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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - PRODEMA PAULA DANIELE MENDONÇA OLIVEIRA DESMATAMENTO NAS CAATINGAS PERNAMBUCANAS: uma análise da supressão de vegetação autorizada pelo Estado Recife 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - PRODEMA

PAULA DANIELE MENDONÇA OLIVEIRA

DESMATAMENTO NAS CAATINGAS PERNAMBUCANAS: uma análise da

supressão de vegetação autorizada pelo Estado

Recife 2016

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PAULA DANIELE MENDONÇA OLIVEIRA

DESMATAMENTO NAS CAATINGAS PERNAMBUCANAS: uma análise da

supressão de vegetação autorizada pelo Estado

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFPE como requisito parcial para obtenção do título de mestre. Área de concentração: Gestão e Políticas Ambientais Orientador: Prof. Dr. Gilberto Gonçalves Rodrigues

Recife 2016

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PAULA DANIELE MENDONÇA OLIVEIRA

DESMATAMENTO NAS CAATINGAS PERNAMBUCANAS: uma análise da

supressão de vegetação autorizada pelo Estado

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFPE como requisito parcial para obtenção de título de mestre.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Gilberto Gonçalves Rodrigues (Orientador) Departamento de Zoologia - UFPE

________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Marlene Maria da Silva (Membro externo) Departamento de Ciências Geográficas - UFPE

________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Ana Regina M. D. B. da R. Serafim (Membro externo) Departamento de Geografia – UPE (Campus Mata Norte)

________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Vanice Santiago Fragoso Selva (Membro interno) Departamento de Ciências Geográficas - UFPE

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Aprovado em:11/03/2016
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Dedico este trabalho ao meu Deus, o meu

refúgio e fortaleza, socorro bem presente na

angústia (Salmos 46:1).

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AGRADECIMENTOS

À Deus, fonte de todo conhecimento e sabedoria. Por ter confiado algo em

minhas mãos que vai além de um título de mestre, por escolher me usar para os

Seus propósitos, apesar das minhas fraquezas e pecados. Pelos momentos de

angústias profundas, os quais me ensinaram a confiar em um Deus que nunca falha.

Ao meu amado esposo, pelo amor, companheirismo e incentivo. Por ter

assumido praticamente todas as tarefas do nosso lar durante este período. Por ter

sido o meu herói, quando precisei. O que para muitos é motivo de separação, para

nós foi de aproximação. Senti que nosso amor é “infinitamente mais" do que eu

imaginava.

Aos meus pais, por todo amor, carinho e cuidado. Instrumentos de Deus,

usados para me moldar e me transformar no que sou hoje. Ao meu irmão e “filho

adotivo”, pelos momentos que passamos juntos. Momentos difíceis, mas todos eles

debaixo do controle do Deus todo poderoso, para nos conciliar, trazer salvação, nos

ensinar a amar, nos tornar mais parecidos com Jesus.

À toda minha família, que tanto amo, especialmente à minha querida tia e

agora “irmã” Di, à minha sogra e à minha cunhada Viviane, que apesar de distantes

sempre estiveram torcendo e orando por mim.

Aos meus inúmeros irmãos na fé, pelas incansáveis orações. A todos do

Estudo Bíblico da CPRH (em especial à minha “mãe” Solange e à minha “aluna”

Claudiene), à minha amada igreja IPE, ao Ponto 5 e ao meu PG.

Ao meu grande amigo e irmão Gustavo, por ter sido usado por Deus, desde o

início até o fim... Pelo incentivo, pelos conselhos, pelo consolo, pela confecção dos

belíssimos mapas.

Aos meus amigos da CPRH, principalmente aos do NAIA (minha terceira

família) e do Setor Florestal. Pela amizade, força, incentivo e apoio no

desenvolvimento da dissertação. Em especial à minha querida “chefinha” Danusa,

por ter me apoiado e me liberado para fazer o mestrado, à minha grande amiga Pop

pelo “abstract”, aos meus eternos “chefinhos” Cinthia e Felipe, à Mery, Tiago,

Fernando, Valdemar, por tirarem todas as minhas dúvidas e disponibilizarem o

material necessário para o desenvolvimento deste trabalho.

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Aos meus novos e eternos amigos do PRODEMA. Uma das melhores partes

de tudo isto, graças a Deus foram muitos. Aos meus amigos de sempre (de infância,

do colégio, florestais, do circo...), não arrisco citar nomes, amo muito vocês.

À Universidade Federal de Pernambuco e ao Programa de Pós Graduação

em Desenvolvimento e Meio Ambiente, pela oportunidade e estrutura.

Aos funcionários da UFPE e do PRODEMA, que sempre me ajudaram em

tudo que precisei.

Aos meus professores, que me tiraram da caixinha da Engenharia e me

ensinaram a olhar o mundo de forma interdisciplinar.

Às grandes mulheres que participaram da minha banca de qualificação

(Marlene, Aninha e Vanice), enviadas por Deus, resposta de oração. Pelas críticas e

sugestões fantásticas, sem as quais seria impossível concluir este trabalho.

Ao meu orientador, pela oportunidade, confiança e paciência.

À CPRH, pela liberação dos dados e da licença, sem os quais nada disso

seria possível. Em especial à Priscila e Kelly, da URHU, que me ajudaram com todo

o processo de solicitação de licença.

À todos que de alguma forma contribuíram para realização deste trabalho.

Eternamente grata!

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“Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o

colocou no jardim do Éden para o cultivar e o

guardar” (Gênesis 2:15).

" A natureza criada aguarda, com grande

expectativa, que os filhos de Deus sejam

revelados. Pois ela foi submetida à futilidade,

não pela sua própria escolha, mas por causa

da vontade daquele que a sujeitou, na

esperança de que a própria natureza criada

será libertada da escravidão da decadência em

que se encontra para a gloriosa liberdade dos

filhos de Deus. Sabemos que toda a natureza

criada geme até agora, como em dores de

parto” (Romanos 8:19-22).

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RESUMO

A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, ou seja, localiza-se totalmente no território brasileiro e não faz divisa com outros países, e ocupa aproximadamente 83% da área total do Estado de Pernambuco. Apesar de apresentar uma grande riqueza biológica, com diversas espécies endêmicas, fundamental para a sobrevivência de grande parte da sua população, consiste em um dos biomas mais degradados e também um dos menos protegidos do ponto de vista legal e estudados pela ciência. O desmatamento autorizado pelo Estado representa um dos fatores de degradação desse bioma. Desta forma, esta pesquisa buscou compreender como esse desmatamento vem ocorrendo nas Caatingas pernambucanas, suas principais causas e impactos socioambientais. Foram analisados os processos de autorização de supressão de vegetação nativa, deferidos pela CPRH, nos anos de 2013 a 2014. Após análise, verificou-se que a agricultura, uma das atividades responsáveis pela degradação histórica das Caatingas, continua desmatando esse bioma para ampliação de suas atividades, embora hoje de forma “legal”. Outro tipo de atividade que se destacou foi a produção de energia eólica, que apesar de ser considerada uma atividade limpa, renovável e de baixo potencial poluidor, vem demandando grandes áreas de supressão de vegetação nativa para a sua implantação. A área total de supressão autorizada nas Caatingas, durante 2013 a 2014, foi de 5.929,43 ha, entretanto, os impactos oriundos da supressão não se restringem apenas à flora suprimida, mas aos diversos componentes bióticos e abióticos associados à mesma. Foram identificados impactos socioambientais, como por exemplo, a fragmentação de habitat, perda de biodiversidade, através da autorização de supressão em áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade e redução dos recursos naturais para a população. A forma como a compensação ambiental, decorrente da supressão de vegetação, vem sendo adotada pelo Estado também vem contribuindo para o desenvolvimento insustentável no bioma. Foi verificado a ausência de compensação pelo desmatamento autorizado de 1.022,03 ha e a cada hectare de supressão foi exigido a compensação de apenas 0,55 ha. Considerando ainda que para 4.403,94 ha de supressão foi aprovada a compensação florestal de 2.616,86 ha, através da preservação de áreas que já continham vegetação, a situação quanto à redução de áreas de vegetação nativa no bioma e consequentemente de seus recursos e serviços ambientais é ainda mais grave.

Palavras-chave: Desmatamento. Autorização de Supressão. Caatinga. Compensação Ambiental.

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ABSTRACT

The Caatinga is the only exclusively Brazilian biome that is located entirely in Brazil and not borders with other countries, and occupies approximately 83% of the total area of the State of Pernambuco. Despite a great biological wealth, with many endemic species, fundamental to much of its population to survive, it is one of the most degraded biomes and also one of the least protected from a legal point of view and studied in science. Deforestation authorized by the State is one of this biome degradation factors. Thus, this study sought to understand how it is happening in Pernambuco Caatingas, its main causes and socio-environmental impacts. Authorization procedures were analyzed suppression of native vegetation, granted by CPRH during the years from 2013 to 2014. After analysis, it was found that agriculture, one of the activities responsible for the degradation of Caatingas story continues deforesting for expansion its activities, although today's "cool" way. Another type of activity that stood out is the wind energy, which despite being considered a clean, renewable and low polluting potential activity, is demanding large areas of suppression of native vegetation for its deployment in the biome. The total area of suppression authorized in Caatingas was 5929.43 ha, however, the impacts from suppression are not restricted to the flora deleted, but the various biotic and abiotic components associated with it. Several socio- environmental impacts have been identified, such as for example, the habitat fragmentation, biodiversity loss by removing authorization in priority areas for biodiversity conservation, and reduction of natural resources for the population. The way the environmental compensation resulting from the removal of vegetation, has been adopted by the State has also contributed to unsustainable development in the biome. It was noted that the absence of compensation authorized deforestation 1022.03 ha and each hectare of suppression was required the compensation of only 0.55 ha. Whereas further to 4403.94 ha of suppression was approved the compensation of 2616.86 ha forest, through conservation areas already containing vegetation, the situation regarding the reduction of native vegetation areas in the biome and consequently of its resources and services environment is even more serious. Keys words: Deforestation. Authorisation of Suppression. The Caatinga biome. Environmental Compensation.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Mapa 1 – Bioma Caatinga e sua distribuição segundo os Estados da Federação…21

Figura 1 – Percentual de uso e ocupação do solo do bioma Caatinga, no Estado de Pernambuco, em 2013-2014................................................................32

Figura 2 – Áreas de supressão autorizadas pelo Estado, nos biomas Caatinga

e Mata Atlântica, em Pernambuco, durante o período de 2010 a 2014....57 Mapa 2 – Desmatamento autorizado nas Caatingas pernambucanas de

acordo com o município da supressão, durante o período 2013-2014.....59 Figura 3 – Quantitativo de áreas de supressão autorizadas e número de

autorizações emitidas pelo Estado, nas Caatingas pernambucanas, durante o período de 2010 a 2014................................60

Figura 4 – Desmatamento autorizado pelo Estado nas Caatingas

pernambucanas e quantitativo em APPs, no período de 2013 e 2014...............................................................................................61

Tabela 1 – Áreas de supressão autorizadas e números de autorizações

emitidas (N° de ASVs), quanto ao tipo de atividade econômica, durante o período de 2013 a 2014, nas Caatingas Pernambucanas........62

Figura 5 – Aspecto das áreas de supressão autorizadas, referentes ao

Projeto Pontal............................................................................................65 Figura 6 – Aspecto da vegetação em um dos trechos da área de

supressão autorizada para implantação do Sistema Adutor do Agreste Pernambuco.................................................................................68

Figura 7 – Parque Eólico Fontes dos Ventos, já implantado no município

de Tacaratu-PE.........................................................................................69 Figura 8 – Total do desmatamento autorizado, em hectares, para a implantação

dos Complexos Eólicos: Serra das Vacas, Fontes dos Ventos e Ventos de Santa Brígida........................................................................................70

Quadro 1 – Áreas de supressão autorizadas e seus respectivos municípios,

para implantação de parques eólicos e suas linhas de transmissão no estado de Pernambuco, nos anos de 2013 e 2014..............................71

Figura 9 – Aspecto da vegetação da área de supressão autorizada para

a implantação do Complexo Eólico Ventos de Santa Brígida...................73 Figura 10 – Aspecto da vegetação da área de supressão autorizada

para a implantação do Complexo Eólico Ventos de Santa Brígida.........73

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Figura 11 – Taxa de desmatamento da Caatinga por Estados do Nordeste, em 2013-2014.........................................................................................75

Figura 12 – Fragmentação em um remanescente de Caatinga, causada

pelo desmatamento autorizado pelo Estado para a implantação do Parque Eólico Ventos de Santa Brígida VII........................................76

Figura 13 – Fragmentação de outro remanescente de Caatinga, causada

pelo desmatamento autorizado pelo Estado para a implantação do Parque Eólico Ventos de Santa Brígida VII........................................77

Figura 14 – Fragmentação de um remanescente de Caatinga, causada

pelo desmatamento autorizado pelo Estado para a implantação do Parque Eólico Serra Das Vacas III ....................................................77

Mapa 3 – Desmatamento autorizado nas Caatingas pernambucanas,

durante o período de 2013 a 2014, e áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade.................................................................80

Quadro 2 – Espécies arbustivas/arbóreas presentes nas áreas de desmatamentos autorizados pelo Estado, nas Caatingas pernambucanas, durante o período de 2013 e 2014, e seus respectivos usos..................82

Figura 15 – Somatório das áreas de supressão e de compensação

ambiental, autorizadas pelo Estado nas Caatingas pernambucanas, durante o período de 2013 e 2014..............................91

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LISTA DE SIGLAS

APA Área de Proteção Ambiental APP Área de Preservação Permanente ASV Autorização de Supressão de Vegetação CNAE Classificação Nacional de Atividades Econômicas CMMAD Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento CPRH Agência Estadual de Meio Ambiente EIA Estudo de Impacto Ambiental ESEC Estação Ecológica FLONA Floresta Nacional IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais MMA Ministério do Meio Ambiente MONA Monumento Natural PARNA Parque Nacional RAS Relatório Ambiental Simplificado REBIO Reserva Biológica RIMA Relatório de Impacto Ambiental RVS Refúgio de Vida Silvestre RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural SILIA Sistema de Licenciamento Ambiental SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente SLMF Setor de Licenciamento e Monitoramento Florestal SFF Setor de Fiscalização Florestal UC Unidade de Conservação da Natureza

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 14

1.1 TEMA E OBJETIVOS DO ESTUDO.......................................... . .......................14

1.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................... 16

2 CAATINGA: UM BIOMA RICO E HETEROGÊNEO ............................................ 20

2.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS .......................................................................... 20

2.2 HETEROGENEIDADE DAS CAATINGAS ........................................................ 22

2.3 RIQUEZA BIOLÓGICA DAS CAATINGAS ........................................................ 25

3 DEGRADAÇÃO, CONSERVAÇÃO E PROTEÇÃO LEGAL DAS CAATINGAS . 28

3.1 DEGRADAÇÃO DAS CAATINGAS ................................................................... 28

3.2 CONSERVAÇÃO E PROTEÇÃO LEGAL DAS CAATINGAS ............................ 32

4 OS RECURSOS NATURAIS DAS CAATINGAS E SEU PAPEL NA

SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL ........................................................... 38

4.1 SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .................... 38

4.2 IMPORTÂNCIA E USO DOS RECURSOS NATURAIS DAS CAATINGAS ...... 40

5 O PAPEL DO ESTADO NO GERENCIAMENTO DA PROTEÇÃO E USO DAS

CAATINGAS ........................................................................................................... 50

6 DESMATAMENTO AUTORIZADO PELO ESTADO NAS CAATINGAS

PERNAMBUCANAS ............................................................................................... 57

6.1 ÁREA DE SUPRESSÃO AUTORIZADA PELO ESTADO DE PERNAMBUCO

NO PERÍODO DE 2010 A 2014...............................................................................57

6.2 EMPREENDIMENTOS E ATIVIDADES RESPONSÁVEIS PELOS MAIORES

QUANTITATIVOS DE SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO..........................................62

6.2.1 Perímetro Irrigado Pontal Sul.......................................................................63

6.2.2 Sistema Adutor do Agreste Pernambuco...................................................67

6.2.3 Parques Eólicos............................................................................................69

6.3 PRINCIPAIS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DO DESMATAMENTO

AUTORIZADO PELO ESTADO NAS CAATINGAS PERNAMBUCANAS ............... 74

6.3.1 Redução na Cobertura Vegetal do Bioma e Alteração de Paisagem.......75

6.3.2 Perda e Fragmentação de Habitat...............................................................76

6.3.3 Perda de Biodiversidade..............................................................................79

6.3.4 Redução dos Recursos Naturais para a População..................................81

6.3.5 Aumento na Susceptibilidade do Solo à Degradação e Perda de Água..83

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6.3.6 Aumento da Vulnerabilidade das Caatingas às Mudanças Climáticas....85

6.4 COMPENSAÇÃO AMBIENTAL, DECORRENTE DO DESMATAMENTO

AUTORIZADO PELO ESTADO, NAS CAATINGAS PERNAMBUCANAS .............. 88

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 95

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 98

APÊNDICE A – Documentação necessária para solicitação de autorização de

supressão de vegetação para o uso alternativo do solo, constante na IN CPRH

007/2006 ............................................................................................................... 119

APÊNDICE B – Áreas de supressão autorizadas, e em APPs, para a implantação

de parques eólicos e suas linhas de transmissão no estado de Pernambuco, nos

anos de 2013 e 2014. ............................................................................................ 120

ANEXO A – Modelo de Autorização de Supressão de Vegetação emitida pela

CPRH.....................................................................................................................121

ANEXO B – Autorização da CPRH para acesso aos dados da pesquisa........122

ANEXO C – Requerimento Padrão de Atividade Florestal, contido na IN CPRH

nº 007 /2006......................................................................................123

ANEXO D – Roteiro de Caracterização Florestal, contido na IN CPRH nº 007

/2006......................................................................................................................125

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1 INTRODUÇÃO

1.1 TEMA E OBJETIVOS DA PESQUISA

A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, ou seja, localiza-se

totalmente no território brasileiro, não faz divisa com outros países e ocupa,

aproximadamente, 83% da área total do Estado de Pernambuco. Ao contrário do

que se acreditava, consiste em um bioma bastante heterogêneo que apresenta

uma grande riqueza biológica e um alto grau de endemismo.

Estudos recentes indicam que a diversidade biológica e o nível de

endemismo das Caatingas são superiores aos esperados para uma biota

semiárida, derrubando a velha tese de que o bioma Caatinga apresenta uma biota

pobre e pouco relevante para a conservação da diversidade biológica global

(MELO; PINTO; TABARELLI, 2010).

A conservação desta diversidade biológica é importante não só para a fauna

e flora, mas também para a população que habita nessas áreas, pois grande parte

dela depende direta ou indiretamente da biodiversidade desse bioma para

sobreviver, utilizando os seus recursos para diversas finalidades.

Apesar da riqueza biológica e importância para a população, o bioma vem

sofrendo ao longo dos anos com intensos processos de degradação, devido ao uso

inadequado e insustentável dos seus recursos naturais. A situação é ainda mais

preocupante pois, além de ser considerado um dos biomas brasileiros mais

degradados pelo homem, é também um dos menos protegidos do ponto de vista

legal e menos estudados pela ciência.

Um dos principais causadores desta degradação é o desmatamento. O corte

ou supressão de vegetação nativa autorizada pelo Estado representa uma forma

de desmatamento que, ao contrário das práticas ilegais e predatórias, busca

conciliar o desenvolvimento econômico com a conservação ambiental (NEVES,

2011). No entanto, para esta atividade de competência dos órgãos ambientais,

critérios devem ser revistos, a fim de satisfazer a preservação de forma adequada

com o crescimento não predatório.

Qualquer atividade que necessite de supressão de vegetação nativa precisa

de autorização, seja qual for o tipo de vegetação (Caatinga, Mata Atlântica, dentre

outras) ou estágio de regeneração (inicial, médio ou avançado), estando sujeita à

compensação ambiental.

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No Estado de Pernambuco, o principal órgão responsável pela emissão das

Autorizações de Supressão de Vegetação (ASVs) é a Agência Estadual de Meio

Ambiente (CPRH). Desta forma, foram analisadas neste trabalho as autorizações

de supressão emitidas por esse órgão a fim de entender o desmatamento

autorizado pelo Estado.

O desmatamento autorizado tratado no presente estudo refere-se às

supressões de vegetação nativa para o uso alternativo do solo, para o

licenciamento florestal de obras, empreendimentos e atividades modificadoras do

meio ambiente e para as áreas de preservação permanente (APP), conforme

enquadramento presente no Anexo II da lei nº 14.249/2010.

Além da escassez de estudos sobre desmatamento autorizado pelo Estado,

um dos motivos para a escolha do tema da pesquisa foi o trabalho realizado pela

autora no setor responsável pelas autorizações de supressão da CPRH. Durante

este tempo, foi possível verificar que a ausência de determinadas informações

dificultava a tomada de decisões quanto aos processos de autorização,

monitoramento dos plantios referentes à compensação ambiental e ações políticas

visando à conservação da vegetação nativa.

Antes da elaboração desta dissertação, por exemplo, não existia um banco

de dados atualizado contendo informações acerca das autorizações emitidas e dos

projetos de compensação ambiental aprovados ao longo dos anos pelo órgão.

Diferente da Mata Atlântica, a Caatinga não dispõe de legislação específica

que vise a sua utilização e conservação, fator que vem contribuindo para a

insustentabilidade do bioma. Supõe-se que a falta de políticas públicas eficientes e

a deficiência na gestão e no monitoramento dos processos de autorização de

supressão vêm ocasionando impactos socioambientais no bioma Caatinga como,

por exemplo, perdas significativas de vegetação nativa sem a devida compensação

ambiental.

Conhecer a dinâmica do desmatamento autorizado pelo Estado é

fundamental para identificar as fragilidades e propor soluções. Nesse sentido, o

desenvolvimento desta pesquisa torna-se importante, pois contribuirá não só para o

conhecimento, mas fornecerá subsídios para a tomada de decisões quanto aos

novos processos de autorização de supressão, estratégias de monitoramento e

controle ambiental, além de ações políticas visando à conservação dos diversos

ecossistemas presentes nas Caatingas pernambucanas.

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Desta forma, o problema norteador desta pesquisa foi compreender como o

desmatamento autorizado vem ocorrendo nas Caatingas pernambucanas, suas

principais causas e impactos socioambientais. Simultaneamente, este trabalho visa

oferecer aos leitores informações sobre o bioma Caatinga, abordando suas

características gerais, importância ecológica e principais problemas ambientais,

além do papel dos seus recursos naturais na sustentabilidade socioambiental e do

Estado no gerenciamento da proteção e uso desses recursos.

A presente pesquisa teve como propulsão inicial questões como: qual o

percentual de vegetação de Mata Atlântica e de Caatinga suprimido e de suas

áreas de compensação? Quem são os principais responsáveis? Onde e como este

tipo de desmatamento está sendo realizado e compensado? E quais os principais

impactos socioambientais que ele tem causado nas Caatingas do Estado de

Pernambucano?

Assim, o objetivo geral da pesquisa é analisar a dinâmica do desmatamento

autorizado pelo Estado nas Caatingas pernambucanas, durante o período de 2013

a 2014, e tem como objetivos específicos:

i. Avaliar os processos de autorização de supressão de vegetação nativa

deferidos pela CPRH, quanto aos percentuais de supressão, informações

das áreas de supressão, procedimentos e legislações utilizados na análise.

ii. Identificar as causas (atividades e empreendimentos) e os principais

impactos socioambientais relacionados ao desmatamento autorizado nas

Caatingas pernambucanas;

iii. Avaliar/dimensionar a compensação ambiental pela supressão de vegetação

autorizada nas Caatingas pernambucanas;

iv. Oferecer subsídios à construção de um banco de dados para dar suporte

aos processos de autorização de supressão de vegetação nativa e avaliação

dos projetos de compensação ambiental pela supressão de vegetação.

1.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Quanto aos procedimentos metodológicos adotados foi realizada uma

pesquisa bibliográfica acerca de publicações e estudos sobre a temática abordada,

bem como da legislação ambiental e procedimentos administrativos aplicados à

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supressão de vegetação nativa e respectiva compensação ambiental, a fim de

permitir a construção da base teórica necessária para fundamentar os tópicos

abordados na presente pesquisa. A pesquisa bibliográfica tem como objetivo

colocar o pesquisador em contato direto com todo material já escrito sobre o

assunto da pesquisa. É elaborada a partir de material já publicado, tais como:

livros, revistas, publicações em periódicos e artigos científicos, jornais, boletins,

monografias, dissertações, teses, material cartográfico e internet (PRODANOV;

FREITAS, 2013).

Foi realizada também uma pesquisa documental, visto que, em virtude da

ausência de um banco de dados, foi necessário fazer um levantamento primário

das Autorizações de Supressão de Vegetação Nativa (ASVs) (ver modelo de ASV

em Anexo A) emitidas pela Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) e dos

termos de compromisso referentes à compensação ambiental pela supressão de

vegetação.

As ASVs foram coletadas através do Sistema de Licenciamento Ambiental

(SILIA) da agência, durante o período de 2010 (ano de lançamento do SILIA) a

2014. Para análise da compensação ambiental, decorrente da supressão de

vegetação, foram solicitadas, à Coordenadoria Jurídica da CPRH, cópias dos

termos de compromissos, uma vez que a maioria não se encontrava disponível no

SILIA. Posteriormente foi realizada uma nova consulta, junto ao Setor de

Licenciamento e Monitoramento Florestal (SLMF) da CPRH, a fim de atualizar os

dados quanto à compensação ambiental.

Para acesso às informações acerca das autorizações de supressão, foi

registrado o pedido de acesso à informação no site da ouvidoria do Estado de

Pernambuco. A ouvidoria do Estado enviou a solicitação à Ouvidoria Ambiental da

CPRH que deferiu o pedido (Anexo B).

Segundo Moresi (2003), a investigação documental é realizada em

documentos conservados no interior de órgãos públicos e privados de qualquer

natureza ou com pessoas. A pesquisa documental baseia-se em materiais que não

receberam ainda um tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de

acordo com os objetivos da pesquisa (GIL, 2008). Esses aspectos nortearam a

pesquisa documental do presente estudo.

Martins e Theóphilo (2009) apontam como principal diferença entre a

pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental, o fato de que, enquanto a primeira

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18

utiliza fontes secundárias, a segunda utiliza fontes primárias, sendo que, no caso

da pesquisa documental, o autor terá que compilar os materiais visto que não

foram ainda objetos de estudos anteriores.

Para a coleta dos dados foi elaborada uma planilha no Excel, adaptada de

Neves (2011), contendo as seguintes informações: Número da Autorização;

Número do Processo; Ano da Emissão da ASV; Razão Social; CPF/CNPJ;

Município da Supressão; Área de Supressão; Área em APP; Lei Autorizativa;

Coordenadas do Polígono da Supressão; Volume da Supressão; Bioma;

Ecossistema Associado; Objetivo da Supressão; Atividade ou Empreendimento;

Atividade Econômica; Setor; Características da Vegetação; Termo de

Compromisso; Área de Compensação Ambiental, Forma de Compensação

Ambiental, dentre outras. Com a planilha de dados preenchida foi possível

proceder à análise dos dados.

A partir deste levantamento preliminar verificou-se que a Caatinga foi o

bioma mais atingido pelo desmatamento autorizado e que esse aumentou

consideravelmente nos anos de 2013 e 2014. Desta forma, para a análise do

desmatamento autorizado pelo Estado optou-se pelo bioma Caatinga, utilizando

como recorte temporal os dados dos processos de autorização deferidos no

período de 2013 a 2014.

Considerando que algumas autorizações foram emitidas com ausências de

informações (objetivo da supressão, município, características da vegetação,

coordenadas do polígono de supressão, etc.), foram consultados também relatórios

e pareceres de vistorias disponíveis no SILIA, inventários florestais, Estudos de

Impacto Ambiental (EIAs) e Relatórios Ambientais Simplificados (RAS), referentes

aos processos de autorização analisados neste estudo, a fim de identificar as

causas e impactos do desmatamento autorizado.

Para auxiliar na localização das áreas de desmatamento autorizado e

compreensão dos seus principais impactos socioambientais, foi elaborado um

mapa a partir dos polígonos das áreas de supressão, espacializados e sobrepostos

às áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade apresentadas no Atlas

da Biodiversidade de Pernambuco (SECRETARIA DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E

MEIO AMBIENTE, 2002).

Os dados dos perímetros das ASVs, porém, apresentam uma série de

lacunas que não permitem sua utilização diretamente, tais como: ausência de

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coordenadas do perímetro, ausência ou erro na apresentação do datum do

levantamento original, erro no preenchimento das coordenadas, o que em alguns

casos só tornou possível a identificação do município da supressão. Devido a isso,

um segundo mapa foi produzido distribuindo a área total da ASV pelo número de

municípios onde a autorização incide.

A dissertação foi estruturada em sete capítulos, iniciando com uma breve

introdução apresentando o tema abordado, os objetivos da pesquisa e os

procedimentos metodológicos utilizados.

Nos três capítulos seguintes, foram abordadas informações sobre o bioma

Caatinga, discutindo a sua importância ecológica, os principais problemas

ambientais que o bioma vem enfrentando ao longo do tempo e o papel dos seus

recursos naturais na sustentabilidade socioambiental. O papel do Estado no

gerenciamento da proteção e uso das Caatingas também foi abordado brevemente

no capítulo 5.

Os resultados da pesquisa foram apresentados no capítulo 6. Inicialmente

foram discutidos os dados sobre o desmatamento autorizado pelo Estado, tanto no

bioma Caatinga como no bioma Mata Atlântica, durante o período de 2010 a 2014,

a fim de justificar a escolha do bioma Caatinga e do período estudado na

dissertação (2013 e 2014).

Os empreendimentos e atividades responsáveis pelos maiores quantitativos

de supressão de vegetação foram identificados e analisados, além dos impactos

socioambientais do desmatamento autorizado pelo Estado nas Caatingas

pernambucanas. A compensação ambiental pela supressão de vegetação, apesar

de ser um assunto que merece ser investigado e discutido à parte em pesquisa

posterior, principalmente quanto à sua efetividade, também foi abordada nessa

pesquisa. Foi apresentada a forma como ela vem sendo adotada pelo órgão

ambiental, a partir dos dados levantados, em termos de áreas de compensação,

tipo de compensação, instrumentos legais e procedimentos adotados durante o

processo de autorização de supressão.

Por fim, nas considerações finais foram discutidos os dados apresentados e

a necessidade de melhorias no gerenciamento do uso e proteção dos recursos

naturais da Caatinga, apontando várias falhas encontradas durante os processos

de autorização de supressão de vegetação e sugestões a serem adotadas pelo

órgão ambiental, a fim de atingir a sustentabilidade do bioma.

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2 CAATINGA: UM BIOMA RICO E HETEROGÊNEO

2.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS

A Caatinga é considerada o único bioma exclusivamente brasileiro, ou seja,

localiza-se totalmente no território brasileiro e não faz divisa com outros países.

Ocupa uma área de aproximadamente 734.478 km2 (MELO; ANDRADE, 2007),

embora não exista um consenso sobre sua área de abrangência.

Engloba parte dos estados nordestinos do Piauí, Ceará, Rio Grande do

Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe e uma pequena parte do Estado

de Minas Gerais. No Estado de Pernambuco consiste no bioma mais expressivo

em termos de área, ocupando aproximadamente 83% da área total do Estado,

como pode ser observado no mapa 1.

As chuvas irregulares e as temperaturas relativamente altas são

características climáticas marcantes do bioma. Segundo Santos (2009), nos dias

de maiores insolações a temperatura pode ultrapassar os 45 Co, em determinados

lugares e à noite pode chegar a 10 ou 15 Co nas áreas mais altas. A precipitação

anual varia de 150 mm a 1300 mm, sendo que na maior parte do domínio da

Caatinga chove menos de 750 mm anuais, concentrados e distribuídos

irregularmente em três meses consecutivos (ALVES; ARAÚJO; NASCIMENTO,

2009; NIMER, 1972; RAMALHO, 2013).

Caracterizam a região os terrenos cristalinos praticamente impermeáveis e

os terrenos sedimentares com boa reserva de água subterrânea. Os solos, apesar

de mineralmente ricos, são pouco desenvolvidos, com raras exceções. São

pedregosos, pouco espessos e com pouca capacidade de reter água, consistindo

em um fator limitante à produção primária nesta região (ALVES; ARAÚJO;

NASCIMENTO, 2009).

A vegetação xerófila é composta por espécies lenhosas e herbáceas,

incluindo também cactáceas e bromeliáceas, geralmente dotadas de espinhos e

caducifólias, perdendo suas folhas no início da estação seca (PIMENTEL;

GUERRA, 2009).

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2.2 HETEROGENEIDADE DAS CAATINGAS

Ao contrário do que se acreditava, o bioma Caatinga apresenta um mosaico

heterogêneo de formações vegetais de grande complexidade, por razões

climáticas, edáficas, topográficas e antrópicas (ALVES; ARAÚJO; NASCIMENTO,

2009; ANDRADE-LIMA, 1981; MACIEL ; FERREIRA; SIQUEIRA-FILHO, 2012).

Para Melo e Andrade (2007), a relação entre fatores abióticos como solo-

clima-pluviosidade pode explicar, em parte, a grande diversidade de fisionomias

aliada à composição florística. De acordo com Amorim, Sampaio e Araújo (2005), a

Caatinga apresenta grande variação fisionômica principalmente quanto à

densidade e ao porte das plantas. Para os autores:

mudanças em escala local, a poucas dezenas de metros, são facilmente reconhecíveis e geralmente ligadas a uma alteração ambiental claramente identificável. É o caso do maior porte das plantas nos vales e do menor sobre lajedos e solos rasos, em consequência da maior e menor disponibilidade hídrica. As variações numa escala de regiões, abrangendo milhares de quilômetros quadrados, são mais difíceis de identificar, em virtude dos limites difusos, da causalidade múltipla e da variabilidade local interna a cada uma delas. Apesar desta dificuldade, várias tentativas de identificação de tipos regionais de caatinga têm sido feitas, desde a de Luetzelburg (1922-1923) até a de Andrade-Lima (1981) (AMORIM; SAMPAIO; ARAÚJO, 2005, p. 615).

Andrade-Lima (1981), ao classificar a vegetação do domínio das Caatingas,

destacou que os diferentes tipos vegetacionais resultam da integração clima-solo,

tornando o número de combinações e, consequentemente, o número de

comunidades vegetais muito alto. O autor destacou ainda a falta de informações

sobre as relações entre vegetação e fatores físicos. Embora tenha reconhecido a

possível existência de um número maior de unidades vegetacionais e tipos de

vegetação, optou por definir grandes unidades com um ou mais tipos de vegetação,

propondo, desta forma, seis unidades e doze tipos vegetacionais:

1) Unidade I: representada pela Floresta de Caatinga Alta, apresentando

árvores de até 30 m, localizada na porção sul da região semiárida, com

800 a 1000 mm/ano de precipitação;

2) Unidade II: representa a típica Floresta de Caatinga Média,

caracterizada por um estrato arbóreo com árvores entre 7 e 15 m,

ocorrendo principalmente em solos derivados do cristalino;

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3) Unidade III: distingue-se pela fisionomia Floresta de Caatinga Baixa,

entre 5 e 7 m de altura, ocupando solos de origem sedimentar. Em

Pernambuco é restrita às áreas de solos arenosos no centro sul do

Estado (tabuleiro Moxotó);

4) Unidade IV: caracteriza-se pela Caatinga Arbustiva Densa ou Aberta,

ocorrendo em solos derivados de granito gnaisse e xistos, sendo difícil

saber se é uma formação natural ou induzida pelo homem;

5) Unidade V: representada pela Caatinga Arbustiva Aberta Baixa, com

altura variando de 0,7 a 1 m, presente em solos rasos e arenosos sob

longos períodos secos;

6) Unidade VI: ocupa as florestas de galeria do semiárido (ANDRADE-

LIMA, 1981).

Após estudos complementares na Unidade II, Prado (2003) acrescentou a

Unidade VII, representada pela Floresta de Caatinga Média. Essa nova unidade

difere da Unidade II pois apresenta um conjunto distinto de espécies vegetais.

Diferentes classificações foram feitas por outros autores, tais como Velloso,

Sampaio e Pareyn (2002), com o intuito de permitir uma melhor compreensão

sobre a distribuição da biodiversidade do bioma Caatinga, estes propuseram oito

ecorregiões no interior desse bioma: Complexo de Campo Maior, Complexo

Ibiapaba-Araripe, Depressão Sertaneja Setentrional, Planalto da Borborema,

Depressão Sertaneja Meridional, Dunas do São Francisco, Complexo da Chapada

Diamantina e Raso da Catarina. Melo e Andrade (2007) apontaram 12 tipologias

diferentes de Caatingas.

Prado (2003) destaca o trabalho de Andrade-Lima (1981) como o mais

coerente e compreensivo na classificação do tipo de vegetação presente no bioma

Caatinga. Para diversos autores, o conceito de Caatingas de Andrade-Lima tem se

mantido, praticamente sem alterações (SAMPAIO, 1995; SAMPAIO; RODAL,

2000).

Ao estudar a fitogeografia de Pernambuco, Andrade-Lima (2007) dividiu o

Estado em quatro zonas fitogeográficas: do Litoral, da Mata, da Caatinga e

Savanas. A zona da catinga foi subdividida em duas subzonas: Agreste e Sertão.

A vegetação no Agreste é, em regra, mais densa que a do Sertão. O solo

geralmente mais profundo e a pluviosidade mais regular e elevada. Sua vegetação

atende aos requisitos que caracterizam a Caatinga, como a presença de espécies

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decíduas, a maioria cercada de espinhos e abundância de cactáceas e

bromeliáceas. Além disso, muitas espécies que ocorrem no Sertão estão

igualmente presentes, em larga escala, no Agreste (ANDRADE-LIMA, 2007).

O Sertão, onde se faz sentir mais intensamente os efeitos das estiagens

prolongadas, foi subdividido pelo autor em cinco regiões: Sertão Central, Sertão

dos Chapadões Areníticos, Sertão do São Francisco, Sertão de Jatinã e Sertão do

Araripe. O autor destacou ainda a presença das matas serranas ou brejos de

altitude, no interior da zona da Caatinga (ANDRADE-LIMA, 2007), entretanto,

apesar de inteiramente contornadas por vegetação de caatinga, estas áreas foram

consideradas pela lei nº 11.428/2006 como integrantes do bioma Mata Atlântica.

A constatação de diversas regiões fitogeográficas no bioma Caatinga, com

suas diferentes fitofisionomias e espécies vegetais, desde 1957 pelo professor

Dárdano de Andrade Lima em seu trabalho “Estudos Fitogeográficos de

Pernambuco”, reeditado em 2007 pela sua importância científica, demonstra a

heterogeneidade do bioma Caatinga também no Estado de Pernambuco e o quanto

esse bioma precisa ser conhecido e preservado. O Estado deve considerar essa

heterogeneidade, nos processos de autorização de supressão de vegetação, a fim

de subsidiar a tomada de decisões quanto à conservação do bioma e a adoção de

medidas compensatórias adequadas para cada fitofisionomia.

Rodal (1992) verificou esta heterogeneidade nas Caatingas do Estado de

Pernambuco ao encontrar em sua área de estudo três conjuntos florísticos bastante

variados, explicados basicamente em função da maior ou menor disponibilidade

hídrica, substrato e proximidade geográfica.

Segundo Bernardes (1999, p. 70), “todos os naturalistas e fitogeógrafos que

estudaram a Caatinga sentiram a sua complexidade e o seu caráter extremamente

heterogêneo”. Em virtude das variadas fitofisionomias existentes é que diversos

autores utilizam o termo “Caatingas”, no plural, adotado também nesta pesquisa

(AB’SÁBER, 1974; ANDRADE-LIMA, 1981; BERNARDES, 1999; PRADO, 2003;

SIQUEIRA-FILHO, 2012a).

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2.3 RIQUEZA BIOLÓGICA DAS CAATINGAS

Além de heterogêneo, devido às variações climáticas, edáficas, topográficas

e, consequentemente, fitofisionômicas, o bioma Caatinga apresenta uma grande

riqueza biológica e um alto índice de endemismo.

A riqueza das Caatingas, apesar da falta periódica de água, impressionou o

naturalista Martius em sua viagem:

Contudo, se algum estudioso da natureza mais atento subitamente se transportar das nossas florestas para cá [semiárido brasileiro], ele não pode deixar de notar, imediatamente, que há uma grande variedade de florestas. As Caatingas brasileiras, em primeiro lugar, possuem uma quantidade muito maior de espécies diversas. Com efeito, quando tu vires, nas nossas [europeias] florestas cobertas de folhas, uma ou apenas poucas espécies de árvores [...], ali, por outro lado, são oferecidas ao mesmo tempo aos nossos olhos mais de vinte espécies de árvores, que podem se distinguir pelas dimensões, pelo sistema de espalhar os ramos e revestir a casca e pela excelente brotação (MARTIUS, 1996, p. 52).

O autor destacou ainda a presença marcante de cipós, parasitas e epífitas,

diferente das florestas europeias e as inúmeras possibilidades que as plantas têm

de atrair ou armazenar umidade (MARTIUS, 1996).

A Caatinga conta com 5.218 espécies de fungos e plantas. Há registros de

734 espécies de fungos, 44 espécies de algas, 93 espécies de briófitas, 25

espécies de samambaias e licófitas, 2 espécies de gimnospermas e 4.320 espécies

de angiospermas (FORZZA et al., 2010).

De acordo com Forzza et al. (2010), considerando os Domínios, há mais

registros de espécies de fungos na Caatinga (734 spp.) do que na Amazônia (519

spp.), perdendo apenas para a Mata Atlântica (1.664 spp.). Entretanto, essa

diversidade está relacionada também ao número de pesquisadores ativos

coletando e registrando espécies.

Gamarra-Rojas e Sampaio (2002) sugeriram a ocorrência de apenas 2.130

espécies de angiospermas. Entretanto, a metodologia utilizada por esses autores

excluíram os campos rupestres e outros ecossistemas menos áridos inseridos no

Domínio da Caatinga.

Queiroz, Conceição e Giulietti (2006) registraram para o semiárido brasileiro

5.344 espécies de fanerógamas, um número 19% maior que Forzza et al. (2010).

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Tal diferença deve-se, em parte, ao fato do semiárido incluir uma porção do

Cerrado no oeste da Bahia e no noroeste de Minas Gerais.

Segundo Giulietti, Conceição e Queiroz (2006), em termos de espécies

vegetais, em seu sentido mais restrito, a Caatinga tem apenas 1.512 espécies. No

bioma, incluindo os encraves, é que são 5.344 espécies.

Além da riqueza de espécies vegetais, o nível de endemismo para esse

grupo é bastante alto. Giulietti et al. (2003b), considerando somente as plantas

lenhosas e as suculentas, registraram 18 gêneros e 318 espécies endêmicas,

enquanto Forzza et al. (2010) registraram a ocorrência de 744 espécies e 29

gêneros endêmicos. Essa diferença no número de espécies endêmicas da

Caatinga ocorreu em virtude da metodologia adotada, uma vez que esse último

trabalho considerou os campos rupestres da Bahia como parte do grande Domínio

da Caatinga.

As Caatingas possuem também uma grande diversidade de espécies

animais, com um importante índice de endemismo, variando de 3% nas aves a

57% nos peixes. Foram registradas 510 espécies de aves, pertencentes a 62

famílias, sendo 15 delas endêmicas (SILVA et al., 2003a); 240 espécies de peixes,

sendo 136 endêmicas (ROSA et al., 2003); 187 espécies de abelhas, a maioria

delas consideradas como espécies raras (ZANELLA; MARTINS, 2003); 167

espécies de répteis e anfíbios (RODRIGUES, 2003); e 143 espécies de mamíferos,

sendo 10 endêmicas (OLIVEIRA; GONÇALVES; BONVICINO, 2003).

O número real de espécies nas Caatingas é, provavelmente, ainda maior,

uma vez que estas listas devem ser atualizadas com os últimos doze anos de

progresso nos levantamentos faunísticos e florísticos. Além disso, existem áreas

nesse bioma que ainda não foram estudadas.

As Caatingas pernambucanas contribuem para esta expressiva riqueza

biológica e alto grau de endemismo. Pernambuco é o estado com o maior número

de levantamentos florísticos, principalmente da Caatinga sentido restrito (ARAÚJO

et al., 2005). De acordo com Giulietti et al. (2003a), a maior parte da vegetação do

planalto da Borborema, localizado em Pernambuco, é constituída por uma caatinga

de porte elevado e uma elevada riqueza florística.

Já foi identificada nas Caatingas pernambucanas a ocorrência de 354

espécies herbáceas, distribuídas em 58 famílias, embora acredite-se que esse

número esteja subestimado devido à escassez de estudos. Além dessas espécies,

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é observada no estrato herbáceo das Caatingas a presença de diversas espécies

suculentas da família Cactaceae, de epífitas da família Bromeliaceae, além de

espécies de briófitas e pteridófitas (ARAÚJO; SILVA; FERRAZ, 2002).

De acordo com Medeiros-Costa (2002), foram registradas 18 espécies de

palmeiras nativas para o Estado de Pernambuco, sendo quatro delas encontradas

na região das Caatingas. Em um levantamento quantitativo das plantas lenhosas

em quatro áreas de vegetação de Caatinga em Pernambuco, distribuídas em três

tipos fisionômicos de caatinga (stricto sensu), Rodal, Martins e Sampaio (2008)

identificaram 61 espécies, distribuídas em 41 gêneros e 22 famílias.

Com relação à fauna das Caatingas pernambucanas, Farias e Pereira (2009)

registraram a ocorrência de 270 espécies de aves. Em um levantamento realizado

no Parque Nacional do Catimbau, localizado no bioma Caatinga em Pernambuco,

foi registrada a ocorrência de 21 espécies de anfíbios, 25 espécies de lagartos, 11

espécies de serpentes e uma tartaruga, embora o estudo mostre que a diversidade

local ainda esteja subestimada. O parque apresenta a mais rica herpetofauna

inventariada na região central do bioma, destacando-se também pela presença de

espécies endêmicas, como Amphisbaena superanumeraria Mott, Rodrigues &

Santos, 2009 e Scriptosaura catimbau Rodrigues & Santos, 2008 (PEDROSA et al.,

2014).

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3 DEGRADAÇÃO, CONSERVAÇÃO E PROTEÇÃO LEGAL DAS CAATINGAS 3.1 DEGRADAÇÃO DAS CAATINGAS

A grande diversidade biológica e o alto grau de endemismo das Caatingas

contrastam com os altos níveis de degradação ocorridos historicamente, em virtude

do uso inadequado e insustentável dos seus recursos naturais.

A degradação das Caatingas iniciou no século XVII, ainda no Brasil Colônia,

por meio da expansão da pecuária para o interior do país através do corte das

árvores e do uso do fogo. Os criadores de gado, além de realizarem a queima dos

pastos para facilitar o brotamento, introduziam nessas áreas uma grande

quantidade de animais (bovinos, caprinos e ovinos), além da capacidade de

suporte das mesmas (ALVES; ARAÚJO; NASCIMENTO, 2009).

Segundo Araújo (2002), a pecuária foi introduzida na região por volta de

1635 e, como havia necessidade de produção de alimentos para a população

humana, com ela vieram as práticas agrícolas, baseando-se também no

desmatamento e nas queimadas generalizadas. Para o autor, o que ocorreu no

bioma Caatinga foi a aplicação direta de métodos e práticas agrícolas próprias para

solos de clima temperado; resultando na derrubada das matas; estabelecimento de

lavouras itinerantes; queima da vegetação em larga escala, expondo os solos à

erosão; saqueando, dessa forma, os recursos naturais renováveis desse bioma

(ARAÚJO, 2002).

A agricultura itinerante deixou também um passivo de áreas degradadas,

principalmente nas encostas onde a erosão é mais intensa, modificando tanto o

estrato herbáceo como o arbustivo-arbóreo das Caatingas (MELO, 1998; MELO;

BASSO; SIQUEIRA-FILHO, 2012a; SAMPAIO, 2010).

O superpastoreio de bovinos, caprinos e ovinos tem alterado a composição

florística não só do estrato herbáceo, mas também do estrato arbóreo-arbustivo,

pela pressão do pastejo (MELO, 1998). Além disso, estes animais têm afetado

nascentes e açudes da região, tanto pelo pisoteio, causando compactação do solo

e diminuição da sua capacidade de infiltração, quanto pela deposição dos seus

dejetos e excrementos, causando contaminação da água (RIBEIRO, 2014).

A produção de lenha também vem causando redução na diversidade

florística, principalmente em áreas no entorno de grandes centros consumidores,

através de cortes repetidos durante ciclos extremamente curtos (SAMPAIO, 2010).

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Para Melo (1998), a exploração madeireira já tem causado mais danos à vegetação

lenhosa do bioma Caatinga do que a agricultura itinerante.

Como consequências das profundas alterações pelas quais vem passando o

bioma Caatinga, pode-se destacar: 1) as grandes extensões de áreas em processo

de desertificação; 2) o aumento nos processos erosivos, afetando as propriedades

físicas, químicas, biológicas e econômicas do solo; 3) a salinização, causada pelos

desmatamentos e culturas irrigadas, aumentando a evaporação da água; 4) a

compactação dos solos; 5) o assoreamento dos mananciais, comprometendo os

recursos hídricos da região; 6) a destruição da flora e da fauna, ocasionando

redução na diversidade biológica e na produção primária desse bioma; 7) as

implicações negativas nas condições de sobrevivência das populações afetadas; 8)

incremento do êxodo rural; dentre outras (ALVES; ARAÚJO; NASCIMENTO, 2009;

ARAÚJO FILHO; SILVA, 2008; CASTRO; CAVALCANTE, 2011; CONTI, 2002;

FERNANDES; MEDEIROS, 2009; GIONGO, 2011; SÁ et al., 2010; SILVA;

MEDEIROS; AZEVEDO, 2012).

Castelletti et al. (2003) estimam que entre 30,4% a 51,7% da área da

Caatinga foi alterada por atividades antrópicas. Para Castro e Cavalcante (2011),

cerca de 80% da Caatinga já sofreu drásticas alterações realizadas pelo homem,

por conta da exploração predatória realizada ao longo dos anos, decorrentes não

só do avanço das atividades agropecuárias, mas também do uso da mata nativa

para madeira, lenha e carvão.

De acordo com os resultados preliminares do mais recente monitoramento

do desmatamento do bioma Caatinga, realizado pelo Instituto Nacional de

Pesquisas Espaciais (INPE), o bioma apresenta aproximadamente: 45% de

Caatinga degradada, 40% de Caatinga preservada, 7,2% de solo exposto, 6,5% de

lavoura e 0,7 de corpos d’água. Foram analisados, nessa pesquisa, as imagens de

2013 e 2014 do satélite Landsat-8 e já foi mapeada uma área de aproximadamente

90 mil km², representando 14% dos seis Estados pertencentes ao bioma e 9,15%

do total da Caatinga (INPE, 2015). Vale salientar que ainda faltam ser mapeados

90,85% do bioma, o que pode ocasionar mudanças significativas nos percentuais

apresentados.

Estas alterações, causadas principalmente pelo desmatamento, têm tornado

a Caatinga um dos biomas mais degradados do Brasil (ALMEIDA; FRANÇA;

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CUELLAR, 2009; BARBOSA et al., 2005; CAPOBIANCO, 2002; CASTELLETTI et

al., 2003; CASTRO et al., 2003; MYERS et al., 2000).

A Caatinga pode ser o segundo bioma mais degradado do país, ficando

atrás apenas da Mata Atlântica, sendo possível ainda que esta avaliação esteja

subestimada, pela dificuldade em estimar a extensão da perda da flora, da fauna e

dos ecossistemas naturais do Nordeste brasileiro nos últimos 500 anos. Até os

maiores remanescentes de Caatinga provavelmente vêm sendo alterados desde os

tempos pré-colombianos (COIMBRA-FILHO; CÂMARA, 1996; LEAL et al., 2005,

SIQUEIRA-FILHO, 2012a).

Além disso, as Caatingas fazem parte das florestas secas, nas quais estão

os ecossistemas mais degradados e explorados do mundo, pelo uso intensivo de

suas terras. As florestas secas representam 42% das florestas tropicais e

subtropicais existentes no mundo (MOREIRA et al., 2006). Fato que torna a

degradação das nossas Caatingas um problema global.

De modo geral, observa-se que o histórico do uso das Caatingas responde,

em grande parte, pelo processo de degradação desse bioma. Na maioria dos

casos, os recursos naturais das Caatingas vêm sendo explorados de forma

predatória, resultando em impactos provavelmente irreversíveis, como o processo

de desertificação dos solos e da extinção de espécies.

Um exemplo disso é a quantidade de espécies das Caatingas ameaçadas de

extinção, como é o caso do tatu bola (Tolypeutes tricinctus Linnaeus, 1758), da

ararinha azul (Cyanopsitta spixii Wagler, 1832), do guigó-da-caatinga (Callicebus

barbarabrownae Hershkovitz, 1990), da espécie de cacto coroa de frade

(Melocactus azureus Buining & Brederoo), dentre outras. Quanto à desertificação,

todos os Núcleos de Desertificação existentes no Brasil estão localizados na

porção semiárida do Nordeste brasileiro e um desses núcleos é a região de

Cabrobó no Estado de Pernambuco (SÁ; SÁ; SILVA, 2006).

“Todos esses processos de degradação ambiental são reforçados ainda pelo

ciclo de degradação social e pobreza, com a degradação social contribuindo

diretamente para a degradação ambiental e vice-versa” (BARBOSA et al., 2005, p.

418). Para Souza (2007), a degradação do bioma Caatinga tem aumentado a

vulnerabilidade da população humana que dela depende, com implicações

negativas para os parâmetros socioeconômicos da região nordestina.

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Em 1956, após percorrer trechos dos chamados altos dos sertões de

Pernambuco e da Paraíba, o francês Jean Dresch afirmou que o Nordeste seco era

a região semiárida mais povoada do mundo, baseando-se nas diferentes regiões

áridas que ele conhecia (AB’SÁBER, 1999a). Segundo Ab’Sáber (1999b, p.26), “o

Nordeste seco segue tendo muito mais gente do que as relações de produção ali

imperantes podem suportar”.

A demanda por recursos naturais para suprir as necessidades da população

residente no bioma Caatinga sempre foi elevada. Esse adensamento humano,

atípico para uma região semiárida, acentua a fragilidade dos seus ecossistemas,

fator que deve ser considerado pelo Estado, não só pela importância do bioma,

mas pela escassez dos recursos naturais dessa região.

Para Brasileiro (2009, p. 5):

as políticas imediatistas e paliativas na região acabam por dificultar o desenvolvimento da organização socioespacial e socioeconômica, condicionando a população a sobreviver em situação de desequilíbrio com o potencial natural da região. Precisa-se urgentemente de implementação de estratégias e de planejamento que visem ao uso racional dos recursos e, consequentemente, à melhoria da qualidade de vida no semiárido

Pernambuco é um dos Estados que compõe o semiárido com maior

contingente populacional na sua porção semiárida, cujo percentual alcança 16,18%

do total de residentes deste espaço geográfico. Fica atrás apenas da Bahia (29,83

%) e do Ceará (20,91%) (MEDEIROS et al., 2012).

Está também entre os Estados do Nordeste com maior degradação

ambiental, apresentando 25,5% de sua área atingida (SÁ; RICHÉ; FOTIUS, 2003).

De acordo com os resultados preliminares do monitoramento realizado pelo

INPE, expressos na figura 1, as áreas mapeadas dos Estados de Alagoas e

Pernambuco são as mais desmatadas. O uso e ocupação do solo do Estado de

Pernambuco foi distribuído por esse monitoramento da seguinte forma: caatinga

degradada (57,29%), caatinga preservada (22,94%), solo exposto (13,47%),

lavoura (5,65%) e ambiente urbano (0,53%) (INPE, 2015), lembrando que grande

parte do Estado ainda não foi analisado.

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Figura 1 – Percentual de uso e ocupação do solo do bioma Caatinga, no Estado de Pernambuco, em 2013-2014

Fonte: Adaptado do INPE (2015)

Com uma população em crescimento, é razoável esperar que as pressões

sobre os recursos naturais das Caatingas aumentem ainda mais. Dessa forma,

medidas de controle do desmatamento por parte do Estado devem ser adotadas,

não só reduzindo a autorização de supressão em novas áreas, mas intensificando

a fiscalização, evitando novos desmatamentos ilegais.

Medidas de preservação e conservação dos fragmentos ainda existentes

das Caatingas pernambucanas também devem ser priorizadas pelo Estado,

devendo ser consideradas as diversas fitofisionomias existentes e as áreas pouco

conhecidas pela ciência.

3.2 CONSERVAÇÃO E PROTEÇÃO LEGAL DAS CAATINGAS

O estabelecimento de espaços especialmente protegidos, isto é, a

delimitação de porções do território com limitações de uso da terra e dos recursos

naturais, consiste em uma das ferramentas mais utilizadas atualmente para

conservação da natureza (BENSUSAN, 2006).

No Brasil, uma das principais ferramentas para a conservação são as

Unidades de Conservação da Natureza (UCs), que podem ser de Proteção Integral,

cujo objetivo principal é a preservação da natureza, ou de Uso Sustentável, que

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visa conciliar a conservação da natureza com o uso sustentável dos seus recursos

naturais (BRASIL, 2000).

Apesar de existirem no país inúmeras unidades no interior dos diversos

biomas, distribuídas nas diversas categorias, a Caatinga é considerada o bioma

menos protegido do ponto de vista legal (BARBOSA et al., 2005; CASTRO et al.,

2003; LEAL et al., 2005; RODRIGUES, 2012; SILVA et al., 2003b). Ou seja, o que

possui a menor extensão protegida com relação aos outros biomas existentes e o

menor número de UCs, apesar do seu elevado grau de degradação e importância

quanto à heterogeneidade, riqueza biológica e alto índice de endemismo.

Além de raras, as unidades de conservação no bioma Caatinga são

relativamente pequenas. As unidades de Proteção Integral cobrem uma pequena

fração da área original e estão concentradas em algumas das ecorregiões. Um

exemplo disso são as áreas de cristalino da depressão sertaneja, pouco cobertas

por UCs (SAMPAIO, 2010).

No ano de 2000 ocorreu na cidade de Petrolina-PE o workshop “Avaliação e

Ações Prioritárias para Conservação da Biodiversidade na Caatinga”, apoiado pelo

Ministério do Meio Ambiente (MMA). Esse evento contou com a participação de

140 pesquisadores que geraram uma formidável gama de informações sobre o

estado de conhecimento e as lacunas de informação desse bioma. Os resultados

desse trabalho foram sintetizados e publicados pelo MMA sob a forma de um

sumário executivo compondo o livro Biodiversidade Brasileira – Avaliação e

Identificação de Áreas e Ações Prioritárias para a Conservação, Utilização

Sustentável e Repartição dos Benefícios da Biodiversidade Brasileira (SILVA et al.,

2003b).

Foram identificadas 82 áreas prioritárias para a conservação da

biodiversidade da Caatinga, das quais, 27 foram classificadas como áreas de

extrema importância biológica, 12 como áreas de muito alta importância, 18 como

áreas de alta importância e 25 áreas insuficientemente conhecidas, mas de

provável importância (TABARELLI; SILVA, 2003).

De acordo com Silva et al. (2003b), a identificação de áreas e ações

prioritárias tem-se mostrado um valioso instrumento para conservação e proteção

da biodiversidade no Brasil e no mundo. Dessa forma, essas áreas e ações devem

ser considerados não só no planejamento da criação de unidades de conservação,

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mas devem ser consideradas também nos processos de autorização de supressão

de vegetação pelo Estado.

Quanto ao número de unidades de conservação no bioma Caatinga e suas

respectivas áreas de proteção foram encontradas informações divergentes na

literatura. De acordo com o Cadastro Nacional de UCs, do MMA, das 1961

Unidades de Conservação existentes no Brasil apenas 77 UCs estão no bioma

Caatinga (30 federais e 44 estaduais). Das 77 UCs, 29 enquadram-se no grupo de

Proteção Integral e 45 no grupo de Uso Sustentável.

Vale destacar que os dados disponíveis no cadastro fornecem informações

imprecisas sobre a real área protegida do bioma, uma vez que é informada a área

total das UCs e não o percentual do bioma presente na unidade de conservação.

Verificou-se, por exemplo, que a Área de Proteção Ambiental Cavernas do

Peruaçu, localizada no estado de Minas Gerais, contabilizada como UC na

Caatinga, apresenta em sua ficha detalhada apenas o bioma Cerrado. Além disso,

verificou-se que as informações encontram-se desatualizadas, tendo em vista que

no cadastro não constava as UCs Estaduais implantadas nas Caatingas

pernambucanas.

Maciel (2010), ao analisar a situação atual das Unidades de Conservação do

bioma Caatinga, também se deparou com divergências nas informações com

grandes variações, precisando realizar um novo levantamento que resultou em 125

unidades de conservação na Caatinga, incluindo as unidades de conservação

municipais e privadas.

Segundo o autor, no total, apenas 6,4% do bioma Caatinga estão

nominalmente protegidos na região Nordeste e a área protegida do grupo de

Proteção Integral totaliza apenas 1,3% da área da Caatinga. Verificou-se nesse

trabalho que menos da metade das UCs possuíam Plano de Manejo, dando indício

de que as áreas protegidas podem não estar cumprindo seu objetivo de

conservação da biodiversidade. Foram identificadas ainda as seguintes ameaças

às unidades: 1) caça no interior das UCs, 2) incêndio, 3) desmatamento ilegal, 4)

pressão urbana, 4) problemas de regularização fundiária e 5) falta de recursos para

funcionamento e manutenção das unidades (MACIEL, 2010).

Apesar de desanimadores, esses dados fornecem subsídios para a tomada

de decisões quanto à gestão dos recursos naturais, seleção, planejamento e

monitoramento das unidades de conservação nas Caatingas.

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Somente nos últimos anos o governo federal e estadual tem efetuado ações

concretas para a conservação dos recursos naturais das Caatingas. O Governo de

Pernambuco criou sua primeira UC nesse bioma em 2012, o Parque Estadual Mata

da Pimenteira, no Município de Serra Talhada (SILVA JÚNIOR, 2013).

As Caatingas pernambucanas contam ainda com outras unidades de

conservação, de jurisprudências estadual, federal e municipal, como: 1) a Estação

Ecológica (ESEC) Serra da Canoa; 2) o Parque Nacional (PARNA) do Catimbau; 3)

o Monumento Natural (MONA) Pedra do Cachorro; 4) o MONA Serra do Gavião; 5)

o MONA Parque Municipal Pedra Furada; 6) a Área de Proteção Ambiental (APA)

Chapada do Araripe; 7) a Floresta Nacional (FLONA) de Negreiros; 8) o Refúgio de

Vida Silvestre (RVS) Riacho Pontal; 9) a Reserva Biológica (REBIO) de Pedra

Talhada; 10) a REBIO de Serra Negra; 11) e as Reservas Particulares do

Patrimônio Natural (RPPNs) Pedra do Cachorro, Karawa-tá, Serra do Contente,

Reserva Cabanos, Cantidiano Valgueiro de Carvalho Barros e Reserva Umburana;

de acordo com o Caburé – Sistemas de Informações Geoambientais de

Pernambuco.

Recentemente, o Estado ganhou a maior Unidade de Conservação (UC) do

Nordeste, o Refúgio de Vida Silvestre Tatu-bola. Entretanto, o decreto de criação

dessa UC (Decreto nº 41.546/2015) foi revogado, com a pretensão de

recategorização de RVS para APA.

Segundo Silva Júnior (2013), o grande problema das UCs de Pernambuco

está relacionado com a implantação efetiva da área e sua gestão. Para o autor,

apesar de criadas, poucas unidades saem do papel, geralmente não apresentam

demarcação física efetivada, a maioria não apresenta plano de manejo e o número

de funcionários encarregados da manutenção é insuficiente.

Para Bensusan (2006), diante do uso predatório dos recursos naturais e

ocupação desenfreada do solo, não resta dúvida que a criação de espaços

protegidos é um mecanismo interessante, no entanto, a implementação desses

espaços tem encontrado inúmeros desafios:

[...] parte deles tem relação com a maneira como essas áreas protegidas foram desalojadas, as restrições de usos se deram sem explicações e compensações e, frequentemente, os gestores dessas áreas não levaram em conta os conflitos sociais e culturais que sua criação causou. Outro desafio relevante é a pressão de uso sobre os recursos dessas áreas nem sempre protegidas. Por fim, há o desafio da gestão dessas porções do território submetidas

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a regimes completamente diferentes do vigente na paisagem circunvizinha, mas dependente dela. Essa gestão, em muitos países como o Brasil, conta historicamente com limitações de recursos humanos e financeiros (BENSUSAN, 2006, p. 9).

O papel das populações locais na criação de áreas protegidas foi

negligenciado durante muito tempo e as consequências disso estão bem

explicitadas por diversos autores, como, por exemplo, Diegues (2001). Por se tratar

de uma poderosa ferramenta, o conhecimento acumulado pelas populações

poderia ser utilizado por desenvolvimentistas e conservacionistas no planejamento

e manutenção dessas áreas (ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002a).

Outro fator agravante é que, além de ser o bioma menos protegido, a

Caatinga é considerada o bioma menos estudado e menos conhecido do ponto de

vista científico (ALVES; ARAÚJO; NASCIMENTO, 2009; CARVALHO; JÚNIOR,

2005; LEAL; TABARELLI; SILVA, 2003; LEWINSHON; PRADO, 2002; SIQUEIRA-

FILHO, 2012a; TROVÃO et al., 2007). Para Tabarelli e Vicente (2004), 41% da

Caatinga nunca tinha sido investigada e 80% permanecia subamostrada até o ano

de 2004. Melo, Pinto e Tabarelli (2010) estimam que 30% de seu território

permanecem pouco explorados pela ciência.

Ao analisar o conhecimento sobre a biodiversidade dos principais

ecossistemas brasileiros, a fim de avaliar em que extensão a Caatinga tem sido

investigada, Santos et al. (2011) demonstraram em seus resultados que a Caatinga

apresenta os índices mais baixos em termos de esforço de pesquisa e geração de

conhecimento, com um número muito pequeno de artigos publicados em revistas

internacionais, além de apresentar o menor número de grupos de pesquisa e

pesquisadores seniores, se comparada com as florestas úmidas (Amazônia e

Floresta Atlântica).

O estudo e a conservação da biodiversidade das Caatingas consistem em

um dos maiores desafios para a comunidade científica brasileira, por diversos

motivos: 1) seus limites são restritos ao território nacional; 2) falta de estudos e

concentração dos esforços científicos em alguns pontos no entorno das principais

cidades da região; 3) por ser a região natural brasileira menos protegida por

unidades de conservação; 4) sofrer contínuo processo de alteração e deterioração

ambiental provocado pelo uso insustentável dos recursos naturais e; 5) pelo fato de

suas espécies apresentarem características fisiológicas, refletindo em adaptações

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complexas e peculiares às condições ambientais únicas (LEAL; TABARELLI;

SILVA, 2003; TROVÃO et al., 2007).

Todos os fatores apresentados quanto à degradação, conservação e falta de

estudos, refletem a omissão histórica do Poder Público na implementação de

políticas e incentivos voltados para a conservação dos recursos naturais presentes

nas Caatingas.

Para Rodrigues (2012), o fato da Caatinga ser o bioma menos protegido

legalmente, está localizado no semiárido mais populoso do mundo, ter o maior

contingente de trabalhadores rurais de todo o Brasil e receber, atualmente, duas

das maiores obras de infraestrutura do país (Projeto de Integração do São

Francisco e Transnordestina), já seria suficiente para que toda energia intelectual

possível fosse direcionada para o planejamento do futuro dos sertões nordestinos.

Apesar da intensa degradação ocorrida nas Caatingas ao longo dos anos,

diversos fragmentos encontram-se conservados devido à forte relação homem

natureza presente até hoje entre o sertanejo e o meio ambiente. As Caatingas

ainda apresentam uma variedade significativa de ecossistemas, contendo diversas

espécies raras e endêmicas, que precisam ser estudados e preservados.

Ao mesmo tempo, as comunidades rurais do semiárido estão cada vez mais

empenhadas em conservar o pouco que resta da vegetação das Caatingas. Além

da adesão a técnicas de desenvolvimento rural sustentável, supõe-se estar

nascendo um novo conceito da relação ser humano e natureza que, através de

manejos mais adequados e de uma convivência mais harmoniosa, procura

aproximar as comunidades da biodiversidade existente no bioma Caatinga

(BRASILEIRO, 2009).

Lembrando que a conservação dos recursos naturais pode ser justificada por

razões ecológicas ou pela dependência das populações do entorno das unidades

de Conservação (UCs), seja para obtenção dos recursos naturais ou para o bem-

estar social (SILVA, 2006; SILVA; CÂNDIDO; FREIRE, 2009), justificando a

importância de criação de mais unidades de conservação no bioma Caatinga.

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4 OS RECURSOS NATURAIS DAS CAATINGAS E SEU PAPEL NA SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Antes de discutir acerca do potencial natural existente nas Caatingas e sua

importância para os ecossistemas e suas populações, é necessário discorrer

brevemente sobre um tema bastante polêmico: sustentabilidade e desenvolvimento

sustentável.

4.1 SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

“A sustentabilidade é a capacidade dos diversos sistemas da Terra, incluindo

as economias e sistemas culturais humanos, de sobreviverem e se adaptarem às

condições ambientais em mudança” (MILLER, 2007, p. 3).

Para o autor, algumas etapas devem ser seguidas em direção a essa

sustentabilidade. A primeira delas é conservar o capital natural da Terra, ou seja,

os recursos e serviços naturais que mantêm as diversas espécies vivas, incluindo a

espécie humana e que dão suporte às nossas economias. A segunda etapa é

reconhecer que diversas atividades humanas degradam o capital natural ao usar

recursos normalmente renováveis mais rápido do que a natureza consegue renová-

los. Isso faz o ser humano buscar soluções para enfrentar os problemas

ambientais, exigindo compromissos ou ajustes e, nessa busca, “os indivíduos

fazem a diferença” (MILLER, 2007).

Para Cavalcanti (2003, p. 165), “sustentabilidade significa a possibilidade de

se obterem continuamente condições iguais ou superiores de vida para um grupo

de pessoas e seus sucessores em dado ecossistema”.

Atingir essa sustentabilidade consiste em um dos maiores desafios para a

humanidade, principalmente porque o modo de vida, no geral, está centrado em um

sistema capitalista alicerçado na degradação do meio ambiente. Este desafio torna-

se ainda maior no bioma Caatinga, se considerarmos a fragilidade dos seus

ecossistemas, o alto índice de degradação, o elevado contingente populacional, a

presença de grandes obras se instalando em seu território e a maior

susceptibilidade às mudanças climáticas e desertificação.

Ao discutir sobre a desertificação nas Caatingas, Fernandes e Medeiros

(2009) destacam que a sustentabilidade dos recursos naturais implica limitações

definidas nas possibilidades de crescimento econômico, sendo necessário a

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criação de regras eficientes para gestão dos recursos naturais a fim de que homem

e natureza interajam de forma prudente.

Para Keinert (2007, p. 14) “importantes inovações foram introduzidas no

mundo organizacional a partir da emergência do conceito de sustentabilidade”, o

qual foi derivado do conceito de desenvolvimento sustentável, difundido pelo

Relatório de Brundtland, mais conhecido como Nosso Futuro Comum, elaborado

pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) em

1987. De acordo com esse relatório, desenvolvimento sustentável é “aquele que

atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as

gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades” (CMMAD,1991, p. 46).

Para Jacobi (2003, p. 194), a difusão desse conceito:

não só reforça as necessárias relações entre economia, tecnologia, sociedade e política, como chama a atenção para a necessidade do reforço de uma nova postura ética em relação à preservação do meio ambiente, caracterizada pelo desafio de uma responsabilidade tanto entre as gerações quanto entre os integrantes da sociedade dos nossos tempos.

Apesar do termo desenvolvimento sustentável ter se tornado rapidamente

uma unanimidade em todos os segmentos da sociedade, trouxe um

aprofundamento na discussão sobre o real significado teórico e prático deste

conceito (VAN BELLEN, 2004).

São inúmeras as críticas atribuídas à ideia do desenvolvimento sustentável,

devido às suas contradições e incompatibilidade com o modelo de produção

vigente (FREITAS; NÉLSIS; NUNES, 2012; GOMES, 2014; LAYRARGUES, 1997;

MONTIBELLER-FILHO, 2001; RODRIGUES, 2005).

Para Layrargues (1997), a proposta do desenvolvimento sustentável não se

preocupa com a preservação do meio ambiente, mas preocupa-se tão somente em

preservar a ideologia hegemônica. O autor, há quase duas décadas atrás,

aprofundando a crítica acerca do termo desenvolvimento sustentável afirma:

[...] se todas as sociedades adquirirem as mesmas condições de vida de um cidadão norte-americano, o sistema ecológico não suportaria essa nova pressão, e o planeta entraria em colapso. No atual estado do desenvolvimento tecnológico, considerando suas implicações ambientais, o padrão de consumo do Primeiro Mundo definitivamente é insustentável e não-generalizável ao conjunto da humanidade (LAYRARGUES, p. 5, 1997).

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As críticas e propostas de esclarecimentos que o termo “sustentabilidade”

vem recebendo propõem sinalizar diversas alternativas às concepções de

desenvolvimento da vida humana, abordando o envolvimento em diferentes

dimensões indissociáveis (SILVA; SOUZA; LEAL, 2012).

De acordo com Sachs (2002), existem oito dimensões da sustentabilidade

que precisam ser consideradas: social, cultural, ecológica, ambiental, territorial,

econômica, política nacional e política internacional; demonstrando que para se

alcançar a sustentabilidade é necessário enxergar além da preservação dos

recursos naturais, é preciso preocupar-se também com qualidade de vida,

igualdade social, equilíbrio entre respeito às tradições da população e inovação,

melhoria do ambiente urbano, equilíbrio econômico entre setores, democracia,

promoção da paz e cooperação internacional, dentre outros fatores.

Segundo Leff (2001), é preciso ocorrer uma mudança radical nos sistemas

de conhecimento, nos valores e nos comportamentos gerados pela dinâmica de

racionalidade existente, fundada no aspecto econômico do desenvolvimento. Para

o autor, sem essa mudança, a resolução dos complexos e crescentes problemas

ambientais e a reversão das suas causas é impossível.

Apesar da difícil conciliação entre crescimento econômico e

sustentabilidade, esta não consiste em algo inatingível. A população, os

empresários, os formuladores de políticas e a academia precisam se unir em busca

de soluções. O modo de vida predominante, baseado em um sistema altamente

capitalista, precisa ser repensado e as variadas dimensões da sustentabilidade

precisam ser consideradas nesse processo.

4.2 IMPORTÂNCIA E USO DOS RECURSOS NATURAIS DAS CAATINGAS

A conservação dos recursos naturais existentes nas Caatingas é importante

não só para a manutenção da biodiversidade local, mas para manutenção de parte

expressiva da biodiversidade do planeta, dos padrões regionais e globais do clima,

da disponibilidade de água e solos agricultáveis, além do equilíbrio no processo do

êxodo rural (FERNANDES; MEDEIROS, 2009; TABARELLI; SILVA, 2003).

Os resultados do trabalho de Maestre et al. (2012) demonstraram que a

preservação da biodiversidade das plantas é crucial para amortecer os efeitos

negativos da mudança climática e a desertificação nas terras secas, fator que torna

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a preservação dos fragmentos remanescentes das Caatingas de extrema

importância, uma vez que o bioma é bastante vulnerável às mudanças climáticas e

diversos locais já encontram-se em processos de desertificação.

Além disso, a flora das Caatingas é fundamental para a fauna local e demais

organismos vivos, seja como fonte de alimento, seja como abrigo e local para

reprodução. Da mesma forma, a presença da fauna é indispensável para a

preservação da vegetação, em virtude dos inúmeros serviços ambientais

prestados, como dispersão de sementes, predação, ciclagem de nutrientes,

polinização, dentre outros serviços.

A vegetação nativa das Caatingas possui adaptações complexas e

peculiares às condições ambientais únicas do bioma, tais como: 1) perda das

folhas na estação seca (caducidade foliar); 2) redução do metabolismo em

períodos secos; 3) presença de espinhos; 4) rápida resposta e alta taxa de

crescimento em períodos úmidos; 5) herbáceas temporárias que se desenvolvem

no período chuvoso; 6) alta capacidade de regeneração por brotação de tocos e

cepas; 7) espécies suculentas, como os cactos e as bromélias que acumulam água

em seus tecidos; 8) plantas com raízes que armazenam água, dentre outras

(ANDRADE-LIMA, 1981; CAVALCANTI; RESENDE, 2006; LEAL; TABARELLI;

SILVA, 2003; LUETZELBURG, 1922-1923; RIEGELHAUPT; PAREYN; BACALINI,

2010; SANTOS, 2009; TROVÃO et al., 2007); tornando-a insubstituível.

Nas épocas mais secas essas adaptações são importantes não só para a

flora, mas também para a fauna e para a população. Um exemplo da importância

para a fauna é o caso das bromélias que, devido ao formato de suas folhas em

roseta, acumulam água rica em nutrientes, tornando-se um micro-habitat para

reprodução, alimentação e desenvolvimento larval de vários invertebrados (ISLAIR

et al. 2015).

Outra espécie típica das Caatingas que acumula água é o umbuzeiro

(Spondias tuberosa Arruda). Nas suas raízes são encontradas intumescências

redondas de consistência esponjosa denominadas xilopódios, ricos em água e sais

minerais (CAVALCANTI; RESENDE, 2006).

Após sua viagem, o naturalista Martius também elencou as inúmeras

possibilidades que as plantas das Caatingas brasileiras tinham para atrair e

armazenar água que, segundo ele, socorriam os animais e viajantes durante a

seca. Martius citou o umbuzeiro como uma espécie que pode auxiliar em caso de

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falta de água. Ele escreveu que essa árvore “é sustentada por grandes raízes

entumecidas e a parte interna e profunda das mesmas é cheia de um certo líquido”

(MARTIUS, 1996, p. 49).

De modo surpreendente, para uma vegetação caducifólia, a floração e a

frutificação das espécies das Caatingas, em geral, estendem-se ao longo de todo

ou quase todo o ano, aumentando a disponibilidade de recursos alimentares para

fauna (SAMPAIO, 2010), demonstrando a importância da biodiversidade da flora

para a preservação da fauna das Caatingas.

As espécies das Caatingas, com suas diferentes adaptações às condições

áridas, desempenham um papel importante para o funcionamento dos

ecossistemas, não só do ponto de vista ecológico, mas também do ponto de vista

socioeconômico e cultural.

A utilização das Caatingas como fonte de alimentos para a população

humana decorre dos tempos pré-descobrimentos, seja pela coleta de frutos e caça

de animais pelos indígenas, seja pela exploração agrícola, pastoril e madeireira,

intensificadas a partir da colonização pelo homem branco. A ação dos indígenas

sobre as Caatingas não é muito conhecida, entretanto, de acordo com relatos do

século XVII, se restringiam ao cultivo de milho, mandioca, algodão, coleta de frutos

e caça de animais silvestres (ARAÚJO, 2002).

Grande parte da população que vive no bioma Caatinga depende direta ou

indiretamente da sua biodiversidade para sobreviver (ALBUQUERQUE;

ANDRADE, 2002a; BARBOSA et al., 2005; LOIOLA; ROQUE; OLIVEIRA, 2012;

SILVA; MEDEIROS; AZEVEDO, 2012), o que torna a conservação desta

biodiversidade importante também para a manutenção da qualidade de vida da

população.

Os recursos naturais existentes nas Caatingas são utilizados para diversas

finalidades: energia, alimentação, forragem para diversos tipos de rebanhos,

medicamentos, cosméticos, madeira para construções, matéria-prima para as mais

variadas finalidades, dentre outras (CASTRO; CAVALCANTE, 2011; CAVALCANTI

et al. 2011; LEAL; TABARELLI; SILVA, 2003; LOIOLA; ROQUE; OLIVEIRA, 2012;

MENDES, 1997; PAES et al., 2013; PAREYN, 2010).

Além das potencialidades citadas acima, as Caatingas possuem também um

grande potencial paisagístico e turístico (RODRIGUES, 2012; SELVA; COUTINHO;

SOUZA, 2008).

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Ao estudar o conhecimento botânico da população em uma área de

Caatinga no Estado de Pernambuco, Albuquerque e Andrade (2002a) identificaram

108 espécies de plantas, incluindo espécies introduzidas no bioma, distribuídas em

10 categorias de uso: alimentício, medicinal, madeireiro, doméstico, forragem,

veneno, repelente de inseto, ornamentação, sombra e místico.

Dentre as espécies nativas utilizadas pela comunidade estudada por

Albuquerque e Andrade (2002a), destacam-se:

- as espécies arbustivas/arbóreas: mulungu (Erythrina velutina Willd), para uso

medicinal; pereiro (Aspidosperma pyrifolium Mart.), para uso madeireiro; umbuzeiro

(Spondias tuberosa Arruda), para uso alimentício; aroeira (Myracrodruon

urundeuva Allemão), baraúna (Schinopsis brasiliensis Engl.), jurema-preta (Mimosa

tenuiflora (Willd.) Poir.), uso medicinal e madeireiro; feijão-de-boi (Capparis

flexuosa (L.) L.), uso medicinal e forragem; barriguda (Chorisia glaziovii (O. Kuntze)

E.M. Santos), para ornamentação e sombra.

- as espécies herbáceas: beldroega (Portulaca oleracea L.) e quebra pedra

(Phyllanthus niruri L.), uso medicinal; e o maracujá de estalo (Passiflora foetida L.),

uso alimentício e medicinal.

- as cactáceas: coroa de frade (Melocactus zehntneri (Britton & Rose) Luetzelb),

uso alimentício; e mandacaru (Cereus jamacaru DC.), uso alimentício e medicinal.

Verificou-se que, embora o estrato herbáceo da Caatinga seja bastante rico,

a maioria das espécies herbáceas conhecidas e utilizadas pela comunidade

estudada são exóticas, demonstrando a necessidade de estudos e divulgação para

as comunidades acerca da potencialidade das herbáceas desse bioma.

O principal recurso natural obtido da vegetação das Caatingas é a lenha,

usada como combustível para indústrias, comércio e domicílios, além de ser

transformada em carvão, utilizado também como fonte de energia. Estima-se que o

consumo industrial e comercial de lenha no Estado de Pernambuco, principalmente

devido ao alto consumo do pólo gesseiro do Araripe, é de aproximadamente quatro

milhões de st/ano (1,33 milhões de m3/ano) (PAREYN, 2010). Para Paes et al.

(2013), dentre os usos florestais praticados nas Caatingas o uso energético é o de

maior valor econômico.

Ramos et al. (2008), ao estudarem acerca do uso e conhecimento de

fitocombustíveis em uma área de Caatinga, no Estado de Pernambuco,

constataram a identificação de 67 plantas com fins energéticos pela população, das

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quais apenas 37 eram utilizadas como combustível doméstico e na produção de

carvão.

Apesar da grande exploração da vegetação das Caatingas para fins

energéticos, há poucos estudos sobre as relações entre as características da

madeira e seu potencial energético (NETO; OLIVEIRA; PAES, 2014), o que torna a

exploração desse recurso insustentável, podendo comprometer a conservação das

espécies e consequentemente o estoque madeireiro desse bioma.

Segundo Neto, Oliveira e Paes (2014), esta exploração e utilização vem

ocorrendo de forma intensa e de maneira inadequada, não só para fins energéticos

mas também para utilização em construções rurais (cercas, currais, telhados e

pocilgas), contribuindo para a escassez de madeira em vários locais.

Por ser uma matéria prima renovável, mais acessível e menos poluente, se

comparada aos combustíveis fósseis (NETO; OLIVEIRA; PAES, 2014), medidas

mais sustentáveis de exploração precisam ser adotadas, com base em estudos

científicos quanto ao potencial energético das espécies, visando um melhor

aproveitamento da biodiversidade existente no bioma, reduzindo a pressão sobre

determinadas espécies.

Outro produto obtido das Caatingas é o fruto de algumas espécies vegetais.

Como frutíferas utilizadas pela população destacam-se: o umbuzeiro (Spondias

tuberosa Arruda), o araticum (Annona glabra L.), a mangabeira (Hancornia

speciosa Gomes), o jatobá (Hymenaea sp.), o juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), o

murici (Byrsonima sp.), o licuri (Syagrus coronata (Mart.) Becc.), o maracujá-do-

mato (Passiflora cincinnata Mast.), a goiabinha (Psidium sp.) e o croatá (Bromelia

karatas L.) (ARAÚJO, 2004; DRUMOND et al., 2003).

A produção da polpa congelada do umbu, por exemplo, tem grande potencial

de exploração, apresentando como vantagens o processamento próximo ao local

de produção, unidades processadoras de baixo custo e oferta do produto por prazo

bem mais longo que o de produção. Em Pernambuco, a produção vai do Agreste

ao Sertão (GIULIETTI et al., 2003a). Além dos frutos, o umbuzeiro fornece também

os xilopódios, utilizados pelos pequenos agricultores para produção de doce

caseiro e para alimentação dos animais na seca, principalmente no Estado de

Pernambuco e sertões da Bahia (CAVALCANTI; RESENDE, 2006).

Estudar e conservar as espécies frutíferas das Caatingas deve ser

prioridade, uma vez que a forma como os recursos naturais deste bioma vem

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sendo explorados está afetando as populações mais vulneráveis social e

economicamente. Além disso, o mercado das frutíferas nativas é promissor,

principalmente para a agricultura familiar, tendo em vista a demanda crescente dos

consumidores por frutos com sabores exóticos e isentos de agrotóxicos, associada

ao número crescente de pequenas indústrias de processamento de polpa de frutas

(ARAÚJO, 2004).

Algumas espécies nativas das Caatingas têm demonstrado seu potencial

também na indústria alimentícia. Panegassi, Serra e Buckeridge (2000), indicaram

em seus resultados a viabilidade na extração de galactomanano, goma utilizada

nas indústrias alimentícias, de sementes de faveiro (Dimorphandra mollis Benth.).

Pesquisas realizadas com a faveleira (Cnidosculus phyllacanthus (Mart.)

Pax. et K. Hoffm.), outra espécie nativa muito encontrada nas Caatingas,

demonstraram a importância dessa espécie para o desenvolvimento da região

semiárida, devido seus múltiplos usos, alta disseminação e completa adaptação às

condições adversas da região. Na dieta humana pode ser utilizada para fabricação

de uma farinha rica em sais minerais e proteínas; além disso, apresenta-se como

uma alternativa para a produção de óleo comestível que se assemelha ao óleo de

girassol, de oliveira e ao de milho (CAVALCANTI et al. 2011). Cavalcanti, Bora e

Carvajal (2009), ao estudar o isolado proteico das amêndoas dessa espécie,

verificou que esta pode ser utilizada como ingrediente funcional de produtos

alimentícios elaborados.

Quanto ao potencial forrageiro, o bioma Caatinga têm se mostrado bastante

rico e diversificado, tanto no estrato herbáceo como nos estratos arbustivo e

arbóreo (ARAÚJO et al., 2008; DRUMOND et al., 2003; LIMA, 1996). Entretanto, há

poucas informações acerca dos aspectos quantitativos das plantas das Caatingas,

principalmente para o estrato herbáceo (SANTOS et al., 2010).

Dentre as espécies nativas das Caatingas utilizadas para forragem,

destacam-se: o angico (Anadenanthera macrocarpa Benth.), a catingueira

verdadeira (Caesalpinia pyramidalis Tul.), a jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.)

Poir.), o sabiá (Mimosa caesalpinifolia Benth.) e o juazeiro (Zizyphus joazeiro

Mart.), dentre as espécies arbóreas; o mororó (Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud.),

o feijão-bravo (Capparis flexuosa (L.) L.) e as urinárias (Zornia spp.), dentre as

espécies arbustivas e subarbustivas; o facheiro (Pilosocereus pachycladus F.

Ritter) e o mandacaru (Cereus jamacaru DC.), dentre as cactáceas; as mucunãs

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(Stylozobium spp.) e as cunhãs (Centrosema spp.), dentre as lianas e rasteiras

(DRUMOND et al., 2003, LIMA, 1996).

Segundo Araújo et al. (2008), mais de 70% das espécies botânicas do bioma

Caatinga fazem parte da composição da dieta dos ruminantes domésticos.

Entretanto, de acordo com Moreira et al. (2006, p. 1644), “apesar da Caatinga

apresentar boa disponibilidade de fitomassa no período chuvoso, parte significativa

desse material não é utilizada na alimentação dos animais”.

Para Giulietti et al. (2003a), as pastagens nativas apresentam uma

diversidade muito maior que as pastagens plantadas, representando uma

alternativa para conciliar o uso e a manutenção da biodiversidade, embora

necessite de um manejo mais adequado para melhoria do uso atual dessas

pastagens. O manejo adequado da vegetação nativa permitirá, além da

conservação da biodiversidade, o aproveitamento racional dessa vegetação,

causando o enriquecimento das pastagens nativas e fornecendo melhores

condições para criação do gado em uma região eminentemente pecuarista (LIMA,

1996).

Diversas plantas nativas do bioma Caatinga são utilizadas pela população

para fins medicinais (ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002a; GIULIETTI et al, 2003a;

GOMES et al., 2008; LEAL; TABARELLI; SILVA, 2003; MARINHO; SILVA;

ANDRADE, 2011).

Albuquerque e Oliveira (2007), ao estudarem sobre as plantas medicinais na

região semiárida do Estado de Pernambuco, listaram, aproximadamente, 106

plantas distribuídas em 67 categorias terapêuticas. Apesar das espécies exóticas

terem representado uma fração significativa da flora medicinal, as espécies nativas

representaram o maior percentual de usos e indicações locais.

Silva e Albuquerque (2005), ao estudarem as plantas medicinais arbóreas do

bioma Caatinga em seis áreas do Estado de Pernambuco, a partir de trabalhos

florísticos e fitossociológicos, verificaram que, das 57 espécies arbóreas, 22

possuíam indicação terapêutica.

As propriedades antioxidantes de diversas espécies nativas e endêmicas

das Caatingas demonstram o seu potencial no combate a uma grande variedade

de doenças. A validação científica de plantas medicinais utilizadas por muitas

gerações, pela população desse bioma, abre novas perspectivas; espécies antes

ignoradas assumem uma nova identidade, gerando riquezas em produtos de alto

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valor agregado, trazendo inovação tecnológica e barateamento do custo da matéria

prima (SIQUEIRA-FILHO, 2012).

Entretanto, há uma forte pressão sobre os recursos medicinais das

Caatingas pernambucanas, não apenas pelo seu uso local, mas pela existência de

um grande mercado consumidor ao longo de todo Estado, que vem ocasionando

sério risco às populações dessas plantas, em virtude das técnicas inadequadas de

exploração. Dentre essas plantas, destacam-se a aroeira (Myracrodruon urundeuva

Allemão), o mulungu (Erythrina velutina Willd), a baraúna (Schinopsis brasiliensis

Engl.), o angico (Piptadenia zehntneri Harms) e a imburana-de-cheiro (Amburana

cearensis (Allemão) A. C. Sm.) (ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002a).

Segundo Silva e Albuquereque (2005), grande parte do conhecimento

tradicional sobre plantas medicinais está sendo perdido com o tempo, seja pela

falta de estudos, seja pelo uso inadequado dos recursos vegetais.

Além dos tipos de produtos citados, as Caatingas fornecem também fibras,

ceras e óleos. Dentre as fibras extraídas das plantas das Caatingas pode-se

destacar a palha do buriti (Mauritia flexuosa L.f.), da carnaúba (Copernicia prunifera

(Mill.) H. E. Moore), do catolé (Syagrus cearensis Noblick), o tucum (Bactris setosa

Mart.) e o caroá (Neoglaziovia variegata (Arruda) Mez).

A fibra mais característica do bioma Caatinga é o caroá, produzida

principalmente no Estado do Ceará. Essa fibra representa uma das matérias-

primas mais utilizadas para uso em artesanato na região, gerando emprego e

renda para muitas famílias. As palhas de buriti são mais produzidas no Maranhão e

o tucum é produzido, em pequena escala, nos Estados de Pernambuco e Piauí

(GIULIETTI et al., 2003a; LIMA-SARAIVA et al., 2012). Outra fibra que tem sido

utilizada para fabricação de vassouras artesanais, no Estado de Pernambuco, é a

fibra do catolé, responsável pela sobrevivência de diversas famílias na microrregião

do Sertão do Alto Pajeú/PE (SOUTO, 2014).

As espécies de marmeleiros (Croton spp.) e outras espécies da família

Euphorbiaceae apresentam quantidades razoáveis de óleo, além de algumas

apresentarem ampla distribuição em Pernambuco, especialmente no Sertão

(GIULIETTI et al., 2003a).

Os produtos florestais não madeireiros mais importantes no bioma Caatinga,

quanto à produtividade e valor financeiro, são: carnaúba (óleo, cera e fibra); umbu

(fruto para fabricação de polpa e doces), licuri (óleo e cera) e buriti (fruto como

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alimento e para fabricação de doces e a fibra). Outras espécies já tiveram uma

grande importância socioeconômica regional, como o caroá e a oiticica (Licania

rigida Benth.), entretanto, além do baixo investimento em estudos e aplicação de

técnicas de manejo e cultivo, essas espécies foram sendo substituídas por outros

produtos (PAREYN, 2010).

Além das plantas, a fauna das Caatingas é bastante utilizada pela

população, para fins medicinais, ornamentais, como fonte de alimento e como

animais de estimação, demonstrando sua importância econômica e cultural

(ALMEIDA; ALBUQUERQUE, 2002; ALVES, 2009; ALVES et al. 2009; ALVES;

GONÇALVES; VIEIRA, 2012; SAMPAIO; BATISTA, 2003).

Como exemplo de espécies da fauna das Caatingas, utilizadas pela

população, destaca-se: o jabuti (Chelonoidis carbonaria Spix, 1824), o camaleão

(Iguana iguana Linnaeus, 1758), o tatu peba (Euphractus sexcinctus Linnaeus,

1758) e o mocó (Kerodon rupestre Wied, 1820), dentre as espécies utilizadas na

alimentação; o cancão (Cyanocorax cyanopogon Wied, 1821), o canário da terra

(Sicalis flaveola Linnaeus, 1766) e o jabuti, como animais de estimação; a cascavel

(Crotalus durissus Linnaeus, 1758), o teju (Tupinambis merianae Duméril & Bibron,

1839) e a jibóia (Boa constrictor Linnaeus, 1758), utilizados na medicina popular

(ALVES et al., 2009; ALVES; GONÇALVES; VIEIRA, 2012).

A fauna das Caatingas vem sofrendo grande degradação, tanto pela pressão

e perda de hábitat como também pela caça e pesca sem controle (SAMPAIO;

BATISTA, 2003). Entretanto, a caça de animais selvagens constitui um fator

importante para a subsistência das comunidades humanas que habitam na região

semiárida do nordeste do Brasil (ALVES, 2009). É preciso o desenvolvimento de

políticas e técnicas de manejo adequadas que garantam a preservação das

espécies e sobrevivência da população local, uma vez que esta utiliza os recursos

naturais de forma predatória muitas vezes por não ter outro meio de sobrevivência.

Diante da riqueza biológica de plantas e animais e da heterogeneidade

existente nas Caatingas, era de se esperar que os seus recursos naturais fossem

utilizados para diversas finalidades. No entanto, verifica-se que, independente da

finalidade, a maioria dos recursos naturais das Caatingas com potencial econômico

vêm sendo explorados de maneira insustentável, ocasionando uma rápida

diminuição de suas populações naturais e colocando em risco a sobrevivência de

diversas espécies.

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Muitos dos recursos naturais presentes nas Caatingas poderiam ser melhor

aproveitados, garantindo às pessoas meios de sobrevivência. Poderiam ser

desenvolvidas técnicas para um melhor aproveitamento dos mesmos, somando-se

o saber tradicional sobre os recursos com o conhecimento científico, ampliando as

possibilidades de desenvolvimento local (ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002a).

Para que alcance a sustentabilidade socioambiental, o bioma Caatinga

precisa ser incluído nas prioridades políticas do país. É necessário o planejamento

e a implementação de políticas eficientes contra a degradação e exploração

predatória dos recursos naturais, através do envolvimento da academia, dos

técnicos e analistas dos órgãos ambientais, dos ambientalistas, empresários e

principalmente da população local.

Para Drumond et al. (2003, p. 339):

a Caatinga necessita, além de estratégias específicas para problemas específicos, de um planejamento estratégico permanente e dinâmico. O que se pretende com o planejamento estratégico é que o meio ambiente, em geral, e a vegetação da caatinga, em particular, sejam parte central das políticas públicas e sejam incorporados como um tema central nas decisões e ações dos diversos setores da economia e segmentos da sociedade. Para tal, é preciso atuar tanto no campo especificamente ambiental quanto no campo das demais políticas setoriais do país, seja no nível nacional, regional ou local.

Além disso, é preciso a intensificação de pesquisas voltadas para as

características fisiológicas das espécies, distribuição e amplitude das populações

naturais, impactos das atuais técnicas extrativistas e desenvolvimento de técnicas

que garantam a sustentabilidade das diversas espécies; além da realização de

reflorestamento, contemplando principalmente aquelas espécies que foram

bastante exploradas e estão com suas populações reduzidas na natureza.

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5 O PAPEL DO ESTADO NO GERENCIAMENTO DA PROTEÇÃO E USO DAS CAATINGAS

O Estado consiste em um ente abstrato, legítimo, soberano e necessário,

fruto do pacto social estabelecido entre os homens, com o intuito de promover a

ordem nas relações sociais e a busca do bem comum, fazendo com que o

interesse coletivo prevaleça sobre o interesse individual (KANAANE et al., 2010).

No Brasil, o Estado estrutura-se em três níveis de unidades territoriais: o

próprio país, onde a gestão é de competência da União; os estados, responsáveis

por áreas menores e com competência mais restrita; e os municípios, cuja

competência se dá sobre a menor unidade territorial, o próprio município (JORGE,

2004).

A institucionalização política e administrativa da proteção da natureza no

Brasil se processou de forma lenta e gradual, consolidando-se somente na primeira

metade do século XX, devido a uma série de fatos e circunstâncias, como o

fortalecimento e aparelhamento do Estado, a participação e influência de diferentes

segmentos da sociedade e o contexto internacional (MEDEIROS; IRVING; GARAY,

2004). Segundo os autores,

[...] durante os seus mais de 500 anos de existência, o país passou por diferentes formas de administração política – colônia portuguesa entre os séculos XVI e XVIII, um curto Império monárquico do século XVII ao XIX e, finalmente, República Federativa a partir do final do século XIX - experimentando diversas estratégias de apropriação e gestão dos seus recursos renováveis (MEDEIROS; IRVING; GARAY, 2004, p. 84).

Em 1981, foi instituída a Política Nacional do Meio Ambiente, através da lei

n° 6938 de 31 de agosto de 1981, incluindo as florestas no conceito amplo de

recursos ambientais. Para Kengen (2001), essa norma legal tornou-se, na década

de 1980, o principal instrumento de gestão ambiental no Brasil, definindo o papel

do Poder Público e atribuindo novas responsabilidades ao setor privado quanto à

proteção do meio ambiente.

A importância social coletiva dos recursos ambientais foi instituída

posteriormente na Constituição Federal de 1988, em seu Art. 225 estabeleceu que:

[...] todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-

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lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988).

Para assegurar a efetividade desse direito foram delegadas ao Poder

Público, conforme § 1º do Art. 225 da referida Constituição, ações como: 1) a

preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais; 2) a provisão do

manejo ecológico das espécies e ecossistemas; 3) a proteção da fauna e flora,

vedando, na forma de lei, práticas que coloquem em risco sua função ecológica e

provoquem a extinção de espécies; dentre outras. Os artigos 23 e 24 dessa

Constituição estabelecem ainda, como competências da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios, a proteção ao meio ambiente, a preservação das

florestas, da fauna e da flora; bem como confere a competência a estes para

legislar sobre meio ambiente (BRASIL, 1988).

O exercício da competência comum, previsto no Art. 23 da Constituição

Federal, foi regulamentado pela lei complementar nº 140, de 08 de dezembro de

2011, que disciplinou a repartição das atribuições e as ações de cooperação entre

a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

Entretanto, segundo Machado (2012), áreas como educação ambiental,

definição dos espaços territoriais protegidos e controle do risco, permaneceram

com a competência comum idêntica à estabelecida antes da elaboração da lei;

além disso, com relação à sobreposição de atuação entre os entes federativos, a

lei complementar não consegue, por ela mesma, evitar essa sobreposição, isto é, a

duplicidade ou até a intervenção tríplice.

Assim, o Estado, seja ele representado pela União, Estados ou Municípios, é

responsável pelo planejamento do uso adequado dos recursos ambientais e pela

preservação do meio ambiente, inclusive do bioma Caatinga. Ele deve investir em

políticas e ações que visem a restauração dos processos ecológicos intrínsecos a

esse bioma e que se encontram bastante ameaçados e não contribuir com a

degradação através da autorização crescente do desmatamento autorizado.

No que diz respeito ao papel do Estado, Loureiro (2003, p. 110-111) afirma

que:

a razão de ser do Estado é a de normatizador e promotor de iniciativas e políticas públicas que conduzam a uma crescente autonomização dos atores individuais e coletivos na sociedade civil, de modo a que tenham condições de definir a direção política, econômica e cultural do país (exercer o denominado controle social

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democrático) e garantir a igualdade no acesso aos bens sociais e universalização das atividades públicas.

Na área florestal, Silva (2001) estabelece seis funções típicas de Estado:

realização de macro planejamento da proteção e utilização dos recursos florestais;

administração das áreas florestais públicas; prestação de assistência técnica à

clientela florestal; promoção de fomento da atividade florestal; realização de

pesquisa florestal; e monitoramento, controle e fiscalização da cobertura florestal

dos proprietários privados.

Para Rocha e Silva (2009), essas funções inerentes à área florestal estão

inter-relacionadas às funções de Estado no controle das atividades econômicas,

como tributação, regulamentação e incentivos; no controle social, como pobreza,

desigualdade e distribuição da renda; e no estabelecimento de direitos e deveres

do cidadão, como direito do privado e da coletividade, segurança etc.

Portanto, é papel do Estado gerenciar, juntamente com a sociedade, não só

as florestas, mas todos os recursos ambientais existentes nas Caatingas, em

virtude da indissociável relação Estado–indivíduo; buscando sempre o interesse

coletivo em detrimento do interesse individual e a sustentabilidade nas suas

diversas dimensões.

Conforme Kanaane et al. (2010, p. 36), o Estado, não tendo fim em si

mesmo:

possui grandes responsabilidades quanto a satisfazer as necessidades dos integrantes das sociedades sob sua proteção, e precisa de um poder operativo, para fazer, realizar os projetos sociais. Para completar e alcançar essa missão, por delegação do Estado, surgem as organizações.

Meirelles (1990) divide as organizações em: entidades políticas e

administrativas e órgãos públicos. As entidades políticas e administrativas

correspondem às entidades estatais, entidades autárquicas, entidades fundacionais

e entidades paraestatais (empresas públicas, sociedades de economia mista e

serviços sociais). Os órgãos públicos correspondem aos centros de competência,

instituídos para o desempenho das funções estatais através dos seus agentes.

Consistem em unidades de ação que possuem atribuições específicas na

organização estatal, sendo suas ações indelegáveis a outros segmentos pois

tratam-se de ações exclusivas do Estado.

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Nesse contexto, surgem os órgãos ambientais, integrantes do Sistema

Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), responsáveis pela proteção e melhoria da

qualidade ambiental. Um desses órgãos é a Agência Estadual de Meio Ambiente

(CPRH), órgão ambiental do Estado de Pernambuco.

A CPRH possui um importante papel na gestão ambiental das Caatingas

pernambucanas, pois é o órgão responsável pela “execução de programas,

projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a

degradação ambiental”, conforme estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente

(BRASIL, 1981).

Entende-se por gestão ambiental “o ato de gerir o ambiente, isto é, o ato de

administrar, dirigir ou reger as partes constitutivas do meio ambiente” (PHILIPPI

JR.; BRUNA, 2004, p. 700). Para esses autores, gestão ambiental é também uma

questão de princípio, que emana do verdadeiro desenvolvimento sustentável,

devendo sempre levar em conta os valores não tangíveis (éticos, estéticos,

culturais, recreativos etc.), valores ecológicos e valores econômicos.

Na gestão dos recursos ambientais das Caatingas, o Estado deve observar

além desses valores, os princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,

publicidade e eficiência, atendendo a Constituição Federal, visando o

desenvolvimento sustentável nesse bioma.

A Política Nacional do Meio Ambiente estabeleceu treze instrumentos que

podem ser utilizados na gestão ambiental, um deles é o licenciamento ambiental.

No Art. 10, esta lei determina que:

a construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental (BRASIL, 1981).

Para Fatorelli e Mertens (2010), o licenciamento ambiental consiste em uma

ferramenta importante para a integração de políticas ambientais e produtivas

setoriais, embora não venha sendo utilizado de acordo com o seu propósito

original.

Uma das autorizações referentes ao processo de licenciamento ambiental é

a Autorização de Supressão de Vegetação (ASV), objeto de análise desta pesquisa

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e o principal órgão responsável pela emissão desse tipo de autorização no Estado

de Pernambuco é a CPRH.

De acordo com o Art. 26 da lei n° 12.651/2012, que institui o “novo código

florestal”, a supressão de vegetação nativa para uso alternativo do solo dependerá

de prévia autorização do órgão estadual competente do SISNAMA. Ainda de

acordo com o Art. 26 da referida lei, em seu § 4º, o requerimento de autorização de

supressão deverá conter, no mínimo, as seguintes informações:

I - a localização do imóvel, das Áreas de Preservação Permanente, da Reserva Legal e das áreas de uso restrito, por coordenada geográfica, com pelo menos um ponto de amarração do perímetro do imóvel; II - a reposição ou compensação florestal, nos termos do § 4o do art. 33; III - a utilização efetiva e sustentável das áreas já convertidas; IV - o uso alternativo da área a ser desmatada (BRASIL, 2012).

Conforme o Art. 44, da Instrução Normativa CPRH nº 007/2006, que

disciplina os procedimentos da CPRH quanto à autorização para supressão de

vegetação e outras ações no Estado de Pernambuco, para a supressão de

vegetação para o uso alternativo do solo é necessário requerer à CPRH

autorização, declarando a finalidade do pedido, por meio de Requerimento Padrão

de Atividade Florestal (Anexo C), apresentando ainda documentação específica

(ver apêndice A). Conforme o Art. 41 da Instrução supracitada, “entende-se por

Uso Alternativo do Solo qualquer alteração e/ou supressão da cobertura vegetal,

visando à implantação de empreendimentos e/ou atividades, públicos e privados”

(CPRH, 2006).

Após análise dos procedimentos e dos processos referentes à autorização

de supressão de vegetação no bioma Caatinga, verificou-se que, de modo geral,

com exceção dos empreendimentos sujeitos a Estudos de Impacto Ambiental (EIA)

ou Relatórios Ambientais Simplificados (RAS), para fins de licenciamento não são

exigidos estudos faunísticos e florísticos das áreas a serem desmatadas, nem

estudos específicos referentes ao meio antrópico. São analisados nestes

processos apenas inventários florestais, cujo foco são os indivíduos

arbustivos/arbóreos com geração de material lenhoso.

A situação é ainda mais grave, uma vez que, de acordo com a Instrução

Normativa 007/2006 da CPRH, em seu Art. 45, inciso I, para áreas requeridas até

vinte hectares, não é necessário nem sequer a apresentação de inventário florestal,

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apenas a entrega de um Roteiro de Caracterização Florestal (Anexo D), indicando

o rendimento lenhoso da área a ser desmatada.

Embora, de acordo com o artigo 45 da referida Instrução, em seu inciso III:

Para áreas requeridas superiores a 100 (cem) hectares, bem como para áreas situadas em Unidades de Conservação Estadual de Uso Sustentável, assim definidas pela Lei Federal n° 9.985/00 deverá ser apresentado Inventário Florestal e Estudo Ambiental adequado, a ser definido pela CPRH. Parágrafo único – Poderá ser exigida a apresentação de Estudo Ambiental para a supressão de vegetação em áreas requeridas menores de 100 (cem) hectares, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental (CPRH, 2006, grifo nosso).

Apesar da legislação possibilitar a solicitação de Estudo Ambiental para

áreas menores que 100 hectares, verificou-se que, na maioria dos processos, não

foram solicitados estudos mais específicos, contemplando os meios físico e

antrópico, além de levantamentos faunísticos e florísticos incluindo o estrato

herbáceo. Outro fator agravante, principalmente para a Caatinga, é a ausência de

sazonalidade nos estudos florísticos e faunísticos, com a realização de campanhas

apenas no período seco.

Considerando a importância ecológica do componente herbáceo das

Caatingas, através da: a) contribuição para a manutenção da flora lenhosa local,

pela facilitação da germinação das espécies em virtude da manutenção da

temperatura e umidade do solo; b) proteção do solo contra processos erosivos; c)

riqueza de espécies, sendo mais rico que o componente lenhoso; d) ocorrência de

grande parte das suas espécies em períodos específicos do ano (ARAÚJO;

FERRAZ, 2003; SILVA; ARAÚJO; FERRAZ, 2009; REIS et al., 2006; SIQUEIRA-

FILHO et al. 2012); além da riqueza e importância da fauna; conclui-se que é

indispensável, durante o processo de autorização de supressão de vegetação, o

diagnóstico da fauna e das diversas formas de vida que compõe a flora, sendo

necessário também a contemplação da sazonalidade nos levantamentos a fim de

identificar a real riqueza biológica das áreas de supressão e outros aspectos.

Segundo Barbosa et al. (2005), a grande maioria das ações de conservação

desenvolvidas no bioma Caatinga enfrenta o grande problema do desconhecimento

de muitos grupos biológicos presentes no bioma. Desta forma, os processos de

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autorização de supressão gerenciados pelo Estado poderiam contribuir ao

conhecimento da biodiversidade das Caatingas.

Além dos problemas de gestão apresentados, a falta de legislação

específica para a Caatinga é um fator que vem contribuindo para a degradação do

bioma, no que diz respeito à supressão de vegetação.

Embora encontre-se em tramitação na Assembleia Legislativa de

Pernambuco, desde 2013, o Projeto de lei nº 1712/2013 visando à utilização e

proteção do bioma Caatinga. E, a nível federal, a Proposta de Emenda à

Constituição - PEC nº 504 de 2010, que tramita no Congresso Nacional para ser

votada, com o objetivo de alterar o § 4º do Art. 225 da Constituição Federal,

visando incluir o Cerrado e a Caatinga entre os biomas considerados Patrimônio

Nacional.

De acordo com Câmara (2013, p. 125):

apesar dos avanços em direção aos critérios de reforma e modernização do Estado como descentralização, participação, democratização, capacitação gerencial, eficiência e eficácia, a relação da sociedade, do Governo e do setor privado com a natureza ainda reflete uma visão colonial utilitarista, imediatista e de uso insustentável dos recursos naturais, aliada a problemas de execução das normas e regras, causando degradação ambiental e comprometendo o desenvolvimento sustentável.

É incontestável a necessidade de intervenção do Estado na melhoria do

gerenciamento da proteção e uso das Caatingas pernambucanas. Uma dessas

intervenções é quanto ao desmatamento autorizado pelo próprio Estado, que vêm

causando diversos impactos socioambientais, afetando a sustentabilidade do

desenvolvimento ocorrido nessa região. A importância biológica dos ecossistemas

presentes nesse bioma e os altos níveis de degradação deixam claro que essa

intervenção é imprescindível e urgente.

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6 DESMATAMENTO AUTORIZADO PELO ESTADO NAS CAATINGAS PERNAMBUCANAS

6.1 ÁREA DE SUPRESSÃO AUTORIZADA PELO ESTADO DE PERNAMBUCO

NO PERÍODO DE 2010 A 2014 O Desmatamento é uma intervenção que visa a supressão total da

vegetação nativa de determinada área para fins de utilização do solo, podendo

ocorrer em qualquer bioma, seja ele de floresta ou composto por outros tipos de

vegetação (FILHO; D’ÁVILA, 2008). Para Santos (2010), o desmatamento está

relacionado com o corte raso de feições naturais em qualquer fitofisionomia, seja

florestas, campos ou arbustos, mesmo em regeneração, diferentemente do

desflorestamento que refere-se apenas ao corte raso de feições florestais naturais.

Independentemente do tipo de vegetação desmatada e do seu estágio de

regeneração, o desmatamento causa impactos nos ecossistemas, sobre os

componentes bióticos, abióticos e sobre suas relações.

Ao analisar o gráfico abaixo, elaborado a partir do levantamento das

autorizações de supressão emitidas pela CPRH, durante o período de 2010 a 2014,

verifica-se que o bioma mais atingido pelo desmatamento autorizado foi a

Caatinga. Foram autorizados pelo Estado, nesse período, 6.308,91 ha de

supressão nesse bioma, através da emissão de 83 autorizações e 837,32 ha no

bioma Mata Atlântica, através da emissão de 84 autorizações.

Figura 2 – Áreas de supressão autorizadas pelo Estado, nos biomas Caatinga e Mata

Atlântica, em Pernambuco, durante o período de 2010 a 2014

Fonte: Elaboração própria

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De forma geral, os tipos de empreendimentos implantados nas Caatingas

demandam áreas maiores, como é o caso da agricultura e da pastagem. Além

disso, o Agreste e o Sertão pernambucano estão recebendo grandes obras, como

a implantação do Projeto de Integração do São Francisco, da Ferrovia

Transnordestina, de diversos Parques Eólicos e dos mais variados projetos de

irrigação. Somando-se a esses fatores, acredita-se que a falta de uma legislação

específica para o bioma Caatinga, que disponha sobre sua utilização e proteção, e

deficiência na gestão por parte do Estado vêm contribuindo para o crescimento do

desmatamento nessa região.

Embora diversos estudos apontem o desmatamento como uma das causas

para a desertificação nas Caatingas (CONTI, 2002; FERNANDES; MEDEIROS,

2009; LIMA; CAVALCANTE; MARIN, 2011; RAMALHO, 2013) e destaquem a

importância do bioma em termos de diversidade biológica e endemismo (CRUZ et

al., 2005; LEAL et al., 2005; LEAL; TABARELLI; SILVA, 2003; LOIOLA; ROQUE;

OLIVEIRA, 2012; MELO; PINTO; TABARELLI, 2010; SILVA et al., 2003b;

SIQUEIRA-FILHO, 2012a), o desmatamento autorizado pelo Estado nesse bioma

aumentou consideravelmente nos últimos dois anos. Dessa forma, visando

conhecer como o desmatamento autorizado pelo Estado vem ocorrendo no bioma

Caatinga, suas principais causas e impactos socioambientais, foram analisadas as

autorizações de supressão de vegetação emitidas nos anos de 2013 e 2014 pela

CPRH.

A área total de supressão autorizada nas Caatingas, durante o período

estudado (2013-2014), foi de 5.929,43 ha (94% do total autorizado de 2010-2014),

sendo 1.158,47 ha autorizados no ano de 2013 e 4.770,96 ha em 2014. O volume

total de material lenhoso contido nestas áreas foi estimado em 620.977,93 estéreos

(st).

Os municípios que sofreram as maiores pressões em seus fragmentos de

vegetação, em virtude do desmatamento autorizado, foram: Petrolina, Ibimirim,

Tacaratu, Arcoverde e Paranatama, como pode ser observado no mapa 2.

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Apesar de uma única autorização emitida em 2013 ter autorizado a

supressão de 938 ha e uma emitida em 2014 a de 3.683,22 ha, a soma das demais

áreas autorizadas e o número de autorizações emitidas, em ambos os anos, ainda

foi superior à média dos três anos anteriores, que correspondeu a

aproximadamente 126,49 ha de supressão e 10 autorizações emitidas (Figura 3),

indicando o quanto o desmatamento cresceu no bioma nos últimos dois anos.

Figura 3 – Quantitativo de áreas de supressão autorizadas e número de autorizações

emitidas pelo Estado, nas Caatingas pernambucanas, durante o período de 2010 a 2014

Fonte: Elaboração própria

Em uma das autorizações de supressão não foi possível identificar o

percentual autorizado para cada bioma. De acordo com informações do relatório de

vistoria, a área do empreendimento encontra-se inserida em um “ecótono

vegetacional entre os ecossistemas Caatinga do tipo Hipoxerofítica e resquícios de

fragmentos florestais denominados de Floresta Estacional Semidecidual Montana

(638 - 774m alt.), fitofisionomia do bioma Mata Atlântica, mais conhecida como

Brejo de Altitude”.

Nessa ASV foi autorizada a supressão de 111 ha, sendo 46,6 ha em APP,

para implantação da barragem Brejão, nos municípios de Brejão e Terezinha. A

vegetação autorizada a ser suprimida correspondia a um pequeno fragmento de

Caatinga com 5,95 ha, bem como indivíduos isolados de espécies nativas dos

biomas Mata Atlântica e Caatinga, além de espécies exóticas, distribuídas ao longo

dos 111 ha da bacia hidráulica. Com relação à esta autorização, foi considerada

nesta pesquisa a área do fragmento de Caatinga de 5,95 ha.

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Do total autorizado, menos de 7% estavam em Áreas de Preservação

Permanentes (APPs) conforme pode ser visualizado na Figura 4. Segundo a lei nº

12.651/2012, em seu artigo 3º, inciso II, entende-se por APP:

[...] área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (BRASIL, 2012).

O percentual reduzido do desmatamento em APP já pode ser reflexo das

mudanças do “novo código florestal” (lei nº 12.651/2012), que tornou o bioma

Caatinga bastante vulnerável quanto à proteção das APPs dos seus cursos d’água.

Essa lei trouxe um ponto bastante controverso ao demarcar a faixa de APP à partir

da borda da calha do leito regular do curso d’água, trazendo implicações quanto à

sua aplicação para os cursos d’água da Caatinga, que são predominantemente e

naturalmente intermitentes.

Figura 4 – Desmatamento autorizado pelo Estado nas Caatingas pernambucanas e

quantitativo em APPs, no período de 2013 e 2014

Fonte: Elaboração Própria

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6.2 EMPREENDIMENTOS E ATIVIDADES RESPONSÁVEIS PELOS MAIORES QUANTITATIVOS DE SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO

Para análise dos empreendimentos e atividades responsáveis pelas

supressões de vegetação autorizadas, foi utilizada a Classificação Nacional de

Atividades Econômicas (CNAE) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE).

Durante o período estudado, foram emitidas autorizações para cinco tipos de

atividades econômicas: Agricultura, Pecuária, Produção Florestal, Pesca e

Aquicultura; Água, Esgoto, Atividades de Gestão de Resíduos e Descontaminação;

Eletricidade e Gás; Indústrias Extrativas e Construção (Tabela 1).

Tabela 1 – Áreas de supressão autorizadas e números de autorizações emitidas (Nº de ASVs), quanto ao tipo de atividade econômica, durante o período de 2013 a 2014, nas

Caatingas Pernambucanas

Atividade Econômica

Área Autorizada (ha)

N° de ASVs

Agricultura, Pecuária, Produção Florestal,

Pesca e Aquicultura

4.183,34 (70,55%)

3

Água, Esgoto, Atividades de Gestão de

Resíduos e Descontaminação

1.015,02 (17,12%)

8

Eletricidade e Gás

549,54 (9,27%)

28

Indústrias Extrativas

106,33 (1,79%)

7

Construção

75,20 (1,27%)

6

Total

5.929,43 (100%)

52

Fonte: Elaboração Própria

Verificou-se que a atividade econômica que demandou maior área de

supressão de vegetação foi a Agricultura, Pecuária, Produção Florestal, Pesca e

Aquicultura, totalizando 70,55 % da supressão total, representada por agricultura

(3.683,22 ha), pastagem (500 ha) e carvoejamento (0,12 ha).

A segunda maior extensão autorizada foi para atividade Água, Esgoto,

Atividades de Gestão de Resíduos e Descontaminação (1.015,02 ha). Foram

enquadrados nessa categoria: sistemas de abastecimento de água (946,26 ha),

sistemas de tratamento de água e esgoto (56,75 ha) e aterro sanitário (12,01 ha).

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A atividade Eletricidade e Gás motivou um total de 549,54 ha de supressão

de vegetação. Dentre os empreendimentos dessa atividade destacaram-se os

parques eólicos, responsáveis por mais de 99% do total de supressão dessa

atividade.

As Indústrias Extrativas demandaram no total 106,33 ha de supressão de

vegetação para extração de calcário e granito. A atividade econômica denominada

Construção obteve autorização para suprimir 75,20 ha no total, sendo enquadrados

nessa categoria: barragem (5,95 ha), bota fora (10,51 ha) e loteamentos

residenciais (58,74 ha).

Com base nos resultados apresentados, verifica-se que a pecuária e

principalmente a agricultura, atividades responsáveis pela degradação histórica das

Caatingas, continuam desmatando áreas com vegetação nativa para ampliação de

suas atividades, embora hoje de forma “legal”. Isto foi observado também por

Bassoi et al. (2010), que chamaram atenção para o fato da rápida extensão das

áreas com culturas irrigadas sobre a vegetação nativa na região do semiárido.

Outro ponto que se destacou foi a grande supressão para a geração de energia

eólica no Estado.

A seguir serão descritos os empreendimentos que demandaram o maior

quantitativo de áreas de supressão de vegetação nativa de Caatinga para a

implantação de suas atividades.

6.2.1 Perímetro Irrigado Pontal Sul

O principal responsável pela elevada supressão de vegetação nas Caatingas

pernambucanas, durante o período estudado, foi o Perímetro Irrigado Pontal Sul,

que obteve autorização para suprimir 3.683,22 ha de vegetação, gerando um

volume de material lenhoso de 545.552,67 st, na área rural do Município de

Petrolina. Juntamente com o Pontal Norte faz parte do Projeto Pontal, um perímetro

irrigado com área de 10.400 ha, situado no extremo oeste do Estado de

Pernambuco, conforme informações obtidas no Estudo de Impacto Ambiental (EIA)

desse empreendimento, datado de 1993.

Além da autorização de supressão dos 3.683,22 ha para implantação do

Pontal Sul, em 2015, foi emitida uma autorização para a supressão de mais 226,30

ha para implantação de dois canais de irrigação do Projeto Pontal Norte.

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64

Segundo o EIA, foram identificadas na área do projeto várias formas de

vegetação. As principais fitofisionomias identificadas foram: 1) caatinga

hiperxerófila arbustiva raleada; 2) vegetação de carrasco e bosques de facheiros;

3) caatinga hiperxerófila arbórea/arbustiva raleada; 4) caatinga hiperxerófila

arbustiva/arbórea densa; 5) veredas, vegetação ciliar de carnaúbas e; 6) áreas de

uso antrópico (áreas irrigadas e pastagens). Quanto ao levantamento da flora não

foi realizado estudos na própria área do projeto, o EIA apresentou uma lista de

espécies referentes a um levantamento realizado na área do Projeto Nilo Coelho,

vizinha ao Projeto Pontal e com características semelhantes. Quanto à fauna foram

identificadas diversas espécies, inclusive endêmicas das Caatingas.

De acordo com o relatório de vistoria, a flora existente na área de supressão

do Pontal Sul foi caracterizada como savana estépica arborizada e, segundo o

inventário florestal apresentado pelo empreendedor, foram catalogadas 32

espécies, pertencentes a 15 famílias botânicas. Foi observado pelos técnicos,

durante a vistoria, a predominância das espécies arbustivas/arbóreas: catingueira

(Caesalpinia pyramidalis Tul.), imburana de cambão (Commiphora leptophloeos

Mart.), jurema preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.) e faveleira (Cnidosculus

phyllacanthus (Mart.) Pax. et K. Hoffm.).

De acordo com o inventário florestal do Pontal Norte, a riqueza da flora desta

área foi representada também por 32 espécies, pertencentes a 17 famílias. Das 32

espécies identificadas, 29 pertenciam ao estrato arbóreo/arbustivo, e 3 eram

cactáceas, classificadas no estudo como herbáceas, demonstrando a negligência

com relação às outras formas de vida durante o processo de autorização de

supressão de vegetação. O aspecto da vegetação presente na área de supressão

desse empreendimento pode ser observado na figura abaixo (Figura 5).

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Figura 5 – Aspecto das áreas de supressão autorizadas, referentes ao Projeto Pontal

Fonte: CPRH. Inventário Florestal do Pontal Norte e Relatório de vistoria do Pontal Sul

O Projeto de Irrigação Pontal tem como objetivo principal o desenvolvimento

hidro-agrícola da região semiárida de Pernambuco e foi concebido, inicialmente,

para o aproveitamento de manchas de solos aptos para agricultura irrigada,

segundo o inventário florestal do Pontal Norte.

De acordo com Siqueira-Filho (2012), a década de 1970 foi marcada pela

instalação de perímetros irrigados por toda a Bacia do São Francisco, sendo o polo

Petrolina-Juazeiro o principal disseminador desse modelo agrícola. A falta de

planejamento e a substituição brutal da vegetação nativa da Caatinga provocaram

um surto de crescimento econômico, mas também trouxeram sérias consequências

ambientais que afetaram inclusive a viabilidade da própria atividade na região.

Um exemplo disto foi o declínio da produção de tomate na região deste pólo,

que teve como uma das causas a ocorrência de pragas e doenças, como a traça

do tomateiro, o tospovírus e o germivírus transmitidos pela mosca branca

(GALVÃO, 2010). Vale ressaltar que um dos motivos do aumento de determinadas

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pragas foi a ausência de inimigos naturais, eliminados pelos agrotóxicos, e também

pela perda de áreas com vegetação nativa.

Todas as fábricas de produção de derivados de tomate na região fecharam

as portas, migrando para novas áreas no Centro-Oeste do país, deixando um rastro

de destruição e terras abandonadas nas áreas irrigadas (SIQUEIRA-FILHO, 2012).

Além disso, nas culturas irrigadas do semiárido, pouca atenção foi dada às

práticas de manejo do solo e da água e suas consequências ao longo dos anos,

como o processo de salinização dos solos (BASSOI et al., 2010).

De acordo com Dalmolin e Caten (2012, p. 189):

a generalização da agricultura irrigada como a única solução possível para a melhoria da produção de alimentos na região do semiárido não representa uma estratégia plausível de ser posta em prática para toda a região. A irrigação constante pode conduzir a salinização e compactação.

Para Siqueira-Filho (2012), o cenário atual dos perímetros irrigados no Vale

do São Francisco não permite muita comemoração, pois tornou-se difícil equilibrar

a equação custo-benefício e muitas quebras de safra decorrem de paradoxos como

a aplicação de altíssima tecnologia por pessoas de baixíssimo nível de instrução.

Para Rodrigues (2012, p. 156):

[...] a escolha das estratégias de crescimento agrícola deve ser realizada com a máxima responsabilidade social e ambiental. [...] O desenvolvimento de uma agricultura baseada em latifúndios irrigando grandes monoculturas, com certeza, não é a melhor estratégia. A alteração da paisagem rural sob a lógica latifundiária pode provocar uma migração de parte da população rural, aumentando a pressão sobre as áreas naturais que ainda restam por serem geralmente menos produtivas e mais sensíveis à desertificação. Tal ciclo [...] acabará fatalmente modificando as paisagens urbanas.

Dessa forma, o Estado não pode continuar reproduzindo um modelo de

expansão da agricultura irrigada em detrimento do desmatamento das Caatingas,

que já mostrou, no passado, o seu insucesso devido aos grandes problemas

ambientais gerados.

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6.2.2 Sistema Adutor do Agreste Pernambuco

O empreendimento que demandou a segunda maior área de supressão

autorizada foi o Sistema Adutor do Agreste Pernambuco. De acordo com o EIA,

consiste em um empreendimento de infraestrutura hídrica, composto por um

sistema de adutoras destinado à captação de água da futura barragem de Ipojuca,

no Ramal do Agreste, para a região do Agreste de Pernambuco.

Foi autorizado para esse empreendimento a supressão da vegetação

contida ao longo dos 469 km de extensão, por uma faixa de domínio de 20 m de

largura, para a implantação da 1º etapa e 1º trecho da 2º etapa da Adutora do

Agreste Pernambuco, interceptando os municípios de Arcoverde, Belo Jardim,

Poção, Pesqueira, Alagoinha, Venturosa, Pedra, Buíque, Tupanatinga, Itaíba,

Águas Belas, Tacaimbó, São Caetano, Caruaru e Toritama, totalizando uma área de

938 ha, contendo um volume de supressão estimado em 13.789,08 st de material

lenhoso, conforme consta na autorização de supressão.

A partir da análise da autorização de supressão deste empreendimento,

verificou-se que nem sempre as áreas de supressão identificadas nas autorizações

equivalem a áreas de fragmentos de vegetação, consistindo em uma falha grave na

gestão dos recursos ambientais. A identificação da área de supressão sem

considerar a heterogeneidade das áreas e o estado de degradação tem gerado

dados incompletos e superestimados de desmatamento autorizado no Estado.

De acordo com Micol (2010), em todos os campos da gestão é fundamental

dispor de uma boa base de informação. Um dos grandes princípios da boa

governança, na gestão pública, consiste na disponibilidade de informações de

qualidade e a transparência destas informações, não somente aos tomadores de

decisão, mas também à sociedade em geral. Tais princípios estão previstos na

Constituição Federal Brasileira, que determina em seus artigos 15 e 37 a

publicidade da informação na administração pública e na lei nº 10.650/2003 que

dispõe sobre o acesso público aos dados e informações existentes nos órgãos e

entidades integrantes do SISNAMA (MICOL, 2010).

De acordo com o relatório de vistoria, a área de supressão encontrava-se

bastante descaracterizada e antropizada, como pode ser observado na figura 6, e

está situada em uma zona de transição entre o agreste e o sertão. Dentre as

espécies arbóreas nativas da Caatinga encontradas na área destacam-se: jurema

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preta (Mimosa hostilis Benth.), com abundância relativa de 50%; jurema branca

(Mimosa artemisiana Heringer & Paula); mulungu (Erythrina mulungu Mart.); angico

de caroço (Anadenanthera macrocarpa Benth.); aroeira (Myracrodruon urundeuva

Allemão); baraúna (Schinopsis brasiliensis Engl.); craibeira (Tabebuia aurea (Silva

Manso) Benth.); imburana (Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.); juazeiro

(Ziziphus joazeiro Mart.); maniçoba (Manihot caerulescens Pohl); pereiro

(Aspidosperma pyrifolium Mart.); pinhão (Jatropha curcas L.) e umbuzeiro

(Spondias tuberosa Arruda). Foram encontradas também na área espécies

exóticas, sendo a algaroba (Prosopis juliflora (Sw.) DC.) a espécie dominante.

Espécies pertencentes ao estrato herbáceo não foram apontadas no

relatório e não foi possível identificar os pontos de amostragem a fim de analisar a

representatividade do levantamento para a extensa área de supressão, que

provavelmente abrangia uma grande variedade de fitofisionomias do bioma.

Figura 6 – Aspecto da vegetação em um dos trechos da área de supressão autorizada

para implantação do Sistema Adutor do Agreste Pernambuco

Fonte: Relatório de vistoria, CPRH

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69

6.2.3 Parques Eólicos

Outra atividade que se destacou, quanto ao percentual de supressão de

vegetação nativa, foi a energia eólica. Na figura 7 observa-se as torres do Parque

Eólico Fontes dos Ventos em meio à Caatinga. Apesar da geração de energia

eólica ser considerada uma atividade limpa, renovável e de baixo potencial

poluidor, em 2013 ela demandou para a sua implantação no Estado de

Pernambuco a segunda maior área de supressão de vegetação de Caatinga e em

2014 ficou em terceiro lugar.

Figura 7 – Parque Eólico Fontes dos Ventos, já implantado no Município de Tacaratu-PE

Fonte: Arquivos da CPRH

Foi autorizado para esta atividade um total de 545,27 ha de supressão de

vegetação nativa de Caatinga, visando a implantação de doze parques eólicos,

pertencentes aos três Complexos Eólicos (Serra das Vacas, Fontes dos Ventos e

Ventos de Santa Brígida); três linhas de transmissão para distribuição da energia

eólica e; um acesso externo a um dos parques (Figura 8) (ver Apêndice B).

Desse total, 389,15 ha estavam em Áreas de Preservação Permanentes

(APPs), representando mais de 71% da área total autorizada. Aproximadamente

100% dessas áreas enquadraram-se como APP por possuírem vegetação natural

situada em altitude superior a 750 metros, conforme Art. 9 da política florestal do

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Estado de Pernambuco. Entretanto, este artigo foi modificado recentemente,

aumentando a altura mínima para 1.100 metros, provavelmente para favorecer a

implantação da atividade nas Caatingas do Estado. Além dos Parques Eólicos

analisados neste trabalho, outros parques estão demandando áreas de supressão

no Estado, como o Ventos de São Clemente e o Ventos do Araripe, indicando a

forte pressão dessa atividade nas Caatingas pernambucanas e a urgente

necessidade de medidas de controle deste tipo de desenvolvimento insustentável.

Diversas matérias foram publicadas em jornais e sites criticando a forma

como esse tipo de energia vem se instalando no Estado, causando degradação das

Caatingas e de áreas de brejos de altitudes, que já encontram-se fortemente

ameaçadas.

Outros Estados do Nordeste vêm enfrentando problemas semelhantes com

relação à implantação da energia eólica em seus territórios. Meirelles (2011)

identificou em seu trabalho diversos danos socioambientais originados pelas usinas

eólicas nos campos de dunas do litoral do Ceará. O autor apontou que as eólicas

estão causando terraplenagem, fragmentação, desmatamento, compactação e

alteração na morfologia, topografia e fisionomia dos campos de dunas.

Calheiros (2012) chamou a atenção para a incompatibilidade dos parques

eólicos com a preservação de duas áreas de Caatingas no Estado da Bahia, a

região do Boqueirão da Onça e o Parque Estadual do Morro do Chapéu.

Figura 8 – Total do desmatamento autorizado, em hectares, para a implantação dos Complexos Eólicos: Serra das Vacas, Fontes dos Ventos e Ventos de Santa Brígida

Fonte: Elaboração própria

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Os municípios que tiveram as maiores pressões em seus fragmentos de

vegetação pela implantação dos parques eólicos foram: Paranatama, Caetés e

Tacaratu. Vale ressaltar que foram emitidas autorizações cuja extensão autorizada

para supressão abrangia mais de um município (ASVs dos Parques Eólicos Ventos

de Santa Brígida III, IV e VII, Serra das Vacas IV e para linha de transmissão

responsável pela distribuição da energia gerada no Parque Ventos de Santa

Brígida VII) (Quadro 1).

Para essas autorizações não foi informado o percentual de vegetação a ser

suprimido em cada município, consistindo em uma falha no licenciamento uma vez

que não permite o conhecimento do quantitativo de vegetação suprimida e das

características físicas das áreas em cada município. Esta falha foi observada em

outras autorizações de supressão emitidas pela CPRH, para obras de implantação

de barragens, adutoras, sistemas viários e linhas de transmissão.

Quadro 1 – Áreas de supressão autorizadas e seus respectivos municípios, para implantação de

parques eólicos e suas linhas de transmissão no estado de Pernambuco, nos anos de 2013 e 2014

Região de

Desenvolvimento

Municípios

Parques Eólicos/Linhas de Transmissão - LT

Número de ASVs emitidas

Área de

Supressão Autorizada (ha)

Sertão de Itaparica

Tacaratu

Fontes Dos Ventos

6

114,3

Agreste Meridional

Paranatama

Serra Das Vacas I, II, III e IV.

Ventos De Santa Brígida V e VI.

9

183,96

Caetés e Paranatama

Ventos de Santa Brígida IV e VII

3

123,08

Pedra e Paranatama

Ventos de Santa Brígida III

2

63,36

Caetés

Ventos de Santa Brígida I e II

3

48,43

Paranatama, Caetés,

Garanhuns e São João

LT Serra Das Vacas IV

1

8,7

Caetés, Paranatama, Jucati, Garanhuns e

São João

LT Ventos de Santa

Brígida VII

2

3,44

Total Geral

26

545,27

Fonte: Elaboração Própria

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O Complexo Eólico que demandou a maior área de supressão de vegetação

para a sua implantação foi o Ventos de Santa Brígida (386,08 ha), representando

mais de 70% da área total (545,27 ha). Esse Complexo é composto por sete

parques, totalizando 207,9 MW de energia. Cada parque possui onze

aerogeradores e a área total do Complexo equivale a 2.450,42 ha, está localizada

nos municípios de Caetés, Pedra e Paranatama e visa complementar o

fornecimento de energia para o Estado de Pernambuco, de acordo com

informações presentes no Relatório Ambiental Simplificado (RAS) do

empreendimento.

De acordo com o RAS, o empreendimento está inserido no Planalto da

Borborema em uma área com relevo suave a ondulado. A região encontra-se

inserida nos domínios das bacias hidrográficas do rio Ipanema e do grupo de

bacias de pequenos rios interiores, que possui como principais componentes os

riachos da Brava, do Limitão, Seco, do Exu, das Lajes e Baixo do Mocó, todos

apresentando regime intermitente. A vegetação é composta por Florestas

Subcaducifólica e Caducifólica, típicas de áreas de Agreste.

Foram identificadas nas áreas de supressão desse Complexo 43 espécies

da flora, pertencentes a 23 famílias. De acordo com o inventário florestal, foram

incluídas na amostragem todas as árvores que apresentavam diâmetro na altura do

peito (DAP) igual ou superior a 2,0 cm. As figuras 9 e 10 mostram a

heterogeneidade das áreas de supressão.

De acordo com Lacerda et al. (2007), o número de espécies

arbustivas/arbóreas inventariadas nas Caatingas variou de 5 a 96, de acordo com

levantamento literário realizado pelo autor, demonstrando que o número de

espécies encontradas na área do Complexo (43) foi bastante expressivo.

Verificou-se que o inventário florestal teve como principal objetivo o

levantamento de espécies arbustivas/arbóreas, para se chegar ao volume de

material lenhoso exigido pela CPRH. Além disso, foi realizada apenas uma

campanha de campo para o levantamento e obtenção dos dados primários, não

contemplando dessa forma a sazonalidade da região. Estes fatores subestimam a

real riqueza biológica da área, pois não contemplam outras formas de vida, como

por exemplo, as espécies do estrato herbáceo.

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Figura 9 – Aspecto da vegetação da área de supressão autorizada para a implantação do Complexo Eólico Ventos de Santa Brígida

Fonte: JGP Consultoria e Participações Ltda., 2003

Figura 10 – Aspecto da vegetação da área de supressão autorizada para a implantação do Complexo Eólico Ventos de Santa Brígida

Fonte: JGP Consultoria e Participações Ltda., 2003

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6.3 PRINCIPAIS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DO DESMATAMENTO AUTORIZADO PELO ESTADO NAS CAATINGAS PERNAMBUCANAS

As diversas áreas de Caatingas, objeto das supressões autorizadas,

consistem em ecossistemas, onde, além dos organismos se conectarem através

das relações de alimentação, formando as comunidades biológicas, interagem com

os componentes físicos ali presentes. Além disso, os diferentes ecossistemas

interagem entre eles de diversas formas, de acordo com o contexto urbano/rural

onde eles estão inseridos.

Para Odum (2004, p. 12), ecossistema, na ecologia, é:

a unidade funcional básica, uma vez que inclui tanto organismos (comunidades bióticas) como o ambiente abiótico, cada um deles influenciando as propriedades do outro, sendo ambos necessários para a conservação da vida tal como existe na Terra.

Partindo da definição de ecossistema, verificamos que os impactos oriundos

da supressão de vegetação autorizada pelo Estado não se restringem apenas à

flora suprimida, mas aos diversos componentes bióticos e abióticos associados à

mesma.

O desmatamento no bioma Caatinga ameaça toda a biodiversidade existente

na região, uma vez que, além de interferir nas condições físicas, afeta o

desenvolvimento e a manutenção de atividades ligadas ao social, econômico e

cultural. Ou seja, ocasiona impactos em outras áreas relacionadas direta ou

indiretamente à boa manutenção desse bioma (BRASILEIRO, 2009).

A seguir, são listados os principais impactos decorrentes da supressão de

vegetação nativa autorizada pelo Estado, identificados durante o período estudado.

Para Sánchez (2008, p. 32), impacto ambiental consiste na “alteração da

qualidade ambiental que resulta da modificação de processos naturais ou sociais

provocada por ação humana”.

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6.3.1 Redução na Cobertura Vegetal do Bioma e Alteração da Paisagem

O desmatamento autorizado pelo Estado trouxe uma redução na cobertura

vegetal do bioma Caatinga de 5.929,43 ha em apenas dois anos, de acordo com os

dados contidos nas autorizações de supressão de vegetação.

Vale ressaltar que, de acordo com os resultados preliminares do

monitoramento do INPE, realizado em 2013 e 2014, mesmo período do estudo,

dentre os estados inseridos no bioma, Pernambuco obteve o segundo maior índice

de desmatamento, como pode ser observado na figura 11. Esse percentual pode

ficar ainda maior, uma vez que a região de Petrolina, que obteve autorização para

suprimir 3.683,22 ha ainda não foi amostrada pelo INPE.

Figura 11 – Taxa de desmatamento da Caatinga por Estados do Nordeste, em

2013-2014

Fonte: Adaptado do INPE, 2015

Se consideramos que mais da metade do bioma localizado no Estado já foi

desmatado, essa redução na cobertura vegetal é bastante preocupante,

principalmente com relação à conservação dos recursos naturais existentes no

bioma e em sua área de influência.

Outro impacto bastante negativo relacionado à essa redução na cobertura

vegetal é a alteração de paisagens. Com a supressão de vegetação das Caatingas

e implantação dos mais diversos tipos de empreendimentos, vários cenários de

grande beleza acabam se perdendo. Como afirma Aziz Ab’ Sáber, as paisagens

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são “herança de processos fisiográficos e biológicos, e patrimônio coletivo dos

povos que historicamente as herdaram como território de atuação de suas

comunidades” (AB’SÁBER, 2003, p. 9) e infelizmente estão sendo perdidas por

conta do desmatamento autorizado no Estado.

6.3.2 Perda e Fragmentação de Habitat

Uma das consequências do desmatamento é a perda de habitat para as

diversas formas de vida existentes nos ecossistemas. O desmatamento autorizado

pelo Estado vem ocasionando não somente a perda de habitat para as espécies

das Caatingas, mas a intensificação do processo de fragmentação dos

remanescentes de Caatingas no Estado, que já se apresentam bastante

fragmentados. Esse processo de fragmentação foi observado nas áreas de

supressão dos parques eólicos, como pode ser observado nas figuras 12, 13 e14.

Figura 12 – Fragmentação em um remanescente de Caatinga, causada pelo desmatamento autorizado pelo Estado para a implantação do Parque Eólico Ventos de Santa Brígida VII

Fonte: Imagem do Google earth, de 22/12/2013. Acesso em 01/02/2016

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77 Figura 13 – Fragmentação de outro remanescente de Caatinga, causada pelo desmatamento

autorizado pelo Estado para a implantação do Parque Eólico Ventos de Santa Brígida VII

Fonte: Imagem do Google earth, de 22/12/2013. Acesso em 01/02/2016

Figura 14 – Fragmentação de um remanescente de Caatinga, causada pelo desmatamento autorizado pelo Estado para a implantação do Parque Eólico Serra Das Vacas III

Fonte: Imagem do Google earth, de 23/09/2013. Acesso em 01/02/2016

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Uma das seis diretrizes propostas por Tabarelli e Gascon (2005), para

auxiliar na formulação de políticas visando o manejo dos fragmentos para a

conservação da biodiversidade, é evitar a fragmentação das florestas contínuas

ainda existentes.

A fragmentação de habitats, um processo no qual um habitat contínuo é

dividido em fragmentos mais ou menos isolados (SHAFER, 1990), consiste em

“uma das mais importantes e difundidas consequências da atual dinâmica de uso

da terra pelo homem” (TABARELL; GASCON, 2005, p. 182). Para Cerqueira et al.

(2003), o processo global de fragmentação de habitats é, provavelmente, a

alteração mais profunda causada pelo homem ao meio ambiente.

A fragmentação, considerando a alteração de habitats, cria, em larga escala,

habitats ruins ou negativos para diversas espécies, implicando na restrição da

aptidão de certas espécies na área fragmentada. E, apesar do processo de

fragmentação não afetar todas as espécies da mesma forma, ele muda os

mesohabitats e microhabitats disponíveis, bem como todas as espécies, afetando

consequentemente todas as comunidades. Além disso, acredita-se que, mesmo

com a interrupção do desmatamento, vários efeitos continuam ocorrendo nos

fragmentos, causando modificações na qualidade do habitat (CERQUEIRA et al.,

2003).

Na maioria das vezes, a fragmentação leva as áreas remanescentes a um

processo de degradação em longo prazo, tornando-as mais susceptíveis à

exploração seletiva pelo homem, ao fogo, à colonização por espécies invasoras,

além de reduzir a capacidade reprodutiva e de estabelecimento de algumas

espécies, levando à perda da biodiversidade (LORENTZEN; AMARAL, 2002;

BARBOSA et al., 2005). Embora, com relação ao efeito de borda, um dos principais

problemas associados à fragmentação, Santos e Santos (2008) sugerem em seus

estudos que a vegetação da Caatinga não é ecologicamente afetada pela criação

de bordas, que alterações nas condições físicas e na disponibilidade de recursos

ocasionadas pela criação das bordas não são suficientes para eliminar plantas já

estabelecidas nem alterar o recrutamento e sobrevivência de novos indivíduos.

Todas as consequências da fragmentação mostram a urgente necessidade

de suspensão do desmatamento autorizado pelo Estado nesse bioma e a adoção

de medidas que evitem a fragmentação dos remanescentes quando os

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desmatamentos forem inevitáveis, mesmo que a alternativa locacional torne o

empreendimento mais oneroso.

6.3.3 Perda de Biodiversidade

O desmatamento autorizado pelo Estado pode estar contribuindo para a

perda de biodiversidade das Caatingas pernambucanas, em virtude da redução de

áreas com vegetação nativa e fragmentação de seus remanescentes.

Além disso, verificou-se que muitas espécies estão sendo suprimidas sem

ao menos serem identificadas nos levantamentos, como é o caso das espécies do

estrato herbáceo. A fauna das Caatingas também está sendo bastante

negligenciada nos processos de autorização de supressão de vegetação, tendo em

vista que, para áreas com solicitação de supressão cujo empreendimento não

necessitou de EIA/RIMA ou RAS (que contemplam estes tipos de estudos),

normalmente não são exigidos estudos faunísticos e levantamentos específicos

para a vegetação pertencente a outros estratos que não seja o arbustivo/arbóreo.

Além desses fatores, verificou-se a emissão de autorizações de supressão

em Áreas Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição de

Benefícios da Biodiversidade Brasileira, contidas no mapa publicado pelo MMA em

novembro de 2003 e reeditado em maio de 2004.

Durante o período estudado foi autorizado pelo Estado, nas Caatingas

pernambucanas, a supressão de vegetação nativa em áreas prioritárias para a

conservação da biodiversidade, classificadas como: de extrema importância

biológica (4,5 ha); muito alta importância (3,5 ha); alta importância (21,91 ha); e

insuficientemente conhecida (49,91 ha), conforme pode ser visualizado no mapa 3.

Além desses percentuais de supressão, foi autorizado também a supressão

da vegetação contida ao longo dos 469 km de extensão, por uma faixa de domínio

de 20 m de largura, para a implantação da 1º etapa e 1° trecho da 2º etapa da

Adutora do Agreste pernambucano, totalizando uma área de 938 ha. Foram

interceptadas por esse empreendimento áreas de extrema importância biológica,

muito alta e alta, estando 8,5 ha em Áreas de Preservação Permanentes (APPs).

Vale ressaltar que esse percentual de supressão em áreas prioritárias para a

conservação pode ser maior, tendo em vista que, em alguns processos, não foi

possível a identificação das coordenadas dos polígonos da supressão.

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Se considerarmos a heterogeneidade dos ecossistemas das Caatingas do

Estado, a alta riqueza de espécies, sendo muitas delas endêmicas, além da

presença de áreas no bioma pouco estudadas, a forma como o desmatamento

autorizado vem ocorrendo no Estado pode estar contribuindo inclusive para o

desaparecimento de espécies ainda não identificadas pela ciência.

Segundo Cerqueira et al. (2003, p. 35-36):

a diminuição da área de habitat favorável a uma determinada espécie leva a uma menor abundância regional desta espécie, já que a diminuição da aptidão significa menores taxas de sobrevivência e reprodução. Uma área menor de habitat de boa qualidade acarreta menores populações e, eventuais excedentes populacionais migram para outras áreas, onde passam a competir com as populações residentes ou então, podem deslocar-se para áreas de má qualidade. (...) De vez em quando, uma população pode simplesmente extinguir-se localmente como resultado da deriva genética. Caso exista dificuldade na migração devido ao processo de fragmentação, existirá também dificuldade no fluxo gênico entre as populações da região e, conseqüentemente, extinções locais serão mais freqüentes.

Para Sampaio (2010, p. 42), “o desaparecimento de espécies-chave pode

levar a períodos de carência de alimentos para alguns grupos de animais e à

drástica redução de suas populações”, evidenciando que o desmatamento

autorizado pelo Estado nesse bioma precisa ser repensado urgentemente.

6.3.4 Redução dos Recursos Naturais para a População

Além da redução dos recursos naturais para a fauna local, o desmatamento

autorizado vem ocasionando a perda de recursos naturais para as populações que

residem no bioma Caatinga. Como foi visto anteriormente, grande parte da

população dessa região depende dos recursos naturais para sobreviver, utilizando-

os para diversas finalidades.

De acordo com os dados analisados neste trabalho, foram identificadas, nas

áreas de desmatamento autorizado, diversas espécies arbóreas e arbustivas

utilizadas pela população residente no bioma, conforme mostra o quadro 2. Os

tipos de uso foram baseados no trabalho de Albuquerque e Andrade (2002a), que

analisaram o conhecimento botânico tradicional em uma comunidade rural situada

no Agreste do Estado de Pernambuco.

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Quadro 2 – Espécies arbustivas/arbóreas presentes nas áreas de desmatamentos autorizados pelo Estado, nas Caatingas pernambucanas, no período de 2013 e 2014, e

seus respectivos usos

Família/Nome Científico

Nome vulgar

Usos

Anacardiaceae

Myracrodruon urundeuva Allemão Aroeira B,C

Schinopsis brasiliensis Engl Baraúna B,C

Spondias tuberosa Arruda Umbuzeiro A

Apocynaceae

Aspidosperma pyrifolium Mart Pereiro C

Bignoniaceae

Tabebuia sp. Pau-d'arco C

Boraginaceae

Cordia leucocephala Moric Moleque-duro A,C

Cordia globosa (Jacq.) H.B.K. – C

Cactaceae

Cereus jamacaru DC. Mandacaru A,B

Capparacea

Capparis flexuosa (L.) L. Feijão-bravo B,E

Celastraceae

Maytenus rigida Mart. Bom-nome B

Euphorbiaceae

Croton sonderianus Muell. Arg. Marmeleiro B,C

Jatropha molissima (Pohl) Baill. Pinhão-manso B

Manihot glaziovii Muell. Arg. Maniçoba F

Sapium sp. Burra-leiteira F

Fabaceae

Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm. Imburana-de-cheiro B,C

Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. Mororó A,B,C

Caesalpinia pyramidalis Tul. Catingueira B,C

Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. Jurema-preta B,C

Myrtaceae

Eugenia sp. Pirim A

Polygonaceae

Ruprechtia laxiflora Meissn. Caixão C

Rhamnaceae

Ziziphus joazeiro Mart. Juá A,B

Sapotaceae

Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.)

T.D.Penn.

Quixaba A,B

Verbenaceae

Lippia sp. Alecrim B

Fonte: Elaboração própria

(1) A: comestível; B: medicinal; C: madeira; E: forragem; F: veneno

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83

Analisando o quadro, verifica-se que o desmatamento autorizado pelo

Estado tem ocasionado redução de recursos florestais importantes para população.

Em um bioma superpovoado como a Caatinga, com graves problemas ambientais,

a redução de áreas com vegetação nativa reduz, ainda mais, os meios de

sobrevivência e geração de renda para a população, podendo ocasionar outros

impactos negativos no meio social, como o aumento da pobreza e do êxodo rural.

6.3.5 Aumento na Susceptibilidade do Solo à Degradação e Perda de Água

O desmatamento torna os solos das Caatingas, que já são problemáticos do

ponto de vista físico e geoquímico (AB’SÁBER, 1999b), mais susceptíveis à

erosão, ocasionando grandes perdas de solo e de água.

Na escala de degradação, a erosão consiste em um dos problemas mais

graves, pois provoca impactos irreversíveis ao meio ambiente. Na região do

semiárido, onde estão localizadas as Caatingas, os processos erosivos tornam-se

ainda mais preocupantes, pois além da própria fragilidade do seu material

pedológico, o solo está cada vez mais vulnerável pela intensa ação antrópica

(BRASILEIRO, 2009).

Alguns autores confirmaram em seus trabalhos o grande impacto do

desmatamento das Caatingas sobre as perdas de solo, água e nutrientes

(ALBUQUERQUE et al., 2002; ALBUQUERQUE; LOMBARDI NETO; SRINIVASAN,

2001; LOBATO et al., 2009).

Albuquerque et al. (2002), ao avaliar as perdas por erosão hídrica de um

solo Bruno Não Cálcico no Município de Sumé-PB, verificaram que a parcela com

caatinga nativa, quando comparada com a parcela desmatada, reduziu a perda de

solo em cerca de 99% e a perda de água em torno de 89%.

Albuquerque, Lombardi Neto e Srinivasan (2001), ao analisarem o efeito do

desmatamento da Caatinga sobre as perdas de solo e água de um Luvissolo em

Sumé-PB, constataram que, nas macroparcelas com caatinga, houve uma redução

de, aproximadamente, 99% das perdas de solo e 90% das perdas de água, em

relação às macroparcelas desmatadas.

Lobato et al. (2009), avaliando as perdas de solo e nutrientes por erosão

hídrica em quatro áreas de Caatingas, com diferentes coberturas vegetais e com

diferentes índices pluviométricos, no Município de Iguatu-CE, constataram que a

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84

cobertura rasteira mostrou maior eficiência na redução das perdas de solo e

nutrientes, demonstrando a importância do estrato herbáceo das Caatingas.

Além das perdas de solo e água, o desmatamento causa a ruptura do ciclo

de troca de nutrientes entre o meio biótico e abiótico, alterando tanto a quantidade

quanto a qualidade de matéria orgânica do solo. Isso causa a diminuição da

atividade microbiana, principal responsável pela ciclagem de nutrientes e pelo fluxo

de energia no interior do solo (SELLE, 2007). Pereira (2013), ao estudar os

impactos do desmatamento da Caatinga sobre a comunidade microbiana do solo,

concluiu que a retirada da vegetação natural da Caatinga afeta as propriedades

químicas e biológicas do solo em um curto espaço de tempo, além de alterar a

estrutura da comunidade fúngica do solo.

Da mesma forma que o desmatamento das Caatingas causa impactos nos

solos, o inverso também ocorre. Galindo et al. (2008), ao avaliarem as relações

solo-vegetação em áreas sob processo de desertificação no Município de Jataúba

– PE, verificaram que a densidade absoluta de plantas lenhosas de porte baixo

diminuiu significativamente de acordo com a intensidade de degradação dos solos.

Um dos problemas mais graves de degradação do solo é a desertificação,

que tem o desmatamento como uma de suas causas. Para Sampaio, Araújo e

Sampaio (2005, p. 101):

a retirada da cobertura original do solo do bioma caatinga é um dos primeiros indicadores dos processos de degradação e desertificação da região. Se a cobertura vegetal nativa é mantida, a possibilidade de qualquer degradação é pequena, e a degradação por causa antrópica é menor ainda. Portanto a desertificação tende a começar com o desmatamento.

Considerando que o desmatamento, juntamente com diversos fatores,

contribui para a desertificação e a autorização da supressão de vegetação em

20,43 hectares nos municípios de Parnamirim e Salgueiro, que fazem parte do

Núcleo de desertificação de Cabrobó, conclui-se que o desmatamento autorizado

pelo Estado vem contribuindo para acelerar o processo de desertificação no bioma

Caatinga. Vale ressaltar que aproximadamente 91,13% do Núcleo de

desertificação de Cabrobó está comprometido com os processos de desertificação

nos níveis severo e acentuado (SÁ; SÁ; SILVA, 2006).

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6.3.6 Aumento da Vulnerabilidade das Caatingas às Mudanças Climáticas

No Brasil, o bioma Caatinga é um dos mais vulneráveis às mudanças

climáticas globais (JOLY, 2007; MARENGO, 2014; OYAMA; NOBRE, 2003), e o

desmatamento pode contribuir para que essas mudanças e seus efeitos se

intensifiquem.

Para Joly (2007), 75% das emissões de gases do efeito estufa no Brasil vêm

do desmatamento e da queima da nossa biodiversidade.

O desmatamento causa a emissão de gás carbônico (CO2) e outros gases

de efeito estufa e, embora uma parte do CO2 seja posteriormente reabsorvido pelas

florestas secundárias em regeneração, os outros gases de efeito estufa, como

metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), não o são. Além disso, quando comparada à

emissão inicial, a quantidade de carbono absorvida como CO2 pela regeneração de

florestas secundárias é baixa, pois a biomassa por hectare da floresta secundária é

muito menor do que a da floresta primária (FEARNSIDE, 2006).

Para Nobre (2011), as mudanças climáticas globais, decorrentes do acúmulo

de gases de efeito estufa na atmosfera, representam um desafio sem precedentes

para a humanidade, em virtude da velocidade com que se estão processando e por

suas consequências globais para as atividades humanas.

O aquecimento global é uma realidade bastante preocupante para as

Caatingas. O ano de 2014 superou o de 2010 e foi o mais quente já registrado, até

então, desde 1880. Além disso, a temperatura global está acima da média histórica

do século XX, desde 1976 (MARENGO, 2014).

Em Pernambuco, a realidade não é diferente, de acordo com Nobre (2011,

p. 26):

[...] estudo de detecção de mudanças climáticas sobre Pernambuco (LACERDA; NOBRE, 2010, comunicação pessoal), revela aumento de 4 °C na temperatura máxima diária no período de 1961 a 2009, na estação meteorológica de Araripina (...) e diminuição média de 275 mm (correspondendo a 57%) dos totais pluviométricos anuais em conjunto de oito postos pluviométricos com dados no mesmo período, no vale do rio Pajeú, em Pernambuco.

Oyama e Nobre (2004), ao analisarem os impactos climáticos de uma

desertificação em grande escala no Nordeste do Brasil, simulada através de

estudos de modelagem, demonstraram em seus resultados a possibilidade de

significativos impactos climáticos, tanto em escala regional quanto em grande

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escala, caso a degradação ambiental no Nordeste brasileiro continue ocorrendo

sem controle.

Essas variações climáticas e seus prováveis impactos ambientais, muitos

deles atrelados ao desmatamento, evidenciam a necessidade de controle do

desmatamento no bioma Caatinga por parte do Estado, a fim de evitar a

degradação desse bioma e concretização dos desastrosos impactos previstos.

6.3.7 Perda de Serviços Ambientais

Os “produtos” mais preciosos que os ecossistemas do bioma Caatinga

fornecem são os serviços ambientais. Serviços ambientais ou serviços

ecossistêmicos consistem nos benefícios obtidos pelas pessoas, provenientes dos

ecossistemas (COSTANZA et al., 1997; MILLENNIUM ECOSYSTEM

ASSESSMENT, 2005; PARRON; GARCIA, 2015).

A classificação dos serviços ambientais mais utilizada é a da Avaliação

Ecossistêmica do Milênio (MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT, 2005), que

classificou os serviços ambientais em quatro categorias fundamentais: 1) suporte

(manutenção da biodiversidade, do ciclo de vida e formação do solo); 2) provisão

(alimentos, fibras/madeira, recursos genéticos, recursos medicinais, recursos

ornamentais e água potável); 3) regulação (regulação da qualidade do ar, do clima

e dos fluxos de água, purificação da água, fertilidade do solo, prevenção da erosão,

controle biológico de doenças e pragas, polinização, prevenção de desastres e

controle de resíduos) e; 4) cultural (valores estéticos, recreação e turismo, valores

espirituais e religiosos e valores educacionais e culturais).

As diversas fitofisionomias existentes nas Caatingas, representadas por sua

riqueza de espécies e paisagens únicas, proveem inúmeros serviços, muitos deles

ainda desconhecidos pela falta de estudo do bioma. Assim, a conservação das

Caatingas pode proporcionar à população diversos serviços ambientais, tais como:

biodiversidade, através da utilização dos seus inúmeros recursos (alimentos,

medicamentos, madeira, forragem para os rebanhos, etc); serviços hidrológicos,

com a regulação dos fluxos hídricos e manutenção da qualidade da água;

sequestro e armazenamento de carbono, função bastante importante diante das

mudanças climáticas em curso; beleza cênica, dentre outros.

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Entretanto, dentre os impactos do desmatamento das Caatingas, está a

perda de provisão de seus serviços ambientais, ou seja, com o desmatamento as

oportunidades de uso sustentável do bioma são perdidas. Para Fearnside (2006), o

desmatamento anula ainda a oportunidade de capturar o valor dos serviços

ambientais da floresta.

Esta compensação ou pagamento por serviços ambientais surge como um

forte instrumento de incentivo ao produtor rural na proteção de áreas com

importantes funções ecossistêmicas dentro de sua propriedade. Adotando, desta

forma, o princípio do conservador recebedor, no qual aquele que conserva recebe

algum incentivo ou, até mesmo, remuneração para proteger determinadas áreas.

Além disso, o reconhecimento desses agricultores como produtores de serviços

ambientais traz incentivo e valorização para o homem do campo (VILAR et al.,

2010), aumentando as oportunidades de sobrevivência da população em uma

região com diversas limitações, mas beneficiada com a presença do bioma

Caatinga.

Para Castello Branco (2015, p. 45), “promover a conservação dos

ecossistemas na perspectiva da sua capacidade de provisão dos serviços

ambientais é dar um passo importante para a construção de uma lógica econômica

mais justa e ecológica”.

Em Pernambuco, já tramita na Assembleia Legislativa do Estado um projeto

de lei que institui o Programa de Pagamento por Serviços Ambientais. Espera-se

que esse instrumento estimule a redução do desmatamento, do bioma Caatinga,

ampliando as oportunidades de desenvolvimento sustentável do Semiárido.

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6.4 COMPENSAÇÃO AMBIENTAL, DECORRENTE DO DESMATAMENTO AUTORIZADO PELO ESTADO, NAS CAATINGAS PERNAMBUCANAS

No Brasil a compensação ambiental pode ser tratada de duas maneiras:

compensação ambiental financeira, prevista pelo Sistema Nacional de Unidades

de Conservação da Natureza (SNUC), para os empreendimentos considerados de

significativo impacto ambiental; e compensação ambiental pela supressão de

vegetação nativa. Essas duas prerrogativas são importantes para a compreensão

do desmatamento autorizado nas Caatingas. No entanto, esta pesquisa se

restringirá apenas a essa última compensação.

A compensação ambiental relacionada à supressão de vegetação nativa

surgiu no Brasil desde o código florestal de 1965, normatizado pela lei 4771/1965,

atualmente revogada e substituída pela lei n° 12.651/2012.

Para Sánchez (2008, p. 350), a compensação, de uma forma geral,

representa a “substituição de um bem que será perdido, alterado ou

descaracterizado por outro, entendido como equivalente”. E os princípios que

norteiam a compensação ambiental devem ser:

proporcionalidade entre o dano causado e a compensação exigida, que deve ser, no mínimo, equivalente; preferência por medidas compensatórias que representem a reposição ou a substituição das funções ou dos componentes ambientais afetados (conexão funcional); preferência por medidas que possam ser implementadas em área contígua à área afetada ou, alternativamente, na mesma bacia hidrográfica (conexão espacial) (SÁNCHEZ, 2008, p. 350).

Na ausência de uma legislação específica, a supressão de vegetação no

bioma Caatinga vem sendo regulamentada por legislações ambientais mais

abrangentes, como por exemplo o “código florestal”, tornando a compensação pela

supressão nesse bioma um mecanismo bastante frágil. De acordo com os Arts. 26

e 33 da lei n° 12.651/2012, que institui o “novo código florestal”, as pessoas físicas

ou jurídicas que detenham autorização de supressão de vegetação nativa para uso

alternativo do solo ficam obrigadas a realizarem a reposição florestal. Entretanto, a

referida lei não traz o conceito de reposição florestal, embora o § 3° do Art. 26 cite

que, “no caso de reposição florestal, deverão ser priorizados projetos que

contemplem a utilização de espécies nativas do mesmo bioma onde ocorreu a

supressão” (BRASIL, 2012), indicando o plantio como a forma de reposição

florestal.

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Outro ponto confuso do “novo código florestal”, com relação à compensação

pela supressão, é o disposto no Inciso II, § 4°, do Art. 26, que traz a expressão

“reposição ou compensação florestal” (BRASIL, 2012), não deixando claro se

reposição florestal e compensação florestal são sinônimos ou se compensação

florestal consiste em outra possibilidade de compensação ambiental permitida pela

lei, não especificando neste caso como seria essa forma de compensação.

Com relação à legislação estadual, a compensação ambiental pela

supressão de vegetação torna-se ainda mais contraditória. De acordo com a lei n°

11.206/1995, que dispõe sobre a política florestal do Estado de Pernambuco, em

seu Art. 55, fica obrigada à reposição florestal a pessoa física ou jurídica que

explore, utilize, transforme ou consuma matéria florestal. O Parágrafo único diz:

a reposição florestal de que trata o caput deste artigo será efetuada no Estado de Pernambuco, mediante o plantio de espécies florestais adequadas, preferencialmente nativas, cuja produção seja, no mínimo, igual ao volume anual necessário à plena sustentação da atividade desenvolvida, cabendo ao órgão competente estabelecer os parâmetros para esse fim (PERNAMBUCO, 1995).

Embora a política florestal do Estado condicione a autorização de supressão

de vegetação nativa à realização da reposição florestal, verifica-se que a ênfase é

dada para a reposição florestal decorrente da exploração de florestas nativas com

o objetivo de fornecimento de matéria prima florestal. Com exceção das

supressões em APPs, a lei estadual também não traz diretrizes quanto à

compensação ambiental decorrente da supressão de vegetação nativa para o uso

alternativo do solo.

O entendimento da reposição florestal como uma forma de repor o volume

suprimido de material lenhoso condiz com a definição contida no Decreto Federal

n°. 5.975/06, que regulamentava o código florestal de 1965, no qual definia, em seu

Art. 13, reposição florestal como: “a compensação do volume de matéria-prima

extraído de vegetação natural pelo volume de matéria-prima resultante de plantio

florestal para geração de estoque ou recuperação de cobertura florestal” (BRASIL,

2006). Este entendimento tem comprometido a sustentabilidade dos

desmatamentos autorizados nas Caatingas de Pernambuco, uma vez que a

compensação realizada desta forma considera apenas o estrato arbustivo/arbóreo,

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gerador de material lenhoso, desconsiderando as outras formas de vida e sua

importância para o equilíbrio dos diversos ecossistemas existentes no bioma.

Neste trabalho, reposição florestal e compensação florestal serão abordadas

como formas distintas de compensação ambiental pela supressão de vegetação

nativa. A reposição florestal foi considerada como o plantio com espécies nativas

do bioma e a compensação florestal como a destinação de área contendo

vegetação para conservação, tendo em vista que esta é a forma como o órgão tem

entendido.

Dentre os 52 processos de autorização analisados neste trabalho, foram

identificados apenas 35 termos de compromissos referentes à compensação

ambiental pela supressão de vegetação (última consulta realizada em outubro de

2015), implicando na falta de compensação pelo desmatamento autorizado de

1.022,03 ha.

A compensação ambiental pela supressão de vegetação no bioma Caatinga,

que vem sendo adotada pelo Estado, é bastante preocupante. O somatório das

áreas de supressão referentes aos processos que tiveram seus termos de

compromisso assinados foi de 4.907,04 ha, correspondendo a um volume estimado

de 591.112,95 estéreos de material lenhoso, e as áreas de compensação

ambiental totalizaram apenas 2.712,42 ha.

A compensação ambiental representou uma relação de 1/0,55, ou seja, a

cada hectare de supressão foi exigido a compensação de apenas 0,55 ha.

Considerando ainda que para 4.403,94 ha de supressão foi aprovada a

compensação florestal de 2.616,86 ha, através da preservação de áreas que já

continham vegetação, a situação quanto à redução de áreas de vegetação nativa

no bioma e consequentemente dos recursos e serviços ambientais é ainda mais

grave.

O Somatório das áreas de supressão e de compensação ambiental,

detalhando o quantitativo de compensação florestal e de reposição florestal, bem

como a supressão autorizada sem a devida compensação ambiental, estão

expressos na figura 15.

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91 Figura 15 – Somatório das áreas de supressão e de compensação ambiental, autorizadas

pelo Estado nas Caatingas pernambucanas, durante o período de 2013 e 2014.

Fonte: Elaboração Própria

Verifica-se que a falta de legislação específica para o bioma Caatinga tem

ocasionado o estabelecimento de áreas de reposição florestal muito inferiores às

respectivas áreas de supressão. Na maioria das reposições florestais, aprovadas

pelo Estado nesse bioma, o cálculo da área a ser “reflorestada” utiliza como

parâmetro a Instrução Normativa MMA nº 06/2006, que condiciona o tamanho da

área da reposição florestal ao volume do material lenhoso gerado na área da

supressão, desconsiderando o restante da biodiversidade existente na área.

A compensação ambiental pela supressão de vegetação nativa precisa ir

além da reposição do volume contido na área suprimida, precisa visar a

restauração ecológica das áreas degradadas das Caatingas, considerando a

proporcionalidade entre o dano causado e a compensação exigida, a conexão

funcional e espacial das áreas (SÁNCHEZ, 2008), compensando de fato os danos

causados pela supressão da vegetação.

“A restauração ecológica é o processo de auxílio ao restabelecimento de um

ecossistema que foi degradado, danificado ou destruído” (SOCIETY FOR

ECOLOGICAL RESTORATION (SER) INTERNATIONAL, 2004, p. 4).

Segundo Brancalion et al. (2010), o principal objetivo da restauração

florestal, “restauração ecológica aplicada a ecossistemas florestais” (ARONSON;

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DURIGAN; BRANCALION, 2011, p. 23), é reestabelecer florestas com capacidade

de se autoperpetuarem, ou seja, florestas viáveis biologicamente e que não

dependam de intervenções humanas constantes” (BRANCALION et al., 2010).

A heterogeneidade das Caatingas deve ser considerada durante a análise

dos processos de supressão de vegetação e aprovação dos projetos de

compensação ambiental. Como exemplo destacam-se os ecossistemas presentes

na Unidade Vegetacional V, proposta por Andrade-Lima (1981), representada pela

Caatinga Arbustiva Aberta Baixa, com altura variando de 0,7 a 1,0 m, que podem

não gerar material lenhoso significativo, no entanto, possuem sua importância

ecológica.

De acordo com Carvalho (2014), o órgão ambiental deve acabar com o

paradigma de aprovar projetos e monitorá-los apenas na ótica da sobrevivência

das mudas plantadas, eliminando a prática usual de estabelecimento de

agrupamentos de espécies arbóreas sem sustentabilidade e perpetuação ao longo

do tempo.

Melo, Basso e Siqueira-Filho (2012) chamam atenção para a escassez de

estudos sobre restauração ecológica em ambientes semiáridos, se comparado com

outras regiões, justificando a necessidade de frear o desmatamento por parte do

Estado no bioma Caatinga. Segundo Pereira et al. (2001, p. 414), “a exploração

racional de qualquer ecossistema só pode ser planejada a partir do conhecimento

de suas dinâmicas biológicas”. Desta forma, é inaceitável o aumento crescente no

desmatamento autorizado pelo Estado em um bioma tão importante do ponto de

vista socioambiental e tão pouco conhecido cientificamente, se medidas

compensatórias que garantam a sustentabilidade dos seus recursos naturais ainda

são praticamente desconhecidas.

Além disso, a restauração de áreas ainda apresenta um custo elevado,

tornando-se mais econômico e sustentável o estabelecimento de políticas públicas

de fomento à ciência e tecnologia que permitam a mudança no padrão atual de uso

da terra, a valorização da biodiversidade e a conservação de parcelas maiores das

Caatingas (SIQUEIRA-FILHO et al., 2012).

Entretanto, esses fatores não podem servir de justificativa para a adoção da

compensação florestal em detrimento da reposição florestal, pois tornaria o

desenvolvimento nessa região ainda mais insustentável, uma vez que a cobertura

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vegetal do bioma tenderia a diminuir cada vez mais juntamente com sua

biodiversidade e serviços ambientais.

De acordo com Melo, Basso e Siqueira-Filho (2012), apesar dos poucos

estudos e técnicas desenvolvidos para regiões secas, o avanço do conhecimento

em ciência da restauração como um todo permite que saiamos da inércia da

ignorância e comecemos com a recuperação das Caatingas. Ainda segundo os

autores, a restauração florestal dessas áreas destaca-se como uma grande

oportunidade de produção de ciência e melhoria de indicadores socioambientais,

pois esta atividade pode se tornar lucrativa e ser incorporada à economia formal,

além de constituir a principal garantia da continuidade da existência dos serviços

ambientais, dos quais tanto dependem a economia e o homem do sertão.

Vale destacar que a reposição florestal decorrente da supressão de

vegetação nativa, se praticada com o objetivo de restauração ecológica e não

como mera reposição do volume suprimido, consiste em um importante instrumento

de conservação, entretanto, ela deve ser a última opção no processo de

licenciamento. O licenciamento deve priorizar áreas degradadas e a supressão de

vegetação nativa deve ocorrer somente nos casos que não existirem alternativa

locacional.

Outro aspecto bastante preocupante quanto à sustentabilidade do

desmatamento autorizado nas Caatingas pernambucanas é a falta de

monitoramento das áreas de compensação ambiental.

Vale ressaltar que o setor de monitoramento é incorporado ao setor de

licenciamento florestal, onde a emissão de autorizações e licenças ambientais

acaba tendo prioridade em virtude da grande demanda, colocando o

monitoramento em segundo plano. Isso pode ser explicado pela quantidade de

técnicos que compõe o setor, representado, atualmente, por três analistas e um

técnico, incluindo nesse total o gerente da Unidade de Controle e Monitoramento

Florestal (UCMF), responsável não só pelo Setor de Licenciamento e

Monitoramento Florestal (SLMF), mas também pelo Setor de Fiscalização Florestal

(SFF), e o chefe do setor.

Estes problemas foram encontrados também por Carvalho (2014), ao

analisar em seu trabalho os Termos de Compromisso de Recuperação Ambiental

(TCRA) atrelados aos processos de licenciamento ambiental no Município de

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Bertioga-SP, mostrando que o descaso com a gestão florestal ultrapassa os limites

do Estado de Pernambuco.

Segundo Brancalion et al. (2012), pouca atenção tem sido dada à avaliação

e monitoramento das áreas restauradas no Brasil. Os autores atribuem parte desse

problema à forma como a restauração é interpretada pelos órgãos públicos

licenciadores e pelas empresas que contratam e executam serviços de

restauração, pois muitas vezes a restauração é conduzida apenas para o

cumprimento de demandas específicas de certificação e de licenciamento

ambiental, sem que haja um efetivo comprometimento com a sustentabilidade

ecológica dessas áreas.

A quantidade de compensações ambientais não definidas até o momento; a

forma como ela vem sendo estabelecida, preocupada apenas com a reposição do

volume suprimido e não com a restauração ecológica das áreas degradadas, como

se as Caatingas fossem representadas apenas por espécies arbóreas; e a falta de

monitoramento das áreas de compensação; corroboram com a informação citada

acima, além de mostrar a negligência do Estado quanto à sustentabilidade das

atividades desenvolvidas neste bioma.

Apesar deste trabalho fornecer informações importantes quanto à

compensação ambiental pela supressão nas Caatingas pernambucanas, este

assunto é bastante complexo e precisa ser investigado a fundo. Os resultados aqui

apresentados servirão de subsídios para novas pesquisas, a fim de verificar a

efetividade da compensação ambiental adotada pelo Estado, principalmente quanto

à restauração ecológica das áreas de reposição florestal.

É preciso ajustar a legislação brasileira à realidade do bioma e reestruturar

os órgãos ambientais, com o objetivo de articular políticas que garantam a

sustentabilidade socioambiental. Além disso, a comunidade científica precisa

concentrar esforços no estudo de técnicas e métodos de restauração e

identificação de parâmetros de avaliação e monitoramento de projetos de

restauração para as Caatingas.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de degradação que a Caatinga vem sofrendo indica o quanto o

desenvolvimento ocorrido nesse bioma está longe de ser sustentável, tendo em

vista que diversos recursos naturais e serviços ambientais estão sendo perdidos,

alguns deles antes mesmo de serem conhecidos pela ciência.

Os resultados apresentados neste trabalho mostram que o desmatamento

autorizado pelo Estado, da forma como está sendo realizado, vem contribuindo

para esta degradação.

A agricultura, uma das atividades responsáveis pela degradação história das

Caatingas, continua desmatando esse bioma para ampliação de suas atividades,

embora hoje de forma “legal”. Outro tipo de atividade, considerada limpa, renovável

e de baixo potencial poluidor, como é o caso das eólicas, também vem

demandando grandes áreas de supressão de vegetação nativa para a sua

implantação no Estado.

A falta de políticas públicas eficientes e as deficiências na gestão e no

monitoramento dos processos de autorização de supressão vêm contribuindo para

isto, ocasionando vários impactos socioambientais no bioma Caatinga, que vão

além da vegetação suprimida, atingindo os componentes bióticos e abióticos

associados à mesma. É indispensável, por exemplo, durante o processo de

autorização de supressão de vegetação, a apresentação e análise do diagnóstico

da fauna e das diversas formas de vida que compõe a flora, sendo necessário

também a contemplação da sazonalidade nos levantamentos, a fim de identificar a

real riqueza biológica das áreas de supressão e outros aspectos.

Os impactos causados pelos efeitos combinados do desmatamento

autorizado pelo Estado com outras ações que incidem no bioma (desmatamento

ilegal, expansão dos núcleos urbanos, concentração e crescimento populacional,

exploração predatória dos recursos naturais, processos de desertificação e

alterações climáticas globais), poderão submeter as Caatingas e demais

ecossistemas associados, a ameaças sem precedentes.

Se controlar o desmatamento das Caatingas pernambucanas é urgente,

planejar a forma como o desmatamento autorizado vem ocorrendo no Estado é

fundamental, a fim de corrigir procedimentos identificados nesta pesquisa que

estão afetando a sustentabilidade das ações realizadas nesse bioma, como por

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exemplo: a) a disponibilidade de informações de má qualidade e falta de

transparência destas informações; b) a implantação de atividades e

empreendimentos em áreas com vegetação, sem considerar outra alternativa

locacional, causando, muitas vezes, a fragmentação dos remanescentes; c) a

emissão de autorizações de supressão em áreas prioritárias para conservação da

biodiversidade; d) a não consideração das variadas formas de vida e suas relações

existentes durante os processos de autorização; e) a forma como a compensação

está sendo realizada e f) a ausência de monitoramento das áreas de compensação

ambiental.

É inaceitável, nos dias de hoje, que os processos de autorização de

supressão de vegetação avancem sem considerar os mais diversos conhecimentos

científicos e sociais. Apesar de ser o bioma menos estudado, existem diversos

trabalhos desenvolvidos nas Caatingas, além de ferramentas de fácil acesso que

podem auxiliar na tomada de decisões, como por exemplo o levantamento das

áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade da Caatinga e o

Zoneamento Agroecológico do Nordeste.

Nesse sentido, o Caburé - Sistema de Informações GeoAmbientais de

Pernambuco, uma iniciativa inovadora da CPRH, torna-se um importante

instrumento para melhoria na gestão ambiental no Estado, devendo o mesmo

incluir informações que possibilitem a restauração ecológica e a recuperação de

áreas degradadas, bem como a equivalência, nas áreas de compensação, dos

atributos e funções dos ecossistemas objeto da supressão autorizada.

Entretanto, para esse sistema ser eficiente no processo de autorização de

supressão, a CPRH deverá manter, constantemente atualizado, o banco de dados

iniciado nesta pesquisa acerca das áreas desmatadas e compensadas, no Estado.

Isto permitirá um planejamento sistêmico com integração de informações, maior

celeridade nos processos, segurança técnica na tomada de decisões, maior

eficiência na conservação dos remanescentes de vegetação, maior transparência

nas ações da CPRH e uma maior participação social com a democratização do

monitoramento ambiental.

Para exemplificar a importância do banco de dados integrado ao Caburé,

vale salientar que a ausência dos polígonos das áreas de compensação ambiental

aprovadas pelo órgão pode levar à emissão de futuras autorizações de supressão

nessas áreas por falta de conhecimento.

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Assim, a fim de atingir a sustentabilidade do bioma Caatinga, o Estado

precisa adotar melhorias no gerenciamento do uso e proteção dos seus recursos

naturais, buscando a redução do desmatamento autorizado, reconhecendo que a

compensação ambiental decorrente da supressão de vegetação não renova os

recursos florestais em tempo hábil, além de não ser um mecanismo eficiente

quanto à restauração ecológica das áreas.

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TABARELLI, M.; VICENTE; A. Lacunas de conhecimento sobre as plantas lenhosas da caatinga. In: SAMPAIO, E. V. S. B.; GIULIETTI, A. M.; VIRGÍLIO, J.; GAMARRA-ROJAS, C (EDS.). Vegetação e flora da Caatinga. Recife: Associação de Plantas do Nordeste – APNE/Centro Nordestino de Informações sobre Plantas – CNIP, 2002. p. 25-40. TROVÃO, D. M. B. M.; et al. Variações sazonais de aspectos fisiológicos de espécies da Caatinga. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v. 11, n.3, p.307-311, 2007. VAN BELLEN, H. M. Indicadores de sustentabilidade: um levantamento dos principais sistemas de avaliação. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 1-14, mar. 2004. VELLOSO, A. L.; SAMPAIO, E. V. S. V.; PAREYN, F. G. C. Ecorregiões: propostas para o bioma Caatinga. Recife: Associação Plantas do Nordeste e Instituto de Conservação Ambiental The Nature Conservancy do Brasil, 2002. 76 p. VILAR, M. B.; et al. Valoração ambiental de propriedades rurais de municípios da bacia hidrográfica do rio Xopotó, MG. Cerne, Lavras, v. 16, n. 4, p. 539-545, out./dez. 2010. ZANELLA, F. C. V.; MARTINS, C. F. Abelhas da Caatinga: biogeografia, ecologia e conservação. In: LEAL, I. R.; TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C. da S. (Eds). Ecologia e Conservação da Caatinga. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2003, p. 75-134.

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APÊNDICE A

APÊNDICE A – Documentação necessária para solicitação de autorização de supressão de vegetação para o uso alternativo do solo, constante na IN CPRH 007/2006

Documentos Gerais

- Cópia do RG e CPF do Requerente;

- Croqui de acesso à propriedade, partindo do município mais próximo;

- Declaração do proprietário do imóvel, nos casos de posse, concordando com a atividade requerida;

- Declaração de Comprometimento de Conservação de Área de Preservação Permanente.

Documentos do Imóvel

- Cópia do Certificado de Averbação da Área de Reserva Legal;

- Cópia da escritura ou documento equivalente que comprove a titularidade da propriedade ou posse da terra, autenticada pelo cartório.

Documentos Técnicos

- Croqui com dimensionamento e detalhamento do uso atual do solo, Área de Reserva Legal, indicação de Áreas de Preservação Permanente existentes, área objeto da solicitação para uso alternativo do solo, legenda contendo a denominação do imóvel, nome do proprietário, área total da propriedade, município de localização (para propriedades com área total até vinte hectares);

- Planta com grade georeferenciada do imóvel com coordenadas UTM e Datum SAD 69, indicando: confrontantes, orientação magnética, Área de Reserva Legal, Áreas de Preservação Permanente, área objeto da solicitação para uso alternativo do solo, legenda contendo a denominação do imóvel, nome do proprietário, área total da propriedade, município de localização e escala adequada com as características das dimensões do uso atual do solo da propriedade (para propriedades com área superior a cem hectares);

- Cópia do Projeto da atividade e/ou empreendimento a ser implantado e cronograma de execução;

- Roteiro de Caracterização Florestal, indicando o rendimento lenhoso da área a ser desmatada (para áreas requeridas até vinte hectares);

- Inventário Florestal (para áreas requeridas superiores a vinte hectares;

- Inventário Florestal e Estudo Ambiental adequado, a ser definido pela CPRH (para áreas requeridas superiores a cem hectares, bem como para áreas situadas em Unidades de Conservação Estadual de Uso Sustentável, assim definidas pela Lei Federal n° 9.985/00).

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APÊNDICE B

APÊNDICE B – Áreas de supressão autorizadas, e em APPs, para a implantação de parques eólicos e suas linhas de transmissão no estado de Pernambuco, nos anos de 2013 e 2014.

Empreendimento/N° do Processo Área Autorizada (ha)

Área Autorizada em APP (ha)

Parque Eólico Serra Das Vacas I 11,26 11,26

nº 008724/2014 11,26 11,26

Parque Eólico Serra Das Vacas II 0,22 0,22

nº 008727/2014 0,22 0,22

Parque Eólico Serra Das Vacas III 16,61 16,61

nº 008728/2014 16,61 16,61

Parque Eólico Serra Das Vacas IV 16,8 8,1

nº 008725/2014 0,21 0,21

nº 008840/2014 7,89 7,89

nº 008841/2014 8,7 -

Parque Eólico Fontes Dos Ventos 114,3 50,73

nº 001764/2013 42,57 42,57

nº 002183/2013 6,47 6,47

nº 002921/2013 9,31 -

nº 011774/2012 41,69 -

nº 014113/2013 1,69 1,69

nº 014343/2013 12,57 -

Parque Eólico Ventos De Santa Brígida I 35,52 34,53

nº 000718/2014 0,99 -

nº 017836/2013 34,53 34,53

Parque Eólico Ventos De Santa Brígida II 12,91 12,91

nº 017835/2013 12,91 12,91

Parque Eólico Ventos De Santa Brígida III 63,36 34,77

nº 000053/2014 34,77 34,77

nº 000713/2014 28,59 -

Parque Eólico Ventos De Santa Brígida IV 79,18 76,4

nº 000714/2014 2,78 -

nº 017830/2013 76,4 76,4

Parque Eólico Ventos De Santa Brígida V 52,35 51,97

nº 000715/2014 0,38 -

nº 017829/2013 51,97 51,97

Parque Eólico Ventos De Santa Brígida VI 95,42 45,25

nº 000719/2014 50,17 -

nº 017833/2013 45,25 45,25

Parque Eólico Ventos De Santa Brígida VII 47,34 46,4

nº 000054/2014 43,9 43,9

nº 007209/2014 2,5 2,5

nº 007210/2014 0,94 -

Total Geral 545,27 389,15

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ANEXO A

ANEXO A – Modelo de Autorização de Supressão de Vegetação emitida pela CPRH

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ANEXO B

ANEXO B – Autorização da CPRH para acesso aos dados da pesquisa

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ANEXO C

ANEXO C – Requerimento Padrão de Atividade Florestal (continua), contido na IN CPRH nº 007 /2006

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ANEXO C – (Continuação) Requerimento Padrão de Atividade Florestal, contido na IN CPRH nº 007 /2006

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ANEXO D

ANEXO D – Roteiro de Caracterização Florestal, contido na IN CPRH nº 007 /2006 (Continua)

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ANEXO D –Roteiro de Caracterização Florestal, contido na IN CPRH nº 007 /2006 (Continuação)