

- herpes zoster;

- sarcoma de Kaposi;

- meningite tuberculosa.

28

4.7 ASPECTOS CLÍNICOS

A infecção aguda, também chamada de infecção retroviral aguda ou infecção

primária, ocorre em cerca de 50% a 90% dos pacientes. Seu diagnóstico é pouco

realizado devido ao baixo índice de suspeição, sendo, em sua maioria, retrospectivo. O

tempo entre a exposição e os sintomas é de cinco a 30 dias. A história natural da

infecção aguda caracteriza-se tanto por viremia elevada, como por resposta imune

intensa. Durante o pico de viremia, ocorre diminuição rápida dos linfócitos T CD4+,

que posteriormente aumentam, mas geralmente não retornam aos níveis prévios à

infecção. Observa-se, também, aumento do número absoluto de linfócitos T CD8+

circulantes, com a inversão da relação CD4+/CD8+, que se torna menor que um. Este

aumento de células T CD8+, provavelmente, reflete uma resposta T citotóxica potente,

que é detectada antes do aparecimento de anticorpos neutralizantes (MONTAGNIER,

1995).

Na infecção precoce pelo HIV, também conhecida como fase assintomática ou

de latência clínica, o estado clínico básico é mínimo ou inexistente. Alguns pacientes

podem apresentar uma linfoadenopatia generalizada persistente, flutuante e indolor.

Portanto, a abordagem clínica nestes indivíduos no início de seu seguimento prende-se a

uma história clínica prévia, investigando condições de base como hipertensão arterial

sistêmica, diabetes, DPOC, doenças hepáticas, renais, pulmonares, intestinais, doenças

psiquiátricas, uso prévio ou atual de medicamentos, enfim, situações que podem

complicar ou serem agravantes em alguma fase de desenvolvimento da doença pelo

HIV (MONTAGNIER, 1995).

Na fase sintomática inicial ou precoce, podem-se apresentar os seguintes

sintomas: sudorese noturna é queixa bastante comum e tipicamente inespecífica entre os

pacientes com infecção sintomática inicial pelo HIV. Ela pode ser recorrente e pode ou

não vir acompanhada de febre. Fadiga também é freqüentemente manifestação da

infecção sintomática inicial pelo HIV e pode ser referida como mais intensa no final da

tarde e após atividade física excessiva. Emagrecimento, diarréia, sinusopatias,

candidíase oral e vaginal, gengivite, úlceras aftosas, herpes simples recorrente, herpes

zoster e trombocitopenia são todos pertencentes à fase sintomática do HIV

(MONTAGNIER, 1995).

No estágio final da infecção pelo HIV, a fase de Aids, é comum aparecerem às

doenças oportunistas, que são doenças que se desenvolvem em decorrência de uma

29

alteração imunológica do hospedeiro. Estas são geralmente de origem infecciosa, porém

várias neoplasias também podem ser consideradas oportunistas. As infecções

oportunistas podem ser causadas por microorganismos não considerados usualmente

patogênicos, ou seja, não capazes de desencadear doença em pessoas com sistema

imune normal (MONTAGNIER, 1995).

Todo individuo que possua alguma espécie de comportamento de risco para

adquirir o HIV deve procurar um serviço de saúde para o diagnóstico e orientação

adequados, pois o acompanhamento precoce é fundamental na qualidade de vida e para

o tratamento dos infectados (PARKER, 1982).

E como nem todos os indivíduos expostos ao HIV ficam doentes, presume-se ser

necessária a presença de outros fatores que contribuam para a depressão da imunidade,

como condições ambientais e comportamentais, uso de drogas, promiscuidade sexual

com práticas sexuais específicas, infecções endêmicas (como hepatite, por exemplo),

exposição constante ao HIV/Aids, estresse físico e desnutrição (PARKER, 1982).

4.8 - TRATAMENTO PARA A AIDS

Os primeiros doentes de AIDS acabavam morrendo de dois a cinco anos depois

que começavam a apresentar os sintomas da doença. Depois começaram a ser

descobertos alguns medicamentos que atrapalham a multiplicação do HIV (COMELLI,

2005).

Em 1996 começou a ser utilizada uma mistura de remédios chamada coquetel

que está prolongando a vida das pessoas , mas ainda não se descobriu a cura definitiva

(COMELLI, 2005).

Quanto mais cedo for iniciado o tratamento, mais chances de controlar a doença

a pessoa terá. Os remédios que impedem a multiplicação do HIV são muito caros e

precisam ser tomados nos horários exatos, conforme a recomendação dos médicos. Se

não tomados nos horários corretos, não fazem efeito (COMELLI, 2005).

Em 1985, temos a fundação do Grupo de apoio e Prevenção a Aids (GAPA), em

São Paulo. Sendo a primeira organização não-governamental no Brasil, criada

especificamente para trabalhar com aids na defesa dos direitos dos portadores. No

decorrer dos anos vários outros grupos e organizações não-governamentais foram

formados no país.

30

Foi aprovada pelo órgão norte-americano de controle sobre produtos

farmacêuticos FDA (Foog and Drug Administration), em 1986, a primeira droga anti-

retroviral do grupo dos inibidores de transcriptase reversa, utilizada no tratamento da

infecção pelo HIV. Foi o primeiro medicamento destinado a pacientes com Aids. Este

revelou um impacto discreto sobre a mortalidade geral de pacientes com a doença. Por

mais significativo que tenha sido o impacto de tal fato sobre os portadores de HIV/Aids,

inúmeras pessoas contraíram o vírus devido a não ter conhecimento de qual seria a ação

da medicação. Com o equívoco contraditório sobre o controle e a cura da doença,

muitos portadores adotaram mais liberdade em se expor sexualmente. E por mais que

cientistas estudem para encontrar a cura, ainda não existe uma medicação que possa

destruir o vírus do HIV, só se têm medicações que favorecem o prolongamento e

qualidade de vida dos portadores (FLASKERUD, 1997).

Um novo grupo de drogas para o tratamento da infecção passou a ser estudado

em 1994, os inibidores da protease. Estas drogas demonstraram potentes efeitos

antiviral isoladamente ou em associação com drogas do grupo do AZT (daí a

denominação “coquetel”). Houve diminuição imediata dos óbitos, melhora dos

indicadores da imunidade e recuperação de infecções oportunistas. Muitas desvantagens

tiveram os pacientes de nível sócio econômico baixo, dentre eles era o custo do

tratamento, o grande número de comprimidos tomados por dia e, além disto, os efeitos

colaterais que as medicações ocasionavam. Entretanto mesmo com isto, as vantagens

eram muitas, uma delas era a redução da forma significativa da mortalidade de pacientes

com HIV/Aids (BRASIL, 2000).

A partir de 1996, o Ministério da Saúde adota a conduta de disponibilizar o

tratamento com AZT a todos os pacientes de Aids notificados no país. Outros

medicamentos foram definidos e utilizados ao tratamento do HIV/Aids como os

inibidores da transcriptase reversa Nucleosídios (NRTI) contendo o Abacavir (ABC;

Zigan), Didanosina (ddi; Videx), Estavudina (D4T; Zerit), Lamivudina (3TC; Epivir),

Zidovudina (ZDV; Retrovir – AZT), e a Zalcitabina (ddC; HIVID). Também temos os

inibidores da transcriptase reversa não-nucleosídios (NNRTis) contendo as medicações

como Delavirdina (Rescriptor), Efavirenz (Sustiva), Nevirapina (Viramune) e os

inibidores da protease (Ips) contendo as medicações como: Amprenavir (APV),

Indinavir (IDV), Lopinavir (LDV/R), Nelfinavir (NFV), Ritonavir (RTV – Norvir),

Saquinavir (SQV – Fortovace).

31

4.9 - ÉTICA NA ASSISTÊNCIA AO PORTADOR DO HIV/AIDS

A ética também tem o significado de "morada humana", ou seja, o ético

significa tudo àquilo que ajuda a tornar melhor o ambiente de morada saudável. A ética

existe como referência para os seres humanos em sociedade e que esses sejam cada vez

mais humanos e capazes de enxergar as necessidades do outro, mesmo que esse tenha

uma doença estigmatizada pela sociedade.

Por ser considerada um dos princípios reguladores do desenvolvimento

histórico-cultural da humanidade a ética vem à tona com o advento da AIDS que, por se

tratar de doença que até o momento não tem cura, que tem caráter epidêmico e mobiliza

a sociedade, originou uma revolução em todos os sentidos, principalmente na discussão

ética sobre pesquisa, pois essa é a maneira confiável para descoberta da evolução da

infecção pelo HIV, vacinas e tratamento eficazes para as doenças oportunistas, o que

proporciona melhor qualidade de vida aos portadores da infecção. Esse espaço de

diálogo mostra que o pensamento ético segue a evolução científica e tecnológica que

acontece no mundo (BRASIL, 2007).

Apesar da divulgação da pandemia e dos trabalhos envolvendo o assunto, de

acordo com a Organização Mundial de Saúde, conta-se com mais de 20 milhões de

pessoas mortas pelo HIV e outras 3,7 milhões convivendo com o vírus em todo o

mundo. Desse total, há mais de 1,6 milhões de pessoas que estão vivendo com o vírus

da AIDS na América Latina.

A AIDS, considerada, atualmente, como doença crônica, conta com estudos para

a descoberta da vacina, entretanto essas não oferecem proteção total, pois é necessário

que exista trabalho educacional intenso para que a prevenção realmente se efetive e com

o intuito de que a educação seja uma constante na luta contra essa pandemia, as

pesquisas em diferentes áreas do conhecimento vêm sendo incentivadas.

Para o desenvolvimento das pesquisas, é necessário, na maioria das vezes, que

os portadores do vírus possam se dispor para contribuir com esses estudos, sendo a ética

imprescindível nesse contexto, apesar da força de diferentes segmentos, como indústrias

farmacêuticas multinacionais, profissionais de saúde com interesse científico,

portadores e agências financiadoras; faz-se também necessário um debate mais

cuidadoso acerca dos aspectos éticos na pesquisa, uma vez que há grande quantidade de

interessados envolvidos no processo.

32

Os avanços científicos têm trazido grandes vantagens para o homem, mas podem

se tornar catastróficos se utilizados indevidamente, comprometendo a vida e os

princípios da humanidade. Também, percebe-se que, quando se fala sobre a AIDS e os

avanços da ciência, existem vários pensamentos - como a atribuição da doença à

vontade divina - que podem influenciar o tratamento de muitos portadores. Entretanto,

não se deve ultrapassar a ética, pois a decisão de cada cidadão deve ser respeitada.

A AIDS trouxe à tona pontos éticos bastante delicados, pois surge a necessidade

de balancear os direitos e as necessidades do indivíduo e o bem público. Em meio a

essas questões, há as preocupações com a privacidade e a confidencialidade, já que o

pesquisador entra na vida particular e na intimidade dessas pessoas.

No Brasil, a partir da Resolução N. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde,

sobre pesquisas envolvendo seres humanos, foram criados os Comitês de Ética em

Pesquisa (Ceps) e a exigência de aprovação de um protocolo de pesquisa, que

corresponde a um conjunto de documentos, muitas vezes compreendido como

burocracia e perda de tempo pelos pesquisadores, porém "esta burocracia tem sua

legitimidade, quando mantida dentro de seus devidos limites e quando está a serviço da

cientificidade e da eticidade do projeto de pesquisa"

A partir da Resolução, anteriormente citada, a ética da pesquisa implica em: “(a)

consentimento livre e esclarecido dos indivíduos-alvo e a proteção a grupos vulneráveis

e aos legalmente incapazes (autonomia). Nesse sentido, a pesquisa envolvendo seres

humanos deverá sempre tratá-los em sua dignidade, respeitá-los em sua autonomia e

defendê-los em sua vulnerabilidade; b) ponderação entre riscos e benefícios, tanto atuais

como potenciais, individuais ou coletivos (beneficência), comprometendo-se com o

máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos; c) garantia de que danos

previsíveis serão evitados (não-maleficiência); d) relevância social da pesquisa, com

vantagens significativas para os sujeitos dela e minimização do ônus para aqueles

vulneráveis, o que garante a igual consideração dos interesses envolvidos, não perdendo

o sentido de sua destinação sócio-humanitária (justiça e eqüidade)”.

Dentre esses documentos, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido é

compreendido como exercício da cidadania do sujeito da pesquisa, porque é um direito

fundamental do ser humano. A garantia da cidadania deve ser vista como indicadora de

qualidade e está relacionada a questões referentes à autonomia, privacidade, sigilo e

anonimato.

33

A informação verdadeira é imprescindível para que o indivíduo possa se

manifestar de forma esclarecida acerca das ações da pesquisa, que poderão alterar sua

integridade física e/ou psíquica. Deve ser adaptada a cada caso, levando em

consideração o seu estado psicológico, suas condições sociais e culturais.

Consentir é um ato de decisão, que deve ser livre e isento de coação física,

psíquica ou moral. Um elemento importante no consentimento é a temporalidade,

também assegurada nos direitos do paciente e também na Res. N. 196/96 no item IV.

1a, que fala sobre "a liberdade do sujeito de se recusar a participar ou retirar o seu

consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma e sem prejuízo

ao seu cuidado". Portanto, o consentimento não é imutável, pode ser modificado ou

revogado a qualquer momento, por decisão livre e esclarecida, sem que sejam

imputadas sanções morais ou administrativas ao paciente (sujeito da pesquisa).

O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, além de ser um texto jurídico, é

um instrumento utilizado com o objetivo de facilitar a comunicação entre o pesquisador

e o pesquisado, no intuito de firmar uma parceria entre seres humanos autônomos. A

proposta é envolver o sujeito da pesquisa num processo, através do qual toma

conhecimento do propósito do pesquisador, à luz desse conhecimento decide livremente

participar ou não da pesquisa, tendo o conhecimento pleno dos riscos e benefícios

decorrentes de sua participação. Isso não significa que seja um termo de isenção de

responsabilidade do pesquisador contra processos de imperícia, imprudência e

negligência, mas, sim, de garantir que o pesquisador aja eticamente, para proteger o

sujeito da pesquisa na sua dignidade e integridade.

Vale ressaltar que a preocupação com as pessoas que são soropositivos para o

HIV, também propiciou a elaboração de medidas voltadas para preservar os direitos

dessas, através da elaboração da Declaração de compromisso sobre o HIV/AIDS.

Brasil, 2006, o Caderno de Atenção Básica, ressalta a importância da entrega do

resultado para o portador de HIV/AIDS e seus familiares, quando coloca que no

momento em que os profissionais das unidades de saúde estabelecer estratégias de

identificação, prevenção e acolhimento da população, são importantes que incluam os

grupos de maior vulnerabilidade para o HIV e outras DST na Unidade de Saúde.

Inserir ações sobre DST/HIV/AIDS na rotina do serviço demanda uma reflexão

sobre confidencialidade, ética, sigilo das informações obtidas e o abandono de atitudes

preconceituosas por parte da equipe. Muitas vezes surgem situações adversas,

surpreendentes, que impactam os procedimentos corriqueiros e exigem reformulações

34

de valores, de atitudes e de protocolos instalados. A atuação profissional deve ir além de

um “repasse de informação”.

Tendo como Rotina de Trabalho, entre outros, principalmente o acolhimento e

aconselhamento:

• ACOLHIMENTO: o serviço de saúde deve garantir confidencialidade e acesso

humanizado para o usuário que deseja realizar o teste para o HIV e para o portador de

DST e/ou de HIV/AIDS. Essa consideração deve envolver trabalhadores de todos os

setores da unidade. O usuário deve se sentir acolhido, sem discriminação,

independentemente de sua atividade profissional, orientação sexual ou estilo de vida.

Grupos populacionais considerados mais vulneráveis, como, por exemplo, profissionais

do sexo, pessoas que usam drogas, homossexuais, travestis, sempre estiveram

submetidos a julgamento moral. É importante e necessário reforçar o acolhimento

desses segmentos populacionais no serviço, como um direito de cidadania.

• ACONSELHAMENTO: toda a equipe da Atenção Básica deve compreender o

processo de aconselhamento, de forma que ele não se reduza a um único encontro entre

o profissional de saúde e o usuário (a). O aconselhamento deverá ser desenvolvido em

vários momentos, e ser estendido a grupos. Tanto a dinâmica grupal quanto a individual

deve favorecer a percepção pela pessoa de sua vulnerabilidade, a partir do

reconhecimento do que sabe e sente e do estímulo à sua participação nos atendimentos

subseqüentes. Observa-se que a avaliação da própria vulnerabilidade, em que são

explorados aspectos íntimos da sexualidade e do uso de drogas, é mais bem trabalhada

em atendimento individual. Porém, nos atendimentos em grupo, a escuta das falas dos

participantes propicia a reflexão e lembra ao usuário (a) aspectos importantes que

deverão ser tratados no atendimento individual.

Quem faz o aconselhamento, são todos os profissionais da equipe de saúde, após

capacitação específica, poderão realizar o aconselhamento, respeitando as atribuições

estabelecidas por sua categoria profissional. Para isso, é fundamental que os

profissionais:

• Tenham informações atualizadas e tecnicamente corretas sobre o HIV e AIDS, e

outras DST.

• Reconheçam suas próprias limitações e potencialidades.

• Percebam as necessidades da pessoa em atendimento, dando sempre que possível

respostas a essas demandas e respeitando a individualidade da pessoa.

35

• Adotem uma postura de acolhimento, valorizando o que a pessoa sabe, pensa e sente a

respeito de si mesma.

5 - MARCO CONCEITUAL

Ao refletirmos sobre a proposta do projeto, optamos por utilizar a teoria de

Joyce Travelbee, sendo esse o marco conceitual, embasando a trajetória a ser seguida a

partir de suas concepções e valores, por acreditarmos, assim como a autora, que em uma

relação seja ela qual for: enfermagem/paciente, enfermagem/família,

enfermagem/grupos, far-se-á necessários certos comportamentos como: respeito; boa

comunicação; ato de vontade com o outro.

De acordo com Nitschke (1991), a conceituação descrita de um referencial

teórico ou marco conceitual é:

“Uma construção mental que deve comportar uma estrutura lógica de inter-relações entre vários conceitos que o compõe. Serve para direcionar ou guiar o cuidado de enfermagem. No momento da pesquisa, o marco conceitual deve permear todos os momentos desta prática, atuando como referência sobre o que é importante observar, relacionar e planejar nas situações de interação com o cliente, além de proporcionar uma organização para a reflexão e interpretação do que está sendo vivenciado”.

Pelo fato de alguns conceitos elaborados por Travelbee serem direcionados para

a enfermagem psiquiátrica, optamos em adequar outros conceitos ao presente relatório

de pesquisa.

Assim sendo, um breve histórico da autora, algumas pressuposições básicas e os

conceitos utilizados serão descritos a seguir:

5.1. Breve Histórico de Joyce Travelbee

Joyce Travelbee nasceu em 1926. Completou sua graduação em Enfermagem em

1946 em Nova Orleans. Em 1956 fez Bacharelado em Educação concluindo seu

mestrado em 1959. Em 1973 iniciou Doutorado na Flórida, mas não o completou, pois

faleceu no mesmo ano.

36

Atuou em Enfermagem Psiquiátrica, como educadora e escritora. Em 1963,

iniciou publicando artigos em revistas de enfermagem. Seu primeiro livro foi publicado

em 1966, intitulado “Intervenção em Enfermagem Psiquiátrica”.

Travelbee (1959), afirmou que a enfermagem “necessita de uma revolução

humanística – um retorno para focalizar a função do cuidado da enfermeira – no

cuidado para (e) o cuidado sobre pessoas doentes e predizer se isto não ocorreu, pois os

consumidores necessitam de um novo e diferente trabalhador de saúde”.

A proposta do modelo de Travelbee possui alguma similaridade com o modelo

de Ida Orlando, que foi sua professora durante a graduação. Orlando, estabeleceu que a

enfermeira é responsável por ajudar o cliente a evitar e aliviar o estresse das

necessidades não satisfeitas, estabelecendo também que a enfermeira e o paciente

interagem um com o outro.

5.2. Pressuposições Básicas de Joyce Travelbee

♥ Enfermagem é um processo interpessoal que ocorre entre o enfermeiro e

indivíduo ou grupo de indivíduos;

♥ A relação enfermeiro-paciente é a essência do propósito da enfermagem;

♥ Como seres sociais, podem conhecer amar e responder aos outros,

compreendendo sua unicidade;

♥ Todos os seres humanos passam por experiências e irão procurar significados

para elas durante o processo de vida;

♥ As relações enfermeiro-paciente são baseadas na percepção do paciente;

♥ Comunicação é um processo que pode capacitar o enfermeiro a estabelecer a

relação enfermeiro-paciente.

5.3. Conceitos inter-relacionados de Joyce Travelbee

ENFERMAGEM

“È um processo interpessoal onde a enfermeira (o) assiste o ser humano, família ou

comunidade para prevenir ou enfrentar uma experiência de doença ou sofrimento.

(TRAVELBEE apud LEOPARDI, 2006, p. 252)”.

Ainda para a autora, a enfermeira (o) é uma pessoa com conhecimentos e habilidades para a assistência, uma facilitadora, interessada em ajudar os outros e a si mesma, na prevenção, promoção, recuperação e reabilitação.

37

A Enfermagem enquanto profissão é comprometida com o reconhecimento da

saúde como direito e condições dignas de vida e atua de forma a garantir a integralidade

da assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços

preventivos e curativos, planejando e propiciando a população o conhecimento sobre

saúde nos diferentes grupos e em distintos processos da vida.

SER HUMANO

“É o indivíduo único e insubstituível, original, semelhante e ao mesmo tempo desigual

em relação à outra pessoa, no presente ou futuro. (TRAVELBEE apud LEOPARDI,

2006, p. 256)”.

Ainda segundo Travelbee, o ser humano é conhecido por seus atos e seu

comportamento e não por seus pensamentos benévolos que podem jamais traduzir-se

em ajuda concreta. Ele é único e diferente, é uma pessoa capaz de dirigir e controlar sua

própria conduta, reconhecer a própria participação em uma experiência e percebê-la

correta e válida, reconhecer seu próprio sentimento e comportar-se com eles, ter senso

de humor, pensar que os problemas têm solução, aceitar sua obrigação de atuar.

Ao cuidarmos do ser humano devemos considerar os quatro princípios

fundamentais da bioética para nortear nossas ações: beneficência, não maleficência,

autonomia e justiça. A beneficência refere-se à obrigação ética de maximizar benefícios

e minimizar danos ou prejuízos, ou seja, salvaguardar o bem-estar dos sujeitos. A não-

maleficência significa não causar danos ou prejuízos, envolve abstenção e é assegurada

a todas as pessoas, sendo a primeira e grande norma de conduta dos profissionais da

área da saúde. A autonomia refere-se ao grau de poder da pessoa de tomar decisões que

afetam sua vida, sua integridade e suas relações sociais. De forma sintética, podemos

dizer que o respeito pela pessoa deve atender/primar pelo respeito à sua autonomia em

deliberar sobre suas escolhas. E aquelas pessoas com autonomia diminuída

(dependentes/vulneráveis) devem ser protegidas contra danos ou abusos

(MONTAGNIER, 1995).

A autonomia do sujeito é um dos pontos básicos que fundamenta toda e qualquer

relação entre seres humanos (MONTAGNIER, 1995).

38

COMUNICAÇÃO

“É um processo que irá permitir a um enfermeiro (a) a conseguir estabelecer uma

relação pessoa-pessoa, concretizando dessa forma a finalidade dos cuidados, que é

ajudar indivíduos as famílias a impedir ou enfrentar problemas físicos, psicológicos e

emocionais, sempre encontrando um significado para os mesmos. É a capacidade

humana de estabelecer a troca de informações e significados sobre o mundo e sobre si

mesmo. (TRAVELBEE apud LEOPARDI, 2006)”.

Através da comunicação, o ser humano, a família, as instituições e a comunidade

compartilham mensagens, sendo que pode exercer ou não, mudança no comportamento

das pessoas envolvidas, através de seu entendimento.

A comunicação constitui o fundamento cultural da pessoa humana, e, mais que

isso, da própria vida. É também uma necessidade básica, sem a qual a existência da

humanidade seria impossível. Ela está presente em todas as etapas da vida,

constituindo-se elemento essencial para a interação dos seres humanos e pode ter

objetivos específicos; pode se prestar a relações interpessoais, ligações de grupo e à

transmissão de idéias, ensinamentos, convencimentos, cultura, e lazer, dentre outros

(TRAVELBEE, 1999).

Ao falar da comunicação com o paciente, TRAVELBEE descreve algumas

técnicas que a enfermeira pode levar em consideração, entre elas: saber a hora de falar e

de calar-se; discutir temas relevantes e apropriados a cada situação; saber ouvir, mesmo

que seus pensamentos divirjam dos pensamentos do outro; usar seus atributos pessoais,

como caráter, a experiência anterior, o bom senso, o conhecimento científico e a

preocupação com o bem-estar do paciente.

INTERAÇÃO

“É um contato que envolve indivíduos, no qual há uma influência recíproca; pode ter

uma comunicação não-verbal ou verbal. (TRAVELBEE apud LEOPARDI, 2006, p.

257)”

Em sua demarcação científica Travelbee usa um conceito básico de interação

que é para ela, o contato que envolve indivíduos, e uns influenciam aos outros, através

de uma comunicação verbal ou não-verbal. A relação com o processo de saúde se

39

estabelece na capacidade de superar conflitos, que vai originar a finalidade da

enfermagem. (LEOPARDI, 2006)

RELAÇÃO PESSOA-PESSOA

“Envolve enfermeiro e paciente numa experiência recíproca, por meio da qual a

finalidade dos cuidados é realizada [...] A relação pessoa-pessoa é uma interação entre

seres humanos, na qual não se evidencia qualquer processo de hierarquia, de modo que

ambos podem compartilhar seus sentimentos, valores e significados, através do

processo de comunicação. (TRAVELBEE apud LEOPARDI, 2006, p. 257-258)”

Esta relação pessoa-pessoa constitui uma meta a ser alcançada. É o resultado

final de uma série de interações planejadas entre dois seres humanos: a enfermeira e o

paciente. Será também uma série de experiência para os pesquisadores e os pesquisados,

durante as quais, ambos desenvolvem uma capacidade crescente para estabelecer

relações interpessoais. Destaca-se que uma das características desta relação é que ambos

experienciam o crescimento e mudança de comportamento (TRAVELBEE, 1999).

Um outro ponto destacado pela autora, como fundamental para o êxito do

relacionamento pessoa-a-pessoa, é o compromisso dos envolvidos. Isto faz com que a

relação seja única e original, já que cada momento não pode ser repetido. Para ela, a

interação não pode existir sem compromisso. Comprometer-se, significa transcender-se

e interessar-se pelo bem-estar da outra pessoa. Quando se refere a transcender quer dizer

que o seu compromisso vai muito mais além do esperado, que envolve e ultrapassa

todas as dimensões que envolvem a vida daquele ser humano.

PERCEPÇÃO

“Refere-se ao movimento interno de uma pessoa para tomar consciência do mundo que

o cerca, decifrando-o de acordo com suas experiências. (TRAVELBEE apud

LEOPARDI, 2006, p. 258)”

Ao permear os objetivos da pesquisa partimos do princípio de que para perceber

de forma verdadeira como se dá a comunicação entre os adolescentes e sua família, é

necessária a criação de vínculos entre as pesquisadoras e os sujeitos da pesquisa.

A percepção pode ser descrita como a forma como vemos o mundo à nossa

volta, o modo segundo o qual o indivíduo constrói em si a representação e o

40

conhecimento que possui das coisas, pessoas e situações, ainda que, por vezes, seja

induzido ao erro. Percepcionar algo ou alguém é captá-lo através dos sentidos e também

fixar essa imagem. As relações entre o indivíduo e o mundo que o rodeia são assim

regidas pelo mecanismo perceptivo e todo o conhecimento é necessariamente adquirido

através da percepção (LEOPARDI, 1999).

5.4 - Conceitos Adotados

PACIENTE INFECTADO PELO HIV

“Ser humano que, circunstancialmente, entrou em contato com um vírus que pode vir a

causar uma doença grave, no momento ainda sem cura, mas que se mostra, a cada dia

que passa, ser uma moléstia tratável e controlável (CAMARGO, 1994).”

FAMÍLIA

“É uma unidade dinâmica constituída por pessoas que se percebe como família, que

convivem por determinado espaço de tempo, com uma estrutura e organização em

transformação, para atingir objetivos comuns, construindo uma história de vida. Os

membros da família estão unidos por laços consangüíneos, de interesse e/ou

afetividade. Tem identidade própria, possui, cria e transmite crenças, valores e

conhecimentos comuns influenciados por sua cultura e nível sócio - econômico. A

família tem direitos e responsabilidades, vivem num determinado ambiente em

interação com outras pessoas, famílias, escola, posto de saúde e outras instituições em

diversos níveis de aproximação. Define objetivos e promove meios para o crescimento e

desenvolvimento contínuo de seu processo de viver (GAPEFAM, 1995, p. 23).”

Conforme BRASIL (2007), podemos considerar família como um sistema ou

uma unidade cujos membros podem ou não estar relacionados ou viver juntos, pode

conter ou não crianças sendo elas de um único pai ou não. Nela existe um compromisso

e um vínculo entre os seus membros e as funções de cuidado da unidade consistem em

proteção, alimentação e socialização.

AMBIENTE

“É o meio físico, social, cultural, econômico, político e simbólico com o qual a família,

grupo, centro de saúde e comunidade interagem dinamicamente. É constituído por

41

todos os seres e as relações existentes entre eles, formando um conjunto de crenças,

valores que determinam o processo de viver, sem negar a própria condição humana

reflexiva de autodeterminar-se e reagir, conhecendo e criando novos valores e crenças

que podem provocar mudanças onde estão inseridos. Nele, a família e os indivíduos que

a constituem, interagem com outros, e as demais instituições e comunidade em diversos

níveis de aproximação, em condição de lazer ou trabalho, afetividade ou interesse, em

um processo dinâmico e contínuo para transformarem o ambiente e serem

transformados por ele, construindo histórias de vida, que determinam a qualidade de

vida do ambiente (GAPEFAM, 1995, p. 25).”

Travelbee não define ambiente e sim define as condições humanas e experiência

de vida em que o ser humano se depara como dor, doença, sofrimento, esperança e

desesperança, entre outras, que podem ser equacionadas.

Em geral, o ambiente consiste no conjunto das substâncias, circunstâncias ou

condições em que existe determinado objeto ou em que ocorre determinada ação.

ADESÃO

“A adesão é um processo dinâmico, multifatorial (aspectos comportamentais, psíquicos,

sociais), que requer decisões compartilhadas e co-responsabilizadas entre o usuário do

serviço, a equipe de saúde e a rede social de apoio, e com abordagem que atenda às

singularidades sócio-culturais e subjetivas, visando a uma melhor qualidade de vida

das pessoas vivendo com HIV/Aids (GAPEFAM, 1995)”.

Como diretriz do Programa Nacional de DST/Aids, Adesão é tema transversal –

perpassa todas as ações em saúde, e deve ser desempenhada por todos os profissionais

dos serviços dessa área. Também é diretriz do Programa Nacional (PN) que as ações em

DST/Aids fortaleçam as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS): humanização,

integralidade, descentralização. É nessa diretriz que as estratégias estão pautadas.

Portanto, a adesão - sendo um processo que implica em vínculos (desde o

vínculo do paciente com a própria condição, até os vínculos sociais), comportamentos e

interações que vão muito além das prescrições e o ‘cumprimento de ordens’ –

transcende, e em muito, a questão concreta do uso de medicamentos. (LIMA, 2005, p.

10)

42

A adesão ao tratamento tem representado um desafio para a assistência às

pessoas vivendo com HIV/Aids. Entendendo que adesão ao tratamento não se limita ao

uso correto e adequado dos medicamentos anti-retrovirais, as equipes de saúde devem

procurar abordar também outras questões relacionadas ao viver e conviver com

HIV/Aids, questões essas que permeiam não apenas o processo de adesão ao tratamento,

mas também o próprio processo de cuidado em HIV/AIDS (SABER VIVER, 2007).

43

6 - O PERCURSO METODOLÓGICO

Como o tema desta pesquisa envolveu o estudo da percepção do portador de

HIV e a relação com seus familiares, optou-se pela abordagem metodológica qualitativa

descritiva do tipo relato de experiência.

Segundo Trivinos, 1987, a pesquisa qualitativa descritiva pretende descrever

com exatidão os fatos e os fenômenos de determinada realidade, o que exige do

pesquisador uma série de informações sobre o que se deseja pesquisar, como por

exemplo, a população, a amostra e as questões da pesquisa.

Também segundo Leininger (1985) apud (Gualda) 2002, o paradigma qualitativo

é o mais adequado para se descobrir às características, os padrões e o significado do

fenômeno em estudo. O pesquisador entra e permanece no mundo das pessoas e utiliza

métodos naturais de investigação para observar, documentar e aprender sobre elas e seu

esquema de referências.

6.1 - Caracterização Geral do Estudo

Para Figueiredo, 2004, no método da pesquisa qualitativa descritiva do tipo

relato de experiência, está direcionado para a investigação dos significados das relações

humanas, onde suas ações são influenciadas pelas emoções e/ou sentimentos aflorados

diante das situações vivenciadas no dia-a-dia. Tem como objetivo principal a descrição

das características de determinada população ou fenômeno.

E ainda segundo o autor, o relato de experiência é o estudo que revela as ações

do indivíduo como agente humano e participante da vida social. O informante conta a

sua história e o pesquisador pode desvendar os aspectos subjetivos da cultura e da

organização social.

6.2 - Caracterização dos Sujeitos do Estudo

♥ Dez clientes do atendimento do grupo de HIV, sendo eles do sexo feminino e

masculino;

♥ Cadastrados na Unidade Central de Saúde município estudado;

♥ Residentes no município;

44

♥ Pacientes que foram até a Unidade de Saúde, para a realização de consulta com

o médico infectologista e exame de CD4 + CV que aceitaram participar do

estudo, tendo eles assinado o termo de consentimento livre e esclarecido;

♥ No sentido de preservar a identidade dos sujeitos e a confidencialidade dos

dados, os sujeitos foram identificados no texto através de nomes de artistas o

qual eles mesmos escolheram.

6.3 - O Campo da Ação

Esta proposta foi desenvolvida na Unidade Central de Saúde do município

estudado, onde está instalado o programa de DST/AIDS. Para a entrada no campo, foi

solicitada a autorização a direção da Unidade Central de Saúde, que após análise do

projeto nos autorizou a realizá-lo na instituição.

A data de início da coleta de dados foi no mês de janeiro de 2008 que se

estendeu até março de 2008. As entrevistas foram realizadas em ambiente reservado,

todas as terças e quintas-feiras das 07h00min as 12h00min horas utilizando-se a sala de

coleta de exames do programa DST/AIDS. Enquanto uma das pesquisadoras fazia os

questionamentos, a outra procurava anotar as falas com maior fidedignidade, sendo

depois digitadas.

6.4 - Coleta de Dados

Os dados iniciais foram realizados, através de observações e inferências

sobre a natureza das necessidades e compreensão do indivíduo sobre o que está

acontecendo. Nosso primeiro contato com os pacientes participantes da pesquisa

ocorreu no programa DST, na Unidade Central de Saúde quando os mesmos se

dirigiram até este local com a finalidade de consultar com o médico infectologista,

buscar medicamentos ou para coleta dos exames de CD4 e carga viral.

Para a realização desta pesquisa foi utilizado um questionário com sete

perguntas abertas, através do qual foram abordados 25 pacientes, sendo que 15 não

aceitaram participar da pesquisa e 10 concordaram com a entrevista sendo este o

número de participantes planejados para a realização desta pesquisa.

Os dados foram coletados por meio de entrevistas com os participantes no contexto

onde estão sendo atendidos, através de entrevistas abertas e conversas informais com os

45

mesmos. A obtenção das informações se deu como segue: Entrevista - com os sujeitos

do estudo referido anteriormente, utilizando-se a conversa informal sobre:

♥ Sua vida, seus projetos para o futuro após a contaminação pelo vírus HIV;

♥ O que mudou depois do resultado do HIV positivo;

♥ Como está sendo o relacionamento com a família;

♥ Quais os planos que o entrevistado tem para o futuro;

♥ Quais as dificuldades encontradas no decorrer do resultado do HIV positivo para

o paciente e seus familiares;

♥ Qual o conhecimento do paciente infectado em relação ao conjunto de sinais e

sintomas que sugerem a infecção pelo HIV;

Na abordagem ao paciente em tratamento de HIV/AIDS, explicamos o

termo de consentimento livre e esclarecido e deixamos claro que se tratava de uma

pesquisa universitária de Trabalho de Conclusão de Curso, enfatizando que poderiam

desistir da participação na pesquisa a qualquer momento.

Para os mesmos, foi assegurado, também, o anonimato conforme o termo de

consentimento livre e esclarecido.

Segundo Figueiredo (2004), a observação participante representa um modo de

obter informações, ao mesmo tempo em que implica uma série de comportamentos nas

situações em que se está envolvida. Assim sendo, o pesquisador move-se nos papéis de

observador e participante, conforme as condições encontradas em seu dia-a-dia no

trabalho de campo.

No primeiro passo, os pesquisadores concentraram-se nas observações. Observar

e escutar são os aspectos essenciais. O observador busca obter uma visão ampla da

situação e, gradualmente, faz observações detalhadas. É essencial que seja reservado

algum tempo para a documentação detalhada das observações, antes que haja interação

ou participação mais direta com as pessoas, pois isto permite verificar o que está

ocorrendo antes que a situação seja influenciada pela participação de um estranho.

Nessa fase, o observador é também observado e testado.

6.5 - Registro de Dados

Os dados obtidos para o diagnóstico foram coletados a partir das observações e

foram anotados de forma resumida no campo, para que fosse plausível a reconstrução

46

posterior das circunstâncias e relatos. As anotações completas foram feitas

posteriormente, ao final de cada período de observação.

Neste segundo passo, a observação continua, mas alguma participação ocorre. O

pesquisador começa a interagir mais com as pessoas e observa suas respostas.

6.6 - Plano e Implementação

Nesse terceiro e quarto passos de plano e implementação, as pesquisadoras

tornam-se participantes nas atividades dos informantes, ficando difícil fazer observações

detalhadas de todos os aspectos. Elas desenvolvem vários níveis de participação para

aprender com as pessoas, sentir e experimentar através do envolvimento direto nas

atividades. É importante, porém, que se mantenha sempre como observador atento,

embora isto ocorra com menor intensidade.

Do processo de observação participante, o pesquisador faz observações

reflexivas para determinar o impacto dos eventos, ou dos acontecimentos na vida das

pessoas. Observação reflexiva significa “olhar para trás”, relembrar como se desenvolve

todo o processo e avaliar como as pessoas responderam ao pesquisador. Isso o auxilia a

considerar a influência sofrida e o desempenho das pessoas. Representa uma síntese de

todo o processo de forma seqüencial e particular, para se obter uma visão integral.

6.7 - Avaliação dos Dados

No quinto passo, a avaliação dos dados aconteceu a partir da fala do sujeito do

estudo, do processo observacional. No processo de análise, foram levadas em

consideração as entrevistas e conversas informais. Na análise dos conteúdos desse

estudo, foi levado em consideração o aspecto levantado por Minayo, quando coloca que:

“A expressão mais comumente usada para representar o tratamento dos dados de uma pesquisa qualitativa descritiva é a análise de conteúdo. No entanto, o termo significa mais do que um procedimento técnico. Faz parte de histórica busca teórica e prática no campo das investigações sociais”, MINAYO (1996 p. 199)”.

Segundo Minayo (1996), assim, os conteúdos obtidos das falas e das

observações foram organizados em três momentos: a pré-análise, em que se organiza o

47

conteúdo obtido; a exploração do material, os dados a serem codificados buscando ver

nesta os elementos centrais para a discussão; e o tratamento dos resultados, a inferência

e a interpretação em que os resultados brutos serão tratados de maneira a serem

significativos e válidos, permitindo ao pesquisador a realização de inferências e

interpretações.

48

7 - RESULTADO METODOLÓGICO

Através da análise e interpretação dos dados coletados na pesquisa passamos a

descrever a temática de acordo com os sujeitos e cenários de estudo. Através de nossas

observações e conversas buscamos responder às questões que norteiam o estudo,

resgatando o tratamento dos resultados.

Com a organização e leituras dos dados coletados, podemos ordenar questões,

observações e as falas que serviram de apoio para sua interpretação. Na análise e

discussão dos dados as questões que foram apresentadas aos pacientes, são as seguintes:

1 – Qual o impacto do resultado HIV positivo para você sua família?

2 – Quais são seus projetos para o futuro após a contaminação pelo vírus HIV?

3 – O que mudou depois do resultado do exame HIV positivo?

4 – Como está sendo o relacionamento com a família?

5 – Quais os planos que você tem para o futuro?

6 – Quais as dificuldades encontradas no decorrer do resultado do HIV positivo para

você e seus familiares?

7 – Qual o conhecimento que você tem em relação ao conjunto de sinais e sintomas que

sugerem a infecção pelo HIV?

Este trabalho foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), da

Universidade do Vale do Itajaí para apreciação em agosto de 2007, mas retornou devido

a necessidade de algumas correções. Refizemos e enviamos novamente ao CEP, sendo

aprovado em Setembro de 2007, o que nos autorizou o início da coleta de dados.

No início da realização da coleta de dados tivemos dificuldade na aceitação dos

pacientes em participar da pesquisa, pois falar de HIV envolve o íntimo de uma pessoa,

e muitos pacientes não tiveram coragem nem de contar para a própria família. Mas, aos

poucos, conseguimos estabelecer uma relação de confiança com os mesmos, nos

possibilitando conhecer suas histórias, suas dificuldades, angústias, medos e dúvidas,

conseguindo assim concluir nossa pesquisa.

Outra dificuldade que encontramos foi o espaço para realizar a entrevista, pois

não haviam salas disponíveis e tivemos que utilizar a sala de coleta de exames, sendo

pequena para a presença de três pessoas, e o tempo disponível dos pacientes para

49

responderem as perguntas também foi uma dificuldade encontrada, pois alguns não

puderam responder ao questionário, por falta de tempo.

As facilidades que encontramos foi o fato de uma de nós já trabalhar no

Programa DST/AIDS e a aceitação da Coordenadora para que fosse realizada essa

pesquisa, tendo ela nos facilitado o acesso aos prontuários dos pacientes e para

conhecer o funcionamento de todo o programa.

50

8 - EVIDENCIANDO OS ASPECTOS ÉTICOS

De acordo com a Resolução 196/96 que prevê as normas de pesquisa que

envolve seres humanos, foram tomadas todas as precauções com as questões éticas,

incluindo a proteção, confidencialidade e sigilo dos pacientes e seus familiares, assim

também por parte da Instituição de Ensino, durante todo o processo da pesquisa e sua

divulgação.

Conforme Gelaim 1996, o enfoque ético, até então, estava centrado no bem estar

da pessoa isolada da comunidade, porém surge a preocupação e a necessidade de

considerar o ser humano como um ser social.

Assim, com o modelo social – problematizador, o pólo de preocupações se

desloca da pessoa individual para a coletividade, centrando-se na pessoa com a

valorização da conscientização para a conquista dos direitos e valores da cidadania com

responsabilidade ética.

No contexto de coletividade, a busca de valores humanos perdidos com a

racionalização e com a robotização é repensada. A enfermagem deve dirigir suas ações

sempre priorizando os direitos de cada indivíduo/família, para isto, a/o enfermeira/o

precisa ter conhecimento sobre o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem

(1992), do cap.II artigo 18, in Gelaim, 1996:

“O enfermeiro é responsável por manter-se atualizado, ampliando seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais, em benefício do cliente, coletividade e da profissão”.

Vasconcelos 1997 coloca que o enfermeiro deve ocupar seu espaço como

educador, sendo um agente de mudança, minimizando a carência do conhecer da

população que o cerca, abrindo novos horizontes, desmistificando certos pensamentos,

gerando maior saber e confiança, respeitando e compreendendo a diversidade de hábitos

e modos de conduta de cada família em particular, contribuindo para a preservação da

identidade dessas.

Nesta perspectiva, o Enfermeiro, em seu papel de educador, é um profissional

ético, uma vez que está exercendo e fazendo exercer a cidadania. Conforme Lima 2005,

as questões éticas não se restringem à realização de pesquisas, mas também às práticas

de intervenção: em primeiro lugar, é necessário garantir a confidencialidade: o paciente

HIV+ não quer ter seus diagnósticos difundidos, uma vez que ainda são estigmatizados.

51

O processo de Revelação Diagnóstica precisa ser cuidadosamente avaliado e

estudado pela equipe multiprofissional responsável pelo caso, pois o impacto do

diagnóstico pode ser irreversível caso seja manejado de forma inadequada ou imprópria.

Outro aspecto ético a ser considerado é o respeito às questões culturais, que contribui

para o estabelecimento de relações de confiança entre paciente e profissional de saúde, e

auxilia no aumento da auto-estima e valorização do contexto de vida do paciente, sendo

determinante para sua adesão ao tratamento.

Finalmente, o respeito ao paciente – em todos os níveis e limites, desde o

sorológico até o social amplo – e o objetivo de aprimorar práticas, visando à melhoria

da adesão, da condição de cidadania e melhor qualidade de vida. O respeito inclui e

pressupõe uma escuta qualificada, sem julgamentos morais e com objetivos claros de

cuidar da saúde do paciente da melhor maneira possível.

Foi repassado aos sujeitos da pesquisa o termo de consentimento livre e

esclarecido, que foi assinado para efetivar o início da mesma. A participação foi

voluntária, sendo colocado que os sujeitos da pesquisa poderiam desistir a qualquer

momento, comunicando aos pesquisadores da maneira que lhe melhor convir, estando

isentos de qualquer prejuízo.

52

9 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Através da análise e interpretação dos dados coletados na pesquisa, passamos a

descrever e desenvolver a temática de acordo com os sujeitos e cenário do estudo.

Através de nossas observações, buscamos responder às questões que norteiam o estudo,

realizando uma pesquisa qualitativa com abordagem descritiva, utilizando a teoria de

TRAVELBE 1979.

. Na análise e discussão dos dados apresentaremos as três grandes categorias que

emergiram a partir da codificação dos dados, foram as seguintes:

1 – Impacto do resultado HIV positivo

- Significado da doença

- Planos para o futuro

2 – Relacionamento familiar

- O compartilhar do diagnóstico

- A reação da família

- A convivência após o diagnóstico

3 – Dificuldades encontradas sobre o conhecimento da doença e os sinais e

sintomas

- Falta de informação

-Medo de ficar doente (ou do aparecimento dos sinais e sintomas)

Assim, passaremos a apresentar as nossas análises e discussões a partir das

categorias elencadas.

9.1 Impacto do resultado HIV positivo

Receber o diagnóstico de uma doença grave e incurável traz muito sofrimento,

especialmente quando se trata de uma doença carregada de atributos metafóricos, como

a Aids. Isso porque essa doença está estreitamente associada à morte, ao preconceito, à

discriminação e ao isolamento social (BRASIL, 2006).

53

9.1.1 Significado da doença

Os portadores de HIV/AIDS, ao receberem o diagnóstico, passam por um

choque emocional que os leva a perda da vontade de viver; tornam-se resistentes ao

diálogo, negativos, com baixa auto-estima e, como conseqüência, à depressão, passando

a demonstrar desinteresse pela vida (COMELLI, 2005).

O alvo do preconceito pode ser uma pessoa de outra raça, cor ou nacionalidade

ou alguém que professe uma outra religião ou crença. Há também preconceitos contra as

diversas orientações sexuais, contra aqueles que vêm de classes sociais distintas e os

que realizam determinadas atividades laborais – como os profissionais do sexo. E ainda

existe o preconceito contra os que têm alguma deficiência física ou são portadores de

alguma doença, como a aids. A discriminação é um dos elementos que mais influenciam

o cotidiano de quem possui o HIV (BRASIL, 2006).

Em 1948, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reformulou o conceito de

saúde como não sendo somente a ausência de doença, mas também a presença de um

bem-estar físico, mental e social (BRASIL, 2007).

A avaliação de qualidade de vida é baseada na percepção do indivíduo sobre o

seu estado de saúde, que também é influenciada pelo contexto cultural onde este está

inserido. Engloba aspectos gerais da vida e o bem-estar do indivíduo, portanto,

experiências subjetivas contribuem de forma importante como um parâmetro de

avaliação e julgamento dos próprios indivíduos (BRASIL, 2007).

A avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde é uma medida interessante

na avaliação do resultado do impacto da doença, saúde e tratamento, refletindo uma

mudança de paradigma, onde se enfatizava somente o perfil de segurança e eficácia do

tratamento, medidas objetivas de avaliação clínica e laboratorial para a inclusão da

percepção de saúde e impacto destas medidas na qualidade de vida, considerando a

opinião do próprio indivíduo. (BRASIL, 2007).

Na AIDS, em particular, devido ao seu curso crônico e debilitante e à incerteza

dos efeitos dos tratamentos atuais na morbidade, a avaliação da qualidade de vida é

fundamental para entender como a infecção pelo HIV afeta a vida das pessoas. Para os

portadores dessa doença crônica, onde a cura ainda não é possível e a terapia será

prolongada, a melhora na qualidade de vida tornou-se, provavelmente, o objetivo mais

importante do tratamento. (BRASIL, 2007).

54

“Foi horrível, só não me joguei embaixo do ônibus porque os amigos não deixaram” (Débora Secco).

Observamos que cada um desses seres humanos reage de uma forma; alguns têm

a capacidade de enfrentar as dificuldades, quando outros na verdade preferem fugir, e

tem os que seguem de forma construtiva os aspectos da vida que podem aflorar-lhe no

campo da consciência, em ambiente favorável, ou seja, onde ele é considerado e tratado

de modo positivo, onde é aceito e valorizado.

Diferente de outras doenças também associadas à morte, como o câncer por

exemplo, a AIDS carrega a idéia de previsão da morte em curto período de tempo e de

maneira desfigurante. Entendemos que esses aspectos vinculados à origem da epidemia,

acrescidos das manifestações da patologia, imputaram à AIDS a marca subjetiva da

associação entre satisfação de desejos discriminados ou proibidos e a morte conseqüente

(FERENCZ, 1992).

“Foi um susto, entrei em depressão” (Hellen Ganzaroli).

Após esse relato podemos trabalhar com a hipótese de que não seria

simplesmente a morte física o que se teme e nem mesmo a possível degeneração

corpórea o que se tenta evitar, mas a possibilidade de verificar em sua história aspectos

que tornariam viáveis o abandono, o desamor e a exclusão social subseqüentes, penas

passíveis de serem aplicadas aos subversivos.

Quando o sujeito recebe o diagnóstico positivo para o HIV, além de defrontar-se

com a possibilidade de adoecimento e morte, entra em contato com as representações

que tem sobre o HIV/AIDS, o que, no mais das vezes, estranha e rejeita. Nesse sentido,

o preconceito sobre o próprio diagnóstico pode ser um gerador de angústia a acelerar o

seu adoecimento (FERENCZ, 1992).

“O choque foi inevitável, mas como o HIV é uma doença que tem tratamento o impacto inicial já não existe” (Tony Ciccone).

“Pensei que era um bicho de sete cabeças, fiquei desesperada” (Camila Pitanga).

55

Percebe-se que o temor não está relacionado apenas ao vírus, mas, também, de

reconhecer-se em um desvio e ter que falar dele para outros, expondo ao mundo

aspectos de sua vida que são privados, embora, não necessariamente, segredos.

Ao receber o diagnóstico HIV com resultado positivo, a pessoa sente-se doente,

mesmo sem estar doente. Esta é uma peculiaridade deste diagnóstico: a informação

sobre a presença do HIV é equivalente a um adoecimento em si. E apesar das diferenças

subjetivas inerentes a cada pessoa, esse parece ser um aspecto comum, o que nos leva a

pensar em um fenômeno cultural e coletivo (MONTAGNIER, 1995).

Temos que reconhecer que, segundo Koller (1992), em virtude da Aids ser uma

doença que não dispõe de uma terapêutica de eficácia comprovada para sua cura, o vírus

causador da doença é visto como inimigo inevitável. O portador do HIV, quando recebe

o resultado do exame, pode ter a visão imaginária de que tudo que ele viu ou se deparou

irá acontecer com ele. O paciente infectado acha que, com a infecção pelo HIV, a

pessoa vai morrer logo, tendo medo e muitas vezes desconhecendo a própria doença;

atitudes citadas em depoimentos e que são percebidas pelo portador no início do

diagnóstico.

9.1.2 Planos para o futuro

Os sujeitos da pesquisa relatam que, após a contaminação pelo HIV, seus planos

de vida e de conquistas para o futuro não se tornaram esquecidos; a maioria deles

garante que tem sonhos e planos de viver uma vida normal e de criar os filhos e deixa-

los em boa condição de vida após sua partida.

“Que meus filhos saiam das drogas, viver com meu companheiro para o resto da vida, pois ele é bom pra mim” (Fernanda Montenegro). “Estudar de novo, para conseguir um emprego melhor, e dar uma vida boa para minhas filhas” (Helen Ganzaroli).

Durante as entrevistas fizemos um gancho da pessoa com a vida, estimulando-a

a continuar com a sua rotina e mostrando os vários caminhos que ela tem pela frente.

“Lutar muito, para viver e levar uma vida normal, voltar a estudar, viver cada dia após o outro bem vivido, quem sabe alcançar a cura” (Vitória).

56

Respeito, dignidade e solidariedade, mais do que de palavras de ordem quando

se almeja a construção de um mundo mais humano e melhor de se viver, representam

instrumentos coletivos indispensáveis para o enfrentamento da epidemia do HIV/AIDS.

“Ser estável financeiramente e independente, fazer um curso superior” (Tony Ciccone).

É fundamental que as organizações dos serviços de saúde promovam um melhor

acesso àqueles que buscam o serviço e que cada profissional incorpore em sua rotina a

preocupação de identificar os pacientes em situação de maior vulnerabilidade,

garantindo-lhes atendimento humanizado e resolutivo.

Também se faz necessário o desenvolvimento de ações na comunidade, que

promovam o aumento da percepção de risco para esses agravos, além de estimular a

adoção de práticas seguras para a saúde, fazendo assim com que o paciente tenha uma

boa adesão ao tratamento, buscando uma melhor condição de vida e tendo planos para

uma vida longa e feliz.

9.2 Relacionamento familiar

A família é considerada a instituição mais sólida desde o principio da era cristã e

tem sido objeto de estudos nos últimos anos no Brasil e no mundo. Ela vem passando

por transformações constantes, mudando seus valores e seus papéis influenciados pelas

transformações sócio-econômico-culturais de nossa sociedade. Assim, histórica e

sociologicamente, não existe modelo de organização familiar que possa ser considerado

único (ARMOND, 2004).

O portador e a família, após os períodos de isolamento e depressão, tentam

refazer suas vidas, reconstruir laços, muitas vezes familiar, ter alguém para ficar perto,

poder confidenciar e demonstrar carinho. Esta reconstrução faz com que o portador

aumente sua auto-estima, favorecendo que tenha uma expectativa de vida voltada para o

futuro. Esta reconstrução também pode estar voltada para a religião, na procura de se

sustentar espiritualmente e, talvez para o entendimento do seu próprio ser. Segundo

Gray (2000), os pacientes começam a utilizar determinadas estratégias que lhe permitem

tanto o enfrentamento como administrar o impacto do HIV/AIDS.

“Tá bem mal, meu filho caiu nas drogas, fica dois ou três dias em casa e depois embarcado, mas quando volta joga todo o dinheiro

57

fora nas drogas; não sei o que vai ser deles” (Fernanda Montenegro).

Utilizando a comunicação verbal, conseguirmos uma maior interação com os

pacientes. Percebemos que alguns tinham uma necessidade muito grande em desabafar,

de contar sua história, estabelecendo um maior contato, enquanto outros sentiram-se

mais acanhados, talvez por serem mais tímidos, por estarem diante de duas pessoas

estranhas, ou por não quererem falar sobre si mesmo.

“Distantes, meu pai e irmãs não falam comigo. Meu pai chegou a cortar o telefone para eu não ligar pra ele, para não falar com ele” (Suzana Vieira).

Percebemos que, no momento em que se localiza um risco ou perigo no outro, utilizando mecanismos mágicos de proteção, as pessoas ficam ainda mais vulneráveis, já que acredita-se na existência da ameaça no campo vivencial. Deixa-se de elaborar estratégias eficazes de prevenção à medida que somente se toma uma atitude de defesa própria quando o indivíduo se sente ameaçado.

Nesta interação, há um indivíduo que precisa dos serviços de um profissional e um enfermeiro que auxilia na satisfação das necessidades dos indivíduos, pois esses são capazes de fazer suas opções dentro desse processo. Caberá ao enfermeiro escolher a maneira eficaz de oferecer a ajuda necessária (LEOPARDI, 2006).

Ferenczi 1992 aponta a fragmentação como uma tentativa de suportar o impacto.

O sujeito teria assim a possibilidade de diluir o sofrimento para se restabelecer.

Inicialmente a consciência, tal como estava estabelecida antes, é destruída; e, se isto não

é suficiente para cessar a dor, destrói a própria vida.

“Horrível, me abandonaram, só meus filhos e marido que me apóiam. Meus parentes se vou na casa deles tomar café eles esterilizam tudo, minha mãe e minha irmã me abandonaram” (Cristiane Torloni).

Percebemos que alguns pacientes receberam total apoio dos familiares quando

descobriram que estavam com HIV, não sofreram nenhum tipo de preconceito seja pela

família ou amigos. Outros foram abandonados por sua família, devido ao preconceito, à

falta de informação de como se pega a doença e ainda existem aqueles que nunca

tiveram coragem de contar para os familiares e amigos, pois eles têm medo de como

cada um iria reagir.

Cuidar não é somente assistir, que tem um sentido confinado ao ato de olhar, de

ver, muitas vezes sem perceber, sem entender porque não interpretou o que assistiu e o

que viu.

Pensar o cuidado nos remete à questão da humanização da assistência à saúde,

que é uma demanda atual e crescente no contexto brasileiro. Essa humanização pode ser

vista sob um prisma multidimensional, requerendo, portanto, atenção a inúmeros

aspectos, dentre eles o cuidar (MONTAGNIER, 1995).

58

“Eles gostam muito de mim, me ajudaram muito, eles amam muito a mãe” (Vera Fischer).

Para Koller (1992), a interação do paciente com a família é a mola mestra para

sua recuperação, a melhora de sua auto-estima, a aceitação da medicação e da própria

doença.

Os membros da família também se sentem mal quando ficam sabendo que um

dos seus tem a infecção ou a doença; acometem-se de medos, preconceitos, apesar de

cuidar de seu ente querido. Têm uma visão de uma doença como sendo mais uma

dificuldade imposta pela vida. Porém, acreditamos que a família é uma instituição capaz

de superar os obstáculos e tentar resolver os problemas, apoiando seu membro no

enfrentamento das situações decorrentes da infecção/doença (COMELLI, 2005).

Os valores familiares guiam o desenvolvimento de normas e regras e servem

como guia geral dos comportamentos. Eles envolvem a dimensão de tempo, o

relacionamento entre as pessoas e a orientação em atividades da vida. Alguns são mais

centrais e influentes do que outros, determinando as prioridades da família para a

tomada de decisões e no enfrentamento dos estresses e crises da vida. O relacionamento

familiar com a comunidade também afeta a saúde e o funcionamento da família, uma

vez que há grande relação entre ela e os valores da comunidade (ANGELO, 1999).

A saúde física e emocional dos membros da família ocupa um papel importante

no seu funcionamento. Como os membros dela são interconectados e dependentes uns

dos outros, todos os demais são afetados e a unidade familiar como um todo será

alterada. Da mesma forma, o funcionamento da família influencia a saúde e o bem-estar

de seus membros. Pode-se dizer que a doença afeta a saúde do individuo e que essa

afeta a família. E, embora a doença em um de seus membros possa ser vista como algo

que acontece no interior da família, esta também é afetada pela forma como a doença é

tratada pelo sistema de saúde, pelos recursos disponíveis para financiar os serviços de

cuidado à saúde e pelas políticas e princípios éticos explicitados nas práticas

assistenciais. Com isso, deve-se apreender que não somente os seus membros são

interdependentes, mas também que esta interdependência se aplica à família e à

comunidade (ANGELO, 1999).

59

9.2.1 O compartilhar do diagnóstico

A partir da coleta, organização e análise dos dados observamos que os

portadores do HIV/AIDS abordados, através de seu modo de agir diante do diagnóstico

de infecção, de seu comportamento e sentimentos, sentiram mudanças em seu convívio

familiar.

Revelar um diagnóstico parece ser difícil, pois os pacientes têm a preocupação

com o que poderão se deparar, o que poderá mudar futuramente em relação à família e

amigos. São respostas que só poderão ser encontradas através da primeira revelação. E

esta revelação coloca o portador em grandes períodos de estresse. Em geral, como

coloca Stedeford (1996), a própria pessoa é quem decide sobre si, e só ela poderá

escolher o número de pessoas a quem poderá contar o segredo a seu respeito.

“Para mim, foi o medo do desconhecido, mas a informação e a força de vontade de viver me fizeram superar todos os medos e dificuldades. E em relação à família o sentimento foi o mesmo”

(Tony Ciccone).

A comunicação diagnóstica inicialmente tem caráter absoluto e o mundo mental do paciente é tomado por uma estranha nova versão de sua realidade e identidade. As pessoas lembram da revelação do resultado HIV positivo como momento decisivo em suas vidas, momento que se impõe e é inesquecível (NEDER, 1992).

A cultura também influencia a maneira como a família se adapta e enfrenta as

demandas e alterações internas e externas. As estratégias que os familiares utilizam para

lidar com as demandas influenciam a sua saúde e funcionamento. O enfrentamento pode

ser definido como respostas positivas de natureza afetiva, cognitiva e comportamental

que a família utiliza para resolver ou reduzir o estresse produzido por um evento ou

problema (ANGELO, 1999).

“Logo após o resultado positivo surgiu um câncer benigno nos olhos, coceira na pele. Foi trocada a medicação e daí comecei a melhorar. Depois descobri um câncer no colo do

útero, fui operada e estou bem” (Camila Pitanga).

Alguns pacientes sentiram-se à vontade em nos contar como foi o

impacto do resultado HIV positivo para eles e para a família, outros choravam

enquanto nos contavam, porque quando descobriram que estavam infectados

60

pelo HIV passaram por muitas dificuldades, e hoje, o fato deles ter superado os

emociona.

“A família não deu bola, pois minha mãe me deu quando eu era pequena, cai na droga, bebida e baila. Vivia na rua não tomava mais banho. Depois que tive apoio de uma psicóloga comecei a

me tratar” (Cristiane Torloni).

Aqui podemos imaginar que a estratégia de evitação aponta par o temor, a

discriminação, as incomensuráveis perdas de direitos civis e, sobretudo, a retirada do

investimento afetivo que familiares e amigos depositam nesse sujeito.

A dificuldade ou incapacidade em desempenhar ações de enfrentamento pode

criar dificuldades pessoais e interpessoais que prejudicam o manejo das situações de

crise ou doença vivida pela família (ANGELO, 1999).

A revelação é uma atitude de difícil enfrentamento, muito observado pelo

profissional no primeiro contato. Dependendo da forma como o paciente poderá vir a

reagir neste primeiro contato, o profissional, muitas vezes, escolhe qual é a melhor

conduta para revelar o diagnóstico. A revelação vem através da pessoa em que o

portador mais confia, como um amigo ou familiar que será a pessoa que mais estará em

contato com o paciente prestando cuidados e que se mostre interessado em estar perto

da sua doença.

9.2.2 A reação da família

Uma das formas de agir e pensar dos sujeitos da pesquisa, e também das

famílias, é que algo possa acontecer de ruim, além do fato de contrair uma doença

incurável, que no caso é a infecção pelo HIV/AIDS. A família se questiona e se sente

insegura. Ela, ao se deparar com o diagnóstico HIV entre seus membros, parece não

acreditar, desejando que algo no exame esteja errado. Mas quando percebem que o

resultado do exame é o correto, a família reage das mais diversas formas: nervosismo,

medo, pânico e discriminação (COMELLI, 2005).

A arte de comunicar, como processo, implica saber ouvir, entender e valorizar o

outro, favorecendo o crescimento pessoal. Assim, se verão atendidas as necessidades

expressas pela pessoa que solicita ajuda (TRAVELBEE, 1979).

61

“Para minha família eu nem contei na época, e para mim foi difícil, eu trabalhava na casa de uma enfermeira que foi quem me deu o resultado positivo do HIV e foi ela quem me deu o primeiro apoio. Nesta época eu estava grávida do meu segundo filho” (Bruna Lombardi).

Devido ao choque que o diagnóstico positivo para o HIV pode causar dentro da

família, algumas pessoas escondem seu estado de saúde, na maioria dos casos por medo

a uma reação negativa por parte dos familiares.

Por outro lado, o apoio da família afeta de maneira positiva a auto-estima, a

autoconfiança e a auto-imagem do soropositivo e traz benefícios ao tratamento,

fortalecendo o sujeito e o preparando para dar continuidade a sua vida, já que ser

portador do HIV não é motivo para aposentadorias, trancamento de matriculas de estudo

e abandono de atividades sociais, entre outros (NEDER, 1992).

A comunicação do diagnóstico (...) depende de quem comunica, de como,

quando e o que se comunica. Dependendo básica e primeiramente daquele a quem se

comunica: o paciente. Dependerá, finalmente, da relação entre eles: entre o

comunicador do diagnóstico e o paciente, com a equipe a participar desse processo

aproximador (NEDER, 1992).

Com a notícia do HIV positivo, que é associada imediatamente a AIDS, o sujeito

identifica-se com a imagem que possui do doente de AIDS. É esta imagem que reveste

o ego quando o sujeito descobre-se portador do HIV e, na maioria das vezes, é

insuportável num primeiro momento (MONTAGNIER, 1995).

“Alguns familiares tem um pouco de discriminação, por não saber muito sobre a forma de contágio da doença” (Vitória).

A família fica com receio do portador, de como lidar com a nova forma de vida,

das mudanças que o envolvem. O familiar necessita saber mais sobre a forma de

transmissão do HIV. Muitas vezes, o familiar fica com medo de se aproximar, de dar

um beijo, de apertar a mão, de comer com o talher que foi utilizado pelo portador... São

sentimentos, muitas vezes demonstrados pelo familiar, que vão ser sentidos pelo

paciente.

Com a mudança do perfil epidemiológico da infecção pelo HIV e da AIDS,

muitas questões relacionadas ao padrão sexual vêm à tona e o HIV deixa de ser uma

marca registrada de transmissão homossexual e passa a ser uma marca independente do

padrão sexual. No Brasil, como no mundo, houve um importante deslocamento no perfil

62

da infecção pelo HIV incluindo cada vez mais as mulheres nesta estatística. Segundo

Parker (1982), este deslocamento estatístico tende a indicar a “feminização” do percurso

do vírus do HIV no Brasil que, despontando no meio homossexual e atravessando a

ponte bissexual, veio hoje contaminar mulheres.

9.2.3 A convivência após o diagnóstico

Apesar de todos os avanços no tratamento anti-retroviral e das novas

perspectivas de qualidade de vida e sobrevida para os indivíduos infectados pelo HIV,

viver com HIV/AIDS continua sendo um desafio. O apoio/suporte de parceiros

familiares e amigos continuam sendo fundamentais para o paciente. E a equipe de saúde

deve estar inteirada sobre o grau de suporte que o paciente tem de amigos e familiares.

Identificar as pessoas que estão dando ou podem vir a oferecer suporte para o paciente

deve integrar a rotina de toda a equipe de saúde e não apenas a do médico. Sempre que

possível pelo menos uma destas pessoas deve comparecer a uma das consultas iniciais

para que um vínculo com a equipe de saúde possa ser estabelecido.

“A convivência com a família está sendo normal, tudo muito bem, hoje não dependo deles para nada e na época que eu descobri o resultado positivo, eu dependia muito deles” (Bruna Lombardi).

TRAVELBEE considera que cada ser humano experimenta um aprendizado onde cada um é afetado com pensamentos, sentimentos e comportamentos do outro. Daí pode-se inferir que o profissional ao trabalhar com famílias deve ter consciência

de seus conceitos, pensamentos e atitudes, para que estes não interfiram na relação com o ser humano/família.

“Todos me tratam muito bem e com compreensão” (Tony

Ciccone).

Tentamos estabelecer a relação enfermeiro/paciente, vendo esses indivíduos

como um todo, preenchendo o propósito de Enfermagem que é assistir os indivíduos, a

prevenir e enfrentar a experiência da doença e sofrimento e, se necessário, assisti-los

para que busquem significado naquela experiência.

O ser humano não vive sozinho, mas num contexto social, em que a família é

sua rede de suporte mais próxima. Por isso, para cuidá-lo, não se pode deixar de vê-lo

como um todo e integrante desse contexto. Assim, com vistas a um cuidado mais

efetivo, já não se cuida mais somente da pessoa, mas da família e dos seus membros

(TRAVELBEE, 1979).

Alves (1999) diz que os indivíduos desenvolvem modos próprios de lidar com a

situação ao discutir os significados das experiências da enfermidade. Entende-se que,

63

nas vivências criadas pelos portadores, constroem-se marcas na sociedade que trazem

uma nova visão de sua prática, crenças e valores e que serão refletidas junto à família.

A valorização dos verdadeiros amigos, com quem podemos contar em todos os

momentos da nossa vida, sejam bons ou ruins, também foi lembrada pelos sujeitos,

como pessoas em quem confiar e que são um apoio importante neste momento.

“A convivência está boa, cuidam bem de mim” (Débora Secco).

A concepção de ser humano é um dos pontos mais importantes de sua teoria,

pois é a partir desta concepção de unicidade que ela valoriza a compreensão e aceitação

das pessoas como elas são, respeitando suas individualidades, limitações e

potencialidades (TRAVELBEE, 1979).

“O relacionamento está muito bom, minha irmã para quem contei é tudo pra mim, me dá muito apoio” (Camila Pitanga).

Vimos que a família é uma unidade que está dentro de um processo contínuo de

transformação com o meio. Cada uma tem uma história própria, na qual todos se

relacionam, trocando experiências de vida. São pessoas que convivem com todo o

processo de viver de seus membros. Estão presentes na saúde e na doença, sendo muitas

vezes os que desempenham o papel principal de cuidador de seus membros.

Para TRAVELBEE a relação pessoa a pessoa é uma interação de dois ou mais

seres humanos, de modo que ambos podem compartilhar seus sentimentos, valores e

significados, mediante o estabelecimento da comunicação.

Uma das suposições de Watson (apud GEORGE, 1993) é de que as

contribuições sociais, morais e científicas da enfermagem à humanidade e à sociedade

assentam-se em seu compromisso com os ideais do cuidado humano, na teoria, na

prática e na pesquisa. A meta da enfermagem, através do processo de cuidado, é a de

auxiliar as pessoas a obterem um alto grau de harmonia em seu self, para que possam

promover o autoconhecimento, a autocura, ou obter insight do significado dos

acontecimentos que são parte da vida.

O profissional da saúde deve sempre identificar a rede de apoio disponível

(família, parceiros, amigos, trabalho, outros).

64

• Ajudar a pessoa a reconhecer suas responsabilidades e identificar dificuldades para a

adoção de práticas mais seguras, reforçando sua auto-estima e autoconfiança.

• Oferecer o teste anti-HIV e solicitá-lo, com o consentimento do (a) usuário (a).

• Informar sobre a disponibilização de insumos de prevenção no serviço e em outros

locais.

• Encaminhar o (a) paciente para outros serviços, quando necessário, incluindo

atendimento psicoterápico e/ou grupos comunitários de apoio.

9.3 Dificuldades encontradas sobre o conhecimento da doença e os sinais e

sintomas.

Tristeza, medo da morte e raiva são alguns dos sentimentos mais comuns que

assolam as pessoas que se descobrem infectadas pelo HIV. Identificar essas dificuldades

e tratá-las talvez seja um dos grandes desafios da equipe de saúde que atende pessoas

com HIV. Os sintomas constitucionais associados à progressão da doença podem afetar

significativamente a qualidade de vida relacionada à saúde em pacientes com AIDS.

Dessa forma, sintomas como febre, sudorese noturna e sensação de fadiga foram

associadas à redução importante da qualidade de vida dos pacientes, notadamente

daqueles com queixas de fadiga extrema, que levava ao comprometimento da

capacidade funcional desses indivíduos, piorando sua percepção de bem-estar. Sintomas

como náuseas e anorexia impactam negativamente todos os parâmetros relacionados à

qualidade de vida. A maioria desses sintomas são freqüentemente encontrados em

pacientes com doença avançada, e, portanto, sua correta identificação e correção pode

ser um importante fator de melhora (BRASIL, 2007).

A desnutrição é uma das mais freqüentes manifestações da AIDS em estágio

avançado. A desnutrição severa é claramente associada à maior chance de morte nesses

pacientes, independente da contagem de células CD4 (BRASIL, 2007).

A hospitalização tem impacto semelhante aos eventos referidos acima, ao

explicitar para o paciente sua incapacidade para a vida produtiva e a gravidade de sua

situação. Nesses casos, observa-se uma correlação inversa entre duração da

hospitalização e bem-estar emocional (BRASIL, 2007).

De modo semelhante, diarréia crônica e anemia estão diretamente associadas à

redução significativa da qualidade de vida em paciente com AIDS. Redução das

atividades rotineiras, da vida social e da capacidade produtiva são conseqüências

65

observadas em pacientes com diarréia crônica e/ou anemia severa. Essas afecções

podem ser sinais de doenças oportunistas sérias e também forma fortemente associados

à redução da sobrevida, independente da contagem de células CD4 (BRASIL, 2007).

Dor é um sintoma comum a várias manifestações de doença. Em portadores do

HIV, pode ser resultante de uma multiplicidade de fatores, mas claramente tem um

potencial de impacto na redução da qualidade de vida diretamente proporcional a sua

intensidade (BRASIL, 2007).

A disfunção sexual também é achado freqüentemente em pacientes com AIDS e

pode ser secundária a hipogonadismo ou fatores da esfera psicossocial, como medo de

contaminação do(a) parceiro(a). No primeiro caso, pode estar associada à redução da

massa corpórea, resultante da baixa produção de testosterona. Nessa circunstância, a

reposição hormonal pode resolver o problema de modo satisfatório. (BRASIL, 2007).

9.3.1 Falta de informação

A falta de informações por um lado nos remete à realidade da maior parte da

população, que desconhece a necessidade de exames específicos de sangue para detectar

quadros diferenciais. Por outro lado, revela-nos a presença do desamparo psíquico;

novamente não se sabe aonde se apegar, nem com quais referenciais pode-se contar. Ao

referir-se ao exame, do qual, aliás, não sabe exatamente qual sua utilidade, retorna a

questão: como surgiu o vírus, que ilustra a dificuldade de significar sua perplexidade,

por ter sido atingido por algo que não vê, não sente, não sabe de onde veio, mas está

confirmado e apresenta ameaça à sua vida (NEDER, 1992).

“No início foi muito difícil, pois não tinha conhecimento sobre o tratamento, pois era difícil de lidar com este resultado, mas hoje em dia já tiramos de letra as dificuldades. Sobre os sinais e sintomas são infecções com freqüência devido à baixa imunidade, perda de peso repentina, palidez, todo um conjunto que aparece numa pessoa saudável, que de repente começa a ficar doente com freqüência, ex: pneumonias, gripes que derrubam fácil, febres do nada, diarréias freqüentes, manchas no corpo. Simplesmente quando a pessoa não tem mais saúde começa a ter problemas do nada” (Vitória).

Quanto ao ser humano, TRAVELBEE o considera como um ser único, com

características únicas, com certas necessidades humanas e fisiológicas básicas que

devem ser satisfeitas para a sua sobrevivência e o alcance da saúde mental. E é possível

66

perceber uma congruência em seus conceitos, sendo que o seu foco central está na

relação terapêutica e no encontro do significado ou sentido na doença e na vida.

A aceitação do diagnóstico positivo para o HIV pode ser dificultada pela

experiência pessoal: vergonha e sensação de culpa por ter se arriscado e se contaminado

quando já sabia como se prevenir. Então, o paciente sente medo de sofrer com o

julgamento rígido de seus familiares, grupo de amigos, relacionamento afetivo e na vida

profissional.

Os sintomas aparecem durante o pico da viremia e da atividade imunológica. E

as manifestações clínicas podem variar desde quadro gripal até uma síndrome

mononucleose-like.

Além de sintomas de infecção viral, como febre, adenopatias, faringite, mialgia,

artralgia, rash cutâneo máculopapular eritematoso, ulcerações muco-cutâneas

envolvendo mucosa oral, esôfago e genitália, hiporexia, adinamia, cefaléia, fotofobia,

hepatoesplenomegalia, perda de peso, náuseas e vômitos, os pacientes podem apresentar

candidíase oral, neuropatia periférica, meningoencefalite asséptica e síndrome de

Guillan-Barré (COMELLI, 2005).

9.3.2 Medo de ficar doente (ou do aparecimento dos sinais e sintomas)

A angústia frente ao possível diagnóstico positivo, em geral, precede à

realização do exame. Sobre isto, Freud aponta que diante do perigo exterior de um dano

esperado e previsto antecipa-se a angústia real, cuja função é preparar o sujeito para a

situação de perigo. Durante o tempo de espera, as fantasias sobre o resultado acirram-se

e com a confirmação do HIV a angústia é intensificada. Os temores e fantasias

despertados anteriormente passam a integrar (ou desintegrar) a realidade do sujeito

naquele instante. A ruptura de campo no momento do diagnóstico está relacionada à

intensidade de angústia despertada pela revelação (NEDER, 1992).

A dor é grande e o esforço para recuperar-se também. Além da angústia real

associada ao medo (dos sintomas, do adoecimento e da morte), há a angústia provocada

pelo que é mobilizado psiquicamente, ou seja, a ameaça de desorganização. As idéias de

suicídio e morte desde o choque da comunicação do resultado indicam, nos primeiros

tempos, a tentativa de aliviar a dor: por um lado, enquanto reação de fuga, pelo medo

das consequências da infecção diagnosticada e, por outro lado, pelo desespero frente ao

desamparo psíquico, aumentado pelo sentimento de culpa.

67

“Medo do desconhecido, quanto aos sintomas são: baixa imunidade, perda de peso, perda de cabelo, coloração alterada, perda dos movimentos das pernas, distúrbios dos órgãos vitais, mais é claro que os sintomas mudam de pessoa para pessoa, em muitos casos os sintomas só aparecem quando há uma grande quantidade de vírus no corpo, pois a infecção por HIV ataca principalmente a defesa do organismo propiciando o contágio de doenças oportunistas, ou seja, secundárias” (Tony Ciccone).

Os portadores de HIV, além do transtorno emocional que qualquer doença grave

provoca, em muitos casos, têm que conviver com preconceitos, estigma e se adaptar a

uma nova realidade de vida.

“O tratamento é difícil, de vez em quando fico doente, aparece uma coisa ou outra, daí a família fica com medo, antes de ficar doente não sabia nada sobre os sintomas, eu era doadora de sangue no HEMOSC e me chamaram e disseram que o meu exame de hepatite B deu positivo, e pediram pra repetir o exame, mas a verdade é que não era hepatite e sim HIV” (Débora Secco).

Em nossa pesquisa percebemos que para uma boa adesão ao tratamento, o

indivíduo deve estar, sobretudo, consciente da importância de sua adesão à vida.

Percebemos também entre os portadores de HIV entrevistados, que além do transtorno

emocional que qualquer doença grave provoca, em muitos casos, eles têm que conviver

com preconceitos, estigma e se adaptar a uma nova realidade de vida. A adesão tem a

ver com o desejo viver.

Vimos que buscar a promoção da saúde hoje, é um desafio lançado por nós

profissionais já que o mesmo inclui um conhecimento amplo da população de nossa

responsabilidade.

Através da relação pessoa-a-pessoa conseguimos concluir nossa pesquisa com os

dez pacientes entrevistados e junto com eles compartilhamos seus sentimentos, dúvidas,

valores e significados mantendo total respeito por cada um deles. Estabelecendo essa

relação, percebemos a importância do enfermeiro transmitir confiança ao paciente para

que se consiga alcançar a meta principal que é o cuidar. É preciso se ter certa

sensibilidade para perceber outras questões na vida do paciente, valorizando aspectos

subjetivos e sociais, podendo trazer ganhos importantes para o tratamento do paciente.

68

A aceitação do sujeito e a troca de informações dentro da família geram um

apoio emocional que fomenta a adesão ao tratamento e diminui o nível de estresse, que

tem influencia direta na ação do sistema nervoso central, que é responsável pela

ativação das defesas do organismo e, sobretudo possibilitam a expressão de emoções e

sentimentos que são comuns às pessoas de diagnóstico positivo para o HIV, tais como, a

depressão, a culpa, a raiva e a negação. A família surge então como um espaço de

proteção e contenção, tanto físico como emocional (NEDER, 1992).

TRAVELBEE (1979) acredita que a doença ajuda as pessoas a compreender sua

limitação e condição humana. Esta sua concepção está embasada na crença de que a

experiência de doença ajuda o ser humano a crescer e se fortalecer, reconhecendo assim

sua limitação e potencialidade. A experiência de doença leva a pessoa a compreender

sua própria vida levando-o a encontrar, a partir dela, as forças interiores necessárias

para a luta travada na recuperação ou adaptação a uma situação que não pode ser

mudada. Mas esse adaptar-se, na visão da autora, não tem o sentido de conformismo,

mas de realmente compreender e aceitar sua realidade e limitação.

Até um passado bastante recente, lidar com as questões relacionadas à

incapacidade progressiva do paciente e com a perspectiva de morte se apresentava como

importantes desafios para todos os envolvidos no cuidado dos indivíduos infectados

pelo HIV. A disponibilidade de drogas anti-retrovirais potentes e seus significativos

benefícios em termos de qualidade de vida e sobrevida trouxeram novas perspectivas

para os pacientes.

No entanto, a complexidade do tratamento anti-retroviral, a necessidade de um

alto grau de adesão do paciente ao tratamento, os novos efeitos colaterais que vêm

sendo identificados e a possibilidade de ocorrência de efeitos colaterais associados ao

uso crônico desses medicamentos, apresentam-se como alguns dos novos desafios para

pacientes, familiares e amigos e profissionais de saúde.

A Organização Mundial de Saúde recomenda que a atenção para as necessidades

psicossociais seja parte integral do cuidado ao paciente com HIV. Isso inclui a

preocupação com emprego, renda, habitação, tomada de decisões embasada em

informação, capacidade de lidar com a discriminação e a doença, e tratamento de

doenças mentais leves e severas. Freqüentemente, pacientes com HIV sofrem de

ansiedade e depressão, ao ter de lidar com o significado de um teste positivo para o

vírus, com a possibilidade de doença crônica associada ao risco de vida, e com a

necessidade de adaptação de suas vidas a esses fatos. E a depressão pode reduzir a

69

motivação para busca de cuidados médicos, prejudicar a adesão à terapia, reduzir a

qualidade de vida e elevar a morbi-mortalidade. Além disso, os efeitos

neuropsiquiátricos do HIV podem levar à demência e a distúrbios que afetam a

qualidade de vida (BRASIL, 2007).

70

10 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

O HIV destrói os linfócitos - células responsáveis pela defesa do nosso

organismo -, tornando a pessoa vulnerável a outras infecções e doenças

oportunistas, chamadas assim por surgirem nos momentos em que o sistema

imunológico do indivíduo está enfraquecido. Embora o HIV tenha sido isolado de

vários fluidos corporais que continham células inflamatórias, somente o contato com

sangue, sêmem, secreções vaginais e leite materno contaminados têm sido implicados

como fontes de infecção desse vírus (BRASIL, 2006).

A epidemia do HIV / AIDS é um dos maiores desafios. Em vastas regiões do

mundo, essa doença tem rompido a estrutura familiar básica. A AIDS se tornou a

doença da família. Sempre que há um membro com AIDS, a família toda passa pelos

mesmos conflitos: negação, rejeição, raiva e resignação. Um membro de família com

AIDS aumenta as pressões sobre a família. Poderá esta família responder

adequadamente aos problemas? Há danos físicos e emocionais. Mulheres solteiras e

membros idosos das famílias são sobrecarregados com a árdua tarefa de cuidar dos

órfãos da AIDS. Até mesmo os familiares mais distantes desaparecem quando a

compaixão chega ao fim. As mulheres primeiro, e, depois, as crianças tornam-se chefes

de família. A AIDS está destruindo aqueles que produzem e se reproduzem.

Reduzir o estigma e a discriminação é ainda uma das principais medidas para

uma eficaz e eficiente resposta à epidemia de AIDS, e isso envolve diretamente as

Pessoas que vivem com HIV/AIDS (PVHA) e às DST, tais como: gays, homossexuais e

outros homens que fazem sexo com homens, transgêneros, transexuais, travestis,

prostitutas, usuários de drogas injetáveis, mulheres, principalmente as de baixa renda,

crianças em situação de risco social, além de populações em regime de confinamento,

populações que vivem em locais de difícil acesso e outras. Desde o início da epidemia,

organizações da sociedade civil lutam para ver garantido e implantado esses direitos

constitucionais e pressionam governo e a própria sociedade nessa direção. Em 1995, foi

criada a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids - RNP+/Brasil reunindo

lideranças e ativistas que vivem com HIV/Aids para somarem forças nessa luta. Em

2005, foi realizado o I Encontro Nacional da RNP+/Brasil, fato que marcou os 10 anos

de existência da rede. O lema foi bastante significativo: "Antes nos escondíamos para

morrer, hoje nos mostramos para viver".

71

Há alguns anos, receber o diagnóstico de AIDS era quase uma sentença de

morte. Atualmente, porém, a AIDS já pode ser considerada uma doença crônica. Isto

significa que uma pessoa infectada pelo HIV pode viver com o vírus, por um longo

período, sem apresentar nenhum sintoma ou sinal. Isso tem sido possível graças aos

avanços tecnológicos e às pesquisas, que propiciam o desenvolvimento de

medicamentos cada vez mais eficazes. Deve-se, também, à experiência obtida ao longo

dos anos por profissionais de saúde. E todos esses fatores possibilitam aos portadores do

vírus ter uma sobrevida cada vez maior e de melhor qualidade.

Com o intuito de compreender o impacto gerado no paciente que recebe o

resultado do HIV positivo e a reação de sua família após este resultado, tivemos a

perspectiva de ajudar a melhorar o convívio e a aceitação do paciente portador do HIV

positivo no seu contexto familiar ou da maneira que melhor fosse possível para sua

convivência com seus familiares e amigos, sendo que muitos desses pacientes não

compartilharam o resultado positivo com seus familiares e amigos, por medo não saber

como eles reagiriam diante da situação e também pela discriminação da sociedade.

Para entendermos o significado do impacto do resultado HIV positivo para o

paciente infectado e para sua família, tivemos que conhecer o conceito de família,

sabendo que essa é definida pelas suas culturas e vivências, e vários fatores podem

influenciar nesse conceito. Para algumas famílias ter um portador do HIV em seu núcleo

pode desestabilizar sua estrutura, pois muitos fatores relacionados à doença ainda não

são aceitos pela sociedade.

Consideramos que a infecção pelo HIV e Aids, está se tornando um grande

problema no contexto familiar e na sociedade que ao se depararem com um membro da

família ou até mesmo um amigo próximo infectado pelo HIV, define a doença num

primeiro impacto pelo que assistem na TV, propagandas aterrorizadoras, que sempre

tentam achar um culpado pela situação.

Diante desse fato, o portador fica sem rumo e sem reação para seguir em frente.

Não conseguindo enfrentar a realidade ele nega a doença, muitas vezes apoiado por

familiares. Através deste impacto inicial causado pelo medo do desconhecido, de sofrer,

de morrer, os pacientes acabam entrando em depressão, angústia e desistindo dos planos

que tinham de vida, de conquistas pessoais.

Conforme a Constituição da República Federativa do Brasil, as pessoas que

vivem com HIV, assim como todo e qualquer cidadão e cidadã, brasileiro e brasileira,

têm obrigações e direitos garantidos. No seu artigo 196, por exemplo, está inscrito que

72

"saúde é direito de todos e dever do Estado". No caso da AIDS, esse direito é sinônimo

do direito à própria vida, a ser vivido com dignidade e pleno acesso a uma saúde pública

de qualidade.

Concluí-se que não há qualquer justificativa para restringir o convívio de

indivíduos infectados pelo HIV de seus ambientes domésticos, escolares, sociais ou

profissionais.

A AIDS vai além do saber científico, mas é, antes de tudo, uma forma de viver,

com suas particularidades e limitações, pois esses a conceberam enquanto uma doença

ancorada em duas esferas: moral e psicoafetiva. A concepção moral denunciou faces

antagônicas de se viver com AIDS, demonstrando, por um lado, o sofrimento causado

pelo preconceito e discriminação e, por outro, a opção de obter ganhos com a doença,

conseguindo grandes mudanças de vida. A concepção psicoafetiva demonstrou a

importância do apoio da família e de um companheiro no dia-a-dia destes pacientes,

diminuindo o impacto negativo da doença. Já a presença da depressão demonstrou um

grave problema de saúde pública vivenciado nesses serviços de assistência especializada

à AIDS, os quais demandam sérias intervenções governamentais, com o fim de diminuir

o grande nível de sofrimento vivenciado por esses indivíduos.

Diante do diagnóstico, o portador do HIV convive com os reflexos e dúvidas de

como, para quem, quando contar, de como será a reação e os medos do que será

enfrentado, que muitas vezes, fazem com que a revelação e o compartilhar do

diagnóstico seja muito difícil, traga consigo a revelação e o constrangimento, uma vez

que diversas outras questões e segredos podem vir à tona junto com o resultado do

exame, como a sexualidade e o uso de drogas, entre outros.

A influência da doença pode fazer com que o portador se sinta debilitado

fisicamente e psicologicamente depressivo, dependente da família e amigos, o que

influencia em sua convivência.

Infelizmente, mesmo com os avanços obtidos no tratamento e com os meios de

contágios identificados, a sociedade continua a evitar o soropositivo como se o mero

contato social fosse capaz de transmitir o vírus, o que infelizmente coloca a pessoa

portadora do HIV frente a dois desafios: um seria manter o seu estado de saúde e, o

outro lutar contra o preconceito e a discriminação da sociedade que ainda confunde a

evitação do vírus com a evitação do portador do vírus, como se a pessoa e o vírus

fossem a mesma coisa, fundidos em um só estado de existência e identidade.

73

O significado do nosso trabalho está em entender o ser humano na sua

totalidade, admira-lo em sua singularidade e movimento.

Assim, acreditamos que esse trabalho é de grande necessidade, pois como

futuros enfermeiros temos um importante papel a desempenhar na sociedade, seja na

educação em saúde ou na promoção ou prevenção do HIV na sociedade, sendo que o

objetivo da enfermagem é de ajudar as pessoas a atingirem o mais alto grau de harmonia

entre a mente, o corpo e a alma (GEORGE, 1993), o que no nosso caso implica em

harmonia do portador do HIV/AIDS com sua família e a sociedade em que convive.

74

11 - REFERÊNCIAS

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79

12 - APÊNDICES

APÊNDICE A – Termo de Aceite de Orientação

EU, Maria Catarina da Rosa, professora da disciplina Saúde da Mulher, Criança,

Adolescente, Adulto e Idoso do Curso de Graduação de Enfermagem da Universidade

do Vale do Itajaí-CE IV - Biguaçu concordo em orientar as alunas: Cristiane da Silva e

Gisele Zulma de Oliveira, no decorrer do desenvolvimento da pesquisa – conforme

projeto ora submetido à aprovação.

Os orientadores estão cientes das Normas para Elaboração do Trabalho de

Conclusão do Curso, bem como, dos prazos de entrega das tarefas.

Biguaçu, 24de agosto 2007.

_____________________________

Cristinane da Silva

______________________________

Gisele Zulma de Oliviera

______________________________

Maria Catarina da Rosa

80

APÊNDICE B - Autorização para Pesquisa

Biguaçu, 24 de agosto de 2007

Para: Secretaria municipal da Saúde do Município de Biguaçu.

Responsável pelo: Programa DST/AIDS - Biguaçu

Assunto: Autorização para Pesquisa.

Prezada Senhora:

Como alunas do Curso de Graduação em Enfermagem da UNIVALI, solicitamos

a autorização para a realização das atividades, previstas em nosso Projeto de Trabalho

de Conclusão de Curso: O IMPACTO DO RESULTADO HIV POSITIVO PARA O

PACIENTE INFECTADO E SUA FAMILIA.

Assumimos o compromisso ético de manter o sigilo das informações e proteção

da imagem e prestígio dessa Instituição, sendo que estes dados serão utilizados em

nosso estudo acadêmico.

Contando com sua colaboração, agradecemos antecipadamente.

Atenciosamente,

_____________________________

Acadêmica de Enfermagem. .

______________________________

Acadêmica de Enfermagem. .

81

APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma

pesquisa. Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar

fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma

delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será

penalizado (a) de forma alguma.

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:

Título do Projeto: Impacto do Resultado HIV Positivo para o Paciente Infectado e sua

Família.

Pesquisador Responsável: Maria Catarina da Rosa

Telefone para contato: (48) 32252447 / (48) 99894590

Pesquisadores Participantes: Cristiane da Silva / Gisele Zulma de Oliveira

Telefones para contato: (48) 3243-4436 / (48) 99452570 e (48) 3285-1474 / (48)

84211432

Será plenamente esclarecido ao participante desta pesquisa que ao permitir a

presença das alunas, estará automaticamente compondo esta pesquisa que é um estudo

de cunho acadêmico, que tem como objetivo geral: Conhecer o Impacto do Resultado

do HIV Positivo para o Paciente Infectado e sua Família e será realizada no setor do

Programa DST/AIDS do Conselho Tutelar, no município de Biguaçu, no período de

novembro de 2007 a janeiro de 2008. Também estará ciente de que poderão ser

realizadas visitas domiciliares, para complementar o estudo. Ao aceitar a participação

nesta pesquisa, está garantido que o (a) senhor (a) poderá desistir a qualquer momento,

inclusive sem nenhum motivo, bastando para isso, informar sua decisão de desistência,

da maneira mais conveniente. Foi esclarecido ainda que, por ser uma participação

voluntária e sem interesse financeiro, não terá direito a nenhuma renumeração. A

participação na pesquisa não incorrerá em riscos ou prejuízos de qualquer natureza para

os senhores e/ou sua família. Os seus dados e referentes à sua família, serão sigilosos e

82

privados, sendo que poderá solicitar informações durante todas as fases da pesquisa,

inclusive após a publicação da mesma. A instituição e os senhores terão o retorno dos

resultados, pois é de extrema importância que os profissionais da área da saúde, que

atuam neste setor conheçam as dificuldades encontradas no decorrer do recebimento do

resultado do HIV positivo para o paciente e seus familiares. O procedimento realizado

nesta pesquisa para a coleta de dados, será de entrevista, sendo que o participante

escolherá seu codinome, garantindo-se privacidade e a confidência das informações.

- Nome do Pesquisador:

Maria Catarina da Rosa:

____________________________________________________

Cristiane da Silva:

________________________________________________________

Gisele Zulma de Oliveira:

___________________________________________________

CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO

Eu, _____________________________________, RG_____________, CPF

____________ abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como

sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos

nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha

participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer

momento, sem que isto leve à qualquer penalidade ou interrupção de meu

acompanhamento/assistência/tratamento.

Local e data:

_______________________________________________________________

Nome:

____________________________________________________________________

Assinatura do Sujeito ou Responsável:

__________________________________________

Telefone para contato:

_______________________________________________________