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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Cinema educativo e educação popular em São Paulo e no Rio de Janeiro nas
décadas de 1920 e 1930:
Um estudo sócio-histórico
Rodrigo Leal da Silveira
Trabalho apresentado ao IX
Seminário Nacional do
Centro de Memória –
Unicamp pelo Programa de
Pós-Graduação em Educação
da Faculdade de Educação da
Unicamp – FE na Linha de
Educação E História Cultural
Sociais/Grupo de pesquisa
GEPEDISC
1
Campinas, 2019
Resumo: A presente proposta visa realizar um levantamento da produção bibliográfica e
documental acerca do cinema educativo nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro nas
décadas de 1920 e 1930, plena em debates sobre a cinematografia e sua relação com a
educação. Pretende-se mapear obras de referência de intelectuais que participaram do que
se poderia chamar de movimento de cinema educativo brasileiro nesses dois centros
urbanos, assim como suas produções bibliográficas sobre essa temática. A partir deste
levantamento, e se utilizando das discussões metodológicas da Nova História Cultural,
busca-se identificar o papel dos intelectuais na construção do cinema educativo brasileiro,
tanto em termos de produção bibliográfica quanto de produções cinematográficas que
surgiram a partir desse movimento. A hipótese é que, ao participar da construção desse
cinema, esses intelectuais estavam dialogando com o pensamento social brasileiro sob a
forma de um pensamento visual.
Palavras-chave: Cinema Educativo; Educação Popular; História da Educação;
Pensamento Social Brasileiro; Pensamento visual.
INTRODUÇÃO
O Cinema Educativo no Brasil desponta nas primeiras décadas do século XX junto a
uma agitação de debates acerca do cinema nacional, assim como suas possibilidades
enquanto mecanismo pedagógico. Há 82 anos, a Rádio Ministério da Educação (Rádio
MEC) inaugurada por Edgard Roquette-Pinto (1884 - 1954), foi um importante evento
para a educação da época. Assim como Roquette-Pinto, grupos de intelectuais nascidos
no final do século XIX consideravam, dentre outras reflexões, a radiodifusão e o cinema
educativo como recursos para resolver questões indentitárias no início da Primeira
República, como apresenta estudos de Costa e Paulilo:
Marcadas por uma geração de intelectuais nascidos nos anos de 1880 e 1890,
da qual faziam parte Ferdinando Labouriau (1893-1928), Carlos Delgado de
Carvalho (1884-1980), Edgard Roquette-Pinto (1884-1954), Jonathas Serrano
2
(1885-1944), Francisco Venâncio Filho (1894-1946), Miguel Ozório de
Almeida (1890-1953), a radiofonia e a cinematografia no Brasil foram vistas
como meio para superar a ausência do sentimento de identidade nacional e
promover o desenvolvimento da nação (COSTA, PAULILO, 2015, p. 38)
Esses intelectuais são também responsáveis pelo movimento da Escola Nova, do
qual revela propostas de mudanças nos modos de pensar a escola desde o final do século
XX. Além dos intelectuais já citados, sublinha-se os nomes dos seguintes intelectuais
envolvidos: Heitor Lira, Antonio Carneiro Leão, Edgar Sussekind de Mendonça,
Fernando de Azevedo, Anísio Spinola Teixeira, Manuel B. Lourenço Filho, Cecília
Meirelles e Afrânio Peixoto. (CATELLI, 2010, p. 55). Tais atores sociais eram defensores
da modernização da sociedade brasileira pela educação, trazendo elementos de
racionalidade e eficiência para o interior escolar, além das discussões das vantagens
pedagógicas do cinema educativo presente nos meios e instituições intelectuais que
alcançou a escola pública com atividades em torno do uso educacional dos seus recursos.
Essas experiências indiciam práticas por parte dos escolanovistas, cujas
renovações didáticas e na escolarização como um todo atendem a proposições e
atividades presentes na questão “ideal de nação” no interior dos processos de ensino e
aprendizagem.
São Paulo foi pioneira neste aspecto. A escola Caetano de Campos (1894 - Praça
da República; 1974 - Praça Franklin Roosevelt), mostra-se como exemplo de jogo
instituído entre a Escola Nova e a Escola Tradicional. Os acervos memoriais estão
presentes em instituições públicas, como o Arquivo Público de SP e o acervo Gustavo
Capanema e Lourenço Filho, presentes no CPDOC/RJ. As diferentes práticas
escolanovistas, assim como suas diversidades, foram inspiradas em John Dewey1 (1859-
1 Sua filosofia é primeiramente marcada pelo instrumentalismo, isto é, pelo seu desejo de romper com
uma filosofia clássica que ele via como mais ou menos ligada à classe dominante, para torná-la um
instrumento que permitiria os homens se adaptarem melhor ao mundo moderno. O método que Dewey
escolheu para fazer isso foi chamado de "teoria da investigação", uma ideia baseada na concepção de
que a mudança do ambiente ocasiona problemas de adaptação que devem ser resolvidos por meio de
uma investigação onde várias hipóteses são examinadas. As teorias filosóficas tradicionais são então
vistas como meios de fornecer hipóteses a serem testadas.
3
1952), que baseou-se na corrente pragmatista2 e foi um dos principais representantes pelas
intervenções sociais construídas no currículo escolar, nas suas normas e atividades
escolares. Compreender o pensamento de John Dewey nos auxilia a compreender sua
influência sobre o pensamento de Anísio Teixeira e o movimento da Escola Nova no
Brasil.
Em São Paulo, as ações de Lourenço Filho na Diretoria de Ensino foram
principalmente estudadas por Antonacci (1993) Hanna Mate (2002) e Ana Nicolaça
Monteiro (2006), e mostram ações organizadas, primeiro, por Fernando de Azevedo e,
depois, por Anísio Teixeira na Diretoria de Instrução do Distrito Federal, que reúnem
estudos que evidenciam o lugar do cinema educativo na estrutura administrativa da
instrução pública, assim como as estratégias para restringir a cinematografia brasileira
exclusivamente para a educação, além de avançar na adaptação educacional dos recursos
técnicos da sétima arte.
Durante os anos 1920 e 1930 o seu uso nas escolas marca uma renovação dos
métodos e procedimentos de educação da capital (VIDAL, 1994; PAULILO, 2002; 2015),
portanto, esses procedimentos que traziam um senso de padronização não eram restritos
ao estado de São Paulo. As estratégias de implantação de “ideal de nação” foram presentes
também no Rio de Janeiro e com proeminência de expansão em todo território nacional,
pois o uso do cinema na educação tem interesse de inserção em processos de ampla
circulação de imagens em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, mas também nos
outros estados.
As “imagens em movimento” na forma, como foram pensadas por pesquisadores
e educadores do período, incorporaram esses filmes como arquivos de imagens de
2 Johannes Hessen, em Teorias do Conhecimento (HESSEN, 2000), elucida claramente as diferentes
correntes do conhecimento e nos auxilia a compreender o pragmatismo, defendido por Dewey, a partir
de seu fundamento epistemológico. Hessen explica como o pragmatismo elaborou positivamente o
pensamento cético. Segundo ele, o ceticismo seria um ponto de vista essencialmente negativo e
significa a negação da possibilidade do conhecimento: O sujeito seria incapaz de apreender o objeto.
O pensamento pragmático (do grego prâgma, ação) também abandona o conceito de verdade, como o
ceticismo, porém, coloca outro conceito de verdade no lugar do que foi abandonado. Verdadeiro passa
a ser aquilo que é útil, valioso, promotor da vida. (HESSEN, 2000, p. 6)
4
diferentes grupos humanos e localidades geográficas. A exibição destes filmes era
entendida como um novo meio de educação e de divulgação do conhecimento científico.
(CATELLI, 2010, p 104).
Anita Simis (1996, p. 33) ilustra como as escolas foram aparelhadas para a
projeção de filmes educativos. O exemplo foi seguido por outros estados, como é possível
perceber no quadro trazido pela própria autora (Simis,1996, p. 301) com a soma de
subtotais apresentada pelo proponente da pesquisa:
ESCOLAS NO BRASIL (1932-1937)
Ano Federais Estaduai
s
Municipa
is
Particular
es
Tota
l
Total Escolas
Públicas
1932 0 98 47 114 259 145
1933 1 100 68 108 277 169
1934 2 154 94 225 475 250
1935 2 163 79 238 482 244
1936 1 149 96 246 492 246
1937 3 149 101 289 542 253
Sub-
Totais 9 813 485 1220 2527 1307
Ano Distrito
Federal RJ SP MG RS BA
1935 154 7 154 70 24 16
1936 167 14 148 68 24 15
1937 190 22 159 64 30 19
Sub-
Totais 511 43 461 202 78 50
Fonte: AEB (Serviço de Estatística de Educação e Cultural, IBGE).
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Segundo o quadro acima, 1307 instituições escolares públicas e mais de 1220
particulares estavam inseridas no contexto da exibição cinematográfica até 1937,
concentradas, especialmente, no Distrito Federal, São Paulo, Minas Gerais, Rio grande
do Sul, na Bahia e no Rio de Janeiro.
JUSTIFICATIVA
Diretrizes vieram a se converter no decreto nº 21.240, de 1932, constituída por,
entre outros, Teixeira de Freitas, Lourenço Filho, Jonathas Serrano, Venâncio Filho,
Mario Behring, Ademar Gonzaga e Ademar Leite Ribeiro e presidida por Roquette-Pinto;
esse grupo definiu as bases do relacionamento do poder público com o cinema, (COSTA,
PAULILO, 2015, p. 10).
Esses decretos foram propostas de um cinema educativo que estavam sendo
implementadas concomitante às reformas educacionais que ocorreram em diversos
estados brasileiros no final dos anos de 1920. Com a criação do Instituto Nacional de
Cinema Educativo (INCE) em 1937 (lei nº 378, de janeiro de 1937), ele destinou-se a
promover e orientar a utilização da cinematografa, especialmente como processo auxiliar
o ensino, e ainda como meio de educação popular durante o Estado Novo, sob a direção
de Roquette Pinto. O Brasil implanta medidas de censuras cinematográficas na elaboração
dos filmes educativos com a designação acerca da produção dos mesmos pelo cineasta
Humberto Mauro, tendo este realizado mais de 400 documentários até os anos de 1960,
quando o INCE deixa de existir. (ANTONACCI, 1993; SIMIS, 1996).
De fato, como indica Carlos Roberto de Souza (1990), o órgão cuidava de todo o
processo de produção dos seus filmes: revelação, montagem, gravação de som, copiagem
e filmagem em estúdio. É possível constatar mais de mil escolas das quais o INCE esteve
atuando, tanto que ele chegou a realizar projeções além da provisão de sua própria
filmoteca cuja a produção de filmes documentais dividiu-se em filmes escolares de 16
mm, silenciosos e sonoros, e filmes populares de 35 mm, encaminhados para o circuito
6
das casas de exibição pública de todo o país (cf. SIMIS, 1996, p. 35; FRANCO, 1987, p.
36).
Concomitantemente aos projetos de lei que usam o cinema como elemento
político a fim de normatizar a exibição de filmes informativos de caráter exclusivamente
nacionalista e com censuras, Trevisan (2017) traz à luz uma interpretação analítica de
um filme INCE, que aponta tais tendências e contradições na primeira metade do século
XX entre um Brasil rural e a ideia de progresso, subsidiado por um curta-metragem
presente na série Brasilianas de Humberto Mauro3 (1945-1956) denominado Meus Oito
Anos. Segundo Trevisan:
[…] Meus oito anos, construído de forma leve e pitoresca, mostra um Brasil de feições rurais, que parecia pertencer sobretudo ao passado. Mauro,
funcionário do INCE, não podia ignorar a que os tempos eram outros e que era
preciso construir, nos jovens, um sentimento de nacionalidade e de esperança
em um futuro promissor, rumo ao progresso. Porém, para o diretor, essa tarefa
só poderia ser realizada, e o filme analisado sinaliza isso, com um passo para
frente e dois para trás, louvando-se o tempo em que ele era menino, em que
tudo terminava bem com a ida de todos à missa no final do dia. Assim, Mauro
é a própria personificação de seu objeto rural favorito, o carro de bois, citado
em um dos seus filmes como um “paradoxo do primitivismo a serviço do
progresso” (TREVISAN, p. 16).
Apesar de um distanciamento de cerca de 10 anos entre legitimação das leis,
censuras e “modos de fazer” cinema, toda essa orientação repercutia antes. Portanto, em
1920 e 1930, época em que foram realizadas reformas pela Diretoria Geral de Instrução
Pública do Distrito Federal de 1927 a 1935 e quando em 1929 a Subdiretoria Técnica da
Instrução organizou a Exposição de Cinematographia Educativa, Jonathas Serrano
(1885-1944) responsável pela militância católica às atividades em prol do cinema como
instrumento de educação popular (SERRANO, 1944, p.3).
O estudo de sua trajetória ilumina a concorrência entre diferentes projetos
políticos para a área de cultural, em especial, para o desenvolvimento do cinema
3 Humberto Mauro (1897-1983) Cineasta, diretor, escritor, acadêmico, músico, ator, produtor, pintor,
artista plástico, político, crítico, roteirista, ativista, foi um dos pioneiros do cinema brasileiro. Fez
filmes entre 1925 e 1974, sempre com temas brasileiros. A convite de Edgar Roquette-Pinto, Mauro
se junta ao Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE), onde de 1936 a 1964 realizou mais de
300 documentários de curta-metragem sobre temas tão variados como astronomia, agricultura e
música.
7
brasileiro, durante o primeiro governo Vargas seu principal responsável, lembrava que a
iniciativa era parte do programa de reforma de Fernando de Azevedo (1894 – 1974).
Já sublinhava, então, a conveniência de um órgão administrativo central
documentar, exemplificar e apontar diretrizes para a realização de filmes educativos. As
ações em torno do cinema educativo em São Paulo entre 1931 e 1933 também resultaram
na configuração de um órgão administrativo central para, igualmente, documentar e
apontar diretrizes. De fato, o Código de Educação de 1933 criou o Serviço de Rádio e
Cinema Educativo. Essa legislação instituiu as iniciativas que desde 1931 quando
Lourenço Filho iniciou à frente da Diretoria Geral do Ensino de São Paulo para implantar
o cinema educativo nas escolas paulistas.
Nesse sentido, o estudo do papel dos intelectuais de São Paulo e do Rio de Janeiro
e do pensamento que criaram acerca do cinema e de sua relação com a educação popular
nas primeiras décadas do cinema educativo brasileiro mostra-se relevante e pretende ser
uma contribuição nos estudos sobre educação, cultura e sociedade no Brasil.
OBJETIVOS
Este projeto de pesquisa propõe-se a investigar como foi produzido o cinema
educativo no INCE, relacionar as medidas políticas do Ministro Gustavo Capanema
(1900-1985) que mobilizou as viagens de Roquette Pinto a diversos países da Europa e
EUA com o intuito de estudar cinema e sistematizar a produção do cinema educativo
brasileiro, fazendo o uso posteriormente desde técnicas de criação de filmes, materiais
para reprodução, edição, até medidas de censuras que foram aplicadas na criação do
Instituto Nacional de Cinema Educativo posteriormente em 1937.
Nessa perspectiva, organiza-se segundo os seguintes objetivos específicos:
1. Inventariar a produção na área da história da educação a respeito do tema do
cinema educativo, objetivando realizar um estudo do estado da arte desta produção.
2. Realizar o estudo das trajetórias dos principais intelectuais envolvidos nesse projeto,
que se misturava ao projeto de nação da época, e compreender o impacto de suas ideias
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nas produções cinematográficas realizadas no sentido educativo (tanto para filmes
escolares, quando para obras que eram projetadas em maior escala).
3. Identificar o público-alvo dessas produções
4. Subsidiar o trabalho de pesquisa acerca da memória da educação popular (nesse caso,
particularmente no estado de São Paulo) desenvolvido no Centro de Memória da
Educação da Faculdade de Educação da Unicamp.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Análise documental da produção desses intelectuais: livros, artigos e documentos
(fontes primárias), os acervos memoriais presentes em instituições públicas, como o
Arquivo Público de SP e o acervo Gustavo Capanema e Lourenço Filho, presentes no
CPDOC/RJ. Analisando os discursos como consta na bibliografia infra citada de Michel
Foucault em “Ordem do discurso” e mesmo “O que é um autor” (2011;2012), para colocar
em questão o “nome” dos intelectuais e o peso que fornecem aos filmes realizados que
envolvem seu nome, por exemplo: Anisio Teixeira (1900- 1971), Canuto Mendes de
Almeida (1906-1990), Cecília Meireles (1901-1964), Francisco Venâncio Filho (1894-
1946), Humberto Mauro (1897- 1983), John Dewey (1859-1952), Jonathas Serrano
(1885- 1944), Lourenço Filho (1897-1970), Roquette-Pinto (1884-1954) além da
investigação da participação de intelectuais em produções fílmicas como: Edgard
Roquette-Pinto (1884-1954); Afonso d'Escragnolle Taunay4.
Perceber, diante disso, que um filme não é produto de uma pessoa (diretor) e nem
de uma entidade (Estado), mas de uma equipe. Autores da história cultural também são
importantes para importância de se estudar linguagens visuais, Peter Burke, Pierre
Francastel, Roger Chartier (2004;1973;2009) e a ideia de pensamento visual.
Colaboraram para relacionar o tema com o que já foi publicado em livros, teses, artigos
e dissertações, assim torna-se viável a pesquisa, pois capta os diversos aspectos da
imagem, englobando na análise as práticas e representações que envolvem o cinema
4 Taunay, por exemplo, deu consultoria histórica para o filme O descobrimento do Brasil).
9
educativo, as dimensões simbólicas desses que penetram no projeto político e social
escolanovista, além da própria imagem do tempo escolar
Esse movimento permite perceber que um filme não é produto de uma pessoa
(diretor) e nem de uma entidade (Estado), mas de uma equipe, conforme explica Pierre
Sorlin5. Contudo, o material fílmico, após o trabalho dessa equipe, torna-se peça chave
na transmissão de valores que são caros ao ideal de um cinema educativo. Nesse sentido,
para melhor abordar esse material visual, autores da história cultural e da sociologia da
arte como Peter Burke, Pierre Francastel, Roger Chatier serão mobilizados. Pierre
Francastel e sua sociologia histórica da arte será autor importante para trabalharmos a
noção de pensamento visual6 . Essa abordagem permite relacionar as práticas e
representações que envolvem o cinema educativo, as dimensões simbólicas desses que
dialogam com o projeto político e social escolanovista, além da própria imagem do tempo
escolar.
Utilizando o campo da sociologia e da história-cultural, pode-se apontar as formas
de compreensão do cinema educativo dentro do contexto da educação no período.
Fazendo o uso da bibliografia citada, é possível trabalhar questões do período que são
fundamentais para a pesquisa, pois trazem aspectos relevantes para a compreensão as
relações entre cultura, política e educação no período, em dois importantes centros
urbanos do país.
5 Cf. Pierre SORLIN, Sociologie du cinéma, op. cit., 1977, p. 95.
6 Pierre Francastel. “Problemas da Sociologia da Arte”. In: Gilberto Velho. Sociologia da Arte, II. Rio
de Janeiro, Zahar, 1967; Annateresa Fabris. “O pensamento visual”, in: Catani, Afrânio,et all, orgs.
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