UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE … · Ao grupo de pesquisa de Mídia, política e...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO CAMILA WADA ENGELBRECHT DOS PANFLETOS ÀS CAMPANHAS DIGITAIS O papel dos weblogs de candidatos à presidência no debate político brasileiro de 2010 Ponta Grossa 2011

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

CAMILA WADA ENGELBRECHT

DOS PANFLETOS ÀS CAMPANHAS DIGITAIS

O papel dos weblogs de candidatos à presidência no debate político brasileiro de

2010

Ponta Grossa

2011

2

CAMILA WADA ENGELBRECHT

DOS PANFLETOS ÀS CAMPANHAS DIGITAIS

O papel dos weblogs de candidatos à presidência no debate político brasileiro de

2010

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado para obtenção do título de

Bacharel em Comunicação Social com

habilitação em Jornalismo na Universidade

Estadual de Ponta Grossa.

Orientador: Prof. Dr. Emerson Urizzi Cervi

Ponta Grossa

2011

3

CAMILA WADA ENGELBRECHT

DOS PANFLETOS ÀS CAMPANHAS DIGITAIS

O papel dos weblogs de candidatos à presidência no debate político brasileiro de

2010

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Bacharel em

Comunicação Social com habilitação em Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta

Grossa, Setor de Ciências Sociais Aplicadas.

Ponta Grossa, _____ de _____________ de 2011.

_______________________________________

Orientador: Emerson Urizzi Cervi

_______________________________________

Professor (a) do Departamento de Comunicação

_______________________________________

Convidado

4

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

Ata de Avaliação de Projeto Experimental em Jornalismo (PEJ)

Aos ____ dias do mês de _____________ do ano de 2011, nas dependências do curso

de Comunicação Social – Jornalismo, situado no Campus Central da Universidade,

reuniu-se a Banca Examinadora composta por:

__________________________________________ (Orientador)

__________________________________________ (Convidado)

__________________________________________ (Professor Indicado pelo

Departamento)

para avaliação do Projeto Experimental em Jornalismo (PEJ) sob o título

______________________________________________________________________,

de autoria de ______________________________________.

Após apresentação e questionamentos realizados pelos membros da Banca, chegou-se

aos seguintes resultados:

Professor orientador, nota (___)

Convidado, nota (___)

Professor indicado pelo Decom, nota (___)

Nota Final (___)

Aprovado (___)

Reprovado (___)

Indicado para reapresentação (___)

Ponta Grossa, ___ de ____________ de 2011

________________________

Professor Orientador

________________________

Convidado

________________________

Professor indicado pelo Decom

5

TERMO DE RESPONSABILIDADE

DECLARAÇÃO DE COMPROMISSO ÉTICO COM

A ORIGINALIDADE CIENTÍFICO-INTELECTUAL

Responsabilizo-me pela redação do trabalho de Projeto Experimental em Jornalismo

sob o título DOS PANFLETOS ÀS CAMPANHAS DIGITAIS – O papel dos

weblogs de candidatos à presidência no debate político brasileiro de 2010, atestando

que todos os trechos que tenham sido transcritos de outros documentos (publicados ou

não) e que não sejam de minha exclusiva autoria estão citados entre aspas e está

identificada a fonte e a página de que foram extraídos (se transcrito literalmente) ou

somente indicados fonte e ano (se utilizada a idéia do autor citado), conforme normas e

padrões da ABNT vigentes.

Declaro, ainda, ter pleno conhecimento de que posso ser responsabilizado legalmente

caso infrinja tais disposições.

Ponta Grossa, 24 de outubro de 2011

Nome: Camila Wada Engelbrecht

Número do RA: 081040667

_______________________________________________

Assinatura do estudante

6

AUTORIZAÇÃO

Ponta Grossa, _____ de ____________ de 2011.

Eu, _______________________________, estudante do curso de Comunicação Social

– Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa, portador do R.G

_________________ e R.A. ______________, autorizo o Departamento de

Comunicação a divulgar por qualquer meio de comunicação o produto

artístico/científico intitulado _______________________________________________,

desde que tal exibição não resulte em ganho financeiro para nenhuma das partes

envolvidas.

Assumo, para todos os fins, total responsabilidade pela autoralidade do conteúdo

escrito, de áudio e visual constante neste produto.

_____________________________

Assinatura

7

Dedico este trabalho

a minha família, aos meus amigos

e a Luan Guerreiro

8

Agradecimentos

São muitas as pessoas e instituições que tiveram papel fundamental para minha

formação e conclusão deste trabalho. Minha gratidão é a todos que fizeram parte desses

quatro anos de graduação em jornalismo, que de alguma forma contribuíram para meu

crescimento pessoal e profissional, pelo apoio, incentivo, companhia e ensinamentos.

Pela compreensão, amor e apoio incondicional, agradeço primeira e

principalmente à minha família, que esteve sempre ao meu lado. Aos meus pais, Maria

Regina Wada Engelbrecht e Marcos Engelbrecht, obrigada pela confiança, apoio,

ensinamentos, amor e incentivo fundamental para que aos poucos eu aprendesse a fazer

minhas escolhas e andar com meus próprios passos. A minha irmã, essencial em minha

vida e que com suas visões críticas me ajudou a perceber os caminhos que devo trilhar,

me lembrando sempre de meus princípios e motivações para escolha da profissão de

jornalista – obrigada Marina Wada Engelbrecht pelo amor e carinho, sempre

fundamentais em minha vida.

Aos meus amigos, que estiveram sempre ao meu lado em períodos de

dificuldade, angústias e alegrias, compartilhando comigo todos esses momentos e me

apoiando sempre, incondicionalmente. Em especial àquelas que foram para mim minha

família no Paraná, minha alegria de todos os dias, as companheiras de vida sem as quais

nada faria sentido. Obrigada Isadora Camargo, Cintia Amaro Damasceno, Beatriz

Bidarra, Mônica Bueno, Camila Montagner Fama e Milena Rezende. Vocês foram parte

essencial desses quatro anos de UEPG e as levarei para o resto de minha vida como

amigas, companheiras, parceiras, e alegrias do meu cotidiano.

A Luan Guerreiro, pelas cobranças e preocupações diárias com este trabalho,

pela grande ajuda e apoio. Agradeço por todos os momentos que passamos juntos, por

ser fundamental em minha vida, pelo respeito, carinho, companheirismo, amizade e

amor. Pela pessoa linda e incrível que é, amo muito você.

A Emerson Urizzi Cervi, pelo incentivo, apoio e cobranças para que produzisse

sempre mais e melhor. Obrigada, por todos os ensinamentos e orientação desde 2009,

sempre à disposição para todos os meus questionamentos, dúvidas e angústias. Por

trazer ao meu conhecimento meu potencial e incentivar e forçar sempre para que este

fosse explorado.

9

A todos os professores do Departamento de Comunicação, que tiveram enorme

contribuição em minha formação. Em especial Sérgio Luiz Gadini, pelas aulas,

conversas, dicas e participação crítica de minha banca de qualificação, Marcelo Engel

Bronosky, Carlos Alberto Souza e Zeneida Alves de Assumpção, agradeço pelo apoio,

incentivo, conversas, ensinamentos e amizade durante meus quatro anos de graduação.

À Universidade Estadual de Ponta Grossa, pela oportunidade de ensino de

qualidade e pesquisa acadêmica. Ao grupo de pesquisa de Mídia, política e atores

sociais, ao núcleo sobre internet e todos os seus integrantes, que me ajudaram no

percurso universitário a complementar parte fundamental de minha formação acadêmica

e intelectual. Aos autores dos artigos, textos e livros utilizados para a realização desta

monografia, obrigada pela enorme contribuição e ensinamentos.

Por fim, aos queridos amigos familiares, sempre presentes alegrando meus dias e

mostrando a simplicidade e alegria de viver, companheirismo e amor incondicional que

sempre estarão em meu coração aonde quer que eu estiver: meu poddle Tobby, já

falecido mas eternamente presente, e meu akita Astor. Pela alegria, loucura e carinho,

obrigada meus fiéis companheiros caninos. Há quem não compreenda, mas o amor de

vocês foi e é essencial.

Camila Wada Engelbrecht,

Outubro de 2011

10

RESUMO

O trabalho analisa como ocorreu a utilização da web a partir dos weblogs de candidatos

à presidência do Brasil em 2010, já que pela primeira vez a lei eleitoral autorizou seu

uso nas campanhas no país. A pesquisa trata da produção de conteúdo e do debate

político nos weblogs dos principais candidatos: Dilma Rousseff (PT), José Serra

(PSDB) e Marina Silva (PV). O estudo verifica como se dá o debate nesses novos

espaços liberados à campanha eleitoral para verificar como foi utilizado esse novo

instrumento, já que a internet é tida como um meio promissor de interatividade. A

análise conta com um corpus empírico de 617 postagens e 12.457 comentários,

relacionado com teorias e conceitos do jornalismo, comunicação e política.

Palavras-chave: debate político, internet, campanha presidencial de 2010, weblogs

ABSTRACT

The research analyzes how was the use of the web, more specifically the candidates

weblogs to the run of brazilian presidency in 2010, since it was

approved the first electoral law that authorizes their use in campaigns. The

research deals with the production and content of political debate in the weblogs of the

leading candidates: Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) and Marina

Silva (PV). The study analyzes how the debate takes place in these new spaces allowed

to the campaign to see how this new instrument was used, since the Internet is seen

as a promising vehicle of interactivity. The analysis has an empirical corpus of

617 posts and 12.457 comments, related to theories and concepts of journalism,

communication and politics.

Key-words: political debate, internet, presidential campaign of 2010, weblogs

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 IMAGEM PRINCIPAL DO WEBLOG PETISTA DURANTE

CAMPANHA ELEITORAL DE 2010.............................................. 59

FIGURA 2

IMAGEM DE ABERTURA DO WEBLOG DE JOSÉ SERRA

PARA CAMPANHA DE 2010..........................................................

63

FIGURA 3

PÁGINA DE MARINA SILVA ENQUANTO CANDIDATA À

PRESIDÊNCIA EM 2010..................................................................

68

12

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 INTERNET EM DOMICÍLIOS BRASILEIROS...................... 38

GRÁFICO 2

NÚMERO DE POSTAGENS POR SEMANA DE

CAMPANHA..............................................................................

73

GRÁFICO 3

NÚMERO DE COMENTÁRIOS NAS POSTAGENS

DISTRIBUÍDOS NAS SEMANAS DE CAMPANHA..............

88

13

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 TIPOS DE ATIVIDADES REALIZADAS POR USUÁRIOS DE

INTERNET NO BRASIL................................................................. 40

TABELA 2

TIPO DE POSTAGEM NOS WEBLOGS........................................

75

TABELA 3

AUTOR RESPONSÁVEL PELAS POSTAGENS..........................

76

TABELA 4

RELAÇÃO DE TEMAS ABORDADOS PELOS CANDIDATOS..

79

TABELA 5 VALÊNCIA PREDOMINANTE DAS POSTAGENS...................... 82

TABELA 6 CLASSIFICAÇÃO DAS POSTAGENS............................................ 84

TABELA 7 CONTEÚDO DOS COMENTÁRIOS NOS BLOGS DAS

CANDIDATAS.................................................................................. 90

TABELA 8

VALÊNCIA PREDOMINANTE DOS COMENTÁRIOS...............

93

TABELA 9

FORMA DO CONTEÚDO COMENTADO NAS POSTAGENS....

94

14

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS..................................................................................... 11

LISTA DE GRÁFICOS.................................................................................. 12

LISTA DE TABELAS..................................................................................... 13

INTRODUÇÃO............................................................................................. 15

CAPÍTULO 1: ABORDAGENS TEÓRICAS AO ESTUDO SOBRE MÍDIA

E POLÍTICA NO BRASIL..........................................................................

19

1.1 A esfera pública e os meios digitais.......................................................... 19

1.2 Representação política na mídia................................................................ 24

1.3 Processo eleitoral e panorama do pleito presidencial de 2010.................. 28

CAPÍTULO 2: PERSPECTIVAS POLÍTICAS NA WEB 2.0: CAMPANHAS

ELEITORAIS NA INTERNET...................................................................

35

2.1 Internet e índices sócio-econômicos............................................................ 36

2.2 O uso dos meios on-line de comunicação e sua vertente política............... 40

2.3 Breve histórico das campanhas políticas na internet................................... 43

CAPÍTULO 3: ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS E NOVAS TECNOLOGIAS:

WEBLOGS DE CANDIDATOS NO DEBATE POLÍTICO DE 2010.........

52

3.1 Análise de conteúdo como eixo metodológico quantitativo......................... 52

3.2 Análise descritiva dos weblogs: material presente na propaganda eleitoral de

2010.....................................................................................................................

57

3.3 Análise das postagens: o conteúdo diário das campanhas............................ 71

3.4 Análise dos comentários: a interatividade entre público e campanha..........

85

CONCLUSÃO............................................................................................... 96

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................ 102

APÊNDICE A: Relatório Analítico.............................................................. 107

ANEXOS......................................................................................................... 111

15

INTRODUÇÃO

O debate político nos weblogs foi discutido neste trabalho por meio de conceitos

como esfera pública, com suas antigas e novas concepções, o papel dos meios de

comunicação em debates políticos, opinião pública e internet. Tais conceitos foram

diretamente relacionados com os dados empíricos sobre os blogs, com descrição de seus

conteúdos, análise de postagens e comentários.

Inicialmente o conceito weblog foi utilizado em 1997 por Jon Barger “enquanto

sinónimo de página ordenada cronologicamente e com ligações a outras páginas”

(CANAVILHAS, p. 2, 2004). O blog é criado com a finalidade de livre exposição de

opiniões e de partilhar informações, o que implica na ideia de que com isso há uma

busca por audiência e acesso ao conteúdo disponibilizado1. A concepção de blogs

apenas como diários pessoais é discutida e problematizada pela percepção de que essas

são ferramentas abertas ao cidadão conectado que permitem ações multimidiáticas, com

a utilização de textos, fotos e/ou vídeos para postar conteúdos na internet, além de ser

uma mídia interativa que abre espaço para a liberdade de expressão (VIANA, PRADO e

SANTOS, 2009).

A utilização de ferramentas on-line por campanhas eleitorais tem início em

1992, quando pela primeira vez no mundo a internet é utilizada para propaganda política

eleitoral, com a disputa para a presidência dos Estados Unidos entre Bill Clinton

(democrata) e George Bush (republicano). No Brasil é a partir de 2002 que as

campanhas para eleições presidenciais iniciam o uso dessa ferramenta com fins

eleitoreiros, com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) como principais

candidatos. As discussões a respeito da temática se voltam principalmente para as

potencialidades que a internet proporciona, como a multimidialidade e o diálogo de mão

dupla entre políticos e cidadãos, o que poderia indicar maior possibilidade de

democratização do processo de campanhas eleitorais.

1 CANAVILHAS, João. Blogues políticos em Portugal: o dispositivo criou novos actores?

16

A questão central deste trabalho é explorar o debate político nos weblogs (ou

blogs) dos três principais candidatos à presidência do Brasil de 2010 – Dilma Rousseff

(PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV). As redes sociais compõem os novos

espaços liberados à campanha eleitoral a partir de 2010. A novidade das campanhas on-

line desse ano ficou por conta, principalmente, da interatividade entre candidatos e

produtores das campanhas com a população de forma geral. E é essa interação o ponto

principal do estudo.

A partir de uma breve recuperação histórica sobre a temática „campanhas on-line

como ferramenta alternativa de propaganda política eleitoral‟, contextualização da

política e sua relação com a mídia, o estudo chega às eleições de 2010 no Brasil, quando

pela primeira vez a internet foi utilizada de maneira mais intensa e regulamentada. Visto

que foi ao final de 2009 que a lei eleitoral brasileira autorizou para as eleições de 2010 o

uso de propagandas políticas na internet, antes proibidas no país.

O trabalho também apresenta o contexto em que a internet está inserida no

cenário brasileiro (principalmente no ano de 2010, período das eleições estudadas). E

então chega à parte empírica, em que há uma análise do blog de cada candidato, das

postagens publicadas no período de pesquisa e dos comentários de internautas nesses

posts. Os resultados são demonstrados a partir de gráficos, tabelas e análise de ambos.

A metodologia utilizada para o trabalho foi a quantitativa, por meio de análise de

conteúdo, mas com algumas análises qualitativas, para exemplificar os dados

numéricos, complementando-os com parte do conteúdo estudado. A coleta apresenta

informações de todos os 90 dias de campanha dos três candidatos para primeiro turno

do pleito presidencial de 2010. Além disso, havia um prazo de uma semana para que os

internautas comentassem em cada postagem, já que após sete dias eram escassas as

mensagens e esse período foi suficiente para obter um amplo quadro de como foi a

interação entre internautas e campanha. O corpus empírico possui 617 postagens e

12.457 comentários, correspondendo ao primeiro turno do pleito presidencial (de seis de

julho a três de outubro de 2010).

O período escolhido para análise foi tanto pelo conteúdo, que se mostrou

satisfatório para a pesquisa, quanto pelo notável papel de um primeiro turno brasileiro.

17

Considerando que no Brasil há 135.804.433 eleitores2 (no Brasil e exterior) e que esse

número corresponde a 70,8% da população do país que é o maior da América do Sul e o

quinto maior do mundo em território e população, pode-se inferir que o primeiro turno

de uma disputa presidencial brasileira tem grande importância e trata-se de um período

relevante para análise. Além disso, o banco possui dados suficientes para embasar a

pesquisa, oferecendo fundamento empírico para as teorias apresentadas.

A questão principal do trabalho é: “de que forma os candidatos utilizaram o

espaço on-line analisado e como se dá o debate político nos weblogs?”, partindo da

hipótese de que as ferramentas on-line seriam um espaço disponível para postagem da

campanha tradicionalmente transmitida já em outros veículos de comunicação e de

ampliação, onde o candidato pode expor conteúdos além desses. Pois a internet, com

suas características, oferece maior disponibilidade de arquivar e apresentar mais

conteúdos, apenas com restrições em relação às leis eleitorais, além de possibilitar a

interatividade entre população e campanha. Então, pretende-se responder as questões

pertinentes ao estudo, que surgiram ao longo de seu desenvolvimento, partindo de um

diálogo entre os capítulos iniciais que conceituam o assunto pesquisado e a última parte

do trabalho, voltada principalmente à análise empírica. Mas as conclusões finais visam

não apenas uma tentativa de expor respostas às indagações iniciais, mas de gerar novas

hipóteses e perguntas, com a finalidade de dar continuidade a uma pesquisa que se

mostra extensa, atual e pertinente.

O estudo parte de teorias da comunicação e do jornalismo. Para tratar do assunto

o trabalho é composto por três capítulos. O primeiro faz uma discussão sobre esfera

pública, chegando aos meios digitais, com breve levantamento teórico a respeito dos

conceitos de Habermas e trazendo-os aos dias atuais; as representações políticas na

mídia, observando a relação que há entre meios de comunicação e a política; finalizando

com um resumo do processo eleitoral brasileiro e do pleito presidencial de 2010.

O segundo capítulo se concentra nas perspectivas políticas na chamada web 2.0,

desenvolvendo um contexto da internet no país, relacionando-o aos índices sócio-

econômicos brasileiros, seguindo então para o uso dos meios de comunicação e sua

2 Dados a partir do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as eleições de 2010, acessados dia

13/09/2011, no link http://www.tse.gov.br/hotSites/estatistica2010/Est_eleitorado/quantitativo.html.

18

vertente política, desta vez com a discussão centrada no meio on-line. E, por fim, é

apresentado o histórico das campanhas políticas na internet. Essas duas primeiras partes

do trabalho, mais teóricas, pretendem contextualizar o estudo com breves considerações

de referências conceituais, para que dialoguem com a análise empírica.

Em seguida o capítulo três apresenta os procedimentos metodológicos para a

coleta de dados de postagens e comentários dos blogs analisados durante o primeiro

turno da campanha presidencial de 2010; uma descrição dos weblogs de Dilma

Rousseff, José Serra e Marina Silva; e traz o ponto central do trabalho que são as

análises das postagens dos três weblogs estudados e dos comentários nos blogs de

Dilma e Marina (visto que o candidato peessedebista não disponibilizou espaço para

tal), sendo esta a primeira vez que ocorre esse tipo de participação da população na

internet.

19

CAPÍTULO 1

ABORDAGENS TEÓRICAS AO ESTUDO SOBRE MÍDIA E POLÍTICA NO

BRASIL

Neste capítulo será abordada a discussão sobre debate público, representação e

eleições. Para tratar dessas temáticas é necessária a passagem por conceitos como esfera

pública, com suas antigas e novas concepções, o papel dos meios de comunicação em

debates políticos e opinião pública. A partir disso, é possível chegar ao objeto central do

estudo: as campanhas dos principais candidatos à presidência de 2010 nos meios de

comunicação online – considerados os mais novos espaços públicos. E então observar

como ocorreu o debate nesse espaço, mais especificamente nos weblogs, partindo da

discussão realizada por autores como Wolton (1995), que acredita ser possível pensar

num alargamento da esfera pública através dos novos instrumentos de comunicação de

massa, que se tornam “uma condição estrutural do funcionamento da democracia”

(BROTAS, s/d). Wolton (1995) prevê, então, possibilidades de formação de opiniões

“num espaço público midiatizado”. E uma das formas mais apropriadas para a formação

dessa opinião midiatizada é a das redes digitais.

1.1 A ESFERA PÚBLICA E OS MEIOS DIGITAIS

O conceito de opinião pública surge há muito tempo com discussões sobre o

assunto com pensadores como Platão, Thomas Hobbes, Maquiavel, que consideravam

„o povo incapaz de compreender o funcionamento do governo‟ (PLATÃO, 2000, apud

CERVI, p. 17, 2010) ou que essa opinião „deve ser condenável por introduzir no Estado

um germe de anarquia e de corrupção‟ (HOBBES, 1999, apud CERVI, p.17, 2010) ou

ainda vista como um „instrumento para alcançar e manter o poder, pois sugere que a

opinião pública deve ser manipulada ou acomodada, mas nunca ignorada‟

(MAQUIAVEL, 1997, apud CERVI, p.18, 2010). É a partir do Renascimento (entre os

séculos XIII e XVII) que o indivíduo passa a ser valorizado, segundo Cervi (2010),

20

assim como sua opinião pessoal, substituindo o predominante „monolitismo ideológico

da Idade Média‟, o que reflete no conceito de opinião pública, agora “consistente e

coerente, que deve ser considerada no processo decisório da elite política” (CERVI, p.

19, 2010).

A relação entre opinião pública e esfera pública é sintetizada por Habermas

(1981) através da classificação de dois tipos de opinião: a ideal ou pragmática e a

manipulada (CERVI, 2010). A primeira seria a participação dos cidadãos privados em

“processos de comunicação racional, tendo como interlocutores os integrantes da esfera

estatal, tais como os representantes de instituições políticas, para os quais há uma

possibilidade real da realização de um debate público, aberto e democrático” (CERVI,

p. 26, 2010). E a manipulada, por sua vez, estaria na esfera da recepção, em que

indivíduos afastados e sem possibilidades comunicacionais reais com representantes de

instituições políticas teriam apenas como reação a aclamação, sendo que essa forma de

opinião pública tende, para Habermas (1971), a predominar em relação à outra (CERVI,

2010).

Habermas (2003) define a esfera pública burguesa como aquela que é oposta à

esfera do privado e é onde se incluem os atores políticos ou então a mídia, que serve

para que o público se comunique. Segundo o autor, é somente à luz da esfera pública

que os assuntos e temas ganham liberdade e continuidade, pois é ali que os temas estão

visíveis a todos e disponíveis para o debate. Silva (2001) analisa três diferentes

momentos em que Habermas conceitua a noção de esfera pública, correspondendo às

obras: A Mudança Estrutural da Esfera Pública (1962), A Teoria da Ação Comunicativa

(1981) e Entre Fatos e Normas (1992). Em 1962 o sociólogo alemão fala sobre um

confronto político sem precedentes na história, em que a esfera pública burguesa

reclama que esta “fosse regulada como se estivesse acima das próprias autoridades

públicas; de forma a incluí-las num debate sobre as regras gerais que governam as

relações da esfera da troca de bens e de trabalho social basicamente privatizada, mas

publicamente relevante” (Habermas, p. 27, 1962, apud Silva, 2001).

Inicialmente era considerada esfera pública a reunião de pessoas privadas, que

discutiam assuntos em cafés, salões e sociedades culturais. Em seu artigo Silva lembra

ainda que o teórico discutiu a esfera pública relacionada à burguesia pelo “papel

21

predominante por ela desempenhado durante os séculos XVIII, XIX e XX” (Silva, p.

120, 2001), mas que a falta de observação de outras formas de “aparecer politicamente”

foi uma das razões pelas quais estas não foram incluídas em suas teorias.

Ao citar o que foi, para Habermas, essencial para a criação de uma esfera pública política, o autor explica que “a esfera pública burguesa,

na sua variante política, resultou de um processo de conversão

funcional da esfera pública literária, que compreendia fóruns de

discussão institucionalizados, no sentido de se apropriar da esfera

pública controlada pelo poder do estado e de a transformar numa

esfera de crítica à própria autoridade pública (leia-se estatal)

(Habermas, 1962)” (Silva, p. 125, 2001)

A Constituição de países europeus durante o século XVIII é citada pelo

sociólogo alemão, destacando os direitos em que a esfera pública era

constitucionalmente garantida: liberdade de opinião e de expressão, liberdade de

imprensa, liberdade de associação e de reunião, direito de petição, direito de voto,

liberdade individual, inviolabilidade do local de residência, igualdade perante a lei e

proteção da propriedade privada (Silva, 2001). Consequentemente, essa definição

constitucional trouxe consigo um caráter público das deliberações parlamentares e, para

Habermas, “garantia à opinião pública sua influência; assegurava a relação entre

representantes e eleitores como partes do mesmo público e [...] também os

procedimentos legais nos tribunais começaram a ser tornados públicos” (Habermas, p.

83, 1962, apud Silva, 2001).

Para Silva (2001) um “ponto fundamental da teoria política democrática” é

quando Habermas em 1992 analisa que a única forma de se desenvolver uma prática

deliberativa de autolegislação é através da interação entre a formação da vontade

parlamentar institucionalizada em procedimentos legais e tomada de decisões e a

“formação da opinião política através de canais informais de comunicação política”

(Habermas, 1992, p. 275, apud Silva, 2001).

A discussão sobre o sentido e história do espaço e opinião públicos é realizada

por Cucurella (2001), em um ensaio sobre o trabalho de Habermas acerca de sua

produção que relaciona esfera pública e opinião pública, dialogando com Hannah

Arendt, que com seus conceitos e críticas „modelou‟ novas posições a partir do autor

alemão e suas teorias. Em seu estudo ela fala sobre a definição de opinião pública,

termo pesquisado por diversos autores como Habermas, o qual demonstra a diversidade

22

de fenômenos que existe em torno deste termo e “sua estreita relação com a dinâmica de

poder e processos políticos” (Cucurella, p. 52, 2001).

Segundo Cucurella (2001), o espaço público seria um lugar onde surge a opinião

pública, podendo esta ser manipulada e deformada, além de um espaço de sustentação

da „coesão social, construção e legitimação (ou deslegitimação) política‟. A dinâmica

desse espaço é que determinaria as liberdades individuais e políticas (Cucurella, 2001).

Então, podemos concluir que embora deformada ou manipulada ela ainda tem um

importante papel que é o de promover a coesão social.

Habermas, conforme afirma Cucurella (2001), acredita que o espaço público

seria um campo da vida social em que os indivíduos privados se reúnem como público

em conversas com liberdade de se expressar e opinar livremente, constituindo uma

porção de espaço público. E no caso de um “público amplo, esta comunicação exige

meios específicos de transferência e influência: jornais e revistas, rádio e televisão são

hoje tais meios do espaço público” (Cucurella, p. 53, 2001). Os meios digitais são um

grande exemplo contemporâneo que surgem como um novo espaço público de

discussão e reunião.

Para Silva, é precisamente o fluxo de comunicação que evolui desde o plano da formação da opinião pública, através de discussões racionais

orientadas para o entendimento mútuo, passando pelas eleições

democráticas, reguladas por procedimentos que garantem a sua

validade e legitimidade democráticas, até ao nível das decisões

políticas em forma de lei, que assegura que a „influência‟ (Parsons) e o

poder comunicativo sejam convertidos em poder administrativo,

através, justamente, do direito (Silva, 2001, p. 131)

A opinião pública, segundo Dader (1990), é um fenômeno em constante

transformação em diferentes contextos sociais (Cervi, 2010). Isso porque seria um

sistema com três momentos: “o da recepção de informações para a formulação de novas

opiniões; o da transformação das informações recebidas em novas opiniões; e o de

compartilhar de opiniões com integrantes e grupos sociais de diferentes dimensões”

(Dader, 1990, apud Cervi, p. 25, 2010). Quando Dader (1990) fala sobre um sistema de

três momentos, são consideradas as mídias convencionais – televisão, rádio, impresso.

Ao tratar de comunicação online, esse processo pode ser modificado, visto que a

recepção de informações é rápida e a transformação desse conteúdo também, com

constante atualização desses processos, pois ao receber uma informação ele pode logo ir

23

atrás de outra que a confirme ou refute-a. Mas a internet expande as possibilidades de

compartilhamento de opiniões quando reduz barreiras geográficas e agiliza os contatos,

conectando os diversos públicos de todo o mundo entre si.

Ao relacionar as redes sociais digitais com o debate de diversos assuntos publicamente por uma grande variedade de indivíduos,

Wilderom (2009) explica que “O fato de esse espaço virtual permitir a

interação traz à tona o conceito de opinião pública, uma vez que se

trata de um amplo espaço de discussão de assuntos que concernem

massas de pessoas. Tal inferência retoma o referencial teórico

proposto pelo pioneiro da psicologia social norte-americana, Ross

(apud ANDRADE, 1964: 111) que afirma que a opinião pública pode

ser entendida como uma „discussão que atrai a atenção geral‟” (Wilderom, p. 163, 2009)

A proposta deste trabalho não é descobrir os impactos do que é produzido pela

mídia na opinião pública, mas observar como se dá o debate em determinados espaços

midiáticos. Para tanto o conceito de espaço e opinião públicos demonstram a

importância do estudo sobre os debates e representações políticos nos meios de

comunicação. E partir desses conceitos faz sentindo pelo fato de as novas mídias serem

um espaço público que surgiu com a evolução do que Habermas teorizava a partir de

discussões em cafés e outros espaços iniciais de reunião de pessoas privadas.

A „revitalização do modelo habermasiano de esfera pública‟ é discutida por

Brittes (s/d), que se questiona sobre o que muda para a esfera pública no contexto atual,

em que há um deslocamento da sociedade de massa para a sociedade da informação,

juntamente com a convergência entre tecnologias da informação e da comunicação

(Brittes, s/d). E dentre os espaços analisados estão as „Plataformas Comunicativas

Midiáticas Ciberespaciais‟. Na internet “tanto os jornais aparecem como formas

modificadas de estímulo à esfera pública, quanto fóruns totalmente novos cumprem este

papel, permitindo que usuários do mundo todo possam expressar suas opiniões”

(Brittes, p. 6, s/d). A autora observa, então, a possibilidade de surgimento de „esferas

públicas ciberespaciais‟, decorrentes da evolução de debates públicos ocorridos em

espaços online. E os weblogs de candidatos políticos são uma ferramenta na qual há um

debate público em que os responsáveis pelo espaço, seja assessoria, candidato ou

coordenadores de campanha, postam conteúdos de propaganda nessa „plataforma

multimidiática‟ e recebem comentários de internautas, que interagem entre si, com o

conteúdo postado e com o candidato em questão.

24

a internet e as diversas modalidades de informação, interacção e discussão que permite podem constituir um impulso renovador da

esfera pública e das instâncias mediadoras da ordem democrática. Por

esse motivo o conceito de esfera pública tem sido revisitado em

diversas pesquisas sobre os “novos media”, pois, supostamente, estes

permitem ultrapassar bloqueios existentes através da diminuição da

distância entre as pessoas e do alargamento do espaço de opinião

(Carvalho & Casanova, p. 92, 2010)

Revisitar brevemente os conceitos habermasianos é um esforço de apresentar a

internet como um novo espaço de socialização, tornando-se não uma nova forma de

esfera pública, mas uma extensão desta, com o meio on-line proporcionando novas

oportunidades devido a suas características específicas. E é por essas especificidades

que o estudo procura se alinhar, trazendo temas já amplamente discutidos como política

e eleições representativas, mas sob a ótica de transmissão por um meio de comunicação

relativamente novo – a internet.

1.2 REPRESENTAÇÃO POLÍTICA NA MÍDIA

É importante atentar para a forma como os meios de comunicação tratam a

temática política, devido ao seu papel relevante nas sociedades. Isso porque para

Kunczik (2002), mesmo naquelas nações mais fracas e instáveis, são eles que servem de

inspetor geral de todo o sistema político e que proporcionam a crítica pública necessária

para garantir a integridade política por parte daqueles que detêm o poder (KUNCZIK,

2002). A “influência dos media é admitida sem discussão, na medida em que ajudam a

estruturar a imagem da realidade social, a longo prazo, a organizar novos elementos da

mesma imagem, a formar novas opiniões e crenças” (WOLF, 2006, p. 143). Dessa

forma, os meios de comunicação auxiliam na formação da opinião pública em relação

aos temas que são trazidos pelos mesmos e acabam por agendar os assuntos nos quais as

pessoas vão pensar, mesmo que essa não seja a intenção principal (MCCOMBS, 1997).

a mídia é, nas sociedades contemporâneas, o principal instrumento de difusão das visões de mundo e dos projetos políticos; dito de outra

forma é o local em que estão expostas as diversas representações do

mundo social, associadas aos diversos grupos e interesses presentes na

sociedade. (MIGUEL, 2002, p. 6)

25

Essa relação entre mídia e política ainda é observada a partir de autores como

Canavilhas (2009), que por sua vez destaca os interesses particulares por trás dessa

relação:

se os políticos encontram nos media a forma mais eficaz para

chegarem aos cidadãos, os media procuram na política os

acontecimentos que interessam às audiências, o que por vezes

contraria os interesses dos políticos (CANAVILHAS, p. 1, 2009)

Os estudos sobre comunicação e política no Brasil se alargaram no final da

década de 70 e início da década de 80, com a „ampliação dos espaços democráticos‟ no

país, sendo a mídia vista como “aparelhos de luta política e principalmente ideológica”

(RUBIM, 1998). As atenções eram claramente voltadas aos regimes autoritários

vigentes na época, além da relação entre „classes dominantes e setores subalternos‟, mas

esse cenário mudou de perspectiva a partir da campanha pelas “Diretas, já” em 1984 e o

final da ditadura em 1985, que influenciaram nos estudos brasileiros sobre a temática,

“sintonizando-os com as questões características das sociedades ambientadas pelas

mídias” (RUBIM, p. 2, 1998). Houve então, a partir das eleições de 1989, que

colocaram Fernando Collor de Mello na presidência do país, um grande aumento em

relação às reflexões sobre a conexão mídia e política, observando essa nova

circunstância de uma sociedade midiatizada (RUBIM, 1998).

No panorama em que o autor descreve sobre como surgiram os estudos sobre

mídia e política, desde o que o autor chama de „Pré-História dos Estudos Sobre Mídia e

Política no Brasil‟ até sua pesquisa em 1998, fica evidente que ações no campo político

influenciaram fortemente os estudos sobre a temática, como foi o caso do impeachment

de Fernando Collor em 1992 e as eleições de 1994 de Fernando Henrique Cardoso

(RUBIM, 1998). Ao citar diversos autores, dissertações, teses, pesquisas, encontros e

atividades sobre o assunto, o autor conclui que toda essa ação de pesquisa e estudos

“vem permitindo que a área desenvolva uma mínima organização, imprescindível para

sua afirmação como espaço acadêmico e interdisciplinar e para seu reconhecimento

entre nós como campo relevante de estudos” (RUBIM, p. 4, 1998).

Manin (1995) ao discutir as metamorfoses do governo representativo observa

que assim como o modo de os eleitores votarem, as estratégias eleitorais dos candidatos

políticos mudaram ao longo do tempo e não há mais a confiança que existia antes do

26

eleitorado em partidos políticos, os quais antes „pareciam um reflexo de clivagens

sociais‟ e hoje parecem inverter o papel e impor clivagens à sociedade – “No passado,

os partidos propunham aos eleitores um programa político que se comprometiam a

cumprir, caso chegassem ao poder. Hoje, a estratégia eleitoral dos candidatos e dos

partidos repousa, em vez disso, na construção de imagens vagas que projetam a

personalidade dos líderes” (MANIN, p. 5, 1995).

a eleição de representantes já não parece um meio pelo qual os cidadãos indicam as políticas que desejam ver executadas. Por último,

a arena política vem sendo progressivamente dominada por fatores

técnicos que os cidadãos não dominam. Os políticos chegam ao poder

por causa de suas aptidões e de sua experiência no uso dos meios de

comunicação de massa, não porque estejam próximos ou se

assemelhem aos seus eleitores. O abismo entre o governo e a

sociedade, entre representantes e representados, parece estar

aumentando. (MANIN, p. 5, 1995)

No Brasil, a partir de 1989 com as eleições de Fernando Collor, ocorre aquilo

que Manin descreve como os representantes sendo eleitos pelos governados, em que

ainda há diferenças de status e função entre ambos e essa eleição periódica resultaria na

„atribuição de autoridade a determinados indivíduos para que governem sobre outros‟,

através de um método de escolha que legitima seu poder (MANIN, 1995). O autor ainda

descreve o sistema eletivo como um processo decisório que não necessariamente cria

identidade entre quem governa e quem é governado, podendo aqueles ser cultural e

socialmente diferentes destes, mas que “como o governo representativo se fundamenta

em eleições repetidas, o povo tem condições de exercer uma certa influência sobre as

decisões do governo: pode, por exemplo, destituir os representantes cuja orientação não

lhe agrade” (MANIN, p. 9, 1995).

Desde o final do século XVIII predomina a ideia de livre expressão e formulação

de opinião política dos governados, em um governo representativo, mas para isso são

necessários acesso a informações políticas, ou seja, decisões governamentais tornadas

públicas (MANIN, 1995). Nos governos representativos atuais acontece a concentração

das campanhas e eleições em torno de um líder político e não mais em um partido. E

isso teria duas causas: o contato direto entre candidato e eleitor a partir de canais de

comunicação, „dispensando a mediação de uma rede de elações partidárias‟ e a reação a

essas mudanças, fazendo com que o líder político dê ênfase à individualidade e não

tanto às plataformas políticas (MANIN, 1995). “Os meios de comunicação de massa, no

27

entanto, privilegiam determinadas qualidades pessoais: os candidatos vitoriosos não são

os de maior prestígio local, mas os "comunicadores", pessoas que dominam as técnicas

da mídia” (MANIN, p. 27, 1997).

Os canais de comunicação com a opinião pública são politicamente

neutros, isto é, não têm uma base partidária. [...] O resultado dessa

neutralização da mídia em relação às clivagens partidárias é que as

pessoas recebem as mesmas informações sobre um dado assunto, a

despeito de suas preferências políticas. Isso não significa que os

assuntos ou os fatos - diferentemente dos julgamentos - sejam

percebidos de maneira "objetiva", sem distorções, mas simplesmente

que eles são percebidos de maneira relativamente uniforme através do

amplo espectro das preferências políticas (MANIN, p. 32, 1995)

Segundo os estudos de Baquero (2009) sobre campanhas eleitorais, a forma

como os candidatos políticos conduzem sua campanha diante da opinião pública

influencia na votação, concluindo que propagandas eleitorais eficazes „beneficiam o

desempenho dos candidatos nas urnas‟ e, segundo o autor, pesquisas de opinião pública

costumam mostrar que “parcelas significativas do eleitorado escolhem os seus

candidatos pela propaganda” (BAQUERO, p. 265, 2009).

O declínio da imprensa partidário-opinativa e crescimento dos meios de

comunicação de massa aconteceram em meados do século XX, com o media agindo

conforme suas próprias lógicas e os atores políticos disputando o “espaço midiático

como arena principal de inserção pública em sociedades “midiocentradas” (SARTORI,

2001; ALMEIDA, 2002, apud RIBEIRO, 2004)”.

A intenção dos agentes políticos é fazer com que cheguem determinadas

mensagens ao público, tentando, por vezes, encontrar formas de o jornalismo não

interferir no conteúdo com seleções e codificações de acordo com os valores

jornalísticos, que tendem a retirar a persuasão de suas mensagens iniciais

(CANAVILHAS, p. 1, 2009). E atualmente a ferramenta que surge como alternativa aos

meios tradicionais de comunicação é a internet, tida como promissora para o campo

político, que pretende um contato direto com seu eleitorado, evitando a intermediação

jornalística (CANAVILHAS, 2009).

O processo de desenvolvimento das novas tecnologias da

comunicação provocou uma reelaboração das formas pelas quais

indivíduos se relacionam entre si. As interações sociais vem tomando

um caráter cada vez mais não-presencial, ou seja, as pessoas se

28

expressam, interagem, dialogam, sem, necessariamente, se encontrarem no mesmo ambiente físico. O espaço de visibilidade

mediática proporciona uma complexa interação entre os atores do

sistema político e os da sociedade civil (MAIA, 2002; THOMPSON,

1998). (FRANCISQUINI, p. 1, 2011)

É necessário lembrarmos os conceitos discutidos no tópico 1.1 (A esfera pública

e os meios digitais), em que foram apresentadas as teorias clássicas sobre esfera pública,

observando brevemente uma revitalização do modelo habermaziano para o contexto

atual, considerando principalmente as novas mídias. Francisquini (2011) observa na

citação acima como as formas de relacionamento entre as pessoas se “reelaboraram”, ou

seja, há atualmente uma grande interação via internet entre os indivíduos, seja por e-

mails, mensagens, redes sociais, entre outras. Essa nova forma de diálogo se estende

também ao campo da política, com interação popular entre si, com políticos e em

sites/redes sociais sobre o assunto. Sendo a intenção deste trabalho um estudo sobre

uma „fatia‟ dessa nova maneira de interação: o uso de weblogs por políticos.

Mas antes de apresentar de maneira mais concreta e específica a internet como

meio de comunicação utilizado por atores políticos em período de campanhas eleitorais,

se faz necessário realizar uma reflexão sobre o processo eleitoral no Brasil. Para tanto, é

possível partir do período de redemocratização do país com início em 1985, pós

ditadura militar, quando é considerada na verdade, por autores como Carvalho (2002), a

construção da democracia brasileira.

1.3 PROCESSO ELEITORAL E PANORAMA DO PLEITO PRESIDENCIAL

DE 2010

Com a democratização das instituições públicas após 1985, quando findou a

ditadura militar, pensou-se que o direito reconquistado de eleger nossos representantes

políticos seria a “garantiria de liberdade, de participação, segurança, desenvolvimento,

de emprego, de justiça social” (CARVALHO, p.7, 2002). Os dois primeiros o foram, já

os outros ainda são problemas centrais em nossa sociedade e em consequência, “os

próprios mecanismos e agentes do sistema democrático, como as eleições, os partidos, o

Congresso, os políticos, se desgastam e perdem a confiança dos cidadãos”

(CARVALHO, p. 8, 2002).

29

De fato, Carvalho (2002), lembra que de 1822 a 1930 houve eleições

ininterruptas no país (exceto durante a guerra contra o Paraguai – entre 1865 e 1870 – e

a proclamação da República em 1889), relembrando desde o período do Império pós

Independência à Primeira República, com as devidas considerações de como era o

processo eletivo na época, com restrições de quem votava, o voto de cabresto, o

coronelismo, entre outros (CARVALHO, 2002). Mas é a partir do período de

redemocratização que as eleições no país ocorrem continuamente e com maior

transparência: “A este respeito o Relatório do PNUD (2004) chama a atenção para o

fato de que o Brasil é considerado um dos países com melhores avaliações na

institucionalização e regras e normas que regulam as disputas eleitorais” (BAQUERO,

p.245, 2009). Mas ele questiona se esse modelo funciona efetivamente no sentido de

produzir melhores cidadãos, mais responsabilidade e responsividade dos gestores

públicos em relação à opinião pública e se os partidos conseguem de fato fazer a

intermediação entre sociedade e Estado (BAQUERO, 2009), pensando em um sistema

democrático de governar. Este, segundo Bobbio (1998), teria como definição adotada

alguns preceitos:

1) o órgão político máximo, a quem é assinalada a função legislativa,

deve ser composto de membros direta ou indiretamente eleitos pelo

povo, em eleições de primeiro ou de segundo grau; 2) junto do

supremo órgão legislativo deverá haver outras instituições com

dirigentes eleitos, como os órgãos da administração local ou o chefe

de Estado (tal como acontece nas repúblicas); 3) todos os cidadãos que

tenham atingido a maioridade, sem distinção de raça, de religião, de censo e possivelmente de sexo, devem ser eleitores; 4) todos os

eleitores devem ter voto igual; 5) todos os eleitores devem ser livres

em votar segundo a própria opinião formada o mais livremente

possível, isto é, numa disputa livre de partidos políticos que lutam pela

formação de uma representação nacional; 6) devem ser livres também

no sentido em que devem ser postos em condição de ter reais

alternativas (o que exclui como democrática qualquer eleição de lista

única ou bloqueada); 7) tanto para as eleições dos representantes como

para as decisões do órgão político supremo vale o princípio da maioria

numérica, se bem que podem ser estabelecidas várias formas de

maioria segundo critérios de oportunidade não definidos de uma vez para sempre; 8) nenhuma decisão tomada por maioria deve limitar os

direitos da minoria, de um modo especial o direito de tornar-se

maioria, em paridade de condições; 9) o órgão do Governo deve gozar

de confiança do Parlamento ou do chefe do poder executivo, por sua

vez, eleito pelo povo. (BOBBIO, p. 327, 1998)

30

Considerando a democracia3 como sistema vigente no país, o voto torna-se

imprescindível no processo de eleição de representantes políticos. O ideal da cidadania

plena (criada no Ocidente e termo que ganhou força no processo de democratização

brasileira) abrange os direitos civis, políticos e sociais – todos indispensáveis

(CARVALHO, 2002). Mas aqui discutiremos os políticos, para manter a linha de

pensamento a respeito do processo eleitoral.

Os direitos políticos se referem à participação do cidadão no governo da sociedade. Seu exercício é limitado à parcela da população e

consiste na capacidade de fazer demonstrações políticas, de organizar

partidos, de votar, de ser votado. Em geral, quando se fala de direitos

políticos, é do direito do voto que se está falando. Se pode haver

direitos civis4 sem direitos políticos, o contrário não é viável. Sem os direitos civis, sobretudo a liberdade de opinião e organização, os

direitos políticos, sobretudo o voto, podem existir formalmente mas

ficam esvaziados de conteúdo e servem antes para justificar governos

do que para representar cidadãos. Os direitos políticos têm como

instituição principal os partidos e um parlamento livre e

representativo. São eles que conferem legitimidade à organização

política da sociedade. Sua essência é a idéia de autogoverno.

(CARVALHO, p. 9-10, 2002)

A partir dos diretos políticos é possível traçar uma reflexão sobre o processo

eleitoral brasileiro. O partidarismo é uma realidade no país: para se candidatar a cargos

representativos governamentais (municipais, estaduais ou federais) é necessária a

filiação a algum partido – o número é de 27 partidos registrados no Tribunal Superior

Eleitoral (TSE), conforme consulta ao site em setembro de 2011. Outros requisitos são

cobrados para se candidatar, como o pleno exercício dos direitos políticos, entre outros.

Se eleito, o mandato tem duração de quatro anos com limite de oito anos consecutivos

no poder (com exceção de vereadores, que podem reeleger-se de forma ilimitada). E o

direito de voto é dado a todo cidadão brasileiro, que pode exercer seus direitos a partir

dos 16 anos de idade de forma facultativa e obrigatória aos 18 anos em diante. Os

direitos políticos no Brasil são plenamente garantidos e as eleições são consideradas

3 Atualmente se discute uma mudança do nome „democracia‟ para „poliarquia‟, amplamente adotado por

cientistas políticos ao concordarem com DAHL (1977): “por considerar as democracias efetivamente

existentes pobres aproximações do ideal democrático, Dahl sugeriu que estas fossem chamadas de

poliarquias” (LIMONGI, p. 11, apud DAHL, 2005). DAHL, Robert (1977). Poliarquia: Participação e

Oposição. São Paulo, Edusp.

4 Direitos civis: “direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei,

políticos e sociais. Eles se desdobram na garantia de ir e vir, de escolher o trabalho, de manifestar o

pensamento, de organizar-se, de ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, de não ser

preso a não ser pela autoridade competente e de acordo com as leis, de não ser condenado sem processo

legal regular” (CARVALHO, p. 9, 2002).

31

democráticas e “limpas”, com seu sistema de urnas eletrônicas, instalado em 2000, com

a pretensão de eliminar as fraudes eleitorais.

Partindo de pesquisas empíricas e teóricas, Baquero (2009) chega a uma

conclusão a respeito do comportamento eleitoral brasileiro, reforçando o que Manin

(1997) discute ao falar sobre a democracia representativa:

os modelos eleitorais sugerem que o destino dos votos dos eleitores

não depende de lealdades partidárias e sim de identificações com a

figura do candidato, naquilo que se denomina de relações terciárias, que agem em detrimento das instituições políticas, particularmente os

partidos. (BAQUERO, p. 266, 2009)

Em relação ao contexto das eleições presidenciais de 2010 é possível lembrar

que no início de 2009, quando ainda se especulava quais seriam os candidatos a disputar

a presidência do ano seguinte, as pesquisas apontavam caminhos diferentes do cenário

político no qual ocorreram as eleições de 2010. José Serra se mantinha com favoritismo

à vitória pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Dilma Rousseff,

representando o Partido dos Trabalhadores (PT), começava a crescer nas pesquisas de

intenção de voto, mas ainda mantinha-se em segundo ou terceiro lugar. Marina Silva do

Partido Verde (PV) ainda não estava entre as especulações de prováveis candidaturas,

mas havia Ciro Gomes pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), Heloisa Helena pelo

Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e ainda a possibilidade de Aécio Neves

concorrer pelo PSDB, no lugar de José Serra. Em 2010 o que aconteceu foi uma disputa

entre nove candidatos: os principais – Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e

Marina Silva (PV) – e os chamados “nanicos” (de menor representatividade política),

Ivan Pinheiro (PCB), Zé Maria (PSTU), José Maria Eymael (PSDC), Levy Fidelix

(PRTB), Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) e Rui Costa Pimenta (PCO).

Quando as candidaturas foram oficializadas no início de julho as pesquisas de

intenção de voto, que iniciaram suas atividades nos primeiros meses de 2009 com

especulações de quem seriam os candidatos, agora realizavam pesquisas já com os

nomes certos. A partir de dados do Instituto Datafolha, um levantamento foi realizado

entre 20 e 22 de julho de 2009 e Dilma Rousseff aparece com 36% das intenções de

voto, contra José Serra com 37%, havendo um empate técnico entre os dois. Marina

Silva já aparecia com o terceiro lugar ao favoritismo na disputa, com 10% das menções.

32

As eleições de 2010 contaram com dois turnos de votação para presidente, pois

nenhum candidato conseguiu mais de 50% dos votos. No primeiro turno Dilma

Rousseff obteve 46,91% dos votos, José Serra 32,61% e Marina Silva 19,33%. O

segundo turno definiu, com 55.752.529 votos (56,05%) a vitória de Dilma Rousseff

para a presidência do país, contra os 43.711.388 (43,95%) do candidato do PSDB.

Nascida em 1947, a candidata Dilma Rousseff começa sua vida pública em

1986, quando pelo prefeito de Porto Alegre, Alceu Collares (PDT), é escolhida para

administrar a Secretaria da Fazenda. No final da década de 80, Dilma é diretora-geral da

Câmara de Vereadores de Porto Alegre e em 1993 assume o cargo de secretária estadual

de Minas, Energia e Comunicação pelo Rio Grande do Sul, continuando no mesmo

setor em 1998. Em 2002 é ministra de Minas e Energia pelo governo Lula e em 2005,

com o escândalo do mensalão, José Dirceu, ministro-chefe da Casa Civil é afastado e

Dilma ocupa sua cadeira. Em 2010 então é eleita presidente do país, com mandato de

duração até o final de 2014 e Michel Temer (PMDB) como vice.

José Serra, nascido em 1942, dá início a sua trajetória política em 1982 no

comando da Secretaria de Planejamento do governo estadual de São Paulo, com a

nomeação de Franco Montoro (PMDB) para governador do estado. Afastou-se do cargo

em 1986 e candidatou-se a Deputado Federal, vencendo pelo PMDB, e é reeleito em

1990. Em 1994 é eleito senador, mas sua vaga é ocupada por Pedro Piva, seu suplente,

para que pudesse participar do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando

Serra é convidado pelo presidente para ocupar o Ministério do Planejamento (1995-

1996) e depois Ministério da Saúde de 1998 a 2002. Em 2002 disputou a presidência

com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com o petista vencendo o pleito no segundo turno.

Em 2004 José Serra é eleito prefeito de São Paulo – SP no segundo turno, renunciando

ao cargo em 2006, deixando a administração da cidade com seu vice, Gilberto Kassab

(2006-2008), para se candidatar ao governo do estado de São Paulo, vencendo no

primeiro turno. O peessedebista deixa o cargo para se candidatar à presidência do Brasil

junto a Indio da Costa (DEM) como vice.

A carreira política de Marina Silva, nascida em 1958, começa com sua disputa a

uma vaga na Câmara dos Deputados em 1986 pelo Partido dos Trabalhadores, sem

sucesso. Mas em 1988 é eleita vereadora de Rio Branco – AC, exercendo seu cargo até

33

1990, quando se candidata a deputada estadual e vence. Em 1994 concorre ao cargo de

senadora e é eleita, sendo reeleita no ano de 2002. Com a eleição de Luiz Inácio Lula da

Silva (PT), Marina Silva é nomeada ministra do Meio Ambiente. Em maio de 2008 a

ministra pede demissão do cargo, declarando dificuldades enfrentadas dentro do

governo. Em 2009 deixa o PT e filia-se ao Partido Verde (PV), pelo qual lançou sua

pré-candidatura à presidência em maio de 2010. A disputa pela presidência desse ano

contou com Guilherme Leal (PV) como seu vice e, após perder a disputa no primeiro

turno, manteve-se sem posicionamento em relação aos candidatos do PT e PSDB que

disputaram o segundo turno do pleito.

As campanhas eleitorais foram liberadas no dia seis de julho de 2010 até três de

outubro, quando aconteceram as eleições do primeiro turno. Em seguida houve mais um

período para que os candidatos ainda em disputa fizessem propaganda política entre três

e 31 de outubro. Mas o ineditismo nas eleições de 2010 não ficou apenas por conta de

Dilma Rousseff que se tornou a primeira presidente mulher eleita no país. Foi também

esse o ano em que as campanhas foram liberadas oficialmente para espaços midiáticos

on-line.

Segundo o artigo 19 da resolução nº 23.191 do Tribunal Superior Eleitoral

(TSE), a campanha política via internet poderia ocorrer a partir do dia seis de julho de

2010 para as eleições majoritárias presidenciais e de governo estadual, além das

proporcionais. As propagandas eleitorais foram liberadas para veiculação por meio de

sítios dos candidatos ou de partidos a que estes pertenciam. Além destes locais,

permitiu-se a difusão de informações e apelos eleitorais através de redes sociais, como

blogs, Orkut, Facebook e Twitter.

Foram vetadas propagandas difundidas em sítios de órgãos estaduais ou federais,

assim como em endereços eletrônicos pertencentes a pessoas jurídicas, com ou sem fins

lucrativos. Outra restrição se fez à propaganda paga via web. A violação de qualquer um

destes itens acarretaria em multa aplicada pelo TSE no nome do responsável, variando

entre cinco e trinta mil reais, superior à pena cobrada de candidatos em casos de

transgressão das leis eleitorais, nos valores entre cinco e vinte e cinco mil. A liberação

da internet para finalidades políticas/eleitorais propiciou mais visibilidade ao assunto,

uma vez que houve a soma de mais um meio de comunicação para a propagação de

34

ideias de partidos e coligações. As novidades são claras ao se pensar nas características

peculiares da web, como interatividade, instantaneidade, multimidialidade, entre outros,

destacando os baixos custos para uso desta mídia se comparada às tradicionais, como

televisão e impressões de panfletos.

Os eleitores podem, por liberação oficial, expressar suas opiniões livremente

num ambiente sem limitações de tempo e espaço, interagir com indivíduos de linhas de

pensamento convergentes ou divergentes, responder a enquetes e, desta forma,

colaborar para pesquisas estatísticas sobre as eleições correntes. Outro aspecto

característico destas eleições no meio internet se deu através do imediatismo com que

notícias e declarações dos candidatos eram postadas, quase simultaneamente à

ocorrência dos fatos.

É devido a essas características que o estudo pretende observar o uso de

ferramentas on-line por políticos brasileiros a partir de casos específicos – weblogs dos

três principais candidatos à presidência de 2010. Para isso, o próximo capítulo apresenta

a relação entre política e internet, com uma breve contextualização desse meio de

comunicação no Brasil (com índices sócio-econômicos e sobre a acessibilidade), o uso

dos meios on-line de comunicação e sua vertente política e um breve histórico de seu

uso em campanhas eleitorais, destacando casos brasileiros e internacionais, porém sem

apresentar toda sua trajetória mundial, apenas uma ilustração com casos relevantes para

apresentar um quadro que contextualize de forma geral como a propaganda política foi

veiculada na internet antes de 2010.

35

CAPÍTULO 2

PERSPECTIVAS POLÍTICAS NA WEB 2.0: CAMPANHAS ELEITORAIS NA

INTERNET

O segundo capítulo traz o histórico do uso das mídias on-line em campanhas

políticas e discussões sobre o uso da internet como veículo de comunicação política,

principalmente sobre o debate em ferramentas on-line específicas: os weblogs. A

bibliografia sobre o assunto é recente, principalmente no caso brasileiro, devido à

especificidade desse meio de comunicação – internet –, que começa a se consolidar

agora como um instrumento com fins políticos e ainda possui uma “aura” de

potencialidades e possibilidades em aberto.

A web 2.0 é explicada pelo pesquisador na área de novas tecnologias – Primo

(2007) – como a “segunda geração de serviços online e caracteriza-se por potencializar

as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de

ampliar os espaços para a interação entre os participantes do processo” (PRIMO, p. 2,

2007). Segundo o autor, o termo web 2.0 seria a junção de técnicas informáticas, além

de estar relacionado a um determinado período tecnológico, estratégias mercadológicas

e a comunicação mediada por computadores (PRIMO, 2007). Ele explica que o

surgimento do termo web 2.0 é a partir de “um trocadilho com o tipo de notação em

informática que indica a versão de um software, foi popularizado pela O‟Reilly Media e

pela MediaLive International como denominação de uma série de conferências que

tiveram início em outubro de 2004” (O‟REILLY, 2005, apud PRIMO, p. 2, 2007).

a progressão geométrica do número de blogs é uma recorrente

ilustração da Web 2.0. Muito embora a imprensa insista em descrevê-

los com meros diários online, reduzindo-os a uma ferramenta de

publicação individual e de celebração do ego, os blogs transformaram-

se em um importante espaço de conversação (Primo e Smaniotto,

2006). Os blogs tampouco podem ser analisados a partir de uma

perspectiva massiva. Poucos são aqueles que possuem milhares ou até

mesmo milhões de leitores. Entretanto, não se pode concluir que trata-

se de meio de pouca importância no cenário midiático. Através dos

blogs, pequenas redes de amigos ou de grupos de interessados em nichos muito específicos podem interagir. Já a interconexão entre

esses grupos pode gerar significativos efeitos em rede. Essa

propagação de informações gerando macro-efeitos a partir da

capilarização da rede é chamada por Anderson (2006) de “poder da

longa cauda”. Logo, hoje na Web não apenas os grandes portais têm

importância. Mesmo os blogs que reúnem pequenos grupos com

36

interesses segmentados ganham peso na rede a partir de sua interconexão com outros sub-sistemas. (PRIMO, p. 3, 2007)

Ao falar sobre a utilização da internet por atores políticos e as pesquisas sobre o

assunto são consideradas três questões, fundamentalmente: as ferramentas, a forma

como são utilizadas e seus consumidores. Estudos de Gomes e Aggio (2009), Iasulaitis

(2007), Brandão (2008), entre outros, mostram que é recente o uso da internet para fins

políticos, assim como as pesquisas acadêmicas. Mas em aproximadamente duas décadas

– que marcam o início da utilização dos meios on-line para campanha eleitoral – foi

possível observar como vem se estruturando a arena política nesse meio. E esse trabalho

pretende observar casos específicos dessa estrutura no Brasil, a partir dos blogs de

políticos brasileiros que disputaram as eleições presidenciais de 2010, analisando o

debate que ocorreu nesses meios.

2.1 INTERNET E ÍNDICES SÓCIO-ECONÔMICOS

A pesquisa de 2010 sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação

no Brasil do Comitê Gestor de Internet no país mostra que em áreas urbanas 39% da

população possuem computador e nas áreas rurais esse número cai para 12%. Mas o

principal contraste que o estudo traz é mostrado quando se faz a relação entre a renda

familiar e o acesso a tecnologias como o computador e a internet.

O acesso ao computador em domicílios chega a 93% nas famílias de classe

social A. Esse número cai conforme os salários diminuem, com 76% na classe B, 34%

na classe C e 5% nas classes D e E. A classe C, com seus 34% de acesso a

computadores, representa mais da metade da população brasileira (55,05%) segundo o

estudo de 2010 do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV)5. Há

também diferenças em relação às regiões do Brasil. Os computadores estão presentes

5 Os dados retirados do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, no site www.fgv.br/cps -

acessado dia 11/09/2011.

37

em domicílios, distribuídos da seguinte forma: 45% no Sudeste, 42% no Sul, 40% no

Centro-Oeste, 23% no Norte e 14% no Nordeste (Fonte: NIC.br - set/nov 2010)6.

Quando se trata de internet os números são ainda mais baixos, com 3% de acesso

das classes sociais D e E, 24% da classe C, 65% da população pertencente à classe B e

90% daqueles que são considerados economicamente pertencentes à classe A brasileira.

Em área urbana a população que possui internet corresponde a 31% e 6% na região

rural. O que significa que nem metade da população brasileira tem acesso à internet.

Enquanto a classe C representa 105.468.908 de habitantes (55,05% da

população), com renda domiciliar mensal entre dois a nove salários mínimos, a classe A

e B juntas correspondem a 11,75% dos brasileiros (22.526.223 de habitantes), com uma

faixa salarial por família acima de nove salários mínimos, não esquecendo que ainda há

mais de 63 milhões de pessoas sobrevivendo com no máximo R$ 751,00 ao mês7.

Quando o assunto é computador e internet, a acessibilidade acompanha a desigualdade

social presente na realidade do país.

18%

24%27%

0

5

10

15

20

25

30

Percentual sobre o total de domicílios

2008

2009

2010

Gráfico 1 – Internet em domicílios brasileiros

Fonte: NIC.br – set/nov 2008 – 2010

6 Dados acessados a partir do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação.

www.cetic.br – acessado em outubro/2010 e setembro/2011.

7 Os dados sócio-econômicos foram retirados do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas,

atualizados até o ano de 2011. www.fgv.br/cps - acessado dia 11/09/2011.

38

De acordo com o gráfico acima, com dados do Comitê Gestor de Internet do

Brasil, é possível observar que ainda é baixa a porcentagem de domicílios que possuem

internet no país. O gráfico representa os domicílios brasileiros – rurais e urbanos – que

possuem internet e mostra que gradativamente esse quadro está se alterando e conforme

passam os anos o acesso aumenta, embora de 2009 a 2010 o crescimento seja menor se

comparado a 2008. Porém, é necessário que tal cenário ainda se modifique e continue

aumentando o número de pessoas com acesso a esse meio, o que deve ser discutido

pelas propostas e políticas de inclusão digital. Essa apresentação da acessibilidade à

internet é apenas para ilustrar a situação brasileira, demonstrando o que Aldé, Escobar e

Chagas (2007) discutem ao dizer que essa ainda é uma tecnologia restrita devido a

fatores econômicos.

Foi apresentado apenas o uso da internet em domicílios pois a maior parte da

população utiliza-a em suas casas: dados do mesmo documento mostram que 57% das

pessoas acessam a internet em seus lares, 34% em centro público de acesso pago, 27%

na casa de outra pessoa, 22% no trabalho, 14% na escola e 4% em centro público de

acesso gratuito. Esses dados mostram que a internet pode e é acessada em outros lugares

e não apenas em domicílios, o que aumenta o número de pessoas utilizando esse meio

no país. Porém, se apenas 27% da população possui internet em suas casas e somente

4% utiliza-a em locais públicos de acesso gratuito, percebe-se que ou existem poucas

formas de inclusão digital no Brasil, deixando uma grande parcela populacional fora das

redes digitais, ou as políticas de incentivo e instrução são ineficientes. De toda forma,

há uma desigualdade visível e grande quando o assunto é acesso ao meio de

comunicação internet.

Em relação à área urbana, que concentra o maior número de usuários de internet,

é possível observar através das pesquisas voltadas especificamente ao uso de

computadores e internet do Comitê Gestor da Internet no Brasil que seu uso pode ser

dividido nas seguintes atividades: comunicação, busca de informações, lazer, serviços

financeiros e educação.

39

Tabela 1 – Tipos de atividades realizadas por usuários de internet no Brasil

2007 2008 2009 2010

Comunicação 89% 90% 90% 94%

Busca de Informação 87% 83% 89% 87%

Lazer 88% 86% 86% 87%

Serviços Financeiros 18% 16% 14% 17%

Educação 73% 72% 72% 66%

Fonte: CETIC.br/CGI.br/NIC.br – set/nov 20108

A comunicação tem sido o maior motivo de uso da internet com crescimento de

2007 a 2010, conforme demonstra a tabela 1. Mas além da comunicação, a internet é

utilizada para diversas outras atividades, sendo que uma não exclui a outra e através dos

percentuais apresentados acima é possível perceber que o usuário acessa a internet com

diversas finalidades e não uma apenas. Mas trazendo esses dados para o presente estudo

destacam-se duas informações: o uso para comunicação e busca por informações.

É possível observar que no Brasil aqueles que utilizam a internet fazem grande

uso do dispositivo para as duas atividades citadas acima. Embora comunicação englobe

diversas formas e tipos, a exposição de pensamentos e opiniões também é uma forma de

se comunicar, remetendo a comentários em weblogs inclusive, lembrando que hoje as

redes sociais são o principal instrumento de comunicação on-line. A busca por

informação também, mesmo que tenha sido apresentado um dado de forma

generalizada, visto que por informação entende-se todo e qualquer tipo de instrução ao

conhecimento, dentre os assuntos está a política, eleições e campanhas, principalmente

em períodos eleitorais. Mostra que o internauta brasileiro utiliza sim o ciberespaço para

lazer, mas que os índices de busca por informações são tão altos quanto, sinalizando um

bom indicador do uso da internet pelos brasileiros, ainda que os dados remetam apenas

às áreas urbanas por não haver pesquisas sobre o assunto nas áreas rurais.

O período de campanha analisado de compreende 90 dias de propaganda política

(primeiro turno – de seis de julho a três de outubro de 2010). Nesse espaço de tempo os

blogs analisados produziram ao todo 617 postagens, com 12.457 comentários. O grande

percentual de busca por informação e a quantidade de postagens no período estudado

8 Pesquisa realizada através da parceria entre o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), o Núcleo de

Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e o Centro de Estudos sobre as Tecnologias da

Informação (CETIC.br). www.cetic.br – acessado dia 11/09/2011.

40

demonstram que seguindo à tendência de um dos usos da internet pela população, os

candidatos buscaram postar diariamente notícias em forma de postagem, principalmente

Dilma Rousseff e Marina Silva, além de outros conteúdos que estiveram presentes nos

blogs e não entram como postagem, mas podem ser considerados informação ao

internauta e constam na análise descritiva de cada rede social analisada. E a

comunicação é claramente o maior motivo de acesso das pessoas à internet, o que é

possível perceber, de certa forma e voltando-se ao presente estudo, por meio do número

de comentários de internautas nas postagens. É expressiva a interação que houve entre

população e as postagens dos políticos estudados, mostrando que a comunicação é a

maior forma de utilização que as pessoas dão à internet e que isso reflete-se também em

blogs políticos, com grande número de comentários – considerando ainda que uma

parcela destes não entrou devido à moderação e que o blog de José Serra não

disponibilizou espaço para tal.

2.2 O USO DOS MEIOS ON-LINE DE COMUNICAÇÃO E SUA VERTENTE

POLÍTICA

A internet, ao proporcionar o chamado „fenômeno da inter-conectividade entre

pessoas‟ por Wilderom (2009), tornou-se objeto amplamente discutido nos meios

acadêmicos e a partir desse contexto, “as ciências sociais e a comunicação têm buscado

compreender como essa grande massa de indivíduos está se unindo a uma velocidade

cada vez maior para discutir desde assuntos menos importantes até criar mobilização em

torno de temas complexos como política e religião” (WILDEROM, p. 161, 2009). É

possível dizer hoje que o impacto da internet e da „rede global de computadores‟ nos

meios de comunicação é muito visível, além de sua influência na sociedade, tornando-se

um vasto campo de pesquisa sobre os mais diversos aspectos como comportamento,

linguagem, entre outros (WILDEROM, 2009).

A conexão entre indivíduos e a facilidade de propagação de informações entre eles gerada pela conectividade, é um fenômeno cuja

reversibilidade é praticamente impossível e, portanto, a sociedade

tende a tornar-se cada vez mais mutável por conta desse movimento.

O pai do conceito de “aldeia global” que, na década de 60, reiterava a

ruptura entre espaço e conexão entre pessoas por meio de tecnologia, é

categórico ao afirmar que, a partir do momento em que as relações

sociais mudarem, não será mais possível voltar ao status de outrora.

(WILDEROM, p. 161, 2009)

41

Entre as redes sociais mais utilizadas através da internet está o weblog, que

surgiu no final dos anos 90 como forma de diários públicos, temáticos ou livres (ALDÉ,

ESCOBAR e CHAGAS, 2007). As perspectivas e expectativas ao redor das ferramentas

que a internet oferece são, de maneira geral, em torno da possibilidade de

democratização da comunicação. Essas possibilidades são exploradas por autores que

consideram que “associados à pluralização da emissão de conteúdos, à autoexpressão e

à interação e cooperação entre autores e leitores, os blogs poderiam apontar para uma

experiência de comunicação horizontal, em que fosse possível estabelecer formas de

debate público plural e democrático” (ALDÉ, ESCOBAR e CHAGAS, p. 1, 2007).

O incentivo para uma pesquisa sobre os weblogs pode ser o formato dessa

ferramenta, que possui peculiaridades técnicas, e as possibilidades de diálogo, mas essa

ainda é uma tecnologia restrita por fatores econômicos, o que não desanima os estudos

de alguns autores, que consideram que o importante é estudar as potencialidades, e que

a possibilidade de interação entre um grande número de usuários não significa que esse

diálogo de fato ocorrerá (ALDÉ, ESCOBAR e CHAGAS, 2007). Segundo os autores,

as estratégias comunicativas de campanha e governo já foram anteriormente exploradas,

mas a atualidade do assunto „explosão dos blogs‟ continua, pois ainda que essa

ferramenta não tenha a obrigação de manter-se atualizada a todo momento, essa

característica é presente nesses espaços on-line.

Inicialmente o conceito weblog foi utilizado em 1997 por Jon Barger “enquanto

sinónimo de página ordenada cronologicamente e com ligações a outras páginas”

(CANAVILHAS, p. 2, 2004). O blog é criado com a finalidade de livre exposição de

opiniões e de partilhar informações, o que implica na ideia de que com isso há uma

busca por audiência e acesso ao conteúdo disponibilizado9. A concepção de blogs

apenas como diários pessoais é discutida e problematizada pela percepção de que essas

são ferramentas abertas ao cidadão conectado que permitem ações multimidiáticas, com

a utilização de textos, fotos e/ou vídeos para postar conteúdos na internet, além de ser

uma mídia interativa que abre espaço para a liberdade de expressão (VIANA, PRADO e

SANTOS, 2009).

9 CANAVILHAS, João. Blogues políticos em Portugal: o dispositivo criou novos actores?

42

A rede on-line agora é utilizada por atores políticos para realizar campanhas,

seja por candidatos a prefeito, vereador, deputado, senador, governador ou presidente.

Seu uso é discutido como uma „mídia participativa‟ (BLOOD, p. 62, 2003, apud

SINGER, 2005), que se bem utilizada pode conectar os jornalistas com as comunidades

que estes servem (SINGER, 2005), podendo este conceito ser também adaptado ao uso

dos blogs por políticos. Se bem explorada, a ferramenta weblog pode além de informar

seus usuários, promover interatividade entre representante político e seus representados,

com a capacidade de ser utilizada para aumentar e facilitar o diálogo entre ambos,

proporcionando possibilidades de propostas políticas numa via de mão dupla, além de o

ator político receber um feedback direto da sociedade, sem mediações, o que é de

grande valia para a avaliação de suas ações políticas.

como a internet evoluiu de uma pequena e muito unida comunidade de

tecnófilos a um fenômeno global utilizado por milhões de pessoas

comuns, ela tem sido acompanhada por esperanças de seu potencial de

revigorar a democracia participativa. Baseando-se em Dewey (1927),

Habermas (1989) e outros, alguns teóricos contemporâneos políticos

anunciaram a natureza popular inerente das redes de comunicação

como a fundação de uma nova “república eletrônica”. [...] Outros têm

sido bem mais cautelosos, ressaltando que a tecnologia é apenas um instrumento. Qualquer efeito sobre os processos democráticos e

objetivos depende “não da qualidade e do caráter de nossa tecnologia,

mas da qualidade de nossas instituições políticas e o caráter de nossos

cidadãos” (BARBER, 1998-99: 588-9). (SINGER, p. 174-175, 2005)

Segundo Singer (2005), os estudos de comunicação política online demonstram

que a internet veio como comunicação de massa no final dos anos 1990, sugerindo que

seu efeito principal não era o de engajar mais pessoas, mas proporcionar novos espaços

para os atores políticos da atualidade. Para os políticos, a autora sugere que a internet

foi utilizada para que estes, convenientemente, promovessem sua própria imagem, com

mensagens persuasivas e não mediadas, direto para os eleitores, mas que a interação foi

evitada por temerem a perda de controle da mensagem, além da utilização do espaço

para atacar adversários, o que a autora, ao citar Margolis e Resnick (2000), conclui que

o ciberespaço acabou por tornar-se rapidamente um site político comum, e que seria

apenas „um novo lugar para fazer coisas velhas‟ (SINGER, 2005).

43

2.3 BREVE HISTÓRICO DAS CAMPANHAS POLÍTICAS NA INTERNET

A partir do início da década de 9010

os partidos políticos começaram a utilizar

ferramentas online como forma alternativa de campanha eleitoral, época em que o

objeto de estudo torna-se relevante não apenas para o campo político, mas para as

pesquisas acadêmicas sobre o assunto. Porém, até pouco tempo, a interatividade com os

eleitores era desprezada (SCHWEITZER, 2005, apud GOMES e AGGIO, 2009).

Com a campanha on-line de Barack Obama nos Estados Unidos, em 2008,

Gomes (2009) considera tais ferramentas como instrumentos que antes eram

considerados acessórios nas campanhas, com apenas trocas de informações,

transformou-se “numa via alternativa à campanha mediada pelos meios de massa”

(GOMES, p. 39, 2009). Sendo assim, torna-se relevante estudar o impacto desse

instrumento de debate político em campanhas nacionais. O estudo busca pesquisar

brevemente como foi a produção da propaganda política nesses novos meios (com

análise das páginas e postagens) e a interação entre candidato e eleitor nos blogs,

observando o que a internet oferece de mais inovador: a interatividade.

As campanhas on-line foram observadas com mais intensidade primeiramente

nos Estados Unidos na disputa presidencial entre Bill Clinton e George Bush em 1992.

Elas restringiam-se a web sites que reproduziam o material off-line (os panfletos) em

forma on-line. Por mais que não inovassem em formato ou conteúdo, traziam a

possibilidade de arquivar essas informações, disponíveis a qualquer momento, diferente

das propagandas políticas panfletárias. Mas é preciso lembrar também que o contexto

da época desfavorecia o uso da internet e a evolução de sua utilização para campanhas

vai de encontro à evolução do próprio meio – quanto maior o acesso e uso, mais

investimento em propaganda on-line.

As primeiras experiências de utilização da internet em campanhas políticas aconteceram nas eleições nos Estados Unidos em 1992. O

contexto em questão continha muitas restrições tecnológicas que

implicavam num pequeno volume e velocidade de tráfego de dados

associados, ainda, a uma quantidade reduzida de cidadãos com acesso

10

O primeiro caso em que a internet foi utilizada por campanhas eleitorais no mundo é nos Estados

Unidos em 1992 (AGGIO, 2010) – disputa eleitoral entre Bill Clinton e George Bush.

44

à web. As conseqüências se materializavam no baixo nível de sofisticação e diversificação de conteúdos, formatos e ferramentas dos

web sites. Em outra medida, surgiam questionamentos sobre a real

importância e eficácia de se empregar esforços online de campanha,

uma vez que a quantidade de eleitores atingidos pela comunicação

digital era reduzida (Meyers, 1993, Davis e Owen, 1998; Bimber e

Davis, 2003). (AGGIO, p. 11, 2010)

Mas ainda assim, Myers (1993) explica que já em sua primeira versão o uso da

internet trazia um fator que diferencia as campanhas em meio on-line e outros meios de

comunicação: a falta de um filtro noticioso (GOMES e AGGIO, 2009). Este entra no

contexto de um processo de produção de notícias considerado por autores como Sousa

(2002) e Schudson (1998) no chamado newsmaking – em que existem influências para

que as notícias sejam da forma que as observamos nos meios de comunicação, pois

“segundo Schudson, a ação pessoal, a ação social e a ação cultural, em interrelação, são

as três principais explicações para que as notícias sejam como são” (SOUSA, p. 37,

2002). Na ação pessoal o jornalista vem como ator principal na influência do processo

noticioso, como o “porteiro” da metáfora do gatekeeping, criada por White em 1950

(SOUSA, 2002). O processo de seleção das notícias incorpora um conjunto de critérios

dos produtores das notícias que levam em consideração as supostas necessidades dos

consumidores das mesmas. Um dos elementos centrais desse processo de seleção é o

chamado gatekeeper, definido por Fuente (s/d) como: “um indivíduo situado em uma

estrutura comunicativa para controlar o fluxo de mensagens ao longo do canal

comunicativo previne a sobrecarga de informação, filtrando e separando as mensagens”

(ROGERS e AGARWALA, 1980, apud FUENTE, p. 4, s/d). Para a seleção de histórias

noticiosas, o autor lembra que os critérios podem ser identificados como “clareza,

concisão e o ângulo da história”, para definir o que deve constituir uma notícia.

Com a internet o candidato não terá a figura do jornalista mediando e escolhendo

o conteúdo, nem nenhum mecanismo, senão as leis eleitorais para restringir o conteúdo

veiculado. Myers (1993) considera que se estabeleceria, portanto, uma comunicação

direta entre campanha e cidadão. De maneira complementar, outros pesquisadores

apontam que o espaço na mídia é desigual e existe uma hierarquia em que uma elite

possui um espaço maior que os cidadãos comuns nessa estrutura. “Sociólogos da mídia

há tempos concordam que o jornalismo oferece pouco espaço para a voz dos cidadãos, e

é geralmente focada nos fazeres dos poderosos” (cf. EPSTEIN, 1973; GANS, 1980;

SIGAL, 1973, apud LEWIS e JORGENSEN, 2004).

45

O panorama traçado por Gomes e Aggio (2009) sobre a literatura produzida

entre 1992 e 2009 a respeito da temática „campanhas on-line‟ cita Norris (2002), que

discutiu diversas experiências desenvolvidas nos Estados Unidos, de 1992 a 2000, e que

embasam os atuais debates sobre interatividade. Segundo Gomes esse é “um dos pilares

que acompanha todo o discursos acadêmico relacionado ao objeto – já ganhava corpo de

discussão na literatura desenvolvida sobre as experiências de 1996, o ciclo eleitoral que

procedeu o de 1992” [sic] (GOMES e AGGIO, p. 5, 2009). Em relação ao caso de 1996

– com Bill Clinton e Kansas Bob Dole como principais atores da disputa presidencial

nos Estados Unidos – foram três as questões que nortearam as pesquisas sobre o

assunto: “O impacto eleitoral dos websites de campanha, a interatividade enquanto

elemento diferenciador das campanhas online e a possibilidade de estabelecimento de

contato com extratos específicos do eleitorado” (GOMES e AGGIO, p. 5, 2009).

as campanhas online são tratadas como, basicamente, um novo meio de comunicação política eleitoral, em face de um conjunto de outros

meios pelos quais as campanhas mediáticas foram construídas. Sob

essa perspectiva, muitos tratamentos de pesquisa depositaram nas

potencialidades da internet uma nova maneira de produção de

comunicação de campanha, mudando estratégias de persuasão típicas

da televisão ou do rádio, deixando de lado a produção de campanha

negativa e dedicando mais tempo para discussões sobre questões de

políticas públicas e, o mais fundamental, estabelecendo o fim da

unidirecionalidade da comunicação típica dos meios tradicionais,

aproximando cidadãos com as campanhas através de ferramentas de comunicação dialógicas. (GOMES e AGGIO, p. 5, 2009)

Autores como Strommer-Galley (2000) criticam o uso de web sites nas

campanhas ocorridas no ano de 1996 pelo fato de a interatividade não ter sido

explorada, visto que esse seria, para o autor, o maior diferencial da internet, com o

potencial democrático de incluir os eleitores nesse processo, apesar de reconhecer o

valor das informações presentes nesses sites (GOMES e AGGIO, 2009). Conforme as

expectativas do autor,

nesse modelo os eleitores poderiam elaborar e oferecer questões, dúvidas, críticas e/ou sugestões a partidos e candidatos que, em

contrapartida, analisariam e produziriam respostas, de maneira a criar

um processo de responsividade, incorporando os eleitores como peças fundamentais e ativas na composição das campanhas. (GOMES e

AGGIO, p. 5, 2009).

Entre 2000 e 2001 existem outros exemplos de aplicações da internet em

campanhas eleitorais, como o caso do Japão, onde havia dominação de um único partido

no parlamento e que apesar de a lei eleitoral local favorecer tal partido, os outros 40

46

candidatos falaram sobre a forma como a internet supriu a escassez de espaço na mídia

para campanha, segundo Tkach-Kawasaki (2003, apud GOMES e AGGIO, 2009).

Durante o período entre 2003 e 2009 o cenário já começa a se modificar. Em

2004 a disputa presidencial entre Al Gore e George Bush Jr. contou com um dispositivo

até então inédito nas campanhas: o e-mail. Estudos abordados por Gomes e Aggio

(2009) demonstram pontos positivos, como a possibilidade de os internautas enviarem

esses e-mails a outras pessoas e discutirem mais os assuntos abordados. E pontos

negativos, que é a dependência da disposição de quem recebe as mensagens para lê-las

ou até recebê-las, visto que muitas vezes esses e-mails são considerados “spam”. É o

início da interatividade entre eleitor e candidato, mesmo que restrita.

Mas são as campanhas de Barack Obama nos Estados Unidos que projetam uma

nova perspectiva, diferente do que até então foi o uso de meios on-line. Com interação

maior entre os receptores e produtores das mensagens e participação do eleitor nas

campanhas, em forma de financiamento ou campanha para conseguir mais eleitores.

Entre as novidades específicas das eleições de 2008 com o uso da internet para a

campanha de Barack Obama está a alta participação dos internautas em conteúdos

relacionados à política, em que um quarto dos internautas estadunidenses acessavam

pelo menos uma vez por semana conteúdos relacionados à campanha do candidato,

enquanto que 8% fazia isso todos os dias, além da grande utilização do espaço para

postar, baixar e assistir vídeos, uso das redes sociais e a troca de mensagens de texto por

telefonia celular (GOMES, 2009). Para Smith (2008), nesse ano houve nos Estados

Unidos um engajamento em campanha presidencial sem precedentes, visto que foi

grande a participação de cidadãos comuns que utilizaram a internet para obter

informações sobre política, doar dinheiro para a campanha e conversar com outros sobre

seus pontos de vista (GOMES, 2009).

Sem internet não haveria Obama. A diferença de compreensão, entre as campanhas de Obama e Clinton, sobre o que se pode realizar por

meio da política on-line tem sido um fator decisivo nessa que é a

maior reviravolta na história das primárias presidenciais. Há,

naturalmente, outras diferenças importantes: a estratégia empregada

no “caucus”, o glamour, a oratória, os discursos enfocando

diretamente o preconceito. Mas nenhuma delas teria sido decisiva sem

o dinheiro que Obama arrecadou on-line, os vídeos que Obama postou

on-line e, acima de tudo, os milhões de pessoas que aderiram on-line à

campanha de Obama, em seus tempos e termos próprios.

(CORNFIELD, 2008, apud GOMES, p. 29, 2009)

47

Já no Brasil a internet é utilizada como instrumento de comunicação com

objetivos eleitorais somente a partir de 2002, quando aumentou a cobertura jornalística

eleitoral no meio, “adquirindo relevância na campanha e se constituindo como

fenômeno de comunicação política no país” (BORGES, p. 208, 2008). Nesse ano o

amadurecimento e sofisticação dos meios de comunicação on-line e a disputa

presidencial com um alto grau de competitividade impulsionaram o uso da internet com

fins eleitoreiros pelos candidatos (BORGES, 2008). As eleições presidenciais de 2002

foram protagonizadas principalmente por José Serra pelo PSDB e Luiz Inácio Lula da

Silva representando o PT, e contavam ainda com Ciro Gomes (PPS) e Anthony

Garotinho (PSB).

Os quatro candidatos ao pleito presidencial de 2002 possuíam homepages de

campanha, espaço que contava com informações que serviam de referência não só para

eleitores, mas também para a imprensa (ALDÉ, 2004). Segundo a autora, no contexto

de alta competição tornou-se importante para os candidatos encontrarem espaços

favoráveis nos meios de comunicação, de forma que os estrategistas de campanha

utilizaram a internet de maneira criativa, como um meio de agendar e pautar assuntos

nas mídias convencionais e os meios de comunicação recorreram a essas páginas

significativamente, em busca de informações. Em seus sites, muitos dos conteúdos eram

críticas a seus oponentes, com jingles, acusações e críticas a outros candidatos, além de

veicular notícias de outros veículos (ALDÉ, 2004). As páginas de todos os candidatos

foram consideradas dinâmicas, com Ciro Gomes e Anthony Garotinho com páginas

menos sofisticadas que as de seus opositores, e o destaque foi para a campanha on-line

de José Serra, que apostou fortemente nesse instrumento de comunicação, com muitas

notícias sobre sua campanha e acompanhamento de suas atividades, sempre atualizado,

o que também foi feito pelo seu concorrente Luiz Inácio Lula da Silva, que, além disso,

disponibilizava a venda de produtos de campanha (ALDÉ, 2004).

as eleições de 2002 foram marcadas pelo uso dinâmico da internet na

divulgação das pautas promovidas pelos candidatos, dando

visibilidade aos discursos políticos e garantindo amplo espaço aos

ataques e escândalos originados nos sites oficiais dos políticos. [...] O uso de propaganda negativa na internet pelas campanhas,

particularmente, foi um exemplo eloqüente das apropriações

estratégicas das características do jornalismo na era digital (Aldé e

Borges, 2004). (ALDÉ, p. 6, 2004)

48

Em 2006, quando disputavam a presidência do país Geraldo Alckmin (PSDB) e

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) web sites também foram utilizados, assim como nas

eleições de 2002. Segundo os estudos de Brandão (2008), o uso desse instrumento teria

sido impulsionado por três fatores: “uma nova legislação eleitoral que restringiu

despesas em diversas áreas; a forte oposição da mídia ao presidente Luiz Inácio Lula da

Silva, que disputava a reeleição; o crescimento do acesso à Internet, que alcançou quase

25% do eleitorado” (BRANDÃO, p. 5, 2008). Segundo o autor, o resultado disso foi

que de 542 sites eleitorais no Brasil em 2002 – de candidatos à presidência, senado,

governo, etc – nas eleições de 2006 esse número aumentou para 2.640 sites. Nos

estudos de Iasulaitis (2007) sobre o pleito presidencial do mesmo ano e o uso de

ferramentas on-line por parte dos candidatos, foram feitos os seguintes

questionamentos, considerados relevantes para a autora embasar sua pesquisa:

Os partidos políticos e candidatos têm utilizado o potencial interativo da Internet para aumentar a qualidade do debate democrático? Quais

são as características e principais finalidades dos websites eleitorais?

Os websites dos candidatos diferem em termos de funções ou há um

padrão semelhante (standardized form), uma convergência na forma

de desenvolvimento das campanhas eleitorais na web no Brasil?

(IASULAITIS, p. 156, 2007), entre outras questões envolvendo a

qualidade dessas páginas on-line e o público-alvo

Como resultado de suas pesquisas a autora chegou à conclusão de que os sites

dos dois principais candidatos à presidência de 2006 foram estruturados de forma

semelhante, com as informações com enquadramento voltado principalmente ao

recrutamento de militantes, em detrimento da interatividade (IASULAITIS, 2007). Nos

websites eleitorais de ambos os candidatos era permitido enviar e-mail, que era

respondido com respostas padrão (automáticas), existia um espaço para enquetes no site

de Alckimin e o cadastro para recebimento de boletins no espaço on-line de Lula, mas

em nenhum dos casos era possível a publicação de opinião por parte do internauta ou a

participação de conversas em salas de bate papo (IASULAITIS, 2007).

A partir dessas análises, no contexto brasileiro, o estudo dos websites dos

candidatos à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB),

durante as eleições de 2006, demonstram que essa ferramenta não foi substancialmente

explorada, embora a internet proporcione potencialidades para incentivar a participação

e o “diálogo de mão dupla” (IASULAITIS, p.168, 2007). Mas o quesito informações

sobre os candidatos, seus partidos, programas de governo, campanha, notícias, entre

49

outras, foi bastante utilizado, mas no sentido de, como dito anteriormente, recrutar

militantes.

Mas é em 2010, quando as leis eleitorais permitiram o uso da internet para

campanha eleitoral, que é possível observar de fato um uso mais intensificado desse

meio no país. No Brasil há casos de uso da internet nas campanhas presidenciais de

2002 e 2006, porém de maneira limitada e irregular, visto que conforme a Resolução Nº

22.261, “Em páginas de provedores de serviços de acesso à Internet não será admitido

nenhum tipo de propaganda eleitoral, em nenhum período” (Resolução Nº 22.261, Art.

5)11

.

No dia 29 de setembro de 2009 é aprovada a Reforma Eleitoral, por meio da Lei

Nº 12.03412

, e entra em vigor com as novas condutas a respeito da propaganda eleitoral

de 2010, reformulando parte das leis eleitorais mais antigas em vigor até então. A partir

de então seria permitido o uso da internet para campanha em eleições, por meio de sítios

do candidato, partido ou coligação, mensagens eletrônicas enviadas para endereços

cadastrados gratuitamente, blogs e redes sociais. As restrições são quanto à propaganda

em sítios de pessoas jurídicas e os sites “oficiais ou hospedados por órgãos ou entidades

da administração pública direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios” (Art. 21, § 1, II)13

. Além de considerações iguais aos outros veículos

de comunicação, em que há direito de resposta do candidato ofendido na mesma página

em que ocorreu a ofensa (sendo esse direito julgado pela Justiça Eleitoral) e proibição

da transmissão de propaganda eleitoral 48 horas antes do dia da eleição, com multa de

cem reais por mensagem.

A proposta deste trabalho se dá em torno da produção de conteúdos e do debate

político nos weblogs dos principais candidatos à presidência de 2010 no Brasil: Dilma

11 RESOLUÇÃO Nº 22.261: “Dispõe sobre a propaganda eleitoral e as condutas vedadas aos agentes públicos em campanha eleitoral”, é uma resolução a partir do “Tribunal Superior Eleitoral, usando das

atribuições que lhe conferem o art. 23, IX, do Código Eleitoral, o art. 105 da Lei nº 9.504, de 30 de

setembro de 1997, e o art 2º da Lei nº 11.300, de 10 de maio de 2006”. Acessada dia 17/10/2011 no

endereço eletrônico http://www.eleitoral.mpf.gov.br/legislacao/res22261.pdf.

12 A Lei Nº 12.034 sobre a Reforma Eleitoral foi acessada no dia 17/10/2010 no endereço

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12034.htm.

13 As regulamentações quanto à propaganda eleitoral de 2010 na internet constam na RESOLUÇÃO Nº

23.191, capítulo IV, acessadas dia 16/10/2011 no endereço eletrônico: http://www.tre-

mg.jus.br/portal/website/legislacao/resolucao_tse/res_tse_23191.pdf

50

Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV). O estudo se restringe aos meses

em que a campanha eleitoral de primeiro turno é oficial no país – de seis de julho a três

de outubro de 2010. A pesquisa verifica como se dá o debate nesses novos espaços

liberados à campanha eleitoral para explorar como foi utilizado esse novo

instrumento de debate, já que a internet é tida como um meio promissor de

interatividade.

Em 2010 os weblogs de candidatos, além dos outros dispositivos entre as redes

sociais de relacionamento, permitiram uma forma de campanha completamente nova no

país. O weblog de Dilma Rousseff permitiu que os internautas comentassem nas

postagens (com moderação), fizessem doações, mandassem relatos de suas vidas e abriu

espaço para discussão e receber contribuições sobre temas gerais e setoriais. Os temas

eram relacionados com as áreas agrária, ciência e tecnologia, cidades, combate ao

racismo, cultura, direitos humanos, economia solidária, educação, juventude, meio

ambiente, mulheres, política industrial, políticas sociais, saúde e segurança. Além de

fornecer informações sobre a candidata do PT, seu vice, as propostas de governo,

material de campanha, suas aparições em mídias tradicionais como TV e Rádio, etc.

No weblog de Marina Silva também foi possível essa interatividade com

comentários através de moderação, possibilidades de doação – com informações de

quanto foi doado através da internet, disponíveis aos internautas cadastrados no site –,

além da parte das „diretrizes ampliadas‟, com as propostas da candidata e espaço para

comentários dos internautas nas áreas denominadas „Aliança por um Brasil justo e

sustentável‟, „Política cidadã baseada em princípios e valores‟, „Educação para a

sociedade do conhecimento‟, „Economia para uma sociedade sustentável‟, „Proteção

social: saúde, previdência e terceira geração de programas sociais‟, „Qualidade de vida e

segurança para todos os brasileiros‟, „Cultura e fortalecimento da diversidade‟, „Política

externa para o século 21‟ e „Compromissos com relação ao processo da campanha‟. Em

seu weblog, também são mostrados vídeos e fotos de campanha, informações sobre a

candidata e seu vice, material de campanha, entre outros.

E no blog do candidato José Serra, até 18/08/2010, restringia-se a postagens com

notícias sem abertura para comentários, material para campanha, informações sobre

candidato e vice, propostas, fotos, vídeos e áudios. A partir de setembro o espaço foi

51

reformulado, com mudanças de design e ligações a redes sociais como Facebook, Orkut,

Twitter, etc. Mas continuou com uma única parte destinada à interatividade com

internautas, a de envio de propostas, com temas delimitados. Eram eles: Saneamento

Básico, Economia e desenvolvimento, Saúde, Juventude, Cultura, Mulheres, Política

Externa, Segurança, Aposentados, Indústria, Direitos Humanos, Gestão Pública, Meio

ambiente, Esportes, Reforma Política, Democracia digital, Drogas, Habitação,

Transporte Público, Educação, Combate à desigualdade, Infância, Pessoas com

deficiência e Infraestrutura14

.

Após a apresentação da contextualização da internet no Brasil, o uso dessa

ferramenta pela política e um breve histórico de campanhas on-line, com alguns casos

ilustrativos no mundo e no país, o capítulo três segue com a apresentação da

metodologia utilizada na pesquisa e as análises dos blogs, suas postagens e comentários,

chegando à parte empírica do trabalho. Relacionando com as teorias, conceitos,

contexto e estudos apresentados nos capítulos iniciais as análises buscam mostrar um

quadro geral de como foi o debate político nos weblogs estudados.

14

As informações a respeito dos três weblogs foram retiradas das próprias redes sociais citadas, nos

endereços: http://www.dilma13.com.br; www.serra45.com.br e www.minhamarina.org.br.

52

CAPÍTULO 3

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS E NOVAS TECNOLOGIAS: WEBLOGS DE

CANDIDATOS NO DEBATE POLÍTICO DE 2010

Nesta parte do trabalho são apresentadas a metodologia utilizada para a

pesquisa, uma análise das informações obtidas a partir dos blogs, das postagens e

comentários coletados. Nos primeiros capítulos foram feitas contextualizações sobre os

meios on-line de comunicação, redes sociais, debate público e opinião pública, governo

representativo, campanha eleitoral on-line e eleições 2010. De forma a chegar ao objeto

central do estudo: as campanhas eleitorais nos weblogs dos principais concorrentes à

presidência de 2010.

Os candidatos ao pleito de 2010 presentes no estudo são Dilma Rousseff (PT),

José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV). Foram analisados três meses de campanha

eleitoral, no período de seis de julho a três de outubro de 2010, abrangendo as

campanhas de primeiro turno dos principais concorrentes à presidência daquele ano. A

pesquisa engloba a coleta e análise de dados sobre o weblog dos políticos estudados,

todas as postagens realizadas no período do estudo (tudo o que foi postado pelos

responsáveis pelos blogs em formato de texto, vídeo e/ou foto como forma de notícia) e

comentários de internautas nas postagens (o que foi escrito por aqueles que acessaram a

internet e o blog, no espaço destinado à interação com os posts). O período considerado

na análise para que as pessoas comentassem foi de uma semana após o texto ter sido

postado e, portanto, sete dias após a data de postagem era coletado o que os internautas

escreveram nos posts. Porém, o estudo dos comentários restringe-se aos weblogs de

Dilma Rousseff e Marina Silva, pois o candidato do PSDB não abriu espaço para que os

internautas pudessem comentar em suas postagens.

3.1 ANÁLISE DE CONTEÚDO COMO EIXO METODOLÓGICO

QUANTITATIVO

O estudo realizado é de análise de conteúdo com metodologia quantitativa, através

da coleta de dados dos weblogs dos candidatos pesquisados. No emprego da

metodologia quantitativa foi padronizada uma coleta de dados que fornece informações

53

sobre o objeto pesquisado através de categorias pré-estabelecidas. Estas permitem

transformar forma e conteúdo de postagens e comentários em números.

A análise quantitativa é caracterizada por uma identificação da frequência de

aparição de determinadas características pré-estabelecidas como temas, palavras,

expressões ou símbolos considerados (FREITAS e JANISSEK-MUNIZ, 2008).

Segundo os autores, para obter conclusões mais significativas a respeito dos dados

coletados, há uma necessidade de combinar técnicas quantitativas com qualitativas.

Neste trabalho os dados apesar de serem mensurados de forma quantitativa, há traços de

análise qualitativa, com apresentação de exemplos que ilustram os casos mais

recorrentes, por exemplo.

A abordagem mais científica, dita quantitativa, pressupõe grande quantidade de

dados num procedimento de confirmação de hipóteses. Há necessidade de se

tratar do quantitativo, enriquecendo-o com informações qualitativas em grande

número, de forma a ganhar força de argumento e qualidade nas conclusões e

relatórios: o desafio é a busca da associação entre o quantitativo e o qualitativo,

onde, por exemplo, o procedimento exploratório ganha força, visto que se

poderá multiplicar os dados tratados, reforçando sobremaneira (e mesmo

garantindo o „bom caminho‟) o procedimento confirmatório. (FREITAS e

JANISSEK-MUNIZ, p. 1, 2008)

E a técnica empregada para o presente estudo é a de análise de conteúdo, que

“pode ser empregada em estudos exploratórios, descritivos ou explanatórios”

(HERSCOVITZ, p. 127, 2007). Para a realização do estudo através dessa técnica, é

recomendado que o pesquisador inicie com perguntas ou hipóteses, fazendo posterior

conexão entre teoria e investigação (HERSCOVITZ, 2007).

A coleta dos dados sobre os weblogs procurou abranger todo o material

disponibilizado – foram analisadas todas as postagens realizadas durante o período de

seis de julho a três de outubro de 2010 dos três blogs e comentários de internautas

nessas postagens, com o prazo de uma semana para que as pessoas comentassem.

Através de testes com blogs aleatórios de simpatizantes dos candidatos à presidência de

2010, realizados anteriores às campanhas eleitorais pesquisadas, e com experiência

durante a coleta de dados ficou claro que o período de uma semana é suficiente para

observar a realidade dos weblogs, pois ao transcorrer esse período de tempo quase não

havia comentários.

54

Em busca de respostas para a pergunta que gerou a pesquisa – “de que forma os

candidatos utilizaram o espaço on-line e como se dá o debate político nos weblogs?” –

foram coletadas informações sobre o conteúdo e formato dos comentários de internautas

e postagens nos blogs estudados. São 617 postagens e 12.457 comentários analisados,

contemplando o primeiro turno do pleito. Os dados foram estudados de forma a testar a

hipótese inicial de que as ferramentas on-line seriam um espaço disponível para

postagem da campanha tradicionalmente transmitida já em outros veículos de

comunicação e de ampliação, onde o candidato pode expor conteúdos além desses. Pois

a internet, com suas características, oferece maior disponibilidade de arquivar e

apresentar mais conteúdos, apenas com restrições em relação às leis eleitorais, além de

possibilitar a interatividade entre população e campanha.

Os meses de análise foram escolhidos pela relevância de um primeiro turno

brasileiro. Considerando que o Brasil conta com 135.804.433 eleitores15

(no Brasil e

exterior) e que esse número corresponde a 70,8% da população do país que é o maior da

América do Sul e o quinto maior do mundo em território e população, pode-se inferir

que o primeiro turno de uma disputa presidencial brasileira tem grande importância e

trata-se de um período relevante para análise. Além disso, o arquivo possui dados

suficientes para embasar a pesquisa, oferecendo fundamento empírico para os conceitos

apresentados.

Em relação ao livro de códigos16

utilizado, a primeira parte, da descrição dos blogs,

observa os seguintes tópicos: Se há informações - sobre o candidato e seu vice

(histórico, propostas, agenda e prestação de contas). Sobre a interatividade:

navegabilidade, quais as possibilidades de participação do internauta e a existência ou

não de filtro para comentários. E por último, sobre o webdesign, observando a presença

ou ausência do uso de imagens e as cores. Na pesquisa também é feita uma descrição

das postagens, coletando informações sobre: tipo de postagem (texto, áudio, vídeo ou/e

15 Dados a partir do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as eleições de 2010, acessados dia

13/09/2011, no link http://www.tse.gov.br/hotSites/estatistica2010/Est_eleitorado/quantitativo.html.

16 Foram coletadas outras informações além das abordadas neste trabalho. Elas constam no livro de

códigos utilizado, em anexo, com todas as variáveis explicadas.

55

foto), tipo de autor (Candidato/responsável pelo blog, autor não identificado, internauta,

eleitor, militante do partido, filiado ao partido, militante de outro partido, imprensa

tradicional), fonte, tema (Campanha Eleitoral, Político-institucional, Economia, Política

Social, Infra-estrutura e meio ambiente, Violência e segurança, Ético-moral, Política

para Esporte, Cultura/variedades, Política Estadual/Nacional, Política Internacional,

Outros temas, Imagem política do candidato, Imagem pessoal do candidato, Imagem

administrativa do candidato, Imagem política de adversário, Imagem pessoal de

adversário), valência predominante (positiva, negativa ou neutra), o que predomina no

texto (se informação, interpretação ou opinião), se há controle de quem faz as postagens

e presença de hyperlinks.

E então há a descrição dos comentários, com coleta sobre: O tipo de comentários

(relacionado ao tema, ao candidato, aos internautas, a o outro candidato, ao governo em

disputa, à campanha ou outro), a valência predominante, o formato (se é elogio à pessoa

do candidato, elogio à posição política do candidato, elogio à posição do candidato

sobre o tema, elogio/concordância com demais comentaristas, elogio aos outros

candidatos/políticos, elogio ao governo em disputa, crítica à pessoa do candidato, crítica

à posição política do candidato, crítica à posição do candidato sobre o tema, crítica aos

demais comentaristas, crítica aos outros candidatos/políticos, crítica ao governo em

disputa, outro/não identificável, propostas, apoio à campanha ou candidato ou dúvidas

quanto à política que será aplicada) e presença de hyperlinks.

A seguir será apresentada a primeira parte da análise, com descrição dos blogs

estudados. São observadas as informações disponibilizadas pelos candidatos como seu

histórico pessoal e de seu vice, que apresenta a carreira política de ambos e, por vezes,

suas vidas pessoais. Também é analisado se os blogs disponibilizam espaço on-line para

apresentar as propostas de governo que fundamentam suas candidaturas para as eleições

presidenciais de 2010, além de pesquisar se é possível saber da agenda dos políticos

estudados, com a programação de cada um para o período eleitoral e se há prestação de

contas, seja para falar sobre os gastos da campanha ou apresentar a arrecadação de

fundos para a mesma. Consta no livro de códigos as categorias que dizem respeito ao

partido político que cada um dos candidatos está filiado e as instituições, movimentos e

lideranças sociais com as quais mantêm ou mantiveram relações. Porém, não foram

56

observadas em nenhum dos weblogs durante o período de análise e, portanto, não

constam no estudo.

A interatividade é outro ponto observado, destacando nessa primeira parte a

navegabilidade, ou seja, quais são as possibilidades e facilidades de acesso dos

internautas em relação à presença de um mapa do site ou menu que sintetize e direcione

o usuário aos conteúdos dos blogs e também era prevista a análise sobre o número de

acessos, mas não foi encontrado nos espaços estudados. A interatividade é analisada

também através das possibilidades de participação, descrevendo quais são elas – através

da troca de e-mails e mensagens expostas a todos que acessarem os blogs. Em eleições

passadas foram observados a troca de e-mails, enquetes e conversas on-line por meio de

chats (IASULAITIS, 2007), mas em 2010 a participação se deu apenas através de e-

mails e mensagens em forma de comentários. E por último a existência de um filtro

moderador de comentários, o que restringiria a aparição às participações aprovadas

pelos responsáveis dos blogs, o que seria um enquadramento da realidade em relação à

interação dos internautas com os conteúdos veiculados.

A presença de links também faz parte do estudo, para descrever se pelos blogs é

possível navegar através de links que direcionem o internauta a conteúdos dentro do

próprio blog, facilitando o acesso aos diversos conteúdos ali disponíveis e a presença de

links que o levem a outros espaços on-line, como é o caso das redes sociais (Twitter,

Orkut, Facebook e outras), que podem ser acessadas através dos três blogs. Por fim, há

uma descrição do webdesign, com imagem ilustrativa de cada um para que sejam

melhor visualizados, já que o blog de Marina Silva mudou após sua saída do Partido

Verde no dia sete de julho de 2011 e nos casos petista e peessedebista estão fora do ar e

não é mais possível acessá-los. São observadas imagens e cores utilizadas pelos

concorrentes ao pleito em seus blogs, na tentativa de buscar uma identidade de cada um.

57

3.2 ANÁLISE DESCRITIVA DOS WEBLOGS: MATERIAL PRESENTE NA

PROPAGANDA ELEITORAL DE 2010

Para contextualizar o estudo e observar de forma geral todo o conteúdo

produzido, neste tópico são apresentadas descrições e análises do blog de cada

candidato estudado. Dessa forma, será possível obter conhecimento de como

funcionavam as páginas on-line dos principais concorrentes à presidência de 2010

durante o período de campanha eleitoral de primeiro turno e começar a observar o

debate político ali ocorrido, visto que houve interação dos internautas não apenas com

postagens, mas o restante do conteúdo produzido. A análise descritiva observa cada

aspecto do blog e apresenta como funcionavam e quais eram os conteúdos

disponibilizados para o acesso dos internautas.

Dilma Rousseff (PT)

O weblog de Dilma Rousseff (PT) durante todo o período de campanha (seis de

julho a 31 de outubro de 2010) e alguns meses depois (até junho de 2011) foi hospedado

no endereço http://www.dilma13.com.br. Com as cores da bandeira brasileira e o

vermelho característico do Partido dos Trabalhadores, em sua página inicial era possível

observar quatro chamadas em destaque, que se revezavam em forma de slideshow, com

uma grande imagem ilustrando a postagem, o vídeo, a foto ou qualquer outra parte do

blog em destaque no dia acessado. Na margem superior do site hyperlinks levavam o

internauta à „Biografia‟, „O Brasil Mudou‟, „Notícias‟, „Programa de Governo‟,

„Multimídia‟, „Nossa Gente‟ e „Vice-Presidente‟.

58

Figura 1 – Imagem principal do weblog petista durante campanha eleitoral de 2010

Em „Biografia‟ era possível observar a vida pessoal e profissional de Dilma

Rousseff, dividida em seis partes: “Descoberta – Lula encontra Dilma; Infância – A

menina que sabia dividir; Militância – A luta pela democracia; Recomeço – A esperança

renasce; Vida Pública – Vitória contra o racionamento; Lula e Dilma – A parceria que

mudou o Brasil”. Foram destacados seus pontos considerados fortes, pensando na

imagem que queriam transmitir ao eleitorado, com as características importantes de sua

vida pública e sempre relacionando-a com o presidente na época, Luiz Inácio Lula da

Silva. Em „Vice-Presidente‟ a apresentação da biografia de Michel Temer foi

apresentada em quatro partes: “A trajetória de Michel Temer; Vida Pública; Presidente

da Câmara; PMDB unido na campanha”. As „Notícias‟ eram as postagens com os

comentários de internautas, sendo que durante o período estudado pôde-se observar a

presença de 314 postagens e 6.703 comentários, lembrando que o prazo para a coleta

destes era de uma semana após a postagem do conteúdo sobre o qual os internautas

opinavam.

„O Brasil Mudou‟ foi um espaço destinado a mostrar ações do governo Lula

(PT) de 2003 a 2010 e o desenvolvimento do Brasil em diversos setores. Tudo isso era

59

dividido em quatro seções17

: Orgulho Brasileiro, Ascensão Social, Realizações e Brasil

Internacional. Em „Programa de Governo‟ havia uma apresentação sobre a elaboração e

discussão do programa de governo proposto, elaborada por Marco Aurélio de Almeida

Garcia, Coordenador da Comissão de Programa de Governo da campanha de Dilma

Rousseff, com um discurso de como foram organizadas as propostas da campanha

petista de 2010 para a presidência.

Em seguida, na parte de “Temas”, foram expostas propostas de internautas, que

enviaram suas ideias sobre os temas específicos propostos pelo blog, que podem ser

observados nos anexos. Nesse link também havia a parte para contato e “Quero

Participar”, espaço em que o internauta preenchia seus dados e enviava sua proposta

para os temas citados em nota de rodapé. Essa foi uma das formas de interatividade em

que o internauta pôde expressar-se na tentativa de participar da elaboração do projeto de

governo. É um espaço interessante, que demonstra ir contra as crenças de que as pessoas

têm pouca chance de participação no governo, no caso as campanhas políticas,

conforme a afirmação de que costumeiramente “há um sentimento de ceticismo com

relação às chances de a sociedade civil vir a exercer influência sobre o sistema político”

(HAGE, p. 24, 2004). É possível observar que foi aberto um espaço para isso, mas não

se sabe se as ideias foram utilizadas e levadas em consideração, por ora este trabalho

analisa o funcionamento dos blogs e o que eles proporcionam como ferramenta de

comunicação direta entre políticos e sociedade.

Outro hyperlink abriu espaço de expressão dos internautas, o „Nossa Gente‟,

onde era possível enviar histórias de vida para serem postadas no site, com a seguinte

proposta: “O Brasil mudou muito nos últimos oito anos. Como sua vida melhorou?

Compartilhe suas histórias usando o formulário abaixo. Você pode enviar também seu

depoimento em vídeo. Se preferir grave seu depoimento, coloque no YouTube e mande

17 Os temas desenvolvidos foram: Copa Verde-Amarelo, Olimpíadas, Rio – maravilha do Mundo

Moderno, Quando a vida melhora, Agricultura familiar, Bolsa Família e a redução da pobreza, Combustível limpo, Crescimento acelerado, Desenvolvimento sustentado da economia, Educação e

Desenvolvimento, Energia para crescer, Igualdade racial, Indústria naval, Inovar é preciso, Meio

ambiente, Mulheres em pauta, Pré-Sal e o futuro, Realizando o sonho da casa própria, Saúde é prioridade,

Segurança Pública, Brasil Vira Credor Internacional, Como o Brasil Superou a Crise Internacional e O

Brasil no Mundo.

60

o link para o Dilma13 pelo formulário abaixo”18

. O espaço contou com 105

depoimentos que contavam suas histórias, de como eram suas vidas antes do governo

Lula, durante e depois.

Na parte de „Multimídia‟ as pessoas tiveram acesso a Programas de TV,

Comerciais de TV, Rádios, Mapas de Mídia, Vídeos e Fotos, demonstrando a interface

multimidiática dos blogs, que permite o acesso dos internautas a materiais que já foram

anteriormente expostos em outros meios de comunicação, mas com a possibilidade de

assistir, ouvir e ler como, quando e quantas vezes quisessem. Outra oportunidade que a

internet oferece e que foi explorada em seu blog – a chamada “pluralização da emissão

de conteúdos” (Aldé, Escobar e Chagas, p. 1, 2007) ou ainda a capacidade de

“potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de

informações” (Primo, p. 2, 2007), conforme fora retratado no segundo capítulo.

Além dos itens mencionados e descritos, o weblog da petista possuía outros

conteúdos que podiam ser acessados e utilizados pelos internautas: agenda do

candidato, espaço para fazer doação, formas de contato com a equipe através do envio

de mensagens ou e-mail, material de campanha para fazer download, página para

divulgar para outras pessoas o conteúdo veiculado no blog, página para se inscrever

como voluntário da campanha (da forma como a pessoa quisesse apoiar a candidatura),

programas e spots para rádio para ouvir e fazer download, áudios, vídeos, fotos e

hyperlinks conectando o internauta às outras redes sociais relacionadas à candidata:

Orkut, Facebook, Twitter, Youtube, Flickr e Identica.

A prestação de contas não houve, nem para dizer o quanto estava sendo gasto na

campanha, nem em relação ao que foi arrecadado através da internet. Por vezes a

temática foi abordada nas postagens, como no dia 06/08/2010: “Coligação entrega

primeira prestação de contas” e no dia 20/09/2010: “TCE-RS aprovou todas as contas

de Dilma”. Não havia também no blog informações sobre o partido ao qual Dilma é

filiada – Partido dos Trabalhadores (PT), nem a quantidade de acessos que seu blog

recebeu. As possibilidades de participação se restringiam ao cadastramento dos

internautas no blog, recebendo frequentemente e-mails sobre a campanha, o envio de

18 O conteúdo foi acessado dia 30/09/2010 nos endereços http://www.dilma13.com.br/suas-historias/ e

http://acao.dilma13.com.br/page/s/historia

61

mensagens à coordenação, com possíveis retornos, o envio de depoimentos de suas

vidas no espaço descrito acima ou de propostas para o governo, além de poderem

interagir com as postagens através de comentários que ficavam expostos a todos que

acessavam a página, mas com um filtro moderador. Esse filtro restringe o estudo apenas

ao conteúdo publicado e não toda a participação que de fato ocorreu.

O weblog de Dilma Rousseff ficou disponível na internet até o mês de junho de

2011, quando ainda havia atividade com postagem de notícias diariamente e

comentários dos internautas. Estes diminuíram após o fim da campanha e com os

resultados das eleições de 2010 que levaram a candidata petista à Presidência da

República.

José Serra (PSDB)

O candidato peessedebista no início da campanha não apostou muito na

propaganda política no blog analisado, como as suas concorrentes do PT e PV. Foi a

partir de agosto que seu site foi reformulado e esse espaço alternativo de campanha foi

utilizado de forma mais intensa. No endereço www.serra45.com.br seu blog foi

hospedado até o dia 31 de outubro de 2010, sem atividade após a data.

Utilizando as cores do partido (azul e amarelo), seu blog também contou com o

verde lembrando as cores da bandeira do Brasil. Quando acessada sua página abria com

uma grande imagem como manchete da notícia do dia, uma foto de Serra e seu vice,

Indio da Costa, a passagem de depoimentos de internautas que apoiavam o candidato

em „Agora é Serra‟, a contagem de dias para as eleições, „Redes do Serra‟ no canto

esquerdo com links para redes sociais e hyperlinks na margem superior: „Biografia‟,

„Propostas‟, „Temas em destaque‟, „Notícias‟, „Fotos‟, „Vídeos‟, „Áudios‟, „Material de

Campanha‟, „Imprensa‟ e „Cadastre-se‟.

62

Figura 2 – Imagem de abertura do weblog de José Serra para campanha de 2010

A „Biografia‟ de José Serra retrata sua vida pessoal e pública em momentos

específicos: “Infância; Juventude; Movimento Estudantil; Exílio; Biografia Lorem

ipsum dolor sit amet; Secretário; Constituinte; Ministro; Prefeito; Governador”. Com

textos, fotos ilustrativas e vídeos, parte de sua história de vida foi contada ao público

internauta. Assim como no blog de Dilma Rousseff, além de sua trajetória de vida, foi

destacada a atuação do candidato na esfera política, com todos os cargos que conquistou

e os pontos fortes do seu governo. A petista explorou “a vitória contra o racionamento”

em 2001 e a coordenação de projetos como o Programa de Aceleração do Crescimento

(PAC), Luz para Todos, Minha Casa, Minha Vida e Pré-Sal ou ainda sua atuação contra

a ditadura militar. José Serra, por sua vez, dividiu suas ações em setores como saúde,

educação, solidariedade, cultura, transportes, entre outros, para destacar em cada área

sua atuação e ações memoráveis. Além disso, sua participação como cidadão ativo e

político também fora destacada como na biografia de Dilma (ao falar sobre sua luta pela

democracia), salientando a participação do peessedebista em movimentos estudantis e

período de exílio em 1964, com sua volta para “participar da batalha da

redemocratização”. Ambos exploraram suas atuações consideradas mais positivas na

esfera política brasileira, na tentativa de demonstrar suas capacidades administrativas

em prol da democracia.

63

O link „Propostas‟ foi estruturado de forma que as pessoas pudessem acessá-las

por região em “Estados – Selecione o estado no mapa para ver as propostas e

compromissos”, com um mapa do Brasil em que era possível clicar em cada estado e ler

as propostas de forma direcionada. “Temas” foi um espaço que oferecia a oportunidade

de os internautas conhecerem seus planos de governo não por região, mas pela

temática19

. Em „Temas em Destaque‟ a equipe responsável pelo site apontou 31 temas

como Nota Fiscal Brasileira, Gestão Pública, AIDS, entre outros, com uma imagem

ilustrativa, um texto sobre o assunto e as ações de Serra a respeito da temática enquanto

ele esteve em cargos públicos. Evidenciando, novamente, o papel dos blogs (dos três

candidatos) nas eleições: o de propaganda política e campanha.

As „Notícias‟ foram divididas em: Notícias, Brasil de Verdade, Realizações, Por

Que Sou Serra e Visão Serra. As notícias eram relacionadas ao candidato e produzidas

por sua equipe, que mantinha o público informado sobre José Serra, com

acompanhamento de suas ações e campanha. Em “Brasil de Verdade” foram expostas

questões sobre a versão do peessedebista sobre o que de fato acontece no Brasil, como a

notícia do dia 28/10/2010, “Universidades supostamente criadas no governo Lula”, em

que, segundo a matéria, das 14 Universidades Federais anunciadas como novas pelo

governo, nove já existiam, foram apenas resultado de desmembramento, fusão ou

mudança de nome da instituição que já existia, dando como exemplo o campus da

Universidade Federal da Bahia (UFBA) que foi desmembrado e passou a se chamar

Universidade Federal do Recôncavo Baiano, além de listar todas as outras em que

aconteceu algo semelhante. Dilma ligou seu nome a Lula com destaque a ações

conjuntas e consideradas positivas, o que é claramente natural visto que são filiados ao

mesmo partido (PT) e ela seria candidata a suceder o governo do ex-presidente.

Enquanto Serra tentava desmistificar Lula e suas ações, o que também é compreensível

por ser candidato opositor.

19

As Temáticas se dividiam em: Saúde, Economia e Desenvolvimento, Meio Ambiente, Indústria,

Direitos Humanos, Mulheres, Juventude, Segurança, Transporte Público, Gestão Pública, Pessoas com

Deficiência, Esporte, Democracia Digital, Educação, Infraestrutura, Saneamento, Agricultura, Política

Externa, Infância, Combate à Desigualdade, Habitação, Drogas, Servidor Público, Cultura, Aposentados e

Reforma Política.

64

Ainda dentro de „Notícias‟, o link “Realizações” destacava ações do governo

Serra enquanto ministro do governo Fernando Henrique Cardoso, prefeito e governador

de São Paulo. “Por Que Sou Serra” juntou diversos depoimentos de pessoas que

apoiavam sua candidatura e as motivações para tal, um dos poucos espaços de expressão

da opinião de internautas, que como em todos os blogs analisados tratava-se da opinião

publicada, não podendo representá-la como um todo.

Em “Visão Serra” foram expostos seus pensamentos a respeito de diversos

assuntos como religião, entrevistas que o candidato concedeu à mídia, discursos e

pronunciamentos. „Fotos‟ foi um espaço que reuniu imagens do candidato durante a

campanha, „Vídeos‟ eram a respeito de programas e comerciais de TV, entrevistas,

debates, depoimentos de apoio, videoclipes, notícias, realizações do PSDB e outros. E

os „Áudios‟ davam acesso aos internautas a programas, comerciais, entrevistas e jingles.

Novamente é possível observar a multimidialidade da internet utilizada em favor das

campanhas eleitorais, com capacidade de documentar, dando livre acesso aos

internautas a conteúdos veiculados em outras mídias e àqueles produzidos

exclusivamente para o espaço on-line. O que é bastante positivo para os candidatos, que

conseguem transmitir suas mensagens e propagandas mais de uma vez e atingindo mais

pessoas do que se fossem reproduzidas apenas nos outros veículos de comunicação.

„Material de Campanha‟ reunia material impresso, para celular e para

computador20

e a campanha “Apóie o Serra nas Redes Sociais”, forma de estímulo para

que os internautas militassem a favor de sua candidatura. O hyperlink „Imprensa‟ foi

destinado ao “Dia do Serra”, contando como foi seu dia de campanha (espaço que era o

único de postagem da equipe que organizava o site antes de sua reformulação),

“Newsletter” com postagens de campanha e “Cartas”, com mensagens de José Serra

direcionadas a públicos específicos e à população de forma geral (Carta para o Brasil,

Carta para os médicos, Carta – Geral, entre outras), espaço com propaganda política

voltada a públicos segmentados, com campanha específica, portanto. E em „Cadastre-

se‟ o internauta podia cadastrar-se para receber mensagens em seu e-mail com a

chamada “Receba Informações da Caminhada Rumo à Vitória”.

20

Foram oferecidos jingles, fotos, fundos para se colocar nas redes sociais, papéis de parede, marcas e

“serrinhas” (imagens computadorizadas em forma de desenho do candidato).

65

Existiam outros links também em sua página, entre eles o „Combata a Mentira‟

com o slogan “Quanto mais mentiras disserem sobre nós, mais verdades diremos sobre

eles – José Serra”, e as postagens eram relacionadas a temas específicos: Aborto, Bolsa

Família, Campanha, Concursos Públicos, Privatizações, Quebra de Sigilo e Zona Franca

de Manaus, com textos sobre os temas em forma de ataque à oposição e defesa da

imagem do candidato, demonstrando que uma das formas de campanha adotadas pelo

candidato foi a forte presença de conteúdos em ataque à oposição.

As „Perguntas Frequentes‟ foram listadas em 23 questionamentos a respeito de

Serra com suas respectivas respostas, exemplo delas são: “Serra vai interromper as

obras do PAC?”, “Serra foi acolhido por Pinochet (como disse, no Twitter, um cientista

político que é prefeito pelo PT no Paraná)?” e “Serra vai privatizar a Petrobrás?”, outra

forma de defesa encontrada pelo tucano. Essa é também uma das possibilidades que a

internet abre: ao mesmo tempo em que os políticos ficam mais vulneráveis a ataques a

sua imagem, também é um espaço alternativo de resposta e autodefesa sobre o que foi

veiculado na internet ou outros meios de comunicação.

Em „Saiba Mais – José Serra/Indio da Costa‟, o conteúdo era sobre o vice-

candidato Indio da Costa com uma breve biografia, notícias sobre ele, vídeos, fotos, link

para seu Twitter e “Apóie Indio nas Redes Sociais”. Em relação ao Serra, esse link

direcionava o internauta direto à biografia do mesmo. Eram também listadas em sua

página as últimas notícias do dia e mensagens de Serra e seu vice no Twitter, além de

Fotos, Áudios, Vídeos e a proposta “Conecte amigos à rede de Serra Presidente”. Junto

a isso links que encaminhavam para redes sociais relacionadas ao candidato: Twitter,

Orkut, Facebook, Flickr, Youtube, Vimeo, Sou Serra (www.souserra.com.br/joseserra,

ainda disponível na internet e em atividade), Proposta Serra, e propostas de mensagens

específicas para serem postadas no Twitter pelos internautas (“Eu quero 45” e “Serra

desde criancinha”). E por último, os links que ficavam na margem inferior do site

levavam com um clique ao site de cada partido da coligação – PSDB, DEM, PTB, PPS,

PMN e PT do B.

Como as postagens realizadas em seu site não possibilitavam a interação do

internauta para que este pudesse comentar, na coleta de dados não houve a parte de

comentários do blog de José Serra. Porém, havia possibilidades de participação, com o

66

envio de depoimentos em “Por que sou Serra”, que foram disponibilizados para

visualização, mas havia moderação ao conteúdo publicado. A interatividade pôde ser

vista em outros sites do candidato como o de envio de propostas, mas não no weblog.

Assim como o de Dilma Rousseff, seu blog não oferecia informações com

prestações de contas nem sobre o partido pelo qual concorreu à presidência, o PSDB,

apesar de haver links para os sites de todos os partidos da coligação. Quando chegou o

dia das eleições de segundo turno em 31 de outubro de 2010 seu blog saiu do ar e não

voltou como das candidatas concorrentes – de Marina Silva, que saiu no dia três de

outubro voltou e de Dilma Rousseff, que saiu para contagem de votos nos dias três e 31

de outubro, mas voltou e ficou disponível até junho de 2011. Mas é preciso ressaltar que

todos os blogs analisados infringiram as leis eleitorais formuladas pelo TSE, visto que

assim como em outros veículos de comunicação, as campanhas na internet deveriam

parar de produzir conteúdos novos três dias antes das eleições (conforme explicado no

capítulo 2). No caso dos blogs acompanhados foi possível acessar a campanha dos três

candidatos, inclusive com novos conteúdos, até certo horário do dia três de outubro e de

Dilma Rousseff e José Serra até o dia 31 de outubro.

Marina Silva (PV)

O site da candidata do Partido Verde, assim como os outros possui hyperlinks

que levam a informações e conteúdos específicos. O blog de Marina Silva é acessado a

partir de um desses links presentes no site, em destaque junto a outros três, localizados

na margem superior. São eles: „Diretrizes de Governo‟, „Marina Silva & Guilherme

Leal‟ e „Vídeos & Imagens‟. Assim como o de Dilma Rousseff, há uma grande imagem

no canto superior esquerdo do site onde três chamadas se revezam em forma de

slideshow com conteúdos que podem ser acessados com um clique – são as manchetes

do dia em destaque. Outro ponto que se sobressaia era o link para fazer doações para a

campanha, com o slogan: “Minha campanha precisa de você. Doe agora!”. Seu site

ainda continua funcionando21

hospedado no endereço www.minhamarina.org.br, com

novos conteúdos e arquivo de sua campanha de 2010.

21

Último dia de acesso até a conclusão deste trabalho: 23/10/2011

67

Figura 3 – Página de Marina Silva enquanto candidata à presidência em 2010

A página de Marina Silva explorou principalmente a cor do partido (verde), mas,

assim como o blog dos candidatos concorrentes, possui um fundo branco, deixando as

cores para links e imagens. Em „Diretrizes de Governo‟ a intenção era que os

internautas participassem, além de entrarem em contato com as propostas da candidata.

O link era dividido em “Participe”, que dizia: “Aqui você pode ler, comentar ou enviar

suas sugestões sobre a versão ampliada das diretrizes lançada em 27 de julho de 2010.

A primeira versão das Diretrizes para Programa de Governo de Marina Silva Presidente

foi publicada em 10 de junho de 2010 e colocada na Internet para discussão aberta com

a sociedade”. Era possível conhecer a primeira versão e os comentários dos internautas

a respeito, ao clicar em um link da página, além de haver dois outros hyperlinks – O

Brasil que temos e O Brasil que queremos.

Assim como no blog petista era possível a participação do cidadão nas propostas

de governo, observando novamente as oportunidades dadas pelas candidatas para que o

público opinasse sobre questões importantes como seus projetos para presidir o país.

Essa era uma das possibilidades vislumbradas em relação à internet, exploradas no

segundo capítulo – a de que os governados pudessem agir ativamente em campanhas

68

políticas já que são assuntos que os interessam diretamente – quando se fala em

“democracia participativa” (SINGER, p. 174-175, 2005), aproximação dos “cidadãos

com as campanhas através de ferramentas de comunicação dialógicas” (GOMES e

AGGIO, p. 5, 2009) ou mais especificamente:

os eleitores poderiam elaborar e oferecer questões, dúvidas, críticas

e/ou sugestões a partidos e candidatos que, em contrapartida,

analisariam e produziriam respostas, de maneira a criar um processo

de responsividade, incorporando os eleitores como peças

fundamentais e ativas na composição das campanhas (GOMES e

AGGIO, p. 5, 2009)

As „Diretrizes de Governo‟ também tinham link que propunha uma maior

participação da população na campanha, não apenas com as sugestões e comentários,

mas fazendo propaganda pela candidata do PV: era o “Convocação” – chamando as

pessoas para criarem um movimento, expondo as diversas intenções de governo. Havia

também o “Diretrizes Programáticas”22

, e por último o “Diretrizes do programa”, em

que era possível acessar as duas Diretrizes para o Programa de Governo de candidatura

de Marina Silva para Presidência da República. Nesse sentido todos os blogs

conseguiram oferecer muitas informações aos internautas sobre a proposta de governo

que pretendiam pôr em prática, seja dividido em áreas temáticas, por regiões ou

programas mais gerais.

Em „Marina Silva & Guilherme Leal‟ encontrava-se a biografia da candidata à

presidência e seu vice. Com o slogan “Principal líder socioambiental no Brasil, Marina

Silva é exemplo de superação”, a descrição de sua vida pessoal e pública foi dividida

em: Biografia, Primeiros Anos, Parlamento, Ministério, Pré-candidatura à presidência e

Prêmios. Além de sua vida, era possível encontrar uma parte menor sobre seu vice

Guilherme Leal. Seguindo o mesmo padrão de seus dois concorrentes, foi relatada sua

vida, experiência em seus quase 30 anos de vida pública com destaque a sua defesa pela

ética e promoção do desenvolvimento sustentável, além dos prêmios que ganhou,

relacionados à área ambiental como o “2007 Champions of the Earth” da ONU.

22 Divididas em: Aliança por um Brasil justo e sustentável, Política cidadã baseada em princípios e

valores, Educação para a sociedade do conhecimento, Economia para uma sociedade sustentável,

Proteção social: saúde, previdência e 3ª geração de prog. Sociais, Qualidade de vida e segurança para todos os brasileiros, Cultura e fortalecimento da diversidade, Política externa para o século 21 e

Compromissos com relação ao processo da campanha.

69

Enquanto Dilma Rousseff criou uma identidade de proposta de governo de

continuidade, José Serra com propostas de ampliar e melhorar o que já fora feito em

governos anteriores, além dos ataques à oposição e defensas de acusações a seu

respeito, Marina Silva também criou uma identidade, a de ambientalista em busca do

desenvolvimento sustentável. Todos discutiram as áreas pelas quais um presidente é

responsável para governar o país, mas houve fortes características que marcaram e

formaram identidades específicas.

Seguindo com a descrição de seu espaço on-line, no hyperlink „Vídeos &

Imagens‟ os temas eram Depoimentos, Programa eleitoral gratuito, Entrevistas, Ação

Social, Ciência e Economia, disponibilizando aos internautas novos materiais e aqueles

já veiculados em outras mídias. E então ao clicar em „Blog da Marina‟ o internauta tinha

acesso direto às postagens e comentários de internautas, com 224 postagens e 5.754

comentários analisados, referentes aos meses em que participou das campanhas – seis

de julho a três de outubro de 2010.

A doação para a campanha de Marina era possível ser feita através do site, com

valores determinados (R$ 5,00; R$ 50,00 e R$ 100,00) ou outro que podia ser escolhido

pelo internauta. Se houvesse alguma dúvida em relação à doação, era disponibilizado

um endereço de e-mail para esclarecer os questionamentos e um vídeo explicativo.

Outra parte interessante é que a candidata do PV foi a única que publicou em seu site a

quantia que arrecadava, com a meta do dia (R$ 170.000,00) e o quanto havia sido

arrecadado até o momento.

Se os meios de comunicação servem de inspetor geral do sistema político para

propiciar uma crítica pública necessária (KUNCZIK, 2002), como tratado no primeiro

capítulo, a prestação de contas de uma campanha eleitoral deve ser tratada com

seriedade e se os cidadãos são convidados a ajudar financeiramente os candidatos,

pressupõe-se que as informações sobre essa arrecadação deve ser pública. No entanto, a

única candidata que fez isso foi a do Partido Verde, nas eleições presidenciais de 2010,

em relação aos blogs estudados. Por mais que Dilma Rousseff tenha exposto prestações

de contas em postagens e na mídia e José Serra em outros veículos que não seu blog,

não é suficiente, pois a informação específica do quanto fora arrecadado através desses

blogs não foi divulgada nos mesmos, apesar de a campanha de doação e participação

dos cidadãos ter sido amplamente divulgada e visível.

70

Voltando ao conteúdo disponibilizado pela campanha de Marina, outros

hyperlinks presentes no site eram sua agenda, „Marina na mídia‟ – com matérias

publicadas nos meios de comunicação sobre a candidata –, chamadas para o „Blog da

Marina‟, a divulgação de outras redes sociais que ela participava (Twitter e Facebook),

Discursos, Artigos, Álbum de Fotos, Ringtone da campanha para baixar e tocar no

celular e o Crie + 1 Casa de Marina, que foi uma forma encontrada pela candidata de

seus eleitores participarem ativamente de sua campanha, formando comitês em suas

casas. Conforme a „Equipe Marina‟ explicou em postagem do dia 06/07/2010 (“Casas

de Marina vão se espalhar pelo país”): “A instalação das Casas de Marina pelo país a

fora é uma iniciativa do Movimento Marina Silva, que reúne pessoas interessadas em

discutir processos que promovam o desenvolvimento sustentável. Qualquer

simpatizante da candidatura do PV pode transformar sua residência em um comitê

domiciliar para reunir familiares, amigos e vizinhos para discutir as propostas de

governo de Marina”23

.

Além desses, na margem inferior do site era possível encontrar diversos links

que levavam aos mesmos espaços que os hyperlinks da margem superior e outros como

„43 Razões para votar em Marina‟, „Kit para voluntários‟, „Depoimentos‟, „Minha

Marina‟ (“O que é”, “Quero me cadastrar” e “Login”), „Marina Responde‟ e „Ajuda‟. O

site, agora reformulado, possui outros conteúdos e o blog continua ativo, com postagens

diárias e comentários de internautas. O auge de comentários não foi durante sua

campanha, mas após os resultados das eleições, em postagem do dia 03/10/2010,

“„Somos Vitoriosos‟, diz Marina Silva em pronunciamento”, com 3.016 comentários,

em sua grande maioria em apoio à candidata para que continuasse na luta pela

presidência do país ou para parabenizá-la por sua participação na concorrência

presidencial de 2010. O site atual agora segue outro formato, que pode ser visualizado

em anexo.

Assim como no blog petista, o de Marina Silva permitia a interação com as

postagens através de comentários, mas também havia moderação, restringindo o estudo

aos comentários publicados. Conforme já observado nos blogs analisados, esse também

não apresentou informações sobre o partido, sendo direcionado especificamente à

candidata e sua campanha presidencial. Seu site continua disponível na rede, embora

23

Acessado dia 12/07/2010 no endereço http://www.minhamarina.org.br/blog/page/132/

71

tenha mudado o formato. Mas ainda é possível acessar o conteúdo de sua campanha de

2010 e o endereço de hospedagem continua o mesmo.

3.3 ANÁLISE DAS POSTAGENS: O CONTEÚDO DIÁRIO DAS CAMPANHAS

Este tópico apresenta uma descrição de forma analítica e comparativa sobre as

postagens dos blogs de todos os candidatos estudados no período de seis de julho a três

de outubro de 2010. Para isso as informações foram categorizadas em um livro de

códigos, com apresentação a seguir dos seguintes itens: o tipo da postagem, se em

forma de texto, áudio, vídeo ou/e foto, podendo haver em uma única postagem a

presença de todos os tipos de formato ou apenas um. Também foi analisado o tipo de

autor que é identificado nos blogs por seus responsáveis, se é candidato/responsável

pelo blog, autor não identificado, internauta, eleitor, militante do partido, filiado ao

partido, militante de outro partido ou imprensa tradicional.

Para melhor compreensão do conteúdo das postagens é analisada a valência

predominante (positiva, negativa, neutra ou equilibrada) e o tema principal abordado no

post, categorizado em Campanha Eleitoral, Político-institucional (temas que envolvem

órgãos do Poder Executivo, Legislativo ou Judiciário e Sociedade Organizada),

Economia, Política Social (todas as políticas relacionadas ao desenvolvimento social),

Infra-estrutura e Meio Ambiente, Violência e Segurança, Ético-moral (aqueles que

envolvem valores relacionados à ética e normas morais), Política para Esporte,

Cultura/Variedades, Política Estadual/Nacional, Política Internacional, Imagem Política

do Candidato, Imagem Pessoal do Candidato, Imagem Administrativa do Candidato,

Imagem Política de Adversário, Imagem Pessoal de Adversário, Imagem Administrativa

de Adversário, Imagem do Governo em Disputa (tema relacionado ao governo em vigor

durante as eleições de 2010), Imagem da Campanha e Eleitores (como a apresentação de

pesquisas de intenção de voto e a imagem ou depoimentos de eleitores) e Outros Temas

(quando o assunto não cabe em nenhuma das categorias citadas).

O formato que predomina no texto também é estudado, para saber se nas

postagens a forma de comunicação foi majoritariamente informativa (apenas com

informações), interpretativa (se as avaliações vão além da informação, mas sem declarar

posição explícita) ou opinativa (quando predomina uma declaração explícita de um

72

posicionamento). As fontes utilizadas e citadas nas postagens são juntamente alvo de

estudo, pois é com essa informação que podemos observar de forma mais concreta o

agendamento midiático nos conteúdos postados, em que trechos ou reportagens

completas eram utilizadas em forma de post, recorrendo a jornais, portais de informação

e vídeos televisivos. Embora também seja possível observar essa ocorrência através da

leitura dos textos dos blogs, quando os candidatos citavam outros meios de

comunicação (como o desempenho em debates em canais de TV). Além disso, é

observada a presença de hyperlinks nas postagens, que direcionavam o internauta a

conteúdos de dentro ou fora do blog.

Gráfico 2 – Número de postagens por semana de campanha

Fonte: Autora

Analisando as informações que o gráfico 2 apresenta, é possível observar que as

campanhas de Dilma e Marina tiveram uma produção crescente durante as campanhas

de primeiro turno, embora haja oscilações durante o período de análise, é possível

observar que houve um aumento da produção de conteúdo, principalmente na última

semana, a mais próxima das eleições de três de outubro. José Serra, por sua vez,

diminuiu a quantidade de postagens durante o período, pois seu site passou a se voltar

73

para a produção de outros tipos de conteúdo, que não foram coletados para análise para

manter o padrão das coletas em relação ao conteúdo, em todos os blogs.

Com 62 posts o blog petista iniciou já com produção superior aos demais e viria

a crescer ao longo da campanha, começando no primeiro mês com o que correspondeu a

19,7% do total de postagens no site. Passou a 112 posts em agosto (35,7%) e 129 em

setembro, o que correspondeu ao maior número de postagens em todo o primeiro turno,

equivalente a 41,1% de toda a produção em seu blog. Terminou os últimos três dias de

campanha em outubro com 11 postagens.

Marina Silva iniciou sua campanha no blog com 51 postagens, que

corresponderam a 22,8% de todo o material produzido por sua equipe no primeiro turno,

único disputado pela candidata. Em agosto subiu para 77 posts (34,4%) e o auge de sua

produção de postagens ocorreu, assim como no caso de Dilma Rousseff, em setembro,

com 87 posts, que corresponderam a 38,8% de toda propaganda política veiculada em

seu blog. No final de sua participação das eleições presidenciais de 2010 a Equipe

Marina disponibilizou nove postagens nos três primeiros dias de outubro.

Já José Serra fez o caminho inverso, começando o mês de julho com seu maior

número de postagens 39 (49,4% do total), e diminuindo os números ao longo do período

de análise. Como a pesquisa não observou outros espaços de produção que não fossem

as postagens noticiosas, a campanha do candidato do PSDB pareceu ser menos

significante em relação à produção disponibilizada, porém o peessedebista apostou mais

em outras formas de produção dentro de seu blog, conforme fora descrito no tópico 3.2.

Passando então a 18 postagens em agosto, que seriam 22,8% de todo o conteúdo

produzido e 20 (25,3%) em setembro. Ao final, nos três últimos dias de campanha de

primeiro turno, o blog contou com duas postagens. É possível observar que durante as

semanas oito e nove, que correspondem aos dias de 24/08/2010 a 06/09/2010, não

houve produção. Isso porque foi esse o período em que seu blog ficou fora do ar para

reformulação. E na terceira semana (20/07/2010 a 26/07/2010) houve uma queda na

produção de todos os blogs. Embora tenha acontecido com os três casos estudados, não

foi possível saber qual o motivo.

74

Tabela 2 - Tipo de postagem nos weblogs

Texto Vídeo Áudio Foto Total

Dilma

Rousseff

N 313 34 8 269 624

Percentual 50,2% 5,4% 1,3% 43,1% 100%

Percentual de casos 99,7% 10,8% 2,5% 85,7% 198,7%

José Serra

N 79 5 0 45 129

Percentual 61,2% 3,9% 0% 34,9% 100%

Percentual de casos 100% 6,3% 0% 57% 163,3%

Marina

Silva

N 224 86 60 39 409

Percentual 54,8% 21% 14,7% 9,5% 100%

Percentual de casos 100% 38,4% 26,8% 17,4% 182,6%

Fonte: Autora

A tabela 2 expressa a presença de quatro tipos de formatos nas postagens, com a

possibilidade de em um único post aparecer as quatro formas de apresentação de

informação. Existem três tipos de informação contidas nessa tabela: o número de

postagens que contém o formato (texto, foto, áudio e/ou vídeo), o percentual sobre o

total de postagens, fechando no final um percentual igual a 100%, informando dentre

aqueles formatos, qual predominou e quanto. Já a outra informação, sobre o percentual

de casos, observa todas as vezes em que cada formato esteve presente, sendo que uma

postagem poderia apresentar mais de um formato, fechando em mais de 100%, portanto.

É possível observar que texto foi a forma predominante de comunicação das

postagens nos weblogs, sendo algumas delas acompanhadas de fotos, vídeos e/ou áudio.

A internet é um meio de comunicação que consegue agregar, em um único veículo,

dispositivos tecnológicos que permitem que sejam explorados todos os tipos de formato

– é a chamada multimidialidade, retratada no segundo capítulo – a chamada

“pluralização da emissão de conteúdos” (Aldé, Escobar e Chagas, p. 1, 2007) ou ainda a

capacidade de “potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização

de informações” (Primo, p. 2, 2007). Apesar de esses outros formatos serem também

explorados pelos candidatos em suas campanhas nos weblogs, foi de forma secundária.

Dentre todas as postagens, apenas uma não continha texto em seu conteúdo e fazia parte

do site de Dilma Rousseff, que por sua vez foi também responsável pela maior

incidência de imagens em suas postagens: 85% delas continham fotografias ilustrativas.

Já vídeo e áudio não foram muito utilizados pela campanha on-line petista.

José Serra foi o candidato que menos explorou conteúdos noticiosos em seu

blog, disponibilizando maior espaço para seu outro site, o

75

http://www.propostaserra.com.br/, que possibilitava a participação dos internautas para

que enviassem suas propostas com conteúdos direcionados por temas propostos pelo

peesedebista. Além disso, as propostas de campanha e a rede „combata a mentira‟

obtiveram maior espaço no site do que as postagens. Embora os dados mostrem que não

houve a utilização de áudios, pouco em vídeo e moderadamente em fotos, essas são

informações dos posts e não do site inteiro, em que podiam ser encontrados fotos,

vídeos e áudios em local específico e separado, assim como nos blogs de Marina Silva e

Dilma Rousseff.

A candidata do PV manteve a tendência de postagens com textos como seus

concorrentes, e em todas as suas postagens havia a presença textual, mesmo que

houvesse outras formas de informação presentes no mesmo post. Mas foi quem mais

apostou em áudios e vídeos, se comparados os dados com seus opositores.

Tabela 3 – Autor responsável pelas postagens

Candidato Candidato/Respons

ável pelo blog

Autor não

identificado

Eleitor Imprensa

tradicional

N % N % N % N %

Dilma Rousseff 1 0,3% 312 99,4% 1 0,3% 0 0,0%

José Serra 22 27,8% 56 70,9% 0 0,0% 1 1,3%

Marina Silva 223 99,6% 1 0,4% 0 0,0% 0 0,0%

Total 246 39,8% 369 59,8% 1 0,16% 1 0,16%

Fonte: Autora

A terceira tabela apresenta informações sobre o responsável pelas postagens.

Inicialmente existiam oito categorias para realizar a coleta de dados sobre o tipo de

autor dos conteúdos estudados, porém, apenas quatro apareceram nos resultados,

demonstrando que „militante do partido‟, „filiado ao partido‟, „militante de outro

partido‟ e „internauta‟ não tiveram espaço para postar conteúdos nos blogs ou então não

foi possível identificar se o fizeram. No blog de Dilma Rousseff não eram dados os

créditos das postagens em sua grande maioria, sendo então 99,4% identificados como

„autor não identificado‟. Porém, ficou claro que apesar de não dizer a autoria de quem

produzira os conteúdos analisados, é possível identificar que a equipe que administrava

o site era a responsável também pela produção das postagens. As exceções foram

quando no dia 11/09/2010 na postagem “Pessoas do Brasil inteiro mandam parabéns a

Dilma”, em que a postagem era destinada exclusivamente a mensagens de internautas

76

que parabenizavam a petista pelo nascimento de seu primeiro neto, Gabriel. Apesar de o

conteúdo ser regulado e escolhido pelos responsáveis do site, a classificação dessa

postagem como autor „eleitor‟ foi realizada em um esforço de diferenciar seu conteúdo

dos outros veiculados no site.

A outra exceção no tipo de autoria das postagens no blog de Dilma foi no dia

03/10/2010, no post “Democracia e união para construir o futuro”, escrito “Por Dilma

Rousseff”, mas a fonte era o jornal Folha de S. Paulo, com link para a matéria. Em seu

texto a petista dá uma declaração para falar do importante dia três de outubro, dia de

votação para a eleição presidencial no país, iniciando suas palavras da seguinte forma:

“O Brasil dará neste domingo mais uma demonstração da nossa vitalidade democrática.

O mundo nos observa na expectativa de confirmar a extraordinária evolução do país nos

últimos anos. [...]”. A seguir a candidata faz uma contextualização da situação do Brasil

em diversos setores, destacando o desenvolvimento do país ao longo dos últimos anos e

lembrando-se de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, junto ao discurso sobre

democracia: “A conquista da democracia e seu constante aperfeiçoamento relacionam-

se diretamente aos avanços do país nos últimos anos. É profundamente democrática, por

exemplo, a ascensão à cidadania de 28 milhões de brasileiros que saíram da miséria, no

governo do presidente Lula, graças ao crescimento econômico e a programas sociais

abrangentes e eficazes, como o Bolsa Família, o Luz Para Todos e o Minha Casa,

Minha Vida. [...]”24

. Esse foi seu último discurso publicado na campanha de primeiro

turno, no dia de votação.

As postagens de José Serra foram divididas, quando se trata de autoria, em três

formas de aparição. Em 27,8% dos casos foi o candidato ou responsável pelo blog quem

postou o conteúdo analisado. Na maior parte não foi identificado o autor das postagens,

com 70,9%, mas assim como no caso de Dilma, no blog peessedebista também foi

possível perceber que os responsáveis pelo site o foram também em relação aos posts,

embora não tenham sido dados os devidos créditos e em parte (22 postagens) o

conteúdo fora vinculado ao candidato. Mas também houve uma exceção em site, quando

no dia 19/07/2010 foi postado um conteúdo da „imprensa tradicional‟, no caso uma

24

Informações acessadas dia 10/10/2010 no endereço

http://www.dilma13.com.br/noticias/entry/democracia-e-união-para-construir-o-futuro

77

matéria da Folha de S. Paulo com o título “A saúde como sacerdócio”. Seu conteúdo

também era relacionado a declarações de José Serra e por isso a autoria foi dada a

ambos, o jornal e o candidato.

A representante do PV nas eleições de 2010 à presidência teve em seu blog as

postagens devidamente creditadas, com 99,6% delas com autoria de “Equipe Marina”.

O único caso em que sua equipe não foi a responsável pela postagem foi no dia

07/07/2010 no post “Assista à reportagem do Jornal Nacional sobre a Casa de Marina”,

em que não foi identificada a autoria de quem postou o conteúdo, embora a fonte tenha

sido identificada – „Jornal Nacional – Globo‟. O conteúdo era sobre o projeto „Casa de

Marina‟, que fora noticiado no principal jornal da Rede Globo de Televisão, com um

pequeno texto que falava sobre a matéria e logo em seguida estava disponível o trecho

do Jornal Nacional em que havia uma reportagem sobre o assunto, em forma de vídeo,

obtido por meio do site www.youtube.com.

Essas informações deixam evidente que a campanha nos blogs foi

completamente controlada pelas equipes responsáveis pela propaganda política on-line e

não havia espaço para que outras pessoas pudessem postar conteúdos da mesma forma

que candidatos/responsáveis pelos blogs, apenas comentários controlados por filtros

moderadores, quando havia espaço para tal. Mas como se trata de sites voltados

especificamente a campanhas eleitorais, é possível compreender que esses espaços não

foram abertos à população por terem um objetivo específico: a propaganda política

eleitoral e com esta recrutar novos votantes e manter aqueles já conquistados, na

garantia de sucesso nas urnas eleitorais.

78

Tabela 4 – Relação de temas abordados pelos candidatos

Temas Dilma Rousseff José Serra Marina Silva

N % N % N %

Campanha Eleitoral 80 25,5% 22 27,8% 99 44,2%

Político-institucional 6 1,9% 2 2,5% 7 3,1%

Economia 21 6,7% 1 1,3% 2 0,9%

Política Social 40 12,7% 22 27,8% 17 7,6%

Infra-estrutura e meio ambiente 7 2,2% 9 11,4% 21 9,4%

Violência e segurança 1 0,3% 2 2,5% 2 0,9%

Ético-moral 15 4,8% 0 0% 7 3,1%

Política para Esporte 2 0,6% 0 0% 3 1,3%

Cultura e variedades 3 1,0% 3 3,8% 3 1,3%

Política Estadual e Nacional 1 0,3% 3 3,8% 0 0%

Política Internacional 3 1,0% 0 0% 2 0,9%

Outros temas 41 13,1% 5 6,3% 33 14,7%

Imagem política do candidato 1 0,3% 2 2,5% 1 0,4%

Imagem pessoal do candidato 0 0% 1 1,3% 2 0,9%

Imagem admin. do candidato 1 0,3% 0 0% 0 0%

Imagem política de adversário 12 3,8% 6 7,6% 8 3,6%

Imagem admin. de adversário 2 0,6% 0 0% 0 0%

Imagem do governo em disputa 31 9,9% 1 1,3% 2 0,9%

Imagem da campanha e eleitores 47 15,0% 0 0% 15 6,7%

Total 314 100% 79 100% 224 100%

Fonte: Autora

Na tabela 4 aparecem 19 temas ao todo, mas algumas das temáticas apresentadas

acima não estiveram presentes em todos os blogs. O de Dilma Rousseff foi o que mais

apresentou categorias diferentes presentes em suas postagens, „Imagem administrativa

do candidato‟ e „Imagem administrativa de adversário‟ foram, por exemplo, dois temas

que apareceram somente em seu blog, ainda que com pequenas aparições, de um ou dois

casos específicos. Mas „Imagem pessoal do candidato‟ foi um tema, também pouco

explorado, que apareceu nos espaços de Marina Silva e José Serra, sem que houvesse

indícios no blog petista.

Apesar das diferenças, como o fato de aparecerem 13 das categorias no blog

peessedebista25

e em relação à Marina Silva, 16 temas estarem presentes26

, ainda assim

há semelhanças entre os assuntos abordados pelos candidatos estudados. Entre elas está

no tema mais recorrente das postagens, sendo em todos os casos „Campanha Eleitoral‟ o

mais abordado. Considerando que são blogs especificamente voltados à propaganda

25 Ficaram de fora os temas „Ético-moral‟, „Política para esporte‟, „Política internacional‟, „Imagem

administrativa do candidato‟, Imagem administrativa de adversário‟ e „Imagem da campanha e eleitores‟.

26 Não apareceram os temas „Política Estadual e Nacional‟, „Imagem administrativa do candidato‟ e

„Imagem administrativa de adversário‟.

79

política, era esperado encontrar esse tema entre os mais frequentes, pois essa foi uma

das alternativas de campanha política possíveis para os concorrentes às eleições de

2010.

Mas juntamente ao tema „Campanha Eleitoral‟, o site de José Serra teve entre

suas postagens o tema „Política social‟ como o mais abordado, ambos com 27,8% de

aparição em relação ao total produzido por sua equipe responsável pela campanha on-

line. Foram várias as propostas relacionadas a políticas sociais, incluindo a de manter as

já existentes, aumentando-as, como na postagem do dia 09/08/2010, “Serra reafirma

compromisso de duplicar o Bolsa-família e dar bolsa extra”. A campanha petista

também utilizou fortemente a temática, ficando em terceiro lugar em frequencia de

aparição em suas postagens como tema principal com 12,7% do total, se não contarmos

a categoria „Outros‟, em que não podemos depreender sobre qual assunto foi discutido.

Mesmo em assuntos de política institucional ou críticas a opositores, os responsáveis

pelo blog de Dilma quase sempre mencionam políticas sociais, sendo esse o enfoque da

campanha, apesar de não aparecer sempre como tema principal. Sua campanha lembrou

sempre de ações do governo petista de 2003 a 2010, como em postagens do dia

07/08/2010: “Ações na Cidade de Deus são referência para o país” e “Fizemos tudo sem

esquecer a juventude”. Ou demonstrando que seu mandato seria um governo de

continuidade caso ganhasse, ou com propostas de expansão e melhorias desses

programas desenvolvidos no governo Lula e que deram certo. Exemplo disso é quando

no dia 15/08/2010 afirma: “Dilma: Agricultura familiar terá mais crédito e assistência”,

ou então quando de maneira explícita em título (e conteúdo) de postagem do dia

31/07/2010 informa: “Vamos vencer mostrando as realizações do governo Lula”.

Em segundo lugar a campanha on-line de Dilma abordou o tema „Imagem da

campanha e eleitores‟ com 15% de aparição sobre o total produzido, postando sempre

pesquisas de intenção de voto, com seu crescimento durante esses três meses como a de

institutos como o Vox Populi e Datafolha. Foram postagens muito comentadas, com

comemoração de seu eleitorado com o resultado das pesquisas, apoio ou ainda

desconfianças de que esse resultado estaria sendo manipulado e a vantagem fosse ainda

maior do que a publicada. Marina Silva também utilizou essa mesma estratégia de

publicação de intenções de voto, vinculando ainda seu crescimento nas pesquisas a

participações de debates televisivos ou ainda comparando sua situação com a de José

80

Serra, mostrando que em algumas regiões do país como Brasília a candidata do PV

havia passado o peessedebista em intenções de voto, conquistando o segundo lugar em

relação a estas na disputa presidencial. Porém, o segundo tema mais abordado por ela,

desconsiderando „Outros‟, foi „Infraestrutura e meio ambiente‟. A aposta da candidata e

do partido em relação à discussão sobre meio ambiente foi forte durante toda sua

campanha, seja para falar sobre as condições atuais do país ou para realizar propostas.

Essa grande utilização da temática demonstra uma consonância com os propósitos e

ideais tanto de Marina Silva quanto do partido, porém os números (21 postagens – 9,4%

do total) são baixos e não demonstram a total realidade, visto que aqui são

demonstrados os temas principais de cada postagem, podendo haver vários outros

secundários, porém presentes.

José Serra, assim como Marina, tem „Infraestrutura e meio ambiente‟ (11,4%)

como segundo tema mais explorado, lembrando que „Campanha Eleitoral‟ (27,8%) e

„Política Social‟ (27,8%) empataram com os mesmos números como os mais frequentes.

Diferente da candidata do PV, Infraestrutura foi mais abordado do que meio ambiente,

lembrando de obras realizadas durante seus governos, propostas de cumprir aquilo que

foi proposto por outros governantes, mas ficou apenas nos planejamentos (postagem do

dia 25/09/2010: “No governo Serra, ferrovia Transnordestina sairá do papel e incluirá a

Paraíba”, por exemplo) e propostas de novas obras ou desenvolvimento das já

existentes. Em seguida „Imagem política de adversário‟, que embora os números sejam

baixos (6 postagens, totalizando 7,6% do total), o candidato utilizou muito em suas

campanhas a imagem de outro candidato, principalmente sua maior rival Dilma

Rousseff, que fez o mesmo em seu espaço on-line. Não são assuntos principais, mas

enquanto falam de propostas, ideias, campanha, entre outros, há quase sempre um

contraponto de como o candidato adversário não está apto ao cargo de presidência da

república, nos dois casos – o petista e peessedebista.

As outras categorias de temas aparecem menos em todos os blogs. Algumas

delas chegam a ter incidência zero, conforme já dito anteriormente. E „Outros temas‟

têm aparição relevante nos blogs das candidatas do PV (com 14,7%) e PT (13,1%),

quando comparado aos outros temas pesquisados. Foram aqueles que não se

enquadraram nas categorias propostas, mas que foram coletados da mesma forma,

conseguindo então extrair outras informações relevantes ao estudo. Além disso, esses

81

percentuais mostram que os temas propostos conseguiram representar grande parte da

realidade em todos os casos, sendo suficientes para classificar 85,3% das postagens do

blog de Marina Silva, 86,9% em relação à Dilma Rousseff e 93,7% dos posts no espaço

de José Serra.

Portanto é possível sintetizar as informações de forma a concluir que os três

blogs seguiram com campanhas eleitorais como foco principal e mesmo que esse não

fosse o tema principal, em todo seu conteúdo havia a intenção de propaganda eleitoral e

de promoção da imagem do candidato em questão para conseguir o almejado cargo da

presidência da república em 2010. Além disso, pode-se observar que cada candidato

possuiu uma forma específica de fazer campanha, com características próprias, sendo

Dilma Rousseff e José Serra os mais parecidos. Ambos apostaram fortemente em

políticas sociais como enfoque principal de suas campanhas, mas a petista também

recorreu bastante às pesquisas de intenção de voto, o que não aconteceu com seu

adversário. E Marina Silva, que apesar de também ter postado conteúdos relacionados a

políticas sociais, teve como identidade de sua propaganda política o meio ambiente. Os

três políticos estudados de alguma forma atacaram seus principais adversários, mesmo

que não fosse esse seu tema principal, mas que apareciam de alguma forma no conteúdo

de suas postagens.

Tabela 5 – Valência predominante das postagens

Dilma Rousseff José Serra Marina Silva

N % N % N %

Positiva 261 83,1% 63 79,7% 148 66,1%

Negativa 11 3,5% 7 8,9% 12 5,4%

Neutra 23 7,3% 7 8,9% 46 20,5%

Equilibrada 19 6,1% 2 2,5% 18 8%

Total 314 100% 79 100% 224 100%

Fonte: Autora

Os dados da tabela 5, com a valência que predominou nas postagens de cada

blog, demonstram como a forma positiva de apresentação das informações esteve como

a mais frequente em todos os casos estudados. Com o weblog de Dilma Rousseff

apresentando o maior percentual de postagens positivas, chegando a 83,1%, seguida por

José Serra (79,7%) e Marina Silva (66,1%). Essas informações vão de encontro com o

que é tratado no primeiro capítulo, em que se observa a intenção dos agentes políticos

de fazer com que cheguem determinadas mensagens ao público, tentando, por vezes,

82

encontrar formas de o jornalismo não interferir no conteúdo com seleções e codificações

de acordo com os valores jornalísticos, que tendem a retirar a persuasão de suas

mensagens iniciais (CANAVILHAS, 2009). E atualmente seria a internet a ferramenta

que surge como alternativa aos meios tradicionais de comunicação, tida como

promissora para o campo político, que pretende um contato direto com seu eleitorado,

evitando a intermediação jornalística (CANAVILHAS, 2009). Com isso, pode-se inferir

que os blogs foram utilizados de forma alternativa aos veículos tradicionais, com

mensagens predominantemente positivas e promoção de sua imagem, caracterizando o

conteúdo como fortemente propagandístico, principalmente no caso petista.

No entanto, Marina Silva demonstra uma forma de campanha que se diferenciou

de certa forma na maneira como foram construídas as postagens, em relação aos outros

candidatos, já que com 20,5% seus posts apresentam o maior percentual de aparição de

forma predominantemente neutra, o que pode estar relacionado com seu maior

percentual de conteúdo informativo (38,4%), conforme demonstram os dados da tabela

6. A neutralidade é o único percentual que se difere do restante, sendo todos os outros

casos semelhantes: maior aparição de postagens positivas e poucas de valência negativa.

É preciso, contudo, ressaltar que os casos de postagens negativas são quase

todos ligados à imagem de candidatos opositores. No caso de Dilma Rousseff, os 11

casos (3,5%) são críticas diretas a seu principal concorrente, José Serra, com

manifestações ainda sobre a mídia agindo de forma imparcial, colaborando com a

construção positiva da imagem do tucano, e postagens contra acusações feitas pela

oposição, supostamente sem provas. Exemplos disso são as postagens: “Quem foi

governo e não fez o que prometeu, não pode ter credibilidade” (08/08/2010), “Oposição

acusa sistematicamente sem provas” (01/09/2010) e “Dilma protesta contra parcialidade

da Folha” (21/09/2010).

Em contrapartida, José Serra fez o mesmo que Dilma, com ataques direcionados

diretamente à candidata quando suas postagens eram de valência negativa. As sete vezes

(8,9%) em que isso ocorreu foram para desmoralizar a petista, ou o ex-presidente Lula

ou ainda para defender-se de acusações. Podem ser observados com as postagens:

“Estadão: 'Parece que Dilma não sabe por que quer ser presidente', diz Serra”

(06/07/2010) e “"Não sou ventriloquo de marqueteiro"” (06/07/2010). E Marina Silva

manifestou-se através de „Equipe Marina‟ com postagens negativas criticando o vice de

83

José Serra (Indio da Costa), o governo em vigor, Lula e seu apoio incisivo à Dilma

Rousseff ou ainda à campanha petista. Com 12 casos (5,4%), exemplos de postagens

são: “Marina critica Índio da Costa por acusação contra o PT” (18/07/2010), “Governo

erra ao propor proteção a países que violam direitos humanos, diz Marina”

(04/08/2010), “'Querem infantilizar os brasileiros', afirma Marina em debate da

Folha/UOL” (18/08/2010) – fazendo referências ao uso dos termos “mãe do povo” para

Dilma e “pai do povo” para Lula – e “'Lula deveria ter saído em defesa de todos os

brasileiros, não só de sua candidata', diz Marina” (09/09/2010).

Apesar de conter informações objetivas, os blogs dos candidatos são sempre

com conteúdos que irão promover sua imagem de alguma forma, quando não,

desfavorecer o opositor. É uma ferramenta puramente de campanha eleitoral e, por isso,

esse comportamento é natural visto que se trata de disputa em eleições e já era esperado

o resultado encontrado.

Tabela 6 – Classificação das postagens

Dilma Rousseff José Serra Marina Silva

N % N % N %

Informação 73 23,2% 20 25,3% 86 38,4%

Interpretação 223 71% 53 67,1% 125 55,8%

Opinião 18 5,7% 6 7,6% 13 5,8%

Total 314 100% 79 100% 224 100%

Fonte: Autora

A tabela 6 mostra que interpretação foi a forma predominante como as postagens

se apresentaram nos blogs de ambas as candidatas. Isso porque entende-se por

interpretação as avaliações que vão além da informação, sem declarar posição explícita,

e pela lógica das campanhas políticas os candidatos seguiram com postagens que lhes

beneficiassem sempre. Mas ainda assim informação teve um papel significante em todos

os casos, principalmente no de Marina Silva, em que estrategicamente eram postadas

informações seja sobre a campanha, seja notícias da mídia tradicional que lhes fosse

oportuno.

A respeito das notícias de outras mídias postadas nos blogs, foram coletadas

informações das fontes de onde os candidatos tiravam o texto da postagem, quando os

créditos estavam ali colocados. Marina Silva vinculou ao seu blog uma reportagem do

Jornal Nacional da Rede Globo, um texto de autoria de João Paulo Capobianco,

84

Coordenador da campanha Marina Silva à Presidência, outro por Mariana Ditolvo -

M&M Online e uma reportagem de Uirá Machado da Folha de S. Paulo. Todas de

valência positiva à imagem da candidata e sua campanha, o restante das postagens

foram todos produzidos por „Equipe Marina‟. José Serra teve também textos que não

foram formulados por sua equipe, mas selecionados por esta, como duas postagens de

autoria de Nara Alves, duas do portal IG São Paulo, uma escrita por Evandro Fadel da

Agência Estado, uma da Assessoria Beto Richa e um artigo produzido pelo próprio

candidato e veiculado na Folha de S. Paulo.

Dilma Rousseff foi quem mais utilizou materiais que não foram produzidos por

sua campanha, sendo eles do Blog do Planalto, os blogs Mulheres com Dilma e Galera

da Dilma27

, oito matérias da Agência Brasil, três textos do site do PT, uma matéria com

informações do jornal O Estado de S. Paulo, uma do site do Estadão, oito matérias

produzidas pelo portal IG, uma da agência de notícias e IBGE, um do site do TSE, uma

por Uirá Machado publicada na Folha de S. Paulo, duas do Blog Mulheres com Dilma,

uma de „Sou Wagner 13‟, uma do site do candidato Sérgio Cabral e outra do jornal

Folha de S. Paulo.

As informações apresentadas mostram como outros veículos de comunicação ou

mesmo portais on-line agendam temas e são utilizados em campanhas eleitorais quando

são positivos à imagem dos candidatos. Isso pode ser percebido pelas valências: 32

eram positivas, duas equilibradas e oito neutras – estas, apesar de neutras e informativas

foram sempre expostas nos blogs de forma estratégica, senão os candidatos não dariam

visibilidade novamente à matéria, já disponibilizada em outro meio. E por último, houve

apenas um caso de postagem com valência negativa que foi a do dia 06/07/2010:

“Estadão: 'Parece que Dilma não sabe por que quer ser presidente', diz Serra”, por

Evandro Fadel, da Agência Estado, no blog de Serra. No caso a valência era negativa,

mas não para o candidato e sim a sua oponente Dilma Rousseff.

Outro aspecto relevante a ser abordado é o da presença de hyperlinks. Estes

tiveram forte incidência nas postagens dos blogs, o que significa que o internauta ao

acessar o conteúdo do post, poderia também ser encaminhado a outras páginas – de

27

Os blogs citados são hospedados nos endereços http://blog.planalto.gov.br/,

http://www.mulherescomdilma.com.br e www.galeradadilma.com.br, respectivamente.

85

dentro ou fora dos blogs – demonstrando novamente o papel da multimidialidade

presente na internet. A possibilidade de acesso a outros conteúdos é importante, pois é

um dos diferenciais que a internet traz, sendo que é possível entrar em contato com

vários conteúdos a partir de apenas um, já que este pode direcionar o internauta a

diversos outros. No blog de Dilma Rousseff 167 postagens contaram com a presença de

hyperlinks, representando 53,2% do total de seus posts, ou seja, mais da metade

continha o endereço eletrônico de outros conteúdos. No blog de José Serra são 35

postagens com hyperlinks (44,3%) e com uma porcentagem um pouco menor, Marina

Silva com 54 postagens (24,1% do total).

3.4 ANÁLISE DOS COMENTÁRIOS: A INTERATIVIDADE ENTRE PÚBLICO

E CAMPANHA

Para o estudo da interação on-line houve um acompanhamento dos comentários

de internautas publicados nas postagens analisadas no tópico 3.3. A cada postagem

estipulou-se o prazo de uma semana para que os usuários dos blogs comentassem na

publicação: o período mostrou-se suficiente para representar o que acontecia nos blogs,

porque após esse tempo a quantidade de comentários era pequena, visto que passados

sete dias a postagem já estava em outra página, não tão visível quanto as novas, e o

assunto também já não era recente.

As categorias para o estudo dos comentários eram o título da postagem, para que

fosse possível saber sobre qual assunto as informações tratavam, o tipo de comentário –

se relacionado ao tema abordado na postagem, ao candidato em questão, aos outros

internautas (em uma forma de interação entre os internautas que participavam daquele

espaço), a outro candidato, ao governo em disputa (ou seja, ao governo em vigor na

época – presidência de Luiz Inácio Lula da Silva do PT), à campanha (qualquer e todo

aspecto relacionados à campanha do candidato, seja crítica, elogio, observações, relatos

e/ou sugestões) e outro, quando não se encaixava em nenhuma das categorias citadas.

Além disso, foi observada a predominância da valência, se positiva, negativa, neutra –

quando eram realizadas observações sem determinar qualquer característica favorável

ou prejudicial ao candidato ou campanha – e equilibrada (com uma forma de expressão

86

proporcional, com pontos positivos e negativos ao mesmo tempo, contrabalanceando-

se).

O formato dos comentários também foi alvo de análise, sendo categorizado em:

elogio à pessoa do candidato (quando aspectos positivos eram levantados a respeito de

sua individualidade), elogio à posição política do candidato (apreço pela posição

política tomada por ele em relação ao que foi tratado na postagem ou qualquer outra

manifestação de apoio à política praticada/proposta/discutida pelo candidato), elogio à

posição do candidato sobre o tema abordado na postagem comentada,

elogio/concordância com demais comentaristas – interação entre comentaristas em

forma de reafirmar aquilo que outro internauta comentou –, elogio aos outros

candidatos/políticos que não aquele do blog analisado e elogio ao governo em disputa,

ou seja, o governo em vigor no período de eleição – 2010 (Lula, PT). Ou então os

comentários enquadravam-se em críticas ao candidato, à posição política do mesmo, à

posição do candidato sobre o tema, aos demais comentaristas, aos outros

candidatos/políticos, ao governo em disputa, ou ainda os que não são críticas, mas

propostas (seja para a campanha, ao candidato ou para o programa de governo),

manifestação de apoio à campanha ou candidato, dúvidas quanto à política que será

aplicada (quando e se o candidato entrar no governo, qual será sua atitude a respeito de

certos assuntos, como estes serão tratados a partir de 2011) e os que não se identificam

com as categorias propostas, assinalados então como „outro‟. Foram também contados

os links internos e externos à página do candidato.

A seguir dados estatísticos demonstram de forma empírica todas essas

informações. Os weblogs que tiveram os comentários de internautas analisados foram o

de Dilma Rousseff e Marina Silva, já que José Serra não abriu espaço para essa

interação. Porém, em ambos os casos houve moderação de comentários. Isso pôde ser

observado tanto pela reclamação de comentaristas, quanto pela mensagem que aparecia

logo após o envio da mensagem (“comentário aguardando moderação”), ou ainda por

testes realizados pela autora da pesquisa, que teve negados comentários de aspecto

negativo às candidatas. Portanto, esse é um estudo dos comentários publicados, ou seja,

não abrange todas as mensagens enviadas aos weblogs. Não é possível saber quantos

foram os comentários que não foram publicados, logo, é através daqueles que tiveram

87

aparição on-line que a pesquisa se orienta. Foram 6.703 comentários analisados no blog

petista e 5.754 no de Marina Silva.

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Marina Silva

Dilma Rousseff

Gráfico 3 – Número de comentários nas postagens distribuídos nas semanas de campanha

Fonte: Autora

O gráfico acima representa como foram distribuídos os comentários nas

postagens ao longo do período da coleta de dados – seis de julho a três de outubro – nos

blogs das candidatas Dilma Rousseff e Marina Silva. Há um aumento visível do número

de comentários ao longo do tempo em ambos os casos. Isso pode ser explicado pelo fato

de as eleições serem um fato que “puxa” os comentários: ao aproximar-se o dia de

eleição (três de outubro) os comentários vão aumentando, pois o debate a respeito do

assunto cresce nas esferas política, midiática e pública. Além de um aumento do debate,

há uma preocupação maior com o assunto conforme as eleições vão se aproximando e

os cidadãos devem cumprir seu dever de votar.

A continuidade do ato de votar leva a uma maior participação dos indivíduos na

vida política de seu país e, portanto, na discussão sobre o assunto. E o gráfico 3

demonstra que conforme se aproxima o período em que os cidadãos escolherão seus

representantes, há um aumento da participação ativa nos blogs por parte dos

comentaristas. E esses comentários seguem o crescimento do número de postagens nos

blogs: o debate político aumenta próximo às eleições assim como o debate público, no

Semana

88

caso o debate publicado – os comentários (embora o aumento de comentários seja maior

que o de postagens, comparativamente, se observarmos os gráficos dois e quatro).

Ao observar o gráfico 3 é possível perceber que o crescimento de comentários

foi contínuo se pensarmos na linha de tempo, porém houve variações em ambos os

casos, com picos e quedas. Apesar de ambos apresentarem esse aumento ao longo das

campanhas de primeiro turno, ele é maior no caso do blog de Marina Silva do que no da

candidata petista. A concorrente do Partido Verde tem em seu blog um grande pico na

13º semana, com 1.553 comentários só nessa semana (do dia 28/09/2010 a 03/10/2010),

ou seja, nos dias mais próximos das eleições do dia três de outubro. A semana 14

corresponde ao período de uma semana para quem os comentários fossem realizados

após a última postagem coletada (do dia 03/10/2010), terminando a coleta de

comentários nos dia nove de outubro. E a postagem com maior número de comentários

desse período foi no dia 29/09/2010 com o post: “Marina é a candidata com maior

chance contra Dilma no 2º turno”, com 330 comentários.

O pico da quantidade de comentários no blog petista também está na 13º

semana, com 903 comentários, o que demonstra que podemos concluir através de

observação empírica de que a eleição, que é o grande alvo da campanha, também é o

grande fato que chama a atenção dos internautas a espaços como esses, destinados à

propaganda eleitoral. É possível também concluir, pois, que o debate político, tanto na

esfera política quanto no âmbito do público que acessa aquele conteúdo, aumenta

quando chega a semana de eleição. No caso de Dilma Rousseff, os comentários são

distribuídos nas postagens de maneira mais uniforme ao longo dessa semana. Porém, é

no dia 28/09/2010 que o post com maior número de comentários nesse período se

apresenta, com o título “Internet é usada para difundir mentiras contra Dilma” e 290

comentários.

O mapeamento do gráfico 3 demonstra como o debate dentro desses espaços

evoluiu no caso das duas candidatas, com maior crescimento no caso de Marina. Do

meio para o final da campanha, os dois blogs aumentaram a frequência de postagens,

como é possível observar a partir do terceiro gráfico. Em consonância, os comentários

também subiram, com a possível conclusão de um aumento no debate político à

chegada das eleições.

89

Tabela 7 – Conteúdo dos comentários nos blogs das candidatas

Comentários

relacionados a

Dilma Rousseff Marina Silva

N % N %

Tema 3.315 49,4% 1.355 23,5%

Candidato 1.377 20,5% 2.520 43,7%

Internautas 277 4,1% 125 2,1%

Outro Candidato 371 5,5% 98 1,7%

Governo em Disputa 111 1,6% 31 0,6%

Campanha 237 3,5% 437 7,6%

Outro 1.015 15,1% 1.188 20,6%

Total 6.703 100% 5.754 100%

Fonte: Autora

Contrariando as expectativas de que os comentários seriam, em sua grande

maioria, manifestações a respeito de assuntos aleatórios ou sem muita importância ao

debate político, a maior incidência foi de comentários relacionados ao tema no caso de

Dilma Rousseff, com quase metade das mensagens enviadas referindo-se ao tema

abordado pela postagem em questão. Exemplo disso é o comentário de Jorge Silva na

postagem do dia 03/10/2010 (“Garra e energia para vencer o segundo turno”):

“Camaradas 13, Nós petistas, estamos todos de parabéns pela vantagem no primeiro

turno e aqui na Bahia o galego vai botar para descer, nosso governador arretado vai

arrebentar meu rei, Wagner vai fazer das tripas coração e nós junto com ele vamos

pegar água no cesto pela nossa Dilminha. Mais uma vez, obrigado baianos pela vitória

do Wagner, da Lídice, do Pinheiro e do meu amigo Alan Sanches. Vamos olhar para

frente, o que ficou passou, agora é hora de arregaçarmos as mangas e seguirmos nessa

nova jornada que se inicia. E-mail: [email protected]”28

. Além de falar

sobre o tema proposto na postagem, fala do contexto político regional também (o que

foi recorrente nos comentários), apoiando a candidata para o segundo turno e com seu e-

mail no final, para se alguém se interessar, entrar em contato com ele, mostrando as

potencialidades de interação da internet.

Em seguida, os dados mostram que os comentários a respeito da candidata

entram em segundo lugar em relação ao número de aparições, com 20,5%. Sobre esse

tipo de mensagem, eram comuns aquelas a respeito de Dilma como pessoa, com elogios

a características como „garra‟ e „força‟. Como faz Vitor Vaneti ao comentar na

28

Comentário acessado dia 10/10/2010 no endereço http://www.dilma13.com.br/noticias/garra-e-energia-

para-vencer-o-segundo-turno

90

postagem do dia 23/09/2010 (“A esperança e o amor por esse povo vencem o ódio”):

“Dilma, sua história prova que não há ninguém mais dedicado à liberdade de imprensa e

à democracia quanto você! São essas suas virtudes, somadas às virtudes do Povo

Brasileiro, que te conduzirão ao máximo cargo do funcionalismo público! Viva você

Dilma! Viva à democracia! Viva o Brasil!”29

.

Com Marina Silva aconteceu o mesmo, mas com a diferença de que os

comentários relacionados à candidata foram os que mais apareceram, com 43,7%. Mas

em seu caso, eram muito recorrentes não só elogios e apoio, mas sugestões em relação

ao seu visual, principalmente – para que melhorasse sua imagem. Ao postar “Estou

preparada para o debate de hoje, o primeiro do 2º turno” no dia 30/09/2010, Carolina

comentou: “Marina… só depois de conhecer a sua história de vida, que não foi fácil,

que tomei partido, e tenho certeza que você tem pulso, determinação e força para

trabalhar pelo nosso país! Acredito que o Brasil terá com você o exemplo e a motivação

de que a educação e o conhecimento e perseverança movem montanhas. Estou com

você!”30

. Relatos como esse vão de encontro ao que Manin (1995) dizia sobre as

estratégias eleitorais terem mudado ao longo do tempo e que agora não são os partidos

políticos o enfoque, mas o candidato, como na citação do primeiro capítulo deste

trabalho, ao dizer que:

No passado, os partidos propunham aos eleitores um programa

político que se comprometiam a cumprir, caso chegassem ao poder.

Hoje, a estratégia eleitoral dos candidatos e dos partidos repousa, em

vez disso, na construção de imagens vagas que projetam a

personalidade dos líderes. (MANIN, p. 5, 1995)

E essa nova estratégia política demonstra que as campanhas são guiadas pelo

perfil do eleitorado, seu público alvo. E funcionam. Se não são mais os partidos o centro

das atenções, mas o candidato, é para a pessoa que concorre ao pleito eleitoral que os

holofotes se voltam, com histórias de vida e destaques a pontos positivos de sua

personalidade e vida pública, conforme fizeram todos os candidatos em suas biografias,

analisadas no início do capítulo (tópico 3.2).

29 Comentário acessado dia 30/09/2010 no endereço http://www.dilma13.com.br/noticias/a-esperanca-e-

o-amor-por-esse-povo-vencem-o-ódio

30 Comentário acessado dia 07/10/2010 no endereço http://www.minhamarina.org.br/blog/2010/09/quero-

discutir-o-brasil-do-seculo-21-diz-marina-sobre-debate-de-hoje/

91

Comentários relacionados ao tema também tiveram destaque no blog da

candidata do PV, ficando em terceiro lugar em maior incidência, ficando atrás de

„outros‟, que assim como no caso de Dilma Rousseff, houve grande quantidade de

comentários nessa categoria – com 15,1% (Marina) e 20,6% (Dilma). Isso pode ser

explicado porque outros meios de comunicação oferecem formas limitadas de interação

– a televisão apenas por meio de entrevistas e enquetes opinativas, o rádio com ligações

e os impressos com cartas do leitor. É na internet que o indivíduo encontra formas de se

expressar quase que instantaneamente com sua vontade de fazê-lo. Em debates

televisivos, os telespectadores não podiam dizer diretamente ao candidato, via TV,

como fora seu desempenho, parabenizando-o, criticando ou fazendo sugestões: então

iam para o espaço on-line e expressavam-se ali, suprindo o que a televisão não

proporciona, a interação direta e instantânea.

Tamanha foi a importância dada à internet, por quem comentava nos blogs, que

houve comentários exclusivamente sobre isso: Em postagem do dia 03/10/2010 no blog

de Dilma (“Garra e energia para vencer o segundo turno”) houve comentários como:

“SUGESTÃO IMPORTANTE: Dilma, coloque pessoas que tenham capacidade de

ouvir e ententer, para acompanhar passo a passo os comentários deste forum”31

[sic] por

Zé Brasil ou ainda as propostas de Graça Lago: “INTERNET

- tornar o site mais ágil – comentários demoram horas para serem postados. Além disso,

não são publicados na ordem de chegada, o que dificulta a troca de ideias on line; abrir

espaço Você na campanha ou Fale Conosco, para troca de opiniões, denúncias de

boatos; cria espaço, no site, com o título explícito EU SOU DILMA (para a postagem

de apoios). Colocar esses apoios também na rede; criar espaço próprio (no site) para

desmentidos; postar mais vídeos no youtube, especialmente relacionados aos temas

“polêmicos” – aborto, restrições a viagens aos EUA, participação na luta armada

etc. [...]”32

. Ou ainda no blog de Marina Silva, uma crítica: “Marina voce nao me

retornou o que eu lhe mandei, eu votaria em voce, como voce nao esta conectado na

31 Comentário acessado dia 10/10/2010 no endereço http://www.dilma13.com.br/noticias/garra-e-energia-

para-vencer-o-segundo-turno

32 Este comentário foi editado, há propostas de como conduzir a campanha em todos os veículos de

comunicação, mas apenas internet foi abordado acima. Em anexo é possível ter acesso ao comentário

inteiro. Seu acesso foi realizado no dia 10/10/2010 no endereço

http://www.dilma13.com.br/noticias/garra-e-energia-para-vencer-o-segundo-turno.

92

rede; vou votar na (Dilma), eu nao gosto de PSDB. Entre um segundo turno, Dilma e

Marina eu voto em Marina” [sic]33

.

Esses comentários demonstram que o internauta não apenas quer falar, mas ser

ouvido e está proposto a manter esse diálogo, que considera importante. É um indício de

um grande passo para a expansão do exercício dos direitos políticos dos cidadãos,

querendo participar de forma mais ativa no processo, ainda que o estudo seja a respeito

de opiniões publicadas (selecionadas) e seja um número pequeno se comparado a todo o

eleitorado brasileiro.

Tabela 8 – Valência predominante dos comentários

Valência Dilma Rousseff Marina Silva

N % N %

Positiva 4.679 69,8% 4.499 78,2%

Negativa 978 14,6% 452 7,9%

Neutra 237 3,5% 313 5,4%

Equilibrada 809 12,1% 490 8,5%

Total 6.703 100% 5.754 100%

Fonte: Autora

Com a valência que predominou nos comentários, a tabela 8 mostra que

majoritariamente os comentários estudados são positivos. Pode ser que a moderação

tenha influências nesse resultado, mas considerando os dados disponíveis é possível

perceber que não foram poucas as mensagens positivas: 4.679 (69,8%) no caso do blog

de Dilma e 4.499 (78,2%) no de Marina. A conclusão que se pode chegar a partir desses

números é de que as pessoas que entram nos blogs e vão comentar são aquelas que já

têm opinião formada e já apoiavam a candidatura antes de entrar em contato com aquele

conteúdo, vão apenas para reforçar uma posição ou declarar apoio. São poucos os

comentários de pessoas que formaram opinião naquele momento, com aquele blog – a

grande maioria apoiava anteriormente ou, como é o caso de alguns, são militantes do

partido e estão ali tanto para manifestar apoio como para fazer a campanha na internet

crescer, através do aumento do debate político no meio. E se pensarmos na moderação

dos weblogs, é possível pensar nessa como uma estratégia, pois para a campanha é

33 Comentário na postagem „Estou preparada para o debate de hoje, o primeiro do 2 turno‟, no dia

30/09/2010, acessado dia 07/10/2010 no endereço http://www.minhamarina.org.br/blog/2010/09/quero-

discutir-o-brasil-do-seculo-21-diz-marina-sobre-debate-de-hoje/.

93

melhor a reprodução de pontos positivos, vindos de eleitores, do que negativos –

portanto, a moderação também faz parte da estratégia da propaganda política das

candidatas.

Comparativamente, Marina teve comentários mais positivos do que sua

concorrente e menos negativos. Mas aqui deve-se abrir um parênteses e explicar que

grande parte dos comentários negativos no caso petista eram para criticar seu principal

oponente, José Serra, já que este não abria espaço para tal – sendo negativa a valência

para o opositor, não para a candidata. E no blog de Marina Silva, as críticas eram a

respeito de Dilma Rousseff ou do PT, apesar de muitos comentários negativos serem a

respeito de sua posição política, como o plebiscito para a decisão sobre a legalidade do

aborto, legalização da maconha e internautas descontentes com sua postura contra o PT,

seu antigo partido antes de filiar-se ao PV, entre outros34

.

Tabela 9 – Forma do conteúdo comentado nas postagens

Dilma Rousseff Marina Silva

N % N %

Elogio à pessoa do candidato 119 1,8% 265 4,6%

Elogio à posição política do candidato 122 1,8% 248 4,3%

Elogio à posição do candidato sobre o tema 628 9,4% 257 4,5%

Elogio/concordância com comentaristas 135 2,0% 37 0,6%

Elogio aos outros candidatos políticos 2 0,02% 9 0,2%

Elogio ao governo em disputa 12 0,2% 1 0,01%

Crítica à pessoa do candidato 3 0,04% 21 0,4%

Crítica à posição política do candidato 6 0,1% 72 1,3%

Crítica à posição do candidato sobre o tema 16 0,2% 44 0,8%

Crítica aos demais comentaristas 20 0,3% 27 0,5%

Crítica aos outros candidatos políticos 647 9,7% 131 2,3%

Crítica ao governo em disputa 4 0,1% 11 0,2%

Outro 2.471 36,9% 1.535 26,7%

Propostas 543 8,1% 358 6,2%

Apoio à campanha ou candidato 1690 25,2% 2588 45,0%

Dúvidas quanto à política que será aplicada 47 0,7% 106 1,8%

Crítica ao governo em vigor 6 0,1% 40 0,7%

Elogio ao governo em vigor 232 3,5% 4 0,1%

Total 6.703 100% 5.754 100%

Fonte: Autora

34

Comentário na postagem „Estou preparada para o debate de hoje, o primeiro do 2º turno‟ no dia

30/09/2010: Taís – “Penso que você deveria mudar sua descisão de plebicito para questões do aborto e

liberação da maconha, não para agradar os eleitores, mas sim para agradar e servir aquele que te chamou

para estabelecer seu Reino (leis) aqui no Brasil: Jesus Cristo” [sic]. Comentário acessado dia 07/10/2010

no endereço http://www.minhamarina.org.br/blog/2010/09/quero-discutir-o-brasil-do-seculo-21-diz-

marina-sobre-debate-de-hoje/.

94

A tabela 9 mostra a incidência de comentários sobre os conteúdos categorizados

no livro de códigos. Partindo dos dados apresentados, é possível destacar alguns pontos,

que serão discutidos a seguir. Primeiro que apoio à campanha ou candidato teve grande

incidência em ambos os casos, com 45% em relação ao blog de Marina e 25,2% no blog

petista. Isso confirma o que já fora falado quando se discutia as valências de que os

comentaristas vão, em sua grande maioria, para mostrar suporte à campanha/candidata,

ou pelo menos é o que nos dá a entender os comentários publicados pelo filtro

moderador. Segundo que, apesar de baixos percentuais de aparição, questões relevantes

ao debate político brasileiro foram levantadas, como é possível observar nos dados a

respeito de propostas (com 8,1% no blog de Dilma e 6,2% no de Marina) e de „dúvidas

quanto à política que será aplicada‟ (1,8% - Marina e 0,7 – Dilma). Apesar de serem

baixos percentuais, se olharmos para os números é possível ver que não são tão poucos

assim e devido a sua relevância, é importante que se destaque que houve a presença

deles.

O propósito discutido por autores como Gomes (2009) e Strommer-Galley

(2000) é de que a interatividade é o grande diferencial das potencialidades da internet e

a proposta deste trabalho é analisar não apenas como foi a participação do internauta

nos blogs, mas se de fato realizaram um debate a respeito de temas relacionados a

políticas públicas, uma participação mais ativa e efetiva nas campanhas, e discussão de

assuntos importantes para a sociedade. Assim, ao olhar esses dados novamente, é

possível inferir que mesmo que essas formas de comentário não tenham sido tão

relevantes, pode-se considerar sua relevância pelo fato de ser esta a primeira campanha

on-line no país e indícios, mesmo que pequenos, de que está ocorrendo um debate da

esfera pública na esfera política a respeito de assuntos importantes como a política, são

positivos e devem ser animadores.

A questão também levantada na análise das valências pode ser observada aqui,

agora com dados empíricos não baseados apenas em observações. No blog de Dilma

Rousseff 9,7% (647) dos comentários foram destinados a criticar outros candidatos

políticos, enquanto que no blog de Marina esse dado cai para 2,3% (131). Foi também

no blog petista que os internautas encontraram não apenas uma forma de expor suas

ideias, mas de expressarem-se contra seu concorrente José Serra, já que este não

permitiu que as pessoas comentassem em seu blog. Não apenas internautas insatisfeitos,

95

mas aqueles que, ao apoiarem Dilma, iam contra seu principal adversário, simplesmente

por ser seu concorrente ou então para criticar a posição do candidato em relação à

Dilma, com boatos e críticas à petista.

E a interação teve sua forma de aparição não apenas com o candidato e

campanha, mas com os outros eleitores. Seja com críticas ou elogio/concordância, os

internautas interagiram entre si naquele espaço, com 1,1% de interação no blog de

Marina Silva e 2,3% no de Dilma Rousseff. E há também os dados sobre o

compartilhamento de links, em que o internauta, ao comentar, propunha que outros que

acompanhavam a discussão ali formada ou a própria equipe de campanha entrassem em

contato com outros conteúdos, por eles considerados importantes – foram 174

comentários (3%) com links nos blog de Marina Silva e 186 (2,8%) no da petista Dilma

Rousseff.

São, novamente, baixos números, mas que representam a interatividade e deve

ser vista com bons olhos, viso que esses dados mostram que mesmo que os comentários

demorem a ser publicados devido à moderação, os internautas acompanham não apenas

as postagens, mas as discussões que ali acontecem. A espera é de que nas próximas

eleições esse número aumente e também a interação. É novo esse fato na política

brasileira – ter espaços on-line de debate político. Por isso os números, ainda que

pequenos, são importantes e significativos pensando nas possibilidades que a internet

abre para não apenas o campo político, mas uma prática mais democrática de

participação da população na esfera política. Resta-nos acompanhas o desenvolvimento

desse processo para consegui responder se de fato a internet conseguiu proporcionar

tudo isso.

96

CONCLUSÃO

O desenvolvimento deste trabalho possibilitou a organização de informações

relevantes ao estudo sobre o debate político na internet. A pesquisa partiu da hipótese de

que as ferramentas on-line seriam um espaço disponível para postagem da campanha

tradicionalmente transmitida já em outros veículos de comunicação e de ampliação,

onde o candidato pode expor conteúdos além desses. Pois a internet, com suas

características, oferece maior disponibilidade de arquivar e apresentar mais conteúdos,

apenas com restrições em relação às leis eleitorais, além de possibilitar a interatividade

entre população e campanha.

É possível concluir que a hipótese se confirma quando se trata da utilização das

ferramentas da internet para expor conteúdos já transmitidos em outros veículos de

comunicação, possibilitando que o internauta entrasse em contato com as propagandas

políticas transmitidas em meios tradicionais, arquivando e proporcionando às pessoas

um contato maior com esses conteúdos. A interface multimidiática dos weblogs

permitiu que vídeos, fotos, textos e áudios já reproduzidos em outros meios de

comunicação que não a internet, fossem acessados pela população quando e quantas

vezes quisessem – durante o período de campanha estiveram sempre presentes,

conforme demonstrou a análise dos blogs.

Essa nova ferramenta, permitida para uso de propaganda eleitoral a partir de

2010 no Brasil, ampliou as possibilidades de campanha. Novos conteúdos foram

produzidos diariamente, houve incentivo à contribuição financeira através de doações e

ampliou a participação popular nas campanhas. Os novos conteúdos foram uma via

alternativa encontrada pelos candidatos para que expusessem mensagens eleitoreiras

sobre suas atuações consideradas mais positivas na esfera política brasileira e propostas

de governo, na tentativa de demonstrar suas capacidades administrativas em prol da

democracia. Esse espaço também foi caracterizado por ataques aos opositores, com

Dilma Rousseff (PT) direcionando suas críticas principalmente a José Serra, seu mais

forte concorrente, que por sua vez articulou inferências negativas à petista e ao governo

Lula, sendo o candidato peessedebista o que mais utilizou seu blog para ataques à

oposição entre os três analisados. Marina Silva direcionou suas críticas à Dilma

Rousseff, ao apoio de Luiz Inácio Lula da Silva à candidatura petista e ao vice tucano,

97

Indio da Costa, porém de forma menos recorrente que seus opositores. Além disso,

foram publicadas matérias de outras mídias (rádio, TV, portais noticiosos e impressos),

aumentando a visibilidade desses conteúdos, já veiculados em outros meios. Embora

pudesse ser observado o agendamento midiático no debate político, foram poucos os

casos em que notícias de jornalísticas foram utilizadas pelos candidatos em seus blogs,

se comparado ao total de postagens.

O incentivo às doações é alvo de crítica neste trabalho, pela falta de

transparência nas prestações de contas. Se os meios de comunicação servem de inspetor

geral do sistema político para propiciar uma crítica pública necessária (KUNCZIK,

2002), como tratado no primeiro capítulo, a prestação de contas de uma campanha

eleitoral deve ser tratada com seriedade e se os cidadãos são convidados a ajudar

financeiramente os candidatos, pressupõe-se que as informações sobre essa arrecadação

deve ser pública. No entanto, a única candidata que fez isso foi a Marina Silva, nas

eleições presidenciais de 2010, em relação aos blogs estudados. Por mais que Dilma

Rousseff tenha exposto prestações de contas em postagens e na mídia e José Serra em

outros veículos que não seu blog, não é suficiente, pois a informação específica do

quanto fora arrecadado através desses blogs não foi divulgada nos mesmos, apesar de a

campanha de doação e participação dos cidadãos ter sido amplamente divulgada e

visível.

Quanto à participação popular nos weblogs, é possível dizer que houve uma

ampliação da interação cidadão-campanha em todos os casos, mas em diferentes níveis.

A possibilidade de o internauta enviar propostas de governo sobre temas específicos,

contato com as equipes responsáveis pelos blogs e o cadastramento para receber e-mails

sobre as campanhas puderam ser observados em todos os casos estudados. No blog

petista era possível ainda o envio de histórias de vida sobre como suas vidas haviam

mudado com o governo Lula e o envio de comentários nas postagens, com filtro

moderador em relação à publicação dessas mensagens. No caso da candidata do PV

também era possível a interação com os posts por meio de comentários, mas também

moderados pelo blog. O espaço on-line de José Serra, por sua vez, não abriu para

comentários, sendo seu blog o de menor possibilidade de interatividade se comparado as

suas concorrentes, mas ainda havia um espaço em que depoimentos de motivos sobre o

98

porquê tal eleitor escolheu o peessedebista para a Presidência da República, com um

processo de escolha dos relatos que seriam expostos no blog.

As postagens mostraram-se predominantemente positivas, em forma de

interpretação e com controle dos conteúdos. O que demonstra a utilização dos blogs

para campanha, fortemente voltados à promoção dos candidatos para que vencessem o

pleito presidencial. Visto que com a reforma eleitoral de 2009 foi permitido o uso da

internet para propaganda política para as eleições de 2010, é compreensível e já era

esperado esse resultado. Os blogs analisados demonstraram empiricamente o que Manin

(1995) dizia sobre as candidaturas estarem cada vez mais personalistas, com as

campanhas voltadas principalmente à imagem dos concorrentes ao pleito presidencial e

não mais com foco nos partidos ao qual pertencem.

Os comentários também seguiram as postagens, com aumento conforme se

aproximavam as eleições no dia três de outubro. Porém, não apenas nesse aspecto, mas

quanto à valência majoritariamente positiva, com a hipótese de que as pessoas que

entravam nos blogs e comentavam são aquelas que já tinham opinião formada e já

apoiavam a candidatura antes de entrar em contato com aquele conteúdo, iam apenas

para reforçar uma posição ou declarar apoio, ou, como é o caso de alguns, eram

militantes do partido e estavam ali tanto para manifestar apoio como para fazer a

campanha na internet crescer, através do aumento do debate político no meio.

Contrariando as expectativas de que os comentários seriam, em sua grande

maioria, manifestações a respeito de assuntos aleatórios ou sem muita importância ao

debate político, a maior incidência foi de comentários relacionados ao tema no caso de

Dilma Rousseff (49,4% do total). Com Marina Silva aconteceu o mesmo, mas com a

diferença de que os comentários relacionados à candidata foram os que mais

apareceram, com 43,7%. Partindo dos dados apresentados sobre o conteúdo dos

comentários, é possível destacar alguns pontos: Primeiro que apoio à campanha ou

candidata teve grande incidência em ambos os casos, com 45% em relação ao blog de

Marina e 25,2% no blog petista. Segundo que, apesar de baixos percentuais de aparição,

questões relevantes ao debate político brasileiro foram levantadas, como é possível

observar nos dados a respeito de propostas (com 8,1% no blog de Dilma e 6,2% no de

Marina) e de „dúvidas quanto à política que será aplicada‟ (1,8% - Marina e 0,7 –

99

Dilma). Apesar de serem baixos percentuais, se olharmos para os números é possível

observar que não são tão poucos assim e devido a sua relevância, é importante que se

destaque que houve a presença deles. Pode-se inferir que mesmo que essas formas de

comentário não tenham sido tão relevantes, considera-se sua relevância pelo fato de ser

esta a primeira campanha on-line no país e indícios, mesmo que pequenos, de que está

ocorrendo um debate da esfera pública na esfera política a respeito de assuntos

importantes como a política, são positivos e devem ser animadores.

A análise indica também a legitimação de identidades próprias de cada

candidato, desenvolvidas por suas campanhas eleitorais. Enquanto Dilma Rousseff criou

a sua em torno de propostas de governo de continuidade, José Serra com propostas de

ampliar e melhorar o que já fora feito em governos anteriores, além dos ataques à

oposição e defesas a acusações a seu respeito, Marina Silva também criou uma

identidade, a de ambientalista em busca do desenvolvimento sustentável.

É possível concluir, portanto, que o debate político nos weblogs de candidatos à

presidência de 2010 apresenta um quadro inicial do uso da internet para campanhas

políticas, com índices até então animadores quanto à participação popular nesses

espaços. A interatividade se voltou principalmente aos temas apresentados em

postagens, que propunham um debate sobre um assunto específico e que foi seguido,

principalmente no caso do blog de Dilma Rousseff. Quanto à candidata do PV foram

enviadas mensagens, em sua grande maioria, voltadas à candidata, seja para falar sobre

características pessoais de Marina Silva, ou para discutir suas propostas de governo e

posicionamentos políticos. Além desses dados, a aparição de dúvidas quanto à política

que seria aplicada caso as candidatas entrassem no governo e propostas de políticas

públicas ou de maneiras de conduzir as campanhas eleitorais, indicam o início de uma

participação popular no debate público a respeito de questões importantes como a

política, mesmo que os dados sejam numericamente pequenos, são expressivos por ser

essa a primeira eleição que permitiu esse tipo de interação cidadão-campanha.

A obrigatoriedade do voto no Brasil pode ser vista de forma positiva, conforme

Carvalho (2002) observa quando relatava as eleições desde seu período inicial (na

chamada República Velha), podendo adaptar essa mesma ideia aos dias atuais: o autor

100

cita quatro equívocos35

cometidos por aqueles que criticavam a participação popular nas

eleições no período da Primeira República, sendo que o quarto pode ser utilizado para

uma possível explicação do comportamento eleitoral presente.

O quarto e último equívoco era achar que o aprendizado do exercício

dos direitos políticos pudesse ser feito por outra maneira que não sua

prática continuada e um esforço por parte do governo de difundir a

educação primária. Pode-se mesmo argumentar que os votantes agiam

com muita racionalidade ao usarem o voto como mercadoria e ao

vendê-lo cada vez mais caro. Este era o sentido que podiam dar ao

voto, era sua maneira de valorizá-lo. De algum modo, apesar de sua

percepção deturpada, ao votarem, as pessoas tomavam conhecimento

da existência de um poder que vinha de fora do pequeno mundo da grande propriedade, um poder que elas podiam usar contra os

mandões locais. Já havia aí, em germe, um aprendizado político, cuja

prática constante levaria ao aperfeiçoamento cívico (CARVALHO, p.

44-45, 2002)

As sucessões eleitorais, conforme o autor conceitua, trazem um aprendizado na

participação política e maior consciência sobre o significado do voto, levando a um

“aperfeiçoamento cívico”. Com a internet, espera-se que as informações cada vez mais

se tornem públicas e atinjam um maior número de pessoas, ajudando nesse processo de

aprendizado dos direitos políticos e a importância destes para o desenvolvimento da

democracia. Os comentários analisados demonstram que o internauta não apenas quer

falar, mas ser ouvido e está proposto a manter esse diálogo, que considera importante. É

um indício de um grande passo para a expansão do exercício dos direitos políticos dos

cidadãos, querendo participar de forma mais ativa no processo, ainda que o estudo seja a

respeito de opiniões publicadas (selecionadas) e seja um número pequeno se comparado

a todo o eleitorado brasileiro.

A partir deste estudo, pode-se levantar o seguinte questionamento: as

ferramentas on-line, com as sucessões eleitorais, possibilitarão um aumento do debate

político com diálogos de mão dupla em relação à campanha e participação cívica? Essa

questão poderá ser respondida com a continuidade do uso da internet para campanhas

35 Os outros três equívocos citados pelo autor são: “O primeiro era achar que a população saída da

dominação colonial portuguesa pudesse, de uma hora para outra, comportar-se como cidadãos atenienses,

ou como cidadãos das pequenas comunidades norte-americanas. [...] O segundo equívoco já fora apontado por alguns opositores da reforma da eleição direta, como Joaquim Nabuco e Saldanha Marinho.

Quem era menos preparado para a democracia, o povo ou o governo e as elites? Quem forçava os

eleitores, quem comprava votos, quem fazia atas falsas, quem não admitia derrota nas umas? [...] O

terceiro equívoco era desconhecer que as práticas eleitorais em países considerados modelos, como a

Inglaterra, eram tão corruptas como no Brasil.” (CARVALHO, p. 43-44, 2002)

101

políticas e observação das mesmas, visto que 2010 foi o primeiro ano em que houve

regulamentação que permitia o uso da internet para propaganda eleitoral.

102

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

AGGIO, C. Campanhas políticas online: a discussão do estado da arte

seguido de estudo de caso sobre os web sites dos candidatos à prefeitura de

Salvador em 2008. Bahia, 2010. Dissertação (mestrado em Ciência Política) -

Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da

Universidade Federal da Bahia/UFBA

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Figueiredo. 9. ed. Portugal: Presença, 2006.

107

Apêndice A: Relatório Analítico

108

RELATÓRIO ANALÍTICO

Em dezembro de 2009, no III Congresso da Associação Brasileira de

Pesquisadores em Comunicação Política (Compolítica) em São Paulo, tive o grande

privilégio de participar de uma palestra sobre cybercultura com o professor e

pesquisador espanhol Jose Luis Dader. Foi então que surgiu a ideia de um estudo sobre

o assunto, que pareceu muito interessante e atrativo, com as descrições sobre os grupos

de pesquisa a respeito do uso da internet por políticos na Espanha na Universidade

Complutense de Madri e toda a fala do pesquisador, com informações atuais,

interessantes e que apresentaram as enormes potencialidades da internet como um

campo de estudo. E então, lembrando das novas leis eleitorais que permitiriam o uso da

internet para campanhas no Brasil a partir de 2010 e em conversas com meu professor e

orientador de iniciação científica, Emerson Urizzi Cervi, surgiu a ideia desse trabalho.

A intenção era pesquisar o uso da internet por candidatos à presidência de 2010, mas

ainda sem uma delimitação específica. Foi em uma conversa pelos corredores da PUC

de São Paulo, onde ocorria o evento, que Emerson citou que o estudo da internet

poderia ser interessante a partir dos blogs dos candidatos políticos que eu pretendia

estudar, surgindo de fato o objeto de pesquisa para a monografia que viria a desenvolver

em 2011.

Desde então iniciamos uma leitura a respeito do tema, novo no grupo de

pesquisa que participei de 2009 a 2011, „Mídia, política e atores sociais‟, da UEPG. No

primeiro semestre de 2010 foram feitas leituras de textos, formuladas formas de realizar

uma pesquisa sobre weblogs de políticos e testes para observar se a metodologia de

coleta de dados daria conta de analisar aqueles espaços. No mesmo ano tive a

oportunidade de participar do núcleo de pesquisa sobre internet, com alunos da

graduação em jornalismo e outros do mestrado em Ciências Sociais Aplicadas da

UEPG, coordenado por Emerson Cervi. Foi no núcleo que pude com o professor e

outros alunos discutir ao longo de 2010 o tema internet e política, mais especificamente

o uso de ferramentas on-line para campanhas eleitorais, e sobre meu próprio estudo, que

no primeiro semestre estava em período de testes, mas que a partir de julho passaram

109

para a coleta de dados das campanhas. Os debates no núcleo sobre o assunto

acrescentaram muito e ajudaram de forma significativa no desenvolvimento desse

trabalho, além de agregar conhecimento sobre o assunto.

O período de testes do livro de códigos demonstrou que o tempo inicial que

estabelecemos, eu e Emerson em orientação, para que as pessoas comentassem nos

blogs era pouco – 24 horas. Então mudamos para uma semana o prazo para os

comentários nas postagens, que se mostrou razoável e suficiente para observar a

participação popular nos blogs. A coleta das postagens teve início no dia seis de julho

de 2010, com acompanhamento e coleta diária das postagens e os comentários

começaram a ser estudados no dia 14 de julho, dando o período de uma semana pré-

estabelecido. A rotina de coleta conseguiu seguir esse caminho até o final de agosto do

mesmo ano, com acompanhamento diário das campanhas. Mas a partir de então, aulas,

provas, trabalhos e reportagens passaram a dificultar a pesquisa e passei a arquivar o

material das campanhas. A quantidade de postagens se manteve dentro das expectativas,

porém, os comentários atingiram uma proporção muito maior que o esperado, atrasando

os resultados do estudo. Foi em julho de 2011 que o banco de dados ficou pronto e a

coleta terminada, com 617 postagens e 12.457 comentários analisados.

A intenção inicial era de realizar uma pesquisa sobre as campanhas dos dois

turnos do pleito presidencial, mas que se mostrou inviável. Se o período de análise fosse

de seis de julho a 31 de outubro, o número de postagens aumentaria pouco, mas os

comentários passariam a mais de 22 mil. Como o primeiro turno demonstrou-se um

período com dados suficientes para análise e observação do debate político nos veículos

estudados, além da grande relevância de um primeiro turno brasileiro, a escolha por

manter o estudo com esses três meses pareceu certa.

A fase de coleta de dados foi difícil pela escolha de fazê-la sozinha. Apesar de

serem muitas informações para analisar, realizar essa tarefa pessoalmente permitiu

maior confiança nos dados, além de uma identificação e conhecimento pleno de como

foram as campanhas eleitorais de primeiro turno nos weblogs estudados, o que ajudou

muito na construção deste trabalho. Apesar de cansativo, foi uma experiência

riquíssima, com a qual aprendi muito – tanto em relação à produção da campanha,

quanto aos comentários de internautas, espaço muito interessante de observação e

110

acompanhamento de como as pessoas estavam interagindo com os conteúdos, além de

ser uma forma muito boa de entrar em contato com a opinião de parte do eleitorado

brasileiro, com um mapeamento de opiniões e pensamentos a respeito do cenário

político brasileiro.

As angústias que permaneceram foram da consciência de que tantos dados

oferecem muitas informações, que não puderam ser analisadas neste trabalho. Pela

dedicação, esforço e interesse, pretendo dar continuidade aos estudos dos weblogs,

incluindo o segundo turno do pleito e análise mais rica sobre os dados. Conforme

observado na introdução, este foi um objeto de estudo que se mostrou atual, pertinente e

extenso, sobre o qual deve-se estudar mais e abordar dados importantes que talvez não

tenham aparecido nesta monografia.

O interesse pelo tema veio desde o começo da graduação, pelo gosto e interesse

sobre a temática política e comunicação. A participação de Congressos ajudou muito

para estruturar e pensar este trabalho, com discussões pertinentes e críticas, pontos de

vista diferentes que enriqueceram muito, tanto para escrever a monografia, quanto para

a formação acadêmica e pessoal. A passagem por diversas cidades do Brasil e por

Buenos Aires para participar de Congressos foi uma ótima experiência para

conhecimento acadêmico, intelectual e cultural, que teve grande influência na escrita

desta monografia.

A metodologia escolhida foi a comumente utilizada no grupo de pesquisa Mídia,

política e atores sociais (qualitativa com análise de conteúdo), tanto pela familiaridade

com o método quanto pela forma que queria delinear a pesquisa. Certos aspectos

qualitativos foram incluídos quando os números não eram suficientes para o estudo, de

forma a complementar com exemplos, facilitando a compreensão dos dados. Foi

também uma tentativa de incluir o leitor ao conteúdo que tive oportunidade de entrar em

contato, pensando na coletivização do conhecimento e possibilidade de incentivo ao

estudo sobre uma temática que se mostrou interessante e um importante campo de

estudo.

111

Anexos

112

PDF de postagens analisadas dos weblogs dos candidatos (apresentadas ao longo

do trabalho), página atual da candidata do PV e livro de códigos.

LIVRO DE CÓDIGOS

ANÁLISE DE CONTEÚDO – BLOGS DE CANDIDATOS/2010

Núcleo de Pesquisa em Mídia, Política e Atores Sociais – UEPG

Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Opinião Pública - UFPR

DESCRIÇÃO DO SITE:

(informações coletadas uma única vez)

A – Informações (1 = SIM; 0 = NÃO)

1 - sobre o candidato:

1.1 - histórico

1.2 - propostas

1.3 - agenda

1.4 - prestação de contas

2 – sobre o partido:

2.1 - histórico

2.2 - programa

2.3 - outros candidatos

3 – Instituições/movimentos/lideranças sociais

3.1 - histórico/relação com o candidato

3.2 – atualidade

4 – Sobre o vice do candidato:

4.1 - histórico

4.2 - propostas

4.3 - agenda

4.4 – prestação de contas

B – interatividade:

4.1 - navegabilidade - ajuda, dúvidas frequentes ou FAQs; campo de busca; número de

cliques; identificação dos links; localização do usuário; mapa do site; menu

4.2 - possibilidades de participação - através do envio de e-mail, mensagens online

expostas para quem acessar o blog, criação de um blog próprio, participação em

enquetes opinativas

4.3 - tempo de atualização de postagens (ver a partir da descrição das postagens).

4.4 – Existência de filtro para comentários (1 = sim; 0 = não).

113

5 – links

5.1 - presença de links para páginas do próprio blog – quais?

5.2 - presença de links para páginas externas ao blog – quais?

6 – webdesign PRESENÇA/AUSÊNCIA

6.1 - uso de imagens fixas.

6.2 - uso de imagens dinâmicas.

6.3 - uso de cores.

6.4 - tipologia.

DESCRIÇÃO DAS POSTAGENS: (informações para cada postagem)

Candidato

Data

1 – Título da Postagem (copiar título da postagem)

2 - tipo de postagem (1 = presença / 2 = ausência)

2.1 - texto

2.2 - vídeo

2.3 – áudio

2.4 - Foto

3 – autoria (nome de quem postou)

4 – tipo de autor (indicar o que é descrito no post):

1 – Candidato/responsável blog

2 - autor não identificado

3 - internauta

4 – eleitor

5 - militante do partido

6 - filiado ao partido

7 - militante de outro partido

8 – imprensa tradicional

5 – Fonte: (nome da fonte, quando citada explicitamente nos créditos do post)

6 – tema:

CÓDIGO TEMA

1 Campanha Eleitoral

2 Político-institucional

3 Economia

4 Política Social

5 Infra-estrutura e meio ambiente

6 Violência e segurança

7 Ético-moral

114

8 Política para Esporte

9 Cultura/variedades

10 Política Estadual/Nacional

11 Política Internacional

12 Outros temas

13 Imagem política do candidato

14 Imagem pessoal do candidato

15 Imagem administrativa do candidato

16 Imagem política de adversário

17 Imagem pessoal de adversário

18 Imagem administrativa de adversário

19 Imagem do governo em disputa

20 Imagem da campanha e eleitores

7 – valência da postagem

1 - positiva

2 - negativa

3 – neutra

4 – equilibrada

8 - O que predomina na postagem

1 - informação (só informativo)

2 - interpretação (avaliações que vão além da informação, sem declarar posição

explícita)

3 - opinião (predomina uma declaração explícita de um posicionamento)

9 – Controle (O blogueiro se responsabiliza inteiramente pelo conteúdo veiculado ou

dá créditos a terceiros?)

1- Com controle

2 - Sem controle

10 – Presença de hiperlinks

1 – Sim

2 – Não

11 – Número de hiperlinks no texto (total de hiperlinks apresentados no post)

12 – Hiperlinks presentes no texto (reproduzir todos os hiperlinks apresentados no

texto).

13 – número de comentários

14 - Observações

115

DESCRIÇÃO DOS COMENTÁRIOS: (essas informações são coletadas para cada

comentário)

1 – Candidato

2 – Data

3 – Título da postagem (título da postagem a que se refere o comentário)

4 – Autor do comentário

5 – Número do comentário (sequencial por ordem de aparição no blog)

6 – tipo de comentários

1 – relacionada ao tema

2 – relacionada ao candidato

3 – relacionada aos internautas.

4 – relacionado o outro candidato.

5 – relacionado ao governo em disputa.

6 – relacionado à campanha

7 – relacionado ao governo em vigor

8 - outro

7 - valência dos comentários

1 – positiva

2 – negativa

3 – neutra

4 - equilibrada

8 – formato dos comentários (presença e predominância)

1 – elogio à pessoa do candidato.

2 – elogio à posição política do candidato.

3 – elogio à posição do candidato sobre o tema.

4 – elogio/concordância com demais comentaristas.

5 – elogio aos outros candidatos/políticos.

6 – elogio ao governo em disputa.

7 – crítica à pessoa do candidato.

8 – crítica à posição política do candidato.

9 – crítica à posição do candidato sobre o tema.

10 – crítica aos demais comentaristas.

11 – crítica aos outros candidatos/políticos.

12 – crítica ao governo em disputa.

13 – outro/não identificável

14 – Propostas

116

15 – Apoio à campanha ou candidato

16 – Dúvidas quanto à política que será aplicada

9 – Presença de hiperlinks

10 – Hiperlinks

11 – Observações

117

Site de Marina Silva atualmente após desfiliação do Partido Verde

www.minhamarina.org.br/home - 07/07/2011

118

Weblog de Dilma Rousseff – Programa de Governo - Propostas36

- 27/09/2010

Temas

Agrária

José Augusto Soares - Pau dos Ferros/RN

Sugiro inserir o fortalecimento dos bancos de desenvolvimento regionais, como o banco

do nordeste e banco da Amazônia, através da ampliação dos recursos dos fundos

constitucionais, fne e fno, respectivamente, bem como definindo que estes bancos sejam

os principais executores/apoiadores das polítias públicas do governo federal em cada

região, neste caso, as regiões nordeste e norte., sugiro que seja implantado o programa

agente rural em cada município, que poderia ser em parceria entre governo federal e as

prefeituras municipais, ação que geraria muitos empregos e contribuia

signitificativamente fortalecer a agricultura familiar no país, em especial nas regiões

menos desenvolvidas como o nordeste norte. [sic]

Ciência e Tecnologia

Marcos Matos - Petrolina/PE

Olá, Gostaria de contribuir na dissiminação do Software Livre em nosso pais,

principalmente na região do vale do são francisco.

Vejo como uma alternativa e solução para a economia nos órgãos públicos municipal,

estadual e federal. Sou funcionário público municipal numa faculdade publica de

petrolina. Sei que somente com Dilma como presidente isso é capaz de acontecer.

Vamos libertar o Brasil, essa é a hora de sermos uma nação conhecida pelo seu alto grau

de conhecimento tecnologico.

Não precisamos investir em em mentes de fora. Aqui somos capazes de tudo, basta nos

dar oportunidades e condições. Abraços a todos! [sic]

36 Links acessados:

http://www.dilma13.com.br/propostas/temas/agraria/;http://www.dilma13.com.br/propostas/temas/ciencia

-e-tecnologia; http://www.dilma13.com.br/propostas/temas/cidades. Outros temas estiveram presentes,

esses casos são apenas ilustrativos para conhecimento de como houve a participação de envio de

propostas no weblogs de Dilma Rousseff.

119

Cidades

Derick Fernandes - Paranaguá/PR

Olá candidata Dilma, tenho 15 anos e estou aqui para fazer um pedido por minha cidade

que quero que cumpra quando ser eleita. Moro em Paranaguá - Litoral Paranaense, a

cidade contem o 2º mais movimentado Porto do país, é a 9° mais rica cidade do Paraná

e a 10ª maior, mas sua população está abandonada, tenho notado de um ano pra cá

muitas obras que o Governo Lula vem fazendo neste município e somos muito gratos

quanto a isso, mas como primeira cidade do Paraná, sentimo-nos envergonhados de

apresentar para os turistas uma cidade esburacada, sem infra-estrutura, não temos um

terminal de passageiros no Porto para receber turistas, não temos um Aeroporto para

também receber turistas, precisamos de maiores investimentos na saúde, transporte e

infra estrutura em geral. Sim, eu sei que é a prefeitura e o governo estadual que é

responsável por esse desenvolvimento, mas peço por favor maiores obras do Governo

Federal quando a senhora estiver como Presidente, apesar de ter apenas 15 anos, tenho

conhecimento de política e sei quem realmente irá fazer, por isso peço sua colaboração

e temos certeza que nós de Paranaguá e todo o litoral do Paraná, não iremos passar mais

4 ou 8 anos abandonados. Obrigado.

120

Weblog de José Serra – Notícias – Postagem do dia 28/10/2010

Universidades supostamente criadas no governo Lula

Das 14 universidades federais anunciadas como “novas” pelo atual governo,

dentro do que seria política de “interiorização” e “ampliação do acesso ao ensino

superior”, NOVE já existiam. São resultado de desmembramento, fusão ou mudança de

nome de instituições existentes há décadas. Por exemplo: um campus da Universidade

Federal da Bahia é desmembrado e se transformou na Universidade Federal do

Recôncavo Baiano.

As que foram efetivamente criadas funcionam precariamente, em instalações

provisórias, muitas vezes sem laboratórios, bibliotecas, refeitórios e até mesmo

professores.

Apesar de anunciadas nos palanques, panfletos e manifestos, as “14 novas

universidades” não são listadas em nenhum site oficial (ou a lista está tão difícil de

encontrar que dá na mesma). Então nós reunimos as últimas 14 instituições que

ganharam status de universidade no Brasil, deduzindo que entre elas estão as 14 que o

governo Lula alega serem “suas”.

UNIVERSIDADES SUPOSTAMENTE CRIADAS NO GOVERNO LUL

As pintadas de amarelo são as efetivamente “novas”

1 -Universidade

Federal de Ciências

da Saúde de Porto

Alegre (UFCSPA)

Tem origem na Fundação Faculdade Federal de Ciências

Médicas de Porto Alegre (FFFCMPA), fundada em 1953.

Nome foi alterado em 2008 devido à transformação da

faculdade em universidade.

2 -Universidade

Federal do Oeste do

Pará (UFOPA)

Resultado de fusão, em 2009, do campus de Santarém

da Universidade Federal do Pará com a unidade

descentralizada de Tapajós da Universidade Federal Rural

121

da Amazônia.

3 -Universidade

Federal de Alfenas

(Unifal-MG)

Tem origem na Escola de Farmácia e Odontologia de

Alfenas (EFOA), fundada no em 1914. A mudança

para Centro Universitário Federal (EFOA /Ceufe) ocorreu

em 1º de outubro de 2001. Em agosto de 2005 foi

transformada em Universidade Federal de Alfenas (Unifal-

MG).

4 -Universidade

Federal do Triângulo

Mineiro (UFTM)

Tem origem na Faculdade de Medicina do Triângulo

Mineiro, criada em 1953. Foi transformada em

Universidade no ano de 2005.

5 -Universidade

Federal dos Vales do

Jequitinhonha e

Mucuri (UFVJM)

Tem origem na Faculdade de Odontologia de Diamantina,

criada em 1953, pelo diamantinense Juscelino Kubitschek,

então governador do Estado de Minas Gerais, e federalizada

em 1960. Em 2002foi transformada em Faculdades Federais

Integradas de Diamantina (Fafeid). Em 2005, o nome mudou

para Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e

Mucuri - UFVJM.

6 -Universidade

Federal Rural do

Semi-Árido

(UFERSA)

Foi criada em 1967 e se chamava ESAM (Escola Superior

de Agricultura de Mossoró), até ser federalizada em 2005 e

mudar seu nome para o atual. Planos de dois novos campi

não saíram do papel.

7 -Universidade

Tecnológica Federal

do Paraná (UTFPR)

A Escola Técnica foi inaugurada no dia 16 de janeiro de

1910, em um prédio da Praça Carlos Gomes. Posteriormente

se transformou no CEFET-PR. Em 2005, se transformou

na Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

8 -Universidade

Federal da Grande

Dourados (UFGD)

Inaugurada em 1970, como Campus de Dourados da

UFMS. Em 2005 se tornou uma Universidade separada.

9 -Universidade

Federal do Recôncavo

da Bahia (UFRB)

Surge como desmembramento da Escola de Agronomia da

Universidade Federal da Bahia, instalada em 1943 em Cruz

das Almas. Transformada em Universidade em 2005.

122

10 -Universidade

Federal do Pampa

(UNIPAMPA)

Criada em 2008 com sede em Bagé. Funciona em instalações

provisórias. Alunos e professores sofrem com os

deslocamentos entre os campi; faltam salas e laboratórios. “A

Unipampa é uma universidade nova e e expansão, a estrutura

atual conta com dez campi e uma Reitoria, distribuídos em

dez cidades da meso-região sul. Inicialmente, os 10 campi

da Unipampa estavam vinculados à UFSM e à UFPel,

cada universidade com 5 campi”. A Universidade Federal

de Santa Maria foi criada em 14 de dezembro de 1960. A

UFPel foi fundada em 8 de agosto de 1969.

11 -Universidade

Federal da Integração

Latino-Americana

(UNILA)

Sediada em Foz do Iguaçu, foi anunciada em 2007 mas criada

só em 2010. Funciona temporariamente no Parque

Tecnológico de Itaipu.

12 -Universidade

Federal da Integração

Luso-Afro-Brasileira

(Unilab)

Sediada na cidade de Redenção, Ceará. Criada, no papel, em

julho de 2010, funcionará em prédio cedido pela Prefeitura de

Redenção, mas ainda não iniciou atividades.

13 -Universidade

Federal do ABC

(UFABC)

Fundada em 11 de março de 2005, com sede em Santo

André. Perdeu 42% dos alunos entre 2006 e 2009 devido à

precariedade da estrutura.

14 -Universidade

Federal da Fronteira

Sul (UFFS)

Criada em 2009, tem sede no Município de Chapecó (SC) e

campi no norte do Rio Grande do Sul, (Municípios de Cerro

Largo e Erechim), e no sudoeste do Paraná (Municípios de

Laranjeira do Sul e Realeza).

123

Postagem weblog Dilma Rousseff – 07/08/201037

“Fizemos tudo sem esquecer a juventude”

(foto)

07.08.2010

A Cidade de Deus, comunidade carioca com o filme de Fernando Meirelles, serviu de

palco para o ato que marcou, hoje, o Dia Nacional de Mobilização da Juventude.

Centenas de pessoas se reuniram para ouvir as propostas da candidata Dilma Rousseff

voltadas aos jovens brasileiros.

“Hoje nós temos uma decisão a tomar: se seguimos nesse caminho que Lula construiu

ou se vamos voltar para trás”, disse Dilma Rousseff, durante comício. “Achavam que

os jovens eram só problema. Nós não [achamos]. Fizemos tudo sem esquecer da

juventude. Tivemos política de educação, de trabalho, de cultura.”

O lugar em nada lembrava o filme e reflete as mudanças trazidas pelo governo Lula. “Se

você chegar aqui hoje umas dez horas da noite tem criança soltando pipa. Hoje não tem

mais aquele negócio de tiroteio, bala perdida, essas coisas”, explica dona Iracema da

Silva, 54 anos, moradora da Cidade de Deus há 39 anos.

Jovens como solução

Dilma afirmou várias vezes que acredita na juventude. Para ela, os jovens são o “a

solução para o Brasil” e não é possível alcançar crescimento econômico sem inclusão

dessa parcela importante da sociedade.

37

Acesso dia 14/08/2010 no endereço http://www.dilma13.com.br/noticias/fizemos-tudo-sem-esquecer-a-

juventude

124

Se vencer as eleições, disse Dilma, O governo será “cheio de oportunidades para a

juventude”. “Os jovens só precisam de oportunidade. Quando damos oportunidade o

jovem agarra”. Ela também se comprometeu a melhorar cada vez mais a qualidade do

ensino. “Precisamos de educação para cada um dos jovens”.

A candidata da coligação Para o Brasil seguir Mudando, também disse que vai trabalhar

contra o preconceito: “Não queremos que o jovem da favela seja discriminado”.

Internet para Todos

Outro compromisso importante firmado por Dilma Rousseff foi a garantia de acesso à

internet banda larga de internet para toda a população. “Aqui [na Cidade de Deus]

surgiu um programa que ilumina a vida dos brasileiros e assim como fizemos o Luz

para Todos que levou energia elétrica a 2 milhões [de brasileiros] vamos ter Banda

Larga”.

“Queremos que nossa juventude tenha contato com o mundo todo. Eu vou continuar

essa política [de internet]”, reforçou.

Combate ao crack

Dilma falou ainda sobre a luta contra o crack. “Essa droga, tira a capacidade de pensar,

de sonhar e de lutar, que são características próprias da juventude”. “Vamos ter clínicas

especializadas para recuperação e também investir mais em campanhas de

conscientização”.

A candidata concluiu seu discurso conclamando a juventude para continuar nas ruas:

“Essa chamada Onda Vermelha tem que surgir de norte a sul! Temos que ocupar as ruas

desse país. Vamos continuar mudando o Brasil”.

125

Postagem do weblog de Marina Silva38

Postado em 09/09/2010 por Equipe Marina | Categoria(s): Geral

„Lula deveria ter saído em defesa de todos os brasileiros, não só de sua candidata‟,

diz Marina

4Comentários

Para os jornalistas presentes ao final da sabatina organizada pelo jornal O Globo,

Marina Silva falou sobre a sensação de desamparo em relação às atitudes tomadas pelo

governo federal e, mais especificamente, pelo presidente Lula no caso da quebra de

sigilo de dados da Receita Federal.

A senadora classificou a postura como omissão, num primeiro momento, e, depois,

como a banalização de um crime, o que é alto inaceitável, em sua visão.

“No caso do presidente Lula, o que criou foi uma sensação de desamparo, porque nesse

momento os milhares de brasileiros que foram violados em seus sigilos querem uma

atitude por parte do Estado, e os que não sabem se foram violados querem uma atitude

de firmeza para alguém dizer que isso vai parar”, disse. “E a sensação de desamparo e

de impotência é porque o presidente da República, investido simbolicamente, inclusive

da aparência do cargo da instituição, veio na defesa de uma única pessoa, que foi a sua

candidata.”

38

Conteúdo acessado dia 15/09/2010 no endereço http://www.minhamarina.org.br/blog/2010/09/para-

marina-lula-deveria-ter-saido-em-defesa-de-todos-os-brasileiros-nao-apenas-de-sua-candidata/

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Marina afirmou que a defesa correta deveria ser de todos aqueles brasileiros que tiveram

seus dados devassados. ”Aqui nós estamos defendendo as instituições públicas, o

funcionamento impessoal da gestão pública”, resumiu.

“Tem uma sensação, sim, de impotência de todos os brasileiros e uma certa decepção”,

afirmou Marina Silva aos jornalistas presentes.