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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE ECONOMIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ECONOMIA
MESTRADO EM ECONOMIA
VANDETE ALMEIDA SILVA OLIVEIRA
O ENIGMA DA VASSOURA-DE-BRUXA: ANLISE DE UM CHOQUE EXGENO NA ECONOMIA DE ILHUS/BA
SALVADOR 2016
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VANDETE ALMEIDA SILVA OLIVEIRA
O ENIGMA DA VASSOURA-DE-BRUXA: ANLISE DE UM CHOQUE EXGENO NA ECONOMIA DE ILHUS/BA
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado em Economia da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Economia. rea de Concentrao: Economia do Trabalho e da Empresa Orientador: Prof. Dr. Gervsio Ferreira dos Santos
SALVADOR 2016
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Ficha catalogrfica elaborada por Vnia Cristina Magalhes CRB 5- 960 Oliveira, Vandete Almeida Silva O48 O enigma da vassoura-de-bruxa: anlise de um choque exgeno
na economia de Ilhus/BA./ Vandete Almeida Silva Oliveira. Salvador, 2016.
97 f. Il.; quad.; tab.; fig. Dissertao (Mestrado) Faculdade de Economia,Universidade
Federal da Bahia, 2016. Orientador: Prof. Dr. Gervsio Ferreira dos Santos. 1.Cacau. 2. Desenvolvimento econmico. 3. Vassoura- de-
bruxa I. Santos, Gervsio Ferreira dos. II. Ttulo. III. Universidade Federal da Bahia.
CDD 338.9098142
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A Deus, familiares e irmos em Cristo.
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AGRADECIMENTOS
At aqui nos ajudou O SENHOR, por isso estamos alegres (I Samuel 7:12). Agradeo
primeiramente a DEUS. Sem a Sua Presena e Auxlio jamais seria possvel realizao
deste trabalho. Agradeo pelo privilgio da Vida e por sua Companhia durante todos
esses anos, e por ter me concedido sabedoria e meios para que essa etapa pusesse ser
concluda.
Aos meus pais Wanderlucio e Gildete, a minha irm e querida amiga Cleane, ao meu
esposo Patrcio, a minha querida filha Lvia Clara que so presentes de DEUS na minha
vida e sempre me apoiaram e incentivaram, no medindo esforos para a chegada deste
momento.
A todos meus familiares, em especial aos residentes em Salvador pela hospedagem, e
aos amigos e irmos em Cristo da cidade de Ilhus, e do bairro de Vista Alegre e
Narandiba na cidade de Salvador, que sempre contriburam com oraes e palavras de
esperana e f vindas da Palavra de DEUS.
Ao professor e orientador Gervsio Ferreira dos Santos, brilhante pesquisador, pela
preciosa orientao, apoio e incentivo que muito contribuiu para o cumprimento desse
trabalho e para o meu crescimento pessoal e profissional.
A Daniela Lima Ramos, estudante admirvel, que no mediu esforos para me auxiliar
na realizao desta pesquisa.
Ao professor Antonio Csar Costa Zugaib, Jorge Mafra, Milton, Antnio Carlos de
Arujo, servidores da CEPLAC que sempre estiveram dispostos a ajudar no que fosse
possvel para que este trabalho pudesse ser realizado.
Ao professor da UFBA Henrique Tom e ao professor da UESC Carlos Eduardo pelo
apoio e incentivo mesmo no incio do Curso.
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Aos professores, funcionrios e colegas do Curso de Ps-Graduao da UFBA e aos
professores e membros da Banca Examinadora Andr Lus Mota dos Santos e Miguel
Angel Rivera Castro pelas preciosas contribuies.
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) pelo apoio
financeiro.
A todos que participaram diretamente e indiretamente pela realizao de mais esta
etapa. Muito Obrigada!
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Ainda que eu fale as lnguas dos homens e dos anjos, se no tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o cmbalo que retine. Ainda, que eu tenha o dom de profetizar e conhea todos os mistrios e toda a cincia; ainda que eu tenha tamanha f, a ponto de transportar montes, se no tiver amor, nada serei.
Apstolo Paulo
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RESUMO
O objetivo desse trabalho investigar o efeito da infestao da Moniliophthora perniciosa (praga Vassoura-de-Bruxa) no final da dcada de 80 na lavoura cacaueira e o respectivo crescimento econmico local no Municpio de Ilhus/BA. O cacau uma commodity agrcola mundial, que apresentou boa adaptabilidade s vantagens naturais de clima e solos do Estado da Bahia, em particular ao Municpio de Ilhus/BA, o que promoveu prosperidade na economia local. A cadeia de produo e processamento do cacau marcada por um elevado nvel de concentrao, seja na produo da commodity em um pequeno nmero de pases, ou o processamento industrial por um pequeno nmero de grandes empresas, o que configura uma atividade marcada pelo oligopsnio e sujeita a grande volatilidade nos preos e produo. A instalao da praga da Vassoura-de-Bruxa promoveu uma considervel queda na produo e produtividade da lavoura cacaueira, gerando prejuzos para os agentes econmicos do Municpio de Ilhus, que tinha no cacau grande parte de sua dinmica. A literatura aponta que as economias baseadas em recursos naturais esto mais sujeitas a choques exgenos. Neste trabalho, considera-se que, do ponto de vista dos impactos econmicos para a economia de Ilhus como um todo, o choque promovido pela Vassoura-de-Bruxa sobre o crescimento econmico local pode ser tratado como um enigma, j que a concentrao das atividades agroindustriais de processamento e de comercializao de cacau no Municpio de Ilhus, associada s polticas de diversificao da atividade econmica local, geram dvidas sobre o grau de dependncia da cultura do cacau, como abordado at o momento pela literatura. Desse modo, o trabalho se utiliza da metodologia de Controle Sinttico para verificar a magnitude desse impacto. Os resultados indicaram que a partir da infestao da praga da Vassoura-de-Bruxa na economia de Ilhus ocorreram impactos negativos, mas que no sobrepuseram o surgimento de uma nova dinmica na economia local que trouxe um crescimento econmico superior s outras regies economicamente similares no Estado da Bahia. Os potenciais impactos econmicos negativos podem ter ficado mais concentrados sobre os latifundirios (coronis) do cacau e trabalhadores informais, de maneira que o processo de industrializao e urbanizao da economia local atenuou os efeitos do choque sobre o crescimento econmico local. Palavras- chave: Cacau. Vassoura-de-Bruxa. Crescimento econmico local. Controle
Sinttico.
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SUMMARY
The objective of this work is to investigate the effect of the infestation of Moniliophthora perniciosa (Witch-broomstick pest) in the late 1980's on cacao plantations and their respective local economic growth in the municipality of Ilhus/ BA. Cacao is a global agricultural commodity, which showed good adaptability to the natural advantages of climate and soils of the State of Bahia, in particular to the Municipality of Ilhus/BA, which promoted prosperity in the local economy. The production and processing chain of cocoa is marked by a high level of concentration, either in the production of the commodity in a small number of countries, or industrial processing by a small number of large companies, which is an activity marked by oligopson and Subject to high volatility in prices and production. The installation of the witch-broom pest promoted a considerable decrease in the production and productivity of the cocoa crop, generating losses for the economic agents of the municipality of Ilhus, which had a large part of its dynamics in cocoa. The literature points out that resource-based economies are more subject to exogenous shocks. In this work, it is considered that, from the point of view of the economic impacts to the economy of Ilhus as a whole, the shock promoted by the Broom-witch on local economic growth can be treated as an enigma, since the concentration of Agroindustrial processing and marketing activities in the municipality of Ilhus, associated to the diversification policies of the local economic activity, raise doubts about the degree of dependence of the cocoa culture, as has hitherto been approached in the literature. In this way, the work uses the Synthetic Control methodology to verify the magnitude of this impact. The results indicated that from the infestation of the Bruise Broom pest in the Ilhus economy, negative impacts occurred, but they did not overcome the emergence of a new dynamic in the local economy that brought economic growth higher than the other economically similar regions in the State from Bahia. Potential negative economic impacts may have been more concentrated on cocoa landowners and informal workers, so that the process of industrialization and urbanization of the local economy attenuated the effects of the shock on local economic growth. Keywords: Cocoa. Witch broom. Local economic growth. Synthetic Control.
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 - Principais pases produtores de cacau em amndoas, 2015 21
Figura 2 - Quantidade produzida de cacau- Brasil, 1900/01-2014/15 26
Figura 3 - Quantidade produzida de cacau em amndoas- Estados brasileiros produtores de cacau, 1931-2010
27
Figura 4 - Evoluo da inflao brasileira, 1985-2000 30
Figura 5 - Distribuio geogrfica da Vassoura-de-Bruxa crescendo no cacau da Bahia, Brasil, originrios dos primeiros stios de introduo de Uruuca e Camacan
32
Figura 6 - Quantidade produzida de cacau em amndoas, Bahia, 1958/59- 2001/02
34
Figura 7 - Nmero de trabalhadores formalmente contratados segundo atividade econmica- Bahia, 1985-2000
35
Figura 8 - Quantidade produzida de cacau em amndoas- Mesorregies do Estado da Bahia, 1990-2014
36
Figura 9 - Quantidade produzida de cacau em amndoas-Microrregies Valena, Porto Seguro e Ilhus/Itabuna, 1990-2014
37
Figura 10 - Nmero de trabalhadores formalmente contratados segundo atividade econmica- Microrregio Ilhus-Itabuna, 1985-2000
38
Figura 11 - Quantidade produzida de cacau- Ilhus/BA, 1973-2010 39
Figura 12 - Taxa mdia de cmbio (US$/R$) 40
Figura 13 - Nmero de trabalhadores formalmente contratados segundo atividade econmica- Ilhus/BA, 1985-2000
43
Figura 14 - Populao rural e urbana do Municpio de Ilhus/BA, 1940-2010 44
Figura 15 - Populao rural no Municpio de Ilhus/BA e na Microrregio Ilhus-Itabuna, 1940-2010
44
Figura 16 - Populao urbana no Municpio de Ilhus/BA e na Microrregio Ilhus-Itabuna, 1940-2010
45
Figura 17 - Produto Interno Bruto por setor (R$)- Ilhus, 1920-2010 46
Figura 18 - Mdia do Produto Interno Bruto por setor (R$)- Ilhus, Microrregio Ilhus-Itabuna e Estado da Bahia (1920-2010)
47
Figura 19 - Evoluo do Consumo de Energia Eltrica per capita- Ilhus e mdia dos Municpios candidatos construo da trajetria sinttica
78
Figura 20 - Trajetria do Consumo de Energia Eltrica per capita e do seu controle sinttico
81
Figura 21 - Diferena entre o Consumo de Energia Eltrica per capita dos Municpios e dos seus respectivos Controles sintticos
83
Figura 22- Placebo temporal (1988) 84
Figura 23 - Placebos temporais para os Municpios de Brejes, Camaari, Candeal, Cardeal da Silva e Salvador
85
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LISTA DE QUADROS
Quadro1 - Correlao entre as variveis 77
Quadro 2 - Municpios controles e suas participaes na construo da unidade sinttica de Ilhus
79
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Estatsticas descritivas das sries 76
Tabela 2 - Mdia das Variveis Pr-Tratamento para Ilhus e seu controle sinttico, 1986-1988
81
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
BA Bahia
CEEI Consumo de Energia Eltrica Industrial
CEEPC Consumo de Energia Eltrica per capita
CEER Consumo de Energia Eltrica Residencial
CEPEC Centro de Pesquisa do Cacau
CEPLAC Comisso Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
CODEVASF Companhia de Desenvolvimento dos Vales do So Francisco e do
Parnaba
EF Efeitos Fixos
EQMP Erro Quadrado Mdio da Previso
FGV Fundao Getlio Vargas
FPM Fundo de Participao Municipal
FSR-RN Fundos Soberanos de Riqueza
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
ICB Instituto de Cacau da Bahia
ICCO International Organization Cocoa
ICE Intercontinental Exchange
ICMS Imposto Sobre Circulao de Mercadorias e Servios
IDH ndice de Desenvolvimento Humano
IGP-DI ndice Geral de Preos- Disponibilidade Interna
IPI Imposto Sobre Produtos Industrializados
IR Imposto de Renda
LIFFE London International Financial Futures Exchange
MQO Mnimos Quadrados Ordinrios
MRN Maldio dos Recursos Naturais
MTE Ministrio do Trabalho e Emprego
NYMEX New York Mercantile Exchange
PDT Partido Democrtico Trabalhista
PIB Produto Interno Bruto
PT Partido dos Trabalhadores
SEI Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia
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SUMRIO
1 INTRODUO 15
2 CONTEXTO HISTRICO DA PRODUO DE CACAU NO
ESTADO DA BAHIA
19
2.1 HISTRIA E PANORAMA MUNDIAL DO CACAU 19
2.2 HISTRIA E PANORAMA DO CACAU NO BRASIL 23
2.3 O CACAU NO ESTADO DA BAHIA 27
2.4 A PROPAGAO DA PRAGA DA VASSOURA-DE-BRUXA NO
ESTADO DA BAHIA
31
2.5 A HISTRIA DO CACAU NO MUNICPIO DE ILHUS/BA 39
3 ECONOMIAS COM ABUNDNCIA DE RECURSOS NATURAIS 50
3.1 RECURSOS NATURAIS: ASPECTOS ECONMICOS E
INSTITUCIONAIS
50
3.2 DOENA HOLANDESA E DEPENDNCIA DE COMMODITIES 54
3.3 PECULIARIDADES ENTRE RECURSOS NATURAIS RENOVVEIS
E NO RENOVVEIS
59
3.4 LITERATURA EMPRICA INTERNACIONAL 60
3.5 LITERATURA EMPRICA NACIONAL 62
3.6 LITERATURA EMPRICA SOBRE A VASSOURA-DE-BRUXA 64
4 METODOLOGIA 67
4.1 ESTRATGIA EMPRICA 67
4.2 BASE DE DADOS 71
4.3 INFERNCIAS 73
5 RESULTADOS E DISCUSSO 75
5.1 ESTATSTICAS DESCRITIVAS E CORRELAES 75
5.2 ESTIMAES E DISCUSSO DOS RESULTADOS 77
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6 CONSIDERAES FINAIS 87
REFERNCIAS 89
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1 INTRODUO
O Cacau uma importante commodity agrcola mundial e sempre esteve presente no
cotidiano de povos indgenas, mesmo quando a Amrica ainda no tinha sido descoberta
pelos colonizadores europeus. Alm de ser considerado um fruto sagrado, esta servia
como um alimento de grande carga energtica e um importante instrumento de
comrcio. Com o passar do tempo, o cacau ganhou ainda maior relevncia econmica, o
que impulsionou seu cultivo para alm do Continente Americano. Desse modo, as
sementes de cacau passaram a ser levadas para o Continente Africano, Asitico, para a
Amrica Central e do Sul, territrios cujos climas eram propcios para o seu cultivo.
No Brasil, o cacau foi primeiramente implantado no estado do Par. Contudo, a cultura
no obteve o xito esperado nesta Regio. Assim, foram levadas sementes de cacau para
o Estado da Bahia em 1746, que passou a ser o Estado com maior produo dessa
cultura. Em particular, ganhou destaque na produo cacaueira o Municpio de
Ilhus/BA, que se tornou o seu maior produtor. Desse modo, houve uma considervel
migrao de trabalhadores para o Municpio de Ilhus. Isso gerou um grande impulso
para o crescimento econmico local e respectiva importncia econmica da Regio de
Ilhus no Estado da Bahia.
No entanto, a instalao da praga Vassoura-de-Bruxa no Municpio de Uruuca/BA, em
1989, mudou consideravelmente a trajetria econmica do Municpio. Em um curto
perodo de tempo esse patgeno se alastrou por toda a Regio Sul do Estado da Bahia,
provocando uma considervel queda da produo cacaueira e gerando grandes prejuzos
econmicos para os setores a ele inerentes. Alm da reduo da produo ocorreu o
fechamento de muitas empresas exportadoras de cacau, uma queda da receita tributria
municipal, endividamento dos produtores, desemprego de trabalhadores rurais, aumento
do processo de favelizao e consequente necessidade de correo de problemas sociais
(HARTMANN, 2008).
A literatura sobre economias com abundncia de recursos naturais tem demonstrado
uma relao inversa entre recursos naturais e crescimento econmico. Economias
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baseadas em recursos naturais apresentariam volatilidade dos preos mais elevada. Isso
aumentaria os riscos na sua comercializao. Neste caso, a atuao governamental
poderia ser benfica, a fim reduzir os riscos que envolvem esta atividade. Alm disso,
desejvel que se tenha uma diversidade de recursos, do que se especializar em apenas
um deles. Levando em conta essas caractersticas, as economias ricas em recursos
naturais sentiriam mais fortemente danos causados por choques exgenos na economia.
Muitos trabalhos empricos internacionais e nacionais tm confirmado o que aponta a
literatura. De acordo com estes estudos, exceto algumas excees, economias com
maior dependncia de recursos naturais receberiam maiores impactos de choques
exgenos na economia. Alm disso, em territrios ricos em recursos naturais haveria
maior incidncia de conflitos internos envolvendo grupos de interesse. O controle
desses recursos tenderia a estar sob o poderio de um grupo social privilegiado, o que
poderia causaria prejuzos para o desenvolvimento econmico local. Somado a isso, a
volatilidade dos preos de recursos naturais geralmente seria mais elevada, mas a
resposta dada pelos gestores poderia definir se isso se tornaria benfico ou no para
determinada economia.
Neste sentido, houve considervel reduo do nvel de renda dos agentes econmicos
que dependiam da lavoura cacaueira. Contudo, considera-se nesse trabalho a
impossibilidade de observar o comportamento da renda per capita no Municpio de
Ilhus, sem o impacto provocado pela Vassoura-de-Bruxa, uma vez que se trata de uma
cultura local aplicou-se o mtodo de Controle Sinttico desenvolvido por Abadie e
Gardeazabal (2003) e refinado por Abadie e outros (2010). A metodologia pressupe a
criao de grupos sintticos de comparao em relao ao evento ocorrido, com o
objetivo de obter a aproximao tima do comportamento de determinada varivel de
anlise na ausncia do evento em particular. Com isso, a metodologia procura construir
especificamente um controle sinttico, para estimao do impacto de determinado
tratamento. Diante do exposto, o presente trabalho tem por objetivo investigar o
impacto da Vassoura-de-Bruxa sobre o crescimento econmico local no Municpio de
Ilhus a partir da modelo de Controle Sinttico. Para tanto, ser utilizado o Consumo de
Energia Eltrica per capita como proxy da Renda per capita no Municpio de
Ilhus/BA.
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O problema de pesquisa especfico : a praga da Vassoura-de-Bruxa afetou o
crescimento econmico do Municpio de Ilhus? A hiptese que Vassoura-de-Bruxa
exerceu efeito sobre a Renda per capita municipal, tendo em vista que o Municpio de
Ilhus tinha praticamente a atividade cacaueira como base econmica, tanto
diretamente, como indiretamente atravs das indstrias e servios ligados ao cacau. A
literatura confirma essa hiptese, dado que economias baseadas em recursos naturais
estariam mais sujeitas a choques exgenos.
O problema de pesquisa implica em uma estruturao terica e emprica. De modo
geral, economias baseadas na forte presena de culturas ou recursos naturais locais
apresentam particularidades em relao ao seu potencial crescimento e respectivas
limitaes da sustentao desse crescimento no longo prazo. Alm disso, por se tratar de
um evento localizado em um Municpio e demais Municpios vizinhos, que
apresentavam condies climticas semelhantes, a cultura do cacau uma
particularidade da Regio. Isso dificulta o isolamento do efeito causal da Vassoura-de-
Bruxa na economia local de Ilhus, o que implicaria numa soluo metodolgica
especfica da rea de Microeconometria, em particular o mtodo de Controle Sinttico.
Alm da presente introduo, a dissertao est organizada em mais cinco captulos. No
prximo captulo, descreve-se um panorama da evoluo da produo de cacau
mundial, no Brasil, no Estado da Bahia e no Municpio de Ilhus. Assim, ser analisado
o surgimento do cacau, a evoluo da produo cacaueira, surgimento da praga
Vassoura-de-Bruxa, nvel de empregos, populao urbana e rural e mdia do Produto
interno Bruto por setor no Estado da Bahia, na Microrregio Ilhus-Itabuna e no
Municpio de Ilhus especificamente. De modo geral, busca compreender o contexto
econmico e social antes e depois da instalao desse patgeno no territrio baiano.
Este captulo serve de base para a sustentao do problema de pesquisa apresentado.
No terceiro captulo ser desenvolvida uma reviso de literatura sobre os canais de
transmisso da maldio dos recursos naturais (MRN), termo popularizado inicialmente
aps os trabalhos de Sachs e Warner (1991). Esses autores constataram uma relao
inversa entre abundncia de recursos naturais e desempenho econmico, devido a uma
srie de canais de transmisso da MRN. Ao final do captulo tambm ser apresentada
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uma reviso de trabalhos empricos nacionais e internacionais e sobre a Vassoura-de-
Bruxa que deram sustentao a pesquisa emprica realizada.
No quarto captulo, ser descrita a metodologia aplicada na presente pesquisa, bem
como o banco de dados utilizado para aplicao da respectiva tecnologia. Assim,
descreve-se inicialmente o modelo de Controle Sinttico, utilizado para isolar o efeito
causal da Vassoura-de-Bruxa no crescimento econmico da Regio. O mtodo foi
desenvolvido por Abadie e Gardeazabal (2003) e refinado por Abadie e outros (2010),
que procuraram construir um controle sinttico para estimao do impacto de
determinado tratamento ou choque exgeno. Ao final do captulo ser apresentada a
base de dados e as respectivas variveis utilizadas.
No quinto captulo so apresentados os resultados do estudo emprico a partir da
aplicao da metodologia junto ao banco de dados. Tambm sero apresentados os
testes estatsticos de placebos temporais utilizados. Os resultados so acompanhados de
suas respectivas discusses, considerando as especificidades do mtodo aplicado. As
consideraes finais so apresentadas no sexto e ltimo captulo onde so abordados os
resultados diante das hipteses tericas levantadas no captulo terico.
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2 CONTEXTO HISTRICO DA PRODUO DE CACAU NO ESTADO DA
BAHIA
O objetivo deste captulo apresentar o contexto histrico em que est inserida a
commodity cacau. Para tanto, ser descrita a evoluo da produo de cacau tanto a
nvel mundial como a nvel nacional, e mais especificamente, no Estado da Bahia, na
Microrregio Ilhus/Itabuna, e por fim, no Municpio de Ilhus. Neste sentido, sero
apontadas as origens do cacau, evoluo da produo cacaueira, surgimento da praga
Vassoura-de-Bruxa e comportamento do nvel de empregos, populao rural e urbana e
mdia do Produto Interno Bruto, antes e depois da instalao da Vassoura-de-Bruxa no
Estado da Bahia.
2.1 HISTRIA E PANORAMA MUNDIAL DO CACAU
Quando os primeiros colonizadores europeus descobriram Amrica em 1492,
encontraram comunidades indgenas que j cultivam o cacau. Dentre as comunidades,
estavam os astecas que viviam no Mxico e os Maias que viviam na Amrica Central.
Esses povos deram s rvores de cacau o nome de cacahualt. Geralmente, as
sementes de cacau eram torradas, trituradas e fervidas com canela, pimenta, baunilha ou
mesmo suco de aveia. Este preparo resultava numa bebida pastosa de sabor amargo-
apimentado, denominada por eles de xocoatl. O sabor dessa bebida inicialmente no
agradava o paladar dos europeus, que com o passar do tempo passaram a adicionar
acar e outros condimentos em seu preparo (ROSRIO et al., 1978; HEINE, 2009).
Esta bebida era servida em taas e era considerada de uso sagrado nas cerimnias
religiosas. Devido ao seu alto valor energtico, chegava a ser distribuda nos velrios,
indicada como bom estimulante na produo de leite materno, alm de ser um forte
alimento para os soldados que passavam muitos dias em batalha. O botnico sueco
Carolus Linneu (1707-1778) denominou o cacaueiro de theobroma cacao, que
significa manjar dos deuses. No entanto, este fruto era privilgio apenas das elites que
dispunham de maior poder aquisitivo. Assim, as sementes do cacau eram tambm
consideradas de alto valor econmico. Por isso, elas passaram a ser utilizadas como um
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tipo de moeda nas compras de escravos, no comrcio de mercadorias e na quitao dos
tributos cobrados pelo estado (HEINE, 2009; CUENCA; NAZRIO, 2004).
O cacau ganhou maior importncia econmica e houve a expanso do seu cultivo para
alm do Continente Americano. Assim, em 1585, os primeiros colonizadores europeus
levaram as sementes de cacau para a Espanha e implantaram at o final do sculo XVI
fbricas da indstria do chocolate em sua terra natal. O consumo europeu cresceu de
maneira que isso impulsionou o cultivo em regies propcias para o seu plantio, em
territrios do Continente Africano e Asitico e da Amrica Central e do Sul (CUENCA;
NAZRIO, 2004).
Conforme Tavares (2014, p. 9):
O cacau produzido em regies pobres do planeta, como a frica, carentes de todo tipo de recurso e a importao feita por pases consumidores, que geralmente no possuem climas adequados para a produo de cacau. Os cacaueiros crescem em ambientes tropicais, localizados de 15 a 20 graus de latitude do Equador e o clima ideal para o cultivo de cacau quente, chuvoso, e tropical, com vegetao exuberante para proporcionar sombra para as rvores de cacau.
De acordo com Zugaib e outros (2015), a produo mundial de cacau em 2015 se
concentrou basicamente na frica (73%), Amricas (16%) e na sia e Oceania (11%).
Os pases Costa do Marfim, Gana, Nigria e Camares so os maiores produtores de
cacau em amndoas no continente africano. J o Brasil, Equador e a Repblica
Dominicana so os principais produtores de cacau em amndoas nas Amricas. Por sua
vez, Indonsia, Malsia e Papua Nova Guin so os que mais produzem cacau em
amndoas na sia e Oceania. Apesar da relevncia na produo mundial, apenas em
1855, o cacau em amndoas passou a ser cultivado no Continente Africano, mais
especificamente nas ilhas de So Tom e Prncipe. No entanto, Costa do Marfim acabou
ganhando posio de destaque na produo mundial de cacau, devido boa
adaptabilidade que o cultivo de cacau obteve nesse pas (CEPLAC, 2015).
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Figura 1- Principais pases produtores de cacau em amndoas, 2015
Fonte: ZUGAIB e outros, 2015
Para Tavares (2014), o nvel de moagens mundiais totais tem servido tradicionalmente
como uma espcie de medida da demanda global de cacau. Segundo a International
Organization Cocoa (ICCO), em 2014, a frica obteve o maior volume de moagens
realizadas (37%). Em segundo lugar, ficou a Amrica (22%), seguida da sia e Oceania
(21%) e da Europa (20%). Vale destacar que em 2014, a Holanda foi o maior pas
moageiro de cacau sendo, portanto um importante demandante de cacau na forma de
amndoas. Embora o Brasil seja um pas moageiro importante, este ocupou a 7 posio
nesse quesito a nvel mundial, ficando atrs da Costa do Marfim, Estados Unidos,
Alemanha, Indonsia, Malsia e Gana, respectivamente (ICCO, 2015).
A expanso da produo e consumo mundial de cacau, em particular o chocolate, fez
com que o cacau se tornasse uma importante commodity agrcola. Os pases Costa do
Marfim, Gana, Indonsia e Nigria alm de estarem no grupo dos maiores produtores
mundiais de cacau, esto tambm entre os maiores exportadores dessa commodity
juntamente com a Holanda. A Holanda um importante exportador e pas moageiro de
cacau, destacando-se como uma das maiores importadoras dessa commodity ao lado dos
Estados Unidos e da Alemanha. O mercado de cacau pode ser considerado como um
mercado do tipo oligopsnico, pois possui poucos grandes compradores dessa
commodity, que compram grande parcela da produo dos produtores desse fruto
(ADVFN, 2015).
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As principais indstrias mundiais de chocolate e confeitos, no ano de 2015, em volume
de vendas foram a Mars Inc com U$S 18,4 milhes e a Mondelen International com
U$S 16,691 milhes, ambas localizadas nos Estados Unidos; a Nestl S.A com U$S
11.041 milhes e instalada na Sua; a Ferrero Group com U$S 9,757 milhes e situada
em Luxemburgo/Itlia; e a Meiji Co Ltd com U$S 8,461 milhes e instalada no Japo.
Embora, estes pases citados possuam climas mais frios e inapropriados para o cultivo
do cacau, acabaram se especializando na indstria de chocolate e seus confeitos (ICCO,
2015).
De acordo com Zugaib e outros (2015), na safra 2002/03, o consumo per capita de
cacau foi maior nos pases europeus como Blgica, Sua, Frana, Reino Unido e
Alemanha. O autor aponta que estes pases apresentam climas mais frios e inadequados
para o cultivo do cacau. No entanto, isso aumentou o consumo de cacau pelos europeus,
que se tornaram os maiores consumidores. O consumo de chocolates per capita
mundial, tambm tende a ser mais elevado em pases europeus e de elevada renda per
capita. Em 2014, a Sua ocupou o 1 lugar neste quesito, com mdia de 9 kg de
consumo de chocolate. O Brasil ocupou apenas a 19 posio, consumindo em mdia
1,6 kg per capita de chocolate (FRANGIONI, 2015). Isso mostra que no existe uma
relao linear entre produo e consumo de cacau entre os pases. O maior consumo
est ligado maior renda per capita, principalmente pelo fato do chocolate estar
vinculado produo de alimentos mais sofisticados.
Conforme Pereira (2009), um dos usos mais populares do cacau est na fabricao do
chocolate na forma de tablete, barra, p, bombom, granulado, etc. A procura por tais
produtos aumenta principalmente na poca da Pscoa, devido maior busca por
bombons e ovos de pscoa. No entanto, mesmo em outras pocas do ano, estes produtos
so bastante consumidos. O cacau tambm pode ser empregado em bebidas como
vinho, licor e suco e no preparo de sorvetes, polpas, nctar, doces, gelias, bolos,
biscoitos, vinagre e confeitos. Alm disso, esse fruto pode servir de matria prima na
fabricao de cosmticos, biofertilizante, rao animal e biogs. No entanto, a produo
de chocolate o principal impulsionador da produo de cacau.
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Estudos de Zugaib e Barreto (2014) revelam que os preos mdios de cacau entre
1960/61 e 2013/14 em geral se comportaram de forma inversa razo estoque/consumo.
Isso pode ser exemplificado ao se considerar o perodo 1976/77 quando os preos
mdios atingiram US$ 3.632/t, mas a razo estoque/consumo foi de somente 19,1%.
Como o estoque mundial de cacau estava muito baixo, seus preos se elevaram. J em
1990/91, os preos mdios de cacau foram de apenas US$ 1.193/t, embora a razo
estoque/consumo foi de significativos 70,7%.
De acordo com ADVFN (2015), o mercado mundial de cacau apresenta elevada
volatilidade. Isto decorre da considervel sazonalidade dos seus ciclos de demanda e da
alta concentrao da sua produo em poucos pases. As negociaes de contratos
futuros de cacau geralmente so realizadas por meio da New York Mercantile Exchange
(NYMEX), pela London International Financial Futures Exchange (LIFFE) e atravs
da Intercontinental Exchange (ICE). Nessas negociaes possvel participar da
comercializao do cacau, mas a parte vendedora e compradora firmam acordos de
compra e venda para datas posteriores, a preos pr-determinados.
O que se pode concluir nessa breve anlise do contexto mundial do cacau que este
contexto marcado por uma elevada concentrao de atributos de produo, consumo e
mercado. Isso implica em grande volatilidade no mercado. Desse modo, possvel,
desde j, antecipar que existem riscos potenciais envolvendo a economia do cacau e as
respectivas ligaes com o resto da economia.
2.2 HISTRIA E PANORAMA DO CACAU NO BRASIL
O cultivo de cacau no Brasil teve incio oficialmente no ano de 1679, por meio de Carta
Rgia que permitiu o plantio do cacau em solo brasileiro. O cacau foi trazido para o
Brasil atravs do rio Amazonas e logo foi cultivado no Estado do Par, embora
inicialmente no tenha alcanado o sucesso esperado neste Estado. Em 1746, o cacau
passou a ser cultivado no Estado da Bahia, onde apresentou boa adaptabilidade ao clima
e solos da Regio Sul deste Estado, em particular no Municpio de Ilhus. A partir dessa
localizao regional de produo, a produo de cacau se expandiu por boa parte do
territrio nacional (ROSRIO et al., 1978).
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Leiter e Harding (2004) afirmam que o declnio das exportaes de cacau da Venezuela
no sculo XVIII possibilitou a elevao das exportaes amaznicas no Brasil. Com a
Revoluo Americana e as Guerras Napolenicas no final desse sculo, houve uma
ruptura dos padres do comrcio e assim o Brasil conseguiu aumentar suas exportaes
de cacau. Mais especificamente, houve aumento considervel das exportaes de cacau
no Sul do Estado da Bahia, que atingiu em 1840 uma mdia de 2.900 toneladas
exportadas. Esse volume aumentou em 259% at 1980, em paralelo a um aumento de
119% nos preos do cacau.
A trajetria de expanso da cultura cacaueira no Brasil marcada por um fenommo
inesperado e que dizimou boa parte da produo e exportaes brasileiras de cacau.
Esse fenmeno ficou conhecido popularmente como Vassoura-de-Bruxa, que consiste
num patogno de grande poder destrutivo sobre os cacauais e que se instalou em 1989
no Estado da Bahia, que sempre foi o maior produtor de cacau do Brasil. Cuenca e
Nazrio (2004) apontam que o Brasil chegou a ser o segundo maior produtor mundial
de cacau at fins da dcada de 70. No entanto, em 1992, o Brasil passou da condio de
exportador para importador de cacau. Todavia, houve recuperao da produo no
perodo recente. De acordo com a Secretaria da Agricultura, Pecuria, Irrigao, Pesca e
Aqicultura do Estado da Bahia, em 2015, o Brasil foi o quinto maior produtor mundial
de cacau, atrs somente de Costa do Marfim, Gana, Indonsia e Nigria (BAHIA,
2015). As causas da alterao na geografia internacional de cacau so diversas. No
entanto, importante ressaltar que o choque provocado pela Vassoura-de-Bruxa trouxe
srias consequncias para a economia da Regio de Ilhus no Estado da Bahia.
Ao se analisar o montante de cacau produzido no Brasil entre 1900/01 a 2014/15,
verifica-se que entre 1900/01 a 1986/87, o Brasil apresenta uma tendncia de
crescimento na produo de cacau. No entanto, a partir de 1987/88 h um decrscimo
considervel na quantidade produzida de cacau conforme ilustra a Figura 2. De acordo
com a Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia (SEI), a seca que
atingiu o Estado da Bahia em 1987 provocou uma queda acentuada no produto
agropecurio, inclusive na Zona Cacaueira, provocando grande queda na quantidade
produzida de cacau do pas, independente da Vassoura-de-Bruxa (SEI, 2006).
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Em 1989, a instalao da Vassoura-de-Bruxa atingiu primeiramente as lavouras do
Municpio de Uruuca/BA, localizado na Regio Sul do Estado da Bahia. Esta praga se
alastrou por toda Regio e fez cair drasticamente produo das lavouras, gerando
prejuzos para os produtores como ser explanado mais adiante. No entanto, segundo
Tavares (2014), o Brasil vem recuperando a autossuficincia na produo de cacau,
podendo ating-la at 2017. No Municpio de Barro Preto/BA, por exemplo, vem sendo
desenvolvidas pesquisas para aumentar produtividade mdia de cacau de 195
kg/hectare para 900 kg/hectare. Isso se baseia em novas variedades de cacau que
associem resistncia Vassoura-de-Bruxa e um chocolate mais saboroso para
conquistar maiores parcelas de mercado.
Segundo Tavares (2014) e Costa e outros (2009) a m distribuio de chuvas, entre
1992 e 1997, e a crise cambial, em 1999, elevaram os custos com defensivos agrcolas
importados, e provocaram reduo na produo de cacau em todo pas. O aumento da
oferta internacional de cacau devido o crescimento da produo na frica Ocidental e
no Sudeste Asitico tambm causaram declnios nos preos do cacau, o que tornou a
atividade menos atraente para os seus produtores. Associado queda na produo e
aumento nos preos, ocorreu uma elevao do consumo interno de cacau. A retrao do
crdito financeiro e do crdito para os produtores, na poca, fez com que os produtores
de cacau ficassem ainda mais endividados e sem condies de investir na produo
cacaueira e conter toda a demanda das indstrias moageiras. Isso levou o Brasil a mudar
sua condio de pas exportador para pas importador de cacau.
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Figura 2- Quantidade produzida de cacau- Brasil, 1900/01-2014/15
Fonte: Elaborao prpria, 2016 a partir de dados da ICCO, 2015
De acordo com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do So Francisco e do
Parnaba (CODEVASF), as principais empresas processadoras da indstria ligada ao
cacau so multinacionais. Dentre estas, destaca-se a Cargill, Barry Callebaut,
Delfi/Nestl, Indeca, IBC e a ADM Joanes (CODEVASF, 2009). No entanto, duas
dessas indstrias concentraram mais de 50% do processamento de cacau no ano de
2009, que foram a Cargill (31%) e a Delfi/ Nestl (24%). Novamente isso confirma um
mercado altamente concentrado e sujeito grande volatilidade em preos e oferta do
produto.
A cacauicultura est presente em oito estados do Brasil (IBGE, 2015). Na Regio Norte
os Estados produtores so Rondnia, Amazonas, Par e Roraima. Na Regio Nordeste,
o Estado da Bahia o responsvel por toda a produo de cacau. Na Regio Sudeste os
estados produtores so Esprito Santo e Minas Gerais. O Mato Grosso do Sul o nico
estado produtor de cacau na Regio Centro-Oeste. Quanto Regio Sul, esta no possui
estados produtores de cacau. A Figura 3 mostra a quantidade produzida de cacau em
toneladas por estado produtor no Brasil entre 1931 a 2010.
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Figura 3- Quantidade produzida de cacau em amndoas- Estados brasileiros produtores de cacau, 1931-2010
Fonte: Elaborao prpria, 2016 a partir de dados do IPEADATA, 2015a
Como pode ser visualizado na Figura acima, o volume da produo de cacau no Estado
da Bahia foi notavelmente maior que o conjunto dos demais estados brasileiros. Mesmo
com a instalao da Vassoura-de-Bruxa, e posterior queda na produo de cacau, o
Estado continuou contribuindo com a produo da maior parte do cacau nacional. Sendo
a Regio de Ilhus a grande responsvel por essa produo, isso mostra os riscos aos
quais a Regio esteve sujeita ao ter sua economia dependente do cacau por um longo
perodo.
2.3 O CACAU NO ESTADO DA BAHIA
O primeiro plantio de cacau no Estado da Bahia ocorreu em 1746, no atual Municpio
de Canavieiras, localizada na Fazenda Cubculo, s margens do Rio Pardo. O
responsvel pelo plantio foi Antnio Dias Ribeiro, utilizando sementes de cacau vindas
do estado do Par e fornecidas pelo colonizador francs Lus Frederico Warneau
(ROSRIO et al., 1978). Caldas e Perz (2013) apontam que inicialmente o cultivo de
cacau era de pequena escala e baseado na agricultura familiar. Em seguida, passou a ser
uma monocultuta de exportao at fins do sculo XIX. Como resultado, foram geradas
plantaes e ao mesmo tempo grande concentrao de terra para os latifundirios.
Willumsen e Dutt (1991) relatam que na dcada de 70, esse crescimento propiciou que o
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cacau fosse o produto mais exportado pelo Estado da Bahia, gerando mais da metade
das exportaes e mais de 60% das receitas do Estado.
Segundo Alger e Caldas (1994), com a expanso da cultura do cacau, o governo
brasileiro passou a implantar programas com a finalidade de promover uma tecnologia
mais avanada e uma melhor gesto da terra, dado que a cacauicultura passara a ser uma
cultura relevante para a economia regional. Todavia, os proprietrios de terra muitas
vezes se mantiam ausentes e no manifestavam interesse numa melhor gesto da terra e
na diversificao de sua produo. Esses proprietrios geralmente utilizavam-se dos
incentivos fiscais e crdito subsidiado oferecidos pelos programas agrcolas em
objetivos pessoais e investiam em empresas que no eram da Regio Cacaueira
(STEVENS; BRANDO, 1961). Assim, o investimento oferecido aos agentes
econmicos ligados ao cacau, acabava no atingindo o objetivo que se era projetado.
Desse modo, os investimentos que deveriam ser dirigidos para o melhor
desenvolvimento da atividade cacaueira e da economia regional, da maneira que
estavam sendo utilizados, trariam prejuzos futuros a essa atividade e a economia dessa
Regio.
Alm disso, de acordo com Leiter e Harging (2004) os proprietrios geralmente
incubiam um superintendente de gerir as questes referentes aos trabalhores
assalariados. As questes administrativas da fazenda pouco eram supervisionadas pelos
seus proprietrios. Caldas e Perz (2013) afirmam que pelo fato da cacau ser uma
commodity agrcola, este pode sofrer as intempries climticas, bem como ciclos de
expanso e tambm de retrao em sua produo. Os perodos de expanso do cacau
produziram riqueza para os proprietrios de terra, os latifundirios. J os ciclos de
retrao geraram muito desemprego da mo-de-obra dos trabalhadores das lavouras.
Isso provocou a marginalizao e insatisfao por parte desses trabalhadores, em um
ciclo de autoreforo da concentrao de renda proveninete do cacau e em um contexto
de crescimento econmico nas regies produtoras. Desse modo, pode-se inferir que
embora houvesse relativo crescimento econmico, no havia distribuio de renda para
toda a sociedade e posterior desenvolvimento econmico nessa Regio.
Nascimento e outros (2009) relatam que a crise da Bolsa de Nova York ocorrida em
1929 se refletiu na economia cacaueira do Sul do Estado da Bahia e provocou srios
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problemas para a economia do cacau. Os produtores de cacau no conseguiam nem
mesmo honrar seus compromissos financeiros. Neste sentido, foi necessrio a
interveno do governo federal atravs da criao do Instituto de Cacau da Bahia (ICB)
em 1931, orgo que protegeria esses produtores num momento de crise.
Conforme Caldas e Perz (2013), crises cclicas perduraram at o ano de 1957, pois os
preos internacionais no conseguiam nem mesmo cobrir os custos de produo. Isso
fez com que muitos proprietrios iniciassem o abondono da produo em suas terras. O
governo federal novamente interveio criando a Comisso Executiva do Plano da
Lavoura Cacaueira (CEPLAC) que planejaria o financiamento da recuperao da
economia cacaueira. Em 1962 foi criado tambm o Centro de Pesquisa do Cacau
(CEPEC). Desse modo, foi possvel a criao de novas tecnologias e o oferecimento de
subsdios aos proprietrios de terra. Como resultado, o Sul do Estado da Bahia atingiu o
posto de segundo maior produtor de cacau, atrs somente de Costa do Marfim.
A expanso mundial da rea cultivada de cacau teve particularidades de estar
concentrada nas mos dos chamados coronis. Os coronis eram grandes latifundirios,
que possuiam extensas terras de cacau sendo, portanto pessoas com grande poder
econmico naquela poca. Os coronis tinham forte influncia sobre a CEPLAC e sobre
seus quadros funcionais, na medida em que esta dependia do poder poltico destes, para
exercer presso junto ao governo para obter recursos oramentrios para a agncia
(REZENDE, 2006).
De acordo com Caldas e Perz (2013), devido a grande produo de cacau na frica, os
preos do cacau caram novamente em 1986, impulsionando a reduo da produo de
cacau no Estado da Bahia. A economia brasileira tambm sofria com elevao da
inflao em meio s causas e efeitos da chamada dcada perdida. A Figura a seguir
ilustra o comportamento da inflao brasileira no perodo de 1985 a 2000.
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Figura 4- Evoluo da inflao brasileira, 1985-2000
Fonte: Elaborao prpria, 2016 a partir de dados de GLOBAL RATES, 2016
A partir da anlise da Figura acima possvel verificar que no perodo de 1985 a 1994,
a inflao brasileira apresentou comportamento bastante elevado. Assim, no perodo de
instalao da Vassoura-de-Bruxa no ano de 1989, a inflao brasileira encontrava-se
consideravelmente alta, o que pode ter agravado a crise econmica dos agentes
econmicos envolvidos com a cultura do cacau. Somente a partir de 1995, a inflao se
torna mais constante, mas nesse perodo a economia cacaueira j apresentava um quadro
de recuperao devido restaurao de parte das lavouras de cacau na Regio Sul do
Estado da Bahia.
Os trabalhadores rurais novamente sentiram os reflexos da crise no aumento do
desemprego. Desse modo, eles acabavam sendo forados a trabalhar em outros
empregos que no garantiam a seguridade social e que ofereciam remuneraes abaixo
do salrio mnimo. As expectativas em torno da economia cacaueira eram ento, por
vezes frustadas para as classes trabalhadoras.
Nessa mesma dcada, o Brasil que era governado sob o regime militar passou a ter
eleies civis e democrticas. Com isso, ressurgiram movimentos sociais, sindicatos e
partidos polticos de esquerda como o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido
Democrtico Trabalhista (PDT). Isso produziu novas relaes de trabalho,
diversificao do uso da terra eabondono das fazendas que levaram a invases de terra
organizados por Movimentos Sociais de reforma agrria (CALDAS; PERZ, 2013). Mas
embora esse movimento tenha sido parte do prprio estgio de desenvolvimento poltico
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e econmico do pas, este foi potencializado em muito pelo surgimento da praga
Vassoura-de-Bruxa na Regio Sul do Estado da Bahia.
2.4 A PROPAGAO DA PRAGA DA VASSOURA-DE-BRUXA NO ESTADO DA
BAHIA
De acordo com Rocha (2008), as doenas de maior incidncia sobre o cacaueiro so o
Mal-do-faco (Ceratocystis Fimbriata), a Podrido-parda (Phytophora ssp.) e a
Vassoura-de-Bruxa (Moniliophtora perniciosa). Esta ltima considerada uma das
pragas mais ameaadoras para o cacaueiro, pois gera hipertrofia e hiperplasia nas
rvores do cacau. Isso provoca a necrose do tecido e a posterior morte do cacaueiro. Em
fins do sculo XIX foi detectada pela primeira vez a Vassoura-de-Bruxa nas lavouras de
cacau do Suriname. Logo depois, foram afetadas as lavouras do Equador. Em 1928,
foram atingidos os cacaueiros de Trinidad Tobago. Esta doena tambm endmica da
Regio amaznica brasileira. A gua e o vento constituem-se num rpido vetor de sua
propagao (CEPLAC, 2015). No entanto, mesmo com o conhecimento do poder
destrutivo desta doena, no foram tomadas medidas de combate a um possvel surto na
Regio Sul do Estado da Bahia e mesmo o desenvolvimento de plantas mais resistentes
a este tipo de praga (CALDAS; PERZ, 2013).
Conforme Hartmann (2008), o fungo causador da doena Vassoura-de-Bruxa chegou ao
Estado da Bahia em 1988. No entanto, este foi descoberto somente no ano seguinte. Em
22 de maio de 1989, um tcnico agrcola encontrou o primeiro foco da doena no
muncpio de Uruuca, na fazenda Conjunto Santana. Neste sentido, a CEPLAC ordenou
que toda a plantao de cacau fosse queimada nesta cidade. Assim, mais de 200 mil m
de rea de cacau tiveram que ser destudos. Esta medida no foi suficiente, pois houve
um novo surto da praga em 26 de outubro de 1989, agora no Municpio de Camacan,
distante cerca de 100 km do primeiro surto (CALDAS; PERZ, 2013). Neste momento
foram discutidos outros planos de erradicao da doena, como a utilizao de controles
qumicos. Mesmo assim, a Vassoura-de-Bruxa foi se propagando por mais cidades
como os Municpios de Jussari, Mascote, Pau Brasil, Santa Luzia e So Jos da Vitria
e em alguns anos atingiu toda Regio cacaueira do Sul do Estado da Bahia conforme
ilustra a Figura a seguir (PEREIRA et al., 1996).
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Figura 5- Distribuio geogrfica da Vassoura-de-Bruxa crescendo no cacau da Bahia, Brasil, originrios dos primeiros stios de introduo de Uruuca e Camacan
Fonte: PEREIRA e outros, 1996
Conforme Caldas e Perz (2013), o governo brasileiro abriu novas linhas de crdito por
meio do Banco do Brasil, para ajudar na minimizao dos problemas. Entretanto, o
endividamento dos fazendeiros fez com que estes no tivessem condies de quitar os
custos para combate da Vassoura-de-Bruxa e nem pagar seus funcionrios. Desse modo,
passaram a permitiam que um trabalhador rural e sua famlia fossem responsveis por
todos os servios de uma parcela de suas terras, mas como pagamento receberiam
apenas parte da prpria produo, em arranjos contratuais de arrendamento.
De acordo com Nascimento e outros (2009), o polo madereiro, a produo de eucalipto
e tambm pecuria passou a ocupar espao que antes era ocupado somente pelas
plantaes de cacau. Para Rocha (2008), este processo pode ter causado danos ao meio
ambiente e colocado em risco a estabilidade ecolgica da Regio, pois para que estas
novas culturas fossem implantadas, era necessrio a retirada das rvores nativas.
Entretanto, cerca de 200 mil trabalhadores rurais que trabalhavam nas fazendas de cacau
ficaram desempregados na dcada de 1990. Estes trabalhadores tentaram oportunidades
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33
de trabalho nas cidades, porm a zona urbana dificilmente empregaria uma mo de obra
no qualificada. Este processo fez crescer as periferias e a favelizao em torno das
cidades. Por isso, caso trabalhadores rurais conseguissem algum tipo de ocupao,
geralmente era sob condies sub-humanas e em desrespeito s leis previdencirias e
trabalhistas (CALDAS, PERZ; 2013).
Hartmann (2008) afirma que somente a partir do ano-safra agrcola de 1994/95
passaram a ser registrados, estatisticamente, os prejuzos econmicos provenientes da
instalao dessa doena nos cacaueiros do Estado da Bahia. Assim, at a dcada de
1990, a produo de cacau passou por perodos de crescimento em sua produo,
sofrendo apenas poucas variaes devido s peculiaridades inerentes ao setor agrcola.
No entanto, o fator exgeno que foi a instalao da Vassoura-de-Bruxa provocou uma
drstica queda na produo cacaueira no Estado da Bahia. A partir da a economia do
Sul deste Estado foi fortemente impactada devido aos efeitos da Vassoura-de-Bruxa.
Os produtores de cacau aumentaram suas dvidas na tentativa de conter a praga. Houve
desemprego de muitos trabalhadores rurais, perda de suas moradias, ocasionando graves
problemas sociais na Regio. Muitas empresas exportadoras de cacau foram desativadas
e sofreram queda de suas receitas, surgindo necessidade de se importar cacau. Por fim,
houve uma queda da atividade econmica geral da Regio cacaueira, com efeitos sobre
a arrecadao tributria e aumento dos gastos sociais em programas de combate ao
desemprego e a pobreza (HARTMANN, 2008).
A Figura a seguir ilustra o comportamento da produo de cacau no Estado da Bahia
entre 1958 e 2001. possvel verificar que, mesmo antes da introduo da Vassoura-de-
Bruxa em 1989, a produo de cacau apresentava picos, como tambm baixas em sua
produo. No entanto, nos anos posteriores instalao da doena, o volume da
produo cacaueira passou a ser menor e no mais conseguiu atingir os nveis de
produo anteriores. Nesse perodo, o auge da produo ocorreu em 1986/87, onde
foram produzidas 397 toneladas de cacau em amndoas. A partir desse perodo, ocorre
uma tendncia de decrescimento na produo de amndoas de cacau no Estado da
Bahia.
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Figura 6- Quantidade produzida de cacau em amndoas, Bahia, 1958/59- 2001/02
Fonte: Elaborao prpria, 2016 a partir de dados da ICCO, 2015
A Figura 7 apresenta o comportamento dos empregos formais distribudos nos
subsetores de atividade econmica definidos pelo IBGE, no Estado da Bahia, nos anos
de 1985, 1990, 1995 e 2000. Tanto em 1985 como em 1990, a Administrao Pblica, o
Comrcio Varejista e Alojamento, Alimentao e Reparos foram, respectivamente, os
subsetores que mais geraram vnculos empregatcios formais no Estado da Bahia. No
entanto, em 1995 se mantm em primeiro lugar o subsetor da Administrao Pblica,
seguido do Comrcio Varejista e a Administrao Tcnica Profissional passa a ocupar o
terceiro lugar. No ano de 2000, esses trs subsetores continuam sendo os principais,
embora apresentem um volume de vnculos empregatcios maior.
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Figura 7- Nmero de trabalhadores formalmente contratados segundo atividade econmica- Bahia, 1985-2000
Fonte: Elaborao prpria, 2016 a partir de dados de BRASIL, 2016
Cabe destacar que a atividade cacaueira era marcada por um elevado ndice de
informalidade. Esta atividade se insere na categoria Agricultura. Todavia, como mostra
a Figura acima, esta categoria no apresentou nmeros muito elevados com se esperaria.
No entanto, deve ser levado em conta que, devido ao carter da informalidade
predominante na atividade cacaueira, muitos empregos formais gerados por esta
atividade podem no ter sido contabilizados.
Tomando um recorte geogrfico de Mesorregies do Estado da Bahia, o IBGE (2015)
divide o estado em sete Mesorregies: Extremo Oeste Baiano, Vale So-Franciscano da
Bahia, Centro Norte Baiano, Nordeste Baiano, Metropolitana de Salvador, Centro Sul
Baiano e Sul Baiano. A Figura 8 mostra o comportamento da produo de cacau nas
Mesorregies do Estado da Bahia no perodo 1990-2014. Pode-se observar que a
Mesorregio Sul Baiano a Mesorregio que mais produz cacau no Estado da Bahia.
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Em 2014, somente esta concentrou aproximadamente 86,31% da produo cacaueira de
todas as Mesorregies do Estado da Bahia.
Figura 8- Quantidade produzida de cacau em amndoas- Mesorregies do Estado da Bahia, 1990-2014
Fonte: Elaborao prpria, 2016 a partir de dados do IBGE, 2015
Esta Mesorregio, por sua vez, se divide em trs Microrregies que so as
Microrregies de Valena, Porto Seguro e Ilhus/Itabuna. A Microrregio de Valena
composta por 10 Municpios. O Municpio de Camamu foi seu maior produtor de cacau
em 2014, ao produzir 5.365 toneladas de cacau em amndoas. O nico Municpio que
no produziu cacau nessa Microrregio em 2014 foi o de Cairu. A Microrregio de
Porto Seguro composta de 19 Municpios. O maior produtor de cacau nessa
Microrregio foi Itamaraju com 5.600 toneladas de cacau em amndoas em 2014.
Apenas os Municpios Ibirapu e Lagedo no obtiveram produo de cacau nessa
Microrregio em 2014. A Microrregio de Ilhus/Itabuna composta por 41
Municpios. Esta Microrregio tambm conhecida como Regio Cacaueira, devido
elevada contribuio econmica gerada pelo cultivo de cacau nessa Regio. Nessa
Microrregio todos os Municpios so produtores de cacau. O Municpio de Ilhus
destaca-se como o maior produtor de cacau nessa Microrregio, atingindo a marca de
13.019 toneladas de cacau em amndoas produzidas no ano de 2014 (IBGE, 2015).
Alm disso, concentra grande parte dos processos de industrializao e comercializao
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do cacau, o que tornou o Municpio altamente dependente da cultura na Regio, fato que
ser abordado mais adiante.
Figura 9- Quantidade produzida de cacau em amndoas-Microrregies Valena, Porto Seguro e Ilhus/Itabuna, 1990-2014
Fonte: Elaborao prpria, 2016 a partir de dados do IBGE, 2015
A Figura 10 ilustra os vnculos empregatcios distribudos nos subsetores ocupacionais
definidos pelo IBGE, na Microrregio Ilhus-Itabuna, nos anos de 1985, 1990, 1995 e
2000. Em 1985, a Administrao Pblica foi o maior gerador de empregos formais,
seguido do Comrcio Varejista e do subsetor de Alojamento. Em 1990, esses trs
subsetores permanecem sendo os principais. Em 1995, a Administrao Pblica
permanece sendo o maior gerador de empregos formais, mas o segundo lugar passa para
a Agricultura. O Comrcio Varejista perdeu uma posio e caiu para o terceiro lugar.
Em 2000, a Administrao Pblica, a Agricultura e o Comrcio Varejista continuam
sendo os principais. No entanto, os dois primeiros sofreram reduo nesse nmero,
enquanto o ltimo apresentou elevao no nvel de empregos formais.
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Figura 10- Nmero de trabalhadores formalmente contratados segundo atividade econmica- Microrregio Ilhus-Itabuna, 1985-2000
Fonte: Elaborao prpria, 2016 a partir de dados de BRASIL, 2016
Nascimento e outros (2009) afirmam que com o declnio da produo de cacau
provocada pela Vassoura-de-Bruxa, muitos produtores da Zona Cacaueira comearam a
produzir outras atividades como a pecuria, o polo madeireiro e de eucalipto. Deve ser
considerado que essas atividades apresentam empregabilidade com maior nvel de
formalidade do que informalidade, ao contrrio da atividade cacaueira. Isso pode ter
provocado uma elevao do nmero de empregos formais no subsetor da Agricultura.
Cabe ressaltar tambm que a partir de 1995 houve uma reao na Regio na direo de
maior diversificao da atividade econmica, o que pode ter justificado a queda nos
setores antes determinantes. No entanto, essa anlise mostra que os subsetores de
atividade econmica j refletem um novo contexto econmico dos Municpios da
Regio. Este contexto esteve associado maior conquista de direitos trabalhistas e
diversificao da atividade econmica e o prprio efeito da produo de cacau a partir
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de espcies mais resistentes. Logo, importante analisar como esses ciclos impactaram
a renda per capita na Regio, comparado ao do restante do Estado.
2.5 A HISTRIA DO CACAU NO MUNICPIO DE ILHUS/BA
Apesar do primeiro cultivo de cacau no Estado da Bahia ter ocorrido em 1746, no atual
Municpio de Canavieiras, este ocorreu em Ilhus somente em 1752. No entanto, o
cultivo de cacau adaptou-se muito bem ao clima e solos da localidade denominada
poca de Vila de So Jorge dos Ilhus. A cultura do cacau gerou muita riqueza para a
Regio, que passou a ter posio de destaque frente das demais provncias da Bahia
(ILHUS, 2015). Desse modo, o cacau foi um importante vetor de crescimento
econmico local para o Municpio de Ilhus.
A Figura 11 ilustra o comportamento da produo de cacau no Municpio de Ilhus/BA,
no perodo de 1973 a 2010. possvel observar algumas quedas da produo, como em
1984, devido o excesso das chuvas ocorrido na Zona Cacaueira, e em 1990 devido
elevao dos preos dos insumos, aumento da taxa de juros e retrao do crdito
agrcola.
Figura 11- Quantidade produzida de cacau- Ilhus/BA, 1973-2010
Fonte: Elaborao prpria, 2016 a partir de dados do IPEADATA, 2015a
No entanto, cabe destacar tambm a queda da produo de cacau em 2002. De acordo
com a SEI (2006), entre os fatores que podem explicar tal reduo, j possvel
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contabilizar o aumento de cacaueiros infectados pela Vassoura-de-Bruxa, somados
valorizao cambial presente no perodo de 1983-1988. De acordo com Marin e Waquil
(2002), com a finalidade de conter o processo inflacionrio, o governo brasileiro
utilizou da sobrevalorizao cambial como instrumento de poltica comercial e de
estabilizao econmica na dcada de 80, o que justifica a alta no perodo, como pode
ser visualizado na Figura a seguir.
Figura 12- Taxa mdia de cmbio (US$/R$)
Fonte: Elaborao prpria, 2016 a partir de dados do IPEA, 2011
O escritor Jorge Amado (1912-2001), atravs de obras literrias de reconhecimento
internacional, contribuiu muito para divulgao da histria de Ilhus e da saga do cacau
para todo o mundo. De acordo com Menezes (2008), dentre essas obras esto os
romances Cacau (1933); Terras do Sem Fim (1942); So Jorge dos Ilhus (1944) e
Gabriela, Cravo e Canela1 (1958) (XAVIER, 2012). O dinamismo econmico e o
reconhecimento internacional de Ilhus, fez com que pessoas vindas de todo lugar se
sentissem atraadas a vir para a cidade de Ilhus. A maior parte era proveniente de
outros Municpios do Estado da Bahia, de Sergipe e da Regio Nordeste. Elas buscavam
melhorar sua condio econmica e social. Desse modo, houve um grande crescimento
da populao municipal ilheense (ILHUS, 2015).
1 Obra literria de autoria do escritor Jorge Amado que inspirou o cenrio da telenovela Gabriela na TV Tupi (1961) e na Rede Globo (1975), onde houve uma readaptao no ano de 2012.
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IBGE (2014, p.1) aponta que
Com a cultura do cacau em abundncia, Ilhus atraiu imigrantes e forasteiros, e se consolidou como polo irradiador de desenvolvimento de toda a Regio Sul da Bahia. Tornou-se o maior produtor de cacau, em nvel de Municpio, e influenciou diretamente o surgimento de cidades adjacentes, que tambm foram fundamentais para o status da lavoura cacaueira no cenrio econmico da Bahia e do Brasil.
O Municpio de Ilhus acabou recebendo obras de infra-estrutura de ferrovias e de
abertura de estradas, o Aeroporto Jorge Amado em 1938, e em 1971 o Porto de Ilhus,
maior porto exportador de cacau brasileiro, e que durante todo o ano tem movimento
constante de cargas e tambm movimenta passageiros de cruzeiros tursticos. Em 1974,
a cidade ganhou o Distrito Industrial do Iguape, onde foi implantado o Plo de
Informtica de Ilhus. Foram instaladas indstrias para manuseio e transformao
do cacau para fins de exportao. Dentre estas indstrias destacam-se as multinacionais
ADM Joanes instalada em 1979, a Cargill inaugurada em 1980 e a Barry Callebaut
sediada em 1999 (ILHUS, 2016; BAHIA, 2016; BARBOSA, 2016). No entanto, a
instao da doena Vassoura-de-Bruxa provocou grande queda na produo de cacau, e
o Municpio passou por perodos de crise com impactos negativos para o crescimento
econmico local.
Costa e outros (2006, p.6) afirmam que
Os reflexos desta crise foram sentidos em toda a cadeia produtiva. jusante, a indstria regional, absorvedora da produo, reduziu-se muito por conta da falta de matria prima para o beneficiamento. montante, a retrao ocorreu por conta da diminuio significativa do uso de fertilizantes e defensivos, resultando na reduo da produtividade das lavouras, o que prejudicou a atividade comercial da Regio.
No perodo recente, existem projetos a serem implantados como um novo aeroporto
com maior capacidade operacional, alm do novo Porto Sul e da construo da Ferrovia
Leste-Oeste. Estes projetos visam dinamizao da economia ilheense (ILHUS,
2015). A economia de Ilhus, no entanto, reduziu a dependncia quase exclusiva da
Agricultura e voltou-se para outros setores como Comrcio, o Turismo e o Lazer.
A Figura 13 mostra o nmero de vnculos empregatcios distribudos nos subsetores de
atividade econmica, no Municpio de Ilhus/BA, nos anos de 1985, 1990, 1995 e 2000.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Porto_Sulhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ferrovia_Leste-Oestehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ferrovia_Leste-Oeste
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Os subsetores que mais empregaram formalmente no ano de 1985, portanto anterior a
instalao da Vassoura-de-Bruxa no Estado Bahia, foram os de Alojamento,
Alimentao e Reparos, Comrcio Varejista e Alimentos e Bebidas, respectivamente.
Entretanto, no ano de 1990, ano seguinte instalao desse patgeno, a Administrao
Pblica passa a ser o subsetor com maior vnculo ocupacional. Percebe-se que o nmero
de empregados formalmente aumentou consideravelmente, comparado ao subsetor mais
empregvel no ano de 1985. O subsetor de Alojamento, Alimentao e Reparos, que foi
o que mais empregou no ano de 1985, passa para o segundo lugar. Em terceiro, fica
novamente o subsetor de Alimentos e Bebidas.
Em 1995, o subsetor de Alojamento, Alimentao e Reparos volta a ser o principal
subsetor empregatcio em Ilhus/BA. A Administrao Pblica ficou com o segundo
lugar, seguido do Comrcio Varejista, mas todos esses subsetores obtiveram reduo em
seus nmeros. Para Hartmann (2008) foi por volta de 1994/95 que comearam a ser
registrados estatisticamente os prejuzos econmicos advindos da queda da produo
cacaueira devido Vassoura-de-Bruxa. Assim, os seus prejuzos atingiram o volume de
empregos formais que diminuram significativamente. Em 2000, os subsetores de
Alojamento, Alimentao e Reparos, Comrcio Varejista e Administrao Pblica
foram os que obtiveram maior volume de vnculos ocupacionais. Todavia, ao contrrio
de 1995, os trs principais subsetores obtiveram aumento no nmero de vnculos
empregatcios formais. Isto pode ter sido impulsionado pelo processo de recuperao
das lavouras de cacau, provocando melhora nas variveis econmicas nesse Municpio.
Alm disso, conforme ressaltado anteriormente, a atividade econmica do Municpio
ganhou novos vetores de crescimento, sobretudo o Turismo, que impulsionou os
subsetores de Alojamento e Alimentao, bem como a expanso da atividade industrial.
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Figura 13- Nmero de trabalhadores formalmente contratados segundo atividade econmica- Ilhus/BA,
1985-2000
Fonte: Elaborao prpria, 2016 a partir de dados de BRASIL, 2016
A Figura 14 ilustra a evoluo da populao rural e urbana no Municpio de Ilhus/BA.
At o ano de 1960, a maior parte da populao de Ilhus residia na zona rural, onde
concentrou aproximadamente 65,41% da populao total. Contudo, a partir de 1970,
observa-se um decrscimo de 37,94% na populao rural e um crescimento de 84,89%
na populao residente na zona urbana. Assim, a partir desse perodo Ilhus passa a ser
composto majoritariamente por uma populao residente no centro urbano do
Municpio.
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Figura 14- Populao rural e urbana do Municpio de Ilhus/BA, 1940-2010
Fonte: Elaborao prpria, 2016 a partir de dados do IPEADATA, 2015b , 2015c
A Figura 15 apresenta o nmero da populao rural no Municpio de Ilhus e na
Microrregio Ilhus-Itabuna, no perodo de 1940 a 2010. Como mencionado
anteriormente, esta Microrregio composta de 41 Municpios do Estado da Bahia e
ficou conhecida como Regio Cacaueira, devido considervel influncia econmica
que a cultura do cacau propiciou para essa Regio. No entanto, neste perodo, o
Municpio de Ilhus concentrou em mdia somente 18,30% de toda a populao rural
residente nessa Microrregio.
Figura 15- Populao rural no Municpio de Ilhus/BA e na Microrregio Ilhus-Itabuna, 1940-2010
Fonte: Elaborao prpria, 2016 a partir de dados do IPEADATA, 2015b
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A Figura 16 apresenta o nmero de habitantes na zona urbana do Municpio de
Ilhus/BA e na Microrregio Ilhus-Itabuna, no perodo de 1940 a 2010. Ilhus
concentrou em mdia 22,28% da populao urbana nessa Microrregio, uma populao
um pouco maior que a populao rural. A elevao no nvel populacional urbano
ilheense foi predominante no perodo (exceo ano de 1960), embora a partir de 1996,
as variaes na populao urbana tornam-se menores. Com exceo do ano de 2007, a
populao urbana da Microrregio tambm apresenta comportamento ascendente.
Figura 16- Populao urbana no Municpio de Ilhus/BA e na Microrregio Ilhus-Itabuna, 1940-2010
Fonte: Elaborao prpria, 2016 a partir de dados do IPEADATA, 2015c
A Figura 17 ilustra o comportamento dos setores do Produto Interno Bruto (PIB) no
Municpio de Ilhus, medidos em reais, a preo do ano 2000 e deflacionados pelo
Deflator Implcito do PIB nacional. O setor de Servios em mdia obteve maior
participao na composio do PIB total nesse perodo. possvel verificar um pico no
ano de 1985 em todos os setores econmicos. A Indstria foi o segundo setor que mais
contribuiu para o crescimento econmico no Municpio de Ilhus, exceto nos anos de
1959 e 1985, onde foi o principal setor econmico. O ltimo lugar foi ocupado pelo
setor da Agropecuria, que embora seja uma atividade importante nesse Municpio,
participou pouco na composio do PIB ilheense. Embora ocorressem algumas
variaes nesse perodo, em mdia a participao no PIB da Agropecuria foi de apenas
8,6%. A Indstria, por sua vez, contribui em mdia com 31% do PIB total. J o setor de
Servios participou em mdia com 50,63 % do PIB do Municpio. Assim, a anlise da
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ilustrao abaixo permite concluir que de fato o Municpio de Ilhus no era to
dependente da Agropecuria, sendo sua economia diversificada, onde as maiores
parcelas em mdia foram ocupadas pelo setor de Servios e da Indstria.
Figura 17- Produto Interno Bruto por setor (R$)- Ilhus, 1920-2010
Fonte: Elaborao prpria, 2016 a partir de dados do IPEADATA, 2015d
A Figura 18 mostra a mdia do Produto Interno Bruto por setor no Municpio de Ilhus,
na Microrregio Ilhus-Itabuna e no Estado da Bahia, no perodo compreendido entre
1920 e 2010. Atravs da anlise dessa Figura possvel constatar que tanto o Municpio
de Ilhus como a Microrregio Ilhus-Itabuna em mdia contriburam mais para
economia do Estado da Bahia por meio do setor de Servios, seguido da Indstria e por
ltimo com o setor da Agropecuria. Com relao Agropecuria, o Municpio de
Ilhus contribuiu em mdia 13,94% na Microrregio Ilhus-Itabuna e 1,78% no Estado
da Bahia. Por sua vez, Ilhus participou em mdia com 49,37% na Indstria da
Microrregio e com 2,23% a nvel estadual. Por fim, o setor de Servios de Ilhus teve
em mdia 26,88% de contribuio no PIB total da Microrregio Ilhus-Itabuna e de
1,85% para todo o Estado da Bahia.
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Figura 18- Mdia do Produto Interno Bruto por setor (R$)- Ilhus, Microrregio Ilhus-Itabuna e Estado da Bahia (1920-2010)
Fonte: Elaborao prpria, 2016 a partir de dados do IPEADATA, 2015d
Desse modo, atravs da anlise das Figuras referentes composio da populao e PIB
por setor do Municpio de Ilhus e da Microrregio Ilhus-Itabuna, possvel verificar
que a partir da dcada de 70, a populao de Ilhus j se concentrava no centro urbano
do Municpio. Alm disso, Ilhus participou com uma considervel parcela da
populao rural da Microrregio, mas participou um pouco mais com a populao
urbana da mesma.
Os dados tambm demonstraram que j a partir de 1991, portanto posterior instalao
da Vassoura-de-Bruxa, houve um decrscimo no nvel populacional rural, enquanto a
zona urbana apresentou crescimento na maior parte do perodo. Para Santos (1996), a
populao urbana nacional passa a ser majoritariamente urbana a partir da dcada de
1970, se consolidando a partir da dcada de 1980. No entanto, j a partir da dcada de
70, o Municpio de Ilhus tinha a maior parte da populao residindo na zona urbana.
Aps o perodo da instalao da Vassoura-de-Bruxa no final da dcada de 1980, houve
uma reduo considervel na zona rural, aumentando o nvel populacional na zona
urbana do Municpio, embora em patamares menores que nos anos anteriores. Os dados
do PIB indicaram que a Agropecuria tem contribudo pouco para a composio do PIB
Municipal de Ilhus e da Microrregio Ilhus-Itabuna, ficando o setor de Servios com a
maior parcela de contribuio, seguido do setor Industrial.
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A anlise mostrada neste captulo mostra que o Municpio de Ilhus apresenta-se como
um importante objeto de pesquisa sobre os efeitos exgenos, em particular, a Vassoura-
de-Bruxa, sobre o crescimento econmico local. A praga se alastrou, aproximadamente,
entre os anos de 1989 a 1995. No entanto, o perodo tambm marcado por outros
eventos como a diversificao da atividade econmica local, expanso da agricultura
para produo da madeira que gerou maior nmero de empregos formais e outros.
Embora possa haver a hiptese que a renda per capita gerada pela atividade da
produo do cacau seja composta de muitos empregos informais, o Municpio
concentrava o maior nvel de atividades da Indstria e de Comrcio e Servios ligados
ao cacau, e certamente seria um dos mais afetados pela queda na produo desse fruto.
Mello e outros (2013) confirmam essa hiptese. Os autores relatam que a partir da
dcada de 70, o Municpio de Ilhus j concentrava muitas indstrias multinacionais da
indstria chocolateira e moageira de cacau da Regio. Entre elas esto a ADM Joanes
instalada em 1979 e a Cargill inaugurada no ano de 1980 (ILHUS, 2016; BAHIA,
2016). Posteriormente, a Barry Callebaut foi sediada no Municpio de Ilhus em 1999
(BARBOSA, 2016). No entanto, o impacto do choque advindo da instalao da praga
Vassoura-de-Bruxa sobre a economia local como um todo pode ser tratado como um
enigma, pois no se pode afirmar seguramente que esse evento pode ter exercido grande
influncia sobre o crescimento econmico de Ilhus.
Diante desse exposto, a pergunta que se coloca, conforme antecipado na introduo
dessa dissertao, : A Vassoura-de-Bruxa provocou de fato um impacto negativo no
crescimento econmico local do Municpio de Ilhus? Esse problema de pesquisa
remete a alguns desafios a serem superados do ponto de vista terico e emprico. Em
primeiro lugar, preciso compreender teoricamente a exposio da economia local do
Municpio de Ilhus, considerando ser esta uma economia fortemente de uma cultura
agrcola, mas que tambm baseada em condies naturais propcias a sua produo.
Isso permite que se possa avaliar ou levantar hipteses sobre o crescimento econmico
local com base em teorias sobre o crescimento baseado na dependncia de commodities.
Em segundo lugar, trata-se de um objeto de difcil tratamento emprico, uma vez que no
perodo analisado as estatsticas econmicas municipais no eram estruturadas, o que
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dificulta a coleta de dados adequados. Por fim, cabe ressaltar a dificuldade
metodolgica para quantificao dos efeitos da Vassoura-de-Bruxa. A produo do
cacau concentrada na Regio de Ilhus, o que impossibilita a utilizao de outros
Municpios como grupo de controle para aferio dos resultados. Segue ento no
restante desta dissertao o tratamento desses desafios a serem superados.
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3 ECONOMIAS COM ABUNDNCIA DE RECURSOS NATURAIS
O principal objetivo desse captulo averiguar o que a literatura terica e emprica
aborda sobre a relao entre abundncia de recursos naturais e crescimento econmico,
bem como os possveis canais de transmisso da maldio dos recursos naturais. A
literatura sobre economias com abundncia de recursos naturais tem demonstrado uma
relao inversa entre recursos naturais e crescimento econmico. Economias baseadas
em recursos naturais tenderiam a sofrer mais fortemente os danos causados pela
volatilidade, instituies ruins, Doena Holandesa e por choques exgenos.
No presente captulo, alm da reviso de literatura abordando recursos naturais e seus
aspectos econmicos e institucionais (subitem 3.1), a Doena Holandesa e dependncia
de commodities (subitem 3.2) e as peculiaridades entre recursos naturais renovveis e
no-renovveis (3.3), ser realizada uma reviso de trabalhos empricos internacionais
(subitem 3.4), nacionais (subitem 3.5) e sobre a Vassoura-de-Bruxa (3.6).
3.1 RECURSOS NATURAIS: ASPECTOS ECONMICOS E INSTITUCIONAIS
Ao longo dos ltimos anos, as pesquisas tm mostrado que pases que dispem de
abundncia de recursos naturais tendem apresentar baixo desempenho econmico.
Alguns exemplos so a Arbia Saudita, Nigria, Serra Leoa e Venezuela, que embora
ricas em recursos naturais como petrleo, diamantes e minerais, apresentam sua
economia pouco desenvolvida. Por outro lado, pases como a Austrlia, Canad, Coria
e Japo, mesmo dispondo de poucos recursos naturais, possuem nveis de renda e de
qualidade de vida bastante elevados (MELHUM et al., 2005; FRANKEL, 2010). Isso
tem colocado alguns desafios no que diz respeito aos canais de desenvolvimento ou
subdesenvolvimento de economias ricas em recursos naturais.
Auty (1993, 2001) criou o termo maldio dos recursos naturais para denominar o
fato de muitos pases serem ricos em recursos naturais e isso no se refletir numa
elevao considervel dos seus nveis de renda per capita e de qualidade de vida.
Embora, no se possa generalizar a ocorrncia desse fenmeno a todos os pases, alguns
testes economtricos realizados confirmaram a sua presena no contexto mundial. As
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hipteses levantadas por tericos dessa rea de pesquisa podem ajudar a compreender a
relao entre recursos naturais e desenvolvimento dentro dos pases. Assim, surgiram
diversos autores dedicados ao estudo da maldio dos recursos naturais (MRN) e dos
seus respectivos canais de transmisso. Esta anlise geralmente acompanhada de testes
empricos por meio de modelos economtricos (PERIARD; LOSEKANN, 2013).
Dentre esses autores, cabe destacar Frankel (2010) que descreve alguns aspectos da
riqueza de uma commodity. O primeiro aspecto envolve as tendncias de longo prazo
nos preos mundiais de commodities. A economia dos pases em desenvolvimento
geralmente de menor porte, exercendo pouco relevncia frente aos pases
desenvolvidos e industrializados. Desse modo, torna-se mais fcil para eles se
especializar na exportao de artigos bsicos. Isso faz com que se tornem tomadores de
preos nos mercados mundiais. Com isso, no longo prazo, os preos mundiais de
commodities tendem a um declnio secular.
Esta hiptese est associada aos estudos de Raul Prebisch e Hans Singer, conhecidos
como da velha "escola estruturalista." Sendo assim, para os autores a demanda mundial
de produtos primrios seria inelstica renda mundial (FRANKEL, 2010). Assim,
pases cuja principal atividade seja a exportao de commodities, devem receber esses
reflexos, na medida em que sua comercializao deve apresentar termos de troca
declinantes (SINNOT et al., 2010).
A Lei de Engel, por sua vez, afirma que as famlias ficariam mais ricas se empregassem
uma parte menor de seus rendimentos em alimentos e/ou necessidades bsicas. Os
pases em desenvolvimento deveriam incentivar a fabricao domstica de seus
produtos e desestimular o comrcio internacional atravs das barreiras tarifrias e no-
tarifrias. No entanto, isso vai de encontro s teorias clssicas de livre comrcio
internacional, que defendem o emprego da vantagem comparativa tradicional,
desenvolvida por David Ricardo. Para esse autor, o comrcio internacional seria
benfico, embora os pases participantes no fossem os mais eficientes na produo de
todos os bens, estes deveriam se especializar na produo dos bens em que fossem mais
eficientes (FRANKEL, 2010). Para o autor, as economias no precisariam ser
necessariamente as melhores na produo de determinado recurso. No entanto, no
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recurso que apresentar melhor aproveitamento, deve se especializar a fim de obter
melhor desempenho nas relaes comerciais.
O segundo aspecto diz respeito volatilidade. A volatilidade dos preos mundiais da
energia e de commodities, geralmente tida como elevada, devido oferta e demanda
relativamente inelstica. Sendo assim, torna-se importante ter informaes acerca da
permanncia dos seus choques. A instabilidade gerada por essa volatilidade pode
desestimular o investimento (FRANKEL, 2010). A atividade cacaueira apresentava
ciclos de expanso e ciclos retrao. Quando ocorria expanso, esta produzia riquezas
para os seus fazendeiros. Mas quando ocorria a retrao, havia gerao de desemprego e
marginalizao dos trabalhadores da lavoura cacaueira. Neste sentido, a atuao do
governo na economia pode ser importante, principalmente em relao poltica fiscal
ou cambial. No caso especfico do cacau no Brasil, foi criado o ICB, a CEPLAC e o
CEPEC visando proteger esses produtores em momentos de crise.
Considerando o risco na comercializao de uma mercadoria, desejvel que se tenha
uma diversidade de recursos do que se especializar apenas em alguma(s) commodities.
Desse modo, os riscos seriam menores e maiores seriam os retornos, se o pas rico em
recursos naturais diversificasse a sua produo e exportao (FRANKEL, 2010). Cabe
destacar tambm que um evento inesperado pode afetar consideravelmente a economia
que se baseia apenas em algum recurso natural. O Municpio de Ilhus, por exemplo,
tinha sua economia muito dependente da monocultura, que era a lavoura cacaueira.
Quando a Vassoura-de-Bruxa infestou os cacaueiros e destruiu suas lavouras, sua
economia sentiu mais fortemente os prejuzos econmicos advindos da dependncia
econmica que tinha nesta atividade.
O terceiro aspecto destacado por Frankel (2010) reside no fato de determinados recursos
naturais poderem ser os setores sem sada no mercado. Mas aqui se enquadraria os
recursos no renovveis, a exemplo dos recursos minerais e do petrleo. No entanto,
isso adviria da possibilidade desses recursos no poderem mais ser fabricados pela
natureza, considerando a possibilidade do consumo destes ser maior que a sua
capacidade produtiva. A industrializao seria uma boa alternativa para o crescimento
econmico, visto que agregaria benefcios dinmicos e spillovers, ou seja, estes
benefcios poderiam ser passveis de transmisso de um mercado para outro
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(FRANKEL, 2010). Os recursos naturais no renovveis devem ser consumidos abaixo
da capacidade de produo pela natureza, para garantir que estes recursos no sejam
extintos. Por outro lado, para a indstria, no h uma preocupao direta com a exausto
destes recursos naturais.
O quarto aspecto diz respeito guerra civil. Uma caracterstica marcante de economias
ricas em recursos naturais, que estas tendem a se envolver com guerra civil e conflitos
armados, podendo sofrer malefcios nos mais diversos mbitos. Alm dos danos
polticos e sociais, cabe destacar os prejuzos que podem incorrer sobre as suas variveis
econmicas, como diminuio de suas riquezas, aumento das dvidas, desvalorizao de
sua moeda e reduo do potencial industrial e agrcola. Desse modo, o seu crescimento
econmico pode ser comprometido e sofrer redues indesejadas por toda sociedade
(FRANKEL, 2010; SOUSA, 2016).
Ross (2012), atravs da explorao de modelos institucionais, afirma que quanto mais
alta for renda do recurso natural, menor ser a durao em regimes do tipo
democrticos. Para ele, a maior quantidade dessas rendas afetaria tambm o nmero de
vagas de mulheres nos postos de trabalho. Essa menor participao feminina tambm
incluiria o campo poltico, de modo que as mulheres tenderiam a ocupar menos cadeiras
parlamentares. Alm disso, as elevadas rendas avindas do recurso natural fomentariam o
processo de militarizao. Esse processo, por sua vez, geraria uma incidncia mais alta
de guerras civis em seus territrios.
Para Humphreys, Sachs e Stiglitz (2007) a renda proveniente do recurso natural pode
ser um importante instrumento na promoo de melhores nveis de vida. No entanto,
isso no garante a manuteno de seu crescimento. Os autores chamam este fenmeno
de falhas de crescimento. Estas falhas, provenientes da abundncia de recursos naturais,
podem provocar graves consequncias no mbito econmico e poltico, aumentando a
incidncia de corrupo, colapso da democracia e guerra civil.
O quinto aspecto refere-se a instituies ruins. Os institucionalistas, juntamente com
North e Williamson foram os primeiros a destacar o papel das instituies no
desempenho econmico. Para os autores, os pases que apresentassem baixa qualidade
institucional, tambm teriam um baixo crescimento econmico. No entanto, cabe
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destacar que os autores Acemoglu e Robinson (2012) defendiam tambm o papel das
instituies econmicas. Para os autores, as instituies econmicas teriam um papel
crucial na diferenciao das rendas dos pases ricos em recursos naturais. Desse modo,
pases que tivessem boas instituies econmicas aufeririam maiores rendas.
Quando o controle de recursos naturais se encontra sob propriedade do governo ou
mesmo de uma elite hereditria, pode haver comprometimento do desenvolvimento das
instituies nestas localidades. No entanto, isto pode favorecer o desenvolvimento
econmico se, comparado a pases onde a tributao moderada de um setor bem
sucedido se torna a forma exclusiva de financiamento governamental (FRANKEL,
2010). Entretanto, torna-se difcil para o bom andamento da economia, o controle dos
recursos naturais sob o poderio de apenas um determinado grupo social. Tal fato pode
desembocar em corrupo e suborno, o que prejudica as instituies dessas localidades
e tambm toda uma sociedade, visto que alguns sero favorecidos em detrimento dos
demais. Neste caso pode haver crescimento econmico, mas no desenvolvimento
econmico em tais economias.
Kolstad e Wiig (2009) apontam que a transparncia da receita de recursos tem sido
bastante requerida pela comunidade internacional voltada para o desenvolvimento
mundial. Neste sentido, surgiram iniciativas como a Iniciativa de Transparncia das
Indstrias Extrativas (EITI). Kolstad e Wiig (2009) defendem a prtica da transparncia
para a reduo da corrupo, especialmente em pases abundantes em recursos naturais.
No ento, essa transparncia deve vir acompanhada de outras formas de polticas. Para
isso, as re