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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CAMPUS BIGUAÇU CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM INGRID PIRES SILVA ROSA WERLANG O ENFRENTAMENTO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA SITUAÇÃO MORTE E MORRER DE PACIENTES ONCOLÓGICOS BIGUAÇU 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CAMPUS BIGUAÇU

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

INGRID PIRES SILVA

ROSA WERLANG

O ENFRENTAMENTO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA SITUAÇÃO

MORTE E MORRER DE PACIENTES ONCOLÓGICOS

BIGUAÇU

2009

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INGRID PIRES SILVA

ROSA WERLANG

O ENFRENTAMENTO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA SITUAÇÃO

MORTE E MORRER DE PACIENTES ONCOLÓGICOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção de título de Enfermeiro generalista, na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Biguaçu. Orientadora Profª Msc. Maria Lígia dos Reis Bellaguarda

BIGUACU

2009

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INGRID PIRES SILVA

ROSA WERLANG

O ENFRENTAMENTO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA SITUAÇÃO MORTE E MORRER DE PACIENTES ONCOLÓGICOS

Esta monografia foi submetida ao processo de avaliação pela Banca Examinadora, atendendo às normas da legislação vigente do Curso de Graduação em Enfermagem de Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

Área de Concentração: Enfermagem

Biguaçu, maio de 2009.

Profª Msc. Maria Lígia dos Reis Bellaguarda Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

Orientadora

Enfa. Maristela Jeci dos Santos

Centro de Pesquisas Oncológicas - CEPON Membro

Profª Msc. Ivânia Jann Luna Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

Membro

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Dedicamos este estudo à memória de pessoas

importantes em nossas vidas, pelo exemplo de

coragem, luta, força, amizade, amor, e por todas as

lições de vida com eles aprendidas.

À minha avó, Franca Olinda Pires(In memorian).

Ao meu pai Pedro Canísio(In memorian) e aos meus

irmãos Bernardo e Roberto Werlang (In memorian).

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NOSSOS AGRADECIMENTOS

Enfim chega o momento de agradecer. Muitas são as pessoas que merecem um

agradecimento especial, pois de uma forma ou de outra, contribuíram ao longo de nossa

caminhada.

É muito difícil nomear cada um que esteve ao nosso lado, cada amigo, o incentivo, a

compreensão, neste momento, o coração bate mais forte, os olhos se enchem de lágrimas, O

sentimento de gratidão e a certeza da missão cumprida reorganizam os sentimentos e

deixamos nosso coração falar através destas palavras sendo assim, gostaríamos de agradecer

a algumas pessoas em especial:

Primeiramente à Deus, por ter estado presente em todos os momentos bons e ruins,

iluminando nossos caminhos e guiando nossos passos, pois se não fosse Ele não teríamos

chegado ao fim de mais uma jornada

À Profª Msc. Maria Lígia dos Reis Bellagarda, a “Liginha nossa desorientadora”, por

sua imensa paciência, amizade, pelo otimismo, apoio, disponibilidade, pelas suas sábias

palavras, que nos foram muito úteis para este trabalho e por nos fazer acreditar que nada é

impossível, desde que tenhamos determinação e força de vontade.

À Enf. Maristela e a Psicóloga Profª Msc Ivânia, integrantes da Banca Examinadora,

pela disponibilidade e enriquecimento deste estudo.

À Professora Maritê Inês Argenta, pelo apoio e incentivo nesta reta final.

Aos nossos companheiros de trabalho, pelo apoio, pela motivação, incentivo e carinho,

e por muitas vezes entender nossas limitações devido ao cansaço e estresse.

Aos funcionários do CEPON, por acreditarem na nossa proposta e contribuírem com

este estudo.

Aos nossos mestres, que ao longo destes quatro anos contribuíram como peças

fundamentais na composição de nosso aprendizado, caráter e profissionalismo.

Aos colegas de classe, pelos momentos de aprendizado coletivo e por nos

proporcionarem algumas amizades que levaremos por toda a vida.

A todos, que uma forma ou de outra se fizeram presentes e contribuíram para a

elaboração deste trabalho.

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AGRADECIMENTOS DE INGRID

Aos meus pais, Evilásio e Olinda pelo amor incondicional, apoio e incentivo, e

principalmente à minha Mãe, mulher forte, guerreira que mesmo nos momentos mais difíceis

ressurge como Félix, nos dando um testemunho diário de força e determinação. Obrigada

MÃE por todos os momentos em que foste o meu alicerce evitando minha queda.

A minha irmã Fabrícia e minha sobrinha Guilia pelo apoio, carinho, alegria, amizade,

confiança e pelos momentos de descontração. Juntas mantemos a nossa família revigorante.

Dedico este estudo à memória de minha avó, Franca Olinda Pires pois foi através

desta mulher amável e guerreira que enfrentei pela primeira vez o processo de morte e

morrer na sua forma mais tocante, não somente como um familiar, mas também como

profissional que prepara o corpo. Obrigada vovó por mais este aprendizado!!!!

À minha grande amiga Rosa por todos os momentos que unidas vencemos os

percalços da vida e por muitos momentos de alegria ao longo desta jornada. Amiga/irmã que

por várias vezes me aconselhou e escutou minhas indecisões. Companheira de muitos desafios

que unidas, transformamos em conquistas. Agradeço por entender minhas invasões a sua vida

pessoal, sempre entendendo que esta abertura visava o seu melhor. Obrigada amiga,

conseguimos...

Às amigas Aline e Maquelin pelos momentos felizes que passamos juntos, pelos

churrascos, pela descontração e por ajudarem a formar o Quarteto fantástico.

Ao meu lindinho, que ao longo desta caminhada por vários momentos foi a minha

alegria, meu ombro amigo e meu conselheiro.

Às minhas amigas Simone, Missia, Andréia, Tuane, Aline, Bianca e outras tantas

amigas de festa que por muitos momentos me proporcionaram alegrias indescritíveis.

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AGRADECIMENTOS DE ROSA

Aos meus pais, pelos ensinamentos, pelo amor incondicional, apoio, incentivo,

perseverança, otimismo e valores que fizeram de mim o que sou hoje.

Aos meus irmãos pelo amor, carinho, amizade, confiança e companheirismo.

À memória de meu pai Pedro Canísio e de meus irmãos Bernardo e Roberto Werlang,

pelo exemplo de coragem e luta, e por todas as experiências de vida aprendidas. “Dói, de

tanto medir a distância, saber que não vou te tocar além da lembrança. A tua falta é sol sem

calor, está aqui, mas se foi. Virou estrela, a nossa estrela do céu” (Autor desconhecido)

À minha amiga e sempre companheira Ingrid pelo incentivo nas horas de desânimo

que muito me auxiliou e ajudou nessa jornada, não me deixou desistir. Obrigada por seres

minha amiga de me aceitares do jeito que eu sou e por saber também elogiar minhas virtudes.

Você é simplesmente alguém que me ensinou a ver a vida com outros olhos, que nunca é

tarde para recomeçar. Ofereceu-me seu ombro amigo, sem pedir nada, simplesmente minha

amizade.

Aos meus colegas de faculdade principalmente as “super poderosas” pelo

companheirismo e amizade.

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RESUMO

A morte é compreendida e entendida de forma individual, recebe simbolismo somatizado pelas tendências sociais, crenças, religiosidade e experiências vividas. Compreender o enfrentamento dos profissionais de saúde no tocante à morte e o morrer e o preparo que estes obtiveram para lidar com todo este processo é o objetivo deste estudo. Estudo do tipo qualitativo, exploratório-descritivo, sob a modalidade da Pesquisa Convergente-Assistencial de Trentini e Paim (2006) em articulação com a Teoria da Relação pessoa-pessoa de Travelbee. Participaram do estudo12 profissionais da equipe de Enfermagem, da Unidade de cuidados Paliativos do Hospital do Centro de Pesquisas Oncológicas-CEPON. Foi aplicada entrevista com perguntas semi-estruturadas, além da exposição, posterior, aos participantes dos sentimentos que emergiram. Os registros emergentes construíram duas categorias de análise: Processo da morte e do morrer: do significado ao enfrentamento; e Modos de aprender e enfrentar a morte e o morrer. Os dados levantados mostraram a fragilidade que há no preparo dos profissionais de Enfermagem nos diversos níveis, quanto à morte e ao morrer. Este estudo traduz a deficiência explícita do cuidado, por parte da instituição, ao cuidador. Propiciar qualidade no trabalho, para possibilitar um cuidado de qualidade ao paciente oncológico e a família é essencial. Deste estudo, o produto emergente foi um baú de auto-ajuda, caixa constando diversos materiais, para auxílio dos membros da equipe, para se auto-ajudarem no tocante ao apoio emocional de cuidado a pacientes oncológicos e suas famílias. Palavras-Chave: Enfrentamento da morte e do morrer. Preparo dos profissionais da enfermagem. Significado da morte.

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ABSTRACT

Death is understood and perceived by an individual, receives symbolism somatizados by social trends, beliefs, and religious experiences. Understanding the face of health professionals in terms of death and dying and they were prepared to deal with this whole process is the objective of this study. Study of qualitative, exploratory-descriptive, in the form of Research Assistance of Trentini-Convergent and Paim (2006) in conjunction with the theory of person-to person for Travelbee. Estudo12 part of the professional team of nursing, palliative care unit of the Hospital's Center for Research-Ceponis cancer. Interview was applied to semi-structured questions, in addition to the exhibition, later, the participants of the feelings that emerged. Records built two emerging categories of analysis: process of death and dying: the importance of coping and ways to learn and cope with death and dying. The data collected showed that the weakness in the preparation of nursing professionals at various levels, on death and dying. This study shows the care of disabled explicitly by the institution, the caregiver. Provide quality in work, to provide quality care to cancer patients and family is essential. In this study, the chest was an emerging product, Self-help box appear different materials, to aid members of the team, for self-help on the emotional support of cancer care to patients and their families.

Key words: Coping with death and dying. Preparation of professional nursing. Meaning of

death.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................11

2 OBJETIVOS ........................................................................................................................14

2.1 OBJETIVOS GERAIS .......................................................................................................14

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................................14

3 UMA REVISÃO SOBRE A MORTE E O MORRER.....................................................15

3.1 A HISTÓRIA DA MORTE E DO MORRER NA SOCIEDADE E SUA LIGAÇÃO COM

OS HOSPITAIS........................................................................................................................15

3.2 O CUIDADO E A LIGAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM COM

PACIENTES ONCOLÓGICOS...............................................................................................16

3.3 O PREPARO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA MORTE E NO

MORRER DE SEUS PACIENTES ONCOLÓGICOS............................................................19

4 A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA NA CONDUÇÃO DA PESQUISA.......................22

4.1 JOYCE TRAVELBEE: A TEÓRICA ................................................................................22

4.2 JOYCE TRAVELBEE: AS PRESSUPOSIÇÕES DA TEORIA DA RELAÇÃO PESSOA-

PESSOA ...................................................................................................................................22

4.3 PRESSUPOSIÇÕES DAS AUTORAS..............................................................................23

4.4 CONCEITOS E SUAS INTER-RELAÇÕES ....................................................................23

4.4.1 Enfermagem.....................................................................................................................23

4.4.2 Ser – humano...................................................................................................................24

4.4.3 Meio ambiente .................................................................................................................24

4.4.4 Saúde-doença...................................................................................................................24

4.4.5 Morte e morrer.................................................................................................................25

4.4.6 Enfrentamento .................................................................................................................25

4.4.7 Comunicação ...................................................................................................................25

4.5 A RELAÇÃO PESSOA-PESSOA .....................................................................................26

4.6 METODOLOGIA DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM DE TRAVELBEE ...........26

5 DELINEAMENTO METODOLÓGICO DO ESTUDO..................................................27

5.1 TIPIFICAÇÃO DO ESTUDO............................................................................................27

5.2 ESPAÇO DE DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO ......................................................28

5.3 SUJEITOS PARTICIPANTES DO ESTUDO...................................................................29

5.4 DESENHO METODOLÓGICO DELINEADO ................................................................29

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5.5 ETICIDADE NO DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO................................................32

6 RELATANDO A TRAJETÓRIA DA PESQUISA...........................................................34

7 ANÁLISE DO PESQUISADO ...........................................................................................36

7.1 PROCESSO DA MORTE E DO MORRER: DO SIGNIFICADO AO

ENFRENTAMENTO ...............................................................................................................36

7.2 MODOS DE APRENDER E ENFRENTAR A MORTE E O MORRER. ........................46

8 CONSIDERAÇÖES FINAIS..............................................................................................56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................59

ANEXOS .................................................................................................................................63

APÊNDICES ...........................................................................................................................64

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1 INTRODUÇÃO

Na sociedade atual com a era do consumismo, das novas tecnologias, da busca pela

juventude eterna, não estamos preparados para lidar com a morte. Atualmente, pelo próprio

sistema social vigente, existe forte tendência em negar a morte, pois os mortos são elementos

improdutivos, não consumistas. (SANTORO; OLIVEIRA, 2004)

Segundo Fernandes (2005), muitas pessoas desejam permanecer jovens e eternas,

lutam para atingir o atual ponto de longevidade e resistência. Buscando incansavelmente a

felicidade de viver plenamente com dignidade, fazendo de tudo para combater a doença, a

dor, o sofrimento e vencer a própria doença.

Com a vida moderna, o stress, violência, hábitos de vida incorretos, cada vez mais

jovens estão morrendo, e esta morte normalmente ocorre no âmbito hospitalar, ao contrário de

tempos atrás onde as pessoas morriam mais tarde, idosos. Segundo Santoro; Oliveira (2004),

hoje praticamente não se vê mais a morte de indivíduos idosos que se preparam para o evento

final com a experiência e a sabedoria adquirida ao longo dos anos. O homem moderno deixou

de morrer em seu domicílio, hoje se nasce e morre em um hospital.

Cada pessoa tem um jeito de lidar com a morte, a maneira com que o doente à beira da

morte trata esta situação é diferentemente compreendida por sua família e se distingue

também do ponto de vista dos profissionais da área da saúde. A equipe de enfermagem

apresenta uma relação diversa em seu envolvimento com os pacientes em seu processo da

morte e do morre. A morte é um evento vivenciado de diferentes formas por diferentes

indivíduos envolvidos, as quais têm influência da história de vida de cada um, organizações e

desorganizações no processo vivencial. (SANTORO; OLIVEIRA, 2004).

A equipe de enfermagem convive diariamente com o doente, compartilha seus medos,

anseios, toma consciência de sua dor, da angústia de ver os familiares do paciente prestes a

perderem um ente querido. Leloup (2002) refere que em momentos da terminalidade,

deparamos com a nossa competência, que fica restrita, não havendo mais o que fazer. Neste

sentido, este autor enfoca que diante da impotência em reverter um quadro terminal o que se

tem é apenas a Presença. Segundo Kovács, (1992) a Enfermagem são as pessoas mais

procuradas nos momentos mais difíceis, é quem o paciente busca para conversar sobre seus

temores, angústias, dúvidas ou quando está morrendo. Algumas vezes a Presença de que fala

Leloup (2002) vem do paciente, pela serenidade como encara o processo pelo qual está

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vivendo, mostra-se livre dos sentimentos que os profissionais e mesmo a família têm em

relação a sua morte.

Se separarmos o processo da morte e do morrer, identificam-se três momentos,

conforme Santoro e Oliveira (2004), o que antecede a morte, o momento da morte

propriamente dita e o pós-morte. Em cada um desses momentos, a equipe de enfermagem

assiste ao paciente e sua família atendendo às necessidades que são pertinentes de cada etapa,

de maneira a abrandar o sofrimento físico e emocional, e proporcionar dignidade até os

últimos momentos sob seus cuidados.

A morte e o morrer no âmbito hospitalar fazem parte do cotidiano dos profissionais da

saúde os quais, na sua maioria, não estão preparados para lidar com tal situação. Fruto de uma

sociedade consumista que valoriza a materialidade, as pessoas não pensam e nem querem

compreender o processo da morte e do morrer. É mais fácil e certo acontecer ao outro e não a

nós!

Para tanto a evolução tecnológica, com vistas a tratamentos mais avançados de

prolongamento da vida, traz à tona as discussões e dilemas éticos referentes às abordagens de

pacientes e famílias em seu processo de morte, morrer e luto. A morte é a partir desta

evolução da ciência uma causa de pânico e negação, pois limita o fazer terapêutico o restringe

e a sensação de impotência se instaura e compromete a compreensão por parte do profissional

de saúde da sua capacidade de cuidar/curar (FOUCAULT, 1980).

Silva e Ruiz (2003) refletem este dilema como a morte sendo levada para os espaços

hospitalares se dribla o medo, o pavor, o morto e a doença incurável. Assim, a morte

escondida parece aliviar a vida exterior ao hospital, no entanto deu oportunidade ao

trabalhador da área da saúde lidar com ela no seu cotidiano mesmo incompreendida e aceita

com restrições. Já Rodrigues (2005), expõe que a morte para os profissionais de enfermagem

representa a prova do erro, do cuidar, e talvez isso possa ser o motivo pelos quais o

profissional tem dificuldade em lidar com a morte de pacientes sob os seus cuidados.

Neste sentido, pensar que muito do cuidado humanizado e competente ao paciente e

sua família no processo da morte e do morrer, depende do preparo psicológico, emocional e

técnico do profissional da saúde; observa-se uma lacuna tanto na formação quanto na

retroalimentação de subsídios para esses profissionais lidarem com as questões limítrofes no

cotidiano de trabalho.

Diante destas questões é que nós acadêmicas do Curso de graduação de enfermagem e

já profissionais em nível técnico, atuando diretamente com pacientes oncológicos, vimos a

necessidade de um estudo que revele os enfrentamentos dos profissionais de enfermagem no

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que tange cuidados a pacientes em situação real de morte e morrer. Pois o fenômeno estudado

é de importância ética, uma vez que irá trazer, possivelmente, benefícios no preparo dos

profissionais em situações onde requer consentimentos morais, culturais, econômicos e

afetivos. Visa o cuidado prestado ao paciente e sua família em vida e em morte com o intuito

de garantir uma qualidade assistencial. Estas são questões que devem considerar o paciente

como ser único, com direito de ter na vida um cuidado diferenciado em seu processo de morte

e morrer. Kubler-Ross (1998, p. 153) diz que “talvez o maior obstáculo a enfrentar quando se

procura compreender a morte seja o fato de que é impossível para o inconsciente imaginar um

fim para sua própria vida”.

Há desta forma uma necessidade posta, em que o profissional da saúde deva

compreender o processo da terminalidade de um ciclo, para auxiliar na transição do saudável

ao doentio e deste à morte.

Tendo em vista tantos caminhos a percorrer neste tão pouco explorado e estudado

processo da morte e do morrer, onde várias perguntas ainda estão sem respostas, as autoras

fazem a seguinte pergunta de Pesquisa: Qual o preparo que os profissionais de

enfermagem tem, para o enfrentamento da morte e do morrer de pacientes oncológicos?

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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAl

Conhecer o enfrentamento dos profissionais de enfermagem diante do processo morte

e morrer de pacientes oncológicos.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Identificar os modos de enfrentamento dos profissionais da equipe de enfermagem na ـ

situação morte de seus pacientes oncológicos;

Relacionar os modos de preparo dos profissionais da equipe de enfermagem quanto ao ـ

processo da morte e do morrer.

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3 UMA REVISÃO SOBRE A MORTE E O MORRER

Quando surge uma dúvida sobre um determinado tema, se faz necessário à busca por

respostas, o aperfeiçoamento e organização dos pensamentos, contudo a busca por

pensamentos e experiências antes descritas auxiliam neste aperfeiçoamento.

A revisão literária é uma ligação fidedigna entre a dúvida e a resposta para tais, sendo

uma forma de conhecer e aprender mais sobre o tema que se quer investigar e propicia formas

diferentes de ver o que está sendo exposto.

Neste sentido, a seguir se apresenta uma breve revisão literária subdividida em: A

história da morte e do morrer na sociedade e sua ligação com os hospitais; O cuidado e a

ligação dos profissionais de enfermagem com pacientes oncológicos e O preparo dos

profissionais de enfermagem na morte e no morrer dos pacientes oncológicos.

3.1 A HISTÓRIA DA MORTE E DO MORRER NA SOCIEDADE E SUA LIGAÇÃO COM

OS HOSPITAIS

A história narra vários rituais de funerais nas diversas sociedades, antigamente assim

como se nascia, também se morria em casa, os funerais agrupavam parentes, vizinhos, as

crianças, amigos e todos aqueles que de uma forma ou de outra se interessassem a

compartilhar deste momento com os familiares, sendo assim, com todos esses integrantes

participando deste momento as pessoas se envolviam com o processo da morte. Nesta

perspectiva observa-se, que as múltiplas religiões trazem à tona uma variedade de crenças e

de destino do ser humano, alguns estudiosos e teólogos católicos afirmam que corpo e alma

não se separa, o homem sendo assim, a totalidade (HELMAN, 2003).

Quando o local da morte se deslocou para os hospitais, as famílias e a sociedade se

distanciaram cada vez mais da experiência com a morte.

Segundo Kovacs (1992), no século XX a maioria das pessoas não vê os parentes

morrerem, O hospital é conveniente, pois esconde a repugnância e os aspectos sórdidos

ligados à doença.

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Para Chiavenato (1998), a mudança no local de se morrer, sendo inicialmente nos

domicílios e posteriormente nos espaços hospitalares, criou um imaginário coletivo de que a

tecnologia mantenedora da vida destituiria a existência humana do processo da morte.

Kovács (1992), afirma que 80% das pessoas morrem nos hospitais, primeiro porque é

mais eficaz e escondido do que em casa, além disto os seguros pagam as hospitalizações

Hoje, tendo em vista que se virou rotina morrer longe de casa o papel de preparar o

corpo e de todo aquele ritual fúnebre no domicílio se modificou, ficando por conta dos

profissionais da área da saúde em específico dos profissionais de enfermagem.

Sobrecai a morte, nos hospitais e sobre os profissionais de saúde, mas infelizmente

nem a morte consegue escapar da invasão técnica dos centros hospitalares, já que não se

permite mais que os pacientes morram em paz. (SHAKTI, 1994).

As equipes de enfermagem passaram a substituir os familiares ao lado da pessoa pretes

a morrer, as grandes enfermarias substituíram o aconchego familiar.

Para Aires (1997), no momento em que a morte e os nascimentos são feitos

publicamente, não existe a noção da privacidade e os fatos são encerrados com naturalidade,

como parte da vida do indivíduo e do grupo.

Sendo a morte parte do cotidiano da vida hospitalar muito dos profissionais que atuam

nesta área com o tempo tornam-se frios, tratam a morte como um acontecimento simples,

tentam se distanciar do ocorrido; outros por fazerem parte desta sociedade que para se abster

da função de estar junto ao moribundo, transferem esta função para os hospitais e sofrem

constantemente quando se deparam com a morte.

3.2 O CUIDADO E A LIGAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM COM

PACIENTES ONCOLÓGICOS

O câncer é uma das doenças mais temidas nesse universo. Grande parte desse medo é

causada pela limitação diagnóstica e conseqüentemente de tratamento. De acordo com Kovács

(1992) o câncer é considerado como a sentença de morte, além de ser chamado também de

gravidez demoníaca, por causa do crescimento desorganizado.

O câncer, no primeiro momento pode assustar, amedrontar e revoltar, porém houve

algum progresso em relação à terapia ao longo das últimas quatro décadas. Avanços nas

técnicas cirúrgicas, na radioterapia e na quimioterapia elevaram a sobrevida a partir de

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meados do século 20. A medicina evoluiu, hoje 50% dos cânceres têm cura ou podem ser

controlados, sabe-se que a atitude positiva do doente no enfrentamento da doença e a

qualidade de vida são fatores importantes e tarefa fundamental dos profissionais de saúde.

A maioria dos tratamentos contra o câncer é prescrita focalizando a doença, em vez de

pensar no paciente e em suas percepções e angústias. Com o desenvolvimento científico da

atualidade, houve um adiamento do momento da morte sem uma conseqüente preocupação

coma qualidade de vida destes sobreviventes. Segundo Kovács (1992), o paciente perdeu o

seu lugar social, são ignoradas suas vontades e necessidades mais básicas, preocupando-se

mais com o desenvolvimento tecnológico do que com o bem estar do outro.

Sob o ponto de vista ético Pollock (2006), relata que os oncologistas devem buscar um

equilíbrio aceitável entre as vantagens e desvantagens do tratamento, em especial durante as

fases avançadas e terminal da doença.

Outro problema ético freqüentemente falado refere-se a eutanásia, sendo que os

cuidados paliativos são uma resposta forte e moderna a esse problema, cujo objetivo não é

matar o paciente e sim, dar-lhe uma qualidade de vida.

Segundo Pollock (2OO6), a qualidade de vida de pacientes com câncer está

relacionado com o controle da dor que é essencial para a qualidade de vida e como

componente de qualidade no tratamento do câncer, e a administração farmacológica de

opióides aperfeiçoaram a capacidade de melhorar o alívio da dor.

O esconder ou não, do paciente, a real situação de sua doença implica em como ele e

familiares devem ser abordados, pois de qualquer forma saberá o que está acontecendo.

Devemos ter claro que os pacientes sinalizam na maioria das vezes suas intenções, a

Enfermagem deve é desenvolver a capacidade de perceber, de ler nas entrelinhas essas

intenções. Neste ponto, os profissionais de enfermagem devem ajudar a pessoa doente a

enfrentar os problemas da sua realidade, e tomar consciência da gravidade. É essencial que

utilize uma boa comunicação para atingir os objetivos da intervenção de enfermagem. Sendo

que um conhecimento completo da doença e de seu tratamento é um fator importante que

permite ao paciente decidir sobre seu futuro.

Os estágios quanto à notícia do diagnóstico segundo kubler-Ross (1992) são os

seguintes.

I estágio: Negação e isolamento, e o estágio onde é dada a notícia do diagnóstico, que ـ

pode ser seguido de choque e torpor. O profissional da saúde deve estar preparado para

repassar a notícia para o paciente. É preciso transmitir o diagnóstico e, ao mesmo tempo

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dar apoio, acolhida e esperança, e informar sobre todos os procedimentos a serem

realizados.

II estágio: Raiva são sentimentos de revolta, ressentimento e inveja acompanhados da ـ

frase: por que eu? Nesta etapa, o profissional da saúde precisa entender a raiva, para

facilitar a sua expressão e para melhor poder ajudar o paciente.

III estágio: Barganha: é na realidade uma tentativa de adiamento e pode estar ligado a ـ

aspectos de culpa, relacionada com o surgimento da doença. Os pacientes neste estagio

fazem promessas e a maioria delas é feita com Deus e mantidas geralmente em

segredos. É preciso ter cuidado em não menosprezar o paciente pelas observações feitas.

,IV estágio: depressão e a fase terminal é um sentimento de perda do corpo, das finanças ـ

da família, do emprego, da capacidade de realizar certas atividades profissionais e de

lazer. Neste estágio, o profissional de enfermagem deve ajudar o paciente para que

exteriorize seu pensar, fornecendo o máximo de conforto, conservando sua dignidade,

preparar a família do paciente e apoiá-la, intervir para aliviar sintomas e respeitar o

processo da morte, sem tentar encurtá-la ou prolongá-la.

V estágio vem à aceitação: e o momento da vida do paciente em que a dor cessa, em que ـ

a mente entra num estado de torpor, em que a necessidade de alimentação torna-se

mínima, onde o paciente pára de lutar contra a morte . É o momento que é tarde demais

para palavras e para intervenções médicas. É o momento mais difícil pra um parente

próximo, pois eles querem trazer o paciente de volta para a vida. Neste estágio, o

profissional de enfermagem deve entender os conflitos da família e ajudar a escolher

uma pessoa mais tranqüila para ficar do lado do paciente, dessa forma, espera-se que a

pessoa aceite a morte como um fenômeno natural, vivenciados por todos. Neste sentido

é preciso um preparo para ajudar a quem está morrendo a atingir o estágio de aceitação.

Diante disso, faz-se necessário que nós, profissionais de enfermagem, vejamos a morte

como algo que chega para todos, e que todos precisam aprender a viver esse processo

com serenidade, evitando a presença de uma dor prolongada tanto para si mesmo quanto

para o paciente e a família.

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3.3 O PREPARO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA MORTE E NO

MORRER DE SEUS PACIENTES ONCOLÓGICOS

Dentre os profissionais da saúde, os da área da enfermagem são os que mais convivem

com os pacientes, seja para lhe prestar cuidados como higiene, medicação e alimentação, ou

lhe fornecendo um ato de carinho. Para muitos destes pacientes que possuem uma doença

avançada denominada como terminal, estes profissionais são a única possibilidade de afeto,

de carinho e de poder expressar seus medos e anseios.

Para SILVA (2005), a convivência diária, às vezes por tempo prolongado com os

pacientes, gera certo envolvimento, especialmente, nos profissionais de enfermagem que

acabam por sentir tristeza e sensação de vazio quando estes morrem

Segundo Kovács (1992), tratar de pacientes terminais, mantê-los limpos, confortáveis

e sem dor é uma tarefa muito difícil. Este mesmo autor relata que nos cursos de enfermagem

os aspectos técnicos e práticos são bastante enfatizados, porém à parte de questões ligadas à

emoção são pouco enfatizadas.

Na formação dos profissionais de enfermagem seja a nível técnico ou superior, estes

são preparados para auxiliar na iniciação da vida, na manutenção e recuperação desta, porém

quase que na sua totalidade, estes profissionais não são preparados para lidar com a morte.

Para Silva (2005), com o avançar da tecnologia o enfermeiro passa a ser preparado

apenas para a vida, sendo que o morrer passou a ser deixado à parte da experiência. O autor

ainda afirma que a morte não faz parte do programa de estudos nas universidades e quando

ocorre o ensino é superficial.

A morte é sempre um assunto sobre o qual as pessoas não gostam de falar. Todos

sabem que é inevitável mais não tocam no assunto. (CARVALHO, 1994).

Muitos profissionais vêem a morte de seus pacientes como um fracasso, não se

sentindo preparados para lidar com tal situação. Para dificultar ainda mais, o déficit

psicológico de atitudes diante da situação morte, os profissionais não possuem um preparo na

sua formação sendo a sua adaptação forçada na prática, a partir da perda de seus pacientes.

Silva (2005), afirma que cuidar de pessoas em situações críticas, onde existe a

possibilidade de ocorrência da morte, requer de quem presta o cuidado, preparo técnico para

atuar com imediatismo, como também emocional, pois a morte reflete o limite da capacidade.

Alguns dos profissionais de enfermagem com o passar do tempo, com a experiência do

processo da morte e dor morrer formada pela perda de seus pacientes conseguem conviver

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com esta situação, aceitando a morte como um processo natural da vida, outros, por fazerem

parte desta sociedade que se distanciou da morte e por preferirem não tocar neste tema,

acreditando que se a morte não for pronunciada será distanciada, reagem, não se sentem

preparados psicologicamente para prestar cuidado aos pacientes em fase terminal, no processo

de morte e morrer destes, e tão pouco confortar e preparar sua família.

Silva (2005) afirma que para que os enfermeiros possam ajudar os pacientes, nas

circunstâncias de iminência de morte, devem meditar sobre o que a morte representa para eles

como indivíduos, e para aqueles que os rodeiam.

Silva discursa ainda que em sua formação acadêmica o profissional deva ser mais bem

preparado para ser capaz de manter uma relação interpessoal de ajuda a qual é a essência do

ato de cuidar, tanto do paciente terminal, quanto com seus familiares.

Geralmente, a equipe de enfermagem, como um todo, sente-se impotente e fracassada

diante desta situação, pois ela é pouco discutida nos cursos de graduação e entre os

profissionais de saúde, que lutam pela vida e quase não refletem sobre a morte. (REZENDE,

2004).

Para que o cuidado prestado ao paciente no processo de morte e morrer em sua família

seja de qualidade, primeiramente se faz necessário que os profissionais destinados a estas

tarefas se sintam preparados para lidar com a morte.

Silva (2005), afirma que precisamos parar de ver a morte como inimiga, e devemos

enxergá-la como um processo natural que pode nos surpreender em qualquer situação da vida.

Segundo Kovács (1992), a respeito da experiência da morte os profissionais de saúde

são afetados diretamente, pois, trabalhar com o processo da morte, seguramente, nos reporta a

nossa própria morte e às nossas angústias ligadas a ela. Trabalhos como o de Borghi e

Corbellini (2004), relatam que a grande parte da responsabilidade do cuidado e respeito aos

pacientes em processo da morte e do morrer e suas famílias está sob a atenção da/o

enfermeira/o, uma vez que além do cuidado técnico se preocupam em enfocar as crenças e

valores dessas pessoas.

A atividade de saúde desenvolvida pela Enfermagem requer um bem estar e um

cuidado do próprio profissional no tocante a sua saúde. Em meados da década de 70 a

psicologia desenvolve a Teoria de Burnout, que enfoca a tensão emocional crônica no

trabalho. Muitos estudos trazem à tona que a Síndrome de Burnout afeta principalmente

trabalhadores que cuidam de outros. É uma experiência subjetiva, gerando sentimentos e

atitudes frágeis na relação entre os profissionais e o seu trabalho, gerando desta forma

insatisfação, exaustão e baixa produtividade (LIMA, 2009). Nas questões da morte e do

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morrer os trabalhadores de enfermagem de unidades de paliativo vivenciam cotidianamente

reflexos dessa exaustão, pelo turbilhão de sentimentos e emoções em enfrentar o processo de

terminalidade.

Muitos estudos sobre a morte e o morrer são desenvolvidos, principalmente na

Psicologia e Sociologia. Na Enfermagem estudos referentes a terminalidade, ainda, estão

incipientes. A Enfermagem, pelo caráter mais direto do cuidado ao ser doente e que quase

sempre está próximo do ser à morte vem estruturando um corpo de conhecimento mais

específico e aprofundado do processo da morte e do morrer (ADRIANO; FARIAS, 2007).

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4 A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA NA CONDUÇÃO DA PESQUISA

A necessidade teórica se faz, para aprimorar e inovar a ciência, a pesquisa. Para tanto,

há de se buscar referenciais teóricos que contemplem a busca do conhecimento específico da

Enfermagem, garantindo assim, a renovação de pensamento, ideais e práticas do cuidado.

Neste estudo, optou-se pela abordagem teórica de Joyce Travelbee fundamentada na

Teoria da Relação pessoa-pessoa (LEOPARDI, 2006), para pesquisar o enfrentamento de

profissionais de Enfermagem diante do processo da morte e do morrer, especificamente na

situação de pacientes oncológicos.

4.1 JOYCE TRAVELBEE: A TEÓRICA

Nascida em 1926, enfermeira psiquiátrica, docente e escritora Travelbee formou-se

enfermeira pela Escola do Hospital de Caridade de Nova Orleans em meados dos anos 40.

Realizou seu mestrado em 1959, e publica seu primeiro livro em 1960 com o título

Interpersonal Aspects of Nursing. O foco das questões discutidas nas obras de Travelbee está

no enfrentamento do estresse pelas pessoas, refere que o sofrimento é uma experiência

enfrentada por elas em algum momento da vida. (LEOPARDI, 2006).

Travelbee fez parte de várias escolas de Enfermagem de Caridade. Faleceu

prematuramente em 1973, a questão principal de sua Teoria é como se estabelecem as

relações entre enfermeiro e paciente e estabelece o sofrimento como experiência comum à

vida.

4.2 JOYCE TRAVELBEE: AS PRESSUPOSIÇÕES DA TEORIA DA RELAÇÃO PESSOA-

PESSOA

As formulações teóricas de Travelbee derivam da filosofia existencialista. Sua Teoria

foi desenvolvida através de um método operacional, em que as fases apresentam-se como

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ações delineadas. É uma Teoria teleológica, ou seja, a relação terapêutica origina-se dos

conflitos e estes superados paulatinamente pela Enfermagem no processo relacional.

Apresenta como pressupostos a fundamentarem este estudo conforme Leopardi (2006,

p. 255):

- seres humanos são irrepetíveis e únicos. Os seres humanos são seres racionais, sociais e únicos e são mais diferentes que semelhantes; - seres humanos são organismos biológicos e podem ser afetados por hereditariedade, meio ambiente, cultura e experiências de vida; - pessoas experienciam conflitos e fazem escolhas; - enfermeiro e pacientes são pessoas cujas experiências de sofrimento tem significado único; - seres humanos são capazes de pensamento racional e lógico e amadurecem; - seres humanos têm capacidade de evoluir e mudar todo o tempo; - seres humanos são motivados a procurar e compreender o significado de todas as experiências de vida.

4.3 PRESSUPOSIÇÕES DAS AUTORAS

O enfrentamento das situações de vida no processo da morte e do morrer, por pacientes ـ

oncológicos, suas famílias, e os profissionais de Enfermagem envolvidos no cuidado

depende dos significados dados às experiências no viver;

A Enfermagem estabelece, na relação pessoa-pessoa, com o paciente oncológico uma ـ

afinidade, um acolhimento terapêutico que possibilita a compreensão da situação de

saúde/doença.

4.4 CONCEITOS E SUAS INTER-RELAÇÕES

4.4.1 Enfermagem

Travelbee (LEOPARDI, 2006, p. 254) refere que “a Enfermagem é um processo

interpessoal, que ocorre entre enfermeiro e indivíduo ou grupo de indivíduos”. Nesta

perspectiva, a relação pessoa - pessoa é a essência da Enfermagem, numa abrangência da

relação enfermeiro-paciente. Neste estudo, a enfermagem apresenta significados de cuidado

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estabelecidos na relação pesquisadores-pesquisados, centrado na relação de enfrentamento

dos profissionais da enfermagem no processo morte-morrer de pacientes oncológicos.

4.4.2 Ser – humano

Travelbee trata “o ser - humano como indivíduo único e insubstituível, original,

semelhante e ao mesmo tempo desigual em relação à outra pessoa, no presente ou futuro.”

(LEOPARDI, 2006, p. 256). Nesta unicidade tratada por Travelbee as autoras deste estudo

referem o ser - humano os profissionais de saúde que trabalham com o cuidado de pacientes

oncológicos em situação de morte e morrer e se afetuam, e encontram significados para o

sofrimento.

4.4.3 Meio ambiente

Neste estudo, o meio ambiente é entendido, conforme Travelbee, o próprio espaço

onde se estabelecem as relações pessoa-pessoa, com a finalidade do cuidado. E, neste aspecto,

insere-se a interação que é o contato que envolve os seres humanos, onde acontece a

influência em reciprocidade. Meio ambiente é compreendido como espaço da “definição legal

da assistência de enfermagem” (LEOPARDI, 2006), onde a relação é estabelecida

enfermeiro/paciente.

4.4.4 Saúde-doença

A doença para Travelbee é considerada uma categoria ou classificação, é uma

experiência de vida. Refere o sofrimento como sentimento de desprazer que acontece num

continuum, experiência variável de intensidade de pessoa para pessoa. Travelbee refere-se à

saúde como sendo o sentimento ou experiência de vida livre de sofrimento e dor. Caracteriza-

se no conceito de Esperança descrito por Travelbee (LEOPARDI, 2006) como o desejo de

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ganhar ou realizar algo, expectativa de realização, confiança no outro. No estudo ora iniciado

a saúde-doença caracteriza-se, fundamentado em Travelbee, como sendo um processo de

esperança e desesperança, diante da experiência de sofrimento e dor.

4.4.5 Morte e morrer

Neste estudo, entendido como sendo a experiência de sofrimento e dor, com o

processo de desesperança na manutenção da vida saudável, em que há a busca de significados

para o cuidado do indivíduo por meio da relação pessoa- pessoa, enfermeiro/paciente, para

viver este processo de forma afetuosa e compreensível, emocional e espiritualmente.

4.4.6 Enfrentamento

Capacidade do indivíduo em compreender a experiência de vida na dor e sofrimento,

focalizado na busca da compreensão e do significado da experiência vivida (LEOPARDI,

2006). As autoras deste trabalho pensam enfrentamento como condição de se deparar com as

situações da vida e apresentar variadas maneiras de confrontar os reveses vividos no decorrer

da existência.

4.4.7 Comunicação

Processo de relação pessoa–pessoa em que há a “capacidade humana conforme

Travelbee in Leopardi (2006, p. 257), para o estabelecimento de troca de informações e

significados sobre o mundo e sobre si mesmo”. Para as autoras deste estudo a comunicação é

a própria relação interpessoal, que se estabelece entre paciente e enfermeira para e na ação do

cuidado.

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4.5 A RELAÇÃO PESSOA-PESSOA

Segundo Travelbee (Leopardi, 2006), a relação pessoa-pessoa se desenvolve por meio

de cinco fase:

1 Fase do encontro original: contato inicial entre as pessoas, casual ou

deliberadamente, voluntário ou determinado, há ou não comunicação direta com o

paciente, ou família, por parte do enfermeiro;

2 Fase das identidades emergentes: quando os valores e identidade pessoal são

explicitados para o outro, quando acontece a interação pessoa-pessoa;

3 Fase de desenvolvimento de sentimentos de empatia: acontece quando há o

encontro de reciprocidade, ajuda mútua entre enfermeiro e paciente;

4 Fase desenvolvimento de sentimentos da simpatia: quando o enfermeiro pode se

colocar como apoio ao cuidado, os objetivos da assistência se dá de forma mútua;

5 Estabelecimento de rapport: fase de avaliação da relação e os resultados terapêuticos

alcançados.

4.6 METODOLOGIA DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM DE TRAVELBEE

O processo de cuidado de Travelbee (LEOPARDI, 2006) está disciplinado em cinco

etapas que seguem:

1 Acesso aos dados: comporta as fases de encontro original e identidades emergentes,

é o momento de observação, compreensão do indivíduo e de suas necessidades,

ansiedades;

2 Diagnóstico: Identificação propriamente dita das necessidades;

3 Plano: por meio da observação de necessidades é identificado o caminho a ser

tomado para a ação do cuidado;

4 Implementação: momento de satisfazer necessidades, fase de simpatia.

5 Avaliação: quando há identificação de mudanças no comportamento do indivíduo, é

a avaliação do processo de cuidado.

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5 DELINEAMENTO METODOLÓGICO DO ESTUDO

Para a composição do método a ser seguido fez-se uma visita à literatura específica de

orientação metodológica. Para o desenvolvimento de estratégias que favoreçam a mudança de

atitude com os profissionais de Enfermagem que vivenciam o processo da morte e do morrer,

necessita-se de uma abordagem metodológica que envolva os sujeitos pesquisados ativamente

no processo de pensar o cuidado e de fazer o cuidado. Neste sentido, considera-se pertinente a

utilização da Pesquisa Convergente-Assistencial (PCA) de Trentini e Paim (2006) aliada à

Teoria de Enfermagem de Joyce Travelbee, por meio do processo de Enfermagem em que

privilegia a Relação interpessoal.

5.1 TIPIFICAÇÃO DO ESTUDO

Estudo exploratório, descritivo na modalidade convergente-assistencial de Trentini e

Paim (1999). A Pesquisa Convergente Assistencial (PCA) descrita por Trentini e Paim (1999)

é uma categoria da pesquisa de campo, uma vez que sustenta uma investigação de cunho

assistencial. Nesta modalidade de pesquisa o profissional enfatiza “o pensar” e “o fazer” ele

pensa fazendo e faz pensando, sempre sistematizando o que faz. Assim, na pesquisa

Convergente-Assistencial o enfermeiro encontra um instrumento útil “aprender a pensar e

fazer” no seu cotidiano, pesquisando as implicações teóricas e práticas no seu fazer. A PCA se

propõe a descobrir realidades, resolver problemas específicos ou introduzir inovações

caracterizando-se assim como trabalho de investigação a partir de fenômenos vivenciados no

seu contexto, o que pode incluir construções conceituais inovadoras. Em acordo com os

princípios da PCA os de expansibilidade e de interfacialidade, as autoras propõem ampliar as

questões geradas no cenário da prática assistencial em individual e coletivo da equipe de

enfermagem a ser estudada e, a partir daí influenciar o grupo em mudanças que garantam o

enfrentamento do processo da morte e do morrer de pacientes oncológicos sob os seus

cuidados. Desta forma, as autoras propõem juntamente com os sujeitos deste estudo

desenvolverem estratégias que auxiliem e facilitem este enfrentamento. As autoras

organizaram um “baú de auto-ajuda”, onde estão dispostos materiais que possam

disponibilizar como opções de reflexão, relaxamento e compreensão do momento vivido.

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5.2 ESPAÇO DE DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO

A pesquisa foi realizada em um hospital de referência na assistência oncológica no

Estado de Santa Catarina, de novembro a dezembro de 2008. Este trabalho foi desenvolvido

na unidade de cuidados paliativos a pacientes oncológicos do Centro de Pesquisas

Oncológicas – CEPON, após apresentação de carta de intenção de Pesquisa à Coordenação de

Ensino do Hospital (Apêndice 1) e à Coordenação de Enfermagem responsável pela unidade

de cuidados paliativos (Apêndice 2) e retorno de aprovação deste Projeto de Pesquisa da

Comissão de Ética em Pesquisa da instituição e da UNIVALI.

Por meio do Convênio n° 104/94, o CEPON passou a ser Unidade apoiada pela

Fundação de Apoio ao HEMOSC e CEPON-FAHECE, num esforço para tornar mais ágeis as

ações de assistência já que a estrutura funcional permite maior autonomia administrativa e

financeira.

Segundo Relatório da FAHECE/2007, trinta e seis por cento dos colaboradores que

atuam nas Unidades Apoiadas (empregados celetistas, estagiários e terceirizados) é mantido

pela FAHECE. O restante, sessenta e quatro por cento são servidores da Secretaria de Estado

da Saúde.

O complexo Hospitalar Wilson Kleinumbing inaugurado em 2005 é integrado por uma

unidade Ambulatorial situada no Bairro Itacorubi incluindo o serviço de quimioterápico,

cirurgia, cuidados paliativos e estrutura administrativa, em maio de 2006 iniciou com o

serviço de radioterapia atendendo pacientes referenciados pela Comissão Intergestora

Bipartite. O Hospital divide-se entre Unidade de Oncologia clínica, situada no primeiro andar

do prédio e Unidade de Cuidados Paliativos situado no segundo andar, onde será

desenvolvida esta pesquisa. A instituição constitui-se de 39 leitos sendo que 12 são destinados

aos cuidados paliativos, 1 para isolamento e 26 para oncologia clínica.

Os profissionais desta instituição estão subdivididos em categorias e exercem funções

as quais estão preparados com Médicos, Enfermeiros, técnicos em enfermagem e outros

profissionais. Os profissionais desta Instituição são médicos, enfermeiros, técnicos de

enfermagem, Auxiliares de Enfermagem, Psicólogos, Fisioterapeutas, Terapeutas

ocupacionais, Farmacêuticos, Assistentes Assistenciais entre outros.

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5.3 SUJEITOS PARTICIPANTES DO ESTUDO

A implementação da investigação que se propôs considerou os sujeitos participantes

deste estudo trabalhadores da equipe de Enfermagem (Enfermeiros/as, Técnicos/as e

Auxiliares de Enfermagem) que desenvolvem suas atividades em uma das unidades

oncológicas de um Hospital de Referência no Estado Catarinense. Foram considerados todos

os integrantes da equipe de Enfermagem que sejam do quadro funcional da Instituição, que

trabalham em um dos três turnos (matutino, vespertino ou noturno) e distribuído conforme

escala pré-definida pelo serviço e que aceitaram participar desta Pesquisa após assinatura do

Termo Livre e Esclarecido (Apêndice C e D).

O quadro funcional da área de enfermagem do setor de cuidados paliativos do CEPON

é dividido entre cuidados paliativos em nível ambulatorial, domiciliar e hospitalar contando

com doze (12) enfermeiros, vinte (20) técnicos de enfermagem e um (1) auxiliar de

enfermagem.

A equipe de Enfermagem da unidade de cuidados paliativos do Hospital CEPON,

onde foi ministrada esta pesquisa é composta por um (1) enfermeiro Coordenador, seis (6)

enfermeiros assistenciais e onze (11) técnicos de enfermagem, num total de 18 funcionários

distribuídos em cinco turnos de trabalho (manhã,tarde e três noites).

Para a participação dos sujeitos no desenvolvimento deste estudo foram respeitados os

preceitos éticos constantes da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que dispõe

sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Aceitaram participar deste estudo doze

profissionais, e para respeitar a individualidade e o anonimato dos sujeitos participantes desta

Pesquisa utilizou-se os seguintes codinomes: Coelho, Pássaro, Ursa, Cavalo, Gaivota, Tigre ,

Gato, Leão , Borboleta, Beija-flor, Cavalo 2 e Leão 2.

5.4 DESENHO METODOLÓGICO DELINEADO

No modelo desenvolvido por Trentini e Paim (1999) os processos de assistência, de

coleta e de análise devem ocorrer simultaneamente para facilitar a interpretação.

A coleta de dados foi realizada a partir de um roteiro (Apêndice E) pré-estabelecido

com questões pertinentes ao estudo, que auxiliou os sujeitos participantes trazerem à tona

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como enfrentam o processo de morte e morrer dos pacientes sob seus cuidados, que obtiveram

óbito na Unidade de internação oncológica. As informações, por opção dos sujeitos do estudo,

foram documentadas de forma impressa ou oral. Outra estratégia realizada para o

desenvolvimento desta Pesquisa foi uma “1oficina expressa” (Apêndice F e G) com os

funcionários que optaram em participar deste estudo, junto com eles construímos estratégias

de auxílio mútuo no enfrentamento da fragilidade emocional no processo da morte e do

morrer no ambiente de trabalho.

O registro das informações seguiu o orientado pela Pesquisa convergente assistencial

(TRENTINI; PAIM, 1999) através das notas de documentação. Notas Metodológicas (NM)

corresponderão ao registro das estratégias utilizadas para a coleta dos dados, que se utilizou o

processo de Enfermagem de Travelbee e facilidades e dificuldades encontradas no processo.

As Notas Teóricas (NT) foram utilizadas para que fossem feitas as correspondências e

contrapontos dos códigos que emergiram, aplicados ao referencial teórico e a literatura.

Conforme Trentini e Paim (2006) a análise das informações está estruturada em

quatro processos: apreensão, síntese, teorização e recontextualização.

Os dados que emergiram tanto dos questionários como das oficinas foram organizados

por codificação conforme similaridade de respostas e expressões.

A Apreensão que é a coleta de informações e segue uma organização vai até o

momento de decodificação e, posteriormente, a categorização dos dados coletados. O

processo de Síntese reflete a familiaridade que as autoras têm com o tema da investigação, no

contexto estudado. Na fase de Teorização há uma interpretação fundamentada na literatura,

novos conceitos e inter-relações fluirão desta fase de abstração. Por fim, a possibilidade de

dar significados, resignificar e contextualizar achados reflete o processo de Transferência, de

recontextualização.

A análise seguindo o preconizado pela Pesquisa Convergente Assistencial, traz a

teorização como estratégia para descobrir os valores das informaçoes contidas nas respostas

dos participantes do estudo e na expressão observada pelas Pesquisadoras nas oficinas

expressas. Para a análise necessitou-se proceder a associaçao dos dados com a literatura, por

meio de uma reflexão- filosófica. A teorização em consonância com a socialização dos

resultados por similaridade traz a recontextualização que possibilitou o acesso a duas

1 Termo criado pelas autoras deste estudo para explicar a realização de uma oficina rápida e objetiva, com o intuito de apresentar estratégias para minimizar a fragilidade do grupo em vivenciar o processo da morte e do morrer em seu ambiente de trabalho.

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categorias de análise:. Processo da morte e do morrer: di significado ao enfrentamento e

Modos de aprender e enfrentar a morte e o morrer.

Assim, o rigor da pesquisa se processou através da fidelidade aos princípios

estabelecidos na investigação em estudo fundamentado na Pesquisa Convergente-Assistencial

de Trentini e Paim (1999).

Para entendimento didático das estratégias do processo metodológico desta Pesquisa

passa-se a seguir a apresentar passo a passo deste estudo, quais ações foram realizadas e estão

denominadas de delineamento.

Delineamento 1: Encaminhamos o Projeto de Pesquisa à Comissão de Ética em

Pesquisa da UNIVALI e da Instituição foco de estudo; Obtivemos parecer de

aprovação nº 482/2008 pela UNIVALI e parecer de aprovação nº 025/2008 pela

Comissão de Ética e Pesquisa do CEPON

Delineamento 2: Apresentamos o Projeto de Pesquisa à equipe de Enfermagem que foi

pesquisada após o retorno da aprovação do Projeto pela Comissão de Ética das duas

instituições: ensino e hospitalar;

Delineamento 3: Solicitamos assinatura do Termo de Consentimento Livre e

esclarecido pelos sujeitos que optaram pela participação na Pesquisa;

Delineamento 4: Agendamos visita aos participantes do estudo, respeitando turnos de

trabalho para aplicação do roteiro/questionário, instrumento deste estudo;

Delineamento 5: Iniciamos junto à coleta de informações a análise dos dados que

emergiram, bem como damos os encaminhamentos advindos das respostas aos

questionamentos realizados nas “oficinas expressas”;

Delineamento 6: Agendamos previamente junto aos funcionários de cada turno o

horário mais propício para a realização da “Oficina Expressa”. Duas oficinas – 30

minutos cada turno, totalizando dez oficinas para abranger todas as equipes.

Oficina Expressa 1: Expressões e sentimentos ـ

Foco: apresentação das informações expressas nas entrevistas – códigos que

emergiram das entrevistas apresentadas em multimídia e discussão das expressões

vivenciadas (Apêndice F)

Oficina Expressa 2: Sentindo as expressões do outro ـ

Foco: apresentação de formas de amenizar a dor, o sofrimento – dinâmica de

expressão e troca de atenção entre os membros da equipe. (Apêndice G)

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5.5 ETICIDADE NO DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO

A resolução 196/96 Conselho Nacional de Saúde, engloba todas as normas e

regulamentos que rotineiramente são discutidos em todo o mundo e incorpora alguns aspectos

éticos novos sobre a pesquisa com seres humanos, desde esta norma utilizada em qualquer

pesquisa, que, individual ou coletivamente envolva o ser humano de maneira direta ou

indireta.

Os aspectos incorporados na resolução 196/96 estão definidos como quatro

referenciais básicos da bioética, sendo eles autonomia, não maleficiência, beneficiência e

justiça e definidos como:

Autonomia: respeitar a autodeterminação do indivíduo, considerando-o como ser ـ

racional e livre, não limitar suas escolhas ou interferir em suas decisões.

Não-maleficiência: refere-se ao dever de evitar qualquer mal ou qualquer situação de ـ

risco desnecessário ao indivíduo.

Beneficiência: compreende-se como a obrigação de ajudar, estando em favor dos ـ

interesses do indivíduo. É a base de todos os deveres que o profissional de saúde tem.

Implica em agir sempre para o bem do indivíduo.

Justiça: Implica em conceder a todos o direito de receber assistência à saúde quando ـ

precisar, sendo que todos tenham as mesmas oportunidades de desfrutá-la para que haja

uma distribuição adequada dos benefícios sociais.

Dentro destes aspectos é importante que o pesquisador respeite e mantenha a

automonia do indivíduo esclarecendo todas as fases da pesquisa informando-lhe sobre o

andamento da pesquisa. O respeito à individualidade deve estar presente em todos os

momentos, quando se fizer uso de informações pessoais para a realização de estudos e

pesquisas científicas.

Esta pesquisa seguindo os aspectos éticos da resolução 196/96 (CNS) visou auxiliares

os profissionais de enfermagem tanto no âmbito assistencial quanto no teórico na

compreensão do processo da morte e do morrer como natural ao processo de viver. A

intencionalidade desta Pesquisa foi estar junto à equipe de enfermagem e vislumbrar

possibilidades de autoajuda e compartilhamento de ajuda intra-equipe de enfermagem no

enfrentamento das fragilidades e sofrimento que o processo de terminalidade traz ao cuidador

da enfermagem quando do cuidado a pacientes oncológicos. As questões éticas e bioéticas

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implicadas neste estudo referiram-se à atenção que a equipe dá as suas próprias fragilidades

do trabalho com a finitude humana.

Toda a documentação acumulada da Pesquisa foi mantida em pastas próprias sob o

cuidado das autoras desta investigação, como atenção aos critérios de realização de Pesquisa

com seres humanos e em respeito à autonomia e individualidade dos participantes do estudo

conforme Resolução 196/96.

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6 RELATANDO A TRAJETÓRIA DA PESQUISA

A escolha de um tema que mostrasse o preparo dos profissionais da enfermagem no

enfrentamento da morte surgiu na primeira conversa em que nós acadêmicas do curso de

graduação em enfermagem ainda cursávamos a 2ª fase no primeiro semestre de 2006.

Já obtínhamos uma relação de amizade por termos trabalhado juntas em um hospital

da grande Florianópolis em uma ala onde havia pacientes da clínica médica, neurológica e

oncológia. Nesta fase, enquanto profissionais de nível técnico, sentíamos a necessidade de um

preparo maior, um diálogo aberto sobre a morte.

A idéia sobre o tema e o convívio com a morte de pacientes sobre nossos cuidados, fez

com que a idéia e a escolha do tema fossem amadurecendo cada vez mais.

Em 2007 na cadeira de metodologia da pesquisa iniciamos a formulação de nosso

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), escolhendo um título, nossa orientadora, e o local a

ser realizada as pesquisas, como ambas estavam trabalhando em unidades de tratamento

oncológico, decidimos optar pelo tema oncologia, nada mais coerente do que escolher um

hospital de referência em tratamento oncológico para a realização de nosso projeto. Após

aceitação da orientadora iniciamos os encontros para discussão e execução do projeto.

No segundo semestre de 2008, enviamos nosso Projeto de Trabalho de Conclusão de

Curso intitulado “O enfrentamento dos profissionais da enfermagem na situação morte e

morrer de pacientes oncológicos” para as Comissões de Ética em Pesquisa (CEP) da

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI e do Hospital do CEPON (Centro de Estudos e

Pesquisas Oncológicas).

O projeto foi aprovado em primeira instância no CEP da UNIVALI e aprovado pelo

CEP do CEPON com recomendações da Unidade de cuidados paliativos do CEPON local a

ser realizada a pesquisa.

Após serem atendidas as recomendações, o projeto foi apresentado para a

Coordenadora dos Cuidados Paliativos do Complexo Hospitalar Wilson Kleinumbing

juntamente para a Coordenadora da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital do Cepon,

sendo previamente agendadas, a partir daí, a iniciação da coleta de dados.

Foi realizada coleta de dados com os funcionários da ala de cuidados paliativos dos

períodos: Vespertino, matutino e noturno ( noites 1, 2 e 3) com profissionais de auxiliar,

técnico e superior na área de enfermagem que aceitaram participar da pesquisa.

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O projeto contou com a participação de 12 profissionais, aos quais foi aplicado um

roteiro com 17 questões.

Após coleta de dados, realizamos a primeira oficina expressa “Expressões e

Sentimentos” onde foi apresentado aos participantes, através de apresentação no PowerPoint

os sentimentos levantados de todos os participantes da pesquisa, sendo estes identificados por

um codinome (animal) de escolha própria.

Nesta fase, tivemos alguns problemas para a realização desta oficina devido

superlotação da unidade e sobrecarga de trabalho da equipe, então realizamos o encontro nos

plantões de 12 horas no final de semana com os profissionais do diurno e nas três noites.

A última, mas não menos importante etapa do projeto foi a realização da segunda

oficina “Sentindo as expressões do outro” realizamos inicialmente um momento de

relaxamento com a dinâmica da oficina do toque, onde cada participante com os olhos

fechados sente o outro, a energia do outro através do toque.

Em incentivo a idéia proposta, as autoras deste trabalho presentearam os funcionários

da ala de cuidados paliativos com um “Baú de auto- ajuda” seguindo a temática de animais e a

idéia que o trabalho em equipe fortalece o resultado final utilizamos decorações de abelhas

com pensamentos de auto ajuda dentro das colméias. E um outro baú seguindo o mesmo

pensamento de auto ajuda, com um CD de músicas relaxantes, um livro de pensamentos e um

“diário” em branco com a sugestão de que os funcionários os utilizassem como um artefato,

para expor seus medos e anseios, uma palavra de consolo para os colegas ou somente

compartilhar um momento feliz com todos os integrantes da equipe.

Segundo informações coletadas, os artefatos fornecidos estão sendo utilizados à

medida da necessidade, sendo também disponibilizados para os funcionários da unidade de

oncologia clínica.

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7 ANÁLISE DO PESQUISADO

Para que possamos compreender a importância da morte e como ela é enfrentada pelos

profissionais da enfermagem, necessitamos saber como eles são preparados para o processo

de morte e morrer seja enquanto indivíduo de uma sociedade seja quanto profissional

capacitado para cuidar. Cuidado este que se inicia no nascimento e vai até a morte, levando

em consideração todo o seu processo.

Para levantar estes dados, desenvolvemos um estudo exploratório, descritivo na

modalidade convergente-assistencial de Trentini e Paim (1999) uma vez que atende nosso

objeto de interesse de identificar e revelar os sentimentos dos profissionais.

Ao analisarmos os dados que emergiram dos questionários e das oficinas ministradas

com os sujeitos da Pesquisa realizamos um entendimento do ponto de vista descrito na

Pesquisa Convergente Assistencial e na Teoria de Enfermagem de Travelbee, para que

pudéssemos fundamentar nosso estudo.

7.1 PROCESSO DA MORTE E DO MORRER: DO SIGNIFICADO AO

ENFRENTAMENTO

Para que possamos entender como cada pessoa enfrenta e compreende a morte se faz

necessário um resgaste histórico de como o processo da morte e do morrer vem sendo

trabalhado ao longo dos tempos e todo o simbolismo atribuído a morte.

Assim, como o nascer, a morte faz parte do processo de vida do ser humano, portanto,

é algo extremamente natural do ponto de vista biológico. O ser humano a caracteriza

principalmente pelos aspectos simbólicos, ou seja, pelo significado ou pelos valores que ele

imprime às coisas, mistificando a morte. (COMBINATO; QUEIROZ, 2006). Cada pessoa

enfrenta a morte de forma diferente baseado na cultura, crenças e religião à qual está inserida.

A morte ao longo dos tempos foi enfrentada de formas diferentes, sendo motivada

pelas mudanças às quais passaram as sociedades. Segundo ARIES (2003) o contexto da morte

é relativo ao desenvolvimento social, cultural e histórico, excessivamente complexo, mutável,

influenciado pelo contexto situacional e repercute no comportamento individual e grupal

diante da morte e do morrer.

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Nas sociedades primitivas a morte era vivenciada por todos, existiam rituais que eram

praticados por todas as pessoas, se crescia vivenciando a morte de seus parentes, amigos e

vizinhos, tinham a morte como um processo natural da vida. O processo da morte era

assistido pela coletividade e a morte, apesar de individual, tornava-se pública e familiar.

(MARANHÃO, 1999)

O conhecimento da morte era uma rotina e nenhuma criança crescia sem ter tido a

experiência de ver, pelo menos, uma cena de morte (ARAÚJO; VIEIRA, 2001). Os rituais

mortuários realizados até o século XIII eram realizados simplesmente como uma cerimônia

parte do processo de morte e morrer, sem dramaticidade ou gestos de emoção excessivos.

Com a intervenção da Igreja passaram a esboçar um sentido dramático que persiste na

atualidade (AIRES, 2003). A partir desta época o contexto da morte vai se modificando, passa

de um processo natural da vida onde a pessoa quando morre já esta preparada, pois sabe que a

única certeza que se tem na vida é a morte, aceitando-a assim, para um processo de perda,

separação, a pessoa que morre é separada da família, tem a perda da vida, e do contexto

familiar.

Mais dramática e romântica, a morte do outro inspira saudade e lembrança, evocando,

nos séculos XIX e XX, um novo culto, aos cemitérios. (MARANHÃO, 1999)

Para Aires (2003) a morte, anteriormente aceita como uma lei da natureza, em que não

se cogita em evitar nem exaltá-la apenas com a solenidade necessária, para marcar uma etapa

que cada vida deve transpor, modifica sua acepção para uma transgressão que arrebata o

homem de sua vida e de sua vivência em família como liquidação do pecado

A Morte, em si mesma, nada tem de aterrorizante, é algo muito bonito, sublime,

inefável; mas a Mente engarrafada no conhecido só se move dentro do círculo vicioso que vai

da credulidade ao ceticismo. (COMBINATO; QUEIROZ, 2006)

A convivência com a morte foi extinta do cotidiano, passando a ser vista como algo

triste e distante de nós. Na cultura ocidental, preferimos ignorar a morte apesar de ser uma

realidade. Durante a vida não somos preparados, nem tão pouco educados pra lidar com a

morte. Nas escolas, não há uma pedagogia da morte que deveria fazer parte do princípio da

educação. Os pais não falam, nem sabem falar com seus filhos acerca deste tema, assim como

os professores com os alunos. (PAULINO, 2006, p. 11)

Em nossa cultura, a morte é sempre separada da vida, vivenciada como um fracasso.

Ela é vista como um tabu evita-se expor as crianças aos funerais dos parentes, de modo que

estas chegam à idade adulta com muito pouco contato com a morte. Para a grande parte das

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pessoas o pensamento da morte é assustador e impossível de compreender (BRUNNER;

SUDDART, 2005)

Seguindo o pensamento de tristeza e separação, a morte foi sendo distanciada das

pessoas, os velórios antes realizados em casa foram transferidos para locais neutros como

igrejas e salões paroquiais. Assim como o velório, o local da morte segue esta tendência e não

mais é realizada dentro de casa no convívio da família, sendo realizada nos hospitais e centros

de saúde.

Com o advento dos hospitais, as pessoas começaram a morrer nesses ambientes e

assim as famílias, amigos e pessoas queridas do morto passaram a deixar os cuidados e a

enfrentar com mais distância o processo da morte e do morrer (AGRA; ALBUQUERQUE,

2008). E este discurso corrobora com o que Gonçalves (2001) refere que o processo de morte

e morrer está cada vez mais solitário, medicalizado e hospitalizado, onde familiares, crianças

ou adultos, já não o vivenciam. O que era antes vivenciado por todos, hoje é escondido pela

maioria.

Em decorrência da transferência do local para se morrer, os profissionais da saúde

passaram a lidar quase que diariamente com a morte, tendo que transpor todos os anseios

adquiridos ao longo da vida e os simbolismos empregados ao processo de morte e todo seu

tocante pela sociedade que está inserida. Esperando-se desses profissionais naturalidade para

o enfrentamento da morte dos pacientes sob seus cuidados.

É preciso, portanto, entendermos o sentido e o fazer do profissional a partir do

significado de morte atribuído pela cultura, assim como a influência dessa cultura na sua

formação profissional. (VYGOTSKI, 1995).

Pacientes e familiares projetam no profissional de saúde, aspectos emocionais

decorrentes da situação de hospitalização e/ou da gravidade da doença, o que leva o

profissional a utilizar-se de mecanismos de defesa, para se proteger da ansiedade gerada pela

pressão dos pacientes, familiares e também pela cobrança pessoal. (PAULINO, 2006).

A morte de um paciente causa um impacto muito grande na identidade pessoal e

profissional de todos os membros da equipe de saúde que o cuida. A vivência do stress pelo

contato constante, com a possibilidade e a ocorrência da morte, pode ser pensada como uma

vivência de um "luto do profissional" em relação aos pacientes perdidos e à situação de

trabalho. (PAULINO, 2006).

Os profissionais não são preparados para a morte, porém esperasse destes uma atitude

segura neste processo de morte e morrer, para prestar a assistência à família do paciente

morto, realizar o preparo do corpo e ainda dar continuidade à assistência aos pacientes vivos.

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Aires (2003) relata que médicos e enfermeiras atrasam o máximo possível o momento

de comunicar sobre a morte do paciente à família, uma vez que é difícil também falar da

morte do próprio paciente a ele, pois quanto maior o convívio maior a dificuldade pelos

vínculos estabelecidos.

A equipe de Enfermagem se restringe a dar banho e trocar curativos, tornando o

paciente terminal, gradativamente um ser que brevemente experienciará a morte e que

momentaneamente necessitará de alguém que tire suas dúvidas, atenda seus desejos ou

simplesmente esteja junto a ele. (GHEZZI, 1991).

O anonimato, a despersonalização, a generalização, e sobretudo, o silêncio que reina

em volta do doente encerra-o na sua solidão. Os profissionais de saúde estão preocupados

com a eficácia da terapêutica, com a sua produtividade e com as rotinas. (PAULINO, 2006).

A dificuldade de enfrentar a morte faz com que os profissionais se afastem das pessoas

que vivenciam este processo. Muitas vezes, colocam-se aquém deste sofrimento por meio dos

afazeres ou das rotinas. Alguns sujeitos desta Pesquisa, quando indagados sobre como iniciam

a conversa com as famílias enlutadas, referiram, que na maioria das vezes não realizam

diálogo com a família no pós-óbito, pois esta é uma “tarefa” dos enfermeiros cabendo aos

técnicos o preparo do corpo. Penna, Vila Nova e Barbosa (1999) falam da insensibilidade do

profissional da saúde perante a morte do paciente, descrevendo que quanto maior for o

envolvimento, maior a dor, por isso se esconder atrás de técnicas faz com que esse

profissional consiga se afastar da morte, mas impreterivelmente não resolve seu sentir perante

ela.

Kastenbaum e Aisenberg (1983, p. 63) comentam que:

Não se espera que o doente hospitalizado morra em qualquer lugar a qualquer hora. Considera-se importante que ele não exponha os sobreviventes (outros doentes, os profissionais de saúde, os visitantes) ao fenômeno da morte, exceto em circunstâncias cuidadosamente específicas.

Esta nova forma de morrer traduz uma verdadeira "hospitalização da morte". E, nesta

perspectiva vê-se a necessidade do preparo dos profissionais da saúde para lidarem com as

questões da morte e do morrer.

Os profissionais da saúde, sobretudo os da Enfermagem criam vínculos afetivos com

seus pacientes, a morte deste traz além de uma progressão ao fracasso profissional pela perda

do paciente para a doença, traz também a tristeza, angústia, pela morte de uma pessoa a qual

esteve tão próxima. Travelbee em seus pressupostos relata que a Enfermagem evidencia o

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vínculo pessoa-pessoa, e o modo de enfrentar os percalços da vida depende do enfrentamento

de cada indivíduo levando em consideração sua vivência com o sofrimento e a dor.

Os sujeitos desta Pesquisa quando questionados sobre como sentem a morte de um

paciente sob seus cuidados, relataram diferentes sentimentos, sempre relacionados com o

envolvimento deste com o paciente.

Depende do paciente, têm muitos que quando eles vêm e a gente vê que a pessoa já está

sofrendo às vezes eu acho que é um alívio para ele. E têm outros que de repente claro que

estão não tão bem, mas estão conversando, caminhando e morrem, você fica mais abalado,

leva um choque. (Pássáro)

Sinto impotência, angústia, descanso para a família e o paciente que está sofrendo. (Gato)

A morte de todos os pacientes para mim é importante, são difíceis e ao mesmo tempo nenhum

processo é igual ao outro, cada família e paciente tem uma atitude diferente de processo de

morte e morrer, cada um é individualizado. (Cavalo)

Depende do paciente, tem gente que sofre mais, chora junto com a família, muitas vezes pelo

sofrimento do paciente pedem para a família rezar para Deus levar. (Gaivota)

Segundo Fernandes et al, (2006), a participação dos enfermeiros, no morrer de

pacientes sob os seus cuidados, afeta-os diretamente; ao exemplo do que ocorre com o

restante da equipe de saúde, esta vivência desperta os mais diversos sentimentos.

Dentre os profissionais de saúde, que prestam cuidados aos clientes hospitalizados, o

enfermeiro é aquele que está diretamente envolvido com os mesmos. Geralmente, durante os

cuidados oferecidos aos clientes, esses enfermeiros criam fortes laços sentimentais durante o

percurso da doença. Com o chegar da morte, vêem-se envolvidos pelo sentimento da não

aceitação da mesma, pois seu objetivo de trabalho é a preservação e o prolongamento da vida.

Por conseguinte, sentem-se incapazes ou frustrados quando não obtêm êxito em suas

tentativas (SPÍNDOLA; MACEDO, 1994).

Os próprios profissionais podem manifestar dificuldades pessoais de adaptação ao

processo da morte, incapacitando-os de atender doentes numa situação difícil de doença

avançada. Este tipo de dificuldades sentidas tem de ser reconhecidas numa tentativa de

resolução num contexto solidário de uma equipe (PAULINO, 2006).

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Para Shimizu (1997, p. 82), algumas pessoas vestem rapidamente, uma máscara de

“frios”, “impassíveis”, “cabeças-feitas”. Externamente, apresentam uma postura invejável, de

quem não está sofrendo e está conseguindo superar historicamente todo aquele processo,

entretanto de tanto sufocarem seus sentimentos de se colocarem como superior a tudo aquilo,

de repente começam a produzir a sua “indigestão” psicológica.

Algumas pessoas demonstram uma “falsa” coragem, passando uma postura de

“alheias” ao processo da morte e do morrer, descrevendo que a morte é um processo natural,

que com o tempo de trabalho se acostumam com ela, alguns dos sujeitos da Pesquisa relatam

que em alguns momentos vêem a morte como mais uma intercorrência esperada no seu dia-a-

dia de trabalho, porém estes mesmos sujeitos relatam que apesar de a morte ser esperada, para

muitos é sofrida e angustiante.

Como cada pessoa é única, mesmo estando no coletivo, os sujeitos da Pesquisa quando

questionados sobre como a equipe enfrenta a morte tiveram opiniões diferentes, alguns

passaram a idéia de fortes, outros de sensibilidade perante o processo de morte e morrer.

O pessoal enfrenta muito bem a morte, ninguém foge trabalha em conjunto. Depende do dia,

eu já tive vários processos de adaptação, acho que posso estar aqui dez anos e sempre vou

vivenciar a morte de forma diferente, um dia estou estressada, mais triste, mais chateada é

igual com meus colegas de trabalho. (Tigre)

Eu acredito que a pessoa morre, morre de corpo, mas o espírito fica, é uma passagem.

(Pássaro)

Diante da morte de um paciente procuro ser mais profissional possível, envolver somente o lado profissional. (Coelho)

Eu acho que cada um segue de um jeito, tem pessoas que não se envolvem, não quer dizer que

seja fria, mas ela já vem preparada, já sabe amenizar esse sentimento com ela mesma. Claro

que se você tem palestra, estudo, você vai entendendo melhor como se deve agir. Tudo é

válido. Tem pessoas que são mais sensíveis que se colocam no lugar do familiar, tem pessoas

que não se envolvem. (Gaivota)

Para que a assistência seja prestada de forma integral, auxiliando os pacientes e

familiares, porém, não prejudicando a vida pessoal da profissional de enfermagem se faz

necessário à compreensão do processo de morte e morrer.

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O modo como o profissional compreende o conceito de morte, bem como a forma que

relaciona este conceito com a sua própria existência e as suas vivências pessoais de perdas

anteriores dentro e fora do âmbito profissional são aspectos que influirão na sua atuação

diante da morte. (MORIN, 1976).

No momento em que se trabalha as mortes do dia-a-dia entra-se em contato com os

próprios fantasmas, o próprio medo e, quando assim se procede, torna-se possível alcançar

uma melhor qualidade de vida.(FERNANDES et al, 2006). Neste contexto, de conflitos

internos e externos, os profissionais lidam diariamente com a morte, sobretudo os que

trabalham em unidades de cuidados paliativos, como os profissionais participantes deste

estudo, encaram o processo de morrer como algo inevitável, mas que seja confortável e o

menos doloroso possível.

Os participantes relatam como fazem para enfrentar o processo de morte e morrer

quase que diário.

Procuro manter respeito pelo corpo e pela família cuidando no manuseio do corpo, deixo a

família livre para fazer os rituais se existir algum neste momento. Respeitar, pois para nós é

mais um paciente, mas para a família é um ente querido. (Gato)

Geralmente é assim: eu converso com o meu esposo, tento dividir os meus sentimentos. Em

geral sou mais de guardar. (Pássaro)

Enfrento com naturalidade. Claro todo caso e um caso. Historia familiar, idade e sofrimento. (Leão 2)

Conforme Travelbee apud Leopardi (2006), o enfrentamento é a capacidade do

indivíduo em compreender a experiência de vida evidenciadas na dor e no sofrimento, sendo

diferenciado pelas experiências vivenciadas e pela compreensão que cada indivíduo tem da

morte. Sendo assim, não podemos dizer que o modo como a pessoa enfrenta a morte está

certo ou errado. Cada indivíduo enfrenta o processo de morte e morrer de maneira singular,

levando em consideração o seu entendimento e suas experiências de vida com o processo da

morte e do morrer.

O ponto de partida para o reconhecimento das necessidades dos doentes em fase final

de vida será a identificação de duas realidades. O doente em fase final de vida é um ser

humano e, por outro lado, é um ser humano que morre. Ou seja, o profissional de saúde tem

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de encarar este doente como um ser humano inserido num processo de morrer, que inclui a

passagem por diferentes etapas ao longo deste percurso. (PAULINO, 2006).

Os cuidados paliativos atendem a solicitação do paciente, através de uma maior

humanização no tratamento e no cuidado, poderá tornar o processo de morte menos

angustiante e mais digno para o paciente e, ao mesmo tempo, trazer maior conforto ao

profissional que freqüentemente sente-se frustrado com a percepção de “derrota” diante da

morte (SCHRAMM, 2002; SIQUEIRA-BATISTA; SCHRAMM, 2004).

É essencial que o enfermeiro reexamine sua atuação diante da morte e do morrer para

estar disposto e aberto para tratar com tranqüilidade e acolhimento a família em suas

necessidades. (POLES e BOUSSA, 2006)

É cobrado dos profissionais de cuidados paliativos certa naturalidade neste

enfrentamento tendo em vista a convivência quase que diária com este processo. Surgem

então as fugas, os enfrentamentos mecanicistas da morte. O que caracteriza muitas vezes o

profissional frio e distante, como se todo este processo fosse natural e não precisasse de

sensibilidade.

Os sujeitos da pesquisa relatam formas diferentes de enfrentar a morte, relacionado-as

com o tempo a convivência com a morte.

Não que a gente se torna uma pessoa mais fria, querendo ou não você aprende a lidar com a

morte, mas ao mesmo tempo forma uma barreira uma proteção. (Beija – Flor)

A morte é assim, ninguém ta preparada para a morte, os profissionais adquirem mais

experiência com a morte quando vivenciam ela de perto. Acho que depende do momento.

(Tigre)

A morte é assustadora, e se você não tem nenhum preparo para lidar com ela, ela se torna simplesmente terrível. (Ursa)

Corroboramos com o que diz Paulino (2006), que as dificuldades relacionais com os

doentes em fase final de vida envolvem três aspectos: a fragilidade na formação, incapacidade

de lidar com as suas próprias dificuldades, medos e a instabilidade emocional da equipe de

saúde.

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Para Hennzel e Leloup (2004), o mundo que nos rodeia não nos ensina a morrer. Tudo

é feito para esconder a morte, para nos incitar a viver sem pensar nela.

OBA et al (2002), descreve o hospital como um microcosmo onde se resumem, com

muita clareza conflitos constitutivos da sociedade ocidental, percebe-se que muitas vezes o

paciente não sabe como morrer e o profissional da saúde é incapaz de lhe explicar o sentido

da morte. Neste sentido, observa-se que o preparo desses profissionais é insipiente no tocante

às questões da morte. Pois muitos profissionais relataram que a primeira experiência que

tiveram com a morte foi a vivência da morte no âmbito de trabalho, relatam que muitos não

receberam nenhum tipo de preparo, para lidar com a morte, com todo este processo muitas

vezes difícil e doloroso para os pacientes, familiares e equipe. Foram lançados na vida

profissionais a mercê do enfrentamento a partir de suas próprias experiências, suas frustrações

e angústias, ou a visão da morte como algo natural.

Sendo a morte um fenômeno da vida, seria indispensável que as pessoas estivessem

preparadas para lidar com a morte no seu dia-a-dia, sobretudo os enfermeiros que convivem

com a morte no seu cotidiano de trabalho. (AMADO; METELO, 2004). Esta afirmativa traz

uma reflexão e uma complexidade no pensar a morte como algo natural, que todo o ser

humano é passível, entretanto esta é uma questão pessoal e social, quando se reflete os valores

que cada um dá à vida e como se estabelece a formação dos profissionais.

Boemer (1998), retrata que no referencial das escolas de enfermagem as disciplinas de

domínio das ciências humanas sugerem ao profissional um elo, uma relação de ajuda

enfermeiro-paciente, persiste a ênfase na vida, pois na morte do paciente ocorre ruptura desse

vínculo, sentida pela enfermeira como um sentimento de fracasso. Neste estudo, observamos

que muitos participantes consideram a morte como uma passagem, algo natural da vida

humana, no entanto, quando questionados como abordam os familiares e como noticiam aos

familiares, muitos relatam, que “fogem” deste momento se ocupando com as atitudes técnicas.

Alguns sujeitos da Pesquisa relatam que o sentimento perante a morte de um de seus

pacientes depende muito do momento e do envolvimento que tem com o mesmo. Relatam que

algumas mortes são sentidas, mas são vistas como algo “normal” da rotina da unidade.

É uma passagem desta vida terrestre para outro lugar onde a gente não sabe. (Beija-Flor)

É o fim de tudo, é o fim da jornada. (Leão)

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Vejo como um processo natural da vida. A gente nasce, cresce, tem a fase da infância,

adolescência, a fase adulta a fase da velhice depois a morte. (Borboleta)

Uma passagem para outra vida. (Leão Nº 2)

Conforme Travelbee apud Leopardi (2006) seres humanos são motivados a procurar e

compreender o significado de todas as experiências de vida. Desta forma, tanto o paciente

e a família, quanto o profissional que os atendem apresentam significados diferenciados o

que caracteriza o enfrentamento de cada um.

A morte diante da visão dos autores Rezende, Kegler e Gomes (2004) é encarada

como uma continuação da vida, uma passagem e não um fim, e na maioria das vezes acredita-

se na existência de um outro plano após a morte. Afirmam ainda os autores que, as pessoas

que acreditam ou tem alguma crença religiosa costumam enfrentar melhor a morte e acabam

não pensando ou refletindo de como ou quando irá ocorrer o processo de morte.

Eu tenho uma base espiritual, já vejo a morte sobre outro ângulo. E pelo que tenho analisado

aqui dentre as pessoas que tem uma base espiritual encaram a morte de outra forma, com

mais clareza e firmeza. Não vou dizer que em todos os casos, querendo ou não a gente se

apega em alguns pacientes. Em 98,9% consigo separar bem a morte para mim é um

descanso. (Leão)

Quando a angústia advinda do processo morrer se torna um elemento impossível de

ser por ele “manejado” realiza uma opção na qual predomina o fazer como alternativa de

convívio com a realidade em que se encontra inserido e a qual não conseguem compartilhar

com o paciente. (GHEZZI, 1991).

Já Boemer (1998) relata que a visão tecnicista da enfermagem em relação à morte,

sendo o momento de sua ocorrência o início de “tarefas” a serem executadas, como preparo e

identificação do corpo e preenchimento dos aspectos burocráticos, ou seja, todas as

atribuições são no sentido para, que o quanto antes o corpo seja retirado daquele local melhor.

Alguns participantes da pesquisa têm uma visão mais técnica do processo de morte e

do morrer.

Eu acho que o certo é você levar o colega junto e mostrar como é feito a técnica do preparo do corpo. (Tigre)

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Explicar a técnica e como vai ser, porque mesmo sabendo a técnica na prática é bem

diferente. Mesmo explicando tudo, chega na hora tudo é bem diferente. (Leão nº 2)

A rotina é essa a enfermeira dá a notícia para a família e o técnico prepara o corpo. Mas a

enfermeira tem toda a liberdade de preparar o corpo, de realizar o tamponamento e isso

depende de cada uma, não é obrigação, só dos técnicos (Cavalo)

Quanto ao preparo do corpo, os sentimentos que emergiram dos respondentes foram os

mais diversos. Alguns relatam, que encaram o procedimento do preparo do corpo post-

mortem como mais uma técnica, que para aprendê-la tem que observar a técnica para

compreendê-la, outros relatam que pedem licença para a “pessoa” para realizar o

procedimento em sinal de respeito

Gaivota quando questionada sobre o preparo do corpo relata não gostar deste

procedimento:

Eu na realidade não gosto de tamponar e preparar o corpo vou porque é preciso, acho que é

uma agressão. Para mim, parece que a pessoa não esta gostando do que está sendo feito.

Claro que ele já morreu. Eu não queria que realizassem tamponamento em mim.

O pensar e o fazer não se separam. A Enfermagem como profissão do cuidado tem um

compromisso com a vida, e a morte faz parte da existência e como o processo deve ser

refletido, estudado, interpretado das diversas formas que houver possibilidade. O

enfrentamento do processo da morte e do morrer depende da significação desta etapa para

cada indivíduo e em detrimento da capacidade de experienciar os limites na vida.

7.2 MODOS DE APRENDER E ENFRENTAR A MORTE E O MORRER.

A diferença básica entre as pessoas em geral e os profissionais da área de saúde num

setor de paliativo é que na vida destes, a morte faz parte do cotidiano e pode se tornar uma

companheira de trabalho diário.

Para que possamos conviver com a morte, devemos aprender como lidar com a

situação de morte e morrer de um paciente. Nas entrevistas que colhemos muitos enfatizaram

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que na formação acadêmica não houve preparo para o enfrentamento da morte, foi repassada a

parte teórica, de maneira sucinta e superficial.

Os participantes da pesquisa relatam que a falta de preparo, de conversas sobre a

morte seja em quanto academia e cursos técnicos ou na instituição e no trabalho em equipe

dificulta o enfrentamento do processo de morte e morrer.

Não houve preparo. (Gato)

Uma ou duas aulas sobre a morte em todo o curso. (Cavalo)

Não houve preparo. Teve pouca parte teórica, mas sucinto, só se sabe realmente o que é

quando se depara com a morte, quando vivencia. (Tigre)

A vivência foi me preparando e ensinando. (Ursa)

Santos, citado por Fernandes (1984), relata que os enfermeiros declaram não ter

formação suficiente para intervir em situações que envolvem emoções mais profundas, como

as relacionadas com a morte. (FERNANDES, 1984).

Segundo Moritz (2001, p. 3) os estudantes da área da saúde têm, no início de seus

cursos profissionalizantes, contato com o cadáver. Na anatomia é apresentado um corpo

desfigurado, enegrecido pelo formol, no qual o aluno dificilmente procura identificar um ser

que passou pela vida e sentir as emoções que marcam o indivíduo. A partir da visão do

anatômico como um local de aprendizado os acadêmicos consideram muitas vezes os

cadáveres em objeto de estudo. De acordo com Concone (1983, p. 104), “o cadáver é visto

como um manequim, pois, se for personalizado, torna-se difícil lidar com ele”. É o que Kruse

(2004, p. 22) refere como sendo “corpo escolar”, aquele corpo que é objeto de estudo,

configurado anatomicamente, destituído de crença, sexo, raça, emoções e tempo.

Neste sentido, é que a atitude ética frente ao corpo humano morto se exterioriza. E, até

mesmo se mostra conflituosa quando o corpo morto passa de humano a objeto e, ao mesmo

tempo, de objeto a ser cheio de vida até então, e sendo agora denominado de “peça”.

Assim, o enfrentamento emerge da possibilidade individual de se proteger daquilo que

o torna frágil e suscetível ao estranho e ao desconhecido. O que para Travelbee apud

Gonzales et al (1999, p. 22) o enfrentamento “inclui a capacidade de reconhecer nossa própria

obrigação de atuar, isto é, de intervir quando um princípio está em jogo”. E, quando se

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defrontam com a morte de seus pacientes, acionam as suas defesas, fogem do atendimento e

tomam atitudes de frieza.

Pouco ou quase nada se ensina para os estudantes dos cursos de Enfermagem, há

enorme atenção às técnicas de prolongamento da vida e as esperanças de recuperação, sem

equivalência na atenção em proporcionar conforto aos que vão morrer (MORITZ, 2001, p. 4).

Os profissionais da Enfermagem devem ser orientados, que a enfermagem é a arte de

cuidar, cuidado este que vai do nascimento à morte e todo o seu processo e que cuidar não

significa necessariamente a cura.

Pode-se concluir que os profissionais de Enfermagem são treinados para o tratamento

técnico do moribundo, mas não para acompanhá-lo no ponto de vista psicológico. O hospital é

instituição marcada pela luta constante entre a vida e a morte, que o profissional da saúde está

preparado para a cura e freqüentemente, sente-se angustiado pela morte dos pacientes sob

seus cuidados (MORITZ, 2001, p. 4).

Atualmente ingressamos imaturos, inexperientes e, sobretudo muito jovens na

universidade, sempre com a certeza de aprender a curar e preservar a vida. Contudo, nada nos

é dito ou ensinado sobre a morte, nos ensinam as diversas formas de cuidar, reabilitar, curar,

baseando-se em teorias humanísticas e holísticas. Não ensina que a morte faz parte da vida e

que é um processo natural da vida (OLIVEIRA, 2008, p. 196). Por outro lado, a forma de se

encarar a morte e o morrer relaciona-se também ao modo pelo qual este processo foi

apresentado no decorrer da formação como pessoa. As crenças e valores, a cultura pela qual

baseia-se nossa educação pessoal, em família diz muito daquilo que acreditamos e esperamos

da própria vida.

Os profissionais de saúde, dentre esses os de Enfermagem, carecem de preparo para

lidar com as questões relacionadas à morte e ao processo de morrer, pois este tende a ser

considerado um assunto menos importante nas instituições de saúde, já que essas estão

voltadas para salvar vidas. (OLIVEIRA, 2008, p. 193).

Devemos salientar, que as instituições de ensino necessitam rever suas metodologias

de educação para a morte. A formação do estudante de Enfermagem centraliza-se na

promoção e restabelecimento da saúde, esquecendo-se das questões da terminalidade.

A formação acadêmica no tocante ao processo da morte e do morrer dá maior

possibilidade ao profissional de saúde, para que em sua prática possa aprender a buscar

ferramentas para assistir com qualidade o paciente em fase terminal (OLIVEIRA, 2008, p

196).

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Não podemos colocar toda a responsabilidade no processo de formação da graduação,

é preciso que seja necessário repensar o processo de formação familiar e o processo

educacional. A academia deve assumir o papel de formar sujeitos reflexivos, bem como

promover condições para o estudante vivenciar a prática da assistência diante do processo do

morrer.

Tratar de pacientes terminais, mantê-los limpos, confortáveis e sem dor é uma das

tarefas mais difíceis. No curso de enfermagem são enfatizados os aspectos técnicos e práticos

da função de enfermagem. Há pouca ênfase em questões ligadas a emoção (KOVÁCS, 1992).

Na hierarquia hospitalar as responsabilidades e tarefas delegadas a cada membro da

equipe de saúde podem despertar angústias de modo distinto nesses profissionais. O médico

passa menos tempo com os pacientes, mas é quem perante a sociedade tem a responsabilidade

de cura, apresentando maior sentimento de fracasso e medo de errar diante a morte de seu

paciente (MORITZ, 2001, p. 4).

Uma das formas mais usadas pelo profissional é a conquista da doença, o desafio da

morte e não medir esforços para salvar o paciente, e quando esse morre o orgulho médico fica

ferido e o cuidado desse paciente grave é transferido para o cuidado da enfermeira. É a

enfermeira que está mais próxima à família tendo que lidar com os sentimentos dos parentes,

as dúvidas, angústias, temores e quando o paciente falece é quem toma as primeiras

providências (KOVÁCS, 1992). No momento reflexivo também se faz a comunicação, como

capacidade de estabelecimento de trocas sobre o mundo e si mesmo (TRAVELBEE apud

LEOPARDI, 1999). Da perda à reflexão o ser-humano fortalece sua formação nos limites de

sua unicidade e na compreensão dos momentos vividos. Isto se dá não tão somente pela

maturidade, mas pelo compartilhamento, pela relação pessoa-pessoa e o aprendizado que se

adquire do convívio com o outro.

Isso nos faz refletir sobre a importância de aprender a trabalhar a questão da morte e o

cuidado do paciente em fase terminal, ajudando o paciente a defender e expandir sua vida

com qualidade, respeitando-o como pessoa. (FERNANDES, 2005, p. 37).

Segundo Fernandes (2005, p. 39), uma conduta de respeito diante do paciente em

coma ou inconsciente, é ajudá-lo a enfrentar a sua angústia existencial e alcançar o sentimento

de serenidade, para isso ele precisa ao seu lado pessoas de confiança que tenham paciência e

sensibilidade, podendo ser familiares, amigos ou profissionais de saúde. Dentre essas

possíveis ajudas, destacamos a meditação, rezar junto às familiares ou mesmo ler alguma

mensagem de conforto, a fim de que o paciente possa encontrar a si mesmo e que a família

permita que o ente querido faça a sua passagem, com tranqüilidade. Observamos, que pessoas

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que obtém uma certa religiosidade, crença, e/ou espiritualidade conseguem compreender

melhor a morte do que as pessoas incrédulas.

Quando perguntamos aos sujeitos da pesquisa se existe algum ritual perante a morte,

as respostas apresentaram os mais diversos sentimentos.

Sempre que estou do lado do paciente e vejo que ele está partindo, principalmente quando

não tem familiar ou que a gente tem mais convívio e também de maneira geral encosto minha

mão no paciente peço que descanse em paz e que tenha uma boa partida. O bom de trabalhar

aqui é cuidar do paciente independente da vida ou da morte somos um exemplo de respeito

com a morte, é difícil e sofrido, mas o mais gratificante é quando a família volta para

agradecer. Tenho experiência de outro hospital onde o paciente mesmo sem possibilidades de

cura e nem de vida, é prolongada a vida como também é prolongado o sofrimento do

paciente. (Beija- Flor)

Eu tenho um pressentimento sinto quando a pessoa está partindo, é algo espiritual, muito

forte, e sempre que sinto isso eu falo com o paciente, porque ouvir é o último sentido que se

perde. Falo para pedir perdão dos seus pecados, para ele se entregar para Deus e escrever

seu nome no livro da vida e partir em paz que esse momento é muito importante para ele.

Não dá 20 minutos o paciente morre. (Leão)

Pacientes e familiares projetam no profissional de saúde, aspectos emocionais

decorrentes da gravidade da doença. O que leva o profissional a utilizar-se de mecanismos de

defesa, para se proteger da ansiedade gerada pela pressão dos pacientes, familiares e também

pela cobrança pessoal (SILVA, 2005). Nesta perspectiva, além de cuidar do outro deve

primeiramente o profissional de saúde cuidar de si, conhecer-se, não ultrapassar limites

emocionais e de tolerância para lidar com o limítrofe no cuidado do paciente oncológico.

Muitos profissionais manifestam dificuldades pessoais de adaptação ao processo da

morte, incapacitando-os de atender doentes numa situação difícil de doença avançada. Este

tipo de dificuldade deve ser resolvido entre a equipe, por meio de reuniões periódicas, que

permitam a abordagem e discussão de situações onde o profissional possa expor seus

sentimentos e dificuldades, encontros informais, que fortaleçam a coesão do grupo, apoio e

orientação dos novos elementos da equipe, de forma a preparar todos para o confronto com as

situações do processo de morrer (SILVA, 2005).

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Vários participantes desta pesquisa ressaltaram a necessidade de estratégias que os

ajudem a enfrentar, aprender a conviver com a morte tão freqüente e constante em suas vidas.

Às vezes a rotina faz com que a equipe de trabalho não tenha tempo para conversar e esse

tempo é importante a gente precisa ter nem que seja um minuto para botar para fora o que a

gente está sentindo. E isso a gente pode fazer através da educação continuada “in loco”, não

em grande grupo para trabalhar as dificuldades que às vezes a gente enfrenta e de que as

vezes não temos tempo para conversar.(Cavalo)

Às vezes já aconteceu de a pessoa falar, que não quer fazer o preparo do corpo porque se

apegou ao paciente, fez amizade e outra pessoa se dispõem e vai. A gente conversa entre nós

que precisamos ter um acompanhamento psicológico, conversar. Porque aqui, além de cuidar

do paciente a gente precisa dar apoio psicológico para a família. E sem esse apoio tem horas

que a gente fica sem saber o que fazer. (Pássaro)

A morte é um assunto delicado, que deveria ser melhor abordado com a classe de

enfermagem em geral (auxiliar, técnico de enfermagem e na graduação de enfermagem), não

para que se tenha uma receita de bolo pronta, mas para que possamos passar por estes

momentos da melhor forma possível, para que seja menos traumatizante, como é esta questão

natural e que faz parte do processo morte e morrer. (Ursa)

Para serem mais efetivas e terem satisfação com o cuidado que oferecem, as

enfermeiras precisam rever as suas próprias respostas emocionais e as perdas que

testemunham a cada dia. Refletirem sobre os modos de enfrentamento na fragilidade. Antes

que, a enfermeira exiba sintomas de estresse ou de exaustão física e emocional, ela deve

reconhecer a dificuldade de lidar com a dor e colocar em ação as práticas saudáveis que a

protegerão contra a exaustão emocional. Pode-se relacionar toda essa exaustão de sofrimento

e dor à Síndrome de Burnout (LAUTERT, 1995). Esta traz referências a despersonalização

deste profissional quanto ao enfrentamento das situações de insatisfação no trabalho, trazendo

um afastamento da clientela a ser cuidada. Essa insatisfação relaciona-se aos sentimentos de

envolvimento profissional, afetivo, de solidão, de impaciência, de baixa auto estima entre

outros. E, certamente reflete na assistência ao paciente e familiares sob seus cuidados.

Num setor de paliativo, onde a morte, o luto e a perda são os resultados esperados do

cuidado ao paciente, os colegas de equipe nas reuniões devem usar esse momento para

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expressar a frustração, tristeza, raiva e aprender as habilidades de enfrentamento entre si. Por

fim, os hábitos pessoais saudáveis, inclusive a dieta, exercício, atividades de redução de

estresse e sono ajudarão a se proteger contra o estresse. (BRUNNER, 2005, p. 418).

Para isso, se faz necessário que os profissionais da Enfermagem aprendam a se escutar

e escutar o paciente e a família. Diante do cuidar, devem realizar suas intenções e atitudes

baseadas nos princípios éticos e existências comprometidas com a vida, com o propósito de

ajudar o paciente a morrer com dignidade da melhor forma possível (FERNANDES, 2005 p.

40). Conforme Travelbee (LEOPARDI, 2006) as relações são estabelecidas quando parceiros

percebem a singularidade um do outro e é quando a relação é verdadeira e significativa.

É preciso aprender assistir o paciente com confiança, respeitá-lo no tempo que lhe

resta para viver, provendo cuidados paliativos, com atitudes respeitosas diante da morte,

respeitando o seu espaço autonomia e direitos (FERNANDES, 2005, p. 38).

O que diferencia o cuidado paliativo das demais clínicas é que a proposta do cuidado é

modificada, nos paliativos a assistência visa não a cura e sim a qualidade de vida, as

expectativas são alteradas, os cuidados são realizados visando à integridade do ser, que este

passe os seus dias com a menor dor possível, e que quando a morte chegar, esta seja realizada

naturalmente, sem intervenções heróicas, que ocorra com dignidade.

Prestar cuidados ao paciente em iminência da morte transmitindo sentimentos de

respeito, solicitude e segurança, e estar presente no momento da morte pode ser uma das

experiências mais recompensadoras que a enfermeira pode ter. Os pacientes e as famílias

estão temerosos com o desconhecido e preocupados com a aproximação da morte.

(BRUNNER, 2005, p. 413).

Os membros da família enfrentam diversos estágios de adaptação, (como já citados

anteriormente neste estudo) ao saber do diagnóstico de uma doença grave, e a sua forma de

enfrentamento vai depender da estrutura de cada um dos indivíduos e da relação que se

estabelece entre eles (KOVÁCS, 1992, p. 196)

A princípio, muitos não querem acreditar que pode ser verdade e negam o fato que

haja tal doença na família. A família sofre certas mudanças, dependendo muito da atitude do

paciente, do conhecimento e da habilidade com que se comunica o fato. (KUBLER-ROSS,

1992, p. 182).

As necessidades da família são muito diferentes, dependendo do estágio em que se

encontra o paciente. No início os fatos são ligados à comunicação, contar ou não ao paciente,

às crianças sobre a doença. (KOVÁCS, 1992, p. 182).

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Famílias que sempre tiveram dificuldades de se comunicar ou nas quais existem

antigos ressentimentos e feridas podem experimentar uma dificuldade maior quando seus

entes queridos estão próximos a morrer. Porém o momento do término de vida também pode

proporcionar à família a oportunidade para resolver antigas feridas e aprender novas maneiras

de ser uma família. (BRUNNER, 2005, p. 413).

Segundo (KOVÁCS, 1992, p. 196), a família sofre uma desorganização na sua forma

de vida, com a internação do paciente, tendo que algumas pessoas assumir funções que eram

da responsabilidade dele.

Devemos promover a família, em conjunto, o ajuste individual à situação, aumentar a

capacidade de cuidar e possibilitar uma adaptação normal.

A enfermeira é quem está mais próxima à família tendo que lidar com os sentimentos

dos parentes, as dúvidas, angústia, temores e quando o paciente falece é quem toma as

primeiras providencias (KOVÁCS, 1992, p. 228).

Corroboramos com Kubler-Ross e Kovács (1992), quando acreditamos, que para que a

assistência seja prestada com eficiência se faz necessário uma linha de comunicação direta da

equipe com os familiares dos pacientes em processo de morte, para que dúvidas a respeito do

prognóstico e dos cuidados para com o paciente sejam sanadas.

Os sujeitos entrevistados relatam a dificuldade que apresentam no momento de falar

com os familiares sobre o processo de morrer, alguns evitam este contato, com a justificativa

de que não faz parte de suas atribuições noticiarem a família.

Dificuldades a gente sempre encontra de maneira geral a família já está pouco ciente do

quadro do paciente quando acompanha há bastante tempo. Existem situações que a família

não aceita e os médicos aqui no paliativo são bem realistas deixam a família a par da

situação. (Beija-Flor)

Tem casos que é mais difícil é mais delicado e a gente passa para a enfermeira ou médico

falar, porque a família não aceita a morte. A gente vê que o paciente esta morrendo e a

família acha que vai melhorar e vai para casa. (Leão)

Às vezes não cai a ficha e a esperança é a última que morre. A gente dá o apoio psicológico,

cria um vinculo, eu evito para não sofrer. Mesmo sabendo que a morte é um processo

natural, mas quando a gente vê uma mãe idosa perder um filho é muito triste. (Borboleta)

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Normalmente a enfermeira que dá a notícia, a gente foge disso, tenta se distanciar um pouco,

pois a família tira nossas energias quando se apega muito, e a gente não tem apoio, a equipe

não tem o apoio de sentar com um psicólogo ou com a própria equipe para conversar.

(Tigre)

Após a morte, a família deve receber permissão de passar um tempo com o falecido e

ser encorajada a fazê-lo. Devem ser honrados os desejos de privacidade das famílias durante

seu período com o falecido (BRUNNER, 2005, p. 415).

Neste momento, em que os mais diversos sentimentos são evidenciados como dor,

separação, certeza de um lugar melhor, alívio pelo cessar da dor, às vezes as palavras não se

fazem necessárias, o estar junto, e o compreender a dor do outro, para muitos é o suficiente e

o necessário.

Quando morre um ente querido, os membros da família entram em uma nova fase de

luto e pesar à medida que eles começam a aceitar a perda, sentem a dor da separação

permanente e se preparam para viver uma vida sem o falecido. Após a morte do paciente

depois de uma doença longa e difícil, os membros da família podem experimentar sentimento

conflitantes de alivio pelo fato de ter encerrado o sofrimento (BRUNNER, 2005, p. 417).

Em geral, o período de luto é o tempo de adaptação no qual a pessoa vem a aceitar a

perda, experimenta a vida sem o falecido, supera as dificuldades e encontra uma nova maneira

de viver no mundo sem o ente querido.

Uma das atitudes que mais chamou a atenção e deixa os profissionais de enfermagem

gratificados é quando a família depois de algum tempo, retorna à unidade para agradecer a

equipe. Isso demonstra que o paciente e a família foram bem cuidados durante a internação,

que houve uma boa relação profissional-paciente e família.

O que me chama a atenção e que a família vem agradecer traz presentes, manda cartas.

(Beija-Flor)

Cada caso é um caso, e a esperança que as pessoas ainda têm de vir aqui e encontrar a cura.

(Leão)

Até agora geralmente agradecem, às vezes na hora do óbito não, mas outro dia voltam para

agradecer. (Pássaro)

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Alguns familiares mesmo passando por aquela situação agradece a equipe pelos cuidados

prestados, familiares mesmo que após o óbito voltam para agradecer, eles poderiam pensar

que nós estamos sendo pagos por isso, mas agradecem. (Gato)

Os profissionais da saúde, principalmente os da Enfermagem pelo contato diário e

integral para com os pacientes e seus familiares, criam laços afetivos, se apegando a estes.

Muitos óbitos de pacientes sobre seus cuidados são sentidos como a morte de um dos seus,

para que todo este estresse emocional vivenciados quase que diariamente não ultrapasse as

“portas” da instituição e prejudique a vida pessoal dos profissionais, se faz necessário antes de

qualquer coisa um conceito pessoal sobre o que é morte e todo o processo subseqüente a esta.

Não menos importante, a socialização do tema, conversar sobre as diferentes formas de

enfrentamento, o modo pessoal de compreender e conviver com a morte amenizam vários

sentimentos evidenciados e adquiridos ao longo da vida de cada um obtidos em reflexo a

criação, sociedade, cultura, crenças e experiência profissionais e pessoais.

Segundo Travelbee (LEOPARDI, 2006) enfrentar é a capacidade pessoal e individual

que temos de compreender, neste caso, a experiência de vida na dor e sofrimento,que segundo

a teórica simboliza a morte e o morrer nesta desesperança, causada pela perca da batalha para

a manutenção da vida saudável, todavia é com está compreensão e aprendizado que se busca

um significado para o cuidado do indivíduo por meio da relação pessoa- pessoa,

enfermeiro/paciente .

Não existe uma forma certa ou errada de enfrentar a morte e o morrer, cada individuo

por ser único e irrepetível, a partir de um pré-conceito formado individualmente evidenciado

por sua experiência e escolhas compreende a morte. Que deve ser discutida no cotidiano da

vida pessoal e profissional, pois ela chega para todos, esta é a única certeza que realmente

temos.

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8 CONSIDERAÇÖES FINAIS

Ao término deste trabalho, percebemos a fragilidade do preparo dos profissionais de

enfermagem nos diversos níveis, sobre a morte, como compreender a morte e auxiliar no

enfrentamento da mesma.

É verdade, que ninguém pode se dizer “preparado” para a morte, todavia a

compreensão do processo de morte e do morrer auxiliam no enfrentamento, para isso se faz

necessária a reflexão, o diálogo e assumir como verdade da existência.

Cada profissional tem a sua maneira individual de enfrentar a morte, muitos não se

envolvem, conseguem trabalhar esse lado do enfrentamento, não que sejam frios ou menos

sensíveis, são profissionais com mais experiência de vida e conseguem trabalhar e amenizar

seus sentimentos.

Algumas vezes, o tempo de serviço e a experiência não amenizam o sentimento

perante o processo do enfrentamento da morte, tudo depende do envolvimento com o paciente

e família, conforme identificamos neste estudo. Depende da idade, da patologia, do

sofrimento e da maneira como o paciente e a família aceitam a terminalidade.

A fragilidade no enfrentamento dos membros da equipe de Enfermagem no processo

de morte e morrer é reflexo da educação, que receberam em uma sociedade ocidental que

“esconde” tudo que se refere à morte. Outro fator atrela-se à formação centrada no processo

do cuidar, curar e de prolongar a vida, não foca o preparo do profissional da saúde em viver o

processo da morte e do morrer do paciente sob os seus cuidados.

Os enfermeiros são profissionais que apresentam grandes ligações com os pacientes e

familiares, tendo em vista sua atuação direta ao paciente, se envolvendo freqüentemente com

todo esse processo devem ser melhor preparados para lidar com estas questões.

Considera-se em acordo com o que emergiu na pesquisa, que o preparo dos

profissionais de Enfermagem é muito superficial ao chegarem no mercado de trabalho. As

instituições não dispõem de serviços específicos de atenção ao profissional cuidador. Os

sujeitos do estudo trazem à tona a necessidade de estratégias para manter a harmonia no

espaço de trabalho. Expressam a importante participação de um profissional psicólogo, para

orientar os cuidadores profissionais para esses ampararem pacientes e familiares.

Os sujeitos da pesquisa na grande maioria evidenciaram a necessidade de um apoio de

um profissional da psicologia, para que possam prestar um apoio psicológico correto não só

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aos profissionais da saúde como também aos pacientes e familiares para que estejam

amparados psicologicamente, e darem uma assistência digna.

Percebemos, durante a Pesquisa em campo certa resistência dos profissionais desta

instituição, em falar sobre a morte e todo o seu processo, alguns demonstraram dificuldade em

expressar os sentimentos evidenciados durante a morte, outros tão pouco participaram da

pesquisa mesmo sendo-lhes apresentado antecipadamente o tema e sua importância para um

melhor enfrentamento da morte.

Como autoras deste estudo, e tendo como referencial a metodologia de Trentini e Paim

(PCA), que visa não somente o levantamento do problema e sim a busca de soluções para tal,

disponibilizamos artefatos para a iniciação de uma ajuda mútua entre os companheiros de

equipe no enfrentamento da morte. Por meio de um baú de auto ajuda com pensamentos de

motivação, diário de recados, para uma melhor integração entre os profissionais sugerimos

que este diário fosse utilizado para que qualquer pessoa escrevesse palavras que expressassem

alegria, tristeza, angústia, conflitos, entre outros, para que fossem compartilhados entre todos

a fim de em conjunto amenizar os sentimentos evidenciados.

Deste modo, nós futuras enfermeiras e já profissionais da saúde evidenciamos com

este estudo o que já suspeitávamos: Os profissionais da enfermagem responsáveis por cuidar

do paciente do nascer ao morrer e de sua família, entram no campo de trabalho despreparados,

psicologicamente, para o enfrentamento da morte.

Assim, como para nós, este tema deve surtir como inquietação, para vivenciar o

processo da morte e do morrer desvelado a partir do primeiro cuidado ao paciente à morte.

Em virtude de todo o mistério, que circunda a morte, e sendo nós profissionais da

saúde, que convivemos quase que diariamente com este fato, necessitamos aceitar a morte,

para prestarmos uma assistência digna aos pacientes e familiares envolvidos. Devemos

lembrar-nos das sábias palavras de Kluber-Ross (1998),

Aqueles que tiverem a força e o amor para ficar ao lado de um paciente moribundo, com ‘silêncio que vai além das palavras’, saberão que tal momento não é assustador nem doloroso, mas um cessar em paz do funcionamento do corpo. Observar a morte em paz de um ser humano faz-nos lembrar um estrela cadente. É uma entre milhões de luzes do céu imenso, que cintila por um breve momento para desaparecer para sempre na noite sem fim.

Para muitos, inclusive s participantes deste estudo, a morte significa o fim de uma

missão na Terra e a passagem para outro plano. O enfrentamento se dá pelo conhecimento

acumulado de experiências na vida, de viver a vida como se fosse dia-a-dia o último.

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Consideramos que, vivenciar o processo da morte e do morrer de pacientes

oncológicos pelos profissionais de Enfermagem não difere do cuidado a pacientes em

terminalidade sob outros aspectos patológicos. A questão é a finitude, a maneira pela qual a

vida se finda, se rompe, próximo a quem, distante de quem.

O enfrentamento dos profissionais acontece em relação a sua própria formação pessoal

e profissional no tocante à vida, seus valores, suas crenças e descrenças, diz respeito aos seus

conflitos existenciais, as suas dúvidas e certezas. Cada qual enfrenta da maneira que se

adeque aos seus próprios sentimentos, aos seus limites para encarar as perdas na vida.

Trazemos como considerações, que o preparo para lidar com a situação de morte e de

morrer dos sujeitos aqui estudados está frágil, por implicações na formação profissional, que

não aderem em seus currículos o ensino/diálogo sobre a morte e por implicações de caráter

institucional e pessoal. Institucional, pois as organizações de saúde, independentemente de

complexidade, apesar de viver a morte no seu cotidiano, não trazem para a sua rotina o hábito

de cuidar de seus cuidadores, de auxiliá-los psicológica e emocionalmente. Há uma

deficiência na contratação de profissionais para cuidar dos profissionais que cuidam.

Já a implicação pessoal diz respeito aos conflitos e limites da vida de toda e qualquer

pessoa. “Se é, o máximo que podemos ser para o outro, mas não podemos ir além daquilo,

que não se é para nós mesmos” (FALA DA BELLAGUARDA, 2009).

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ANEXOS

ANEXO A - Termo de compromisso de orientação

Eu, Maria Lígia dos Reis Bellaguarda docente da disciplina de Teorias de Enfermagem do

Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação

Biguaçu, comprometo-me e concordo em orientar a Pesquisa para efetivação do Trabalho de

Conclusão de Curso das acadêmicas Ingrid Pires Silva e Rosa Werlang sob a temática: “O

ENFRENTAMENTO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA SITUAÇAO

MORTE E MORRER DE PACIENTES ONCOLÓGICOS” as orientandas estão cientes das

Normas para elaboração de Trabalho Monográfico de Conclusão do Curso de Graduação em

Enfermagem, bem como, do calendário de Atividade proposto.

Biguaçu, ___ de ____ de 2008.

MSc. Maria Lígia dos Reis Bellaguarda Profª Orientadora

Ingrid Pires Silva Acadêmica de Enfermagem

UNIVALI

Rosa Werlang Acadêmica de Enfermagem

UNIVALI

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APÊNDICES

APÊNDICE A - Carta de Intenção para realização da Pesquisa

Biguaçu,______ de ______2008.

Ilma. Sra. Coordenadora de Ensino do CEPON

Prezada Senhora,

Como alunas do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí

Centro de Educação Biguaçu temos a intenção de desenvolver a pesquisa intitulada “O

ENFRENTAMENTO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA SITUAÇAO

MORTE E MORRER DE PACIENTES ONCOLÓGICOS”. Para tanto, solicitamos a

autorização para a realização da pesquisa junto à equipe de Enfermagem (Enfermeiras/os,

técnicos e auxiliares de Enfermagem) de uma unidade de internação pré-determinada em

comum acordo com esta Instituição. Esclarecemos que a atividade de coleta de dados, prevista

no Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso prevê entrevistas com esta população e duas

“oficinas expressas” realizadas na passagem de plantão, no entanto somente será iniciada a

Pesquisa após aprovação da Comissão de Ética em Pesquisa da UNIVALI e da Instituição

locus da pesquisa. Assumimos o compromisso ético de manter o anonimato dos participantes,

sigilo das informações e proteção da imagem e prestígio dessa Instituição, sendo que os dados

coletados serão utilizados em nosso estudo acadêmico.

Contando com sua compreensão, agradecemos antecipadamente.

Atenciosamente,

Ingrid Pires Silva Rosa Werlang Acadêmica de Enfermagem Acadêmica de Enfermagem UNIVALI UNIVALI

MSc. Maria Lígia dos Reis Bellaguarda Orientadora – UNIVALI

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APÊNDICE B - Carta de Intenção para realização da Pesquisa

Biguaçu, de 2008.

Ilma. Sra. Enfa. Responsável pela Unidade de Internação

Prezada Senhora,

Como alunas do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí

Centro de Educação Biguaçu temos a intenção de desenvolver a pesquisa intitulada “O

ENFRENTAMENTO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA SITUAÇAO

MORTE E MORRER DE PACIENTES ONCOLÓGICOS”. Para tanto, solicitamos a

autorização para a realização da pesquisa junto à equipe de Enfermagem (Enfermeiras/os,

técnicos e auxiliares de Enfermagem) de uma unidade de internação pré-determinada em

comum acordo com esta Instituição. Esclarecemos que a atividade de coleta de dados, prevista

no Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso prevê entrevistas com esta população e duas

“oficinas expressas” realizadas na passagem de plantão, no entanto somente será iniciada a

Pesquisa após aprovação da Comissão de Ética em Pesquisa da UNIVALI e da Instituição

locus da pesquisa. Assumimos o compromisso ético de manter o anonimato dos participantes,

sigilo das informações e proteção da imagem e prestígio dessa Instituição, sendo que os dados

coletados serão utilizados em nosso estudo acadêmico.

Contando com sua compreensão, agradecemos antecipadamente.

Atenciosamente,

Ingrid Pires Silva Rosa Werlang Acadêmica de Enfermagem Acadêmica de Enfermagem

UNIVALI UNIVALI

MSc. Maria Lígia dos Reis Bellaguarda Orientadora – UNIVALI

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APÊNDICE C - Consentimento Livre e Esclarecido

Somos acadêmicas do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI / Campus Biguaçu. Estamos desenvolvendo uma pesquisa sobre “O

ENFRENTAMENTO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NA SITUAÇAO

MORTE E MORRER DE PACIENTES ONCOLÓGICOS”. E, tem como objetivo Conhecer

o enfrentamento dos profissionais de enfermagem diante do processo morte e morrer de

pacientes oncológicos. Neste sentido, gostaríamos de contar com a sua participação, por meio

de entrevistas e duas “oficinas expressas”(realizadas nos turnos de serviço) a serem

agendadas previamente. Não será realizado nenhum procedimento que lhe traga qualquer

desconforto ou risco à sua vida. Caso apresente alguma dúvida em relação à pesquisa, durante

o desenvolvimento da mesma, ou desistir de fazer parte deste estudo, poderá retirar seu

consentimento a qualquer momento, sem prejuízo para o desenvolvimento de suas atividades

laborais. Pela sua participação no estudo, você não receberá qualquer valor em dinheiro, mas

terá a garantia de que toda e qualquer despesa necessária para a realização da pesquisa não

será de sua responsabilidade. As despesas referentes a este estudo serão custiadas pelas

autoras da pesquisa.Seu nome não aparecerá em qualquer momento do estudo, pois você será

identificado por meio de um codinome.

Ingrid Pires Silva Acadêmica de Enfermagem

UNIVALI

Rosa Werlang Acadêmica de Enfermagem

UNIVALI

MSc. Maria Lígia dos Reis Bellaguarda Orientadora -UNIVALI

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APÊNDICE D – Termo de Consentimento livre, após esclarecimento

Termo de consentimento livre, após esclarecimento

Eu,........................................................................................................, li e ouvi o

esclarecimento sobre a pesquisa “O ENFRENTAMENTO DOS PROFISSIONAIS DE

ENFERMAGEM NA SITUAÇAO MORTE E MORRER DE PACIENTES

ONCOLÓGICOS” e compreendi para que serve o estudo e qual procedimento a que serei

submetido. A explicação que recebi esclarece os riscos e benefícios do estudo. Eu entendi que

sou livre para interromper minha participação a qualquer momento, sem justificar minha

decisão e que isso não afetará meu tratamento. Sei que meu nome não será divulgado, que não

terei despesas e não receberei dinheiro por participar do estudo.

Eu concordo em participar do estudo.

Florianópolis, _____ de ________________ de 2008.

__________________________________________________ Assinatura do participante da pesquisa (ou responsável legal)

____ ________ _________ Número do documento de identidade

_________________________________________ Assinatura do Pesquisador responsável

__________________________ Assinatura do Pesquisador Orientador

O48 9981-0370 Telefones de contato dos pesquisadores

___ _______ _______ Telefones de contato dos pesquisadores

Em caso de dúvida quanto a esse documento, você pode entrar em contato com o Comitê Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI, pelo telefone047-3241-7738

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APÊNDICE E - Roteiro do questionário

Iniciais do nome do respondente:_______

Categoria Profissional:___________ Sexo:______ Turno de Trabalho:_____

Tempo de trabalho na categoria _____________________________

Tempo de trabalho em unidade oncológica ____________________

� O que é para você a morte?

� Durante a sua formação profissional como você foi preparado para vivenciar situações

de morte e de morrer dos pacientes sobre o seu cuidado?

� Você considera importante receber orientação/preparo para lidar com as situações de

terminalidade? Comente.

� O tempo de trabalho em uma unidade oncológica influencia o modo de enfrentar a

morte e o morrer dos pacientes sob seus cuidados? De que maneira?

� Qual a sua primeira atitude/pensamento quando da morte de um paciente?Comente.

� Você tem algum ritual para vivenciar o processo de morte e morrer de pacientes sob os

seus cuidados? Comente e exemplifique.

� Sugira maneiras de amenizar, no ambiente de trabalho, as perdas freqüentes de

pacientes por meio da morte.

� Por que foi você, a pessoa/profissional que o atendeu na situação do morrer/morte?

� Descreva como você enfrenta a morte de um paciente sob seus cuidados

� Você teve ou buscou ter acesso aos familiares do paciente? Narre como isto aconteceu

� Você teve dificuldades para conversar com eles?

� Como iniciou a conversação com os familiares do paciente falecido e que assuntos

foram considerados intencionalmente importantes naquela situação?

� O que mais lhe chamou a atenção no contato com os familiares?

� Relacione cada uma das atividades aos sentimentos que lhes foram gerados durante

suas realizações:

a) Diálogo com a família

b) O preparo do corpo post- mortem

c) Os companheiros de trabalho

Nº Codinome

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� Se você tivesse que dizer a alguém como você faz esse tipo de atendimento, o que e

como você orientaria a alguém? ( Esforce-se por relembrar o que seria destacável

nesse cuidado post-mortem na equipe de saúde (enfermagem)

� O que significa hoje a morte de um paciente para a equipe de enfermagem?

� Você quer acrescentar alguma questão a esse estudo?

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APENDICE F - OFICINA EXPRESSA 1

EXPRESSÕES E SENTIMENTOS

Objetivo da oficina Conteúdo da oficina Estratégia da oficina - Disponibilizar o confronto com os sentimentos expressos - Auxiliar no enfrentamento e compreensão dos sentimentos de cada membro da equipe. Tempo 30 minutos

- Exposição das expressões e sentimentos que emergiram dos questionários respondidos pelos participantes do estudo

- multimídia - discussão em grupo

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APENDICE G - OFICINA EXPRESSA 2

SENTINDO AS EXPRESSOES DO OUTRO

Objetivo da oficina Conteúdo da oficina Estratégia da oficina - Instrumentalizar a equipe de enfermagem no enfrentamento do processo da morte e do morrer - Favorecer a ajuda mútua no enfrentamento da terminalidade no ambiente de trabalho Tempo 30 minutos

- Toque Terapêutico - As expressões do lidar com o processo de terminalidade - Desenvolvendo maneiras de minimizar o sofrimento referente ao processo da morte e morrer de pacientes, entre a equipe de enfermagem, no ambiente de trabalho.

- equipamento de sonorização - CD música - dinâmica de integração - Dinâmica do Toque - discussão em grupo

Dinâmica da Oficina do Toque 1ºMOMENTO: - Acolhimento – abraço individual de recepção aos participantes - apresentação da coordenação da oficina e introdução da temática - música: Você já me viu? De autoria de Raulito Ramos, CD – Brinquedos e brincadeiras no mundo do O, 2004. - Solicitar silêncio e que prestem atenção à música 2º MOMENTO: - Ver sem olhar – orientar quanto à dinâmica - solicitar que todos fiquem de pé - uns vedarão os outros - misturar os participantes vedados - cada um terá que achar um par apenas com as mãos, e não podem Falar, para evitar que se identifiquem - Esta etapa é acompanhada pelas músicas de Raulito Ramos CD mandala: um passeio lúdico-poético, 2002. As músicas utilizadas:Toque, Paz, Luz. 3º MOMENTO: - Ver o que se vê – As vendas são retiradas e o toque é realizado com o olhar, o abraço... - Esta etapa é acompanhada pelas músicas de Raulito Ramos CD Mandala: um passeio lúdico-poético, 2002. As músicas utilizadas:Laços, Toque. 4º MOMENTO: - Diálogo sobre o toque terapêutico- como se sentiram com a dinâmica? Que percepções, sensações e emoções sentiram? Trazer à tona sugestões para enfrentamento morte e morrer. - A Enfermagem e o toque como terapêutico - Importância de se tocar de verdade o outro.

- Esta etapa é acompanhada pela música de Raulito Ramos e Ronaldo Santos.CD Brinquedos e Brincadeiras no mundo do O, 2002. A Música utilizada:Brincadeira

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A Pesquisa Convergente Assistencial (PCA) descrita por Trentini e Paim (1999) é uma

categoria da pesquisa de campo, uma vez que sustenta uma investigação de cunho

assistencial. Nesta modalidade de pesquisa o profissional enfatiza “o pensar” e “o fazer” ele

pensa fazendo e faz pensando, sempre sistematizando o que faz. Assim, na pesquisa

Convergente-Assistencial o enfermeiro encontra um instrumento útil “aprender a pensar e

fazer” no seu cotidiano, pesquisando as implicações teóricas e práticas no seu fazer.

Numa pesquisa é essencial que se estabeleça uma boa relação entre os sujeitos e os

pesquisadores. Para isso agendamos 15 encontros com os sujeitos da pesquisa . Para

aumentar a afinidade no término de cada encontro anexávamos no mural do posto de

Enfermagem uma mensagem de apoio / pensamentos de incentivo a equipe.

Os sujeitos que participaram deste estudo foram 12 funcionários da unidade de

cuidados paliativos do CEPON, incluindo enfermeiros e técnicos em enfermagem.

Para a coleta de informações utilizamos uma entrevista semi-estruturada. As

entrevistas, previamente agendadas, foram gravadas. Foram mantidos o sigilo das

informações e o anonimato dos informantes, conforme Resolução nº. 196/96, do Conselho

Nacional de Saúde (1996). Após os esclarecimentos necessários, explicações detalhada da

pesquisa e assinatura do consentimento livre e esclarecido, os sujeitos relataram suas

vivencias, preparo e sentimentos através das seguintes perguntas norteadoras:

� O que é para você a morte?

� Durante a sua formação profissional como você foi preparado para vivenciar situações

de morte e de morrer dos pacientes sobre o seu cuidado?

� Você considera importante receber orientação/preparo para lidar com as situações de

terminalidade? Comente.

� O tempo de trabalho em uma unidade oncológica influencia o modo de enfrentar a

morte e o morrer dos pacientes sob seus cuidados? De que maneira?

� Qual a sua primeira atitude/pensamento quando da morte de um paciente?Comente.

� Você tem algum ritual para vivenciar o processo de morte e morrer de pacientes sob os

seus cuidados? Comente e exemplifique.

� Sugira maneiras de amenizar, no ambiente de trabalho, as perdas freqüentes de

pacientes por meio da morte.

� Por que foi você, a pessoa/profissional que o atendeu na situação do morrer/morte?

� Descreva como você enfrenta a morte de um paciente sob seus cuidados

� Você teve ou buscou ter acesso aos familiares do paciente? Narre como isto aconteceu

� Você teve dificuldades para conversar com eles?

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� Como iniciou a conversação com os familiares do paciente falecido e que assuntos

foram considerados intencionalmente importantes naquela situação?

� O que mais lhe chamou a atenção no contato com os familiares?

� Relacione cada uma das atividades aos sentimentos que lhes foram gerados durante

suas realizações:

d) Diálogo com a família

e) O preparo do corpo post- mortem

f) Os companheiros de trabalho

� Se você tivesse que dizer a alguém como você faz esse tipo de atendimento, o que e

como você orientaria a alguém? ( Esforce-se por relembrar o que seria destacável

nesse cuidado post-mortem na equipe de saúde (enfermagem)

� O que significa hoje a morte de um paciente para a equipe de enfermagem?

Você quer acrescentar alguma questão a esse estudo?