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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE BIOLOGIA
EDSON APARECIDO VIEIRA FILHO
EFEITO DA COLONIZAÇÃO INICIAL NO
DESENVOLVIMENTO E ESTRUTURAÇÃO DE COMUNIDADES
MARINHAS INCRUSTANTES DO SUBLITORAL RASO
CAMPINAS
2016
EDSON APARECIDO VIEIRA FILHO
EFEITO DA COLONIZAÇÃO INICIAL NO DESENVOLVIMENTO E
ESTRUTURAÇÃO DE COMUNIDADES MARINHAS INCRUSTANTES
DO SUBLITORAL RASO
Tese apresentada ao Instituto de Biologia da
Universidade Estadual de Campinas como
parte dos requisitos exigidos para a obtenção
do Título de Doutor em Ecologia.
Orientador: AUGUSTO ALBERTO VALERO FLORES
Coorientador: GUSTAVO MUNIZ DIAS
CAMPINAS
2016
ESTE ARQUIVO DIGITAL CORRESPONDE À
VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO
ALUNO EDSON APARECIDO VIEIRA FILHO E
ORIENTADA POR AUGUSTO ALBERTO
VALERO FLORES.
Campinas, 07 de Dezembro de 2016.
COMISSÃO EXAMINADORA
Prof. Dr. Augusto Alberto Valero Flores
Prof. Dr. Marcel Okamoto Tanaka
Prof. Dr. Guilherme Henrique Pereira Filho
Prof. Dr. José Roberto Trigo
Prof. Dr. Rafael Silva Oliveira
Os membros da Comissão Examinadora acima assinaram a Ata de Defesa, que se encontra
no processo de vida acadêmica do aluno.
A todos que continuam acreditando no meu potencial, torcendo pelo meu sucesso e
proporcionando oportunidades de aprendizado e crescimento.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todas as pessoas que direta ou indiretamente me ajudaram a desenvolver meu trabalho, e
que contribuíram braçal e intelectualmente, inclusive aqueles que nem sabem, mas foram importantes para o meu
crescimento profissional e pessoal. Este trabalho foi feito a muitas mãos e muitos neurônios. Agradeço então:
Ao meu orientador, Prof. Dr. Augusto A. V. Flores, por desde o mestrado ter se disposto a se aventurar
em novas áreas ao me orientar, sempre me instigando e me levando a pensar maior, a me aprofundar além do que
estava na minha frente. Obrigado por sempre trazer uma nova visão ao meu trabalho e a me estimular a pensar
em ecologia e não apenas ecologia marinha. Agradeço também por sempre confiar e me deixar livre, de forma
que eu desenvolvesse uma grande independência nas tomadas de decisões, resoluções de problemas e execuções
dos experimentos.
Ao meu coorientador, Prof. Dr. Gustavo M. Dias, que foi o responsável por eu ter me interessado pelas
melecas e por me fazer ver que uma grande e boa ecologia poderia ser feita com os organismos incrustantes.
Nesses 10 anos de trabalho conjunto, eu agradeço por sempre prezar pela parceria e não pela hierarquia,
condição que julgo eficaz no desenvolvimento e formação de um pesquisador. Obrigado por sempre me instigar
a ir além da mediocridade e por me dar possibilidades de fazer uma ecologia de alto padrão. Continuamos com a
marcenaria de fundo de quintal na montagem dos experimentos, mas sempre visando e conquistando uma ciência
de qualidade.
À Prof. Dra. Fosca P. P. Leite, que desde a graduação me acompanha, me ensina e me dá possibilidades
de também ensinar e aprender com seus alunos. Agradeço por me considerar um membro postiço do seu
laboratório e por me fornecer um espaço de trabalho e convívio profissional e pessoal sempre que desejo e
necessito. Obrigado principalmente por há muito tempo me mostrar que a ecologia só faz sentido quando
entendemos como os bichos vivem, quais as suas histórias naturais. Os resultados dessa tese mostram mais do
que claramente que saber sobre as características da história de vida dos organismos é imprescindível para se
entender processos e interações ecológicas, além de proporcionar um fértil terreno para a manipulação
experimental.
Agradeço aos Profs. André V. L. Freitas, Fosca P. P. Leite e Fabiane Gallucci pela disponibilidade em
avaliar minha tese previamente e pelas valiosas sugestões fornecidas.
Agradeço aos Profs. Marcel O. Tanaka, Guilherme H. Pereira Filho, José R. Trigo, Rafael S. Oliveira
pela disponibilidade e interesse em compor a banca avaliadora da tese e pela importante contribuição que tenho
certeza que fornecerão para a versão final.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Ecologia, em especial Prof. Gustavo Romero e
Prof. Martín Pareja, por todo o conhecimento passado e possibilidades de aprendizado durante disciplinas e
discussões extremamente úteis na minha formação.
À Prof. Amy Freestone, seus alunos e parceiros, em especial Mariana Bonfim, Diana Lopez e Carmen
Schloeder, por terem me proporcionado um ótimo momento de aprendizado em um outro país e por terem aberto
uma grande porta para uma parceria de pesquisa em um futuro breve.
À Dra. Taís Nazareth, por sempre estar disposta a ajudar com valiosas informações sobre toda a
burocracia de prestação de contas e submissão de propostas para a FAPESP.
À Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo-FAPESP por financiar meu estudo com a
bolsa de Doutorado (processo #2012/18432-1).
Ao CEBIMar-USP por todo auxílio infraestrutura proporcionada, em especial aos técnicos Joseilto,
Eduardo, Elso e Alex, sem os quais os dados deste trabalho não existiriam. Obrigado por sempre estarem
dispostos e tornar as coletas possíveis e prazerosas.
À Pôla, Mogli, Bibi, Jaque, Monte, Sérginho, Sol, Amábile, Bis, Caju por tornarem as estadas em São
Sebastião e no CEBIMar mais prazerosas.
Ao pessoal do Lab na UFABC, Grego, Dutra e Ká pelas ajudas em coletas, à Mari pela ajuda com a
obtenção de organismos para os experimentos, e a todos de forma geral pelas valiosas discussões sobre ecologia,
ciência, política e vida.
Aos amigos do LICOMAR por sempre me acolherem, me fazerem dar muita risada e por sempre me
proporcionarem oportunidades de aprender ensinando.
Aos queridos irmãos que o mar me deu, Marília, Ana e Glauco, que há mais ou menos tempo, mais
perto ou mais longe, sempre foram incríveis no companheirismo, na confiança, na troca. Obrigado por estarem
na minha vida pessoal e profissional, por me conhecerem tão bem e por acreditarem em mim e me apoiarem
sempre com carinho. Me espelho em vocês e levo cada um comigo sempre.
Aos irmãos da vida, Fih, Jota, Bruno, Geps, Nani, Cele, Zóio, Paula, Isa, Gui, Lary, Mari, Cris, Pri,
Gatão, Thaís Diogo, Chris, Bigato, Pedro, Cláudio, Raquel. Que há muito tempo me aturam, choram e riem
comigo. Obrigado por fazerem eu me sentir grande, capaz de amar, de ensinar, de compreender, de aceitar
diferenças. Obrigado por toda a inspiração profissional e pessoal que vocês me passam.
À Naira, amiga, professora, de agora, de antes e de depois. Obrigado por todos os ensinamentos, sejam
eles passados com profundidade ou com leveza, com risos ou com seriedade. Agradeço por me proporcionar a
possibilidade de ver a vida diferente, de viver melhor, de entender e perceber melhor o mundo.
À minha querida família, sem a qual eu não seria metade do ser humano que sou hoje, pelo apoio
fundamental para que eu me desenvolva como uma pessoa de caráter e de qualidade. Obrigado por me apoiarem,
por acreditarem em mim, mesmo quando eu sequer sabia que caminho seguir.
‘Para se chegar onde quer que seja não é preciso dominar a força, mas a razão.
É preciso transformar o medo em respeito e o respeito em confiança.’
Amyr Klink
RESUMO
Em comunidades sésseis geralmente há grande influência da colonização inicial nos
passos seguintes da sucessão. Em sistemas abertos, potencialmente qualquer organismo pode
colonizar e dar início à comunidade, havendo então uma loteria guiada por estocasticidade. Se
a colonização logo que o substrato se torna disponível proporciona ao organismo alguma
janela de vantagem perante espécies que colonizarem o substrato posteriormente, pode haver
uma maximização dos efeitos dessa espécie na comunidade, ou seja, efeitos de prioridade.
Esses efeitos podem ser facilitadores ou inibidores e vão afetar a estrutura da comunidade e
consequentemente vários processos ecossistêmicos. Atualmente a ação antrópica vem
provocando perdas de diversidade biológica em vários sistemas, principalmente costeiros. Isto
pode alterar o cenário de início da colonização e ter impacto na estabilidade, resistência e
resiliência da comunidade, inclusive no que diz respeito à introdução de espécies exóticas. Por
meio de uma abordagem experimental com a manipulação de características do cenário inicial
da colonização, testei os efeitos da identidade, diversidade taxonômica e diversidade
funcional dos fundadores na diversidade e estruturação de comunidades incrustantes do
sublitoral subtropical. No geral, as três manipulações mostraram que a identidade do fundador
é o aspecto mais importante da colonização, afetando tanto a riqueza quanto a estrutura da
comunidade ao longo da sucessão. Quando o fundador, ou o conjunto de fundadores, foi um
grupo que persiste na comunidade, monopolizando espaço e sendo resistente à predação, a
comunidade apresentou uma baixa riqueza e diversidade. Variações na diversidade dos
fundadores não afetaram a ocorrência de espécies exóticas e tiveram pouco efeito na estrutura
da comunidade, sendo observado apenas quando se variou a diversidade taxonômica mas não
a funcional. Predadores foram importantes tanto para a estruturação da comunidade,
diminuindo o número de espécies nativas e exóticas, em especial a abundância de ascídias,
independentemente da diversidade dos fundadores. Entretanto, o efeito para a riqueza de
espécies e ocorrência de exóticas foi modulado pela identidade do colonizador, sendo
observado apenas para comunidades que foram iniciadas por briozoários. Concluo que a
identidade do fundador é importante, afetando a diversidade da comunidade e sua estrutura,
além de modular o efeito de outros processos como a predação.
ABSTRACT
Sessile communities generally show a great influence of founder on subsequent
successional stages. In open systems, any colonizer can potentially found a community, as in
a lottery guided by stochasticity. If the founder organism has an advantage window during the
early colonization, its influence in the community can be maximized, representing a priority
effect. These effects can inhibit or facilitate the occurrence of new organisms, affecting
community structure e also ecosystems processes. In recent decades, anthropogenic action is
leading to biodiversity loss in several systems, mainly in coastal areas, altering colonization
scenarios with substantial impacts on community stability, resistance and resilience, even
against the introduction of non-indigenous species. Using an experimental approach in which
the characteristics of early colonizers were manipulated, I tested how the founders’ identity,
taxonomic diversity and functional diversity affect the structure of subtidal sessile
communities in a subtropical area. Overall, the three manipulations had shown that the
founder identity is the most important component of colonization, affecting either richness or
community structure along succession. When the founders were a persistent group in the
community, monopolizing space and being resistant to predation, community diversity in later
successional stages was low. Surprisingly, both initial taxonomic and functional diversity did
not affect the occurrence of non-indigenous species and only taxonomic diversity had a little
impact in the structure of the whole sessile community. Predators affected community
structure, leading to a decrease of total and non-indigenous species, specially reducing the
abundance of ascidians. However, predation effects were modulated by the taxonomic group
of early colonizers, being evident only when founders were bryozoans. In conclusion, the
founder identity matters, affecting community diversity and structure, and also modulating the
effects of other processes as predation.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO GERAL
OBJETIVOS
CAPÍTULO 1: A identidade do fundador: facilitação e inibição modulando o
efeito de prioridade na estruturação da comunidade
RESUMO
INTRODUÇÃO
MÉTODOS
Área de Estudo
Desenho Experimental
Sobrevivência do fundador e atração de coespecíficos
Amostragem
Análise dos dados
Efeito da identidade do fundador na estrutura da comunidade
Amostragem
Análise dos dados
RESULTADOS
Sobrevivência dos colonizadores iniciais
Atração de coespecíficos
Efeito no desenvolvimento da comunidade
DISCUSSÃO
CAPÍTULO 2: A Riqueza dos fundadores: facilitação direta e indireta mediada
por competição afetando a estrutura da comunidade
RESUMO
INTRODUÇÃO
MÉTODOS
Desenho Experimental
Amostragem
Análise dos dados
Ocorrência de espécies exóticas
RESULTADOS
DISCUSSÃO
CAPÍTULO 3: A riqueza funcional dos fundadores: maior importância da
identidade do que do grupo funcional na modulação dos efeitos
de predadores na estruturação da comunidade
RESUMO
INTRODUÇÃO
MÉTODOS
Desenho Experimental
Amostragem
Análise dos dados
Ocorrência de espécies exóticas
RESULTADOS
DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
MATERIAL SUPLEMENTAR
REFERÊNCIAS
ANEXO
Pgs.
12
16
17
18
19
21
21
22
24
24
24
24
24
25
25
25
26
27
32
35
36
37
39
39
43
43
44
45
50
55
56
57
59
59
63
63
64
64
68
72
75
79
90
12
INTRODUÇÃO GERAL
O processo de sucessão pode ser definido como mudança na composição e estrutura de
uma comunidade ao longo do tempo (Pickett 1976; Greene e Shoener 1982), sendo em muitos
casos extremamente variável, complexo e contexto-dependente (Connell e Slatyer 1977; Paine
e Levin 1981; Walker e Chapin 1987). Para entender essa variação, manipulações
experimentais são fundamentais (Connell e Slatyer 1977; Paine 1977; Lubchenco e Menge
1978; Walker e Chapin 1987). Contudo este enfoque se tornou uma prática frequente somente
nas últimas décadas (Breitburg 1985; Hirata 1987; Allisson 2004; Valdivia et al. 2005;
Cifuentes et al. 2007; Cifuentes et al. 2010). Além disso, poucos trabalhos investigam a
importância dos fatores e processos iniciais que podem determinar a sucessão e influenciar
nas características de uma comunidade tardia (Fukami 2015). Ainda, estes trabalhos
restringem a manipulação a um momento específico, ou a um local em particular (Cifuentes et
al. 2007; Antoniadou et al. 2011). Uma nova abordagem manipulativa, onde as comunidades
são construídas pelo pesquisador, pode ser um terreno fértil para entender como colonizadores
iniciais e outras características-chave das comunidades, como sua diversidade, podem alterar
as trajetórias e estados finais (Allisson 2004). Neste contexto, comunidades marinhas da zona
sublitoral são excelentes modelos para esse tipo de abordagem, uma vez que os organismos
são geralmente bem conhecidos e facilmente manipuláveis. Além disso, estas comunidades
são muito dinâmicas, inclusive quando consideradas pequenas escalas espaciais e temporais, o
que facilita o trabalho experimental e a obtenção de resultados relevantes em pequenos
intervalos de tempo (Connell 1974; Sutherland e Karlson 1977; Greene e Schoener 1982;
Vieira et al. 2016).
Em comunidades marinhas, as espécies iniciais podem pertencer aos mais diversos
grupos taxonômicos e apresentarem as mais diversas características funcionais, sendo sua
determinação regida por processos estocásticos de difícil previsão (Breitburg 1985). Contudo,
dependendo da espécie que inicialmente coloniza o substrato e do seu potencial de
monopolização de recursos (efeito de prioridade, ver Paine 1977), o caminho que a sucessão
vai seguir pode variar drasticamente (Wainwright et al. 2012). Dependendo do conjunto de
características, o residente inicial pode diminuir a quantidade de espaço, dificultando o
recrutamento de outros organismos (Russ 1980; Kay e Keough 1981; Nandakumar 1996; Hart
e Marshall 2009 e 2012). Por outro lado, pode promover espaço secundário ou um ambiente
13
modificado que favorece a chegada de novos recrutas de outros grupos (Russ 1980; Breitburg
1985; Jones et al. 1994; Walters e Wethey 1996; Claar et al. 2011).
Pensando no recrutamento como uma loteria (Greene e Schoener 1982), dependendo
do organismo que chega primeiro e do seu potencial de crescimento, manutenção e atração de
coespecíficos, a comunidade pode ter ou não sua estrutura e diversidade muito modificadas ao
longo da sucessão (Greene et al. 1983). Jackson (1977) definiu uma clara ordem de
substituição, começando com organismos solitários que vão sendo substituídos por espécies
coloniais. Neste caso os processos inibitórios não são fortes e as comunidades convergem
(Cifuentes et al. 2010; Antoniadou et al. 2011), principalmente se ao longo da sucessão
interações fortes como competição e predação atuarem (Paine e Levin 1981; Russ 1980;
Morin 1984 e 1995). Entretanto, trabalhos como os de Greene et al. (1983) e Hirata (1987)
mostram que organismos solitários ou com baixa habilidade competitiva podem dominar em
alguns casos, mantendo a diversidade da comunidade baixa por longos períodos (Mook 1981).
Esta situação geralmente acontece quando ocorrem processos de inibição de chegada e
ocorrência de outros organismos (Connell e Slatyer 1977) e baixo efeito de predadores nesses
residentes iniciais (Mook 1981).
Além do nível populacional, estudos com foco no conjunto inicial de espécies podem
ser particularmente interessantes e necessários (Cardinale et al. 2006; Griffin et al. 2009), uma
vez que é comum existir uma relação entre a diversidade dos momentos iniciais e a
diversidade da comunidade adulta (Osman 1977; Menge e Sutherland 1987). Entretanto, a
variabilidade dos efeitos observados para riqueza de espécies (Hooper et al. 2005) mostra que
esse parâmetro pode não ser uma boa abordagem para investigar o efeito da composição
inicial na sucessão e estrutura da comunidade. Simplesmente, diferenças de riqueza específica
não traduzem todas as modificações causadas pela identidade dos fundadores na comunidade
e ecossistema, visto que em alguns casos existe muita redundância funcional entre as espécies
e em outros não (Griffin et al. 2009; Guillemot et al. 2011). Portanto, o foco em como essas
espécies são funcionalmente diferentes pode responder melhor a algumas questões e
esclarecer fatores e processos importantes para a organização da comunidade a longo prazo
(Sutherland 1978; Valdivia et al. 2008). A diversidade funcional pode afetar processos muito
diferentes, desde a sucessão de comunidades (Fergione et al. 2003; Lohbeck et al. 2012) até a
produtividade primária (Griffin et al. 2009). De maneira geral, a diversidade de funções em
um determinado sistema é positivamente relacionada à estabilidade, resistência e resiliência
14
das comunidades face a distúrbios abióticos ou bióticos (Cardinale et al. 2000; Loreau et al.
2001; Stachowicz et al. 2007 e 2008).
Recentemente, se reconheceu que não apenas atributos da espécie exóticoa mas
também características das comunidades invadidas, são fundamentais para determinar o
sucesso de invasão. Baseado nisto, os atributos da comunidade que as tornam susceptíveis à
entrada de espécies exóticas têm sido investigados (Stachowicz et al. 1999, 2002, 2007 e
2008; Fergione et al. 2003). Quanto mais redundantes funcionalmente forem as espécies de
uma comunidade e menor o número de grupos funcionais, maiores as chances da espécie
exóticoa demandar recursos distintos das espécies nativas, evitando competição e facilitando
sua entrada e permanência. Já comunidades muito diversas específica e funcionalmente
acabam possuindo espécies representantes de todas as possibilidades de uso de recursos, o que
aumenta as chances da espécie exóticoa ter seu nicho já ocupado naquela comunidade por
uma ou várias espécies nativa, com a qual terá que competir, o que dificultará a sua entrada
(Shea e Chesson 2000; Fergione et al. 2003; Hart e Marshall 2012). Sendo assim, é comum
haver uma relação negativa entre diversidade e suscetibilidade à invasão da comunidade
(Stachowicz et al. 1999 e 2002; Fergione et al. 2003). Entretanto, alguns trabalhos
demonstram que quando processos “bottom-up” são os principais reguladores da diversidade,
a relação entre diversidade e susceptibilidade à invasão pode ser positiva, uma vez que locais
mais produtivos normalmente suportam uma maior riqueza, mas também apresentam uma
maior probabilidade de conter recursos pouco explorados (Stachowicz et al. 2007).
Sendo a sucessão um processo tão variável, dificultando a definição de padrões, fica
clara a necessidade de novos trabalhos, principalmente estudos que envolvam a manipulação
experimental isolando os processos responsáveis pela estruturação das comunidades. Há
alguns anos tenho desenvolvido estudos no Canal de São Sebastião, principalmente em
Ilhabela, investigando efeitos de interações como predação e competição na estruturação de
comunidades (Vieira et al. 2012, 2016), além da influência de distúrbios e alterações
ambientais na trajetória da sucessão dessas comunidades (Vieira et al. em prep.). Dentre os
locais examinados, o Yacht Club de Ilhabela mostrou-se um local apropriado para a
realização de estudos experimentais, tanto por apresentar uma comunidade diversa como por
permitir diferentes abordagens manipulativas. Para entender melhor os padrões de sucessão
observados nesse sistema, desenvolvi experimentos alterando os cenários iniciais da
colonização de comunidades incrustantes. Desta maneira, foi possível testar hipóteses com
relação ao desenvolvimento das comunidades, levando em conta a diversidade taxonômica e
15
funcional de espécies tropicais, assim como o amplo leque de possíveis interações, o que
eleva o grau de incerteza sobre os caminhos e padrões que eventualmente sejam alcançados
pelas comunidades. Além disso, já foram registradas várias espécies exóticas no local de
estudo, o que possibilitou investigar como essas comunidades iniciais, e as possíveis
interações biológicas, se relacionam com a suscetibilidade da comunidade à entrada e
permanência de espécies não nativas.
16
OBJETIVOS
Esta tese de doutorado teve como objetivo investigar como diferentes cenários da
colonização inicial do substrato disponível podem afetar o desenvolvimento e estruturação de
comunidades marinhas incrustantes do sublitoral subtropical. A tese está dividida em três
capítulos, cada um com objetivos específicos.
CAPÍTULO I. Investigar como a identidade e o tamanho de espécies
tipicamente fundadoras, mas funcionalmente diferentes, afetam o
desenvolvimento e estruturação das comunidades incrustantes.
CAPÍTULO II. Investigar como a riqueza de espécies fundadoras afeta o
desenvolvimento e estruturação das comunidades incrustantes, além da
suscetibilidade a ocorrência de espécies exóticas.
CAPÍTULO III. Investigar como a riqueza funcional das espécies fundadoras
afeta o desenvolvimento e estruturação das comunidades incrustantes na
presença e ausência de predadores, além de como esses dois fatores afetam a
ocorrência de espécies exóticas
17
CAPÍTULO I
A IDENTIDADE DO FUNDADOR: FACILITAÇÃO E INIBIÇÃO MODULANDO O
EFEITO DE PRIORIDADE NA ESTRUTURAÇÃO DA COMUNIDADE
18
RESUMO
Comunidades sésseis podem apresentar uma ordem definida de substituição de
organismos ao longo da sucessão, entretanto, em alguns sistemas abertos, a estocasticidade é
frequente e potencialmente qualquer organismo que tenha propágulos no meio e encontre
espaço livre, pode acabar fundando uma comunidade. Caso esse fundador tenha alguma
vantagem em colonizar o substrato antes de outras espécies (efeitos de prioridade), ele pode
influenciar marcadamente o restante da sucessão, facilitando ou inibindo a chegada de novos
organismos. Bons competidores com habilidade para monopolizar o substrato disponível
tendem a inibir o recrutamento de outras espécies, enquanto que organismos que não
monopolizem espaço, mas apresentam uma estrutura tridimensional podem facilitar o
recrutamento de outras espécies funcionando como substrato secundário, ou simplesmente
modificando as condições do substrato primário. Esses efeitos inibitórios e facilitadores
podem inclusive resultar em repulsão e atração de coespecíficos, respectivamente,
minimizando ou maximizando assim o efeito de prioridade da espécie fundadora.
Manipulando o momento de entrada das espécies no início do processo de sucessão, testamos
os efeitos da identidade de três diferentes espécies de colonizadores iniciais sobre a riqueza e
estrutura da comunidade. A ascídia colonial Botrylloides nigrum apresentou baixa
sobrevivência nos estágios iniciais e neutralidade quanto à atração de coespecíficos, levando
as comunidades a valores de riqueza normalmente observados em comunidades naturais. O
briozoário arborescente Bugula neritina apresentou alta sobrevivência, pelo menos no
primeiro mês, e grande atração de coespecíficos, mas também resultou em comunidades
diversas como as naturais, mesmo podendo atuar como facilitadora do recrutamento de outras
espécies. Já o briozoário incrustante Schizoporella errata teve uma alta sobrevivência e,
mesmo repelindo coespecíficos, acabou tendo uma forte influência inibitória sobre outras
espécies, monopolizando o espaço e levando a uma queda na riqueza de espécies e
diversidade. Além das características inibitórias e facilitadoras dos potenciais fundadores,
discutimos que a permanência na comunidade é uma característica importante
(monopolização de espaço, alta habilidade competitiva e resistência à predação) no que diz
respeito à influência que o fundador terá no desenvolvimento e estruturação da comunidade
ao longo da sucessão.
19
INTRODUÇÃO
Comunidades sésseis geralmente apresentam uma sucessão que depende dos
fundadores (Berlow 1997). Quando existe uma certa ordem de substituição dos organismos ao
longo da sucessão, é comum se observar padrões convergentes e repetidos na escala temporal
e espacial (Jackson 1977). Entretanto, em sistemas abertos, efeitos estocásticos são frequentes
e isto pode levar a um cenário em que potencialmente vários organismos diferentes presentes
no meio podem recrutar e dar início à comunidade (Breitburg 1985), ocorrendo um processo
de “loteria” na colonização (Greene e Schoener 1982). Dessa forma, a sucessão pode gerar
comunidades com estrutura variável a longo prazo, dependo de quem foi o colonizador inicial
(Connell e Slatyer 1977; Paine e Levin 1981; Antoniadou et al. 2011; Wainwright et al.
2012). Colonizar primeiro então pode garantir a esse organismo um efeito de prioridade na
comunidade, ou seja, a sua presença nos estágios iniciais de desenvolvimento da comunidade
vai afetar as condições da mesma para a chegada de outros organismos (Paine 1977; Breitburg
1985; Fukami 2015).
Dependendo das características de história de vida do fundador, podem ocorrer
processos inibidores ou facilitadores, que afetam diretamente a chegada de outras espécies ou
coespecíficos e com isso o fundador pode alterar o desenvolvimento e estruturação da
comunidade ao longo da sucessão (Connel e Slatyer 1977; Johnson 2015). Sendo assim, os
efeitos de prioridade estão diretamente ligados à coexistência de espécies e à manutenção de
diversidade (Chesson 2000, Adler et al. 2007, Vellend 2010). Efeitos de prioridade inibitórios
atuam, por exemplo, por meio de preenchimento de nicho. Neste caso, o fundador
monopolizará algum recurso necessário para a ocorrência da maioria das espécies da
comunidade diminuindo a diversidade de espécies (Fukami 2015). Geralmente fundadores
que inibem a chegada de outras espécies em comunidades sésseis são bons competidores,
capazes de monopolizar rápida e eficientemente o recurso (Jackson 1977; Walters e Wethey
1996), ou bloquear a chegada de outros organismos por sua estrutura (Stoecker 1980;
Breitburg 1985) ou alelopatia (Krug 2006). Por outro lado, efeitos de prioridade facilitadores
ocorrem por modificação de nichos, ou seja, o fundador promove modificações no habitat que
facilitam a chegada e/ou permanência de outros organismos (Fukami 2015). Espécies que não
monopolizam espaço e que provêm estruturas tridimensionais podem dispor substrato e gerar
turbulência em pequena escala que favoreçam o recrutamento de outros organismos (Russ
20
1980; Koehl 1982, 1984; Jones et al. 1994), atuando assim como facilitadoras, e contribuindo
para o aumento de diversidade e a coexistência entre as espécies.
A atração de coespecíficos pode maximizar ou modificar a influência do colonizador
inicial na sucessão (Durante 1991; Chesson 2000; Pacheco et al. 2010). Esse mecanismo é
mediado geralmente por substâncias químicas e garante aos novos recrutas uma chance maior
de encontrar um habitat favorável ao desenvolvimento (Minchinton 1997), além de maximizar
o rendimento reprodutivo (Schmidt 1982; Kent et al 2003). Em contrapartida, recrutar
próximo a um coespecífico aumenta as chances de competição intraespecífica (Hart e
Marshall 2009, Durante, 1991). Pensando em mecanismos de regulação populacional, que são
dependentes de densidade, pode se esperar um padrão oposto em relação à atração ou não de
coespecíficos. Populações de organismos que são bons competidores tendem a ser regulados
por processos dependentes de densidade. Por vezes, altas densidades podem levar a população
a taxas insustentáveis de competição intraespecífica (Chisholm e Muller-Landau 2011). Desta
forma, para um bom competidor, pode ser mais vantajoso evitar seus coespecíficos (Hart e
Marshall 2009), uma vez que as chances de ganhar uma interação competitiva e sobreviver
seriam maiores ao encontrar indivíduos de outras espécies. Já espécies com baixa habilidade
competitiva, poderiam se beneficiar do recrutamento próximo a coespecíficos, evitando assim
interações negativas com outras espécies (Hart e Marshall, 2009). Desta forma, para maus
competidores existiria uma relação positiva dependente de densidade enquanto seja garantida
uma menor chance da chegada de outras espécies. O balanço dessa dinâmica pode mudar a
influência que uma espécie tem no desenvolvimento da comunidade. Uma dependência
negativa de densidade pode então levar fundadores com boa habilidade competitiva a terem
menor influência na comunidade, enquanto uma dependência positiva de densidade pode
fazer com que fundadores que não são bons competidores possam acabar dominando mais
espaço, aumentando assim sua influência na comunidade através da atração de coespecíficos.
Comunidades sésseis marinhas do sublitoral são ótimos sistemas para se testar
questões relacionadas a efeitos de prioridade, uma vez que são sistemas estocásticos
comumente guiados por “loteria”, e a sucessão é rápida e com organismos conhecidos e fáceis
de manipular (Greene e Schoener 1982). Sendo assim, testei como três espécies fundadoras
com características funcionais claramente distintas afetam o desenvolvimento e estruturação
de comunidades incrustantes do sublitoral. Para isso utilizei uma abordagem manipulativa,
construindo comunidades experimentais nas quais o efeito de prioridade foi garantido para as
espécies selecionadas, uma vez que esses organismos já eram recrutas com algumas semanas
21
de desenvolvimento pós-assentamento (Urban e De Meester 2009). Espera-se que
comunidades iniciadas com fundadores monopolizadores de espaço atinjam valores de
diversidade inferiores ao longo da sucessão, comparado a comunidades iniciadas com
espécies não monopolizadoras espaço. Além disso, testei se esses diferentes fundadores
atraem ou repelem propágulos de coespecíficos para discutir o papel dessa mediação química.
MÉTODOS
Área de Estudo
Este experimento foi conduzido de Abril a Setembro de 2013 no Yacht Club Ilhabela
(YCI) (23º46’/45º21’W), localizado no Canal de São Sebastião, Sudeste do Brasil (Fig. 1).
Este local é uma marina recreativa com uma comunidade diversa de organismos incrustantes
crescendo nas laterais dos blocos flutuantes. Trabalhos prévios mostraram que a comunidade
séssil é composta majoritariamente por ascídias coloniais e briozoários incrustantes e
arborescentes, além de esponjas, cracas, bivalves, poliquetas e hidrozoários em menor
abundância. Além da comunidade diversa, o recrutamento é intenso nessa área (Oricchio et al.
2016a,b; Vieira et al. 2016), o que faz o YCI um ótimo local para experimentação.
Figura 1. Yacht Club Ilhabela (23º46’/45º21’W), local do estudo localizado no Canal de São Sebastião,
Sudeste do Brasil. Modificado de Vieira et al. 2016.
22
Desenho Experimental
Como fundadores, selecionei três espécies que são comuns em fases iniciais de
sucessão e com diferenças funcionais claras para o teste de identidade e tamanho: a ascídia
colonial Botrylloides nigrum, o briozoário arborescente Bugula neritina e o briozoário
incrustante Schizoporella errata (Tab. 2 – Material Suplementar, Fig. 2). Tanto a ascídia
colonial como o briozoário incrustante são bons dominadores de espaço (Kay e Keough 1981;
Nandakumar 1996; Vieira et al. 2012, 2016), embora a ascídia colonial seja menos resistente à
predação (Osman e Whitlatch 2004, Vieira et al. 2012, 2016; Oricchio et al. 2016a) em
relação ao briozoário incrustante (Lidgard 2008). Já o briozoário arborescente é um fundador
que não monopoliza espaço (Walters and Wethey 1996) e pode potencialmente facilitar o
estabelecimento de outros organismos devido à estrtura tridimensional que garante substrato
secundário e proteção contra predadores (Russ 1980; Breitburg 1985). Como o tamanho pode
garantir vantagem ao fundador e aumentar as chances de efeitos de prioridade acontecerem,
foram usados organismos classificados como pequenos – menor chance de prioridade – (10 a
15 dias de desenvolvimento, com diâmetro de aproximadamente 0,5-1,0 cm para a ascídia
colonial e o briozoário incrustante e 2 a 3 bifurcações para o briozoário arborescente) e
grandes – maior chance de prioridade – (25 a 30 dias de desenvolvimento, com diâmetro de
aproximadamente 1,5-2,0 cm para a ascídia colonial e o briozoário incrustante e 5 a 7
bifurcações para o briozoário arborescente).
Figura 2. Espécies utilizadas neste experimento. A) Ascídia colonial Botrylloides nigrum, B) Briozoário
arborescente Bugula neritina e C) Briozoário incrustante Schizoporella errata.
As colônias usadas neste estudo vieram de estoques previamente obtidos e mantidos
em campo. Estas colônias se desenvolveram em placas de PVC cobertas por folhas de acetato
lixadas, de modo a prover rugosidade ao substrato e facilitar o assentamento das larvas,
colocadas em campo em tempos diferentes para garantir a obtenção de organismos nas duas
classes de tamanho necessárias. Os organismos das espécies e tamanhos de interesse foram
23
então recortados das folhas de acetato e colados nas placas experimentais com cola de
secagem rápida, tipo Superbonder® (Hart e Marshall 2009). Esse procedimento não levou
mais do que 2 min de forma a não danificar os organismos.
As placas experimentais de PVC (15 x 20 x 0,2 cm) foram também, lixadas facilitando
a adesão das colônias transplantadas e a fixação dos novos recrutas. Cada placa recebeu
quatro colônias da mesma espécie e tamanho, posicionadas de forma equidistante uma da
outra (Fig. 3A), resultando em seis tratamentos (3 espécies x 2 tamanhos), com seis réplicas
independentes para cada uma das combinações desses fatores ao longo dos três eventos de
amostragem (108 placas no total, 36 para cada evento). Todas as placas foram fixadas
horizontalmente a 1,5 m de profundidade nas estruturas dos blocos flutuantes da área acima
descrita, com a face de interesse voltada para baixo, mantendo-se aproximadamente 2 m de
distância entre cada uma (Fig. 3B).
Devido a algumas perdas, as análises foram feitas com quatro réplicas de cada
tratamento (72 placas no total, 24 para cada um dos três eventos de amostragem), obtendo-se
assim um desenho balanceado, conforme recomendado (e.g. Underwood 1997).
Figura 3. A) disposição dos fundadores nas placas das comunidades experimentais e B) forma de distribuição
das placas em campo.
24
Sobrevivência do fundador e atração de coespecíficos
Amostragem
No primeiro evento de amostragem, após um mês do início do experimento, as placas
foram retiradas do campo e levadas ao laboratório em caixas térmicas com água. Para cada
placa foi registrado o número de colônias sobreviventes dentre as quatro iniciais. Além disso,
na área central de 13 x 13 cm, foram registradas quantas novas colônias das três espécies
recrutaram em placas com e sem colônias inicias coespecíficos.
Análise dos dados
Os dados brutos de sobrevivência foram transformados (arcsenx) para cumprir os
critérios de homocedasticidade e normalidade (Underwood 1997) e analisados por meio de
uma ANOVA fatorial, levando-se em conta os fatores ‘espécie do colonizador inicial’ (fator
fixo, 3 níveis: Botrylloides nigrum, Schizoporella errata e Bugula neritina) e ‘tamanho do
colonizador’ (fator fixo, 2 níveis: pequeno e grande).
O número de novas colônias coespecíficas após o primeiro mês de experimento foi
comparado separadamente para cada espécie por meio do mesmo modelo ANOVA
mencionado acima.
Nos casos em que houve efeito para algum fator, as comparações par a par foram
feitas por meio de um teste Tukey.
Efeito da identidade do fundador na estrutura da comunidade
Amostragem
Ao longo da sucessão, após um, três e cinco meses de desenvolvimento, as placas
foram retiradas do campo e transportadas para o laboratório, onde foram acondicionadas em
uma caixa térmica com água do mar para que os organismos incrustados continuassem
intactos até a triagem. As placas tiveram então seus táxons registrados e foram fotografadas
para posterior quantificação da área de cobertura de cada táxon, usada como estimativa de
abundância relativa (Vieira et al. 2012). Na quantificação de cobertura foi utilizada apenas a
área central de 13 x 13 cm de cada placa, para evitar o efeito das bordas e pelo fato de ter sido
25
nos vértices desse quadrado central que as colônias foram coladas na montagem do
experimento.
Análise dos dados
A riqueza de táxons foi comparada entre os diferentes tratamentos e ao longo do
tempo através de uma ANOVA. Os fatores foram ‘espécie do colonizador inicial’ (fator fixo,
3 níveis: Botrylloides nigrum, Schizoporella errata e Bugula neritina), ‘tamanho do
colonizador’ (fator fixo, 2 níveis: pequeno e grande), e ‘tempo’ (fator fixo, 3 níveis: 1, 3 e 5
meses). Nos casos em que houve efeito para algum fator, ou interação de fatores, as
comparações par a par foram feitas através de um teste de Tukey.
A estrutura da comunidade, com base na cobertura dos organismos, foi comparada
entre os tratamentos e ao longo dos meses através de análises multivariadas. As diferenças
entre tratamentos ao longo do tempo foram testadas através de uma PERMANOVA
(Anderson 2001) utilizando-se o mesmo modelo proposto para riqueza. Os dados utilizados na
PERMANOVA foram transformados (arcsenx) e os táxons que apareceram em apenas uma
amostra foram retirados, pois não acrescentam resolução ao teste (Clarke 1993). Comparações
par a par foram conduzidas quando necessário. Por último, foi realizado o teste SIMPER para
saber quais táxons contribuíram mais para a separação dos grupos (Clarke 1993).
RESULTADOS
Sobrevivência dos colonizadores iniciais
A sobrevivência entre as três espécies estudadas foi maior em Schizoporella errata
(~90%) e Bugula neritina (~70%) em relação à Botrylloides nigrum (~25%), independente do
tamanho do colonizador inicial (Tab. 1, Fig. 4).
26
Tabela 1. Resultado da ANOVA de dois fatores comparando a proporção e colônias grandes e pequenas de
Botrylloides nigrum, Bugula neritina e Schizoporella errata sobreviventes após o primeiro mês de
experimentação.
Fonte de Variação GL QM F p
Espécie 2 2,15 18,78 < 0,001
Tamanho 1 0,05 0,40 0,535
Espécie x Tamanho 2 0,02 0,18 0,841
Erro 18 0,11
Figura 4. Proporção média (±EP) de colônias grandes e pequenas de Botrylloides nigrum, Bugula neritina e
Schizoporella sp. sobreviventes após um mês de experimentação. Letras iguais significa ausência de diferença
estatística entre espécies (p > 0,05).
Atração de coespecíficos
Cada espécie de colonizador inicial apresentou um padrão diferente em relação à
atração de novas colônias coespecíficas. Botrylloides nigrum foi indiferente, apresentando o
mesmo número de novas colônias independente da espécie de colonizador inicial. Bugula
neritina apresentou um maior número de novas colônias em placas em que o colonizador
inicial era um coespecífico, compatível com um processo de “atração”. Por outro lado,
Schizoporella errata apresentou um menor número de novas colônias em placas onde o
colonizador inicial era um coespecífico, sugerindo um processo de “inibição”. Para as três
espécies o padrão observado foi independente do tamanho do colonizador inicial (Tab. 2, Fig.
5).
27
Tabela 2. ANOVA para cada uma das espécies comparando o número de novas colônias em relação ao tamanho
(grande e pequeno) e à espécie de colonizador inicial (Botrylloides nigrum, Bugula neritina e Schizoporella sp.).
Fonte de Variação GL QM F p
Botrylloides nigrum Espécie 2 0,38 0,18 0,835
Tamanho 1 0,17 0,08 0,779
Espécie x Tamanho 2 0,29 0,14 0,869
Erro 18 2,06
Bugula neritina Espécie 2 343,50 8,36 0,003 Tamanho 1 165,38 4,08 0,060
Espécie x Tamanho 2 100,50 2,45 0,115
Erro 18 41,07
Schizoporella sp. Espécie 2 132,13 5,42 0,014 Tamanho 1 24,00 0,99 0,334
Espécie x Tamanho 2 13,63 0,56 0,581
Erro 18 24,36
Figura 5. Número médio (±EP) de novas colônias após um mês de experimentação para Botrylloides nigrum, Bugula neritina e
Schizoporella errata em placas com colonizadores iniciais coespecíficos e não coespecíficos. Para cada espécie, letras iguais
entre grupos se referem à ausência de diferença estatística (p > 0,05).
Efeito no desenvolvimento da comunidade
A identidade do colonizador afetou a riqueza de espécies ao longo da sucessão (Tab.
3, Fig. 6). Placas em que o colonizador inicial era Botrylloides nigrum ou Bugula neritina
suportaram uma comunidade com aproximadamente 10 espécies (Tukey; p = 0,904) ao longo
de todo o estudo. Já placas que tiveram Schizoporella errata como colonizador inicial,
28
resultaram em uma comunidade menos rica (composta em média por 7 espécies), tanto em
relação a placas iniciadas com Botrylloides nigrum (Tukey; p < 0,001) quanto àquelas
iniciadas com Bugula neritina (Tukey; p <0,001). Ao longo do tempo, o número de espécies,
de forma geral, foi diferente apenas entre o terceiro e o quinto mês ao longo do experimento
(Tukey; p = 0,010) (Tab. 3, Fig. 6).
Tabela 3. Resultado da ANOVA multifatorial comparando o número de espécies ao longo do tempo (1, 3 e 5
meses) para placas que inicialmente tiveram como colonizadores colônias grandes e pequenas das espécies
Botrylloides nigrum, Bugula neritina e Shcizoporella errata.
Fonte de Variação GL QM F p
Espécie 2 118,22 16,30 < 0,001
Tamanho 1 1,68 0,23 0,632
Tempo 2 34,85 4,80 0,012
Espécie x Tamanho 2 3,72 0,51 0,602
Tamanho x Tempo 2 15,10 2,08 0,135
Espécie x Tempo 4 14,95 2,06 0,099
Espécie x Tempo x Tamanho 4 4,83 0,67 0,619
Erro 54 7,26
Figura 6. Riqueza média de espécies (±EP) após 1, 3 e 5 meses de experimentação para placas com diferentes
colonizadores iniciais: Botrylloides nigrum (losangos brancos), Bugula neritina (círculos cinzas) e
Schizoporella errata (triângulos pretos).
Ao longo do tempo houve variação nas diferenças entre comunidades com diferentes
colonizadores iniciais, quanto à área de cobertura dos táxons (Tab. 4). Após o primeiro mês
todos os tratamentos apresentaram diferenças em relação à abundância relativa dos táxons
0
2
4
6
8
10
12
14
1 3 5
Riq
uez
a d
e e
spé
cie
s
Tempo (meses)
BOT BUG SCH
29
presentes (B. nigrum x B. neritina, p = 0,010; B. nigrum x S. errata, p = 0,002; B. neritina x S.
errata, p =0,001). Placas que iniciaram com Botrylloides nigrum apresentaram uma maior
abundância de ascídias em relação às demais; placas que tinham Bugula neritina como
colonizador inicial apresentaram uma maior abundância de briozoários arborescentes; já
placas que iniciaram com Schizoporella errata foram dominadas no geral por briozoários
incrustantes (Fig. 7). Isso reflete a influência dos colonizadores iniciais, que foram as espécies
mais importantes para essas diferenças entre os tratamentos (Tab. 5).
Após 3 meses ocorreu alguma convergência, sendo que as diferenças se limitaram a
comunidades que começaram com Botrylloides nigrum em relação a comunidades que
iniciaram com Schizoporella errata (B. nigrum x B. neritina, p = 0,518; B. nigrum x S. errata,
p = 0,038; B. neritina x S. errata, p =0,176). Essa semelhança se dá pela dominância
basicamente de briozoários incrustantes em todos os tratamentos. As diferenças entre placas
iniciadas com Botrylloides nigrum e Schizoporella errata é devida a algumas espécies de
briozoários arborescentes (Tab. 5), mais abundantes nas placas de Botrylloides nigrum (Fig.
7).
Após 5 meses as comunidades voltam a divergir, havendo diferença das comunidades
iniciadas com Schizoporella errata em relação àquelas iniciadas pelos outros dois
colonizadores, as quais foram semelhantes entre si (B. nigrum x B. neritina, p = 0,170; B.
nigrum x Schizoporella errata, p = 0,001; B. neritina x Schizoporella errata, p =0,004). Nos
dois casos as diferenças se devem basicamente ao fato de placas iniciadas com Schizoporella
errata terem apresentado uma maior dominância de briozoários incrustantes (Tab. 5; Fig. 7),
grupo em que Schizoporella errata se insere.
Tabela 4. Resultado da PERMANOVA comparando a estrutura das comunidades ao longo do tempo (1, 3 e 5
meses) para placas que inicialmente tiveram como colonizadores colônias grandes e pequenas das espécies
Botrylloides nigrum, Bugula neritina e Schizoporella errata.
Fonte de Variação GL QM Pseudo-F p
Espécie 2 6942 6,27 0,001
Tamanho 1 660 0,60 0,752
Tempo 2 16533 14,93 0,001
Espécie x Tamanho 2 792 0,72 0,739
Tamanho x Tempo 2 1229 1,11 0,351
Espécie x Tempo 4 2884 2,61 0,001
Espécie x Tempo x Tamanho 4 1365 1,23 0,202
Erro 54 1107
30
Figura 7. Área de cobertura média dos principais grandes grupos da comunidade (ascídias, briozoários arborescentes, briozoários incrustantes, hidrozoários, alga filamentosa,
poliquetas, esponjas e outros – bivalves e cracas) para cada um dos tratamentos iniciados com Botrylloides nigrum, Bugula neritina e Schizoporella errata após 1, 3 e 5 meses de
experimentação.
31
Tabela 5. Contribuição relativa (%) obtidas pelo SIMPER dos três táxons mais importantes para estabelecer as diferenças par a par de placas iniciadas com o colonizador
inicial Botrylloides nigrum (BOT), Bugula neritina (BUG) ou Schizporella errata (SCH), após 1, 3 e 5 meses de experimentação. À frente de cada táxon, entre parênteses, está
o grande grupo ao qual o táxon pertence: AS – Ascídias, AG – Algas, BA – Briozoários Arborescentes, BI – Briozoários Incrustantes, E – Esponjas, H – Hidrozoários, P –
Poliquetas; e o tratamento de colonizador inicial em que foi mais abundante. Não foram efetuadas análises SIMPER quando as diferenças entre pares de tratamentos não foram
significativas na PERMANOVA, conforme indicado por ‘-’ na tabela.
Tempo BOT x BUG (%)
BOT x SCH (%)
BUG x SCH (%)
1 mês
Bugula neritina (BA, BUG) 26,7 Schizoporella errata (BI, SCH) 23,1 Bugula neritina (BA, BUG) 22,7
Botrylloides nigrum (AS, BOT) 9,9 Alga Filamentosa (AL, SCH) 11,0 Schizoporella errata (BI, SCH) 21,9
Obelia dicothoma (H, BOT) 8,2 Botrylloides nigrum (AS, BOT) 10,5 Alga Filamentosa (AL, SCH) 9,2
3 meses
- - Bugula neritina (BA, SCH) 20,4 - -
- - Crisia sp. (BA, BOT) 19,2 - -
- - Schizoporella errata (BI, SCH) 16,1 - -
5 meses
- - Schizoporella errata (BI, SCH) 17,5 Schizoporella errata (BI, SCH) 13,6
- - Crisia sp. (BA, BOT) 12,4 Bugula neritina (BA, SCH) 10,3
- - Electra tenella (BI, BOT) 9,9 Mycale americana (E, BUG) 9,3
32
DISCUSSÃO
Das espécies testadas como colonizador inicial neste experimento, o briozoário
incrustante Schizoporella errata foi a espécie que mais afetou a estruturação e
desenvolvimento da comunidade séssil, levando a uma diminuição na riqueza. Por outro lado,
comunidades iniciadas com a ascídia colonial Botrylloides nigrum e o briozoário arborescente
Bugula neritina apresentaram uma riqueza de espécies maior ao longo do experimento (entre
10 e 12 espécies em média), com valores típicos já observados para comunidades não
manipuladas em outros trabalhos na área (Vieira et al. 2012, 2016). Esses efeitos diferenciais
estão provavelmente ligados à dominação de espaço, permanência na comunidade e processos
dependentes de densidade. Enquanto Botrylloides nigrum é neutro, Bugula neritina e
Schizoporella errata apresentam efeitos opostos em relação ao assentamento de novos
recrutas, havendo grande atração de coespecíficos para Bugula neritina e repulsão de
coespecíficos para Schizoporella errata. Esses processos populacionais estão intimamente
relacionados à capacidade competitiva das espécies (Hart e Marshall 2009), e os resultados
obtidos neste estudo sugerem efeitos também na escala de organização da comunidade.
Botrylloides nigrum foi a espécie que apresentou a menor taxa de sobrevivência após
um mês de experimentação, além de não apresentar atração de novos recrutas coespecíficos.
Essa fraca “presença” de Botrylloides nigrum desde o início do desenvolvimento da
comunidade propicia a disponibilidade de espaço por um período mais longo, permitindo que
outros organismos consigam se estabelecer e se manter na comunidade (Russ 1980; Osman e
Whitlatch 2004), levando a mesma a valores naturalmente observados de riqueza (Vieira et al.
2012, 2016). Esse resultado é interessante uma vez que Botrylloides nigrum é uma ascídia
colonial, tipicamente caracterizada como uma espécie que monopoliza espaço (Kay e Keough
1981; Nandakumar 1996; Dias et al. 2008). Apesar de ser uma espécie comumente encontrada
em comunidades incrustantes da região, raramente é vista na forma de grandes colônias
cobrindo uma área considerável (obs. pessoal), o que pode ser explicado pela baixa taxa de
sobrevivência encontrada neste trabalho. Mesmo sendo uma ascídia e, portanto, uma espécie a
priori com boa capacidade para competir com outras espécies (Kay e Keough 1981;
Nandakumar 1996), a efemeridade da colônia pode influenciar a estruturação da comunidade
pela liberação ocasional de espaço.
33
Mesmo tendo sido observados resultados similares aos de Botrylloides nigrum na
estruturação da comunidade, Bugula neritina apresentou uma taxa maior de sobrevivência e
uma maior atração de recrutas coespecíficos. Keough (1984) encontrou larvas de B. neritina
recrutando apenas próximas a outros recém-recrutas, entretanto neste trabalho observamos o
recrutamento de B. neritina acontecendo próximo a adultos coespecíficos. Por não ser um
bom competidor e dominador de espaço (Walters e Wethey 1996), o recrutamento próximo a
coespecíficos pode ser vantajoso, uma vez que a competição intraespecífica pode ter menor
influência na aptidão do que o assentamento ao acaso, no qual os recrutas tem uma chance
maior de serem excluídos por espécies monopolizadoras de espaço em interações
interespecíficas (Hart e Marshall 2009). Além disso, o agregamento pode resultar em uma
maior proteção contra predadores, possibilitando às jovens colônias crescer e escapar em
tamanho (Keough 1984). Dessa forma, esperava-se que B. neritina se mantivesse por mais
tempo na comunidade, influenciando a sua estruturação, e que ocupasse grande parte do
espaço por atrair um alto número de coespecíficos. Entretanto, mesmo sobrevivendo mais
após um mês, Bugula neritina não permanece na comunidade, havendo decréscimo da sua
cobertura acompanhado do aumento da área ocupada por briozoários incrustantes. Isso pode
estar relacionado com a arquitetura arborescente das colônias, o que não leva a uma ocupação
bidimensional do espaço mesmo em altas densidades (Walters e Wethey 1996), havendo
ainda bastante espaço primário para ser colonizado por recrutas de outras espécies. Além
disso, é comum encontrar pequenos indivíduos e colônias de organismos incrustantes
crescendo sobre Bugula neritina (obs. pess.), o que poderia levar a um processo de facilitação
por essa espécie (Russ 1980; Breitburg 1985). A chegada de novos organismos facilitados por
Bugula neritina levaria a uma diminuição da taxa de recrutamento de coespecíficos devido à
diminuição de espaço disponível. Dessa forma, podemos resumir o cenário em uma alta
atração de coespecíficos, que também aumentará a facilitação para outros organismos,
diminuindo a presença de Bugula neritina e levando a comunidade a condições padrão de
riqueza específica, similar ao observado em placas iniciadas por Botrylloides nigrum.
Ao contrário de Botrylloides nigrum e Bugula neritina, Schizoporella errata teve
influências mais fortes na estruturação e desenvolvimento da comunidade, levando a uma
diminuição da riqueza de espécies e a uma estrutura diferenciada das comunidades após 5
meses. Esses resultados se devem basicamente pela rápida monopolização de espaço exercida
por essa espécie. Nos gráficos de cobertura é possível perceber que desde o início a proporção
de briozoários incrustantes, refletindo em grande parte a abundância relativa de Schizoporella
34
errata, é a mais alta para o tratamento iniciado com essa espécie. Por dominar rapidamente o
espaço, Schizoporella errata não deixa que outros organismos se estabeleçam facilmente
(Kay e Keough 1981; Jackson e Hughes 1985). Mesmo os recrutas de outras espécies que
eventualmente consigam assentar correm elevado risco de recobrimento pelo rápido
crescimento das colônias de S. errata (Russ 1982; Nandakumar 1996). Além disso, a alta taxa
de sobrevivência garante que essa espécie persista na comunidade e a monopolize, repelindo
inclusive coespecíficos. Para bons competidores é um risco recrutar próximo de coespecíficos,
uma vez que a competição intraespecífica será alta e maior do que a competição
interespecífica (Hart e Marshall 2009). Vale ressaltar que o design desse experimento acaba
reproduzindo um cenário em que o colonizador inicial teria uma vantagem, como se tivesse
crescido um tempo sem a influência de outros organismos (Urban e De Meester 2009). Esse
procedimento pode superestimar a monopolização de espaço por Schizoporella errata e seu
efeito negativo para a diversidade da comunidade. Entretanto, é possível observar na figura de
cobertura que ao longo do desenvolvimento da comunidade, briozoários incrustantes
monopolizam espaço mesmo que não tenham sido os colonizadores, confirmando assim a
importância desse grupo.
Sendo assim, os resultados desse experimento mostram que a influência de uma
espécie que inicia a colonização de uma comunidade vai depender muito de sua capacidade de
permanência e de explorar e monopolizar os principais recursos. Botrylloides nigrum por não
sobreviver por muito tempo praticamente não influenciou a estrutura e desenvolvimento da
comunidade; Bugula neritina mesmo sobrevivendo mais que Botrylloides nigrum e atraindo
muitos coespecíficos não se manteve na comunidade, possivelmente pelo caráter facilitador e
não monopolizador de espaço bidimensional que sua arquitetura promove. Já Schizoporella
errata apresentou altas taxas de sobrevivência e monopolizou espaço rapidamente, se
mantendo o experimento todo na comunidade, mesmo não atraindo coespecíficos, afetando o
número de espécies e a estruturação da comunidade.
35
CAPÍTULO II
A RIQUEZA TAXONÔMICA DOS FUNDADORES: FACILITAÇÃO DIRETA E
INDIRETA MEDIADA POR COMPETIÇÃO AFETANDO A ESTRUTURA DA
COMUNIDADE
36
RESUMO
A perda de diversidade tem sido um grande problema atualmente e resulta da
intensificação da influência antrópica no meio. A diminuição de diversidade pode afetar
muitos processos ecossistêmicos, desde a estabilidade de teias tróficas, a produtividade
primária e a resistência e resiliência de comunidades após distúrbios. Quanto mais diversa é
uma comunidade, maiores são as chances de haver redundância funcional entre as espécies.
Desta forma, a perda de algumas espécies pode acabar não afetando o sistema como um todo
se outras espécies desempenham o mesmo papel funcional na comunidade. Um grande
problema também resultante da ação antrópica e que influencia diretamente comunidades
menos diversas é a introdução de espécies exóticas. Comunidades mais diversas apresentam
maior resistência a organismos exóticos uma vez que é menor a chance de existirem janelas
de nichos a serem ocupados. Uma vez que sistemas costeiros marinhos têm sofrido tanto com
a perda de diversidade como com a introdução de espécies exóticas por ação humana, utilizei
comunidades incrustantes do sublitoral para testar o efeito que a riqueza de fundadores pode
ter na estruturação e desenvolvimento da comunidade ao longo da sucessão, bem como sua
suscetibilidade à ocorrência de espécies exóticas. Utilizei três diferentes grupos de
organismos (ascídias coloniais, briozoários arborescentes e briozoários incrustantes) e em
cada um deles variamos apenas a diversidade taxonômica, mantendo a diversidade funcional
constante. Unidades experimentais que iniciaram com um maior número de espécies
resultaram em comunidades com riqueza e diversidade ligeiramente superiores ao longo da
sucessão. Esse efeito não foi condicionado simplesmente ao maior número de espécies desde
o início, mas a processos indiretos relacionados à maior riqueza inicial. Processos tanto de
facilitação direta, no caso de briozoários arborescentes, quanto facilitação indireta, mediada
por alta competição entre monopolizadores de espaço no caso de ascídias coloniais e
briozoários incrustantes, podem ter sido importantes para a maior diversidade ao longo da
sucessão da comunidade. Além disso, comunidades iniciadas por briozoários incrustantes
apresentaram, novamente, menor riqueza. Nenhum efeito foi observado para a ocorrência de
espécies exóticas, possivelmente pela alta diversidade de organismos observada, mesmo nas
comunidades inicialmente menos ricas.
37
INTRODUÇÃO
A atividade antrópica tem levado atualmente a muitas alterações nos ecossistemas,
sendo uma das mais importantes a perda de diversidade biológica, tanto local como regional
(Hooper et al. 2005; Stachowicz et al. 2007, 2008). Por conta disso, de algumas décadas para
cá muita atenção tem sido prestada a como modificações na diversidade de organismos pode
afetar outras propriedades importantes dos ecossistemas, como produtividade primária
(Griffin et al. 2009) e resiliência frente a distúrbios (Hooper et al. 2005; Stachowicz et al.
2007). Na escala de comunidades, a perda de diversidade também é um problema crucial, uma
vez que a diminuição de espécies pode levar a colapsos nas redes tróficas tanto pela
diminuição de presas como de predadores (Stachowicz et al. 2007), enfraquecendo as
interações e consequentemente a conectância e estabilidade da rede (Kondoh 2003). Além
disso, a perda de algumas espécies pode rapidamente levar a estágios alternativos de
equilíbrio (Beisner 2000; Osman et al. 2010), passando a haver dominância de um ou poucos
grupos de organismos com alta habilidade competitiva (Paine 1966).
Comunidades mais diversas têm maior chance de apresentar relativa sobreposição de
nichos e consequentemente maior redundância entre suas espécies (MacArthur 1972). Assim,
a retirada de uma espécie pode acabar não afetando as interações e processos, uma vez que
facilmente outras espécies podem continuar desempenhando o papel das que foram perdidas
(Griffin et al., 2009; Guillemot et al., 2011). Em um universo onde são constantes as
alterações por ações antrópicas, comunidades com maior diversidade tendem a ser mais
menos passíveis de serem afetadas (Cardinale et al., 2000; Loreau et al., 2001; Alisson 2004,
Stachowicz et al. 2008).
Uma grande influência antrópica e que tem levado a muitos problemas econômicos e
ambientais é a dispersão de espécies exóticas por todo o planeta (Fergione et al. 2003; Hooper
et al. 2005; Stachowicz et al. 1999, 2002, 2007). No ambiente marinho, o grande tráfego de
barcos e navios, seja para fins econômicos ou recreativos, tem facilitado a introdução de
espécies não nativas por todo o mundo, tanto de organismos adultos incrustados nos cascos,
quanto propágulos reprodutivos trazidos na água de lastro dos barcos (Carlton e Geller 1993).
Ao chegar aos novos locais, esses organismos podem apresentar uma maior habilidade
competitiva que as espécies nativas (Rejmánek e Richardson 1996; Theoharides e Dukes
2007) ou não terem inimigos naturais (Mitchell e Power 2003, Torchin et al. 2003; Colautti et
al. 2004), ocupando de modo oportunista grandes áreas e levando a um declínio da
38
diversidade no local (Hooper et al. 2005). Entretanto, comunidades mais diversas parecem
resistir mais à introdução de espécies exóticas do que comunidades menos diversas
(Stachowicz et al. 1999, 2002, 2007). Isso parece levar a um padrão latitudinal, no qual a
região tropical (mais diversa) é a menos afetada por invasão de espécies exóticas quando
comparada à região temperada (Holdgate 1986; Lonsdale 1999; Sax 2001; Freestone et al.
2013). Comunidades que apresentam grande riqueza de espécies nativas podem estar perto da
saturação, em termos de espaço de nicho, bloqueando a entrada de espécies exóticas (Shea e
Chesson 2000; Stachowicz et al. 2002; Fergione et al. 2003; Stachowicz e Byrnes 2006).
Desta forma, existe um mecanismo onde a própria diversidade da comunidade atua como um
tampão para sua manutenção, não possibilitando a ocorrência de espécies introduzidas.
Por muito tempo, procurou-se entender padrões de diversidade dos sistemas biológicos
e os processos responsáveis por esses padrões, mas, frente ao aumento das alterações
antrópicas, faz-se necessário também entender como a diversidade já existente no sistema
afeta o funcionamento da comunidade (Hooper et al. 2005; Cardinale et al. 2006; Griffin et al.
2009). Considerando que muitas características da comunidade são dependentes de processos
iniciais da sucessão, e que a diversidade de adultos geralmente está relacionada à diversidade
dos propágulos que iniciam a colonização do substrato, o objetivo deste capítulo foi testar
como variações na riqueza de espécies dos fundadores afetam o desenvolvimento e
estruturação da comunidade. Para tal, foi utilizada como modelo a comunidade de organismos
incrustantes do sublitoral. Além disso, avaliei como esses cenários de riqueza inicial afetam a
suscetibilidade da comunidade à ocorrência de espécies exóticas. Como utilizei espécies
funcionalmente redundantes, variando apenas a riqueza (ver métodos), poderia ser esperado
que os diferentes níveis de riqueza inicial não afetariam diferencialmente a comunidade.
Alternativamente, pequenas diferenças entre as espécies, mesmo que funcionalmente
redundantes, poderiam gerar um padrão no qual uma maior riqueza inicial levaria a uma
maior riqueza da comunidade ao longo da sucessão. Além disso, espero que uma maior
riqueza inicial garanta uma maior resistência da comunidade ao estabelecimento de espécies
exóticas.
39
MÉTODOS
Desenho Experimental
Este experimento foi conduzido no Yacht Club Ilhabela (YCI) (ver capítulo 1 para a
descrição da área de estudo), de Julho a Dezembro de 2014. Aqui, espécies diferentes, porém
funcionalmente semelhantes e filogeneticamente próximas, foram utilizadas. Para uma maior
generalização, foram utilizados três diferentes grupos filogenético-funcionais (ascídias
coloniais – AC, briozoários arborescentes – BA e briozoários incrustantes – BI), utilizando-se
dois tratamentos, de alta e baixa riqueza, para cada grupo.
Para cada grupo filogenético-funcional, foi utilizado um diferente número de espécies
no tratamento de alta riqueza, uma vez que se preferiu utilizar as espécies que eram
naturalmente abundantes na área de estudo no momento do experimento (o que fica refletido
na sua ocorrência nas placas estoque). Esse número foi variável para cada grupo em questão.
As espécies de ascídias coloniais utilizadas foram Botrylloides nigrum, Symplegma
brakenhielmi, Didemnum perlucidum e Diplosoma listerianum; as de briozoários
arborescentes foram Bugula neritina e Crisia sp.; e os briozoários incrustantes foram
Schizoporella errata, Watersipora subtorquata e Electra tenella ( Tab. S2 no Material
Suplementar, Fig. 1)
40
Figura 1. Espécies utilizadas no experimento de riqueza inicial. Ascídias coloniais: Botrylloides nigrum (A),
Symplegma brakenhielmi (B), Didemnum perlucidum (C) e Diplosoma listerianum (D); Briozoários
arborescentes: Bugula neritina (E), Crisia sp. (F); Briozoários incrustantes: Schizoporella errata (G),
Watersipora subtorquata (H), Electra tenella (I).
As colônias desses organismos foram obtidas de estoques previamente mantidos em
campo, que consistiram de placas de PVC cobertas por folhas de acetato lixadas, onde todos
os organismos das espécies ocorrentes no local começam a se desenvolver. As colônias das
espécies de interesse (colônias de aproximadamente 1,5 cm de diâmetro) foram então
recortadas das folhas de acetato e coladas nas placas experimentais com cola de secagem
rápida, tipo Superbonder® (Hart e Marshall 2009). As placas experimentais de PVC (15 x 20
x 0,2 cm) foram lixadas facilitando a adesão das colônias coladas e dos novos recrutas que
chegaram à comunidade. No total, foram utilizadas 84 unidades experimentais, sendo 14
41
réplicas de cada tratamento (alta e baixa riqueza), para cada um dos grupos (ascídias,
briozoários arborescentes e briozoários incrustantes).
Para ascídias, foram coladas de forma equidistante (aproximadamente 10 cm) quatro
colônias em cada placa. No caso do tratamento de alta riqueza apenas uma configuração era
possível, ou seja, uma colônia de cada espécie. No tratamento de baixa riqueza, para o
desenho amostral não ficar desbalanceado, foram construídas quatro réplicas com B. nigrum,
quatro com D. perlucidum, quatro com D. listerianum e duas com Symplegma brakienhelmi,
totalizando as 14 réplicas. Para os briozoários arborescentes, foram também coladas de forma
equidistante (aproximadamente 10 cm de distancia) quatro colônias em cada placa. No caso
do tratamento de alta riqueza apenas uma configuração era possível, ou seja, duas colônias de
cada espécie. No tratamento de baixa riqueza, para o desenho amostral não ficar
desbalanceado, foram construídas oito réplicas com B. neritina e seis réplicas com Crisia sp.,
totalizando as 14 réplicas. Para os briozoários incrustantes, foram coladas de forma
equidistante (aproximadamente 10 cm de distância) três colônias em cada placa. No caso do
tratamento de alta riqueza apenas uma configuração era possível, ou seja, uma colônia de cada
espécie. No tratamento de baixa riqueza, para o desenho amostral não ficar desbalanceado,
foram construídas seis réplicas com S. errata, quatro réplicas com Electra tenella e quatro
réplicas com W. subtorquata, totalizando as 14 réplicas (Fig. 2).
Todas as placas foram fixadas horizontalmente nas estruturas dos blocos flutuantes
com a face de interesse voltada para baixo, mantendo uma profundidade de 1,5 m e,
aproximadamente, 2 m de distância entre placas.
42
Figura 2. Esquema das unidades experimentais montadas para os tratamentos de alta e baixa riqueza para os
grupos ascídias coloniais, briozoários arborescentes e briozoários incrustantes.
43
Amostragem
Após aproximadamente um mês de desenvolvimento, metade das placas (7 réplicas de
cada tratamento para cada grupo) foram retiradas do campo e transportadas para o laboratório
em uma caixa térmica com água do mar, para que os organismos incrustados continuassem
intactos até à triagem. Em laboratório as placas tiveram seus táxons registrados. Além disso,
foram retiradas fotografias para posterior quantificação da área de cobertura de cada táxon,
usada como estimativa de abundância relativa (Vieira et al. 2012). Na quantificação de
cobertura foi utilizada apenas uma área central de 13 x 13 cm de cada placa, para evitar o
efeito das bordas e pelo fato de ter sido nessa área central que as colônias foram coladas na
montagem do experimento.
A outra metade foi retirada após cinco meses do início do experimento, possibilitando
assim uma comparação ao longo do tempo. Diferentemente do primeiro experimento, neste
não amostramos após 3 meses para maximizar o número de réplicas nos demais momentos de
amostragem.
Análise dos dados
A riqueza de táxons foi comparada entre os diferentes tratamentos através de uma
ANOVA fatorial. As variáveis preditoras foram ‘riqueza inicial’ (fator fixo, 2 níveis: alta e
baixa), ‘grupo’ (fator fixo, 3 níveis: ascídias coloniais, briozoários arborescentes e briozoários
incrustantes) e ‘tempo’ (fator fixo, 2 níveis: 1 e 5 meses). Nos casos em que houve efeito para
algum fator, as comparações par a par foram feitas através de um teste Tukey.
Caso comunidades iniciadas com maior riqueza venham a apresentar um número alto
de espécies ao longo do experimento, podemos pensar em duas possibilidades: 1) a maior
riqueza da comunidade ao longo do experimento é reflexo direto do número maior de espécies
presentes desde o início, ou seja, um artefato do procedimento; ou 2) a maior riqueza da
comunidade ao longo do experimento é reflexo de processos ecológicos relacionados à alta
riqueza inicial, mas não diretamente ao número maior de espécies no início. Para se desfazer
essa dúvida, ao longo do tempo e separadamente para cada grupo taxonômico, foi comparado
o número médio das espécies utilizadas nos tratamentos de alta riqueza inicial entre os painéis
iniciados com alta e baixa riqueza de fundadores por uma ANOVA de dois fatores (Riqueza
Inicial: fixo, 2 níveis – alta e baixa; Tempo: fixo, 2 níveis – 1 e 5 meses). Caso o número
médio das espécies utilizadas nos tratamentos de alta riqueza inicial seja igual ao longo do
44
tempo entre os painéis de alta e baixa riqueza inicial, possíveis diferenças na riqueza da
comunidade serão devidas a processos ecológicos e não a um artefato experimental.
A cobertura dos organismos foi comparada entre os tratamentos e ao longo dos meses
através de análises multivariadas. As diferenças entre tratamentos e grupos ao longo do tempo
foram testadas por uma PERMANOVA (Anderson 2001) utilizando-se o mesmo modelo
proposto para riqueza. Os dados utilizados na PERMANOVA foram transformados
(arcsenx) e os táxons que apareceram em apenas uma amostra foram retirados, pois não
acrescentam resolução ao teste. Nos casos em que foram detectados efeitos, procedeu-se a
comparações par a par e ao teste SIMPER, para o melhor entendimento desses efeitos e para a
identificação dos táxons que mais contribuíram para os mesmos, respectivamente (Clarke
1993).
Todas as análises foram feitas com apenas seis das sete réplicas, pois do primeiro para
o segundo tempo houve perdas de unidades amostrais de alguns tratamentos, optando-se então
por balancear os dados.
Ocorrência de espécies exóticas
Ao final do experimento, categorizei o status da maioria das espécies em nativas,
criptogênicas e exóticas, utilizando como referência alguns trabalhos feitos para a costa do
Brasil (Paula e Creed 2004, 2005; Dias et al. 2013; Marques et al. 2013; Rocha et al. 2013;
Kremer e Rocha 2016) e algumas comunicações de especialistas (Tab. 1 – Material
Suplementar). Algumas espécies não puderam ter seu status determinado e espécies com
status conflitante foram atribuídas ao status da referência do grupo e/ou pesquisador
especialista na área. Em cada unidade amostral calculei então a razão entre o número de
espécies exóticas e o número de espécies total, a qual foi comparada entre os tratamentos de
alta e baixa riqueza inicial e entre diferentes grupos taxonômicos através de uma ANOVA de
dois fatores. A análise foi feita apenas para o tempo final (cinco meses), devido à baixa
ocorrência dessas espécies após um mês.
45
RESULTADOS
O número de espécies da comunidade foi maior para os tratamentos de alta riqueza
inicial para os três grupos taxonômicos, tanto no início da sucessão (1 mês) como na sucessão
já avançada (5 meses, Fig. 3). Além disso, independente do nível de riqueza inicial,
comunidades que se iniciaram com ascídias coloniais apresentaram sempre uma maior riqueza
ao longo do tempo, enquanto comunidades iniciadas com briozoários incrustantes
apresentaram os menores valores de riqueza, ficando o tratamento iniciado com briozoários
arborescentes com valores intermediários (AC x BI, p = 0,022; AC x BA, p = 0,783; BA x BI,
p = 0,107) (Tab. 1, Fig. 3).
Tabela 1. Resultado da ANOVA comparando a riqueza de táxons no início da sucessão (1 mês) e na sucessão
avançada (5 meses) para unidades experimentais iniciadas com alta e baixa riqueza para os grupos ascídias,
briozoários arborescentes e briozoários incrustantes.
Fonte de Variação Gl QM F p
Riqueza inicial 1 48,35 7,19 0,009
Grupo 2 27,18 4,04 0,023
Tempo 1 0,35 0,05 0,821
Riqueza inicial x Grupo 2 13,76 2,05 0,138
Riqueza inicial x Tempo 1 2,35 0,35 0,557
Grupo x Tempo 2 1,43 0,21 0,809
Riqueza inicial x Grupo x Tempo 2 10,01 1,49 0,234
Erro 60 6,73
46
Figura 3. Riqueza média de táxons (±EP) para os tratamentos de alta e baixa riqueza inicial, para ascídias
coloniais (AC), briozoários arborescentes (BA) e briozoários incrustantes (BI) após um e cinco meses de
experimentação.
A proporção das espécies iniciais utilizadas no tratamento de alta riqueza foi similar
entre os painéis de alta e baixa riqueza inicial para os três grupos taxonômicos, havendo
variação no tempo apenas para briozoários incrustantes (Tab. 2, Fig. 4). Isso mostra que a
maior riqueza da comunidade em tratamentos de alta riqueza inicial não se deve
exclusivamente à presença de mais espécies desde o início, mas sim a outros processos que
serão discutidos a seguir.
47
Tabela 2. ANOVA para a proporção de espécies utilizadas no tratamento de riqueza inicial ocorrendo após 1 e 5
meses nos tratamentos de alta e baixa riqueza para ascídias coloniais (n inicial = 4), briozoários arborescentes (n
inicial = 2) e briozoários incrustantes (n inicial = 3).
Fonte de Variação GL QM F p
Ascídias Coloniais Riqueza Inicial 1 0,18 3,16 0,088
Tempo 1 0,18 3,16 0,088
Riq. Inicial x Tempo 1 0,02 0,35 0,559
Erro 24 0,06
Briozoários Arborescentes Riqueza Inicial 1 0,08 0,75 0,395 Tempo 1 0,08 0,75 0,395
Riq. Inicial x Tempo 1 0,01 0,08 0,775
Erro 24 0,12
Briozoários Incrustantes Riqueza Inicial 1 0,06 1,71 0,203 Tempo 1 0,40 10,71 0,003
Riq. Inicial x Tempo 1 0,14 3,86 0,061
Erro 24 0,04
Figura 4. Proporção média das espécies utilizadas inicialmente (±EP) no tratamento de alta riqueza ocorrendo
após 1 e 5 meses nos tratamentos de alta e baixa riqueza para ascídias coloniais (n inicial = 4), briozoários
arborescentes (n inicial = 2) e briozoários incrustantes (n inicial = 3). NS - sem diferença significativa, p >
0,05.
Quanto à estruturação da comunidade, não foram observadas diferenças na
composição em relação ao grupo taxonômico que iniciou a comunidade, mas observamos
diferentes composições entre os tratamentos de alta e baixa riqueza e também entre os
momentos da sucessão (Tab. 3). Comunidades iniciadas com alta riqueza apresentaram, em
ambos os momentos da sucessão, mais briozoários arborescentes, principalmente Bugula
neritina (SIMPER: 19,61%), do que comunidades iniciadas com baixa riqueza inicial. Já
48
comunidades iniciadas com baixa riqueza, apresentaram um domínio de briozoários
incrustantes, principalmente Schizoporella errata (SIMPER: 15,24%), quando comparadas
aos tratamentos de alta riqueza inicial. Apesar desse padrão ser consistente no tempo, houve
uma diminuição na área coberta por briozoários arborescentes (Bugula neritina, SIMPER:
20,14%) e um grande aumento da área coberta por briozoários incrustantes (Schizoporella
errata, SIMPER: 16,19%), os quais passaram a ser os organismos dominantes em todos os
tratamentos após cinco meses de experimentação (Fig. 5).
Tabela 3. Resultado da PERMANOVA comparando a abundância relativa das espécies após um e cinco meses
de experimentação para unidades experimentais iniciadas com alta e baixa riqueza para os grupos ascídias,
briozoários arborescentes e briozoários incrustantes.
Fonte de Variação Gl QM Pseudo-F p
Riqueza inicial 1 3802 3,00 0,022
Grupo 2 1717 1,36 0,194
Tempo 1 22033 17,40 0,001
Riqueza inicial x Grupo 2 640 0,51 0,904
Riqueza inicial x Tempo 1 1542 1,22 0,313
Grupo x Tempo 2 765 0,60 0,856
Riqueza inicial x Grupo x Tempo 2 1186 0,94 0,467
Erro 60 1265
49
Figura 5. Área de cobertura dos principais grandes grupos da comunidade (ascídias, briozoários
arborescentes, briozoários incrustantes, hidrozoários e outros – bivalves, cracas, esponjas e poliquetas) para os
tratamentos de alta e baixa riqueza inicial, para ascídias coloniais (AC), briozoários arborescentes (BA) e
briozoários incrustantes (BI) após um e cinco meses de experimentação.
Independentemente dos tratamentos de alta e baixa riqueza inicial e dos diferentes
grupos taxonômicos testados, não foram observadas diferenças na ocorrência de espécies
exóticas em relação às espécies totais (Tab. 4, Fig. 6).
Tabela 4. Resultado da ANOVA comparando a razão entre o número de espécies exóticas e o número total de
espécies em comunidades iniciadas por alta e baixa riqueza de ascídias coloniais, briozoários arborescentes e
briozoários incrustantes após cinco meses de experimentação.
Fonte de Variação Gl QM F p
Riqueza inicial 1 0,000 0,005 0,946
Grupo 2 0,003 0,197 0,822
Riqueza inicial x Grupo 2 0,001 0,071 0,931
Erro 30 0,014
50
Figura 6. Razão entre o número de espécies exóticas e o número total de espécies em comunidades iniciadas
por alta e baixa riqueza de ascídias coloniais (AC), briozoários arborescentes (BA) e briozoários incrustantes
(BI).
DISCUSSÃO
Os resultados indicam que uma maior riqueza durante a colonização leva a uma maior
diversidade ao longo da sucessão, seja nos momentos iniciais ou nos mais avançados. Uma
vez que foram utilizadas espécies redundantes nos tratamentos de alta riqueza inicial,
esperava-se uma ausência de efeito dessa maior diversidade de colonizadores (Griffin et al.
2009; Guillemot et al. 2011). Entretanto, os resultados mostram que mesmo sendo espécies
semelhantes, uma maior diversidade inicial leva a uma maior diversidade também ao longo da
sucessão, seja por facilitação indireta por liberação competitiva, no caso de comunidades
fundadas por ascídias coloniais e briozoários incrustantes, ou por facilitação direta, quando
briozoários arborescentes foram fundadores.
Apesar dos tratamentos que apresentaram maior diversidade ao longo da sucessão
serem aqueles que se iniciaram com mais espécies, esse padrão não vem única e
exclusivamente do número de espécies já ser maior no começo. Mesmo com uma pequena
variação no tempo para briozoários incrustantes, no geral todas as espécies utilizadas nos
tratamentos de alta riqueza, também foram similarmente frequentes nos tratamentos de baixa
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
0.30
0.35
AC BA BI
Exó
tica
s/To
tais
Grupo Taxonômico
Alta Baixa
51
riqueza nos dois momentos da sucessão amostrados. Isso mostra que outros processos
atuantes nas comunidades que se iniciaram com mais espécies, além do maior número inicial
de espécies em si, foram importantes para levar a uma maior diversidade ao longo do tempo.
Para ascídias coloniais e briozoários incrustantes, grupos classicamente tidos como
bons competidores e dominadores de espaço (Kay e Keough 1981; Nandakumar 1996; Osman
e Whitlatch 2004; Dias et al. 2008), um maior número de espécies similares no início da
sucessão pode levar a uma maior competição e consequentemente barrar o crescimento dessas
colônias e a dominação do espaço por elas (Dias et al. 2008). Ao estarem competindo e não
dominando espaço, outras espécies podem conseguir colonizar e se manter na comunidade
(Russ 1980; Osman e Whitlatch 2004; Vieira et al. 2012), resultando num padrão de maior
diversidade em relação ao tratamento de baixa riqueza inicial. No caso de baixa riqueza
inicial, a ausência de maior competição, pode ter levado esses bons competidores a
rapidamente monopolizar espaço (Kay e Keough 1981; Jackson e Hughes 1985) e recobrir
outros organismos (Russ 1982; Nandakumar 1996), levando a uma menor diversidade ao
longo da sucessão. É como se o potencial monopolizador de cada espécie se tornasse menor
na presença de outras espécies similares, só sendo máximo e efetivo quando essas espécies
ocorreram sozinhas nos tratamentos de baixa riqueza inicial. Dessa forma, os resultados
sugerem um processo de facilitação indireta, uma vez que a competição entre as diferentes
espécies de bons competidores nos tratamentos de alta riqueza inicial garantem uma menor
monopolização de espaço e isso é positivo para a ocorrência de outros grupos com menor
potencial de colonização e permanência na comunidade (Levine 1999; Stachowicz 2001;
Arkema et al. 2009; Palmer et al. 2013).
Uma segunda interpretação remete a um processo de facilitação direta (Stachowicz
2001), ocorrendo nas unidades experimentais iniciadas com mais espécies de briozoários
arborescentes, nas quais também foi observada uma elevada diversidade em estágios
subsequentes da sucessão. Briozoários arborescentes não são dominadores de espaço, uma vez
que crescem verticalmente e ocupam um espaço muito diminuto do substrato (Walters e
Wethey 1996). Essa estrutura arborescente e complexa tridimensionalmente pode funcionar
como um abrigo para organismos com menor potencial competitivo. Organismos que venham
ocorrer abaixo dos briozoários arborescentes podem estar mais protegidos de predadores e
terem tempo suficiente para crescerem e escaparem dos mesmos, além de terem tamanho e
potencial suficientes para não serem recobertos por bons competidores de crescimento
bidimensional (Russ 1980; Breitburg 1985; Stachowicz 2001). Além disso, as estruturas
52
ramificadas de briozoários arborescentes são frequentemente vistas com outros organismos
assentados que, potencialmente, podem ir crescendo até colonizarem o substrato primário, ou
crescerem o suficiente até o organismo arborescente morrer e o epibionte permanecer no
substrato (Claar et al. 2001), já tendo um tamanho suficiente para escapar de predadores.
Dessa forma, quando integramos isso a variações físicas e químicas específicas de cada
espécie, uma maior diversidade de briozoários arborescentes no início da sucessão pode
abrigar um conjunto distinto de organismos associados através de interações táxon
específicas, levando assim a uma maior diversidade geral de incrustantes, quando comparada
ao tratamento de baixa riqueza inicial com apenas uma espécie de briozoário arborescente.
Esses efeitos de facilitação ficam claros também quando olhamos para a composição
da comunidade. Briozoários arborescentes são mais dominantes nos tratamentos de alta
riqueza inicial, enquanto briozoários incrustantes são mais dominantes no geral em
tratamentos de baixa riqueza inicial. A longo prazo, isso se reflete em comunidades mais
equitativas nos tratamentos de alta riqueza inicial, nos quais os briozoários arborescentes
foram mais abundantes no início da sucessão. A facilitação direta proporcionada por esse
grupo e a sua própria presença funciona como uma barreira (facilitação indireta) ao domínio
por briozoários incrustantes. Isso fica evidente após cinco meses de sucessão nos tratamentos
de baixa riqueza inicial, uma vez que briozoários incrustantes aumentaram bastante sua
abundância e monopolização de espaço entre o primeiro e o quinto mês. Esse aumento de
abundância é menor nos tratamentos de alta riqueza inicial, que no começo foram dominados
por briozoários arborescentes. Esse obstáculo à expansão de briozoários incrustantes,
proporcionado pelos briozoários arborescentes, aparentemente garante a ocorrência de outros
grupos aumentando assim a diversidade.
Dessa forma, vemos que a baixa riqueza inicial facilita o rápido domínio do espaço
por bons monopolizadores, uma vez que, mesmo que esses organismos não estejam presentes
no início da sucessão, assim que chegam à comunidade rapidamente crescem e impedem a
ocorrência de outros grupos, levando a diversidade a níveis mais baixos. Isso é importante em
áreas com grande disponibilidade de propágulos reprodutivos, como é o caso da nossa área de
estudo (Vieira et al. 2016; Oricchio et al. 2016b). Pelo fato de a área de estudo ser uma
marina, acaba havendo uma grande retenção de propágulos na parte interior aos blocos de
flutuação (Wilding e Sayer 2002; Bulleri e Chapman 2010), o que faz com que o aporte de
recrutas para a comunidade seja sempre alto ao longo de toda a sucessão. Num cenário de
baixa riqueza inicial, as chances de um melhor competidor chegar à comunidade, e
53
rapidamente monopolizá-la, é maior do que num cenário de maior riqueza inicial em que os
processos de competição e limitação da monopolização de espaço por quem já está lá podem
limitar o crescimento de um novo bom competidor.
Além dos efeitos da riqueza inicial, a identidade do grupo taxonômico que inicia a
comunidade é importante. Unidades experimentais iniciadas com briozoários incrustantes
apresentaram no geral menos espécies depois de um mês, corroborando os resultados
encontrados no experimento anterior. Os briozoários incrustantes, no caso desse experimento
majoritariamente S. errata, rapidamente monopolizam espaço, além de ter uma alta
sobrevivência, o que garante sua manutenção na comunidade. Conjuntamente, essas
características reduzem a chance de outros organismos chegarem e se estabelecerem na
comunidade (Kay e Keough 1981; Jackson e Hughes 1985), uma vez que o espaço é limitado
e o risco de sobrecrescimento por S. errata é elevado (Russ 1980 e 1982; Nandakumar 1996),
o que explica a menor riqueza encontrada.
Apesar de termos esperado incialmente que comunidades fundadas por um maior
número de espécies levassem a uma menor ocorrência de espécies exóticas (Stachowicz et al.
1999, 2002, 2007 e 2008; Fergione et al. 2003), não observamos efeito da riqueza inicial na
presença das mesmas. Mesmo comunidades iniciadas com menos espécies apresentaram alta
riqueza logo após o primeiro mês, e isso pode ter funcionado como um tampão para a
ocorrência de espécies exóticas pela rápida depleção de nichos disponíveis (Shea e Chesson
2000; Fergione et al. 2003; Hart e Marshall 2012). A região onde realizamos o experimento
apresenta um alto aporte de recrutas, além de uma alta diversidade dos mesmos (Vieira et al.
2016). Assim, rapidamente a comunidade está ocupada e próxima à saturação de espécies, não
havendo janela para a ocorrência de um grande número de espécies exóticas,
independentemente da diversidade inicial dos fundadores. Além disso, a predação é alta na
área de estudo (Oricchio et al. 2016a,b; Vieira et al. 2016), o que pode fazer com que as
espécies exóticas, mesmo conseguindo se fixar, sejam rapidamente removidas por predadores
(Freestone et al. 2013; Kremer e Rocha 2016). Essa importância da predação como fator
controlador da ocorrência de espécies exóticas foi testada e está discutida abaixo no
experimento em que a diversidade funcional inicial foi manipulada, juntamente com a
presença de predadores.
Concluo, então, que uma maior riqueza inicial garante uma maior diversidade ao
longo da sucessão. No sistema estudado, essa diversidade pode ter sido resultante da
facilitação direta por briozoários arborescentes, ou por facilitação indireta mediada pela
54
competição entre ascídias coloniais ou briozoários incrustantes, e a ocupação de espaço
liberado por outras espécies. Esses resultados sugerem que, assim como predação e
competição, interações positivas como facilitação também exercem uma grande influência na
organização e estruturação das comunidades (Stachowicz 2001; Bruno et al. 2003; Bulleri
2009). Além disso, assim como no primeiro experimento, fica evidente que todos esses
processos são muito influenciados pela identidade dos colonizadores, sendo os briozoários
incrustantes, principalmente S. errata, o grupo que leva à menor diversidade,
independentemente de outros fatores como riqueza, competição e facilitação.
55
CAPÍTULO III
A RIQUEZA FUNCIONAL DOS FUNDADORES: MAIOR IMPORTÂNCIA
DA IDENTIDADE DO QUE DO GRUPO FUNCIONAL NA MODULAÇÃO DOS
EFEITOS DE PREDADORES NA ESTRUTURAÇÃO DA COMUNIDADE
56
RESUMO
Muitos estudos têm mostrado que a diversidade funcional, e não a diversidade de
espécies, é a principal propriedade que regula a dinâmica de comunidades biológicas e o
funcionamento de ecossistemas. Assim, é mais interessante pensar em funcionalidade do que
identidade, uma vez que a perda de grupos funcionais, mais do que a perda de espécies, seria
o principal impacto resultante no empobrecimento de interações biológicas e na fragilidade
das comunidades. Quanto mais diversa for uma comunidade, maior a resistência e resiliência.
Essas características são importantes para a estabilidade, principalmente atualmente quando as
ações antrópicas têm levado a grandes perdas de diversidade em vários sistemas, causadas
majoritariamente pela perda de habitat e introdução de espécies exóticas. Como sistemas
costeiros têm sido muito alterados pela construção de estruturas costeiras e perda de habitats
naturais, utilizei comunidades incrustantes do sublitoral para testar os efeitos de variações na
diversidade funcional de fundadores na estruturação e desenvolvimento dessas comunidades,
bem como na suscetibilidade destas à ocorrência de espécies exóticas. Conduzi os
experimentos para dois grupos importantes e abundantes no início da sucessão, ascídias e
briozoários, e na presença e ausência de predadores. Incluir o efeito de predadores é
importante, uma vez que a predação pode ser mais direcionada para ascídias. Essa
suscetibilidade diferencial em relação à predação pode modular como as variações na
diversidade funcional dos fundadores vai afetar a estruturação da comunidade. Ao contrário
do esperado, a diversidade funcional não afetou a estruturação da comunidade nem a
ocorrência de espécies exóticas. Por outro lado, a predação foi importante, afetando a
estrutura das comunidades por diminuir a cobertura de ascídias, diminuindo a riqueza total de
espécies e de espécies exóticas, quando briozoários foram os fundadores. Assim como já
observado anteriormente, a identidade taxonômica pode ser mais importante do que variações
na diversidade funcional, podendo inclusive modular a forma como predadores afetam a
estruturação da comunidade.
57
INTRODUÇÃO
Apesar da forte relação entre a diversidade de espécies e várias propriedades das
comunidades e ecossistemas, vários estudos chegam a resultados inconclusivos fazendo com
que modelos preditivos sobre os padrões de diversidade de espécies funcionem em escalas
espaciais ou temporais restritas, dificilmente permitindo grandes generalizações (Hooper et al.
2005; Cardinale et al. 2006; Fridley et al. 2007; Griffin et al. 2009). Em grande parte, essas
incongruências são o resultado direto da métrica utilizada para inferir diversidade, uma vez
que a medida mais comumente utilizada, o número de espécies, nem sempre é a unidade de
diversidade relevante para os processos que operam no âmbito das comunidades ou
ecossistemas. Quando se fala em riqueza, não se levam em conta as possíveis sobreposições e
redundâncias que podem existir entre as diferentes espécies (Valdivia et al. 2008; Griffin et al.
2009; Guillemot et al. 2011). Muitas espécies são funcionalmente semelhantes, tendo
praticamente os mesmos requisitos e atuando na comunidade de forma semelhante. Assim,
uma comunidade pode ter muitas espécies, mas funcionalmente é como se tivesse apenas
muitos indivíduos de uma mesma espécie geral.
Desta forma, pode ser mais interessante pensar em funcionalidade e não em número,
ou seja, em diversidade funcional e não em riqueza de espécies, para entender processos que
ocorrem em escalas mais amplas (Sutherland 1978; Tilman 2001; Valdivia et al. 2008; Griffin
et al. 2009). Um grupo funcional é um conjunto de espécies que, apesar de taxonomicamente
distintas, apresentam um mesmo papel/função nos processos ecossistêmicos em que
participam (Tilman 2001). Uma comunidade funcionalmente diversa vai ser aquela com o
maior número de grupos com funções diferentes, independente do número de espécies. Desta
forma, uma comunidade diversa funcionalmente, não necessariamente é a mais diversa
taxonomicamente.
A importância da riqueza de espécies para a estabilidade, resistência e resiliência, é
então maximizada quando agregamos à diversidade taxonômica a diversidade funcional. Uma
comunidade com mais espécies e com variação funcional dentro dessas espécies será a mais
estável frente a distúrbios (Cardinale et al. 2000; Loreau et al. 2001; Stachowicz et al. 2007,
2008). Um distúrbio que afete severamente um grupo funcional irá ter grandes implicações na
estrutura e processos da comunidade, entretanto, se houver certa redundância entre e dentro de
grupos funcionais, rapidamente o espaço das espécies perdidas será reposto por outras,
garantindo a estabilidade do sistema (Griffin et al. 2009; Guillemot et al. 2011).
58
Uma alta diversidade taxonômica e funcional é então muito importante para
comunidades que atualmente estão sobre intenso impacto antrópico, o qual pode afetar a sua
organização e estruturação (Hooper et al. 2005; Stachowicz et al. 2007). Assim como já
mencionado anteriormente, a introdução de espécies não nativas é um dos principais
problemas que afetam a estrutura de comunidades ao redor do mundo. Sistemas marinhos
estão entre os mais afetados, uma vez que a chegada de espécies exóticas é facilitada pelo
grande trânsito de embarcações (Carlton e Geller 1993; Mineur et al. 2012). Uma comunidade
pode ser diversa em termos de espécies e mesmo assim ser facilmente dominada por
organismos exóticos quando a redundância entre as espécies nativas. Quando há muita
redundância funcional entre as espécies de uma comunidade, muitos nichos estão prontos para
serem ocupados por outros organismos, principalmente espécies exóticas que são geralmente
oportunistas devido à alta capacidade competitiva (Rejmánek e Richardson 1996; Theoharides
e Dukes 2007) e baixa ocorrência de inimigos naturais (Mitchell e Power 2003; Torchin et al.
2003). Por outro lado, comunidades diversas funcionalmente, como as normalmente
encontradas nos trópicos (Holdgate 1986; Sax 2001), acabam estando mais perto de uma
saturação, não havendo janela de entrada para organismos exóticos. Nessas condições, mesmo
conseguindo seu estabelecimento, as espécies exóticas tendem a formar populações instáveis
e não dominantes (Shea e Chesson 2000; Stachowicz et al. 2002; Fergione et al. 2003;
Stachowicz e Byrnes 2006).
Apesar da diversidade funcional dos organismos de uma comunidade ser claramente
importante para a estabilidade da mesma, é necessário agregar outros processos que podem
afetar indiretamente a diversidade da comunidade, como por exemplo, a predação
(Stachowicz 2007). Predadores tendem a se alimentar de espécies ou grupos com
características específicas. Muitas vezes essa especificidade não é nos níveis de espécie ou
gênero, mas em determinados grupos taxonômicos e/ou funcionais (Paine 1966; Osman e
Whitlatch 2004; Pastro 2015; Vieira et al. 2012, 2016). Geralmente o pool de propágulos
circulantes no sistema pode gerar comunidades funcionalmente diversas. Entretanto, se os
predadores consumirem grupos específicos, esses grupos podem nunca conseguir manterem-
se no sistema, reduzindo as funções ecológicas no sistema. A predação, um processo
extrínseco à comunidade séssil, pode então modular como a diversidade funcional vai afetar a
estabilidade da comunidade e a resistência a espécies exóticas.
No capítulo anterior manipulei a diversidade taxonômica, mantendo a diversidade
funcional constante. Entretanto, o número de espécies por si só pode não ser o ideal para se
59
entender como a diversidade modula a estruturação e resistência da comunidade incrustante às
invasões biológicas (Griffin et al. 2009; Guillemot et al. 2011). Decidi então neste capítulo
manipular a diversidade funcional do conjunto de fundadores (alta vs. baixa) mantendo a
diversidade taxonômica constante. Além disso, como predadores podem afetar certos grupos
mais do que outros (Russ 1980; Osman et al. 2004; Vieira et al. 2012, 2016; Oricchio et al.
2016b), conduzi o experimento na ausência e na presença de predadores, utilizando dois
grupos taxonômicos distintos para compor as comunidades experimentais: ascídias e
briozoários. Espero que de forma geral comunidades com uma alta diversidade funcional
inicial (maior estabilidade) resultem em comunidades mais diversas ao longo da sucessão,
além de apresentarem uma menor ocorrência de espécies exóticas. Além disso, espero um
efeito maior de predadores em comunidades iniciadas com ascídias (grupo menos resistente à
predação) e com baixa diversidade funcional (menor estabilidade e resistência).
MÉTODOS
Desenho Experimental
Este experimento foi conduzido no Yacht Club Ilhabela e, por dificuldades na
obtenção de todas as espécies ao mesmo tempo, os experimentos para cada grupo taxonômico
foram conduzidos separadamente no tempo (Briozoários – Setembro a Dezembro de 2015;
Ascídias – Janeiro a Abril de 2016). Diferentemente do experimento em que manipulamos a
riqueza dos colonizadores (diversidade funcional constante e riqueza inicial variável), aqui
deixei constante o número de espécies e variei apenas a riqueza funcional das espécies, daqui
para frente diversidade funcional (Tilman et al. 1997; Díaz e Cabido 2001). Os grupos
funcionais foram definidos através de uma revisão da literatura levando-se em conta como os
fundadores ocupam o espaço, permanecem na comunidade e afetam a chegada de outros
organismos. Maiores detalhes e informações dos grupos funcionais definidos podem ser
encontradas na Tab. S2 do Material Suplementar. Para ascídias, utilizei as espécies
Botrylloides nigrum e Didemnum perlucidum, categorizadas funcionalmente como coloniais
bidimensionais, e as espécies Herdmania pallida e Phallusia nigra, categorizadas
funcionalmente como solitárias. Para briozoários, utilizei as espécies Schizoporella errata e
Watersipora subtorquata, categorizadas funcionalmente como incrustantes bidimensionais e
60
as espécies Bugula neritina e Crisia sp1., categorizadas como arborescentes (Tab. 2 –
Material Suplementar, Fig. 1).
Figura 1. Espécies de ascídias e briozoários utilizadas nas construções dos cenários de alta e baixa
diversidade funcional inicial. Ascídias: solitárias A) Phallusia nigra e B) Herdmania pallida; coloniais
bidimensionais C) Didemnum perlucidum e D) Botrylloides nigrum. Briozoários: arborescentes E) Bugula
neritina e F) Crisia sp1; incrustantes bidimensionais G) Schizoporella errata e H) Watersipora subtorquata.
Para cada grupo taxonômico, o tratamento de alta diversidade funcional inicial foi
composto por duas espécies de diferentes grupos funcionais, enquanto o tratamento de baixa
diversidade funcional inicial foi composto por duas espécies do mesmo grupo funcional. Para
evitar resultados que fossem reflexo da identidade das espécies presentes e não do nível de
61
diversidade funcional em si, optei por replicar cada nível de diversidade funcional inicial
construindo então dois cenários de alta diversidade funcional (Ascídias – B. nigrum +P. nigra
e D. perlucidum + H. pallida; Briozoários – Crisia sp. + W. subtorquata e B. neritina + S.
errata) e dois cenários de baixa diversidade funcional (Ascídias – B. nigrumi + D. perlucidum
e H. pallida + P. nigra; Briozoários – S. errata + W. subtroquata e B. neritina + Crisia sp.)
(Fig. 2).
Figura 2. Desenho experimental mostrando a composição dos diferentes cenários de alta e baixa diversidade
funcional para ascídias e briozoários.
62
Os organismos das espécies utilizadas na construção das comunidades experimentais
foram em sua maioria obtidos das placas estoque como mencionado anteriormente. Apenas
indivíduos de Herdmania pallida não foram encontrados se desenvolvendo nos estoques em
número suficiente para a montagem do experimento e, portanto, foram obtidos através de
fertilização in vitro em laboratório. De cinco indivíduos coletados em campo, extraí as
gônadas, filtrei para separar os ovócitos dos espermatozóides e depois realizei a fecundação
de forma cruzada. Após encubação no escuro por 10h, as larvas desenvolvidas foram
separadas e colocadas para assentar em gotas de água sobre folhas de acetato previamente
lixadas cobrindo placas de PVC. Após 12h de encubação no escuro para que o assentamento
tivesse sucesso e os jovens recrutas começassem a se desenvolver, as placas foram levadas
para o mar, onde ficaram por 15 dias até serem recortados e utilizados na composição dos
diferentes cenários experimentais.
Cada comunidade experimental foi iniciada, assim como nos experimentos anteriores,
com 4 colônias/indivíduos das espécies de interesse (aproximadamente 1,5 cm de diâmetro).
Os colonizadores iniciais foram recortados de folhas de acetato e colados nas placas
experimentais com cola de secagem rápida, tipo Superbonder® (Hart e Marshall 2009). As
placas experimentais de PVC (15 x 20 x 0,2 cm) foram lixadas facilitando a adesão das
colônias coladas e dos novos recrutas que chegaram posteriormente à comunidade. No total,
para cada grupo taxonômico, foram utilizadas 48 unidades experimentais, sendo 12 réplicas
de cada cenário dentro de cada nível de diversidade funcional inicial.
Como também testei o efeito de predadores, metade das placas de cada cenário foram
cobertas com gaiolas de tela plástica (15 x 20 x 8cm, malha 1 cm) de modo a excluir os
predadores principais (peixes e grande caranguejos), enquanto que a outra metade foi coberta
com cercas da mesma dimensão das gaiolas, mas sem o teto, deixando livre acesso para
predadores mas também controlando possíveis efeitos da gaiola. Mensalmente todas as
gaiolas e cercas foram limpas e inspecionadas quanto a possíveis danos.
Todas as placas foram fixadas horizontalmente nas estruturas dos blocos flutuantes
com a face de interesse voltada para baixo, mantendo uma profundidade de 1,5 m e,
aproximadamente, 2 m de distância entre placas.
63
Amostragem
Dado o número relativamente menor de placas que foi possível montar para cada
combinação, optei por coletar os dados em apenas uma ocasião, após 3 meses, que é o tempo
geralmente utilizado em outros trabalhos e corresponde a um momento da sucessão onde já é
possível observar efeitos das manipulações experimentais na estruturação das comunidades
(Osman e Whitlatch 2004; Freestone et al. 2011; Vieira et al. 2012 e 2016).
As placas tiveram seus táxons registrados até o menor nível de identificação possível e
foram fotografadas para posterior quantificação da área de cobertura de cada táxon, usada
como estimativa de abundância relativa (Vieira et al. 2012). Na quantificação de cobertura foi
utilizada apenas uma área central de 13 x 13 cm de cada placa, para evitar o efeito das bordas
e pelo fato de ter sido nessa área central que as colônias foram coladas na montagem do
experimento.
Análise dos Dados
Para cada grupo taxonômico separadamente, a riqueza de táxons foi comparada entre
os diferentes tratamentos através de uma ANOVA de modelos mistos. As variáveis preditoras
foram ‘diversidade funcional inicial’ (fator fixo, 2 níveis: alta e baixa), ‘cenário’ (fator
aleatório aninhado em diversidade funcional inicial, 2 níveis) e ‘predação’ (fator fixo, 2
níveis: presença de predadores ‘+P’ e ausência de predadores ‘-P’). Nos casos em que houve
efeito para algum fator, as comparações par a par foram feitas através de um teste Tukey.
A cobertura dos organismos foi comparada entre os tratamentos através de uma
PERMANOVA (Anderson 2001) utilizando o mesmo modelo proposto para riqueza. Os
dados utilizados na PERMANOVA foram transformados (arcsenx) e os táxons que
apareceram em apenas uma amostra foram retirados, pois não acrescentam resolução ao teste.
Nos casos em que foram detectados efeitos, procedeu-se a comparações par a par e ao teste
SIMPER, para o melhor entendimento desses efeitos e para a identificação dos táxons que
mais contribuíram para os mesmos, respectivamente (Clarke 1993).
Este foi o único experimento em que optei por não balancear os dados devido à perda
de replicagem que se teria para alguns tratamentos. Isso não foi um problema, pois em todos
os casos os conjuntos de dados apresentaram distribuição normal e variâncias homogêneas
(Underwood 1997).
64
Ocorrência de espécies exóticas
Assim como no experimento de riqueza, neste experimento também testei se os
diferentes cenários de diversidade funcional inicial e a presença de predadores afetavam a
ocorrência de espécies exóticas. Utilizei os mesmos critérios e referências mencionados
anteriormente (Tab. 1 – Material Suplementar) e, em cada unidade amostral, calculei então a
razão entre o número de espécies exóticas e o número de espécies total, e comparei essa razão
entre os cenários de alta e baixa riqueza inicial e presença/ausência de predadores através de
uma ANOVA de modelos mistos.
RESULTADOS
A diversidade funcional inicial não influenciou na riqueza de espécies da comunidade
nem para ascídias nem para briozoários. Por outro lado, a presença de predadores apresentou
efeito para briozoários, e uma tendência de efeito para ascídias, levando a uma diminuição na
riqueza de taxa após três meses (Tab. 1, Fig. 3).
Tabela 1. Resultado da ANOVA comparando a riqueza de taxa após três meses de experimentação para
diferentes cenários de alta e baixa diversidade funcional inicial de ascídias e briozoários na presença e ausência
de predadores.
Fonte de Variação
Ascídias Briozoários
GL QM F p GL QM F p
Div. Funcional 1 15,63 0,93 0,437 1 44,48 13,21 0,068
Cenário (Div. Func.) 2 16,83 0,96 0,393 2 3,37 0,29 0,748
Predação 1 27,40 17,17 0,054 1 318,75 85,80 0,011
Div. Func. x Predação 1 2,10 1,31 0,370 1 0,02 0,00 0,952
Cenário (Div. Func.) x
Predação
2 1,60 0,09 0,913
2 3,72 0,32 0,726
Erro 37 17,59 32 11,49
65
Figura 3. Riqueza de taxa para os diferentes cenários de alta e baixa diversidade inicial de ascídias e
briozoários, na presença (+P) e ausência (-P) de predadores, após três meses. Ascídias: B – Botrylloides
nigrum, D – Didemnum perlucidum, H – Herdmania pallida, P – Phallusia nigra; Briozoários: B – Bugula
neritina, C – Crisia sp., S – Schizoporella errata, W – Watersipora subtorquata.
Assim como para a riqueza de taxa, a diversidade funcional inicial não afetou a
estruturação da comunidade para nenhum dos tratamentos iniciais. Já a presença de
predadores foi importante para alterar a estrutura das comunidades iniciadas tanto por ascídias
como por briozoários, sendo que no primeiro caso o efeito dependeu do cenário inicial (Tab.
2). Nas comunidades iniciadas por ascídias, houve maior ocorrência desse grupo em
comunidades protegidas de predação, com maior contribuição da ascídia colonial Didemnum
perlucidum, enquanto briozoários dominaram na ausência de predadores, principalmente o
briozoário incrustante Schizoporella errata (Tab. 3). Entretanto, para o cenário de baixa
diversidade funcional iniciado por ascídias solitárias (Herdmania pallida e Phallusia nigra), o
domínio de ascídias na ausência de predadores foi ainda mais pronunciado quando comparado
aos demais cenários iniciados por ascídias e protegidos de predação. Em comunidades
iniciadas por briozoários, o padrão foi basicamente o mesmo, uma vez que a presença de
predadores promoveu um grande domínio deste grupo, principalmente o briozoário
incrustante Schizoporella errata (SIMPER: 23,57%), enquanto a ausência de predadores
levou a uma grande ocupação por ascídias, principalmente Didemnum perlucidum (SIMPER:
12,52%) (Fig. 4).
66
Tabela 2. Resultado da PERMANOVA comparando a estrutura da comunidade após três meses de
experimentação para diferentes cenários de alta e baixa diversidade funcional inicial de ascídias e briozoários na
presença e ausência de predadores.
Fonte de Variação
Ascídias Briozoários
GL QM Pseudo-F p GL QM Pseudo-F p
Div. Funcional 1 1671 0,57 1,000 1 1136 0,58 0,652
Cenário (Div. Func.) 2 2940 1,96 0,032 2 1949 1,70 0,117
Predação 1 26653 9,27 0,024 1 47609 29,28 0,021
Div. Func. x Predação 1 1129 0,39 0,731 1 1150 0,71 0,554
Cenário (Div. Func.) x Predação 2 2877 1,92 0,044 2 1628 1,42 0,178
Erro 37 1498 32 1146
Figura 4. – Área de cobertura dos principais grandes grupos da comunidade (ascídias, briozoários outros –
corais, cifístomas, bivalves, hidrozoários, cracas, esponjas, poliquetas e anemônas) para os diferentes cenários
de alta e baixa diversidade inicial de ascídias e briozoários, na presença (+P) e ausência (-P) de predadores,
após três meses. Ascídias: B – Botrylloides nigrum, D – Didemnum perlucidum, H – Herdmania pallida, P –
Phallusia nigra; Briozoários: B – Bugula neritina, C – Crisia sp., S – Schizoporella errata, W – Watersipora
subtorquata.
67
Tabela 3. Contribuição relativa (%) obtidas pelo SIMPER dos cinco táxons mais importantes para estabelecer as
diferenças par a par de placas de cada cenário de alta (Didemnum perlucidum + Herdmania pallida e Botrylloides
nigrum + Phallusia nigra) e baixa diversidade funcional inicial (Botrylloides nigrum + Didemnum prelucidum e
Herdmania pallida + Phallusia nigra) na presença (+P) e ausência de predadores (-P) após 3 de experimentação.
À frente de cada táxon, entre parênteses, está o grande grupo ao qual ele pertence: AC – Ascídias Coloniais, AS –
Ascídias Solitárias, BA – Briozoários Arborescentes, BI – Briozoários Incrustantes, C – Cnidários; e o
tratamento em que foi mais abundante.
Alta Diversidade Funcional Inicial
D. perlucidum + H. pallida (%) B. nigrum + P. nigra (%)
Schizoporella errata (BI, +P) 23,13 Schizoporella errata (BI, +P) 19,91
Didemnum perlucidum (AC, -P) 11,12 Phallusia nigra (AS, -P) 8,06
Phallusia nigra (AS, -P) 7,04 Syphistoma (C, +P) 7,50
Baixa Diversidade Funcional Inicial
B. nigrum + D. perlucidum (%) H. pallida + P. nigra (%)
Schizoporella errata (BI, +P) 22,68 Schizoporella errata (BI, +P) 15,35
Didemnum perlucidum (AC, -P) 9,68 Didemnum perlucidum (AC, -P) 12,08
Amatia sp. (BA, -P) 8,69 Amatia sp. (BA, -P) 8,82
A ocorrência de espécies exóticas também não foi afetada pela diversidade funcional
inicial, porém, para ascídias, independente de predação, ela foi maior para cenários em que a
espécie S. errata estava presente, e para briozoários, independente do cenário, ela foi maior na
ausência de predadores (Tab. 4, Fig. 5).
Tabela 4. Resultado da ANOVA comparando a razão entre o número de espécies exóticas e o número total de
espécies em cenários de alta e baixa diversidade funcional de ascídias e briozoários, na presença e ausência de
predadores após três meses de experimentação.
Fonte de Variação
Ascídias Briozoários
GL QM F p GL QM F p
Div. Funcional 1 0,000 0,00 1,000 1 0,016 3,20 0,216
Cenário (Div. Func.) 2 0,002 0,40 0,673 2 0,005 0,19 0,826
Predação 1 0,013 0,81 0,463 1 0,899 449,50 0,002
Div. Func. x Predação 1 0,003 0,19 0,707 1 0,000 0,00 1,000
Cenário (Div. Func.) x Predação 2 0,016 3,20 0,052 2 0,002 0,08 0,926
Erro 37 0,005 32 0,003
68
Figura 5. Razão entre o número de espécies exóticas e o número total de espécies em cenários de alta e baixa
diversidade funcional de ascídias e briozoários, na presença e ausência de predadores após três meses de
experimentação. Ascídias: B – Botrylloides nigrum, D – Didemnum perlucidum, H – Herdmania pallida, P –
Phallusia nigra; Briozoários: B – Bugula neritina, C – Crisia sp., S – Schizoporella errata, W – Watersipora
subtorquata.
DISCUSSÃO
Ao contrário do que era esperado, variações na diversidade funcional inicial não
afetaram nem a estruturação da comunidade e nem a ocorrência de espécies exóticas depois
de três meses. Entretanto, a presença de predadores ao longo do experimento apresentou
efeitos tanto para a riqueza de comunidades iniciadas por briozoários como para a estrutura de
comunidades iniciadas por briozoários e ascídias. Além disso, predadores foram capazes de
controlar a ocorrência de espécies exóticas em comunidades iniciadas por briozoários. Esses
resultados mostram que a identidade taxonômica dos fundadores, como já observado nos
experimentos anteriores, é mais importante do que a diversidade funcional na estruturação da
comunidade ao longo da sucessão. Essa identidade pode alterar como a predação, um
processo extrínseco, vai afetar a comunidade.
Inicialmente esperava que a diversidade funcional inicial fosse ser mais importante na
estruturação da comunidade do que a riqueza inicial de táxons (Sutherland 1978; Hooper et al.
2005; Stachowicz et al. 2007), uma vez que variações na riqueza no experimento anterior
69
foram feitas dentro de um mesmo grupo funcional, com espécies redundantes, gerando
mínima variação funcional (Griffin et al. 2009; Guillemot et al. 2011). Entretanto observei o
contrário, ou seja, variações na identidade dentro de um mesmo grupo funcional foram mais
importantes na estruturação da comunidade do que variações dos próprios grupos funcionais.
Já que utilizei os principais grupos funcionais ocorrentes no sistema, aproximando muito as
manipulações experimentais da realidade, a ausência de efeitos da diversidade funcional deve-
se provavelmente a idiossincrasias relacionadas à identidade de cada espécie. Isso reforça o
que já foi visto nos experimentos anteriores e por Arenas et al. (2006) para invasibilidade de
assembleias de macroalgas. As variações na sucessão e estruturação das comunidades
incrustantes é provavelmente mais dependente de combinações finas de características de
cada espécie fundadora, que afetam a chegada e ocorrência de outros organismos, como uso
de recursos (Arenas et al. 2006), ocupação do espaço (Jackson 1977; Walter e Wethey 1996;
Vieira et al. 2016), facilitação ou inibição do assentamento (Russ 1980; Breitburg 1985;
Walter e Wethey 1996; Krug 2006) e interações espécie-específicas, não mensuradas neste
estudo.
Além de não afetar a estrutura da comunidade, variações na diversidade funcional
inicial também não afetaram a ocorrência de espécies tidas como exóticas. Na nossa região
subtropical, a diversidade de organismos bentônicos é alta, chegando a aproximadamente 15
espécies por unidade experimental, logo nos primeiros momentos da sucessão (Vieira et al.
2012, 2016; Oricchio et al. 2016a). Dessa forma, a diferença inicial da diversidade funcional
pode já ser anulada pelo rápido recrutamento de uma alta diversidade de organismos (Vieira
et al. 2016), o que resulta na não observação de efeito para esse fator. Essa alta diversidade de
organismos leva a uma saturação da comunidade, não havendo janela para a entrada de
organismos exóticos. Mesmo conseguindo recrutar, a ocorrência de espécies exóticas será
pontual e o crescimento barrado pela falta de espaço já ocupado por outras espécies (Shea e
Chesson 2000; Fergione et al. 2003; Hart e Marshall 2012). Vale ressaltar que a maioria das
espécies exóticas utilizadas nessas análises já ocorrem na nossa região há muito tempo (Dias
et al. 2013; Marques et al. 2013) e, portanto, já podem estar inseridas na dinâmica local, sendo
controladas tanto pela ação de predadores, como por competição por espaço e alimento com
as espécies nativas. As variações na diversidade funcional inicial poderiam ser importantes
caso avaliássemos o efeito contra espécies exóticas que não foram observadas nos últimos
anos e que venham a ocorrer atualmente. Esse é, por exemplo, o caso do coral sol (gênero
Tubastraea), que é um claro exemplo de invasão recente na região (Paula e Creed 2004 e
70
2005; Silva et al. 2011) e que só nos últimos meses começou a ser observado nas nossas
unidades amostrais artificias, mas ainda com ocorrência muito baixa para possibilitar uma
análise exclusiva para essa espécie.
Diferentemente da diversidade funcional inicial, a predação ao longo do experimento
foi efetiva em afetar a estruturação da comunidade e esse efeito foi dependente do grupo
taxonômico fundador. Para briozoários, a presença de predadores levou a uma diminuição do
número de taxa e também afetou a ocorrência de ascídias, levando a uma dominância por
briozoários. Já para comunidades iniciadas por ascídias, o efeito foi apenas na estruturação da
comunidade e seguiu o mesmo padrão do tratamento iniciado por briozoários, entretanto
havendo ainda alguma ocorrência de ascídias mesmo na presença de predadores. Essa
diferença de efeito para comunidades fundadas por ascídias e por briozoários está
provavelmente relacionada tanto à menor resistência, como à maior susceptibilidade à
predação das ascídias (Osman e Whitlatch 2004; Vieira et al. 2012 e 2016). As diferenças
também podem ser explicadas por uma alternância de dominância entre ascídias coloniais,
principalmente Didemnum perlucidum, e briozoários incrustantes, principalmente
Schizoporella errata (Vieira et al. 2016; Oricchio et al. 2016b). Comunidades iniciadas por
briozoários tiveram o espaço rapidamente ocupado, uma vez que espécies desse grupo são
ótimas monopolizadoras de espaço (Kay e Keough 1981; Jackson e Hughes 1985) e
resistentes à predação (Lidgard 2008), não perdendo competitivamente para ascídias
(melhores competidores do que briozoários), as quais estão sujeitas a forte predação, inclusive
logo após o seu assentamento (Osman e Whitlatch 2004; Vieira et al. 2012; Oricchio et al.
2016b). Essa quase nula ocorrência de ascídias na presença de predadores e a alta
monopolização de espaço pelos briozoários, principalmente os incrustantes, levam às
diferenças de riqueza observadas. Na ausência de predadores, as ascídias conseguem se
desenvolver e acabam ganhando interações competitivas com os briozoários. Por essa razão a
maior dominância de ascídias em placas protegidas da predação corresponde também a uma
maior riqueza de espécies (Osman e Whitlatch 2004; Vieira et al 2012). Quando olhamos para
as comunidades iniciadas por ascídias, os predadores foram efetivos no controle desse grupo,
mas não tanto quanto nas comunidades iniciadas por briozoários, uma vez que ascídias
tiveram uma área de cobertura de aproximadamente 10 a 15% mesmo na presença de
predadores. Ao iniciarmos as comunidades com ascídias é como se garantíssemos uma janela
de escape, provavelmente por tamanho, e, mesmo que eventos de predação ocorressem, esses
organismos ainda permaneciam vivos na comunidade (Osman e Whitlatch 2004). A
71
ocorrência então de ascídias na presença de predadores, mesmo que em menor abundância
quando comparado a comunidades protegidas, constitui um aumento do número de espécies e
explica o fato de não terem sido observadas diferenças na riqueza. Dessa forma, então,
observamos que existe uma alternância de dominância competitiva entre ascídias e
briozoários. As ascídias, caso consigam escapar da predação, podem vir a dominar os
briozoários. Porém, na ausência dessa janela de escape, as ascídias serão rapidamente
removidas por predadores e os briozoários assumem a dominância e monopolizarão o espaço
(Vieira et al. 2016).
Predadores também afetaram a ocorrência de espécies exóticas, levando a uma
diminuição das mesmas quando os briozoários foram fundadores. No tratamento em que
ascídias constituíram o grupo fundador, em alguns cenários houve uma tendência de efeito de
predadores, na mesma direção de diminuição da ocorrência de espécies exóticas. No nosso
estudo, boa parte das espécies exóticas eram organismos geralmente fáceis de serem predados
(ascídias, briozoários arborescentes e poliquetas de corpo mole, Tab. 1 – Material
Suplementar) e, portanto, possíveis alvos dos predadores locais (Pastro 2015). O efeito
evidente apenas quando briozoários foram fundadores pode estar relacionado à abundância
diferencial de outras ascídias não exóticas, que é o principal grupo predado na região (Vieira
et al. 2012, 2016; Pastro 2015; Oricchio et al. 2016a,b). Quando expostas a predadores,
comunidades iniciadas por ascídias apresentaram uma cobertura quatro vezes maior de
ascídias em relação a comunidades iniciadas por briozoários (Ascídias: 12,9% ± 2,43;
Briozoários: 3,26% ± 1,4; t = -3,47, gl = 38, p = 0,001). Desta forma, nas placas iniciadas por
briozoários, os organismos passíveis de serem predados eram basicamente os organismos
exóticos, enquanto nas placas iniciadas por ascídias, outros organismos não exóticos também
poderiam ser alvo de predadores, havendo uma diluição do efeito da predação para as espécies
exóticas. Independentemente desses efeitos variáveis, predadores se mostraram importantes
no controle de espécies exóticas, assim como já observado para outras regiões tropicais e
subtropicais (Freestone et al. 2013; Kremer e Rocha 2016). Mesmo sendo generalistas na
nossa região (Gibran e Moura 2012; Pastro 2015), a predação intensa pode funcionar como
uma importante resistência biótica à invasão de espécies exóticas (Freestone et al. 2013).
Assim, a ideia de que espécies exóticas apresentam sucesso por não serem predadas pode ser
mais evidente em regiões em que predadores são especializados, como ocorrem em zonas
temperadas (Paine 1966) e/ou quando a intensidade da interação é muito fraca (Duffy et al.
2007; Edwards et al. 2010).
72
Concluo então que, ao se adicionar o fator predação, a diversidade funcional do
cenário inicial pode não ser tão importante na estruturação da comunidade, mas sim a
presença dos predadores. Além disso, a identidade taxonômica dos fundadores mais uma vez
se revelou importante, afetando a forma como a predação estrutura a comunidade incrustante,
principalmente quando há uma janela para crescimento e escape dos efeitos deletérios de
eventos de predação, e uma alternância de dominância entre esses grupos. Além disso, a
predação, em parte generalista no local do estudo, pode ser um importante processo que
controla a entrada ou permanência de espécies exóticas, principalmente quando essas espécies
são organismos de corpo mole e sem estruturas de defesa contra predadores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em seu conjunto, os experimentos conduzidos indicam que os cenários iniciais são
sim importantes em guiar o processo de sucessão e alterar a estruturação das comunidades
incrustantes. Foi possível observar que a riqueza da comunidade ao longo da sucessão está
intimamente ligada a como ela foi fundada, tanto pela identidade como pela diversidade dos
primeiros fundadores. Apesar de o processo inicial poder ser estocástico, mostramos que
existe, entretanto, certa previsibilidade dependente do fundador.
Um dos avanços mais significativos foi a constatação da importância da identidade
taxonômica do fundador para a sucessão da comunidade, sendo os briozoários incrustantes,
principalmente a espécie Schizoporella errata, os fundadores que levam a comunidade aos
menores níveis de diversidade e complexidade. Esse resultado é importante e complementa
estudos anteriores e paralelos em que temos visto que existe uma alternância de dominância
entre ascídias e briozoários. Ao realizar nossas manipulações dos cenários iniciais, demos
uma janela de escape a esses primeiros fundadores, o que pode ser importante no resultado
final da estruturação da comunidade. Briozoários incrustantes tendem a perder interações
competitivas com ascídias, mas quando lhes é dada essa vantagem, ou quando as ascídias
coloniais não estão presentes, rapidamente ocupam grande parte do espaço e conseguem
permanecer na comunidade como o grupo dominante reduzindo a diversidade local.
Além de ter importância direta na estruturação da comunidade (como visto nos dois
primeiros experimentos), a identidade dos fundadores afeta ainda indiretamente a comunidade
73
quando integrada com a predação. A influência de predadores na estruturação das
comunidades neste trabalho foi condicionada à identidade taxonômica do grupo fundador.
Predadores têm um impacto maior sobre organismos de corpo mole, como as ascídias
(resultado que tem sido recorrente em nossos outros trabalhos), o que, pelas teorias clássicas,
poderia levar a um aumento de diversidade. Entretanto, como já mencionado anteriormente, a
vantagem dada a briozoários fundadores associada à retirada de ascídias, levou a uma troca de
espécies dominante e monopolizadora, no caso o briozoário incrustante S. errata, não
contribuindo para o aumento de diversidade. Por outro lado, quando essa vantagem é dada às
ascídias, efeitos de predação não são evidenciados, pois esse grupo não é completamente
retirado da comunidade e barra o crescimento de briozoários incrustantes. Isso reflete
interações competitivas entre bons monopolizadores de espaço, o que na verdade tem efeitos
positivos na ocorrência de outros grupos com menor habilidade competitiva, levando a uma
manutenção de altos níveis de diversidade. Esse processo de competição entre dominantes
levando ao aumento de diversidade também foi evidenciado no experimento que manipulou a
riqueza inicial, mesmo na presença de predadores.
Além de corroborar o efeito de interações negativas, este trabalho promove várias
evidências de que o processo de facilitação ecológica pode ter um papel tão importante como
a predação e a competição para a estruturação da comunidade. Uma vez que o interesse em
facilitação ecológica só começou algumas décadas após os primeiros trabalhos que
exploraram interações negativas, a importância dessas interações positivas, como
demonstrado nesta tese, é certamente subestimada. Tanto mecanismos diretos como o
fornecimento de substrato secundário e modificação do habitat, como efeitos indiretos
mediados por competição entre bons competidores devem receber mais atenção.
Apesar de esperar que variações na diversidade inicial afetassem a ocorrência de
espécies exóticas, não observei esse efeito. Isso pode estar relacionado à alta diversidade
inerente da região. As unidades experimentais foram, por via de regra, colonizadas
rapidamente por um alto número de espécies, havendo ainda restituição de indivíduos pelo
alto aporte de propágulos ao longo da sucessão, o que provavelmente impôs uma barreira à
fixação de espécies exóticas. Além disso, a ação de predadores, outro processo que ocorre ao
longo de toda a sucessão, foi mais importante do que as configurações iniciais no controle de
exóticas. Entretanto, isso parece estar relacionado às características das próprias espécies
exóticas como, por exemplo, corpo mole e ausência de estruturas protetoras.
74
Assim, concluo que a identidade dos fundadores é importante, podendo levar à baixa
diversidade no caso de serem dominadores de espaço e resistentes a predadores. Por outro
lado, quando os fundadores não são resistentes a predadores, mas conseguem escapar e
competir com outras espécies pela ocupação de espaço ou ainda facilitam a ocorrência de
outros organismos, a diversidade da comunidade será alta. Além disso, a diversidade dos
fundadores pode ser importante em barrar espécies exóticas apenas em locais com baixo
aporte de propágulos e com maior estocasticidade na diversidade de fundadores, o que não
ocorre no local do estudo, ficando o controle de exóticas por conta dos predadores ao longo de
toda a sucessão.
75
MATERIAL SUPLEMENTAR
Tabela S1. Espécies encontradas nos painéis de todos os tratamentos agrupados dos experimentos de riqueza e
diversidade funcional inicial e seus respectivos status de origem (N – nativa, C – criptogênica, E – exótica) e a
fonte consultada.
Táxon Origem Fonte
Porifera
Chondrilla nucula
Mycale americana
Mycale citrina
Mycale magnirhaphidifera
Scopalina ruetzleri
Sycon sp.
Hydrozoa
Acharadria crocea
Dynamena disticha
Eudendrium caraiuru
Obelia dichotoma
Scyphozoa
Syphistoma sp1.
Anthozoa
Tubastrea sp.
Anthozoa não identificado
Polychaeta
Branchioma luctuosum
Spirorbis sp.
Bryozoa
Amathia sp.
Amathia verticilata
Bugula neritina
Catenicella uberrima
Celleporaria sp.
Crisia sp1.
Crisia sp2.
Electra tenella
Savignyella lafontii
Schizoporella errata
Scrupocellaria sp.
Watersipora subtorquata
Bryozoa não identificado
?
?
?
N
?
?
C
C
N
C
?
E
?
E
?
N
E
E
C
?
?
?
C
C
C
C
C
?
---
---
---
Kremer e Rocha 2016
---
---
Marques et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Marques et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Marques et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Marques et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
---
Paula e Creed 2004, 2005
---
Marques et al. 2013, Rocha et al. 2013
---
Marques et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Marques et al. 2013, Rocha et al. 2013
Rocha et al. 2013, Vieira LM comun. pess.
Marques et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Marques et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Marques et. al 2013, Rocha et al. 2013
Vieira LM comun. pess.
Marques et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Marques et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
---
76
Continuação Tabela S1.
Táxon Origem Fonte
Bivalvia
Perna perna
Ostreidae
Bivalvia não identificado
Cirripedia
Amphibalanus amphitrite
Balanus trigonus
Megabalanus coccopoma
Ascidiacea
Aplidium accarense
Ascidia curvata
Ascidia interrupta
Botrylloides giganteum
Botrylloides nigrum
Botryllus tabori
Botryllus tuberatus
Ciona intestinalis
Clavelina oblonga
Didemnum cineraceum
Didemnum perlucidum
Didemnum sp1.
Diplosoma listerianum
Distaplia bermudensis
Distaplia stylifera
Herdmania pallida
Microcosmus exasperatus
Perophora multiclathrata
Phallusia nigra
Polyandrocarpa zorritensis
Polyclinum constelatum
Styela plicata
Symplegma brakenhielmi
Symplegma rubra
Symplegma sp1.
Symplegma sp2.
Trididemnum orbiculatum
Stolidobranchia não identif.
E
?
?
E
E
E
C
C
C
C
C
N
C
E
E
E
E
E
C
N
E
C
C
C
C
C
C
E
C
N
?
?
N
?
Marques et al. 2013, Rocha et al.2013
---
---
Marques et al. 2013
Kremer e Rocha 2016
Marques et al. 2013
Dias et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Dias et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Dias et al. 2013
Dias et al. 2013
Dias et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Dias et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Dias et al. 2013
Dias et al. 2013
Rocha et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Dias et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Rocha et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Dias GM comun. pess.
Dias et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Dias et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Dias et al. 2013, Marques et al. 2013
Dias et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Dias et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Dias et al. 2013, Rocha et al. 2013
Dias et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Dias et al. 2013
Dias et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Dias et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Dias et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
Dias et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
---
---
Dias et al. 2013, Kremer e Rocha 2016
---
77
Tabela S2. Características utilizadas na separação dos diferentes grupos funcionais de fundadores utilizados nos experimentos.
Grupo Taxonômico Ascídias Briozoários
Grupo Funcional Coloniais Solitários Incrustantes Arborescentes
Espécies
Botrylloides nigrum
Didemnum perlucidum
Diplosoma listerianum
Symplegma brakenhielme
Herdmania pallida
Phallusia nigra
Electra tenella
Schizoporella errata
Watersipora subtorquata
Bugula neritina
Crisia sp1.
Forma de vida
colônias com crescimento
bidimensional
indivíduos com
crescimento
tridimensional
colônias com crescimento
bidimensional
colônias com
crescimento
tridimensional
Ocupação do
espaço
Monopolização do
espaço
alta - rápida ocupação do
espaço devido ao
crescimento
bidimensional 1,11,21,23
com área ilimitada de
contato com o substrato 15
baixa - crescimento
tridimensional com
pequena área de fixação
no substrato 15 e pouca
área ocupada 1,11
alta - rápida ocupação do
espaço devido ao
crescimento
bidimensional 1,2,11,23 com
área ilimitada de contato
com o substrato 15
baixa - crescimento ereto
com apenas um ponto de
fixação no substrato 15 e
pouca área ocupada no
substrato 11,23,24
Capacidade de
sobrecrescimento
alta - grande capacidade
de sobrecrescimento sobre
a maior parte dos outros
grupos 1,14,18
baixa - crescimento
tridimensional com
pequena área de fixação
no substrato 15,
sobrecrescendo apenas em
alta densidade 20
alta - grande capacidade
de sobrecrescimento sobre
a maior parte dos outros
grupos 1,2,14
baixa - crescimento ereto
com apenas um ponto de
fixação no substrato 15
Permanência
no espaço
Resistência à
predação
baixa - pouco frequente
em painéis expostos a
predadores 3,16,21,22,23
baixa - grande chance de
serem facilmente retirados
por predadores em um
único evento 9,16
alta - resistentes devido à
mineralização 19, sendo
comumente encontrados
em painéis expostos a
predadores 3,16,21,22,23
moderada - resistência
devido aos zoóides
mineralizados 19, mas
ocorrendo menos em
painéis expostos a
predadores 24
Recuperação após
distúrbio
alta - recuperação através
de crescimento clonal
quando dano acomete
apenas parte da colônia 9
baixa - grande chance de
serem retirados por
predadores em um único
evento 16 e baixa chance
de recuperação mesmo
após danos parciais 9
alta - recuperação através
de crescimento clonal
quando dano acomete
apenas parte da colônia 9
alta - recuperação
através de crescimento
clonal quando dano
acomete apenas parte da
colônia 9
78 Continuação Tabela S2.
Grupo Taxonômico Ascídias Briozoários
Grupo Funcional Coloniais Solitários Incrustantes Arborescentes
Espécies
Botrylloides nigrum
Didemnum perlucidum
Diplosoma listerianum
Symplegma brakenhielme
Herdmania pallida
Phallusia nigra
Electra tenella
Schizoporella errata
Watersipora subtorquata
Bugula neritina
Crisia sp1.
Relação
com novos
organismos
Assentamento
adjacente
não favorece - a forma
flat do corpo não gera
turbulência, não
favorecendo a chance de
encontro de recrutas com
o substrato 5,7
favorece - a forma
tridimensional do corpo
gera correntes de
turbulência, favorecendo o
encontro de recrutas com o
substrato 5,7
não favorece - a forma
flat do corpo não gera
turbulência, não
favorecendo a chance de
encontro de recrutas com o
substrato 5,7
favorece - a forma ereta e
ramificada do corpo gera
correntes de turbulência,
favorecendo o encontro de
recrutas com o substrato 5,7 , além dos ramos
proporcionarem refúgio
contra predadores 3,8
Ocorrência de
epibiose
incomum - a grande
quantidade de estruturas
de alimentação 8, o rápido
crescimento 4 e possível
alelopatia 17 dificultam
assentamento sobre a
colônia
comum - a túnica
geralmente funciona como
substrato secundário para
colonização de outros
organismos 4,8,13,15,17,20
incomum - a grande
quantidade de estruturas
de alimentação 8, o rápido
crescimento 4 e possível
alelopatia 17 dificultam
assentamento sobre a
colônia
comum - os ramos
fornecem substrato
secundário para
colonização de outros
organismos 3,8
Ingestão de
larvas por
filtração
sem evidências - ascídias
coloniais parecem não
ingerir larvas mesmo que
acidentalmente 12
muitas evidências - muitas
ascídias solitárias acabam
ingerindo larvas como
partículas alimentares tanto
em laboratório 6 como em
campo 10,12
sem evidências na
literatura para predação de
larvas
sem evidências na
literatura para predação de
larvas
1-Jackson 1977, 2-Sutherland 1978, 3-Russ 1980, 4-Stoecker 1980, 5-Koehl 1982, 6-Cowden 1984, 7-Koehl 1984, 8-Breitburg 1985, 9-Jackson e Hughes 1985, 10-
Bingham e Walters 1989, 11-Nandakumar et al. 1993, 12-Osman e Whitlatch 1995, 13-Davis 1996, 14-Nandakumar 1996, 15-Walters e Wethey 1996, 16-Osman e
Whitlatch 2004, 17-Krug 2006, 18-Dias et al. 2008, 19-Lidgard 2008, 20-Claar et al. 2011, 21-Vieira et al. 2012, 22-Oricchio et al. 2016a, 23-Vieira et al. 2016, 24-
Oricchio et al. 2016b.
79
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