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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA -UESB PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E CIÊNCIA DE ALIMENTOS Área de Concentração: Ciência de Alimentos VALIDAÇÃO DE METODOLOGIA PARA DETECÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE IVERMECTINA EM LEITE DE VACA COM USO DE ESPECTROSCOPIA DE INFRAVERMELHO COM TRANSFORMADA DE FOURIER COM REFLECTÂNCIA TOTAL ATENUADA (FTIR-ATR) Autora: Valdirene Rodrigues Santana ORIENTADOR: Prof. Dr. Sérgio Augusto de Albuquerque Fernandes ITAPETINGA BA-BRASIL Fevereiro/2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA -UESB

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

ENGENHARIA E CIÊNCIA DE ALIMENTOS

Área de Concentração: Ciência de Alimentos

VALIDAÇÃO DE METODOLOGIA PARA DETECÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE

IVERMECTINA EM LEITE DE VACA COM USO DE ESPECTROSCOPIA DE

INFRAVERMELHO COM TRANSFORMADA DE FOURIER COM

REFLECTÂNCIA TOTAL ATENUADA (FTIR-ATR)

Autora: Valdirene Rodrigues Santana

ORIENTADOR: Prof. Dr. Sérgio Augusto de Albuquerque Fernandes

ITAPETINGA

BA-BRASIL

Fevereiro/2017

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VALDIRENE RODRIGUES SANTANA

VALIDAÇÃO DE METODOLOGIA PARA DETECÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE

IVERMECTINA EM LEITE DE VACA COM USO DE ESPECTROSCOPIA DE

INFRAVERMELHO COM TRANSFORMADA DE FOURIER COM

REFLECTÂNCIA TOTAL ATENUADA (FTIR-ATR)

Orientador: Prof. Dr. Sérgio Augusto de Albuquerque Fernandes

Co-orientadores: Profª. Drª. Sibelli Passini Barbosa Ferrão

Prof. Dr. Leandro Soares Santos

ITAPETINGA

BAHIA-BRASIL

Fevereiro/2017

Dissertação apresentada como parte das

exigências para obtenção do Título de

Mestre em Engenharia e Ciência de

Alimentos, no Programa de Pós-Graduação

em Engenharia e Ciência de Alimentosda

Universidade Estadual do Sudoeste da

Bahia.

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Catalogação na fonte:

Angélica Renata de Castro - CRB/6 - 2746

Bibliotecária Documentalista

Índice sistemático para desdobramento por assunto:

1. Ivermectina - Leite de vaca

2. Leite de vaca - Espectroscopia

3. Leite de vaca - Espectroscopia FTIR-ATR

637

S231v

Santana, Valdirene Rodrigues

Validação de metodologia para detecção e quantificação de

ivermectina em leite de vaca com uso de espectroscopia de infravermelho com

transformada de Fourier com reflectância total atenuada (FTIR-ATR) /

Valdirene Rodrigues Santana. Itapetinga: UESB, 2016.

75 p.

Dissertação apresentada à Universidade Estadual do Sudoeste da

Bahia, como parte das exigências do Programa de Pós Graduação em

Engenharia e Ciência de Alimentos, área de concentração em Ciência de

Alimentos para obtenção do título de "Mestre". Sob a orientação do Prof. DSc.

Sérgio Augusto de Albuquerque Fernandes e co-orientação da Profª. Sibelli

Passini Barbosa Ferrão e do Prof. DSc. Leandro Soares Santos.

1. Ivermectina - Leite de vaca. 2. Leite de vaca - Espectroscopia. 3.

Leite de vaca - Espectroscopia FTIR-ATR I. Universidade Estadual do

Sudoeste da Bahia. Pós Graduação em Engenharia e Ciência de Alimentos. II.

Fernandes, Sérgio Augusto de Albuquerque. III. Título.

.

CDD(21):637

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"Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. "

Mahatma Gandhi

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À minha mãe, maior amor da minha vida

Ao meu pai por estar sempre me esperando

Aos meus irmãos, Wágneton e Vanessa, que são meu incentivo e minha força.

Aos meus Ninos, Rayanne e Raysson, meus grandes amores e inspiração

Ao meu marido, Hércules, meu refúgio em todos os momentos de angústia durante esses 2

anos.

Então, a vocês, minha família, por quem dedicarei todo o meu esforço em todos os dias da

minha vida.

DEDICO

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por me acompanhar e me iluminar durante todo o tempo durante o curso.

À minha mãe, por sempre acreditar em mim, incentivar, guiar, acolher e ser a maior

razão das minhas lutas e vitórias.

Ao meu pai, Valdivino, por sempre me esperar, ansiosamente, a cada período distante.

Aos meus irmãos, Wágneton e Vanessa, por serem meus pilares, minha força, por toda

confiança de que sempre estarei do lado de vocês e, de fato, estarei.

Aos meus ninos, Rayanne e Raysson, meus grandes amores, fonte da minha força, alívio

das minhas angústias, meus presentinhos de Deus.

Ao meu marido, Hércules, pela compreensão, companheirismo, incentivo e por estar

sempre presente, ainda que fisicamente distante.

Ao meu tio, José Márcio, por sempre fazer papel de pai, inclusive durante o curso.

Às minhas amigas-irmãs, Danuta e Sheyla, pela fiel amizade, companheirismo e

conversas nas madrugadas que foram tão importantes nos momentos mais difíceis nesse tempo.

Ao meu, mais que orientador, um verdadeiro amigo todo esse tempo, Sérgio Fernandes,

por toda paciência e orientação que dedicou a mim.

Aos professores Leandro Soares e Camila Messias pelos ensinamentos e

disponibilidade.

Às minhas amigas, Acsa, Rebeca, Josi e Karine, pelo apoio nos momentos mais difíceis

em Itapetinga e por aliviarem os fardos que, muitas vezes, carreguei.

Aos meus colegas de mestrado, por participarem da minha conquista.

Ao programa de pós-graduação em Engenharia Ciência de Alimentos pela realização do

curso.

Aos amigos e companheiros de trabalho do IFNMG – Campus Salinas, Karina, José

Aparecido, Fábio, Edilene e Dênis, pelo esforço que fizeram para que eu pudesse realizar o

curso e a Osmar e a professora Araci pela oportunidade de fazê-lo em condição de afastamento.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................. vii

LISTA DE TABELAS ............................................................................................................ viii

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................................... ix

RESUMO ................................................................................................................................... x

ABSTRACT .............................................................................................................................. xi

I REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................... 1

1.1 Introdução ............................................................................................................................. 1

1.2 A produção de leite ........................................................................................................... 2

1.3 O leite ................................................................................................................................ 3

1.4 Uso de medicamentos veterinários e segurança do leite ................................................... 4

1.5 Avermectinas .................................................................................................................... 6

1.5.1 Ivermectinas ............................................................................................................... 8

1.6 Espectroscopia de Infravermelho .................................................................................... 10

1.6.1 Espectroscopia Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR)..................... 15

1.6.2 Aplicação da Espectroscopia de Infravermelho na indústria de alimentos .............. 17

1.7 Quimiometria .................................................................................................................. 20

1.7.1 Análise de Componentes Principais ......................................................................... 21

1.7.2 Análise Discriminante .............................................................................................. 22

1.8 Redes Neurais Artificiais (RNA) .................................................................................... 24

1.9 Referências Bibliográficas .............................................................................................. 26

II OBJETIVOS ......................................................................................................................... 38

2.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 38

2.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 38

III CAPÍTULO 1 - USO DA ESPECTROSCOPIA DE INFRAVERMELHO POR

TRANSFORMADA DE FOURIER COM REFLECTÂNCIA TOTAL ATENUADA (FTIR-

ATR) ASSOCIADO A QUIMIOMETRIA COMO TESTE DE TRIAGEM PARA

IVERMECTINA EM LEITE.................................................................................................... 39

RESUMO .............................................................................................................................. 39

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ABSTRACT .......................................................................................................................... 40

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 41

2 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................... 42

2.1 Origem das amostras ................................................................................................... 42

2.2 Delineamento experimental......................................................................................... 42

2.3 Preparo das amostras ................................................................................................... 42

2.4 Análise espectrofotométrica vibracional ..................................................................... 43

2.5 Caracterização e comparação dos espectros das amostras .......................................... 43

2.6 Medidas de Dispersão e Padronização da Matriz de Dados........................................ 43

2.6.1 Construção das matrizes de dados utilizadas nas técnicas multivariadas. ........... 43

2.7 Análise Estatística ....................................................................................................... 44

2.7.1 Análise de Componentes Principais .................................................................... 44

2.7.2 Análise discriminante .......................................................................................... 45

2.8 Redes Neurais Artificiais ............................................................................................ 45

2.8.1 Arquitetura e desenvolvimento das RNA’s ......................................................... 45

2.8.2 Treinamento e Validação ..................................................................................... 46

2.8.2.1 Predição ........................................................................................................ 46

2.8.2.2 Classificação ................................................................................................. 47

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 48

3.1 Caracterização e comparação das amostras de Ivermectina (IVM) e Leite ................ 48

3.2 Análise Estatística Multivariada.................................................................................. 51

3.2.1 Análise de Componentes Principais .................................................................... 51

3.2.2 Análise discriminante .......................................................................................... 53

3.3 Redes neurais artificiais .............................................................................................. 55

3.3.1 Predição ............................................................................................................... 55

3.3.2 Classificação ........................................................................................................ 56

4 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 57

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 58

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Estrutura Química da Ivermectina...............................................................................9

Figura 2. Mudança no momento dipolo de molécula heteronuclear diatômica. ....................... 12

Figura 3. Modos Vibracionais .................................................................................................... 6

Figura 4. O sistema FTIR ......................................................................................................... 20

Figura 5. Espectro do Leite por FTIR....................................................................................... 24

CAPÍTULO 1

Figura 1. Espectro no Infravermelho da Ivermectina ............................................................... 48

Figura 2. Espectro no Infravermelho do leite puro ................................................................... 49

Figura 3. Médias dos pontos de máxima intensidade de absorção da Ivermectina, Leite e o leite

adulterado (10µg/L e 20µg/L) ................................................................................................. 51

Figura 4. Escores das amostras de IVM, Leite, Leite adulterado (2 a 10 µg/L) - A e Leite

adulterado (12 a 20 µg/L) - B em relação a CP1 e CP2, em que: A* - I vs L; B* - I vs L vs A vs

B; C* - L vs A vs B ................................................................................................................... 53

Figura 5. Coeficiente de determinação dos dados experimentais e preditos (dados normalizados

0-1) das amostras de leite puro e adulterado para a rede utilizando a função Tangente

Hiperbólica .............................................................................................................................. 56

Figura 6. Valores de RMSE e ciclos da rede com três camadas intermediárias contendo 45

neurônios cada utilizando a função Tangente Hiperbólica ....................................................... 57

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Produção anual de leite por Região (1000 litros) ....................................................... 2

Tabela 2. Participação de cada estado na produção de leite na região Nordeste. ....................... 3

Tabela 3. IDA e LMR de avermectinas no leite. ........................................................................ 8

Tabela 4. Graus de liberdade de moléculas poliatômicas lineares e não lineares. ................... 12

Tabela 5. Regiões do espectro eletromagnético e amostras a que se aplicam. ......................... 13

Tabela 6. Correlação entre as vibrações e as faixas espectrais. ................................................ 14

Tabela 7. Regiões espectrais do leite em FTIR. ....................................................................... 19

CAPÍTULO 1

Tabela 1. Descrição dos grupos usados nas análises de componentes principais (ACP), análise

discriminante (AD) e Redes Neurais (RN). .............................................................................. 44

Tabela 2. Arquiteturas das redes neurais utilizadas .................................................................. 46

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ACP - Análise de Componentes Principais

AD - Análise Discriminante

CLAE-EM/EM - Cromatografia Líquida De Alta Eficiência Acoplada À Espectrometria De

Massas

CLAE-FL - Cromatografia Líquida De Alta Eficiência Com Detector De Fluorescência

CP’s - Componentes Principais

FAO – Food and Agriculture Organization

ATR - Reflectância Total Atenuada

FTIR – Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier

FT-NIR- Espectroscopia no Infravermelho Próximo com Transformada de Fourier

GABA - Ácido Gama-Aminobutírico

IDA - Ingestão Diária Aceitável

IN – Instrução Normativa

IVM - Ivermectina

Lactonas Macrocíclicas (LM)

LMR - Limites Máximos de Resíduos

Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)

MLP - Perceptron Multi-Camadas

PAMVet - Programa de Análise de Resíduos de Medicamentos Veterinários em Alimentos

PNCRC - Plano Nacional de Controle de Resíduos

RIISPOA - Regulamento Da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal

RMSE – Raiz Quadrada do Erro Médio

RNA - Rede Neural Artificial

UV – Ultravioleta

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RESUMO

SANTANA, V. R. Validação De Metodologia Para Detecção e Quantificação De

Ivermectina Em Leite de Vaca Com Uso De Espectroscopia De Infravermelho Com

Transformada de Fourier Com Reflectância Total Atenuada (FTIR-ATR). Itapetinga, BA:

UESB, 2016. 76. p. Dissertação. (Mestrado em Engenharia e Ciência de Alimentos, Área de

Concentração em Ciência de Alimentos).

As Ivermectinas (IVM), do grupo das Avermectinas e da família das Lactonas Mocrocíclicas

são usadas rotineiramente em animais de produção como endo e ecto-parasitários e como outros

medicamentos, tem seus resíduos no leite controlados oficialmente. Desenvolvemos o estudo

do tema e apresentamos o conhecimento atual da realidade da produção de leite, do uso da IVM

em animais leiteiros e o controle de seus resíduos no leite, além do uso da espectroscopia

associada à quimiometria na análise de alimentos. Para detecção e quantificação de IVM em

leite usa-se oficialmente a Cromatografia Líquida de Alta Eficiência. Esta técnica consome

muito tempo, requer o uso de muitos reagentes químicos e o descarte de seus resíduos, além da

insalubridade do ambiente nos laboratórios. Este conjunto de informações criou a demanda para

o desenvolvimento de novas técnicas, que consigam mitigar estes efeitos. Assim, surge a

Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR) que apresenta maior

agilidade no processo, menor custo e tem sido utilizada em análise de alimentos. A utilização

dessa técnica para a detecção de IVM em leite não foi testada e preencher esta lacuna foi o

nosso objetivo. Apresentamos no capítulo 1 os resultados de nosso estudo de validação

metodológica com o uso da Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier

associada à quimiometria na detecção de Ivermectina no leite. Leite de vacas sadias que não

tratadas com IVM foi utilizado no estudo. O delineamento experimental foi desenvolvido para

a obtenção dos dados representativos dos espectros do leite adulterado com IVM (diluições

sucessivas no leite), leite puro e padrão de IVM (tratamentos). A análise de componentes

principais classificou o leite adulterado e o leite puro, distintamente. No mesmo sentido as

análises discriminantes classificaram as amostras em leite puro e adulterado da mesma forma

que as redes neurais artificiais. Baseados nos resultados indicamos o uso da espectroscopia

FTIR-ATR como teste de triagem de resíduos de IVM em leite.

Palavras chave: análise discriminante, redes neurais artificias, medicamentos veterinários.

________________________________

*Orientador: Sérgio Augusto de Albuquerque Fernandes, Dr. UESB e Co-orientadores: Sibelli

Passini Barbosa Ferrão, Drª. UESB e Leandro Soares Santos, Dr. UESB.

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ABSTRACT

SANTANA, V. R. Validation of the methodology for detection and quantification of Ivermectin

in cow's milk using Fourier transform infrared spectroscopy with attenuated total reflectance

(FTIR-ATR). Itapetinga, BA: UESB, 2016. 75. p. Dissertation. (MSc in Food Science and

Engineering, Food Sciences Concentration Area).

Originally the Ivermectin (IVM) are from the Avermectin group and the Mocrocyclic Lacton

family and are routinely used in animal production as anti-parasitic agents (endo and ecto). Like

other medicines, their residues in the milk are officially controlled. This study was developed

for the know a current knowledge of the reality of milk production, the use of IVM in dairy

animals and the control of its residues in milk, besides the use of spectroscopy associated to

chemometric analysis in food evaluation. For the detection and quantification of Ivermectin in

milk it is officially used the High-Performance Liquid Chromatography. This technique is time

consuming, requires the use of many chemical reagents and the disposal of its residues, in

addition, an unhealthy environment in the laboratories are created. Based on this information

the necessity of a new techniques, that can mitigate these effects, was observed. Thus, Fourier

transform infrared with attenuated total reflectance (FTIR-ATR) appears as technical that

presents greater agility in the process, lower cost and has been used in food analysis. However,

the use of FTIR-ATR for the detection of IVM in milk was not tested and filling this gap was

our goal. We present in Chapter 1 the results of our study with the use of FTIR-ATR associated

with chemometric in the detection of Ivermectin in milk. Milk from healthy cows that had not

been treated with IVM was used in the study. The experimental design was developed to obtain

the representative data of the spectra of adulterated milk with IVM (successive dilutions in

milk), pure milk and standard of IVM (treatments). Principal component analysis results

classified adulterated milk and pure milk distinctly. In the same sense, discriminant analyzes

and artificial neural networks classified the samples into pure and adulterated milk. Based on

the results, we indicate the use of FTIR-ATR spectroscopy as a screening test for IVM residues

in milk.

Keywords: artificial neural networks, discriminant analyzes, veterinary medicine

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I REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 Introdução

Produzido em todo o território nacional, o leite representa um dos principais

produtos da agropecuária brasileira, gerando emprego e renda no campo. Associado aos

fatores de ordem econômica e social, tem-se fator nutricional, por ser este fonte de

nutrientes necessários aos seres humanos.

A contaminação do leite representa riscos à saúde dos consumidores e estão

relacionadas tanto a parâmetros microbiológicos quanto químicos. Os contaminantes

microbiológicos originam-se em função das condições higiênico de obtenção do leite

assim como devido às condições sanitárias na ordenha e no cuidado com os animais. Por

sua vez, as contaminações químicas ocorrem devido à presença de resíduos de

medicamentos usados de forma inadequada, como as Avermectinas, utilizadas no

combate a endo e ectoparasitas. As Avermectinas são um dos grupos da família da

Lactonas Mocrocíclicas, que possuem como destaque as Ivermectinas, usadas na sanidade

animal.

Os medicamentos de uso veterinários são regulados pela ANVISA e pelo

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e são continuamente monitorados

por estes órgãos. As técnicas utilizadas oficialmente utilizam a cromatografia liquida de

alta eficiência com detector de fluorescência (CLAE-FL) ou acoplada à espectrometria

de massas (CLAE-EM/EM). Estas técnicas demandam maior tempo laboral, limitando

assim o número de amostras a serem analisadas, usam reagentes químicos, gerando

resíduos que causam danos ambientais e são equipamentos caros, contudo, são precisos.

Estudos são desenvolvidos para a criação de técnicas auxiliares à cromatografia

liquida, que sirvam como testes de triagem, que serviriam para avaliar maior número de

amostras, e indicando apenas as amostras positivas otimizando o controle de resíduos de

medicamentos de uso veterinários no leite

Nesse contexto surge a Espectroscopia no Infravermelho com Transformada de

Fourier, técnica que realiza análises de forma rápida e eficiente de diversos materiais por

meio da análise de espectros criados a partir da composição da amostra. Essa técnica vem

sendo amplamente utilizada na indústria de alimentos e em laboratórios para realização

do monitoramento da composição dos produtos e, consequentemente, viabilizar o

controle de qualidade de alimentos.

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Este estudo apresenta evidências positivas do uso da Espectroscopia no

Infravermelho com Transformada de Fourier na detecção de Ivermectina em leite

associada à quimiometria, como ferramenta de controle de resíduos desta substancia em

leite.

1.2 A produção de leite

O leite é um dos principais produtos da agropecuária brasileira. Com produção

aproximada de 35 milhões de toneladas de leite por ano, o Brasil ocupa a quarta posição

no ranking mundial, perdendo apenas para Estados Unidos, Índia e China (FAO 2010;

IBGE, 2015), importando ainda cerca de 130 mil toneladas de produtos lácteos,

equivalente à 1,1 bilhão de litros de leite (ZOCCAL, 2016).

A produção de leite no Brasil ocorre de forma distribuída em todo o território

nacional, com maior contribuição das regiões Sul e Sudeste, no entanto, o maior

percentual de crescimento na produção de leite para o período de 2013/2014 ocorreu na

região Nordeste, enquanto a região Sudeste teve um aumento inferior à média nacional

(Tabela 1).

Tabela 1. Produção anual de leite por Região (1000 litros)

Região 2013 2014 Variação em 1 ano

Centro-Oeste 5.016.292 4.969.238 -0,9%

Sudeste 12.019.947 12.169.774 1,2%

Sul 11.774.331 12.200.824 3,6%

Norte 1.846.420 1.946.149 5,4%

Nordeste 3.598.250 3.888.286 8,1%

Total 34.255.240 35.174.271 2,7%

Fonte:IBGE, 2015.

Na região Nordeste, a Bahia é o estado que mais contribui na produção de leite

anual, apesar disso, sua produtividade (L/vaca/ano) está abaixo da média da região e é a

segunda menor entre estes estados, superando apenas a produtividade do Piauí (Tabela

2).

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Tabela 2. Participação de cada estado na produção de leite na região Nordeste.

Estado Quantidade

(1000 L)

2013

Quantidade

(1000 L)

2014

Variação

2013/2014

Produtiv.

2014

(L/vaca/ano)

Maranhão 385.880 393.030 1,9% 631

Piauí 82.542 79.957 -3,1% 571

Ceará 455.452 494.024 8,5% 851

Rio Grande do Norte 209.150 232.338 11,1% 904

Paraíba 157.258 170.479 8,4% 797

Pernambuco 561.829 656.673 16,9% 1.396

Alagoas 252.135 304.674 20,8% 1.887

Sergipe 331.406 345.020 4,1% 1.466

Bahia 1.162.598 1.212.091 4,3% 586

Total 3.598.250 3.888.286 8,1% 818

Fonte: IBGE, 2015.

Em função da demanda maior que a produção, o Nordeste é uma região

importadora de leite, no entanto, há possibilidades de aumentar a produção de leite

melhorando sua produtividade por meio de melhorias nas técnicas hoje empregadas, uma

vez que, a região produz, atualmente, pouco mais de 10% do leite nacional (EMBRAPA,

2015).

A produção leiteira no país acompanhou o processo de urbanização e ao observar

os municípios brasileiros, é incomum encontrar um deles que não tenha pelo menos uma

vaca leiteira. E essa atividade leiteira é importante tanto para o desempenho econômico

do país em relação a atender a demanda interna do produto, quanto para se tornar

fornecedor no mercado internacional e principalmente por gerar empregos para os

cidadãos (ZOCCAL et al., 2008; TRENNEPOHL, 2010).

1.3 O leite

A produção e a composição do leite são influenciados por diversos fatores, entre

eles, é possível destacar fatores ambientais, genéticos, manejo, fase de lactação e a

alimentação animal (AGANGA et al., 2002; CERDÓTES et al., 2004; RESTLE et al.,

2004; NORO et al., 2006; ZANELA et al., 2006).

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Segundo o Regulamento Da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem

Animal (RIISPOA), o leite é o produto obtido pela ordenha completa e ininterrupta, sob

condições higiênicas, de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas (BRASIL, 1997).

O leite é um alimento complexo composto por água, glicídeos, proteínas, gorduras e

minerais e, em função da sua importância nutricional, sendo, inclusive, a principal fonte

de cálcio para a alimentação humana. O Ministério da Saúde recomenda que o leite ou

seus derivados sejam consumidos diariamente em três porções (BRASIL, 2006).

A qualidade do leite está associada ao fator nutricional, rico em nutrientes

necessários à saúde humana, assim como às características higiênico-sanitária, pois este

pode conter agentes causadores de zoonoses e produtos químicos não naturais

(PEREIRA, 2014).

No mundo, o consumo de leite e derivados tem aumentado entre 2 e 3% ao ano.

Cinquenta por cento deste consumo tem ocorrido devido ao crescimento populacional

mundial, e a outra metade devido ao aumento do consumo per capita, com expectativas,

de crescimento contínuo da demanda mundial (IFCN, 2013)

A indústria de laticínios está entre as 4 primeiras atividades industriais

alimentícias no Brasil, o que revela sua importância econômica, com estimativa de,

aproximadamente, 10% de participação no faturamento total da indústria de alimentos do

país. Na cadeia produtiva de leite, a indústria processadora é o elo mais forte e dinâmico

e o maior responsável pelas transformações e alterações de posturas nos demais

segmentos da cadeia (VIANA & FERRAS, 2007; CARVALHO, 2010).

1.4 Uso de medicamentos veterinários e segurança do leite

Animais que produzem alimentos, a exemplo de bovinos, comumente recebem

tratamentos com medicamentos veterinários, como antiparasitários. Estes medicamentos

podem deixar resíduos no leite e representam risco à saúde humana. No sentido de

diminuir a contaminação do leite por medicamentos e ou agrotóxicos no leite, a FAO,

juntamente com organismos de diversos países, criou o CODEX Alimentarius, que entre

outras coisas, determina os limites máximos permitidos para os diversos agentes

medicamentosos no leite e em outros alimentos.

Agências reguladoras nacionais e regionais estabelecem Limites Máximos de

Resíduos (LMR) para cada medicamento com uso aprovado, seguindo o padrão do

CODEX Alimentarius, os dados de monitoramento desses resíduos em leite são de grande

importância para conhecer e avaliar a exposição humana a esses contaminantes por meio

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dos alimentos (SILVA et al., 2014). A OMS/FAO designou o JECFA (Joint FAO/WHO

Expert Committee on Food Additives) como o comitê responsável pela avaliação e

controle da IDA (Ingestão Diária Aceitável), que é expressa em µg/kg peso corpóreo, de

aditivos alimentares, contaminantes e drogas veterinárias (JARDIM & CALDAS, 2009).

O número de medicamentos veterinários utilizados em animais de produção é

expressivo, isso ocorre em função da sua importância econômica e essa prática pode

resultar em resíduos desses medicamentos em produtos de origem animal, o que gera

preocupação entre os consumidores, uma vez que, os possíveis riscos à saúde humana

ocasionados pelo uso de medicamentos veterinários nos animais podem estar associados

à presença de resíduos medicamentos veterinários nos alimentos e, esses podem ocorrer

quando o uso dos medicamentos não observa Boas Práticas de Uso de Medicamentos

Veterinários, em especial as especificações de uso (ANVISA, 2003; NETTO et al., 2005;

CASELANI, 2014.)

Os animais destinados à produção de alimentos que recebem tratamento

medicamentoso devem receber cuidados específicos, para inibir a ocorrência de resíduos

dos medicamentos nos alimentos. Dessa forma, é necessário observar o período de

carência que representa o tempo para que o contaminante atinja concentrações seguras no

organismo do animal em tratamento. Este intervalo é o tempo entre a última

administração da dose do medicamento e o momento permitido para o uso do alimento

oriundo desses animais (SPINOSA et al., 2011; BRASIL, 1997).

Os resíduos de medicamentos veterinários nos alimentos podem causar reações

alérgicas, infecções diversas, alterações na microbiota intestinal além de efeitos

carcinogênicos ou teratogênicos em função da exposição prolongada a estas substâncias

(BOTSOGLOU & FLETOURIS, 2001; DOYLE, 2006). Entretanto, nem todos os

medicamentos veterinários acarretam resíduos que provocam danos à saúde humana ou

animal e, quando são nocivos, os problemas só ocorrem caso a quantidade de resíduo seja

superior ao LMR permitido (BRASIL, 1999).

Visando avaliar e atuar na prevenção de riscos relacionados à contaminação do

leite e outros alimentos por resíduos de medicamentos, foram criados no Brasil o

Programa de Análise de Resíduos de Medicamentos Veterinários em Alimentos

(PAMvet) e o Programa Nacional de Controle de Resíduos de Contaminantes (PNCRC).

O objetivo do PAMVet é promover o controle de resíduos de medicamentos veterinários

em alimentos de origem animal para o consumo humano por meio de fiscalização e

análises em amostras de todo o país, enquanto o PNCRC que é coordenado pelo

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Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) trata-se de um programa

de fiscalização baseado na análise de risco que visa monitorar os sistemas de produção e

a qualidade dos produtos de origem vegetal e animal, ou seja, uma ferramenta de

gerenciamento de risco (ANVISA, 2003; BRASIL, 2012).

O leite que apresenta resíduos de substâncias químicas é considerado fraudado e,

por isso, impróprio para o consumo humano, pois não atende aos requisitos de qualidade

necessários para que tenha padrão de qualidade considerado aceitável (FONSECA et al.,

2001; VENTURINI et al., 2007; MENDES et al., 2008).

A preocupação por oferecer produtos de qualidade e que possam ser ingeridos

pelo consumidor é um problema mundial, e assim, faz-se necessário a busca de detecções

em produtos adulterados e com qualidade inferior no mercado (EGITO et al., 2006).

Produtos adulterados geram inúmeros prejuízos para indústria processadora de lácteos,

pois, essa alteração leva a uma redução dos produtos, redução de valor nutricional, bem

como um risco a saúde dos consumidores devido a presença de substancias nocivas, tais

como: neutralizante de acidez, agentes antimicrobianos, reconstituintes de densidade,

entre outras (CORTEZ et al., 2010; BRASIL, 2006).

Diversas técnicas de rotina são utilizadas para detecção de fraudes e novas

metodologias estão sendo desenvolvidas em virtude da necessidade de respostas de

diferentes tipos de adulteração que estão sendo utilizados (CORTEZ et al., 2010;

BRASIL, 2006).

1.5 Avermectinas

As avermectinas, substâncias que pertencem ao grupo das Lactonas Macrocíclicas

(LM), são os anti-helmínticos mais utilizados na medicina veterinária que são, em sua

maioria, produzidas a partir da bactéria Streptomyces avermitillis. Esses compostos agem

sobre a membrana das células musculares dos nematoides causando danos irreversíveis

com consequente paralisia e morte dos parasitos. As avermectinas atuam no controle de

diversas espécies, tais como, Dityocalus viviparus, Haemonchus contortus, Strongyloides

spp. e Ascaris spp, adicionalmente, as avermectinas podem atuar também no controle de

artrópodes como carrapato, piolhos, ácaros que causam sarnas e larvas de insetos (BURG

et al., 1979).

As avermectinas foram descobertas em 1976, no entanto seu uso em animais só

começou em 1981 com a utilização das ivermectinas, desde então, as avermectinas tem

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sido utilizadas em diversos animais e seres humanos no controle de doenças parasitárias

(VERCRUYSSE & REW, 2002).

Essas substâncias são praticamente insolúveis em água e possuem alta

lipossolubilidade, o que facilita que esses medicamentos se depositem no local onde

foram aplicados por via subcutânea, essa deposição faz com que o medicamento

permaneça no organismo do animal por período prolongado (LANUSSE & PRICHARD,

1993; NETTO et al., 2005).

As avermectinas podem ser classificadas, de acordo com características

estruturais, em “A ou B”, “1 ou 2” e “a ou b”. As estruturas que possuem um grupo

metoxila no carbono 5 são classificadas como avermectinas “A”, já as que possuem uma

hidroxila nessa posição são classificadas como avermectinas “B”; quando possuem uma

ligação dupla entre os carbonos 22 e 23, são classificadas como da série “1”, quando,

nessa posição, ocorre uma ligação simples com um grupo hidroxila no carbono 23, são

classificadas como sendo da série “2”; quando, no carbono 25, ocorre a presença do grupo

sec-butil, a avermectina é classificada na série “a”, mas se, nessa posição ocorrer um

grupo isopropil, é classificada como da série “b” (LUMARET et al., 2012; ÕMURA &

CRUMP, 2004; CANGA, 2009).

O metabolismo das avermectinas ocorre principalmente no fígado e sua

eliminação é feita por meio da bile no material fecal, na urina e nas glândulas mamárias

dos animais em fase de lactação, podendo acarretar resíduos no leite por um período de

até 28 dias após o tratamento (BALDANI et al., 1999).

As técnicas utilizadas para determinação de avermectinas no leite, de acordo com

o MAPA, pelos seus laboratórios oficiais, que são os Laboratórios Nacionais

Agropecuários, Lanagros, são CLAE-FL (Cromatografia líquida de alta eficiência –

detecção de fluorescência) e CLAE EM/EM (cromatografia líquida de alta eficiência

acoplada à espectrometria de massas sequencial) (BRASIL, 2011).

A utilização de avermectinas no rebanho leiteiro apresenta o inconveniente de que

essas substâncias causam níveis de resíduos prolongados no leite (SCHENCK &

LAGMAN, 1999) e sua utilização no Brasil havia sido proibida em 2014, porém, a

Instrução Normativa 6 de 27 de março de 2015 revoga a anterior, liberando a sua

utilização (BRASIL, 2015).

No Brasil, os LMR de antiparasitários no leite são estabelecidos pela IN nº 11 de

22 de maio de 2012 que trata do Programa de Resíduos e Contaminantes em Carnes

(Bovina, Aves, Suína e Eqüina), Leite, Pescado, Mel, Ovos e Avestruz e, segundo o

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CODEX Alimentarius, a utilização das avermectinas deve estar dentro de um padrão

aceitável, para isso, limita a ingestão diária admissível (IDA) para uso nos animais como

mostra a (Tabela 3) (CODEX, 2015; BRASIL, 2012).

Tabela 3. IDA e LMR de avermectinas no leite.

Avermectina LMR (µg/kg de leite) IDA (µg/kg peso

corpóreo)

Abamectina 10 0 – 2

Doramectina 15 0 – 0,5

Ivermectina 10 0 – 1

Fonte: CODEX Alimentarius 2015 e BRASIL 2012

Segundo Ferreira e colaboradores (2012), pesquisas que de monitoramento de

resíduos de medicamentos em leite realizadas entre 2000 e 2012 apontaram que, em 70%

das amostras analisadas, foi confirmada a presença de avermectinas e, em vários casos, a

presença desses contaminantes ocorreu em quantidades superiores a LMR.

1.5.1 Ivermectinas

Dentre o grupo das avermectinas, as ivermectinas se destacam, tendo sido o

primeiro membro das LMs a ser comercializado e utilizado como antiparasitário em

animais a partir de 1981. Esse medicamento é um composto que contém, no mínimo 80%

de 22,23-diidroavermectina B1a, C48H74O14, de peso molecular 875,1 g/mol e menos de

20 % de 22, 23-diidroavermectina B1b C47H72O14, de peso molecular 861,1 g/mol, esses

percentuais se referem à amostra de IVM na sua forma cristalina, sem etanol ou

dimetilformamida (YATES et al., 2003; ÕMURA & CRUMP 2004; CANGA et al.,

2009).

A IVM é o principal fármaco utilizado em animais no controle antiparasitário,

essa utilização ocorre em função do amplo espectro de ação desse medicamento no

combate a diversos nematoides, pois apresenta ação contra quase todas as espécies de

nematoides gastrointestinais de importância patogênica e econômica em bovinos,

entretanto, sua eficácia varia de acordo com o parasita alvo (CAMPBELL & BENZ, 1984;

LANUSSE & PRICHARD, 1993), entretanto, a IVM.

O mecanismo de ação da IVM consiste no estímulo à liberação do

neurotransmissor inibidor GABA (ácido gama-aminobutírico), sob o efeito do GABA,

ocorre a inibição da neurotransmissão dos estímulos por meio da abertura dos canais de

cloro permitindo o influxo de íons cloreto, esse processo promove a paralisia da

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musculatura e morte do parasita, possibilitando a sua eliminação. Esses canais só ocorrem

em invertebrados, por isso, a IVM só pode ser utilizada no controle de parasitas

(CAMPBELL & BENZ, 1984; ARENA et al., 1995).

A Ivermectina apresenta alta lipossolubilidade, o que faz com que ela permaneça

no organismo animal por períodos prolongados e que possibilita sua excreção por meio

do leite (SUTHERLAND & CAMPBELL, 1990). A lipossolubilidade da IVM é a

principal propriedade físico-química que explica a absorção da IVM por via subcutânea,

uma vez que a pele pode ser considerada uma camada lipídica de várias camadas

(BAGGOT & MCKELLAR, 1994).

De acordo com Silva e colaboradores (2012), quando utilizada, o prazo de

carência da Ivermectina nos bovinos é de 122 dias, os mesmos autores ressaltam que não

deve ser feito o uso desse medicamento em animais cujo leite se destina ao consumo

humano. Entretanto, ocorre também o emprego da IVM contra parasitoses em humanos,

essa prática vem se intensificando a partir da década de 1990 no controle a diversas

doenças parasitárias, tais como oncocercose, strongiloides, ancylostomas, sarcoptes,

carrapatos e piolhos (FERNANDES et al., 2001).

A matéria prima de IVM é constituída normalmente de isômeros estruturais que

diferenciam em um grupamento CH3 na ligação como o carbono 25 da estrutura

(SANTOS, 2013). IVM é formada por grupos hidroxilas, metoxilas, lactona macrocíclica,

anéis tetrahidropirano e tetrahidrofurano e ésteres e (Figura 1).

Figura 7. Estrutura Química da Ivermectina

Adaptado de CANGA et al., 2009; SANTOS,2013.

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Uma das dificuldades relacionadas à utilização dessa substância é a carência de

orientação técnica. Esse problema já foi identificado em diversas propriedades rurais, o

que evidencia o problema da utilização das ivermectinas (SILVA et al., 2012). O mesmo

autor ressalta danos que podem ser causados por essa substância à saúde humana como,

urticária, edema, dores de cabeça, tontura, náusea, vômito, diarreia e dores abdominais.

A metodologia utilizada no Brasil, sob recomendação da ANVISA, para a

determinação de Ivermectina em leite é a Cromatografia líquida de alta eficiência com

detector de fluorescência (ANVISA, 2005). O controle de resíduos de IVM no leite no

Brasil é realizado pelo PNCRC e o PAMVet. O relatório PAMVet, que realizava o

levantamento, entre outras coisas, da ocorrência de resíduo de IVM no leite no Brasil,

apontou em sua última publicação, elaborado entre 2006 e 2007, que das 600 amostras de

leite analisadas em todo o Brasil, 43% delas apresentaram resíduo de IVM, ainda que

abaixo do LMR (ANVISA, 2009).

1.6 Espectroscopia de Infravermelho

A espectroscopia no infravermelho é uma técnica versátil baseada na interação

entre radiação eletromagnética e a matéria. A partir desta, é possível observar os níveis

de energia de átomos ou moléculas observando os espectros obtidos na medida. No caso

das moléculas, existem 3 níveis de energia que podem ser observados em regiões

espectrais diferentes: eletrônicos, vibracionais e rotacionais. As transições eletrônicas são

observadas na região ultravioleta ou visível, as vibracionais são observadas na região do

infravermelho, já as rotacionais são observadas na região de microondas (SALA, 2008).

A região do infravermelho compreende entre a faixa superior da região de

microondas e a faixa inferior da região ultravioleta ou visível, que compreende a faixa de

frequência entre 102 e 0,8 Hz. Nesta região ocorrem as vibrações moleculares, no entanto,

para que um modo vibracional seja ativo e realize absorção da radiação eletromagnética.

Isso ocorre quando há variação no momento dipolo da molécula em estudo, ou seja, pelo

menos 1 dos componentes, momento de transição, deve ser diferente de 0, esta é a regra

de seleção da espectroscopia de infravermelho (STUART, 2004; BRUICE, 2006; SALA,

2008).

A radiação infravermelha foi descoberta em 1800 por Herschel e, por volta de

1900, Coblentz obteve espectros de absorção no infravermelho de grande número de

compostos orgânicos em estado sólido, líquido e vapor, desde então, esta técnica vem

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sendo utilizada para identificar um determinado composto, ou ainda, determinar a

composição de uma amostra qualitativa e quantitativamente, trabalhando com

componentes que apresentam ligações químicas, não sendo possível a análise de

componentes monoatômicos (SALA, 2008; SALIBA et al., 2009).

A absorção de energia de radiação infravermelha por uma molécula orgânica

acarreta a vibração dessa molécula, e promove a formação de bandas de um espectro que

irá refletir estes movimentos vibracionais. A razão entre a energia transmitida e a energia

recebida pela molécula é chamada de transmitância e o inverso do logaritmo decimal

desta medida é a absorbância (Equação 1) (SILVERSTEIN et al., 1994; STUART, 2004):

𝐴 = −𝐿𝑜𝑔(𝑇) = 𝐿𝑜𝑔 (1/𝑇) Equação 1

Em que:

A é a Absorbância e T é a Transmitância

As posições das bandas de um espectro podem ser expressas em números de onda

(cm-1) ou em comprimentos de onda (µm), por sua vez, as unidades de medida das

intensidades de cada banda do espectro são expressas em percentual de Transmitância

(%) ou Absorbância (A) e essa denominação depende do modo utilizado para a captação

das informações para a geração do espectro (STUART, 2004; SALA, 2008).

As intensidades e energias das absorções na região do infravermelho são

influenciadas por diversos fatores que podem contribuir para a ampliação e alternância

das intensidades das bandas. As bandas do espectro eletromagnético podem ser alargadas

em função da colisão entre as moléculas, no caso dos gases, do efeito Doppler, quando a

radiação é deslocada para outra direção, além de existir uma relação direta entre o tempo

de vibração e a largura da banda correspondente, uma vez que, quanto menor o tempo de

duração de um estado vibracional, menos definida é a energia desse modo e,

consequentemente, resultará no alargamento da banda de absorção deste espectro, o que

é conhecido como Princípio da incerteza de Heisenberg (STUART, 2004; SALA, 2008).

Os modos vibracionais de uma molécula podem ser classificados de duas formas:

deformações axiais (estiramentos) e deformações angulares. A deformação axial ocorre

quando a acontece a deformação no eixo da molécula, os comprimentos das ligações

aumentam e diminuem sistematicamente provocando a vibração molecular. Por sua vez,

a deformação angular consiste no movimento de um grupo de átomos em relação à

molécula. As deformações angulares podem ocorrer de forma simétrica ou assimétrica e,

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nos dois casos, pode ocorrer dentro ou fora do plano conforme apresentado na (Figura 2)

(STUART, 2004).

Figura 8. Modos Vibracionais

Fonte: Adaptado de STUART, 2004.

A quantidade de modos vibracionais de uma molécula varia de acordo com o

tamanho da sua estrutura. Em uma molécula com um determinado número de átomos (N),

existem 3N graus de liberdade, destes, 3 são dos movimentos de translação e 3 dos

movimentos de rotação, portanto, 3N-6 graus de liberdade vibracional, porém, moléculas

lineares tem apenas 2 graus de liberdade rotacional, assim tem 3N-5 graus de liberdade

vibracional (Tabela 4).

Tabela 4. Graus de liberdade de moléculas poliatômicas lineares e não lineares.

Tipos de Graus de liberdade Moléculas Lineares Moléculas não lineares

Translacional 3 3

Rotacional 2 3

Vibracional 3N-5 3N-6

Total 3N 3N

Adaptado de STUART, 2004; SALA, 2008.

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As regiões espectrais podem ser expressas por submúltiplos de metro, assim é

comum encontrar em espectroscopia as medidas de Å, nm e µm que equivalem,

respectivamente a 10-10m, 10-9 m e 10-6 m. Apesar disso, as medidas mais comuns na área

da espectroscopia são dadas em números de onda cm-1 que correspondem à quantidade de

comprimentos de onda que estão contidos em 1 cm e tem a vantagem de apresentar

linearidade com a energia, ou seja, é proporcional à energia do fóton. O número de onda

é obtido por meio da relação entre a frequência e o comprimento de onda (Equação 2)

(STUART, 2004; SALA, 2007; SALA, 2008).

ῦ = 1/ 𝜆 = ʋ/𝑐 Equação 2

Em que:

ῦ = número de onda;

λ = comprimento de onda da radiação no vácuo e

ʋ = frequência

c = velocidade da luz

A região do infravermelho eletromagnético pode ser dividida em três partes

principais e a escolha da região a ser utilizada depende do tipo de amostra que se deseja

avaliar, sendo que a região denominada de infravermelho médio é a de maior interesse

para fins analíticos (MENDHAM et al., 2002; HOLLER et al., 2009.) (Tabela 5).

Tabela 5. Regiões do espectro eletromagnético e amostras a que se aplicam.

Região do

espectro

Comprimento

de onda µm

Número

de onda

cm-1

Amostras a que se aplicam

Próximo (região

das harmônicas)

0,8 – 2,5 12550 -

4000

Materiais comerciais sólidos ou

líquidos e misturas gasosas

Médio (Região

de vibração-

rotação)

2,5 – 50 4000 – 200 Sólidos, líquidos ou gases puros,

misturas complexas de líquidos,

sólidos ou gases

Distante (Região

de rotação)

50 – 1000 200 - 10 Amostras sólidas, líquidas e

gasosas

Fonte: MENDHAM et al. (2002); HOLLER et al. (2009).

A identificação dos compostos presentes na amostra pode ser feita por meio da

associação entre os grupos funcionais e a região do espectro em que cada um deles

apresenta absorção da radiação eletromagnética para grupos funcionais (Tabela 6).

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Tabela 6. Correlação entre as vibrações e as faixas espectrais.

Tipo de vibração Atribuição Frequência cm-1

Estiramento C-H Alcanos 3000-2850

Alcenos 3100-3000

Torção fora do plano C-H Alcenos 1000-650

Estiramento C-H Alcinos 3300-3250

Estiramento C-H Aromáticos 3150-3050

Torção fora do plano C-H Aromáticos 900-690

C-H Aldeídos 2900-2700

C═C Alceno 1680-1600

C═C Aromáticos 1600-1475

C≡C Alcinos 2250-2100

C═O Aldeídos 1740-1720

Cetonas 1730-1700

Ácidos Carboxílicos 1725-1700

Ésteres 1750-1730

Amidas 1700-1640

Anidridos 1810-1760

Cloreto ácido 1800

C-O Alcoóis, éteres, ésteres, ácidos

carboxílicos, anidridos

1300-1000

O-H Ácidos carboxílicos 3400-2400

Alcoóis e fenóis 3650-3600 e 3400-3200

N-H (estiramentos) Aminas e amidas primárias e

secundárias

3500-3100

N-H (torções) Aminas e amidas primárias e

secundárias

1640-1550

C-N Amidas 1350-1000

Fonte: PAVIA et al. (2010).

A espectroscopia de infravermelho tem se tornado cada vez mais importante na

análise qualitativa e quantitativa de materiais, pois é uma técnica que apresenta extensa

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utilização em laboratórios analíticos industriais e laboratórios de pesquisa diversos

(FIORINI, 2000). O uso da Espectroscopia no Infravermelho está de acordo com os

conceitos políticos da química verde, que visa reduzir o tempo, custo e geração de

resíduos das análises (FERREIRA, 2013).

Tradicionalmente desde meados de 1940 os aparelhos utilizados para a obtenção

de espectros eram aparelhos dispersivos. Na análise por meio destes aparelhos, a radiação

atravessa a amostra e é refletida por um sistema de espelhos, passa por fendas estreitas e

seguem para um detector e, em seguida para um registrador. Este sistema apresenta fraca

potência de radiação infravermelho, dificultando sua medição, necessita de grades de

difração apuradas, a precisão é afetada pelo frequente desalinhamento do sistema óptico,

alto valor em relação sinal ruído e é lento. Para resolver esse problema, iniciou-se o uso

de instrumentos não dispersivos como o (FTIR) (FIORINI, 2000; STUART, 2004).

1.6.1 Espectroscopia Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR)

A espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) produz

gráficos por meio da análise das amostras, identificando os componentes ali presentes e

a informação dos espectros dessas amostras ocorre mais rapidamente quando comparado

com outros instrumentos dispersivos (SALIBA et al., 2009; PAVIA et al., 2010;

THERMO, 2016).

O FTIR tem como princípio o interferômetro de Michelson, sistema que consiste

em um espelho fixo, um espelho móvel e um divisor de feixes (beam-splitter) que

transmite metade da radiação para o espelho móvel e reflete a outra metade para o espelho

fixo. Estes espelhos refletem os dois feixes para um divisor, onde são recombinados e

passam pela amostra, que retém parte da energia, e em seguida pelo detector, dando

origem a um interferograma. Após a geração do interferograma, este é submetido ao

método matemático de transformação de Fourier, que converte os dados do

interferograma em um espectro que relaciona a intensidade com a frequência (Figura 3)

(FIORINI, 2000; STUART, 2004; PAVIA et al., 2010).

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Figura 9. Esquema do caminho óptico de um feixe de luz IR no espectrômetro do FTIR

Fonte: RODRIGUES, 2012.

O espectro resultante da análise por meio do FTIR representa a absorção e

transporte molecular, criando uma impressão digital molecular da amostra, com a

presença de cada componente. Como não há uma mesma impressão digital para duas

estruturas moleculares, estruturas diferentes não são capazes de produzir o mesmo

espectro, isso faz com que a espectroscopia de infravermelhos seja utilizada para vários

tipos de análise, apresentando vantagens como precisão e velocidade de análise

(THERMO, 2016).

A transformação de Fourier é um método matemático que trouxe significativos

avanços para a espectroscopia de infravermelho. Sua utilização propicia a redução do

tempo de obtenção dos espectros permitindo adequar funções não periódicas como

problemas de comunicações e processamento de sinais (STUART, 2004).

Dentre os métodos de análise por FTIR, o ATR tem provocado avanços nas

análises de amostras sólidas e líquidas, pois não requer laborioso preparo de amostras e

produz espectros reprodutíveis. Esse método, que está associado ao FTIR, utiliza o

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fenômeno da reflectância total interna por meio de um cristal com alto índice de refração

e baixo índice de absorção na região do infravermelho. O acessório ATR realiza as

medições das mudanças que ocorrem no feixe de radiação infravermelha ao entrar em

contato com a amostra. Quando o feixe de radiação passa do cristal para a amostra, ocorre

a reflexão. A fração do feixe de luz incidente que é refletida aumenta conforme aumenta

o ângulo de incidência, e quando excede um determinado ângulo crítico (a) a reflexão é

completa. Essa técnica pode ser utilizada na análise pastas, adesivos e pós que não podem

ser analisados como pastilhas ou filmes (STUART, 2004; SOUZA, 2009).

Quando comparado aos instrumentos dispersivos, o FTIR apresenta algumas

vantagens, dentre estas, as principais são: vantagem de Fellgett, vantagem de Jacquinot e

a vantagem da velocidade (STUART, 2004).

A vantagem de Fellgett ou vantagem de multiplexação refere-se ao fato de que

este sistema oferece a melhor relação sinal/ruído por unidade de tempo proporcional à

raiz quadrada do número de resolução dos elementos que estão sendo monitorados, isso

possibilita que o detector receba todas as informações dos componentes durante a leitura

do interferograma, isto resulta em melhor resolução dos elementos que estão sendo

monitorados, uma vez que, a relação sinal/ruído é determinada pelo tempo de observação

(VANASSE & SAKAI, 1967; STUART, 2004).

A vantagem de Jacquinot refere-se ao fato de que neste sistema ocorre menor

perda luminosa entre o feixe da fonte e o detector, isto ocorre por que o FTIR não requer

a utilização da fenda ou qualquer outro dispositivo de restrição que reduza a transferência

da potência, assim, toda a energia emitida pela fonte passa pela amostra, o que resulta em

ganho de energia no detector e aumento da razão sinal/ruído. O aumento da razão

sinal/ruído resulta em melhores interpretação dos resultados e utilização dos dados

(VANASSE & SAKAI, 1967; STUART, 2004;).

Além das vantagens de Jacquinot e Fellgett, a utilização do FTIR possibilita maior

precisão da frequência, a luz dispersa não afeta o detector, uso de feixe mais amplo e

obtenção mais fácil dos dados, maior velocidade do leitor, que permite monitoramento

das amostras submetidas a rápidas mudanças, não submete as amostras a efeitos térmicos

e emissões de radiação pela amostra não afetarão o espectro (FIORINI, 2000).

1.6.2 Aplicação da Espectroscopia de Infravermelho na indústria de alimentos

A indústria de alimentos vem utilizando a espectroscopia de infravermelho no

controle de qualidade dos produtos. Na indústria de bebidas alcoólicas, a espectroscopia

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de infravermelho tem sido utilizada na determinação de parâmetros das bebidas e licores

(ARZBERGER & LACHENMEIER, 2008), na determinação de ácidos orgânicos em

vinhos (REGMI et al., 2012), na caracterização e classificação de vinhos e bebidas

destiladas (PALMA & BARROSO, 2002).

Em laticínios, já foi verificada a eficácia da técnica para análise de leite e

derivados com a finalidade de avaliar a composição dessas amostras, além de detectar a

presença de adulterantes nesses alimentos (IÑÓN et al., 2004, KAROUI &

BAERDEMAKE, 2007), determinação de sólidos não gordurosos (BASSBASI et al.,

2014), determinação de proteínas (KHER et al., 2007), composição físico química

(ADLER et al., 2013), entre outros diversos trabalhos que vem utilizando a

Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier na análise de leite e

derivados lácteos (BUNACIU et al., 2016).

Hewavitharana e Brakel (1997) utilizaram o (FTIR) associado às técnicas

quimiométricas, como a análise de regressão de mínimos quadrados parciais (PLS) e a

regressão de componentes principais (PCR) para a quantificação rápida e direta de caseína

no leite cru e os resultados foram satisfatórios.

Em um trabalho desenvolvido por Luiz e colaboradores (2014), com a finalidade

de avaliar a qualidade do leite de maneira rápida (interessante para indústria), utilizou-se

a Espectroscopia no Infravermelho Próximo com Transformada de Fourier (FT-NIR)

associada à Análise de Componentes Principais (ACP) em amostras de leite pasteurizado

tipo “A” integral homogeneizado comercializado na região de Juiz de Fora, Minas Gerais.

Os resultados obtidos foram satisfatórios, pois as amostras pré-contaminadas foram

facilmente detectadas. Ressaltando que a técnica multivariada (ACP) foi essencial para

obtenção dos resultados.

Em análises de leite por FTIR, as vibrações moleculares decorrentes dos seus

principais constituintes, gordura, proteínas e carboidratos, ocorrem em diferentes faixas

espectrais apresentando bandas distintas em cada faixa conforme apresentado na Tabela

7.

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Tabela 7. Regiões espectrais do leite em FTIR.

Número de onda (cm-1) Grupo

Funcional

Associação Modo Vibracional

3438 OH Água Estiramento simétrico

2920 CH2 Lipídeos Estiramento

assimétrico

2850 CH2 Lipídeos Estiramento simétrico

2350 CH2 Lipídeos Estiramento Simétrico

1747 C = O Lipídeos Estiramento simétrico

1660 – 1650 Amida Proteína Estiramento

1547 – 1541 Amida Proteína Deformação angular

1241 Amida Proteína Estiramento

1160 C - O Lipídeos Estiramento

1150 – 1030 (C – O) (C – C)

(C – O – O)

Carboidratos Estiramento

1000 – 800 Anel de

vibração

Carboidratos Deformação angular

722 (CH2)n Lipídeos Deformação angular

700 N – H Proteína Deformação angular

Fonte: STUART, 2004; AERNOUTS, 2011.

Por meio da associação entre a faixa espectral onde ocorrem as vibrações

moleculares que resultam em absorção da radiação infravermelho e as funções orgânicas

que as provocam, é possível identificar e quantificar os compostos do leite. Utilizando

esta técnica, Heuer e colaboradores (2001) realizaram estudo da composição do leite

avaliando a presença de cetona na amostra (Figura 4).

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Figura 10. Espectro do Leite por FTIR.

Fonte: HEUER, 2001

1.7 Quimiometria

O uso de computadores para analisar dados químicos foi crescente nos últimos

anos e a aquisição de dados, principalmente na área analítica passou a produzir grande

quantidade de informações, muitas vezes complexa e variada, atingindo um número

elevado de variáveis que podem ser medidos em uma única amostra, como exemplo, é

possível citar as medidas de absorção em milhares de comprimentos de onda que são

registrados em um espectro. De posse de tal quantidade de dados, surgiu a necessidade

de ferramentas mais precisas para tratá-los, o que deu origem à Quimiometria que destina-

se à análise de dados químicos de natureza multivariada com uso de ferramentas vindas

da matemática, estatística e informática (FERREIRA et al., 1999).

Análise multivariada de dados se refere a um conjunto de técnicas estatísticas que

permitem a análise simultânea de múltiplas variáveis, desse modo, qualquer técnica que

tenha como objetivo analisar duas ou mais variáveis pode ser considerada, a princípio,

como multivariada, no entanto, para que a análise seja considerada realmente como

multivariada, todas as variáveis devem ser aleatórias e inter-relacionadas entre si, dessa

forma, seus efeitos não podem ser interpretados separadamente (HAIR JÚNIOR et al.,

2009).

A escolha dos métodos multivariados se dá a partir dos objetivos a serem

alcançados durante pesquisa. Sabe-se que a análise multivariada gera hipóteses e não

criam confirmações sobre o conjunto de dados, pois é uma análise exploratória de dados.

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Entretanto, algumas vezes pode ser utilizada para confirmação dos eventos (HAIR

JÚNIOR et al., 2009).

Segundo Ferreira, 1996, os objetivos gerais, para os quais a análise multivariada

conduz são:

Redução de dados ou simplificação estrutural: o fenômeno sob estudo é

representado da maneira mais simples possível, sem sacrificar informações

valiosas e tornando as interpretações mais simples;

Ordenação e agrupamento: agrupamento de objetos (tratamentos) ou variáveis

similares, baseados em dados amostrais ou experimentais;

Investigação da dependência entre variáveis: estudos das relações estruturais entre

variáveis muitas vezes é de interesse do pesquisador;

Predição: relações entre variáveis devem ser determinadas para o propósito de

predição de uma ou mais variável com base na observação de outras variáveis;

Construção e teste de hipóteses.

Segundo Regazzi (2000), as técnicas de análise multivariada foram desenvolvidas

para resolver problemas específicos, principalmente de Biologia e Psicologia, porém,

podem ser também utilizadas para resolver outros tipos de problemas em diversas áreas

do conhecimento.

1.7.1 Análise de Componentes Principais

A ACP é uma técnica ou uma formulação matemática utilizada na redução da

dimensão de dados com menor perda possível da informação (JOLLIFFE,1986). A

análise de componentes principais visa explicar a estrutura de covariância por meio de

poucas combinações lineares das variáveis originais do estudo, sendo que,

essencialmente, o número de componentes principais é igual ao número de variáveis

estudadas. Os componentes principais são gerados em ordem decrescente de variância,

assim, o componente principal 1 possui maior informação estatística que o componente

principal 2 e assim sucessivamente. Esta técnica tem como principais objetivos reduzir o

número de variáveis e facilitar a interpretação das análises realizadas (FERREIRA, 1996;

NETO & MOITA, 1998; HAIR JÚNIOR et al., 2009).

Cada componente principal apresenta propriedades importantes, tais como: são

independentes entre si, representam em ordem decrescente o máximo de informação, em

termos da variação total contida nos dados e são formados por meio uma combinação

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linear de todas as variáveis originais (NETO & MOITA, 1998; VARELA, 2008). O

sistema de coordenadas que dá origem aos componentes principais baseia-se na

combinação entre autovetores e autovalores conforme a Equação 3 (MINGOTI, 2007).

𝐶𝑃𝑖 = 𝑎𝑖1 𝑍1 + 𝑎𝑖2 𝑍2 + 𝑎𝑖3 𝑍3+. . . + 𝑎𝑖, 𝑛 𝑍𝑛 Equação 3

Em que: CP é a componente principal; a corresponte aos autovetores, que são fatores de

ponderação que define a contribuição de cada variável para uma CP numa combinação

aditiva e linear e Z, os autovalores, que representam a variância de cada CP.

A ACP é uma técnica não supervisionada, portanto, não pode ser usada para prever

o comportamento de uma nova amostra. Ao inserir uma nova amostra no conjunto de

dados, e necessário que um novo modelo seja construído (MASSARD et al.,1998). Este

conjunto de dados é composto por n amostras e p variáveis inerentes a cada elemento

amostral (HOTELLING, 1933).

Em vista disso, a ACP é uma técnica estatística empregada para identificar um

pequeno número de aspetos que podem ser úteis na identificação de uma possível relação

entre um conjunto de muitas variáveis correlacionadas entre si. Também estimando a

maior correlação existente entre as variáveis (MAROCO, 2007).

O objetivo desta técnica é explicar a variância e covariância dos vetores, composto

por variáveis, por meio do cálculo das CP’s (MINGOTI, 2007). Desta forma, a tarefa do

pesquisador que trabalha com estatística multivariada é interpretar a distribuição dos

pontos no gráfico de componentes principais e identificar as variáveis originais com

maior peso na combinação linear das componentes principais mais importantes (NETO

& MOITA, 1998).

1.7.2 Análise Discriminante

A Análise Discriminante (AD) é um método utilizado para identificar as variáveis

que discriminam os grupos e, assim, quando há uma nova observação é capaz de prever

e distinguir qual o grupo mais adequado a que ela deverá pertencer, de acordo com suas

características. Para que o objetivo desta técnica seja alcançado, a AD gera funções

discriminantes ou combinações lineares que aumentam a distinção dos grupos relatados

pelas variáveis dependentes (FÁVERO et al., 2009). Essa técnica é utilizada para separar

amostras em grupos distintos, de acordo com características já conhecidas (REIS, 2001).

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A AD é uma ferramenta utilizada para indicar as variáveis que discriminam naturalmente

dois ou mais grupos. A análise discriminante dispõe de alguns objetivos como, identificar

as variáveis que melhor se diferenciam entre dois ou mais grupos, utilizar as variáveis

para criar uma função discriminante que represente de forma ponderada as

dissimilaridades entre os grupos e aplicar a função discriminante para classificar novas

amostras nos grupos (MAROCO, 2007; MINGOTI, 2007).

Essa análise se torna eficiente quando ocorre baixa taxa de erro, ou seja, resulta

em alta taxa de classificação das amostras (HAIR JÚNIOR et al., 2009). Segundo Johnson

& Wichern (1999), para que haja menores erros, a regra de classificação deve levar em

consideração as probabilidades e os custos de má classificação, além de observar as

variâncias das populações se são iguais ou não. Pois, quando se assume que as variâncias

das populações são iguais, as funções discriminantes são consideradas lineares e quando

diferentes são consideradas quadráticas.

Os coeficientes das funções discriminantes são indicadores da importância ou da

contribuição que as variáveis originais exercem para cada função discriminante. Ao obter

a função discriminante ela é utilizada para dividir regiões de alocação, separando o

conjunto de dados de acordo com a similaridade das amostras (REGAZZI, 2000).

Na utilização da AD, quando há um grupo de observações cujos componentes já

são distinguidos eles são utilizados para estimar os pesos da função discriminante de

acordo com alguns critérios, com a minimização dos erros de classificação (SUEYOSHI

& GOTO, 2009). A Análise discriminante determina uma equação de regressão linear,

que é utilizada para prognosticar o grupo que a amostra em estudo pertence (MINGOTI,

2007; SOUZA et al., 2009). A equação é apresentada da seguinte forma:

𝐷 = 𝑎 + 𝑣1𝑋1 + 𝑣2𝑋2 + 𝑣3𝑋3+. . . + 𝑣𝑖𝑋𝑖 Equação 4

Em que:

D é a função discriminante;

v é o coeficiente discriminante ou o peso atribuído a cada variável;

X é o escore das variáveis estudadas;

a é uma constante;

i é o número de variáveis preditoras.

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1.8 Redes Neurais Artificiais (RNA)

A Rede Neural Artificial (RNA) pode ser compreendida como um grupo de

neurônios artificiais interconectados entre si formando vários subgrupos de camadas

(entrada, intermediárias e saída) em sua estrutura que são conectadas uma com as outras.

RNA é capaz de acumular os conhecimentos adquiridos na aprendizagem (experiência) e

disponibilizar esses conhecimentos para posterior utilização (HAYKIN, 1999).

O desenvolvimento da RNA teve como princípio o desejo de obter um sistema

que executasse atividades inteligentes semelhantes às exercidas pelo cérebro humano.

Uma importante vantagem das redes neurais é a sua capacidade de estabelecer as relações

existentes dentro de um conjunto de dados experimentais, tendo eles tanto o

comportamento linear como o não linear (RAI et al., 2005).

Perceptron Multi-Camadas (MLP) é uma das arquiteturas mais utilizadas nas

redes neurais artificiais. A topologia desse tipo de RNA consiste em uma camada de

entrada, uma ou mais camadas ocultas/intermediárias e uma camada de saída. Uma ou

duas camadas intermediárias são bem sugeridas na maioria dos estudos (VILLIERS et al.,

1993). De acordo com Hornik e colaboradores (1989) isso ocorre devido ao fato de que

os resultados podem ser os mesmos ao aumentar o número de neurônios na camada

escondida ou aumentar o número de camadas escondidas.

A Figura 5 mostra um exemplo de uma rede de com duas camadas intermediárias

ou escondidas, tipicamente utilizada na resolução de vários problemas complexos. É

nessas camadas que ocorre a extração de informações dos dados, estabelecendo as

relações existentes entre os dados de entrada e os dados de saída.

Figura 11. Rede com dois neurônios na camada de entrada, quatro neurônios em cada

camada intermediária e um neurônio na saída.

Fonte: GARCIA, 2004.

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As RNA’s têm sido aplicadas com sucesso em várias áreas de pesquisa química,

matemática, engenharia, medicina e psicologia devido a uma boa adaptação em diversos

campos de pesquisa e aos bons resultados apresentados (RAMADHAS et al. 2006).

O algoritmo Backpropagation, também conhecido como retropropagador do erro,

é um algoritmo de aprendizado supervisionado que utiliza a técnica de gradiente

descendente para atingir o seu objetivo que é minimizar a função de erro entre a saída real

e a desejada. É muito utilizado na topologia de redes neurais feedforward com algoritmo

de aprendizagem, pois é capaz de resolver muitos problemas de reconhecimento de

padrões (BRAGA et al., 2007).

Segundo Haykin (2001) durante a fase de treinamento do algoritmo

Backpropagation duas etapas são estimuladas para cada padrão de entrada apresentado,

sendo que uma consiste no processamento para a frente e a outra no processamento para

trás. Na primeira etapa ocorre um fluxo das unidades de entrada em direção as de saída e

os pesos sinápticos permanecem sem alteração. Posteriormente, a função de ativação é

aplicada e assim os neurônios de saída são produzidos. Após a produção dos neurônios

da camada de saída, o algoritmo Backpropagation inicia a etapa de treinamento para o

padrão indicado. Duas condições são utilizadas como critério de parada da etapa de

treinamento: número máximo de iteração estipulada pelo pesquisador e convergência da

rede. Essa convergência se dá a partir do momento em que o somatório dos erros da

camada de saída atinge um valor de erro aceitável para o problema em questão (DURÃES,

2009).

O treinamento de redes MLP utilizando o algoritmo Backpropagation possui uma

sensibilidade relacionada a critérios de superfície de erro, e assim surgem dificuldades na

convergência em regiões de baixo gradiente e de mínimos. Ao considerar os efeitos de

segunda ordem no gradiente descendente, pode-se minimizar essa dificuldade. Outras

possibilidades para ajudar no aceleramento do algoritmo bem como reduzir os efeitos dos

mínimos locais é utilizar taxas de aprendizado decrescente, usar um termo de momento

durante desempenho da rede e adicionar ruído aos dados. (BRAGA et al., 2007).

O algoritmo Resilient Backpropagation foi criado com a finalidade de evitar e/ou

corrigir os problemas encontrados no Backpropagation, ele possui uma taxa de

aprendizagem dinâmica que é atualizada a cada conexão estabelecida entre os neurônios

e assim diminui o erro de forma individual para cada neurônio (OLIVEIRA et al, 2015)

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II OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Avaliar e validar a utilização do FTIR na detecção e quantificação de

Ivermectina em leite.

2.2 Objetivos específicos

Obter o espectro referência para o leite in natura sem adulteração por meio da

espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR);

Obter o espectro referência para da Ivermectina por meio da espectroscopia de

infravermelho por transformada de Fourier (FTIR);

Criar e validar metodologia de utilização do FTIR associada a técnicas de análise

multivariada e Redes Neurais Artificiais para a classificação de amostras em

grupos que identifiquem a presença ou ausência de Ivermectina no leite.

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III CAPÍTULO 1 - USO DA ESPECTROSCOPIA DE INFRAVERMELHO POR

TRANSFORMADA DE FOURIER COM REFLECTÂNCIA TOTAL ATENUADA

(FTIR-ATR) ASSOCIADO A QUIMIOMETRIA COMO TESTE DE TRIAGEM

PARA IVERMECTINA EM LEITE.

RESUMO

As Ivermectinas (IVM) são usadas rotineiramente na produção animal para tratamento de

um amplo espectro de doenças parasíticas. O seu uso em vacas leiteiras pode deixar

resíduos no leite, cujos níveis não devem ultrapassar, segundo o Codex Alimentarius, 10

µg/L. A principal técnica empregada na detecção da IVM em leite é a HPLC-FL, no

entanto, esta técnica é laboriosa e exige o uso de reagentes químicos e equipamentos

caros, o que dificulta o monitoramento de maior número de amostras. O objetivo do

presente estudo foi utilizar a espectrofotometria no infravermelho médio com

transformada de Fourier (FTIR-ATR) associada a técnicas multivariadas, a fim de superar

as desvantagens ora apresentadas. Foram coletadas amostras de leite de 10 vacas sadias

não tratadas com IVM durante três períodos. Estas amostras foram fracionadas e

adicionado padrão de IVM, obtendo-se as seguintes concentrações: 0, 2, 4, 6, 8, 10, 12,

14, 16, 18 e 20 µg/L de leite. Na região espectral entre 4000 a 600 cm-1, foram observados

no FTIR-ATR, 16 e 29 picos cujas absorbâncias máximas foram correspondentes às

vibrações das ligações dos respectivos grupos funcionais presentes no leite e no padrão

de IVM, respectivamente. As absorbâncias dos 45 picos foram inicialmente submetidas

a Análise de Componentes Principais (ACP), que indicou redução de dimensionalidade

de 45 para 16 variáveis de importância para o estudo. Observamos clara distinção na

dispersão gráfica do CP1 e CP2A entre as amostras de leite puro, leite adicionado de IVM

e padrão de IVM. Utilizando as 16 variáveis selecionadas na ACP realizou-se a

classificação das amostras em leite adicionado de IVM e leite puro, utilizando-se a

Análise Discriminante e as Redes Neurais Artificiais (RNA). Ambas as técnicas foram

capazes de classificar corretamente 100% das amostras, mesmo quando estão presentes

pequenas concentrações de IVM como 2 µg /L. A RNA quando utilizada para predizer a

concentração de IVM em leite não foi eficiente comprovado pelos valores de RMSE

elevados e correlação não significativa entre os valores preditos pela rede e os

experimentais. Assim, FTIR-ATR associado a técnicas multivariadas pode ser usado

como teste de triagem de IVM em leite.

Palavras-chave: Triagem, Ivermectina, Leite, Espectroscopia

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ABSTRACT

Ivermectin’s (IVM) are routinely used in animal production and its use in lactating

animals may leave residues in milk. Liquid chromatography is the main technique

employed in the detection of IVM in milk; however, this technique is laborious and

requires chemical reagents, which makes it difficult to monitor a greater number of

samples. The goal of this study was evaluated the Fourier transform infrared with

attenuated total reflectance (FTIR-ATR) associated with multivariate techniques as a

screening test for IVM in milk. Milk samples from 10 healthy cows not treated with IVM

were collected during three periods. These samples were fractionated and IVM standard

added (0, 2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18 and 20 μg/L of milk). In the spectral region between

4000 and 600 cm -1, 16 and 29 peaks were observed, whose maximum absorbance’s

corresponded to the vibrations of the respective functional groups (milk and IVM,

respectively). The absorbance of the 45 peaks was initially subjected to Principal

Component Analysis (PCA), which indicated reduction from 45 to 16 variables of

importance for the study. We observed a clear distinction in the graphic dispersion (PC1

and PC2) between the samples of pure milk, milk added with IVM and standard of IVM.

Using the 16 variables selected in the PCA, was carried out Discriminant Analysis and

Artificial Neural Networks (ANN). Both techniques were able to sample classify (100%).

Thus, FTIR-ATR associated with multivariate techniques can be used as a screening test

for IVM in milk.

Key words: Screening, Ivermectin, Milk, Spectroscopy

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1 INTRODUÇÃO

As Avermectinas (abamectinas, doramectinas, emamectinas, eprinomectinas,

ivermectinas e selamectinas) são anti-helmínticos e ectoparasitas semi-sintéticos

pertencentes às Lactonas Macrocíclicas usadas em animais e seres humanos,

rotineiramente, e em sua maioria, produzidas a partir da bactéria Streptomyces

avermitillis (WEISHER & BROWN, 2001; VERCRUYSSE & REW, 2002). Neste grupo

as Ivermectinas (IVM) se destacam. A IVM é um composto que contém, no mínimo 80%

de 22,23-diidroavermectina B1a e menos de 20 % de 22, 23-diidroavermectina B1b

(YATES et al., 2003; CANGA, et al., 2009; ESCRIBANO et al., 2012).

Na União Europeia, assim como Canadá, Estados Unidos e Japão resíduos de IVM

em leite de animais para consumo humano não são permitidos. Por sua vez, o Codex

Alimentarius indica como limite máximo de resíduos no leite (LMR) 10 ng·mL-1, similar

ao permitido no Brasil, enquanto a Austrália permite até 50 ng·mL-1 (BRASIL, 1986;

BRASIL, 2003; CERKVENIK-FLAJS et al., 2010; BRASIL, 2012; ESCRIBANO, et al.,

2012).

As técnicas descritas para quantificação de IVM em leite, e em geral, são mais

laboriosas, devido à complexidade da matriz, exigem pessoal treinado e equipamentos

caros e usam muitos reagentes químicos (DANAHER et al., 2006; CERKVENIK-FLAJS,

et al., 2010; ESCRIBANO et al., 2012), o que dificulta o monitoramento. Assim,

buscando-se agilidade neste processo, testes de triagem para LM tem sido buscados em

todo o mundo, contudo, os relatos indicam o uso da cromatografia líquida como teste de

triagem (JEONG et al., 2012; WEI et al., 2015; OZDEMIR & KAHRAMAN, 2016), o

que não resolve o problema da velocidade de avaliação de amostras e do uso de reagentes

químicos.

A espectrometria de infravermelho tem sido usada em leite para caracterizar

parâmetros nutricionais (IÑÓN et al., 2004; BASSBASI et al., 2014), adulteração por

mistura de leite de distintas espécies (RECIO et al., 2004; NICOLAOU et al., 2010) entre

outros usos (CAPUANO et al., 2014), porém, não tem sido usada no monitoramento de

IVM.

As técnicas de determinação/quantificação de IVM, em geral cromatográficas, são

trabalhosas, requerem maior tempo de análise e uso de reagentes químicos. Olhando para

o futuro, testes de triagem auxiliarão o monitoramento desenvolvido por laboratório de

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controle, atualmente desenvolvido em grande número de amostras, assim, estes se

concentrarão em amostras que necessitam confirmação (TOLDRA & REIG, 2006).

Assim, o uso de espectroscopia associada à quimiometria (técnicas estatísticas e

matemáticas usadas para análise de informações químicas) tem se destacado na avaliação

de alimentos, por sua facilidade, agilidade e baixo custo (NICOLAOU et al., 2010). Nesse

sentido, propomos uma nova técnica que sirva como teste de triagem, possibilitando o

aumento do número de amostras a serem confirmadas, sendo nosso objetivo o

desenvolvimento/validação do uso de espectroscopia no infravermelho médio por

transformada de Fourier na detecção de resíduos de Ivermectina em leite.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Origem das amostras

O leite foi obtido de vacas sadias, com adequado controle sanitário e grau de

sangue zebuíno, em rebanho comercial da Fazenda Santo Antônio em Itapetinga – BA e

que não receberam tratamento com Ivermectina (IVM). Para a análise de IVM, foi

utilizado padrão de IVM Sigma Aldrich.

2.2 Delineamento experimental

Para a realização do experimento, foram coletadas amostras de 500 mL de leite de

10 vacas, no turno matutino, em 3 períodos distintos com intervalos de 1 semana,

totalizando a coleta de 30 parcelas. Após homogeneização de cada amostra, foram

retiradas alíquotas para diluições sucessivas até a obtenção das concentrações pré-

definidas.

As amostras de leite cru sem IVM foram adulteradas com o padrão de IVM nas

concentrações de: 0 (leite puro), 2, 4, 6, 8, 10 (limite máximo permitido), 12, 14, 16, 18

e 20 µg de IVM/L de leite em cada uma das parcelas, resultando em 30 amostras para

cada tratamento, assim, 300 amostras de leite adulterado, 30 amostras de leite puro, além

de 30 amostras de padrão de IVM.

2.3 Preparo das amostras

Após a adição de IVM às amostras, estas foram colocadas em eppendorfs

identificados individualmente, cobertos com papel alumínio em toda a sua abertura e

realizados diversos furos no papel para viabilizar a posterior liofilização e, após

acondicionadas, as amostras foram congeladas à -20 ºC + 2 ºC por 24 horas. O excedente

do material não utilizado nos eppendorfs foi colocado em frascos plásticos, identificado

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individualmente e armazenado sob as mesmas condições de congelamento mencionadas

anteriormente, essa medida foi adotada como forma de garantir a reserva desse material

em caso de dano ou perda das amostras liofilizadas.

Após o congelamento, as amostras de leite puro e leite adulterado com IVM foram

liofilizadas à -48 ºC + 2 ºC e 0,100 mBar por 24 horas em liofilizador de bancada, modelo

FreeZone 4,5 L, marca Labconco (Kansas City, USA).

2.4 Análise espectrofotométrica vibracional

Os espectros das amostras de leite, IVM e do leite com as distintas concentrações

de IVM foram determinados com o uso da espectroscopia por reflectância total atenuada

acoplada, na região do infravermelho médio 4000-600 cm-1 por transformada de Fourier

(ATR-FTIR), em equipamento modelo Cary 630, marca Agilent (Santa Clara, USA). Os

dados foram obtidos com uso do software Microlab e o Resolution Pro, marca Agilent

(Santa Clara, USA), para posterior caracterização e comparação dessas amostras.

2.5 Caracterização e comparação dos espectros das amostras

Para a caracterização das amostras, os espectros dessas foram analisados de

acordo com as características das bandas que constituíam cada um. A partir das

características das bandas dos espectros, foram descritas as propriedades às quais estas se

relacionavam e, a partir dessas informações, foi realizada a comparação dos espectros e,

consequentemente, das amostras (Stuart, 2004).

2.6 Medidas de Dispersão e Padronização da Matriz de Dados

Para a Análise de Componentes Principais e Análise Discriminante, os dados

originais dos espectros foram padronizados a partir do desvio padrão e do coeficiente de

variação. Essa padronização consistiu na criação de nova variável (Y) de média

equivalente a zero e desvio padrão igual 1, para a eliminação das diferenças entre as

medidas das variáveis a serem estudadas (Equação 1).

Y =x−µ

σ

Equação 5

Em que: Y = Variável padronizada; X = Variável original; µ = Média, e σ = Desvio padrão

2.6.1 Construção das matrizes de dados utilizadas nas técnicas multivariadas.

Os resultados das análises foram organizados em conjuntos de dados e, desses,

foram construídas as matrizes que avaliariam os efeitos das variáveis (números de onda)

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sobre as amostras. Para a separação das amostras foram construídas, inicialmente, 4

matrizes (A1, A2, A3 e A4) com X número de amostras (Leite, IVM ou leite adulterado

com IVM) e Z número de variáveis, inicialmente igual a 45 (16 variáveis referentes ao

leite e 29 referentes à IVM), que seriam reduzidas à medida em que fosse realizada a

ACP, formando assim, as matrizes X x Z.

A1 consistiu em uma matriz 60x45, (30 amostras de leite e 30 amostras de padrão

de IVM); A2 consistiu em uma matriz 360x45, as 60 amostras anteriores somadas as 300

amostras de leite adulterado com IVM; A3 consistiu em uma matriz 330x45, 30 amostras

de leite puro, leite adulterado com IVM com níveis de 2 a 10 µg/L (150 amostras) e leite

adulterado com IVM com níveis de 12 a 20 µg/L (150 amostras); A4 consistiu em uma

matriz 330x45, 30 amostras de leite puro e 300 amostras leite adulterado. Para todas as

matrizes, os valores de Z correspondiam aos 45 números de onda onde ocorrem vibrações

moleculares no leite ou na IVM. Os grupos de amostras utilizados em cada análise e as

simbologias utilizadas estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Descrição dos grupos usados nas análises de componentes principais (ACP),

análise discriminante (AD) e Redes Neurais (RN).

População Símbolo Número de

amostras

Inclusão de

Ivermectina (µg/L)

Análises

Ivermectina I 30 Padrão de IVM ACP

Leite L 30 0 ACP, AD e RN

Leite A A 150 ≥2 e ≤10 µg/L ACP, AD e RN

Leite B B 150 ≥12 e ≤20 µg/L ACP, AD e RN

Leite adulterado C 300 ≥2 e ≤20 µg/L AD

2.7 Análise Estatística

2.7.1 Análise de Componentes Principais

Após o tratamento dos dados e obtenção das médias padronizadas conforme o

item 2.6, as variáveis Y foram utilizadas para a ordenação de um novo sistema de

coordenadas com eixos ortogonais (Equação 2).

𝐶𝑃𝑖 = 𝑎𝑖,1𝑍1 + 𝑎𝑖,2𝑍2 + 𝑎𝑖,3𝑍3 + ⋯ + 𝑎𝑖,𝑛𝑍𝑛

Equação 6

Em que: i = 1,2,3, ...,n, sendo:

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CPi: i-ésimo componente principal;

ai,1, ai,2, ai,3, ..., ai,n, elementos do i-ésimo autovetor (a1) normalizado, associado ao i-

ésimo autovalor (Zi) do i-ésimo componente principal (CPi ).

A partir dessa equação, foram obtidos os Componentes Principais (CP’s) em

ordem decrescente de variância, em que, o CPi explica maior variação dos dados quando

comparado a CPi+1 e assim sucessivamente. Essa ordenação possibilitou a redução do

número de variáveis, inicialmente igual a 45. Para a seleção dos CP’s, foram utilizados

os critérios de Kaiser, onde foram selecionados os primeiros CP’s que acumulam

percentual de variância superior a 70% e autovalor maior que 1, conforme descrito em

Jolliffe (1972) e Mardia e colaboradores (1979) que torna passível de descarte variáveis

de forte correlação com CP’s de menor autovalor (variância). Associados a esses critérios,

foi definido que as variáveis seriam excluídas em função da classificação das amostras

pelos CP’s.

2.7.2 Análise discriminante

Funções matemáticas foram desenvolvidas para classificar as amostras da matriz

A3 (Y x Z), com 330 amostras (Leite, Leite A e Leite B) (Y) e 16 variáveis (Z) e A4

também com 330 amostras, (Leite e Leite adulterado com IVM) e as mesmas variáveis

(Z), selecionadas na análise de componentes principais. Os dados foram aleatorizados e

divididos em dois grupos: um de treinamento (80%) e o outro de validação (20%) para

cada grupo de amostras para obtenção da função discriminante linear, sendo que o último

grupo verificaria a capacidade de generalização da função.

2.8 Redes Neurais Artificiais

2.8.1 Arquitetura e desenvolvimento das RNA’s

Após coleta, os dados gerados foram normalizados e inseridos no software Java

Simulator Neural Network (Java NNS) – Java Neural Network Simulator 1.1 (Fischer et

al., 2001), o qual é baseado no SNNS - Stuttgart Neural Network Simulator.

A rede escolhida para realização do presente trabalho foi a do Tipo Perceptron de

Múltiplas Camadas (MLP) e o algoritmo utilizado foi o Resilient Propagation que possui

uma taxa de aprendizado dinâmica facilitando o processo de aprendizagem. As

arquiteturas das redes testadas é apresentada na Tabela 2.

Na primeira e na segunda camada escondida foram testados de 10 a 50 neurônios

para que pudesse ser feita a escolha da melhor configuração. Para o desenvolvimento da

rede foram observados o sistema e a taxa de aprendizagem. Rai e colaboradores (2005)

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mostram que a taxa de aprendizagem auxilia na variação de pesos de conexão durante a

constituição da rede, a faixa especifica para essa taxa varia entre 0,05 e 0,75. A taxa de

aprendizado utilizada neste trabalho foi de 0,2.

Tabela 2. Arquiteturas das redes neurais utilizadas

Rede Usada Rede Neural De Retropropagação

Classificação Predição

Aprendizagem Supervisionado Supervisionado

Função de Ativação Logística Tangente

Hiperbólica

N° variáveis de entrada 16 16

N° de camadas intermediárias 1 a 3 1 a 2

N° de neurônios nas camadas intermediárias 10 a 100 10 a 50

N° variáveis de saída 1 3

Sistema de Aprendizagem Resilient

Propagation

Resilient

Propagation

Taxa de aprendizagem 0,2 0,2

Ciclos 100 a 300 100 a 300

2.8.2 Treinamento e Validação

2.8.2.1 Predição

O conjunto total de dados (330 amostras) foi dividido em dois conjuntos,

aprendizagem e validação. Essa separação foi realizada empregando o modo aleatório e

critério de mínimo e máximo. O primeiro conjunto com 80% dos dados (264 dados) foi

utilizado para o treinamento da rede e o segundo conjunto com 20% dos dados (66 dados),

foi utilizado para validação. Para a construção da rede, foram utilizados os escores das 16

variáveis selecionadas na ACP e utilizada na AD.

Os dados de entrada e de saída foram normalizados automaticamente pelo

software usado (Equação 3) (NEURALWARE, 2000).

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𝑋𝑖, 𝑛𝑜𝑟𝑚 =𝑥𝑖−𝑥𝑚í𝑛

𝑥𝑚á𝑥−𝑥𝑚í𝑛

Equação 7

Em que xi,norm representa os dados normalizados; xi, os dados experimentais;

xmín, o valor mínimo dos dados; xmáx, o valor máximo dos dados .

Os desempenhos das diferentes formações da RNA foram comparados de acordo

com o coeficiente de correlação (R) entre dados de saída experimentais e preditos e raiz

do erro quadrado médio (RMSE) (Equação 4). A correlação de aprendizagem e

verificação de iterações dos RNA’s criados foram calculados a partir de dados

normalizados.

2

1

1

n

d p

i

RMSE x xn

Equação 8

Em que n é o número de pontos de dados, e xd e xp são os valores experimentais e

previstos dos níveis de contaminação das amostras testadas na rede: Leite, Leite A e Leite

B, respectivamente.

2.8.2.2 Classificação

A rede neural artificial também foi utilizada para classificar os dados (Leite puro,

Leite A e Leite B) que também foram separados em dois grupos (treinamento e

validação). A entrada da rede foi constituída pelos dados originados no espectrofotômetro

(FTIR), e a saída foi representada por um vetor multidimensional formado por uma matriz

identidade, em que a dimensão corresponde a quantidade de grupos que compõem os

dados utilizados, conforme a classificação a seguir:

(1,0,0) = Leite A

(0,1,0) = Leite B

(0,0,1) = Leite puro

Os conjuntos de dados, treinamento e validação, foram montados neste formato

numérico, de modo que, cada amostra ao ser classificada corretamente teria o número 1

atribuído a ela e ao ser classificada erroneamente o número 0.

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As redes foram testadas de forma a obter a que melhor se desempenhasse em

relação ao menor RMSE (raiz do erro quadrático médio) obtido por meio da equação 4 e

consequentemente a melhor taxa de classificação.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Caracterização e comparação das amostras de Ivermectina (IVM) e Leite

O espectro da Ivermectina (Figura 1) apresentou grande número de bandas

estreitas, isto se deve ao tamanho da estrutura da Ivermectina (mínimo de 80%

Ivermectina B1a – C48H74O14 e máximo de 20% Ivermectina B1b – C47H72O14) que

apresenta diversas funções orgânicas, destacando-se grupos hidroxilas, metoxilas, anel

tetrahidrofurano, anel tetrahidropirano, éteres, ésteres e álcoois, com ligações químicas

que apresentam vibrações moleculares em diferentes faixas do espectro.

A formação de bandas estreitas e pontiagudas demonstrou que os modos

vibracionais da IVM são bem definidos (STUART, 2004) e a predominância de bandas

de pouca expressão nas faixas de 3150 a 3050, 1600 a 1475 cm-1 e 900 a 690 cm-1

evidencia a ausência de compostos aromáticos na estrutura da IVM (PAVIA,2010).

Figura 12. Espectro no Infravermelho da Ivermectina.

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A análise das amostras de leite por FTIR, na região do infravermelho médio (4000

– 600 cm-1) originou espectros com bandas características de gordura, proteína e lactose

em diferentes faixas, observadas em 16 números de onda (Figura 2).

Figura 13. Espectro no Infravermelho do leite puro.

As bandas que caracterizam a gordura, ocorreram em função das vibrações das

moléculas de ácidos graxos presentes em suas estruturas e apresentaram picos de absorção

em 2919 e 2851 cm-1 (estiramento C=O), em 1742 cm-1 (estiramento C=O) e em 1458 e

1376 cm-1 (estiramento C-H) (HEUER, 2001; AERNOUTS, 2011; GRELET, 2015).

As vibrações características das estruturas das proteínas resultaram em bandas

com picos de absorção em: 3278 cm-1 (Amida secundária - estiramento N-H), porém,

nessa região espectral também ocorre vibração de estiramento do grupo O-H presente na

água, com isso, é possível afirmar que a banda formada nessa região ocorre em função da

presença de água e proteína; em 1647 cm-1 (Amida I - estiramento C-O), em 1541 cm-1

(Amida II - estiramento C-N e deformação angular N-H); em 1241 cm-1 (Amida III –

estiramento C-N, deformação angular N-H, estiramento C=O e vibrações de deformação

angular em O=C=N), em 768 cm-1 (Amida IV – estiramento O-C-N) e em 700cm-1

(Amida V – deformação angular fora do plano N-H), (KONG &YU, 2007; AERNOUTS

et al., 2011).

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A lactose originou bandas nas regiões espectrais características das vibrações das

moléculas de grupos carboxílicos presentes nas suas estruturas, com picos de absorção

em 1148 cm-1 (estiramento C-O-C) e em 1023 cm-1 (estiramento C-O-C) (HEUER et al.,

2001; GRELET et al., 2015).

A comparação dos espectros da Ivermectina e do Leite indica diferença entre eles,

pois alguns picos são distintos (números de onda de máxima intensidade de absorção),

assim como sua forma. Enquanto o leite apresenta bandas mais arredondadas, a IVM

apresenta bandas mais estreitas, facilmente observado na faixa de 1150 a 750 cm-1, onde

se encontram bandas referentes à lactose, na faixa de 1737 a 1481 cm-1, onde se encontram

as bandas de gordura, e nas bandas de proteína, entre 2919 a 2851 cm-1. Entretanto, apesar

dessas diferenças, não foi possível encontrar uma banda no espectro da IVM fora das

faixas onde ocorreram bandas no espectro do leite, o que impossibilitou a classificação

de amostras de leite adulterado com IVM apenas pela identificação de uma banda distinta

no espectro da matriz.

A avaliação dos pontos médios de máximas intensidades de absorção do

Infravermelho nos espectros da IVM, leite e o leite adulterado (10µg/L e 20µg/L)

demonstrou alterações em algumas regiões do leite adulterado em relação ao leite puro.

Estas alterações foram observadas mais claramente nos seguintes pontos: 1457 cm-1,

associado à gordura; 3278 e 1647 cm-1, associados à proteína; 1023 cm-1, associado à

lactose (Figura 3). Estas observações confirmaram que a presença da IVM no leite

acarretou a ligação de componentes da IVM com os do leite, promovendo assim as

alterações observadas no espectro e indicam a possibilidade de separação de amostras de

leite puro e adulterado com IVM pelo método FTIR.

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Figura 14. Médias dos pontos de máxima intensidade de absorção da Ivermectina, Leite

e o leite adulterado (10µg/L e 20µg/L).

A razão de crescimento dessa intensidade de absorção evidencia que, quando

presente no leite, apesar de não alterar o perfil do seu espectro, a IVM confere efeito

aditivo a algumas dessas bandas que, por sua vez, apresentam intensidades de absorção

alteradas.

Devido às pequenas diferenças visuais destacadas anteriormente no leite

adulterado com IVM, as correlações dos espectros foram avaliadas com o uso de análises

multivariadas como componentes principais (ACP), análise discriminante e redes neurais

artificiais.

3.2 Análise Estatística Multivariada

3.2.1 Análise de Componentes Principais

O primeiro teste realizado de ACP avaliou as amostras de IVM e Leite. Como

esperado, a ACP separou claramente essas amostras em 2 grupos (Figura 4a),

confirmando a avaliação do espectro no infravermelho médio por transformada de

Fourier, já destacada anteriormente. Nesta análise, a CP1 explicou a quase totalidade da

variação dos dados (99,3%), enquanto CP2 explicou apenas 0,45%. As amostras de leite

apresentaram correlação positiva com CP1, enquanto as amostras de IVM apresentaram

correlação negativa, demonstrando assim a capacidade do CP1 separar o leite puro do

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padrão de IVM. Para esta classificação, após a redução das variáveis, verificou-se que

apenas 5 delas foram suficientes: 3278, 1647, 1541, e 1241 cm-1 (proteínas) e 1458 cm-1

(gordura), todas apresentaram correlação superior a 98% com o CP1, sendo indicados

para explicar a separação da IVM do leite. Estas variáveis representam bandas

características do leite, já que a Ivermectina não possui estas biomoléculas, o que indica

a diferença entre elas. A lactose, apesar de não estar presente na IVM, não está entre as

substâncias que diferenciam, dessa forma, o leite da IVM, pois nas faixas onde ocorrem

bandas da lactose, também ocorrem bandas expressivas do espectro da IVM em função

do estiramento C-O-C.

A ACP que avaliou as amostras de IVM, Leite e leite adulterado de 2 a 10 µg/L

(A) leite adulterado de 12 a 20 µg/L (B) indicou a separação entre os tratamentos em 3

grupos: IVM, leite e leite adulterado. A análise não foi capaz de separar as amostras de

leite adulterado por níveis de IVM (Figura 4b).

Esta análise indicou a redução de 45 para 23 variáveis que apresentaram alta

correlação com CP1 que explica 76,1% da variação dos dados e, algumas com CP2, que

explica 9,4% da variação, deixando clara a importância do CP1. Essas variáveis, que

foram suficientes para a separação das amostras de IVM, Leite e leite adulterado, se

referem a bandas características do leite: 3278 e 1458 cm-1 (gordura), 1647, 1541 e 1241

cm-1 (proteína); e variáveis relacionadas ao espectro da IVM: 3450, 2963, 2934, 2887,

1730, 1676, 1457, 1380, 1340, 1313, 1065, 1047, 970, 900, 832, 786, 761 e 726 cm-1.

Na avaliação das amostras de Leite, Leite A e Leite B, a variação explicada pelo

CP1 foi de 81,64% e pelo CP2, 6,95%, totalizando 88,6% (Figura 4c), houve redução até

16 variáveis que apresentaram alta correlação com CP1, todas associadas à faixas

espectrais características de formação de bandas da Ivermectina: 3450, 2963, 2934, 2887,

1676, 1457, 1380, 1340, 1313, 1065, 1047, 900, 832, 786, 761 e 726 cm-1. Estas variáveis

indicam os efeitos da Ivermectina sobre o leite.

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Figura 15. Escores das amostras de IVM, Leite, Leite adulterado (2 a 10 µg/L) - A e Leite

adulterado (12 a 20 µg/L) - B em relação a CP1 e CP2, em que: A* - I vs L; B* - I vs L

vs A vs B; C* - L vs A vs B.

3.2.2 Análise discriminante

A análise discriminante das amostras permitiu determinar três funções lineares

(Equações 5, 6 e 7) das variáveis que minimizaram a dispersão nos grupos avaliados e

elevaram a razão existente entre eles, possibilitando a definição dos grupos de leite, leite

A e Leite B. Nestas funções, foram atribuídos pesos (coeficientes discriminantes) a cada

variável, assim, estes pesos foram multiplicadores para os resultados intensidade de

absorção obtidos nas análises em cada variável (números de onda).

Os resultados da análise discriminante permitiram a previsão do grupo em que as

amostras se encaixaram, especificamente no grupo adulterado. As funções discriminantes

evidenciaram a relação dessas variáveis à presença de IVM no leite, uma vez que, o

aumento dos valores escores dessas variáveis ocorre à medida que se verifica a presença

de IVM no leite.

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𝐿𝑒𝑖𝑡𝑒 = −15,30147 − 0,86161 ∗ 𝑌3450 − 11,00694 ∗ 𝑌2963 + 4,87254 ∗ 𝑌2934 +

11,00828 ∗ 𝑌2887 + 0,69160 ∗ 𝑌1676 − 4,03767 ∗ 𝑌1457 + 2178238 ∗

𝑌1380– 33,69269 ∗ 𝑌1340 + 28,16606 ∗ 𝑌1313 + 24,01355 ∗ 𝑌1065 − 20,89078 ∗

𝑌1047 + 9,09333 ∗ 𝑌900– 2,48619 ∗ 𝑌832 + 36,97411 ∗ 𝑌786 − 53,93883 ∗

𝑌761 + 45,82136 ∗ 𝑌736 Equação 9

𝐿𝑒𝑖𝑡𝑒 𝐴 = −15.33151 − 2,06059 ∗ 𝑌3450 − 10,69601 ∗ 𝑌2963 + 3,80826 ∗

𝑌2934 + 12,62285 ∗ 𝑌2887 + 0,74960 ∗ 𝑌1676 − 1,42954 ∗ 𝑌1457 + 25,74307 ∗

𝑌1380– 39,05799 ∗ 𝑌1340 + 25,95683 ∗ 𝑌1313 + 30,99277 ∗ 𝑌1065 − 23,94909 ∗

𝑌1047 + 7,21802 ∗ 𝑌900– 0,16348 ∗ 𝑌832 + 41,35095 ∗ 𝑌786 − 48,43452 ∗

𝑌761 + 31,8434 ∗ 𝑌73 Equação 10

𝐿𝑒𝑖𝑡𝑒 𝐵 = −383.71473 + 4,20025 ∗ 𝑌3450 + 52,54298 ∗ 𝑌2963 − 22,52935 ∗

𝑌2934 − 50,03985 ∗ 𝑌2887 − 1,35053 ∗ 𝑌1676 + 10,40666 ∗ 𝑌1457 −

115,77251 ∗ 𝑌1380 + 168,49672 ∗ 𝑌1340 − 127,55194 ∗ 𝑌1313 − 160,11690 ∗

𝑌1065 + 125,46721 ∗ 𝑌1047 − 40,52560 ∗ 𝑌900 + 6,87775 ∗ 𝑌832 − 196,02447 ∗

𝑌786 + 242,87243 ∗ 𝑌761 − 168,64826 ∗ 𝑌736 Equação 11

A capacidade de treinamento apresentou taxa de classificação de 52,5% para o

Leite A, 64,1% para o Leite B e 100% para o Leite (L). Por sua vez, no procedimento de

validação, utilizado para avaliar a capacidade de generalização do método, a capacidade

de previsão para as amostras foi de 46,67%, 70% e 100%, para o Leite A, Leite B e Leite,

respectivamente.

Os resultados obtidos demonstram que 100% das amostras de leite foram

classificadas corretamente. No entanto, as amostras adulteradas apresentaram resultados

diferentes. As amostras de leite A apresentaram redução no percentual de amostras

classificadas corretamente na validação quando comparada ao treinamento, enquanto as

amostras do leite B tiveram melhor classificação na validação quando comparada ao

treinamento. Destacamos que nenhuma das amostras adulteradas, nos grupos A e B, se

comportou como sendo leite.

A taxa de classificação apresentada demonstrou que a técnica foi capaz de separar

leite e leite adulterado com IVM, no entanto, a técnica foi ineficiente para separar as

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categorias de leite adulterado, uma vez que amostras de leite contaminado com

concentrações entre 2-10 µg/L foram classificadas como sendo entre 12- 20 µg/L e vice-

versa.

Uma vez que a análise discriminante não apresentou eficiência para separação de

leite adulterado por níveis de IVM, procedeu-se nova análise utilizando-se os mesmos

dados e procedimentos anteriores, porém, nesta nova análise foram considerados apenas

2 grupos: leite e leite adulterado com IVM 2-20µg/L (matriz A4), objetivando otimizar a

capacidade discriminatória das funções. Assim, foram obtidas 2 novas funções

discriminantes (Equações 8 e 9).

𝐿𝑒𝑖𝑡𝑒 = −385,178 + 4,15016 ∗ 𝑌3450 + 52,76146 ∗ 𝑌2963– 22,6744 ∗

𝑌2934– 50,1425 ∗ 𝑌2887 − 1,35251 ∗ 𝑌1676 + 10,59049 ∗ 𝑌1457– 115,997 ∗

𝑌1457 + 168,8462 ∗ 𝑌1340 − 128,163 ∗ 𝑌1313 − 160,345 ∗ 𝑌1065 + 125,7791 ∗

𝑌1047– 40,7844 ∗ 𝑌900 + 7,03231 ∗ 𝑌832 − 196,534 ∗ 𝑌786 + 244,1068 ∗

𝑌761 − 170,066 ∗ 𝑌736 Equação 12

𝐿𝑒𝑖𝑡𝑒 𝐴𝑑𝑢𝑙𝑡𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜 (𝐴 + 𝐵) = −15,3545 − 1,45869 ∗ 𝑌3450 − 10,8951 ∗ 𝑌2963 +

4,36414 ∗ 𝑌2934 + 11,85005 ∗ 𝑌2887 + 0,72297 ∗ 𝑌1676 − 2,7615 ∗ 𝑌1457 +

23,82731 ∗ 𝑌1457– 36,4789 ∗ 𝑌1340 + 27,17989 ∗ 𝑌1313 + 27,56192 ∗ 𝑌1065 −

22,4854 ∗ 𝑌1047 + 8,19945 ∗ 𝑌900 − 1,34543 ∗ 𝑌832 + 39,28334 ∗ 𝑌786 −

51,4196 ∗ 𝑌761 + 39,07456 ∗ 𝑌736 Equação 13

Nesta nova etapa, verificou-se que, quando comparada à análise anterior, ocorreu

o aumento da taxa de classificação, sendo de 100% tanto para leite quanto leite adulterado

nas fases de treinamento e validação. Estes resultados indicaram que a análise

discriminante foi precisa ao separar amostras de leite das amostras de leite adulteradas,

confirmando os resultados obtidos na análise de componentes principais, o que robustece

a possibilidade do uso da espectrometria por infravermelho médio com transformada de

Fourier como teste de triagem para a detecção da contaminação do leite por IVM.

3.3 Redes neurais artificiais

3.3.1 Predição

Entre as redes neurais testadas (com uma ou duas camadas intermediárias),

utilizando-se as 16 variáveis selecionadas na ACP, a rede que apresentou menor erro foi

constituída por 16 neurônios na camada de entrada, 1 camada intermediária com 50

neurônios e 1 neurônio na camada de saída. Os dados de entrada foram as variáveis que

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classificam as amostras de acordo com a quantidade de IVM, os neurônios da camada

intermediária foram utilizados para extrair informações que relacionavam a entrada com

a saída e o neurônio de saída corresponde ao nível de contaminação do leite por IVM.

Concordando com ACP e com a AD, a rede somente foi capaz de identificar a adulteração,

porém, não foi capaz de quantificar a IVM presente nas amostras de leite.

Para a predição das amostras, o comportamento do erro, no decorrer do

treinamento, diminuiu, enquanto permaneceu constante para validação. Não houve uma

concentração dos pontos de dados em torno da linha de tendência linear e o valor de R2 =

0,266 mostrou-se baixo (Figura 5), sendo assim a RNA desenvolvida não teve capacidade

de predição da quantidade de IVM nas amostras.

Figura 16. Coeficiente de determinação dos dados experimentais e preditos (dados

normalizados 0-1) das amostras de leite puro e adulterado para a rede utilizando a função

Tangente Hiperbólica.

3.3.2 Classificação

A classificação é uma das opções que pode ser desenvolvida utilizando-se a RNA

para classificar amostras com características pertinentes a um determinado grupo. Diante

disto, algumas arquiteturas de redes foram testadas com o intuito de encontrar uma rede

com menor RMSE possível.

Para a classificação, foram testadas redes neurais com uma, duas ou três camadas

intermediárias com a mesma finalidade da predição em escolher a rede que obtivesse um

menor RMSE. Os resultados mostraram que a configuração da RNA composta de três

camadas intermediárias com quarenta e cinco neurônios em cada, apresentou a melhor

estrutura para a classificação de amostras tanto puras quanto adulteradas com IVM (Leite,

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Leite A e Leite B). Apesar de ter encontrado um RMSE com valor baixo (0,4584) a taxa

de classificação não foi satisfatória para os grupos de leite A e B, pois houve somente

46,67% de classificação correta, para cada um desses grupos, ao passo que as amostras

sem adulteração obtiveram 100% de classificação correta.

Com o aumento dos ciclos, a curva de treinamento diminuiu e a de validação

apresentou baixa variação, porém apresentou tendência de aumento, o que pode ter

ocorrido em função da rede neural estar decorando os dados e suas características à

medida que os dados são treinados pela rede (Figura 6).

Figura 17. Valores de RMSE e ciclos da rede com três camadas intermediárias contendo

45 neurônios cada utilizando a função Tangente Hiperbólica.

O RMSE encontrado RMSE foi de 0,4584 e a taxa de classificação não foi

satisfatória para os grupos de Leite A e B, pois houve somente 46,67% de acertos tanto

para leite A quanto para leite B. Apenas as amostras sem adulteração obtiveram 100% de

acertos na classificação.

4 CONCLUSÃO

Por meio da espectroscopia do infravermelho por transformada de Fourier, é

possível obter espectros de referência de leite e IVM que tem modos vibracionais

distintos, apesar disto, a técnica não é capaz de demonstrar a presença de IVM no leite

por meio da avaliação visual dos espectros. No entanto, quanto associada a técnicas

quimiométricas (Análise de Componentes Principais, Análise Discriminante e Redes

Neurais Artificiais) pode ser utilizada como teste de triagem na detecção da presença de

Ivermectina no leite, contudo, a técnica é ineficiente para a quantificação deste resíduo

até o nível testado (20µg/L leite).

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

0 50 100 150 200 250 300 350

RM

SE

Ciclos

Treinamento Validação

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Acknowlegdment

Agradecemos ao Deputado Federal Waldenor Pereira pela doação do

espectrofotômetro infravermelho médio utilizado neste estudo e ao IF Salinas pela

disponibilização de recursos financeiros, realizados por meio da liberação da primeira

autora desenvolver sua dissertação.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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