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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
ESPECIALIZAÇÃO DE ARQUITETURA EM SISTEMAS DE SAÚDE
JOSÉ FERREIRA NOBRE NETO
PRÉ-FABRICAÇÃO APLICADA A ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE: O CASO DOS HOSPITAIS SARAH
SALVADOR 2010
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JOSÉ FERREIRA NOBRE NETO
PRÉ-FABRICAÇÃO APLICADA A ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE: O CASO DOS HOSPITAIS SARAH
Monografia apresentada ao curso de Especialização de Arquitetura em Sistemas de Saúde, como parte dos requisitos para a obtenção do título de especialista em Arquitetura de Sistemas de Saúde.
Orientação: Prof. Dr. Antonio Pedro Alves de Carvalho
SALVADOR 2010
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
E-MAIL: [email protected]
Neto, José Ferreira Nobre Pré-fabricação aplicada a Estabelecimentos Assistenciais de Saúde: O caso dos Hospitais Sarah/ José Ferreira Nobre Neto. – Salvador, 2010. 42 p. : il. Monografia (Especialização – Área de Concentração: Tecnologia de Arquitetura Hospitalar) – FAUFBA. Orientador: Antonio Pedro Alves de Carvalho 1. Pré-fabricação 2. EAS 3. Hospitais 4. Sarah
4
A minha esposa e filho, Lise e Leon.
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AGRADECIMENTOS
Aos mestres, especialistas, colaboradores e colegas do Curso de Especialização em
Arquitetura em Sistemas de Saúde, da Universidade Federal da Bahia, que
contribuíram para o avanço de mais uma etapa da minha formação educacional e
profissional. Minha gratidão ao Professor Antônio Pedro Alves de Carvalho, também
orientador desta pesquisa.
Aos profissionais do Hospital Sarah Kubitscheck, em Salvador/Bahia, pela
possibilidade de conhecer este estabelecimento e fomentar o sonho de projetar
Arquitetura de Unidades Hospitalares com a mesma qualidade. Agradeço
especialmente a Mariana Santos, colega e arquiteta deste Hospital, por sua
orientação durante a visita técnica, e, a Doris Vilas Boas, arquiteta que disponibilizou
as fotos do Hospital Sarah Salvador.
Aos meus pais, amigos e parentes, especialmente a colaboração do Sr. Antônio
Fontes, sogro e arquiteto, incentivador maior deste trabalho.
A minha esposa e filho, Lise e Leon, fonte primeira da minha vida.
Salvador/ BA
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RESUMO
PRÉ-FABRICAÇÃO APLICADA A ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE: O CASO DOS HOSPITAIS SARAH
Esta pesquisa tem como intuito maior estudar a utilização do sistema pré-fabricado,
na construção civil, direcionando, especificamente, para o segmento da Arquitetura
Hospitalar. Os estudos apresentados sobre este tema indicam que a interface entre
novas tecnologias e o projeto de unidades hospitalares sempre foi recorrente, e,
para o planejamento destes estabelecimentos é uma estratégia benéfica, sobretudo,
nos aspectos relacionados com o planejamento do hospital. Contiguidade,
expansibilidade, flexibilidade e racionalização são características fundamentais do
sistema de industrialização dos elementos construtivos através da pré-fabricação.
Quando apropriados adequadamente, o edifício hospitalar tende a crescer,
futuramente, sem improvisos, contemplando reformas e ampliações de maneira
ordenada, como são vistos nos exemplares nacionais de edifícios hospitalares desta
pesquisa. E, desta forma, foi tomado como referência, a Rede Sarah Kubistchek de
Hospitais, projetada pelo arquiteto João Filgueiras Lima, pois, representa um marco
maior para a arquitetura, devido a sua atividade precursora de englobar conceitos
importantes para a confecção destes prédios, como conforto ambiental, flexibilidade
dos espaços e das instalações, humanização e estrutura pré-fabricada. Todas as
unidades do Sarah possuem características próximas, entretanto, foram evoluindo
no sentido dos espaços, equipamentos médico-hospitalar e do uso de novas
tecnologias de construção. Sendo assim, este centro de tecnologias consolidou-se,
ao longo do tempo, como sendo um ícone internacional por incrementar aspectos
importantes para as unidades hospitalares.
Palavras-chave: Pré-fabricação/ EAS/ Hospitais/ Sarah
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ABSTRACT
PREFABRICATION IN HEALTH BUILDINGS: THE CASE OF HOSPITALS SARAH
This research has the intention to study the greater use of the prefabricated
construction, targeting specifically to the segment of Hospital Design. The studies
reported on this subject indicate that the interface between new technologies and
design of hospitals has always been the applicant and, for the planning of these
facilities is a beneficial strategy, especially in aspects related to the planning of the
hospital. Contiguity, scalability, flexibility and streamlining of the system are key
features of industrialization of building components through prefabrication. When
appropriate properly, the hospital building tends to grow in the future without
improvisation, contemplating renovations and expansions in an orderly manner, as
seen in the national hospital buildings copies of this search. And thus was used as a
reference to Sarah Kubitschek Hospital Network, designed by architect João
Filgueiras Lima, therefore, represents a major landmark for the architecture, due to
its activity a precursor to encompass important concepts for the construction of these
buildings, as environmental comfort, flexibility of spaces and facilities, humane and
prefabricated structure. All units have characteristics similar to Sarah, however, have
moved towards the spaces, medical and hospital equipment and the use of new
building technologies. Thus, this technology center established itself, over time, as an
international icon for increasing important aspects for the hospitals.
Keywords: Pre-production / EAS / Hospitals / Sarah
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Fases e tipos de edificações hospitales ao longo da história. 19
Figura 2 Elementos construtivos pré-fabricados – cobertura, pilar,
painel de vedação, bloco de fundação e vigas. 28
Figura 3 Hospital Pré-fabricado, consórcio BDSL,Siemens, Servlease. 29
Figura 4 Centro de Saúde e Hospital “Linha de frente”. 30
Figura 5 Hospital de Taguatinga: croquis e maquete física. 31
Figura 6 Elementos construtivos pré-fabricados desenvolvidos por
Lelé para o Hospital Sarah, em Salvador. 33
Figura 7 Vista aérea do Hospital Sarah em Salvador. 35
Figura 8 Imagens do Hospital Sarah em Brasília: vista aérea em
Perspectiva e planta baixa do pavimento térreo. 38
Figura 9 Imagens de diversos detalhes do Hospital Sarah,
em Salvador. 39
Figura 10 Imagens do Hospital Sarah em Fortaleza: foto de satélite,
croqui e planta baixa do pavimento térreo. 40
Figura 11 Imagens do Hospital Sarah em Belo Horizonte: planta baixa
do pavimento térreo, elevação lateral e planta tipo do bloco de
internação e croqui do solário. 41
Figura 12 Imagens do Hospital Sarah Lago Norte em Brasília: planta
baixa do pavimento térreo, montagem de estruturas das
cobertura e perspectiva geral do conjunto arquitetônico. 42
Figura 13 Imagens do Hospital Sarah em Natal: unidade de praia e
unidade terrestre. 43
Figura 14 Imagens do Hospital Sarah no Rio de Janeiro: perspectiva
do conjunto arquitetônico, foto área e planta de situação
esquemática. 44
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LISTA DE SIGLAS
EAS – Estabelecimento Assistencial de Saúde
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GLOSSÁRIO
Argamassa Armada – Este material de construção é constituído por uma mistura
íntima de um ou mais aglomerantes, agregado miúdo (material inerte) e água
(PETRUCCI, 1995, p. 351).
Coberturas - Telhas, canaletas, calhas, rufos, contra-rufos, terraços e
lajes impermeabilizadas. (NBR 13532,1995, p. 2)
Estruturas (aspectos arquitetônicos) - Colunas, pilares, vigas, paredes, lajes e
muros de arrimo. (NBR 13532,1995, p. 2)
Flexibilidade – A flexibilidade é a capacidade dos espaços construídos se
adaptarem às novas necessidades hospitalares. Aqui destacam-se, por um lado, a
própria expansão da construção, fruto do crescimento ou complexidade das
atividades e aumento da capacidade instalada, por outro lado, das demandas de
modernização e adaptação fruto do desenvolvimento dinâmico da instituição
hospitalar (WEIDLE, 1995, p.32).
Forros - Suportes, placas, painéis e grelhas. (NBR 13532,1995, p. 2)
Fundações (aspectos arquitetônicos) - Baldrames, blocos, cortinas, arrimos,
estacas e sapatas. (NBR 13532,1995, p. 2)
Elemento pré-moldado – Elemento que é executado fora do local de utilização
definitiva na estrutura, com controle de qualidade [...] (NBR 9062,1985, p. 2)
Elemento pré-fabricado - Elemento pré-moldado, executado industrialmente,
mesmo em instalações temporárias em canteiros de obra, sob condições rigorosas
de controle de qualidade [...] (NBR 9062,1985, p. 2)
Galeria Subterrânea – [...] é um espaço especialmente projetado e dimensionado
pela Manutenção Orgânica para conter as instalações de distribuição e apoio do
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hospital, visíveis e acessíveis à Manutenção Operacional, fugindo às improvisações
e falta de planejamento específico. Galerias são práticas, geralmente em linha reta e
localizadas próximas aos pontos de produção, consumo, transformação e utilização.
(KARMAN, 1995, p. 30)
Sistema construtivo - Sistema Construtivo é definido como “o conjunto das regras
práticas, ou o resultado de sua aplicação, de uso adequado e coordenado de
materiais e mão-de-obra se associam e se coordenam para a concretização de
espaços previamente programados. [...] Sistema Construtivo é o conjunto de
elementos da construção que associados e coordenados formam um todo lógico.
(WEIDLE, 1995, p. 19)
Racionalidade - A racionalidade é a capacidade do sistema construtivo de
proporcionar a máxima eficiência espacial e construtiva. É alcançar o melhor
desempenho do edifício com o menor volume de recursos e menor dispêndio de
tempo. Trata pois, da correta e adequada utilização dos materiais e técnicas de
construção e manutenção. A racionalização visa não só reduzir os custos iniciais dos
empreendimentos de construção hospitalar, mas também os custos envolvidos no
uso e na manutenção ao longo da vida útil da edificação (WEIDLE, 1995, p.34-35).
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SUMÁRIO
1 - INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13
2 - HISTÓRIA DOS ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE............ 19
3 - PRÉ-FABRICAÇÃO............................................................................................ 24
4 - PRÉ-FABRICAÇÃO EM EDIFICAÇÕES PARA A SAÚDE................................ 29
5 - O CASO SARAH................................................................................................. 34
6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 45
REFERÊNCIAS........................................................................................................ 47
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1 - INTRODUÇÃO
Verifica-se que a partir da década de 70, a utilização do sistema de pré-
moldagem pelas construções brasileiras passou a ser mais frequente. E, é através
do reconhecimento da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que os
elementos pré-moldados para a construção civil passaram a conferir maior
credibilidade junto ao mercado nacional. De acordo com Vasconcelos (1992), a
exigência da normalização era vital para a consolidação deste processo de
fabricação das peças:
Em 1977 já existiam no país numerosas indústrias dedicadas à produção de componentes e mesmo de estruturas completas de concreto pré-moldado. Tornou-se imperioso normalizar os produtos industrializados e estabelecer padrões de qualidade. [...] favorecia a implantação de uma Comissão de Estudos para organizar uma “Norma para Projeto e Execução de Estruturas de Concreto Premoldado.” (VASCONCELOS, 1992, p. 67)
Após este momento histórico, o cenário nacional teve um número cada vez
maior de construções utilizando o sistema pré-fabricado, muito embora, ainda
defronta-se com problemas para o seu alavancamento neste setor. O uso de
elementos pré-fabricados fomenta, portanto, a racionalização da arquitetura, o
planejamento dos projetos e da construção, resultando num produto industrializado,
teoricamente com mais qualidade. Neste sentido, a arquitetura dos hospitais
brasileiros também se apropriou desta técnica, possuindo alguns exemplares ao
longo da sua evolução histórica.
Isto implica, especificamente para a área hospitalar, num ganho considerável,
sobretudo nas questões relacionadas ao risco ambiental, já que as reformas e
ampliações futuras não mais produzirão efeitos tão nocivos aos pacientes devido à
poeira – elemento que conduz agentes infecto-contagiosos – pois é uma obra livre
de grande sujidade na sua execução. Outro aspecto fundamental é a manutenção
predial, que, devido às instalações estarem em locais estrategicamente acessíveis
(aparentes, em canaletas e/ ou em galerias) aos técnicos de manutenção, cria
facilidades para este serviço.
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Sendo assim, o planejamento hospitalar, quando realizado segundo critérios
previamente definidos e adotando o uso da pré-fabricação, colabora com as
constantes alterações do espaço físico destas unidades hospitalares, tendo em vista
que, de acordo com os especialistas do assunto, os hospitais são instituições
dinâmicas, tanto sob o ponto de vista das atividades realizadas nos ambientes,
quanto no aspecto construtivo.
Esta pesquisa terá ainda, como modelos de construções industrializadas, as
obras dos hospitais projetados pelo arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé), devido sua
notável influência sobre a temática. É visto, portanto, que desde o início de sua
carreira ele já atuava em seus projetos de arquitetura com a produção industrial. A
racionalização, a utilização de construções transitórias, as experimentações, a
praticidade, a pré-fabricação e a economia de tempo são os principais componentes
dos primeiros barracões de obras feitos na época da execução da cidade de
Brasília, como cita Ekerman (2005). Em suas obras de unidades hospitalares, são
adotadas as características mencionadas acima, além dos princípios fundamentais:
flexibilidade e extensibilidade da construção, criação de espaços verdes, flexibilidade
das instalações, iluminação natural e conforto térmico dos ambientes, padronização
de elementos da construção e estrutura.
Vale ressaltar ainda, o papel ímpar que o Centro de Tecnologia da Rede
Sarah teve ao longo da trajetória das várias unidades hospitalares que participou
Lelé. Esta instituição propõe, através do seu Contrato de Gestão, os objetivos de
“construir e implantar novas unidades hospitalares, expandindo o modelo gerencial e
os serviços da Rede para outras regiões do país; desenvolver tecnologia nas áreas
de construção hospitalar, de equipamentos hospitalares e de reabilitação.” (LIMA,
1999, p. 11). Trigo (2009) menciona que:
Dentre todos seus trabalhos com a pré-fabricação, foi na Rede Sarah, através do Centro de Tecnologia da Rede Sarah (CTRS), que Lelé pôde implantar sua arquitetura pré-fabricada na plenitude da sua concepção. O CTRS foi implantado, pelo governo federal por meio do Ministério da Saúde, em Salvador em 1991, juntamente com o hospital do aparelho locomotor da Rede Sarah Kubitschek de Salvador. Este Centro ainda funciona e fabrica todos os componentes necessários para construção e manutenção dos hospitais da Rede Sarah, como também já produziu componentes para outros tipos de edifícios que não hospitalares, a exemplo os Tribunais de Contas da União. Foi no CTRS onde Lelé melhor
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amadureceu seus conceitos e experiências de racionalização da construção. (TRIGO, 2009, p. 39)
Desta maneira, verifica-se a importância do arquiteto João Filgueiras Lima
como projetista e construtor de belos hospitais, unindo em seus projetos a dialética
entre a teoria e a prática, os materiais e a técnica, a responsabilidade e a ousadia.
Tendo em vista o contexto apresentado anteriormente, o tema desta
pesquisa trata do estudo da pré-fabricação dos elementos construtivos aplicados
aos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde - EAS, tendo com foco o caso dos
Hospitais SARAH. Seu objeto de estudo, portanto, refere-se aos componentes pré-
fabricados com cunho estrutural e seu uso nos edifícios hospitalares da arquitetura
de saúde no Brasil, destacando a contribuição do arquiteto João Filgueiras Lima.
Como pergunta de investigação foram questionadas quais as
especificidades de sistemas construtivos que utilizaram a pré-fabricação, relativas
aos EAS, que influenciam no resultado final do espaço arquitetônico?
Tem ainda como objetivo geral a documentação e análise das
informações sobre o processo de industrialização de projetos realizados em EAS
através da pré-fabricação dos seus componentes construtivos, e como estudo de
caso, aborda os trabalhos realizados por João Filgueiras Lima, sobre a ótica da sua
utilização estrutural e influência sobre a concepção espacial das unidades
hospitalares.
Os objetivos específicos estão definidos por:
• Apresentar as diversas concepções arquitetônicas relacionadas à
industrialização da estrutura física de unidades hospitalares;
• Mostrar as possibilidades de aplicações de tecnologias e materiais
construtivos na arquitetura hospitalar;
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• Identificar soluções de construções pré-fabricadas através da
estandardização dos componentes.
Todos estes aspectos são abordados através da mostra ilustrativa de
unidades hospitalares, apresentando-se, resumidamente, algumas possibilidades de
uso dos elementos pré-fabricados, em hospitais nacionais.
Miquelin (1992) ao estudar os inúmeros casos de unidades hospitalares,
constatou a complexidade do tema. Este justifica, portanto, que os hospitais
contemporâneos devem ser mais versáteis, adaptando-se as necessidades do
presente:
Uma das frases mais ouvidas sobre os edifícios ligado à saúde é que “o
hospital é a instituição mais dinâmica da sociedade contemporânea”.
Esse dinamismo é intrínseco à própria essência das atividades que se
desenvolvem no edifício médico hospitalar. São atividades em contínuo
aperfeiçoamento (o que não significa, por outro lado, que mudem
radicalmente de natureza e a todo instante).
Todas estas mudanças tem pressionado os hospitais a serem cada vez
mais ágeis na adaptação de seus espaços, tanto ao nível de mudanças das
paredes dos compartimentos, quanto dos sistemas de instalações.
(MIQUELIN, 1992, p. 179).
Diante desta constatação, é importante salientar a complexidade do tema,
tendo em vista a evolução contínua das informações na área hospitalar
(procedimentos, equipamentos etc) e das novas técnicas construtivas. Sob este viés,
também é correto afirmar que, ao longo da trajetória histórica dos hospitais, estes
sempre se apropriaram das tecnologias construtivas mais avançadas do seu
período. E, de uma forma geral, é possível classificar as obras de hospitais
produzidos por meio do sistema de pré-fabricação como sendo projetos racionais,
balizados através de um planejamento prévio, importante para a evolução destas
instituições de saúde.
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Portanto, o presente estudo reconhece estes equipamentos como sendo
obras extremamente importantes, tanto para o funcionamento das cidades, quanto
para o benefício da população usuária, e, também, para a própria arquitetura. Assim,
a contribuição deste trabalho explora as obras arquitetônicas brasileiras que tiveram
importante contribuição histórica sob o aspecto do seu sistema construtivo,
avaliando os trabalhos de João Filgueiras Lima, Lelé, “iniciador de uma atividade
inovadora na área hospitalar brasileira em vários aspectos, sobretudo no emprego
adequado da tecnologia nos diversos campos de trabalho (LATORRACA, 1999, p.
125).”
É importante mencionar que, metodologicamente, para o desenvolvimento
das atividades desta pesquisa, o trabalho iniciou-se com a visita em diversas
unidades hospitalares na Cidade de Salvador. Estas foram realizadas durante o
curso de Especialização em Arquitetura em Sistemas de Saúde, com o intuito de
obter o entendimento geral do funcionamento deste equipamento urbano. Foi
através da visita técnica ao Hospital Sarah Kubstcheck1, porém, onde se firmou a
idéia geral para o alcance dos objetivos propostos por este trabalho. A partir daí,
foram realizadas análises sobre o objeto de estudo � as técnicas de pré-
fabricação.
O trabalho, então, selecionou a pesquisa bibliográfica a cerca dos hospitais
brasileiros que utilizaram a industrialização da arquitetura como partido inicial, assim
como os hospitais projetados por Lelé.
A metodologia geral levou em consideração o desempenho das seguintes
atividades:
• Revisão bibliográfica através do levantamento e análise de material
de pesquisa por meio de bibliografias especializada, livros,
periódicos, internet, entre outros;
1 A Associação das Pioneiras Sociais (APS) - entidade de serviço social autônomo, de direito privado e sem fins lucrativos - é a Instituição gestora da Rede SARAH de Hospitais de Reabilitação, cujo objetivo inicial é prestar atendimento médico público para a reabilitação de pacientes com problemas no aparelho locomotor (SARAH, 2010).
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• Coleta dos dados com o estudo comparativo entre os elementos pré-
fabricados da Rede Hospitais SARAH com o intuito de observar as
características dos componentes construtivos e sua relação com o
espaço construído;
• Tratamento dos dados, redação e revisão final com análise crítica do
material encontrado.
A temática da pesquisa refere-se à tecnologia da construção aplicada a
Arquitetura Hospitalar, mesclando as categorias gerais espaço (meio ambiente) e
tempo/ processo (história e crítica).
O trabalho está estruturado em quatro partes principais. A primeira parte diz
respeito à história dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS),
apresentando resumidamente a evolução das unidades hospitalares ao longo do
tempo e sua relação diante das principais tecnologias de cada período.
A segunda parte trata da pré-fabricação e introduz, inicialmente, os conceitos
de planejamento e industrialização aplicados as construções. Em seguida,
contextualiza o tema mostrando a evolução do sistema pré-fabricado no cenário
nacional. Por fim, avalia os aspectos positivos e negativos desta tecnologia.
Na terceira parte é discutida a interface entre a pré-fabricação e os
Estabelecimentos Assistenciais de Saúde. São apresentados exemplares de
hospitais brasileiros que utilizarem este sistema construtivo e sinalizadas as
características principais destas edificações.
A quarta parte faz referência à iniciativa inovadora da Rede de Hospitais
Sarah Kubitschek, versando sobre as características das unidades projetadas pelo
Arquiteto João Filgueiras Lima. Apresenta os aspectos que contribuem para
identificar a unidade destes hospitais e comenta sobre a sua evolução, focando nas
características tecnológicas.
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2 - HISTÓRIA DOS ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE
SAÚDE
A arquitetura hospitalar, ao longo do tempo, passou por diferentes
transformações quanto ao seu aspecto construtivo. Miquelin (1992, p. 28) compara
estas edificações e aponta uma classificação entre suas fases e tipos. Cita como
exemplos, os Pórticos e Templos na Antiguidade, as Naves na Idade Média, a Cruz
e o Claustro na Renascença, os Pavilhões na Era Industrial e os Blocos no período
Pré-contemporâneo (figura 1).
Figura 1 – Fases e tipos de edificações hospitales ao longo da história.
Fonte – MIQUELIN, 1992, p. 28.
Quanto a este tema, Miquelin (1992, p. 28) comenta sobre a importância dos
edifícios históricos como influência positiva na arquitetura hospitalar contemporânea,
e comenta que estes prédios sempre incorporaram novas tecnologias, através da
contribuição de outras disciplinas:
Uma constatação importante é que os edifícios hospitalares historicamente
sempre se beneficiaram com a incorporação e uso das técnicas avançadas
de construção, com freqüência trazidas de outras áreas do conhecimento,
como a engenharia naval, por exemplo. (MIQUELIN, 1992, p. 28).
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Benévolo (1989), em História da Arquitetura Moderna, anuncia a contribuição
da Revolução Industrial (1760-1830) para a arquitetura, período este que deve ser
avaliado com atenção para compreender melhor o advento dos Hospitais
Contemporâneos. O autor relata que a partir da segunda metade do século XVIII, foi
um período propício para os avanços científico e técnico, contribuindo para o
despertar do espírito de crítica e inovação à cultura arquitetônica.
É visto, nesta mesma época, como fato importante neste campo, a utilização
das máquinas como auxiliares na execução das construções, o que, de certa
maneira, corrobora com a dicotomia entre os profissionais arquitetos, considerados
como artistas preocupados meramente com as questões formais, e, os engenheiros,
mais engajados com a construção e a técnica propriamente dita. Esta questão no
decorrer do processo histórico, porém, atinge uma relação diferente, como confirma
Benévolo (1989, p. 30):
[...] uma nova unidade cultural, a qual obviamente não poderá consistir em um retorno puro e simples à situação pré-industrial, quando o arquiteto resumia sozinho todas as habilidades, mas deverá levar em conta a divisão de tarefas e a especialização, agora já indispensável no mundo moderno.
Em suma, a arquitetura, que é um fato de coordenação e de síntese, é dissociada em seus elementos, por obra da mudança de rumo ocorrida na segunda metade do século XVIII. (BENÉVOLO, 1989, p. 30).
Todas estas alterações fazem parte de uma nova forma de organização da
sociedade industrial, incorporando a divisão de tarefas, dando início, assim, ao
período compreendido por Arquitetura Moderna. Isto repercutiu diretamente nas
técnicas construtivas que, juntamente com o crescimento da população e das
cidades e com a nova dinâmica da economia capitalista, foram os principais marcos
até então.
Neste ínterim, as construções adquirem um nível de complexidade jamais
visualizado antes, como na construção de pontes, estradas e canais. Novos
materiais são introduzidos, como o ferro e o vidro, sob um conceito inovador. Como
diz Benévolo (1989, p. 56):
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Difunde-se, nesse período, o uso do vidro para janelas, em lugar do papel (em fins do século XVIII, existiam ainda na França as corporações dos châssessiers, que tinham por tarefa cobrir os caixilhos das janelas com papel oleado), [...] (BENÉVOLO, 1989, p. 56).
Certo é que, neste percurso histórico, as construções hospitalares sempre se
utilizaram das tecnologias de cada tempo, e, na era industrial, onde foram
produzidas inúmeras construções de saúde, ocorreu essa apropriação com a
alteração da própria concepção do partido arquitetônico. Estes estabelecimentos
assumiram, então, o formato de pavilhões, com pátios internos e com proporções
relativamente maiores aos hospitais já existentes. São exemplos o Royal Naval
Hospital (1756), o Hospital Lariboisiere (1846), e, em São Paulo, a Santa Casa de
Misericórdia (1884) (MIQUELIN, 1992).
Neste contexto, a Enfermaria Nightingale (1895) � edificação hospitalar de
destaque do mesmo período, concebeu o bloco de internação de maneira inovadora,
partindo dos princípios estabelecidos pela enfermeira Florence Nightingale, e a
correta utilização dos recursos técnicos disponíveis da época. Este “possuía um
salão longo, com um pé direito elevado, e janelas altas entre um leito e outro de
ambos os lados do salão, favorecendo a ventilação e a iluminação natural”
(MIQUELIN, 1992, p. 46).
Sob uma ótica associada ao planejamento, Parucker (2008, p. 78) estuda
evolutivamente os hospitais modernos e aponta os rumos para o Hospital
Contemporâneo. Discorre principalmente sobre a nova organização dos hospitais
onde deveriam prestar uma assistência mais adequada aos doentes, denominado de
hospital terapêutico. Comenta sobre a importância da sistemática de metodologias
na unidade hospitalar, assim como a utilização de mecanismos disciplinares, como a
administração, a gestão das equipes, a separação dos pacientes em categorias e o
controle e vigilância dos mesmos. Neste sentido, verifica-se a contribuição dos
Hospitais Militares como referência, devido a sua influência sobre os espaços e
procedimentos (PARUCKER, 2008, p. 79). Cita, como segundo ponto crucial para a
evolução do hospital contemporâneo, o paradigma do Hotel-Dieu de Paris, onde
acredita que este empreendimento incorporou avanços tecnológicos e científicos,
22
seguindo o modelo de hospital pavilhonar, proposto por Jacques René Tenon.
Miquelin (1992, p. 43) ao verificar também este caso, comenta que a contribuição
principal do Hotel Dieu na área hospitalar, defendida por Poyet, foi a abertura para
um olhar mais técnico-científico da época, voltando a preocupação para as questões
sanitárias vigentes de iluminação e ventilação.
Diante do progresso científico da época industrial, surge uma nova maneira
de se pensar a gestão da saúde, encarando a doença como um fenômeno natural,
decorrente da atmosfera onde o homem vive. Assim, tem início uma nova forma de
intervenção médica associada à administração hospitalar militar, que dará origem,
ao hospital médico, ou hospital terapêutico de cura. Como afirma Parucker (2008, p.
83), esta nova filosofia repercutiu diretamente no espaço construído das edificações
hospitalares:
Ao longo da história, os processos históricos e filosóficos vivenciados pelas sociedades sempre imprimiram seus reflexos no ambiente construído, determinando as condições de vida do homem na sua comunidade e as suas relações com o espaço (PARUCKER, 2008, p.83).
Vale salientar que a tipologia pavilhonar hospitalar militar, já em sua origem,
devido à geometria de suas formas, é bastante criticada. Em relação a este partido,
Miquelin (1992, p.52) esclarece que, no início do século XX, esta forma entra em
decadência, principalmente nos países de clima frio, segundo: o custo crescente dos
terrenos urbanos, a mobilização de vastos canteiros, os grandes percursos, o
surgimento das tecnologias de circulação vertical, a ocupação de grandes áreas e a
diminuição da permanência dos pacientes internados.
Em seguida, em paralelo a esta série de questionamentos, surge o hospital
monobloco – no período Pré-contemporâneo. O qual, da mesma maneira dos
hospitais pavilhonares, é avaliado sobre o seu conteúdo funcionalista, pois segrega
as diversas funções do hospital, muito embora com o intuito de setorizar as áreas
hospitalares de modo disciplinado (PARUCKER, 2008, p. 102). Ressalta, daí por
diante, variações de unidades hospitalares seguindo esta mesma filosofia, agora
utilizando formas mistas de blocos horizontais e verticais.
23
Num período mais próximo, considerando as três últimas décadas, surge uma
nova preocupação quanto ao desenvolvimento das unidades hospitalares. É
recorrente a prática de planejar o hospital pensando sobre a sua expansão futura,
que, em certos casos, já está definida em seu Plano Diretor. Os maiores exemplos
são os hospitais: o Centro de Saúde Modelo e Hospital de pequeno porte (1975),
para países menos desenvolvidos; o Centro de Saúde Modelo e Hospital de
pequeno porte (1975); o Centro de Saúde e Hospital Linha de frente (1980), no
Brasil; e o Hospital de Nível Intermediário, do Ministério da Saúde do Peru, de 1989
(MIQUELIN, 1992).
Concluindo esta abordagem histórica sobre os EAS, pode-se observar que,
em decorrência das novas tecnologias e funções, os hospitais atuais tornaram-se
cada vez mais complexos. Esta inferência, segundo Mendes (2007, p. 77), refere-se
ao fato dos edifícios hospitalares estarem passando por um novo momento histórico.
Através de um exercício de visualização futurista, o autor preconiza a concepção do
novo modelo hospitalar em forma de rede, onde estão incluídos certos tratamentos,
como a telemática/ telemedicina, a des-hospitalização e a terceirização/ home care.
Mendes (2007) exemplifica, ainda, como novo representante dessa concepção
arquitetônica hospitalar, o Centro de Alta Tecnologia da Rede Sarah. E cita, como
principais mudanças dos hospitais: a sua organização por ordem de complexidade, a
redução da área e os estudos baseados em evidências.
Levando em consideração estes fatores, o presente trabalho estudou com
mais detalhes a Rede Sarah Kubitschek de Hospitais, por ter o perfil inovador citado
anteriormente, e, por atuar como referência especializada na assistência, no
desenvolvimento de novas tecnologias construtivas e equipamentos específicos para
os pacientes com problemas motores.
24
3 - PRÉ-FABRICAÇÃO
A indústria da construção civil atual propõe novas práticas para o projeto
arquitetônico. Observa-se em Lima (2004, p. 23), quando relata sobre a
industrialização da arquitetura e seus elementos construtivos, uma ruptura no modo
de sua produção, ou seja, novo paradigma. Ao invés de focar a atenção principal na
construção, debruça-se, pois, na gestão do processo fabril; em seguida, na relação
custo/benefício. Desta forma, verifica-se que a prática do planejamento assume uma
função importante antes de serem iniciadas as edificações, e, especialmente, na
etapa de confecção dos projetos de arquitetura e complementares – instalações
elétricas, hidráulicas, logística, drenagem etc.
Assim, diante deste panorama atual da construção civil, ressalta-se a
importância de debruçar-se sobre o processo de pré-fabricação propriamente dito,
explicitando alguns conceitos iniciais sobre a industrialização e seu planejamento.
Procurando analisar as colocações de pesquisadores acerca da finalidade do
planejamento para a industrialização, nota-se que Yazigi (2002, p. 122), ao falar
sobre o tema, alerta quanto à necessidade de evitar improvisos:
Planejar é pensar antes de agir, levar o futuro em consideração, olhar para frente, refletir sobre o futuro, não passivamente, mas preparando-se para o inevitável, prevenindo o indesejável e controlando o que for controlável. Planejar corresponde à estratégia do desejo e da vontade empreendedora. Enquanto intento, propósito ou estratégia, o plano é uma promessa de orientação (YAZIGI, 2002, p. 122).
Neste sentido, o empreendimento ou edificação da construção civil deve ser
gerenciado em todas as fases do seu ciclo de vida e é marcado pelos menores
prazos, baixo custo, qualidade e benefício social. Sobretudo em edifícios complexos,
de grande escala (hospitais, aeroportos, edifícios de múltiplos usos, entre outros), o
planejamento ocorre desde a fase do projeto, durante e após a execução da obra �
estudos de pós-ocupação.
25
Yazigi (2002) acrescenta, ainda, em relação ao sistema construtivo da pré-
fabricação, a seguinte definição:
No processo construtivo que utiliza a pré-fabricação de estruturas de concreto, a construtora, ao contrário do que ocorre em obras convencionais, toma atalhos que facilitam enormemente a comprovação ou garantia da qualidade, sem contar com a maior facilidade de conquistar a qualidade do ponto de vista do atendimento a normas, segurança e durabilidade, além dos aspectos subjetivos como plasticidade, estética, agilidade, criatividade etc. [...] sendo executados em fábrica, são passíveis de controle industrial centralizado, o que faz dos pré-fabricados um produto de laboratório, utilizando insumos com qualidade determinada, fornecedores selecionados e mão-de-obra treinada e qualificada. Há componentes acabados para todas as partes da obra – fundações, pilares, vigas, pisos, paredes, painéis divisórios, coberturas – permitindo a montagem completa da obra em tempo reduzido. (YAZIGI, 2002, p. 259-260)
Analisando a colocação acima, percebe-se que o autor faz referência a um
processo de produção fabril altamente tecnológico, tendo como produto final
elementos pré-fabricados produzidos e especificados para funções diferenciadas da
construção arquitetônica. Além disso, o sistema de pré-moldagem adotado pode
determinar também as características físicas das construções, influenciando o
espaço arquitetônico da edificação. Como exemplo, a dimensão das peças
estruturais (vigas, pilares e laje) pode influenciar diretamente na altura do pé-direito,
e, em aspectos gerais, no gabarito2 da edificação.
Sobre este tema, Doniak (2010) comenta a evolução da pré-fabricação no
Brasil, explicando que a partir da década de 60, no mercado nacional, tem início o
investimento em novas tecnologias construtivas. E, nos anos 80, a tecnologia é
incorporada a galpões e há a importação de equipamentos que auxiliam no processo
de fabricação. Nesta mesma data são utilizadas lajes pré-fabricadas na habitação.
Posteriormente, nos anos 90, já se utilizavam lajes alveolares, sendo que o conceito
básico era o da padronização dos elementos construtivos. O autor conta, ainda, que
o mercado atual progrediu a partir do momento em que houve maior liberdade
arquitetônica, versatilidade de peças, desenvolvimento de obras verticais e a
utilização de estruturas mistas; e, nos últimos 10 anos, evoluiu para um sistema de 2 Medida Padrão a que se devem conformar certas coisas em construção. (DICIONÁRIO MICHAELIS, 2010).
26
pré-fabricação sofisticado e completo, que vai desde os componentes estruturais
aos elementos de vedação.
Outro aspecto positivo a destacar, neste processo de desenvolvimento dos
pré-moldados, foi a conquista da elevada resistência aplicada às estruturas pré-
fabricadas de concreto. Estas apresentam cada vez menor dimensão das peças e
maior esbeltez, por conseguinte, áreas com maior disponibilidade de vãos livres,
influenciando na redução de peso por metro quadrado da estrutura e aproximando o
concreto ao desempenho do aço (YAZIGI, 2002, p. 259-260).
Em relação ao ponto de vista mencionado acima, Carvalho (2010) comenta
que a construção civil brasileira enfrenta certas dificuldades para o alavancamento
do setor de construção pré-fabricada. Explica que entre os empresários deste
segmento está instalado o senso comum de que o produto ainda é caro, aliado ao
pouco detalhamento de projetos no país. Ressalta, ainda, os inúmeros benefícios
desta tecnologia na edificação, como o controle mais fácil da produção, com nenhum
ou pouco desperdício.
Ampliando esta questão, Doniak (2010) também enxerga a pré-fabricação
como uma aplicação positiva, tendo como grande vantagem a velocidade da
construção, repercutindo, pois, em menores prazos de execução e um retorno
financeiro mais rápido. Salienta, ainda, outras vantagens, exemplificando as
múltiplas qualidades das estruturas pré-fabricadas: maior qualidade técnica do
produto, aumento da produtividade e redução dos desperdícios, resistência dos
elementos pré-fabricados de concreto ao fogo, a interface com outros sistemas e a
compatibilização com as instalações. Conclui com a questão da sustentabilidade
deste sistema construtivo, que explica ser extremamente eficiente devido a
racionalização da produção, a alta qualidade do produto, além de ser
economicamente viável.
Algumas empresas construtoras de pré-fabricados no país também confirmam
estas constatações, a exemplo da CASSOL (2010), que detém o maior complexo
fabril da América Latina neste segmento. Ela infere que este sistema construtivo
27
permite aos empresários e produtores terem maior ganho de gestão e produtividade
das obras, destacando como principais benefícios (LIMA, 2004):
• Possibilidade maior de focar o empreendimento;
• Melhoria na qualidade da gestão do projeto;
• Garantia de rapidez à obra;
• Redução e eliminação de diversos custos indiretos ou de difícil
contabilização;
• Maior confiabilidade no cumprimento do cronograma;
• Obra sem desperdício, ociosidade e risco de desvios de compra;
• Menor estrutura administrativa, fiscalização, laboratório e controle;
• A obra fica menos suscetível a variações climáticas;
• Redução das horas do pessoal exposto ao risco;
• Garantia de qualidade;
• Obra limpa e menor dano possível ao meio ambiente;
• Rastreabilidade do processo;
• Rotatividade menor da mão-de-obra;
• Maior organização do canteiro de obras.
(CASSOL, 2010)
As qualidades acima descritas são conferidas aos elementos pré-fabricados
industrializados pela empresa CASSOL (2010). E, em seu portfólio de produtos,
encontra-se uma diversidade de elementos construtivos direcionados as seguintes
partes da edificação: peças de acabamentos, cobertura, condutores, domos,
estacas, fechamento lateral, fundações, lajes, pilares e vigas, conforme ilustradas na
figura 2.
Sendo assim, diante destes argumentos, pode-se deduzir que o uso do
sistema pré-fabricado em edificações interfere na qualidade do produto acabado e
contribui positivamente no âmbito das questões ambientais, sobretudo nos
Estabelecimentos Assistenciais de Saúde tem efeito benéfico, pois colabora com o
planejamento do espaço físico, quer seja através da modulação dos seus ambientes,
que contribui para a flexibilidade espacial, ou para o estudo programado das futuras
expansões do edifício hospitalar – expansibilidade � entre tantas outras
características.
28
Figura 2 – Elementos construtivos pré-fabricados – cobertura, pilar, painel de vedação, bloco de
fundação e vigas.
Fonte – CASSOL, 2010.
29
4 - PRÉ-FABRICAÇÃO EM EDIFICAÇÕES PARA A SAÚDE
Esta seção apresenta exemplos de edificações que utilizaram o sistema de
pré-fabricação no segmento hospitalar, no Brasil, e mostra as suas implicações para
a orientação e planejamento na construção dos novos estabelecimentos de saúde.
Inicialmente, examinando esta temática, Miquelin (1992, p. 95) refere-se ao
Hospital Pré-fabricado do consórcio BDSL, Siemens, Servlease, de 1984, liderado
pelo arquiteto João Carlos Bross, como um dos primeiros nosocômios brasileiros a
utilizar a tecnologia de pré-fabricação. Este possui 120 leitos e trabalha com uma
construção horizontal pavilhonar, com o sistema de ruas internas e jardins. Seu
método de projetação combina a racionalização dos elementos construtivos e o lay-
out seccionado (Figura 3). Observa-se nesta arquitetura os atributos de uma
construção através de módulos, permitindo a flexibilidade dos espaços internos,
como também a setorização espacial.
Figura 3 – Hospital Pré-fabricado, consórcio BDSL, Siemens, Servlease.
Fonte – MIQUELIN, 1992, p. 95.
30
Outro exemplo nacional, de João Carlos Bross, que também apropria-se da
tecnologia da pré-fabricação, é o Centro de Saúde e Hospital “Linha de frente”. Cuja
conceito arquitetônico adotado foi a expansibilidade construtiva, tendo como
prioridade a construção do serviço de atendimento ambulatorial, ampliando-se,
posteriormente, para o atendimento hospitalar de 100 leitos. Neste sentido, o autor
argumenta que “O Plano Diretor que apresenta a proposta define um modelo de
expansão composto de módulos de aproximadamente 200 m2 cada, chegando a
4.000 m2 (20 módulos) na etapa de 100 leitos.” (MIQUELIN, 1992, p. 93).
Figura 4 – Centro de Saúde e Hospital “Linha de frente”.
Fonte – MIQUELIN, 1992, p. 93.
31
Foi, entretanto, no Hospital de Taguatinga (1968), em Brasília, realizado pelo
arquiteto João Filgueiras Lima, que se passou a utilizar o concreto pré-moldado e a
argamassa armada, mistura de ferro-cimento (EKERMAN, 2005). Este material de
construção tem como características principais a moldabilidade, resistência
mecânica e durabilidade, sendo essenciais para a construção de peças laminares e
delgadas. É constituído pelo agrupamento de um ou mais aglomerantes, agregado
miúdo (material inerte) e água (PETRUCCI, 1995, p. 351).
Nesta edificação, a filosofia de trabalho utilizada priorizou a flexibilidade e
extensibilidade, podendo, a construção, ser ampliada futuramente através do
incremento de novos blocos moduláveis. Com relação ao seu partido arquitetônico,
possui forma escalonada, em quatro planos, de modo a ajustar-se no terreno e criar
nos terrraços-jardins dos pavimentos espaços para a recreação dos pacientes. Este
possui 371 leitos e área construída de 27.690 m2 (LATORRACA, 1999, p. 46).
Figura 5 – Hospital de Taguatinga: croquis e maquete física.
Fonte – LATORRACA, 1999, p. 46.
32
Através da construção do Hospital de Taguatinga, o mesmo arquiteto
aprimorou a técnica do sistema de construção pré-fabricada e utilizou no Hospital
Sarah, em Salvador. Mais adiante, também a introduz nas demais unidades
hospitalares que projeta. Percebe-se, nesta forma de projetar, o domínio da técnica
de industrialização da arquitetura, trabalhando-se com peças de encaixe para todos
os elementos estruturais da edificação (fundação, pilares, vigas e laje), vedação –
painéis – e cobertura (Figura 6). Esta solução adotada foi uma grande contribuição
para a área de saúde, sobretudo, nas questões relacionadas ao funcionamento
hospitalar (flexibilidade e racionalidade) e sua construção (sistema construtivo e
construtibilidade), pois, implicam em edificações mutáveis as circunstâncias.
Esta constatação é vista por Weidle (1995), ao analisar os sistemas
construtivos na programação arquitetônica de edifícios de saúde. Comenta, então,
sobre a importância da arquitetura contemporânea acompanhar as transformações
ocorridas na área de saúde:
Uma vertiginosa dinâmica é inerente à própria natureza das atividades desenvolvidas no edifício hospitalar. Grandes mudanças na área médica e o avanço tecnológico seja nas técnicas terapêuticas ou na própria construção e na manutenção do edifício hospitalar, tem pressionado mudanças na forma de se conceber os hospitais. Estes devem ser capazes de serem cada vez mais rapidamente adaptados e adaptáveis, tanto no que diz respeito à alteração de uso, à introdução de novas instalações e equipamentos, quanto a mudanças espaciais seja de adaptação ou de expansão. (WEIDLE,1995, p. 31)
A interpretação da inferência acima, permite esclarecer que a utilização deste
sistema estrutural colabora, de certa maneira, com a manutenção predial, pois,
“[...] sem a previsão e provisão de recursos estruturais e orgânicos, a arquitetura
poderá condenar a futura instituição a precário desempenho e inoperante
manutenção; sabido que vícios de origem são de difícil superação.” (KARMAN,
1995, p. 11). E também, contribui com as questões relacionadas ao risco ambiental,
já que as reformas e ampliações futuras não mais produzirão efeitos tão nocivos aos
pacientes através da poeria em suspensão produzida pelas obras em geral, pois, é
uma obra livre de grande sujidade na sua execução.
33
Figura 6 – Elementos construtivos pré-fabricados desenvolvidos por Lelé para o Hospital Sarah, em
Salvador.
Fonte – LATORRACA, 1999, p. 190.
34
5 - O CASO SARAH
A Rede Sarah Kubitschek de Hospitais surgiu através da iniciativa inovadora
liderada pelo médico Aloysio Campos da Paz Júnior. Ela tem como objetivo primeiro
a atuação com as doenças do aparelho locomotor, formando e treinando técnicos
para a reabilitação de problemas relacionados ao tema, diz Latorraca (1999, p. 124).
João Filgueiras Lima colabora, portanto, desde o início com o
desenvolvimento de todas as unidades da Rede Sarah, sendo que o primeiro
Hospital foi construído na década de 80, em Brasília. Em seguida, veio a unidade de
Salvador, em 1991; já em 1993, a unidade de São Luís; em 1997, a de Belo
Horizonte; em 2001, a de Fortaleza; e, recentemente, o Sarah do Rio de Janeiro, em
2002. Percebe-se que, segundo Ekerman (2005), ao longo dessa trajetória, houve
constantes alterações do padrão construtivo das edificações, muito embora todas
elas seguem princípios gerais comuns, como: fácil adaptabilidade às condições
geográficas, são soluções de rápida construção e de grande eficácia.
Toledo (2006, p. 87) reforça ainda que, com relação ao terreno e a
implantação destas unidades hospitales, a depender da função de seu perfil e do
próprio partido adotado por Lelé, estas exigem superfícies territoriais cada vez
maiores, o que é ratificado por Lima (1999, p. 20) quando acrescenta em suas
argumentações que “A violência urbana e os acidentes de trânsito vem provocando
um aumento crescente do número de pessoas portadoras de lesão. O tratamento
desse tipo de paciente exige áreas cada vez maiores para internação e fisioterapia.”
Podendo ser inseridas quer seja em grandes centros urbanos, em regiões mais
amenas das cidades (junto a lago ou praia), ou, até mesmo, junto a comunidades
promovendo a integração mútua. O perfil, portanto, destes hospitais são construções
horizontalizadas, adequadas ao espaço de reabilitação, como visto na figura abaixo.
35
Figura 7 – Vista aérea do Hospital Sarah em Salvador.
Fonte – LATORRACA, 1999, p. 191.
Examinando o aspecto da metodologia de criação destes Hospitais, Toledo
(2006, p. 81) também observa em entrevista com o arquiteto Lelé, que o processo
projetual desenvolvido por este profissional ao longo dos anos é baseado em
sucessivas tentativas. Quando é questionado sobre o assunto, ele diz:
Em sua opinião, os hospitais funcionam também como um laboratório de projetos na medida em que através de sucessivas experimentações os arquitetos aprimoram a funcionalidade e a qualidade espacial de cada ambiente, incorporando permanentemente, não só as inovações tecnológicas exigidas pelo desenvolvimento das práticas médicas, como os novos materiais oferecidos pela indústria da construção civil. (TOLEDO, 2006, p. 81)
Esta afirmação reforça a idéia de que a arquitetura hospitalar está em
constante modificação, necessitando a contínua atualização dos profissionais
envolvidos. Mas é Carvalho (2003, p. 95), ao teorizar sobre a disciplina de
planejamento hospitalar e referindo-se ao segmento das edificações de saúde, que
profere sobre a existência de condicionantes claros que devem ser levados em
consideração, como a sua expansão, a sua mudança, a atualização e o pensamento
36
futuro. Estas são condições inerentes a todo bom planejamento, que, de acordo com
Toledo (2006), estão presentes na obra de João Filgueiras Lima:
Uma unidade hospitalar, além de flexível, deve ser projetada de modo a garantir sua futura expansão e, nesse sentido, Lelé considera que um esquema de circulação que garanta essa extensibilidade é fundamental para que a edificação possa crescer sem prejudicar a operacionalidade dos setores existentes. A expansibilidade, a que Lelé se refere, não se limita ao espaço físico, abrangendo, também, as redes de instalações. (TOLEDO, 2006, p. 86)
Considerando, agora, o aspecto da tecnologia dos materiais aplicado pelo
arquiteto ao longo de sua carreira profissional, Trigo (2009, p. 152) diz que a
experiência de Lelé com pré-fabricação (da madeira na construção de Brasília às
estruturas mistas de aço e argamassa armada no CTRS) contribui para a evolução
da construção civil; não simplesmente pelo uso de tecnologias pré-fabricadas, mas
também, principalmente, pela sua postura inovadora e experimental. Destaca ainda,
a iniciativa precursora a respeito do uso da argamassa armada:
O conceito básico que persiste é a possibilidade de fazer componentes laminares com menor peso que facilitem o transporte e o deslocamento. As potencialidades apresentadas pela argamassa armada são melhor aplicadas em estruturas laminares. Sendo uma das características mais importantes desses materiais a resistência pela forma, uma vez explorado esse potencial, mais eficiente e econômico será o projeto. A moldabilidade do material permite exploração de formas das mais diversas, curvas e orgânicas. (TRIGO, 2009, p. 153).
Esta observação está relacionada diretamente com as idéias de diversificação
de peças pré-fabricadas e o seu uso racional. A visão de Latorraca (1999, p. 126)
sobre a padronização dos elementos construtivos, considera que deve ser feito um
rigoroso estudo de padronização dos elementos de construção (estrutura, vedação,
divisórias, equipamentos fixos e móveis, luminárias etc.) para facilitar esse tipo de
rotina administrativa. Além disso, o princípio de repetição desses elementos, de
forma metodológica, pode ser um interessante fator de redução do custo da obra. O
autor fala ainda sobre a otimização dos recursos e a questão do tempo de obra:
37
A padronização e disciplina que estabelecemos para a construção nos indicam a utilização em grande escala de pré-fabricação de elementos estruturais como fator ponderável de redução do custo da obra, de garantia de qualidade dos acabamentos e de diminuição dos prazos usuais de execução (LATORRACA, 1999, p. 128).
Apesar de todos os Hospitais da Rede Sarah possuir características comuns,
entretanto, percebe-se que através do estudo comparativo e evolutivo destas
unidades, há diferenças de tecnologias construtivas. Estas, portanto, podem ser
avaliadas, no sentido de identificar seus principais atributos que conformam a
identidade dos projetos arquitetônicos do arquiteto João Filgueiras.
Teorizando sobre esta temática, Miquelin (1992, p. 159) conceitua “avaliação
como um processo de medição e comparação de algo em relação a um standard,
genericamente aceito”, isto é, trata-se de avaliar ou criticar um novo equipamento,
detectando-se seus possíveis erros de planejamento de projeto, com base em uma
solução anterior já validada pelo tempo. Define, então, como critérios para avaliação
dos equipamentos hospitalares: a contigüidade, que se refere ao programa
arquitetônico e suas inter-relações; a flexibilidade, como capacidade para mudança
de uso ao longo do tempo; a expansão, ou crescimento ao longo do terreno; o
sistema de instalações; e as condições ambientais.
Neste sentido, tomando como ponto de partida o objetivo primeiro da
pesquisa, ou seja, o estudo dos componentes pré-fabricados, sob o foco da sua
utilização estrutural e a sua influência sobre a concepção espacial das unidades
hospitalares, os Hospitais da Rede Sarah serão avaliados � metodologicamente �
de acordo com as categorias acima mencionadas. Apresentando, sobretudo, o
rebatimento destas informações sobre o espaço físico onde estão os usuários do
hospital (funcionários e pacientes).
38
Hospital Sarah Brasília, 1975-1980
Esta foi a primeira unidade hospitalar projetada por Lelé, em Brasília, a obra
foi realizada em pré-moldados de concreto. Sua concepção estrutural de um edifício
vertical permitiu trabalhar com vigas com a altura do pavimento, sendo estas
mantidas deslocadas por andar, de modo intercalado. Criou-se, assim, terraços que
funcionam como áreas de reabilitação e de integração dos pacientes com a
paisagem.
“A maior parte da estrutura foi fundida no local, mantendo-se, entretanto a disciplina e o rigor do desenho decorrentes da concepção pré-fabricada. No bloco de internação, o vigamento principal do tipo Vierendeel, se apóia na torres de concreto da circulação vertical e vence vãos de 20m com balanços de 10m. (LIMA, 1999, p. 17).
O Hospital adotou um partido arquitetônico que possibilita a sua expansão de
maneira independente, através da circulação central. Também foi pensado na
flexibilidade espacial e das instalações, previu ainda a criação de espaços verdes e
iluminação e ventilação natural dos ambientes, além da padronização dos elementos
da construção.
Figura 8 – Imagens do Hospital Sarah em Brasília: vista aérea em perspectiva e planta baixa do
pavimento térreo.
Fonte – LATORRACA, 1999, p. 124.
39
Hospital Sarah Salvador, 1991-1994
O SARAH de Salvador, diferentemente da proposta anterior, tem outra
peculiaridade, isto é, trata-se de uma construção totalmente pré-fabricada. Foi
utilizada a industrialização das peças para todas as partes da edificação: estrutura,
painéis de vedação, esquadrias e cobertura. Esta repetição dos elementos
construtivos confere a unidade hospitalar maior racionalização da obra, por
conseguinte uma modulação geral – definida por uma retícula de 0,625 metros – dos
espaços, repercutindo na flexibilidade das áreas internas.
Em sua concepção, buscou-se a horizontalidade da edificação e a
implantação num ponto mais elevado da topografia. Permitindo que, no nível do
subsolo, se instalasse o pavimento técnico e galeria de ventilação do prédio, e, no
nível acima, todos os serviços de atendimento médico-hospitalar. Assim, além de
utilizar o recurso da ventilação natural via esquadrias e sheds, também conta com a
ventilação forçada que advém da galeria subterrânea, pelos dutos intra-pilares.
Portanto, a nível de manutenção incorporada à edificação hospitalar, esta unidade
apresenta boas soluções técnicas.
Figura 9 – Imagens de diversos detalhes do Hospital Sarah, em Salvador.
Fonte – Fotos cedidas pela arquiteta Doris Vilas Boas, 2010.
40
Hospital Sarah Fortaleza, 1991-2001
Esta unidade hospitalar trabalhou com o partido misto, horizontal e vertical,
diminuindo a ocupação de área construída no solo e preservando a área arborizada
existente. Os pavilhões horizontais repetem a mesma estrutura utilizada no Hospital
Sarah, em Salvador e São Luís, porém, são introduzidos novos elementos
estruturais, como o brise de proteção do edifício de internação - em estrutura
metálica curva – e as lajes cogumelo, de suporte aos solários. Nesta edificação
também foram utilizadas as galerias subterrâneas, para melhorar o conforto
ambiental interno do prédio.
Visualiza-se, através da planta baixa, que o partido adotado trabalha com um
grande eixo de circulação horizontal, onde, a partir daí, distribuem-se as circulações
transversais para os demais blocos do hospital � atendimento e serviços.
Figura 10 – Imagens do Hospital Sarah em Fortaleza: foto de satélite, croqui e planta baixa do
pavimento térreo.
Fonte – GOOGLE, 2010. LATORRACA, 1999, p. 206. LIMA, 1999, p. 30.
41
Hospital Sarah Belo Horizonte, 1993-1997
O Hospital Sarah, em Belo Horizonte, trata da criação de novas instalações
junto ao Hospital já existente projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. O seu
programa diversifica seu uso, com a integração da unidade hospitalar local, com os
ambulatórios e a escola. São traçados dois eixos principais de projeto –
perpendiculares, que interligam os blocos sem comprometer a expansão futura.
A estrutura principal passa a ser trabalhada com peças metálicas,
diferentemente das Unidades de Brasília e Salvador, conferindo maior agilidade para
a execução da obra, como diz Lima (1999):
O sistema construtivo estabelecido se baseia no emprego, em grande escala, de componentes pré-fabricados produzidos fora do canteiro de obras, de modo a permitir uma execução disciplinada e rápida.
Os principais elementos de estrutura (pilares e vigas) serão
metálicos e as lajes de piso pré-fabricadas em argamassa armada. As coberturas, também metálicas, formarão sheds para iluminação e ventilação zenitais. (LIMA, 1999, p. 208).
Figura 11 – Imagens do Hospital Sarah em Belo Horizonte: planta baixa do pavimento térreo,
elevação lateral, planta tipo do bloco de internação e croqui do solário.
Fonte – LATORRACA, 1999, p. 2010.
42
Centro de Apoio ao Grande Incapacitado Físico em Brasília, 1994-2006
Esta construção adotou o sistema de construção industrializada em aço e
argamassa armada, fator que promoveu a execução parcial em seis meses. Nesta
unidade o ginásio possui vãos maiores aos dos hospitais anteriores, o que implicou
no uso de uma estrutura treliçada.
O partido geral é de pavilhões horizontais, com a iluminação zenital e
ventilação natural dos espaços através de sheds. O equipamento está junto ao lago
Norte de Brasília, possibilitando práticas de reabilitação dos pacientes no ambiente
aquático – cais e palco flutuante.
Figura 12 – Imagens do Hospital Sarah Lago Norte em Brasília. Á esquerda: planta baixa do
pavimento térreo: montagem de estruturas das cobertura e perspectiva geral do conjunto
arquitetônico.
Fonte – LATORRACA, 1999, p. 213.
43
Hospital Sarah Natal, 1996 (não construído)
O Hospital Sarah Natal foi programado para o seu funcionamento através de
duas unidades, uma construção principal e a outra externa. A primeira trata-se de
um hospital sob os moldes da unidade de Salvador, e, a segunda, destinada ao
Centro de Paralisia Cerebral e fisioterapia.
Esta construção última é constituída estruturalmente por um sistema de lona
tensionada – cobertura leve, que permite aos usuários uma grande superfície
sombreada. Está junta a área de praia, contribuindo para práticas de reabilitação
nesta zona, com o contato com a paisagem natural. Trata-se de mais uma iniciativa
para promover a integração dos pacientes ao meio ambiente externo, fundamento
principal da filosofia de trabalho da Rede Sarah de hospitais.
Nesta proposta, o volume espacial não foi trabalhado como um complexo
arquitetônico capaz de ampliar continuamente sua estrutura ao longo do tempo.
Porém, ainda são aplicados os conceitos de flexibilidade interna e mobilidade/
adaptabilidade. O primeiro diz respeito por não haver paredes internas, ou seja,
trabalha apenas com divisórias móveis, e, o segundo, por trabalhar com peças pré-
fabricadas.
Figura 13 – Imagens do Hospital Sarah em Natal: unidade de praia e unidade terrestre.
Fonte – LIMA, 1999, p. 32-33.
44
Centro de Reabilitação Infantil do Rio de Janeiro, 2001-2002
Verifica-se no mais novo projeto da Rede SARAH, no Rio de Janeiro, que na
etapa de projeto é definido todo o sistema estrutural, desde fundações, vigas, pilares
e cobertura (GRUNOW, 2009). Nesta fase de concepção, o arquiteto utilizou
fundações diretas, com sapatas contínuas ou isoladas. A estrutura dos sheds3 e
coberturas foi constituída de vigamento metálico em chapa dobrada, apoiado em
pilares também metálicos, que vencem vãos de até 12,5 metros. O arcabouço das
coberturas dos sheds e das abóbadas é formado por treliças metálicas a cada 2,50
metros que se apóiam no vigamento duplo.
Uma característica peculiar a estes hospitais está no fato de todos utilizarem
componentes industrializados em sua estrutura física, isto propicia benefícios com
relação à diminuição do prazo de execução das construções. As obras dos quatro
edifícios do Sarah-Rio devem ser mencionadas como um exemplo típico, pois, foram
concluídas em apenas seis meses (GRUNOW, 2009). Todos os seus componentes
foram fabricados em Salvador e transportados para o Rio: os estruturais em aço, os
de argamassa armada, marcenaria ou de plásticos.
Figura 14 – Imagens do Hospital Sarah no Rio de Janeiro. Á esquerda: perspectiva do conjunto
arquitetônico e foto área. Á direita: planta de situação esquemática.
Fonte – GRUNOW, 2009.
3 Esse tipo de cobertura, é de grande vantagem nas construções industriais, pois além dos efeitos benéficos de boa iluminação e ventilação, possibilita também com facilidade a ampliação da área coberta em todos os sentidos, principalmente quando há um planejamento para se construir por etapas e a longo prazo (MOLITERNO, 1981, p.189).
45
6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os hospitais são equipamentos em contínua transformação, e, a sua
complexidade é atribuída a dois pontos principais: “[...] primeiro o número de funções
que estes edifícios realizam, e segundo a rapidez pela qual tendem a necessitar de
adaptações e expansões (WEIDLE, 1995, p. 25).” Este ponto de vista relaciona-se,
portanto, diretamente com a maneira como devem ser projetadas as unidades
hospitalares contemporâneas.
Os aspectos funcionalidade e construção são os requisitos principais para a
materialização da obra arquitetônica. Logo, considerando a importância da
construção, salienta-se que é através da utilização dos componentes pré-fabricados
com cunho estrutural nos edifícios, onde é percebida uma mudança de paradigma
na construção civil, pois, em contraposição ao processo de edificação tradicional que
visa a obra em si mesma, a gestão do empreendimento estabelece como prioridade
a etapa de planejamento. Sobretudo no caso das edificações hospitalares, o aspecto
construtivo deve ser decidido na sua etapa de concepção inicial do projeto
arquitetônico, para se conferir um maior desempenho à obra construída, tendo em
vista o correto rebatimento com os demais projetos – instalações, gases,
climatização, sonorização etc.
Alguns arquitetos brasileiros, a partir da década de 70, iniciaram a
incorporação da tecnologia dos pré-fabricados as unidades hospitalares. O que,
desde então, conduziu a criação de novos estabelecimentos segundo os conceitos
de extensibilidade, racionalização, flexibilidade, manutenção e risco por ambientes.
Entre eles estão os arquitetos João Carlos Bross e João Filgueiras Lima (Lelé).
O caso dos hospitais Sarah são exemplos que utilizam os pré-fabricados,
tendo, como resultado final, a maior qualidade do espaço arquitetônico, isto é,
priorizam a edificação de prédios bem planejados, com áreas mais humanizadas
para os seus usuários. Nota-se, também, entre as contribuições de Lelé para com o
segmento da arquitetura hospitalar, um trabalho experimental e inovador acerca de
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múltiplas questões, como a tecnologia construtiva, os equipamentos e o conforto
ambiental.
Mesmo após a documentação e análise das informações sobre o processo de
industrialização de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS), através da pré-
fabricação dos seus componentes construtivos, este trabalho apenas introduz as
possibilidades do uso desta tecnologia para o edifício hospitalar, e coloca-se assim
como uma contribuição para a interpretação deste processo de projetação.
Concluindo, é necessário enfatizar a importância da utilização dos elementos
pré-fabricados na forma de produção da arquitetura de unidades hospitalares, tendo
em vista sua influência positiva para o espaço construído habitado � local onde
haverá a longa permanência dos seus usuários � e feito para curar.
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