UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS...

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL AVALIAÇÃO DA REMOÇÃO DE MATÉRIA ORGÂNICA CARBONÁCEA EM FILTROS ANAERÓBIOS TRATANDO LIXIVIADO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ALDRIM VARGAS DE QUADROS SÃO LEOPOLDO 2009

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  • UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS

    CINCIAS EXATAS E TECNOLGICAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA CIVIL

    AVALIAO DA REMOO DE MATRIA ORGNICA CARBONCEA EM

    FILTROS ANAERBIOS TRATANDO LIXIVIADO DE

    RESDUOS SLIDOS URBANOS

    DISSERTAO DE MESTRADO

    ALDRIM VARGAS DE QUADROS

    SO LEOPOLDO

    2009

  • ALDRIM VARGAS DE QUADROS

    AVALIAO DA REMOO DE MATRIA ORGNICA CARBONCEA EM

    FILTROS ANAERBIOS TRATANDO LIXIVIADO DE

    RESDUOS SLIDOS URBANOS

    Dissertao submetida ao Programa de Ps-

    Graduao em Engenharia Civil da

    UNISINOS como requisito parcial para a

    obteno do grau de Mestre em Engenharia

    Civil

    Orientadora: Prof Dr Luciana Paulo Gomes

    Co-orientador: Prof. Dr. Luis Alcides Schiavo Miranda

    Maro/2009

  • Ficha catalogrfica

    Catalogao na Fonte:

    Bibliotecria Vanessa Borges Nunes - CRB 10/1556

    Q1a Quadros, Aldrim Vargas de

    Avaliao da remoo de matria orgnica carboncea em

    filtros anaerbios tratando lixiviado de resduos slidos urbanos /

    por Aldrim Vargas de Quadros. 2009.

    143 f. : il. ; 30cm.

    Dissertao (mestrado) Universidade do Vale do Rio dos

    Sinos, Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, 2009.

    Orientao: Prof. Dr. Luciana Paulo Gomes, co-orientao:

    Prof. Dr. Luis S. Alcides Miranda, Cincias Exatas..

    1. Resduos - Gerenciamento. 2. Resduos slidos.

    3. Lixiviados. 4. Filtros anaerbios. I. Ttulo.

    CDU 628.544

  • i

    TERMO DE APROVAO

    AVALIAO DA REMOO DE MATRIA ORGNICA

    CARBONCEA EM FILTROS ANAERBIOS

    TRATANDO LIXIVIADO DE RESDUOS SLIDOS

    URBANOS

    ALDRIM VARGAS DE QUADROS

    Esta Dissertao de Mestrado foi julgada e aprovada pela banca examinadora no

    Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil da UNISINOS como parte dos

    requisitos necessrios para a obteno do grau de MESTRE EM ENGENHARIA

    CIVIL.

    Aprovado por:

    ___________________________ ________________________________

    Profa. Dra. Luciana Paulo Gomes Prof. Dr. Luis Alcides Schiavo Miranda

    Orientadora Co-orientador

    BANCA EXAMINADORA

    _________________________________

    Prof. Dr. Cludio de Souza Kazmierczak Coordenador do PPGEC/UNISINOS

    _______________________________________

    Prof. Dr. Armando Borges de Castilhos Jnior

    UFSC

    _____________________________

    Profa. Dr

    a. Liste Celina Lange

    UFMG

    SO LEOPOLDO, RS BRASIL

    Maro/2009

  • ii

    INSTITUIES E FONTES FINANCIADORAS

    UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS

    SINOS UNISINOS

    LABORATRIO DE MICROBIOLOGIA DE

    RESDUOS

    PROGRAMA DE PESQUISA EM

    SANEAMENTO BSICO PROSAB

    CONSELHO NACIONAL DE

    DESENVOLVIMENTO CIENTFICO E

    TECNOLGICO - CNPq

    CAIXA ECONMICA FEDERAL

    FINANCIADORA DE ESTUDOS E PROJETOS

    FINEP

    MINISTRIO DA CINCIA E TECNOLOGIA

  • iii

  • iv

    Dedicatria

    A minha famlia: Vania, Hlio e Ronieri!!!

    Pessoas que sempre acreditaram em meu potencial.

    Verdadeiros smbolos da coragem, da vontade e superao.

    Nesta caminhada passamos por muitos momentos marcantes.

    Obrigado por todo o apoio!

    Vocs sabem o quo importante essa conquista.

    Obrigado Deus, por pertencer a essa famlia.

  • v

    Agradecimentos

    Professora Dra. Luciana Paulo Gomes, pelo apoio, amizade, confiana e oportunidade

    concedida durante todos estes anos de trabalho, de fazer parte do Laboratrio de

    Microbiologia de Resduos em suas atividades de pesquisa.

    Ao meu co-orientador Professor Luis Alcides Schiavo Miranda, por toda ajuda prestada,

    para os mais diversos fins e circustncias.

    Ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil desta Universidade PPGEC

    pela oportunidade de enriquecer meus conhecimentos.

    Ao corpo docente do mesmo, que despertou em mim um desejo ainda maior de realizar

    pesquisas na rea.

    Aos meus avs paternos e maternos, Jos Quadros (falecido) e Doralice Virgnia de

    Quadros; Gabriel Hiplito de Vargas Neto (falecido) e Alvina de Pietro Vargas, pelo

    incentivo, carinho e confiana depositados.

    Bianca, pelo companheirismo, carinho, pela fora, pacincia e pelos incentivos em

    todos os momentos.

    Aos colegas e amigos Marcelo Caetano e Marcelo Peruzatto, pelo auxlio de forma

    direta e indireta na confeco deste trabalho.

    Aos colegas do Laboratrio de Microbiologia de Resduos e Geoqumica: Elisa, Marina,

    Brbara, Cristiane, Laila, Fabiane, Roger, Fernanda, Jalir, Mrcia, Ismael pelo

    companheirismo, dedicao, disposio e ajuda sempre prestada.

    Aos amigos conquistados neste perodo, em especial da primeira turma do mestrado em

    Engenharia Civil da UNISINOS: Jferson, Marcelo Grub, Marlia, Jos Ricardo,

    Amanda, merson, Karina, Jos Ricardo, Rossana, que de forma direta ou indireta,

    contriburam para o meu crescimento profissional.

    Aos professores Armando Borges de Castilhos Jr. e Liste Celina Lange, por se

    disporem a participar desta banca.

    Ao CNPq, CAIXA e FINEP, financiadores do PROSAB que proporcionaram a

    realizao de um sonho.

  • vi

    Lista de Tabelas

    Tabela 1. Variaes na composio do lixiviado entre as fases: cida e

    metanognica.....................................................................................................

    23

    Tabela 2. Padres de emisso que atendem a legislao .................................. 25

    Tabela 3. Caractersticas associadas espessura do biofilme........................... 38

    Tabela 4. Caractersticas do lixiviado na entrada da ETLix em 2008............... 51

    Tabela 5. Caractersticas variadas durante o ensaio 3 nos filtros anaerbios.... 54

    Tabela 6. Parmetros de monitoramento do biofilme. .................................... 56

    Tabela 7. Acompanhamento experimental do Ensaio 3 .................................... 59

    Tabela 8. Avaliao do afluente (TE) dos filtros biolgicos e da concentrao

    do efluente de DQO no perodo de 0 a 237 dias................................................ 75

    Tabela 9. Anlise de ANOVA, filtros R1 e R2, no perodo 0-237 dias e

    filtros B1 e B2, sendo o parmetro analisado a DQO........................................

    76

    Tabela 10. Avaliao da concentrao de DQO efluente nos filtros biolgicos

    do sistema de 0 a 120 dias................................................................................. 77

    Tabela 11. Avaliao da concentrao de DQO efluente nos filtros biolgicos

    do sistema de 120 a 237 dias..............................................................................

    ........................

    78

    Tabela 12. Avaliao da concentrao de DQO efluente nos filtros biolgicos

    durante o perodo de 0 a 237 dias de monitoramento........................................

    80

    Tabela 13. Resumo da eficincia de remoo de matria orgnica no perodo

    de 0 a 237...........................................................................................................

    81

    Tabela 14. Resumo dos resultados de pH e Eh para os quatro filtros entre 0 e

    237 dias..............................................................................................................

    87

    Tabela 15. Srie de Slidos para o perodo de 0-237 dias de operao dos

    filtros..................................................................................................................

    88

  • vii

    Tabela 16. Avaliao da concentrao de DQO efluente nos filtros biolgicos

    no perodo de 0 a 540 dias................................................................................. 90

    Tabela 17. Resumo de eficincias ao longo dos 540 dias.................................

    92

    Tabela 18. Resultados de DQO para filtros de 237 a 540 dias..........................

    94

    Tabela 19. Anlise de ANOVA, fator nico, filtros R2 e B2, no perodo 237-

    540 dias sendo o parmetro analisado a DQO...................................................

    95

    Tabela 20. Resumo dos resultados de pH e Eh.................................................. 96

    Tabela 21. Resultados de ANOVA operando com fluxo ascendente e

    descendente........................................................................................................ 98

    Tabela 22. Apresenta os principais resultados para filtros de 237 a 540

    dias.....................................................................................................................

    99

    Tabela 23. Resumo da eficincia para fluxo ascendente e descendente............ 100

    Tabela 24. Srie de Slidos com fluxo descendente no perodo de 237 a 540

    dias..................................................................................................................... 102

    Tabela 25. Eficincias de remoo de matria orgnica em termos de

    DQO...................................................................................................................

    104

  • viii

    Lista de Figuras

    Figura 1. Principais impactos ambientais resultantes da disposio de resduos em

    aterro sanitrio............................................................................................................. 14

    Figura 2. Formao do biofilme.................................................................................. 34

    Figura 3. Fases de desenvolvimento do biofilme...................................................... 39

    Figura 4. Resumo das etapas metodolgicas.............................................................. 48

    Figura 5. Resduos slidos urbanos gerados e coletados em So Leopoldo RS...... 49

    Figura 6. Resduos slidos urbanos destinados ao Aterro Sanitrio do municpio..... 50

    Figura 7. Esquema do sistema de tratamento utilizado na pesquisa........................... 53

    Figura 8. Fluxo de entrada de lixiviado e meios filtrantes usados.............................. 54

    Figura 9. Misturador de superfcie no TE................................................................... 54

    Figura 10. Meios suportes usado nos filtros anaerbios: (a) racho, (b) blocos de

    concreto.......................................................................................................................

    61

    Figura 11. Resultados de porosidade.......................................................................... 62

    Figura 12. Perfil da gerao de biofilme para os filtros estudados............................. 64

    Figura 13. Relao entre teor de protenas por massa seca de biofilme gerado no

    EB1............................................................................................................................... 65

    Figura 14. Perfil da contagem microbiana para os filtros estudados..........................

    66

  • ix

    Figura 15. Archeae metanognicas - sarcinas (estgio inicial de formao)

    encontradas nos 30 dias de monitoramento Contraste de Fase.................................

    67

    Figura 16. Mesmo campo visual da Figura 15 agora em Fluorescncia......................

    67

    Figura 17. Archeae metanognicas (cocos, bacilos e sarcinas) encontradas nos 30

    dias de monitoramento Contraste de Fase...............................................................

    67

    Figura 18. Cocos, bacilos (pequenos, longos e curvos) e sarcinas encontradas nos

    30 dias de monitoramento Fluorescncia................................................................

    67

    Figura 19. Archeae metanognicas (cocos, bacilos e sarcinas) encontradas nos 60

    dias de monitoramento Contraste de Fase...............................................................

    68

    Figura 20. Cocos, bacilos (pequenos, longos e curvos) e sarcinas encontradas nos

    60 dias de monitoramento Fluorescncia.................................................................

    68

    Figura 21. Archeae metanognicas (cocos e bacilos) encontradas nos 90 dias de

    monitoramento Contraste de Fase.............................................................................

    68

    Figura 22. Cocos, bacilos pequenos, longos e curvos encontradas nos 90 dias de

    monitoramento Fluorescncia..................................................................................

    68

    Figura 23. Archeae metanognicas (cocos e bacilos) encontradas nos 120 dias de

    monitoramento Contraste de Fase.............................................................................

    68

    Figura 24. Mesmo campo visual da Figura 23 agora em

    Fluorescncia...............................................................................................................

    68

    Figura 25. Perfil da gerao de biofilme para os filtros estudados.............................. 70

    Figura 26. Relao entre teor de protenas por massa seca de biofilme gerado no

    EB2...............................................................................................................................

    71

    Figura 27. Perfil da contagem microbiana obtida no EB2 para os filtros

    estudados.....................................................................................................................

    72

    Figura 28. Desempenho dos filtros anaerbios para o parmetro DQO no perodo

    de 0 a 237 dias, operados com fluxo de entrada ascendente...................................... 79

    Figura 29. Faixas de DQO (mg/L) obtidas na entrada do sistema de tratamento

    (TE) e sadas (mdias nos filtros com racho e com blocos)......................................

    81

    Figura 30. Contagem de microrganismos para R1 e R2............................................. 83

  • x

    Figura 31. Contagem de microrganismos para B1 e B2............................................. 84

    Figura 32. pH para os filtros R1 e R2......................................................................... 85

    Figura 33. pH para os filtros B1 e B2......................................................................... 86

    Figura 34. Eh para R1 e R2 ........................................................................................ 86

    Figura 35. Eh para B1 e B2......................................................................................... 87

    Figura 36. Desempenho dos filtros anaerbios para o parmetro DQO no perodo

    de 0 a 540 dias, operados com fluxo de entrada ascendente....................................... 91

    Figura 37. pH para os filtros R2 e B2......................................................................... 95

    Figura 38. Eh para os filtros R2 e B2.......................................................................... 96

    Figura 39. Contagem de microrganismos obtida para os filtros R2 e B2................... 97

    Figura 40. Indica os valores principais do monitoramento........................................ 99

    Figura 41. Contagem de microrganismos de 237 a 540 dias...................................... 103

    Figura 42. Dados de precipitao pluviomtrica durante 540 dias de monitoramento

    do experimento.................................................................................. 105

  • xi

    Listas de Abreviaturas

    ANOVA Anlise de Varincia

    B1 Filtro Ascendente com meio suporte bloco de concreto

    B2 Filtro Descendente com meio suporte bloco de concreto

    COT Carbono Orgnico Total

    DBO - Demanda Bioqumica de Oxignio

    DQO Demanda Qumica de Oxignio

    EB1 Ensaio de Biofilme 1

    EB2 Ensaio de Biofilme 2

    ETLix Estao de Tratamento de Lixiviado

    ETE Estao de Tratamento de Esgoto

    ETA Estao de Tratamento de gua

    FEPAM Fundao Estadual de Proteo Ambiental

    ONG Organizao no governamental

    pH Potencial Hidrogeninico

    PROSAB Programa de Pesquisa em Saneamento Bsico

    PVC Policloreto de Vinila

    R1 Filtro Ascendente com meio suporte racho

    R2 - Filtro Descendente com meio suporte racho

    RSU Resduos Slidos Urbanos

    RSD Resduos Slidos Domsticos

    SAB Soro Albomina Bovina

    STF Slidos Totais Fixos

    STV - Slidos Totais Volteis

    ST Slidos Totais

    Ssed Slidos Sedimentveis

    TE Tanque de Equalizao

    TDH Tempo de Deteno Hidrulica

    Y Produo Especfica de Biofilme

    VMP Valor Mdio Padro

  • xii

    Resumo

    A gerao dos resduos slidos urbanos (RSU) se transformou em um dos

    maiores problemas da atualidade. A quantidade e variedade de materiais descartados, o

    aumento populacional nas cidades e a crescente gerao per capita, tornam cada vez

    mais complexo o seu gerenciamento. A disposio desses resduos no ambiente se faz

    em aterros sanitrios. Entretanto, a utilizao desse mtodo de disposio est atrelada a

    potenciais impactos ambientais, sendo um dos principais a gerao de lixiviado. A

    gerao e a liberao de lixiviado para o meio ambiente so preocupantes em funo da

    sua composio j que contm diferentes compostos, vrios deles com potencial

    poluidor elevado. fundamental a identificao de alternativas tecnolgicas para

    unidades de tratamento de lixiviado que compatibilizem custos baixos, eficincia de

    tratamento e atendimento aos padres sanitrios operados no pas. Essa pesquisa

    estudou filtros biolgicos anaerbios com a pretenso de obter a eficincia de remoo

    de matria orgnica carboncea nas unidades. Os filtros instalados para a pesquisa

    operaram com dois meios suportes: racho e o bloco de concreto, sendo que variou-se a

    entrada de lixiviado: fluxos ascendente e descendente, buscando-se identificar as

    condies timas de operao para aplicao em aterros sanitrios instalados em

    municpios brasileiros. Filtros com blocos de concreto como meio suporte

    demonstraram maior formao de biofilme tanto nas determinaes diretas de massa,

    quanto nas anlises de protenas e contagem microbiana. As morfologias predominantes

    no biofilme foram bacilos, cocos, sarcinas, filamentos e espirilos. A eficincia de

    remoo de matria orgnica nos filtros anaerbios operados com fluxo ascendente de

    lixiviado foi de 61% e 56% para racho e bloco, respectivamente. A operao dos filtros

    com fluxo de entrada ascendente foi a melhor opo em todas as estaes do ano

    quando se trata de remoo de matria orgnica. Os resultados obtidos com filtros

    operados com fluxo ascendente indicam uma maior mistura no sistema, j que no fluxo

    descendente existe a dificuldade da distribuio homognea do lixiviado e uma maior

    formao de lodo no fundo dos filtros estudados.

    Palavras chave: resduos slidos, lixiviados, filtros anaerbios

  • xiii

    Abstract

    Urban solid wastes (USW) have become one of the greatest problems of our

    time. The amount and variety of materials discarded, the population growth in cities and

    the rise of per capita generation have made their management increasingly complex.

    Disposal of these wastes in the environment is done in landfills. However, the use of

    this disposal method is attached to potential environmental impacts, a main one being

    leachate generation. The generation and discharge of leachate into the environment are a

    matter for concern because of its composition, since it contains different compounds,

    some of them with a high potential for pollution. It is essential to identify technological

    alternatives for leachate treatment units that will render compatible low costs, efficient

    treatment and compliance with the countrys sanitary standards. This research studied

    anaerobic biological filters intending to obtain the efficiency of carbonaceous organic

    matter removal in the units. The filters installed for research operate with two main

    supports: recycled ground concrete and concrete block. The inflow of leachate was

    varied: ascending and descending flows, seeking to identify the optimal operational

    conditions to apply in landfills installed in Brazilian municipalities. Filters using

    concrete blocks as a support medium showed more biofilm formation, both in direct

    mass determinations, and in the analyses of proteins and microbial counts. The

    predominant morphologies in biofilm were bacilli, cocci, sarcines, filaments and

    spirilla. The efficiency of organic matter removal in the anaerobic filters operated with

    ascending flow of leachate was 61% and 56% for recycled ground concrete and block,

    respectively. The operation of filters with an ascending inflow was the best choice for

    all seasons of the year, when dealing with organic matter removal. The results obtained

    with ascending flow filters indicate greater mixture in the system, since in the

    descending flow there is the difficulty of homogeneous distribution of leachate, and

    more bottom sludge formation in the filters studied.

    Key words: solid wastes, leachates, anaerobic filters

  • xiv

    SUMRIO

    Dedicatria....................................................................................................................... iv

    Agradecimentos ................................................................................................................ v

    Lista de Tabelas ............................................................................................................... vi

    Lista de Figuras ............................................................................................................. viii

    Listas de Abreviaturas ..................................................................................................... xi

    Resumo ........................................................................................................................... xii

    Abstract .......................................................................................................................... xiii

    1 INTRODUO ........................................................................................................ 1

    2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 4

    2.1 Objetivo Geral ...................................................................................................... 4

    2.2 Objetivos Especficos ............................................................................................ 4

    3 REVISO BIBLIOGRFICA ................................................................................. 5

    3.1 Resduos Slidos Urbanos .............................................................................. 5

    3.2 Aterros Sanitrios ............................................................................................... 11

    3.3 Digesto Anaerbia ............................................................................................ 16

    3.4 Lixiviado .............................................................................................................. 20

    3.5 Tratamento de Lixiviado.................................................................................... 24

    3.5.1 Filtros Anaerbios ....................................................................................... 28

    3.5.1.1 Meio suporte ........................................................................................... 29

    3.5.1.2 Biofilme .................................................................................................. 31

    3.5.1.3 Desempenho de filtros anaerbios .......................................................... 43

    4. METODOLOGIA ....................................................................................................... 47

    4.1 Caracterizao dos resduos slidos de So Leopoldo .................................... 49

    4.2 Caracterizao do Lixiviado de So Leopoldo ................................................ 50

    4.3 Filtros Biolgicos Anaerbios ............................................................................ 52

    4.3.1 Descrio dos filtros anaerbios ................................................................. 52

    4.3.1.1 Unidades ................................................................................................. 52

    4.3.1.2 Operao dos filtros biolgicos anaerbios ............................................ 53

    4.3.2 Caracterizao dos meios suportes ............................................................ 55

    4.3.3 Formao do biofilme .................................................................................. 56

    4.3.4 Monitoramento do processo de tratamento .............................................. 57

  • xv

    5. RESULTADOS E DISCUSSES .............................................................................. 61

    5.1 Caracterizao dos meios suportes ................................................................... 61

    5.2 Formao do biofilme ......................................................................................... 63

    5.2.1 Ensaio EB1 ................................................................................................... 63

    5.2.2 Ensaio EB2 ................................................................................................... 70

    5.2.3 Produo Especfica de Biofilme ................................................................ 73

    5.3 Monitoramento do processo de tratamento ..................................................... 74

    5.3.1 Desempenho dos dois tipos de meio suporte (racho e blocos de concreto)

    empregados nos filtros anaerbios ...................................................................... 74

    5.3.2 Desempenho dos filtros anaerbios operados com sistemas distintos de

    entrada de lixiviado (fluxo ascendente e descendente) ...................................... 98

    6. CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 106

    7. RECOMENDAES ............................................................................................... 108

    8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................... 109

    APNDICES ................................................................................................................ 120

  • 1

    1 INTRODUO

    A problemtica do resduo slido urbano vem se agravando na maioria dos

    municpios em conseqncia do crescimento demogrfico dos centros urbanos. Alm

    disso, os diferentes hbitos da populao, o crescimento econmico e o

    desenvolvimento industrial contribuem para o aumento da produo de resduos. Nota-

    se que esse aumento constitui um srio problema com relao ao tratamento e o destino

    final adequado dessa grande quantidade de resduos.

    Dentre os vrios problemas ambientais existentes atualmente, a forma de

    disposio de resduos a que mais preocupa a comunidade, pois alm das questes

    ambientais agrega problemas potenciais de sade pblica, principalmente s populaes

    menos favorecidas.

    As formas de destinao final dos resduos slidos urbanos so lixes a cu

    aberto, aterros controlados e aterros sanitrios. Existem fatores que contribuem para o

    uso de mtodos inadequados, como o caso dos lixes. Um dos fatores fundamentais

    a falta de investimentos pblicos ou de viso ambiental pelos governos municipais, os

    quais agravam esta situao, assim como a falta de recursos financeiros e de pessoal

    pouco especializado para abordar essa situao. Desta maneira, o estudo de solues

    tecnolgicas que associem simplicidade operacional e baixo custo, embasadas em

    procedimentos cientficos, constitui-se uma necessidade.

    Entretanto, nas ltimas dcadas observa-se uma crescente evoluo no

    desenvolvimento tecnolgico e cientfico em diversas reas, proporcionando o

    desenvolvimento de novos processos visando preservao ambiental. Desta forma, o

    aperfeioamento das tecnologias existentes e o desenvolvimento de novos mtodos de

    tratamento de resduos e sub-produtos, mostra-se relevante para manuteno de

    condies saudveis de vida em nosso planeta.

    Com relao aos mtodos de disposio adequada de resduos slidos urbanos,

    os aterros sanitrios representam a principal destinao final dos resduos slidos,

    apesar dos esforos em se reduzir, reutilizar e reciclar. Porm o uso deste mtodo de

    disposio pode gerar muitos impactos ambientais, por exemplo, emisso de lixiviado,

    emisso de gases, poluio sonora ou rudos do funcionamento de mquinas, alm do

  • 2

    trfego dos veculos transportadores e problemas sanitrios. Dos impactos citados, a

    gerao de lixiviado, o qual oriundo da decomposio dos resduos, a gua das

    chuvas, o escoamento superficial e guas subterrneas, pode ser considerado, o impacto

    mais preocupante por causa da sua composio ser comprovadamente varivel e do

    excessivo volume produzido diariamente, uma vez que requer, no tratamento, medidas

    especficas que possam reduzir o seu potencial poluidor no meio ambiente. Pelas razes

    expostas, fica estabelecida uma grande variabilidade das caractersticas do lixiviado, de

    aterro para aterro, determinando que no se disponha de uma tecnologia padronizada de

    tratamento aplicvel a todos os casos.

    Atualmente o tratamento do lixiviado representa um grande desafio, tendo em

    vista a variao de suas caractersticas em funo da heterogeneidade dos resduos

    dispostos e da idade do aterro. O lixiviado um lquido de natureza complexa,

    tornando-se difcil a determinao de tcnicas efetivas de tratamento e no

    necessariamente a tcnica adotada para determinado aterro ser aplicvel a outros.

    A crescente exigncia relativa aos padres de lanamento de lixiviado nos cursos

    receptores; a necessidade de sistemas de tratamento de alta performance; aliados ao espao

    fsico cada vez mais reduzido nos centros urbanos e/ou industriais para instalao de

    sistemas de tratamento; vem motivando inmeras pesquisas com o objetivo de incorporar

    novas tecnologias no tratamento de efluentes.

    Os tratamentos de lixiviado visam de modo eficiente diminuir os efeitos

    adversos dos lanamentos deste lquido nos corpos dgua atendendo a valores

    estabelecidos pela legislao ambiental brasileira, alm de constituir-se numa ao

    fundamental, quando se pretende fornecer sade pblica e desenvolvimento sustentvel

    para a sociedade. Para isso devem-se buscar alternativas tecnolgicas que

    compatibilizem as variveis, custo e eficincia, de modo a fornecer ao meio-ambiente,

    condies seguras e ecologicamente sustentveis, sem descuidar da viabilidade

    econmica.

    Para resolver esta situao, utilizam-se mtodos de tratamento, que incluem

    tanto tratamentos aerbios quanto anaerbios.

    Nessa pesquisa, estudou-se o tratamento anaerbio usando filtros biolgicos,

    onde a escolha do processo biolgico anaerbio ao tratamento dos lixiviados est

    fundamentada sob o ponto de vista tcnico-econmico, procedimento consagrado, por

    proporcionar remoes de matria orgnica na ordem de 80% ou superiores sem custo

  • 3

    operacional (FLECK, 2003). Esse mesmo autor comenta que os filtros anaerbios

    resistem bem s variaes fsico-qumicas do lixiviado e propiciam boa estabilidade,

    com baixa perda de slidos biolgicos, alm de construo e operao muito simples.

    Uma outra vantagem dos processos anaerbios que eles tm uma baixa produo de

    lodo, cerca de 5 a 10 vezes inferior ao que ocorre em processos aerbios, no h

    consumo de energia eltrica, tem baixa demanda de rea, reduzindo os custos de

    implantao, produzem metano, um gs combustvel de alto poder calorfico e ainda

    possvel a preservao da biomassa (colnias de microrganismos anaerbios) sem

    alimentao por vrios meses, pois as colnias de microrganismos entram num estado

    de endogenia, sendo reativadas a partir de novas cargas.

    Partindo desse contexto, nesse trabalho, desenvolvido um estudo relativo ao

    uso associado de filtros anaerbios nos processos de tratamento de lixiviado. Essa

    unidade aplicada no tratamento de lixiviado onde se prope verificar a eficincia de

    remoo de matria orgnica por via anaerbia, estudo do meio suporte e regime do

    fluxo de entrada, alm da atividade microbiana existente no sistema. A pesquisa faz

    parte do projeto Tratamento de Lixiviado de RSD em Unidades Seqnciais: Filtro

    Anaerbio, Reator de Chicanas e Banhado Construdo coordenado/executado pela

    Unisinos e financiado pela FINEP, CNPq e CAIXA ECONMICA FEDERAL dentro

    do PROSAB Programa de Pesquisas em Saneamento Bsico.

    Salienta-se ainda, que o trabalho visa avanar no conhecimento de diferentes

    questes operacionais e na microbiologia do processo, fato que deve ser ressaltado, pois

    so poucos os trabalhos que abordam o tratamento de lixiviado de aterro sanitrio

    utilizando tcnicas anaerbias. Alm disso, poder possibilitar avanos significativos,

    prevendo-se resultados inovadores na compreenso da degradao anaerbia de

    resduos slidos urbanos, o que facilitar sobremaneira a implantao segura de projetos

    semelhantes.

  • 4

    2 OBJETIVOS

    Os objetivos dessa pesquisa esto, a seguir, relacionados:

    2.1 Objetivo Geral

    Avaliar o processo de biodegradao de lixiviado de aterro sanitrio de RSD em

    filtros biolgicos anaerbios.

    2.2 Objetivos Especficos

    Estudar a formao do biofilme nos filtros executados com diferentes

    meio suporte.

    Avaliar a eficincia de remoo de matria orgnica carboncea em

    filtros biolgicos anaerbios com diferentes meios suportes de racho e

    bloco de concreto.

    Avaliar a eficincia de remoo de matria orgnica carboncea em

    filtros biolgicos anaerbios operados com fluxo de entrada de lixiviado

    com sentido ascendente e descendente.

  • 5

    3 REVISO BIBLIOGRFICA

    O trabalho versar sobre resduos slidos urbanos, detalhando aqueles de origem

    domstica. Inicialmente abordam-se as diversas formas de tratamento e disposio final,

    principalmente, os aterros sanitrios. A reviso bibliogrfica versar sobre os principais

    aspectos relacionados a digesto anaerbia de RSU e de lixiviado de aterro sanitrio

    utilizando filtro biolgico anaerbio.

    3.1 Resduos Slidos Urbanos

    O crescimento e a concentrao populacional em reas urbanas, o

    desenvolvimento industrial e tecnolgico e a mudana de hbitos de consumo da

    populao so os principais responsveis pelo aumento na produo de resduos. Na

    busca de solues para os problemas associados gerao de RSU tm sido

    investigadas vrias alternativas de tratamento, processamento, valorizao e destino

    final, com destaque no Brasil para a digesto anaerbia em aterros sanitrios. Os

    principais problemas ambientais decorrentes dessa forma de disposio esto

    relacionados poluio do solo e guas, os quais podem ser vinculados com diversos

    problemas de sade pblica.

    Os resduos slidos urbanos compreendem aqueles produzidos pelas inmeras

    atividades desenvolvidas em reas com aglomeraes humanas do municpio,

    abrangendo resduos de vrias origens, tais como: residencial, comercial, de

    estabelecimentos de sade, industriais, da limpeza pblica (varrio, capina, poda, e

    outros), da construo civil e agrcolas.

    Os resduos de origem domiciliar ou aqueles com caractersticas similares,

    (como os comerciais), e os resduos da limpeza pblica gerados so, normalmente,

    encaminhados para a disposio em aterros sob responsabilidade do poder municipal.

    Ressalta-se que o gerenciamento de resduos de origem no domiciliar, (como por

  • 6

    exemplo, os resduos de servios de sade, os industriais ou aqueles gerados no setor da

    construo civil), so de responsabilidade do gerador, estando sujeitos legislao

    vigente.

    Conforme MCIDADES/SNSA (2005), a coleta de resduos slidos urbanos

    abrange uma cobertura mdia de 97,5% da populao urbana, com uma freqncia

    mdia de coleta de duas ou trs vezes semanais, sendo que esta coleta realizada por

    coletadores e motoristas que trabalham a uma produtividade mdia de 2.1

    kg/habitante/dia. Os resduos coletados corresponde a 0,8 kg/habitante urbano/dia e 0,58

    kg/habitante atendido/dia para a massa de resduos exclusivamente domiciliares. Dentro

    desse contexto observa-se que para uma amostra representativa de 127 municpios,

    gerando-se 15,8 milhes de toneladas de resduos em 2005, onde os ndices relativos

    esto classificados em: aterro sanitrio 68,5%; aterro controlado 25,2% e lixo 6,5%.

    Quanto a coleta de resduos servios sade, a massa de resduos corresponde um valor

    per capita de 0,005 kg/habitante/dia. Quanto coleta seletiva e triagem de materiais

    reciclveis na mdia de 59,2% dos municpios realiza coleta seletiva de resduos slidos

    porta-a-porta, sendo que alm disso existe a coleta seletiva no-formal realizada por

    catadores, os quais esto presentes em 80% dos municpios. Verifica-se tambm que 4,1

    kg/habitante. urbano/ano corresponde a quantidade mdia de resduos triados e

    encaminhados para a reciclagem. O desempenho financeiro municipal indica que 35,4%

    dos municpios no cobram pelos servios de limpeza urbana e naqueles que cobram a

    receita mdia arrecadada pelos servios de limpeza urbana de R$ 13,84/habitante

    urbano/ano. O custo mdio de servio de coleta contratado com terceiros chega a R$

    52,04/tonelada. Sobre as unidades de processamento de resduos slidos urbanos, mais

    de 30% das unidades cadastradas pertencem ao grupo em que o destino a disposio

    no solo, 46,8% do total de unidades so operados pelas prefeituras, as quais se destacam

    lixes e aterros controlados, unidades de manejo de galhadas e podas e unidades de

    reciclagem de entulho, 46,8% das unidades no apresentam licena ambiental e 51,5%

    das unidades de disposio no solo no tm impermeabilizao da base e 10,6% no

    fazem recobrimento.

    Os aterros existentes no pas so operados ou pela iniciativa privada, contratada

    pelas prefeituras ou por empresas municipais, sob a forma de terceirizao. As empresas

    pagam pela quantidade, em peso de resduo depositado no aterro (R$/tonelada).

  • 7

    Depsitos de resduos slidos a cu aberto ou lixes so sistemas de disposio

    desordenada de resduos, sem compactao ou cobertura dos resduos, que propicia a

    poluio do solo, ar e gua, bem como, a proliferao de vetores de doenas. Por sua

    vez, o aterro controlado outra forma de disposio final, tendo como nico cuidado a

    cobertura dos resduos com uma camada de solo ao final da jornada diria de trabalho

    com o objetivo de reduzir a proliferao de vetores de doenas.

    A predominncia destas formas de destinao final advm de vrios fatores, tais

    como: falta de capacitao tcnico-administrativa, baixa dotao oramentria, pouca

    conscientizao da populao quanto aos problemas ambientais ou mesmo falta de

    estrutura organizacional das instituies pblicas envolvidas com a questo no

    municpio.

    Assim, os municpios brasileiros, esto enfrentando um problema grave de

    gerenciamento de Resduos Slidos Urbanos, principalmente na etapa de disposio

    final. A grande maioria dos municpios de pequeno porte no pas depositam seus

    resduos inadequadamente em lixes ou aterros controlados. Alternativas tecnolgicas

    de disposio final sustentvel de baixo custo e eficientes no atendimento da legislao

    ambiental aparecem como soluo. Visando a minimizao do problema, esto sendo

    realizadas pesquisas aplicadas na rea de tratamento e destino final de resduos slidos

    com objetivo de otimizar a tcnica, podendo-se citar principalmente os trabalhos

    vinculados ao PROSAB.

    Para definir resduos slidos verificam-se algumas dificuldades, pois existem

    diversas formas e pontos de vista para faz-lo sendo, em geral, definidos de acordo com

    a convenincia e preferncia de cada um.

    Segundo a NBR 10.004 Resduos Slidos so todos aqueles resduos em

    estados slidos e semi-slidos que resultam de atividades da comunidade de origem

    industrial, domstica, hospitalar, comercial, agrcola, de servios, de varrio ou

    agrcola. Incluem-se lodos de ETA (Estaes de Tratamento de gua) e ETE (Estao

    de Tratamento de Esgotos), resduos gerados em equipamentos e instalaes de controle

    de poluio, e lquidos que no possam ser lanamento na rede pblica de esgotos ou

    corpos de gua, ou exijam para isso solues tcnica e economicamente inviveis em

    face melhor tecnologia disponvel.

  • 8

    H vrios tipos de classificao dos resduos slidos que se baseiam em

    determinadas caractersticas ou propriedades identificadas. A classificao relevante

    para a escolha da estratgia de gerenciamento mais vivel.

    CONSONI & PERES in BOFF (2005), classifica os resduos de diversas formas,

    entre as quais esto a sua natureza fsica (seco e molhado), sua composio qumica

    (matria orgnica e inorgnica) e os riscos potenciais ao meio ambiente (perigosos, no

    inertes e inertes). Outras classificaes usam como critrio, a sua origem e a possvel

    degradabilidade.

    Existe a possibilidade do uso de diversos critrios para a classificao dos

    resduos, como a origem (domiciliar, comercial ou pblico), a tratabilidade

    (biodegradvel, descartvel ou reciclvel), o grau de biodegradabilidade (facilmente,

    dificilmente ou no biodegradvel) e a reatividade (inerte, orgnico ou reativo), BOFF

    (2005).

    Os resduos slidos podem ser classificados em funo dos riscos potenciais ao

    meio ambiente e sua sade pblica (ABNT, 2004). Para que os mesmos possam ter

    manuseio e destinao final adequada, os resduos devem ser enquadrados em uma das

    classes a seguir apresentadas: Classe I Resduos Perigosos: so os resduos que em

    funo de suas propriedades fsicas, qumicas ou infecto-contagiosa, podem apresentar

    riscos sade pblica, provocando ou acentuando, de forma significativa, um aumento

    de mortalidade ou incidncias de doenas e/ou riscos ao meio ambiente, quando

    manuseados ou destinados de forma inadequada, ou ainda apresentarem caractersticas

    de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenidade; Classe II

    Resduos No Perigosos esses por sua vez so divididos em duas classes: Classe II A

    No-Inertes: so todos os resduos ou misturas de resduos, que no se enquadram nas

    classificaes de resduos Classe I Perigosos ou de resduos Classe II B Inertes

    e podem apresentar propriedades como combustibilidade, biodegradabilidade ou

    solubilidade em gua; Classe II B Resduos No-Perigosos Inertes: So aqueles que,

    por suas caractersticas intrnsecas, no oferecem riscos sade e ao meio ambiente.

    Nesse trabalho, foi usado resduo classe II A para a gerao do lixiviado e posterior

    tratamento. Alm disso, quando amostrados de forma representativa, segundo a NBR

    10.007 (ABNT, 2004), e submetidos a um contato esttico ou dinmico com gua

    destilada ou deionizada, a temperatura ambiente, conforme teste de solubilizao, NBR

  • 9

    10.006 (ABNT, 2004), no tm nenhum de seus constituintes solubilizados a

    concentraes superiores aos padres de potabilidade da gua.

    Os resduos slidos domsticos, comerciais, pblicos, os resduos slidos

    industriais e os resduos slidos de servio sade so gerados nos centros urbanos. Cada

    municpio se organiza de uma maneira particular para solucionar seus problemas com

    resduos.

    Para CECONNELLO (2005) e GOMES (1995), os resduos domsticos, quanto

    a sua degradabilidade podem ser classificados em facilmente degradveis (alimentos e

    resduos de jardinagem), moderadamente degradveis (papis, papelo e materiais

    celulsicos), dificilmente degradveis (pedaos de pano, retalhos, aparas e serragem de

    couro, borrachas e madeira, bem como compostos metlicos) e no degradveis (vidros,

    metais, plsticos, terra e pedras etc.).

    Os RSU quando segregados e dispostos dentro de critrios tcnicos adequados

    permite um aumento da vida til dos aterros, ganhos ambientais e econmicos,

    oportunizando a ao de uma cadeia produtiva de trabalho envolvendo a populao e

    todos os envolvidos na coleta, segregao e tratamento, dos quais destacam-se as

    associaes de moradores e/ou cooperativas realizando triagens dos reciclveis e

    comercializao dos mesmos.

    Segundo RIBEIRO (2001) o gerenciamento integrado de resduos somente se

    concretizar se a Secretaria Municipal de Meio Ambiente local tiver ao permanente

    junto a populao, priorizando de modo eficaz a Educao Ambiental Formal e No-

    Formal atravs de aes desenvolvidas no mbito de planejamento estratgico que

    garanta flexibilidade para participao de parcerias entre as demais Secretarias

    Municipais, empresas e ONG's que tenham interesse nas questes ambientais.

    comum descrever a composio dos resduos slidos domsticos em funo

    dos seus constituintes. Conforme PINTO (2000) fundamental que se tenha um

    conhecimento mais profundo da constituio da frao orgnica a ser tratada, em termos

    qualitativos e quantitativos, no s para que se tenha melhor compreenso das rotas

    metablicas, como tambm para que seja possvel reproduzir os experimentos. Os trs

    principais constituintes da matria orgnica presente nos resduos slidos domsticos

    so as protenas, carboidratos e lipdeos.

  • 10

    As protenas so molculas mais abundantes das clulas representando 50% ou

    mais de seu peso seco. So encontradas em todas as partes da clula, pois so

    fundamentais para o funcionamento das funes celulares. As protenas apresentam

    ainda aproximadamente 16% de nitrognio em massa (METCALF & EDDY, 1991).

    As protenas so formadas pela condensao de aminocidos, que se unem por

    ligaes peptdicas. Embora o nmero de aminocidos que usualmente compem as

    protenas seja pequeno elas podem apresentar grande complexidade estrutural

    LEHNINGER, (2002).

    Por serem instveis, as protenas podem ser decompostas de vrias maneiras. No

    caso de decomposio anaerbia, as protenas so hidrolisadas, separando seus

    aminocidos componentes. Os aminocidos podem ser diretamente utilizados pelos

    microrganismos na sntese de suas prprias protenas ou ento serem tambm

    hidrolizados, formando amnia ou o on amnio, dependendo do pH do meio. A amnia

    ou o on amnio pode ser incorporada pelos microrganismos e utilizada no seu

    anabolismo ou ento ser descartada no lixiviado (SOUTO, 2005).

    ALLINGER et al, (1978) descreve que os carboidratos so formados por cadeias

    de carbono onde a maioria dos tomos de carbono est associada a um grupamento

    lcool, e um carbono apresenta-se ligado a um grupo aldedo ou cetona. So formados

    por carbono, hidrognio e oxignio, podendo ser definidos como poliidroxialdedos e

    poliidroxicetonas. So exemplos de carboidratos os acares, amidos, celulose e fibras

    vegetais. Os acares so facilmente decompostos; as enzimas de certas bactrias os

    fermentam, produzindo lcool e dixido de carbono. Os amidos so mais estveis,

    porm podem ser convertidos em acares pela atividade microbiana ou por cidos

    minerais diludos.

    Os lipdeos compreendem os leos e as gorduras; so steres de cidos graxos

    com glicerol ou outros lcoois. So formados por carbono, hidrognio e oxignio,

    podendo em certos casos conter outros elementos, como o fsforo. As gorduras esto

    entre os compostos orgnicos mais estveis, no sendo facilmente decompostas

    biologicamente. leos e gorduras tendem a envolver superfcies com as quais entram

    em contato, interferindo na ao dos microrganismos (METCALF & EDDY, 1991).

  • 11

    3.2 Aterros Sanitrios

    O aumento do nmero de habitantes no planeta, associado concentrao de

    grande parcela da populao nas cidades, so fatores que agravam a problemtica do

    resduo slido urbano e sua destinao adequada. Durante a evoluo da cincia, o

    homem passou a vincular algumas doenas ou vetores, com a destinao incorreta do

    resduo slido urbano que produzia, sendo assim passou a destinar o resduo slido

    urbano para lugares distantes, afastados do seu ambiente.

    A necessidade de tratamento dos resduos surge devido aos seguintes fatores:

    escassez de reas para a destinao final do resduo slido urbano; disputa pela

    utilizao das reas remanescentes com as populaes da periferia, valorizao dos

    componentes do resduo slido urbano como forma de promover a conservao de

    recursos. De acordo com ZANTA et al. (2006), o tratamento dos RSU pode ser feito

    segundo os processos abaixo:

    [...] Tratamentos fsicos: objetivam reduzir o volume de resduo ou imobilizar um componente especfico atravs de operaes de secagem, centrifugao,

    evaporao, sedimentao, floculao, filtrao, absoro, destilao,

    concentrao, etc.

    Tratamentos qumicos: alteram a composio do resduo de modo a eliminar

    componentes txicos atravs de reaes de neutralizao, oxidao, reduo e

    precipitao.

    Tratamentos biolgicos: aceleram a degradao natural de resduos que

    possuem alta carga orgnica atravs da ao de microrganismos em unidade

    de compostagem ou em aterros sanitrios.

    Tratamentos trmicos: processos fsico-qumicos que utilizam temperaturas

    elevadas para alterar as caractersticas do resduo e reduzir consideravelmente

    seu volume. A incinerao e a pirlise so os principais tratamentos trmicos

    empregados para os resduos slidos (ZANTA et al., 2006, pg. 11).

    Aterro Sanitrio o processo que permite manter os resduos slidos confinados

    sem causar maiores danos ao meio ambiente. um mtodo em que o resduo slido

    urbano comprimido atravs de mquinas que diminuem seu volume. Com o trabalho

    do trator, o resduo slido urbano empurrado, espalhado e amassado sobre o solo

    (compactao), sendo, posteriormente, coberto por uma camada de solo, minimizando

    odores, evitando incndios e impedindo a proliferao de insetos e roedores.

    Para GOMES et al., (2006), aterro sanitrio um biodigestor construdo

    segundo normas de engenharia. Trata-se de uma estrutura encapsulada, usada para a

  • 12

    atenuao das caractersticas nocivas dos resduos slidos, projetada de forma a

    favorecer a biodegradao anaerbia e a conseqente estabilizao dos resduos slidos

    armazenados, na maior parte das vezes, entre as camadas isolantes de material

    compactado, usualmente solo local.

    Conforme IPT (1995) a escolha do mtodo construtivo leva em considerao trs

    fatores: topografia da rea; tipo de solo; profundidade do lenol fretico.

    A anlise desses fatores determinar o mtodo a empregar. Existem trs possibilidades:

    trincheira, rampa e rea.

    Mtodo da trincheira - a tcnica mais apropriada para terrenos que sejam planos ou

    poucos inclinados, e onde o lenol fretico esteja situado a uma profundidade maior em

    relao superfcie.

    Mtodo da rampa Indicado quando a rea a ser aterrada plana, seca e com um tipo

    de solo adequado para servir de cobertura. A permeabilidade do solo e a profundidade

    do lenol fretico confirmaro ou no o uso desta tcnica.

    Mtodo da rea - uma tcnica adequada para zonas baixas, onde dificilmente o solo

    local pode ser utilizado como cobertura. Ser necessrio retirar o material de jazidas

    que, para economia de transporte, devem estar localizadas o mais prximas possvel do

    local a ser aterrado. No mais, os procedimentos so idnticos ao mtodo da rampa.

    Conforme GOMES et al, (2003) antes de confeccionar o projeto necessrio

    considerar os seguintes aspectos para a escolha de uma rea adequada: localizao,

    condies geotcnicas, vias de acesso, clima. Aps essa primeira etapa, confecciona-se

    o projeto com base nas caractersticas do municpio, nos resduos gerados e nas

    condies do local disponvel. As etapas do projeto so: construo e infra-estrutura

    bsica do sistema proposto (construo do modelo de aterro, movimentao da terra,

    sistema de impermeabilizao, sistema de drenagem e sistema de recirculao de

    lixiviados).

    Com base em IBAM (2008), um sistema de drenagem apropriado garante a

    proteo do meio ambiente e a sade dos moradores. Para tanto devem ser drenadas

    tanto as guas limpas superficiais quanto o lixiviado. A drenagem do lixiviado pode ser

    feita utilizando-se: tubos de PVC, concreto ou barro perfurado e drenos cegos de brita

    n 1 e n 2. Entre as formas de distribuio dos drenos no terreno, a mais utilizada a

    espinha de peixe. Para facilitar o escoamento, os drenos devam apresentar uma

  • 13

    inclinao de 2%. Uma vez captado, o lixiviado dever passar por algum dos seguintes

    processos filtros biolgicos; lagoas de estabilizao; valos de oxidao; recirculao;

    tanques de aerao. Na maioria dos casos suficiente, para o controle da poluio, a

    drenagem superficial, a boa impermeabilizao da base e a cobertura diria do resduo

    slido urbano vazado. Com estas providncias, o lixiviado produzido fica contido na

    massa do resduo slido urbano, evitando a contaminao dos corpos dgua.

    Cabe ainda salientar que as trs formas mais usuais de se construir drenos

    verticais, que devero estar instalados em diversos pontos do aterro, so: utilizando-se

    um tubo guia dentro do qual so colocadas pedras britadas ns 3 e 4 (ou pedras de mo

    de at 10 cm), com o tubo sendo elevado medida que se aumente a cota do aterro;

    utilizando-se tubos perfurados de concreto com dimetro de 0,5 ou 1 metro , que vo

    sendo sobrepostos conforme a elevao da cota do aterro; utilizando-se uma frma feita

    de tela, onde se colocam pedras de mo, que vai subindo medida que o aterro sobe.

    A diferena bsica entre os aterros sanitrios e os controlados que para o

    primeiro, o sistema de captao e tratamento de lixiviado dispensvel no segundo

    pressupe um terreno com caractersticas naturais favorveis (solo pouco permevel e

    lenol fretico profundo, em especial). Por exigir menores recursos para implantao e

    operao, o aterro controlado apresenta-se como a opo mais acessvel maioria das

    cidades brasileiras, contudo no o mais recomendvel j que o lixiviado gerado

    poluir o meio ambiente.

    RUSSO (2003) comenta que mesmo as instalaes de reciclagem, incinerao e

    compostagem precisam de um local onde sejam descartados, de forma apropriada, as

    sobras e os refugos provenientes do processamento do resduo slido urbano. Neste

    caso, o aterro pode servir tambm como alternativa em situaes de emergncia

    motivadas por interrupes eventuais da instalao industrial.

    Os resduos slidos urbanos acumulados de maneira contnua em aterros

    sanitrios no so, contudo, inativos. Esta mistura de uma grande variedade qumica,

    sob a influncia de chuva e microrganismos objeto de evolues complexas,

    constitudas pela superposio de mecanismos fsicos, qumicos e biolgicos. Nota-se

    que principal fator que contribui na degradao dos resduos a bioconverso da

    matria orgnica em formas solveis e gasosas. O conjunto destes fenmenos conduz

    gerao de metablitos gasosos e ao carreamento pela gua de molculas muito

  • 14

    diversas, as quais originam os vetores da poluio em aterro sanitrio: o biogs e os

    lixiviados (BOFF, 2005).

    A partir da Figura 1, notam-se os principais impactos ao ambiente decorrentes da

    disposio no solo de resduos slidos urbanos. A sua degradao decorre da ao de

    microrganismos. O lquido gerado a partir desse fenmeno biolgico somado a

    infiltrao da chuva chama-se de lixiviado. Quando em contato com solo ou lenol

    fretico, esse lquido apresenta alto poder poluidor, contaminando-os. Nesses

    ambientes, h gerao de gases que causam poluio atmosfrica alm da proliferao

    de vetores, como insetos e roedores.

    Figura 1. Principais impactos ambientais resultantes da disposio de resduos em aterro

    sanitrio.

    Fonte: CASTILHOS JR. et al. (2003).

    Entretanto, no aterro sanitrio, so necessrias intervenes tcnicas para

    conteno de poluentes lquidos (lixiviado) e gasosos (biogs) produzidos no processo

    de degradao dos resduos slidos.

    Nvel do lenol fretico

  • 15

    Em um aterro os gases gerados so o gs metano e o dixido de carbono, o gs

    sulfdrico e outros. A presena destes gases no biogs gerado em aterros um efeito

    direto do processo de estabilizao da matria orgnica biologicamente decomponvel.

    Para REICHERT (2007), os maiores problemas para a implantao de aterros

    so: a possibilidade de se poluir o solo e cursos de gua superficiais ou subterrneos; a

    necessidade de superviso constante de modo a garantir a manuteno das mnimas

    condies ambientais e de salubridade, a gerao de gases a partir da decomposio do

    resduo slido urbano aterrado, a necessidade de terrenos disponveis para a instalao

    do aterro prximos aos locais de produo do resduo slido urbano, j que o custo de

    transporte muito elevado na limpeza urbana em virtude do baixo peso especfico do

    resduo slido urbano; a resistncia dos moradores nas cercanias do aterro que, muitas

    vezes, por no serem ouvidos e devidamente esclarecidos quanto ao problema, acabam

    por criar impasses desgastantes para a Administrao Municipal.

    Os aterros sanitrios modernos incorporam uma srie de aspectos de projeto e

    operao, de modo a minimizar os impactos ambientais decorrentes da fase de

    implantao, operao e encerramento. O aterro deve constituir-se, entre outros

    aspectos, de sistema de drenagem superficial, sistema de drenagem e tratamento de

    lixiviados, impermeabilizao inferior e superior e sistema de drenagem e tratamento de

    gases.

    Em nosso pas, verifica-se que a maioria dos aterros de resduos no possui

    critrios de implantao, operao e de monitoramento ou simplesmente, os

    administradores pblicos no os adotam, dificultando, desta forma, o monitoramento

    dos lixiviados e gases gerados no processo de digesto anaerbia dos resduos dispostos

    (GOMES & MARTINS, 2003).

    Segundo RUSSO (2003), efetivamente, o aterro sanitrio um local

    imprescindvel porque comum em toda a estrutura de equacionamento dos resduos

    slidos. A incgnita a quantidade de resduos a serem ali depositados para tratamento

    e destino final. Quanto maior for taxa de valorizao conseguidas nas fases anteriores

    (triagem e compostagem) menores sero as quantidades a aterrar, prolongando-se a vida

    til do aterro sanitrio e diminuindo-se o custo de explorao. Para esse autor ainda, se

    a escala do aterro for adequada, deposio de uma quantidade mnima de cerca de 200

    toneladas por dia, pode haver o aproveitamento do biogs produzido no aterro,

  • 16

    designando-se ento de aterro energtico. Sem esta deposio mnima no rentvel o

    aproveitamento energtico, e o biogs ter que ser queimado em tocha com tempo de

    residncia mnima de 0,3 segundos na cmara de combusto, a uma temperatura de pelo

    menos 850 C, para destruir e minimizar o efeito dos gases nocivos. Quando o aterro

    sanitrio recebe os restos das outras formas de valorizao de resduos um aterro de

    rejeitos, sem produo de biogs e sem emisso de lixiviados poluentes. Entre outras, as

    principais vantagens dos aterros sanitrios so as seguintes:

    Grande flexibilidade para receber uma gama muito grande de resduos;

    Fcil operacionalidade;

    Relativo baixo custo, comparativamente a outras solues;

    Disponibilidade de conhecimento;

    No conflitante com formas avanadas de valorizao dos resduos;

    Devoluo a utilizao do espao imobilizado durante a fase de explorao;

    Potencializa a recuperao de reas degradadas;

    Atravs de processos de bioremediao possvel a reutilizao do espao do aterro

    vrias vezes, com a produo de composto orgnico resultante da matria orgnica

    degradada no bioreator anaerbio, aps eventual complemento de tratamento aerbio,

    em compostagem com vista higienizao.

    3.3 Digesto Anaerbia

    A digesto anaerbia um processo biolgico no qual um consrcio de

    diferentes morfotipos de microrganismos, na ausncia de oxignio molecular, promove

    a transformao de compostos orgnicos complexos (carboidratos, protenas e lipdios)

    em produtos mais simples como metano e gs carbnico (GOMES et al., 2006).

    A importncia da digesto anaerbia se evidencia num contexto mais amplo do

    que apenas o energtico, ou seja, a estabilizao biolgica de resduos poluentes. Nesses

    ltimos anos, tem se mostrado um processo de grande potencial para o tratamento de

    lixiviado com elevados teores de matria orgnica.

  • 17

    Ao descrever a tecnologia da digesto anaerbia em filtros anaerbios,

    necessrio primeiramente, conhecer os fundamentos dos processos biolgicos de

    tratamento de efluentes.

    As diversas caractersticas favorveis da tecnologia anaerbia - baixa produo

    de slidos; baixo consumo de energia; baixos custos de implantao e operao;

    tolerncia a elevadas cargas orgnicas; e possibilidade de operao com elevados

    tempos de reteno de slidos e baixos tempos de deteno hidrulica, conferem aos

    reatores anaerbios um grande potencial de aplicabilidade no tratamento de guas

    residurias concentradas e diludas. As principais desvantagens da tecnologia anaerbia

    so relacionadas remoo de nutrientes (nitrognio e fsforo) e patgenos; ao fato da

    demanda qumica de oxignio (DQO) residual ser, na maioria dos casos, elevada para

    atender os estritos limites de emisso estabelecidos na legislao ambiental; e maior

    instabilidade dos reatores anaerbios (CHERNICHARO, 1997).

    Para AQUINO & CHERNICHARO (2005), o sucesso para lidar com distrbios

    e desequilbrios em reatores anaerbios depende principalmente da identificao das

    causas do problema e dos fatores que limitam os processos metablicos envolvidos, e

    isso s ser efetivamente conseguido a partir do entendimento dos fenmenos fsico-

    qumico-biolgicos que governam o tratamento anaerbio. Somente a compreenso

    detalhada dos fundamentos do processo anaerbio permitir a identificao das causas

    de eventuais distrbios, suas conseqncias a mdio e longo prazo, bem como a adoo

    das corretas medidas de controle e preveno.

    A partir de certas condies favorveis, pretende-se acelerar o processo da

    digesto, nos sistemas anaerbios. Em relao aos projetos de sistemas de tratamento

    tm-se duas prerrogativas bsicas: a) o sistema de tratamento deve manter grande

    quantidade de microrganismos metabolicamente ativos atuantes no processo da digesto

    anaerbia; b) a massa celular e/ou biofilme gerado deve estar em contato com lixiviado

    para evitar rompimento do biofilme formado (GOMES et al., 2006). Temperatura, pH,

    presena de nutrientes e a ausncia de materiais txicos so fatores que influenciam as

    condies operacionais.

    Temperatura: um dos fatores ambientais mais importantes na digesto

    anaerbia, uma vez que afeta os processos biolgicos de diferentes maneiras.

    Em temperaturas altas, reaes qumicas e enzimticas da clula podem ser

  • 18

    processadas de forma mais rpida tornando seu crescimento tambm rpido

    ou ocasionando uma total inibio por parte da clula, finalizando com morte

    celular. Tambm, sobre uma certa temperatura, protenas, cidos nuclicos e

    outros componentes da clula so sensveis a altas temperaturas e podem

    causar uma irreversibilidade, inativando o sistema. Dentre os principais

    efeitos da temperatura incluem-se as alteraes na velocidade do

    metabolismo das bactrias, no equilbrio inico e na solubilidade dos

    substratos, principalmente lipdios. Em sistemas anaerbios que operem com

    temperaturas inferiores a 20C deve ser estudado, no apenas quanto ao

    desempenho a ser esperado, como tambm a forma de operao e

    monitoramento a ser adotado, dando preferncia queles capazes de reter

    maior quantidade de biomassa em seu interior.

    Nutrientes: Nutrientes como o nitrognio e fsforo so essenciais para todos

    os processos biolgicos. A quantidade de nitrognio e fsforo, em relao

    matria orgnica presente (expressa em DQO, por exemplo), depende da

    eficincia dos microrganismos em obter energia para sntese, a partir das

    reaes bioqumicas de oxidao do substrato orgnico. A baixa velocidade

    de crescimento dos microrganismos anaerbios, comparados aos aerbios,

    resulta em menor requerimento nutricional. Em geral, admite-se que a

    relao DQO : N : P de 500 : 5 : 1 suficiente para atender as necessidades

    de macronutrientes dos microrganismos anaerbios. Alm de nitrognio e

    fsforo, o enxofre tambm considerado um dos nutrientes essenciais para a

    metanognese, alm do ferro, cobalto, nquel e zinco. Em reviso de

    literatura sobre os aspectos nutricionais em processos anaerbios,

    DAMIANOVIC (1992) faz referncias a vrios trabalhos nos quais se

    comprovou que a presena desses micronutrientes estimulou os processos

    anaerbios. Alm disso, os substratos nutritivos devem prover fontes de

    alimentos aos microrganismos (elementos qumicos que constituem o

    material celular e os necessrios s atividades enzimticas), particularmente

    os elementos minerais que em fracas doses so indispensveis s reaes

    enzimticas, como clcio, magnsio, potssio, sdio, zinco, ferro, cobalto,

    cobre, molibdnio e mangans. Em fortes concentraes, esses elementos

  • 19

    tm efeito inibidor sobre o processo de fermentao. Por outro lado, os

    elementos majoritrios (Carbono, Nitrognio, Oxignio, Fsforo e Enxofre)

    tm importncia fundamental no rendimento dos gases de fermentao.

    O sucesso dos sistemas de tratamento anaerbio se deve a dois fatores

    principais: as vantagens consideradas inerentes ao processo da digesto anaerbia em

    comparao com o tratamento aerbio e a melhoria do desempenho dos sistemas

    anaerbios modernos, tendo-se um aumento muito grande no somente da velocidade de

    remoo do material orgnico, mas tambm da porcentagem de material orgnico

    digerido. O melhor desempenho dos sistemas anaerbios, por sua vez, o resultado da

    melhor compreenso do processo da digesto anaerbia, que permitiu o

    desenvolvimento de sistemas modernos, muito mais eficientes que os sistemas

    clssicos.

    Existe uma biodiversidade de espcies microbianas nos processos biolgicos de

    tratamento de resduos, conseqentemente nota-se microrganismos versteis

    metabolicamente onde podem ser encontrados degradando compostos complexos ou at

    mesmo molculas orgnicas simples (VAZOLLER, 1995).

    PINEDA (1998) diz que o processo de degradao da matria orgnica em

    sistema de disposio final de resduos slidos urbanos consiste de duas grandes fases:

    a) aerbia: ocorre nos primeiros dias logo aps o aterramento e caracteriza-se

    pela reduo nos nveis de oxignio, o qual consumido no processo de degradao, ou

    liberado pelas presses exercidas sobre a massa do aterro durante a compactao;

    b) anaerbia: inicia-se na ausncia de oxignio e estende-se at a eliminao

    completa dos substratos pelas bactrias, ou at que as condies ambientais sejam

    imprprias para a sobrevivncia dos microrganismos.

    O tratamento anaerbio envolve processos metablicos complexos, que ocorrem

    em etapas seqenciais e que dependem da atividade de no mnimo trs grupos de

    microrganismos distintos:

    a) bactrias fermentativas (ou acidognicas);

    b) bactrias sintrficas (ou acetognicas);

    c) microrganismos metanognicos.

    A maioria dos microrganismos acidognicos fermentam acares, aminocidos e

    cidos graxos resultantes da hidrlise da matria orgnica complexa produzindo cidos

  • 20

    orgnicos, bem como so os primeiros a atuar na etapa sequencial de degradao do

    substrato e os que mais se beneficiam energeticamente. Cabe salientar que a etapa

    acidognica s ser limitante do processo se o material a ser degradado no for

    facilmente hidrolisado. Segundo AQUINO & CHERNICHARO (2005),

    microrganismos sintrficos convertem compostos como propionato e butirato, em

    acetato, hidrognio e dixido de carbono. Os microrganismos acetognicos

    desperdiam menos energia formando hidrognio ao invs de etanol, metanol, etc. J

    os microrganismos metanognicos so os mais importantes do consrcio microbiano,

    porque a remoo de DQO da fase lquida depende da converso de acetato.

    Infelizmente esses microrganismos so de lento crescimento, com um tempo de gerao

    mnimo de 2 a 3 dias AQUINO & CHERNICHARO, (2005), e so extremamente

    dependentes da manuteno de condies timas de crescimento.

    3.4 Lixiviado

    A disposio final dos resduos slidos urbanos consiste em uma das

    preocupaes dos administradores municipais, pois mesmo com o tratamento e/ou

    aproveitamento, ainda observa-se a gerao de rejeitos. No caso especfico dos resduos

    urbanos, em funo da frao orgnica presente, ocorre o aparecimento de um lixiviado

    com elevada concentrao em compostos orgnicos. Esses compostos so formados a

    partir da decomposio da matria orgnica dos resduos urbanos, material que percola

    pelas camadas do aterro sanitrio formando os lixiviados. Como so pouco conhecidas

    as identidades dos compostos presentes nos lixiviados de aterros sanitrios, no h

    como prever se os tratamentos utilizados so efetivos. Portanto, a identificao destes

    compostos orgnicos uma preocupao que vem motivando a pesquisa cientfica em

    nvel mundial (STRELAU, 2006).

    A composio do lixiviado bastante varivel e adquire caractersticas poluentes

    devido ao seu contato com a massa de resduos slidos em decomposio. GOMES et

    al. (2006), definem o lixiviado como um lquido escuro, turvo e malcheiroso que exige

    alta demanda de oxignio pra estabilizao. O lixiviado apresenta valores elevados de

    demanda bioqumica de oxignio (DBO), demanda qumica de oxignio (DQO), traos

  • 21

    de metais dissolvidos e amnia, ou seja, constitui-se em um lquido com alto potencial

    poluidor. Tratando-se assim de um ponto crtico a ser gerenciado no sistema de aterros

    sanitrios (BOFF, 2005). Os lixiviados formam-se a partir da precipitao, escoamentos

    superficiais, guas subterrneas ou guas de nascente e ainda, do resultado da

    decomposio dos resduos. A gua que precipita sobre o aterro, parte escoa

    superficialmente e o restante infiltra, podendo ficar retida na camada de cobertura ou

    produzir um fluxo de percolao quando for atingida a saturao desta camada. Existe

    uma parte do total que se forma como um subproduto na decomposio do material

    orgnico pela atividade bacteriana, mas esta quantidade sensivelmente pequena, o que

    faz com que seja desprezada quando se faz um balano de gua do aterro sanitrio

    (SILVA et al., 2007).

    Na maioria dos casos, a precipitao ser a principal fonte de umidade que

    contribui para a gerao de lixiviados. As guas das chuvas so geralmente usadas para

    representar a quantidade total de gua que atinge a superfcie durante um certo perodo

    de tempo para uma dada localidade. Como em todos os casos de infiltrao, a situao

    mais crtica ocorre durante os perodos de chuva contnua, persistentes. Chuvas muito

    intensas, de curta durao, produzem uma saturao rpida da cobertura do aterro

    sanitrio e diminui a infiltrao, perdendo-se grande quantidade de gua por meio do

    escoamento superficial (PINEDA, 1998).

    importante a obteno dos dados de precipitao, temperatura, radiao e

    evaporao medidos no local do aterro ou disponibilizados pela mais prxima estao

    meteorolgica. Para assegurar a confiabilidade dos dados, estes devem ser validados e

    comparados com dados provenientes das outras estaes situadas na proximidade. Esses

    parmetros podem auxiliar a justificar valores muito acima ou abaixo da mdia.

    GOMES et al. (2006) comentam que a quantidade de lixiviado gerado varia de

    um aterro para outro e ao longo do tempo em um mesmo aterro, devido interferncia

    das seguintes caractersticas: composio dos resduos slidos, sua quantidade e

    densidade; condies meteorolgicas do local; geologia e geomorfologia; condies de

    operao do aterro; idade e natureza dos resduos slidos e topografia.

    Quando o lixiviado coletado apresenta um pH baixo, os parmetros como DBO,

    DQO, nutrientes e metais pesados devero ser altos. Contudo durante a fase

    metanognica, o pH varia entre 6,5 e 7,5 e os valores de DBO, COT, DQO e nutrientes

  • 22

    sero significativamente menores. Devido cadeia de constituintes existentes no

    lixiviado e s variaes quantitativas sazonais e cronolgicas (pelo aumento da rea

    exposta) no se deve considerar uma soluo nica de processo para seu tratamento

    (HAMADA & MATSUNAGA, 2000). Alguns autores, como CASTILHOS JR. (2003),

    sugerem um critrio para permitir a deciso na seleo de processos. Quando o lixiviado

    apresentar DQO elevada (acima de 10.000 mg/L), baixa concentrao de nitrognio

    amoniacal e uma relao DBO/DQO entre 0,4 e 0,8 e uma concentrao significativa de

    cidos graxos volteis de baixo peso molecular, o tratamento pode ser efetuado por

    ambos os processos, ou seja, anaerbio e aerbio.

    A composio do lixiviado bastante varivel e adquire caractersticas poluentes

    devido ao seu contato com a massa de resduos slidos em decomposio.

    CHRISTENSEN (2001) in TILLMANN (2003), ilustra as mudanas que ocorrem nas

    caractersticas do lixiviado (Tabela 1), resultantes das diferenas entre as fases cida e

    metanognica.

  • 23

    Tabela 1. Variaes na composio do lixiviado entre as fases: cida e metanognica.

    Parmetros com variao entre fases

    cida e metanognica

    Parmetro Fase cida Fase Metanognica Mdia Faixa

    Mdia Variao Mdia Variao

    pH 6,1 4,5-7,5 8 7,5-9 4,5-9

    DBO 13000 4000-40000 180 20-550 20 57 000

    DQO 22000 6000-60000 3000 500-4500 140 152 000

    DBO/DQO 0,58 0,06 0,02 0,80

    Sulfato 500 70-1750 80 10-420 8 7750

    Clcio 1200 10-2500 60 20-600 10 7200

    Magnsio 470 50-1150 180 40-350 30 15 000

    Ferro 780 20-2100 15 3-280 3 5500

    Mangans 25 0,3-65 0,7 0,03-45 0,03 1400

    Zinco 5 0,1-120 0,6 0,03-4 0,03 1000

    Parmetros sem variao significativa

    entre as fases

    Nitrognio Amoniacal 741 50 2200

    Cloreto 2120 150 4500

    Potssio 1085 50 3700

    Sdio 1340 70 7700

    Fsforo Total 6 0,1 23

    Cdmio 0,005 0,0001 0,4

    Cromo 0,28 0,02 1,5

    Cobalto 0,05 0,005 1,5

    Cobre 0,065 0,005 10

    Chumbo 0,09 0,001 5

    Zinco 0,17 0,03 1000

    Observao: Todos os valores em mg/L, exceto pH e DBO/DQO, que so adimensionais. Fonte: CHRISTENSEN in TILLMANN (2003).

  • 24

    REINHART & MCCREANOR (2000) citam que o lixiviado gerado em aterros

    novos (< 5 anos) tender a ter alta resistncia orgnica (em grande parte composto de

    cidos volteis) com um pH relativamente baixo (5 a 7). Com o tempo e a estabilizao

    da comunidade metanognica a resistncia orgnica declina e a alta concentrao de

    amnia modera o pH.

    Portanto, para que os processos de interveno nos aterros sanitrios se tornem

    eficientes, importante o conhecimento mnimo das caractersticas fsico-qumicas e

    biolgicas dos lquidos gerados (lixiviado) durante a degradao dos resduos slidos.

    3.5 Tratamento de Lixiviado

    A gerao de lixiviados constitui-se na principal preocupao quanto

    degradao ambiental de reas localizadas prximas ao local de disposio final dos

    resduos slidos urbanos (RSU), uma vez que o tratamento desses efluentes tem se

    mostrado um grande desafio, pois a alta heterogeneidade e variabilidade de seus

    parmetros fsico-qumicos e biolgicos, ao longo do tempo, dificultam a adoo de

    sistemas eficientes de tratamento. Os processos mais empregados para o tratamento de

    lixiviados de aterros sanitrios so os processos biolgicos. Geralmente ocorrem

    dificuldades ao utilizar tratamentos biolgicos para lixiviados devido vazo e carga

    orgnica muito variveis, baixa eficincia de tratamento para lixiviados antigos ou

    pouco biodegradveis.

    Conforme FERREIRA et al. (2007) para projeto de sistemas de tratamento de

    lixiviados so empregados parmetros de esgoto domstico, muito embora j se saiba

    que o lixiviado apresente caractersticas distintas, deste efluente. Alm disso, os vrios

    estudos de caracterizao de lixiviados realizados no Brasil se limitam a determinar a

    matria orgnica no efluente, em forma de DQO e DBO, sem nenhuma preocupao

    com a descrio da natureza desta matria orgnica. Assim, tendo em vista os

    problemas relacionados s caractersticas biolgicas, fsico-qumicas e variao da

    composio de lixiviados de aterros sanitrios, levando-se em conta as dificuldades no

    seu tratamento por processos biolgicos e fsico-qumicos convencionais, necessria a

  • 25

    busca de alternativas de tratamento eficientes dentro de um padro de sustentabilidade

    tcnica e econmica.

    O lixiviado produzido em aterros sanitrios apresenta elevado potencial poluidor

    com caractersticas muito variveis, alm disso, a principal preocupao quanto

    degradao ambiental. Dessa forma o rgo ambiental exige atravs de sua legislao

    que o lixiviado atenda padres mnimos de emisso em corpos dgua (Tabela 2).

    Tabela 2. Padres de emisso que atendem a legislao

    PARMETROS VMP (mg/L)

    pH (adimensional) 6,0-8,5

    Slidos Suspensos 200

    Fosfato (Fosfato Total) 1,0

    Nitrognio Total 10

    DQO 450

    Metais

    Fe 10

    Cd 0,1

    Cr 0,5

    Pb 0,5

    Zn 1,0

    Fonte: CONSEMA, 2006.

    Os mtodos de tratamento de lixiviado podem ser divididos em duas grandes

    categorias: biolgicos e fsico-qumicos, englobando processos fsicos ou aqueles que

    apresentam modificaes do afluente por adio de compostos qumicos.

    O tratamento biolgico tem se mostrado pouco eficiente para lixiviados de

    aterros antigos, j que esses apresentam elevadas concentraes de amnia, cloretos e de

    compostos recalcitrantes. Alm disso, a carncia de fsforo na composio desse

    resduo, nutriente essencial para a atividade metablica dos microrganismos, implica na

    sua adio artificial para assegurar degradao biolgica do lixiviado (VIANA et al.,

    2007).

  • 26

    O despejo inadequado de lixiviado no ambiente poder reverter-se como um

    dano sade pblica da prpria comunidade ou at outras comunidades circunvizinhas,

    pois quando lanado este tipo de efluente para o meio ambiente, sem nenhuma forma de

    tratamento, se estar poluindo no somente o solo, mas as guas superficiais e

    subterrneas e ao ar, mas tambm proporcionando a oportunidade de provocar a

    proliferao de vetores transmissores de doenas.

    Para FLECK (2003), as tecnologias empregadas nos sistemas de tratamento de

    lixiviado so semelhantes s do tratamento de esgoto, embora haja diferenas nos

    valores dos parmetros considerados para ambos. Sendo assim, existem diversas

    alternativas para o tratamento de lixiviado de aterros sanitrios, entretanto so pontos

    importantes a serem considerados no dimensionamento de um projeto de tratamento a

    variao da vazo e da composio do lixiviado dos aterros sanitrios.

    Esse mesmo autor salienta que durante o perodo de operao de uma estao de

    tratamento, alm da modificao das caractersticas do prprio lixiviado, leis e

    regulamentaes modificar-se-o, novas tecnologias surgiro enquanto outras evoluiro

    e fatores econmicos podero modificar-se, de modo que buscar um sistema flexvel

    interessante. Cada aterro sanitrio gera lixiviados com caractersticas particulares, o que

    demanda uma avaliao do tipo de tratamento vivel e eficiente para cada caso,

    portanto, a escolha entre as diversas alternativas de tratamento depende dos resduos

    aterrados e consequentemente do lixiviado gerado, bem como das condies tcnicas e

    econmicas de cada municpio. O objetivo no tanto encontrar o melhor mtodo de

    tratamento de lixiviado e imp-lo, mas definir um conjunto de padres mnimos de

    eficincia e desempenho ambiental que satisfaam os padres mnimos estabelecidos

    pelo rgo de fiscalizao ambiental do municpio e/ou estadual.

    O processo biolgico permite a biodegradao dos compostos orgnicos

    presentes no lixiviado pela ao de microrganismos que os transformam em substncias

    mais simples como a gua, o gs carbnico e o metano (GOMES, 2003). Esse mesmo

    processo biolgico pode ser empregado no tratamento de lixiviado. Todavia, geralmente

    ocorrem dificuldades ao utilizar tratamentos biolgicos para lixiviado devido vazo e

    carga orgnica muito variveis, a necessidade de uma grande rea para implantao

    (dependendo do tratamento), a baixa eficincia para lixiviado estabilizado ou pouco

  • 27

    biodegradvel, e, muitas vezes, o efluente no se enquadra nos padres estabelecidos

    pela legislao (SILVA et al., 2000).

    Os objetivos destes tratamentos so alterar a forma dos constituintes orgnicos, e

    aumentar a biodegrabilidade do lixiviado, pois apresenta elevada eficincia de remoo

    de matria orgnica e inorgnica associada a vantagens de facilidade operacional,

    flexibilidade no controle de variveis de processo, simplicidade de equipamentos e

    facilidade na mudana de escala de produo.

    Processo de tratamento anaerbio o mais antigo de tratamento de guas

    residuais, visa reduzir principalmente carga orgnica. O processo envolve

    decomposio biolgica de matria orgnica e inorgnica na ausncia de oxignio

    molecular. As molculas orgnicas so fermentadas por bactrias e cidos graxos

    volteis, os quais so convertidos em metano (CH4) e dixido de carbono (CO2).

    Existem vantagens e desvantagens do uso de sistemas de tratamento biolgico

    anaerbio. As vantagens so: elevada eficincia de remoo de matria orgnica; pouca

    dose de P necessria; pouca produo de lodo; pouco consumo de energia; possvel

    produo de biogs atravs do metano gerado. As desvantagens so: metais pesados

    podem ter digesto obstruda; suscetividade de pH e mudana de temperatura; muita

    amnia permanece no efluente; temperaturas entre 15 e 35C; alto tempo de deteno;

    microrganismos podem ser inibidos pelo meio cido, causando uma reduo na taxa de

    crescimento e conduzindo carreamento da rede de clulas microbianas em sistemas de

    mistura completa.

    Existem limitaes que se encontram para tratar lixiviado, quando se usa apenas

    um tipo de sistema de tratamento. Vem sendo estudada uma soluo para sanar tais

    dificuldades. Segundo WISZNIOWSKI et al. (2006), esto sendo desenvolvidas

    tecnologias significativas para tratamento de lixiviado combinando mtodos biolgicos

    e fsico-qumicos. Porm, para atingir padres estabelecidos em normas necessita-se o

    desenvolvimento de um tratamento com mtodos integrados, por exemplo, uma

    combinao de mtodos qumicos, fsicos e biolgicos.

    O tratamento fsico-qumico combinado com os mtodos biolgicos de

    tratamento de lixiviado consiste em eliminar espcies qumicas indesejveis no efluente

    final, como metais pesados e componentes orgnicos refratrios (GOMES, 2003). As

    principais tcnicas utilizadas para este fim so diluio, filtrao, coagulao,

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    floculao, precipitao, sedimentao, adsorso/absoro, troca inica, oxidao

    qumica, osmose reversa, lavagem com ar, ultrafiltrao, oxidao, evaporao natural e

    vaporizao (GOMES, 2002).

    3.5.1 Filtros Anaerbios

    Nos filtros anaerbios, objeto de estudo dessa pesquisa, a estabilizao da

    matria orgnica contida no lixiviado ocorre atravs da passagem desta por um leito de

    material suporte inerte. As unidades deste material apresentam uma fina camada de

    biofilme microbiana aderidos superfcie, alm da biomassa bacteriana dispersa retida

    nos interstcios do material.

    Os filtros anaerbios podem ser utilizados para esgotos concentrados ou diludos

    ou tratamento de lixiviados; resistem bem s variaes de vazo afluente; perdem

    poucos slidos biolgicos; permite vrias opes de forma, sentido de fluxo e materiais

    de enchimento; e tm construo e operao muito simples (CIRNE et al., 2007). Tal

    reator apresenta-se como uma alternativa vivel e, relativamente, bem testada em nvel

    nacional, no que se refere ao seu uso para tratamento de esgotos sanitrios. Diversos

    materiais de enchimento j foram testados (pedra britada N4, brita comercial, seixo

    rolado, anis de eletroduto cortado, escria de alto-forno, anis de bambu, etc.) e muitos

    resultados corroboraram a sua boa capacidade de remoo de matria orgnica e slidos

    suspensos. (CIRNE et al., 2007).

    FERREIRA et al. (2007) conceitua os filtros anaerbios como unidades de

    tratamento em que as reaes bioqumicas de estabilizao da matria orgnica contida

    no efluente ocorrem quando da passagem desta atravs de um leito de material suporte

    em que as unidades desse material apresentam filmes bacterianos anaerbios aderidos s

    suas superfcies, alm de biomassa bacteriana anaerbia dispersa retida nos interstcios

    do meio. Esses mesmos autores operaram um sistema composto filtro anaerbio com

    volume de 2 litros (tempo de deteno hidrulica de 21 horas) para o tratamento de

    lixiviado onde foi monitorado pH, slidos suspensos, alcalinidade e DQO para medir a

    remoo de matria orgnica, com o objetivo de garantir condies favorveis

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    degradao biolgica. No filtro foi estimado eficincia de remoo em 30% da matria