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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA MBA EM GESTÃO DO AGRONEGÓCIO ENIO ÂNGELO TODESCHINI MANEJO DAS PLANTAS DE COBERTURA DO SOLO NA VITICULTURA DA SERRA GAÚCHA VISANDO O CONTROLE DAS PERDAS DE SOLO PELA EROSÃO HÍDRICA São Leopoldo 2010

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

MBA EM GESTÃO DO AGRONEGÓCIO

ENIO ÂNGELO TODESCHINI

MANEJO DAS PLANTAS DE COBERTURA DO SOLO NA VITICULTURA

DA SERRA GAÚCHA VISANDO O CONTROLE DAS PERDAS DE SOLO

PELA EROSÃO HÍDRICA

São Leopoldo

2010

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ENIO ÂNGELO TODESCHINI

MANEJO DAS PLANTAS DE COBERTURA DO SOLO NA VITICULTURA

DA SERRA GAÚCHA VISANDO O CONTROLE DAS PERDAS DE SOLO

PELA EROSÃO HÍDRICA

Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Gestão do Agronegócio, pelo MBA em Gestão do Agronegócio da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Orientador: Profa. Gisele Spricigo

Co-Orientador: Antônio Conte

São Leopoldo

2010

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São Leopoldo, 28 de outubro de 2010.

Considerando que o Trabalho de Conclusão de Curso do aluno Enio Ângelo Todeschini encontra-se em condições de ser avaliado, recomendo sua apresentação oral e escrita para avaliação da Banca Examinadora, a ser constituída pela coordenação do MBA em Gestão do Agronegócio.

________________________________________

Gisele Spricigo Professora Orientadora

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AGRADECIMENTOS

À professora Gisele Spricigo pela compreensão e orientação.

Ao Engo Agro Antonio Conte pela amizade, colaboração e ensinamentos;

Aos colegas da EMATER pela amizade e cooperação.

A todos os professores do curso de MBA Gestão do Agronegócio da UNISINOS

pelos ensinamentos transmitidos.

À EMATER pela oportunidade de auferir conhecimentos e fazer novas

amizades.

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RESUMO

O presente trabalho relata a experiência vivenciada pelos viticultores da Serra Gaúcha na introdução e cultivo de espécies de plantas de inverno, visando principalmente o controle da erosão do solo nos vinhedos. Essa técnica proposta pela EMATER-RS teve seu início no ano de 1999, através da proposição do cultivo da aveia preta, espécie rústica, bem adaptada à região, facilitando seu manejo. A degradação do solo é umas das causas responsáveis pelo decréscimo da produtividade e, consoante, pela diminuição da receita líquida da atividade. Destarte, a finalidade almejada era, num primeiro instante, estancar a perda de solo; no seguinte, a recuperação da fertilidade do mesmo. Com efeito, a sustentabilidade da família vitícola. Usaram-se, como métodos para efetivar essa dissertação o estudo de caso descritivo e uma pesquisa de opinião junto aos extensionistas da EMATER dos principais municípios vitícolas. Como resultado básico, constatou-se o alcance dos objetivos, ou seja, o controle da erosão do solo e a preservação da fertilidade, refletindo-se em diversos outros efeitos positivos. Além de o viticultor desenvolver uma nova mentalidade perante a presença de ervas e seu manejo. Palavras-Chave: Viticultura. Erosão do Solo. Manejo das Plantas de Cobertura.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................05 1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ..................................................................... 06 1.2 OBJETIVOS .................................................................................................. 06 1.2.1 Objetivo Geral ........................................................................................... 06 1.2.2 Objetivos Específicos ................................................................................. 06 1.3 JUSTIFICATIVA .......................................................................................... 07

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................. 08 2.1 A PRÁTICA CONSERVACIONISTA NA FRUTICULTURA ............................................................................................................................ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.1 2.2 DESAFIOS ................................................................................................... Erro! Indicador não definido.2 2.2.1 Benefícios da Prática.....................................................................................14 2.2.2 Dificuldades Encontradas.............................................................................15 2.3 MANEJO DAS ESPÉCIES CULTIVADAS.....................................................17 2.3.1 Aveia Preta.....................................................................................................17 2.3.2 Centeio............................................................................................................19 2.3.3 Azevem...........................................................................................................20 2.3.4 Ervilhaca........................................................................................................21 2.3.5 Trevo Branco.................................................................................................22 2.3.6 Trevo Encarnado..........................................................................................23 2.3.7 Nabo Forrageiro............................................................................................23

3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS ............................................................... 25 3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA .............................................................. 25 3.2 DEFINIÇÃO DA ÁREA/POP.-ALVO/AMOSTRA/UNID. ANÁLISE .......... 25 3.3 TECNICA DE COLETA DE DADOS..............................................................26 3.4 TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DADOS ........................................................ 26

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ............................................. 28 4.1 QUESTIONARIO PROPOSTO ............................................................................................................................ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 4.1.1 Motivação para se Engajar no Programa ................................................ 28 4.1.1 As maiores Dificuldades Encontradas na Implantação ........................... 28 4.1.1 Como Avalia os Resultados Alcançados ................................................... 29

5 CONCLUSÃO ................................................................................................. 31

REFERÊNCIAS ................................................................................................. 32

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ANEXO A – LISTA DE FIGURAS ................................................................... 34

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1 INTRODUÇÃO

A região da Serra Gaúcha está localizada no nordeste do estado do Rio Grande

do Sul, região Sul do Brasil. Num Estado predominantemente plano que é o Rio Grande

do Sul, a Serra Gaúcha é o principal acidente geográfico, com altitudes moderadamente

altas, de até cerca de 1.300m. Por estar localizada numa zona temperada do Brasil, seu

clima é subtropical úmido, com invernos moderadamente frios e verões amenos

(representado pela classificação climática de Köppen como Cfb). Durante o inverno, as

temperaturas com relativa freqüência ficam negativas e a neve pode ocorrer, geralmente

em quantidades muito pequenas e em poucos dias dessa estação. Nevadas com

acumulações no solo são raras. Fortes geadas, contudo, são mais freqüentes.

A região das Serras é dividida em três regiões culturais: a região gaúcha, a alemã

e italiana. A região italiana, começou a ser colonizada em 1875, quando ali chegaram os

primeiros imigrantes italianos. Como os alemães colonizaram as terras baixas, os

italianos tiveram que subir as serras e povoar as terras altas. A cultura é praticamente a

mesma do Vêneto, região de onde veio a maioria dos imigrantes. O dialeto falado por

muitos é o talian, que tem sua origem no Norte da Itália. A produção de uva e vinho,

trazida pelos imigrantes, se expandiu por toda a região, tornando-se a base da economia

da região italiana do Rio Grande do Sul.

A erosão hídrica do solo é influenciada pela chuva, solo, cobertura e manejo do

solo e práticas conservacionistas. Dentre esses fatores, a cobertura e o manejo

apresentam maior influência sobre a erosão hídrica do que os demais (Cogo, 1981).

Do ponto de vista agronômico, a erosão hídrica do solo é concebida apenas

como um fenômeno deletério, causador de perdas de nutrientes, matéria orgânica,

calcário, porosidade, sementes, ou seja, fator empobrecedor do potencial produtivo da

terra e, consequentemente, da família rural. De maneira geral, imensos esforços foram

direcionados e inúmeros métodos desenvolvidos e aplicados no intuito de tentar conter a

erosão hídrica nas áreas cultivadas.

O presente trabalho teve por objetivo um estudo para identificar e analisar as

vantagens e desvantagens da implantação e continuidade do programa de introdução de

plantas de cobertura do solo na viticultura da Serra Gaucha, com ênfase na substituição

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da manejo químico e controle da erosão solar. Compõe-se de um resumo, um referencial

teórico, descrição do método de pesquisa, os benefícios auferidos e as dificuldades

encontradas, bem como uma descrição do manejo das principais espécies de plantas

utilizadas para o determinado fim.

1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

A degradação do solo causada pela erosão hídrica traz sérias conseqüências à

rentabilidade da viticultura e, consequentemente à sustentabilidade da propriedade

vitícola. Num primeiro instante, há a retirada do solo do seu ponto original; com ele

ocorre a perda de matéria orgânica, nutrientes, corretivos, microorganismos, sementes,

ou seja, da capacidade de armazenamento de água e de seu potencial produtivo.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Identificar e analisar as vantagens e desvantagens da implantação e continuidade

do programa de introdução de plantas de cobertura do solo na viticultura da Serra

Gaucha.

1.2.2 Objetivos Específicos

– Identificar e analisar as causas e conseqüências da erosão hídrica do solo;

– Identificar e analisar métodos alternativos de controle das ervas espontâneas,

como alternativas na introdução e manejo de espécies cultivadas;

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– Apontar a proposta de substituição do manejo químico das ervas espontâneas

ocorrentes nos vinhedos da Serra Gaúcha por determinadas espécies

intencionalmente cultivadas, no intuito de estancar a erosão hídrica, com

ênfase no trabalho que vem sendo desenvolvido pela EMATER.

1.3 JUSTIFICATIVA

A produção sustentável da viticultura da Serra Gaúcha é influenciada por fatores

de diversas naturezas, sendo uns de difícil administração, tais como as condições

climáticas, e outros passiveis de forte ingerência humana. Dentre estes, o manejo do

solo tem importância destacada, pois é reservatório de água, ar e nutrientes

indispensáveis para o desenvolvimento vegetal.

Historicamente, via-se a ocorrência de ervas espontâneas como concorrentes

fatais para a subsistência e produção da cultura, tanto que sua denominação traduzia

essa concepção: inços, daninhas, mato, concorrentes... e, destarte, a sua eliminação era

praticamente obrigatória. A forma de eliminação primeiramente se concentrava no

método mecânico e, posteriormente, com o advento dos herbicidas, no controle

químico.

Ambos os métodos tem sua eficiência no controle das ervas, porém propiciam

condições adversas ao desenvolvimento da cultura. O primeiro, pelo revolvimento do

solo, em muito facilita a sua degradação; o segundo, incrementa o risco de

fitotoxicidade da parreira, contaminação ambiental e intoxicação de operador.

A degradação do solo é umas das causas responsáveis pelo decréscimo da

produtividade e, consoante, pela diminuição da receita líquida da atividade. Desta

forma, a finalidade almejada é, num primeiro instante, estancar a perda de solo; no

seguinte, a recuperação da fertilidade do mesmo. Com efeito, a sustentabilidade da

família vitícola.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A viticultura na Serra Gaúcha é tão antiga quanto à própria imigração italiana no

RS. Sendo sustentáculo básico para 15.000 famílias, hodiernamente é praticada em

36.000 ha (EMATER, 2008). Naturalmente, a pessoa carrega, do local de partida para o

novo, seus hábitos, crenças e conhecimentos.

A atividade vitícola se desenvolveu de forma intensa, sendo uma das bases

sócio-econômicas da região por diversas décadas. A cultura vinha sendo submetida ao

manejo empreendido na Europa, sem considerar que, no “novo mundo”, as condições

básicas de cultivo - edafo-climáticas, poderiam – e são, diferenciadas. Dentre estas,

pode-se destacar o regime pluviométrico e as temperaturas médias. O volume de

chuvas é bem mais elevado no RS do que no norte da Itália; e as temperaturas médias

também o são. Atrelados a esses fatores – pluviometria e temperaturas, duas premissas

vinham sendo encaradas de forma idêntica `a da região de origem: necessidade de

aração (virar o solo) para a elevação da temperatura e as sementes das culturas poderem

germinar; o controle das ervas e o desadensamento do solo eram preocupações

secundárias; e a despreocupação com os efeitos das chuvas sobre o fenômeno da erosão

do solo.

A erosão ou degradação do solo pode ser conceituada como sendo a destruição

das saliências e reentrâncias do relevo, tendendo a um nivelamento. Alguns

especialistas chegam a estimar que o trabalho e atuação dos agentes erosivos causam, a

cada ano, um arrasamento de 1/10 de milímetro na altitude do relevo terrestre. Para que

houvesse a destruição de todo o relevo das terras emersas seria necessário cerca de sete

milhões de anos. Porém, isso não poderá acontecer devido ao rejuvenescimento de

certas áreas da superfície terrestre, produzido pela dinâmica natural que sofre influência

de diversos fatores (Souto, 1984).

Todos os solos estão sujeitos à erosão geológica ou natural; trata-se da ação

dos agentes externos como sol (calor), água, animais, vegetais, etc. que, agindo sobre a

rocha provocam a formação do solo. Este tipo de erosão é incontrolável, até mesmo

benéfica e necessária. Serve como niveladora da crosta terrestre e renovador da natureza

(Schultz, 1983).

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Num trabalho de Viau (1977), citado por Nolla (1982), realizado no Centro de

Treinamento da COTRIJUI em Augusto Pestana/RS, já demonstrava as diferenças entre

os sistemas de manejo do solo, bem como a interferência na produtividade do solo:

Quadro 01. Avaliação e Perdas de Solo por Erosão:

_____________________________________________________________________

Sistema de Cultivo Perdas de Solo (kg/ha) Produção Soja(kg/ha)

_____________________________________________________________________

Semeadura Direta 400 4.671

Convencional 1.600 3.124

Solo Descoberto 32.900 ---

______________________________________________________________________

E já não é mais novidade que a erosão é dos mais urgentes problemas a

equacionar. Não apenas o plantio direto, mas qualquer ação ou procedimento eficaz na

conservação do solo se investe, portanto de profunda significação à sustentabilidade das

relações homem-meio (D’Agostini, 1997).

Dentro desta lógica, Ruedell (1995), diz que o plantio direto no estado do RS no

início da década de 70 foi um fracasso. Conhecia-se os irrecuperáveis danos que

estavam sendo ocasionados pelo uso excessivo do solo, principalmente na cultura da

soja, com conseqüente degradação e erosão dos solos a nível de estado. Em função desta

situação, foi intentada uma prática de semear soja após trigo, ou em áreas em pousio no

inverno, sem preparar o solo, buscando uma solução para estancar estes graves

problemas. Tentativa válida e pioneira pela busca de uma alternativa para estancar o

processo predatório e erosivo do solo, que de uma forma galopante vinha perdendo seu

potencial produtivo. Em função destas perdas, a cada ano eram necessárias reaplicações

de uma enormidade de corretivos e fertilizantes para se manter o nível de produtividade

das culturas.

A construção de milhares de quilômetros de terraços, dos mais diferentes tipos,

ocupava o tempo de equipes inteiras de Cooperativas e da assistência técnica privada e

oficial. Certamente que estas construções diminuíam a velocidade das enxurradas,

minimizando os efeitos de seus estragos. No entanto, as perdas de solo continuavam

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ocorrendo. A prova está que antes de cada safra se fazia necessário a “limpeza” dos

canais dos terraços, cheios de terra que havia escorrido até os mesmos, sem contar com

aquela que havia sido exportada pelos canais escoadouros para estradas, açudes e rios.

A Construção de terraços numa propriedade rural ficou sendo sinônimo de um solo bem

protegido. Na verdade, quando bem locados, cumpriam integralmente com a sua função

de minimizar, ordenar e conduzir “as águas excedentes” das chuvas. Porém, era

evidente que a causa inicial da erosão que tem origem no impacto da gota de chuva

sobre o solo desnuda e intensamente preparado não vinha sendo considerada nestas

construções (Ruedell, 1995).

Dentre os fatores que influenciam a erosão hídrica pode-se destacar: chuvas,

principalmente pelo seu componente intensidade, sendo a quantidade num determinado

tempo; o relevo do terreno; o tipo de solo; a cobertura vegetal e o manejo do solo.

Quando se entendeu que o principal fator condicionador da erosão hídrica não era a

força da enxurrada – força horizontal das águas, mas sim a força cinética – impacto da

gota sobre o solo, causando a desagregação (fragmentação) do mesmo e jogando suas

partículas para o alto e longe, encontrou-se a chave para a solução do problema. A força

do impacto também força o material mais fino para abaixo da superfície, o que provoca

a obstrução da porosidade (selagem) do solo, aumentando o fluxo superficial e a erosão.

A questão não era mais tentar barrar o deslocamento horizontal das águas pluviais, mas

sim proteger o solo desnudo da força das gotas da chuva. Por seu turno, a emergência de

ervas junto às culturas era vista somente como concorrência, tanto que eram (às vezes

ainda o são) denominadas de invasoras, concorrentes, inços, plantas daninhas, mato,

requerendo sua eliminação o mais cedo possível.

Conte (2002) diz que o controle de plantas daninhas nos parreirais através de

capinas ou com o uso de herbicidas, tem provocado uma série de problemas, tais como:

aumento da erosão do solo; incremento de incidência de doenças fúngicas do solo

(Fusariose) e da parte aérea (Míldio); Dispersão de pragas como a Pérola-da-terra

através de equipamentos; diminuição gradativa da matéria orgânica do solo; redução da

fauna e flora do solo; desestruturação do solo; contaminação dos mananciais hídricos e

outras tantas conseqüências negativas. A redução desses problemas pode ser obtida

através do cultivo e correto manejo das plantas de cobertura do solo.

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A conjugação destes dois conceitos: o conhecimento do principal fator erosivo e

o entendimento de que a ocorrência de ervas espontâneas ou cultivadas e a sua palhada

tinham um papel fundamental na proteção da superfície do solo pela interceptação das

chuvas e amortecimento de sua energia, reverteu todo um quadro catastrófico nas áreas

produtoras de grãos, dando ensejo ao sistema plantio direto. Por analogia, essa

concepção foi adaptada e introduzida na viticultura da Serra Gaúcha no final da década

de 90, por uma iniciativa da EMATER. Sob coordenação do Escritório Regional de

Caxias do Sul, através de reuniões com as equipes municipais, discutiu-se e formulou-se

a proposta de atuação e a metodologia do trabalho a ser implementado.

2.1 PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS NA FRUTICULTURA

Sob esse temática, o Manual de Conservação do Solo (Rio Grande do Sul,

Secretaria da Agricultura, 1983) traz apenas a cobertura morta como prática, consistindo

na cobertura do solo total ou parcialmente, utilizando-se capins, palhas (restevas),

cascas, aparas, papel e plástico. Como benefícios, destaca: a) eficiência no controle da

erosão, tanto hídrica como eólica; b) melhoramento no teor de umidade do solo: maior

infiltração da água, menor evaporação e menor escorrimento superficial; c)

rebaixamento da temperatura máxima do solo: em solos desnudos constataram-se

temperaturas ao redor de 51 oC em pomares de São Paulo, enquanto que, em terrenos

protegidos por cobertura morta, nas mesmas regiões, a temperatura máxima baixou para

31 oC. d) aumento do teor de matéria orgânica que, com o apodrecimento contínuo, vai

se incorporando ao solo, na medida em que se transforma em húmus; e) aumento do

sistema radicular, em extensão e número de raízes; f) controle de ervas daninhas,

chegando a 75 e até 90%.

Seguindo a descrição da prática, a referida fonte aponta “alguns aspectos

negativos que devem ser lembrados: a) perigo de fogo nos meses mais quentes, quando

o material está mais seco e mais inflamável; b) perigo de estragos pela geada, pois é

sabido que solos com cobertura morta apresentam, para as culturas, riscos de prejuízos

muito maiores; c) foco provável de pragas e doenças; d) afloramento de raízes para a

superfície, o que seria altamente prejudicial em caso de longa estiagem; e) é prática

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onerosa, que se justifica somente nas pequenas propriedades , onde vem tendo alrga

aceitação, pelo transporte e distribuição do material (autores afirmam que são

necessários três há com capim para produzir material suficiente para a cobertura em um

ha. (GALETI).” Referencia a obra que “ para escapar de alguns desses inconvenientes,

pequenos produtores da região vitivinícola do Nordeste do Estado vêm plantando, com

sucesso, a ervilhaca, deixando-a em pé no terreno até a queda natural da planta, após

terem colhido os grãos, prática essa que vem beneficiando grandemente a cultura da

videira.”

As plantas de cobertura do solo ou cobertura viva são leguminosas, gramíneas

ou a combinação apropriadas de espécies cultivadas especificamente para proteger o

solo contra a erosão, melhorar sua estrutura e fertilidade, suprimir pragas, vegetação

espontânea e patógenos. Aparentemente, o manejo de culturas de cobertura do solo pode

afetar diretamente a presença de pragas, as quais conseguem diferenciar entre os

pomares cultivados com e sem cobertura do solo. Isso pode ajudar na manutenção de

populações de inimigos naturais que habitam o solo e as folhagens, fornecendo habitat e

alimento alternativo. O planejamento de consórcios adequados, com o uso de cobertura

de cultura de cobertura nos pomares, pode melhorar o controle biológico de

determinadas pragas em pomares e vinhedos (Altieri, 2002).

Diante deste quadro insólito da pesquisa quanto às práticas de preservação do

solo na fruticultura e do hábito do viticultor em debelar qualquer forma de vegetação

junto aos pomares que a EMATER propôs uma forma completamente diversa no

manejo do solo sob os vinhedos.

2.2 O DESAFIO DA ADOÇÃO DA PRÁTICA CONSERVACIONISTA

No intuito de obtenção de sucesso da idéia, ou seja, a adoção da proposição,

muitos entraves tiveram que ser superados, dentre os quais pode-se destacar: a) a falta

de base científica (pesquisa) para a argumentação, sustentação e o manejo da técnica; b)

a resistência dos viticultores frente ao desafio, pois estavam habituados (modelo mental

- paradigma) a manter seus vinhedos no “limpo”. Qualquer situação que não eliminasse

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as ervas espontâneas era sinônimo de produtor relaxado, vagabundo; c) o medo da

ocorrência de formigas cortadeiras e a dificuldade no controle das mesmas; d) a

pressão das casas comerciais instigando os viticultores sobre os riscos de manter ervas

sob o vinhedo e a tradição da dessecação – eliminação pela aplicação de herbicidas.

O programa teve como carro-chefe a introdução da Aveia Preta, eleita, após

parcimoniosa análise, por inúmeros atributos: espécie vegetal de inverno, fundamental

para vegetar no período de dormência das parreiras; ciclo curto e bem definido;

facilidade de obtenção e baixo custo da semente; baixo custo e facilidade na semeadura

a lanço e superficial; manejo simples da palhada – acamamento; a ausência da

ressemeadura natural – embora a formação de sementes viáveis, estas não persistem

para a safra posterior, podendo facilmente se retornar ao sistema anterior; planta rústica,

suportando bem o ataque de pragas e incidência de fitomoléstias, dispensando

tratamentos para seu controle; as espécie da família botânica Graminea (Poaceae) são

bastante exigentes em nitrogênio para o seu desenvolvimento. Como o solo da grande

maioria dos vinhedos já se encontrava com teores elevados desse nutriente, face à

disponibilidade e uso de adubos orgânicos de origem animal, estar-se-ia num primeiro

momento imobilizando nitrogênio na palhada da Aveia Preta. Efeito alelopático desta

espécie sobre outras que ocorrem espontaneamente durante o período vegetativo da

videira e que em muitas situações atrapalham e dificultam a execução dos tratos

culturais nas videiras.

A difusão da idéia ocorreu em todos os municípios produtores de uvas, usando-

se, como estratégia, diversos métodos, sendo os principais: explanação do programa

junto às principais entidades parceiras – secretarias da agricultura, Sindicatos dos

Trabalhadores Rurais e Cooperativas; divulgação através de rádio, jornal, igreja,

escolas, visitas individuais a viticultores com características empreendedoras;

estabelecimento de áreas demonstrativas; realização de eventos – tardes de campo,

reunindo produtores para mostrar/explicar a técnica; campanhas de aquisição conjunta

de sementes.

Outras espécies que foram incentivadas de forma consorciada ou isoladamente

com a Aveia Preta: Nabo Forrageiro, Trevo Branco e Encarnado; Azevém; Ervilhaca;

Centeio; Triticale. A própria preservação das ervas espontâneas tomou outro rumo.

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Muitos produtores mudaram seu parecer e passaram a simplesmente manejar essas ervas

de forma mecânica (roçadas).

2.2.1 Benefícios da Prática Altieri (2002) citando Finch & Sharp (1976) e Haynes, (1980), relata que os

possíveis benefícios das plantas de cobertura do solo, em pomares e vinhedos, são:

1- Melhoria da estrutura do solo e da penetração da água, porque a adição de

matéria orgânica e a ação das raízes aumentam a aeração do solo e a percentagem de

agregados estáveis. Redução da necessidade de prepara do solo e da utilização de

maquinário, diminuindo-se assim, a compactação e a formação de pé de arado. A

cobertura vegetal suporta melhor as maquinas nos períodos chuvosos. A cultura de

cobertura intercepta as gotas de chuva, reduzindo sua força e prevenindo a formação de

crostas.

2- Prevenção da erosão do solo ao espalhar e tornar mais vagaroso o

escorrimento superficial da água e agregando o solo junto ao sistema radicular. Koller

(2009) afirma que o sistema radicular das plantas de cobertura, ao se decompor, forma

sulcos ao longo do perfil do solo, aumentando a infiltração e armazenamento de água.

3- Melhoria da fertilidade do solo ao adicionar matéria orgânica durante a

decomposição e tornar os nutrientes mais disponíveis através da fixação de nitrogênio.

4- Agregação das micropartículas retendo o solo junto à rizosfera.

5- Auxilio no controle de pragas, abrigando insetos predadores e parasitas

benéficos.

6- Modificação do microclima reduzindo o albedo e a temperatura e aumentando

a umidade no verão.

7- Redução da competição entre a cultura principal e as ervas espontâneas.

8- Redução da temperatura do solo. As diferenças na temperatura entre o sistema

convencional e plantio direto pode variar de 1 a 4º C.

Para Koller et al. (2009), a formação de palha na superfície, com plantas anuais

de outono/inverno, pode constituir-se em adéqua estratégia de manejo para a prevenção

contra períodos de falta de chuvas na primavera/verão, aumentando a capacidade de

armazenamento de água no solo.

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A redução da competição pelas espontâneas pode depender de diversos efeitos

da palhada, tais como: a diminuição da temperatura do solo retarda ou até inviabiliza a

germinação de sementes; o aumento do teor e da persistência da umidade favorece o

desenvolvimento de patógenos que acabam afetando a viabilidade ou a germinação das

sementes; a interceptação da luz gera uma deficiência na fotossíntese, afetando o

desenvolvimento das plântulas; a camada de palha favorece o desenvolvimento e

permanência de populações de insetos, ácaros, pássaros e outros espécies de animais,

incrementando a pressão sobre sementes e plântulas. Altieri (2002) diz que a

competição nem sempre pode explicar a diminuição do crescimento das plantas num

agrossistema. Por vezes ocorrem interações bioquímicas (alelopatia) entre as plantas.

Alelopatia é qualquer efeito prejudicial, direto ou indireto de uma planta sobre a outra,

através da produção de compostos químicos liberados no ambiente, ou seja, é a adição e

um fator tóxico ao ambiente. Os efeitos alelopáticos provocados pela cultura em

desenvolvimento e aqueles provocados por seus resíduos, podem ser utilizados para

reduzir populações de vegetação espontânea ao suprimir a germinação e a emergência

dessas plantas ou afetar seu crescimento. Há fortes evidencias de

que certas cultivares de centeio, cevada, trigo, fumo e aveia liberam substancias tóxicas

no ambiente, tanto através de exsudatos radiculares quanto pela decomposição da

planta.

2.2.2 Dificuldades Encontradas: Uma das mais fortes e frequentes sustentações dos viticultores para a não adoção

da prática da cobertura do solo com espécies cultivadas e conduzir o vinhedo com

presença de vegetação e/ou palhada era a ocorrência de formigas cortadeiras ou a

dificuldade da localização dos ‘olheiros’, comprometendo o seu controle. Para superar

esse medo a argumentação de que as formigas dificilmente se estabelecem em áreas

vegetadas, face à elevada e constante umidade e que as mesmas dificilmente cortam

plantas gramíneas, não lograva êxito. Somente após a primeira experiência por ele

vivida, é que se convencia de que a presença de ervas sob o parreiral não era fator de

risco quanto ao controle das formigas cortadeiras.

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A grande massa seca e pela extensão da mesma, ou seja, abrangendo todo o

vinhedo impregnava a imaginação do viticultor com medo do risco de ‘escapar’ o fogo,

pondo em perigo não só a safra, mas a estrutura física do vinhedo e as próprias

parreiras. Pode-se dizer que parte desse receio encontra vinculo na ‘memória genética’,

ou seja, as gerações anteriores muito sofreram com incêndios, tomando precauções de

até mesmo construir a moradia em duas construções separadas por diversos metros de

distancia.

O modelo mental ‘conservador’ do viticultor sempre é um desafio ao trabalho da

extensão rural na adoção de novas idéias, principalmente quando a proposição abarca

uma mudança tão radical como a proposta. A idéia de ter que se manter o pomar ‘no

limpo’, ou seja, livre da presença de ervas estava tão fortemente enraizada que o maior

dispêndio de tempo e energia do proponente (extensionista) foi justamente na aceitação

da mudança.

Seguidamente o extensionista era indagado pelo viticultor sobre os riscos de

competição por nutrientes e água entre a videira e a cultura de cobertura do solo,

principalmente porque havia com freqüência a opinião ‘aconselhadora’ dos

comerciantes, infundindo-lhe medo e dúvidas, temerosos esses de perder a venda de

herbicidas.

Um dos métodos mais usados na implementação da idéia foi o ‘desafio da

experimentação’ propondo ao produtor a adoção da prática numa pequena área e, desta

maneira, ele mesmo se convencer dos resultados. Essa pequena área com cobertura do

solo logo passou a ser ‘disputada’, servindo muitas vezes de pastagem para a

alimentação do gado. Isso vinha comprometer o resultado final, pois a formação de

grande volume de palhada é fundamental para os objetivos almejados.

Em muitas áreas, os parreirais estão estabelecidos há várias décadas e o uso do

sulfato de cobre é rotineiro em todos os ciclos vegetativos. Com o passar do tempo, o

acúmulo de cobre no solo acaba sendo inevitável, principalmente nos primeiros

centímetros superficiais, onde se encontra a maior concentração de matéria orgânica,

por ficar complexado à mesma. Os altos teores de cobre no solo dificulta o

estabelecimentos de plantas de cobertura do solo e reboleiras de plantas de aveia

subdesenvolvidas e de coloração esbranquiçada seguidamente surgiam, dificultando o

estabelecimento e desenvolvimento das plantas de aveia (Anexo A, figura 01).

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2.3 MANEJO DAS ESPÉCIES CULTIVADAS

2.3.1 Aveia Preta (Avena Strigosa)

Planta rústica, raramente requer tratamentos fitossanitários para produção de

massa seca, bem como suporta bem estresse hídrico (Anexo A, Figura 02). Conte (2002)

recomenda que a semeadura seja feita no período de meados de fevereiro a meados de

abril, utilizando-se de 100 a 120 Kg/ha de sementes, em vinhedos que apresentem teores

de Matéria Orgânica acima de 03,0%. Em áreas tomadas por espécies perenes como

gramas e capins, deve-se realizar o controle das mesmas antes da semeadura da Aveia.

A Aveia produz grande volume de matéria seca, tem grande efeito alelopático e

controle muito bem outras ervas espontâneas anuais que se desenvolvem na

primavera/verão, tendo a ciclo que se adequa ao período de dormência da videira

(Anexo 01, Figura 03). A interferência alelopática é tão acentuada que atinge a própria

espécie, inviabilizando seu estabelecimento após o cultivo sucessivo de alguns anos.

Contornou-se essa dificuldade com o consorciamento de espécies de outras famílias

botânicas, como a Ervilhaca (Leguminosaea) ou o Nabo Forrageiro (Brassicea) ou

através da sucessão do monocultivo dessa mesmas espécies. Ruedell (1995) diz que a

campo tem-se verificado potencialmente viável a utilização da palha da Aveia como

controladora de invasoras, principalmente gramíneas, no sistema de plantio direto. Num

levantamento realizado na região de Cruz Alta/RS, verificou que em 90% da área com

restevas de Aveia Preta rolada sobre a superfície do solo não se fez necessário utilizar

herbicidas para eliminar as invasoras antes da implantação da cultura de verão (soja ou

milho). Como produz uma grande quantidade de massa seca de difícil decomposição;

como se trata de uma cultura muito importante em termos de proteção do solo contra a

erosão e as perdas de água, além de ser uma cultura recicladora de nutrientes,

qualidades essas que fizeram com que atualmente seja a cultura de inverno mais

utilizada pelos produtores no plantio direto. Pela sua rusticidade e grande formadora de

massa seca pela palhada e sistema radicular, normalmente é indicada para se iniciar o

sistema de plantio direto.

A precocidade na implantação visa obter-se maiores volumes de palhada e

permitir que, por ocasião da poda das videiras a Aveia esteja com os grãos “ em massa”,

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estádio fenológico que permite o sucesso no seu manejo. A semeadura é feita

superficialmente, sem a necessidade de revolvimento do solo, fato de extrema

importância, pois, além de agilizar a prática da semeadura, evita o risco de perdas de

solo e das próprias sementes por erosão na ocorrência de chuvas de grande intensidade.

O solo deve apresentar grande umidade, o que normalmente se alcança logo após

precipitações de no mínimo 20 a 30 mm, no início da queda natural das folhas das

vinhas. Mesmo nessas condições, após a semeadura pode ocorrer um período

considerável de ausência de chuvas, dificultando a germinação e o pegamento das

plântulas de Aveia, refletindo-se em insucesso na prática. A superação desse empecilho

ocorreu através da adoção de um procedimento bastante simples, porém altamente

eficaz: a imersão das sementes de Aveia em água por um período de 24h. Além de

viabilizar o desencadeamento dos processos bioquímicos da germinação, traduzindo-se

em rapidez e uniformidade da mesma, o encharcamento torna as sementes mais pesadas

e escorregadias, facilitando a sua semeadura.

Em solos de baixos teores de Matéria Orgânica requer-se adubar a Aveia por

ocasião da semeadura, a fim de que não retarde em demasia o seu ciclo vegetativo. No

primeiro ano de semeadura, normalmente à necessidade de se fazer adubação

nitrogenada no vinhedo, visto que a decomposição da palhada e raízes é lenta e requer

grande volume de Nitrogênio, competindo com as parreiras.

Atingindo a fase fenológica de “grão pastoso” recomenda-se o manejo da Aveia,

através do seu acamamento (derrubada). Neste estádio, embora verdolenga, a planta da

Aveia já completou seu ciclo, apresentando suas sementes fisiologicamente maduras.

Manejando-se antes dessa fase, incorre-se em duas conseqüências adversas: a retomada

da posição inicial das plantas – vertical ou, se permanecer acamada, a possibilidade de

rebrote na coroa, iniciando um novo ciclo vegetativo e atrasando sua maturação, com

grandes chances de concorrer por nutrientes e, principalmente por água com as vinhas.

Inúmeros “equipamentos” foram testados para esse fim, desde a rolagem de um

tambor metálico de 200 litros até o tradicional rolo-faca. Em função das características

do solo onde está implantada a maioria dos pomares da região – declividade acentuada

do relevo e presença constante de pedras, os melhores resultados vêm sendo obtidos

com o arraste de uma copa de árvore (Anexo A, figura 04) ou de pneumáticos

descartados (Anexo A, figura 05). Na primeira opção normalmente se utiliza eucalipto

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ou citros. Ambos têm uma copada densa, pesada, com ramificações sucessivas e

flexíveis e madeira bastante resistente, além de serem espécies exóticas. Tanto a copa de

árvores, quanto os pneus contornam bem a presença de pedras e desníveis do terreno;

possuem alta persistência; são materiais que praticamente toda a propriedade dispõe,

além do baixo custo – se é que têm.

Sendo de máquina agrícola ou caminhão, o uso de apenas um pneu grande é

suficiente; sendo de tamanho médio, requer-se dois, postos lado a lado ou três dispostos

em forma de triângulo. Se forem pequenos, pode-se trabalhar com cinco, mantendo a

disposição triangular. A ligação entre os mesmos deve ser razoavelmente frouxa,

possibilitando o movimento individual de cada unidade, utilizando-se material bastante

resistente, como arame, cordas ou corrente.

Ao se acamar a Aveia, inúmeros benefícios são auferidos, destacando-se: a)

incremento do controle das ervas espontâneas. Pela disposição horizontal e sobreposta

das plantas, reduz-se a passagem da luz e aeração na superfície do solo, reduzindo a

possibilidade de emergência de ervas. b) melhor proteção do solo contra os efeitos do

impacto das gotas de chuva e incidência de raios solares; c) facilita a operação de poda

seca e o deslocamento de máquinas; d) evita o molhamento das pessoas que precisam

transitar sob o vinhedo.

2.3.2 Centeio ( Cecale cereale)

Espécie também com alta rusticidade, não requerendo maiores cuidados para o

seu desenvolvimento. Semeadura recomendada para meados de fevereiro a meados de

abril, com 100 a 120 kg/ha de sementes. Produz volume de palhada semelhante à Aveia,

exercendo bom controle de ervas espontâneas, com a vantagem de ter o

desenvolvimento mais rápido, completando seu ciclo mais cedo (Conte, 2002). A

persistência da palhada é inferior a da Aveia, tendo uma relação C:N de 22, o que lhe

confere um controle menos prolongada das ervas espontâneas.

Tem mais problemas de germinação do que a Aveia, quando semeada

superficialmente, bem como é mais preferida por animais como os roedores e,

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principalmente, por aves silvestres e domésticas, podendo comprometer seriamente o

estande da cultura. Outras desvantagens sobre a Aveia é preço e a pouca disponibilidade

de sementes.

Também é pouco atacada por formigas, e manejo da cultura é semelhante ao da

Aveia, através do acamamento.

2.3.3 Azevem (Lolium multiflorum)

Espécie também da Família das Gramíneas (Poaceae), bastante rústica e muito

agressiva (Anexo A, figura 06). Normalmente se pereniza nos pomares em que é

introduzida, face à grande quantidade de sementes que produz e a viabilidade das

mesmas. Por essas características era considerado como uma verdadeira praga, fazendo

o viticultor tomar todas as medidas possíveis para, em primeiro lugar, não introduzi-la

nos pomares e, em segundo, se acidentalmente presente, inviabilizar a formação de

sementes e seu estabelecimento. Produz grande massa aérea e radicular, sendo sua

palhada mais persistente do que a da Aveia, pois sua relação C:N é mais alta. Exerce

excelente controle da erosão do solo e da germinação das ervas espontâneas. Ruedell

(1995) relata que o azevém é também utilizado em algumas propriedades, diminuindo o

desenvolvimento de praticamente todas as infestantes, como destaque no controle da

guanxuma. Porém, ao ciclo longo e a sua peculiar formação radicular que torna difícil a

implantação de culturas em sucessão, tem a sua área de uso restringida.

Nos raríssimos casos conhecidos da presença perenizada da espécie nos

vinhedos, segundo informações pessoais dos proprietários, a ocorrência perfaz no

mínimo um período de setenta anos, sem haver maiores problemas de concorrência com

as parreiras e com a sua produção.

Conte (2002) indica sua semeadura durante os meses de março e abril,

utilizando-se uma quantidade de 40 kg/ha de sementes. O fato de completar o ciclo em

dezembro e, às vezes, até em janeiro nas condições dos Campos de Cima da Serra,

requer cuidados especiais.

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Para sua germinação, as sementes requerem a ocorrência de baixas temperaturas.

Em anos em que essas condições climáticas se apresentam tardiamente – junho em

diante, reflete-se em germinação também tardia e, consequentemente, em conclusão de

seu ciclo no final da primavera ou até início de verão. Com dias longos e quentes e a

parreira atingindo o auge do desenvolvimento vegetativo, há uma elevada demanda por

água. A convergência desses dois fatores em anos de pouca precipitação poderá levar à

severa competição por água e nutrientes entre o azevém e a videira, com prejuízo para

esta.

O estabelecimento da espécie não oferece maiores dificuldades, pois as sementes

são de germinação fácil, pequenas e finas, facilitando a passagem entre restevas,

alcançando o solo e a umidade necessária. Por essas características também são pouco

procuradas por roedores e aves. A efetivação da semeadura requer pouco esforço físico,

computando-se outra vantagem. Tendo-se a decisão de perenização da espécie e

viabilizando-se a conclusão de seu ciclo vegetativo, o custo da aquisição da semente só

ocorre uma única vez, pois possui ressemeadura natural abundante.

Para o manejo da palhada, necessita-se em primeiro plano a decisão de

perenização ou não. Em caso positivo, praticamente nada exige, pois os colmos são de

baixa resistência, vindo a cair cedo e naturalmente. Na situação de se evitar a

perenização, requer apurado manejo mecânico através de sucessivas roçadas, pois

apresenta elevada e sucessiva capacidade de rebrote. Essa situação retarda a conclusão

de seu ciclo, podendo competir com as parreiras.

2.3.4 Ervilhaca (Vicia sativa)

Planta da família das leguminosas (Fabaceae) tem alta capacidade de fixação de

Nitrogênio através da simbiose com organismos presentes no sistema radicular. Conte

(2002) diz que é espécie para o cultivo em parreirais que apresentam teores de matéria

orgânica abaixo de 03,0%, no intuito de se evitar o excessivo vigor das videiras.

Preconiza a semeadura de meados de fevereiro a meados de abril, com uma quantidade

de 60 a 80 kg/ha de sementes.

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Seu estabelecimento não apresenta maiores dificuldades, pois germina fácil na

superfície do solo, pouco disputada por roedores e aves, tendo boa ressemeadura

natural. De ciclo longo, requer manejo cuidadoso para não vir a concorrer com as

videiras. Se não completar seu ciclo antes da floração das parreiras, Conte (2002)

orienta para manejá-la através de roçada ou acamamento com rolo-faca, evitando-se a

competição.

Por seu hábito prostrado/trepador, se comporta muito bem em consorciação com

gramíneas, havendo um mútuo favorecimento: a ervilhaca fornecendo nitrogênio à

gramínea e esta propiciando suporte físico para a parte aérea da ervilhaca (Anexo A,

figura 07). Usando-se aveia, a recomendação é de se usar 60 a 80 kg de aveia e 30 a 40

kg de ervilhaca por ha (Conte, 2002). As fabáceas possibilitam a adição de nitrogênio

(N) ao solo durante a decomposição. O nitrogênio é captura da atmosfera por bactérias

do gênero Rhizobium, que sobrevivem associadas às raízes, podendo ser incorporado ao

solo mais de 200 kg.ha-1 (Koller et. al., 2009).

A relação C:N é de 17, podendo ser considerada baixa se comparada com

espécies gramíneas, refletindo-se um curto período de persistência de sua palhada,

tornando-a uma espécie com pouco controle do impacto das gotas da chuva e da

germinação das ervas espontâneas.

2.3.5 Trevo Branco (Trifolium repens)

Por ser da mesma família botânica da ervilhaca, possui também elevada

capacidade de fixação biológica de Nitrogênio. Após o azevém, era a espécie mais

‘temida’ pelos viticultores, em face de sua resistência ao controle químico e mecânico.

Altamente rústico, se desenvolve durante o maior tempo do ano, apenas se ressentindo

do calor dos meses de verão, justamente quando poderia competir por água com as

vinhas. Sua agressividade é tal que é quase impossível encontrar-se qualquer outra

espécie em consórcio, dominando a área toda. Multiplica-se facilmente por sementes ou

pela forma vegetativa, através da formação de raízes em cada nó quando em contato

com o solo, estabelecendo um verdadeiro assoalho verde, inviabilizando qualquer perda

de solo pela erosão (Anexo A, figura 08).

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Possui sementes muito pequenas e escorregadias, dificultando a sua semeadura.

Normalmente recorre-se a expedientes que tornam essa prática mais efetiva, como a

mistura com adubas químicos, calcário, a peletização, o uso de garrafas com um furo na

tampa, etc. Dois quilos por hectare de sementes são suficientes, embora muitos se fazem

valer de metade desta quantidade, pois em pouco tempo se propaga pela área toda.

2.3.6 Trevo Encarnado (Trifolium pratense)

Planta anual, tem seu estabelecimento não tão fácil como o branco, pois carece

de multiplicação vegetativa, sendo bem mais aceito pelo fruticultor. De porte mais alto,

produz volume de massa bem maior que o branco.

2.3.7 Nabo forrageiro (Raphanus sativus) Pertencente à família das Brassicaceae (anteriormente Cruciferae), se destaca

pela rusticidade e precocidade. É uma planta muito vigorosa, com sistema radicular

pivotante e agressivo, capaz de romper camadas de solo extremamente adensadas e/ou

compactadas a profundidades superiores a 2,50m. Apresenta, ainda, características

alelopáticas muito acentuadas que lhe conferem a condição de inibir a emergência e o

desenvolvimento de uma série de invasoras indesejáveis. Até o momento, não existem

pragas ou doenças que causem danos significativos que mereçam controle e que venham

comprometer economicamente a cultura. Aos 60 dias cobre cerca de 70% do solo,

inibindo a entrada e o desenvolvimento de plantas daninhas, seja nas culturas em

andamento seja nas futuras, reduzindo ou dispensando o uso de herbicidas. Floresce

entre 70 e 80 dias após o plantio e atinge sua plenitude aos 100 a 120 dias. Possui

excelente capacidade de produção de massa, com volumes próximos de 15 toneladas

por hectare. Possui, ainda, alta capacidade de reciclagem de nutrientes do solo,

principalmente do fósforo e nitrogênio. Seu sistema radicular vigoroso pode ser

classificado como excelente subsolador natural. Os efeitos benéficos nas culturas

seguintes são visuais. É pouco exigente em fertilidade, resistente a solos ácidos e produz

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de 5 a 10 toneladas de massa seca por hectare. É bastante tolerante à seca e ao frio

(Brasi et al., 2008).

Sua adoção sofre restrição considerável por parte do viticultor pelo temor de se

tornar perene, pois possui elevada capacidade de ressemeadura natural e vegeta em

praticamente todas as estações do ano. Conte (2002) preconiza sua semeadura durante

os meses de março e abril, através de 15 a 20 kg/ha de semente. Germina e se estabelece

fácil e rapidamente, mesmo apenas lançado superficialmente, requerendo apenas

umidade do solo adequada (Anexo A, figura 09). Por ter relação de CN apenas de 16,

sua palhada tem pouca durabilidade, propiciando baixo controle das ervas espontâneas.

Uma forma de incrementar a vida da palhada é através da consorciação com espécies

gramíneas, com as quais se desenvolve sem problemas.

Considerado como um ‘subsolador natural’ por se desenvolver em solos

compactados, quando cultivado em densidade adequada. Assim, a raiz pivotante

desenvolver-se-á com o formato de cunha, penetrando no solo ainda que compactado.

Caso contrário irá formar uma raiz extremamente grossa, curta e superficial, não

desempenhando a função de descompactação. Soma-se a esse quadro o fato de ficar

altamente suscetível ao acamamento pela ação do vento em fases prematuras de seu

desenvolvimento, comprometendo os objetivos esperados.

Quando se desenvolve após o florescimento da parreira e em período de

deficiência hídrica, pode competir severamente com o vinhedo, face ao rápido

crescimento e exuberante massa verde que produz, requerendo seu manejo mecânico,

sendo a roçada o mais eficiente.

Entra muito bem nas áreas em que a aveia já não mais se desenvolve por efeitos

da autoalelopatia. Suas sementes são pouco atrativos aos animais competidores, bem

como as partes vegetativas dificilmente são atacadas por formigas cortadeiras. Possui

uma florada intensa e seqüencial, bastante procurada pela fauna apícola.

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3 MÉTODOS E PROCEDIMENTO

3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

A pesquisa descritiva foi realizada por meio de revisão bibliográfica e,

principamente, pelo método da observação-participante na micro região vitícola da

Serra Gaúcha.

No Estudo de Caso adotou-se o paradigma interpretativo, ou seja, qualitativo,

através da observação do “antes-e-depois”, em que foram acompanhados itens como a

freqüência de uso de dessecantes (herbicidas), a ocorrência de erosão e intensidade de

perda de solo, os riscos ambientais e da família viticultora, a rentabilidade

(produtividade) e vigor dos vinhedos.

3.2 DEFINIÇÃO DA ÁREA/POP.-ALVO/AMOSTRA/UNID. ANÁLISE

A pesquisa foi realizada em doze municípios da Serra gaúcha, onde o cultivo da

videira é mais intensivo. Estes municípios constituem 83% da área cultivada da região

em foco (EMATER, 2008). O tempo de observação perfaz doze anos, abrangendo um

lapso do “antes” , ou seja, em que o controle químico de ervas era exclusivo; e o depois

da implantação do programa. Junto aos doze Escritórios Municipais da EMATER foi

efetivo um questionário estruturado durante os meses de agosto de 2010. Todos os

extensionistas consultados possuem mais de 15 anos de trabalho no respectivo

município.

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3.3 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS

Adotou-se a descrição analítica das observações dos participantes através do uso

de questionário junto aos extensionistas da área em tela; bem como a comparação

qualitativa no desenrolar do período.

3.4 TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DADOS

Por meio da observação-participante e da respostas do questionário junto aos

extensionistas em que se evidencio a freqüência da resposta nos seguintes quesitos: a) o

que mais o motivou para se engajar neste programa? b) As maiores dificuldades no

período de implantação do programa?e c) Como avalia os resultados alcançados?

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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

No quesito observação-participante, evidencia-se uma mudança acentuada no

“modelo mental” do viticultor, item de grande importância para a adoção de

novas/diferentes idéias. O que parecia inimaginável há poucos anos, hoje contempla a

realidade na atividade viticola: era praticamente impossível de se encontrar alguma área

que em que não ocorresse o controle químico das ervas. Hoje, torna-se surpreendente o

momento em que se depare um vinhedo com a técnica dessecação.

4.1 QUESTIONÁRIO PROPOSTO

Por serem perguntas abertas, diversas respostas foram apontadas, porém, nos três

temas propostos houve freqüente repetição em alguns tópicos, os quais serão retratados.

4.1.1 Motivação para se engajar no programa

A consciência dos efeitos deletérios do uso dos pesticidas e da erosão do solo foi

a resposta de maior freqüência. Após, despontou o temática da disposição de contribuir

na sustentabilidade da viticultura da região.

4.1.2 As maiores dificuldades enfrentadas na implantação

O quesito apontado com maior freqüência diz respeito ao modelo mental

“conservador” do viticultor, traduzindo-se na tradição no uso da capina química para o

controle das ervas espontâneas. Em seguida, aparece o medo, a insegurança do produtor

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com os efeitos de se manter as plantas de cobertura sem controle na concorrência com a

nutrição das vinhas, competição por água, dificuldade de controle de formigas.

4.1.3 Como avalia os resultados alcançados?

Neste quesito, face a amplitude de assuntos abordados nas respostas e por se

constituir na percepção pessoal/profissional dos resultados mais relevantes atingidos em

cada local de atuação, relatar-se-á, de forma resumida, todas os tópicos abordados, sem

referência à freqüência:

“ Considerando os paradigmas do viticultor – manter o solo no ‘limpo’,

concorrência das plantas de cobertura do solo com a parreira quanto a nutrientes e água,

pressão dos vendedores de insumos, os resultados alcançados estão alem do previsto,

quanto ao número de produtores adotantes, bem como na redução da erosão do solo e da

quantidade usada de agroquímicos”.

“ Recuperação do solo, redução da compactação, menor necessidade de

fertilizantes e corretivos, maior sanidade das parreiras e mais satisfação do viticultor.”

“ Pela melhoria na conservação e controle da erosão do solo, há uma

substancial melhoria na estrutura física e fertilidade do mesmo; melhorias no sistema

radicular das vinhas onde ocorre o acumulo de cobre; crescente aceitação da vegetação

espontânea e semeadura do azevem como espécie de cobertura verde; diminuição da

incidência de doenças fúngicas no parreiral, principalmente o míldio; facilita os tratos

culturais, pois a palhada reduz o atrito das maquinas e equipamentos com o solo, bem

como a colheita por não sujar as caixas; incentivo ao associativismo através da

aquisição conjunta da semente; satisfação do viticultor com os resultados obtidos.”

“Os viticultores já se convenceram que o uso de plantas de cobertura do solo

nos vinhedos propicia muitos benefícios para a sustentabilidade da viticultura da

região.”

“Redução drástica na aplicação de herbicidas no manejo das plantas

espontâneas e cultivadas; diminuição na morte de videiras; aumento da vida microbiana

do solo e diversidade de espécies vegetais nativas; ampliação da capacidade do solo na

retenção hídrica; e, principalmente, preservação ambiental, da saúde dos agricultores,

bem como evitou a perda da camada superficial do solo e nutrientes.”

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“Um dos melhores resultados é ver nessa época – agosto, os parreirais quase todos com

o solo protegido pela cobertura vegetal e a confiança dos que adotaram esta prática, estimulando

os poucos que ainda permanecem na dúvida.”

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5 CONCLUSÃO

No momento em que a viticultura brasileira transita por uma fase de dificuldades

quanto a sua sustentabilidade como atividade econômica, afetada por fatores de natureza

múltipla, a proposição de alternativas de redução de custos e incremento da produtividade

podem contribuir decisivamente para a sua viabilidade na escala do tempo.

Por sua peculiaridades, a atividade vitícola da Serra Gaúcha, sustentáculo sócio-

econômico de 15.000 propriedades da agricultura familiar, é ainda mais vulnerável aos

efeitos das condições climáticas, influenciando diretamente a produtividade e qualidade

da produção; à concorrência dos derivados importados; do humor da industria vinícola;

aos custos de produção e à tímida e impotente política oficial – o preço mínimo é

mantido a quatro safra sem reajuste.

Neste quadro, toda intervenção na capacitação da família vitícola e na

reconversão de técnicas e práticas culturais aplicados à viticultura vêm ao encontro do

anseio dessa categoria. Assim, a proposta de cultivo intencional de espécies de inverno

sob os vinhedos no intuito de estancar a erosão hídrica do solo e suprimir o uso do

manejo químico se soma no rol de opções de viabilizar a atividade.

O manejo das espécies de cobertura do solo está dominado, aprendizado

adquirido através da experiência e desafio. porém, não obstante o sucesso do programa,

a técnica carece de pesquisa científica para dirimir pendências e suprimir entraves que

com o passar do tempo possam vir a surpreender o viticultor e a extensão.

Os resultados positivos do programa fez com que o mesmo fosse implementado

nas diversas espécies de frutíferas cultivadas na serra gaúcha, tais como: pessegueiro,

ameixeira, caquizeiro, citros, macieira, figueira, quivizeiro, etc..sendo que prática de

dessecação através do uso de herbicidas que era rotineira passa a ser uma opção bastante

esporádica.

Assim, cultivo e manejo de espécies de cobertura traz no bojo inúmeros reflexos

positivos, tanto diretos como indiretos .

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REFERÊNCIAS

ALTIERI, Miguel. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. Guaíba: Agropecuária, 2002. 592 p. BRASI, L.A.C.S. et. al. Nabo - adubo verde, forragem e bioenergia. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_2/nabo/index.htm. Acesso em: 15/10/2010 CONTE, Antônio. Culturas de Cobertura do Solo. In: Informativo Técnico – Viticultura – Documento Interno da EMATER. Caxias do Sul. 2002. 02p. D’AGOSTINI, Luiz Renato. O sistema plantio direto e a sua mensagem à sustentabilidade das relações homem-meio. In: II seminário internacional do sistema plantio direto – Anais. Passo Fundo: EMBRAPA-CNPT, 1997. 310p. EMATER/RS. IPAN: Sistema de Levantamento dos Componentes Tecnológicos das Lavouras do RS. 2008. Disponível em: <ttps://intranet.emater.tche.br/intranet/sistemas/ipan/inicial/php/index.php> Acesso em: 12/10/2010. KOLLER, Otto Carlos (coord.). Cultura de Tangerineiras: tecnologia de produção, pós-colheita e industrialização. Porto Alegre: Editora Rígel, 2009. 400p.

NOLLA, Delvino. Erosão do Solo. Porto Alegre. Secretaria da Agricultura, Diretoria Geral, Divisão de Divulgação e Informação Rural, 1982. 412p.

RIO GRANDE DO SUL, Secretaria da Agricultura. Manual de Conservação do Solo. 2ª edição atualizada. Porto Alegre, 1983. 228p. RUEDELL, José. Plantio direto na região de Cruz Alta. Convênio FUNDACEP/BASF. FUNDACEP FECOTRIGO. Cruz Alta, 1995. 134p. SCHULTZ, Lucênio A. Métodos de conservação do solo. Porto Alegre, Sagra, 1983. 58p. SOUTO, João José P. Deserto, uma ameaça? Porto Alegre, DRNR Diretoria Geral, Secretaria da Agricultura, 1984.

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ANEXO A – LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Fitoxidez de cobre na Aveia Preta.

Figura 02 – Aspecto do desenvolvimento da Aveia. Figura 03- Palhada da Aveia e o controle das ervas espontâneas.

Figura 04 – Acamamento com copa de árvore. Figura 05 – Acamamento com o uso de pneus.

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Figura 06: Aspecto do desenvolvimento do Azevém no início da brotação das videiras.

Figura 07 – Ervilhaca consorciada com Azevem. Figura 08 – Trevo Branco na entrelinha.

Figura 09: Nabo Forrageiro em início de florescimento