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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
EVASÃO E FRACASSO ESCOLAR: DISCUSSÕES TEÓRICAS
DAINEZ, MARIA LUCIA MORENO1
ROGATO, SUEDINA BRIZOLA RAFAEL ROGATO2
RESUMO
Este artigo é parte das atividades desenvolvidas no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, promovido pela Secretaria Estadual de Educação no Estado do Paraná em parceria com a Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP. O presente trabalho é resultado de um projeto de pesquisa aos relatórios finais dos últimos anos do Colégio Estadual Leonardo Francisco Nogueira – EMNP, onde constatou-se um alto índice de evasão escolar e repetência dos alunos do Ensino Médio o que despertou interesse em pesquisar os motivos que levaram os alunos ao fracasso e evasão escolar e quais medidas poderiam ser adotadas para que os alunos que se matriculassem nessa modalidade de ensino e pudessem concluir o curso dentro do período previsto com sucesso. O desafio do projeto foi buscar soluções para esse problema que vem preocupando os envolvidos na educação daquele colégio.
Palavras-chave: Educação – Evasão - Fracasso – Motivação - Reprovação.
1 INTRODUÇÃO
Após a apresentação da situação e pensar em evasão e reprovação dos
alunos, principalmente nas séries iniciais do Ensino Médio, é preciso analisar as
causas e as consequências, principalmente tentando responder algumas perguntas
como: o que leva os alunos evasão escolar? Por que a reprovação ainda persiste?
O que leva o aluno de séries iniciais do Ensino Médio ao fracasso? Que medidas
adotar para que estes alunos permaneçam na escola e obtenham sucesso até a
conclusão do curso do Ensino Médio? Quais as causas que levam os alunos a
1 Autora: Professora Pedagoga da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná, participante doPrograma de Desenvolvimento Educacional em 2010/2011.
2 Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional em 2010/2011.
situação de fracasso escolar “evasão e reprovação” e quais medidas adotar para
garantir a permanência e o sucesso deles no curso?
Para que isso aconteça é preciso coletar informações com alunos evadidos
e reprovados para descobrir quais motivos justificam a situação de fracasso escolar.
Além disto, deve-se analisar os dados coletados e traçar estratégias para a redução
da evasão escolar. A partir daí promover encontros com direção, professores,
equipe pedagógica para discutir a evasão e reprovação nas séries iniciais do Ensino
Médio. Pretende-se através deste plano destacar o papel do professor/pedagogo no
processo ensino/aprendizagem e a inserção dos alunos que se evadem para que
tenham sucesso em seu retorno.
2 HISTÓRICO SOBRE A EVASÃO ESCOLAR BRASILEIRA CONCEITUAÇÃO
A evasão é vivida nos meios escolares, motivada pela falta de motivação,
migração das famílias que trabalham como bóias frias (buscando trabalho onde
existem grandes safras), lavradores que trabalham o dia todo e quando vão para a
escola já não tem mais animo para o estudo. E assim, as escolas enfrentam
problemas no início do ano letivo, com grande número de turmas e matrículas e
quando chegam ao final do primeiro ou segundo bimestre esse número cai, devido
ao grande número de desistência.
Desse modo, quando a aprendizagem se realiza, surge um novo
comportamento, capaz de solucionar a situação problemática encontrada, levando o
aprendiz à adaptação ou à integração de sua personalidade. Esse acúmulo de
experiências leva à organização de novos padrões de comportamento, que são
incorporados, adquiridos pelo sujeito. Por isso se diz que quem aprende modifica o
seu comportamento.
O professor caminha lado a lado com a transformação da sociedade, não é um ente abstrato, ausente, mas uma presença atuante, participante e "dirigente", que organiza, concretiza a ideologia da classe que representa esperança. Pela educação, queremos mudar o mundo, a começar pela sala de aula, pois as grandes transformações não se dão apenas como resultantes dos grandes gestos, mas de iniciativas cotidianas, simples e persistentes. Por tanto, não há excludência entre o projeto pessoal e o coletivo: ambos se completam dialeticamente. Pela sua palavra, que é sua arma, responde aos problemas que a sociedade lhe coloca (GADOTTI, 2000, p. 65).
A escola desempenha um papel preponderante no sentido de conservação
da estrutura social vigente. Formando e aprimorando a força de trabalho, ratificando
as desigualdades sociais, inculcando a ideologia dominante, transmitindo o
conhecimento e o desenvolvimento da autonomia são fatores essenciais para se
atingir o objetivo transformador da escola. Se assim for, certamente a evasão poderá
deixar de ser um fantasma nos meios educacionais, haja vista que, de acordo com
Kohl (1992, p. 76), “as relações sociais que se estabelecem no interior da escola não
estão exclusivamente relacionadas com a aprendizagem, antes disso, está diante de
uma realidade que oferece aos que ali estão envolvidos um sentido de identidade e
uma posição”.
De acordo com Digiácomo (2006, p. 1) “...o combate à evasão escolar
também surge como um eficaz instrumento de prevenção à imensa desigualdade
social que assola o Brasil, beneficiando assim toda a sociedade”. Na verdade, a
evasão significa uma situação de fracasso para o aluno, que não consegue concluir
a série e/ou o curso. Isso ocorre devido a alguns motivos que podem estar
relacionados à falta de motivação do professor que se preocupa somente em
cumprir o estabelecido e exigido no currículo da escola.
De acordo com os relatórios finais apresentados pelo Colégio Estadual
Leonardo Francisco Nogueira dos últimos anos, constatamos um alto índice de
evasão escolar e repetência dos alunos do Ensino Médio noturno principalmente nas
séries iniciais . Isso despertou interesse em pesquisar os motivos que levaram os
alunos ao fracasso e ao abandono escolar e quais medidas poderão ser adotadas
para que os alunos que se matricularem nessa modalidade de ensino possam
concluir o curso dentro do período previsto com sucesso. O desafio desse trabalho é
buscar soluções para esse problema que vem preocupando os envolvidos na
educação.
Esse é o levantamento realizado nos anos de 2008, 2009 e 2010 no Colégio
Estadual Leonardo Francisco Nogueira – EMNP .
ANO SÉRIE MAT REP DES AP TRANSF2008 1ª 67 07 08 46 062009 1ª 67 09 13 32 132010 1ª 81 11 25 35 10
A que se deve esse número que a cada dia cresce nos meios escolares?
Quais seriam os motivos que levam alunos a situações de fracasso?
3 O QUE É FRACASSO ESCOLAR?
Como podemos definir o fracasso escolar senão pelo fato de que o aluno
possa estar desmotivado e desanimado? Entre os motivos que levam ao fracasso
pode-se dizer da reprovação sucessiva, ou o fato de ter que desistir no meio do ano
por motivos de trabalho, enfim são muitas as causas que podem levar o aluno ao
fracasso escolar, sendo que para reverter essa situação cabe à escola verificar
caso a caso, apresentando soluções viáveis para o enfrentamento de situações que
possam surgir durante o período letivo.
A falta de motivação em sala de aula pode levar também a consequências
que poderão desestruturar a vida escola do aluno: a reprovação e a evasão, que
também significa uma condição de fracasso. A evasão é vivida nos meios escolares,
motivada pela falta de motivação, migração das famílias que trabalham como bóias
frias (buscando trabalho onde existem grandes safras), lavradores que trabalham o
dia todo e quando vão para a escola já não tem mais animo para o estudo. E assim,
as escolas enfrentam problemas no início do ano letivo, com grande número de
turmas e matrículas e quando chegam ao final do primeiro ou segundo bimestre
esse número cai, devido ao grande número de desistência.
A reprovação e a evasão escolar, de acordo com Patto (1987, p. 59) são,
[...] uns fracassos produzidos no dia-a-dia, da vida na escola e na produção desse fracasso estão envolvidos aspectos estruturais e funcionais do sistema educacional, concepções de ensino e de trabalho e preconceitos estereótipos sobre a sua clientela pobre. Estes preconceitos, no entanto, longe de serem umas características apenas dos educadores que se encontram nas escolas, estão disseminados na leitura educacional há muitas décadas, enquanto discurso ideológico, ao se pretender neutro e objetivo, participa de forma decisiva na produção das dificuldades de escolarização das crianças das classes populares.
Segundo a literatura o fracasso ocorre no dia a dia escolar, destacando
alguns aspectos responsáveis por esse fracasso como as políticas públicas, famílias
desestruturadas, gravidez precoce, repetência, desemprego, a escola e o próprio
aluno. Ou seja, muitas das vezes a menina está indo bem nos estudos e
precocemente engravida e abandona a escola. Outros reprovam sucessivas vezes,
desanimam e deixam a escola, também pode-se dizer do desemprego que obriga os
filhos a trabalhar para ajudar no sustento da família.
Em outros casos a escola é a culpada pelas situações negativas a que os
alunos estão sujeitos, como aulas sem motivação, professores estressados que não
sabem como tratar com o aluno, famílias que por falta de diálogo expõem os filhos a
situações de risco e fracasso tanto na vida pessoal como na escolar. Outros motivos
para explicar o comprometimento do ensino aprendizagem são comentados por
Paro (1996, p. 143),
[...] a grande maioria da população de nossas escolas apresenta todo tipo de problemas relacionados à desnutrição, fome carência cultural e afetiva, falta de condições materiais e psicológicas para o estudo em casa, necessidade de trabalhar para ajudar no orçamento domestico, bem como uma série de outros problemas, advindos todos eles do estado de injustiça social vigente e que comprometem o desenvolvimento do aluno na aprendizagem.
Em concordância com o pensamento de Paro, pode-se afirmar que a carência
material e afetiva estão presentes nas famílias que vivem num círculo de problemas
de ordem cultural, afetiva, materiais e psicológicas, comprometendo o seu
desenvolvimento e formação. A carência afetiva é um dos problemas que mais
envolvem as situações de fracasso do aluno, diante dos problemas ocorridos na
atual sociedade consumista que só pensa em trabalhar deixando os filhos nas mãos
de babás ou escolinhas.
De acordo com Dantas (1992, p. 85, )
[...] para Jean Piaget, é irrefutável que o afeto desempenha um papel essencial no funcionamento da inteligência. Sem afeto não haveria interesse, nem necessidade, nem motivação; e conseqüentemente, perguntas ou problemas nunca seriam colocados e não haveria inteligência. A afetividade é atribuída como uma condição inevitável na construção da inteligência, mas, também não é suficiente. Ainda, define a afetividade como todos os movimentos mentais conscientes e inconscientes não-racionais(razão), sendo o afeto um elemento indiferenciado do domínio da afetividade. O afeto é uma importante energia para o desenvolvimento cognitivo e estudos que integram suas pesquisas e também de Freud especificam que a afetividade influi na construção do conhecimento de forma essencial através da pulsão de vida e da busca pela excelência.
O afeto esclarece a aceleração ou retardamento da formação das estruturas,
aceleração no caso de interesse e necessidade, retardamento quando a situação
afetiva é uma barreira para o desenvolvimento intelectual. Nessa explanação, a
afetividade esclarece a aceleração ou retardamento, mas não a origem da formação
da estrutura.
Quando a criança atinge a idade escolar, explica Fonseca (1995, p. 49), “as
funções neurossensório-motoras e as demais funções cerebrais estão ainda
confusas e, por isso, a discriminação entre seu eu e sua experiência não se realiza
apenas na dimensão cognitiva”.
Para isso, é necessária a ação mediadora da educação, que deve tomar
como sua função promover a construção da afetividade e a organização dessas
funções. Ferreira (2001, p. 70), explica que, a educação deve, inicialmente, se
concentrar na avaliação de quatro pontos:
1) como a criança procura resolver suas dificuldades; 2) seu nível de auto-estima; 3) características de seu humor; 4) posturas da criança diante do adulto resultantes de sua relação com a família, tais como nível de autonomia, relação com figuras de autoridade e relação com estruturas de poder. Além de indicar estratégias para avaliar estes pontos, a mesma autora, na obra citada, sugere atividades para desenvolver a afetividade no processo educacional, considerando três âmbitos que devem ser alvos de trabalho pedagógico: a) no âmbito emocional – identificar os sentimentos, expressar os sentimentos, avaliar sua identidade, adiar a satisfação, controlar os impulsos, reduzir a tensão; b) no âmbito cognitivo – saber a diferença entre sentimento e ação, ler e interpretar indícios sociais, compreender a perspectiva dos outros, usarem etapas para resolver problemas, criar expectativas realistas sobre si, compreender normas de comportamento; c) no âmbito comportamental – comportamentos não verbais.
Todas as situações que forem sendo detectadas pela escola devem ser
tratadas cuidadosamente, pela escola, para que o ensino e a aprendizagem não
sejam prejudicadas. Assim, a evasão e a reprovação não serão banidas, ou pelo
menos minimizadas, do âmbito escolar, tendo em vista que, a evasão significa uma
situação de fracasso para o aluno, que não consegue concluir a série e/ou o curso.
Isso é explicado por Boruchovitch; Bzuneck (2004, p. 231),
[...] parece que a escola ainda não se deu conta de que o fracasso, a evasão e a reprovação são fenômenos que só correm entre as crianças ou jovens mais pobres, o que leva à constatação de que não é o aluno que está inadequado para a escola, mas sim a escola que está inadequada ao aluno.
É preciso que a escola tome cuidado para não expor o aluno com menor
poder aquisitivo a sentir-se excluído e com isso se torne um aluno pouco motivado,
exposto à reprovação ou até mesmo desistência (evasão) da escola. Isto evidencia
que a instituição é decisiva para a conquista de habilidades sociais, emocionais e
profissionais oferecendo oportunidades de se estabelecer um vínculo afetivo com a
criança. Desta forma, entende-se que a escola passa a ser um lugar de desprazer
quando não oferece sentidos no que ensina e nem há uma função social para o
conhecimento aprendido.
Para Rojas (2006, p. 2) é que “Nesses momentos é que faz parte da
sabedoria da escola instaurar diálogos que permitam a formação de valores”. Caso
contrário, as informações recebidas acabam sendo desvalorizadas e esquecidas
porque faltou afetividade para estruturar os sentimentos vivenciados nesse processo
de aprendizagem.
Porém, em alguns casos, o baixo autoconceito dos professores resultante em
grande medida, da prática escolar autoritária por que passaram, favorece a sua
aceitação, quase sempre inconsciente, de que não são realmente muito capazes.
Mas como o fracasso é socialmente e sua aceitação considerada humilhante, a inculpação do aluno, reprovando-o, constitui a sua tábua de salvação, do professor, que impotente para superar suas adversas condições de trabalho, procura jogar sobre os estudantes a culpa pelo fracasso escolar (PARO, 2001, p. 144).
Todavia, não se trata de que, o professor, para mostrar o seu elevado
autoconceito ou para parecer bonzinho, deixe que o aluno seja aprovado sem que
tenha aprendido, ou que ele seja aprovado para entrar na estatística positiva dos
aprovados.
Como solução, é preciso conscientizar-se de que a qualidade do ensino-
aprendizagem possibilita o desenvolvimento de uma nova forma de pensar, falar e
agir que não permite ao poder se ocultar em lugar algum, mas que se explicita nas
relações entre sujeitos e os objetos de apropriação, bens materiais e culturais como
uma possibilidade real de construção da dignidade emancipatória do cidadão. A
busca incessante pela articulação plena da escola à sociedade pode ser esclarecida
pela opinião de Freire (1996, p. 115), quando relata:
Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não ser neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição. Decisão. Ruptura. Exige de mim que escolha entre isto e aquilo. Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a favor de não importa o quê. Não posso ser professor a favor simplesmente do Homem ou da Humanidade, frase de uma vacuidade demasiado contrastante com a concretude da prática educativa.
Em concordância com o autor, pode-se dizer que, ser professor é aprender
sempre, pois, da mesma forma que se ensinava hoje à função do educador é a
mesma, somente os tempos se transformaram, as mudanças constantes fizeram
com que o aluno se apresente mais rápidos diante da velocidade com que a
informação chegue até ele. Professor é aquele que leva o aluno a se descobrir, é o
que consegue transformar o obrigatório em prazeroso.
Para que isso aconteça, ainda é necessário que a escola opere as mudanças
no coletivo, consciente de que deve buscar a construção democrática radical como
alternativa pós-capitalista, haja vista, que o aluno de hoje exige mais
comprometimento da escola e uma postura diferente do professor que deve
apresentar um perfil moderno, ligado nas atualidades e no mundo, que cerca a vida
deles.
Portanto, quando a aprendizagem se realiza, surge um novo comportamento,
capaz de solucionar a situação problemática encontrada, levando o aprendiz à
adaptação ou à integração de sua personalidade. Esse acúmulo de experiências
leva à organização de novos padrões de comportamento, que são incorporados,
adquiridos pelo sujeito. Por isso se diz que quem aprende modifica o seu
comportamento.
O professor caminha lado a lado com a transformação da sociedade, não é um ente abstrato, ausente, mas uma presença atuante, participante e "dirigente", que organiza, concretiza a ideologia da classe que representa esperança. Pela educação, queremos mudar o mundo, a começar pela sala de aula, pois as grandes transformações não se dão apenas como resultantes dos grandes gestos, mas de iniciativas cotidianas, simples e persistentes. Por tanto, não há excludência entre o projeto pessoal e o coletivo: ambos se completam dialeticamente. Pela sua palavra, que é sua arma, responde aos problemas que a sociedade lhe coloca (GADOTTI, 2000, p. 65).
A escola desempenha um papel preponderante no sentido de conservação da
estrutura social vigente. Formando e aprimorando a força de trabalho, ratificando as
desigualdades sociais, inculcando a ideologia dominante, transmitindo o
conhecimento. O desenvolvimento da autonomia são fatores essenciais para se
atingir o objetivo transformador da escola e se assim ocorrer, certamente a evasão
deixará de ser um fantasma nos meios educacionais. Haja vista que, as relações
sociais que se estabelecem no interior da escola não estão exclusivamente
relacionadas com a aprendizagem, antes disso, está diante de uma realidade que
oferece aos que ali estão envolvidos um sentido de identidade e uma posição.
4 POLÍTICAS PEDAGÓGICAS SOBRE EVASÃO E FRACASSO ESCOLAR
A educação, segundo a Constituição Federal do Brasil de 1988, constitui um
direito social, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania. É um conceito amplo, que envolve vários pontos de vista,
estando, portanto, sujeitos a críticas e modificações.
A Lei de Diretrizes e Bases (1996) em seu artigo 2º estabelece que
A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Dessa forma, o Artigo 205 da LDB, refere-se aos grandes objetivos da
Educação Nacional. Portanto, desenvolvimento, cidadania e trabalho são palavras
centrais no campo das finalidades educacionais, destacando como grandes
finalidades da educação: o desenvolvimento da pessoa, ou, simplesmente o
desenvolvimento humano (saber ser), seu preparo para o exercício da cidadania.
Cury (2003, p. 81), acrescenta: “... se não reconstruirmos a educação, a
sociedade moderna se tornará um grande hospital psiquiátrico, tendo em vista que
as estatísticas mostram que é normal ser estressado e anormal é ser saudável”.
Diante desta perspectiva sabe-se que sem luta não há concretização de sonhos, é
sonhando que se consolida um ideal. Somente pela educação é que uma nação
poderá obter a sua cidadania.
A respeito da educação, Ferreira (1996, p. 619) relata que:
A educação é um fenômeno que abrange todos os povos; cada um a vê do seu modo; desenvolve segundo o seu costume e valores; recebe ou rejeita de acordo com as suas necessidades. Nota-se que por outro lado, a educação é sempre marcada pela superioridade dos mais sábios sobre os menos instruídos; dos mais velhos sobre os mais novos; dos mais fortes sobre os mais fracos; há sempre um que domina e outro que é dominado. Seja se falando de pessoas, sistemas, culturas, etc. Desse modo, os pais são superiores aos filhos, professores educam alunos, reis submetem nações, caciques comandam tribos. A tradição é norma para hoje, civilizações se impões às outras, e daí por diante. verbo "educar" vem do latim "educare", que significa "promover a educação; transmitir conhecimentos.
Porém, o que é vital para a educação é o cuidado de salvaguardar os
processos de pensar, para que ele seja reflexivo. Dessa forma, escola e professores
encontram-se confrontados com novas tarefas: fazer da escola um lugar mais
atraente para os alunos e fornecer-lhes as chaves para uma compreensão das
mudanças, na busca de ideais educativos e na aquisição de habilidades automáticas
acumulando quantidade de conhecimentos, pois há uma tendência a dar maior
importância ao produto do que é processo.
A educação é fundamental para a humanização e sociabilização do homem (…) é um processo que dura a vida inteira, e que não se restringe a mera continuidade, mas supõe a possibilidade de rupturas pelas quais a cultura se renova e o homem faz a história (ARANHA, 1994, p. 214).
O professor deve encorajar seus alunos à variedade de modos para resolver
as questões propostas. Segundo Dewey (1970, p. 212) “o processo educativo é
medido pela qualidade dos processos mentais, e não pela obtenção de respostas
certas”. Dessa forma, o verdadeiro educador é capaz de despertar nos seus alunos
o questionamento, a pesquisa e a capacidade de refletir sobre as necessidades
sociais e a melhor forma de mudar o mundo, no sentido de viver em sociedade.
Os processos cognitivos e os processos vitais finalmente descobrem seu encontro, desde sempre marcado, em pleno coraçao do que a vida é, enquanto processo de auto organização, desde o plano biofísico até o das esferas societais, a saber, a vida quer continuar sendo vida (ASSMANN, 1998, p. 28).
Em busca de mudanças nesta situação de calamidade vivida pela educação
no Brasil, foi que educadores brasileiros realmente comprometidos com sua missão
se aproximaram e se identificaram com as ideias de Gramsci (1988, p.162) que
argumenta,
Se uma sociedade se encontra dividida, a escola também apresentará divisões, tornando-se uma escola - de - classe social, propondo uma escola unitária, que tenha por base a não dicotimização entre os trabalhos manuais e os intelectuais, cumprindo sua função de inserir os jovens nas atividades da sociedade com criatividade e autonomia após certo grau de maturidade. É necessário que esteja sempre presente na escola um trabalho voltado para a conscientização e reflexão do sujeito - mundo, além da valorização do saber trazido pelo aluno, oferecendo através deste processo de aprendizagem condições ao aluno de expressar seus sentimentos, seus pensamentos, compará-los, compreendê-los e superá-los.
Essa conscientização deve estar introduzida no âmbito educacional, bem
como a valorização da cultura popular, levando o aluno ao combate da
discriminação e no reforço dos segmentos sociais enfraquecida pelas classes mais
fortes que tentam dominar as classes sociais, que ficam sujeitas à monopolização da
cultura, aceitando tudo o que lhe é imposto como se fosse o certo.
Diante das dificuldades do dia a dia da escola, é preciso refletir sobre como
a escola tem reagido frente às mudanças ocorridas na sociedade, quais as
iniciativas pensadas e executadas em busca da construção de um novo cidadão e
qual está sendo a intervenção educativa no sentido de repensar este novo homem,
com novos saberes, novas habilidades, novas aptidões cognitivas.
Para a reelaboração e construção de um eixo norteador é preciso partir de
diálogos envolvendo toda a comunidade. Ao discutir as práticas e possíveis
diagnósticos significativos no dia a dia educacional, tem-se a possibilidade de criar
condições para que as relações pedagógicas sejam estabelecidas de forma a
construir não só um aprendizado formal, bem como a construção de uma
subjetividade que capacite o aluno a enfrentar o mundo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os autores mencionados demonstram o quanto à escola tem enfrentado
desafios relacionados à evasão e reprovação, caracterizando como fracasso escolar
que não se pode dizer que seja um problema do aluno, do professor ou da escola,
mas que caracteriza um problema coletivo. A escola precisa implementar e
diversificar suas ações atendendo às diferenças individuais, levando a escola a
adaptar-se ao aluno e à comunidade.
O enfrentamento do fracasso escolar só poderá ter sucesso com a
transformação das práticas escolares que deverão caminhar na direção da
humanização e da democratização, identificando seus problemas, corrigindo-os,
percebendo-os como desafios a serem transpostos diariamente.
Paralelamente às práticas escolares deve-se procurar entrosamento com as
famílias e comunidade escolar para que no coletivo possam buscar e encontrar
estratégias para o enfrentamento do fracasso escolar.
É importante que os profissionais da educação vejam a escola e o aluno como
uma relação que deve ser tratada com o cuidado porque o processo de
escolarização também constrói subjetividade e a consciência critica e de cidadania.
Deve-se buscar aprender “sempre” a sua diversidade, verificando sempre a
veracidade do ensino aprendizagem para que nem aluno nem professor sejam
acometidos pelo fracasso escolar. Entretanto, possam desfrutar de sucessos
ocasionados pela aula bem ministrada, conteúdos bem trabalhados e avaliações que
possam servir de parâmetros para prosseguir ou repetir ensinamentos que não
foram assimilados corretamente.
Como solução, é preciso conscientizar-se de que a qualidade do ensino-
aprendizagem possibilita o desenvolvimento de uma nova forma de pensar, falar,
agir, identificando as formas diferenciadas de predispor os alunos à aprendizagem,
refletindo sobre a prática pedagógica tornando-a significativa em sala de aula.
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