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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE ODONTOLOGIA
GERÔNIMO SCHETTERT FORTES
TOMMY LUIZ RASMUSSEN
USO DE PIERCING ORAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS EM RELAÇÃO
À SAÚDE: ESTUDO COM JOVENS DE MUNICÍPIOS DO LITORAL
NORTE CATARINENSE
Itajaí, (SC) 2011.
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GERÔNIMO SCHETTERT FORTES
TOMMY LUIZ RASMUSSEN
USO DE PIERCING ORAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS EM RELAÇÃO
À SAÚDE: ESTUDO COM JOVENS DE MUNICÍPIOS DO LITORAL
NORTE CATARINENSE
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de cirurgião-dentista pelo Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora: Profª. Elisabete Rabaldo Bottan.
Itajaí, (SC) 2011.
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GERÔNIMO SCHETTERT FORTES
TOMMY LUIZ RASMUSSEN
USO DE PIERCING ORAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS EM RELAÇÃO
À SAÚDE: ESTUDO COM JOVENS DE MUNICÍPIOS DO LITORAL
NORTE CATARINENSE
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de cirurgião-dentista, Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí, aos três dias do mês de maio do ano de dois mil e onze, é considerado aprovado.
1. Profª. Elisabete Rabaldo Bottan (Presidente) __________________________
Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)
2 Profª. Mabel Philipps_____________________________________________
Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)
3. Profª. Constanza Marin de los Rios Odebrecht ____________________________
Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço:
À nossa orientadora e amiga, Elisabete Rabaldo Bottan, pela total dedicação a este
trabalho.
Ao pai Lando e mãe Solange, obrigado por tudo, sem vocês nada disso seria possível,
por toda a ajuda, sem nunca reclamarem e sempre de coração.
Ao Camilo e Cíça, irmãos de várias vidas e a minha sobrinha Manú por me ensinar
outra forma de amor.
Aos amigos da alma: Claudia Correa (e família), Fabiane Pedão, Ellen Hoefelmann,
Heloísa Rodrigues, Brenda de Lima, Bruna Fidelix, Fernanda Ioppi, Larissa
Holderied e Tommy Rasmussen, obrigado por tudo, “tudo” mesmo.
“We are a trouble”
GERÔNIMO SCHETTERT FORTES.
A Deus, por mesmo eu tendo me afastado Dele na maior parte de minha
faculdade, e Ele não ter se afastado de mim.
Aos meus pais e a Juarez e Cleunice, por absolutamente tudo, pelo apoio e
amor incondicional e que felizmente posso dizer ser recíproco.
A professora e amiga Elisabete Rabaldo Bottan pelo tempo e paciência a mim
dedicados e pelo espírito crítico o qual espero, pelo menos em parte, ter adquirido.
Aos meus queridos amigos e à Samira, pelos grandes momentos de alegria e
também os de tristeza que compartilhamos.
Ao Gerônimo Schettert Fortes, pois sem ele não estaria concluindo mais esta
etapa acadêmica.
A Amanda Fernandez e demais colegas pela amizade, que dure tanto quanto
foram intensas e também à oportunidade maravilhosa de ter compartilhado toda esta
faculdade.
TOMMY LUIZ RASMUSSEN.
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USO DE PIERCING ORAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS EM RELAÇÃO À SAÚDE:
ESTUDO COM JOVENS DE MUNICÍPIOS DO LITORAL NORTE CATARINENSE
Acadêmicos: Gerônimo Schettert FORTES; Tommy Luiz RASMUSSEN
Orientadora: Profa. Elisabete Rabaldo BOTTAN
Defesa: setembro de 2011.
Resumo
Com o objetivo de caracterizar um grupo de adultos quanto ao uso de piercing oral e suas implicações para a saúde bucal, foi conduzida uma pesquisa descritiva, do tipo transversal, mediante coleta de dados primários. Os sujeitos foram abordados em espaços coletivos e os que aceitaram participar responderam a um questionário com perguntas fechadas, dicotômicas e de múltipla escolha. Participaram da pesquisa 395 sujeitos (39,5% do gênero masculino), com idades entre 18 e 51 anos. A maioria (94%) não fazia uso e nem havia utilizado piercing bucal. O grupo de portadores apresentou as seguintes características: 67% tinham entre 21 e 25 anos; 54% eram do gênero feminino e 67% possuíam alto nível de escolaridade (terceiro grau completo ou incompleto). Os locais de inserção do adorno foram língua (74%) e elemento dental (26%). O tempo de uso variou de seis meses a seis anos. Dos que utilizavam piercing bucal, 50% apresentaram problemas de fonação, deglutição e mastigação, fratura ou movimentação do elemento dental, em decorrência do uso daquele artefato. Para a colocação do piercing, a maioria utilizou os serviços de um body piercing. Palavras-chave: Conhecimento; Piercing Corporal; Promoção da Saúde.
Projeto Financiado pelo Programa de Iniciação Científica – PROBIC/UNIVALI
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SUMÁRIO
1 ARTIGO...................................................................................................
2 REVISÃO DA LITERATURA....................................................................
07
20
APÊNDICE................................................................................................ 52
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1 ARTIGO A SER SUBMETIDO À PUBLICAÇÃO
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USO DE PIERCING ORAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS EM RELAÇÃO À SAÚDE:
ESTUDO COM JOVENS DE MUNICÍPIOS DO
LITORAL NORTE DE SANTA CATARINA (BRASIL)
Gerônimo Schettert FORTES∗
Tommy Luiz RASMUSSEM∗∗
Elisabete Rabaldo BOTTAN ∗∗∗
Resumo
Com o objetivo de caracterizar um grupo de jovens quanto ao uso de piercing oral e suas implicações para a saúde bucal, foi conduzida uma pesquisa descritiva, do tipo transversal, mediante coleta de dados primários. Os sujeitos foram abordados em espaços coletivos e os que aceitaram participar responderam a um questionário com perguntas fechadas, dicotômicas e de múltipla escolha. Participaram da pesquisa 395 sujeitos (39,5% do gênero masculino), com idades entre 18 e 51 anos. A maioria (94%) não fazia uso e nem havia utilizado piercing bucal. O grupo de portadores apresentou as seguintes características: 67% tinham entre 21 e 25 anos; 54% eram do gênero feminino e 67% possuíam alto nível de escolaridade (terceiro grau completo ou incompleto). Os locais de inserção do adorno foram língua (74%) e elemento dental (26%). O tempo de uso variou de seis meses a seis anos. Dos que utilizavam piercing bucal, 50% apresentaram problemas de fonação, deglutição e mastigação, fratura ou movimentação do elemento dental, em decorrência do uso daquele artefato. Para a colocação do piercing, a maioria utilizou os serviços de um body piercing. Palavras-chave: Conhecimento; Piercing Corporal; Promoção da Saúde. Introdução
A utilização de piercing vem conquistando, cada vez mais, adeptos. As razões
para o uso destes adereços são muitas, tais como: necessidade de inclusão social
entre os jovens, ampla divulgação por parte da mídia, diminuição do preconceito em
relação aos portadores deste adorno, que até pouco tempo eram vistos como
pessoas marginalizadas1.
Esta é uma prática milenar, sendo adotada há mais de cinco mil anos, em
sociedades como Indonésia, Roma, Egito, tribos americanas e africanas,
∗ Acadêmico do curso de Odontologia da UNIVALI; Bolsista de Iniciação Científica. ∗∗ Acadêmico do curso de Odontologia da UNIVALI. ∗∗∗ Professora do curso de Odontologia da UNIVALI. Integrante do Grupo de pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva em Odontologia.
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aristocratas da idade média. O piercing reflete simbologias diferenciadas, como por
exemplo: ritos de elevação e de passagem espiritual, manifestações sexuais e
matrimoniais, questões religiosas e políticas e para fins comercias, já que também
eram usados na identificação de escravos3,8,24,31.
Os sacerdotes das civilizações Maias e Astecas, por exemplo, acreditavam
que somente aqueles orientadores espirituais que tivessem piercing na língua
poderiam falar com seus deuses. Tempos mais tarde, a arte de enfeitar o corpo,
direcionou-se para a expressão da distinção entre a realeza e os súditos de alguns
povos, como na civilização egípcia, em que somente a realeza podia usar estes
enfeites. No Brasil, o piercing não é um costume tão novo. Os índios da Amazônia já
tinham o hábito de colocar piercing no lábio inferior; para eles, a colocação desse
adorno significava a passagem da infância para a idade adulta, ou mesmo a
identificação com o seu grupo3.
A moda do piercing recebeu força com o movimento, hippie entre as décadas
de 60 e 70, conquistando adeptos à prática do sadomasoquismo, que viram no
adorno uma nova maneira de exaltar o corpo e suas zonas erógenas. Chegou à
Inglaterra com o movimento punk e, nos Estados Unidos, com o movimento gay nos
anos 80 e 90, chamando a atenção de restante do mundo com a combinação entre o
primitivo e o moderno8,9.
No entanto, este adorno simples é considerado uma forma de injúria intra-
oral, sob o ponto de vista odontológico. Mesmo com uma boa higiene bucal, os
adeptos não estão livres de algum tipo de alteração. Essas perfurações orais
apresentam um potencial para complicações1, que vão desde um edema até lesões
cancerígenas, dependendo do local da colocação, do tipo e esterilização do material
utilizado, experiência dos profissionais que realizam essas perfurações e da saúde
geral do paciente.
Frente aos possíveis comprometimentos à qualidade de vida, o usuário ou o
pretendente à colocação destes adornos deve ser esclarecido sobre os riscos a que
estará se expondo, mediante repasse de orientações corretas e claras por
profissionais da área da saúde. E, neste sentido, o Conselho Federal de Odontologia
(CFO) tem se mostrado sensível e pretende tomar uma posição, pois cabe aos
cirurgiões-dentistas a responsabilidade de chamar a atenção da população sobre a
importância quanto ao uso consciente deste tipo de adereço7.
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Considerando-se que, na área de abrangência da UNIVALI, não se identificou
estudos que abordem a temática do piercing oral, delineou-se este estudo com o
objetivo de caracterizar um grupo de jovens residentes em duas cidades do litoral
norte de Santa Catarina (Brasil) sobre o uso de piercing oral e implicações para a
saúde decorrentes de seu uso.
Materiais e métodos
Este estudo se caracteriza como uma pesquisa descritiva, transversal,
mediante coleta de dados primários. A população-alvo foi formada por sujeitos com
idade igual ou superior a 18 anos, que estivessem em locais de circulação pública,
de Itajaí e Balneário Camboriú (Santa Catarina).
Para determinação do plano amostral, a população foi considerada como
sendo infinita, definindo-se uma margem de erro de 5%. Deste modo, o número
mínimo de sujeitos que deveriam integrar a amostra seria de 304.
A técnica para obtenção da amostra foi por conveniência, tendo como critérios
de inclusão: a) ter condições físicas e mentais para compreender e responder às
questões do instrumento de coleta de dados; b) possuir idade igual ou superior a 18
anos; c) aceitar, por livre e espontânea vontade, participar da pesquisa, assinando o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
O instrumento de coleta de dados foi um questionário elaborado com base em
Saquet et al.28. O questionário foi composto por 17 questões fechadas, dicotômicas
e de múltipla escolha, distribuídas em duas partes. A primeira parte, com três
questões, tinha por objetivo a caracterização sociodemográfica dos pesquisados
(gênero, idade e grau de escolaridade). A segunda parte, com 14 questões, abordou
aspectos referentes ao uso do piercing e sua relação com a saúde.
Previamente à aplicação do instrumento de coleta de dados, foi realizado um
estudo piloto, com um grupo de dez (10) sujeitos integrantes da população-alvo,
para se testar o questionário e avaliar a sua aplicabilidade. Estes instrumentos não
integraram a pesquisa. O questionário foi aplicado sob a forma de entrevista, por
dois pesquisadores previamente treinados. O período da coleta de dados foi de abril
a junho de 2011.
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Os dados foram tabulados e organizados com auxílio do programa Microsoft
Excel 2007, a fim de se obter a frequência relativa das respostas emitidas em cada
questão.
O projeto foi previamente submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da
Univali, tendo recebido parecer de aprovação nº 255/10.
Resultados
Participou da pesquisa um total de 395 sujeitos, dos quais 39,5% eram do
gênero masculino e 62,5% do feminino. A idade dos pesquisados variou de 18 a 51
anos, sendo que 43,8% pertenciam à faixa etária de 18 a 20 anos, 41,1% estavam
entre 21 e 25 anos e 15,1% entre 26 e 51 anos. A maioria (74,2%) possuía o ensino
médio.
A maioria (94%) não fazia uso e nem havia utilizado piercing bucal. Um alto
percentual (89,7%) afirmou que o uso do piercing bucal pode provocar complicações
à saúde, dentre os quais os mais citados foram alterações na fala e na deglutição de
alimentos, defeitos de cicatrização e processos alérgicos. Na tabela 1, estão
dispostos os agravos citados pelos pesquisados e respectivas frequências.
Tabela 1: Complicações decorrentes do uso de piercing bucal, segundo pesquisados.
COMPLICAÇÕES % Alterações na fala e deglutição de alimentos Defeitos de cicatrização. Infecção. Dor; inchaço. Processos alérgicos. Dentes danificados Feridas na gengiva Lesões cancerígenas Transmissão de Hepatites e AIDS. Alterações no fluxo salivar. Sangramento prolongado Inflamação da válvula e tecidos cardíacos
100,0 83,1 70,1 68,6 83,1 41,4 31,4 29,9 29,9 29,1 23,8 16,5
O grupo de portadores de piercing bucal apresentou as seguintes
características: 67% tinham entre 21 e 25 anos e 33% entre 18 e 20 anos; 54% eram
do gênero feminino e 67% possuíam alto nível de escolaridade (terceiro grau
completo ou incompleto). Os locais de inserção do adorno foram língua (74%) e
11
elemento dental (26%). O tempo de uso variou de seis meses a seis anos, como
pode ser identificado no gráfico 1.
13,3
53,3
33,3
0
20
40
60
menos 1 ano de 1 a 3 anos de 4 a 6 anos
%
Gráfico 1: Distribuição da frequência relativa das categorias que indicam o tempo de uso do piercing bucal pelos integrantes da pesquisa. Sobre os motivos que levaram à opção pelo uso de piercing bucal, a maioria
relatou que foi por fatores relacionados a embelezamento/estética; os motivos e
suas respectivas frequências podem ser observados no gráfico 2.
6,7
53,3
13,3
26,7
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
Moda Beleza/Estética Identif icação comgrupo
Liberdade deexpressão
Gráfico 2: Distribuição da frequência relativa das categorias de fatores que motivaram o uso do piercing bucal pelos integrantes da pesquisa.
Quando questionados sobre com que tipo de profissional havia realizado a
colocação do piercing bucal, 73% indicaram o body piercing e 27% utilizaram os
serviços de um profissional da área da saúde. À pergunta sobre cuidados de
biossegurança na colocação do piercing bucal, a maioria destacou que o profissional
responsável pela inserção do adorno utilizou luvas e agulhas descartáveis e
materiais esterilizados (Gráfico 3). E, quanto à utilização de algum procedimento de
12
analgesia, quando da colocação do piercing bucal, 53,3% afirmaram que este
procedimento não foi adotado.
86,7
80
93,3
60
80
100
luvas descartáveis agulhas descartáveis materiais esterilizados
%
Gráfico 3: Distribuição da frequência relativa (%) das categorias que identificam os cuidados de biossegurança para colocação do piercing bucal, segundo os pesquisados.
Um total de 50% dos sujeitos pesquisados que utilizavam piercing bucal
afirmou que percebeu algum tipo de alteração em decorrência do uso daquele
artefato. As principais alterações percebidas e respectivas frequências estão
dispostas no gráfico 4.
57,1
42,9
85,7
14,3
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
deglutição, mastigação e
fonação
fluxo salivar fratura oumovimento dental
problemas decicatrização
Gráfico 4: Distribuição da frequência relativa (%) das categorias que identificam as alterações percebidas pelos pesquisados após colocação do piercing bucal. Um expressivo percentual (93%) dos usuários de piercing bucal integrantes
da pesquisa afirmou ter recebido orientações sobre como higienizar a área onde o
artefato foi colocado; no entanto, apenas, 33% disseram ter recebido informações
sobre as possíveis implicações à saúde, previamente à colocação do piercing. E,
13
74% não efetivaram consulta odontológica após a colocação do piercing bucal por
não considerarem ser necessário. Dentre os 26% que a realizaram, as causas
citadas foram: consulta de rotina (75%) e para retirar o piercing (25%).
Discussão
A palavra piercing vem do inglês pierce, que significa atravessar, perfurar. À
perfuração da pele e de suas camadas adjacentes com o objetivo de inserir um
objeto, geralmente, metálico denomina-se piercing. A origem do piercing remonta
aos rituais típicos de alguns povos antigos e significavam desde símbolos de
nobreza, evolução espiritual, atos de coragem e até serviam da marcar
escravos3,5,6,8,9,13,15,20,24,27,31,34.
Esta prática tem ganhado popularidade entre jovens de diversos países e
camadas socioeconômicas. Na sociedade atual ele apresenta uma ligação com a
adolescência e a vontade de ser diferente3,6,8,9,11,34.
Assim como os povos antigos realizavam a ornamentação do corpo com
diversos significados (religiosos, sexuais ou matrimoniais), os jovens da atualidade
utilizam estas jóias com o objetivo de decorar sua aparência, de se expressarem e
até mesmo para se identificarem com determinados grupos sócio-culturais3,13-15,28,31.
Os principais motivos apontados pela literatura que levam os jovens à colocação do
piercing, também foram identificados nesta pesquisa, pois a maioria dos
pesquisados relatou usar piercing por motivos estéticos, como meio de expressão de
identidade e por questões de modismo.
Os estudos sobre o uso de piercing ainda não indicam um número real de
usuários de piercing; no entanto, há estudos mostrando que, nos Estados Unidos da
América, 17% a 51% dos estudantes universitários possuem tatuagem ou piercing;
na Finlândia, o percentual de universitários com piercing oral era de 3,4%; e 10%
dos alunos do ensino médio eram usuários deste adorno, em Nova York20. Na
cidade de Rosário (Argentina), um estudo1 com adolescentes e adultos jovens
apontou uma frequência de 36,9% de portares de piercing ou de tatuagem. Em
nossa investigação, o índice de usuários foi de 6%.
Dentre os piercings corporais, os mais utilizados estão nos tecidos orais. Eles
podem estar posicionados na língua, mucosa do lábio, frênulo labial e bochechas,
14
porém os dois primeiros são encontrados com maior frequência e descritos como
responsáveis por traumas nos tecidos orais9,13,21,28,30.
Os achados nesta pesquisa vão ao encontro dos dados apontados pela
literatura, pois o piercing lingual foi o mais prevalente entre os usuários de piercing,
seguido pelo piercing dental. O piercing dental, quando da opção de uso deste tipo
de adorno, é mais indicado por não causar problemas, ser um processo totalmente
reversível, só sendo contra-indiciado em pacientes com alto risco de cárie, pois é um
fator retentivo de placa bacteriana12,19,23,29,30.
O piercing dental, ou twinkle, é um procedimento extremante simples e não
oferece perigo à mucosa bucal, podendo ser removido sem deixar nenhum tipo de
vestígio e sem qualquer chance de gerar dor. O termo piercing, neste caso, é
incorreto, pois o dente não sofre qualquer tipo de perfuração para a colocação da
jóia. Esta, portanto, é uma boa opção para os jovens que desejam se
diferenciar12,19,23,29,30.
Não existem relatos na literatura sobre problemas decorrentes do twinkle. O
piercing dental é um cristal de vidro colado na face vestibular do dente, com resina
fotopolimerizável, porém, para um resultado mais estético, é necessário desgastar o
esmalte dental, procedimento este que só pode ser realizado por um cirurgião-
dentista12,19,23,29,30.
O procedimento de colocação do piercing bem como seu uso são fatores que
acarretam riscos e consequências adversas para a saúde. Alterações como
aumento da salivação, sangramento, dificuldade de mastigação e fala, formação de
corrente galvânica, fratura de dente, hiperplasia tecidual e traumatismo gengival são
mais recorrentes quando instalados na língua e na mucosa jugal6,7,9,13,15,18-21,24,28,31.
Embora, ainda, seja um assunto controverso na literatura, os autores afirmam
que o piercing em lábio ou língua pode ser danoso ao periodonto, bem como pode
ocorrer desgaste dos molares e pré-molares31. Nossos resultados evidenciaram que
alterações mais frequentemente relatadas pelos pesquisados foram fratura ou
movimentação dental, alterações na fonação, dificuldades na deglutição e na
mastigação foram relatados, tais sequelas são amplamente comprovadas pela
literatura estudada2,5,6,9,10,13,15,16,19,22,27-33.
As perfurações orais representam alto potencial para infecções, pois na boca
são encontradas inúmeras bactérias e, se o piercing for manipulado constantemente,
esse potencial é aumentado. Outra alteração frequente é a inflamação, pela entrada
15
de bactérias na corrente sanguínea, sintoma comum após a perfuração. Havendo
danos aos vasos sanguíneos da língua, poderá ocorrer sangramento prolongado,
com possibilidade de chegar à grave hemorragia. A língua, em decorrência da
perfuração, pode perder mobilidade, sensibilidade3,4,15-18,20,23,25,27-31,33.
O contato constante do piercing com a gengiva pode causar recessão
gengival, expondo a raiz, que ficará vulnerável a cáries e a problemas periodontais.
A pressão do piercing pode causar fraturas de dentes e restaurações. O contato do
piercing com outros metais dentro da boca pode causar corrente galvânica, o que
pode levar à sensibilidade pulpar3,4,15-18,20,23,25,27-31,33.
Outra complicação que o piercing pode causar é o aumento da produção de
saliva, afetando a pronúncia de palavras com as letras L, T, S e R, além de
problemas de mastigação e deglutição, bem como alergia ao metal em usuários
susceptíveis. O piercing oral também foi identificado como fator de transmissão da
hepatite, AIDS11,15,19,20,26,29,31,32.
Geralmente, a população não está consciente sobre as possíveis
complicações que o piercing pode acarretar, por isso, os profissionais da odontologia
e da medicina não são procurados antes da instalação deste adorno21. Fato este,
também, identificado no grupo que investigamos, sendo que a maioria dos usuários
realizou as perfurações com body piercings e 74% dos portadores de piercing, não
procurou um cirurgião-dentista após a colocação por não julgarem necessário.
Muitos colocadores de piercing, os chamados body piercing, não têm
nenhuma qualificação profissional; geralmente, não conhecem a anatomia humana,
as condições sistêmicas do paciente e os métodos corretos de esterilização e
assepsia10,20,21,31. Por isso, é de extrema importância que os interessados na
colocação de piercing efetuem uma consulta com um médico ou cirurgião-dentista
antes da perfuração para serem esclarecidos sobre as possíveis complicações e os
cuidados com a higiene do local12,20,22,31.
Para a colocação deste adorno na boca, as condições físicas da pessoa
devem ser previamente consideradas; aspectos como se é diabética, cardíaca ou se
possui alguma doença que possa contra-indicar o uso do piercing são
importantíssimos. Frente às inúmeras situações adversas que podem decorrer da
colocação deste tipo de enfeite, é recomendado que a colocação do piercing seja
efetuada por profissionais regulamentados pelo governo, inclusive em virtude do fato
16
de que durante a perfuração há a possibilidade de transmissão de diversas doenças,
entre elas AIDS, herpes e hepatite2,12,20,31.
O cirurgião-dentista deve estar preparado para prevenir problemas
decorrentes do uso dos vários tipos de piercing oral, bem como tratar tais
complicações e, também, para fornecer informações sobre o risco que estes
artefatos podem trazer. E, em relação à higienização do piercing, deve ser
esclarecido, que, devido ao fato da jóia não apresentar uma superfície descamável,
também é capaz de acumular cálculo e placa, sendo necessária a remoção do
piercing para uma correta higiene7,12,16,19,20,22,24-30,32,33.
Conclusão
Com base nos dados analisados, concluiu-se que:
• A maioria da população investigada não fazia uso do piercing bucal;
• Os usuários, na maioria, eram jovens (21 a 25 anos), do gênero feminino,
com nível de escolaridade superior;
• Os locais de inserção do adorno foram língua (74%) e elemento dental (26%);
• O tempo de uso variou de seis meses a seis anos;
• 50% dos usuários citaram ter constatado alterações em decorrência do uso
daquele artefato;
• As principais alterações citadas foram fratura ou movimento do elemento
dental e alterações na fala, na deglutição e na mastigação;
• A maioria não teve acompanhamento de um profissional da área da saúde,
nem previamente e nem posteriormente à colocação do adorno.
USE OF ORAL PIERCING AND IMPLICATIONS TO THE HEALTH: STUDY WITH YOUNG OF CITIES OF THE COAST NORTH SANTA CATARINA (BRASIL)
Abstract
With the objective to characterize a group of young how much to the verbal use of piercing and its implications for the oral health, a descriptive research was lead, of the transversal type, by means of collection of primary data. The citizens had been boarded in collective spaces and the ones that they had accepted to participate had answered to a questionnaire with closed questions, dicotomics and of multiple choice. They had participated of the
17
research 395 citizens (39.5% of the masculine sort), with ages between 18 and 51 years. The majority (94%) did not make use and nor had used piercing oral. The group of carriers presented the following characteristics: 67% had between 21 and 25 years; 54% were of the feminine sort and 67% have high level of study (third complete or incomplete degree). The places of insertion of the adornment had been language (74%) and dental element (26%). The use time varied of six months the six years. Of that they used piercing oral, 50% had presented problems to speak, deglutition and chew, breaking or movement of the dental element, in result of the use of that device. For the rank of piercing, the majority used the one services body piercing.
Keywords: Knowledge; Body Piercing; Health Promotion
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20
REVISÃO DA LITERATURA
21
De acordo com Luca Canto, et al. (2002), o piercing é utilizado por jovens por
modismo, relacionando-se à música, à arte ou a uma forma de confrontar os
familiares. Os piercings podem causar desconfortos, como: dor, edema, abrasão
dental, septicemia, recessão gengival. Eles, também, possuem potencial
cancerígeno em decorrência do trauma, além de transmitirem doenças contagiosas,
como: AIDS, hepatite B, tétano. Contudo, esse assunto ainda parece ser um mistério
para a odontologia, pois existem poucos artigos na literatura e, também, não há
acompanhamento clínico de longo prazo para avaliar os riscos. Os dentistas
precisam ter conhecimentos sobre os riscos e consequências do uso de piercing,
além das razões que levam as pessoas a usarem esses adereços. Os dentistas
devem estar atentos para as possíveis alterações e sequelas causadas pelos
piercing bucais, e ter conhecimentos científicos para tratar cada caso. O piercing de
lábio ou labrette é usado, principalmente, por motivos estéticos; ele mede, em
média, 17 mm, externamente possui forma arredondada e, internamente, é achatado
para minimizar traumas. A resposta inflamatória decorrente de seu uso varia de
acordo com o tipo de material com que é confeccionado e com o estado de saúde
geral do paciente; é oportuno lembrar que não existe um metal 100% seguro.
Geralmente o labrette é colocado na região central do lábio inferior; o tempo médio
de cicatrização é de cinco semanas. Os piercings de lábio costumam causar menos
complicações quando comparados com os linguais. Os problemas mais comuns
desse tipo de piercing são recessão gengival e traumatismo na região anterior
inferior, quando isso acontece, o piercing deve ser removido, devido à possibilidade
de grave dano ao periodonto. O barbell, ou piercing lingual, quase sempre é
colocado na porção anterior da linha média, fugindo, assim, dos vasos e nervos que
passam nas porções laterais da língua. No momento da colocação, uma haste longa
deve ser usada até a cicatrização, que leva em média quatro semanas; ela é lenta
devido à constante movimentação da língua. Durante o período de cicatrização deve
ser evitado fumo, álcool e contato labial com outras pessoas. Após a cicatrização, a
haste longa deve ser trocada por outro, curta, a fim de diminuir os traumas. Quando
ocorre inflamação, dor e demora na cicatrização, deve ser feito debridamento da
lesão, antibióticoterapia, além da remoção do piercing. Os problemas dentais mais
frequentes são fraturas de esmalte. A conduta clínica, nesses casos, é a restauração
de elemento fraturado e a troca do piercing por outro menor ou até mesmo a sua
remoção. A gengiva, também, pode ser afetada pelo contato constante com o
22
piercing. Para uma correta higiene, o piercing deve ser removido para a escovação
da língua e completamente limpo, bem com o local onde se aloja. Uma boa opção
para os jovens que desejam se diferenciar é piercing dental, o twinkle, pois essa
modalidade não causa nenhum prejuízo aos dentes, sendo um procedimento
totalmente reversível, diferente dos outros piercings. O twinkle só pode ser colocado
por dentistas e leva no máximo dez minutos. O piercing dental só não pode ser
colocado em pacientes com alto risco de cárie, pois ele é um fator retentivo de placa
bacteriana.
Segundo Gonzáles Arrega et al. (2002), a perfuração da pele e de suas
camadas adjacentes com o objetivo de inserir um objeto, geralmente, metálico
denomina-se piercing. A origem do piercing remonta aos antigos rituais mexicanos e
africanos. Atualmente, não é mais considerado como uma excentricidade, por muitas
pessoas, mas sim como um estilo de vida. Esta moda coloca em risco a saúde dos
usuários. Devido à alta vascularização da língua, lábios e bochechas, os piercings
orais podem causar sangramento ou lesões importantes. As perfurações orais
representam alto potencial para infecções, pois na boca são encontradas inúmeras
bactérias e, se o piercing for manipulado constantemente, esse potencial é
aumentado. Outra alteração que surge é a inflamação, sintoma comum após a
perfuração. Caso ocorram danos aos vasos sanguíneos da língua, poderá haver
sangramento prolongado, com possibilidade de chegar à grave hemorragia. A
língua, em decorrência da perfuração, pode perder mobilidade, sensibilidade e
complicar processos de cicatrização. O contato constante do piercing com a gengiva
pode causar recessão gengival, expondo a raiz, que ficará vulnerável a cáries e a
problemas periodontais. A pressão do piercing pode causar fraturas de dentes e
restaurações. O contato do piercing com outros metais dentro da boca pode causar
corrente galvânica, o que pode levar à sensibilidade pulpar. Outra complicação que
o piercing pode causar é o aumento da produção de saliva, afetando a pronúncia de
palavras com as letras L, T, S e R, além de problemas de mastigação e deglutição,
bem como alergia ao metal em usuários susceptíveis. O piercing oral também foi
identificado como fator de transmissão da hepatite. Os autores conduziram uma
pesquisa, em janeiro de 2002, com 100 estudantes na área metropolitana da Cidade
do México. Os sujeitos tinham idades entre 16 e 21 anos e apresentavam
perfurações na língua e no lábio com inserção de piercing, por um período mínimo
de um ano. Foi efetuada uma avaliação clínica para determinar a existência de
23
lesões. Os resultados indicaram que os homens os principais usuários de piercing
(68%), principalmente na língua (37%) e no lábio (31%). As mulheres (32%) usam
com maior frequência no lábio (19%) e na língua (16%). Vinte e dois por cento (22%)
dos usuários de piercing lingual apresentaram mobilidade dentária. Cerca de 50%
tinham desgaste dental e 60% apresentavam fratura de esmalte. Alteração de fala
estava presente em 67% dos avaliados. Os autores concluíram afirmando que a
presença de piercing na língua ou no lábio acarretou lesões nas estruturas da
cavidade oral.
Para Medina e Martín (2003), devido à escassa literatura publicada, a
prevalência e a frequência das complicações em decorrência do uso de piercing, as
consequências adversas associadas ao piercing oral são pouco conhecidas. Dentre
os piercings corporais, os mais usados estão nos tecidos orais. A literatura reporta
como problemas decorrentes do uso dos piercings: edema, dor, inflamação, trismo,
reação ao corpo estranho, infecções, trauma gengivais e mucosos. Geralmente, a
população não está consciente sobre as possíveis complicações que o piercing pode
acarretar, por isso, os profissionais da odontologia e da medicina não são
procurados antes da instalação do piercing. Os métodos usados para realizar as
perfurações são empíricos e sem um controle asséptico adequado. Outro agravante
é o desconhecimento do tipo de metal, tipo de perfuração e técnica de colocação do
elemento
Trindade, Guaré e Bönecker (2003), efetuando uma revisão de literatura
sobre o uso de piercing, relataram que a perfuração da língua deve ser feita com
limpeza e desinfecção prévia. A perfuração deve ocorrer na linha média, evitando
assim artérias, veias e nervos, e utilizando agulha hipodérmica. Na região labial, o
local da perfuração é ditado pela estética; após a colocação, a limpeza deve ser feita
com iodopovidine e bochechos antissépticos. Os pesquisadores reportaram que, em
decorrência do uso de piercing lingual, podem aparecer complicações como: fratura
dental, trauma gengival, aumento do fluxo salivar, infecção, fratura de cúspide, dor,
dificuldade de fala e deglutição, má-oclusão e hábitos bucais deletérios, reabsorção,
prejuízos à implantação dos dentes e à estética do paciente. O metal com o qual o
piercing é produzido pode gerar corrente galvânica, pelo contado com outros metais,
que podem causar sensibilidade pulpar; por isso, deve ser dada preferência a
materiais leves ou de borracha. Também foi encontrado o relato de um caso de
Angina de Ludwig Secundária, após a colocação de piercing lingual, cuja
24
sintomatologia era: dor, edema na região do assoalho bucal. O usuário de piercing
oral corre maior risco de infecção, devido à enorme quantidade de bactérias no meio
bucal, além da inclusão de corpo estranho e sensibilidade a metais. Os piercings
orais devem ser instalados por cirurgiões-dentistas os quais devem orientar seus
pacientes sobre higienização e realizarem controle periódico, a fim de favorecer a
saúde geral do paciente. Os usuários de piercing oral devem ter os seguintes
cuidados: remover a peça diariamente para limpeza com detergente e álcool;
escovar a língua; realizar bochecho com solução anti-séptica; diminuir movimentos
língua/piercing durante a fala e mastigação; visitar o cirurgião-dentista assim quer
notar qualquer alteração. Os pesquisadores defendem a postura de que os
cirurgiões-dentistas devem estar preparados para tratar usuários de piercings,
orientar e monitorar seus pacientes, a fim de prevenir possíveis complicações,
porém devem estar atentos às ideologias que levam os pacientes a realizar as
perfurações.
No ver de Bozelli et al. (2004), os piercing orais podem ser divididos em:
Barbell, Labrette, Piercing de Bochecha e de Freio. O Barbell, ou piercing lingual,
localiza-se, geralmente, no dorso ventral e, também, no dorso lateral; o Labrette, ou
piercing labial, é facilmente encontrado no lábio inferior, abaixo do vermelhão do
lábio. O Barbell é o mais utilizado e tem como complicações mais freqüentes: dor e
hemorragia, devido à alta vascularização da língua e infecções, pois os perfuradores
não possuem orientação quanto à esterilização e desinfecção dos materiais usados.
Como os piercing possuem conexões rosqueáveis em suas extremidades, estas
podem se soltar durante a mastigação ou mesmo durante a instalação, o que pode
levar o usuário a aspiração ou ingestão das extremidades. Quebras, fraturas e
recessões gengivais são os problemas mais comuns em pacientes portadores de
piercing lingual, devido ao constante atrito da esfera metálica com os tecidos
dentários e gengivais. Para minimizar as sequelas decorrentes do uso dos piercings
orais, é recomendado o controle de placa bacteriana, a remoção do piercing duas a
três vezes por dia, para limpeza, o uso de colutórios bucais e as visitas periódicas ao
cirurgião-dentista para controle. As principais alterações causadas pelos piercing
labial são as recessões gengivais, localizadas principalmente no contato entre o
piercing e a mucosa oral e os tecidos de sustentação e proteção dos dentes.
Para Morosolli et al. (2004), em casos de colocação de piercing lingual, o
período médio de cicatrização da língua é de quatro a seis semanas; o tempo de
25
cicatrização é lento devido a constante movimentação do piercing. Nesse período,
devem ser evitados hábitos como tabagismo e alcoolismo e, caso ocorra quadro
clínico de inflamação, é necessário realizar debridamento do local, prescrição de
clorexidina e antibiótico, além da remoção do piercing. Os autores descreveram dois
casos clínicos, no primeiro, um homem com piercing na região mediana abaixo do
lábio inferior, por um período de três anos, que apresentava recessão gengival na
região do incisivo central inferior esquerdo e discreta perda óssea na mesma região.
O segundo fazia uso, por dois anos e meio, de piercing na região mediana abaixo do
lábio inferior; no exame intra-bucal, foi observado um pequeno nódulo séssil com 3
mm de diâmetro com cor semelhante a da mucosa, resultante de um agente
agressor físico. As medidas preventivas, como meios educativos e desestímulo ao
uso de piercings, são necessárias entre adolescentes e adultos jovens, pois é
confirmado pela a literatura que os usuários de piercing, parecem possuir
conhecimento limitado sobre esta prática e sobre sua própria saúde bucal. A
aplicação desses ornamentos deve ser realizada com materiais estéreis, com
orientação adequada aos pacientes, para se diminuir o risco de infecções e
complicações pós-operatórias. O twinkle (piercing dental) é uma opção de piercing
recomendada pelos autores, já que não causa nenhum problema ao usuário, pois
somente são colados na superfície vestibular dos dentes.
De acordo com Soares, Oliveira e Ferreira (2004), o piercing é uma prática
antiga e não está associada somente à juventude; ela pode estar associada a
tradições culturais e religiosas. A prática de perfuração do corpo tem ganhado
bastante popularidade entre os jovens de diversos países e camadas
socioeconômicas. Na cavidade bucal, a língua é o local mais frequentemente
escolhido para colocação do piercing. Os efeitos adversos decorrentes da colocação
dessas jóias podem ser danosos às estruturas locais, tais como: infecção, formação
de cicatriz hipertrófica, recessão gengival e fraturas dentárias. Além destes, outras
complicações têm sido relatadas, como por exemplo: deglutição do piercing, danos
em estruturas dentárias e periodontais, edema, defeitos de cicatrização, hepatite,
processos alérgicos, infecções e hemorragias. Embora, ainda, seja um assunto
controverso na literatura, os autores afirmam que o piercing em lábio ou língua pode
ser danoso ao periodonto, bem como pode ocorrer desgaste dos molares e pré-
molares. É recomendado que a colocação de piercing deva ser feita por profissionais
regulamentados pelo governo que devem obedecer às normas de biossegurança,
26
pois durante a perfuração há a possibilidade de transmissão de diversas doenças,
entre elas AIDS, herpes e hepatite. Os autores ressaltaram a necessidade e a
importância de uma consulta prévia com um médico ou cirurgião-dentista antes da
perfuração e que os interessados na colocação de piercing devem ser avisados das
possíveis complicações e dos cuidados com a higiene do local.
Segundo Andrade, Tarezan e Andrade Junior (2005), é muito importante que
os profissionais da área da saúde acompanhem as tendências que fazem parte do
mundo moderno. A arte no corpo é uma dessas tendências, que se manifesta sob a
forma de tatuagens e piercings. Os piercings são mais utilizados nas orelhas, nariz,
sobrancelhas, mamilos, genitálias e cavidade bucal ou ao redor dela. Então, quando
estes adornos são instalados na cavidade bucal, ou ao seu redor, é de
responsabilidade do cirurgião-dentista informar os pacientes interessados em
colocá-los sobre os possíveis riscos e orientar uma forma de uso menos agressiva
ao periodonto e aos dentes. Normalmente os estabelecimentos onde se realizam as
perfurações não são fiscalizados e não possuem alvará para funcionamento e,
geralmente, os responsáveis pela colocação não possuem conhecimento específico,
contribuindo para o surgimento de complicações e danos à saúde daqueles que
instalam estes adornos. Os autores entrevistaram 70 cirurgiões-dentistas e 30
acadêmicos de odontologia do último período, da cidade do Rio de Janeiro. Foram
feitas perguntas sobre: a frequência de atendimento a pacientes com piercing oral; o
interesse dos usuários em esclarecer suas dúvidas; e se os entrevistados liam
artigos sobre piercing oral e o interesse nesta área por parte dos entrevistados. Foi
constatado que apenas 41% dos profissionais e acadêmicos já atenderam pacientes
que usavam piercing oral ou perioral. Dentre os usuários, 24,39% apresentaram
alguma alteração, sendo as mais frequentes: interferência na fala e deglutição
(87%); deglutição da jóia (83%); interferência na radiografia (82%); reação alérgica
ao metal (81%); edema (75%) e dor (74%). Somente 15% dos entrevistados já foram
questionados sobre piercing oral e perioral por usuários de piercing e 99%
concordaram que é função do cirurgião-dentista orientar os pacientes sobre os
possíveis problemas que podem aparecer decorrentes do uso de piercing. Mais da
metade dos entrevistados (62%) nunca haviam lido artigos sobre piercing oral ou
perioral, isso poder explicado pelo pequeno número de publicações nacionais sobre
o assunto, porém 94% possuem interesse nessa área. Devido aos riscos envolvidos,
27
os autores dizem que campanhas deveriam ser realizadas para informar à
população.
Para Centenaro (2005), a utilização de piercing é uma prática muito antiga,
utilizada em diversas culturas e classes sociais, como nas tribos da América, África,
Indonésia, Índia, Egito. Na sociedade atual ele apresenta uma ligação com a
adolescência e a vontade de ser diferente. A moda do piercing ganhou força com o
movimento Hippie dos anos 60 e 70 e, posteriormente, com os Punks nos anos 80 e
90. Em meados dos anos 90, o piercing ganhou espaço entre os adolescentes no
mundo todo. Na cavidade bucal, o piercing na língua, no lábio superior e na
bochecha é uma manifestação das sociedades modernas ocidentais. Atualmente,
este adorno pode ser encontrado, também, na úvula, no assoalho bucal, no freio
labial e nos dentes. Os sintomas comuns após a perfuração incluem dor, inchaço,
aumento do fluxo de salivação e ferimentos na gengiva. Existem relatos da
ocorrência de diversos efeitos adversos, como infecção, formação de cicatriz
hipertrófica, recessão gengival, fraturas dentárias, desgaste dental, além de este
adorno ser causador de trauma crônico. Esta prática, quando associada a fatores
carcinogênicos, como o fumo e o álcool, pode contribuir para a ocorrência do câncer
bucal. Há uma ampla evidência que os objetos na língua podem interferir na fala,
nos dentes e na mastigação. Estas interferências podem resultar de uma batida
acidental ou de um contato inadvertidamente traumático com os dentes durante a
fala ou a mastigação.
Conforme Conti (2005), o uso do piercing, no Brasil, ganhou espaço entre os
adolescentes a partir de 1995. É um adorno simples, usado como uma forma de
expressão, marca registrada, que é muito usado por jovens nos lábios e até na
língua. Sob o ponto de vista odontológico, é considerado como uma forma de injúria
intra-oral. É preciso fazer um alerta sobre os riscos decorrentes do piercing na
língua. Mesmo com uma boa higiene bucal, os adeptos não estão livres de uma
doença. A questão é grave e merece uma atenção especial dos profissionais da
Odontologia. Na boca, as regiões onde mais se coloca o piercing são a língua e o
freio lingual, outros locais, como a mucosa labial inferior, são áreas anatômicas
menos utilizadas, tendo em vista o desconforto provocado pelo metal. Geralmente,
ao colocar o adorno na boca, as condições físicas da pessoa não são consideradas;
não é pesquisado se é diabética, cardíaca ou se possui alguma doença que possa
contra-indicar o uso do piercing. Muitos colocadores de piercing não têm nenhuma
28
qualificação profissional. Isso é inadmissível, tanto sob o ponto de vista ético como
jurídico. O dentista deve conhecer os riscos dessas peças e divulgar seu
conhecimento na comunidade e aos seus pacientes. Se, por acaso, a pessoa insistir
em colocar um piercing, ela deve ser examinada periodicamente pelo seu dentista e
ser orientada a colocar a jóia num local higiênico e com um profissional experiente.
O Conselho Federal de Odontologia se mostra sensibilizado e pretende tomar uma
posição. Cabe aos cirurgiões-dentistas a responsabilidade de chamar a atenção do
paciente para a importância do auto-exame. Para as pessoas que já têm um piercing
lingual, desaconselha-se o seu uso prolongado e devem ser orientadas sobre a
necessidade de uma higienização rigorosa.
Neste estudo, Kieser et al. (2005) investigaram o trauma bucal resultante do
uso de piercings na língua e nos lábios, em uma amostra de conveniência de 43
pacientes adultos. Os pacientes foram submetidos a um exame intraoral, seguido da
aplicação de um questionário. Cada paciente foi examinado para identificar presença
de recessão lingual, ou vestibular, dos incisivos superiores e inferiores, e trauma
sobre estes dentes. Dos 43 indivíduos que participaram (93,0% mulheres, idade
média 21 anos, faixa etária 14-34 anos), 76,7% tinham um piercing na língua, 34,9%
um piercing no lábio, e 11,6% em ambos. Somente quatro tiveram o seu processo
de perfuração realizado por um médico ou dentista. As complicações pós-colocação
do piercing foram relatadas por 34,9%A maioria das pessoas pesquisadas (80,0%)
tinha recessão gengival. A idade foi um preditor significativo da prevalência de
recessão. Estes achados sugerem que piercings orais estão associados com
recessão gengival localizada e que os prestadores de tais procedimentos devem
informar os pacientes sobre a possibilidade de que sua saúde periodontal pode ser
comprometida.
No entender de Silva, Oliveira Junior e Miranda (2005), os piercings orais são
mais frequentes na língua, porém também são vistos nos lábios, dentes, frênulos,
bochechas e úvula, nesta última, são raros, devido à dificuldade de perfurar essa
região. Os piercings podem causar problemas de cicatrização, fratura dental,
sangramento excessivo, quando a perfuração atinge vasos sanguíneos maiores,
alergias ao metal e infecções, além de dor, edema, trauma gengival. Os piercings
orais estão relacionados com o risco de desenvolvimento de endocardites, devido à
perfuração que permite que microorganismos, que são números na cavidade bucal,
entrem na corrente sanguínea e se alojem no coração de pacientes susceptíveis.
29
Estabelecimentos e operadores dessa prática (piercers), por Lei, não são
fiscalizados quanto às medidas de saúde e higiene, o que aumenta a ocorrência de
infecções locais e sistêmicas, pois os piercers não possuem nenhum tipo de
formação científica. Os dentistas devem estar preparados para tratar problemas
decorrentes do uso dos vários tipos de piercing oral e, também, para fornecer
informações sobre o risco que estes artefatos podem trazer para aqueles que fazem
uso e para aqueles que desejam usá-lo. Os materiais mais utilizados para a
confecção dos piercings são o aço cirúrgico inoxidável, ouro de 14 quilates e o
nióbio. A maioria dos piercings tem a forma de pino, argola ou de barbell; eles
devem ser removíveis para facilitar a inserção e remoção e possibilitar a limpeza e a
prevenção de infecções. Para a língua, existem dois tipos de perfuração: a
dorsoventral e a dorsolateral. A dorsoventral ocorre quando a jóia é instalada do
dorso para a superfície ventral; o piercing fica localizado na linha média da língua,
evitando assim os vasos sanguíneos. O tipo mais comum nessa região é o barbell. A
dorsolateral é usada com menor frequência, por ser um procedimento menos
seguro, pois nesse caso ambas as extremidades do piercing ficam no dorso da
língua, tendo maior chance de atingir vasos sanguíneos. Para realização destes
procedimentos, é usado uma pinça ou grampo para estabilizar a língua, enquanto a
perfuração é feita com agulha de tamanho semelhante ao da jóia. O piercing dental
é a forma de piercing mais conservadora e recomendada, é um cristal de vidro
colado na face vestibular do dente, com resina fotopolimerizável. Porém para se
obter um resultado mais estético é necessário desgastar o esmalte dental para a
acomodação do piercing, esses procedimentos devem ser realizados
exclusivamente pelo cirurgião-dentista. Há outros modos de piercing oral, o piercing
labial que é instalado em qualquer região ao redor da boca, sendo encontrado mais
facilmente no lábio inferior, próximo à comissura labial, que vai direto da parte
externa do lábio para o interior da cavidade oral, esse tipo de piercing pode
favorecer a recessão gengival na superfície vestibular anterior da mandíbula.
Para Chambrone e Chambrone (2006), o piercing é uma nova forma de arte
aplicada sobre os tecidos corporais que vem se tornando mais frequente e mais
aceita entre os jovens. Esta prática é muito conhecida pelos povos antigos,
representando uma forma de manter a tradição e a religiosidade através da inserção
de lascas de prata na língua e na bochecha, como em etnias de Singapura, por
exemplo. Os piercings apresentam forma variada, podem ser instalados em qualquer
30
parte do corpo, sendo cada vez mais fácil de serem encontrados na cavidade oral e
perioral. Alterações como aumento da salivação, sangramento, dificuldade de
mastigação e fala, formação de corrente galvânica, fratura de dente, hiperplasia
tecidual e traumatismo gengival são mais recorrentes quando instalados na língua e
na mucosa jugal. Os autores descreveram cinco casos clínicos decorrentes do uso
de piercing na boca. No primeiro caso, de um paciente de 20 anos, do sexo
masculino, com piercing na língua e na mucosa jugal labial, foram detectadas as
seguintes alterações: fratura da cúspide mésio lingual do elemento 36, reação
inflamatória nas áreas vizinhas à barbela extra-oral e ulceração da mucosa jugal em
contato com a barbela intra-oral do piercing labial, diastema entre os incisivos
centrais superiores, causado pelo hábito de pressionar o língua entre os incisivos.
No segundo caso, de paciente do gênero feminino, com 18 anos, que usava piercing
lingual, foi observado aumento de volume tecidual ao redor da haste na porção do
ventre lingual. O terceiro caso, de sujeito do gênero masculino, com 22 anos,
usuário de piercing labial inferior, foi registrado que a barbela metálica atuava como
fator irritante, causando ulceração. O quarto caso (homem de 25 anos) sobre
usuário de piercing na língua, que transpassava o frênulo labial entre os incisivos
centrais superiores, foi observado retenção de placa e inflamação gengival. No
quinto caso (mulher, 19 anos), foi diagnosticada sensibilidade dentinária causada
por um piercing labial, retrações gengivais localizadas na margem gengival
vestibular dos incisivos centrais inferiores, exposição dentinária e abrasão radicular,
provocada por trauma. O número de pacientes portadores de piercing em contado
com a cavidade oral é cada vez maior e existe a possibilidade de parte destes
indivíduos apresentarem algum tipo de alteração tecidual imediata ou tardia. Este
tempo não se apresenta bem determinado, porém um estudo clínico relata que
retrações gengivais, fraturas e perdas de estrutura dentária aparecem depois de um
espaço de dois anos de uso. Outro fato diz respeito ao tamanho da haste entre as
barbelas; hastes longas aumentam a ocorrência de lesões quando comparadas com
as curtas. Embora materiais utilizados na confecção dos piercings sejam
considerados biocompatíveis ou inertes, há relatos de casos de reação alérgica em
relação ao níquel. O peso e o formato do piercing em contato com as superfícies da
cavidade oral são considerados como um possível agente etiológico referente ao
trauma. Os autores afirmam que os profissionais da área da odontologia precisam
informar corretamente seus pacientes para que tenham um cuidado maior em
31
relação ao uso de piercing, tanto na assepsia, quanto da possibilidade de ocorrência
de trauma. Cuidados especiais, como lavar as mãos antes de tocar o piercing,
utilizar enxaguatório antibacteriano sem álcool após as refeições e evitar contato
com fluídos corporais de outras pessoas, devem ser tomados durantes o período de
cicatrização da língua que é de quatro semanas e do lábio que leva de dois a três
meses.
Fernández de Preliasco, Ferrari e Paván (2006) informaram que a utilização
de piercing tem crescido acentuadamente no mundo; a prática do uso de piercing e
a sua popularidade crescente representam um verdadeiro fenômeno social. No
entanto, os portadores de piercing correm sérios riscos em relação à saúde em
virtude, principalmente, da falta de medidas de higiene adequada na região onde o
adorno foi instalado e, também, pela falta de capacitação dos colocadores destes
enfeites, que, geralmente, não têm qualquer tipo de formação na área da saúde.
Estas circunstâncias favorecem o surgimento de infecções. Quando colocados nos
lábios, na língua, no freio lingual ou na úvula, frequentemente, causam lesões na
cavidade bucal. O objetivo deste trabalho foi avaliar as condições clínicas e
radiográficas de cinco adolescentes que utilizavam piercing bucal, que foram
atendidos na Clínica de Odontologia da Faculdade de Odontologia da Universidade
de Buenos Aires (FOUBA), durante o ano de 2005. No exame clínico e radiográfico
dos pacientes foi observada mobilidade dentária, perda óssea, fratura dental,
infecção com supuração no local do piercing, diastemas e lesões periodontais. Os
autores concluíram afirmando que os profissionais da área da saúde devem fornecer
orientações quanto à utilização do piercing e ajudar a prevenir patologias
associadas, informando sobre a necessidade de vacinação anterior e cuidados
posteriores à instalação.
Pérez-Cotapos e Cossio (2006) explicaram que estudos histopatológicos
definem que a tatuagem e o piercing podem causar infecção por vírus da hepatite B
e C, HIV e sífilis. Esta associação já se tornou uma questão de saúde pública, pois
em muitos países quem possui tatuagem ou piercing está proibido de doar sangue.
Outro ponto importante são as complicações decorrentes destas práticas, tais como:
infecções bacterianas, sangramentos, reações de hipersensibilidade, cicatrizes e
lesões dentais e orais. Para as autoras, a adolescência significa um período que
envolve mudanças. Também ocorrem alterações psicológicas, que levam os
adolescentes a buscarem uma identidade própria, uma forma de diferenciação, e
32
para isso muitos procuram as modificações corporais. As perfurações (piercings) são
feitas em tecidos moles como: orelhas, sobrancelhas, lábios, língua ou em outras
partes do corpo, utilizando agulhas ou cateteres. A associação entre adolescência e
piercing e tatuagens é um grande indicador de possíveis comportamentos de risco,
como por exemplo, abuso de substâncias entorpecentes, atividade sexual,
transtornos alimentares e até suicídio, quando comparado com adolescentes da
mesma idade que não usam tatuagens ou piercing. Cerca de 10% a 20% das
perfurações são infectadas, principalmente por Staphylococcus aureus,
Staphylococcus grupo A e por Pseudomona spp, que podem desencadear quadros
de infecções severas, como endocardites bacterianas. No caso dos piercings bucais,
eles podem causar deformidades mucogengivais e dificuldades de entubação
endotraqueal nos casos de emergência. A adoção de medidas sanitárias
regulamentares sobre aqueles que fazem tatuagens e instalam piercing é
necessária, devido à preocupação pública sobre a possível transmissão de doenças.
Samplonious (2006) afirmou que a palavra cosmética está relacionado com
tudo o que diz respeito a aparência; é a arte de aumentar e preservar a boa
aparência. Os procedimentos estéticos vão desde simples cuidados coma pele até
procedimentos dolorosos e irreversíveis, como tatuagens e piercings. Atualmente, a
moda do piercing intra e perioral é uma das mais agressivas e perigosas formas de
expressão corporal ou body art. O piercing consta da inserção de objetos metálicos
nos tecidos moles ou nos dentes. As regiões em que mais comumente estes
adornos são colocados são: língua (barbell); lábios (labrette); queixo; bochechas,
dentre outros. Este modismo pode trazer complicações e efeitos adversos, pois a
mucosa e a língua são altamente vascularizadas e inervadas, o que facilita a entrada
de bactérias na corrente sanguínea, acarretando alterações sistêmicas. As primeiras
referências de complicações, na literatura odontológica, reportam aos meados da
década dos anos noventa. As principais alterações registradas são: dor, edema,
sangramento, infecção local, abscesso, bacteremia, septicemia, transmissão de
enfermidades como hepatite, AIDS, tétano, parestesia, dano nervoso, recessão
gengival, dificuldades para falar, mastigar e realizar higiene oral, hipersensibilidade,
hipersalivação, aspiração ou ingestão da peça metálica, cicatrizes, hiperplasia de
tecidos, fraturas parciais ou totais dos dentes com consequente patologia pulpar e
possível perda dental. Com o aumento desta tendência entre os jovens, o cirurgião-
dentista deve estar preparado para tratar as complicações pós-operatórias que essa
33
prática pode causar, além de saber como alertar os usuários sobre os perigos que
os piercings podem gerar. Quanto ao piercing dental, por não ser um procedimento
invasivo e por ser realizado por cirurgiões-dentistas, é considerado um processo
seguro.
Segundo Espírito Santo et al. (2007), o piercing consiste na perfuração da
pele e de tecidos adjacentes, com o intuito de inserir um objeto metálico. A
perfuração do corpo para colocação do piercing é uma prática bastante antiga, os
motivos para a colocação do artefato já foram de caráter religioso, cultural, político, e
até mesmo para identificação de escravos. Os piercings orais são localizados,
preferencialmente, na língua e nos lábios, podendo gerar riscos, os quais estão
aumentando em frequência. Existem muitas complicações que podem decorrer da
inserção do piercing; dentre elas, destacam-se: fratura dentária; dor e edema;
infecção e reações alérgicas; recessão gengival; formação de cicatriz hipertrófica;
dano nervoso ou parestesia; hemorragia; formação de cálculo na superfície do
metal; alteração da imagem radiográfica; e incorporação de corpos estranhos. O
trauma provocado pela permanência do piercing, na cavidade oral, pode ter
implicações severas, já que consiste em processo crônico, de baixa intensidade. O
trauma crônico, de baixa intensidade, por si só, não é capaz de induzir alterações
carcinogênicas, porém, quando associado a outros fatores, tais como tabagismo,
etilismo, radiação ionizante e suscetibilidade genética, potencializa o risco de o
tecido sofre alterações pré-malignas. Os autores concluíram, afirmando que o uso
de piercings, principalmente os confeccionados com aço cirúrgico, deve ser evitado.
De acordo com Feuzer, Monteiro Junior e Araújo (2007), inúmeras influências
determinam o que é belo. A história ilustra, em todos os campos da arte, diferentes
formas de beleza, marcando e padronizando determinada época. Neste contexto, as
mutilações, como modificações corporais, perfurações e tatuagens, fazem parte da
crença do que é belo. Para os autores, atualmente, tatuagens e piercings são, cada
vez mais, comuns entre jovens e adultos, sendo usados como forma de
comunicação, culto ao corpo e para expressar a arte. Porém essas perfurações
apresentam potencial de gerarem complicações, que variam de acordo com local
onde a perfuração foi realizada, da esterilização do material, da experiência do
operador, do material usado e do estado de saúde geral do paciente. Os piercing
bucais e peribucais são mais frequentes na língua, lábios, freio lingual, septo nasal,
narinas e bochechas. Metal, plástico, pedra, madeira, osso, prata ou uma
34
combinação desses materiais, são os mais utilizados. Para os piercings, é
recomendado metais não tóxicos, como o ouro (14 ou 18 K), titânio, nióbio ou metais
usados em cirurgias. Os sinais clínicos de complicações mais comumente
observados são: fratura em dentes ou restaurações, irritação da mucosa e da
gengiva, dor, edema e supuração das áreas próximas da perfuração. Ao contrário
dos piercings bucais, o piercing dental é um procedimento extremante simples e não
oferece perigo à mucosa bucal, podendo ser removido sem deixar nenhum tipo de
vestígio e sem qualquer chance de gerar dor. Para a colocação do piercing dental,
um protocolo deve ser seguido: profilaxia com pedra pomes e água, ataque ácido
com gel 37% durante 15 segundos, somente no local da instalação da jóia, lavagem
e secagem do esmalte, aplicação do adesivo, posicionamento do adorno com ajuda
de um steek, fotopolimerização por 20 segundos e remoção do excesso de adesivo,
com pontas para polimento de resina e discos de polimento. O termo piercing dental
tem sido usado de forma incorreta, já que no dente não há perfuração, o principal
cuidado que se deve tomar em relação ao piercing dental, é a respeito do acúmulo
de placa. Não existem relatos na literatura sobre problemas decorrentes do piercing
dental. Os dentistas devem estar munidos de conhecimento científico para resolver
qualquer complicação ou sequela, no caso de dor ou inflamação é recomendado a
antibioticoterapia, a clorexidina, o debridamento local e a remoção do piercing.
Conforme Kapferer et al. (2007), os piercings têm aumentado enormemente
em popularidade nos últimos anos. O objetivo deste estudo transversal foi investigar
a prevalência e os fatores que contribuem para a ocorrência de recessão gengival
associada com piercing labial. Foram constituídos dois grupos; um com 50
indivíduos com piercings no lábio inferior e outro grupo formado por pessoas não
portadoras de piercingO exame clínico incluiu os índices de placa e sangramento,
profundidade de sondagem, recessão, nível clínico, a largura de gengiva
ceratinizada, biótipo periodontal, a inserção de tipos de membrana, avaliação de
tecidos duros, trauma de oclusãoAs recessões gengivais foram observadas nos
dentes frontais ao piercing em 68% dos integrantes do grupo de usuários de
piercing, em comparação com 4% do grupo controle (não usuário). A periodontite
localizada foi registrada em 4% dos indivíduos do teste. Não houve associação
significativa entre a perfuração e desgaste dentário anormal. A prevalência de
recessões gengivais está associada com piercing labial. A posição do disco intra-oral
35
e tempo de piercing estão associados a uma maior prevalência de recessão
gengival.
Segundo Moor et al. (2007), pessoas portadoras de piercing oral e facial com
diferentes tipos de arte estão sendo observadas com maior frequência em
consultórios médicos e odontológicos. O piercing não é uma nova forma de arte
corporal e é tradicional em diferentes áreas geográficas. Este estudo constou de
uma revisão da literatura sobre complicações decorrentes do uso de adornos no
lábio e na língua. A análise demonstrou que os possíveis riscos e complicações
apontados em diversas pesquisas foram complicações pós-procedimento
(hemorragia, edema e infecção). Outros eventos adversos incluem trauma da
mucosa ou gengiva, dentes lascados ou fraturados, aumento do fluxo salivar, cálculo
e interferência na fala, na mastigação e na deglutição. Os dentistas devem
aconselhar e orientar os pacientes com piercings orofocial ou aqueles que
pretendem ter este tipo de arte corporal sobre as complicações que podem afetar as
condições de saúde.
Para Morais, Guimarães e Elias (2007), biomaterial é qualquer material
sintético que substitui ou restaura a função de tecidos do corpo e que mantém
contato contínuo ou intermitente com os fluídos. É essencial que o material
apresente biocompatibilidade, não produza resposta biológica adversa, não induza
efeito sistêmico, não seja tóxico, carcinogênico, antigênico ou mutagênico. A
utilização de biomateriais pode causar efeitos adversos no corpo humano, devido à
liberação de íons metálicos citotóxicos. A liberação de íons metálicos origina-se por
dissolução, desgaste ou, principalmente, por corrosão da liga. Sendo assim, a
resistência à corrosão é importante na análise da biocompatibilidade. A corrosão é
classificada de acordo com a maneira que se manifesta, podendo ser: uniforme,
galvânica, em frestas, por pites, intergranular, por lixívia seletiva, erosão-corrosão e
corrosão sob tensão. A corrosão de metais que ocorre na boca é, principalmente, do
tipo eletrolítico, devido à interação de duas ligas, que gera corrosão galvânica. A
corrosão intrabucal é um processo complexo, que depende da composição e estado
termomecânico da liga, em combinação com a fabricação, acabamento da
superfície, aspectos mecânicos em função, do meio e estado sistêmico do
hospedeiro. Os íons liberados pelo processo de corrosão têm o potencial de interagir
com os tecidos, por meio de diferentes mecanismos. Os efeitos causados no
organismo aparecem devido à influência do íon sobre os mecanismos de adesão
36
bacteriana, por toxicidade, efeitos subtóxicos ou alergia aos íons metálicos
liberados. Os sintomas clínicos de pacientes com efeitos adversos são divididos em
queixas subjetivas e sintomas objetivos. Queixas subjetivas são: ardência na boca,
gosto metálico e sensações elétricas. Sintomas objetivos aparecem como
inflamação gengival, anomalias na língua, descoloração da gengiva, vermelhidão na
língua e no palato e lesões brancas. Análises mostram que piercings
desencadeadores de reações adversas durante o uso são aqueles que não atendem
à norma ISO para materiais metálicos cirúrgicos. Nenhum dos piercings de aço
inoxidável passou pelo critério de resistência ao pite e as jóias apresentavam
intensas irregularidades na superfície. Após polimento eletroquímico, as
irregularidades superficiais diminuem consideravelmente, indicando que os piercings
não foram fornecidos com polimento adequado.
Mustelier Ferrer et al. (2007) destacaram que é impossível estabelecer em
que momento exato apareceu o piercing na história da humanidade. O certo é que
sua origem é tão antiga como a pele. Esta antiga arte, nas últimas décadas, vem
ressurgindo de modo destacado. As perfurações para a instalação destes adornos
ocorrem em diferentes partes do corpo. No entanto, o lugar com maior índice de
complicações descritas na literatura é a língua. Um piercing na língua, para se evitar
maiores danos, deve situar-se na linha média, um pouco a frente do freio lingual,
esquivando os orifícios de saída das glândulas salivares e vasos linguais principais.
O inchaço lingual, por inflamação, que ocorre logo após a colocação da peça, pode
durar até dez dias e dificulta a ingestão de alimentos e a dicção e considerando-se
que a boca é um foco séptico, é necessário muito cuidado e higiene bucal
adequada. Erosões do esmalte, fraturas dentárias e retração gengival são
complicações frequentes dos piercing de lábio, bochecha ou língua.
Santiago et al. (2007) explicaram que o uso de piercing no corpo é uma
prática proveniente dos povos que viviam na antiguidade. Mais tarde, este costume
se popularizou, especialmente entre os adolescentes e jovens de países
industrializados, por diferentes razões, como práticas religiosas ou cerimoniais. A
reação alérgica ao corpo estranho pode alterar o estado geral de saúde do indivíduo,
já que a intensidade da reação varia de acordo com a resposta imunológica do
paciente não existindo um metal totalmente seguro. Os piercings orais têm
despertado a atenção de cirurgiões-dentistas. Eles podem ser aplicados nos lábios,
língua e até mesmo nos dentes. Foram observadas algumas alterações dignas de
37
maiores cuidados por parte dos usuários e de orientações por parte do cirurgião-
dentista. As alterações mais relatadas pelos pacientes com o piercing na língua são:
fratura dentária, desgaste incisal, principalmente dos incisivos centrais superiores,
edema lingual, fluxo salivar aumentado, recessão gengival, na região vestibular de
Incisivos Inferiores.
Villaroel Dorrego e Pérez (2007) desenvolveram um estudo com o objetivo de
identificar as alterações histopatológicas da mucosa bucal após a colocação de
piercing lingual. Foram utilizados quatro coelhos, nos quais foi colocado um piercing
de titanio lingual utilizando a técnica convencional. As análises histopatológicas
revelaram que 24 horas após a colocação do piercing, a zona central muscular
estriada foi suplantada por uma área de necrose acompanhada por um intenso
infiltrado inflamatório. Uma semana depois foi observada epitelialização de la zona.
Em 5 semanas se observou completa epitelização da zona circundante ao piercing
com persistência de intenso infiltrado inflamatório linfo-plasmocitário, necrose
tecidual e formação de numerosos vasos sanguíneos. Transcorridas 9 semanas, a
inflamação crônica da zona central se estendeu até o tecido muscular estriado de
toda a língua. O piercing lingual estimula a epitelização da zona perfurada, o
processo inflamatório persiste depois de 9 semanas e se estende à totalidade da
língua. Esse padrão de regeneração poder ser explicado pela presença de um corpo
estranho, o qual gera pressão e atrito constante sobre o tecido perfurado e também
pelo acúmulo de irritantes locais e diversos microorganismos. Estas alterações
podem ser a causa das múltiplas complicações associadas ao piercing, como por
exemplo, mucoceles e fibromas traumáticos.
De acordo com Cerri e Silva (2008), a cavidade bucal por sua localização
anatômica está sujeita a traumas, que podem ser biológicos, físicos ou químicos, os
quais podem gerar desde reações inflamatórias até neoplasias localizadas. A
cavidade bucal humana é um lugar úmido, com temperatura relativamente constante
(34 a 36°C), com pH entre ácido e neutro, abrigando mais de 300 espécies de
microorganismos, como bactérias, fungos, vírus e bastonetes. A língua é formada
por uma massa de tecido muscular móvel estriado e recoberta por mucosa de
estrutura variável; a sua superfície inferior, ou ventre, tem mucosa lisa e a face
oposta (dorso), devido às papilas, apresenta superfície irregular. As funções
fisiológicas estão relacionadas com a gustação, fonação e deglutição. A
vascularização é feita pelas artérias linguais, derivadas das artérias carótidas
38
externas e pelas veias linguais, derivadas das veias jugulares. A inervação é motora,
sensitiva e especial (gustação). Sendo assim, qualquer trauma nesse órgão pode
comprometer seu correto funcionamento. A língua devido ao modismo vem sendo
perfurada para colocação de piercing. Este modismo, ao contrário de outros, parece
que veio para ficar entre os jovens, e isso faz com que as complicações decorrentes
dessa prática também cresçam. Os autores pesquisaram análises histopatológicas
obtidas através da biópsia incisional de mucosa lingual, que teve piercing instalado.
Foram avaliados cem pacientes com idade média de 20 anos, todos usavam
piercings pelo menos há seis meses. As análises histopatológicas apresentavam as
seguintes alterações teciduais: processo inflamatório crônico (55%); hiperplasia
fibro-epitelial (13%); mucocele (8%); leucoplasia (9%); papiloma (3%); displasia
epitelial (7%) e fibroma (5%). Os resultados demonstram que 100% dos pacientes
apresentavam alguma alteração tecidual, que foram desde simples processo
inflamatório até lesões com potencial carcinogênico, devido ao uso do piercing, por
longo prazo, que cause trauma crônico.
Segundo Diccini e Nogueira (2008), o uso de piercing não é uma prática
recente. Egípcios, tribos indígenas, povos hindus e indivíduos pertencentes à corte
da rainha Vitória já adotavam esta prática. Os locais onde o uso do piercing é mais
comum são: sobrancelha, lábios, filtro do lábio, nariz, orelha, bochecha, queixo,
língua, úvula, umbigo, mamilos e genitália. O paciente que usa piercing oral e que é
entubado, na anestesia geral, pode aspirá-lo, provocando laringoespasmo e hipóxia.
O profissional da saúde, no pós-operatório deve avaliar sinais inflamatórios próximos
ao piercing e orientar o paciente quanto à higiene adequada do local, visando à
prevenção de infecções.
Conforme Marquezan, Souza e Tanaka (2008), egípcios e maias, na
antiguidade, já faziam uso de piercing, com conotações espirituais, sexuais e
estéticas. Na sociedade atual, o uso de piercing está cada vez mais frequente em
todas as idades, ocupações e classes sociais. Hoje, são utilizados como forma de
expressão, arte corporal ou moda. Os primeiros relatos sobre piercing oral na
literatura odontológica surgiram nos anos 90, sendo assim um assunto relativamente
novo para os dentistas. Ainda não há um número real de usuários de piercing, mas
estudos mostram que 17% a 51% de estudantes universitários possuem tatuagem
ou piercing, nos Estados Unidos da América; na Finlândia, 3,4% dos universitários
usavam piercing oral, em 2002; e, em Nova York, 10% dos alunos do ensino médio
39
eram usuários deste adorno. Lábios, língua, freio lingual e labial são os locais mais
utilizados para as perfurações. Um dos riscos da utilização de piercings ocorre no
momento da perfuração, pois a maioria dos body piercing não é profissional da área
da saúde. Um estudo revelou que, entre 43 entrevistados, somente quatro tiveram
seus piercing colocados por médico ou dentista, os demais utilizaram os serviços de
um body piercing. O body piercing refere-se a pessoas sem habilitação profissional
que, geralmente, não conhecem a anatomia humana, as condições sistêmicas do
paciente e métodos corretos de esterilização e assepsia, aumentando assim o risco
de contrair doenças como: tétano, hepatite e AIDS. Complicações como dor, edema
e hemorragias podem acontecer já que os colocadores de piercing não são
licenciados para utilizar anestésicos locais nem para prescrever medicação pós-
operatória, caso o edema for extremo pode comprometer as vias aéreas superiores,
essas complicações costumam acorrer de 4 a 6 semanas após a perfuração. Se o
piercing lingual não for colocado exatamente na linha média, pode gerar
sangramento prolongado e parestesia. O uso da jóia também pode trazer danos aos
dentes, ao periodonto e aos tecidos de revestimento, tais como: fratura dental,
trauma à mucosa, recessão gengival associada a defeito ósseo periodontal.
Problemas como esses, tendem a se mais frequentes quanto maior for o tempo de
uso do piercing. Também há relatos de sensibilidade produzida por galvanismo,
reações alérgicas, halitose, aspiração ou ingestão da jóia e até mesmo endocardite
bacteriana, além de problemas funcionais como dificuldade de mastigação,
deglutição e fonação, bem como o aparecimento de hábitos parafuncionais por se
brincar com a jóia, o que aumenta a ocorrência de fraturas dentais, traumatismos e
hiperatividade muscular. Os cirurgiões-dentistas devem alertar seus pacientes sobre
os possíveis problemas que o uso do piercing pode gerar e que os body piercing não
são profissionais capazes de suprir as necessidades dos pacientes. Pacientes que
ainda queiram colocar piercing devem procurar um médico ou dentista para prévia
avaliação da sua saúde e preparo da boca para a perfuração, inclusive para a
prescrição de terapia antibiótica. O dentista ainda deve aconselhar seus pacientes a
substituir o piercing oral pelos dentais, que quase não apresentam risco e danos à
saúde. Os profissionais da saúde devem controlar os sintomas pós-operatórios. E
em relação à higienização do piercing, deve ser esclarecido, que, devido ao fato da
jóia não apresentar uma superfície descamável, também é capaz de acumular
cálculo e placa. O autor também sugere que estudos longitudinais devam ser
40
realizados, já que grande parte da literatura apresenta relatos de caso, e que é
necessária a regulamentação e fiscalização da pratica de colocação de piercing.
De acordo com Clavería Clarck et al. (2009), a palavra piercing vem do inglês
pierce, que significa atravessar, perfurar. O piercing consiste em perfurar um tecido
do corpo, com o propósito de inserir um objeto metálico que sirva de adorno. Até
onde se sabe, foram os esquimós que, originalmente, os adotaram e identificaram
como labrets; os jovens os utilizavam como símbolo da passagem da infância para a
fase adulta. Seu uso constitui uma prática ancestral, ressuscitada pelo movimento
punk, no final dos anos 70. Entre os egípcios, os maias, os membros da guarda de
César, em Roma e nos domínios da Santa Inquisição, estas manifestações de arte
corporal eram muito difundidas. Outras civilizações, particularmente os chineses e os
hindus, perfuram os lábios o a língua como um tipo de prática religiosa. Muito
embora, ele seja pouco usual nos países desenvolvidos, ou em via de
desenvolvimento, as perfurações na língua e nos lábios estão ganhando
popularidade hoje em dia. A prática do piercing pode causar hemorragias, cicatrizes,
infecções, fraturas nos dentes e dano ao sistema nervoso. Os especialistas calculam
que, pelo menos uma, de cada cinco pessoas que perfuraram a boca, teve um
problema destes.
Firoozmand, Paschotto e Almeida (2009) desenvolveram uma pesquisa com o
objetivo de avaliar o uso de piercing oral e suas possíveis complicações, entre
estudantes com idades de 14 a 18 anos. Um total de 927 alunos de escolas privadas
e estaduais foi convidado a participar neste estudo. Os participantes foram
submetidos a exame clínico e um questionário foi disponibilizado para a coleta dos
seguintes dados: sexo, piercing localização, complicações orais ou alterações, e
limpeza de freqüência.Entre os estudantes pesquisados, 33 tinham piercings orais
(3,6%), 69,70% eram provenientes de escolas públicas e 30,30% eram de escolas
privadas. Houve um discreto predomínio do sexo masculino (54,55%) em
comparação com o sexo feminino (45,45%). A língua foi a localização mais comum
para a perfuração (66,6%). As complicações e alterações associadas com o uso
deste adorno foram observadas em 74,3% dos casos. Na população estudada, a
presença de piercing oral foi observada em uma pequena porcentagem de
estudantes adolescentes (3,6%) e não houve complicações locais associados ao
seu uso.
41
Conforme Jeger, Lussi e Zimmerli (2009), a aplicação de jóias na cavidade
bucal é uma prática muito popular. Um dos tipos mais difundidos são os chamados
dentes diamante feitos de materiais compostos que são aplicadas aos dentes com
um adesivo. Esta prática é considerada símbolo de status, dentro do cenário da
moda Hip-Hop. No entanto, ornamentos nos dentes favorecem o acúmulo de placa
bacteriana e podem diminuir a capacidade de articular palavras. Com relação à
colocação destes adornos em tecidos moles da boca, especialmente língua e lábio,
são de importância para os dentistas. Além das complicações sistêmicas, que são
causados por falta de higiene, complicações locais ocorrem com freqüência; após a
cirurgia, foram observadas as seguintes condições: dor, inchaço, infecções, assim
como hemorragias ou hematomas. Os efeitos em longo prazo, também, podem ser
observados, tais como a recessão gengival, principalmente no caso dos piercings de
lábio. Os autores concluíram afirmando que as terapias de acompanhamento dos
usuários de piercing oral são indispensáveis. Pacientes usando piercing têm que
estar cientes dos riscos de danos aos dentes e eles tem que se submeter
periodicamente a check-ups odontológicos. E, finalizaram, destacando que as
campanhas de informação, para dentistas e pacientes, são necessárias.
Para Saquet et al. (2009), a crescente utilização do piercing, principalmente
na região da cavidade oral, pode provocar alterações, sendo que algumas podem
comprometer seriamente a saúde do usuário. Essas jóias são confeccionadas em
diferentes materiais, podendo funcionar como prováveis agentes etiológicos no
desenvolvimento de traumas na cavidade bucal, principalmente na mucosa. As
complicações decorrentes do uso do piercing oral podem ter variados graus de risco
como dor, infecção, edema, fratura dental, transmissão de doenças, hemorragia,
interferência na mastigação e na fala, recessão gengival, parestesia e até Angina de
Ludwig, em casos de extrema gravidade. Foram entrevistados 51 usuários de
piercing oral, residentes na cidade de Santa Maria (RS), com idade entre 18 e 42
anos. A língua foi o local mais prevalente (54%), seguida por lábio inferior (34%),
freio lingual (5%), nos dentes (3%), freio labial (2%) e bochecha (2%). Dentre as
principais modificações decorrentes do uso de piercing, as mais citadas foram:
problemas na fonação (52%), problemas de deglutição (22%), fratura ou
movimentação dental (7%) e diferença no paladar (2%). Para 45% dos entrevistados
alguma alteração foi observada, sendo as principais: inflamação persistente, nódulo
na língua, problemas de fonação após a cicatrização, retração gengival, laceração
42
da língua, lesões no palato duro, fratura dental, desgaste dental, trauma mecânico
em dentes e gengiva, dor persistente, falta de cicatrização e hipotensão no primeiro
dia de uso da jóia. Portanto, o procedimento de colocação do piercing bem como
seu uso são fatores que acarretam riscos e consequências adversas para a saúde
oral dos usuários. Os autores concluíram destacando que, tendo em vista que
muitas destas alterações são prejudiciais à saúde, devem os profissionais da área
odontológica esclarecer seus pacientes quantos aos riscos e, também, aos cuidados
para amenizar os problemas.
Ziebolz et al. (2009) realizaram uma revisão da literatura para oferecer novas
perspectivas aos possíveis problemas relacionados com piercing na língua e
relataram três casos, que mostram efeitos indesejados do piercing na língua. Do
ponto de vista odontológico, os piercings orais e, especialmente, piercings na língua
não são uma tendência da moda inofensiva, pois podem ser associados com riscos
locais e sistêmicas e complicações. Uma pesquisa da literatura foi conduzida para
investigar a documentação dos riscos de saúde associados com piercing na língua
usando o banco de dados MEDLINE, bem como a literatura alemã. A literatura
contém numerosos relatos de casos, um número limitado de estudos, e uma análise
que descreve uma ampla variedade de complicações, especialmente em pacientes
que se submeteram piercing na língua. Na maioria dos casos, o piercing da língua é
realizado na linha média. Piercings são feitos de materiais diferentes, geralmente de
metal ou de materiais sintéticos. Complicações durante a perfuração, imediatamente
após perfuração, bem como em longo prazo foram encontrados. Os três casos aqui
apresentados demonstram alguns dos efeitos adversos. A complicação mais
comumente descrita é a lesão dos dentes e do periodonto causada por piercing de
língua. O piercing na língua é uma decisão pessoal, mas é importante que os
pacientes estejam plenamente conscientes dos possíveis riscos para a saúde oral.
Os pacientes necessitam de melhores informações sobre as possíveis complicações
associadas ao piercing na língua. O cirurgião-dentista deve orientar os pacientes
sobre os potenciais efeitos colaterais e possíveis complicações bucais, dentárias e
sistêmicas.
Amato et al. (2010) conduziram um estudo com adolescentes atendidos no
Centro Rosarino de Estudios sobre Adolescência (CREA), para identificar quantos
usam tatuagens e/ou piercings e relacionar o uso destes adornos com fatores de
risco para a saúde integral do adolescente. A população-alvo foram os adolescentes
43
que procuraram os consultórios do CREA, no período de junho de 2009 a março de
2010. Participaram da pesquisa 567 jovens com idades entre 12 e 31 anos, sendo
que a maioria (45%) tinha entre 14 e 18 anos e 52,7% eram do gênero feminino.
Quanto ao uso de piercing ou de tatuagem, 36,9% já havia colocado um deles. A
percentagem de adolescentes que usavam piercing foi maior entre as mulheres,
sendo esta diferença significativa, pelo teste do qui-quadrado. Com relação à idade,
a frequência aumentava, significativamente, com o aumento da idade. A
percentagem de jovens que usam piercing é maior entre os usuários de algum tipo
de droga. Foi observada uma maior frequência de portadores de piercing entre os
jovens que não estavam cursando escola na época da coleta de dados. O estudo
comprovou que condutas e/ou fatores de risco, na população investigada, estão
positivamente associados às manifestações ornamentais.
Ferreira (2010) afirmou que os piercings e as tatuagens são formas de
ornamentação que penetram o corpo em locais diversos, ultrapassando o limiar
fisiológico da epiderme. Perante a inevitabilidade da penetração da derme por
objetos que lhe são estranhos, o momento que antecede a execução destas marcas
é acompanhado por uma variedade de estados emocionais como nervosismo,
ansiedade, angústia, stress, receio, preocupação. Estes estados emocionais
traduzem fisiologicamente várias expectativas depositadas pelos jovens na
experiência da marcação corporal. Dentre as expectativas, destacam-se aquelas
referentes ao processo de aceitação e adaptação fisiológica do organismo a um
corpo estranho. Além de eventuais infecções ou dificuldades de cicatrização, certos
locais do corpo exigem um pouco de perseverança no processo de incorporação e
aceitação corporal do objeto, sendo necessários vários dias para que o metal ou as
tintas se integrem harmoniosamente na imagem do corpo. Há, também, as
expectativas perante o talento e a higiene do profissional, patentes no receio de uma
marca mal executada ou de uma infecção por falta de higiene. Com efeito, sendo
práticas corporalmente invasivas, a tatuagem e o body piercing não são inócuas de
riscos se não forem praticadas mediante rigorosas regras de assepsia. Os
profissionais da marcação corporal lidam frequentemente com sangue e outros
fluidos de desconhecidos, pelo que, sem meticulosas precauções de higiene e
esterilização, determinadas doenças podem ser transmitidas de um cliente a outro
ou ao próprio profissional por negligência. Neste contexto, o estúdio deve espelhar
as regras básicas de assepsia e vigilância clínicas. A obrigação de passar ao cliente
44
a informação necessária acerca das precauções e procedimentos a ter com a sua
nova marca, nomeadamente nos primeiros tempos em que o processo de
cicatrização se desenrola, no sentido de prevenir eventuais focos de infecção e ter a
melhor cicatrização possível, são pontos de honra na prática profissional.
De acordo com Fragelli, Campos e Gaspar (2010), a prática de piercing no
corpo faz parte de ritos culturais e religiosos, desde a antiguidade; os egípcios
usavam no umbigo simbolizando realeza, os romanos utilizavam anéis nos mamilos
demonstrando coragem e os maias perfuravam suas línguas com propósito religioso.
Atualmente, ele é muito difundido entre os jovens, sendo utilizado com frequência na
orelha, sobrancelhas, umbigo, nariz, genitália e cavidade oral. Na cavidade oral, os
lábios são muito procurados, mas o piercing lingual está se tornando cada vez mais
popular. Na língua, geralmente é colocado na linha média à metade da distância do
ápice da língua ao freio lingual, de forma circunferencial, com suas extremidades de
comprimento aproximado de 30 mm. Este estudo teve por objetivo verificar as
implicações do uso de piercing lingual em indivíduos da cidade de Araraquara (SP).
A amostra foi composta por 100 indivíduos que utilizaram os serviços de colocação
de piercing de dois estabelecimentos. A idade média dos usuários de piercing era de
19,96 anos, com idade máxima de 30 anos, sendo a maioria do gênero feminino. O
tempo de cicatrização após a perfuração, na maioria dos casos, foi menor que
quatro semanas, sendo que o tempo normal de cicatrização é de cinco semanas, e
para sete indivíduos esse tempo foi de nove semanas. As principais consequências
resultantes da colocação dos piercings linguais foram: abscessos, infecções,
sangramento, febre, dor e edema. Onze (11) indivíduos não tiveram problemas,
porém 49 relataram ter tido mais de dois sintomas. Aumento de salivação,
dificuldade na fala e na mastigação, fratura dentária, trauma na gengiva ou na
mucosa, foram narrados por 56 usuários do adorno. Os autores concluíram que a
utilização de piercing lingual apresenta complicações como aumento da salivação,
dificuldade na fala, fraturas dentárias, traumas na gengiva ou mucosa e dificuldades
na alimentação. Frente a estas implicações justifica-se o a necessidade de
campanhas para orientação de jovens frente à opção de utilização de piercing na
cavidade oral.
Pécora et. al (2010) explicaram que os piercings são confeccionados em
vários materiais, como: ouro, prata, aço inoxidável, titânio, aço cirúrgico e acrílico.
Na cavidade bucal, os piercings podem ser encontrados na língua, lábios, bochecha,
45
freios e úvula. Os piercings bucais mais usados são: 1) botão labial, que possui duas
extremidades, uma situada na região intrabucal e a outra se encontra abaixo do
lábio inferior e 2) barra translingual que atravessa a língua, do dorso até o ventre,
expondo suas extremidades. Para os autores, devido ao aumento do uso de
piercings, é necessário que os cirurgiões-dentistas atuem de forma preventiva para
preservar a saúde bucal e gengival, colaborando assim, para a saúde sistêmica do
paciente. A aplicação dos piercings bucais raramente apresenta alterações na saúde
sistêmica. Dentre os transtornos sistêmicos decorrentes da aplicação dos piercings
na cavidade bucal, estão: bacteremia e septicemia, endocardite, Angina de Ludwig,
hemorragia, alterações em níveis leucocitários e a possibilidade de aspiração ou
ingestão do piercing. Na cavidade bucal ou no sistema estomatognático, há registros
das seguintes alterações: reações alérgicas decorrentes do contato com o piercing
metálico; formação de corrente galvânica entre o piercing metálico e restaurações,
acarretando desconforto e sialorréia; dificuldade na fonação e deglutição; instalação
de processo inflamatório, caracterizados por dor e edema; formação de tecido de
granulação e lesão hiperplásica ou quelóide decorrente do processo inflamatório;
fraturas e lesões nos dentes, como abrasões e desgastes no esmalte dental; lesões
nos tecidos adjacentes; lesões periodontais decorrentes do trauma e do contato,
como as retrações gengivais; aumento na predisposição ao acúmulo e retenção de
alimentos e biofilme dental, propiciando a instalação das doenças periodontais;
hipersensibilidade dentinária causada pela retração gengival ou pela formação de
corrente galvânica; parestesia dependendo da proximidade do feixe nervoso. Dentre
as reações alérgicas provocadas pelos metais utilizados na fabricação dos piercings,
o aço cirúrgico, apesar da biocompatibilidade, pode sofrer processo de corrosão,
liberando cromo e níquel como subprodutos. O cromo foi considerado carcinogênico
e o níquel apresentou característica alergênica, bem como o ouro. O titânio
apresentou-se como o mais biocompatível para a confecção de brincos e piercings.
Como a maioria dos profissionais, que realiza as perfurações, não possui
conhecimento sobre anatomia e fisiologia humana, tão pouco sobre biossegurança,
atribui-se às perfurações a possibilidade de transmissão de doenças
infectocontagiosas. Cabe aos cirurgiões-dentistas o esclarecimento sobre as
possíveis complicações e riscos.
De acordo com Ribeiro et al. (2010), grande parte dos piercings é colocada
em regiões orais, especialmente nos lábios, língua, frênulo. Atualmente, os maiores
46
adeptos dessa prática são os adolescestes e adultos jovens e dentre os motivos
mais comuns estão: expressão de identidade, estética, moda e rebeldia. Para
colocação do piercing é feita uma perfuração no local desejado com a posterior
adaptação da jóia. Tanto a colocação, como a utilização de piercings na região oral
e perioral podem estar relacionados com complicações transitórias ou até problemas
mais graves e irreversíveis. Algumas destas alterações podem comprometer
seriamente a saúde do paciente, com repercussão oral e sistêmica, como: halitose,
galvanismo, parestesia, edema, dor, dificuldade na fala, sialorréia, hemorragias,
infecções, transmissão do Vírus da Imunodeficiência Adquirida (HIV), hepatite,
deglutição do piercing, traumatismo de tecidos orais, recessões gengivais, fratura
dental, acúmulo de placa, hiperplasia gengival, incorporação de corpo estranho no
local da jóia. O autor relatou um caso clínico de um paciente com 21 anos, com
queixa principal de piercing enterrado no lábio inferior esquerdo há quatro dias, com
dor à palpação. O paciente relatou infecção no local após a colocação do piercing o
que não permitiu a sua remoção. Ao exame físico extraoral foi observada parte do
piercing com drenagem sanguíneo-purulenta ao seu redor, leve edema e sinais de
inflamação. Ao exame intraoral notou-se área edemaciada com a mucosa levemente
eritematosa, com o objeto coberto por tecido conjuntivo. Foi efetuada a remoção
cirúrgica do piercing. Na prevençãos destes transtornos é importante cirurgião-
dentista que deve informar aos pacientes portadores de piercings orais que a sua
permanência, mesmo que por pouco tempo, pode causar inúmeras complicações e
resultar até na perda dos dentes. O usuário de piercing tem a responsabilidade de
manter limpo o local da perfuração para que haja um processo cicatricial normal sem
infecção secundaria no local. O achado na literatura odontológica nos permite
considerar que o procedimento de colocação de piercing deve ser cauteloso; alguns
autores acreditam que os piercings na região oral podem resultar em transtornos no
ambiente hospitalar, nos casos de intubação orotraqueal ou casos onde se faz
necessário o uso de bisturis elétricos.
Henneguin-Hoenderdos, Slot e Van der Weijden (2011) realizaram uma
pesquisa bibliográfica, levantando estudos relativos a relatos de casos quanto aos
efeitos adversos sobre a saúde oral e/ou de saúde geral, que estivessem
associados com piercings orais e periorais. O levantamento bibliográfico foi efetuado
junto às seguintes bases de dados: . Após levantamento bibliográfico, foram
identificados 1.169 artigos, no MEDLINE e 73 trabalhos de CENTRAL.
47
Posteriormente, 67 artigos descrevendo 83 casos foram processados para obtenção
de dados. esta revisão, foram descritas 96 complicações para 83 casos. Das 96
complicações relatadas, 81% (n = 84) ocorreram em casos de piercing lingual, 20%
(n = 21) em casos de piercing labial e 1% (n = 1) nos casos de outros piercings
orais. Em oito casos, os indivíduos tinham dois piercings orais e/ou perioral.
Recessão gengival foi a complicação mais frequentemente relatada. Periodontite e
recessão gengival foram encontradas nos incisivos centrais inferiores. Fratura dental
foi relatada, principalmente, em indivíduos com piercing lingual. Entre os casos,
foram identificadas complicações como inflamação pós-operatória localizada normal
e inchaço, mas também complicações mais sérias. Também, em longo prazo, o
piercing pode estar associado com recessão gengival e fratura do dente. Portanto,
os piercings orais e/ou periorais não são isentos de riscos e pacientes que
pretendam fazer uso deste tipo de adorno devem estar cientes destes riscos. Os
pacientes que fazem uso de piercing oral e/ou perioral devem ser acompanhados
sistematicamente por um dentista para que possíveis complicações possam ser
controladas.
Conforme Vieira et al. (2011), os piercings orais têm uma longa história como
parte do simbolismo religioso, cultural ou sexual em muitas tribos. Atualmente, esses
ornamentos têm grande aceitação entre os jovens. Várias complicações bucais e
sistêmicas podem estar associadas a esta prática, no entanto, poucos dados
relacionados a estas complicações podem ser obtidos na literatura. Este estudo
analisou 42 casos de piercing oral, em 39 adultos jovens, que estavam usando, ou
usaram piercing oral, e as complicações associadas ao seu uso. Complicações
imediatas mais representativas foram sangramento excessivo (69%) e dor (52,3%),
que ocorreram em 29 sujeitos. Dois casos de síncope foram encontrados.
Complicações tardias relacionadas ao local de inserção do piercing foram
observadas em 97,6% dos casos; dor e inchaço estavam presentes em 92,9% e
61,9% dos casos, respectivamente. Dor de dente e lacerações na língua
representadas as complicações mais prevalentes associados com os tecidos
circundantes, respondendo por 33,3% e 31% dos casos. Os autores concluíram que
o uso de piercing na boca está relacionado a uma série de complicações,
principalmente local. Os indivíduos que decidem usar piercings devem estar cientes
de tais complicações. Outro importante aspecto a ser destacado refere-se ao
cuidado com a colocação destes adornos em quaisquer partes do corpo que deve
48
ser efetuada por profissionais qualificados. E, finalmente, os usuários de piercing
devem visitar regularmente o dentista para que um controle regular seja alcançado,
garantindo assim a detecção precoce dos efeitos adversos associados a esta
prática.
49
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APÊNDICE - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
PARTE I: CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS 1.1 Idade:______anos. 1.2 Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino
1.3 Grau de Escolaridade:
( ) primeiro grau completo ( ) primeiro grau incompleto ( ) segundo grau completo ( ) segundo grau incompleto ( ) terceiro grau completo ( ) terceiro grau incompleto PARTE II: USO DO PIERCING 2.1 Você acha necessário que um usuário de piercing bucal visite regularmente um cirurgião-dentista? ( ) Sim ( ) Não 2.2 Uso de piercing oral: Faz uso ? ( ) Sim ( ) Não. Já utilizou? ( ) Sim ( ) Não. 2.3 Você acredita que a colocação de piercing oral pode provocar complicações à saúde? ( ) Sim ( ) Não. Em caso positivo, identifique, na relação abaixo, quais complicações. ( ) Dor; inchaço. ( ) Dentes danificados. ( ) Defeitos de cicatrização. ( ) Sangramento prolongado. ( ) Processos alérgicos. ( ) Lesões cancerígenas. ( ) Alterações na fala e na deglutição de alimentos. ( ) Infecção. ( ) Transmissão de hepatites e AIDS. ( ) Feridas na gengiva. ( ) Alterações no fluxo salivar. ( ) Inflamação da válvula e tecidos cardíacos – Endocardite. ( ) Interferência na mastigação. Se você faz ou fez uso de piercing, responda às questões a seguir. 2.4 Localização do piercing: ( ) lábio ( ) língua ( ) bochecha ( )dentes 2.5 Tempo de uso:_____________ 2.6 Qual ou quais motivos levaram você a usar o piercing? ( ) moda ( ) influência dos amigos ( ) beleza ( )identificação com grupo ( )rebeldia ( ) liberdade de expressão ( ) Outro: ____________________________ 2.7 Onde e/ou com quem colocou o piercing? ( ) body piercing ( ) profissional da área da saúde ( ) Outro:___________________
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2.8 A pessoa que lhe colocou o piercing utilizou algum item abaixo? (assinalar qual/ais). ( ) luvas descartáveis ( ) agulha descartável ( ) materiais esterilizados ( ) não sei 2.9 Utilizou algum analgésico após o procedimento de colocação do piercing? Sim ( ) Não ( ) 2.10 Você percebeu alguma alteração em decorrência do uso de piercing? ( ) Sim ( ) Não. Em caso positivo, qual(ais)? ( ) deglutição ( ) fonação ( ) alteração do paladar ( ) dificuldade de higienização ( ) fratura ou movimentação dental ( ) hemorragia ( ) problemas de cicatrização ( ) alteração da saliva Outros:____________________________________________________________ 2.11 Você recebeu orientação sobre a higienização do local onde o piercing foi colocado? ( ) Sim ( ) Não 2.12 Você recebeu alguma informação anteriormente à colocação do piercing sobre possíveis implicações sobre a saúde em decorrência do piercing? ( ) Sim ( ) Não Em caso positivo, quem lhe repassou estas informações? __________________________________________________________________ 2.13 Você procurou algum dentista ou médico após a colocação do piercing? ( ) Sim ( ) Não Por quê? ______________________________________________