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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – CAMPUS DE CASCAVEL CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE - MESTRADO GIANCARLO TOZO INTERSETORIALIDADE NO ATENDIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS NO MUNICÍPIO DE CASCAVEL - PR CASCAVEL Fevereiro/2019

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – CAMPUS DE CASCAVEL

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE - MESTRADO

GIANCARLO TOZO

INTERSETORIALIDADE NO ATENDIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS NO MUNICÍPIO DE CASCAVEL -

PR

CASCAVEL Fevereiro/2019

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GIANCARLO TOZO

INTERSETORIALIDADE NO ATENDIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS NO MUNICÍPIO DE CASCAVEL -

PR

DISSERTAÇÃO apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biociências e Saúde – Mestrado, do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Biociências e Saúde. Área de concentração: Biologia, processo saúde- doença e políticas de saúde Orientadora: Profª Dra. Beatriz Rosana Gonçalves de Oliveira Toso Co-Orientadora: Profª Dra. Gicelle Galvan Machineski

CASCAVEL-PR Fevereiro/2019

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FOLHA DE APROVAÇÃO

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho, em primeiro lugar, aos trabalhadores e trabalhadoras que,

cotidianamente, enfrentam a difícil tarefa de prestar assistência aos jovens usuários

de drogas, muitas vezes, sem as condições adequadas – espero contribuir de alguma

forma.

Dedico aos meus filhos, Renato e Raul, à minha companheira, Claudia, aos

meus pais, Ada e Ademir, minhas irmãs, Dani, Tati e Jeh, às minhas sobrinhas, Allana

e Manu, e às minhas avós, Iracy e Joana – in memorian.

Dedico aos colegas (agentes universitários e professores) do Hospital

Universitário e da Unioeste.

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AGRADECIMENTOS

Acredito que uma conquista como esta, a obtenção de um grau acadêmico,

não decorre apenas de mérito pessoal. Muitos contribuiram para que eu - e muitos

outros - pudesse ter condição para estudar.

Não conseguiria nomear todas, claro, mas, mesmo assim, quero agradecer

especialmente a algumas pessoas e instituições que, de uma forma ou de outra,

contribuíram para que eu pudesse concluir este trabalho.

Agradeço aos meus pais, Ada e Ademir, por tudo! Não posso deixar de

reconhecer o grande esforço que fizeram para que pudéssemos ter uma boa

educação escolar. Às minhas irmãs, Dani, Tati e Jeh, e sobrinhas, Allana e Manu, pelo

apoio e incentivo. À Silvana, pelas transcrições e apoio. Aos cunhados.

Aos meus avós, Iracy, Otávio (in memorian) e Joana (in memorian), por terem

me garantido a estrutura, carinho e incentivo para estudar. Da mesma forma, aos

meus tios. Obrigado!

Ao meu filhos, Renato e Raul, pelo apoio e compreensão com relação às

minhas ausências. Renato, meu parceiro, sou grato por sua existência e pela valiosa

ajuda com o Power Point e Word (recuperei o investimento!).

À minha companheira, Claudia, que me incentivou, me orientou, me aguentou.

Agradeço por suas contribuições teóricas, afetivas, ortográficas... e pela sua

presença.

Às minhas orientadoras, professoras Beatriz e Gicelle, pelas imprescindíveis

conversas e orientações. Reconheço que vocês tiveram muito trabalho...

Agradeço a todos os professores do Programa de Mestrado em Biociências e

Saúde da Unioeste (agora Doutorado!), aos colegas e à secretária do Programa,

Graselha. Agradeço às professoras da banca de qualificação e defesa, Cláudia, Sônia

e Zelimar, pelas valiosas contribuições.

Aos colegas de trabalho da enfermagem do HUOP, pelo incentivo e por suprir

minha ausência. Aos colegas da Ala de Desintoxicação do Hospital, que ousaram

implantar atendimento hospitalar humanizado aos jovens usuários de drogas, tendo

como pressupostos os preceitos da Reforma Psiquiátrica e da Doutrina da Proteção

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Integral. Especialmente, pela acolhida, pelos ensinamentos e pela troca de

experiência, à médica Julia, à assistente social Daniela, às enfermeiras Josefa,

Adriana, às técnicas de enfermagem, Carla, Cidinha, Silvani, Gabriela (grupo de PDA),

Paulina, Olga, e demais colegas enfermeiros, médicos, pedagogos, assistentes

sociais e técnicos de enfermagem.

Agradeço à Unioeste por incentivar a qualificação de Agentes Universitários.

A Unioeste é a instituição na qual me graduei, especializei e onde estudo.

Local em que trabalho como enfermeiro desde 2006. Faço parte da luta por manter

essa instituição pública, gratuita e de qualidade. Unioeste: eu defendo!!

Aos trabalhadores e colegas que constroem diariamente a Rede de Atenção

e Proteção Social de Cascavel, mesmo com todos os desafios. Especialmente aos

entrevistados dessa pesquisa. Particularmente ao Adilson, Iara, Cesár, Éder,

Maribel – pelas conversas valiosas sobre a temática da intersetorialidade, pelas

bibliografias emprestadas e dicas. À Paula e Suzana da SEASO e à equipe da

Biblioteca Pública de Cascavel, por me ajudarem com os arquivos da Rede.

Aos companheiros da militância sindical e amigos (Luiz Fernando, Elcir,

Rodrigo Tomazini, Castagna, Josiane, Laerson). E aos companheiros da gestão da

qual participo no Sinteoeste, pelo apoio e por me substituírem sempre que necessário

na difícil tarefa sindical, principalmente nessa reta final. Agradeço ao Ivan, Osmarina,

Claudia, Ailton, Dayam, Sivia, Rosemara, Marilidez, Odete, Marilene.

Obrigado!!

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RESUMO

TOZO, G. Intersetorialidade no atendimento de crianças e adolescentes usuários de substâncias psicoativas no município de Cascavel-Pr. 159 p. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Biociências e Saúde, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Campus Cascavel, Unioeste, 2019. Esta pesquisa discute o tema intersetorialidade, relacionando-o às políticas públicas com ações voltadas para drogas, saúde mental e a juventude. Diversas instituições formuladoras de políticas públicas defendem a necessidade da articulação intersetorial como forma de superar problemas relacionados à saúde. Partindo desse entendimento, alguns municípios brasileiros buscam formas intersetoriais de organização e gestão dos serviços públicos destinados a grupos vulneráveis da população, a fim de superar a fragmentação setorial. Desde 2010, o município de Cascavel, no Paraná, articula a Rede de Atenção e Proteção Social - REDE, experiência intersetorial que se encontra em construção. Nesse sentido, tem-se como objetivo geral compreender a relação e a articulação da Rede de Atenção Psicossocial – RAPS, no que se refere ao atendimento de crianças e adolescentes usuários de substâncias psicoativas com a REDE, no município de Cascavel – PR. Os objetivos específicos compreendem descrever, mediante resgate histórico, a construção da REDE no município de Cascavel-Pr; identificar e descrever os canais de comunicação, fluxos e demais instrumentos utilizados no relacionamento e articulação dos diversos pontos dessas redes; e apreender a visão dos profissionais que compõem a REDE como representantes sobre sua implementação e fragilidades. Para tanto, foi realizada pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória, por meio de entrevistas semiestruturadas, efetivadas com trabalhadores que desenvolvem seu trabalho com jovens usuários de drogas dos serviços que compõem as duas redes, no período de janeiro a abril de 2018; e coleta de dados documental, de junho a dezembro de 2018, após aprovação do comitê de ética em pesquisa com seres humanos. A análise dos dados concretizou-se por meio do referencial da análise de conteúdo, guiada pelo materialismo histórico. Foi possível observar que a atenção à criança e ao adolescente, usuários de substâncias psicoativas no município de Cascavel, Paraná, desenvolve-se com características de rede intersetorial, com a construção de instrumentos intersetoriais, podendo ser entendida como um processo de trabalho coletivo. Os entrevistados avaliam positivamente a forma como a Rede se estabeleceu, mas apontam as fragilidades para sua efetivação, mencionando dificuldades relacionadas a questões como infraestrutura, grande demanda de atendimento, insuficiência de recursos humanos, fluxo inadequado e ausência de serviços para integrar a rede. Considera-se que a experiência intersetorial do município está em construção, sendo necessários estudos adicionais sobre seu desenvolvimento, que possam contribuir com reflexões a respeito dos serviços, além de colaborar para a ampliação de políticas voltadas ao cuidado de crianças e adolescentes usuários de substâncias psicoativas. Palavras-Chave: Intersetorialidade. Rede intersetorial. Determinação social da saúde. Doutrina da proteção integral

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ABSTRACT

TOZO, G. Intersectoriality in the care of children and adolescents psychoactive substances’ users in the municipality of Cascavel-PR. 159 p. Thesis (Master's). Postgraduate Program in Biosciences and Health, Center for Biological and Health Sciences, Cascavel Campus, Unioeste, 2019. This research discusses the intersectoral theme, relating it to public policies with actions focused on drugs, mental health and youth. Several institutions that formulate public policies defend the need of intersectoral articulation to overcome problems related to health. Based on this understanding, some brazilian municipalities seek intersectoral forms of organization and management of public services aimed at vulnerable groups of the population to overcome sectoral fragmentation. Since 2010, the municipality of Cascavel, Paraná, has articulated the Network of Attention and Social Protection - REDE, an intersectoral experience that is under construction. In this sense, the general objective is to understand the relationship and articulation of the Psychosocial Attention Network - RAPS, regarding the care of children and adolescents psychoactive substances’ users with the REDE, in the city of Cascavel - PR. The specific objectives include describing, through historical rescue, the construction of the REDE in the municipality of Cascavel-Pr; identify and describe the channels of communication, flows and other instruments used in the relationship and articulation of the various points of these networks; and to apprehend the vision of the professionals that compose the REDE as representatives on its implementation and weaknesses. For that, a qualitative, descriptive and exploratory research was carried out, through semi-structured interviews with workers that attend young drug users of the services that make up the two networks, from January to April, 2018; and documentary data collection, from June to December 2018, after approval of the human research ethics committee. The data were analyzed using the technique of content analysis, guided by historical materialism. It was possible to observe that attention to the child and adolescent, users of psychoactive substances in the municipality of Cascavel, Paraná, develops with intersectoral network characteristics, with the construction of intersectoral instruments, and can be understood as a collective work process. The interviewees evaluated positively the way the REDE established itself, but they pointed out weaknesses in its effectiveness, mentioning difficulties related to issues such as infrastructure, high demand for services, insufficient human resources, inadequate flow and lack of services to integrate the rede. It is considered that the intersectoral experience of the municipality is under construction, requiring additional studies on its development, which may contribute with reflections on services, and collaborate to broaden policies aimed at the care of children and adolescents psychoactive substances’ users.

Key words: Intersectoriality. Intersectoral network. Social determinants of health. Integral protection doctrine.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e

Whitehead (1991). Fonte: Brasil (2008, p.14)............................................................ 24

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Categorias, unidades de análise e documentos e entrevistas ................. 42

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABRASCO Associação Brasileira de Saúde Coletiva

ACS Agente Comunitário de Saúde

APP Sindicato Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná

CAPS-AD Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas

CAPS-I Centro de Atenção Psicossocial - Infantil

CENSE Centro de Socioeducação

CEP Comitê de Ética em Pesquisa (Unioeste)

CISVEL Comissão Intersetorial de Socioeducação de Cascavel

CMDCA Conselho Municipal dos Direitos das Crianças e dos

Adolescentes

CNACL Cadastro Nacional de Adolescentes em Conflito com a Lei

CNDSS Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais de Saúde

COMAD Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas

CRAPE Centro Regional de Apoio Pedagógico Especializado

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social

CT Conselho Tutelar

DPI Doutrina da Proteção Integral

DSS Determinação Social em Saúde

EC Emenda Constitucional

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EURECA Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo

HUOP Hospital Universitário do Oeste do Paraná

IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

LA Liberdade Assistida

MS/GM Ministério da Saúde/Gabinete Ministerial

MSE Medida Socioeducativa

NRE Núcleo Regional de Educação

ONU Organização das Nações Unidas

OPAS Organização Pan-Americana de Saúde

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PIB Produto Interno Bruno

PNE Plano Nacional de Educação

PSC Prestação de Serviço à Comunidade

RAPS Rede de Atenção Psicossocial

REDE Rede de Atenção e Proteção Social de Cascavel

RH Recursos Humanos

SAI Serviço Auxiliar da Criança e Adolescente

SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência

SESAU Secretaria Municipal de Saúde

SIM/PR Serviço Integrado de Saúde Mental do Paraná

SPA Substância Psicoativa

SUAS Sistema Único de Assistência Social

SUS Sistema Único de Saúde

UBS Unidade Básica de Saúde

UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná

UPA Unidade de Pronto Atendimento

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 16

2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 20

2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................ 20

2.2 Objetivos Específicos ................................................................................................. 20

3. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 21

3.1 DETERMINAÇÃO SOCIAL DA SAÚDE...................................................................... 21

3.2 DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL ................................................................... 25

3.3 INTERSETORIALIDADE ............................................................................................ 29

4. METODOLOGIA ................................................................................................... 34

4.1 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO ........................................................... 34

4.2 TIPO DE PESQUISA .................................................................................................. 35

4.3 CAMPO DE PESQUISA ............................................................................................. 36

4.4 POPULAÇÃO E AMOSTRA ....................................................................................... 38

4.5 TÉCNICAS PARA COLETA DE DADOS .................................................................... 39

4.6 ORGANIZAÇÃO, APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS ... 40

4.7 QUESTÕES ÉTICAS.................................................................................................. 43

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 45

5.1 INTERSETORIALIDADE E TRABALHO INTERSETORIAL ........................................ 45

5.2 O CONCEITO DE REDE E O PROCESSO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO DA REDE ............................................................................................................................... 54

5.3 A ARTICULAÇÃO ENTRE A RAPS E OS DEMAIS SERVIÇOS QUE ATENDEM ...... 67

CRIANÇAS E ADOLESCENTES USUÁRIOS DE SPA .................................................... 67

5.4 A CONSTRUÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERSETORIAIS ..................................... 78

5.5 AS FRAGILIDADES PARA A CONSOLIDAÇÃO DA REDE ....................................... 89

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 96

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 100

APÊNDICES ........................................................................................................... 115

ANEXOS ................................................................................................................. 134

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1. INTRODUÇÃO

O envolvimento do autor com a temática começou em 2013, como enfermeiro

do setor de Desintoxicação do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP)1.

Atuar profissionalmente nesse local possibilitou a participação no Conselho Municipal

de Políticas Sobre Drogas (COMAD)2, na Comissão Intersetorial de Socioeducação

de Cascavel (CISVEL)3 e na Subcomissão Criança e Adolescente da Rede de Atenção

e Proteção Social no município de Cascavel, organizações que possuem a

característica de serem compostas por entidades ligadas a diferentes setores e

diferentes políticas públicas, ou seja, procuram realizar seu trabalho de forma

intersetorial.

Essa experiência permitiu relacionar o trabalho realizado no atendimento de

jovens usuários de drogas e álcool4 com as políticas públicas para juventude e drogas

e a intersetorialidade. Dessa forma, foi possível observar empiricamente que, muitas

vezes, os serviços responsáveis por executar as políticas públicas de saúde mental e

juventude encontram dificuldades no atendimento a essa população, entre outras

coisas, devido à complexidade de estabelecer práticas intersetoriais.

Autores reconhecem que a temática do uso de drogas é complexa. Mas, seu

consumo sempre esteve presente nas diversas culturas humanas, passando por

diferentes formas de uso, manuseio e função. Atualmente, está inserido no cotidiano

de grande parte da população mundial, possuindo inúmeros significados, dentre eles,

busca de prazer, alívio imediato e fonte de renda, como as atividades ligadas ao tráfico

1 Setor de Desintoxicação do HUOP: atende crianças e adolescentes usuários de Substâncias Psicoativas – SPA, aberto sob determinação judicial, atende 17 leitos, sendo três para crianças, desde março de 2007 (MOMBELLI; MARCON; COSTA 2010). 2 Criado inicialmente pela lei 3.315/2001 e modificado pelas leis 5.462/2010 e 5.719/2011, é um órgão deliberativo, consultivo e de assessoramento que tem como objetivo coordenar as atividades de todas as instituições municipais, bem como Estaduais e Federais, dedicando-se ao pleno desenvolvimento das ações referentes à redução da demanda de substâncias psicoativas ou drogas em âmbito municipal. Disponível em: http://www.comadcascavel.com.br/comad.html 3 Instituída pelo Decreto Municipal 12.292/2015, mas atuando desde 2011, tem como finalidade: Artigo 1º I - Contribuir para garantir a defesa dos direitos dos adolescentes em comprimento de medidas socioeducativas; II – Elaborar diretrizes e articular ações referentes ao atendimento socioeducativo em âmbito municipal. Disponível em: http://www.cascavel.pr.gov.br/secretarias/seaso/subpagina.php?id=1247 4 Neste trabalho, serão utilizados os seguintes termos como sinônimos: drogas, drogas e álcool, álcool e outras drogas e substâncias psicoativas.

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de substâncias (ESPÍNOLA, 2013; PRATTA; SANTOS, 2009; SCHENKER; MINAYO,

2005; SILVA, 2011). Entretanto, também pode estar associado a piores condições de

vida. Sobre isso, Torossin e Papini (2013) destacam que, mesmo o uso de drogas

sendo um fenômeno comum e histórico, a associação entre drogas, criminalidade e

doença é um fenômeno moderno.

Analisando estudos estatísticos, tem-se que cerca de 10% da população dos

grandes centros do mundo utilizam de forma abusiva substâncias psicoativas,

independentemente do sexo, instrução, classe econômica e idade (BRASIL, 2003).

No que se refere aos jovens, estudos epidemiológicos evidenciam a iniciação

do uso dessas substâncias cada vez mais precocemente, na passagem da infância

para a adolescência, o que pode acarretar prejuízos inestimáveis para essa população

(ARAUJO et al., 2012; MARQUES; CRUZ, 2000). O Levantamento Nacional com

estudantes do ensino fundamental e médio, realizado no Brasil, em 2010, aponta que

a idade média do primeiro uso é de 13 anos, para álcool, e 14 e 15 anos para as

demais drogas (CARLINI et al., 2010).

No mesmo sentido, dados socioeconômicos referentes a crianças e

adolescentes no Brasil permitem relacionar o uso de drogas com criminalidade,

violência e pobreza. Estudo realizado no Brasil, em 2015, pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (BRASIL, 2016b), aponta que o grupo populacional com até

14 anos corresponde a 21%, sendo, na região Sul, 18,8%; em Cascavel, a população

de 6 a 14 anos é de 14,3 (IBGE, 2018). Os jovens, pessoas entre 15 e 29 anos,

correspondem a 23,6% da população brasileira, sendo, no Sul, 22,3%; em Cascavel,

a faixa etária de 15 a 24 anos corresponde a 19,1% (IBGE, 2018). O mesmo estudo

aponta que, no Brasil, em 2015, 17,6% das crianças de 0 a 4 anos e 18,0% das

crianças e adolescentes de 5 a 14 anos residiam em domicílios cujo rendimento

mensal per capita era de até um quarto do salário mínimo.

No município de Cascavel, cidade considerada polo da região Oeste do

Paraná, a população estimada, em 2017, era de 319.608 pessoas. O salário médio

mensal dos trabalhadores formais é de 2,5 salários mínimos; o Produto Interno Bruto

(PIB) per capita, em 2015, era de 32.372,08 reais; o Índice de Desenvolvimento

Humano Municipal (IDHM), em 2010, era de 0.782; já a taxa de escolarização, de seis

a 14 anos, em 2010, era de 98,1% (IBGE, 2018).

O Mapa da Violência do Brasil de 2015 (WAISELFISZ, 2015) demonstra que

a população entre 15 a 25 anos tem 285% mais chances de morrer vítima de arma de

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fogo do que nas outras faixas etárias. O Cadastro Nacional de Adolescentes em

Conflito com a Lei (CNACL) demonstra que, dos 12 atos infracionais de maior

incidência no Brasil, no período estudado, setembro de 2015 a setembro de 2016,

27,9% corresponderam a tráfico de drogas e condutas afins (TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DO PARANÁ; CONSIJ-PR, 2016).

Frente a esse quadro, é possível perceber, concordando com o apontado por

Lavoratti (2013), que as políticas públicas existentes direcionadas à juventude não

têm cumprido sua função de proteção, sobretudo, para a parcela mais empobrecida,

sendo necessário que, em relação aos jovens que abusam de Substâncias

Psicoativas (SPA), se desenvolvam, de forma conjunta e articulada, ações de saúde,

educação, segurança pública, assistência social, entre outras, visando reverter essa

situação de pobreza e violência que atinge a juventude.

No que se refere ao setor saúde, já há algum tempo, importantes instituições

e organizações formuladoras de políticas, embasados pelo conceito da Determinação

Social da Saúde (DSS), defendem a necessidade da articulação intersetorial como

forma de superar problemas relacionados à saúde de forma geral e, mais

especificamente, de saúde mental (BRASIL, 2010; BRASIL, 2011; OPAS; OMS, 2007).

Partindo desse entendimento, alguns municípios brasileiros buscam formas

intersetoriais de organização e gestão dos serviços públicos destinados a grupos

vulneráveis da população, a fim de superar a fragmentação setorial (BARROSO, 2016;

KISS; SCHRAIBER; D'OLIVEIRA, 2007; LAVORATTI, 2013; VIEIRA; HASSE, 2017).

No município de Cascavel-PR, desde 2010, articula-se a Rede de Atenção e

Proteção Social5 (REDE) dividida em três subcomissões temáticas: Subcomissão do

Adulto, Subcomissão da Criança e Adolescente e Subcomissão da Violência Sexual.

A Rede é composta por profissionais de entidades governamentais e não-

governamentais vinculadas às diversas políticas públicas, indicados por seus

gestores, os quais se reúnem sistematicamente para discutir assuntos relacionados a

cada subcomissão, numa perspectiva intersetorial. Consta como sendo seu

pressuposto:

A construção de uma rede intersetorial baseada nas políticas setoriais, mediante a compreensão dos processos organizacionais dos

5Informações sobre a Rede de Atenção e Proteção Social estão disponíveis em: http://www.cascavel.pr.gov.br/conselhos/intersetorial/. Neste texto, a Rede de Atenção e Proteção Social do Município de Cascavel-PR também será denominada apenas pelo termo REDE, com todas as letras grafadas em maiúsculo.

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equipamentos sociais, tendo em vista a ampliação da comunicação e articulação entre os serviços para os encaminhamentos mais adequados às necessidades sociais (CASCAVEL, 2018).

Parte-se do princípio de que a organização de redes intersetoriais é uma

importante estratégia de enfrentamento das questões complexas, vivenciadas no dia

a dia dos serviços públicos, especificamente, no trabalho com crianças e adolescentes

usuários de SPA. Essa estratégia visa potencializar os impactos das políticas públicas

e à garantia de direitos, bem como à superação do trabalho setorizado e paralelo. Uma

vez que, nessa perspectiva, cada política setorial, tais como habitação, cultura, saúde,

assistência, economia, entre outras, se insere em uma malha de redes em distintas

modalidades, é possível, desta forma, um modo diferente de intervenção no processo

saúde/doença (LAVORATTI, 2013).

Tendo isso em vista, esta pesquisa propôs-se ao estudo de duas redes que

atendem crianças e adolescentes usuários de SPA do município de Cascavel: uma

setorial da área da saúde, denominada Rede de Atenção Psicossocial – RAPS, e outra

intersetorial, denominada Rede de Atenção e Proteção Social – REDE - visando

compreender a relação e a articulação dessas duas redes, no atendimento às crianças

e adolescentes usuários de substâncias psicoativas.

Para isso, pretendeu-se responder às perguntas: Como se relacionam e se

articulam os serviços da RAPS e a REDE do município de Cascavel – PR, para o

atendimento às crianças e adolescentes usuários de SPA? Como ocorre a

comunicação e articulação entre esses serviços, objetivando-se encaminhamentos

adequados às necessidades sociais da população assistida?

Em uma perspectiva interdisciplinar, foram conceituados os termos que se

mostraram relevantes para o entendimento da temática, por exemplo,

intersetorialidade, redes, redes intersetoriais, processo de trabalho, determinação

social da saúde e doutrina da proteção integral, para relacioná-las com o achado na

prática do trabalho intersetorial, realizado em Cascavel.

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Compreender a relação e a articulação da RAPS, no que se refere ao

atendimento de crianças e adolescentes usuários de substâncias psicoativas com a

REDE do município de Cascavel – PR.

2.2 Objetivos Específicos

Descrever, mediante um resgate histórico, a construção da REDE;

Identificar e descrever os canais de comunicação, fluxos e demais instrumentos

utilizados no relacionamento e articulação dos diversos pontos dessas redes;

Apreender a visão dos profissionais que compõem a REDE como

representantes sobre sua implementação e fragilidades.

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3. REVISÃO DE LITERATURA

O uso abusivo de substâncias psicoativas por crianças e adolescentes é

considerado atualmente um grave problema social e complexo problema de saúde

pública (PRATTA; SANTOS, 2009). No mesmo sentido, Schenker e Minayo (2005)

apontam que o uso abusivo de álcool e outras drogas, dada a magnitude e a

diversidade dos aspetos envolvidos, pode ser entendido como um significativo

problema de saúde pública. Em relação ao uso de drogas por adolescente, Espínola

(2013) problematiza que essa é uma questão complexa, em função de sua

vulnerabilidade e do seu desenvolvimento biológico e psicossocial.

Em consonância, Reis e Guarischi (2016) buscam evidenciar como o uso de

drogas por parte do adolescente se caracteriza como problema social, visto que está

associado à criminalidade e à doença. Esse problema social, segundo os autores,

convoca os diversos campos do saber a produzir respostas a essa questão e o Estado

a intervir sobre ele. Para seu enfrentamento, vêm se desenvolvendo experiências que

se baseiam em abordagens intersetoriais, como no município de Cascavel, no Paraná.

Esta pesquisa, para analisar a realidade de Cascavel, sobre tal temática,

baseou-se nos referenciais teóricos da Determinação Social de Saúde, da Doutrina

de Proteção Integral às Crianças e Adolescentes (DPI), além do conceito de

intersetorialidade, redes e redes intersetoriais, pois, conforme apontam Albuquerque

et al.(2016), a problemática das drogas, visto sua complexidade, não pode ser tratada

de forma fragmentada e simples, requerendo ações igualmente complexas, numa

perspectiva integral e intersetorial.

3.1 DETERMINAÇÃO SOCIAL DA SAÚDE

Autores vêm demonstrando que a ocorrência de problemas de saúde na

população tem como determinantes, além das questões relacionadas à biologia,

outros fatores, como os sociais, culturais, econômicos, políticos, ambientais,

psicológicos e de trabalho. Além disso, entendem que os modos de produção e de

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vida atuam como fatores protetores ou destrutivos na determinação da saúde

(ALMEIDA-FILHO, 1999; BREILH, 2010; CARVALHO, 2013; LOYOLA, 2012).

Esse entendimento se opõe ao modelo biomédico, no qual a saúde é

encarada como ausência de doença. O modelo biomédico tornou-se hegemônico a

partir do século XIX, com os grandes progressos realizados no estudo da biologia,

como o surgimento da microbiologia e a compreensão dos processos fisiológicos

(SCLIAR, 2007). Nessa concepção, a doença e seu lócus, o corpo humano, são os

focos principais da investigação e do interesse dos profissionais, deixando-se de

considerar outros elementos relevantes que podem interferir no processo saúde-

doença (PRATTA, SANTOS, 2009).

Carvalho e Buss (2012) apontam que a frustação com esse modelo fez com

que surgissem, em várias partes do mundo, pensamento crítico ao modelo biomédico,

buscando revalorizar os determinantes sociais e culturais do processo saúde-doença.

Isso se difere das abordagens em que a prioridade estava em combater a doença

quando já instalada.

Tal pensamento crítico, segundo esses autores, diversificado em distintas

referências conceituais, teve sua expressão mais organizada no movimento da

promoção da saúde, que se consolidou em 1986, a partir da 1ª Conferência

Internacional de Promoção da Saúde, realizada em Ottawa, no Canadá6.

É possível perceber que o conceito da Determinação Social da Saúde

influenciou o resultado da Conferência e serviu como base teórica para a Carta de

Ottawa. Na Carta de Ottawa, a Promoção da Saúde tem como foco de ação os

determinantes gerais sobre a saúde.

Saúde é assim entendida como produto de um amplo espectro de fatores relacionados à qualidade de vida, como padrões adequados de alimentação e nutrição, habitação e saneamento, trabalho, educação, ambiente físico limpo, ambiente social de apoio a famílias e indivíduos, estilo de vida responsável e um espectro adequado de cuidados de saúde (CARVALHO; BUSS, 2012, p. 131).

Buss e Pellegrini Filho (2007, p. 76) apontam que existem diversas definições

para o conceito de Determinantes Sociais de Saúde (DSS), mas, entre eles, já é

6 Essa Conferência teve como resultado a Carta de Ottawa sobre Promoção a Saúde (CARVALHO, BUSS, 2012).

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bastante generalizado que as “condições de vida e trabalho dos indivíduos e de grupos

da população estão relacionadas com sua situação de saúde”.

Engels, em 1845, já evidenciava essa relação em sua clássica obra A situação

da classe trabalhadora na Inglaterra. Nesse estudo, o autor relata que as

transformações ocorridas na Inglaterra, decorrentes do processo de industrialização,

produziram impacto diferente, de acordo com a classe social e a condição de vida,

resultando na forma de adoecer e morrer da população. Tendo por base relatórios

oficiais da época, traz como exemplo que: “Em Manchester, [...] mais de 57% dos

filhos de operários morrem antes de completar 5 anos, ao passo que essa taxa é de

20% para os filhos das classes mais altas e, nas zonas rurais, a média é de 32%”

(ENGELS, 2010, p. 147).

Para Fleury-Teixeira (2009), a determinação social da saúde encontra fortes

evidências, quer seja na análise histórica, quer seja em pesquisas epidemiológicas

contemporâneas. O autor aponta que alguns fatores, como a alteração das condições

sociais da população, por si só, podem controlar ou mesmo erradicar problemas de

saúde, como a tuberculose, e vai além, ao relacionar que a qualidade e o padrão das

relações sociais são fatores que possuem inquestionável determinação sobre a

saúde.

Almeida-Filho (2010), ao analisar estudos teóricos e doutrinários sobre o

tema, destaca que, nas últimas décadas, tanto na literatura nacional como

internacional, observa-se um incremento no estudo das relações entre a maneira

como se organiza e se desenvolve uma determinada sociedade e a situação de saúde.

Ao avaliar os eixos teóricos desses estudos, o autor observou a existência

hegemônica de referenciais vinculados ao materialismo histórico, chamando a

atenção para aquelas que “tratam das dimensões políticas dos processos de produção

(condições de trabalho) e reprodução (estrutura de classes) da sociedade” (ALMEIDA-

FILHO, 2010, p. 13). O autor ressalta que o ponto central das pesquisas empíricas e

teóricas se aproxima de temas clássicos da pesquisa social em saúde, tais como

estresse, pobreza e miséria, exclusão e marginalidade, incorporados à pauta de

investigação como efeito de desigualdades sociais.

A presente pesquisa, em consonância com o exposto acima e concordando

com Fleury-Teixeira e Bronzo (2010), considera que a determinação social da saúde

está diretamente ligada às relações econômicas e macrossociais, as quais são

definidas no plano mundial, fazendo-se presentes na vida individual, por meio de

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mediações, além de estabelecer as condições de existência próprias, comuns dos

diversos grupos sociais. Esses autores, baseando-se na obra de Marx, afirmam que:

“As condições materiais de produção e as características sociais gerais de uma

sociedade são, efetivamente, a base para o padrão sanitário de um povo, assim como

a posição de cada indivíduo na sociedade é uma base da própria saúde” (FLEURY-

TEIXEIRA, BRONZO, 2010, p. 38).

Dentre os modelos explicativos da Determinação Social da Saúde, optou-se,

face ao exposto, pelo proposto por Dahlgren e Whitehead, em 1991. Esse modelo

busca demonstrar a forma de atuação dos DSS sobre as iniquidades em saúde nos

grupos sociais, distribuindo em camadas, conforme níveis de abrangência, como

observado na figura 1, a seguir (BRASIL, 2008):

Figura 1 - Modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e Whitehead (1991). Fonte: Brasil (2008, p.14).

O modelo de DSS de Dahlgren e Whitehead foi adotado pela Comissão

Nacional sobre Determinantes Sociais de Saúde (CNDSS) (BRASIL, 2008). A referida

comissão apresentou seu relatório oficial, em 2008, contendo recomendações que

indicam a necessidade da construção de espaços institucionais para o enfrentamento

dos DSS. Dentre as recomendações da CNDSS, destaca-se aqui a ênfase dada à

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necessidade de ações intersetoriais, relacionadas à promoção da saúde na infância e

adolescência (CARVALHO; BUSS, 2012).

Portanto, pode-se observar que os estudos que fundamentam a teoria da

determinação social da saúde trazem a compreensão de que a saúde é resultado de

um amplo espectro de fatores; assim, de forma crítica, propõem que sejam adotadas

formas de intervenções que ultrapassem as práticas médico-assistenciais, como as

fundamentadas nos princípios da Promoção à Saúde. Lobato e Giovanella (2012)

defendem que as ações de promoção à saúde fazem parte dos serviços de saúde,

mas não se restringem a elas e, no geral, ultrapassam suas fronteiras. No mesmo

sentido, a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO),

por meio do Grupo de Trabalho sobre Promoção da Saúde e Desenvolvimento Social,

definiu como parte de sua agenda três planos de ação no enfrentamento da

determinação do processo saúde doença, os quais são: plano de atenção à saúde,

com esforço na mudança da lógica assistencial; plano de gestão das políticas

públicas, envolvendo o esforço de intersetorialidade; e plano de políticas de

desenvolvimento, com políticas voltadas para a distribuição equânime dos recursos

sociais produzidos (CARVALHO; BUSS, 2012). Reconhece, dessa forma, a

necessidade do desenvolvimento de ações intersetoriais como parte do esforço para

a implementação de políticas públicas voltadas à Promoção da Saúde.

É possível observar, portanto, que o conceito da intersetorialidade possui

relação com a concepção de DSS e a compreensão sobre Promoção da Saúde.

Verifica-se essa relação quanto às principais políticas direcionadas a crianças e

adolescentes no Brasil. Exemplo disso é o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA),

que, filiado à Doutrina da Proteção Integral das crianças e adolescentes, preconiza a

necessidade de ações intersetoriais como forma de se garantir os direitos

fundamentais dessa parcela da população.

3.2 DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL

A Doutrina da Proteção Integral (DPI) é considerada um significativo avanço

em termos de proteção aos direitos fundamentais de crianças e adolescentes

(BRASIL, 2014a), servindo como base para as principais legislações que

regulamentam a política pública, voltada a essa população. Produto de evolução

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histórica, no Brasil, a DPI foi precedida pela Doutrina da Situação Irregular que,

anteriormente, orientava as legislações referentes a essa população.

Somente há pouco tempo, crianças e adolescentes foram consideradas

sujeitos de direito. Bidarra e Oliveira (2007) destacam que a criança foi adquirindo o

direito à proteção e à autodeterminação, no bojo do movimento pela afirmação dos

direitos humanos. O primeiro passo foi conquistar a condição de “pessoa” e, a partir

disso, importantes mudanças na percepção sobre as crianças e a fase da infância

ocorreram. As autoras relatam como marco inicial, na luta pelo reconhecimento de

direitos desse grupo populacional, o caso ocorrido nos Estados Unidos, em 1874, com

a criança Mary Ellen.

Mary Ellen, filha de imigrantes irlandeses, ficou órfã de pai e após três anos, sua mãe a entregou ao Departamento de Caridade de Nova York por não ter condições financeiras de sustentá-la. A criança foi entregue a um casal que falsamente se dizia parente da mesma e por seis anos foi objeto de maus tratos: ela era proibida de sair de casa, não tinha roupas para protegê-la do frio do inverno, nem cama para dormir. Mary Ellen tinha ferimentos e cicatrizes por todo o corpo, era forçada a trabalhos domésticos e apesar de ter nove anos na época da denúncia, tinha peso e altura de uma criança de cinco anos devido à desnutrição. Os vizinhos e a proprietária da casa onde a criança vivia com o casal tentaram intervir no caso sem sucesso. Desesperados, procuraram uma assistente social da Igreja Metodista que começou uma longa batalha para salvar a criança. A polícia não podia fazer nada sem provas concretas de agressão; também não havia precedentes que autorizassem uma intervenção jurídico-estatal na vida privada da criança e da família que por ela era responsável. A única maneira encontrada foi processar os responsáveis pela criança com base na Lei de Proteção aos Animais, alegando que as crianças são membros do reino animal e deveriam ser protegidas pelo Estado contra os maus tratos de seus “proprietários” (BIDARRA; OLIVEIRA, 2007, p. 165-166).

No Brasil, somente na década de 1920, surge a primeira legislação sobre o

tema da assistência e proteção às crianças e adolescentes. O Código de Menores

Mello Mattos7, de 1929, a primeira legislação do tipo no Brasil e América Latina,

reconhecia a situação de pobreza como geradora de “crianças abandonadas” e

“jovens delinquentes”. O Código Mello Mattos perdurou até 1979, quando foi

substituído pelo Código de Menores8 (BIDARRA; OLIVEIRA, 2007; BRASIL, 2014a).

Essas, que foram as primeiras legislações que tratam de crianças e adolescentes no

7 Decreto nº 17.943-A, de 12 de outubro de 1927. 8 Lei nº 6.697, de 10 de outubro de 1979.

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Brasil, eram baseadas na chamada Doutrina da Situação Irregular. Essa Doutrina se

utilizava do termo jurídico “menor” e era destinada para crianças e adolescentes em

"perigo material ou moral” (CIARALLO; ALMEIDA, 2009).

Bidarra e Oliveira (2007) destacam que o termo “menor” não era utilizado para

classificar uma determinada faixa etária da população. Para a Doutrina da Situação

Irregular, somente eram considerados menores os pertencentes dessa faixa etária

que se encontrassem “em situação irregular”.

Para Baranoski (2016, p. 41), ao analisar o artigo 2º do Código de Menores,

de 1979, o termo “situação irregular” compreendia aquelas situações nas quais

ocorriam privações a condições de subsistência, saúde e educação, devido à omissão

dos pais ou responsáveis e, ainda, “situação de castigos, maus-tratos, perigo moral,

falta de assistência legal, desvio de conduta por inadaptação familiar ou comunitária

e autoria de infração penal”.

Do ponto de vista da assistência de crianças e adolescentes, essa Doutrina

teve como resultado o surgimento de instituições filantrópicas, organizadas sob a

lógica do isolamento dos “desviantes”. Hoje, se reconhece que a institucionalização

foi utilizada como forma de privação de liberdades, “muitas vezes em detrimento do

atendimento das necessidades de crianças e adolescentes”, segregando os “pobres,

autores de atos infracionais, com deficiências e com transtornos mentais, entre outros

tidos como incapazes” (BRASIL, 2014a, p.9), evidenciando um forte viés

discriminatório.

Simultaneamente, no plano internacional, importantes instituições já vinham

avançando no reconhecimento da necessidade de proteção da infância e na garantia

de direitos fundamentais. Dentre esses, pode-se citar: a “Carta da Liga sobre

Crianças”, de 1924, aprovada pela Assembleia Geral da Liga das Nações; a

“Declaração Universal dos Direitos Humanos”, de 1948, aprovada pela Assembleia

Geral das Nações Unidas; a “Declaração dos Direitos da Criança” (Resolução n.

1386), em 1959, aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU); e a

Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, de 1989, também

aprovada pela ONU (BIDARRA; OLIVEIRA, 2007).

A Convenção sobre o Direito das Crianças consolidou a visão de criança e do

adolescente como sujeitos de direitos, pois adotou a “concepção da proteção integral

à população infanto-juvenil, e reconhece a esse segmento os direitos de todos os

cidadãos” (FARINELLE; PIERINI, 2016, p.64). Esse entendimento se consolida no

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ordenamento jurídico brasileiro, em 1988, com a inclusão, no artigo 227 da

Constituição Federal da DPI. Consta na Constituição que:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988, p. 144).

Para Baranoski (2016), a adoção da DPI pela Constituição Federal de 1988

trouxe o entendimento de que crianças e adolescentes são sujeitos de direito,

diferentemente da Doutrina da Situação Irregular, na qual a juventude era vista apenas

como objeto de proteção social, controle ou disciplinamento.

Em 1990, tendo como base os ideais contidos na Constituição Federal, artigo

227, e nos compromissos firmados pelo Brasil no plano internacional, principalmente

na já citada Convenção sobre os Direitos da Criança, em 1989, foi aprovado, no

Congresso Nacional, o ECA9 (CIARALLO, ALMEIDA, 2009).

É possível afirmar que, com o artigo 227 da Constituição Federal e o ECA,

houve a superação, no plano jurídico, da Doutrina da Situação Irregular, que norteava

o entendimento e ações do Código de Menores. A DPI assenta-se em três princípios

básicos: Crianças e adolescentes como sujeitos de direitos; destinatários de absoluta

prioridade; e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento (FARNELLI;

PIERINI, 2016; VOLPI, 2005 apud JIMENEZ; FRASSETO, 2015).

Nessa perspectiva, o ECA traz a proibição ao acesso de crianças e

adolescentes ao álcool e outras substâncias que possam causar dependência física

ou psíquica10 (BRASIL, 1990). No que se refere ao direito à saúde, o ECA, no artigo

11º, estabelece que: “É assegurado acesso integral às linhas de cuidado voltadas à

saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde,

observado o princípio da equidade no acesso a ações e serviços para promoção,

proteção e recuperação da saúde” (BRASIL, 1990, p. 3).

Em relação ao atendimento que deve ser prestado como forma de garantir a

proteção integral a essa população, o ECA preconiza que as ações intersetoriais

9 Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990 e atualizações 10 Nova redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015.

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devem ser adotadas. É possível verificar isso no artigo 86º: “A política de atendimento

dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado

de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos estados, do Distrito

Federal e dos municípios” (BRASIL, 1990, p. 22).

Observa-se, portanto, o reconhecimento de que ações de intersetorialidade são

necessárias para garantir os direitos fundamentais, entre eles, da saúde de crianças

e adolescentes usuários de substâncias psicoativas. O conceito de intersetorialidade

passa a ser discutido a seguir.

3.3 INTERSETORIALIDADE

Importantes instituições e organizações formuladoras de políticas ligadas ao

setor saúde também defendem a necessidade da articulação intersetorial como forma

de reverter a fragmentação existente, no que diz respeito às políticas de saúde de

forma geral e, mais especificamente, de saúde mental e de drogas.

Como exemplos, pode-se citar, conforme aponta Akerman et al. (2014): a

Declaração de Alma Ata11, que, em 1978, já evidenciava a importância da

intersetorialidade ao afirmar que, para a obtenção do mais alto nível possível de

saúde, é necessária a “ação de muitos outros setores sociais e econômicos, além do

setor saúde”; a questão da intersetorialidade é tratada, também, segundo os autores,

na 8º Conferência Nacional de Saúde, em 1986, na Carta de Ottawa, em 1986, na

Declaração Política do Rio sobre DSS, em 2011, entre outros.

O documento “Renovação da Atenção Primária em Saúde das Américas”,

publicado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), define a

intersetorialidade na saúde como a ação conjunta desse setor com outros setores e

atores - como a educação, assistência social, trabalho/emprego, entre outros - para

garantir que as políticas públicas e programas maximizem seu potencial de

contribuição com a saúde e o desenvolvimento humano (OPAS/OMS, 2007).

Esse entendimento também está presente em normas legais no Brasil. A

Portaria Ministerial nº 4279, de 30 de dezembro de 2010, estabelece diretrizes para a

organização da rede de atenção à saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde

11DECLARAÇÃO DE ALMA-ATA - CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE CUIDADOS

PRIMÁRIOS DE SAÚDE, Alma-Ata, URSS, 6-12 de setembro de 197 8, disponível em: http://cmdss2011.org/site/wp-content/uploads/2011/07/Declara%C3%A7%C3%A3o-Alma-Ata.pdf

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(SUS), trata a intersetorialidade como um dos atributos das Redes de Atenção à

Saúde (RAS) (BRASIL, 2010) e, ainda, a portaria MS/GM Nº 3.088/2014 indica a

intersetorialidade como uma das diretrizes da RAPS, sendo uma forma de garantir a

integralidade do cuidado (BRASIL, 2011).

No mesmo sentido, outros setores e políticas também passaram a defender a

articulação intersetorial, com vistas a superar a fragmentação setorial; como exemplo

destaca-se o Plano Nacional de Educação (PNE), o Sistema Único de Assistência

Social (SUAS), o ECA, entre outros (BRASIL, 2014b; PEREIRA; TEIXEIRA, 2013).

Monnerat e Souza (2014) observaram que, a partir da década de noventa, no

Brasil, muitos programas federais traziam consigo a articulação das ações setoriais

de políticas públicas como pressuposto. Entretanto, enfatizam que essas experiências

intersetoriais, induzidas pelo nível federal da gestão das políticas públicas,

demonstram-se frágeis e descontínuas, pois cada ação é encarada como ação de um

determinado setor e/ou ministério e não como uma meta a ser atingida por todos.

Acrescentam, ainda, que, pelo peso da tradição setorizada, característica das

iniciativas estatais na área social, o resultado, muitas vezes, traduz-se em conflitos na

divisão de recursos públicos, agravado por disputas político-partidárias.

Para compreender melhor a temática, torna-se necessário conceituar alguns

termos, sendo eles: intersetorialidade, rede Intersetorial, rede setorial e práticas

fragmentadas.

Pereira (2014, p.23) problematiza que o termo intersetorialidade é dotado de

vários significados, sendo um conceito polissêmico. Aponta que o termo tem sido

considerado como “uma nova lógica de gestão, que transcende um único setor da

política social, e/ou uma estratégica política de articulação entre setores sociais

diversos e especializados”. Também, pode ser entendido, segundo a autora, como um

“instrumento de otimização de saberes; competências e relações sinérgicas, em prol

de um objetivo comum” e ainda como uma “prática social compartilhada, que requer

pesquisa, planejamento e avaliação para a realização de ações conjuntas”. De forma

concisa, Lavoratti (2013) define o tema como a articulação entre as políticas públicas,

visando potencializar as ações desenvolvidas.

A partir desses conceitos, é possível entender a intersetorialidade ou as ações

intersetoriais como ações que visam à superação de práticas fragmentadas. A essa

compreensão de intersetorialidade, agrega-se a concepção de Marx (2017) sobre o

processo de trabalho, considerado uma atividade humana orientada a um fim. Embora

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Marx trate o processo de trabalho na sua forma simples e abstrata, os conceitos

convergem à medida em que o trabalhador tem o domínio sobre o seu trabalho. O

trabalho Intersetorial apresenta peculiaridades do trabalho intelectual desenvolvido

por trabalhadores técnicos. Além disso, é um trabalho coletivo, uma vez que envolve

não só distintas profissões de um mesmo setor e/ou política pública, mas também

profissões de diferentes setores e/ou políticas públicas. Em muitos sentidos,

assemelha-se com o trabalho em saúde, pois, conforme destacam Malta e Merhy

(2003, p. 62), esse é um processo que “envolve a atuação de um conjunto de

categorias e indivíduos que compartilham recursos técnicos e cognitivos, portanto a

produção depende do trabalho coletivo” (MALTA; MERHY, 2003, p. 62).

Nesse processo de trabalho coletivo, os instrumentos utilizados são a gestão

da rede, seus instrumentos de comunicação, protocolos, os fluxos de atendimentos,

formulários, entre outros.

Nessa perspectiva e tendo como objetivo a superação de práticas

fragmentadas, destacam-se, em alguns municípios do Brasil, as chamadas rede

intersetoriais. Essas redes podem ser compreendidas como o espaço em que

participam as principais políticas direcionadas ao enfrentamento de demandas

complexas, como é o do uso de SPA por crianças e adolescentes. Ou seja, as redes

intersetoriais são os espaços nos quais ocorrem e se operacionalizam as ações

intersetoriais; é onde o trabalho Intersetorial se realiza.

O termo rede, nesse caso, segundo Lavoratti (2013), pode ser considerado

uma estratégia operacional que supera a lógica de fatiamento das ações do governo

por setores/áreas e que potencializa o resultado dos programas, serviços e ações

governamentais. Para essa autora, redes intersetoriais sugerem a ideia de articulação,

conexão, vínculos, ações complementares, relações horizontais entre parceiros,

interdependência de serviços/ações/programas, para garantir a atenção integral aos

segmentos vulneráveis.

As redes intersetoriais buscam integrar e articular as redes setoriais. As redes

setoriais, conforme apontam Quinderé, Jorge e Franco (2014), passaram a estar

presentes nas formulações das políticas de saúde, com a instituição do SUS, nos anos

1980/1990. A Portaria Ministerial nº 4.279/2010 define as RAS – rede setorial de saúde

como o arranjo organizativo de “ações e serviços de saúde, de diferentes densidades

tecnológicas que, integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de

gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado” (BRASIL, 2010, p. 4). Além das

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redes de saúde, as redes setoriais compreendem, ainda, a rede de ensino, rede de

assistência social, entre outras.

Dentre as redes de saúde existentes, este trabalho enfoca a RAPS. A Portaria

do Ministério da Saúde Nº 3.088/2011, em seu Artigo 2º, estabelece como diretrizes

para o funcionamento da RAPS, entre outros, a:

[...] promoção da equidade, reconhecendo os determinantes sociais da saúde; [...] garantia do acesso e da qualidade dos serviços, ofertando cuidado integral e assistência multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar; […] e organização dos serviços em rede de atenção à saúde regionalizada, com estabelecimento de ações intersetoriais para garantir a integralidade do cuidado (BRASIL, 2011, p. 1-2).

Observa-se, com isso, que ações intersetoriais são preconizadas como

diretriz para o funcionamento de uma rede setorial. A intersetorialidade, por meio de

redes intersetoriais, se apresenta como alternativa, no que se refere às formas de

organização ou reorganização do processo de trabalho.

Entretanto, ainda hoje, observa-se que, mesmo com o reconhecimento de que

a intersetorialidade é uma estratégia para superar as práticas fragmentadas, os

avanços nessa área têm ocorrido lentamente. Autores procuram explicar esse

fenômeno sob diversos aspectos, apontando formas de superar a problemática.

Costa et al. (2015) estudaram redes de saúde e apontam que práticas

fragmentadas dificultam a aplicação da política de saúde para usuários de substâncias

psicoativas. Nesse caso, os autores caracterizam práticas fragmentadas pela

ausência de diálogo/interação entre atores e setores que constituem a rede de saúde,

polarizações entre serviços ambulatoriais ou hospitalares e falta de comunicação

entre os diferentes pontos de atenção.

Autores destacam o papel dos gestores nesse processo. Para Bellini et al.

(2014), a ruptura com formas fragmentadas e setorializadas passa pelo seu

convencimento, pois, segundo o autor, esses fatores têm o poder de promover, criar

e editar ações concretas na direção da intersetorialidade.

Para Moysés, Moysés e Krempel (2004), a fragmentação ocorre pela ausência

do que ele chama de cultura intersetorial:

A dificuldade de romper as relações tradicionais de trabalho, em que o segmento que detém o poder acaba prevalecendo nos processos de decisão, aliada à dificuldade de profissionais de saúde em olhar para

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além do objeto específico de sua atuação, muitas vezes em situações contaminadas pelo corporativismo profissional, caracterizam aspectos

da cultura institucional geral do setor público (MOYSÉ; MOYSÉ; KREMPEL 2004, p. 631).

Pereira (2014, p.18) problematiza que o desafio para o desenvolvimento de

práticas intersetoriais está em enfrentar a “lógica dominante da ciência moderna que

continua a valorizar a segmentação dos campos de conhecimento e ação e,

consequentemente, a fortalecer a esquizofrenia intelectual e operativa”.

Partindo do exposto até então, a intersetorialidade é entendida como um

conjunto de ações humanas, orientadas para a superação de práticas fragmentadas.

Portanto, acredita-se que a superação das práticas fragmentadas é fundamental para

a garantia do direito à proteção integral às crianças e adolescentes usuárias de SPA,

conforme consagrado na legislação.

Tendo por base os conceitos expostos até o momento, sobre a compreensão

do processo saúde-doença e da promoção da saúde, em consonância com a DPI,

parte-se do princípio de que a organização de redes intersetoriais é uma importante

estratégia de enfrentamento das questões complexas, percebidas no dia a dia dos

serviços públicos, especificamente, no trabalho com crianças e adolescentes usuários

de SPA. Essa estratégia visa potencializar os impactos das políticas públicas e à

garantia de direitos, bem como à superação do trabalho setorizado e paralelo. Nessa

perspectiva, cada política setorial (habitação, cultura, saúde, assistência, economia,

entre outras) se insere em uma malha de redes em diferentes modalidades,

permitindo, dessa forma, efetivamente, intervir nos DSS que influenciam as crianças

e adolescentes no abuso de SPA.

Com essa exposição, procurou-se explicitar o referencial teórico que será

utilizado na construção do entendimento do fenômeno em estudo. A seguir, será

exposto o caminho metodológico para obtenção e análise dos dados acerca das redes

existentes em Cascavel – PR, para o atendimento de crianças e adolescentes

usuários de SPA.

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4. METODOLOGIA

4.1 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

O processo de construção da experiência intersetorial em Cascavel, acredita-

se, é resultado de um trabalho humano coletivo, complexo, social, provisório e

histórico, com o objetivo de transformar essa dada realidade.

Com essa compreensão, para seu estudo, optou-se, dentre as correntes de

pensamento, por utilizar o arcabouço teórico do materialismo histórico12, o qual parte

dos seguintes pressupostos: 1. O conhecimento é uma construção que se faz a partir

de outros conhecimentos sobre os quais se exercita a apreensão, a crítica e a dúvida;

2. As ideias sobre os fatos são sempre mais imprecisas, mais parciais, mais

imperfeitas do que ele; 3. Nada pode ser intelectualmente um problema, se não tiver

sido, em primeira instância, um problema na vida prática; e, 4. O olhar sobre o

fenômeno está condicionado historicamente pela posição do investigador e pelas

correntes de pensamento em conflito na sociedade (MINAYO, 2010).

No materialismo, a abordagem da realidade efetiva-se pela dialética. Para

Minayo (2010), a dialética reconhece a realidade como processo histórico, provisório

e em transformação. Kosik (1985, p.43) afirma que a “dialética marxista concebe o

real como um todo estruturado que se desenvolve e se cria”. Para Vázquez (2011),

com o materialismo, os fenômenos são analisados buscando se aproximar de sua

totalidade; para isso, procura conhecer a relação entre as partes e o todo (VÁZQUEZ,

2011).

Minayo (2010) destaca que, quando se abordam as questões de

saúde/doença do ponto de vista marxista, esses fenômenos são colocados em relação

com a totalidade social, com cada uma de suas instâncias dentro da especificidade

histórica de sua manifestação.

Tendo por base o arcabouço teórico do marxismo e a natureza do fenômeno

12 Os termos materialismo histórico, marxismo, dialética marxista, não obstante suas diferenças históricas conceituais, as quais se compreende e respeita, para fins didáticos, serão utilizados neste texto como sinônimos.

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35

estudado, optou-se por realizar uma pesquisa do tipo qualitativo, descritivo e

exploratório.

4.2 TIPO DE PESQUISA

Para Minayo (2010), a utilização de metodologias qualitativas é importante na

construção do conhecimento sobre saúde, visto que os fenômenos referentes a essa

área são complexos e dinâmicos, sendo indispensável esse reconhecimento para

tratá-lo cientificamente. Marconi e Lakatos (2011, p. 269) apontam que a metodologia

qualitativa “preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos,

descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais

detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento,

etc.”

Como a REDE está em construção e necessita de pesquisas científicas que

contribuam para o seu desenvolvimento, optou-se por desenvolver uma pesquisa

descritiva e exploratória, visto que essas metodologias de pesquisa favorecem o

entendimento de objetos pouco estudados, conforme Gil (2007) e Köche (2009).

A pesquisa descritiva permite constatar e avaliar o fenômeno na medida em

que este “se manifesta espontaneamente, em fatos, situações e nas condições que já

existem” (KÖCHE, 2009, p.124). Utiliza-se de levantamento bibliográfico, documental

e entrevistas, na busca por maior familiaridade com a temática (GIL 2007).

Já a pesquisa exploratória visa à descrição das características do fenômeno

por meio da definição do marco teórico conceitual, da utilização de instrumento para

a coleta de dados, bem como observação sistemática e exploração do campo

(MINAYO, 2010; GIL, 2007).

De forma operacional, foram utilizadas: a pesquisa bibliográfica, com intuito de

obter aproximação com a temática, por meio da análise de dados e categorias já

trabalhados por outros pesquisadores (SEVERINO, 2007); pesquisa documental, para

a análise de atas de reuniões, livros de registros, documentos oficiais e outros

produzidos pelos diversos serviços integrantes da rede estudada, cujo roteiro de

obtenção dos dados encontra-se no Apêndice A, pois documentos são considerados

fontes ricas e estáveis de dados (GIL, 2007); e a aplicação de entrevistas

semiestruturadas, com roteiro apresentado no Apêndice B, efetivada com

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36

trabalhadores dos serviços que compõem as redes.

4.3 CAMPO DE PESQUISA

Essa pesquisa estudou a RAPS e sua articulação com outros serviços que

atendem crianças e adolescentes usuários de SPA no município de Cascavel. Todos

esses serviços se organizam na REDE.

Dos serviços que compõem a RAPS, foram aplicadas entrevistas para

profissionais que pertencem aos Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Droga

(CAPS AD) - e à Unidade de desintoxicação/HUOP, ambos serviços de saúde

especializados no atendimento a usuários de álcool e outras drogas, conforme a

Portaria MS/GM 30.88/11 (BRASIL, 2011).

O CAPS AD de Cascavel é um serviço municipal, responsável pelo

atendimento multiprofissional de crianças e adolescentes que fazem uso prejudicial

de SPA. Realiza o acompanhamento e tratamento clínico ambulatorial, buscando

reinserir o indivíduo à sociedade, além de incentivar sua autonomia (BRASIL, 2011).

Em estudo que buscou traçar o perfil dos atendimentos nesse serviço, constatou-se

que, no período estudado, a taxa de abandono ao tratamento foi superior a 50%,

havendo prevalência de atendimento de adolescentes do sexo masculino na faixa

etária dos 15 anos, escolaridade do 6º ao 9º ano e índice de reprovação de 48,85%.

A renda familiar foi de um salário mínimo. Dos casos estudados, 41,03% foram

encaminhados pelo Conselho Tutelar, sendo que 58,46% dos adolescentes já haviam

cometido algum tipo de ato infracional. A droga mais consumida foi maconha

(COSTACURTA; TOSO; FRANK; 2015).

A ala de desintoxicação do HUOP foi implementada por força de ação judicial,

em 2007. Atende crianças e adolescentes usuários de SPA. Referência nesse tipo de

atendimento para as regiões oeste e sudoeste do Paraná, é considerado o

componente hospitalar da RAPS. O HUOP é um hospital estadual geral de ensino da

região oeste do Paraná (BRASIL, 2011; SILVA, 2018). Pesquisa que caracterizou os

atendimentos na unidade, encontrou que a maioria dos pacientes eram do sexo

masculino (76,5%), concentrando-se na faixa etária dos 15 anos. Destes, 89,9%

possuíam o ensino fundamental incompleto e mais de 60% estavam fora da escola. A

renda média dos familiares era de um a dois salários mínimos. A SPA mais consumida

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foi a maconha (59,2%). Ainda, 92% dos casos já estiveram envolvidos com atividades

ilícitas, sendo que, desses, 18,2% cumpriram medidas socioeducativas, 17,5%

estavam em cumprimento de medida de Prestação de Serviço à Comunidade (PSC),

11,0% em Liberdade Assistida (LA), 2,6% estava em cumprimento de medidas com

privação da liberdade (SILVA, 2018).

Os demais entrevistados pertencem a outros serviços que também atendem

a essa população, mas não de forma especializada, sendo eles o Programa de

Prevenção e Combate à Evasão Escolar, o Serviço Auxiliar da Infância e Juventude

(SAI), o Conselho Tutelar (CT) e o CREAS II.

O Programa de Prevensão e Combate à Evasão Escolar foi implantado em

2011, por meio de acordo entre o Núcleo Regional de Educação (NRE) e a Prefeitura

Municipal de Cascavel, Ministério Público do Paraná e Vara da Infância e Juventude.

Tem como objetivo a reinserção de crianças e adolescentes evadidos das redes

municipal e estadual de ensino do município de Cascavel-PR. Dados revelam que, em

2011, o município apresentou 1.638 casos de evasão escolar em um universo de

61.428 matrículas, número que representava 2,7% de abandono. No ano de 2014,

houve 4.001 atendimentos pela equipe do Programa, dos quais 1.098 foram

demandas das escolas municipais, correspondendo a 4,46% e 2.903 dos colégios

estaduais, correspondendo a 17,74% (SILVEIRA, 2016).

O Serviço Auxiliar da Infância e Juventude atende crianças e adolescentes

em situação de risco, bem como suas famílias. Fornece suporte técnico-psicológico e

de assistência social ao Juizado da Infância e Juventude, oferecendo subsídios por

meio de relatórios, laudos, audiências, além de desenvolver trabalhos de

aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção (CASCAVEL, 2018).

O Conselho Tutelar é um órgão responsável por fiscalizar o cumprimento dos

direitos previstos pelo ECA (BRASIL, 1990). Em Cascavel, existem três CT – Sul,

Leste, Oeste - com 15 conselheiros tutelares eleitos (CASCAVEL, 2019b). Dados do

SIPIA13 CT Web revelam que, de 2010 a 2019, em Cascavel, houve 15.952 violações

de direitos atendidos pelo CT, sendo que 52% eram do sexo masculino e 48% do sexo

feminino. Desses, 8% diziam respeito à violação do direito à saúde, 49% à convivência

familiar e comunitária, 31,6% educação, cultura, esporte e lazer, 0,7%

13 O SIPIA é um sistema nacional de registro e tratamento de informações sobre a garantia e defesa dos direitos fundamentais preconizados no ECA. No SIPIA-CT Web, a base do sistema é o Conselho Tutelar (SIPIA, 2019).

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profissionalização e prática no trabalho e 10,9% relacionado à violação do direito à

liberdade, respeito e dignidade (SIPIA, 2019).

O CREAS II é um serviço municipal ligado à Secretaria de Assistência Social.

Oferece atendimento especializado ao adolescente autor de ato infracional pela

execução de Medidas Socioeducativas14 (MSE) de LA e PSC (POSSAMAI; FABRIS,

2011). Dados divulgados pela Prefeitura de Cascavel-PR demonstram que os

adolescentes com idades de 12 a 15 anos, em cumprimento de PSC e LA,

correspondiam a 30% do total no ano de 2015. Dos 114 adolescentes nessa faixa

etária, 78% eram do sexo masculino. Os três maiores motivos que levaram à execução

de MSE, no ano de 2015, à população de 12 a 15 anos, foram tráfico (20%), furto

(20%) e roubo (12%) (CASCAVEL, 2016).

4.4 POPULAÇÃO E AMOSTRA

Para a escolha dos participantes entrevistados, foi utilizado o recurso

metodológico da amostragem intencional. Essa escolha justifica-se para este trabalho

pois, como se trata de pesquisa qualitativa, a preocupação maior está no

aprofundamento, na abrangência e na diversidade do processo de compreensão do

tema, de modo que todos os serviços foram incluídos, com pelo menos um

representante de cada setor.

A amostragem intencional busca a seleção de elementos para compor a

amostra, de forma que possam espelhar certas dimensões do contexto e sua

construção histórica (MINAYO, 2010). Para Fontanella (2008), com a amostra

intencional, o desempenho de um atributo, por indivíduos típicos, quanto a

determinado parâmetro em investigação, pode revelar funções ou características

representativas do contexto estudado.

Os trabalhadores pesquisados foram representantes de serviços das políticas

públicas diretamente relacionadas ao atendimento de crianças e adolescentes

usuários de SPA, que participam da REDE, com pelo menos seis meses de atuação.

Todos aceitaram participar da pesquisa mediante a assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice C).

14 O ECA estabelece, em seu artigo 112, as medidas socioeducativas aplicadas a crianças e adolescentes, segundo a gravidade do ato infracional cometido, sendo: advertência, obrigação de reparar danos, PSC, LA, semiliberdade e internação.

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39

As entrevistas foram realizadas com seis profissionais, todos eles com ensino

superior, sendo três assistentes sociais, uma psicóloga e dois pedagogos. Todos

trabalham diretamente com crianças e adolescentes usuários de SPA. Quatro são

funcionários públicos efetivos do executivo, dois estaduais e dois municipais, um da

justiça estadual e um não servidor público efetivo, no Conselho Tutelar, vinculado ao

Conselho Municipal dos Direitos das Crianças e Adolescentes. Estão distribuídos

conforme a área de atuação, sendo dois componentes da RAPS (um serviço

ambulatorial municipal e outro hospitalar, ambos especializados em crianças e

adolescentes usuários de SPA), um ligado à equipe técnica do judiciário (Vara da

Infância e Juventude), uma do serviço de socioeducação municipal, um do serviço de

educação estadual (Programa Evasão Escolar) e uma do sistema de garantia de

direitos municipal (Conselho Tutelar).

Foram excluídos somente os profissionais dos setores elencados que

participavam como representantes da REDE há menos de seis meses, uma vez que

o critério conhecimento da realidade é indispensável para esse tipo de pesquisa.

4.5 TÉCNICAS PARA COLETA DE DADOS

A coleta dos dados documentais ocorreu no período de junho a dezembro de

201815. Os documentos analisados foram atas, ofícios expedidos e recebidos,

publicações, listas de presença em atividades da REDE, livros de registros,

fluxograma e regimento interno. Os documentos foram identificados da seguinte

forma:

Atas: Ata A, Ata B e assim, sucessivamente, até o último documento;

Ofícios: Ofício Expedido de número um - OFE1 e assim, sucessivamente, até

o último documento. Ofício Recebido de número um - OFR 1 e assim,

sucessivamente, até o último documento;

Publicações da REDE: Manual de Orientações Básicas - MOB 2010 e Caderno

de Orientação Básica - COB 2015;

15 Cabe ressaltar que os documentos localizados estavam guardados em locais diferentes, não havendo até o momento um local único para arquivo. Como parte do compromisso assumido pelo pesquisador, ao final da apresentação da versão final deste trabalho, os documentos serão catalogados e classificados por tipo e data, unificando no que for possível esses arquivos, para devolvê-los a Rede de forma sistematizada.

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Listas de Presenças de número um - LP 1 e assim, sucessivamente, até o

último documento;

Livros de Registros: Documentos produzidos em 2016 (ofícios, listas,

apresentações e outros) referentes ao Programa de Capacitação organizada

e executada pela REDE, em duas etapas, catalogados e encadernados em

seis Livros, sendo: Volume I, 1º Etapa – LR 1; Volume II, 1º Etapa – LR 2 e

assim, sucessivamente, até o último livro, acrescido da página na qual se

encontram, quando for o caso. Para páginas sem número, será utilizada a sigla

(p.s.n);

Fluxograma de número um - Fx 1 (Anexo A);

Regimento Interno – RI;

Ficha de Referência e Contrarreferência – FIRC (Anexo B).

Em relação às entrevistas, foram realizadas de janeiro a abril de 2018. A

entrevista foi desenvolvida em ambiente de trabalho, em horário que melhor se

adequasse aos trabalhadores, combinado previamente num primeiro contato por

telefone. As entrevistas foram gravadas, transcritas na íntegra e agrupadas para

análise. Os participantes foram identificados da seguinte forma: Entrevistado um - E

1, E 2 e assim sucessivamente.

As entrevistas tiveram a finalidade, conforme Severino (2007), de apreender o

que esses atores pensam, representam, fazem e argumentam sobre a forma como se

articula e organiza essa rede intersetorial.

4.6 ORGANIZAÇÃO, APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

Para a análise dos dados, é necessário, conforme aponta Cavalcante et al.

(2014), qualificar as vivências do sujeito, bem como suas percepções sobre o objeto

e seus fenômenos. Nesse sentido, o autor aponta que o método da análise de

conteúdo pode contribuir para a pesquisa, pois visa à apreensão da realidade visível,

bem como de uma realidade invisível, manifesta nas “entrelinhas” do texto, com seus

vários significados.

Bardin (2003, p.42) define análise de conteúdo da seguinte forma:

[...] um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo

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41

das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

Minayo (2010) destaca que a Análise do Conteúdo é muito utilizada em

pesquisas qualitativas. Esse método de pesquisa procura tornar válidas e replicáveis

as inferências sobre dados de um determinado contexto, atingindo uma interpretação

mais profunda. Para essa autora, a inferência é a razão de ser da análise de conteúdo.

No mesmo sentido, Campos (2004) aponta que esse método pode ser compreendido

como o conjunto de técnicas que tem como objetivo buscar o sentido ou sentidos do

documento analisado, neste caso, entrevistas, tendo por finalidade a produção de

inferências.

Assim sendo, análise de conteúdo é um conjunto de técnicas que busca inferir

sentidos visíveis e invisíveis nas entrevistas e documentos analisados, esperando,

com isso, uma maior aproximação com o fenômeno, de forma mais profunda e

abrangente, a partir das falas dos entrevistados e do registrado em documentos

(BARDIN, 2003).

Segundo Minayo (2010), o pesquisador, ao utilizar esse método, deve partir

de uma leitura de primeiro plano das falas, buscando ultrapassar os seus sentidos

manifestos. Para isso, os procedimentos devem relacionar as estruturas semânticas

(significantes) com estruturas sociológicas (significados), articulando a superfície da

fala com os fatores que determinam suas características.

Neste trabalho, foram seguidas as seguintes etapas, que Campos (2004)

denominou de componentes básicos da análise de conteúdo: 1 – Fase de pré-

exploração do material ou de leituras flutuantes – nessa fase, é procedida a leitura

flutuante do corpus selecionado de forma a conhecer o contexto e obter impressões e

orientações. São necessárias várias leituras de todo o material coletado para que, de

forma menos estruturada, já se consiga visualizar, mesmo que primariamente, pistas

e indícios não óbvios; 2 – Seleção das unidades de análise (ou unidade de

significados) - orientado pelas questões da pesquisa que necessitam ser respondidas,

nessa fase, são selecionadas as unidades de análise, as quais podem ser palavras,

sentenças, frases, parágrafos ou um texto completo de entrevistas, documentos,

diários e livros.

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42

Em relação à seleção das unidades de análise, dentre as propostas16 por

Bardin (2003), optou-se, neste estudo, pela análise temática, pois, segundo Minayo

(2010), essa é a mais apropriada para pesquisas qualitativas em saúde. Para essa

autora, a utilização da análise temática permite ao pesquisador “descobrir os núcleos

de sentidos cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o objeto

analítico visado” (MINAYO, 2010, p. 316); e 3 – O processo de categorização e

subcategorização – as categorias são como grandes enunciados que abarcam um

número variável de temas. Categorização é a operação de classificação e

sistematização desses enunciados. Mediante sua análise, completa Campos (2004,

p. 614), é possível exprimir “significados e elaborações importantes que atendam aos

objetivos do estudo e criem novos conhecimentos, proporcionando uma visão

diferenciada sobre os temas propostos”.

Na Tabela 1, são apresentadas as categorias e unidade de análise elaboradas

para essa pesquisa, bem como a relação de documentos e entrevistas utilizados.

Tabela 1 - Categorias, unidades de análise e documentos e entrevistas

Categorias de análise

Unidades de análise Documentos e Entrevistas

O trabalho intersetorial e o conceito de intersetorialidade.

Integração, trabalho em comum, articulação, ampliar a comunicação, ruptura, integralidade, interação, conexão, troca de informação, compartilhamento, articulação de ações e diálogos.

Publicações: COB 2015; MOB 2010. Atas: A,B,C,D,E,F,G,H,I,J. Ofícios: OFE 2-8, OFE 16-30, OFE 52-54, OFE 56; OFE 64-65. Livros de Registro: LR 3, p.s.n.; LR 6, p.s.n; LR 3, p.7-10; LR 1, p. 109-114; LR 4, p.s.n; LR 1, p. 16-20; LR 1, p.s.n; LR 1, p. 14; LR 2, p. 142; LR 2, p. 23; LR 5, p. 20; LR 2, p. 27; LR 5, p. 25; LR 2, p. 34; LR 5, p. 33; LR 2, p. 149; LR 2, p. 150; LR 2, p. 250-251; LR 2, p. 23; LR 5, p. 20;LR 2, p. 34; LR 5, p. 33. Entrevistados: E 1, 2, 3, 5, 6.

16 Bardin relaciona, em sua obra, Análise de Conteúdo, além da análise temática, as análises de avaliação, de enunciação, de expressão, das relações e do discurso.

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43

O conceito de rede e o processo histórico da construção da REDE.

Articulação entre setores, início da organização da rede, ações iniciais, enfrentamento da violência contra crianças e adolescentes como tema inicial. Trabalho corresponsável, integrado, parceria entre serviços, intersetorialidade e redes, horizontalidade, trabalho não hieraquizado, políticas com a mesma responsabilidade, democracia e decisão democráticas, troca de informações, linguagem comum, articulação, integração, trabalho com objetivo, rede como órgão gestor.

Publicações: MOB 2010; COB 2015. Livros de Registros: LR 2, p. 23; LR 5, p. 20. Atas: A, B, C, F. Entrevistas: 1, 2, 3, 4, 5, 6. Regimento Interno: RI

A articulação entre a RAPS e os demais serviços que atendem crianças e adolescentes usuários de SPA.

Articulação entre os serviços da RAPS que atendem diretamente crianças e adolescentes usuárias de SPA, a articulação entre a RAPS e a Rede para esses atendimentos, horizontalidade, cooperação, integração, intersetorialidade, diálogo, relação entre parceiros, troca de informações para obtenção de condições preexistentes e ações desenvolvidas.

Publicações: MOB 2010; COB 2015. Atas: A, B. Oficios: OFR 08. Livros de registros: LR 1, p.s.n LR 4, p. 85-266; LR 2, p. 154; LR 5, p. 165. Fluxograma: Fx 1. Entrevistados: E 1, 2, 3, 4, 5, 6.

Construção de instrumentos intersetoriais.

Manual e Caderno de Orientações Básicas, fluxo de atendimento à drogadição e a Ficha Intersetorial de referência e Contrarreferência, Programa de Capacitação.

Publicações: MOB 2010; COB 2015; Fluxograma: Fx 1; Ficha Intersetorial: FIRC. Ofícios: OFE 10-28; OFE 46. Atas: A, B, D, F, H. Livros de Registros: LR 2, p. 40; LR 2, p.42; LR 2, p. 43; LR 2, p. 12-13; LR 4, p. 56; LR 4, p18; LR 5, p. 224; II, 2º, p.s.n Entrevistados: E 1, 2, 3, 4, 5, 6.

As fragilidades para a consolidação da REDE.

Rotatividade dos representantes na Rede, quantidade de profissionais insuficientes para execução das políticas, demanda reprimida e fila para acesso a alguns serviços, insuficiência de projetos e programas voltados ao público jovem e a não institucionalização da Rede.

Entrevistas: E 1, 2, 3, 4, 5, 6. Regimento: RI Lista de Presença: LP 5

Diante do exposto e tendo em vista os objetivos deste estudo, procurou-se,

dentro de uma perspectiva materialista histórica, utilizar do instrumental da pesquisa

qualitativa, para que, de forma profunda e abrangente, seja possível se aproximar da

realidade em que está inserida a experiência intersetorial desenvolvida em Cascavel.

4.7 QUESTÕES ÉTICAS

O projeto de pesquisa, assim como os instrumentos de coleta de dados, foi

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devidamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade

Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), conforme Resolução do Conselho

Nacional de Saúde/Ministério da Saúde nº 510/2016 (BRASIL, 2016a) e Resolução do

Conselho Nacional Saúde/Ministério da Saúde 466/2012 (BRASIL, 2012), por meio do

Parecer Consubstanciado do CEP nº 2.195.173 (Anexo C).

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 INTERSETORIALIDADE E TRABALHO INTERSETORIAL

A REDE apresenta-se como uma experiência intersetorial. Esse entendimento

está expresso da seguinte forma em documentos:

A Rede de Atenção e Proteção Social do Município de Cascavel tem como pressuposto a construção de uma rede intersetorial baseada nas políticas setoriais (COB 2015).

Nos registros das primeiras reuniões, ocorridas entre os anos de 2009 e 2011,

num total de 11 reuniões registradas com atas, encontraram-se inferências que

apontam para a necessidade de ampliar a integração entre os serviços, o trabalho em

comum, a articulação e como forma de ampliar a comunicação entre os serviços (Atas

A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K).

Isso porque a discussão recorrente sobre intersetorialidade alterna sobre dois

polos: unidade e superação. E “o discurso corrente sobre intersetorialidade ora se”

refere “a esta como articulação, soma, síntese, unidade, rede, ora como superação

da fragmentação desses setores” (PEREIRA, 2014, p. 26).

Além disso, a autora problematiza que intersetorialidade não pode ainda ser

considerada um conceito, pois, atualmente, não possui uma “formulação teórica

representativa de fatos reais captados pelo pensamento no processo científico de

conhecimento”, visto que se trata de um conceito polissêmico. Por esse motivo, as

representações extraídas dos documentos nos remetem a uma determinada

concepção sobre intersetorialidade.

Segundo Pereira (2014, p.26): “é em meio a essa imprecisão terminológica

que a intersetorialidade nas políticas sociais é definida, revelando ambiguidades e

incoerências”. Entretanto, aponta que o termo tem sido considerado como “uma nova

lógica de gestão, que transcende um único setor da política social, e/ou uma estratégia

política de articulação entre “setores sociais diversos e especializados” (PEREIRA,

2014, p. 23). Dessa forma, os dois entendimentos apontados pela autora não são

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antagônicos e se complementam.

Na análise dos documentos em que estão registradas as ações desenvolvidas

na construção da experiência intersetorial do município de Cascavel, percebe-se um

entendimento sobre intersetorialidade, que se aproxima do que escreve Pereira

(2014), em primeiro lugar, por apresentar o embrião de uma organização com

características de rede, sem paralelo no município, ou seja, algo novo e, também, por

adotar uma determinada estratégia política de articulação entre setores.

No registro da primeira reunião do que hoje é denominada Rede de Atenção

e Proteção Social de Cascavel (Ata A) - realizada no dia vinte e dois de outubro de

2009, nas dependências do Núcleo Regional de Educação de Cascavel (NRE) -

constam a participação de representantes de 23 instituições, entidades, programas,

representando as políticas de educação, saúde, assistência social, segurança pública,

trabalhadores, justiça, criança e adolescente, com marcada maioria de profissionais

vinculados ao NRE.

Durante o período estudado, percebeu-se um movimento para expansão do

número de serviços participantes. Dentre os 57 ofícios enviados, no período de 14 de

junho de 2011 a 30 de março de 2015, 24 tinham como assunto o convite para

reuniões, indicação de representantes pelos serviços ou atualização de

representantes. Foram encaminhados ofícios com esses convites e solicitações de

indicação de representantes para: Hospital Universitário do Oeste do Paraná,

Delegacia da Mulher, Agência do Trabalhador, Conselho Municipal de Políticas

Públicas Sobre Drogas, Conselho Municipal dos Direitos da Crianças e Adolescente,

Ministério Público Estadual, Secretaria da Mulher, Secretaria Municipal de Cultura,

Secretaria Municipal de Esporte, entre outras (OFE 2-8; OFE 16-30; OFE 52-54; OFE

56). Esse movimento de expansão da intersetorialidade também fica demonstrado em

algumas atas:

[...] fala sobre a necessidade do Conselho Tutelar fazer-se presente nessas

reuniões da Rede, bem como a Patrulha Escolar [...]. Convidar para a próxima

reunião: Conselho Tutelar, Patrulha Escolar, (não legível), Cense I e Cense II, Secretaria Municipal Antidrogas, SAMU, Programa Atitude, (ilegível). (Ata F)

A procura por sensibilizar um grande número de trabalhadores está presente

também na organização de capacitação, desenvolvida em 2016, envolvendo

trabalhadores de vários setores. A referida capacitação teve um público de cerca 1000

participantes (LR 3, p.s.n; LR 6, p.s.n).

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Na sua maioria, participaram servidores públicos que executavam ou

gerenciavam políticas públicas de saúde, educação e assistência social. Não

obstante, para além dos representantes das chamadas políticas sociais, foi

perceptível a participação também de representantes dos conselhos de garantia de

direitos, associações de portadores de deficiência, Ministério Público, Secretarias de

Cultura e Esporte, bem como de segurança pública.

Os convites para formação foram distribuídos de forma ampla. Na primeira

etapa, foram enviados convites via ofício pela Rede de Atenção e Proteção Social

para 32 instituições diferentes, de diversos setores do município e do estado e, ainda,

para conselhos de garantia de direitos, instituições filantrópicas, associações de

portadores de deficiências e autoridades municipais (LR 1, p. 7-10).

Também, foram encaminhados e-mails, com convite e disponibilidade de

vagas para os chamados serviços socioassistenciais (serviços ligados ao setor de

assistência social, como CRAS, abrigos, setores administrativos, conselhos de

garantia de direitos, associações de portadores de deficiências, entre outros), num

total de 100 vagas para 47 serviços (LR 1, p.109 – 114). Na segunda etapa, foram

encaminhados seis ofícios, para três instituições ligadas ao poder judiciário e

conselhos tutelares, assinados pelos coordenadores da REDE, com convites para a

Mesa Redonda intitulada “Defensoria Pública, Ministério Público, Vara da Infância e

Juventude e Conselho Tutelar” (LR 4, p.s.n).

Essa forma de organização intersetorial, na qual há um movimento de

ampliação não só em quantidade, mas na variedade de políticas e setores

participantes, indo bem além das políticas sociais tradicionais, como saúde, educação

e assistência social, parece diferente de outras formas intersetoriais apresentadas na

literatura, as quais são caracterizadas com uma concepção de intersetorialidade a

partir de uma perspectiva específica e viés restritivo.

Exemplificando, Monnerat e Souza (2014) citam experiências como o

Programa Bolsa Família, no qual há indução à intersetorialidade por meio de

incentivos técnico-institucionais e financeiros, por parte dos setores mais centrais dos

governos, sobretudo o federal. Nesses casos, cada programa é encarado como ação

de um determinado setor e/ou ministério (saúde, educação, assistência social e

outros) e não como algo cujas metas devem ser perseguidas conjuntamente a partir

do empenho de diferentes áreas (MONNERAT; SOUZA, p. 2014).

Segundo o documento Plano de Capacitação (LR 1, p.16-20), os setores

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participantes na organização foram 10: assistência social do município e do estado,

educação do município e do estado, saúde do município e do estado, esporte do

município, cultura do município, trabalho do estado. Como apoio, foram registrados

cinco setores: justiça e ministério público, conselho de direitos, conselhos tutelares,

universidade e rede de atendimento não-governamental. Além disso, cinco foram os

setores que coordenaram a capacitação, sendo quatro do município, a saber,

educação, assistência social, esporte e cultura; e um do estado, a educação. Foi

possível identificar ainda pela lista de facilitadores da capacitação (LR 1, p.s.n)

especificamente os seguintes: ambulatório de saúde mental, ambulatório de

especialidades crianças e adolescentes, socioeducação, associação de usuários.

O esforço, no sentido de ampliar e diversificar a participação de setores,

serviços e entidades, governamentais e não-governamentais, também é percebido no

ano de 2017. Foram encaminhados ofícios, solicitando renovação dos representantes,

bem como houve a primeira indicação para 69 diferentes entidades, dentre as quais

estavam todas as secretarias municipais, entidades e serviços estaduais (educação,

saúde, assistência social, trabalho), associações de portadores de deficiências,

entidades representantes de trabalhadores e patrões, conselhos de garantia de

direitos, entidades ligadas ao judiciário, entidades filantrópicas, serviços educacionais

de nível técnico e superior e entidades religiosas (OFE 64; OFE 65).

É possível verificar, em alguns documentos, a tentativa de sistematizar o

entendimento sobre a intersetorialidade, mesmo que esse não fique expresso

textualmente em documentos. Percebe-se que o sentido atribuído à intersetorialidade

é o de unidade.

Nos documentos17 “Apresentação da Rede de Atenção e Proteção Social do

Município de Cascavel” (LR 2, p.14), “Apresentação da Secretaria Municipal de Saúde

– SESAU” (LR 2, p. 142) e “Ética e o processo de trabalho: (re)construindo caminhos”,

com ênfase ao tema Acolhimento”, o conceito intersetorialidade é apresentado

associado à integração, trabalho em conjunto, articulação, ampliação da comunicação

entre serviços:

Rede não pressupõe um novo conceito ou um novo serviço, mas sinaliza a necessidade de uma concepção que valoriza a integração e a intersetorialidade. (LR 2, p.23; LR 5, p. 20)

17 Esses documentos são a impressão de Power Point de apresentação realizada no formato de palestra.

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Mapeando os serviços existentes, governamentais e não-governamentais que atuam direta e indiretamente no atendimento; estabelecendo uma agenda de trabalho comum. (LR 2, p. 27; LR 5, p. 25)

A Rede de Atenção e Proteção Social do Município de Cascavel tem como proposta ampliar comunicação e articulação entre os serviços para os encaminhamentos mais adequados às necessidades sociais. (LR 2, p.34; LR 2, p. 33)

XVII – Articular com outros órgãos e secretarias municipais, estaduais e federais,

entidades da iniciativa privada para desenvolvimento de programas conjuntos. (LR 2, p. 149)

XXII- Desenvolver ações integradas com outras Secretarias Municipais. (LR 2, p. 150)

[Atitudes éticas] São necessárias também para que se possam desenvolver ações coletivas – intersetoriais – REDE? QUEM COMPÕE O TRABALHO EM REDE: 1) As políticas públicas; - A rede governamental e não governamental; QUEM MATERIALIZA, EFETIVA, O TRABALHO EM REDE? PESSOAS! Se existem pessoas…. Existem relações...SENDO ASSIM...Necessárias atitudes éticas! (LR 2, p. 250-251).

É possível inferir que nessa compreensão a intersetorialidade não busca a

superação da atual organização setorial das políticas, mas sim, objetiva desenvolver

ações com vistas a articular os diferentes setores. A forma com que se organizou,

desde seu início, em rede, também contribui para esse entendimento. Entende-se que

a intersetorialidade se desenvolveu na experiência de Cascavel, com características

de rede intersetorial.

A Rede(...) tem como pressuposto a construção de uma rede intersetorial baseada nas políticas setoriais.(COB 2015) Rede não pressupõe um novo conceito ou um novo serviço, mas sinaliza a necessidade de uma concepção que valoriza a integração e a intersetorialidade. (LR 2, p.23; LR 5, p. 20).

Partindo de Pereira (2014), chega-se à conclusão de que a intersetorialidade

se apresenta aqui, portanto, como uma forma de fortalecer as ações setoriais. Esse

entendimento converge com o de Lavoratti (2013), visto que essa autora define o tema

como a articulação entre as políticas públicas, visando potencializar as ações

desenvolvidas. Por sua vez, Pereira (2014, p.) considera que intersetorialidade pode

ser entendida como um “instrumento de otimização de saberes; competências e

relações sinérgicas, em prol de um objetivo comum”.

Para uma melhor compressão sobre o tema, acredita-se ser necessário

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buscar na categoria trabalho o entendimento sobre intersetorialidade, pois, na

experiência concreta em estudo, a intersetorialidade é um trabalho humano, coletivo,

orientada a um fim, corroborando o que escreveram Marx (2017), Malta e Merhy

(2003). No processo de trabalho, portanto, a atividade do homem, com ajuda dos

meios de trabalho, opera uma transformação do objeto do trabalho, segundo uma

finalidade e concebida desde o início (MARX, 2017, p. 258). Nessa perspectiva, a

atividade orientada a um fim, ou o trabalho propriamente dito, é a busca pela

superação das práticas fragmentadas, com base em ações integradoras de setores e

políticas com o desenvolvimento de meios de trabalhos para esse fim.

O trabalho Intersetorial apresenta peculiaridades do trabalho intelectual

desenvolvido por trabalhadores técnicos, uma vez que envolve não só distintas

profissões de um mesmo setor e/ou política pública, mas também profissões de

diferentes setores e/ou políticas públicas, assemelhando-se, dessa forma, ao trabalho

em saúde, pois “envolve a atuação de um conjunto de categorias e indivíduos que

compartilham recursos técnicos e cognitivos, portanto a produção depende do

trabalho coletivo” (MALTA; MERHY, 2003, p. 62). Verifica-se isso nos documentos:

O estabelecimento do fluxo de atendimento exige o diagnóstico prévio do nível de gravidade, que deve ser considerado a partir da avaliação da vítima, da agressão sofrida, da família e do agressor. (MOB 2010).

Um processo complexo que exige a tomada de decisões daquele serviço que tenha feito o primeiro contato com a situação de violência, o qual é denominado “porta de entrada”. (COB 2015).

Nos dois casos, observa-se que o “diagnostico prévio do nível de gravidade”

e “tomada de decisão” remete à necessidade de conhecimentos especializados para

sua execução. A compreensão de Pereira (2014) sobre a intersetorialidade parece ir

no mesmo sentido, pois, para a autora, essa é uma “prática social compartilhada, que

requer pesquisa, planejamento e avaliação para a realização de ações conjuntas”. Na

análise dos documentos, percebe-se o trabalho intelectual desenvolvido por

trabalhadores técnicos, especializados.

A intersetorialidade também é relacionada ao diálogo, troca de informações e

a ampliar a comunicação. Monnerat e Souza (2009) apontam à necessidade de

promoção de mecanismos que favoreçam o diálogo e a troca de informações. Os

mecanismos criados com esse objetivo, apresentados mais adiante do texto, foram os

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fluxogramas, ficha de referência e contrarreferência, Caderno de Orientações Básica

e o programa de Capacitação da Rede de Atenção e Proteção Social de Cascavel.

A Rede de Atenção e Proteção Social do Município de Cascavel tem como proposta ampliar a comunicação e articulação entre os serviços para os encaminhamentos mais adequados às necessidades sociais. (LR 2, p. 34; LR 5, p. 33).

Bidarra (2009), por sua vez, discute que, para construir outra forma de gestão

pautada pela intersetorialidade, requer-se a integração de diferentes áreas do

conhecimento. Para isso, “é preciso investir nos mecanismos que favorecem o

relacionamento autônomo entre os profissionais de diferentes formações, e deles com

os burocratas, os líderes políticos e os cidadãos” (BIDARRA, 2009, p. 491).

No mesmo sentido, nos depoimentos dos representantes, buscou-se

encontrar a compreensão dos profissionais sobre intersetorialidade.

Conforme encontrado na literatura, a intersetorialidade pode ser

compreendida de várias formas, por isso, é entendida como polissêmica. Percebe-se

nos depoimentos que, entre os entrevistados, há uma determinada estratégia política

de articulação entre setores, o que expõe uma visão sobre intersetorialidade,

assemelhando-se, nos parece, com a encontrada nos documentos analisados. Houve

referências à integração, articulação, ruptura, trabalho em conjunto e diálogo.

Intersetorialidade eu entendo como um trabalho em conjunto, de vários serviços por uma mesma situação. (E 3)

Então, intersetorialidade é ... eu entendo que é o trabalho, interconectado, o trabalho em conjunto, a articulação de ações, é aonde, ... ele tem uma circulação de informações, entre os atores que atuam no sistema. (E 5)

Os serviços, que eles se reúnem, todos em prol, para o avanço, no caso, de uma família, trabalho junto para melhoria das pessoas. [...] uma união de todos os serviços, em prol de uma família, em prol do objetivo de autopromover aquela família, para melhorias, vários segmentos se reúnem. Para mim é quando você descobre que é impossível trabalhar sozinho. [...] é conseguir trabalhar com os demais serviços. (E 6)

Intersetorialidade eu entendo que é essa interface, esse interjogo entre os diversos setores, serviços, instituições. (E 2)

Você consegue dialogar com os outros setores, com os outros serviços [...] eu acho que o benefício da intersetorialidade é você não só repassar o teu problema para alguém, é você compartilhar com alguém, que acho que é o processo inicial de rede, além da horizontalidade, é você compartilhar com mais alguém, de outro setor. (E 6).

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É possível perceber que essa compreensão sobre intersetorialidade converge

com aquela encontrada nos documentos, assim, a intersetorialidade se apresenta,

portanto, como uma forma de fortalecer as ações setoriais (PEREIRA, 2014),

relacionando-se à compreensão de intersetorialidade como a articulação entre as

políticas públicas, além de visar potencializar as ações desenvolvidas (LAVAROTTI,

2013). E, ainda, como um “instrumento de otimização de saberes; competências e

relações sinérgicas, em prol de um objetivo comum” (PEREIRA, 2014, p. 26). Agrega-

se, ademais, a compreensão trazida por Yazbek (2014, p.98), a qual aponta que a

intersetorialidade “supõe a implementação de ações integradas e a superação da

fragmentação da atenção às necessidades sociais da população”.

Destaca-se a associação entre intersetorialidade, integralidade e totalidade.

Junqueira (2000) aponta que, além de integração e superação, há o entendimento

sobre “considerar o cidadão na sua totalidade”. Para o autor, a “intersetorialidade

incorpora a ideia de integração (...) transcende um único setor (...) buscando superar

a fragmentação das políticas ao considerar o cidadão na sua totalidade”

(JUNQUEIRA, 2000, p. 42).

Além do destaque para a questão da integração, a busca pela superação da

fragmentação das políticas se torna possível, para esse autor, com a compreensão

do indivíduo na sua integralidade. Nos depoimentos, verifica-se esse entendimento:

Uma falha que a gente tem é que nós não damos conta sozinho daquilo que nos apresenta hoje em qualquer setor[...], nós não damos conta de atender a integralidade, a totalidade da pessoa ou da família, então, acho que a intersetorialidade vem nesse sentido, [...]... a intersetorialidade é você pensar que a pessoa não é só aquilo que ela apresenta... ela não é o problema de violência sexual que ela tem na vida dela, ela tem todo um contexto que tá sendo trabalhado. (E 6)

[...] aqui é um hospital, a pessoa, vem internar para tratamento clínico, mas ela é um indivíduo, um indivíduo social, então tem necessidades sociais [...] é esse trabalho entre setores, entre vários serviços, por um mesmo objetivo, numa mesma situação, que é multifatorial, [...] em se tratando de dependência química, ela é multifatorial, então não é só saúde, não é só desintoxicar que vai resolver. (E 3)

Parece que a noção da necessidade da compreensão do indivíduo na sua

integralidade tem a contribuição do conceito ampliado de saúde, extraído da área da

saúde coletiva, da determinação social do processo saúde-adoecimento, discutido

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anteriormente. Existe o reconhecimento de que, na área da saúde coletiva, o debate

sobre intersetorialidade é significativo, pois nasce mediado pelo conceito ampliado de

saúde (MONERAT; SOUZA, 2014).

Em uma pesquisa realizada com trabalhadores de Saúde da Família, por Silva

e Tavares (2016), também houve associação da intersetorialidade e integralidade. A

integralidade foi considerada um dos fatores mediadores para a implementação do

trabalho intersetorial. Os autores relacionam, ainda, os conceitos de Promoção à

Saúde e aos DSS. O conceito dos DSS traz consigo a compreensão de que a saúde

é resultado de um amplo espectro de fatores e, de maneira crítica, propõe como forma

de intervenções as que ultrapassem as práticas médico-assistenciais. As ações de

promoção à saúde fazem parte dos serviços de saúde, mas não se restringem a elas

e, no geral, ultrapassam suas fronteiras (LOBATO;GIOVANELLA, 2012).

Especificamente, uma vez que os entrevistados da presente pesquisa

desenvolvem seu trabalho com crianças e adolescentes, é possível apontar que fazem

a associação entre integralidade e o conceito de Proteção Integral, constante no ECA.

Há o reconhecimento de que ações intersetoriais são necessárias no sentido de se

garantir os direitos fundamentais de crianças e adolescentes (BRASIL, 1990).

Também há referência ao movimento e ruptura, conforme se percebe no

depoimento a seguir:

Eu entendo que é quando os trabalhos, as ações, elas perpassam o local que você tá. [...] para mim intersetorialidade é você sair dos teus muros, de onde você tá, é quebrar as janelas mesmo, é conseguir trabalhar com os demais serviços. (E 1)

Parece haver a compreensão de que o processo de mudança é um movimento

necessário para a superação das práticas fragmentadas, que levem a ações

intersetoriais, e esse movimento é conflituoso. Para Monnerat e Souza (2009, p. 208),

a tarefa da integração intersetorial é bastante audaciosa e passa pela construção

“criativa de um novo objeto de intervenção comum aos diferentes setores do Estado

que lidam com as questões sociais”. Por sua vez, Bidarra (2009, 484) aponta que a

intersetorialidade não é algo dado ou atingido facilmente. Essa autora enfatiza que,

pelo contrário, “pactuar a intersetorialidade representa um árduo trabalho de

construção (ou melhor, de costura) política”. Indo mais a fundo, Pereira (2014, p. 26)

discute que a intersetorialidade traz em seu conceito a necessidade de rompimento

da tradição fragmentada das políticas sociais e, por isso, “admite-se que ela propicie

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mudanças de fundo, isto é, de conceitos, valores, culturas, institucionalidades, ações

e formas de prestação de serviços, além de um novo tipo de relação entre Estado e

cidadão”.

5.2 O CONCEITO DE REDE E O PROCESSO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO DA

REDE

Parte-se do princípio de que a construção da experiência intersetorial, do que

hoje é denominada REDE, é resultado do trabalho humano e, por isso, deve ser

entendido em sua totalidade, como algo complexo, social, provisório e histórico. O

desenvolvimento da REDE concretizou-se a partir de um processo histórico e, de

forma dialética, está em transformação. Pautado pelo conceito de práxis,

compreende-se que “na existência do real, o ser humano, como ser real, realiza uma

atividade prática, objetiva, que está fora de sua consciência e que visa a

transformação da natureza, da sociedade” (TRIVIÑOS, 2007, p.122).

Vázquez (2011) aponta que a atividade se opõe à passividade e sua esfera é

de efetividade, não a do apenas possível. Ocorre efetivamente sem que possa ser

separada do ato ou conjunto de atos que a constituem. A atividade mostra, nas

relações entre as partes e o todo, os traços de uma totalidade, pois atos

desarticulados não são considerados atividade. Atividade é a articulação de atos

singulares e estruturados, como elementos de um todo, ou “um processo total que

desemboca na modificação de uma matéria-prima” (VÁZQUEZ, 2011, p. 222).

A experiência intersetorial desenvolvida em Cascavel deve ser entendida sob

essas perspectivas. Como será visto, houve o desenvolvimento consciente de

ferramentas com o objetivo de superar a fragmentação setorial, pois, conforme

explicou Vázquez, a atividade humana é orientada a um fim e o produto dessa

atividade só existe “através do homem como produto de sua consciência” (VÁZQUEZ,

2011, p. 223).

Na busca pela compreensão do processo histórico da construção da REDE,

percebe-se que o entendimento sobre o trabalho em rede foi se modificando, se

organizando e se reorganizando. Tendo em vista esses elementos e, a partir da

análise documental do período de 2009 a 2017, é possível inferir a adoção de

determinada articulação intersetorial. Essa articulação intersetorial se autodenominou

como rede e, como será visto, possui características de rede intersetorial.

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Os conceitos selecionados para essa análise foram: rede, articulação entre

setores, rede intersetorial, elementos históricos da construção da rede, temas iniciais,

ações iniciais, trabalho corresponsável, integrado, articulado, parceria entre serviços,

intersetorialidade, horizontalidade, políticas com as mesmas responsabilidades,

democracia e autonomia.

Nota-se, a partir dos documentos, que a construção da REDE estava

associada à noção de rede intersetorial. A essa noção, agrega-se à de rede,

articulação e intersetorialidade. Como é possível verificar abaixo:

A Rede(...) tem como pressuposto a construção de uma rede intersetorial baseada nas políticas setoriais. (COB 2015)

Rede não pressupõe um novo conceito ou um novo serviço, mas sinaliza a necessidade de uma concepção que valoriza a integração e a intersetorialidade. (LR 2, p. 23; LR 5, p. 20)

Essa associação também está presente na literatura. Lavoratti (2013), ao

analisar uma rede de proteção, propõe que rede sugere a ideia de articulação,

conexão, vínculos, ações complementares, relações horizontais entre parceiros,

interdependência de serviços/ações/programas, para garantir a atenção integral aos

segmentos vulneráveis.

O termo rede, nesse caso, segundo Lavoratti (2013), pode ser considerado

uma estratégia operacional que supera a lógica de fatiamento das ações do governo

por setores/áreas e que potencializa o resultado dos programas, serviços e ações

governamentais.

Em relação à rede intersetorial, quem parece melhor sintetizar o conceito é

Bourguignon (2001). Convergindo com a autora, pesquisadores como Ferrari e

Tavarez (2016), Pereira, Santos e Inocente (2011), além de Martins e Roesler (2010),

definem rede intersetorial como:

(...) aquelas que articulam o conjunto das organizações governamentais, não governamentais e informais, comunidades, profissionais, serviços, programas sociais, setor privado, bem como redes setoriais, priorizando o atendimento integral às necessidades dos segmentos vulnerabilizados socialmente (BOURGUIGNON, 2001, p.6).

Para Kiss et al. (2007), rede intersetorial, além da característica de

articulação, requer a presença de canais definidos de comunicação entre os serviços.

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Portanto, as redes intersetoriais podem ser compreendidas como o espaço em que

participam as principais políticas direcionadas ao enfrentamento de demandas

complexas. São espaços nos quais ocorrem e se operacionalizam as ações

intersetoriais, em que o trabalho intersetorial se gestiona e se realiza. Nesse sentido,

é possivel classificar a REDE como uma rede intersetorial.

Por sua vez, Bidarra (2009) coloca que a ideia de redes traz o entendimento

da existência de pontos e conexões. Nesse entendimento, os pontos de rede são os

diversos serviços, com suas redes próprias que tradicionalmente se organizam em

torno de temáticas. O trabalho em rede seria, então, conectar esses diversos pontos

de forma institucional e organizada. Essa concepção de intersetorialidade, como já

apresentando, não propõe a substituição da forma de organização existente, mas sim,

a necessidade de conectá-la.

A premissa é que se edifiquem redes, não somente a partir da existência de pontos de contato mas, sobretudo, da garantia das conexões, os quais reconhecem como em um mesmo nível de importância todos os núcleos/base por onde passam os fios que amarram a conexão (BIDARRA, 2009, p. 493).

Outras características da REDE, aqui chamada Rede de Proteção, foram

mencionadas. São elas: democracia, horizontalidade e autonomia, conforme abaixo:

Ampliar parceiros, envolver instituições governamentais e não governamentais, são algumas diretrizes que norteiam a Rede de Proteção. Características da Rede de Proteção. Dinamismo: A Rede é uma estrutura flexível, dinâmica e em movimento. Ela é multifacetada. Participação: A cooperação é o que a faz funcionar, sem participação ela deixa de existir; Horizontalidade: A rede não possui hierarquia nem chefia. A liderança provém de muitas fontes e pode variar conforme o tipo de ação. Múltiplas composições: Ela pode se desdobrar em vários segmentos autônomos (subredes) capazes de operar independentemente do restante da rede, de forma temporária ou permanente, conforme a demanda ou a circunstância (grifos nossos). (MOB, 2010)

Esse entendimento, sobre rede, no qual as conexões sobre seus pontos se

efetivam de forma horizontal, com a preservação da autonomia dos profissionais e

serviços, bem como o desenvolvimento de ações complementares, aproxima-se do

encontrado na literatura. Autores como Pereira, Santos e Inocente (2011) defendem

que a regra para o funcionamento da rede é a existência de igualdade e

complementariedade entre seus membros, de maneira que, no seu interior, não há

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diferenças hierárquicas.

No mesmo sentido, Lavoratti (2013) aponta que rede traz a ideia de conexão,

vínculos, ações complementares, relações horizontais entre parceiros,

interdependência de serviços/ações/programas, para garantir a atenção integral aos

segmentos vulneráveis. Bidarra (2009) aponta para a necessidade de construção de

mecanismos autônomos, desenvolvimento de interação horizontal, pautados no

fortalecimento de atitudes cooperativas, além da busca por alianças com quem

defende um tipo de interlocução e de conexão de natureza horizontal; ademais, é

essencial o amadurecimento de fluxos de trabalhos numa perspectiva democrática.

Dentre os elementos históricos da construção da REDE, percebe-se que,

inicialmente, houve diferentes movimentos de articulação entre setores no

enfrentamento de situações complexas, conforme documento:

Historicamente o município de Cascavel apresentou movimentos de rede voltados a atender problemas sociais e públicos específicos, muitas vezes coexistindo concomitantemente com atuação isolada e fragmentada. (COB, 2015)

Almeida (2014), mesmo não tratando diretamente de rede intersetorial, traz

elementos que permitem compreender o desenvolvimento da experiência de

Cascavel. O autor observa que, na literatura sobre esse tema, é possível classificar

as experiências intersetoriais concretas em dois vetores centrais: 1. Desenvolvimento

de ações intersetoriais, induzidas pelo governo federal a partir de programas

vinculados a políticas públicas de corte social; 2. Desenvolvimento de ações

intersetoriais, realizado nas esferas locais.

Dados extraídos dos documentos parecem demonstrar que, dentro da

perspectiva do autor, a experiência de Cascavel, desde seu início, assemelha-se ao

segundo vetor, ou seja, experiência realizada em esfera local.

Chega-se a esse entendimento, em primeiro lugar, porque a experiência em

análise se desenvolve em nível local - município de Cascavel - ficando restrita a esse

território; em segundo lugar, mesmo que, inicialmente, tenha se organizado em torno

da temática violência à criança e adolescente, durante dois anos - 2009 e 2010, com

a participação de políticas públicas ligadas à área, houve a ampliação na participação

de outros setores das políticas públicas sociais, ou seja, é variável o conjunto de

políticas sociais que se articulam.

Em uma análise sobre cidades, nas quais foram implementadas a

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intersetorialidade como vetor da gestão municipal, Monnerat e Souza (2014)

demostraram que tais localidades eram capitais ou municípios pertencentes a regiões

metropolitanas, espaço, segundo as autoras, em que as expressões das questões

sociais mostram-se mais agudas e complexas. Isso difere das características do

Município de Cascavel, de médio porte, com população estimada, em 2018, de

324.476 habitantes, predominantemente na área urbana (94,4%), colocado no ranking

do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, do Paraná, em 2016, no 8º lugar (IBGE,

2018).

Em 2010, alguns indicadores sociais traziam destaque negativo em relação à

proteção de crianças e adolescentes para o município. Se, por um lado, nesse ano, a

taxa de escolarização, na faixa etária de 6 a 14 anos, era de 98,18%, dados do

Ministério Público do Paraná demonstraram que a taxa de abandono total, no ensino

fundamental e médio, eram 1,3 e 7,1, respectivamente. Comparativamente, tem-se

que, em Curitiba, capital do estado, no mesmo período, as taxam eram 1,8 e 4,7

(GRUPO MARISTA, REDE DE SOLIDARIEDADE, 2013).

Soma-se a isso a Taxa de Mortalidade Infantil, que, em 2009, em Cascavel,

era de 13,61, sendo que, em Curitiba, no mesmo período, foi 8,97. Dados de 2014

indicaram decréscimo para 10 (IBGE, 2018). Ainda, segundo o Mapa da Violência dos

Municípios Brasileiros, dentre os 5564 municípios, Cascavel, em 2006, figurava em

75º dentre aqueles com mais homicídios entre pessoas de 14 a 25 anos, sendo que a

taxa era de 75,3 (WAISELFISZ, 2008, p.61).

Esses dados indicam o desafio tanto da construção quanto do funcionamento

da rede intersetorial, que deve dar conta das necessidades representadas pelas

características próprias dessa realidade.

Ademais, nos primeiros documentos, está registrada outra característica

inicial da REDE, sua temática. As primeiras denominações foram:

Rede de Apoio Permanente. (Ata A) Rede de Proteção para o Enfrentamento a Violência de Crianças e Adolescentes. (Ata B) Rede de Proteção à Criança, ao Adolescente e à Família. (MOB 2010) Rede de Atenção e Proteção Social. (COB 2015) Posteriormente, mediante as alterações das políticas sociais, foram instituídos novos grupos para o enfrentamento e erradicação do trabalho infantil, a

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organização da rede de proteção de crianças e adolescentes, a articulação para prevenção de violências, principalmente a exploração sexual; o enfrentamento do crack e outras drogas entre outros temas que desencadearam a junção de serviços para atender a uma demanda. Ressaltamos que estas iniciativas partiram da tomada de decisão de diversas secretarias municipais e estaduais. (COB 2015).

Algumas experiências de redes intersetoriais se organizam em torno de

temáticas específicas. Como exemplo, é possível citar a Rede de Proteção às

Crianças e Adolescentes em Situação de Risco para a Violência do município de

Curitiba/PR (LAVORATTI, 2013) e a Rede de Proteção Social à Criança e ao

Adolescente (LONDRINA, 2019).

A rede intersetorial, na experiência de Cascavel, não se organiza em torno de

uma temática específica. Em sua organização, existe uma coordenação geral e

núcleos tematicos, conforme é possivel verificar nos documentos abaixo:

I - Núcleo da Criança e Adolescente; II - Núcleo do Adulto; III - Núcleo de Regulamentação. IV - Núcleo de Enfrentamento as Violências – Núcleo de Novos Diálogos.VI – Núcleo de Saúde Mental. (RI) É constituída por serviços da área da educação, saúde, assistência social, esporte, cultura e segurança, entidades governamentais e não governamentais, que por meio de seus profissionais devem articular ações no sentido de garantir os direitos de seus usuários. (COB 2015) A Rede de Atenção e Proteção Social de Cascavel, com base nas disposições legais, articula ações integradas, intersetoriais entre os serviços/instituições, para prevenir e intervir diante das situações de violação dos direitos de seus usuários. (RI)

Almeida (2014) pesquisou ações intersetoriais realizadas nas esferas locais e

constatou que, nessas experiências, existe um variável conjunto de políticas sociais

que consegue se articular para o enfrentamento de problemas sociais complexos.

Mais que isso, para Pauli (2007), a intersetorialidade tem pontecial de unificar a gestão

municipal. “As ações intersetoriais se iniciam nas pequena parcerias, nos projetos em

comum, vencendo as forças das medidas setoriais, verticalizadas e isoladas, levando-

as para um contexto maior. Elas tem a função de unificar a gestão municipal como um

todo” (PAULI, 2007 p. 65).

No mesmo sentido, Junqueira (2004) aponta que a intersetorialidade,

considerada uma nova lógica de gestão municipal, busca superar a fragmentação das

políticas, considerando o cidadão na sua totalidade. Por sua vez, Ferrari e Tavares

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(2016, p.105) relacionam a intersetorialidade com atenção integral.

Pensar um modelo de atenção integral nas políticas públicas destinadas à proteção social pressupõe ainda o favorecimento da intersetorialidade, compreendida como a articulação das próprias políticas setoriais e dessas com a complexa rede que abrange outras organizações e seus respectivos serviços.

Tess e Aith (2014), ao analisar políticas intersetoriais relacionadas à saúde,

encontraram a existência de três tipos: políticas de saúde coordenadas pelo setor

saúde e que necessitam de outros para serem bem sucedidas; políticas coordenadas

por outro setor, diferente do da saúde, mas que necessitam da participação deste para

serem efetivas; e as políticas intersetoriais genuínas, que não são lideradas por um

único setor, mas sim, por um órgão intersetorial, criado especificamente para sua

coordenação.

É possível inferir, portanto, que a experiência intersetorial de Cascavel se

constrói em torno de uma temática ampla, não se restringindo a uma temática

específica, qual seja, “garantir os direitos de seus usuários” (COB 2015) ou “intervir

diante das situações de violação dos direitos de seus usuários” (RI),

independentemente da faixa etária ou gênero. Dessa forma, ao se propor a isso,

acredita-se que é possível desenvolver uma visão intersetorial genuína, ainda

trazendo o potencial de unificar, de certa forma, a gestão municipal, superando a

fragmentação setorial.

A análise dos documentos permite inferir que a temática da construção inicial

da REDE estava relacionada a crianças e adolescentes, numa perspectiva do setor

educação, o que se comprova pela maior participação de serviços relacionados ao

atendimento de crianças e adolescentes (Ata A, B, C). Os primeiros temas debatidos

pelos presentes nas primeiras reuniões estavam relacionados a crianças e

adolescentes em situação de negação de direitos, nos casos, o direito à educação,

mas não necessariamente em situação de violência.

No documento que registra a reunião realizada no dia sete de dezembro de

dois mil e dez (Ata B), os assuntos debatidos foram a gestão de rede de proteção a

crianças e adolescentes em situação de risco, a dificuldade para matricular alunos em

cumprimento de medidas socioeducativas18 e discussão de casos com objetivo de

18 Pesquisa realizada em Cascavel, no ano de 2010, constatou que, dos 20 adolescentes reincidentes em cumprimento de medida socioeducativa, em meio aberto, 14 haviam abandonado a escola

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resolver os problemas de alunos com transtornos psiquiátricos graves, que estavam

fora da escola:

Foram levantadas as dificuldades em efetuar a matricula de alunos em escolas públicas quando estes encontram-se em cumprimento de medida socioeducativa. [...] propõe que haja discussão dos casos (nos) entre serviços específicos para resolver os casos graves de problemas psiquiátricos dos alunos que estão fora da escola, ou que apresentam sérias dificuldades para permanecer nela [...]. (Ata B)

Também se observou que, inicialmente, houve um protagonismo da equipe do

NRE na organização das primeiras reuniões: nesse espaço, foram realizadas as

primeiras reuniões, faziam a coordenação das reuniões e o setor da educação

estadual possuía maior número de participantes (Atas A, B, C e F).

Monnerat e Souza (2014) destacam, com base em análise de estudos na

área, que não é comum o protagonismo da área de educação na implementação de

experiências intersetoriais, situação que parece não ocorrer em Cascavel. As autoras

levantam a hipótese “de que este setor, comparado à saúde e a assistência social,

apresenta legado histórico mais hermético e menos voltado para proposições de

diálogo e inter-relação com outras políticas sociais” (MONNERAT; SOUZA, 2014, p.

47).

Na experiência de Cascavel, o entendimento, que parece predominar entre os

técnicos e gestores do setor, indica vinculação ao “olhar da educação” sobre a

intersetorialidade, como pressuposto de “que os problemas estruturais que afetam as

famílias repercutem diretamente nas condições de aprendizagem das crianças e

adolescentes e que as condições de pobreza são demasiadamente complexas

demandando atuação intersetorial” (MONNERAT; SOUZA, 2014, p. 47).

Leite e Duarte (2005) problematizam que a complexidade da atuação da

escola aumenta à medida que, com políticas universais, passam a ingressar no

sistema escolar alunos com maior grau de vulnerabilidade social. Dessa forma, podem

ser usados, como exemplos do aumento do grau de complexidade, a dificuldade para

garantir matrícula para estudantes em cumprimento de medida socioeducativa, bem

como a evasão escolar de crianças e adolescentes com doença psiquiátrica grave.

Entretanto, dados demonstram que a articulação intersetorial no município

teve origem com a articulação em torno da temática saúde mental:

(POSSAMAI; FABRIS, 2011).

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O primórdio desta articulação social esteve associado com a esquematização da Rede de Saúde Mental em 2002. (COB 2015).

Foi possível constatar na literatura que, em 2001, houve um Plano Municipal

de Saúde Mental que só começou a ser efetivado a partir de 2003 (SCANDALARA et

al. 2009). Esse processo foi desencadeado após o fechamento do único hospital

psiquiátrico do município e um dos principais da região, com 315 leitos credenciados

ao SUS. O acontecimento, segundo Scandalara et al. (2009, p. 335), acelerou “o

processo de implantação do Plano Municipal de Saúde Mental já aprovado pelo

Conselho Municipal de Saúde”. O referido Plano reordenou a assistência em saúde

mental e propôs a criação de serviços sob a lógica da Reforma Psiquiátrica. O referido

Plano indica, de forma indireta, a importância da adoção de práticas intersetoriais:

“Para tanto, considera-se fundamental a parceria com as Universidades do município

de Cascavel, assim como com as Secretarias de Ação Social, Educação, Meio

Ambiente e Esporte e Lazer” (CASCAVEL, 2001, p. 15).

No mesmo sentido, é possivel verificar em Cascavel (2019a, s.p.) que:

A conformação da Rede de Atenção em Saúde Mental [município de Cascavel/Pr] tende às diretrizes da reforma psiquiátrica, tais como foram definidas nas 3ª Conferências Estadual e Nacional de Saúde Mental, em contrapartida à desinstitucionalização dos manicômios. Fazem parte desta rede as UBS/USF, os Caps, os ambulatórios de psiquiatria, as residências terapêuticas, o hospital geral/psiquiátrico e as comunidades terapêuticas.

A intersetorialidade fez parte das discussões que ocorreram durante a 3º

Conferência Nacional de Saúde Mental, sendo reconhecida como um dos

instrumentos para a reorientação do modelo assistencial, como é possivel verificar a

seguir: “É primordial a implementação de políticas públicas intersetoriais que

garantam a efetiva qualidade de vida de todos os cidadãos e que se confrontem com

os mecanismos e processos de exclusão social” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001, p.

21).

Portanto, é de se supor, conforme consta no documento citado (MOB 2010),

que a reorganização da política de saúde mental, ocorrida no Brasil, a Reforma

Psiquiátrica ou a luta antimanicomial, baseada num olhar totalizante sobre os

indivíduos, pode ter contribuído para a construção da rede intersetorial, analisada

neste trabalho.

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Os documentos analisados correspondem aos anos de 2009 e 2011, ou seja,

os registros iniciais. Esses registros permitem traçar um esboço histórico da

construção da REDE, por meio de ações iniciais deliberadas pelos seus primeiros

representantes, e descrever a forma de organização inicialmente adotada. Nesse

breve histórico, será possível encontrar como aconteceu o início da articulação entre

setores que hoje são denominados como Rede de Atenção e Proteção Social do

Município de Cascavel.

O documento mais antigo encontrado nos arquivos é uma ata, na qual está

relatada reunião realizada no dia vinte e dois de outubro de 2009, nas dependências

do NRE, tendo a participação de representantes de 23 instituições, entidades,

programas, das políticas de educação, saúde, assistência social, segurança pública,

representante de trabalhadores, justiça, criança e adolescente, com marcada maioria

de profissionais vinculados ao NRE, incluindo o chefe desse órgão governamental. O

objetivo dessa reunião, registrado na ata, é a: “articulação da Rede de Apoio

Permanente”. Cabe ressaltar que essa reunião foi precedida de outra, realizada no

dia trinta de setembro de 2009, no mesmo local, para “dar início ao planejamento das

ações da REDE”.

Para fins desta pesquisa, o marco inicial da construção da experiência

intersetorial estudada está registrado na Ata A, sendo: a reunião preparatória do dia

30 de setembro de 2009 e a reunião ocorrida no dia vinte e dois de outubro de 2009.

Essa reunião teve como resultado o seguinte:

1 – Elaboração de um manual contendo todos os componentes da Rede e suas atribuições; 2 – Os componentes da Rede em visita a sede dos órgãos de apoio; 3 – Estudo de Casos; 4 - Próxima reunião para o dia dez de novembro de dois mil e nove. Foi solicitado aos componentes da Rede que elaborem um texto explicativo referente a proposta 1(um) e que encaminham para o e-mail, criado nesse momento: [email protected]. (Ata A)

Esse registro indica que, naquele momento, foram realizados dois

movimentos com o objetivo de articulação intersetorial: 1. O manual; e 2. Visitas aos

órgãos de apoio. Essas ações iniciais parecem indicar o reconhecimento da

necessidade de se conhecer o trabalho desenvolvido pelos setores e suas políticas.

A análise dos dados coletados permite reconhecer que o que está registrado

como intenção no documento - elaboração de manual (Ata A) – concretiza-se na

produção de dois “manuais”: um, em 2010, e outro, em 2015:

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Manual de Orientações Básicas da Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente. (MOB 2010) Caderno de Orientação Básica – Rede de Atenção e Proteção Social – 2015. (COB 2015)

A necessidade de conhecimento do trabalho de cada instituição e seu fazer

profissional foi considerada por Ferrari e Tavares (2016) como um dos requisitos para

o trabalho em rede. No mesmo sentido, os outros requisitos, apontados pelas autoras,

baseiam-se nas orientações propostas pelo Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome, para o trabalho em rede intersetorial: “a disponibilidade para

negociação e diálogo permanente, bem como para a flexibilização de processos e

fluxos de trabalho; o compromisso com o fazer coletivo e o empenho em impulsionar

conexões, como reuniões, encontros, contatos periódicos” (FERRARI, TAVARES,

2016, p. 107).

Dessa maneira, D`Oliveira e Schraiber (2013), ao analisar uma rede

intersetorial de atendimento a mulheres vítimas de violência, reconhecem que, para

sua efetivação, é necessário que cada setor assistencial se reconheça,

reciprocamente, na sua especificidade e naquilo que tem em comum. No mesmo

sentido, Viera e Hasse (2017), ao pesquisar sobre as percepções dos profissionais de

uma rede intersetorial, no atendimento de casos de violência contra mulheres, em

uma cidade de porte médio de São Paulo, encontraram nos relatos que o

conhecimento dos profissionais sobre os outros serviços é parcial, gerando isolamento

e encaminhamentos incorretos.

Para as autoras, a “integração de um trabalho intersetorial necessita

primeiramente de um diálogo inicial entre os serviços para que possa haver

comunicação” (VIERA; HASSE, 2017, p. 59). No mesmo sentido, Kiss et al. (2007),

em pesquisa com profissionais da rede intersetorial de mulheres em situação de

violência, buscando entender qual o grau de integração entre eles, encontraram que:

[...] embora cada entrevistado aponte conhecer diferentes tipos de serviços, este conhecimento não se traduz sempre em articulação assistencial. (...). A assistência acaba fragmentada, já que a necessidade da mulher não é abordada em sua integralidade pelos serviços, dentro de um projeto conjunto (KISS, et al. 2007, p. 499).

Esse movimento, de conhecimento do fazer profissional do outro, é indicado

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por Junqueira (2000, p. 42) como necessário à “articulação de saberes e experiências

no planejamento, realização e avaliação de ações”.

Nesse sentido, é possível considerar, partindo da reflexão realizada pelos

autores, que a experiência intersetorial em Cascavel se desenvolveu com

características do que foi denominada rede intersetorial. Portanto, a REDE constrói

um entendimento sobre rede intersetorial com as seguintes características:

organização local, com a articulação entre setores distintos, com temática ampla e a

construção de instrumentos, visando à superação da fragmentação setorial.

Nas entrevistas, foi possível perceber a compreensão sobre o trabalho em

rede intersetorial para os entrevistados, o que parece estar relacionado ao

entendimento de que, se a realidade social apresenta problemas complexos,

isoladamente, nenhuma ação terá a possibilidade de atender a todos os aspectos

dessa realidade.

Há referência ao trabalho corresponsável, integrado, articulado e parceria

entre serviços e intersetorialidade, como é possível verificar nos seguintes

depoimentos:

Então, para mim, o trabalho em rede consiste nisso, é um trabalho conjunto mesmo, eu vou até um ponto com esse usuário, com esse meu paciente, mas por mais que o outro serviço atenda, eu não deixo de acompanhá-lo, para mim rede é isso. A rede, ela se corresponsabiliza com os demais serviços, não deixando o usuário nunca flutuando assim, sem... direito. (E 1) Então, o trabalho em rede eu entendo que é um trabalho articulado [...]. (E 5) O trabalho em rede é isso. Uma parceria que dá certo. (E 6) [...] um trabalho que é articulado e por isso mesmo também está altamente relacionado à intersetorialidade [...]. (E 2) [...] trabalho em rede, eu acho que tem a ver com a intersetorialidade [...]. [...] é juntar vários serviços, é você tá em conexão com os diferentes serviços, trocando informações, sentando para conversar sobre os casos. [...] fazer trabalho em rede é essa troca de informações, seja através de reuniões, contatos [...]. (E 3) Ele é um órgão de mediação e de interlocução, né. Primeiramente, é um órgão de mediação e interlocução entre os serviços, entre os setores. (E 4)

É possível inferir que, para os entrevistados, o entendimento sobre rede e

intersetorialidade aproxima-se da compressão de Lavoratti (2013) e Bidarra (2009),

pela compreensão de que a ideia de rede remete à existência de pontos e conexões.

Partindo desse entendimento é que surge a necessidade de articulação, conexão,

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vínculos, ações complementares, interdependência de serviços/ações/programas.

Bidarra (2009) explica que, para alcançar a resolutividade do que foi demandado, é

fundamental garantir que essas conexões expressem o fluxo das intervenções.

Aproxima-se, também, do conceito de Bourguignon (2001) sobre rede intersetorial.

Para a autora, essas redes são aquelas que articulam o conjunto das organizações

governamentais, não-governamentais e informais, comunidades, profissionais,

programas sociais, setor privado, bem como redes setoriais para garantir a atenção

integral aos segmentos vulneráveis.

Nas falas dos entrevistados, percebe-se a importância da articulação

intersetorial – entendimento também percebido por Silva e Tavares (2016). Em

pesquisa realizada com profissionais de equipes de ESF, sobre potencialidades e

dificuldades para o trabalho intersetorial, as autoras encontraram que, na opinião de

trabalhadores, o trabalho interequipe e intersetorial desarticulado dificulta ações de

promoção à saúde.

Pesquisa com trabalhadores do CREAS procurou conhecer a percepção

desses profissionais quanto ao atendimento da rede de proteção da criança e do

adolescente, vítimas de violência sexual. Apontou que a desarticulação da rede de

atendimento do municipio é uma das dificuldades no enfrentamento desse tipo de

violência. Os autores concluem que “a desarticulação da rede, de fato, é uma

fragilidade que requer uma atenção especial” (FARAJ; SIQUEIRA, 2012, p. 81). No

mesmo sentido, pesquisas que avaliaram a percepção de mulheres vítimas de

violência demonstram a necessidade da articulação intersetorial na busca pelo

enfrentamento dos abusos praticados contra essas mulheres (SANTOS; FREITAS,

2017; MENEZES et al. 2014).

Nas entrevistas, foi possível identificar outras características do trabalho

intersetorial em rede. Assim, aparecem com destaque os termos horizontalidade,

políticas com a mesma responsabilidade, democracia e autonomia, presentes nos

seguintes depoimentos:

Não existe trabalho em rede quando um se sente chefe ou superior ao outro, entendeu? [...] É horizontal mesmo, não tem chefe, vamos dizer assim, ninguém manda mais mesmo, assim, são todos corresponsáveis pela atuação. (E 1) [...] eu entendo assim que cada política deve ter a mesma responsabilidade. (E 2) [...] rede, ela tem aquele conceito da horizontalidade, nós podemos ter alguém

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que domine a rede, alguém que manda na rede [...] mas que rede, o princípio básico é a horizontalidade. [...] através das reuniões, da plenária, discutindo, pontuando, discutindo as questões pontuais, lá, ampliando essa discussão [...]. (E 4) [...] relação horizontal, não vertical. E entre os parceiros e cada um tem uma função que se complementa. (E 5)

Partindo de Bourguignon (2001), é possível perceber que os entrevistados

indicam um novo conceito de gestão, diferente do tradicionalmente existente nas

políticas públicas, em que a gestão tem características centralizadoras, hierárquicas

e o reconhecimento de que esse modo de gestão impede que os problemas

vivenciados pelo cidadão sejam abordados em sua totalidade. Entretanto, Souza,

Terra e Erdmann (2005) explicam que, para mudar o processo de trabalho setorial,

serão necessárias mudanças de concepções, valores e práticas das organizações

públicas.

Autores apontam que rede possui como características as ligações

horizontais entre integrantes e a corresponsabilidade. Whitaker (2007) apud Pereira,

Santos e Inocente (2011, p.60) detalham a estrutura de uma rede: “Seus integrantes

se ligam horizontalmente a todos os demais, diretamente ou através dos que o

cercam. Todos têm o mesmo poder de decisão, pois decidem sobre sua própria ação;

corresponsabilidade”. Segundo Oliveira, Delziovo e Lacerda (2014), o trabalho em

rede deve se organizar de modo a reconhecer a autonomia dos setores, com decisões

tomadas de forma horizontal nos princípios de igualdade, democracia, cooperação e

solidariedade.

5.3 A ARTICULAÇÃO ENTRE A RAPS E OS DEMAIS SERVIÇOS QUE ATENDEM

CRIANÇAS E ADOLESCENTES USUÁRIOS DE SPA

Para descrever a forma como se articula a RAPS com os demais serviços que

compõem a REDE, discute-se a articulação entre os serviços da RAPS que atendem

diretamente crianças e adolescentes usuárias de SPA e a articulação entre a RAPS e

a REDE para esses atendimentos. Na análise dos documentos, houve referências à

horizontalidade, cooperação, integração, intersetorialidade, diálogo, relação entre

parceiros, troca de informações para obtenção de condições preexistentes e ações

desenvolvidas.

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Identificou-se, tendo como base os documentos analisados e o ECA, que, na

rede de assistência específica às crianças e adolescentes usuários de SPA, no

município de Cascavel, participam o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas

(CAPS AD) e o Hospital Universitário do Oeste do Paraná (MOB 2010, COB 2015,

OFR 08, OFR 22).

O CAPS AD é definido, na Portaria MS/GM 3038/2011, como:

Art. 7º O ponto de atenção da Rede de Atenção Psicossocial na atenção psicossocial especializada é o Centro de Atenção Psicossocial. (...) § 4º Os Centros de Atenção Psicossocial estão organizados nas seguintes modalidades: (...) IV -CAPS AD: atende adultos ou crianças e adolescentes, considerando as normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Serviço de saúde mental aberto e de caráter comunitário, indicado para Municípios ou regiões com população acima de setenta mil habitantes (BRASIL, 2011).

Por sua vez, a Ala de Desintoxicação do HUOP pode ser classificada como o

componente hospitalar da rede de saúde mental, conforme a referida portaria:

Art. 10. São pontos de atenção na Rede de Atenção Psicossocial na atenção hospitalar os seguintes serviços: I - enfermaria especializada para atenção às pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, em Hospital Geral, oferece tratamento hospitalar para casos graves relacionados aos transtornos mentais e ao uso de álcool, crack e outras drogas, em especial de abstinências e intoxicações severas (...) (BRASIL, 2011).

Importante ressaltar que a Ala de Desintoxicação é uma enfermaria

especializada na atenção a necessidades decorrentes do uso de SPA por crianças e

adolescentes, em um hospital geral, o HUOP (MOMBELLI; MARCON; COSTA 2010).

No âmbito do setor saúde, a Portaria Ministerial nº 4.279/2010 define as RAS

– redes setoriais de saúde. Segundo a Portaria, essa rede deve estar configurada com

arranjos organizativos de serviços e ações de saúde por meio de relações horizontais

entre os pontos de atenção, buscando garantir a integralidade do cuidado (BRASIL,

2010). Mendes (2010) amplia essa concepção ao destacar que:

[...] as redes de atenção à saúde são organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, vinculados entre si por uma missão única, por objetivos comuns e por uma ação cooperativa e

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interdependente, que permitem ofertar uma atenção contínua e integral a determinada população, coordenada pela atenção primária à saúde prestada no tempo certo, no lugar certo, com o custo certo, com a qualidade certa e de forma humanizada, e com responsabilidades sanitárias e econômicas por esta população (MENDES, 2010, p. 2300).

As redes setoriais, conforme apontam Quinderé, Jorge e Franco (2014),

passaram a estar presentes nas formulações das políticas de saúde, com a instituição

do SUS, nos anos 1980/1990. Além das redes de saúde, as redes setoriais

compreendem ainda a rede de ensino, rede de assistência social, entre outras.

Bourguignon (2001), com base na proposta de classificação de Redes Sociais de

Guará et al. (1998 apud BOURGUIGNON, 2001, p.6), define as Redes Setoriais

Públicas como “aquelas que prestam serviços e programas sociais consagrados pelas

políticas públicas como educação, saúde, assistência social, previdência social,

habitação, cultura, lazer, etc.”

Dentre as redes de saúde existentes, esse trabalho enfoca a RAPS. Essa rede

setorial de saúde foi instituída pela Portaria do Ministério da Saúde Nº 3.088/2011.

Art. 1º Fica instituída a Rede de Atenção Psicossocial, cuja finalidade é a criação, ampliação e articulação de pontos de atenção à saúde para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Art. 2º [...] promoção da equidade, reconhecendo os determinantes sociais da saúde; [...] garantia do acesso e da qualidade dos serviços, ofertando cuidado integral e assistência multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar; […] e organização dos serviços em rede de atenção à saúde regionalizada, com estabelecimento de ações intersetoriais para garantir a integralidade do cuidado (BRASIL, 2011, p. 1).

Costa et al. (2015) considera que a RAPS é a articulação dos pontos de

atenção à saúde para portadores de transtorno mental e usuários de SPA. Partindo

de uma análise histórica, Morais (2008) defende que a atenção psicossocial tem como

referência a Reforma Psiquiátrica, pois busca a “determinação psíquica e sociocultural

do processo saúde-doença, se opondo a idéia de instituição como clausura” (Morais,

2008 p. 124).

O que foi chamado de o movimento da Reforma Psiquiátrica desenvolveu, na

década de 1970 e início de 1980, o pensamento crítico em relação à

institucionalização da loucura então vigente na época. Como um dos resultados desse

processo, houve a aprovação pelo legislativo brasileiro da Lei Nº 10.216 de 2001.

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Teixeira et al. (2017) pesquisou as normativas oficiais da esfera federal,

publicadas entre 2000-2016 que, segundo ele, configuraram as Políticas Públicas

sobre drogas no Brasil. A referida lei é considerada pelo autor como um marco da

Reforma Psiquiátrica, pois propôs um novo modelo de atenção em saúde mental - o

modelo psicossocial - em substituição aos manicômios psiquiátricos, com serviços de

base territorial de portas abertas. Por sua vez, Amarante e Nunes (2018) apontam que

a referida Lei possibilitou uma configuração muito favorável e promissora para a saúde

mental no SUS.

No que se refere à atenção ao usuário de drogas, no âmbito do SUS, a

Portaria 3.088/2011 segue o disposto na Portaria Ministerial MS/GM Nº 2.197

(BRASIL, 2011). Essa Portaria de 2004 instituiu a Política Nacional de Atenção

Integral aos Usuários de Álcool e Outras Drogas, redefinindo e ampliando a atenção

integral a essa população, no SUS, no país (Brasil, 2004). Para Rameh-De-

Albuquerque (2017), essa política deve ser considerada como conquista da Reforma

Psiquiátrica Brasileira. A Portaria Ministerial MS/GM Nº 2.197, segundo Morais (2008),

define como principais componentes da assistência ao usuário de drogas:

[...] a atenção básica; a atenção nos CAPS-AD, ambulatórios e outras unidades hospitalares especializadas; a atenção hospitalar de referência e a rede de suporte social (associações de ajuda mútua e entidades da sociedade civil), complementar à rede de serviços

colocados à disposição pelo SUS) (MORAIS, 2008, P. 124).

Costa et al. (2015) defende que, para entender a uma rede assistencial sobre

drogas, deve ser levada em consideração sua conformação em relação à Rede de

Atenção à Saúde e também pela RAPS. Para o autor, concordando com o exposto na

Política do Ministério da Saúde sobre a atenção integral a usuários de álcool e outras

drogas, uma rede de atenção sobre drogas pode ser entendida como uma:

[...] rede de assistência centrada na atenção comunitária associada à rede de serviços de saúde e sociais que tenha ênfase na reabilitação e reinserção social dos seus usuários sempre considerando que a oferta de cuidados a pessoas que apresentam problemas decorrente do uso de álcool e de outras drogas deve ser baseada em dispositivos extra-hospitalares de atenção psicossocial especializada, devidamente articulados à rede assistencial em saúde mental e ao restante da rede de saúde (BRASIL, 2003, p. 06).

A forma como se relacionam esses dois pontos ocorre da seguinte maneira:

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crianças e adolescentes com problemas, decorrentes do uso de SPA, que, segundo a

avaliação da equipe multiprofissional do CAPS AD serão beneficiados com um

atendimento em regime fechado, são incluídos na Central de Leitos do Estado.

Havendo vaga, são internados na referida unidade hospitalar que, por sua vez, após

a alta hospitalar do adolescente, o encaminha ao serviço ambulatorial de referência,

nesse caso, o CAPS AD (MOMBELLI; MARCON; COSTA, 2010). Como será visto

adiante no texto, além desse encaminhamento formal, a articulação efetiva-se

preferencialmente com a utilização da Ficha de Referência e Contrarreferência,

contatos telefônicos e, ainda, estudos de casos.

Os documentos demonstram que ambos os serviços, CAPS AD e HUOP

participaram, de forma diferente, como integrantes da REDE.

Patrulha Escolar, APP Sindicato, CENSE I, CENSE II, Secretaria da Criança e da Juventude [estado], Juiz de Direito, Conselho Tutelar Leste, Oeste, RBC, SOS Família, Programa Atitude, Eureca I, Família Acolhedora, Creas II, Pró-Jovens Adolescente, Saúde Mental [município], CAPS AD, CAPS I, Conselho de Psicologia, CRAS XIV, CRAS Volante, Diretores representantes da Rede Estadual de Ensino, CRAPE, Equipe de Ensino, Assistência de Chefia, Assistência Pedagógica e a Chefe do Núcleo Regional de Educação. (Ata A)

[representante] do HUOP sugere que seja promovida a articulação entre grupos de serviços. (Ata B)

Indicação de representantes [pelo diretor do HUOP via oficio] para Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente [2012]. (OFR 08)

Corroborando isso, observa-se, nos documentos, que os trabalhadores da

RAPS participaram de todas as etapas da capacitação, realizada no ano de 2016, na

organização da capacitação, como facilitadores das palestras e dos trabalhos nas

salas, nas duas etapas: SIM/PR, CAPS AD, gerência de saúde mental do município

(LR I, p.s.n; LR 4, p.s.n). Além disso, como participantes da capacitação: SIM/PR,

CAPS AD, gestores da área de saúde mental do município, HUOP/Ala de

desintoxicação (LR 4, p. 85 - 266). Na apresentação da Secretaria Municipal de

Saúde, realizada na 1º etapa da capacitação, não houve destaque para RAPS, apenas

com seus serviços descritos no organograma da secretaria (LR 2, p. 154). Na segunda

etapa, houve apresentação de todos os serviços da secretaria. O CAPS AD19 foi assim

descrito:

19 No município de Cascavel, o CAPS AD atende apenas crianças e adolescentes.

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Assistência em Saúde Mental, (...) Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPS ad), (...) oferece atendimento a crianças e adolescentes do Município de Cascavel, usuários de álcool e outras drogas. Realiza atividades terapêuticas e preventivas, proporcionando tratamento, habitação e ressocialização junto a família e comunidade. (LR 5, p. 165)

Não há registro de apresentação nas duas etapas da capacitação dos

serviços HUOP e SIM/PR.

Verifica-se, com isso, que os serviços integrantes da RAPS se organizam e

participam da estruturação da REDE, de forma que há protagonismo do CAPS AD

nesse processo. Percebe-se que a construção da REDE faz parte das ações

prioritárias desse serviço para a superação das práticas fragmentadas, em

consonância a políticas públicas. A Portaria do Ministério da Saúde Nº 3.088/2011, em

seu Artigo 2º, estabelece ações intersetoriais como diretrizes para o funcionamento

da RAPS, relacionando a integralidade, entre outras, a “organização dos serviços em

rede de atenção à saúde regionalizada, com estabelecimento de ações intersetoriais

para garantir a integralidade do cuidado” (BRASIL, 2011, p.1 - 2).

No mesmo sentido, Costa, Ronzani e Colugnati (2017) apontam que o CAPS

AD assume papel importante na organização da rede, pois tem a responsabilidade de

gerenciar fluxos de pacientes e, para isso, se articula com os outros componentes da

rede. Acredita-se que, dessa forma, estimula a constituiçao de redes intersetoriais.

Em uma revisão de literatura nacional sobre o assunto, Costa, Ronzani e Colugnati

(2018) demonstraram o protagonismo do CAPS nas políticas e redes da saúde aos

usuários de SPA, no Brasil.

Conforme já visto, a intersetorialidade, por meio de redes intersetoriais, se

apresenta como alternativa, no que se refere às formas de organização ou

reorganização do processo de trabalho. Observa-se, dessa maneira, que ações

intersetoriais, preconizadas como diretrizes para o funcionamento de uma rede

setorial, foram adotadas pela RAPS no Município de Cascavel, no que diz respeito ao

atendimento de crianças e adolescentes usuários de SPA.

A forma como se articula a RAPS com outros serviços que atendem crianças

e adolescentes usuárias de SPA, em Cascavel, está estabelecida no Fluxograma de

Atendimento à Criança e Adolescente em Drogadição, conforme é possível verificar

no documento abaixo:

CRAS, CREAS I, CREAS II, Casa de Passagem Masculina, Casa de Passagem

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Feminina, Centro da Juventude, Programa Família Acolhedora, Serviço Especializados em Abordagem Social, CENSE I e II, Semiliberdade, EURECA I e II, Conselho Tutelar, Escola Municipal, Escola Estadual, Programa Evasão Escolar, UBS, CAPS AD, UPA Ped., HUOP. (FX 1)

Dos 18 serviços elencados no Fluxograma de Drogadição, 13 possuem

indicação direta para encaminhar para o CAPS AD, sendo eles: CRAS, CREAS II,

Casa de Passagem Masculina, Casa de Passagem Feminina, Centro da Juventude,

Programa Família Acolhedora, CENSE I e II, Semiliberdade, EURECA I e II, Conselho

Tutelar, Escola Municipal, Programa Evasão Escolar, UBS, CAPS AD, UPA Pediátrica,

HUOP. Apenas dois serviços possuem indicação para encaminhamentos ao HUOP,

sendo eles, a UPA Pediátrica e o CAPS AD (FX 1). Por sua vez, o CAPS AD pode

referenciar para a UBS, internamento hospitalar especializado e, ainda, esporte,

cultura, assistência social, Escola, Conselho Tutelar.

Esses dados parecem convergir com o achado de Costa et al. (2017), em

levantamento da rede de atenção aos usuários de drogas, em um município de médio

porte. Nesse levantamento, observou que a maior parte dos serviços era de cunho

generalista; nesse caso, os serviços especializados para o tratamento de usuários

SPA são o CAPS AD e a Ala de Desintoxicação do HUOP. O autor postula que essa

situação se mostra coerente com o modelo assistencial proposto pela Reforma

Psiquiátrica e também com o disposto nas principais políticas nacionais sobre o tema.

É possível verificar também a centralidade do CAPS AD em relação à

articulação intersetorial na experiência de Cascavel, o que parece ser evidenciado na

consulta da literatura sobre o assunto. Leal e Antoni (2013), ao caracterizar os CAPS

(as modalidades existentes) da Região Metropolitana de Porto Alegre/RS,

encontraram que, em relação a ações intersetoriais, 76% dos CAPS possuem

parcerias com outras instituições de saúde e 81% possuíam parcerias intersetoriais,

principalmente, assistência social 88%, educação 53% e Judiciário 41%.

Costa, Ronzani e Colugnati (2018), em estudo sobre o papel do Centro de

Atenção Psicossocial - Álcool e outras Drogas - em relação à rede de atenção aos

usuários de drogas, no município de Juiz de Fora/MG, observou a centralização da

rede no CAPS AD, tomado como dispositivo regulador do fluxo assistencial ao usuário

de drogas e do processo de trabalho. Em outro estudo, Costa et al. (2015) analisou a

articulação entre serviços de uma rede de atenção a usuários de drogas e encontrou

que, além do CAPS AD, outros serviços também participam de rede intersetorial, como

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os serviços de urgência e emergência, instituições especializadas da saúde mental, a

exemplo dos CAPSs e ambulatórios, serviços do SUAS, CREAS e CRAS, dispositivos

especializados para usuários de drogas, a saber, os hospitais gerais com leitos para

desintoxicação.

Foi possível observar, portanto, que a forma com que se relacionam os

serviços da RAPS com a REDE foi mediada pela maneira como se organizaram os

fluxogramas e também pelos outros instrumentos criados para essa articulação, que

serão descritas adiante, neste texto.

Na pesquisa documental, foi verificado um determinado entendimento sobre

como deve ocorrer a articulação intersetorial. Os conceitos, que são apresentados

como forma de operacionalizar a relação entre os serviços, são os seguintes:

horizontalidade, cooperação, integração, intersetorialidade, conforme o documento

abaixo:

Independente de estar relacionado a esse serviço ou aos demais, objetiva-se facilitar os atendimentos e procedimentos que acionam a Rede de Proteção de forma que todos estejam envolvidos na garantia de direitos. Os componentes da Rede de Proteção primam pela horizontalidade das relações entre seus membros, buscando maior cooperação, valorizando a integração e a intersetorialidade, ampliando parcerias e envolvendo instituições governamentais, não governamentais e a comunidade. (MOB 2010)

Essa forma de operacionalizar o trabalho intersetorial, com características de

rede, encontra referência na literatura da área, cujo entendimento aponta para a

construção de outra forma de relação entre setores, com objetivo de superação da

fragmentação setorial. De forma geral, essas relações são apresentadas como

hierarquizadas, burocráticas, fragmentadas, indicando a necessidade de mudanças

de concepções, valores e práticas das organizações públicas que favoreçam a

construção de relacionamentos autônomos, horizontais, democráticos, com atitudes

cooperativas (BIDARRA, 2009; FERRARI; TAVARES, 2017; LAVORATTI, 2013;

PEREIRA et al. 2011; SOUZA; TERRA; ERDMANN, 2005).

Por outro lado, Passos et al. (2016), em estudo que avaliou a rede de proteção

e cuidado a crianças e adolescentes usuárias de SPA, do município de Betim/MG,

encontrou que a falta de articulação entre os serviços é agravada pela existência de

poucos espaços para definir ações conjuntas. “Como não há articulação ou um fluxo

de rede instituído, cada equipamento fica circunscrito a uma definição estrita de sua

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função, o que se agrava com o fato de haver poucos espaços de diálogo para definição

de ações conjuntas” (PASSOS et al. 2016, p. 594).

No mesmo sentido, os entrevistados, no que se refere à forma como se

relacionam os diversos serviços que compõem a REDE, destacam características

como o diálogo, a troca de informações, a relação entre parceiros, conforme exposto

nas falas:

A gente convida o outro serviço, a gente encaminha a ficha e não deixa de usar o telefone [...]. (E 1)

A nossa comunicação básica, assim, o diálogo, se dá por meio da ficha de referência e contrarreferência. [...]. Então eu acho que é importante esse diálogo permanecer e quando você encaminha uma ficha de referência acho que é essencial que seja precedido ou de uma ligação telefônica: estou encaminhando um caso, porque a rede pressupõe já conhecimento das pessoas, então, quando eu ligo, eu já falo o nome da pessoa, já sei o nome da pessoa com quem eu estou falando. Ligações telefônicas ou e-mails que a gente manda um e-mail também complementando, o que você tiver a mais é sempre assim essencial. (E 4)

[...] a escola ou o colégio eles encaminham por e-mail a ficha, a gente recebe todos os dias, um monte de encaminhamento [...]. (E 6)

[...] nós estamos o tempo todo identificando situações que ferem alguns direitos, algumas que violam direitos de famílias, de crianças, enfim, ou às vezes algumas falhas, por questão do fluxo não estar bem esclarecido, pela intersetorialidade não estar totalmente fortalecida, às vezes acontecem falhas, então, o nosso trabalho, o tempo todo, é fazer o contraponto, a gente entra em contato, muitas vezes, telefônico [...] então a gente tá o tempo todo fazendo essa articulação com os serviços, então, nós estamos totalmente relacionados, é... a essa intersetorialidade. (E 2)

O nosso serviço tem um trabalho permanente de visitação nos outros órgãos, também dos órgãos para com ele, para que ele, nesse diálogo, estarmos discutindo tanto o fluxo como qual é a demanda que é encaminhada. A Rede de Atenção e Proteção Social de Cascavel construiu um protocolo para isso. (E 4)

É possível verificar que a relação entre os serviços que compõem a REDE

ocorre por meio da Ficha Intersetorial de Referência e Contrarreferência. Essa ficha,

que será descrita mais tarde, neste texto, é utilizada, segundo os relatos, para a

realização de encaminhamentos e troca de informações sobre as situações entre um

serviço e outro. É importante destacar o relato da utilização de contatos pessoais via

e-mail e telefone como forma de comunicação.

Em uma pesquisa com profissionais que atuam no sistema de Socioeducação,

realizada no município de Cascavel-PR, encontrou-se que todos os entrevistados

entendem que o trabalho em rede intersetorial exige comunicação e compartilhamento

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de responsabilidades (MARTINS; ROESLER, 2011). As autoras evidenciaram, ainda,

que, no entendimento dos entrevistados, a efetivação de uma rede “implica a

comunicação estruturada e ainda as estratégias viáveis e eficazes para a articulação,

intervenção, gestão e avaliação do processo” (MARTINS; ROESLER, 2011 p. 347).

Kiss et al. (2007) estudaram uma rede intersetorial às mulheres em situação

de violência e encontraram que a comunicação entre serviços públicos, além do que

já existe entre organizações não-governamentais e entre os serviços públicos, é

deficitária, gerando fragmentação do cuidado. Para as autoras, a construção de redes

intersetoriais passa pelo desenvolvimento de canais definidos de comunicação entre

os serviços de uma rede. Esses contatos, via telefone e e-mail, além da Ficha

Intersetorial de Referência e Contrarreferência, são necessários, pois, para a

integração do trabalho intersetorial, deve ocorrer primeiramente um diálogo inicial

entre os serviços, para que possa haver comunicação efetiva (VIERA; HASSE, 2017).

Ademais, Passos et al. (2016) encontrou que, quando não há instituição de

fluxos ou a articulação entre os serviços, o trabalho fica limitado ao que está definido

estritamente em cada setor. O relacionamento entre as equipes e serviços ocorre

também com o objetivo de obtenção de informações sobre condições preexistentes e

ações já desenvolvidas. Essas situações são verificadas nas seguintes falas:

[...] a gente não consegue, na maioria das vezes, ver em loco as situações, então assim, a gente precisa do CRAS, da UBS, para fazer uma visita domiciliar, ver a situação em loco, porque a demanda aqui é muito grande e o nosso objetivo é atender a demanda aqui, só que eu preciso saber também desse feedback, dessa questão mais ampla, então assim, eu faço diariamente a gente faz contato com os serviços da rede para saber de situações, porque nem sempre o que aparece para nós é o que realmente é, então assim, às vezes, são trazidas certas demandas, e a gente vai ver com os serviços que estão ali mais próximos, e é outra situação. (E 3) As escolas, quando elas identificam cinco faltas consecutivas ou sete faltas alternadas, elas fazem a ação delas [...] em ela não tendo resultado, sucesso, ela manda para evasão (notificação de evasão escolar). (E 4) Nosso serviço ele tem uma atuação em rede, fazendo encaminhamentos, recebendo encaminhamentos e procura essa articulação entre os diferentes serviços das diferentes políticas. [...] Mas quando o adolescente entra, na entrevista inicial, é identificado as demandas dos adolescentes e essas demandas daí nós acionamos a rede [...]. (E 5) A maioria é escola que nos informa, a escola, até às vezes a unidade básica de saúde, porque ela vai visitando as famílias, as ACS, as agentes de saúde, visitam as famílias, percebem que aquela mãe, aquele pai tão sendo judiado, tão ali sofrendo, tão tendo problema ali com o filho, se usando droga, e eles não sabem

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o que fazer, então as ACS geralmente passam para a assistente social ou enfermeira, coordenadora da UBS, que vem nos comunicar esse fato. (E 6)

É possível verificar que os entrevistados compreendem a intersetorialidade,

operacionalizada em uma rede intersetorial, como instrumento para obtenção da

integralidade, além de perceber a determinação social do processo saúde-

adoecimento. Souza, Terra e Erdmann (2005) coadunam com essa expectativa, pois

debatem que, para se alcançar os resultados esperados, é necessário efetuar uma

ação com a participação mais abrangente de setores que se complementam.

Por sua vez, D`Oliveira e Schraiber (2013) problematizam que a construção

de redes, nesse caso rede intersetorial, é dependente, entre outras coisas, da

articulação e interação dos profissionais, visando a um projeto assistencial comum.

Para as autoras: “cada profissional e cada setor assistencial tem uma contribuição

parcelar, específica, mas interdependente” (D´OLIVEIRA; SCHRAIBER, 2013, p. 137).

O trabalho em rede, enquanto práxis, é pautado por microrrelações que vão sendo

construídas gradualmente entre pessoas. As relações de confiança estabelecidas

entre pessoas e instituições são potencializadas quando pautadas pela

intersetorialidade (FERRO, 2015).

Percebe-se que a compreensão dos entrevistados sobre como se efetiva a

articulação entre RAPS e os demais serviços da REDE, é pautada por práticas

interdisciplinares, pois ocorre a busca por diferentes saberes para a elaboração dos

projetos terapêuticos dos usuários. Leal e Antoni (2013, p. 95) definem a

interdisciplinaridade “como a interação de diferentes disciplinas que se sustenta sob

uma problemática comum, em uma relação que permite uma aprendizagem mútua e

recombinações dos saberes e práticas”. Pereira (2014) destaca que, isoladamente,

nenhuma das partes ganha sentido e consistência. Para a autora, o prefixo inter serve

para nomear tanto a:

[...] interdisciplinaridade quanto a intersetorialidade, remete a relações dialéticas; isto é, à relação que não redunda em um amontoado de partes, mas em um todo unido, no qual as partes que o constituem ligam-se organicamente, dependem umas das outras e condicionam-se reciprocamente (PEREIRA, 2014).

Portanto, observa-se que a relação entre os serviços da RAPS e entre esses

e os demais serviços, mediada pelo trabalho desenvolvido pela REDE, ocorre em uma

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perspectiva de rede intersetorial, com a adoção, por parte dos trabalhadores, dos

instrumentos intersetoriais desenvolvidos com o intuito de se alcançar a integralidade

na assistência aos jovens usuários de SPA.

5.4 A CONSTRUÇÃO DE INSTRUMENTOS INTERSETORIAIS

Com a contribuição de Marx (2017), Merhy e Feuerwerker (2016), bem como

de Malta e Merhy (2003), sobre a categoria trabalho, percebe-se que a experiência

intersetorial da construção da REDE pode ser entendida como trabalho humano

coletivo.

Merhy e Feuerwerker (2016) apontam que, para Marx:

[...] a construção mental do produto a ser realizado antecede e se antepõe ao processo de trabalho em si e esse modo de organizar o processo de trabalho envolve uma certa sabedoria (...), ou seja, não basta apenas projetar, é necessário um certo saber tecnológico para juntar aqueles três componentes [do processo de trabalho] e transformá-los em um produto específico. (MERHY; FEUERWERKER, 2016, p. 61).

Em relação ao trabalho em saúde, os autores discutem que, como toda

atividade humana, as práticas em saúde são atos produtivos:

[...] porque visam produzir efeitos, buscam alterar um estado de coisas estabelecido como necessidade. Assim, além de orientadas pelos saberes científicos, são também constituídas a partir de sua finalidade social, que é historicamente construída (MERHY, FEURWERKER, 2016, p. 63).

Com a contribuição de Malta e Merhy (2003), percebe-se que o trabalho

intersetorial apresenta peculiaridades do trabalho intelectual, desenvolvido por

trabalhadores técnicos da área da saúde, uma vez que envolve não só distintas

profissões de um mesmo setor e/ou política pública, mas também “profissões de

diferentes setores e/ou políticas públicas que compartilham recursos técnicos e

cognitivos” (MALTA; MERHY, 2003, p. 62). Portanto, o resultado do trabalho

intersetorial é fruto de trabalho coletivo, desenvolvido por trabalhadores técnicos com

uma prática social de compartilhamento de saberes.

O processo de trabalho intersetorial, no caso concreto de Cascavel, conforme

foi possível extrair dos documentos, desenvolveu suas ferramentas de trabalho, com

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o objetivo de superar a fragmentação setorial. Para Monnerat e Souza (2014, p. 50),

esse é o ponto forte da proposta da intersetorialidade, pois há a “possibilidade de se

construir uma visão de complexidade dos problemas tendo como requisito o aporte de

diferentes acúmulos setoriais (...) trata-se, pois, de construir objeto e objetivos

comuns”. São necessárias, portanto, estratégias que possibilitem a operacionalização

das ações intersetoriais, empregando-se de meios e instrumentos que possam

estabelecer as conexões necessárias entre os diferentes componentes da rede, tendo

como objetivo superar a fragmentação setorial.

Nessa perspectiva, foi possível identificar quatro ferramentas que fazem parte

do processo de trabalho desenvolvido pela rede intersetorial do município de

Cascavel-PR, sendo: as publicações - Manual de Atenção Básica (MOB 2010) e

Caderno de Orientações Básica (COB 2015), o Fluxo de Atendimento à Criança e

Adolescente em Drogadição (Fx 1), a Ficha Intersetorial de Referência e

Contrarreferência (FIRC) e as capacitações intersetoriais (LR 1) (AMORIN, 2016).

A proposta de criação de um instrumento que tivesse como objetivo “a

descrição e especificação dos serviços e atendimentos do município de Cascavel”

(MOB 2010), voltada para o uso dos trabalhadores que atuam diretamente na

assistência, “o que facilitará a articulação entre os pares” (MOB 2010), resultou na

construção de dois instrumentos: O Manual de Atenção Básica e o Caderno de

Orientações Básicas. As primeiras referências à necessidade de desenvolver esses

instrumentos estão em documentos que registraram reuniões em 2009 e 2010.

Elaboração de um manual contendo os componentes da Rede e suas atribuições. (Ata A)

Manual Norteador. (Ata D)

[...] convidou a Rede para reunião com o objetivo [...] a elaboração de uma

‘cartilha’ com dados de toda a Rede. (Ata F)

A análise dos dados coletados permite reconhecer que o que está registrado

como intenção no documento “elaboração de manual” (Ata A) concretiza-se na

produção de dois “manuais”, um em 2010 e outro em 2015:

Manual de Orientações Básicas da Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente. (MOB 2010)

Caderno de Orientação Básica – Rede de Atenção e Proteção Social – 2015.

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(COB 2015)

Autores apontam para a necessidade de se conhecer o trabalho desenvolvido

por outros setores, ou mesmo outros serviços, de forma organizada, com o objetivo

de potencializar as ações setoriais, superando a fragmentação. Para Ferrari e Tavares

(2016), conhecer o trabalho de cada instituição e seu fazer profissional é um dos

requisitos para o trabalho em rede.

No mesmo sentido, D`Oliveira e Schraiber (2013), ao analisar uma rede

intersetorial de atendimento a mulheres vítimas de violência, reconhecem que, para

sua efetivação, é necessário que cada setor assistencial se reconheça

reciprocamente, na sua especificidade e naquilo que tem em comum.

Viera e Hasse (2017), ao pesquisar sobre as percepções dos profissionais de

uma rede intersetorial no atendimento de casos de violência contra mulheres, em uma

cidade de porte médio de São Paulo, encontraram nos relatos que o conhecimento

dos profissionais sobre os outros serviços é parcial, gerando isolamento e

encaminhamentos incorretos.

Para Santos e Freitas (2018), que estudaram as fragilidades e potencialidades

da rede de atendimento às mulheres em situação de violência por parceiro íntimo, a

interação entre os serviços organizados em rede só acontecerá efetivamente com

base em conhecimento mútuo, envolvendo, para isso, “informações sobre suas

competências, atribuições, localização, tramitação interna e externa, bem como

horários de funcionamento” (SANTOS; FREITAS, 2018, p. 4).

Entretanto, Kiss et al. (2007), em pesquisa com profissionais da rede

intersetorial de mulheres em situação de violência, buscando entender qual o grau de

integração entre eles, encontrou que não necessariamente conhecer diferentes

serviços se traduzirá em uma efetiva articulação de rede, sem que exista uma ação

com objetivo em comum.

Embora cada entrevistado aponte conhecer diferentes tipos de serviços, este conhecimento não se traduz sempre em articulação assistencial. (...). A assistência acaba fragmentada, já que a necessidade da mulher não é abordada em sua integralidade pelos serviços, dentro de um projeto conjunto (KISS, et al. 2007, p. 499).

Dentro dessa perspectiva, considera-se, portanto, que houve o

desenvolvimento de instrumento ou ferramentas intersetoriais com o potencial de

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contribuir para a superação da fragmentação setorial.

A necessidade da construção de instrumentos que servissem como ligação

e comunicação entre os componentes da rede, que resultou na atual Ficha

Intersetorial de Referência e Contrarreferência, está registrada no documento em

2010 (Ata B), sendo possível verificar que houve a constatação da existência de

dificuldade de comunicação entre os serviços:

[...] HUOP sugere que seja promovido [...] um sistema de comunicação que informe sobre o andamento dos casos. (Ata B)

[representante] do CAPS AD] fala que teve uma reunião com o juiz da Vara da Infância e o Promotor Público que solicitava a resolutividade dos atendimentos na área da drogadição e comunicação entre a Rede. (Ata F)

[...] além da sempre presente dificuldade por não haver referência e contra referência nos serviços. (Ata H)

Corrobora com esses relatos a pesquisa realizada em 2010, cujo objetivo era

de conhecer as possibilidades da intersetorialidade e articulação em rede, nos

serviços que atendem crianças e adolescentes em cumprimento de medidas

socioeducativas, no município de Cascavel. Nesse estudo, as pesquisadoras

encontraram que, embora existam iniciativas no município para “a construção de

redes, há uma fragilização na comunicação, ou seja, a estrutura relacional não está

conectada e integrada efetivamente” (MARTIN; ROESLER, 2011, p. 351).

Sendo assim, parece haver um esforço no sentido de superar a fragilidade na

comunicação de forma pactuada. Há registro de solicitação de reuniões com gestores

das principais políticas públicas “para implementação da Ficha Intersetorial de

Referência e Contrarreferência e outros encaminhamentos” (OFE 10...28).

Nos documentos que foram analisados, referentes à Capacitação, é possível

verificar que o tema Ficha Intersetorial de Referência e Contrarreferência também foi

objeto da formação nas duas etapas. Foi realizada a apresentação da Ficha, bem

como sua forma de uso e também foi utilizado como instrumento nos estudos de caso.

O mesmo ocorreu com a utilização dos fluxogramas no estudo de caso. É possível

verificar isso nas seguintes falas:

Rede de Atenção e Proteção Social em Cascavel, AÇÕES DESENVOLVIDAS, (...) Implantação da Ficha Intersetorial. (RL 2, p. 40)

A instituição da Ficha Intersetorial surgiu nas discussões da Rede em que a

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ineficiência de comunicação entre os serviços era uma das dificuldades apresentadas pelos profissionais. Assim com o objetivo de melhorar a comunicação e a qualidade do atendimento aos usuários, foi elaborado a Ficha Intersetorial de Referência e Contrarreferência. (RL 2, p. 42)

(...) possibilita o fluxo de informações entre os atores da rede, buscando a reciprocidade e corresponsabilidade do atendimento. A ficha não pode ser entendida como uma transferência de responsabilidade, mas a continuidade de ações que almejam a integralidade no atendimento. (RL 2, p. 43)

Atividades em Grupos: Estudo de Caso com utilização do Fluxograma e da Ficha Intersetorial. (...) Mesa Redonda: Estudo Exploratório referente aos Estudos de Caso abordados nos Trabalhos em Grupo. (LR 2, p. 12 - 13; LR 4, p. 56).

Amorin (2016), em estudo monográfico sobre a Rede de Atenção e Proteção

Social de Cascavel, descreve o processo de criação da Ficha da seguinte forma:

Contudo, ainda se fazia necessário um documento de comunicação único para os serviços, documento este que seria de uso específico dos técnicos da Rede (...). Por tanto após várias reuniões, com grandes debates e trocas de ideias foi instituída a FICHA DE REFERENCIA E CONTRARREFERENCIA, que em seguida foi apresentada e então referendada pelos Conselhos de direitos de Cascavel e adotada por toda a Rede de Proteção e Atenção de Cascavel, que tem como principal objetivo possibilitar o fluxo de informações entre os atores da rede, buscando a reciprocidade e corresponsabilidade do atendimento. Este documento permitiu que os serviços da Rede se aproximassem, com isso houveram interesses de outros serviços e entidades governamentais e não governamentais para o fortalecimento e melhoria dos atendimentos em rede. (...) a ficha não pode ser entendida com uma transferência de responsabilidade, mas a continuidade de ações que almejam a integralidade no atendimento (AMORIN, 2016, p. 09-10).

Leal e Antoni (2013) consideram que um sistema de referência e

contrarreferência deve possibilitar as trocas de informações no momento do

encaminhamento para outros serviços. Destacam que o desenvolvimento de

ferramentas para encaminhamentos de pacientes de um serviço ao outro é um dos

elementos para a reorganização das práticas de trabalho, pois promove a integração

entre esses serviços.

É importante que se diferencie essa ficha, intersetorial, da usada no sistema

de referência e contrarreferência, utilizado no setor saúde. Quinderé et al. (2014)

apontam que, na RAS, o sistema de referência e contrarreferência ocorre de maneira

engessada, sem a possibilidade de flexibilização, ou seja, de forma burocrática. No

setor saúde esse sistema orienta o fluxo dos pacientes de maneira verticalizada entre

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os níveis de complexidade do SUS.

A Ficha Intersetorial de Referência e Contrarreferência foi avaliada como

positiva pelos entrevistados e todos relatam a sua utilização no cotidiano de trabalho.

Uma vez que esses trabalhadores atuam especificamente com crianças e

adolescentes usuários de SPA, conclui-se que a RAPS e os outros serviços da REDE

se utilizam desse instrumento intersetorial para se articular e se relacionar, conforme

se observa nos relatos abaixo:

Eu avalio que ela é excelente. [...] todo mundo usa, essa parte a gente venceu. (E 1)

Na verdade, a ficha é, eu conheço a ficha, participei da construção da ficha, junto com o grupo da rede [...] eu acho que ela é bastante útil. (E 2)

Eu acho bem, assim, foi um avanço também a ficha de referência. Porque assim, padronizou. [...]. Então, independente hoje para que serviço eu vou encaminhar, eu uso a ficha de referência, então, facilitou [...]. (E 3)

[...] eu acho que grande parte dos serviços vêm usando. [...] eu acho que ela é muito importante [...]. (E 4)

Eu avalio que ela atende à necessidade, ela é, tanto a parte da referência quanto a parte da contrarreferência [...]. (E 5)

Nossa, é excelente. Porque a partir disso, da ficha de referência e contrarreferência, porque eu uso, meus colegas usam e a gente encaminha bastante, isso se torna uma ligação entre a rede. (E 6)

Essa avaliação positiva é diferente da encontrada na literatura, em que os

sistemas de referência e contrarreferência são considerados como um dos entraves

para a articulação das redes. Costa et al. (2015) fizeram revisão de literatura em redes

assistenciais sobre drogas e observaram a desarticulação entre os serviços. Segundo

os autores, os encaminhamentos são utilizados como forma de aumentar a

integração, sendo que seu aumento significa maior integração dos serviços. Apontam,

entretanto, que, em muitas situações, esses encaminhamentos inserem-se num

sistema de referência e contrarreferência pouco efetivo, podendo resultar em

“descontinuidade do tratamento e em desresponsabilizações por parte dos

profissionais” (COSTA et al. 2015, p. 400).

Em outro estudo, Faraj e Siqueira (2012) pesquisaram a percepção dos

profissionais de um CREAS sobre o atendimento em uma rede de proteção da criança

e adolescente, vítima de violência sexual, e encontraram que, na opinião dos

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profissionais, a rede do município está desarticulada, não conseguindo manter uma

comunicação adequada entre instituições, órgãos e atores. Segundo o Guia de

Orientações nº 1 do CREAS, esse serviço tem importante papel no estabelecimento

de mecanismos de articulação permanente entre setores (BRASIL, 2005). Os autores

apontam que, de acordo com o Guia, “a rede deve estar articulada e operar na

referência e contrarreferência com os demais serviços socioassistenciais” (FARAJ;

SIQUEIRA, 2012, p. 78).

A partir das entrevistas, foi possível observar quais são os principais

problemas enfrentados para a utilização da ficha, seus desafios e as formas

apontadas para sua superação. Essas questões estão expostas nos seguintes relatos:

Eu avalio que ela é excelente, o problema é que ela não é aplicável ainda. [...], no entanto tem gente que, ou responde de outra forma, ou não coloca nada daquelas informações que deveriam, ou quer colocar. [...] O problema está no preenchimento que eles não seguem aquelas orientações [...], eu não sei se é o fluxo de pessoas que mudam ou tem gente que acha que é muito difícil [...] eu acho que um pouco é falta de vontade mesmo. [...] e agora o problema que a gente tem eu acho que é um pouquinho de dificuldade da pessoa que tá do outro lado mesmo, de não querer, de achar que não tem importância, de achar que dá muito trabalho, mas não é falta de formação, porque isso tem... [...] esse ano de novo a gente tá pensando uma formação mais direcionada para os agentes administrativos na questão também da ficha. (E 1)

Porque a nossa ideia, na verdade, penso que a REDE no futuro, a nossa ideia é unificar tudo isso com um sistema online [...] mas eu ainda tenho conhecimento de muitos serviços que não usam e alguns que têm resistência [...] Algumas pessoas dizem “Já tem muito documento para preencher, eu não vou preencher mais um” ou “Eu não vejo utilidade nessa ficha”, então a gente ainda, ainda existem essas coisas, que eu também acho que é natural, que, se a gente for olhar, historicamente, as coisas não são aceitas assim do dia para a noite, às vezes leva um período para as pessoas irem digerindo aquela ideia. (E 2)

Agora tá aumentando, na verdade, a contrarreferência, mas assim, a gente não tem tido muito retorno, não tem de todo mundo não. (E 3)

Não foi alterado, ainda ela, então assim, eu acho que é preciso constantemente ser revisto, é, o que nós tivemos foi problema de ética [...] E aí nós temos aquele problema: alguém não deu a contrarreferência [...] E aí o restante eu acho que nós temos que qualificar nossos servidores para que eles entendam a importância dela e deem a contrarreferência, acho que esse é o importante... .(E 4)

[...] o trânsito dela é que às vezes dificulta um pouco porque ainda nós não temos um sistema integrado entre todos os atores, de atendimento. [...] E tem muita dificuldade, às vezes, também da contrarreferência, nós temos alguns serviços que dão a contrarreferência, mas daí essa é uma queixa da equipe, que muitos ainda não respondem, não dão a contrarreferência. (E 5)

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Kantorski et al. (2017) aponta que, com a adoção de instrumentos de

referência e contrarreferência, as unidades assistenciais adquiriram maiores

responsabilidades, pois passaram a ter a incumbência de não só fazer o

encaminhamento, mas também de pensar a continuidade do cuidado ao usuário. Isso

requer o comprometimento dos profissionais envolvidos com o sistema de referência

e contrarreferência, além do agendamento de seu retorno, garantindo a resolutividade

das demandas. Os autores ponderam que, de maneira geral:

[...] a lógica da corresponsabilização, do trabalho compartilhado, vem sendo tencionada a se sobrepor à lógica do mero encaminhamento, o que faz com que o atendimento não seja responsabilidade exclusiva daquele que recebe, mas exige-se a responsabilidade deste em compartilhar, acompanhar e retornar com as informações dos usuários que foram atendidos (KANTORSKI et al., 2017, p. 07).

Tendo em vista os relatos dos entrevistados, percebe-se que é necessário

que todos os profissionais pautem suas ações na intersetorialidade. A utilização de

instrumentos que possibilitem o diálogo intersetorial é condição para a superação da

lógica de encaminhamentos sem o devido compromisso com o acompanhamento dos

casos (CORTES; PADOIN; KINALSKI, 2016; KANTORSKI et al. 2017).

Segundo Amorin (2016), nos anos de 2012 e 2013, a REDE formou comissões

temáticas para a estruturação de fluxogramas. De acordo com o autor, esses

instrumentos visavam padronizar os encaminhamentos entre os serviços. A

necessidade do desenvolvimento de fluxogramas está presente nos documentos

analisados:

[Representante] fala sobre o objetivo das reuniões da Rede de Atendimento e da necessidade dos vários serviços dos órgãos públicos comunicarem-se e estabelecerem fluxos de atenção e atendimento em comum. (Ata F)

Levanta-se a necessidade de determinarmos um fluxo para os serviços em todas as áreas. (Ata H)

Definição de fluxo de atendimento as vítimas de violência sexual. (OFE 46).

[Fluxograma] constitui-se em uma ferramenta de comunicação para que haja a devida notificação e ação entre os agentes da rede. (MOB, 2010)

Revisão de fluxogramas. (LP 6)

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O fluxograma pode ser entendido como um diagrama, utilizado por diferentes

áreas de conhecimento, com o objetivo de delinear o modo como se organiza um

conjunto de processos de trabalho, vinculados entre si, em torno de uma cadeia de

produção (EGRY; APOSTOLICO; MORAIS 2018; MERHY, 1977).

Atualmente, o município de Cascavel possui 17 fluxogramas estruturados,

divididos em comissões temáticas, conforme é possível verificar no endereço

eletrônico da Prefeitura Municipal (Cascavel, 2018), sendo: Comissão do Adulto - sete

fluxogramas (fluxograma de atendimento de violência física, violência psicológica,

violência sexual, transtorno mental, situações de negligência contra a pessoa idosa,

população de rua e dependência química); Comissão da Criança e Adolescência - dez

fluxogramas (fluxograma de atendimento para a criança e adolescente em situação

de drogadição, prevenção da drogadição na escola, ato indisciplinar, ato infracional,

transtorno mental, transtorno de aprendizagem, situação de violência sexual, situação

de violência física, situação de violência psicológica e negligência, situação de

trabalho infantil); e Comissão da Violência Sexual - dois fluxogramas (fluxograma de

atendimento à violência sexual infantil e violência sexual adulto)20.

Autores defendem que, no que se refere ao trabalho em rede, a definição clara

dos fluxos parece ser fundamental, pois consideram que é necessário pactuar o que

cabe a cada serviço, setor ou política, desenhar os fluxos correspondentes e divulgar

amplamente para todos os profissionais, permitindo, dessa forma, que cada

trabalhador saiba o que fazer e para onde encaminhar (BRIGADÃO; SANTOS; SPINK,

2016; SANTOS; FREITAS, 2017).

Em relação à avaliação do fluxograma pelos entrevistados, foi possível

perceber que possuem uma avaliação positiva, com destaque para a forma de

construção do fluxograma, de forma coletiva e precedida de discussão entre os

envolvidos, entretanto, alguns entrevistados apontam questões a serem superadas,

como problemas com falta de pessoal para a execução das atividades, opções para

encaminhamentos para os adolescentes e a dificuldade de adesão dos usuários ao

atendimento proposto pelo CAPS AD.

Olha, eu acho que eles são bons [fluxogramas]. Eu não vou dizer para você que é cem por cento, nós não temos ainda uma questão de cem por cento, por algumas demandas dos serviços. Olha, o CAPS AD não tem uma demanda

20 No endereço eletrônico da Prefeitura, os fluxos da Comissão da Violência Sexual se repetem na Comissão do Adulto e Comissão da Criança e Adolescente (Cascavel, 2018).

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reprimida porque a gente se vira nos trinta. Mas a gente tem também problema de RH como os demais serviços, dificuldade de RH todos os serviços têm [...] mas o fluxo ele funciona bem, eu gosto do jeito que flui, foi toda a equipe, toda a rede que discutiu esses fluxos, então eu acho assim que chegou mais próximo do ideal, mas eu acredito que sempre há mudanças, não é o ideal, mas ele é o mais próximo do ideal que a gente pode conseguir. (E 1)

[...] e o que eu me recordo é que são fluxos bem discutidos, assim, nós discutimos exaustivamente cada um dos fluxos, então, com certeza deve haver alguns ajustes aí, que a gente vai precisar fazer, mas eu acredito que ele é um fluxo bastante razoável. Sabe, em termos de lógica, de encaminhamentos, de ordem, quem que é primeiro que vai atender, para onde que vai depois [...]. (E 2)

Eu acho que faltam recursos, opções para encaminhamento. Principalmente quando a gente fala em cursos, em atividades, em o que esse adolescente fazer? Então assim, acho que isso é bem limitado. (E 3)

Olha, eu avalio que ele precisa ser revisto, ele precisa constantemente, como qualquer uma das nossas ações, ser avaliado e reavaliado. (E 4)

Olha, eu avalio que é ... como ele está desenhado, ele atende à demanda, só tem a questão de, é ... não, adesão dos adolescentes no CAPS AD, e no atendimento, ela não é de forma muito positiva, a gente tem dificuldade para adesão do adolescente, então acho que isso é um nó, acho que a rede tem que estar discutindo [...]. (E 5)

Para nós é assim, um fluxograma, nosso fluxograma aqui, eu avalio positivo. (E 6)

Esse entendimento também encontra paralelo na literatura. Cortes et al.

(2016) estudaram os instrumentos de articulação intersetorial em uma rede de

proteção a mulheres vítimas de violência e encontraram que:

Foi identificado na fala das profissionais o entendimento que o fluxograma é um dispositivo de fortalecimento para a construção da rede de atenção (...) A reconstrução coletiva foi permeada por saberes das diferentes áreas envolvidas, representadas pelos diferentes serviços, cada um com seus pontos de vista acerca do funcionamento do fluxograma (CORTES et al., 2016, p. 04 - 06).

Em outra pesquisa com profissionais da rede de proteção e cuidado a crianças

e adolescentes usuários de SPA, do município de Betim/MG, Passos et al. (2016, p.

594) observaram que não há fluxograma instituído para os casos de drogadição no

município, sendo essa uma deficiência, visto que “cada equipamento fica circunscrito

a uma definição estrita de sua função”.

Ademais, também se percebe pelas entrevistas que questões estruturais,

como recursos humanos, infraestrutura e materiais insuficientes são limitadoras para

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a efetivação de redes (BARRA; OLIVEIRA, 2016; FARAJ; SIQUEIRA, 2012; PERES;

GRIGOLO; SCHNEIDER, 2017). Um dos entrevistados apresentou como uma das

fragilidades a dificuldade para encaminhamentos dos jovens para recursos

comunitários, a saber cursos, atividades e outros. Autores concordam que redes

sociais de apoio poderiam ser empregadas como uma via possível de contemplar as

demandas dos jovens pelo primeiro emprego, escolarização e lazer, tendo capacidade

de distanciar os jovens do uso de drogas (COSTA et al. 2012; KANTORSKI et al.,

2016).

Por fim, outro instrumento desenvolvido pela REDE foi a realização de

formações dirigidas aos profissionais que atuam nos diferentes serviços e políticas

públicas sociais, com o objetivo de capacitar esses trabalhadores para a utilização

dos instrumentos intersetoriais desenvolvidos. Ocorreram formações nos anos de

2013, 2014 e 2016 (LR 1) (AMORIN, 2016; CASCAVEL, 2018), entretanto, para fins

desta pesquisa, serão apresentados os resultados encontrados apenas na formação

realizada no ano de 2016, tendo em vista a disponibilidade de fontes de dados.

O Programa de Capacitação teve os seguintes objetivos, conforme consta no

formulário Plano de Trabalho do Programa de Capacitação Continuada e Permanente

da REDE:

OBJETIVO GERAL - Promover capacitações continuadas e permanente aos trabalhadores da Rede de Atenção e Proteção Social a fim de aprimorar e aperfeiçoar a qualidade dos serviços prestados aos usuários da Rede do Município de Cascavel. OBJETIVO ESPECÍFICOS – 1. Apresentar aos trabalhadores a organização da Rede (...). 2. Capacitar os trabalhadores para a utilização dos fluxogramas e da Ficha Intersetorial (...). (LR 4, p. 18)

Na atividade Estudo de Caso (Anexo M), foi apresentado aos participantes um

contexto familiar complexo, envolvendo crianças, adolescentes, adultos (homens e

mulheres) e idosos. São descritas, nesse contexto, situações que envolvem saúde

mental, gravidez, evasão escolar, tráfico de drogas, uso de SPA por adultos,

subemprego e desemprego e violência. Os participantes, divididos em grupos

heterogêneos, deveriam indicar encaminhamentos para as situações relatadas,

utilizando-se para isso da Ficha Intersetorial, tendo como base os fluxogramas

pertinentes. As questões apresentadas no Estudo de Caso para que fossem

respondidas pelos participantes foram:

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Quais informações sobre a família ainda são necessárias para uma abordagem integral? Quais ações, intervenções e encaminhamentos devem ser realizados para cada membro da família com base nesse relato? Quais fluxogramas foram utilizados? (RL 5, p. 224)

No que se refere à programação, dentro dos conteúdos abordados, foi dado

ênfase para a apresentação de secretarias envolvidas na REDE. Na primeira etapa,

foram seis apresentações, sendo cinco secretarias municipais (Assistência Social,

Saúde, Educação, Cultura e Esporte e Lazer) e uma da esfera estadual (Educação)

(LR 2, p. 12 - 13).

Na segunda etapa, realizada no segundo semestre de 2016, ocorreram

apresentações das mesmas secretarias com acréscimo na programação de uma

“Mesa Redonda: Defensoria Pública, Ministério Público, Vara da Infância e Juventude

e Conselho Tutelar” (LR 5, p.s.n).

Monnerat e Souza (2014, p.51) destacam, na literatura sobre gestões

intersetoriais, a necessidade de “aprendizagem institucional como meio de obter

resultados mais efetivos destas iniciativas”. Faraj e Siqueira (2012, p. 81-82), em

estudo que pretendeu conhecer a percepção dos profissionais do CREAS quanto ao

atendimento de uma rede de proteção da população infanto-juvenil de um município

do Rio Grande do Sul, encontraram que “a desarticulação da rede, de fato, é uma

fragilidade que requer uma atenção especial”, requerendo o desenvolvimento de

instrumentos e necessária conscientização dos envolvidos para seu uso.

A partir disso, pode se inferir que a referida formação teve como principal

objetivo apresentar ao maior número possível de profissionais, serviços e instituições

envolvidos com as causas sociais, o acúmulo do trabalho intersetorial produzido pela

REDE. Acredita-se, portanto, que essa pode ser considerada uma formação

intersetorial, pois parte de um esforço no sentido de superar a fragmentação setorial.

Nessa perspectiva, rede não é apenas a construção de uma realidade de

vínculos, mas também uma maneira de analisar e entender a realidade social. É por

isso que de uma rede pode resultar um saber intersetorial, que transcende as relações

intersetoriais na construção de novos saberes, de novos paradigmas (Junqueira,

2000).

5.5 AS FRAGILIDADES PARA A CONSOLIDAÇÃO DA REDE

As falas dos entrevistados evidenciam a existência de aspectos a serem

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superados e alguns problemas identificados para a consolidação da REDE, sendo

eles: rotatividade dos representantes na REDE, quantidade de profissionais

insuficientes para a execução das políticas, baixos salários, demanda reprimida e fila

para acesso a alguns serviços, insuficiência de projetos e programas voltados ao

público jovem e a não institucionalização, como é possível verificar abaixo:

[...] A gente tem muito que caminhar, a gente tem uma fila, uma demanda reprimida enorme, em CMEI, a gente tem demanda reprimida em CREAS, a gente tem demanda reprimida na saúde. (E1) [...] a única coisa que eu vejo que falta muito nessa rede é que são poucos profissionais ainda, embora pareçam muitos, mas frente à demanda eu acho que precisaria de mais profissionais dos serviços [...] porque eu vejo, assim, uma rotatividade muito grande desses profissionais por conta dos baixos salários que são pagos. (E 2) Daí eu vejo como desafio, para a rede hoje, é na parte de estabelecer, junto com os atores, as prioridades, dos recursos, das políticas sociais. (E 5)

Os desafios apontados para a construção da REDE convergem com o

encontrado na literatura. Vieira e Hasse (2017) encontraram que, na opinião de

profissionais que atuam em rede intersetorial, voltada a mulheres vítimas de violência,

em um município de porte médio, o principal problema que dificulta o atendimento é a

falta de infraestrutura, principalmente de recursos humanos.

Faraj e Siqueira (2012, p. 79), em entrevistas com profissionais do CREAS,

sobre uma rede municipal de proteção à criança e adolescente vítimas de violência,

evidenciaram que os principais dificuldades encontradas pelos trabalhadores eram

relacionadas à estrutura física, “reduzida equipe de profissionais, grande demanda,

falta de materiais de trabalho”, entre outros.

Costa et al. (2015) encontraram dados semelhantes em relação aos CAPSs

ADs, após uma revisão narrativa da literatura sobre as redes assistencias a respeito

de drogas. A literatura aponta como frequentes os problemas na estrutura física,

escassez de recursos humanos e falta de subsídios. Os autores problematizam sobre

as consequências negativas aos usuários de uma participação “aquém do Estado na

implementação das políticas sobre a temática” (COSTA et al., 2015, p. 397).

Bittencourt et al. (2018) encontraram que a principal reclamação de usuários e

acompanhantes de um CAPS AD estava na infraestrutura das instalações físicas.

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Peres, Grigolo e Schneider (2017) relacionam a falta de profissionais com

demanda excessiva de trabalho a partir de relatos de profissionais envolvidos na

implementação de um programa de prevenção ao uso abusivo de drogas. Segundo

os autores, a demanda excessiva de trabalho:

[...] apareceu como uma variável que intervém na prática do programa, também pode estar relacionada à falta de profissionais, sendo esta uma outra dificuldade para estabelecer a intersetorialidade. A escassez de pessoas nos serviços e instituições, destes setores, compromete o funcionamento e a organização dos mesmos, pois acaba restringindo as ações e intervenções, sobrecarregando alguns profissionais (PERES, GRIGOLO, SCHENEIDER, 2017, p. 879).

Pesquisa realizada por Pagliace (2019), com profissionais da enfermagem de

um hospital geral de ensino, que possui leitos de saúde mental destinados a crianças

e adolescentes usuárias de substância psicoativa, localizado no Oeste do Paraná,

identificou que os trabalhadores afirmam encontrar dificuldades para a execução do

cuidado, tendo em vista a insuficiência na quantidade de recursos humanos e ao

espaço físico restrito da unidade para a quantidade de pacientes que atendem.

Em pesquisa com profissionais do CAPS II e AD do munícipio de Natal/RN,

Bezerra e Dimenstein (2008, p. 638) perceberam a existência de superlotação dos

serviços e demanda reprimida “como resultado de uma rede de atenção básica não

eficaz, a deficiência de suporte dos serviços existentes e o número insuficiente de

profissionais”. Os autores destacam que essas dificuldades, por serem estruturais,

precisam ser entendidas como efeitos das políticas econômicas, adotadas pelos

governos, sendo que são reflexos da economia mundial. Em Nota Técnica, o Instituto

de Pesquisa Aplicada (IPEA) evidencia que, no Brasil, o patamar de gastos com

políticas assistenciais (gastos do Ministério de Desenvolvimento Social) passou “de

R$ 36 bilhões em 2006 para R$ 74 bilhões em 2015”, refletindo na disponibilidade

maior de medidas socioprotetivas em relação a populações vulneráveis (PAIVA et al.,

2016, p. 14). Entretanto, no que se refere à oferta de serviços socioassistenciais, a

referida nota aponta que:

A despeito dos avanços já logrados, há lacunas, seja de cobertura insuficiente de alguns equipamentos, seja de estruturação dos mesmos, conforme evidenciam as carências técnicas e operacionais observadas em parcela importante dos Cras e Creas (PAIVA et al., 2016, p. 25).

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No Brasil, em 2016, foi promulgada a Emenda Constitucional Nº 9521 (BRASIL,

2016c), que institui o Novo Regime Fiscal. Estudos desenvolvidos pelo IPEA apontam

que a mudança poderá trazer impactos negativos no campo assistencial. Em um dos

estudos, os autores da referida nota indicam que o Novo Regime Fiscal:

[...] representará perdas expressivas para o campo assistencial. (...) poderá comprometer os avanços realizados em relação ao combate à pobreza e à desigualdade, e à promoção da cidadania inclusiva. (...) poderá impor uma descontinuidade da oferta socioprotetiva, o que constrangerá as proteções já afiançadas pela política assistencial (PAIVA et al., 2016, p. 4).

No que se refere à área da saúde, os autores de nota técnica do IPEA

destacam que, com o Novo Regime Fiscal, os impactos decorrentes da desvinculação

das despesas dessa área poderão resultar em perda de recursos, quando

comparadas às regras de vinculação das Emendas Constitucionais nº 29 e nº 86 e,

ainda, à diminuição per capita do gasto público com saúde (VIERA; BENEVIDES,

2016). Essa situação, segundo os autores, poderá trazer como consequência a:

[...] desobrigação dos governos de alocarem mais recursos em saúde em contextos de crescimento econômico, (...) o provável aumento das iniquidades no acesso a bens e serviços de saúde e dificuldades para a efetivação do direito à saúde no Brasil (VIEIRA; BENEVIDES, 2016, p. 4).

Com isso, é possivel inferir que, com o cenário desenhado após a EC Nº 95,

as políticas direcionadas à juventude, incluindo as ligadas ao atendimento a crianças

e adolescentes usuárias de SPA, passarão a ficar comprometidas, uma vez que as

dificuldades apontadas pelo entrevistados, evidenciando escassez de recursos

humanos e infraestrutura, serão agravadas, repercutindo, acredita-se, negativamente,

na construção da rede intersetorial.

21 A EC Nº 95, anteriormente denominada PEC Nº 241, também conhecida como PEC do Teto de Gastos, foi aprovada no dia 15 de dezembro de 2016. A EC Nº 95 institui um Novo Regime Fiscal no âmbito da União para os próximos 20 anos, ao estabelecer um limite para as despesas primárias, individualizado por cada um dos poderes. De acordo com a Proposta, de 2017 a 2036, o crescimento anual do gasto não deverá ultrapassar a inflação, o que, na prática, congelará, em termos reais, a despesa primária no patamar de 2016 (PAIVA, 2016).

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Outro aspecto destacado pelos entrevistados diz respeito a ações de

Promoção da Saúde. Foi apontada a insuficiência de projetos e programas voltados

ao público jovem, conforme depoimentos a seguir:

Não sei se é questão de recursos, mas falta algumas coisas para encaminhamento, então assim, como eu estava falando, questão de cursos, do que você oferece, porque você faz assim, você desintoxica o adolescente e tenta pensar numa mudança de vida para esse adolescente, e o que você oferece? (E 3) Tá faltando, falta serviço. Falta ainda programas para a rede funcionar, falta muitas políticas públicas, falta políticas públicas voltada para a criança e ao adolescente. (E 6)

A Promoção da Saúde tem como foco de ação os determinantes gerais sobre

a saúde (CARVALHO; BUSS, 2012). A Carta de Ottawa preconiza cinco campos de

ações para a promoção à saúde, sendo: elaboração e implementação de políticas

públicas saudáveis; criação de ambientes favoráveis à saúde; reforço da ação

comunitária; desenvolvimento de habilidades pessoais; e reorientação do sistema de

saúde (LOBATTO; GIOVANELLA, 2012).

Medina (2011) destaca que as políticas públicas sobre drogas devem ser

pensadas de forma mais ampla, articuladas com políticas de cultura, esporte, lazer e

outros. Em relação à juventude, é fundamental que as políticas procurem ampliar a

socialização dos jovens, com a “oferta de programas, equipamentos públicos, de

cultura, esporte, lazer e inclusão digital, gerido por jovens e com estrutura necessária

para seu funcionamento” (MEDINA, 2011, p. 117-118).

O ECA (BRASIL, 1990), seguindo o artigo 227 da Constituição Federal

(BRASIL, 1988), assegura aos jovens o direito à educação, à cultura, ao esporte, à

profissionalização e ao lazer.

Gomes, Sá e Neira (2016, p. 47), ao analisar a intersetorialidade no contexto

da educação integral, discutem que, para garantir o exposto no ECA, é necessária

não somente a escola, mas também uma “série de setores em funcionamento em

favor da proteção integral, agindo com suas competências específicas e de forma

coordenada”.

Em seu artigo 59º, o ECA estabelece que “os municípios, com apoio dos

estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para

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programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude”

(BRASIL, 1990, p. 18).

Com isso, é possivel perceber que, do ponto de vista dos entrevistados, o

município de Cascavel, bem como os outros níveis da gestão pública, não vem

aplicando adequadamente recursos que visam à promoção à saúde de crianças e

adolescentes usuários de drogas, conforme preconizado no ECA. Essa situação deve

se agravar, tendo em visa o novo Regime Fiscal.

Outro aspecto apontado pelos entrevistados diz respeito à formalização da

REDE.

[...] nós existimos de fato, mas formalmente nós não existimos. (E 1) [...] institucionalizar a rede, oficializar ela em termos de papel [...] com toda essa troca de pessoal, da nova gestão e tal (refere-se a troca de prefeito municipal e por consequência da gestão municipal), nós temos que ter agora uma capacitação, temos que capacitar o pessoal. (E 4)

É importante que se diga que, durante o período estudado, houve movimentos

no sentido de formalização da Rede pelo executivo municipal, incluída a elaboração e

aprovação, em 2017, pelos representantes, de um Regimento Interno (RI) (LP 5) como

uma etapa para a institucionalização da REDE. Entretanto, esse ainda é um desafio a

ser superado.

Autores defendem a necessidade de institucionalizar as experiências

intersetoriais, como as redes. Monnerat e Souza (2009) discutem que a ação

intersetorial não deve se resumir às articulações passageiras, visando atender

demandas emergentes. Nesse sentido, para as autoras, é “necessário conferir

institucionalidade ao processo de construção da intersetorialidade no nível local”

(MONNERAT; SOUZA, 2009, p. 210).

Por sua vez, Avelar e Malfitano (2018) estudaram as redes vinculadas às

principais políticas públicas do município de Campinas/SP e apontam que a

articulação intersetorial tem a potencialidade para garantir acesso às políticas sociais,

por ampliar seu alcance; entretanto, necessita-se de institucionalidade. Cortes, Padoin

e Kinalski (2016, p. 8) estudaram a construção coletiva de instrumentos para o

atendimento em rede no município de Santa Maria/RS e observaram a “necessidade

de formalizar institucionalmente os dispositivos construídos”.

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Por outro lado, os autores ponderam que o trabalho em rede formalizado por

si só não garante a articulação entre os serviços e suas interconexões. Em sua

pesquisa, Lavoratti (2013, p.287-288) problematiza que:

[...] a partir de sua institucionalização pela gestão municipal, a “Rede” assumiu novas características ligadas à administração pública tradicional (hierarquia, burocracia, etc.). No entanto, coexistem na atualidade elementos da proposta que originou esta experiência coletiva (cooperação, comunicação ágil, discussão conjunta, etc.), o que gera uma permanente tensão entre a proposta original de “Rede” (presente no imaginário de alguns parceiros e dos profissionais que atuaram na sua construção) e a configuração que se formou a partir da “incorporação” do Programa intersetorial pelo governo municipal.

Ademais, outro aspecto referente à formalização da REDE, levantado pelos

entrevistados, diz respeito à influência que eleições para o executivo e legislativo

municipal podem exercer nesse processo. Corroborando Monnerat e Souza (2014),

citam o caso da experiência intersetorial no município de Niterói/Rj, na qual

evidenciam que o processo eleitoral local impactou negativamente no arranjo

intersetorial que vinha sendo construído no Município. No mesmo sentido, Kiss et al.

(2007) consideram que estratégias inovadoras, como o caso das redes intersetoriais

não consolidadas, são dependentes dos momentos políticos da gestão municipal,

comprometendo a realização das ações.

Foi possível observar, portanto, que as fragilidades para a consolidação da

REDE, apontadas pelos entrevistados, encontram equivalência em outros estudos. A

insuficiência de recursos humanos e de infraestrutura, a demanda de atendimento e

insuficiência de programas e projetos voltados aos jovens, merecem destaque, tendo

em vista o cenário negativo apontado por pesquisadores, no que se refere às finanças

públicas para os próximos 20 anos; isso repercute na possível diminuição de ações

intersetoriais e de promoção à saúde. As mudanças percebidas na política local, como

a não formalização até o momento da REDE e os efeitos decorrente de disputas

político-partidárias, também são apontadas como fragilidades a serem superadas.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Existe consenso na sociedade em geral e, especificamente, entre

pesquisadores e profissionais de saúde, de que o uso de drogas por crianças e

adolescentes é prejudicial, com impactos no seu desenvolvimento biopsicossocial,

podendo ser considerado um complexo problema de saúde pública.

O conceito de Determinação Social de Saúde contribui para esse

entendimento, com uma concepção ampliada do processo saúde-doença, visto que

se considera a saúde como resultado de um amplo espectro de fatores e, de forma

crítica, propõe intervenções para além das práticas médico-assistenciais. No mesmo

sentido, a DPI também contribui, pois propõe ações articuladas de diversos setores

no sentido de garantir a proteção integral a crianças e adolescentes.

Outras áreas, para além da saúde, a exemplo da educação e assistência

social, também discutem a relevância de ações intersetoriais como importantes

instrumentos no enfrentamento do complexo problema de crianças e usuários de SPA,

sobretudo, nas camadas mais pobres da população, tendo em vista sua associação

com a criminalidade e doenças.

Entretanto, ainda hoje, persiste o desenvolvimento de ações fragmentadas,

desarticuladas e paralelas, resultado, entre outras coisas, da forma como

tradicionalmente e culturalmente ainda se organizam as políticas públicas no Brasil.

Por outro lado, pesquisadores e profissionais vinculados, diretamente, à assistência

de crianças e adolescentes usuárias de SPA, concordam que essa situação, por ser

multifacetada, requer ações intersetoriais para seu enfrentamento.

No Brasil, desde a década de noventa, vêm se desenvolvendo experiências

intersetoriais com diferentes características, as quais buscam romper com a

fragmentação setorial, contudo, há a necessidade de mais estudos sobre o tema.

Na experiência concreta de Cascavel, foi observado o desenvolvimento de

ações no sentido de reunir diferentes setores, governamentais e não-governamentais,

para o enfrentamento de problemas sociais complexos, como é o caso do uso e abuso

de drogas por crianças e adolescentes. Essa rede intersetorial se organizou de uma

certa forma, diferindo e se aproximando de outras experiências estudadas.

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Tendo isso em vista, considera-se que o objetivo de compreender a relação e

a articulação da RAPS, no que se refere ao atendimento de crianças e adolescentes

usuários de substâncias psicoativas, com a REDE, foi alcançado. Destaca-se,

entretanto, que os limites dessa pesquisa foram: a) o desenho metodológico adotado

não incluiu representantes de usuários, de familiares, dos serviços não-

governamentais e da atenção primária; b) a indisponibilidade de parte dos arquivos

documentais da Rede e do Núcleo da Criança e Adolescente e c) escassez de

publicações referentes ao tema.

Foi possível observar que essa experiência se desenvolveu com

características de rede. Os relatos dos entrevistados e os documentos coadunam com

o descrito na literatura com referência à ideia de democracia, relações horizontais e

conexão entre pontos e parcerias. Constatou-se, ainda, similaridade com as

experiências de ações intersetoriais realizadas nas esferas locais.

A rede intersetorial, na experiência de Cascavel, não se estrutura em torno de

uma temática específica. Em sua organização, existe uma coordenação geral e

núcleos temáticos. Outra característica observada diz respeito à existência da

compreensão de que essa rede intersetorial busca superar a fragmentação setorial,

mas sem, com isso, romper com a forma de organização setorial existente. Nesse

sentido, houve referências à sinergia, potencialização de ações e trabalho conjunto.

Aspectos históricos também foram levantados, contribuindo com a

compreensão de como efetivou-se a construção histórica da REDE.

Foi possível afirmar que o início da REDE, da forma como é conhecida hoje

em dia, ocorreu em 2009, como resultado do movimento de organizações de outras

redes temáticas no município, em torno de temas tido como complexos. Inicialmente,

foi denominada Rede de Atenção e Proteção a Crianças e Adolescentes. Essa

primeira organização teve protagonismo de técnicos e gestores da NRE e debruçava-

se em torno de situações que envolvessem crianças e adolescentes com demandas

escolares. As primeiras ações intersetoriais desenvolvidas nesse processo foram no

sentido de proporcionar que cada setor assistencial se reconhecesse, reciprocamente,

na sua especificidade e naquilo que tem em comum. Além disso, a organização

intersetorial, desenvolvida em Cascavel, foi influenciada pela adoção de políticas

sociais com características inclusivas, tendo como marco a CF de 1988.

A forma como se relacionam os serviços que compõem a RAPS e outros

serviços, no atendimento de crianças e adolescentes usuários de SPA, segue, além

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dos dispositivos legais de cada área, o SUS, o ECA, os fluxogramas de atendimento

à drogadição, o uso da Ficha de Referência e Contrarreferência, ambos instrumentos

intersetoriais. Os participantes do estudo utilizavam os instrumentos, ainda que as

relações ocorressem para além do uso estrito da ficha, com contatos entre os

trabalhadores via e-mail e/ou telefone. Ressaltaram a característica dessa articulação

com referências à horizontalidade, cooperação, integração, intersetorialidade, diálogo,

relação entre parceiros, troca de informações para obtenção de condições

preexistentes e ações desenvolvidas.

Foi possível perceber que o CAPS AD procura cumprir seu papel de

articulador da rede, como ponto especializado da atenção psicossocial no

atendimento a esse grupo específico, no que se refere à intersetorialidade, exercendo,

conforme demonstrado, protagonismo, que converge com o modelo assistencial,

proposto pela Reforma Psiquiátrica.

Admite-se que o desenvolvimento da REDE buscou superar a fragmentação

setorial. Esse estudo, tendo como base os conceitos de práxis e processo de trabalho,

entendeu que se trata de um trabalho intersetorial, coletivo, executado por

trabalhadores técnicos de diversas áreas, construído historicamente e em

desenvolvimento, o qual tem como fim superar a fragmentação setorial.

Foram percebidas, ainda, as fragilidades no que se refere à consolidação da

REDE, sendo: a rotatividade dos representantes; quantidade de profissionais

insuficientes para execução das políticas; baixos salários; demanda reprimida; e fila

para acesso a alguns serviços. Outras fragilidades apontadas foram: a insuficiência

de projetos e programas, voltados ao público jovem, na perspectiva de promoção à

saúde; e a não institucionalização da REDE.

Nesse sentido, tendo em vista o Novo Regime Fiscal, adotado no Brasil, em

2017, pode-se inferir que, no que se refere ao financiamento, a tendência é a

progressiva redução de recursos destinados às políticas sociais consagradas na CF

de 1988, o que pode levar ao desmonte dessas políticas, com reflexos diretos nas

ainda modestas ações intersetoriais. Essa situação requer que os trabalhadores, já

conscientes da necessidade de ações intersetoriais para a efetivação das diversas

políticas públicas, se organizem com o objetivo de defender a revogação da EC 95 e

defender a ampliação de tais políticas. Além disso, aponta-se a importância de mais

estudos com o objetivo mensurar o impacto dessas situações na implementação da

REDE.

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Com isso, espera-se ter contribuído para a ampliação do conhecimento sobre

a intersetorialidade, como possibilidade para a superação de práticas setoriais

fragmentadas, que se distanciam da efetividade das ações desenvolvidas no

atendimento de crianças e adolescentes usuárias de SPA. Para tanto, demonstrou-se

a intersetorialidade como uma experiência concreta, de maneira que a construção da

REDE é um processo histórico e em desenvolvimento.

Assim, este estudo poderá, acredita-se, trazer subsídios para as reflexões e ações

relacionadas ao desenvolvimento da REDE, contribuindo com melhorias no

atendimento às crianças e adolescentes usuários de SPA.

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APÊNDICES

APÊNDICE A – Roteiro para a coleta de dados da pesquisa documental

1) Como se organiza a Rede de Atenção e Proteção Social?

2) Quem são as lideranças da Rede de Atenção e Proteção Social?

3) De que forma são organizadas as reuniões da Rede de Atenção e Proteção Social?

4) Que temas são e foram tratados e debatidos nas reuniões da Rede de Atenção e Proteção

Social?

5) Que decisões são e foram tomadas nas reuniões da Rede de Atenção e Proteção Social?

6) Que eventos foram realizados pela Rede de Atenção e Proteção Social?

7) Formações e capacitações realizados pela Rede de Atenção e Proteção Social?

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APÊNDICE B - Instrumento de Coleta de Dados

Idade:______ Sexo:______ Formação acadêmica:_______________________

Você representa qual setor: ( ) Assistência Social ( ) Saúde ( ) Educação

( ) Conselho Tutelar ( ) Ministério Público

Em que serviço você atua?________________________________________

Que função você desempenha? ____________________________________

Tempo de atuação na Rede como representante:________________________

1. O que você entende por intersetorialidade?

2. O que você entende por trabalho em Rede?

3. Como seu serviço se relaciona com os demais serviços da Rede de Atenção e

Proteção Social de Cascavel?

4. Como funciona o fluxo de atendimento à drogadição desenvolvido pela Rede

de Atenção e Proteção Social de Cascavel?

5. Como você avalia esse fluxograma?

6. Você conhece a ficha intersetorial de referência e contra referência? Como você

a avalia?

7. Diga-me o que você pensa sobre o trabalho desenvolvido pela Rede de

Atenção e Proteção Social de Cascavel.

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APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

Título do Projeto: INTERSETORIALIDADE NO ATENDIMENTO DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS NO MUNICÍPIO

DE CASCAVEL -PR.

Pesquisador responsável: Giancarlo Tozo - (45) 99129-6755

Convidamos__________________________________________________ a

participar como voluntário (a) da pesquisa intitulada “INTERSETORIALIDADE NO

ATENDIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS

PSICOATIVAS NO MUNICÍPIO DE CASCAVEL -PR”. O objetivo do estudo é

compreender a relação e a articulação da Rede de Atenção Psicossocial com a Rede

de Atenção e Proteção Social do município de Cascavel - PR para o atendimento de

crianças e adolescentes usuários de substâncias psicoativas. Para isso será realizada

pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e aplicação de entrevista

semiestruturada. Para a realização da entrevista será aplicada o questionário para

servidores públicos que participam como representantes na Rede de Atenção e

Proteção Social de Cascavel, há pelo menos seis meses. O estudo não implica em

nenhum risco para você, apenas a disponibilidade de tempo para responder o

instrumento, no seu local de trabalho, no horário que melhor lhe convir. Caso sinta-se

desconfortável durante a entrevista, nos comprometemos a tomar as devidas

providências. O estudo poderá contribuir para a melhoria do atendimento as crianças

e adolescentes usuários de SPA, pois se espera que traga subsídios para as reflexões

e ações relacionadas ao desenvolvimento da Rede de Atenção e Proteção Social no

município de Cascavel, além de colaborar para a ampliação de políticas voltadas para

o cuidado de crianças e adolescentes usuários de SPA. Não haverá qualquer custo

por estar participando deste estudo, e não haverá nenhuma indenização pela

participação do mesmo. Para algum questionamento, dúvida ou relato de algum

acontecimento os pesquisadores poderão ser contatados a qualquer momento. Uma

cópia deste TCLE será entregue a você, será mantida a confidencialidade do que você

me informar e os dados serão utilizados apenas para fins científicos. Você poderá

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cancelar sua participação a qualquer momento, através de contato com o Comitê de

Ética pelo telefone (45)3220-3272. Declaro estar ciente do exposto e desejo participar

da pesquisa

___________________________ ___________________________

Nome Assinatura

Eu, Giancarlo Tozo, declaro que forneci todas as informações do projeto ao

participante e/ou responsável.

____________________ Assinatura Pesquisador

Cascavel, ___de ______________de 2018.

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APÊNDICE D – Artigo Cientifico

A ARTICULAÇÃO INTERSETORIAL NO ATENDIMENTO DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

RESUMO

Objetivo: Compreender a articulação entre duas redes de atenção psicossocial e proteção social

de o município no Oeste do Paraná, no atendimento de crianças e adolescentes usuários de

substâncias psicoativas.

Métodos: Trata-se de pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória. A coleta de dados foi

documental e por meio de entrevistas semiestruturadas, com trabalhadores das referidas redes,

no período de janeiro a abril de 2018, e analisadas por meio de análise temática.

Resultado e Discussão: Identificou-se a articulação entre as redes por meio da

intersetorialidade, da horizontalidade, da cooperação e da integração no atendimento a crianças

e adolescentes usuárias de substâncias psicoativas.

Conclusões: A relação entre as redes se organiza a partir dos dispositivos legais dos diversos

setores envolvidos e de fluxogramas de atendimento a drogadição e a ficha de referência e

contrarreferência, além da comunicação entre os trabalhadores, contribuindo para a superação

de práticas setoriais fragmentadas.

Descritores: Intersetorialidade. Saúde Mental. Serviços de Saúde Mental. Criança.

Adolescente.

RESUMEN:

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Objetivo: Comprender la articulación entre dos redes de atención psicosocial y protección

social de municipio en el Oeste de Paraná, en la atención de niños y adolescentes usuarios de

sustancias psicoactivas.

Métodos: Se trata de una investigación cualitativa, descriptiva y exploratoria. Recolección de

datos documental y por medio de entrevistas semiestructuradas, aplicadas a trabajadores de

dichas redes, durante el período de enero a abril de 2018, y fueron analizadas con base en

análisis temático.

Resultados y discusión: Se identificó la articulación entre las redes por medio de la

intersectorialidad, de la horizontalidad, de la cooperación y de la integración en la atención a

niños y adolescentes usuarios de sustancias psicoactivas.

Conclusiones: La relación entre las redes se organiza a partir de los dispositivos legales de

los diversos sectores involucrados y de flujogramas de atención a la drogadicción, además de

la ficha de referencia y contrarreferencia, así como de la comunicación entre los trabajadores,

lo que contribuye a la superación de prácticas sectoriales fragmentadas.

Descriptores: Colaboración Intersectorial. Salud Mental. Servicios de Salud Mental. Niño.

Adolescente.

La articulación intersectorial en el cuidado de los niños y los adolescentes usuarios de

sustancias psicoactivas

ABSTRACT

Objective: To understand the articulation between psychosocial attention and social

protection’s networks of West Paraná’s county, in the care of children and adolescents

psychoactive substances’ users.

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Methods: It is qualitative, descriptive and exploratory research. The data collection was

documental and through semi-structured interviews with networks’ workers, from January to

April of 2018, and analyzed through thematic analysis.

Results and discussion: The articulation between the networks was identified through

intersectoriality, horizontality, cooperation and integration in the care of children and

adolescents psychoactive substances’ users.

Conclusions: The relationship between the networks is organized based on legal provisions

from various involved sectors and flowcharts of drug addiction service, in addition to the

reference and cross-reference forms, as well as communication among professionals, which

contributes to overcome fragmented sectoral practices.

Descriptors: Intersectoral Collaboration. Mental Health. Mental Health Services. Child.

Adolescent.

The care’s intersectoral articulation of children and adolescents’ psychoactive users

INTRODUÇÃO

A problemática das Substâncias Psicoativas (SPA), dada sua complexidade, não pode

ser tradada de forma fragmentada e simplista, requerendo ações igualmente complexas, numa

perspectiva integral e intersetorial. Importantes instituições e organizações formuladoras de

políticas públicas ligadas ao setor saúde também defendem a necessidade da articulação

intersetorial como forma de reverter a fragmentação existente, no que diz respeito às políticas

de saúde de forma geral e mais especificamente de saúde mental e de drogas (1,2).

A partir da década de noventa, no Brasil, programas federais de áreas como saúde,

educação e serviço social trazem consigo a articulação das ações setoriais de políticas públicas

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como pressuposto(3). Como resultado destaca-se as chamadas redes intersetoriais que buscam

articular setores, redes setoriais, serviços e programas (sejam governamentais ou não-

governamentais, com o objetivo de superar práticas fragmentadas no enfrentamento de

demandas complexas, a exemplo do uso de SPA por crianças e adolescentes(4).

Dentre as redes de saúde existentes, encontra-se a Rede de Atenção Psicossocial

(RAPS) que tem como diretriz a intersetorialidade e que se apresenta como alternativa, no que

se refere as formas de organização ou reorganização do processo de trabalho (5).

Entretanto, observa-se que são escassos os avanços para a superação das práticas

fragmentadas que se caracterizam pela ausência de diálogo/interação entre atores e setores que

constituem as redes de saúde, nelas são recorrentes as polarizações entre serviços ambulatoriais

ou hospitalares e a falta de comunicação entre os diferentes pontos de atenção. Isso porque as

práticas intersetoriais têm como desafio o enfrentamento do pensamento científico hegemônico

que valoriza a divisão entre os campos do saber e das práticas (6).

O município do estudo conta com a RAPS e, desde 2010, está articula-se com a Rede

de Atenção e Proteção Social (REDE), composta por profissionais de entidades governamentais

e não-governamentais vinculadas às diversas políticas públicas, cujo pressuposto é a construção

de uma rede intersetorial mediante a compreensão dos processos organizacionais dos

equipamentos sociais, tendo em vista a ampliação da comunicação e articulação entre os

serviços, para os encaminhamentos mais adequados às necessidades sociais(7).

Tendo em vista o exposto, essa pesquisa se propôs ao estudo dessas duas redes que

atendem crianças e adolescentes usuários de SPA em município da região Oeste do Paraná: uma

setorial da área da saúde, denominada Rede de Atenção Psicossocial – RAPS e outra

intersetorial, denominada Rede de Atenção e Proteção Social - REDE.

Este artigo tem como objetivo compreender a articulação entre essas duas redes, sendo

uma de atenção psicossocial e a outra de proteção social, em um município no Oeste do Paraná,

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no atendimento de crianças e adolescentes usuários de substâncias psicoativas. Espera-se, com

isso, trazer subsídios para as reflexões e ações relacionadas ao desenvolvimento da REDE

melhorando a articulação intersetorial e contribuindo com melhorias no atendimento às crianças

e adolescentes usuários de SPA.

MÉTODOS

O processo de construção da experiência intersetorial na realidade estudada é resultado

de um trabalho humano complexo, social, provisório e histórico e por isso deve ser entendido

a partir de sua totalidade social e como uma construção histórica. Com essa compreensão, dada

a natureza do fenômeno, optou-se por realizar uma pesquisa de tipo qualitativa, descritiva e

exploratória.

De forma operacional foram utilizadas a pesquisa bibliográfica, documental, e

entrevistas semiestruturadas, com seis trabalhadores dos serviços que compõem as redes, que

foram escolhidos intencionalmente com vistas ao alcance dos objetivos.

A coleta dos dados documentais ocorreu no período de junho a dezembro de 2018. Os

documentos foram identificados da seguinte forma: Atas: Ata A, Ata B e assim sucessivamente,

até o último documento; Ofícios: Ofício Expedido de número um - OFE1 e assim

sucessivamente até o último documento. Ofício Recebido de número um - OFR 1 e assim

sucessivamente até o último documento; Publicações da REDE: Manual de Orientações Básicas

- MOB 2010 e Caderno de Orientação Básica - COB 2015;; Livros de Registros do Programa

de Capacitação: Volume I, 1º Etapa – LR 1; Volume II, 1º Etapa – LR 2 e assim sucessivamente

até o último livro, acrescido da página de onde se encontram, quando for o caso. Para páginas

sem número, foi utilizada a sigla (p.s.n); Fluxograma de número um - Fx 1; Ficha de Referência

e Contrarreferência – FIRC.

Os trabalhadores incluídos foram representantes de serviços das políticas públicas

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diretamente relacionadas ao atendimento de crianças e adolescentes usuários de SPA, que

participam da REDE, com pelo menos seis meses de atuação. Dos serviços que compõem a

RAPS foram entrevistados profissionais do Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Droga

(CAPS AD) e da Unidade de Desintoxicação vinculada a um hospital de ensino público, ambos

serviços de saúde especializados no atendimento a usuários de álcool e outras drogas, conforme

a Portaria MS/GM 30.88/11(5). Os demais integram outros serviços que também atendem a essa

população, mas não de forma especializada, sendo eles o Programa de Prevenção e Combate à

Evasão Escolar, o Serviço Auxiliar da Infância e Juventude (SAI), o Conselho Tutelar (CT) e o

Centro de Referência Especializado de Assistência Social II (CREAS II).

As entrevistas foram gravadas e realizadas entre janeiro e abril de 2018,

posteriormente transcritas na íntegra e agrupadas para análise. Os participantes foram

identificados da seguinte forma: E1, E2 e assim sucessivamente.

Para a análise e interpretação dos dados foi utilizada a técnica de Análise de Temática

seguindo as etapas: pré-exploração do material ou de leituras flutuantes; seleção das unidades

de análise (ou de significados); categorização e subcategorização (8).

Foram respeitados os aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos, sendo

que o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob parecer nº 2.195.173/17 e

CAAE nº 70756017.7.0000.0107.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da análise dos documentos e entrevistas identificaram-se as seguintes

unidades: articulação entre os serviços da RAPS que atendem diretamente crianças e

adolescentes usuárias de SPA, a articulação entre a RAPS e a REDE para esses atendimentos,

horizontalidade, cooperação, integração, intersetorialidade, diálogo, relação entre parceiros,

troca de informações para melhor conhecimento sobre condições preexistentes e ações

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desenvolvidas. Possibilitando a elaboração da categoria: A articulação entre a RAPS e os

demais serviços que atendem crianças e adolescentes usuárias de SPA.

Identificou-se, tendo como base os documentos analisados, que os serviços que

participam da REDE são CAPS AD e o hospital de ensino público com sua Ala de

Desintoxicação para casos graves de crianças e adolescentes usuários de SPA (MOB 2010, COB

2015, OFR 08, OFR 22).

O CAPS AD é definido, na Portaria MS/GM 3038/2011, com base no ECA, como

ponto especializado da Atenção Pisocossocial no atendimento a adultos ou crianças e

adolescentes usuárias de SPA, com atendimento aberto, regionalizado e comunitário. Por sua

vez a Ala de Desintoxicação do hospital de ensino público pode ser classificada como o

componente hospitalar da RAPS (5).

A RAPS tem como referência a concepção da Reforma Sanitária, que embasou a

Reforma Psiquiatrica Brasileira, segundo a Lei 10216/2001, e articula os pontos de atenção a

saúde para portadores de transtorno mental e usuários de SPA. A referida Lei possibilitou uma

configuraçãofavorável e promissora para a saúde mental no Sistema Único de Saúde (SUS),

pois redirecionou o modelo de assistência em saúde mental(9-11).

No que se refere a atenção ao usuário de SPA, no âmbito do SUS, a Política Nacional

de Atenção Integral aos Usuários de Álcool e Outras Drogas, instituida após 2004, é

considerada como conquista da Reforma Psiquiátrica Brasileira, pois redefine e amplia a

atenção integral a essa população(12).

Portanto, para entender uma rede assistencial sobre drogas deve-se considerar sua

conformação em relação a RAPS. Em primeiro lugar, os pontos de atenção especializados

devem estar aticulados ao restante da RAPS e os pontos de atenção especializados devem estar

associadas a rede de serviços de saúde e sociais que tenham como objetivo a reabilitação e

reinserção social. Assim, a exemplo da Ala de Desintoxicação, crianças e adolescentes com

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problemas decorrentes do uso de SPA, que segundo a avaliação da equipe multiprofissional do

CAPS AD podem ser beneficiadas m com um atendimento em regime fechado, são incluídos

na Central de Leitos do Estado. Havendo vaga, esses são internados na referida unidade

hospitalar que, por sua vez, após a alta hospitalar, o encaminha ao serviço ambulatorial de

referência, nesse caso o CAPS AD (9-13).

Os documentos demonstram que ambos os serviços, CAPS AD e hospital participaram

de forma diferente como integrantes da REDE e que os trabalhadores da RAPS, incluindo os

outros serviços, participaram de todas as etapas da capacitação realizada no ano de 2016. Há

registro da participação desses trabalhadores nas duas etapas da capacitação: 1) na organização

da capacitação, como facilitadores das palestras e dos trabalhos em salas, nas quais constam o

Serviço Integrado de Saúde Mental do Paraná (SIM/PR), CAPS AD, gerência de saúde mental

do município (LR I, p.s.n; LR 4, p.s.n); e 2) como público da capacitação participaram: SIM/PR,

CAPS AD, gestores da área de saúde mental do município, hospital/Ala de desintoxicação (LR

4, p. 85 - 266).

Verifica-se com isso que os serviços integrantes da RAPS se organizam e participam

da organização da REDE e que houve o protagonismo do CAPS AD nesse processo, visto que

visa a superação das práticas fragmentadas, em consonância a políticas públicas. Esse serviço

tem a responsabilidade de gerenciar fluxos de pacientes e para isso se articula com os outros

componentes da rede. Acredita-se que dessa forma estimula a constituiçao de redes

intersetoriais(14).

Observa-se que ações intersetoriais, preconizadas como diretriz para o funcionamento

de uma rede setorial, foram adotadas pela RAPS no município do estudo, no que diz respeito

ao atendimento de crianças e adolescentes usuários de SPA. Para tanto, tal articulação entre as

redes se dá por meio de instrumentos como o Fluxograma de Atendimento à Criança e

Adolescente em Drogadição, utilizados pelos serviços, conforme é possível verificar no

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documento abaixo.

CRAS, CREAS I, CREAS II, Casa de Passagem Masculina, Casa de Passagem Feminina, Centro

da Juventude, Programa Família Acolhedora, Serviço Especializados em Abordagem Social,

CENSE I e II, Semiliberdade, EURECA I e II, Conselho Tutelar, Escola Municipal, Escola

Estadual, Programa Evasão Escolar, UBS, CAPS AD, UPA Ped., hospital. (FX 1)

Dos 18 serviços elencados no Fluxograma de Drogadição, 13 possuem indicação direta

para encaminhar para o CAPS AD, sendo eles Centro de Referências de Assistência Social

(CRAS), CREAS II, Casa de Passagem Masculina, Casa de Passagem Feminina, Centro da

Juventude, Programa Família Acolhedora, Centro de Socioeducação I e II (CENSE),

Semiliberdade, Centro de EURECA I e II, Conselho Tutelar, Escola Municipal, Programa

Evasão Escolar, Unidades Básicas de Saúde (UBS), CAPS AD, Unidade de Pronto Atendimento

(UPA) Pediátrica, Ala de Desintoxicação/hospital. Apenas dois serviços possuem indicação

para encaminhamentos ao hospital, sendo eles a UPA Pediátrica e o CAPS AD (FX 1). Por sua

vez o CAPS AD pode referenciar para UBS, internamento hospitalar especializado e ainda, para

outros setores como esporte, cultura, assistência social, escola, conselho tutelar.

O que corrobora com levantamento da rede de atenção aos usuários de drogas em um

município de médio porte no Brasil, no qual se observou que a maior parte dos serviços eram

de cunho generalista. No município estudado os serviços especializados para o tratamento de

usuários SPA são apenas o CAPS AD e a Ala de Desintoxicação hospitalar. Demonstrando a

coerência do atendimento com o modelo assistencial proposto pela Reforma Psiquiátrica e

também com o disposto nas principais políticas nacionais sobre o tema (9).

Observou-se, portanto, que a forma como se relacionam os serviços da RAPS com a

REDE é mediada pelo fluxograma de atendimento a drogadição.

Na pesquisa documental se evidenciou uma concepção de articulação intersetorial. Os

conceitos que são apresentados como forma de operacionalizar a relação entre os serviços são

os seguintes: horizontalidade, cooperação, integração, intersetorialidade, conforme o

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documento abaixo:

Independente de estar relacionado a esse serviço ou aos demais, objetiva-se facilitar os

atendimentos e procedimentos que acionam a Rede de Proteção de forma que todos estejam

envolvidos na garantia de direitos. Os componentes da Rede de Proteção primam pela

horizontalidade das relações entre seus membros, buscando maior cooperação, valorizando a

integração e a intersetorialidade, ampliando parcerias e envolvendo instituições

governamentais, não governamentais e a comunidade. (MOB 2010)

Essa forma de operacionalizar o trabalho intersetorial, com características de rede,

encontra referência na literatura da área, cujo entendimento aponta para a construção de outra

forma de relação entre setores, com vistas a superação da fragmentação setorial. Importante

destacar que, geralmente, essas relações são apresentadas como hierarquizadas, burocráticas,

fragmentadas, indicando a necessidade de mudanças de concepções, valores e práticas das

organizações públicas para que favoreçam a construção de relacionamentos autônomos,

horizontais, democráticos, com atitudes cooperativas (4-15).

A respeito da articulação entre os serviços e a REDE, as entrevistas destacam

características como o diálogo, a troca de informações, a relação entre parceiros, conforme

depoimentos:

A gente convida o outro serviço, a gente encaminha a ficha e não deixa de usar o telefone [...].

(E 1)

A nossa comunicação básica, assim, o diálogo, se dá por meio da ficha de referência e

contrarreferência. [...]. [...] é importante esse diálogo permanecer e quando você encaminha

uma ficha de referência acho que é essencial que seja precedido ou de uma ligação telefônica:

estou encaminhando um caso, porque a rede pressupõe já conhecimento das pessoas, então,

quando eu ligo, eu já falo o nome da pessoa, já sei o nome da pessoa com quem eu estou falando.

Ligações telefônicas ou e-mails [...]complementando, o que você tiver a mais é sempre assim

essencial. (E 4)

[...] a escola ou o colégio, eles encaminham por e-mail a ficha, a gente recebe todos os dias,

um monte de encaminhamento [...]. (E 6)

[...] nós estamos o tempo todo identificando situações que ferem alguns direitos, [...], o nosso

trabalho, o tempo todo, é fazer o contraponto, a gente entra em contato, muitas vezes, telefônico

[...] então a gente tá o tempo todo fazendo essa articulação com os serviços, então, nós estamos

totalmente relacionados, é... a essa intersetorialidade. (E 2)

O nosso serviço tem um trabalho permanente de visitação nos outros órgãos, também dos

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órgãos para com ele, nesse diálogo, estarmos discutindo tanto o fluxo como qual é a demanda

que é encaminhada. (E 4)

Esse relacionamento da REDE difere do que foi encontrado em estudo que avaliou a

rede de proteção e cuidado a crianças e adolescentes usuárias de SPA do município de

Betim/MG e encontrou que a falta de articulação e de diálogo entre os serviços era agravada

pela existência de poucos espaços para definir ações conjuntas, pois cada serviço ficava

limitado a sua função específica. Nesse sentido, entende-se que os contatos via telefone e e-

mail, além de instrumentos como a Ficha Intersetorial de Referência e Contrarreferência são

necessários pois, para a integração do trabalho intersetorial deve ocorrer um diálogo inicial

entre os serviços para que possa haver comunicação efetiva (16-17).

O relacionamento entre as equipes e serviços ocorre também com o objetivo de

obtenção de informações sobre condições preexistentes de funcionamento e ações já

desenvolvidas. Essas situações são verificadas nas seguintes falas:

[...] a gente não consegue, na maioria das vezes, ver em loco as situações, então assim, a gente

precisa do CRAS, da UBS, para fazer uma visita domiciliar, ver a situação em loco, porque a

demanda aqui é muito grande e o nosso objetivo é atender a demanda aqui, só que eu preciso

saber também desse feedback, dessa questão mais ampla, então assim, eu faço diariamente a

gente faz contato com os serviços da rede para saber de situações, porque nem sempre o que

aparece para nós é o que realmente é, então assim, às vezes, são trazidas certas demandas, e a

gente vai ver com os serviços que estão ali mais próximos, e é outra situação. (E 3)

As escolas, quando elas identificam cinco faltas consecutivas ou sete faltas alternadas, elas

fazem a ação delas [...] em ela não tendo resultado, sucesso, ela manda para evasão

(notificação de evasão escolar). (E 4)

Nosso serviço ele tem uma atuação em rede, fazendo encaminhamentos, recebendo

encaminhamentos e procura essa articulação entre os diferentes serviços das diferentes

políticas. [...] Mas quando o adolescente entra, na entrevista inicial, é identificado as demandas

dos adolescentes e essas demandas daí nós acionamos a rede [...]. (E 5)

A maioria é escola que nos informa, a escola, até às vezes a unidade básica de saúde, porque

ela vai visitando as famílias, as ACS, as agentes de saúde, visitam as famílias, percebem que

aquela mãe, aquele pai tão sendo judiado, tão ali sofrendo, tão tendo problema ali com o filho,

se usando droga, e eles não sabem o que fazer, então as ACS geralmente passam para a

assistente social ou enfermeira, coordenadora da UBS, que vem nos comunicar esse fato. (E 6)

É possível verificar que os entrevistados compreendem a intersetorialidade,

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operacionalizada em uma rede intersetorial, como instrumento para obtenção da integralidade,

além de perceber a determinação social do processo saúde-adoecimento. Além disso, essa

articulação é pautada por práticas interdisciplinares, pois a elaboração dos projetos terapêuticos

dos usuários está embasada em diversas áreas do conhecimento. Cada setor assistencial e seus

profissionais contribuem de forma parcelar, específica e independente dentro de um projeto

assistencial em comum (1, 18).

Portanto, observa-se que a relação entre os serviços da RAPS e entre esses e os demais

serviços é mediada pelo trabalho desenvolvido pela REDE, o qual ocorre em uma perspectiva

de rede intersetorial, com a ressalva, por parte dos entrevistados, dos instrumentos intersetoriais

desenvolvidos como o intuito de se alcançar a integralidade na assistência aos jovens usuários

de SPA, como: os Fluxogramas e a Ficha Intersetorial de Referência e Contrarreferência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Existe consenso que o uso de drogas por crianças e adolescentes traz impactos no seu

desenvolvimento biopsicossocial, podendo ser considerado um complexo problema de saúde

pública. Pesquisadores de áreas como saúde, educação e serviço social e profissionais

vinculados diretamente à assistência de crianças e adolescentes usuárias de SPA concordam

que essa situação, por ser multifacetada, requer ações intersetoriais para seu enfrentamento.

Entretanto, ainda hoje, persiste o desenvolvimento de ações fragmentadas,

desarticuladas e paralelas, resultado, entre outras coisas, da forma como tradicionalmente e

culturalmente ainda se organizam as políticas públicas no Brasil.

Apesar de que, no país, desde a década de noventa, vem se desenvolvendo experiências

intersetoriais com diferentes características, as quais buscam romper com a fragmentação

setorial.

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Foi possível observar nesse estudo o desenvolvimento de ações no sentido de reunir

diferentes setores, governamentais e não-governamentais para o enfrentamento de problemas

sociais complexos, como é o caso do uso e abuso de drogas por crianças e adolescentes.

Percebeu-se que a forma como se relacionam os serviços que compõem a RAPS e os

demais, no atendimento de crianças e adolescentes usuários de SPA, que compõem a REDE,

seguem, além dos dispositivos legais, os Fluxogramas de Atendimento a Drogadição e a Ficha

de Referência e Contrarreferência, ambos instrumentos intersetoriais. Além de contatos entre

os trabalhadores via e-mail e/ou telefone.

Ressalta-se que essa articulação tem como referência a horizontalidade, a cooperação,

a integração, a intersetorialidade, o diálogo, a relação entre parceiros, troca de informações para

melhor conhecimento sobre condições preexistentes e ações desenvolvidas.

Foi possível perceber que o CAPS AD procura cumprir seu papel de articulador da

rede, como ponto especializado da atenção psicossocial no atendimento a esse grupo específico,

no que se refere a intersetorialidade, exercendo o protagonismo convergente ao modelo

assistencial proposto pela Reforma Psiquiátrica Brasileira.

Nesse sentido, compreendeu-se a articulação da RAPS com a REDE no município do

estudo, no atendimento de crianças e adolescentes usuários de SPA, fundamenta-se na

perspectiva da intersetorialidade como experiência concreta, em que a construção da REDE se

constitui num processo histórico em desenvolvimento.

Esse estudo apresenta como limites no desenho metodológico, a não inclusão de

representantes de usuários, de familiares, dos serviços não-governamentais e da atenção

primária; bem como a indisponibilidade de parte dos arquivos documentais da REDE e do

Núcleo da Criança e Adolescente, além da escassez de publicações referentes ao tema. Assim,

são necessários estudos que tratem da temática a partir de outros métodos a fim de elucidar

facetas não desveladas nessa investigação.

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ANEXOS

ANEXO A – Fluxograma de atendimento à crianças e adolescente em drogadição

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ANEXO B – Ficha intersetorial de referência e contra referência

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ANEXO C – Parecer consubstanciado do CEP

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ANEXO D – Termo de ciência do responsável pelo campo de estudo

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ANEXO E – Declaração

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ANEXO F – Termo de ciência do responsável pelo campo de estudo

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ANEXO G – Termo de ciência do responsável pelo campo de estudo

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ANEXO H – Termo de Ciência do responsável pelo campo de estudo

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ANEXO I – Termo de ciência do responsável pelo campo de estudo

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ANEXO J – Termo de ciência do responsável pelo campo de estudo

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ANEXO K – Termo do responsável pelo campo de estudo

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ANEXO L - Parecer Ministério Púbico

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ANEXO M – Estudo de Caso

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ANEXO N – Normas para publicação Revista Gaúcha de Enfermagem

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ANEXO O – Confirmação da submissão Revista Gaúcha de Enfermagem

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