Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · Trata-se de estudo exploratório, de...
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Universidade Federal de Mato Grosso
Instituto de Saúde Coletiva
Curso de Graduação em Saúde Coletiva
Benefícios acidentários por transtornos mentais no Brasil:
questões para a vigilância em saúde do trabalhador
Camila Brito Vaillant
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal
de Mato Grosso, como requisito parcial para a
obtenção do Título de Graduada em Saúde Coletiva
Orientador: Prof. Dr. Luís Henrique da Costa Leão
Cuiabá - MT
2014
Benefícios acidentários por transtornos mentais
relacionados no Brasil: questões para a vigilância em
saúde do trabalhador
Camila Brito Vaillant
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal
de Mato Grosso, como requisito parcial para a
obtenção do Título de Graduada em Saúde Coletiva
Orientador: Prof. Dr. Luís Henrique da Costa Leão
Cuiabá - MT
2014
Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.
B862b Vaillant, Camila Brito. Benefícios acidentários por transtornos mentais no Brasil: questões para a
vigilância em saúde do trabalhador / Camila Brito Vaillant. -- 2015 58 f. : il. color. ; 30 cm.
Orientador: Luís Henrique da Costa Leão. TCC (graduação em Saúde Coletiva) - Universidade Federal de Mato Grosso,
Instituto de Saúde Coletiva, Cuiabá, 2015. Inclui bibliografia. 1. Transtornos Mentais. 2. Previdência Social. 3. Saúde Mental. 4. Benefícios
Acidentários. 5. Vigilância. I. Título.
Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).
Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.
Dedico este trabalho ao Alessandro, meu companheiro, pela
confiança na minha capacidade, pela paciência em me ouvir, e
por estar a meu lado nos dias mais difíceis e também nos mais
alegres.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Mestre por me sustentar nos momentos de dificuldades, por estar me
firmando no caminho da prática do bem e permitir saúde para poder concluir mais uma das
tantas etapas que a vida proporciona.
Aos meus pais, Marcus e Raquel, pelo fluxo de vida que eles me oportunizaram, pelo
amor e dedicação em prol do meu crescimento moral e intelectual
Ao meu irmão, Eduardo, por sua alegria contagiante.
Ao meu companheiro Alessandro, por todo incentivo, compreensão e confiança. Por
todas as conversas e minimização dos problemas que eu teimava em ampliar.
Toda minha gratidão ao meu docente e orientador Luís Leão, por acreditar, ouvir e
respeitar minhas idéias, por me apontar a melhor direção e incentivar meu desenvolvimento
intelectual.
Em especial a querida professora Rita Adriana que se dispôs a contribuir com seu
conhecimento quantitativo e seu carinho e amizade.
Aos meus queridos amigos, Larissa, Járede, Enizete, Benedito, e Lidiane que me
ouviram lamentar, me viram descabelar, mas não me deixaram falando sozinha.
A todo corpo docente do Instituto de Saúde Coletiva, que em toda nossa caminhada se
apresenta como verdadeiros amigos.
Por fim, mas não menos importantes, aos meus colegas de classe, que me receberam
tão bem, em especial a Marielly companheira de todos os trabalhos.
Escrever nem uma coisa
Nem outra -
A fim de dizer todas -
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.
Manoel de Barros
VAILLANT, Camila Brito. Benefícios acidentários por transtornos mentais no Brasil:
questões para a vigilância em saúde do trabalhador. 58f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Saúde Coletiva) – Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato
Grosso. Cuiabá-MT, 2015.
RESUMO
O alto número de concessão de benefícios acidentários por Transtornos Mentais e do
Comportamento aos trabalhadores segurados pela previdência social descreve cenário
preocupante quanto à morbidade da classe trabalhadora e à atuação da Vigilância a saúde
mental dos Trabalhadores. Essa pesquisa objetivou analisar as concessões de benefícios
acidentários por transtornos mentais no Brasil, e identificar os tipos de agravos à saúde mental
nos registros de benefícios acidentários, relacionando as atividades econômicas concernentes
à concessão de benefícios acidentários por transtornos mentais e do comportamento no Brasil.
Trata-se de estudo exploratório, de abordagem quantitativa, que utilizou dados secundários do
Ministério da Previdência Social no período referente de 2006 a 2013. Descreveu-se o número
dos benefícios acidentários concedidos por tipo de agravo, CID.10, de 2006 a 2013, os
benefícios acidentários por Transtornos Mentais e Comportamentais e Classificação de
Atividade Econômica de 2008 a 2013. O número de benefícios acidentários concedidos por
Transtornos Mentais e Comportamentais aumentou 10 vezes entre os trabalhadores
assegurados pela Previdência Social. Os benefícios concedidos por Transtornos Neuróticos,
Transtornos Relacionados com o stress, Transtornos Somatoformes e Transtornos do Humor
(afetivos) representam 87% dos benefícios concedidos do total de transtornos mentais e
comportamentais no ano de 2006 e 94,2% em 2013. As atividades econômicas que mais
concederam benefícios acidentários relacionados a transtornos mentais e comportamentais
foram: Administração Pública, Defesa e Seguridade Social; Transporte, Armazenagem e
Correio; Atividades Financeiras, de Seguros e Serviços Relacionados; Saúde Humana e
Serviços Sociais; e Indústria da Transformação. Conclui-se que maior atenção deve ser
demandada por parte das ações da Vigilância em Saúde do Trabalhador para as atividades
econômicas que vem sendo protagonistas das concessões de benefícios acidentários, além de
buscar compreender os motivos da ausência de registros de outras, ponderando também os
tipos de transtornos que vem afetando esses trabalhadores e quais são os determinantes que os
acometem.
PALAVRAS CHAVES: Transtornos Mentais, Previdência Social, Saúde Mental, Benefícios
Acidentários, Vigilância, Saúde do Trabalhador.
VAILLANT, Camila Brito. Benefícios acidentários por transtornos mentais no Brasil:
questões para a vigilância em saúde do trabalhador/ Accident benefits for mental disorders
in Brazil: Issues for workers' health surveillance. 58f. Work Completion of course (Degree in
Public Health) – Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, 2014.
ABSTRACT
The high number of grant of accident benefits for Mental and Behavioral Disorders
workers insured by the Social Security describes worrying scenario on the morbidity of the
working class and the performance of surveillance mental health of workers. This study aimed
to analyze the concessions of accident benefits for mental disorders in Brazil, and identify the
types of mental health damages in the records of accident benefits, linking economic activities
concerning the granting of accident benefits for mental and behavioral disorders in Brazil.
This is an exploratory study with a quantitative approach, which used secondary data from the
Ministério da Previdência Social as regards period from 2006 to 2013. He described the
number of accident benefits granted by type of offense, CID.10, 2006-2013 the accident
benefits for Mental Disorders and Behavioral and Economic Activity Rate from 2008 to 2013.
The number of accident benefits granted by Mental and behavioral disorders increased 10-
fold among workers provided by Social Security. The benefits granted by Neurotic Disorders,
Related Disorders with stress, Somatoform Disorders and Mood Disorders (affective)
represent 87% of the vested benefits of total mental and behavioral disorders in 2006 and
94.2% in 2013. The economic activities more granted accident benefits related to mental and
behavioral disorders were: Public Administration, defense and social security; Transportation,
storage and mailing services; Financial activities, Insurance and Related Services; Human
Health and Social Services; and Industry Transformation. It was concluded that more
attention should be sued by the Workers' Health Surveillance shares to the economic activities
that have been protagonists of concessions of accident benefits, and seek to understand the
reasons for the absence of other records also pondering types disorders that has affected the
workers and what are the determinants that affect.
KEYWORDS: Mental Disorders, Social Welfare, Mental Health, Labour Accident Benefits,
Surveillance, Occupational Health
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Comportamento dos Capítulos da CID. 10 que proporcionalmente mais
concederam benefícios acidentários entre os anos de 2006 e 2013 no Brasil .......................... 31
Gráfico 2 - Distribuição do número de benefícios auxílios-doença acidentários totais e
contribuição percentual dos transtornos mentais e comportamentais para esse total no Brasil
entre 2006 e 2013 de acordo com a CID-10. ............................................................................ 32
Gráfico 3 - Percentual de benefícios acidentários por Transtornos Mentais Comportamentais
concedidos em relação ao total de benefícios acidentários concedidos pelo Ministério da
Previdência no Brasil entre os anos de 2009 a 2013 ................................................................ 33
Gráfico 4 - Contribuição em percentual de cada grupo de transtornos para o total de
transtornos mentais e comportamentais no Brasil entre 2006 e 2013 ...................................... 34
Gráfico 5 - Percentual aproximado dos benefícios acidentários concedidos por Transtornos
Mentais Comportamentais por atividade econômica no Brasil entre os anos de 2009 e 2013...
.................................................................................................................................................. 37
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Subdivisões da CID. 10 ........................................................................................ 28
Quadro 2 - Modelo de agrupamentos dos agravos que compõe a CID. ................................. 55
Quadro 3 - Agrupamentos e Categorias do Capítulo V da CID.10 ......................................... 57
Quadro 4 - Classificação do CNAE 2.0 – Seções .................................................................. 59
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Contribuição percentual dos benefícios auxílios-doença acidentários de acordo com
os capítulos da CID-10 no Brasil, entre 2006 e 2013 ............................................................... 30
Tabela 2 - Atividades econômicas, conforme classificação CNAE 2.0, que mais concederam
benefícios acidentários independente de CID.10 e sua representação percentual em relação ao
número de benefícios totais concedidos no Brasil em cada ano estudado, 2009 a 2013.......... 34
Tabela 3 - Atividades econômicas, conforme classificação CNAE 2.0, que mais concederam
benefícios acidentários por Transtornos Mentais Comportamentais e seu percentual
correspondente no Brasil em cada ano estudado, 2009 a 2013 ................................................ 35
Tabela 4 - Total de Benefícios Acidentários Concedidos pelas Atividades Econômicas que
Menos Registraram Concessão por Transtornos Mentais Comportamentais no Brasil entre o
período de 2009 e 2013 ............................................................................................................ 36
Tabela 5 - Benefícios acidentários concedidos por atividade econômica (TT), e o percentual
correspondente às concessões por Transtornos Mentais Comportamentais em relação ao total
geral por ano e ao total de cada atividade econômica no Brasil entre os anos de 2009 e 2013
.................................................................................................................................................. 37
LISTA DE SIGLAS
AT - Acidente de Trabalho
CEREST - Centros de Referência em Saúde do Trabalhador
CID 10 - Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde
CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas
CONCLA - Comissão Nacional de Classificação
INSS - Instituto Nacional do Seguro Social
MS – Ministério da Saúde
MPS - Ministério da Previdência Social
NTEP - Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário
OMS - Organização Mundial de Saúde
RENAST - Rede Nacional de Atenção a Saúde do Trabalhador
RGPS - Regime Geral da Previdência Social
SAT - Seguro Acidentes de Trabalho
SUB - Sistema Único de Benefícios
TMC - Transtornos Mentais e Comportamentais
VISAT - Vigilância em Saúde do Trabalhador
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15
2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 18
2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................. 18
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICO ....................................................................................... 18
3. REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................................... 19
3.1 CAMPO DA SAÚDE DO TRABALHADOR E A VIGILÂNCIA ............................ 19
3.2. AGRAVOS À SAÚDE MENTAL ............................................................................. 23
4. METODOLOGIA ............................................................................................................... 27
5. RESULTADOS ................................................................................................................... 30
6. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 39
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 46
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 48
ANEXOS ................................................................................................................................. 55
ANEXO I - QUADRO2. MODELO DE AGRUPAMENTOS DOS AGRAVOS QUE COMPÕE A CID. 10 ANEXO II - QUADRO 3 - AGRUPAMENTOS E CATEGORIAS DO CAPÍTULO V DA CID.10 ANEXO II - QUADRO 4. CLASSIFICAÇÃO DO CNAE 2.0 – SEÇÕES
15
1. INTRODUÇÃO
A saúde mental dos trabalhadores do Brasil vem demandando maior atenção do Estado
e da sociedade devido à crescente ocorrência de casos de transtornos nos últimos anos. Dados
da Organização Mundial de Saúde (OMS) relatam que cerca de 400 milhões de pessoas em
todo mundo são acometidas por distúrbios mentais ou de comportamento (OMS, 2002). As
perturbações neuropsiquiátricas, de acordo com o Relatório de Carta Global da Doença –
2004, são responsáveis por 1/3 do total de anos perdidos por incapacidade, pelos indivíduos
acometidos (OMS, 2004).
Os distúrbios mentais estão entre as 20 principais causas de incapacidade da população
e a depressão é apontada como a terceira no ranking de prevalência das doenças causadoras de
incapacidade moderada/ severa nos países de alta renda (OMS, 2004).
No Brasil cerca de 12% da população precisa de atendimento em Saúde Mental e pelo
menos 12 milhões de pessoas sofre de Transtornos Mentais Graves e Persistentes (BRASIL,
2008a).
Os Transtornos Mentais e Comportamentais relacionados ao trabalho, entre os anos de
2008 e 2011, foram o terceiro maior motivador de concessão de benefícios por afastamento de
trabalho no Brasil (SILVA-JUNIOR e FISCHER, 2014). A mesma fonte alerta que os
afastamentos acidentários por Transtornos Mentais e Comportamentais abrangeram 6,3% do
total. Os transtornos de humor foram causadores de 47,7% dos afastamentos acidentários por
Transtornos Mentais, e, os transtornos neuróticos relacionados ao stress 43,7% (SILVA-
JUNIOR e FISCHER, 2014).
Segundo Pignati et al.(2013), em 2002 houveram 1.970 registros acidentários por
Transtornos Mentais Comportamentais de um total de 393.071, o que corresponde apenas
0,5%. Em 2010 os acidentes por Transtornos Mentais Comportamentais aumentaram para
15.525, no entanto também houve aumento dos acidentes totais, sendo contabilizado 701.496,
representando 2,21% dos casos. Cabe ressaltar, que o número de acidentes de trabalho em oito
anos subiu 78,46%, descrevendo, deste modo, um cenário preocupante quanto à saúde dos
trabalhadores.
Mesmo diante de números tão substanciais, poucos estudos investigam os principais
agravos à saúde mental motivadores de afastamentos, concessões de benefícios, do trabalho
no país e os setores produtivos envolvidos. Isso demonstra a carência de pesquisas no campo
16
da saúde mental do trabalhador, problema que necessita, urgentemente, ser
solucionado/minimizado.
Cabe elucidar que benefício consiste na prestação pecuniária paga àqueles segurados
ou dependentes em situações em que ocorra doença, invalidez, morte, idade avançada e outros
(Brasil, 2006). Por benefícios concedidos compreende-se àqueles requeridos a previdência
social pelo segurado ou dependentes cujo requerimento é analisado, deferido e liberado para
pagamento (BRASIL, 2012).
Do ponto de vista institucional, os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde, em
especial os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) não têm subsídios e
diretrizes para implementar ações de atenção e vigilância à saúde mental dos trabalhadores
(Leão e Minayo-Gomez, 2014). Consequentemente, faltam informações sistematizadas e
qualificadas que propiciem o planejamento das ações estratégicas da Vigilância em Saúde do
Trabalhador (VISAT) na área da saúde mental e trabalho.
A VISAT consiste no agrupamento de práticas inscritas legalmente no Sistema Único
de Saúde (SUS) (VASCONCELLOS et al.,2010). Ela difere das demais vigilâncias por
possuir como delimitação de seu objeto a investigação e a intervenção nos processos de
trabalho.
A rigor, a VISAT tem por intenção eliminar/minimizar os determinantes do processo
saúde-doença dos trabalhadores através da articulação entre os controles de exposição e seus
efeitos. E para isso se apodera de instrumentos de sistematização de coletas, análises e
disseminação de dados para intervir na relação existente entre o processo de trabalho e saúde
(MACHADO, 1997). Entretanto, sua função não se restringe a ações de fiscalização, que suas
diretrizes norteadoras apontam para o desempenho do papel educativo, sensibilizador e
mobilizador de melhores práticas de trabalho, as quais devem ser incorporadas e
desenvolvidas por trabalhadores e gestores de modo que haja articulação intersetorial
(DALDON e LANCMAN, 2013).
A frequência com que esses agravos se desenham dentro do contexto nacional, e por
condicionar o trabalhador à incapacidade, interferindo, deste modo, na qualidade de sua vida,
encontra-se justificativa para aprofundamentos teóricos sobre o tema.
Dar notoriedade as atuais condições de saúde mental dos trabalhadores é contribuir
para o desenvolvimento de ações da VISAT em que a saúde seja tomada como prioridade,
frente ao desenvolvimento das atividades laborais.
17
Essa pesquisa visa justamente contribuir nesse processo de construção de ações em
vigilância, saúde mental e trabalho (LEÃO e MINAYO-GOMEZ, 2014) buscando subsidiar
novas reflexões-ações sobre a saúde mental de trabalhadores nos atuais processos produtivos.
Assim, questiona-se quanto à quantidade e os tipos de transtornos mentais
responsáveis pelas concessões de auxílios doença acidentários no Brasil e as atividades
econômicas envolvidas nesses registros, intencionando, desse modo, contribuir com subsídios
para as ações de vigilância em saúde do trabalhador, ofertando informações que caracterize os
campos passivos de intervenção e planejamento de ações estratégicas da VISAT.
18
2. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
Descrever a relação entre as concessões de benefícios acidentários por transtornos
mentais e as atividades econômicas no Brasil.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1- Identificar os tipos de agravos à saúde mental nos registros de benefícios
acidentários.
2- Relacionar as atividades econômicas concernentes à concessão de benefícios
acidentários por transtornos mentais e do comportamento no Brasil.
19
3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1. CAMPO DA SAÚDE DO TRABALHADOR E A VIGILÂNCIA
A saúde do trabalhador é a manifestação de um processo social democrático, que foi
alavancado pela organização sindical e pelo compromisso investido por profissionais
comprometidos por uma perspectiva comum, a qual resultou em uma composição de práticas
interdisciplinares e interinstitucionais em prol da preservação da saúde dos trabalhadores
(MINAYO-GOMEZ e THEDIM-COSTA, 1997).
Andreotti et al. (2005) o define como:
(...) integrante indissociável da área de saúde, apresenta como peculiaridade zelar pela saúde nos ambientes e nas relações do ser humano com o trabalho, promovendo a saúde, prevenindo agravos, recuperando a saúde/tratando e reabilitando o trabalhador. O desenvolvimento de ações individuais e coletivas que visem atuar no processo saúde-trabalho-doença, para eliminar ou controlar determinantes, fatores de riscos e danos são do seu escopo (p.2).
Esse entendimento só foi possível através das construções singulares de movimentos
sociais e políticos, dos quais eclodiram projetos de uma sociedade influenciada e influenciável
pela produção intelectual, pautada na democracia, tendo em vista a consolidação dos direitos à
cidadania (MINAYO-GOMEZ e THEDIM-COSTA, 1997).
Ao contrário da Medicina do Trabalho, que ainda mantém uma visão biológica,
individual e unicausal, intencionando identificar as causas das doenças e manter o trabalhador
no desempenho de suas funções, o campo da saúde do trabalhador tem o seu foco pautado na
classe trabalhadora, em detrimento do agravo (MINAYO-GOMEZ e THEDIM-COSTA,
1997).
No que tange aos agravos, foi através da Portaria Nº 777 de abril de 2004, que o
Ministério da Saúde (MS) tornou obrigatório à notificação compulsória dos agravos à saúde
do trabalhador – acidentes e doenças relacionadas ao trabalho (BRASIL, 2004).
De acordo com o Manual de Procedimento para os Serviços de Saúde, produzido pelo
MS, as contribuições do trabalho para as alterações da saúde do trabalhador podem ser
dimensionadas tanto física, quanto psicologicamente. O sofrimento quando advindo de abalo
físico, tende a ser mais perceptível, já que suas manifestações são possíveis consequências do
rotineiro contato com produtos tóxicos, alocações insalubres, irregularidades na divisão das
tarefas, e outros (BRASIL, 2001).
20
Pode-se afirmar que a Saúde do Trabalhador, quando entendida como campo de
conhecimento, é compreendida como “uma construção que combina um alinhamento de
interesses, em determinado momento histórico, onde as questões, politicamente colocadas,
adquirem relevância e há condições intelectuais para discuti-las e enfrentá-las sob os pontos
de vista científicos e epistemológico” (MINAYO-GOMEZ e THEDIM-COSTA, 1997, p. 25).
Pela importante representação social que expressa, seja economicamente, como meio
de subsistência, ou culturalmente, como valor simbólico, o trabalho é componente da
estruturação do modo de vida das pessoas, portanto da saúde física e mental. A sua ausência
ou ameaça de perda, também acarretam sentimentos de menos-valia, insegurança, desânimo,
angustias e outros, que podem resultar em quadros relacionados a Transtornos Mentais
(BRASIL, 2006).
É no trabalho que habilidades de relacionamentos são desenvolvidas, e o para isso o
ambiente deve ser favorável aos diálogos, investimentos afetivos, e interações que
proporcionem satisfação, prazer e, portanto, saúde. Quando não propício a essas
manifestações, e desprovido de significação, ou de forte ameaça à integridade física, a
atividade pode se tornar geradora de sofrimentos psíquicos (BRASIL, 2006).
Nesse contexto, segundo Pignati et al.(2013) ambientes de trabalho que possuem na
estruturação de suas atividades a estipulação de metas e pressão por produtividade, tendem a
se tornarem propulsores de transtornos mentais, tais como depressão, síndrome do pânico,
estresse, burnout.
Para esse estudo, é necessário definir que Acidente de Trabalho (AT) é entendido
como àquele que ocorre através do exercício do trabalho vinculado ao serviço da empresa,
provocando lesão corporal, perturbação funcional causadora de morte, perda, e/ou redução
permanente ou temporária da capacidade para o trabalho. Incluindo àqueles ocorridos quando
o trabalhador assume o papel de representador da empresa, quando agindo em defesa de seu
patrimônio, ou em trajeto da residência para o trabalho e vice-versa (BRASIL, 1991; 2006).
Ainda nessa abordagem, a Lei Nº 8.213/91 especifica quanto às doenças profissionais
e/ou ocupacionais equiparando-as a acidentes de trabalho.
Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I (BRASIL, 1991, s/p.).
21
Há um século, no entanto, o entendimento era outro, até 1919 só se considerava
acidentes de trabalho os incidentes ocorridos no desenvolvimento da tarefa laboral, apenas em
1967 com a Lei 5.316 foi incorporado os acidentes de trajeto e a compreensão de doenças do
trabalho, através da introdução do conceito de causalidade incorporado em 1944 (MIRANDA
et al. 2012).
Em 2006, através da Lei Nº 11.430, foi incluído na Lei Nº 8.213 de 1991, um
mecanismo de caracterização de um acidente ou doença de trabalho denominado Nexo
Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP).
Art. 21-A: A perícia médica do INSS considerará caracterizada a natureza acidentária da incapacidade quando constatar ocorrência de nexo técnico epidemiológico entre o trabalho e o agravo, decorrente da relação entre a atividade da empresa e a entidade mórbida motivadora da incapacidade elencada na Classificação Internacional de Doenças - CID, em conformidade com o que dispuser o regulamento (BRASIL, 2006, s/p.).
A identificação do NTEP pelo médico perito implica na concessão de benefício
acidentário, no entanto se não for identificado nexo, o benefício será classificado como
previdenciário (BRASIL, 2012).
A partir de 2007 o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) passou a adotar esse
novo instrumento de caracterização de acidentes de trabalho, para determinar as concessões
de benefícios acidentários. Esse avanço, contribuiu para minimização da sub-notificação dos
acidentes de trabalho por agravos a saúde mental. Além disso, facilitou a identificação de
associação dos agravos a saúde do trabalhador com a atividade desenvolvida no trabalho,
através do cruzamento de dados da Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados coma Saúde (CID 10) (BRASIL, 2012).
A décima edição da CID possui em seu Capítulo V a descrição e definição dos agravos
mentais e comportamentais. “Hoje é a classificação diagnóstica padrão internacional para
propósitos epidemiológicos gerais e administrativos da saúde, incluindo análise de situação
geral de saúde de grupos populacionais e o monitoramento da incidência e prevalência de
doenças e outros problemas de saúde” (BUCHALLA e Di BUBILA, 2008, p. 327).
Para atender as necessidades das Ações em Saúde do Trabalhador foi instituído,
através da Portaria Nº 2.728, a Rede Nacional de Atenção a Saúde do Trabalhador
(RENAST), no intuito de contemplar as ações preventivas, de promoção e reabilitação da
Saúde do Trabalhador. Como modo de implementação do RENAST, houve a estruturação dos
Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), responsáveis pelo suporte
22
técnico, ações de promoção, de Vigilância em Saúde dos Trabalhadores (VISAT), promoção e
coordenação de projetos de assistência (BRASIL, 2009).
A VISAT é parte integrante do Sistema Nacional em Saúde e essencial ao Modelo de
Atenção Integral em Saúde do Trabalhador (BRASIL, 2011). Se desenvolve através de
saberes e práticas interdisciplinares e interinstitucionais, tendo a promoção da saúde como
área fundamental para melhor relação trabalhador e processo de trabalho. (MACHADO,
2005).
Machado (1997) a descreve como componente importante da saúde pública por ser
responsável por articular as ações de vigilância sanitária, epidemiológica e de serviços de
saúde. Seu entendimento é de que se trata de uma área de promoção à saúde, a qual necessita
que a natureza de suas práticas seja de compreensão transdisciplinar visando às ações
transversais e intersetoriais (MACHADO, 2005).
Daldon e Lacman (2013) também discorrem sobre as diferentes abordagens, feitas pela
VISAT, envolvendo os processos de trabalho e as relações sociais que deles decorrem,
articulando a epidemiologia, a saúde coletiva e psicologia social. Cabe a ela direcionar suas
atenções nas manifestações de sofrimento dos trabalhadores e “sistematizar mudanças
requeridas e acompanhar sua implantação e efetividade em um processo dialógico com os
atores responsáveis” (LEÃO e MINAYO-GOMEZ, 2014, p. 4654).
A VISAT vem buscando desde sua instituição novas formas de intervir no ambiente de
trabalho, reduzindo o enfoque no entendimento de causa e efeito, e valorizando a
subjetividade e as formas de saber do trabalhador. Mantendo ainda, segundo Ribeiro (2013), a
necessidade de se construir um conjunto de indicadores capazes de tornar evidentes os efeitos
sobre o corpo ocasionados pelos modelos de organizações pós-fordistas.
Quanto as deficiências, Vasconcellos et al. (2010) é enfático ao retratar, que mesmo
em face de tamanha importância que tem a VISAT, ainda é um recurso inusual. Ele infere que
suas ações ainda dependem de ações pontuais de profissionais em nível dos serviços, isso
porque há uma omissão gerencial do sistema de saúde para sua implementação, além da
ausência de capacitação técnica dos agentes públicos para efetuá-la. Exemplo disso são os
números de casos de concessões de benefícios acidentários por transtornos mentais a
trabalhadores assegurados pela previdência social, que serão aqui trabalhados.
3.2. AGRAVOS À SAÚDE MENTAL
23
A saúde mental é um campo de conhecimento de grande complexidade e
transversalidade de saberes, incapaz de ser compreendido ou exercido por apenas um
profissional, como o psiquiatra. Pode ser também, entendido como um estado de bem-estar
mental, ou ausência de desordem mental. Cabe preponderar o cuidado que se deve ter quanto
à caracterização dos sentidos da saúde mental (campo de conhecimento e estado mental dos
sujeitos), para não se reduzir a pluralidade da existência humana (AMARANTE, 2007).
Atualmente, com base em dados da literatura, pode-se afirmar que o setor serviço tem
sido o responsável por maiores registros de agravos a saúde mental dos trabalhadores, e os
transtornos de humor (sobretudo os episódios depressivos) os agravos que supostamente mais
afastariam.
O setor serviço, comumente conhecido, diz respeito ao setor econômico terciário,
assim classificado por abranger diversas atividades de estrutura heterogênea. Contrariamente
aos produtos da agricultura ou das indústrias, que são palpáveis e estocáveis, e por isso
tendem a serem facilmente valorados, os produtos do setor terciário encontram-se em
condição oposta, são imperceptíveis ao toque, pois são imateriais, ou seja, seu armazenamento
não produz riqueza (MINAYO-GOMEZ e PENA, 2010).
Minayo-Gomez e Pena (2010), também discorrem sobre o condicionamento do
trabalhador a um automatismo gestual, pelo setor serviço, o qual diariamente é obrigado a
negar seus sentimentos e a externar o que de fato não sente. Argumentam que gestão
emocional, apesar de não produzir diretamente processos patológicos, pode ser fator
condicionante de distúrbios psicológicos.
Este setor é o que mais tem afastado por acidentes de trabalhos, sendo responsável por
50% dos casos, superando o setor industrial 46% (BRASIL, 2012). A aproximação, na última
década, do número de notificações de acidentes de trabalho no setor serviço com o setor
industrial, possibilita a quebra do senso comum que acreditava que o setor serviço não
apresentava grandes riscos à saúde do trabalhador (GOMES e PENA, 2011).
Giddens (2005), diz que o trabalho dentro do setor serviço requer do trabalhador algo
que vai além do desenvolvimento de seu esforço físico, há exigência de um esforço
emocional, obrigando que o trabalhador seja capaz de controlar seus sentimentos e produzir
uma expressão corpórea apta a ser exposta.
A exigência de que o trabalhador tenha domínio de suas emoções de maneira rotineira,
é capaz de gerar uma ruptura do indivíduo com seus sentimentos, o sujeitando a
24
descaracterização individual, oportunizando o estabelecimento de desequilíbrios emocionais
causadores de patologias psicossomáticas (MINAYO-GOMEZ e PENA, 2010).
Silva-Junior e Fischer (2014) elucidam que, ao atingir a população economicamente
ativa, esses tipos de agravos ocasionam redução da força produtiva do país, aumentando a
onerosidade ao Estado e exclusão social, causadores de sofrimento crônico, promovendo um
ciclo de desgastes e adoecimentos entre trabalhadores.
Além do custo social, há também que se ater notável consideração a onerosidade aos
cofres previdenciários (SILVA-JUNIOR e FISCHER; 2014). As despesas com benefícios
acidentários e previdenciários, em 2013, foram superiores a sete bilhões de dólares, montante
maior do que o arrecadado com o Seguro Contra Acidentes de Trabalho (SAT) (BRASIL,
2014).
O crescente aumento, de acordo com dados do Dataprev em 2010, acerca dos
benefícios acidentários concedidos segundo códigos de Classificação Internacional da Doença
(CID-10) e de Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) por Transtornos
Mentais Comportamentais (BRASIL, 2010), denota a necessidade de uma maior aproximação
da VISAT com o campo da Saúde Mental.
No que tange a relação trabalho e saúde mental, os Transtornos Mentais e
Comportamentais, quando analisados pela perspectiva do trabalho, são resultados de uma
associação de fatores, ou seja, o desequilíbrio no contexto do trabalho, somado a interação
com o corpo e o psíquico dos trabalhadores (BRASIL, 2001).
Há transtornos mentais, como o caso do transtorno de humor, que consiste em
“conjuntos de sinais e sintomas mantidos por um período de semanas a meses que diferem
marcantemente do funcionamento habitual da pessoa e tendem à recorrência de modo
periódico ou cíclico” (JARDIM, 2011, p. 85).
Franco et al. (2010) reflete que na realidade do trabalho há um crescente
distanciamento entre as práticas organizacionais e os direitos dos trabalhadores conquistados.
A respeito da temática que envolve a saúde do trabalhador e o adoecimento mental, Silva et
al. (2010) diz que são vários os fatores que influenciam esse desarranjo:
(...) a exposição a agentes tóxicos, a altos níveis de ruído, a situações de risco à integridade física, como, por exemplo, trabalho com compostos explosivos ou sujeitos a assaltos e sequestros, a formas de organização do trabalho e políticas de gerenciamento que desconsideram os limites físicos e psíquicos do trabalhador, impondo-lhe frequentemente a anulação de sua subjetividade para que a produção não seja prejudicada e as metas estabelecidas sejam cumpridas (pg. 187).
Jardim (2011) também elucida que todas as organizações de trabalho, de certo modo,
acabam por excluir o sujeito, e cabe a ele inventar um lugar dentro das relações sociais do
25
ambiente de trabalho para se estabelecer. Diz ainda que a situação se torna insuportável para o
trabalhador, quando não há lugar para se inserir ou alguém para trazer para sua própria rede
de relação. Ocasionando, deste modo, a falácia da cooperação, a exclusão seja pelo
desemprego ou pelo desenvolvimento de doença.
Nesse sentido, os agravos decorrentes do trabalho acabam por interferir na capacidade
produtiva do trabalhador. Souza (2006) argumenta que uma das consequências desses agravos
é a dificuldade do convívio com os colegas de trabalho, dificultando os debates de normas que
a atividade exige. Outra consequência, também descrita, é a diminuição da capacidade de
suportar as dificuldades impostas pelo ambiente (SOUZA, 2006), aproximando o trabalhador
da possibilidade de agir de modo não-racional.
Por passar grande parte do dia no trabalho, as relações pessoais nesse ambiente
deveriam permitir ao trabalhador maior valor emocional. Porém essa não é uma realidade, já
que as relações de amizades, em regra, não têm concretude, pois são alicerçadas pela
competitividade, além de serem sempre interrompidas devido a rotatividade dos setores
(HELOANI e CAPITÃO, 2003).
Em meio a esses fatores, um dos grandes transtornos mentais que vem atingindo os
trabalhadores é a depressão, doença que introduz no indivíduo uma tristeza sem motivo
aparente, desânimo, insônia, falta de interesse pela vida e pelo trabalho, além de irritabilidade
sem causa e sentimento de vazio (JARDIM, 2011).
O desenvolvimento da depressão no trabalho, como esclarece Brant e Minayo-Gomez
(2008), adveio da ausência de tempo para se construir laços de relacionamento capazes de
proporcionar acolhimento ao sujeito e sua tristeza, justificativa comum no âmbito do trabalho
pós-industrial.
Dejours (1993, p.98) defende que “O trabalho pode ser um fator de deterioração, de
envelhecimento e de doenças graves, mas pode, também, constituir-se em um fator de
equilíbrio e de desenvolvimento. A possibilidade da segunda hipótese está vinculada a um
trabalho que permita a cada indivíduo aliar às necessidades físicas, o desejo de executar a
tarefa”.
O entendimento de que o trabalho pode ser tanto motivador de saúde quanto
motivador de doença, também é defendido por Souza (2006). Em seu estudo sobre Trabalho e
Transtornos Mentais Graves, também relata que, por muitas vezes, ao passar do momento de
crise ocasionado pelo desenvolvimento de um agravo psicopatológico, o indivíduo pode se
compreender permanentemente incapaz de se restabelecer, de viver sobre suas próprias regras
e até mesmo de voltar a trabalhar.
26
Outro importante fator que interfere na saúde mental do trabalhador é descrito por
Martinez et al. (2004). O estudo discorre quanto à importância do sentimento de satisfação no
desempenho das atividades de trabalho, e complementa relatando a dependência de se sentir
satisfeito, com a maneira com que o sujeito percebe, valoriza e julga o seu trabalho.
27
4. METODOLOGIA
Trata-se de estudo exploratório, de abordagem quantitativa, utilizando dados
secundários do Ministério da Previdência Social (MPS) no período referente de 2006 a 2013.
Foram descritos o número dos benefícios acidentários por Transtornos Mentais e
Comportamentais concedidos por tipo de agravo, CID.10, entre o período de 2006 e 2013, e
dos benefícios acidentários por Transtornos Mentais e Comportamentais por classificação de
atividade econômica, segundo CNAE 2.0, no decorrer dos anos de 2008 a 2013. O foco
estudo está nas concessões de benefícios acidentários por Transtornos Mentais e
Comportamentais, Capítulo V da CID 10.
As fontes de dados utilizadas nessa investigação foram as tabelas de
Acompanhamento Mensal dos Benefícios Auxílios-Doença Concedidos segundo Códigos da
Classificação Internacional de Doenças - 10ª Revisão. (CID-10) e Acompanhamento Mensal
dos Benefícios Auxílios-Doença Acidentários concedidos pelos Códigos da Classificação
Nacional de Atividades Econômica - CNAE segundo os códigos da Classificação
Internacional de Doenças (10ª Revisão) CID-10.
Na primeira os dados são apresentados em tabelas anuais, as quais descrevem o
número de benefício concedido mês a mês para cada categoria da CID.10. Na segunda, os
dados são dispostos em arquivos mensais para cada ano, apresentando para cada atividade
econômica qual capítulo da CID.10 concedeu determinada quantidade de benefícios.
Essas fontes são parte do Sistema Único de Benefícios (SUB) e são de
responsabilidade da Diretoria de Benefícios do INSS. Ressalta-se que as concessões têm
como marco temporal a data do despacho do benefício e não a data início do benefício
(BRASIL, 2012).
Quanto aos critérios para concessão, o MPS a fim de estabelecer critérios na concessão
de benefícios no país, passou a utilizar de uma classificação para caracterizar a origem do
agravo na população com formalização dos vínculos trabalhistas (BRASIL, 2006).
Quanto a sua classificação em previdenciários ou acidentários, o primeiro diz respeito
àqueles regulamentados pelo Regime Geral da Previdência Social (RGPS) e que necessitam,
na maioria das vezes, de tempo de carência para serem recebidos. No que tange os
acidentários, sua concessão é vinculada a ocorrência de um acidente no exercício do trabalho,
ao desenvolvimento de doença profissional ou do trabalho, ou, até mesmo, lesão corporal ou
28
perturbação funcional que cause morte ou redução da capacidade do trabalho ocorrida no
percurso entre a residência do assegurado ao local de trabalho (BRASIL, 2006).
O MPS faz uso da décima versão da Classificação Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde (CID.10) para compor suas estatísticas quanto à concessão
de benefícios.
A CID. 10 é composta por 22 capítulos e três volumes. O Volume I contém a
classificação das doenças, ou seja, uma lista tabular que segue um conjunto de categorias,
conforme quadro abaixo. O Volume II é composto por orientações e regras para a utilização
sua utilização, enquanto que o Volume III apresenta um índice alfabético composto por três
seções (BRASIL, 2008b).
Quadro 1 - Subdivisões da CID. 10
Capítulos → Agrupamentos →
são conjuntos de
Categorias →
que correspondem ao código
de uma letra e dois dígitos
Subcategorias
ao código da categoria se junta um ponto
e mais um algarismo - .0 a .9 que é o
código da CID
Os capítulos da CID 10 são constituídos por vários agrupamentos, categorias e
subcategorias como descrevem o Quadro 2 (Anexo). O Capítulo V abriga os agravos que
compões os Transtornos Mentais Comportamentais, sendo distribuídos em 11 agrupamentos,
cada um com suas categorias e subcategorias, conforme exemplo do Quadro 3 (Anexo).
Quanto a Classificação Nacional de Atividades Econômicas CNAE 2.0, é dividido por Seção,
Divisão, Grupo e Classe. As seções são relacionadas de A a U (Quadro 4 - Anexo).
As tabelas dispostas no portal do MPS trazem dados previdenciários e acidentários e,
para este estudo, foram utilizadas somente as informações condizentes a benefícios
acidentários.
Em específico, entre as tabelas Auxílios-doenças acidentários segundo os Capítulos
da Classificação Internacional de Doenças – CID-10 e a estrutura da CNAE 2.0, de 2008 a
2013, optou-se por trabalhar somente com as subdivisões do CNAE; - Seção e Divisão, no
intuito de facilitar o manuseio com os dados.
Quanto aos procedimentos, foram capturadas todas as tabelas de concessão de
benefícios acidentários por CID e por CNAE do portal do Ministério da Previdência Social.
As tabelas que informam quanto ao número de concessão por tipo de agravo, estão dispostas
em arquivo de leitura, e tiveram de ser transcritas para outra planilha a fim de que os dados
pudessem ser trabalhados. Foram então, excluídas as categorias e subcategorias, para que
29
pudesse dar ênfase aos agrupamentos, identificando deste modo, através de soma e proporção,
quais os transtornos mentais mais recorrentes dentro do período estudado.
As informações referentes às concessões por CNAE estão dispostas, no site, em
planilhas mensais, computando um total de 60 arquivos. Para facilitar a identificação das
atividades que mais concederam benefícios por transtornos mentais, foram, primeiramente,
extraídos para outro arquivo os dados que se alocavam nas linhas correspondentes as colunas
do Capítulo V e do Total Geral, e também as atividades descritas em cada linha da coluna
seção. A partir dessa planilha maior, teve início o trabalho de identificação das atividades
econômicas em que as concessões por transtornos mentais mais recorrentes, para construção
de gráficos e tabelas que ilustrasse essa informação.
Foram calculados, também, os percentuais correspondentes aos benefícios por
transtornos mentais concedidos por cada atividade em relação ao número total de concessão
acidentário, independente do capítulo da CID. O mesmo foi realizado para as atividades que
menos concederam benefícios acidentários por transtornos mentais.
Faz-se importante ponderar que as informações ofertadas nas tabelas pelo MPS
dispõem de algumas limitações, e não proporciona identificar quais os agravos/tipos de
Transtornos Mentais Comportamentais que incidem em cada atividade econômica, tão pouco
permite caracterizar a população atingida, pois não há dados que descrevem sexo, idade, cor e
grau de instrução.
Para melhor visualização da caracterização dos benefícios acidentários concedidos,
foram desenvolvidos gráficos e tabelas. No que tange aos aspectos éticos, por se tratar de um
banco de dados público de livre acesso, o projeto dispensou submissão ao Comitê de Ética.
30
5. RESULTADOS
O capítulo XIX da CID.10, Lesões, Envenenamentos e Algumas Outras
Conseqüências de Causas Externas, foi o responsável por maior número de concessão de
benefícios em 2013, o que significou 62,84% do total geral. Em segundo lugar, esteve o
Capítulo XIII, Sintomas, Sinais e Achados Anormais de Exames Clínicos e de Laboratório,
Não Classificados em Outra Parte, representando 25,11% do total de 304.217 casos de
benefícios em 2013. E em terceiro lugar no ranking dos tipos de agravos que mais ocasionam
benefícios acidentários, ou seja, afastamento do trabalhador do seu ambiente de trabalho por
motivos advindos de sua atividade laboral no Brasil em 2013 está o Capítulo V
correspondente aos Transtornos Mentais e Comportamentais, com 4,17% conforme Tabela 1.
Tabela 1 - Contribuição percentual dos benefícios auxílios-doença acidentários de acordo com os capítulos da
CID-10 no Brasil, entre 2006 e 2013
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
% % % % % % % %
TOTAL 140.998 274.946 356.336 329.914 327.894 319.445 305.208 304.217
Cap.XIX 70,56 51,57 55,88 57,79 61,83 62,1 63,23 62,84
Cap.XIII 14,15 34,72 32,93 29,83 26,92 26,24 25,35 25,11
Cap.V 0,43 2,8 3,6 4,09 3,71 3,86 3,8 4,17
Cap.VI 1,3 2,72 2,61 2,34 2,14 2,11 2,07 2,15
Cap.XI 0,18 0,18 0,98 1,68 1,34 1,4 1,47 1,49
Cap.IX 0,16 0,93 1,17 1,36 1,08 1,07 0,95 0,97
Ignorado 11,79 4,4 0,13 0,19 0,25 0,37 0,42 0,59
Cap.I 0,05 0,68 0,64 0,58 0,55 0,51 0,46 0,45
Cap.X 0,17 0,57 0,58 0,59 0,51 0,45 0,41 0,42
Cap.VII 0,6 0,54 0,49 0,5 0,51 0,49 0,44 0,41
Cap.XII 0,29 0,33 0,39 0,46 0,42 0,45 0,43 0,41
Cap.XX 0 0 0 0 0,1 0,22 0,27 0,29
Cap.II 0,02 0,23 0,25 0,23 0,2 0,2 0,21 0,21
Cap.XXI 0,07 0,05 0,06 0,08 0,14 0,16 0,16 0,16
Cap.XVIII 0 0 0 0 0,05 0,11 0,13 0,12
Cap.XIV 0,07 0,1 0,1 0,1 0,09 0,08 0,07 0,07
Cap.IV 0,01 0,01 0,04 0,06 0,04 0,06 0,05 0,05
Cap.VIII 0,12 0,12 0,09 0,08 0,07 0,06 0,05 0,04
Cap.III 0,01 0,03 0,04 0,03 0,02 0,02 0,02 0,02
Cap.XV 0,01 0,01 0,02 0,02 0,03 0,02 0,02 0,02
Cap.XVI 0 0 0 0 0 0,01 0,01 0,01
Cap.XVII 0 0 0 0 0 0,01 0 0
31
Capítulos: I: Algumas doenças infecciosas e parasitárias; II: Neoplasias [Tumores]; III: Doenças do sangue e dos órgãos
hematopoéticos e alguns transtornos imunitários; IV: Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas; V: Transtornos mentais
e comportamentais; VI: Doenças do sistema nervoso; VII: Doenças do olho e anexos; VIII: Doenças do ouvido e da apófise
mastóide; IX: Doenças do aparelho circulatório; X: Doenças do aparelho respiratório; XI: Doenças do aparelho digestivo;
XII: Doenças da pele e do tecido celular subcutâneo; XIII: Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo; XIV:
Doenças do aparelho geniturinário; XV: Gravidez, parto e puerpério; XVI: Algumas afecções originadas no período
perinatal; XVII: Malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas; XVIII: Sintomas, sinais e achados
anormais de exames clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte; XIX: Lesões, envenenamentos e algumas
outras conseqüências de causas externas; XX: Causas externas de morbidade e de mortalidade; XXI: Fatores que influenciam
o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde.
Fonte: Ministério da Previdência Social
Em 2006, os Transtornos Mentais Comportamentais ocupavam a quarta posição, se
descartado os Ignorados, dentre as doenças que mais concediam benefícios auxílios-doença
acidentários de acordo com os Capítulos da CID-10. Entretanto, a partir de 2007 passa a
ocupar a terceira posição, atrás somente daquelas pertencentes ao capítulo XIX que
correspondem às Lesões, Envenenamento e Algumas outras Conseqüências de Causas
Externas e aquelas pertencentes ao Capítulo XIII que correspondem às Doenças do Sistema
Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo. A partir de 2007, esses dois últimos grupos
apresentam comportamentos distintos, com gradual diminuição da contribuição das doenças
pertencentes ao capítulo XIII e aumento das doenças pertencentes ao capítulo XIX (Gráfico
1).
Gráfico 1 - Comportamento dos Capítulos da CID. 10 que proporcionalmente mais concederam benefícios acidentários entre os anos de 2006 e 2013 no Brasil
05101520253035404550556065707580859095100
0
60.000
120.000
180.000
240.000
300.000
360.000
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Total de Benefícios Concedidos % Correspondente ao Cap. XIX % Correspondente ao Cap. XIII
% Correspondente ao Cap. V % Correspondente ao Cap. VI % Correspondente ao Ignorado
32
Fonte: Ministério da Previdência Social
Os benefícios auxílios-doença acidentários concedidos por TCM no ano de 2006,
representavam 0,4% do total da concessão. Em 2013, esse percentual foi de 4,2%, ou seja,
houve um aumento de cerca de 10 vezes no número de benefícios acidentários concedidos por
esse grupo de doenças no período (Gráfico 2 e 3).
Gráfico 2 - Distribuição do número de benefícios auxílios-doença acidentários totais e contribuição percentual dos transtornos mentais e comportamentais para esse total no Brasil entre 2006 e 2013 de acordo com a CID-10
Fonte: Ministério da Previdência Social Fonte: Ministério da Previdência Social
Gráfico 3 - Percentual de benefícios acidentários por Transtornos Mentais Comportamentais concedidos em relação ao total de benefícios acidentários concedidos pelo Ministério da Previdência no Brasil entre os anos de 2009 a 2013
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Todos os benefícios 140.998 274.946 356.336 329.914 327.894 319.445 305.208 304.217
Benefícios referentes aos transtornos mentais e comportamentais
612 7.690 12.818 13.478 12.150 12.337 11.597 12.688
Ignorados 16.617 12.093 454 642 815 1.185 1.272 1.800
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
350.000
400.000
número de benefícios au
xílio
s‐doenças acidentários
de acordo com a CID‐10
33
Fonte: Ministério da Previdência Social
Quando consideradas somente as doenças pertencentes ao capítulo V da CID-10, nota-
se que o agrupamento Transtornos Neuróticos, Transtornos Relacionados com o stress
Transtornos Somatoformes e os Transtornos do Humor (afetivos) foram os responsáveis pela
maior parte dos benefícios concedidos por esse grupo de doença em todos os anos analisados.
Por outro lado, percebe-se, também, diminuição dos benefícios concedidos por Transtornos
do Humor (afetivos) ao passo que houve aumento dos benefícios concedidos por “Transtornos
Neuróticos, Transtornos Relacionados com o “Stress” e “Transtornos Somatoformes na maior
parte do período analisado (Gráfico 4).
No ano de 2007, os benefícios referentes aos Transtornos do Humor representavam
cerca de 51% dos benefícios por Transtornos Mentais Comportamentais e em 2013 decresceu
para 42%, ou seja, houve uma diminuição de cerca de 9% no período analisado. Os benefícios
concedidos ao agrupamento dos Transtornos Neuróticos, Transtornos Relacionados com o
stress Transtornos Somatoformes aumentaram cerca de 11% (41% em 2007 para 52% em
2013).
0,4%2,8% 3,6% 4,1% 3,1% 3,9% 3,8% 4,2%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
0
30000
60000
90000
120000
150000
180000
210000
240000
270000
300000
330000
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Benefícios Concedidos
Total de Benefícios Concedidos por TMC
Percentual de Benefício Concedidos por TMC
34
Gráfico 4 - Contribuição em percentual de cada grupo de transtornos para o total de transtornos mentais e comportamentais no Brasil entre 2006 e 2013
Fonte: Ministério da Previdência Social
Independente do CID as cinco atividades econômicas que apresentam maior número
de concessão foram, em ordem decrescente, Indústria de Transformação; Organismos
Internacionais e outras Instituições Extraterritoriais; Comércio, Reparação de Veículos
Automotores e Motocicletas; Transporte, Armazenagem e Correio; Administração Pública,
Defesa e Seguridade Social, relacionadas na Tabela 2.
Tabela 2 - Atividades econômicas, conforme classificação CNAE 2.0, que mais concederam benefícios acidentários independente de CID.10 e sua representação percentual em relação ao número de benefícios totais concedidos no Brasil em cada ano estudado, 2009 a 2013
2009 2010 2011 2012 2013
Atividade econômica – Seção CNAE 2.0 Total % Total % Total % Total % Total %
Indústrias de transformação
24200 7,3 20973 6,4 20620 6,5 19368 6,3 19886 6,5
Organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais
44128 13,4 4 0,0 3 0,0 2 0,0 6 0,0
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas
8848 2,7 9311 2,8 8815 2,8 7752 2,5 8413 2,8
Transporte, armazenagem e correio
6648 2,0 7275 2,2 7122 2,2 6603 2,2 6584 2,2
Administração pública, defesa e seguridade social
6062 1,8 5783 1,7 5405 1,7 4875 1,6 5516
1,8
Fonte: Ministério da Previdência Social
0
10
20
30
40
50
60
70
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substância psicoativa
Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes
Transtornos do humor [afetivos]
Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o “stress” e transtornos somatoformes
Outros transtornos
35
No computo total, independente da classificação de agravos por CID.10, a atividade
que mais concedeu benefícios acidentários no período estudado foi a correspondente a
Indústrias de Transformação. Segundo a Comissão Nacional de Classificação (CONCLA),
esta seção corresponde às atividades que desempenham transformações físicas, químicas e
biológicas em materiais para obterem um novo produto, como por exemplo, a fábricas de
matérias de limpeza, de produtos alimentícios, derivados do petróleo, entre outros (BRASIL,
2007).
Quando observado as concessões, em número absolutos, do Capítulo V do CID.10,
Transtornos Mentais e Comportamentais, a atividade econômica que mais concedeu
benefícios acidentários entre 2009 a 2013 por Transtornos Mentais Comportamentais foi a
Administração Pública, Defesa e Seguridade social, chegando a 2080 concessões em 2013.
Em segundo lugar está a seção Transporte, Armazenagem e Correio, seguido das Atividades
Financeiras, de Seguro e Serviços. Em quarto lugar a Saúde Humana e Serviços Sociais e por
fim a seção correspondente a Indústrias de Transformação (Tabela 3).
Tabela 3 - Atividades econômicas, conforme classificação CNAE 2.0, que mais concederam benefícios acidentários por Transtornos Mentais Comportamentais e seu percentual correspondente no Brasil em cada ano estudado, 2009 a 2013
2009 2010 2011 2012 2013
Atividade Econômica – Seção CNAE 2.0 TMC % TMC % TMC % TMC % TMC %
Administração Pública, Defesa e Seg. Social 1896 31 1938 34 1803 33 1738 36 2080 38
Transporte, Armazenagem e Correio 1521 30 1.688 23 1791 25 1661 25 1711 26
Atividades Financeiras, de Seguro e Serv. Rel. 833 30 851 29 1030 34 1109 34 1417 40
Saúde Humana e Serviços Sociais 917 22 1090 24 1161 24 1030 24 1039 24
Indústria de Transformação 1185 5 861 4 817 4 755 4 673 3
Fonte: Ministério da Previdência Social
Quanto às atividades econômicas que apresentaram menores números (absoluto) de
concessão de benefícios por Transtornos Mentais e Comportamentais estão os Serviços
Domésticos com nenhuma concessão dentro do período analisado; Artes, Cultura, Esporte e
Recreação com 15, Atividades Imobiliárias com 16 concessões, a Agricultura, Pecuária,
Produção Florestal, Pesca e Aquicultura apresentando 37 casos e Eletricidade e Gás com 41
concessões de benefícios acidentários por Transtornos Mentais (Tabela 4).
36
Tabela 4 – Total de Benefícios Acidentários Concedidos pelas Atividades Econômicas que Menos Registraram Concessão por Transtornos Mentais Comportamentais no Brasil entre o período de 2009 e 2013
Atividade Econômica – Seção CNAE 2.0 Total de
Benefícios Benefícios
TMC %
Serviços domésticos 10 0 0,0
Atividades imobiliárias 368 16 4,3
Artes, cultura, esporte e recreação 783 15 1,9
Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura 2156 37 1,7
Eletricidade e gás 448 41 9,2
Fonte: Ministério da Previdência Social
Os Serviços Domésticos não apresentou concessões por Transtornos Mentais
Comportamentais no decorrer dos cinco anos analisados. Quanto as Atividades Imobiliárias,
em 2013 3,9% de suas concessões foram por transtornos mentais.
Para as Atividades Artes, Cultura, Esporte e Recreação o percentual de benefícios
concedidos por Transtornos Mentais Comportamentais cresceu até 2011, chegando a 3,4% do
total, e começou a cair a partir de 2012, chegando a 0,7% em 2013 (Gráfico 5).
A Agricultura, Pecuária, Produção Florestal, Pesca e Aquicultura de todos os seus
benefícios acidentários concedidos entre 2009 e 2013, 1,7% foi referente a Transtornos
Mentais Comportamentais (Tabela 4). Eletricidade e Gás apresentou tendência ao aumento de
concessões de benefícios acidentários por Transtornos Mentais e Comportamentais desde
2011, chegando a 12,2% em 2013. No entanto, é importante ponderar que essa categoria foi
classificada, por esse estudo, como uma das que menos concedeu benefícios acidentários por
transtornos mentais, tendo em vista os números absolutos de concessão, e não o percentual
proporcional.
Gráfico 5 - Percentual aproximado dos benefícios acidentários concedidos por Transtornos Mentais Comportamentais por atividade econômica no Brasil entre os anos de 2009 e 2013
37
Fonte: Ministério da Previdência Social
A Tabela 5 caracteriza todas as atividades econômicas, apresentando o total geral de
concessões acidentárias para cada atividade, independente de do Capítulo da CID, o de
concessões de cada atividade por Transtornos Mentais, o percentual equivalente das
concessões por Transtornos Mentais em relação ao total de benefícios acidentários concedido
no ano determinado, e o percentual de Transtornos Mentais correspondentes a concessão geral
de cada atividade econômica.
Tabela 5 - Benefícios acidentários concedidos por atividade econômica (TT), e o percentual correspondente às concessões por Transtornos Mentais Comportamentais em relação ao total geral por ano e ao total de cada atividade econômica no Brasil entre os anos de 2009 e 2013.
2009 2010 2011 2012 2013
Setor Econômico – CNAE 2.0 TT TMC TT TMC TT TMC TT TMC TT TMC
Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aqüicultura 603 10 476 7 456 11 318 5 303 4
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,003 1,7 0,002 1,5 0,003 2,4 0,002 1,6 0,001 1,3
Indústrias extrativas 177 18 119 13,4 168 13 156 23 138 12
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,005 10,2 0,004 13,4 0,004 7,7 0,008 14,7 0,004 8,7
Indústrias de transformação 24200 1185 20973 861 20620 817 19368 755 19886 673
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,359 4,9 0,263 4,1 0,256 4 0,247 3,9 0,221 3,4
Eletricidade e gás 98 8 86 6 102 7 72 9 90 11
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,002 8,2 0,002 7 0,002 6,9 0,003 12,5 0,004 12,2
Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos 1215 106 1294 99 1263 108 1204 98 1142 101
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,032 8,7 0,030 7,7 0,034 8,6 0,032 8,1 0,033 8,8
0,0
3,0
6,0
9,0
12,0
15,0
2009 2010 2011 2012 2013
% SERVIÇOS DOMÉSTICOS
% ATIVIDADES IMOBILIÁRIAS
% ARTES, CULTURA, ESPORTE E RECREAÇÃO
% AGRICULTURA, PECUÁRIA, PRODUÇÃO FLORESTAL, PESCA E AQÜICULTURA
% ELETRICIDADE E GÁS
38
Construção 3897 105 3821 106 4304 111 5621 142 5179 126
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,032 2,7 0,032 2,8 0,035 2,6 0,047 2,5 0,041 2,4
Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 8848 932 9311 947 8815 941 7752 646 8413 782
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,282 10,5 0,289 10,2 0,295 10,7 0,212 8,3 0,257 9,3
Transporte, armazenagem e correio 6648 1521 7275 1688 7122 1791 6603 1661 6584 1711
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,461 22,9 0,515 23,2 0,561 25,1 0,544 25,2 0,562 26
Alojamento e alimentação 1896 89 1961 90 1879 94 1742 56 1751 78
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,027 4,7 0,027 4,6 0,029 5 0,018 3,2 0,026 4,5
Informação e comunicação 587 155 649 181 620 198 624 191 565 183
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,047 26,4 0,055 27,9 0,062 31,9 0,063 30,6 0,060 32,4
Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 2811 833 2915 851 3022 1030 3246 1109 3533 1417
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,252 29,6 0,260 29,2 0,322 34,1 0,363 34,2 0,466 40,1
Atividades imobiliárias 88 5 56 1 70 5 78 2 76 3
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,002 5,7 0,000 1,8 0,002 7,1 0,001 2,6 0,001 3,9
Atividades profissionais, científicas e técnicas 391 31 312 19 326 20 342 21 289 28
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,009 7,9 0,006 6,1 0,006 6,1 0,007 6,1 0,009 9,7
Atividades administrativas e serviços complementares 4692 646 5084 704 5134 666 4657 592 4583 593
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,196 13,8 0,215 13,8 0,208 13,0 0,194 12,7 0,195 12,9
Administração pública, defesa e seguridade social 6062 1869 5783 1938 5405 1803 4875 1738 5516 2080
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,567 31,3 0,591 33,5 0,564 33,4 0,569 35,7 0,684 37,7
Educação 571 66 493 57 490 49 380 41 404 41
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,020 11,6 0,017 11,6 0,015 10,0 0,013 10,8 0,013 10,1
Saúde humana e serviços sociais 4105 917 4608 1090 4806 1161 4355 1030 4318 1039
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,278 22,3 0,332 23,7 0,363 24,2 0,337 23,7 0,342 24,1
Artes, cultura, esporte e recreação 183 2 171 4 147 5 144 3 138 1
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,001 1,1 0,001 2,3 0,002 3,4 0,001 2,1 0,000 0,7
Outras atividades de serviços 1724 157 1572 104 1520 107 1350 115 1358 124
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,048 9,1 0,032 6,6 0,033 7,0 0,038 8,5 0,041 9,1
Serviços domésticos 6 0 0 0 1 0 1 0 2 0
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,000 0,0 0,000 0,0 0 0,0 0 0 0 0
Organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais 44128 600 4 0 3 0 2 0 6 0
% de TMC pelo TT geral anual e TT por atividade 0,182 1,4 0,000 0,0 0,0 0,0 0 0 0 0
TT - Total de Benefícios Concedidos. TMC – Transtornos Mentais e Comportamentais. % de TMC pelo TT geral anual - Percentual correspondente aos benefícios concedidos por transtornos mentais em relação ao total de benefícios acidentários concedidos naquele ano. % de TMC TT por atividade – Percentual de benefícios concedidos por transtornos mentais e comportamentais em relação ao total de benefícios acidentários concedidos por cada tipo de atividade econômica. Fonte: Ministério da Previdência Social
39
6. DISCUSSÃO
Os resultados dessa pesquisa demonstram que os transtornos mentais, a partir de 2007,
se tornam a terceira maior causa de concessão de benefícios acidentários no Brasil. Essa
informação ratifica os achados de Pignati et al. (2013) e Silva-Junior e Fischer (2014).
Do período de 2006 a 2013, houve aumento de cerca de 10 vezes no número de
benefícios acidentários concedidos por Transtornos Mentais e Comportamentais (0,4% do
total de benefícios concedidos em 2006 e 4,2% em 2013).
Atribuí-se como um dos motivos causadores do aumento desses registros de benefícios
acidentários a partir de 2007 a criação do NTEP em 2006, que contribuiu como facilitador da
identificação dos agravos relacionados ao trabalho por parte dos peritos do Instituto Nacional
do Seguro Social.
A despeito desse novo mecanismo institucional da previdência que permitiu maior
visualização do quadro de afastamentos do trabalho por transtornos mentais no Brasil, as
próprias condições e organizações de trabalho estão na origem dos processos geradores de
sofrimento para a classe trabalhadora (LEÃO, 2014). Por isso, o aumento dessas informações
deveria levar as empresas a compreender essa realidade que deve ser modificada, até mesmo
para fins de minimização de custos (SILVA-JUNIOR et al., 2012). Esses dados reafirmam a
necessidade urgente de novas ações de promoção e prevenção à saúde mental dos
trabalhadores no Brasil a exemplo do que vem sendo feito por meio dos acordos sociais e
diretrizes políticas e institucionais na União Européia (LEÃO E MINAYO-GOMEZ, 2014).
Essa responsabilidade toca também ao Estado Brasileiro, no âmbito da saúde, trabalho
e previdência, em função da garantia de melhores condições de vida para a população. Além
de melhorar os registros de adoecimento e concessão de benefícios, conforme demonstrou o
NTEP, cabe ao Estado desenvolver diretrizes para controlar os fatores determinantes dos
processos de adoecimento dos trabalhadores.
Se os problemas de saúde mental já ocupam a terceira maior causa de concessão de benefícios no Brasil, além de contabilizá-los, conviria desenvolver investigações sobre os setores, ocupações e categorias com maior incidência. Afinal, essas informações sobre afastamentos do trabalho por problemas mentais e as próprias notificações de transtornos relacionados ao trabalho poderiam subsidiar a eleição de prioridades e levar a negociações com setores econômicos onde o problema é mais evidente (LEÃO, 2014, p. 148).
E quais transtornos mentais têm sido registrados nas concessões de benefícios
acidentários? A pesquisa demonstrou que os benefícios concedidos por Transtornos
40
neuróticos, Transtornos Relacionados com o “stress”, Transtornos Somatoformes e
Transtornos do Humor (afetivos) representavam 87% dos benefícios totais concedidos por
transtornos mentais e comportamentais entre 2006 e 94,2% em 2013.
Entre os Transtornos do Humor está a depressão. Esse tipo de sofrimento é
considerado como um dos principais causadores de afastamento do trabalho, por promover a
incapacitação dos indivíduos de executarem suas tarefas, bem como impedi-los de se
relacionar, visto ser causador de introspecção e isolamento (TAVARES, 2010).
Segundo o Primeiro Relatório Global do Suicídio, estima-se que os riscos de
indivíduos com Transtornos do Humor cometerem atos contra a própria vida é de 4%, entre os
com desordem bipolar 8%, com esquizofrenia 5%, e quando combinados os transtornos
mentais, potencializa-se os riscos (OMS, 2014).
Os Transtornos Neuróticos, Transtornos Relacionados com o stress, Transtornos
Somatoformes, assim como aponta Silva-Junior e Fischer (2014) assumiu a partir de 2011 a
colocação de maior freqüência das concessões de benefícios por transtornos mentais e
comportamentais.
As reações ao stress podem estar relacionadas às profissões em que o trabalhador se
expõe a atos de agressão por terceiros. Para Silva-Junior et al. (2012), violências físicas,
verbais e simbólicas.
De acordo com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas, no período de
janeiro de 2009 a dezembro de 2013, as atividades econômicas que mais concederam
benefícios acidentários relacionados a transtornos mentais e comportamentais foram:
Administração Pública, Defesa e Seguridade Social; Transporte, Armazenagem e Correio;
Atividades Financeiras, de Seguros e Serviços Relacionados; Saúde Humana e Serviços
Sociais; e Indústria da Transformação.
Esses resultados evidenciam o aumento dos afastamentos por transtornos mentais nos
últimos anos, principalmente no setor de serviços, em detrimento da indústria e do setor
primário. Esse crescimento pode estar relacionado às especificidades do setor de serviços e
pelo grande contingente de trabalhadores que abarca que chega a 3/4 da população
economicamente ativa do Brasil.
A natureza do setor serviço exige mais dos atributos subjetivos dos trabalhadores do
que de seus esforços físicos, ao contrário do ocorre no setor industrial. Essas informações
oferecem importantes elementos para o planejamento da vigilância em saúde do trabalhador,
indicando prioridades para a intervenção no âmbito da saúde mental.
41
Entretanto, cabe ressaltar a importância de compreender os porquês de tais realidades.
Algumas situações são passíveis de questionamento, como os motivos que tencionam a
Administração Pública a ser responsável pelo maior número de concessões por Transtornos
Mentais e Comportamentais no decorrer do período analisado; ou quais os fatores estressantes
que implicam nas atividades desempenhadas pelos trabalhadores do setor de Transporte,
Armazenagem e Correio.
A atividade classificada como Administração Pública, Defesa e Seguridade Social diz
respeito a uma classe trabalhadora que compõe as atividades essencialmente não-mercantis,
abrangendo a administração dos poderes de todas as esferas de governo, além das relações
exteriores (BRASIL, 2007).
Pautado no entendimento de que, em regra, essas atividades são desempenhadas por
pessoas que possuem estabilidade do vínculo empregatício, por aprovação em concurso
público, algumas dúvidas podem ser suscitadas.
Primeiro, quais as fontes de sofrimento existentes no desenvolvimento das funções
desses trabalhadores? Esse tipo de atividade econômica concede mais benefícios porque
emprega mais (formalmente)? Esses trabalhadores possuem maior facilidade ao acesso a
serviços de saúde? Ou finalmente, esse ramo de atividade concede mais por não haver
fragilidades no vínculo empregatício, o que permite maior segurança para o trabalhador
buscar sanar seus problemas de saúde e se afastar do trabalho?
Foi realizada pesquisa em Alagoas para descrever o perfil do servidor público que se
afastou de seu trabalho por transtornos mentais e comportamentais no ano de 2009. Foi
identificado que dos 8.249 casos de afastamento do trabalho 20% fora concedido por
Transtornos Mentais. Devido às limitações da pesquisa não se consegue identificar se os
benefícios concedidos foram caracterizados como acidentários (SILVA et al., 2012).
No que tange as informações sobre os benefícios a servidores da administração
pública, é importante dizer que mesmo havendo para cada ente federativo um Regime Próprio
de Previdência Social (RPPS) é determinado em Lei à obrigação que o RPPS tem em prestar
informações ao MPS dentro de prazos pré-estipulados (BRASIL, s/d.)
Quanto à Atividade de Transporte, Armazenagem e Correio os números apresentam
características parecidas com a da Administração Pública, mantendo constância na quantidade
de concessões no decorrer dos cinco anos estudados. Cerca de 24,45% das concessões
acidentárias da atividade foi por transtornos mentais.
Estudos, como o realizado em Belo Horizonte - MG no ano de 2012 identificam a
ocorrência de Transtornos Mentais Comuns nos trabalhadores de transporte coletivo. De uma
42
amostra de 1607 trabalhadores, 23,6% apresentava transtornos mentais comuns (Assunção e
Silva, 2012). Em pesquisa realizada com 258 motoristas profissionais de transporte de cargas
na BR 116, trecho Paulista-Regis Bittencourt, teve como resultado que 33% dos entrevistados
eram portadores de algum Transtorno Mental Comum (CAVAGIONI et al., 2009).
As atividades de trabalho referentes ao Transporte Brasileiro ainda carecem de
maiores interesses pelos pesquisadores, no entanto, a vigilância consegue, com as publicações
existentes, se munir de estudos científicos para dar encaminhamentos às ações que visam
estabelecer melhores condições de saúde para esses trabalhadores.
É importante perceber que quando somadas as atividades descritas como a
Administração Pública, Defesa e Seguridade Social; Transporte, Armazenagem e Correio;
com as Atividades Financeiras, de Seguros e Serviços Relacionados; mais a Saúde Humana e
Serviços Sociais, elas respondem por 50% do número de benefícios auxílios-doença
acidentários relacionados aos Transtornos Mentais e Comportamentais concedidos pelo MPS
nos anos estudados.
A CONCLA classifica como Atividades Financeiras as unidades de trabalho que
envolve criação, liquidação e troca de propriedade de ativos, além daquelas relacionadas a
seguro, plano de saúde, previdência complementar, o Banco Central e outras (BRASIL,
2015). Essa categoria ficou entre as cinco que mais concederam benefícios acidentários por
transtornos mentais, e diz respeito a uma população que trabalha sob constantes fatores de
stress, como o ritmo acelerado, múltiplas funções, alcance de metas (ANUNCIAÇÃO, 2013).
Poucas pesquisas dão conta da abordagem dos transtornos mentais relacionado ao
trabalho em atividades financeiras. Muito se relata em websites sobre a questão, no entanto
não se produz academicamente.
O surgimento de sofrimentos psíquicos no trabalhador é conseqüência de pressões
existentes na execução da atividade laboral. Independente do setor atividade, os resultados das
tensões, dos assédios morais, das buscas por metas, são manifestações de sofrimento, as quais
se expressam através da ansiedade, da tristeza, da raiva e do medo, cabendo, na maioria das
vezes, apenas ao trabalhador desenvolver mecanismos de enfrentamento desses sofrimentos,
através de reações que contenha o cinismo, a dissimulação a hiperatividade e outros (COSTA
e MEDEIROS, 2013).
Do conjunto de atividades aqui estabelecidas, a Saúde Humana pode ser compreendida
como a que mais exige do trabalhador, uma relação de interação com o cliente. Essa interação
como descreve Giddens (2005), requer do trabalhador um esforço emocional, pautado na
exigência de controlar seus sentimentos. Minayo-Gomez e Pena (2010) também relatam sobre
43
a descaracterização do sujeito ao necessitar ter constante domínio de suas emoções, podendo
ser fator preponderante de estabelecimento de desequilíbrios emocionais.
A rotina de convivência com a dor, a angústia e o sofrimento do outro, somados a
necessidade de silenciar os seus conflitos, condiciona esses trabalhadores ao sentimento de
esgotamento, a aproximação com o desequilíbrio psíquico (SOUZA, 2013). Estudos como o
realizado no Rio de Janeiro – RJ em hospital de grande porte com amostra de 1182 da
assistência farmacêutica inferiu que a prevalência de transtornos mentais comuns foi de
23,6% (SILVA et al., 2008).
Em outra pesquisa, realizada em São Paulo – SP com agentes comunitárias de saúde,
os resultados são mais impactantes. Das 141 trabalhadoras entrevistadas, 43,3% apresentavam
sintomas de transtornos mentais comuns (SILVA e MENEZES, 2008). Deflagrando, deste
modo, a urgência da necessidade de intervir no ambiente trabalho, em prol do bem-estar do
trabalhador (SILVA et al., 2008).
No quinquênio estudado, a Indústria de Transformação foi a atividade responsável
pelo maior número de concessão de benefícios independente do tipo de agravo, 105.047,
correspondente a 6,62%. No entanto, foi a quinta atividade econômica que mais concedeu
benefícios por Transtornos Mentais e Comportamentais, uma média de 4,6% das concessões
dos cinco anos. A busca por pesquisas que deflagrem essa situação, contudo, não resulta em
bons achados.A essa atividade é dado maior enfoque para as doenças osteomusculares
originadas no trabalho, porém potencialmente o número de estudos que promovam essa
discussão é pequeno.
Quanto às atividades econômicas que menos concederam benefícios nos cinco anos
estudados, uma em especial requer um pouco mais de atenção; - Agricultura, Pecuária,
Produção Florestal, Pesca e Aquicultura.
A inquietude diz respeito aos baixos números apresentados, pois a literatura em saúde
do trabalhador apresenta estudos que demonstram transtornos mentais e trabalho no mundo
rural. Mesmo que a produção de conhecimento sobre os aspectos psicossociais dos
trabalhadores rurais seja escassa, a literatura em saúde do trabalhador aponta a presença de
distúrbios do sono, ansiedade, depressão e outros distúrbios mentais e do comportamento
originados por exposição a substâncias químicas, como os agrotóxicos, além de suicídios de
trabalhadores (LEÃO, 2014).
Recentemente, por exemplo, foi divulgada pelo jornal da Universidade de Campina
(UNICAMP) uma tese em que se avalia a qualidade de vida e os transtornos mentais comuns
nos residentes de áreas rurais de Itibaia-SP, onde foi identificada que a prevalência de
44
Transtornos Mentais Comportamentais entre os trabalhadores estudados é de 23,4%. (ORSI,
2014).
Em pesquisa realizada com os agricultores da Serra Gaúcha, também foi detectado a
relação do uso do agrotóxico com a manifestação de Transtornos Mentais Comportamentais,
na qual foi identificada alta prevalência de transtornos psiquiátricos menores - 38% dos 1282
trabalhadores estudados (FARIA et al., 1999).
No entanto, mesmo com pesquisas que discorrem sobre a estreita relação entre a saúde
mental e o agrotóxico, as concessões de benefícios aqui analisadas são irrisórias quando
comparadas com outras atividades. Nesse contexto, pergunta-se o que vem ocorrendo que
esse setor produtivo não apresenta registros de agravos relacionados a esses transtornos?
Esses trabalhadores da agricultura não estão vinculados ao trabalho formal e, por isso, não
existem tantos registros? Ou existem dificuldades para determinar os nexos causais entre
agravos à saúde mental e as condições do trabalho na agricultura, pecuária etc.?
Cabe ressaltar que frequentemente o trabalhador rural é exposto a múltiplos
agrotóxicos, o que resulta em quadros de sintomas combinados que se confundem com
doenças comuns, tornando os diagnósticos mais difíceis possibilitando tratamentos
equivocados (OPAS, 1997). Outra situação problemática é superficialidade do exame clínico,
o qual não leva em consideração a importância da investigação descritiva das atividades
desenvolvidas pelo trabalhador, tornando possível um sintoma de tremor por intoxicação ser
diagnosticado como Parkinson (ORSI, 2014).
Esses dados apontam para a necessidade da VISAT deslanchar processos de
investigação nos processos de trabalho na agricultura, pecuária, pesca e demais, para gerar
dados sobre a saúde mental do trabalhador rural. Da mesma forma, a quantidade de
concessões de benefícios no setor serviços deve levar as instâncias responsáveis pela
vigilância a desenvolver processos de intervenção nesses ramos produtivos.
Este estudo traz apontamentos capazes de direcionar um plano de ações programáticas
de trabalho, os quais se atentem em identificar, primeiramente, os ambientes prioritários para
receberem ações da vigilância, pautando ações na identificação nos fatores de riscos e nas
cargas de trabalho, desempenhando deste modo, atividades que elimine/atenue/controle os
determinantes dos agravos.
Além de direcionar a fiscalização do cumprimento de normas e legislações existentes,
o estudo contribui com a compreensão de que as ações da VISAT não podem ser periódicas e
sim entendidas como um objeto de pesquisa e investigação contínua, cabendo, portanto, ao
45
CEREST proporcionar apoio técnico para as atividades como à de educação continuada,
promoção de saúde e vigilância considerando as peculiaridades de cada região.
Ou seja, há a necessidade de eleição de prioridades pelos CEREST, uma vez que o MS
vem discutindo a Integração da saúde mental no âmbito da vigilância, temos aqui o indicativo
de por onde começar. Cada CEREST em sua região, mediante sua capacidade instalada, seu
recurso financeiro, pode construir um plano de ação com foco nesses setores, articulando os
atores responsáveis que possam somar forças para execução desse plano, como é o caso dos
sindicatos.
Outro ponto a ser ponderado, é quanto à população economicamente ativa que esse
estudo não alcança. Os números de benefícios concedidos, aqui descritos, limitam-se à parcela
da população que possui um vínculo formal de trabalho. Portanto, o contingente de
trabalhadores que sofre por transtornos mentais ocasionados pela sua atividade laboral pode
ser ainda muito maior, fato este que aumenta a preocupação quanto à qualidade da saúde dos
trabalhadores do país.
Além da preocupação com a saúde dos trabalhadores, causada pela recorrência de
casos de transtornos mentais e comportamentais diagnosticados nos últimos anos, está a
consequência desse fato, que é a redução da força produtiva, somada ao impacto financeiro
causado despesas da previdência com o aumento de benefícios concedidos (SILVA-JUNIOR
e FISCHER, 2014).
46
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse estudo se propôs, como objetivo geral, analisar as concessões de benefícios
acidentários por transtornos mentais no Brasil, de modo a conseguir identificar, por meio dos
dados fornecidos pelo Ministério da Previdência Social, a quantidade de benefícios
concedidos por tipo de agravo e relacionar as atividades econômicas concernentes à essas
concessões.
Para que esse trabalho não se limitasse apenas à descrição dessas informações, pois é
característica da formação do sanitarista articular diferentes setores, a fim de promover a
integralidade das ações em prol da preservação da saúde da população brasileira, foi
desenvolvida uma discussão pautada sob as perspectivas da Vigilância em Saúde do
Trabalhador, a fim de fomentar os debates que insere o campo da saúde mental nas ações da
vigilância.
Para isso, houve a necessidade de aprofundamento bibliográfico, a fim de
compreender as demandas atuais deste campo e como vem sendo introduzida as ações que
contemplem a Saúde Mental. Neste sentido, identificou-se o grande vazio literário referente a
esses temas. A ausência de estudos com tais abordagens denota a urgência de se voltar o olhar
para as ações da vigilância em prol da garantia dos direitos dos trabalhadores a ambientes que
favoreçam o condicionamento da saúde física e mental.
Deste modo, apontou-se à necessidade de se desprender atenção para ascensão da
ocorrência de Transtornos Neuróticos e a permanência dos elevados números de trabalhadores
com Transtornos do Humor. Pondera-se ainda, quanto ao setor em que se inserem as
atividades econômicas que mais registraram concessões de benefícios acidentários por
transtornos mentais, o setor terciário o qual possui como seu produto final a oferta de
serviços, vislumbrando deste modo, a relação entre os transtornos mentais e as interações
subjetivas do indivíduo.
Buscou-se também, reafirmar o entendimento da necessidade dos CERESTs ampliar
sua atuação, proporcionando real apoio técnico para que as ações da VISAT seja
implementadas, no intuito de conduzir a melhorias para o ambiente de trabalho, e por
consequência a saúde desse trabalhador.
Deste modo, o estudo cumpre seu objetivo, ao desempenhar contribuição acadêmica
do ponto de vista da saúde coletiva, ao sensibilizar e fomentar debates que relacione os
47
campos aqui descritos. Oportunizando, deste modo, a priorização da abordagem da saúde do
trabalhador como eixo fundamental nas organizações de serviços.
48
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55
ANEXOS
Quadro 2 - Modelo de agrupamentos dos agravos que compõe a CID. 10
Capítulo V – Transtornos Mentais e Comportamentais F00-F99
Agrupamentos Categorias Subcategorias
F00-F09
Transtornos
mentais
orgânicos,
inclusive os
sintomáticos
F00Demência na
doença de
Alzheimer
F00.0 Demência na doença de Alzheimer de início precoce
F00.1 Demência na doença de Alzheimer de início tardio
F00.2 Demência na doença de Alzheimer, forma atípica ou
mista
F00.9 Demência não especificada na doença de Alzheimer
F01Demência
vascular
F01.0 Demência vascular de início agudo
F01.1 Demência por infartos múltiplos
F01.2 Demência vascular subcortical
F01.3 Demência vascular mista, cortical e subcortical
F01.8 Outra demência vascular
F01.9 Demência vascular não especificada
F02 Demência em
outras doenças
classificadas em
outra parte
(...)
Fonte: http://www.datasus.gov.br/
56
Quadro 3 - Agrupamentos e Categorias do Capítulo V da CID.10
Agrupamentos e Categorias
F00-F09 Transtornos mentais orgânicos, inclusive os Sintomáticos F00 - Demência nadoença de Alzheimer F01 - Demência vascular F02 - Demência em outras doenças classificadas em outra parte F03 - Demência não especificada F04 - Síndrome amnésicaorgânica não induzida pelo álcool ou por outras substâncias psicoativas F05 - Deliriumnão induzido pelo álcool ou por outras substâncias psicoativas F06 - Outros transtornos mentais devidos a lesão e disfunção cerebral e a doença física F07 - Transtornos de personalidade e do comportamento devidos a doença, a lesão e a disfunção cerebral F09 - Transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado F10-F19 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substância Psicoativa F10 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool F11 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de opiáceos F12 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de canabinóides F13 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de sedativos e hipnóticos F14 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso da cocaína F15 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de outros estimulantes, inclusive a cafeína F16 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de alucinógenos F17 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de fumo F18 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de solventes voláteis F19 - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de múltiplas drogas e ao uso de outras substâncias psicoativas F20-F29 Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes F20 - Esquizofrenia F21 - Transtorno esquizotípico F22 - Transtornos delirantes persistentes F23 - Transtornos psicóticos agudos e transitórios F24 - Transtorno delirante induzido F25 - Transtornos esquizoafetivos F28 - Outros transtornos psicóticos não-orgânicos F29 - Psicose não-orgânica não especificada F30-F39 Transtornos do humor [afetivos] F30 - Episódio maníaco F31 - Transtorno afetivo bipolar F32 - Episódios depressivos F33 - Transtorno depressivo recorrente F34 - Transtornos de humor [afetivos] persistentes F38 - Outros transtornos do humor [afetivos] F39 - Transtorno do humor [afetivo] não especificado F40-F48 Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o “stress” e transtornos somatoformes F40 - Transtornos fóbico-ansiosos F41 - Outros transtornos ansiosos F42 - Transtorno obsessivo-compulsivo F43 - Reações ao “stress” grave e transtornos de adaptação F44 - Transtornos dissociativos(de conversão) F45 - Transtornos somatoformes F48 - Outros transtornos neuróticos F50-F59Síndromes comportamentais associadas a disfunções fisiológicas e a fatores físicos F50 - Transtornos da alimentação F51 - Transtornos não-orgânicos do sono devidos a fatores emocionais F52 - Disfunção sexual, não causada por transtorno ou doença orgânica F53 - Transtornos mentais e comportamentais associados ao puerpério, não classificados em outra parte F54 - Fatores psicológicos ou comportamentais associados a doença ou a transtornos classificados em outra parte
57
F55 - Abuso de substâncias que não produzem dependência F59 - Síndromes comportamentais associados a transtornos das funções fisiológicas e a fatores físicos, não especificadas F60-F69 Transtornos da personalidade e do comportamento do adulto F60 - Transtorno de personalidadeespecífico F61 - Misto e outrostranstornos de personalidade F62 - Modificações duradouras da personalidade não atribuível a danos cerebrais e enfermidades F63 - Transtornos dos hábitos e dos impulsos F64 - Transtorno de identidade de gênero F65 - Transtornos dapreferência sexual(parafilia) F66 - Transtornos psicológicos e comportamentais associados aodesenvolvimentoe à suaorientação sexual F68 - Outros transtornos da personalidade e docomportamentodo adulto F69 - Transtorno da personalidade e do comportamento do adulto, não especificado F70-F79 Retardo mental F70 - Retardo mental leve F71 - Retardo mental moderado F72 - Retardo mental grave F73 - Retardo mental profundo F78 - Outro retardo mental F79 - Retardo mental não especificado F80-F89 Transtornos do desenvolvimento psicológico F80 - Transtornos específicos do desenvolvimento da fala e da linguagem F81 - Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares F82 - Transtorno específico do desenvolvimento motor F83 - Transtornos específicos misto do desenvolvimento F84 - Transtornos globais do desenvolvimento F88 - Outros transtornos do desenvolvimento psicológico F89 - Transtorno do desenvolvimento psicológico não especificado F90-F98Transtornos do comportamento e transtornosemocionais que aparecem habitualmente durante a infância ou a adolescência F90 - Transtornos hipercinéticos F91 - Distúrbios de conduta F92 - Transtornos mistos de conduta e das emoções F93 - Transtornos emocionais com início especificamente na infância F94 - Transtornos do funcionamento social com início especificamente durante a infância ou a adolescência F95 - Tiques F98 - Outros transtornos comportamentais e emocionais com início habitualmente durante a infância ou a adolescência F99 Transtorno mental não especificado F99 Transtorno mental não especificado em outra parte Fonte: http://www.datasus.gov.br/
58
Quadro 4 - Classificação do CNAE 2.0 – Seções
Seção CNAE 2.0 A - Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aqüicultura B - Indústrias extrativas C - Indústrias de transformação D - Eletricidade e gás E - Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação F - Construção G - Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas H - Transporte, armazenagem e correio I - Alojamento e alimentação J - Informação e comunicação K - Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados L - Atividades imobiliárias M - Atividades profissionais, científicas e técnicas N - Atividades administrativas e serviços complementares O - Administração pública, defesa e seguridade social P – Educação Q - Saúde humana e serviços sociais R - Artes, cultura, esporte e recreação S - Outras atividades de serviços T - Serviços domésticos U - Organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais Fonte: Ministério da Previdência Social