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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Educação Física DANIELA BENTO SOARES FORMAÇÃO DE TREINADORES(AS) DE GINÁSTICA PARA TODOS NO MUNDO: UMA ANÁLISE DE PROGRAMAS DE FEDERAÇÕES NACIONAIS Campinas 2019

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Educação Física

DANIELA BENTO SOARES

FORMAÇÃO DE TREINADORES(AS) DE GINÁSTICA PARA TODOS

NO MUNDO: UMA ANÁLISE DE PROGRAMAS DE FEDERAÇÕES

NACIONAIS

Campinas

2019

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Daniela Bento Soares

FORMAÇÃO DE TREINADORES(AS) DE GINÁSTICA PARA TODOS

NO MUNDO: UMA ANÁLISE DE PROGRAMAS DE FEDERAÇÕES

NACIONAIS

Tese apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutora em Educação Física, na Área de Educação Física e Sociedade.

Orientadora: Profa. Dra. Laurita Marconi Schiavon

ESTE TRABALHO CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA DANIELA BENTO SOARES, E ORIENTADA PELA PROFA. DR(A). LAURITA MARCONI SCHIAVON.

____________________________________

Campinas

2019

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COMISSÃO EXAMINADORA

Profa. Dra. Laurita Marconi Schiavon

Orientadora

Profa. Dra. Eliana de Toledo Ishibashi

Profa. Dra. Larissa Rafaela Galatti

Profa. Dra. Ieda Parra Barbosa Rinaldi

Prof. Dr. Michel Milistetd

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no

SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da Unidade.

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Dedico este trabalho

Ao meu grande herói: Pai;

À minha melhor amiga: Mãe;

À minha grande companheira: Patrícia;

Ao meu amor: Thiago.

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AGRADECIMENTOS

Vou te contar, os olhos já não podem ver Coisas que só o coração pode entender

Fundamental é mesmo o amor É impossível ser feliz sozinho

Tom Jobim

Agradeço inicialmente à Deus, que me proporciona a vida e o privilégio de

ter pessoas tão especiais ao meu lado. Agradeço à Nossa Senhora por sempre

proteger os meus caminhos.

À minha mãe, Marta, e ao meu pai, José Augusto, por estarem sempre ao

meu lado. Obrigada pelas oportunidades e pelo apoio que me oferecem, em todos os

sentidos, sempre de forma carinhosa. À minha irmã, Patrícia, pela sua alegria e por

sempre me incentivar e ser uma grande amiga. O amor de vocês é meu melhor

presente!

Ao Thiago, por ser, acima de tudo, um grande amigo. Obrigada por sempre

acreditar em mim, pelo seu bom humor e por dividir tantos sonhos comigo. Amo você.

Às amigas Patrícia Fujisawa, Renata Soares e Natacha Manchado pelo

carinho e pela sempre presença; às amigas mais fofas que tenho, Ana Lídia, Bruna,

Carol e Gabi, pelo amor e por serem parceiras de vida tão especiais; às amigas e aos

amigos “cuadradinhas(os)”, pela alegria do dia-a-dia; às parceiras (muito mais que)

de pesquisa, Alessandra, Amanda, Andrea, Bruna, Camila, Carolina, Fernanda,

Kássia, Kizzy, Letícia, Marília, Marina, Paula, Tabata e Tamiris, por todos os

momentos, risadas e aprendizados; ao amigo Rodrigo Nunes, parceiro de intercâmbio,

pela amizade e pelas contribuições a esse projeto. Vocês são especiais!

Ao Colégio Educap, às diretoras e coordenadora Margarida, Flávia e Flau,

ao diretor Marcus e às minhas colegas professoras por tanto me apoiarem nesses

cinco anos e meio de Pós-Graduação. Em especial, deixo meus agradecimentos às

famílias de minhas alunas e às minhas ginastas pela grande confiança! Agradeço à

Unifaj, aos coordenadores Taiguara e Beatriz e aos meus colegas e às minhas colegas

de trabalho, por me receberem pela segunda vez nesse grupo que tanto me orgulho

em fazer parte!

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À Universidade Estadual de Campinas e à Faculdade de Educação Física,

minha segunda casa por 11 anos e para sempre. Destaco os funcionários e as

funcionárias dessa instituição, especialmente as equipes da Biblioteca, do Ginasinho,

do LABFEF e das Secretarias de Graduação, Pós-Graduação e Extensão, bem como

todos(as) os(as) docentes dessa Faculdade, por toda a atenção e carinho. Agradeço

à Andreia e à Simone pela carinhosa atenção durante esses anos!

Ao Grupo Ginástico Unicamp e ao Grupo Ginástico Unicamp Anima por

todos os aprendizados, as vivências, as descobertas, as amizades...É impossível

descrever a importância desses grupos em minha vida. Obrigada pelo acolhimento e

por permitirem tantos bons momentos.

Ao professor Marco Antonio Coelho Bortoleto por todas as oportunidades

que me proporciona e por ser um exemplo de profissional; agradeço por ter “aberto as

portas” do Doutorado para mim, por ter auxiliado tanto nesse projeto e pela amizade.

Ao Grupo de Pesquisa em Ginástica e suas e seus integrantes, por

compartilharem conhecimentos, aprendizados e bons momentos comigo. Às

professoras Elizabeth Paoliello, Eliana Ayoub e Eliana de Toledo, por serem grandes

exemplos para mim e por terem me recebido de braços abertos em tantos momentos!

Agradeço também à professora Michele Carbinatto, pela parceria em tantos projetos

de pesquisa ao longo desses anos, e à professora Cintia Moura, pelas parcerias de

trabalho, ambas referências para mim. Sempre juntas! Obrigada pela amizade.

Ao professor Ademir de Marco, por sempre me acompanhar no caminho da

pesquisa e pela amizade.

À todas as pessoas que compõe as instituições que “abriram suas portas”

para mim durante esses três anos e meio, em especial durante o período do Estágio

Sanduíche, e permitiram que eu realizasse sonhos e crescesse pessoal e

profissionalmente: British Gymnastics, Rebounders Centre, Gymnastikhøjskolen i

Ollerup, Deutscher Turner-Bund (DTB), International Sport and Culture Association

(ISCA), Federação Internacional de Ginástica (FIG), Sokol e União Europeia de

Ginástica.

De forma muito especial, agradeço à todas as Federações Nacionais de

Ginástica e suas e seus respondentes que permitiram que essa pesquisa fosse

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realizada. Agradeço ao senhor Hardy Fink, à senhora Margaret Sikkens Ahlquist e ao

senhor Keith Russell, da Federação Internacional de Ginástica, bem como às

senhoras Aida Rebeca Rojas (Presidente do Comitê de Ginástica para Todos da

União Panamericana de Ginástica), Naomi Valenzo (Presidente da União

Panamericana de Ginástica), Caron Henry (Federação de Ginástica da África do Sul)

e ao senhor Alberto Claudino (Presidente do Comitê de Ginástica para Todos da União

Europeia de Ginástica) pela grande participação!

À Gisa, minha professora de Inglês, que tantos textos corrigiu e tanto ouviu

sobre meus assuntos nesses anos. Obrigada pela força!

À professora e amiga Eliana de Toledo, por ter contribuído para meu

encantamento pela Ginástica para Todos e por me acompanhar nessa trajetória que

você tanto inspira.

Agradeço em especial ao professor Michel Milistetd e às professoras Eliana

de Toledo, Larissa Galatti e Ieda Barbosa-Rinaldi pelo acolhimento e pela atenção

durante o desenvolvimento dessa pesquisa, assim como pela leitura atenciosa da

tese. Iniciamos uma parceria!

Agradeço, de todo o coração, ao professor Robyn Jones, pela atenção ao

meu pedido, por estar sempre disponível para me ajudar, por me receber e oferecer

apoio durante o Estágio Sanduíche e por apresentar novos olhares àquilo que já me

enchia os olhos. Agradeço à Cardiff Metropolitan University e seus docentes por me

receber e pela oportunidade da experiência. Diolch!

Agradeço muito à professora Laurita Schiavon, grande amiga e orientadora,

por sempre me incentivar, acreditar no meu potencial e por ter permitido que eu

desenvolvesse o projeto que sonhava. Lau, ter você como orientadora foi e é um

presente! Você é um exemplo, como professora, pesquisadora, orientadora e gestora

e tenho muito orgulho de ser parte do seu legado. Seguimos juntas!

Por fim, agradeço ao CNPq e à CAPES e à todas as pessoas que

contribuem para seu sustento, que financiaram esse projeto e me permitiram esse

grande privilégio.

MUITO OBRIGADA!

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RESUMO

Este estudo teve como objetivo geral analisar os programas oferecidos por federações nacionais de Ginástica (FNG) para formação de treinadores(as) de Ginástica para Todos (GPT), tendo como foco as estratégias pedagógicas realizadas. Adotamos o olhar da teoria histórico-cultural de Lev Vygotsky, considerando: os processos de aprendizagem, que ocorrem através da interação entre a base biológica humana e o meio; o desenvolvimento potencial, ou seja, os problemas que podem ser resolvidos com o auxílio de pessoas mais experientes; a sugestão de que as estratégias de aprendizagem devem ser efetivas para que constituam vivências (perijivânie). Dois objetivos específicos constituíram as ações realizadas nessa pesquisa, direcionadas aos(às) gestores(as) das instituições estudadas. O primeiro desses foi o mapeamento, a descrição e a análise dos programas federativos de formação de treinadores(as) de GPT. Todas as FNG afiliadas à Federação Internacional de Ginástica (FIG) foram convidadas a responder questões sobre a concepção de GPT, organização, importância do programa FIG Academy e o oferecimento dos programas de formação de treinadores(as) de GPT. Questões abertas e fechadas foram disponibilizadas em um questionário online hospedado na plataforma Google Forms®, em quatro idiomas. Dessa etapa da pesquisa, participaram 44 instituições. O segundo objetivo específico foi a análise das estratégias pedagógicas adotadas por esses programas, realizada a partir de um questionário aberto enviado por endereço eletrônico. Foram convidadas as 30 FNG que indicaram oferecer programas de GPT na consulta anterior, dentre as quais seis responderam sobre o funcionamento de tais estratégias pedagógicas e as relações entre os(as) aprendizes(as) e desses(as) com os(as) mediadores(as) responsáveis. Todos os dados do estudo foram analisados por análise de conteúdo e estatística descritiva, à luz da teoria histórico-cultural. Os resultados demonstram que a formação de treinadores(as) de GPT em nível mundial acontece em incidência semelhante à formação para as modalidades ginásticas olímpicas. De forma geral, as FNG oferecem tais programas como única ou principal formação exigida em seus países, o que demonstra a importância dessas ações federativas. Como frequentemente apresentado pela literatura, as estratégias pedagógicas tradicionais, consideradas como aquelas que atribuem foco aos(as) instrutores(as) nas relações sociais, são as mais mencionadas. Estratégias pedagógicas inovadoras, que enfatizam a relação entre treinadores(as)-aprendizes(as) e mediadores(as) responsáveis e desses com a cultura envolvida, são também citadas. Por fim, a partir dos diversos contextos apresentados, sugerimos que as universidades podem auxiliar as FNG em reflexões acerca da temática, fomentando discussões que possam tornar as estratégias pedagógicas mais sociais e, de acordo com a teoria histórico-cultural, mais eficazes, na formação de treinadores(as). Palavras-chave: Ginástica para Todos; Formação de treinadores(as); Teoria histórico-cultural.

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ABSTRACT

This study aimed at analyzing the education programs provided by National Governing Bodies (NGB) to Gymnastics for All (GfA) coaches, focusing on pedagogical strategies. We adopted Lev Vygostsky’s theory on cultural-historical perspective to address the following aspects: learning processes that are the result of the interaction between biological factors and the environment; potential development, i.e. problems that can be solved with the support of more experienced people; and the importance of effective learning strategies to become lived experiences (perijivânie). Two specific goals, targeted at NGB managers, guided the actions implemented in this research study. The first goal was to map, describe, and analyze the GfA coach education programs provided by NGBs. In a first stage of the study, all NGBs affiliated with the International Gymnastics Federation (FIG) were invited to answer questions about how their perspective on GfA, their organization system, how important the FIG Academy program was for them and whether they provided GfA coach education programs. Open- and closed-ended questions in four languages were included in an online survey hosted on the Google Forms® platform. In this phase of the research, 44 NGBs joined the study. The second specific goal was to analyze pedagogical strategies adopted by these coach education programs. This analysis was conducted based on an open questionnaire sent by email to NGB respondents. In the first stage of the study, thirty NGBs reported that they provided GfA Programs, so they were the ones invited to participate in the second stage of the survey. Of these 30 NGBs, six replied with information on the implementation of their pedagogical strategies and how learners interacted among themselves and with mediators. All study data were assessed using descriptive statistics and content analysis methods in a cultural-historical perspective. Results show that GfA coach education worldwide is as common as other coach education sessions for Gymnastics disciplines performed in the Olympic Games. Overall, NGBs provide these programs as the only or main source of education to meet national requirements, thus showing the importance of these NGB initiatives. As often found in the literature, traditional pedagogical strategies, that is, those that focus on mediators in social relationships, are the ones most often mentioned. There are also reports of innovative pedagogical strategies that emphasize the coach-learner-mediator relationship and how they interact with cultural aspects. Finally, based on the various contexts presented in this study, we suggest that universities can cooperate with NGBs fostering discussions that might become pedagogical strategies with a social approach and, according to the cultural-historical theory, might also become more effective in coach education. Key words: Gymnastics for All; coach education; cultural-historical theory.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Esquema das etapas da pesquisa........................................................... 29

Figura 2 – Exemplo dos dados das FNG no Diretório da FIG................................... 31

Figura 3 – ABP em módulo para treinadores(as)-aprendizes(as) na Cardiff Metropolitan University. ............................................................................................ 92

Figura 4 – Mediação na estratégia pedagógica de ABP. .......................................... 93

Figura 5 – Plataforma de dados online da FNG dos Estados Unidos. .................... 113

Figura 6 – Plataforma de dados online da FNG da Grã-Bretanha. ......................... 114

Figura 7 – Plataforma de dados online da FNG da Itália. ....................................... 114

Figura 8 - A GPT no contexto da FIG. .................................................................... 123

Figura 9 – A GPT no contexto brasileiro. ................................................................ 141

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Exigência de formação pelas FNG para atuação como treinador(a) de Ginástica. ............................................................................................................... 151

Gráfico 2 – Relação entre a exigência de formação para atuação como treinador(a) de Ginástica e o oferecimento de programas dessa finalidade. .................................. 163

Gráfico 3 – Relação entre o oferecimento de programas de formação de treinadores(as) e a existência de Comitês Técnicos e de GPT. ............................. 167

Gráfico 4 – Relação entre a abordagem de GPT e os objetivos propostos para os programas de formação de treinadores(as). .......................................................... 192

Gráfico 5 – Relação entre a natureza dos(as) mediadores(as) responsáveis e as estratégias pedagógicas dos programas de formação de treinadores(as) de GPT. 208

Gráfico 6 – Relação entre a importância do FIG Academy Fundamentos da Ginástica e a classificação dos programas de formação de treinadores(as) de GPT. ............ 230

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Participação das FNG na Etapa A, organizadas por continente. ........... 33

Quadro 2 – Distribuição temática abordadas no questionário da etapa A. ............... 36

Quadro 3 – Etapas da análise de conteúdo. ............................................................ 39

Quadro 4 – Participação das FNG na Etapa B e suas estratégias pedagógicas. ..... 41

Quadro 5 – Questão enviada às FNG na etapa B. ................................................... 42

Quadro 6 – Comparação entre as teorias de Sfard (1998), Moon (1999; 2004) e Vygotsky. ................................................................................................................. 75

Quadro 7 – Concepções de GPT das FNG participantes. ...................................... 127

Quadro 8 – Análise das respostas sobre as concepções de GPT. ......................... 131

Quadro 9 – Caracterização das FNG quanto à organização e a exigência de formação para atuação como treinador(a) de Ginástica. ....................................................... 172

Quadro 10 – Relação entre obrigatoriedade e oferecimento e número de participantes dos programas de formação de treinadores(as). .................................................... 178

Quadro 11 – Caracterização dos programas de formação de treinadores(as) quanto ao período de funcionamento, número de participantes e frequência. ................... 185

Quadro 12 – Caracterização dos programas quanto à obrigatoriedade, número de participantes e estratégias pedagógicas adotadas ................................................. 196

Quadro 13 – Progressões destacadas pelas FNG para os programas de formação de treinadores(as) de GPT .......................................................................................... 212

Quadro 14 – Relação entre a concepção de GPT e os programas de formação de treinadores(as) de GPT. ......................................................................................... 219

Quadro 15 – Análise sobre o FIG Academy e a exigência e oferecimento de programas de formação de treinadores(as). ............................................................................ 228

Quadro 16 – FNG participantes da Etapa B e as estratégias pedagógicas oferecidas................................................................................................................................ 232

Quadro 17 – Análise das respostas sobre as estratégias pedagógicas. ................. 233

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGU Asian Gymnastics Union

CAAE Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

FEF Faculdade de Educação Física

FIG Federação Internacional de Ginástica

FNG Federações Nacionais de Ginástica

GEPESP Grupo de Estudos em Pedagogia do Esporte

GGU Grupo Ginástico Unicamp

GGU Anima Grupo Ginástico Unicamp Anima

GPG Grupo de Pesquisa em Ginástica

GPT Ginástica para Todos

LEPE Laboratório de Estudo em Pedagogia do Esporte

NUPPE Núcleo de Pesquisa em Pedagogia do Esporte

PAGU Panamerican Gymnastics Union

UAG Union Africaine de Gymnastique

UEG Union Europeenne de Gymnastique

Unicamp Universidade Estadual de Campinas

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 17

1.1 Localizando a pesquisa: ontologia, epistemologia e paradigma de pesquisa ..... 22

1.2 Organização da tese .......................................................................................... 25

2 MÉTODO .............................................................................................................. 27

2.1 Pesquisa de campo: desenho, procedimentos, instrumentos e análise dos dados................................................................................................................................. 28

2.2 Etapa A: mapeamento, descrição e análise dos programas de formação de treinadores(as) de GPT ............................................................................................ 30

2.3 Etapa B: análise das estratégias pedagógicas ................................................... 40

2.4 Preparação da pesquisa: aspectos éticos e protocolares ................................... 43

3 VYGOTSKY E A FORMAÇÃO DE TREINADORES(AS) ....................................... 47

3.1 Introdução à teoria vygotskyana ......................................................................... 49

3.2 Interação entre a base biológica humana e o meio ............................................ 51

3.3 Desenvolvimento potencial ................................................................................ 56

3.4 Perejivânie ......................................................................................................... 61

4 A LITERATURA SOBRE A FORMAÇÃO DE TREINADORES(AS) À LUZ DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL ........................................................................... 67

4.1 As teorias de Anna Sfard (1998) e Jennifer Moon (1999; 2004) ......................... 67

4.2 A teoria de Nelson, Cushion e Potrac (2006) ..................................................... 76

5 ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS: UMA BUSCA PELA INOVAÇÃO NAS FORMAS DE MEDIAÇÃO ........................................................................................................ 85

5.1 Estratégias pedagógicas coletivas ..................................................................... 91

5.2 Estratégias pedagógicas online ........................................................................ 105

5.3 Estratégias pedagógicas individualizadas ........................................................ 115

5.4 Estratégias pedagógicas inovadoras no contexto da teoria histórico-cultural ... 117

6 GINÁSTICA PARA TODOS: DIFERENTES CONCEPÇÕES .............................. 123

7 RESULTADOS .................................................................................................... 143

7.1 Etapa A ............................................................................................................ 143

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7.2 Etapa B ............................................................................................................ 231

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 253

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 259

APÊNDICES .......................................................................................................... 277

ANEXOS ................................................................................................................ 291

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1 INTRODUÇÃO

Muito se tem discutido na atualidade sobre a pessoa e a atuação do(a)

treinador(a) esportivo(a)1 (LYLE, 2002; SANTANA, 2005; CÔTÉ, 2006; JONES, 2006;

PENNEY, 2006; WERTHNER; TRUDEL, 2006; WIKELEY; BULLOCK, 2006;

CASSIDY; JONES; POTRAC, 2009; KORSAKAS, 2009; PAES; BALBINO, 2009;

MACHADO; GALATTI; PAES, 2012; LEONARDI et al., 2014, MILISTETD et al., 2014;

MILISTETD et al., 2015a; GALATTI et al., 2016 MILISTETD et al., 2016). Nesse

conjunto amplo e crescente de investigações, as diferentes pesquisas dedicam-se a

dialogar sobre diversos aspectos, dentre os quais a caracterização do(a) treinador(a)

e de sua atividade (JONES, 2006; MALLETT; CÔTÉ, 2006; PENNEY, 2006), as

competências necessárias para o exercício de sua função (CÔTÉ et al., 2007; CÔTÉ;

GILBERT, 2009), os diferentes contextos possíveis de atuação (COAKLEY, 1998;

CÔTÉ; STRACHAN; FAZER-THOMAS, 2008) e, entre outros assuntos, os processos

de aprendizagem pelos quais os(as) treinadores(as) constituem-se (CÔTÉ, 2006;

WERTHNER; TRUDEL, 2006; CALLARY; WERTHNER; TRUDEL, 2012; TRUDEL;

CULVER; WERTHNER, 2013) e as oportunidades de aprendizagem que

viabilizam tais processos (NELSON; CUSHION; POTRAC, 2006; MALLETT et al.,

2009). Estes dois últimos temas têm sido mais amplamente estudados após os anos

2000 (CUSHION et al., 2010) e são, inclusive, os assuntos que pautam esta tese e

que buscamos tratar de forma inovadora a partir da abordagem histórico-cultural.

Estes e outros estudos versam sobre o coaching, por nós entendido como

o processo de ensino de Esporte e práticas corporais. Essa é a atividade do(a)

treinador(a) (MESQUITA et al., 2012), um “esforço educacional” (JONES, 2006, p. 3),

complexo e influenciado por aspectos sociais, culturais e pedagógicos (CASSIDY;

JONES; POTRAC, 2009). Isso pois é uma expressão da educação (PENNEY, 2006)

e requer do(a) treinador(a) uma compreensão da complexidade de como as pessoas

aprendem e se desenvolvem (WICKELEY; BULLOCK, 2006), inclusive

compreendendo que a afetividade tem estreita ligação com a motivação dos(as)

atletas (TASSONI; LEITE, 2011). Por esse motivo, recentemente, diversas pesquisas

1 Nesta pesquisa, optamos por manter todos os artigos, substantivos e adjetivos que possuem flexão de gênero na Língua Portuguesa tanto em sua forma masculina como em sua forma feminina. Isso ressalta uma posição de protagonismo feminino nos âmbitos acadêmico e esportivo especialmente e visa frisar a participação das mulheres em todas as ações comentadas.

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acerca do(a) treinador(a) têm se dedicado a discutir sua identidade (JONES, 2006;

JONES, 2009; MESQUITA et al., 2012).

Entendemos que o(a) treinador(a) é um(a) educador(a) (JONES, 2006)

que medeia processos de aprendizagem e organiza oportunidades para que esses

aconteçam, auxilia no desenvolvimento de relações sociais a partir da organização e

estruturação de estratégias pedagógicas e colabora na co-construção de

conhecimentos relacionados ou não a conteúdos dos Esportes e das práticas

corporais. Sendo assim, treinadores(as) podem ser nominado(as) facilitadores(as) e

mediadores(as), entre outras denominações, tendo sua grande importância nas

tarefas em que se empenham e na postura adotada, mais do que no título que

recebem. Como afirmado por Paes2, nessa discussão é relevante considerar os

“adjetivos”, mais do que os “substantivos” e, assim, esse termo pode ser

consideravelmente utilizado para outros contextos, para além do alto rendimento

esportivo.

Esse debate relaciona-se com os aspectos que motivaram minha

dedicação ao estudo da Educação Física e da Ginástica e, de forma mais específica,

à Ginástica para Todos (GPT). A GPT é uma prática ginástica que não possui

conceito delimitador e regras definidas por instituições e que cuja identidade permite

que seja adaptada a diferentes objetivos e características culturais e sociais,

expressando-se nos mais diferentes ambientes (SOUZA, 1997; AYOUB, 2013;

FIORIN-FUGLSANG; PAOLIELLO, 2008, TOLEDO; SCHIAVON, 2008; FIG, 2010). É

uma forma de praticar Ginástica que permite que sejam utilizados conhecimentos

técnicos das modalidades ginásticas competitivas, das práticas ginásticas de

condicionamento físico e de outras práticas corporais, comumente realizada de forma

coletiva, participativa e que pode ou não se expressar em competições (AYOUB,

2013; PAOLIELLO et al., 2014; CARBINATTO; BORTOLETO, 2016).

Minhas experiências com a GPT iniciaram-se aos seis anos de idade, em

um projeto escolar extracurricular, e assim continuaram até a finalização do Ensino

Médio. Além de nesses espaços, a vivência de grupos de GPT em clube e na

universidade também foram marcantes e influenciaram em diferentes âmbitos de

minha vida, como estudante e posteriormente como professora. Isso pois,

2 Informação verbal - Fala do Professor Doutor Roberto Rodrigues Paes, durante a defesa de Mestrado da Professora Mestra Paula Simarelli Nicolau, na Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas.

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especialmente, todas as treinadoras e o treinador que participaram dessa formação

ginástica orientavam suas atuações com base na proposta do Grupo Ginástico

Unicamp (GGU), um diferencial na minha formação.

Criado em 1989 com o principal objetivo de fundamentar a prática da GPT,

o GGU oferece um banco de ideias a treinadores(as) que pretendem desenvolver a

GPT em seus locais de trabalho. O GGU possui um enfoque pedagógico alicerçado

em sua metodologia, que visa o aumento da interação social e da vivência motora

dos(as) ginastas (PAOLIELLO, 2008), princípios também presentes nas atividades do

Grupo Ginástico Unicamp Anima (GGU Anima), o qual integramos, orientadora e

aluna, atualmente. Nessas diferentes participações, as treinadoras e o treinador de

GPT que mediaram e medeiam essas atividades corporais assumiram a função de

educadores(as). Justamente por esse motivo, reforçamos nossa posição em utilizar o

termo “treinador(a)” para a GPT, considerando este papel educador.

Assim, reconhecendo toda experiência e toda relação social como

potenciais processos de mediação para a co-construção de conhecimentos, é

interessante notar o quanto as diferentes situações que cada pessoa vivencia podem

influenciar em sua atuação profissional (CASSIDY; JONES; POTRAC, 2009). Tendo

em vista essa ideia e pautada nas experiências pessoais e acadêmicas, interessei-me

em discutir a formação de treinadores(as) de GPT. Essa curiosidade teve seu ápice

após minha participação no programa FIG Academy, oferecido pela Federação

Internacional de Ginástica (FIG) para a formação de treinadores(as) das diferentes

modalidades ginásticas e para a GPT. Em 2014, participei do curso “Fundamentos

da Ginástica” em Portugal com outros(as) 19 treinadores(as) de diferentes países e

pude constatar a importância das Federações Nacionais de Ginástica (FNG) nos

processos de formação.

Esse contexto, em parceria com o engajamento da Professora Doutora

Laurita Marconi Schiavon nos estudos sobre a Ginástica, levou-nos a construir um

projeto de pesquisa que busca responder a questão “Como acontece a formação de

treinadores(as) de GPT no mundo?”, para, no futuro, encaminharmos reflexões sobre

“Quais iniciativas poderiam ser realizadas no Brasil para que houvesse maior

aprofundamento na formação de treinadores(as) de GPT, a fim de que essa prática

se desenvolvesse de forma mais democrática e abrangente?”.

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20

Sobre a formação de treinadores(as) de GPT no Brasil, importantes

estudos como Barbosa-Rinaldi e Paoliello (2008) e Ayoub (2013) dedicaram-se à

investigação do contexto universitário. De fato, tal formação universitária no Brasil é

obrigatória (BRASIL, 2002) para atuação como treinador(a) esportivo(a) e de práticas

corporais e, por esse motivo, é atribuído à essas instituições papel central no

oferecimento e na promoção de processos de aprendizagem e de certificação de

profissionais. No entanto, entendemos que o oferecimento de programas de formação

de treinadores(as) para além do contexto universitário, formação inicial, pode ser

consideravelmente importante. De forma institucional, propostas de formação

continuada a partir da atuação de federações nacionais esportivas podem

proporcionar discussões aprofundadas e específicas, além de ocupar espaço de

atenção dos órgãos esportivos, com resultados financeiros e de divulgação de tais

ações específicas.

Com base nos argumentos expostos, a escassez de estudos relacionados

às oportunidades de aprendizagem para treinadores(as) de GPT oferecidas por

instituições formais não universitárias, nacional e internacionalmente, justifica a

realização de nossa pesquisa. Entendemos que, uma vez que o contexto internacional

for estudado, poderemos obter indicativos de programas federativos que podem

colaborar com as reflexões sobre possibilidades nacionais, assim, partindo de uma

situação macro para uma específica. Do ponto de vista internacional, a viabilização

deste estudo justifica-se pela necessidade de se conhecer como ocorre a formação

de treinadores(as) dessa prática em outros países, o que constitui importante etapa

de diagnóstico deste assunto, pesquisa inédita nessa temática. Em acréscimo, a

realização desta pesquisa na Faculdade de Educação Física da Universidade

Estadual de Campinas (FEF – Unicamp) justifica-se por ser a sede do primeiro grupo

de pesquisa em Ginástica do país, o GPG.

No caminho para o delinear da pesquisa, as discussões trazidas por nesse

estudo obtiveram ainda outras colaborações, frutos das diferentes mediações a que

estive relacionada desde o início da Universidade e do desenvolvimento dessa tese.

Destaco as trocas de experiências e co-construções de conhecimentos com colegas

do Grupo de Pesquisa em Ginástica, o GPG, cuja produção científica de vanguarda e

organização de eventos acadêmicos no campo de conhecimento da GPT têm

conquistado relevância nacional e internacional e contribuído para a formação de

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treinadores(as) de diferentes regiões brasileiras. Além desse grupo, os(as)

pesquisadores(as) do Laboratório de Estudo em Pedagogia do Esporte (LEPE), da

Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp, do Grupo de Estudos em Pedagogia

do Esporte (GEPESP), da Faculdade de Educação Física da Unicamp e do Núcleo de

Pesquisa em Pedagogia do Esporte (NUPPE), da Universidade Federal de Santa

Catarina, também contribuíram para o processo de construção dessa pesquisa,

inclusive a partir da promoção de encontros com pesquisadores(as) reconhecidos(as)

internacionalmente no assunto discutido.

Dentre essas colaborações, destaco especialmente o período de Estágio

de Doutorado Sanduíche vivenciado na Cardiff Metropolitan University, no País de

Gales. Esta ocasião proporcionou-me seis meses de convivência e orientação com o

Professor Doutor Robyn L. Jones, referência nos estudos sobre o(a) treinador(a) e

que muito contribuiu para a ampliação do meu entendimento acerca do tema da

pesquisa e da posição ontológica relativista e epistemológica subjetivista adotadas

(SPARKES, 1992). Inclusive, neste período, reconhecemos a importância da adoção

de uma teoria de base para a pesquisa e identificamos os estudos de Lev Vygotsky

(1997; 1998; 2000; 2009; 2010) como uma possibilidade de contribuição, reflexão e

aprendizagem.

Os estudos do psicólogo russo Lev Vygotsky fundamentaram a teoria

histórico-cultural (VYGOSTKY, 1997; 1998; 2000; 2009; 2010), em parceria com os

avanços realizados por seus colaboradores e discípulos Luria e Leont’ev (POTRAC;

NELSON; GREENOUGH, 2016). Dedicam-se a discutir os processos de

aprendizagem e de desenvolvimento, aportando-se na cultura, nas interações sociais

e na dimensão histórica do desenvolvimento. Para Vygotsky, todos os processos

complexos que constituem as pessoas, por ele chamados de “funções mentais

superiores” (VYGOTSKY, 1997; 1998; 2000; 2009; 2010), são frutos da sociabilização

e das interações sociais, que as fazem parte de uma cultura cujos conhecimentos são

co-construídos pela sociedade e significados por essa de forma historicamente

situada (IVIC, 2010). Isto é, “é precisamente o ponto essencial da concepção

vygotskyana de interação social que desempenha um papel construtivo no

desenvolvimento” (IVIC, 2010, p. 16).

Essa teoria é significativa para as proposições que destacamos como caras

a nós, as quais consideram o papel das diversas vivências e notavelmente das outras

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pessoas na formação de pesquisadores(as), atletas e, da mesma forma,

treinadores(as). Assim, destacamos as estratégias pedagógicas, os meios pelos quais

os(as) mediadores(as) responsáveis facilitam as diferentes relações sociais que

levarão aos processos de aprendizagem. Este é o ponto de partida dessa pesquisa:

pensar a formação de treinadores(as) de GPT a partir de suas experiências formativas

institucionais, nesse momento, promovidas pelas FNG, de modo a compreender como

são organizadas e iniciar discussões acerca das mediações e das vivências3. Isso

pois defendemos a tese de que as estratégias pedagógicas, mesmo aquelas

parte de oportunidades de aprendizagem institucionais, podem ser voltadas às

relações sociais e terem ênfase no desenvolvimento de vivências por parte

dos(as) aprendizes(as) (SMIDT, 2009; VYGOTSKY, 2009; OLIVEIRA, 2016;

POTRAC; NELSON; GREENOUGH, 2016).

Desse modo, o objetivo geral dessa pesquisa foi analisar os programas

oferecidos por Federações Nacionais de Ginástica para formação de

treinadores(as) de GPT, tendo como foco as estratégias pedagógicas realizadas.

Para tanto, dois objetivos específicos foram buscados: mapear, descrever e analisar

os programas federativos de formação de treinadores(as) de GPT e analisar as

estratégias pedagógicas adotadas por esses programas, à luz da teoria

histórico-cultural. Para tanto, contamos com a participação de 44 FNG na primeira

fase desse estudo e seis dessas instituições na segunda fase, representadas por

seus(suas) gestores(as).

1.1 Localizando a pesquisa: ontologia, epistemologia e paradigma de pesquisa

Com base na introdução apresentada, consideramos importante localizar

essa pesquisa e a pesquisadora, no que se refere a sua ontologia, epistemologia e

paradigma adotados. Escrever sobre as posições ontológica e epistemológica que se

fazem em uma pesquisa é essencial para que estejamos sempre atentos(as) ao “tipo

de óculos” que escolhemos usar, que afeta o modo como entendemos o mundo e,

logo, os dados da pesquisa (MALLETT; TINNING, 2014).

Pesquisadores(as) terão diferentes tradições de pesquisa em seus

trabalhos, que representam paradigmas, quadros filosóficos ou teóricos de pensar e

3 O conceito de vivência será melhor aprofundado no Capítulo 3.

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fazer pesquisa. Os paradigmas orientam e representam modos particulares de

pesquisar e estão baseados em certas assunções sobre a natureza e a realidade, ou

seja, possuem diferentes origens ontológicas (MALLETT; TINNING, 2014). Esses

paradigmas refletem os valores e disposições com relação ao mundo social adotados

pelos(as) pesquisadores(as) e por isso são importantes de serem conhecidos pois

terão implicações nas decisões metodológicas das pesquisas (MALLETT; TINNING,

2014). Embora existam críticas sobre as classificações dos paradigmas de pesquisa

largamente conhecidos (ALMEIDA; VAZ, 2010; ALMEIDA; BRACHT; VAZ, 2012),

esses são tradicionalmente classificados como positivista, interpretativista e crítico.

A posição ontológica está relacionada à natureza da realidade, ou seja, o

modo como entendemos o que conhecemos. Ontologia diz respeito à questão do ser,

à compreensão de como as coisas são, e define como percebemos o mundo e os

fenômenos físicos ou sociais que estão sendo investigados (SACCOL, 2009). De

forma a relacionar essa perspectiva ao contexto dessa pesquisa, afirmo que, como

apontado anteriormente, minhas vivências desde a infância vêm influenciando o

problema de pesquisa dessa tese e seu desenvolvimento e me conduzem a

compreender que “o mundo real” depende da maneira como o enxergamos e os

valores que são intrínsecos a nós. Ao pensar em como a formação de treinadores(as)

de GPT poderia ser potencializada no Brasil, com base na minha própria experiência

de vida e na observação daqueles(as) que considero referências na docência dessa

prática, é bastante claro para mim que os episódios que vivemos e as trocas que se

fazem entre as pessoas, não apenas em momentos relacionados ao Esporte e/ou às

práticas corporais, à cultura e à Ginástica, mas também em outras áreas, nos

influenciam como treinadores(as).

Sendo assim, pensar a formação de treinadores(as) reforça a ideia de que essa

não se caracteriza como momentos únicos, nem muito menos trilhas percorridas

individualmente, mas deve ser pensada de forma a proporcionar diferentes

possibilidades de aprendizagem, com os(as) mais diversos(as) mediadores(as)

possíveis. Esse mesmo pensamento baseou a ideia geral dessa pesquisa, de que

pensar um processo de formação de treinadores(as) apenas com as perspectivas de

um grupo de pesquisadores(as) da área da Ginástica não poderia ser suficientemente

interessante: dessa maneira, o primeiro passo pensado foi entender, partindo do

macro cenário, como ocorre a formação de treinadores(as) internacionalmente,

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contando com os conhecimentos já acumulados de FNG e da própria FIG. É claro, o

modo como cada FNG e a FIG entendem esse processo formativo depende de como

a realidade é entendida por esses órgãos e pelas pessoas que o compõe. Os dados

obtidos por essa pesquisa, portanto, não devem ser compreendidos como verdades

únicas e nem utilizados para serem “copiados” no Brasil, mas considerados como

reflexões para aspectos que até o momento não haviam sido considerados por nós.

Dessa forma, enquadramos essa posição ontológica como relativista,

considerando que não há realidade independente de percepção. Em outras palavras,

a realidade é considerada como sendo localmente e socialmente delimitada a partir

da interação da pessoa com o meio. Ou seja, a realidade resulta de uma construção

social, não apenas algo totalmente externo e objetivo, nem apenas fruto da percepção

individual, mas percebida a partir da relação entre o que é externo e o que é interno

ao(à) pesquisador(a) (SACCOL, 2009).

A ontologia direciona as pressuposições epistemológicas, ou seja, as

questões relacionadas à natureza do conhecimento e como uma pessoa entende e

adquire conhecimento do e sobre o mundo (SPARKES, 1992). Considerando a

ontologia relativista, adotamos a epistemologia subjetivista, a qual apoia-se na crença

filosófica que o conhecimento é construído socialmente e que a realidade social só é

acessível através da tomada de significado das interações e declarações das pessoas

(DENZIN; LINCOLN, 2000), ou seja, um produto de como pessoas, individual e

coletivamente, fazem sentido ou interpretam o mundo social em que vivem.

Finalmente, tendo portanto, a base ontológica relativista e epistemológica

subjetivista, consideramos que o paradigma dessa pesquisa é interpretativista

(POTRAC; JONES; NELSON, 2014). Os(as) pesquisadores(as) que se baseiam

nesse paradigma esforçam-se para tentar tornar explícitos os entendimentos do

significado humano na construção de nosso mundo social (pessoas, culturas, práticas

sociais e instituições sociais) dinâmico (MALLETT; TINNING, 2014), ou seja,

fundamentam-se na premissa de que o mundo social é complexo e que as pessoas,

incluindo pesquisadores(as) e participantes das pesquisas, definem significados

dentro de suas perspectivas sociais, políticas e culturais (POTRAC; JONES;

NELSON, 2014), suas “subjetividades, interesses, emoções e valores” individuais

(SPARKES, 1992, p. 25).

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Para essa perspectiva, a realidade social é um fenômeno mutável e

instável, capaz de ter seu sentido transformado com base nas experiências (POTRAC;

JONES; NELSON, 2014; SPARKES, 1992). Dessa forma, os sentidos atribuídos pelas

pessoas a um episódio são abertos à revisão, podem ser revisitados e reinterpretados,

algumas vezes de modo contraditório.

Essa última perspectiva, em especial, tem grande relação com as

mudanças a que o projeto de pesquisa foi submetido ao longo do seu

desenvolvimento, em especial e como já citado, a partir do intercâmbio na Cardiff

Metropolitan University. Assim, como destacam Guba e Lincoln (1994; DENZIN;

LINCOLN, 2005; MARKULA; SILK, 2011 apud POTRAC; JONES; NELSON, 2014, p.

34):

Sobre esse ponto, Manning (1997:96) destaca que a pesquisa é ‘interativa ao passo que as questões, observações e comentários do pesquisador moldam as ações dos respondentes’ assim como as respostas dos participantes influenciam a análise e as interpretações do pesquisador. Consequentemente, o relatório final de pesquisa, o artigo, a tese, são produtos não apenas das relações e interações do pesquisador com os participantes, mas também das capacidades analíticas e escolhas da equipe de pesquisa e seus entendimentos, suas concordâncias e teorias que a guiam.

1.2 Organização da tese

Dessa forma, esta tese está organizada de forma a apresentar,

inicialmente, o Método adotado, descrevendo o desenho, procedimentos,

participantes, instrumentos e análise dos dados das duas etapas do estudo, bem

como os aspectos éticos e protocolares. Nossa opção por iniciar o estudo pelo Método

deve-se ao fato da influência desse caminhar metodológico para toda a escolha e

organização da tese. Em seguida, o Capítulo 1, denominado “Vygotsky e a formação

de treinadores(as)”, contextualiza e apresenta os aspectos da teoria histórico-

cultural que serão abordados na tese e os relaciona com a literatura acadêmica da

área citada. O Capítulo 2, “A literatura sobre a formação de treinadores(as) à luz

da teoria histórico-cultural”, analisa e discute as teorias de aprendizagem (SFARD,

1998; MOON, 1999; 2004) e a classificação de oportunidades de aprendizagem

(NELSON; CUSHION; POTRAC, 2006) mais utilizadas atualmente nas discussões

sobre a formação de treinadores(as), sob a ótica da teoria histórico-cultural. O

Capítulo 3, chamado de “Estratégias pedagógicas: uma busca pela inovação nas

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formas de mediação”, tem como objetivo dissertar sobre a posição de educação

adotada na tese e apresentar possibilidades de estratégias pedagógicas que se

aproximem dos pressupostos da teoria histórico-cultural, bem como estudos que se

utilizaram das mesmas. O Capítulo 4, “Ginástica para Todos: diferentes

concepções”, apresenta dados obtidos pela pesquisa de campo e discute essa

prática ginástica, apresentando aspectos que informam os programas de formação de

treinadores(as). Em seguida, é desenvolvido o capítulo de Resultados, propriamente

ditos, que apresenta e analisa os dados obtidos nas duas etapas de campo da

pesquisa e, por fim, o capítulo de Considerações Finais.

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2 MÉTODO

Essa pesquisa se baseia em uma abordagem qualitativa, que tem o papel

de descrever, explicar e interpretar fenômenos, explicitando seu processo de

desenvolvimento em contextos reais. Nessa linha, este estudo fundamenta-se na

pesquisa qualitativa aplicada do tipo exploratória e descritiva (LAKATOS; MARCONI,

2003; TRIVIÑOS, 1987).

Segundo Triviños (1987), as principais características da pesquisa

qualitativa são: ter o ambiente natural como fonte direta dos dados e o(a)

pesquisador(a) como instrumento-chave; o surgimento dos resultados provém da

interpretação de um fenômeno em seu contexto e de sua descrição; ter preocupação

com o processo e não simplesmente com o produto; ter como essência conhecer os

significados que um grupo de pessoas atribui a um fenômeno.

Neste estudo, a fim de responder aos objetivos anunciados na Introdução,

seguimos a orientação de que o(a) pesquisador(a) não deve estabelecer um conjunto

pré-estabelecido de procedimentos previamente à realização da pesquisa, mas

escolher caminhos metodológicos baseados em seus resultados, suas análises e

propósitos (POTRAC; JONES; NELSON, 2014). Assim, com base nas necessidades

da pesquisa, optamos pela utilização de metodologias de pesquisa diferentes das que

comumente se observa em pesquisas baseadas no paradigma interpretativista. Ao

passo que este estudo tem como interesse mapear os programas de formação de

treinadores(as) de GPT nas federações do mundo, conhecê-los e, assim, gerar

conhecimento como precursor de ações práticas (JONES; WALLACE, 2005),

utilizamo-nos de questionários com prioritariamente, questões fechadas, em um

primeiro momento, e abertas, em um segundo momento.

Nos pautamos em Denzin e Lincoln (2000) ao afirmarem que apesar de

grande parte dos projetos interpretativistas adotarem métodos qualitativos, não há um

“padrão ouro” que suporte a existência das pesquisas qualitativas. Saccol (2009)

acrescenta que uma vez que os paradigmas de pesquisa são visões de mundo e não

métodos de pesquisa, um(a) pesquisador(a) poderá empregar, eventualmente,

métodos e técnicas de pesquisa quantitativos como auxiliares ou complementares a

um estudo qualitativo mais amplo.

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Ressaltamos a questão de que esse tipo de pesquisa tem natureza

emocional. Isto é, a pesquisa interpretativa é uma atividade intelectual e emocional,

na qual as pessoas que a realizam sentem uma gama de emoções enquanto

trabalham (alegria, confusão, ansiedade, orgulho, frustração) e precisam muitas vezes

tomar decisões sobre quais sentimentos mostrarão ou suprimirão na escrita de seu

texto (POTRAC; JONES; NELSON, 2014). Assim, é facilmente compreensível que

propósitos, escolhas e opiniões alterem-se durante seu desenvolvimento, ou mesmo

que em certos momentos a criticidade do(a) pesquisador(a) seja fortemente

influenciada por questões vividas, discutidas com os pares e fruto de reflexão. Como

afirma Franchi (2014, p. 17): “a neutralidade do investigador é impossível, já que cabe

a ele descrever, explicar e interpretar os fenômenos que estuda, numa constante

“troca” (dialogia) com o sujeito de sua pesquisa”.

2.1 Pesquisa de campo: desenho, procedimentos, instrumentos e análise dos

dados

Considerando a ideia geral de pesquisa e destacando os momentos que

serão contemplados, optamos por segmentá-la em etapas, a fim de facilitar a leitura

do estudo. O desenho da pesquisa pode ser observado na Figura 1.

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Figura 1 – Esquema das etapas da pesquisa.

Ambas as etapas dessa pesquisa foram realizadas de forma online, com a

utilização da Internet. Flick (2009) considera que, com o avanço da revolução digital e

tecnológica do século XXI, a pesquisa qualitativa também passou a incorporar as

novas ferramentas de pesquisa. De fato, sem que houvesse essa possibilidade,

pesquisas com a escolha amostral semelhante à desse estudo não poderiam ser

realizadas dentro dos prazos estipulados para um programa de Doutorado, fator esse

que foi essencial para a escolha desse tipo de abordagem. Além desse ponto positivo,

algumas limitações podem ser consideradas, como a possível impessoalidade do

processo de pesquisa, a volatilidade de informações provenientes de sites que

desaparecem ou se modificam e a dificuldade de alguns(algumas) possíveis

participantes de acessar a Internet ou determinados softwares, inviabilizando a

aderência à pesquisa. Destacamos, assim, que a não participação de algumas FNG

na pesquisa pode ter ocorrido por encaminhamento automático do e-mail de convite

para caixa de lixo eletrônico dos e-mails ou spam, por exemplo.

Assim, faremos a descrição dos procedimentos, instrumentos de pesquisa

e análise dos dados de forma dividida, embora alguns assuntos sejam contemplados

em mais de uma etapa.

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30

2.2 Etapa A: mapeamento, descrição e análise dos programas de formação de

treinadores(as) de GPT

Frente à proposta apresentada de desenho do estudo, consideramos essencial

que seja conhecido o universo de programas de formação de treinadores(as) de GPT

que acontece atualmente em diferentes localidades. Como afirmado por Franchi

(2014, p. 18):

um exemplo básico de incoerência entre as peças-chave de uma investigação que se considera qualitativa é uma parca descrição do contexto em que o evento pesquisado ocorre, bem como dos sujeitos nele envolvidos. Não se pode ter uma visão do todo do fenômeno se esse não é cuidadosa e detalhadamente descrito, de maneira a especificar as condições em que o evento ocorreu.

Assim, optamos por um estudo abrangente, de coleta completa (FLICK,

2009), que pudesse oferecer um quadro do atual oferecimento de programas de

formação de treinadores(as) de GPT nos diferentes países. Dessa forma, a grande

potencialidade do estudo está em apresentar dados inéditos cientificamente,

envolvendo um contexto mundial e, inclusive, para as próprias FNG e FIG, o que nos

permite iniciar uma discussão que pode trazer benefícios para as discussões sobre a

formação de treinadores(as), dessa prática específica e de diferentes modalidades

ginásticas.

➢ Participantes

Foi convidado a participar desta etapa todo o universo composto pelas FNG

afiliadas à FIG. Por ser este um dado flutuante, em razão do descredenciamento, novo

credenciamento e inativação de inscrições de FNG na FIG por motivos diversos, foi

necessário estabelecer uma data para o estabelecimento dos participantes da

pesquisa. Na data em questão, no dia 18 de janeiro de 2016, foram apontadas 138

FNG. Realizamos tal contato por endereço eletrônico, e-mail, por essa ser uma via de

acesso fácil a todos os países do mundo e permitir a transmissão de informações em

diferentes idiomas. Além disso, o mesmo é disponibilizado no site oficial da FIG.

O diretório das FNG era, à época dessa etapa da pesquisa, apresentado

no site oficial da FIG com um pequeno perfil de cada instituição, incluindo endereço,

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nome dos(as) presidente(a) e secretário(a) geral, telefone de contato, e-mail e site

oficial, caso houvesse. Um exemplo pode ser verificado na Figura 2.

Figura 2 – Exemplo dos dados das FNG no Diretório da FIG. Fonte: FIG (2016)

Nos casos em que este endereço de e-mail se apresentou inválido,

constatado pelo retorno automático da mensagem de convite, e mesmo pela ausência

de respostas aos convites enviados, outras possibilidades de contato foram buscadas.

Inicialmente, houve a tentativa de comunicação a partir de páginas oficiais das FNG

na rede social Facebook. Para os contatos que não obtiveram resposta, realizamos a

requisição de e-mails às Uniões Continentais e, ainda, à pesquisadores(as) ou

gestores(as) parceiros(as) do GPG, possibilidade essa que foi a mais eficaz na

obtenção de respostas. Assim, pudemos contatar 131 das 138 FNG e foi realizado um

primeiro convite de participação.

Os convites de participação foram encaminhados, especialmente, aos(às)

gestores(as) relacionados aos programas de formação das FNG, aos Comitês de

GPT, seguidos de secretários(as) gerais e presidentes(as), nessa ordem de

preferência, embora tenham sido aceitas outras respostas. Uma cópia do convite de

participação pode ser observada no Apêndice A.

Este contato constituiu-se de um convite formal para participação na

pesquisa, nos idiomas Inglês, Francês, Espanhol e Português, seguidos de links para

o instrumento de pesquisa nos mesmos idiomas. Esses arquivos foram traduzidos por

uma empresa profissional. Como forma de estabelecer um contato direto e

proporcionar aos(às) convidados(as) diferentes possibilidades de esclarecimento de

dúvidas ou comentários, foram disponibilizados nossos diferentes endereços

eletrônicos, contatos de redes sociais (Whatsapp e Facebook) e endereço da

plataforma científica ResearchGate.

Os convites foram enviados, em média, três vezes para cada FNG, entre

os meses de setembro de 2016 e janeiro de 2017. O envio ocorreu pelo e-mail pessoal

da pesquisadora e também por um endereço de e-mail criado para essa pesquisa,

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hospedado no provedor da FEF-Unicamp, em uma tentativa de atingir o maior número

de pessoas. Esse endereço criado foi [email protected].

Após período de tempo considerado por nós como suficiente para as

respostas, que se estendeu de 07 de setembro de 2016, data do primeiro contato com

as FNG, até 08 de Março de 2017, houve 44 respostas positivas à participação na

pesquisa. Esse número consiste em 32% da amostra inicial da pesquisa (131 FNG) e

mais duas FNG que participaram por indicação das Uniões Continentais, ou seja, que

não estavam na lista disponibilizada pela FIG. Apesar de serem, portanto, externas à

amostra inicialmente pensada para a pesquisa, consideramos importante a análise

dos dados de tais FNG, uma vez que optamos pela coleta completa (FLICK, 2009),

que caracteriza-se por uma escolha dos participantes de forma a que todos possam

ser integrados no estudo. Logo, o único critério de inclusão na pesquisa foi a instituição

ser uma FNG representante de um país ou nação ou grupo administrativo. Alguns

exemplos são: Ilhas Canárias, administrada oficialmente pela Espanha, mas que

possui FNG própria; Aruba, que é parte oficial da Holanda; Ilhas Cayman, parte do

Reino Unido; e Kosovo, que não é uma região administrativa mundialmente

reconhecida, assim como a Palestina, mas que possuem FNG próprias. A FNG

britânica (British Gymnastics), por sua vez, representa mais de um país (Inglaterra,

País de Gales e Escócia).

A relação das FNG participantes e a distribuição dessas por continente

pode ser observada no Quadro 1.

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Quadro 1 – Participação das FNG na Etapa A, organizadas por continente.

Continente

Número de FNG

participantes/número total de FNG por continente

Relação das FNG participantes

Porcentagem da

participação por

continente (%)

Porcentagem de cada

continente no total de

participações (%)

África 8/20 África do Sul, Algeria, Benin, Cabo

Verde, Líbia, Maurício, Moçambique e Namíbia.

40 18,1

América 10/27

Argentina, Aruba1, Barbados, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Ilhas Cayman, Paraguai, Trindade e

Tobago e Venezuela.

37 22

Ásia 6/37 Bangladesh, Catar, Cingapura, Hong

Kong, República da Coreia e Mongólia.

16,2 13,6

Europa 19/52

Alemanha, Andorra, Áustria, Azerbaijão, Dinamarca, Eslováquia,

Estônia, Finlândia, Grã-Canária1, Grã-Bretanha, Irlanda, Islândia,

Itália, Kosovo, Luxemburgo, Mônaco, Noruega, Portugal e

Suécia.

36,5 43,1

Oceania 1/2 Austrália 50 2,2

Legenda: 1- Países incluídos por indicação das uniões continentais de Ginástica.

O continente com maior número de respostas na pesquisa foi a Europa,

com quase metade das respostas obtidas, embora a maior representação seja dos

continentes africano e americano, que tiveram 40% e 37% de suas FNG respondendo

ao questionário. A Oceania, que possuía apenas duas FNG afiliadas à FIG no

momento dessa etapa da pesquisa e um número maior de países, não pode ser

considerada uma representação do continente. Atribuímos a pequena participação

dos países asiáticos à falta de retorno da União Asiática de Ginástica ao nosso pedido

de auxílio de divulgação para o desenvolvimento da pesquisa e possivelmente às

dificuldades de comunicação com os idiomas nativos.

Das 131 FNG contatadas, 52 são provenientes da Europa, 37 da Ásia, 27 da

América, 20 da África e duas da Oceania. Essa distribuição demonstra o nível de

organização das FNG em cada continente: a alta incidência de órgãos europeus

reflete que neste continente estão as FNG mais consolidadas e com administrações

mais eficientes, que podem ser consideradas mais profissionais, por terem maior

número de pessoas empregadas e estas serem, muitas vezes, especializadas, e logo

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mais cargos e departamentos, segmentando as demandas e ações realizadas

(SOARES; BORTOLETO; SCHIAVON, 2016). Uma relação que pode ser feita para

fins ilustrativos é a comparação do número de países de cada continente com o

número de FNG afiliadas à FIG (Tabela 1).

TABELA 1 - Representação dos continentes a partir das FNG.

Continente Número de países1 Número de FNG afiliadas à FIG2

Porcentagem de países representados na FIG2 (%)

África 52 20 38, 4 América 35 27 77,1

Ásia 48 37 77 Europa 42 52 Ultrapassa 100 Oceania 14 2 14,2

Legenda: 1- Fonte: IBGE (2018). 2- Fonte: FIG (2016).

A mesma discussão é observada ao analisarmos os respondentes da

pesquisa. A fim de localizar as respostas obtidas, requisitamos as informações de

posição no quadro gestor da FNG e tempo de ocupação desse cargo a todos(as)

os(as) respondentes. O instrumento de pesquisa foi respondido por 11 participantes

ligados(as) aos Comitês de GPT, entre eles(as) presidentes(as), membros ou

responsáveis diretos pela prática; sete presidentes(as) e vice-presidentes(as) das

FNG; 20 membros administrativos, entre oito secretários(as) gerais, sete membros de

conselho administrativo, três diretores(as) técnicos(as) nacionais e dois(duas)

encarregados(as); três gerentes de Participação e três gerentes de Educação.

Podemos perceber que a diferença na organização gestora das FNG é

muito grande: ao mesmo tempo que em alguns casos presidentes(as) têm acesso ao

e-mail oficial da FNG, por essa ser gerida por poucas pessoas e muitas vezes

voluntárias, outras FNG possuem diferentes cargos, mais específicos para cada

função e que, portanto, demonstram que outros projetos são desenvolvidos e que

maior atenção é dada a eles. Foram observados casos distintos, como por exemplo,

da FNG de Ilhas Cayman, que é gerenciada por três voluntários, até a existência de

categorias como gerente de Participação e gerente de Educação, que indicam

posturas com relação ao desenvolvimento da GPT e a formação de treinadores(as),

nos casos das FNG da Finlândia, do Canadá e de Portugal. Essa análise justifica a

realização dessa pesquisa, ao passo que entendemos que fazer refletir sobre a

formação de treinadores(as) pode auxiliar no desenvolvimento de programas dessa

finalidade.

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Por fim, outro aspecto consultado sobre os respondentes foi o tempo de

ocupação nos cargos, que variou entre menos de um ano (6,8% dos respondentes),

um a cinco anos (45,4%), entre cinco a dez anos (18,1%) e mais de dez anos (29,5%).

A mesma relação entre o tempo de existência das FNG pode ser feita sobre o nível

de organização da Ginástica nos diferentes lugares. Já a manutenção de pessoas nos

cargos administrativos não pode receber análise semelhante: sabemos que existem

casos em que a permanência longa de gestores(as) em presidências de FNG não

justifica trabalho organizado e progressista. Assim, essa informação foi utilizada como

apoio na análise das respostas, embora não tenha exercido muita influência na

pesquisa.

➢ Instrumento de pesquisa

O instrumento de pesquisa dessa etapa consistiu-se em um questionário

padronizado, com questões abertas e fechadas. Quando da formulação do

questionário em questão, optamos pela não realização de um estudo piloto, uma vez

que as respostas das FNG seriam de difícil obtenção. Assim, optamos pela validação

do questionário a partir da análise de um grupo de seis pesquisadores(as)

Professores(as) Doutores(as) e docentes do Ensino Superior, especialistas em

formação de treinadores(as), Ginástica, GPT e Pedagogia do Esporte. As sugestões

dos(as) especialistas foram avaliadas e consideradas na construção final do

instrumento de pesquisa.

As questões do instrumento foram construídas com base na literatura científica

das áreas de formação de treinadores(as) e Ginástica, de forma a mapear a existência

e a organização de programas oferecidos para a formação de treinadores(as) de GPT

pelas FNG. No entanto, fez-se necessário que outros assuntos também fossem

abrangidos por nós, a fim de que o tema fosse melhor compreendido.

Inicialmente e como já citado, dados como a identificação do(a) respondente,

seu cargo e o tempo de permanência no quadro gestor da FNG foram requisitados de

modo a compreender o “lugar” de onde os dados partiram. Da mesma forma, uma

questão sobre a estrutura organizacional da FNG, a existência de Comitês específicos

para cada disciplina ginástica, foi requisitada para que houvesse uma maior

compreensão do nível de organização da FNG.

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Outro tema abordado no questionário foi a relação da FNG com o programa

FIG Academy, oferecido pela FIG. Essa pergunta tinha como objetivo identificar a

posição em que se coloca cada FNG na responsabilidade de oferecer programas de

formação de treinadores(as) e qual a importância atribuída ao FIG Academy, o que

nos proporcionou dados complementares.

Em acréscimo, questionamos a política de regulamentação da profissão de

treinadores(as) de Ginástica do país/nação/localidade, uma vez que essa rege e

embasa o oferecimento dos programas pelas FNG e atribui maior ou menor dedicação

ao assunto. Em seguida, questões específicas sobre os programas de formação de

treinadores(as) de Ginástica foram realizadas e, caso houvesse o oferecimento para

GPT, outras mais particulares foram feitas.

Por fim, outra questão foi a concepção de GPT adotada pela FNG, uma vez

que essa direciona (ou deveria direcionar) as políticas de formação e aponta questões

importantes sobre a prática. Uma cópia do questionário pode ser observada no

Apêndice B.

A distribuição por temática das questões do questionário dessa etapa pode ser

observada no Quadro 2, bem como sua ordem de apresentação.

Quadro 2 – Distribuição temática abordadas no questionário da etapa A.

Temática Questões

Identificação do(a) respondente e organização da FNG 1 a 3 e 6 Importância atribuída ao programa FIG Academy 5 Regulamentação da profissão de treinadores(as) de Ginástica 7 a 8 Concepção de GPT adotada pela FNG 4 Oferecimento de programas de formação de treinadores 9

Em caso afirmativo da questão 9: Estratégias pedagógicas A Histórico do programa B a C Financiamento D Seleção de participantes E Níveis de progressão F Objetivos G Conteúdos H a I e L Frequência J Mediadores responsáveis K Avaliação M

O questionário foi disponibilizado nos mesmos quatro idiomas do contato

inicial realizado, igualmente traduzido por empresa especializada, de forma a torná-lo

o mais inteligível para cada respondente. Os questionários em Espanhol e Francês

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foram respondidos cinco vezes cada, em Português, quatro vezes, e em Inglês, 30

vezes. Mais uma vez retomamos que a ausência de um idioma asiático pode ser um

dos motivos da baixa participação de países desse continente. Entretanto,

entendemos que para que uma FNG esteja associada à FIG e participe de eventos

continentais e nacionais, é essencial que ao menos um(a) gestor(a) seja fluente em

Inglês ou Francês, idiomas oficiais da FIG, de forma a estabelecer comunicação.

Esses idiomas foram contemplados.

O instrumento de pesquisa foi disponibilizado às FNG de duas formas:

hospedado na plataforma Google Forms®, preferencialmente, e também em arquivo

Word®, para as FNG que o solicitaram. Os questionários online têm crescido em

pesquisas do mundo todo (EVANS; MATHUR; 2005; STOSZKOWSKI; COLLINS,

2016) e funcionam a partir de um link (URL) que é gerado automaticamente pela

plataforma Google Forms® e que permite o acesso de todas as pessoas que o

possuem (STOSZKOWSKI; COLLINS, 2016).

Assim como explicitado anteriormente, vantagens e desvantagens da

utilização de um instrumento online foram verificadas. Evans e Mathur (2005)

destacam aspectos que podem ser considerados e que vivenciamos na pesquisa.

Especialmente sobre os questionários, destacamos como vantagens a oportunidade

de participação de pessoas de diferentes localidades com a conveniência de horários

e locais para participação da pesquisa. Uma vez que a variação de fusos horários é

muito grande, a comunicação não simultânea de respostas foi um aspecto importante

a ser considerado. A velocidade de contato com os participantes também foi ponto

decisivo para a utilização do instrumento, pois assim evitamos a demora e os custos

de um possível contato por Correio, o que ressalta o custo baixo de administração

desse método. Por último, o fato de ser obrigatório responder as questões assinaladas

permitiu que todos os questionários respondidos fossem válidos.

Como desvantagens, a variação da tecnologia dominada e disponível em

diferentes países foi um dos aspectos negativos da utilização de questionários online,

também apontados por Evans e Mathur (2005), constatado em dois contatos. Os

participantes convidados da China e do Afeganistão requisitaram o instrumento de

pesquisa em formato Word®, pois seus países não permitem a utilização de

plataformas Google®. No entanto, após o envio, não obtivemos mais respostas

dessas localidades.

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Destacamos, em acréscimo, que alguns desses fizeram complementações

a suas respostas por e-mail, trazendo outros dados à pesquisa, de forma espontânea.

Como será apresentado mais detalhadamente na seção de Resultados

dessa tese, os questionários foram respondidos por 44 FNG, e, dentre essas, 36

afirmaram oferecer programas de formação de treinadores(as) de Ginástica.

Especificamente para a GPT, 30 FNG oferecem tais programas.

➢ Análise dos dados

Os dados dessa etapa de pesquisa foram analisados por meio de

estatística simples descritiva, de modo geral, e por análise de conteúdo,

especificamente a questão sobre a concepção de GPT de cada FNG.

A análise estatística simples descritiva permitiu uma análise exploratória

dos dados, aqui utilizada para dar forma numérica às características qualitativas

(LAKATOS; MARCONI, 2003).

A análise de conteúdo, segundo Laville e Dionne (1999, p. 24), “consiste

em desmontar a estrutura e os elementos deste conteúdo para esclarecer suas

diferentes características e extrair sua significação”. Para Benites e colaboradores

(2016), a finalidade desta forma de análise é, portanto, alcançar uma significação

profunda para a mensagem escrita, através de um conjunto de técnicas para

descrever e interpretar o conteúdo ou mesmo para descobrir sua mensagem implícita.

As etapas da análise de conteúdo optadas por esse estudo são:

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Quadro 3 – Etapas da análise de conteúdo.

Etapa Descrição

Recorte dos conteúdos

Etapa em que os conteúdos da pesquisa são agrupados em elementos, que serão posteriormente ordenados em categorias. Esses elementos são chamados de unidades de análise. Os recortes serão realizados com base em temas.

Definição das categorias analíticas

São criadas categorias analíticas, com base em um modelo misto.

Assim, a etapa inicia-se com o agrupamento das unidades de análise em categorias estabelecidas a priori, de forma rudimentar; em seguida, realizam-se revisões críticas dos elementos não classificados, podendo haver a criação, ampliação ou subdivisão de categorias existentes.

Categorização final das unidades de análise

Conferência final da etapa anterior.

Análise e interpretação

Análise qualitativa do conteúdo, baseada na estratégia de construção iterativa de uma explicação, isto é, elaboração de uma explicação lógica do fenômeno estudado, com exame das unidades de análise, as inter-relações e as categorias em que se encontram.

Fonte: Adaptado de Laville e Dionne (1999)

As categorias de análise dessa etapa da pesquisa foram construídas a partir de

Modelo Misto (LAVILLE; DIONNE, 1999). Isso significa que antes do início da análise

do conteúdo são estabelecidas categorias com base no conhecimento anterior da

pesquisadora sobre o tema, de forma dedutiva, para colocar à prova sua hipótese

inicial. Ao mesmo tempo, por considerar ser possível que os dados da pesquisa

tragam novas hipóteses ao estudo, outras categorias podem ser criadas ao longo do

processo, em uma perspectiva indutiva.

➢ Apresentação dos dados: a devolutiva para os participantes

Os dados dessa etapa de pesquisa constituirão um relatório a ser oferecido

às FNG. Essa foi uma promessa realizada no momento do convite feito às FNG e,

para nós, representa um momento muito importante da pesquisa, que é o retorno à

comunidade participante, com discussões sobre os dados obtidos. Com esse relatório,

esperamos mostrar às FNG as iniciativas que ocorrem e assim inspirá-las na

organização de seus programas de formação de treinadores(as). Além disso, a

divulgação de suas iniciativas poderá ser um incentivo para que continuem

desenvolvendo programas e sirvam como uma “propaganda” de seus trabalhos.

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Além do mais, com esse novo contato, buscamos prolongar as discussões

sobre os programas de formação de treinadores(as) de GPT, ideia que iremos

desenvolver nas Considerações Finais do estudo.

2.3 Etapa B: análise das estratégias pedagógicas

Como já citado anteriormente, o projeto de pesquisa qualitativa se faz ao

longo do desenvolvimento da pesquisa. Novos aspectos são destacados e despertam

o interesse dos(as) pesquisadores(as) em comparação a outros, a partir da análise

dos dados, das novas relações que se estabelecem e das teorias que se descobre ou

redescobre durante os estudos. No desenrolar dessa pesquisa, essa mesma mudança

aconteceu, quando, durante o período do intercâmbio, tive novamente o contato com

a teoria histórico-cultural e repensei os aspectos que considero como prioridades em

programas de formação de treinadores(as). As reflexões suscitadas no exame de

qualificação desse trabalho também destacaram incoerências do projeto inicial e a

necessidade de desenvolvimento teórico de determinados assuntos.

Esse processo nos levou a analisar os dados com outro olhar,

especialmente com uma maior atenção aos três aspectos que consideramos mais

relevantes da teoria histórico-cultural, que serão detalhados no capítulo a seguir: a)

os processos de aprendizagem, que ocorrem a partir da interação entre a base

biológica humana e o meio; b) o desenvolvimento potencial, ou seja, os problemas

que podem ser resolvidos com o auxílio de pessoas mais experientes; c) a sugestão

de que as estratégias pedagógicas devem ser suficientemente efetivas para que

constituam vivências (perijivânie), processos de significação e atribuição de sentido

ao que é vivido pela pessoa. Essas considerações nos levaram a teorizar que as

estratégias pedagógicas que incentivam a socialização podem ser mais efetivas do

que as expositivas e podem constituir importante assunto a ser discutido sobre a

formação de treinadores(as).

Assim, analisando a questão da etapa A da pesquisa que obteve respostas

sobre os tipos de estratégias pedagógicas que são desenvolvidas pelas FNG, nos

surgiu a curiosidade e a necessidade de entender de que forma essas estratégias

pedagógicas acontecem e qual a perspectiva adotada pelos(as) gestores(as) em seus

desenvolvimentos. Em acréscimo, também foi nossa vontade entender de que forma

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tais estratégias eram entendidas pelos(as) treinadores(as) e o quanto essas os(as)

influenciavam, a partir de suas próprias interpretações.

➢ Participantes

A segunda etapa dessa pesquisa consistiu em um novo contato com as 30

FNG que afirmaram anteriormente oferecer programas de formação de

treinadores(as) de GPT. Obtivemos respostas de seis FNG, as quais participaram com

relação às estratégias pedagógicas assinaladas na Etapa A, a saber:

Quadro 4 – Participação das FNG na Etapa B e suas estratégias pedagógicas.

Relação das FNG participantes Estratégia(s) pedagógica(s)

Canadá Cursos regulares, Plataforma online, Mentoria e Fórum/Encontro de treinadores(as)

Dinamarca Cursos regulares e Educação à distância Eslováquia Cursos regulares e Palestras e workshops

Grã-Bretanha Cursos regulares, Palestras e workshops e Plataforma online

Itália Cursos regulares, Palestras e workshops e Plataforma online

Portugal Cursos regulares, Palestras e workshops, Plataforma online, Mentoria, Fórum/Encontro de treinadores(as), Educação à distância e Incentivo à produção científica

O Apêndice C apresenta uma cópia do convite de participação para essa

etapa da pesquisa.

➢ Instrumento de pesquisa

Para esta etapa da pesquisa, utilizamo-nos de um questionário com

questões abertas, de forma a obter respostas mais detalhadas e significativas.

Optamos por desenvolver uma única questão geradora, com a abordagem de quatro

diferentes assuntos: a organização e o funcionamento da estratégia pedagógica, as

impressões dos(as) respondentes sobre as relações entre os(as) treinadores(as)-

aprendizes(as), as relações entre treinadores(as)-aprendizes(as) e mediadores(as)

responsáveis e aspectos relevantes da estratégia pedagógica. Segundo Laville e

Dionne (1999), o questionário com questões abertas deve ser estruturado e ao mesmo

tempo propor um espaço para que o(a) respondente exponha suas opiniões,

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exprimindo pensamentos pessoais, conforme seu sistema próprio de referências.

Assim, “tal instrumento mostra-se particularmente precioso quando o leque de

respostas possíveis é amplo ou então imprevisível, mal conhecido” (LAVILLE;

DIONNE, 1999, p. 186).

Após o envio dos convites, recebemos algumas devolutivas que

consideraram que a questão era muito aberta e, portanto, de difícil resposta. Assim,

detalhamos as temáticas que gostaríamos de obter sobre cada assunto, escrevendo

breves explicações entre parênteses após a questão. Em seguida, reencaminhamos

o questionário às FNG.

O instrumento foi personalizado para cada instituição, ou seja, as questões

enviadas tinham concordância com as respostas obtidas na etapa A desta fase da

pesquisa. Um exemplo dessa questão, em sua primeira e sua última versão, pode ser

observado no Quadro 5:

Quadro 5 – Questão enviada às FNG na etapa B.

Versão Questão

1

Fale sobre a estratégia pedagógica de cursos regulares na formação de treinadores(as) de GPT da sua federação nacional e descreva a relação entre os(as) participantes e entre mediador(a) (professor/a) e participantes nessa estratégia pedagógica. O que considera relevante e aplicável em cursos regulares? Pedimos a gentileza de indicar nome e e-mail de três treinadores(as) que participaram recentemente da estratégia pedagógica de cursos regulares em sua federação nacional.

2

Fale sobre a estratégia pedagógica de cursos regulares na formação de treinadores(as) de GPT da sua federação nacional (Como ela ocorre? É uma palestra/workshop conduzida por um(a) mediador(a)? Os(as) participantes influenciam o conteúdo ou a dinâmica da atividade? Existe um momento em que os participantes podem expor ou trocar experiências? Há a utilização de metodologias ativas no evento?) e descreva a relação entre os(as) participantes (Existem momentos em que os(as) participantes podem trocar ideias? Existem momentos em que os(as) participantes podem ouvir uns(umas) aos(às) outros(as) e compartilhar opiniões e conhecimentos?) e entre mediador(a) (professor/a) e participantes (O(a) mediador(a) é aconselhado(a) a propor trocas entre os participantes? O(a) mediador(a) se utiliza de experiências dos(as) participantes durante as atividades? O(a) mediador(a) utiliza diferentes propostas para o curso ser mais participativo?) nessa estratégia pedagógica. O que considera relevante e aplicável em cursos regulares (O que é importante nessa estratégia pedagógica específica para o processo de formação de treinadores(as) O que essa estratégia tem de diferente das outras?)? Pedimos a gentileza de indicar nome e e-mail de três treinadores(as) que participaram recentemente da estratégia pedagógica de cursos regulares em sua federação nacional.

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Enviamos o questionário acima detalhado acompanhado de um glossário,

em que o termo “estratégia pedagógica”, utilizado nos enunciados das questões, e os

diferentes tipos de estratégia pedagógica incluídos no estudo foram detalhados. Com

isso, desejamos apresentar às FNG nossas concepções de cada estratégia

pedagógica, bem como proporcionar que seus(suas) respondentes pudessem

apresentar similaridades ou diferenças de suas concepções. Este glossário pode ser

observado no Apêndice D.

➢ Análise dos dados

A análise dos dados dessa etapa foi desenvolvida com base na análise de

conteúdo (LAVILLE; DIONE, 1999), como já detalhado anteriormente, a partir de

Método Misto. Nesta fase, fizemos uso do software de pesquisa qualitativa NVivo12

Pro® como parte do processo de organização dos dados. Esta é uma ferramenta que

permite ao(à) pesquisador(a) organizar, armazenar e recuperar dados qualitativos,

sendo eles textos, áudios, vídeos, e-mails, imagens, folhetos, pesquisas online e

conteúdo publicado na internet (QSRINTERNATIONAL, 2018). Segundo Lage (2011),

o NVivo® é um dos softwares mais utilizados no ambiente acadêmico brasileiro, tendo

sido adotado por centros de pesquisas da maioria das grandes universidades.

2.4 Preparação da pesquisa: aspectos éticos e protocolares

Inicialmente, houve a submissão e aprovação do projeto de pesquisa

ao/pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp,

tendo recebido o número de registro na Plataforma Brasil, chamado Certificado de

Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) 1.400.398 (Anexo A). Com relação a

esse órgão, destacamos a curiosidade de que o CEP não exige o preenchimento do

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por participantes da pesquisa que

estejam fora do Brasil, segundo o órgão, conforme Resolução Interna 466/12. De

qualquer forma, todos(as) os(as) participantes concordaram com os termos éticos da

pesquisa disponíveis na primeira parte do questionário respondido, como será

detalhado em seguida, e o(a) respondente ligado(a) à Confederação Brasileira de

Ginástica assinou o TCLE, de forma convencional.

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Além disso, de maneira concordante à nossa ontologia, esta pesquisa teve

muitos momentos de trocas e validação com pesquisadores(as) do GPG, de

outros(as) professores(as) especialistas na área do estudo e de gestores(as) das

instituições envolvidas.

Assim, em um primeiro momento, consultamos os(as) professores(as)

doutores(as) membros do GPG sobre o delineamento e pertinência da pesquisa,

discutindo seus objetivos e escolhas metodológicas. Esse primeiro passo foi muito rico

para a construção do projeto de pesquisa e destacou pontos de atenção que deveriam

ser tomados ao longo de seu desenvolvimento. Da mesma forma, estabeleceu linhas

de coerência com outros estudos realizados por esse Grupo.

A seguir, uma medida protocolar foi tomada. Consideramos importante

estabelecer relação com as instituições que seriam estudadas, a fim de demonstrar

respeito a elas e, ao mesmo tempo, requisitar apoio ao desenvolvimento do estudo.

Essa atitude trouxe muitos benefícios durante a realização da pesquisa e nos

posicionou como pesquisadoras parceiras das instituições. Assim, esclarecemos que

possíveis críticas aos programas desenvolvidos por tais instituições seriam realizadas

de forma construtiva e respeitosa, entendendo que a ciência e a gestão devem ser

coparticipantes no processo de formação de treinadores(as).

Inicialmente, realizamos contato com a FIG em três diferentes frentes: o

Comitê Científico, o Comitê de Educação e o Comitê de GPT. O Comitê Científico é

representado pelo professor universitário canadense Keith Russell, já parceiro do

GPG em muitos eventos científicos e conhecido por mim por ter sido um dos meus

professores do curso FIG Academy, citado na Introdução dessa pesquisa. O contato

com esse Comitê teve como resposta que não havia necessidade ou possibilidade de

aprovação desse estudo por esse Comitê, pois sua jurisdição relaciona-se apenas às

pesquisas realizadas em eventos da FIG, o que não é nosso caso. Da mesma forma,

tal órgão preferiu não se manifestar publicamente sobre a realização dessa pesquisa,

sob a mesma alegação.

O Comitê de Educação era oficialmente representado, à época do

desenvolvimento inicial dessa pesquisa, pelo senhor Hardy Fink, idealizador e

coordenador dos programas FIG Academy e também já parceiro do GPG em eventos

científicos. Tal Comitê manifestou-se favorável ao desenvolvimento da pesquisa,

emitindo uma carta de suporte, que pode ser lida no Anexo B. Esta carta foi enviada

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às FNG e às Uniões Continentais de Ginástica como um incentivo para a participação

na pesquisa e demonstrou uma abertura da FIG a parcerias com universidades em

estudos sobre a formação de treinadores(as).

O Comitê de GPT da FIG foi contatado com o apoio e suporte do professor

doutor Marco Antonio Coelho Bortoleto4, coordenador do GPG e membro desse

Comitê, que gentilmente encaminhou e coordenou uma discussão sobre a pesquisa

com os(as) demais membros dessa comissão. Foram enviadas cartas impressas e

também online através de e-mails para a presidente desse Comitê. O contato

estabelecido recebeu aprovação informal, embora não tenha havido a emissão de

carta de suporte ou outro tipo de manifestação pública oficial. O Comitê de GPT

afirmou que esse tipo de suporte, caso houvesse precedentes, deveria ser feito para

todos(as) os(as) pesquisadores(as) que se interessassem por ele e que isso seria

inviável para a FIG. De qualquer forma, consideramos que exercemos

satisfatoriamente nosso papel como pesquisadoras parceiras, informando e

solicitando a permissão e a parceria para o desenvolvimento do estudo.

A seguir, realizamos o contato com as Uniões Continentais de Ginástica

existentes naquele momento5, de forma correlata ao que havíamos realizado com a

FIG. Estabelecemos contato com as quatro instituições existentes: União Europeia de

Ginástica (Union Europeenne de Gymnastique – UEG), União Asiática de Ginástica

(Asian Gymnastics Union – AGU), União Africana de Ginástica (Union Africaine de

Gymnastique – UAG) e União Panamericana de Ginástica (Union Panamericana de

Gimnasia – PAGU). Tal qual realizado com a FIG, este contato teve como objetivo

apresentar a proposta da pesquisa e verificar a possibilidade de as Uniões

Continentais realizarem o encaminhamento do convite de participação para as FNG,

a fim de incentivá-las a participar.

Nesses contatos, não obtivemos respostas das Uniões Continentais da

Ásia e da África. Com relação ao continente africano, porém, obtivemos auxílio da

senhora Caron Henry6, responsável pelo Comitê de GPT e Escolas da Federação de

4 Novamente agradecemos a colaboração e atenção dada pelo professor Marco em nossa pesquisa. 5 A União de Ginástica da Oceania (Oceania Gymnastics Union – OGU) estabeleceu-se apenas em setembro de 2018 (OGU, 2018) e até o presente momento, dezembro de 2018, ainda não teve seu estatuto aprovado pela FIG para associação a essa instituição (FIG, 2018). 6 O contato com a senhora Caron Henry estabeleceu-se após sua participação no VII Fórum Internacional de Ginástica Geral, promovido pelo GPG em parceria com o Sesc Campinas, realizado em 2014.

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Ginástica da África do Sul, que encaminhou nosso convite pessoalmente às outras

FNG desse continente. Este contato impulsionou as respostas obtidas. A UEG, na

pessoa do senhor Alberto Claudino, mostrou-se solícita ao pedido, demonstrou apoio

à pesquisa, mas afirmou não poder encaminhar os convites. Por fim, a PAGU,

presidida pela senhora Naomi Valenzo, emitiu uma carta de suporte nos idiomas

Inglês (Anexo C) e Espanhol e as encaminhou para as FNG de seu continente,

também auxiliando prontamente a realização da pesquisa. Em seguida a essa etapa,

realizamos os contatos diretos com as FNG.

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3 VYGOTSKY E A FORMAÇÃO DE TREINADORES(AS)

Nossos olhares para a formação de treinadores(as) sofreram muitas e

diferentes influências durante o período de construção dessa tese. Como já

comentado na Introdução desse estudo, partir da GPT para pensar a formação de

treinadores(as) foi também alterar a perspectiva do olhar para esse objeto de estudo,

tentando compreender um aspecto diferente que envolve o fenômeno em que

estamos embebidas (minha orientadora e eu). Um desafio que desde o início

desejamos enfrentar!

No início dessa proposta, optamos pela não escolha de um único

referencial teórico, mas pela visão geral sobre a formação de treinadores(as).

Entretanto, ao passo que a pesquisa foi se desenvolvendo, as discussões com

estudiosos(as) da área se estabelecendo e, especialmente, após o exame de

Qualificação, pareceu-nos clara a necessidade do aporte em uma teoria de base, que

pudesse nos auxiliar na compreensão do assunto. Mais ainda, a identificação de um

paradigma de pesquisa nos levou a buscar autores(as) que auxiliassem a refletir sobre

as concepções de mundo, de educação, de formação, de mediação e de GPT que

gostaríamos que nos ajudassem a pensar os resultados dessa pesquisa de forma a

fazer sentido com os dados construídos7 e não analisá-los de forma impessoal.

Seguindo um raciocínio indutivo, me reencontrei com a teoria de Vygotsky,

que já havia estudado no decorrer da graduação em Educação Física. Durante o

estágio de Doutorado Sanduíche realizado na Cardiff Metropolitan University, o

contato com pesquisadores(as) que se dedicam a estudá-lo despertou nossa atenção.

Especialmente, pois os estudos de Vygotsky aportam-se de forma central na

perspectiva de que a aprendizagem é social, histórica e cultural em sua natureza

(POTRAC; NELSON; GREENOUGH, 2016), o que vem ao encontro de nossas

motivações com o desenvolvimento desse estudo.

A opção por essa teoria de base relaciona-se com nossas posições

ontológicas, epistemológicas e metodológicas, e inclusive, essa teoria já embasa o

método de ensino das turmas do projeto de extensão em Ginástica, desde a década

7 Informação verbal - Fala do Professor Doutor Robyn L. Jones, em sessão de orientação durante período de intercâmbio da autora na Cardiff Metropolitan University, sob sua supervisão.

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de 1990 na FEF-Unicamp e que hoje damos continuidade. Como dito por Oliveira

(2016, p. 104):

O compromisso com a fidelidade às ideias de um autor não significa o recurso a um conjunto fechado de ideias, disponível a uma mesma compreensão por parte de qualquer indivíduo, em qualquer tempo ou lugar. Ao contrário, o valor sempre renovado de uma teoria está justamente na possibilidade de que ela seja um instrumento, provavelmente entre outros, para uma compreensão mais completa do objeto a que se refere.

Assim, esse capítulo tem como objetivo realizar uma aproximação entre o

nosso inicial entendimento da teoria de Vygotsky e a formação de treinadores(as),

mais especificamente no que tange esses três assuntos: a) os processos de

aprendizagem, que ocorrem a partir da interação entre a base biológica humana e

o meio; b) o desenvolvimento potencial, os problemas que podem ser resolvidos

com o auxílio de pessoas mais experientes; c) a sugestão de que as estratégias

pedagógicas devem ser suficientemente efetivas para que constituam vivências,

processos de significação e atribuição de sentido ao que é vivido pelo sujeito

(perijivânie), o que ocorre a partir da afetividade.

Obviamente, muitos outros aspectos da teoria histórico-cultural poderiam e

poderão auxiliar no desenvolvimento de análises e teorias sobre a formação de

treinadores(as). No entanto, é necessário estabelecer uma meta de assuntos a serem

descritos no estudo, uma vez que nosso tema de estudo é a intersecção entre essa

teoria e a formação de treinadores(as) de GPT por vias institucionais.

Parafraseamos Ivic (2010, p. 35),

Iniciamos este trabalho na condição de garimpeiros imersos a uma mina repleta de preciosidades, que escolhem pela luminosidade que estas preciosidades lhes causam no primeiro olhar, muito embora saibam da grande dificuldade de se separar o bom do bom, o ótimo do ótimo.

Assim, embora ainda não de forma aprofundada, sugerimos uma linha de

pesquisa que se inicia com essa tese, entendendo que além da limitação da escolha

dos temas da teoria, ainda estamos em um processo de aprendizagem e

compreensão sobre ela.

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3.1 Introdução à teoria vygotskyana

Para que seja possível compreender ao menos basicamente os alicerces

da teoria de Vygotsky, interessa-nos conhecer sua biografia e logo, sua ontologia. Lev

Semynovitch Vygotsky nasceu em 1896 na cidade de Orsha, na antiga Rússia

Ocidental e atual Bielorrússia (POTRAC; NELSON; GREENOUGH, 2016). Era

reconhecido por seus(suas) professores(as) como uma criança muito inteligente e

destacou-se desde cedo por suas habilidades em matemática, filologia e por sua

maturidade e seriedade nos trabalhos acadêmicos (SMIDT, 2009). Na idade adulta,

candidatou-se a estudar Medicina e Direito na Universidade de Moscou, mas desistiu

para estudar na Universidade Shanavsky, também em Moscou, onde destacou-se

estudando Psicologia, formando-se em 1917. Após a Revolução Russa, acontecida

como a primeira etapa para o estabelecimento da União Soviética, em 1918, assumiu

vários postos de ensino e liderança em instituições educativas, quando passou a

estudar educação e cultura (SMIDT, 2009). Em seguida, decidiu dedicar-se à

pesquisa, assumindo um posto no Instituto de Psicologia da Universidade Estatal de

Moscou, com foco nos estudos da aprendizagem de crianças surdas e mudas. Apesar

de sofrer de tuberculose, Vygotsky continuou suas pesquisas no âmbito da educação

e da aprendizagem, estabelecendo parcerias bastante conhecidas com Alexander

Luria e Alexi Leont’ev. Seu falecimento ocorreu prematuramente, aos 37 anos

(POTRAC; NELSON; GREENOUGH, 2016).

O momento histórico em que Vygotsky viveu influenciou em demasia sua

obra. Assim como outros pesquisadores soviéticos da época, Vygotsky preocupou-se

em construir uma psicologia que pudesse responder à problemática político-social de

seu país e dedicou-se a elucidar a influência do meio social no processo de

desenvolvimento das funções psíquicas do homem. Nessa sociedade, a ciência,

utilizada como um instrumento a serviço dos ideais revolucionários, era extremamente

valorizada e atendia a um propósito de forte afirmação ideológica, o que também se

reflete nas postulações de Vygotsky (PALANGANA, 2001).

De forma geral, seus estudos e de seus colaboradores tiveram como

objetivo discorrer sobre a gênese do psiquismo humano. Vygotsky, ao tentar entender

as funções cognitivas complexas dos sujeitos dentro de seus contextos sociais e

históricos, não se sentia atendido pelos métodos baseados na “estrutura estímulo-

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resposta” defendidos pela Psicologia da época. Assim, buscou subsídios na

abordagem dialético-materialista, contrária a uma vertente naturalista de

entendimento psicológico. No naturalismo, é entendido que a natureza afeta os seres

humanos e que as condições naturais são determinantes no desenvolvimento; já a

abordagem dialética, além de admitir a influência da natureza sobre o homem, afirma

que o homem também age sobre a natureza e cria novas condições naturais para sua

existência (VYGOTSKY, 1997; 1998; 2000; 2009; 2010).

Dessa forma, admite que as mudanças históricas na sociedade e na vida

material produzem ações diretas na consciência e no comportamento das pessoas,

ou seja, influenciam o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Vygotsky

foi o primeiro psicólogo a relacionar as concepções dialéticas-materialistas de Marx e

Engels com o desenvolvimento humano, atribuindo ao meio um papel fundamental no

desenvolvimento psicológico das pessoas (PALANGANA, 2001). Vygotsky (2000)

constatou que a atuação do ser humano no meio não é direta, mas mediada por

instrumentos e signos, e que a criação desses instrumentos mediacionais altera não

apenas o meio físico, mas a psique das próprias pessoas. Esse processo dialético

homem-natureza determina o surgimento da cultura, fator diferenciador dos seres

humanos dos outros animais (CAPUCCI; SILVA, 2017). A cultura, por sua vez, modela

o funcionamento psicológico das pessoas (OLIVEIRA, 2016).

A base da teoria vygotskyana está, portanto, no entendimento de que as

funções psicológicas superiores, ou seja, as características especificamente

humanas, são constituídas nas relações sociais e mediadas por instrumentos e signos

de determinada cultura e em um contexto histórico específico (VYGOTSKY, 2000;

POTRAC; NELSON; GREENOUGH, 2016; SMIDT, 2009). Nas palavras de Duarte

(1996, p. 35), a particularidade dessa teoria reside pontualmente no significado de que

uma pessoa “não pode elaborar seu conhecimento individual a não ser apropriando-

se do conhecimento historicamente produzido e socialmente existente”. Por esse

motivo, a teoria de Vygotsky recebe a nomenclatura “histórico-cultural”, pois esse

termo abarca os dois principais conceitos discutidos pelo psicólogo russo e continuada

por seus colaboradores próximos, em especial, Luria e Leont’ev (TOASSA, 2009)8.

8 Esta discussão conduz diferentes vertentes de análise a considerar que a teoria de Vygotsky não pode ser considerada “construtivista” (DUARTE, 1996). Isso ocorre pois as denominações “sócio-construtivismo”, “sócio-interacionismo”, “sócio-interacionismo-construtivista” e ainda “construtivismo pós-piagetiano”, como muitas vezes a teoria histórico-cultural é denominada no Brasil, não compreendem sua característica historicizadora que considera o psiquismo como um fenômeno

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As obras de Vygotsky, que despertaram considerável interesse na Rússia,

não foram traduzidas para outros idiomas antes da década de 1960, por motivos

políticos; recentemente, vêm ganhando ainda mais atenção da comunidade

acadêmica. Atualmente, as pesquisas de Vygotsky passaram também a serem

utilizadas nos estudos sobre a aprendizagem de treinadores(as) (NELSON;

CUSHION; POTRAC, 2013; JONES; THOMAS, 2015; MCQUADE; DAVIS; NASH,

2015; POTRAC; NELSON; GREENOUGH, 2016; JONES et al., 2018).

3.2 Interação entre a base biológica humana e o meio

O primeiro assunto da teoria histórico-cultural que destacamos é a

importância da interação entre a base biológica humana e o meio. Esta relação tem

profunda ligação com as discussões sobre os processos de aprendizagem na

formação de treinadores(as).

Os processos de aprendizagem implicam em uma relação entre a pessoa

que busca conhecer e o objeto a ser conhecido, de tal forma que entre ambos se

estabelecem relações recíprocas de mudanças. Esse posicionamento teórico refere-

se às teorias interacionistas, que são aquelas que não privilegiam nenhum dos polos,

conhecedor(a) ou objeto a ser conhecido, mas sim a interação que se estabelece entre

ambos. Ao pensar os processos de aprendizagem, Vygotsky (1997; 1998; 2000; 2009;

2010) posiciona-se de acordo com essa teoria. Assim, baseado em suas concepções

dialéticas, Vygotsky preocupou-se em explicitar as relações entre o biológico e o

cultural na vida das pessoas (PALANGANA, 2001; OLIVEIRA, 2016, VYGOTSKY,

2010).

Partindo da concepção de um organismo ativo, Vygotsky (2010) defende

o princípio de contínua interação entre as mutáveis condições sociais e a base

biológica do comportamento humano. Ou seja: a maturação do organismo desenvolve

estruturas orgânicas elementares, chamadas de funções mentais inferiores

(percepções elementares, memória, atenção e inteligência, funções que são

histórico-social. De acordo com Duarte (1996), a teoria histórico-culural, bem como as construtivistas, se opõe ao inatismo e ao empirismo e considera a importância das relações sociais nos processos de aprendizagem, mas a utilização do termo “social” não retrata a “interação historicamente situada, mediatizada por produtos sociais, desde os objetos até os conhecimentos historicamente produzidos, acumulados e transmitidos” entendida por Vygotsky (DUARTE, 1996, p. 30). Para mais informações, indicamos a leitura das obras de Newton Duarte (1993, 1996).

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psicobiológicas por natureza e relacionadas às formas concretas de pensamento), as

quais irão formar novas e mais complexas funções mentais superiores (atenção

voluntária, memória lógica, formação de conceitos) dependendo da natureza das

experiências sociais que as pessoas vivenciarem (OLIVEIRA, 2016; POTRAC;

NELSON; GREENOUGH, 2016). Assim, os fatores biológicos preponderam os sociais

apenas no início da vida e, aos poucos, o desenvolvimento do pensamento passa a

ser orientado pelas interações que essa estabelece com outras que possuem

experiências diferentes das suas (VYGOTSKY, 2000; CAPUCCI; SILVA, 2017).

A constituição das funções complexas do pensamento é veiculada

principalmente pelas trocas sociais e, nessa interação, o fator primordial é a

linguagem. A comunicação entre as pessoas é considerada um instrumento simbólico,

cuja função é servir como um condutor da influência humana sobre as ações e os

objetos (PALANGANA, 2001). Vygotsky afirma que a fala realizada durante a ação é

tão importante quanto o olhar e o toque na execução de tarefas práticas, pois

desempenha o papel de internalização da ação. Da mesma forma, o passo seguinte

no processo de aprendizagem, a internalização da linguagem, propicia a base para a

futura aprendizagem, reflexão e resolução de problemas (VYGOTSKY, 2000). Para

Vygotsky (2000, p. 24), “qualquer função psicológica superior foi externa – foi social;

antes de se tornar função, ela foi uma relação social entre duas pessoas”.

Segundo Palangana (2001, p. 102):

Na concepção de Vygotsky, o desenvolvimento da linguagem coloca-se como paradigma para explicar a formação de todas as demais operações mentais que envolvem o uso de signos. [...] Esta é a forma mediatizada – pela qual a criança se apropria do conhecimento historicamente produzido e socialmente disponível.

Assim, a linguagem é um produto da atividade prática conjunta das pessoas

e, graças a ela, a consciência individual de cada um(a) não se restringe à experiência

pessoal e às próprias observações, pois o conhecimento de todos(as) pode tornar-se

propriedade de um(a). Com isso, pode ser dito que as pessoas se apropriam das

aquisições sociais e culturais que as precederam, ou seja, que foram desenvolvidas

ao longo da história e transmitidas por outras pessoas no decorrer do tempo. De tal

modo, se constituem por meio de uma dinâmica de diferentes papeis assumidos nas

relações sociais, em um processo de internalização e externalização que se mescla

(VYGOTSKY, 2000).

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Vygotsky (2010) ainda ressalta que o meio se modifica para cada pessoa

ao longo da vida, pois as pessoas se modificam durante seu processo de

desenvolvimento. O papel e o significado dos elementos do meio, que permaneceram

inalterados ao longo do tempo, desempenham diferentes funções ao passo que as

pessoas vão construindo suas identidades e opiniões. Para Vygotsky (1998), o meio

é social e nunca visto como imutável ou estático, mas sim como aspectos e elementos

diversos em constante contradição e luta entre si; é um processo dinâmico e que se

estabelece dialeticamente com o que é interno às pessoas. Por isso mesmo, o meio

pode ser vivenciado de diferentes maneiras, de acordo com concepções, sentimentos

e interpretações que se fazem internamente em contato com outras pessoas e outros

ambientes. Vygotsky (2010) também sinaliza para a importância de se considerar o

nível de compreensão das pessoas quanto à determinada vivência, a possibilidade de

tomada de consciência a respeito do que foi vivenciado e da apreensão daquilo que

ocorre no meio circundante de si.

Por fim, destacamos que, para a teoria histórico-cultural, não há

aprendizagem individual ou desconectada de outras pessoas por completo. Apesar

de em algumas situações os novos conhecimentos serem co-construídos a partir da

experiência pessoal ou da busca individual, estes conhecimentos são parte de uma

história e uma cultural previamente co-construídas por outras pessoas. Se há

processos de aprendizagem a partir de leituras de livros teóricos, por exemplo, esses

são constituídos de linguagem escrita, existente e aprendida a partir de uma cultura e

escrita por outra pessoa; se estes existem a partir da experiência, esta é balizada pela

atuação de outras pessoas no meio e por seus discursos. Assim, os processos de

aprendizagem nunca são individuais, apenas podendo ser mais ou menos explícita a

relação social existente.

Pensar a relação entre a base biológica humana e o meio é fundamental,

pois nos permite considerar que qualquer visão de mundo é derivada das vivências

(TOASSA, 2009) de cada pessoa. Assim, não existe determinismo – as pessoas

expressam-se, creem e exercem suas atividades baseadas nas situações que

presenciam/presenciaram e na influência dos discursos que a cercam. Essa questão

trazida pela teoria histórico-cultural reforça nossa posição ontológica de que as

potencialidades de cada pessoa são construções sociais oriundas das relações entre

elas e o meio em que vivem.

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Ao refletirmos sobre a educação em geral e sobre a formação de

treinadores(as), essa influência também se torna essencial. Entendemos que o ensino

de Esporte e práticas corporais é também relacionado com as experiências e

oportunidades formativas dos(as) treinadores(as) ao longo de suas vidas e,

especialmente, pela influência de outras pessoas exercida diretamente ou a partir do

meio cultural. As oportunidades de aprendizagem vivenciadas por treinadores(as),

tanto aquelas que são oferecidas por instituições como as que são buscadas pelos(as)

próprios(as) aprendizes(as), são processos que não devem ser pensados centrados

nos(as) instrutores(as) e nem nos(as) aprendizes(as) (WEIMER, 2002) e sim nas

relações que se estabelecem.

Estudos têm mostrado que treinadores(as) validam essa teoria ao

mostrarem-se favoráveis a estratégias pedagógicas que envolvam processos

coletivos. Nash e Sproule (2012) destacam que 67% dos(as) 621 treinadores(as) por

eles consultados(as) afirmaram preferir atividades em grupos, especialmente

aprender diretamente com outros(as) participantes de programas de formação

institucional e em seus próprios contextos de atuação; esse fato foi constatado tanto

para treinadores(as) experientes, com mais de dez anos de prática, como para

novatos(as). De forma semelhante, Stoszkowski e Collins (2016) constataram, após

consultar 320 treinadores(as) de diferentes nacionalidades, que suas fontes de

aprendizagem preferidas foram aquelas em que as interações sociais estão

explicitadas e em destaque e sugeriram que os programas institucionais de formação

de treinadores(as) se utilizassem de estruturas que permitam o reconhecimento e a

administração das influências sociais nos processos de aprendizagem. Os resultados

desse estudo mostram que 41% dos(as) participantes apontaram as discussões com

pares como a principal estratégia pedagógica de preferência; a segunda categoria

apontada no estudo, que se referia a livros, foi destacada por 11% dos participantes.

Considerando a aprendizagem de adultos(as), embora as funções mentais

inferiores já estejam estabelecidas, as funções mentais superiores estão em constante

desenvolvimento. A influência do meio, que ocorre de diferentes formas, seja pelo

exemplo de outros(as) treinadores(as), pelos materiais de aprendizagem entendidos

como livros e vídeos, pelo discurso de aulas diretivas e palestras, pelo diálogo, pela

reflexão ou por qualquer outra oportunidade de aprendizagem, é balizada pela

linguagem, externa ou interna. Assim, a participação social para o estabelecimento

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dos processos de aprendizagem complementam-se pela necessidade de estratégias

pedagógicas que permitam que os(as) treinadores(as) reflitam, verbalizem e

fortaleçam relações sociais. Sobre esse assunto, ressaltamos Smidt (2009), que

destaca que a noção de “social” extrapola a presença de outros(as) no processo de

aprendizagem, mas que deva ser aportado em estratégias que engajem os(as)

aprendizes(as) e não apenas baseadas em experiências “individuais”.

As estratégias de avaliação também devem estar alinhadas com essa

prerrogativa social. É importante que os programas de formação institucional

considerem possibilidades sociais de avaliação e que proporcionem participação ativa

dos(as) treinadores(as), inclusive alinhadas ao contexto de atuação desses(as).

Entendendo que as vivências prévias de treinadores(as) influenciam a forma como os

novos conhecimentos serão construídos, os processos avaliativos podem ser mais

efetivos se estiverem relacionados com a conexão de novos conhecimentos com os

aspectos já consolidados de atuação. Como exemplo, destacamos Paquette e

colaboradores (2014), que se utilizam de um “diálogo de aprendizagem”9 para

fomentar as reflexões sobre os pontos fortes e outros necessários de maior atenção

na atuação de treinadores(as) e que se constitui uma forma de avaliação. Nessa

estratégia, os mediadores encarregados do processo tem como responsabilidade

realizar questões e oferecer feedback relevante para promover uma reflexão crítica

por parte dos(as) aprendizes(as). O estudo também apresenta como estratégia de

avaliação uma “observação avaliativa”10, que consiste em duas pessoas mediadoras

observarem uma sessão ou aula de ensino de Esporte ou práticas corporais oferecida

por um(a) treinador(a). Em seguida, as três pessoas envolvidas empenham-se em

uma conversa para promover reflexão e diálogo sobre o que foi observado.

Nessas duas estratégias avaliativas, podemos perceber que o foco

permanece na relação entre os(as) envolvidos(as), cujas participações ativas

permitem processos sociais que constroem coletivamente novos conhecimentos.

Estas estão em concordância com a análise de Smidt (2009) sobre a teoria histórico-

cultural: segundo a autora, deve haver um encorajamento por parte dos(as)

educadores(as) para a criação de ambientes, nos quais sejam valorizados a atenção

compartilhada, a colaboração e o apoio. Isso ocorrerá a partir do uso de ferramentas

9 Do original, “learning conversation” (PAQUETTE et al., 2014). 10 Do original, “evaluator observation” (PAQUETTE et al., 2014).

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culturais compartilhadas, nas quais o questionamento, a experimentação e a busca

de respostas estejam incorporados (SMIDT, 2009).

Além disso, entendendo que as interpretações sobre o meio se alteram ao

longo da vida das pessoas, a experiência como atleta, considerada como uma das

mais importantes influências da prática do ensino de Esporte e práticas corporais

(LEMYRE; TRUDEL; DURAND-BUSH, 2007), necessita devida atenção. As práticas

e conhecimentos vividos durante o período como atleta podem ter sido ressignificados

pelos(as) treinadores(as) sem que tivesse havido algum tipo de reflexão. Os novos

conhecimentos construídos ao longo da prática como treinador(a) e em diferentes

oportunidades de aprendizagem podem servir como base para reflexões de

experiências vividas como atleta.

3.3 Desenvolvimento potencial

O segundo assunto da teoria histórico-cultural destacado tem estreita

relação com o primeiro e aproxima-se ainda mais de nosso objeto de estudo nessa

tese. Ao passo que o entendimento de que a aprendizagem acontece de forma social

está estabelecido, Vygotsky dedica-se a apresentar de que forma essa relação social

de fato influencia os processos de aprendizagem.

Um dos mais divulgados temas da teoria histórico-cultural é a zona de

desenvolvimento proximal (ZDP). A ZDP é uma fase relacional e interpessoal

(MORCOM, 2014) que compreende as funções mentais que ainda não estão

maduras, mas em processo de tornar-se; é uma fase intermediária, em que o(a)

aprendiz(a) pode participar de atividades sociais e culturais que estão além de suas

capacidades em determinado momento (POTRAC; NELSON; GREENOUGH, 2016),

a fim de co-construir novos conhecimentos.

A ZDP é um espaço não claramente demarcado e totalmente relacionado

às atividades colaborativas (POTRAC; NELSON; GREENOUGH, 2016), em que

ocorrem os processos sociais e dinâmicos de aprendizagem chamados por Vygotsky

de “co-construções” (CASSIDY; JONES; POTRAC, 2009). Situa-se após o nível de

desenvolvimento real ou efetivo, que compreende o conjunto de informações que já

foram co-construídas e que permitem a solução de problemas independentemente do

auxílio de outras pessoas, ou seja, que são parte de ciclos de desenvolvimento já

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completados. A ZDP constitui-se, portanto, das informações que estão em fase de co-

construção a partir dos processos de aprendizagem (PALANGANA, 2001).

O processo social existente nessas relações é chamado de mediação

(SMIDT, 2009; VYGOTSKY, 2009; OLIVEIRA, 2016). Mediações são processos

facilitadores, em que pessoas mais experientes participam da co-construção por parte

dos(as) aprendizes(as) dos conhecimentos produzidos historicamente, frutos da

experiência coletiva (DUARTE, 1996). Segundo Oliveira (1993), como alguém que

possui conhecimento, a pessoa não tem acesso direto aos objetos, mas um acesso

mediado, que é realizado através dos recortes operados pelos sistemas de símbolos

e por atividades externas, que se transformarão em internas.

Assim, as mediações podem ter diferentes naturezas. Podem ser

diretamente realizadas por outras pessoas, adultos(as) ou pares, de situações

informais, e professores(as) formalmente reconhecidos(as), em situações

institucionais de aprendizagem (VYGOTSKY, 1998), bem como podem ter relação

com o meio em que se estabelecem os processos de aprendizagem. Nesse caso,

podem variar entre mediações concretas (livros, vídeos, documentos, por exemplo) e

abstratas (como as normas sociais), balizadas pela linguagem (JONES; THOMAS,

2015). A partir da mediação, o(a) aprendiz(a) pode desenvolver valores, significados,

regras e assim conhecer seu contexto social, em processos que envolvem

colaboração, compartilhamento e negociação entre aprendizes(as) e com pessoas

mais capazes (SMIDT, 2009).

Uma metáfora bastante utilizada para explicar tal noção de assistência é a

da ZDP como um andaime. Esta metáfora começou a ser utilizada há 40 anos para

auxiliar no entendimento da teoria histórico-cultural (JONES; THOMAS, 2015). Nela,

a ZDP é ilustrada como sendo uma distância vertical, em que o(a) aprendiz(a) é

assistido por uma pessoa mais experiente que o(a) auxilia em etapas graduais, como

degraus, na superação de um desafio até o alcance do topo (CASSIDY; JONES;

POTRAC, 2009; MORCOM, 2014). Assim, a mediação é uma estrutura de assistência

temporária e essencial (JONES; THOMAS, 2015), que pressupõe a desmontagem

assim que o(a) aprendiz(a) puder completar aquele nível de desenvolvimento. Os

“degraus” desse andaime, a serem superados, possuem, portanto, três momentos

inter-relacionados: a assistência de outras pessoas, a transição entre a assistência

externa e a assistência de si mesmo(a) e, por fim, a assistência de si mesmo(a) por si

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só (VYGOTSKY, 1998). Assim, a mediação se dá, objetivamente, com a criação de

estruturas que facilitam os processos de co-construção de conceitos desafiadores,

além de apoio e incentivo às habilidades e iniciativas dos(as) aprendizes(as).

Por esses motivos, Vygotsky (1997) destaca que a aprendizagem orientada

para os níveis de desenvolvimento já atingidos é ineficaz e não se dirige a um novo

estágio do processo de desenvolvimento. Assim, afirma que os(as) educadores(as)

deveriam considerar suas práticas para um “bom aprendizado”, aquele que se adianta

ao desenvolvimento (VYGOSTKY, 1997). Dessa forma, Vygotsky criticou as práticas

educacionais que são baseadas apenas na instrução didática11 e incentivam a

repetição sem que haja compreensão do entendimento dos(as) alunos(as). Potrac e

Cassidy (2006) destacam o uso de estratégias pedagógicas como demonstrações e

discussões, que possam iniciar os processos de aprendizagem a partir dos

conhecimentos já estabelecidos, mas em direção a co-construção de novos.

Na mediação, um dos fatores primordiais é a imitação das pessoas mais

experientes. Em negação à crença de que a imitação é um processo puramente

mecânico e ausente de capacidade intelectual, Vygotsky (1997) observou que é

possível haver imitação de atos ou habilidades cujo conteúdo vai além da capacidade

real. Para essa teoria, a imitação tem um caráter essencialmente humanizador, pois

é uma típica forma de co-construção.

Nesse momento, os processos cooperativos e colaborativos de

aprendizagem que tenham ênfase no entendimento do(a) aluno(a) (POTRAC;

NELSON; GREENOUGH, 2016) a partir das mediações proporcionarão o alcance de

um novo estágio de desenvolvimento. Por isso, o autor considera que

as diferenças quanto a capacidade de desenvolvimento potencial de aprendizes(as) devem-se, em grande parte, às diferenças qualitativas no ambiente social em que vivem. A diversidade nas condições sociais promove aprendizagens também diversas e estas, por sua vez, ativam diferentes processos de desenvolvimento. (adaptado de PALANGANA, 2001, p. 129).

Esta última citação é bastante adequada para iniciarmos a discussão sobre

a ZDP na aprendizagem de treinadores(as). Ao concordarmos que a qualidade das

interações sociais no ambiente auxiliará na ocorrência de processos de aprendizagem

11 Entendemos “instrução didática” como os métodos tradicionais de ensino, em que apenas o(a) mediador(a) faz uso da palavra. Esse tema será discutido mais profundamente no capítulo 3.

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mais efetivos, nos propomos a refletir sobre as estratégias pedagógicas, as quais

treinadores(as) estão sujeitos(as) em suas formações, tanto institucionais quanto

informais.

A relevância das relações sociais na metáfora do andaime da ZDP

possibilita, como visto anteriormente, que os conhecimentos já produzidos possam

ser compartilhados, assim tornando-se parte da experiência de outras pessoas. O

mesmo acontece nas oportunidades de aprendizagem de treinadores(as) que

permitem a troca de experiências e o diálogo sobre teorias e que, assim, podem

proporcionar a co-construção de novas práticas que se relacionem efetivamente às

demandas do ensino de Esporte e práticas corporais (NASH; SPROULE, 2012;

JONES; MORGAN; HARRIS, 2012). Além disso, as estratégias pedagógicas que se

disponibilizarem a discutir aspectos da realidade do ensino de Esporte e práticas

corporais estarão mais relacionadas ao problemático e dinâmico papel dos(as)

treinadores(as) (JONES, 2000) no exercício de seu trabalho do que aquelas que se

atentarem exclusivamente a contextos teóricos e analíticos (MORGAN et al., 2013b).

Para que as oportunidades de aprendizagem aconteçam dessa forma, é

necessário portanto que se conheça o nível de desenvolvimento real de cada

treinador(a)-aprendiz(a). Isso destaca a importância de propostas que possibilitem o

conhecimento dos(as) aprendizes(as) por parte dos(as) formadores(as) e não que as

propostas sejam padronizadas independentemente dos(as) participantes. Essa

discussão suscita os debates a respeito de pré-requisitos ou propostas baseadas em

apresentações, para que haja o alinhamento das atividades com os perfis dos(as)

aprendizes(as). Destacamos novamente Paquette e colaboradores (2014) para

exemplificar o uso de portfólios como primeira atividade de um programa de formação

de treinadores(as), que incluía um resumo atual, uma descrição de seu papel como

treinador(a) de ensino de Esporte e práticas corporais e filosofia de trabalho, uma

periodização de treinamento de um(a) atleta e uma reflexão sobre suas

potencialidades e fragilidades relacionadas com o trabalho desenvolvido. Esses

documentos foram, segundo Paquette e colaboradores (2014, p. 79, tradução própria),

“revisados e avaliados pelos(as) responsáveis pelo programa (...) para confirmar a

prontidão dos(as) treinadores(as) e a sustentabilidade deles(as) no programa, bem

como para ter uma melhor compreensão dos pontos de partida individuais”.

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Outros exemplos também são conhecidos para essa finalidade. Bertram e

colaboradores (2014) se utilizaram de grupo focal e entrevistas semi-estruturadas com

todos(as) os(as) participantes de uma comunidade de prática formada por alunos(as)

de graduação, a fim de conhecer profundamente as experiências anteriores e

expectativas com relação aos encontros. Em uma abordagem diferente, Stoszkowski

e Collins (2017) utilizaram-se de pré-requisitos como um mínimo de 40h de prática

como treinadores(as) regulares e outras horas de atuação em ensino de Esporte e

práticas corporais em suas comunidades para estabelecer um nível mínimo de

desenvolvimento real previsível pela experiência requerida. Embora consideremos a

dificuldade de realmente conhecer os conhecimentos prévios dos(as) aprendizes(as),

entendemos que, na impossibilidade de maior profundidade com cada treinador(a),

essas propostas (PAQUETTE et al., 2014; BERTRAM et al., 2014; STOSZKOWSKI;

COLLINS, 2017) poderão proporcionar uma noção básica das estratégias

pedagógicas que os(as) mediadores(as) responsáveis podem propor em suas ações.

Outra relação com a formação de treinadores(as) está no papel do(a)

desenvolvedor(a) de treinadores(as) (do inglês, coach developer). Este é um termo

abrangente recentemente destacado pelo International Council for Coaching

Excelence (ICCE, 2013) e que, segundo McQuade e Nash (2015), representa uma

variedade de papéis, incluindo líder, facilitador(a), mentor(a), assessor(a) e

responsável pela estruturação e avaliações de programas de formação de

treinadores(as). As autoras citadas (2015) consideram que o(a) desenvolvedor(a) de

treinadores(as) não é necessariamente uma pessoa especialista no assunto tratado,

mas deve ser hábil administrador(a) e motivador(a) dos programas de formação de

treinadores(as), bem como ser parte da organização e das estratégias de formação.

Outro ponto reiterado sobre os(as) desenvolvedores(as) de treinadores(as) é que seus

comportamentos, conhecimentos e práticas tem potencial de influenciar

treinadores(as)-aprendizes(as), como bons ou maus exemplos; este fator também é

bastante comentado por Jones (2006), Jones, Harris e Miles (2009) e Jones e

colaboradores (2012). À luz da teoria histórico-cultural, poderíamos considerar que

o(a) desenvolvedor(a) de treinadores(as) pode ser um(a) mediador(a), ao passo que

auxilia na co-construção de conhecimentos.

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Por fim, destacamos que, assim como afirmado por Vygotsky, a literatura

acadêmica sobre a formação de treinadores(as) também considera que mediações

diferentes das instruções didáticas são mais efetivas. Para Vygotsky (1997, p. 157):

O desenvolvimento não se reproduz, apenas, por uma soma harmoniosa de experiências, mas acima de tudo através de vivências em matrizes sociais diferentes, cujos interesses e valores são, frequentemente, contraditórios. A criança aprende opondo-se a alguém, identificando-se, imitando, estabelecendo analogias, internalizando símbolos e significados, tudo isso em um ambiente social e historicamente localizado. Assim, é preciso considerar que as interações sociais educativas pressupõem a manifestação e o confronto de diferentes ideias, gestadas em momentos distintos.

Com relação aos processos de aprendizagem de treinadores(as), Mesquita

e colaboradores (2015) destacam que estratégias pedagógicas como fazer perguntas,

monitoramento de atividades individuais e a requisição de pesquisas foram apontadas

por treinadores(as)-aprendizes(as) como encorajadoras, desafiadoras e os(as)

incentivaram a se envolver mais ativamente nas tarefas. Outros estudos vêm

demonstrando possíveis estratégias pedagógicas que permitem interações sociais

educativas mais ativas e eficazes na co-construção de novos conhecimentos e serão

destacadas futuramente nesse estudo.

Assim, destacamos que a ZDP é um conceito que aproxima a teoria

psicológica de Vygotsky de discussões sociológicas pois, nas relações sociais que se

estabelecem para os processos de aprendizagem, estão intrínsecos fatores como as

relações de poder entre os(as) envolvidos(as), as disputas pelo capital, entre outras

discussões dessa natureza (CORSBY, 2016). Ressaltamos que esse não é o foco

dessa tese, embora seja a teoria que nos embasa, mas consideramos que esse seja

um assunto a ser aprofundado em outros estudos, pois pode colaborar em demasia

nas discussões a respeito de estratégias pedagógicas efetivas na formação de

treinadores(as).

3.4 Perejivânie

O terceiro e último assunto de destaque da teoria histórico-cultural

relaciona-se às vivências e à afetividade12. Para Vygotsky (1998), a aprendizagem, a

12 Entendida como um campo amplo composto pelas emoções, sentimentos e afetos (TASSONI; LEITE, 2011).

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motivação e a afetividade são funções interconectadas: o pensamento não é uma

corrente autônoma dissociada da vida dinâmica, das motivações, dos interesses e dos

envolvimentos (TASSONI; LEITE, 2011), mas é pautado pela afetividade, que

influencia a constituição da subjetividade a partir das relações sociais e os processos

de significação e sentido. A vinculação entre o pensamento e a afetividade possibilita

as vivências, chamadas por Vygotsky de perejivânie (MARQUES; CARVALHO, 2014).

Perejivânie é descrita como a relação entre a consciência humana e o meio

e se traduz como sendo uma interpretação de uma situação concreta, para a qual se

constituíram atitudes e sentimentos subjetivos, de acordo com fatores pessoais e

individuais (DELARI JUNIOR; PASSOS, 2009). Poderíamos dizer que perejivânie

conceitua um estado psicológico especial, caracterizado pela presença de

sentimentos vividos por alguém (CAPUCCI; SILVA, 2017) e suscitados por

impressões e sensações fortes (TOASSA, 2009). Isto significa que uma pessoa não

permanece indiferente a uma situação de vivência, pois essa carrega uma conotação

emocional muito forte. Essa afetividade se manifesta, inclusive, de forma atemporal,

influenciando as interpretações dos fatos e possibilitando que novos sentidos sejam

atribuídos a um mesmo acontecimento.

As vivências se diferenciam das experiências na teoria vygotskyana

(TOASSA, 2009). As experiências podem ser interpretadas apenas como uma

lembrança da situação vivida; já as vivências são “resultado de um processo – difícil,

laborioso, que toma tempo e energia – usualmente entendido como uma experiência

efetiva na consciência” (CAPUCCI; SILVA, 2017, p. 411). Assim, as vivências são um

“tipo de apreensão do real que não é mera interpretação, não é mera emoção, mas

integra vários aspectos da vida psíquica” (TOASSA; SOUZA, 2010, p. 759). Dessa

forma, as pessoas, “ao longo de sua vida, podem constituir inúmeras experiências,

mas só algumas delas se constituem como vivência” (MARQUES; CARVALHO, 2014,

p. 43).

Por esse motivo, a constituição de toda função psíquica superior tem uma

“face vivencial”, isto é, manifesta-se de forma afetiva nas pessoas (TOASSA, 2009).

Essa afirmação também é verdadeira para os processos de aprendizagem; a

afetividade influencia os processos de co-construção dos novos conhecimentos e

causa transformações internas (JONES et al., 2018). Isso ocorre pois os afetos

decorrentes de cada relação social e os sentidos atribuídos aos conhecimentos

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interferem na maneira como o meio influencia cada pessoa. Assim, dada a relevância

das interpretações pessoais das situações reais ocorridas na perejivânie, isto é, da

compreensão e da relação afetiva dos acontecimentos por parte de cada pessoa

(MARQUES; CARVALHO, 2014), é preciso considerar que uma mesma oportunidade

de aprendizagem afetará diferentemente cada aprendiz(a) (JONES et al., 2018).

Essa reflexão conduz a um aspecto da teoria histórico-cultural que relaciona o

significado e o sentido atribuídos aos conhecimentos. Para Vygotsky, o significado

refere-se “ao sistema de relações objetivas que se formou no processo de

desenvolvimento da palavra, consistindo num núcleo relativamente estável de

compreensão da palavra, compartilhado por todas as pessoas que a utilizam”

(OLIVEIRA, 2016, p. 81). O significado propicia a mediação simbólica entre as

pessoas e o mundo real, sendo um “filtro” através do qual é possível compreender o

mundo e agir sobre ele. O significado das palavras é o mesmo para todos(as) os(as)

falantes de determinado idioma.

Já o sentido é a forma como cada pessoa entende a palavra (VYGOTSKY,

2009). Está relacionado às vivências afetivas e pessoais e é o que conduz uma

situação de experiência a uma situação de vivência. É exatamente esse sentido que

influenciará os processos de aprendizagem pois se colocarão como fatores

mediadores responsáveis pelos processos de co-construção de conhecimentos.

Nas palavras de Marques (2017, p. 6778, grifos da autora),

As vivências são fonte de afetos, portanto, medeiam a produção de sentidos que constituem modos particulares de ser, pensar e agir dos homens. Os sentidos, portanto assumem importância fundamental na constituição da subjetividade humana, representam a sua unidade essencial e constitutiva, pois é a unidade que explica o desenvolvimento emocional como resultado de convergências e confrontos vivenciados nas relações sociais. São os sentidos produzidos em atividade que vão determinar se uma situação social produz experiência ou vivência.

Sendo assim, a importância da afetividade nas vivências que envolvem os

processos de aprendizagem são essenciais para que esses sejam significativos. Essa

afetividade está amplamente relacionada às relações sociais envolvidas nos episódios

e assim entre os pares e desses com outros(as) mediadores(as) responsáveis,

pessoas mais experientes e mesmo professores(as). A forma como tais relações se

estabelecem, influenciam diretamente no desenvolvimento de laços afetivos. Assim,

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os aspectos emocionais e sociais estão enraizados nas estratégias pedagógicas que

se utilizam nas oportunidades de aprendizagem (MORCOM, 2014).

Todas as reflexões estabelecidas, claramente, também são verdadeiras para os

processos de aprendizagem que se estabelecem no ensino de Esporte e práticas

corporais, entre treinador(a)-atleta e entre os(as) atletas. O mesmo acontece nos

processos de aprendizagem dos(as) próprios(as) treinadores(as). Assim, é importante

que sejam consideradas as emoções dos(as) treinadores(as)-aprendizes(as) no

momento dos processos de aprendizagem, pois são elas que motivarão as interações

sociais, atribuirão sentido aos conhecimentos co-construídos e influenciarão na

atividade profissional posterior. Como afirmado por Schempp (1993), o conhecimento

profissional é construído a partir das relações com o mundo em que se vive, resultante

de uma tensão dialética entre o que é interior e o que é exterior e essa relação é

baseada pelas emoções, exatamente como discutido pela teoria histórico-cultural.

Sobre as interações sociais com os(as) mediadores(as) responsáveis, Tassoni e

Leite (2011) encontraram em sua pesquisa que a relação do(a) aprendiz(a) com o

conhecimento é afetada diretamente pela maneira como o(a) mediador(a) age. Essa

é uma relação que pode ser feita dos(as) treinadores(as)-aprendizes(as) com os(as)

desenvolvedores(as) de treinadores(as). Nash, Sproule e Horton (2016) destacam a

importância de os(as) desenvolvedores(as) de treinadores(as) possuírem empatia,

traduzida como a habilidade de entender as necessidades e experiências prévias

dos(as) treinadores(as), para mediarem os processos de aprendizagem de

treinadores(as)-aprendizes(as).

As demonstrações de afetividade, como tom da voz, gestos, expressões faciais,

contato visual e físico e o humor (MESQUITA et al., 2014) também são importantes

nesse processo. Esses fatores podem incrementar a sensação de confiança ao expor

aprendizes(as) em situações de dúvida e exposição de opiniões e tornar o processo

de aprendizagem mais autônomo.

Outro fator que pode interferir na identificação dos(as) treinadores(as)-

aprendizes(as) com os conhecimentos envolvidos nos processos de aprendizagem é

o uso de metáforas. Ao pensar sobre como considerar as vivências no âmbito da

formação de treinadores(as), Jones e colaboradores (2017) consideram que as

metáforas podem ser um modo de ilustrar determinada situação e assim conectá-

los(as) com sentidos positivos.

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Por fim, destacamos o humor das vivências: Marques e Carvalho (2014) apontam

que vivências alegres aumentam a potência de agir de aprendizes(as) e

professores(as). A potência de agir, ou seja, a vontade e capacidade de executar

determinada tarefa, aumenta a potência de pensar, que significa maior atenção e

consciência na atividade. Assim, as vivências que constituem encontros alegres

produzem afetações que ajudam na constituição de pessoas mais emancipadas,

atentas e independentes.

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4 A LITERATURA SOBRE A FORMAÇÃO DE TREINADORES(AS) À

LUZ DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL

Consideramos que existem diferentes maneiras de compreender a

aprendizagem (CUSHION et al., 2010). Por isso, nesse capítulo objetivamos refletir

sobre outras teorias, de modo a tentar compreender de que forma se relacionam com

a histórico-cultural e como poderiam colaborar na construção dessa tese.

Trataremos inicialmente dos estudos das pesquisadoras Sfard (1998) e

Moon (1999; 2004), ambas amplamente consideradas em estudos relevantes sobre a

aprendizagem de treinadores(as) e que também estimam as relações sociais como

grande influência dos processos de aprendizagem. Como exemplo, temos que Sfard

(1998) foi considerada por Trudel e Gilbert (2006), Werthner e Trudel (2006) e

Erickson e colaboradores (2008). Moon (1999; 2004) embasa e apoia vários estudos

desenvolvidos por Côté (2006), Werthner e Trudel (2006), Lemyre, Trudel e Durand-

Bush (2007), Mallett e colaboradores (2009), Callary, Werthner e Trudel (2012),

Trudel, Culver e Werthner (2013), Milistetd (2015) e os trabalhos derivados de sua

tese.

4.1 As teorias de Anna Sfard (1998) e Jennifer Moon (1999; 2004)

Anna Sfard, em seu muito citado texto “Duas metáforas sobre a

aprendizagem e o perigo de escolher apenas uma”13, de 1998, disserta sobre o

conhecimento e se utiliza de metáforas para discutir de que forma ocorre o processo

de aprendizagem. Para a autora, a utilização de metáforas pode ser um artifício tanto

positivo quanto negativo. Positivo, pois ajuda a ilustrar a ideia que se deseja transmitir

tornando o entendimento de pensamentos abstratos compreensível. Negativo, pois

mantem a imaginação do(a) interlocutor(a) no mesmo lugar de suas experiências e

concepções anteriores. Apesar do risco, baseia sua tese na existência de duas

possibilidades de aprendizagem: por aquisição e por participação (SFARD, 1998).

Sfard (1998) destaca que as teorias baseadas na metáfora de aquisição

entendem que “unidades básicas de conhecimento podem ser acumuladas,

13 Do original, “On two metaphors for learning and the dangers of choosing just one” (SFARD, 1998, tradução da autora).

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gradualmente definidas e combinadas de forma a enriquecer as estruturas cognitivas”

(adaptado de SFARD, 1998, p. 5, tradução da autora). A partir dessa proposição, o

processo de aprendizagem seria uma atividade de acumulação de conceitos, os quais,

por sua vez, são considerados como bens materiais. Assim, segundo a autora, a

utilização de termos como “aquisição de conhecimento” e “desenvolvimento de

conceitos” retratam uma posição de que a mente humana é um recipiente a ser

preenchido com certos conhecimentos dos quais o(a) aprendiz(a) se torna dono(a) a

partir dos processos de aprendizagem.

Sfard (1998) enumera diferentes possibilidades de essa ideia ser expressa,

como por exemplo com o emprego de palavras como conhecimento, conceito,

concepção, ideia, noção, equívoco, significado, senso, esquema, fato, representação,

material e conteúdos, assim como outros termos para o processo de tornar esse saber

próprio, como recepção, aquisição, construção, internalização, apropriação,

transmissão, obtenção, desenvolvimento, acumulação e compreensão. Ainda, afirma

que nessa perspectiva o(a) professor(a) pode auxiliar o(a) aluno(a) a atingir esse

objetivo a partir de processos de entrega/fornecimento, transmissão, facilitação e

mediação (SFARD, 1998). Por fim sobre a aquisição, a autora considera que os(as)

pesquisadores(as) que se utilizam dessa metáfora oferecem diferentes possibilidades

para desenvolver conceitos, que vão desde processos de simples recepção do

conhecimento até a ideia de que o conhecimento se constrói do social para o individual

(citando inclusive a teoria histórico-cultural).

Para defender a metáfora de participação, a autora destaca outras

perspectivas sobre a aprendizagem que não se utilizam dos termos “conceito” ou

“conhecimento” ou, em outra análise, que empregam o verbo “conhecer”, indicando

uma ação, uma atuação ativa. Sfard (1998) argumenta essa nova perspectiva se

aporta na ideia da aprendizagem como uma participação periférica legitima (LAVE;

WENGER, 1991) ou como um processo desencadeado pela reflexão (ROGOFF,

1990). Dessa forma, a aprendizagem não possui fim, pois não se encerra quando o

“conhecido é adquirido”, como na perspectiva anterior.

Sfard (1998) ressalta a utilização de termos como “prática”, “discurso” e

“comunicação” nos estudos que se aportam na metáfora de participação, sugerindo

que o(a) aprendiz(a) “pode ser visto como uma pessoa interessada em participar de

certos tipos de atividades ao invés de acumular posses pessoais” (SFARD, 1998, p.

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6, tradução da autora). A aprendizagem seria considerada como um processo de se

tornar membro de uma comunidade, que se aporta na linguagem e na execução de

ações particulares como principais formas de participação e negociação. A autora

salienta que a metáfora de participação foca a natureza dialética da aprendizagem,

em que o todo e as partes afetam e informam-se reciprocamente.

Sfard (1998) evidencia que a dicotomia entre as metáforas citadas não

pode ser confundida com a distinção entre perspectivas individuais e sociais de

aprendizagem. Afirma:

De acordo com a distinção proposta nesse artigo, teorias que falam sobre a recepção do conhecimento e aquelas que veem a aprendizagem como uma internalização de conceitos socialmente estabelecidos pertencem à mesma categoria (metáfora de aquisição), enquanto no eixo individual/social, essas devem ser postas em polos opostos. Enquanto a dimensão social é salientada na metáfora de participação, ela não está necessariamente ausente das teorias da metáfora de aquisição. É importante entender que duas distinções são feitas de acordo com diferentes critérios: enquanto a divisão aquisição/participação é ontológica em natureza e apresenta duas diferentes respostas para a questão “O que é essa coisa chamada aprendizagem?”, a dicotomia individual/social não implica controvérsia com relação a definição de aprendizagem, mas apresenta diferentes visões do mecanismo de aprendizagem. (SFARD, 1998, p. 7, tradução da autora).

O estudo da teoria de Sfard (1998) à luz do entendimento da teoria

histórico-cultural mostra algumas incongruências com o que foi proposto por Vygotsky,

em nossa interpretação. Enquadrar a teoria histórico-cultural como parte da metáfora

de aquisição e, portanto, como uma forma de “acumular bens materiais” é contraditório

com a ontologia da perspectiva vygotskyana e mostra uma concepção resumida das

ideias de Vygotsky e seus colaboradores. Para esses, o conhecimento é construído

socialmente e de modo algum acumulado sem que haja transformação (vide o

conceito de sentido, apresentado no capítulo anterior).

Ao considerar os espaços culturais em que a aprendizagem ocorre e que

todas as pessoas que constituem esses espaços são influenciadas e influenciadoras

dessa cultura, Vygotsky não dialoga com a ideia de que o(a) aprendiz(a) é um

"recipiente a ser preenchido", mas é ativo(a) em todo o processo de aprendizagem.

Essa interrelação entre as pessoas as impregna de conhecimentos, perspectivas e

visões de mundo que influenciam em seus processos de aprendizagem e na forma

em como interpretam toda e qualquer informação que lhes é apresentada. Assim, o(a)

aprendiz(a) nunca apenas “recebe” um conhecimento, da mesma forma que o(a)

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professor(a) ou outro mediador(a) não simplesmente “transmite”, mas há influência da

cultura e das concepções e experiências prévias do(a) aprendiz(a) a todo momento.

Assim, não se pode considerar que na perspectiva histórico-cultural um(a)

aprendiz(a) aprenda apenas por mediação de uma única pessoa - mas por várias

mediações, diretas e indiretas, de forma física ou a partir de materiais escritos,

desenhados, observados - tendo quem aprende a possibilidade de escolha, de

negociação e de influência das relações de poder, de forma correlata a metáfora de

participação de Sfard (1998).

O mesmo contraponto pode ser feito ao considerarmos as teorias ditas

como parte da metáfora de participação. As propostas de aprendizagem como uma

participação periférica legitima (LAVE; WENGER, 1991) e de aprendizagem a partir

da reflexão (ROGOFF, 1990), que estão mais desconectadas de uma perspectiva

formal de ensino do que as outras citadas na metáfora de aquisição, também

apresentam componentes essenciais da teoria histórico-cultural: pessoas com

diferentes experiências, que atuam como “andaimes” do processo de aprendizagem;

a importância da linguagem e da comunicação; o papel ativo daquele(a) que aprende;

a importância do componente social.

Por fim, também discordamos da proposição de Sfard (1998) de que a

divisão individual/social não é ontológica. Ao se considerar que nenhuma forma de

aprendizagem se dá individualmente, estamos adotando uma ontologia relativista

(SPARKES, 1992), como explicitado no Método desse estudo. Interpretamos que a

aprendizagem, assim como todas as expressões na realidade, não são frutos apenas

biológicos e nem apenas externos, mas aspectos relacionais.

Assim, a perspectiva apresentada por Sfard (1998) sobre o processo de

aprendizagem difere-se da proposta por Vygotsky; entretanto, as teorias dialogam ao

considerar a importância do social e da participação ativa do(a) aprendiz(a). Esses

aspectos nos conduzem a valorizar os tipos de estratégias pedagógicas adotadas em

processos de aprendizagem.

A segunda perspectiva analisada é a proposta pela pesquisadora Jennifer

Moon (2004). Para a autora, a aprendizagem pode ocorrer em dois modelos,

baseados nas metáforas de “construção de um muro de tijolos” e “rede de

aprendizagem”.

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Na metáfora da “construção de um muro de tijolos”, o conhecimento é

entendido como algo a ser assimilado pelo(a) aprendiz(a); o conhecimento é “retido

da mesma forma que recebido” (MOON, 2004, p. 16, tradução da autora).

Metaforicamente, é visto como um “tijolo” provido pelo(a) professor(a), que quando

acumulado forma um “muro de conhecimentos”. Nessa perspectiva, o(a) professor(a)

já sabe previamente o padrão que o “muro” irá constituir, pois proporcionou os

conhecimentos já formatados. Por isso, poderá conferir se as representações do

conhecimento assimiladas pelos(as) aprendiz(a) estão corretas a partir de avaliações,

ensaios e discursos.

Essa metáfora é negada pela autora (MOON, 2004), que considera não só

que a aprendizagem é social, mas também que em muitas situações o significado do

conhecimento aprendido não é fruto de uma instrução, mas da aprendizagem

cotidiana espontânea.

A segunda metáfora, de natureza construtivista (MOON, 2004), entende o

conhecimento como construído a partir de uma flexível e vasta “rede de

aprendizagem” composta por ideias e sentimentos, chamada de estrutura cognitiva.

Quando novos conhecimentos ou reflexões sobre antigos conhecimentos são

considerados, acontece uma modificação na estrutura cognitiva, que se torna o ponto

de partida para novos processos de aprendizagem. Segundo a teoria, os

conhecimentos dessa rede têm variados graus de ligações entre si, de acordo com as

experiências individuais. Moon (2004) considera essas características da estrutura

cognitiva determinantes para que cada pessoa escolha em que irá atentar-se, o que

aprenderá, como modificará seus sentimentos e conhecimentos prévios e

transformará conceitos. Nessa perspectiva, o processo de aprendizagem é visto como

transformador de concepções e não simplesmente como acúmulo de conhecimento

(WERTHNER; TRUDEL, 2006).

Para Moon (2004), as oportunidades de aprendizagem podem acontecer de

três formas. As situações mediadas são aquelas em que o(a) aprendiz(a) não escolhe

com qual conhecimento, como e quando essa oportunidade de aprendizagem

ocorrerá. Isso é determinado por um(a) mediador(a) externo(a) e os(as)

aprendizes(as) são agentes passivos(as) do processo de aprendizagem (TRUDEL;

CULVER; WERTHNER, 2013). As situações de aprendizagem não mediadas são

aquelas em que os(as) aprendizes(as) escolhem quais conhecimentos e as condições

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em que irão se desenvolver. Esse processo pode ocorrer pela interação não mediada

com outros(as) aprendizes(as) ou mesmo pela elaboração de estratégias como

buscas em livros e na Internet e observações (TRUDEL et al., 2013). Por fim, as

situações de aprendizagem internas são aquelas em que não há um novo material de

aprendizagem proveniente da experiência externa de uma situação mediada ou não

mediada; o conhecimento é gerado a partir da reflexão, inclusive da resultante de

experiências.

Ao analisarmos a teoria de Moon segundo a teoria histórico-cultural,

podemos considerar os mesmos aspectos que discutimos sobre a teoria de Sfard

(1998): a impossibilidade de um processo de aprendizagem passivo, como apontado

na metáfora do “muro de tijolos”, e a presença permanente do fator social.

Como já afirmado anteriormente, a teoria histórico-cultural considera que é

impossível que haja “transmissão de conhecimentos” e especialmente processos de

aprendizagem sem a participação do(a) aprendiz(a). Em nossa interpretação,

Vygotsky tem a intenção de afirmar em sua teoria, embora não o faça com essas

palavras, que se em determinada situação o(a) aprendiz(a) verbaliza pouco suas

interpretações, opiniões, questionamentos ou concordâncias, isso acontece por conta

da cultura estabelecida entre os(as) envolvidos(as) e as estratégias pedagógicas

adotadas. Apesar disso, o processo de aprendizagem acontece de forma

essencialmente social, sob a mediação de outras pessoas. Assim, não haveria duas

possibilidades do processo de aprendizagem, mas sim, diferentes estratégias

pedagógicas que podem incentivar mais ou menos a participação ativa dos(as)

aprendizes(as).

Outra situação que pode ser curiosa ao se estudar as duas teorias é a

relação entre mediação e processo de aprendizagem. Tanto para Vygostky quanto

para Moon (2004), ainda que em alguns processos de aprendizagem não haja

direcionamento formal ou a presença física de outros(as) participantes, as mediações

acontecem a partir de outros tipos de relações sociais. Isso porque, segundo Moon

(2004) baseada em Laurillard (1993), o termo “aprendizagem mediada” é utilizado

para descrever a facilitação realizada por outra pessoa ou pelo uso de um material de

ensino. Moon (2004) sugere que existem muitas formas de mediação, mas que em

todas elas sua finalidade é modificar a experiência do(a) aprendiz(a); por isso, sugere

uma revisão de seu próprio termo “aprendizagem mediada” para “experiência (de

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aprendizagem) mediada”. Sendo assim, a mediação não acontece apenas pela

existência de um(a) instrutor(a) ou professor(a) formal, mas pela troca de

conhecimentos com quaisquer pessoas, inclusive outros(as) aprendizes(as) e

materiais de aprendizagem. Para a autora:

O papel do(a) professor(a) na mediação da experiência do(a) aprendiz(a) pode ter muitas diferentes formas, todas com diferentes papéis no processo de simplificação e orientação. Mediação pode ser uma situação presencial como no ensino, em palestras ou orientações. Pode ser um programa de aprendizagem a distância, que direciona o(a) aprendiz(a) a um conjunto de diferentes atividades de aprendizagem. Pode ser uma forma de material impresso – livros-texto, livros ou televisão. Mediação pode também acontecer com a disponibilização de critérios de avaliação, com pouco direcionamento antes que os(as) aprendizes(as) comecem a aprender. Os critérios de avaliação então tem a função de guiar a aprendizagem requerida. (MOON, p. 74, tradução da autora)

A partir desse novo entendimento dos tipos de aprendizagem, a diferença

entre as situações mediadas e não mediadas seria a existência ou não de uma

organização curricular obrigatória e a busca individual por formação. A presença de

outras pessoas no processo de aprendizagem não é questionada. Inclusive, com essa

indicação de que a mediação pode ser realizada a partir de diferentes estratégias,

Moon (2004) ressalta que o(a) próprio(a) aprendiz(a) medeia sua aprendizagem,

trazendo conhecimentos de experiências anteriores ao interpretar novos fatos. Nesse

aspecto, a teoria de Moon (2004) aproxima-se consideravelmente da perspectiva

histórico-cultural.

Outro assunto aproxima as perspectivas teóricas de Moon (1999; 2004) e

Vygotsky. Moon (2004) considera que quando uma situação de aprendizagem é

julgada subjetivamente como significativa para um(a) aprendiz(a), torna o processo

mais engajado e profundo em seu entendimento. Assim, essa experiência significativa

pode alterar o modo como pensa, sente e age em situações futuras, além de

influenciar em escolhas e decisões que influenciarão em buscas por conhecimentos

em situações futuras (CALLARY; WERTHNER; TRUDEL, 2012). Ao passo que as

oportunidades de aprendizagem acontecem em diferentes contextos e afetam as

experiências anteriores, tornam-se mais suscetíveis de serem aprofundadas e de

influenciarem as próximas oportunidades de aprendizagem. Essa ideia liga-se

consideravelmente à vivência de Vygotsky, como já explicado anteriormente.

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Assim, ao pensarmos as teorias de Sfard (1998) e Moon (2004) aplicadas

a aprendizagem de treinadores(as) nesse estudo, destacamos a aproximação com

alguns dos princípios da teoria histórico-cultural, em especial: a importância do meio

social e da mediação no processo de aprendizagem; a participação ativa dos(as)

aprendizes(as) nos processos de aprendizagem; a importância subjetiva das

oportunidades de aprendizagem, que podem potencializar os processos. Um

esquema comparativo entre as três proposições teóricas e seus aspectos

convergentes pode ser observado no quadro a seguir:

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Quadro 6 – Comparação entre as teorias de Sfard (1998), Moon (1999; 2004) e Vygotsky.

SFARD (1998) MOON (2004) VYGOTSKY:

Objetivo da aprendizagem

AQUISIÇÃO: Processo de enriquecimento individual. PARTICIPAÇÃO: Processo de construção comunitária.

CONSTRUÇÃO: Transmissão de conhecimentos. REDE: Alteração da estrutura cognitiva de acordo com novas ideias e sentimentos.

Compartilhar conhecimentos.

Aprendizagem

AQUISIÇÃO: Acumulação de conceitos. PARTICIPAÇÃO Tornar-se participante.

CONSTRUÇÃO: Aquisição de conceitos. REDE: Aumentar a rede de ideias e sentimentos.

Co-construção de conhecimentos, a partir de outros socialmente construídos e historicamente situados.

Aluno(a)

AQUISIÇÃO: Consumidor(a) do conhecimento. PARTICIPAÇÃO Inicia como um(a) participante periférico(a).

CONSTRUÇÃO: Receptor(a) do conhecimento. REDE: Responsável por todo o processo.

Central no processo de aprendizagem, cuja história e experiências prévias influenciam no processo.

Professor(a)

AQUISIÇÃO: Facilitador(a) ou provedor(a) do conhecimento. PARTICIPAÇÃO Participante mais experiente ou organizador(a).

CONSTRUÇÃO: Provedor(a) dos conhecimentos. REDE: Pode ou não haver professor(a), que fará mediações.

“Andaime” do processo de aprendizagem, que oferecerá ajuda para o entendimento de conhecimentos ainda não construídos.

Conceito de conhecimento

AQUISIÇÃO: Propriedade ou posse. PARTICIPAÇÃO Aspecto da prática, discurso ou atividade.

CONSTRUÇÃO: Saber pré-concebido e fixo. REDE: Ideias e sentimentos construídos coletivamente e compreendidos na estrutura cognitiva.

Saber construído coletivamente e historicamente situado, relacionado ao papel de determinado grupo social nas relações sociais vigentes.

Processo de aprendizagem

AQUISIÇÃO: Envolve ter, possuir. PARTICIPAÇÃO Envolve pertencer, participar e comunicar.

CONSTRUÇÃO: Envolve transmitir e acumular. REDE: Envolve refletir sobre novos conhecimentos.

Co-construção.

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4.2 A teoria de Nelson, Cushion e Potrac (2006)

As teorias de Sfard (1998) e Moon (2004), bem como a teoria histórico-

cultural, dissertam sobre de que forma os processos de aprendizagem acontecem.

Estando clara nossa posição sobre esse assunto, outro tema bastante discutido nos

estudos sobre a formação de treinadores(as) e necessário para a discussão dessa

tese são os tipos de oportunidades14 de aprendizagem. Com esse assunto, estamos

tratando das situações em que os processos de aprendizagem podem acontecer e

das formas como as relações sociais se dão para que haja a troca e a construção de

novos conhecimentos.

A literatura acadêmica sobre a aprendizagem de treinadores(as) tem se

apoiado largamente na proposta de Nelson, Cushion e Potrac (2006), a qual

utilizaremos nesse estudo. Tais autores classificam as oportunidades de

aprendizagem de treinadores(as) como formais, não-formais e informais, baseados no

quadro conceitual de Coombs e Ahmed (1974) e nos estudos sobre a aprendizagem

de adultos.

As oportunidades de aprendizagem formal são aquelas que fazem parte de

um sistema de educação institucionalizado e que portanto são cronologicamente

escalonadas e hierarquizadas e selecionam participantes a partir de pré-requisitos

previamente definidos. São comumente entendidas como cursos com presença

obrigatória, currículos padronizados e culminam em certificações (NELSON;

CUSHION; POTRAC, 2006).

Segundo Mallett e colaboradores (2009), nessas oportunidades as

avaliações conduzem os conteúdos a serem ensinados e consequentemente o(a)

aprendiz(a) tem pouco controle sobre o que aprende e possivelmente menor contato

com os conteúdos que considera mais atraentes ou vantajosos. As oportunidades de

aprendizagem formal são programas promovidos por universidades, entre os quais os

cursos de graduação, por exemplo; por federações nacionais e internacionais

esportivas, como alguns dos programas analisados nessa pesquisa; e de outras

diferentes instituições.

14 Apesar de o quadro divulgado por Nelson, Cushion e Potrac (2006) não utilizar o termo “oportunidade”, utilizando “aprendizagem formal”, “aprendizagem não-formal” e “aprendizagem informal”, optamos por sua utilização por entendermos que os processos de aprendizagem acontecem da mesma forma em todos os casos, como já explicitado anteriormente, mas que as oportunidades que conduzem a ele são diversas.

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Os programas de aprendizagem formal comumente são promovidos para

oferecer formação básica para muitas pessoas simultaneamente e, especialmente,

para treinadores(as) voluntários(as), que muitas vezes não possuem disponibilidade

temporal para participar de oportunidades formativas mais longas (MALLETT et al.,

2009). Por esse motivo, são muitas vezes superficiais. Assim, para compensar essas

deficiências, treinadores(as) podem participar de outras oportunidades de

aprendizagem ditas não-formais.

As oportunidades de aprendizagem não-formal são as organizadas e

sistematizadas fora do sistema formal de formação e realizadas para subgrupos

particulares de treinadores(as) (NELSON; CUSHION; POTRAC, 2006). Essas

iniciativas tendem a ser de curto prazo, voluntárias e ter pouco ou nenhum pré-

requisito (MALLETT et al., 2009). São exemplos dessa categoria conferências,

seminários, workshops e clínicas.

As oportunidades de aprendizagem formal e não-formal, apesar de

possuírem diferenças com relação ao processo de certificação, são similares por

serem preparadas, oferecidas e organizadas por instituições formais, tanto as

universidades, quanto as federações esportivas. Por esse motivo, trataremos o

conjunto formado pelas oportunidades de aprendizagem formal e não-formal como

institucionalizadas.

Aspectos negativos e positivos têm sido levantados sobre as oportunidades de

aprendizagens institucionalizadas. O primeiro aspecto negativo considerado, refere-

se à dinâmica das estratégias pedagógicas realizadas: comumente, esses programas

são oferecidos a grupos e, muitas vezes, em uma abordagem “expert-iniciante”, em

que um(a) professor(a) palestra para alunos(as) (CÔTÉ, 2006; TRUDEL; GILBERT,

2006). É comum que nessa estratégia pedagógica não haja a permissão e o incentivo

da participação “iniciante-expert” ou “iniciante-iniciante” e logo são consideradas como

baseadas na metáfora de aquisição (SFARD, 1998). Assim, adquirem conotação vista

como pouco eficiente pelos estudos atuais citados.

Outro aspecto levantado é o fato da motivação para participação nesse tipo de

oportunidade de aprendizagem ser, muitas vezes, predominantemente extrínseca e

pouco efetiva (TRUDEL; GILBERT, 2006). Isso ocorreria pois, segundo Trudel e

Gilbert (2006), os cursos formais são etapas pelas quais treinadores(as) são

obrigados(as) a serem aprovados(as) para modular seus planos de carreira. Assim,

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tal motivação aliada à estratégia pedagógica utilizada é entendida como pouco

relevante por treinadores(as) e pesquisadores(as) da área (CÔTÉ, 2006; MALLETT et

al., 2009; LEMYRE; TRUDEL; DURAND-BUSH, 2007; WERTHNER; TRUDEL, 2006;

ERICKSON et al., 2008).

Outra alegação levantada é a de que muitos programas certificadores podem

ser considerados como doutrinadores, pois se propõe a convencer os(as) profissionais

de que existe uma única forma correta de pensar, agir e comportar-se, abrindo poucas

possibilidades de reflexões sobre valores, filosofia de trabalho e abordagens

pedagógicas (BUCKLEY; CAPLE, 2000). Assim, a escolha dos conteúdos presentes

em cursos de larga escala pode ser considerada como

[...] uma forma de controle social, onde alguns temas são eliminados e outros são promovidos. O processo passa a ser um ato político, intimamente ligado ao poder e ao controle, sobre o que constitui conhecimento legítimo e o que detém esse conhecimento na cultura e da profissão. (NELSON; CUSHION; POTRAC, 2006, p. 252, tradução da autora).

Isso ocorreria, em nossa visão, a partir da promoção de estratégias

pedagógicas tradicionais, uma vez que pouco permitem a participação dos

conhecimentos prévios dos(as) treinadores(as)-aprendizes(as) e as trocas de

experiências, já que todo tipo de currículo e escolha de conteúdos são políticos e não

apenas nas oportunidades de aprendizagem institucionais.

Um último argumento negativo sobre esse tipo de oportunidade de

aprendizagem é bastante relevante e muito considerado pela literatura acadêmica.

Culver e Trudel (2006), Cassidy, Jones e Potrac (2009), Morgan e colaboradores

(2013a) e Paquette e colaboradores (2014), entre outros, ressaltam a natureza do

exercício do(a) treinador(a), considerado um processo complexo, impregnado das

relações de poder e dos contextos de vida de treinadores(as), gestores(as), atletas e

da sociedade em geral (JONES, 2006; CASSIDY; JONES; POTRAC, 2009). Logo, é

ilusório pensar que qualquer programa formativo institucional pode, em si, preparar

adequadamente treinadores(as) para resolver todos as potenciais situações que

poderão enfrentar. Sendo assim, outros tipos de oportunidades de aprendizagem

devem ser considerados na formação de treinadores(as).

Outros aspectos são considerados positivos com relação as oportunidades de

aprendizagem institucional. Lemyre, Trudel e Durand-Bush (2007) afirmam que

treinadores(as) com pouca experiência apreciam o componente prático dos

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programas de larga escala, pois proporcionam informações concretas sobre o ensino

de Esporte e práticas corporais.

Outro importante aspecto a ser relevado é a possibilidade do estabelecimento

de redes de contato entre treinadores(as) durante os cursos, seminários, palestras e

outras iniciativas (LEMYRE; TRUDEL; DURAND-BUSH, 2007). Por serem espaços

que reúnem treinadores(as) interessados em assuntos e contextos similares, podem

proporcionar a troca de experiências e conhecimentos e incentivar que outras

oportunidades de aprendizagem, inclusive do tipo informal, aconteçam. Essas

propostas podem acontecer de forma casual e mesmo serem incentivadas pelas

instituições promotoras dos eventos.

Um terceiro argumento relaciona-se com o conteúdo dessas oportunidades de

aprendizagem institucionais. Nelson, Cushion e Potrac (2006) destacam a progressão

contínua do conteúdo, desde a introdução até a exploração complexa, favorecendo a

aprendizagem de novos conhecimentos. Erickson e colaboradores (2008) destacam

estudos que informam que os programas formais tem proporcionado aumento da

eficácia percebida no ensino de Esporte e práticas corporais, facilitação do

desenvolvimento social e formação pessoal dos atletas e a diminuição das taxas de

burnout de treinadores(as), por conta do ensino de gestão do estresse e estratégias

de enfrentamento.

Nesse estudo, consideramos que a eficiência das diferentes oportunidades

de aprendizagem institucionais dependem da forma como forem organizadas, em

especial, da escolha das estratégias pedagógicas adotadas. Mesmo em uma

oportunidade formal ou não-formal de ensino, é possível que os(as) professores(as)

adotem posturas e se utilizem de dinâmicas que permitam que treinadores(as)-

alunos(as) possam trocar experiências e conhecimentos e, assim, constituam

processos de aprendizagem sociais e significativos. Essa ressignificação das

estratégias pedagógicas também pode acontecer com as avaliações, que podem ser

menos relacionadas a conteúdos isolados e então proporcionarem que os(as)

treinadores(as)-alunos(as) façam relações com suas experiências e interesses. Essa

argumentação tem estreita relação com o conceito de vivência, proposto por Vygotsky.

Em acréscimo, uma estruturação adequada dos programas e uma

integração de diferentes disciplinas podem aumentar a motivação interna pela

aprendizagem e o conhecimento sobre os assuntos abordados, favorecendo a

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construção do conhecimento de acordo com o contexto de atuação de cada

treinador(a) (CÔTÉ, 2006). Assim, o interesse pela participação em oportunidades de

aprendizagem pode aumentar e com isso a qualidade de ensino dos esportes e

práticas corporais também pode ter reflexo nessa aprendizagem. Uma outra forma

possível de incentivar os processos de aprendizagem de treinadores(as) por parte das

instituições é o oferecimento de materiais de aprendizagem (MOON, 2002) que

favoreçam oportunidades informais.

As oportunidades de aprendizagem informal são aquelas que ocorrem ao

longo da vida a partir de experiências diárias e das relações com o meio (NELSON;

CUSHION; POTRAC, 2006). Essas oportunidades permitem, nas palavras dos

autores, “acumulação” de conhecimentos, habilidades, atitudes e insights in loco, ou

seja, em contato direto com a atuação profissional ou com outros(as) profissionais.

Estão incluídos nessa categoria os processos de aprendizagem como experiência

prévia como atleta, mentoria informal, experiência prática da atuação como

treinador(a), a interação com outros(as) treinadores(as) e atletas, exploração da

Internet e de vídeos, leitura de referências sobre o ensino de esportes, livros, artigos

de jornais e revistas e gravações de suas próprias atuações e de atletas. Também

são ressaltadas as possibilidades de aprendizagem a partir de “redes de

aprendizagem informais” ou comunidades de prática (NELSON; CUSHION; POTRAC,

2006, p. 253).

Nelson, Cushion e Potrac (2006) e Gilbert, Côté e Mallett (2006), entre

outros(as) autores(as), destacam ainda que é a partir das oportunidades de

aprendizagem informal que os(as) treinadores(as) mais aprendem, pois o tempo

dispendido nesse tipo de atividade é maior do que o investido nas atividades formais

e não-formais. Outro aspecto bastante destacado é a experiência prévia como atleta

ou treinador(a) assistente, que parecem fornecer muitas informações sobre o contexto

específico dos esportes ou práticas corporais, o que não é comumente abordado em

oportunidades de aprendizagem institucionais (LEMYRE; TRUDEL; DURAND-BUSH,

2007).

Logo, por essa forte relação com as experiências anteriores, as

preferências com relação às oportunidades de aprendizagem de adultos são

dependentes das experiências prévias de cada aprendiz(a). Nesse sentido, nós

ressaltamos, apoiadas em Mallett e colaboradores (2009), que as oportunidades

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institucionalizadas podem influenciar muito o olhar para os processos de

aprendizagem ditos informais. Isto é, pode ser a partir de uma gerência efetiva de

programas de formação de treinadores(as) oferecidos pelas instituições educacionais

ou regulatórias que oportunidades informais podem ser estabelecidas, como por

exemplo: a criação de redes de contatos entre os(as) treinadores(as); a organização

de grupos de profissionais para trocas de experiências; a disponibilização de materiais

didáticos, como livros, revistas e vídeos específicos para treinadores(as); a

apresentação de profissionais de retratam perfis de sucesso na prática corporal ou

esportiva e que podem ser mentores ou cujas bibliografias podem inspirar outros(as)

treinadores(as) Mallett e colaboradores (2009) afirmam que as oportunidades de

aprendizagem informais também acontecem durante as oportunidades

institucionalizadas pelo contato entre treinadores(as) que ocorre foras das aulas e

apresentações e em um processo de networking proposital, por exemplo. Essa

relação é interessante para aproximar treinadores(as) com os objetivos individuais e

contextos de trabalho semelhantes, como sugere Côté (2006).

Um exemplo da eficácia da utilização de meios de aprendizagem informal

como estratégias pedagógicas de processos de aprendizagem institucionalizada pode

ser encontrado no estudo de MacDonald, Côté e Deakin (2010). Os autores

constataram que treinadores(as) que participaram de momentos estruturados de

discussão entre treinadores(as) e de outras oportunidades que encorajavam trabalhos

em equipe e compartilhamento de ideias sobre o desenvolvimento positivo de atletas

foram avaliados por seus(suas) atletas como significativa e positivamente influentes

neste sentido. Ao final do estudo, os autores constatam que essa iniciativa é positiva

especialmente em programas de larga escala, pela possibilidade de muitas crianças

e muitos jovens estarem envolvidos com os profissionais participantes das

oportunidades de aprendizagens institucionais.

Nelson, Cushion e Potrac (2006) relacionam às oportunidades de

aprendizagem informal o termo “autodirigido”, para designar que há escolha do(a)

treinador(a) na realização desses processos, ou seja, que estes não são impostos

como parte obrigatória de uma atividade em uma configuração institucional. Em nossa

opinião, o termo “autodirigida” é interessante para diferenciar os processos de

aprendizagem que acontecem fomentados por diretrizes obrigatórias ou pré-

determinadas, como no caso das oportunidades de aprendizagem institucional,

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daquelas buscadas pelo(a) próprio(a) treinador(a) desvinculadas desse processo. No

entanto, cabe atenção ao fato de que nem toda oportunidade de aprendizagem

informal é autodirigida, uma vez que algumas podem ser incentivadas por instituições.

Outro ponto que destacamos de Nelson, Cushion e Potrac (2006) relaciona-

se com a discussão sobre mediação no processo de aprendizagem. Os autores

afirmam que apesar de muitas oportunidades autodirigidas ocorrerem em outros

âmbitos que não relacionadas às instituições,

(...) seria difícil afirmar que uma proporção desses esforços não é de fato educacional. Por exemplo, quando se utilizam de materiais como manuais de ensino de esportes e ciências do esporte, livros, artigos de jornais, vídeos e fontes na Internet, os(as) treinadores(as) estão se engajando com materiais criados por uma terceira parte que pretende obter resultados de aprendizagem com o recurso e, portanto, podem ser considerados indiretamente “ensinados”. (NELSON; CUSHION; POTRAC, 2006, p. 253)

Ao utilizar os termos “educação” e “ensino”, os autores estão se

relacionando ao que chamamos anteriormente de mediação. Dessa forma, essa

afirmação vem ao encontro da argumentação de que não existe aprendizagem que

não seja, de alguma forma, mediada.

Outros termos associados às oportunidades de aprendizagem informal são

“não guiadas” ou “incidentais” (MALLETT et al., 2009). Não concordamos com o termo

“não guiada”, pois, como já explicado anteriormente, entendemos que os processos

de aprendizagem são sociais e não acontecem sem que haja mediação de outras

pessoas, direta ou indiretamente, ou da cultura em que esse(a) aprendiz(a) está

inserido(a). Já o termo incidental é bastante questionável. A palavra incidental significa

“que acontece de forma fortuita e/ou imprevisível, acidental, eventual” (MICHAELIS,

2018); ao considerarmos que o(a) aprendiz(a) é ativo no processo de aprendizagem

e que a intencionalidade no processo de aprendizagem é um fator importante para o

alcance do objetivo, o termo não é adequado.

Por fim, sob a ótica da teoria histórico-cultural, defenderemos nessa tese

que a aprendizagem é um processo ativo e social. É ativo, pois o(a) aprendiz(a) não

é um “recipiente a ser preenchido” e não “acumula” conhecimentos, mas constrói e

faz sentido de novos saberes a partir de suas experiências anteriores. É social, pois

todo novo conhecimento é apresentado por outras pessoas direta ou indiretamente a

partir de mediações e permeado pela cultura, influenciada e influenciadora de

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pessoas. Dessa forma, a partir da perspectiva histórico-cultural, os processos de

aprendizagem não devem ser “centrados no(a) professor(a)” ou “centrados no(a)

aprendiz(a)”, mas centrados nas relações que se estabelecem, sejam elas entre

aprendizes(as) e aprendizes(as) e mediadores(as) responsáveis.

Assim, no âmbito da formação de treinadores(as), os processos de

aprendizagem podem acontecer a partir de oportunidades institucionalizadas,

vinculadas a instituições como universidades e federações esportivas, ou informais, a

partir de outras ações sociais que podem se desenvolver nos demais contextos. As

oportunidades de aprendizagem podem ser mais ou menos efetivas de acordo com

as relações com o contexto de atuação dos(as) treinadores(as), ou seja, o quanto

“tocam” suas experiências e ações, o quanto permitem o desenvolvimento de

vivências. Assim, estaremos pensando uma formação de treinadores(as)

“imaginativos(as), dinâmicos(as) e conscientes” (CUSHION; ARMOUR; JONES,

2003, p.16), que encoraje atuações criativas com relação aos métodos de ensinar

esportes e práticas corporais e atentas à natureza ambígua do contexto de atuação

(CASSIDY; JONES; POTRAC, 2009).

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5 ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS: UMA BUSCA PELA INOVAÇÃO

NAS FORMAS DE MEDIAÇÃO

Os processos de aprendizagem fazem parte de uma grande temática a ser

considerada pela formação de treinadores(as): a educação. Para compreender e

discutir brevemente essa ligação, apoiamo-nos nos estudos do professor José Carlos

Libâneo, cujas explicações também se aportam na teoria histórico-cultural. Para

Libâneo (2001, p. 7, grifos do autor),

Educação compreende o conjunto dos processos, influências, estruturas e ações que intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa com o meio natural e social, num determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais, visando a formação do ser humano. A educação é, assim, uma prática humana, uma prática social, que modifica os seres humanos nos seus estados físicos, mentais, espirituais, culturais, que dá uma configuração à nossa existência humana individual e grupal.

Segundo o autor (LIBÂNEO, 2001), os processos educativos acontecem a

partir da intervenção da comunicação e do intercâmbio da experiência humana

acumulada, em uma perspectiva compartilhada com Vygotsky (1997; 1998; 2000;

2009; 2010). Para o primeiro dos citados, a mediação é intrínseca ao ato educativo.

Ou seja, os processos de aprendizagem são o meio pelo qual a educação

acontece.

Libâneo (2005a, p. 1) ressalta que as práticas educativas não se

restringem à escola ou à família, mas acontecem “em todos os contextos e âmbitos

da existência individual e social humana, de modo institucionalizado ou não, sob

várias modalidades”. Para o autor (LIBÂNEO, 2005a), a pedagogia é o campo que se

ocupa do estudo sistemático das práticas educativas que se realizam em sociedade

como processos fundamentais da condição humana. Assim, as ações educativas

intencionais são consideradas por Libâneo (2005a) como pedagógicas.

Dessa maneira, o “pedagógico” tem como objetivo se configurar na relação

entre os elementos da prática educativa, o(a) mediador(a), o(a) aprendiz(a), o

conteúdo e os contextos em que ocorrem (LIBÂNEO, 2001) e, portanto, refere-se ao

“(...) metodológico, o modo de fazer, o modo de ensinar a matéria” (LIBÂNEO, 2005b,

p. 4). Assim, o autor afirma que pensar e atuar no campo da educação implica

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responsabilidade social e ética de investigar não apenas os motivos dos processos de

aprendizagem, mas quais são esses e como ocorrem (LIBÂNEO, 2005b).

De forma específica para nosso objeto de estudo, a formação de

treinadores(as) de GPT, podemos considerar que o papel das FNG nessa educação

dita profissional, por isso entendida por nós como “formação”, é exercido a partir das

oportunidades de aprendizagem que objetivam, oferecem e organizam.

Tais oportunidades de aprendizagem institucionais são programas que

possuem uma mesma estrutura geral independentemente do local em que são

realizados, ou seja, são tipos pré-definidos, cujas definições são similares. Entretanto,

suas abordagens, objetivos, conteúdos, formas em que as mediações acontecem,

os(as) mediadores(as) responsáveis e suas atuações são particulares a cada

programa, sendo alinhados a posições políticas e ontológicas de cada instituição.

Atreladas à organização dos programas estão as estratégias pedagógicas

adotadas, ou seja, as propostas utilizadas pelos programas de formação para

proporcionar as mediações que levarão aos processos de aprendizagem. O termo

“estratégia pedagógica” foi utilizado pois se alinha ao nosso entendimento de que a

aprendizagem ocorre por meio de um processo, um “caminho” a ser percorrido pelo(a)

aprendiz(a) a partir da mediação de outras pessoas mais experientes (VYGOTSKY,

1997; 1998; 2000; 2009; 2010). Para isso, os(as) mediadores(as) responsáveis

utilizam métodos que devem facilitar o alcance dos objetivos previamente identificados

– ou seja, buscam estratégias.

A palavra estratégia, segundo as autoras Anastasiou e Alves (2007), é

atribuída à palavra grega estrategía e à latina strategia, que significam a arte de aplicar

ou explorar os meios e as condições favoráveis e disponíveis com vista à consecução

de objetivos específicos. Assim, estratégia é adotada “no sentido de estudar,

selecionar, organizar e propor as melhores ferramentas facilitadoras” (ANASTASIOU;

ALVES, 2007, p. 3) para que os(as) aprendizes(as) co-construam novos

conhecimentos.

Anastasiou e Alves (2007, p. 4) completam:

Através das estratégias aplicamos ou exploramos meios, modos, jeitos, formas, de evidenciar o pensamento, portanto, respeitando às condições favoráveis para se executar ou fazer algo. Esses meios ou formas comportam determinadas dinâmicas, devendo considerar o movimento e as forças, e o organismo em atividade. Por isso, o conhecimento do aluno pelo professor e

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seu crescente autoconhecimento é essencial para a escolha e a efetivação da estratégia, com seu modo de ser, agir, estar e sua dinâmica pessoal.

O termo “pedagógicas” refere-se à metodologia empregada para a função

de mediar, considerando, assim como indicado pela teoria histórico-cultural, as

pessoas, o conteúdo e o contexto. Logo, o termo “estratégias pedagógicas” se refere

aos métodos adotados como/nas oportunidades de aprendizagem.

Embora essa atenção seja requisitada para todo tipo de processo

pedagógico, Libâneo (2016) destaca que não se pode desvinculá-lo dos conteúdos e

métodos de cada área específica. Isso pois tudo o que é ensinado depende das

características do conhecimento disciplinar, ainda que não exclua as características

das pessoas envolvidas e do contexto. Sendo assim, no âmbito específico da

formação de treinadores(as), por exemplo, há de se considerar as experiências

obtidas nessa área para discutir as estratégias pedagógicas desse contexto. Assim,

no âmbito da formação de treinadores(as), faz-se necessário investigar as estratégias

pedagógicas que são empregadas nos programas institucionais.

As oportunidades de aprendizagem institucionais possuem grande

importância e podem contribuir notavelmente para processos de aprendizagem

efetivos. São essas oportunidades de aprendizagem que possuem como objetivo

estipulado pensar, planejar e implementar programas de formação de treinadores(as).

Essa contribuição, no entanto, pode estar ligada à forma como os conhecimentos são

apresentados aos(às) treinadores(as)-aprendizes(as) e os processos de

aprendizagem são mediados, ou seja, de que forma são facilitadas e acontecem as

relações sociais e o auxílio à co-construção de conhecimentos (VYGOTSKY, 1997;

1998; 2000; 2009; 2010).

As estratégias pedagógicas possuem potencialidades que podem

proporcionar dinâmicas que se aproximem do contexto e dos conhecimentos prévios

dos(as) envolvidos(as) e que favoreçam as relações sociais. Logo, a opção pelas

estratégias pedagógicas que farão parte de um programa de formação de

treinadores(as) é um fator essencial para que esses atinjam seus objetivos e

consigam, para além de uma perspectiva instrumental, possibilitar o desenvolvimento

de treinadores(as) imaginativos(as), criativos(as) e reflexivos(as) (CUSHION et al.

2003; CUSHION; NELSON, 2013). A opção pelas estratégias pedagógicas é,

inclusive, uma escolha política das instituições promotoras das oportunidades de

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aprendizagem, que refletem suas opções ontológicas e indicam, a partir do olhar para

seus(suas) treinadores(as), qual o papel dessas pessoas em sua organização e as

atitudes esperadas.

Vella, Crowe e Oades (2013) destacam que os programas de formação de

treinadores(as) devem atuar desenvolvendo “habilidades abertas”, aquelas que

permitem que o(a) aprendiz(a) responda às tarefas de forma variável, adaptável e

criativa e não que sejam orientados às “habilidades fechadas”, aquelas que

respondem a um particular conjunto de regras, em que há a intenção do(a)

treinador(a)-aprendiz(a) de demonstrar habilidades estritamente ligadas às prescritas

pelos programas a fim de se receber uma certificação. Concordamos com essa

proposta, especialmente ao considerarmos que o cotidiano de atuação dos(as)

treinadores(as) não possui rotinas, é problemático e complexo e baseado nas

interações sociais e nas relações de poder (JONES, 2006). Dessa forma, a formação

de tais treinadores(as) também deve ser baseada em dinâmicas que proporcionam

autonomia, tendo como foco as relações entre os(as) mediadores(as) responsáveis,

os(as) aprendizes(as) e o conhecimento, funcionando como um exemplo dos

contextos de atuação futuros.

A referência a estratégias pedagógicas inovadoras15 na formação de

treinadores(as), em oposição às ditas tradicionais, tem sido retratada em diferentes

estudos e publicações. Em nossas pesquisas, encontramos menções aos programas

inovadores16 sendo aqueles que se utilizam de estratégias pedagógicas que

consideram maiores relações com o contexto de atuação dos(as) treinadores(as), bem

como proporcionam maior troca de experiência entre os(as) envolvidos(as) (GILBERT;

GALLIMORE; TRUDEL, 2009; MORGAN et al., 2013a; STOSZKOWSKI; COLLINS,

2017a). Por sua vez, as estratégias pedagógicas tradicionais (CUSHION et al.

2003; EVANS; LIGHT, 2007; BERTRAM; GILBERT, 2011; CUSHION; NELSON, 2013;

DRISKA; GOULD, 2014; ARAYA; BENNIE; O’CONNOR, 2015; CLEMENTS;

MORGAN, 2015) são conhecidas como aquelas centradas no(a) mediador(a), nesse

15 Embora em alguns estudos a consideração a estratégias pedagógicas tradicionais e inovadoras tenha maior relação com o enfoque no conteúdo das propostas de formação, ressaltamos que, com base na literatura indicada, faremos referência às relações sociais que se oportuniza nos programas de formação. 16 Dos originais innovative, em Lauer e Dieffenbach (2013), Morgan e colaboradores (2013a; 2013b) e Stoszkowski e Collins (2017a); novel, em Hussain, Trudel, Patrick e Rossi (2012), Driska e Gould (2014) e Clements e Morgan (2015); e cutting edge, em Morgan e colaboradores (2013a) e Araya, Bennie e O’Connor (2015).

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caso reconhecido(a) mais como um(a) instrutor(a), oferecidas de forma padronizada

independente do grupo envolvido e cujas avaliações possuem respostas certas ou

erradas, distantes das características de contextos específicos (ARAYA; BENNIE;

O’CONNOR, 2015). Douglas e Carless (2008) destacam que é importante superar

essa abordagem “clássica” cuja prioridade é dada a conteúdos teóricos e abstratos,

pois a forma monóloga de apresentação dos temas pode ser incompreensível e

desmotivante para os(as) treinadores(as)-aprendizes(as).

Apesar de muitas vezes o emprego dos termos “tradicional” e “inovador”

designar um julgamento entre o que é “bom” ou “ruim”, ressaltamos que não temos a

intenção de estabelecer uma análise cartesiana e definitiva sobre as estratégias

pedagógicas. Não há a intenção de se considerar que uma forma de mediar os

processos de aprendizagem possa ser negativa e outra positiva, até mesmo porque

entendemos que as estratégias pedagógicas tradicionais também são formas de

mediação e contribuem para incentivar os processos de aprendizagem de

aprendizes(as). Enfatizaremos, no entanto, o entendimento de que as estratégias

pedagógicas que potencializarem as relações sociais e a aproximação com o contexto

de atuação de cada aprendiz(a) poderão ser mais efetivas, uma vez que possibilitarão

as vivências. Assim, serão programas mais eficazes em seu objetivo, de acordo com

a teoria histórico-cultural.

Dessa forma, Araya, Bennie e O’Connor (2015) sugerem a adoção de

estratégias pedagógicas que possibilitem a comunicação entre os(as) envolvidos(as)

e outras possibilidades criativas de abordagem do conteúdo, como revisão de vídeos,

encontros entre treinadores(as), autoavaliação da prática como treinador(a),

discussão de cenários de prática, entre outras. Esta colocação aproxima-se

consideravelmente do entendimento da teoria histórico-social, de que o conteúdo deve

estar alinhado ao nível de compreensão das pessoas envolvidas nos processos de

aprendizagem (VYGOTSKY, 2010), se adiantando ao desenvolvimento, mas sendo

possível de ser compreendido. Além disso, ressalta a ideia de que o meio social

precisa ser constantemente revisitado e analisado, pois não é imutável (VYGOTSKY,

1998) – a mediação das pessoas mais experientes nos processos de aprendizagem

será essencial para que os(as) treinadores(as)-aprendizes(as) possam reconsiderar

suas ações no ensino de Esporte e práticas corporais e assim modificar suas atitudes.

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Isso apenas será possível se as estratégias pedagógicas estiverem aplicadas ao

contexto de atuação desses(as) treinadores(as)-aprendizes(as).

Além disso, destacamos que a possibilidade do desenvolvimento de

estratégias pedagógicas inovadoras tem clara ligação com a carga horária dos

programas de formação de treinadores(as). Se há pouco tempo disponível para o

desenvolvimento de processos de aprendizagem, esses tenderão a ser mais

direcionados e menos sociais; o contrário também é verdadeiro. Apesar disso,

ressaltamos a importância de serem pensadas estratégias complementares,

anteriores aos momentos presenciais, ou ainda de continuação à formação, como por

exemplo a partir de ações online, para que sejam aprofundadas as relações sociais

entre os(as) envolvidos(as).

Entendendo esses aspectos, dedicamo-nos a buscar na literatura

acadêmica exemplos interessantes que possam ser estudados, reconsiderados e

utilizados como base para a promoção em instituições, como o caso das FNG. Essa

apresentação não considera que tais estratégias pedagógicas devam ser copiadas

em outros programas; entretanto, podem ser conhecimentos de um processo de co-

construção por parte dos(as) gestores(as), a fim de essas pessoas também serem

mediadas por esse texto e pelos outros que destacaremos.

As estratégias de aprendizagem apresentadas também foram classificadas

de forma adaptada a proposta por Lefebvre e colaboradores (2016) com relação a seu

formato. Assim, puderam ser coletivas, para um grupo de treinadores(as)-

aprendizes(as), as mais comuns encontradas (LEFEBVRE et al., 2016); online,

consistindo naquelas realizadas pela Internet; e, por fim, individualizadas, ou seja,

direcionada exclusivamente para um(a) treinador(a)-aprendiz(a) por vez. Em nossa

adaptação, consideramos o fato de que as estratégias pedagógicas individualizadas

podem ocorrer simultaneamente para diferentes treinadores(as)-aprendizes(as), com

a presença de um(a) ou mais mediadores(as) responsáveis e possivelmente

outros(as) envolvidos(as) (como atletas, gestores(as) e familiares).

É importante comentar que muitas instituições podem oferecer programas

compostos por estratégias pedagógicas de diferentes classificações. Em nossa visão,

essa deveria ser uma atitude adotada pelas instituições, pois dessa forma poderão

proporcionar uma formação mais abrangente e efetiva, além de terem a possibilidade

de realizar um acompanhamento dos processos de aprendizagem dos(as)

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treinadores(as)-aprendizes(as) para além dos momentos formais e não-formais. Essa

poderia ser uma forma de as FNG continuarem mediando, em meso nível, a formação

de treinadores(as) de Ginástica e de GPT (JONES; THOMAS, 2015).

5.1 Estratégias pedagógicas coletivas

As oportunidades de aprendizagem institucionais classificadas como

formais são comumente realizadas no formato de cursos regulares. Além de

promovidas por instituições esportivas como as federações nacionais, cursos

regulares de formação de treinadores(as) também são oferecidos por universidades.

➢ Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) 17

Uma de tais estratégias pedagógicas é a Aprendizagem Baseada em

problemas (ABP), uma das mais frequentemente citada dentre os propostas

inovadoras encontradas na literatura acadêmica. Vista como uma possibilidade para

a aprendizagem de adultos (DEMERS; WOODBURN; SAVARD, 2006; JONES;

TURNER, 2006; CUSHION; NELSON, 2013), a ABP tem sido reconhecida como uma

estratégia pedagógica efetiva (TRUDEL; GILBERT, 2006) não apenas na formação

de treinadores(as), mas também em outras áreas. Esta é uma proposta interessante

pois é ligada ao contexto dos(as) aprendizes(as), uma vez que se inicia com a

apresentação de uma situação-problema realista (JONES; TURNER, 2006) do

cotidiano de atuação dos(as) treinadores(as), para a qual um grupo de aprendizes(as)

deve discutir e elaborar uma solução a partir de provocações realizadas por

mediadores(as) responsáveis pela atividade (MORGAN et al., 2013a).

Nessa estratégia pedagógica, os(as) treinadores(as)-aprendizes(as) se

utilizam de “gatilhos” dos cenários para definir os temas a que as situações se referem

e a partir disso realizam pesquisas de teorias que consideram que possam auxiliá-los

a propor soluções. Segundo Morgan e colaboradores (2013a, p. 219, tradução da

autora), “a ABP não é apenas sobre resolução de problemas; em vez disso, usa os

problemas para aumentar o conhecimento e a compreensão e facilitar os processos

de aprendizagem”, sendo, assim, uma forma de mediação que ensina o processo e

17 Do original, “problem-based learning (PBL)” (JONES; TURNER, 2006).

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não apenas refere-se ao conteúdo. Por isso, afirmam ainda Morgan e colaboradores

(2013a, p. 219, tradução da autora):

É, portanto, uma maneira de aprender sobre como ser um(a) profissional capaz (ENGEL, 1991). Ao promover o crescimento profissional através de ‘conversas reflexivas’, desencadeadas por dilemas da prática (SCHÖN, 1987), a abordagem leva em consideração a natureza construtivista da aprendizagem.

Assim, é possível considerar como benefícios dessa estratégia pedagógica

melhorar a habilidade para tomar decisões e resolver problemas; maior

conscientização da complexidade das questões do mundo real, para treinadores(as)-

aprendizes(as) com pouca ou nenhuma experiência de atuação; e exposição a

conhecimentos de diferentes naturezas (MORGAN et al., 2013). De forma geral, a

ênfase dada a relação entre os(as) treinadores(as)-aprendizes(as) e desses com

os(as) mediadores(as) responsáveis traz as potencialidades observadas por Smidt

(2009) baseada na teoria histórico-cultural sobre a importância do engajamento

dos(as) aprendizes(as) em compartilhar experiências de outras pessoas.

Uma experiência pessoal pode ser utilizada para ilustrar essa estratégia

pedagógica. Durante o período de estágio de Doutorado Sanduíche realizado na

Cardiff Metropolitan University, pude acompanhar o desenvolvimento de ABP na

disciplina obrigatória chamada “Administrando Problemas Pedagógicos”18 do curso de

Pós-Graduação em Sports Coaching da instituição (Figura 3).

Figura 3 – ABP em módulo para treinadores(as)-aprendizes(as) na Cardiff Metropolitan University.

18 Do original, “Managing Pedagogic Problems” (CARDIFF METROPOLITAN UNIVERSITY, 2017).

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Dessa disciplina, participaram treinadores(as)-aprendizes(as) de diferentes

modalidades esportivas, os(as) quais se empenhavam em grupo para a discussão de

problemas apresentados. Os mediadores, professores doutores responsáveis pelo

curso, ofereciam inicialmente um quadro geral do contexto e uma situação-problema

e permitiam que os(as) aprendizes(as) o discutissem por um tempo, acompanhando-

os. Após um tempo interessante de discussão, os mediadores ofereciam a “primeira

interrupção”, um complemento do problema acrescentado novos fatores a serem

considerados. Seguindo o mesmo desenvolvimento, uma “segunda interrupção” era

realizada a fim de proporcionar maiores discussões. Na Figura 4, é possível observar

um grupo de treinadores(as)-aprendizes(as) de Ginástica, Futebol e Hóquei,

mediados por um professor (de costas para a fotógrafa). Os(as) alunos(as) se utilizam

de mapas conceituais, lousas e pesquisas em materiais de disciplinas anteriores com

teorias pedagógicas para auxiliarem na formulação de uma resolução do problema.

Figura 4 – Mediação na estratégia pedagógica de ABP.

Após a última interrupção, os grupos apresentam as propostas de soluções

dos diferentes casos recebidos e recebem sugestões dos colegas. Em seguida, um(a)

dos(as) aprendizes(as) é destacado para compor um texto identificando a solução

formulada.

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Outra experiência com a ABP foi vivenciada por nós, pesquisadoras, com

o grupo de alunos(as) de graduação e pós-graduação da FEF-Unicamp participantes

do projeto de extensão em Ginástica. A proposta foi planejada por nós, pela

doutoranda Bruna Locci e pela mestra Kássia Mitally da Costa Carvalho, com

situações-problemas já vivenciadas pelo grupo de extensão em Ginástica em outros

anos de realização do projeto e compartilhada com os(as) treinadores(as)-

aprendizes(as) na reunião de planejamento do ano de 2018, proposta que gerou

bastante envolvimento do grupo.

Morgan e colaboradores (2013b, p. 4, tradução da autora) apresentam

algumas críticas à ABP, considerando que os cenários estáticos, escritos, e que

podem ser revisitados a qualquer momento pelos(as) treinadores(as)-aprendizes(as)

“carecem de um grau de credibilidade no mundo real”. Assim, os mesmos autores

desenvolveram uma outra estratégia pedagógica inovadora, tentando aproximar ainda

mais os esforços pedagógicos da realidade dos(as) treinadores(as).

➢ Etno-drama19

O etno-drama é definido como “uma nova forma de teatro” (MORGAN et al.

2013b, tradução da autora) que busca divulgar situações reais por meio de

dramaturgia. Segundo Saldaña (2008, p. 177, tradução da autora):

Um etno-drama, um roteiro escrito, consiste em seleções dramatizadas e significativas de narrativas coletadas através de entrevistas, notas de campo de observação participante, trechos de diários e/ou documentos impressos e públicos, como agendas, transmissões de televisão, artigos de jornais e processos judiciais. De forma simplificada, (o etno-drama) dramatiza os dados. (Saldaña, 2005, p. 1-2).

Por ser uma encenação de situações vividas, os contextos representados

são permeados de subjetivismos, complexidades e contradições. Assim, quando

apresentados à audiência, tendem a suscitar interpretações divergentes. Além disso,

proporcionam o desenvolvimento de diferentes sentidos (VYGOTSKY, 2009), com

base em conhecimentos e experiências anteriores.

19 Do original, “ethno-drama” (MORGAN et al., 2013b).

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Assim, na adoção do etno-drama como estratégia pedagógica, uma cena

do cotidiano é protagonizada a fim de que os(as) espectadores(as) identifiquem

situações-problema e construam compreensões e significados (MIENCZAKOWSKI;

MORGAN, 2001). O incentivo para que ocorram e sejam compartilhadas reflexões

sobre crenças e ações pessoais (CARLESS; DOUGLAS, 2010) pode levar a

coconstrução de novas formas de entender as situações. Por isso, é dito que o etno-

drama visa “privilegiar a primazia da experiência e transformar espaços onde o

discurso coletivo democrático pode acontecer” (DENZIN; LINCOLN, 2005, p. xi apud

MORGAN et al., 2013a, tradução da autora).

No âmbito da formação de treinadores(as), esta é ainda uma estratégia

pedagógica pouco utilizada. Uma proposta foi desenvolvida e divulgada nos estudos

de Morgan e colaboradores (2013a; 2013b), realizada no programa de Pós-

Graduação em Sports Coaching da Cardiff Metropolitan University e em colaboração

com o Departamento de Teatro da Liverpool John Moores University.

Morgan e colaboradores (2013a, p. 226, tradução da autora) destacam que

a primeira etapa do processo foi escrever cenários a serem representados baseados

em pesquisas etnográficas e experiências vividas. Esse processo foi ressaltado pelos

autores como sendo coletivo, pois consideraram que “a colaboração só poderia ajudar

no desenvolvimento de um trabalho autêntico e detalhado”. Assim, os cenários foram

escritos, revisados e refeitos em uma série de encontros do grupo de mediadores

responsáveis, para garantir a relevância e adequação aos contextos reais de atuação

dos(as) treinadores(as)-aprendizes(as) (MORGAN et al., 2013a).

Em sua forma final, os cenários contiveram três cenas interligadas. A

primeira teve como foco as relações entre treinadores(as) e atletas e entre os(as)

atletas; a segunda, as relações entre os(as) treinadores(as) e seus(suas) assistentes,

contrastando diferenças filosóficas e métodos de ensino; por fim, a terceira cena

relacionava-se com as interações dos(as) treinadores(as) com outras pessoas

envolvidas no contexto, enfatizando as relações de poder e negociações. Além

dessas, também foram gravados monólogos das personagens, apresentando pontos

de vista individuais para a situação apresentada (MORGAN et al., 2013a).

A segunda etapa de desenvolvimento dessa estratégia pedagógica

envolveu o diretor de teatro e atores e atrizes do curso de Artes Cênicas da

universidade parceira, além dos(as) treinadores(as)-aprendizes(as). Foi realizada

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uma sessão de três horas, que envolveu a encenação dos cenários e discussões entre

os(as) treinadores(as)-aprendizes(as) e os mediadores resposnáveis.

Essa fase ocorreu durante uma sessão de três horas de duração, em que

cada cena foi apresentada duas vezes e contou, em uma delas, com a apresentação

extra dos monólogos. Após a primeira apresentação, os(as) treinadores(as)-

aprendizes(as) participaram de discussões em pequenos grupos, mediados(as) por

questões facilitadoras propostas pelos mediadores responsáveis, como por exemplo:

“o que você viu na cena?”, “quais são os problemas aqui?”, “como o(a) treinador(a)

lidou com a situação?” (MORGAN et al., 2013, p. 7-8, tradução da autora). Já após os

monólogos, as questões foram: “e agora, quais são os problemas da situação?”, “você

alterou suas percepções sobre essa situação?”, “quais são as suas soluções para os

problemas que você vê?”, “em quais teorias você se apoia para desenvolver essa

solução?”. (MORGAN et al., 2013b, p. 7-8, tradução da autora).

A terceira e última etapa consistiu em uma avaliação da estratégia

pedagógica. Grupos focais foram realizados a fim de identificar a opinião dos(as)

treinadores(as)-aprendizes(as) sobre a estratégia pedagógica. Morgan e

colaboradores (2013a) afirmam que estes grupos consideraram que a meta de

aproximar as discussões do contexto prático foi atingida, sendo entendida a estratégia

pedagógica como bem-sucedida. Os autores ainda ressaltam que a partir das cenas

protagonizadas os(as) treinadores(as)-aprendizes(as) envolveram-se de forma

interativa e colaborativa, compartilhando incidentes relacionados e relevantes de suas

próprias práticas (MORGAN et al., 2013a).

Os autores consideram que a continuação desse projeto poderia se dar

com a participação de treinadores(as), atletas e familiares para o desenvolvimento das

cenas e avaliam que embora seja uma estratégia pedagógica que demanda tempo de

preparação, colaborações com atores e atrizes e recursos financeiros para sua

promoção, tem a potencialidade de que diferentes envolvidos(as) participem do

processo de formação de treinadores(as) e tenham suas demandas escutadas

(MORGAN et al., 2013a). Além disso, ressaltam que a produção de um DVD com as

cenas utilizadas pode ser interessante para oportunidades de aprendizagem

realizadas online, as quais possibilitariam o desenvolvimento de fóruns de formação

de treinadores(as) compostos por aprendizes(as) de diferentes localidades (MORGAN

et al., 2013a).

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➢ Narrativas

Entre outras estratégias pedagógicas inovadoras, a utilização de narrativas

na formação de treinadores(as) também tem sido observada em relatos publicados

(DOUGLAS; CARLESS, 2008; MCMAHON, 2013), em propostas que podem

encaixar-se tanto como coletivas quanto individualizadas.

Douglas e Carless (2008) ressaltam que as histórias reais de pessoas

envolvidas com o esporte e as práticas corporais podem influenciar a interpretação

dos(as) treinadores(as) sobre as situações vivenciadas no contexto de atuação e,

especialmente, permitir que atletas, familiares, assistentes e outras pessoas de

diferentes funções que se relacionam com os(as) treinadores(as) possam apresentar

suas perspectivas das ações tomadas. Os autores iniciaram as discussões acerca

dessa estratégia pedagógica baseados em sua experiência, como visto a seguir:

(...) as histórias tem sido efetivas em estimular o interesse e as discussões entre os(as) treinadores(as), psicólogos(as) esportivos(as), assessores e órgãos oficiais do governo tanto durante apresentações feitas no Instituto de Esportes da Irlanda e na Federação Holandesa de Golfe quanto em palestras para estudantes de Ciências do Esporte em diferentes universidades europeias. (DOUGLAS; CARLESS, 2008, p. 35, tradução da autora)

Da mesma forma, McMahon (2013, p. 33) destaca a utilização das

narrativas como estratégia pedagógica devido a “identificação de sua eficácia como

uma ferramenta educacional para desafiar o pensamento pedagógico dos(as)

treinadores(as), tanto a curto quanto a longo prazo”, já que são possibilidades de que

os(as) treinadores(as)-aprendizes(as) sintam-se “tocados” pelas histórias dos(as)

atletas e resultem em reações diretas e não em respostas planejadas previamente.

Douglas e Carless (2008) ainda consideram que muitos(as) treinadores(as) se utilizam

de narrativas em suas atuações, para motivar atletas ou mesmo para apresentar

exemplos; assim, a estratégia pedagógica de utilizar narrativas em suas formações

pode ser um fator inversamente empregado.

O exemplo de utilização dessa estratégia pedagógica desenvolvido por

Douglas e Carless (2008) está relacionado à formação continuada de treinadores(as)

de golfe no Reino Unido. Os autores (DOUGLAS; CARLESS, 2008, p. 37, tradução

da autora) realizaram uma pesquisa com um grupo de treinadores(as)-aprendizes(as),

utilizando três narrativas sobre experiências de vida de atletas profissionais de golfe.

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Tais narrativas abordaram os temas: “narrativa de performance”, em que o esporte

ocupa lugar central; “narrativa de descoberta”, em que o esporte é parte do

acontecimento narrado; e “narrativa relacional”, em que o foco principal da história

contada não se relaciona com o esporte, mas com pessoas envolvidas na relação com

esse tema. Todas foram transcritas para serem utilizadas de forma escrita.

Douglas e Carless (2008) relatam que as atividades se iniciaram com a

leitura da primeira história, durante a qual os(as) treinadores(as)-aprendizes(as)

fizeram anotações individuais. O mesmo processo aconteceu para as segunda e

terceira narrativas. Após esse momento, os mediadores responsáveis realizaram um

grupo focal de discussão a partir das anotações de cada treinador(a)-aprendiz(a), a

partir de perguntas e provocações feitas pela pesquisadora responsável.

Os resultados da pesquisa ressaltam que as narrativas podem ser

interpretadas de diferentes formas pelos(as) treinadores(as)-aprendizes(as) e que

essas diversas interpretações dos acontecimentos são fatores fundamentais para o

incentivo às discussões e às trocas de experiências. Em especial, as “narrativas

relacionais” foram interessantes aos olhos dos pesquisadores, pois apresentaram

dados contrários à narrativa dominante pelos(as) treinadores(as) e logo exigiram

esforços em compreender acontecimentos diferentes daqueles conhecidos pelo

senso comum da área (DOUGLAS; CARLESS, 2008).

McMahon (2013) afirma que optou por essa estratégia pedagógica

desejando que as narrativas de atletas “tocassem” os(as) treinadores(as)-

aprendizes(as). Diferentemente do relato de Douglas e Carless (2008), essa não foi

uma experiência aplicada em um programa de formação de treinadores(as), mas uma

pesquisa acadêmica desenvolvida na Austrália. A autora informa que foram

convidados dez treinadores(as) de Natação, os(as) quais participaram da atividade

individualmente, a partir de entrevistas. As narrativas utilizadas foram provenientes de

um estudo anterior desenvolvido pela mesma autora e são relatos autobiográficos de

vivências de nadadores(as) durante toda a vida esportiva, desde as categorias de

base até o nível profissional esportivo.

Em um primeiro momento, a pesquisadora apresentou uma narrativa

aos(às) treinadores(as) sobre um acontecimento ocorrido durante a adolescência de

uma nadadora. Após a leitura da mesma, os(as) treinadores(as)-aprendizes(as) foram

questionados(as): “quais são seus pensamentos/sentimentos ao ler essa narrativa?”,

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“como você acha que a nadadora sentiu-se durante essa experiência?”, “você acredita

que a(o) treinador(a) dessa situação reagiu da melhor forma para os interesses dessa

nadadora adolescente?” e “você já viu alguma situação semelhante em sua atuação?”.

Em seguida as respostas a essas questões, a pesquisadora apresentou uma outra

narrativa, em que a nadadora, agora adulta, conta um acontecimento de sua vida

recente. Após a leitura, a pesquisadora fez novamente algumas perguntas aos(às)

treinadores(as): “quais são seus pensamentos/sentimentos ao ler essa narrativa?”, “o

que você acha que essa mulher adulta estava pensando nesse momento?” e “você

considera que há alguma ligação entre as experiências de adolescente e adulta?”.

A terceira e última parte da pesquisa aconteceu seis meses após as duas

etapas anteriores e após a fase competitiva desses(as) treinadores(as)-

aprendizes(as), justamente para que houvesse uma consideração real da efetividade

da reflexão proporcionada pelas primeira e segunda etapas. Nesse momento, a

pesquisadora realizou uma entrevista questionando os(as) participantes sobre se as

narrativas haviam influenciado as interações desses com seus(suas) atletas, com os

familiares e com outros(as) colegas de trabalho, além da relevância dessa estratégia

pedagógica para a atuação profissional e para a relação com os(as) atletas.

Os resultados obtidos pela pesquisa mostram que todos(as) os(as)

treinadores(as)-aprendizes(as) envolveram-se em reflexões sobre o assunto

apresentado nas narrativas durante os seis meses de duração da pesquisa e

apontaram um entendimento maior de suas funções no desenvolvimento pleno

dos(as) atletas. Os(as) participantes também destacaram sentir mais empatia

pelos(as) atletas após ouvir as narrativas. Nas palavras de um dos treinadores-

aprendizes participantes da pesquisa (MCMAHON, 2013, p. 44, tradução da autora):

Depois de ouvir a narrativa da primeira nadadora, eu fiquei um pouco preocupado, para ser honesto, isso me fez pensar. As narrativas são extremas, mas eu estou preocupado de que algumas de minhas técnicas de ensino são similares e eu não tinha pensado em como meus(minhas) nadadores(as) estão se sentindo.

A pesquisadora McMahon (2013) finaliza ressaltando que se embora os

resultados de sua pesquisa não possam ser generalizados, os dados sugerem que o

uso da narrativa como uma estratégia pedagógica foi eficaz na formação de

seus(suas) treinadores(as)-aprendizes(as). Isso pois “ouvir e pensar a partir das

histórias apresentadas, auxiliou os(as) treinadores(as) neste estudo a enxergar os(as)

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atletas como seres físicos, emocionais, sociais e espirituais, gerando um grau de

empatia” (MCMAHON, 2013, p. 45).

➢ Pesquisa-ação

A participação em pesquisa-ação como forma de estratégia pedagógica

foi documentada por Morgan e colaboradores (2013) e Clements e Morgan (2015). De

forma resumida, a pesquisa-ação é uma metodologia que busca resultados tanto

provenientes de ações, ou seja, mudanças de atitude, quanto investigativos,

relacionados ao entendimento de um contexto, uma situação ou um tipo de ação

(MORGAN et al., 2013a). Nas palavras de Clements e Morgan (2015, p. 143, tradução

da autora):

Apesar das diferentes perspectivas, é geralmente aceito que a pesquisa-ação é um processo sistemático de aprendizagem caracterizado por ciclos contínuos de planejamento, atuação, observação e reflexão (McNiff, 2013; McNiff & Whitehead, 2009; Mertler, 2009). Isso permite a construção contínua e o teste de explicações na prática, levando a uma melhor compreensão e

aprendizado (Tsai, Pan e Chiang, 2004).

Nessa proposta, os(as) pesquisadores(as) são os(as) próprios(as)

atores(atrizes) da realidade analisada e, partindo de intensas reflexões sobre suas

atuações, propõem mudanças de ação intencionais em parceria com as outras

pessoas envolvidas no contexto. A pesquisa-ação é, então, um processo coletivo que

ocorre em colaboração contínua entre todos(as) os(as) participantes, pois estes(as)

são fundamentais para que os ciclos aconteçam e permitam os próximos cursos de

ação. De acordo com Morgan e colaboradores (2013, p. 222, tradução da autora) e

compartilhando dos princípios da teoria histórico-cultural, este método pode ser visto

como uma proposta de co-construção de conhecimentos através da troca de

experiências entre as pessoas envolvidas, funcionando como um “catalisador para o

enriquecimento” teórico-prático.

O incentivo à pesquisa-ação como estratégia pedagógica considera essa

perspectiva como uma proposta participativa e colaborativa, em que treinadores(as)-

aprendizes(as) podem sentir-se motivados à prática reflexiva (CLEMENTS;

MORGAN, 2015). Evans e Light (2007), inclusive, destacam a pesquisa-ação como

uma possibilidade de superação das estratégias pedagógicas tradicionais, devido às

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suas potencialidades em relacionar o conhecimento teórico com o contexto de

atuação.

Morgan e colaboradores (2013) descrevem uma experiência com essa

estratégia pedagógica realizada também na Cardiff Metropolitan University com uma

turma de pós-graduação. Afirmam que o currículo dessa experiência foi desenvolvido

compreendendo um conjunto de experiências práticas dos(as) treinadores(as)-

aprendizes(as) e um grupo de estudos, de forma teórica. Assim, a estratégia

pedagógica baseou-se em uma integração de uma base de conhecimentos já

produzidos com os contextos de atuação particulares de cada treinador(a)-

aprendiz(a).

Os procedimentos envolveram um ciclo de atividades composto por uma

sessão teórica coletiva e uma sessão prática para discussão de situações particulares:

as atividades revezaram-se entre ser uma apresentação e uma discussão em grupo

sobre uma teoria acerca do ensino de Esporte e práticas corporais e ser uma sessão

de apresentações de aspectos práticos vivenciados pelos(as) treinadores(as)-

aprendizes(as) em seus contextos de atuação, relacionados ao tema.

Dessa forma, os autores afirmam que os(as) envolvidos(as) puderam

identificar aspectos a serem transformados em sua atuação, propor mudanças de

ação e realizar reflexões, respaldados pela mediação de outros treinadores(as)-

aprendizes(as) e dos mediadores responsáveis durante os encontros formais

(MORGAN et al., 2013). A avaliação da utilização dessa estratégia pedagógica

mostrou que os(as) treinadores(as)-alunos(as) e os mediadores responsáveis a

consideraram eficaz, embora tenha sido apontado que o tempo para o engajamento

com as teorias poderia ser maior.

Em outro relato de utilização dessa estratégia pedagógica, Clements e

Morgan (2015) destacaram a utilização da pesquisa-ação como parte de um programa

de formação de treinadores(as) do Sistema Nacional de Desenvolvimento de Talentos

do Reino Unido, com a participação do chefe de desempenho desse grupo, também

responsável pela pesquisa, e de seis treinadores(as)-aprendizes(as) empregados(as)

na instituição.

Essa pesquisa-ação teve duração de três meses e durante esse período

aconteceram diferentes etapas. A primeira, uma sessão introdutória, que se dedicou

a explicar a proposta aos(às) participantes e estabelecer as tarefas a serem

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realizadas. Entre essas, o preenchimento de um registro reflexivo20, um diário de

campo com comentários reflexivos a ser realizado após cada sessão prática e

compartilhado com o mediador e os(as) colegas através de uma pasta na plataforma

online Google Drive®. Além disso, um fórum online foi estabelecido para que os(as)

treinadores(as)-aprendizes(as) pudessem participar de sessões coletivas com a

possibilidade de vídeos simultâneos e gravação da sessão, que aconteceriam a cada

quinze dias. Em seguida, realizaram-se seis sessões de três horas de atuação como

treinadores(as), para vinte a trinta atletas, que aconteceram a cada quinze dias. Da

mesma forma, os fóruns online aconteceram com a mesma frequência, nos quais

aconteceram discussões sobre as atuações e também a postagem de vídeos das

mesmas, para servirem de base para essas co-construções de conhecimentos.

Este estudo avaliou a utilização da pesquisa-ação como estratégia

pedagógica bem-sucedida, ressaltando que a colaboração entre os(as)

treinadores(as)-aprendizes(as) foi essencial para que houvesse reflexão e troca de

experiências.

➢ Comunidades de prática

Por serem baseadas nas relações sociais, muitas das estratégias

pedagógicas apresentadas até o momento culminaram no desenvolvimento de

comunidades de prática, um outro tipo de estratégia pedagógica inovadora que vem

sendo amplamente discutida na literatura acadêmica da área. Como exemplos, temos

os estudos de Culver e Trudel (2008), Stoszkowski e Collins (2012), Lauer e

Dieffenbach (2013) e Bertram, Culver e Gilbert (2017). As comunidades de prática

podem ocorrer tanto informalmente, com a participação livre de treinadores(as),

quanto formalmente, sugeridas e geridas por instituições, como consideramos nesse

momento.

A teorização das comunidades de prática foi desenvolvida inicialmente por

Lave e Wenger (1991) e depois aprofundada por Wenger (1998), a partir da

argumentação de que os processos de aprendizagem são baseados nas relações

sociais, pelo engajamento em atividades definidas a partir de negociações envoltas

em relações de poder (CULVER, NELSON, 2013). De acordo com Wenger,

20 Do original, “reflective log” (CLEMENTS; MORGAN, 2015)

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McDermott e Snyder (2002, p. 4, tradução da autora), as comunidades de prática são

“grupos de pessoas que compartilham uma preocupação, um conjunto de problemas

ou uma paixão por um assunto e que aprofundam seus conhecimentos e experiências

nessa área interagindo continuamente”.

Apesar de possuírem particularidades, as comunidades de prática

envolvem sempre processos de aprendizagem ativos que são mediados por uma

pessoa mais capaz; esta não precisa necessariamente ser a mais capacitada sobre o

assunto discutido, mas uma pessoa de influência que tem como responsabilidade

organizar as atividades do grupo (BLOOM, 2013). Sobre isso, Gilbert e colaboradores

(2009) destacam inclusive que esses(as) mediadores(as) responsáveis possuem

como funções auxiliar os membros dos grupos a compreender protocolos e encorajar

mudanças de ação e a persistência na resolução dos problemas. Os autores indicam

que, em casos em que esses objetivos não são buscados, os(as) treinadores(as)-

aprendizes(as) participantes também imitaram a falta de compromisso de seus(suas)

gestores(as), o que demonstra a importância dessa figura para o comprometimento

das estratégias pedagógicas.

Dentre diferentes estudos que se utilizaram das comunidades de prática

como estratégias pedagógicas de formação de treinadores(as), destacaremos Culver

e Trudel (2006) e Bertram, Culver e Gilbert (2017).

No primeiro citado, Culver e Trudel (2006) reuniram treinadores(as)

novatos(as), intermediários(as) e experientes de um clube de esqui para atletas jovens

em uma comunidade de prática. O objetivo dessa estratégia pedagógica era colaborar

para a formação continuada do grupo, discutindo sobre suas práticas profissionais, e

a composição de variados níveis de experiência foi eficaz para colaborar com essa

finalidade. O grupo reuniu-se em encontros chamados pelos(as) treinadores(as)-

aprendizes(as) de Mesas Redondas, nas quais a mediadora propôs que fossem

discutidas “três lições” que aprenderam com a prática diária, sendo essas aspectos

que atenderam às expectativas ou não. Os autores relataram que embora no início

das atividades as interações entre os(as) participantes fossem tímidas e pouco

interessantes para o desenvolvimento dos processos de aprendizagem, aos poucos,

a relação de confiança foi sendo desenvolvida e as interações sociais puderam

demonstrar o alcance dos objetivos. Segundo Culver e Trudel (2006, p. 105, tradução

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da autora), o papel da mediadora nessa organização, chamada nesse contexto de

facilitadora, é crucial para o desenvolvimento das atividades:

O papel crucial do(a) facilitador(a) foi monitorar esse ritmo (de discussão) e organizar as atividades que permitiam que os membros tivessem oportunidades de interagir de um modo que a comunidade desenvolvesse “vivacidade”, no sentido de avançar de maneira produtiva. Toda comunidade se envolve de diferentes maneiras, apesar de o ritmo ideal se modificar com a evolução do grupo.

Os autores consideraram a proposta realmente eficaz e essa consideração

foi compartilhada pela instituição, que adotou a estratégia pedagógica como proposta

perene de atividades e pelos(as) treinadores(as)-aprendizes(as).

No segundo estudo, Bertram, Culver e Gilbert (2017) investigaram uma

comunidade de prática promovida pela instituição Aliança de Mulheres Treinadoras,

destinada a treinadoras universitárias. O grupo tinha como objetivo promover a

aprendizagem e o desenvolvimento de treinadoras de esporte universitário, bem como

oferecer suporte aos desafios de ser uma mulher treinadora. A frequência de encontro

do grupo era mensal, em sessões de uma hora, divididas em dois momentos de trinta

minutos: o primeiro, dedicado a discussão de um tópico pré-determinado relacionado

a atuação como treinadora (por exemplo, comunicação e motivação) e o segundo, a

conversas relacionadas ao contexto individual de cada treinadora, em que estas

poderiam propor assuntos pessoais a serem discutidos. Cinco participantes foram

entrevistadas a fim de investigar a influência da comunidade de prática em suas

atuações. Os resultados demonstraram que todas as participantes entrevistadas

consideraram que essa estratégia pedagógica é importante pois aborda temas

dificilmente tratados por outras oportunidades de aprendizagem formais, como

particularidades de contexto e dilemas administrativos. Assim, o estudo considera que

as comunidades de prática, quando implementadas adequadamente, podem ser uma

possibilidade para o desenvolvimento efetivo de processos de aprendizagem.

Com base nesses relatos, vale ressaltar que as comunidades de prática

também são estratégias pedagógicas em que o conhecimento sobre o contexto de

atuação dos(as) treinadores(as)-aprendizes(as) é essencial para o desenvolvimento

efetivo das atividades (BERTRAM; GILBERT, 2011). Além disso, outra reflexão

importante é a relação dos processos de avaliação das estratégias pedagógicas

inovadoras. No caso das comunidades de prática, Bertram e Gilbert (2011) indicam

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que avaliações escritas são pouco eficazes para a compreensão dos processos de

aprendizagem ocorridos a partir dessa perspectiva de aprendizagem e por isso

sugerem uma avaliação-36021. Nessa, sugere-se que os(as) treinadores(as)-

aprendizes(as) sejam avaliados a partir de diferentes fontes, como outros(as)

treinadores(as), atletas, familiares e colaboradores(as) ou mesmo pela utilização de

mapas conceituais.

5.2 Estratégias pedagógicas online

A utilização da Internet como meio para o desenvolvimento de estratégias

pedagógicas parece ser uma forma eficaz de envolver treinadores(as)-aprendizes(as)

em oportunidades de aprendizagem formais, pois evita restrições logísticas, como

localização e horário das atividades (STOSZKOWSKI; COLLINS, 2017b). A

disponibilidade de aparelhos eletrônicos móveis e/ou manuais também tem facilitado

essa relação, pois estes proporcionam maior conveniência e acessibilidade.

Por esse motivo, a tecnologia tem sido utilizada tanto como um suporte

para estratégias pedagógicas presenciais quanto como possibilidade para que outras

dinâmicas possam acontecer (KUKLICK; GEARTITY; THOMPSON, 2015). A

utilização de plataformas online pôde ser percebida, por exemplo, a partir da

disponibilização de materiais de ensino (MOON, 2001) na Internet, do

compartilhamento de cenas em propostas de etno-drama, de documentos na

plataforma Google Drive® e a fundamental utilização de aplicativos para chamadas

de vídeos, que permitem que discussões face-a-face possam acontecer, mesmo

os(as) participantes estando em diferentes localizações.

Driska e Gould (2014) ressaltam, no entanto, a importância das atividades

online que permitam o contato e as discussões entre os pares e dos(as)

treinadores(as)-aprendizes(as) com os(as) mediadores(as) responsáveis, pois os

processos de aprendizagem colaborativos são considerados mais eficazes do que

propostas com a utilização de apresentações de PowerPoint® e palestras gravadas.

Por isso, destacamos uma outra estratégia pedagógica baseada na Internet de

importante citação na literatura acadêmica são os blogs. Essas inciativas, quando

coletivas, demonstraram interessante potencial no engajamento dos(as)

21 Do original, “360-review” (BERTRAM; GILBERT, 2011).

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treinadores(as)-aprendizes em propostas reflexivas (STOSZKOWSKI; COLLINS,

2017a; 2017b).

Por termos encontrados muitos exemplos de Plataformas de dados

online em sites oficiais de FNG, apesar de não serem consideradas coletivas,

destacaremos como parte de uma reflexão sobre a importância da atuação das

instituições na promoção de oportunidades de aprendizagem informais.

➢ Blogs

Para Stoszkowski e Collins (2017a), os blogs online ou web-blogs são

ferramentas que têm potencial para fortalecer e promover o pensamento crítico e a

reflexão sobre a prática profissional. São relativamente simples de ser utilizadas,

frequentemente de acesso gratuito e que exigem pouco conhecimento técnico para

que sejam compartilhadas opiniões e ideias acerca de um assunto em formato de

postagens escritas e que podem receber comentários de outras pessoas, geralmente

em linguagem informal e que são arquivados cronologicamente (GUNAWARDENA et

al., 2009).

Como estratégia pedagógica, Stoszkowski e Collins (2017a) sugerem que

os blogs coletivos, que funcionam como uma plataforma online comum para um grupo

fechado de treinadores(as)-aprendizes(as), podem apoiar o desenvolvimento de uma

abordagem focada na co-construção de conhecimentos. Stoszkowski e Collins

(2017b) destacam a potencialidade dos diferentes conteúdos e materiais que

membros de grupos podem compartilhar e indicar para outros nas postagens dos

blogs como de grande valor para os processos de aprendizagem, inclusive por esse

ser um meio em que a linguagem utilizada pode ser mais informal do que outros

formatos de escrita e avaliação. Assim, as mediações entre os pares também foram

consideradas essenciais nos processos de aprendizagem dos(as) participantes.

Stoszkowski e Collins (2017a) e Stoszkowski e Collins (2017b) retratam

uma experiência com um grupo de vinte e quatro treinadores(as)-aprendizes(as) de

um curso de Graduação em ensino de Esporte e práticas corporais, todos(as) com

experiência nesse campo de atuação. Os autores desenvolveram uma proposta como

parte obrigatória do módulo da disciplina “Ensino de Esportes e práticas corporais e

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reflexão22”, que contou com o desenvolvimento de um blog particular ao grupo, ou

seja, que só poderia ser acessado pelos(as) participantes e pelos(as) mediadores(as)

responsáveis pelas atividades. Para tanto, as primeiras duas semanas de atividades

contaram com discussões mediadas pelos(as) responsáveis pelo programa, a fim de

sensibilizar os treinadores(as)-aprendizes(as) sobre a importância de refletirem sobre

suas práticas, que culminou na formulação de um ensaio individual a respeito de suas

filosofias de atuação. Na semana seguinte, tais mediadores apresentaram ao grupo a

proposta do blog coletivo, dividindo os(as) participantes em quatro grupos de

autores(as), os quais, juntos, decidiram as regras de conduta do blog. Além disso,

individualmente, escreveram uma postagem introdutória e autobiográfica, ressaltando

o contexto de atuação de cada um dos(as) treinadores(as)-aprendizes(as), como

forma de aumentar o conhecimento dos mediadores do grupo envolvido. Nas cinco

semanas seguintes, aconteceram encontros teóricos de duas horas de duração, nos

quais diferentes perspectivas teóricas foram tratadas a partir da facilitação dos

mediadores e de discussões entre o grupo. Ao final de cada encontro, os(as)

participantes foram orientados(as) a se utilizarem do blog para escreverem suas

interpretações, co-construções dos conhecimentos discutidos e compartilharem

reflexões e ideias.

Stoszkowski e Collins (2017a) consideraram, ao final do estudo, que o uso

do blog funcionou como uma Comunidade de Prática, através do qual a participação

auxiliou na prática reflexiva no contexto individual de cada treinador(a)-aprendiz(a).

Além disso, os autores consideram que a proposta do blog coletivo é mais eficaz do

que de blogs individuais, como utilizados por Stoszkowski e Collins (2014). Por fim,

Stoszkowski e Collins (2017b) ainda destacam que essa possibilidade online, embora

parte de uma oportunidade de aprendizagem institucional, é uma potencial forma de

incentivar propostas informais, assim como reivindicado para a formação de

treinadores(as) (LEMYRE et al., 2007; PIGGOTT, 2012).

➢ Plataformas de dados online

Plataformas de dados online referem-se às páginas dos sites oficiais das

FNG ou páginas exclusivas mantidas por essas instituições, que tem como finalidade

22 Do original, “Coaching Practice and Reflection” (STOSZKOWSKI; COLLINS, 2017a).

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disponibilizar materiais de ensino (MOON, 2001) como artigos acadêmicos, matérias

jornalísticas, textos diversos, vídeos, áudios e outros para colaboração na formação

de treinadores(as). Essa estratégia pedagógica, cujo termo foi atribuído por nós, não

foi encontrada em estudos científicos em nossas buscas. No entanto, durante a etapa

exploratória da pesquisa, acessamos muitos sites oficiais de FNG e pudemos notar

que algumas dessas instituições oferecem várias propostas para que treinadores(as),

atletas, familiares, gestores(as) e demais interessados aprofundem seus

conhecimentos de maneira informal.

Como já discutido anteriormente, essa forma de aprendizagem não é

solitária – o fato de tais materiais terem sido escolhidos para comporem essas

plataformas e a forma de divulgação e o incentivo que é dado por essas FNG é uma

mediação em meso nível exercida por essa instituição (JONES; THOMAS, 2015).

Assim, apesar de configurar uma oportunidade de aprendizagem informal (NELSON;

CUSHION; POTRAC, 2006), isto é, que não está vinculada a um sistema de

certificação, demonstra de forma clara nosso argumento de que as instituições podem

contribuir e incentivar outras oportunidades de aprendizagem, a partir da utilização de

estratégias pedagógicas inovadoras. Além disso, tal plataforma de dados online é

também um apoio para as oportunidades de aprendizagem institucionais, sendo um

exemplo da forma como a utilização da Internet pode contribuir como um suporte para

os processos de aprendizagem.

Alguns exemplos serão apresentados a seguir. A FNG dos Estados Unidos

possui em seu site diferentes propostas para que treinadores(as) e outros(as)

interessados(as) possam acessar materiais de ensino (MOON, 2001) (Figura 5). O

mesmo acontece para a FNG do Reino Unido, com destaque para o canal do

YouTube® da FNG, em que são disponibilizados vídeos com dicas de metodologias

de ensino para treinadores(as) (Figura 6). Por fim, o último exemplo é da FNG da Itália

(Figura 7).

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Figura 5 – Plataforma de dados online da FNG dos Estados Unidos.

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Figura 6 – Plataforma de dados online da FNG da Grã-Bretanha.

Figura 7 – Plataforma de dados online da FNG da Itália.

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5.3 Estratégias pedagógicas individualizadas

As estratégias pedagógicas individualizadas são substancialmente menos

realizadas do que as coletivas ou online. No estudo realizado por Lefebvre e

colaboradores (2016), das 227 estratégias pedagógicas analisadas em um estudo de

revisão de literatura de textos relacionados à programas de desenvolvimento de

treinadores(as), apenas 11 referiam-se a essa categoria. Em nossas pesquisas,

encontramos quadro semelhante em que poucos estudos se referem a estratégias

pedagógicas individualizadas, com destaque às mentorias.

➢ Mentoria23

Uma das estratégias pedagógicas mais citadas pela literatura acadêmica

sobre formação de treinadores(as) têm sido a mentoria (CUSHION; NELSON, 2013;

BLOOM, 2013). Bloom (2013) considera que embora relações de mentoria sejam

exercidas há muitos séculos, ainda há falta de clareza em defini-las. No entanto,

Muitos experts podem concordar que a mentoria envolve uma relação não familiar e não romântica entre uma pessoa mais experiente e outra menos experiente, em que a primeira tem maior influência e sabe desse fato. Isso envolve uma relação entre o(a) mentor e seu(sua) protegido(a) na qual o(a) primeiro(a) tem influência direta do desenvolvimento do(a) segundo(a) e compromete seu tempo para o crescimento e desenvolvimento pessoal do(a) outro(a). Os pilares dessa relação são confiança e respeito.” (BLOOM, 2013, p. 494).

Enrich, Hansford e Tennent (2004) ponderam que as mentorias trazem

benefícios tanto para os(as) aprendizes(as), como suporte psicossocial,

encorajamento, amizade, conselhos e feedbacks de especialistas, tanto para os(as)

mentores(as), como renovação de opiniões e pontos de vista, aumento de confiança

e habilidades de gerenciamento de pessoas e de projetos (BLOOM, 2013). Assim,

pode ser considerado que essa estratégia pedagógica é eficaz para treinadores(as)-

aprendizes(as) com pouca ou muita experiência, pois as trocas de experiências e co-

construções de conhecimentos serão voltados ao contexto de cada um dos(as)

envolvidos(as).

23 Do original, “mentoring” (CUSHION et al., 2010).

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A mentoria é vista como um exemplo de articulação entre oportunidades de

aprendizagem formais e informais (CUSHION; NELSON, 2013). Enquanto atividade

informal, a mentoria acontece quando um(a) mentor(a) e um(a) aprendiz(a)

encontram-se de alguma forma e atuam em processos de aprendizagem,

convencimento e desenvolvimento de habilidades e talentos (ENRICH; HANSFORD;

TENNENT, 2004). Já a mentoria como atividade formal, que vêm sendo mais

desenvolvida nas últimas quatro décadas, possui diferentes características

dependendo do programa em que foram estabelecidas: podem ter mentores(as)

treinados(as) para essa atuação ou não, seleções de aprendizes(as) pelos(as)

mentores(as) ou o contrário, terem duração, frequência e local pré-definidos ou não,

entre outras diferenças (ENRICH; HANSFORD; TENNENT, 2004).

Apesar de ser significativamente citada nas pesquisa sobre formação de

treinadores(as), poucos estudos foram encontrados descrevendo programas ou

pesquisas com a utilização de mentorias. Destacamos o estudo conduzido por

Sawiuk, Taylor e Groom (2017), os quais consultaram quinze treinadores(as) de

diferentes esportes sobre suas experiências com atividades formais de mentorias. As

entrevistas realizadas dedicaram-se a investigar assuntos relacionados às

percepções dos(as) treinadores(as) sobre o engajamento em programas formais de

mentoria, o papel do(a) mentor(a), os desafios enfrentados pelo(a) mentor(a) nos

esquemas formais de mentoria e áreas que poderiam ser melhoradas no futuro nessa

perspectiva de mentoria. Os resultados obtidos pelos autores demonstraram que as

múltiplas mentorias, ou seja, aquelas em que mais de um(a) mentor(a) atua com o(a)

mesmo(a) aprendiz(a) são as mais indicadas e devem ser consideradas pelas

instituições (SAWIUK; TAYLOR; GROOM, 2017). Além disso, o estudo destaca que

em nível institucional, os(as) mentores(as) podem ser pressionados para oferecer

mediações nessa estratégia pedagógica e gerar resultados positivos, o que pode

possibilitar o desenvolvimento de relações. Essa consideração ainda é reforçada pela

sugestão de que as mentorias sejam realizadas por mentores(as) externos aos

contextos esportivos dos(as) aprendizes(as), evitando que a “bagagem política” das

relações sociais impeça contribuições abertas e honestas (SAWIUK; TAYLOR;

GROOM, 2017, p. 410, tradução da autora).

Os argumentos apresentados por esse estudo demonstram não apenas as

potencialidades das mentorias em contribuir para a formação de treinadores(as)-

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aprendizes(as), mas destacam possíveis aspectos prejudiciais ou ineficazes que

podem envolver essa estratégia pedagógica em oportunidades de aprendizagem

institucionalizadas. Esses aspectos são também reforçados por outros estudos.

Cushion e colaboradores (2010) e Cushion (2011) destacam que, como em todas as

relações sociais, alguns cuidados devem ser tomados para que essas relações não

sejam prejudiciais para ambas as partes, especialmente por conta da falta de preparo

dos(as) mentores(as) para essa atuação, excesso de trabalho, incompatibilidade

pessoal e profissional. Já Jones e colaboradores (2009) chamam a atenção para as

possíveis “mentorias tóxicas” provenientes de assimétricas relações de poder entre

os(as) envolvidos(as).

Sendo assim, consideramos que as instituições devam ponderar as

potencialidades e as dificuldades encontradas e sugeridas pela literatura acadêmica

e pelos(as) participantes de programas de mentoria já desenvolvidos no planejamento

de novas ações. Além disso, se considerado pela instituição que essa não é uma

estratégia pedagógica interessante para esse contexto, estas poderão contribuir

proporcionando encontros entre treinadores(as) ou bancos de dados que possam

favorecer com que os(as) interessados(as) em atividades como essa se encontram e

desenvolvam relações informais de mentoria. Como afirmado por Stoszkowski e

Collins (2017b, p. 421, tradução da autora): “a maneira como os(as) mediadores(as)

equilibram a preferência e o desejo dos(as) treinadores(as) pela aprendizagem

informal enquanto oferecem as estruturas formais é crucial”.

Outros estudos precisam ser realizados a fim de que essa estratégia

pedagógica seja melhor entendida por gestores(as) e treinadores(as), inclusive de

forma a tentar compreender como estão ocorrendo na atualidade.

5.4 Estratégias pedagógicas inovadoras no contexto da teoria histórico-cultural

As estratégias pedagógicas inovadoras apresentadas nesse capítulo

podem contribuir para a formação de treinadores(as) a partir de uma ontologia

diferente das estratégias de aprendizagem ditas tradicionais. Por serem mais voltadas

às relações sociais que se estabelecem entre treinadores(as)-aprendizes(as) e

desses(as) com mediadores(as) responsáveis e por outras características de

aproximação com o contexto dos(as) envolvidos(as), as estratégias pedagógicas

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inovadoras tendem a ser mais interessantes e procuradas pelos(as) interessados(as)

e, assim, mais efetivas. Isso pois a afetação (TASSONI; LEITE, 2011) desses(as)

treinadores(as)-aprendizes(as) favorece que as experiências vividas com as

estratégias pedagógicas sejam consideradas como vivências.

Apesar disso, percebe-se que ainda poucas organizações têm trabalhado

para tornar as oportunidades de aprendizagem mais sociais em programas

institucionais. Este quadro pode ser uma consequência das poucas pesquisas

desenvolvidas até o momento com a finalidade de investigar e avaliar os programas

institucionais de formação de treinadores(as) (CUSHION; NELSON, 2013; ARAYA;

BENNIE; O’CONNOR, 2015). Essa carência de estudos que tendem a considerar as

potencialidades plausíveis dos programas institucionais, em contrapartida a apenas

constatar suas possíveis deficiências, pode ser considerada um atraso na evolução

da formação de treinadores(as).

Grande parte das pesquisas que apresentam estratégias pedagógicas

inovadoras perpassa o ambiente das universidades, um dos tipos de instituição que

colabora com a formação de treinadores(as) em diferentes partes do mundo. Nos

últimos tempos, as universidades têm contribuído grandemente para o aumento de

estudos nessa área (MALLETT; RYNNE; DICKENS, 2013) e vêm se mostrando

competentes nessa tarefa, especialmente pela possibilidade observada em alguns

contextos desse ambiente em permitir a aproximação de treinadores(as)-

aprendizes(as) com seus pares e com mediadores(as) responsáveis que incentivam

o desenvolvimento de habilidades reflexivas (MALLETT; RYNNE; DICKENS, 2013).

Os programas universitários de formação de treinadores(as) comumente envolvem

poucos(as) aprendizes(as) (quando não considerados obrigatórios, como no caso

brasileiro), possuem duração estendida se comparada a outras possibilidades

institucionais e tendem a ser não específicos a um esporte ou uma prática corporal, o

que favorece tais situações (TRUDEL; CULVER; WERTHNER, 2013; ARAYA;

BENNIE; O’CONNOR, 2015).

Em contrapartida, embora essa ainda seja uma discussão iminente em

muitas universidades do mundo e inclusive brasileiras, algumas situações

consideradas contraproducentes são percebidas em ambiente universitário. Milistetd

e colaboradores (2016) exemplificam essa situação destacando que do mínimo de

3.200 horas obrigatórias a serem oferecidas por programas universitários brasileiros,

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menos de um quinto do tempo é destinado aos conhecimentos necessários a atividade

do treinador esportivo. Além disso, as estratégias pedagógicas utilizadas nessas

oportunidades de aprendizagem parecem ser prioritariamente tradicionais e pouco

relacionadas ao contexto da prática dos(as) futuros(as) treinadores(as) (KUKLICK;

GEARTITY; THOMPSON, 2015; MILISTETD et al., 2015a).

De forma complementar, as oportunidades de aprendizagem institucionais

também são de responsabilidade das federações nacionais esportivas. Apesar de

essas e, inclusive, as FNG, serem consideradas como promotoras de programas de

pequena escala, com foco exclusivo em um esporte ou prática corporal (TRUDEL;

CULVER; WERTHNER, 2013; ARAYA; BENNIE; O’CONNOR, 2015), ainda se

dedicam prioritariamente às estratégias pedagógicas tradicionais.

Assim, tanto as federações nacionais esportivas como as universidades

têm como desafio favorecer possibilidades de formação de treinadores(as) que sejam

mais relacionadas aos contextos específicos dos(as) treinadores(as)-aprendizes(as)

e que promovam maiores interações entre os(as) envolvidos(as), que possuem

experiências e conhecimentos prévios provenientes de suas vivências e da cultura em

que estão imersos(as) (VYGOTSKY, 1997; 1998; 2000; 2009; 2010). Como afirmado

por Vella, Crowe e Oades (2013, p. 245), os programas institucionais precisam

reconhecer que os(as) treinadores(as)-aprendizes(as) não são “tábulas rasas”, mas

trazem para suas oportunidades de aprendizagem institucionais conhecimentos que

serão essenciais para os processos de co-construção de novas ideias e ações. Nessa

discussão, é importante ressaltar que Vygotsky nunca discutiu estratégias

pedagógicas ou formas em que as mediações deveriam ser realizadas (POTRAC;

NELSON; GREENOUGH, 2016), mas consideramos nessa tese que seus

pressupostos podem nos auxiliar a compreender e incentivar novas discussões nas

oportunidades de aprendizagem de treinadores(as).

As estratégias pedagógicas inovadoras aqui apresentadas têm justamente

este pressuposto de considerar que os novos conhecimentos necessários para a

formação inicial ou continuada dos(as) treinadores(as)-aprendizes(as) são fruto do

que esses(as) já compreendem e da relação com mediadores(as) responsáveis que

trarão novas contribuições, teóricas e práticas. A aproximação com os conhecimentos

já construídos pelos treinadores(as)-aprendizes(as) é um fator importante a ser

considerado, pois assim a dinâmica pode constituir novos significados para cada

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pessoa envolvida (VYGOSTKY, 2009). Dessa forma, a constituição de situações

vivenciais poderão favorecer novas ações práticas no exercício das funções dos(as)

treinadores(as)-aprendizes(as). Em acréscimo, a utilização de conhecimentos já

construídos por um grupo social, provenientes da literatura específica e da experiência

de colegas, como ponto inicial de novas co-construções por parte de cada

treinador(a)-aprendiz(a) é um interessante elo com o entendimento de que a

aprendizagem não ocorre desconectada do meio social e da cultura em que se vive

(VYGOSTKY, 2010). Assim, essas podem funcionar como “degraus” da aprendizagem

do processo de resolução de problemas (VYGOTSKY, 2009), que possibilitarão que

os(as) treinadores(as)-aprendizes(as) compreendam o percurso que devam realizar

para então construir suas próprias resoluções.

A atuação dos(as) mediadores(as) responsáveis é o fator decisivo para que

as estratégias pedagógicas sejam realizadas a partir de uma ontologia relativista. Em

muitos estudos sobre novas propostas inovadoras nos programas de formação de

treinadores(as), esse é um aspecto ressaltado e comprovado pelas pesquisas

realizadas. Stoszkowski e Collins (2017b) destacam a importância do papel dos(as)

tutores(as) no aprimoramento do funcionamento de comunidades de prática online e

nos blogs, sendo esses(as) responsáveis pelo clima de engajamento nas discussões

e problematizações; Morgan e colaboradores (2013) ressaltam que o sucesso das

atividades de ABP é geralmente dependente da habilidade e empenho do(a)

mediador(a) em adotar uma postura facilitadora na condução da estratégia

pedagógica; Vella, Crowe e Oades (2013) afirmam que treinadores(as)-aprendizes e

mediadores(as) responsáveis devem trabalhar colaborativamente para co-construir

conhecimentos que permitam o entendimento de conteúdos teóricos na prática de

atuação e, inclusive, destacam que as relações sociais são mais efetivas nos

processos de aprendizagem do que as reflexões realizadas individualmente; outros

exemplos podem ser vistos ao se retomar as estratégias pedagógicas expostas

anteriormente.

Da mesma forma, estratégias pedagógicas que são realizadas a partir de

relações sociais que envolvem atividades práticas, como a mentoria, as comunidades

de prática e pesquisa-ação, por exemplo, possuem componentes da imitação, outra

forma de mediação destacada por Vygotsky (1997). Para Vygotsky (1997), ao imitar,

uma pessoa realiza uma atividade que ainda não está em sua capacidade real, mas

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está em processo de co-construção a partir da colaboração de outra pessoa. Na

imitação, o(a) aprendiz(a) se utiliza de um conhecimento historicamente construído

em seu contexto de atuação. Nesse sentido, na formação de treinadores(as),

destacamos Vella, Crowe e Oades (2013, p. 425-426, tradução da autora), ao

afirmarem que:

(...) a dinâmica dos relacionamentos altera-se da relação treinador(a)-atleta para a relação “anterior” treinador(a)-mediador(a)-treinador(a)-aprendiz(a). Quando o(a) treinador(a)-aprendiz(a) observa como o(a) treinador(a)-mediador(a) lida com assuntos importantes, a dinâmica da relação volta para a “posterior”, quando o(a) aprendiz(a) experimenta comportamentos com seus(suas) atletas, baseado(a) na estratégia que foi gerada a partir de observações e engajamento pessoal.

Dessa forma, os(as) mediadores(as) responsáveis das instituições (em

micro, meso e macro nível), precisam encorajar os(as) treinadores(as)-aprendizes(as)

a refletirem sobre seus contextos de prática e refletirem sobre suas ações, a partir de

questões problematizadoras, demonstrações, provocações e outras formas de

mediação. Assim, a adoção de estratégias pedagógicas inovadoras poderá auxiliar

em uma mudança de oportunidades de aprendizagem institucionais de “aprendizagem

planejada” para “planejamentos para a aprendizagem” (VELLA; CROWE; OADES,

2013, p. 427, tradução da autora).

No entanto, como ressaltado por Morgan e colaboradores (2013), as

mudanças de concepções ontológicas, e, portanto de escolha das estratégias

pedagógicas, não é um processo simples e frequentemente resulta em frustrações e

dissonâncias. Ainda, os autores afirmam que a resistência dos(as) instrutores(as) em

adotar uma postura mediadora, particularmente se esta mudança for imposta, não é

incomum. É provável que caiba à ciência fomentar discussões acerca de outras

abordagens, promover estudos e implementações a partir de parcerias e do ambiente

universitário e demonstrar as potencialidades de novas estratégias pedagógicas para

co-construir, em parceria os(as) mediadores(as) responsáveis, em especial

gestores(as) e desenvolvedores(as) de treinadores(as), uma reformulação dos

programas institucionais tradicionais.

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6 GINÁSTICA PARA TODOS: DIFERENTES CONCEPÇÕES

Ao considerarmos a GPT como uma prática “interpretativista” (SPARKES,

1992), esse capítulo tem como objetivo discutir a GPT à luz da teoria histórico-cultural,

bem como apresentar as diferentes concepções para a prática adotadas pelas FNG

participantes do estudo, que serão posteriormente relacionadas aos programas de

formação de treinadores(as). Dessa maneira, constitui-se pela apresentação de dados

teóricos, bem como de resultados obtidos na pesquisa de campo.

Considerando que este estudo parte da interpretação de instituições

federativas sobre a formação de treinadores(as) e sobre a GPT, é coerente

analisarmos a concepção de prática adotada pela FIG. Essa, da mesma forma,

influencia as interpretações da GPT referidas pelas uniões continentais de Ginástica

e também pelas FNG, sendo portanto uma forma de mediação em macro nível

(JONES; THOMAS, 2015).

No entendimento da FIG, a GPT constitui a Ginástica em contexto

educacional e recreativo, o fitness e as apresentações de Ginástica, como

representado na Figura 8. Hartmann (2010, p. 25, tradução da autora) cita a FIG ao

afirmar que, segundo a instituição, a GPT “(...) compreende todas as atividades

ginásticas que não podem ser chamadas de performance ou esporte de alto

rendimento em competições internacionais”.

Figura 8 - A GPT no contexto da FIG.

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Sendo assim, a FIG considera a possibilidade de a GPT se manifestar a

partir de atividades de Ginástica e Dança e Ginástica com e sem aparelhos (FIG,

2009). Outro aspecto a ser destacado na concepção de GPT da FIG é o seu

direcionamento para pessoas de todos os gêneros, idades, habilidades e culturas

(FIG, 2009).

Ressaltamos ainda o objetivo da prática anunciado pela instituição. Para a

FIG (FIG, 2010), a GPT deve abranger sua filosofia dos 4F: possibilitar diversão (fun),

pois ginastas que não se divertem, não continuam a prática; proporcionar

condicionamento físico (fitness), pois se os(as) ginastas não adquirem bom nível de

condicionamento físico, não conseguem continuar evoluindo em suas habilidades

ginásticas; ensinar os fundamentos da Ginástica (fundamentals), pois esses são a

base das modalidades gímnicas; e facilitar amizades saudáveis (friendship), pois os

ambientes devem encorajar boas relações. Por fim, a instituição destaca o prazer de

fazer parte e representar um grupo ou associação, o que faz a GPT ganhar espaço

em diferentes contextos. A FIG considera que a GPT é a base de todos os tipos de

Ginástica (FIG, 2010).

O fato de enquadrar várias atividades como GPT reflete o papel da FIG de

coordenar, organizar e divulgar os grandes festivais, eventos promovidos para a GPT,

que apresentam as múltiplas formas dessa prática (BORTOLETO, 2008; RUSSELL,

2014). Essa opção também assegura um número relevante de afiliados(as) à

instituição, promovendo tanto um espaço de início de prática ginástica (prática inicial

da Ginástica por crianças, jovens ou mesmo adultos(as) em contextos de

massificação esportiva) e de finalização de carreira esportiva (ex-atletas que tenham

a intenção de continuar a prática da Ginástica sem fins competitivos, para lazer e

promoção da saúde) quanto a prática da Ginástica por praticantes por lazer,

mantendo-se vinculada e influente na vida esportiva do maior número de pessoas.

Logo, a FIG (2010) indica que cada FNG pode desenvolver os tipos de Ginástica e os

eventos e programas que desejar ou perceber possibilidades de fomento em sua

localidade.

Entre os fatores que podem influenciar as opções realizadas pelas FNG

para o desenvolvimento da GPT, dois podem ser destacados:

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1. Aspectos relacionados à gestão das entidades organizacionais esportivas,

em mesma lógica do que discutimos sobre a GPT na FIG;

2. Concepções de Ginástica, sociedade, lazer e saúde adotados por cada país

ou sociedade.

Com relação aos fatores administrativos, é plausível afirmar que quanto

mais abrangente a concepção de GPT, maior o número de afiliados(as) à instituição,

o que pode incrementar consideravelmente o orçamento de tais federações. Além

disso, mantem sob controle dessas instituições o oferecimento de atividades e a

formação e atuação de treinadores(as) voluntários(as) e profissionais. Um exemplo a

ser observado é a organização da German Gymnastics Federation (DTB), que,

segundo Hartmann (2010, p. 29), possuía em 2010 cinco milhões membros, dentre os

quais 80% eram afiliados às atividades de GPT, em especial relacionadas ao fitness

e às atividades de promoção da saúde.

O outro fator destacado, as concepções adotadas pelas FNG para o sentido

da Ginástica e sua relação com a sociedade, o lazer e a saúde, é um ponto a ser

debatido em pesquisas acadêmicas. Tais concepções demonstram de que forma as

sociedades, e consequentemente as FNG, entendem sua prática e desenvolvem

políticas de promoção da Ginástica. O entendimento desses aspectos auxilia na

compreensão da GPT em diferentes localidades e promove reflexão, o que é

importante para que, localmente, compreendamos a importância de discutir e construir

coletivamente as diretrizes adotadas por cada grupo ou país e, globalmente, para que

aprendamos a interpretar a GPT de acordo com a cultura em que ela se revela.

Pelos motivos apresentados, ponderamos que seria leviano de nossa parte

discutir a formação de treinadores(as) de GPT sem considerar que essa prática

adquire diferentes sentidos, e até mesmo significados (VYGOTSKY, 2009), em cada

localidade. Da mesma forma, consideramos que muitos estudos sobre a GPT

desconsideram essas diferentes perspectivas de prática, discutindo esse fenômeno

da mesma forma que discutiriam uma modalidade esportiva institucionalizada.

Sendo assim, avaliamos que consultar as FNG sobre suas concepções de

GPT seria um passo importante para esse estudo, uma vez que tais abordagens

informam os programas de formação de treinadores(as), além de contribuir para as

discussões gerais acerca dessa prática. Portanto, realizamos uma investigação sobre

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esse assunto, questionando as 44 FNG com a questão 4: “De acordo com a sua

Federação, o que é Ginástica para Todos?”. Os resultados foram construídos a

partir de análise de conteúdo (LAVILLE; DIONNE, 1999). As respostas obtidas estão

disponibilizadas na íntegra no Quadro 7, disponibilizadas em idioma Português e em

seu idioma original, no caso daquelas feitas em Inglês, Espanhol ou Francês.

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Quadro 7 – Concepções de GPT das FNG participantes.

País Tradução em Português (tradução da autora) Resposta Original

África do Sul Ginástica fundamental; participação massiva; apresentações de Ginástica.

Foundational gymnastics; mass participation; display gymnastics.

Alemanha

Atividades de movimento (no campo da dança, esportes, esportes recreativos, atividades de movimento de estilo de vida, etc) sem competição ou competição em um nível baixo, que inclua várias ofertas para todas as faixas etárias e gêneros. Muitas vezes as ofertas pertencem a esportes orientados para a saúde.

Movement activities (in the field of dance, sports, recreational sports, lifestyle movement activities etc.) with no competition or competition on a low level that include various offers for all age groups and genders. Often the offers belong to health-orientated sports.

Algeria Ginástica para todas as idades, focada em todas as pessoas. Gymnastique pour tout âges axée à tout le monde.

Andorra Um esporte que combina a arte, a dança, a elegância, a força, a coordenação e a flexibilidade.

Un deporte que convina el arte, el baile, la elegancia, la fuerza, la cordinacion y la flexibilidad.

Argentina Não há conhecimento por parte dos membros de minha Federação acerca da GPT. Por essa razão, meu trabalho consiste, por hora, em difundir a atividade.

No hay conocimiento por parte de los miembros de mi federación acerca de la gimnasia para todos. Por esa razón mi trabajo consiste, por ahora, en difundir la actividad.

Aruba Ginástica para todas as idades e todos os níveis. Gymnastics for all ages and all levels.

Austrália

GPT é um esporte para todos. Você pode desenvolver habilidades incríveis enquanto desenvolve força e flexibilidade de modos divertidos e desafiadores; é um esporte para a vida, com possibilidades para todas as idades e todas as habilidades.

Gymnastics for All is a sport for everybody. You can develop amazing skills while getting strong and flexible in fun and challenging ways; it is a sport for life with something for all ages and all abilities.

Áustria

A base para todas as disciplinas ginásticas, muito importante para todos os clubes, para todas as idades e muitos níveis, competitivos e não competitivos.

The Basis of all gymnastics disciplines, very important for all Clubs, for all ages and many levels, competitive and non-competitive.

Azerbaijão

GPT foi estabelecida no Azerbaijão quando o time nacional participou da Ginastrada Mundial em Helsink (Finlândia), em 2015, pela primeira vez. Este é o evento no qual representantes de todas as disciplinas ginásticas podem estar unidos para fazer uma ótima apresentação com a participação de pessoas de diferentes idades e sem a tensão competitiva, em uma atmosfera amigável.

Gymnastics for All was established in Azerbaijan when the national team joined the World Gymnaestrada in Helsinki (Finland) in 2015 for the first time. It is the event where the representatives of all gymnastics disciplines can be united to make a great performance with a participation of people of different ages and without competition tension in a friendly atmosphere.

Bangladesh GPT é ginástica para todas as pessoas do país, de todas as idades. Gymnastics for all is gymnastics for everyone of all age people of the country.

Continua

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Barbados Movimento ginástico que inclui todas as pessoas, idades e habilidades.

Gymnastic movement that is inclusive of all people, ages and abilities.

Benin

GPT, de acordo com a nossa Federação, é o tipo de Ginástica que todos podem praticar sem distinção de sexo, idade, raça ou filiação religiosa. Este tipo de ginástica permite que você pratique esportes enquanto se diverte e desenvolve boa saúde.

La Gymnastique pour tous selon notre Fédération est le type de Gymnastique que tout le monde peut pratiquer sans distinction de sexe, d'âge, de race, ou d'appartenance religieuse. Ce type de Gymnastique permet de faire du sport en s'amusant et en se donnant une bonne santé.

Brasil Para a minha federação é sinônimo de ginastrada mundial. Ressalto que tenho lutado para mudar isso.

Cabo Verde Uma disciplina de Ginástica que abrange todos os gêneros e faixas etárias.

Canadá GPT é Ginástica para todas as idades, níveis e habilidades. Gymnastics for All is gymnastics for all ages, all levels, and all abilities.

Catar A prática da GINÁSTICA para todos, diferentes idades e sexos. Preparação de apresentações com nossos ginastas de diferentes disciplinas.

La pratique de GYMNASTIQUE par tout le monde, different ages et sexes. Preparer un spectacle avec nos gymnastes des differentes disciplines.

Cingapura Ginástica para todas as pessoas – uma disciplina não competitiva da FIG.

Gymnastics for Everyone - a non-competitive FIG Discipline.

Dinamarca GPT é Ginástica sem competição.

Gymnastics for alle is gymnastics without competition (VM, EM ect.).

Eslováquia Parte básica para o desenvolvimento de nossa federação e ginastas.

Basic part for development of our federation and gymnasts.

Estados Unidos

Temos componentes não competitivos, competitivos e de necessidades especiais.

We have non-competitive, competitive and special needs components.

Estônia Movimentar-se em grupo em uma atmosfera divertida. Moving together in fun atmosphere.

Finlândia

GPT é uma ampla família de diferentes tipos de Ginástica. O foco na GPT é mais sobre fitness, saúde, experiências e apresentações do que competir. Nós temos algumas competições desses estilos, mas esse não é o foco principal, propósito ou objetivo da atividade. GPT não tem idade limitada; temos atividades para todas as faixas etárias.

Gymnastics for All is a broad family of different kind of gymnastics styles. Focus in GfA is more on fitness, health, experiences and performing than competing. We do have some competitions under these styles, but that isn't the main focus, purpose or aim of the activity. GaF isn't age Limited; we have activities for all age groups.

Grã-Canária Ginástica praticada por quem não quer competição.

La Gimnasia practicada por todo aquel que no quiera la competición.

Grã-Bretanha

Mais oportunidades para mais pessoas fazerem parte da Ginástica. More opportunities for more people to take part in gymnastics.

Hong Kong Adequada para todos.

Suit for everyone.

Continua

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Ilhas Cayman

Nós não temos um programa de GPT em Cayman.

We do not have GfA program in Cayman.

Irlanda Ginástica baseada em participação. Ginástica inclusiva. Apresentações de Ginástica.

Participation-based Gymnastics. Inclusive Gymnastics. Display Gymnastics.

Islândia Todas as disciplinas ginásticas que estão sob jurisdição da FIG e da UEG são GPT. A Ginástica básica e as apresentações.

All gymnastics discipline that are under FIG and UEG are GFA. The basic gymnastics and performances.

Itália

A GPT é uma gama de atividades em que TODOS (adultos(as), crianças...pessoas com deficiência, amadores(as), atletas...) podem encontrar um tipo de atividade adequada.

The Gymnastics for All is a range of activities in which ALL (adults, children, over..., disabled, amateurs, athletes...) can find a type of work suited to them.

Kosovo

Um esporte para todos, independentemente da idade e gênero. É a atividade perfeita para preparar as crianças para a participação de longo prazo no esporte e desenvolver habilidades vitais. Além disso, é uma das oito disciplinas esportivas de Ginástica oficialmente reconhecidas pela FIG e organizações mundiais de Ginástica.

A sport for everybody, regardless of age, gender. It is the perfect activity to prepare children for long-term participation in sport and develops vital life skills. Additionally, is one of the eight gymnastics sport disciplines officially recognized by The International Gymnastics Federation and gymnastics organizations worldwide.

Líbia

São as atividades coletivas de movimentos esportivos para pessoas de qualquer idade, individuais ou para o desempenho (a partir de notas numéricas) e feitas sem Código de Pontuação.

It is the collective activities of any age by the sports movements, either alone or in the performance of mathematical tools, and done without code of points.

Luxemburgo Atualmente incluímos Ginástica Geral e Ginástica recreativa em todas as suas formas.

Nous y regroupons actuellement la gymnastique générale et la gymnastique loisirs sous toutes ses formes.

Maurício A base de qualquer Ginástica/atividade física; a “mãe” de todos os esportes, praticada por pessoas de todas as faixas etárias.

The foundation of any gymnastics/physical activity; the mother of all sports, practiced by people of all age groups.

Moçambique Modalidade dirigida e acessível para todos.

Mônaco Ginástica praticada por uma população de todas as idades.

La Gymnastique pratiquée par une population de tout âge.

Mongólia

Desde 1961./ Resultados atuais de GPT da Federação de Ginástica da Mongólia: 2010, Prêmio Nacional no Campeonatos Asiáticos em Cingapura; 2011, Prêmio Talento no Campeonatos Asiáticos em Hong Kong, China; 2015, participação na Ginastrada Mundial. Apresentações de grupos e competições.

Since 1961. /Mongolian Gymnastics Federations discipline Gymnastics for All modern results: 2010 Awards National uniform for Asian championships in Singapore; 2011 Awards Talent for Asian championships in HKG China; 2015 participate in Finland. World Gymnaestrada.Group displays and competitions.

Namíbia A oportunidade para todos se juntarem à ginástica, irrelevante de talento.

The opportunity for everybody to join gymnastics, irrelevant of talent.

Continua

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130

Noruega Todas as atividades para crianças, jovens, adultos, idosos, sem competição.

All activities for children, youth, adults, elderly, without competition.

Paraguai

É uma modalidade de ginástica de base não competitiva que busca a saúde e a participação de todas as pessoas que são atraídas pelo movimento físico que compõe um grupo e que se apresenta e atua com uma expressão artística criativa e particular.

Es una modalidad gimnastica de fundamento no competitivo que busca la salud y participación de toda persona que se sienta atraído por el movimiento físico que conforma un grupo, que se presenta y actúa con una creativa y particular expresión gimnastica.

Portugal

A Ginástica para Todos oferece uma enorme variedade de atividades adequadas a todos os géneros, grupos etários, com diferentes capacidades técnicas e ascendências culturais. É reconhecido que as atividades da Ginástica para todos contribuem para a saúde pessoal e bem-estar físico, social, intelectual e psicológico. Os grandes objetivos dos eventos de Ginástica para Todos são a diversão, amizade, aptidão física, ginástica de base e pode envolver: Ginástica com ou sem aparelho e Ginástica e Dança. Para a Federação Internacional de Ginástica a Ginástica para Todos é considerada a base de todas as disciplinas da ginástica, do movimento físico e das atividades desportivas de um modo geral.

República da Coreia

Ginástica para todas as pessoas, para a saúde geral. Gym for all for general people's health.

Suécia Toda Ginástica sem os elementos de competição baseados nas regulações técnicas (ou seja, podem haver elementos de competição/desafios, mas não é o principal objetivo do treino).

All gymnastics without elements of competition based upon technical regulations (i.e. there might be elements of competition/challenges but it is not the main objective for training).

Trindade e Tobago

Ginástica para ginastas que não treinam ou desejam competir nos níveis mais altos ou que competiram e voltaram à Ginástica por prazer. Para todas as idades e habilidades físicas.

Gymnastics for Gymnasts who do not train or wish to compete at the higher levels or who have competed and come back to gymnastics for pleasure. For all ages and physical abilities.

Venezuela Modalidade de Ginástica voltada para a participação de todas as faixas etárias da população, cujo objetivo principal é a realização de atividades físicas saudáveis, recreativas, criativas e de caráter não competitivo.

Modalidad de la gimnasia dirigida a la participación de todos los grupos etarios poblacionales, cuyo objetivo principal es la realización de actividades físicas saludables, recreativas, creativas, de carácter no competitivo.

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A partir da análise das respostas obtidas, foram identificados os aspectos

mais recorrentes e os mais significativos das definições.

Quadro 8 – Análise das respostas sobre as concepções de GPT.

Tema Unidades de Análise (Número de incidências) %

Gama de características dos(as) ginastas/ Diversidade dos(as) ginastas

Acessível para todos(as) (6); todos os gêneros, grupos etários, com diferentes capacidades técnicas e ascendências culturais (1); todos os gêneros e faixas etárias (4); todos os grupos etários (8); todo(a) aquele(a) que não queira a competição (1); toda pessoa que se sinta atraída pelo movimento físico (1); participação em massa (1); esporte para todos(as) (1); todas as idades e habilidades (6); componentes para pessoas com necessidades especiais (1); qualquer pessoa, irrelevante de talento (1); para mais pessoas (1); para ginastas que não treinam ou não desejam competir em alto nível ou aqueles(as) que competiram e desejam retornar à Ginástica por prazer (1).

72,7

Relação competição/ participação

Caráter não competitivo (6); desenvolvimento de algumas competições, embora esse não seja o principal foco, propósito e objetivo da atividade (1); competitivo e não competitivo (2); sem competição ou competição em baixo nível (1); Ginástica participativa (1); Ginástica de recreação (1); Realizada sem um Código de Pontuação (1).

34

Tipo de atividade

Modalidade (3); disciplina (1); expressão ginástica (3); esporte (2); ginástica fundamental; fundação de qualquer ginástica/atividade física (1); mãe de todos os esportes (1); esporte para a vida (1), ampla família de diferentes estilos de Ginástica (1); variedade de atividades (1); atividades de movimento (no campo da dança, esporte, esporte recreacional, atividades de movimento de estilos de vida (1); esportes orientados para a saúde (1); mais oportunidades de participar da Ginástica (1); toda a ginástica sem elementos de competição baseados em regulamentos técnicos (1); Ginástica inclusiva (1).

31,8

Objetivos da prática Diversão, amizade, aptidão física, ginástica de base (1); realização de atividades físicas saudáveis, recreativas e criativas (1); aptidão física, saúde, experiências e apresentações (1); saúde geral (1).

15,9

Formas de prática Ginástica com ou sem aparelho e Ginástica e Dança (1); ginástica de apresentação (4); espetáculo (1). 13,6

Representação da prática no universo ginástico

Base de todas as disciplinas da ginástica, do movimento físico e das atividades desportivas de um modo geral (2); Ginástica básica (1).

11,3

Questões administrativas

Importante para todos os grupos (1); parte básica para o desenvolvimento de nossa FNG (1); disciplina da FIG (1); uma das oito modalidades reconhecidas pela FIG e outras organizações de Ginástica ao redor do mundo (1); todas as disciplinas que estão sob administração da FIG e da UEG são GPT (1).

11,3

Contribuições da prática

Saúde pessoal e bem-estar físico, social, intelectual e psicológico (1); saúde (1); desenvolvimento de habilidades incríveis (1); força e flexibilidade (1); preparar crianças para o desenvolvimento esportivo a longo prazo (1); desenvolvimento de habilidades para a vida (1); diversão e saúde (1).

6,8%

Características gerais

Combina a arte, a apresentação, a elegância, a força e a coordenação e a flexibilidade (1); alegria e ambiente desafiador (1); atmosfera alegre (2); Ginástica de diferentes disciplinas.

6,8%

Associação com eventos

Ginastrada Mundial (2). 4,5%

Número de participantes

Conforma-se em grupos (2); atividades coletivas (1); tanto atividades individuais quanto em grupos (1). 4,5%

Métodos de ensino

Dirigida (1). 2,2%

Outras Não há conhecimento sobre a GPT na FNG (1); não há o desenvolvimento de programas de GPT na FNG (1); sem entendimento da pergunta (1).

6,8%

Legenda: %: Porcentagem de países que citaram o tema.

É interessante notar que a principal característica da GPT apontada nas

definições (citada por 72,7% dos participantes) é o espectro de praticantes, o qual,

segundo as respostas, é livre e abrangente. Destacam-se em quantidades de

aparições as respostas que consideram a GPT uma prática para todos os grupos

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etários (8), acessível para todos (6) e para todas as idades e habilidades (6). Como

comentado anteriormente, esta também é uma característica apontada pela FIG para

a GPT.

Essa particularidade coloca a GPT em contraponto às modalidades

competitivas de Ginástica, uma vez que se mostra como um diferencial das demais

disciplinas gímnicas. Pode ser considerado que, ao entenderem que a GPT é uma

prática voltada para todos(as) os(as) interessados(as), as FNG consideram que as

modalidades competitivas não são, sendo possivelmente destinadas a participantes

com características específicas – aptos(as) a busca pela primazia técnica e superação

de concorrentes. Isso é confirmado por uma das respostas, que considera que a GPT

é uma prática “para ginastas que não treinam ou não desejam competir em alto nível

ou aqueles que desejam retornar à Ginástica por prazer”. Esse argumento pode

demonstrar uma concepção histórica de que a Ginástica é uma prática de preparação

de corpos, como já destacado por Langlade e Langlade (1970) e Soares (2012).

Nessa perspectiva, poderia ser entendido que a GPT é parte de todas as

disciplinas ginásticas: há GPT na iniciação esportiva da Ginástica Artística; há GPT

na Ginástica Rítmica adaptada do Special Olympics; há GPT nos grupos iniciantes de

Aeróbica, assim como há GPT de apresentação de grupos de grande área, praticantes

de fitness, entre outras formas, como é visto pela FIG. Percebe-se que essa

concepção é adotada por algumas FNG (como de Maurício e da África do Sul), que

entendem a GPT como uma forma de prática da Ginástica enquanto, ao mesmo

tempo, outras FNG percebem a GPT como prática cuja identidade é independente

(por exemplo, de Cingapura e da Venezuela).

Porém, destacamos a arriscada posição adotada por algumas FNG ao

enquadrarem as modalidades ginásticas competitivas como destinadas apenas para

o alto rendimento e para um público específico: assim, exclui-se a ideia de que o

esporte, independentemente da modalidade, é um fenômeno que, entre outras

funções, pode ser facilitador na busca pela qualidade de vida destinado a todos os

cidadãos (PAES; BALBINO, 2009). Ao mesmo tempo, priva-se a pessoa comum da

experiência de participar de competições, as quais podem proporcionar sensações,

experiências, descobertas e desdobramentos pessoais revelados a partir do risco, da

aventura, do desafio e da exigência proporcionados pela competição (BENTO, 1999).

É importante, ao mesmo tempo, que os(as) gestores(as) de modalidades gímnicas se

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dediquem a refletir e ampliar os modelos de competição adotados, para que essas

práticas possam ser ofertadas a todos(as) e não apenas àqueles(as) destacados(as)

como talentos. Seria interessante que houvesse um foco pedagógico maior dos(as)

gestores(as) e treinadores(as) na organização da formação de ginastas, pois assim

os 4F destacados pela FIG (2009) como característica da GPT poderiam ser

contemplados em todas as modalidades gímnicas e não apenas na GPT.

Em uma perspectiva histórico-cultural, a possibilidade de participação de

pessoas de diferentes características em práticas comuns é um ponto bastante

valorizado. Essa informação retoma Vygotsky (2009) e sua consideração de que as

relações sociais, em especial aquelas em que uma das pessoas envolvidas é mais

experiente, são essenciais para que os processos de aprendizagem aconteçam. A

teoria histórico-cultural (VYGOTSKY, 1997) ainda ressalta que as vivências em

matrizes sociais diferentes, em que valores e interesses são frequentemente

conflitantes, são importantes para a co-construção de conhecimentos, que tornam as

experiências individuais possibilidades coletivas (VYGOTSKY, 2010). Assim, a

constituição heterogênea dos grupos de GPT é um fator positivo dessa prática e já

reconhecida por outros estudos da área da GPT (PAOLIELLO et al., 2014;

CARBINATTO; BORTOLETO, 2016; SOARES; ALMEIDA; BORTOLETO, 2016).

A segunda categoria mais encontrada (34%) foi a “relação entre

competição e participação”. Os países destacaram o caráter não competitivo da GPT

(6), o fato de ela poder ser competitiva e não competitiva (2) e envolver a Ginástica

participativa (2). A variedade de respostas com relação à GPT e mesmo a diversidade

de possibilidades de prática apontadas pela própria FIG possibilitam que a GPT possa

ser considerada essencialmente demonstrativa e não exclusivamente.

O evento Gym for Life Challenge se caracteriza como “uma espécie de

campeonato mundial para clubes de Ginástica amadora” e “outro palco para a GPT

mostrar suas habilidades em um ambiente amigável” (FIG, 2017, p.1, tradução da

autora) e vem sendo promovido pela FIG e replicado por muitas FNG. Sendo

considerado como um “concurso internacional de grupos de Ginástica” pela FIG

(2011, p. 6), a promoção desse evento valida tanto as respostas que indicam a GPT

como não competitiva como as que a indicam como participativa ou híbrida, uma vez

que seu formato não convencional permite outras aproximações com a prática de

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participação. Outros estudos estão sendo escritos sobre o evento e poderão discutir

mais profundamente esse caráter em breve.

Da mesma forma, ao considerarmos que as pessoas interessadas podem

encontrar na GPT diferentes finalidades que se adequem a seus interesses próprios,

podemos considerar que essa prática é um espaço propício para a constituição de

vivências (VYGOTSKY, 2009). Isto é, os diferentes sentidos que serão produzidos a

partir de uma prática que busca se identificar aos objetivos das pessoas participantes

produzirão valores que, após vivenciados nessa prática corporal, serão manifestados

em outros âmbitos para além do contexto esportivo (GRANER, 2013).

A junção da categoria “tipo de atividade”, que aglomerou as unidades de

análise referentes à categorização da GPT, com a categoria “formas de prática”, que

representa o modo como a GPT se expressa com relação a sua movimentação e

apresentação, foram as terceiras e quintas mais citadas, com 31,8% e 13,6% de

recorrência, respectivamente. As formas de práticas indicadas nas respostas

apresentam-se genéricas e a possibilidade de ser uma “apresentação” destaca-se

frente a uma definição da prática.

Essa é uma tendência também observada na definição proposta pela FIG.

Um exemplo desse contraponto é a comparação das definições de modalidades

ginásticas pela FIG. Para esse órgão (FIG, 2015, tradução da autora), a Ginástica

Artística é definida como “Ginástica competitiva realizada em diferentes aparelhos”;

Ginástica Rítmica é “Ginástica competitiva realizada com o uso de diferentes

aparelhos manuais”; porém, GPT é “Ginástica com ou sem competições (a Ginastrada

Mundial não é uma competição) de natureza recreativa e que cobre uma variada gama

de atividades Ginásticas”. Essa relação é a mesma que ocorre nas definições das

FNG participantes. A GPT poderia ser considerada por essas instituições como um

modo de praticar Ginástica.

Novamente, percebe-se que para algumas FNG a GPT não é uma prática

com identidade própria, mas parte formadora de etapas do desenvolvimento de outras

modalidades gímnicas. Outro fator destacado novamente é o fato de a GPT ser

considerada pelas FNG e mesmo pela própria FIG como uma modalidade que “pode

ser” e não que “é”, confirmando seu caráter adaptativo. Sobre isso, considera-se

Hartmann (2010, p. 25, tradução da autora): “é muito mais fácil definir o que a

Ginástica para Todos não significa do que o que realmente é” (p. 25).

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Destacamos que a concepção adotada para a GPT em cada país ganha

notoriedade na definição da prática exercida e, logo, das políticas de promoção e

incentivo da GPT. Como exemplo desta análise, ressaltamos algumas definições

apresentadas nos resultados: a República da Coréia considera a GPT como

“Ginástica para todos para a saúde geral das pessoas”; a Grã-Bretanha, “mais

oportunidades para mais pessoas aderirem a Ginástica”; a Irlanda, “Ginástica baseada

em participação, Ginástica inclusiva e apresentações de Ginástica”; e os Estados

Unidos afirmam uma prática com “componentes não competitivos, competitivos e para

pessoas com necessidades especiais”.

Dessa forma, é possível inferir que em alguns países, as políticas de

incentivo à GPT poderão ter um apelo mais voltado à promoção da saúde, com o

desenvolvimento de atividades que poderão inclusive ser individuais e com outra

finalidade que não a apresentação de coreografias, como os eventos promovidos pela

FIG incentivam; ao mesmo tempo, podem ter a intenção de abranger um maior

número de pessoas e assim ter o formato de competições, concursos, festivais e

mesmo outros que não relacionados a demonstrações em grupo. A categoria de

análise “objetivos da prática”, que foi a quarta em número de incidências e citada por

15,9% das FNG, tem completa relação com essa discussão, assim como seguintes

respostas: realização de atividades físicas saudáveis, recreativas e criativas (1),

aptidão física, saúde, experiências e apresentações (1) e saúde geral (1).

Ao mesmo tempo, outras respostas demonstram o entendimento de que a

GPT é uma das modalidades da FIG e que, portanto, é uma possibilidade de

desenvolvimento para as FNG. De forma correlata, as “contribuições da prática”

(apontadas por 6,8% das FNG), são apresentadas pelas FNG em suas definições.

Esse também é um aspecto curioso: em qual outro esporte as possíveis

consequências da prática são apontadas em suas descrições? Essa indicação reforça

a percepção de que a GPT se constitui como é uma forma de prática que apesar de

ser livre de conceitos possui características que a constituem como um fenômeno

específico. Por isso mesmo, as FNG indicam diferentes categorias para classificar a

GPT, que vão desde “modalidade” ou “expressão ginástica” até mesmo “Ginástica

fundamental” e “ampla família de diferentes estilos de Ginástica”.

Por fim, outro ponto relevante dos dados é a incidência de respostas que

associam a GPT aos eventos (unidade de análise “associação com eventos”, com

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4,5% das respostas). Essas destacam um evento promovido pela FIG, a Ginastrada

Mundial, e indicam o atrelamento das políticas das FNG exclusivamente à gestão e à

organização de delegações nacionais para o referido evento mundial, sem que haja

necessariamente uma preocupação com desenvolvimento da prática em nível

nacional.

Do ponto de vista histórico-cultural, destacamos a importância dos eventos

de GPT como possibilidades de macro e meso mediação dos processos de

aprendizagem acerca dessa prática. Como forma de contato com outras pessoas

praticantes, com a possibilidade de experiências estéticas como espectadores de

coreografias de GPT e de entendimento dos contextos e das concepções da prática,

os festivais possuem potencialidade formativa relevante (PATRÍCIO; BORTOLETO;

CARBINATTO, 2016; MASTRODI; OLIVEIRA; TOLEDO, 2018).

Chamam a atenção os dados relacionados à categoria denominada

“número de participantes”. Esta foi citada por 4,5% das FNG, que se referiram à prática

como coletiva. O fato de esta consideração ter sido feita por apenas quatro FNG é

curioso, uma vez que esta é uma das características mais relevantes da concepção

de GPT apresentada pela literatura acadêmica e, em especial, por estudos brasileiros

(SOUZA, 1997; FIORIN-FUGLSANG; PAOLIELLO, 2008; TOLEDO; SCHIAVON,

2008; AYOUB, 2013; PAOLIELLO et al., 2014; MENEGALDO, 2018). Assim, essa

constatação torna as discussões acerca das concepções de GPT interessantes,

sendo considerada por apenas um pequeno número de FNG. Ao ser relacionada com

a teoria histórico-cultural, esta categoria recebe destaque. O fato de ser uma prática

realizada por grupos destaca as mediações, aspectos essenciais dessa teoria, que

permitem a co-construção de conhecimentos, a socialização de experiências e o

desenvolvimento de relações afetivas que levam às vivências (VYGOTSKY, 1997;

1998; 2009), fatores já consideravelmente discutidos nessa tese. Assim, os dados

analisados despertam o interesse para o aprofundamento dessa discussão, que pode

ser retomada em pesquisas futuras.

As categorias de análise “representação no universo ginástico” e “questões

administrativas” (ambas abrangidas por 11,3% das FNG), destacam respostas

referentes à GPT como base para o desenvolvimento da FNG, pois, se bem

administrada, pode representar um grande número de afiliados, praticantes e

consequentemente, consumidores de programas e eventos às FNG. Esse quadro

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observado pode apontar fragilidades nas gestões de tais FNG pois, uma vez que a

GPT se caracteriza de forma versátil, como apontada pelas próprias FNG e pela FIG,

seu desenvolvimento possui expressivo potencial para o incremento da influência

desses órgãos.

Em concordância com essa análise, Hartmann (2010, p. 25, tradução da

autora) afirma que:

Atualmente, a GPT tornou-se reconhecida como uma das várias disciplinas da FIG. Mas este foi um processo árduo e a posição da GPT nas políticas internas da FIG não é estimada como poderia para o alcance de um potencial desenvolvimento da Ginástica.

Ou seja, há espaço para o crescimento da GPT em diferentes países e a

nível mundial, desde que essa prática seja discutida, compreendida e finalmente

desenvolvida pelos(as) gestores(as), treinadores(as), ginastas e sociedade em geral.

Para tanto, a efetiva compreensão do fenômeno e a adequação da prática aos fins

requeridos pelo grupo social deve acontecer e isso só ocorrerá a partir de etapas como

a conscientização da importância da GPT no desenvolvimento gímnico dos países, a

adoção de uma concepção, ou seja, de uma perspectiva teórico-prática que

movimente a prática gímnica, a formação técnica e pedagógica dos agentes

envolvidos e a promoção de eventos que incentivem e retroalimentem a GPT.

De forma resumida, podemos constatar quatro grupos de países pelas

concepções de GPT apresentadas. O primeiro deles, composto pelo maior número de

respondentes, 26 FNG, apresentam conceitos gerais de GPT. Esses países destacam

as características inclusivas e livres da GPT, em uma abordagem semelhante à

realizada pela FIG, o que demonstra a influência dessa organização na definição da

prática em diferentes países. Embora deem margem para que a prática da GPT seja

diversa, citam especialmente o espectro possível de participantes, objetivos da prática

e contribuições da prática em suas definições. São FNG de diferentes localidades

geográficas e níveis de desenvolvimento ginástico.

O segundo grupo, composto por Argentina, Azerbaijão, Brasil e Ilhas

Cayman, representa respostas que indicam que o conceito de GPT não é

desenvolvido e discutido de forma uníssona nesses países, atualmente. Azerbaijão é

um país com resultados expressivos e tradição na Ginástica Rítmica mundial; o Brasil

apresenta bons resultados na Ginástica Rítmica continental e talentos mundiais na

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Ginástica Artística, embora não tenha histórico de tradição na Ginástica, da mesma

forma que Argentina e Ilhas Cayman. Assim, é possível constatar que o

desenvolvimento da GPT não possui relação com o nível de desenvolvimento de

outras modalidades gímnicas, além de essa situação não ser restrita a uma localidade

geográfica. Mais ainda, destacamos que o fato de os respondentes desses países,

em especial Brasil e Argentina, terem consciência da pouca discussão da prática e se

apresentarem como pessoas dispostas a desenvolvê-la mais e melhor, é um fator

positivo. O fato de apenas esses países destacarem a pequena discussão sobre GPT

não indica que somente nesses essa prática é pouco desenvolvida – mas destaca a

consciência desse fato.

O terceiro e último grupo, composto por Áustria, Dinamarca, Grã-Bretanha,

Alemanha, Irlanda, Islândia, Maurício, África do Sul, Eslováquia e Estados Unidos,

demonstra uma concepção mais utilitária e administrativa de GPT. De modo geral,

esses países entendem a GPT como uma prática base para outras ginásticas, parte

organizacional da FNG e uma possibilidade de mais pessoas praticarem Ginástica.

Dessa forma, viabilizam a perspectiva da GPT como uma prática com poucas

características particulares, mas que é importante para o desenvolvimento das FNG.

É interessante notar que grande parte dos países que compõe esse grupo possuem

tradição ginástica e/ou são FNG bem estruturadas, de países desenvolvidos, em que

a prática esportiva faz parte da rotina da população. Assim, é possível comentar que

em tais países, a GPT não possui necessariamente uma identidade, mas caracteriza-

se como a prática da Ginástica em geral. Essa discussão será aprofundada no

próximo capítulo.

Por fim, a República da Coreia apresenta uma concepção específica de

GPT voltada exclusivamente à promoção da saúde. Este é um país cuja preocupação

com a saúde geral e qualidade de vida de seus habitantes é notavelmente conhecida,

sendo inclusive possível de ser comparada com outros países. Enquanto na República

da Coreia a expectativa de vida é de 80 anos para homens e 86 para mulheres, nos

Estados Unidos os dados são de 76 para homens e 81 para mulheres, no Brasil, 71 e

79 respectivamente e na Alemanha, 79 para homens e 83 para mulheres, segundo a

World Health Organization (2018). Assim, como já citado anteriormente, é possível

afirmar que a concepção de GPT adotada por um país relaciona-se com a concepção

de sociedade adotada, não está desvinculado a um projeto social.

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Finalmente, pode ser comentado que não há uma uniformidade de

concepções de acordo com o contexto político, socioeconômico ou ainda geográfico

ao se pensar as diferentes definições de GPT adotadas. De forma geral, a análise dos

resultados dessa pesquisa reforça o caráter híbrido, versátil e adaptativo da GPT nas

diferentes FNG. Tal característica possui ponto positivo ao considerarmos que as

diferentes FNG podem alinhar o interesse de sua população à prática da GPT,

permitindo que a Ginástica continue a ser desenvolvida independentemente da

concepção adotada. O mesmo aspecto pode apresentar lado negativo, pois a

ausência de uma linearidade entre as concepções dos diferentes países faz com que

as discussões a nível mundial sobre a GPT sejam difíceis de serem estabelecidas,

uma vez que a prática possui significados distintos em cada país e, portanto,

diferenças teóricas entre pesquisadores e gestores. A nível mundial, a FIG coloca-se

em posição neutra com relação a sua gestão, fator que é observado na promoção de

eventos que atendem a diferentes concepções e mesmo em suas definições, como já

observado. Com relação à formação de treinadores(as) pela FNG, no entanto, a falta

de uma concepção linear entre FIG e desta com as FNG e entre as FNG, faz com que

a proposta seja abrangente e, por vezes, superficial. Essa discussão está sendo

desenvolvida e outros estudos poderão trazer maiores debates sobre ela.

Os dados obtidos demonstram que a GPT, embora possua alguns

princípios que podem estar presentes em diferentes definições, representa

significados muito específicos para cada sociedade. Assim, é difícil falarmos de um

único conceito, sendo mais plausível discutirmos conceitos de GPT.

Entendemos que é justamente nessa pluralidade de significados que reside o valor da

GPT, em sua identidade “alicerçada na diversidade” (TOLEDO; SCHIAVON, 2008, p.

234), na prática de uma Ginástica para a vida toda (SCHIAVON; TOLEDO; AYOUB,

2017) e que se adequa aos praticantes, e não o contrário. Assim, “a busca pela

conceituação nada mais é que uma tentativa de melhor compreender, definir e

expressar o simbolismo dessa prática” (TOLEDO; SCHIAVON, 2008, p. 221) e,

portanto, faz-se necessário discutir o significado da GPT para cada sociedade. Ao

mesmo tempo, há a necessidade de sempre atentar-se que “há um ser histórico e

único por trás de cada conceito e que esses conceitos foram construídos em contextos

socioculturais diferenciados, o que também colabora para sua especificidade”

(TOLEDO; SCHIAVON, 2008, p. 224), ou seja, nenhum conceito é estabelecido por

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acaso, mas faz parte de um projeto político de sociedade do qual a Ginástica não está

isenta.

De modo geral, como indica Fiorin-Fuglsang e Paoliello (2008, p. 100), o

que se pode afirmar é que a GPT atual é “um resgate da Ginástica do passado,

quando as pessoas ainda praticavam sua atividade por prazer, por alegria, sem se

preocuparem com recordes ou desempenho perfeito”, embora o desejo de competir,

ainda que em nível baixo ou outros formatos, faça parte de algumas concepções de

GPT. Logo, a GPT se constitui de exercícios com variado grau de especificidade

das modalidades ginásticas, que se aproximam do cerne da Ginástica ou dos

elementos que a compõe; seu grande diferencial, no entanto, é a combinação

desses elementos com a característica dos grupos em cada localidade e seus

objetivos ou do “produto” a que se propõe, seja esse uma coreografia, uma

atividade semanal ou uma sequência de exercícios para o melhoramento da

saúde.

Destacamos que, na concepção do grupo do qual fazemos parte e de

grande parte dos grupos brasileiros, a GPT não se desvincula, em acréscimo, de um

“processo”, que é inerente a sua prática. Tal “processo” é educativo e se coloca em

mesmo grau de importância que o “produto” da GPT: durante seu percurso

pedagógico, as habilidades e conteúdos culturais dos participantes são valorizados e

compartilhados entre os membros do grupo, em uma proposta que visa a formação

humana e a capacitação (MATURANA; REZEPKA, 1995) em Ginástica dos

praticantes (PÉREZ GALLARDO; SOUZA, 1995; SOUZA, 1997; PÉREZ GALLARDO,

2008; PAOLIELLO et al., 2014). Este conceito, desenvolvido pelo GGU e estudado no

Brasil pelo GPG, que atua na área desde 1993 com produção científica de vanguarda

e organização de eventos acadêmicos neste campo de conhecimento, conquistou

relevância nacional e internacional, com influência e colaboração na formação de

professores de todo o país. A definição de GPT considerada por esse grupo é:

uma manifestação da Cultura Corporal que reúne as diferentes interpretações da Ginástica (Natural, Construída, Artística, Rítmica Desportiva, Aeróbica etc.), integrando-as com outras formas de expressão corporal (Dança, Folclore, Jogos, Teatro, Mímica etc.), de forma livre e criativa, de acordo com as características do grupo social e contribuindo para o aumento da interação social entre os participantes. (PÉREZ GALLARDO; SOUZA, 1995, p. 33).

A GPT na concepção brasileira poderia ser discutida como na Figura 9.

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Figura 9 – A GPT no contexto brasileiro.

Fonte: Souza (1997).

Ressalta-se que embora as discussões sobre a GPT no Brasil estejam

avançadas em determinadas perspectivas e sejam esforços perenes, ainda não

alcançaram a Confederação Brasileira de Ginástica e, portanto, não estão traduzidas

na concepção apresentada nos resultados dessa pesquisa. Essa incompatibilidade

entre os conceitos dos órgãos gestores da Ginástica e da população em geral pode

ocorrer em outros países. Esta é uma limitação do estudo, pois a visão dos(as)

gestores(as) ou a concepção indicada pode não retratar fidedignamente a situação da

GPT no país, tanto por esses(as) gestores(as) representarem uma instituição (e

portanto não transmitirem suas concepções pessoais ou percebidas na realidade do

país) quanto por suas declarações serem posicionamentos políticos que muitas vezes

demonstram o que se desejaria que acontecesse e não a realidade.

Por fim, destacamos que todas as concepções de GPT apresentadas

nos resultados dessa pesquisa mostram potenciais da prática: sejam

perspectivas de crescimento e desenvolvimento da GPT para os próximos anos,

demonstradas a partir dos esforços dos gestores em promover a GPT; sejam

propostas para o desenvolvimento da saúde dos praticantes; sejam os focos em

proporcionar uma prática contínua, que potencialize a participação de todos os

interessados, dentro de suas possibilidades técnicas e interesses culturais. Os

resultados também destacam que a GPT não pode ser tratada como um

fenômeno padrão em todo o mundo, sinalizando atenção para as pesquisas

acadêmicas e potencializando a importância dos eventos nacionais de GPT, os

quais podem ser especificamente voltados para os interesses de cada país.

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143

7 RESULTADOS

7.1 Etapa A

A Etapa A da pesquisa de campo proporcionou a construção de um quadro

da situação atual do oferecimento de programas de formação de treinadores(as) de

GPT oferecidos pelas FNG. Alguns assuntos puderam ser estudados a partir das

respostas obtidas, dentre os quais frisamos:

• O papel de tais programas de formação de treinadores(as) de GPT

nos diferentes países;

• A organização das FNG para o oferecimento dos programas;

• A abordagem, a formatação e o desenvolvimento dos programas;

• A coerência estabelecida entre os programas e a concepção de GPT

das FNG;

• A importância do programa FIG Academy para a formação de

treinadores(as) de GPT em cada FNG.

A apresentação dos resultados e as discussões que se seguem são

pautadas nos diferentes assuntos anunciados, não seguindo necessariamente a

ordem das questões apresentadas no questionário. Ressaltamos que a questão 1,

referente à identificação dos respondentes, não carece de análise e as segunda e

terceira questões foram discutidas no Método desse estudo.

a) O papel dos programas de formação de treinadores(as) de GPT nos países

participantes

A formação inicial e a subsequente formação continuada de treinadores(as)

são consideradas essenciais para a sustentação e o melhoramento da qualidade do

desenvolvimento esportivo e de práticas corporais (CUSHION; ARMOUR; JONES,

2003). Em uma tentativa de suportar esse processo educativo, os sistemas de

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144

formação de treinadores(as) ao redor do mundo têm se desenvolvido e estão em

constante processo de renovação e reconstrução (MALLETT et al., 2009).

A formação de treinadores(as) pode garantir a qualidade do

desenvolvimento profissional (ICCE, 2013). Ao passo que não se pode controlar as

vivências de cada pessoa ao longo de sua vida, as oportunidades de aprendizagem

institucionalizadas podem ser significativamente importantes na promoção de

relações sociais que promovam processos de aprendizagem efetivos e resultem em

co-construções conscientes sobre o papel do ensino de Esporte e práticas corporais.

As legislações dos diferentes países delimitam e regularizam o papel de

cada instituição nessa formação. Em algumas localidades, a obrigatoriedade de

formação em nível universitário em Educação Física ou Esporte atribui às

universidades um papel central. Ao mesmo tempo, em outros países, a possibilidade

do exercício da função de treinador(a) por voluntários(as), profissionais pagos(as) em

tempo parcial ou profissionais pagos(as) em tempo integral (ICCE, 2013) potencializa

a formação por parte de outras instituições, como por exemplo, as federações

nacionais esportivas. Possibilidades em que as duas configurações de formação de

treinadores(as) coexistam também são percebidas, atribuindo a cada instituição uma

especificidade. Milistetd (2015) destaca que tradicionalmente as federações e

associações esportivas assumem a responsabilidade de formação de treinadores(as)

em diferentes países, embora o ambiente acadêmico esteja sendo cada vez mais

reconhecido como adequado a esta função, devido a sua capacidade de mobilizar

conhecimentos e de seus recursos.

A fim de compreendermos a importância dos programas analisados nesse

estudo, que se delimitou a investigar os programas federativos, questionamos as FNG

participantes sobre a obrigatoriedade de formação para treinadores(as) de Ginástica

e a natureza das mesmas.

Para tanto, realizamos a questão 7: “A Federação de Ginástica que você

atua exige formação de nível superior para atuação como treinador/professor de

Ginástica (todas as modalidades)? Se sim, qual curso superior é exigido?”24.

Como respostas, obtivemos que

24 Essa questão foi formulada com o raciocínio da realidade brasileira, em que a formação de nível superior se refere à formação universitária. Assim, embora tenhamos tido o cuidado de validar o questionário utilizado com a assistência de professores(as) especialistas, apenas na versão em Inglês do questionário, a pergunta fez referência exata à informação que se desejava consultar – a obrigatoriedade de formação universitária. O equívoco no uso das palavras fez com que respondentes

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• Quinze das 44 FNG (34%) consultadas afirmaram exigir formação de nível

superior: Algeria, Andorra, Argentina, Azerbaijão, Bangladesh, Benin, Brasil,

Catar, Grã-Canária, Kosovo, Luxemburgo, Mônaco, Mongólia, Paraguai e

República da Coreia.

• As outras 29 FNG (65,9%) participantes afirmaram não exigir tal formação

(África do Sul, Alemanha, Aruba, Austrália, Áustria, Barbados, Cabo Verde,

Canadá, Cingapura, Dinamarca, Eslováquia, Estados Unidos, Estônia,

Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong, Ilhas Cayman, Irlanda, Islândia, Itália,

Líbia, Maurício, Moçambique, Namíbia, Noruega, Portugal, Suécia, Trindade e

Tobago e Venezuela).

Dentre o curso superior exigido, foram indicados:

• Graduação em Educação Física e Esporte por três FNG (Bangladesh, Benin

e Brasil);

• Educação Física complementada pelos cursos oferecidos pela FNG por

uma FNG (Paraguai);

• Ensino Superior, sem que houvesse determinação do curso por quatro

FNG (Azerbaijão, Catar, Mongólia e República da Coreia);

• Educação Superior no campo da Ginástica por duas FNG (Algeria e

Kosovo);

• Programas das FNG ou da FIG por cinco FNG (Andorra, Argentina, Grã-

Canária, Luxemburgo e Mônaco).

Assim, é tido que apenas oito FNG apontaram exigir cursos universitários para

a atuação como treinador(a) de Ginástica, apesar de a literatura acadêmica pontuar o

indicassem outros tipos de formação, compreendendo que estes também são superiores. Consideramos que as pessoas que fizeram tal indicação estão corretas e concordamos com sua interpretação. Assim, uma interessante observação pode ser levantada. A utilização do termo superior teve, para alguns(algumas) respondentes, uma conotação de valorização da oportunidade de aprendizagem em relação à outras e não a delimitação de um tipo específico. Tendo entendido dessa forma, as FNG poderiam ter indicado qualquer possibilidade, mas o fizeram apenas relacionando os programas oferecidos pelas FNG e pela FIG, oportunidades de aprendizagem institucionais. No entanto, como as informações obtidas poderiam ser equivocadas, realizamos uma nova consulta por e-mail, repetindo esta questão à todas as FNG que responderam o questionário nos idiomas Espanhol e Francês. Novas respostas foram enviadas pela maioria dos(as) respondentes e os resultados foram atualizados.

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ensino universitário como potencial para tal formação, pela facilidade em mobilizar

diferentes conhecimentos e recursos (MILISTETD, 2015).

Estudos recentes têm contribuído com a divulgação de possibilidades

pedagógicas para a formação de treinadores(as) em ambientes universitários

(JONES; MORGAN; HARRIS, 2012; ICCE, 2013; MORGAN et al., 2013; MILISTETD,

2015). Estas pesquisas são reforços interessantes, uma vez que boa parte dos

estudos que se disponibilizam a analisar as contribuições atuais do ensino

universitário não apresentam resultados que se aproximam das estratégias

pedagógicas sociais e incentivadas por nós. Um exemplo é o estudo de Milistetd e

colaboradores (2016), que investigou vinte cursos de Educação Física de Instituições

de Ensino Superior Federais brasileiras. Os autores destacaram que do mínimo de

3.200 horas obrigatórias, a serem oferecidas por esses programas, menos de um

quinto do tempo é destinado aos conhecimentos necessários a atividade de

treinadores(as). Outra queixa comum encontrada nas pesquisas com relação às

oportunidades de aprendizagem nas universidades relaciona-se com as estratégias

pedagógicas adotadas, que não são ativas e significativas para permitir a co-

construção de conhecimentos a partir das relações sociais (MORGAN et al., 2013;

MILISTETD, 2015).

Com isso, apesar de a universidade ser um importante e possível centro de

formação de treinadores(as), é necessária uma maior reflexão e posterior

implementação de outras abordagens sobre o desenvolvimento e aprendizagem, para

que a realidade praticada seja semelhante às potencialidades apontadas. O quadro

encontrado nesse estudo atribui, portanto, ainda mais importância às oportunidades

de aprendizagem oriundas das FNG.

Em seguida, realizamos a questão 7.1: “Em caso afirmativo, esta é uma

norma específica da federação ou advém de uma lei nacional para todos os

esportes?”. Das 15 FNG que afirmaram exigir formação de nível superior:

• Nove (60%) responderam que essa é uma norma nacional para todos os

esportes e práticas corporais. Estes foram Algeria, Andorra, Azerbaijão,

Brasil, República da Coreia, Kosovo, Mônaco e Mongólia.

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• As outras seis (40%), Argentina, Bangladesh, Benin, Catar, Grã-Canária,

Luxemburgo e Paraguai, indicaram que a obrigatoriedade é uma norma

específica da FNG.

O fato de a obrigatoriedade de formação universitária ser nacional indica

que organizações federais podem influenciar a organização de conteúdos, estratégias

pedagógicas, carga horária e outras variáveis dos cursos universitários. Tal influência,

exercida a partir de leis regulamentares, pode ser positiva caso haja a sensibilização

de tais organizações para a promoção de uma formação mais ativa e efetiva na

formação de treinadores(as).

Para ilustrar essa possibilidade de influência, destacamos Milistetd (2015,

p. 58), que retoma as diretrizes nacionais brasileiras para o estabelecimento de cursos

de bacharelado em Educação Física. São elas: carga horária mínima de 3.200 horas,

distribuídas em quatro anos; currículo pautado no objeto de estudo “movimento

humano” e não reduzido à práticas esportivas; preparação de profissionais “versáteis,

capazes de trabalhar em diferentes contextos de atuação”; currículo contemplado por

diferentes dimensões do conhecimento, formação ampliada e formação específica;

obrigatoriedade de atividades experienciais como Práticas Pedagógicas Curriculares,

Estágio Curricular e Atividades Acadêmico-Científico-Culturais, sem que se exceda de

20% da carga horária mínima do curso. Apesar de tal regulamentação, Milistetd (2015)

afirma que essas normas não são suficientes para assegurar um perfil de formação

de treinadores(as) que remete a um tipo de oportunidade de aprendizagem

semelhante, por conta da variação possível de organização e duração de disciplinas.

Ao pensarmos de que forma a teoria histórico-cultural poderia guiar os

cursos universitários para a formação de treinadores(as), poderíamos considerar que

todas as normas dos cursos de bacharelado brasileiros deveriam ser mantidas. No

entanto, em acréscimo, considerações sobre as relações sociais entre aprendizes(as)

e desses(as) com os mediadores(as) responsáveis deveriam ser asseguradas para

que os processos de aprendizagem se estabelecessem de forma significativa. Essa

consideração poderia, por exemplo, exigir que uma tutoria de aprendizagem fosse

estabelecida ao longo do curso ou mesmo em cada disciplina, para que os(as)

aprendizes(as) pudessem contar com a mediação mais próxima de uma pessoa mais

experiente; ainda, requerer que nas disciplinas estabelecidas, as formas de avaliação

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abordassem co-construções dos(as) aprendizes(as) em parceria com mediadores(as)

responsáveis e não apenas testes e provas escritas sem discussões sobre o

conteúdo. Outra possibilidade poderia ser a exigência de participação dos(as)

aprendizes(as) em ao menos uma comunidade de prática ao longo do curso, sendo

essa parte de um grupo de estudos liderado por um(a) professor(a) e/ou alunos(as)

de pós-graduação, a fim de que as mediações fossem mais efetivas e que o contato

com conteúdos de interesse proporcionasse que os processos de aprendizagem

fossem de fato vivências significativas nos processos de formação. Além da

proximidade com mediadores(as) responsáveis e da participação em processos de

aprendizagem mais ativos, destacamos também que, à luz dessa teoria, seria

imprescindível que os(as) aprendizes(as) fossem realmente conhecidos por

seus(suas) mediadores(as) ao longo do processo: assim, procedimentos que

possibilitassem o conhecimento das experiências prévias e das expectativas poderiam

proporcionar reflexões sobre as estratégias pedagógicas a serem realizadas nos anos

subsequentes de formação de tais futuros(as) treinadores(as).

Em contrapartida, o fato de a obrigatoriedade de formação universitária em

Educação Física e Esporte ser uma norma de algumas FNG, possibilita duas análises:

esta iniciativa pode tanto ser uma opção pela sua própria isenção de responsabilidade

pelo oferecimento de programas formativos, quanto uma interessante forma de

aproximação entre FNG e cursos universitários. Se as FNG apenas exigirem tais

formações mas não acompanharem se o mínimo de conhecimento para a realização

de uma atuação adequada é partilhado pelos(as) treinadores(as), e, ainda não

oferecerem possibilidades de formação continuada, a situação da atuação dos(as)

treinadores(as) permanece sem reflexões aprofundadas. Assim, podemos considerar

que o ensino de Esporte e práticas corporais terá poucas possibilidades de mediações

específicas sobre o assunto no ambiente universitário, como acontece no Brasil.

Assim, outras discussões precisam ser feitas com relação à responsabilidade de cada

uma dessas instituições na formação de treinadores(as).

Sobre essa questão, questionamos as FNG sobre sua atuação na formação

de treinadores(as), com as questões 8 e 8.1: “A Federação de Ginástica em que

você atua exige algum tipo de formação específica em Ginástica para atuação

como treinador/professor de ginástica (todas as modalidades)?” e “Em caso

afirmativo, qual tipo de formação exigida?”. Nesta questão,

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• Trinta das 44 FNG (68,1%) afirmaram exigir formação específica em

Ginástica (África do Sul, Alemanha, Algeria, Andorra, Argentina, Aruba,

Austrália, Áustria, Bangladesh, Barbados, Benin, Canadá, Catar, Cingapura,

Eslováquia, Estônia, Grã-Canária, Grã-Bretanha, Hong Kong, Irlanda, Islândia,

Líbia, Luxemburgo, Maurício, Mônaco, Mongólia, Paraguai, Portugal, Trindade

e Tobago e Venezuela).

• Quatorze (31,9%) não exigem formação específica em Ginástica

(Azerbaijão, Brasil, Cabo Verde, Dinamarca, Estados Unidos, Finlândia, Ilhas

Cayman, Itália, Kosovo, Moçambique, Namíbia, Noruega, República da Coreia

e Suécia).

Com relação ao tipo de formação específica em Ginástica requisitado pelas

FNG:

• Cursos técnico-pedagógicos foram apontados por 19 FNG (63,3%) (África

do Sul, Alemanha, Algeria, Andorra, Argentina, Austrália, Áustria, Cingapura,

Eslováquia, Estônia, Grã-Canária, Grã-Bretanha, Hong Kong, Islândia, Líbia,

Luxemburgo, Maurício, Trindade e Tobago e Venezuela).

• Cursos acadêmicos, por sete FNG (23,3%) (Aruba, Bangladesh, Benin,

Catar, Mônaco, Mongólia e Paraguai).

• Outras formações, por quatro FNG. Dentre as respostas “outros”, temos:

Barbados ressalta a obrigatoriedade de cumprimento do curso FIG Academy;

Canadá exige que todos(as) os(as) treinadores(as) completem o treinamento

da Federação Canadense de Ginástica, chamada Gymnastics Canada;

Irlanda requer a certificação em cursos de treinadores(as) da disciplina

específica, que contém conteúdo pedagógico, segundo o(a) respondente; e

Portugal afirmou exigir “cursos de treinadores da Federação Portuguesa de

Ginástica ou equiparação de Cursos Superiores, conforme lei do país, Lei

nº40/2012”.

Os resultados encontrados indicam que a formação específica em um

Esporte ou prática corporal é valorizada com relação à formação generalista, mais

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ampla. Essa informação atribui aos cursos técnico-pedagógicos a importância de

discutir não apenas aspectos específicos, mas também outros assuntos gerais

essenciais para a atuação como treinador(a). Entre esses, ressaltamos os

conhecimentos interpessoais, referentes ao contexto social e às relações que se

estabelecem, e os conhecimentos intrapessoais, como a filosofia de trabalho (ICCE,

2013). Ao considerarmos a teoria histórico-cultural, essas oportunidades de

aprendizagem deveriam favorecer relações sociais mais ativas e que permitissem a

troca de experiências entre os(as) envolvidos(as), a fim de favorecer a co-construção

de novos conhecimentos e reflexões necessários ao desenvolvimento esportivo.

Em acréscimo, destacamos nesse item a iniciativa de proporcionar a

equiparação de cursos universitários a programas oferecidos pela FNG indicada pela

FNG de Portugal. Esse processo torna padrão a formação obtida independente da

instituição responsável, ao mesmo tempo que permite aos(às) treinadores(as) que

optam pela formação generalista do curso superior obterem o título mínimo de

formação específica em Ginástica, tradicionalmente oferecida pela FNG. Tal

equiparação é favorável aos(às) treinadores(as)-aprendizes(as) que se propõe a uma

formação universitária, mais completa, pois facilita o licenciamento para atuação

profissional. Essa pode ser uma possibilidade interessante, pois permite que as

próprias universidades ofereçam as formações específicas de cada esporte ou prática

corporal, facilitando a co-construção de conhecimentos.

De forma geral, o gráfico 1 ilustra a obrigatoriedade e natureza das

formações exigidas para atuação como treinador(a) de Ginástica pelas FNG:

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Gráfico 1 – Exigência de formação pelas FNG para atuação como treinador(a) de Ginástica.

Chamamos a atenção para as dez FNG que não exigem nenhum tipo de

formação para atuação esportiva. Algumas dessas FNG podem apresentar uma

estrutura institucional ainda pouco estabelecida, o que pode ocasionar uma frágil

regularização da profissão de treinador(a) e pequeno oferecimento de oportunidades

de formação institucional nos países. Nas palavras do(a) respondente das Ilhas

Cayman25: “Eu também gostaria que você notasse que somos um país/ilha muito

pequeno/a e nossa federação é gerida por um conjunto de três voluntários, com

capacidade limitada”.

Outras FNG representam países escandinavos, como Dinamarca,

Finlândia, Noruega e Suécia. Esses países são conhecidos por sua tradição ginástica,

entendida como a cultura de prática que se estabeleceu em determinadas localidades,

palcos do início do movimento ginástico a partir do século XVIII (SOUZA, 1997;

AYOUB, 2013; PATRÍCIO, BORTOLETO, CARBINATTO, 2016).

Apresentamos o exemplo da Dinamarca. Na reportagem “E se

gostássemos tanto de Ginástica quanto de Futebol?”, publicada no site do Sesc São

Paulo em julho de 2017, Cunha Filho afirma (SESC, 2017, p. 1):

25 Do original, “I also wanted to note that we are a very small country/island and our federation is run by 3 volunteer board members with limited capacity”. (Respondente das Ilhas Cayman, tradução da autora).

4

9

10

21

Ambas as formações

Apenas formação superior

Não exigem formação

Apenas formaçãoespecífica

África do Sul, Alemanha, Andorra, Argentina, Austrália, Áustria, Barbados,

Canadá, Cingapura, Eslováquia, Estônia, Grã-Bretanha, Hong Kong, Irlanda, Islândia, Líbia, Maurício, Mônaco, Portugal, Trindade

e Tobago e Venezuela.

Cabo Verde, Dinamarca, Estados Unidos, Finlândia, Ilhas Cayman, Itália,

Moçambique, Namíbia, Noruega e Suécia.

Algeria, Grã-Canária, Luxemburgo e Paraguai.

Aruba, Azerbaijão, Bangladesh, Benin, Brasil, Catar, Kosovo, República da Coreia

e Mongólia.

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Lá é oferecida uma estrutura muito bem montada, em cada cidade, para que as pessoas possam ir ao ginásio e praticar ginástica geral. E é por meio dessa ginástica geral que as pessoas interagem e confraternizam. É incrível ver como essa prática se tornou uma cultura, que é passada de geração em geração e já faz parte da tradição do país. São netos, filhos e avós vivenciando essa modalidade.

Essa cultura acaba por considerar que a experiência prática como ginasta,

de pessoas de diferentes idades e formações, é suficiente para a atuação como

treinador(a) de Ginástica. Nestes países, o papel de treinador(a) é, na maioria das

vezes, exercido por voluntários(as).

Sem dúvida, o conhecimento trazido pela experiência como ginasta nesses

casos contribui para a atuação como treinador(a). Ao analisarmos essa situação com

base na teoria histórico-cultural, poderíamos considerar que tal experiência prática,

como conhecimento voltado à atuação como treinador(a)26, constitui conceitos

espontâneos. Os conceitos espontâneos são os definidos por Vygotsky (2009) como

os decorrentes da atividade prática, das interações sociais imediatas.

Os conceitos espontâneos se opõe aos conceitos científicos, que são os

adquiridos por meio do ensino, como parte de um sistema organizado de

conhecimentos mediados em processos deliberados de aprendizagem. Os conceitos

científicos, portanto, envolvem uma atitude mediada consciente voltada para

determinada finalidade, e, assim, implicam a relação deste conceito com outros. A

intencionalidade da mediação dos conceitos científicos traz consciência à discussão

do conhecimento, permite reflexão consciente e a superação de conhecimentos pré-

estabelecidos substituindo suposições e repetições por análises críticas e avaliações.

Assim, embora reconheçamos que em alguns países a tradição ginástica

proporcione conceitos espontâneos importantes para a atuação como treinador(a) de

Ginástica, reconhecemos a necessidade de reflexão consciente e a co-construção de

conceitos científicos necessários a essa atuação. Esses processos de aprendizagem

são proporcionados por mediações conscientes, das quais fazem parte oportunidades

institucionais e informais.

26 Frisamos a finalidade de conhecimentos voltados à atuação profissional nesse momento pois, como técnicas e estratégias pedagógicas para a prática da Ginástica, esses conceitos também são considerados científicos. No entanto, por não estarem voltados a mediações direcionadas a processos de aprendizagem que tem como finalidade a formação de treinadores(as), entendemos que, nesse caso, constituem-se como conceitos espontâneos.

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Além dessa superação dos conceitos, destacamos Piggott (2012) que

considera que a participação em oportunidades de aprendizagem institucional são

consideradas “ritos de passagem”, que garantem aos(às) treinadores(as)

conhecimentos que proporcionam segurança e prestígio para a atuação nessa função.

De maneira geral, os dados obtidos indicam que há exigência de

formação para atuação como treinador(a) de Ginástica e que as formações

específicas em esportes e práticas corporais são as mais requeridas.

b) A organização das FNG para o oferecimento dos programas

O ICCE (2013) aconselha que as federações nacionais esportivas devem

regularizar e estruturar o esporte e as práticas corporais em seus países assim como

as federações internacionais os administram em uma perspectiva global. Para tanto,

como instituições que possuem muitas funções, é comum que essas sejam

segmentadas em Comissões e Comitês responsáveis por diferentes funções

administrativas e regulatórias.

A FIG, assim como muitas FNG, possui Comitês e Comissões para o

desenvolvimento de diferentes tarefas. Em seu estatuto, a FIG (2015) apresenta os

Comitê Executivo, Comitês Técnicos das modalidades ginásticas e Comitê de GPT,

Comissão Disciplinar, Comissão de Atletas, Tribunal de Apelação e Secretaria Geral.

Embora não previstos no estatuto da Federação, outras comissões são indicadas no

site da FIG (2018): Comissão Embaixadora, Comissão Antidoping/Médica/Científica,

Comissão de Aparelhos, Comissão de Competição, Comissão de Denúncias,

Comissão de Inovação, Comissão de Marketing e Direitos da TV, Comissão de

Parkour, Comissão de Estatutos, Comissão de Mulheres na Ginástica e por fim, a

Comissão de Educação.

Segundo a FIG (2015), os Comitês Técnicos e o Comitê de GPT são

responsáveis por administrar e gerenciar as modalidades esportivas ou a prática

corporal a que se relacionam. Dentre as funções desses órgãos, estão: lidar com

questões técnicas relativas à administração, gestão e desenvolvimento das práticas

esportivas e corporais; elaboração de regulamentos e manuais; desenvolvimento de

aspectos relativos à competições e festivais; e decisões a respeito de arbitragem, se

necessário a cada Comitê. Essas tarefas, tanto a nível mundial, como ocorre na FIG,

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quanto a nível nacional, como realizado pelos ditos Comitês nas FNG, são de extrema

importância para o desenvolvimento das modalidades e práticas.

Por exemplo, destacamos as discussões sobre regulamentos e manuais.

Ao passo que o conteúdo dos Códigos de Pontuação das competições ginásticas se

alteram, mudanças relacionadas acontecem nos modos de treinamento, nas

montagens das séries competitivas, na valorização de determinadas habilidades

físicas, entre outros fatores (OLIVEIRA; BORTOLETO, 2009). O mesmo acontece

com o manual de GPT e os regulamentos dos festivais dessa prática, que possuem

um papel formativo e orientador (MASTRODI; OLIVEIRA; TOLEDO, 2018) e também

influenciam no desenvolvimento da GPT. Logo, esses documentos não são apenas

necessários para a organização de eventos e padronização das arbitragens, quando

é o caso, mas são fatores que norteiam o desenvolvimento da Ginástica27,

independentemente de sua natureza. Assim, considerando a relevância das tarefas

desses Comitês para o desenvolvimento das modalidades e práticas, é fundamental

que seus membros sejam pessoas interessadas no desenvolvimento da Ginástica e

especialistas.

Dessa forma, para além de uma questão administrativa, os Comitês

Técnicos e de GPT atuam nos processos de mediação (VYGOTSKY, 1997; 1998;

2000) para o desenvolvimento do Esporte e das práticas corporais, atuando como

andaimes para os processos de aprendizagem. Isso se dá especialmente do modo

como Jones e Thomas (2015) denominam como mediações em “macro, meso e

micronível”. Embora os autores realizem essa classificação para tratar da atuação

do(a) treinador(a) no ensino de Esporte e práticas corporais, faremos uma relação

desse conteúdo com a atuação das instituições federativas a partir de seus órgãos:

Comitês Técnicos e de GPT e de demais assuntos.

Para esses autores, a mediação com a utilização de um andaime em macro

nível refere-se substancialmente ao uso da linguagem, não apenas com a utilização

das palavras que possuem um significado equivalente a todos os falantes de um

mesmo idioma, mas como produtoras de sentidos que permitem uma atuação ativa

no contexto envolvido.

27 Aqui, consideramos a Ginástica em seu desenvolvimento auto reconhecido como parte do fenômeno Ginástica; não nos atentamos nessa tese a pensar a Ginástica em seu desvinculado da prática “nomeada”, embora reconheçamos que outras manifestações dos elementos corporais gímnicos podem e existem inclusive sem reconhecer qualquer instituição organizacional, de forma espontânea.

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Isto posto, consideramos o poder atribuído aos Comitês das FNG e da FIG

ao planejar, escrever e orientar as definições e as características das modalidades e

práticas ginásticas, de forma escrita e regulamentar, e as normas de conduta, a partir

dos comportamentos que valorizam e validam, ao fazerem “uso” de outras

manifestações da palavra. Esses órgãos possuem possibilidades de mediação do

sentido das palavras para a vivência das pessoas envolvidas, pois irão conferir pesos

e valores a essas. A partir do discurso utilizado por essas instituições (JONES;

THOMAS, 2015) e em relação com os conhecimentos anteriormente estabelecidos

pelas pessoas, ou, em outras palavras, a partir da relação entre o social (as

instituições e suas mediações) e o individual já estabelecido, são co-construídos

comportamentos, conceitos e sentimentos que irão balizar a relação das pessoas com

a prática gímnica. Nesse sentido, os Comitês das instituições federativas atuam como

mediadores de macro nível dos processos de aprendizagem.

Situação semelhante será observada ao pensarmos em uma mediação de

meso nível. Segundo Jones e Thomas (2015, p. 73), uma mediação desse nível se

refere ao discurso abstrato das “regras do jogo”, em nosso caso, das estruturas dos

eventos que são a finalidade dessas modalidades e práticas. Considera-se que nesse

tipo de mediação, as tarefas e demandas são realizadas pelos(as) mediadores(as)

responsáveis de acordo com seus interesses de aprendizagem dos(as) mediados(as).

Isto é, as normas das modalidades competitivas e suas competições e os

regulamentos de festivais, por exemplo, são modos de as FNG e a FIG mediarem as

posições pedagógicas, regulamentares, sociais e de várias outras naturezas no

desenvolvimento da Ginástica.

Por sua vez, a mediação em micro nível nesse contexto seria a realizada

nas relações entre treinadores(as) e aprendizes(as), e se contextualiza como uma

consequência das demais, ao pensarmos o papel das instituições nas mediações. É

essencial que não nos esqueçamos, entretanto, do papel da cultura e da importância

dos conhecimentos e conceitos prévios dos(as) mediados(as) para a co-construção

dos novos conhecimentos e valores.

Considerando os aspectos explicados acima, ressaltamos que o

estabelecimento de Comitês Técnicos e de GPT nas FNG tem como possibilidade

uma organização mais eficiente em prol do desenvolvimento das modalidades

ginásticas e da GPT e, ao pensarmos a formação de treinadores(as), possivelmente

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serão mais competentes no acompanhamento de outras instituições formativas ou

mesmo na promoção de programas de formação. Além da disponibilidade de um

grupo de pessoas envolvidas com as Ginásticas e, portanto, do conhecimento

específico e aprofundado, relevamos outras potencialidades desses órgãos como as

discussões construtivas que podem ser estabelecidas, as ações específicas

realizadas e os esforços de atividades formativas com outros órgãos das instituições

e com outras parceiras, como as universidades.

Não podemos não considerar que toda a teoria exposta pode não ser

coerente com a realidade de tais FNG: a composição dos citados Comitês pode estar

atrelada a fatores políticos e não ser formada por especialistas ou pessoas dispostas

a contribuir com as modalidades e práticas ginásticas e com a formação de

treinadores(as). É possível, inclusive, que os órgãos sejam compostos por pessoas

com essas características, mas que a dinâmica organizacional da instituição seja

ineficiente a ponto de não permitir que as ações sejam realizadas ou que as pessoas

estejam em contato para realiza-las. No entanto, consideraremos as potencialidades

desses Comitês de permitirem as relações sociais acima mencionadas e

impulsionarem mediações, acreditando que esta deveria ser a lógica comum de todas

as instituições.

Assim, de forma a identificar a relação da organização das FNG com os

programas de formação de treinadores(as), realizamos a questão 6: “A Federação de

Ginástica que você representa possui Comitês Técnicos de modalidades

específicas?” e 6.1: “Em caso afirmativo, quais modalidades possuem Comitê

Técnico específico?”. As respostas obtidas indicam que

• Trinta e seis das 44 FNG (81,8%) possuem Comitês Técnicos e Comitê de

GPT em suas FNG (África do Sul, Alemanha, Algeria, Argentina, Austrália,

Áustria, Benin, Brasil, Cabo Verde, Canadá, Catar, Cingapura, Dinamarca,

Eslováquia, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Grã-Canária,

Hong Kong, Ilhas Cayman, Islândia, Itália, Kosovo, Líbia, Luxemburgo,

Moçambique, Mongólia, Namíbia, Noruega, Paraguai, Portugal, República da

Coreia, Suécia, Trindade e Tobago e Venezuela).

• Oito das FNG (18,2%) não possuem tais órgãos (Andorra, Aruba,

Azerbaijão, Bangladesh, Barbados, Irlanda, Maurício e Mônaco).

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Assim como o esperado, a grande parte das FNG consultadas possui ao

menos um Comitê Técnico ou Comitê de GPT em sua organização. Os resultados

mostram, de forma geral, potencialidade no desenvolvimento de discussões mais

aprofundadas sobre a formação de treinadores(as).

As FNG que afirmaram não possuir são, como podemos presumir,

instituições pequenas e ainda de frágil estruturação, como já afirmado anteriormente.

Com relação da incidência de Comitês Técnicos e de GPT:

• Trinta e quatro FNG (77,2%) afirmaram possuir Comitê Técnico de

Ginástica Artística Feminina (África do Sul, Alemanha, Algeria, Argentina,

Austrália, Áustria, Benin, Brasil, Canadá, Catar, Cingapura, Dinamarca,

Eslováquia, Estados Unidos, Finlândia, Grã-Bretanha, Grã-Canária, Hong

Kong, Ilhas Cayman, Islândia, Itália, Kosovo, Líbia, Luxemburgo, Moçambique,

Mongólia, Namíbia, Noruega, Paraguai, Portugal, República da Coreia, Suécia,

Trindade e Tobago e Venezuela) e o mesmo número de Ginástica Artística

Masculina (África do Sul, Alemanha, Algeria, Argentina, Austrália, Áustria,

Benin, Brasil, Canadá, Catar, Cingapura, Dinamarca, Eslováquia, Estados

Unidos, Finlândia, Grã-Bretanha, Grã-Canária, Hong Kong, Ilhas Cayman,

Islândia, Itália, Kosovo, Líbia, Luxemburgo, Moçambique, Mongólia, Namíbia,

Noruega, Paraguai, Portugal, República da Coreia, Suécia, Trindade e Tobago

e Venezuela).

• Trinta e duas FNG (72,7%), Comitê Técnico de Ginástica Rítmica (África do

Sul, Alemanha, Algeria, Argentina, Austrália, Áustria, Benin, Brasil, Cabo Verde,

Canadá, Catar, Cingapura, Dinamarca, Eslováquia, Estados Unidos, Estônia,

Finlândia, Grã-Bretanha, Grã-Canária, Hong Kong, Itália, Kosovo, Luxemburgo,

Mongólia, Namíbia, Noruega, Paraguai, Portugal, República da Coreia, Suécia,

Trindade e Tobago e Venezuela).

• Trinta FNG (68,1%), Comitê de GPT (África do Sul, Alemanha, Argentina,

Austrália, Áustria, Benin, Brasil, Cabo Verde, Canadá, Cingapura, Eslováquia,

Estados Unidos, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Grã-Canária, Hong Kong,

Islândia, Itália, Kosovo, Luxemburgo, Moçambique, Mongólia, Namíbia,

Noruega, Paraguai, Portugal, Suécia, Trindade e Tobago e Venezuela).

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• Vinte e quatro FNG (54,5%), Comitê Técnico de Ginástica Aeróbica (África

do Sul, Alemanha, Algeria, Argentina, Austrália, Áustria, Benin, Brasil, Cabo

Verde, Canadá, Eslováquia, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong,

Itália, Líbia, Moçambique, Mongólia, Namíbia, Paraguai, Portugal, Suécia e

Venezuela)

• Vinte e três FNG (52,2%), Comitê Técnico de Trampolim (África do Sul,

Alemanha, Algeria, Austrália, Áustria, Brasil, Canadá, Catar, Cingapura,

Dinamarca, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Grã-Canária,

Hong Kong, Itália, Líbia, Namíbia, Paraguai, Portugal, Suécia e Venezuela).

• Dezessete FNG (38,6%), Comitê Técnico de Ginástica Acrobática (África do

Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Canadá, Dinamarca,

Estados Unidos, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong, Moçambique,

Paraguai, Portugal e Venezuela).

• Seis FNG (13,6%), Comitê Técnico de TeamGym (Estônia, Finlândia, Grã-

Bretanha, Noruega, Portugal e Suécia).

• Duas FNG (4,5%), Comitê Técnico de Rope Skipping (África do Sul e

Áustria).

• Seis FNG (13,6%) afirmaram que possuem outros Comitês: Finlândia

possui Comitê Técnico de Ginástica Estética; Itália, Condicionamento Físico e

bem-estar28; Suécia, Treinamento de grupos29, Ginástica para Crianças30 e

Atividades para Jovens31; e Hong Kong, Recursos e Pesquisas32.

Chama-nos a atenção o número de FNG que afirmaram possuir Comitês

Técnicos para cada modalidade ou para a GPT. Embora fosse esperado que as

modalidades olímpicas fossem as mais atendidas, essa hipótese confirmou-se para

Ginástica Artística Feminina e Masculina e Ginástica Rítmica. Entretanto, a outra

modalidade gímnica olímpica, a Ginástica de Trampolim, apareceu como sexta mais

contemplada, inclusive sendo superada pela Ginástica Aeróbica. Embora a diferença

seja de apenas um Comitê Técnico entre a Ginástica de Trampolim e a Ginástica

28 Do original, “Fitness and Wellness” (Respondente da Itália, tradução da autora). 29 Do original, “Group Training” (Respondente da Suécia, tradução da autora). 30 Do original, “Children Gymnastics” (Respondente da Suécia, tradução da autora). 31 Do original, “Youth Influence” (Respondente da Suécia, tradução da autora). 32 Do original, “Resource & Research” (Respondente de Hong Kong, tradução da autora).

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Aeróbica, podemos observar a potencialidade e a superioridade organizacional da

Ginástica Aeróbica com relação às outras modalidades competitivas de Ginástica não-

olímpicas.

É conhecida a mobilização dos(as) ginastas e treinadores(as) de Ginástica

Aeróbica para a inclusão dessa modalidade nos Jogos Olímpicos. Em uma entrevista

concedida a um blog que versa sobre Ginástica na Internet, a presidente do Comitê

Técnico de Ginástica Aeróbica da FIG em 2014, Mireille Ganzin, afirmou que o órgão

está trabalhando para incrementar o nível técnico dos(as) ginastas para tornar a

modalidade mais atrativa, com a introdução de movimentos acrobáticos que tornarão

as rotinas competitivas mais interessantes e “impressionantes” (CRISTACHE, 2014).

Nessa declaração, é possível compreender claramente a mediação em nível macro

que se estabelece a partir dos Códigos de Pontuação.

Outro relevante resultado é a grande incidência de Comitês de GPT, que

foram apontados por 68,1% das FNG estudadas, que possuem Comitês em suas

organizações. Esse resultado representa a significativa expressão dessa prática, cujo

significado pode ser atribuído a diferentes aspectos, que serão discutidos futuramente

nesse estudo. No momento, destacamos que a organização institucional da GPT pode

ter relação com a promoção de estatutos e regulamentos que promovam a prática, a

regulamentação para a participação em festivais nacionais e internacionais, ser uma

forma de associar mais ginastas à FNG, entre outras possibilidades. De toda forma, o

fato de possuir Comitês específicos conduz à potencialidade de discussões mais

relevantes para o estabelecimento de regulamentações e promoção de programas de

formação de treinadores(as).

Neste sentido, destacamos a indicação da FNG de Hong Kong em relação

à existência de um Comitê de Recursos e Pesquisas, o qual, dependendo de seu

objetivo, também pode contribuir para a promoção dos programas formativos.

Contatamos novamente essa FNG para obter maiores detalhes e recebemos a

seguinte resposta: “Este Comitê é principalmente focado em pesquisas locais sobre

recursos para nossos eventos e estudos para referência de nossos próprios Comitês”

(Respondente da FNG de Hong Kong, tradução da autora).

Da mesma forma que o anteriormente citado, outros Comitês que não os

exclusivos para as modalidades e para a GPT são importantes para o estabelecimento

dos programas de formação de treinadores(as). Em especial, destacamos os Comitês

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de Educação, presentes na FIG e em muitas outras FNG, que tem como objetivo

exclusivo organizar e oferecer os programas de formação de treinadores(as) e de

gestores(as) de clubes e outras instituições promotoras da Ginástica.

Um bom exemplo de desenvolvimento específico de programas de

formação é a USA Gymnastics University (2018), nome dado ao Comitê de Educação

da FNG dos Estados Unidos. Esse órgão possui uma página na Internet para

explicações sobre o sistema de licenciamento de treinadores(as), árbitros(as) e

gestores(as) da área da Ginástica e possibilita inscrições online para oportunidades

de aprendizagem presenciais. Além disso, disponibiliza vídeos, textos e outros

recursos online, divulga congressos presenciais e seminários online. Em sua

organização, a USA Gymnastics University segmenta seus projetos entre a Escola de

Ginástica Competitiva, Escola de Negócios, Escola de Ginástica Recreativa e Escola

de Arbitragens, que por sua vez, possuem outras segmentações de acordo com o

perfil de atuação dos(as) profissionais. Além desses quatro grandes segmentos, são

proporcionados materiais e formações sobre ensino de Esporte e práticas corporais a

partir de uma perspectiva das potencialidades dos(as) atletas, como parte do

programa Positive Coaching Alliance, sobre segurança no esporte, com prevenção e

denúncias de conduta indevida na Ginástica, sobre Ginástica para pessoas com

deficiências e ainda sobre como formar novos membros de quadros de

funcionários(as) e voluntários(as).

Outro exemplo de Comitê de Educação expressivo em FNG é a Engym,

Escola Nacional de Ginástica, da Federação de Ginástica de Portugal. Segundo essa

instituição (2018a), a Engym tem como objetivo criar condições para a formação

técnico pedagógica de todas as pessoas relacionadas com a Ginástica, contribuindo

para a evolução “qualitativa e quantitativa das práticas gímnicas”. Esse órgão recebe

ainda apoio do Conselho Científico da FNG, composto por professores(as)

universitários da área da Ginástica (FEDERAÇÃO DE GINÁSTICA DE PORTUGAL,

2018b). Além dos programas de formação da própria Engym, ainda há o Centro de

Formação de Actividades Gímnicas para Professores de Educação Física (CFAGPEF)

(2018c), cuja finalidade é “promover actividades de formação e reciclagem contínua

de professores de Educação Física, em todas as áreas gímnicas e afins”,

oportunizando a co-construção de conhecimentos de acordo com os propósitos da

citada Federação.

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No entanto, não temos como estimar nessa pesquisa quantas FNG

possuem Comitês, Comissões ou outro órgão exclusivamente responsável por

formação de treinadores(as), uma vez que essa pergunta não foi realizada em nosso

questionário da mesma forma que foram consultados os Comitês Técnicos e de GPT.

De qualquer forma, apesar de não haver essa informação, outras foram pesquisadas

a fim de nos possibilitar delimitar um quadro sobre a atuação configuração de tais

programas. No futuro, temos a intenção de questionar novamente os(as)

respondentes dessa pesquisa sobre isso. Além dos Comitês nacionais, a FIG também

possui um Comitê de Educação, que será citado e melhor explorado em capítulos

futuros.

c) O oferecimento de programas de formação de treinadores(as) de GPT

Como já explicitado anteriormente, a importância dos programas de

formação de treinadores(as) oferecidos por federações nacionais esportivas, dentre

as quais estão as de Ginástica, é de extrema importância na preparação profissional.

A formação de treinadores(as) é umas das mais diversas responsabilidades dessas

instituições, em um contexto político de aumentar a modernização e o profissionalismo

da área (PIGGOTT, 2012) ou, como analisado anteriormente, mediar as relações de

gestores(as) e treinadores(as) (VYGOTSKY, 1997; JONES; THOMAS, 2015). É claro,

tal importância será ou não considerada dependendo da forma e abordagem com que

cada programa é desenvolvido; como já discutido anteriormente nesse estudo,

possiblidades de oportunidades de aprendizagem formais que sejam efetivas na

formação de treinadores(as) são possíveis, assim como o oferecimento ou a

facilitação de possibilidades informais por parte das federações. De qualquer forma, é

de interesse da área de estudos sobre formação de treinadores(as), em nosso caso,

de GPT, conhecer o quadro atual oferecimento de tais programas.

Por essa razão, esse é o objeto de estudo dessa pesquisa e, para tanto,

coube-nos investigar quais FNG promovem tais programas. Realizamos a questão 9:

“A Federação de Ginástica que você atua oferece programas de educação de

treinadores/professores?”. As respostas obtidas indicam que

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• Sete das 44 FNG (16%) participantes não oferecem programas de

formação de treinadores(as), dentre as quais estão Aruba, Azerbaijão,

Barbados, Brasil, Grã-Canária, Maurício e Mônaco.

• Trinta e sete FNG (84%) oferecem tais programas. Estas são: África do Sul,

Alemanha, Algeria, Andorra, Argentina, Austrália, Áustria, Bangladesh, Benin,

Cabo Verde, Canadá, Catar, Cingapura, Dinamarca, Eslováquia, Estados

Unidos, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong, Ilhas Cayman, Irlanda,

Islândia, Itália, Kosovo, Líbia, Luxemburgo, Moçambique, Mongólia, Namíbia,

Noruega, Paraguai, Portugal, República da Coreia, Suécia, Trindade e Tobago

e Venezuela.

O fato de um número bastante superior de FNG oferecerem tais programas

pode demonstrar alinhamento aos estudos que destacam a importância da formação

de treinadores(as) para o desenvolvimento esportivo e das práticas corporais

(CUSHION; ARMOUR; JONES, 2003; MALLETT et al., 2009; ICCE, 2013;

MILISTETD, 2015). Dependendo da qualidade e do rigor dessa formação de

treinadores(as), os programas poderão assegurar tal desenvolvimento (ICCE, 2013).

Essa discussão nos conduz a, no entanto, relacionar o oferecimento de tais

programas com as diretrizes regulamentares do exercício do ensino de Esporte e

práticas corporais e com a organização de tais FNG. Desse modo, tentamos encontrar

correspondências sobre a valorização das mediações que são fomentadas pela

existência dos programas e a qualidade e especificidade dessas para, enfim

podermos analisar como essas acontecem.

Assim, nosso primeiro esforço foi comparar as FNG que afirmaram exigir

formações técnico-pedagógicas com as afirmações sobre o oferecimento de tais

programas. Como resultado, temos que, de modo geral, as FNG oferecem

programas de formação de treinadores(as) independentemente de suas

legislações determinarem que formações específicas em Ginástica sejam

obrigatórias.

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Gráfico 2 – Relação entre a exigência de formação para atuação como treinador(a) de Ginástica e o oferecimento de programas dessa finalidade.

Dentre as sete das 44 FNG que não oferecem programas de formação,

três (Brasil, Azerbaijão e Aruba) exigem apenas formação universitária, o que retira

suas responsabilidades legais de proporcionar formação, nesse caso, continuada para

os(as) treinadores(as).

De qualquer forma, reforçamos, apoiadas em Vygotsky, a importância que

essas ações formativas de qualquer natureza, atividades de mediação de co-

construção de conhecimentos para os processos de aprendizagem de treinadores(as),

uma vez que é a partir das mediações direcionadas que proporcionam a internalização

de novos conhecimentos, os quais são responsáveis pela intencionalidade humana e

suas funções psicológicas superiores (VELARDI, 1997).

Sendo assim, destacamos as dez FNG que, mesmo sem exigir nenhuma

formação para atuação com o ensino da Ginástica, oferecem oportunidades de

aprendizagem para os(as) treinadores(as). Estas são Cabo Verde, Dinamarca,

Estados Unidos, Finlândia, Ilhas Cayman, Itália, Moçambique, Namíbia, Noruega e

Suécia. Ao mesmo tempo que percebemos como negativa a abordagem de não exigir

nenhum tipo de oportunidade de aprendizagem obrigatória para tal atuação,

entendemos que as FNG proporcionam aos(às) seus(suas) treinadores(as)

possibilidades que permitem o acesso direcionado a essas mediações. Situação

similar é percebida para as seis FNG que exigem apenas a formação superior e

mesmo assim oferecem programas de formação: Bangladesh, Benin, Catar, Kosovo,

Mongólia e República da Coreia. Apesar disso, a eficiência desses programas,

embora não tenha sido estudada de forma objetiva, pode ser relativizada com a

análise que será feita em item posterior.

3

6

10

18

1

3

0

3

Ambas as formações

Apenas formação superior

Não exigem formação

Apenas formação específica

Oferecem programas Não oferecem programas

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Outro caso refere-se às FNG que não oferecem programas de formação

de treinadores(as) e ao mesmo tempo exigem formação específica em Ginástica

(Barbados, Maurício e Mônaco) ou formação superior e específica (Grã-Canária). A

FNG de Barbados afirmou que há recomendação de aprovação no programa de

formação de treinadores(as) da FIG, o FIG Academy, o que demonstra a importância

deste para o desenvolvimento da Ginástica neste país. Segundo o(a) respondente

desta FNG:

Nós em Barbados estamos tentando fazer com que o programa de Ginástica para Todos seja uma exigência para ensinar Ginástica. Está é apenas uma recomendação, mas com a intenção de fazer com que seja obrigatória assim que esteja disponível localmente.33 (Respondente de Barbados, informação enviada por e-mail em 20 de outubro de 2017, tradução da autora).

Outras respostas esclarecem o caso das FNG de Maurício, Mônaco e Grã-

Canária.34 A FNG de Maurício ressaltou que recebe auxílio de outros programas para

que seus(suas) treinadores(as) participem de formações:

Nós procuramos a ajuda de países vizinhos em relação à formação de treinadores(as). Por exemplo, nós recentemente organizamos um curso para treinadores(as) em estreita colaboração com a Federação de Ginástica da África do Sul (SAGF) para 15 treinadores(as) mauricianos (um(a) especialista da própria SAGF foi convidado e conduziu o curso). No ano passado, oito treinadores(as) foram a Saint Denis Gymnastique Reunion, na Reunion Island (França) para um programa de desenvolvimento de treinadores(as). Em 2015, dois de nossos(as) treinadores(as) foram patrocinados pela FIG para completar o nível 1 do curso de treinadores(as) na África do Sul e em 2014, um(a) treinador(a) completou tal curso na África do Sul. Três de nossos(as) treinadores(as) possuem o diploma de Educação Física do Instituto de Educação de Maurício.35 (Respondente de Maurício, informação enviada por e-mail em 23 de outubro de 2017, tradução da autora).

33 Do original, “We in Barbados are trying to make the GFA course a requirement for teaching gymnastics. It is only a recommendation but with the intent to make it mandatory as soon as possible.” (Respondente de Barbados, tradução da autora). 34 As outras três FNG apresentaram respostas que, à primeira vista ou provavelmente devido à limitação do questionário utilizado pela pesquisa de campo, pareciam incoerentes. Por esse motivo, contatamos os(as) gestores(as) que nos ofereceram as respostas novamente, questionando tais pessoas sobre essas dúvidas. 35 Do original, “We seek help from neighbouring countries regarding our coaches education. For example, we recently organized a coaching course in close collaboration with the South African Gymnastics Federation (SAGF) for 15 Mauritian coaches (SAGF delegated expert to come to Mauritius and conduct the course). Last year, 8 coaches went to Saint Denis Gymnastique Reunion (SDGR) in Reunion Island (France) for a coaches development program. In 2015, 2 of our coaches were sponsored by FIG to complete a Level 1 Coaching Course in South Africa, and in 2014, 1 coach completed a coaching course in South Africa. 3 of our coaches hold Diploma in Physical Education from the Mauritius Institute of Education.” (Respondente de Maurício, tradução da autora).

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Essa colocação põe em evidência a ainda iniciante organização desse país

com relação à formação de treinadores(as) em geral e também na área da Ginástica,

que é ainda bastante dependente de iniciativas de outras instituições para o

desenvolvimento esportivo e de práticas corporais. De fato, essa colocação é

coerente, uma vez que Maurício é um país pequeno, de aproximadamente 3,6 milhões

de habitantes (BBC, 2018a), que conquistou sua independência da França em 1960

(THE GUARDIAN, 2018). Com 56 anos de existência, Maurício enfrentou um governo

ditatorial e em seguida um período de transição de governo, tendo seu primeiro

presidente eleito apenas em 2007 (THE GUARDIAN, 2018). De fato, a motivação da

FNG de Maurício de proporcionar formação para seus(suas) treinadores(s) pode

indicar que esta possui motivação para o desenvolvimento de seu próprio programa

no futuro.

A FNG de Mônaco também foi contatada e as informações adicionais

indicam que a formação exigida é parte do sistema educacional francês:

Nossa federação exige que os(as) treinadores(as) nacionais tenham a Licença de Estado (Brevet d'Etat). Usualmente, os(as) treinadores(as) seguem o diploma francês, pois Mônaco é um país pequeno e segue o sistema educacional francês.36 (Respondente de Mônaco, informação enviada por e-mail em 22 de novembro de 2017, tradução da autora). A Licença de Estado de Educador Esportivo (Brevet d'Etat d'Educateur Sportif) ou também chamada atualmente Diploma de Estado da Juventude, Educação Popular e Esporte, é oferecido pelo Ministério Francês “Direção de Juventude e Esporte” (“Direction de la Jeunesse et des Sports").37 (Respondente de Mônaco, informação enviada por e-mail em 24 de novembro de 2017, tradução da autora).

Mônaco é um pequeno país, cercado apenas pela França e pelo Mar

Mediterrâneo, de 37 mil habitantes (BBC, 2018b). As informações oficiais sobre o

esporte no país afirmam que existem esforços para o desenvolvimento do esporte e

práticas corporais em três frentes: esporte na escola, no qual é citada a Ginástica,

esporte para público em geral, que destaca a intenção de preparar jovens para

trabalharem no setor de associações voluntárias e esporte competitivo

36 Do original, “Our federation requires National coach to have a Brevet d'Etat. Usually, the coaches follow the French diploma as Monaco is a small country and follows the French educationa l system.” (Respondente de Mônaco, tradução da autora). 37 Do original, “The Brevet d'Etat d'Educateur Sportif or also called now the Diplôme d'Etat De la Jeunesse, de l'Education Populaire et du Sport is delivered by the French Minister "Direction de la Jeunesse et des Sports".” (Respondente de Mônaco, tradução da autora).

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(GOUVERNEMENT PRINCIER, 2018). No entanto, não existem indicações sobre a

necessidade de formação para treinadores(as), o que pode tornar coerente a

afirmação de que é exigido o cumprimento da legislação francesa no país.

Com relação a essa consulta, a FNG de Grã-Canária afirmou, de maneira

semelhante a Mônaco, que a formação em sua localidade acontece da mesma forma

que na Espanha. Isso ocorre pois a ilha Grã-Canária faz parte do arquipélago Ilhas

Canárias, que por sua vez é uma Região Autônoma, parte da Espanha (GOBIERNO

DE CANARIAS, 2018). Grã-Canária possui um governo autônomo chamado de El

Cabildo, o qual possui o Instituto Insular de Deportes de Gran Canaria (CABILDO,

2018) e sob jurisdição desse órgão, está a Federación Insular de Gimnasia Gran

Canaria, respondente dessa pesquisa, que afirmou:

Sobre a pergunta que nos faz, tenho que dizer-lhe que a Federação de Ginástica exige os cursos de treinadores(as) para poder participar das competições, e nos clubes (os(as) treinadores(as)) podem ser ajudantes sempre que estejam tutelados por um(a) treinador(a) Nacional ou Regional. Na Espanha, existem três títulos divididos em três níveis. Nível 1 para crianças pequenas nas escolas, Nível 2 ou autônomo para crianças que compitam em sua comunidade e Nível 3, categoria Nacional para níveis altos de Campeonatos Nacionais. Estes cursos de nível 1, 2 e 3 são oferecidos pela Real Federação Espanhola de Ginástica para todos os clubes.38 (Respondente de Grã-Canária, informação enviada por e-mail em 22 de novembro de 2017, tradução da autora).

Embora existam instituições específicas para o arquipélago, as

regulamentações para exercícios de profissões acontecem de acordo com a Espanha,

como pudemos verificar nos sites oficiais dos governos e na resposta obtida. Assim,

é possível afirmarmos que, na localidade Grã-Canária, não é exigida a formação de

treinadores(as) para atuação supervisionada com Ginástica; para o exercício da

supervisão, no entanto, é exigida a formação técnico-pedagógica específica em

Ginástica oferecida pela Real Federação Espanhola de Ginástica.

A situação dessas últimas três FNG comentadas (Maurício, Mônaco e Grã-

Canária) nos conduziu a relacionar o fato de se organizarem com base em programas

38 Do original, “A la pregunta que nos hace, tengo que decirles que la Federación de Gimnasia exige tener los cursos de entrenadores para poder participar en las competiciones, en los Clubes pueden ser ayudantes siempre que estén tutelados por un entrenador Nacional o Regional. En España existe tres títulos dividido en tres niveles. Nivel 1 para niños pequeños de escuela, Nivel 2 o autonómico para niños que compitan en su comunidad y Nivel 3 categoría Nacional para niveles altos de Campeonatos Nacionales. Estos cursos de nivel 1, 2 y 3 son ofrecidos por la Real Federación Española de Gimnasia para todos los Clubes.” (Respondente das Ilhas Canárias, tradução da autora).

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167

de outras FNG. Esse processo demonstra a mediação que pode ocorrer entre as

instituições, que podem atuar como andaimes do desenvolvimento de programas de

formação de treinadores(as).

Por fim, destacamos as FNG oferecem tais programas e exigem ambos

tipos de formação – superior e específica em Ginástica (Algeria, Luxemburgo,

Paraguai) e as que exigem apenas a formação específica (África do Sul, Alemanha,

Andorra, Argentina, Austrália, Áustria, Canadá, Cingapura, Eslováquia, Estônia, Grã-

Bretanha, Hong Kong, Irlanda, Islândia, Líbia, Portugal, Trindade e Tobago e

Venezuela). Reforçamos que essas FNG estão de acordo com nossas expectativas,

de regulamentar a formação de treinadores(as) ao mesmo tempo que proporcionam

programas dessa finalidade, oferecendo a oportunidade de processos de

aprendizagem mediados e intencionais para treinadores(as) (VYGOTSKY, 1997).

Essa análise nos trouxe a possibilidade de concluir que há

correspondência entre a existência de Comitês Técnicos e de GPT e a

organização de programas de formação de treinadores(as), pois as FNG que

possuem Comitês Técnicos e de GPT são, quase sempre, aquelas que oferecem

tais programas.

Gráfico 3 – Relação entre o oferecimento de programas de formação de treinadores(as) e a existência de Comitês Técnicos e de GPT.

Com relação a essa comparação, 11,3% dos casos foge à regra. As FNG

de Andorra, Bangladesh e Irlanda não possuem Comitês Técnicos e de GPT, mas

oferecem programas de formação de treinadores(as). Já as FNG de Brasil e Grã-

Canária possuem Comitês Técnicos e de GPT, mas não oferecem oportunidades de

aprendizagens para treinadores(as) de Ginástica. O caso da FNG de Grã-Canária já

foi explicitado; os Comitês Técnicos e de GPT tem finalidade mais voltada a

organização de eventos e de cada tipo específico de Ginástica, embora a formação

34

3

2

5

Possuem Comitês Técnicos e deGPT

Não possuem Comitês Técnicos ede GPT

Oferecem Não oferecem

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168

fique a cargo da FNG da Espanha. No caso do Brasil, as discussões acerca do papel

e da formação do treinador são divergentes do que ocorre em outros países: a

formação universitária é uma das principais formas de educação de treinadores

(MILISTETD et al., 2014; 2015a; 2016) e é obrigatória (BRASIL, 2002). Dessa forma,

embora se destaque que a formação continuada poderia ser uma grande contribuição

da FNG brasileira ao desenvolvimento do esporte e das práticas corporais, justifica-

se o não oferecimento de programas de formação de treinadores(as), tal qual

acontece em Grã-Canária.

Como já comentado anteriormente, a existência de Comitês Técnicos e de

GPT pode potencializar os processos de aprendizagem de treinadores(as) por

proporcionarem a estruturação dos programas de formação por pessoas especialistas

e interessadas nas determinadas áreas da Ginástica. Isso pode proporcionar com que

as mediações, de macro, médio e micro nível, sejam de fato promovidas por pessoas

mais capazes (VYGOTSKY, 1997).

Após constatarmos pelas respostas obtidas quais FNG oferecem

programas de formação de treinadores(as), consultamos as participantes da pesquisa

para quais modalidades ou práticas corporais estas formações são direcionadas. A

questão 9.1, “Em caso afirmativo, para qual modalidade ginástica é oferecido

programa de educação?”, trouxe como respostas:

• Trinta e três das 44 FNG (75%) participantes oferecem programas de

formação de treinadores(as) para Ginástica Artística Feminina, dentre as

quais estão África do Sul, Alemanha, Algeria, Argentina, Austrália, Áustria,

Bangladesh, Benin, Canadá, Catar, Cingapura, Dinamarca, Eslováquia,

Estados Unidos, Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong, Ilhas Cayman, Irlanda,

Islândia, Itália, Kosovo, Líbia, Luxemburgo, Mongólia, Namíbia, Noruega,

Paraguai, Portugal, República da Coreia, Suécia, Trindade e Tobago e

Venezuela. O mesmo número oferece para Ginástica Artística Masculina

(África do Sul, Alemanha, Algeria, Argentina, Austrália, Áustria, Bangladesh,

Benin, Canadá, Catar, Cingapura, Dinamarca, Eslováquia, Estados Unidos,

Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong, Ilhas Cayman, Irlanda, Islândia, Itália,

Kosovo, Líbia, Luxemburgo, Mongólia, Namíbia, Noruega, Paraguai, Portugal,

República da Coreia, Suécia, Trindade e Tobago e Venezuela).

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• Trinta FNG (68,1%) oferecem programas para a GPT. Estas são: África do

Sul, Alemanha, Austrália, Áustria, Bangladesh, Benin, Canadá, Cingapura,

Dinamarca, Eslováquia, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha,

Hong Kong, Irlanda, Islândia, Itália, Kosovo, Luxemburgo, Moçambique,

Mongólia, Namíbia, Noruega, Paraguai, Portugal, República da Coreia, Suécia,

Trindade e Tobago e Venezuela.

• Vinte e oito (63,6%), para Ginástica Rítmica (África do Sul, Alemanha,

Algeria, Andorra, Austrália, Áustria, Benin, Cabo Verde, Canadá, Catar,

Cingapura, Dinamarca, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong, Irlanda,

Itália, Kosovo, Mongólia, Namíbia, Noruega, Paraguai, Portugal, República da

Coreia, Suécia, Trindade e Tobago e Venezuela).

• Vinte e cinco programas de formação de treinadores(as) de Ginástica de

Trampolim (56,8%) são oferecidos pelas FNG de África do Sul, Alemanha,

Algeria, Austrália, Áustria, Bangladesh, Benin, Canadá, Catar, Cingapura,

Dinamarca, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong,

Irlanda, Itália, Líbia, Namíbia, Noruega, Paraguai, Portugal, Suécia e

Venezuela.

• Para Ginástica Aeróbica são oferecidos 22 programas (50%), pelas FNG

de África do Sul, Alemanha, Algeria, Austrália, Áustria, Benin, Canadá, Cabo

Verde, Eslováquia, Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong, Itália, Líbia, Mongólia,

Namíbia, Noruega, Paraguai, Portugal, República da Coreia, Suécia e

Venezuela.

• Ginástica Acrobática: 15 das 44 FNG oferecem programas (34%) (África do

Sul, Alemanha, Austrália, Áustria, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos,

Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong, Irlanda, Paraguai, Portugal e

Venezuela).

• Sete FNG (16%) oferecem oportunidades de aprendizagem sobre Team

Gym, de Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Islândia, Noruega, Portugal e

Suécia.

• Três FNG (6,8%), de Rope Skipping (África do Sul, Áustria e Moçambique).

• A resposta Outros foi indicada por quatro FNG: Finlândia, com a Ginástica

Estética; Grã-Bretanha, com Ginástica Estilo Livre, Chefes de Torcida,

Ginástica para Crianças Pré-escolares e Ginástica para pessoas com

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170

deficiência39; Alemanha, para vários jogos de bola, atividades orientadas

para a saúde e danças; e Suécia, Ginástica para crianças e coreografia.

Da mesma forma que com relação à existência de Comitês e Comissões,

o oferecimento de programas de treinadores(as) de Ginástica sinaliza o destaque

dado à Ginástica Artística, tanto Feminina quanto Masculina. Essa posição de grande

relevância entre as FNG, estando presente em 75% dos programas oferecidos, é

condizente com a grande disseminação dessa modalidade ginástica em todo o

mundo, por ser essa tradicional e secular (SOARES, 2012; QUITZAU, 2012;

NUNOMURA et al., 2016). O segundo destaque fica a cargo da GPT, sendo este o

terceiro tipo de Ginástica mais recorrente nos programas de formação de

treinadores(as). Este é um fato interessante para este estudo pois, sendo esse o

objetivo principal de investigação, justifica a importância de estudos relacionados a

essa prática.

Um dos aspectos a ser evidenciado é a importante relevância dada à

prática da Ginástica essencialmente não competitiva, que é o caso da GPT, frente as

outras modalidades competitivas e inclusive olímpicas. A GPT, embora possa

interpretada de diferentes formas, como será visto em outros momentos nessa tese,

é de maneira geral considerada como uma prática voltada para o lazer e para a

inclusão de pessoas com diferentes níveis técnicos e motivações, que não visam

objetivos esportivizados (FIORIN-FUGLSANG; PAOLIELLO, 2008). Assim, o

oferecimento de programas de formação de treinadores(as) voltados para essa

abordagem de prática ginástica destaca o interesse das instituições administrativas

na divulgação e massificação da Ginástica entre os(as) praticantes e também a

possibilidade de essa prática ser um sustentáculo das FNG, que permita o

desenvolvimento de outras modalidades ginásticas ao ser parte dos processos de

início e finalização de carreiras esportivas. Do ponto de vista pedagógico, tendo a GPT

um grande potencial para a utilização de estratégias pedagógicas que permitam o

desenvolvimento de relações sociais mais justas e que desenvolvam a coletividade

(MENEGALDO, 2018), a disseminação dessa prática parece ser um ponto positivo

para os grupos sociais envolvidos.

39 Do original, “Freestyle Gymnastics, Cheerleading, Pre-School Gymnastics e Disability Gymnastics” (Respondente da Grã-Bretanha, tradução da autora).

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Em seguida a Ginástica Artística Feminina, a Ginástica Artística Masculina

e a GPT, observa-se que as disciplinas ginásticas mais presentes nos programas de

formação de treinadores(as) são as olímpicas, Ginástica Rítmica e de Trampolim, e

as demais organizadas pela FIG, Ginástica Aeróbica e Ginástica Acrobática. Outro

aspecto de realce nos resultados são os oferecimentos de programas para outras

modalidades e práticas ginásticas como o Team Gym e o Rope Skipping, que por sua

vez são populares em diferentes localidades e vêm ganhando atenção de diferentes

países e localidades. As outras práticas assinaladas, como Ginástica Estética,

Ginástica Estilo Livre, Chefes de Torcida, Ginástica para Crianças Pré-escolares e

Ginástica para pessoas com deficiência, jogos de bola, atividades orientadas para a

saúde e danças, Ginástica para crianças e coreografia demonstram práticas

ginásticas mais valorizadas por cada FNG, demonstrando a variação de tais práticas

para além do que é mundialmente institucionalizado.

A partir deste momento, maior atenção será dada às 30 FNG que oferecem

programas de formação de treinadores(as) de GPT. Para tanto, realizamos um

agrupado das ideias já trabalhadas, com o objetivo de caracterizar esse grupo de

FNG.

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Quadro 9 – Caracterização das FNG quanto à organização e a exigência de formação para atuação como treinador(a) de Ginástica.

FNG Formação

exigida

Existência de

Comitês

Existência de

Comitê de GPT FNG

Formação

exigida

Existência de

Comitês

Existência de

Comitê de GPT

Austrália Específica Sim Sim Kosovo Superior Sim Sim

Áustria Específica Sim Sim Luxemburgo Ambas Sim Sim

Bangladesh Superior Não Sim Mongólia Superior Sim Sim

Benin Superior Sim Sim Moçambique Não exige Sim Sim

Canadá Específica Sim Sim Namíbia Não exige Sim Sim

Dinamarca Não exige Sim Não Noruega Não exige Sim Sim

Estônia Específica Sim Sim Paraguai Ambas Sim Sim

Finlândia Não exige Sim Sim Portugal Específica Sim Sim

Grã-Bretanha Específica Sim Sim África do Sul Específica Sim Sim

Alemanha Específica Sim Sim Cingapura Específica Sim Sim

Hong Kong Específica Sim Sim Eslováquia Específica Sim Sim

Irlanda Específica Não Sim Suécia Não exige Sim Sim

Islândia Específica Sim Não Trindade e Tobago

Específica Sim Sim

Itália Não exige Sim Sim Estados Unidos Não exige Sim Sim

República da Coreia

Superior Sim Não Venezuela Específica Sim Sim

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173

Isso posto, pode ser constatada a hipótese levantada anteriormente:

as FNG que oferecem programas de GPT são, geralmente, aquelas que possuem

Comitês de GPT. Ainda, a maior parte dessas FNG exigem apenas formação

específica em Ginástica ou não exigem nenhuma formação.

d) Formatação, abordagem e desenvolvimento dos programas

Entendemos que as oportunidades de aprendizagem institucionais são

importantes pois compreendem situações em que os(as) treinadores(as)-

aprendizes(as) podem envolver-se em relações sociais. Estas são partes

fundamentais dos processos de mediação de co-construções de conhecimentos

importantes para o desenvolvimento das atuações no ensino de Esporte e práticas

corporais. Além disso, reiteramos que as oportunidades institucionais não precisam

ser necessariamente aportadas em uma perspectiva centrada no(a) professor(a)

(TRUDEL; GILBERT; WERTHNER, 2010), em que um(a) dos(as) envolvidos(as)

ensina e o(a) outro(a) aprende, ou em oportunidades de aprendizagem que ocorrem

individual e solitariamente. Diversas iniciativas são propostas para que haja maior foco

nas relações (VYGOTSKY, 1997; 1998; 2009) entre as pessoas envolvidas, para que

as mediações permitam que o(a) aprendiz(a) seja ativo e desenvolva aspectos

afetivos, tornando os processos de aprendizagem significativos e relevantes.

Defendemos a ideia apresentada por Smidt (2009) de que é urgente que os(as)

educadores(as) reconheçam que os processos de aprendizagem são inegavelmente

atividades sociais e que não se deve ignorar o papel do(a) outro(a) nesse processo.

Para além dos aspectos pedagógicos citados envolvidos em mediações de

micro nível (JONES; THOMAS, 2015), os programas das FNG também estão

alicerçados em questões administrativas, que influenciam o acesso e a qualidade dos

processos de aprendizagem resultantes. A importância dos programas de formação

de treinadores(as) é variável e, ainda, a estruturação – mediação de macro e meso

nível – pode ser mais ou menos especializada e direcionada para o desenvolvimento

das atividades. Como afirmado por Mallett e colaboradores (2009), as pessoas

responsáveis por desenvolver os programas de formação sustentam um controle

significativo sobre o desenho, as estratégias pedagógicas, o conteúdo, os processos

de avaliação e de certificação. Logo, tais mediações de meso e macro nível.

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174

Assim, um primeiro passo para a reflexão sobre a formação de

treinadores(as) de GPT e a realização de contribuições que possam incrementar e

potencializar os programas que realizam tal função é o conhecimento de suas

formatações, abordagens e desenvolvimentos. As questões que serão analisadas

nesse momento visam justamente construir um quadro sobre como os programas de

formação de treinadores(as) de GPT são desenvolvidos, de forma a caracterizá-los e

discutir sobre como a teoria histórico-cultural é abordada.

➢ Formatação

As primeiras duas questões que serão analisadas referem-se ao histórico

dos programas desenvolvidos. Com a questão B, intencionamos conhecer o tempo de

existência de tais oportunidades de aprendizagem, perguntando: “Há quanto tempo

são oferecidos programas de formação de treinadores(as) de Ginástica para

Todos em sua federação?”. Com essa informação, poderemos estabelecer relações

entre a estruturação dos programas e períodos necessários para a consolidação das

propostas apresentadas. Com essa questão, obtivemos que:

• Dezessete programas de formação de treinadores(as) de GPT (56,6%) são

oferecidos há mais de dez anos: África do Sul, Alemanha, Austrália, Áustria,

Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Hong

Kong, Islândia, Itália, Kosovo, Luxemburgo, Noruega, Portugal e Venezuela.

• Seis FNG (20%) oferecem programas há menos de um ano. São elas:

Bangladesh, Benin, República da Coreia, Paraguai e Suécia.

• Quatro FNG (13,3%) possuem programas de formação de treinadores(as)

de GPT há um período de um a cinco anos: Eslováquia, Moçambique,

Mongólia e Namíbia.

• As FNG de Cingapura, Irlanda e Trindade e Tobago (três FNG – 13,3%)

oferecem tais programas em um período que varia entre cinco e dez anos.

A análise dos dados apresentados demonstram que 43,3% dos programas

possuem menos de dez anos de funcionamento. Esse curto período, possivelmente,

não foi suficiente para a formatação e desenvolvimento dos programas, mas pode

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apresentar inovações na estruturação desse tipo de oportunidades de aprendizagem.

Inclusive, o fato de seis FNG terem menos de um ano de estabelecimento demonstra

um quadro positivo, com uma iniciativa crescente de programas de formação de

treinadores(as) de GPT, incrementando o desenvolvimento dessa prática corporal. É

também interessante notar que desses treze programas, onze são iniciativas de FNG

não-europeias, o que demonstra um intenso crescimento de propostas de formação

de treinadores(as) nos diferentes continentes.

Da mesma forma, ressaltamos as dezessete FNG que administram tais

programas há mais de dez anos. Essas instituições representam, em sua maioria,

países que possuem o desenvolvimento da Ginástica (no sentido da cultura da prática,

do número de praticantes e do reconhecimento continental e internacional) mais

desenvolvido. A África do Sul, por exemplo, como analisado no item anterior, é um

país cuja FNG contribui com a formação de treinadores(as) de outras localidades. O

mesmo quadro acontece com a Austrália, uma das sete FNG associadas à recente

estabelecida União de Ginástica da Oceania, constituída em setembro de 2018.

Juntamente com a FNG da Nova Zelândia, a FNG da Austrália vem trabalhando para

o estabelecimento de novas instituições dessa natureza no continente (OGU, 2018).

Outras dessas FNG, como Dinamarca, Estados Unidos, Grã-Bretanha,

Noruega e Portugal representam países que, segundo Mechbach e Waneberg (2011),

receberam grande influência do método sueco de Ginástica proposto por Per Henrik

Ling; este método possui semelhanças com a concepção de GPT disseminada pela

FIG, especialmente no que tange às questões ligadas à massificação e à coletividade.

Além disso, as FNG de Áustria, Dinamarca e Finlândia compõe comumente as

maiores delegações na Ginastrada Mundial, maior evento de GPT promovido pela

FIG, além de terem sido países-sede desse evento pelo menos em uma edição

(PATRÍCIO; BORTOLETO; CARBINATTO, 2016). Dessa maneira, em todos os casos,

existentes justificativas que explicam o desenvolvimento da GPT nas diferentes FNG.

Além do tempo de estabelecimento, consultamos as FNG quanto ao

número de participantes de seus programas. A questão C, “Quantas pessoas já

participaram dos programas de formação em Ginástica para Todos nos últimos

cinco anos, aproximadamente?”, apresentou respostas mais equilibradas quanto

ao número de respondentes para cada alternativa, com destaque para grupos de

pequeno e médio tamanhos.

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• Dez FNG (33,3%) possuem programas que foram realizados por 100 a

500 pessoas: Cingapura, Eslováquia, Estônia, Hong Kong, Islândia, Itália,

Luxemburgo, Moçambique, Noruega e Venezuela.

• Nove FNG (27,2%) afirmaram que seus programas foram atendidos por

até 100 pessoas (Bangladesh, Benin, Estados Unidos, Kosovo, Mongólia,

Namíbia, Paraguai, República da Coreia e Trindade e Tobago).

• Quatro programas (13,3%) ofereceram formação para 1000 a 5000

participantes, das FNG de África do Sul, Grã-Bretanha, Irlanda e Portugal

e a mesma quantidade (13,3%) para mais de 5000 pessoas, de

Alemanha, Canadá, Finlândia e Suécia.

• Três programas (10%) receberam de 500 a 1000 participantes. São eles:

Austrália, Áustria e Dinamarca.

A quantidade de participantes dos programas de formação pode variar de

acordo com o número de treinadores(as) de Ginástica das localidades. Da mesma

forma, pode ter relação com a obrigatoriedade da ação formativa, pois essa condição

certamente influencia o número de treinadores(as) participantes; ainda, o tipo de

estratégia pedagógica adotada também é fator de destaque, pois pode demandar

maiores ou menores grupos.

De forma geral, a quantidade média de participantes de tais programas é

bastante variada, com destaque maior para programas que afirmam ter atendido de

100 a 500 pessoas. O número de FNG que afirma ter participado da formação de mais

de 5000 treinadores(as), maior quantidade apresentada, é de apenas quatro dentre

as 30 FNG respondentes, o que nos indica que os programas de grande escala de

formação nessa prática corporal são poucos.

Os resultados apresentados até o momento proporcionam correlações com

a teoria histórico-cultural. Como já comentado anteriormente, para Vygotsky, são as

trocas sociais que veicularão os processos de aprendizagem e ocasionarão co-

construção de novos conhecimentos: não existe uma consciência “pura”, mas sim

derivada das atividades práticas e compartilhada pelas pessoas.

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Sendo assim, Vygotsky interessa-se pelo produto das aprendizagens, mas

valoriza o processo cultural por meio do qual se desenvolvem as funções psicológicas

superiores. Segundo Palangana (2001, p. 96).

A questão central para ele consiste em explicar como a maturação física e a aprendizagem sensório-motora interagem com o ambiente, que é histórico – e em essência social – de forma a produzir as funções complexas do pensamento humano.

Este raciocínio, fruto construção marxista da teoria, ressalta os aspectos

culturais e históricos dos processos de aprendizagem: culturais porque compreendem

as maneiras pela qual a sociedade organiza o conhecimento disponível e que as

pessoas deverão co-construir para realizar suas tarefas; históricos pois, de forma

estritamente ligada ao primeiro aspecto, se refere ao caráter histórico dessas formas

de co-construção, pois foram criadas e aperfeiçoadas ao longo da história.

Referimo-nos nesse estudo a um assunto mais específico do que os

processos de aprendizagem em geral, como estudou Vygotsky. Porém, podemos

interpretar que os programas de formação de treinadores(as) que possuem mais

tempo de promoção e mais pessoas envolvidas podem ter co-construído diversos

conhecimentos ao longo do tempo, com base em diferentes relações sociais que

foram estabelecidas. A experiência decorrente de sua promoção pode ter possibilitado

que instrumentos para a co-construção desses conhecimentos por parte de novos(as)

envolvidos(as) fossem aprimorados e organizados. Assim, essas duas variáveis

podem representar potencialidades dos programas de formação de treinadores(as) de

GPT.

Para uma melhor análise dos dados, nos dedicamos a relacionar as

variáveis “obrigatoriedade da formação específica”, “de forma exclusiva” ou “em

complementaridade à formação acadêmica”, “tempo de existência do programa” e

“número de pessoas participantes” (Quadro 10).

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Quadro 10 – Relação entre obrigatoriedade e oferecimento e número de participantes dos programas de formação de treinadores(as).

FNG Obrigatoriedade Período Participantes FNG Obrigatoriedade Período Participantes

Austrália Sim/Esp. Mais de dez anos 500 a 1000 Kosovo Sim/Sup. Mais de dez anos Menos de cem

Áustria Sim/Esp. Mais de dez anos 500 a 1000 Luxemburgo Sim/Ambas Mais de dez anos 100 a 500

Bangladesh Sim/Sup. Menos de um ano Menos de cem Mongólia Sim/Sup. Um a cinco anos Menos de cem

Benin Sim/Sup. Menos de um ano Menos de cem Moçambique Não Um a cinco anos 100 a 500

Canadá Sim/Esp. Mais de dez anos Mais de 5000 Namíbia Não Um a cinco anos Menos de cem

Dinamarca Não Mais de dez anos 500 a 1000 Noruega Não Mais de dez anos 100 a 500

Estônia Sim/Esp. Mais de dez anos 100 a 500 Paraguai Sim/Ambas Menos de um ano Menos de cem

Finlândia Não Mais de dez anos Mais de 5000 Portugal Sim/Esp. Mais de dez anos 1000 a 5000

Grã-Bretanha

Sim/Esp. Mais de dez anos 1000 a 5000 África do Sul Sim/Esp. Mais de dez anos 1000 a 5000

Alemanha Sim/Esp. Mais de dez anos Mais de 5000 Cingapura Sim/Esp. Cinco a dez anos 100 a 500

Hong Kong Sim/Esp. Mais de dez anos 100 a 500 Eslováquia Sim/Esp. Um a cinco anos 100 a 500

Irlanda Sim/Esp. Cinco a dez anos 1000 a 5000 Suécia Não Menos de um ano Mais de 5000

Islândia Sim/Esp. Mais de dez anos 100 a 500 Trindade e Tobago

Sim/Esp. Cinco a dez anos Menos de cem

Itália Não Mais de dez anos 100 a 500 Estados Unidos

Não Mais de dez anos Menos de cem

República da Coreia

Sim/Sup. Menos de um ano Menos de cem Venezuela Sim/Esp. Mais de dez anos 100 a 500

Legenda: Esp.: Formação Específica Técnico-Pedagógica; Sup.: Formação Superior Universitária.

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Alguns casos podem ser destacados desta caracterização inicial.

Chamamos a atenção para as FNG de Canadá e Alemanha, cujos programas de

formação de treinadores(as) são obrigatórios, possuem mais de dez anos e

atenderam em média mais de 5000 pessoas.

A FNG do Canadá é uma instituição de renome, cuja preocupação com o

desenvolvimento de modalidades e práticas gímnicas não-olímpicas, entre as quais

são citadas a Ginástica Acrobática, a Ginástica Aeróbica e a GPT, configura-se como

o segundo objetivo de maior enfoque no plano de atividades do quadriênio 2017-2020

da instituição (GYMCAN, 2017). Além disso, é uma federação dedicada à formação

de treinadores(as), possuindo um Comitê de Desenvolvimento Esportivo e Educação

composto por quatro profissionais, dentre os quais Gerente de Educação, Gerente de

Desenvolvimento Esportivo, Coordenador de Educação e Desenvolvimento Esportivo

e Assistente de Educação (GYMCAN, 2018), situação pouco vista entra as FNG.

Esse panorama é resultante da política nacional de formação de

treinadores(as) do Canadá, conhecida como National Coaching Certification Program

(NCCP) ou Programa Nacional de Certificação de Treinadores(as), gerida pela

Coaching Association Canada (CAC). Este programa foi desenvolvido em 1974 e

possui como objetivo oferecer formação continuada para treinadores(as) a partir de

parcerias com o governo federal, os governos estaduais e provinciais e as

organizações esportivas nacionais, provinciais e territoriais (CAC, 2018), para 65

esportes e práticas corporais (MISENER; DANYLCHUK, 2009). Misener e Danylchuk

(2009) destacam que, a cada ano, mais de 50000 treinadores(as) participam dos

workshops da NCCP. Os programas oferecidos pela FNG do Canadá são organizados

em parceria com essa a FNG de Ginástica e, dessa forma, os dados obtidos nessa

pesquisa adquirem coerência com o quadro nacional.

A FNG da Alemanha, chamada German Gymnastics Federation e mais

conhecida por sua sigla no idioma Alemão, DTB, possui o mesmo quadro da FNG do

Canadá: obrigatoriedade de formação específica, programa de formação de

treinadores(as) com mais de dez anos de promoção e mais de 5000 participantes.

Esta caracterização provavelmente está associada ao grande número de membros da

instituição, que somam cerca de 5 milhões de pessoas (HARTMANN, 2010; DTB,

2018). Deste grupo, segundo Hartmann (2010, p. 29), 80% dos membros é afiliado às

atividades de GPT, em especial a atividades relacionadas ao fitness e à promoção da

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saúde. A página oficial da Internet da instituição afirma que mais de 1,8 milhão de

crianças e adolescentes são afiliados(as) ao DTB, assim como mais de 2,2 milhões

de mulheres adultas e mais de 1 milhão de pessoas com mais de 50 anos (DTB, 2018),

populações que podem estar interessadas na prática não competitiva da Ginástica,

nas demonstrações e mesmo em competições adaptadas, que, como discutiremos

em outros momentos dessa tese, são constantemente associadas à GPT. Assim, o

grande número de treinadores(as) interessados(as) em formação para essa prática

torna-se coerente e plausível. Além disso, a definição de Ginástica na Alemanha

possui peculiaridades que tornam essa prática mais abrangente, como parte de um

fenômeno denominado Turnen.

O termo Turnen refere-se a um movimento originado no início do século

XIX na Alemanha, em um período de crescimento do nacionalismo alemão em prol da

libertação napoleônica (LEVIEN, 2011). Quitzau (2015) afirma que este movimento

abrangia diferentes formas de exercícios que serviam para o desenvolvimento da

força física, moral e disciplinadora do povo, incluindo jogos de luta, longas

caminhadas, atividades como marchar, correr, saltar, escalar, nadar e exercícios em

aparelhos como cavalo, equilíbrios, barra fixa e barra paralela. Estas atividades eram

anteriormente chamadas de gymnastik, mas este conceito foi substituído por Jahn,

um dos organizadores do movimento, por turnkust, que significava “arte da Ginástica”

na língua alemã, justamente por conta do caráter nacionalista dessa atividade. Com o

decorrer do tempo e a esportivização de muitas práticas corporais, grande parte das

atividades componentes do Turnen desenvolveram-se como esportes específicos,

enquanto outras permaneceram sob organização das instituições administrativas da

Ginástica. Por esse motivo, o DTB gerencia muitas modalidades e práticas diferentes

e além das ginásticas, como por exemplo: Ginástica Aeróbica, Fistball, Ginástica

Artística, Ginástica e Dança, Netball, Roda Ginástica, Ginástica Rítmica, Rope

Skipping, entre outras (DTB, 2018). Algumas dessas atividades podem ter sido

incluídas como parte dos programas de formação de treinadores(as) de GPT, uma

vez que a FNG da Alemanha não separa suas formações por disciplinas ginásticas

em sua maior parte, mas por faixa etária a que se dedica o conteúdo.

Outro caso de destaque é o da FNG da Finlândia, cujo programa de

formação de treinadores(as) também possui mais de dez anos de vigência e excede

5000 participantes, porém não é considerado obrigatório para o ensino de GPT.

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Embora não exija nenhum tipo de formação para o exercício da função de treinador(a),

o(a) respondente da FNG da Finlândia (2018, tradução da autora) afirma possuir “um

importante papel como educadora: aproximadamente 4000 treinadores(as),

instrutores(as) e líderes de clubes participam dos programas de formação da

Federação Nacional Finlandesa por ano” e essa afirmação provavelmente também

alicerça os programas voltados à Ginástica dedicada ao lazer, como é o caso da GPT.

A Finlândia é um país da Escandinávia, região conhecida por sua tradição

ginástica, o que faz com que a prática seja ampla e irrestrita. Assim, embora as

discussões sobre a não obrigatoriedade da formação aconteçam com base nesse

costume de prática, a busca pelo incremento dos conhecimentos sobre o ensino da

GPT é uma situação que, além de plausível, é bastante interessante.

Em outro extremo, temos os exemplos das FNG dos Estados Unidos e do

Kosovo. Em ambos os casos, os programas também possuem mais de dez anos, mas

afirmam ter participado da formação de menos de cem treinadores(as). Duas

hipóteses nos parecem plausíveis e poderão ser analisadas de acordo com as

respostas das demais questões dos questionários. A primeira delas relaciona-se ao

tipo de oportunidade de aprendizagem oferecido, que pode demandar a atenção

direcionada para poucas pessoas em um longo espaço de tempo. A segunda hipótese

pode ter ligação com a periodicidade de oferecimento dos programas: o fato de as

iniciativas terem dez anos de existência não significa que são esforços perenes. Além

disso, no caso dos Estados Unidos, a não obrigatoriedade da formação para atuação

como treinador(a) de Ginástica pode ser um fator determinante para a pequena

participação. Uma terceira possibilidade está no foco dado pela sociedade norte-

americana às modalidades competitivas, que ocorre desde a institucionalização dos

esportes (DAY; CARPENTER, 2015). Esse fator provavelmente faz com que menos

treinadores(as) se capacitem e trabalhem com a GPT.

Por fim, destacamos o programa da FNG da Suécia. Este, mesmo que não

obrigatório e com oferecimento de menos de um ano, afirma ter participado da

formação de mais de 5000 treinadores(as) de GPT. Da mesma forma que

consideramos com relação às duas FNG comentadas anteriormente, acreditamos que

há a necessidade de verificação da relação do tipo de oportunidade de aprendizagem

adotado ou, ainda, reforçamos a possibilidade de ter havido um equívoco quanto ao

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entendimento da questão, possivelmente por uma questão idiomática, uma vez que o

idioma materno do país representado por essa FNG é bastante diferente do Inglês.

Em continuidade à caracterização estrutural dos programas, questionamos

a respeito da frequência de promoção. Realizamos a questão J, “Com qual

frequência é realizado o programa de formação de treinadores(as) de GPT?”,

informando os(as) respondentes que mais de uma resposta poderia ser assinalada

pois compreendemos que os programas de formação de treinadores(as) de GPT

podem oferecem diferentes tipos de oportunidade de aprendizagem, com

periodicidades específicas. Obtivemos as seguintes respostas:

• Quatorze das trinta FNG (46,6%) afirmaram que os programas

possuem periodicidade indeterminada, que são esporádicos. São elas:

Alemanha, Bangladesh, Benin, Canadá, Hong Kong, Kosovo, Luxemburgo,

Moçambique, Namíbia, Noruega, Paraguai, Portugal, República da Coreia

e Suécia.

• Nove FNG (30%) oferecem programas anuais: Áustria, Estados Unidos,

Hong Kong, Islândia, Itália, Paraguai, Portugal, Trindade e Tobago e

Venezuela.

• Cinco FNG (16,6%), bimestrais: Austrália, Cingapura, Irlanda, Itália e

Mongólia.

• Quatro países (13,3%) trabalham com programas de formação

semestrais: Áustria, Dinamarca, Estônia e Venezuela.

• As FNG de Hong Kong, Itália e Kosovo (3 – 10%) oferecem programas

mensais.

• Cinco FNG apresentaram outras respostas. A FNG da África do Sul

determinou que os programas iniciais são anuais e as formações

especializadas são esporádicas e a mesma situação foi apresentada pela

FNG de Portugal. A FNG da Eslováquia afirma que seus programas são

bianuais. A FNG da Finlândia não apresentou uma periodicidade definida,

afirmando que: “ao longo do ano, cerca de 100 cursos”, nos fazendo

entender que determinadas estratégias pedagógicas são esporádicas e

podem ou não se repetir ao longo dos anos ou anualmente. Resposta

semelhante foi oferecida pelo(a) respondente da Grã-Bretanha: “cursos

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contínuos são oferecidos ao longo do ano em diferentes localizações

geográficas”.

Pode ser observado que os programas de formação de treinadores(as) de

GPT, em sua maioria, não possuem periodicidade definida. Inicialmente, é importante

considerar que essa indefinição pode ser tanto para o oferecimento de raras edições

dos programas de formação quanto para frequentes edições.

Em localidades em que a formação técnico-pedagógica é obrigatória e a

responsabilidade do oferecimento de tais oportunidades de aprendizagem é das FNG,

essa frequência inexata de oferecimento pode ser um fator negativo para a

preparação dos(as) interessados(as). Da mesma forma, visto a potencialidade de tais

programas para a melhoria do ensino da GPT, a ausência de momentos de mediação

direta também pode ser um fator negativo. A periodicidade dispersa é vista por Jones

e Alisson (2014) da mesma forma. Tais autores consideram que a participação

periódica em programas de formação, especificamente em cursos, proporciona uma

“comunidade de segurança” para seus(suas) participantes, pois essas oportunidades

de aprendizagem podem oferecer suporte para as ansiedades do dia-a-dia de trabalho

dos(as) treinadores(as).

No caso da FNG da Finlândia, que afirma realizar vários programas ao

longo do ano, o oferecimento esporádico parece ser, ao contrário dos outros casos,

um fator positivo e necessário para o atendimento de todos(as) os(as) interessados.

A situação da Finlândia já foi destacada anteriormente e a frequência agora

apresentada justifica o número de participantes do programa e o número de

praticantes da GPT no país. O mesmo caso é observado nas FNG da Alemanha e do

Canadá, com frequência esporádica e mais de 5000 participantes.

A existência de programas anuais, semestrais ou mensais parece

demonstrar uma maior regularização das iniciativas de formação das FNG, como parte

de uma estruturação institucionalizada e organizada. Com uma frequência prevista de

realização, um maior número de treinadores(as) pode programar-se para participar

dos programas de formação e, assim, é possível evoluir na carreira esportiva.

O último tipo de organização dos programas de formação de destaque é

aquele em que as oportunidades de aprendizagem voltadas a temas básicos

relacionados ao ensino da GPT são anuais e os demais, dirigidos a temas

complementares, são esporádicos. Esse é o caso das FNG da África do Sul e de

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Portugal. Essa situação também é uma característica dos programas institucionais,

em que as oportunidades de aprendizagem reconhecidas como formais (NELSON;

CUSHION; POTRAC, 2006) são periódicas e as não formais e complementares são

esporádicas.

Assim, os três assuntos analisados como parte da formatação dos

programas de formação de treinadores(as) de GPT, período, número de participantes

e frequência de oferecimento dos programas de formação de treinadores(as), foram

abordados no Quadro 11.

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Quadro 11 – Caracterização dos programas de formação de treinadores(as) quanto ao período de funcionamento, número de participantes e frequência.

FNG Período Participantes Frequência FNG Período Participantes Frequência

Austrália Mais de dez anos 500 a 1000 Bimestral Kosovo Mais de dez

anos Menos de cem

Esporádico/ Mensal

Áustria Mais de dez anos 500 a 1000 Anual/ Semestral Luxemburgo Mais de dez

anos 100 a 500 Esporádico

Bangladesh Menos de um ano Menos de cem Esporádico Mongólia Um a cinco anos Menos de cem Bimestral

Benin Menos de um ano Menos de cem Esporádico Moçambique Um a cinco anos 100 a 500 Esporádico

Canadá Mais de dez anos Mais de 5000 Esporádico Namíbia Um a cinco anos Menos de cem Esporádico

Dinamarca Mais de dez anos 500 a 1000 Semestral Noruega Mais de dez

anos 100 a 500 Esporádico

Estônia Mais de dez anos 100 a 500 Semestral Paraguai Menos de um

ano Menos de cem

Esporádico/ Anual

Finlândia Mais de dez anos Mais de 5000 Esporádico Portugal Mais de dez

anos 1000 a 5000

Esporádico/ Anual

Grã-Bretanha

Mais de dez anos 1000 a 5000 Esporádico África do Sul Mais de dez

anos 1000 a 5000

Esporádico/ Anual

Alemanha Mais de dez anos Mais de 5000 Esporádico Cingapura Cinco a dez anos 100 a 500 Bimestral

Hong Kong Mais de dez anos 100 a 500 Esporádico/

Anual/ Mensal Eslováquia Um a cinco anos 100 a 500 Bianual

Irlanda Cinco a dez anos 1000 a 5000 Bimestral Suécia Menos de um

ano Mais de 5000 Esporádico

Islândia Mais de dez anos 100 a 500 Anual Trindade e Tobago

Cinco a dez anos Menos de cem Anual

Itália Mais de dez anos 100 a 500 Anual/ Mensal/

Bimestral Estados Unidos

Mais de dez anos

Menos de cem Anual

República da Coreia

Menos de um ano Menos de cem Esporádico Venezuela Mais de dez

anos 100 a 500 Anual/ Semestral

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O Quadro destaca pouca relação entre os dados das diferentes categorias

e ainda entre as FNG com características semelhantes. Assim, percebemos que cada

FNG possui uma formatação específica e única a sua particularidade de

funcionamento. Como programas que se mesclam entre a classificação de pequena-

escala, aqueles que possuem foco em um esporte específico, e larga-escala, nos

quais muitas dimensões do ensino de Esporte e práticas corporais são trabalhadas

(ARAYA; BENNIE; O’CONNOR, 2015), os programas analisados possuem diferentes

resultados.

Apenas uma observação pode ser feita de maneira geral. Os programas

com menos de cem participantes possuem, em sua maioria, até cinco anos de

existência e frequência esporádica. Essa situação pode ser justificada pela iminência

do desenvolvimento dos programas, caracterizando tais programas como “em fase de

estruturação”. Inclusive, o fato de cinco novos programas de formação de

treinadores(as) de GPT terem se desenvolvido nos últimos anos vem ao encontro da

literatura acadêmica sobre o crescimento exponencial de promoção de oportunidades

de aprendizagem institucionais (CUSHION et al., 2003; CASSIDY; JONES; POTRAC,

2006; TRUDEL; GILBERT, 2006).

As exceções desse argumento estão ligadas às FNG de Estados Unidos,

Kosovo e Trindade e Tobago. As FNG de Estados Unidos e Kosovo, com mais de dez

anos de existência e frequência esporádica ou anual, também avaliam que

participaram de suas oportunidades de aprendizagem apenas o máximo de cem

participantes. A FNG de Trindade e Tobago afirma já ter atendido o mesmo número

de treinadores(as) (menos de cem) com vigência do programa de cinco a dez anos e

periodicidade anual.

Com base nos resultados destacados nesse item e nas impressões

geradas pelas análises, estipulamos classificações para os programas analisados.

Consideramos os programas como consolidados, quando possuem mais de 10 anos

de realização e acima de 500 participantes, programas recentes, com menos de um

ano de existência, e programas em desenvolvimento, aqueles que estão entre os

consolidados e os recentes. Assim, temos:

• Programas consolidados: África do Sul, Alemanha, Austrália, Áustria,

Canadá, Dinamarca, Finlândia, Grã-Bretanha e Portugal.

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• Programas em desenvolvimento: Cingapura, Eslováquia, Estados

Unidos, Estônia, Hong Kong, Irlanda, Islândia, Itália, Kosovo, Luxemburgo,

Moçambique, Mongólia, Namíbia, Noruega, Suécia, Trindade e Tobago e

Venezuela.

• Programas recentes: Bangladesh, Benin, Paraguai e República da Coreia

➢ Abordagem

Em seguida à formatação, dedicamo-nos a investigar a abordagem da GPT

realizada pelos programas de formação de treinadores(as). Neste intuito, o termo

“abordagem” foi utilizado para caracterizar a GPT com relação a sua perspectiva de

prática, também traduzida pelos objetivos dos programas. Dessa forma, esforçamo-

nos em compreender os alicerces que deveriam estar alinhados aos aspectos

pedagógicos adotados por cada FNG.

Assim, realizamos a questão I, “Para qual nível de participação é

realizada formação em Ginástica para Todos? Nota explicativa: Podem ser

assinaladas mais de uma alternativa.”. Pôde ser constatado que:

• As FNG de Alemanha, Bangladesh, Canadá, Cingapura, Dinamarca, Estônia,

Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong, Islândia, Itália, Namíbia, Noruega,

República da Coreia, Suécia, Trindade e Tobago e Venezuela assinalaram que

seus programas de formação de treinadores(as) possuem caráter apenas

voltado à participação (dezessete FNG – 56,6%).

• Ambas as opções, “participação” e “competição”, foram escolhidas pelas

onze FNG (36,6%) de África do Sul, Austrália, Áustria, Benin, Eslováquia,

Estados Unidos, Irlanda, Luxemburgo, Mongólia, Paraguai e Portugal,.

• A opção “competição” foi assinalada exclusivamente por duas FNG

(6,6%): Kosovo e Moçambique.

• Algumas explicações adicionais foram dadas: a FNG da Austrália incluiu a

palavra “performance” nas respostas dedicadas à “Outro”; as FNG da

Alemanha e da Grã-Bretanha afirmaram possuir competições “de baixo

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nível”40; a FNG de Portugal destacou o programa BabyGym, para crianças

de até cinco anos, como sendo exclusivamente de participação; a FNG da

Venezuela afirmou que os programas tem como abordagem principal “saúde,

qualidade de vida, recreação e educação”.

As discussões acerca da natureza da prática GPT, com relação a seu

caráter não-competitivo e/ou competitivo, são amplas e diversificadas e muito

proporcionadas pela própria abordagem da FIG. Ao definir GPT como “Ginástica sem

ou com competições (Ginastrada sem competição) de natureza recreacional,

abrangendo uma grande variedade de atividades ginásticas” (FIG, 2015, p. 9,

tradução da autora), a instituição possibilita que diferentes perspectivas sejam

adotadas pelas FNG à prática da GPT.

Esta possibilidade de caracterização como uma prática híbrida informa de

maneira fundamental a estruturação dos programas de formação de treinadores(as),

uma vez que determina objetivos, conteúdos, compreensão acerca do público

envolvido, entre outros muitos fatores. Assim, as metas e objetivos dos programas

influenciam as competências que deverão ser abordadas (CALLARY et al., 2014), a

fim de que os(as) treinadores(as) se formem capazes de mediar conhecimentos em

vários domínios em processos de aprendizagem de seus(suas) aprendizes(as)

(VYGOTSKY, 1997; 1998; 2009).

Outro assunto importante para que possamos caracterizar a abordagem

dos programas de formação de treinadores(as) são seus objetivos. Para a questão G,

“Quais os objetivos dos programas de formação de treinadores(as) de GPT?

Nota explicativa: Podem ser assinaladas mais de uma alternativa.”, obtivemos as

seguintes respostas:

• Vinte e nove das trinta FNG participantes (96,6%) afirmaram que o objetivo

é aumentar o número de praticantes de Ginástica no país: África do Sul,

Alemanha, Austrália, Áustria, Bangladesh, Benin, Canadá, Cingapura,

Dinamarca, Eslováquia, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha,

Hong Kong, Irlanda, Islândia, Itália, Kosovo, Moçambique, Mongólia, Namíbia,

40 Do original, “low level competition” (Respondentes da Alemanha e da Grã-Bretanha, tradução da autora).

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Noruega, Paraguai, Portugal, República da Coreia, Suécia, Trindade e Tobago

e Venezuela.

• Vinte e sete FNG (90%), capacitar treinadores(as) para as aulas de GPT.

São elas: África do Sul, Austrália, Áustria, Bangladesh, Benin, Canadá,

Cingapura, Dinamarca, Eslováquia, Estônia, Estados Unidos, Finlândia, Grã-

Bretanha, Hong Kong, Irlanda, Islândia, Itália, Kosovo, Luxemburgo,

Moçambique, Namíbia, Noruega, Paraguai, Portugal, Suécia, Trindade e

Tobago e Venezuela.

• As 25 FNG (83,3%) de África do Sul, Alemanha, Austrália, Áustria, Benin,

Cingapura, Eslováquia, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha,

Hong Kong, Irlanda, Islândia, Itália, Kosovo, Luxemburgo, Moçambique,

Namíbia, Noruega, Paraguai, Portugal, Suécia, Trindade e Tobago e Venezuela

tem como objetivo melhorar a qualidade das aulas de GPT oferecidas no

país.

• Apenas seis FNG (20%) (Áustria, Bangladesh, Benin, Hong Kong, Kosovo e

Portugal) tem como objetivo obter melhores resultados em competições

internacionais. Desses(as) respondentes, o(a) da FNG de Áustria afirmou que

o foco no resultado é apenas para a prática do Rope Skipping.

• Quatro outras respostas foram dadas: o(a) respondente da FNG da Grã-

Bretanha afirmou que o objetivo é “encorajar treinadores(as) e ginastas a

serem criativos, promover o ethos do divertimento e da alegria”41; o da

FNG da Irlanda, “oferecer mais oportunidades a pessoas com todo tipo de

habilidade”42; a FNG da Itália indicou que a finalidade é divulgar os eventos

internacionais de GPT; por fim, a FNG de Portugal também possui como

objetivo oferecer uma formação contínua especializada para progressão

na carreira de treinadores(as).

Chama a atenção a quase unânime escolha dos(as) respondentes das

FNG da resposta dirigida a aumentar o número de praticantes de GPT em suas

localidades. Essa informação nos leva a considerar que os programas de formação

41 Do original, “Encourage creativity of coaches and gymnastics. promote the ethos of fun and enjoyment.” (Respondente da Grã-Bretanha, tradução da autora). 42 Do original, “offer more opportunities to people of all abilities” (Respondente da Irlanda, tradução da autora).

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de treinadores(as) devem abranger os(as) treinadores(as) interessados(as) de

maneira ampla, e, para tanto, oferecer oportunidades de aprendizagem acessíveis à

diferentes localidades e recursos necessários. Para discussão desse aspecto,

resgatamos a resposta dada pela FNG da Grã-Bretanha à questão discutida

anteriormente, que afirma que “cursos contínuos são oferecidos ao longo do ano em

diferentes localizações geográficas” (Respondente da Grã-Bretanha, tradução da

autora).

Assim, a distribuição geográfica de oferecimento de tais oportunidades de

aprendizagem institucional pode ser um diferenciador do desenvolvimento dos

programas de forma a atingir tal objetivo. O mesmo pode ser afirmado sobre as

oportunidades de aprendizagem envolvidas em tais programas, que podem ser

acessíveis para a formação dos(as) treinadores(as) sem serem dependentes de

presença física, por exemplo.

Outro destaque é dado às FNG que informaram como objetivo capacitar

treinadores(as) para o ensino da GPT. Esta informação atribui grande importância aos

tais programas como parte essencial da formação inicial ou complementar dos(as)

envolvidos(as). Por isso, destacamos as três FNG que não responderam a esse

objetivo: Alemanha, Mongólia e República da Coreia.

As duas últimas FNG citadas exigem para o exercício da função de

treinador(a) a formação universitária. Assim, podem considerar seus programas de

formação como uma estratégia complementar, o que justifica o fato de não atribuírem

a função de capacitação dos(as) treinadores(as) como um objetivo principal de seus

programas. Já na Alemanha, a obrigatoriedade de formação técnico-pedagógica

específica em Ginástica torna a não escolha desse objetivo um erro de coerência

estabelecido pelo(a) respondente.

Além dessa, outras respostas apresentadas por diferentes FNG são

incompatíveis e foram dadas pelos(as) respondentes de Bangladesh e Hong Kong.

Ambos, mesmo tendo afirmado que suas FNG abordam a GPT como sendo uma

prática exclusivamente participativa, indicaram a resposta “obter melhores resultados

em competições internacionais” como um dos objetivos de seus programas de

formação de treinadores(as).

Estas incoerências encontradas nas respostas podem representar

diferentes situações. A primeira delas relaciona-se com a falta de reflexão dos(as)

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gestores(as) dos programas de formação de treinadores(as) a respeito do

desenvolvimento de suas ações. Esse é um fator importante a ser destacado, uma

vez que, como já mencionado, todas as funções desempenhadas pelos(as)

gestores(as) representam mediações em macro nível (JONES; THOMAS, 2015) que

influenciarão a forma como a GPT é organizada, abordada e entendida nas diferentes

localidades. Esses(as) gestores(as) são responsáveis pelo desenho dos programas e

sustentam um controle significativo sobre o currículo, as estratégias pedagógicas, o

conteúdo, as formas de avaliação e certificação (MALLETT et al., 2009). Uma vez que

tais pressupostos básicos como a caracterização da GPT e os objetivos não são

claramente definidos, os outros aspectos do desenvolvimento do programa podem

não estar coerentes com as propostas apresentadas. Esta falta de reflexão a respeito

dos programas é, provavelmente, a razão pela qual os programas de formação

institucional são vistos em muitos estudos como ineficientes e pouco eficazes, como

já discutido no capítulo 4. Essa é uma situação negativa e que deve ser melhor

estruturada pelas FNG, uma vez que o desenho dos programas e as estratégias

pedagógicas utilizadas estão relacionados com a co-construção de sentidos dos

conteúdos por treinadores(as), que irão atuar no ensino da GPT (DRISKA, 2018).

Destacamos também os objetivos “encorajar treinadores(as) e ginastas a

serem criativos(as), promover o ethos do divertimento e da alegria” (Respondente da

Grã-Bretanha, tradução da autora) e “oferecer mais oportunidades a pessoas com

todo tipo de habilidade” (Respondente da Irlanda, tradução da autora). Esses

objetivos, em nossa opinião, serão alcançados apenas se as oportunidades de

aprendizagem estiverem coerentes com essas propostas; isto é, apenas será possível

que treinadores(as) sejam criativos(as) em suas aulas se as estratégias de formação

de tais treinadores(as) permitam e incentivem a criatividade. O mesmo raciocínio pode

ser discutido para o divertimento e a alegria e para o acesso a oportunidades de

prática para pessoas com diferentes habilidades.

Isso pois, retomando a teoria vygotskyana, as emoções decorrentes das

vivências devem ser efetivas para que sejam eficazes nos processos de

aprendizagem (VYGOTSKY, 1998; MORCOM, 2014). Assim, os(as) treinadores(as)

precisam vivenciar possibilidades que os(as) incentivem a desenvolver determinadas

habilidades e, em especial, que as torne conscientes e emocionalmente relevantes

para que sejam consideradas em seus planejamentos e ações futuros. Este fator é

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importante na formação dos(as) treinadores(as) para que isso também seja realizado

nos processos de aprendizagem dos(as) ginastas ensinados por essas pessoas.

Em uma segunda possibilidade, essas respostas podem retratar a

dificuldade com o idioma dos questionários, que não representam a língua materna

dos(as) respondentes e fator que pode ter dificultado a interpretação de determinadas

questões e respostas.

Por fim, destacamos o objetivo apresentado pela FNG de Portugal de

“oferecer uma formação contínua especializada para progressão na carreira de

treinadores(as)” (Respondente de Portugal). Esta declaração chama-nos a atenção

por entender a atividade de treinadores(as) a partir de uma abordagem profissional,

permitindo o desenvolvimento de carreiras para além do exercício da profissão de

treinador(a) como uma área mista composta por voluntários(as) e profissionais (ICCE,

2013). Embora a formação específica em Ginástica seja obrigatória em Portugal, a

possibilidade e o incentivo dado à carreira de treinadores(as) que se dedicam a

incrementarem sua formação a partir de programas complementares fomenta o ensino

da GPT a partir de um maior embasamento teórico-prático, atualização e reflexão.

Em suma, o gráfico 4 resume a abordagem dos programas de formação de

treinadores(as) de GPT, relacionando o caráter da prática aos objetivos apontados:

Gráfico 4 – Relação entre a abordagem de GPT e os objetivos propostos para os programas de formação de treinadores(as).

17

10

2

16

9

2

13

10

2

2

3

1

Participação (17 FNG)

Participação e competição (11 FNG)

Competição (2 FNG)

Aumentar o número de praticantes Capacitar treinadores(as)

Melhorar a qualidade Obter melhores resultados

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193

Podemos concluir que independentemente do caráter da prática atribuído

à GPT pelas FNG, entre competição, participação e competição e apenas

participação, os objetivos apresentados anteriormente destacam-se de maneira

similar. O objetivo “obter melhores resultados em competições internacionais”, apesar

de ter sido destacado por seis FNG encontra-se em menor evidência do que os

demais. De modo geral, a abordagem dos programas de treinadores(as) participantes

da pesquisa aponta para uma ênfase no aumento do número de praticantes da GPT

e capacitação de treinadores(as), além do enfoque dado à qualidade do ensino da

prática.

➢ Desenvolvimento

Chamamos de “desenvolvimento” a parte dos resultados que estão

relacionados aos aspectos do funcionamento e organização dos programas de

formação de treinadores(as) de GPT.

Para tanto, o primeiro e mais importante aspecto a ser comentado são os

tipos de oportunidade de aprendizagem adotados pelos programas de formação. Este

tema já foi discutido anteriormente no capítulo 3 e será mais aprofundado na segunda

fase dos resultados.

Questionamos as FNG (questão A): “Quais tipos de programa de

formação de treinadores(as) são oferecidos para GPT?”. As respostas obtidas

apresentam que:

• Vinte e seis das trinta FNG (86,6%) oferecem Cursos regulares: África

do Sul, Alemanha, Austrália, Áustria, Bangladesh, Canadá, Cingapura,

Dinamarca, Eslováquia, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong,

Irlanda, Islândia, Itália, Kosovo, Luxemburgo, Mongólia, Noruega,

Paraguai, Portugal, República da Coreia, Suécia, Trindade e Tobago e

Venezuela.

• Vinte e três (76,6%), Organização de eventos (palestras, workshops).

São elas: Alemanha, Austrália, Áustria, Bangladesh, Benin, Cingapura,

Eslováquia, Estados Unidos, Finlândia, Grã-Bretanha, Irlanda, Islândia,

Itália, Kosovo, Luxemburgo, Moçambique, Namíbia, Noruega, Paraguai,

Portugal, Suécia, Trindade e Tobago e Venezuela.

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194

• Apenas oito FNG (26,6%) realizam Programas de mentoria: África do

Sul, Alemanha, Austrália, Áustria, Canadá, Paraguai, Portugal, e Suécia.

• Sete FNG (23,3%) possuem Plataformas de dados online: Austrália,

Canadá, Finlândia, Grã-Bretanha, Itália, Noruega e Portugal.

• Cinco FNG (16,6%) oferecem Fóruns de discussão ou Encontros de

treinadores(as), online ou presencial: África do Sul, Canadá, Kosovo,

Noruega e Portugal. O mesmo número (16,6%) realiza Estímulos à

produção científica (Alemanha, Áustria, Kosovo, Portugal e Suécia) e

outras cinco (16,6%) FNG, Educação à distância (cursos online), de

Austrália, Bangladesh, Dinamarca, Kosovo e Portugal.

• Apenas uma FNG, de Portugal, apontou um tipo diferente de estratégia

pedagógica, denominada como ações de formação contínua para

treinadores(as).

As oportunidades de aprendizagem e suas estratégias pedagógicas são

parte fundamental dos processos de aprendizagem e importante mecanismo para a

implementação dos aspectos da teoria histórico-cultural. Por esse motivo, podem ser

relacionadas com outros temas da formatação e da abordagem dos programas de

formação de treinadores(as), uma vez que se caracterizam, além de serem parte da

finalidade principal – os processos de aprendizagem, como meios para a realização

de objetivos desses programas.

A primeira constatação dos resultados da pesquisa com relação às

estratégias pedagógicas é que todas as FNG consultadas oferecem ao menos uma

estratégia pedagógica tradicional, como os Cursos regulares e a Organização de

eventos (palestras, workshops). Outras constatações foram obtidas a partir da relação

entre as oportunidades de aprendizagem e obrigatoriedade e número de participantes

dos programas de formação e sugere alguns parâmetros (Quadro 12).

Pode ser verificado que entre os programas que exigem formação

específica em Ginástica, o número de FNG que apenas estratégias pedagógicas

tradicionais é praticamente o mesmo de FNG que oportunizam aos(às) seus(suas)

participantes inovadoras. Situação semelhante é percebida entre as FNG que não

exigem nenhum tipo de formação para tal atuação – estratégias pedagógicas

tradicionais e inovadoras são ofertadas de forma análoga. Dentre essas estratégias

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195

pedagógicas inovadoras, destacam-se as Plataformas de dados online entre as mais

recorrentes. Diferentemente, entre as FNG que exigem formação superior em

Ginástica, o oferecimento de oportunidades tradicionais é exclusivo, com exceção da

FNG do Kosovo.

Esses dados parecem indicar que a obrigatoriedade da formação de

treinadores(as) ofertada pelas FNG é o fator impulsionador de reflexões a respeito de

estratégias pedagógicas realizadas nos programas. Como uma formação

complementar (e não obrigatória) ao ensino universitário, abordagens tradicionais

ainda parecem ser dominantes entre os(as) gestores(as).

Outra conclusão a que se é possível chegar tem ligação com o número de

participantes e as oportunidades de aprendizagem disponibilizadas. Dos dezenove

programas que afirmaram ter participado da formação de até 500 treinadores(as),

apenas quatro oferecem oportunidades de aprendizagem diferentes das tradicionais.

Ao mesmo tempo, todas as quatro FNG que já atenderam mais de 5000

treinadores(as) oferecem pelo menos uma oportunidade de aprendizagem além das

tradicionais.

Assim, pode ser considerado que o tipo de oportunidade de aprendizagem

oferecido pela FNG pode ou não potencializar o número de treinadores(as)

participantes, possibilitando que os objetivos dos programas indicados pelas próprias

instituições sejam alcançados. Ao considerarmos os dois objetivos mais citados,

“aumentar o número de praticantes de GPT” e “capacitar treinadores(as)” podemos

afirmar que o incremento do número de participantes e da qualidade das ações

desenvolvidas por esses(as) é fundamental e completamente ligado a oferta de

oportunidades de aprendizagem acessíveis com relação à frequência, à localidade e

ao financiamento, com temas e estratégias pedagógicas motivadoras e que façam

com que os(as) treinadores(as)-aprendizes(as) sintam-se valorizados(as) e ativos(as)

durante o processo de aprendizagem, assim como considerado na teoria histórico-

cultural.

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Quadro 12 – Caracterização dos programas quanto à obrigatoriedade, número de participantes e estratégias pedagógicas adotadas.

FNG Obrigat. Participantes Estrat. Pedag. FNG Obrigat. Participantes Estrat. Pedag.

Austrália Sim/Esp. 500 a 1000 Cursos/ Eventos/ Mentoring/

Plat.Online Kosovo Sim/Sup. Menos de cem

Cursos/ Eventos/ Encontros/ P. Científica

Áustria Sim/Esp. 500 a 1000 Cursos/ Eventos/ Mentoring/

P. Científica Luxemburgo Sim/Ambas 100 a 500 Cursos, Eventos

Bangladesh Sim/Sup. Menos de cem Cursos/ Eventos Mongólia Sim/Sup. Menos de cem Cursos

Benin Sim/Sup. Menos de cem Eventos Moçambique Não 100 a 500 Eventos

Canadá Sim/Esp. Mais de 5000 Cursos/ Mentoring/

Plat.Online/ Encontros Namíbia Não Menos de cem Eventos

Dinamarca Não 500 a 1000 Cursos Noruega Não 100 a 500 Cursos/ Eventos/ Plat.Online/

Encontros

Estônia Sim/Esp. 100 a 500 Cursos Paraguai Sim/Ambas Menos de cem Cursos/ Eventos/ Mentoring

Finlândia Não Mais de 5000 Cursos/ Eventos/ Plat.Online Portugal Sim/Esp. 1000 a 5000 Cursos/ Eventos/ Mentoring/

Plat.Online/ Encontros/ P. Científica

Grã-Bretanha Sim/Esp. 1000 a 5000 Cursos/ Eventos/ Plat.Online África do Sul Sim/Esp. 1000 a 5000 Cursos/ Mentoring/ Encontros

Alemanha Sim/Esp. Mais de 5000 Cursos/ Eventos/ Mentoring/

P. Científica Cingapura Sim/Esp. 100 a 500 Cursos/ Eventos

Hong Kong Sim/Esp. 100 a 500 Cursos Eslováquia Sim/Esp. 100 a 500 Cursos/ Eventos

Irlanda Sim/Esp. 1000 a 5000 Cursos/ Eventos Suécia Não Mais de 5000 Cursos/ Eventos/ Mentoring/

P. Científica

Islândia Sim/Esp. 100 a 500 Cursos/ Eventos Trindade e Tobago

Sim/Esp. Menos de cem Cursos/ Eventos

Itália Não 100 a 500 Cursos/ Eventos/ Plat.Online Estados Unidos

Não Menos de cem Eventos

República da Coreia

Sim/Sup. Menos de cem Cursos Venezuela Sim/Esp. 100 a 500 Cursos/ Eventos

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197

Além das oportunidades de aprendizagem, outro assunto de grande

interesse pedagógico é a seleção dos participantes para a participação nos programas

de formação de treinadores(as).

Mais do que uma forma de administrar o acesso de treinadores(as) as

oportunidades de aprendizagem, as diferentes formas de seleção podem ser

importantes para que os(as) gestores(as) possam conhecer as características de seu

público. Grande parte das críticas realizadas pela literatura acadêmica às

oportunidades de aprendizagem institucional, inclusive, dizem respeito a

descontextualização dessas do processo de ensino de Esporte e práticas corporais e

a negligência das experiências prévias dos(as) aprendizes(as) em seus processos de

se tornarem treinadores(as) (PAQUETTE et al., 2014). Como afirmado por Cushion e

colaboradores (2003), os(as) treinadores(as) não podem ser considerados como

“vazios” ao iniciar um processo de formação inicial ou complementar de

treinadores(as), mas deve ser reconhecido que suas filosofias e experiências

anteriores influenciarão suas práticas.

De acordo com Trudel, Culver e Werthner (2013), agrupar os(as)

treinadores(as)-aprendizes(as) que possuem contextos de atuação similares é uma

importante estratégia para o desenvolvimento de oportunidades de aprendizagem

inovadoras. Gilbert, Gallimore e Trudel (2009) e Trudel, Culver e Werthner (2013)

argumentam que esse agrupamento de “grupos de atuação semelhante”43 é um fator

potencializador para troca de conhecimentos, pois favorece que os(as)

treinadores(as)-aprendizes(as) comparem suas necessidades e se auxiliem nos

processos de aprendizagem.

Todos esses argumentos relacionam-se muito bem com a teoria histórico-

cultural. Como já ficou claro em nosso discurso, Vygostky (2010) considera que as

interações sociais são fundamentais para a co-construção de novos conhecimentos e

a reunião de pessoas cujas atuações profissionais são semelhantes pode

potencializar a troca de conhecimentos. Isso pode ocorrer a partir de vários fatores.

Um deles é o compartilhamento de uma linguagem comum (VYGOTSKY, 2000;

PALANGANA, 2001), cujo entendimento de jargões e de termos específicos de

determinados contextos culturais favorece a comunicação e conduz as mediações e

co-construções de conhecimento, além de permitir a identificação das pessoas

43 Do original, “job-alike teams” (GILBERT; GALLIMORE; TRUDEL, 2009).

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198

envolvidas como parte de um grupo social. Da mesma forma, retomamos a discussão

sobre o sentido atribuído aos conhecimentos, que, de acordo com Vygotsky (2009),

que é a forma como cada pessoa interpreta os conhecimentos, de acordo com suas

vivências afetivas e pessoais. Ao passo que o agrupamento de pessoas com

semelhante realidade e a partir de estratégias pedagógicas que influenciem a atuação

ativa no processo de aprendizagem, poderão ser compartilhados sentidos e até

mesmo, transformados a partir das relações sociais. Por fim, um terceiro aspecto pode

ser destacado, ressaltando que as relações sociais afetivas proporcionadas por essa

identificação com o grupo podem tornar os processos de aprendizagem mais

eficientes.

Para discutir sobre esse assunto, foi realizada a questão E: “Existem

critérios de escolha dos(as) participantes dos programas de formação de

treinadores(as) de GPT?”. Vinte e quatro das trinta (80%) FNG participantes

afirmaram não haver critério de escolha dos(as) participantes dos programas.

As seis demais (20%) apresentaram diferentes possibilidades para essa

finalidade:

• Três FNG, de Áustria, Canadá e Irlanda, afirmaram possuir limite mínimo de

idade para participação.

• Duas FNG, Canadá e Grã-Bretanha, indicaram que, nos cursos avançados,

existem pré-requisitos relacionados aos programas mais básicos sobre o

tema.

• A FNG de Trindade e Tobago exige “conhecimento anterior em Ginástica”

e que o participante seja membro da instituição.

• A FNG da Venezuela afirma possuir uma lista de requisitos para seleção

dos(as) participantes.

Podemos perceber que os critérios de escolha dos(as) participantes são

relacionados a questões administrativas, como ser membro da instituição, a questões

ligadas ao conteúdo dos programas, exigindo o cumprimento de níveis mais básicos

para a progressão para outros mais avançados, ou regulatórios, como a idade mínima.

As questões pedagógicas preocupadas com as relações sociais dos(as)

envolvidos(as) e com suas experiências prévias relacionadas aos critérios de escolha

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dos participantes quase não são citadas, tendo apenas a FNG de Trindade e Tobago

afirmado a exigência de “conhecimento anterior em Ginástica” para a adesão ao

programa. Assim, como já discutido no capítulo 3, percebe-se uma necessidade

iminente de discussão a respeito desses critérios.

Tendo em vista tais aspectos da teoria histórico-cultural como essenciais

para os processos de aprendizagem de treinadores(as), consideramos os mesmos

imprescindíveis nas relações treinadores(as)-ginastas também. Como já afirmado

anteriormente, mais do que os conhecimentos adquiridos a partir das experiências

práticas, as discussões decorrentes de mediações diretas e especializadas sobre

esses assuntos são fundamentais para a co-construção de conhecimentos que de fato

possibilitem mudanças de comportamento e da forma de ensinar. Da mesma forma, é

essencial que esses conteúdos, além de terem como objetivo a discussão das

relações sociais estabelecidas nesses processos, estejam relacionados à abordagem

dos programas.

A questão H, “Os programas de formação em Ginástica para Todos

oferecidos a treinadores/professores abordam o conteúdo voltado para quais

faixas etárias? Nota explicativa: Podem ser assinaladas mais de uma

alternativa.”, dedicou-se a saber o público para qual os programas de formação de

treinadores(as) são direcionados.

• Vinte e duas FNG (73,3%) afirmaram que seus programas se destinam a

temáticas relacionadas a crianças (África do Sul, Alemanha, Austrália,

Áustria, Bangladesh, Benin, Canadá, Cingapura, Dinamarca, Eslováquia,

Estados Unidos, Finlândia, Hong Kong, Irlanda, Itália, Luxemburgo,

Moçambique, Mongólia, Noruega, Paraguai, Portugal e Suécia).

• Vinte FNG (66,6%) oferecem programas que formam para ensinar a GPT

para adolescentes: África do Sul, Alemanha, Austrália, Áustria, Benin,

Canadá, Cingapura, Dinamarca, Eslováquia, Estados Unidos, Finlândia, Hong

Kong, Irlanda, Kosovo, Luxemburgo, Moçambique, Noruega, Paraguai,

Portugal e Suécia.

• Dezenove instituições (63,3%) direcionam seus programas à grupos

multietários: Alemanha, Austrália, Áustria, Bangladesh, Benin, Cingapura,

Eslováquia, Grã-Bretanha, Hong Kong, Irlanda, Itália, Kosovo, Moçambique,

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200

Mongólia, Namíbia, Noruega, República da Coreia, Suécia e Trindade e

Tobago. O mesmo número (63,3%) para jovens (Alemanha, Austrália,

Áustria, Bangladesh, Benin, Canadá, Cingapura, Dinamarca, Eslováquia,

Finlândia, Irlanda, Islândia, Itália, Kosovo, Mongólia, Noruega, Portugal, Suécia

e Venezuela).

• Dezesseis FNG (56,6%) oferecem programas para adultos(as). São elas:

Alemanha, Austrália, Áustria, Benin, Cingapura, Dinamarca, Estônia, Finlândia,

Irlanda, Itália, Kosovo, Luxemburgo, Noruega, Portugal, Suécia e Venezuela.

• Quinze FNG (50%), para famílias, em programas comumente chamados

de “pais e mães e filhos(as)”, de Alemanha, Austrália, Áustria, Bangladesh,

Benin, Canadá, Cingapura, Finlândia, Hong Kong, Irlanda, Itália, Kosovo,

Noruega, Portugal e Suécia.

• Treze FNG (43,3%) oferecem programas para grupos de pessoas com

deficiências. As FNG são da África do Sul, Alemanha, Austrália, Benin,

Estados Unidos, Grã-Bretanha, Hong Kong, Irlanda, Itália, Mongólia, Noruega,

Portugal e Suécia.

• Apenas doze FNG dirigem seus programas para idosos(as) (África do Sul,

Alemanha, Áustria, Benin, Cingapura, Finlândia, Hong Kong, Itália, Noruega,

Portugal, Suécia e Venezuela).

• Por fim, uma FNG (3,3%), de Portugal, indicou que direciona formação de

treinadores(as) para Ginástica Laboral.

Os dados indicam que, prioritariamente, são oferecidas formações de

treinadores(as) destinadas à idade infantil, à jovem e aos grupos multietários. Embora

englobem todo o tipo de participantes, a ênfase dada a crianças, adolescentes e

jovens é compatível com as faixas etárias que mais participam dos eventos mundiais

de GPT organizadas pela FIG, a Ginastrada Mundial e o Gym for Life Challenge. Este

dado pode ser comprovado a partir de observações das autoras nesses eventos e por

Bortoleto e colaboradores (2018) para a delegação brasileira participante da edição

da WG de 2011, que contou prioritariamente com a participação de crianças e

adolescentes. Dados oficiais sobre as faixas etárias mais assíduas nesses eventos

são desconhecidos pelas autoras.

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201

O enfoque dado a essa faixa etária está de acordo com o objetivo de

“aumentar o número de praticantes de Ginástica”, uma vez que a infância é um

período propício para o desenvolvimento de afinidade com as práticas esportivas e de

outras manifestações corporais, como a GPT. Outra hipótese pode ser levantada para

esse maior oferecido: o entendimento da GPT como uma prática inicial no

desenvolvimento de habilidades de modalidades gímnicas, não sendo o foco

específico na prática de uma GPT como uma disciplina específica.

Apesar de os adultos e idosos estarem envolvidos nos chamados grupos

multietários, assim como os grupos especiais como as pessoas com deficiência e

famílias, chama-nos a atenção o pequeno oferecimento de programas para idosos.

Uma vez que a GPT é uma prática possível para qualquer pessoa interessada,

independente de nível técnico e idade, um número reduzido de ofertas de formação

de treinadores(as) para essa faixa etária é incoerente com o objetivo supracitado.

Os idosos vêm sendo cada vez mais incentivados à prática da GPT na

Europa, em especial devido à promoção do evento Golden Age Gym Festival,

promovido pela União Europeia de Ginástica. O evento, que terá sua sétima edição

realizada em 2020 na Grécia, tem como objetivos oferecer possibilidades de prática

de atividade física para pessoas com mais de 50 anos, além do oferecimento de

atividades culturais, todas em grupos, de forma a evitar o isolamento, comum entre

pessoas idosas (UEG, 2017). Em sua última edição, realizada em Pesaro, na Itália,

em 2018, o evento contou com mais de 2000 ginastas de 26 países da Europa e do

Japão (convidado especial). Na edição anterior, em 2016, na Eslovênia, foram

registrados 1800 ginastas (UEG, 2018). Assim, os dados demonstram crescimento no

número de participantes do evento e conduzem à reflexão a respeito da possibilidade

e benefícios de uma formação específica de treinadores(as) para essa faixa etária.

Dessa forma, o objetivo específico de “aumentar o número de praticantes

de GPT” poderia ser mais facilmente alcançado com uma maior reflexão e incentivo

de grupos especiais, como idosos e pessoas com deficiência, ainda pouco

contemplados pelos programas de formação de treinadores(as) de GPT.

Assim, com programas mais dedicados a um público específico, haverá a

possibilidade de reunir treinadores(as) que trabalham em contextos semelhantes, o

que é defendido pela literatura acadêmica como um ponto positivo na co-construção

de conhecimentos. Como argumentado por Lemyre, Trudel e Durand-Bush (2007),

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202

programas de formação de treinadores(as) em localidades como Reino Unido e

Canadá têm sido reestruturados para oferecer programas específicos para grupos

diferentes de treinadores(as), a fim de que esses(as) se especializem.

Com relação às temáticas tratadas, a questão L foi realizada: “O conteúdo

dos programas de formações oferecidas refere-se a: Nota explicativa: Podem

ser assinaladas mais de uma alternativa.”. A incidência de respostas é similar para

grande parte dos assuntos discutidos e pode ser observada abaixo.

• Vinte e sete das trinta FNG (90%) afirmam que metodologias de ensino

são parte do conteúdo dos programas oferecidos. São as FNG de África do

Sul, Alemanha, Austrália, Áustria, Canadá, Cingapura, Dinamarca, Eslováquia,

Estados Unidos, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong, Irlanda,

Islândia, Itália, Kosovo, Luxemburgo, Moçambique, Mongólia, Namíbia,

Noruega, Portugal, República da Coreia, Suécia, Trindade e Tobago e

Venezuela.

• Vinte e cinco FNG (83,3%) tratam de aspectos motivacionais: África do Sul,

Alemanha, Austrália, Áustria, Bangladesh, Benin, Canadá, Cingapura,

Dinamarca, Eslováquia, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha,

Irlanda, Islândia, Itália, Kosovo, Luxemburgo, Moçambique, Noruega, Portugal,

Suécia, Trindade e Tobago e Venezuela.

• Vinte e três (76,6%), de práticas recreativas. São elas: África do Sul,

Alemanha, Austrália, Áustria, Bangladesh, Benin, Canadá, Cingapura,

Dinamarca, Eslováquia, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Irlanda, Islândia,

Itália, Kosovo, Moçambique, Noruega, Portugal, Suécia, Trindade e Tobago e

Venezuela. E o mesmo número (76,6%) discute aspectos técnicos: África

do Sul, Austrália, Áustria, Benin, Canadá, Cingapura, Dinamarca, Eslováquia,

Estados Unidos, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong, Irlanda,

Islândia, Itália, Kosovo, Luxemburgo, Noruega, Portugal, Suécia, Trindade e

Tobago, e Venezuela.

• Vinte e uma FNG (70%) tratam da comunicação treinador(a)-aluno(a):

África do Sul, Alemanha, Austrália, Áustria, Bangladesh, Canadá, Cingapura,

Dinamarca, Eslováquia, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong, Irlanda,

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203

Kosovo, Moçambique, Noruega, Paraguai, Portugal, Suécia e Trindade e

Tobago.

• Vinte instituições (66,6%) discutem postura e comportamento dos

treinadores(as), de Austrália, Áustria, Bangladesh, Benin, Canadá, Cingapura,

Dinamarca, Eslováquia, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Irlanda, Islândia,

Itália, Kosovo, Luxemburgo, Noruega, Portugal, Suécia, e Venezuela.

• Dezessete FNG (56,6%) oferecem formação de treinadores(as) sobre

gestão de aulas e programas: Alemanha, Austrália, Áustria, Canadá,

Cingapura, Dinamarca, Eslováquia, Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Islândia,

Itália, Kosovo, Luxemburgo, Noruega, Portugal, e Trindade e Tobago.

• Outras quatro FNG citam diferentes conteúdos: a FNG da Áustria discute

enquadramento jurídico; a FNG do Canadá, segurança e decisões éticas;

o(a) respondente(a) de Portugal citou os padrões motores gímnicos

(fundamentos); e, por fim, a FNG da Venezuela discute a organização de

eventos de GPT, o uso de materiais não convencionais, elaboração de

coreografias e vestuários44.

As respostas obtidas demonstram que os conteúdos referentes às

metodologias de ensino da Ginástica são os mais ressaltados pelos(as) respondentes.

Estes conteúdos relacionam-se com dois dos objetivos mais citados dos programas

de formação de treinadores(as), melhorar a qualidade das aulas de Ginástica e

capacitar treinadores(as) para o ensino da GPT. Essa maior incidência é positiva pois

ressalta que, mais do que aspectos técnicos, o modo de ensinar é destacado pelas

FNG.

Assim como de acordo com a teoria histórico-cultural, o enfoque dado as

relações sociais que se estabelecem nos processos de aprendizagem são

fundamentais para que estes aconteçam e sejam significativos (VYGOTSKY, 1997;

1998; 2009). Claramente, maior detalhamento sobre quais os métodos de ensino da

Ginástica que são discutidos nos programas é necessário para que possa discutir

adequadamente esse assunto.

44 Do original, “Organizacion eventos GPT. Uso de material no convencional. Elaboracion de coreografias y vestuarios.” (Respondente da Venezuela, tradução da autora).

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204

Curioso notar que os dados obtidos nessa pesquisa parecem ser contrários

aos apontados por Stoszkowski e Collins (2016). Os autores encontraram que os

conteúdos que os(as) treinadores(as)-aprendizes(as) participantes de programas de

formação consideram menos úteis são os conteúdos pedagógicos e específicos de

um esporte ou uma prática corporal, apesar de terem apontado essa temática como

necessária para atuações de excelência. Não possuímos com esse instrumento de

pesquisa a impressão dos(as) treinadores(as)-aprendizes(as) sobre os

conhecimentos co-construídos nessa temática, mas o estudo apresentado relembra a

consideração de que os conhecimentos, apesar de serem abordados nos programas,

podem não ser efetivamente discutidos.

O segundo conteúdo mais citado pelas FNG, os aspectos motivacionais,

apresentam outra interessante convergência com a teoria de Vygotsky. Ao

considerarmos que 25 FNG discutem com seus(suas) treinadores(as) estratégias para

que as oportunidades de aprendizagem sejam mais significativas para os(as)

ginastas, encontramos potenciais e relevantes discussões acerca do papel da

afetividade para o desenvolvimento de vivências relacionadas aos processos de

aprendizagem, assim como sugere Vygotsky (1997; 1998; 2009). A mesma discussão

pode ser levantada para os conteúdos “comunicação treinador(a)-atleta” e “postura

dos(as) treinadores(as)”, menos mas também citados. Esses conteúdos estão de

acordo com os encorajados por Douglas e Carless (2008), que ressaltam a

importância ética e moral de treinadores(as) estarem atentos ao conceito amplo de

saúde e a aspectos relacionados ao desenvolvimento e ao bem-estar de seus(suas)

atletas, participando de seu desenvolvimento pleno, assim como apontado por Jacobs

e colaboradores (2015). Da mesma forma, Soares, Lima e Schiavon (2018) ressaltam

que o(a) treinador(a) deve ter a função de ouvir e auxiliar os(as) atletas em suas

necessidades individuais e encorajá-lo(as) em seu desenvolvimento moral (PURDY;

POTRAC; PAULAUSKAS, 2016), a partir do exercício do engrossment, (NODDINGS,

2002), uma tentativa deliberada de ver, ouvir ou sentir o que o(a) atleta está tentando

transmitir.

Destacamos ainda outros conteúdos citados, especialmente “encorajar

treinadores(as) e ginastas a serem criativos(as)”. Esta mediação em meso nível

(JONES; THOMAS, 2015) realizada pela FNG da Grã-Bretanha é interessante pois

desperta reflexões dos(as) treinadores(as) envolvidos(as) sobre as estratégias

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205

pedagógicas que irão adotar em suas aulas para que estes objetivos sejam

alcançados.

O que se espera, no entanto, é que tais aspectos não sejam apenas

direcionados às relações sociais entre treinadores(as) e ginastas, mas nos processos

de aprendizagem dos(as) próprios(as) treinadores(as). Essa discussão tem estreita

ligação com os(as) mediadores(as) responsáveis pelas oportunidades de

aprendizagem dos(as) treinadores(as)-aprendizes(as). Paquette e colaboradores

(2014) chamam a atenção para uma cuidadosa seleção e treinamento dos(as)

mediadores(as) desses programas, pois essas pessoas influenciam grandemente na

instituição das diretrizes pensadas para essas oportunidades de aprendizagem.

Assim, realizamos a questão K, “Quem ministra os programas de

formação de treinadores(as) em Ginástica para Todos? Nota explicativa: Podem

ser assinaladas mais de uma alternativa.”. Foram assinaladas as seguintes

pessoas:

• Treinadores(as) mais experientes, por catorze FNG (46,6%) (África do Sul,

Alemanha, Áustria, Benin, Cingapura, Dinamarca, Eslováquia, Estônia,

Islândia, Itália, Kosovo, Luxemburgo, Portugal e Venezuela).

• Setor ou pessoa responsável da FNG, por treze respondentes (43,3%) das

seguintes instituições: Alemanha, Áustria, Bangladesh, Estados Unidos,

Hong Kong, Islândia, Itália, Luxemburgo, Namíbia, Noruega, Paraguai, Portugal

e Venezuela.

• O(a) responsável pelo Comitê de GPT, nas doze instituições (40%) de

África do Sul, Áustria, Benin, Estados Unidos, Eslováquia, Estônia, Hong Kong,

Itália, Kosovo, Moçambique, Trindade e Tobago e Venezuela.

• Um(a) coach developer certificado(a), nas nove FNG (30%) de África do Sul,

Alemanha, Bangladesh, Canadá, Cingapura, Grã-Bretanha, Hong Kong,

Irlanda e Kosovo.

• Profissionais externos(as) contratados(as) pelas FNG, em sete FNG

(23,3%) (África do Sul, Áustria, Eslováquia, Estônia, Kosovo, Luxemburgo e

Mongólia).

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206

• Profissionais advindos(as) de parcerias com universidades ou centros de

pesquisa, nas seis FNG (20%) de Alemanha, Áustria, Estônia, Kosovo,

República da Coreia e Venezuela.

• Outros: a FNG da Austrália, “experts treinados(as) pela Associação

Nacional em GPT e apresentadores(as) treinados(as)”; o(a) respondente de

Finlândia afirmou que a FNG possui “possuímos um grupo de

professores/instrutores que ministram os cursos. Eles não trabalham na

Federação em tempo integral, mas são pagos pelos cursos”45; Alemanha,

“isso depende da licença/qualificação da pessoa. É necessária

qualificação especial ou conhecimento46”; na FNG da Suécia, a resposta

dada foi: “nós temos muitas pessoas atuando em nossos programas em

vários contextos – essa não é uma profissão em nossa Federação47”.

As diferentes opções assinaladas pelas FNG demonstra haver pouca

uniformidade entre os(as) possíveis mediadores(as) responsáveis pelos programas

de formação de GPT. Diferentemente de outras questões, em que ao menos uma

resposta se destacava com mais de 20 incidências, com relação aos(às)

mediadores(as) responsáveis essa linearidade não é percebida. Essa observação

demonstra que há pouco conhecimento produzido acerca das características e

competências dos(as) mediadores(as) responsáveis pelas oportunidades de

aprendizagem de treinadores(as), uma vez que essa função é desempenhada por

pessoas cujas formações para a atuação nessa função é distinta.

É desconhecida a natureza das relações dos(as) treinadores(as) mais

experientes apontados(as) como responsáveis pelas oportunidades de aprendizagem

por conta de uma limitação do instrumento de pesquisa. No entanto, essa perspectiva

coloca em evidência a teoria histórico-cultural, ao considerar que a pessoa mais capaz

e que possua conhecimentos aprofundados acerca do contexto e da natureza da

prática a que se dedica a mediar exerça esse papel.

45 Do original, “We have a group of teachers/instructors who deliver the courses. They don't work for us full-time but they are paid for teaching a course” (Respondente da Finlândia, tradução da autora). 46 Do original, “It depends on the license/special degree of the person. The need a special qualification or knowledge” (Respondente da Alemanha, tradução da autora). 47 Do original, “We have a lot of persons performing our educations with various backgrounds - it is NOT a profession within the swedish gymnastics federation” (Respondente da Suécia, tradução da autora).

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207

A situação observada aponta, em acréscimo, que a experiência prática

como treinador(a) parece ser tão importante quanto a formação específica para ser

um(a) mediador(a) de processos de aprendizagem de treinadores(as) ou o

pertencimento a um grupo de pessoas dedicadas a pensar estes programas em

específico, como é o caso dos setores responsáveis por formação de treinadores(as),

segunda resposta com maior número de incidências. Isso demonstra uma visão mais

voltada à técnica por parte de certos programas de formação de treinadores(as), que

se apoiam apenas na experiência prévia de determinadas pessoas e podem, muitas

vezes, estar apenas reforçando comportamentos e modos de ensinar a Ginástica já

habituais, sem reflexões extras. Essa suposição é apoiada por Stoszkowski e Collins

(2016), que afirmam que apesar de o meio social encorajar treinadores(as)-

aprendizes(as) a considerar relevante o conhecimento já praticado por outras

pessoas, tradicional e de precedência histórica, não é necessariamente verdade que

este conhecimento poderá ser aproveitado para todos os contextos. Por esse motivo,

a estratégia pedagógica empregada precisa possibilitar a reflexão a respeito dos

específicos meios de atuação dos(as) treinadores(as), para que haja co-construção

de conhecimentos importantes a todas as partes envolvidas.

O Comitê de GPT exerce função fundamental para a formação de

treinadores(as) em 12 FNG, o que vem ao encontro de nossa análise sobre a

importância desse órgão, em especial quando composto por especialistas na prática

e pessoas disponíveis para a formação de treinadores(as).

A participação de desenvolvedores(as) de treinadores(as) aparece como

uma opção de apenas nove FNG, reiterando que essa é uma posição recente (ICCE,

2014). Esta função vem sendo apresentada para auxiliar países, organizações

esportivas, federações internacionais e instituições educativas para identificar, treinar,

suportar e auxiliar as pessoas responsáveis pela formação e desenvolvimento de

treinadores(as) para todos os níveis e contextos do esporte e práticas corporais

(MCQUADE; NASH, 2015).

Por fim, destacamos que as parcerias entre universidades e FNG é uma

prática apontada como recorrente por seis FNG. As universidades podem auxiliar em

processos de aprendizagem a partir de pesquisas, disponibilização de recursos

humanos e materiais, como sugerido por Milistetd (2015).

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Para aprofundamento na discussão desses dados, relacionamos os tipos

de oportunidades de aprendizagem disponibilizadas pelas FNG com o perfil dos(as)

mediadores(as) apontados:

Gráfico 5 – Relação entre a natureza dos(as) mediadores(as) responsáveis e as estratégias pedagógicas dos programas de formação de treinadores(as) de GPT.

Proporcionalmente, podemos perceber que os programas que contam com

a mediação de desenvolvedores(as) de treinadores(as) oferecem mais tipos de

oportunidades de aprendizagem, o que nos conduz a considerar que a formação

desses(as) profissionais vêm sendo benéfica para novas abordagens dos programas

de formação de treinadores(as) de GPT. Ao mesmo tempo, como é plausível, os

dados indicam que as Pesquisas científicas são mais incentivadas em programas que

possuem parcerias com universidades nos processos de aprendizagem.

Assim como é importante considerar os(as) mediadores(as) responsáveis

desses processos de aprendizagem, as avaliações consistem em um aspecto

importante das oportunidades de aprendizagem. As avaliações precisam estar

alinhadas às prerrogativas dos programas, especialmente aos objetivos e às

abordagens, pois comumente são tais processos que norteiam a atenção dos(as)

treinadores(as)-aprendizes(as), os conteúdos e propostas a que irão se dedicar com

mais ênfase. Nas palavras de Leonardi (2017):

12

11

9

9

7

6

12

12

9

7

4

4

4

4

2

2

2

2

3

3

2

2

2

3

3

3

1

2

2

2

2

3

2

1

Treinadores(as) experientes (14)

Setor responsável (13)

Comitê de GPT (12)

Coach Developers (9)

Profissionais externos(as) (7)

Parcerias com universidades (6)

Cursos Eventos Mentoring Pesquisa Científica Plataforma Online Encontros

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209

Avaliar é um processo dinâmico e complexo, que pressupõe objetivos educacionais claros e pré-estabelecidos (DIAS SOBRINHO, 2002; PASQUALI, 2010); permite observar o processo, identificar e quantificar o que foi adquirido, o que é necessário ser mudado (ou aprendido) e é imperativo para tomar decisões sobre as próximas etapas do processo (FERNANDES, 2006; PASQUALI, 2010). Avaliar é possibilitar a autonomia no educando para buscar soluções próprias para os problemas vividos (CARDINET, 1986; PERRENOUD, 1999).

Sendo assim, as avaliações são parte importante dos programas de

formação e traduzem as concepções de aprendizagem e conhecimento envolvidos,

assim como discutido no Capítulo 3. Como destacado por Stoszkowski e Collins

(2016), as avaliações não podem ser meras formas de incentivar a repetição e

reprodução de práticas consideradas como desejáveis e as informações serem

aceitas como acabadas (JONES; CASSIDY; POTRAC, 2004; PAQUETTE et al.,

2014), mas devem ser mais um meio pelo qual o(a) treinador(a)-aprendiz(a) co-

construa conhecimentos. Dessa forma, interessa-nos conhecer de que forma as

avaliações são realizadas nos programas analisados.

Para questionarmos as FNG sobre as avaliações em seus processos de

aprendizagem, realizamos a pergunta M: “Quais estratégias de avaliação são

utilizadas neste programa? Nota explicativa: Podem ser assinaladas mais de

uma alternativa.”. As respostas dadas indicam que

• Vinte e uma FNG (70%) realizam avaliações a partir de provas práticas

(Austrália, Áustria, Bangladesh, Finlândia, Grã-Bretanha, Alemanha, Irlanda,

Islândia, Itália, Luxemburgo, Mongólia, Moçambique, Namíbia, Noruega,

Portugal, África do Sul, Cingapura, Eslováquia, Suécia, Trindade e Tobago e

Venezuela.).

• Vinte FNG (66,6%), por provas escritas. São elas: Austrália, Áustria,

Dinamarca, Estônia, Grã-Bretanha, Alemanha, Hong Kong, Irlanda, Islândia,

Itália, Kosovo, Mongólia, Namíbia, Noruega, Portugal, África do Sul, Cingapura,

Eslováquia, Suécia e Venezuela.

• Dezesseis instituições (56,6%) se utilizam de frequência em etapas

presenciais ou número de acessos à plataforma online de formação, das

FNG de Austrália, Áustria, Benin, Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong, Irlanda,

República da Coreia, Kosovo, Luxemburgo, Noruega, Portugal, África do Sul,

Cingapura, Suécia e Trindade e Tobago.

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• Três FNG (10%) (Benin, Canadá e Kosovo) realizam entrevistas; o mesmo

número, de avaliações por competência por vídeo (Bangladesh, Canadá e

Mongólia).

• Duas FNG (6,6%) afirmaram avaliar monografias, de Finlândia e Itália. O

mesmo número de FNG não se utiliza de nenhum tipo de avaliação

(Paraguai e Estados Unidos).

• Três outras respostas foram enviadas: a FNG do Canadá realiza avaliação

pessoal e envio de tarefas; a FNG de Finlândia afirma utilizar avaliação

contínua durante o programa, com avaliações individuais, pelos pares e

pelos(as) professores(as); por fim, a FNG de Portugal se utiliza de planos de

treino para os níveis iniciantes e planejamento anual, para os mais

avançados.

As respostas mostram que grande parte das FNG ainda centram seus

processos avaliativos em propostas tradicionais, como provas práticas e escritas.

Nesse contexto, as avaliações enfatizam correspondências com respostas certas e

erradas (PAQUETTE et al., 2014), que na maioria das vezes relacionam-se a uma

perspectiva em que os conhecimentos são entendidos como perfeitos e imutáveis,

que devem ser transmitidos e reproduzidos igualmente em todos os contextos

(STODTER; CUSHION, 2014). Assim, correspondem a uma perspectiva de

aprendizagem bastante diferente da entendida na teoria histórico-cultural e mesmo

em outras abordagens de perfil menos tradicional. Essas estratégias de avaliação

acabam por não incentivar propostas em que os(as) treinadores(as)-aprendizes(as)

possam mostrar competências e conhecimentos, encorajar reflexões e facilitar os

processos efetivos de aprendizagem.

Reforçamos a importância de processos avaliativos que considerem

perspectivas sociais, integrando as estratégias pedagógicas significativas. Além

disso, o enfoque voltado para a co-construção de conhecimentos e não a visão do

erro de teorias pré-concebidas é fator fundamental para aproximar os conhecimentos

discutidos nos programas de formação de treinadores(as) às realidades de atuação

dos(as) treinadores(as). Estratégias de avaliação que se pautam nessa abordagem

de continuação de um processo de aprendizagem (e não como encerramento de um)

estão condizentes com a consideração de Vygotsky (1997) de que a aprendizagem

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211

precisa se adiantar a um novo estágio de desenvolvimento e não se pautar em níveis

já atingidos. Propostas que se encaixem nessa perspectiva, como as entrevistas e as

monografias são pouco utilizadas e iniciativas como a apontada pela FNG da

Finlândia, como avaliações individuais, dos pares e de mediadores(as) responsáveis,

são exclusividade desse órgão.

Outros aspectos complementares que investigamos com relação aos

programas de formação de treinadores(as) foram os níveis de progressão dos

programas e financiamento das participações.

Realizou-se a questão F, “Algum programa de formação em Ginástica

para Todos possui progressão?”. As respostas obtidas foram:

• Não, para dezessete FNG (56,6%) (Alemanha, Bangladesh, Benin, Cingapura,

Eslováquia, Estados Unidos, Estônia, Hong Kong, Islândia, Kosovo, Mongólia,

Moçambique, Namíbia, Paraguai, República da Coreia, Suécia e Venezuela).

• Sim, para treze FNG (43,3%) (África do Sul, Austrália, Áustria, Canadá,

Dinamarca, Finlândia, Grã-Bretanha, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Noruega,

Portugal e Trindade e Tobago).

O Quadro 13 será utilizado para descriminar como ocorrem essas

progressões.

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Quadro 13 – Progressões destacadas pelas FNG para os programas de formação de treinadores(as) de GPT.

FNG Progressões (texto traduzido pela autora) Progressões (texto original do(a) respondente)

Austrália Cursos de treinadores(as) de GPT iniciantes, intermediários e avançados e Kindergym (Ginástica para crianças) intermediário.

Gymnastics for All Coach Courses Beginner, Intermediate and Advanced and Kindergym Intermediate.

Áustria Quatro níveis: monitores(as), instrutores(as), treinador(a) de nível básico e treinadores(as) (o mesmo programa para todos os esportes na Áustria).

4 Levels: 1 Übungsleiter, 2 Instructor, 3 Basic Coach, 4 Coach (the same in all sports in Austria).

Canadá Depende do nível do(a) atleta com quem o(a) treinador(a) está trabalhando. It depends on the level of athlete that coaches are working with.

Dinamarca Dois níveis. Two levels.

Finlândia

Nós oferecemos formação para GPT em dois níveis. Existem cursos diferentes para crianças, adultos e apresentações/coreografias. No nível um, existem diferentes cursos para serem escolhidos; alguns deles são conectados com outros (programas) e outros podem ser feitos individualmente.

We offer GaF education on two levels. There are different courses for children, adults and performances/choreography. On level one there are many different courses to choose; some of them are connected to each other (program) and some of them can be done individually.

Grã-Bretanha

Nossos cursos ainda são chamados de GPT, no entanto, existem três níveis para estes. Existem três níveis de formação para crianças pequenas e três níveis para Ginástica Freestyle. Outra formação em GPT é a partir de módulos adicionais que podem ser acessados do nível um ou nível dois de GPT.

Our courses are still called General Gymnastics however there are 3 levels to these. There are 3 levels for Pre-School education and 3 levels for Freestyle gymnastics. Other GfA education is in the form of add-on modules which can be accessed from Level 1 or Level 2 of General Gymnastics.

Irlanda Atualmente existem três níveis. There are 3 levels currently.

Itália Nós temos dois níveis regionais e um nível nacional especificamente sobre GPT.

We have two regional level and one national level about specific items of gymnastics for all.

Luxemburgo Uma formação de base e formações específicas diversas. Une formation de base et formations spécifiques diverses.

Noruega Níveis um e dois. Level 1 and Level 2.

Portugal Curso de Treinadores de GpT Grau I (intervenção Nacional), Grau II (Coreografia e Exibição Internacional).

África do Sul O curso de entrada da FNG da África do Sul, seguido de workshops e do curso da FIG Fundamentos da Ginástica.

The SAGF GFA entry level course, followed by GFA workshops and the FIG Foundation of Gymnastics course.

Trindade e Tobago

Módulos da Universidade de Trindade e Tobago: Certificado em Ginástica-BA/BEd PE Ensino e Treinamento em dois níveis; algumas pessoas realizam o curso da FIG Fundamentos da Ginástica.

Modules at University of Trinidad & Tobago: Certificate-Gymnastics Skills-BA/BEd PE Teaching & Coaching Gymnastics 2 levels- some go on to FIG Foundations Course.

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Os níveis de progressão demonstram continuidade e aprofundamento de

discussões a respeito de assuntos específicos. O fato de mais da metade das FNG

não oferecem progressões em seus programas de formação de treinadores(as) de

GPT pode demonstrar, como já discutido anteriormente, que esses programas são

básicos e iniciantes, não promovendo discussões aprofundadas sobre GPT. Isso

ocorre, inclusive, retomando discussões anteriores, pois a GPT é vista como um

conhecimento básico para outras práticas ginásticas e não como prática com

conhecimentos próprios, em muitas localidades.

Dentre os programas que possuem progressões, destacamos basicamente

quatro possibilidades de respostas. Algumas FNG ofereceram respostas muito

simples, que nos impedem de compreender qual o funcionamento de suas

progressões. Outro grupo é composto por FNG que balizam as progressões dos

programas pelo nível técnico dos(as) ginastas; outras FNG realizam diferentes níveis

de formação de acordo com os cargos exercidos pelos(as) treinadores(as), seguindo

a proposta também aconselhada pelo ICCE (2013), com instrutores(as),

treinadores(as) assistentes, treinadores(as) responsáveis, entre outras

nomenclaturas; por fim, o maior número de instituições oferecem suas formações

baseadas em progressões de conhecimentos (iniciante, intermediário e avançado),

por vezes com módulos básicos obrigatórios e outros complementares específicos.

Além disso, é interessante notar que os programas de formação de

treinadores(as) considerados recentes não possuem progressões e, dos nove

programas considerados consolidados, apenas um não possui progressão

(Alemanha). Assim, podemos considerar que a existência de etapas para a formação

de treinadores(as) é um fator que, possivelmente, se mostra necessário ao passo que

as FNG vão amadurecendo o oferecimento de tais programas e percebem a

necessidade de formação continuada ou mesmo de aprofundamento teórico-prático

nos assuntos a que desejam capacitar.

Por fim, discussões podem ser feitas sobre o financiamento da participação

nos programas de formação de treinadores(as) das FNG participantes. Realizamos a

questão D: “Os programas de educação de treinadores/professores de Ginástica

para Todos são pagos e/ou oferecidos apenas para membros da FNG? Nota

explicativa: Podem ser assinaladas mais de uma alternativa.”.

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• Vinte FNG (66,6%) afirmaram que os programas são pagos (África do Sul,

Austrália, Áustria, Canadá, Cingapura, Dinamarca, Eslováquia, Estados Unidos

Estônia, Finlândia, Grã-Bretanha, Hong Kong, Irlanda, Islândia, Itália, Kosovo,

Noruega, Portugal, Suécia e Trindade e Tobago).

• Nove FNG (30%) indicaram que os programas são oferecidos apenas para

membros da FNG, nos países África do Sul, Áustria, Bangladesh,

Luxemburgo, Mongólia, Namíbia, Noruega, Suécia e Trindade e Tobago.

• Oito FNG (26,6%) responderam que os programas são gratuitos: África do

Sul, Áustria, Bangladesh, Benin, Kosovo, Moçambique, Paraguai e República

da Coreia.

• Seis FNG complementaram suas respostas, afirmando que: Áustria, depende

do curso; Benin, “há muitos clubes informais e é preciso trabalhar com

mais de 5000 pessoas”48; Islândia, “pagos pelos(as) participantes ou pelos

clubes”49; Noruega, “alguns dos cursos para adultos que são oferecidos a

não membros da federação”50; Suécia, “por favor, note, este não é um

curso anual. Curso de aproximadamente 20h de duração”51; Venezuela,

“são estabelecidos convênios com instituições educativas públicas e

privadas, FNG e governamentais”52.

Os dados indicam que grande parte das FNG oferecem programas de

formação de treinadores(as) pagos pelos(as) próprios(as) treinadores(as)-

aprendizes(as) ou por seus clubes e instituições de trabalho. Algumas FNG

justificaram a cobrança desse pagamento, como os(as) respondentes de Benin e

Suécia, afirmando que o pagamento é necessário para o financiamento da formação

de muitos(as) treinadores(as) e que essas iniciativas não são anuais, considerando,

em nossa interpretação, que o valor pago não sobrecarrega os(as) treinadores(as)-

aprendizes(as).

48 Do original, “Paid/free: It depends on...” (Respondente da Áustria, tradução da autora). 49 Do original, “Paid by participants or their club” (Respondente da Islândia, tradução da autora). 50 Do original, “Some of the courses for adults are offered to non members of the Federation” (Respondente da Noruega, tradução da autora). 51 Do original, “Please note - this is not year-programmes rather courses approx. 20h long” (Respondente da Suécia, tradução da autora). 52 Do original, “Se establecen convenios con instituciones educativas publicas y privadas, FVG y gobernaciones” (Respondente da Venezuela, tradução da autora).

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Claramente, o financiamento é necessário para que as ações das FNG

possam ocorrer, uma vez que na maioria dos casos essas não são iniciativas públicas

ou de parcerias com outros órgãos (com exceção da clara resposta do(a) respondente

da FNG da Venezuela). Pôde ser visto que muitas instituições realizam contratações

de profissionais externos(as), treinadores(as) mais experientes ou

desenvolvedores(as) de treinadores(as), o que gera um custo para as FNG. Além

disso, o pagamento desses programas pode ser uma fonte de renda para as FNG que

possuem órgãos ou profissionais dedicados exclusivamente a essa função.

Com base em todos os dados apresentados, podemos afirmar que os

programas de formação de treinadores(as) de GPT dividem-se em iniciativas já

consolidadas, com mais de 10 anos de realização, programas em

desenvolvimento, e um grupo relevante de recentes propostas, com menos de

um ano, especialmente composto por FNG não europeias. Da mesma forma, os

programas possuem número de participantes e frequência relacionados às

propostas e realidade de cada localidade.

Pôde ser constatado que os programas abordam a GPT como uma

prática “participativa” e “participativa e competitiva”, assim como considerado

pela FIG (2017). De forma geral, os objetivos abordados são semelhantes

independente da abordagem de GPT, com foco em aumentar o número de

praticantes de Ginástica e capacitar treinadores(as) para o exercício dessa

função.

Sobre o desenvolvimento dos programas, foi observado que a maioria

das oportunidades de aprendizagem e propostas avaliativas são pautadas em

modelos tradicionais, sendo as propostas mais inovadoras desenvolvidas em

programas que contam com desenvolvedores(as) de treinadores(as) entre

seus(suas) mediadores(as) responsáveis. Dentre as propostas mais inovadoras,

a mais recorrente é a plataforma online, a qual também é a que possui menos

mediações diretas, o que é contrário ao indicado pela teoria histórico-cultural.

Também parece ser tradicional o modelo adotado de seleção de participantes

das propostas de formação, sendo estas voltadas às questões administrativas

e pouco relacionadas a conhecer o(a) treinador(a)-aprendiz(a) e seu contexto de

atuação antes da realização das atividades dos programas. Outra indicação que

se pôde constatar é que a obrigatoriedade das formações de treinadores(as)

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parece ser um fator incentivados das reflexões a respeito das oportunidades de

aprendizagem oferecidas.

Os conteúdos envolvidos nos programas envolvem temas

relacionados especialmente pessoas jovens e grupos multietários, com

conteúdos relacionados às metodologias de ensino. Comumente, as

oportunidades de aprendizagem são mediadas por treinadores(as) mais

experientes e pessoas pertencentes ao quadro administrativo das FNG (Comitê

de GPT, Comitê de Educação e outros setores). Grande parte das iniciativas é

paga (20 de 30 FNG participantes).

De modo geral, não foi possível estabelecer parâmetros comuns entre

diferentes propostas formativas, embora fique claro que experiências podem

ser compartilhadas entre gestores(as) e treinadores(as)-formadores(as) das

FNG para que reflexões quanto a abordagem e desenvolvimento dos programas

possam acontecer de forma inovadora.

e) A coerência estabelecida entre os programas e a concepção de GPT das

FNG

Conforme afirmado anteriormente, compreendemos que cada FNG possui

uma administração e características locais próprias (que incluem as leis nacionais, a

tradição ginástica, o desenvolvimento da Educação Física, por exemplo) que

direcionam os programas de formação de treinadores(as) oferecidos. Embora seja

plausível e, porque não dizer, adequado, considerar que existam diferenças entre as

abordagens, formatos e desenvolvimento dos programas entre as instituições, parece-

nos claro que a coerência interna desses programas é um aspecto que deve ser

bastante sólido. Como já discutido amplamente, a concepção de GPT, a abordagem

dos programas, seus objetivos e o que é realizado para que estes últimos sejam

atingidos são quesitos que precisam estar ligados e alinhados e serem fruto de

reflexões dos(as) gestores das FNG. Assim, de forma intencional e não aleatória, as

mediações nos diferentes níveis poderão conduzir a forma como a GPT é entendida,

trabalhada e difundida em cada uma das localidades.

Diferentes perspectivas não acontecem apenas com a GPT, que adquirem

diferentes significados em cada grupo social, inclusive podendo variar em uma mesma

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217

localidade. Essa diferente significação constitui uma característica ainda mais

expressiva para essa prática, por sua própria amplitude.

Por isso, conhecer as concepções de GPT de cada FNG é importante pois

estas informam os programas de formação de treinadores(as), como já explicitado

anteriormente. Sendo assim, destacamos as 30 FNG que afirmaram oferecer tais

programas, analisando-as de forma comparativa com os aspectos constatados sobre

a formatação, abordagem e desenvolvimento dos programas de formação de

treinadores(as) de GPT.

Esta análise comparativa foi constituída, portanto, em dois grupos de FNG:

os que possuem coerência entre o que pensam de GPT e a proposta de formação, e

os que não possuem essa coerência. O primeiro grupo de análise demonstra que a

competição, embora não seja muitas vezes considerada na abordagem dos

programas, é um assunto recorrente para as FNG. Essa discussão é constatada pelo

estudo das concepções de GPT e objetivos dos programas apontados pelas FNG, que

incluem termos relacionados às competições, competições de baixo nível técnico e a

possibilidade de a GPT ser uma prática tanto competitiva quanto não competitiva.

Dentre essas, as FNG da Alemanha, Finlândia, Grã-Bretanha, Suécia, Trindade e

Tobago e Venezuela destacam que o oferecimento de programas de formação de

treinadores(as) de suas FNG possuem abordagem participativa, ou seja, o foco

principal não está na adesão a competições.

Ao mesmo tempo, a FNG da Irlanda, mesmo considerando em sua

definição que a GPT é uma prática voltada exclusivamente à participação, caracteriza

seu programa de formação de treinadores(as) de GPT com uma abordagem em

ambas as possibilidades. Tais dissonâncias entre as concepções de GPT e os

programas oferecidos também podem ser observadas nos casos das FNG de

Bangladesh e Hong Kong, que apontam como um de seus objetivos “obter melhores

resultados em competições internacionais”, ao mesmo tempo que caracterizam uma

abordagem participativa.

Essa discussão pode trazer muitos apontamentos interessantes, caso haja

o direcionamento para outras perspectivas teóricas, como por exemplo, aquelas que

discutem as práticas corporais e suas interfaces como brincadeira, jogo e esporte

(KNIJNKI; KNIJNKI, 2004). Entendendo que a GPT é uma prática que transcende

esses limites, pode adquirir ora uma característica não-séria, ligada ao

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218

desprendimento de interesses materiais e seguindo uma certa ordem e certas regras

(HUIZINGA, 2001), ora aproximar-se um pouco mais do esporte (BRUHNS, 1996),

com regras, busca de rendimento, medalhas e avaliações externas. Essas diferentes

possibilidades que permeiam a prática da GPT podem justificar como, em muitos

casos, é retratada como uma competição, que embora seja diferente das realizadas

em outras disciplinas ginásticas, ainda assim buscam a superação de resultados com

base em uma referência técnica.

No entanto, essa não é a abordagem teórica dessa tese e essa discussão

não se fará com poucas linhas – o que nos levou a optar por outra forma de análise,

baseada na teoria histórico-cultural, apesar de reconhecer que a feita nesse momento

não considera a totalidade da situação apresentada.

Com base na teoria histórico-cultural, ressaltamos que pode não haver

clareza nas concepções dos(as) gestores(as) das FNG e consequentemente de

seus(suas) treinadores(as), praticantes e grupos sociais em geral sobre a GPT. Essa

situação nos leva novamente a considerar que a mediação de nível macro (JONES;

THOMAS, 2015) exercida pelas FNG é insatisfatória, não colaborando para que haja

clareza sobre a definição e o desenvolvimento das práticas nos meso e micro nível e

propiciando que essas diferentes abordagens estejam sujeitas a opções pessoais

realizadas pelos(as) mediadores(as) diretos(as) em contato com os(as)

treinadores(as).

Um segundo grupo de análise destaca uma constatação contrária a

anteriormente apresentada – destacamos as FNG de Kosovo e Moçambique e

também da Áustria, Benin, Estados Unidos e Portugal. As primeiras FNG apontaram

como apenas competitiva a abordagem dos programas de formação de

treinadores(as) que oferecem e se utilizaram de termos como “esporte”, “preparação

para o esporte”, “competitiva” e “modalidade” para referirem-se à GPT. As últimas

FNG também se utilizaram desses termos e apontaram a abordagem dos programas

como “participação e competição”. Nesses casos, podemos afirmar que há coerência

entre o que é entendido como GPT e o que é desenvolvido nos programas de

formação de treinadores(as), o que demonstra um caso positivo.

Os dados analisados podem ser observados no Quadro 14, a seguir.

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Quadro 14 – Relação entre a concepção de GPT e os programas de formação de treinadores(as) de GPT.

FNG Unidades de análise* Concepção Objetivos Programa Abordagem Progressão

África do Sul Ginástica de base; participação massiva; apresentações.

Utilitarista 1, 2, 3 Consolidado Ambas Formação de base única e formações específicas diversas.

Alemanha Diferentes modos de prática; não competitiva ou competitiva em baixo nível; todas as pessoas; saúde.

Utilitarista 1, 3, competições simples

Consolidado Participação Não

Austrália Esporte para todos; desenvolve habilidades incríveis; força e flexibilidade; diversão e desafios; esporte para a vida; todas as idades e habilidades.

Geral 1, 2, 3, Performance

Consolidado Ambas Níveis iniciante, intermediário e avançado.

Áustria Base para disciplinas ginásticas; importante para clubes; todas as idades e habilidades; competitiva e não competitiva.

Utilitarista 1, 2, 3, 4 (Rope Skipping)

Consolidado Ambas Níveis de acordo com a posição do(a) treinador(a).

Bangladesh Todas as pessoas. Geral 1, 2, 4 Recente Participação Não

Benin Tipo de Ginástica; todas as pessoas; esporte divertido e que desenvolve saúde.

Geral 1, 2, 3, 4 Recente Ambas Não

Canadá Todas as idades, níveis e habilidades. Geral 1, 2 Consolidado Participação Nível de acordo com o(a) atleta.

Cingapura Todas as pessoas; não competitiva; disciplina da FIG.

Geral 1, 2, 3 Desenvolvimento Participação Não

Dinamarca Não competitiva. Utilitarista 1, 2 Consolidado Participação Dois níveis.

Eslováquia Base para desenvolvimento da FNG. Utilitarista 1, 2, 3 Desenvolvimento Ambas Não

Estados Unidos

Não competitiva, competitiva; pessoas com deficiência.

Utilitarista 1, 2, 3 Desenvolvimento Ambas Não

Estônia Coletivo; diversão. Geral 1, 2, 3 Desenvolvimento Participação Não

Finlândia Diferentes modos de prática; fitness, saúde, experiências; competições simples; todas as faixas etárias.

Geral 1, 2, 3 Consolidado Participação Dois níveis.

Continua

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Grã-Bretanha Oportunidade para mais pessoas praticarem Ginástica.

Utilitarista 1, 2, 3, competições simples

Consolidado Participação Três níveis. Módulos adicionais.

Hong Kong Todas as pessoas. Geral 1, 2, 3, 4 Desenvolvimento Participação Não

Irlanda Participação; inclusão; apresentações. Utilitarista 1, 2, 3 Desenvolvimento Ambas Três níveis.

Islândia Todas as disciplinas ginásticas da FIG e UEG; Ginástica básica; apresentações.

Utilitarista 1, 2, 3 Desenvolvimento Participação Não

Itália Várias atividades; todas as pessoas. Geral 1, 2, 3 Desenvolvimento Participação Dois níveis.

Kosovo Esporte; todas as pessoas; preparação para o esporte; desenvolve habilidades; disciplina da FIG.

Geral 1, 2, 3, 4 Desenvolvimento Competição Não

Luxemburgo Recreação; diferentes modos de prática. Geral 2, 3 Desenvolvimento Ambas Formação de base única e formações específicas diversas.

Moçambique Modalidade; dirigida; acessível para todos. Geral 1, 2, 3 Desenvolvimento Competição Não

Mongólia Competições, Ginastrada Mundial e apresentações. Geral 1 Desenvolvimento Ambas Não

Namíbia Todas as pessoas. Geral 1, 2, 3 Desenvolvimento Participação Não

Noruega Todas as atividades sem competição; todas as pessoas.

Geral 1, 2, 3 Desenvolvimento Participação Dois níveis.

Paraguai Modalidade; fundamento não competitivo; saúde; todas as pessoas; criativa e particular expressão ginástica; coletiva.

Geral 1, 2, 3 Recente Ambas Não

Portugal Todas as pessoas; saúde e bem-estar; diversão, amizade, aptidão física; Ginástica de base; diferentes modos de prática.

Geral 1, 2, 3, 4, BabyGym

Consolidado Ambas Dois níveis.

República da Coreia

Saúde. Saúde 1 Recente Participação Não

Continua

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Suécia Toda Ginástica sem elementos de competição. Geral 1, 2, 3 Desenvolvimento Participação Não

Trindade e Tobago

Não competitiva ou competitiva de baixo nível; todas as pessoas.

Geral 1, 2, 3 Desenvolvimento Participação Dois níveis e módulos adicionais.

Venezuela Modalidade; todos grupos etários; atividades físicas saudáveis, recreativas, criativas; caráter não competitivo.

Geral

1, 2, 3, saúde, qualidade de vida, recreação e educação

Desenvolvimento Participação Não

Legenda: 1: aumentar o número de praticantes de Ginástica; 2: capacitar treinadores(as) para as aulas de GPT; 3: melhorar a qualidade das aulas de GPT; 4: obter melhores resultados em competições internacionais.

* Algumas unidades de análise foram abreviadas ou encurtadas nesse quadro, de forma a possibilitar um tamanho adequado.

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De forma geral, podemos perceber que os programas considerados

recentes (com menos de um ano de existência) adotam concepções de GPT que se

encaixam em uma concepção de “conceito geral”, o qual entende essa prática a partir

de uma ampla definição e pouco voltada exclusivamente para uma finalidade ou

caracterização. A exceção desse grupo é a República da Coreia, caso específico já

discutido anteriormente.

Sobre as concepções de GPT adotados, também destacamos que das

FNG que afirmam que suas localidades não conhecem ou entendem a GPT (casos

das FNG da Argentina, Azerbaijão, Brasil e Ilhas Cayman) não são parte das

instituições que oferecem programas de formação de treinadores(as). Nesses casos,

destacamos as falas dos(as) respondentes da Argentina e do Brasil:

Te farei um esclarecimento: para o próximo ano, está sendo programado um curso de GPT em nossa federação do qual estou responsável junto a alguns colaboradores. Não será de caráter obrigatório para os professores mas vamos encaminhar a sistematização de algumas ferramentas para nossos colegas (da federação). (Respondente da Argentina, tradução da autora). A CBG (Confederação Brasileira de Ginástica) não possui uma organização para a capacitação e treinamento de profissionais. Como CT (Comitê Técnico) de GPT tenho tentado organizar algumas ações, mas sem o aval da presidência fico com as mãos atadas. (Respondente do Brasil).

É possível notar que a proatividade dos(as) gestores(as) de algumas FNG,

especialmente aqueles(as) diretamente ligados(as) à GPT, é uma atitude existente,

mas que, em muitos casos, encontra barreiras na gestão geral das FNG, bastante

voltadas para as modalidades competitivas. Novamente destacamos a importância

dessa mediação de meso nível para que o desenvolvimento dos programas aconteça

em outras esferas das FNG, influenciando e apresentando possibilidades para que

ações sejam realizadas por essas instituições.

Por fim, destacamos que embora 20 FNG apontem em suas concepções

termos referentes à ampla gama de características dos praticantes de GPT, nem todas

as federações oferecem formação que abranjam esse aspecto: 19 FNG oferecem

conteúdos relacionados a grupos multietários e jovens, 16 a adultos, 13 a pessoas

com deficiência e 12 a idosos. Essa análise destaca que a inclusão de pessoas de

diferentes características pode ser parte do discurso que se reproduz sobre a GPT,

mas que essa capacitação específica de treinadores(as) para o trabalho com as faixas

etárias pode não estar de fato consolidado.

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Sendo assim, destacamos que poucas FNG possuem um quadro de

total coerência entre sua concepção divulgada de GPT e os programas de

formação de treinadores(as) dessa prática. Isso pode ser uma consequência da

falta de reflexão dos(as) gestores(as) das FNG sobre a própria GPT e sobre os

programas de formação ofertados.

f) A importância do programa FIG Academy para a formação de

treinadores(as) de GPT em cada FNG

A última questão a ser analisada nesta etapa da pesquisa refere-se a

importância do programa FIG Academy para as FNG na formação de treinadores(as)

de GPT. Assim como já explicitado no Método desse estudo, nos debruçamos a

pesquisar os programas federativos de GPT em nível internacional, sendo estes

compostos por duas partes: as iniciativas de formação de federações nacionais e as

iniciativas da FIG.

Para a GPT, a FIG oferece o Curso regular Fundamentos da Ginástica53. O

programa tem seu currículo baseado em Padrões Básicos de Movimento da

Ginástica54, os quais se constituem como parâmetros biomecânicos das habilidades

ginásticas. Além desses, outros assuntos são parte do currículo, como atividades de

aquecimento, noções musicais e aspectos teórico-práticos sobre aptidão física e

motora, segurança de movimentos, elaboração de coreografias, planejamento de

aulas/treinos, gerenciamento de grupos, considerações éticas, jogos e brincadeiras,

utilização de pequenos e grandes aparelhos e crescimento e desenvolvimento

humano.

Sobre o objetivo do programa, a FIG (2010, p. 232, tradução da autora) afirma:

53 Do original, “Foundations Course” (FIG, 2010). Outros dados foram construídos sobre esse assunto, a partir de questionários respondidos pelos(as) gestores(as) responsáveis pelo programa e de pesquisas bibliográficas de documentos oficiais e artigos científicos sobre o tema e serão divulgados em formato de artigo científico em breve. 54 Do original, “Gymnastics Movements Patterns” (FIG, 2010).

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O maior objetivo da FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE GINÁSTICA (FIG) é oferecer Ginástica para Todos. Com o curso Fundamentos da Ginástica FIG, nós queremos apresentar a base para todas as diferentes disciplinas. Uma vez que você, treinador, tiver um conhecimento básico, é possível expandir seu aprendizado em diferentes direções e/ou obter um entendimento aprofundado no mundo do ensino da Ginástica. Para cada uma das outras modalidades competitivas da FIG, existe um curso do programa Academy de três níveis estruturado. Após completar o curso Fundamentos da Ginástica FIG, você poderá começar o programa de Educação Academy. Porém, você também pode participar de outros cursos educativos da FIG que irão aprofundar o seu aprendizado obtido no Fundamentos da Ginástica FIG. Abaixo seguem alguns exemplos de diferentes cursos de treinamento disponíveis:

• Ginástica para crianças pré-escolares

• Ginástica para idosos

• Apresentações de grupos

• Ginástica para pessoas com deficiência

• Cursos para a temática Saúde, Bem Estar e Fitness

• Ginástica em e com aparelhos

• Ginástica dança

➢ A importância do programa FIG Academy (Fundamentos da Ginástica)

para todas as FNG participantes

A questão realizada foi “Qual a importância do programa FIG Academy

– Foundations Course para o sistema educativo de sua Federação?”. Da mesma

forma que em outras análises, faremos primeiro o estudo das respostas de todas as

44 FNG participantes da pesquisa e, posteriormente, daremos ênfase apenas aquelas

que oferecem programas de formação de treinadores(as) de GPT. Cabe observar que

esta foi a questão com mais respostas incoerentes obtidas, as quais se apresentavam

em dissonância com outras dos questionários. Nesses casos, entramos em contato

novamente com os(as) respondentes para conferência das respostas e fomos

atendidas em quase todas as solicitações, tendo apenas a FNG de Trindade e Tobago

não respondido novamente ao questionamento extra.

De modo geral, as respostas obtidas demonstram que o programa FIG

Academy:

• É complementar às ações oferecidas pela FNG, em vinte e quatro casos

(54,5%): África do Sul, Algeria, Austrália, Áustria, Bangladesh, Canadá,

Cingapura, Eslováquia, Estônia, Grã-Canária, Hong Kong, Irlanda, Itália,

Kosovo, Líbia, Mongólia, Maurício, Namíbia, Noruega, Paraguai, Portugal,

República da Coreia, Suécia e Venezuela.

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• Nunca foi oferecido em quinze FNG (35%). São elas: Andorra, Argentina,

Aruba, Azerbaijão, Benin, Brasil, Cabo Verde, Catar, Estados Unidos,

Finlândia, Grã-Bretanha, Ilhas Cayman, Islândia, Moçambique e Mônaco.

• É desconhecido pelo(a) respondente de três FNG (6,8%), de Alemanha,

Dinamarca e Luxemburgo.

• É o único programa de formação de treinadores(as) de GPT da localidade,

em duas FNG (4,5%): Barbados e Trindade e Tobago.

• Seis respostas diferentes foram realizadas: o(a) respondente da Brasil,

respondeu que o programa é a única possibilidade de formação federativa de

treinadores(as), mas que nunca foi sediado no país – assim, incluímos tal FNG

na segunda possibilidade de resposta (nunca foi oferecido); as FNG de

Canadá, Austrália, Suécia e Venezuela afirmam estar cientes dos programas,

mas que esses não são utilizados pelas FNG, uma vez que essas possuem

seus próprios sistemas de formação, por esse motivo foram incluídas na

primeira possibilidade de resposta (complementar).

As respostas oferecidas demonstram o grau de importância do programa

para tais FNG: podemos dizer que aquelas que afirmam que este é a única

possibilidade de formação específica em Ginástica de seus países, caracterizam essa

iniciativa como essencial em sua localidade. As FNG que atribuem importância

complementar ao FIG Academy possuem outras formas de proporcionar formação

aos(às) treinadores(as) e portanto podem ter no programa FIG Academy um modo de

melhorar tal formação ou proporcionar formação continuada. Por fim, as FNG que

afirmam desconhecer o programa demonstram que esse não tem nenhuma ou tem

pouca relevância em suas localidades, uma vez que não são conhecidas pelos(as)

gestores(as) responsáveis por essas ações. Ainda, as FNG que afirmam nunca ter

recebido o programa FIG Academy podem demonstrar tanto desconhecimento sobre

o mesmo, quanto falta de políticas administrativas que possam solicitar tal

oferecimento, o que poderia configurar um auxílio na formação de treinadores(as).

Os dados desse estudo mostram que, de forma geral, o FIG Academy

possui importância complementar em grande parte das FNG. Essa informação indica

a relevância de tal programa ao redor do mundo, uma vez que proporciona mediações

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sobre o desenvolvimento da GPT em diferentes culturas e localidades, que entendem

a GPT a partir de concepções variadas.

Assim, o programa pode oferecer não apenas a mediação em micro nível

(JONES; THOMAS, 2015), uma vez que as oferece de forma direta entre seus(suas)

mediadores(as) responsáveis e os(as) treinadores(as)-aprendizes(as), como pode

influenciar de forma macro a abordagem e o desenvolvimento dos programas

nacionais, a partir de suas diretrizes, da formação de treinadores(as) que irão

disseminar os seus conhecimentos e da divulgação de seus manuais. Sobre esse

assunto, destacamos a informação oferecida pelo(a) respondente da Venezuela:

Consideramos o programa FIG Academy como base fundamental da formação de treinadores. Nós realizamos o curso da Academia da FVG (Federação Venezuelana de Ginástica) replicando as pautas estabelecidas pela FIG. (Respondente da Venezuela, tradução da autora).

De forma contrária, o programa FIG Academy também foi considerado

como a única possibilidade de formação específica para apenas duas FNG, Barbados

e Trindade e Tobago. A FNG de Trindade e Tobago, como dito anteriormente, não

nos respondeu sobre o questionamento extra realizado para esclarecer de que forma

o programa FIG Academy pode ser a única possibilidade de formação de

treinadores(as), sendo que a instituição oferece programas para essa finalidade.

Já a FNG de Barbados afirma que

Nós, em Barbados, estamos tentando tornar o curso de GPT (FIG Academy) um requisito para o ensino de Ginástica. No momento, fazemos nossa própria formação interna de treinadores(as), mas gostaríamos que a participação no curso de GPT fosse necessária, e o faremos assim que estiver disponível localmente. Isso significa que é apenas uma recomendação, mas com a intenção de torná-la obrigatória o mais rápido possível. (Respondente de Barbados, tradução da autora).

Nesse caso, o programa FIG Academy “Fundamentos da Ginástica” é

realmente importante para a dita FNG, que, embora não esclareça esse ponto,

possivelmente baseia seu programa nacional de formação de treinadores(as) no

programa oferecido pela instituição internacional e pretende torná-lo uma exigência

para o trabalho como treinador(a) de Ginástica.

Apesar dos pontos positivos já argumentados, o programa FIG Academy

possui um formato padronizado e é oferecido com a mesma estrutura em diferentes

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localidades. É mediado por pessoas diferentes, que podem ou não se repetir nas

diferentes edições do programa, as quais exercem significativa influência em todos os

aspectos envolvidos, especialmente no estabelecimento das relações sociais das

oportunidades de aprendizagem (PAQUETTE et al., 2014). No entanto, destacamos

que esse formato de oferecimento pode não ser eficaz para todas as localidades, uma

vez que ao um formato padronizado não enfatiza a valorização dos conhecimentos e

experiências prévias dos(as) treinador(a)-aprendiz(a), bem como seus contextos de

atuação em suas localidades. É importante que as FNG compreendam que essa

contextualização é mais facilmente realizada a partir de suas atuações em seus

contextos e não se apoiem exclusivamente nas iniciativas internacionais, pois esse é

um fator fundamental para que a formação seja efetiva, como já argumentado

anteriormente. As iniciativas internacionais são importantes principalmente para

impulsionar países que não possuem uma formação própria, oferecendo um programa

inicial.

De forma a possibilitar uma análise mais próxima à realidade de cada FNG

sobre este tema, comparamos as respostas sobre a importância do programa FIG

Academy “Fundamentos da Ginástica”, com a exigência de formação para atuação

como treinador(a) de Ginástica e o oferecimento de programas de formação de

treinadores(as) de GPT (Quadro 15).

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Quadro 15 – Análise sobre o FIG Academy e a exigência e oferecimento de programas de formação de treinadores(as).

FNG FIG

Academy Formação Oferec.1 FNG

FIG Academy

Formação Oferec.1 FNG FIG

Academy Formação Oferec.1

Algeria Compl. Ambas S/N Finlândia Nunca Não exige S/S Namíbia Compl. Não exige S/S

Andorra Nunca Específica S/N Grã-Bretanha Nunca Específica S/S Noruega Compl. Não exige S/S

Argentina Nunca Específica S/N Alemanha Desconh. Específica S/S Paraguai Compl. Ambas S/S

Austrália Compl. Específica S/S Hong Kong Compl. Específica S/S Portugal Compl. Específica S/S

Áustria Compl. Específica S/S Irlanda Compl. Específica S/S Catar Nunca Superior S/N

Azerbaijão Nunca Superior N/N Islândia Nunca Específica S/S África do Sul

Compl. Específica S/S

Bangladesh Compl. Superior S/S Itália Compl. Não exige S/S Cingapura Compl. Específica S/S

Barbados Único Específica N/N República da Coreia

Compl. Superior S/S Eslováquia Compl. Específica S/S

Benin Nunca Superior S/S Kosovo Compl. Superior S/S Suécia Compl. Não exige S/S

Brasil Nunca Superior N/N Líbia Compl. Específica S/N Trindade e Tobago

Único Específica S/S

Canadá Compl. Específica S/S Luxemburgo Desconh. Ambas S/S Estados Unidos

Nunca Não exige S/S

Ilhas Cayman

Nunca Não exige S/N Mongólia Compl. Superior S/S Venezuela Compl. Específica S/S

Cabo Verde Nunca Não exige S/N Mônaco Nunca Específica N/N Grã-Canária Compl. Ambas N/N

Dinamarca Desconh. Não exige S/S Moçambique Nunca Não exige S/S Aruba Nunca Específica N/N

Estônia Compl. Específica S/S Maurício Compl. Específica N/N

Legenda: 1: Oferece programas de formação de treinadores(as) em geral/oferece programas de formação para GPT; N:Não, S: Sim.

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Pudemos analisar que em todos os casos em que o programa FIG

Academy é complementar às iniciativas nacionais, há o oferecimento de programas

de formação de treinadores(as) de GPT pelas FNG, embora estes não sejam

necessariamente direcionados à GPT. Essa coerência demonstra que o fato de a

possibilidade de a FIG oferecer uma formação complementar e continuada aos(às)

treinadores(as) de GPT, como recomendado acima, é plausível e apresenta pontos

positivos. Da mesma forma, todos as FNG que afirmaram desconhecer o programa

FIG Academy oferecem programas de formação de treinadores(as) de Ginástica e de

GPT, o que justifica o mínimo grau de importância atribuído. Outras considerações

não podem ser realizadas, o que nos leva a novamente ressaltar que cada caso das

FNG ocorre de forma particular.

➢ A importância do programa FIG Academy (Fundamentos da Ginástica)

para todas as FNG que oferecem programas de formação de

treinadores(as) de GPT

De forma específica para as FNG que oferecem programas de formação

de treinadores(as) de GPT, temos que quase dois terços dessas consideram o

programa complementar. Nesses casos, as FNG possuem programas em

desenvolvimento, ou seja, que estão em fase de estabelecimento, mas que já

possuem estruturas independentes da FIG.

Ao mesmo tempo, é percebido que dentre aquelas que nunca receberam o

programa ou mesmo que o desconhecem, reúnem grande parte dos programas

consolidados. Estes foram desenvolvidos há mais de dez anos e se estruturaram

antes mesmo de o programa FIG Academy ter se estabelecido. Os programas

recentes também parecem considerar, em sua maioria, o programa da FIG como

complementar.

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Gráfico 6 – Relação entre a importância do FIG Academy Fundamentos da Ginástica e a classificação dos programas de formação de treinadores(as) de GPT.

De fato, pesquisas têm demonstrado que mais de 60% dos(as)

treinadores(as) não se sentem satisfeitos(as) com a formação oferecida pelas

instituições nacionais (JONES; ALLISON, 2014). Assim, a complementaridade

oferecida pelas federações internacionais pode ser importante para impulsionar a

formação dos(as) treinadores(as), a partir do contato também com outros profissionais

além das suas localidades, o que traz outras visões e outro tipo de interação entre os

participantes. Um exemplo dessa relevância é oferecido pela Federação Internacional

de Tênis e relatado por Zmajic (2011), que afirma que tal federação oferece as

diretrizes para que programas nacionais desenvolvam seus sistemas de formação de

treinadores(as).

Entendemos, nesse estudo, que as FNG possuem condições de criar seus

programas de acordo com suas próprias concepções e, principalmente, voltados

especificamente para seus grupos sociais, como já apontado. No entanto, ressaltamos

que o diálogo entre as instituições internacionais e nacionais é um fator de extrema

importância tanto para que haja coerência entre as políticas desenvolvidas

internacional e nacionalmente, quanto pela troca de experiências que pode acontecer

entre os(as) gestores(as) dessas instituições. De fato, a possibilidade de reunir

pessoas interessadas no mesmo assunto de diferentes localidades, proporcionada

pelas federações internacionais, é uma situação potencial para que mediações sejam

realizadas, além das trocas de experiências entre FNG que enfrentam diferentes

situações com relação ao esporte e às práticas corporais, ações que poderiam

potencializar as oportunidades de aprendizagem dos(as) treinadores(as) de todos as

localidades. Como já afirmado anteriormente, as relações que se estabelecem em

5

2

2

12

3

1

3

1

Complementar (19 FNG)

Nunca oferecido (6 FNG)

Desconhecido (3 FNG)

Único programa (1 FNG)

Consolidado Desenvolvimento Recente

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macro, meso e micro nível são fundamentais para que as oportunidades de

aprendizagem se desenvolvam de forma efetiva (VYGOTSKY, 2000).

De forma geral, pode ser afirmado que o programa FIG Academy

possui importância variada de acordo com cada FNG, sendo comumente

complementar a ações nacionais de formação de treinadores(as).

Especialmente para as FNG que oferecem programas de formação de

treinadores(as) de GPT, a importância do FIG Academy, além de ser

complementar, é mais citada pelos programas em desenvolvimento, aqueles

que estão em vias de se consolidar como ações concretas das FNG.

Com essa etapa da pesquisa, pudemos constatar dados referentes à

obrigatoriedade de formação de treinadores(as) para atuação em Ginástica e aos

programas de formação de treinadores(as) de GPT das FNG participantes. De forma

geral, podemos afirmar que poucas correlações são possíveis de serem realizadas,

tendo cada FNG regulamentações, formatações e características para a formação de

treinadores(as).

No entanto, destacamos a importância de uma nova abordagem para tal

finalidade, que traga um olhar mais atento às relações que se estabelecem nas

oportunidades de aprendizagem, sejam elas em macro, meso e micro nível. Assim,

com maior atenção à participação ativa dos(as) treinadores(as) nos processos de

aprendizagem, para que essas se tornem significativas para os(as) mesmos(as), além

da proposição de diferentes oportunidades de aprendizagem que proporcionem

experiências efetivas para a atuação como treinadores(as).

A partir dos dados obtidos, informações foram co-construídas para um

entendimento mais adequado sobre os programas de formação de treinadores(as), as

quais poderão auxiliar para que novas recomendações sejam feitas em busca de

benefícios em tais formações, especialmente com base na teoria histórico-cultural.

7.2 Etapa B

A Etapa B deste estudo permitiu que pudéssemos, de forma mais

aprofundada, construir uma perspectiva de como as FNG que oferecem programas

de formação de treinadores(as) de GPT e relacionar suas propostas com a teoria

histórico-cultural e, mais especificamente, com a interação dos(as) aprendizes(as)

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com o meio em que vivem e atuam, com o desenvolvimento potencial dos(as)

treinadores(as) e com o processo de constituição de vivências nas estratégias

pedagógicas.

Dessa fase da pesquisa participaram seis FNG: Canadá, Dinamarca,

Eslováquia, Grã-Bretanha, Itália e Portugal. Os(as) respondentes dessas FNG foram

convidados(as) a esclarecer as seguintes questões: “Fale sobre a estratégia

pedagógica na formação de treinadores(as) de GPT da sua federação nacional

e descreva a relação entre os(as) participantes e entre mediador(a) (professor/a)

e participantes nessa estratégia pedagógica. O que considera relevante e

aplicável nessa estratégia pedagógica?”. Estas questões foram realizadas para

todas as estratégias pedagógicas que as FNG afirmaram oferecer na etapa anterior

dessa pesquisa, as quais podem ser conferidas a seguir (Quadro 16).

Quadro 16 – FNG participantes da Etapa B e as estratégias pedagógicas oferecidas.

FNG Estruturas e estratégias pedagógicas citadas na Etapa A

Canadá Cursos regulares, Programas de mentoria, Plataforma de dados online, Fóruns de discussão/ Encontro de treinadores(as).

Dinamarca Cursos regulares e Educação à distância.

Eslováquia Cursos regulares e Organização de eventos (palestras, workshops).

Grã-Bretanha Cursos regulares, Organização de eventos (palestras, workshops) e Plataforma de dados online.

Itália Cursos regulares, Organização de eventos (palestras, workshops) e Plataforma de dados online.

Portugal Cursos regulares, Estímulo à produção científica, Programas de mentoria, Organização de eventos (palestras, workshops), Plataforma de dados online, Fóruns de discussão/ Encontro de treinadores(as) e Educação à distância.

Após a leitura e tradução das respostas obtidas, unidades de análise foram

identificadas a partir de análise de conteúdo realizada e segmentadas em temas

(Quadro 17).

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233

Quadro 17 – Análise das respostas sobre as estratégias pedagógicas.55

Tema Unidades de Análise (Número de incidências) N

Estratégias pedagógicas

Combinação de conteúdo online e presencial (4); Cursos online são interativos (2); Trabalhos em duplas e grupos (2); Variedade de estilos para facilitar grupos (2); Métodos mistos: métodos tradicionais e métodos práticos (2); Grande parte é de oficinas práticas (2); Interação entre os(as) participantes (3); Módulos gerais e módulos específicos (2); Registro em um sistema online para acesso aos materiais de cursos e recursos de vídeos (1); Encontros de grupos como processo de avaliação (1); Cursos para grupos de treinadores(as) (1); Seminário para treinadores(as) (1); Período de mentoria (1); Seminários online interativos (1); Workshops e palestras com especialistas (1); Três componentes: geral, específica e estágio (1); Estágio acontece com o acompanhamento da atuação do(a) aprendiz durante um época desportiva (1); Migração de cursos presenciais para online (1); Não existe discussão entre treinadores(as) para GPT (1); Não existe incentivo à produção científica para a GPT (1).

6

Mediação entre

aprendizes (as) e

mediadores (as)

responsáveis

O(a) facilitador(a) pode utilizar mais tempo em um assunto se for necessário para os(as) aprendizes(as); O(a) avaliador(a) oferece feedbacks (1); Encontros adicionais entre aprendizes(as) e mediadores(as) acontecem durante o processo de avaliação (1); Mediadores(as) se esforçam para facilitar a prática reflexiva (1); Incentivo aos(às) aprendizes(as) a serem curiosos(as) e reflexivos(as) (1); Não há interação entre o(a) professor(a) e o(a) participante (1); Atmosfera amigável entre os(as) educadores(as) e os(as) participantes (1); Tutor(a) realiza ponte entre conteúdo online presencialmente (1); Algumas vezes os(as) aprendizes(as) serão liderados(as) pelo(a) tutor(a) e outras não (1); Professores(as) tentam realizar conselhos específicos para cada participante (1); Tutor(a) e coordenador(a) acompanham os trabalhos na plataforma de ensino à distância (1); Cada ação tem um(a) formador(a) que leciona presencialmente a matéria e recebe a avaliação (1).

6

Avaliação

Portfólio preparado pelo(a) aprendiz(a), que recebe feedbacks do(a) mediador(a) (1); Encontros adicionais entre aprendizes(as) e mediadores(as) responsáveis; Acompanhamento de mentores(as) em seus clubes até que sinta-se preparado(a) para avaliação por um(a) assessor(a) independente (1); Estagiário(a) é acompanhado por um(a) tutor(a) e por um(a) coordenador(a) regional de estágio (1); Avaliações são presenciais (1); Avaliação através do preenchimento de um questionário (1).

4

Mediação entre

aprendizes (as)

É dada a oportunidade para os(as) participantes explorarem o que sabem e compartilhar ideias (4); Encontros adicionais entre aprendizes(as) e mediadores(as) acontecem durante o processo de avaliação (1); Construção de boa cooperação e relação entre os(as) aprendizes(as) (1); Relação entre aprendizes(as) é importante para a GPT (1).

3

Currículo Todos os cursos têm um currículo determinado (1); Existe um currículo determinado, que pode ser adaptado de acordo com a composição dos(as) participantes (1).

2

Local Realizados em ambiente de ginásio (2). 2

Formação dos(as)

mediadores (as)

responsáveis

Encontro anual para discussão de métodos de comunicação e pedagógicos de cursos regulares (1). 1

Origem dos(as)

mediadores (as)

responsáveis

Para o nível básico, os(as) mediadores(as) são da FNG ou de Universidades de Ciências do Esporte (1). 1

Vivências As pessoas participam das atividades porque sabem que se sentirão bem, serão bem tratadas e estarão entre novos(as) amigos(as) (1).

1

Conhecimento prévio dos(as)

aprendizes (as)

Participantes devem realizar um curso online antes do curso regular (1). 1

Legenda: N: Número de FNG que citaram o tema.

55 Considerando que a análise de conteúdo foi realizada a partir de Método Misto (LAVILLE; DIONNE, 1999), algumas categorias foram determinadas a priori, especialmente às relacionadas aos três assuntos da teoria histórico-cultural. Por esse motivo, embora algumas temáticas tenham apenas uma fala atribuída, foram mantidas por serem essenciais à realização da pesquisa.

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234

a) Estratégias pedagógicas

A primeira questão realizada às FNG nessa fase da pesquisa intencionava

conhecer, de forma mais detalhada, o desenvolvimento das estratégias pedagógicas

oferecidas para a formação de treinadores(as) de GPT.

Um aspecto curioso e interessante sobre a análise dessas respostas foi

que algumas das FNG negaram o oferecimento de estratégias pedagógicas que

afirmaram oferecer na primeira etapa da pesquisa. Assim, embora inicialmente

diferentes estratégias pedagógicas inovadoras tenham sido citadas, algumas delas

podem ser projetos futuros de algumas federações ou mesmo não são oferecidas.

Na Etapa A da pesquisa (discutida anteriormente), foram citados por parte

das FNG Cursos regulares (6 FNG), Organização de eventos como palestras e

workshops (4 FNG), Plataforma de dados online (4 FNG), Programas de mentoria (2

FNG), Fóruns de discussão/ Encontro de treinadores(as) (2 FNG), Educação à

distância (2 FNG) e Estímulo à produção científica (1 FNG). No entanto, o

oferecimento de Fóruns de discussão/ Encontro de treinadores(as) e Estímulo à

produção científica foi desconsiderado pelos(as) respondentes do Canadá e de

Portugal. Além dessas, outras duas estratégias pedagógicas não são oferecidas com

a finalidade principal de formação de treinadores(as) de GPT, por duas instituições: o

Programa de mentoria, pela FNG do Canadá, e a Plataforma de dados online, pela

FNG da Itália.

Sobre os Fóruns de discussão/ Encontro de treinadores(as), os(as)

respondentes afirmam:

Nós não temos um fórum formal de discussão. Todos os nossos cursos são presenciais e atendem a um grupo de treinadores(as). Encontros adicionais entre treinadores(as) e professores(as) ocorrem durante o processo de avaliação. (Respondente do Canadá, tradução da autora). Esta estratégia não é muito utilizada neste sentido. Especialmente para GPT, não existe. Existe um momento nacional, que é o Plenário Técnico Nacional, mas não é formação, mas sim um momento de apresentação de propostas de índole técnico à discussão da comunidade gímnica e a propor à Direção da FGP. Pode-se considerar que o Congresso também possa ser um espaço de discussão, mas não é exclusivo nesse sentido. (Respondente de Portugal).

As afirmações desses(as) respondentes demonstram que momentos

estruturados de discussões e troca de experiências entre treinadores(as) de GPT são

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promovidos como parte de oportunidades de aprendizagem tradicionais, inseridas em

programações de Cursos regulares, processos avaliativos e reuniões técnicas entre

treinadores(as), gestores(as) e outros membros da chamada “comunidade gímnica”.

Essa é uma posição interessante, uma vez que uma proposta focada nas relações

entre os(as) envolvidos(as) pressupõe que haja espaço para conversas e trocas de

conhecimentos (VYGOTSKY, 1997; 1998; 2000; 2009; 2010) em cursos, palestras,

workshops e qualquer outra estratégia pedagógica. Além disso, apesar de algumas

dessas oportunidades de aprendizagem não serem exclusivamente voltadas à

formação de treinadores(as), como as reuniões técnicas destacadas pelo(a)

respondente de Portugal, reforçamos que esses momentos são espaços de mediação,

em macro e/ou meso nível (JONES; THOMAS, 2015), e contribuem efetivamente para

a formação de treinadores(as)-aprendizes(as).

No entanto, o quadro apresentado não demonstra a utilização de

estratégias pedagógicas que possuam como finalidade principal o desenvolvimento

de espaços para a co-construção de conhecimentos a partir das relações sociais

especialmente pautadas na troca de experiências, como as comunidades de prática,

por exemplo (CULVER; TRUDEL, 2006; STOSZKOWSKI; COLLINS, 2012; LAUER;

DIEFFENBACH, 2013; BERTRAM; CULVER; GILBERT, 2017). Este pode ser um

aspecto a ser reformulado pelas FNG, inclusive ao ser considerado que os(as)

treinadores(as) preferem atividades sociais para comporem suas oportunidades de

aprendizagem (NASH; SPROULE, 2012; STOSZKOWSKI; COLLINS, 2016).

Momentos específicos para a troca de experiências entre aprendizes(as) são

considerados de extrema importância pois são espaços para que as mediações entre

os pares estejam em evidência. Assim, os conhecimentos já construídos por outras

pessoas podem compor os processos de co-construção de novos conhecimentos por

parte de cada aprendiz(a).

Também nos chama a atenção o fato de a FNG de Portugal ter destacado

que essa não é uma estratégia pedagógica utilizada “especialmente para a GPT”.

Considerando a GPT como uma forma de praticar a Ginástica que se molda aos

objetivos, interesses e aspectos socioculturais de cada grupo ou praticante,

entendemos que a troca de conhecimentos e experiências entre treinadores(as) pode

ser bastante interessante. Nessa perspectiva, os processos de aprendizagem poderão

ser mediados por pares que possuem outras abordagens teóricas e práticas para a

GPT e as discussões, o embate de opiniões e as divergências de objetivos podem ser

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236

enriquecedores nos processos de estabelecimento de uma concepção individual de

desenvolvimento dessa prática. Assim, os diferentes conceitos de GPT, anunciados

em capítulo anterior dessa tese, poderiam ser expressados, discutidos e fortalecidos,

a partir da comunhão de conhecimentos novos apresentados pelos pares e de outros

construídos com base nas experiências prévias de cada aprendiz(a). Essa seria uma

estratégia pedagógica adequada para o desenvolvimento de sentidos (VYGOTSKY,

2009) e de vivências (VYGOSTKY, 1998), que tornariam os programas de formação

de treinadores(as) realmente efetivos em seus objetivos.

O mesmo acontece com o Programa de mentoria para a FNG do Canadá:

Nós não temos um programa de mentoria nesse momento; entretanto, depois de completar o curso, os(as) treinadores(as) retornam para seus ginásios e realizam o que aprenderam. Quando eles(as) se sentem prontos(as), são avaliados(as) por um(a) avaliador(a) de treinadores(as) que atua como um(a) mentor(a). (Respondente do Canadá, tradução da autora).

Da mesma forma que nos casos dos Fóruns de discussão/ Encontro de

treinadores(as), as mentorias são entendidas por essa FNG como parte dos Cursos

regulares.

Com relação às Pesquisas científicas, a resposta oferecida pela FNG de

Portugal demonstra que estas podem ser mais ou menos relacionadas a propostas

inovadoras de formação de treinadores(as):

Para GPT não temos incentivo à produção Científica ou investigação. Mesmo para as outras disciplinas damos um apoio muito frágil de acesso e contatos com ginastas, treinadores, resultados de provas, etc., mas não financiamos diretamente investigação. (Respondente de Portugal).

Entendemos, com essa colocação, que o(a) gestor(a) da FNG de Portugal

não possui a mesma compreensão sobre a utilização de pesquisa científicas como

estratégia pedagógica na formação de treinadores(as) de GPT do que temos nesse

estudo. Isso pois o(a) respondente considera que o apoio às pesquisas científicas se

dá com o oferecimento de contatos da FNG e dados de eventos para

pesquisadores(as) ou com o financiamento de pesquisas. Em nossa opinião, essas

são formas de mediar e contribuir para o desenvolvimento de pesquisas científicas,

que inclusive podem ser futuras fontes de desenvolvimento de outras estratégias

pedagógicas, como os exemplos já discutidos da utilização de narrativas (DOUGLAS;

CARLESS, 2008; MCMAHON, 2013), etno-dramas (MIENCZAKOWSKI; MORGAN,

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237

2001) e ABP (TRUDEL; GILBERT, 2006). No entanto, ignora-se, possivelmente por

desconhecimento, a potencialidade de estratégias pedagógicas que se utilizem de

pesquisas desenvolvidas pelos(as) próprios(as) treinadores(as)-aprendizes(as), como

a utilização de pesquisa-ação (CLEMENTS; MORGAN, 2015), por exemplo. Esta é,

inclusive, uma ação que esta tese tentará fomentar: a co-construção de novos

conhecimentos por parte dos(as) gestores(as) de FNG, com a mediação de outros(as)

que já se utilizam de estratégias pedagógicas inovadoras, apresentando exemplos e

resultados interessantes dessa nova perspectiva que podem contribuir para o

desenvolvimento da Ginástica a partir da formação de treinadores(as).

Assim, os dados obtidos demonstram que há interesse de algumas FNG

de oferecer oportunidades de aprendizagem que se baseiem na complementaridade

entre estratégias pedagógicas tradicionais e inovadoras. Dentre as inovadoras,

destacam-se as atividades práticas:

Nossos cursos regulares de formação de treinadores(as) acontecem com métodos mistos. Os(as) participantes experienciam tanto um método de ensino mais clássico, no qual se sentam e escutam os(as) professores(as), quanto o método prático de “aprender fazendo”, no qual os(as) participantes aprendem provando os conceitos teóricos em seus próprios corpos. Entretanto, nós enfatizamos especialmente o aspecto prático “aprender fazendo”. (Respondente da Dinamarca, tradução da autora).

As FNG da Itália e do Canadá também destacam o enfoque dado às

oficinas práticas:

Na parte específica dos cursos regulares, bastante tempo é dedicado às lições práticas e isso é muito importante para os(as) participantes (Respondente da Itália, tradução da autora). Uma pequena parte dos cursos são palestras, a maioria dos cursos são oficinas práticas. (Respondente do Canadá, tradução da autora).

As atividades práticas são valorizadas nos programas de formação de

treinadores(as) em geral e são discutidas grandemente pela literatura acadêmica,

sendo sua validade condicionada a uma série de fatores. Vella, Crowe e Oades (2013)

sugerem, por exemplo, que as atividades práticas que tendem a atuar como uma

“caixa de ferramentas” para treinadores(as)-aprendizes(as) tem sua eficácia limitada,

uma vez que informam os(as) participantes apenas para uma gama pré-determinada

de situações. Além disso, os autores consideram que as estratégias pedagógicas

utilizadas nos momentos de atividades práticas são muitas vezes “doutrinadoras”,

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ditando formas de atuação independentemente dos contextos de cada aprendiz(a) e

das situações que podem ocorrer (VELLA; CROWE; OADES, 2013).

De certa forma, as atividades práticas que tendem a simular aulas, treinos

ou situações pré-concebidas podem ser importantes se considerado o papel da

imitação no desenvolvimento das funções psicológicas superiores (VYGOTSKY,

1997). Assim como entendida na teoria histórico-cultural, a imitação é parte do

processo de co-construção de novos conhecimentos, uma vez que atua como um dos

“degraus” da ZDP, permitindo que o(a) aprendiz(a) realize uma tarefa que até então

não era apto(a) de realizar individualmente (VYGOTSKY, 1998).

No entanto, o perigo está em justamente não promover uma mediação

adequada nas atividades práticas, fazendo com que essas não sejam “degraus” para

que os(as) treinadores(as)-aprendizes(as) possam entender dinâmicas, refletirem

sobre elas e, juntamente ao entendimento de seus próprios contextos de prática, co-

construam novas teorias e planos de ação. Ou seja, as atividades práticas podem ser

momentos potenciais para os processos de aprendizagem, mas não podem ser

“receitas” ou “modelos estáticos” das ações a serem realizadas. Assim, tal

potencialidade está na mediação dessas atividades práticas, as quais ocorrerão de

acordo com as relações que forem estabelecidas entre os pares e dos(as)

aprendizes(as) com os mediadores(as) responsáveis, a partir de grupos colaborativos,

estudos de caso, discussões facilitadas (ARAYA; BENNIE; O’CONNOR, 2015) e

outras estratégias pedagógicas. Cassidy e colaboradores (2012) sugerem que as

atividades práticas devam atuar demonstrando as situações complexas da atuação

como treinador(a), favorecendo o desenvolvimento de habilidades diversas ou, como

afirmado por Smidt (2009) em um paralelo com a teoria histórico-cultural, criando

ambientes capazes de desenvolver atenção compartilhada, cooperação e apoio.

Dessa forma, é necessária uma adequação da noção de atividade prática, pois

somente a substituição de um momento teórico por um prático não basta para se

aproximar os programas à proposta histórico-cultural.

De forma geral, as estratégias pedagógicas citadas até o momento são

prioritariamente coletivas (LEFEBVRE et al., 2016). Outras estratégias pedagógicas

comentadas pelos(as) respondentes acontecem online e são, no caso dessas

oferecidas pelas FNG participantes, prioritariamente individualizadas (LEFEBVRE et

al., 2016). Dentre essas, são mencionados os Cursos online e as Plataformas de

dados online. Driska (2018) considera que essas iniciativas online tem sido utilizadas

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pelas instituições governamentais esportivas pois são estratégias pedagógicas de fácil

acesso, financeiramente viáveis e convenientes, o que foi constatado pela utilização

por algumas FNG participantes.

O(a) respondente da FNG da Grã-Bretanha comentou as duas formas que

as estratégias pedagógicas online acontecem em seu programa:

Nós temos dois tipos de aprendizagem online: individual e integrada com os cursos. A aprendizagem online individual é usualmente formal – clicar em um conteúdo e lê-lo, assistir ou ouvir o conteúdo, no ritmo individual de cada aprendiz(a). A forma integrada é similar a esse formato mais quando os(as) aprendizes(as) chegam no curso presencial o(a) tutor(a) vai se referir ao conteúdo online e consolidar a aprendizagem com várias atividades. Nós oferecemos seminários online interativos mas esses são usualmente de conteúdos não relacionados à Ginástica, como por exemplo informação sobre mudanças nas leis de proteção de dados, então os(as) aprendizes(as) podem fazer perguntas e esclarecer os detalhes. (Respondente da Grã-Bretanha, tradução da autora).

Nesse caso, é visto que a tecnologia é utilizada tanto para o oferecimento

de uma estratégia pedagógica específica quanto como um suporte para atividades

presenciais, como sugerido por Stoszkowski e Collins (2017b). No entanto, é possível

considerar pela resposta obtida que a FNG não utiliza as estruturas online para

promover interações sociais entre os(as) treinadores(as)-aprendizes(as) e desses(as)

com os(as) mediadores(as) responsáveis (DRISKA; GOULD, 2014; KUKLICK;

GEARTITY; THOMPSON, 2015), sendo essa realizada apenas nos momentos

presenciais e com relação ao conteúdo discutido pelo(a) mediador(a) e não de forma

ativa pelo(a) aprendiz(a). No caso específico dos seminários online, a interação

acontece apenas com questões realizadas de forma remota e com pouca interação

entre os(as) aprendizes(as).

Outro caso semelhante é observado na resposta do(a) respondente de

Portugal, que descreve o processo de tornar remota uma estratégia pedagógica antes

presencial:

Desde 2014 e com o intuito de se sustentar a atividade de formação numa base mais estruturada e com a possibilidade de se manter a estrutura de formação mais acessível (independentemente dos(as) formadores(as) que lecionassem a atividade), tem-se vindo a fazer a migração e a criação dos cursos em simultâneo para uma plataforma de aprendizagem online de ensino a distância, para que assim se pudesse acrescer aos conteúdos dos cursos (sempre muito restringidos à escassez temporal do contato presencial da formação) outro tipo de recursos educativos de apoio, nomeadamente as apresentações PowerPoint, documentos, textos, filmes e outros recursos. (Respondente de Portugal).

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240

A intenção de proporcionar a todos(as) os(as) participantes os mesmos

conteúdos independente de quem são os(as) mediadores(as) responsáveis de cada

edição de oferecimento dos Cursos regulares e, especialmente, de oferecer

oportunidades de aprendizagem informal, demonstra um esforço interessante da FNG

de proporcionar uma uniformidade de temas citados e certa independência nos

processos de aprendizagem. Claramente, é esperada uma atitude nesse sentido de

instituições reguladoras do exercício da profissão de treinador(a) de GPT, uma vez

que por esse motivo devem oferecer um currículo básico e mínimo para todos(as) os

interessados(as). Por fim, o funcionamento dessa estratégia pedagógica descrita pela

FNG de Portugal como uma Plataforma de dados online constata o potencial inovador

dessa proposta, que contribui fornecendo aos(às) treinadores(as)-aprendizes(as)

materiais de ensino (MOON, 2001) para consulta.

No entanto, ressaltamos que apesar disso, a aproximação com o contexto

de cada aprendiz(a) e a forma ativa de participação de todos(as) durante as mediação

são fatores essenciais nos processos de aprendizagem. Assim, ao mesmo tempo, a

ideia de padronização das discussões e a tentativa de omitir as particularidades

dos(as) mediadores(as) responsáveis das estratégias pedagógicas afasta os

programas de formação de treinadores(as) de uma concepção histórico-cultural.

Ao mesmo tempo, destacamos que as atividades online que não

proporcionem relações sociais entre os(as) envolvidos(as) dificultam que laços

afetivos sejam desenvolvidos. Tal afetividade é essencial para que os(as)

aprendizes(as) considerem as estratégias pedagógicas efetivas, atribuam sentidos

aos conhecimentos co-construídos e constituam tais processos de aprendizagem

como vivências (VYGOTSKY, 1998; MARQUES; CARVALHO, 2014; DELARI

JUNIOR; PASSOS, 2009).

Por fim, destacamos o trecho da resposta da FNG da Dinamarca sobre os

Cursos online:

Não há interação entre o(a) professor(a) e o(a) participante. Entretanto, cursos online são interativos por natureza. O(a) participante tem que clicar no material e responder algumas perguntas continuadamente. (Respondente da Dinamarca, tradução da autora).

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Esta resposta valida as informações já oferecidas pelas FNG de Portugal e

Grã-Bretanha e também constatadas por outros estudos (DRISKA; GOULD, 2014;

STOSZKOWSKI; COLLINS, 2017a; 2017b) de que a utilização da tecnologia na

formação de treinadores(as) é, muitas vezes, subaproveitada. As estratégias

pedagógicas realizadas são comumente isentas de mediações diretas, sem que

aconteçam interações sociais entre os pares e desses(as) com os(as) mediadores(as)

responsáveis. Como observado nos estudos apresentados nessa tese, a Internet pode

ser eficaz para aproximar os(as) envolvidos(as) e favorecer discussões e trocas de

experiência, mas isso dependerá da atuação dos mediadores(as), de micro, meso e

macro nível (JONES; THOMAS, 2015) no desenvolvimento das estratégias

pedagógicas.

Outro aspecto a ser destacado é o incentivo ao papel ativo dos(as)

treinadores(as)-aprendizes(as) durante as estratégias pedagógicas:

Nós lideramos os(as) participantes para serem ativos durante o curso e não apenas ficarem sentados ouvindo. (Respondente da Eslováquia, tradução da autora).

Para sessões práticas, envolvemos participantes para serem fisicamente ativos(as) o tempo todo, experimentarem pessoalmente novos movimentos, novas abordagens, para adicioná-los a suas próprias experiências. Como mencionado antes, envolvemos os(as) participantes para interagirem em todas as aulas e nós reagimos às suas necessidades. (Respondente da Eslováquia, tradução da autora).

Além disso, nós nos esforçamos para facilitar a prática reflexiva dos(as) participantes. Gostaríamos de incentivar treinadores(as) a serem curiosos e reflexivos, que possam examinar criticamente suas próprias práticas. (Respondente da Dinamarca, tradução da autora).

As colocações do(a) respondente da Eslováquia destacam um aspecto

bastante relevante da teoria histórico-cultural. Ao pensarmos em uma estratégia

pedagógica centrada nas relações sociais e não no(a) aprendiz(a) ou no(a)

mediador(a), a ação efetiva de todos(as) os(as) envolvidos(as) é um aspecto essencial

a ser considerado (VYGOTSKY, 2000; 2010). Considerando que os processos de

aprendizagem são co-construções entre novos conhecimentos, aqueles já construídos

e estabelecidos pela cultura, mas recentes a uma determinada pessoa, e outros

provenientes das experiências prévias e do contexto de atuação (POTRAC; NELSON;

GREENOUGH, 2016), é impossível pensar um processo de aprendizagem em que

o(a) aprendiz(a) não se engaje em tarefas, discussões, questionamentos e trocas de

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conhecimentos. Assim, ressaltamos a ênfase do(a) respondente da FNG da

Eslováquia no papel ativo dos(as) participantes das estratégias pedagógicas. Cabe

relembrar que consideramos como papel ativo do(a) aprendiz(a) não apenas a

realização de atividades práticas em oposição às atividades teóricas ou de

observação, mas ações de valorização e atenção do fundamental envolvimento

dos(as) aprendizes(as) nos processos de aprendizagem, como já discutido

anteriormente.

Por fim, outros três temas foram citados pelos(as) respondentes: o currículo

das estratégias pedagógicas, as avaliações e o local de realização das mesmas. Estes

temas tem estreita relação com a proposta dos programas de formação de

treinadores(as) de GPT e se articulam com as estratégias pedagógicas relacionando-

se com suas ontologias.

Com relação ao currículo dos programas de formação de treinadores(as)

de GPT, foi respondido pelas instituições do Canadá e da Eslováquia que este é

predefinido:

Todos os cursos têm um currículo determinado. Entretanto, o(a) facilitador pode utilizar mais tempo em um assunto se os(as) participantes expressarem a necessidade de uma explicação. (Respondente do Canadá, tradução da autora).

Nós temos nosso currículo do curso, mas existe sempre a possibilidade de adaptar o programa de acordo com a composição dos(as) participantes. (Respondente da Eslováquia, tradução da autora).

Possuir um currículo pré-estabelecido é uma das características básicas

consideradas das oportunidades de aprendizagem institucionais (NELSON; CUHION;

POTRAC, 2006), especialmente pautadas em princípios positivistas (PAQUETTE et

al., 2014). Assim, respostas como as oferecidas são previstas neste tipo de

questionamento. No entanto, enfatizamos os comentários dos(as) respondentes das

FNG do Canadá e da Eslováquia, ao considerar que embora haja um currículo

previsto, também há a possibilidade de adequação desse com relação aos(às)

participantes da estratégia pedagógica.

Temos assim uma situação que se aproxima da esperada em uma proposta

pautada na teoria histórico-cultural, em nossa interpretação. Isso pois compreende

que a escolha do currículo de um programa de formação de treinadores(as) é política

(BUCKLEY; CAPLE, 2000), ou seja, coerente a uma ontologia que situa as

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importâncias dos(as) mediadores(as) responsáveis, dos(as) aprendizes(as), das

experiências prévias dos(as) envolvidos(as), dos conhecimentos já construídos pela

sociedade e, ainda, da possibilidade de co-construção de novos conhecimentos.

Dessa forma, pensar a possibilidade de adequação do currículo ao grupo de pessoas

participantes sinaliza uma intenção social para as oportunidades de aprendizagem

institucionais. Isso é reforçado ao ressaltarmos o currículo como uma forma de

mediação em mesonível, influenciada pela de macro nível dos(as) gestores(as) das

instituições e grandemente influenciadora das mediações de micro nível (JONES;

THOMAS, 2015).

De toda forma, é importante frisar que das seis instituições participantes

dessa fase da pesquisa, apenas duas citaram os currículos e fizeram referência a essa

possibilidade de organização dos conhecimentos discutidos. Logo, percebe-se que

embora não seja inexistente essa forma de organização das estratégias pedagógicas,

ainda assim é uma discussão incipiente.

Sobre as formas de avaliação das estratégias pedagógicas, é importante

relembrar a consideração de Moon (2001) de que os critérios de avaliação também

são formas de mediação e guiam os processos de aprendizagem. Assim, da mesma

forma que os currículos, são parte essencial e mediadora das estratégias pedagógicas

e refletem concepções norteadoras dos programas de formação de treinadores(as).

Três FNG participantes dessa etapa da pesquisa citaram o tema

avaliações. De modo geral, as falas dos(as) respondentes das FNG do Canadá, da

Grã-Bretanha e de Portugal parecem demonstrar uma intenção social das formas de

avaliação, favorecendo com que haja troca e co-construção de conhecimentos a partir

de relações sociais. A FNG do Canadá, por exemplo, demonstra certa atenção com

as mediações que se estabelecem entre mediadores(as) responsáveis e

aprendizes(as):

O(a) avaliador(a) de treinadores(as) avalia um porfólio que o(a) treinador(a) prepara e então o(a) observa enquanto está atuando. (Respondente do Canadá, tradução da autora). Encontros adicionais entre treinadores(as) e professores(as) ocorrem durante o processo de avaliação. (Respondente do Canadá, tradução da autora).

As informações oferecidas demonstram a utilização de portfólios e de

momentos de diálogo para essa finalidade. Atividades de mentoria são citadas por

duas FNG:

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Eles(as) são acompanhados(as) por um período de mentoria em seus próprios clubes e um período formal para uma avaliação realizada por um(a) assessor independente. (Respondente da Grã-Bretanha, tradução da autora). O estagiário é acompanhado diariamente por um Tutor de Grau II (Treinador de Grau II) no seu Clube e no acompanhamento pedagógico e técnico dos conteúdos a treinar e por um Coordenador Regional de Estágio que acompanha e coordena à distância e ciclicamente toda a sua intervenção e organização administrativa e processual do estágio. A nota do estagiário é uma média entre as notas destes dois intervenientes. (Respondente de Portugal).

Assim, embora metade dos(as) respondentes tenham citado o tema

avaliações, podemos considerar que com relação a esse assunto as FNG parecem

estar mais relacionadas a uma proposta próxima à teoria histórico-cultural. Em

especial, essa aproximação acontece pela valorização do conhecimento do contexto

de atuação e as experiências prévias de cada treinador(a)-aprendiz(a) e pela

facilitação de discussões e troca de experiência entre os(as) envolvidos(as),

encorajando a demonstração de competências de forma aplicada (SMIDT, 2009;

VYGOTSKY, 2009; OLIVEIRA, 2016).

Há, no entanto, a possibilidade de essas avaliações, que acontecem a partir

de atividades de Mentoria, terem como finalidade a “conferência” do desenvolvimento

de habilidades fechadas por parte dos(as) aprendizes(as), o que é bastante voltado à

uma abordagem tradicional das estratégias pedagógicas. Assim, outros detalhes

devem ser estudados para que haja confirmação se a intenção dessas propostas

avaliativas se referem as ações práticas.

Ao menos no caso da FNG do Canadá, nossa especulação é de que essa

finalidade social da estratégia avaliativa exista, uma vez que esses resultados também

são apontados por Paquette e colaboradores (2014), sendo utilizados pela Federação

Nacional de Triatlhon do Canadá. Esta utilização de propostas consideradas por nós

como inovadoras na avaliação de treinadores(as) e valorizadas pela literatura

(PAQUETTE et al., 2014) pode ser fruto de discussões e mediações em macro nível

exercidas pela NCCP, como já discutido no capítulo anterior. Da mesma forma, a FNG

do Canadá é uma instituição que possui um Comitê de Desenvolvimento Esportivo e

Educação, que parece se dedicar ao desenvolvimento desses programas de formação

de treinadores(as).

Por fim, o último tema dessa sessão é o local de realização das estratégias

pedagógicas.

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Usualmente realizados em instalações de Ginástica. (Respondente do Canadá, tradução da autora).

As aulas de conteúdos técnico prático são totalmente organizadas em ambiente de ginásio com o contato presencial com formadores(as) e ginastas de apoio. (Respondente de Portugal).

Ginásios foram os únicos a serem citados, embora não se saiba se estes

são localizados em clubes, ou seja, nos locais específicos de atuação de um grupo de

treinadores(as), ou em outros locados apenas para o desenvolvimento das atividades.

Consideramos que a realização das atividades em local relacionado à atuação prática

dos(as) treinadores(as)-aprendizes(as) já é uma indicação interessante e

aproximação com a realidade dos(as) mesmos(as) que favorece o desenvolvimento

das atividades.

De modo geral sobre as estratégias pedagógicas, os dados

demonstram que o oferecimento é, em sua maioria, de propostas tradicionais

ou híbridas, em que há o incentivo à participação ativa dos(as) treinadores(as)-

aprendizes(as). Apesar disso, é percebido que tais estratégias não são pautadas

nesse aspecto, ou seja, não possuem como finalidade principal constituir-se

como espaços para co-construção de conhecimentos pautadas na troca de

experiências. O mesmo aspecto é percebido com relação às estratégias

pedagógicas online, que não possuem o incentivo para o desenvolvimento das

relações sociais entre os(as) envolvidos(as). Esse assunto, as mediações, foi

foco de análise do segundo tópico dessa fase da pesquisa, discutido a seguir.

b) Mediações

A segunda questão realizada às FNG questionava sobre as relações

sociais entre os(as) treinadores(as)-aprendizes(as) e desses(as) com os(as)

mediadores(as) responsáveis pelas estratégias pedagógicas. Consideramos as falas

já destacadas no item anterior e, nesse momento, destacamos aquelas que se referem

exclusivamente ao assunto das mediações.

Nas relações entre mediadores(as) responsáveis e treinadores(as)-

aprendizes(as), é possível notar que as falas dos(as) respondentes trazem diferentes

ênfases, sendo algumas delas centradas nos(as) mediadores(as) responsáveis e

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outras mais focadas na relação entre os(as) envolvidos(as), como esperado pela

teoria histórico-cultural.

Esta resposta da FNG da Grã-Bretanha, por exemplo, deposita no(a)

mediador(a) responsável a possibilidade de determinar em quais momentos os(as)

treinadores(as)-aprendizes(as) poderão trocar conhecimentos e experiências:

O(a) líder do workshop irá usar uma série de estratégias e discussões para desenvolver a aprendizagem dos(as) treinadores(as). Algumas vezes, serão liderados(as) pelo(a) tutor(a) e outras irão discutir e trocar ideias entre si. (Respondente da Grã-Bretanha, tradução da autora).

Consideramos, é claro, que cabe ao(à) mediador(a) responsável a tarefa

de organizar as estratégias pedagógicas e, assim, propor atividades a serem

desenvolvidas em cada etapa das mesmas. No entanto, entendemos que as

estratégias pedagógicas deveriam permitir que essas discussões acontecessem a

todo momento, apesar de alguns deles serem diretamente mediados(as) pelo(a)

mediador(a) responsável, como em palestras e workshops. Um exemplo desse tipo

de iniciativa é percebido no trecho a seguir, oferecido pela FNG da Eslováquia:

Todo o curso é construído com uma filosofia de comunicação em duas vias. Os(as) participantes podem compartilhar suas experiências e perguntas durante as apresentações dos(as) professores(as) e possuem a possibilidade de liderar algumas partes dos cursos – especialmente práticas. (Respondente da Eslováquia, tradução da autora).

Nessa fala, percebemos que o foco das atividades é a relação que se

estabelece entre os(as) treinadores(as)-aprendizes(as) e desses com os(as)

mediadores(as) responsáveis, favorecendo as trocas de experiências e a co-

construção de novos conhecimentos (VYGOTSKY, 1997; 1998; 2000; 2009; 2010).

De fato, essa é a tese que defendemos, de que as estratégias pedagógicas, mesmo

aquelas parte de oportunidades de aprendizagem institucionais, como os Cursos

regulares, podem ser voltadas às relações sociais e terem ênfase no desenvolvimento

de vivências por parte dos(as) aprendizes(as) (SMIDT, 2009; VYGOTSKY, 2009;

OLIVEIRA, 2016; POTRAC; NELSON; GREENOUGH, 2016).

Outras falas obtidas demonstram a intenção de aproximação com o

contexto específico de cada aprendiz(a) e, logo, do desenvolvimento de significados

e vivências nos processos de aprendizagem a partir do enriquecimento dessa ação

proporcionado pelas relações sociais com os(as) mediadores(as) responsáveis:

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Além disso, os(as) professores(as) tentam realizar conselhos específicos para os(as) participantes e compartilhar com esses(as) experiências. Uma reunião com a troca de opiniões é esperada ao final de cada módulo de ensino. (Respondente da Itália, tradução da autora).

O(a) avaliador(a) oferece feedbacks e auxilia o(a) treinador(a) a identificar forças e fraquezas e criar um plano de ação para futuras aprendizagens. (Respondente da Canadá, tradução da autora).

Por fim, duas outras falas foram dedicadas a discutir a relação entre os(as)

treinadores(as)-aprendizes(as) nos processos de aprendizagem. Mais uma vez, o(a)

respondente da Eslováquia destaca-se, realizando uma discussão que se aproxima

com um programa baseado na teoria histórico-cultural:

O mais importante para nós é ter uma atmosfera amigável entre os(as) educadores(as) e os(as) participantes e também construir boa cooperação e relação entre os(as) participantes. (Respondente da Eslováquia, tradução da autora).

Com esse excerto, podemos considerar não apenas a importância dos

pares para os processos de aprendizagem, mas também um foco dado a criação de

ambientes que favoreçam as relações sociais de forma saudável e cuja intenção seja

voltada para o desenvolvimento de todos(as) os(as) envolvidos(as).

Outra fala, do(a) respondente do Canadá, também retoma a importância

dos pares nos processos de aprendizagem:

É dada oportunidade para os(as) participantes de explorar o que sabem e compartilhar ideias e experiências. (Respondente da Canadá, tradução da autora).

Logo, a aproximação dos programas de formação de treinadores(as) à uma

perspectiva histórico-cultural relaciona-se, além da estrutura das estratégias

pedagógicas oferecidas, às posturas dos(as) mediadores(as) responsáveis, em

macro, meso e micro nível (JONES; THOMAS, 2015). Dessa forma, dentre os fatores

que podem interferir nessa mediação das atividades, um(a) dos(as) respondentes

participantes comentou a formação dos(as) próprios(as) mediadores(as) responsáveis

pelo micro nível:

Todos(as) os(as) nossos(as) professores(as) se encontram uma vez por ano e discutem métodos de comunicação e pedagógicos que são utilizados nos cursos regulares. (Respondente da Dinamarca, tradução da autora).

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Assim, a resposta da FNG da Dinamarca destacou um fator que

consideramos fundamental para que o oferecimento de qualquer oportunidade de

aprendizagem de treinadores(as) aconteça de forma satisfatória: as oportunidades de

aprendizagem que acontecem para os(as) mediadores(as) responsáveis. Essas

discussões, sob a mediação de outras pessoas que podem colaborar para a

estruturação das estratégias pedagógicas, desenvolvimento de currículos,

organização de processos avaliativos e que incentivam a troca de conhecimentos

entre os(as) mediadores(as), agora aprendizes(as), são fundamentais para

constantes atualizações e aprimoramento dessas iniciativas formativas.

Destacamos, como já discutido anteriormente, que a aproximação com as

universidades pode ser uma forma potencial de favorecer essas co-construções de

conhecimentos.

Para o mais básico nível de formação de treinadores(as), nós temos cursos em três partes – dois finais de semana estendidos para a formação específica de treinadores(as) liderados pela Federação de Ginástica da Eslováquia e um final de semana com aulas gerais de Educação Física liderado por Universidades de Esporte da Eslováquia. (Respondente da Eslováquia, tradução da autora).

Embora não tenham citado essa possibilidade, a FNG da Eslováquia

ressaltou uma colaboração entre essas duas instituições, favorecendo a troca de

conhecimentos entre as pessoas envolvidas.

Com relação as mediações, as falas oferecidas pelos(as)

respondentes demonstram foco tanto nas relações sociais entre mediadores(as)

responsáveis e treinadores(as)-aprendizes(as) quanto entre os(as)

treinadores(as)-aprendizes(as), embora menor número. Essa incidência reforça

a ideia que as estratégias pedagógicas oferecidas pelas FNG são

prioritariamente tradicionais ou híbridas. Ao mesmo tempo, indicativos

demonstram que alguns programas não oferecem a possibilidade de co-

construção de conhecimentos a partir das trocas de experiência a todo

momento. Essa dificuldade imposta na participação ativas dos(as)

aprendizes(as) nas estratégias pedagógicas, bem como a limitação das relações

sociais pode interferir na criação de ambientes favoráveis ao desenvolvimento

de vivências. Esse aspecto será discutido no item na sequência.

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249

c) Vivências

A terceira questão feita às FNG referiu-se aos aspectos considerados como

relevantes e aplicáveis em cada estratégia pedagógica. Com essa questão, como

explicado às FNG, desejávamos entender as características de cada estratégia

pedagógica que a diferenciassem das outras, para, portanto, compreender de que

forma essas estratégias pedagógicas colaboram para o desenvolvimento de sentidos

e de vivências de treinadores(as)-aprendizes(as).

Uma única instituição expressou-se referentemente a esse assunto. O(a)

respondente da FNG da Eslováquia ressaltou, de forma menos específica à nossa

pergunta mas ainda assim relativa à temática que desejávamos abordar, a importância

das estratégias pedagógicas nos processos de formação dos(as) treinadores(as)-

aprendizes(as). Destacou:

Eu tenho 20 anos de experiência e acredito veemente que isto está funcionando em uma perspectiva a longo-prazo. As pessoas não participam dos cursos apenas pelo certificado, elas estão lá porque sabem que se sentirão bem, serão bem tratadas e estarão entre novos(as) amigos(as). (Respondente da Eslováquia, tradução da autora).

Este é o único jeito para mim! Ser aberto(a), criativo(a), ouvir os(as) participantes, respeitá-los(as) e a seus conhecimentos e experiências e realizar tudo isso em uma boa atmosfera! (Respondente da Eslováquia, grifo do(a) respondente, tradução da autora).

Nessas falas e em outras desse(a) respondente no item anterior de análise,

é possível identificar a responsabilidade assumida pela instituição e pelos(as)

mediadores(as) responsáveis em criar ambientes em que os(as) treinadores(as)-

aprendizes(as) sintam-se acolhidos e parte de um espaço que permite expressões,

questionamentos e co-construção de novos conhecimentos importantes para sua

atuação profissional. Assim, há a possibilidade de desenvolvimento de situações de

vivência, experiências efetivas (CAPUCCI; SILVA, 2017), que potencializarão os

processos de aprendizagem. Assim, o(a) respondente parece compreender que a

motivação dos(as) treinadores(as)-aprendizes(as) é fator fundamental para a

manutenção da frequência e efetividade dos programas, permitindo e proporcionando

momentos que favoreçam processos de aprendizagem.

Assim, embora as respostas oferecidas pela FNG da Eslováquia

aproximem-se das referenciadas nesse estudo, o fato de apenas uma das seis

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250

instituições participantes ter destacado explicitamente esse assunto o torna um

potencial tema de discussões e pesquisas na área de formação de treinadores(as).

Como já argumentado em capítulos anteriores dessa tese e partindo do entendimento

da importância da afetividade e da vivências para os processos de aprendizagem de

treinadores(as), a conjunção de tais dados teóricos com as análises das informações

obtidas indica a necessidade da retomada desse tema com os(as) gestores(as) e

mediadores(as) responsáveis das instituições de formação de treinadores(as).

De modo geral, a análise dos dados dessa segunda etapa da pesquisa

demonstra que as estratégias pedagógicas oferecidas pelas FNG são

prioritariamente tradicionais. Apesar dessa dominância, podem ser percebidos

nos discursos dos(as) respondentes indícios de iniciativas que se apropriem de

princípios inovadores nos processos de mediação das estratégias pedagógicas

tradicionais. Esses podem ser observados, especialmente, nos comentários sobre

os processos avaliativos da FNG do Canadá e no oferecimento de feedbacks

específicos para cada aprendiz(a) pelas FNG do Canadá e da Itália; na adoção de

estratégias pedagógicas híbridas pela FNG da Dinamarca; na ênfase dada às

atividades práticas pelas FNG de Canadá e Dinamarca; no destaque ao papel ativo

do(a) aprendiz(a) nos processos de aprendizagem feito pelas FNG da Dinamarca e

da Eslováquia; na indicação de um currículo que se adapta aos participantes pelas

FNG do Canadá e da Eslováquia; e no enfoque dado às relações entre

mediadores(as) responsáveis e treinadores(as)-aprendizes(as) pela FNG da

Eslováquia.

Com base nesse levantamento, podemos considerar que embora

nenhuma das FNG se utilize de estratégias inovadoras que possuam ênfase nas

relações sociais, como apresentados modelos em capítulos anteriores, na

prática, as FNG vêm adotando algumas tendências que se aproximam da teoria

histórico-cultural em propostas tradicionais. Isso pode ser considerado,

notavelmente, para os programas de formação de treinadores(as) de GPT do Canadá,

da Dinamarca e da Eslováquia, tendo essa última um grande destaque nessas

aproximações. Consideramos que as informações oferecidas pelo(a) respondente

dessa FNG indicam intenções de que as mediações oferecidas pela instituição sejam

voltadas ao desenvolvimento de ambientes e de relações sociais que favoreçam os

aspectos valorizados pela teoria histórico-cultural para os processos de formação de

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treinadores(as). Vale ressaltar que esse(a) respondente foi o(a) único(a) a ressaltar a

especificidade de formação de treinadores(as) de GPT, demonstrando considerar a

natureza da prática nas relações sociais que se estabelecem nos programas

oferecidos:

Desde o começo, eles(as) (treinadores(as)) precisam entender que o caminho para o trabalho com a GPT é totalmente diferentes de outras disciplinas competitivas. (Respondente da Eslováquia, tradução da autora).

Nós frequentemente temos participantes de outras disciplinas competitivas e eles(as) podem trazer ideias criativas para a GPT (por exemplo, ginastas de Ginástica Rítmica para fazer parte de apresentações de grupos ou como trabalhar com música...). (Respondente da Eslováquia, tradução da autora).

Tendo em vista essas colocações, parece-nos clara a intenção do(a)

respondente em valorizar as relações entre os(as) treinadores(as)-aprendizes(as),

considerando que a GPT é uma prática essencialmente não competitiva, para qual a

colaboração entre as pessoas envolvidas é um fator essencial. Ao entender que a

formação dos(as) treinadores(as) de GPT deve basear-se na troca de experiências e

conhecimentos, o(a) gestor(a) participante garante que essa é abordagem da prática

a ser adotada pela localidade, relacionado sua filosofia de trabalho em todos os níveis

da FNG.

Assim, consideramos que esse seria o oferecimento adequado de

programas de formação de treinadores(as), não apenas por relacionar-se à teoria que

entendemos como interessante para essa função (a teoria histórico-cultural), mas por

possuir uma linha de raciocínio íntegra desde o entendimento da definição de uma

prática, passando pela formação de treinadores(as) e culminando na prática em si,

realizada pelas pessoas daquela localidade.

Com isso, as discussões acerca das estratégias pedagógicas, das

mediações e das vivências são interessantes e devem ser compartilhadas entre os(as)

gestores(as) de FNG, a fim de que co-construções sobre esse assunto também sejam

realizadas. É preciso haver maior discussão sobre as especificidades da GPT e da

formação de seus treinadores(as), além do desenvolvimento, formatação e

oferecimento dos programas, para que estejam alinhados a esses princípios. Ao

passo que os três aspectos citados da teoria histórico-cultural estiverem

coerentes com o oferecimento dos programas, a formação de treinadores(as)

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poderá articular e fomentar a prática da GPT de modo a torna-la mas acessível

e disseminada em diferentes localidades.

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo caracterizou-se como uma das primeiras aproximações entre

a teoria histórico-cultural (VYGOTSKY, 1997; 1998; 2000; 2009; 2010) e as pesquisas

sobre a formação de treinadores(as), em geral e de GPT. Figurou como um esforço

inicial nas discussões apresentadas e expôs aspectos a serem enriquecidos e

aprofundados em outras pesquisas. Por entender os processos de aprendizagem

como sociais, históricos e culturais (POTRAC; NELSON; GREENOUGH, 2016), a

teoria histórico-cultural pôde e pode propor avanços nas discussões acerca do meio

social e das mediações, colaborando especialmente com as estratégias pedagógicas

que envolvem a prática da GPT e os programas de formação de treinadores(as).

Ponderamos que a teoria histórico-cultural se aproxima da GPT ao passo

que considera a importância da cultura nos processos de aprendizagem. Foi possível

perceber tal influência nos diferentes conceitos adotados para a prática pelas

FNG, que se adaptam às concepções de suas localidades e influenciam não apenas

o produto, mas também a forma como as relações sociais ocorrem em seu

desenvolvimento, além da valorização da prática dentre as demais formas ginásticas.

Em especial, com relação à concepção de GPT adotada pelo GGU e pelo GPG

(PAOLIELLO, 2008; PAOLIELLO et al., 2014), e, portanto, nessa tese, a teoria

histórico-cultural ainda tem estreita relação com a filosofia que pauta as atividades

desses grupos. O entendimento de que as construções coreográficas são coletivas e

construídas a partir das relações sociais ressalta a importância das interações e

das mediações entre os membros do grupo. Outros estudos, como os escritos por

Soares, Almeida e Bortoleto (2016) e Menegaldo (2018), exemplificam mais esse

processo, embora não sejam baseados na teoria histórico-cultural.

Da mesma forma, alguns aspectos podem ser ressaltados sobre a teoria

histórico-cultural e sua contribuição para a formação de treinadores(as). Destacamos

que os(as) aprendizes(as) precisam estar ativos(as) em seus processos de

aprendizagem, ou seja, participar de atividades que os(as) permita co-construir

conhecimentos e habilidades para seu desenvolvimento (JONES et al., 2018).

Acreditamos ser essencial a promoção de estratégias pedagógicas que permitam

relações sociais enriquecedoras nos processos de co-construção de

conhecimentos e, com isso, valorizamos a mediação de pessoas mais experientes,

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que incentivem reflexões e possibilitem o conhecimentos dos contextos específicos.

Reforçamos que as discussões sobre as vivências podem informar a formação de

treinadores(as) no que diz respeito à promoção de oportunidades de aprendizagem

que possibilitem processos de aprendizagem significativos e que sejam

motivadores, com destaque à afetividade.

Assim, as discussões pautadas na tríade formada pela teoria histórico-

cultural, a formação de treinadores(as) e a GPT contribuíram para responder à

questão sobre quais são e como ocorrem os programas federativos de formação

de treinadores(as) em âmbito internacional.

Os resultados da pesquisa constataram a existência e analisaram trinta

programas de formação de treinadores(as) de GPT. Estes estão vinculados à FNG

que possuem exigências para a atuação como treinador(a) de GPT, basicamente, de

programas específicos em Esportes e práticas corporais, o retoma a importância das

iniciativas analisadas na formação dos(as) treinadores(as). Foi constatado que o

oferecimento dos programas se correlaciona com a existência de Comitês de GPT

nessas instituições.

Os programas analisados foram classificados entre consolidados, em

desenvolvimento e recentes, de acordo com seu tempo de estabelecimento e número

de treinadores(as)-aprendizes(as) participantes. Em tais programas, de abordagem

participativa, competitiva ou ambas, destacaram-se similarmente os objetivos

“aumentar o número de praticantes de Ginástica”, “capacitar treinadores(as) de

Ginástica” e “melhorar a qualidade das aulas de Ginástica”. Os conteúdos envolvidos

atendem especialmente pessoas jovens e grupos multietários, com conteúdos

relacionados às metodologias de ensino. Comumente, as oportunidades de

aprendizagem são mediadas por treinadores(as) mais experientes e pessoas

pertencentes ao quadro administrativo das FNG (Comitê de GPT, Comitê de

Educação e outros setores). Grande parte das iniciativas é paga.

De forma geral, pôde ser afirmado que o programa FIG Academy possui

importância variada de acordo com cada FNG, sendo comumente complementar a

ações nacionais de formação de treinadores(as). Especialmente para as FNG que

oferecem programas de formação de treinadores(as) de GPT, a importância do FIG

Academy, além de ser complementar, é mais citada pelos programas em

desenvolvimento, aqueles que estão em vias de se consolidar como ações concretas

das FNG.

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Com relação às estratégias pedagógicas oferecidas, os programas

analisados são basicamente pautados em propostas tradicionais, como Cursos

regulares e Eventos, palestras e workshops. Outras estratégias pedagógicas

consideradas como inovadoras, como Programas de mentoria e Plataformas de dados

online, são mais oferecidas em programas que contam com desenvolvedores(as) de

treinadores(as) entre seus(suas) mediadores(as) e/ou quando há obrigatoriedade da

formação oferecida pela FNG. O mesmo acontece com relação às propostas de

avaliação.

Além disso, a análise mais aprofundada sobre as estratégias pedagógicas,

da qual participaram respondentes referentes à seis programas de formação de

treinadores(as) de GPT, demonstrou que nem todas as citadas pelas FNG são de fato

realizadas. Em cinco casos, estratégias pedagógicas inovadoras anteriormente

citadas foram negadas pelos(as) respondentes, que afirmaram que as FNG não as

promovem com finalidade formativa ou que essas atividades estão suspensas no

momento. Nos demais casos de oferecimento, as respostas obtidas puderam

constatar que embora haja a intenção de que as estratégias pedagógicas

oferecidas incentivem a participação ativa dos(as) treinadores(as)-

aprendizes(as) e favoreçam as relações sociais, em muitos casos, as práticas

realizadas parecem ser realizadas apenas em propostas híbridas.

Especificamente com relação às estratégias pedagógicas individualizadas, estas são

oferecidas online e foi constatada que acontecem com pouca ou nenhuma interação

entre aprendizes(as) e desses(as) com os(as) mediadores(as). Entre todas as

constatações, destacamos a FNG da Eslováquia por retomar a importância da criação

de um ambiente em que os(as) treinadores(as)-aprendizes(as) sintam-se

acolhidos(as) e por enfocar as relações sociais entre os(as) envolvidos(as).

Assim, a pesquisa demonstrou que as discussões proporcionadas

pela teoria histórico-cultural podem contribuir para o desenvolvimento de um

novo olhar para as oportunidades de aprendizagem institucionais. Isso pode

acontecer, especialmente, ao se considerar que os programas de formação de

treinadores(as) são geridos por pessoas que também estão em constante processo

de aprendizagem sobre suas atuações. Sendo assim, encerramos essa pesquisa com

a ideia de uma proposta de implementação de uma comunidade de prática

(CULVER; TRUDEL, 2006), a ser formada por uma parceria entre os(as)

gestores(as) de FNG responsáveis pelos programas de formação de

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treinadores(as) de GPT e nós, autoras, a fim de que seja criado um espaço para

co-construção de conhecimentos acerca dessa finalidade. Dessa forma, a partir

do estabelecimento de um ambiente para que sejam proporcionadas discussões,

trocas de conhecimentos e experiências e apresentações da teoria histórico-cultural,

poderão ser compartilhadas dificuldades, soluções, opiniões e colaborações

(BERTRAM; CULVER; GILBERT, 2017) entre responsáveis por programas em

diferentes níveis de desenvolvimento. Assim, a desejada colaboração entre

instituições esportivas e as universidades (CARBINATTO; TOLEDO; MASSARO,

2016) poderá constituir-se a partir dessa iniciativa.

Outro fator de destaque dessa tese, a reflexão sobre a formação de

treinadores(as) de GPT no Brasil, pode ser retomado nesse momento. Destacamos,

bem como para outras FNG, que as discussões sobre a concepção de GPT e sua

abordagem pela FNG precisam ser ampliadas, especialmente se considerado o

avanço das discussões acadêmicas sobre a GPT no país (PAOLIELLO et al., 2014;

GRANER; AYOUB, 2016) e a disseminação dessa prática em diferentes contextos

(FIORIN-FUGLSANG; PAOLIELLO, 2008; TOLEDO; SCHIAVON, 2008; AYOUB,

2013; PATRÍCIO, 2016; PAOLIELLO, 2016). Bem como levantado pelo(a)

respondente da Confederação Brasileira de Ginástica e salientado por Patrício (2016),

não há consistência entre a motivação para prática e a realidade da mesma no país e

o discurso e as ações promovidos pela instituição.

Para além de discussões sobre a concepção de GPT, a possibilidade de

oferecimento de programas de formação de treinadores(as) de GPT no Brasil é

validada por outras federações esportivas nacionais, as quais, frente ao mesmo

quadro de obrigatoriedade de formação universitária, oferecem propostas de

formação continuada de treinadores(as) (GALATTI et al., 2016; MILISTETD et al.,

2016). As informações apresentadas nessa tese contribuem para a reflexão acerca

de estratégias pedagógicas coletivas online, bem como apresentam exemplos

de parcerias com universidades (JONES; TURNER, 2006; MCMAHON, 2013;

MORGAN et al., 2013a; 2013b) e, inclusive, de atribuição de importância ao

programa FIG Academy, nunca oferecido para a GPT no Brasil e que poderia auxiliar

nesse processo. Para além de aspectos práticos, o exemplo de abordagem da FNG

da Eslováquia, ao considerar um olhar histórico-cultural para a formação de

treinadores(as), pode ser importante para a reflexão de um programa brasileiro para

essa finalidade.

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Outra reflexão que se fazemos necessária relaciona-se às limitações

metodológicas existentes na pesquisa. Além das já expostas anteriormente no Método

dessa tese, ressaltamos a falta de dados oriundos das opiniões dos(as) próprios(as)

treinadores(as)-aprendizes(as) participantes dos programas de formação, as quais

consideramos que seriam de grande valia para a discussão dos aspectos da teoria

histórico-cultural. De qualquer modo, consideramos que a possibilidade de uma

iniciativa de pesquisa multicêntrica, que poderá ser desenvolvida a partir da

comunidade de prática formada pelos(as) gestores(as) das FNG, poderá incentivar

tais participações e incrementar as discussões sobre esse assunto.

Por fim, retomamos Vygotsky (1986) ao afirmar que “a partir dos

outros, nos tornamos nós mesmos”. Essa reflexão, nesse caso atrelada à

formação de treinadores(as), ressalta a potencialidade das relações sociais para o

desenvolvimento de vivências (VYGOSTKY, 1998) nas oportunidades de

aprendizagem institucionais. Como ressaltado nos dados obtidos pela pesquisa

teórica, os processos de aprendizagem que se pautam em estratégias pedagógicas

coletivas e participativas são considerados como efetivos pelos(as) treinadores(as)-

aprendizes(as), bem como aqueles que permitem a participação ativa de forma

potencializada (NASH; SPROULE, 2012; JONES; MORGAN; HARRIS, 2012;

MORGAN et al., 2013; MILISTETD, 2015). No entanto, os dados obtidos pela pesquisa

de campo demonstram que essa ainda não é a prática comum dos programas de

formação de treinadores(as) de GPT, o que nos conduz à proposta de sociabilização

dos dados da pesquisa e o convite à discussão trazidos por essa tese. Assim, os

objetivos propostos por esse estudo foram atingidos e poderão contribuir para o

quadro analisado, a partir do ineditismo dos dados obtidos e da relação com a teoria

histórico-cultural, até então não aprofundada nessa temática.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – CONVITE DE PARTICIPAÇÃO NA PESQUISA (VERSÃO EM INGLÊS) –

ETAPA A

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APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO (VERSÃO EM INGLÊS E WORD®) – ETAPA A

PROFESSIONAL EDUCATION IN GYMNASTICS FOR ALL: INTERNATIONAL

PROGRAMS AND PROSPECTS FOR BRAZIL

Phase I: Survey on Gymnastics for All coach/teacher education

(English language version)

Dear Mr./Ms.,

We would like to invite your National Gymnastics Federation to participate in a

study named “Professional Education in Gymnastics for All: International

Programs and Prospects for Brazil” by completing a survey on education programs

aimed at Gymnastics for All (GfA) coaches/teachers.

This Ph.D. research study is being conducted by Daniela Bento Soares, a

member of the Gymnastics Research Group of the Physical Education School of the

State University of Campinas, in the state of São Paulo in Brazil, under the supervision

of professors Laurita Marconi Schiavon, Ph.D, and Marco Antonio Coelho Bortoleto,

Ph.D.

Below you will find the links to this survey in the following languages:

Portuguese, English, French, and Spanish. By going to one of these links and clicking

on “Accept”, you will agree to participate in this survey and will then be able to answer

the survey questions.

Here are some premises and guidelines: a) you can answer the survey only

once and in one language; b) the survey must be completed in one single access and

it is not possible to resume where you left off; c) the estimated time for completion is

15 minutes; d) the respondents’ names and positions will not be disclosed; however,

the names of the countries will be displayed in the survey results; e) after data analysis

is completed, results will be shared with all respondents.

If you prefer to take the survey in an Office Word format, please contact us.

Kind regards,

Daniela Bento Soares

Ph.D. student at the School of Physical Education

State University of Campinas, São Paulo, Brazil

Gymnastics Research Group

E-mail: [email protected] ou [email protected].

Facebook page: https://www.facebook.com/daniela.soares.9484

ResearchGate: https://www.researchgate.net/profile/Daniela_Soares3

Mobile Phone/Whatsapp: +5519991969694

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This survey is part of a research study entitled “Professional Education in

Gymnastics for All: International Programs and Prospects for Brazil”. This survey aims

at raising and assessing the education programs focused on Gymnastics for All (GfA)

coaches/teachers offered by National Gymnastics Federations.

By going to one of these links and clicking on “Accept”, you will agree to

participate in this survey and will then be able to answer the survey questions.

You can answer the survey only once and in one language and the survey must

be completed in one single access; if you need to close the survey, you have to start

it again. The estimated time for completion is 15 minutes.

The respondents’ names and positions will not be disclosed; however, the

names of the countries will be displayed in the survey results. After data analysis is

completed, results will be shared with all respondents.

We appreciate your participation in our survey.

Kind regards,

Daniela Bento Soares

Ph.D. student at the School of Physical Education

State University of Campinas, São Paulo, Brazil

Gymnastics Research Group

E-mail: [email protected] ou [email protected].

Facebook page: https://www.facebook.com/daniela.soares.9484

ResearchGate: https://www.researchgate.net/profile/Daniela_Soares3

Mobile Phone/Whatsapp: +5519991969694

We appreciate your participation in our survey.

Some of the survey questions are open-ended. For the rest of the questions,

please check the box corresponding to “yes” or “no” or select one or more appropriate

options.

If you have any questions, please contact us via email at

[email protected] or [email protected].

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1. What is the name of your Federation?

______________________________________________

2. What is your position in this Federation?

Note: You can select more than one option.

( ) President

( ) Member of the Federation Board

( ) General Secretary of the Federation

( ) President of the Technical Committee of Gymnastics for All

( ) Member of the Technical Committee of Gymnastics for All

( ) President of the Technical Committee of another Gymnastics modality

( ) Communications Officer of the Gymnastics Federation

( ) Other: __________________________________

3. How long have you been in this position?

( ) Less than 1 year

( ) From 1 to 5 years

( ) From 5 to 10 years

( ) Over 10 years

4. According to your Federation, what is Gymnastics for All?

______________________________________________

5. What is the importance of the FIG Academy – Foundations Course program to

the education system of your Federation?

( ) It is the only education program in the country

( ) It is complementary to the Federation actions

( ) It has never been delivered at my federation

( ) I am not aware of the program

( ) Other: __________________________________

6. Does your Gymnastics Federation have Technical Committees of specific

modalities?

Yes ( ) No ( )

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6.1 If yes, which modalities have a specific Technical Committee?

( ) Acrobatic Gymnastics

( ) Aerobic Gymnastics

( ) Women´s Artistic Gymnastics

( ) Men´s Artistic Gymnastics

( ) Trampoline Gymnastics

( ) Gymnastics for All

( ) Rhythmic Gymnastics

( ) Other:_____________

7. Does your Gymnastics Federation require a university degree to work as a

gymnastics coach/teacher (all modalities)?

Yes ( ). What university degree is required? ______________________________

No ( )

7.1 If yes, this rule is:

( ) specific to the Federation.

( ) establised by a national law applicable to all sports.

( ) Other: _____________________

8. Does your Gymnastics Federation require any specific educational b in

Gymnastics to work as a Gymnastics coach/teacher (all modalities)?

Yes ( ) No ( )

8.1 If yes, what is the educational background required?

( ) Technical and pedagogical courses

( ) Academic courses (Undergraduate, Master´s or Ph.D. degrees)

( ) Other: _____________________

9. Does your Gymnastics Federation provide coach/teacher education

programs?

Yes ( )

No ( )

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9.1 If yes, which gymnastics modality the education program is targeted at?

Note: You can select more than one option.

( ) Acrobatic Gymnastics

( ) Aerobic Gymnastics

( ) Women´s Artistic Gymnastics

( ) Men´s Artistic Gymnastics

( ) Trampoline Gymnastics

( ) Gymnastics for All

( ) Rhythmic Gymnastics

( ) Other:_____________

If you have not selected Gymnastics for All in question 9.1, please skip to the end. If

you have selected Gymnastics for All in question 9.1, please answer the following

questions:

a) What kind of education programs are offered to Gymnastics for All

coaches/teachers?

Note: You can select more than one option.

( ) Regular courses

( ) Stimulus to scientific research

( ) Mentoring programs (tutor/internship)

( ) Event organization (lectures, workshops)

( ) Online data platforms (supporting texts on websites)

( ) Discussion forums or coach/teacher meetings (online or face-to-face)

( ) Distance education (online courses)

( ) Other: __________________________________

b) How long have education programs been offered at your federation for

Gymnastics for All coaches/teachers?

( ) Less than 1 year

( ) From 1 to 5 years

( ) From 5 to 10 years

( ) Over 10 years

c) Approximately how many people have already participated in Gymnastics for

All education programs in the past five years?

( ) Up to 100 people

( ) From 100 to 500 people

( ) From 500 to 1,000 people

( ) From 1,000 to 5,000 people

( ) Over 5,000 people

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d) Gymnastics for All coach/teacher education programs are:

Note: You can select more than one option.

( ) paid.

( ) free of charge.

( ) only offered to members of the federation.

( ) Other: __________________________________

e) Are there any selection criteria to participate in Gymnastics for All education

programs?

( ) No, anyone can participate.

( ) Yes. What are the criteria?________________________________

f) Does any Gymnastics for All education program have a progressive system?

( ) No, programs have only one education level.

( ) Yes. Which program and how many levels are there? _____________________

g) What are the goals of the Gymnastics for All education programs?

Note: You can select more than one option.

( ) Increase the number of people who practice gymnastics in the country

( ) Improve the quality of gymnastics classes offered in the country

( ) Train teachers to deliver Gymnastics for All classes

( ) Achieve better results in international competitions

( ) Other: __________________________________

h) The education programs offered to Gymnastics for All coaches/teachers

address content targeted at what age groups?

Note: You can select more than one option.

( ) Teenagers

( ) Adults

( ) Children

( ) Groups of people with disabilities

( ) Multi-age groups

( ) Elderly

( ) Youth

( ) Parents and children

( ) Other: __________________________________

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i) What is the intended breadth of participation of Gymnastics for All education

programs?

Note: You can select more than one option.

( ) Leisure activities.

( ) Competition (e.g. contests between groups).

( ) Other: __________________________________

j) How often is the Gymnastics for All program delivered?

Note: You can select more than one option.

( ) No specific frequency; sporadic.

( ) Monthly – What type of education program? ______________________________

( ) Every two months – What type of education program? ______________________

( ) Twice a year – What type of education program? _________________________

( ) Every year – What type of education program? __________________________

( ) Other: _______________________________________________________

k) Who delivers Gymnastics for All education programs?

Note: You can select more than one option.

( ) There is an assigned person or department

( ) More experienced coaches/teachers

( ) External professionals hired by the federation

( ) The person responsible for the Gymnastics for All Technical Committee

( ) Professionals from partnerships established with universities or research centers

( ) A certified Coach Developer

( ) Other: __________________________________

l) The content of the education programs offered refers to:

Note: You can select more than one option.

( ) Teaching methodologies

( ) Motivational aspects

( ) Attitude and behavior of coaches/teachers

( ) Program and class management

( ) Technical aspects

( ) Recreational activities

( ) Teacher-student communication

( ) Other: __________________________________

m) What evaluation strategies are used in this program?

Note: You can select more than one option.

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( ) Attendance in face-to-face stages or number of access to online education platform

( ) Written evaluations or tests

( ) Interviews

( ) Essays

( ) Practical tests (practical classes)

( ) Evaluation of competences by video

( ) None

( ) Other: __________________________________

( ) I would like to receive the research paper related to this survey.

( ) I do not want to receive the research paper related to this survey.

If you want to receive the research paper related to this survey, please write your email

here: ____________________________________

We would like to thank your Gymnastics Federation for participating in this survey.

Once again, if you have any questions, feel free to contact us via email at

[email protected] or [email protected].

Thank you for participating in the study “Professional Education in Gymnastics for All:

International Programs and Prospects for Brazil”

Kind regards,

Daniela Bento Soares

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APÊNDICE C – CONVITE DE PARTICIPAÇÃO NA PESQUISA (VERSÃO EM INGLÊS) –

ETAPA B

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APÊNDICE D – CONVITE DE PARTICIPAÇÃO NA PESQUISA (VERSÃO EM INGLÊS) –

ETAPA B

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ANEXOS

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ANEXO A – PARECER COSUBSTANCIADO DO CEP

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ANEXO B – CARTA DE SUPORTE À PESQUISA – SR. HARDY FINL

(COMISSÃO DE EDUCAÇÃO DA FIG)

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ANEXO C – CARTA DE SUPORTE À PESQUISA – SRA. AINDA

REBECA ROJAS (UNIÃO PAN-AMERICANA DE GINÁSTICA)