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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO
CAMILA WADA ENGELBRECHT
DOS PANFLETOS ÀS CAMPANHAS DIGITAIS
O papel dos weblogs de candidatos à presidência no debate político brasileiro de
2010
Ponta Grossa
2011
2
CAMILA WADA ENGELBRECHT
DOS PANFLETOS ÀS CAMPANHAS DIGITAIS
O papel dos weblogs de candidatos à presidência no debate político brasileiro de
2010
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado para obtenção do título de
Bacharel em Comunicação Social com
habilitação em Jornalismo na Universidade
Estadual de Ponta Grossa.
Orientador: Prof. Dr. Emerson Urizzi Cervi
Ponta Grossa
2011
3
CAMILA WADA ENGELBRECHT
DOS PANFLETOS ÀS CAMPANHAS DIGITAIS
O papel dos weblogs de candidatos à presidência no debate político brasileiro de
2010
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Bacharel em
Comunicação Social com habilitação em Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta
Grossa, Setor de Ciências Sociais Aplicadas.
Ponta Grossa, _____ de _____________ de 2011.
_______________________________________
Orientador: Emerson Urizzi Cervi
_______________________________________
Professor (a) do Departamento de Comunicação
_______________________________________
Convidado
4
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO
Ata de Avaliação de Projeto Experimental em Jornalismo (PEJ)
Aos ____ dias do mês de _____________ do ano de 2011, nas dependências do curso
de Comunicação Social – Jornalismo, situado no Campus Central da Universidade,
reuniu-se a Banca Examinadora composta por:
__________________________________________ (Orientador)
__________________________________________ (Convidado)
__________________________________________ (Professor Indicado pelo
Departamento)
para avaliação do Projeto Experimental em Jornalismo (PEJ) sob o título
______________________________________________________________________,
de autoria de ______________________________________.
Após apresentação e questionamentos realizados pelos membros da Banca, chegou-se
aos seguintes resultados:
Professor orientador, nota (___)
Convidado, nota (___)
Professor indicado pelo Decom, nota (___)
Nota Final (___)
Aprovado (___)
Reprovado (___)
Indicado para reapresentação (___)
Ponta Grossa, ___ de ____________ de 2011
________________________
Professor Orientador
________________________
Convidado
________________________
Professor indicado pelo Decom
5
TERMO DE RESPONSABILIDADE
DECLARAÇÃO DE COMPROMISSO ÉTICO COM
A ORIGINALIDADE CIENTÍFICO-INTELECTUAL
Responsabilizo-me pela redação do trabalho de Projeto Experimental em Jornalismo
sob o título DOS PANFLETOS ÀS CAMPANHAS DIGITAIS – O papel dos
weblogs de candidatos à presidência no debate político brasileiro de 2010, atestando
que todos os trechos que tenham sido transcritos de outros documentos (publicados ou
não) e que não sejam de minha exclusiva autoria estão citados entre aspas e está
identificada a fonte e a página de que foram extraídos (se transcrito literalmente) ou
somente indicados fonte e ano (se utilizada a idéia do autor citado), conforme normas e
padrões da ABNT vigentes.
Declaro, ainda, ter pleno conhecimento de que posso ser responsabilizado legalmente
caso infrinja tais disposições.
Ponta Grossa, 24 de outubro de 2011
Nome: Camila Wada Engelbrecht
Número do RA: 081040667
_______________________________________________
Assinatura do estudante
6
AUTORIZAÇÃO
Ponta Grossa, _____ de ____________ de 2011.
Eu, _______________________________, estudante do curso de Comunicação Social
– Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa, portador do R.G
_________________ e R.A. ______________, autorizo o Departamento de
Comunicação a divulgar por qualquer meio de comunicação o produto
artístico/científico intitulado _______________________________________________,
desde que tal exibição não resulte em ganho financeiro para nenhuma das partes
envolvidas.
Assumo, para todos os fins, total responsabilidade pela autoralidade do conteúdo
escrito, de áudio e visual constante neste produto.
_____________________________
Assinatura
8
Agradecimentos
São muitas as pessoas e instituições que tiveram papel fundamental para minha
formação e conclusão deste trabalho. Minha gratidão é a todos que fizeram parte desses
quatro anos de graduação em jornalismo, que de alguma forma contribuíram para meu
crescimento pessoal e profissional, pelo apoio, incentivo, companhia e ensinamentos.
Pela compreensão, amor e apoio incondicional, agradeço primeira e
principalmente à minha família, que esteve sempre ao meu lado. Aos meus pais, Maria
Regina Wada Engelbrecht e Marcos Engelbrecht, obrigada pela confiança, apoio,
ensinamentos, amor e incentivo fundamental para que aos poucos eu aprendesse a fazer
minhas escolhas e andar com meus próprios passos. A minha irmã, essencial em minha
vida e que com suas visões críticas me ajudou a perceber os caminhos que devo trilhar,
me lembrando sempre de meus princípios e motivações para escolha da profissão de
jornalista – obrigada Marina Wada Engelbrecht pelo amor e carinho, sempre
fundamentais em minha vida.
Aos meus amigos, que estiveram sempre ao meu lado em períodos de
dificuldade, angústias e alegrias, compartilhando comigo todos esses momentos e me
apoiando sempre, incondicionalmente. Em especial àquelas que foram para mim minha
família no Paraná, minha alegria de todos os dias, as companheiras de vida sem as quais
nada faria sentido. Obrigada Isadora Camargo, Cintia Amaro Damasceno, Beatriz
Bidarra, Mônica Bueno, Camila Montagner Fama e Milena Rezende. Vocês foram parte
essencial desses quatro anos de UEPG e as levarei para o resto de minha vida como
amigas, companheiras, parceiras, e alegrias do meu cotidiano.
A Luan Guerreiro, pelas cobranças e preocupações diárias com este trabalho,
pela grande ajuda e apoio. Agradeço por todos os momentos que passamos juntos, por
ser fundamental em minha vida, pelo respeito, carinho, companheirismo, amizade e
amor. Pela pessoa linda e incrível que é, amo muito você.
A Emerson Urizzi Cervi, pelo incentivo, apoio e cobranças para que produzisse
sempre mais e melhor. Obrigada, por todos os ensinamentos e orientação desde 2009,
sempre à disposição para todos os meus questionamentos, dúvidas e angústias. Por
trazer ao meu conhecimento meu potencial e incentivar e forçar sempre para que este
fosse explorado.
9
A todos os professores do Departamento de Comunicação, que tiveram enorme
contribuição em minha formação. Em especial Sérgio Luiz Gadini, pelas aulas,
conversas, dicas e participação crítica de minha banca de qualificação, Marcelo Engel
Bronosky, Carlos Alberto Souza e Zeneida Alves de Assumpção, agradeço pelo apoio,
incentivo, conversas, ensinamentos e amizade durante meus quatro anos de graduação.
À Universidade Estadual de Ponta Grossa, pela oportunidade de ensino de
qualidade e pesquisa acadêmica. Ao grupo de pesquisa de Mídia, política e atores
sociais, ao núcleo sobre internet e todos os seus integrantes, que me ajudaram no
percurso universitário a complementar parte fundamental de minha formação acadêmica
e intelectual. Aos autores dos artigos, textos e livros utilizados para a realização desta
monografia, obrigada pela enorme contribuição e ensinamentos.
Por fim, aos queridos amigos familiares, sempre presentes alegrando meus dias e
mostrando a simplicidade e alegria de viver, companheirismo e amor incondicional que
sempre estarão em meu coração aonde quer que eu estiver: meu poddle Tobby, já
falecido mas eternamente presente, e meu akita Astor. Pela alegria, loucura e carinho,
obrigada meus fiéis companheiros caninos. Há quem não compreenda, mas o amor de
vocês foi e é essencial.
Camila Wada Engelbrecht,
Outubro de 2011
10
RESUMO
O trabalho analisa como ocorreu a utilização da web a partir dos weblogs de candidatos
à presidência do Brasil em 2010, já que pela primeira vez a lei eleitoral autorizou seu
uso nas campanhas no país. A pesquisa trata da produção de conteúdo e do debate
político nos weblogs dos principais candidatos: Dilma Rousseff (PT), José Serra
(PSDB) e Marina Silva (PV). O estudo verifica como se dá o debate nesses novos
espaços liberados à campanha eleitoral para verificar como foi utilizado esse novo
instrumento, já que a internet é tida como um meio promissor de interatividade. A
análise conta com um corpus empírico de 617 postagens e 12.457 comentários,
relacionado com teorias e conceitos do jornalismo, comunicação e política.
Palavras-chave: debate político, internet, campanha presidencial de 2010, weblogs
ABSTRACT
The research analyzes how was the use of the web, more specifically the candidates
weblogs to the run of brazilian presidency in 2010, since it was
approved the first electoral law that authorizes their use in campaigns. The
research deals with the production and content of political debate in the weblogs of the
leading candidates: Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) and Marina
Silva (PV). The study analyzes how the debate takes place in these new spaces allowed
to the campaign to see how this new instrument was used, since the Internet is seen
as a promising vehicle of interactivity. The analysis has an empirical corpus of
617 posts and 12.457 comments, related to theories and concepts of journalism,
communication and politics.
Key-words: political debate, internet, presidential campaign of 2010, weblogs
11
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 IMAGEM PRINCIPAL DO WEBLOG PETISTA DURANTE
CAMPANHA ELEITORAL DE 2010.............................................. 59
FIGURA 2
IMAGEM DE ABERTURA DO WEBLOG DE JOSÉ SERRA
PARA CAMPANHA DE 2010..........................................................
63
FIGURA 3
PÁGINA DE MARINA SILVA ENQUANTO CANDIDATA À
PRESIDÊNCIA EM 2010..................................................................
68
12
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 INTERNET EM DOMICÍLIOS BRASILEIROS...................... 38
GRÁFICO 2
NÚMERO DE POSTAGENS POR SEMANA DE
CAMPANHA..............................................................................
73
GRÁFICO 3
NÚMERO DE COMENTÁRIOS NAS POSTAGENS
DISTRIBUÍDOS NAS SEMANAS DE CAMPANHA..............
88
13
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 TIPOS DE ATIVIDADES REALIZADAS POR USUÁRIOS DE
INTERNET NO BRASIL................................................................. 40
TABELA 2
TIPO DE POSTAGEM NOS WEBLOGS........................................
75
TABELA 3
AUTOR RESPONSÁVEL PELAS POSTAGENS..........................
76
TABELA 4
RELAÇÃO DE TEMAS ABORDADOS PELOS CANDIDATOS..
79
TABELA 5 VALÊNCIA PREDOMINANTE DAS POSTAGENS...................... 82
TABELA 6 CLASSIFICAÇÃO DAS POSTAGENS............................................ 84
TABELA 7 CONTEÚDO DOS COMENTÁRIOS NOS BLOGS DAS
CANDIDATAS.................................................................................. 90
TABELA 8
VALÊNCIA PREDOMINANTE DOS COMENTÁRIOS...............
93
TABELA 9
FORMA DO CONTEÚDO COMENTADO NAS POSTAGENS....
94
14
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS..................................................................................... 11
LISTA DE GRÁFICOS.................................................................................. 12
LISTA DE TABELAS..................................................................................... 13
INTRODUÇÃO............................................................................................. 15
CAPÍTULO 1: ABORDAGENS TEÓRICAS AO ESTUDO SOBRE MÍDIA
E POLÍTICA NO BRASIL..........................................................................
19
1.1 A esfera pública e os meios digitais.......................................................... 19
1.2 Representação política na mídia................................................................ 24
1.3 Processo eleitoral e panorama do pleito presidencial de 2010.................. 28
CAPÍTULO 2: PERSPECTIVAS POLÍTICAS NA WEB 2.0: CAMPANHAS
ELEITORAIS NA INTERNET...................................................................
35
2.1 Internet e índices sócio-econômicos............................................................ 36
2.2 O uso dos meios on-line de comunicação e sua vertente política............... 40
2.3 Breve histórico das campanhas políticas na internet................................... 43
CAPÍTULO 3: ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS E NOVAS TECNOLOGIAS:
WEBLOGS DE CANDIDATOS NO DEBATE POLÍTICO DE 2010.........
52
3.1 Análise de conteúdo como eixo metodológico quantitativo......................... 52
3.2 Análise descritiva dos weblogs: material presente na propaganda eleitoral de
2010.....................................................................................................................
57
3.3 Análise das postagens: o conteúdo diário das campanhas............................ 71
3.4 Análise dos comentários: a interatividade entre público e campanha..........
85
CONCLUSÃO............................................................................................... 96
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................ 102
APÊNDICE A: Relatório Analítico.............................................................. 107
ANEXOS......................................................................................................... 111
15
INTRODUÇÃO
O debate político nos weblogs foi discutido neste trabalho por meio de conceitos
como esfera pública, com suas antigas e novas concepções, o papel dos meios de
comunicação em debates políticos, opinião pública e internet. Tais conceitos foram
diretamente relacionados com os dados empíricos sobre os blogs, com descrição de seus
conteúdos, análise de postagens e comentários.
Inicialmente o conceito weblog foi utilizado em 1997 por Jon Barger “enquanto
sinónimo de página ordenada cronologicamente e com ligações a outras páginas”
(CANAVILHAS, p. 2, 2004). O blog é criado com a finalidade de livre exposição de
opiniões e de partilhar informações, o que implica na ideia de que com isso há uma
busca por audiência e acesso ao conteúdo disponibilizado1. A concepção de blogs
apenas como diários pessoais é discutida e problematizada pela percepção de que essas
são ferramentas abertas ao cidadão conectado que permitem ações multimidiáticas, com
a utilização de textos, fotos e/ou vídeos para postar conteúdos na internet, além de ser
uma mídia interativa que abre espaço para a liberdade de expressão (VIANA, PRADO e
SANTOS, 2009).
A utilização de ferramentas on-line por campanhas eleitorais tem início em
1992, quando pela primeira vez no mundo a internet é utilizada para propaganda política
eleitoral, com a disputa para a presidência dos Estados Unidos entre Bill Clinton
(democrata) e George Bush (republicano). No Brasil é a partir de 2002 que as
campanhas para eleições presidenciais iniciam o uso dessa ferramenta com fins
eleitoreiros, com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) como principais
candidatos. As discussões a respeito da temática se voltam principalmente para as
potencialidades que a internet proporciona, como a multimidialidade e o diálogo de mão
dupla entre políticos e cidadãos, o que poderia indicar maior possibilidade de
democratização do processo de campanhas eleitorais.
1 CANAVILHAS, João. Blogues políticos em Portugal: o dispositivo criou novos actores?
16
A questão central deste trabalho é explorar o debate político nos weblogs (ou
blogs) dos três principais candidatos à presidência do Brasil de 2010 – Dilma Rousseff
(PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV). As redes sociais compõem os novos
espaços liberados à campanha eleitoral a partir de 2010. A novidade das campanhas on-
line desse ano ficou por conta, principalmente, da interatividade entre candidatos e
produtores das campanhas com a população de forma geral. E é essa interação o ponto
principal do estudo.
A partir de uma breve recuperação histórica sobre a temática „campanhas on-line
como ferramenta alternativa de propaganda política eleitoral‟, contextualização da
política e sua relação com a mídia, o estudo chega às eleições de 2010 no Brasil, quando
pela primeira vez a internet foi utilizada de maneira mais intensa e regulamentada. Visto
que foi ao final de 2009 que a lei eleitoral brasileira autorizou para as eleições de 2010 o
uso de propagandas políticas na internet, antes proibidas no país.
O trabalho também apresenta o contexto em que a internet está inserida no
cenário brasileiro (principalmente no ano de 2010, período das eleições estudadas). E
então chega à parte empírica, em que há uma análise do blog de cada candidato, das
postagens publicadas no período de pesquisa e dos comentários de internautas nesses
posts. Os resultados são demonstrados a partir de gráficos, tabelas e análise de ambos.
A metodologia utilizada para o trabalho foi a quantitativa, por meio de análise de
conteúdo, mas com algumas análises qualitativas, para exemplificar os dados
numéricos, complementando-os com parte do conteúdo estudado. A coleta apresenta
informações de todos os 90 dias de campanha dos três candidatos para primeiro turno
do pleito presidencial de 2010. Além disso, havia um prazo de uma semana para que os
internautas comentassem em cada postagem, já que após sete dias eram escassas as
mensagens e esse período foi suficiente para obter um amplo quadro de como foi a
interação entre internautas e campanha. O corpus empírico possui 617 postagens e
12.457 comentários, correspondendo ao primeiro turno do pleito presidencial (de seis de
julho a três de outubro de 2010).
O período escolhido para análise foi tanto pelo conteúdo, que se mostrou
satisfatório para a pesquisa, quanto pelo notável papel de um primeiro turno brasileiro.
17
Considerando que no Brasil há 135.804.433 eleitores2 (no Brasil e exterior) e que esse
número corresponde a 70,8% da população do país que é o maior da América do Sul e o
quinto maior do mundo em território e população, pode-se inferir que o primeiro turno
de uma disputa presidencial brasileira tem grande importância e trata-se de um período
relevante para análise. Além disso, o banco possui dados suficientes para embasar a
pesquisa, oferecendo fundamento empírico para as teorias apresentadas.
A questão principal do trabalho é: “de que forma os candidatos utilizaram o
espaço on-line analisado e como se dá o debate político nos weblogs?”, partindo da
hipótese de que as ferramentas on-line seriam um espaço disponível para postagem da
campanha tradicionalmente transmitida já em outros veículos de comunicação e de
ampliação, onde o candidato pode expor conteúdos além desses. Pois a internet, com
suas características, oferece maior disponibilidade de arquivar e apresentar mais
conteúdos, apenas com restrições em relação às leis eleitorais, além de possibilitar a
interatividade entre população e campanha. Então, pretende-se responder as questões
pertinentes ao estudo, que surgiram ao longo de seu desenvolvimento, partindo de um
diálogo entre os capítulos iniciais que conceituam o assunto pesquisado e a última parte
do trabalho, voltada principalmente à análise empírica. Mas as conclusões finais visam
não apenas uma tentativa de expor respostas às indagações iniciais, mas de gerar novas
hipóteses e perguntas, com a finalidade de dar continuidade a uma pesquisa que se
mostra extensa, atual e pertinente.
O estudo parte de teorias da comunicação e do jornalismo. Para tratar do assunto
o trabalho é composto por três capítulos. O primeiro faz uma discussão sobre esfera
pública, chegando aos meios digitais, com breve levantamento teórico a respeito dos
conceitos de Habermas e trazendo-os aos dias atuais; as representações políticas na
mídia, observando a relação que há entre meios de comunicação e a política; finalizando
com um resumo do processo eleitoral brasileiro e do pleito presidencial de 2010.
O segundo capítulo se concentra nas perspectivas políticas na chamada web 2.0,
desenvolvendo um contexto da internet no país, relacionando-o aos índices sócio-
econômicos brasileiros, seguindo então para o uso dos meios de comunicação e sua
2 Dados a partir do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as eleições de 2010, acessados dia
13/09/2011, no link http://www.tse.gov.br/hotSites/estatistica2010/Est_eleitorado/quantitativo.html.
18
vertente política, desta vez com a discussão centrada no meio on-line. E, por fim, é
apresentado o histórico das campanhas políticas na internet. Essas duas primeiras partes
do trabalho, mais teóricas, pretendem contextualizar o estudo com breves considerações
de referências conceituais, para que dialoguem com a análise empírica.
Em seguida o capítulo três apresenta os procedimentos metodológicos para a
coleta de dados de postagens e comentários dos blogs analisados durante o primeiro
turno da campanha presidencial de 2010; uma descrição dos weblogs de Dilma
Rousseff, José Serra e Marina Silva; e traz o ponto central do trabalho que são as
análises das postagens dos três weblogs estudados e dos comentários nos blogs de
Dilma e Marina (visto que o candidato peessedebista não disponibilizou espaço para
tal), sendo esta a primeira vez que ocorre esse tipo de participação da população na
internet.
19
CAPÍTULO 1
ABORDAGENS TEÓRICAS AO ESTUDO SOBRE MÍDIA E POLÍTICA NO
BRASIL
Neste capítulo será abordada a discussão sobre debate público, representação e
eleições. Para tratar dessas temáticas é necessária a passagem por conceitos como esfera
pública, com suas antigas e novas concepções, o papel dos meios de comunicação em
debates políticos e opinião pública. A partir disso, é possível chegar ao objeto central do
estudo: as campanhas dos principais candidatos à presidência de 2010 nos meios de
comunicação online – considerados os mais novos espaços públicos. E então observar
como ocorreu o debate nesse espaço, mais especificamente nos weblogs, partindo da
discussão realizada por autores como Wolton (1995), que acredita ser possível pensar
num alargamento da esfera pública através dos novos instrumentos de comunicação de
massa, que se tornam “uma condição estrutural do funcionamento da democracia”
(BROTAS, s/d). Wolton (1995) prevê, então, possibilidades de formação de opiniões
“num espaço público midiatizado”. E uma das formas mais apropriadas para a formação
dessa opinião midiatizada é a das redes digitais.
1.1 A ESFERA PÚBLICA E OS MEIOS DIGITAIS
O conceito de opinião pública surge há muito tempo com discussões sobre o
assunto com pensadores como Platão, Thomas Hobbes, Maquiavel, que consideravam
„o povo incapaz de compreender o funcionamento do governo‟ (PLATÃO, 2000, apud
CERVI, p. 17, 2010) ou que essa opinião „deve ser condenável por introduzir no Estado
um germe de anarquia e de corrupção‟ (HOBBES, 1999, apud CERVI, p.17, 2010) ou
ainda vista como um „instrumento para alcançar e manter o poder, pois sugere que a
opinião pública deve ser manipulada ou acomodada, mas nunca ignorada‟
(MAQUIAVEL, 1997, apud CERVI, p.18, 2010). É a partir do Renascimento (entre os
séculos XIII e XVII) que o indivíduo passa a ser valorizado, segundo Cervi (2010),
20
assim como sua opinião pessoal, substituindo o predominante „monolitismo ideológico
da Idade Média‟, o que reflete no conceito de opinião pública, agora “consistente e
coerente, que deve ser considerada no processo decisório da elite política” (CERVI, p.
19, 2010).
A relação entre opinião pública e esfera pública é sintetizada por Habermas
(1981) através da classificação de dois tipos de opinião: a ideal ou pragmática e a
manipulada (CERVI, 2010). A primeira seria a participação dos cidadãos privados em
“processos de comunicação racional, tendo como interlocutores os integrantes da esfera
estatal, tais como os representantes de instituições políticas, para os quais há uma
possibilidade real da realização de um debate público, aberto e democrático” (CERVI,
p. 26, 2010). E a manipulada, por sua vez, estaria na esfera da recepção, em que
indivíduos afastados e sem possibilidades comunicacionais reais com representantes de
instituições políticas teriam apenas como reação a aclamação, sendo que essa forma de
opinião pública tende, para Habermas (1971), a predominar em relação à outra (CERVI,
2010).
Habermas (2003) define a esfera pública burguesa como aquela que é oposta à
esfera do privado e é onde se incluem os atores políticos ou então a mídia, que serve
para que o público se comunique. Segundo o autor, é somente à luz da esfera pública
que os assuntos e temas ganham liberdade e continuidade, pois é ali que os temas estão
visíveis a todos e disponíveis para o debate. Silva (2001) analisa três diferentes
momentos em que Habermas conceitua a noção de esfera pública, correspondendo às
obras: A Mudança Estrutural da Esfera Pública (1962), A Teoria da Ação Comunicativa
(1981) e Entre Fatos e Normas (1992). Em 1962 o sociólogo alemão fala sobre um
confronto político sem precedentes na história, em que a esfera pública burguesa
reclama que esta “fosse regulada como se estivesse acima das próprias autoridades
públicas; de forma a incluí-las num debate sobre as regras gerais que governam as
relações da esfera da troca de bens e de trabalho social basicamente privatizada, mas
publicamente relevante” (Habermas, p. 27, 1962, apud Silva, 2001).
Inicialmente era considerada esfera pública a reunião de pessoas privadas, que
discutiam assuntos em cafés, salões e sociedades culturais. Em seu artigo Silva lembra
ainda que o teórico discutiu a esfera pública relacionada à burguesia pelo “papel
21
predominante por ela desempenhado durante os séculos XVIII, XIX e XX” (Silva, p.
120, 2001), mas que a falta de observação de outras formas de “aparecer politicamente”
foi uma das razões pelas quais estas não foram incluídas em suas teorias.
Ao citar o que foi, para Habermas, essencial para a criação de uma esfera pública política, o autor explica que “a esfera pública burguesa,
na sua variante política, resultou de um processo de conversão
funcional da esfera pública literária, que compreendia fóruns de
discussão institucionalizados, no sentido de se apropriar da esfera
pública controlada pelo poder do estado e de a transformar numa
esfera de crítica à própria autoridade pública (leia-se estatal)
(Habermas, 1962)” (Silva, p. 125, 2001)
A Constituição de países europeus durante o século XVIII é citada pelo
sociólogo alemão, destacando os direitos em que a esfera pública era
constitucionalmente garantida: liberdade de opinião e de expressão, liberdade de
imprensa, liberdade de associação e de reunião, direito de petição, direito de voto,
liberdade individual, inviolabilidade do local de residência, igualdade perante a lei e
proteção da propriedade privada (Silva, 2001). Consequentemente, essa definição
constitucional trouxe consigo um caráter público das deliberações parlamentares e, para
Habermas, “garantia à opinião pública sua influência; assegurava a relação entre
representantes e eleitores como partes do mesmo público e [...] também os
procedimentos legais nos tribunais começaram a ser tornados públicos” (Habermas, p.
83, 1962, apud Silva, 2001).
Para Silva (2001) um “ponto fundamental da teoria política democrática” é
quando Habermas em 1992 analisa que a única forma de se desenvolver uma prática
deliberativa de autolegislação é através da interação entre a formação da vontade
parlamentar institucionalizada em procedimentos legais e tomada de decisões e a
“formação da opinião política através de canais informais de comunicação política”
(Habermas, 1992, p. 275, apud Silva, 2001).
A discussão sobre o sentido e história do espaço e opinião públicos é realizada
por Cucurella (2001), em um ensaio sobre o trabalho de Habermas acerca de sua
produção que relaciona esfera pública e opinião pública, dialogando com Hannah
Arendt, que com seus conceitos e críticas „modelou‟ novas posições a partir do autor
alemão e suas teorias. Em seu estudo ela fala sobre a definição de opinião pública,
termo pesquisado por diversos autores como Habermas, o qual demonstra a diversidade
22
de fenômenos que existe em torno deste termo e “sua estreita relação com a dinâmica de
poder e processos políticos” (Cucurella, p. 52, 2001).
Segundo Cucurella (2001), o espaço público seria um lugar onde surge a opinião
pública, podendo esta ser manipulada e deformada, além de um espaço de sustentação
da „coesão social, construção e legitimação (ou deslegitimação) política‟. A dinâmica
desse espaço é que determinaria as liberdades individuais e políticas (Cucurella, 2001).
Então, podemos concluir que embora deformada ou manipulada ela ainda tem um
importante papel que é o de promover a coesão social.
Habermas, conforme afirma Cucurella (2001), acredita que o espaço público
seria um campo da vida social em que os indivíduos privados se reúnem como público
em conversas com liberdade de se expressar e opinar livremente, constituindo uma
porção de espaço público. E no caso de um “público amplo, esta comunicação exige
meios específicos de transferência e influência: jornais e revistas, rádio e televisão são
hoje tais meios do espaço público” (Cucurella, p. 53, 2001). Os meios digitais são um
grande exemplo contemporâneo que surgem como um novo espaço público de
discussão e reunião.
Para Silva, é precisamente o fluxo de comunicação que evolui desde o plano da formação da opinião pública, através de discussões racionais
orientadas para o entendimento mútuo, passando pelas eleições
democráticas, reguladas por procedimentos que garantem a sua
validade e legitimidade democráticas, até ao nível das decisões
políticas em forma de lei, que assegura que a „influência‟ (Parsons) e o
poder comunicativo sejam convertidos em poder administrativo,
através, justamente, do direito (Silva, 2001, p. 131)
A opinião pública, segundo Dader (1990), é um fenômeno em constante
transformação em diferentes contextos sociais (Cervi, 2010). Isso porque seria um
sistema com três momentos: “o da recepção de informações para a formulação de novas
opiniões; o da transformação das informações recebidas em novas opiniões; e o de
compartilhar de opiniões com integrantes e grupos sociais de diferentes dimensões”
(Dader, 1990, apud Cervi, p. 25, 2010). Quando Dader (1990) fala sobre um sistema de
três momentos, são consideradas as mídias convencionais – televisão, rádio, impresso.
Ao tratar de comunicação online, esse processo pode ser modificado, visto que a
recepção de informações é rápida e a transformação desse conteúdo também, com
constante atualização desses processos, pois ao receber uma informação ele pode logo ir
23
atrás de outra que a confirme ou refute-a. Mas a internet expande as possibilidades de
compartilhamento de opiniões quando reduz barreiras geográficas e agiliza os contatos,
conectando os diversos públicos de todo o mundo entre si.
Ao relacionar as redes sociais digitais com o debate de diversos assuntos publicamente por uma grande variedade de indivíduos,
Wilderom (2009) explica que “O fato de esse espaço virtual permitir a
interação traz à tona o conceito de opinião pública, uma vez que se
trata de um amplo espaço de discussão de assuntos que concernem
massas de pessoas. Tal inferência retoma o referencial teórico
proposto pelo pioneiro da psicologia social norte-americana, Ross
(apud ANDRADE, 1964: 111) que afirma que a opinião pública pode
ser entendida como uma „discussão que atrai a atenção geral‟” (Wilderom, p. 163, 2009)
A proposta deste trabalho não é descobrir os impactos do que é produzido pela
mídia na opinião pública, mas observar como se dá o debate em determinados espaços
midiáticos. Para tanto o conceito de espaço e opinião públicos demonstram a
importância do estudo sobre os debates e representações políticos nos meios de
comunicação. E partir desses conceitos faz sentindo pelo fato de as novas mídias serem
um espaço público que surgiu com a evolução do que Habermas teorizava a partir de
discussões em cafés e outros espaços iniciais de reunião de pessoas privadas.
A „revitalização do modelo habermasiano de esfera pública‟ é discutida por
Brittes (s/d), que se questiona sobre o que muda para a esfera pública no contexto atual,
em que há um deslocamento da sociedade de massa para a sociedade da informação,
juntamente com a convergência entre tecnologias da informação e da comunicação
(Brittes, s/d). E dentre os espaços analisados estão as „Plataformas Comunicativas
Midiáticas Ciberespaciais‟. Na internet “tanto os jornais aparecem como formas
modificadas de estímulo à esfera pública, quanto fóruns totalmente novos cumprem este
papel, permitindo que usuários do mundo todo possam expressar suas opiniões”
(Brittes, p. 6, s/d). A autora observa, então, a possibilidade de surgimento de „esferas
públicas ciberespaciais‟, decorrentes da evolução de debates públicos ocorridos em
espaços online. E os weblogs de candidatos políticos são uma ferramenta na qual há um
debate público em que os responsáveis pelo espaço, seja assessoria, candidato ou
coordenadores de campanha, postam conteúdos de propaganda nessa „plataforma
multimidiática‟ e recebem comentários de internautas, que interagem entre si, com o
conteúdo postado e com o candidato em questão.
24
a internet e as diversas modalidades de informação, interacção e discussão que permite podem constituir um impulso renovador da
esfera pública e das instâncias mediadoras da ordem democrática. Por
esse motivo o conceito de esfera pública tem sido revisitado em
diversas pesquisas sobre os “novos media”, pois, supostamente, estes
permitem ultrapassar bloqueios existentes através da diminuição da
distância entre as pessoas e do alargamento do espaço de opinião
(Carvalho & Casanova, p. 92, 2010)
Revisitar brevemente os conceitos habermasianos é um esforço de apresentar a
internet como um novo espaço de socialização, tornando-se não uma nova forma de
esfera pública, mas uma extensão desta, com o meio on-line proporcionando novas
oportunidades devido a suas características específicas. E é por essas especificidades
que o estudo procura se alinhar, trazendo temas já amplamente discutidos como política
e eleições representativas, mas sob a ótica de transmissão por um meio de comunicação
relativamente novo – a internet.
1.2 REPRESENTAÇÃO POLÍTICA NA MÍDIA
É importante atentar para a forma como os meios de comunicação tratam a
temática política, devido ao seu papel relevante nas sociedades. Isso porque para
Kunczik (2002), mesmo naquelas nações mais fracas e instáveis, são eles que servem de
inspetor geral de todo o sistema político e que proporcionam a crítica pública necessária
para garantir a integridade política por parte daqueles que detêm o poder (KUNCZIK,
2002). A “influência dos media é admitida sem discussão, na medida em que ajudam a
estruturar a imagem da realidade social, a longo prazo, a organizar novos elementos da
mesma imagem, a formar novas opiniões e crenças” (WOLF, 2006, p. 143). Dessa
forma, os meios de comunicação auxiliam na formação da opinião pública em relação
aos temas que são trazidos pelos mesmos e acabam por agendar os assuntos nos quais as
pessoas vão pensar, mesmo que essa não seja a intenção principal (MCCOMBS, 1997).
a mídia é, nas sociedades contemporâneas, o principal instrumento de difusão das visões de mundo e dos projetos políticos; dito de outra
forma é o local em que estão expostas as diversas representações do
mundo social, associadas aos diversos grupos e interesses presentes na
sociedade. (MIGUEL, 2002, p. 6)
25
Essa relação entre mídia e política ainda é observada a partir de autores como
Canavilhas (2009), que por sua vez destaca os interesses particulares por trás dessa
relação:
se os políticos encontram nos media a forma mais eficaz para
chegarem aos cidadãos, os media procuram na política os
acontecimentos que interessam às audiências, o que por vezes
contraria os interesses dos políticos (CANAVILHAS, p. 1, 2009)
Os estudos sobre comunicação e política no Brasil se alargaram no final da
década de 70 e início da década de 80, com a „ampliação dos espaços democráticos‟ no
país, sendo a mídia vista como “aparelhos de luta política e principalmente ideológica”
(RUBIM, 1998). As atenções eram claramente voltadas aos regimes autoritários
vigentes na época, além da relação entre „classes dominantes e setores subalternos‟, mas
esse cenário mudou de perspectiva a partir da campanha pelas “Diretas, já” em 1984 e o
final da ditadura em 1985, que influenciaram nos estudos brasileiros sobre a temática,
“sintonizando-os com as questões características das sociedades ambientadas pelas
mídias” (RUBIM, p. 2, 1998). Houve então, a partir das eleições de 1989, que
colocaram Fernando Collor de Mello na presidência do país, um grande aumento em
relação às reflexões sobre a conexão mídia e política, observando essa nova
circunstância de uma sociedade midiatizada (RUBIM, 1998).
No panorama em que o autor descreve sobre como surgiram os estudos sobre
mídia e política, desde o que o autor chama de „Pré-História dos Estudos Sobre Mídia e
Política no Brasil‟ até sua pesquisa em 1998, fica evidente que ações no campo político
influenciaram fortemente os estudos sobre a temática, como foi o caso do impeachment
de Fernando Collor em 1992 e as eleições de 1994 de Fernando Henrique Cardoso
(RUBIM, 1998). Ao citar diversos autores, dissertações, teses, pesquisas, encontros e
atividades sobre o assunto, o autor conclui que toda essa ação de pesquisa e estudos
“vem permitindo que a área desenvolva uma mínima organização, imprescindível para
sua afirmação como espaço acadêmico e interdisciplinar e para seu reconhecimento
entre nós como campo relevante de estudos” (RUBIM, p. 4, 1998).
Manin (1995) ao discutir as metamorfoses do governo representativo observa
que assim como o modo de os eleitores votarem, as estratégias eleitorais dos candidatos
políticos mudaram ao longo do tempo e não há mais a confiança que existia antes do
26
eleitorado em partidos políticos, os quais antes „pareciam um reflexo de clivagens
sociais‟ e hoje parecem inverter o papel e impor clivagens à sociedade – “No passado,
os partidos propunham aos eleitores um programa político que se comprometiam a
cumprir, caso chegassem ao poder. Hoje, a estratégia eleitoral dos candidatos e dos
partidos repousa, em vez disso, na construção de imagens vagas que projetam a
personalidade dos líderes” (MANIN, p. 5, 1995).
a eleição de representantes já não parece um meio pelo qual os cidadãos indicam as políticas que desejam ver executadas. Por último,
a arena política vem sendo progressivamente dominada por fatores
técnicos que os cidadãos não dominam. Os políticos chegam ao poder
por causa de suas aptidões e de sua experiência no uso dos meios de
comunicação de massa, não porque estejam próximos ou se
assemelhem aos seus eleitores. O abismo entre o governo e a
sociedade, entre representantes e representados, parece estar
aumentando. (MANIN, p. 5, 1995)
No Brasil, a partir de 1989 com as eleições de Fernando Collor, ocorre aquilo
que Manin descreve como os representantes sendo eleitos pelos governados, em que
ainda há diferenças de status e função entre ambos e essa eleição periódica resultaria na
„atribuição de autoridade a determinados indivíduos para que governem sobre outros‟,
através de um método de escolha que legitima seu poder (MANIN, 1995). O autor ainda
descreve o sistema eletivo como um processo decisório que não necessariamente cria
identidade entre quem governa e quem é governado, podendo aqueles ser cultural e
socialmente diferentes destes, mas que “como o governo representativo se fundamenta
em eleições repetidas, o povo tem condições de exercer uma certa influência sobre as
decisões do governo: pode, por exemplo, destituir os representantes cuja orientação não
lhe agrade” (MANIN, p. 9, 1995).
Desde o final do século XVIII predomina a ideia de livre expressão e formulação
de opinião política dos governados, em um governo representativo, mas para isso são
necessários acesso a informações políticas, ou seja, decisões governamentais tornadas
públicas (MANIN, 1995). Nos governos representativos atuais acontece a concentração
das campanhas e eleições em torno de um líder político e não mais em um partido. E
isso teria duas causas: o contato direto entre candidato e eleitor a partir de canais de
comunicação, „dispensando a mediação de uma rede de elações partidárias‟ e a reação a
essas mudanças, fazendo com que o líder político dê ênfase à individualidade e não
tanto às plataformas políticas (MANIN, 1995). “Os meios de comunicação de massa, no
27
entanto, privilegiam determinadas qualidades pessoais: os candidatos vitoriosos não são
os de maior prestígio local, mas os "comunicadores", pessoas que dominam as técnicas
da mídia” (MANIN, p. 27, 1997).
Os canais de comunicação com a opinião pública são politicamente
neutros, isto é, não têm uma base partidária. [...] O resultado dessa
neutralização da mídia em relação às clivagens partidárias é que as
pessoas recebem as mesmas informações sobre um dado assunto, a
despeito de suas preferências políticas. Isso não significa que os
assuntos ou os fatos - diferentemente dos julgamentos - sejam
percebidos de maneira "objetiva", sem distorções, mas simplesmente
que eles são percebidos de maneira relativamente uniforme através do
amplo espectro das preferências políticas (MANIN, p. 32, 1995)
Segundo os estudos de Baquero (2009) sobre campanhas eleitorais, a forma
como os candidatos políticos conduzem sua campanha diante da opinião pública
influencia na votação, concluindo que propagandas eleitorais eficazes „beneficiam o
desempenho dos candidatos nas urnas‟ e, segundo o autor, pesquisas de opinião pública
costumam mostrar que “parcelas significativas do eleitorado escolhem os seus
candidatos pela propaganda” (BAQUERO, p. 265, 2009).
O declínio da imprensa partidário-opinativa e crescimento dos meios de
comunicação de massa aconteceram em meados do século XX, com o media agindo
conforme suas próprias lógicas e os atores políticos disputando o “espaço midiático
como arena principal de inserção pública em sociedades “midiocentradas” (SARTORI,
2001; ALMEIDA, 2002, apud RIBEIRO, 2004)”.
A intenção dos agentes políticos é fazer com que cheguem determinadas
mensagens ao público, tentando, por vezes, encontrar formas de o jornalismo não
interferir no conteúdo com seleções e codificações de acordo com os valores
jornalísticos, que tendem a retirar a persuasão de suas mensagens iniciais
(CANAVILHAS, p. 1, 2009). E atualmente a ferramenta que surge como alternativa aos
meios tradicionais de comunicação é a internet, tida como promissora para o campo
político, que pretende um contato direto com seu eleitorado, evitando a intermediação
jornalística (CANAVILHAS, 2009).
O processo de desenvolvimento das novas tecnologias da
comunicação provocou uma reelaboração das formas pelas quais
indivíduos se relacionam entre si. As interações sociais vem tomando
um caráter cada vez mais não-presencial, ou seja, as pessoas se
28
expressam, interagem, dialogam, sem, necessariamente, se encontrarem no mesmo ambiente físico. O espaço de visibilidade
mediática proporciona uma complexa interação entre os atores do
sistema político e os da sociedade civil (MAIA, 2002; THOMPSON,
1998). (FRANCISQUINI, p. 1, 2011)
É necessário lembrarmos os conceitos discutidos no tópico 1.1 (A esfera pública
e os meios digitais), em que foram apresentadas as teorias clássicas sobre esfera pública,
observando brevemente uma revitalização do modelo habermaziano para o contexto
atual, considerando principalmente as novas mídias. Francisquini (2011) observa na
citação acima como as formas de relacionamento entre as pessoas se “reelaboraram”, ou
seja, há atualmente uma grande interação via internet entre os indivíduos, seja por e-
mails, mensagens, redes sociais, entre outras. Essa nova forma de diálogo se estende
também ao campo da política, com interação popular entre si, com políticos e em
sites/redes sociais sobre o assunto. Sendo a intenção deste trabalho um estudo sobre
uma „fatia‟ dessa nova maneira de interação: o uso de weblogs por políticos.
Mas antes de apresentar de maneira mais concreta e específica a internet como
meio de comunicação utilizado por atores políticos em período de campanhas eleitorais,
se faz necessário realizar uma reflexão sobre o processo eleitoral no Brasil. Para tanto, é
possível partir do período de redemocratização do país com início em 1985, pós
ditadura militar, quando é considerada na verdade, por autores como Carvalho (2002), a
construção da democracia brasileira.
1.3 PROCESSO ELEITORAL E PANORAMA DO PLEITO PRESIDENCIAL
DE 2010
Com a democratização das instituições públicas após 1985, quando findou a
ditadura militar, pensou-se que o direito reconquistado de eleger nossos representantes
políticos seria a “garantiria de liberdade, de participação, segurança, desenvolvimento,
de emprego, de justiça social” (CARVALHO, p.7, 2002). Os dois primeiros o foram, já
os outros ainda são problemas centrais em nossa sociedade e em consequência, “os
próprios mecanismos e agentes do sistema democrático, como as eleições, os partidos, o
Congresso, os políticos, se desgastam e perdem a confiança dos cidadãos”
(CARVALHO, p. 8, 2002).
29
De fato, Carvalho (2002), lembra que de 1822 a 1930 houve eleições
ininterruptas no país (exceto durante a guerra contra o Paraguai – entre 1865 e 1870 – e
a proclamação da República em 1889), relembrando desde o período do Império pós
Independência à Primeira República, com as devidas considerações de como era o
processo eletivo na época, com restrições de quem votava, o voto de cabresto, o
coronelismo, entre outros (CARVALHO, 2002). Mas é a partir do período de
redemocratização que as eleições no país ocorrem continuamente e com maior
transparência: “A este respeito o Relatório do PNUD (2004) chama a atenção para o
fato de que o Brasil é considerado um dos países com melhores avaliações na
institucionalização e regras e normas que regulam as disputas eleitorais” (BAQUERO,
p.245, 2009). Mas ele questiona se esse modelo funciona efetivamente no sentido de
produzir melhores cidadãos, mais responsabilidade e responsividade dos gestores
públicos em relação à opinião pública e se os partidos conseguem de fato fazer a
intermediação entre sociedade e Estado (BAQUERO, 2009), pensando em um sistema
democrático de governar. Este, segundo Bobbio (1998), teria como definição adotada
alguns preceitos:
1) o órgão político máximo, a quem é assinalada a função legislativa,
deve ser composto de membros direta ou indiretamente eleitos pelo
povo, em eleições de primeiro ou de segundo grau; 2) junto do
supremo órgão legislativo deverá haver outras instituições com
dirigentes eleitos, como os órgãos da administração local ou o chefe
de Estado (tal como acontece nas repúblicas); 3) todos os cidadãos que
tenham atingido a maioridade, sem distinção de raça, de religião, de censo e possivelmente de sexo, devem ser eleitores; 4) todos os
eleitores devem ter voto igual; 5) todos os eleitores devem ser livres
em votar segundo a própria opinião formada o mais livremente
possível, isto é, numa disputa livre de partidos políticos que lutam pela
formação de uma representação nacional; 6) devem ser livres também
no sentido em que devem ser postos em condição de ter reais
alternativas (o que exclui como democrática qualquer eleição de lista
única ou bloqueada); 7) tanto para as eleições dos representantes como
para as decisões do órgão político supremo vale o princípio da maioria
numérica, se bem que podem ser estabelecidas várias formas de
maioria segundo critérios de oportunidade não definidos de uma vez para sempre; 8) nenhuma decisão tomada por maioria deve limitar os
direitos da minoria, de um modo especial o direito de tornar-se
maioria, em paridade de condições; 9) o órgão do Governo deve gozar
de confiança do Parlamento ou do chefe do poder executivo, por sua
vez, eleito pelo povo. (BOBBIO, p. 327, 1998)
30
Considerando a democracia3 como sistema vigente no país, o voto torna-se
imprescindível no processo de eleição de representantes políticos. O ideal da cidadania
plena (criada no Ocidente e termo que ganhou força no processo de democratização
brasileira) abrange os direitos civis, políticos e sociais – todos indispensáveis
(CARVALHO, 2002). Mas aqui discutiremos os políticos, para manter a linha de
pensamento a respeito do processo eleitoral.
Os direitos políticos se referem à participação do cidadão no governo da sociedade. Seu exercício é limitado à parcela da população e
consiste na capacidade de fazer demonstrações políticas, de organizar
partidos, de votar, de ser votado. Em geral, quando se fala de direitos
políticos, é do direito do voto que se está falando. Se pode haver
direitos civis4 sem direitos políticos, o contrário não é viável. Sem os direitos civis, sobretudo a liberdade de opinião e organização, os
direitos políticos, sobretudo o voto, podem existir formalmente mas
ficam esvaziados de conteúdo e servem antes para justificar governos
do que para representar cidadãos. Os direitos políticos têm como
instituição principal os partidos e um parlamento livre e
representativo. São eles que conferem legitimidade à organização
política da sociedade. Sua essência é a idéia de autogoverno.
(CARVALHO, p. 9-10, 2002)
A partir dos diretos políticos é possível traçar uma reflexão sobre o processo
eleitoral brasileiro. O partidarismo é uma realidade no país: para se candidatar a cargos
representativos governamentais (municipais, estaduais ou federais) é necessária a
filiação a algum partido – o número é de 27 partidos registrados no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), conforme consulta ao site em setembro de 2011. Outros requisitos são
cobrados para se candidatar, como o pleno exercício dos direitos políticos, entre outros.
Se eleito, o mandato tem duração de quatro anos com limite de oito anos consecutivos
no poder (com exceção de vereadores, que podem reeleger-se de forma ilimitada). E o
direito de voto é dado a todo cidadão brasileiro, que pode exercer seus direitos a partir
dos 16 anos de idade de forma facultativa e obrigatória aos 18 anos em diante. Os
direitos políticos no Brasil são plenamente garantidos e as eleições são consideradas
3 Atualmente se discute uma mudança do nome „democracia‟ para „poliarquia‟, amplamente adotado por
cientistas políticos ao concordarem com DAHL (1977): “por considerar as democracias efetivamente
existentes pobres aproximações do ideal democrático, Dahl sugeriu que estas fossem chamadas de
poliarquias” (LIMONGI, p. 11, apud DAHL, 2005). DAHL, Robert (1977). Poliarquia: Participação e
Oposição. São Paulo, Edusp.
4 Direitos civis: “direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei,
políticos e sociais. Eles se desdobram na garantia de ir e vir, de escolher o trabalho, de manifestar o
pensamento, de organizar-se, de ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, de não ser
preso a não ser pela autoridade competente e de acordo com as leis, de não ser condenado sem processo
legal regular” (CARVALHO, p. 9, 2002).
31
democráticas e “limpas”, com seu sistema de urnas eletrônicas, instalado em 2000, com
a pretensão de eliminar as fraudes eleitorais.
Partindo de pesquisas empíricas e teóricas, Baquero (2009) chega a uma
conclusão a respeito do comportamento eleitoral brasileiro, reforçando o que Manin
(1997) discute ao falar sobre a democracia representativa:
os modelos eleitorais sugerem que o destino dos votos dos eleitores
não depende de lealdades partidárias e sim de identificações com a
figura do candidato, naquilo que se denomina de relações terciárias, que agem em detrimento das instituições políticas, particularmente os
partidos. (BAQUERO, p. 266, 2009)
Em relação ao contexto das eleições presidenciais de 2010 é possível lembrar
que no início de 2009, quando ainda se especulava quais seriam os candidatos a disputar
a presidência do ano seguinte, as pesquisas apontavam caminhos diferentes do cenário
político no qual ocorreram as eleições de 2010. José Serra se mantinha com favoritismo
à vitória pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Dilma Rousseff,
representando o Partido dos Trabalhadores (PT), começava a crescer nas pesquisas de
intenção de voto, mas ainda mantinha-se em segundo ou terceiro lugar. Marina Silva do
Partido Verde (PV) ainda não estava entre as especulações de prováveis candidaturas,
mas havia Ciro Gomes pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), Heloisa Helena pelo
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e ainda a possibilidade de Aécio Neves
concorrer pelo PSDB, no lugar de José Serra. Em 2010 o que aconteceu foi uma disputa
entre nove candidatos: os principais – Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e
Marina Silva (PV) – e os chamados “nanicos” (de menor representatividade política),
Ivan Pinheiro (PCB), Zé Maria (PSTU), José Maria Eymael (PSDC), Levy Fidelix
(PRTB), Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) e Rui Costa Pimenta (PCO).
Quando as candidaturas foram oficializadas no início de julho as pesquisas de
intenção de voto, que iniciaram suas atividades nos primeiros meses de 2009 com
especulações de quem seriam os candidatos, agora realizavam pesquisas já com os
nomes certos. A partir de dados do Instituto Datafolha, um levantamento foi realizado
entre 20 e 22 de julho de 2009 e Dilma Rousseff aparece com 36% das intenções de
voto, contra José Serra com 37%, havendo um empate técnico entre os dois. Marina
Silva já aparecia com o terceiro lugar ao favoritismo na disputa, com 10% das menções.
32
As eleições de 2010 contaram com dois turnos de votação para presidente, pois
nenhum candidato conseguiu mais de 50% dos votos. No primeiro turno Dilma
Rousseff obteve 46,91% dos votos, José Serra 32,61% e Marina Silva 19,33%. O
segundo turno definiu, com 55.752.529 votos (56,05%) a vitória de Dilma Rousseff
para a presidência do país, contra os 43.711.388 (43,95%) do candidato do PSDB.
Nascida em 1947, a candidata Dilma Rousseff começa sua vida pública em
1986, quando pelo prefeito de Porto Alegre, Alceu Collares (PDT), é escolhida para
administrar a Secretaria da Fazenda. No final da década de 80, Dilma é diretora-geral da
Câmara de Vereadores de Porto Alegre e em 1993 assume o cargo de secretária estadual
de Minas, Energia e Comunicação pelo Rio Grande do Sul, continuando no mesmo
setor em 1998. Em 2002 é ministra de Minas e Energia pelo governo Lula e em 2005,
com o escândalo do mensalão, José Dirceu, ministro-chefe da Casa Civil é afastado e
Dilma ocupa sua cadeira. Em 2010 então é eleita presidente do país, com mandato de
duração até o final de 2014 e Michel Temer (PMDB) como vice.
José Serra, nascido em 1942, dá início a sua trajetória política em 1982 no
comando da Secretaria de Planejamento do governo estadual de São Paulo, com a
nomeação de Franco Montoro (PMDB) para governador do estado. Afastou-se do cargo
em 1986 e candidatou-se a Deputado Federal, vencendo pelo PMDB, e é reeleito em
1990. Em 1994 é eleito senador, mas sua vaga é ocupada por Pedro Piva, seu suplente,
para que pudesse participar do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando
Serra é convidado pelo presidente para ocupar o Ministério do Planejamento (1995-
1996) e depois Ministério da Saúde de 1998 a 2002. Em 2002 disputou a presidência
com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com o petista vencendo o pleito no segundo turno.
Em 2004 José Serra é eleito prefeito de São Paulo – SP no segundo turno, renunciando
ao cargo em 2006, deixando a administração da cidade com seu vice, Gilberto Kassab
(2006-2008), para se candidatar ao governo do estado de São Paulo, vencendo no
primeiro turno. O peessedebista deixa o cargo para se candidatar à presidência do Brasil
junto a Indio da Costa (DEM) como vice.
A carreira política de Marina Silva, nascida em 1958, começa com sua disputa a
uma vaga na Câmara dos Deputados em 1986 pelo Partido dos Trabalhadores, sem
sucesso. Mas em 1988 é eleita vereadora de Rio Branco – AC, exercendo seu cargo até
33
1990, quando se candidata a deputada estadual e vence. Em 1994 concorre ao cargo de
senadora e é eleita, sendo reeleita no ano de 2002. Com a eleição de Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), Marina Silva é nomeada ministra do Meio Ambiente. Em maio de 2008 a
ministra pede demissão do cargo, declarando dificuldades enfrentadas dentro do
governo. Em 2009 deixa o PT e filia-se ao Partido Verde (PV), pelo qual lançou sua
pré-candidatura à presidência em maio de 2010. A disputa pela presidência desse ano
contou com Guilherme Leal (PV) como seu vice e, após perder a disputa no primeiro
turno, manteve-se sem posicionamento em relação aos candidatos do PT e PSDB que
disputaram o segundo turno do pleito.
As campanhas eleitorais foram liberadas no dia seis de julho de 2010 até três de
outubro, quando aconteceram as eleições do primeiro turno. Em seguida houve mais um
período para que os candidatos ainda em disputa fizessem propaganda política entre três
e 31 de outubro. Mas o ineditismo nas eleições de 2010 não ficou apenas por conta de
Dilma Rousseff que se tornou a primeira presidente mulher eleita no país. Foi também
esse o ano em que as campanhas foram liberadas oficialmente para espaços midiáticos
on-line.
Segundo o artigo 19 da resolução nº 23.191 do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), a campanha política via internet poderia ocorrer a partir do dia seis de julho de
2010 para as eleições majoritárias presidenciais e de governo estadual, além das
proporcionais. As propagandas eleitorais foram liberadas para veiculação por meio de
sítios dos candidatos ou de partidos a que estes pertenciam. Além destes locais,
permitiu-se a difusão de informações e apelos eleitorais através de redes sociais, como
blogs, Orkut, Facebook e Twitter.
Foram vetadas propagandas difundidas em sítios de órgãos estaduais ou federais,
assim como em endereços eletrônicos pertencentes a pessoas jurídicas, com ou sem fins
lucrativos. Outra restrição se fez à propaganda paga via web. A violação de qualquer um
destes itens acarretaria em multa aplicada pelo TSE no nome do responsável, variando
entre cinco e trinta mil reais, superior à pena cobrada de candidatos em casos de
transgressão das leis eleitorais, nos valores entre cinco e vinte e cinco mil. A liberação
da internet para finalidades políticas/eleitorais propiciou mais visibilidade ao assunto,
uma vez que houve a soma de mais um meio de comunicação para a propagação de
34
ideias de partidos e coligações. As novidades são claras ao se pensar nas características
peculiares da web, como interatividade, instantaneidade, multimidialidade, entre outros,
destacando os baixos custos para uso desta mídia se comparada às tradicionais, como
televisão e impressões de panfletos.
Os eleitores podem, por liberação oficial, expressar suas opiniões livremente
num ambiente sem limitações de tempo e espaço, interagir com indivíduos de linhas de
pensamento convergentes ou divergentes, responder a enquetes e, desta forma,
colaborar para pesquisas estatísticas sobre as eleições correntes. Outro aspecto
característico destas eleições no meio internet se deu através do imediatismo com que
notícias e declarações dos candidatos eram postadas, quase simultaneamente à
ocorrência dos fatos.
É devido a essas características que o estudo pretende observar o uso de
ferramentas on-line por políticos brasileiros a partir de casos específicos – weblogs dos
três principais candidatos à presidência de 2010. Para isso, o próximo capítulo apresenta
a relação entre política e internet, com uma breve contextualização desse meio de
comunicação no Brasil (com índices sócio-econômicos e sobre a acessibilidade), o uso
dos meios on-line de comunicação e sua vertente política e um breve histórico de seu
uso em campanhas eleitorais, destacando casos brasileiros e internacionais, porém sem
apresentar toda sua trajetória mundial, apenas uma ilustração com casos relevantes para
apresentar um quadro que contextualize de forma geral como a propaganda política foi
veiculada na internet antes de 2010.
35
CAPÍTULO 2
PERSPECTIVAS POLÍTICAS NA WEB 2.0: CAMPANHAS ELEITORAIS NA
INTERNET
O segundo capítulo traz o histórico do uso das mídias on-line em campanhas
políticas e discussões sobre o uso da internet como veículo de comunicação política,
principalmente sobre o debate em ferramentas on-line específicas: os weblogs. A
bibliografia sobre o assunto é recente, principalmente no caso brasileiro, devido à
especificidade desse meio de comunicação – internet –, que começa a se consolidar
agora como um instrumento com fins políticos e ainda possui uma “aura” de
potencialidades e possibilidades em aberto.
A web 2.0 é explicada pelo pesquisador na área de novas tecnologias – Primo
(2007) – como a “segunda geração de serviços online e caracteriza-se por potencializar
as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de
ampliar os espaços para a interação entre os participantes do processo” (PRIMO, p. 2,
2007). Segundo o autor, o termo web 2.0 seria a junção de técnicas informáticas, além
de estar relacionado a um determinado período tecnológico, estratégias mercadológicas
e a comunicação mediada por computadores (PRIMO, 2007). Ele explica que o
surgimento do termo web 2.0 é a partir de “um trocadilho com o tipo de notação em
informática que indica a versão de um software, foi popularizado pela O‟Reilly Media e
pela MediaLive International como denominação de uma série de conferências que
tiveram início em outubro de 2004” (O‟REILLY, 2005, apud PRIMO, p. 2, 2007).
a progressão geométrica do número de blogs é uma recorrente
ilustração da Web 2.0. Muito embora a imprensa insista em descrevê-
los com meros diários online, reduzindo-os a uma ferramenta de
publicação individual e de celebração do ego, os blogs transformaram-
se em um importante espaço de conversação (Primo e Smaniotto,
2006). Os blogs tampouco podem ser analisados a partir de uma
perspectiva massiva. Poucos são aqueles que possuem milhares ou até
mesmo milhões de leitores. Entretanto, não se pode concluir que trata-
se de meio de pouca importância no cenário midiático. Através dos
blogs, pequenas redes de amigos ou de grupos de interessados em nichos muito específicos podem interagir. Já a interconexão entre
esses grupos pode gerar significativos efeitos em rede. Essa
propagação de informações gerando macro-efeitos a partir da
capilarização da rede é chamada por Anderson (2006) de “poder da
longa cauda”. Logo, hoje na Web não apenas os grandes portais têm
importância. Mesmo os blogs que reúnem pequenos grupos com
36
interesses segmentados ganham peso na rede a partir de sua interconexão com outros sub-sistemas. (PRIMO, p. 3, 2007)
Ao falar sobre a utilização da internet por atores políticos e as pesquisas sobre o
assunto são consideradas três questões, fundamentalmente: as ferramentas, a forma
como são utilizadas e seus consumidores. Estudos de Gomes e Aggio (2009), Iasulaitis
(2007), Brandão (2008), entre outros, mostram que é recente o uso da internet para fins
políticos, assim como as pesquisas acadêmicas. Mas em aproximadamente duas décadas
– que marcam o início da utilização dos meios on-line para campanha eleitoral – foi
possível observar como vem se estruturando a arena política nesse meio. E esse trabalho
pretende observar casos específicos dessa estrutura no Brasil, a partir dos blogs de
políticos brasileiros que disputaram as eleições presidenciais de 2010, analisando o
debate que ocorreu nesses meios.
2.1 INTERNET E ÍNDICES SÓCIO-ECONÔMICOS
A pesquisa de 2010 sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação
no Brasil do Comitê Gestor de Internet no país mostra que em áreas urbanas 39% da
população possuem computador e nas áreas rurais esse número cai para 12%. Mas o
principal contraste que o estudo traz é mostrado quando se faz a relação entre a renda
familiar e o acesso a tecnologias como o computador e a internet.
O acesso ao computador em domicílios chega a 93% nas famílias de classe
social A. Esse número cai conforme os salários diminuem, com 76% na classe B, 34%
na classe C e 5% nas classes D e E. A classe C, com seus 34% de acesso a
computadores, representa mais da metade da população brasileira (55,05%) segundo o
estudo de 2010 do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV)5. Há
também diferenças em relação às regiões do Brasil. Os computadores estão presentes
5 Os dados retirados do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, no site www.fgv.br/cps -
acessado dia 11/09/2011.
37
em domicílios, distribuídos da seguinte forma: 45% no Sudeste, 42% no Sul, 40% no
Centro-Oeste, 23% no Norte e 14% no Nordeste (Fonte: NIC.br - set/nov 2010)6.
Quando se trata de internet os números são ainda mais baixos, com 3% de acesso
das classes sociais D e E, 24% da classe C, 65% da população pertencente à classe B e
90% daqueles que são considerados economicamente pertencentes à classe A brasileira.
Em área urbana a população que possui internet corresponde a 31% e 6% na região
rural. O que significa que nem metade da população brasileira tem acesso à internet.
Enquanto a classe C representa 105.468.908 de habitantes (55,05% da
população), com renda domiciliar mensal entre dois a nove salários mínimos, a classe A
e B juntas correspondem a 11,75% dos brasileiros (22.526.223 de habitantes), com uma
faixa salarial por família acima de nove salários mínimos, não esquecendo que ainda há
mais de 63 milhões de pessoas sobrevivendo com no máximo R$ 751,00 ao mês7.
Quando o assunto é computador e internet, a acessibilidade acompanha a desigualdade
social presente na realidade do país.
18%
24%27%
0
5
10
15
20
25
30
Percentual sobre o total de domicílios
2008
2009
2010
Gráfico 1 – Internet em domicílios brasileiros
Fonte: NIC.br – set/nov 2008 – 2010
6 Dados acessados a partir do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação.
www.cetic.br – acessado em outubro/2010 e setembro/2011.
7 Os dados sócio-econômicos foram retirados do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas,
atualizados até o ano de 2011. www.fgv.br/cps - acessado dia 11/09/2011.
38
De acordo com o gráfico acima, com dados do Comitê Gestor de Internet do
Brasil, é possível observar que ainda é baixa a porcentagem de domicílios que possuem
internet no país. O gráfico representa os domicílios brasileiros – rurais e urbanos – que
possuem internet e mostra que gradativamente esse quadro está se alterando e conforme
passam os anos o acesso aumenta, embora de 2009 a 2010 o crescimento seja menor se
comparado a 2008. Porém, é necessário que tal cenário ainda se modifique e continue
aumentando o número de pessoas com acesso a esse meio, o que deve ser discutido
pelas propostas e políticas de inclusão digital. Essa apresentação da acessibilidade à
internet é apenas para ilustrar a situação brasileira, demonstrando o que Aldé, Escobar e
Chagas (2007) discutem ao dizer que essa ainda é uma tecnologia restrita devido a
fatores econômicos.
Foi apresentado apenas o uso da internet em domicílios pois a maior parte da
população utiliza-a em suas casas: dados do mesmo documento mostram que 57% das
pessoas acessam a internet em seus lares, 34% em centro público de acesso pago, 27%
na casa de outra pessoa, 22% no trabalho, 14% na escola e 4% em centro público de
acesso gratuito. Esses dados mostram que a internet pode e é acessada em outros lugares
e não apenas em domicílios, o que aumenta o número de pessoas utilizando esse meio
no país. Porém, se apenas 27% da população possui internet em suas casas e somente
4% utiliza-a em locais públicos de acesso gratuito, percebe-se que ou existem poucas
formas de inclusão digital no Brasil, deixando uma grande parcela populacional fora das
redes digitais, ou as políticas de incentivo e instrução são ineficientes. De toda forma,
há uma desigualdade visível e grande quando o assunto é acesso ao meio de
comunicação internet.
Em relação à área urbana, que concentra o maior número de usuários de internet,
é possível observar através das pesquisas voltadas especificamente ao uso de
computadores e internet do Comitê Gestor da Internet no Brasil que seu uso pode ser
dividido nas seguintes atividades: comunicação, busca de informações, lazer, serviços
financeiros e educação.
39
Tabela 1 – Tipos de atividades realizadas por usuários de internet no Brasil
2007 2008 2009 2010
Comunicação 89% 90% 90% 94%
Busca de Informação 87% 83% 89% 87%
Lazer 88% 86% 86% 87%
Serviços Financeiros 18% 16% 14% 17%
Educação 73% 72% 72% 66%
Fonte: CETIC.br/CGI.br/NIC.br – set/nov 20108
A comunicação tem sido o maior motivo de uso da internet com crescimento de
2007 a 2010, conforme demonstra a tabela 1. Mas além da comunicação, a internet é
utilizada para diversas outras atividades, sendo que uma não exclui a outra e através dos
percentuais apresentados acima é possível perceber que o usuário acessa a internet com
diversas finalidades e não uma apenas. Mas trazendo esses dados para o presente estudo
destacam-se duas informações: o uso para comunicação e busca por informações.
É possível observar que no Brasil aqueles que utilizam a internet fazem grande
uso do dispositivo para as duas atividades citadas acima. Embora comunicação englobe
diversas formas e tipos, a exposição de pensamentos e opiniões também é uma forma de
se comunicar, remetendo a comentários em weblogs inclusive, lembrando que hoje as
redes sociais são o principal instrumento de comunicação on-line. A busca por
informação também, mesmo que tenha sido apresentado um dado de forma
generalizada, visto que por informação entende-se todo e qualquer tipo de instrução ao
conhecimento, dentre os assuntos está a política, eleições e campanhas, principalmente
em períodos eleitorais. Mostra que o internauta brasileiro utiliza sim o ciberespaço para
lazer, mas que os índices de busca por informações são tão altos quanto, sinalizando um
bom indicador do uso da internet pelos brasileiros, ainda que os dados remetam apenas
às áreas urbanas por não haver pesquisas sobre o assunto nas áreas rurais.
O período de campanha analisado de compreende 90 dias de propaganda política
(primeiro turno – de seis de julho a três de outubro de 2010). Nesse espaço de tempo os
blogs analisados produziram ao todo 617 postagens, com 12.457 comentários. O grande
percentual de busca por informação e a quantidade de postagens no período estudado
8 Pesquisa realizada através da parceria entre o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), o Núcleo de
Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e o Centro de Estudos sobre as Tecnologias da
Informação (CETIC.br). www.cetic.br – acessado dia 11/09/2011.
40
demonstram que seguindo à tendência de um dos usos da internet pela população, os
candidatos buscaram postar diariamente notícias em forma de postagem, principalmente
Dilma Rousseff e Marina Silva, além de outros conteúdos que estiveram presentes nos
blogs e não entram como postagem, mas podem ser considerados informação ao
internauta e constam na análise descritiva de cada rede social analisada. E a
comunicação é claramente o maior motivo de acesso das pessoas à internet, o que é
possível perceber, de certa forma e voltando-se ao presente estudo, por meio do número
de comentários de internautas nas postagens. É expressiva a interação que houve entre
população e as postagens dos políticos estudados, mostrando que a comunicação é a
maior forma de utilização que as pessoas dão à internet e que isso reflete-se também em
blogs políticos, com grande número de comentários – considerando ainda que uma
parcela destes não entrou devido à moderação e que o blog de José Serra não
disponibilizou espaço para tal.
2.2 O USO DOS MEIOS ON-LINE DE COMUNICAÇÃO E SUA VERTENTE
POLÍTICA
A internet, ao proporcionar o chamado „fenômeno da inter-conectividade entre
pessoas‟ por Wilderom (2009), tornou-se objeto amplamente discutido nos meios
acadêmicos e a partir desse contexto, “as ciências sociais e a comunicação têm buscado
compreender como essa grande massa de indivíduos está se unindo a uma velocidade
cada vez maior para discutir desde assuntos menos importantes até criar mobilização em
torno de temas complexos como política e religião” (WILDEROM, p. 161, 2009). É
possível dizer hoje que o impacto da internet e da „rede global de computadores‟ nos
meios de comunicação é muito visível, além de sua influência na sociedade, tornando-se
um vasto campo de pesquisa sobre os mais diversos aspectos como comportamento,
linguagem, entre outros (WILDEROM, 2009).
A conexão entre indivíduos e a facilidade de propagação de informações entre eles gerada pela conectividade, é um fenômeno cuja
reversibilidade é praticamente impossível e, portanto, a sociedade
tende a tornar-se cada vez mais mutável por conta desse movimento.
O pai do conceito de “aldeia global” que, na década de 60, reiterava a
ruptura entre espaço e conexão entre pessoas por meio de tecnologia, é
categórico ao afirmar que, a partir do momento em que as relações
sociais mudarem, não será mais possível voltar ao status de outrora.
(WILDEROM, p. 161, 2009)
41
Entre as redes sociais mais utilizadas através da internet está o weblog, que
surgiu no final dos anos 90 como forma de diários públicos, temáticos ou livres (ALDÉ,
ESCOBAR e CHAGAS, 2007). As perspectivas e expectativas ao redor das ferramentas
que a internet oferece são, de maneira geral, em torno da possibilidade de
democratização da comunicação. Essas possibilidades são exploradas por autores que
consideram que “associados à pluralização da emissão de conteúdos, à autoexpressão e
à interação e cooperação entre autores e leitores, os blogs poderiam apontar para uma
experiência de comunicação horizontal, em que fosse possível estabelecer formas de
debate público plural e democrático” (ALDÉ, ESCOBAR e CHAGAS, p. 1, 2007).
O incentivo para uma pesquisa sobre os weblogs pode ser o formato dessa
ferramenta, que possui peculiaridades técnicas, e as possibilidades de diálogo, mas essa
ainda é uma tecnologia restrita por fatores econômicos, o que não desanima os estudos
de alguns autores, que consideram que o importante é estudar as potencialidades, e que
a possibilidade de interação entre um grande número de usuários não significa que esse
diálogo de fato ocorrerá (ALDÉ, ESCOBAR e CHAGAS, 2007). Segundo os autores,
as estratégias comunicativas de campanha e governo já foram anteriormente exploradas,
mas a atualidade do assunto „explosão dos blogs‟ continua, pois ainda que essa
ferramenta não tenha a obrigação de manter-se atualizada a todo momento, essa
característica é presente nesses espaços on-line.
Inicialmente o conceito weblog foi utilizado em 1997 por Jon Barger “enquanto
sinónimo de página ordenada cronologicamente e com ligações a outras páginas”
(CANAVILHAS, p. 2, 2004). O blog é criado com a finalidade de livre exposição de
opiniões e de partilhar informações, o que implica na ideia de que com isso há uma
busca por audiência e acesso ao conteúdo disponibilizado9. A concepção de blogs
apenas como diários pessoais é discutida e problematizada pela percepção de que essas
são ferramentas abertas ao cidadão conectado que permitem ações multimidiáticas, com
a utilização de textos, fotos e/ou vídeos para postar conteúdos na internet, além de ser
uma mídia interativa que abre espaço para a liberdade de expressão (VIANA, PRADO e
SANTOS, 2009).
9 CANAVILHAS, João. Blogues políticos em Portugal: o dispositivo criou novos actores?
42
A rede on-line agora é utilizada por atores políticos para realizar campanhas,
seja por candidatos a prefeito, vereador, deputado, senador, governador ou presidente.
Seu uso é discutido como uma „mídia participativa‟ (BLOOD, p. 62, 2003, apud
SINGER, 2005), que se bem utilizada pode conectar os jornalistas com as comunidades
que estes servem (SINGER, 2005), podendo este conceito ser também adaptado ao uso
dos blogs por políticos. Se bem explorada, a ferramenta weblog pode além de informar
seus usuários, promover interatividade entre representante político e seus representados,
com a capacidade de ser utilizada para aumentar e facilitar o diálogo entre ambos,
proporcionando possibilidades de propostas políticas numa via de mão dupla, além de o
ator político receber um feedback direto da sociedade, sem mediações, o que é de
grande valia para a avaliação de suas ações políticas.
como a internet evoluiu de uma pequena e muito unida comunidade de
tecnófilos a um fenômeno global utilizado por milhões de pessoas
comuns, ela tem sido acompanhada por esperanças de seu potencial de
revigorar a democracia participativa. Baseando-se em Dewey (1927),
Habermas (1989) e outros, alguns teóricos contemporâneos políticos
anunciaram a natureza popular inerente das redes de comunicação
como a fundação de uma nova “república eletrônica”. [...] Outros têm
sido bem mais cautelosos, ressaltando que a tecnologia é apenas um instrumento. Qualquer efeito sobre os processos democráticos e
objetivos depende “não da qualidade e do caráter de nossa tecnologia,
mas da qualidade de nossas instituições políticas e o caráter de nossos
cidadãos” (BARBER, 1998-99: 588-9). (SINGER, p. 174-175, 2005)
Segundo Singer (2005), os estudos de comunicação política online demonstram
que a internet veio como comunicação de massa no final dos anos 1990, sugerindo que
seu efeito principal não era o de engajar mais pessoas, mas proporcionar novos espaços
para os atores políticos da atualidade. Para os políticos, a autora sugere que a internet
foi utilizada para que estes, convenientemente, promovessem sua própria imagem, com
mensagens persuasivas e não mediadas, direto para os eleitores, mas que a interação foi
evitada por temerem a perda de controle da mensagem, além da utilização do espaço
para atacar adversários, o que a autora, ao citar Margolis e Resnick (2000), conclui que
o ciberespaço acabou por tornar-se rapidamente um site político comum, e que seria
apenas „um novo lugar para fazer coisas velhas‟ (SINGER, 2005).
43
2.3 BREVE HISTÓRICO DAS CAMPANHAS POLÍTICAS NA INTERNET
A partir do início da década de 9010
os partidos políticos começaram a utilizar
ferramentas online como forma alternativa de campanha eleitoral, época em que o
objeto de estudo torna-se relevante não apenas para o campo político, mas para as
pesquisas acadêmicas sobre o assunto. Porém, até pouco tempo, a interatividade com os
eleitores era desprezada (SCHWEITZER, 2005, apud GOMES e AGGIO, 2009).
Com a campanha on-line de Barack Obama nos Estados Unidos, em 2008,
Gomes (2009) considera tais ferramentas como instrumentos que antes eram
considerados acessórios nas campanhas, com apenas trocas de informações,
transformou-se “numa via alternativa à campanha mediada pelos meios de massa”
(GOMES, p. 39, 2009). Sendo assim, torna-se relevante estudar o impacto desse
instrumento de debate político em campanhas nacionais. O estudo busca pesquisar
brevemente como foi a produção da propaganda política nesses novos meios (com
análise das páginas e postagens) e a interação entre candidato e eleitor nos blogs,
observando o que a internet oferece de mais inovador: a interatividade.
As campanhas on-line foram observadas com mais intensidade primeiramente
nos Estados Unidos na disputa presidencial entre Bill Clinton e George Bush em 1992.
Elas restringiam-se a web sites que reproduziam o material off-line (os panfletos) em
forma on-line. Por mais que não inovassem em formato ou conteúdo, traziam a
possibilidade de arquivar essas informações, disponíveis a qualquer momento, diferente
das propagandas políticas panfletárias. Mas é preciso lembrar também que o contexto
da época desfavorecia o uso da internet e a evolução de sua utilização para campanhas
vai de encontro à evolução do próprio meio – quanto maior o acesso e uso, mais
investimento em propaganda on-line.
As primeiras experiências de utilização da internet em campanhas políticas aconteceram nas eleições nos Estados Unidos em 1992. O
contexto em questão continha muitas restrições tecnológicas que
implicavam num pequeno volume e velocidade de tráfego de dados
associados, ainda, a uma quantidade reduzida de cidadãos com acesso
10
O primeiro caso em que a internet foi utilizada por campanhas eleitorais no mundo é nos Estados
Unidos em 1992 (AGGIO, 2010) – disputa eleitoral entre Bill Clinton e George Bush.
44
à web. As conseqüências se materializavam no baixo nível de sofisticação e diversificação de conteúdos, formatos e ferramentas dos
web sites. Em outra medida, surgiam questionamentos sobre a real
importância e eficácia de se empregar esforços online de campanha,
uma vez que a quantidade de eleitores atingidos pela comunicação
digital era reduzida (Meyers, 1993, Davis e Owen, 1998; Bimber e
Davis, 2003). (AGGIO, p. 11, 2010)
Mas ainda assim, Myers (1993) explica que já em sua primeira versão o uso da
internet trazia um fator que diferencia as campanhas em meio on-line e outros meios de
comunicação: a falta de um filtro noticioso (GOMES e AGGIO, 2009). Este entra no
contexto de um processo de produção de notícias considerado por autores como Sousa
(2002) e Schudson (1998) no chamado newsmaking – em que existem influências para
que as notícias sejam da forma que as observamos nos meios de comunicação, pois
“segundo Schudson, a ação pessoal, a ação social e a ação cultural, em interrelação, são
as três principais explicações para que as notícias sejam como são” (SOUSA, p. 37,
2002). Na ação pessoal o jornalista vem como ator principal na influência do processo
noticioso, como o “porteiro” da metáfora do gatekeeping, criada por White em 1950
(SOUSA, 2002). O processo de seleção das notícias incorpora um conjunto de critérios
dos produtores das notícias que levam em consideração as supostas necessidades dos
consumidores das mesmas. Um dos elementos centrais desse processo de seleção é o
chamado gatekeeper, definido por Fuente (s/d) como: “um indivíduo situado em uma
estrutura comunicativa para controlar o fluxo de mensagens ao longo do canal
comunicativo previne a sobrecarga de informação, filtrando e separando as mensagens”
(ROGERS e AGARWALA, 1980, apud FUENTE, p. 4, s/d). Para a seleção de histórias
noticiosas, o autor lembra que os critérios podem ser identificados como “clareza,
concisão e o ângulo da história”, para definir o que deve constituir uma notícia.
Com a internet o candidato não terá a figura do jornalista mediando e escolhendo
o conteúdo, nem nenhum mecanismo, senão as leis eleitorais para restringir o conteúdo
veiculado. Myers (1993) considera que se estabeleceria, portanto, uma comunicação
direta entre campanha e cidadão. De maneira complementar, outros pesquisadores
apontam que o espaço na mídia é desigual e existe uma hierarquia em que uma elite
possui um espaço maior que os cidadãos comuns nessa estrutura. “Sociólogos da mídia
há tempos concordam que o jornalismo oferece pouco espaço para a voz dos cidadãos, e
é geralmente focada nos fazeres dos poderosos” (cf. EPSTEIN, 1973; GANS, 1980;
SIGAL, 1973, apud LEWIS e JORGENSEN, 2004).
45
O panorama traçado por Gomes e Aggio (2009) sobre a literatura produzida
entre 1992 e 2009 a respeito da temática „campanhas on-line‟ cita Norris (2002), que
discutiu diversas experiências desenvolvidas nos Estados Unidos, de 1992 a 2000, e que
embasam os atuais debates sobre interatividade. Segundo Gomes esse é “um dos pilares
que acompanha todo o discursos acadêmico relacionado ao objeto – já ganhava corpo de
discussão na literatura desenvolvida sobre as experiências de 1996, o ciclo eleitoral que
procedeu o de 1992” [sic] (GOMES e AGGIO, p. 5, 2009). Em relação ao caso de 1996
– com Bill Clinton e Kansas Bob Dole como principais atores da disputa presidencial
nos Estados Unidos – foram três as questões que nortearam as pesquisas sobre o
assunto: “O impacto eleitoral dos websites de campanha, a interatividade enquanto
elemento diferenciador das campanhas online e a possibilidade de estabelecimento de
contato com extratos específicos do eleitorado” (GOMES e AGGIO, p. 5, 2009).
as campanhas online são tratadas como, basicamente, um novo meio de comunicação política eleitoral, em face de um conjunto de outros
meios pelos quais as campanhas mediáticas foram construídas. Sob
essa perspectiva, muitos tratamentos de pesquisa depositaram nas
potencialidades da internet uma nova maneira de produção de
comunicação de campanha, mudando estratégias de persuasão típicas
da televisão ou do rádio, deixando de lado a produção de campanha
negativa e dedicando mais tempo para discussões sobre questões de
políticas públicas e, o mais fundamental, estabelecendo o fim da
unidirecionalidade da comunicação típica dos meios tradicionais,
aproximando cidadãos com as campanhas através de ferramentas de comunicação dialógicas. (GOMES e AGGIO, p. 5, 2009)
Autores como Strommer-Galley (2000) criticam o uso de web sites nas
campanhas ocorridas no ano de 1996 pelo fato de a interatividade não ter sido
explorada, visto que esse seria, para o autor, o maior diferencial da internet, com o
potencial democrático de incluir os eleitores nesse processo, apesar de reconhecer o
valor das informações presentes nesses sites (GOMES e AGGIO, 2009). Conforme as
expectativas do autor,
nesse modelo os eleitores poderiam elaborar e oferecer questões, dúvidas, críticas e/ou sugestões a partidos e candidatos que, em
contrapartida, analisariam e produziriam respostas, de maneira a criar
um processo de responsividade, incorporando os eleitores como peças fundamentais e ativas na composição das campanhas. (GOMES e
AGGIO, p. 5, 2009).
Entre 2000 e 2001 existem outros exemplos de aplicações da internet em
campanhas eleitorais, como o caso do Japão, onde havia dominação de um único partido
no parlamento e que apesar de a lei eleitoral local favorecer tal partido, os outros 40
46
candidatos falaram sobre a forma como a internet supriu a escassez de espaço na mídia
para campanha, segundo Tkach-Kawasaki (2003, apud GOMES e AGGIO, 2009).
Durante o período entre 2003 e 2009 o cenário já começa a se modificar. Em
2004 a disputa presidencial entre Al Gore e George Bush Jr. contou com um dispositivo
até então inédito nas campanhas: o e-mail. Estudos abordados por Gomes e Aggio
(2009) demonstram pontos positivos, como a possibilidade de os internautas enviarem
esses e-mails a outras pessoas e discutirem mais os assuntos abordados. E pontos
negativos, que é a dependência da disposição de quem recebe as mensagens para lê-las
ou até recebê-las, visto que muitas vezes esses e-mails são considerados “spam”. É o
início da interatividade entre eleitor e candidato, mesmo que restrita.
Mas são as campanhas de Barack Obama nos Estados Unidos que projetam uma
nova perspectiva, diferente do que até então foi o uso de meios on-line. Com interação
maior entre os receptores e produtores das mensagens e participação do eleitor nas
campanhas, em forma de financiamento ou campanha para conseguir mais eleitores.
Entre as novidades específicas das eleições de 2008 com o uso da internet para a
campanha de Barack Obama está a alta participação dos internautas em conteúdos
relacionados à política, em que um quarto dos internautas estadunidenses acessavam
pelo menos uma vez por semana conteúdos relacionados à campanha do candidato,
enquanto que 8% fazia isso todos os dias, além da grande utilização do espaço para
postar, baixar e assistir vídeos, uso das redes sociais e a troca de mensagens de texto por
telefonia celular (GOMES, 2009). Para Smith (2008), nesse ano houve nos Estados
Unidos um engajamento em campanha presidencial sem precedentes, visto que foi
grande a participação de cidadãos comuns que utilizaram a internet para obter
informações sobre política, doar dinheiro para a campanha e conversar com outros sobre
seus pontos de vista (GOMES, 2009).
Sem internet não haveria Obama. A diferença de compreensão, entre as campanhas de Obama e Clinton, sobre o que se pode realizar por
meio da política on-line tem sido um fator decisivo nessa que é a
maior reviravolta na história das primárias presidenciais. Há,
naturalmente, outras diferenças importantes: a estratégia empregada
no “caucus”, o glamour, a oratória, os discursos enfocando
diretamente o preconceito. Mas nenhuma delas teria sido decisiva sem
o dinheiro que Obama arrecadou on-line, os vídeos que Obama postou
on-line e, acima de tudo, os milhões de pessoas que aderiram on-line à
campanha de Obama, em seus tempos e termos próprios.
(CORNFIELD, 2008, apud GOMES, p. 29, 2009)
47
Já no Brasil a internet é utilizada como instrumento de comunicação com
objetivos eleitorais somente a partir de 2002, quando aumentou a cobertura jornalística
eleitoral no meio, “adquirindo relevância na campanha e se constituindo como
fenômeno de comunicação política no país” (BORGES, p. 208, 2008). Nesse ano o
amadurecimento e sofisticação dos meios de comunicação on-line e a disputa
presidencial com um alto grau de competitividade impulsionaram o uso da internet com
fins eleitoreiros pelos candidatos (BORGES, 2008). As eleições presidenciais de 2002
foram protagonizadas principalmente por José Serra pelo PSDB e Luiz Inácio Lula da
Silva representando o PT, e contavam ainda com Ciro Gomes (PPS) e Anthony
Garotinho (PSB).
Os quatro candidatos ao pleito presidencial de 2002 possuíam homepages de
campanha, espaço que contava com informações que serviam de referência não só para
eleitores, mas também para a imprensa (ALDÉ, 2004). Segundo a autora, no contexto
de alta competição tornou-se importante para os candidatos encontrarem espaços
favoráveis nos meios de comunicação, de forma que os estrategistas de campanha
utilizaram a internet de maneira criativa, como um meio de agendar e pautar assuntos
nas mídias convencionais e os meios de comunicação recorreram a essas páginas
significativamente, em busca de informações. Em seus sites, muitos dos conteúdos eram
críticas a seus oponentes, com jingles, acusações e críticas a outros candidatos, além de
veicular notícias de outros veículos (ALDÉ, 2004). As páginas de todos os candidatos
foram consideradas dinâmicas, com Ciro Gomes e Anthony Garotinho com páginas
menos sofisticadas que as de seus opositores, e o destaque foi para a campanha on-line
de José Serra, que apostou fortemente nesse instrumento de comunicação, com muitas
notícias sobre sua campanha e acompanhamento de suas atividades, sempre atualizado,
o que também foi feito pelo seu concorrente Luiz Inácio Lula da Silva, que, além disso,
disponibilizava a venda de produtos de campanha (ALDÉ, 2004).
as eleições de 2002 foram marcadas pelo uso dinâmico da internet na
divulgação das pautas promovidas pelos candidatos, dando
visibilidade aos discursos políticos e garantindo amplo espaço aos
ataques e escândalos originados nos sites oficiais dos políticos. [...] O uso de propaganda negativa na internet pelas campanhas,
particularmente, foi um exemplo eloqüente das apropriações
estratégicas das características do jornalismo na era digital (Aldé e
Borges, 2004). (ALDÉ, p. 6, 2004)
48
Em 2006, quando disputavam a presidência do país Geraldo Alckmin (PSDB) e
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) web sites também foram utilizados, assim como nas
eleições de 2002. Segundo os estudos de Brandão (2008), o uso desse instrumento teria
sido impulsionado por três fatores: “uma nova legislação eleitoral que restringiu
despesas em diversas áreas; a forte oposição da mídia ao presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que disputava a reeleição; o crescimento do acesso à Internet, que alcançou quase
25% do eleitorado” (BRANDÃO, p. 5, 2008). Segundo o autor, o resultado disso foi
que de 542 sites eleitorais no Brasil em 2002 – de candidatos à presidência, senado,
governo, etc – nas eleições de 2006 esse número aumentou para 2.640 sites. Nos
estudos de Iasulaitis (2007) sobre o pleito presidencial do mesmo ano e o uso de
ferramentas on-line por parte dos candidatos, foram feitos os seguintes
questionamentos, considerados relevantes para a autora embasar sua pesquisa:
Os partidos políticos e candidatos têm utilizado o potencial interativo da Internet para aumentar a qualidade do debate democrático? Quais
são as características e principais finalidades dos websites eleitorais?
Os websites dos candidatos diferem em termos de funções ou há um
padrão semelhante (standardized form), uma convergência na forma
de desenvolvimento das campanhas eleitorais na web no Brasil?
(IASULAITIS, p. 156, 2007), entre outras questões envolvendo a
qualidade dessas páginas on-line e o público-alvo
Como resultado de suas pesquisas a autora chegou à conclusão de que os sites
dos dois principais candidatos à presidência de 2006 foram estruturados de forma
semelhante, com as informações com enquadramento voltado principalmente ao
recrutamento de militantes, em detrimento da interatividade (IASULAITIS, 2007). Nos
websites eleitorais de ambos os candidatos era permitido enviar e-mail, que era
respondido com respostas padrão (automáticas), existia um espaço para enquetes no site
de Alckimin e o cadastro para recebimento de boletins no espaço on-line de Lula, mas
em nenhum dos casos era possível a publicação de opinião por parte do internauta ou a
participação de conversas em salas de bate papo (IASULAITIS, 2007).
A partir dessas análises, no contexto brasileiro, o estudo dos websites dos
candidatos à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB),
durante as eleições de 2006, demonstram que essa ferramenta não foi substancialmente
explorada, embora a internet proporcione potencialidades para incentivar a participação
e o “diálogo de mão dupla” (IASULAITIS, p.168, 2007). Mas o quesito informações
sobre os candidatos, seus partidos, programas de governo, campanha, notícias, entre
49
outras, foi bastante utilizado, mas no sentido de, como dito anteriormente, recrutar
militantes.
Mas é em 2010, quando as leis eleitorais permitiram o uso da internet para
campanha eleitoral, que é possível observar de fato um uso mais intensificado desse
meio no país. No Brasil há casos de uso da internet nas campanhas presidenciais de
2002 e 2006, porém de maneira limitada e irregular, visto que conforme a Resolução Nº
22.261, “Em páginas de provedores de serviços de acesso à Internet não será admitido
nenhum tipo de propaganda eleitoral, em nenhum período” (Resolução Nº 22.261, Art.
5)11
.
No dia 29 de setembro de 2009 é aprovada a Reforma Eleitoral, por meio da Lei
Nº 12.03412
, e entra em vigor com as novas condutas a respeito da propaganda eleitoral
de 2010, reformulando parte das leis eleitorais mais antigas em vigor até então. A partir
de então seria permitido o uso da internet para campanha em eleições, por meio de sítios
do candidato, partido ou coligação, mensagens eletrônicas enviadas para endereços
cadastrados gratuitamente, blogs e redes sociais. As restrições são quanto à propaganda
em sítios de pessoas jurídicas e os sites “oficiais ou hospedados por órgãos ou entidades
da administração pública direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios” (Art. 21, § 1, II)13
. Além de considerações iguais aos outros veículos
de comunicação, em que há direito de resposta do candidato ofendido na mesma página
em que ocorreu a ofensa (sendo esse direito julgado pela Justiça Eleitoral) e proibição
da transmissão de propaganda eleitoral 48 horas antes do dia da eleição, com multa de
cem reais por mensagem.
A proposta deste trabalho se dá em torno da produção de conteúdos e do debate
político nos weblogs dos principais candidatos à presidência de 2010 no Brasil: Dilma
11 RESOLUÇÃO Nº 22.261: “Dispõe sobre a propaganda eleitoral e as condutas vedadas aos agentes públicos em campanha eleitoral”, é uma resolução a partir do “Tribunal Superior Eleitoral, usando das
atribuições que lhe conferem o art. 23, IX, do Código Eleitoral, o art. 105 da Lei nº 9.504, de 30 de
setembro de 1997, e o art 2º da Lei nº 11.300, de 10 de maio de 2006”. Acessada dia 17/10/2011 no
endereço eletrônico http://www.eleitoral.mpf.gov.br/legislacao/res22261.pdf.
12 A Lei Nº 12.034 sobre a Reforma Eleitoral foi acessada no dia 17/10/2010 no endereço
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12034.htm.
13 As regulamentações quanto à propaganda eleitoral de 2010 na internet constam na RESOLUÇÃO Nº
23.191, capítulo IV, acessadas dia 16/10/2011 no endereço eletrônico: http://www.tre-
mg.jus.br/portal/website/legislacao/resolucao_tse/res_tse_23191.pdf
50
Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV). O estudo se restringe aos meses
em que a campanha eleitoral de primeiro turno é oficial no país – de seis de julho a três
de outubro de 2010. A pesquisa verifica como se dá o debate nesses novos espaços
liberados à campanha eleitoral para explorar como foi utilizado esse novo
instrumento de debate, já que a internet é tida como um meio promissor de
interatividade.
Em 2010 os weblogs de candidatos, além dos outros dispositivos entre as redes
sociais de relacionamento, permitiram uma forma de campanha completamente nova no
país. O weblog de Dilma Rousseff permitiu que os internautas comentassem nas
postagens (com moderação), fizessem doações, mandassem relatos de suas vidas e abriu
espaço para discussão e receber contribuições sobre temas gerais e setoriais. Os temas
eram relacionados com as áreas agrária, ciência e tecnologia, cidades, combate ao
racismo, cultura, direitos humanos, economia solidária, educação, juventude, meio
ambiente, mulheres, política industrial, políticas sociais, saúde e segurança. Além de
fornecer informações sobre a candidata do PT, seu vice, as propostas de governo,
material de campanha, suas aparições em mídias tradicionais como TV e Rádio, etc.
No weblog de Marina Silva também foi possível essa interatividade com
comentários através de moderação, possibilidades de doação – com informações de
quanto foi doado através da internet, disponíveis aos internautas cadastrados no site –,
além da parte das „diretrizes ampliadas‟, com as propostas da candidata e espaço para
comentários dos internautas nas áreas denominadas „Aliança por um Brasil justo e
sustentável‟, „Política cidadã baseada em princípios e valores‟, „Educação para a
sociedade do conhecimento‟, „Economia para uma sociedade sustentável‟, „Proteção
social: saúde, previdência e terceira geração de programas sociais‟, „Qualidade de vida e
segurança para todos os brasileiros‟, „Cultura e fortalecimento da diversidade‟, „Política
externa para o século 21‟ e „Compromissos com relação ao processo da campanha‟. Em
seu weblog, também são mostrados vídeos e fotos de campanha, informações sobre a
candidata e seu vice, material de campanha, entre outros.
E no blog do candidato José Serra, até 18/08/2010, restringia-se a postagens com
notícias sem abertura para comentários, material para campanha, informações sobre
candidato e vice, propostas, fotos, vídeos e áudios. A partir de setembro o espaço foi
51
reformulado, com mudanças de design e ligações a redes sociais como Facebook, Orkut,
Twitter, etc. Mas continuou com uma única parte destinada à interatividade com
internautas, a de envio de propostas, com temas delimitados. Eram eles: Saneamento
Básico, Economia e desenvolvimento, Saúde, Juventude, Cultura, Mulheres, Política
Externa, Segurança, Aposentados, Indústria, Direitos Humanos, Gestão Pública, Meio
ambiente, Esportes, Reforma Política, Democracia digital, Drogas, Habitação,
Transporte Público, Educação, Combate à desigualdade, Infância, Pessoas com
deficiência e Infraestrutura14
.
Após a apresentação da contextualização da internet no Brasil, o uso dessa
ferramenta pela política e um breve histórico de campanhas on-line, com alguns casos
ilustrativos no mundo e no país, o capítulo três segue com a apresentação da
metodologia utilizada na pesquisa e as análises dos blogs, suas postagens e comentários,
chegando à parte empírica do trabalho. Relacionando com as teorias, conceitos,
contexto e estudos apresentados nos capítulos iniciais as análises buscam mostrar um
quadro geral de como foi o debate político nos weblogs estudados.
14
As informações a respeito dos três weblogs foram retiradas das próprias redes sociais citadas, nos
endereços: http://www.dilma13.com.br; www.serra45.com.br e www.minhamarina.org.br.
52
CAPÍTULO 3
ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS E NOVAS TECNOLOGIAS: WEBLOGS DE
CANDIDATOS NO DEBATE POLÍTICO DE 2010
Nesta parte do trabalho são apresentadas a metodologia utilizada para a
pesquisa, uma análise das informações obtidas a partir dos blogs, das postagens e
comentários coletados. Nos primeiros capítulos foram feitas contextualizações sobre os
meios on-line de comunicação, redes sociais, debate público e opinião pública, governo
representativo, campanha eleitoral on-line e eleições 2010. De forma a chegar ao objeto
central do estudo: as campanhas eleitorais nos weblogs dos principais concorrentes à
presidência de 2010.
Os candidatos ao pleito de 2010 presentes no estudo são Dilma Rousseff (PT),
José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV). Foram analisados três meses de campanha
eleitoral, no período de seis de julho a três de outubro de 2010, abrangendo as
campanhas de primeiro turno dos principais concorrentes à presidência daquele ano. A
pesquisa engloba a coleta e análise de dados sobre o weblog dos políticos estudados,
todas as postagens realizadas no período do estudo (tudo o que foi postado pelos
responsáveis pelos blogs em formato de texto, vídeo e/ou foto como forma de notícia) e
comentários de internautas nas postagens (o que foi escrito por aqueles que acessaram a
internet e o blog, no espaço destinado à interação com os posts). O período considerado
na análise para que as pessoas comentassem foi de uma semana após o texto ter sido
postado e, portanto, sete dias após a data de postagem era coletado o que os internautas
escreveram nos posts. Porém, o estudo dos comentários restringe-se aos weblogs de
Dilma Rousseff e Marina Silva, pois o candidato do PSDB não abriu espaço para que os
internautas pudessem comentar em suas postagens.
3.1 ANÁLISE DE CONTEÚDO COMO EIXO METODOLÓGICO
QUANTITATIVO
O estudo realizado é de análise de conteúdo com metodologia quantitativa, através
da coleta de dados dos weblogs dos candidatos pesquisados. No emprego da
metodologia quantitativa foi padronizada uma coleta de dados que fornece informações
53
sobre o objeto pesquisado através de categorias pré-estabelecidas. Estas permitem
transformar forma e conteúdo de postagens e comentários em números.
A análise quantitativa é caracterizada por uma identificação da frequência de
aparição de determinadas características pré-estabelecidas como temas, palavras,
expressões ou símbolos considerados (FREITAS e JANISSEK-MUNIZ, 2008).
Segundo os autores, para obter conclusões mais significativas a respeito dos dados
coletados, há uma necessidade de combinar técnicas quantitativas com qualitativas.
Neste trabalho os dados apesar de serem mensurados de forma quantitativa, há traços de
análise qualitativa, com apresentação de exemplos que ilustram os casos mais
recorrentes, por exemplo.
A abordagem mais científica, dita quantitativa, pressupõe grande quantidade de
dados num procedimento de confirmação de hipóteses. Há necessidade de se
tratar do quantitativo, enriquecendo-o com informações qualitativas em grande
número, de forma a ganhar força de argumento e qualidade nas conclusões e
relatórios: o desafio é a busca da associação entre o quantitativo e o qualitativo,
onde, por exemplo, o procedimento exploratório ganha força, visto que se
poderá multiplicar os dados tratados, reforçando sobremaneira (e mesmo
garantindo o „bom caminho‟) o procedimento confirmatório. (FREITAS e
JANISSEK-MUNIZ, p. 1, 2008)
E a técnica empregada para o presente estudo é a de análise de conteúdo, que
“pode ser empregada em estudos exploratórios, descritivos ou explanatórios”
(HERSCOVITZ, p. 127, 2007). Para a realização do estudo através dessa técnica, é
recomendado que o pesquisador inicie com perguntas ou hipóteses, fazendo posterior
conexão entre teoria e investigação (HERSCOVITZ, 2007).
A coleta dos dados sobre os weblogs procurou abranger todo o material
disponibilizado – foram analisadas todas as postagens realizadas durante o período de
seis de julho a três de outubro de 2010 dos três blogs e comentários de internautas
nessas postagens, com o prazo de uma semana para que as pessoas comentassem.
Através de testes com blogs aleatórios de simpatizantes dos candidatos à presidência de
2010, realizados anteriores às campanhas eleitorais pesquisadas, e com experiência
durante a coleta de dados ficou claro que o período de uma semana é suficiente para
observar a realidade dos weblogs, pois ao transcorrer esse período de tempo quase não
havia comentários.
54
Em busca de respostas para a pergunta que gerou a pesquisa – “de que forma os
candidatos utilizaram o espaço on-line e como se dá o debate político nos weblogs?” –
foram coletadas informações sobre o conteúdo e formato dos comentários de internautas
e postagens nos blogs estudados. São 617 postagens e 12.457 comentários analisados,
contemplando o primeiro turno do pleito. Os dados foram estudados de forma a testar a
hipótese inicial de que as ferramentas on-line seriam um espaço disponível para
postagem da campanha tradicionalmente transmitida já em outros veículos de
comunicação e de ampliação, onde o candidato pode expor conteúdos além desses. Pois
a internet, com suas características, oferece maior disponibilidade de arquivar e
apresentar mais conteúdos, apenas com restrições em relação às leis eleitorais, além de
possibilitar a interatividade entre população e campanha.
Os meses de análise foram escolhidos pela relevância de um primeiro turno
brasileiro. Considerando que o Brasil conta com 135.804.433 eleitores15
(no Brasil e
exterior) e que esse número corresponde a 70,8% da população do país que é o maior da
América do Sul e o quinto maior do mundo em território e população, pode-se inferir
que o primeiro turno de uma disputa presidencial brasileira tem grande importância e
trata-se de um período relevante para análise. Além disso, o arquivo possui dados
suficientes para embasar a pesquisa, oferecendo fundamento empírico para os conceitos
apresentados.
Em relação ao livro de códigos16
utilizado, a primeira parte, da descrição dos blogs,
observa os seguintes tópicos: Se há informações - sobre o candidato e seu vice
(histórico, propostas, agenda e prestação de contas). Sobre a interatividade:
navegabilidade, quais as possibilidades de participação do internauta e a existência ou
não de filtro para comentários. E por último, sobre o webdesign, observando a presença
ou ausência do uso de imagens e as cores. Na pesquisa também é feita uma descrição
das postagens, coletando informações sobre: tipo de postagem (texto, áudio, vídeo ou/e
15 Dados a partir do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as eleições de 2010, acessados dia
13/09/2011, no link http://www.tse.gov.br/hotSites/estatistica2010/Est_eleitorado/quantitativo.html.
16 Foram coletadas outras informações além das abordadas neste trabalho. Elas constam no livro de
códigos utilizado, em anexo, com todas as variáveis explicadas.
55
foto), tipo de autor (Candidato/responsável pelo blog, autor não identificado, internauta,
eleitor, militante do partido, filiado ao partido, militante de outro partido, imprensa
tradicional), fonte, tema (Campanha Eleitoral, Político-institucional, Economia, Política
Social, Infra-estrutura e meio ambiente, Violência e segurança, Ético-moral, Política
para Esporte, Cultura/variedades, Política Estadual/Nacional, Política Internacional,
Outros temas, Imagem política do candidato, Imagem pessoal do candidato, Imagem
administrativa do candidato, Imagem política de adversário, Imagem pessoal de
adversário), valência predominante (positiva, negativa ou neutra), o que predomina no
texto (se informação, interpretação ou opinião), se há controle de quem faz as postagens
e presença de hyperlinks.
E então há a descrição dos comentários, com coleta sobre: O tipo de comentários
(relacionado ao tema, ao candidato, aos internautas, a o outro candidato, ao governo em
disputa, à campanha ou outro), a valência predominante, o formato (se é elogio à pessoa
do candidato, elogio à posição política do candidato, elogio à posição do candidato
sobre o tema, elogio/concordância com demais comentaristas, elogio aos outros
candidatos/políticos, elogio ao governo em disputa, crítica à pessoa do candidato, crítica
à posição política do candidato, crítica à posição do candidato sobre o tema, crítica aos
demais comentaristas, crítica aos outros candidatos/políticos, crítica ao governo em
disputa, outro/não identificável, propostas, apoio à campanha ou candidato ou dúvidas
quanto à política que será aplicada) e presença de hyperlinks.
A seguir será apresentada a primeira parte da análise, com descrição dos blogs
estudados. São observadas as informações disponibilizadas pelos candidatos como seu
histórico pessoal e de seu vice, que apresenta a carreira política de ambos e, por vezes,
suas vidas pessoais. Também é analisado se os blogs disponibilizam espaço on-line para
apresentar as propostas de governo que fundamentam suas candidaturas para as eleições
presidenciais de 2010, além de pesquisar se é possível saber da agenda dos políticos
estudados, com a programação de cada um para o período eleitoral e se há prestação de
contas, seja para falar sobre os gastos da campanha ou apresentar a arrecadação de
fundos para a mesma. Consta no livro de códigos as categorias que dizem respeito ao
partido político que cada um dos candidatos está filiado e as instituições, movimentos e
lideranças sociais com as quais mantêm ou mantiveram relações. Porém, não foram
56
observadas em nenhum dos weblogs durante o período de análise e, portanto, não
constam no estudo.
A interatividade é outro ponto observado, destacando nessa primeira parte a
navegabilidade, ou seja, quais são as possibilidades e facilidades de acesso dos
internautas em relação à presença de um mapa do site ou menu que sintetize e direcione
o usuário aos conteúdos dos blogs e também era prevista a análise sobre o número de
acessos, mas não foi encontrado nos espaços estudados. A interatividade é analisada
também através das possibilidades de participação, descrevendo quais são elas – através
da troca de e-mails e mensagens expostas a todos que acessarem os blogs. Em eleições
passadas foram observados a troca de e-mails, enquetes e conversas on-line por meio de
chats (IASULAITIS, 2007), mas em 2010 a participação se deu apenas através de e-
mails e mensagens em forma de comentários. E por último a existência de um filtro
moderador de comentários, o que restringiria a aparição às participações aprovadas
pelos responsáveis dos blogs, o que seria um enquadramento da realidade em relação à
interação dos internautas com os conteúdos veiculados.
A presença de links também faz parte do estudo, para descrever se pelos blogs é
possível navegar através de links que direcionem o internauta a conteúdos dentro do
próprio blog, facilitando o acesso aos diversos conteúdos ali disponíveis e a presença de
links que o levem a outros espaços on-line, como é o caso das redes sociais (Twitter,
Orkut, Facebook e outras), que podem ser acessadas através dos três blogs. Por fim, há
uma descrição do webdesign, com imagem ilustrativa de cada um para que sejam
melhor visualizados, já que o blog de Marina Silva mudou após sua saída do Partido
Verde no dia sete de julho de 2011 e nos casos petista e peessedebista estão fora do ar e
não é mais possível acessá-los. São observadas imagens e cores utilizadas pelos
concorrentes ao pleito em seus blogs, na tentativa de buscar uma identidade de cada um.
57
3.2 ANÁLISE DESCRITIVA DOS WEBLOGS: MATERIAL PRESENTE NA
PROPAGANDA ELEITORAL DE 2010
Para contextualizar o estudo e observar de forma geral todo o conteúdo
produzido, neste tópico são apresentadas descrições e análises do blog de cada
candidato estudado. Dessa forma, será possível obter conhecimento de como
funcionavam as páginas on-line dos principais concorrentes à presidência de 2010
durante o período de campanha eleitoral de primeiro turno e começar a observar o
debate político ali ocorrido, visto que houve interação dos internautas não apenas com
postagens, mas o restante do conteúdo produzido. A análise descritiva observa cada
aspecto do blog e apresenta como funcionavam e quais eram os conteúdos
disponibilizados para o acesso dos internautas.
Dilma Rousseff (PT)
O weblog de Dilma Rousseff (PT) durante todo o período de campanha (seis de
julho a 31 de outubro de 2010) e alguns meses depois (até junho de 2011) foi hospedado
no endereço http://www.dilma13.com.br. Com as cores da bandeira brasileira e o
vermelho característico do Partido dos Trabalhadores, em sua página inicial era possível
observar quatro chamadas em destaque, que se revezavam em forma de slideshow, com
uma grande imagem ilustrando a postagem, o vídeo, a foto ou qualquer outra parte do
blog em destaque no dia acessado. Na margem superior do site hyperlinks levavam o
internauta à „Biografia‟, „O Brasil Mudou‟, „Notícias‟, „Programa de Governo‟,
„Multimídia‟, „Nossa Gente‟ e „Vice-Presidente‟.
58
Figura 1 – Imagem principal do weblog petista durante campanha eleitoral de 2010
Em „Biografia‟ era possível observar a vida pessoal e profissional de Dilma
Rousseff, dividida em seis partes: “Descoberta – Lula encontra Dilma; Infância – A
menina que sabia dividir; Militância – A luta pela democracia; Recomeço – A esperança
renasce; Vida Pública – Vitória contra o racionamento; Lula e Dilma – A parceria que
mudou o Brasil”. Foram destacados seus pontos considerados fortes, pensando na
imagem que queriam transmitir ao eleitorado, com as características importantes de sua
vida pública e sempre relacionando-a com o presidente na época, Luiz Inácio Lula da
Silva. Em „Vice-Presidente‟ a apresentação da biografia de Michel Temer foi
apresentada em quatro partes: “A trajetória de Michel Temer; Vida Pública; Presidente
da Câmara; PMDB unido na campanha”. As „Notícias‟ eram as postagens com os
comentários de internautas, sendo que durante o período estudado pôde-se observar a
presença de 314 postagens e 6.703 comentários, lembrando que o prazo para a coleta
destes era de uma semana após a postagem do conteúdo sobre o qual os internautas
opinavam.
„O Brasil Mudou‟ foi um espaço destinado a mostrar ações do governo Lula
(PT) de 2003 a 2010 e o desenvolvimento do Brasil em diversos setores. Tudo isso era
59
dividido em quatro seções17
: Orgulho Brasileiro, Ascensão Social, Realizações e Brasil
Internacional. Em „Programa de Governo‟ havia uma apresentação sobre a elaboração e
discussão do programa de governo proposto, elaborada por Marco Aurélio de Almeida
Garcia, Coordenador da Comissão de Programa de Governo da campanha de Dilma
Rousseff, com um discurso de como foram organizadas as propostas da campanha
petista de 2010 para a presidência.
Em seguida, na parte de “Temas”, foram expostas propostas de internautas, que
enviaram suas ideias sobre os temas específicos propostos pelo blog, que podem ser
observados nos anexos. Nesse link também havia a parte para contato e “Quero
Participar”, espaço em que o internauta preenchia seus dados e enviava sua proposta
para os temas citados em nota de rodapé. Essa foi uma das formas de interatividade em
que o internauta pôde expressar-se na tentativa de participar da elaboração do projeto de
governo. É um espaço interessante, que demonstra ir contra as crenças de que as pessoas
têm pouca chance de participação no governo, no caso as campanhas políticas,
conforme a afirmação de que costumeiramente “há um sentimento de ceticismo com
relação às chances de a sociedade civil vir a exercer influência sobre o sistema político”
(HAGE, p. 24, 2004). É possível observar que foi aberto um espaço para isso, mas não
se sabe se as ideias foram utilizadas e levadas em consideração, por ora este trabalho
analisa o funcionamento dos blogs e o que eles proporcionam como ferramenta de
comunicação direta entre políticos e sociedade.
Outro hyperlink abriu espaço de expressão dos internautas, o „Nossa Gente‟,
onde era possível enviar histórias de vida para serem postadas no site, com a seguinte
proposta: “O Brasil mudou muito nos últimos oito anos. Como sua vida melhorou?
Compartilhe suas histórias usando o formulário abaixo. Você pode enviar também seu
depoimento em vídeo. Se preferir grave seu depoimento, coloque no YouTube e mande
17 Os temas desenvolvidos foram: Copa Verde-Amarelo, Olimpíadas, Rio – maravilha do Mundo
Moderno, Quando a vida melhora, Agricultura familiar, Bolsa Família e a redução da pobreza, Combustível limpo, Crescimento acelerado, Desenvolvimento sustentado da economia, Educação e
Desenvolvimento, Energia para crescer, Igualdade racial, Indústria naval, Inovar é preciso, Meio
ambiente, Mulheres em pauta, Pré-Sal e o futuro, Realizando o sonho da casa própria, Saúde é prioridade,
Segurança Pública, Brasil Vira Credor Internacional, Como o Brasil Superou a Crise Internacional e O
Brasil no Mundo.
60
o link para o Dilma13 pelo formulário abaixo”18
. O espaço contou com 105
depoimentos que contavam suas histórias, de como eram suas vidas antes do governo
Lula, durante e depois.
Na parte de „Multimídia‟ as pessoas tiveram acesso a Programas de TV,
Comerciais de TV, Rádios, Mapas de Mídia, Vídeos e Fotos, demonstrando a interface
multimidiática dos blogs, que permite o acesso dos internautas a materiais que já foram
anteriormente expostos em outros meios de comunicação, mas com a possibilidade de
assistir, ouvir e ler como, quando e quantas vezes quisessem. Outra oportunidade que a
internet oferece e que foi explorada em seu blog – a chamada “pluralização da emissão
de conteúdos” (Aldé, Escobar e Chagas, p. 1, 2007) ou ainda a capacidade de
“potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de
informações” (Primo, p. 2, 2007), conforme fora retratado no segundo capítulo.
Além dos itens mencionados e descritos, o weblog da petista possuía outros
conteúdos que podiam ser acessados e utilizados pelos internautas: agenda do
candidato, espaço para fazer doação, formas de contato com a equipe através do envio
de mensagens ou e-mail, material de campanha para fazer download, página para
divulgar para outras pessoas o conteúdo veiculado no blog, página para se inscrever
como voluntário da campanha (da forma como a pessoa quisesse apoiar a candidatura),
programas e spots para rádio para ouvir e fazer download, áudios, vídeos, fotos e
hyperlinks conectando o internauta às outras redes sociais relacionadas à candidata:
Orkut, Facebook, Twitter, Youtube, Flickr e Identica.
A prestação de contas não houve, nem para dizer o quanto estava sendo gasto na
campanha, nem em relação ao que foi arrecadado através da internet. Por vezes a
temática foi abordada nas postagens, como no dia 06/08/2010: “Coligação entrega
primeira prestação de contas” e no dia 20/09/2010: “TCE-RS aprovou todas as contas
de Dilma”. Não havia também no blog informações sobre o partido ao qual Dilma é
filiada – Partido dos Trabalhadores (PT), nem a quantidade de acessos que seu blog
recebeu. As possibilidades de participação se restringiam ao cadastramento dos
internautas no blog, recebendo frequentemente e-mails sobre a campanha, o envio de
18 O conteúdo foi acessado dia 30/09/2010 nos endereços http://www.dilma13.com.br/suas-historias/ e
http://acao.dilma13.com.br/page/s/historia
61
mensagens à coordenação, com possíveis retornos, o envio de depoimentos de suas
vidas no espaço descrito acima ou de propostas para o governo, além de poderem
interagir com as postagens através de comentários que ficavam expostos a todos que
acessavam a página, mas com um filtro moderador. Esse filtro restringe o estudo apenas
ao conteúdo publicado e não toda a participação que de fato ocorreu.
O weblog de Dilma Rousseff ficou disponível na internet até o mês de junho de
2011, quando ainda havia atividade com postagem de notícias diariamente e
comentários dos internautas. Estes diminuíram após o fim da campanha e com os
resultados das eleições de 2010 que levaram a candidata petista à Presidência da
República.
José Serra (PSDB)
O candidato peessedebista no início da campanha não apostou muito na
propaganda política no blog analisado, como as suas concorrentes do PT e PV. Foi a
partir de agosto que seu site foi reformulado e esse espaço alternativo de campanha foi
utilizado de forma mais intensa. No endereço www.serra45.com.br seu blog foi
hospedado até o dia 31 de outubro de 2010, sem atividade após a data.
Utilizando as cores do partido (azul e amarelo), seu blog também contou com o
verde lembrando as cores da bandeira do Brasil. Quando acessada sua página abria com
uma grande imagem como manchete da notícia do dia, uma foto de Serra e seu vice,
Indio da Costa, a passagem de depoimentos de internautas que apoiavam o candidato
em „Agora é Serra‟, a contagem de dias para as eleições, „Redes do Serra‟ no canto
esquerdo com links para redes sociais e hyperlinks na margem superior: „Biografia‟,
„Propostas‟, „Temas em destaque‟, „Notícias‟, „Fotos‟, „Vídeos‟, „Áudios‟, „Material de
Campanha‟, „Imprensa‟ e „Cadastre-se‟.
62
Figura 2 – Imagem de abertura do weblog de José Serra para campanha de 2010
A „Biografia‟ de José Serra retrata sua vida pessoal e pública em momentos
específicos: “Infância; Juventude; Movimento Estudantil; Exílio; Biografia Lorem
ipsum dolor sit amet; Secretário; Constituinte; Ministro; Prefeito; Governador”. Com
textos, fotos ilustrativas e vídeos, parte de sua história de vida foi contada ao público
internauta. Assim como no blog de Dilma Rousseff, além de sua trajetória de vida, foi
destacada a atuação do candidato na esfera política, com todos os cargos que conquistou
e os pontos fortes do seu governo. A petista explorou “a vitória contra o racionamento”
em 2001 e a coordenação de projetos como o Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC), Luz para Todos, Minha Casa, Minha Vida e Pré-Sal ou ainda sua atuação contra
a ditadura militar. José Serra, por sua vez, dividiu suas ações em setores como saúde,
educação, solidariedade, cultura, transportes, entre outros, para destacar em cada área
sua atuação e ações memoráveis. Além disso, sua participação como cidadão ativo e
político também fora destacada como na biografia de Dilma (ao falar sobre sua luta pela
democracia), salientando a participação do peessedebista em movimentos estudantis e
período de exílio em 1964, com sua volta para “participar da batalha da
redemocratização”. Ambos exploraram suas atuações consideradas mais positivas na
esfera política brasileira, na tentativa de demonstrar suas capacidades administrativas
em prol da democracia.
63
O link „Propostas‟ foi estruturado de forma que as pessoas pudessem acessá-las
por região em “Estados – Selecione o estado no mapa para ver as propostas e
compromissos”, com um mapa do Brasil em que era possível clicar em cada estado e ler
as propostas de forma direcionada. “Temas” foi um espaço que oferecia a oportunidade
de os internautas conhecerem seus planos de governo não por região, mas pela
temática19
. Em „Temas em Destaque‟ a equipe responsável pelo site apontou 31 temas
como Nota Fiscal Brasileira, Gestão Pública, AIDS, entre outros, com uma imagem
ilustrativa, um texto sobre o assunto e as ações de Serra a respeito da temática enquanto
ele esteve em cargos públicos. Evidenciando, novamente, o papel dos blogs (dos três
candidatos) nas eleições: o de propaganda política e campanha.
As „Notícias‟ foram divididas em: Notícias, Brasil de Verdade, Realizações, Por
Que Sou Serra e Visão Serra. As notícias eram relacionadas ao candidato e produzidas
por sua equipe, que mantinha o público informado sobre José Serra, com
acompanhamento de suas ações e campanha. Em “Brasil de Verdade” foram expostas
questões sobre a versão do peessedebista sobre o que de fato acontece no Brasil, como a
notícia do dia 28/10/2010, “Universidades supostamente criadas no governo Lula”, em
que, segundo a matéria, das 14 Universidades Federais anunciadas como novas pelo
governo, nove já existiam, foram apenas resultado de desmembramento, fusão ou
mudança de nome da instituição que já existia, dando como exemplo o campus da
Universidade Federal da Bahia (UFBA) que foi desmembrado e passou a se chamar
Universidade Federal do Recôncavo Baiano, além de listar todas as outras em que
aconteceu algo semelhante. Dilma ligou seu nome a Lula com destaque a ações
conjuntas e consideradas positivas, o que é claramente natural visto que são filiados ao
mesmo partido (PT) e ela seria candidata a suceder o governo do ex-presidente.
Enquanto Serra tentava desmistificar Lula e suas ações, o que também é compreensível
por ser candidato opositor.
19
As Temáticas se dividiam em: Saúde, Economia e Desenvolvimento, Meio Ambiente, Indústria,
Direitos Humanos, Mulheres, Juventude, Segurança, Transporte Público, Gestão Pública, Pessoas com
Deficiência, Esporte, Democracia Digital, Educação, Infraestrutura, Saneamento, Agricultura, Política
Externa, Infância, Combate à Desigualdade, Habitação, Drogas, Servidor Público, Cultura, Aposentados e
Reforma Política.
64
Ainda dentro de „Notícias‟, o link “Realizações” destacava ações do governo
Serra enquanto ministro do governo Fernando Henrique Cardoso, prefeito e governador
de São Paulo. “Por Que Sou Serra” juntou diversos depoimentos de pessoas que
apoiavam sua candidatura e as motivações para tal, um dos poucos espaços de expressão
da opinião de internautas, que como em todos os blogs analisados tratava-se da opinião
publicada, não podendo representá-la como um todo.
Em “Visão Serra” foram expostos seus pensamentos a respeito de diversos
assuntos como religião, entrevistas que o candidato concedeu à mídia, discursos e
pronunciamentos. „Fotos‟ foi um espaço que reuniu imagens do candidato durante a
campanha, „Vídeos‟ eram a respeito de programas e comerciais de TV, entrevistas,
debates, depoimentos de apoio, videoclipes, notícias, realizações do PSDB e outros. E
os „Áudios‟ davam acesso aos internautas a programas, comerciais, entrevistas e jingles.
Novamente é possível observar a multimidialidade da internet utilizada em favor das
campanhas eleitorais, com capacidade de documentar, dando livre acesso aos
internautas a conteúdos veiculados em outras mídias e àqueles produzidos
exclusivamente para o espaço on-line. O que é bastante positivo para os candidatos, que
conseguem transmitir suas mensagens e propagandas mais de uma vez e atingindo mais
pessoas do que se fossem reproduzidas apenas nos outros veículos de comunicação.
„Material de Campanha‟ reunia material impresso, para celular e para
computador20
e a campanha “Apóie o Serra nas Redes Sociais”, forma de estímulo para
que os internautas militassem a favor de sua candidatura. O hyperlink „Imprensa‟ foi
destinado ao “Dia do Serra”, contando como foi seu dia de campanha (espaço que era o
único de postagem da equipe que organizava o site antes de sua reformulação),
“Newsletter” com postagens de campanha e “Cartas”, com mensagens de José Serra
direcionadas a públicos específicos e à população de forma geral (Carta para o Brasil,
Carta para os médicos, Carta – Geral, entre outras), espaço com propaganda política
voltada a públicos segmentados, com campanha específica, portanto. E em „Cadastre-
se‟ o internauta podia cadastrar-se para receber mensagens em seu e-mail com a
chamada “Receba Informações da Caminhada Rumo à Vitória”.
20
Foram oferecidos jingles, fotos, fundos para se colocar nas redes sociais, papéis de parede, marcas e
“serrinhas” (imagens computadorizadas em forma de desenho do candidato).
65
Existiam outros links também em sua página, entre eles o „Combata a Mentira‟
com o slogan “Quanto mais mentiras disserem sobre nós, mais verdades diremos sobre
eles – José Serra”, e as postagens eram relacionadas a temas específicos: Aborto, Bolsa
Família, Campanha, Concursos Públicos, Privatizações, Quebra de Sigilo e Zona Franca
de Manaus, com textos sobre os temas em forma de ataque à oposição e defesa da
imagem do candidato, demonstrando que uma das formas de campanha adotadas pelo
candidato foi a forte presença de conteúdos em ataque à oposição.
As „Perguntas Frequentes‟ foram listadas em 23 questionamentos a respeito de
Serra com suas respectivas respostas, exemplo delas são: “Serra vai interromper as
obras do PAC?”, “Serra foi acolhido por Pinochet (como disse, no Twitter, um cientista
político que é prefeito pelo PT no Paraná)?” e “Serra vai privatizar a Petrobrás?”, outra
forma de defesa encontrada pelo tucano. Essa é também uma das possibilidades que a
internet abre: ao mesmo tempo em que os políticos ficam mais vulneráveis a ataques a
sua imagem, também é um espaço alternativo de resposta e autodefesa sobre o que foi
veiculado na internet ou outros meios de comunicação.
Em „Saiba Mais – José Serra/Indio da Costa‟, o conteúdo era sobre o vice-
candidato Indio da Costa com uma breve biografia, notícias sobre ele, vídeos, fotos, link
para seu Twitter e “Apóie Indio nas Redes Sociais”. Em relação ao Serra, esse link
direcionava o internauta direto à biografia do mesmo. Eram também listadas em sua
página as últimas notícias do dia e mensagens de Serra e seu vice no Twitter, além de
Fotos, Áudios, Vídeos e a proposta “Conecte amigos à rede de Serra Presidente”. Junto
a isso links que encaminhavam para redes sociais relacionadas ao candidato: Twitter,
Orkut, Facebook, Flickr, Youtube, Vimeo, Sou Serra (www.souserra.com.br/joseserra,
ainda disponível na internet e em atividade), Proposta Serra, e propostas de mensagens
específicas para serem postadas no Twitter pelos internautas (“Eu quero 45” e “Serra
desde criancinha”). E por último, os links que ficavam na margem inferior do site
levavam com um clique ao site de cada partido da coligação – PSDB, DEM, PTB, PPS,
PMN e PT do B.
Como as postagens realizadas em seu site não possibilitavam a interação do
internauta para que este pudesse comentar, na coleta de dados não houve a parte de
comentários do blog de José Serra. Porém, havia possibilidades de participação, com o
66
envio de depoimentos em “Por que sou Serra”, que foram disponibilizados para
visualização, mas havia moderação ao conteúdo publicado. A interatividade pôde ser
vista em outros sites do candidato como o de envio de propostas, mas não no weblog.
Assim como o de Dilma Rousseff, seu blog não oferecia informações com
prestações de contas nem sobre o partido pelo qual concorreu à presidência, o PSDB,
apesar de haver links para os sites de todos os partidos da coligação. Quando chegou o
dia das eleições de segundo turno em 31 de outubro de 2010 seu blog saiu do ar e não
voltou como das candidatas concorrentes – de Marina Silva, que saiu no dia três de
outubro voltou e de Dilma Rousseff, que saiu para contagem de votos nos dias três e 31
de outubro, mas voltou e ficou disponível até junho de 2011. Mas é preciso ressaltar que
todos os blogs analisados infringiram as leis eleitorais formuladas pelo TSE, visto que
assim como em outros veículos de comunicação, as campanhas na internet deveriam
parar de produzir conteúdos novos três dias antes das eleições (conforme explicado no
capítulo 2). No caso dos blogs acompanhados foi possível acessar a campanha dos três
candidatos, inclusive com novos conteúdos, até certo horário do dia três de outubro e de
Dilma Rousseff e José Serra até o dia 31 de outubro.
Marina Silva (PV)
O site da candidata do Partido Verde, assim como os outros possui hyperlinks
que levam a informações e conteúdos específicos. O blog de Marina Silva é acessado a
partir de um desses links presentes no site, em destaque junto a outros três, localizados
na margem superior. São eles: „Diretrizes de Governo‟, „Marina Silva & Guilherme
Leal‟ e „Vídeos & Imagens‟. Assim como o de Dilma Rousseff, há uma grande imagem
no canto superior esquerdo do site onde três chamadas se revezam em forma de
slideshow com conteúdos que podem ser acessados com um clique – são as manchetes
do dia em destaque. Outro ponto que se sobressaia era o link para fazer doações para a
campanha, com o slogan: “Minha campanha precisa de você. Doe agora!”. Seu site
ainda continua funcionando21
hospedado no endereço www.minhamarina.org.br, com
novos conteúdos e arquivo de sua campanha de 2010.
21
Último dia de acesso até a conclusão deste trabalho: 23/10/2011
67
Figura 3 – Página de Marina Silva enquanto candidata à presidência em 2010
A página de Marina Silva explorou principalmente a cor do partido (verde), mas,
assim como o blog dos candidatos concorrentes, possui um fundo branco, deixando as
cores para links e imagens. Em „Diretrizes de Governo‟ a intenção era que os
internautas participassem, além de entrarem em contato com as propostas da candidata.
O link era dividido em “Participe”, que dizia: “Aqui você pode ler, comentar ou enviar
suas sugestões sobre a versão ampliada das diretrizes lançada em 27 de julho de 2010.
A primeira versão das Diretrizes para Programa de Governo de Marina Silva Presidente
foi publicada em 10 de junho de 2010 e colocada na Internet para discussão aberta com
a sociedade”. Era possível conhecer a primeira versão e os comentários dos internautas
a respeito, ao clicar em um link da página, além de haver dois outros hyperlinks – O
Brasil que temos e O Brasil que queremos.
Assim como no blog petista era possível a participação do cidadão nas propostas
de governo, observando novamente as oportunidades dadas pelas candidatas para que o
público opinasse sobre questões importantes como seus projetos para presidir o país.
Essa era uma das possibilidades vislumbradas em relação à internet, exploradas no
segundo capítulo – a de que os governados pudessem agir ativamente em campanhas
68
políticas já que são assuntos que os interessam diretamente – quando se fala em
“democracia participativa” (SINGER, p. 174-175, 2005), aproximação dos “cidadãos
com as campanhas através de ferramentas de comunicação dialógicas” (GOMES e
AGGIO, p. 5, 2009) ou mais especificamente:
os eleitores poderiam elaborar e oferecer questões, dúvidas, críticas
e/ou sugestões a partidos e candidatos que, em contrapartida,
analisariam e produziriam respostas, de maneira a criar um processo
de responsividade, incorporando os eleitores como peças
fundamentais e ativas na composição das campanhas (GOMES e
AGGIO, p. 5, 2009)
As „Diretrizes de Governo‟ também tinham link que propunha uma maior
participação da população na campanha, não apenas com as sugestões e comentários,
mas fazendo propaganda pela candidata do PV: era o “Convocação” – chamando as
pessoas para criarem um movimento, expondo as diversas intenções de governo. Havia
também o “Diretrizes Programáticas”22
, e por último o “Diretrizes do programa”, em
que era possível acessar as duas Diretrizes para o Programa de Governo de candidatura
de Marina Silva para Presidência da República. Nesse sentido todos os blogs
conseguiram oferecer muitas informações aos internautas sobre a proposta de governo
que pretendiam pôr em prática, seja dividido em áreas temáticas, por regiões ou
programas mais gerais.
Em „Marina Silva & Guilherme Leal‟ encontrava-se a biografia da candidata à
presidência e seu vice. Com o slogan “Principal líder socioambiental no Brasil, Marina
Silva é exemplo de superação”, a descrição de sua vida pessoal e pública foi dividida
em: Biografia, Primeiros Anos, Parlamento, Ministério, Pré-candidatura à presidência e
Prêmios. Além de sua vida, era possível encontrar uma parte menor sobre seu vice
Guilherme Leal. Seguindo o mesmo padrão de seus dois concorrentes, foi relatada sua
vida, experiência em seus quase 30 anos de vida pública com destaque a sua defesa pela
ética e promoção do desenvolvimento sustentável, além dos prêmios que ganhou,
relacionados à área ambiental como o “2007 Champions of the Earth” da ONU.
22 Divididas em: Aliança por um Brasil justo e sustentável, Política cidadã baseada em princípios e
valores, Educação para a sociedade do conhecimento, Economia para uma sociedade sustentável,
Proteção social: saúde, previdência e 3ª geração de prog. Sociais, Qualidade de vida e segurança para todos os brasileiros, Cultura e fortalecimento da diversidade, Política externa para o século 21 e
Compromissos com relação ao processo da campanha.
69
Enquanto Dilma Rousseff criou uma identidade de proposta de governo de
continuidade, José Serra com propostas de ampliar e melhorar o que já fora feito em
governos anteriores, além dos ataques à oposição e defensas de acusações a seu
respeito, Marina Silva também criou uma identidade, a de ambientalista em busca do
desenvolvimento sustentável. Todos discutiram as áreas pelas quais um presidente é
responsável para governar o país, mas houve fortes características que marcaram e
formaram identidades específicas.
Seguindo com a descrição de seu espaço on-line, no hyperlink „Vídeos &
Imagens‟ os temas eram Depoimentos, Programa eleitoral gratuito, Entrevistas, Ação
Social, Ciência e Economia, disponibilizando aos internautas novos materiais e aqueles
já veiculados em outras mídias. E então ao clicar em „Blog da Marina‟ o internauta tinha
acesso direto às postagens e comentários de internautas, com 224 postagens e 5.754
comentários analisados, referentes aos meses em que participou das campanhas – seis
de julho a três de outubro de 2010.
A doação para a campanha de Marina era possível ser feita através do site, com
valores determinados (R$ 5,00; R$ 50,00 e R$ 100,00) ou outro que podia ser escolhido
pelo internauta. Se houvesse alguma dúvida em relação à doação, era disponibilizado
um endereço de e-mail para esclarecer os questionamentos e um vídeo explicativo.
Outra parte interessante é que a candidata do PV foi a única que publicou em seu site a
quantia que arrecadava, com a meta do dia (R$ 170.000,00) e o quanto havia sido
arrecadado até o momento.
Se os meios de comunicação servem de inspetor geral do sistema político para
propiciar uma crítica pública necessária (KUNCZIK, 2002), como tratado no primeiro
capítulo, a prestação de contas de uma campanha eleitoral deve ser tratada com
seriedade e se os cidadãos são convidados a ajudar financeiramente os candidatos,
pressupõe-se que as informações sobre essa arrecadação deve ser pública. No entanto, a
única candidata que fez isso foi a do Partido Verde, nas eleições presidenciais de 2010,
em relação aos blogs estudados. Por mais que Dilma Rousseff tenha exposto prestações
de contas em postagens e na mídia e José Serra em outros veículos que não seu blog,
não é suficiente, pois a informação específica do quanto fora arrecadado através desses
blogs não foi divulgada nos mesmos, apesar de a campanha de doação e participação
dos cidadãos ter sido amplamente divulgada e visível.
70
Voltando ao conteúdo disponibilizado pela campanha de Marina, outros
hyperlinks presentes no site eram sua agenda, „Marina na mídia‟ – com matérias
publicadas nos meios de comunicação sobre a candidata –, chamadas para o „Blog da
Marina‟, a divulgação de outras redes sociais que ela participava (Twitter e Facebook),
Discursos, Artigos, Álbum de Fotos, Ringtone da campanha para baixar e tocar no
celular e o Crie + 1 Casa de Marina, que foi uma forma encontrada pela candidata de
seus eleitores participarem ativamente de sua campanha, formando comitês em suas
casas. Conforme a „Equipe Marina‟ explicou em postagem do dia 06/07/2010 (“Casas
de Marina vão se espalhar pelo país”): “A instalação das Casas de Marina pelo país a
fora é uma iniciativa do Movimento Marina Silva, que reúne pessoas interessadas em
discutir processos que promovam o desenvolvimento sustentável. Qualquer
simpatizante da candidatura do PV pode transformar sua residência em um comitê
domiciliar para reunir familiares, amigos e vizinhos para discutir as propostas de
governo de Marina”23
.
Além desses, na margem inferior do site era possível encontrar diversos links
que levavam aos mesmos espaços que os hyperlinks da margem superior e outros como
„43 Razões para votar em Marina‟, „Kit para voluntários‟, „Depoimentos‟, „Minha
Marina‟ (“O que é”, “Quero me cadastrar” e “Login”), „Marina Responde‟ e „Ajuda‟. O
site, agora reformulado, possui outros conteúdos e o blog continua ativo, com postagens
diárias e comentários de internautas. O auge de comentários não foi durante sua
campanha, mas após os resultados das eleições, em postagem do dia 03/10/2010,
“„Somos Vitoriosos‟, diz Marina Silva em pronunciamento”, com 3.016 comentários,
em sua grande maioria em apoio à candidata para que continuasse na luta pela
presidência do país ou para parabenizá-la por sua participação na concorrência
presidencial de 2010. O site atual agora segue outro formato, que pode ser visualizado
em anexo.
Assim como no blog petista, o de Marina Silva permitia a interação com as
postagens através de comentários, mas também havia moderação, restringindo o estudo
aos comentários publicados. Conforme já observado nos blogs analisados, esse também
não apresentou informações sobre o partido, sendo direcionado especificamente à
candidata e sua campanha presidencial. Seu site continua disponível na rede, embora
23
Acessado dia 12/07/2010 no endereço http://www.minhamarina.org.br/blog/page/132/
71
tenha mudado o formato. Mas ainda é possível acessar o conteúdo de sua campanha de
2010 e o endereço de hospedagem continua o mesmo.
3.3 ANÁLISE DAS POSTAGENS: O CONTEÚDO DIÁRIO DAS CAMPANHAS
Este tópico apresenta uma descrição de forma analítica e comparativa sobre as
postagens dos blogs de todos os candidatos estudados no período de seis de julho a três
de outubro de 2010. Para isso as informações foram categorizadas em um livro de
códigos, com apresentação a seguir dos seguintes itens: o tipo da postagem, se em
forma de texto, áudio, vídeo ou/e foto, podendo haver em uma única postagem a
presença de todos os tipos de formato ou apenas um. Também foi analisado o tipo de
autor que é identificado nos blogs por seus responsáveis, se é candidato/responsável
pelo blog, autor não identificado, internauta, eleitor, militante do partido, filiado ao
partido, militante de outro partido ou imprensa tradicional.
Para melhor compreensão do conteúdo das postagens é analisada a valência
predominante (positiva, negativa, neutra ou equilibrada) e o tema principal abordado no
post, categorizado em Campanha Eleitoral, Político-institucional (temas que envolvem
órgãos do Poder Executivo, Legislativo ou Judiciário e Sociedade Organizada),
Economia, Política Social (todas as políticas relacionadas ao desenvolvimento social),
Infra-estrutura e Meio Ambiente, Violência e Segurança, Ético-moral (aqueles que
envolvem valores relacionados à ética e normas morais), Política para Esporte,
Cultura/Variedades, Política Estadual/Nacional, Política Internacional, Imagem Política
do Candidato, Imagem Pessoal do Candidato, Imagem Administrativa do Candidato,
Imagem Política de Adversário, Imagem Pessoal de Adversário, Imagem Administrativa
de Adversário, Imagem do Governo em Disputa (tema relacionado ao governo em vigor
durante as eleições de 2010), Imagem da Campanha e Eleitores (como a apresentação de
pesquisas de intenção de voto e a imagem ou depoimentos de eleitores) e Outros Temas
(quando o assunto não cabe em nenhuma das categorias citadas).
O formato que predomina no texto também é estudado, para saber se nas
postagens a forma de comunicação foi majoritariamente informativa (apenas com
informações), interpretativa (se as avaliações vão além da informação, mas sem declarar
posição explícita) ou opinativa (quando predomina uma declaração explícita de um
72
posicionamento). As fontes utilizadas e citadas nas postagens são juntamente alvo de
estudo, pois é com essa informação que podemos observar de forma mais concreta o
agendamento midiático nos conteúdos postados, em que trechos ou reportagens
completas eram utilizadas em forma de post, recorrendo a jornais, portais de informação
e vídeos televisivos. Embora também seja possível observar essa ocorrência através da
leitura dos textos dos blogs, quando os candidatos citavam outros meios de
comunicação (como o desempenho em debates em canais de TV). Além disso, é
observada a presença de hyperlinks nas postagens, que direcionavam o internauta a
conteúdos de dentro ou fora do blog.
Gráfico 2 – Número de postagens por semana de campanha
Fonte: Autora
Analisando as informações que o gráfico 2 apresenta, é possível observar que as
campanhas de Dilma e Marina tiveram uma produção crescente durante as campanhas
de primeiro turno, embora haja oscilações durante o período de análise, é possível
observar que houve um aumento da produção de conteúdo, principalmente na última
semana, a mais próxima das eleições de três de outubro. José Serra, por sua vez,
diminuiu a quantidade de postagens durante o período, pois seu site passou a se voltar
73
para a produção de outros tipos de conteúdo, que não foram coletados para análise para
manter o padrão das coletas em relação ao conteúdo, em todos os blogs.
Com 62 posts o blog petista iniciou já com produção superior aos demais e viria
a crescer ao longo da campanha, começando no primeiro mês com o que correspondeu a
19,7% do total de postagens no site. Passou a 112 posts em agosto (35,7%) e 129 em
setembro, o que correspondeu ao maior número de postagens em todo o primeiro turno,
equivalente a 41,1% de toda a produção em seu blog. Terminou os últimos três dias de
campanha em outubro com 11 postagens.
Marina Silva iniciou sua campanha no blog com 51 postagens, que
corresponderam a 22,8% de todo o material produzido por sua equipe no primeiro turno,
único disputado pela candidata. Em agosto subiu para 77 posts (34,4%) e o auge de sua
produção de postagens ocorreu, assim como no caso de Dilma Rousseff, em setembro,
com 87 posts, que corresponderam a 38,8% de toda propaganda política veiculada em
seu blog. No final de sua participação das eleições presidenciais de 2010 a Equipe
Marina disponibilizou nove postagens nos três primeiros dias de outubro.
Já José Serra fez o caminho inverso, começando o mês de julho com seu maior
número de postagens 39 (49,4% do total), e diminuindo os números ao longo do período
de análise. Como a pesquisa não observou outros espaços de produção que não fossem
as postagens noticiosas, a campanha do candidato do PSDB pareceu ser menos
significante em relação à produção disponibilizada, porém o peessedebista apostou mais
em outras formas de produção dentro de seu blog, conforme fora descrito no tópico 3.2.
Passando então a 18 postagens em agosto, que seriam 22,8% de todo o conteúdo
produzido e 20 (25,3%) em setembro. Ao final, nos três últimos dias de campanha de
primeiro turno, o blog contou com duas postagens. É possível observar que durante as
semanas oito e nove, que correspondem aos dias de 24/08/2010 a 06/09/2010, não
houve produção. Isso porque foi esse o período em que seu blog ficou fora do ar para
reformulação. E na terceira semana (20/07/2010 a 26/07/2010) houve uma queda na
produção de todos os blogs. Embora tenha acontecido com os três casos estudados, não
foi possível saber qual o motivo.
74
Tabela 2 - Tipo de postagem nos weblogs
Texto Vídeo Áudio Foto Total
Dilma
Rousseff
N 313 34 8 269 624
Percentual 50,2% 5,4% 1,3% 43,1% 100%
Percentual de casos 99,7% 10,8% 2,5% 85,7% 198,7%
José Serra
N 79 5 0 45 129
Percentual 61,2% 3,9% 0% 34,9% 100%
Percentual de casos 100% 6,3% 0% 57% 163,3%
Marina
Silva
N 224 86 60 39 409
Percentual 54,8% 21% 14,7% 9,5% 100%
Percentual de casos 100% 38,4% 26,8% 17,4% 182,6%
Fonte: Autora
A tabela 2 expressa a presença de quatro tipos de formatos nas postagens, com a
possibilidade de em um único post aparecer as quatro formas de apresentação de
informação. Existem três tipos de informação contidas nessa tabela: o número de
postagens que contém o formato (texto, foto, áudio e/ou vídeo), o percentual sobre o
total de postagens, fechando no final um percentual igual a 100%, informando dentre
aqueles formatos, qual predominou e quanto. Já a outra informação, sobre o percentual
de casos, observa todas as vezes em que cada formato esteve presente, sendo que uma
postagem poderia apresentar mais de um formato, fechando em mais de 100%, portanto.
É possível observar que texto foi a forma predominante de comunicação das
postagens nos weblogs, sendo algumas delas acompanhadas de fotos, vídeos e/ou áudio.
A internet é um meio de comunicação que consegue agregar, em um único veículo,
dispositivos tecnológicos que permitem que sejam explorados todos os tipos de formato
– é a chamada multimidialidade, retratada no segundo capítulo – a chamada
“pluralização da emissão de conteúdos” (Aldé, Escobar e Chagas, p. 1, 2007) ou ainda a
capacidade de “potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização
de informações” (Primo, p. 2, 2007). Apesar de esses outros formatos serem também
explorados pelos candidatos em suas campanhas nos weblogs, foi de forma secundária.
Dentre todas as postagens, apenas uma não continha texto em seu conteúdo e fazia parte
do site de Dilma Rousseff, que por sua vez foi também responsável pela maior
incidência de imagens em suas postagens: 85% delas continham fotografias ilustrativas.
Já vídeo e áudio não foram muito utilizados pela campanha on-line petista.
José Serra foi o candidato que menos explorou conteúdos noticiosos em seu
blog, disponibilizando maior espaço para seu outro site, o
75
http://www.propostaserra.com.br/, que possibilitava a participação dos internautas para
que enviassem suas propostas com conteúdos direcionados por temas propostos pelo
peesedebista. Além disso, as propostas de campanha e a rede „combata a mentira‟
obtiveram maior espaço no site do que as postagens. Embora os dados mostrem que não
houve a utilização de áudios, pouco em vídeo e moderadamente em fotos, essas são
informações dos posts e não do site inteiro, em que podiam ser encontrados fotos,
vídeos e áudios em local específico e separado, assim como nos blogs de Marina Silva e
Dilma Rousseff.
A candidata do PV manteve a tendência de postagens com textos como seus
concorrentes, e em todas as suas postagens havia a presença textual, mesmo que
houvesse outras formas de informação presentes no mesmo post. Mas foi quem mais
apostou em áudios e vídeos, se comparados os dados com seus opositores.
Tabela 3 – Autor responsável pelas postagens
Candidato Candidato/Respons
ável pelo blog
Autor não
identificado
Eleitor Imprensa
tradicional
N % N % N % N %
Dilma Rousseff 1 0,3% 312 99,4% 1 0,3% 0 0,0%
José Serra 22 27,8% 56 70,9% 0 0,0% 1 1,3%
Marina Silva 223 99,6% 1 0,4% 0 0,0% 0 0,0%
Total 246 39,8% 369 59,8% 1 0,16% 1 0,16%
Fonte: Autora
A terceira tabela apresenta informações sobre o responsável pelas postagens.
Inicialmente existiam oito categorias para realizar a coleta de dados sobre o tipo de
autor dos conteúdos estudados, porém, apenas quatro apareceram nos resultados,
demonstrando que „militante do partido‟, „filiado ao partido‟, „militante de outro
partido‟ e „internauta‟ não tiveram espaço para postar conteúdos nos blogs ou então não
foi possível identificar se o fizeram. No blog de Dilma Rousseff não eram dados os
créditos das postagens em sua grande maioria, sendo então 99,4% identificados como
„autor não identificado‟. Porém, ficou claro que apesar de não dizer a autoria de quem
produzira os conteúdos analisados, é possível identificar que a equipe que administrava
o site era a responsável também pela produção das postagens. As exceções foram
quando no dia 11/09/2010 na postagem “Pessoas do Brasil inteiro mandam parabéns a
Dilma”, em que a postagem era destinada exclusivamente a mensagens de internautas
76
que parabenizavam a petista pelo nascimento de seu primeiro neto, Gabriel. Apesar de o
conteúdo ser regulado e escolhido pelos responsáveis do site, a classificação dessa
postagem como autor „eleitor‟ foi realizada em um esforço de diferenciar seu conteúdo
dos outros veiculados no site.
A outra exceção no tipo de autoria das postagens no blog de Dilma foi no dia
03/10/2010, no post “Democracia e união para construir o futuro”, escrito “Por Dilma
Rousseff”, mas a fonte era o jornal Folha de S. Paulo, com link para a matéria. Em seu
texto a petista dá uma declaração para falar do importante dia três de outubro, dia de
votação para a eleição presidencial no país, iniciando suas palavras da seguinte forma:
“O Brasil dará neste domingo mais uma demonstração da nossa vitalidade democrática.
O mundo nos observa na expectativa de confirmar a extraordinária evolução do país nos
últimos anos. [...]”. A seguir a candidata faz uma contextualização da situação do Brasil
em diversos setores, destacando o desenvolvimento do país ao longo dos últimos anos e
lembrando-se de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, junto ao discurso sobre
democracia: “A conquista da democracia e seu constante aperfeiçoamento relacionam-
se diretamente aos avanços do país nos últimos anos. É profundamente democrática, por
exemplo, a ascensão à cidadania de 28 milhões de brasileiros que saíram da miséria, no
governo do presidente Lula, graças ao crescimento econômico e a programas sociais
abrangentes e eficazes, como o Bolsa Família, o Luz Para Todos e o Minha Casa,
Minha Vida. [...]”24
. Esse foi seu último discurso publicado na campanha de primeiro
turno, no dia de votação.
As postagens de José Serra foram divididas, quando se trata de autoria, em três
formas de aparição. Em 27,8% dos casos foi o candidato ou responsável pelo blog quem
postou o conteúdo analisado. Na maior parte não foi identificado o autor das postagens,
com 70,9%, mas assim como no caso de Dilma, no blog peessedebista também foi
possível perceber que os responsáveis pelo site o foram também em relação aos posts,
embora não tenham sido dados os devidos créditos e em parte (22 postagens) o
conteúdo fora vinculado ao candidato. Mas também houve uma exceção em site, quando
no dia 19/07/2010 foi postado um conteúdo da „imprensa tradicional‟, no caso uma
24
Informações acessadas dia 10/10/2010 no endereço
http://www.dilma13.com.br/noticias/entry/democracia-e-união-para-construir-o-futuro
77
matéria da Folha de S. Paulo com o título “A saúde como sacerdócio”. Seu conteúdo
também era relacionado a declarações de José Serra e por isso a autoria foi dada a
ambos, o jornal e o candidato.
A representante do PV nas eleições de 2010 à presidência teve em seu blog as
postagens devidamente creditadas, com 99,6% delas com autoria de “Equipe Marina”.
O único caso em que sua equipe não foi a responsável pela postagem foi no dia
07/07/2010 no post “Assista à reportagem do Jornal Nacional sobre a Casa de Marina”,
em que não foi identificada a autoria de quem postou o conteúdo, embora a fonte tenha
sido identificada – „Jornal Nacional – Globo‟. O conteúdo era sobre o projeto „Casa de
Marina‟, que fora noticiado no principal jornal da Rede Globo de Televisão, com um
pequeno texto que falava sobre a matéria e logo em seguida estava disponível o trecho
do Jornal Nacional em que havia uma reportagem sobre o assunto, em forma de vídeo,
obtido por meio do site www.youtube.com.
Essas informações deixam evidente que a campanha nos blogs foi
completamente controlada pelas equipes responsáveis pela propaganda política on-line e
não havia espaço para que outras pessoas pudessem postar conteúdos da mesma forma
que candidatos/responsáveis pelos blogs, apenas comentários controlados por filtros
moderadores, quando havia espaço para tal. Mas como se trata de sites voltados
especificamente a campanhas eleitorais, é possível compreender que esses espaços não
foram abertos à população por terem um objetivo específico: a propaganda política
eleitoral e com esta recrutar novos votantes e manter aqueles já conquistados, na
garantia de sucesso nas urnas eleitorais.
78
Tabela 4 – Relação de temas abordados pelos candidatos
Temas Dilma Rousseff José Serra Marina Silva
N % N % N %
Campanha Eleitoral 80 25,5% 22 27,8% 99 44,2%
Político-institucional 6 1,9% 2 2,5% 7 3,1%
Economia 21 6,7% 1 1,3% 2 0,9%
Política Social 40 12,7% 22 27,8% 17 7,6%
Infra-estrutura e meio ambiente 7 2,2% 9 11,4% 21 9,4%
Violência e segurança 1 0,3% 2 2,5% 2 0,9%
Ético-moral 15 4,8% 0 0% 7 3,1%
Política para Esporte 2 0,6% 0 0% 3 1,3%
Cultura e variedades 3 1,0% 3 3,8% 3 1,3%
Política Estadual e Nacional 1 0,3% 3 3,8% 0 0%
Política Internacional 3 1,0% 0 0% 2 0,9%
Outros temas 41 13,1% 5 6,3% 33 14,7%
Imagem política do candidato 1 0,3% 2 2,5% 1 0,4%
Imagem pessoal do candidato 0 0% 1 1,3% 2 0,9%
Imagem admin. do candidato 1 0,3% 0 0% 0 0%
Imagem política de adversário 12 3,8% 6 7,6% 8 3,6%
Imagem admin. de adversário 2 0,6% 0 0% 0 0%
Imagem do governo em disputa 31 9,9% 1 1,3% 2 0,9%
Imagem da campanha e eleitores 47 15,0% 0 0% 15 6,7%
Total 314 100% 79 100% 224 100%
Fonte: Autora
Na tabela 4 aparecem 19 temas ao todo, mas algumas das temáticas apresentadas
acima não estiveram presentes em todos os blogs. O de Dilma Rousseff foi o que mais
apresentou categorias diferentes presentes em suas postagens, „Imagem administrativa
do candidato‟ e „Imagem administrativa de adversário‟ foram, por exemplo, dois temas
que apareceram somente em seu blog, ainda que com pequenas aparições, de um ou dois
casos específicos. Mas „Imagem pessoal do candidato‟ foi um tema, também pouco
explorado, que apareceu nos espaços de Marina Silva e José Serra, sem que houvesse
indícios no blog petista.
Apesar das diferenças, como o fato de aparecerem 13 das categorias no blog
peessedebista25
e em relação à Marina Silva, 16 temas estarem presentes26
, ainda assim
há semelhanças entre os assuntos abordados pelos candidatos estudados. Entre elas está
no tema mais recorrente das postagens, sendo em todos os casos „Campanha Eleitoral‟ o
mais abordado. Considerando que são blogs especificamente voltados à propaganda
25 Ficaram de fora os temas „Ético-moral‟, „Política para esporte‟, „Política internacional‟, „Imagem
administrativa do candidato‟, Imagem administrativa de adversário‟ e „Imagem da campanha e eleitores‟.
26 Não apareceram os temas „Política Estadual e Nacional‟, „Imagem administrativa do candidato‟ e
„Imagem administrativa de adversário‟.
79
política, era esperado encontrar esse tema entre os mais frequentes, pois essa foi uma
das alternativas de campanha política possíveis para os concorrentes às eleições de
2010.
Mas juntamente ao tema „Campanha Eleitoral‟, o site de José Serra teve entre
suas postagens o tema „Política social‟ como o mais abordado, ambos com 27,8% de
aparição em relação ao total produzido por sua equipe responsável pela campanha on-
line. Foram várias as propostas relacionadas a políticas sociais, incluindo a de manter as
já existentes, aumentando-as, como na postagem do dia 09/08/2010, “Serra reafirma
compromisso de duplicar o Bolsa-família e dar bolsa extra”. A campanha petista
também utilizou fortemente a temática, ficando em terceiro lugar em frequencia de
aparição em suas postagens como tema principal com 12,7% do total, se não contarmos
a categoria „Outros‟, em que não podemos depreender sobre qual assunto foi discutido.
Mesmo em assuntos de política institucional ou críticas a opositores, os responsáveis
pelo blog de Dilma quase sempre mencionam políticas sociais, sendo esse o enfoque da
campanha, apesar de não aparecer sempre como tema principal. Sua campanha lembrou
sempre de ações do governo petista de 2003 a 2010, como em postagens do dia
07/08/2010: “Ações na Cidade de Deus são referência para o país” e “Fizemos tudo sem
esquecer a juventude”. Ou demonstrando que seu mandato seria um governo de
continuidade caso ganhasse, ou com propostas de expansão e melhorias desses
programas desenvolvidos no governo Lula e que deram certo. Exemplo disso é quando
no dia 15/08/2010 afirma: “Dilma: Agricultura familiar terá mais crédito e assistência”,
ou então quando de maneira explícita em título (e conteúdo) de postagem do dia
31/07/2010 informa: “Vamos vencer mostrando as realizações do governo Lula”.
Em segundo lugar a campanha on-line de Dilma abordou o tema „Imagem da
campanha e eleitores‟ com 15% de aparição sobre o total produzido, postando sempre
pesquisas de intenção de voto, com seu crescimento durante esses três meses como a de
institutos como o Vox Populi e Datafolha. Foram postagens muito comentadas, com
comemoração de seu eleitorado com o resultado das pesquisas, apoio ou ainda
desconfianças de que esse resultado estaria sendo manipulado e a vantagem fosse ainda
maior do que a publicada. Marina Silva também utilizou essa mesma estratégia de
publicação de intenções de voto, vinculando ainda seu crescimento nas pesquisas a
participações de debates televisivos ou ainda comparando sua situação com a de José
80
Serra, mostrando que em algumas regiões do país como Brasília a candidata do PV
havia passado o peessedebista em intenções de voto, conquistando o segundo lugar em
relação a estas na disputa presidencial. Porém, o segundo tema mais abordado por ela,
desconsiderando „Outros‟, foi „Infraestrutura e meio ambiente‟. A aposta da candidata e
do partido em relação à discussão sobre meio ambiente foi forte durante toda sua
campanha, seja para falar sobre as condições atuais do país ou para realizar propostas.
Essa grande utilização da temática demonstra uma consonância com os propósitos e
ideais tanto de Marina Silva quanto do partido, porém os números (21 postagens – 9,4%
do total) são baixos e não demonstram a total realidade, visto que aqui são
demonstrados os temas principais de cada postagem, podendo haver vários outros
secundários, porém presentes.
José Serra, assim como Marina, tem „Infraestrutura e meio ambiente‟ (11,4%)
como segundo tema mais explorado, lembrando que „Campanha Eleitoral‟ (27,8%) e
„Política Social‟ (27,8%) empataram com os mesmos números como os mais frequentes.
Diferente da candidata do PV, Infraestrutura foi mais abordado do que meio ambiente,
lembrando de obras realizadas durante seus governos, propostas de cumprir aquilo que
foi proposto por outros governantes, mas ficou apenas nos planejamentos (postagem do
dia 25/09/2010: “No governo Serra, ferrovia Transnordestina sairá do papel e incluirá a
Paraíba”, por exemplo) e propostas de novas obras ou desenvolvimento das já
existentes. Em seguida „Imagem política de adversário‟, que embora os números sejam
baixos (6 postagens, totalizando 7,6% do total), o candidato utilizou muito em suas
campanhas a imagem de outro candidato, principalmente sua maior rival Dilma
Rousseff, que fez o mesmo em seu espaço on-line. Não são assuntos principais, mas
enquanto falam de propostas, ideias, campanha, entre outros, há quase sempre um
contraponto de como o candidato adversário não está apto ao cargo de presidência da
república, nos dois casos – o petista e peessedebista.
As outras categorias de temas aparecem menos em todos os blogs. Algumas
delas chegam a ter incidência zero, conforme já dito anteriormente. E „Outros temas‟
têm aparição relevante nos blogs das candidatas do PV (com 14,7%) e PT (13,1%),
quando comparado aos outros temas pesquisados. Foram aqueles que não se
enquadraram nas categorias propostas, mas que foram coletados da mesma forma,
conseguindo então extrair outras informações relevantes ao estudo. Além disso, esses
81
percentuais mostram que os temas propostos conseguiram representar grande parte da
realidade em todos os casos, sendo suficientes para classificar 85,3% das postagens do
blog de Marina Silva, 86,9% em relação à Dilma Rousseff e 93,7% dos posts no espaço
de José Serra.
Portanto é possível sintetizar as informações de forma a concluir que os três
blogs seguiram com campanhas eleitorais como foco principal e mesmo que esse não
fosse o tema principal, em todo seu conteúdo havia a intenção de propaganda eleitoral e
de promoção da imagem do candidato em questão para conseguir o almejado cargo da
presidência da república em 2010. Além disso, pode-se observar que cada candidato
possuiu uma forma específica de fazer campanha, com características próprias, sendo
Dilma Rousseff e José Serra os mais parecidos. Ambos apostaram fortemente em
políticas sociais como enfoque principal de suas campanhas, mas a petista também
recorreu bastante às pesquisas de intenção de voto, o que não aconteceu com seu
adversário. E Marina Silva, que apesar de também ter postado conteúdos relacionados a
políticas sociais, teve como identidade de sua propaganda política o meio ambiente. Os
três políticos estudados de alguma forma atacaram seus principais adversários, mesmo
que não fosse esse seu tema principal, mas que apareciam de alguma forma no conteúdo
de suas postagens.
Tabela 5 – Valência predominante das postagens
Dilma Rousseff José Serra Marina Silva
N % N % N %
Positiva 261 83,1% 63 79,7% 148 66,1%
Negativa 11 3,5% 7 8,9% 12 5,4%
Neutra 23 7,3% 7 8,9% 46 20,5%
Equilibrada 19 6,1% 2 2,5% 18 8%
Total 314 100% 79 100% 224 100%
Fonte: Autora
Os dados da tabela 5, com a valência que predominou nas postagens de cada
blog, demonstram como a forma positiva de apresentação das informações esteve como
a mais frequente em todos os casos estudados. Com o weblog de Dilma Rousseff
apresentando o maior percentual de postagens positivas, chegando a 83,1%, seguida por
José Serra (79,7%) e Marina Silva (66,1%). Essas informações vão de encontro com o
que é tratado no primeiro capítulo, em que se observa a intenção dos agentes políticos
de fazer com que cheguem determinadas mensagens ao público, tentando, por vezes,
82
encontrar formas de o jornalismo não interferir no conteúdo com seleções e codificações
de acordo com os valores jornalísticos, que tendem a retirar a persuasão de suas
mensagens iniciais (CANAVILHAS, 2009). E atualmente seria a internet a ferramenta
que surge como alternativa aos meios tradicionais de comunicação, tida como
promissora para o campo político, que pretende um contato direto com seu eleitorado,
evitando a intermediação jornalística (CANAVILHAS, 2009). Com isso, pode-se inferir
que os blogs foram utilizados de forma alternativa aos veículos tradicionais, com
mensagens predominantemente positivas e promoção de sua imagem, caracterizando o
conteúdo como fortemente propagandístico, principalmente no caso petista.
No entanto, Marina Silva demonstra uma forma de campanha que se diferenciou
de certa forma na maneira como foram construídas as postagens, em relação aos outros
candidatos, já que com 20,5% seus posts apresentam o maior percentual de aparição de
forma predominantemente neutra, o que pode estar relacionado com seu maior
percentual de conteúdo informativo (38,4%), conforme demonstram os dados da tabela
6. A neutralidade é o único percentual que se difere do restante, sendo todos os outros
casos semelhantes: maior aparição de postagens positivas e poucas de valência negativa.
É preciso, contudo, ressaltar que os casos de postagens negativas são quase
todos ligados à imagem de candidatos opositores. No caso de Dilma Rousseff, os 11
casos (3,5%) são críticas diretas a seu principal concorrente, José Serra, com
manifestações ainda sobre a mídia agindo de forma imparcial, colaborando com a
construção positiva da imagem do tucano, e postagens contra acusações feitas pela
oposição, supostamente sem provas. Exemplos disso são as postagens: “Quem foi
governo e não fez o que prometeu, não pode ter credibilidade” (08/08/2010), “Oposição
acusa sistematicamente sem provas” (01/09/2010) e “Dilma protesta contra parcialidade
da Folha” (21/09/2010).
Em contrapartida, José Serra fez o mesmo que Dilma, com ataques direcionados
diretamente à candidata quando suas postagens eram de valência negativa. As sete vezes
(8,9%) em que isso ocorreu foram para desmoralizar a petista, ou o ex-presidente Lula
ou ainda para defender-se de acusações. Podem ser observados com as postagens:
“Estadão: 'Parece que Dilma não sabe por que quer ser presidente', diz Serra”
(06/07/2010) e “"Não sou ventriloquo de marqueteiro"” (06/07/2010). E Marina Silva
manifestou-se através de „Equipe Marina‟ com postagens negativas criticando o vice de
83
José Serra (Indio da Costa), o governo em vigor, Lula e seu apoio incisivo à Dilma
Rousseff ou ainda à campanha petista. Com 12 casos (5,4%), exemplos de postagens
são: “Marina critica Índio da Costa por acusação contra o PT” (18/07/2010), “Governo
erra ao propor proteção a países que violam direitos humanos, diz Marina”
(04/08/2010), “'Querem infantilizar os brasileiros', afirma Marina em debate da
Folha/UOL” (18/08/2010) – fazendo referências ao uso dos termos “mãe do povo” para
Dilma e “pai do povo” para Lula – e “'Lula deveria ter saído em defesa de todos os
brasileiros, não só de sua candidata', diz Marina” (09/09/2010).
Apesar de conter informações objetivas, os blogs dos candidatos são sempre
com conteúdos que irão promover sua imagem de alguma forma, quando não,
desfavorecer o opositor. É uma ferramenta puramente de campanha eleitoral e, por isso,
esse comportamento é natural visto que se trata de disputa em eleições e já era esperado
o resultado encontrado.
Tabela 6 – Classificação das postagens
Dilma Rousseff José Serra Marina Silva
N % N % N %
Informação 73 23,2% 20 25,3% 86 38,4%
Interpretação 223 71% 53 67,1% 125 55,8%
Opinião 18 5,7% 6 7,6% 13 5,8%
Total 314 100% 79 100% 224 100%
Fonte: Autora
A tabela 6 mostra que interpretação foi a forma predominante como as postagens
se apresentaram nos blogs de ambas as candidatas. Isso porque entende-se por
interpretação as avaliações que vão além da informação, sem declarar posição explícita,
e pela lógica das campanhas políticas os candidatos seguiram com postagens que lhes
beneficiassem sempre. Mas ainda assim informação teve um papel significante em todos
os casos, principalmente no de Marina Silva, em que estrategicamente eram postadas
informações seja sobre a campanha, seja notícias da mídia tradicional que lhes fosse
oportuno.
A respeito das notícias de outras mídias postadas nos blogs, foram coletadas
informações das fontes de onde os candidatos tiravam o texto da postagem, quando os
créditos estavam ali colocados. Marina Silva vinculou ao seu blog uma reportagem do
Jornal Nacional da Rede Globo, um texto de autoria de João Paulo Capobianco,
84
Coordenador da campanha Marina Silva à Presidência, outro por Mariana Ditolvo -
M&M Online e uma reportagem de Uirá Machado da Folha de S. Paulo. Todas de
valência positiva à imagem da candidata e sua campanha, o restante das postagens
foram todos produzidos por „Equipe Marina‟. José Serra teve também textos que não
foram formulados por sua equipe, mas selecionados por esta, como duas postagens de
autoria de Nara Alves, duas do portal IG São Paulo, uma escrita por Evandro Fadel da
Agência Estado, uma da Assessoria Beto Richa e um artigo produzido pelo próprio
candidato e veiculado na Folha de S. Paulo.
Dilma Rousseff foi quem mais utilizou materiais que não foram produzidos por
sua campanha, sendo eles do Blog do Planalto, os blogs Mulheres com Dilma e Galera
da Dilma27
, oito matérias da Agência Brasil, três textos do site do PT, uma matéria com
informações do jornal O Estado de S. Paulo, uma do site do Estadão, oito matérias
produzidas pelo portal IG, uma da agência de notícias e IBGE, um do site do TSE, uma
por Uirá Machado publicada na Folha de S. Paulo, duas do Blog Mulheres com Dilma,
uma de „Sou Wagner 13‟, uma do site do candidato Sérgio Cabral e outra do jornal
Folha de S. Paulo.
As informações apresentadas mostram como outros veículos de comunicação ou
mesmo portais on-line agendam temas e são utilizados em campanhas eleitorais quando
são positivos à imagem dos candidatos. Isso pode ser percebido pelas valências: 32
eram positivas, duas equilibradas e oito neutras – estas, apesar de neutras e informativas
foram sempre expostas nos blogs de forma estratégica, senão os candidatos não dariam
visibilidade novamente à matéria, já disponibilizada em outro meio. E por último, houve
apenas um caso de postagem com valência negativa que foi a do dia 06/07/2010:
“Estadão: 'Parece que Dilma não sabe por que quer ser presidente', diz Serra”, por
Evandro Fadel, da Agência Estado, no blog de Serra. No caso a valência era negativa,
mas não para o candidato e sim a sua oponente Dilma Rousseff.
Outro aspecto relevante a ser abordado é o da presença de hyperlinks. Estes
tiveram forte incidência nas postagens dos blogs, o que significa que o internauta ao
acessar o conteúdo do post, poderia também ser encaminhado a outras páginas – de
27
Os blogs citados são hospedados nos endereços http://blog.planalto.gov.br/,
http://www.mulherescomdilma.com.br e www.galeradadilma.com.br, respectivamente.
85
dentro ou fora dos blogs – demonstrando novamente o papel da multimidialidade
presente na internet. A possibilidade de acesso a outros conteúdos é importante, pois é
um dos diferenciais que a internet traz, sendo que é possível entrar em contato com
vários conteúdos a partir de apenas um, já que este pode direcionar o internauta a
diversos outros. No blog de Dilma Rousseff 167 postagens contaram com a presença de
hyperlinks, representando 53,2% do total de seus posts, ou seja, mais da metade
continha o endereço eletrônico de outros conteúdos. No blog de José Serra são 35
postagens com hyperlinks (44,3%) e com uma porcentagem um pouco menor, Marina
Silva com 54 postagens (24,1% do total).
3.4 ANÁLISE DOS COMENTÁRIOS: A INTERATIVIDADE ENTRE PÚBLICO
E CAMPANHA
Para o estudo da interação on-line houve um acompanhamento dos comentários
de internautas publicados nas postagens analisadas no tópico 3.3. A cada postagem
estipulou-se o prazo de uma semana para que os usuários dos blogs comentassem na
publicação: o período mostrou-se suficiente para representar o que acontecia nos blogs,
porque após esse tempo a quantidade de comentários era pequena, visto que passados
sete dias a postagem já estava em outra página, não tão visível quanto as novas, e o
assunto também já não era recente.
As categorias para o estudo dos comentários eram o título da postagem, para que
fosse possível saber sobre qual assunto as informações tratavam, o tipo de comentário –
se relacionado ao tema abordado na postagem, ao candidato em questão, aos outros
internautas (em uma forma de interação entre os internautas que participavam daquele
espaço), a outro candidato, ao governo em disputa (ou seja, ao governo em vigor na
época – presidência de Luiz Inácio Lula da Silva do PT), à campanha (qualquer e todo
aspecto relacionados à campanha do candidato, seja crítica, elogio, observações, relatos
e/ou sugestões) e outro, quando não se encaixava em nenhuma das categorias citadas.
Além disso, foi observada a predominância da valência, se positiva, negativa, neutra –
quando eram realizadas observações sem determinar qualquer característica favorável
ou prejudicial ao candidato ou campanha – e equilibrada (com uma forma de expressão
86
proporcional, com pontos positivos e negativos ao mesmo tempo, contrabalanceando-
se).
O formato dos comentários também foi alvo de análise, sendo categorizado em:
elogio à pessoa do candidato (quando aspectos positivos eram levantados a respeito de
sua individualidade), elogio à posição política do candidato (apreço pela posição
política tomada por ele em relação ao que foi tratado na postagem ou qualquer outra
manifestação de apoio à política praticada/proposta/discutida pelo candidato), elogio à
posição do candidato sobre o tema abordado na postagem comentada,
elogio/concordância com demais comentaristas – interação entre comentaristas em
forma de reafirmar aquilo que outro internauta comentou –, elogio aos outros
candidatos/políticos que não aquele do blog analisado e elogio ao governo em disputa,
ou seja, o governo em vigor no período de eleição – 2010 (Lula, PT). Ou então os
comentários enquadravam-se em críticas ao candidato, à posição política do mesmo, à
posição do candidato sobre o tema, aos demais comentaristas, aos outros
candidatos/políticos, ao governo em disputa, ou ainda os que não são críticas, mas
propostas (seja para a campanha, ao candidato ou para o programa de governo),
manifestação de apoio à campanha ou candidato, dúvidas quanto à política que será
aplicada (quando e se o candidato entrar no governo, qual será sua atitude a respeito de
certos assuntos, como estes serão tratados a partir de 2011) e os que não se identificam
com as categorias propostas, assinalados então como „outro‟. Foram também contados
os links internos e externos à página do candidato.
A seguir dados estatísticos demonstram de forma empírica todas essas
informações. Os weblogs que tiveram os comentários de internautas analisados foram o
de Dilma Rousseff e Marina Silva, já que José Serra não abriu espaço para essa
interação. Porém, em ambos os casos houve moderação de comentários. Isso pôde ser
observado tanto pela reclamação de comentaristas, quanto pela mensagem que aparecia
logo após o envio da mensagem (“comentário aguardando moderação”), ou ainda por
testes realizados pela autora da pesquisa, que teve negados comentários de aspecto
negativo às candidatas. Portanto, esse é um estudo dos comentários publicados, ou seja,
não abrange todas as mensagens enviadas aos weblogs. Não é possível saber quantos
foram os comentários que não foram publicados, logo, é através daqueles que tiveram
87
aparição on-line que a pesquisa se orienta. Foram 6.703 comentários analisados no blog
petista e 5.754 no de Marina Silva.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Marina Silva
Dilma Rousseff
Gráfico 3 – Número de comentários nas postagens distribuídos nas semanas de campanha
Fonte: Autora
O gráfico acima representa como foram distribuídos os comentários nas
postagens ao longo do período da coleta de dados – seis de julho a três de outubro – nos
blogs das candidatas Dilma Rousseff e Marina Silva. Há um aumento visível do número
de comentários ao longo do tempo em ambos os casos. Isso pode ser explicado pelo fato
de as eleições serem um fato que “puxa” os comentários: ao aproximar-se o dia de
eleição (três de outubro) os comentários vão aumentando, pois o debate a respeito do
assunto cresce nas esferas política, midiática e pública. Além de um aumento do debate,
há uma preocupação maior com o assunto conforme as eleições vão se aproximando e
os cidadãos devem cumprir seu dever de votar.
A continuidade do ato de votar leva a uma maior participação dos indivíduos na
vida política de seu país e, portanto, na discussão sobre o assunto. E o gráfico 3
demonstra que conforme se aproxima o período em que os cidadãos escolherão seus
representantes, há um aumento da participação ativa nos blogs por parte dos
comentaristas. E esses comentários seguem o crescimento do número de postagens nos
blogs: o debate político aumenta próximo às eleições assim como o debate público, no
Semana
88
caso o debate publicado – os comentários (embora o aumento de comentários seja maior
que o de postagens, comparativamente, se observarmos os gráficos dois e quatro).
Ao observar o gráfico 3 é possível perceber que o crescimento de comentários
foi contínuo se pensarmos na linha de tempo, porém houve variações em ambos os
casos, com picos e quedas. Apesar de ambos apresentarem esse aumento ao longo das
campanhas de primeiro turno, ele é maior no caso do blog de Marina Silva do que no da
candidata petista. A concorrente do Partido Verde tem em seu blog um grande pico na
13º semana, com 1.553 comentários só nessa semana (do dia 28/09/2010 a 03/10/2010),
ou seja, nos dias mais próximos das eleições do dia três de outubro. A semana 14
corresponde ao período de uma semana para quem os comentários fossem realizados
após a última postagem coletada (do dia 03/10/2010), terminando a coleta de
comentários nos dia nove de outubro. E a postagem com maior número de comentários
desse período foi no dia 29/09/2010 com o post: “Marina é a candidata com maior
chance contra Dilma no 2º turno”, com 330 comentários.
O pico da quantidade de comentários no blog petista também está na 13º
semana, com 903 comentários, o que demonstra que podemos concluir através de
observação empírica de que a eleição, que é o grande alvo da campanha, também é o
grande fato que chama a atenção dos internautas a espaços como esses, destinados à
propaganda eleitoral. É possível também concluir, pois, que o debate político, tanto na
esfera política quanto no âmbito do público que acessa aquele conteúdo, aumenta
quando chega a semana de eleição. No caso de Dilma Rousseff, os comentários são
distribuídos nas postagens de maneira mais uniforme ao longo dessa semana. Porém, é
no dia 28/09/2010 que o post com maior número de comentários nesse período se
apresenta, com o título “Internet é usada para difundir mentiras contra Dilma” e 290
comentários.
O mapeamento do gráfico 3 demonstra como o debate dentro desses espaços
evoluiu no caso das duas candidatas, com maior crescimento no caso de Marina. Do
meio para o final da campanha, os dois blogs aumentaram a frequência de postagens,
como é possível observar a partir do terceiro gráfico. Em consonância, os comentários
também subiram, com a possível conclusão de um aumento no debate político à
chegada das eleições.
89
Tabela 7 – Conteúdo dos comentários nos blogs das candidatas
Comentários
relacionados a
Dilma Rousseff Marina Silva
N % N %
Tema 3.315 49,4% 1.355 23,5%
Candidato 1.377 20,5% 2.520 43,7%
Internautas 277 4,1% 125 2,1%
Outro Candidato 371 5,5% 98 1,7%
Governo em Disputa 111 1,6% 31 0,6%
Campanha 237 3,5% 437 7,6%
Outro 1.015 15,1% 1.188 20,6%
Total 6.703 100% 5.754 100%
Fonte: Autora
Contrariando as expectativas de que os comentários seriam, em sua grande
maioria, manifestações a respeito de assuntos aleatórios ou sem muita importância ao
debate político, a maior incidência foi de comentários relacionados ao tema no caso de
Dilma Rousseff, com quase metade das mensagens enviadas referindo-se ao tema
abordado pela postagem em questão. Exemplo disso é o comentário de Jorge Silva na
postagem do dia 03/10/2010 (“Garra e energia para vencer o segundo turno”):
“Camaradas 13, Nós petistas, estamos todos de parabéns pela vantagem no primeiro
turno e aqui na Bahia o galego vai botar para descer, nosso governador arretado vai
arrebentar meu rei, Wagner vai fazer das tripas coração e nós junto com ele vamos
pegar água no cesto pela nossa Dilminha. Mais uma vez, obrigado baianos pela vitória
do Wagner, da Lídice, do Pinheiro e do meu amigo Alan Sanches. Vamos olhar para
frente, o que ficou passou, agora é hora de arregaçarmos as mangas e seguirmos nessa
nova jornada que se inicia. E-mail: [email protected]”28
. Além de falar
sobre o tema proposto na postagem, fala do contexto político regional também (o que
foi recorrente nos comentários), apoiando a candidata para o segundo turno e com seu e-
mail no final, para se alguém se interessar, entrar em contato com ele, mostrando as
potencialidades de interação da internet.
Em seguida, os dados mostram que os comentários a respeito da candidata
entram em segundo lugar em relação ao número de aparições, com 20,5%. Sobre esse
tipo de mensagem, eram comuns aquelas a respeito de Dilma como pessoa, com elogios
a características como „garra‟ e „força‟. Como faz Vitor Vaneti ao comentar na
28
Comentário acessado dia 10/10/2010 no endereço http://www.dilma13.com.br/noticias/garra-e-energia-
para-vencer-o-segundo-turno
90
postagem do dia 23/09/2010 (“A esperança e o amor por esse povo vencem o ódio”):
“Dilma, sua história prova que não há ninguém mais dedicado à liberdade de imprensa e
à democracia quanto você! São essas suas virtudes, somadas às virtudes do Povo
Brasileiro, que te conduzirão ao máximo cargo do funcionalismo público! Viva você
Dilma! Viva à democracia! Viva o Brasil!”29
.
Com Marina Silva aconteceu o mesmo, mas com a diferença de que os
comentários relacionados à candidata foram os que mais apareceram, com 43,7%. Mas
em seu caso, eram muito recorrentes não só elogios e apoio, mas sugestões em relação
ao seu visual, principalmente – para que melhorasse sua imagem. Ao postar “Estou
preparada para o debate de hoje, o primeiro do 2º turno” no dia 30/09/2010, Carolina
comentou: “Marina… só depois de conhecer a sua história de vida, que não foi fácil,
que tomei partido, e tenho certeza que você tem pulso, determinação e força para
trabalhar pelo nosso país! Acredito que o Brasil terá com você o exemplo e a motivação
de que a educação e o conhecimento e perseverança movem montanhas. Estou com
você!”30
. Relatos como esse vão de encontro ao que Manin (1995) dizia sobre as
estratégias eleitorais terem mudado ao longo do tempo e que agora não são os partidos
políticos o enfoque, mas o candidato, como na citação do primeiro capítulo deste
trabalho, ao dizer que:
No passado, os partidos propunham aos eleitores um programa
político que se comprometiam a cumprir, caso chegassem ao poder.
Hoje, a estratégia eleitoral dos candidatos e dos partidos repousa, em
vez disso, na construção de imagens vagas que projetam a
personalidade dos líderes. (MANIN, p. 5, 1995)
E essa nova estratégia política demonstra que as campanhas são guiadas pelo
perfil do eleitorado, seu público alvo. E funcionam. Se não são mais os partidos o centro
das atenções, mas o candidato, é para a pessoa que concorre ao pleito eleitoral que os
holofotes se voltam, com histórias de vida e destaques a pontos positivos de sua
personalidade e vida pública, conforme fizeram todos os candidatos em suas biografias,
analisadas no início do capítulo (tópico 3.2).
29 Comentário acessado dia 30/09/2010 no endereço http://www.dilma13.com.br/noticias/a-esperanca-e-
o-amor-por-esse-povo-vencem-o-ódio
30 Comentário acessado dia 07/10/2010 no endereço http://www.minhamarina.org.br/blog/2010/09/quero-
discutir-o-brasil-do-seculo-21-diz-marina-sobre-debate-de-hoje/
91
Comentários relacionados ao tema também tiveram destaque no blog da
candidata do PV, ficando em terceiro lugar em maior incidência, ficando atrás de
„outros‟, que assim como no caso de Dilma Rousseff, houve grande quantidade de
comentários nessa categoria – com 15,1% (Marina) e 20,6% (Dilma). Isso pode ser
explicado porque outros meios de comunicação oferecem formas limitadas de interação
– a televisão apenas por meio de entrevistas e enquetes opinativas, o rádio com ligações
e os impressos com cartas do leitor. É na internet que o indivíduo encontra formas de se
expressar quase que instantaneamente com sua vontade de fazê-lo. Em debates
televisivos, os telespectadores não podiam dizer diretamente ao candidato, via TV,
como fora seu desempenho, parabenizando-o, criticando ou fazendo sugestões: então
iam para o espaço on-line e expressavam-se ali, suprindo o que a televisão não
proporciona, a interação direta e instantânea.
Tamanha foi a importância dada à internet, por quem comentava nos blogs, que
houve comentários exclusivamente sobre isso: Em postagem do dia 03/10/2010 no blog
de Dilma (“Garra e energia para vencer o segundo turno”) houve comentários como:
“SUGESTÃO IMPORTANTE: Dilma, coloque pessoas que tenham capacidade de
ouvir e ententer, para acompanhar passo a passo os comentários deste forum”31
[sic] por
Zé Brasil ou ainda as propostas de Graça Lago: “INTERNET
- tornar o site mais ágil – comentários demoram horas para serem postados. Além disso,
não são publicados na ordem de chegada, o que dificulta a troca de ideias on line; abrir
espaço Você na campanha ou Fale Conosco, para troca de opiniões, denúncias de
boatos; cria espaço, no site, com o título explícito EU SOU DILMA (para a postagem
de apoios). Colocar esses apoios também na rede; criar espaço próprio (no site) para
desmentidos; postar mais vídeos no youtube, especialmente relacionados aos temas
“polêmicos” – aborto, restrições a viagens aos EUA, participação na luta armada
etc. [...]”32
. Ou ainda no blog de Marina Silva, uma crítica: “Marina voce nao me
retornou o que eu lhe mandei, eu votaria em voce, como voce nao esta conectado na
31 Comentário acessado dia 10/10/2010 no endereço http://www.dilma13.com.br/noticias/garra-e-energia-
para-vencer-o-segundo-turno
32 Este comentário foi editado, há propostas de como conduzir a campanha em todos os veículos de
comunicação, mas apenas internet foi abordado acima. Em anexo é possível ter acesso ao comentário
inteiro. Seu acesso foi realizado no dia 10/10/2010 no endereço
http://www.dilma13.com.br/noticias/garra-e-energia-para-vencer-o-segundo-turno.
92
rede; vou votar na (Dilma), eu nao gosto de PSDB. Entre um segundo turno, Dilma e
Marina eu voto em Marina” [sic]33
.
Esses comentários demonstram que o internauta não apenas quer falar, mas ser
ouvido e está proposto a manter esse diálogo, que considera importante. É um indício de
um grande passo para a expansão do exercício dos direitos políticos dos cidadãos,
querendo participar de forma mais ativa no processo, ainda que o estudo seja a respeito
de opiniões publicadas (selecionadas) e seja um número pequeno se comparado a todo o
eleitorado brasileiro.
Tabela 8 – Valência predominante dos comentários
Valência Dilma Rousseff Marina Silva
N % N %
Positiva 4.679 69,8% 4.499 78,2%
Negativa 978 14,6% 452 7,9%
Neutra 237 3,5% 313 5,4%
Equilibrada 809 12,1% 490 8,5%
Total 6.703 100% 5.754 100%
Fonte: Autora
Com a valência que predominou nos comentários, a tabela 8 mostra que
majoritariamente os comentários estudados são positivos. Pode ser que a moderação
tenha influências nesse resultado, mas considerando os dados disponíveis é possível
perceber que não foram poucas as mensagens positivas: 4.679 (69,8%) no caso do blog
de Dilma e 4.499 (78,2%) no de Marina. A conclusão que se pode chegar a partir desses
números é de que as pessoas que entram nos blogs e vão comentar são aquelas que já
têm opinião formada e já apoiavam a candidatura antes de entrar em contato com aquele
conteúdo, vão apenas para reforçar uma posição ou declarar apoio. São poucos os
comentários de pessoas que formaram opinião naquele momento, com aquele blog – a
grande maioria apoiava anteriormente ou, como é o caso de alguns, são militantes do
partido e estão ali tanto para manifestar apoio como para fazer a campanha na internet
crescer, através do aumento do debate político no meio. E se pensarmos na moderação
dos weblogs, é possível pensar nessa como uma estratégia, pois para a campanha é
33 Comentário na postagem „Estou preparada para o debate de hoje, o primeiro do 2 turno‟, no dia
30/09/2010, acessado dia 07/10/2010 no endereço http://www.minhamarina.org.br/blog/2010/09/quero-
discutir-o-brasil-do-seculo-21-diz-marina-sobre-debate-de-hoje/.
93
melhor a reprodução de pontos positivos, vindos de eleitores, do que negativos –
portanto, a moderação também faz parte da estratégia da propaganda política das
candidatas.
Comparativamente, Marina teve comentários mais positivos do que sua
concorrente e menos negativos. Mas aqui deve-se abrir um parênteses e explicar que
grande parte dos comentários negativos no caso petista eram para criticar seu principal
oponente, José Serra, já que este não abria espaço para tal – sendo negativa a valência
para o opositor, não para a candidata. E no blog de Marina Silva, as críticas eram a
respeito de Dilma Rousseff ou do PT, apesar de muitos comentários negativos serem a
respeito de sua posição política, como o plebiscito para a decisão sobre a legalidade do
aborto, legalização da maconha e internautas descontentes com sua postura contra o PT,
seu antigo partido antes de filiar-se ao PV, entre outros34
.
Tabela 9 – Forma do conteúdo comentado nas postagens
Dilma Rousseff Marina Silva
N % N %
Elogio à pessoa do candidato 119 1,8% 265 4,6%
Elogio à posição política do candidato 122 1,8% 248 4,3%
Elogio à posição do candidato sobre o tema 628 9,4% 257 4,5%
Elogio/concordância com comentaristas 135 2,0% 37 0,6%
Elogio aos outros candidatos políticos 2 0,02% 9 0,2%
Elogio ao governo em disputa 12 0,2% 1 0,01%
Crítica à pessoa do candidato 3 0,04% 21 0,4%
Crítica à posição política do candidato 6 0,1% 72 1,3%
Crítica à posição do candidato sobre o tema 16 0,2% 44 0,8%
Crítica aos demais comentaristas 20 0,3% 27 0,5%
Crítica aos outros candidatos políticos 647 9,7% 131 2,3%
Crítica ao governo em disputa 4 0,1% 11 0,2%
Outro 2.471 36,9% 1.535 26,7%
Propostas 543 8,1% 358 6,2%
Apoio à campanha ou candidato 1690 25,2% 2588 45,0%
Dúvidas quanto à política que será aplicada 47 0,7% 106 1,8%
Crítica ao governo em vigor 6 0,1% 40 0,7%
Elogio ao governo em vigor 232 3,5% 4 0,1%
Total 6.703 100% 5.754 100%
Fonte: Autora
34
Comentário na postagem „Estou preparada para o debate de hoje, o primeiro do 2º turno‟ no dia
30/09/2010: Taís – “Penso que você deveria mudar sua descisão de plebicito para questões do aborto e
liberação da maconha, não para agradar os eleitores, mas sim para agradar e servir aquele que te chamou
para estabelecer seu Reino (leis) aqui no Brasil: Jesus Cristo” [sic]. Comentário acessado dia 07/10/2010
no endereço http://www.minhamarina.org.br/blog/2010/09/quero-discutir-o-brasil-do-seculo-21-diz-
marina-sobre-debate-de-hoje/.
94
A tabela 9 mostra a incidência de comentários sobre os conteúdos categorizados
no livro de códigos. Partindo dos dados apresentados, é possível destacar alguns pontos,
que serão discutidos a seguir. Primeiro que apoio à campanha ou candidato teve grande
incidência em ambos os casos, com 45% em relação ao blog de Marina e 25,2% no blog
petista. Isso confirma o que já fora falado quando se discutia as valências de que os
comentaristas vão, em sua grande maioria, para mostrar suporte à campanha/candidata,
ou pelo menos é o que nos dá a entender os comentários publicados pelo filtro
moderador. Segundo que, apesar de baixos percentuais de aparição, questões relevantes
ao debate político brasileiro foram levantadas, como é possível observar nos dados a
respeito de propostas (com 8,1% no blog de Dilma e 6,2% no de Marina) e de „dúvidas
quanto à política que será aplicada‟ (1,8% - Marina e 0,7 – Dilma). Apesar de serem
baixos percentuais, se olharmos para os números é possível ver que não são tão poucos
assim e devido a sua relevância, é importante que se destaque que houve a presença
deles.
O propósito discutido por autores como Gomes (2009) e Strommer-Galley
(2000) é de que a interatividade é o grande diferencial das potencialidades da internet e
a proposta deste trabalho é analisar não apenas como foi a participação do internauta
nos blogs, mas se de fato realizaram um debate a respeito de temas relacionados a
políticas públicas, uma participação mais ativa e efetiva nas campanhas, e discussão de
assuntos importantes para a sociedade. Assim, ao olhar esses dados novamente, é
possível inferir que mesmo que essas formas de comentário não tenham sido tão
relevantes, pode-se considerar sua relevância pelo fato de ser esta a primeira campanha
on-line no país e indícios, mesmo que pequenos, de que está ocorrendo um debate da
esfera pública na esfera política a respeito de assuntos importantes como a política, são
positivos e devem ser animadores.
A questão também levantada na análise das valências pode ser observada aqui,
agora com dados empíricos não baseados apenas em observações. No blog de Dilma
Rousseff 9,7% (647) dos comentários foram destinados a criticar outros candidatos
políticos, enquanto que no blog de Marina esse dado cai para 2,3% (131). Foi também
no blog petista que os internautas encontraram não apenas uma forma de expor suas
ideias, mas de expressarem-se contra seu concorrente José Serra, já que este não
permitiu que as pessoas comentassem em seu blog. Não apenas internautas insatisfeitos,
95
mas aqueles que, ao apoiarem Dilma, iam contra seu principal adversário, simplesmente
por ser seu concorrente ou então para criticar a posição do candidato em relação à
Dilma, com boatos e críticas à petista.
E a interação teve sua forma de aparição não apenas com o candidato e
campanha, mas com os outros eleitores. Seja com críticas ou elogio/concordância, os
internautas interagiram entre si naquele espaço, com 1,1% de interação no blog de
Marina Silva e 2,3% no de Dilma Rousseff. E há também os dados sobre o
compartilhamento de links, em que o internauta, ao comentar, propunha que outros que
acompanhavam a discussão ali formada ou a própria equipe de campanha entrassem em
contato com outros conteúdos, por eles considerados importantes – foram 174
comentários (3%) com links nos blog de Marina Silva e 186 (2,8%) no da petista Dilma
Rousseff.
São, novamente, baixos números, mas que representam a interatividade e deve
ser vista com bons olhos, viso que esses dados mostram que mesmo que os comentários
demorem a ser publicados devido à moderação, os internautas acompanham não apenas
as postagens, mas as discussões que ali acontecem. A espera é de que nas próximas
eleições esse número aumente e também a interação. É novo esse fato na política
brasileira – ter espaços on-line de debate político. Por isso os números, ainda que
pequenos, são importantes e significativos pensando nas possibilidades que a internet
abre para não apenas o campo político, mas uma prática mais democrática de
participação da população na esfera política. Resta-nos acompanhas o desenvolvimento
desse processo para consegui responder se de fato a internet conseguiu proporcionar
tudo isso.
96
CONCLUSÃO
O desenvolvimento deste trabalho possibilitou a organização de informações
relevantes ao estudo sobre o debate político na internet. A pesquisa partiu da hipótese de
que as ferramentas on-line seriam um espaço disponível para postagem da campanha
tradicionalmente transmitida já em outros veículos de comunicação e de ampliação,
onde o candidato pode expor conteúdos além desses. Pois a internet, com suas
características, oferece maior disponibilidade de arquivar e apresentar mais conteúdos,
apenas com restrições em relação às leis eleitorais, além de possibilitar a interatividade
entre população e campanha.
É possível concluir que a hipótese se confirma quando se trata da utilização das
ferramentas da internet para expor conteúdos já transmitidos em outros veículos de
comunicação, possibilitando que o internauta entrasse em contato com as propagandas
políticas transmitidas em meios tradicionais, arquivando e proporcionando às pessoas
um contato maior com esses conteúdos. A interface multimidiática dos weblogs
permitiu que vídeos, fotos, textos e áudios já reproduzidos em outros meios de
comunicação que não a internet, fossem acessados pela população quando e quantas
vezes quisessem – durante o período de campanha estiveram sempre presentes,
conforme demonstrou a análise dos blogs.
Essa nova ferramenta, permitida para uso de propaganda eleitoral a partir de
2010 no Brasil, ampliou as possibilidades de campanha. Novos conteúdos foram
produzidos diariamente, houve incentivo à contribuição financeira através de doações e
ampliou a participação popular nas campanhas. Os novos conteúdos foram uma via
alternativa encontrada pelos candidatos para que expusessem mensagens eleitoreiras
sobre suas atuações consideradas mais positivas na esfera política brasileira e propostas
de governo, na tentativa de demonstrar suas capacidades administrativas em prol da
democracia. Esse espaço também foi caracterizado por ataques aos opositores, com
Dilma Rousseff (PT) direcionando suas críticas principalmente a José Serra, seu mais
forte concorrente, que por sua vez articulou inferências negativas à petista e ao governo
Lula, sendo o candidato peessedebista o que mais utilizou seu blog para ataques à
oposição entre os três analisados. Marina Silva direcionou suas críticas à Dilma
Rousseff, ao apoio de Luiz Inácio Lula da Silva à candidatura petista e ao vice tucano,
97
Indio da Costa, porém de forma menos recorrente que seus opositores. Além disso,
foram publicadas matérias de outras mídias (rádio, TV, portais noticiosos e impressos),
aumentando a visibilidade desses conteúdos, já veiculados em outros meios. Embora
pudesse ser observado o agendamento midiático no debate político, foram poucos os
casos em que notícias de jornalísticas foram utilizadas pelos candidatos em seus blogs,
se comparado ao total de postagens.
O incentivo às doações é alvo de crítica neste trabalho, pela falta de
transparência nas prestações de contas. Se os meios de comunicação servem de inspetor
geral do sistema político para propiciar uma crítica pública necessária (KUNCZIK,
2002), como tratado no primeiro capítulo, a prestação de contas de uma campanha
eleitoral deve ser tratada com seriedade e se os cidadãos são convidados a ajudar
financeiramente os candidatos, pressupõe-se que as informações sobre essa arrecadação
deve ser pública. No entanto, a única candidata que fez isso foi a Marina Silva, nas
eleições presidenciais de 2010, em relação aos blogs estudados. Por mais que Dilma
Rousseff tenha exposto prestações de contas em postagens e na mídia e José Serra em
outros veículos que não seu blog, não é suficiente, pois a informação específica do
quanto fora arrecadado através desses blogs não foi divulgada nos mesmos, apesar de a
campanha de doação e participação dos cidadãos ter sido amplamente divulgada e
visível.
Quanto à participação popular nos weblogs, é possível dizer que houve uma
ampliação da interação cidadão-campanha em todos os casos, mas em diferentes níveis.
A possibilidade de o internauta enviar propostas de governo sobre temas específicos,
contato com as equipes responsáveis pelos blogs e o cadastramento para receber e-mails
sobre as campanhas puderam ser observados em todos os casos estudados. No blog
petista era possível ainda o envio de histórias de vida sobre como suas vidas haviam
mudado com o governo Lula e o envio de comentários nas postagens, com filtro
moderador em relação à publicação dessas mensagens. No caso da candidata do PV
também era possível a interação com os posts por meio de comentários, mas também
moderados pelo blog. O espaço on-line de José Serra, por sua vez, não abriu para
comentários, sendo seu blog o de menor possibilidade de interatividade se comparado as
suas concorrentes, mas ainda havia um espaço em que depoimentos de motivos sobre o
98
porquê tal eleitor escolheu o peessedebista para a Presidência da República, com um
processo de escolha dos relatos que seriam expostos no blog.
As postagens mostraram-se predominantemente positivas, em forma de
interpretação e com controle dos conteúdos. O que demonstra a utilização dos blogs
para campanha, fortemente voltados à promoção dos candidatos para que vencessem o
pleito presidencial. Visto que com a reforma eleitoral de 2009 foi permitido o uso da
internet para propaganda política para as eleições de 2010, é compreensível e já era
esperado esse resultado. Os blogs analisados demonstraram empiricamente o que Manin
(1995) dizia sobre as candidaturas estarem cada vez mais personalistas, com as
campanhas voltadas principalmente à imagem dos concorrentes ao pleito presidencial e
não mais com foco nos partidos ao qual pertencem.
Os comentários também seguiram as postagens, com aumento conforme se
aproximavam as eleições no dia três de outubro. Porém, não apenas nesse aspecto, mas
quanto à valência majoritariamente positiva, com a hipótese de que as pessoas que
entravam nos blogs e comentavam são aquelas que já tinham opinião formada e já
apoiavam a candidatura antes de entrar em contato com aquele conteúdo, iam apenas
para reforçar uma posição ou declarar apoio, ou, como é o caso de alguns, eram
militantes do partido e estavam ali tanto para manifestar apoio como para fazer a
campanha na internet crescer, através do aumento do debate político no meio.
Contrariando as expectativas de que os comentários seriam, em sua grande
maioria, manifestações a respeito de assuntos aleatórios ou sem muita importância ao
debate político, a maior incidência foi de comentários relacionados ao tema no caso de
Dilma Rousseff (49,4% do total). Com Marina Silva aconteceu o mesmo, mas com a
diferença de que os comentários relacionados à candidata foram os que mais
apareceram, com 43,7%. Partindo dos dados apresentados sobre o conteúdo dos
comentários, é possível destacar alguns pontos: Primeiro que apoio à campanha ou
candidata teve grande incidência em ambos os casos, com 45% em relação ao blog de
Marina e 25,2% no blog petista. Segundo que, apesar de baixos percentuais de aparição,
questões relevantes ao debate político brasileiro foram levantadas, como é possível
observar nos dados a respeito de propostas (com 8,1% no blog de Dilma e 6,2% no de
Marina) e de „dúvidas quanto à política que será aplicada‟ (1,8% - Marina e 0,7 –
99
Dilma). Apesar de serem baixos percentuais, se olharmos para os números é possível
observar que não são tão poucos assim e devido a sua relevância, é importante que se
destaque que houve a presença deles. Pode-se inferir que mesmo que essas formas de
comentário não tenham sido tão relevantes, considera-se sua relevância pelo fato de ser
esta a primeira campanha on-line no país e indícios, mesmo que pequenos, de que está
ocorrendo um debate da esfera pública na esfera política a respeito de assuntos
importantes como a política, são positivos e devem ser animadores.
A análise indica também a legitimação de identidades próprias de cada
candidato, desenvolvidas por suas campanhas eleitorais. Enquanto Dilma Rousseff criou
a sua em torno de propostas de governo de continuidade, José Serra com propostas de
ampliar e melhorar o que já fora feito em governos anteriores, além dos ataques à
oposição e defesas a acusações a seu respeito, Marina Silva também criou uma
identidade, a de ambientalista em busca do desenvolvimento sustentável.
É possível concluir, portanto, que o debate político nos weblogs de candidatos à
presidência de 2010 apresenta um quadro inicial do uso da internet para campanhas
políticas, com índices até então animadores quanto à participação popular nesses
espaços. A interatividade se voltou principalmente aos temas apresentados em
postagens, que propunham um debate sobre um assunto específico e que foi seguido,
principalmente no caso do blog de Dilma Rousseff. Quanto à candidata do PV foram
enviadas mensagens, em sua grande maioria, voltadas à candidata, seja para falar sobre
características pessoais de Marina Silva, ou para discutir suas propostas de governo e
posicionamentos políticos. Além desses dados, a aparição de dúvidas quanto à política
que seria aplicada caso as candidatas entrassem no governo e propostas de políticas
públicas ou de maneiras de conduzir as campanhas eleitorais, indicam o início de uma
participação popular no debate público a respeito de questões importantes como a
política, mesmo que os dados sejam numericamente pequenos, são expressivos por ser
essa a primeira eleição que permitiu esse tipo de interação cidadão-campanha.
A obrigatoriedade do voto no Brasil pode ser vista de forma positiva, conforme
Carvalho (2002) observa quando relatava as eleições desde seu período inicial (na
chamada República Velha), podendo adaptar essa mesma ideia aos dias atuais: o autor
100
cita quatro equívocos35
cometidos por aqueles que criticavam a participação popular nas
eleições no período da Primeira República, sendo que o quarto pode ser utilizado para
uma possível explicação do comportamento eleitoral presente.
O quarto e último equívoco era achar que o aprendizado do exercício
dos direitos políticos pudesse ser feito por outra maneira que não sua
prática continuada e um esforço por parte do governo de difundir a
educação primária. Pode-se mesmo argumentar que os votantes agiam
com muita racionalidade ao usarem o voto como mercadoria e ao
vendê-lo cada vez mais caro. Este era o sentido que podiam dar ao
voto, era sua maneira de valorizá-lo. De algum modo, apesar de sua
percepção deturpada, ao votarem, as pessoas tomavam conhecimento
da existência de um poder que vinha de fora do pequeno mundo da grande propriedade, um poder que elas podiam usar contra os
mandões locais. Já havia aí, em germe, um aprendizado político, cuja
prática constante levaria ao aperfeiçoamento cívico (CARVALHO, p.
44-45, 2002)
As sucessões eleitorais, conforme o autor conceitua, trazem um aprendizado na
participação política e maior consciência sobre o significado do voto, levando a um
“aperfeiçoamento cívico”. Com a internet, espera-se que as informações cada vez mais
se tornem públicas e atinjam um maior número de pessoas, ajudando nesse processo de
aprendizado dos direitos políticos e a importância destes para o desenvolvimento da
democracia. Os comentários analisados demonstram que o internauta não apenas quer
falar, mas ser ouvido e está proposto a manter esse diálogo, que considera importante. É
um indício de um grande passo para a expansão do exercício dos direitos políticos dos
cidadãos, querendo participar de forma mais ativa no processo, ainda que o estudo seja a
respeito de opiniões publicadas (selecionadas) e seja um número pequeno se comparado
a todo o eleitorado brasileiro.
A partir deste estudo, pode-se levantar o seguinte questionamento: as
ferramentas on-line, com as sucessões eleitorais, possibilitarão um aumento do debate
político com diálogos de mão dupla em relação à campanha e participação cívica? Essa
questão poderá ser respondida com a continuidade do uso da internet para campanhas
35 Os outros três equívocos citados pelo autor são: “O primeiro era achar que a população saída da
dominação colonial portuguesa pudesse, de uma hora para outra, comportar-se como cidadãos atenienses,
ou como cidadãos das pequenas comunidades norte-americanas. [...] O segundo equívoco já fora apontado por alguns opositores da reforma da eleição direta, como Joaquim Nabuco e Saldanha Marinho.
Quem era menos preparado para a democracia, o povo ou o governo e as elites? Quem forçava os
eleitores, quem comprava votos, quem fazia atas falsas, quem não admitia derrota nas umas? [...] O
terceiro equívoco era desconhecer que as práticas eleitorais em países considerados modelos, como a
Inglaterra, eram tão corruptas como no Brasil.” (CARVALHO, p. 43-44, 2002)
101
políticas e observação das mesmas, visto que 2010 foi o primeiro ano em que houve
regulamentação que permitia o uso da internet para propaganda eleitoral.
102
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AGGIO, C. Campanhas políticas online: a discussão do estado da arte
seguido de estudo de caso sobre os web sites dos candidatos à prefeitura de
Salvador em 2008. Bahia, 2010. Dissertação (mestrado em Ciência Política) -
Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da
Universidade Federal da Bahia/UFBA
Disponível em: http://www.opiniaopublica.ufmg.br/biblioteca/CamiloAggio.pdf
ALDÉ, A.; CHAGAS, V e ESCOBAR, J. A febre dos blogs de política. Revista
FAMECOS, Porto Alegre, nº 33, agosto de 2007. Disponível em:
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WOLF, M. Teorias da Comunicação. Tradução de Maria Jorge Vilar de
Figueiredo. 9. ed. Portugal: Presença, 2006.
108
RELATÓRIO ANALÍTICO
Em dezembro de 2009, no III Congresso da Associação Brasileira de
Pesquisadores em Comunicação Política (Compolítica) em São Paulo, tive o grande
privilégio de participar de uma palestra sobre cybercultura com o professor e
pesquisador espanhol Jose Luis Dader. Foi então que surgiu a ideia de um estudo sobre
o assunto, que pareceu muito interessante e atrativo, com as descrições sobre os grupos
de pesquisa a respeito do uso da internet por políticos na Espanha na Universidade
Complutense de Madri e toda a fala do pesquisador, com informações atuais,
interessantes e que apresentaram as enormes potencialidades da internet como um
campo de estudo. E então, lembrando das novas leis eleitorais que permitiriam o uso da
internet para campanhas no Brasil a partir de 2010 e em conversas com meu professor e
orientador de iniciação científica, Emerson Urizzi Cervi, surgiu a ideia desse trabalho.
A intenção era pesquisar o uso da internet por candidatos à presidência de 2010, mas
ainda sem uma delimitação específica. Foi em uma conversa pelos corredores da PUC
de São Paulo, onde ocorria o evento, que Emerson citou que o estudo da internet
poderia ser interessante a partir dos blogs dos candidatos políticos que eu pretendia
estudar, surgindo de fato o objeto de pesquisa para a monografia que viria a desenvolver
em 2011.
Desde então iniciamos uma leitura a respeito do tema, novo no grupo de
pesquisa que participei de 2009 a 2011, „Mídia, política e atores sociais‟, da UEPG. No
primeiro semestre de 2010 foram feitas leituras de textos, formuladas formas de realizar
uma pesquisa sobre weblogs de políticos e testes para observar se a metodologia de
coleta de dados daria conta de analisar aqueles espaços. No mesmo ano tive a
oportunidade de participar do núcleo de pesquisa sobre internet, com alunos da
graduação em jornalismo e outros do mestrado em Ciências Sociais Aplicadas da
UEPG, coordenado por Emerson Cervi. Foi no núcleo que pude com o professor e
outros alunos discutir ao longo de 2010 o tema internet e política, mais especificamente
o uso de ferramentas on-line para campanhas eleitorais, e sobre meu próprio estudo, que
no primeiro semestre estava em período de testes, mas que a partir de julho passaram
109
para a coleta de dados das campanhas. Os debates no núcleo sobre o assunto
acrescentaram muito e ajudaram de forma significativa no desenvolvimento desse
trabalho, além de agregar conhecimento sobre o assunto.
O período de testes do livro de códigos demonstrou que o tempo inicial que
estabelecemos, eu e Emerson em orientação, para que as pessoas comentassem nos
blogs era pouco – 24 horas. Então mudamos para uma semana o prazo para os
comentários nas postagens, que se mostrou razoável e suficiente para observar a
participação popular nos blogs. A coleta das postagens teve início no dia seis de julho
de 2010, com acompanhamento e coleta diária das postagens e os comentários
começaram a ser estudados no dia 14 de julho, dando o período de uma semana pré-
estabelecido. A rotina de coleta conseguiu seguir esse caminho até o final de agosto do
mesmo ano, com acompanhamento diário das campanhas. Mas a partir de então, aulas,
provas, trabalhos e reportagens passaram a dificultar a pesquisa e passei a arquivar o
material das campanhas. A quantidade de postagens se manteve dentro das expectativas,
porém, os comentários atingiram uma proporção muito maior que o esperado, atrasando
os resultados do estudo. Foi em julho de 2011 que o banco de dados ficou pronto e a
coleta terminada, com 617 postagens e 12.457 comentários analisados.
A intenção inicial era de realizar uma pesquisa sobre as campanhas dos dois
turnos do pleito presidencial, mas que se mostrou inviável. Se o período de análise fosse
de seis de julho a 31 de outubro, o número de postagens aumentaria pouco, mas os
comentários passariam a mais de 22 mil. Como o primeiro turno demonstrou-se um
período com dados suficientes para análise e observação do debate político nos veículos
estudados, além da grande relevância de um primeiro turno brasileiro, a escolha por
manter o estudo com esses três meses pareceu certa.
A fase de coleta de dados foi difícil pela escolha de fazê-la sozinha. Apesar de
serem muitas informações para analisar, realizar essa tarefa pessoalmente permitiu
maior confiança nos dados, além de uma identificação e conhecimento pleno de como
foram as campanhas eleitorais de primeiro turno nos weblogs estudados, o que ajudou
muito na construção deste trabalho. Apesar de cansativo, foi uma experiência
riquíssima, com a qual aprendi muito – tanto em relação à produção da campanha,
quanto aos comentários de internautas, espaço muito interessante de observação e
110
acompanhamento de como as pessoas estavam interagindo com os conteúdos, além de
ser uma forma muito boa de entrar em contato com a opinião de parte do eleitorado
brasileiro, com um mapeamento de opiniões e pensamentos a respeito do cenário
político brasileiro.
As angústias que permaneceram foram da consciência de que tantos dados
oferecem muitas informações, que não puderam ser analisadas neste trabalho. Pela
dedicação, esforço e interesse, pretendo dar continuidade aos estudos dos weblogs,
incluindo o segundo turno do pleito e análise mais rica sobre os dados. Conforme
observado na introdução, este foi um objeto de estudo que se mostrou atual, pertinente e
extenso, sobre o qual deve-se estudar mais e abordar dados importantes que talvez não
tenham aparecido nesta monografia.
O interesse pelo tema veio desde o começo da graduação, pelo gosto e interesse
sobre a temática política e comunicação. A participação de Congressos ajudou muito
para estruturar e pensar este trabalho, com discussões pertinentes e críticas, pontos de
vista diferentes que enriqueceram muito, tanto para escrever a monografia, quanto para
a formação acadêmica e pessoal. A passagem por diversas cidades do Brasil e por
Buenos Aires para participar de Congressos foi uma ótima experiência para
conhecimento acadêmico, intelectual e cultural, que teve grande influência na escrita
desta monografia.
A metodologia escolhida foi a comumente utilizada no grupo de pesquisa Mídia,
política e atores sociais (qualitativa com análise de conteúdo), tanto pela familiaridade
com o método quanto pela forma que queria delinear a pesquisa. Certos aspectos
qualitativos foram incluídos quando os números não eram suficientes para o estudo, de
forma a complementar com exemplos, facilitando a compreensão dos dados. Foi
também uma tentativa de incluir o leitor ao conteúdo que tive oportunidade de entrar em
contato, pensando na coletivização do conhecimento e possibilidade de incentivo ao
estudo sobre uma temática que se mostrou interessante e um importante campo de
estudo.
112
PDF de postagens analisadas dos weblogs dos candidatos (apresentadas ao longo
do trabalho), página atual da candidata do PV e livro de códigos.
LIVRO DE CÓDIGOS
ANÁLISE DE CONTEÚDO – BLOGS DE CANDIDATOS/2010
Núcleo de Pesquisa em Mídia, Política e Atores Sociais – UEPG
Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Opinião Pública - UFPR
DESCRIÇÃO DO SITE:
(informações coletadas uma única vez)
A – Informações (1 = SIM; 0 = NÃO)
1 - sobre o candidato:
1.1 - histórico
1.2 - propostas
1.3 - agenda
1.4 - prestação de contas
2 – sobre o partido:
2.1 - histórico
2.2 - programa
2.3 - outros candidatos
3 – Instituições/movimentos/lideranças sociais
3.1 - histórico/relação com o candidato
3.2 – atualidade
4 – Sobre o vice do candidato:
4.1 - histórico
4.2 - propostas
4.3 - agenda
4.4 – prestação de contas
B – interatividade:
4.1 - navegabilidade - ajuda, dúvidas frequentes ou FAQs; campo de busca; número de
cliques; identificação dos links; localização do usuário; mapa do site; menu
4.2 - possibilidades de participação - através do envio de e-mail, mensagens online
expostas para quem acessar o blog, criação de um blog próprio, participação em
enquetes opinativas
4.3 - tempo de atualização de postagens (ver a partir da descrição das postagens).
4.4 – Existência de filtro para comentários (1 = sim; 0 = não).
113
5 – links
5.1 - presença de links para páginas do próprio blog – quais?
5.2 - presença de links para páginas externas ao blog – quais?
6 – webdesign PRESENÇA/AUSÊNCIA
6.1 - uso de imagens fixas.
6.2 - uso de imagens dinâmicas.
6.3 - uso de cores.
6.4 - tipologia.
DESCRIÇÃO DAS POSTAGENS: (informações para cada postagem)
Candidato
Data
1 – Título da Postagem (copiar título da postagem)
2 - tipo de postagem (1 = presença / 2 = ausência)
2.1 - texto
2.2 - vídeo
2.3 – áudio
2.4 - Foto
3 – autoria (nome de quem postou)
4 – tipo de autor (indicar o que é descrito no post):
1 – Candidato/responsável blog
2 - autor não identificado
3 - internauta
4 – eleitor
5 - militante do partido
6 - filiado ao partido
7 - militante de outro partido
8 – imprensa tradicional
5 – Fonte: (nome da fonte, quando citada explicitamente nos créditos do post)
6 – tema:
CÓDIGO TEMA
1 Campanha Eleitoral
2 Político-institucional
3 Economia
4 Política Social
5 Infra-estrutura e meio ambiente
6 Violência e segurança
7 Ético-moral
114
8 Política para Esporte
9 Cultura/variedades
10 Política Estadual/Nacional
11 Política Internacional
12 Outros temas
13 Imagem política do candidato
14 Imagem pessoal do candidato
15 Imagem administrativa do candidato
16 Imagem política de adversário
17 Imagem pessoal de adversário
18 Imagem administrativa de adversário
19 Imagem do governo em disputa
20 Imagem da campanha e eleitores
7 – valência da postagem
1 - positiva
2 - negativa
3 – neutra
4 – equilibrada
8 - O que predomina na postagem
1 - informação (só informativo)
2 - interpretação (avaliações que vão além da informação, sem declarar posição
explícita)
3 - opinião (predomina uma declaração explícita de um posicionamento)
9 – Controle (O blogueiro se responsabiliza inteiramente pelo conteúdo veiculado ou
dá créditos a terceiros?)
1- Com controle
2 - Sem controle
10 – Presença de hiperlinks
1 – Sim
2 – Não
11 – Número de hiperlinks no texto (total de hiperlinks apresentados no post)
12 – Hiperlinks presentes no texto (reproduzir todos os hiperlinks apresentados no
texto).
13 – número de comentários
14 - Observações
115
DESCRIÇÃO DOS COMENTÁRIOS: (essas informações são coletadas para cada
comentário)
1 – Candidato
2 – Data
3 – Título da postagem (título da postagem a que se refere o comentário)
4 – Autor do comentário
5 – Número do comentário (sequencial por ordem de aparição no blog)
6 – tipo de comentários
1 – relacionada ao tema
2 – relacionada ao candidato
3 – relacionada aos internautas.
4 – relacionado o outro candidato.
5 – relacionado ao governo em disputa.
6 – relacionado à campanha
7 – relacionado ao governo em vigor
8 - outro
7 - valência dos comentários
1 – positiva
2 – negativa
3 – neutra
4 - equilibrada
8 – formato dos comentários (presença e predominância)
1 – elogio à pessoa do candidato.
2 – elogio à posição política do candidato.
3 – elogio à posição do candidato sobre o tema.
4 – elogio/concordância com demais comentaristas.
5 – elogio aos outros candidatos/políticos.
6 – elogio ao governo em disputa.
7 – crítica à pessoa do candidato.
8 – crítica à posição política do candidato.
9 – crítica à posição do candidato sobre o tema.
10 – crítica aos demais comentaristas.
11 – crítica aos outros candidatos/políticos.
12 – crítica ao governo em disputa.
13 – outro/não identificável
14 – Propostas
116
15 – Apoio à campanha ou candidato
16 – Dúvidas quanto à política que será aplicada
9 – Presença de hiperlinks
10 – Hiperlinks
11 – Observações
117
Site de Marina Silva atualmente após desfiliação do Partido Verde
www.minhamarina.org.br/home - 07/07/2011
118
Weblog de Dilma Rousseff – Programa de Governo - Propostas36
- 27/09/2010
Temas
Agrária
José Augusto Soares - Pau dos Ferros/RN
Sugiro inserir o fortalecimento dos bancos de desenvolvimento regionais, como o banco
do nordeste e banco da Amazônia, através da ampliação dos recursos dos fundos
constitucionais, fne e fno, respectivamente, bem como definindo que estes bancos sejam
os principais executores/apoiadores das polítias públicas do governo federal em cada
região, neste caso, as regiões nordeste e norte., sugiro que seja implantado o programa
agente rural em cada município, que poderia ser em parceria entre governo federal e as
prefeituras municipais, ação que geraria muitos empregos e contribuia
signitificativamente fortalecer a agricultura familiar no país, em especial nas regiões
menos desenvolvidas como o nordeste norte. [sic]
Ciência e Tecnologia
Marcos Matos - Petrolina/PE
Olá, Gostaria de contribuir na dissiminação do Software Livre em nosso pais,
principalmente na região do vale do são francisco.
Vejo como uma alternativa e solução para a economia nos órgãos públicos municipal,
estadual e federal. Sou funcionário público municipal numa faculdade publica de
petrolina. Sei que somente com Dilma como presidente isso é capaz de acontecer.
Vamos libertar o Brasil, essa é a hora de sermos uma nação conhecida pelo seu alto grau
de conhecimento tecnologico.
Não precisamos investir em em mentes de fora. Aqui somos capazes de tudo, basta nos
dar oportunidades e condições. Abraços a todos! [sic]
36 Links acessados:
http://www.dilma13.com.br/propostas/temas/agraria/;http://www.dilma13.com.br/propostas/temas/ciencia
-e-tecnologia; http://www.dilma13.com.br/propostas/temas/cidades. Outros temas estiveram presentes,
esses casos são apenas ilustrativos para conhecimento de como houve a participação de envio de
propostas no weblogs de Dilma Rousseff.
119
Cidades
Derick Fernandes - Paranaguá/PR
Olá candidata Dilma, tenho 15 anos e estou aqui para fazer um pedido por minha cidade
que quero que cumpra quando ser eleita. Moro em Paranaguá - Litoral Paranaense, a
cidade contem o 2º mais movimentado Porto do país, é a 9° mais rica cidade do Paraná
e a 10ª maior, mas sua população está abandonada, tenho notado de um ano pra cá
muitas obras que o Governo Lula vem fazendo neste município e somos muito gratos
quanto a isso, mas como primeira cidade do Paraná, sentimo-nos envergonhados de
apresentar para os turistas uma cidade esburacada, sem infra-estrutura, não temos um
terminal de passageiros no Porto para receber turistas, não temos um Aeroporto para
também receber turistas, precisamos de maiores investimentos na saúde, transporte e
infra estrutura em geral. Sim, eu sei que é a prefeitura e o governo estadual que é
responsável por esse desenvolvimento, mas peço por favor maiores obras do Governo
Federal quando a senhora estiver como Presidente, apesar de ter apenas 15 anos, tenho
conhecimento de política e sei quem realmente irá fazer, por isso peço sua colaboração
e temos certeza que nós de Paranaguá e todo o litoral do Paraná, não iremos passar mais
4 ou 8 anos abandonados. Obrigado.
120
Weblog de José Serra – Notícias – Postagem do dia 28/10/2010
Universidades supostamente criadas no governo Lula
Das 14 universidades federais anunciadas como “novas” pelo atual governo,
dentro do que seria política de “interiorização” e “ampliação do acesso ao ensino
superior”, NOVE já existiam. São resultado de desmembramento, fusão ou mudança de
nome de instituições existentes há décadas. Por exemplo: um campus da Universidade
Federal da Bahia é desmembrado e se transformou na Universidade Federal do
Recôncavo Baiano.
As que foram efetivamente criadas funcionam precariamente, em instalações
provisórias, muitas vezes sem laboratórios, bibliotecas, refeitórios e até mesmo
professores.
Apesar de anunciadas nos palanques, panfletos e manifestos, as “14 novas
universidades” não são listadas em nenhum site oficial (ou a lista está tão difícil de
encontrar que dá na mesma). Então nós reunimos as últimas 14 instituições que
ganharam status de universidade no Brasil, deduzindo que entre elas estão as 14 que o
governo Lula alega serem “suas”.
UNIVERSIDADES SUPOSTAMENTE CRIADAS NO GOVERNO LUL
As pintadas de amarelo são as efetivamente “novas”
1 -Universidade
Federal de Ciências
da Saúde de Porto
Alegre (UFCSPA)
Tem origem na Fundação Faculdade Federal de Ciências
Médicas de Porto Alegre (FFFCMPA), fundada em 1953.
Nome foi alterado em 2008 devido à transformação da
faculdade em universidade.
2 -Universidade
Federal do Oeste do
Pará (UFOPA)
Resultado de fusão, em 2009, do campus de Santarém
da Universidade Federal do Pará com a unidade
descentralizada de Tapajós da Universidade Federal Rural
121
da Amazônia.
3 -Universidade
Federal de Alfenas
(Unifal-MG)
Tem origem na Escola de Farmácia e Odontologia de
Alfenas (EFOA), fundada no em 1914. A mudança
para Centro Universitário Federal (EFOA /Ceufe) ocorreu
em 1º de outubro de 2001. Em agosto de 2005 foi
transformada em Universidade Federal de Alfenas (Unifal-
MG).
4 -Universidade
Federal do Triângulo
Mineiro (UFTM)
Tem origem na Faculdade de Medicina do Triângulo
Mineiro, criada em 1953. Foi transformada em
Universidade no ano de 2005.
5 -Universidade
Federal dos Vales do
Jequitinhonha e
Mucuri (UFVJM)
Tem origem na Faculdade de Odontologia de Diamantina,
criada em 1953, pelo diamantinense Juscelino Kubitschek,
então governador do Estado de Minas Gerais, e federalizada
em 1960. Em 2002foi transformada em Faculdades Federais
Integradas de Diamantina (Fafeid). Em 2005, o nome mudou
para Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri - UFVJM.
6 -Universidade
Federal Rural do
Semi-Árido
(UFERSA)
Foi criada em 1967 e se chamava ESAM (Escola Superior
de Agricultura de Mossoró), até ser federalizada em 2005 e
mudar seu nome para o atual. Planos de dois novos campi
não saíram do papel.
7 -Universidade
Tecnológica Federal
do Paraná (UTFPR)
A Escola Técnica foi inaugurada no dia 16 de janeiro de
1910, em um prédio da Praça Carlos Gomes. Posteriormente
se transformou no CEFET-PR. Em 2005, se transformou
na Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
8 -Universidade
Federal da Grande
Dourados (UFGD)
Inaugurada em 1970, como Campus de Dourados da
UFMS. Em 2005 se tornou uma Universidade separada.
9 -Universidade
Federal do Recôncavo
da Bahia (UFRB)
Surge como desmembramento da Escola de Agronomia da
Universidade Federal da Bahia, instalada em 1943 em Cruz
das Almas. Transformada em Universidade em 2005.
122
10 -Universidade
Federal do Pampa
(UNIPAMPA)
Criada em 2008 com sede em Bagé. Funciona em instalações
provisórias. Alunos e professores sofrem com os
deslocamentos entre os campi; faltam salas e laboratórios. “A
Unipampa é uma universidade nova e e expansão, a estrutura
atual conta com dez campi e uma Reitoria, distribuídos em
dez cidades da meso-região sul. Inicialmente, os 10 campi
da Unipampa estavam vinculados à UFSM e à UFPel,
cada universidade com 5 campi”. A Universidade Federal
de Santa Maria foi criada em 14 de dezembro de 1960. A
UFPel foi fundada em 8 de agosto de 1969.
11 -Universidade
Federal da Integração
Latino-Americana
(UNILA)
Sediada em Foz do Iguaçu, foi anunciada em 2007 mas criada
só em 2010. Funciona temporariamente no Parque
Tecnológico de Itaipu.
12 -Universidade
Federal da Integração
Luso-Afro-Brasileira
(Unilab)
Sediada na cidade de Redenção, Ceará. Criada, no papel, em
julho de 2010, funcionará em prédio cedido pela Prefeitura de
Redenção, mas ainda não iniciou atividades.
13 -Universidade
Federal do ABC
(UFABC)
Fundada em 11 de março de 2005, com sede em Santo
André. Perdeu 42% dos alunos entre 2006 e 2009 devido à
precariedade da estrutura.
14 -Universidade
Federal da Fronteira
Sul (UFFS)
Criada em 2009, tem sede no Município de Chapecó (SC) e
campi no norte do Rio Grande do Sul, (Municípios de Cerro
Largo e Erechim), e no sudoeste do Paraná (Municípios de
Laranjeira do Sul e Realeza).
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Postagem weblog Dilma Rousseff – 07/08/201037
“Fizemos tudo sem esquecer a juventude”
(foto)
07.08.2010
A Cidade de Deus, comunidade carioca com o filme de Fernando Meirelles, serviu de
palco para o ato que marcou, hoje, o Dia Nacional de Mobilização da Juventude.
Centenas de pessoas se reuniram para ouvir as propostas da candidata Dilma Rousseff
voltadas aos jovens brasileiros.
“Hoje nós temos uma decisão a tomar: se seguimos nesse caminho que Lula construiu
ou se vamos voltar para trás”, disse Dilma Rousseff, durante comício. “Achavam que
os jovens eram só problema. Nós não [achamos]. Fizemos tudo sem esquecer da
juventude. Tivemos política de educação, de trabalho, de cultura.”
O lugar em nada lembrava o filme e reflete as mudanças trazidas pelo governo Lula. “Se
você chegar aqui hoje umas dez horas da noite tem criança soltando pipa. Hoje não tem
mais aquele negócio de tiroteio, bala perdida, essas coisas”, explica dona Iracema da
Silva, 54 anos, moradora da Cidade de Deus há 39 anos.
Jovens como solução
Dilma afirmou várias vezes que acredita na juventude. Para ela, os jovens são o “a
solução para o Brasil” e não é possível alcançar crescimento econômico sem inclusão
dessa parcela importante da sociedade.
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Acesso dia 14/08/2010 no endereço http://www.dilma13.com.br/noticias/fizemos-tudo-sem-esquecer-a-
juventude
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Se vencer as eleições, disse Dilma, O governo será “cheio de oportunidades para a
juventude”. “Os jovens só precisam de oportunidade. Quando damos oportunidade o
jovem agarra”. Ela também se comprometeu a melhorar cada vez mais a qualidade do
ensino. “Precisamos de educação para cada um dos jovens”.
A candidata da coligação Para o Brasil seguir Mudando, também disse que vai trabalhar
contra o preconceito: “Não queremos que o jovem da favela seja discriminado”.
Internet para Todos
Outro compromisso importante firmado por Dilma Rousseff foi a garantia de acesso à
internet banda larga de internet para toda a população. “Aqui [na Cidade de Deus]
surgiu um programa que ilumina a vida dos brasileiros e assim como fizemos o Luz
para Todos que levou energia elétrica a 2 milhões [de brasileiros] vamos ter Banda
Larga”.
“Queremos que nossa juventude tenha contato com o mundo todo. Eu vou continuar
essa política [de internet]”, reforçou.
Combate ao crack
Dilma falou ainda sobre a luta contra o crack. “Essa droga, tira a capacidade de pensar,
de sonhar e de lutar, que são características próprias da juventude”. “Vamos ter clínicas
especializadas para recuperação e também investir mais em campanhas de
conscientização”.
A candidata concluiu seu discurso conclamando a juventude para continuar nas ruas:
“Essa chamada Onda Vermelha tem que surgir de norte a sul! Temos que ocupar as ruas
desse país. Vamos continuar mudando o Brasil”.
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Postagem do weblog de Marina Silva38
Postado em 09/09/2010 por Equipe Marina | Categoria(s): Geral
„Lula deveria ter saído em defesa de todos os brasileiros, não só de sua candidata‟,
diz Marina
4Comentários
Para os jornalistas presentes ao final da sabatina organizada pelo jornal O Globo,
Marina Silva falou sobre a sensação de desamparo em relação às atitudes tomadas pelo
governo federal e, mais especificamente, pelo presidente Lula no caso da quebra de
sigilo de dados da Receita Federal.
A senadora classificou a postura como omissão, num primeiro momento, e, depois,
como a banalização de um crime, o que é alto inaceitável, em sua visão.
“No caso do presidente Lula, o que criou foi uma sensação de desamparo, porque nesse
momento os milhares de brasileiros que foram violados em seus sigilos querem uma
atitude por parte do Estado, e os que não sabem se foram violados querem uma atitude
de firmeza para alguém dizer que isso vai parar”, disse. “E a sensação de desamparo e
de impotência é porque o presidente da República, investido simbolicamente, inclusive
da aparência do cargo da instituição, veio na defesa de uma única pessoa, que foi a sua
candidata.”
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Conteúdo acessado dia 15/09/2010 no endereço http://www.minhamarina.org.br/blog/2010/09/para-
marina-lula-deveria-ter-saido-em-defesa-de-todos-os-brasileiros-nao-apenas-de-sua-candidata/
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Marina afirmou que a defesa correta deveria ser de todos aqueles brasileiros que tiveram
seus dados devassados. ”Aqui nós estamos defendendo as instituições públicas, o
funcionamento impessoal da gestão pública”, resumiu.
“Tem uma sensação, sim, de impotência de todos os brasileiros e uma certa decepção”,
afirmou Marina Silva aos jornalistas presentes.