UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA-UESB ... · minha eterna gratidão porque sem te Senhor...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA-UESB DEPARTAMENTO DE SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ENFERMAGEM E SAÚDE SUELI VIEIRA DOS SANTOS PLANEJAMENTO EM SAÚDE NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA EM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE DO NORDESTE BRASILEIRO JEQUIÉ-BA 2015

Transcript of UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA-UESB ... · minha eterna gratidão porque sem te Senhor...

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA-UESB

    DEPARTAMENTO DE SADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO STRICTO SENSU

    EM ENFERMAGEM E SADE

    SUELI VIEIRA DOS SANTOS

    PLANEJAMENTO EM SADE NA ESTRATGIA DE SADE DA FAMLIA EM

    MUNICPIO DE PEQUENO PORTE DO NORDESTE BRASILEIRO

    JEQUI-BA

    2015

  • SUELI VIEIRA DOS SANTOS

    PLANEJAMENTO EM SADE NA ESTRATGIA DE SADE DA FAMLIA EM

    MUNICPIO DE PEQUENO PORTE DO NORDESTE BRASILEIRO

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de

    Ps-Graduao em Enfermagem e Sade da Universidade

    Estadual do Sudoeste da Bahia, rea de concentrao em

    Sade Pblica, para apreciao e julgamento da Banca

    Examinadora.

    Linha de Pesquisa: Polticas, Planejamento e Gesto em

    Sade

    Orientador: Prof. Dr. Cezar Augusto Casotti

    JEQUI-BA

    2015

  • Santos, Sueli Vieira dos.

    S238 Planejamento em sade na estratgia de sade da famlia em

    municpio de pequeno porte no Nordeste brasileiro/Sueli Vieira

    dos Santos.- Jequi, UESB, 2015.

    78 f: il.; 30cm. (Anexos)

    Dissertao de Mestrado (Ps-graduao em Enfermagem e

    Sade)-Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, 2015.

    Orientador: Prof. Dr. Cezar Augusto Casotti.

    1. Sade da famlia Prticas de planejamento I. Universidade

    Estadual do Sudoeste da Bahia II. Ttulo.

    CDD 614.2

  • FOLHA DE APROVAO

    SANTOS, Sueli Vieira dos. Planejamento em Sade na Estratgia de Sade da Famlia em

    Municpio de Pequeno Porte do Nordeste Brasileiro. 2015. Dissertao (Mestrado). Programa

    de Ps-Graduao em Enfermagem e Sade, rea de concentrao em Sade Pblica.

    Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. Jequi, Bahia.

    Banca Examinadora

    ____________________________________

    Prof. Dr. Cezar Augusto Casotti

    Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB

    Orientador e Presidente da Banca

    ____________________________________

    Prof. Dr. Cristina Setenta Andrade

    Universidade Estadual de Santa Cruz UESC

    ____________________________________

    Prof. Dr. Edite Lago da Silva Sena

    Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB

    Jequi-BA, 23 de fevereiro de 2015.

  • AGRADECIMENTO ESPECIAL

    Eu te agradeo Deus por se lembrar de mim

    E pelo seu favor o que me faz crescer

    Eu vivo pela f e no vacilo!

    Eu no paro, eu no desisto

    Eu sou de Deus, eu sou de Cristo!

    Voc mudou a minha histria

    E fez o que ningum podia imaginar.

    Voc acreditou e isso tudo

    S vivo pra voc, no sou do mundo no!

    A honra, a glria, a fora, o louvor a Deus

    E o levantar das minhas mos

    pra dizer, que te perteno Deus...

    Eu te agradeo Deus que no deserto no me deixou morrer

    E nem desanimar e como aquela me que no desiste

    Voc no me esqueceu voc insiste!!

    Voc mudou a minha histria

    E fez o que ningum podia imaginar

    Voc acreditou e isso tudo, s vivo pra voc

    No sou do mundo no!

    A honra, a glria, a fora, o louvor a Deus

    E o lenvantar das minhas mos

    pra dizer, que te perteno Deus...

    Composio: Kleber Lucas

    http://www.vagalume.com.br/kleber-lucas/
  • AGRADECIMENTOS

    Ao meu Deus, quando tudo dizia que no a sua voz me encorajava a prosseguir,

    renovava minhas foras e sempre esteve presente em todos os momentos da minha vida,

    minha eterna gratido porque sem te Senhor nada posso fazer. Senhor de todas as coisas a ele

    toda honra e toda glria.

    A minha me, Rita pelas oraes e pelo incentivo que sempre foi dado para que eu pudesse

    alcanar meus objetivos e realizar meus sonhos.

    Ao meu esposo, Jnior pela pacincia, compreenso, carinho e amor dispensado em todos os

    momentos, voc um presente de Deus em minha vida.

    Aos meus irmos em especial minha irm Mirian pela disposio que sempre teve em mim

    ajudar e pelo grande apoio durante toda a minha vida.

    Ao meu irmo e pastor Manoel Medrado, sempre foi mais que um irmo, um pai que no

    tive, sou imensamente grata por tudo o que voc fez e ainda faz por mim, cuida de minha

    vida espiritual, com sabedoria inspirada por Deus sempre dando valiosos conselhos, voc

    um grande homem de DEUS, um exemplo de f.

    Ao meu orientador professor Dr. Czar Augusto Casotti, pelo comprometimento,

    carinho, dedicao e principalmente, cuidado. Sua simplicidade e generosidade faz com que

    voc seja uma pessoa admirvel por todos que o conhece. voc, minha profunda gratido

    pela gentileza de compartilhar comigo o seu saber e experincia nos caminhos da pesquisa.

    A minha querida amiga Sheylla Nayara Sales Vieira, por me fazer acreditar que

    era possvel transformar sonho em realidade, sua amizade um exemplo do provrbio

    bblico: h um amigo mais chegado do que um irmo. Voc uma raridade!

    A minha companheira de coleta de dados Mayra Gomes dos Santos, obrigada colega por ter

    tornado essa etapa menos rdua e por compartilhar comigo seus conhecimentos e por sua boa

    vontade de servi.

    Andressa Teixeira, pelas palavras de incentivo e por sempre est disposta a ajudar.

  • banca de qualificao e defesa Prof. Dr. Ana Luiza Queiroz Vilasbas, Prof. Dr. Cristina

    Setenta Andrade e Prof. Dr. Edite Lago da Silva Sena pelas valiosas contribuies para a

    composio desse estudo.

    Aos docentes do Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Enfermagem e Sade

    (PPGES-UESB), pela dedicao e conhecimentos partilhados.

    Aos colegas do Mestrado que caminharam comigo por esta estrada rumo ao conhecimento e

    por todo apoio e incentivo.

    A todos as pessoas que colaboraram para a realizao deste trabalho, em especial aos

    informantes deste estudo, muito obrigada.

    Fundao de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), pela concesso de

    bolsa de pesquisa.

  • RESUMO

    Este estudo objetivou conhecer o processo de planejamento em sade na Estratgia de Sade

    da Famlia em municpio de pequeno porte do nordeste brasileiro; descrever o processo de

    planejamento em sade nas Estratgias de Sade da Famlia em municpio de pequeno porte

    do nordeste brasileiro e; identificar as dificuldades e facilidades que equipes da Estratgia de

    Sade da Famlia em municpio de pequeno porte do nordeste brasileiro encontram no

    processo de planejamento em sade. Trata-se de estudo de caso, descritivo, qualitativo,

    realizado entre os meses de maro e maio de 2014. O campo da pesquisa foi constitudo por

    um municpio de pequeno porte, tendo como cenrio s Unidades de Sade da Famlia. Os

    sujeitos da pesquisa foram Enfermeiros, Mdicos e Agentes Comunitrios de Sade. A coleta

    de dados foi realizada por meio da entrevista semiestruturada e observao sistemtica, para a

    anlise dos dados utilizou-se a tcnica do Discurso do Sujeito Coletivo, com o auxilio do soft

    Quantiqualisoft. Portanto, da anlise dos dados emergiram treze ideias centrais que geraram

    respectivos discursos do sujeito coletivo. Com base nos discursos, foi possvel concluir que

    no municpio analisado, o planejamento em sade pontual, programtico, ocorre no dia da

    entrega do relatrio de produtividade, sendo em algumas equipes realizado de forma

    centralizada sem a participao dos demais trabalhadores que compem as equipes. As

    necessidades de sade da populao adscrita so identificadas durante a visita domiciliar e

    pelos agentes comunitrios de sade. Entre as ESF h divergncias quanto utilizao de

    indicadores em sade como instrumento no planejamento. Alm disso, os profissionais de

    sade que atuam nas ESF encontram dificuldades no processo de planejamento das aes de

    sade desenvolvidas pelas equipes e ao mesmo tempo a equipe relata facilidades.

    Palavras-chave: Planejamento; Planejamento em Sade; Prticas de Planejamento; Estratgia

    Sade da Famlia.

  • ABSTRACT

    This study investigated the planning process in health in the Family Health Strategy in small

    northeastern Brazilian city; describe the health planning process in the Family Health

    Strategies small city in northeastern Brazil and; identify difficulties and facilities teams of the

    Family Health Strategy in small northeastern Brazilian city are in the health planning process.

    This is a case study, descriptive, qualitative, conducted between March and May 2014. The

    field of research was made up of a small city, against the backdrop of the Family Health

    Units. The research subjects were nurses, doctors and community health agents. Data

    collection was performed using semi-structured interviews and systematic observation, to

    analyze the data we used the technique of collective subject discourse, with the help of soft

    Quantiqualisoft. Therefore, the analysis of data emerged thirteen central ideas that generated

    their speeches collective subject. Based on the speeches, it was concluded that the

    municipality analyzed, health planning is timely, programmatic, be the day of delivery of the

    productivity report, and in some teams performed centrally without the participation of other

    workers who make up teams . The health needs of the enrolled population are identified

    during home visits and by community health workers. Among the ESF there are differences in

    the use of health indicators as a tool in planning. In addition, health professionals working in

    the FHS are difficulties in the planning process of the health measures adopted by the teams

    while the team reports facilities.

    Keywords: planning; Health Planning; Planning practices; Family Health Strategy.

  • LISTA DE SIGLAS

    AB Ateno Bsica

    ACS Agente Comunitrio de Sade

    CENDES Centro Nacional de Desenvolvimento

    DCS Discurso do Sujeito Coletivo

    DIRES Diretoria Regional de Sade

    ESF Estratgia de Sade da Famlia

    HAB Habitante

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    KM2 quilmetro quadrado

    MS Ministrio da Sade

    OPAS Organizao Pan-Americana de Sade

    PES Planejamento Estratgico Situacional

    PPI Programao Pactuada e Integrada

    PPLS Planejamento e Programao Local em Sade

    PPSUS Projeto de Pesquisa Prioritrio para o SUS

    SUS Sistema nico de Sade

    UESB Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

    USF Unidade de Sade da Famlia

  • LISTA DE TABELAS

    Manuscrito 02: Tabela 01: Snteses das ideias centrais e percentuais obtidas para cada uma

    delas..........................................................................................................................................56

    Manuscrito 02: Tabela 02: Snteses das ideias centrais e percentuais obtidas para cada uma

    delas .........................................................................................................................................61

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................................... 13

    1.2 Objetivos ............................................................................................................................. 17

    2 REVISO DA LITERATURA .......................................................................................... 18

    2.1 Contexto Histrico do Planejamento em Sade ................................................................. 19

    2.2 Histrico do Planejamento no Sistema nico de Sade .................................................... 21

    2.3 Planejamento em Sade na Estratgia de Sade da Famlia: teoria versus prtica ............ 24

    3 PERCURSO METODOLGICO ..................................................................................... 28

    3.1 Tipo de Estudo .................................................................................................................... 29

    3.2 Local de Estudo .................................................................................................................. 29

    3.3 Caractersticas do municpio estudado ...............................................................................30

    3.4 Participantes do estudo ...................................................................................................... 30

    3.5 Instrumento de Coleta de Dados ......................................................................................... 30

    3.6 Procedimentos de Coleta de Dados ....................................................................................31

    3.7 Mtodo de Anlise dos Dados ............................................................................................ 32

    3.8 Aspectos ticos da Pesquisa ............................................................................................... 33

    4 RESULTADOS E DISCUSSO ........................................................................................ 34

    4.1 Manuscrito 01: Planejamento em Sade na Estratgia de Sade da Famlia em

    Municpio de Pequeno Porte do Nordeste Brasileiro................................................................36

    4.2 Manuscrito 2: Dificuldades e facilidades no processo de planejamento em sade na

    estratgia de sade da famlia em municpio de pequeno porte ...............................................51

    5 CONSIDERAES FINAIS..............................................................................................69

    REFERNCIAS ..................................................................................................................... 71

    ANEXOS ................................................................................................................................. 80

    ANEXO I Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ..................................................... 79

    ANEXO II Protocolo do CEP/UESB .................................................................................... 80

    ANEXO III Roteiro de Entrevista para Trabalhadores da Ateno Bsica de Nvel

    Superior.....................................................................................................................................81

    ANEXO IV Roteiro de Entrevista para Trabalhadores da Ateno Bsica de Nvel Mdio 84

    ANEXO V Roteiro da Observao Sistemtica ................................................................... 85

  • 1 INTRODUO

    (...) planejar tentar submeter o curso dos acontecimentos vontade humana, no

    deixar que nos levem e devemos tratar de ser condutores de nosso prprio futuro, trata-

    se de uma reflexo pela qual o administrador pblico no pode planejar isoladamente,

    esta se referindo a um processo social, no qual realiza um ato de reflexo, que deve ser

    coletivo, ou seja, planeja quem deve atuar como indutor do projeto.

    Carlos Matus

  • 14

    O planejamento visto pelos estudiosos da administrao como a principal das

    funes administrativas, pois serve de princpios para o desenvolvimento das demais.

    Como parte do ciclo administrativo, um conceito que vem sendo utilizado desde o

    tempo de Frederick Winslow Taylor, fundador da Administrao Cientfica (1856-

    1917). A funo de planejar foi introduzida na prtica administrativa, quando foram

    determinados os princpios de que os administradores devem desenvolver um mtodo

    cientfico para cada elemento do trabalho de um homem, de forma que o mesmo seja

    realizado de maneira eficaz e eficiente, com o objetivo de melhorar a produtividade

    (CHIAVENATO, 2011).

    Desde ento, o papel e a importncia da funo de planejar no sofreram

    alteraes, contudo, a maneira de como planejar modificou-se pela necessidade de

    acompanhar a poca da transformao tecnolgica e a valorizao do ser humano

    (LACERDA; MAGAJEWSKI; MACHADO, 2010).

    Por planejamento entende-se um processo de racionalizao das aes humanas

    que consiste em definir proposies e construir a sua viabilidade, com vistas soluo

    de problemas e atendimento de necessidades individuais e coletivas (TEIXEIRA,

    2010, p. 18).

    Assim, para planejar imprescindvel o conhecimento da realidade, a fim de

    tornar possvel o alcance do objetivo proposto, pois envolve um conjunto de planos que

    variam desde o detalhamento das atividades cotidianas at as estratgias polticas

    (KURCGANT, 2010).

    No Brasil, at a implantao do Sistema nico de Sade (SUS), as polticas

    pblicas do setor sade estavam unificadas no mbito Federal, sendo o planejamento

    das aes em sade realizado de forma centralizada (GOES; MOYSS, 2012). A sua

    implantao, permitiu a insero de conceitos relacionados ao Planejamento em Sade

    no setor pblico, em consequncia da complexidade do processo de trabalho nesta rea

    e por causa da necessidade de enfrentar as mudanas nas condies de vida e sade da

    populao (TEIXEIRA, 2010).

    O planejamento em sade faz parte do arcabouo legal do SUS, indicando

    processos e mtodos de formulao e requisito para fins de repasse de recursos e de

    controle e auditoria, sendo suas atividades identificadas como responsabilidades das

    instituies componentes do SUS por esfera de governo (BRASIL, 2009a). A Lei

    Orgnica da Sade 8.080/90 prev que o processo de planejamento e oramento do SUS

  • 15

    ser ascendente, do nvel local ao federal, compatibilizando-se as necessidades da

    poltica de sade com a disponibilidade de recursos em planos de sade dos municpios,

    dos estados e da Unio (BRASIL, 1990a).

    Com a descentralizao do setor sade, os municpios passaram a atuar como

    protagonistas na execuo das polticas determinado nos foros intergestores de

    negociao (VILLASBOAS; PAIM, 2008). Eles passaram a ter o controle dos sistemas

    locais de prestao de servios em seu territrio ficando sob sua responsabilidade o

    planejamento dos servios e das aes de promoo da sade, com o objetivo de dar

    respostas s reais necessidades de sua populao (GOES; MOYSS, 2012).

    Nesta perspectiva, ao assumir a gesto do SUS no nvel local, coube aos

    municpios estruturar a rede de servios de sade no nvel da Ateno Bsica (AB) com

    vistas a garantir o primeiro atendimento aos indivduos, famlia e a comunidade

    (SANTINI; et al., 2013).

    Para garantir a assistncia sade, se fez necessrio a partir deste momento um

    planejamento municipal efetivo e, para tanto, vrias ferramentas foram criados para

    operacionalizar essa nova maneira de gerir a sade, dentre estas destaca-se a Estratgia

    de Sade da Famlia(ESF).

    A ESF o modelo assistencial da AB, que se alicera no trabalho de equipes

    multiprofissionais em um territrio adstrito, as aes de sade so desenvolvidas a partir

    do conhecimento da realidade local e das necessidades de sua populao (BRASIL,

    2011).Criada com a finalidade inicial de reordenar os servios de sade a partir da

    ateno bsica, tornando-se imprescindvel para os municpios a necessidade do

    planejamento no setor de sade.

    Entretanto, verifica-se a incipincia da incorporao das prticas de

    planejamento de forma que o conceda devida prioridade como instrumento

    indispensvel de gesto. Esta questo pode ser adicionada a um real momento em que as

    administraes acontecem por um perodo curto de tempo, no completando o processo

    ideal de formulao, execuo, acompanhamento e avaliao das situaes, o que se

    segue de uma prtica descontnua, aonde medidas antes prioritrias de uma

    administrao, acabam no sendo realizadas, simplesmente pela substituio de novos

    administradores (BRASIL, 2009b).

    Percebe-se que a complexidade institucional do SUS trouxe restries que

    podem explicar a limitada incorporao do planejamento neste mbito (VILLASBOAS;

    PAIM 2008). A imaturidade de muitos municpios no que diz respeito cultura de

  • 16

    planejamento dentro das organizaes pblicas principalmente nos municpios de mdio

    e pequeno porte, tem dificultado o seu papel no exerccio eficiente e efetivo na

    conformao do SUS neste nvel (BRASIL, 2009a; VIEIRA, 2009).

    Desse modo, percebe-se a existncia de uma certa fragilidade na prtica do

    planejamento nos servios de sade e, por conseguinte o desenvolvimento de seu

    processo de trabalho acontecem de forma desarticulado (VIEIRA, 2009). Diante disso,

    muitas dificuldades tm sido encontradas pelos municpios frente ao processo de

    planejamento das aes em sade, principalmente nos de pequeno porte populacional

    (BRASIL, 2008).

    Nessa perspectiva, entende-se que o planejamento em sade uma das

    ferramentas que poder contribuir para a mudana do modelo de gesto e do modelo

    assistencial em sade (SILVA; NASCIMENTO, 2011), pois o seu processo sistemtico

    contribuir, favoravelmente para a resolutividade e a qualidade da gesto, das aes e

    dos servios prestados populao. Infere-se que o processo contnuo do planejamento

    condio essencial para a inverso do modelo de ateno, fazendo com que o sistema

    seja mais proativo e resolutivo.

    Sendo assim, a questo do planejamento das aes em sade vem a ser um

    importante tema, por estar relacionado ao enfrentamento das dificuldades para a

    consolidao do SUS dentre as quais se destaca a busca da efetividade na ateno

    sade.

    Considerando o percentual de municpios de pequeno porte (populao igual ou

    menor que 20.000 habitantes) que representa 73% dos municpios brasileiro (MEURER;

    VIEIRA, 2010), torna-se de grande interesse investigativo conhecer como ocorre o

    processo de planejamento em sade nestas localidades e, a partir de uma busca realizada

    nas principais bases de dados cientficos (Literatura Latino-Americana e do Caribe em

    Cincias da Sade-LILACS e Scientific Electronic Library Online- SciELO)

    identificou- se carncia de estudos relacionados a essa temtica, alm disso os

    encontrados no objetivam a identificao dessa particularidade. Wanderley (2001)

    relata que os municpios de pequeno porte no recebem a devida importncia por parte

    dos pesquisadores, sendo assim, o estudo poder contribuir para preencher possveis

    lacunas existentes.

    Desta forma, emergiram as seguintes questes norteadoras: Como realizado o

    planejamento em sade na Estratgia de Sade da Famlia em municpios de pequeno

    porte do nordeste brasileiro? E quais as facilidades e/ou dificuldades que equipes das

  • 17

    Estratgias de Sade da Famlia em municpios de pequeno porte do nordeste brasileiro

    encontram no processo de planejamento em sade?

    Considerando o exposto, com vistas a encontrar respostas s questes

    norteadoras, foram traados os seguintes objetivos.

    1. 2 OBJETIVOS

    Objetivo Geral

    Conhecer o processo de planejamento em sade na Estratgia de Sade da

    Famlia em municpios de pequeno porte do nordeste brasileiro.

    Objetivos Especficos

    Descrever o processo de planejamento em sade nas Estratgias de Sade da

    Famlia em municpios de pequeno porte do nordeste brasileiro.

    Identificar as dificuldades e /ou facilidades que equipes das Estratgias de Sade

    da Famlia em municpio de pequeno porte do nordeste brasileiro encontram no

    processo de planejamento em sade.

  • 2 REVISO DA LITERATURA

    (...) o essencial do governo a ao e o essencial do planejamento o clculo que a

    precede e preside, ento planeja quem governa, porque o governante faz o clculo de

    ltima instncia, e governa quem planeja, porque governar conduzir com uma

    direcionalidade que supera o imediatismo de mera conjuntura.

    Carlos Matus

  • 19

    2.1 Contexto Histrico do Planejamento em Sade

    A histria do planejamento em sade teve sua origem na Amrica Latina na

    dcada de 1960. A Organizao Pan-Americana de Sade (OPAS) articulou-se com os

    servios do Centro Nacional de Desenvolvimento (CENDES) da Universidade Central

    da Venezuela, para definir uma proposta de planejamento. Dessa articulao entre

    CENDES e OPAS foi elaborado o documento Problemas Conceptuales y

    Metodolgicos de la Programacin de la Salud, que configura o mtodo

    CENDES/OPAS(CAMPOS; FARIA; SANTOS, 2010).

    Trata-se de um mtodo normativo marcado fundamentalmente pelo vis

    economicista, em que a norma tem como fundamento a relao custo-benefcio. Baseia-

    se na ideia da eficincia na utilizao do uso da combinao tima dos recursos

    disponveis por cada governo, atravs de um processo de definio de prioridades,

    sendo que, as prioridades so tratadas de acordo com a anlise custo-benefcio, numa

    perspectiva economicista de lucro, prprio da logica do setor privado (RIVERA, 1992).

    O mtodo CENDES/OPAS, na prtica, apesar de apoiar-se em clculos de

    inspirao econmica e ser um exemplo de racionalidade normativa de planejamento,

    foi o primeiro instrumento de planejamento e programao sistemtico aplicado pelos

    sistemas nacionais de sade no continente americano (LACERDA; MAGAJEWSKI;

    MACHADO, 2010).

    Apesar das crticas apontadas ao mtodo CENDES/OPAS, reduzindo-se ao

    campo econmico e ignorando a existncia de mltiplos atores sociais, alm de no

    considerar o planejamento cotidiano, ao utilizar-se de rigidez temporal e desconsiderar

    toda e qualquer relao de poder, marcado pela omisso dos aspectos polticos inerentes

    ao processo de planejamento, entre outras (RIVERA, 1992). Teixeira (2010, p.20)

    afirma que alguns de seus pressupostos e mtodos continuam vlidos at hoje, ainda

    mais quando se trata de desenvolver um processo de programao de aes e de

    servios que tenha o objetivo central a racionalizar recursos escassos.

    Nesse contexto, o carter normativo do mtodo, associado ausncia da

    abordagem dos aspectos polticos passou a exigir outro enfoque para o planejamento em

    sade. Diante disso, em 1975, o Centro Pan-Americano de Planificao em Sade

    (CPPS) elabora o documento "Formulao de polticas de sade" e, a partir da comea

    a se manifestar o carter poltico do planejamento. Observa-se a necessidade de uma

  • 20

    estratgia poltica, e as elaboraes tericas comearam a se debruar sobre os

    problemas do planejamento para alm da questo tcnica. A partir das crticas

    sistemticas e dos questionamentos ao Planejamento Normativo, fez com que se

    desenvolvesse na arena de discusso o denominado enfoque estratgico (RIVERA,

    1992).

    O enfoque estratgico pressupe que o planejador um ator social, ou seja,

    parte de um jogo onde existem outros atores, com interesses e fora distintos

    (CHORNY; KUSCHNIR; TAVEIRA, 2008, p.7).

    Nesta perspectiva surgem algumas vertentes na elaborao do planejamento entre

    elas: o Pensamento Estratgico em Sade de Mario Testa e o Planejamento Estratgico

    Situacional-PES de Carlos Matus (TEIXEIRA, 2010).

    O Pensamento Estratgico em Sade, de Mario Testa tem como ponto central

    das discusses questo de poder. Para ele, o poder constitui uma categoria explicativa

    da realidade e o objetivo de seu pensamento estratgico interferir nas relaes de

    poder, uma vez que o percebe como uma capacidade que algum ou algum grupo

    possui (GOES; MOYSS, p.38, 2012). Desse modo, refere em toda a sua proposta

    luta pelo poder, como produzir deslocamentos de poder em favor das classes/grupos

    subordinados/dominados (TESTA,1995).

    Essa vertente dividida em duas partes: o diagnstico em sade e as propostas

    programtico-estratgicas. No diagnstico realizada a anlise da realidade de sade da

    populao e so ainda observados trs aspectos: o administrativo, que procede a

    enumerao e a quantificao da populao, das doenas, das mortes e dos recursos

    disponveis; o estratgico, que consiste na anlise das relaes de poder no setor, das

    desigualdades na situao de sade entre grupos sociais e da distribuio de poder nos

    servios de sade; e o ideolgico, que faz anlise da ideologia dos grupos sociais. Por

    meio dos trs diagnsticos realizada a sntese diagnstica, a partir da h elaborao de

    propostas programtico-estratgicas, cujo objetivo a realizao aes de sade para a

    mudana (TESTA, 1995).

    O Planejamento Estratgico Situacional, de Carlos Matus, prope um mtodo de

    planejamento situacional no qual o ator que planifica est dentro da realidade e coexiste

    com outros atores que, tambm, planificam, resultando em um jogo de atores em

    interao, onde as jogadas seriam os fatos, produzidos pelos jogadores (atores)

    (MATUS, 1993).

  • 21

    Para Matus o planejamento clculo que precede e preside a ao". Ele prev

    quatro momentos bsicos para o desenvolvimento de seu enfoque metodolgico: o

    momento explicativo (seleo, descrio e explicao de problemas); normativo

    (desenho de um plano por operaes para enfrentar os problemas); estratgico (anlise

    de viabilidade poltica do plano e desenho de uma trajetria estratgica) e momentos

    tticos operacionais, da gesto e da implementao do plano (MATUS, 1993).

    O planejamento em sade ao ser vislumbrado como uma rea de conhecimento

    um tanto complexa, em que as diferentes abordagens se complementam, requer a

    ampliao das prticas de planejamento e de sua consolidao dentro das instituies,

    de modo a fortalecer os sistemas e servios de sade (LUZ; PEREIRA; SILVA, 2013).

    Dessa forma o planejamento pode ser visto como uma ferramenta que oportuniza

    o alcance da resolubilidade das medidas estabelecidas e implementadas, e ainda,

    viabiliza as melhorias da qualidade da gesto.

    2.2 Histrico do Planejamento no Sistema nico de Sade

    A Constituio Federal de 1988 tornou obrigatria a adoo sistemtica do

    planejamento pblico pelos entes federados. Antes dela, no existia uma norma geral

    sobre o assunto, logo, cada dirigentes, das esferas de governo legislava sobre o prprio

    planejamento (GIACOMONI, 2007). Estabeleceu tambm os instrumentos legais de

    planejamento da gesto, aos quais todos os rgos da administrao pblica deveriam se

    submeter, a fim de programar os recursos financeiros necessrios execuo das

    atividades em cada setor. Diante disto, surge ento, o Plano Plurianual (PPA), a Lei de

    Diretrizes Oramentrias (LDO) e a Lei Oramentria Anual (LOA) (VIEIRA, 2009).

    No setor sade, a Constituio Federal de 1988 criou o SUS, que foi

    regulamentado pelas Leis Orgnicas da Sade 8.080/90 e 8.142/90. A Lei 8.080/90

    estabeleceu que o setor sade deveria realizar um planejamento ascendente do nvel

    local at o federal, ouvindo os respectivos Conselhos de Sade para elaborao de

    Planos de Sade em todas as esferas de governo; e, a partir destes, seriam construdas as

    Programaes Anuais de Sade que, por sua vez, deveriam estar contempladas nas

    propostas oramentrias. Desde ento, o planejamento passou a ser reconhecido como

    fundamental nas aes e servios de sade e a configura-se como responsabilidade dos

    entes pblicos (BRASIL, 1990a, BRASIL, 2009a).

  • 22

    A Lei 8.142/90 instituiu os requisitos para recebimento de recursos provenientes

    do Fundo Nacional de Sade. Esta Lei determina que os municpios, estados e Distrito

    Federal devem ter Conselho de Sade, com a participao de usurios, trabalhadores e

    prestadores de servio; Planos de Sade e Relatrios de Gesto que permitam o controle

    dos investimentos previstos nas programaes (BRASIL, 1990b).

    Pensando em uma forma de orientao do planejamento, o MS elaborou em

    1992, o processo de planejamento em nvel nacional e props a criao do Sistema

    Nacional de Planejamento para rearticulao e coordenao das atividades de

    planejamento. Por meio desta proposta, MS, estados, Distrito Federal e municpios se

    uniriam visando a superao dos entraves na oramentao e financiamento da sade; e

    estruturao de prticas de avaliao, de controle e de acompanhamento (BRASIL,

    1992).

    Nessa perspectiva, e com o processo de descentralizao, gerou-se a necessidade

    de pactuao entre as trs esferas de governo, e os gestores municipais passam a ter

    papel fundamental na consolidao do SUS, atravs do fortalecimento do planejamento

    como um relevante mecanismo de gesto (BRASIL, 2009c).

    Em 1996, o MS publica a Norma Operacional Bsica (NOB/SUS 01/96), a qual

    estabeleceu um novo instrumento de planejamento, a Programao Pactuada e Integrada

    (PPI), ampliando a possibilidade da assistncia nos nveis de maior complexidade. A

    PPI traduz as responsabilidades de cada gestor do sistema, de forma a garantir o acesso

    da populao aos servios de sade, seja pela oferta no prprio municpio ou pelo

    encaminhamento a outros municpios, sempre por intermdio de relaes entre gestores

    municipais, mediadas pelo gestor estadual (CONASS, 2011).

    Nesse sentido, a PPI representou um avano para organizao do SUS no que

    diz respeito ao planejamento e pactuao de ofertas de servios entre os municpios e

    os seus estados. No entanto, ainda permaneciam problemas relacionados ao acesso e

    fazia-se necessrio a discusso sobre a regionalizao da assistncia sade. Diante

    disso, em 2001, foi publicada a Norma Operacional de Assistncia Sade (NOAS

    01/2001) que ampliou as responsabilidades dos municpios quanto ateno bsica e

    estabeleceu o Plano Diretor de Regionalizao (PDR) como instrumento de

    ordenamento do processo de regionalizao da assistncia em cada estado e no Distrito

    Federal. A partir do PDR foram elaboradas as PPI anuais (VIEIRA, 2009).

    Em 2006, o MS, visando consolidar ainda mais o SUS publicou o Pacto pela

    Sade que composto pelo Pacto da Vida, Pacto em Defesa do SUS e Pacto de Gesto

  • 23

    e regulamentou as Diretrizes Operacionais dos Pactos da Vida e da Gesto. No Pacto de

    Gesto, os eixos compreendem o planejamento: a descentralizao, a regionalizao, o

    financiamento, PPI, a regulao, a participao e o controle social, o planejamento, a

    gesto do trabalho e a educao em sade (BRASIL, 2006).

    Nesta perspectiva, apesar dos avanos alcanados decorrentes das iniciativas para

    ordenar e integrar o planejamento do SUS, at ento, no tinha um processo integrado

    de planejamento que pudesse guiar os gestores na direo do SUS. A partir da

    constatao da dificuldade institucional e da incipincia da incorporao de prticas de

    planejamento em todas as esferas de gesto do SUS, o MS, por meio da Portaria n.

    399/2006 instituiu o Sistema de Planejamento do SUS (PLANEJASUS), (SILVA;

    SANTOS; MENDES, 2012). Cujo objetivo criar condies para a articulao dos

    processos de planejamento nas trs esferas de governo (TEIXEITRA, 2010).

    Aps o advento do Pacto pela Sade, o MS props uma reformulao no

    PLANEJASUS. Ento, so definidos trs instrumentos principais para

    operacionalizao do planejamento do SUS: o Plano de Sade (PS), que deve abordar as

    intenes e os resultados a serem buscados no perodo de quatro anos; a Programao

    Anual de Sade (PAS), que deve operacionalizar as intenes expressas no PS,

    apontando o conjunto de aes voltadas promoo, proteo e recuperao da sade,

    bem como gesto do SUS; e o Relatrio Anual de Gesto (RAG), que deve registrar

    os resultados alcanados com a execuo da PAS e orientar eventuais mudanas que se

    fizerem necessrias. Os referidos instrumentos compem, assim, o elenco bsico dos

    produtos a serem promovidos, de incio, pelo PLANEJASUS (BRASIL, 2009d).

    Tais instrumentos so vertentes essenciais do processo de planejamento. Desse

    modo, faz-se necessrio que profissionais da gesto, percebam mais que pontualidades

    nas entregas, visto que o processo do planejamento no SUS imprescindvel e iminente,

    para viabilizar a alocao de recursos, proporcionando melhores resultados. Ainda,

    percebe-se que a pratica do planejamento base para a mudana no modelo de ateno,

    tornando o sistema mais proativo e com proporcionais resolutividades. Contudo, ainda

    ntido gestores e tcnicos atuarem com vistas somente a rotina de praxe, se direcionando

    ao planejamento como mera habitualidade formal (MINAS GERAIS, 2013).

  • 24

    2.3 Planejamento em Sade na Estratgia de Sade da Famlia: teoria versus

    prtica

    O Programa Sade da Famlia criada em 1994, pelo MS, foi formulada para

    reorganizar o modelo de ateno sade no Brasil na busca de incitar reflexes e

    mudanas nas instituies, nos paradigmas do pensamento e comportamento dos

    profissionais e cidados brasileiros. Trata-se de uma estratgia que envolve a

    comunidade, por meio dos Agentes Comunitrios de Sade (ACS) e coloca as equipes

    multiprofissionais mais perto dos domiclios, das famlias e das comunidades, favorece

    o estabelecimento de vnculos de responsabilidade e confiana entre profissionais,

    garantindo a equidade das aes em sade e a humanizao do atendimento (CONILL,

    2008).

    O MS por meio da Portaria n 2.488 de 21 de outubro de 2011, define que a

    Estratgia Sade da Famlia (ESF) tem como princpio geral a (re) organizao da

    Ateno Bsica (AB) no pas, em conformidade com os princpios e diretrizes do SUS.

    A ESF deve ainda ter carter substitutivo em relao rede de AB tradicional, nos

    territrios, realizando cadastramento domiciliar, diagnstico situacional, aes dirigidas

    aos problemas de sade de maneira pactuada com a comunidade onde atua, buscando o

    cuidado do indivduo e das famlias no decorrer do tempo, mantendo sempre postura

    proativa frente aos problemas de sade-doena da populao.

    Sendo assim, no interior da ESF faz se necessrio trabalhar as questes sade

    por meio de um planejamento e uma programao local, em um enfoque estratgico-

    situacional (TEIXEIRA, 2001), tendo como foco a famlia e a comunidade.

    Desse modo, na ESF, o planejamento tem como ponto inicial as reais

    necessidades da famlia e da comunidade, e deve ser direcionado resoluo dos

    problemas identificados no territrio de sua responsabilidade (CAMPOS; FARIA;

    SANTOS, 2010). Fazendo uso de ferramentas que auxilie na identificao dessas

    necessidades e possveis situaes de risco que a comunidade adscrita possa estar

    exposta, atravs de suas atividades cotidianas como, por exemplo, as visitas

    domiciliares (AZEREDO et al., 2007;TEIXEIRA, 2009; ABRAHO ; LAGRANGE,

    2007; DRULLA et al., 2009) que segundo os referidos autores esse tipo de atuao

    extramuros uma ferramenta potente para identificao das necessidades de sade da

    famlia e comunidade.

  • 25

    Nesse sentido, o planejamento tambm deve ser realizado por informaes

    colhidas atravs dos ACS, por ser o responsvel pelo cadastramento das famlias e pelo

    levantamento do perfil scio-econmico e epidemiolgico e por ser o membro da equipe

    que est constantemente no territrio (FILGUEIRAS; SILVA, 2011). Dessa forma so

    detentores de conhecimentos que no chegam unidade (NASCIMENTO; CORREA,

    2008; SAKATA; MISHIMA, 2012; STOTZ; DAVID; BORNSTEIN, 2009), sendo da

    competncia da equipe realizar o planejamento conforme suas necessidades de sade

    (SOUZA; ALMEIDA; BARBOSA, 2009).

    Contudo, deve-se trabalhar com diagnsticos, construdos por meio de

    indicadores de sade. A informao gerada pelo servio, quando pautada nos

    indicadores produzidos pela equipe, proporciona o desenho real de uma realidade

    apresentada pela populao, viabilizando, assim, aes condizentes com as necessidades

    locorregionais (BARBOSA; FORSTER, 2010, p.427), buscando a identificao de

    cada problema, indicando as possveis causas, procurando identificar a raiz de cada

    problema (VILASBAS, 2004).

    Vale ainda destacar que o planejamento deve ser realizado pelos atores

    envolvidos na ao com a participao dos membros da equipe e comunidade em geral

    (CERVINSKI, et al., 2012) e deve ser um processo contnuo e organizado que possa

    responder s demandas das ESF,(SILVA; NASCIMENTO, 2011,p.142), por meio da

    interao, compartilhando diferentes saberes no planejamento das aes(CUTOLO;

    MADEIRA, 2010).

    Nesta perspectiva, a ESF um espao favorvel para a efetiva participao da

    comunidade no processo do planejamento. Devendo propiciar e estimular sua

    participao na identificao, explicao e compreenso de seus problemas e

    necessidades de sade, de forma a contribuir para as prticas polticas, sociais e

    culturais que tenham como proposito superar esses problemas de modo a atender suas

    necessidades (VILASBAS, 2004). Essa participao garantida pela Constituio

    Federal de 1988 e complementada com a Lei Orgnica da Sade 8142/90.

    Sendo assim, a participao da comunidade nesse processo favorece o

    estabelecimento de vnculos, que so essenciais para a estruturao de um servio

    baseado nos objetivos da ESF (SILVA; SANTOS; MENDES, 2012). A ideia de vnculo

    na ESF a de conhecer as pessoas e seus problemas de sade (SCHIMITH; LIMA,

    2004), e acredita-se que com a participao da comunidade aumenta-se a possibilidade

    de consolidao da prtica do planejamento (SILVA; SANTOS; MENDES, 2012).

  • 26

    Nos aspectos referentes prtica do planejamento, existem diferentes mtodos

    que podem ser desenvolvidas nos espaos da ESF, a saber: o Planejamento Estratgico

    Situacional (PES), o Planejamento e Programao Local de Sade (PPLS) e o

    Planejamento pela Ao Comunicativa (PAC) entre outros (SILVA; NASCIMENTO,

    2011).

    Nesse sentido, destacaremos aqui o Planejamento e Programao Local em

    Sade (PPLS) visto que foi o mtodo aplicado no processo de implantao das equipes

    de sade da famlia, especialmente no Estado da Bahia (AQUINO, 2001) e por permitir

    a participao dos diversos atores sociais em seus momentos e negociao entre eles,

    possibilitando um planejamento voltado para a transformao das prticas de sade em

    nvel local.

    O PPLS uma forma de organizar os resultados do diagnstico da situao de

    sade e das condies de vida e sistematizar as aes necessrias para resolver os

    problemas e as necessidades em sade, revelados junto populao e no territrio em

    que elas vivem. (VILASBAS, 2004, p. 2).

    O PPLS elaborado por Teixeira (1993) foi desenvolvido a partir do enfoque

    estratgico-situacional de Matus (1993). Vilasbas e Teixeira (2001) trazem a proposta

    do PPLS a ser desenvolvido durante a realizao de oficinas de trabalho das ESF, por

    meio da anlise da situao de sade (identificao e formulao de problemas,

    priorizao de problemas, explicao de problemas); definio de objetivos; definies

    de aes, anlise de viabilidade e desenho de estratgias; elaborao da programao

    operativa e definio de indicadores; acompanhamento e avaliao da programao

    operativa.

    Esta proposta pode ser aplicada em diversos recortes territoriais de um

    municpio: rea de abrangncia de uma unidade de sade, conjunto de reas de

    abrangncia das unidades de sade ou em todo o municpio (VILASBAS, 2004, p.

    9).

    Entretanto, apesar das diversas possibilidades de mtodos de planejamento que

    podem ser desenvolvidas na ESF, o que se percebe a prtica de um planejamento

    incipiente, sem valorizar o planejamento como instrumento indispensvel de gesto.

    Segundo Paim (2003), o planejamento em sade que existe no Brasil tem carter

    verticalizado, ritualstico, uma fantasia, uma espcie de pra-no-dizer-que-no-falei-

    de-flores, descompromissado com a recomposio das prticas, com a emancipao

    dos sujeitos e com a sade da populao.

  • 27

    Sabe-se da importncia do planejamento enquanto prtica cotidiana, contudo no

    momento de coloc-lo em prtica detectam-se algumas limitaes no que diz respeito

    realizao de um planejamento coletivo e participativo (SILVA; NASCIMENTO,

    2011). A ausncia de um planejamento coletivo das aes favorece a fragmentao da

    assistncia por parte do profissional, no considerando as diversas dimenses das

    necessidades de sade dos usurios, se distanciado do iderio da ESF (MARQUI et

    el.,2010).

    Estudos identificam que em muitos espaos coletivos so raros os momentos que

    toda equipe se rene para realizar o planejamento das aes e quando esse momento

    ocorre realizado de forma centralizada e no trabalhando com diagnstico construindo

    a partir da anlise situacional (KELL; SHIMIZU, 2010; SANTANA, 2011; KAWATA

    et al.,2009). Ohira, Junior e Nunes (2014), relata que o planejamento no realizado

    conforme sua particularidade, por regional de sade.

    Soma-se a isso o conjunto de normas e regulamentaes da ESF formulado

    pelo MS tem sido criticado por ser excessivo e por homogeneizar as atividades das ESF

    em todo o territrio nacional sem considerar as necessidades e especificidades locais

    (CUNHA; S, 2013, p.68).

    Outra questo importante que vem sendo apontada por autores (OLIVEIRA et

    al.,2010; SILVA; NASCIMENTO, 2011; SERAPIONI; SILVA, 2011) refere-se

    barreira geogrfica para acesso s comunidades adscritas como sendo aspecto

    dificultador no processo de planejamento. Destaca-se ainda que os problemas

    enfrentados pelos municpios diferem ainda de acordo o porte populacional, visto que

    estes no so da mesma dimenso, contudo os municpios de pequeno porte precisam de

    diretrizes e instrumentos para orientar seu desenvolvimento (MATIELLO; VILLELA,

    2010).

    Sendo assim, para que o planejamento em sade na ESF possa avanar, devem-

    se identificar as demandas importantes, conforme as singularidades de cada municpio

    e, por conseguinte de cada rea, para que se possam resolver os problemas e as

    necessidades apontadas. O planejamento precisa ser vislumbrado como um exerccio de

    poltica e cidadania, isso porque, o ato de planejar implica na participao de todos os

    atores importantes nesse processo: gestores, trabalhadores de sade e usurios, no

    sendo apenas objeto para o cumprimento de questes formais e burocrticas e com

    pouca repercusso sobre as prticas de gesto.

  • 3 PERCURSO METODOLGICO

    O ato de planejar consiste em desenhar, executar e acompanhar um conjunto de

    propostas de ao com vistas interveno sobre um determinado recorte da realidade.

    Ana Luiza Queiroz Vilasbas

  • 29

    3.1 Tipo de Estudo

    Para viabilizar o alcance dos objetivos propostos para o estudo optamos por um

    estudo de caso. Segundo Yin (2005, p.19) o estudo de caso um estratgia muito

    utilizada quando se colocam questes do tipo como e o por qu, quando o

    pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos e quando o foco se encontra

    em fenmenos contemporneo inseridos em algum contexto da vida real.

    O estudo de carter descritivo, pois permite conhecer e observar fenmenos,

    como so constitudos, suas caractersticas e os processos que fazem partem deles,

    possibilitando ao pesquisador descrever as circunstncias nas quais os fenmenos

    aconteceram (MARCONI; LAKATOS, 2010).

    Quanto natureza, trata-se de um estudo qualitativo, cuja abordagem envolve a

    compreenso profunda e abrangente de um universo de significados, crenas e valores

    que no podem ser quantificados atravs da operacionalizao de variveis (MINAYO,

    2010).

    3.2 Local do Estudo

    O estudo foi realizado em um municpio de pequeno porte da 13 Diretoria

    Regional de Sade do Estado da Bahia. A escolha do municpio foi intencional, visto

    que o estudo faz parte de um projeto de pesquisa maior intitulado A Organizao do

    Processo de Trabalho e da Assistncia Sade nos Municpios de Pequeno Porte da 13

    DIRES-BA, vinculado ao Projeto de Pesquisa Prioritrio para o SUS (PPSUS),

    financiado pelo Ministrio da Sade. Dos 25 municpios que compem esta Diretoria de

    Sade 10 foram selecionados por apresentarem populao inferior a 15.000 habitantes e

    os gestores do setor sade destes municpios concordarem com a realizao da pesquisa.

    Como critrio de incluso considerou: pertencer ao PPSUS, proximidade

    geogrfica com o municpio sede da microrregio e nvel de cobertura populacional da

    Estratgia de Sade da Famlia superior a 90%.

    O estudo teve como cenrio as Unidades de Sade da Famlia do municpio

    escolhido, compondo um universo de 05 unidades, as quais para fazerem parte do

    estudo deveriam est funcionando h, no mnimo, um ano, com profissionais atuando a

    pelo menos seis meses.

  • 30

    3.3 Caractersticas do municpio estudado

    Segundo o IBGE (2014), municpio estudado possui rea territorial de

    2.231,625Km2, populao estimada em 2014 de 14.618 habitantes, Densidade

    Demogrfica de 6,45hab/Km2, ndice de Desenvolvimento Humano Municipal de

    0,566, Incidncia de Pobreza de 62,13%, Incidncia de pobreza subjetiva de 72,34%,

    ndice Gini 0,36. O municpio possui sete (07) estabelecimentos de sade, sendo seis

    (06) pblicos e um (01) privado, destes, cinco (05) so destinados a assistncia primaria

    e um (01) destinado ao atendimento hospitalar. Possui cinco (05) unidades de sade da

    famlia, duas localizadas em zona urbana e trs na rural. No ano de 2010 havia um total

    de 3.874 famlias, sendo que destes 7.359 pessoas residem em rea urbana e 7.028 em

    zona rural, do total de moradores 51% so do gnero masculino (7.338) e 49% do sexo

    feminino (7.049). So 9.699 pessoas alfabetizadas e 5.113 frequentando escolas ou

    creches.

    3.4 Participantes do Estudo

    Os participantes do estudo foram Enfermeiro, Mdico e Agentes Comunitrios

    de Sade. No trabalhamos com a Equipe mnima (mdico, enfermeiro, auxiliar ou

    tcnico de enfermagem e agentes comunitrios de sade), pois na observao

    sistemtica verificou-se que o tcnico de enfermagem no participava das reunies de

    planejamento, tornando a nosso ver desnecessria sua participao no estudo.

    Foram entrevistados 05 enfermeiros, 04 mdicos e 21 Agentes Comunitrios de

    Sade. Quanto ao perfil dos profissionais, 83% so do sexo feminino, 73,3% so

    efetivos, a idade variou de 24 a 58 anos, sendo a mdia 37,9 anos. Com relao

    escolaridade, (11) possuem nvel superior, (01) superior incompleto, (17) 2o grau

    completo e (01) 1o grau incompleto. A mdia de tempo de trabalho foi de 02 anos para o

    enfermeiro, 08 meses para o mdico e 07 anos para os Agentes Comunitrios de Sade.

    3.5 Instrumento de Coleta de Dados

    Para obter os dados utilizou-se a entrevista semiestruturada, alm da realizao

    de uma observao sistemtica. Para entrevista semiestruturada, utilizou-se os

    instrumentos de coleta de dados elaborados para o projeto PPSUS (ANEXO III e IV),

  • 31

    sendo que destes foram exploradas as questes relacionadas ao planejamento em sade,

    o que permitiu detalhar o tema de interesse.

    A entrevista semiestruturada uma fonte de expresso das ideias e dos valores

    dos participantes da pesquisa, sendo atravs da comunicao orientada que o

    pesquisador poder captar a subjetividade do entrevistado, bem como outras

    informaes mais profundas do objeto a ser investigado. Ao mesmo tempo, concede voz

    ativa aos participantes para se expressarem sobre a temtica em questo, oferecendo

    dessa maneira um significado particular sua atividade, e, por conseguinte, produzindo

    um novo conhecimento de mundo. Alm de combinar perguntas abertas e fechadas,

    possibilitando ao entrevistado discorrer sobre o tema sem se prender indagao

    formulada (MINAYO, 2010).

    A segunda tcnica utilizada, enquanto fonte primria foi observao

    sistemtica, a qual foi realizada com base em um roteiro pr-estabelecido (ANEXO VI).

    Segundo Gil, (2008, p. 104), a observao sistemtica:

    frequentemente utilizada em pesquisas que tm como objetivo a descrio

    precisa dos fenmenos ou o teste de hipteses. Nas pesquisas deste tipo, o

    pesquisador sabe quais os aspectos da comunidade ou grupo que so

    significativos para alcanar os objetivos pretendidos. Por essa razo, elabora

    previamente um plano de observao.

    De acordo Minayo (2010, p.100), toda observao deve ser registrada no dirio

    de campo, considerado instrumento que constam todas as informaes que no sejam o

    registro das entrevistas formais.

    3.6 Procedimentos de Coleta de Dados

    Aps contato telefnico, foi agendada uma data com o gestor da Secretaria

    Municipal de Sade, que previamente ao envio do projeto, havia consentido com a

    realizao da Pesquisa Prioritria do SUS (PPSUS), para que se procedesse ao incio da

    coleta dos dados.

    A coleta de dados ocorreu no perodo de maro e maio de 2014. As entrevistas

    foram registradas em gravador digital, e realizadas em local determinado pelo

    coordenador da equipe, em horrios que no interferiam na rotina do trabalho. Foram

    excludos do estudo os profissionais no encontrados em seu local de trabalho aps trs

    tentativas agendadas, em dias e horrios diferentes.

  • 32

    A observao sistemtica foi realizada nas ESF durante um perodo de 8 horas,

    nos turnos matutinos e vespertinos, no ms de maro de 2014, utilizou-se o dirio de

    campo, no qual foram registradas as impresses no decorrer das observaes, para que

    desta forma, no houvesse perda das informaes.

    3.7 Mtodo de Anlise dos Dados

    Para anlise dos dados utilizou-se a tcnica do Discurso do Sujeito Coletivo

    (DSC), que consiste na organizao e tabulao de dados qualitativos de natureza verbal

    (LEFVRE; LEFVRE, 2005).

    O DSC utiliza quatro figuras metodolgicas ou operadores do DSC chamadas

    Expresses-Chave (ECHs), Ideias Centrais (ICs) e/ou Ancoragem (AC) e o Discurso do

    Sujeito Coletivo (DSC).Neste trabalho, utilizamos, ECHs, ICs e o DSC. As ECHs

    apresentam-se como trechos literais do discurso, que desvendam a essncia dos

    depoimentos, o que existe de maior relevncia ou importncia nas entrevistas. As ICs

    descrevem, de maneira concisa ,o sentido ou sentidos presente em cada depoimento

    (LEFVRE; LEFVRE, 2005).

    DSC um discurso-sntese redigido na primeira pessoa do singular, o que indica

    uma pessoa coletiva discorrendo como se fosse um sujeito individual do discurso,

    composto pelo conjunto das ECHs de respostas que tem ICs semelhantes (LEFVRE;

    LEFVRE, 2005).

    Dessa forma, Lefvre e Lefvre (2005, p. 20) identificam que a construo do

    DSC, um conjunto ou [...] soma no matemtica de pedaos isolados de

    depoimentos, [...] de modo a formar um todo discursivo coerente, em que cada uma das

    partes se reconhea enquanto constituinte desse todo e o todo constitudo por essas

    partes.

    Atravs desta tcnica possvel reconstruir com partes de discursos individuais,

    como um quebra-cabea, tantos discursos sntese quantos se julgue necessrio para

    expressar uma determinada figura ou tema que representa a coletividade (LEFVRE;

    LEFVRE; TEIXEIRA, 2000, p.19).

    As entrevistas foram analisadas seguindo as etapas proposta pelo DCS,

    conforme descrito a seguir:

    Na tela Instrumento de Anlise de Discurso 1 (IAD 1) copiamos integralmente o

    contedo da resposta de cada sujeito na coluna ECHs. Vale ressaltar que no processo de

  • 33

    seleo das ECHs, foram retirados trechos que no eram relevantes para a pesquisa.

    Foram Identificadas e descritas as ICs com base em cada ECHs, colocando-as nas

    colunas correspondentes. Em seguida, as ICs de sentidos semelhantes, sentido

    equivalente ou complementar foram agrupadas em categorias as quais foram rotuladas

    com as letras (A, B, C, etc), aps essa etapa cada uma destas categorias foram

    denominadas de acordo com a IC sntese. Essa denominao deve representar da melhor

    maneira possvel as ICs agrupadas sob a categoria. Na tela Instrumento de Anlise de

    Discurso 2 (IAD 2), foi escolhida uma categoria (A, B, C, etc.) na qual a IC se

    enquadra. Aps escolha da categoria apareceu as ECHs de todas as respostas

    enquadradas nessa categoria. Em seguida copiamos ECHs para o espao logo abaixo, o

    do DSC. Dentro do espao do DSC trabalhamos sobre as ECHs copiadas, para que

    pudssemos construir o DCS. Aps conclumos a primeira categoria, repetimos o

    processo para as demais.

    Ressalte-se que para a construo dos DSCs foram utilizados conectivos entre os

    pargrafos, eliminadas as ideias repetidas, os erros mais grosseiros de ortografia, os

    vcios de linguagem. Buscou-se assim coeso, clareza e coerncia na construo dos

    discursos.

    3.8 Aspectos ticos da Pesquisa

    O projeto de pesquisa que originou este estudo foi submetido ao Comit de tica

    em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), tendo sido

    aprovado sob o nmero de protocolo 080/2009, conforme Ofcio CEP/UESB 265/2009,

    em 04 de setembro de 2009. O desenvolvimento do estudo ocorreu em conformidade

    com o preconizado pela Resoluo 466/12 do Ministrio da Sade (BRASIL, 2012).

    Previamente coleta de dados os participantes foram esclarecidos quanto aos

    objetivos, anonimato e sigilo das informaes deste projeto, facultando-lhes a deciso

    de participar ou no do estudo, por meio da assinatura do Termo de Consentimento

    Livre e Esclarecido- TCLE.

    Para preservar o anonimato dos participantes, os mesmos foram identificados

    conforme a abreviao de cada categoria profissional, a saber: Mdicos (MED),

    Enfermeiros (ENF) e Agentes Comunitrios de Sade (ACS).

  • 4 RESULTADOS E DISCUSSO

    No planejamento no podemos recusar a ideia que existem conflitos, que se contrapem

    ao nosso desejo de mudana, esta oposio realizada por outros indivduos com

    diferentes vises e opinies, que podem aceitar a nossa proposta de futuro no todo ou

    em parte, ou simplesmente recusar esta possibilidade.

    Carlos Matus

  • 35

    Os resultados desse estudo foram apresentados no formato de dois manuscritos,

    elaborados de acordo com as normas de submisso para autores da revista selecionada.

    A seleo dos temas abordados nos manuscritos visa contemplar os objetivos propostos

    no estudo. Dessa maneira, com vistas a responder o primeiro objetivo especfico,

    descrever o processo de planejamento em sade nas estratgias de sade da famlia em

    municpio de pequeno porte do nordeste brasileiro, foi elaborado o primeiro manuscrito,

    intitulado Planejamento em Sade na Estratgia de Sade da Famlia em Municpio de

    Pequeno Porte do Nordeste Brasileiro.

    Para atender o segundo objetivo, identificar as dificuldades e facilidades que

    equipes da Estratgia de Sade da Famlia em Municpio de Pequeno Porte do Nordeste

    Brasileiro, encontram no processo de planejamento em sade, foi elaborado o

    manuscrito Dificuldades e facilidades no processo de planejamento em sade na

    estratgia de sade da famlia em municpio de pequeno porte.

    O alcance do objetivo geral, conhecer o processo de planejamento em sade na

    estratgia de sade da famlia em municpios de pequeno porte do nordeste brasileiro,

    foi contemplado nos dois manuscritos apresentados com os resultados da pesquisa.

  • 36

    4.1 Manuscrito 1: Planejamento em Sade na Estratgia de Sade da Famlia em

    Municpio de Pequeno Porte do Nordeste Brasileiro

    Manuscrito ser submetido Revista Cadernos de Sade Pblica, elaborado conforme

    as instrues para autores, disponveis no link:

    http://www.scielo.br/revistas/csp/pinstruc.htm, acesso em dezembro de 2014.

  • 37

    PLANEJAMENTO EM SADE NA ESTRATGIA DE SADE DA FAMLIA

    EM MUNICPIO DE PEQUENO PORTE DO NORDESTE BRASILEIRO

    PLANNING FOR HEALTH IN THE FAMILY HEALTH STRATEGY IN

    SMALL CITY OF NORTHEASTERN BRAZIL PORTE

    PLANIFICACIN DE LA SALUD EN LA ESTRATEGIA DE SALUD DE LA

    FAMILIA EN LA PEQUEA CIUDAD DEL NORESTE DE BRASIL PORTE

    Sueli Vieira dos Santos1

    Cezar Augusto Casotti2

    1 Programa de Ps-graduao e Sade da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,

    Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequi-Ba, Brasil. 2

    Programa de Ps-graduao e Sade da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,

    Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-Jequi-BA Brasil.

    Correspondncia

    S.V.Santos

    Urbis III Caminho 22, no17

    Jequiezinho, Jequi-Ba. 45.206510

    RESUMO

    Este estudo teve como objetivo descrever o processo de planejamento em sade nas

    Estratgias de Sade da Famlia em municpio de pequeno porte do nordeste brasileiro.

    Trata-se de estudo de caso, descritivo, qualitativo. Os dados foram coletados por meio

    da entrevista semiestruturada e observao sistemtica. Nesta pesquisa utilizou-se a

    tcnica do Discurso do Sujeito Coletivo, por meio do soft Quantiqualisoft, e da anlise

    dos dados emergiram: Seis ideias centrais que deram origem a seis discursos do sujeito

    coletivo. No municpio analisado, o processo de planejamento em sade pontual,

    programtico e ocorre no dia da entrega do relatrio de produtividade, sendo em

    algumas equipes realizado de forma centralizada. As necessidades de sade da

    populao so identificadas durante visita domiciliar e pelos agentes comunitrios de

    sade. Entre as ESF h divergncias quanto ao uso de indicadores de sade no

    planejamento.

    Palavras-chave: Planejamento; Planejamento em Sade; Prticas de Planejamento;

    Estratgia Sade da Famlia.

    ABSTRACT

    This study aimed to describe the health planning process in the Family Health Strategies

    in small northeastern Brazilian city. This is a case study, descriptive, qualitative. Data

    were collected through semi-structured interviews and systematic observation. In this

    research we used the technique of the Collective Subject Discourse, through the soft

    Quantiqualisoft, and analysis emerged: Six core ideas that led to six speeches collective

  • 38

    subject. Over this municipality, the health planning process is timely, programmatic and

    be the day of delivery of the productivity report, and in some teams performed centrally.

    The health needs of the population are identified during home visits and by community

    health workers. Among the ESF there are differences in the use of health indicators in

    planning.

    Keywords: Planning; Health Planning; Planning practices; Family Health Strategy.

    INTRODUO

    Aps a implantao do Sistema nico de Sade (SUS), no incio da dcada de

    1990 e, por conseguinte, o processo de descentralizao poltico-administrativo e a

    universalizao do acesso aos servios de sade, surgiram inmeros desafios gerncia

    desses servios. A partir de ento, a gesto municipal e os gerentes de unidades de

    sade assumiram um papel fundamental no planejamento e na execuo dos servios. O

    planejamento faz parte do arcabouo legal do SUS, seja indicando processos e mtodos

    de formulao, seja como requisitos para fins de repasse de recursos e de controle e

    auditoria, devendo ser realizado de forma ascendente do mbito local at o federal1, 2

    .

    Diante da promulgao das leis orgnicas da Sade, tornou-se oportuno o

    desenvolvimento do planejamento em sade3. Por meio do processo de

    descentralizao, os municpios passaram a atuar como protagonistas na execuo das

    polticas4, cabendo a estes a autonomia que o sistema precisava para proporcionar o

    atendimento sade5.

    Sendo assim, para assegurar a assistncia sade, fez-se necessrio um efetivo

    planejamento municipal, e, para tanto, vrias estratgias foram criadas para

    operacionalizar essa nova maneira de gerir a sade; dentre elas, destaca-se a Estratgia

    de Sade da Famlia (ESF). Segundo Conill6, trata-se de uma estratgia que envolve a

    comunidade por meio dos Agentes Comunitrios de Sade (ACS), pois aproxima as

    equipes multiprofissionais dos domiclios, das famlias e das comunidades. E tambm

    favorece o estabelecimento de vnculos de responsabilidade e confiana entre

    profissionais, garantindo a equidade das aes em sade e a humanizao do

    atendimento.

    Alm disso, na ESF as atividades so desenvolvidas conforme o planejamento e

    a programao realizada, com base no diagnstico situacional, tendo como foco a

    famlia e a comunidade7. Assim, para planejar, imprescindvel o conhecimento da

    realidade, a fim de tornar possvel o alcance do objetivo proposto, visto que envolve um

  • 39

    conjunto de planos que variam desde o detalhamento das atividades cotidianas at as

    estratgias polticas8.

    Nessa perspectiva, entende-se que o planejamento em sade seja uma das

    ferramentas que podem contribuir para a mudana dos modelos de gesto e assistencial

    em sade, pois o seu processo sistemtico contribuir favoravelmente para a

    resolutividade e a qualidade da gesto, das aes e dos servios prestados populao.

    Vale destacar que o processo contnuo do planejamento condio essencial para a

    inverso do modelo de ateno, tornando o sistema mais proativo e resolutivo.

    No Brasil, segundo Meurer e Vieira9, 73% dos municpios so classificados

    como de pequeno porte (at 20.000 habitantes), o que desperta o interesse investigativo

    a fim de conhecer o modo como ocorre o processo de planejamento em sade nessas

    localidades, visto que nas principais bases de dados cientficos que veiculam a produo

    do conhecimento (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade

    LILACS e Scientific Electronic Library Online SciELO) identifica-se carncia de

    estudos relacionados a essa temtica. Wanderley10

    relata que os municpios de pequeno

    porte no recebem a devida importncia por parte dos pesquisadores. Diante disso, este

    estudo objetiva descrever o processo de planejamento em sade nas Estratgias de

    Sade da Famlia em municpio de pequeno porte do nordeste brasileiro.

    MTODO

    Esta pesquisa consiste em um estudo de caso, de carter descritivo e abordagem

    qualitativa, realizado em municpio de pequeno porte da 13 Diretoria Regional de

    Sade do Estado da Bahia (13 DIRES-BA).

    A escolha do municpio ocorreu de modo intencional, visto que o estudo faz

    parte de um projeto de pesquisa maior, intitulado A Organizao do Processo de

    Trabalho e da Assistncia Sade nos Municpios de Pequeno Porte da 13 DIRES-

    BA, vinculado ao Projeto de Pesquisa Prioritrio para o SUS (PPSUS), financiado pelo

    Ministrio da Sade. Dos 25 municpios que compem essa Diretoria de Sade, 10

    foram selecionados por apresentarem populao inferior a 15.000 habitantes e cobertura

    populacional da ESF superior a 90%.

    Para este estudo, foi selecionado um municpio que possui rea territorial de

    2.231,625 Km2; populao estimada, em 2014, de 14.618 habitantes; Densidade

    Demogrfica de 6,45 hab/ km2; ndice de Desenvolvimento Humano Municipal de

  • 40

    0,566; Incidncia de Pobreza de 62,13%; Incidncia de pobreza subjetiva de 72,34%; e

    ndice Gini 0,36 11

    .

    Incluram-se no estudo as ESF implantadas h no mnimo um ano, com

    profissionais atuando na equipe h pelo menos seis meses. Excluram-se os

    profissionais no encontrados no local de trabalho aps trs tentativas. Foram

    considerados trabalhadores da ESF o Enfermeiro, o Mdico e os Agentes Comunitrios

    de Sade. O trabalho no foi realizado com a Equipe mnima (mdico, enfermeiro,

    auxiliar ou tcnico de enfermagem e agentes comunitrios de sade), pois verificou-se

    que o tcnico de enfermagem no participava das reunies de planejamento, tornando,

    portanto, desnecessria sua participao no estudo.

    Para a obteno dos dados, foram utilizadas duas tcnicas, a entrevista

    semiestruturada e a observao sistemtica. Para a entrevista, foi elaborado um

    questionrio semiestruturado, e para a observao sistemtica, um roteiro foi pr-

    estabelecido. Os dados foram obtidos entre os meses de maro e maio de 2014. As

    entrevistas foram registradas em gravador digital e depois transcritas na ntegra. A

    observao sistemtica foi realizada durante 8 horas em cada uma das ESF, sendo

    registradas em dirio de campo.

    Para anlise dos dados, foi feita a opo pela tcnica do Discurso do Sujeito

    Coletivo (DSC), com o auxlio do soft Quantiqualisoft. Essa tcnica desenvolve um

    trabalho com quatro figuras metodolgicas: Expresses-Chave (ECHs), Ideias Centrais

    (ICs) e/ou ancoragem (A) e o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), sendo utilizadas,

    neste trabalho, as seguintes figuras: ECHs, ICs e o DSC. Os dados obtidos resultam em

    um discurso individual do coletivo, ou seja, a representao da coletividade na

    primeira pessoa do singular12

    .

    Vale ressaltar que para manter a fidedignidade dos DSCs 2 e 4 no foi possvel

    evitar o particularismo, pois se houvesse a omisso de sua categoria profissional haveria

    comprometimento dos DSCs.

    Este estudo foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da Universidade

    Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) mediante o parecer n 080/2009.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    No municpio analisado, 05 ESF esto implantadas, sendo todas includas no

    estudo por atender aos critrios de seleo. Das 05 ESF, 02 localizavam-se na zona

  • 41

    urbana e 03 na rural. Foram entrevistados 05 enfermeiros, 04 mdicos e 21 Agentes

    Comunitrios de Sade.

    Quanto ao perfil dos profissionais, 83% so do sexo feminino, 73,3% so

    efetivos. A idade variou entre 24 e 58 anos, sendo a mdia 37,9 anos. Com relao

    escolaridade, 11 possuem nvel superior, 01 possui nvel superior incompleto, 17

    concluram o 2o grau e 01 possui o 1

    o grau incompleto. A mdia de tempo de trabalho

    foi de dois anos para o enfermeiro, oito meses para o mdico e sete anos para os

    Agentes Comunitrios de Sade.

    Com base na anlise dos dados, foram apreendidas seis ideias centrais e os

    respectivos discursos que as representam, que emergiram por meio das Expresses-

    Chave.

    Diante do questionamento dos membros da equipe de sade sobre como

    realizado o planejamento em sade na ESF, obtiveram-se duas ICs que geraram

    respectivos DSCs.

    IC1 - Planejamento pontual no dia da entrega do relatrio de produtividade

    DSC O planejamento feito mensalmente, sempre nas reunies de

    produtividade a gente j aproveita para poder lanar algum dado, alguma

    coisa que a gente precisa fazer. Planeja, v as datas e quem fica com o qu, a

    gente se rene para falar sobre a necessidade de cada um, de cada rea e de

    qu se est precisando, cada qual conta o seu problema e passa as

    informaes, por exemplo, os problemas que mais afetam a populao

    acabam sendo planejados ou monta-se alguma estratgia com base nas

    informaes que a gente passa para a equipe. Planeja sobre a sala de espera,

    visita domiciliar, os atendimentos de hiperdia, planejamento familiar, pr-

    natal, crescimento e desenvolvimento, a gente fica sabendo das datas, de

    acordo com o fluxograma do ms inteiro, os dias de atendimento, cada um

    tem o seu dia o seu horrio para poder ser atendido. No caso da tera-feira,

    ficou reservada para atender os hipertensos, para medir a presso. Eles

    podem vir a qualquer dia da semana, mas o dia de passar pelo atendimento do

    Hiperdia j ficou especificado para ser na tera-feira.

    Percebeu-se, portanto, que o coletivo confunde o fechamento da produtividade

    com a reunio da equipe. Nessa atividade, h o repasse de informaes, questes

    operacionais, e estabelecida a programao da equipe e entrega do relatrio de

    produtividade ao coordenador na unidade. Nesse momento, so repassadas informaes

    sobre situao de sade da populao, mas o foco no direcionado para os problemas

    de sade da populao adscrita, para discusses de casos e/ou para projetos teraputicos

    comuns. As discusses acerca do planejamento das atividades ocorrem na reunio de

    entrega do relatrio das atividades realizadas.

  • 42

    Um estudo desenvolvido no municpio de Santo Antnio do Descoberto (GO)

    corrobora nossos achados, no qual o planejamento mensal tambm acontece no dia da

    entrega do relatrio de produtividade e, segundo os trabalhadores, este o momento que

    eles realmente tm para planejar13

    .

    Neste estudo, durante a observao sistemtica da reunio das equipes,

    percebeu-se que para planejar eles consideram programas pr-estabelecidos (Hiperdia,

    Crescimento e Desenvolvimento, Planejamento Familiar e Pr-Natal). Dados

    semelhantes foram identificados em outros estudos13, 14

    , nos quais as equipes do nfase

    execuo dessas aes.

    Essas aes seguem orientao da Norma Operacional de Assistncia Sade

    (NOAS/2001), visto que essas so reas prioritrias da ateno bsica15

    . Vale ressaltar

    que as aes programticas so ferramentas importantes no processo de trabalho em

    sade, mas a ESF no deve ficar centrada apenas em programas pr-estabelecidos.

    Segundo Rosa e Labate16

    , ao adotar essas aes, a ESF perde a qualidade, no sentido de

    que no se trabalha de fato com as reais necessidades de sade da populao atendida

    pelo servio, sem produzir, assim, o impacto esperado na modificao da qualidade de

    vida dos usurios.

    Nessa perspectiva, uma das propostas o Planejamento e Programao Local em

    Sade (PPLS)17

    , inspirada no enfoque estratgico situacional do planejamento em sade

    de Matus18

    , que composto por cinco momentos, a saber: anlise da situao de sade;

    definio de objetivos; definio de aes, anlise de viabilidade e desenho de

    estratgias; elaborao da programao operativa; e acompanhamento e avaliao da

    programao operativa17

    .

    Entretanto, neste estudo, notou-se que, na prtica, nas ESF analisadas, a

    existncia de planejamento incipiente, est mais voltado para as normas tcnicas

    comuns a todos os servios, geralmente diretrizes do MS. Segundo Vilasbas e Paim4, o

    planejamento das aes em sade tem se conformado em uma prtica pontual. Nesse

    sentido, no fundamentado em prioridades que correspondam anlise sistemtica da

    realidade local, o que garantiria critrios mais especficos voltados s particularidades

    de cada unidade19

    .

    IC2 - Planejamento normativo, centralizado

    DSC O planejamento feito pela coordenadora. Ela faz o cronograma e

    passa para a gente realizar durante o ms todo. Normalmente como voc viu

    ali, a sala de espera, sempre com a coordenadora, s ela. Em reunies,

  • 43

    pequenas reunies, fechadas, s que no abrange toda a populao. O

    planejamento deles mesmos. Ela planeja, faz tudo, ela ainda no se sentou

    com a gente em momento algum, porque tambm ela nova no trabalho, eu

    acho que deveria sentar um perodo do ms ou da semana para planejar.

    O planejamento, em alguns espaos coletivos, continua sendo realizado de

    maneira normativa, centralizada, indicando que, apesar da equipe estar presente, a

    tomada de deciso realizada sem participao efetiva de todos os trabalhadores. O

    DCS revela caractersticas marcantes do Planejamento Normativo, visto que

    supervaloriza a presena de apenas um sujeito social (o que planeja) em detrimento do

    outro (quem realiza a ao). Isso demonstra que a equipe no tem a oportunidade de

    planejar conjuntamente as aes que visam a integr-los. Esse aspecto aponta para uma

    prtica de planejamento pouco participativa, sem a presena da dimenso comunicativa.

    Em uma das equipes pesquisadas, em certos momentos, a comunicao com a

    enfermeira efetivava-se mediante a transmisso de informao e distribuio de tarefas

    a serem realizadas no decorrer do ms.

    Outros estudos 20, 13, 14

    permitiram a constatao de que o planejamento

    realizado de forma centralizada, em que, segundo relato dos sujeitos do estudo,

    Normalmente quem faz o planejamento a enfermeira, a coordenadora. Aqui eu nunca

    participei. Eu no tenho ideia de como isso feito. O planejamento passado para a

    gente e a gente executa.

    Nesse sentido, nota-se que as equipes de sade dificilmente planejam suas aes

    em conjunto com a comunidade e outros membros da unidade. As aes de

    planejamento so geralmente desenvolvidas de modo centralizado e pouco participativo,

    distanciando-se do iderio da ESF enunciado pelos documentos oficiais do MS21

    .

    Diante do exposto, emerge a necessidade de um planejamento integrado e

    horizontalizado, caso contrrio a proposta ser de um Planejamento Estratgico, mas, na

    prtica, ser desenvolvido um Planejamento Normativo. Dessa forma, faz-se necessria

    uma prtica de planejamento que envolva a participao de todos os membros da equipe

    e da comunidade, reconhecendo que todos os sujeitos tm a mesma importncia, pois

    contribuem igualmente para alcanar os resultados, colaborando, assim, com a melhoria

    dos servios prestados.

    Quando os profissionais foram questionados sobre quais estratgias so

    utilizadas pelas equipes de sade para identificar as necessidades da populao de sua

    rea de abrangncia, foram geradas duas ICs e respectivos DSCs.

  • 44

    IC1 - Durante a visita domiciliar

    DSC Atravs da visita domiciliar, voc pode olhar no s paciente doente,

    mas seu modo de vida , o que influi sobre a sade desse paciente. Atravs

    das visitas em todo momento a gente observa e procura atender s

    necessidades desses pacientes (MED1, ENF5, MED3, ENF2).

    A ESF, tendo em vista as novas formas de produo de cuidado, prope a Visita

    Domiciliar como ferramenta de destaque no processo de trabalho das equipes22

    . A

    Visita Domiciliar uma atribuio comum a todos os integrantes da ESF, preconizando

    que o ACS realize, no mnimo, uma visita mensal a cada famlia residente na sua rea

    de abrangncia, entretanto esse nmero pode sofrer alterao conforme necessidade da

    famlia. Quanto aos demais membros da equipe, suas visitas so planejadas quando

    indicado ou caso seja necessria7. Entre os membros da equipe, os ACS so os maiores

    responsveis pelas visitas domiciliares s famlias cadastradas na ESF 23

    .

    Assim, a Visita Domiciliar configura-se como um elemento que facilita a

    identificao das necessidades e situaes de risco das comunidades adscritas 23

    . por

    meio dela que o profissional de sade tem a oportunidade de conhecer a realidade da

    comunidade adscrita como, por exemplo, condies socioambientais e habitacionais,

    relaes familiares, situaes de adoecimento 24

    , contribuindo, assim, para a

    identificao de reas de risco, situaes que no seriam visveis no espao da ESF 25

    .

    Essas informaes possibilitam o planejamento e o direcionamento das aes com base

    nas reais necessidades da comunidade. A Visita Domiciliar proporciona vantagem, pois

    possibilita a aproximao entre a equipe de sade e o contexto de vida e dinmica das

    famlias, sendo facilitadora no planejamento das aes de sade 26

    .

    Neste estudo, o DSC revelou que as necessidades de sade da populao da rea

    da ESF so identificadas durante a visita domiciliar. H um estudo realizado num

    municpio da regio metropolitana de Curitiba (PR) que corrobora nossos resultados27

    .

    Portanto, a Visita Domiciliar constitui importante instrumento para a ESF, por

    permitir equipe conhecer o contexto de vida do indivduo, da famlia e da comunidade

    assistidos e, assim, identificar suas reais necessidades, permitindo o planejamento de

    aes, baseando-se no conhecimento da realidade vivida pela populao, promovendo

    mudana para a melhoria dos nveis de sade e das condies de vida das pessoas, tendo

    em vista a promoo da sade da coletividade.

  • 45

    IC2 - Por meio dos agentes comunitrios de sade

    DSC identificado atravs das queixas dos ACS, atravs das dificuldades

    que ele observa. Quando a gente v uma necessidade a gente aciona mais os

    ACS, nas visitas identificam alguma situao, e a gente faz alguma coisa em

    cima daquilo que o agente comunitrio passa para mim. O ACS est sempre

    recorrendo gente, trazendo informao. Ele fala qual o principal problema

    e assim o planejamento realizado para tentar resolver aquele problema. O

    elo que a gente tem com a comunidade e o PSF so os agentes comunitrios e

    como eles moram na rea e esto constantemente ali, eles veem quais so os

    problemas da localidade e passam para a gente, temos que ir nos adaptando

    de acordo com essa realidade. O ACS tem papel fundamental porque ele vai

    com maior frequncia a esse paciente.

    O discurso coletivo reconhece que o ACS quem melhor identifica a rea, bem

    como a necessidade das pessoas que ali vivem, por morar na rea de abrangncia da

    ESF e visitar com maior frequncia esses indivduos. Considerando a observao

    sistemtica e a entrevista, percebe-se que os ACS detm um vasto conhecimento sobre a

    populao adscrita. Esse conhecimento advm do vnculo que foi construdo ao longo

    do tempo.

    Em virtude do fato de residirem no local onde atuam e conviverem com sua

    realidade, o ACS possui conhecimento mais aprofundado em relao comunidade28

    .

    Essa convivncia lhe permite uma viso diferenciada quanto aos demais membros da

    equipe sobre os problemas e necessidades da populao26

    que, a princpio, no poderiam

    ser reconhecidos no contexto da ESF29

    . Sendo assim, so responsveis pela

    identificao da demanda da comunidade e comunicao dela unidade de sade, sendo

    fundamental para o estabelecimento do vnculo entre a populao e ESF, tendo,

    portanto, uma funo mediadora30

    .

    Dessa forma, o ACS desempenha o papel essencial de interlocutor entre a

    comunidade e demais membros da ESF onde atua. Portanto, torna-se um ator facilitador

    para a equipe identificar a realidade da rea adscrita. Sua presena constante junto s

    famlias permite que se aproprie de informaes que os demais profissionais

    desconhecem, sendo assim, seu papel fundamental para identificar as necessidades da

    comunidade.

    Do questionamento sobre a utilizao de indicadores de sade como instrumento

    no planejamento, obtiveram-se duas ICs que geraram respectivos DSCs. Contudo,

    evidenciou-se divergncia, conforme observado abaixo.

  • 46

    IC1 - Uso de indicadores de sade como instrumento no planejamento

    DSC Atravs das notificaes e dos nossos documentos que so

    registrados. A gente recebe todo ms o relatrio do SIAB pela secretria e, s

    vezes, a gente se encontra em reunies na secretria para passar alguns

    indicadores que esto altos ou baixos, para poderem ser trabalhados. Em

    campanha mesmo de vacina para a gente atingir as metas a populao-alvo

    deve ser coberta, como a campanha do idoso, e agora teve a campanha do

    HPV que trabalham com a populao de adolescentes.

    IC2 - No utilizao de indicadores de sade como instrumento no planejamento

    DSC muito difcil, geralmente assim: os agentes de sade fazem a visita

    e passam as informaes aqui, mas os indicadores, voc v a meta de quanto

    que est, mais difcil. Esses indicadores existem, mas eu no sei como

    normalmente isso feito, como esses indicadores so utilizados, sempre tem

    registros de tudo, mas no sei te informar diretamente como que . Eu

    acredito que deve ser usado, mas s que at hoje eu nunca vi, apesar de que a

    gente preenche aquela folha do SIAB e a partir dali que agente v, as

    necessidades, mas at hoje, eu particularmente, de tudo que eu j fiz l nunca

    tive um resultado, uma troca, um feedback.

    Os indicadores de sade so relevantes para conhecer a comunidade assistida,

    uma vez que revelam a situao da sade, subsidiando o planejamento das aes da

    equipe, com base em suas necessidades e prioridades. Entretanto, percebeu-se que, na

    prtica, as informaes da rea de abrangncia da ESF e do Sistema de Informao em

    Sade (SIS) nem sempre so usadas no planejamento das aes.

    A observao sistemtica corrobora o segundo DCS, pois no foi identificada a

    utilizao de indicadores nas reunies das equipes e nem mesmo foi levantada uma

    discusso acerca dos dados gerados no territrio adstrito. Sabe-se que esses dados

    podem produzir informaes importantes para o planejamento das aes de sade. Vale

    destacar, tambm, que no basta gerar informaes sobre a rea de abrangncia da

    unidade, mas faz-se necessrio que a equipe as incorpore em sua prtica diria. Nesse

    sentido, verificou-se que em nenhum momento o coletivo, quando questionado, relatou

    o uso dos indicadores pactuados com o MS.

    Ohira, Junior e Nunes14

    afirmam que o uso do SIS serve mais para atender s

    demandas da equipe para com o gestor municipal do que para o planejamento e

    avaliao dos servios prestados pela ESF. Estudos realizados nos municpios de

    Pindamonhangaba19

    e Ribeiro Preto31

    confirmam tais resultados, visto que foi possvel

    identificar que os membros das equipes de sade da famlia entendem a finalidade e

    importncia do Sistema de Informao da Ateno Bsica (SIAB), entretanto seu uso

  • 47

    limita-se apenas ao registro dos dados, sem utiliz-los, desvalorizando as informaes

    produzidas, essas que so ferramentas bsicas de gerenciamento para o planejamento e

    avaliao das aes.

    De acordo com a Poltica Nacional de Ateno Bsica, atribuda a todos os

    profissionais da equipe a utilizao, em reunies, dos dados disponveis e discusso em

    conjunto do planejamento e avaliao das aes da equipe7. Segundo Franco

    32, por

    meio dos indicadores de sade que se torna possvel conhecer reas de risco e identificar

    tendncias dos agravos que acometem a comunidade, sendo, portanto, um instrumento a

    ser utilizado na identificao, monitoramento e avaliao das aes. Desse modo, o seu

    uso facilita e qualifica as aes de planejamento em sade da populao assistida,

    subsidiando as prticas de trabalho da equipe, em conformidade com a realidade local.

    importante destacar que, durante a coleta de dados, as equipes de sade do

    municpio analisado estavam em fase de implantao do novo Sistema de Informa