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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ECONOMIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS THAÍSA RAIANA PIRES SILVA O DINAMISMO EMERGENTE NO MERCADO DE BAIRRO DE SALVADOR À LUZ DAS INOVAÇÕES INCREMENTAIS SALVADOR 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE ECONOMIA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

THAÍSA RAIANA PIRES SILVA

O DINAMISMO EMERGENTE NO MERCADO DE BAIRRO DE SALVADOR À LUZ

DAS INOVAÇÕES INCREMENTAIS

SALVADOR

2016

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THAÍSA RAIANA PIRES SILVA

O DINAMISMO EMERGENTE NO MERCADO DE BAIRRO DE SALVADOR À LUZ

DAS INOVAÇÕES INCREMENTAIS

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso

de Ciências Econômicas da Universidade Federal de

Bahia, requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel

em Ciências Econômicas.

Áreas de concentração: Economia da inovação e

Minimercados.

Orientador: Prof. Dr. Hamilton de Moura Ferreira Junior.

SALVADOR

2016

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Silva, Thaísa Raiana Pires

S586 O dinamismo emergente no mercado de bairro de Salvador à

luz das inovações incrementais / Thaisa Raiana Pires Silva. –

Salvador:, 2016

46f.. il

Trabalho de Conclusão de (Graduação em Economia) -

Faculdade de Economia, Universidade Federal da Bahia, 2016

Orientador: Prof. Dr. Hamilton de Moura Ferreira Junior

1.Varejo - Salvador 2. Inovação 3. Minimercados - Salvador

I. Silva, Thaisa Raiana Pires II. Ferreira Junior, Hamilton de

Moura Ferreira . III. Universidade Federal da Bahia

CDD 330

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THAÍSA RAIANA PIRES SILVA

O DINAMISMO EMERGENTE NO MERCADO DE BAIRRO DE SALVADOR À LUZ

DAS INOVAÇÕES INCREMENTAIS

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Ciências Econômicas da

Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de

bacharel em Ciências Econômicas.

Aprovada em 20 de abril de 2014.

Banca Examinadora

____________________________________________

Prof. Dr. Hamilton de Moura Ferreira Jr.

Universidade Federal da Bahia – UFBA

____________________________________________

Prof. Dr. Leonardo Bispo de Jesus Júnior

Universidade Federal da Bahia – UFBA

____________________________________________

Prof. Dr. Antônio Plínio Pires de Moura

Universidade Federal da Bahia – UFBA

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Aos meus ombros gigantes:

minha mãe, Maria José e seu

filho, Antonio Pires.

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AGRADECIMENTOS

Reiterada gratidão a minha mãe, Maria José, por todo esforço feito para a minha

formação pessoal e acadêmica e por todo mimo, e aos seus filhos, em especial,

Antonio Pires por todo amparo e confiança.

Gratidão à Política de Assistência Estudantil da Universidade Federal da Bahia pelo

amparo residencial, sem o qual seria praticamente impossível seguir esta graduação.

Aos docentes Hamilton de Moura Ferreira Junior - meu orientador, que me fez ver a

economia além dos seus limitados e equacionados modelos -, e Ihering Guedes

Alcoforado, pela sua coorientação.

Ao meu colega de curso, Bruno Galvão, pela sua motivação no momento mais

delicado do processo monográfico: persegui-lo.

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RESUMO

A essência deste trabalho reside na colocação do provérbio “as pequenas coisas fazem a diferença”. O mercado de bairro integra o grande mundo dos pequenos negócios que dinamizam a economia nacional através de tímidas melhorias. Persegue este trabalho entender a influência das inovações incrementais sobre o dinamismo daquele nicho mercadológico através de uma complexa, mas não exaustiva, contextualização, fruto de observações em alguns pequenos estabelecimentos do varejo alimentar na cidade do Salvador. Tais observações permitiram confirmar algumas bases teóricas utilizadas, bem como refletir lacunas e prepor a noção de minimercado. Palavras-chave: Inovações incrementais. Mercado de bairro. Dinamismo emergente.

Salvador-Ba.

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ABSTRACT The essence of this work lies in the placement of saying "the little things make the difference." The neighborhood market is part of the big world of small businesses that streamline the national economy through timid improvements. Pursue this work to understand the influences of incremental innovations on the strength of that marketing niche through a complex, but not exhaustive, contextualization, observations fruit in some small retail food establishments in the city of Salvador. These observations allowed confirm the theoretical basis used and reflect and propose the notion of a small supermarket in the light of tangents concepts to the prefix and suffix of the word. Key-words: Increase innovations. Neighborhood market. Emerging dynamism.

Salvador-Ba.

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LISTA DE SIGLAS

ABASE - Associação Bahiana de Supermercados.

ABRAS - Associação Brasileira de Supermercados.

GfK - Growth from Knowledge.

PFOA - Potencialidades, fraquezas, oportunidades e ameaças.

PWC - Price Water House Coopers.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 8

2 MERCADO DE BAIRRO E O SEU MOTOR DINÂMICO 12

2.1 O MERCADO DE BAIRRO 12

2.2 INOVAÇÕES INCREMENTAIS 19

3 ATRIBUTOS DO MERCADO DE BAIRRO DE SALVADOR 25

3.1 GEOGRAFIA DO MERCADO DE BAIRRO 25

3.2 HETEROGENEIDADE DO MERCADO DE BAIRRO 28

3.3 PERFIS DOS PROPRIETÁRIOS DO MERCADO DE BAIRRO 31

3.4 PERFIS DOS CONSUMIDORES 32

4 DESAFIOS ECONÔMICOS DO MERCADO DE BAIRRO DE SALVADOR 34

4.1 INOVAÇÕES INCREMENTAIS: EM QUE E QUANTO, COMO E PARA 34

QUEM INOVAR?

4.2 INTERATIVIDADES: INDÚSTRIA E REDES DE ATACADO 40

4.3 POLÍTICAS PÚBLICAS 42

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 44

REFERÊNCIAS 46

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1 INTRODUÇÃO

“A dimensão de um negócio não se resume às dimensões físicas, mas a magnitude

de indicadores de desempenho” (SUPERHIPER, 2015, p. 38). O estudo sobre o

dinamismo emergente no mercado de bairro em Salvador contempla esse pensar. O

grande mundo do pequeno varejo alimentar de autosserviço na metrópole vem

apresentando significante desempenho, apesar dos inúmeros desafios desse

segmento do comércio varejista frente às turbulências macroeconômicas atuais. O

fato de fisicamente ser pequeno não o torna estático. O mercado de bairro de Salvador

faz parte das suas complexas dinâmicas econômica e social.

Neste trabalho, arbitrariamente, optou-se por sinonimizar o mercado de bairro à noção

de minimercado1. O prefixo “mini” precede palavras qualificadas como sendo

relativamente pequenas. O sufixo “mercado”, à luz do conceito de Samuelson e

Nordhaus [199-?], é um acordo pelo qual compradores e vendedores interagem para

determinar preços e quantidades de bens. Logo, o minimercado aqui considerado,

com suas características locais (sociais, econômicas e políticas), refere-se a um

pequeno ambiente comercial do varejo de alimentos, composto de um a quatro caixas

de atendimento, onde os agentes econômicos - compradores e vendedores - realizam

tacitamente acordos que se concretizam nos preços e nas quantidades de

mercadorias adquiridas pelo consumidor do bairro ou transeuntes.

Esse árbitro conceitual é decorrente da lacuna interpretativa presente na literatura e

no modo como se autodenomina alguns estabelecimentos do mercado de bairro de

Salvador2.

O Sebrae [201-?a] define os minimercados como sendo estabelecimentos de pequeno

porte com pouca variedade de itens, que vendem alimentos e produtos de primeira

necessidade, geralmente situados em bairros com grande fluxo de pessoas. Define

1 Popularmente chamado de mercadinho. 2 Na prática verificada em alguns bairros de Salvador, diferenciar os estabelecimentos conforme o modelo apresentado pelo SEBRAE é confuso. Há pequenos estabelecimentos que se autodenominam supermercados, mesmo residindo aparentemente num espaço físico característico do mercado de bairro - 100 a 300 m² - e tendo apenas um caixa de atendimento.

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mercearia como um estabelecimento para “pequenas compras e para reposição de

ou outro produto de primeira necessidade, ou ainda os supérfluos de nível

diferenciado” (SEBRAE, [201-?b]). Esses conceitos fazem parte de um mesmo

fenômeno. Não há distinção considerável. A definição de mercearia cabe à definição

de minimercados, e vice-versa.

Cabe destacar que, à luz de algumas observações realizadas no mercado de bairro

de Salvador, no rol da simplificada tipificação nobre e periférico de bairro, há distinções

relativas apenas aos tamanhos e às formas de organizações dos estabelecimentos.

Postas essas considerações acerca da falta de consenso literário e prático, a razão

deste trabalho é entender a influência das inovações incrementais sobre a dinâmica

existente nos minimercados de Salvador.

Entende-se que as mudanças na economia, na indústria e no comportamento do

consumidor demandam aos minimercados estratégias inovativas para lidarem com as

oscilações do mercado. As inovações assistidas nesse segmento do varejo alimentar

são ditas incrementais. Conforme ensinamentos de Freeman e Soete (2008), as

empresas que utilizam esse tipo de estratégia “não desejam ser as primeiras no

mundo, mas elas tampouco desejam ser deixadas para trás pela maré das mudanças

técnicas”.

Segundo a Associação Bahiana de Supermercados (ABASE), estima-se que na

capital baiana há 4.000 minimercados3, número que expressa a importância social e

a evolução do pequeno varejo alimentar, mesmo na presença das grandes líderes do

varejo de alimentos (Walmart, GBarbosa, HiperIdeal, por exemplo). Essa evolução

não seria possível sem a adoção das inovações incrementais em quaisquer dos seus

enquadramentos (de produto - bem ou serviço -, de processo, de marketing e

organizacional).

A metodologia que processou este trabalho foram os métodos observacional e

comparativo. Esse método tem o objetivo de verificar semelhanças e explicar

3 Informação adquirida com o Superintendente da ABASE, Mauro Freire Rocha, em julho de 2016.

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divergências. A partir das explicações de fenômenos, possibilita a análise do dado

concreto, deduzindo elementos constantes, abstratos ou gerais nele presentes

(PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 38). O método observacional simplesmente observa

algo que acontece (GIL, 2008, p.16).

Importante destacar as frustações da pesquisa de campo. Foram aplicados em alguns

bairros de Salvador - Alto das Pombas, Engenho Velho da Federação, Pituba, Graça,

e Barra - questionários em alguns minimercados4, mas a coleta desses fora

impossibilitada dado a indisponibilidade dos proprietários dos estabelecimentos em

respondê-los. Acredita-se que muitos, apesar de recepcionarem os questionários e

tecerem breves diálogos, não tiveram tempo ou sentiram-se receosos em

comprometê-los.

Mas a não contrapartida desse esforço de pesquisa apresentado não invalida as

observações relatadas nos próximos capítulos. Os métodos comparativo e

observacional se ocuparão de apresentar a validade e a contribuição deste trabalho à

sociedade.

O capítulo posterior a esta introdução - capítulo 2 - apresentará o mercado de bairro,

conceituando-o e contextualizando-o dentro de perspectivas econômicas e sociais à

luz de algumas literaturas, bem como delineará sobre o motor dinâmico - as inovações

incrementais - assistido no mercado de bairro e suas contrapartidas à dinâmica desse

nicho mercadológico.

O capítulo 3, a partir dos métodos aplicados e do acervo literário utilizado, exibe

atributos relevantes ao entendimento da dinâmica do mercado de bairro de Salvador:

a sua geografia; a sua heterogeneidade; os perfis dos seus proprietários; e os perfis

dos seus consumidores.

O quarto capítulo relata os desafios econômicos do segmento do pequeno varejo

alimentar observado: inovações incrementais: em que e quanto, como e para quem

4 As delicatessens também compõem neste trabalho a noção de minimercados. Esses

estabelecimentos além dos produtos âncoras, têm outros portfólios de mercadorias que compõem a cesta básica (e diversificada) do consumidor.

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inovar; interatividades: indústria e redes de atacado; e, por fim, as políticas públicas

(consideradas, na prática, dispersas ao incentivo das inovações incrementais).

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2 MERCADO DE BAIRRO E O SEU MOTOR DINÂMICO

2.1 O MERCADO DE BAIRRO

O bairro pode ser definido como um conjunto de sintonias sociais, econômicas e

políticas dentro de um limitado ambiente urbano no qual seus moradores tenham

sentimentos afins de identidade e de pertencimento.

O conceito de bairro nos remete a noção de

Um conjunto de relações socioambientais com as seguintes características: unidade territorial, com densidade histórica e relativa autonomia no contexto urbano-ambiental, que incorpora as noções de identidade e pertencimento dos moradores que o constituem; que utilizam os mesmos equipamentos e serviços comunitários; que mantêm relações de vizinhança e que reconhecem seus limites pelo mesmo nome. (SANTOS, 2010, p. 17).

Esse conceito é pertinente à análise do mercado de bairro, pois, de certo modo, a

partir do conhecimento das características do bairro, no seu sentido amplo, permite a

compreensão dos minimercados dentro de um ambiente urbano no qual os

consumidores, na sua grande maioria, residem. Além disso, permite entender que a

realidade de cada bairro é determinante à sua vida econômica, uma vez que o perfil

socioeconômico dos moradores do bairro delineia o perfil estrutural e organizacional

da sua economia local.

Postas essas considerações, passamos agora a entender o que é o mercado de bairro

a partir de suas características gerais, e mais precisamente dentro de uma perspectiva

econômica, visando mostrar a sua relevância.

Embora o Sebrae (2014) inclua ao conceito de mercado de bairro os segmentos

minimercados, mercadinhos e armazéns, na sua vasta literatura fica subentendido

esses nichos mercadológicos como minimercados. Uma vez que as denominações

hipermercados e supermercados envolvem conceitos do varejo alimentar de

autosserviço com mix e estoques de produtos em volumosa escala, a denominação

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minimercados é mais precisa5 ao entendimento do mercado de bairro, pois o prefixo

“mini” sintetiza a ideia de um varejo de alimentos com variedades e estoques de

produtos em escalas restritas.

Segundo o Sebrae (2014), o mercado de bairro representa o varejo de alimentos

composto por micro e pequenos segmentos - minimercados, mercadinhos ou

armazéns - que além de comercializarem alimentos possuem um mix de outros bens

comercializáveis, como produtos de limpeza e higiene, perfumaria e utensílios básicos

para o lar. Possuem de um a quatro caixa de atendimento (checkouts), e

espacialmente ocupam em torno de 100 m² a 300 m². Por serem compactos, não têm

grandes estoques de produtos como as médias e grandes redes de supermercados.

Perfil marcante desse segmento do pequeno varejo alimentar de autosserviço, no que

diz respeito a sua gestão, é ser uma empresa familiar, caracterizada pelo “controle da

empresa está nas mãos de seu fundador ou da pessoa que a adquiriu ou de membros

de sua família” (PWC, 2010, p.9). Estima-se que 85,7% dos minimercados sejam

empresas de caráter familiar (SUPERHIPER, 2014).

A empresa familiar está inserida num ambiente de negócio único. A maior parte da riqueza da família está investida na empresa com a perspectiva de longo prazo e, na maioria delas, seus membros detêm posições chaves na gestão. Também devemos considerar o forte vínculo emocional dos fundadores e de seus familiares com o negócio, que muitas vezes são extensões da vida das famílias. Há um desejo muito forte de perpetuar o negócio transmitindo uma herança de geração a geração. (PWC, 2010, p.10).

A mão de obra utilizada nos minimercados tem pouca ou nenhuma especialização6,

além disso possui um grau de rotatividade elevado. Tudo isso decorre de uma série

de fatores como o baixo salário, a carga horária exaustiva e a falta de plano de carreira

(SEBRAE, 2014).

Importante para essa segmentação do pequeno varejo de alimentos tornar-se mais

5 Neste trabalho a palavra minimercado será arbitrariamente sinônimo de mercado de bairro

(mercadinho, mercearia, armazém, empório, padaria ou delicatessen com portfólio de produtos diversificados) composto de um a quatro caixas de atendimento num espaço físico aproximado entre 100 m² a 300 m². 6 No diálogo com um gerente de um sofisticado minimercado (delicatessen) no bairro da Pituba, o

mesmo disse não se importar em contratar mão de obra sem especialização, pois haveria o lado positivo da lapidação do funcionário, o qual seria facilmente moldado segundo a sua vontade.

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competitiva e elevar sua expectativa de vida é aprimorar sua mão de obra,

fortalecendo toda a equipe. Independentemente do local onde residem, aos

minimercados é interessante unirem esforços para que seus colaboradores (familiares

ou não) estejam melhores preparados. Dentre os esforços está o recrutamento de

pessoas com perfil adequado.

Pessoas que lidam com o público devem reunir alguns atributos imprescindíveis ao bom atendimento, como saber ouvir o cliente com atenção, ter boa vontade, ser persistente e paciente, conhecer alguma técnica de negociação, ter equilíbrio emocional e conhecer muito bem o mix de produtos da loja. (SEBRAE, 2014, p. 62).

Característica especial do mercado de bairro é a tênue burocracia na relação dos

minimercados com os seus clientes. Esse é um diferencial competitivo que os grandes

estabelecimentos não detêm, visto que os seus proprietários não têm contato direto7

com os seus clientes. A total sistematização das grandes redes impedem que na

ocorrência de falhas no seu sistema o consumidor consiga realizar suas compras sem

esperar muito tempo.

É muito comum os proprietários participarem do dia a dia do estabelecimento, ajudando a desenvolver um relacionamento positivo e próximo com clientes que acabam se tornando fiéis à loja. O pequeno varejista ganha no atendimento pois conhece seus clientes pelo nome e os atende pessoalmente. Quando necessário, as decisões são tomadas de imediato, pois é o dono que está ali. (SEBRAE, 2014, p. 26).

Uma vez que os minimercados são mais céleres no sentido apresentado e estão

próximos aos lares dos consumidores, a economia de tempo surge como mais um

diferencial importante, principalmente nos grandes centros urbanos de cotidiano

frenético e de constrangedora mobilidade urbana8.

As estruturas física e organizacional dos minimercados resumem-se em um ambiente

pequeno de rápida circulação e proximidade com os produtos, pequeno estoque de

7 A presença dos proprietários nos minimercados, mesmo que não diretamente ligados ao atendimento

nos caixas de atendimento, é considerada uma via direta de contato com os clientes, pois a frequência aos estabelecimentos permite-os uma visão mais esclarecedora do perfil dos seus consumidores. As grandes e médias redes supermercadistas não gozam dessa proximidade, pois seus proprietários concedem aos seus gerentes uma similar função dos proprietários de minimercados, além disso há maior rotatividade do quadro de pessoal que compõe essas redes. 8 Como é o caso da cidade do Salvador, listada na 7ª posição de trânsito mais lento do mundo (SILVA, Y., 2016).

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mercadorias, prestação de alguns serviços agregados (açougue, padarias e delivery)9,

gestão predominantemente familiar, mão de obra pouco ou não qualificada, e tênue

burocracia. Mas apesar dessas singelas estruturas, a relevância desses

estabelecimentos segue além de suas fronteiras internas.

A importância do mercado de bairro reside no fato de ter os minimercados

considerável participação no varejo de alimentos, representando em torno de 35% do

volume de vendas do setor supermercadista, faturamento anual aproximado de R$ 4

milhões, bem como plausível contribuição no PIB do país - 6% (SEBRAE, 2015). É

um dos segmentos do varejo alimentar mais representativos à economia, pois gera

emprego e renda consideráveis.

A GfK Brasil estima ser sessenta e cinto mil o número de lojas que compõem o

mercado de bairro, o equivalente a 77% do varejo de autosserviço nacional

(SUPERHIPER, 2013); valores consideráveis que mostram que esse segmento do

varejo de autosserviço tem seu espaço garantido no mercado.

O faturamento dos minimercados também é muito considerável à economia. Pesquisa

realizada pela GfK Brasil, em algumas regiões do Brasil, estimou ser R$ 139.000,00

o valor médio mensal do pequeno varejo de autosserviço. “A maior parte das

entrevistadas (35%) fatura acima de R$ 200 mil por mês. Outras 15% faturam até R$

50 mil e a mesma proporção possui receita entre R$ 50 mil e R$ 100 mil por mês”

(SUPERHIPER, 2013, p. 54).

A ascensão dos minimercados é fruto do controle da inflação, a qual se deu a partir

do desenrolar das políticas do Plano Real que permitiram a estabilização da moeda

nacional.

A queda abrupta da inflação e a estabilidade de preços proporcionaram um aumento do poder aquisitivo, favorecendo o planejamento do consumo familiar intertemporal e possibilitando uma recomposição nas cestas de consumo. Um amplo contingente de consumidores foi incorporado ao mercado, ao mesmo tempo que, alguns segmentos da população elevaram seu padrão de consumo, migrando para alimentos mais sofisticados. (SILVA; PAULA, [200-?], p. 2).

9 Em alguns estabelecimentos.

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Embora no cenário econômico atual a inflação acima da meta de 6,5% esteja

corroendo o poder de consumo, em especial das classes sociais menos favorecidas,

os minimercados ainda têm tido grande participação econômica. As mudanças

socioeconômicas obtidas através do maior controle da inflação, como os novos

hábitos de consumo ligados à economia de tempo e à comodidade, ainda estão e

continuarão engajadas no comportamento do consumidor. A relevância dos

minimercados no cotidiano do consumidor, apesar da alta inflação assistida e do

cenário político atual, não será perdida.

Frente à ascensão dos minimercados e a suas proximidades com o consumidor, a

indústria tem levemente reconhecido os minimercados como um canal promissor à

divulgação dos seus produtos.

De forma geral, as vendas para esses canais continuam sendo indiretas, via

atacadistas ou distribuidores. No entanto, especialistas afirmam que os

pequenos se tornaram mais estratégicos para os departamentos comerciais

das indústrias e, aos poucos, estão ganhando um tratamento mais adequado.

(SEBRAE, 2014, p. 31).

A ascensão dos minimercados e sua vital importância para a sociedade refletem as

mudanças socioeconômicas assistidas após a estabilização da moeda nacional, bem

como obedecem aos comandos da dinâmica do sistema de (re)produção capitalista

no qual aquela sociedade está inserida. Embora suas dimensões físicas sejam

compactas, a soma dos inúmeros estabelecimentos no país reproduz sua grandeza à

cadeia produtiva por ser um segmento do varejo de escoamento dos bens produzidos

pela indústria de fácil acesso ao consumidor.

A relevância do mercado de bairro não se limita às colocações aqui apresentadas.

Inúmeros são os seus desdobramentos. Analisar esse nicho mercadológico é pensar

em elementos intrínsecos a diversos fatores: é pensar na realidade de cada bairro -

em especial, das grandes metrópoles -; no comportamento dos agentes econômicos;

nas dinâmicas econômica e social; na logística; na indústria; no cenário político; enfim,

é pensar na tecnologia e na ciência por trás de suas cortinas.

Sintetiza o mercado de bairro a matriz potencialidades, fraquezas, oportunidades e

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ameaças (PFOA), desenvolvida a partir dos ensinamentos da literatura, em especial,

do Sebrae e da ABRAS - duas fortes instituições que contribuem para o estudo dos

minimercados a nível nacional -, e, também, a partir de observações em algumas

instalações representativas do mercado de bairro de Salvador.

Quadro 1 - Matriz PFOA

Potencialidades Fraquezas

Residir em bairros predominantemente

residenciais.

Conhecimento da dinâmica do bairro.

Proximidade com o público consumidor.

Familiar relação com os colaboradores.

Tênue burocracia.

Servir a compras emergenciais.

Compras retalhadas.

Delivery e customização.

Mão de obra pouco ou não quali-

ficada.

Baixos salários.

Rotatividade dos colaboradores.

Baixo poder de barganha com a

indústria.

Pequeno estoque.

Gestão pouco automatizada.

Deficiência das políticas públicas

voltadas ao pequeno varejo.

Oportunidades Ameaças

Poder de consumo em ascensão das

classes C e D.

Demanda do consumidor por economia

de tempo.

Alimentação fora do lar (nos grandes

centros urbanos).

Produtos âncoras.

Associativismo.

Alta inflação.

Cenário político conturbado.

Elevada tributação.

Cobiça das grandes redes

supermercadistas nos bairros.

Formato de vizinhança das líderes

supermercadistas.

Fonte: SEBRAE (2014), ABRAS e observações próprias.

Essa matriz é uma ferramenta simples, objetiva e prospectiva à análise dos ambientes

interno (potencialidades e fraquezas) e externo (oportunidades e ameaças) de

qualquer organização (NAKAGAWA, [201-?]). Os quadros referentes às

potencialidades e às oportunidades contribuem para as estratégias a serem

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implementadas no mercado de bairro. Os quadros relativos às fraquezas e às

ameaças apontam as dificuldades para a realização das estratégias.

De modo geral, o objetivo da matriz em destaque é entender sumariamente os

ambientes (interno e externo) do mercado de bairro indiscriminadamente. Dentre as

potencialidades desse perfil de mercado, listam-se: o fato dos minimercados

residirem, em especial, no meio domiciliar do consumidor, estando assim atentos à

dinâmica do bairro (preferencias do consumidor, realidade econômica do bairro, fluxo

de pessoas etc.); a tênue burocracia realizada pela agilidade no atendimento e pelas

curtas filas em torno dos caixas de atendimento; o servir compras imediatas e

pequenas; a prestação do serviço de entrega a domicílio (delivery); e o

aperfeiçoamento e diferenciação de um produto - customização.

Como exposto no quadrante oportunidades da matriz, listam-se como fatores

determinantes ao crescimento do mercado de bairro o novo comportamento de

consumo dos estratos sociais C e D (esses perfis de consumidores estão tendo um

relativo poder de consumo outrora somente acessível às classes sociais de maior

poder aquisitivo); a demanda por economia de tempo realizada pela busca do

consumidor por praticidade, agilidade, comodidade e fácil mobilidade; a tendência dos

grandes centros urbanos à alimentação fora do lar que cria condições para que os

minimercados ampliem suas prestações de serviços voltadas à disposição de

refeições prontas a serem consumidas no local; os produtos âncoras como, por

exemplo, os pães comercializados em uma padaria que criam condições para que se

amplie a disponibilidade de outros produtos (complementares ou não) que darão uma

margem de lucro maior ao empreendedor, além de tornar o consumidor mais cativo,

pois em um só ambiente esse é capaz de realizar várias compras; e o associativismo

local dos proprietários dos minimercados realizado nas compras em grandes volumes

nas redes atacadistas para adquirirem maiores descontos.

Dentre os pontos fracos que desmotivam o contínuo florescer do mercado de bairro

estão a baixa qualidade dos seus funcionários e o baixo salário que estimula a

rotatividade da mão de obra empregada; o ínfimo ou inexistente poder de negociação

com a indústria em decorrência dos pequenos depósitos de mercadorias que

inviabilizam o estoque de grandes compras; a gestão pouco automatizada que torna

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a dinâmica interna dos estabelecimentos menos célere e eficiente; e a deficiência das

políticas públicas em promoverem melhor socialização da inovação no contexto do

pequeno varejo.

O último quadrante da matriz (ameaças) lista os inibidores do desenvolver do mercado

de bairro. A inflação acima da meta10, somada a outras perturbações decisivas ao

comportamento do consumidor, freou o relativo poder de consumo dos estratos

sociais que vem aquecendo o mercado de bairro. A alta inflação ao corroer o salário,

em especial, desses estratos, reduz consideravelmente as vendas do mercado de

bairro de forma a desestimular sua dinâmica emergente, impactando, também, em

outros setores e segmentos da economia voltados à produção e à distribuição dos

produtos comercializados nesse nicho mercadológico.

O cenário político em desalento impacta seriamente o cenário econômico ao arrefecer

as cadeias produtivas. Para o mercado de bairro esse impacto não é indiferente: inibe

as tomadas de decisões promissoras dos proprietários dos minimercados. Logo,

ameaça o dinamismo do mercado de bairro. Soma-se a essa perturbação a elevada

tributação dirigida ao pequeno varejo, a qual, de certa maneira, é repassada para um

dos agentes promotores do crescimento do mercado de bairro - o consumidor.

Encerra o rol das ameaças dirigidas ao mercado de bairro a penetração, nos grandes

centros urbanos, das grandes redes supermercadistas nos bairros. Algumas dessas

redes têm se camuflado com o perfil mercado de bairro visando extrair as

potencialidades desse mercado.

2.2 INOVAÇÕES INCREMENTAIS

Conforme ensinamentos de Freeman e Soete (2008), “deixar de inovar equivale a

morrer”. Independentemente da estratégia inovativa (ofensiva ou defensiva), as

firmas, frente às mudanças tecnológicas e do mercado, bem como aos avanços da

10 De acordo a Resolução nº 4.345, de 25 de junho de 2014, do Banco Central do Brasil, a meta fixa

para a inflação para o ano de 2016 é de 4,5%, considerando-se os intervalos de tolerância de dois pontos percentuais acima ou abaixo da meta. O cenário econômico atual (setembro de 2016) aponta a inflação acumulada próxima de 9% - 8,97%.

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concorrência, são coagidas a perseguirem melhores formas de desenvolver suas

atividades.

De modo geral, a inovação é definida como:

A implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas. (MANUAL DE OSLO, 1997, p. 55).

Cada empresa tem um perfil inovador predominante. Aquela que adota inovações

incrementais, como as inovações assistidas em nichos mercadológicos muito

pulverizado, “realizam primordialmente melhoramentos contínuos em seus produtos,

processos e operações” (MANUAL DE OSLO, 1997, p. 55). Essas inovações stricto

sensu traduzem-se, segundo Tigre (2006), como o nível mais elementar e gradual de

mudanças. “Ocorrem de forma contínua em qualquer indústria, embora possam variar

conforme o setor ou país em função de pressão da demanda, fatores socioculturais,

oportunidades e trajetórias tecnológicas” (TIGRE, 2006, p. 74).

No pequeno segmento do varejo, as inovações incrementais permitem aos varejistas

reagirem e adaptarem-se às mudanças comportamentais dos agentes econômicos. A

maleabilidade via inovações incrementais amplia suas possiblidades de perseguirem

o ritmo imposto pela dinâmica do sistema capitalista.

Nos pequenos nichos mercadológicos a adoção das inovações incrementais emergem

dos impactos das grandes inovações em diversos dos grandes setores da economia,

que dinamizam o comportamento dos agentes econômicos, direta ou indiretamente.

As inovações incrementais nascem, assim, como uma reação positiva às inovações

radicais. São, à luz das estratégias defensivas de Poter (1989), estratégias defensivas

utilizadas pelas empresas como escudo para a superação de desafios à medida que

esses vão se impondo. Segundo Freeman e Soete (2008), as empresas que utilizam

esse tipo de estratégia “não desejam ser as primeiras no mundo, mas elas tampouco

desejam ser deixadas para trás pela maré das mudanças técnicas”.

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Nos minimercados, adotar inovações incrementais é um ato influenciado por inúmeras

variações comportamentais dos agentes econômicos. As mudanças na indústria

impactam os demais setores da economia, coagindo, de certa maneira, os

minimercadistas a adotarem novas posturas frente ao dinamismo do mercado.

Alterações comportamentais da concorrência atenta a esse dinamismo tornam-se

ofensivas, exigindo dos minimercadistas um ato defensivo. Exigências do público

consumidor por novas marcas, por novos produtos e por qualidade e diversificação na

prestação dos serviços são também condicionantes à adoção de inovações

incrementais nos minimercados, em especial, nas grandes cidades, que têm um ritmo

econômico acelerado, o qual rapidamente altera o padrão de consumo e a exigência

do consumidor.

A intensidade da inovação incremental no mercado e bairro, de modo geral, é

comandada pelas realidades interna e externa. Em cada minimercado a adoção ou

não de quaisquer melhoramentos e modificações cotidianas é condicionada por

incentivos internos ou externos, e, também, por dificuldades internas ou externas a

esse segmento do varejo.

Os incentivos, assim como as dificuldades, podem ocorrer fora da firma, no “mundo exterior”, ou dentro dela – no seu assim chamado “mundo interior”. Tais fatores criam condições que promovem ou restringem a lucratividade e a viabilidade da expansão em determinadas direções. (PENROSE, 2006, p. 117).

Os incentivos externos à adoção de melhoramentos e modificações cotidianas nos

minimercados incluem a demanda por determinados produtos, por novas marcas e

por prestações de serviços mais qualificados ou diferenciados, além de políticas

públicas, eventos11, fóruns, palestras e cursos voltados ao segmento do pequeno

varejo de autosserviço. Quanto aos incentivos internos, destacam-se os impulsos

instintivos dos minimercadistas ao perceberem, a partir do comportamento da

concorrência e do consumidor, que o ambiente é favorável à implantação de

inovações que venham a incrementar o seu estabelecimento comercial.

11 Na cidade do Salvador, a Associação Bahiana de Supermercados (ABASE), em parceria com o

Sindicato dos Supermercados e Atacados de Autosserviço do Estado da Bahia (SINDSUPER), realiza, desde o ano 2010, a SUPERBAHIA - Feira e Convenção Baiana de Supermercados, Atacados e Distribuidores –, que promove não só aos supermercadistas, mas também aos minimercadistas, acesso às mais novas tecnologias, serviços, produtos e equipamentos, além de trocas de informações que direcionam positivamente esses agentes do varejo de autosserviço (SUPERBAHIA 2016).

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As dificuldades do mundo interno dos minimercados são subjetivas. Cada proprietário

desse tipo de estabelecimento depara-se com situações particulares, as quais, de

alguma maneira, podem frustrar os incrementos necessários à sustentabilidade ou

expansão da empresa. Quanto ao mundo externo, esse apresenta aos minimercados

uma série de dificuldades à adoção das inovações: o alto grau de incerteza quanto

aos seus retornos; a concorrência com capacidades inovativas superiores; as

burocracias do mercado e do poder público; os custos de transações etc.

A definição geral de inovação aborda quatro tipos de inovação: de produto (bem ou

serviço), de processo, de marketing e organizacional. Conforme as peculiares

características dos minimercados e suas percepções sobre o mercado e sobre o seu

público-alvo, essas inovações podem ocorrer conjuntamente ou não num dado espaço

de tempo.

No curto prazo, as inovações incrementais mais assistidas no mercado de bairro são

as inovações de produto, que abrangem também bens e serviços. Essas inovações

“incluem a introdução de novos bens e serviços, e melhoramentos significativos nas

características funcionais ou de uso dos bens e serviços existentes” (MANUAL DE

OSLO, 1997, p.57). Os demais tipos de inovações tendem a ocorrer no longo prazo.

Novas marcas de alimentos, de produtos de limpeza e higiene, e a inclusão de

prestação de serviços departamentais (açougues e panificação) e delivery são

implementações típicas dos minimercados. A indústria constantemente injeta no

mercado novas marcas, novos produtos, novas versões; o consumidor ávido por

essas novidades demandam aos minimercados a disposição de algo novo ou

significativamente melhorado.

No longo prazo, figuram-se mais fortemente as inovações incrementais de processo,

de marketing e organizacional. A inovação de processo altera as técnicas, os

equipamentos e/ou softwares, visando a redução de custos ou de distribuição, a

melhora na qualidade, na produção ou distribuição de produtos novos ou

significativamente melhorados (MANUAL DE OSLO, 1997, p.58).

A automação e informatização comercial são também conceitos-chave da inovação

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incremental assistidas nos minimercados. Figuram-se como uma inovação de

processo cada vez mais presente no mercado de bairro de acordo com as

capacidades adaptativas de cada localidade. “Têm se revelado um instrumento

eficiente para a concretização de novos parâmetros operacionais, proporcionando

maior agilidade na tomada de decisões e aumento de produtividade” (SEBRAE, 2014,

p. 54). Balanças de pesar produtos, leitores de código de barra, máquinas de cartão

(crédito ou débito), e software para gestão de estoques são algumas das inovações

que os minimercados vêm inserindo (ou já inseriram) à sua dinâmica.

A inovação de marketing é também uma forte estratégia defensiva do mercado de

bairro. Sua adoção está relacionada à implementação de um novo método de

marketing que proporciona conhecimento aos consumidores sobre a existência da

empresa, como também à implementação de um método “com mudanças

significativas na concepção do produto ou em sua embalagem, no posicionamento do

produto, em sua promoção ou na fixação de preços” (MANUAL DE OSLO, 1997, p.59).

Fecha o quadro das inovações a inovação organizacional. Nos minimercados essa

também é uma inovação incremental relevante, embora aplicada a poucos12. De certo

modo, direciona todas as outras inovações apresentadas através de novas estratégias

gerencias.

A inovação organizacional trata-se da “implementação de um novo método

organizacional nas práticas de negócios da empresa, na organização do seu local de

trabalho ou em suas relações externas” (MANUAL DE OSLO, 1997, p.61). Sua adoção

visa a redução de custos (administrativos, transacionais e de suprimentos), colocando

em evidência não só os custos contábeis - custos instrumentais para análises

quantitativas -, mas também os custos econômicos subjacentes ao fluxo monetário -

os custos de oportunidade. A avaliação desses custos é de suma importância: na

economia é sempre importante “atravessar o véu” do dinheiro para a análise dos reais

efeitos das decisões alternativas (SAMUELSON; NORDHAUS, [199-?]).

12 Dentre as barreiras que impedem o melhor desenvolvimento dos pequenos nichos mercadológicos,

a falta de organização administrativa é a principal. No Brasil, as micro e pequenas empresas têm uma taxa de sobrevivência estimada de 73,1%, num período de dois anos, considerada ameaçadora frente a sua forte participação na economia (99%), segundo dados do Sebrae (2011). A carência em operar custos econômicos nessas empresas conduz a essa limitada sobrevida.

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Adotar a inovação organizacional, conforme as lições gerais do Manual de Oslo

(1997), nos minimercados significa a implementação, por parte da sua gerência, de

um método de organização voltado a práticas de negócio (organização de rotinas e

procedimentos para a condução do trabalho); à organização do local de trabalho, que,

de modo geral, envolve “a implementação de novos métodos para distribuir

responsabilidades e poder de decisão entre os empregados na divisão de trabalho

existente no interior das atividades da empresa” (MANUAL DE OSLO, 1997, p. 63); e

a relações externas (interação com o seu universo - concorrentes, fornecedores e

clientes).

Embora sejam um segmento do comércio varejista de estrutura predominantemente

simples de negócio, os minimercados - entendidos como qualquer tipo do pequeno

varejo alimentar (mercadinho, mercearia, armazém, empório, padaria ou delicatessen

com portfólio de produtos diversificados) - não são alheios às inovações. Entender as

inovações apenas como um ato empreendedor no plano macro dos negócios é um

entendimento superficial e soberbo da dinâmica do mercado. Stricto sensu e a sua

maneira, os minimercados praticam cruciais inovações incrementais - motor da

dinâmica do mercado de bairro - em resposta aos impactos das grandes inovações.

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3 ATRIBUTOS DO MERCADO DE BAIRRO DE SALVADOR

3.1 GEOGRAFIA DO MERCADO DE BAIRRO

Os lugares gozam de particularidades, e a vida econômica, em seus múltiplos

habitats, movida pela ação humana transformadora do espaço, também goza de

propriedades distintas.

As desigualdades socioespaciais em Salvador definem o ritmo da economia de cada

bairro.

A configuração atual da cidade do Salvador é marcada pela aceleração dos processos que promoveram as intensas desigualdades socioespaciais existentes, posto que algumas áreas localizadas incorporaram as inovações tecnológicas de modo extremamente rápido, ao passo que, em outros espaços, as condições são precárias, onde se vivencia um tempo lento. (ANDRADE, 2009, p. 106).

Na realidade dos minimercados de Salvador há visíveis descompassos físicos e

organizacionais. As dinâmicas interna e externa dos minimercados são influenciadas,

de certo modo, pela classe social predominante em cada bairro. O grau de exigência

do consumidor local13 influencia as dinâmicas.

A dual e simplificada tipificação nobres e periféricos dos bairros permite compreender

a geografia dos minimercados, a qual afirma uma série de interpretações econômicas

e formula hipóteses outrora inexistentes na literatura.

Observações nos bairros de Salvador mostraram que nos bairros periféricos os

minimercados tendem à aglomeração, quanto que nos bairros nobres há uma certa

dispersão. Saudosas explicações encontram-se na estrutura habitacional e na

segurança dos bairros.

A conformação urbana, os problemas de moradia, a infraestrutura e os serviços

urbanos de Salvador refletem as décadas marcadas por estagnação econômica, pela

pobreza da população e por um processo de modernização excludente (PEREIRA,

13 E, relativamente, o grau de exigência do consumidor transeunte.

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2008). Esse processo é facilmente entendido ao se comparar a estrutura habitacional

e o grau de segurança entre os tipificados bairros nobres e periféricos de Salvador.

A estrutura habitacional nos bairros nobres segue “padrões arquitetônicos e

urbanísticos elevados, com avançado processo de verticalização nas áreas mais

densas e/ou próximas ao centro” (CARVALHO; PEREIRA, 2008, p. 101). Nesses

bairros há um padrão de segregação espacial e de privatização da segurança, o que

Caldeira (2000, p. 2011) nomeia de enclaves fortificados. “Trata-se de espaços

privatizados, fechados e monitorados para residência, consumo, lazer e trabalho. A

sua principal justificação é o medo do crime violento” (CALDEIRA, 2000, p. 2011).

Nos bairros periféricos a realidade é outra. Considerável parte das suas habitações

são precárias.

Em grande parte autoconstruídas sem obedecer a padrões arquitetônicos e urbanísticos, com ocupação horizontal, excetuando as áreas próximas às vias de maior circulação e as áreas mais consolidadas em termos de ocupação do solo, onde estão em curso processos de verticalização, com grande adensamento, de padrão um pouco melhor. (CARVALHO; PEREIRA, 2008, p. 101).

No que diz respeito à segurança, os bairros periféricos são dependentes da segurança

pública precária. A segurança privada é carente de recursos tecnológicos avançados.

Postas as distinções entre os bairros, os minimercados neles resididos seguem o

mesmo comportamento estrutural e de segurança. A observação relativa à

aglomeração desse nicho mercadológico nos bairros periféricos é explicada pela

desigualdade socioespacial que abarca questões relativas à estrutura habitacional e

à segurança nos bairros. Uma vez que as edificações nesses bairros são, em

considerável parte, sem planejamento, e visto que a segurança pública é falha e os

meios de segurança privados são escassos, os minimercados tendem a ser muito

próximos - alguns lado a lado, frente a frente. Trata-se de um mecanismo tácito e

simbólico de segurança privada para o bairro onde se encontram.

A concorrência entre os minimercados nos bairros periféricos gera uma externalidade

positiva, pois cria simbolicamente um meio mais seguro contra a violência urbana

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local. Há um transbordamento de benefícios. A população do bairro se beneficia com

a “segurança”, com o maior acervo de mercadorias e com a maior opção de

pechinchar e barganhar preços. Por outro lado, as redes de distribuição de

mercadorias têm mais interesse em atender a demanda dos minimercadistas, pois há

uma escala maior de distribuição numa mesma localidade, o que implica menor custo

logístico.

A dispersão espacial assistida nos minimercados dos bairros nobres (hipoteticamente)

decorre do planejamento desses bairros e da maior segurança pública e privada. As

rondas policiais nos bairros nobres são mais frequentes. Os estabelecimentos

comerciais recorrem às inovações tecnológicas de segurança e a funcionários

capacitados para protegê-los.

Um comparativo entre os bairros Alto das Pombas e Pituba exemplifica a geografia

dos minimercados. Naquele bairro há uma aglomeração de minimercados que se

encontram muito próximos. Numa mesma rua estreita14, o pequeno varejo se encontra

lado a lado, frente a frente. A estrutura habitacional do local não atende ao moderno

padrão arquitetônico e urbanístico. Logo, os minimercados encontram-se num habitat

pouco estruturado. Há pequenas diferenças físicas entre eles. Poucos têm espaços

físicos que abarcam melhor as suas mercadorias e permitem aos consumidores

melhor locomoção.

Na Pituba, “importante centro comercial e prestador de serviços, sendo considerável

o volume de impostos arrecadados, além do elevado valor do solo urbano” (SANTOS,

2010, p. 178), os minimercados, embora próximos, são espacialmente bem

distribuídos. A concorrência não se faz, via de regra, face a face, lado a lado. O

planejamento urbano e arquitetônico do bairro permite aos minimercados melhores

localizações, além de um ambiente físico mais sofisticado com inovações tecnológicas

avançadas. Poucos são os minimercados de estrutura física ínfima.

Os tipos de inovações incrementais adotados no mercado de bairro estão intimamente

ligados à geografia dos minimercados. Nos bairros nobres, dado as suas estruturas

14 Rua Texeira Mendes, ao lado do Cemitério Campo Santo, no bairro da Federação, em Salvador.

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habitacional e urbanística, o perfil dos consumidores de média e alta renda e o perfil

dos proprietários do pequeno varejo de autosserviço, as inovações stricto sensu são

mais assistidas. Nos bairros periféricos observa-se um tempo lento: as inovações

assistidas, na sua grande maioria, são de produtos; tecnologicamente inova-se pouco.

3.2 HETEROGENEIDADE DO MERCADO DE BAIRRO

Sondas em alguns bairros da capital baiana permitiram registrar algumas diferenças

entre os minimercados. A realidade de cada bairro e a razão de ser de cada

estabelecimento condicionam diversas das suas concretizações, como os setores

desenvolvidos nas gôndolas (mercearia, hortifrúti, congelados, laticínios, padaria e

bazar), os serviços prestados, as formas de pagamento dadas ao público-alvo e a

infraestrutura.

Uma vez que não foi possível estatisticamente tecer contato via questionário com os

minimercadistas na cidade do Salvador15, dando sustentação ao perfil dos

minimercados desenhado pelo Sebrae (2014), serão delineadas observações que

poderão ser confirmadas ao vagar por quaisquer dos minimercados da grande

metrópole. De modo geral, reforçará esse delineamento o estudo realizado pelo

Sebrae (2014) para melhor compreensão do fenômeno.

As instalações dos minimercados abordados em Salvador permitiram traçar algumas

observações no que diz respeito às gôndolas onde os produtos são apresentados ao

consumidor.

Tendo-se em mente que os minimercados são estruturados de modo heterogêneo, ou

seja, tamanho (cerca de 100 a 300 m², segundo dados do Sebrae (2014)), organização

e número de caixas de atendimento diferenciados (de um a quatro checkouts), nem

todas as gôndolas são organizadas e contêm mix de produtos iguais. Maior

semelhança de organização das prateleiras fora encontrada nos bairros Pituba, Graça

15 Alguns questionários foram aplicados em alguns minimercados da capital baiana, visando entender

as suas dinâmicas, mas não houve contrapartida: o recolhimento dos questionários fora impossibilitado pela omissão da maioria dos proprietários ou gerentes desse perfil de varejo alimentar. Acredita-se que a variável tempo exerceu um forte peso a esse comportamento, bem como a cisma de revelar algo comprometedor.

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e Barra, típicos bairros nobres de Salvador. A maioria dos seus estabelecimentos

obedece a não aleatoriedade dos produtos nas gôndolas.

Nos bairros centrais representativos - Pituba, Graça e Barra - foram constatados maior

similaridade na forma de organização como um todo (organização expositiva das

mercadorias e organização administrativa). Os setores desenvolvidos nas gôndolas e

departamentos atendem ao princípio da linearidade dos produtos no sentido desses

(substitutos ou complementares) estarem sempre próximos um dos outros, além das

suas apresentações serem por ordem de preço e melhores marcas.

Destaca-se que nesses representativos bairros há uma tendência das delicatessens

e padarias estarem sempre presentes. Em muitos estabelecimentos visitados

caracterizados como mercado de bairro têm esses citados segmentos. Somados aos

outros setores, como o hortifrúti (frutas, verduras e legumes), o pequeno varejo de

alimentos nos bairros nobres ganham ainda mais brilho aos olhos dos clientes, que,

além do conforto, buscam economia de tempo: num só lugar encontram de tudo,

embora por um preço aquém dos minimercados periféricos e das líderes do varejo

(como a Walmart, GBarbosa e HiperIdeal).

Nos bairros periféricos assistidos, fortemente representativos dessa pesquisa - Alto

das Pombas e Engenho Velho da Federação -, muitos dos seus minimercados

mostram, apesar do esforço percebido dos minimercadistas e colaboradores em

apresentar melhor seus produtos e do cordial atendimento ao seu público, uma certa

fuga ao princípio da não aleatoriedade dos produtos. A maior homogeneidade de

organização no mercado de bairro periférico encontra-se no setor hortifrúti. Nos

demais setores manifestados nas gôndolas há pouca organização na apresentação

das mercadorias aos consumidores.

Merecida atenção também para a heterogeneidade dos minimercados são os serviços

prestados. Alguns minimercados, independentemente do tipo de bairro onde se

situam, prestam serviços como açougueiro, encomendas e entrega a domicílio16 -

16 A depender do ticket de compra do cliente. Nos bairros Alto das Pombas e Engenho Velho da

Federação fora levantada a informação em alguns estabelecimentos de que o ticket médio considerado

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diferenciais competitivos para um nicho tão pulverizado como os minimercados na

capital baiana.

As formas de pagamento dadas ao público-alvo é outro fator que figura o modo

heterogêneo de ser do mercado de bairro, embora de menor relevância, visto que a

tecnologia das máquinas de cartões de crédito e de débito já não é restrita a

estabelecimentos de alto padrão como outrora.

Na grande maioria dos minimercados assistidos as forma de pagamentos dadas aos

consumidores via cartões é uma realidade comum aos minimercados centrais e

periféricos. Apenas chama atenção o fato de ainda existir nesse tipo de varejo

estabelecimentos que ainda adotam anotações em “caderninhos”, o vulgar fiado. Esse

fato foi assistido em um bairro da periferia da cidade de Salvador.

Confirma aquela observação o Estudo Setorial de Minimercados realizado pelo

Sebrae (2014, p. 21): “Uma característica simbólica dos mercados de vizinhança

mantém-se presente até hoje: em 38% deles ainda há venda por caderneta, ou

“fiado””. Acredita-se que esse tácito crédito dado aos consumidores ocorra somente

nos bairros de consumidores de renda relativamente aquém a dos estratos sociais A

e B, pois alguns não possuem cartões de crédito para pagamento futuro da sua cesta

de bens. A ligação desses consumidores com os proprietários aparenta ser mais

cordial, menos sistemática.

Esse breve mas preciso comparativo entre os bairros permite maior percepção da não

homogeneidade de um mesmo fenômeno, que desde a sua estrutura espacial (cerca

de 100 a 300 m²) já é heterogêneo. As características socioeconômicas manifestadas

nos bairros de Salvador são meios vivos para a percepção do grau de inovações

incrementais adotadas (ou potencialmente adotadas) nos minimercados.

De modo técnico e complementar a essas observações, estudos do Sebrae à luz de

pesquisas realizadas pela empresa GfK Brasil, pioneira em pesquisas sobre o

mercado de bairro, revelam, em termos de faturamento dos minimercados, “que o

para entrega residencial é aproximadamente R$ 80,00, desde que o serviço prestado seja nas proximidades do estabelecimento.

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faturamento médio mensal do pequeno varejo em 2012 foi de R$ 139 mil, sendo que

35% das empresas entrevistadas faturam acima de R$ 200 mil por mês; 15% faturam

entre R$ 50 mil e R$100 mil e outras 15% faturam até R$ 50 mil por mês” (SEBRAE,

2014, p. 12).

Esse destaque é pertinente para mostrar o quanto o pequeno varejo alimentar aqui

tratado se manifesta de diferentes formas. O faturamento indiretamente expressa as

realidades dos minimercados. Hipoteticamente, o maior faturamento está para

aqueles que adotam constantemente as inovações incrementais e/ou estão inseridos

em bairros de considerável poder aquisitivo.

3.3 PERFIS DOS PROPRIETÁRIOS DO MERCADO DE BAIRRO

Embora não tenha sido possível precisas interações com os proprietários dos

estabelecimentos do pequeno varejo alimentar na cidade do Salvador, visando

confirmar a intuição adquirida das características gerais dos pequenos varejistas

apresentadas na literatura, as instalações dos minimercados assistidos é uma forte

candidata ao entendimento dos perfis dos minimercadistas17.

A aparência como determinante à identificação dos perfis dos minimercadistas neste

trabalho baseia-se na perspicácia dos minimercadistas manifestada na adoção das

inovações incrementais assistidas nos bairros. Os minimercadistas da cidade do

Salvador são empresários inovadores?

Fora constatado, a partir da heterogeneidade dos minimercados, que há diferentes

perfis de minimercadistas em Salvador no que que tange ao grau de inovação

percebido em alguns representativos estabelecimentos. Destaca-se que esse grau é

de uma inovação stricto sensu - incremental -, materializada nos melhoramentos e

modificações cotidianas adotados pelos empresários.

17 Representativos dos bairros nobres, apenas no bairro da Graça, em dois sofisticados

estabelecimentos, fora confirmado com os proprietários o nível de escolaridade dos mesmos. Todos têm nível superior, além de uma equipe administrativa formalizada. No bairro Alto das Pombas houve apenas uma certificação de nível superior.

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Nos bairros nobres assistidos, os minimercados, em sua grande maioria,

caracterizam-se por serem sofisticados. A partir dessa observação, infere-se que o

perfil dos proprietários nesse ambiente é inovador. Constantemente empregam

instrumentos de alto valor agregado, visando atender as fortes exigências do seu

público-alvo: as classes A e B. A atenção às tendências do mercado faz parte do

cotidiano desse perfil de empresário18, o qual não só inova em produtos, novas

marcas, mas também nas suas instalações - forte diferencial de competitividade.

Os minimercados periféricos assistidos apontam um perfil de minimercadista de

inovação incremental muito restrita à incorporação de novos produtos e de novas

marcas. As instalações não permitiram identificar empresários com elevado grau de

inovação stricto sensu no sentido de torná-las parte das suas observações cotidianas.

As condições socioeconômicas dos bairros onde estão inseridos respondem ao

pequeno grau de inovação percebido.

Comum a quaisquer dos minimercadistas é o fato desses estarem sempre presentes

nas lojas19, acompanhando sempre as suas dinâmica. Alguns trabalham todos os dias

da semana, como fora observado num dos bairros periféricos representativos - bairro

Alto das Pombas.

3.4 PERFIS DOS CONSUMIDORES

A segregação dos bairros - nobres e periféricos - permite verificar padrões de consumo

diferenciados. O tipo de renda predominante em cada um desses bairros move as

decisões, as aspirações e os estímulos dados aos consumidores. Os perfis desses

emergem, enfim, das suas condições socioeconômicas somadas ao cotidiano do local

onde residem.

18 No bairro da Graça, o diálogo com um proprietário de minimercado (delicatessen) permitiu identificar

o seu forte espírito inovador não só nas suas falas, mas no seu estabelecimento. O diálogo se materializou na abordagem à loja que contém vários setores (padaria, lanchonete, mercearia, hortifrúti, bebidas, laticínios, frios e outros). 19 Numa conversa com um minimercadista no bairro Alto das Pombas o mesmo disse que trabalha de

segunda-feira à segunda-feira em função do seu estabelecimento (denominado supermercado, mas com estrutura de minimercado). Foi um dos que negou responder o questionário para este estudo alegando falta de tempo por estar sempre ocupado com o seu “supermercado”.

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33

Na cidade do Salvador, os perfis dos consumidores do mercado de bairro foram

identificados nas instalações dos minimercados visitados. Nos bairros nobres há um

forte viés de consumidores com padrões de consumo aquém dos consumidores dos

bairros periféricos. As classes A e B, devido a sua renda, traça um perfil consumista

mais exigente e sofisticado. As gôndolas dos minimercados frequentados por essas

classes apontam consumidores havidos por melhores e variadas marcas de produtos,

além da busca por conforto e “caprichos” de grande valor agregado.

Nesse perfil consumidor percebe-se a forte presença de inovações incrementais nos

minimercados frequentados predominantemente por indivíduos de estrato social

considerado elevado.

Nos bairros periféricos a realidade é outra. As instalações dos minimercados nesses

bairros permitiram identificar consumidores menos exigentes no sentido de marcas

sofisticadas, apresentação dos produtos e “caprichos”. A renda relativamente baixa

da população residente nos bairros abordados - Alto das Pombas e Engenho Velho

da Federação - influi fortemente a decisão de consumo e as aspirações por bens e

serviços de maior valor agregado.

Apesar da discrepância de consumo perceptível pelo estrato social dos consumidores

da capital baiana, todos têm em comum um perfil de consumidor atento à economia

de tempo manifestada na proximidade e praticidade que o mercado de bairro

proporciona. A variável menor preço, outrora muito referenciado na literatura como

determinante da busca do consumidor às grandes redes varejistas, tem se mostrado

pouco relevante20.

20 O custo do deslocamento - monetário ou não (desgaste físico, tempo perdido nas filas etc.) - para um

estabelecimento situado distante pode tornar o produto mais barato mais caro do que o produto relativamente de preço maior encontrado próximo à residência do consumidor. Além disso, observações nas precificações do mercado de bairro periférico mostraram que muitos produtos têm preços abaixo dos preços cobrados pelas líderes do varejo - em especial, o setor de hortifrúti.

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34

4 DESAFIOS ECONÔMICOS DO MERCADO DE BAIRRO DE SALVADOR

Dentre os inúmeros desafios econômicos relativos à implantação das inovações

incrementais nos minimercados destacam-se a gestão da problemática dessas

inovações, a restrita interatividade desses estabelecimentos com a indústria e as

falhas das políticas públicas voltadas ao pequeno varejo.

Apesar da pulverização desse nicho mercadológico nos grandes centros urbanos

aparentar ser também desafiante à implantação das inovações incrementais dado a

existência da aversão ao risco de alguns comerciantes do pequeno varejo alimentar,

ao sentimento desses de que seus recursos não são capazes de alcançar a

concorrência, a ausência da fragmentação do mercado de bairro implica ineficiência

dinâmica. “A concorrência é o grande motor da busca de novos produtos, novos

mercados e novos processos produtivos. Sem concorrência o estímulo à atividade

inovativa vê-se diminuído” (LUCINDA; AZEVEDO, 2015, p. 225).

Os subcapítulos a seguir discorrerão sucintamente sobre aqueles desafios outrora

identificados na dinâmica dos minimercados assistidos nos bairros representativos

nobres e periféricos de Salvador.

4.1 INOVAÇÕES INCREMENTAIS: EM QUE E QUANTO, COMO E PARA QUEM

INOVAR?

No contexto heterogêneo do mercado de bairro de Salvador a decisão de inovar dos

minimercadistas não parte de uma mesma realidade: além das idiossincrasias

internas a cada firma - o modo particular como essa se organiza e se relaciona com

seus capitais físicos e humanos-, há também a particularidade do ambiente externo a

esse tipo de habitat dos agentes econômicos. Nesse sentido, a combinação de

estratégias para responder aos problemas econômicos intrínsecos às inovações

incrementais - Em que e quanto inovar? Como inovar? Para quem inovar? - é

resultante de estímulos (vivencias) internos e externos aos minimercados.

A resposta a cada um dos mencionados problemas tangíveis às inovações stricto

sensu do mercado de bairro da capital baiana parte do princípio da escassez dos

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recursos e das ilimitadas necessidades dos agentes econômicos que realizam aquele

segmento do pequeno varejo alimentar. Trata-se de um problema comum à economia:

o problema da alocação de recursos escassos frente às infinitas necessidades

humanas.

Pautando-se nessas restrições econômicas21, têm-se que:

Em que e quanto inovar? Quais inovações serão implementadas no

minimercado (produto, processo, marketing e/ou organização) e em que

proporção essas deverão ser colocadas em prática para melhor disposição de

produtos aos consumidores? A resposta depende do perfil consumidor, da sua

utilidade e da sua satisfação, bem como depende das vias distribuidoras

(indústria e atacado) dos bens e serviços apresentados22.

Como inovar? Quais recursos (próprios ou de terceiros) permitem a

incorporação das inovações incrementais nos minimercados?

Para quem inovar? A qual público é destinado o esforço da prática inovativa

stricto sensu? Seguindo o ensinamento de Rizzieri (2015, p.12) sobre para

quem produzir, “fatalmente, para os que têm renda” proporcional às inovações

de um determinado minimercado.

À luz das observações realizadas nas instalações dos minimercados dos bairros

representativos nobres e periféricos da cidade do Salvador é possível apresentar

consideráveis respostas sobre os problemas econômicos inerentes às inovações

incrementais. Cabe destacar que todos os proprietários dos minimercados - como é

característica geral dos empresários - empregam as inovações incrementais tentando

potencializar seus lucros e o bem estar dos seus clientes.

21 A tríade de problemas econômicos inovativos aqui discorrida é uma adaptação dos problemas

econômicos básicos ensinados por Rizzieri (2015). 22 O subcapítulo 5.2 delineará sobre a influência dessas vias distribuidoras na resolução desse

problema econômico.

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Nos minimercados predominantemente comprometidos a atender um padrão

consumidor sofisticado e exigente, em que e quanto inovar? As inovações assistidas

nos bairros representativos Pituba, Graça e Barra apontam a busca constante dos

proprietários dos minimercados em implementar todo o rol de inovações (produto,

processo, marketing e organização).

As gôndolas do mercado de bairro centrado em atender as classes A e B dispõem,

mesmo que em pequeno estoque, de produtos e marcas variadas de maior valor

agregado. A renda do público alvo desse perfil de minimercado ao ser

predominantemente elevada concede aos proprietários menor aversão ao risco de

inovar. A esse perfil de proprietário o estudo da dinâmica do mercado é o seu

cotidiano, pois o seu público-alvo é mais propenso a adaptar-se às novas e

sofisticadas tendências do mercado.

Nesse tipo de estabelecimento a presença de inovação de processo é intrínseca às

operacionalizações cotidianas. Inova-se em automação e informatização como

organismos condutores de melhores desempenhos e de atratividade de um público

atento ao atendimento formalizado, o qual proporciona maior economia de tempo.

O marketing assistido nos bairros nobres realiza-se consideravelmente na faixada do

estabelecimento, no apresentar dos produtos, no uniforme dos colaboradores e nos

serviços prestados. A impecabilidade dos minimercados dirigidos às classes A e B da

grande metrópole consiste em uma manifestação das inovações incrementais rotulada

marketing. Através da imagem límpida predominante23 nos minimercados voltados

àquelas classes realiza-se um excelente marketing sem recorrer à grande mídia.

A organização formalizada presenciada em alguns minimercados dos bairros nobres

representativos responde também ao problema econômico em que inovar. Consiste

sua prática na materialização das novas tendências do mercado bem como no amparo

dessas tendências.

23 Predominante no sentido do mercado de bairro das classes de elevado poder aquisitivo abraçar, na sua grande maioria, instalações sofisticadas. Alguns estabelecimentos caracterizados como mercado de bairro de perfil simples - sem inovações tendenciosas do mercado - também podem ser encontrados em alguns bairros nobres, como fora assistido nos bairros Pituba e Barra.

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As instalações dos minimercados assistidos nos bairros Pituba, Graça e Barra

permitiram identificar a inovação incremental organização como um elemento cerne

ex ante e ex post às demais inovações incrementais. Hipoteticamente, a importância

da busca por inovar-se organizacionalmente reside na melhor gestão dos produtos e

serviços de alto valor agregado a disposição dos consumidores.

As inovações incrementais concretizadas nos bairros de alto padrão de consumo de

Salvador são proporcionais a esse padrão. A atuação do público-alvo via demanda

por atendimento diferenciado e sofisticado é determinante à incorporação de inúmeros

mecanismos de apreensão a esse perfil consumidor.

A realidade das instalações dos minimercados dos bairros periféricos de Salvador,

confrontada com o que outrora fora apresentado no problema econômico em que e

quanto inovar inerente à realidade dos bairros opostos, mostra uma dinâmica de

mercado lenta, embora de forte apreço à população para a qual esse tipo de varejo é

orientado.

A maioria dos estabelecimentos observados nos bairros periféricos representativos -

Alto das Pombas e Engenho Velho da Federação - inova em produtos e marcas

proporcionais à renda preponderante do seu público consumidor - classes C e D. As

gôndolas do mercado de bairro periférico apontam inovações incrementais

“superficiais”, ou seja, tênues implementações de melhorias, visando atender ao

ínfimo segmento do consumidor às novas tendências do mercado.

A operacionalização nessa manifestação do pequeno varejo alimentar dado à tímida

inovação de processo é pouco ou não desenvolvida. O segmento das novas

tendências tecnológicas verificado está na adoção das máquinas destinadas à

utilização dos cartões de débito e crédito. A automação voltada à gestão de estoques

e à gestão financeira pouco foi percebida nos estabelecimentos.

O marketing nos minimercados periféricos apresenta-se timidamente na sagacidade

do proprietário do estabelecimento em melhor apresentar um produto que acredita ser

promissor a uma maior margem de lucro, como, por exemplo, a disposição de bebidas

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de marcas conhecidas juntamente com um bem complementar de marca conhecida e

que desperta a atenção do seu público. A faixada da maioria dos minimercados

assistidos mostrara-se pouco atrativa. Poucos são os estabelecimentos que utilizam

uniformes visando o marketing. Alguns utilizam carros de som propaganda pelo bairro

ao prestarem serviços delivery.

Como fora hipoteticamente apresentado, os minimercados dos bairros periféricos de

Salvador residem em um tempo tecnológico lento, o que torna a inovação

organizacional pouco aparente. Uma vez que essa inovação incremental é uma pré e

pós-condição das demais inovações, a dinâmica emergente nos minimercados das

periferias de Salvador é pouco dependente da inovação voltada à organização interna.

O próximo problema econômico a ser inferido é como inovar nos minimercados de

Salvador. Não diferente de outros segmentos da economia, a implementação de

melhorias no mercado de bairro depende da formalização, do planejamento, da

sagacidade e do refinamento das tendências do mercado. Além disso, para inovar é

preciso de recursos próprios ou de terceiros, alocando-os de maneira a potencializar

o retorno financeiro e o bem estar do público-alvo. Esse, por sua vez, é decisivo aos

retornos das melhorias incorporadas, pois é a fonte de receita. O ato de inovar,

independentemente do nível tecnológico ou organizacional, remete-se a atratividade

e fidelidade do consumidor, seja esse de baixa, média ou alta renda.

O comparativo entre os tipos de bairros da capital baiana permite identificar maior

formalização na implementação de melhorias nos minimercados orientados a atender

as classes A e B, bem como o planejamento e o refinamento das novas tendências

do mercado. As instalações desses minimercados dizem muito sobre a receptividade

das inovações incrementais adotadas. A grande maioria dos minimercados visitados

nos bairros nobres é formal e dotado de uma agenda estratégica voltada a alocar

melhor o investimento realizado nas suas instalações como um todo.

O tímido tempo tecnológico percebido no mercado de bairro periférico de Salvador

permitiu captar rasas formalidades na receptividade das melhorias adotadas. O

planejamento é evidente na preocupação dos proprietários dos minimercados em

estarem sempre presentes nos estabelecimentos verificando as demandas e

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contingências desses. Quanto ao refinamento das novas tendências do mercado,

dado o poder aquisitivo do público para o qual os minimercados das periferias de

Salvador são orientados, esse é minimamente contemplado, apesar do esforço de

algumas lojas em dispor em suas gôndolas de marcas famosas que estão sempre a

inovar e são comuns ao consumo das diferentes classes sociais.

Comum em responder o problema econômico como inovar é a sagacidade dos

proprietários dos minimercados. A percepção cotidiana aguçada das suas realidades

é o que o impulsionam a dinamizar, a elevar a expectativa de vida dos seus negócios

mesmo diante da escassez de recursos.

A qual público é destinado o esforço da prática inovativa stricto sensu dos

minimercados de Salvador é a última problemática econômica a ser discorrida

conforme as observações captadas nos bairros representativos nobres e periféricos

da capital.

Os proprietários dos minimercados inovam conforme as suas realidades locais;

inovam para quem tem renda para usufruir dos seus esforços inovativos. Sem ser

observada a renda dos indivíduos o risco do não retorno das incorporações de novos

produtos e/ou marcas, processos, marketing e organização torna-se maior.

O mercado de bairro nobre inova para um público consumidor que dispõe de maior

poder aquisitivo para contrair os seus produtos de maior valor agregado,

materializados não só pelo que são, mas também pela forma como são apresentados

àquele público.

As padarias sofisticadas encontradas em alguns minimercados exemplificam a

concretização do valor agregado dos produtos. O famoso pão francês, comum a mesa

de qualquer família, difere-se do pão francês encontrado nos minimercados das

periferias por ter como um dos seus valores agregados melhor forma e qualidade na

preparação. O público que busca por melhor qualidade desse produto, aparentemente

comum, dispõe de melhor renda; para esse público é que as melhorias de processo

são voltadas.

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Responder a tais problemas econômicos relativos às inovações incrementais

dinamizadoras do mercado de bairro da capital baiana é um dos desafios cotidianos

dos proprietários do pequeno varejo alimentar em quaisquer dos seus formatos. O

ritmo frenético da cidade do Salvador e as mudanças do padrão de consumo dos

residentes dos bairros é um desafio inerente as problemáticas econômicas inovativas.

4.2 INTERATIVIDADES: INDÚSTRIA E REDES DE ATACADO

Um dos maiores desafios do mercado de bairro para se alcançar o melhor

desempenho das inovações realizadas é o contato direto com a indústria dos bens

comercializados. A importância da interatividade reside na aquisição de produtos com

preços relativamente menores aos que são praticados pelas redes de atacado que

têm ligação direta com a indústria. Inovar frente a esse desafio é desestimulante pois

a contrapartida é tênue.

Embora a indústria esteja caminhando com um novo olhar24 para os minimercados,

predomina ainda nesses formatos do varejo alimentar a relação com as distribuidoras

atacadistas. O poder de barganha dado as grandes redes do varejo alimentar pela

indústria é superficialmente assistido no mercado de bairro de Salvador. Candidatam-

se a explicar essa problemática a compra de pequeno estoque de produtos e a

dificultada logística de alguns bairros.

O espaço físico em torno de 100 m² a 300 m² que caracteriza os minimercados não

permite a formação de elevado armazenamento de produtos nas suas instalações.

Logo, é impossível a compra de volumes de produtos equiparados a grande compra

realizada pelas líderes do varejo. A consequência dessa restrição, que se faz também

por outros motivos, como, por exemplo, a escassez de recursos financeiros dos

proprietários de alguns minimercados, é refletida no limitado ou inexistente poder de

barganha com a indústria.

24 A subsidiária brasileira da Procter & Gamble (P&G), uma das maiores empresas fabricantes de bens

de consumo do mundo, e outras empresas, como a Danone e a Kimberly-Clark, estão a enxergar o mercado de bairro como uma fonte cristalina de promoção de seus produtos dado à importância crescente que esse tem no total de vendas (MANO, 2016).

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Visando vencer a constrangedora interatividade com a indústria, alguns minimercados

se unem formando micro associações25 para obterem descontos das redes de atacado

nas compras dos produtos a serem disponibilizados nas suas instalações. Esse

comportamento mostra a distância da indústria em penetrar no grande mundo dos

pequenos varejistas de considerável participação na economia como um todo. O

reflexo do associativismo manifesta-se nos preços acessíveis de alguns minimercados

periféricos, e na aventura de aplicar melhorias frente às dificuldades para se obter

menores custos.

A tímida interatividade dos minimercados com a indústria fora assistida no bairro Alto

das Pombas. A presença das distribuidoras diretas da indústria das marcas de

alimentos e bebidas Nestlé, Coca-Cola e Friboi em alguns minimercados desse bairro

chama atenção para uma mudança de paradigma na relação pequeno varejo e

indústria, ainda que incipiente. Dois pontos importantes afloram-se dessa vivência: a

indústria aos poucos vem reconhecendo o pequeno varejo como fonte promissora de

marketing e vendas; e os consumidores da periferia do grande centro urbano estão

tendo melhores disposições a consumir bens de marcas renomadas e de relativa

qualidade.

Infere-se dessa observação no mercado de bairro periférico que, embora incipiente,

as inovações incrementais via disposição de novos produtos e marcas nas gôndolas

dos minimercados os dinamizam consideravelmente.

Infere-se também do vivenciar a presença das distribuidoras diretas da indústria que

os minimercados dos bairros nobres também estão sendo recepcionados pelo novo

olhar da indústria em perceber o pequeno varejo como uma cadeia final de distribuição

dos produtos de forte participação na economia. Uma vez que a organização, como

outrora fora apresentado, da grande maioria dos minimercados assistidos nos bairros

nobres é mais aguçada e formal, o contato com a indústria pode ser ainda maior do

que o estreito laço observado no citado bairro periférico da capital baiana.

Soma-se ao diminuto poder de barganha dos minimercados a logística dificultada,

25 Informação levantada em reunião com o superintendente da ABASE, Mario Freire Rocha, em julho

de 2016.

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principalmente vivenciada nos bairros não planejados da cidade do Salvador. Para a

indústria a geografia desalinhada de alguns bairros é um custo transacional a ser

pensado. A encomenda de pequeno estoque de produtos se não acompanhada de

preços maiores não desperta interesse em mudar o comportamento distante da

indústria com o mercado de bairro.

Os desafios para a adoção do motor do dinamismo no mercado de bairro de Salvador

- as inovações incrementais - são inumeráveis. O poder de negociação dos

proprietários dos minimercados de Salvador via contato direto com a indústria

facilitaria o processo de incorporação de novos produtos e novas marcas, bem como

potencializaria a adoção de outros tipos de inovação.

4.3 POLÍTICAS PÚBLICAS

A dinâmica emergente que marca o heterogêneo mercado de bairro de Salvador

reflete a difusão indireta das inovações de alto impacto.

Para que o incentivo governamental concedido ao desenvolvimento das grandes

inovações tenha real efetividade na economia é necessário a promoção de políticas

públicas voltadas à receptividade dos seus derivativos26.

O apoio das autoridades governamentais da capital baiana às inovações incrementais

que dinamizam o mercado de bairro é um forte desafio para um segmento da

economia que tem se mostrado cada vez mais presente na vida do consumidor,

apesar do raso amparo daquelas entidades executivas. A realidade dos minimercados

assistidos, em especial nos bairros periféricos de Salvador, aponta falhas

governamentais de incentivo à adoção de melhorias nos estabelecimentos. O

mercado de bairro é fonte promissora ao desenvolvimento da economia local pois gera

emprego e renda à comunidade, além da facilidade de acesso aos bens para a

26 Derivativos no sentido de produtos outrora produzidos, direta ou indiretamente, com o

desenvolvimento de inovações de alto impacto. A inovação em equipamentos de ponta, promotores de maior produtividade para uma empresa de alimentos, que tem o varejo de alimentos como cadeia final de escoamento da sua produção, é, por exemplo, fruto das inovações de alto impacto, e gera um novo fruto: a produção de bens a serem comercializados num mercado final. A inovação em latu sensu manifesta-se em distintas cadeias produtivas.

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população local.

As inovações incrementais são manifestações das inovações latu sensu. Essas só

fazem sentido se difundidas, mesmo que de forma camuflada, para os diversos

setores e segmentos da economia. Para a socialização da inovação - interação entre

as inovações de alto impacto e as inovações incrementais - as autoridades

governamentais devem se orientar no sentido de conceder ao empreendedor por

estilo de vida27 vias de absorção de recursos para serem operacionalizadas as

inovações stricto sensu.

Para melhor socialização da inovação na realidade dos minimercados de Salvador é

preciso diálogo entre os governantes do município e os empreendedores desse

segmento do varejo.

A ABASE tem se mostrado ativa na intermediação desse diálogo. Ao ter como

associados alguns minimercados da capital, está a par das suas demandas por

melhorias nos seus estabelecimentos, as quais só serão facilitadas e alcançarão

relevantes desempenhos se houver políticas públicas conscientes da importância

econômica e social daquele segmento do varejo - ente intermediário entre a indústria

e o consumidor.

As políticas públicas da capital baiana devem, em prol da valorização dos

minimercados, ser orientadas em vários sentidos: abreviar os trâmites burocráticos;

facilitar o acesso ao crédito voltado à implementação de melhorias no mercado de

bairro; capacitação profissional dos gestores e dos seus colaboradores; melhor

eficiência logística; e estímulo ao consumo. Essas orientações são fortes candidatas

ao incentivo à competitividade que faz florescer um ambiente socioeconômico

dinâmico.

27 “São empresas constituídas para satisfazer as necessidades financeiras dos empreendedores, ao

mesmo tempo em que geram um número limitado de empregos” (GRIN, 2012, p.12). As políticas públicas voltadas a esse perfil empreendedor são políticas essencialmente sociais (GRIN, 2012, p.12).

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na socialização entre os vários setores e segmentos da economia é que se vê o real

desenvolvimento de todos os esforços produtivos da sociedade. O contínuo emergir

de um simples comércio via inovações incrementais é um exemplo de como a

interiorização daqueles esforços dinamiza uma realidade econômica.

A dinâmica emergente do mercado de bairro de Salvador via inovações incrementais,

inferida a partir de longas observações em algumas instalações em bairros tipificados

como nobres (Pituba, Graça e Barra)28 e periféricos (Alto das Pombas e Engenho

Velho da Federação), e, também, a partir de diálogos com alguns minimercadistas,

elucida, a sua maneira, como os minimercados da capital baiana interiorizam o

dinamismo das cadeias produtivas e como esse segmento do varejo alimentar se

manifesta via adoção de melhorias contínuas (produtos, processo, marketing e

organização) visando alongar sua expectativa de vida frente a alguns desafios

econômicos: os problemas relacionados à alocação dos seus recursos; a

interatividade com a indústria; e o envolvimento com políticas públicas de incentivo ao

empreendedor por estilo de vida.

Sobre esse último desafio é pertinente chamar atenção para a importância da incisiva

ação do poder executivo municipal em enaltecer o real sentimento empreendedor nas

periferias dos bairros periféricos da capital baiana para que a sua população tenha a

oportunidade de interagir de maneira mais viva com o dinamismo econômico da

cidade.

Nos representativos bairros periféricos, apesar do aplaudido esforço dado aos

empreendedores dos minimercados, há muito o que ser feito no que diz respeito a

aquele habitat econômico acompanhar significativas tendências do mercado. Ao se

socializar a dinâmica todos os setores e segmentos da economia da cidade do

Salvador elevam os seus potenciais produtivos.

28 Alguns outros bairros - Ondina e Itaigara - do mesmo perfil também contribuíram às descrições das

observações. Mas precisamente esses foram os selecionados para se observar de perto a dinâmica via inovações incrementais.

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A abordagem aos bairros representativos permitiu certificar a existência de dois

habitats econômicos: o que absorve as inovações tecnológicas facilmente e o que

vivencia um tempo lento (ANDRADE, 2009). Os minimercados, embora façam parte

de um mesmo fenômeno - mercado de bairro -, revelam-se idiossincráticos conforme

aqueles habitats, segundo a geografia do bairro (ambiente urbano no qual os

moradores têm afins sentimentos de identidade e pertencimento), as heterogêneas

instalações, os perfis dos proprietários, e segundo os perfis dos consumidores

predominantes em cada tipo de bairro.

Esse modo de ser do mercado de bairro de Salvador aponta a não homogeneidade

das inovações incrementais. Para cada realidade essas manifestações indiretas das

inovações latu sensu se concretizam de maneira diferente, ou não se concretiza se se

parte do princípio que algumas pequenas melhorias são insignificantes em relação à

concorrência e em relação à sensibilidade perceptiva do consumidor. E, também, se

se parte dos princípios das “soberbas” literaturas que não veem nas melhorias

contínuas focos de inovações.

Sobre essa última colocação, conclui-se da pesquisa literária realizada para a

concretização deste trabalho a existência de uma lacuna de interesse voltada ao

estudo da importância dos pequenos segmentos da economia, mais precisamente no

sentido das inovações. A imagem desse vazio literário faz fluir a ideia de um

considerado desprezo ao provérbio “as pequenas coisas fazem a diferença” no âmbito

da economia.

Espera-se que o mercado de bairro de Salvador discorrido neste trabalho faça emergir

maior sentimento de valorização de estudos (acadêmicos e institucionais) orientados

a pequenos segmentos da economia visando fomentar maiores acervos voltados, de

alguma maneira, a entender a contribuição das dinâmicas emergentes nas dinâmicas

econômica e social como um todo.

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