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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Programa de Pós-graduação em Administração Curso de Mestrado Acadêmico em Administração THIAGO DOS SANTOS MATERIALISMO, CONSUMO EXCESSIVO E PROPENSÃO AO ENDIVIDAMENTO DOS JOVENS UNIVERSITÁRIOS BIGUAÇU – SC 2012

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Programa de Pós-graduação em Administração

Curso de Mestrado Acadêmico em Administração

THIAGO DOS SANTOS

MATERIALISMO, CONSUMO EXCESSIVO E PROPENSÃO AO ENDIVIDAMENTO DOS JOVENS UNIVERSITÁRIOS

BIGUAÇU – SC 2012

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THIAGO DOS SANTOS

MATERIALISMO, CONSUMO EXCESSIVO E PROPENSÃO AO ENDIVIDAMENTO DOS JOVENS UNIVERSITÁRIOS

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico em Administração da Universidade do Vale do Itajaí, como requisito à obtenção do título de Mestre em Administração. Orientadora: Profa. Dra. Maria José Barbosa de Souza

BIGUAÇU – SC 2012

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THIAGO DOS SANTOS

MATERIALISMO, CONSUMO EXCESSIVO E PROPENSÃO AO ENDIVIDAMENTO DOS JOVENS UNIVERSITÁRIOS

Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em

Administração e aprovada pelo Curso de Mestrado Acadêmico em Administração, da

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

Área de Concentração: Marketing

Biguaçu, 26 de abril de 2012.

Prof. Dr. Carlos Ricardo Rosseto UNIVALI – Biguaçu

Coordenador do Programa

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Maria José Barbosa de Souza UNIVALI – Biguaçu

Orientadora

Prof. Dr. Carlos Ricardo Rosseto UNIVALI – Biguaçu

Avaliador

Prof. Dr. Miguel Angel Verdinelli UNIVALI – Biguaçu

Avaliador

Prof. Dr. Tomás Guimarães de Aquino, Ph.D UNB – Universidade de Brasília

Avaliador Externo

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Dedico aos meus amados pais, Lenirce e Orlandino.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente:

A Deus, por prover de sua luz. Guiar-me no caminho da vida.

Aos meus pais, Lenirce e Orlandino, pelo carinho e estímulo para a conclusão

desse estudo. Referências de vitória, conquista e luta pela vida. Amor incondicional!

Ao meu irmão, Alexandre, amigo e companheiro. Gratidão eterna.

À luz que me guia e me protege. Alma que me alivia e me acalenta, ligados

somos pelo coração e pelo amor.

A Nilana Rodrigues, pelo carinho e por ser peça fundamental de motivação

para o término deste estudo. Amizade imensa e amor intenso, ambos renovados a

cada dia.

A Ana Lúcia, amiga e companheira. Obrigado por fazer parte desta minha

vitória.

Aos meus amigos de mestrado: Elvis, Maria da Graça, Leonardo, Matusalém

e Isabel, pelo carinho, pelos conselhos e pela parceria. Muito obrigado por

compartilharem comigo momentos tão especiais!

À minha querida orientadora Profa. Dra. Maria José Barbosa de Souza, por

acolher-me e sempre auxiliar nas minhas dúvidas e nos meus anseios, além de

dispor da sua experiência e conhecimento para este trabalho. Por saber retirar de

qualquer situação o aprendizado. Muito obrigado pelo carinho e pela amizade. Você

é, sem dúvida, um exemplo profissional!

À Univali e a todos os professores que, de alguma forma, contribuíram para a

minha formação, em especial: o Prof. Dr. Carlos Ricardo Rossetto, o Prof. Dr. Miguel

Angel Verdinelli e a Profa. Dra. Christiane Kleinübing Godoi. Brilhantes

ensinamentos.

Ao Prof. Dr. Tomás Guimarães de Aquino, pela satisfação de tê-lo como

membro convidado para a banca de defesa deste estudo.

Aos demais amigos e familiares que, de alguma forma, contribuíram para o

término desta dissertação.

Batalha vencida, que venham as próximas!

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“No Egito, as bibliotecas eram chamadas ‘Tesouros dos remédios da alma’. De fato é nelas que se cura a ignorância, a mais perigosa

das enfermidades e a origem de todas as outras.”

Jacques Bossuet

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RESUMO

Atualmente, o Brasil passa por uma mobilidade e estratificação social, bem como estabilidade e o aquecimento da economia. Esses fatores, adicionados aos valores materialistas da população, fazem com que os consumidores fortaleçam seus desejos de consumo e as facilidades oferecidas por agências financiadoras proporcionam o acesso à compra de bens e serviços que nunca haviam consumido. Diante da ótica do comportamento do consumidor, este estudo objetiva analisar a relação entre materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento do jovem universitário. Para responder aos objetivos desta investigação, foi realizada uma pesquisa descritiva, com aplicação das estratégias qualitativa e quantitativa. A primeira, com a realização de dois grupos focais, permitiu conhecer características dos jovens universitários e seus comportamentos relacionados aos três construtos utilizados: materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento. Já a segunda abordagem consistiu de um survey (levantamento), aplicado a 415 estudantes de diversas cidades do Estado de Santa Catarina, cujos dados foram obtidos por meio de questionários impressos, autopreenchíveis e presenciais. Aos resultados da pesquisa foram aplicadas as análises estatísticas: descritivas (média, desvio padrão, teste t, correlações de Pearson e Spearman) e multivariadas (análises fatoriais, cluster e regressão logística). O materialismo manteve índices expressivos entre os jovens pesquisados. As mulheres apresentaram-se como mais materialistas, com uma média de 3,607 em uma escala de 1 a 7, idade até 20 anos (3,714), e mais endividadas (3,618). O consumo excessivo obteve médias baixas, no entanto, homens (2,433), solteiros (2,439) e endividados (2,449) indicaram os maiores escores. A propensão ao endividamento apontou que homens (4,466), com idade entre 21 e 30 anos (4,475), solteiros (4,789) e das classes econômicas C e D (4,559), foram mais propensos ao endividamento financeiro. A aplicação da análise fatorial no construto de consumo excessivo permitiu reduzir a escala proposta por Wu (2006) de 5 para 3 dimensões, na qual todos os fatores obtiveram confiabilidades válidas para futuros estudos. A análise de cluster permitiu estabelecer diferenças nas atitudes de compra entre as classes econômicas dos entrevistados. Os resultados indicam que os indivíduos de baixa renda são mais propensos ao endividamento financeiro, pois não se mostraram preocupados com a reputação de devedor na sociedade, não se importam em poupar agora para consumir no futuro e compram produtos e serviços mesmo sem condições financeiras. O autocontrole dos gastos, dimensão que indica a gestão do rendimento, obteve a menor média do construto de propensão ao endividamento. Por fim, a regressão logística apontou que existe associação entre os três construtos. Porém, como os coeficientes dessa análise apresentaram-se similares não se pode determinar o que causa o endividamento dos indivíduos pesquisados. Este acontece, em sua maior parte, por atitudes positivas ao materialismo (0,270), seguidas do consumo excessivo (0,205) e por serem propensos ao endividamento (0,139). Palavras-chave: Materialismo. Consumo Excessivo. Endividamento. Jovens Universitários. Baixa Renda.

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ABSTRACT

Currently, Brazil is going through a mobility and social stratification and through a stable and growing economy. These factors, added to the materialistic values of the population, makes the consumers to strengthen their consumer desires, and the facilities offered by funding agencies, provide access for goods and services that never consumed. Given the perspective of consumer behavior, this study aims to analyze the relationship between materialism, excessive buying and the propensity of the indebtedness young university. To meet the objectives of study, we performed a descriptive study, with application of qualitative and quantitative strategies. First, the completion of two focus groups helped identify characteristics of college students and behaviors related to the three constructs used: materialism, excessive buying and the propensity of the indebtedness. The second approach consisted of a survey, applied to 415 students from various cities of the State of Santa Catarina, whose data were obtained through questionnaires printed, self fallible and face to face. The results of research, statistical analyses were applied (mean, standard deviation, t-test, Pearson and Spearman correlations) and multivariate (factor analyses, cluster and logistic regression). Materialism indices remained significant among young people surveyed and women presented themselves as more materialistic, with an average of 3.607 on scale of 1 to 7, up to age of 20 years old (3.714), and more debit (3.618). The excessive buying rated lower results, however, men (2.433), single (2.439) and debtor (2.449) shoed the highest scores. The propensity for debit, found that men (4.466), aged between 21 and 30 years old (4.475), single (4.789) and socioeconomic classes C and D (4.559) were more prone to financial debit. The application of factor analysis in the construct of excessive buying has reduced the scale proposed by Wu (2006) from 5 to 3 dimensions, in which all factors has reliabilities valid for future studies. Cluster analysis allowed determining differences in attitudes towards purchases between economic classes of respondents. The result indicates that low-income individuals are more prone to financial debt, because they were not more concerned about the reputation of a debtor in society. They are net concerned about saving now to consume in the future and buy products and services without financial conditions. Self-control spending, a dimension that indicates the performance management, had the lowest average propensity to construct debit. Finally, logistic regression showed that an association exist between the three constructs. However, the coefficients of this analysis showed similar results cannot determine what causes the indebtedness of individuals surveyed. This happens for the most part, positive attitudes to materialism (0.270), followed by excessive buying (0.205) and being prone debit (0.139). Keywords: Materialism. Excessive Buying. Indebtedness. University Students. Low Income.

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 Níveis de compra excessiva à compra compulsiva........................... 44 Figura 2 Causas do endividamento................................................................. 49 Figura 3 Mesorregião do Vale do Itajaí............................................................ 72 Figura 4 Microrregião de Florianópolis............................................................. 73 Figura 5 Gênero e ocupação profissional dos entrevistados........................... 85 Figura 6 Caminho de Influências ..................................................................... 126 Figura 7 Análise Fatorial Confirmatória: Materialismo, Consumo Excessivo e

Propensão ao Endividamento ........................................................... 128

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LISTA DE QUADROS Quadro 1 Construto de materialismo de Richins e Dawson (1992).................. 29 Quadro 2 Síntese de construções teóricas de materialismo............................. 32 Quadro 3 Síntese das relações entre o materialismo e idade, gênero e

renda.................................................................................................

36 Quadro 4 Dimensões do construto de consumo excessivo. ............................ 40 Quadro 5 Resultados do construto aplicado aos estudantes e adultos............ 41 Quadro 6 Quadro comparativo entre compra excessiva, compulsiva

e impulsiva........................................................................................

45 Quadro 7 Síntese de construções de propensão ao endividamento. .............. 52 Quadro 8 Síntese das relações entre endividamento e idade, gênero e

renda.................................................................................................

54 Quadro 9 Afirmativas da escala de Lea, Webley e Walker (1995)................... 57 Quadro 10 Dimensões e afirmações do construto de Moura (2005).................. 58 Quadro 11 Produtos e fontes de crédito da baixa renda – Setor Formal,

Semiformal e Informal.......................................................................

63 Quadro 12 Construto de Materialismo de Richins e Dawson (1992)

– Centralidade...................................................................................

77 Quadro 13 Construto de Materialismo de Richins e Dawson (1992)

– Felicidade.......................................................................................

77 Quadro 14 Construto de Materialismo de Richins e Dawson (1992)

– Sucesso.........................................................................................

78 Quadro 15 Construto de consumo excessivo de Wu (2006). ............................ 78 Quadro 16 Construto de propensão ao endividamento de Moura (2005).......... 80

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Inadimplência no Brasil..................................................................... 50 Tabela 2 Cidades e habitantes da microrregião de Itajaí................................. 73 Tabela 3 Cidades e habitantes da microrregião de Florianópolis.................... 74 Tabela 4 Cidades e número de alunos matriculados nos cursos de

graduação..........................................................................................

74 Tabela 5 Amostragem da pesquisa em campi e municípios............................ 75 Tabela 6 Amostra da pesquisa planejada e realizada...................................... 82 Tabela 7 Alunos, cursos e campus universitário.............................................. 83 Tabela 8 Variáveis sociodemográficas dos pesquisados................................. 83 Tabela 9 Gênero e situação civil dos entrevistados......................................... 84 Tabela 10 Classificação econômica da amostra................................................ 85 Tabela 11 Diferenças entre os valores do Critério Brasil e IBGE....................... 86 Tabela 12 Variáveis econômicas e endividamento dos pesquisados................ 87 Tabela 13 Comparação dos dados sociodemográficos e endividamento

financeiro...........................................................................................

89 Tabela 14 Níveis de endividamento dos estudantes........................................ 90 Tabela 15 Comparação entre ato de poupar e endividamento.......................... 91 Tabela 16 Níveis de gastos e consumo............................................................. 91 Tabela 17 Índices de confiabilidade dos construtos........................................... 92 Tabela 18 Purificação do construto de materialismo.......................................... 93 Tabela 19 Questões utilizadas para mensurar o materialismo.......................... 93 Tabela 20 Purificação do construto de propensão ao endividamento................ 94 Tabela 21 Questões utilizadas para mensurar a propensão ao

endividamento...................................................................................

95 Tabela 22 Médias e desvios padrão do construto de materialismo................... 96 Tabela 23 Médias gerais do construto de materialismo com afirmativas

reversas.............................................................................................

97 Tabela 24 Variáveis sociodemográficas e materialismo.................................... 98 Tabela 25 Correlações de Spearman entre gênero e materialismo................... 100 Tabela 26 Correlações entre idade, classes econômicas e materialismo.......... 100 Tabela 27 Médias de materialismo com níveis de gastos, consumo e

economia...........................................................................................

101 Tabela 28 Médias e desvios padrão do construto de consumo excessivo

dos entrevistados...............................................................................

102 Tabela 29 Médias gerais do construto de consumo excessivo com afirmativas

reversas.............................................................................................

105 Tabela 30 Variáveis sociodemográficas e consumo excessivo......................... 106 Tabela 31 Correlação de Spearman entre consumo excessivo e gênero.......... 107 Tabela 32 Correlações de Pearson entre idade, classes econômicas e

consumo excessivo...........................................................................

108 Tabela 33 Médias e desvios padrão do construto de propensão ao

endividamento. .................................................................................

109 Tabela 34 Médias das alternativas reversas...................................................... 110 Tabela 35 Variáveis sociodemográficas e propensão ao endividamento.......... 111 Tabela 36 Correlações entre idade, classes econômicas e propensão ao

endividamento. .................................................................................

112 Tabela 37 Correlação de Spearman entre propensão ao endividamento e

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gênero................................................................................................ 112 Tabela 38 Fatores extraídos das análise fatorial do construto de consumo

excessivo...........................................................................................

114 Tabela 39 Análise fatorial do construto de consumo excessivo......................... 115 Tabela 40 Variáveis e alfa de Cronbach para cada fator................................... 116 Tabela 41 Resultados descritivos dos grupos extraídos da análise fatorial....... 116 Tabela 42 Classes econômicas da análise cluster............................................. 118 Tabela 43 Classes da análise cluster – materialismo........................................ 119 Tabela 44 Classes da análise cluster – consumo excessivo............................. 120 Tabela 45 Classes da análise cluster – propensão ao endividamento.............. 121 Tabela 46 Regressão logística: análise do modelo............................................ 124 Tabela 47 Resultados dos construtos na equação logística.............................. 124 Tabela 48 Classificação em devedores e não devedores.................................. 126 Tabela 49 Características sociodemográficas dos pesquisados de baixa

renda..................................................................................................

131 Tabela 50 Materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento

da BR.................................................................................................

132 Tabela 51 Endividados e não endividados da baixa renda................................ 134 Tabela 52 Níveis de gastos dos jovens de baixa renda..................................... 135 Tabela 53 Tipos de gastos dos jovens de baixa renda...................................... 136

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS .................................................................................................. v!RESUMO ................................................................................................................... vii!ABSTRACT .............................................................................................................. viii!LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. ix!LISTA DE QUADROS ................................................................................................. x!LISTA DE TABELAS ................................................................................................. xi!1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15!1.1 PROBLEMA DE ESTUDO .................................................................................. 18!1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO ............................................................................. 20!1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 20!1.2.2 Objetivos Específicos .................................................................................... 21!1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA TEÓRICO-EMPÍRICA ................................... 21!1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................ 23!2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 24!2.1 MATERIALISMO ................................................................................................ 24!2.1.1 Teorias e definições ...................................................................................... 24!2.1.2 Visões do materialismo ................................................................................ 26!2.1.3 Os construtos de materialismo de Belk e Richins e Dawson ................... 27!2.1.4 As construções científicas de materialismo .............................................. 30!2.2 CONSUMO EXCESSIVO ................................................................................... 38!2.2.1 ! Teorias e definições de consumo excessivo ............................................. 38!2.2.2! O construto de consumo excessivo de Wu (2006) .................................... 39!2.2.3 Diferenças entre consumo compulsivo, impulsivo e excessivo .............. 42!2.3 ENDIVIDAMENTO DO CONSUMIDOR ............................................................. 46!2.3.1 Atitude de endividamento do consumidor .................................................. 46!2.3.2 Propensão ao endividamento ....................................................................... 51!2.3.3 Dívidas dos jovens no contexto brasileiro .................................................. 55!2.3.4 Modelo de propensão ao endividamento de Moura (2005) ........................ 56!2.4 O CONSUMIDOR DE BAIXA RENDA NO BRASIL ............................................ 59!2.4.1 Mobilidade social e a classe de baixa renda .............................................. 59!2.4.2 Os produtos e as fontes de crédito da baixa renda ................................... 61!2.4.3 O endividamento do consumidor de baixa renda ...................................... 67!3 METODOLOGIA DE PESQUISA ........................................................................... 70!3.1 ABORDAGENS E ESTRATÉGIAS DE PESQUISA ............................................ 70!3.2 UNIVERSO E AMOSTRA ................................................................................... 72!3.4 TÉCNICA E INSTRUMENTO DE COLETA DOS DADOS .................................. 75!3.5 VARIÁVEIS DE ANÁLISE ................................................................................... 77!3.6 TRATAMENTOS ESTATÍSTICOS ...................................................................... 80!4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 82!4.1 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA .................................................................. 82!4.2 PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DOS DADOS ESTATÍSTICOS .................. 91!4.3 MATERIALISMO ................................................................................................. 95!4.4 CONSUMO EXCESSIVO .................................................................................. 102!4.5 PROPENSÃO AO ENDIVIDAMENTO .............................................................. 109!4.6 ANÁLISE FATORIAL DOS CONSTRUTOS DO ESTUDO ............................... 113!4.7 ANÁLISE CLUSTER ......................................................................................... 117!4.7.1 Análise Cluster: materialismo ..................................................................... 118!

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4.7.2 Análise Cluster: consumo excessivo ......................................................... 120!4.7.3 Análise Cluster: propensão ao endividamento ......................................... 121!4.7.4 Análise Cluster: diferentes atitudes de consumo entre as classes econômicas ............................................................................................................ 122!4.8 REGRESSÃO LOGÍSTICA ............................................................................... 123 4.9 ANÁLISE FATORIAL CONFIRMATÓRIA ......................................................... 126 4.10 COMPORTAMENTO DOS ESTUDANTES DE BAIXA RENDA ..................... 130!5 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E SUGESTÕES ................................................. 140!5.1 CONCLUSÕES ................................................................................................. 140!5.2 LIMITAÇÕES E SUGESTÕES .......................................................................... 142!5.3 CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO ...................................................................... 144!APÊNDICES ........................................................................................................... 157!ANEXOS ................................................................................................................. 162!

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1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, pode-se observar um aumento dos trabalhos

acadêmicos que envolvem o comportamento do consumidor junto às questões que

se referem ao consumo excessivo e endividamento financeiro. Esses traços de

consumo, que foram demarcados pelo sistema capitalista de produção, foram

relatados por autores que estiveram dispostos a compreender as principais

modificações sociais e de produção organizacional, conforme mostraram as

pesquisas de Quadros (1991), Zerrenner (2007) e Lamounier e Souza (2010).

O Brasil, desde a década de 90, experimenta uma mobilidade social e uma

estabilidade na economia. Conforme citam Lamounier e Souza (2010) e Prahalad

(2010), mesmo com a recente crise mundial de 2008 e 2009, ocorreram

modificações no que se refere ao consumo e à estratificação social.

Tal desenvolvimento acontecido no Brasil é retratado por Lamounier e Souza

(2010, p. 2), o qual pode ser justificado pelas seguintes razões: a) rápida e

extraordinária prosperidade da economia mundial, que “antecedeu a crise de 2008-

2009, e contribuiu para reduzir a desigualdade de renda”; b) aumento expressivo do

emprego e renda mensal da população, fornecendo maior potencial de consumo da

sociedade; c) baixa inflação e liberdade de crédito de agências financiadoras e d)

estabilização da economia nacional, a partir de 1994, bem como os devidos

aumentos do salário mínimo acima da inflação.

O aquecimento na economia nacional e os valores materialistas dos

indivíduos, fazem os consumidores fortalecerem seus desejos de consumo, assim

como as facilidades oferecidas por agências financiadoras, proporcionam o acesso

de compra a bens e serviços que nunca haviam consumido.

Entre os diversos temas que envolvem o comportamento de compra,

destacam-se o materialismo, consumo excessivo e o endividamento financeiro.

Richins e Dawson (1992, p. 304) definem o materialismo como a situação em que

“[...] as posses materiais servem como um papel importante para estabelecer e

manter estados afetivos positivos” e o “grau de apego ao objeto associado ao seu

estado de bem-estar” na vida do indivíduo.

Conforme Wu (2006, p.25), consumo excessivo é “[...] um tipo de

comportamento de compra que permitirá aos consumidores repetidamente gastar

mais do que deveriam, com base em suas condições financeiras.” Já em relação ao

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endividamento, os autores Borzekowski, Kiser e Ahmed (2007) apontam como um

saldo devedor de um consumidor, resultante de uma ou mais dívidas, além da falta

de comprometimento de assumir os débitos financeiros.

Estes três construtos fazem parte dos cenários de crescimento dos países

emergentes, como por exemplo, o Brasil, a China e a Rússia. Barreto e Bochi

(2002), Barros, Foguel e Ulyssea (2007), bem como Lamounier e Souza (2010)

destacam que as facilidades do acesso ao crédito e as atitudes de consumo

excessivo da população destes países, atualmente, resultam no endividamento

pessoal, do qual muitos dos consumidores passam a comprometer uma parcela

significativa de suas rendas para a compra de bens e serviços.

Logo, na medida em que as atitudes positivas ao materialismo e ao consumo

excessivo envolvem o endividamento, é importante considerar, de acordo com

Zerrenner (2007), que estes indivíduos inadimplentes possuem dificuldade para

quitar suas dívidas e até mesmo baixa ou nenhuma habilidade de gerir seus

rendimentos, resultando em problemas de ordem psicológica. Nesse sentido,

Yamauchi e Templer (1982) abordam que esta dificuldade leva o endividado a

incidentes, como: separação, desemprego, problemas relacionados à saúde e

demais ordens psicológicas, que afetam a vida e as relações sociais das pessoas.

Especificamente no Brasil, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e

Inadimplência do Consumidor – PEIC, realizada pela Confederação Nacional do

Comércio – CNC (2011), por mais que haja uma perspectiva para o aquecimento do

mercado de trabalho, ainda ocorrem altos índices do endividamento dos

consumidores no Brasil. Os jovens, atualmente, são os mais afetados. Os dados

dessa pesquisa apontaram uma juventude despreparada para a gestão financeira,

pois somente no mês de janeiro de 2011, o endividamento desses consumidores

chegou a 59,4% da população. Estes números são ainda mais alarmantes quando

expostos os tipos de dívidas desses consumidores. Dívidas contraídas pelo uso do

cartão de crédito é o líder do ranking, representando 72,3% da população

pesquisada no Brasil. Os outros tipos de dívidas somam 27,7% e incluem: o cheque

especial, o crédito consignado, os carnês e os financiamentos.

Dentre as causas da inadimplência da juventude brasileira, é possível apontar

um índice de 38% relacionados ao desemprego, 14% ao descontrole ou má gestão

dos seus gastos, 11% para atuação como fiador ou avalista e 9% na diminuição do

rendimento mensal do consumidor. Outros fatores somam 28% e incluem doenças e

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atrasos nos salários (CNC, 2011). Todos esses índices representam o

endividamento, resultantes das atitudes positivas ao materialismo e do consumo

excessivo. Assim descreve Rook (1987), pois afirma que esses consumidores

possuem grande propensão a adquirir dívidas, pois gastam mais do que podem

pagar.

O endividamento também ocorre em outros países. Watson (1998) examinou

299 estudantes da Nova Zelândia e verificou que as pessoas com altos níveis de

materialismo possuem atitudes positivas em relação aos problemas financeiros e ao

endividamento pessoal. Em outro estudo, o qual envolveu 322 pessoas nos Estados

Unidos da América, Watson (2003) chegou à conclusão de que, além do

endividamento causado pelas atitudes positivas ao materialismo, tais indivíduos

eram mais propensos à solicitação de empréstimo de dinheiro em organizações

bancárias.

Embora o retrato do endividamento pessoal seja discutido em diversos

países, Lamounier e Souza (2010) e Prahalad (2010) relatam que no Brasil, o

julgamento por otimismo exagerado se constitui na principal causa da inadimplência

da classe de baixa renda no país, que engloba os indivíduos da classe C, cuja renda

familiar mensal situa-se entre R$ 2.726,00 e R$ 5.450,00; e da classe D, entre R$

1.091,00 e R$ 2.725,00 mensais. Demais fatores determinantes do endividamento

dessas pessoas da classe de baixa renda, envolvem a ocupação informal e o fluxo

de renda instável familiar. Lamounier e Souza (2010), em um estudo aplicado nas

capitais brasileiras, descrevem que 57% dos entrevistados foram levados a cortar os

seus gastos para preencher as dificuldades financeiras, outros 44% tiveram

dificuldades de pagar as compras a crédito e 32% das famílias contraíram novas

dívidas para financiar suas despesas.

De acordo com pesquisas aplicadas nessa classe, Moura (2005), Neri (2008)

e Lamounier e Souza (2010) abordam que a baixa renda ainda possui dificuldade na

gestão dos seus rendimentos em virtude de gastos em excesso. A ocupação

informal e a instabilidade de renda representam um perigo para essa classe, uma

vez que os indivíduos de baixa renda vivem em um círculo vicioso de contrair novas

dívidas para saldar as antigas. Tal fato é confirmado pelos resultados da pesquisa

de endividamento da CNC (2011) ao revelar que 8% das famílias de baixa renda

gastaram mais do que receberam, enquanto o nível de endividamento das demais

classes econômicas representou apenas 3%.

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1.1 PROBLEMA DE ESTUDO

O endividamento do consumidor pode ser caracterizado por diversos fatores e

associados aos vários comportamentos dos indivíduos, tais como: as atitudes

positivas ao materialismo (BELK, 1984, 1985; KILBOURNE; GRUNHAGEN; FOLEY,

2005; RICHINS; DAWSON, 1990, 1992; WATSON, 1998, 2003), consumo excessivo

(RIGDWAY; KUKAR-KINNEY; MONROE, 2006, 2008; WU, 2006) e o valor

emocional dado à posse do dinheiro. (DITTAMAR, 1996; FURNHAM; ARGYLE,

1998; SCHWARTZ, 1992).

Para o materialismo, Belk (1984, 1985), Schaefer, Hermans e Parker (2004) e

Kilbourne, Grunhagen e Foley (2005) apontam que o construto possui fortes indícios

de existência em períodos anteriores à Revolução Industrial. No entanto, apenas nos

últimos cem anos foram estabelecidas condições teóricas das atitudes materialistas

dos indivíduos. Embora essas atitudes tenham sido visualizadas nos últimos cem

anos, as condições teóricas recentes são estabelecidas por estudos que aplicaram

metodologias de mensuração do materialismo em cenários diferentes.

Belk (1984) apresentou um construto com 24 itens de mensuração,

distribuídos em três dimensões: possessividade em relação às posses de bens;

inveja de pessoas que possuem determinados objetos; falta de generosidade, que

caracteriza indivíduos com dificuldades de dividir seus bens. Apesar do construto

apresentar validade no seu estudo, o autor relatou que essas três medidas de

materialismo não eram perfeitas e mereciam novas aplicações com os

consumidores.

Na década de 90, Richins e Dawson (1990) iniciaram uma nova discussão.

Os autores propuseram outro construto capaz de mensurar o materialismo, baseado

em outras três dimensões diferentes, sendo: centralidade, que caracteriza indivíduos

racionais nas relações de compra; felicidade, como resultado de compra de objetos;

sucesso, no momento em que os objetos materiais indicam sinais de ascensão

social e profissional, por meio da compra de bens e serviços. O questionário possuiu

validade científica, já que passou por uma nova avaliação pelos mesmos autores

dois anos após a primeira verificação. Richins e Dawson (1992) relatam que as

futuras aplicações empíricas deverão incluir seus antecedentes e as principais

consequências destas atitudes do comportamento do consumidor.

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Watson (1998, 2003) se dispõe a discutir as consequências nas atitudes

positivas ao materialismo de Richins e Dawson (1992). Nas pesquisas, o autor relata

que os jovens possuem maior propensão ao endividamento quando avaliada a

postura materialista. O estudioso comenta que novos pesquisadores devem estar

dispostos a compreender as relações entre o materialismo e o endividamento, uma

vez que o número de publicações que integra os dois temas ainda é relativamente

baixo.

Fournier e Richins (1991) apontaram que a sociedade vive em um latente

comportamento materialista, o que contribui para o endividamento dos

consumidores, na aquisição, como busca de felicidade e sucesso pessoal ou

familiar. Richins e Rudmin (1994); Kilbourne, Grunhagen e Foley (2005) e

Rindfleisch, Burroughs e Wong (1997) também indicam que lacunas devem ser

preenchidas, pois muitos estudos do materialismo acontecem apenas com

indivíduos norte-americanos e demais países sofrem carência das representações

teóricas do construto.

Por mais que aconteçam associações aos temas, materialismo e consumo

excessivo possuem definições e construtos diferentes entre si. Wu (2006, p.25)

relata que “[...] um importante fator que impede o progresso de pesquisa na área de

consumo excessivo, é a falta de uma definição clara do tema.” À medida que

apresenta a validação do construto, o autor aborda que “[...] é necessário medir o

consumo excessivo em diferentes origens étnicas e culturais. Portanto, seria

interessante estudar as diferenças entre os grupos.”

As estatísticas norte-americanas apontam que, no ano de 2006, o consumo

chegou a 8,7 bilhões de dólares. Embora o Brasil não atinja um total tão expressivo,

a estabilidade econômica e a mobilidade social vêm pressionando o consumo,

principalmente nas famílias de baixa renda. A classificação do PIB, realizada pelo

Fundo Monetário Internacional (2009), revela que o Brasil situava-se na 18a posição

no ano de 2007 e, dois anos depois, passou para o sétimo lugar entre as 183

nações analisadas.

Esses dados são reflexos do consumo familiar e do desenvolvimento social,

pois representou um aumento de 7,5 por cento do consumo de 2010 em relação ao

ano anterior (IBGE, 2011). Essas modificações na economia têm causado mudanças

nas estratificações sociais e um aumento da classe de baixa renda no país. Nesse

sentido, Lamounier e Souza (2010, p.1) comentam que o crescimento e

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fortalecimento da classe de baixa renda: “[...] é um dos fenômenos sociais e

econômicos mais importantes da história recente.”

O poder de compra da classe econômica de baixa renda passou de uma fatia

que anteriormente não era foco dos empresários a consumidores dispostos a

adquirir bens de consumo que antes eram inimagináveis à classe, a qual

representava, em 2008, 52% de toda a população brasileira. (LAMOUNIER; SOUZA,

2010). Por resultado deste consumo, o endividamento da classe não está distante

da realidade. Somente no mês de dezembro de 2010, cerca de 60,6% das famílias

de baixa renda estavam endividadas, das quais 25,5% possuíam contas em atraso e

9,1% não teriam condições de pagá-las. (CNC, 2011).

Considerando a realidade apresentada e tendo em vista que no Brasil os

estudos sobre o consumo e o endividamento das classes de baixa renda ainda são

poucos, esta pesquisa focaliza as principais atitudes envolvidas no comportamento

do consumidor e a propensão à dívida dos jovens universitários, com foco de análise

principal nos indivíduos de baixa renda, que já começam a frequentar a universidade

na busca de ascensão social, conforme esclarecem Lamounier e Souza (2010).

Diante desses fatores, este trabalho se propõe a verificar qual a relação entre materialismo, consumo excessivo e endividamento do consumidor jovem universitário na compra de bens e serviços?

Para responder a essa questão de pesquisa, foram definidos os seguintes

objetivos:

1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO

Os objetivos desta pesquisa serão relatados neste tópico, no qual parte-se do

objetivo geral e, a seguir, apresentam-se os objetivos específicos.

1.2.1 Objetivo Geral

Explicar a relação entre materialismo, consumo excessivo e a propensão ao

endividamento do jovem universitário.

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1.2.2 Objetivos Específicos

a) Identificar os níveis do materialismo e de consumo dos jovens universitários.

b) Verificar a propensão das dívidas em relação aos diferentes tipos de produtos

financeiros que representam este endividamento.

c) Identificar o grau de associação entre as variáveis que compõem os

construtos de materialismo, consumo excessivo e propensão ao

endividamento.

d) Verificar o grau de associação entre essas variáveis e as características

sociodemográficas dos entrevistados.

1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA TEÓRICO-EMPÍRICA

Ao discutir os construtos de materialismo, consumo excessivo e

endividamento do consumidor jovem, este estudo aborda temas atuais, que

constituem interesses de discussões acadêmicas e das práticas organizacionais,

além de fornecer subsídios para elaboração de políticas públicas e empresariais de

concessão de crédito para as diferentes classes econômicas.

Com os resultados desta pesquisa empírica é possível avançar a

compreensão da relação entre materialismo, consumo excessivo e endividamento

do público universitário, visto que estes consumidores possuem uma representação

fundamental na posição do consumo nos dias atuais e maiores índices do

endividamento financeiro. (LAMOUNIER; SOUZA, 2010; WATSON, 1998, 2003).

Em análise dos estudos científicos, pesquisas foram encontradas e firmaram

relação entre o materialismo e o endividamento do consumidor, como, por exemplo,

as aplicações de Watson (1998, 2003). A pesquisa de Wu (2006) também encontrou

ligação entre o consumo excessivo e o débito financeiro. Entretanto, nenhum estudo

integrando estes três construtos foi encontrado. Assim, este trabalho passará a

verificar a relação entre as atitudes positivas ao materialismo e o consumo

excessivo, que podem resultar na propensão ao endividamento financeiro,

contribuindo para o avanço do conhecimento sobre o comportamento do

consumidor.

Para o desenvolvimento científico, é importante preencher as lacunas

teóricas, uma vez que diversos autores passaram a indicar que muitos estudos, os

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quais envolvem o construto de materialismo e de consumo excessivo, acontecem

apenas com indivíduos norte-americanos, além do baixo número de pesquisas

aplicadas ao consumidor jovem. (RICHINS; DAWSON, 1992; WATSON, 1998; WU,

2006). Nessa mesma condição, esta pesquisa possui relevância aplicada à classe

de baixa renda brasileira, por conta de seu aumento, que aconteceu a partir da

década de 90. No ano de 2011, cerca 105,4 milhões de pessoas, equivalente a

50,5% da população nacional, fazem parte desta camada social. (IBGE, 2011).

A aplicação desta pesquisa com os jovens da classe de baixa renda

possibilita conhecer o futuro do mercado interno, uma vez que a classe deixou a

pobreza para trás e passou a participar, ativamente, da economia nacional. Embora

essas modificações sociais possam trazer benefícios para a economia do Brasil, é

importante verificar, a partir dos resultados desta pesquisa, as consequências

causadas pelo consumo desenfreado destes jovens que, por diversas vezes, são

enquadrados no endividamento financeiro.

As atitudes positivas ao materialismo afetam o modo como as pessoas usam

o seu dinheiro e, por consequência, alguns indivíduos são mais propensos ao

endividamento financeiro. Nessa mesma relação, o débito do consumidor pode ser

resposta do consumo excessivo na compra de bens e serviços.

Esses resultados poderão ser discutidos e utilizados por duas vertentes

importantes para a economia nacional: empresariais e governamentais. Os

resultados deste estudo deverão trazer melhores compreensões para as agências e

instituições financeiras, uma vez que os produtos de crédito que facilitam a utilização

do dinheiro podem trazer por consequência o endividamento dos jovens da classe

de baixa renda.

É importante ressaltar que o avanço das famílias da pobreza para a classe

média não decorre de nenhum programa social governamental, uma vez que a vida

desses indivíduos melhorou em virtude do aumento dos empregos no setor privado

nacional. Apesar disso, este estudo deve fornecer subsídios para a manutenção

desta classe, além do olhar de cuidado sobre o consumo e o endividamento como

forma de contribuir para o crescimento econômico do país.

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1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

No primeiro capítulo deste trabalho são abordados os problemas de estudo,

os objetivos gerais e específicos e as justificativas e relevâncias teórico-empíricas.

Em seguida, são apresentadas as principais teorias acerca dos temas que

enquadram os construtos, as quais envolvem a construção deste estudo:

materialismo, consumo excessivo, propensão ao endividamento e a classe de baixa

renda do Brasil.

Após a revisão da literatura, apresentam-se o método e a estratégia que

foram aplicados para o levantamento e a análise dos dados. Assim, relacionam-se

as abordagens e as estratégias, o universo e a amostra, o instrumento para coleta e

as variáveis de análise. Por fim, no capítulo quatro são apresentados os resultados

das aplicações estatísticas e, no quinto, as conclusões obtidas nesse estudo.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Com o intuito de abordar as principais teorias que envolvem este estudo, o

referencial teórico deste trabalho está centrado nos seguintes temas: materialismo,

consumo excessivo, endividamento do consumidor e a classe de baixa renda

brasileira.

2.1 MATERIALISMO

Para clareza na definição teórica do construto de materialismo, este item será

abordado em quatro situações que integram o tema: teorias e definições; visões do

materialismo; construtos de mensuração de Belk (1985) e Richins e Dawson (1992)

e, finalmente, os estudos científicos que envolveram o construto. 2.1.1 Teorias e definições

Nas obras de Belk (1984, 1985) e Burroughs e Rindfleisch (2002), os autores

afirmavam que os padrões de busca da felicidade no consumo, nos estudos do

comportamento do consumidor, surgiram pela primeira vez no Ocidente. Porém, por

mais que não hajam dados concretos sobre local e data, Richins e Dawson (1992)

descreveram que o materialismo havia surgido na vida pós-industrial.

Nessa relação, Schaefer, Hermans e Parker (2004), bem como Kilbourne,

Grunhagen e Foley (2005) contribuem ao afirmar que somente com a Reforma

Protestante é que foram estabelecidas as condições teóricas do construto de

materialismo. Richins e Rudmin (1994), Kilbourne, Grunhagen e Foley (2005)

indicam que os conhecimentos científicos acerca do tema surgiram nos últimos cem

anos. No entanto, foram somente nas últimas décadas que a Psicologia se propôs a

estudar esses assuntos que envolvem o comportamento do consumidor.

Richins e Dawson (1992), que integram os autores precursores do

desenvolvimento teórico de materialismo, abordam a América em alto nível de

consumo, na qual os consumidores são vistos como grupos diferenciados, mas

guiados igualmente pelo mesmo desejo de consumo de bens. Nesta discussão, é

necessário o esclarecimento de que o materialismo ou o comportamento de

consumo excessivo não é exclusividade norte-americano, já que Richins e Dawson

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(1992), Richins, McKeage e Najjar (1992) e Watson (2003) comparam o nível do

materialismo em diversas localidades da América e da Europa, comprovando esta

afirmação.

Em outra obra que ilustrou a comparação entre o Japão e os Estados Unidos

da América, Belk (1985) concluiu que anúncios publicitários com apelos materialistas

foram encontrados no Oriente em igual proporção aos países do Ocidente. Justifica

o autor que “[...] assim como nos Estados Unidos da América, o aumento real dos

rendimentos e uma abundância de bens de consumo tornou o materialismo possível

naquele país.” (BELK, 1985, p. 265). Neste mesmo grau, Parker, Haytko e Hermans

(2002) avaliaram o materialismo chinês versus o norte-americano em uma amostra

de estudantes universitários e, nos resultados das pesquisas, é possível

compreender que os indivíduos norte-americanos, assim como os chineses,

admiram pessoas que possuem objetos muito caros e gostariam de obter bens para

impressionar os outros.

Diante desta realidade, Belk (1984, 1985), Burroughs e Rindfleisch (2002) e

Parker, Haytko e Hermans (2002) consideram que o materialismo não é

restritamente dos povos ocidentais e, além das diferenças culturais e históricas na

tendência para o materialismo, existem também diferenças individuais nas

manifestações deste construto do comportamento do consumidor.

Burroughs e Rindfleisch (2002), assim como Watson (2003), concluíram com

pesquisas que os indivíduos compram e usam o seu dinheiro para satisfazer às

necessidades da sobrevivência humana e para estabelecer a importância social de

poder do indivíduo. Utilizam o dinheiro para a compra de posse e bens,

compensando, assim, as deficiências individuais, como a autoestima. Em relação às

posses, Wallendorf e Arnould (1998, p. 533) citam que “[...] a posse e o afeto a

objetos servem muitas vezes de símbolos para os indivíduos, proporcionam-lhes

confiança e permitem-lhes exprimir a sua forma de ser para com terceiros.” E,

referente aos objetos, Belk e Costa (1998, p.223) abordam que “[...] significam status

social, mas também expressam formas de comportamento, as crenças, dos

sentimentos de saudade ou laços interpessoais dos indivíduos.”

Brewer e Porter (1993, p.1) confirmam as discussões dos autores Belk (1985)

e Burroughs e Rindfleisch (2002), pois relatam que “[...] nossas vidas, estão hoje

dominadas por objetos materiais que se proliferam ao nosso redor, incluindo as

perspectivas e os problemas para se pagar.” Já Belk e Costa (1998, p.220) abordam

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que o consumo “[...] permite dar significado à nossa vida, quando uma série de

parâmetros de orientação e de união para a integração social se esvanece no atual

processo de globalização.”

Demais contribuições de Belk (1985) e Burroughs e Rindfleisch (2002)

afirmam que tal estudo perante o comportamento do consumidor é uma ideologia do

desenvolvimento do indivíduo moderno na busca de um bem-estar psicológico

através da compra e do consumo, no qual o estilo de vida materialista parece ser

uma parte integral da vida moderna para os países desenvolvidos.

Diante do exposto, complementa-se que o construto de materialismo, durante

as três últimas décadas, tem despertado muito interesse de diversas áreas de

conhecimento, como Marketing, Ciência Política, Economia e Comportamento do

Consumidor na Psicologia Social. (BELK, 1985; GER; BELK, 1996; INGLEHART,

1990; MUNCY; EASTMAN, 1998).

2.1.2 Visões do materialismo

Como retratado no item anterior, o materialismo, que teve o seu início nos

países ocidentais após a Revolução Industrial, em retratos atuais é definido como

“[...] a importância atribuída à posse e à aquisição de bens materiais no alcance de

objetivos de vida ou estados desejados” (RICHINS; DAWSON, 1992, p.304) ou,

ainda, de acordo com Belk (1984, p.291): “[...] o interesse de um indivíduo em ter e

gastar.”

Diante de diversas teorias do construto de materialismo, são relevantes

algumas contribuições, como a definição de Rassuli e Hollander (1986, p.10), que

retratam o tema como “interesse em ganhar e gastar.” Burroughs e Rindfleisch

(2002, p.349) destacam ser a “[...] crença do indivíduo que seu bem-estar depende

da posse de objetos.” Ferreira (1986, p.1103), por sua vez, ressalta que é a “[...] vida

voltada unicamente para os gozos dos bens materiais.” Já Belk (1985, p. 308) diz

ser “[...] um conjunto de crenças sobre a importância das possessões na vida de

uma pessoa.” E, por fim, Ward e Wackman (1971, p.422), que apontam o

materialismo como: “[...] uma orientação, que vê os bens materiais e o dinheiro tão

importante para a felicidade pessoal e progresso social."

Apesar de diversos autores definirem a teoria do materialismo, os principais

referenciais estão cercados por Belk (1984, p. 291), que aborda materialismo como:

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[...] a importância que um consumidor atribui às posses. Nos níveis mais altos de materialismo, tais bens passam a assumir um lugar central na vida de uma pessoa e acredita-se proporcionar as maiores fontes de satisfação e insatisfação na vida.

Os valores materialistas descrevem como as pessoas pensam e como se

pode enxergar a sociedade como um todo no qual os bens de consumo assumem

um lugar central na vida e na identidade do indivíduo. (RICHINS, 1994a). A atitude

materialista também pode ser associada ao maior esforço para adquirir os bens que

as indústrias oferecem aos consumidores. Essa afirmação foi debatida por uma

variedade de teóricos, como, por exemplo, Belk (1984, 1985) e Kasser e Ryan

(1993). Richins (1994b) refere-se à atitude materialista como um valor que

representa a perspectiva do indivíduo sobre a possessão de bens e o papel que

estes tais bens desempenham em sua vida. Aqueles objetos que os indivíduos

consideram mais importantes na sua vida podem ser caracterizados como os seus

valores pessoais.

Nessa razão, Richins e Dawson (1992), Richins (1994b), Burroughs,

Rindfleisch (2002) e Wong (1997) relatam que os consumidores materialistas,

independente do seu nível econômico, valorizam o poder da conquista e o

consideram um importante instrumento que norteia suas ações, atitudes, juízos e as

comparações entre objetos específicos, assim como o julgamento que uma pessoa

faz sobre o significado de uma posse. Essa posse é feita em termos de valores

pessoais, de modo que os bens que uma pessoa preza vão refletir-se nestes

valores.

Por fim, em comum afirmação, Belk (1985) e Richins e Dawson (1992)

sugerem que as pessoas que priorizam a aquisição de bens materiais podem ser

nomeadas materialistas, enquanto os indivíduos que não sentem esta necessidade

de ter e adquirir cada vez mais são consideradas não materialistas.

2.1.3 Os construtos de materialismo de Belk e Richins e Dawson

Dos dois principais construtos que mensuram os níveis de materialismo dos

indivíduos, o primeiro foi desenvolvido por Belk (1984, 1985) e relata o tema como

um traço de personalidade associado à possessividade, à falta de generosidade e à

inveja. No estudo, o autor comenta que é capaz de mensurar as características dos

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consumidores, baseado na importância que os consumidores atribuem às suas

posses.

Belk (1985, p.292) identifica a possessividade como a “[...] inclinação e a

tendência para manter o controle ou a propriedade de uma posse” além da “[...]

relação com os objetos após a aquisição.” Os indivíduos são “[...] inclinados para

guardar e conservar bens ao invés de descartá-las.” A falta de generosidade é

compreendida como “[...] uma falta de vontade de dar posses ou compartilhar

possessões com outras pessoas” ou, ainda, é envolvida “pela preocupação egoísta”

do consumidor. Por último, a inveja, que é traduzida por duas vertentes, uma

positiva, na qual é associada à motivação de adquirir bens ou objetos desejados e

outra negativa, dentro das possibilidades destrutivas, interligadas a assassinatos,

roubo, adultério e outros.

Este construto de materialismo de Belk (1985) possuiu a validação em dois

estudos diferentes que, somados, representavam 437 consumidores norte-

americanos. Vale apontar que o construto de 1985 baseava-se no de 1984, porém o

sofreu reestruturação na adição de novas variáveis.

O segundo construto de mensuração do materialismo, que surgiu apenas na

próxima década, foi desenvolvido por Richins e Dawson (1992) com a função de

compreender e avaliar os níveis de materialismo dos consumidores. Este mensura o

materialismo a partir de escala de valores e atitudes, a qual é baseada em três

dimensões: Centralidade, Felicidade e Sucesso.

A primeira dimensão, denominada Centralidade, é interpretada como uma

indicação das posses e aquisições na vida das pessoas ou, como afirmam Richins e

Dawson (1992, p.217), o momento em que as posses de bens materiais ocupam

uma posição central na vida de um indivíduo. A segunda, Felicidade, é entendida

como “[...] as posses e as aquisições são tão importantes para os materialistas, que

eles veem estas como essenciais para a sua satisfação e o seu bem-estar.” A

felicidade ainda é reconhecida como o grau de esperança que o indivíduo tem de

que suas posses irão trazer-lhe felicidade e bem-estar pessoal, “[...] felicidade

através da aquisição, em vez de outros meios (tais como relacionamentos pessoais,

experiências ou realizações).” (RISCHINS; DAWSON, 1992, p.304).

A última dimensão do materialismo no construto de Richins e Dawson (1992,

p.304), o Sucesso, pode ser definida como uma indicação que favorece a tendência

de um indivíduo a julgar aos outros e a si mesmo em função da quantidade e da

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qualidade de suas posses, ou seja, “[...] os materialistas enxergam o sucesso como

uma medida em que pode possuir produtos” ou até mesmo o julgamento do sucesso

pessoal e dos outros indivíduos a partir das posses e bens acumulados.

O Quadro 1 mostra as afirmações de cada dimensão de mensuração do

materialismo de Richins e Dawson (1992, p.217):

Quadro 1 – Construto de materialismo de Richins e Dawson (1992)

Itens Dimensões Afirmações

Q1

Centralidade

Geralmente, compro apenas aquilo de que preciso. Q2 Tento manter a minha vida simples, no que diz respeito aos meus

bens materiais. Q3 As coisas que possuo não são muito importantes para mim. Q4 Gosto de gastar dinheiro em coisas que não são necessárias. Q5 Comprar coisas dá-me imenso prazer. Q6 Gosto de muito luxo na minha vida. Q7 Dou menos importância às coisas materiais que a maioria das

pessoas que conheço. Q8

Felicidade

Tenho todas as coisas de que preciso para ser feliz. Q9 A minha vida seria melhor se possuísse coisas que não tenho.

Q10 Não seria mais feliz se tivesse coisas mais bonitas. Q11 Seria mais feliz se tivesse dinheiro para comprar mais coisas. Q12 Às vezes, entristece-me um pouco que não possa comprar todas

as coisas que quero. Q13

Sucesso

Admiro pessoas que possuem carros, casas e roupas caras. Q14 Alguns dos feitos mais importantes na vida incluem adquirir bens

materiais. Q15 Não dou muita importância à quantidade de objetos materiais que

as pessoas têm como sinal de sucesso. Q16 As coisas que tenho dizem muito sobre o sucesso que tenho tido

na vida. Q17 Gosto de ter coisas para impressionar as pessoas. Q18 Não dou muita atenção aos objetos materiais que os outros

possuem. Fonte: Richins e Dawson (1992, p. 217). Nota: (1) O construto original pode ser visualizado no Anexo 2. (2) Tradução do autor.

Este construto de Richins e Dawson (1992) foi validado em uma pesquisa que

envolviam três estudos diferentes os quais somados representavam 690

consumidores norte-americanos. As afirmações propostas pelos autores, assim

como a escolha dessa medição para este estudo serão discutidos no capítulo 3

deste trabalho.

Finalmente, é possível compreender que Belk (1984, 1985) interpreta o

materialismo como um traço de personalidade, já Richins e Dawson (1992)

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caracterizam o construto como um valor cultural, utilizando-se a escala de valores e

atitudes pessoais. Apesar dos principais trabalhos publicados em torno de

materialismo utilizarem um dos dois construtos descritos anteriormente, como os

estudos de Ellis (1992), Micken (1995), Ger e Belk (1996), Wong (1997) e Watson

(1998, 2003), outros autores se dispuseram a desenvolver novos parâmetros para a

mensuração, como pode ser observado na linha cronológica a seguir.

O primeiro exercício partiu de Dickins e Ferguson (1957) no momento em que

os autores desenvolveram e aplicaram o seu construto em crianças com o objetivo

de avaliar os desejos dos trabalhos que gostariam de realizar quando adultos.

Justice e Birkman (1972) se propuseram a estudar os traços de personalidade em

um conjunto de questões de percepção social e autoimagem.

Burdsal (1975) propôs avaliar o grau de materialismo e a importância das

suas posses em um construto que mensurava o grau de apego dos consumidores

aos seus bens. Jackson, Ahmed e Heapy (1976) buscavam variáveis das

personalidades dos consumidores para mensurar os níveis de materialismo dos

indivíduos.

Este estudo será guiado pela segunda mensuração, o construto de Richins e

Dawson (1992). Optou-se por tal construto pelas considerações de Micken (1995),

que se propôs a verificar a aplicabilidade dos construtos de Belk (1985) e Richins e

Dawson (1992). A autora afirma que “[...] os construtos de Richins e Dawson

possuem uma orientação de valor que é mais precisa” (MICKEN, 1995, p.399), já

que o coeficiente alfa compreendeu 0,75 para o construto que mensurou a

centralidade, 0,83 para felicidade e 0,78 para sucesso. Já o outro, desenvolvido por

Belk (1985), relatou coeficientes de 0,66 para a menor amostra e 0,73 para a maior

amostra, respectivamente.

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31

2.1.4 As construções científicas de materialismo

Como pode ser observado no item anterior, diversos autores estiveram

dispostos a desenvolver construtos capazes de medir e mensurar os níveis de

materialismo dos consumidores. Porém, com o objetivo de esgotar os trabalhos que

envolveram o materialismo o Quadro 2 identifica e resume as principais pesquisas

que aplicaram e se utilizaram dos construtos, sendo:

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32

Tema / Autores

Estudo / Título Construto Amostra Contexto do Estudo / Pesquisa

Contribuição / Estatística aplicada

Teste de Confiabilidade Alfa de Cronbach

Materialismo

Belk (1985)

Three Scales to

Measure Constructs Related to

Materialism: Reliability,

Validity, and Relationships to

Measures of Happiness.

Belk (1985) com 24

itens para medir materialismo.

Possessividade - 9 itens.

Inveja-8 itens. Falta de

generosidade-7 itens.

Escala Likert 5

pontos.

EUA

Amostra 1 = 338 Amostra 2= 99

Estudantes de negócios, secretários de escritório de seguros, estudantes

de ensino religioso, membros da

fraternidade e trabalhadores de

maquinários.

Desenvolver

construto de medição do materialismo entre

os consumidores, baseado em inveja,

falta de generosidade e possessividade, em um total de 24 itens

de mensuração.

Reestruturação do construto de

materialismo de Belk (1984). Adição de novas variáveis

(subescalas). A análise comprovou que as

três dimensões são capazes de medir os níveis de materialismo

do consumidor.

Estatística Descritiva Análise Fatorial.

Coeficientes de 0,66

para a menor amostra e 0,73 para a maior

amostra.

Materialismo

Ellis (1992)

A Factor Analysis

Investigation of Belk`s Structure

of the Materialism.

Belk (1985)

Escala Likert 5

pontos.

EUA

Amostra = 148

Consumidores metropolitanos.

Verificação de

confiabilidade do construto de Belk

(1985).

O estudo comprova que não existe validade para a medição

do materialismo.

Estatística Descritiva Coeficiente de Correlação de

Pearson.

Não possuiu validade no

construto.

Materialismo

Richins e Dawson (1990)

Measuring

Material Values: A Preliminary

Report of Scale Development.

Adaptação de Belk

(1985)

Escala Likert 5 pontos.

EUA

Amostra 1 = 448

estudantes Amostra 2 = 191

estudantes Amostra 3 = 194

estudantes

Início da construção

do construto baseado em centralidade,

felicidade e sucesso para verificar os

níveis de materialismo dos consumidores.

5 novas variávies foram

adicionadas ao construto já existente.

Estatística Descritiva

Análise Fatorial (exploratória e confirmatória).

Coeficiente de 0,76

Não houve validade das

novas variáveis ao construto já existente.

continua

Quadro 2 – Síntese de construções teóricas de materialismo

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33

Tema / Autores

Estudo / Título Construto Amostra Contexto do Estudo / Pesquisa

Contribuição / Estatística aplicada

Teste de Confiabilidade Alfa de Cronbach

Materialismo

Richins e Dawson (1992)

A Consumer

Values Orientation for

Materialism and Its

Measurement: Scale

Development and Validation

Richins e Dawson

(1992) Continuidade no

construto desenvolvido por Richins e Dawson

(1990). Escala Likert 5

pontos

EUA

Aplicado 03

Universidades dos Estados Unidos.

Amostras variando de 144 à 250 pessoas.

Aprimoramento do construto capaz de medir os níveis de

materialismo entre os consumidores, baseados na centralidade,

felicidade e sucesso.

Mede três aspectos correlacionados do

materialismo: centralidade, aquisição, o papel de aquisição

no exercício de felicidade. O construto possui validade.

Estatística Descritiva Análise fatorial (exploratória e

confirmatória).

Centralidade 0,71 a 0,75

Felicidade 0,73 a 0,83

Sucesso

0,74 a 0,78

Materialismo

Micken (1995)

A New Appraisal of the Belk Materialism

Scale

Ger e Belk (1993)

Dar continuidade na validade do

construto de Ger e Belk (1993)

EUA

Amostra =278

Norte-americanos do Meio Oeste

Possui o objetivo de averiguar o construto desenvolvido por Ger e Belk (1993, 1996)

junto à confiabilidade numa amostra de

adultos.

A autora discute a validade do construto proposto por Ger e Belk (1993). No estudo, não

houve confiabilidade.

Estatística Descritiva Análise Fatorial

Correlação de Pearson

Possessividade 0,38

Falta de Generosidade

0,64

Inveja 0,50

Materialismo

Ger e Belk

(1996)

Cross-Cultural Differences in Materialism.

Belk (1985) com a adição de novas

variáveis.

12 países diferentes.

amostra=1.729 Estudantes de Administração

Propõe uma nova

medição baseada em Belk (1985) nas

perspectivas de Não Generosidade,

Possessividade, Inveja, com a adição

de preservação.

Autores propõe uma nova medida, baseada em Belk (1985), com a adição de

Preservação, numa amostragem de 12 países

diferentes, para comparação com os Estados Unidos.

Estatística Descritiva

Análise Fatorial

Total da amostra

0,61

0,46 Tailândia 0,79 França

continua

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34

Tema / Autores

Estudo / Título Construto Amostra Contexto do Estudo / Pesquisa

Contribuição / Estatística Aplicada

Teste de Confiabilidade Alfa de Cronbach

Materialismo

Wong (1997)

Suppose you own the world

and no one knows:

conspicuos consumption,

materialism and self.

Ger e Belk (1996) e Richins e Dawson

(1992)

EUA

Amostra=200

Estudantes de

Marketing

Objetivo de investigar

a relação entre o materialismo e o

consumo conspícuo.

Os níveis de individualismo têm uma relação direta e positiva para o materialismo e com o

consumo conspícuo, tal como definido na literatura existente

(Belk, 1985; Richins & Dawson, 1992).

Estatística Descritiva

Análise Fatorial e Regressão

Richins e Dawson Sucesso - 0,82

Centralidade – 0,76 Felicidade – 0,77

Ger e Belk Não generosidade – 0,74

Possessividade – 0,55 Inveja – 0,27

Preservação – 0,74

Materialismo

Richins (2004)

The material values scale: measurement properties and development of

a short form.

Richins e Dawson (1992) com o

objetivo de rever o construto já

desenvolvido e propor um novo

construto reduzido.

EUA

Revisão – 15 conjuntos de amostras retiradas de outros estudos, de 144 a 639 estudantes.

Nova Medição – amostra=402 estudantes

Rever o construto já desenvolvido por

Richins e Dawson(1992) e

propor uma redução de itens do construto original (18), para 15,

9, 6 e 3 itens.

Estudo 1 - A análise dos estudos publicados indicam que a MVS possui um grau

adequado de coerência interna Estudo 2 - versão de nove itens possui propriedades aceitáveis, quando utilizado para medir o

materialismo.

Estatística Descritiva Análise Fatorial

Construto de 18 itens 0,77 sucesso

0,78 para centralidade 0,7780 para felicidade

Escalas de (média)

15 itens – 0,87 9 itens – 0,84 6 itens – 0,81 3 itens 0,64

Materialismo / Endividamento

Watson (1998)

Materialism and Debit: A Study of Curret Attittudes and Behaviour

Richins e Dawson (1992)

299 Estudantes da Nova Zelândia

Examinar as relações

dos valores materialistas e as atitudes de dívida junto ao nível de

endividamento do consumidor.

Novo modelo para aplicação baseado no endividamento

junto ao construto de materialismo.

Estatística Descritiva Regressão não linear

Materialismo de Richins e Dawson (1992) – 0,83

Tedência para Gastos Heslin e Frey (1996) -

0,90

Atitude para o débito de Davies e Lea (1995) –

0,65

continua

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35

Tema / Autores

Estudo / Título Construto Amostra Contexto do Estudo / Pesquisa

Contribuição / Estatística aplicada

Teste de Confiabilidade Alfa de Cronbach

Materialismo / Endividamento

Watson (2003)

The relationship of materialism to

spending tendencies,

saving, and debt

Richins e Dawson

(1992)

EUA

amostra =322

Investigar as pessoas com diferentes níveis de materialismo na sua propensão para gastar e / ou poupar

dinheiro.

Novo modelo para aplicação baseado no endividamento

junto ao constructo de materialismo

Modelo de Richins e Dawson (1992) original, com 18 itens de

avaliação.

Estatística Descritiva Análise Fatorial

Regressão não linear

0,92 para o construto

que mensura a tendência ao

endividamento.

0,83 para o construto que mensura o materialismo.

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36

Outra vertente importante deste estudo pode ser encontrada no Quadro 3, no

momento em que são retratadas as evidências empíricas encontradas nas relações

entre o materialismo e a idade, o gênero e a renda, uma vez que estas situações

serão verificadas de acordo com os objetivos específicos apresentados

anteriormente.

Quadro 3 – Síntese das relações entre o materialismo e idade, gênero e renda

Autores

Construto

Amostra

Relações do materialismo com:

Idade Gênero Renda

Belk

(1985)

Belk (1985)

24 itens

Estados Unidos

da América n1 = 338 n2= 99

Existem relações entre

as atitudes materialistas e a idade

dos consumidores. Atitudes diminuem após a meia idade.

(casados com filhos).

Não houve

relação entre atitudes

positivas ao materialismo e

gênero dos entrevistados.

Não houve

relação entre atitudes

positivas ao materialismo e

renda dos entrevistados.

Richins e Dawson (1992)

Richins e Dawson

(1992) 18 itens

Três partes

diferentes dos Estados Unidos

n1 = 144 n2=250 n3= 235 n4 = 205

Existem relações entre

as atitudes materialistas e a idade

dos consumidores. Diminui após a meia

idade. (casados com filhos)

Não houve

relação entre atitudes

positivas ao materialismo e

gênero dos entrevistados.

Não houve

relação entre atitudes

positivas ao materialismo e

renda dos entrevistados.

Micken (1995)

Ger e Belk

(1993) Richins e Dawson (1992)

12 países diferentes. n=1.729

Estudantes de Administração

Existem relações entre

as atitudes materialistas e a idade

dos consumidores.

Diferenças entre

homens e mulheres

apenas no traço de Inveja e falta

de generosidade do construto.

Renda foi

correlacionada apenas para a

Inveja do construto de mensuração.

Watson (1998)

Richins e Dawson

(1992) 18 itens

Estudantes da Nova Zelândia

n=299

Existem relações entre

as atitudes materialistas e a idade

dos consumidores. Jovens entre 20 a 24

possuem atitudes positivas ao

materialismo.

Não houve

relação entre atitudes

positivas ao materialismo e

gênero dos entrevistados.

Não houve

relação entre atitudes

positivas ao materialismo e

renda dos entrevistados.

Watson (2003)

Richins e Dawson

(1992) 18 itens

Norte-

americados do Estado da

Pensilvânia n=322

Não existem relações

entre as atitudes materialistas e a idade. Porém amostra jovem

possuiu níveis elevados de

materialismo.

Não houve

relação entre atitudes

positivas ao materialismo e

gênero dos entrevistados.

Não houve

relação entre atitudes

positivas ao materialismo e

renda dos entrevistados.

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Como é possível identificar no Quadro 3, as relações do materialismo com

idade, renda e gênero possuem dualidades nos resultados. Autores como Belk

(1985), Richins e Dawson (1992), Micken (1995) e Watson (1998, 2003)

encontraram índices positivos entre o materialismo e a idade dos pesquisados nos

respectivos estudos.

Belk (1985) aplicou o seu construto com três diferentes grupos de indivíduos,

sendo: geração nova, caracterizada por consumidores com idade acima de 13 anos;

geração média ou intermediária, que representava as pessoas casadas e com filhos;

geração velha, entendida por avós. Nesse sentido, Belk (1985) conclui que as

atitudes positivas ao materialismo tendem a diminuir de acordo com a idade ou

geração dos consumidores. Os indivíduos da nova geração tendem a ser mais

materialistas, o que pode diminuir conforme o envelhecimento das pessoas. Esta

relação entre o materialismo e jovens consumidores também é confirmada por

Richins e Dawson (1992), Micken (1995) e Watson (1998, 2003).

Na seguinte variável das pesquisas, o gênero dos entrevistados, exposto no

Quadro 3, autores como Belk (1985), Richins e Dawson (1992) e Watson (1998,

2003) não encontraram nenhuma relação entre as atitudes positivas ao materialismo

e o gênero dos entrevistados. Apenas as pesquisas aplicadas por Micken (1995)

encontraram diferenças entre homens e mulheres, nas dimensões de inveja e falta

de generosidade.

A terceira verificação teórica são atitudes positivas ao materialismo e à renda.

Nessa variável, de acordo com o Quadro 3, os autores Belk (1985) e Watson (1998)

não estiveram dispostos a verificar essa associação. Entretanto, Richins e Dawson

(1992) e Watson (2003) não encontraram nenhuma relação entre o materialismo e a

renda dos entrevistados, já que os indivíduos considerados materialistas estavam

alocados em todas as classes econômicas. A única construção que concluiu

positivamente foi de Micken (1995) no momento em que os resultados apontam que

famílias com rendas inferiores a US$25,00 por dia possuem relação com a dimensão

Inveja.

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2.2 CONSUMO EXCESSIVO

Nesse momento, são apresentados os estudos e teorias de consumo

excessivo ou consumismo junto ao construto de Wu (2006). Embora este trabalho

trate da compra em excesso, devem-se esclarecer as diferenças entre os tipos de

comportamento de consumo – compulsivo e impulsivo.

2.2.1 Teorias e definições de consumo excessivo

Ridgway, Kukar-Kinney e Monroe (2006, 2008) definiram a compra excessiva

de duas formas distintas. A primeira é relacionada ao ato de compra excessiva, ou

seja, o indivíduo que compra frequente e excessivamente, porém não possui

nenhum quadro de transtorno patológico. Entretanto, na segunda situação do

consumo excessivo, localizam os fatores e distúrbios de transtorno obsessivo e

traços de compras por impulso. Nesta segunda versão, os autores consideram a

compra compulsiva e impulsiva que, neste estudo, serão discutidos posteriormente.

Por outro lado, Wu (2006) relatou que o consumo excessivo pode ser definido

como indivíduos que compram em excesso os quais, por diversas vezes, gastam

repetidamente mais do que deveriam com base nas suas condições financeiras.

Nesse mesmo sentido, Rindgway, Kukar-Kinney e Monroe (2006) descreveram que

a compra excessiva é caracterizada pela tendência dos consumidores a se

preocuparem abusivamente com compra e, consequentemente, a comprar mais e

com maior frequência que os outros indivíduos. Dittmar e Drury (2000) e Wu (2006)

apontaram que essas pessoas que consomem em excesso podem ser

caracterizadas como viciadas em compra e, por vezes, são resultado dos desejos de

bem-estar e ou falhas do autocontrole pessoal. Hirschmann (1992) também

concorda com essa proposição. Para o autor, as compras excessivas são resultados

das falhas no autocontrole, já que a compra pode ser induzida por hábitos que estão

em função de processos mentais inconscientes.

Ridgway, Kukar-Kinney e Monroe (2006) ainda identificam os consumidores

excessivos como compradores repetitivos e, geralmente, possuem maior

preocupação com compra do que com outros sentimentos da vida humana. Nesse

mesmo sentido, os autores ainda reforçam que estas pessoas utilizam o

consumismo para aliviar os sentimentos negativos com o objetivo de proporcionar

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39

momentos de bem-estar e felicidade. A baixa autoestima do indivíduo também foi

relacionada por Faber e O`Guinn (1992) quando afirmaram que estes consumidores

possuem traços amplamente ligados ao materialismo e à solidão e que, futuramente,

podem tornar-se compradores impulsivos e compulsivos.

Por fim, Roberts e Jones (2001) retratam que estes consumidores são

relacionados ao endividamento e à falta de controle das suas finanças, ou seja,

essas pessoas consumistas possuem maior probabilidade de serem mal pagadores,

além de estarem ligadas à devolução dos bens às lojas, já que não possuem

organização financeira.

2.2.2 O construto de consumo excessivo de Wu (2006)

Por mais que existam esforços na construção científica para o campo do

comportamento do consumidor, Wu (2006) iniciou a sua obra afirmando que a falta

de uma definição clara sobre consumo excessivo impede o progresso dos estudos.

Estas preocupações acerca das teorias que envolvem o construto são respostas aos

atuais gastos, aumento das dívidas e os graves problemas financeiros em que vivem

atualmente os consumidores. Estes fatores não são restritos aos norte-americanos,

pois também indivíduos de países da Europa já vivenciam a dificuldade em controlar

os seus gastos, resultando em níveis elevados das dívidas financeiras pessoais.

Nesse contexto, Wu (2006, p.25) aborda que o consumo excessivo pode ser

visto como “[...] um tipo de comportamento de compra que permitirá os

consumidores gastar repetidamente mais do que deveriam, com base em suas

condições financeiras.” O modelo desenvolvido para a mensuração da compra

excessiva de Wu (2006) é baseado em cinco dimensões diferentes, conforme o

Quadro 4.

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Quadro 4 – Dimensões do construto de consumo excessivo

Fonte: Wu (2006, tradução do autor).

Da união de todos essas dimensões, Wu (2006) desenvolveu um construto de

mensuração de consumo excessivo do consumidor. Este construto foi aplicado em

duas diferentes amostras: estudantes do Instituto de Tecnologia da Geórgia e uma

amostra aleatória de adultos dos Estados Unidos da América. Para a primeira

pesquisa, cerca de 416 alunos do Instituto foram submetidos ao questionário, pois,

como justifica o autor, jovens tendem a possuir maior propensão ao consumo

excessivo. Entretanto, na segunda aplicação, 404 adultos foram pesquisados. Para

os dois estudos, o autor utilizou quatro variáveis – idade, renda individual, etnia e

gênero.

Wu (2006) retrata que, para os resultados da aplicação com os estudantes,

alfas de Cronbach foram calculados para os cinco fatores de compra excessiva,

sendo todos maiores que 0,70, de acordo com o padrão proposto por Nunally e

Bernstein (1994). Os índices e resultados da pesquisa aplicada por Wu (2006)

podem ser visualizados no Quadro 5, conforme:

Dimensões Representações

Atração por produtos como sinal de status

Utilização da compra excessiva como representação de status social. Estes indivíduos utilizam o ato de compra para ascensão social ou indicação de poder perante os outros indivíduos.

Prazer em comprar

O ato de compra para representar diversão e alegria. O consumo excesso representa o aumento da estima do indivíduo.

Compra inconsequente

Aquisição de objetos sem pensar nas consequências que poderão ocorrer nas suas bases financeiras. A imprudência e a falta de preocupação, retratam essas pessoas, uma vez que, por diversos momentos, não possuem dinheiro suficiente para pagar todas as suas compras.

Compra por emoção /

excitação

Compras excessivas nos momentos de prazer e bem-estar.

Falta de autocontrole

financeiro

Incapacidade e falta de preocupação no acompanhamento das despesas pessoais.

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Quadro 5 – Resultados do construto aplicado aos estudantes e adultos

Amostra Itens ! CR

Estudantes

Atração por produtos como sinal de status 0,86 0,86

Prazer em comprar 0,92 0,92

Compra inconsequente 0,87 0,88

Compra por emoção / excitação 0,93 0,93

Falta de autocontrole financeiro 0,74 0,75

Adultos

Atração por produtos como sinal de status 0,86 0,87

Prazer em comprar 0,92 0,91

Compra inconsequente 0,84 0,84

Compra por emoção / excitação 0,94 0,94

Falta de autocontrole financeiro 0,83 0,84

Fonte: Wu (2006). Nota: (1) Análise: Estatística Descritiva, Análise Fatorial, Correlação de Pearson. (2) Tradução do autor.

Como pode ser observado no Quadro 5 para a amostra de adultos, Wu (2006)

relata que Alfas de Cronbach foram calculados para os cinco fatores de compra

excessiva e todos novamente são maiores do que 0,70.

Os resultados da pesquisa aplicada por Wu (2006) indicam que jovens

estudantes com renda inferior a US$10.000,00 por mês, do gênero feminino,

representaram os maiores índices de consumo excessivo. No segundo estudo

amostra de adultos, homens com renda mensal inferior a US$30,000,00, menos de

30 anos e brancos, possuem maior representatividade do consumo excessivo, de

acordo com o construto proposto pelo autor.

Após a validação, Wu (2006) relata que o construto proposto, baseado em

cinco dimensões inter-relacionadas, possui consistência, validade e com índices

satisfatórios para a aplicação de pesquisas empíricas no comportamento do

consumidor. Além de este instrumento individual possuir validação satisfatória, Wu

(2006) ainda descreve que este construto, baseado em quinze afirmativas, possui

boa confiabilidade e aplicabilidade.

Finalmente, é importante ressaltar que Wu (2006, p.53) conduziu este

construto sem as condições de consumo compulsivo e consumo impulsivo, quando

relata “[...] além disso, com base nos resultados da análise discriminante, eu tenho

demonstrado que a compra excessiva de fato é diferente da compulsiva e

impulsiva.” Essas diferenças são reunidas e apresentadas no item a seguir.

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42

2.2.3 Diferenças entre consumo compulsivo, impulsivo e excessivo

Goldenson (1984, p.506) justifica a compulsividade como “[...] um transtorno

de ansiedade em que as obsessões ou compulsões são fontes significativas de

estresse, e pode interferir na capacidade de funcionamento do indivíduo”. Essas

pessoas são caracterizadas por “[..] desejos incontroláveis de obter, usar ou

experimentar uma sensação, substância ou atividade, que leva o individuo a engajar

repetidas vezes o seu comportamento.” (FABER; O`GUINN, 1988, p.153).

Os autores Faber e O`Guinn (1988) relacionam os indivíduos compulsivos por

compras repetitivas ou crônicas, enquadradas nas representações da baixa

autoestima do consumidor e ligadas aos fatores patológicos da saúde. A pesquisa

aplicada com 50 compradores compulsivos, que tratavam de sua doença em

terapeutas, em sessões de entrevistas individuais, indicam que a compulsão está

relacionada à baixa autoestima, à inveja e ao apego aos objetos pessoais.

Nesse sentido, Hoyer e MacInnis (2001) indicam que esses compradores

compulsivos tendem a adquirir bens e serviços dos quais, frequentemente, não

necessitam, além de serem mais propensos ao endividamento, pois, muitas vezes,

compram objetos que não podem pagar.

Outras variáveis foram relacionadas como fatores preponderantes ao

comportamento de compra compulsiva - a baixa autoestima, a solidão e os aspectos

demográficos. A primeira variável foi apresentada pelos estudos desenvolvidos por

Black e Uhde (1994), Black, Monahan e Gabel (1997), Christenson e colaboradores

(1992), Faber e O'Guinn (1992), Nathan (1988) e Scherhorn, Reisch e Raab (1990),

que encontraram forte relação entre os consumidores compulsivos e a baixa

autoestima dos pesquisados.

A solidão foi analisada por Schlosser, Black e Repertinger (1994) e Black e

Uhde (1994), na qual encontraram forte relação entre os consumidores e o

isolamento social, assim como os dados das pesquisas aplicadas pelos autores

Faber e O'Guinn, (1988, 1992) e Schlosser, Black e Repertinger (1994), que

alcançaram o mesmo resultado.

Os índices sociodemográficos foram estudados por Faber e O'Guinn (1988,

1992), Scherhorn, Reisch e Raab (1990), Christenson e colaboradores (1992) e

McElroy e colaboradores (1994). Os resultados listam que as mulheres e os jovens

possuem a maior probabilidade de compra compulsiva que homens e adultos.

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Entretanto, a impulsividade é definida por Faber e O'Guinn (1988) como a

falta de prioridades nos gastos, o que resulta em despesas excessivas, dívida

desnecessária e aquisição de bens que, por muitas vezes, não possui função na

vida do indivíduo. Outras definições de compra por impulso são propostas por Rook

e Hoch (1985), Rook (1987), Rook e Gardner (1993), que a retratam como

aquisições não planejadas as quais surgem da rápida tomada de decisão por parte

do indivíduo e, em boa parte dos casos, estão ligadas à relação de posse imediata

do bem ou serviço. Por vezes, os consumidores passam a dar pouca atenção às

possíveis consequências negativas que podem trazer estes atos.

O estudo aplicado por Prasad (1975) com uma amostragem de consumidores

varejistas concluiu que 39% dos indivíduos estavam ligados à compra não planejada

e 62% finalizavam a compra com ao menos um objeto em liquidação - ou algo que

não estava planejado. Gardner e Rook (1988) reforçam o conceito da impulsividade

do individuo. Os autores relatam que a impulsividade é relacionada à alternância de

humor, que inicia em euforia, e após a compra os indivíduos enfrentam depressão e

frustrações emocionais.

Em diversas vezes, a impulsividade e a compulsividade estão relacionadas,

porém são grandes as diferenças entre as duas construções. Assim como afirmam

Kwak e colaboradores (2006, p.211), “[...] os dois fatores resultam em compras não

planejadas, desnecessárias, e principalmente excessivas”, além do ligamento às

consequências prejudiciais ao indivíduo, como, por exemplo, o sentimento de culpa,

o endividamento e a separação social e familiar.

A compra excessiva pode ser confundida, equivocadamente, com o consumo

compulsivo e/ou consumo impulsivo. Embora se pareçam por serem conceitos

entrelaçados entre si, não possuem o mesmo significado e representação teórica.

Edwards (1993) relatou uma linha com níveis de intensidade, diferenciando os níveis

excessivos e compulsivos. Esta linha, conforme Figura 1, retrata o comportamento

de compra como um continuum, que inicia no nível normal de compra e,

gradativamente, atinge o nível mais alto de compra compulsiva. Vale apontar que a

compra impulsiva não pertence a esta linha de consumo, apenas consumo

excessivo e compulsivo.

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Figura 1 – Níveis de compra excessiva à compra compulsiva

Fonte: Edwards (1993, p.73).

Na Figura 1, é possível verificar que os consumidores excessivos se

enquadram até os três primeiros níveis de consumo – normal, recreacional e

intermediário - já os consumidores considerados patológicos ou compulsivos, estão

entre os dois últimos níveis – compulsivo clássico e gastadores viciados.

(EDWARDS, 1993).

Edwards (1993) aplicou esta escala em dois estudos diferentes, sendo:

consumidores compulsivos que frequentavam terapeutas; outros consumidores,

considerados não compulsivos. Diferenças foram encontradas. A autora revela que o

primeiro grupo de consumidores se enquadravam até os três primeiros níveis da

escala e podem ser considerados como “[...] compradores excessivos que é

assumido para fazer compras e gastar, principalmente fora da necessidade.”

(EDWARDS, 1993, p. 82). Entretanto, os indivíduos compulsivos, são considerados

como “[...] viciados, ou indivíduos que compram compulsivamente para aliviar a

ansiedade, cujo comportamento de compra tem criado graves disfunções na sua

vida cotidiana” (EDWARDS, 1993, p. 82), enquadrados nos dois últimos fatores da

Figura 1 - compulsivo clássico e gastadores viciados.

Com este cenário, é importante esclarecer as principais diferenças entre

compulsão, impulsão e compra excessiva. O Quadro 6 destaca as principais

características de cada construto.

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Quadro 6 – Quadro comparativo entre compra excessiva, compulsiva e impulsiva

Compra Excessiva Compra Compulsiva Compra Impulsiva

Comportamento de compra excessivo se relaciona a consumidores que compram com frequência e excessivamente, porém não possuem um diagnóstico de transtorno patológico. (RIDGWAY, KUKAR-KINNEY; MONROE, 2006).

Consumidores podem ser instalados como uma vontade de compra, porém indivíduos compulsivos estão no extremo continuum desta vontade. (FABER; O'GUINN, 1988).

“Uma tendência dos consumidores para comprar espontaneamente, irrefletidamente, de imediato e cineticamente.” (ROOK; FISHER, 1995, p.306).

Compradores excessivos podem não ter continuamente uma experiência incontrolável do desejo de comprar. (HASSAY; SMITH, 1996).

Baseado em dois critérios, o primeiro é a repetição de compra; o segundo, o comportamento deve ser uma problemática para o indivíduo. (FABER; O'GUINN, 1988).

A grande maioria dos consumidores, por vezes, realiza compra por impulso, porém existem indivíduos que possuem a tendência de compra impulsiva e que podem desenvolver padrões regulares de impulsividade. (HAUSMAN, 2000).

Os indivíduos que compram excessivamente nem sempre trazem danos a si próprios, excluindo as dificuldades financeiras, através dos gastos excessivos. (FABER; O'GUINN, 1988).

“Compra crônica, repetitiva que se torna uma resposta a eventos de sentimentos negativos. Torna-se muito difícil de parar e finalmente, resulta em consequências danosas.” (FABER; O'GUINN, 1988, p.155).

“Seu pensamento é suscetível, de forma irrefletida, impulsionada pela atração emocional e absorvido pela promessa de gratificação imediata.” (HOCH; LOEWENSTEIN, 2001, p.201).

Compradores em excesso tendem a comprar repetidamente, porém podem estar preocupados com a realização de suas compras. (RIDGWAY, KUKAR-KINNEY; MONROE, 2006).

Poderoso desejo cria tensões e ansiedades que são aliviados apenas através da compra. (FABER; O'GUINN 1992).

Fatores como posição econômica, visibilidade social e preenchimentos de vazios emocionais caracterizam os compradores impulsivos. (HAUSMAN, 2000).

“Um tipo de comportamento de compra que permitirá aos consumidores repetidamente gastar mais do que deveriam com base em suas condições financeiras.” (WU, 2006, p.25).

As consequências dos consumidores compulsivos: ansiedades, dívidas, perda de controle emocional e baixa autoestima. (FABER; O'GUINN, 1992).

A compra impulsiva pode ser derivada de uma perda ocasional ou falta do controle dos impulsos. (FABER; O'GUINN, 1992).

Compras excessivas ajudam a aliviar os sentimentos negativos vivenciados pelo indivíduo, porém não se utiliza somente desta forma para proporcionar o bem- estar na sua vida. (RIDGWAY, KUKAR-KINNEY; MONROE, 2006).

Os indivíduos são presos num círculo vicioso, no qual possuem grandes dificuldades de parar de comprar. (FABER; O'GUINN, 1988).

“Quando ocorrer a ausência ocasional do controle dos impulsos, esta acumula até um certo ponto em que a compra impulsiva pode evoluir para a compra compulsiva. (WU, 2006, p.29).

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Ao comprar um mesmo produto, os consumidores podem portar-se de

diferentes formas. As diferenças entre as três relações de compra acontecem

quando a aquisição se torna algo central na vida do ser humano. A impulsividade

está envolvida no desejo de aliviar suas tensões e ansiedades através da compra.

Por outro lado, para o consumidor compulsivo, os desejos e satisfações de compra

são extremamente passageiras, o que leva a comprar insaciavelmente, ocasionado

problemas sociais e de ordem financeira. (KWAT et al., 2006).

2.3 ENDIVIDAMENTO DO CONSUMIDOR

Para retratar as principais construções teóricas que envolveram o

endividamento do consumidor, este item está centrado em quatro blocos: atitude de

endividamento do consumidor; propensão ao endividamento; dívidas dos jovens no

contexto brasileiro e, finalmente, o construto de propensão ao endividamento de

Moura (2005).

2.3.1 Atitude de endividamento do consumidor

Para compreender o que representa o saldo devedor dos indivíduos é

necessário esclarecer a representatividade do crédito e as facilidades bancárias

proporcionadas às pessoas, uma vez que são envolvidas no endividamento do

consumidor com a perspectiva brasileira e mundial.

Crédito, de acordo com Lobo (1997, p.59), “[...] deriva das palavras latinas

credere, confiança e creditum uma coisa confiada de boa fé.” Significa uma soma

em “[...] dinheiro disponibilizada por uma pessoa, uma entidade financeira ou um

banco, por um determinado período” (LOBO, 1997, p. 59), ou seja, o beneficiário

deverá “[...] pagar uma forma de remuneração, designada por juros, como

contrapartida da disponibilização do dinheiro.” (LOBO, 1997, p. 59). Esta atividade

implica, geralmente, prestação de uma garantia ao banco pela quantia entregue ao

consumidor.

Acerca do crédito, que representa uma quantia disponibilizada ao consumidor,

Harvey (1992, p. 99), aborda o dinheiro como a “[...] representação suprema do

poder social na sociedade capitalista, e se torna objeto de luxúria, de ambição e de

desejo”, ou seja, confere o privilégio de exercer poder sobre outros, “[...] comprar

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seu tempo de trabalho ou os serviços que oferecem, e até criar relações

sistemáticas de domínio exploradas apenas com o controle sobre o poder do

dinheiro.” (HARVEY, 1992, p. 99).

Nessa descrição, Green (1997) aponta que todos os consumidores possuem

diversas facilidades para efetuar o pagamento de suas compras, embora não

tenham nenhum dinheiro no ato, diversos produtos bancários vêm a possibilitar tal

transação, já que uma variedade de mecanismos passam a suprir este papel, com o

apoio de crédito, além da utilização facilitada de cheques, cartões de crédito e

débito.

Bertola, Disney e Grant (2006, p.1) apontam que os mercados de crédito têm

sido discutidos nos trabalhos científicos, bem como em diversos debates políticos e

em livros didáticos norte-americanos, pois as “[...] famílias são tipicamente vistas

como fornecedores de fundos nos mercados financeiros” e “[...] endividamento e o

pagamento estão longe de ser livre de problemas.” (BERTOLA; DISNEY; GRANT,

2006, p. 1). Por mais ágeis, as oportunidades de empréstimo não são relacionadas

ao poder de melhorar o bem-estar econômico das famílias, pois, geralmente,

implicam endividamento do consumidor.

Zerrenner (2007) compreende o endividamento como um saldo devedor de

um consumidor, resultante de uma ou mais dívidas. Também pode ser retratado

como a falta de comprometimento de assumir os compromissos financeiros, que é

reflexo desta atual sociedade de consumo.

Nas construções científicas, o endividamento financeiro familiar passou a ser

explorado por diversas áreas de interesse, como o Marketing, a Sociologia, que está

voltada às percepções da sociologia econômica ou aos reflexos do desenvolvimento

capitalista (MERCADANTE, 1997; SOUZA, 2003; STEINER, 2006), e a Psicologia

no desenvolvimento dos fatores comportamentais que possam resultar em

endividamento do consumidor, dentro da grande área da Psicologia Econômica.

(LIVINGSTONE; LUNT, 1992; LEA; WEBLEY; WALKER, 1995; WALKER, 1996;

WEBLEY; LEVINE; LEWIS, 1993).

Como descrito anteriormente, os endividados são caracterizados como

indivíduos inadimplentes, com dificuldade para quitar as suas dívidas e, até mesmo,

baixa ou nenhuma habilidade de gerir seus rendimentos. Estas atitudes resultam em

problemas de ordem psicológica, o que leva ao endividado a incidentes como:

separação, desemprego, problemas relacionados à saúde e demais ordens que

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podem afetar a vida do consumidor, como descrevem os autores Yamauchi e

Templer (1982) e Borzekowski, Kiser e Ahmed (2007).

Uma pesquisa relevante para este estudo do endividamento do consumidor é

realizada por Katona (1975). O autor se dispõe a buscar os principais motivos do

endividamento do consumidor. O estudo foi aplicado com indivíduos norte-

americanos. A pesquisa revelou que são três os principais motivos do endividamento

de uma pessoa física. O primeiro esteve envolvido com os consumidores de baixa

renda, pois possuem dificuldades de manter as suas necessidades básicas e, no

momento que são envolvidos a preencher seus desejos, tornam-se endividados. O

segundo fator compreendeu os consumidores de alta renda. Por maior que seja a

renda deste grupo, quando combinada a um forte desejo de consumo, torna os

consumidores deste grupo endividados. A última verificação da pesquisa abordou os

indivíduos que possuem dificuldades em economizar ou em poupar as suas

finanças. Entram neste quadro os indivíduos caracterizados como consumidores

com atitudes positivas ao materialismo, consumo excessivo, compulsivo e impulsivo.

Nessa mesma abordagem, Livingstone e Lunt (1992) analisaram fatores

sociodemográficos junto à propensão ao endividamento do consumidor com o

objetivo de verificar quais variáveis – o gênero, a raça, o nível de educação e a

renda familiar – possuíam maior relação com o débito dos pesquisados. Os

resultados apontaram que nenhum desses fatores possuiu relação com as atitudes

voltadas ao débito pessoal. Entretanto, as pesquisas desenvolvidas por Kösters,

Stephan e Stefan (2004) revelaram que o desemprego é a principal causa do

endividamento financeiro do consumidor. A Figura 2 aponta as principais causas do

débito financeiro.

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Figura 2 – Causas do endividamento

Fonte: Kösters, Stephan e Stefan (2004, p.90).

Conforme a Figura 2, é possível compreender que o desemprego pode ser a

principal causa do endividamento dos consumidores, já que esta variável, no ano de

2004, representou cerca de 38% na Alemanha, 42% na França, 19% na Bélgica,

26% na Áustria e 50% nos Estados Unidos. Além disso, vale destacar que a má

gestão orçamentária possui uma forte relação com o endividamento, pois na

Alemanha, Áustria e Estados Unidos foi destacada com 20%, 26% e 37%,

respectivamente.

Números recordes na execução de dívida dos norte-americanos foram

expostos nas pesquisas de Weller (2007, p.583), pois o autor aponta que o “[...] total

de endividamento das famílias cresceu quatro vezes mais rápido entre março de

2001 a 2006 do que a década de 1990.” A pesquisa relata ainda que dentre esses

índices que geram diversos problemas, resultantes deste endividamento, as famílias,

de forma geral, enfrentam dificuldades, como, por exemplo, a baixa oferta do

emprego e os baixos salários. Além disso, o autor descreve que nos Estados Unidos

“[...] os custos de habitação, educação superior, saúde e transporte cresceram

acentuadamente na última década.” (WELLER, 2007, p. 583).

Na representação nacional do Brasil, de acordo com o Departamento

Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - DIEESE (2010), a

instabilidade no emprego retrata altos índices de endividamento do consumidor.

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Salvador possui a maior relação trabalhador versus desemprego, o que representa

16,6% de indivíduos, Recife 16,2%, Distrito Federal 13,6%, São Paulo 11,9% e

Fortaleza 9,4% de desemprego. Entretanto, Porto Alegre e Belo Horizonte possuem

índices médios de 8,5% de consumidores desempregados. Nesse mesmo sentido, a

pesquisa do IBGE (2011) relatou que, somente no mês de dezembro de 2010,

existiam cerca de 1,6 milhões de pessoas desempregadas no país. IPEA (2011)

indica que 54,15% das famílias brasileiras estão endividadas, com valores que

ultrapassam R$5.000,00 mensais.

Consumidores que possuem alguma relação com o débito, de acordo com a

pesquisa realizada por CNC – Confederação Nacional do Comércio - PEIC (2011),

chegaram a 1.836 milhões somente no mês de janeiro de 2011. Ainda, segundo o

Instituto, diversos fatores apontam este aumento: i) instabilidade no emprego e baixa

renda mensal; ii) confiança do consumidor relacionada ao clima otimista do

mercado; iii) crédito, pois de acordo com o instituto, o consumidor nunca obteve tão

significativas reduções nas taxas de juros, o que favoreceu a sua utilização. Este

cenário ainda pode ser explicitado com a pesquisa realizada nas principais capitais

do país, pelo SPC – Serviço de Proteção ao Crédito (2007), conforme os índices da

Tabela 1.

Tabela 1 – Inadimplência no Brasil

Causas Ano 1997 (%) Ano 2002 (%) Ano 2007 (%)

1 – Causas da Inadimplência Desemprego pessoal 37 % 47% 53% Desemprego familiar 2% 3% 3% Doença na família 3% 6% 4% Descontrole no gasto 22% 15% 10% Queda na renda 16% 2% 4% Avalista, empréstimo de nome - 14% 14% Outros 20% 13% 12% 2 – Sexo Masculino 72% 57% 62% Feminino 28% 43% 38% 3 – Idade Menos de 20 anos 4% 2% 3% De 21 a 30 anos 42% 40% 25% De 31 a 40 anos 32% 40% 34% De 41 a 50 anos 17% 13% 26% De 51 a 60 anos 4% 4% 10% Mais de 60 anos 1% 1% 1%

Fonte: SPC (2007).

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De acordo com a Tabela 1, pode-se observar um expressivo endividamento

dos jovens consumidores brasileiros. Apesar de o cenário indicar uma leve queda no

débito destes indivíduos, os índices ainda são altos. Estes dados são primordiais

para esta pesquisa, pois, como observado na Figura 2 e na Tabela 1, o desemprego

pode ser avaliado como uma das principais causas do endividamento pessoal.

Novos dados estratificados no contexto do jovem brasileiro serão abordados nos

próximos itens.

2.3.2 Propensão ao endividamento

O Quadro 7 transcreve as principais construções teóricas que desenvolveram

e aplicaram construtos que foram capazes de medir a propensão ao endividamento

do consumidor.

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Quadro 7 – Síntese de construções de propensão ao endividamento

Tema / Autor Estudo / Título Construto Amostra / Estatística Aplicada

Alfa de Cronbach

Endividamento

Lea, Webley e Levine (1993)

The economic psychology of

consumer debt.

Desenvolvimento de um construto

com 12 itens. 5 itens reversos Escala Likert 7

pontos.

Amostra = 420 clientes de uma empresa

de serviços públicos.

Estatística Descritiva Análise Fatorial.

0,70

Endividamento

Lea, Webley e Walker (1995)

Psychological factors in

consumer debt: money

management, socialization, and

credit use.

17 itens Likert - 7 pontos para respostas.

Amostra=464 clientes de uma empresa

de serviços públicos. Estatística Descritiva

Análise Fatorial.

0,83

Endividamento

Davies e Lea (1995)

Student attitudes to student debt.

14 itens escala do tipo

Likert - 7 pontos para respostas.

amostra=140 Estudantes de

graduação.

Estatística Descritiva Análise Fatorial.

0,79

Endividamento

Walker (1996)

Financial management,

coping and debt in households under

financial strain.

10 itens da oconstruto de Lea, Webley e

Levine (1993).

amostra=100 Mães do sul da Inglaterra.

Estatística Descritiva Análise Fatorial

Regressão não linear.

0,71

Materialismo / Endividamento Watson (1998)

Materialism and debt: a study of current attitudes and behaviors.

14 itens do construto de Davies e Lea

(1995).

amostra =299 Estudantes da Nova

Zelândia. Estatística Descritiva Regressão não linear.

0,65

Endividamento Webley e

Nythos (2001)

Life-cicle and dispositional routes into problem debt.

21 itens de um construto de

Atitude à Poupança.

amostra =4.147 Consumidores holandeses.

Estatística Descritiva Regressão não linear.

N/A

Materialismo / Endividamento

Watson (2003)

The relationship of materialism to

spending tendencies, saving,

and debt.

Modelo de Richins e Dawson

(1992) original, com 18 itens.

amostra =322 EUA.

Estatística Descritiva Análise Fatorial

Regressão não linear

N/A

Materialismo / Endividamento Moura (2005)

Impacto dos diferentes níveis de

materialismo na atitude ao

endividamento e o nível de dívida

para o financiamento do

consumo nas famílias de baixa

renda do município de São Paulo.

Adaptação do construto de Lea, Webley e Walker

(1995).

Amostra = 450

Famílias de baixa renda da cidade de São Paulo.

Estatística Descritiva

Análise Fatorial Regressão não linear

Correlação de Pearson.

0,84

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No sentido de verificar todos os trabalhos e construtos aplicados para

identificar as propensões de endividamento do consumidor, o Quadro 8 retrata as

principais relações que aconteceram entre o débito do consumidor e as variáveis

sociodemográficas utilizadas nos estudos.

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Quadro 8 – Síntese das relações entre endividamento e idade, gênero e renda

Autor

Construto

Amostra

Relações do endividamento com:

Idade Gênero Renda

Lea, Webley

e Levine (1993)

Desenvolvimento de um construto com 12

itens. Escala Likert 7 pontos

Amostra= 420 clientes (não-devedores, devedores

moderados e devedores graves).

Existe relação entre as atitudes positivas ao endividamento e a

idade dos consumidores. Jovens possuem maior

propensão à dívida.

Aplicação estatística não foi correlacionada.

Existe relação entre as atitudes positivas ao

endividamento e a renda dos indivíduos.

Pessoas com rendimentos mais baixos possuem

maior propensão à dívida.

Lea, Webley

e Walker (1995)

17 itens com escala do tipo Likert 7 pontos

para resposta

Amostra=464 clientes (não -

devedores, devedores

moderados e devedores graves).

Existe relação entre as atitudes positivas ao endividamento e a

idade dos consumidores. Jovens casais com filhos.

Existe relação entre as atitudes positivas ao endividamento e o

gênero dos indivíduos. Mulheres tendem a ser

mais propensas que os homens.

Existe relação entre as atitudes positivas ao

endividamento e a renda dos indivíduos.

Pessoas com rendimentos mais baixos possuem

maior propensão à dívida.

Davies e Lea

(1995)

14 itens específicos para estudantes

com escala do tipo Likert 7 pontos para

resposta

Amostra=140

Estudantes de graduac !ão de uma

universidade inglesa

Existe relação entre as atitudes positivas ao endividamento e a

idade dos consumidores. Jovens universitários com mais

tempo de estudo são mais propensos à aquisição de dívidas

Existe relação entre as atitudes positivas ao endividamento e o

gênero dos indivíduos. Mulheres tendem a ser

mais propensas que os homens.

Aplicação estatística não foi correlacionada.

Webley e Nythos (2001)

21 itens de um

construto de Atitude à Poupança

Amostra=4.147

Consumidores holandeses

Aplicação estatística não foi correlacionada.

Aplicação estatística não foi correlacionada.

Existe relação entre as atitudes positivas ao

endividamento e a renda dos indivíduos.

Rendimento familiar elevado diminui

propensão às dívidas.

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Logo, conforme o Quadro 8, os estudos desenvolvidos por Lea, Webley e

Levine (1993), Lea, Webley e Walker (1995) e Davies e Lea (1995) apontam que os

jovens possuem maior propensão ao endividamento. Os estudos desenvolvidos por

Webley e Nythos (2001) não mostram nenhuma relação entre idade e

endividamento.

Os resultados das pesquisas de Lea, Webley e Walker (1995) e Davies e Lea

(1995) descrevem que as mulheres tendem a ser mais propensas ao endividamento

que os indivíduos de gênero masculino. Esta mesma relação não foi encontrada nos

estudos de Lea, Webley e Levine (1993) e Webley e Nythos (2001). Entretanto, nas

relações entre o endividamento e a renda dos entrevistados, Lea, Webley e Levine

(1993), Lea, Webley e Walker (1995) e Webley e Nythos (2001) apontam que as

pessoas com rendimentos mais baixos possuem maior propensão à dívida, ou seja,

rendimentos familiares mais elevados podem diminuir as propensões dos indivíduos.

2.3.3 Dívidas dos jovens no contexto brasileiro

Como visto anteriormente, as dívidas acumuladas pelos consumidores são

resultado de diversos fatores, porém como este contexto já foi esclarecido, este

subitem abordará o endividamento dos jovens e estudantes brasileiros, uma vez que

a pesquisa empírica deste estudo se dispõe a compreender e quantificar esse perfil

e seus débitos de consumo.

Os jovens passam a contrair dívidas e, assim, o comprometimento de uma

boa parcela de suas rendas faz com que assumam comportamentos inadimplentes,

pois não cumprem os seus débitos financeiros. As representações do endividamento

podem ser consideradas por dois fatores: o primeiro envolvido com situações que

levam as pessoas a contrair empréstimos e utilizar-se dos produtos bancários de

forma mais intensa; o outro representa os fatores que provocam as dificuldades no

pagamento de seus créditos, assim concordam os autores Lea, Webley e Walker

(1995) e Walker (1996).

Os índices do cenário nacional, aplicados pelo IPEA (2011), indicam uma

juventude despreparada para a gestão financeira, uma vez que somente no mês de

janeiro de 2011 o endividamento dos consumidores chegou a 59,4% do total da

pesquisa aplicada. Estes números são ainda mais alarmantes quando são expostos

os tipos de dívidas dos consumidores. O cartão de crédito é o líder do ranking, com

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72,3% da população pesquisada no Brasil. Os outros tipos de dívidas, como, por

exemplo, o cheque especial, crédito consignado, carnês e financiamentos, somam

27,7% do total.

Adolescentes, com idades entre 12 e 17 anos já ocupam 12% do total de

consumo em cartões de crédito, pois de acordo com a pesquisa realizada pela

Associação Brasileira de Empresas de Cartão de Crédito e Serviços – ABESC

(2011), estes números tornam-se preocupantes para a economia nacional. Jovens

com idade entre 18 e 24 anos somam 14% dos nomes incluídos na lista de maus

pagadores na utilização do cartão de crédito.

Nesse mesmo sentido, ACSP (2010) aponta que, no ano de 2009, jovens com

idade até 20 anos representavam cerca de 4% do total da população em débito no

Brasil. Entretanto, no ano de 2010, estes dados dobraram, totalizando índices que

chegaram ao marco de 8% da população. Os resultados das pesquisas ainda

apontam que jovens com idade inferior a 20 anos representam cerca de 8% dos

endividados no Brasil. De 21 a 30 anos de idade, 28% da população em débito, 31

a 40 anos, cerca de 38% e, por fim, idades superiores há 41 anos somam 26%,

respectivamente. Diante das principais causas desta inadimplência dos jovens, é

possível apontar o índice de 38% relacionado ao desemprego, 14% descontrole ou

má gestão dos seus gastos, 11% para fiador ou avalista, 9% diminuição no

rendimento mensal do consumidor. Outros fatores somam 28%, como, por exemplo,

doenças e atrasos no salário.

2.3.4 Modelo de propensão ao endividamento de Moura (2005)

De acordo com os Quadros 8 e 9, é possível constatar que diversos

construtos foram realizados para a mensuração da propensão ao endividamento do

consumidor. Apesar de a literatura apresentar alguns modelos anteriores aos da

década de 90, Lea Webley e Levine (1993) foram os precursores do tema. Os

autores aplicaram o seu estudo nos Estados Unidos com amostragem válida de 420

clientes de uma empresa de serviços públicos. No estudo seguinte, com 464

pesquisados, Lea, Webley e Walker (1995) identificaram falhas no construto, o que

mereceu novos estudos para a validação. Os autores Davies e Lea (1995) e Walker

(1996) se propuseram a replicá-lo em estudos que envolveram 140 alunos de

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graduação e 100 mães do sul da Inglaterra, respectivamente. Os autores sugeriram

que novas mudanças fossem realizadas para a validação do construto.

Em outros dois estudos que envolveram o endividamento do consumidor,

Watson (1998, 2003) utilizou das modificações realizadas por Davies e Lea (1995)

para verificar as propensões às dívidas dos jovens universitários. Entretanto, no

Brasil, Moura (2005), em um estudo aplicado no município de São Paulo, baseado

no construto de Lea, Webley e Walker (1995), adequou o construto para o contexto

nacional e construiu dimensões capazes de mensurar a propensão ao

endividamento. A afirmações desenvolvidas por Lea, Webley e Walker (1995) são

baseadas nos itens descritos no Quadro 9.

Quadro 9 – Afirmativas da escala de Lea, Webley e Walker (1995)

Afirmativas

Fazer um empréstimo é bom porque permite que aproveitemos a vida.

É uma boa ideia ter o que se quer agora e pagá-lo somente depois.

Usar o crédito é errado.

É melhor ficar com fome do que comprar comida “fiado”.

Eu planejo as grandes compras com antecedência.

Ficar devendo não é nunca uma coisa boa.

O crédito é uma parte essencial do estilo de vida atual.

É melhor ficar devendo do que deixar as crianças sem presente de Natal.

É importante viver dentro dos seus próprios rendimentos.

Mesmo com uma baixa renda, deve-se poupar um pouco regularmente.

Quando se pega dinheiro emprestado, deve-se pagar o mais rápido possível.

Muitas pessoas contraem muitas dívidas.

É muito fácil para as pessoas adquirirem cartões de crédito.

Eu não gosto de pedir dinheiro emprestado.

Pedir dinheiro emprestado é muitas vezes uma coisa boa.

Eu corro riscos com meu dinheiro.

Não tem importância pegar dinheiro emprestado para comprar roupas para as crianças.

Fonte: Lea, Webley e Walker (1995, p.211). Nota: (1) Escala de 7 pontos (2) O construto original pode ser visualizada no anexo 4. (3) Tradução do autor.

Conforme as afirmativas relacionadas no Quadro 9, é possível observar que,

assim como Lea, Webley e Walker (1995), Moura (2005) utilizou-se das mesmas

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dimensões para mensurar as atitudes do endividamento no Brasil, sendo elas:

impacto moral na sociedade, preferência no tempo e grau de autocontrole.

A primeira, de acordo com Moura (2005, p.69), impacto moral na sociedade,

reflete a “[...] reação e julgamento da sociedade sobre a dívida e, principalmente,

sobre os devedores, compõem uma maior ou menor aceitação e tolerância social ao

endividamento.” A segunda, preferência no tempo, é descrita como “[...] as opções

dos indivíduos entre valor e tempo, entre consumir hoje e consumir no futuro, entre

paciência e urgência”, ou seja, a paciência de guardar dinheiro para que no futuro

possa adquirir o bem à vista. Por fim, o grau de autocontrole é esclarecido como a

“[...] gestão financeira do próprio dinheiro compreende a habilidade de gerir os

recursos, tomar decisões financeiras, manter o orçamento (individual ou familiar) sob

controle”, ou seja, os níveis de utilização do dinheiro sob controle de gestão.

Baseado nestes itens, Moura (2005) desenvolve um construto que serve para

a verificação de propensão ao endividamento que, verificada e validada no Brasil,

segue as afirmativas do Quadro 10.

Quadro 10 – Dimensões e afirmações do construto de Moura (2005)

Fonte: Moura (2005, p.75).

A partir do desenvolvimento deste construto, Moura (2005) aplica o modelo

em 389 questionários Likert 7 pontos, respondidos e completados no município de

Fatores Afirmações

Impacto moral na sociedade

(Julgamento da sociedade sobre os devedores, aceitação e tolerância social)

Q1 Não é certo gastar mais do que ganho. Q2 Acho normal as pessoas ficarem

endividadas para pagar suas coisas. Q3 Ficariam desapontadas comigo se

soubessem que tenho dívida.

Preferência no tempo

(A disposição em poupar dinheiro e comprar no futuro)

Q4 É melhor primeiro juntar dinheiro e só depois gastar.

Q5 Prefiro comprar parcelado a esperar ter dinheiro para comprar à vista.

Q6 Prefiro pagar parcelado mesmo que no total seja mais caro.

Grau de Autocontrole

(Habilidade de gerir os próprios recursos

financeiros)

Q7 Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco.

Q8 É importante saber controlar os gastos de minha casa.

Q9 Não tem problema ter dívida se eu sei que posso pagar.

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São Paulo, entregues em 9 distritos diferentes da cidade. Vale ressaltar que este

construto foi aplicado em uma população de baixa renda que, no mês de julho de

2005, representava cerca de quatro salários mínimos brasileiros, o que correspondia

a R$1.200,00.

Moura (2005, p. 121) afirma que “[...] soube-se, por meio do relato dos

entrevistadores, que não houve pelos entrevistados demonstrações de dificuldade

de entendimento do conteúdo dos itens.” O construto proposto pela autora possui

validade nomológica quando refere que “[...] investiga se as relações teóricas entre

dimensões são, de fato, averiguadas empiricamente, como por exemplo, se as

variáveis correlacionam na direção esperada pela argumentação teórica.” (MOURA,

2005, p. 121). Este trabalho utilizará a escala de Moura (2005), dada a validação e

aplicação representativa no Brasil.

2.4 O CONSUMIDOR DE BAIXA RENDA NO BRASIL

Este item é composto de três partes. Inicialmente, serão discutidas as

movimentações sociais e as mobilidades das classes no Brasil. Em seguida, são

apresentados os produtos e as fontes de crédito utilizados pelos consumidores de

baixa renda e, posteriormente, são expostos os dados que identificam o

endividamento das classes C, D e E.

É importante ressaltar, neste momento, que o desenvolvimento do estudo

possui o objetivo de contemplar todas as classes sociais na busca das medidas de

materialismo, consumo excessivo e endividamento. Porém, diante do atual cenário

de ascensão da classe de baixa renda no Brasil, optou-se por empregar um maior

foco a essa classe econômica. Análises serão apresentadas separadamente no

capítulo 4 deste trabalho.

2.4.1 Mobilidade social e a classe de baixa renda

Nos últimos anos, antropólogos, sociólogos e economistas buscaram

compreender e retratar a mobilidade social que ocorre nos países em

desenvolvimento e, principalmente, dados referentes aos fatores que envolvem a

renda populacional e a emergência da classe média baixa no Brasil, conforme

afirmam Lamounier e Souza (2010) e Prahalad (2010).

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Países, que anteriormente eram desconsiderados por não serem

economicamente participativos nas ações capitais, hoje estão ativos na economia

mundial, ao lado dos países considerados desenvolvidos. Por mais que em diversos

momentos a economia mundial tenha sido marcada por instabilidades e

inseguranças, Hoffman (2006), Neri (2006), Lamounier e Souza (2010) destacam

que alguns países prosperaram, elevando, assim, o nível de renda de sua população

e, por consequência, a sua economia.

Quando discute sobre classe social, Matoso (2004, p.127) relata a “[...]

reorganização total da sociedade que se sucedeu após a Revolução Industrial.”

Essa mudança foi causada pelo capitalismo industrial, o qual ocasionou “[...] duas

consequências: a criação de novas classes e a tendência das posições de classe

serem alocadas em razão da habilidade e não do nascimento.” No contexto

brasileiro, Zambelli (1997, p.3) relata que a mudança social “[...] mostra-se

extremamente fértil nas décadas de 50 e 60, mais especificamente até o golpe de

1964 e a instauração da ditadura militar.”

Diversos países da América Latina também foram marcados por um surto

industrializante, cujos efeitos foram a “[...] abertura de possibilidades desocupação

nas grandes indústrias, maciços contingentes de migrantes às cidades, mudança do

padrão de vida, consumo e “modernização” nacional.” (ZAMBELLI, 1997, p.4).

As mobilidades sociais, de acordo com Jannuzzi (2000) e Ramos (2006), são

abordadas de duas formas e retratam toda e qualquer alteração de posição social,

de uma para a outra, ascendente ou decrescente. Essas formas são compreendidas

como: i) mobilidade intergeracional, que representa uma transição da posição social

entre determinadas gerações, ou seja, os indivíduos de uma mesma família e seus

bens, o que antes era do provedor familiar passa às mãos de seus filhos; ii)

mobilidade intrageracional, que envolve a ascendência ou decrescência da posição

social da mesma pessoa, relacionada à maior posição ou cargo que possa

representar maior rentabilidade econômica de uma pessoa ou grupos com

características em comum ao longo do seu ciclo de vida.

Essas duas formas de avaliações da mobilidade social caracterizam-se pelas

possibilidades de transição durante a vida produtiva de um indivíduo (ou uma

sociedade), tanto durante o ciclo de vida como os movimentos econômicos

realizados dentro das mesmas famílias. (PASTORE; SILVA, 2000). Entretanto, para

o fortalecimento da classe de baixa renda brasileira, os autores Lamounier e Souza

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(2010) e Prahalad (2010) consideram que surgiram na primeira metade do século

XX, na qual se pode apontar uma forte transição de uma sociedade rural e agrária

para uma civilização industrial e moderna.

Por mais que existem dados os quais abordem que o Brasil é representado

por desigualdade econômica, Lamounier e Souza (2010, p.1) comentam que o

crescimento das classes sociais não é somente realidade brasileira, mas também de

países emergentes de todo o mundo, “[...] é um dos fenômenos sociais e

econômicos mais importantes da história recente”, trazendo a oportunidade de

crescimento social aos indivíduos. Sobre os fatores que influenciaram este processo,

os autores destacam a “[...] prosperidade da economia mundial nos vinte anos que

antecederam a crise de 2008-2009, a qual contribuiu para reduzir a desigualdade de

renda” em países em desenvolvimento, como a China, a Índia e o Brasil, os quais

representam cerca de 400 milhões de indivíduos pertencentes à classe C e projeta-

se para o ano de 2030 2 bilhões de pessoas.

Com o aumento de emprego e, por consequência, o aumento da renda, a

baixa inflação e toda a facilidade bancária, vários brasileiros puderam aumentar o

seu poder de compra. Esses índices são encontrados nos dados de IPEA (2011). Os

resultados das pesquisas apontam um forte crescimento entre os anos de 2004 e

2010. A criação de empregos registrados em carteira possuía a média de 1,3

milhões no ano de 2004. Já para os dados de 2010, a marca de novos empregados

chegou a 2,136 milhões.

Entretanto, todas essas movimentações econômicas têm causado novas

preocupações, pois o aumento do consumo e outros fatores expostos anteriormente

têm gerado o endividamento da classe. As afirmações de Barreto e Bochi (2002),

Lamounier e Souza (2010), Prahalad (2010) e Neri (2008) comprovam este cenário

que será discutido no próximo item deste estudo.

2.4.2 Os produtos e as fontes de crédito da baixa renda

Moura (2005), que desenvolveu o seu estudo sobre o comportamento de

compra e endividamento da classe economicamente baixa no contexto de São

Paulo, aponta diversas fontes de crédito concebidas aos consumidores. No Quadro

11, pode-se observar as fontes bancárias, agências financeiras e lojas varejistas que

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atualmente estão interessadas em atender a este público. Dentre os tipos de

consumo de crédito, a autora aponta: a) crédito formal, fornecido por agências

bancárias, financeiras e organizações governamentais; b) crédito semiformal, ligado

às empresas ou aos empregadores, aos agiotas, aos grupos de empregados e às

lojas de médio e pequeno portes; c) crédito informal, associado às lojas de pequeno

porte, aos familiares e aos amigos. Estes retratos são explicitados a seguir.

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Quadro 11 – Produtos e fontes de crédito da baixa renda – Setor Formal, Semiformal e Informal Setor Formal de Consumo de Crédito

Crédito Dinheiro Tipo Descrição Provedor Exigências

Empréstimo ou crédito pessoal automático ( linha de crédito pré-aprovada).

Empréstimo sem vínculo com determinada aquisição. O débito mensal das parcelas de pagamento é feito diretamente na conta corrente.

Bancos

Conta em banco, CPF1, RG 2, comprovante de

residência, comprovante de renda mínima, referências 3 e nome limpo4.

Empréstimo ou crédito pessoal.

Empréstimo no qual a concessão de crédito não está vinculada a um bem ou serviço.

Financeira

CPF, RG, comprovante de residência,

comprovante de renda mínima e nome limpo. Algumas financeiras estão revendo a

solicitação de renda mínima.

Empréstimo consignado 5

Empréstimo concedido aos empregados de empresas públicas e privadas, aposentados,

pensionistas do INSS e representantes sindicais. O pagamento é automaticamente feito ao banco

com desconto em folha de pagamento.

Bancos e financeiras

CPF, RG, comprovante de renda e comprovante de residência.

Crédito direto ao

consumidor (CDC) ou empréstimo com

finalidade específica.

Financiamento específico para a compra de determinados bens que quase sempre são a

garantia da operação.

Bancos e financeiras

Conta em banco (talão de cheque), CPF, RG, comprovante de residência, comprovante de

renda mínima e nome limpo.

Adiantamento de dinheiro

dos cartões de crédito.

Saque de dinheiro no caixa automático com o uso

do cartão de crédito.

Bancos, lojas e

financeiras

Não há exigências, basta ser proprietário de

um cartão de crédito.

Empréstimo de instituição

de microfinanças.

Empréstimos prioritariamente para a atividade

produtiva (microcrédito) 6.

Bancos públicos, ONGs 7, OSCIPs 8, iniciativas do governo e SCMs 9

As exigências variam, mas além dos dados

pessoais, há uma avaliação, às vezes profunda, do negócio e necessidade de fiador.

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Setor Formal de Consumo de Crédito

Crédito Parcelado Tipo Descrição Provedor Exigências

Crediário ou carnê da loja

Parcelamento da compra de,

principalmente, bens duráveis.

Lojas comerciais varejistas

CPF, RG, comprovante de residência,

comprovante de renda (ou carnês quitados) e nome limpo.

Cartão de loja ou Private Label

Forma de crédito parcelado, utilizada

principalmente para pagamento de compras realizadas nas lojas da rede emissora do

cartão.

Lojas comerciais varejistas

CPF, RG, comprovante de residência, comprovante de renda mínima e nome

limpo.

Cartão de crédito

Forma de crédito parcelado, utilizada

principalmente para pagamento de bens, produtos ou serviços nas lojas

credenciadas.

Bancos e financeiras

Conta em banco (apenas para os bancos),

comprovante de renda mínima (varia conforme a instituição) e nome limpo.

Cheque pré-datado

Forma de crédito parcelado utilizada para pagamento de bens, produtos ou serviços.

Bancos

Conta em banco, CPF, RG, comprovante

de residência, comprovante de renda mínima, referências e nome limpo.

Cheque especial

Crédito vinculado à conta bancária onde um limite de recursos é oferecido ao indivíduo

conforme o histórico dos saldos médios apresentados.

Bancos

Conta em banco, CPF, RG, comprovante

de residência, comprovante de renda mínima (variável conforme instituição),

referências e nome limpo.

continua

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Setor Semiformal de Consumo de Crédito Crédito Dinheiro

Tipo Descrição Provedor Exigências

Empréstimo de empregador

Adiantamento de uma parte do salário (ou de quantias maiores, embora menos comum) ao

trabalhador feito pelo empregador e descontado em folha.

Empresa ou empregador

Não há exigências ou necessidade de garantias.

Empréstimo de agiota

Empréstimo concedido geralmente cobrando

altas taxas de juros e com níveis de formalidade variável. Muitas vezes, em caso de não- pagamento, tomam-se os bens do

indivíduo.

Agiota

Podem exigir CPF, RG, comprovante de residência, comprovante de renda (ou

contracheque, carnês de crediário quitado) e nome limpo. Muitos têm menos

exigências formais.

Empréstimo de caixinha

de empresa

Fundo criado, com graus de formalidade

variados, pelos empregados de uma mesma empresa para futuros empréstimos. O lucro é

distribuído entre os associados.

Grupo de empregados

Sem garantia, pois a participação e o controle estão vinculados ao recebimento

dos salários.

Crédito Parcelado

Crédito de fornecedor

Forma de crédito concedida, geralmente, pelo fornecedor aos microempreendedores, sem cobrança de juros e extensão de prazo

de pagamento até 45 dias.

Fornecedor

Praticamente não há exigências formais. O

crédito é dado mediante relacionamento entre comprador e fornecedor.

Crediário "na lojinha"

Parcelamento da compra em valores

menores do que os crediários das grandes lojas.

Loja de médio e pequeno porte

Comprovante de residência e declaração

verbal de renda para consumidores frequentadores da loja.

continua

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Fonte: Moura (2005, p. 52). Notas: (1) CPF: Cadastro de Pessoa Física. (2) RG: Carteira de Identidade. (3) Referências: fonte, familiar ou comercial, para esclarecimentos dos dados informados (4) Nome limpo: não ter o nome apontado nos serviços de proteção ao crédito, como Serasa, SPC, Telecheque ou Usecheque. (5) Na época da pesquisa de Brusky e Fortuna (2002), esta modalidade de crédito não tinha a relevância que tem hoje. Por isso, a informação sobre

frequência não está apurada. (6) Microcrédito: é a concessão de empréstimos de baixo valor a pequenos empreendedores informais e microempresas sem acesso ao sistema

financeiro tradicional. É um crédito destinado à produção (capital de giro e investimento) e é concedido com o uso de metodologia específica. (7) ONG: Organização Não Governamental (8) OSCIP: Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, instituição sem fins lucrativos, licenciadas e monitoradas pelo Ministério da Justiça. (9) SCM: Sociedade de Crédito ao Microempreendedor, instituição regulamentadas, com fins lucrativos e especializadas em microfinanças.

Setor Informal de Consumo de Crédito

Crédito Dinheiro

Tipo Descrição Provedor Exigências

Empréstimos de familiares e amigos.

Empréstimos principalmente de pequenas

quantias e curtos prazos.

Familiares e amigos

Nenhuma exigência formal.

Crédito Parcelado

Fiado ("pendura")

Pagamento de um bem, geralmente de valor pequeno (até R$ 100) e de primeira

necessidade, com prazos de 15 a 30 dias.

Lojas de pequeno porte

Nenhuma exigência formal.

Crédito dos outros

Uso do crédito de terceiros - cartão, crediário

ou cheque - para realização de compras.

Familiares e amigos

Nenhuma exigência formal, mas a cessão do nome só se dá na existência de uma relação

de confiança entre as partes.

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2.4.3 O endividamento do consumidor de baixa renda

Prahalad (2010) destaca que a classe de baixa renda brasileira consome e

adquire produtos e serviços dentro das suas expectativas de necessidades básicas

e, principalmente, a saciedade dos seus principais desejos. Como nunca antes, a

consolidação da classe trouxe aos indivíduos a oportunidade de consumo de

produtos e serviços que antes era restrito à primeira camada da população nacional.

Casa própria quitada, carro zero na garagem, eletrônicos sofisticados já fazem parte

do dia a dia dessas pessoas.

Prova do crescimento de consumo registrado no Brasil, é discutida por Data

Popular (2010), pois aponta que, no ano de 2002, as classes A e B somadas

consumiam cerca de 51% e a baixa renda consumia 43% de toda a economia

nacional, o que representava R$ 976 bilhões em compras. Entretanto, na

comparação do ano de 2010, o cenário reverteu. Neste mesmo estudo, a classe de

baixa renda lidera todo o consumo nacional, representando cerca de 59%, em

seguida, a classe B com 24% e classe A com cerca de 16%. Este total representa

cerca de R$1,38 trilhões de consumo somente no ano de 2010, no Brasil.

Apesar deste aquecimento na economia em relação ao consumo da classe de

baixa renda, diversos dados apontam o endividamento como o principal resultado da

compra excessiva destes indivíduos. Lamounier e Souza (2010, p.38) abrem um

capítulo de sua obra somente para a discussão desta propensão ao endividamento

da classe média. Os autores relatam que diversos produtos compõem a vida da

classe, sendo “[...] televisão em cores (100%), geladeira (100%), rádio (98%),

videocassete ou DVD (98%), máquina de lavar roupa (90%), freezer (75%) e

aspirador de pó (54%)” produtos disseminados entre estes consumidores. Além do

acesso ao crédito bancário, que possibilitou o consumo de bens que anteriormente

eram inacessíveis às classes economicamente mais baixas.

Acerca disso, o estudo do Instituto Boston Consulting Group – BCG, por

Barreto e Bochi (2002), complementa: mesmo que a classe de baixa renda possua

um rendimento abaixo do esperado e do desejado, os indivíduos utilizam

intensamente de diversos produtos financeiros, os quais representam uma

familiaridade com a gestão dos seus próprios recursos (entende-se aqui por

familiaridade o conhecimento, e não total gestão de suas economias). Os dados

apresentados por este estudo indicam que: 47% dos domicílios possuem pelo

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menos um morador com conta corrente bancária; 19% utilizam cartão de débito;

16% têm cheque especial; 33% possuem limites de crédito pré-aprovados; 16%

trabalham com cartão de crédito e, por fim, 38% utilizam cartão de loja. Por mais que

ainda exista a cultura de poupança entre esta classe, o endividamento representa

cerca de 30% de todo o consumo, geralmente pelo consumo de bens duráveis.

Prova disto pode ser encontrada nas informações de Data Popular (2010), um

instituto voltado aos estudos da baixa renda. As pesquisas aplicadas retratam que

57,8% dos entrevistados possuem poupança; conta corrente 60,2%; planos de

saúde 63,6%; cartão de crédito 61% e débito 60,2%. Por outro lado, a pesquisa

realizada por CNC (2011) revela que, somente no ano de 2010, 24,7% das famílias

brasileiras estavam com contas em atraso e 59,2% inadimplentes ou endividadas.

Estas dívidas são representadas da seguinte forma: 71,5% em cartão de crédito;

24,6% em carnês e, por fim, 10,7% endividadas com crédito pessoal. Além destes

índices, é importante retratar que 49% das famílias endividadas possuem débitos

que variam entre 11% e 50% da renda mensal e 24% com dívidas que ultrapassam

os 50% da renda familiar.

Todos esses cenários de endividamento da classe de baixa renda são

justificados pela ausência da percepção do risco na tomada de decisão de compra e

a visão de futuro concentrada no curto prazo dos rendimentos familiares. Como

resultado disso, os indivíduos desta classe possuem decisões equivocadas, sem

preocupação com o que pode ocasionar tal consumo, como relatam Barreto e Bochi

(2002) e Lamounier e Souza (2010).

Nesse mesmo sentido, CNC (2011) aborda que no mês de dezembro de 2010

cerca de 60,6% das famílias de baixa renda estavam endividadas, das quais 25,5%

possuíam contas em atraso e 9,1% não teriam condições de pagá-las. Já para os

tipos de dívidas dos consumidores, o estudo aponta que o uso inadequado do cartão

de crédito é o principal índice de endividamento, representando cerca de 71,5% dos

endividamentos. Outros fatores são relatados, como o cheque especial 6,7%, crédito

consignado 3,7%, crédito pessoal 9,6%, financiamento de casa 2,9% e

financiamento de carro 7,8%, respectivamente.

A relevância do foco desse estudo na classe média baixa nacional se dá pela

representação na economia do Brasil. As classes C, D e E representam cerca de

52% de toda a população, nas quais, somente no ano de 2010, cerca de 60,6% das

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famílias estavam endividadas, 25,5% teriam contas em atraso e 9,1% não as

pagariam. (BARRETO; BOCHI, 2002; DATA POPULAR, 2010; NERI, 2008).

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3 METODOLOGIA DE PESQUISA

Após a apresentação da revisão de literatura deste estudo, a metodologia de

pesquisa é disposta e dividida em cinco blocos: abordagens e estratégias de

pesquisa; universo e amostra; instrumento para coleta de dados; variáveis de

análise e os tratamentos estatísticos que foram aplicados para a obtenção dos

resultados.

3.1 ABORDAGENS E ESTRATÉGIAS DE PESQUISA

Como o objetivo desta pesquisa é analisar três construtos do comportamento

do consumidor: materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento,

foram aplicadas pesquisas exploratórias e descritivas de abordagem quali-

quantitativa. A primeira abordagem Malhotra (2001, p.155) defende como “[...]

pesquisa não-estruturada, exploratória, baseada em pequenas amostras, que

proporcionam insights e compreensão do contexto do problema.” Esta abordagem

ocorreu, pois nenhum estudo que integrou essas três dimensões foi encontrado.

Nesse sentido, ainda é possível esclarecer a importância da pesquisa qualitativa

neste trabalho. De acordo com Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1999, p. 149), a

aplicação refere-se a [...] diferentes aspectos da conduta de indivíduos, como por exemplo, frustração e agressividade; dois eventos sociais, como exclusão social e criminalidade; e assim por diante. A relação esperada é deduzida de uma teoria e o pesquisador procura criar ou encontrar situações nas quais essa relação possa ser observada.

Entretanto, na segunda abordagem, enquadrada na visão positivista das

ciências sociais, a pesquisa quantitativa pode ser caracterizada por Malhotra (2001,

p.155), como aquela que “[...] procura quantificar os dados e aplicar de alguma

forma a análise estatística.” Justifica o autor que, na maioria das vezes, essa

abordagem deve suceder à pesquisa qualitativa, pois ajuda a contextualizar e

compreender os fenômenos sociais. Neste estudo quali-quantitativo, foram aplicados

os fundamentos tanto da visão positivista quanto da fenomenológica.

Para melhor compreensão dos temas que foram retratados na pesquisa

survey, realizaram-se duas sessões de grupos focais com jovens universitários, a

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fim de conhecer características dos seus comportamentos relacionados ao

materialismo, consumo excessivo e endividamento.

Grupos focais podem ser discriminados, de acordo com Aaker, Kumar e Day

(2001, p.211), como a aplicação de entrevistas em pequenos grupos respondentes

que tem como função “[...] descobrir possíveis ideias ou soluções para um problema,

por meio da discussão do tema.” Ainda, Oliveira e Freitas (2006) apontam que serve

para obter o entendimento dos participantes sobre o tópico de interesse da

pesquisa, não importando se é utilizado sozinho ou em conjunto com outros

métodos, nem mesmo se busca questões ou respostas.

Os resultados das sessões de grupos focais foram utilizados para a

montagem do questionário, aplicado no segundo momento desta pesquisa. As duas

reuniões foram realizadas no mês de junho de 2011, com jovens entre 18 e 30 anos,

de ambos os sexos, e alunos de diversos cursos de graduação de Blumenau. Na

primeira sessão, participaram seis indivíduos do gênero feminino e cinco do

masculino, com duração de 93 minutos. Na segunda aplicação, participaram cinco

estudantes do gênero feminino e seis jovens do gênero masculino, com duração de

91 minutos. Para as duas sessões, foram utilizados gravadores de áudio e imagem,

além da aplicação em salas espelhadas, denominadas one-way mirror.

A escolha aleatória dos participantes, nessa primeira etapa de pesquisa,

aconteceu por cinco critérios estabelecidos pelo pesquisador, como: a disposição e

concordância em participar das reuniões; acessibilidade ao alunos; estudantes dos

últimos períodos das graduações e, finalmente, não ter contato pessoal e/ou

nenhuma relação de afeto com o indivíduo. No somatório, participaram 22

estudantes de Blumenau, ativos e matriculados nos cursos de Administração,

Ciências Sociais, Medicina, Publicidade e Propaganda, Serviço Social. Assim, os

resultados desses encontros serviram de base para a elaboração das questões a

serem incorporadas às variáveis de análise de Richins e Dawson (1992), Wu (2006)

e Moura (2005), as quais se encontram detalhadas no item 3.5.

Posterior a aplicação dos grupos focais, foi realizado um levantamento survey

com questionário, que é compreendido por Babbie (1999) como uma forma de

geração de dados cujo objetivo é a exploração, a descrição e a explicação, em um

método lógico, determinista e empiricamente verificável. Assim, o instrumento de

coleta de dados quantitativo seguiu o método de questionário estruturado, com

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perguntas abertas e fechadas, o que permitiu respostas mais precisas com base em

escalas e medidas numéricas.

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA

Essa pesquisa aconteceu em duas mesorregiões diferentes, sendo a

mesorregião do Vale do Itajaí que, por total, soma cerca de 183.388 habitantes, e

mesorregião da grande Florianópolis que, de acordo com os dados do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010), possui 870.802 habitantes.

A Figura 3 destaca a mesorregião do Vale do Itajaí que, de acordo com o

IBGE (2010), possui 53 municípios em sua constituição. Dentro desta mesorregião

existem 4 microrregiões: Blumenau, Itajaí, Ituporanga e Rio do Sul. O foco dessa

pesquisa aconteceu na microrregião de Itajaí que, atualmente, possui 570.947

habitantes.

Figura 3 – Mesorregião do Vale do Itajaí

Fonte: IBGE (2010).

Vale ressaltar que a microrregião de Itajaí se dá pela união de 12 municípios:

Balneário Camboriú, Balneário Piçarras, Barra Velha, Bombinhas, Camboriú, Ilhota,

Itajaí, Itapema, Navegantes, Penha, Porto Belo e São João de Itaperiú. Dentro

deste cenário, a Tabela 2 apresenta a relação de cidade e número de habitantes da

microrregião de Itajaí.

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Tabela 2 – Cidades e habitantes da microrregião de Itajaí

Cidade Número de Habitantes Balneário Camboriú 108.089 Balneário Piçarras 17.078

Barra Velha 22.386 Bombinhas 14.293 Camboriú 62.361

Ilhota 12.355 Itajaí 183.373

Itapema 45.797 Navegantes 60.556

Penha 25.141 Porto Belo 16.083

São João de Itaperiú 3.435 Total de Municípios 12 Total de habitantes 570.947

Fonte: IBGE (2010).

Já a segunda microrregião utilizada para pesquisa deste estudo pertence a

mesorregião da grande Florianópolis que, conforme os dados de Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística – IBGE (2010), possui 3 microrregiões: Florianópolis,

Tabuleiro e Tijucas. A amostra desta pesquisa pertence a microrregião de

Florianópolis, conforme Figura 4.

Figura 4 – Microrregião de Florianópolis

Fonte: IBGE (2010).

A microrregião de Florianópolis é formada por 9 municípios: Antônio Carlos,

Biguaçu, Florianópolis, Governador Celso Ramos, Palhoça, Paulo Lopes, Santo

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Amaro da Imperatriz, São José e São Pedro de Alcântara. A Tabela 3 apresenta a

relação de cidade e número de habitantes dessa microrregião.

Tabela 3 – Cidades e habitantes da microrregião de Florianópolis

Cidade Número de Habitantes Antônio Carlos 7.458

Biguaçu 58.206 Florianópolis 421.240

Governador Celso Ramos 12.999 Palhoça 137.334

Paulo Lopes 6.692 Santo Amaro da Imperatriz 19.823

São José 209.804 São Pedro de Alcântara 4.704 Total de Municípios 12 Total de habitantes 870.802

Fonte: IBGE (2010).

Para a seleção da amostragem, este estudo optou pelo método não

probabilístico que, de acordo com Hair Júnior e colaboradores (2005, p. 200), é

compreendida como “[...] a seleção de elementos para a amostra não é

necessariamente feita com o objetivo de ser estatisticamente representativa da

população.” Ainda, a amostragem por conveniência, segundo Malhotra (2001,

p.331), é baseada na “[...] procura de obter uma amostra de elementos

convenientes. A seleção das unidades amostrais é deixada a cargo do

entrevistador.” Assim, o universo deste estudo foi alocado nos jovens universitários,

ativos e matriculados em uma universidade particular de Santa Catarina, de ambos

os gêneros e idade igual ou superior a 18 anos.

A universidade, atualmente, possui um total de 20.681 alunos regulares,

matriculados nos cursos de graduação, em 06 campi por diferentes unidades e

cidades, conforme visualização da Tabela 4:

Tabela 4 – Cidades e número de alunos matriculados nos cursos de graduação

Unidades Número de Graduações Número Total de Matriculados

Balneário Camboriú 12 Cursos 5.157 Biguaçu 04 Cursos 1.270

Florianópolis 07 Cursos 761 Itajaí 34 Cursos 12.129

São José 04 Cursos 855 Tijucas 02 Cursos 509

06 campi 63 Cursos de Graduação 20.681 alunos

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Nessa somatória geral de alunos, utilizou-se o cálculo de erro amostral

tolerável para a pesquisa. Da fórmula de Barbetta (2003) tem-se:

no = 1 / Eo!, onde o Eo retrata o erro amostral da pesquisa.

Que para o universo deste trabalho, utilizando o erro amostral de 5%, sendo

0,05, tem-se:

no = 1 / Eo!

no = 1 / 0,05! no = 400

Assim que identificado o número de participantes do levantamento survey, os

quais somados representaram 400 pesquisados, foi aplicado o cálculo da

amostragem proporcional ou quotas, de acordo com a Tabela 5:

Tabela 5 – Amostragem da pesquisa em campi e municípios

Cidade Alunos % do Total Amostragem Alunos Total de pesquisados

Balneário Camboriú 5.157 24,9

400

99,7 100 Biguaçu 1.270 6,1 24,6 25

Florianópolis 761 3,7 14,7 15 Itajaí 12.129 58,6 234,6 235

São José 855 4,1 16,5 17 Tijucas 509 2,5 9,8 10

06 campi 20.681 100% 400 402 pesquisados

Por fim, a amostragem final da pesquisa resultou em: 100 alunos do campus

de Balneário Camboriú, 25 de Biguaçu, 15 de Florianópolis, 235 de Itajaí, 17 de São

José e 10 estudantes do campus universitário de Tijucas. Este total de 402 alunos

de graduação foi submetido ao questionário do levantamento survey, conforme

descrito no item 3.4.

3.4 TÉCNICA E INSTRUMENTO DE COLETA DOS DADOS

Para mensurar os três construtos do comportamento do consumidor –

materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento – optou-se pelo

levantamento survey com a utilização de questionário impresso. Esta aplicação

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presencial e autopreenchível partiu dos seguintes blocos: i) construto de Richins e

Dawson (1992), Moura (2005) e Wu (2006); ii) dados do endividamento na utilização

dos produtos bancários; iii) informações sociodemográficas dos pesquisados.

As escalas que mediram os construtos neste estudo são baseadas na medida

métrica, ou seja, escalas intervalares com 7 itens no padrão Likert, partindo de

discordo totalmente até concordo totalmente. Demais dados foram avaliados por

questões dicotômicas, nominais, numerais e textuais, baseadas na seguinte ordem

do questionário: i) construto de materialismo; ii) construto de consumo excessivo; iii)

construto de propensão ao endividamento; dados de utilização de produtos

financeiros; iv) dados pessoais.

Este levantamento totalizou 143 questionamentos, divididos em quatro

grandes blocos. Vale ressaltar, neste momento, que as afirmativas as quais

envolveram os construtos de materialismo, consumo excessivo e propensão ao

endividamento foram misturadas, o que permite extrair dos pesquisados uma

resposta sem uma avaliação mais criteriosa.

O questionário aplicado com estes jovens foi pré-testado em duas diferentes

situações. Inicialmente, no primeiro modelo desenvolvido para o estudo, foi aplicado

em 10 por cento da amostra calculada para esta pesquisa, resultando em 40

entrevistados. As aplicações apontaram algumas dificuldades de compreensão no

preenchimento, em dado momento do questionário, especificamente no Bloco D –

Dados Pessoais. Identificada a dificuldade na compreensão, o questionário passou

por uma remodelação e novamente foi aplicado com 10 por cento da amostra da

pesquisa. Finalmente, o questionário pré-teste, aplicado no mês de julho de 2011,

obteve êxito na compreensão dos alunos, o que forneceu garantia da sua aplicação

futura no levantamento survey. O questionário final pode ser visualizado no

Apêndice 1.

Os construtos que serviram de análise no questionário são debatidos no item

3.5, sendo: Construto de Materialismo – EMRD de Richins e Dawson (1992);

Construto de Consumo Excessivo de Wu (2006); Construto de Propensão ao

Endividamento de Moura (2005).

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3.5 VARIÁVEIS DE ANÁLISE

O nível de materialismo dos jovens universitários foi medido pelo construto

proposto por Richins e Dawson (1992), que é composto por três diferentes

dimensões: centralidade, felicidade e sucesso. O primeiro é descrito como uma

indicação da posição das posses e aquisições na vida das pessoas e é baseado nas

seguintes afirmações constantes no Quadro 12.

Quadro 12 – Construto de Materialismo de Richins e Dawson (1992) – Centralidade

Fonte: Richins e Dawson (1992, p. 217). Nota: (1) Afirmativas que contrariam as demais. (2) Tradução do autor.

A segunda dimensão de Richins e Dawson (1992) avalia a felicidade no

consumo, ou seja, o momento em que as posses irão trazer-lhe felicidade e bem-

estar pessoal. Esta dimensão é baseada no Quadro 13.

Quadro 13 – Construto de Materialismo de Richins e Dawson (1992) – Felicidade

Fonte: Richins e Dawson (1992, p. 217). Nota: (1) Afirmativas que contrariam as demais. (2) Tradução do autor.

Por fim, no construto de materialismo proposto por Richins e Dawson (1992),

o sucesso no consumo analisa a tendência de um indivíduo em julgar aos outros e a

si mesmo em função da quantidade e qualidade de suas posses, enxergando o

sucesso a partir das suas posses e bens acumulados. Esta dimensão é apresentada

no Quadro 14.

Item Afirmações Q1 Geralmente, compro apenas aquilo de que preciso1. Q2 Tento manter a minha vida simples, no que diz respeito aos meus bens materiais1. Q3 As coisas que possuo não são muito importantes para mim1. Q4 Gosto de gastar dinheiro em coisas que não são necessárias. Q5 Comprar coisas dá-me imenso prazer. Q6 Gosto de muito luxo na minha vida.

Q7 Dou menos importância às coisas materiais que a maioria das pessoas que conheço1.

Item Afirmações Q8 Tenho todas as coisas de que preciso para ser feliz 1. Q9 A minha vida seria melhor se possuísse coisas que não tenho.

Q10 Não seria mais feliz se tivesse coisas mais bonitas1. Q11 Seria mais feliz se tivesse dinheiro para comprar mais coisas. Q12 Às vezes, entristece-me um pouco que não possa comprar todas as coisas que

quero.

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Quadro 14 – Construto de Materialismo de Richins e Dawson (1992) – Sucesso

Fonte: Richins e Dawson (1992, p. 217). Nota: (1) Afirmativas que contrariam as demais. (2) Tradução do autor.

A escolha deste construto de medição dos níveis de materialismo dos jovens

universitários se dá pela validade proposta pelos autores. No momento em que

aplicaram em três diferentes estudos, numa amostragem total de 609 consumidores

norte-americanos, os autores relatam que possui uma boa validação, já que os

valores podem e devem ser medidos para a avaliação final dos níveis de

materialismo dos consumidores.

Outra mensuração que aconteceu neste estudo foi o construto de consumo

excessivo, desenvolvido por Wu (2006), pois possui o objetivo de verificar os níveis

de consumo excessivo dentro do comportamento do consumidor, baseado em cinco

diferentes dimensões:

Quadro 15 – Construto de consumo excessivo de Wu (2006)

Dimensões Afirmações

Atração por produtos como sinal de status

Q1 Eu gosto de muito luxo na minha vida, embora eu possa não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas contas.

Q2 Eu compro os objetos materiais, como sinal de sucesso, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.

Q3 Eu tenho muito prazer em comprar coisas agradáveis, embora eu tenha dificuldade financeira.

Prazer em comprar

Q4 Comprar é uma forma de me sentir melhor, mesmo que depois eu possa enfrentar dificuldades financeiras.

Q5 Quando estou com um baixo emocional, eu gasto mais do que eu deveria com base na minha condição financeira.

Q6 Para mim, fazer compras é uma maneira de aliviar o estresse, embora eu talvez tenha que enfrentar dificuldades financeiras.

Compra inconsequente

Q7 Muitas vezes eu compro algo que realmente quero, sem pensar muito, embora eu não devesse comprá-lo, com base nas minhas condições financeiras.

Q8 É típico que eu passe por imprudente por não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.

Q9 Durante as compras, muitas vezes eu gasto mais do que eu deveria (com base nas minhas condições financeiras) sem que eu perceba isso.

Item Afirmações Q13 Admiro pessoas que possuem carros, casas e roupas caras. Q14 Alguns dos feitos mais importantes na vida incluem adquirir bens materiais. Q15 Não dou muita importância à quantidade de objetos materiais que as pessoas têm

como sinal de sucesso1. Q16 As coisas que tenho dizem muito sobre o sucesso que tenho tido na vida. Q17 Gosto de ter coisas para impressionar as pessoas. Q18 Não dou muita atenção aos objetos materiais que os outros possuem1.

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Compra por emoção / excitação

Q10 Eu gasto muito quando estou de bom humor, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.

Q11 Quando eu estou bem emocionalmente, eu compro um monte de coisas, embora eu não tenha dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.

Q12 Eu gosto de fazer compras quando estou de bom humor, embora compre coisas que eu não deveria, se pensar na minha situação financeira.

Autocontrole

financeiro

Q13 Eu acompanho bem as minhas despesas, para fins de orçamento1.

Q14 Eu realmente posso impedir-me de comprar coisas que eu não deveria, se eu pensar na minha situação financeira1.

Q15 Eu examino e avalio o meu comportamento de compra, com a finalidade de cuidar do meu orçamento1.

Fonte: Wu (2006). Nota: (1) Afirmativas que contrariam as demais. (2) A escala original pode ser vista no Anexo 3. (3) Tradução do autor.

Vale ressaltar que esse construto de mensuração do comportamento de

compra excessiva, desenvolvido por Wu (2006), contempla afirmativas de

materialismo. Porém, como um dos objetivos deste estudo está em identificar as

relações entre materialismo e consumo excessivo, a adaptação manterá as

afirmações materialistas aplicados pelo autor, permanecendo, assim, o construto

original traduzido para o idioma português.

Outra consideração relevante para esse construto acontece pela aplicação

das dimensões. Embora este trabalho trate de consumo excessivo, é provável que

na amostra final de consumidores ocorra a inclusão de indivíduos que envolvam o

consumo impulsivo e compulsivo. Entretanto, esta pesquisa tratará apenas do

primeiro comportamento de compra – consumo excessivo.

O terceiro e último construto que respondeu aos objetivos deste estudo é

referente ao endividamento do consumidor. Moura (2005), baseada em Lea, Webley

e Walker (1995), desenvolveu o construto apoiada nas atitudes do endividamento,

com exclusividade em aplicação para o contexto de baixa renda brasileira. Este

construto é baseado em 9 afirmações:

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Quadro 16 – Construto de propensão ao endividamento de Moura (2005)

Fonte: Moura (2005, p.75) Nota: (1) Afirmativas que contrariam as demais.

A utilização deste construto é justificado pela validade e confiabilidade de

suas afirmações. Essa mensuração desenvolvida por Moura (2005), baseada em

Lea, Webley e Walker (1995), compreende três principais dimensões: Impacto moral

na sociedade, que representa os valores e crenças encontrados na sociedade que

têm influência na atitude do consumidor em relação ao endividamento. A segunda

dimensão, Preferência no tempo, que inclui a relação de valor e tempo, ou seja,

adiar ou não os planos de consumo e, por fim, Grau de Autocontrole, que retrata a

capacidade de gerir os próprios recursos financeiros.

3.6 TRATAMENTOS ESTATÍSTICOS

Para a análise dos dados descritivos e multivariados deste levantamento

survey foram utilizados os softwares: Statistica 8.0, Statistical Package for the Social

Sciences – SPSS 17.0 e Microsoft Excel 2007.

As análises descritivas das amostras e dos construtos estudados foram

demonstrados por meio das médias, desvios padrão, tabelas comparativas, testes t,

correlações entre os construtos e histogramas. Já os dados multivariados foram

dispostos por: análises fatoriais, regressão logística, análise cluster e análise fatorial

confirmatória.

A Análise Fatorial, como descreve Hair Júnior e colaboradores (2005), é

compreendida como um modelo de mensurações das relações entre os indicadores

Dimensões Afirmações Impacto moral na

sociedade

Q1 Não é certo gastar mais do que ganho1. Q2 Acho normal as pessoas ficarem endividadas para pagar suas

coisas. Q3 As pessoas ficariam desapontadas comigo se soubessem que

tenho dívida1.

Preferência no tempo

Q4 É melhor primeiro juntar dinheiro e só depois gastar1. Q5 Prefiro comprar parcelado a esperar ter dinheiro para comprar à

vista. Q6 Prefiro pagar parcelado mesmo que no total seja mais caro.

Grau de Autocontrole

Q7 Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco1.

Q8 É importante saber controlar os gastos de minha casa1. Q9 Não tem problema ter dívida se eu sei que posso pagar.

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e os fatores por meio das cargas fatoriais. Quando essas cargas fatoriais não

ultrapassam 0,5 indicam que a análise é insatisfatória para a explicação da

correlação de cada variável com as demais utilizadas no estudo.

A análise Cluster ou agrupamento visou a identificar as classes que se

enquadravam com os três construtos desta pesquisa. Esse agrupamento, como

sugere Hair Júnior e colaboradores (2005), destina-se a segmentar ou agrupar

indivíduos de uma amostra, com o objetivo de formar conjuntos mutuamente

excludentes que apresentem similaridade ou igualdade. Ainda cabe destacar que

essa aplicação estatística multivariada permite que se classifiquem objetos de uma

seleção, onde cada objetivo é semelhante, com base em algum critério

predeterminado pelo pesquisador.

A Regressão Logística, para Hair Júnior e colaboradores (2005, p. 129), tem o

princípio de encontrar o melhor relacionamento entre as variáveis de resposta e um

conjunto de variáveis exploratórias, ou seja, “[...] uma forma especializada de

regressão que é formulada para prever e explicar uma variável categórica binária

(dois grupos), e não uma medida dependente métrica.”

Por fim, a Análise Fatorial Confirmatória, de acordo com Hair Júnior e

colaboradores (2005), busca descrever relacionamentos existentes entre as

variáveis e construtos utilizados em pesquisas. Nesse estudo, optou-se por aplicar

tal metodologia com o intuito de verificar estatisticamente, as possíveis relações

entre as estruturas analisadas: materialismo influencia a compra excessiva, que por

sua vez, influencia a propensão ao endividamento.

Demais dados referentes aos tratamentos estatísticos aplicados com os

dados extraídos da pesquisa são descritos no capítulo 4 e em cada item da análise.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

As discussões deste estudo são apresentadas em nove itens, distribuídos em

quatro partes. Primeiramente são apontadas as características da amostra e os

procedimentos realizados para a análise dos dados estatísticos. Em seguida, são

descritos os resultados dos três construtos: materialismo, consumo excessivo e

propensão ao endividamento. Diante dos dados descritivos, aplicaram-se três

métodos da estatística multivariada: análise fatorial, análise cluster, regressão

logística e análise fatorial confirmatória. Por fim, optou-se por ampliar as discussões

do comportamento dos estudantes de baixa renda.

Vale ressaltar que a contribuição do estudo acontece pela integração dos três

construtos, pois até a data de aplicação do questionário e a finalização do trabalho,

nenhuma construção foi encontrada.

4.1 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA

Este estudo, que se propôs a aplicar os construtos de materialismo, consumo

excessivo e propensão ao endividamento, foi realizado com 415 estudantes. Vale

destacar que a amostra prevista no capítulo anterior registrou 402 alunos a serem

pesquisados. No entanto, para a melhor compreensão das três atitudes de consumo,

foram utilizados outros 13 alunos que foram questionados, sem nenhum questionário

descartado da aplicação. A Tabela 6 descreve os valores.

Tabela 6 – Amostra da pesquisa planejada e realizada Campus Universitário Amostra Planejada Amostra Realizada

Frequência % Frequência % Balneário Camboriú 100 24,9 103 24,8

Biguaçu 25 6,2 28 6,7 Florianópolis 15 3,7 15 3,6

Itajaí 235 58,5 235 56,6 São José 17 4,2 17 4,1 Tijucas 10 2,5 17 4,1

Total 402 pesquisados 100 415 pesquisados 100

A partir da apresentação do número de indivíduos que participaram do

levantamento quantitativo – entre amostra planejada e realizada – a Tabela 7

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identifica o número de alunos e porcentagem de participação para cada campus

universitário pesquisado.

Tabela 7 – Alunos, cursos e campus universitário Campus Universitário Número de pesquisados % de participação

Balneário Camboriú

58

24,8 34 11

Total 103 pesquisados Biguaçu 19

6,7 9 Total 28 pesquisados

Florianópolis 15 3,6 Total 15 pesquisados

Itajaí

63 56,6 50

28 20 17 57

Total 235 pesquisados São José 9

4,1 8 Total 17 pesquisados

Tijucas 9 4,1 8

Total 17 pesquisados Total Geral 415 estudantes 100%

Como é possível identificar na Tabela 7, os campi de Itajaí (56,6%) e

Balneário Camboriú (24,8%) possuíram a maior representação na amostra deste

estudo. Os demais, somados, representaram 18,56% da pesquisa e são:

Florianópolis Ilha (3,6%), Biguaçu (6,7%), São José (4,1%) e Tijucas (4,1%),

respectivamente. Já a Tabela 8 destaca as variáveis sociodemográficas e o perfil

dos estudantes que foram entrevistados, divididos em: idade, gênero, estado civil,

ocupação profissional e moradia.

Tabela 8 – Variáveis sociodemográficas dos pesquisados Variáveis Alternativas Frequência Percentual (%)

Idade Até 20 completos 210 50,60 21 a 30 anos completos 205 49,40

Total 415 100 Gênero Masculino 132 31,81

Feminino 283 68,19 Total 415 100

Estado Civil Solteiro (a) / Separado (a) Viúvo (a) 345 83,13 Casado (a) / Mora Junto (a) 70 16,87

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Total 415 100 Ocupação

Profissional Não Trabalha / Desempregado (a) 130 31,33 Conta Própria / Autônomo (a) 25 6,02 Empresário (a) 17 4,10 Estagiário (a) 81 19,52 Empregado (a) Assalariado (a) 153 36,87 Funcionário (a) Público (a) 9 2,17

Total 415 100 Moradia Moro Sozinho (a) 61 14,70

Moro com Familiares, Companheiros (a) e/ou Amigos.

354 85,30

Total 415 100

A amostra de estudantes pesquisados possuía a idade média 23,13 anos

completos, distribuídos igualmente entre as faixas etárias até 20 anos (50,60%) e

entre 21 e 30 anos (49,40%), com predominância feminina (68,19%), solteiros,

separados e viúvos (83,13%) que trabalhavam (68,67%) e moravam com seus

familiares, companheiros ou amigos (85,30%).

A Tabela 9, sumariza o gênero dos entrevistados e suas respectivas

situações civis. Mulheres solteiras, separadas ou viúvas representaram 82,33%,

enquanto homens nas mesmas situações, totalizaram 84,85% da amostra.

Tabela 9 – Gênero e situação civil dos entrevistados Gênero Situação Civil Frequência Percentual

Feminino Solteiras, separadas ou viúvas 233 82,33 Casadas ou que moram junto 50 17,67

Total 283 100 Masculino Solteiros, separados ou viúvos 112 84,85 Casados ou que moram junto 20 15,15

Total 132 100

Questionados quanto ao tipo de emprego, os entrevistados do gênero

feminino que trabalhavam somaram 60,20% e masculino 86,14%. O total de

desempregados durante a realização da pesquisa foi de 53,66%. A Figura 5

(histograma) identifica o gênero dos entrevistados com suas respectivas ocupações

profissionais.

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Figura 5 – Gênero e ocupação profissional dos entrevistados

Os dados relativos à renda, às classificações econômicas e às ajudas

financeiras dos indivíduos foram analisados separadamente, uma vez que esse

estudo possui foco em consumo e propensão ao endividamento e essas variáveis

são importantes indicadores de análise de consumo excessivo e endividamento dos

entrevistados. Tais informações são retratadas na Tabela 10.

Tabela 10 – Classificação econômica da amostra Variáveis Alternativas Frequência Percentual (%)

Renda Mensal Bruta Familiar

(Classificação econômica

IBGE)

Classe A 31 7,48 Classe B 67 16,14 Classe C 143 34,46 Classe D 119 28,67 Classe E 55 13,25

Total 415 100 Posse de bens e

escolaridade do chefe da família.

(Classificação econômica

Critério Brasil)

Classe A1 4 0,96 Classe A2 51 12,29 Classe B1 119 28,67 Classe B2 142 34,22 Classe C1 76 18,31 Classe C2 16 3,86 Classe D 7 1,69 Classe E 0 0

Total 415 100 Ajuda Financeira Não recebe ajuda financeira 181 43,61

Ajuda Governamental (bolsa família e bolsas de estudo)

50 12,05

39,80% 44,18%

11,39%

1,40% 2,10% 1,13%

Não tr

abalh

a

Empreg

ada A

ssala

riada

Estagiá

ria

Funcio

nária

Púb

lica

Conta

Própr

ia | A

utôno

ma

Empres

ária

Feminino

13,86%

45,50%

18,30%

1,39%

9,15% 11,80%

Não tr

abalh

a

Empreg

aoa A

ssala

riado

Estagiá

rio

Funcio

nário

Púb

lico

Conta

Própr

ia | A

utôno

mo

Empres

ário

Masculino

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Ajuda dos Pais 168 40,48 Ajuda de Amigos 0 0

Ajuda de Parentes 6 1,45 Ajuda de Avós 10 2,41

Total 415 100

Foram utilizadas as duas classificações econômicas mais usadas em

pesquisas quantitativas: a do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE,

que considera apenas a renda familiar em salários mínimos e o Critério Brasil (CB).

Esse último método, desenvolvido foi pela Associação Brasileira de Empresas de

Pesquisa - ABEP, abandona os valores de rendas mensais, difíceis de serem

revelados. A mensuração das classes econômicas dos indivíduos acontece por

pontos adquiridos em escalas. Tais pontos são obtidos pela posse de bens duráveis,

como carros, televisores, rádios, máquinas de lavar, além do número de

empregadas domésticas mensalistas, número de banheiros da residência e

escolaridade do chefe da família. Dessa forma, de acordo com a Tabela 10, é

possível verificar que ocorreram diferenças entre as duas classificações econômicas

utilizadas e os percentuais dos entrevistados. Essas diferenças são apresentadas de

na Tabela 11.

Tabela 11 – Diferenças entre os valores do Critério Brasil e IBGE

Diante da disparidade das informações, optou-se por admitir como

classificação o Critério Brasil, pois se acredita que diversos pesquisados optaram

por omitir as informações relativas à renda familiar do IBGE e a metodologia

escolhida impede essa omissão. Dessa forma, considerando-se as classes

econômicas do CB, os pesquisados se distribuíram em: classe A (13,25%), classe B

(62,89%), classe C (22,17%) e D (1,69%). Nenhum participante da pesquisa se

enquadrou na classe E.

Critério Brasil (CB) % Critério IBGE % Diferenças entre CB e IBGE Classes Econômicas Classes Econômicas

A (A1 e A2 somadas) 13,25 A 7,48 5,77 B (B1 e B2 somadas) 62,89 B 16,14 46,75 C (C1 e C2 somadas) 22,17 C 34,46 -12,29

D 1,69 D 28,67 -26,98 E 0 E 13,25 -13,25

Total 100 100

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Em outro momento do levantamento survey, os estudantes deveriam

responder se recebiam ou não ajudas financeiras. Os resultados indicaram que os

pais ainda beneficiavam financeiramente os estudantes, pois representaram 40,48%

do total. No entanto, o número que se refere a nenhum tipo de ajuda foi relevante,

pois 43,61% dos alunos não receberam apoio, o que representou individualidade na

gestão financeira da amostra. As demais ajudas indicaram 16,31% e se distribuíram

entre: governamental por bolsa família e bolsas de estudos (12,5%), ajudas de

amigos, parentes (3,86%).

Por se tratar de endividamento financeiro, este estudo buscou quantificar

dados econômicos dos pesquisados. A Tabela 12 resume os tipos de conta

bancárias mais utilizadas, o atraso no pagamento das dívidas, os produtos que

ocasionaram o endividamento do universitário e, finalmente, as justificativas que são

dadas por não pagar as dívidas na data do vencimento.

Tabela 12 – Variáveis econômicas e endividamento dos pesquisados Variáveis Alternativas Frequência Percentual (%)

Possui Conta Bancária Sim 347 83,61 Não 68 16,39

Total 415 100 Tipos de produtos bancários

(*) Múltipla escolha Conta Corrente 212 38,06

Conta Universitária 80 14,36 Conta Conjunta 32 5,75 Conta Poupança 180 32,32

Conta Salário 53 9,52 Total (*) 557 100

Dívidas Sim 203 48,92 Não 212 51,08

Total 415 100 Tipos de Produtos que representam as dívidas

(*) Múltipla escolha

Cartão de Crédito 128 36,36 Crédito Consignado 11 3,13

Financiamento de Carro 48 13,64 Cartão de Débito 10 2,84 Crédito Pessoal 34 9,66

Financiamento de Casa 12 3,41 Cheque 14 3,98

Carnês de Lojas 70 19,89 Crediários 25 7,10

Total (*) 352 100 Pagamentos em Atraso Sim 133 65,5

Não 70 34,5 Total 203 100

Justificativa pelo pagamento em atraso

Falta de planejamento 35 26,3% Desemprego ou queda na

renda 12 9,0%

Alta propensão ao consumo 19 14,3% Alta taxa de juros 11 8,3%

Ausência do desconto a vista 1 0,8%

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Empréstimo do nome 4 3,0% Problemas de saúde 2 1,5%

Má gestão do dinheiro 43 32,3% Acesso ao crédito 6 4,5%

Total 133 100

Na Tabela 12, é possível identificar grande percentual de alunos que possuía

conta bancária, pois somou 86,61% da amostra. Entretanto, as contas mais

utilizadas pelos entrevistados foram: conta corrente (51,08%) e poupança (43,37).

Conjuntas e contas salário somaram 20,48% de uso dos pesquisados. Os

estudantes que possuíam algum tipo de endividamento somaram 48,92% da

amostra, número expressivo, pois representa cerca de 203 estudantes, contra 212

que não assumiram nenhum tipo de endividamento financeiro.

Dentre os alunos que indicaram possuir dívidas, o maior percentual aconteceu

pelo uso do cartão de crédito, pois somou 36,36%. Outros dois produtos financeiros

também indicaram escores representativos, como carnês de lojas (19,89%) e

financiamento de veículos (13,64%). A soma dos demais produtos representou

30,12% e se distribuiu entre: crédito pessoal (9,66%), crediários (7,1%), cheque

(3,98%), financiamento de casa (3,41%), crédito consignado (3,13%) e cartão de

débito (2,84%).

Embora a representação dos estudantes que possuíam algum tipo de débito

foi identificada, os alunos deveriam responder se havia atraso ou não do pagamento

dessas dívidas. Cerca de 65,5% estavam em atraso, justificados pela maioria por:

má gestão orçamentária (32,3%), falta de planejamento (26,3%) e alta propensão ao

consumo (14,3%). Demais justificativas marcaram 27,1%: desemprego ou queda na

renda (9,0%), alta taxa de juros (8,3%), facilidade no acesso ao crédito (4,5%),

empréstimo do nome (3,0%), problemas de saúde (1,5%) e ausência do desconto à

vista (0,8%).

Com a exposição do número de estudantes endividados e não endividados, é

importante ressaltar a Tabela 13, que compara as variáveis sociodemográficas e as

atitudes de endividamento financeiro dos pesquisados.

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Tabela 13 – Comparação dos dados sociodemográficos e endividamento financeiro Variáveis Alternativas Endividados

(%) Não Endividados

(%) Idade Até 20 completos 55,71 44,29

21 a 30 anos completos 86,34 13,66 Gênero Masculino 50,76 49,24

Feminino 47,70 52,30 Estado Civil Solteiro (a) / Separado (a) Viúvo (a) 43,77 56,23

Casado (a) / Mora Junto (a) 74,29 25,71 Moradia Moro Sozinho (a) 42,62 57,38

Moro com Familiares e/ou Amigos. 50,0 50,0 Classes

Econômicas A1 e A2 somadas 23,61 76,39 B1 e B2 somadas 49,43 50,57 C1 e C2 somadas 57,61 42,39 D 57,14 42,87

Na comparação exposta na Tabela 13, é possível identificar que os indivíduos

com até 20 anos completos (55,71%) estavam menos endividados que os

pesquisados com idade entre 21 e 30 anos (86,34%), pois existiu a diferença

superior a 30 pontos percentuais entre os grupos. No entanto, os escores da

comparação entre o gênero e o débito financeiro marcaram diferenças tênues,

homens (50,76%) demonstraram contrair mais dívidas do que as mulheres (47,70%).

Para os pesquisados que eram solteiros, separados ou viúvos, cerca de

43,77% indicaram possuir dívidas, já os indivíduos casados ou que moravam juntos,

cerca de 74,29%, estavam em débito financeiro. Estudantes que moravam sozinhos,

representaram 42,62% dos grupos de endividados, contra 57,38% que assinalaram

não ter nenhum tipo de débito. Para os dados dos alunos que moravam com os

familiares ou amigos, metade dos entrevistados, ou seja, 50% indivíduos indicaram a

inadimplência financeira.

Como esperado, as classes econômicas de menor renda demonstraram

possuir mais dívidas do que as demais. Dos entrevistados da classe A, apenas

23,61% afirmaram possuir algum tipo de débito. Já a classe B, cerca de 49,43%,

indicou dívidas. Entretanto, nas classes C e D – que representam a baixa renda

brasileira – os dados indicam a dificuldade em gerir suas rendas. Na classe C, cerca

de 57,61% estavam endividados, o que se repetiu para a D, pois 57,14% dos

estudantes pesquisados possuíam algum tipo de dívida financeira.

Dentre os estudantes que estavam em débito financeiro (n=203), o

levantamento quantitativo questionou o nível dessas dívidas. Para isso, os

estudantes deveriam mensurar o seu débito entre: 1 e 2 – pouco endividado; 3 a 5 –

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mais ou menos endividado; 6 e 7 – muito endividado. Os resultados encontrados são

descritos na Tabela 14.

Tabela 14 – Níveis de endividamento dos estudantes

Escala entre 1 e 7

Frequência

Total (%)

Gênero (%) Idade (%) Homens Mulheres Até 20

anos Entre 21

e 30 1 Pouco

endividado 36 17,73 75,0 25,0 35,6 64,4

2 3 Mais ou

menos endividado

65

32,02

67,1

32,9

70,8

29,2 4

5 6 Muito

endividado 102 50,25 71,6 28,4 86,3 13,7

7 Total geral 203 100

Embora se tenha dificuldade de mensurar os valores das dívidas em números

por se tratar de um tema que pode causar constrangimento aos pesquisados, na

Tabela 14 é possível identificar um escore representativo de estudantes com altos

níveis de débito. Os pesquisados “muito endividados” representaram 50,25% da

amostra, porém ao segmentá-los por gênero, os homens somaram 71,6% e, com

base nas idades, os mais jovens com até 20 anos completos atingiram 86,3% do

total. Se forem considerados os indivíduos “mais ou menos endividados” no total de

estudantes, o percentual atinge 32,02%.

Esses índices de endividamento podem ser explicados por duas causas

questionadas neste estudo: o ato de poupar dinheiro e os níveis de gastos versus

rendimento. Na primeira variável, os estudantes deveriam responder o quanto

conseguem guardar de sua renda com base em uma escala de 1 a 7 na qual as

notas 1 e 2 significavam “nunca consigo guardar o meu dinheiro”; 3, 4 e 5

correspondiam a “algumas vezes consigo guardar o meu dinheiro” e 6 e 7, “sempre

consigo guardar o meu dinheiro”. A Tabela 15 aponta os resultados.

Tabela 15 – Comparação entre o ato de poupar e endividamento Escala entre

1 e 7 Endividados Não Endividados

Frequência (%) Frequência (%) 1 Nunca consigo

guardar 142 70,0 10 4,7

2 3 Algumas vezes

consigo guardar 54 26,6 89 42,0

4 5 6 Sempre consigo

guardar 7 3,4 113 53,3

7 Total geral 203 100 212 100

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Percebe-se, na Tabela 15, os estudantes que nunca conseguiram poupar são

os mais endividados, representando 70,0% do total do segmento. A segunda

questão envolveu o mesmo procedimento anterior, entretanto a avaliação aconteceu

pela relação entre despesas e rendimento. Os resultados são descritos na Tabela

16.

Tabela 16– Níveis de gastos e consumo Escala entre

1 e 7 Endividados (%) Não Endividados

Frequência (%) Frequência (%) 1 Gasto menos que

ganho 30 14,8 102 48,1

2 3 Gasto igual ao que

ganho

76

37,4

92

43,4 4 5 6 Gasto mais que

ganho 97 47,8 19 9,0

7 Total geral 203 100 212 100

Constatam-se, com os dados da Tabela 16, as diferenças entre as atitudes de

consumo dos jovens universitários. As alternativas se comportaram de maneiras

diferentes entre os dois grupos, ou seja, endividados tendem a gastar mais do que

recebem, pois resultou em 47,8% dos pesquisados. Como esperado, as pessoas

que não estavam em débito financeiro teriam maior facilidade na gestão financeira

de seus recursos, uma vez que as opções gasto menos do que ganho (48,1%) e

gasto igual ao que ganho (43,4%) totalizaram 91,5% dos respondentes.

Todos esses dados expostos fornecem subsídios para as análises

estatísticas, pois se percebe que um número expressivo de estudantes – na amostra

pesquisada – possui dívidas em diversos produtos bancários e financeiros,

causadas pelas atitudes positivas ao materialismo e ao consumo excessivo. Outras

discussões são feitas nos próximos itens desse capítulo.

4.2 PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DOS DADOS ESTATÍSTICOS

Para verificar a confiabilidade e a consistência interna dos construtos de

materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento dos jovens

universitários utilizou-se a análise do alfa de Cronbach. O alfa de Cronbach, também

conhecido como indicador de fidedignidade dos dados, analisa o grau de

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convergência das informações, ou seja, verifica o grau de concordância dos

respondentes em relação a um construto teórico aplicado. Índices superiores a 0,6

são considerados aceitáveis para validação da convergência interna da dimensão.

(CRONBACH, 1951).

Nos casos em que o alfa de Cronbach não alcançou o valor de 0,6, gerou-se

a análise fatorial dos itens pertencentes ao mesmo construto teórico, a fim de

verificar a correlação do item com o construto ao qual pertence. (HAIR JÚNIOR et

al., 2005). Variáveis com baixa carga fatorial em relação às demais foram retiradas

com o objetivo de aumentar a confiabilidade do construto.

Dessa forma, antes de iniciar a análise de dados estatísticos, verificou-se a

confiabilidade dos construtos, divididos em fatores, os quais representam o

agrupamento de questões relacionadas ao mesmo tema. Os índices de

confiabilidade são apresentados na Tabela 17.

Tabela 17– Índices de confiabilidade dos construtos

Construtos e dimensões Materialismo Consumo Excessivo

Propensão ao Endividamento

Materialismo D1 – Centralidade 0,562 - - D2 – Felicidade 0,652 - - D3 – Sucesso 0,519 - -

Consumo Excessivo

D1 - Atração por Status - 0,778 - D2 – Prazer em Comprar - 0,879 - D3 – Compra Inconsequente

- 0,797 -

D4 – Compra por Emoção - 0,874 - D5 - Autocontrole Financeiro

- 0,759 -

Propensão ao Endividamento

D1 - Impacto Moral na sociedade

- - 0,114

D2 - Preferência no tempo - - 0,589 D3 - Grau de autocontrole - - 0,320

Índice geral 0,739 0,903 0,149

Conforme identificado na Tabela 17, as dimensões dos construtos teóricos de

materialismo de Richins e Dawson (1992), bem como da propensão ao

endividamento de Moura (2005) apresentaram quase todos os fatores com índice de

confiabilidade abaixo de 0,6 (destaques em cinza). O único construto que resultou

em índices aplicáveis foi o consumo excessivo (0,903), do autor Wu (2006).

Assim, para os baixos alfas encontrados nos dois construtos citados, uma

análise baseada na carga fatorial foi considerada para purificação dos fatores. A

exclusão de variáveis com baixas cargas fatoriais em relação às demais constantes

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do mesmo fator pode elevar o índice de confiabilidade e melhorar o nível da análise.

Dessa forma, as cargas fatoriais das afirmativas e dimensões do construto de

materialismo seguem apresentadas na Tabela 18.

Tabela 18 – Purificação do construto de materialismo Dimensões e afirmações

Cargas Fatoriais

D1 - Centralidade D2 - Felicidade D3 - Sucesso

Centralidade Q1 ,697 - - Q2 ,637 - - Q3 -,030 - - Q4 ,596 - - Q5 ,617 - - Q6 ,678 - - Q7 ,354 - -

Felicidade

Q8 - ,507 - Q9 - ,725 -

Q10 - ,364 - Q11 - ,816 - Q12 - ,767 -

Sucesso

Q13 - - ,765 Q14 - - ,751 Q15 - - ,042 Q16 - - ,614 Q17 - - ,687 Q18 - - ,059

Alfa de Cronbach 0,664 0,682 0,661

Verifica-se na Tabela 18 que as dimensões Centralidade, Felicidade e

Sucesso apresentaram questões que estavam com cargas fatoriais baixas

(destaques em cinza) se comparadas as demais questões do mesmo fator, o que

representa uma baixa correlação com o fator ao qual pertencem. Mesmo com a

exclusão dessas questões o alfa de Cronbach destes não ultrapassou a 0,7, mas

apresentou melhorias expressivas com alfas superiores a 0,6, que é considerado

aceitável. (HAIR JÚNIOR et al., 2005). De uma forma geral, o materialismo

apresentou índice de confiabilidade satisfatório para as análises (0,782).

Aplicada a purificação dos dados com a utilização da análise fatorial, o

construto de materialismo, neste estudo, será representado pelas questões que

constam na Tabela 19.

Tabela 19 – Questões utilizadas para mensurar o materialismo Dimensões Afirmações

Centralidade

Q1 Geralmente, compro apenas aquilo de que preciso. Q2 Tento manter a minha vida simples, no que diz respeito aos meus bens

materiais.

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Q4 Gosto de gastar dinheiro em coisas que não são necessárias. Q5 Comprar coisas dá-me imenso prazer. Q6 Gosto de muito luxo na minha vida.

Felicidade

Q8 Tenho todas as coisas de que preciso para ser feliz. Q9 A minha vida seria melhor se possuísse coisas que não tenho.

Q11 Seria mais feliz se tivesse dinheiro para comprar mais coisas. Q12 Às vezes, entristece-me um pouco que não possa comprar todas as coisas

que quero.

Sucesso Q13 Admiro pessoas que possuem carros, casas e roupas caras. Q14 Alguns dos feitos mais importantes na vida incluem adquirir bens materiais. Q16 As coisas que tenho dizem muito sobre o sucesso que tenho tido na vida. Q17 Gosto de ter coisas para impressionar as pessoas.

Alfa de Cronbach 0,782

Para o construto de consumo excessivo, assim como exposto na Tabela 17, é

possível identificar que as cargas fatoriais foram satisfatórias e os alfas de Cronbach

altos, variando entre 0,759 e 0,879. Por esse motivo, não foi necessária a exclusão

de variáveis. Os mesmos procedimentos estatísticos aplicados ao construto de

materialismo foram realizados com as variáveis e dimensões da propensão ao

endividamento, pois não alcançaram os índices considerados por Cronbach (1951),

Malhotra (2001) e Hair Júnior e colaboradores (2005). Os resultados são

apresentados na Tabela 20.

Tabela 20 – Purificação do construto de propensão ao endividamento

Dimensões e afirmações Cargas Fatoriais

Impacto Moral na Sociedade

Preferência do Tempo

Grau de Autocontrole

Impacto Moral na Sociedade

Q1 ,680 - - Q2 ,536 - - Q3 ,595 - -

Preferência do Tempo Q4 - ,417 - Q5 - ,864 - Q6 - ,876 -

Grau de Autocontrole Q7 - - ,804 Q8 - - -,814 Q9 - - ,330

Alfa de Cronbach 0,123 0,757 0,134/ 1,000

A análise da dimensão Impacto Moral na Sociedade não apresentou escores

abaixo de 0,5, porém obteve alfa de Cronbach de 0,123. Assim, essa dimensão não

apresentou a confiabilidade desejada para se prosseguir as análises. Da mesma

forma, a dimensão Grau de Autocontrole apresentou baixo alfa de Cronbach e duas

questões comprometiam o fator, dessa maneira, optou-se por excluí-las das análises

(destaques em cinza). A representação da propensão ao endividamento será

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realizada pelas questões: Q1, Q5, Q6 e Q7. A Tabela 21 sumariza essas

informações.

Tabela 21 – Questões utilizadas para mensurar a propensão ao endividamento Dimensões Afirmações

Impacto Moral Q1 Não é certo gastar mais do que ganho. Preferência do Tempo Q5 É melhor primeiro juntar dinheiro e só depois gastar.

Q6 Prefiro pagar parcelado mesmo que no total seja mais caro. Grau de Autocontrole Q7 Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou

banco. Alfa de Cronbach 0,623

De acordo com a apresentação da Tabela 21, é possível compreender que o

construto de propensão ao endividamento será representado por quatro variáveis

dispostas em três dimensões. A partir da purificação dos dados, encontrou-se o alfa

de 0,623 que, de acordo com os autores Cronbach (1951) e Malhotra (2001), são

fiéis para os estudos quantitativos.

Diante das variáveis que foram utilizadas para a mensuração das atitudes de

consumo, vale ressaltar que os três construtos deste estudo continham afirmações

reversas. Essa técnica permite identificar a veracidade das respostas dos indivíduos.

O construto de Materialismo continha três variáveis deste tipo (Q1, Q2 e Q8), assim

como o consumo excessivo (Q13, Q14 e Q15) e propensão ao endividamento (Q1 e

Q7). O procedimento recomendado é converter a escala ao tabular os dados:

quando os estudantes assinalaram no questionário o número 1, este foi alterado

para 7, o 2 para 6, o 3 para 5 e assim sucessivamente. São expostas outras

informações nos resultados de cada construto neste trabalho.

4.3 MATERIALISMO

O construto de Richins e Dawson (1992), baseado em três diferentes

dimensões – centralidade, felicidade e sucesso – foi reaplicado por esta pesquisa.

Conforme os dados discutidos no tópico anterior deste estudo, foi calculado o alpha

de Cronbach para validade de 18 itens e, com a exclusão das questões Q3, Q7,

Q10, Q15 e Q18, este alfa resultou em 0,739. Assim, as informações descritivas pelo

construto são dispostas na Tabela 22.

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Tabela 22 – Médias e desvios padrão do construto de materialismo Dimensões Afirmações Média Desvio

Padrão

Centralidade Q1 Geralmente, compro apenas aquilo de que preciso. 3,822 1,6439

Q2 Tento manter a minha vida simples, no que diz respeito aos meus bens materiais.

3,689 1,6053

Q4 Gosto de gastar dinheiro em coisas que não são necessárias.

2,986 1,8389

Q5 Comprar coisas dá-me imenso prazer. 4,133 1,8531

Q6 Gosto de muito luxo na minha vida. 3,316 1,7374

Felicidade Q8 Tenho todas as coisas de que preciso para ser feliz. 3,552 1,9001

Q9 A minha vida seria melhor se possuísse coisas que não tenho.

3,839 1,9623

Q11 Seria mais feliz se tivesse dinheiro para comprar mais coisas.

4,655 1,8322

Q12 Às vezes, entristece-me um pouco que não possa comprar todas as coisas que quero.

4,222 1,8777

Sucesso Q13 Admiro pessoas que possuem carros, casas e roupas caras.

2,981 1,8017

Q14 Alguns dos feitos mais importantes na vida incluem adquirir bens materiais.

2,949 1,6911

Q16 As coisas que tenho dizem muito sobre o sucesso que tenho tido na vida.

3,855 1,9295

Q17 Gosto de ter coisas para impressionar as pessoas. 2,790 1,7312

Como é possível identificar na Tabela 22, as afirmações Q1 (3,822),

“Geralmente, compro apenas aquilo de que preciso”, Q2 (3,689), “Tento manter a

minha vida simples, no que diz respeito aos meus bens materiais” e Q6 (3,316),

“Gosto de muito luxo na minha vida” , referentes à Centralidade, mantiveram sua

média entre 3 e 4 pontos, dentre a variação de 1 a 7. A afirmação Q5 (4,133),

“Comprar coisas dá-me imenso prazer”, manteve a sua média mais alta, enquanto a

Q4 (2,986), “Gosto de gastar dinheiro em coisas que não são necessárias”, foi a

menor registrada em Centralidade. Ao identificar esses valores, é possível

considerar que os estudantes pesquisados são amplamente ligados aos objetos que

possuem ou que compraram e não utilizam o seu dinheiro para comprar produtos

que não possuem valor significativo para eles. A média geral de 3,589, obtida pela

dimensão Centralidade, mostra que os jovens não estão muito centrados e seguros

com os atos de compra e consumo.

Para as variáveis que foram propostas para medir a dimensão Felicidade, não

houve nenhuma média registrada abaixo de 3 pontos e os maiores escores

registrados foram nas afirmações: Q11 (4,655) “Seria mais feliz se tivesse dinheiro

para comprar mais coisas” e Q12 (4,222) “Às vezes, entristece-me um pouco que

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97

não possa comprar todas as coisas que quero”. Esses índices indicam que o

acúmulo de bens e posses ligados à sensação de bem-estar possui representação

na amostra do estudo. Considera-se que os estudantes tratam o dinheiro como um

recurso para trazer bem-estar com o consumo. A média geral da dimensão foi

marcada por 4,067 pontos, na variação entre 1 e 7 da escala Likert utilizada.

Como mostra a Tabela 22, o Sucesso teve a maior média registrada pela Q16

(3,855), “As coisas que tenho dizem muito sobre o sucesso que tenho tido na vida”,

e as demais afirmações se mantiveram entre 2 e 3 ou 3 a 4 pontos. Os resultados

expostos na Tabela 20 retratam que jovens baseiam-se no sucesso pessoal e

profissional pelo número de objetos que conquistaram durante sua vida, registrado

pela Q16. Os valores que possam indicar vestígios de inveja, demarcados por Q13

(2,981), “Admiro pessoas que possuem carros, casas e roupas caras”, e Q17

(2,790), “Gosto de ter coisas para impressionar as pessoas”, possuíram escores

baixos. Em geral, a medida de Sucesso obteve a média de 3,144 pontos.

Como descrito na Tabela 22, os entrevistados possuíram índices

representativos de materialismo, uma vez que a menor média registrada foi de 2,981

na dimensão Sucesso e 4,655 dentro da dimensão Felicidade. Como o estudo

aplicado por Richins e Dawson (1992), a pesquisa utilizou a média para analisar as

atitudes materialistas dos pesquisados.

Vale destacar que as variáveis Q1, Q2 e Q8 eram reversas, ou seja, serviam

para testar a verdade das respostas da amostra. Para as próximas análises, esses

valores foram convertidos, pois com tal modificação apresentam-se os valores

corretos que indicam as atitudes materialistas dos indivíduos. A Tabela 23 aponta

esses índices.

Tabela 23– Médias gerais do construto de materialismo com afirmativas reversas Dimensões e variáveis Média Média

alterada

Centralidade Q1 Geralmente, compro apenas aquilo de que preciso. 3,822

Geralmente, não compro apenas aquilo de que preciso.

4,189

Q2 Tento manter a minha vida simples, no que diz respeito aos meus bens materiais.

3,689

Não mantenho a minha vida simples, no que diz respeito aos meus bens materiais.

4,311

Q4 Gosto de gastar dinheiro em coisas que não são necessárias.

2,986 2,986

Q5 Comprar coisas dá-me imenso prazer. 4,133 4,133

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Q6 Gosto de muito luxo na minha vida. 3,316 3,316

Média geral dimensão Centralidade 3,589 3,788

Felicidade Q8 Tenho todas as coisas de que preciso para ser feliz. 3,552

Não tenho todas as coisas de que preciso para ser feliz.

4,229

Q9 A minha vida seria melhor se possuísse coisas que não tenho.

3,839 3,839

Q11 Seria mais feliz se tivesse dinheiro para comprar mais coisas.

4,655 4,655

Q12 Às vezes, entristece-me um pouco que não possa comprar todas as coisas que quero.

4,222 4,222

Nova média geral dimensão Felicidade 4,067 4,344

Sucesso Nova média geral dimensão Sucesso 3,144 3,144

Nova média geral do construto de materialismo 3,602 3,759

Diante da reversão dos valores expostos na Tabela 23, nas variáveis Q1, Q2

e Q8 (destaques em cinza), é possível relatar alteração no índice geral de

materialismo dos indivíduos. A dimensão Centralidade obteve a média geral em

3,788 e Felicidade, 4,344. A dimensão Sucesso não continha nenhuma afirmação

reversa, ou seja, manteve-se a média de 3,144 pontos.

Todos esses dados reforçam os comentários anteriores. Diante do número

representativo das médias no construto de materialismo, os jovens pesquisados

indicaram consumir geralmente aquilo que não precisam (Q1), além de não

manterem suas vidas simples e não possuir todos os objetos que queriam para a

sua felicidade (Q2 e Q8). Dessa forma, a média final de materialismo foi de 3,759.

A partir dessas informações, assim como os autores Richins e Dawson

(1992), foram feitas relações entre o materialismo e as variáveis sociodemográficas

dos entrevistados: idade, gênero, estado civil, dívidas e classes econômicas. Para

tanto, foi aplicado o teste t para amostras independentes. A Tabela 24 sumariza

esses dados, que são discutidos a seguir.

Tabela 24 – Variáveis sociodemográficas e materialismo Variáveis Alternativas Média t

Idade Até 20 completos 3,714 1,435** 21 a 30 anos completos 3,515

Gênero Masculino 3,583 2,292** Feminino 3,607

Estado Civil Solteiro (a) / Separado (a) Viúvo (a) 3,613 4,023** Casado (a) / Mora Junto (a) 3,533

Endividados Sim 3,618 4,016**

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Não 3,580 Classes Econômicas A1, A2, B1 e B2 somadas (alta renda) 3,610 2,504*

C1, C2 e D somadas (baixa renda) 3,565 Nota: * Significativo em p<0,05; ** Significativo em p<0,01

Em relação às atitudes positivas ao materialismo e à idade dos entrevistados,

os resultados deste estudo são iguais aos indicados por Richins e Dawson (1992),

Richins (1994), Watson (1998, 2003) e Wong (1997), pois tais autores entenderam

que existem grupos de idades mais materialistas que outros. Na Tabela 24 é

possível identificar que indivíduos mais jovens (3,714) possuem as maiores médias

no construto de materialismo em relação aos estudantes com idade entre 21 e 30

anos (3,515).

As diferenças entre as médias dos gêneros se comportaram com baixa

diferença entre os valores, pois homens (3,583) foram um pouco menos

materialistas que mulheres (3,607). Tal resultado corrobora os estudos de Belk

(1984, 1985), Richins e Dawson (1992) e Richins (2004) que encontraram os

mesmos resultados. Solteiros, separados ou estudantes que eram viúvos durante a

realização da pesquisa indicaram maior índice de materialismo (3,613) em

comparação com o grupo de casados ou que moravam juntos (3,533).

Optou-se por avaliar as atitude positivas ao materialismo dos grupos de

endividados. Apesar da baixa diferença entre os índices, os resultados corroboram

os encontrados por Watson (1998, 2003). Os estudantes que afirmaram possuir

débito (3,618) foram mais materialistas que o grupo de não endividados (3,580).

Para as classes econômicas, os dados se mantiveram estáveis, tanto para as altas

rendas (3,610), enquadradas em A1, A2, B1 e B2, quanto para a baixa renda

(3,565), que compreende os indivíduos de C1, C2 e D. Como esperado, as classes

mais elevadas teriam as maiores médias entre os grupos. Richins (2004) e Watson

(1998, 2003) descreveram que as classes inferiores, nos seus estudos, possuíram a

maior média de materialismo, o que contraria os resultados, uma vez que o maior

escore foi encontrado para os indivíduos de rendas mais altas.

Apesar dos itens anteriores descreverem as médias junto às variáveis

sociodemográficas dos entrevistados, foram relacionados tais dados às atitudes

positivas ao materialismo com o intuito de verificar possíveis correlações. Para isso,

dois índices foram gerados: Sperman e Pearson.

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100

Para a correlação entre materialismo e gênero, utilizou-se o coeficiente de

Spearman para medir a intensidade entre as variáveis ordinais, como mostra a

Tabela 25. Hair Júnior e colaboradores (2005) determina que os valores devem

seguir: i) correlação leve, quase imperceptível (0,01 a 0,20); ii) correlação pequena,

mas definida (0,21 a 0,40); iii) correlação moderada (0,41 a 0,70); iv) alta correlação

(0,71 a 0,90); v) correlação muito forte (0,91 a 1,00).

Tabela 25 – Correlações de Spearman entre gênero e materialismo Construto e dimensões Correlações de Spearman com:

Gênero * Centralidade -0,049

Sig. (bicaudal) 0,322 Felicidade 0,026

Sig. (bicaudal) 0,603 Sucesso -0,017

Sig. (bicaudal) 0,733 Construto Geral Materialismo -0,013

Sig. (bicaudal) 0,794 Nota: * Significativo em p<0,01

Na Tabela 25, é possível compreender que o construto de materialismo não

obteve valor representativo, ou seja, nenhuma correlação foi estatisticamente

comprovada. Vale ressaltar que nas dimensões Centralidade e Sucesso, assim

como no construto geral de materialismo, os valores foram negativos. Esses índices

indicam que o gênero se comporta em sentido contrário ao das dimensões e do

construto. Tais dados também foram encontrados nos estudos de Belk (1984, 1985),

Richins e Dawson (1992), Richins (1994) e Watson (1998, 2003).

Para a idade e as classes econômicas dos entrevistados, utilizou-se a matriz

de Correlação de Pearson, que é definida por Hair Júnior e colaboradores (2005)

como a mensuração da associação linear entre duas variáveis. De acordo com

Pestana e Gageiro (2003), as correlações devem ser assim classificadas: valores

menores que 0,2 indicam correlação muito baixa; entre 0,2 e 0,39 baixa; entre 0,40 e

0,69 moderada; entre 0,7 e 0,9 alta e acima de 0,9 muito alta. A Tabela 26 resume

os valores.

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Tabela 26 – Correlações entre idade, classes econômicas e materialismo

Construto e Dimensões Correlações de Pearson com: Idade Classes Econômicas

Centralidade 0,172* 0,129** Sig. (bicaudal) ,0000 0,009

Felicidade 0,051* 0,078** Sig. (bicaudal) 0,303 0,112

Sucesso 0,042* 0,063** Sig. (bicaudal) 0,396 0,199

Construto Geral Materialismo 0,102* 0,130** Sig. (bicaudal) 0,038 0,008

Nota: * Significativo em p<0,01; ** Significativo em p<0,05

Com os dados da Tabela 26, compreende-se que as correlações assumiram

valores baixos, tanto para idade (0,102) quanto para classes econômicas (0,130).

Esses índices também foram encontrados por Belk (1984, 1985), Dawson e

Bambossy (1990), Richins e Dawson (1992), Richins (1994), Micken (1995) e

Watson (1998, 2003). Isso demonstra que, tanto na idade quanto nas classes

econômicas, os valores não indicaram força e direção do relacionamento linear, ou

seja, não se pode afirmar relacionamento entre as variáveis de análise.

No estudo desenvolvido por Richins e Dawson (1992) observou-se que os

indivíduos com níveis altos de materialismo teriam dificuldade de poupar dinheiro e

seriam propensos a gastar mais do que suas rendas financeiras. Com base nas

afirmações dos autores, este estudo verificou as médias com as duas atitudes de

consumo. A Tabela 27 indica as informações.

Tabela 27 – Médias de materialismo com níveis de gastos, consumo e economia Escala entre 1 e 7 Média de Materialismo Escala entre 1 e 7 Média de Materialismo

1 Gasto menos que ganho

3,482 1 Nunca consigo guardar

3,789 2 2 3 Gasto igual ao

que ganho 3,647 3 Algumas vezes

consigo guardar 3,623

4 4 5 5 6 Gasto mais que

ganho 3,659 6 Sempre consigo

guardar 3,611

7 7

Os resultados encontrados na Tabela 27 sustentam os comentários dos

autores Richins e Dawson (1992). Aqueles estudantes que indicaram consumir mais

do que ganham obtiveram a maior média no construto de materialismo, 3,659, contra

“igual ao que ganho” (3,647) e “gasto menos que ganho” (3,482). Esse dado se

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repete com a atitude de poupar o dinheiro, pois as pessoas com maior dificuldade

econômica atingiram a média de 3,789 mais alta no construto.

4.4 CONSUMO EXCESSIVO

A avaliação do consumismo dos participantes desta pesquisa aconteceu pela

reaplicação das afirmações traduzidas de Wu (2006). Tal mensuração parte de cinco

dimensões diferentes que, somadas, indicam o consumo excessivo: atração por

produtos como sinal de status; prazer em comprar; compra inconsequente; compra

por emoção / excitação e autocontrole financeiro.

Com essas cinco dimensões foi calculado o alpha de Cronbach para validade

do construto com 15 itens e resultou em 0,903. Esse mesmo indicador foi analisado

com as cinco dimensões separadas e todas obtiveram alfas consistentes para

continuar os estudos: Atração por produtos como sinal de status (0,778); Prazer em

comprar (0,879); Compra inconsequente (0,797); Compra por emoção / excitação

(0,874) e o Autocontrole financeiro (0,759).

Novamente, esses valores de confiabilidade, conforme Hair Júnior e

colaboradores (2005), possuem fidedignidade, pois índices iguais ou acima de 0,70

são aceitáveis para os estudos quantitativos. Diante disso, os resultados descritivos

do construto são expostos na Tabela 28.

Tabela 28 – Médias e desvios padrão do construto de consumo excessivo dos entrevistados Dimensões Afirmações Média Desvio

Padrão

Atração por produtos como sinal de status

Q1 Eu gosto de muito luxo na minha vida, embora eu possa não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas contas.

2,253 1,585

Q2 Eu compro os objetos materiais como sinal de sucesso, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.

1,884 1,355

Q3 Eu tenho muito prazer em comprar coisas agradáveis, embora eu tenha dificuldade financeira.

2,617 1,721

Média geral da dimensão atração por produtos 2,251

Prazer em comprar

Q4 Comprar é uma forma de me sentir melhor, mesmo que depois eu possa enfrentar dificuldades financeiras.

2,311 1,648

Q5 Quando estou com um baixo emocional, eu gasto mais do que eu deveria com base na minha condição financeira.

2,313 1,740

Q6 Para mim, fazer compras é uma maneira de aliviar o estresse, embora eu talvez tenha que enfrentar dificuldades financeiras.

2,202 1,623

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Média geral da dimensão prazer em comprar 2,275

Compra inconsequente

Q7 Muitas das vezes eu compro algo que realmente quero sem pensar muito, embora eu não deveria comprá-lo com base nas minhas condições financeiras.

3,190 1,994

Q8 É típico que eu passe por imprudente por não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.

1,793 1,359

Q9 Durante as compras, muitas vezes eu gasto mais do que eu deveria (com base nas minhas condições financeiras) sem que eu perceba isso.

2,427 1,704

Média geral da dimensão compra inconsequente 2,470

Compra por emoção / excitação

Q10 Eu gasto muito quando estou de bom humor, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.

2,046 1,446

Q11 Quando eu estou bem emocionalmente, compro um monte de coisas, embora eu não tenha dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.

1,841 1,309

Q12 Eu gosto de fazer compras quando estou de bom humor, embora compre coisas que eu não deveria, se pensar na minha situação financeira

2,111 1,496

Média geral da dimensão compra por emoção 1,999

Autocontrole financeiro

Q13 Eu acompanho bem as minhas despesas, para fins de orçamento.

2,961 1,787

Q14 Eu realmente posso impedir-me de comprar coisas que eu não deveria, se eu pensar na minha situação financeira.

2,781 1,765

Q15 Eu examino e avalio o meu comportamento de compra, com a finalidade de cuidar do meu orçamento.

2,894 1,787

Média geral da dimensão autocontrole financeiro 2,878

Na primeira dimensão do construto, compreendida pela representação da

compra por status ou ascensão social, a maior média foi registrada pela Q3 (2,617),

“Eu tenho muito prazer em comprar coisas agradáveis, embora eu tenha dificuldade

financeira”. A média geral da dimensão atingiu o escore de 2,251, o que indicou

valores baixos de consumismo dos entrevistados, ou seja, o consumo pode não

representar status e produtos não indicam posição social para os estudantes. Esse

mesmo resultado pode ser encontrado na segunda dimensão, que mediu o prazer

em comprar, pois as questões Q4 (2,311), “Comprar é uma forma de me sentir

melhor, mesmo que depois eu possa enfrentar dificuldades financeiras”, Q5 (2,313),

“Quando estou com um baixo emocional, gasto mais do que eu deveria com base na

minha condição financeira”, e Q6 (2,202), “Para mim, fazer compras é uma maneira

de aliviar o estresse, embora eu talvez tenha que enfrentar dificuldades financeiras”,

mantiveram médias moderadas no construto. A média geral da dimensão “prazer em

comprar” marcou 2,275.

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A terceira dimensão, que visou a mensurar o nível dos consumidores em

adquirir objetos sem pensar nas suas situações financeiras – compra inconsequente

– obteve a média de 2,470. Na dimensão anterior, pôde-se compreender que os

estudantes da pesquisa, por vezes, compravam objetos para suprir carências

afetivas e baixa autoestima.

Assim, na compra inconsequente, a maior média foi registrada pela Q7

(3,190), “Muitas das vezes eu compro algo que realmente quero sem pensar muito,

embora eu não deveria comprá-lo com base nas minhas condições financeiras”, e

indica a inconsequência e a falta do planejamento de compras. Já as afirmações Q8

(1,793) “É típico para mim, passar por imprudente, por não ter dinheiro suficiente

para pagar todas as minhas compras” e Q9 (2,427) “Durante as compras, muitas

vezes eu gasto mais do que eu deveria (com base nas minhas condições

financeiras) sem que eu perceba isso”, obtiveram baixos escores no construto.

Na Tabela 28, pôde-se compreender que a compra por emoção ou excitação

do consumidor obteve as menores médias de todo o construto (1,999). Esse

resultado confirma os indícios citados anteriormente de que, apesar do alto nível de

endividados da amostra (233), o estado emocional das pessoas não possui

influência no comportamento de compra, pois as afirmações Q10 (2,046), “Eu gasto

muito quando estou de bom humor, embora as compras possam me colocar em

dificuldades financeiras”, Q11 (1,841), “Quando eu estou bem emocionalmente

compro um monte de coisas, embora eu não tenha dinheiro suficiente para pagar

todas as minhas compras”, e Q12 (2,111), “Eu gosto de fazer compras quando estou

de bom humor, embora compre coisas que não deveria, se pensar na minha

situação financeira”, mantiveram baixas médias na dimensão.

Embora este estudo tenha utilizado outras afirmações para mensurar o

controle financeiro dos estudantes, optou-se por manter a dimensão Autocontrole do

construto de Wu (2006), já que ela é plenamente compatível com os objetivos deste

trabalho. Dessa maneira, obtiveram-se duas oportunidades que podiam medir a

capacidade de controlar os gastos dos pesquisados. As médias dessa dimensão,

conforme a Tabela 28, marcaram baixos escores, o que indicou a falta de controle e

gestão financeira dos estudantes, registradas por Q13 (2,961), “Eu acompanho bem

as minhas despesas, para fins de orçamento”, Q14 (2,781), “Eu realmente posso

impedir-me de comprar coisas que eu não deveria, se eu pensar na minha situação

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105

financeira”, e Q15 (2,894), “Eu examino e avalio o meu comportamento de compra,

com a finalidade de cuidar do meu orçamento”.

Os estudantes representaram índices medianos de consumo, pois a maior

média foi registrada pela dimensão compra inconsequente, na variável Q7 (3,190).

Isso indica que, por muitas vezes, os estudantes passam a não controlar os seus

impulsos de compra, levando-os ao endividamento. No entanto, o menor escore foi

encontrado na mesma dimensão. A questão Q8 registrou a média de 1,793 e

discutiu a imprudência de compra.

O construto de Wu (2006) obteve bom desempenho nas dimensões e

variáveis de análise, consideradas pelo alfa de Cronbach e pela capacidade de

captar a variabilidade (desvio padrão) entre os entrevistados. Como a pesquisa

aplicada pelo autor, este estudo utilizou-se das médias para conferir os papéis de

compra dos universitários pesquisados. Os índices constituídos pelas cinco

dimensões de Wu (2006) indicaram que – para a amostra estudada – estudantes

possuem moderada consciência de compra.

Como o construto de materialismo dos autores Richins e Dawson (1992), o

consumo excessivo de Wu (2006) também conteve as alternativas reversas com o

intuito de verificar a veracidade dos estudantes em responder o questionário (Q13,

Q14 e Q15). A Tabela 29 resume as médias gerais dos construtos e suas devidas

modificações nos valores das variáveis (destaques em cinza).

Tabela 29 – Médias gerais do construto de consumo excessivo com afirmações reversas Dimensões e afirmações Média Média alterada

D1 Atração por produtos como sinal de status 2,251 - D2 Prazer em comprar 2,275 - D3 Compra inconsequente 2,470 - D4 Compra por emoção / excitação 1,999 - D5 Autocontrole financeiro 2,878 5,130

Q13 Eu acompanho bem as minhas despesas, para fins de orçamento.

2,961

Eu não acompanho bem as minhas despesas, para fins de orçamento.

5,0433

Q14 Eu realmente posso impedir-me de comprar coisas que eu não deveria, se eu pensar na minha situação financeira.

2,781

Eu realmente não posso impedir-me de comprar coisas que eu não deveria, se eu pensar na minha situação financeira.

5,2212

Q15 Eu examino e avalio o meu comportamento de compra, com a finalidade de cuidar do meu orçamento.

2,894

Eu não examino e avalio o meu comportamento de compra, com a finalidade de cuidar do meu orçamento.

5,1138

Média geral do construto de consumo excessivo 2,375 2,825

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106

Como exposto na Tabela 29, as afirmações Q13, Q14 e Q15 (destaques em

cinza) sofreram modificações nos valores. Entretanto, nas dimensões D1, D2, D3 e

D4 não existiam as afirmações reversas. Houve o aumento da média do construto

de consumo excessivo, pois finalizou em 2,825. Esses índices reforçam os

comentários anteriores, pois os jovens estudantes indicaram a dificuldade de

controle e gestão financeira dos rendimentos financeiros. As próximas análises

aconteceram pela média alterada da dimensão D5, pois com essa modificação são

demonstrados os valores que indicam o consumo excessivo dos indivíduos.

A partir das médias expostas foram realizadas análises cruzadas entre o

consumismo e as variáveis sociodemográficas dos entrevistados: idade, gênero,

estado civil, dívidas e classes econômicas. Para tanto, foi aplicado o teste t para

amostras independentes. A Tabela 30 identifica os valores e são discutidos a seguir.

Tabela 30 – Variáveis sociodemográficas e o construto de consumo excessivo Variáveis Alternativas Média t

Idade Até 20 completos 2,4552 1,8797** 21 a 30 anos completos 2,3658

Gênero Masculino 2,4338 3,2463** Feminino 2,3482

Estado Civil Solteiro (a) / Separado (a) Viúvo (a) 2,4397 1,5944* Casado (a) / Mora Junto (a) 2,2264

Dívidas Sim 2,4495 1,9317* Não 2,2559

Classes Econômicas A1, A2, B1 e B2 somadas (alta renda) 2,4543 1,0132* C1, C2 e D somadas (baixa renda) 2,4868

Nota: * Significativo em p<0,05; ** Significativo em p<0,01

Na Tabela 30 não ocorreram diferenças significativas entre o gênero dos

entrevistados e as médias do construto, pois as médias das acadêmicas (2,348) e os

homens (2,4338) não ultrapassaram 0,2 pontos de diferença. Wu (2006) não

realizou comparações entre o gênero e seu construto de consumo excessivo. No

entanto, Dittmar e Drury (2005) e Ridgway e colaboradores (2006, 2008)

descreveram que as maiores médias de consumo excessivo, na amostra pesquisada

pelos autores, foi masculino, o que corrobora os resultados deste estudo.

Faber e O`Guinn (1989), Black (1996), Dittmar e Drury (2005), Wu (2006) e

Ridgway (2006, 2008) encontraram relação entre o consumo excessivo e as baixas

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107

idades dos pesquisados. Esta pesquisa aplicada chegou aos mesmos resultados,

pois indivíduos com até 20 anos obtiveram a média de 2,455 e os estudantes com

idade entre 21 e 30 anos, 2,365. O estado civil dos entrevistados marcaram

diferenças significativas no cruzamento dos dados. Estudantes solteiros, separados

ou viúvos (2,439) assumiram consumir mais do que os alunos casados (2,226).

A literatura abordada por Wu (2006) indica que o endividamento pode ser a

causa do consumo excessivo. Nesta pesquisa, os alunos que estavam em débito

financeiro (2,449) se demonstraram mais consumistas do que aqueles que não

possuíam dívidas (2,255). No entanto, as classes econômicas A e B (alta renda)

indicaram o menor escore no construto (2,454) e C e D (baixa renda) a maior média

(2,486). Os resultados encontrados neste trabalho seguem os mesmos achados por

Faber e O`Guinn (1989), Black (1996), Ridgway (2006, 2008), pois descreveram as

classes inferiores com os maiores índices de consumo.

Embora os itens anteriores comparassem as médias do consumo excessivo e

as variáveis sociodemográficas dos estudantes, buscou-se verificar as correlações

entre esses dados. Tais índices foram gerados a partir da matriz de Correlação

Spearman para o gênero e Pearson para idade e classes econômicas.

Novamente, seguiram-se as instruções de Hair Júnior e colaboradores (2005),

pois determinam que os valores devem seguir: i) correlação leve, quase

imperceptível (0,01 a 0,20); ii) correlação pequena, mas definida (0,21 a 0,40); iii)

correlação moderada (0,41 a 0,70); iv) alta correlação (0,71 a 0,90); v) correlação

muito forte (0,91 a 1,00). A Tabela 31 evidencia os valores da matriz.

Tabela 31 – Correlação de Spearman entre consumo excessivo e gênero. Construto e dimensões Correlações de Spearman com:

Gênero * Atração por Produtos como Sinal de Status 0,026

Sig. (bicaudal) -0,591 Prazer em Comprar -0,001

Sig. (bicaudal) 0,977 Compra Inconsequente 0,064

Sig. (bicaudal) 0,194 Compra por Emoção / Excitação 0,081

Sig. (bicaudal) 0,097 Autocontrole Financeiro -0,046

Sig. (bicaudal) 0,348 Construto Geral Consumo Excessivo 0,025

Sig. (bicaudal) 0,605 Nota: * Significativo em p<0,01

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Todos os resultados da Tabela 31 apontaram que nenhuma correlação pode

ser realizada – dados os valores baixos ou negativos de Spearman – entre a variável

do estudo e as dimensões do construto, ou seja, não se pode afirmar que existe

associação entre o gênero e o consumismo. Embora o resultado tenha gerado isso,

nenhum estudo foi encontrado que tenha aplicado os mesmos tratamentos

descritivos.

A aplicação da Correlação de Pearson para consumo excessivo versus idade

e classes sociais foi realizada. Para isso, observaram-se os índices seguidos por

Pestana e Gageiro (2003) para os quais as correlações devem seguir: valores

menores que 0,2 indicam correlação muito baixa; entre 0,2 e 0,39 baixa; entre 0,40 e

0,69 moderada; entre 0,7 e 0,9 alta e acima de 0,9 muito alta.

Tabela 32 – Correlações de Pearson entre idade, classes econômicas e consumo excessivo

Construto e Dimensões

Correlações de Pearson com:

Idade Classes Econômicas 2

Atração por Produtos como Sinal de Status 0,089* 0,013*

Sig. (bicaudal) 0,070 0,796

Prazer em Comprar 0,016* -0,081*

Sig. (bicaudal) 0,744 0,100

Compra Inconsequente 0,000* -0,002*

Sig. (bicaudal) 0,998 0,967

Compra por Emoção / Excitação -0,003* -0,027*

Sig. (bicaudal) 0,957 0,581

Autocontrole Financeiro -0,046* 0,006*

Sig. (bicaudal) 0,346 0,904

Construto Geral Consumo Excessivo 0,013* -0,025*

Sig. (bicaudal) 0,793 0,607

Nota: * Significativo em p<0,01

Para as correlações geradas com o construto e a idade dos pesquisados não

houve nenhuma dimensão que possa ser considerada nesta pesquisa, pois todos os

dados se mantiveram abaixo do esperado, assim como os resultados do construto

geral, que marcou o valor de -0,025. Os estudos relacionados na fundamentação

teórica deste trabalho, assim como as análises com os outros autores não

mostraram a relação entre o construto e a idade dos consumidores. Tais

considerações podem ser enquadradas, também, para a correlação entre consumo

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excessivo e classes econômicas, uma vez que nenhum estudo aplicou a correlação

entre essas variáveis.

4.5 PROPENSÃO AO ENDIVIDAMENTO

A mensuração da propensão ao endividamento dos estudantes pesquisados

foi realizada com o questionário desenvolvido por Moura (2005), adaptado do

construto de Lea Webley e Walker (1995). Esse primeiro instrumento de pesquisa foi

realizado com 17 afirmações, aplicado a uma amostra de clientes norte-americanos.

Já a pesquisa de Moura (2005) foi feita com famílias do município de São Paulo, no

Brasil.

Como descrito no item 4.2 deste estudo, a mensuração da propensão ao

endividamento da amostra pesquisada foi realizada com as variáveis Q1, Q5, Q6 e

Q7, distribuídas nas três dimensões do instrumento. A Tabela 33 aponta as médias

e os desvios padrão encontrados nesse construto.

Tabela 33 – Médias e desvios padrão do construto de propensão ao endividamento Dimensões Afirmações Média Desvio

Padrão Impacto Moral Q1 Não é certo gastar mais do que ganho. 1,399 1,008 Preferência do Tempo

Q5 Prefiro comprar parcelado a esperar ter dinheiro para comprar à vista.

3,212 1,089

Q6 Prefiro pagar parcelado mesmo que no total seja mais caro.

2,397 1,848

Grau de Autocontrole Q7 Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco.

2,341 1,912

Na Tabela 31 a afirmação Q1 (1,399), “Não é certo gastar mais do que

ganho”, indica o julgamento que a sociedade faz dos devedores e obteve a menor

média do construto. Esse índice pode explicar a indiferença que a amostra mostrou,

diante da maior ou menor aceitação e tolerância social dos endividados, ou seja, a

imagem social não interfere na vida dessas pessoas.

A segunda dimensão, composta pelas variáveis Q5 (3,212), “Prefiro comprar

parcelado a esperar ter dinheiro para comprar à vista”, e Q6 (2,397), “Prefiro pagar

parcelado mesmo que no total seja mais caro”, refere-se às opções dos indivíduos

entre valor e tempo, consumir hoje ou consumir no futuro, ou seja, a paciência em

adiar o consumo e juntar o dinheiro para adquirir o bem à vista, reduzindo os juros

dos bens.

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Para a amostra deste trabalho, com um número significativo de estudantes

endividados, parte dos pesquisados prefere aguardar o tempo para consumir a

comprar à vista e passar por problemas financeiros. A habilidade de tomar decisões

financeiras e manter o orçamento sob controle, indicada pela Q7 (2,341), “Eu sei

exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco”, manteve baixa

média no construto. Esse índice pode indicar a dificuldade dos estudantes em gerir

os seus recursos.

Vale destacar que as afirmações Q1, “Não é certo gastar mais do que ganho”,

e Q7, “Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco”, eram

reversas, ou seja, serviam para apontar a veracidade de respostas. Para as

próximas análises estatísticas esses valores foram revertidos (destaques em cinza).

A Tabela 34 evidencia essas alterações.

Tabela 34 – Médias das alternativas reversas Dimensões Afirmações Média Média alterada

Impacto Moral Q1 Não é certo gastar mais do que ganho. 1,399

É certo gastar mais do que ganho. 6,611

Preferência do Tempo

Q5 Prefiro comprar parcelado a esperar ter dinheiro para comprar à vista.

3,212

Q6 Prefiro pagar parcelado mesmo que no total seja mais caro.

2,397

Grau de Autocontrole

Q7 Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco.

2,341

Não sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco.

5,667

Média geral do construto de propensão ao endividamento 2,3375 4,465

Na Tabela 34 é possível relatar média elevada (4,465) na escala que variava

entre 1 e 7 pontos da propensão ao endividamento. Os estudantes pesquisados

indicaram não possuir habilidade na gestão das suas dívidas (Q7 – 5,667), bem

como baixa ou nenhuma preocupação com a relação entre salário e gastos (Q1 –

6,611), ou seja, o quanto recebem e o quanto consomem. As próximas análises

serão avaliadas pelas médias descritas na Tabela 34, pois somente dessa forma é

que se pode mensurar a propensão ao endividamento dos indivíduos.

Foram realizadas análises cruzadas entre o construto e as variáveis

sociodemográficas dos entrevistados: idade, gênero, estado civil, dívidas e classes

econômicas. Para isso, a Tabela 35 resume os valores encontrados pelos testes t

para amostras independentes.

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Tabela 35 – Variáveis sociodemográficas e propensão ao endividamento Variáveis Alternativas Média T

Idade Até 20 completos 4,458 1,171**

21 a 30 anos completos 4,475

Gênero Masculino 4,466 1,728**

Feminino 4,463

Estado Civil Solteiro (a) / Separado (a) Viúvo (a) 4,789 2,579*

Casado (a) / Mora Junto (a) 4,400

Endividados Sim 4,875 2,331**

Não 4,143

Classes Econômicas A1, A2, B1 e B2 somadas (alta renda) 4,036 1,169*

C1, C2 e D somadas (baixa renda) 4,559

Nota: * Significativo em p<0,05; ** Significativo em p<0,01

Após os dados obtidos com as análises cruzadas, descritos na Tabela 35,

compreende-se que os estudantes com idade até 20 anos (4,458) eram menos

propensos ao endividamento financeiro do que os entrevistados com idade entre 21

e 30 anos completos (4,475). Índices semelhantes a esta pesquisa também foram

encontrados nos estudos de Lea, Webley e Levine (1993) e Davies e Lea (1995).

Lea Webley e Walker (1995) e Davies e Lea (1995) indicaram que homens

teriam maior controle financeiro e mulheres seriam mais propensas ao

endividamento. Nos resultados deste estudo nenhuma diferença pôde ser

comprovada entre o gênero, pois os valores entre homens (4,466) e mulheres

(4,463) obtiveram baixas diferenças entre as médias da propensão ao

endividamento. No entanto, as situações civis da amostra identificaram desigualdade

entre as médias. Solteiros, separados ou viúvos (4,789) foram mais propensos às

dívidas do que casados (4,400).

Os alunos que estavam endividados durante a realização da pesquisa (4,875)

obtiveram a maior média quandos comparado com os não endividados (4,143). Nas

classes econômicas, Lea, Webley e Levine (1993), Lea Webley e Walker (1995)

chegaram a conclusão que pessoas com rendimentos mais baixos possuem maior

propensão à dívida. Este estudo sustentou tais afirmações, pois as classes A e B

(4,036) obtiveram médias inferiores às das classes C e D (4,559).

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Embora comparadas as médias do construto de propensão ao endividamento

e as variáveis sociodemográficas dos pesquisados, verificaram-se possíveis

correlações entre os valores. Tais índices foram gerados a partir da matriz de

Correlação de Pearson para as classes econômicas e idade. O gênero dos

entrevistados foi analisado pela Correlação de Spearman. A Tabela 36 resume as

possíveis correlações entre propensão ao endividamento versus idade e classes

econômicas da amostra pesquisada.

Tabela 36 – Correlações entre idade, classes econômicas e propensão ao endividamento Construto e Dimensões Correlações de Pearson com:

* Idade * Classes Econômicas

Propensão ao Endividamento -0,052 0,009 Sig. (bicaudal) 0,287 0,851

Nota: * Significativo em p<0,01

Idade e classes econômicas não puderam ser correlacionadas com o

construto de propensão ao endividamento, pois nenhum dos dois dados alcançaram

o critério de Pestana e Gageiro (2003), quando as correlações devem seguir os

critérios: valores menores que 0,2 indicam correlação muito baixa; entre 0,2 e 0,39

baixa; entre 0,40 e 0,69 moderada; entre 0,7 e 0,9 alta e acima de 0,9 muito alta.

Webley e Nythos (2001) também não encontraram correlação. Entretanto, Lea,

Webley e Levine (1993), Lea Webley e Walker (1995) e Davies e Lea (1995)

relataram que idade obteve correlação com as propensões às dívidas.

A Tabela 37 relata os valores da Correlação de Spearman aplicada entre o

construto e o gênero dos entrevistados.

Tabela 37 – Correlação de Spearman entre propensão ao endividamento e gênero

Nota: * Significativo em p<0,01

Hair Júnior e colaboradores (2005) indica que os valores devem seguir o

seguinte padrão: correlação leve com valores entre 0,01 e 0,20; correlação pequena

entre 0,21 e 0,40; correlação moderada com valores de 0,41 a 0,70; alta correlação

de 0,71 a 0,90; correlação muito forte, 0,91 a 1,00. Esse resultado contrariou os

Construto Correlação de Spearman com: * Gênero

Propensão ao Endividamento 0,002 Sig. (bicaudal) 0,962

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dados de Lea, Webley e Walker (1995) e Davies e Lea (1995), pois os autores

encontraram tal relação. Entretanto, os estudos aplicados por Lea, Webley e Levine

(1993) e Webley e Nythos (2001) – como esta pesquisa – não encontraram

correlação estatística.

4.6 ANÁLISE FATORIAL DOS CONSTRUTOS DO ESTUDO

Embora se tenha discutido a purificação e aplicada a análise fatorial no item

4.2 deste capítulo, foram realizados novos procedimentos estatísticos com os

construtos de materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento.

Hair Júnior e colaboradores (2005) defendem que a aplicação da análise

fatorial serve como um modelo de mensuração das relações entre os indicadores e

os fatores do construto. Além disso, a proposição do tratamento estatístico deve

reduzir o tamanho original, ou seja, deverá fornecer base para criação de um novo

conjunto de variáveis que possa incorporar o caráter e a natureza do original em um

número menor de questões.

Nesta pesquisa, optou-se somente pela aplicação estatística no consumo

excessivo de Wu (2006), pois, como afirma o autor, o instrumento deve ser reduzido

com o intuito de ter-se um construto que possa medir o consumismo dos indivíduos

de acordo com cada realidade a ser aplicada. Materialismo não terá aplicação da

análise fatorial por dois motivos principais: i) Richins (2004) indicou que as

afirmações mensuram as atitudes a partir da totalidade das variáveis e mesmo que

se tenha três dimensões de análise a sua reaplicação deve eliminar esse dado e

manter as questões na sua amplitude de avaliação; ii) no estudo aplicado Richins

(2004), que utilizou o construto de Richins e Dawson (1992), já se efetuou o trabalho

de redução das afirmações em 12, 9, 6 e 3 variáveis, como descrito na

fundamentação deste estudo.

Na propensão ao endividamento essas justificativas se repetem. O

questionário original de Lea, Webley e Walker (1995), adaptado por Moura (2005),

possui apenas três fatores, com três variáveis cada. Hair Júnior e colaboradores

(2005) defendem que os fatores extraídos pela análise fatorial devem conter, no

mínimo, três afirmações, caso contrário, não se justifica a aplicação desse método

estatístico. O teste realizado, com a rotação varimax normalizada, extração dos

fatores com autovalores maiores que um e comunalidades maiores que 0,50,

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apresentou somente 2 variáveis em cada dimensão, indicando a não realização do

tratamento multivariado.

No entanto, como nenhum estudo que utilizou o construto de Wu (2006) foi

encontrado e pelas justificativas dadas pelo autor, optou-se por aplicar a análise

fatorial no instrumento. Dois testes foram realizados para verificar a possibilidade da

sua aplicação: Teste Kaiser – Meyer-Olklin (KMO) e Bartlett (BTS). O primeiro

(KMO) apresentou o valor de 0,902. Hair Júnior e colaboradores (2005) defendem

que os valores devem ultrapassar 0,70 como um índice mínimo aceitável. Já! o teste

BTS apresentou 3602,6 e p=0,000. Ambos demonstraram validade para a

continuidade da aplicação.

Para isso, utilizou-se a análise fatorial exploratória através de componentes

principais e com rotação varimax normalizada. Este trabalho seguiu dois critérios:

extração dos fatores com autovalores maiores que um e comunalidades maiores que

0,50. Nenhuma variável foi retirada na aplicação, pois todas seguiram as

comunalidades maiores que as estabelecidas pelo critério do trabalho. A Tabela 38

resume a variância explicada pelos fatores com autovalores maiores que um.

Tabela 38 – Fatores extraídos das análise fatorial do construto de consumo excessivo Fatores Autovalores Variância Explicada

Percentual Explicada 1 6,928995 46,19330 46,19330 2 1,783596 11,89064 58,08394 3 1,130404 7,53063 65,61997

Na Tabela 38 pode-se visualizar que os fatores com autovalores superiores a

um, em conjunto, explicam 65,61% de toda a variância da análise. Observa-se,

ainda, que somente o fator 1 explica 46,19% da variância total. Vale destacar que a

variância é a medida da capacidade que um fator tem de representar a variação total

das variáveis originais.

Dessa forma, a Tabela 39 apresenta a matriz rotada da análise fatorial, na

qual todas as afirmativas foram superiores aos critérios estabelecidos pelos autores

Hair Júnior e colaboradores (2005), pois ultrapassaram comunalidades maiores que

0,50.

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Tabela 39 – Análise fatorial do construto de consumo excessivo Variáveis Fator 1 Fator 2 Fator 3

Q1 Eu gosto de muito luxo na minha vida, embora eu possa não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas contas.

0,689175 - -

Q2 Eu compro os objetos materiais como sinal de sucesso, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.

0,75693 - -

Q3 Eu tenho muito prazer em comprar coisas agradáveis, embora eu tenha dificuldade financeira.

0,777964 - -

Q4 Comprar é uma forma de me sentir melhor, mesmo que depois eu possa enfrentar dificuldades financeiras.

0,770091 - -

Q5 Quando estou com um baixo emocional, eu gasto mais do que eu deveria com base na minha condição financeira.

0,680569 - -

Q6 Para mim, fazer compras é uma maneira de aliviar o estresse, embora eu talvez tenha que enfrentar dificuldades financeiras.

0,630532 - -

Q7 Muitas das vezes eu compro algo que realmente quero sem pensar muito, embora eu não deveria comprá-lo com base nas minhas condições financeiras.

0,676796 - -

Q8 É típico que eu passe por imprudente por não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.

0,663641 - -

Q9 Durante as compras, muitas vezes eu gasto mais do que eu deveria (com base nas minhas condições financeiras) sem que eu perceba isso.

0,682463 - -

Q10 Eu gasto muito quando estou de bom humor, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.

-

- 0,796984

Q11 Quando eu estou bem emocionalmente, eu compro um monte de coisas, embora eu não tenha dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.

- - 0,829492

Q12 Eu gosto de fazer compras quando estou de bom humor, embora compre coisas que eu não deveria, se pensar na minha situação financeira.

- - 0,837094

Q13 Eu acompanho bem as minhas despesas, para fins de orçamento.

- 0,792679 -

Q14 Eu realmente posso impedir-me de comprar coisas que eu não deveria, se eu pensar na minha situação financeira.

- 0,794215 -

Q15 Eu examino e avalio o meu comportamento de compra com a finalidade de cuidar do meu orçamento.

- 0,833455 -

A partir da matriz rodada e das significâncias das variáveis dentro dos fatores

do construto foram nomeados os conjuntos. O primeiro, denominado consumismo, é

representado por 9 questões e engloba as variáveis Q1, Q2, Q3, Q4, Q5, Q6, Q7,

Q8 e Q9. Esse fator indica o ato de comprar excessivamente, indiscriminadamente,

sem noção de que pode ser prejudicial à vida ou ao seu futuro financeiro. Além

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disso, esses indivíduos priorizam a conquista dos objetos pessoais, pois podem, de

alguma forma, trazer diversão e entretenimento à vida.

Já o segundo fator, formado por 3 afirmações, compreende as variáveis: Q13,

14 e 15 e é nomeado controle financeiro. Nesse conjunto se enquadram os

indivíduos que possuem autocontrole de suas finanças, além da facilidade em

compreender o papel que o dinheiro tem nas suas vidas, realizando compras

planejadas e equilibradas.

Por fim, o terceiro fator é formado por outras 3 questões: Q10, 11 e 12 e

nomeado de compra emocional, compreendido como aqueles indivíduos que

buscam o bem-estar na vida a partir da compra excessiva de bens e serviços. A

partir da extração e exposição dos fatores adquiridos pela análise fatorial, a Tabela

40 apresenta os grupos de variáveis e suas respectivas confiabilidades de estudo.

Tabela 40 – Variáveis e alfa de Cronbach para cada fator Fatores Variáveis Alfa de Cronbach

1 Q1, Q2, Q3, Q4, Q5, Q6, Q7, Q8 e Q9 0,909 2 Q13, 14 e 15 0,874 3 Q10, 11 e 12 0,759

Na Tabela 40 foram calculados os alfas de Cronbach para cada fator e

percebeu-se que todos possuíram boa confiabilidade e ultrapassaram os níveis

aceitáveis: 0,70, como considerados por Hair Júnior e colaboradores (2005), e 0,60,

indicados por Malhotra (2001). Diante disso, a Tabela 41 apresenta os dados

descritivos dos três fatores extraídos da análise.

Tabela 41 – Resultados descritivos dos grupos extraídos da análise fatorial Fatores Mínimo Máximo Média Desvio Padrão

1 Consumismo 1 7 2,3321 1,2523 2 Controle Financeiro 1 7 4,0007 1,2699 3 Compra Emocional 1 7 2,8785 1,4612

A Tabela 41 retrata as médias e o desvio padrão encontrados nos três fatores

da análise. A partir dos dados, é possível evidenciar que os estudantes possuem

fracos a moderados indícios de compra por emoção, ou seja, o consumismo desses

indivíduos não é feito para preencher a baixa autoestima por atos sem razão ou

gastos desequilibrados. Por outro lado, e que justifica a afirmação anterior, essas

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pessoas ainda possuem dificuldade na gestão dos seus rendimentos, além de existir

a falta do autocontrole de suas finanças, dada a alta média do fator 2 desta análise

(4,0007).

4.7 ANÁLISE CLUSTER

A análise Cluster ou análise de conglomerados, de acordo com Hair Júnior e

colaboradores (2005), consiste em uma técnica analítica capaz de agrupar objetos

ou indivíduos – de acordo com as suas características em comum – formando

grupos homogêneos entre si. Essa técnica multivariada da análise estatística é

relevante em virtude da sua capacidade de classificar objetos com o intuito de

reduzir números de itens desorganizados para categorias compreensíveis e

gerenciáveis.

Sua aplicação visa a agrupar uma amostra de indivíduos ou objetos em um

número reduzido de grupos mútuos excludentes, com base nas suas similaridades.

Os dados ou indivíduos tendem a ser semelhantes entre si, embora diferenciados

em relação aos demais objetos dos outros grupos, ou seja, devem representar tanto

homogeneidade interna como uma forte heterogeneidade externa. Caso a

conglomeração seja bem sucedida, os objetos dentro dos gráficos estarão bem

próximos entre si e os demais grupos estarão afastados. (HAIR JÚNIOR et al.,

2005).

Malhotra (2001) relata que esse método não faz distinção entre as variáveis

dependentes ou independentes, pois o seu objetivo central é caracterizar, por função

da conglomeração, uma amostra composta de um grande número de variáveis

semelhantes.

São vários os métodos da análise de conglomerados, embora Hair Júnior e

colaboradores (2005) destaquem dois dos principais tipos: o de hierarquização e os

não hierárquicos. Este último também é nomeado de k-médias ou k-means

clustering. Neste estudo, optou-se por aplicar o método não hierárquico, pois se

mediram as atitudes de consumo a partir das médias das afirmações nos construtos

de materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento.

A escolha por esse método se dá pelas contribuições de Hair Júnior e

colaboradores (2005), pois justificam que tal análise acontece quando já existe,

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anterior a rotação dos dados, os grupos formados. Neste estudo, optou-se por

aplicar com as classes econômicas dos pesquisados.

O método escolhido consiste em um procedimento no qual os números de

cluster são previamente determinados; calculam-se os pontos que identificam os

centros desses conglomerados baseados pelas médias dos dados e construtos e,

por fim, dividem-se os casos pelos grupos preestabelecidos. Vale ressaltar que no

procedimento: a) cada grupo conterá ao menos um elemento; b) cada elemento

pertence a um só grupo. (HAIR JÚNIOR et al., 2005).

Após a verificação da confiabilidade dos dados da pesquisa, buscou-se

analisar se dentro dos construtos existiam comportamentos diferenciados quanto às

classes econômicas. A Tabela 42 explica a formação dos grupos.

Tabela 42 – Classes econômicas da análise cluster Critério Brasil Amostra (%) Grupos % total

A (A1 e A2 somadas) 13,25 Classe A 13,25 B (B1 e B2 somadas) 62,89 Classe B 62,89 C (C1 e C2 somadas) 22,17 Baixa Renda (C1, C2 e D) 23,86

D 1,69 Total 100 3 Classes (A, B e BR) 100

Como é possível analisar na Tabela 42, as classes econômicas foram

agrupadas para a melhor compreensão entre os perfis dos entrevistados. Como as

diferenças entre as pontuações do Critério Brasil são relativamente baixas, para não

criar exagerados perfis de análise, adotou-se esse critério de agrupamento.

Indivíduos que pertenciam as classes C1, C2 e D foram agrupados e nomeados

Baixa Renda. Os próximos subitens descrevem os grupos e os conglomerados de

cada construto do estudo.

4.7.1 Análise Cluster: materialismo

Para o construto de materialismo, a análise de Cluster apontou dois grupos

com comportamentos distintos, os quais englobam as classes econômicas expostas

na Tabela 42, abordada no item anterior. A distribuição das classes foram geradas

conforme descreve a Tabela 43.

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Tabela 43 – Classes da análise cluster – materialismo Grupos Participantes (%) Resultados Médias no

construto Classe A Classe B Baixa Renda

Grupo 1

38%

51%

52% Baixa Centralidade 2,104 Média Felicidade 3,253 Baixo Sucesso 2,381

Grupo 2

62%

49%

48%

Média Centralidade 3,069 Alta Felicidade 5,159 Médio Sucesso 4,167

Total 100% 100% 100%

Com a análise de agrupamentos do construto de materialismo, verificou-se

que os estudantes da classe A (62%) se agruparam, predominantemente, no Grupo

2. No entanto, os estudantes das classes B (51%) e Baixa Renda (52%)

apresentaram comportamentos similares nos dois grupos, porém com

predominância para o Grupo 1 (destaques em cinza).

Com os dados da Tabela 43 compreende-se que o Grupo 1 é representado

por estudantes da classe B e Baixa Renda. Esses indivíduos podem ser

caracterizados pela realização de compras de produtos desnecessários na tentativa

de manter a vida em um estilo mais sofisticado, embora os bens materiais não

possuam importância significativa para os respondentes.

É importante ressaltar as baixas médias das dimensões Centralidade (2,104)

e Sucesso (2,381) expostas na Tabela 43. Esses dados podem indicar que, para o

Grupo 1, os objetos pessoais não ocupam uma posição central na vida desses

indivíduos, ou seja, esses estudantes não possuem apego aos bens materiais

adquiridos.

A dimensão Sucesso também se manteve baixa no Grupo 1 (2,381). Por

esses resultados, pode-se compreender que os pesquisados não enxergam o

consumo como sinal de sucesso pessoal ou profissional. No entanto, a Felicidade

(3,253) foi superior às duas outras dimensões, ou seja, o Grupo 1 acredita que o

consumo é essencial para a sua satisfação pessoal e bem-estar.

O Grupo 2 foi representado em sua maioria pela classe A (62%). Evidenciou-

se com os resultados estatísticos da Tabela 43 que os gastos com produtos,

sensação de luxo, sofisticação do estilo de vida e grau de importância dada às

compras estão na normalidade, não apresentando características de ostentação de

riqueza, indicados pelas médias de Centralidade (3,069) e Sucesso (4,167).

Entretanto, na dimensão Felicidade (5,159), a classe A declara que não possui todas

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as coisas de que precisa para ser feliz e tem a sensação de que a vida seria melhor

se tivesse coisas que ainda não possui.

4.7.2 Análise Cluster: consumo excessivo

No construto de consumo excessivo, verificou-se a existência de

comportamentos diferenciados em relação ao consumismo e às classes

econômicas. A análise de conglomerados apontou dois grupos, conforme descreve a

Tabela 44.

Tabela 44 – Classes da análise cluster – consumo excessivo Grupos Participantes (%) Resultados Médias no

construto Classe A Classe B Baixa Renda

Grupo 1

64%

28%

23%

Alta atração por status 4,798 Alto prazer em comprar 4,159

Alta compra inconsequente 4,289 Média compra por emoção 3,401 Médio controle financeiro 3,454

Grupo 2

36%

72%

77%

Baixa atração por status 1,642 Alto prazer em comprar 4,152

Alta compra inconsequente 4,175 Média compra por emoção 3,144 Baixo controle financeiro 2,601

Total 100% 100% 100%

Na Tabela 44, é possível descrever que os pesquisados da classe A (64%) se

agruparam, predominantemente, no Grupo 1 e os estudantes das classes B (72%) e

baixa renda (77%) se mantiveram no Grupo 2 (destaques em cinza). Os resultados

apontaram diferenças significativas entre os comportamentos dos dois grupos e o

construto de consumo excessivo.

No Grupo 1, enquadram-se os indivíduos da classe A e, para eles, o status

(4,798) possui significativa representação em suas vidas, ou seja, o consumo indica

ascensão social e poder mediante as outras classes. Para esse grupo, a aquisição

de bens e serviços traz diversão e alegria (4,159), embora consumam sem pensar

nas consequências futuras (4,159). Como esperado, esses indivíduos apresentam

maior controle financeiro (3,454) se comparados com as pessoas da menor renda.

Esse dado indica que, no grupo, há moderada preocupação com o controle

financeiro e a possibilidade de endividamento é relativamente baixa, em virtude de

suas altas rendas que, por vezes, impossibilita o débito financeiro dessa classe.

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O Grupo 2 é representado, na sua maioria, pelas classes B (72%) e em

maior representatividade pela baixa renda (classes C e D) que somam 77%.

Diferente do comportamento da classe A, esses indivíduos não consomem produtos

ou serviços com o intuito da ascensão social (1,642), porém indicaram ter prazer em

consumir (4,152) e praticar atitudes inconsequentes de compra (4,175). Tais atitudes

podem ser respostas às dificuldades que os pesquisados têm com o controle

financeiro (2,601), ou seja, essas pessoas não possuem preocupação com a gestão

de seu dinheiro e a possibilidade de endividamento é muito maior nesse grupo.

4.7.3 Análise Cluster: propensão ao endividamento

Neste construto, verificou-se novamente diferenças significativas entre as três

classes econômicas quanto à distribuição dos dois grupos de comportamentos

distintos. A Tabela 45 identifica esses perfis.

Tabela 45 – Classes da análise cluster – propensão ao endividamento

Grupos Participantes (%) Resultados Médias no construto Classe A Classe B Baixa Renda

Grupo 1

65%

60%

45%

Alto Impacto moral na sociedade 4,139 Média-alta preferência ao tempo 3,916

Alto autocontrole financeiro 5,169

Grupo 2

35%

40%

55% Baixo impacto moral na sociedade 2,119

Baixa preferência ao tempo 1,983 Baixo autocontrole financeiro 1,664

Total 100% 100% 100%

Com os dados apresentados na Tabela 45, é possível visualizar que os

grupos foram formados por diferentes perfis. Os indivíduos da classe A (65%) e B

(60%) se agruparam, em sua maioria, no Grupo 1, já os alunos da baixa renda

(55%) se mantiveram no Grupo 2 (destaques em cinza). Os índices da análise

cluster aplicada ao construto de propensão ao endividamento respondem aos

questionamentos feitos neste estudo.

Para o Grupo 1, o endividamento pode indicar constrangimento e menor

aceitação desses indivíduos nos seus grupos de convívio, ou seja, o débito

financeiro pode indicar menor aceitação social em seus meios (4,139). A preferência

pelo tempo (3,916) indica a capacidade de gestão do dinheiro, pois representa a

atitude de poupar para consumir no futuro. Esse índice se manteve médio para as

classes com maior renda. Como esperado, esses indivíduos teriam chances

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menores ao endividamento, pois possuem alta capacidade de controle dos seus

gastos (5,169).

No entanto, a maioria dos indivíduos da classe de menor renda indicou

médias baixas nas três dimensões do construto. Isso leva a compreender que tais

indivíduos são mais propensos ao endividamento financeiro, pois não indicaram ser

preocupados com a sua representação na sociedade (2,119) e não se importam em

poupar agora para consumir no futuro (1,983), ou seja, consomem produtos e

serviços mesmo sem condições financeiras. O autocontrole financeiro (1,664) obteve

a menor média do construto. Com esses valores, a baixa renda representou mais da

metade das pessoas que carecem da habilidade de gerir os seus recursos, de tomar

decisões financeiras e manter o seu orçamento controlado, ou seja, não possuem a

percepção de que não se deve gastar mais do que se ganha e preferem compras

parceladas mesmo que no total sejam mais caras.

Não se pode desconsiderar que 45% dos alunos entrevistados de baixa renda

fazem parte do Grupo 1 e apresentam média de conscientização sobre o

endividamento em suas vidas. Por outro lado, as classes A e B apresentam

respectivamente 35% e 40% de pessoas nas mesmas condições.

4.7.4 Análise Cluster: diferentes atitudes de consumo entre as classes

econômicas

Os dados encontrados nas Tabelas 41, 42 e 43 permitem considerar que a

classe A se destaca das classes B e baixa renda pela normalidade em relação aos

processos de compra e parcimônia na compra, distinguindo o que é necessário do

que é supérfluo, bem como garantindo uma leve sensação de prazer e luxo. No

entanto, a classe B se destaca pelo comportamento mais equilibrado quanto ao

consumo, demonstrando que as compras realizadas por esse grupo não são regidas

pelo status ou estado emocional e que as aquisições à vista são mais bem vistas

devido à economia de dinheiro.

A baixa renda, além de congregar comportamentos relacionados a compras à

vista semelhantes a classe B, apresenta elementos de consumo ou compra

excessiva semelhantes à classe A. Dessa forma, pode-se considerar que apesar da

baixa renda não apresentar controle financeiro, possui atitudes de compra motivadas

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pela sensação de prazer e luxo, o que corrobora os estudos já aplicados com esses

indivíduos, como os de Neri (2008), Lamounier e Souza (2010), Prahalad (2010).

Embora ocorram pequenas diferenças entre os construtos que caracterizam

as classes econômicas, essas não são significativas ao ponto de, por meio delas,

gerar um modelo de discriminação de estudantes entre as três classes sociais.

Testes de análise discriminante foram feitos, porém nenhuma variável se comportou

significativamente diferente das demais de forma que fosse possível fazer distinção

de classes.

4.8 REGRESSÃO LOGÍSTICA

Regressão logística é enquadrada nas análise estatísticas multivariadas e é

apropriada para as situações em que as variáveis dependentes são categóricas e

assumem um entre dois resultados possíveis, ou seja, dados binários (para esse

estudo: endividados e não endividados). Esses dados devem gerar uma função

matemática, pois as respostas permitirão criar e estabelecer a probabilidade desses

dados binários pertencerem a um construto ou a outro. (HAIR JÚNIOR et al., 2005).

A aplicação do modelo é apropriada, pois, como aponta Hair Júnior e

colaboradores (2005), ao contrário da regressão múltipla, a logística investiga tanto

os dados métricos quanto as variáveis categóricas ou binárias, ou seja, seus

resultados explicam o comportamento de uma variável em função de outra. Nesse

sentido, Conrrar, Paulo e Dias Filho (2007, p. 284) indicam: A regressão logística se caracteriza como uma técnica estatística que nos permite estimar a probabilidade de ocorrência de determinado evento em face de um conjunto de variáveis explanatórias, além de auxiliar na classificação de objetos ou casos. É particularmente recomendada para as situações em que a variável dependente é de natureza dicotômica ou binária. Quanto às independentes, podem ser categóricas como métricas.

Dessa maneira, com a aplicação da regressão logística, buscou-se verificar

quais dos três construtos teriam um maior poder de explicação para o endividamento

dos respondentes: materialismo, consumo excessivo ou propensão ao

endividamento. Para tanto, utilizou-se do método Wald (indicação de quais variáveis

são estatisticamente significativas), com 5% de confiabilidade como critério de

entrada das análises e 10% de confiança de saída. As variáveis dicotômicas

(sim=endividados e não=sem dívidas) foram testadas sem transformação em

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dummys, pois nas respostas já se assumiram os valores 1 para endividados e 0 para

não endividados.

O teste estatístico utilizado para essa análise logística foi o de Hosmer e

Lemeshow (1980), pois se utiliza da distribuição do X2 (qui-quadrado) para examinar

se existe bom ajuste dos dados que foram esperados e os dados observados. A

Tabela 46 destaca esses valores.

Tabela 46 – Regressão logística: análise do modelo X2 (qui-quadrado) DF Sig

6,180 7 0,519

Na Tabela 46, os indicadores do teste de Hosmer e Lemeshow (1980) são

extraídos a partir de um teste de qui-quadrado, ou seja, a finalidade da sua

aplicação é verificar se são encontradas diferenças significativas entre as

classificações do modelo e os índices observados. Caso existissem diferenças, a

aplicação da regressão não seria válida. (HOSMER; LEMESHOW, 1980). Para esta

pesquisa, o teste aponta que os valores preditos não são diferentes dos observados,

ou seja, tem-se a indicação de que o modelo pode ser utilizado para explicar a

probabilidade de um construto ou outro responder melhor aos indivíduos

endividados.

Nos dados da Tabela 47 observam-se os valores da regressão logística

aplicada com os construtos.

Tabela 47 – Resultados dos construtos na equação logística

Construtos Coeficientes e Testes

B1 S.E2 Wald3 df4 Sig5 Exp (B)6 Materialismo 0,270 0,111 5,887 1 0,015 1,319 Consumo Excessivo 0,205 0,104 3,851 1 0,05 1,227 Propensão ao Endividamento 0,139 0,107 1,706 1 0,192 1,149

constante -1,812 0,437 17,18 1 0 0,163 Notas: (1) Coeficientes das variáveis – indica o valor da ocorrência do evento.

(2) Erro padrão. (3) Teste Wald que indica quais variáveis são estatisticamente significativas. (4) Graus de liberdade para o teste aplicado. (5) Valor P: probabilidade de obter-se uma estatística tão ou mais crítica quanto a observada. (6) Razão de Chance: É a probabilidade de um evento ocorrer em um grupo e a probabilidade de ocorrer em outro grupo, ou seja, ocorrência dividida pela não ocorrência.

A partir dos dados da Tabela 47, obtiveram-se os valores da regressão. Os

dados indicados no coeficiente B (destaques em cinza) representam os valores da

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ocorrência do evento, ou seja, quanto maior o número no construto, melhor

representação do endividamento. Neste estudo, assumiu-se: materialismo (0,270),

consumo excessivo (0,205) e propensão ao endividamento (0,139).

Hair Júnior e colaboradores (2005) indicam que o teste Wald serve para testar

a significância da equação estimada, ou seja, busca verificar se cada parâmetro

estimado é significativamente diferente de zero. Neste estudo, todos os construtos

foram válidos. Já os valores descritos na coluna Exp (B) identificam o aumento ou a

queda na probabilidade dos estudantes pesquisados serem ou não endividados em

função de cada construto. Nesta pesquisa, o maior valor encontrado foi materialismo

(1,319), seguido de consumo excessivo (1,227) e propensão ao endividamento

(1,149).

Percebe-se que o valor constante, descrito na Tabela 47, representou um

valor negativo. Esse dado significa que uma parte da classificação feita não depende

das variáveis independentes, ou seja, é uma particularidade não explicada pelas

variáveis, mas sim pelas próprias características da variável dependente. Dessa

forma, com os valores descritos na Tabela 47 (valor B), a regressão logística que

representa a relação dos construtos é:

DÍVIDA = -1,812 (constante) + 0,270 (Materialismo) + 0,205 (Consumo Excessivo) +

0,139 (Propensão ao Endividamento).

A equação da dívida demonstra que os construtos apresentam coeficientes

similares e não há predomínio de um ou outro que possa classificar os indivíduos em

devedores e não devedores, ou seja, o endividamento dos estudantes deste estudo

acontece, em sua maioria, pelas atitudes positivas ao materialismo (0,270), seguidas

do consumo excessivo (0,205) e por serem propensos ao endividamento, com o

valor de 0,139. A equação gerada permite um índice de acerto entre devedores e

não devedores de 55,9%, o qual é considerado baixo, levando-se em consideração

um erro preditivo de 44,1%, conforme Tabela 48.

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Tabela 48 – Classificação em devedores e não devedores

Observado Previsto

Dívida Porcentagem Correta (%)

Não Sim

Dívida Não 130 81 61,6 Sim 102 102 50 Porcentagem geral 55,9

A análise da Tabela 48 evidencia que a fórmula da equação logística atende

melhor os casos de não devedores, já que dos 211 não devedores, 130 foram

classificados corretamente por meio da fórmula com um total de acerto de 60%. Já

para os devedores, há chances iguais para acerto ou erro de classificação por meio

da fórmula. Dessa maneira, pode-se compreender que o resultado da análise

desses construtos não é suficiente para classificar os respondentes em devedores e

não devedores, devido ao erro significativo de previsão.

4.9 ANÁLISE FATORIAL CONFIRMATÓRIA

A verificação da relação entre as escalas desse estudo foi feita por meio da

Análise Fatorial Confirmatória (AFC). O uso dessa técnica multivariada, de acordo

com Hair e colaboradores (2005), possui o intuito de verificar estatisticamente, os

possíveis relacionamentos entre os construtos. Assumiu-se para a estrutura

analisada que o materialismo influencia a compra excessiva, que por sua vez,

influencia a propensão ao endividamento, como representado na Figura 6.

Figura 6 – Caminho de influências

Vale mencionar que, embora nenhuma aplicação conjunta desses três

construtos tenha sido encontrada nos trabalhos estudados, essas influências

baseiam-se em Belk (1984, 1985), Richins e Dawson (1992), Wong (1997) e Watson

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(1998, 2003) pois encontraram relação entre o materialismo e a propensão ao

endividamento.

Esses autores encontraram relação entre as atitudes positivas ao

materialismo e o ato de consumir excessivamente. O mesmo acontece com os

resultados encontrados de consumo excessivo, como Wu (2006), Ridgway et al.

(2006) e Faber e O’Guinn (1989), pois entenderam que tal comportamento leva ao

endividamento financeiro.

Com relação a AFC, Hair e colaboradores (2005) indicam que permite os

pesquisadores responderem questionamentos de uma forma sistemática e

abrangente pois, por meio da sua aplicação, é possível modelar ao mesmo tempo,

diversas dimensões e construtos, que podem ser dependentes ou independentes.

Os autores ainda justificam que sua aplicação representa a identificação de uma

série de relações hipotéticas de causa-efeito entre as variáveis estudadas, ou seja,

os relacionamentos dessa composição estatística, são descritas pela magnitude do

efeito – direta ou indiretamente – para as variáveis e dimensões de análise.

O uso dessa ferramenta estatística permite desenvolver um modelo de

pesquisa (ou caminho de influências) para obter e verificar os dados. Assim, foram

calculados os valores de influencia e relacionamento entre os construtos:

materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento. A Figura 7

identifica os dados da Análise Fatorial Confirmatória.

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Figura 7 – Análise Fatorial Confirmatória: Materialismo, Consumo Excessivo e Propensão ao Endividamento

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Vale apontar que, em cada situação da AFC, existem códigos para

representar ou identificar esquematicamente as relações entre as variáveis.

Esses códigos são demonstrados, na Figura 7, por formas geométricas, em

que: a) as setas indicam qual o tipo de relação entre as variáveis do estudo, ou seja,

se for unidirecional, ela indica uma relação única entre as variáveis. Caso

bidirecional, representa uma relação mútua e recíproca entre as dimensões do

estudo; b) as variáveis observadas (identificadas por círculos ou elipses) são

indicativos indiretos de variáveis latentes, ou seja, dos construtos ou fatores; c) as

variáveis latentes (identificadas por quadrados ou retângulos) não são diretamente

mensuráveis, podendo ser estimadas diretamente pelas variáveis observadas ou

construtos; d) os erros residuais na predição de um fator (identificados pelo círculo e

flecha), são considerados como ajustamentos dentro do modelo proposto.

De acordo com a Figura 7, é possível compreender que o construto de

Materialismo exerce influência de 61% sobre o construto de Consumo Excessivo, e

que o comportamento de compras é explicado por 37% pelas ações relacionadas à

Propensão ao Endividamento do consumidor. Isso indica, indivíduos que possuem

atitudes positivas ao materialismo, consomem excessivamente, entretanto, nem

sempre são enquadrados no endividamento financeiro. Esses dados extraídos da

análise, indicam que existe uma forte relação entre o Materialismo e o Consumo

Excessivo. Embora essas duas relações sejam significativas, a continuidade do

processo de consumo até o endividamento não possui significância, pois o construto

de Consumo Excessivo possui apenas 37% de influencia na Propensão ao

Endividamento Financeiro.

No construto de Materialismo, verifica-se que a dimensão Felicidade é o que

melhor representa a mensuração, uma vez que a aquisição de produtos desejados

leva a uma sensação de bem estar e melhoria do nível de vida dos consumidores.

Tal índice representa 64% dos dados, contra 58% para a dimensão Centralidade e

57% para a dimensão Sucesso.

As compras excessivas são melhores representadas pela dimensão Compra

Inconsequente (84%), em que o querer supera o poder, ou seja, o desejo de compra

de produtos excede a razão do poder comprar devido as condições financeiras.

Embora esse índice possuiu boa representação estatística, a dimensão Prazer em

Comprar também exerce bom índice no construto, pois indicou 83%. Entretanto, as

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demais dimensões demonstraram baixos valores: Atração por Produtos como Sinal

de Status (63%); Compra por Emoção / Excitação (49%). Como esperado, a

dimensão que tratava de Autocontrole Financeiro obteve um baixo valor de

explicação do construto (32%), pois indicou a dificuldade dos consumidores

excessivos em poupar dinheiro.

O terceiro construto estudado – Propensão ao Endividamento – é melhor

representada pela dimensão Preferência no Tempo (79%), ou seja, não há

problemas em ter dívidas se houver condições de pagá-las. No entanto, o

Autocontrole Financeiro (77%) marcou alto índice no construto. Esse valor confirma

que os jovens com maior propensão ao endividamento possuem maior dificuldade

no controle de seus rendimentos. Vale destacar que no modelo não ocorreu

nenhuma relação bidirecional (relação mútua e recíproca entre as dimensões), ou

seja, as variáveis latentes não possuíram nenhuma covariância entre elas.

Por fim, diante dos dados, pode-se entender que o construto de materialismo

possui relação com o Consumo Excessivo, justificado pela representação de 61%.

Esse resultado não pode ser aplicado ao construto de Propensão ao Endividamento,

uma vez que a relação com o Consumo Excessivo representou apenas 37% na

pesquisa aplicada.

4.10 COMPORTAMENTO DOS ESTUDANTES DE BAIXA RENDA

Embora os resultados no início do capítulo 4 deste trabalho já relacionassem

as classes econômicas dos entrevistados e respondessem aos objetivos do estudo,

optou-se por ampliar as discussões que envolvem a baixa renda da pesquisa. Diante

disso, na amostra de 415 estudantes foram extraídos 99 alunos que informaram

pertencer às classes C1, C2 e D, para uma discussão desse segmento, os quais

foram nomeados como BR (Baixa Renda).

Nesta discussão, utilizaram-se os dados já apontados no capítulo 4 e outros

que foram incluídos no questionário, até o momento não relatados, como, por

exemplo: níveis de gastos e poupança; bens e serviços mais consumidos; gestão do

rendimento financeiro; produtos bancários mais utilizados pelos universitários; níveis

das dívidas (somente para os estudantes que afirmaram possuir débito); justificativa

dada ao endividamento financeiro. A Tabela 49 identifica o perfil desses jovens.

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Tabela 49 – Características sociodemográficas dos pesquisados de baixa renda Variáveis Alternativas Frequência Percentual (%)

Idade Até 20 completos 45 45,45 21 a 30 anos completos 54 54,55

Total 99 100 Gênero Masculino 71 71,72

Feminino 28 28,28 Total 99 100

Estado Civil Solteiro (a) / Separado (a) Viúvo (a) 79 79,80 Casado (a) / Mora Junto (a) 20 20,20

Total 99 100 Ocupação

Profissional Não Trabalho / Desempregado (a) 28 28,28 Conta Própria / Autônomo (a) 6 6,06 Empresário (a) 2 2,02 Estagiário (a) 21 21,21 Empregado (a) Assalariado (a) 41 41,41 Funcionário (a) Público (a) 1 1,01

Total 99 100 Moradia Moro Sozinho (a) 24 24,24

Moro com Familiares, Companheiros (a) e/ou Amigos.

75 75,76

Total 99 100 Ajuda

Financeira Não recebe ajuda financeira 52 52,53 Ajuda governamental (bolsa família, bolsa para estudos)

23 23,23

Ajuda dos pais 14 14,14 Ajuda de amigos 5 5,05 Ajuda de parentes 2 2,02 Ajuda dos avós 3 3,03

Total 99 100

A amostra de estudantes da baixa renda possuía a idade média de 22,24

anos, distribuída entre as faixas etárias até 20 anos (45,54%) e de 21 a 30 anos

(54,55%), com predominância do gênero masculino (71,72%), solteiro, separado ou

viúvo (79,80%), que trabalhava (71,71%). Percebeu-se que a amostra selecionada

ainda depende da moradia de seus pais ou de outros indivíduos que possam ajudar

financeiramente as suas despesas, pois se gerou o índice de 75,76%.

Esse estudo ainda buscou identificar se estudantes de baixa renda

dependiam ou não financeiramente de outras pessoas. Cerca de 52,53% dos alunos

afirmaram não receber ajuda financeira. No entanto, a ajuda governamental foi um

importante fator desta pesquisa, pois identificou as pessoas que recebiam bolsas de

estudos, que atingiu 23,23%. As demais ajudas, somadas, representam 24,24% dos

alunos e são: ajuda dos pais, amigos, parentes.

Com base nos três métodos utilizados para avaliar as atitudes de consumo

dos estudantes, são expostos as médias e desvio padrão nos três construtos

utilizados neste estudo: materialismo, consumo excessivo e propensão ao

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endividamento. Os construtos seguiram os mesmos critérios estabelecidos no tópico

4.3 deste capítulo. A Tabela 50 indica os valores e, posteriormente, são inseridos os

comentários das sessões focais para sustentar os resultados.

Tabela 50 – Materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento da BR

Dimensões Afirmações Média Desvio Padrão

Materialismo

Centralidade (média 3,943)

Geralmente, compro apenas aquilo que preciso. 4,020 1,597 Tento manter a minha vida simples no que diz respeito aos meus bens materiais.

3,646 1,637

Gosto de gastar dinheiro em coisas que não são necessárias.

4,939 2,009

Comprar coisas dá-me imenso prazer. 2,949 1,746 Gosto de muito luxo na minha vida. 4,162 1,952

Felicidade (média 3,778)

Tenho todas as coisas de que preciso para ser feliz. 3,222 1,706 A minha vida seria melhor se possuísse coisas que não tenho.

3,455 2,111

Seria mais feliz se tivesse dinheiro para comprar mais coisas.

3,869 2,013

Às vezes, entristece-me um pouco que não possa comprar todas as coisas que quero.

4,566 1,949

Sucesso (média 3,416)

Admiro pessoas que possuem carros, casas e roupas caras. 4,323 1,795 Alguns dos feitos mais importantes na vida incluem adquirir bens materiais.

2,889 1,795

As coisas que tenho dizem muito sobre o sucesso que tenho tido na vida.

2,859 1,629

Gosto de ter coisas para impressionar as pessoas. 3,596 1,873 Total Média Geral do Construto Materialismo 3,621 1,099

Consumo Excessivo Compra por

status (média 2,228)

Eu gosto de muito luxo na minha vida, embora possa não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas contas.

2,242 1,591

Eu compro os objetos materiais, como sinal de sucesso, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.

1,919 1,167

Eu tenho muito prazer em comprar coisas agradáveis, embora eu tenha dificuldade financeira.

2,525 1,593

Prazer em comprar

(média 2,131)

Comprar é uma forma de me sentir melhor, mesmo que depois eu possa enfrentar dificuldades financeiras.

2,182 1,424

Quando estou com um baixo emocional, gasto mais do que eu deveria com base na minha condição financeira.

2,030 1,548

Para mim, fazer compras é uma maneira de aliviar o estresse, embora eu talvez tenha que enfrentar dificuldades financeiras.

2,182 1,567

Compra inconsequente (média 2,448)

Muitas das vezes eu compro algo que realmente quero, sem pensar muito, embora eu não deveria comprá-lo, com base nas minhas condições financeiras.

3,182 1,854

É típico que eu passe por imprudente por não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.

1,667 1,195

Durante as compras, muitas vezes, eu gasto mais do que eu deveria (com base nas minhas condições financeiras) sem que eu perceba isso.

2,495 1,567

Compra por emoção

(média 1,976)

Eu gasto muito quando estou de bom humor, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.

2,051 1,380

Quando eu estou bem emocionalmente, compro um monte 1,859 1,254

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de coisas, embora eu não tenha dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras. Eu gosto de fazer compras quando estou de bom humor, embora compre coisas que eu não deveria, se pensar na minha situação financeira.

2,020 1,253

Autocontrole financeiro

(média 2,926)

Eu acompanho bem as minhas despesas, para fins de orçamento.

3,091 1,773

Eu realmente posso impedir-me de comprar coisas que eu não deveria, se eu pensar na minha situação financeira.

2,798 1,738

Eu examino e avalio o meu comportamento de compra, com a finalidade de cuidar do meu orçamento.

2,889 1,743

Média Geral do Construto Consumo Excessivo 2,182 1,508 Propensão ao Endividamento Impacto Moral Não é certo gastar mais do que ganho. 1,263 0,803 Preferência do Tempo

Prefiro comprar parcelado a esperar ter dinheiro para comprar à vista.

2,677 2,411

Prefiro pagar parcelado mesmo que no total seja mais caro. 2,667 2,157 Autocontrole Financeiro

Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco.

2,253 1,945

Média Geral do Construto Propensão ao Endividamento 2,460 2,051

Com a Tabela 50, é possível compreender que os jovens de baixa renda

possuem valores medianos nas dimensões do construto de materialismo, pois

Centralidade (3,943), Felicidade (3,778) e Sucesso (3,416). Esses índices indicam

que o consumo passa a orientar boa parte das atitudes no cotidiano dessas

pessoas, ou seja, elas acreditam que a posse de bens pode trazer felicidade e bem-

estar, dados os valores altos nas afirmações “Gosto de gastar dinheiro em coisas

que não são necessárias” (4,939), “Às vezes, entristece-me um pouco que não

possa comprar todas as coisas que quero” (4,566) e “Admiro pessoas que possuem

carros, casas e roupas caras” (4,323).

O consumo excessivo se manteve estável, porém com baixas médias no

construto. As 15 variáveis de análise se demonstraram: Compra por status (2,228);

Prazer em comprar (2,131); Compra inconsequente (2,448); Compra por emoção

(1,976) e Autocontrole financeiro (2,926). Nenhum dos construtos ultrapassou 3

pontos na escala que variava entre 1 a 7 pontos. No entanto, uma afirmação pode

indicar que esses indivíduos consomem excessivamente, sem pensar nas suas

condições financeiras, pois “Muitas vezes eu compro algo que realmente quero, sem

pensar muito, embora eu não deveria comprá-lo, com base nas minhas condições

financeiras” e obteve a maior média do construto (3,182).

A propensão ao endividamento pode explicar os comportamentos de compra

do jovens universitários. Dentre o número total de indivíduos de baixa renda, 57,5%

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no total da amostra afirmaram possuir débito financeiro. A Tabela 51 compara o

número de endividados e as variáveis sociodemográficas.

Tabela 51 – Endividados e não endividados da baixa renda Variáveis Alternativas Amostra Endividados

(%) Não Endividados

(%) Idade Até 20 completos 45 66,7 33,3

21 a 30 anos completos 54 53,7 46,3 Gênero Masculino 71 42,9 57,1

Feminino 28 70,4 29,6 Estado Civil Solteiro (a) / Separado (a)

Viúvo (a) 79 78,5 21,5

Casado (a) / Mora Junto (a) 20 85,0 15,0 Moradia Moro Sozinho (a) 24 91,7 8,3

Moro com Familiares e/ou Amigos.

75 57,3 42,7

Indivíduos com até 20 anos (66,7%) possuíam mais dívidas que estudantes

entre 21 e 30 anos de idade (53,7%). O gênero feminino (70,4%) assumiu maior

endividamento que o masculino (42,9%). Esse resultado demonstra que os homens

são mais conscientes nas atitudes de compra do que as mulheres. Dos estudantes

que estavam solteiros durante a aplicação da pesquisa, cerca de 78,5% possuíam

dívidas, contra 85,0% dos alunos casados ou que moravam juntos.

Além desses dados quantitativos do levantamento survey – como descrito no

capítulo 3 deste trabalho – sessões de grupos focais foram realizadas com

estudantes. Essas aplicações visavam a compreender o perfil de compra dos jovens,

além do auxílio na confecção do questionário survey. Como descrito anteriormente,

as duas reuniões aconteceram no mês de junho de 2011 com jovens entre 18 e 30

anos, de ambos os sexos, em um total de 22 participantes que se enquadravam nas

classes de baixa renda.

Esses índices encontrados no levantamento quantitativo são justificados em

comentários realizados nas sessões de grupos focais, pois quando questionados

sobre a economia financeira, salientaram:

[...] Ah, eu não consigo guardar dinheiro, é [...] não [...] sempre acontece alguma coisa, até o começo do mês vai, mas depois rola uma viagem, sei lá, alguma coisa acontece. Não vou deixar de fazer alguma coisa que eu quero porque eu não tenho dinheiro. Vai no caixa eletrônico [...] (risos) tem empréstimo na telinha.. quando abre a tua conta, de cara aparece, você tem x disponível, e eu sempre pego (risos). ( Mulher 23 anos).

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[...] Eu vou na psicóloga, é bem difícil. Pra ter uma noção, esse ano eu comprei três notebooks e um Ipad. Besteira, besteira [...] sem falar em roupa. Nossa, isso mesmo [...] sou doente. Já tentei de tudo, mas que vejo alguém com alguma coisa legal [...] eu também quero. Se ela tem, também posso ter, financiamento, aí vou eu. (risos). Tem dia que a minha psicóloga quase me mata. Mas tenho desejo de comprar [...] se eu não posso, dou um jeitinho. (Mulher 26 anos).

É possível identificar as inconsequências das compras dos jovens

pesquisados. Esses dados qualitativos explicam os resultados dos questionários

aplicados. Importante relatar que, por vezes, esse perfil de compra é ligado ao

sucesso pessoal, assim como a descrição no construto de materialismo. Além disso,

a compra excessiva e a atitude positiva ao materialismo podem ser explicadas pela

representação de felicidade em comprar. Para isso, é relevante o comentário de

uma acadêmica de 19 anos:

[...] Pra mim, é balada. Se eu parasse de sair, iria reduzir um monte. Porque é roupa, bebida. Não fico em casa. Já devo pro meu namorado. Ele briga muito por tudo isso, mas sei lá [...] não sei.. gosto de gastar, me sinto feliz [...] quem não se sente feliz comprando, fala a verdade [...] fala a verdade. Eu tô pra conhecer alguém.

Para verificar as atitudes de compra e de economia financeira desses jovens,

dois outros questionamentos foram inseridos no levantamento survey: nível de

consumo do salário e os produtos mais consumidos no dia a dia desses estudantes.

O primeiro foi avaliado pela escala 1 a 7 pontos, na qual: 1 – Gasto menos do que

ganho; 3 – Gasto igual ao que ganho e 7 – Gasto mais do que ganho. Os resultados

encontrados são descritos na Tabela 52.

Tabela 52 – Níveis de gastos dos jovens de baixa renda Escala Likert – 1 a 7 Frequência Porcentagem

1 Gasto menos que ganho 16

16,1 2

3 Gasto igual ao que ganho

72

72,7 4

5 6 Gasto mais do que

ganho

11

11,1 7

Com os dados da Tabela 52, é possível relatar o baixo número de alunos que

gastam menos do que ganham. Esse resultado indica a baixa capacidade de gestão

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e o ato de poupar dinheiro dos alunos, dados os valores: gasto menos do que ganho

(16,1%), gasto igual ao que ganho (72,7%) e gasto mais do que ganho (11,1%).

Essa relação pode ser respondida com os comentários dos grupos focais, pois

quando se falava sobre o endividamento, foram obtidos os seguintes comentários:

Acho que toda mulher tem sua dívida, não me preocupo muito não, deito e durmo. Acho que o dia que eu não dormir mais, vou me sentir endividada. (Mulher 22 anos). Eu sou endividado. Posso me definir? [...] Sempre vou comprar já sabendo que eu não posso pagar. Meu cartão de crédito (risos) vive estourado. Isso é ser uma pessoa endividada? (Homem 21 anos). No meu caso, minha faculdade é novecentos reais, então por isso que eu me amarrei. Mas também foi um pouco de irresponsabilidade minha, porque eu sabia que [...] eu sozinha não ia dar conta e que eu dependia do meu pai, então eu arrisquei [...] e isso eu não faria de novo, arriscar. Eu só faria se eu tivesse condições, por isso eu troquei de curso. (Mulher 21 anos).

Percebe-se baixa responsabilidade na gestão financeira dessas pessoas.

Poucos comentários puderam ser extraídos dos alunos que estão em dia com suas

despesas, uma vez que, nas sessões, um número elevado de alunos estava em

débito financeiro. Essa representação do comportamento de compra dos estudantes

pode ser reflexo da busca pela felicidade e o sucesso pelas compras, ou seja, o

dinheiro, para esses jovens, pode indicar a sensação de bem-estar emocional.

Com o intuito de identificar os produtos e serviços mais consumidos pelos

indivíduos da baixa renda, foram dispostos 16 variáveis, as quais os estudantes

deveriam assinalar na escala que variava entre 1 e 7. Tais valores são expostos na

Tabela 53.

Tabela 53 – Tipos de gastos dos jovens de baixa renda Produtos Média Desvio Padrão

Alimentos em Geral (Supermercados, Açougue). 4,250 1,704 Móveis em Geral (Cama, Estante, Colchão). 1,990 1,266 Utensílios Domésticos (Decoração, Acessórios de Cozinha). 2,120 1,327 Vestuário em Geral (Roupas, Acessórios). 4,540 1,662 Calçados em Geral. 4,070 1,649 Materiais de Construção. 1,600 1,285 Automóvel ou Moto. 2,270 1,749 Eletrodomésticos, Eletroeletrônicos. 2,390 1,511

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Presentes. 3,370 1,620 CDs, DVDs (Discos, Música). 2,230 1,743 Celular ou Telefonia. 3,340 1,756 Medicamentos, Perfumaria, Cosméticos. 3,960 1,823 Lazer (Restaurantes, Cinemas, Teatros, Shows, Festas). 4,330 1,801 Pagamento de Contas (Quitação de Dívidas). 4,300 2,007 Médicos, Hospitais e Exames. 2,210 1,466 Escolas, Graduação, Cursos em Geral. 5,010 1,741

Como é de se esperar, os maiores gastos dos estudantes da classe

econômica de baixa renda foram com a educação, uma vez que indicaram gastar

mais com escolas, graduação e cursos em geral (5,010). Os gastos com vestuário

atingiram a média de 4,54, seguidos de lazer (4,330) e pagamento de dívida (4,300),

que ficaram acima de alimentação (4,250).

Nesta amostra de alunos, diversos foram os produtos financeiros que

representavam a dívida, assim como as justificativas de tal débito financeiro. O

cartão de crédito ainda era o produto mais utilizado por esses jovens de BR que,

nesta pesquisa, atingiu 41,4%. Os outros produtos, somados, marcaram 47,4%,

dentre: carnês de lojas, crédito consignado, financiamento de casa e carro, crédito

pessoal, cheque e crediários.

Quanto às justificativas do endividamento, os 99 estudantes da classe

econômica de baixa renda relataram acontecer pelas seguintes razões: 59,8% pela

falta de planejamento e 12,3% por má gestão dos rendimentos. Outros fatores

somam 27,9%, e são: desemprego ou queda na renda, problemas de saúde e

acesso ao crédito. Com os comentários do grupo focal, ressalta-se:

[...] O que acontece, eu vejo da seguinte forma, a gente tenta fugir do endividamento fazendo um maior ainda, que é empréstimo. Dessa forma, o governo, os bancos ficam amarrando as pessoas pra sempre estar se endividando, pedindo empréstimo, cada vez gerando mais juros, cada vez [...] um saindo ganhando e quem perde é a gente, é isso o que eu penso. (Homem 24 anos). [...] Sim, deixei de pagar a XXX (universidade), me sinto endividada, mas não me sinto preocupada, [...] não mesmo. (Mulher 26 anos). [...] Ah [...] eu costumo torrar todo o meu salário. [...] Aí recorro ao meu pai (risos) paitrocínio. (Homem 24 anos). [...] Eu não gosto de ficar devendo[...] a pessoa tem que se programar, eu queria trocar de moto, mas como eu já devo (risos)

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tenho que esperar um pouquinho [...] Tem dia que eu penso, vai que eu morro, e não morro com a moto que eu queria.. amanhã vou lá comprar (risos). A gente tem que se apertar pra poder comprar o que a gente sonha. Se não for assim, na nossa idade [...] é bem difícil [...] ah [...] Claro que eu queria ter tudo o que eu sonho [...] mas é uma dívida a cada mês [...] faço tudo a prestação. (Homem 27 anos). De cinco mil pra cima, eu me preocupo. Tem vezes que eu [...] me esquento [...] tenho dívida de dois mil, é bem ruim, SPC, Serasa [...] to lá. Pode me procurar. (Homem 22 anos).

Os comentários extraídos dos grupos focais representam uma juventude

despreparada para a gestão do dinheiro. Essa informação também é relatada pelo

levantamento survey desta pesquisa, pois indicou 57,5% dos estudantes de baixa

renda em débito financeiro. A causa desse débito, reflexo do consumo excessivo e

das atitudes positivas ao materialismo, foi discutida por estudos aplicados no Brasil,

como os de Neri (2008), Lamounier e Souza (2010) e Prahalad (2010).

De fato, o crescimento da classe de baixa renda no Brasil possui uma

representação significativa na economia nacional. Mas destaca-se que esse

consumo e a baixa percepção do risco do endividamento pode causar diversos

problemas sociais e psicológicos nesses estudantes, como relatado na

fundamentação deste estudo. Embora haja perspectiva de crescimento da renda no

país, é importante que se dê um destaque maior a esses indivíduos, principalmente

aos resultados que apresentados nesta pesquisa.

Deve-se reconhecer que grande parte das pessoas que representam a baixa

renda são enquadradas em alguns pontos relevantes às discussões deste trabalho.

Lamounier e Souza (2010) apontam que esses indivíduos passaram a ter acesso ao

ensino superior, pois a educação é vista como um dos principais fatores de

ascensão social e sucesso para alcançar os objetivos da vida. Nesta pesquisa, um

número expressivo de alunos (23,23%) recebeu algum tipo de bolsa educacional.

Essas dificuldades encontradas na gestão dos rendimentos, discutidas nos

dados quantitativos e com os comentários das reuniões de grupos focais, podem

estabelecer sentido aos comentários encontrados na teoria da classe de baixa

renda. Lamounier e Souza (2010) citam que apesar do aumento de indivíduos

escolarizados, a baixa qualidade do ensino e a equidade na distribuição de

oportunidades educacionais podem resultar em diversos problemas, pois não existe

a educação financeira, resultando na baixa consciência de consumo para esses

indivíduos.

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Outra dificuldade encontrada para a gestão financeira dessas pessoas pode

ser explicada por dois motivos: a ascensão recente ao consumo e a rápida

mobilidade da classe econômica. Citam Lamounier e Souza (2010) que ambas

aconteceram a partir de 2008 e contribuíram para que os indivíduos aumentassem o

seu poder de consumo. No entanto, a baixa consciência do valor do dinheiro e novos

hábitos de compra não permitiram que essas pessoas escapassem do

endividamento financeiro.

Mesmo que os estudantes tenham demonstrado ter seus maiores gastos com

estudos, é importante que se tenha educação financeira. Os níveis dos três

construtos desta pesquisa, aplicada à classe econômica de baixa renda, foram

relevantes. Por relatos das duas sessões de grupos focais, pode-se perceber que

não existe preocupação com o fator endividamento, o que pode trazer problemas

sociais para essas pessoas.

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5 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E SUGESTÕES

Este capítulo é dividido em três partes. Na primeira, apresentam-se as

principais conclusões do estudo. Em seguida, levantam-se as limitações, sugerem-

se temas para novas pesquisas e finaliza-se com as contribuições teórico-empíricas

para o avanço do conhecimento sobre o comportamento de compra do consumidor.

5.1 CONCLUSÕES

Este estudo teve como principal objetivo analisar a relação entre

materialismo, consumo excessivo e a propensão ao endividamento do jovem

universitário. Dentre os objetivos específicos, definiu-se: identificar os níveis do

materialismo e de consumo da amostra; verificar a propensão às dívidas em relação

aos diferentes tipos de produtos financeiros que representam este endividamento;

identificar o grau de associação entre as variáveis que compõem os três construtos

analisados e verificar o grau de associação entre essas variáveis e as características

sociodemográficas dos pesquisados.

Para cumprir os objetivos estabelecidos foram realizadas duas estratégias de

pesquisa: uma quantitativa e outra qualitativa. A primeira abordagem foi aplicada a

415 estudantes do Estado de Santa Catarina. Os estudantes pesquisados estavam

ativos e matriculados em diversos cursos de uma universidade do estado de Santa

Catarina e os dados do levantamento (survey) foram obtidos por meio de

questionários impressos, autopreenchíveis e na presença do pesquisador para

eliminar possíveis dúvidas durante o preenchimento do instrumento. Os dados

qualitativos foram conseguidos com a aplicação de dois grupos focais, nos quais

participaram 22 estudantes. Os comentários extraídos permitiram conhecer

características específicas dos jovens universitários e seus comportamentos

relacionados aos três construtos utilizados neste estudo.

A amostra dos estudantes pesquisados no survey possuía a idade média de

23,13 anos, distribuída entre 18 e 30 anos, com predominância feminina e destaque

para solteiros, separados ou viúvos, empregados assalariados e que moravam com

os seus amigos e familiares. Com relação aos aspectos de renda, constatou-se que

existiu a predominância das classes B e C, com a maioria de indivíduos que são

economicamente independentes, ou seja, não recebem nenhuma ajuda financeira.

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Diante dos questionários preenchidos e da caracterização da amostra, foram

aplicadas as duas técnicas estatísticas: descritiva, por meio das médias, desvio

padrão, teste t, correlações de Pearson e Spearman; multivariada, com a aplicação

de análises fatoriais, cluster e regressão logística. Todos os resultados, em síntese,

sugerem cinco principais conclusões.

Primeiramente, os construtos utilizados para mensurar as atitudes de

consumo se mantiveram em diferentes médias e resultados. O materialismo obteve

valores medianos, porém indivíduos com idade até 20 anos completos foram mais

materialistas do que estudantes com idade entre 21 e 30 anos. A predominância das

médias se deu com mulheres, solteiras, casadas ou viúvas, com débito financeiro e

das classes econômicas de alta renda. Como esperado, as pessoas com os maiores

escores do construto assumiram gastar mais do que ganham e nunca conseguem

guardar ou economizar os seus rendimentos financeiros.

O construto de consumo excessivo se manteve com médias baixas, no

entanto apontou que as pessoas pesquisadas possuem dificuldade de autocontrolar

os seus gastos. Para este construto optou-se por aplicar a análise fatorial, já que

possuía 15 variáveis, divididas em 5 dimensões, para medir o consumismo dos

indivíduos. Com os resultados da análise fatorial, o construto foi reduzido a três

dimensões, no qual todas possuíram validade e confiabilidade para novas

aplicações.

Já a propensão ao endividamento admitiu que homens, com idade entre 21 e

30 anos completos, solteiros, endividados e das classes de baixa renda são mais

propensos a adquirir dívidas financeiras.

A segunda e a terceira conclusões se dão pelos tratamentos estatísticos

multivariados que foram aplicados. A análise cluster, que visou a formar grupos

homogêneos entre si, identificou resultados importantes. Os indivíduos da classe

alta (A) se destacaram das classes B e baixa renda pela consciência do que é

necessário comprar e do que é supérfluo, porém garantindo a sensação de prazer e

luxo. Já a classe B se destacou pelo comportamento equilibrado de consumo, pois

as compras não são regidas pelo status ou estado emocional. A baixa renda, além

de congregar atitudes relacionadas a compras à vista semelhantes à classe B,

apresenta elementos de consumo ou compra excessiva semelhantes à classe A.

Esses resultados talvez expliquem o endividamento das pessoas de baixa renda.

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Os resultados extraídos a partir da aplicação da regressão logística permitem

afirmar que, embora baixas diferenças entre os valores, os endividados são mais

bem representados, predominantemente, por atitudes positivas ao materialismo,

seguidas do consumo excessivo e por serem propensos ao endividamento.

A quarta conclusão inclui os comentários extraídos das reuniões dos grupos

focais. Para a participação, os estudantes tiveram que responder a um questionário

que visava a classificação econômica, no qual a predominância ocorreu nas classes

de baixa renda. Pôde-se perceber que os indivíduos possuem dificuldade na gestão

dos seus rendimentos, o que resulta no débito financeiro. A partir da transcrição dos

diálogos, nenhum acadêmico afirmou não possuir dívidas, além de assumir atitudes

de consumo excessivo.

Por fim, pode-se concluir que os resultados encontrados por esta pesquisa

confirmam os pressupostos descritos na revisão teórica do estudo. Os três

construtos analisados possuem impacto positivo na aquisição de dívidas, pois os

indivíduos que assumiram ter débito obtiveram os maiores escores em todos os

construtos. Espera-se que com este trabalho se amplie a compreensão da

existência de uma parte da população jovem com níveis altos de consumismo e com

propensão ao endividamento. Diante deste olhar crítico, novas atitudes poderão ser

tomadas com relação à concessão de crédito aos indivíduos, bem como

proporcionar a educação financeira. Essas duas atitudes podem fazer com que as

pessoas sejam menos vulneráveis ao consumo e ao endividamento financeiro.

5.2 LIMITAÇÕES E SUGESTÕES

Algumas limitações foram encontradas, principalmente no seu caráter inicial,

ou seja, os construtos de mensuração das atitudes de consumo. As variáveis de

materialismo de Richins e Dawson (1992), embora adaptadas de um contexto

sociocultural e econômico bastante distinto do Brasil, obtiveram confiabilidade neste

estudo. Isso se repetiu no construto de consumo excessivo de Wu (2006). No

entanto, a propensão ao endividamento (MOURA, 2005) não demonstrou bons

resultados psicométricos. Esse construto merece a adição de novas variáveis ou

reavaliação das dimensões, pois, como descrito nos resultados, a confiabilidade

estatística foi baixa e para utilizar o questionário já aplicado optou-se por aplicar

tratamentos que elevassem a confiança do construto.

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Outra limitação encontrada por este trabalho aconteceu pela formação da

amostragem da pesquisa. Embora se tenha obtido um número expressivo de

entrevistados, é importante enfatizar que este estudo foi conduzido pela pesquisa

não probabilística, o que impede a generalização dos resultados encontrados.

O trabalho optou por utilizar os questionários impressos, autopreenchíveis e

presenciais, pois, dessa forma, acreditava-se que se teria facilidade de completar

rapidamente o número necessário para compor a amostragem. Entretanto, foram

encontradas algumas dificuldades, pois um índice expressivo de entrevistados se

negou a participar da amostra quantitativa por se tratar de um assunto pessoal que

poderia causar constrangimento.

Como sugestões para futuras pesquisas, indica-se a reaplicação dos

construtos aqui estudados em outras esferas e diferentes tipos de consumidores.

Este trabalho optou por estudantes entre 18 e 30 anos de idade, mas vale destacar

que essas atitudes de consumo não são exclusivas desse perfil, ou seja, novos

grupos devem ser avaliados, como, por exemplo: pessoas da terceira idade,

adolescentes ou até mesmo outras referências sociais, como diferentes classes

econômicas, etnias ou religiosidades.

Diante do perfil dos entrevistados, é importante considerar que entre os

jovens pesquisados vários procediam da uma região do estado com forte

predominância de indivíduos com descendência germânica. Essas pessoas, em sua

maioria, são caracterizadas por poupar dinheiro para consumir futuramente, ou seja,

representam um baixo número de endividados. Portanto, para futuros trabalhos que

aplicarem os construtos, sugere-se considerar a ascendência dos pesquisados, a fim

de identificar possíveis diferenças entre os comportamentos de compra.

Esta pesquisa optou por aplicar a pesquisa com os estudantes do Estado de

Santa Catarina, porém é importante que outras realidades e regiões sejam

pesquisadas, a fim de possibilitar comparação dos resultados. As atitudes de

consumo podem ser diferentes entre as demais cidades e estados do país. Outro

fator importante de avaliação se dá pelo caráter universitário. A amostra deste

trabalho era composta de alunos de uma instituição privada e, talvez, diferentes

atitudes sejam encontradas em estudantes de universidades públicas do país.

Como citado, vale destacar que este trabalho proporcionou algumas

discussões relevantes dos construtos teóricos utilizados, principalmente o consumo

excessivo de Wu (2006). As variáveis de análise obtiveram boa confiabilidade

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estatística, ou seja, a tradução reversa utilizada foi compreendida pela amostra

deste estudo. Futuros trabalhos podem aproveitar a significância do construto, a fim

de mensurar o consumismo das pessoas em outros perfis populacionais.

5.3 CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO

Como contribuição, vale destacar os resultados que foram encontrados nas

atitudes de consumo dos jovens universitários da baixa renda. Os dados qualitativos

dos grupos focais proporcionaram profundidade nas análises desta classe e, com as

reuniões, pôde-se perceber que os estudantes possuem dificuldade na gestão

financeira. Os comentários extraídos dos encontros possibilitaram melhor

conhecimento das atitudes de consumo dos indivíduos que estão incluídos no futuro

mercado nacional. Embora a entrada de novos segmentos de pessoas de baixa

renda no mercado de consumo possam trazer benefícios sociais e econômicos ao

país, os comentários extraídos dos grupos focais sugerem que a juventude sofre

consequências causadas pelo consumo desenfreado e podem cair em

endividamento financeiro.

Os resultados do estudo sustentaram que a baixa renda é mais propensa ao

endividamento em comparação às demais classes sociais. Esse fato acontece pelas

facilidades que são proporcionadas pelas agências e instituições financeiras, pois os

produtos de crédito facilitam a utilização do dinheiro e, por consequência, podem ser

enquadrados no débito financeiro. É importante citar que as informações contidas

neste trabalho fornecem melhor compreensão da classe e, com os dados, pôde-se

compreender que o endividamento prejudica o crescimento econômico do país.

Por fim, a maior contribuição teórica deste trabalho se deu pela integração de

três construtos diferentes do comportamento do consumidor. Desde o início da

investigação pesquisas bibliométricas foram realizadas com o intuito de esgotar as

publicações científicas e, assim, construir um estudo mais completo. Dentre as 853

publicações estudadas pelo autor (artigos científicos, dissertações e teses) de esfera

nacional e internacional, nenhuma pesquisa integrando esses três comportamentos

foi encontrada. Dessa forma, o trabalho deu início às discussões das dimensões

apresentadas, pois identificou a relação entre as atitudes positivas ao materialismo e

o consumo excessivo, que podem resultar ou não na propensão ao endividamento

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financeiro, contribuindo para o preenchimento das lacunas encontradas no

comportamento do consumidor.

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APÊNDICES

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APÊNDICE 1 - Questionário Survey

1. Assinale o número que estiver mais de acordo com o seu grau de discordância ou concordância com as afirmativas abaixo, considerando que 1 significa DISCORDO MUITO e 7 CONCORDO MUITO.

2. Em relação aos seus gastos, assinale o número na escala que corresponde ao seu consumo, considerando que: 1 corresponde a Gasta MENOS que ganha e 7 Gasta MAIS que ganha. 3. Nos itens a seguir, assinale o número que representa os seus gastos, considerando que: 1 significa Gasto POUCO e 7 Gasto MUITO.

AFIRMATIVAS Discordo

Muito Concordo

Muito

1.1 Geralmente compro apenas aquilo que preciso. 1 2 3 4 5 6 7 1.2 Tento manter a minha vida simples, no que diz respeito aos meus bens

materiais. 1 2 3 4 5 6 7

1.3 As coisas que possuo não são muito importantes para mim. 1 2 3 4 5 6 7 1.4 Gosto de gastar dinheiro em coisas que não são necessárias. 1 2 3 4 5 6 7 1.5 Comprar objetos me dá um imenso prazer. 1 2 3 4 5 6 7 1.6 Gosto de muito luxo na minha vida. 1 2 3 4 5 6 7 1.7 Dou menos importância às coisas materiais que a maioria das pessoas que

conheço. 1 2 3 4 5 6 7

1.8 Tenho todas as coisas que preciso para ser feliz. 1 2 3 4 5 6 7 1.9 A minha vida seria melhor se possuísse coisas que eu não tenho. 1 2 3 4 5 6 7

1.10 Não seria mais feliz se tivesse coisas mais bonitas. 1 2 3 4 5 6 7 1.11 Seria mais feliz se tivesse dinheiro para comprar mais coisas. 1 2 3 4 5 6 7 1.12 As vezes, entristeço-me por não poder comprar todas as coisas que quero. 1 2 3 4 5 6 7 1.13 Admiro pessoas que possuem carros, casas e roupas caras. 1 2 3 4 5 6 7 1.14 Alguns dos feitos mais importantes na minha vida incluem os bens materiais. 1 2 3 4 5 6 7 1.15 Não dou muita importância à quantidade de objetos materiais que as pessoas

têm. 1 2 3 4 5 6 7

1.16 As coisas que tenho dizem muito sobre o sucesso que tenho tido na vida. 1 2 3 4 5 6 7 1.17 Gosto de ter coisas que impressionam as pessoas. 1 2 3 4 5 6 7 1.18 Não dou muita importância aos objetos materiais que os outros têm. 1 2 3 4 5 6 7

1 2 3 4 5 6 7

Gasto Menos do que Ganho Gasto Igual ao que Ganho Gasto Mais do que Ganho

PRODUTOS Gasto Pouco

Gasto Muito

3.1 Alimentos em Geral (Supermercados, Açougue). 1 2 3 4 5 6 7 3.2 Móveis em Geral (Cama, Estante, Colchão). 1 2 3 4 5 6 7 3.3 Utensílios Domésticos (Decoração, Acessórios de Cozinha). 1 2 3 4 5 6 7 3.4 Vestuário em Geral (Roupas, Acessórios). 1 2 3 4 5 6 7 3.5 Calçados em Geral. 1 2 3 4 5 6 7 3.6 Materiais de Construção. 1 2 3 4 5 6 7

Continua na próxima página.

BLOCO A – QUAL A SUA OPINIÃO A RESPEITO DAS AFIRMATIVAS ADIANTE?

PESQUISA SOBRE O COMPORTAMENTO DE COMPRA DO UNIVERSITÁRIO

BLOCO B – QUAL A SUA OPINIÃO A RESPEITO DAS ALTERNATIVAS ADIANTE?

Esta é uma pesquisa necessária à elaboração da minha dissertação do Curso de Mestrado Acadêmico em Administração que realizo na UNIVALI, com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre o comportamento de compra do estudante universitário. Sua participação é voluntária e você está recebendo esta pesquisa por atender aos requisitos definidos para o estudo. Sua colaboração é muito importante para o sucesso da pesquisa e consiste em responder ao questionário adiante. Não existem respostas certas ou erradas. O que importa é sua percepção a respeito de cada item da pesquisa. Asseguro que os dados serão analisados de forma agregada, sem identificação dos respondentes. Os itens relacionados ao seu perfil, constantes do final do questionário, serão utilizados, apenas, para análises de tendências de respostas. Essa tarefa será concluída por você em 15 minutos. Muito obrigado por sua participação. Thiago dos Santos.

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4. Assinale o número que estiver mais de acordo com o seu grau de discordância ou concordância com as afirmativas abaixo, considerando que: 1 significa DISCORDO MUITO e 7 CONCORDO MUITO.

5. Com qual frequência você consegue poupar o seu dinheiro? Assinale o número que corresponde as suas atitudes, considerando que: 1 indica NUNCA Consigo e 7 SEMPRE Consigo.

6. Atualmente, você possui conta bancária? 6.1 [_____] SIM. Se assinalou SIM, continue na Questão 07.

6.2 [_____] NÃO. Se NÃO, pule para a Questão 08 na página seguinte.

7. Qual o tipo de conta você utiliza hoje? Assinale uma ou mais respostas. 7.1 [_____] Conta Corrente 7.2 [_____] Conta Universitária 7.3 [_____] Conta Conjunta. Com quem?__________________. 7.4 [_____] Conta Poupança 7.5 [_____] Conta Salário 7.6 [_____] Outra. Qual? ______________________________.

Gasto Pouco

Gasto Muito

3.7 Automóvel ou Moto. 1 2 3 4 5 6 7 3.8 Eletrodomésticos, Eletroeletrônicos. 1 2 3 4 5 6 7 3.9 Presentes. 1 2 3 4 5 6 7

3.10 CD`s, DVD`s (Discos, Música). 1 2 3 4 5 6 7 3.11 Celular ou Telefonia. 1 2 3 4 5 6 7 3.12 Medicamentos, Perfumaria, Cosméticos. 1 2 3 4 5 6 7 3.13 Lazer (Restaurantes, Cinemas, Teatros, Show`s, Festas). 1 2 3 4 5 6 7 3.14 Pagamento de Contas (Quitação de Dívidas). 1 2 3 4 5 6 7 3.15 Médicos, Hospitais e Exames. 1 2 3 4 5 6 7 3.16 Escolas, Graduação, Cursos em Geral. 1 2 3 4 5 6 7

AFIRMATIVAS Discordo

Muito

Concordo Muito

4.1 Eu gosto de muito luxo na minha vida, embora eu possa não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas contas.

1 2 3 4 5 6 7

4.2 Eu compro os objetos materiais, como sinal de sucesso, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.

1 2 3 4 5 6 7

4.3 Eu tenho muito prazer em comprar coisas agradáveis, embora eu tenha dificuldade financeira.

1 2 3 4 5 6 7

4.4 Comprar é uma forma de me sentir melhor, mesmo que depois eu possa enfrentar dificuldades financeiras.

1 2 3 4 5 6 7

4.5 Quando estou com um baixo emocional, eu gasto mais do que eu deveria com base na minha condição financeira.

1 2 3 4 5 6 7

4.6 Para mim, fazer compras é uma maneira de aliviar o estresse, embora eu talvez tenha que enfrentar dificuldades financeiras.

1 2 3 4 5 6 7

4.7 Muitas das vezes eu compro algo que realmente quero, sem pensar muito, embora eu não deveria comprá-los, com base nas minhas condições financeiras.

1

2

3

4

5

6

7

4.8 É típico para mim, passar por imprudente, por não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.

1 2 3 4 5 6 7

4.9 Durante as compras, muitas vezes, gasto mais do que eu deveria (com base nas minhas condições financeiras) sem que eu perceba isso..

1 2 3 4 5 6 7

4.10 Eu gasto muito quando estou de bom humor, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.

1 2 3 4 5 6 7

4.11 Quando estou bem emocionalmente, eu compro um monte de coisas, embora não tenha dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.

1 2 3 4 5 6 7

4.12 Eu gosto de fazer compras quando estou de bom humor, embora compro coisas que eu não deveria, se pensar na minha situação financeira.

1 2 3 4 5 6 7

4.13 Eu acompanho bem as minhas despesas, para fins de orçamento. 1 2 3 4 5 6 7 4.14 Eu realmente posso impedir-me de comprar coisas que eu não deveria, se eu

pensar na minha situação financeira. 1 2 3 4 5 6 7

4.15 Eu examino e avalio o meu comportamento de compra, com a finalidade de cuidar do meu orçamento.

1 2 3 4 5 6 7

1 2 3 4 5 6 7 NUNCA Consigo SEMPRE Consigo

BLOCO C – GESTÃO DO SEU RENDIMENTO

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8. Com qual frequência você costuma utilizar estes produtos financeiros? Assinale o número que indica o seu nível de consumo, considerando: 1 indica NUNCA Utilizo e 7 Utilizo MUITO.

9. Assinale o número que estiver mais de acordo com o seu grau de discordância ou concordância com as afirmativas abaixo, considerando que: 1 significa DISCORDO MUITO e 7 CONCORDO MUITO.

10. Você atualmente possui dívidas? 10.1 [_____] SIM. Se assinalou SIM, responda as questões 11 à 14.

10.2 [_____] NÃO. Se NÃO, pule para o BLOCO D no verso desta página.

11. Quais os tipos de dívidas você possui? Assinale uma ou mais respostas que representam a sua dívida.

11.1 [_____] Cartão de Crédito 11.2 [_____] Crédito Consignado 11.3 [_____] Financiamento de Carro 11.4 [_____] Cartão de Débito 11.5 [_____] Crédito Pessoal 11.6 [_____] Financiamento de Casa 11.7 [_____] Cheque 11.8 [_____] Carnês de Lojas 11.9 [_____] Crediários 11.10 [_____] Outro. Qual? _______________.

12. Se você fosse quantificar sua dívida, qual seria o grau do seu endividamento. Assinale o número na escala abaixo:

13. O pagamento destas dívidas estão em atraso? 13.1 [_____] SIM. Se assinalou SIM, responda à questão 14.

13.2 [_____] NÃO. Se NÃO, pule para o BLOCO D no verso desta página.

14. Quais os motivos de não conseguir pagar as suas dívidas no vencimento? Assinale uma ou mais respostas que justifiquem o atraso. 14.1 [_____] Falta de Planejamento. 14.6 [_____] Empréstimo do Nome. 14.2 [_____] Desemprego ou Queda na Renda. 14.7 [_____] Problemas de Saúde. 14.3 [_____] Alta Propensão ao Consumo. 14.8 [_____] Má Gestão do meu Dinheiro. 14.4 [_____] Alta Taxa de Juros. 14.9 [_____] Acesso ao Crédito. 14.5 [_____] Ausência de Desconto a vista. 14.10 [_____] Outro. Qual? _______________________________.

PRODUTOS Nunca

Utilizo

Utilizo Muito

8.1 Cartão de Crédito 1 2 3 4 5 6 7 8.2 Crédito Consignado 1 2 3 4 5 6 7 8.3 Cartões de Crédito de Lojas (Hipercard) 1 2 3 4 5 6 7 8.4 Cartão de Débito 1 2 3 4 5 6 7 8.5 Crédito Pessoal 1 2 3 4 5 6 7 8.6 Carnês de Lojas 1 2 3 4 5 6 7 8.7 Cheque 1 2 3 4 5 6 7 8.8 Crediários 1 2 3 4 5 6 7 8.9 Outros. Qual? _________________________________________________. 1 2 3 4 5 6 7

AFIRMATIVAS Discordo

Muito Concordo

Muito 9.1 Não é certo gastar mais do que ganho. 1 2 3 4 5 6 7

9.2 Acho normal as pessoas ficarem endividadas para pagar suas coisas. 1 2 3 4 5 6 7

9.3 As pessoas ficariam desapontadas comigo se soubessem que tenho dívida. 1 2 3 4 5 6 7

9.4 É melhor primeiro juntar dinheiro e só depois gastar. 1 2 3 4 5 6 7

9.5 Prefiro comprar parcelado do que esperar ter dinheiro para comprar à vista. 1 2 3 4 5 6 7

9.6 Prefiro pagar parcelado mesmo que no total seja mais caro. 1 2 3 4 5 6 7

9.7 Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco. 1 2 3 4 5 6 7

9.8 É importante saber controlar os gastos de minha casa. 1 2 3 4 5 6 7

9.9 Não tem problema ter dívida se eu sei que posso pagar. 1 2 3 4 5 6 7

1 2 3 4 5 6 7 Pouco Endividado

Muito Endividado

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Preencha os seus dados pessoais abaixo e assinale com “X” nas alternativas que dizem respeito a você.

15. Qual a sua IDADE? _____________ anos completos. 16. Gênero: 16.1 [_____] Masculino 16.2 [_____] Feminino 17. Estado Civil: 17.1 [_____] Solteiro (a) / Separado (a) / Desquitado (a) / Viúvo (a). 17.2 [_____] Casado (a) / Mora junto. 18. Cidade em que reside: _____________________________________________________________ Estado ___________________. 19. Curso de Graduação que está cursando: ___________________________________ Semestre: [___°] Turno: [____] Diurno [____] Noturno 20. Em qual Campus: 20.1 [_____] Balneário Camboriú 20.2 [_____] Biguaçu 20.3 [_____] Florianópolis (Unidade Ilha) 20.4 [_____] Itajaí 20.5 [_____] São José 20.6 [_____] Tijucas 21. Ocupação Profissional: 21.1 [_____] Não Trabalho. 21.5 [_____] Empregado(a) Assalariado(a). 21.2 [_____] Conta própria ou autônomo(a). 21.6 [_____] Funcionário(a) Público(a). 21.3 [_____] Empresário(a). 21.7 [_____] Outra função. Qual? ____________. 21.4 [_____] Estagiário(a). 22. Renda Mensal Bruta FAMILIAR Aproximada: 22.1 [_____] Até R$1.090,00 22.2 [_____] De R$1.091,00 até 2.725,00. 22.3 [_____] De R$ 2.726,00 a R$5.450,00. 22.4 [_____] De R$5.451,00 a R$13.625,00 22.5 [_____] Mais de R$13.626,00. 23. Mora sozinho (a): 23.1 [_____] Sim.

23.2 [_____] Não. Com quem mora? _________________________________________________.

24. Recebe ajuda financeira? 24.1 [_____] Não recebo ajuda financeira. 24.2 [_____] Ajuda Governamental (bolsas de estudos). Quantos reais? R$________________. 24.3 [_____] Dos meus pais. Quantos reais? R$______________________________________. 24.4 [_____] De amigos. Quantos reais? R$_________________________________________. 24.4 [_____] De parentes. Quantos reais? R$________________________________________. 24.5 [_____] Dos avós. Quantos reais? R$__________________________________________. 24.6 [_____] Outros. Quem?__________________________ Quantos reais? R$____________.

25. De acordo com as colunas, assinale com um X a quantidade de itens que possui na residência onde você VIVE ATUALMENTE.

26. No Quadro abaixo, marque com um X no grau de instrução do CHEFE DA SUA FAMILIA:

Quantidade de objetos -> 0 (não tem) 1 Unidade 2 Unidades 3 Unidades 4 ou + Unidades

Televisão em Cores 0 [ ] 1 [ ] 2 [ ] 3 [ ] 4 [ ]

Rádio 0 [ ] 1 [ ] 2 [ ] 3 [ ] 4 [ ]

Banheiro (incluindo lavabo) 0 [ ] 4 [ ] 5 [ ] 6 [ ] 7 [ ]

Automóvel 0 [ ] 4 [ ] 7 [ ] 9 [ ] 9 [ ]

Empregada Mensalista 0 [ ] 3 [ ] 4 [ ] 4 [ ] 4 [ ]

Máquina de Lavar Roupas 0 [ ] 2 [ ] 2 [ ] 2 [ ] 2 [ ]

Videocassete ou DVD 0 [ ] 2 [ ] 2 [ ] 2 [ ] 2 [ ]

Geladeira 0 [ ] 4 [ ] 4 [ ] 4 [ ] 4 [ ]

Freezer (ou geladeira duplex) 0 [ ] 2 [ ] 2 [ ] 2 [ ] 2 [ ]

Analfabeto / Até 3a Série Fundamental 0 [ ]

Até 4a Série Fundamental 1 [ ]

Fundamental Completo 2 [ ]

Médio Completo 4 [ ]

Superior Completo 8 [ ]

BLOCO D – DADOS PESSOAIS

OBRIGADO POR SUA PARTICIPAÇÃO | THIAGO DOS SANTOS | [email protected]

CONFIRA SE VOCÊ PREENCHEU TODAS AS QUESTÕES.

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ANEXOS

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ANEXO 1 - Construto original de Materialismo proposto por Belk (1985) Possessiveness subscale 1. Renting or leasing a car is more appealing to me than owning one*

2. I tend to hang on to things I should probably throw out

3. I get very upset if something is stolen from me, even if it has little monetary value

4. I don't get particularly upset when I lose things*

5. I am less likely than most people to lock things up*

6. I would rather buy something I need than borrow it from someone else

7. I worry about people taking my possessions

8. When I travel I like to take a lot of photographs

9. I never discard old pictures or snapshots

Nongenerosity subscale 1. I enjoy having guests stay in my home'

2. I enjoy sharing what I have*

3. I don't like to lend things, even to good friends

4. It makes sense to buy a lawnmower with a neighbor and share it"

5. I don't mind giving rides to those who don't have a car*

6. I don't like to have anyone in my home when I'm not there

7. I enjoy donating things to charities*

Envy subscale 1. I am bothered when I see people who buy anything they want

2. I don't know anyone whose spouse or steady date I would like to have as my own*

3. When friends do better than me in competition it usually makes me happy for

them*

4. People who are very wealthy often feel they are too good to talk to average people

5. There are certain people I would like to trade places with

6. When friends have things I cannot afford it bothers me

7. I don't seem to get what is coming to me

8. When Hollywood stars or prominent politicians have things stolen from them I

really feel sorry for them *

(*) Afirmativas contrárias.

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ANEXO 2 - Construto original de Materialismo proposto por Richins e Dawson (1992) Centrality: 1. I usually buy only the things I need.*

2. I try to keep my life simple, as far as possessions are concerned.*

3. The things I own aren't all that important to me.*

4. I enjoy spending money on things that aren't practical.

5. Buying things gives me a lot of pleasure.

6. I like a lot of luxury in my life.

7. I put less emphasis on material things than most people I know.*

Happiness: 1. I have all the things I really need to enjoy life.*

2. My life would be better if I owned certain things I don't have.

3. I wouldn't be any happier if I owned nicer things.*

4. I'd be happier if I could afford to buy more things.

5. It sometimes bothers me quite a bit that I can't afford to buy all the things I'd like.

Success: 1. I admire people who own expensive homes,cars, and clothes.

2. Some of the most important achievements in life include acquiring material

possessions.

3. I don't place much emphasis on the amount of material objects people own as a

sign of success.*

4. The things I own say a lot about how well I'm doing in life.

5. I like to own things that impress people.

6. I don't pay much attention to the material objects other people own*

(*) Afirmativas contrárias.

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ANEXO 3 - Construto original de Consumo Excessivo proposta por Wu (2006)

Materialism Value Factor (MVF) 1. I like a lot of luxury in my life, although I may not have enough money to pay for

all my purchases.

2. I buy material objects as a sign of success, although the purchases might put me

into financial difficulties.

3. I derive a lot of pleasure from buying nice things, although I may have to stretch

financially.

Negative Affect Factor (NAF) 1. Shopping is a way of making myself fell better, even if I might face financial

difficulties afterwards.

2. When I am on an emotional low, I spend more than I should based on financial

consideration.

3. To me, shopping is a way to relieve stress, although I might have to stretch

financially.

Habitual Behavior Factor (HBF) 1. I will often buy something I really want without much thinking, although I shouldn't

buy them based on financial consideration.

2. It is typical for me to spend imprudently, although I may not have enough money

to pay for all my purchases.

3. During shopping trips, I often spend more than I should (based on financial

consideration) before I realize it.

Positive Affect Factor (PAF) 1. I spend a lot when I am in a good mood, although the purchases might put me

into financial difficulties.

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2. When I am on an emotional high, I buy a lot of things, although I may not have

enough money to pay for all my purchases.

3. I like to shop when I am in a good mood, even though I buy things that I shouldn't

based on financial consideration.

Self-Control Factor (SCF)

1. I keep good track of my expenses for budgeting purpose. *

2. I can effectively prevent myself from buying things I shouldn't buy based on

financial consideration. *

3. I scrutinize and evaluate my buying behavior for budgeting purpose. *

(*) Afirmativas contrárias.

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ANEXO 4 - Construto original de Propensão ao Endividamento de Lea, Webley e Walker (1995)

1. Taking out a loan is a good thing because it allows you to enjoy life.

2. It is a good idea to have something now and pay for it later.

3. Using credit is basically wrong. *

4. I'd rather go hungry than buy food 'on tick'. *

5. I plan ahead for larger purchases. *

6. Being in debt is never a good thing. *

7. Credit is an essential part of today's lifestyle.

8. It is better to go into debt than to let children go without Christmas presents.

9. It is important to live within one's means. *

10. Even on a low income, one should save a little regularly. *

11. Borrowed money should be repaid as soon as possible. *

12. Most people run up too much debt. *

13. It is too easy for people to get credit cards. *

14. I do not like borrowing money. *

15. Borrowing money is sometimes a good thing.

16. I am rather adventurous with my money.

17. It is ok to borrow money to pay for children's clothes.

(*) Afirmativas contrárias.

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ANEXO 5 - Escala Likert 7 Pontos