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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ECONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL TULIO CESAR DA FONSECA TURIBIO ANÁLISE DA CONCESSÃO DE CRÉDITO RURAL VIA FCO RURAL AOS PRODUTORES NO ESTADO DE MATO GROSSO CUIABÁ 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ECONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS E

DESENVOLVIMENTO REGIONAL

TULIO CESAR DA FONSECA TURIBIO

ANÁLISE DA CONCESSÃO DE CRÉDITO RURAL VIA FCO RURAL

AOS PRODUTORES NO ESTADO DE MATO GROSSO

CUIABÁ

2010

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TULIO CESAR DA FONSECA TURIBIO

ANÁLISE DA CONCESSÃO DE CRÉDITO RURAL VIA FCO RURAL

AOS PRODUTORES NO ESTADO DE MATO GROSSO

Dissertação apresentada à Universidade Federal de

Mato Grosso, como requisito para obtenção do título

de Mestre em economia no Programa de Pós-

Graduação em Agronegócios e Desenvolvimento

Regional.

Orientador: Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo

CUIABÁ

2010

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FICHA CATALOGRÁFICA

T938a Turíbio, Tulio Cesar da Fonseca

Análise da concessão de crédito rural via FCO Rural aos produtores no

Estado de Mato Grosso / Tulio Cesar da Fonseca Turíbio. – 2010.

xiv, 67 f. : il. ; color. ; 30 cm.

Orientador: Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso,

Faculdade de Economia, Pós-graduação em Agrone-gócios e

Desenvolvimento Regional, 2010.

Bibliografia: f. 64-67.

1. Crédito rural – Mato Grosso. 2. Agronegócio – Mato Grosso –

Concessão de crédito. 3. Agropecuária – Mato Grosso – Concessão de

crédito. I. Título.

CDU – 336.77:338.43(817.2)

Ficha elaborada por: Rosângela Aparecida Vicente Söhn – CRB-1/931

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TULIO CESAR DA FONSECA TURIBIO

ANÁLISE DA CONCESSÃO DE CRÉDITO RURAL VIA FCO RURAL

AOS PRODUTORES NO ESTADO DE MATO GROSSO

Dissertação apresentada à Universidade Federal de

Mato Grosso, como requisito para obtenção do título

de Mestre em Economia no Programa de Pós-

graduação em Agronegócios e Desenvolvimento

Regional.

Aprovado em _______ de 2010,

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo - UFMT

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Erly Cardoso Teixeira - UFV

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Patrick Wöhrle Guimarães - UFMT

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Dedico este trabalho à minha Mãe,

Por ser um exemplo de luta e vitória nas dificuldades da vida.

Ao Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo,

pela paciência e formidáveis contribuições a minha formação.

e ao Grande Arquiteto do Universo,

por tudo!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar à minha mãe, Elizete Correa da Fonseca, pelo exemplo de amor

maternal, e o exemplo de luta contra dificuldades do nosso cotidiano.

Ao meu pai pelo exemplo e inspiração de como ser um profissional, um querido professor, e um pai

amigo.

Ao querido professor e orientador, Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo pela admirável

contribuição para realização deste trabalho.

Ao Dr. Benedito Dias Pereira, por ser um exemplo de que é possível vencer as dificuldades e ser um

profissional honrado que respeita as leis e costumes do nosso país.

Não poderia deixar de agradecer a todos os professores do Programa de Pós-graduação em

Agronegócios e Desenvolvimento Regional, mas precisamente ao Prof. Dr. José Manuel Carvalho

Marta, e à Profa. Dra. Sandra Cristina de Moura Bonjour, pelas importantes contribuições com esta

pesquisa, e, principalmente, pelas preciosas orientações para formação do caráter idôneo humano de

seus alunos.

Agradeço também a todos os colegas da 3ª turma do Mestrado em Agronegócios e

Desenvolvimento Regional da Universidade Federal de Mato Grosso, pelo aprendizado e convívio,

mas de maneira especial aos amigos Jayr Lemos (“Paizão”), Adriana Rodrigues (“Dri”), Rogério

(“Roger”), Carlos Magno (“sobrinho de Jaime”) e Graziela (“Grazi”).

Agradeço aos funcionários da Universidade Federal de Mato Grosso, em especial à querida Enildes

e a Ricardo Realino, pelo exemplo de trabalhar por uma luta, que em muitos momentos não tem o

devido respeito e reconhecimento.

Agradeço também ao Banco do Brasil pelo pronto atendimento na solicitação dos dados

quantitativos e qualitativos, os quais foram pilares para a execução deste trabalho.

Por fim, agradeço ao Pai Celestial por possibilitar os aprendizados e as virtudes que me

possibilitaram a evolução não só como pessoa, mas também como cidadão, como um lutador pelo

futuro digno do meu amado país.

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RESUMO

TURIBIO, Tulio Cesar da Fonseca. M.S. Universidade Federal de Mato Grosso, julho de 2010.

Análise da concessão de crédito rural via FCO rural aos produtores no estado de Mato Grosso.

Orientador: Prof. Dr. Adriano M.R. Figueiredo.

A agropecuária sempre teve um papel fundamental para o dinamismo da economia de Mato Grosso,

fazendo com que o Estado sempre se destacasse em nível nacional no agronegócio brasileiro. No

entanto, grande parte deste dinamismo econômico depende de financiamento de instituições

financeiras para a produção. Neste contexto, o programa de financiamento FCO Rural, o qual é um

programa que sempre teve grandes quantidades de recursos aplicados na agricultura mato-

grossense, teve a devolução de grandes volumes de recursos pela não utilização dos recursos ou

irregularidades nos projetos para financiamento de investimento no setor rural. O problema deste

trabalho foi examinar quais características do produtor rural que são mais importantes na concessão

de crédito para investimento via programa de financiamento FCO Rural? O objetivo geral foi

avaliar os fatores que interferem no valor financiado de crédito rural aos produtores via FCO Rural,

em Mato Grosso, no período de 1995 a 2009. Especificamente: examinar as características dos

contratos de FCO Rural; e investigar as relações destas características dos contratos com o valor

financiado de crédito rural. Para este exame, utilizou-se uma amostra de contratos vinculados a este

programa de crédito rural para investimento no período de 1995 a 2009 no estado de Mato Grosso.

Também, foram utilizados a transformações de Box-Cox e o modelo de estimação por máxima

verossimilhança com 2.665 observações. Foi observado que as características dos grandes

produtores facilitam a conquista de maior volume de recursos via FCO Rural. Também foi

visualizado que as características „renda bruta real‟, „prazo para carência‟, „taxa de juros‟, „recursos

próprios‟ e „área de produção‟ são proporcionais ao valor financiado. As variáveis „idade‟, „número

de parcelas‟ e „tempo de clientela‟ são inversamente proporcionais ao „valor financiado‟. No

entanto, foi observado um comportamento diferenciado, em relação ao exposto na teoria, das

variáveis „tempo de clientela‟ e „prazo de carência‟ na explicação do volume financiado. Se há

distorções na atuação de alguma das variáveis na avaliação da margem de empréstimo a ser

concedido ao produtor, este acontecimento evidencia a possibilidade da ação de entraves ou

barreiras institucionais no mercado de crédito rural no Estado. Consequentemente, se existem

procedimentos que dificultam o planejamento ou a execução institucional destaca-se a necessidade

de maior inserção das organizações bancárias, bem como as organizações representantes dos

produtores rurais, para a elaboração de melhores instituições e melhores resultados na agropecuária

no Estado de Mato Grosso.

Palavras-chaves: Crédito rural, FCO, Mato Grosso

Classificação JEL: Q18, O13, C21

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ABSTRACT

TURIBIO, Tulio Cesar da Fonseca. M.S. Federal University of Mato Grosso, July, 2010. Analysis of

rural credit lending through the FCO Rural to producers of the State of Mato Grosso. Advisor: Prof.

Dr. Adriano M.R. Figueiredo.

Agriculture has always played a key role in the State of Mato Grosso‟s economic dynamism. The

State always stands out at national level in the Brazilian agribusiness. However, much of this

economic dynamism depends on funding from market players. In this context, the „FCO Rural‟

credit program, which had always had large amounts of resources invested in Mato Grosso‟s

agriculture, returned a large amount of resources due to not using those resources or irregular

projects for investment funding in the rural sector. The question of this study was: which

characteristics of the farmers were more important for the granting of investment credit by the FCO

Rural program? The investigation used a sample of contracts linked to this program for the period

1995-2009 in Mato Grosso. Thus, the general aim was to assess the factors that affect the amount of

financed rural credit to rural producers via FCO in Mato Grosso, in the period 1995 to 2009.

Specifically, we looked for: an examination of the characteristics of the FCO Rural contracts; and

an investigation of the relationships of these contract characteristics and the amount of financed

rural credit. The econometric model used Box-Cox transformations and maximum likelihood

estimation with 2,665 observations. It was observed that the characteristics of the larger producers

facilitate the attainment of greater volume of resources through FCO Rural. It was also shown that

the characteristics „real gross income‟, „grace period‟, „interest rate‟, „own resources‟ and

„production area‟ are proportional to the amount financed. The variables „age‟, „number of

payments‟ and „client period‟ are inversely proportional to the amount financed. However it was

observed an improper performance of the variables „client period‟ and „grace period‟ in explaining

the financed volume. And if there are distortions in the performance of some of the key variables in

assessing the loan to be granted to the producer, this event highlights the possibility of institutional

barriers‟ action in the State‟s rural credit market. Consequently, if there are procedures which

obstruct the institutional planning or action, there is the need for greater integration of banking

organizations, as well as farmers‟ representation organizations, in order to design better institutions

and better results for the rural Mato Grosso.

Key-words: Rural credit, FCO, Mato Grosso

JEL Codes: Q18, O13, C21

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SUMÁRIO

Pág.

RESUMO ........................................................................................................................................... vii

ABSTRACT ...................................................................................................................................... viii

LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................................... xi

LISTA DE QUADROS ...................................................................................................................... xii

LISTA DE TABELA ........................................................................................................................ xiii

LISTA DE GRÁFICOS .................................................................................................................... xiv

LISTA DE DIAGRAMAS ................................................................................................................. xv

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 01

1.1. O problema e sua Importância ........................................................................................ 01

1.2. Objetivos e Hipóteses ...................................................................................................... 05

2. REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................................... 08

2.1. COMENTÁRIOS SOBRE A NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL ....................... 08

2.2. O CRÉDITO OFICIAL RURAL .................................................................................... 25

4. FONTE DE DADOS E MODELO ANALÍTICO ......................................................................... 38

4.1 Dados e Fonte ................................................................................................................................ 38

4.2. O modelo analítico ........................................................................................................................ 41

5. RESULTADO E DISCUSSÕES. .................................................................................................. 45

5.1 Exame Descritivo dos dados .......................................................................................................... 45

5.2 Discussões dos resultados .............................................................................................................. 55

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 61

7. REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 73

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LISTA DE FIGURAS Pág.

Figura 01 – Esquema de Níveis de Influência de Williamson........................................................ 14

Figura 02 – Filtros Institucionais no Crédito Rural......................................................................... 23

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LISTA DE QUADROS Pág.

Quadro 01 – Tipos de oportunismo................................................................................................ 12

Quadro 02 – Características das transações e as possibilidades de governanças............................ 20

Quadro 03 – Comportamento das características do produtor rural na expansão ou redução do

volume de empréstimo............................................................................................... 36

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LISTA DE TABELAS Pág.

Tabela 01 – Limites de financiamento de acordo com o porte e a localização da propriedade

rural (para recursos voltados a investimentos fixos e semifixos)............................ 03

Tabela 02 - Estatística descritiva das variáveis da amostra dos contratos de concessão de

crédito do FCO Rural............................................................................................... 45

Tabela 03 – Classificação da amostra de acordo com a renda do produtor.................................. 46

Tabela 04 – Participação do valor financiado real na renda bruta real de acordo com o tipo de

produtor............................................................................................................... 47

Tabela 05 – Distribuição do número de produtores por idade e de acordo com o tipo de

produtor.................................................................................................................... 48

Tabela 06 – Distribuição do número de produtores segundo o tempo de clientela e o tipo de

produtor.................................................................................................................... 50

Tabela 07 – Distribuição do valor financiado segundo o tempo de clientela e o tipo de

produtor.................................................................................................................... 51

Tabela 08 – Distribuição do número de produtores segundo o número de parcelas e o tipo de

produtor............................................................................................................... 52

Tabela 09 – Distribuição do número de produtores segundo o tempo de carência e o tipo de

produtor............................................................................................................... 53

Tabela 10 – Distribuição do número de produtores segundo a área de produção e de acordo

com o tipo de produtor............................................................................................. 53

Tabela 11 – Distribuição do valor financiado real de acordo com o a área de produção e o tipo

de produtor............................................................................................................... 54

Tabela 12 – Resultados das estimações do valor financiado real via FCO Rural, Mato

Grosso...................................................................................................................... 56

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LISTA DE GRÁFICOS Pág.

Gráfico 01 – Evolução do dos recursos oficiais destinados ao crédito rural................................ 28

Gráfico 03 – Comparativo da “variável tempo de clientela” entre o grupo de produtores........... 50

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xiv

LISTA DE DIAGRAMAS Pág.

Diagrama 01 – Programa de crédito de comercialização e armazenagem................................ 28

Diagrama 02 – Programas gerais de crédito de custeio e investimento................................... 32

Diagrama 03 – Características utilizadas para na concessão do crédito rural............................. 34

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1- INTRODUÇÃO

1.1- O problema e a sua importância

A agropecuária sempre teve um papel fundamental para o dinamismo da economia do

Estado de Mato Grosso. De acordo com o IMEA (2010) e o MAPA (2010), entre os principais

exportadores nacionais no setor agroexportador Mato Grosso foi o único a terminar o ano de

2009 com acréscimo em suas exportações. Além disso, o Estado ficou na terceira colocação

do ranking nacional ficando atrás apenas dos Estados do Rio Grande do Sul e de São Paulo,

tendo um faturamento de US$ 8,36 bilhões, representando 12,92% do total de receita do setor

de agronegócio brasileiro no ano de 2009.

Todavia, grande parte deste dinamismo econômico depende de recursos não-oriundos

dos próprios agropecuaristas. Lima (2003) descreve que a concessão de crédito sempre teve

um papel primordial no desenvolvimento e na sustentabilidade da agricultura. Para ilustrar

esse fato, só de recursos destinados aos contratos de crédito para investimento, do Fundo

Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), de acordo com o Banco do Brasil

(2010), haverá a destinação para o ano de 2010 de aproximadamente R$ 603 milhões para

serem aplicados na agropecuária no Estado de Mato Grosso.

Este fundo de financiamento foi instituído pela Lei n.° 7.827, de 27.09.1989, a qual

regulamentou o art. 159, inciso I, alínea “c”, da Constituição Federal. O FCO tem o objetivo

principal de incentivar o desenvolvimento econômico e social da região Centro-Oeste, através

da ferramenta de fornecimento de crédito para investimento e custeio nos principais setores

produtivos destas regiões.

O FCO tem como principais segmentações de financiamento: FCO Empresarial de

Apoio às Micro e Pequenas Empresas (MPE); FCO Empresarial para Médias e Grandes

Empresas (MGE); FCO Rural; Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

(PRONAF).

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Além disso, o FCO apresenta as seguintes prioridades: i) projetos de apoio à

agricultura familiar, incluídos os beneficiários da Política de Reforma Agrária, aos mini e

pequenos produtores rurais e às micro e pequenas empresas, suas cooperativas e associações;

ii) projetos com alto grau de geração de emprego e renda e/ou da economia solidária que

contribuam para a dinamização do mercado local; iii) projetos voltados para a preservação e

recuperação do meio ambiente, em especial para reflorestamento/recomposição de matas

ciliares e recuperação de áreas degradadas; e, iv) projetos que utilizam tecnologias inovadoras

e/ou contribuam para a geração e difusão de novas tecnologias nos setores empresariais e

agropecuárias (BANCO DO BRASIL, 2010).

Sobre a fonte de recurso, este programa constitucional de financiamento tem como

principais fontes recursos provenientes da arrecadação do Imposto de Renda (IR) e do

Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), os retornos e resultados das suas aplicações e o

resultado da remuneração dos recursos momentaneamente não-aplicados.

Já sobre a vertente FCO Rural, esta segue o objetivo de incentivar o desenvolvimento

socioeconômico rural da região Centro-Oeste. Como uma de suas características, este

programa de financiamento apresenta encargos financeiros variando de acordo com o

tamanho da propriedade rural: 5,00% ao ano para mini produtor rural e suas cooperativas e

associações; 6,75% ao ano para pequeno produtor rural e suas cooperativas e

associações; 7,25% ao ano para médio produtor rural e suas cooperativas e associações;

8,50% ao ano, ao grande produtor rural e suas cooperativas e associações (BANCO DO

BRASIL, 2010). Esta classificação baseia-se na renda anual bruta do ano anterior do produtor

rural:

Miniprodutor - É considerado o agente com renda bruta anual de até

R$ 150 mil;

Pequeno produtor - É considerado o agente que possuir renda bruta anual

acima de R$ 150 mil e até R$ 300 mil;

Médio produtor - É considerado o agente que possuir renda bruta acima de

R$ 300 mil e até R$ 1,9 milhão;

Grande produtor - É considerado o agente que tiver renda bruta acima de

R$ 1,9 milhão.

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Já os prazos para pagamento, além de dependerem da composição das variáveis já

descritas, dependerão da finalidade do empréstimo junto à entidade financeira. Com isso, o

prazo pode variar de 01 ano (para investimentos para custeio pecuário) até 15 anos (para

recursos voltados a investimentos fixos, para culturas agrícolas irrigadas).

Todavia, os empréstimos voltados para investimentos classificados como fixos ou

semifixos poderão ainda ter restrições no limite máximo para financiamento, de acordo com o

exame de localização da propriedade do produtor rural. Este Fundo segue a tipologia do

Ministério da Integração Nacional1, o qual qualifica as regiões do Brasil por rendas: alta,

dinâmica, estagnada ou baixa. A Tabela 01 mostra essa divisão das regiões de acordo com o

porte do produtor rural.

Tabela 01: Limites de financiamento de acordo com o porte e a localização da

propriedade rural (para recursos voltados a investimentos fixos e semifixos)

Tipo de Produtor Porte da Propriedade

Alta renda Dinâmica Estagnada Baixa Renda

Míni/Pequeno 100% 100% 100% 100%

Médio 95% 95% 90% 85%

Grande 90% 80% 80% 70% Fonte: Banco do Brasil (2010)

Seguindo este pensamento, grandes proprietários localizados nas cidades de Sinop,

Juara e Aripuanã, no Estado de Mato Grosso – as quais se classificam como rendas,

respectivamente, alta, dinâmica e estagnada – se por acaso realizarem empréstimos dirigidos a

investimento fixo ou semifixo, poderão apenas financiar até: 90%; 80%; e 80%,

respectivamente, do total dos limites financiáveis expostos na legislação. Lembrando que o

Ministério da Integração Nacional não classifica nenhuma região do Estado de Mato Grosso

como região de baixa renda.

Se for feita uma comparação entre o FCO Rural e outras linhas governamentais de

financiamento da agropecuária no Estado, teria como resultado a evidência da importante

participação no financiamento oficial da agropecuária mato-grossense. No ano de 2007, foram

disponibilizados 436 bilhões de reais para investimento na agropecuária mato-grossense.

Esses recursos posicionaram o FCO Rural como o terceiro maior programa de concessão de

recursos para a agropecuária do Estado de Mato Grosso, com 13,62%, ficando atrás apenas

dos recursos obrigatórios para o setor agrícola (36,18%) e a Poupança rural (21,85%).

1 A definição entre município de alta, média e baixa renda é feita pelo Ministério da Integração Nacional e leva

em consideração as rendas descritas no censo agropecuário do ano de 2006.

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Apesar disso, esse volume de crédito também respondeu pela maior quantidade de

contratos aprovados no Estado de Mato Grosso naquele ano. Isto é, 50,37% dos contratos

assinados em 2007, com o objetivo de financiamento da agropecuária mato-grossense tiveram

recursos do FCO Rural (BCB, 2009).

Já nos anos de 2008 e 2009, ficaram disponibilizados para os produtores rurais para o

Estado valores aproximados de R$ 389,5 e R$ 380 milhões, respectivamente. Entretanto, para

o ano de 2010, está previsto um grande acréscimo no repasse deste programa para o Estado,

resultando num valor final de R$ 603 milhões, aproximadamente (BANCO DO BRASIL,

2010).

Observa-se que este programa concede grande quantidade de recursos no estado de

Mato Grosso, evidenciando os objetivos deste trabalho. Contudo, com a investigação das

características dos produtores rurais nos contratos do FCO Rural, poderá também ser usada

como ferramenta para o esclarecimento de um problema conjuntural ocorrido nos últimos

anos, a qual demonstra a ocorrência de devolução de grandes volumes de recursos deste

programa de crédito, pela não utilização dos recursos ou irregularidades nos projetos para

utilização. Por exemplo, só nos ano de 2006 e 2007 dos recursos disponíveis para Mato

Grosso foi devolvido o montante acumulado de aproximadamente 120 milhões de reais aos

cofres do tesouro nacional (MATO GROSSO, 2009).

Consequentemente, para um setor que necessita de grandes volumes de recursos e que

suas organizações empregam o discurso de pouca disponibilidade de crédito, por parte das

instituições governamentais, a devolução dessas altas quantias sugere possíveis problemas

institucionais e organizacionais em relação aos agentes nesta linha de crédito rural.

Deste modo, o problema deste trabalho suscita a questão sobre quais as características

do produtor rural que são mais importantes na concessão de crédito para investimento, junto

às instituições financeiras, via programa de financiamento FCO Rural. Para este exame, foi

utilizada uma amostra de contratos vinculados a este programa de financiamento junto ao

Banco do Brasil2 no período de 1995 a 2009, no Estado de Mato Grosso. Foi escolhida esta

instituição financeira devido à seu papel na concessão de crédito agrícola, sendo

2Agradecemos à Superintendência do Banco do Brasil para o Estado de Mato Grosso a disponibilidade dos dados

e a permissão para divulgação desta pesquisa.

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historicamente, a principal instituição governamental estimuladora da agricultura brasileira3.

Já sobre o programa de investimento para o setor rural, conforme anteriormente, por

representar grande parte dos recursos oficiais para investimento rural neste Estado nos últimos

anos.

1.2- Objetivos e Hipóteses

O objetivo geral deste trabalho foi avaliar os fatores que interferem no valor

financiado de crédito rural aos produtores via FCO Rural, em Mato Grosso, no período de

1995 a 2009. Especificamente, objetivam-se: a) o exame das características dos contratos de

FCO Rural; e, b) a investigação das relações das características contratuais com o valor

financiado ao produtor.

As hipóteses formuladas são que: i) as características dos contratos de FCO Rural dos

grandes produtores rurais facilitam a concessão de maior volume de crédito; e, ii) espera-se

que as „variáveis renda bruta do produtor‟, „valor dos recursos próprios‟, „tempo de clientela‟

e „área de produção‟ proporcionem maior valor de crédito financiado ao produtor rural.

Bandyopadhyay (2007), Navajas et al (2007), Fontelles (2007), Atieno (2001),

Conning e Udry (2007), Barry e Escalante (2001) e Davis et tal (1998) indicam que estas

características influenciam a concessão de maiores empréstimos, ou seja, quanto maiores

esses fatores, maior será o volume de crédito a ser concedido.

Se estas características contratuais demonstram o ambiente institucional dos

produtores rurais, e se estas variáveis não proporcionarem a elevação do volume financiado,

evidenciar-se-ia a possibilidade de distorções no ambiente institucional no setor rural em

Mato Grosso.

Zezza e Llambí (2001) e Mundo Neto e Souza Filho (2005) descrevem que estas

alterações são efeitos provenientes da ação de filtros institucionais, os quais são

3 Lamounier (1994) descreve o Banco do Brasil como um grande grupo tecno-burocrático que sempre teve uma

importante atuação no setor agrícola. Foi historicamente o principal estimulador da agricultura brasileira, por

meio da concessão de crédito a taxas de juros subsidiadas.

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procedimentos ou atitudes equivocados de algum dos agentes econômicos que comprometem

ou invalidam a eficácia4 de regulamentos definidos pelos gestores governamentais.

Não obstante, para o enfraquecimento ou a redução da ação dos filtros institucionais,

de acordo com Mundo Neto e Souza Filho (2005), as instituições se veem obrigadas a realizar

ações de aperfeiçoamento das relações de mercado, através do estímulo à cooperação entre os

atores e ao combate às incertezas que envolvem as relações de um mercado.

Williamson (1985) descreve que o motivo da existência das instituições é para

resolução dos problemas de cooperação e da incerteza entre os agentes dos mercados.

Barcelos (2003) vai mais além: afirma que a relação das instituições e o desempenho

econômico se constituem da seguinte forma, as instituições determinam o desempenho

econômico, enquanto este determina a existência das instituições.

Em relação ao crédito rural, as organizações e instituições devem repassar segurança

de retorno do seu investimento ao agente, gerando a realização de novos empréstimos

(frequência), mas sem que advenha a inadimplência dos produtores rurais junto aos agentes

financeiros. Para isso, as instituições devem intervir nas lacunas e imperfeições criadas pela

racionalidade limitada humana dos agentes, assim evitando a ação de filtros institucionais no

mercado de crédito rural em Mato Grosso.

Portanto, observando o estudo dos fatores que interferem no valor financiado de

crédito rural aos produtores via FCO Rural, em Mato Grosso, e dos objetivos acima

apresentados, este trabalho foi dividido em quatro capítulos. O primeiro traz os conceitos e

alguns princípios da Nova Economia Institucional, além da abordagem da ação de filtros

institucionais para a agricultura como forma de embasamento às críticas deste trabalho. O

segundo introduz alguns debates sobre os efeitos dos custos transacionais na oferta de crédito

rural, passando pela caracterização do crédito oficial no Brasil, terminando com a

apresentação de um modelo de exame de crédito, o qual descreve os principais fatores

empregados na concessão de crédito rural. Posteriormente, o terceiro capítulo apresenta o

exame dos dados e a análise dos resultados. Por fim, têm-se as conclusões deste trabalho além

de sugestões para melhorar as relações no mercado de crédito agrícola.

4 Considera-se como eficácia o alcance de determinado fim planejado por uma política institucional.

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2 – REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 - COMENTÁRIOS SOBRE A NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL

No início do século XX, importantes mudanças ocorreram no contexto mundial, as

quais induziram os cientistas a novos conceitos sobre as razões dos eventos econômicos e

suas consequências na economia. Dentre essas novas ideias, tem-se a Economia Institucional,

a qual prioriza as instituições na explicação do funcionamento da economia

Zylbersztajn (1995) destaca os autores T. Veblen, J. Commons, J.K. Galbraith e W.

Hurst como os pioneiros na discussão do funcionamento da economia a partir da compreensão

da não imparcialidade das organizações em um ambiente institucional. J. Commons foi o

precursor no reconhecimento da transação como a unidade de exame básica para os

economistas, citado por Williamson (1985), de modo que acreditava que as organizações

eram resultado não somente do aprimoramento tecnológico, mas por uma melhor relação

harmônica dos participantes.

Também foi uma contribuição de Commons a ideia de que as organizações

econômicas têm também como objetivo a assiduidade dos relacionamentos, utilizando os

modelos de estrutura de governança, de acordo com o modelo que melhor satisfaz a relação

de mercado proposta (CABRAL, 2005).

Entretanto, Zylbersztajn (1995), Kupfer e Hasenclever (2002), Cabral (2005) e Gomes

(2005) destacam que o grande marco de difusão dos ideais da economia institucional e do

relacionamento organizacional foi a publicação do artigo “A natureza da firma”, por Ronald

Coase, em 1937. Coase introduziu a explanação sobre a firma, indicando que estas podem

realizar as mesmas funções de organização e coordenação de um mercado, mas internamente.

A utilização de outro mecanismo de coordenação, diferente do mercado, seria de acordo com

os custos de transação apresentados (WILLIAMSON, 1985).

Com a adoção dessa abordagem, surge uma nova escola, a qual se confrontou

diretamente com os fundamentos neoclássicos vigentes no mercado até o início do século XX.

Conhecida como Nova Economia Institucional (NEI), essa escola tem como principal objetivo

a demonstração de que as instituições podem influenciar os diversos agentes do mercado,

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combatendo os custos de transações e outros problemas que podem atrapalhar a satisfação das

relações de mercado (ZYLBERSZTAJN, 1995).

Para maior compreensão dos fundamentos da Nova Economia Institucional este

capítulo descreverá os principais conceitos desta escola econômica, como as organizações,

instituições, a relação dos custos transacionais e o princípio da ocorrência de filtros

institucionais da agricultura, de modo a melhor embasar as conclusões e sugestões deste

trabalho.

2.1.1 – Os Custos de Transação

Com a publicação do artigo “A natureza da firma”, os economistas deram mais ênfase

não só aos custos de produção, mas também aos custos de transação ou transacionais, ou seja,

aos diversos custos de negociar, pesquisar, lavrar e afiançar o cumprimento de um

determinado contrato (KUPFER; HASENCLEVER, 2002).

No entanto, alguns autores trazem que o custo de transação tem sentido mais

ampliado, podendo envolver fatores e relações que ultrapassam os limites das ciências

econômicas. Neste sentido, North (1993 apud GOMES, 2005) descreve que esses custos são

também os valores dos recursos necessários para medir atributos, tanto legais como físicos, do

que está negociando: os custos de observar e fazer cumprir o acordo e o risco da incerteza que

se reflete o grau de imperfeição na medição e o cumprimento obrigatório dos termos da

negociação.

Williamson (1985) descreve que os custos transacionais são definidos como os custos

relacionados ao funcionamento da economia e se tornam aparentes no instante em que se

abrangem as organizações e as instituições econômicas como um obstáculo contratual. Neste

mesmo pensamento, Begnis, Zerbielli e Estivalete (2006) esclarecem que os custos de

transação têm como composição os custos de elaboração, negociação e manutenção dos

contratos, mensuração e fiscalização dos direitos de propriedade, monitoramento do

desempenho e organização da atividade, e adaptações ineficientes às mudanças do sistema

econômico.

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Contudo, essa abordagem de um novo custo acarretou a quebra da ideia neoclássica de

que nas relações de mercado há simetrias de informações. Para os economistas neoclássicos,

os mercados funcionariam em concorrência perfeita e não admitiam a assimetria na

acessibilidade às informações (isto é, o conhecimento comum de todas as informações dos

agentes na economia). Isto possibilitaria que os agentes decidissem da melhor forma de

acordo com as condições impostas. Por decorrência, esta escola considerava as instituições

como variáveis exógenas do modelo econômico de funcionamento da economia, os agentes

participantes do mercado tinham racionalidade ilimitada, resultando na capacidade de

previsão de todos os acontecimentos possíveis de interferência na satisfação das relações

econômicas.

No entanto, para os participantes da Nova Economia Institucional ocorre existência de

assimetria de informação (conhecimento diferenciado das informações pelos agentes atuantes

na economia) ocasionada pela racionalidade limitada; pelo oportunismo dos agentes

econômicos; pelas relações de mercado complexas e incertas; e pelos problemas da

especificidade dos ativos na economia.

Sobre a racionalidade limitada humana, parte-se do princípio de que o comportamento

humano, ainda que intencionalmente racional, tem um enorme grau de limitação, a qual é

oriunda da própria neurofisiologia humana. Isto é, a capacidade de aspirar e processar

conhecimento é limitada, tendo por consequência dificuldades para a transferência de

conhecimento. Assim, criam-se empecilhos nas relações entre os agentes da economia. Caso a

racionalidade humana fosse ilimitada, os contratos poderiam incorporar cláusulas antecipando

qualquer circunstância futura, o que nunca aconteceu na história humana (KUPFER e

HASENCLEVER, 2002).

Observa-se que é muito improvável que o agente do mercado conheça todas as

alternativas de que dispõe ou todas as suas implicações. Ou seja, o indivíduo nunca terá a

certeza se um caminho escolhido é o melhor ou o mais apropriado para determinada realidade.

Com isso, nas condições expostas, o agente escolherá o caminho com maior razoabilidade.

Por consequência, Fernandes e Sbicca (2005, p.2), explicita que:

Outros elementos provenientes da interação entre os

indivíduos devem ser observados. (...) se o objetivo é apenas

entender o comportamento de equilíbrio (numa direta

descrição das ideias da escola neoclássica), é necessário

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saber pouco sobre o agente. O comportamento de equilíbrio

de um agente em perfeita adaptação é definido por suas metas

e pelo seu ambiente, sendo completamente independente das

propriedades internas do organismo.

Rejeitando o conceito do homem econômico racional dos neoclássicos, a Nova

Economia Institucional aceita que as escolhas das pessoas também se orientam por fatores

externos à economia, como preferências, ideologias, usos ou costumes (ambiente

institucional).

Assim, os pensadores da NEI descrevem a existência de outras particularidades

derivadas da racionalidade limitada e das escolhas embasadas em fatores não-econômicos.

Uma destas particularidades é a complexidade das relações de mercado. Em um ambiente

complexo, uma simples decisão é altamente custosa. Com isso, além de ser custoso aos

agentes, prolonga as deliberações, visto o grande leque de possibilidades. Em ambientes

complexos a tendência é de piorar as incertezas das relações dos agentes.

Outro fator que influencia nos custos de transação da economia são as incertezas dos

agentes do mercado. A incerteza, ou seja, a dúvida gerada pela impossibilidade de determinar

e discriminar todos os acontecimentos que podem interferir na economia, é originária da

própria racionalidade limitada humana. Há como consequência, a elevação das dificuldades

na definição e diferenciação das informações entre os indivíduos envolvidos, afetando

diretamente os possíveis resultados do produto e serviço.

Nota-se que o conceito de incerteza tem grande importância nos modelos teóricos da

Nova Economia Institucional. Os pensadores desta escola estabelecem que com os mercados

não funcionando perfeitamente, devido às limitações humanas (contraposto da racionalidade

ilimitada adotada pelos neoclássicos), as decisões humanas são permeadas de subjetividade

das condições de incerteza pela impossibilidade do indivíduo obter todas as informações

sobre determinada situação (GOMES 2005).

Todavia, cada vez que os participantes procuram se prevenir dos danos possíveis os

agentes elevam substancialmente os custos de elaboração, negociação mensuração e,

principalmente, o custo de monitoramento de desempenho, acarretando na elevação

substancial dos custos de transação das mercadorias ou dos serviços. Em contrapartida, com a

frequência destas relações de mercado, ocorrerá o desenvolvimento da confiança entre as

partes, acarretando em alternativas transacionais menos custosas e, assim, diminuindo

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significativamente a presença das incertezas na economia, recompensando a elevação inicial

dos custos de transação (BEGNIS; ZERBIELLI; ESTIVALETE, 2006).

Outra peculiaridade descrita pelos autores da NEI é a ocorrência de ações oportunistas

no mercado. O oportunismo é definido por Williamson (1985) como a busca do benefício

com atitudes maliciosas, decorrentes das assimetrias das informações entre os atuantes no

contrato tendo, como consequência, as complicações do risco moral (risco de não pagamento

do empréstimo motivado por características pessoais, morais) e seleção adversa (escolha de

clientes com maior probabilidade de falta de pagamento, ao invés de se escolher os clientes

menos propensos a risco). Deste modo, as ações oportunistas podem ser denominadas como:

“ex-ante e ex-post”.

Ações oportunistas „ex-ante‟ são as que acontecem antes do contrato ser acertado

(quando ocorre negligência de elementos e interesses contratuais) e as „ex-post‟ ocorrem após

o contrato acertado entre as partes (quando acontecem manipulações das ferramentas do

mercado, alterando as transações e seus custos entre as partes). No Quadro 01, explicitam-se

os tipos e características de cada ação oportunista.

TIPO CARACTERISTICAS

Oportunismo ou autointeresse forte

Os agentes são totalmente egoístas. O oportunismo pode ser ex-ante

se o comportamento aético for antes de se efetivar a transação e ex-

post se for durante a vigência do contrato.

Autointeresse simples ou sem

oportunismo

Os agentes mantêm os termos originais do contrato durante a

execução. Esse pressuposto é adotado pela economia ortodoxa. O

aparato judicial é preciso, sem custos e instantâneo.

Obediência ou ausência de

autointeresse

Os agentes não comandam suas próprias ações, mas sim, as entidades

externas, como o governo, por exemplo.

Quadro 01 - Tipos de oportunismo Fonte: Begnis; Zerbielli; Estivalete (2006).

Observa-se que as ações oportunistas do tipo oportunismo ou autointeresse forte terá

maiores influências na elevação dos custos de transação, na medida em que ocorrerão

elevação dos gastos com pesquisas e o acréscimo de cláusulas salvaguardas contratuais. E o

combate a estes tipos de oportunismo partiria da execução de políticas punitivas aos usuários

oportunistas, mas, principalmente, de ações conjuntas das instituições e organizações inibindo

a entrada de atores oportunistas no mercado.

Nas ações de autointeresse simples ou sem oportunismo, os agentes mantêm os termos

originais do contrato durante a execução. Esse pressuposto é adotado pela economia clássica,

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sendo caracterizado pelo aparato judicial preciso, sem custos e instantâneo. Nas ações de

obediência ou ausência de autointeresse, os agentes não comandam suas próprias ações, sendo

comandados pelas entidades externas como o governo ou as associações de patronais ou de

trabalhadores.

Já sobre a especificidade de ativos, tanto Williamson (1985) como Kupfer e

Hasenclever (2002) descrevem que este fato acontecerá quando existir num determinado

ramo, uma quantidade insuficiente de agentes, a qual possibilitaria o surgimento de

relacionamentos exclusivos de vendedores com compradores, assim facilitando as ações

oportunistas de alguns destes agentes na manipulação das ferramentas de mercado, ou seja,

existindo um grande número tanto de compradores como de vendedores, em tese, vai existir

concorrência e rivalidade entre estes. Com isso, os oportunistas desapareciam com andamento

normal das transações do mercado.

Destarte a existência da racionalidade limitada e da incerteza, e o surgimento de ações

oportunistas dificultarem as relações de mercado, tendo como resultado o surgimento de

entraves na pesquisa e elaboração dos contratos, assim como nas garantias e na execução.

Assim, se tornando oportuno que as instituições e organizações proponham novas formas de

transação que venham a preencher estas lacunas ou propor novas alternativas de relações de

governança aos agentes da economia.

2.1.2 – A Importância das Instituições e das Organizações

Nas relações sociais sempre existiram cláusulas que regulamentam o comportamento

de seus participantes. Com isso uma lei ou uma regra tem como principal objetivo a criação

de uma infraestrutura humana, a qual possibilitará o relacionamento dos indivíduos nos

diversos campos da sociedade.

Essas regras podem ser divididas em formais e informais. As formais são aquelas

explícitas por algum poder legítimo e tornadas obrigatórias para manter ordem e o

desenvolvimento de uma sociedade. Por exemplo, a Constituição Federal da República

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Federativa do Brasil. Já as informais são aquelas que fazem parte do legado cultural, isto é, o

conjunto de valores transmitidos socialmente.

O conjunto de regras – formais e informais – tem a designação de ambientes

institucionais, e por consequência as instituições estabelecem o ambiente no qual as

transações e seus custos ocorrem, formando a estrutura de incentivo e controle que induzem

os indivíduos a cooperar para um fim comum. Logo, as instituições seriam como as regras do

jogo numa sociedade ou, mais formalmente, são as limitações idealizadas pelo homem que

dão forma às interações humanas (GOMES, 2005).

Contudo, a implicação desta interação social não depende apenas das instituições, mas

também das ações dos agentes, os quais são entendidos como a unidade tomadora de decisão.

E como unidade de tomada de decisão mais simples da teoria econômica, em alguns

momentos os indivíduos se organizam para atingir determinados alvos comuns. Com isso,

provocam a existência das organizações - grupo de indivíduos visando a um bem comunitário

– e concluem que ações individuais e desordenadas são menos eficazes que ações coletivas,

ou realizadas por uma determinada organização. A Figura 01 demonstra esta interação social

e sua influência no ambiente institucional.

Figura 01: Esquema de níveis de influência de Williamson Fonte: Saes (2001)

Ambiente Institucional (Instituições)

Organizações

Indivíduo

a)

c

b)

d)

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Observa-se na Figura 01 que o ambiente institucional influencia as ações das

organizações (a), as quais repassam a imposição do ambiente institucional no mercado ao ator

que compõe essa organização (c). No entanto, poderá também ocorrer que os indivíduos,

buscando, por exemplo, melhorias e abrandamento dos custos de transação, se unam criando

uma determinada organização, ou aplicando um modelo de estrutura de governança, diverso

ao aplicado no mercado (d), influenciando e modificando o ambiente institucional em seu

favor. Com isso, retornando o ciclo, interferindo nas relações dos outros agentes da economia

(b).

Nota-se que as instituições operam como coordenadores na redução das imperfeições

do mercado, com isso tendo um papel fundamental no desenvolvimento da economia. O

principal motivo da existência das instituições é a resolução dos conflitos e das incertezas dos

agentes do mercado.

Neste contexto, North (1993 apud GOMES, 2005) descreve que:

(...) é suficiente dizer aqui que as incertezas se devem às

informações incompletas com respeito à conduta de outros

indivíduos no processo de interação humana. As limitações

computacionais dos indivíduos estão determinadas pela

capacidade da mente processar, organizar e utilizar

informações. A partir destas capacidades consideradas junto

com as incertezas próprias do conhecimento do meio,

evoluem normas e procedimentos que simplificam o processo.

O consequente marco institucional como estrutura da

interação humana, limita a eleição que se oferece aos atores.

Consequentemente, as instituições ou as normas e procedimentos da conduta humana

têm o objetivo principal de reduzir as incertezas e outros fatores provenientes da racionalidade

limitada humana, tornando o ambiente econômico mais adequado para que os agentes tomem

melhores decisões, visando melhores resultados. Deste modo, as instituições junto com as

organizações têm um papel primordial na economia, no trabalho de aperfeiçoamento das

relações de mercado.

A importância das organizações para uma atuação eficaz no ambiente econômico

chega ao ponto desses aparelhos ordenarem os atos de seus componentes por meio das

diferentes combinações de mercado, sendo escolhida aquela que traz melhor benefício a seus

associados.

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Entretanto, se por acaso um dos participantes observar que não é compensatória a

ausência de liberdade, pelos resultados adquiridos com a organização, ou mesmo a entidade

perceber que determinado participante é mais oneroso que sua contribuição para a

organização, poderá ocasionar a anulação do vínculo da entidade com o participante.

Por consequência, para obter maior eficácia em seus resultados, uma organização deve

adotar em seu planejamento estratégico ações que visem à harmonia entre os membros,

evitando qualquer diferenciação injusta entre os participantes, a qual poderia ocasionar a

quebra do vínculo organizacional e perda de eficiência desta entidade.

Saes (2001) descreve que uma entidade organizacional de interesse privado deve

aplicar três tipos de ações distintas para garantir melhores resultados entre seus participantes.

Inicialmente, adotar ações que favoreçam todos os membros, indiferente aos segmentos, uma

vez que não existe a possibilidade de conflitos a serem geridos. Por exemplo, o fornecimento

de estatísticas de um determinado produto ou serviço para os associados.

Em seguida, poderão ser realizadas ações que beneficiem parte do grupo sem prejuízo

aos demais. Estas ações iniciam de agentes interessados no fornecimento de determinado bem

ou prestação de serviço, não devendo haver objeções de outros participantes não atingidos.

Por exemplo, a criação de parcerias com outro segmento para compra de matéria-prima ou

para obtenção de financiamento do qual participa apenas parte dos associados. Ainda podem

ser adotadas as ações que beneficiam parte do grupo em detrimento de outros. Neste caso,

surgem conflitos que, para ser contidos, dependem diretamente do desenvolvimento de

mecanismos compensatórios entre os participantes desta organização.

Consequentemente, uma das principais finalidades organizacionais é a devida

adequação dos meios e fins, com eficiência nas ações, que visem ao atendimento dos

interesses de seus membros. Saes (2001) ainda descreve que uma condicional para não

acontecerem problemas intraorganizacionais consiste no planejamento em que os meios sejam

consistentes com os fins escolhidos e, ao mesmo tempo, que as formas alternativas de

organização sejam eficientes.

Portanto, uma estrutura organizacional atua junto com as instituições (regras),

reduzindo as incertezas e as imperfeições do mercado, proporcionando aos agentes a

possibilidade de tomada de melhores decisões, acarretando em resultados mais satisfatórios.

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Deste modo, as instituições, bem como as organizações, têm um papel primordial na

economia, o qual é a coordenação das ações de aperfeiçoamento das relações de mercado,

seguindo o pressuposto de que as atividades econômicas sejam influenciadas pela capacidade

dos agentes participantes.

2.1.3 - A Nova Economia Institucional e a Economia dos Contratos

Os contratos têm uma participação fundamental nos ensinamentos da Nova Economia

Institucional (NEI), principalmente no que se refere à teoria da firma e às escolhas das

melhores estruturas de governança. Neste sentido, Zylbersztajn (2005) descreve que os

economistas invadiram o campo do conhecimento das Ciências Jurídicas, em especial a

tradicional escola de Chicago, com os trabalhos de Milton Friedman e Gary Becker. Assim, a

NEI representa um campo interdisciplinar que permeia, pelo menos, as áreas da Economia, do

Direito e da Administração.

No entanto, quando para os economistas a eficiência é um problema fundamental,

para os juristas será a justiça. Com isso, a literatura econômica se preocupou em discutir

apenas os custos contratuais que influenciam na elevação dos custos de planejamento, de

elaboração, de implantação e de fiscalização dos contratos.

Seguramente, para melhor satisfação dos resultados e redução dos custos contratuais, a

NEI emprega a eficiência institucional como uma meta a ser alcançada, em conjunto com uma

maior harmonia nas relações econômicas na sociedade. Para isso existe a firma, a qual será

um sistema complexo de contratos, com o desígnio de melhor satisfação do sistema

organizacional. Logo, considerando a afinidade entre os ambientes organizacional e

institucional, esta firma é dependente de um forte apoio do ambiente institucional que a

envolve. Nesta linha de pensamento, Zylbersztajn (1995, p 46.) delineia que:

(...) firmas não podem ser entendidas e estudadas, senão

levando em consideração o ambiente institucional que as

cerca. Mudanças no ambiente institucional funcionam

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como deslocadores do equilíbrio podendo induzir formas

alternativas de governança5.

Como as lacunas não podem ser realizadas „ex-ante‟, no planejamento e na elaboração

do contrato, a teoria contratual estabelece que o ambiente institucional deva ser auxiliar dos

agentes para completar o espaço deixado nos contratos. Deste modo, por exemplo, as

instituições devem auxiliar os agentes na formulação dos contratos, na abolição de cláusulas

contratuais que proporcionarem ambiguidade ou imprecisão de interpretações, ou que

poderiam acarretar várias interpretações para uma mesma situação, auxiliando a incompletude

em momentos de conflitos entre as partes.

Zylbersztajn (1995) comenta que são vários os motivos através dos quais a parte

pode influenciar a incompletude de um contrato. Dentre os quais: a omissão da parte na

consideração de um aspecto importante no contrato, ou dentre fatores contratuais semelhantes

às partes escolhem os mais custosos, ou, considerando a existência de assimetria informação,

os agentes dão ênfase em cláusulas inadequadas para aquele tipo de contrato.

Outro fator que se pondera em uma ação institucional eficiente é a duração necessária

de um contrato, a qual satisfaz ambos os interesses, gerando menos custos aos indivíduos

envolvidos. No contrato intrafirma prevalece a duração contratual indefinida, mas existem

exceções, como no exemplo, firmas temporárias cuja existência tem objetivo definido

associado a um período de tempo.

Contudo, são mais comuns os contratos com duração indefinida ou com uma duração

significativa, como no caso da existência de ativos específicos. Nestes casos, ocorre a

necessidade de contratos mais longos, conforme o tempo maior de amadurecimento da

produção, que possibilite o retorno equiparado dos investimentos realizados.

Zylbersztajn (1995) descreve que esse tipo de contrato existe consoante à ausência de

simetria de informação entre as partes. E que a aplicação de contratos sequenciais poderia

resultar em utilização de aspectos inadequados, tendo em vista fatos momentâneos,

prejudicando a satisfação desta relação contratual em um longo prazo.

5 O respectivo autor descreve governança com o sentido de ser a forma de implantação de políticas setoriais ou

ações planejadas para um ramo ou atividade econômica.

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Assim, tem-se a importância das instituições no preenchimento das lacunas contratuais

na intenção de gerar maior segurança aos agentes econômicos. No entanto, as instituições,

além de auxiliarem na ocupação destas lacunas, têm a obrigação de combater as ações dos

indivíduos oportunistas (como já descrito no item anterior) e indicar a melhor estrutura de

governança para cada tipo de contrato.

Sobre a orientação de qual estrutura de governança será própria para um determinado

tipo de contrato, Kupfer e Hasenclever (2002) elencam a necessidade anterior de identificar os

tipos de contratos existentes. Estes descrevem quatro tipos básicos de contratos: i) os

contratos que impõem cláusulas vinculantes, não importando alterações futuras no mercado;

ii) com cláusulas condicionais (neste tipo de contrato as partes estabelecem um dado

desempenho, dependendo do que ocorra no futuro); iii) com prazos sequenciais (são contratos

em que os agentes têm vínculos curtos, o comprador compra apenas no momento de

necessidade); e, iv) aqueles que estabelecem relações de autoridades.

Neste último tipo de contrato é estabelecida uma relação de autoridade de um agente

sobre o outro indivíduo, sendo que o primeiro tem a prerrogativa de definir o que o segundo é

obrigado a efetuar. Neste tipo de contrato existe a vantagem de não haver necessidade de

antecipar circunstâncias futuras e as ações a serem tomadas com a ocorrência de cada uma

destas, devido à redução das possibilidades de decisões.

Com a existência de autoridade não seria necessária a contratação sucessiva,

diminuindo este custo de transação. Todavia, esse tipo de contrato, em direção de uma

hierarquia, restringe as relações do próprio mercado, como os mecanismos de controle da

produção, como dos preços (Ex.: contrato com um preço menor que as oportunidades

dispostas no mercado).

Entretanto, os atores devem também preocupar com os tipos de transações foram

envolvidas. Segundo Williamson (1985), as transações se classificam em: específicas (com

ativos em um mercado muito delimitado); não-específicas (em mercados padronizados, em

geral com normas técnicas de fabricação); e mistas (com características de ambas as outras,

esta se posiciona em uma linha crítica de fronteira).

Consequentemente, seguindo estes tipos de transações, Kupfer e Hasenclever (2002)

descrevem a existência de três tipos de governabilidade:

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Governança pelo mercado (transações não-específicas, demonstrando que não

há esforços do sustento desta relação. As partes seguem a experiência de cada

uma neste mercado);

Governança trilateral (há a exigência de uma terceira parte ex-ante, com a

avaliação da execução, e ex-post, para a solução dos conflitos);

Governança específica de transação (envolve ativos não-padronizados e dois

tipos de contratos: a) contratos de relação, onde as partes preservam a

autonomia; e b) e controle interno na empresa.

O Quadro 02 resume as características das transações junto com as melhores

possibilidades de governança.

Frequência do Investimento

Possibilidade de Governança

Não específicas Mistas Específicas

Ocasionais Governança de

Mercado Governança Trilateral

Governança

Trilateral

Recorrentes Governança de

Mercado Governança Bilateral

(contratos de relação) Organização Interna

(empresa)

Quadro 02: Características das transações e as possibilidades de governança Fonte: Kupfer e Hasenclever (2002).

No caso dos contratos de concessão de crédito oficial rural via FCO Rural, embora

sejam firmados apenas entre os bancos e os produtores, estes contratos se caracterizam pela

constante intervenção das organizações e instituições rurais como, por exemplo, as diversas

renegociações do saldo devedor, ocorridas nos contratos rurais nesta última década. Ainda,

estes contratos são direcionados apenas aos investimentos no setor agrícola. Assim, tendo

uma frequência ocasional e sendo o crédito oficial um ativo muito especifico6, sugere que este

mercado apresente uma governança trilateral da qual, junto com os produtores e bancos

governamentais, participam também outras instituições e organizações (principalmente

entidades governamentais).

6 Todos os instrumentos contratuais de crédito oficial no Brasil são regulamentados por leis, ou normas

expressas pelo Banco Central, ou entidade competente. Como exemplo, pode-se descrever a distribuição da taxa

de juros do crédito rural que, apesar de ser definida de acordo com cada contrato, é regulamentada num nível

inferior do usualmente empregado pelo mercado e se diferenciando muito pouco entre os diferentes programas

de crédito rural.

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Também se pode notar no quadro 02, da esquerda para a direita e de cima para baixo,

a tendência de verticalização do mercado, ou seja, mais as transações se afastam da gestão do

mercado para ser relações entre empresas envolvidas, ocorrendo a redução dos custos de

transação, mas em contrapartida decrescendo as vantagens do mercado, como a economia de

escala.

Portanto, só a partir da comparação dos benefícios que se tem com a gestão via

mercado e do exame da redução dos custos de transação com a verticalização do mercado, os

agentes econômicos tomarão a decisão de como investir e qual estrutura de governança deverá

ser aplicada para obtenção dos resultados mais satisfatórios.

2.1.4 - A Nova Economia Institucional e a abordagem dos filtros institucionais na

efetividade das políticas públicas de crédito rural

Atualmente no Brasil, as principais organizações de formulação e orientação de

políticas públicas rurais são as entidades estatais e organizações representantes patronais

voltadas para o meio rural. Dentre as entidades governamentais (administração direta e

autarquias)7 destacam-se pela atuação no ramo de crédito oficial rural: Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão;

Ministério da Fazenda; Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES);

Banco do Brasil; Banco da Amazônia S/A; secretarias estaduais de agricultura ou de

desenvolvimento rural; e agências locais de fomento.

Já entre as entidades representantes patronais se destacam a Confederação Nacional da

Agricultura, Pecuária e Pesca (CNA) e as associações patronais locais como, por exemplo, no

Estado de Mato Grosso: FAMATO (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato

Grosso); a APROSOJA (Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso); a AMPA

(Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão); a APA (Associação Mato-

grossense de Produtores de Arroz); a ACRIMAT (Associação dos Criadores de Mato Grosso);

7 Nesta descrição não se encontram todas as associações ou mesmo as entidades governamentais que lidam

diretamente com as linhas destinadas ao financiamento, ao custeio e a comercialização da agricultura familiar.

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e o SINDALCOOL - MT (Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool e Açúcar do Estado

de Mato Grosso).

A existência do ambiente organizacional e institucional se respalda no

aperfeiçoamento do mercado, através do estímulo da cooperação entre os atores, e o combate

às incertezas. Assim, em relação ao crédito rural, deve-se repassar segurança de retorno de seu

investimento ao agente, gerando frequência nas transações de crédito.

Para isso, as organizações devem intervir nas lacunas e imperfeições criadas pela

racionalidade limitada e assimetria de informações dos agentes do mercado de crédito rural.

Mundo Neto e Souza Filho (2005) citam que essas lacunas e imperfeições criam filtros

institucionais que acabam dificultando o alcance das metas das políticas de crédito oficial.

Considera-se como filtros institucionais sistemas operacionais que podem danificar ou

mesmo invalidar as regras definidas pelos gestores públicos aos agentes do mercado. Deste

modo, os filtros institucionais trabalhariam como entraves para qualquer efetivação de normas

e acordos entre indivíduos deste mercado, tornando ineficaz alguma política planejada

(ZEZZA E LLAMBÍ (2001).

Inspirado em Zezza e Llambí (2001), Mundo Neto e Souza Filho (2005) apresentam

três tipos de filtros institucionais, classificados como: primeiro nível (da oferta política);

segundo nível (da transmissão de incentivo); e o terceiro nível (da tomada de decisão). A

Figura 02 apresenta estes três níveis e suas peculiaridades na ação de deterioração das

políticas públicas.

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Figura 02: Filtros institucionais no crédito rural. Fonte: Mundo Neto e Souza Filho, 2005.

Os filtros de primeiro nível (da oferta política), também descrito como nível macro

analítico, estão diretamente alistados ao desempenho político, os quais atuam na distorção das

políticas desde o planejamento desta até o início de sua aplicação. Esse tipo de filtro surge

geralmente no planejamento das ações do mercado, visto a sua consideração ou mesmo efeito

de outra política ou de características inadequadas. Por consequência este filtro atua como

redutor da eficácia transacional, transmitindo entraves, dificultando ou mesmo anulando os

objetivos e as metas das regras recém-lançadas.

Já o filtro de segundo nível (da transmissão de incentivo), definido por Mundo Neto e

Souza Filho (2005) como filtro de nível mesoanalítico, proporciona a vinculação do

comportamento dos agentes às regras oriundas do ambiente de operacionalização da política -

filtro caracterizado por ser uma “transmissão do incentivo”. Logo, este filtro funciona como

um “impasse” ao agente em tomar a decisão adequada, pois ao transmitir determinadas ações

institucionais esse filtro conduz também a problemas institucionais ocorridos em fases

anteriores.

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Já o terceiro filtro institucional, conhecido como nível micro analítico, ou nível de

“tomada de decisão”, está conexo com o comportamento dos atores-alvos desta política.

Mundo Neto e Souza Filho (2005) descrevem que, por algum motivo específico, os atores não

empregam a política criada e não respondem ao planejamento dos gestores públicos. Este

filtro tem fortes ligações com os caracteres qualitativos de qualquer tomador de empréstimo

rural, como a formação educacional e valores culturais dos empregados.

Observa-se que a detecção de qual filtro está dificultando a eficácia de uma

determinada política institucional é um dos pontos principais para que se possa proporcionar

um planejamento adequado, mas principalmente ocasionar políticas eficazes de crédito rural

no país, as quais atuariam na redução dos entraves na concessão de crédito agrícola,

promovendo o desenvolvimento da agricultura brasileira. Logo, se torna de suma importância

o desempenho das organizações de representação dos agricultores e dos órgãos de extensão

rural na diminuição das consequências dos filtros institucionais, especialmente os filtros que

envolvam a organização patronal, principalmente reduzindo a ação dos filtros da oferta

política e da transmissão de incentivo.

Porém, para a eficácia das medidas sobre a ação dos filtros institucionais na

agricultura, tem a obrigação da existência de um bom relacionamento das instituições e

organizações envolvidas para que, assim, possa reduzir os custos de transação e as incertezas

no meio rural.

Por consequência, o sucesso das relações econômicas no mercado de crédito rural será

resultado de instituições que favoreçam as relações econômicas e promovam a ocorrência de

transações mais seguras e com custos menores, garantindo ganhos ao produtor rural, com a

contrapartida da adimplência do produtor junto às instituições financeiras. Porém para isso, é

necessário maior conhecimento das características do ambiente institucional envolvendo o

crédito oficial rural no Brasil, para um posterior exame dos fatores que influenciam as

imperfeições existentes neste mercado.

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2.2 – O CRÉDITO OFICIAL RURAL

A política de crédito agrícola no Brasil pode ser descrita como a busca da promoção

do setor agropecuário e o desenvolvimento econômico e social do país, com o direcionamento

para o aperfeiçoamento das relações nos mercados dos produtos agrícolas do país, atraindo

investimentos para o setor e promovendo exportações, via melhorias no acesso aos mercados

internacionais mais rentáveis (OECD, 2005).

Entretanto, essas políticas se esbarram na incerteza de qualquer atividade comercial. A

incerteza é uma das principais fontes de problemas das organizações de financiamento

agrícola. Com isso, para o cumprimento eficaz de seus objetivos, as instituições devem

sempre ter a consciência da necessidade de identificar, medir e monitorar o público-alvo,

antes da execução junto ao mercado.

Neste contexto se evidencia a importância do governo em conhecer as particularidades

do setor agrícola. A agricultura, quase na totalidade, possui ciclos produtivos longos,

acarretando em uma exposição dos agricultores aos riscos do mercado por mais tempo. Logo

o governo, antes da concessão, deve se antecipar no estudo ao produtor, garantindo-lhe maior

acessibilidade ao crédito, mas sem que se onere demasiadamente as instituições credoras.

Para conhecer estas peculiaridades, torna-se oportuna a caracterização do crédito rural

e de todas as relações a que o agricultor possa estar submetido. E seguindo este pensamento,

este capítulo parte da caracterização do crédito, nos moldes da atual legislação e sua política

de gestão, terminando com a apresentação de um modelo de exame de crédito, o qual

descreve os principais fatores empregados na concessão de crédito rural.

2.2.1 - Políticas de gestão do crédito rural

As políticas agrícolas no país sempre procuraram demonstrar quais eram as diretrizes

governamentais que a agricultura deveria seguir para um período. Igualmente, observam-se

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atuações distintas pelas instituições governamentais nas décadas de 60 a 80, em comparação

com as políticas institucionais na década de 90 aos dias atuais, em relação ao crédito oficial

rural.

O primeiro período é caracterizado pela criação do Sistema Nacional de Crédito Rural

(SNCR)8, quando o então governo criou um sistema diferenciado de financiamento em

comparação aos outros daquele período. Este sistema incluiu os três maiores bancos públicos

do país naquele momento – Banco do Brasil, Banco da Amazônia e Banco do Nordeste - e

outros bancos estaduais e privados.

Os bancos eram obrigados a realizar reservas obrigatórias de uma proporção de seus

depósitos à vista junto ao Banco Central. Essas reservas eram destinadas ao financiamento da

produção rural, com taxas de juros subsidiadas, as quais praticamente ficavam a cargo do

próprio Banco Central (OECD, 2005)

Além disso, os recursos destinados á agricultura eram provenientes apenas do

orçamento federal e de um sistema de poupança rural vigente. Os bancos tinham o

compromisso de reservar uma proporção fixa das aplicações da poupança rural para fins de

empréstimo rural.

Sobre as taxas de juros concedidas nesse período, eram sempre as mais baixas da

economia. Na década de 70, as instituições financeiras eram proibidas de realizar indexação

ou qualquer relação da dívida rural com a inflação. Já na década de 80 foi realizada a

indexação na maioria das linhas de crédito rural, mas foi rapidamente interrompida quando se

iniciou o Plano Cruzado, em 1986.

Sob condições de inflação elevada que predominou no Brasil durante este primeiro

período, a utilização de taxas de juros controladas acarretou taxas reais negativas de juros à

agricultura. Entretanto, muitos pesquisadores argumentam que apesar de todos os benefícios e

o desenvolvimento rural nesse período as políticas adotadas não repassaram ao produtor o

risco necessário e a preocupação em se desenvolver e utilizar novas tecnologias, para

adaptação à concorrência internacional (OECD, 2005).

8 O Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) foi instituído em 1965, com o intuito de fornecer créditos para

investimento, custeio e comercialização da produção rural.

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Em contrapartida, no início da década de 90, a situação do crédito agrícola mudou

significativamente. Para abrandar a contínua alta inflacionária, as entidades governamentais

passaram a limitar a utilização do crédito oficial através da introdução de correções monetária

e de taxas de juros um pouco mais padronizadas com a taxa do mercado, e menores aportes

orçamentários ao SNCR.

O principal da dívida rural passou a ser corrigido pela inflação do mês, sendo os juros

determinados sobre o saldo devedor corrigido. Essa política teve como resultado uma

significativa elevação da dívida rural no Brasil, visto que os agricultores passaram a enfrentar

elevadas e crescentes taxas de juros nominais. Para piorar, ocorreu também nesse período a

redução drástica da capacidade de pagamento, consoante à defasagem de preços recebidos

pelos produtores à hiperinflação (SILVA, 2008).

Essa medida deflagrou uma das maiores crises de financiamento agrícola no país, a

qual teve como característica a elevação da inadimplência agrícola e a redução da capacidade

de pagamento do produtor rural e do aporte dos recursos oficiais para financiamento rural no

país (SPOLADOR, 2002). O gráfico 01 demonstra a redução de recursos oficiais destinados

ao crédito rural nos períodos acima examinados.

Gráfico 01: Evolução do dos recursos oficiais destinados ao crédito rural Fonte: BCB (2009)

Nota: Valores de acordo com cada ano civil e em bilhões, e corrigidos através do IGP-DI - Índice médio anual

em reais no ano de 2009.

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Observa-se que na década de 80 e 90 o valor do financiamento rural foi reduzindo

significativamente, passando de aproximadamente R$ 112 bilhões, para apenas R$ 25 bilhões

na safra 1999/2000, ou seja, uma redução de 77,18 pontos percentuais de 1980 a 1999.

Contudo, a partir de 1996, nota-se que ocorre um novo processo de acréscimo ao volume de

crédito rural no Brasil.

A retomada do volume de crédito concedido ao setor rural deve-se a vários eventos

que marcaram a economia nestes últimos anos, como a criação de uma nova moeda, a redução

dos problemas inflacionários e a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da

Agricultura Familiar.

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar foi instituído em

1995, pelo governo federal, como o propósito de realizar de forma diferenciada o

desenvolvimento das atividades dos mini e pequenos produtores rurais que desenvolvem suas

atividades mediante emprego direto de sua força de trabalho e de sua família.

Por fim, alguns pesquisadores estimam que durante a década de 90 o crédito oficial

perdeu sua importância no financiamento agrícola, sendo substituído por créditos oferecidos

por financiadoras privadas nacionais e internacionais voltadas ao mercado agrícola.

2.2.2 - Caracterização do crédito oficial rural brasileiro

Atualmente o crédito oficial rural no Brasil é classificado conforme sua finalidade e de

acordo com sua origem (fonte de recursos). Em relação à ótica da origem dos recursos de

financiamento, de acordo com Silva (2008) e do Manual de Crédito rural do Banco Central, o

crédito oficial rural poderá ser classificado como:

Controlados: créditos de recursos provenientes da exigibilidade dos depósitos

à vista, os recursos obrigatórios do Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT e

os subvencionados ao Tesouro Nacional;

Não-controlados ou livres: Aplicações livres e com exigibilidade da poupança

rural e recursos de origem externa; e

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Fundos e Programas Constitucionais: Banco Nacional do Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES), os Fundos Constitucionais do Centro-Oeste,

Nordeste e Norte (FCO, FNE, FNO, respectivamente) e o fundo de Defesa da

Economia Cafeeira (Funcafé).

Já sob a vertente da finalidade do recurso, o crédito oficial rural pode ser classificado

de quatro formas: i) comercialização; ii) custeio; iii) fundiário e, iv) investimento.

A primeira forma são os créditos de comercialização e armazenagem. Este tipo de

crédito teve início de sua vigência na década de 60 (com a primeira linha de crédito conhecida

como EGF - Empréstimo do Governo Federal para produtores rurais), além de que fornece

preferencialmente crédito de curto prazo aos agricultores. Este programa parte da ideia de que

o produtor tenha recursos suficientes que possibilitem a retenção por maior tempo de seus

produtos, vendendo-os em período com preços mais elevados ou que possibilitem uma melhor

renda.

O volume do empréstimo varia de acordo com o tipo de linha adquirida pelo produtor

rural, podendo o tempo alternar entre 90 dias até o máximo de 240 dias. O Diagrama 01

demonstra como é formado o programa de crédito de comercialização e armazenagem.

Diagrama 01: Programa de Crédito de comercialização e Armazenagem Fonte: Elaborado pelo autor a partir de OECD (2005) e BCB (2009).

CRÉDITO DE COMERCIALIZAÇÃO E ARMAZENAGEM

EGF para produtores Empréstimo de pré-comercialização

EGF para beneficiadores NPR e DR

Nota Promissória rural/ Duplicação Rural

LEC Linha Especial de Comercialização

Crédito de Armazenagem

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São observados no Diagrama 01, os EGF‟s para agroindústria ou EGF para

beneficiadores. Esse empréstimo é voltado para os beneficiadores, indústrias e cooperativas

rurais que beneficiam ou industrializam produtos agrícolas. Todavia, essas transferências

apresentam a limitação de 50% e 100% da capacidade anual de

beneficiamento/industrialização, para as indústrias e para as cooperativas de produtores rurais,

respectivamente.

Já Nota Promissória Rural (NPR) e Duplicata Rural (DR) são obrigações de

fornecimento de crédito ao produtor, ao ponto que o agropecuarista adquire determinado

volume de recursos, com a compensação da venda obrigatória da produção no mesmo valor a

um determinado comprador. Isto é, esses produtos são contratos de compra e venda

obrigatórias, os quais poderão ser usados pelos produtores como garantia de aceitação de

financiamentos junto aos bancos, os quais poderão executá-los em 30 dias (BCB, 2009).

Já a Linha Especial para Comercialização (LEC) é um programa recente (instituído no

ano de 2003), para amparo à produção da safra de inverno do milho e sorgo. Este programa

também fornece o mesmo volume financeiro que os EGF‟s anteriores, visto que a cessão é

calculada de acordo com os preços que ultrapassaram os preços mínimos de garantia.

Outra linha importante é o crédito de pré-comercialização. A grande diferença entre o

empréstimo de pré-comercialização e o EGF do produtor é que o primeiro pode ser concedido

até 60 dias antes da colheita, enquanto o segundo é concedido exclusivamente após colheita e

armazenagem. Com isso o crédito de pré-comercialização tem prazos mais longos,

possibilitando liquidez financeira ao produtor rural, mesmo com colheita em andamento.

Já a segunda forma de classificação do crédito é o de custeio, direcionado para os

produtores rurais e suas cooperativas efetuarem gastos cotidianos da produção agropecuária.

Esses empréstimos, em sua maioria, de curto prazo, são outorgados para plantio e colheita,

como um plano individual de amortização de taxas de juros fixas e unificadas, facilitando ao

produtor a execução e cobertura destas fases da produção agropecuária.

A terceira forma de classificação é o crédito fundiário. Este programa de crédito

possibilita os trabalhadores rurais sem-terra, minifundistas e jovens rurais o acesso à terra por

meio de financiamento para aquisição de imóveis rurais. Também são financiados neste

processo os investimentos em infraestrutura fundamentais, como energia elétrica, rede de

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abastecimento de água, estradas e assistência técnica, para a estruturação e início da produção

agrícola.

O Programa Nacional de Crédito Fundiário faz parte do Plano Nacional de Reforma

Agrária do Ministério do Desenvolvimento Agrário e está vinculado à Secretaria de

Reordenamento Agrário. É resultado de acordo de empréstimo com o Banco Mundial. Os

recursos para aquisição dos imóveis são oriundos do Governo Federal.

O Crédito Fundiário é executado de forma descentralizada, em parceria com os

governos estaduais e com o movimento sindical de trabalhadores rurais e da agricultura

familiar, contando com a participação dos conselhos municipais e estaduais de

Desenvolvimento Rural Sustentável.

De acordo com o Manual do Crédito Rural do Banco Central (BCB, 2010) para cada

público há uma linha de financiamento: i) Combate à Pobreza Rural - para as regiões e os

trabalhadores mais pobres; ii) Nossa Primeira Terra – para os jovens filhos de agricultores

familiares e estudantes de escolas agrotécnicas e escolas família agrícola; e, iii) Consolidação

da Agricultura Familiar - para agricultores familiares que desejam ampliar sua propriedade.

Por fim, a quarta forma de caracterização do crédito via finalidade do recurso, são os

créditos de Investimento, direcionados para os produtores rurais e suas cooperativas

efetuarem gastos para bens ou serviços cujo aproveitamento se estenda por vários ciclos

produtivos. Evidencia-se como maior programa de investimento o programa MODERFROTA

(Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e

Colheitadeiras). Este programa tem como objetivo a promoção da aquisição de tratores e

máquinas agrícolas para o desenvolvimento rural brasileiro.

Destacam-se, ainda, os programas „BNDES – Automático‟ e „PROGER Investimento‟.

O primeiro programa apresenta a possibilidade de investimento para processamento industrial,

além da atividade rural, tendo maior flexibilidade ao número de atividades compreendidas. Já

o tem a peculiaridade de ser exclusivo aos produtores rurais não habilitados ao Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.

Há também outras linhas direcionadas para setores específicos, como a agroindústria,

a fruticultura, a produção leiteira e a produção de carne, além de investimento em

melhoramentos da terra e da infraestrutura, conforme descritos no Diagrama 02.

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Diagrama 02: Programas gerais de crédito de custeio e investimento Fonte: Elaborado pelo autor a partir de OECD (2005) e BCB (2009).

Nota: Esses programas de créditos não envolvem as linhas destinadas ao financiamento, ao custeio e a

comercialização da agricultura familiar (PRONAF).

Ainda nesta finalidade, tem-se o crédito via Fundo Constitucional de Financiamento

do Centro-Oeste (FCO) e o objeto de estudo FCO Rural.

2.2.3- A concessão de crédito aos produtores rurais

Como mencionado, a adequada gestão de crédito nas instituições financeiras é

fundamental para a sua sobrevivência e o crescimento do setor agrícola. No caso dos

empréstimos rurais, a questão da inadimplência é a maior preocupação dos agentes, devido

aos altos níveis de riscos resultantes das próprias características da produção agrícola. Além

disto, os residentes rurais apresentam índices de educação menores, se deparam com maior

frequência com problemas de posse da terra e, principalmente, a agricultura possui maior

volatilidade de preços, mais tempo para retorno dos investimentos, além das inúmeras

restrições comerciais que as envolvem no mercado internacional (OECD, 2005).

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Como resultado, os agentes financeiros atuantes no meio rural têm obrigação de deter

o conhecimento sobre as informações sobre os indivíduos deste setor, possibilitando

atendimento adequado às demandas por crédito, mas que proporcione maior segurança da

adimplência dos contratos e retornos esperados das instituições financeiras.

Deste modo, surge o exame das características do produtor rural, o qual é um

instrumento padronizado, mas que não desrespeita as particularidades de cada produtor no

momento da concessão do crédito, possibilitando às instituições financeiras obterem as

informações primordiais do produtor rural, garantindo a concessão de empréstimos rurais com

maior segurança.

Sobre as características para o exame da concessão de crédito, destacam-se os

trabalhos de Bandyopadhyay (2007), Navajas et al (2007), CNA (2004), Fontelles (2007),

Atieno (2001), Conning e Udry (2007), Kumar et al (2005), Khandker et al (2003), Zeller

(2003), Gonzales (2003), Barry e Escalante (2001), Davis et tal (1998) e Duong e Izumida

(2002), os quais, mesmo com objetivos distintos, desmitificam as características do produtor

rural, demonstrando seu desempenho na obtenção de crédito.

O Diagrama 03 descreve as principais características descritas por esses autores, a

serem examinadas pelo credor na concessão do crédito rural e sua implicação no aumento ou

redução do volume de crédito.

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Diagrama 03: Características avaliadas para a concessão do crédito rural. Fonte: elaborado pelo autor

Observa-se a existência de parâmetros qualitativos e quantitativos. Os parâmetros

qualitativos, essencialmente, seguem a caracterização personalíssima do produtor e do

administrador da empresa rural. Na qualificação do cliente, seguem o pressuposto de

contribuir com a avaliação do caráter do agente em relação à quitação da futura dívida.

Também são utilizados dados históricos de pontualidade dos pagamentos do produtor

rural. Essas informações sinalizam se o produtor tem probabilidade de inadimplir o futuro

contrato. Todavia, como foi salientado por Silva (2008), apesar de este parâmetro demonstrar

a honradez do devedor nos pagamentos, um produtor inadimplente no passado não significa

ser inadimplente no futuro, e vice-versa. Com isso, mesmo o produtor fornecendo algumas

referências comerciais, a consulta deve abranger outras fontes além daquelas mencionadas

pelo futuro devedor.

Já os índices de custo de vida relacionam a formação familiar do agente, a qual possa

influenciar a administração da produção, ou mesmo a renda final do produtor rural (variável

tipificada também como conglomerado).

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Em relação aos fatores regionais e externos, estes demonstram como as medidas

institucionais interferem no cenário rural e na atuação do tomador de empréstimo com essas

interferências. Estes fatores são compostos por fatores industriais (relação do produtor com o

industrial, partindo do princípio da agregação de valor dos produtos com a industrialização);

fatores regionais (porte empresarial, influência do produtor no mercado, competitividade do

agente no setor, medidas governamentais de incentivo ou restrição à produção); fator terra

(como a terra é um dos insumos mais importantes, aqui analisa a questão da situação da região

em que se encontra a propriedade, a disputa da posse da terra); e a Sazonalidade (como a

agricultura tem ciclos maiores para produção, analisar a periodicidade da produção e se

atentar para os períodos de gastos e renda do produtor rural).

A agricultura possui ciclos produtivos longos, com isso os agricultores devem

antecipar despesas que só serão capazes de recuperá-la quando o produto for comercializado.

Isto leva a potenciais problemas de caixa, sendo este agravado pela falta de acesso aos

serviços de seguros, crédito e de um elevado custo dos empréstimos (GOVERNMENT OF

INDIA, 2007)

Os parâmetros quantitativos seguem o intuito de mensurar a expectativa de

inadimplemento da dívida ao se confrontar a pontuação de uma proposta de crédito qualquer,

com determinado parâmetro mínimo aceitável. Para tanto, consideram-se os fatores de

finanças, os quais descrevem a situação econômico-financeira do produtor em relação às

responsabilidades com as obrigações do contrato de concessão de crédito.

Este fator é composto pela responsabilidade/renda (ilustra a renda mínima necessária

para o indivíduo quitar todas as dívidas); os juros (os juros que formaram o ágio da dívida,

além de caracterizar o parcelamento); e o valor do empréstimo (examinar se o valor é propício

à renda do produtor).

Também é acrescido o fator fiança, o qual garante que no caso de inadimplência no

contrato, esses valores avalizem a quitação da dívida. Para a avaliação desse fator utilizam-se

variáveis como terra (se o tomador de empréstimo é proprietário da terra ou se a propriedade é

hipotecada); garantias (exames das garantias, de acordo com a liquidez, a depreciação, a

capacidade de comercialização, localização, custos de manutenção e despesas de venda do

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bem); quantidade hipotecada9 (a relação do valor do empréstimo com o valor total dos bens

do produtor rural); e valor de entrada (o valor que o produtor dá como entrada para a

aquisição do empréstimo).

Entretanto, Bandyopadhyay (2007), Barry e Escalante (2001) e Davis et al (1998)

também acrescentam sinais a alguns fatores acima expostos, indicando o efeito destes fatores

no crédito rural, levando em consideração os atributos de setor e dos seus mutuários, além de

ser altamente relacionado à tipologia da fazenda, da mercadoria, e a localização geográfica. O

Quadro 03 descreve resumidamente os efeitos desses fatores.

Por consequência, presume-se que as variáveis taxa de juros (na visão da demanda);

parcelas do empréstimo; idade do cliente; sazonalidade, responsabilidade, prazo de carência e

quantidade hipotecada sejam inversamente proporcionais ao valor financiado final (sinal

negativo), isto é, em caso de elevação destes fatores num exame de contrato de concessão de

empréstimo, a tendência é a redução do valor final financiado.

Variável Influência na margem de concessão do crédito rural

Idade do Cliente Diminui

Tempo de clientela Aumenta

Parcelas dos empréstimos Diminui Sazonalidade Diminui Responsabilidade Diminui Renda Aumenta

Taxa de Juros Aumenta Carência Diminui Terra Aumenta Garantias Aumenta Quantidade Hipotecada Diminui Valor de entrada Aumenta

Quadro 03: Comportamento das características do produtor rural na expansão ou

redução do volume de empréstimo. Fonte: elaborado pelo autor, segundo os estudos de Bandyopadhyay (2007), Barry e Escalante (2001) e Davis et

al. (1998)

Nota: Conforme exposto no tópico 3.1 deste trabalho, a variável taxa de juros poderá influenciar de duas formas:

de acordo com oferta (maior a taxa de juros, maior estímulo para concessão do crédito) ou com a demanda

(menores são os juros, maior estímulo para aquisição de crédito) por crédito rural.

Já o caso das variáveis renda; contrapartida; tempo de clientela; taxa de juros (na visão

da oferta) e área de produção, que sejam diretamente proporcionais ao valor financiado final

(sinal positivo), isto é, em caso de elevação destas características a tendência da elevação do

valor final financiado.

9 Bandyopadhyay (2007) comenta este fator como loan-to-value

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Fontelles (2007) descreve que o comportamento de um investidor é também

influenciado pelos fatores sociais (como grupos sociais de referência, famílias, papeis e

posições sociais) e pelas suas características pessoais (como idade e estágio do ciclo de vida,

ocupação, situação econômica, estilo de vida, personalidade e autoestima) no desejo em

assumir risco ou não em um determinado investimento.

Portanto, as instituições financeiras atuantes na agropecuária têm comprometimento de

monitorar as informações sobre os produtores rurais, possibilitando atendimento correto à

demanda por crédito, sem deixar de garantir retorno esperado aos agentes financeiros. Com a

realização do adequado exame das características dos contratos concessionários de crédito,

além de garantir o monitoramento dos produtores, permite que a concessão de crédito rural

seja influenciada apenas pela capacidade de pagamento ou pelas variáveis que expõem o

apropriado volume de crédito a ser emprestado.

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37

3 - FONTE DOS DADOS E MODELO ANALÍTICO

3.1 - Dados e Fonte

Para chegar à avaliação das variáveis dos contratos foi obtida uma amostragem com

2.665 produtores vinculados ao FCO Rural, os quais têm a correspondência ao período de

1995 a 2009. Todavia, torna-se importante salientar que durante a obtenção dos dados junto à

instituição financeira, por motivos de segurança e sigilo, foram recusadas quaisquer

informações que possibilitasse o reconhecimento de algum dos clientes de tal modo que como

critério para escolher um determinado produtor seguem-se apenas os aspectos econômicos e

sociais do referencial teórico deste trabalho.

Por conseguinte, as variáveis escolhidas, a partir do exame dos contratos do FCO

Rural, foram:

1) VF – valor financiado;

2) RBR – renda bruta;

3) RPR - Contrapartida ou recursos próprios;

4) IDAD - idade do cliente;

5) TCLI - tempo de clientela;

6) JUR - taxa de juros;

7) PARC - número de parcelas;

8) CARE - prazo de carência;

9) APR – área de produção.

Primeiramente, a variável a ser explicada será o valor financiado (VF), ou seja, o valor

concedido pela instituição financeira ao produtor rural.

Posteriormente, a variável renda bruta (RBR) corresponde à renda bruta real média

dos produtores rurais, do ano anterior da concessão do contrato. A renda do produtor contribui

diretamente na capacidade administrativa do produtor rural, além de possibilitar o estudo da

disposição de endividamento de curto e longo prazo do tomador de empréstimo. Espera-se

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38

que os valores de renda bruta média estejam diretamente relacionados com o valor financiado

ao produtor.

A variável recursos próprios (contrapartida ou RPR) é o compromisso do tomador de

empréstimo em aplicar certa quantia em dinheiro no projeto de investimento. Geralmente, esta

ação acontece antes da retirada do valor final financiado. No entanto, existem casos que esta

contrapartida é prestada durante o período de vigência do contrato.

Essa ação repassa às instituições financeiras uma maior segurança da realização das

motivações pelas quais o empréstimo fora requisitado e posteriormente à ocorrência da

quitação do débito. Nas relações comerciais essa contrapartida e conhecida vulgarmente como

o “valor de entrada”, o qual o cliente, antes de adquirir um bem, de imediato, repassa uma

porcentagem do valor do débito – ou realiza o pagamento da primeira parcela - repassando

maior credibilidade aos agentes do devido cumprimento contratual. Em muitos casos, o valor

da contrapartida é incisivo para o comprador obter melhores vantagens no negócio, como uma

maior carência, um parcelamento maior e uma redução dos juros. Ainda os recursos próprios

são utilizados para despesas não-financiáveis no programa.

Já a variável idade do cliente (IDAD) tem o propósito de saber quantos anos o cliente

tinha quando ocorreu o acerto do contrato de empréstimo. Essa variável influencia o fator

conglomerado do perfil do produtor rural.

A variável tempo de clientela (TCLI) é a variável que demonstra o tempo que o

produtor tem junto à instituição creditória, quando acertado o contrato. Um produtor que tem

um bom tempo de clientela junto ao banco repassa aos agentes do mercado maior

credibilidade na solicitação de empréstimos, consoante este já conhecer os procedimentos e

normas do Banco. Mas, principalmente, um cliente com vínculo longo com uma instituição

evidencia um bom relacionamento e o sucesso de negócios anteriormente realizados, ou o

conhecimento de seu histórico pela instituição.

A variável taxa de juros (JUR), a qual demonstra os juros utilizados no negócio, é um

grande medidor do risco do negócio. Na maioria das vezes, elevadas taxas de juros são

aplicadas em contratos com insegurança maior, e baixas taxas de juros são aplicadas para

negócios com insegurança menores, ou maior certeza de adimplência.

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Vale a pena salientar que a taxa de juros se caracteriza como preço a ser pago pelo

benefício da concessão de recursos, portanto funciona como um dos instrumentos de

equilíbrio da economia. Em geral, se elevar a taxa de juros, terá como resultado o incentivo

às instituições financeiras a concederem mais crédito, porém desanimaria os produtores a

obterem mais crédito rural. Mas se forem reduzidos os juros, terá a consequência de estímulo

aos produtores rurais a obterem mais créditos, mas desestimularia as instituições financeiras a

disponibilizarem maior crédito à agropecuária.

Sobre a variável número de parcelas do empréstimo (PARC), esta se relaciona

inversamente com a taxa de juros, no sentido de demonstrar a segurança de adimplência do

contrato por parte do financiador. Em tese, quantidades maiores de parcelas são concedidas a

contratos com maior segurança e quantidades menores de parcelas, a empréstimos com

possibilidade maior de inadimplência. Em alguns casos, os empréstimos mais seguros

apresentam a possibilidade de maiores parcelamentos dos débitos e taxas de juros menores.

A variável carência (CARE) tem o intuito de demonstrar o tempo em que o credor está

disposto a não começar a receber a dívida, mesmo com o contrato já em validade. As

atividades com maiores possibilidades de inadimplência, geralmente, ocasionam carências

menores (ou mesmo sem prazo de carência) e atividades com probabilidades menores,

maiores prazos de carência. Também como forma de melhor visualização desta variável todos

os prazos de carências foram expostos em meses, assim facilitando qualquer compreensão e

discussão do tema.

A variável área de produção (APR) tem o intuito de demonstrar a quantidade de área

que será utilizada pelo produtor rural, a qual incide diretamente nas garantias contratuais.

Como a maioria dos fatores da agricultura e pecuária é rapidamente depreciável, a terra se

torna a principal garantia junto ao financiador de que a dívida será quitada. E em caso de

descumprimento do contrato, o credor tem em mãos um bem com pouca depreciação para

ressarcimento dos débitos.

Por fim, todos os valores monetários utilizado pelas variáveis foram deflacionados

para Reais de novembro de 2009 pelo IGP-DI mensal do IBGE. Logo se têm em valores reais

as seguintes variáveis: valor financiado, recursos próprios e renda bruta.

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3.2 O modelo analítico

O modelo analítico deste trabalho considerará a regressão tendo como variável

explicada o valor financiado real e, como variáveis explicativas, a renda brutal real, os

recursos próprios reais, a idade do cliente, o tempo de clientela, a taxa de juros, o número de

parcelas do empréstimo, o tempo de carência e a área de produção.

A literatura econômica possibilita várias formas funcionais, as quais variam de acordo

com sua flexibilidade e a capacidade dos ajustamentos, para esse tipo de exame. Contudo,

Aguirre (1997) descreve que não é claro qual o critério a ser utilizado para decidir qual

especificação irá apresentar melhor ajustamento para os dados de uma amostra. Tal decisão

não pode ser tomada com base apenas no coeficiente de determinação. Em geral, a literatura

econométrica recomenda a avaliação dos resultados da estimação como um todo, ou seja,

observando-se as significâncias dos parâmetros estimados, as medidas oriundas da

maximização da função log verossimilhança e critérios de informação de Akaike e Schwartz.

A transformação de Box e Cox (1964) é utilizada para contornar as deficiências de

escolha de forma funcional, a fim de obter maior flexibilidade e garantir a estabilidade do

modelo estimado, generalizando o modelo linear, conforme Greene (2003: p. 173). A

transformação Box-Cox vem sendo usada para resolver os problemas de heterocedasticidade

ou falta de normalidade em amostras de seção cruzada.

Esta transformação pode ser apresentada para uma variável y estritamente positiva

como:

(1)

em que é a variável transformada e o λ é um parâmetro a ser estimado. Conforme o

resultado de λ, tem-se a indicação da melhor fórmula funcional a ser utilizada. Conforme

Lindsey e Sheater (2010), a expressão (2) apresenta as possibilidades de resultados e suas

respectivas formas funcionais.

(2)

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Aguirre (1997) descreve que quando λ = 1, a transformação deixa a variável

praticamente inalterada (a não ser pela subtração da unidade de cada observação, cuja

consequência é o deslocamento de toda a distribuição para esquerda nessa quantia, mas

mantendo a mesma variância). Por sua vez, quando λ = 0 implica na transformação

logarítmica da variável. Por último, para λ = -1, tem-se que y(-1)

= 1 - y-1

.

Porém, conforme Lindsey e Sheater (2010), Aguirre (1997), Box e Cox (1964) e

Oliveira et tal (2001), esta transformação pode também ser realizada nas variáveis

explicativas do modelo. No presente trabalho, aplica-se a transformação tanto na variável

explicada como nas explicativas, simbolizando por theta (θ) a transformação na variável

dependente e por lambda (λ) a transformação nas variáveis explicativas, ou seja, nas

características que serão utilizadas para avaliar o valor de crédito financiado ao produtor.

Box e Cox (1964) argumentam que a transformação com modelagem theta - a que

inclui transformações nas variáveis dependentes e independentes, conforme Statacorp (2009) -

inibe a presença de resíduos com problemas típicos das distribuições normalizadas e

produzidas por modelos de regressão lineares. A expressão (3) apresenta a fórmula a ser

estimada, aqui especificada numa transformação Box- Cox na modelagem theta.

, (3)

em que y e x são respectivamente as variáveis dependente e independente; β, θ, λ são

parâmetros estimados sendo θ, λ os das transformações Box-Cox; ε representa o resíduo bem

comportado, ruído branco; j denota a observação.

De tal modo, neste trabalho, utilizou-se esta transformação para realizar um melhor

ajustamento dos dados no exame das características dos contratos de crédito rural, assim

possibilitando uma melhor visualização do desempenho de cada fator na determinação do

volume dos recursos financiados via Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste

(FCO).

Logo, a equação estimada para cada observação j foi:

(4)

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Em que:

VFR – Valor Financiado Real;

RBR – Renda Bruta Real;

RPR – Contrapartida ou Recursos Próprios Reais;

IDAD – Idade do cliente;

TCLI – Tempo de Clientela;

JUR – Taxa de Juros;

PARC – Parcelas do empréstimo;

CARE – Prazo de Carência;

APR – Área de Produção;

– Parâmetros a serem estimados; e,

– Erro aleatório bem-comportado, ruído branco.

Com esta estimação, seguindo o exposto no capítulo anterior, presume-se que as

variáveis parcelas do empréstimo, idade do cliente e prazo de carência sejam inversamente

proporcionais ao valor financiado final ( ), isto é, valores maiores destas peculiaridades

em um perfil de produtor indicarão a tendência à redução do valor final financiado.

Já para o caso das variáveis renda bruta real, recursos próprios reais, tempo de

clientela, taxa juros e área de produção, espera-se que sejam proporcionais ao valor financiado

( ), isto é, valores maiores destas características sugerem maiores valores financiados.

A estimação se dá pela maximização direta da função log verossimilhança (LogL –

Log Likelihood) com respeito ao conjunto completo de parâmetros, conforme módulo

„boxcox‟ do software Stata, versão 11. A função LogL concentrada será da forma

Em que

;

e,

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, Z é uma matriz (N x 1) de variáveis não-transformadas.

O próximo capítulo traz os resultados do trabalho para as variáveis citadas neste

capítulo e o modelo estimado com o uso do módulo „boxcox‟ do software Stata, versão 11,

conforme a expressão (4).

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5 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 - Análise descritiva dos dados

Em busca da demonstração do comportamento das características que levam o credor à

concessão de maior ou menor valor financiado de crédito rural, via programa de

financiamento FCO Rural, apresentam-se na Tabela 02 as estatísticas descritivas das variáveis

da amostra.

Tabela 02 – Estatística descritiva das variáveis da amostra dos contratos de concessão de

crédito do FCO Rural

Variável Estatística descritiva

Unidade Média Mediana Mínimo Máximo

Valor

Financiado

R$

correntes 409.891,34 180.810,00 9.600,00 34.234.641,04

R$ em

Nov/2009 569.352,91 222.459,26 9.673,99 57.139.200,75

Renda Bruta

R$

correntes 1.880.208,95 631.620,00 5.000,00 116.828.016,50

R$ em

Nov/2009 2.749.564,37 777.415,30 6.090,28 261.118.675,90

Recursos

Próprios

R$

correntes 50.089,66 15.520,00 500,00 3.586.395,17

R$ em

Nov/2009 65.960,69 19.568,44 496,82 5.985.859,57

Idade Anos 48,84 48 19 88

Juros % ao mês 0,5983 0,6041 0,041 1,24

Tempo de

clientela Meses 142,44 131 1,0 531

Parcelas do

empréstimo Meses 13,99 14,20 1,33 120,00

Carência Meses 22,85 23 2,0 120

Área de

Produção Hectares 4.749,65 895 1,0 14.195.584

Fonte: dados da pesquisa.

Observa-se que a variável valor financiado apresentou em valores correntes uma

média de R$ 409.891,34, tendo seu ponto máximo R$ 34.234.641,04 e como ponto mínimo,

R$ 9.600,00. Já em valores reais trazidos à data base - novembro de 2009 – apresentou média

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de R$ 569.352,91, tendo seu ponto máximo R$ 57.139.201,00 e como ponto mínimo,

R$9.673,99.

Sobre a observação renda bruta (RB), em valores correntes, esta apresentou uma

média R$ 1.880.208,95, tendo como participação máxima e mínima de R$ 116.826.016,50 e

R$ 5.000,00, respectivamente. Já em valores reais, esta observação demonstrou uma média

R$ 2.749.564,37, tendo como renda bruta anual máxima de R$ 261.118.675,90 e mínima, de

R$ 6.090,28.

Entretanto, como foi dito no capítulo 03 deste trabalho, na metodologia do FCO rural,

ocorre a divisão dos produtores conforme sua renda média anual, isto é: mini produtor (com

renda até R$ 150 mil anuais); pequeno produtor (com renda entre R$ 150 mil a R$ 300 mil

anuais); médio produtor (com renda entre R$ 300 mil a R$ 1,9 milhão anuais); e Grande

Produtor com renda acima de R$ 1,9 milhão anuais). A Tabela 03 demonstra essa

classificação na amostra.

Tabela 03 – Classificação da amostra de acordo com a renda do produtor

Tipo de Produtor Quantidade

de contratos

Participação no

total de contratos

(%)

Valor financiado real

(R$)

Participação no total

do valor financiado

real (%)

Grande Produtor 524 19,66 769.604.587,95 50,72

Médio Produtor 1.394 52,31 596.758.874,28 39,33

Pequeno Produtor 397 14,90 94.269.267,40 6,21

Miniprodutor 350 13,13 56.692.768,02 3,74

Total 2.665 100,00 1.517.325.497,64 100,00

Fonte: dados da pesquisa.

Observa-se que a maioria dos contratos da amostra (52,31%) é caracterizada como

médios produtores, sendo seguido pelos grandes produtores (19,66%), pequenos produtores

(14,90%) e miniprodutores rurais (13,13%). Porém, os grandes e médios produtores possuem

as maiores participações em relação à disponibilidade de recursos financiados, 50,72% e

39,33%, respectivamente. E se atentarmos a participação do resto dos participantes, não

ultrapassa 10% dos recursos financiados, apesar de representarem 28,03% de toda a amostra

de produtores.

Apesar disso, para melhor visualização da relação das variáveis renda bruta real e

valor financiado real, foi observado o nível de liquidez para pagamento dos empréstimos

muito baixo dos pequenos em relação aos grandes e médios produtores.

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Assaf Neto (2000) descreve esse procedimento como Índice de Liquidez Geral10

. Este

instrumento é uma ferramenta auxiliar para as organizações financeiras e a outros credores,

em caso de concessão de certa quantia de crédito, se há possibilidade de dificuldades de

quitação dos débitos dentro do período programado, conforme a liquidez da renda do devedor.

Em caso de um grau de endividamento muito elevado ou um Índice de Liquidez Geral

muito baixo, repassa aos credores a possibilidade de dificuldade para a quitação do débito

dentro do prazo programado em contrato, a ponto de o produtor rural ser obrigado, no

mínimo, a gerar o mesmo nível de renda em todo o período contratual, independente da

vinculação da renda rural aos ciclos produtivos, e a possibilidade de interferência de eventos

não-controlados pelo ser humano. Assim, o nível de participação do valor financiado na renda

bruta é desejável que não seja muito elevado. Entretanto, também não é oportuno este

coeficiente de participação ser muito baixo. Na medida em que ocorra este fato, demonstrará

o acontecimento de excesso de disponibilidade, ou seja, perda financeira pela não aplicação

de recurso. A Tabela 04 demonstra com maiores detalhes esta relação.

Tabela 04 - Participação do Valor financiado Real na Renda Bruta Real de acordo com

o tipo de produtor (valores em porcentuais)

Porcentagem de

Participação

Tipo de Produtor

Total Total

(acumulado) Grande Médio Pequeno Mini

Até 10% 8,26 7,66 0,15 0,00 16,06 16,06

Entre 10% e 20% 5,29 13,36 1,65 0,26 20,56 36,62

Entre 20% e 30% 2,89 9,04 1,69 0,71 14,33 50,96

Entre 30% e 40% 0,68 5,85 1,95 0,56 9,04 60,00

Entre 40% e 50% 0,53 4,13 1,88 0,94 7,47 67,47

Entre 50% e 60% 0,53 2,55 1,46 0,90 5,44 72,91

Entre 60% e 70% 0,38 2,33 1,09 0,94 4,73 77,64

Entre 70% e 80% 0,30 1,31 0,86 0,60 3,08 80,72

Entre 80% e 90% 0,19 1,13 0,53 0,68 2,51 83,23

Entre 90 e 100% 0,11 0,98 0,45 0,64 2,18 85,41

Entre 100% e 150% 0,38 1,84 1,73 2,66 6,60 92,01

Entre 150% e 200% 0,08 0,71 0,71 1,16 2,66 94,68

Acima de 200% 0,08 1,43 0,75 3,08 5,33 100,00

TOTAL 19,70 52,32 14,90 13,13 100,00 -

Fonte: dados da pesquisa.

Observa-se que 20,56% dos contratos se encontram com o coeficiente de participação

entre 10% e 20%. No entanto, se for observada mais atentamente a Tabela 04, conclui-se que

10

O Índice de Liquidez Geral é o resultado da operação

,

demonstrando a liquidez, tanto em curto como em longo prazo, expondo quando o credor tem direitos em caso

de quitação de R$ 1,00 do débito em contrato.

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32,53% da amostra possui o valor financiado correspondendo a mais de 50% da renda bruta

anual. Esta relação é evidenciada ainda mais quando se examinar os grupos de mini e

pequenos produtores. Nestes grupos, os contratos com mais de 50% de participação do valor

financiado em relação à renda bruta anual representam 81,14% para mini produtores e 50,38%

para pequenos produtores, dos contratos pertinentes aos grupos.

Deste modo, os grupos que, em tese, teriam menor capacidade de liquidez para

pagamento de créditos rurais são os que mais comprometem sua renda. Com isso, e ainda

levando em conta o retorno em menor escala da agricultura (setor primário), em comparação

aos outros setores da economia, pode-se descrever que existe a tendência de grande parte

desses produtores em ter dificuldades em relação à adimplência dos débitos em tempo hábil.

A variável contrapartida (recursos próprios) apresentou a seguinte descrição de seus

valores correntes: média igual a R$ 50.089,66, tendo a contrapartida máxima igual a

R$ 3.586.395,17 e mínima, igual R$ 500,00. Em relação a valores reais: média igual a

R$ 65.960,69, tendo a contrapartida máxima igual a R$ 5.985.860,00 e a mínima igual

R$ 496,82 tendo valor real total igual a R$ 1.768.550.488,61.

Já a participação desta variável, de acordo com o tipo de produtor, foi do grupo dos

grandes produtores, o qual foi responsável por 50,72% do total dos recursos próprios (valores

reais). Sendo em sequência o grupo dos médios produtores, com 39,33%, e o grupo de

pequenos e miniprodutores com 6,21% e 3,74%, respectivamente (Tabela 03).

Sobre a variável idade do cliente, esta apresentou uma média de 48,52 anos, tendo a

idade máxima de 88 anos e a idade mínima de 18 anos nos contratos analisados. A tabela 05

apresenta esta característica de acordo com o tipo de produtor.

Tabela 05 – Distribuição do número de contratos por idade e de acordo com o tipo de

produtor

Tipo de Produtor Idade

18 a 40 anos 40 a 60 anos 60 a 80 anos Acima de 80 Total

Grande 4,95% 12,31% 2,33% 0,08% 19,66%

Médio 12,68% 30,28% 9,16% 0,19% 52,31%

Pequeno 3,11% 8,63% 3,04% 0,11% 14,90%

Mini 3,04% 7,95% 1,95% 0,19% 13,13%

Total 23,79% 59,17% 16,47% 0,56% 100,00%

Fonte: dados da pesquisa.

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Nota-se que maioria dos produtores (59,19%) se encontrava no intervalo entre 40 a 60

anos de idade, deste modo evidenciando a existência de uma população rural já em idade

avançada, como demonstrado nos trabalhos de CNA (2004), Francisco (2007) e Assunção e

Chein (2007). Sobre a ótica do tipo de produtor em relação à sua renda (Tabela 05),

novamente o intervalo entre 40 a 60 anos de idade se destaca: grande produtor (12,31%);

médio produtor (30,28%), sendo este o maior grupo da amostra; pequeno produtor (8,63%); e

miniprodutor (7,95%).

Contudo, em exame mais detalhado da amostra da relação de idade dentro dos grupos

de produtores fica constatado que o grupo com maior renda são os mais novos da amostra. O

grupo dos grandes produtores possui 74,82% dos seus participantes com idade acima dos 40

anos, sendo composto por produtores mais novos da amostragem. Já o grupo dos médios

produtores possui 75,75% de seus participantes acima dos 40 anos de idade, sendo logo

seguido pelo dos miniprodutores (76,88% de seus participantes), e por fim, o grupo com

maior quantidade de produtores participantes com idade acima dos 40 anos (79,08%), dos

mini produtores.

Este fato evidencia a necessidade de políticas especializadas para atender essa

conjuntura nos contratos de concessão de crédito, balanceando a idade avançada com a

margem de crédito, melhorando tanto a segurança institucional como o relacionamento dos

agentes econômicos do mercado de crédito rural.

Em sequência, foi apresentada a variável tempo de clientela, a qual apresentou uma

média de 142,44 meses, tendo como tempo de cliente máximo neste banco de 531 meses e o

tempo mínimo, de 1 mês. Nesta amostra foi verificada uma grande quantidade de produtores

rurais com tempo de clientela acima dos 120 meses (10 anos) na mesma instituição bancária.

A Tabela 06 descreve esse comportamento, conforme o grupo de produtores.

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49

Tabela 06 – Distribuição do número de contratos segundo o tempo de clientela e o tipo

de produtor.

Tipo de

Produtor

Tempo de Clientela

1 a 50

meses

51 a 100

meses

101 a 150

meses

151 a 200

meses

Acima de 200

meses Total

Grande 1,80% 3,60% 5,70% 3,83% 4,73% 19,66%

Médio 6,94% 10,99% 12,35% 7,62% 14,41% 52,31%

Pequeno 2,36% 2,74% 4,24% 1,88% 3,68% 14,90%

Mini 3,26% 2,78% 3,53% 1,13% 2,44% 13,13%

Total 14,37% 20,11% 25,82% 14,45% 25,25% 100,00%

Fonte: dados da pesquisa.

Observa-se que a maioria dos contratos possuía tempo de clientela de 101 a 150 meses

(25,82%), sendo seguido pelo grupo de acima 200 meses (25,25%) e o grupo de 51 a 100

meses (20,11%).

No entanto, se forem examinados os perfis dos contratos na amostragem conclui-se

que uma grande parte dos produtores da amostra já era cliente há mais de 10 anos desta

instituição creditória (44,55% dos produtores têm a variável tempo de clientela acima 120

meses, isto é, quando realizaram o contrato de empréstimo com as diretrizes do programa

FCO Rural). E que apenas 0,825% dos produtores possuíam apenas 1 ano de clientela com

este Banco.

Se for feita uma comparação do tempo de clientela entre o grupo de produtores,

observa-se que apesar de ser considerado o mais novo e com maior participação no volume

dos recursos financiado, o dos grandes produtores foi também o primeiro em relação a

produtores com maior tempo de clientela. O Gráfico 03 demonstra esta situação.

Gráfico 03: Comparativo da variável tempo de clientela entre o grupo de produtores Fonte: dados da pesquisa.

1 a 50 meses 51 a 100 meses 101 a 150 meses 151 a 200 meses acima de 200 meses

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50

Se forem utilizados como medida dos produtores que possuem tempo de clientela

acima de 101 meses, para facilitar a visualização11

(Gráfico 03), o grupo com maior

porcentagem foi o dos grandes produtores, com 72,53% dos seus componentes com tempo de

clientela acima de 101 meses, sendo seguido pelos pequenos produtores (65,75%);

miniprodutor (54,01%); e médio produtor (52,57%).

A Tabela 07 continua a trazer descrições da variável tempo de clientela, mas na ótica

da visualização da sua comparação com o valor financiado e o tipo de produtor.

Tabela 07 – Distribuição do valor financiado segundo o tempo de clientela e o tipo de

produtor

Tipo de

Produtor

Tempo de clientela

1 a 50

meses

51 a 100

meses

101 a 150

meses

151 a 200

meses

Acima de

200 meses Total Financiado

Grande 3,98% 8,43% 18,51% 9,32% 10,49% 50,72%

Médio 7,68% 8,27% 8,59% 6,01% 8,78% 39,33%

Pequeno 1,28% 1,04% 2,25% 0,58% 1,07% 6,21%

Mini 0,75% 0,86% 1,27% 0,29% 0,57% 3,74%

Total 13,69% 18,60% 30,62% 16,19% 20,91% 100,00%

Fonte: dados da pesquisa.

Os grupos de produtores com maior tempo de clientela também foram os com maiores

participações em relação à quantidade financiada. O grupo de produtores com 101 a 150

meses de clientela foi responsável por 30,62% do total financiado, sendo seguido pelos de

produtores com tempo de clientela: acima de 200 meses (20,91%); de 51 a 100 meses

(18,60%); de 151 a 200 meses (16,19%); e 1 a 50 meses (13,69%).

Produtores com certo tempo de clientela com uma instituição financeira têm grande

probabilidade de possuir o conhecimento, dos procedimentos bancários da instituição

financeira, visto que têm fácil acesso aos históricos das atividades deste agente financeiro em

outros anos safras. Igualmente, também se pode delinear que o Banco tem conhecimento mais

profundo do seu cliente, ao ponto em que tem acesso ao histórico do cliente nas atividades

junto a esta instituição, e em outros casos de empréstimos.

11

Comparação feita de acordo com o exposto no capitulo anterior, o qual descreve que quanto maior o tempo de

clientela, maior será volume de crédito a ser concedido ao produtor rural.

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51

Já a variável taxa de juros12

apresentou sua média igual a 0,5983% ao mês, tendo

como taxa de juros máxima e mínima mensal de 1,24% e 0,041%, respectivamente. Como na

legislação do FCO Rural, esta se apresenta com intervalos fixos das taxas de juros a serem

cobradas (variando de acordo com os tipos de contratos) e expõe a tendência de esta variável

ser uma ferramenta frágil para o credor na ótica de controlar risco, isto é, direcionar o contrato

com a possibilidade de descumprimento contratual maior, a taxas de juros elevadas e menores

benefícios.

Sobre a variável parcelas do empréstimo (PARC), considerando que cada parcela fosse

paga mensalmente13

, a variável número de parcelas apresentou uma média de 13,99 parcelas

mensais, tendo o parcelamento máximo de 120 meses e o sai mínimo de 1,33 meses. Para

melhor visualização a Tabela 08 faz uma divisão em grupos de parcelamento, demonstrando o

comportamento desta variável na amostra.

Tabela 08 - Distribuição do número de contratos segundo o número de parcelas e com o

tipo de produtor

Tipo de

Produtor

Número de Parcelas

Até 05

parcelas

06 até 10

parcelas

11 a 15

parcelas

16 a 20

parcelas

Acima de 20

parcelas Total

Grande 1,20% 0,45% 14,75% 2,81% 0,45% 19,66%

Médio 2,03% 0,45% 33,51% 15,53% 0,79% 52,31%

Pequeno 0,79% 8,71% 5,03% 0,38% 0,00% 14,90%

Mini 0,64% 0,60% 7,77% 3,98% 0,15% 13,13%

Total 4,65% 10,21% 61,05% 22,70% 1,39% 100,00%

Fonte: dados da pesquisa.

Ressalva-se que 61,05% dos contratos possuíam parcelamento entre 11 e 15 meses,

sendo seguido pelo grupo dos contratos com 16 a 20 parcelas (22,70%), pelo grupo 06 a 10

parcelas (10,21%), posteriormente, pelo grupo de até 05 parcelas (4,65%) e pelo grupo com

apenas 1,39% dos contratos, os quais correspondem aos contratos superior a 20 meses.

Já sobre o Tempo de Carência (CARE), esta obteve uma média de 22,85 meses, tendo

como o prazo máximo de 120 meses e mínimo de 2 meses. A Tabela 09 descreve a relação

desta variável com o tipo de produtor.

12

As taxas de juros estão descritas ao mês para padronizar as unidades de medida com as variáveis Parcelas do

empréstimo (PARC) e Carência (CARE). 13

O parcelamento para pagamento poderá variar de acordo com contrato, podendo ser mensalmente,

trimestralmente ou semestralmente, assim para melhor adequação metodológica, foram colocados os

parcelamentos, em meses, na medida em que esta peculiaridade existiu na maioria dos casos dos contratos desta

amostra.

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52

Tabela 09 - Distribuição do número de contratos segundo o tempo de carência e com o

tipo de produtor

Tipo de

Produtor

Tempo de Carência

até 10

meses

De 11

meses até

20 meses

De 21

meses até

30 meses

De 31 meses

a 40 meses

41 meses em

diante Total

Grande 3,19% 7,13% 6,27% 2,51% 0,56% 19,66%

Médio 4,77% 14,30% 18,69% 14,56% 0,00% 52,31%

Pequeno 0,56% 2,81% 6,04% 5,18% 0,30% 14,90%

Mini 0,68% 3,53% 4,80% 3,98% 0,15% 13,13%

Total 9,19% 27,77% 35,80% 26,23% 1,01% 100,00%

Fonte: dados da pesquisa.

Nos contratos analisados, o grupo que possui maior quantidade de produtores foi dos

contratos com carência entre 21 a 30 meses, com 35,80%, tendo em sequência os acordos de

11 a 20 meses, com 27,77%, e os contratos de 31 a 40 meses com 26,23% dos contratos

examinados. Ressalva-se, que os médios produtores com contratos que possuem carência de

21 a 30 meses, formam o maior grupo desta pesquisa nesta ótica, com 18,69 pontos

percentuais.

Por fim, a variável área de produção (APR) apresentou área média de 4.749,65 ha,

tendo sua área máxima 1.419.584,00 ha e com área mínima 01 ha. As Tabelas 10 e 11

demonstram como esta se comportou nesta amostragem.

Tabela 10 - Distribuição do número de contratos segundo a área de produção e de

acordo com o tipo de produtor

Tipo de

Produtor

Área de Produção

1 a 500

hectares

501 a 1000

hectares

1001 a

1500

hectares

1501 a 2000

hectares

Acima de 2000

hectares Total

Grande 3,23% 2,36% 2,33% 1,46% 10,28% 19,66%

Médio 15,68% 12,31% 6,23% 4,47% 13,62% 52,31%

Pequeno 6,42% 3,56% 1,88% 0,90% 2,14% 14,90%

Mini 8,78% 2,14% 0,94% 0,49% 0,79% 13,13%

Total 34,11% 20,38% 11,37% 7,32% 26,83% 100,00%

Fonte: dados da pesquisa.

O grupo com áreas entre 1 a 500 hectares apresentou-se como o maior da amostra

(34,11%), sendo logo seguido pelos contratos com área acima de 2000 hectares (26,83%), dos

com 501 a 1000 hectares (20,38%), os com áreas de 1001 a 1500 hectares (11,37%) e os com

1501 a 2000 hectares (6,75%).

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53

Tabela 11 - Distribuição do valor financiado real de acordo com o a área de produção e

o tipo de produtor.

Tipo de

Produtor

Área de Produção

1 a 500

hectares

501 a 1000

hectares

1001 a

1500

hectares

1501 a 2000

hectares

acima de 2000

hectares

Total

Financiado

Grande 4,51% 4,76% 3,11% 2,15% 36,19% 50,72%

Médio 7,82% 7,63% 4,56% 4,12% 15,20% 39,33%

Pequeno 2,28% 1,16% 0,78% 0,26% 1,73% 6,21%

Mini 2,49% 0,52% 0,30% 0,17% 0,26% 3,74%

Total 17,10% 14,07% 8,75% 6,70% 53,37% 100,00%

Fonte: dados da pesquisa.

Já Tabela 11, há evidências sobre a importância da área como garantia ao produtor. As

propriedades acima de 2000 ha representam apenas 26,83% dos contratos, contudo

representam 53,37% dos recursos financiados. Em compensação, os contratos com

propriedades de 01 a 500 ha representam 34,11% destes, mas foram responsáveis por apenas

17,10% dos recursos financiados.

O grupo de grandes produtores com propriedades acima de 2000 hectares, os quais

foram responsáveis por 36,19% do total de recursos financiados (maior grupo em relação ao

valor financiado), sai representa apenas 10,28% dos produtores. Porém, o maior grupo da

amostra em relação à quantidade de hectares é o de médios produtores com 1 a 500 hectares

(15,68%), que teve apenas 7,82% do total de recursos financiados nesta amostra.

Portanto, observa-se um melhor desempenho das variáveis pertinentes aos contratos

dos grandes produtores, possibilitando a conclusão de que as características dos contratos de

crédito do FCO Rural dos grandes produtores (produtores com renda acima de R$ 1,9 milhões

anuais) facilitam a concessão de maior volume de crédito, em comparação a outros grupos de

produtores.

Entretanto, um ambiente institucional tem compromisso de impor aos agentes

governamentais a realização de políticas que apresentem alternativas para equiparação entre

os grupos de produtores, garantindo a possibilidade de crescimento e desenvolvimento dos

mini, pequenos e médios produtores, assegurando um bom relacionamento entre os vários

indivíduos participantes do mercado de crédito rural no Estado de Mato Grosso.

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54

5.2 - Discussão dos resultados

No intuito de melhorar a visualização do comportamento das variáveis que auxiliam a

concessão de crédito rural, além das estimações com toda a amostra, foram realizadas mais

quatro estimações seguindo a classificação de tipo de produtor (Grande, Médio, Pequeno e

Mini) da linha de financiamento FCO Rural. Com essas estimações obtiveram-se resultados

de auxílio ao estudo, visualizando-se o comportamento mais detalhado das referidas

características.

As estimações foram realizadas separadamente por grupos de produtores e para a

amostra geral e os testes dos pressupostos clássicos de regressão não indicaram violações. A

Tabela 12 apresenta os resultados das estimações conforme a equação (4).

Em relação à estimação com o grupo dos grandes produtores observou-se que a

maioria dos coeficientes das variáveis foram significativos (com exceção do número de

parcelas), sendo que as variáveis tempo de carência, recursos próprios reais, renda bruta real,

taxa de juros e área de produção tiveram parâmetros positivos e a idade do cliente e tempo de

clientela tiveram coeficientes negativos. As estimativas de lambda e theta foram significativas

e obtiveram valores positivos.

Já no caso da estimação com o grupo dos médios produtores, observou-se que a

maioria das variáveis teve parâmetros significativos (com exceção da taxa de juros), sendo

que variáveis tempo de carência, recursos próprios reais, renda bruta real e área de produção

foram diretamente proporcionais ao valor financiado real. As variáveis idade do cliente,

tempo de clientela e número de parcelas foram inversamente proporcionais ao valor

financiado. Contudo, apesar de ambos serem significativos, tanto o coeficiente de lambda

como o coeficiente de theta foi negativo.

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55

Tabela 12 – Resultados das estimações do valor financiado real via FCO Rural, Mato

Grosso

Variáveis Grupos de produtores

Grandes Médios Pequenos Mini Amostra

Geral

Renda Bruta Real 0,1068 0,2836 0,2427 0,0260 0,0500

(22,710)* (113,282)* (57,505)* (21,791)* (105,614)*

Recursos Próprios Reais 0,7386 0,6788 0,2591 0,0523 0,3708

(434,489)* (1320,122)* (236,589)* (112,327)* (1903,893)*

Idade do cliente -0,7782 -0,0788 -0,0519 -0,0379 -0,1274

(7,198)* (3,103)*** (0,269) ns

(0,778)ns

(8,258)*

Tempo de Clientela -0,3057 -0,0675 -0,0399 -0,0132 -0,0811

(12,133)* (32,270)* (2,492) ns

(2,351)ns

(51,552)*

Taxa de Juros 1,5702 0,0326 0,5824 0,8140 0,4411

(8,705)* (0,395) ns

(8,256)* (69,070)* (33,898)*

Número de Parcelas -0,2949 -0,0808 -0,2812 -0,3979 -0,2682

(1,488) ns

(4,407)** (4,901)** (63,356)* (39,803)*

Tempo de Carência 0,4694 0,0784 0,1096 0,1692 0,1646

(9,545)* (9,463)* (1,905) ns

(24,435)* (35,744)*

Área de Produção 0,1051 0,0579 0,0601 0,0197 0,0564

(11,063)* (31,042)* (14,395)* (10,759)* (67,142)*

Intercepto 10,3150 1,7511 3,6990 8,1551 8,1603

Lambda 0,1096 -0,0313 0,1139 0,1548 0,0727

(0,002)** (0,277)*** (0,013)** (0,015)** (5,030)**

Theta 0,0949 -0,0273 0,0281 -0,0467 0,0182

(0,000)** (0,188)*** (0,491)*** (0,249)ns

(1,540)*

Likelihood Ratio 628,35 1857,21 404,84 337,57 3762,99

Log Likelihood -7574,44 -18333,10 -5025,14 -4321,58 -35435,90

Critério Akaike (AIC) 15152,88 36670,21 10054,27 8647,15 70875,79

Critério Bayesiano (BIC) 15161,41 36680,69 10062,24 8654,87 70887,57

Nº de Observações 524 1394 397 350 2665

Fonte: dados da pesquisa.

Nota: i) Os valores entre parênteses são os valores das estatísticas da hipótese nula H0: β=0 na estimação do

modelo Box-Cox; ii) ns

estatisticamente não significativo, * estatisticamente significativo a 1%,

**estatisticamente significativo a 5% e *** estatisticamente significativo a 10%.

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56

Sobre o grupo dos pequenos produtores observou-se que os parâmetros da renda bruta

real, dos recursos próprios reais, da taxa de juros e da área de produção foram significativos.

No entanto, para a idade, os tempos de clientela e de carência não foram significativos. Com

exceção da variável número de parcelas, os parâmetros significativos foram diretamente

proporcionais ao valor financiado real. Já os coeficientes de lambda e de theta foram

significativos e positivos.

No caso do grupo dos miniprodutores, observou-se que os coeficientes da renda bruta

real, dos recursos próprios reais, da taxa de juros, do número de parcelas e da área de

produção foram significativos. Todavia, para a idade e o tempo de clientela não foram

significativos. Além disso, com exceção da variável número de parcelas e tempo de clientela,

todas as outras variáveis apresentaram coeficientes positivos. Ao contrário do lambda, o theta

foi não significativo nesta estimação.

Já em relação à estimação principal para a amostra em geral, todos os parâmetros

foram significativos e as variáveis carência, renda bruta real, taxa de juros e área de produção

tiveram coeficientes positivos, ou seja, diretamente proporcionais ao valor financiado real. A

variável idade, o tempo de clientela e o número de parcelas tiveram coeficientes negativos,

sendo inversamente proporcionais ao valor financiado. Sobre os coeficientes de lambda e

theta, ambos foram significativos e positivos.

Porém, em todas as equações, as variáveis prazo de carência e tempo de clientela não

seguiram o pressuposto do referencial teórico deste trabalho, o qual pregava que a variável

prazo de carência fosse inversamente proporcional ao valor financiado final (sinal negativo),

isto é, em caso de elevação deste num perfil de produtor, há tendência da redução do valor

final financiado. E que a variável tempo de clientela seja diretamente proporcional ao valor

financiado final (sinal positivo), ou seja, em caso de elevação desta característica num perfil,

há tendência da elevação do valor final financiado.

A variável prazo de carência tem a peculiaridade de ter relações estreitas com a taxa de

juros e número de parcelas, de modo que maiores parcelamentos e maiores carências,

habitualmente, são concedidos a contratos com maior segurança (e geralmente, com taxas de

juros baixas) e os parcelamentos e carências menores estariam associados aos empréstimos

com possibilidade de maior inadimplência (em geral, acompanhados por elevada taxa de

juros).

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57

Com isso, pode-se afirmar que as variáveis CARE, PARC e JUR são determinantes na

visualização pelo credor do risco da concessão do crédito ao produtor. E se o número de

parcelas não tem um desempenho apropriado para definição do valor final financiado, surge à

possibilidade de ocorrer uma visão distorcida do produtor, por parte dos agentes neste

mercado, permitindo a realização de ações que complicam a satisfação nos contratos de

concessão de crédito, dificultando o controle da inadimplência do crédito rural.

Com relação à observação tempo de clientela (TCLI), esta apresenta particularidades

subjetivas da relação entre as instituições financeiras e os produtores rurais, visto que

repassam ao mercado um histórico da atuação destes agentes no combate à incertezas geradas

pelas adversidades do mercado agropecuário14

e o sucesso ou insucesso das relações

transacionais de um determinado período.

Com isso, uma continuidade substancial nesta relação de clientela, principalmente no

caso ruralista, os quais dependem substancialmente de financiamento para a realização da

produção, supõe desempenho favorável nas relações neste período. Este fato pode ser ainda

evidenciado, lembrando que 44,55% dos produtores já tinham mais de 10 anos na mesma

instituição creditória quando elaboraram o contrato de empréstimo de investimento via FCO

Rural.

Por consequência, um produtor que tem bom tempo de clientela junto a um banco

transmitiria aos agentes do mercado maior credibilidade na solicitação de empréstimo. Logo,

repassaria também maior facilidade para aquisição de maiores volumes de empréstimo, uma

vez que os elementos deste mercado já conhecem os procedimentos e as normas (instituições),

além de evidenciar sucesso nos negócios anteriormente realizados. Mas, caso este fato não

ocorra, as atitudes já tomadas no combate às imperfeições e à incerteza do mercado de crédito

foram desconsideradas no momento da concessão do novo empréstimo.

Esta situação ainda é mais agravada se for observado o grupo dos pequenos e

miniprodutores. Estes grupos são caracterizados por possuir rendas menores, disponibilidade

reduzida de garantias contratuais e coeficientes do fator tempo de clientela não significativos.

14

A instituição credora examinada possuiu vários mecanismos de prevenção de perdas para dar maior segurança

do retorno dos investimentos. Ex: histórico financeiro completo do produtor, o qual inclui todas as atividades já

realizadas neste Banco, e a normatização interna que se caso houver garantias, e esta já estiver hipotecada

(Hipoteca de 1ª ordem), a segunda hipoteca (Hipoteca de 2ª ordem), só será realizada se a primeira hipoteca for

da respectiva instituição.

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58

Deste modo, um setor que necessita de um intensivo combate à incerteza dos agentes,

conforme seus retornos em longo prazo e os diversos fatores externos que interferem no meio

rural (BANDYOPADHYAY, 2007), apresenta o fator que demonstra o histórico das ações

institucionais, com visão difusa do que emprega a literatura econômica. Destarte, por algum

motivo, os agentes realizam ações diversas do que obriga as instituições, em relação ao exame

do tempo de clientela dos produtores rurais.

Mundo Neto e Souza Filho (2005) descrevem que em setores que apresentam falhas

institucionais existe a manifestação de barreiras que funcionam como um filtro, fazendo com

que as políticas aplicadas tenham resultado adverso do que foi planejado pelo gestor público.

Dentro os diversos filtros, esses autores descrevem o filtro de nível mesoanalítico, ou seja, a

transmissão de entraves, funcionando como um “impasse” ao agente em tomar a decisão

adequada, devido à transmissão de problemas institucionais ocorridos em fases anteriores.

O não entendimento dos agentes com as instituições rurais ocasiona o desequilíbrio

nas relações econômicas, proporcionando resultados inadequados aos atores e ineficiência das

políticas públicas destinadas ao setor, como, por exemplo, um mercado com grande

necessidade de recursos para financiamento, como é o setor rural, tem um dos seus principais

programas de financiamento com grande volume devolvido de recursos disponibilizados pelo

tesouro nacional.

Consequentemente, surge a necessidade de criação de políticas públicas que

incentivem a participação das organizações rurais tanto por parte do setor financeiro como do

setor rural para a correção destas falhas contratuais do mercado de crédito agrícola,

objetivando de gerar maior segurança aos agentes.

De tal modo, deverão ocorrer políticas governamentais no sentido de maior

regulamentação do mercado de crédito agrícola No entanto, as instituições além de propor

novas leis e regulamentações para melhorar as relações deste mercado, devem também atuar

na regulamentação informal, isto é, proporcionar maior quantidade de trabalhos sobre esse

mercado, mensurando o desempenho e estudando todos os fatores que interferem no cotidiano

do produtor rural, mas principalmente as peculiaridades que fazem os credores no momento

da concessão do crédito concederem maior ou menor quantidade de recursos.

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Apesar desta elevação da regulamentação deste mercado implicar, inicialmente, na

elevação dos custos transacionais do setor rural, com a execução destes estudos, os resultados

apresentados possibilitarão maior frequência de relações mais seguras e favoráveis de

concessão de crédito. Consequentemente, trazem maiores benefícios às partes envolvidas,

possibilitando alternativas transacionais menos custosas, diminuindo significativamente a

presença das imperfeições do setor agropecuário, compensando a elevação anterior dos custos

de transação.

Enfim, evidencia-se a necessidade de maior inserção das organizações bancárias, bem

como as organizações representantes dos produtores rurais, para o estímulo à elaboração de

um melhor ambiente institucional, e, de fato, observarem-se as variáveis determinantes do

valor financiado no planejamento das políticas de concessão do crédito rural para

investimento no Estado de Mato Grosso. Essa inserção, além de questionar e elaborar

melhores normas para o Sistema de Crédito Rural para o Estado, se respalda na criação de

dados quantitativos e qualitativos sobre as peculiaridades e as instituições dos produtores

rurais e do seu relacionamento com os diversos setores envolvidos na produção agrícola,

como o setor de crediário, as entidades governamentais e os sindicatos patronais e dos

trabalhadores rurais.

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6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um perfil com determinadas características de ambiente institucional demonstra os

aspectos formais e informais das relações deste ambiente, e caso exista, permite a visualização

de barreiras nas relações dos indivíduos da economia. Como resultado, os agentes financeiros

atuantes no meio rural têm por obrigação o conhecimento sobre as informações acerca dos

indivíduos atuantes neste setor, possibilitando o atendimento adequado das demandas por

crédito, mas que proporcione maior segurança sobre a adimplência dos contratos e retorno

esperados das instituições financeiros.

Deste modo, surge o exame das características do produtor rural, o qual é um

instrumento padronizado, mas sem que desrespeite as particularidades de cada um deles no

momento da concessão de crédito, que possibilitam às instituições financeiras obter as

informações primordiais do produtor, garantindo a execução de contratos de empréstimo com

maior segurança, e que a quantidade a ser emprestada seja decidida de acordo com a

capacidade de pagamento do devedor.

Seguindo este pensamento, este trabalho teve como objetivo geral a avaliação dos

fatores que interferem no valor financiado de crédito rural aos produtores via FCO Rural, em

Mato Grosso, no período de 1995 a 2009. Também foram alcançados dois objetivos

específicos, os quais foram: a) o exame das características dos contratos de FCO Rural; e, b) a

investigação das relações destas características contratuais sobre o valor financiado ao

produtor.

Essa análise se respaldou em duas hipóteses: i) que as características dos contratos de

FCO Rural dos grandes produtores rurais facilitariam a concessão de maior volume de

crédito; e ii) esperava-se que os fatores renda bruta, recursos próprios, tempo de clientela e

área de produção proporcionassem maior volume de crédito aos produtores rurais do Estado

de Mato Grosso.

Para análise destas hipóteses foi feita uma revisão da teoria econômica, a qual expôs

alguns conceitos e ideais básicos da Nova Economia Institucional, e a abordagem da ação de

filtros institucionais para a agricultura, além de uma breve revisão sobre de crédito oficial

rural, passando pela caracterização do crédito oficial rural no Brasil e a apresentação das

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variáveis dos contratos de concessão de crédito rural. Ainda, foi realizada uma amostragem

com 2665 contratos de concessão de crédito, vinculados à linha de financiamento rural para

investimento, do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), do Banco

do Brasil, no período de 1995 a 2009.

Como resultado, aceita-se a primeira hipótese de que as características dos contratos

de FCO Rural dos grandes produtores rurais facilitariam a concessão de maior volume de

crédito. Os grandes produtores obtiveram melhor desempenho em relação à suas variáveis,

que dos outros grupos estudados. Este grupo de produtores se destaca, por que, além de

possuírem maior renda e área de produção, é composto por produtores relativamente mais

novos da amostra e com os maiores tempos de clientela. E se for comparada a quantidade de

produtores com a quantidade financiada, este resultado é ainda mais exaltado, ao ponto que,

apesar de não ser maioria dos produtores selecionados, os grandes possuem maior

participação na concessão dos recursos, com 50,72% do total financiado.

Posteriormente, com os 2665 contratos, através de modelos com transformação Box-

Cox, foi realizado um exame econométrico das características que levam o concessor de

crédito rural a conceder maior ou menor volume de recursos. Foi constatado que as variáveis

recursos próprios reais, prazo de carência, renda bruta real, taxa de juros e área de produção

tiveram coeficientes positivos, ou seja, diretamente proporcionais ao valor financiado real e

que a idade, o tempo de clientela e o número de parcelas tiveram coeficiente negativos, sendo

inversamente proporcionais ao valor financiado.

Observou-se a rejeição parcial da segunda hipótese, em que se esperava que as

características renda bruta, recursos próprios, tempo de clientela e área de produção

proporcionassem maiores volumes de crédito ao produtor rural. No entanto, o tempo de

clientela teve resultados negativos nos diferentes grupos.

As variáveis prazo de carência e tempo de clientela divergiram do que pressupõe o

referencial teórico deste trabalho, sendo que o prazo de carência apresentou proporcionalidade

direta ao valor financiado (β > 0) e o tempo de clientela foi inversamente proporcional (β <

0), isto é, este fator influencia a redução do volume de empréstimo, em vez de impulsionar a

elevação deste fator.

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Se características importantes para o controle da inadimplência e de representatividade

das ações institucionais no combate às incertezas e às falhas de mercado, não apresentam

resultados aceitáveis, surge à possibilidade da existência de obstáculos para uma adequada

atuação das instituições no planejamento e da execução das políticas governamentais de

crédito oficial.

A teoria dos filtros institucionais descreve que em setores que apresentam falhas

institucionais há a manifestação de barreiras que funcionam como um filtro, fazendo com que

as políticas aplicadas, tenham resultado adverso do que foi planejado pelo gestor público.

Por consequência, se há a probabilidade de existirem distorções ao se examinar algum

aspecto contratual dos produtores, há possibilidade de repasse aos agentes, de uma visão

diferenciada sobre o produtor, alterando a aplicação das medidas institucionais, tendo como

resultado o impedimento da maximização da satisfação na relação de empréstimo, além de

aumentar as incertezas e imperfeições deste mercado (convergindo novamente em outros

processos de filtragem institucional).

O princípio do estudo das instituições tem como objetivo a obtenção do conhecimento

dos efeitos das características destas sobre os agentes da economia. Consequentemente, se há

distorções institucionais ocorridas pelos filtros, ou mesmo pelas imperfeições derivadas da

racionalidade limitada humana, isso tende a acarretar uma reação institucional com medidas

alternativas de regulamentação, tornando o ambiente econômico mais adequado para que os

agentes possam novamente tomar as melhores decisões.

Com isso, as instituições envolvidas no mercado de crédito devem intervir nas

organizações e no planejamento dos agentes do mercado de crédito rural. Esta intervenção

poderá ser de várias formas, mas, principalmente, na abolição de cláusulas contratuais que

proporcionarem ambiguidade ou imprecisão de interpretações.

Porém, as instituições, além de propor novas leis e regulamentações para melhorar a

relações do mercado de crédito, devem também atuar na regulamentação informal, isto é,

proporcionar maior quantidade de trabalhos sobre o mercado de crédito rural, mensurando o

desempenho, estudando todos os fatores que interferem no cotidiano do produtor, mas

principalmente as características que fazem os credores no momento da concessão do crédito

concederem uma maior ou menor quantidade de recursos.

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Deste modo, torna-se oportuna a indicação para futuros trabalhos e a realização de

estudos que evolvam o ambiente institucional do credito oficial rural, no intuito de examinar

risco do crédito na agropecuária. Com isso, apresentaria novas soluções para diversos

problemas do Sistema Nacional de Crédito Rural.

Observou-se que os produtores rurais considerados de grande porte possuem

características que facilitam a obtenção de uma maior quantidade de crédito oficial rural.

Consequentemente, surge a necessidade da realização ou da intensificação de políticas que

empregam alternativas de equiparação entre diversos tipos de produtores no Estado. Também

evidenciou o desempenho desfavorável de algumas das principais características para a

explicação do volume financiado de crédito rural. Este acontecimento evidencia a suspeita da

atuação de barreiras ou entraves institucionais no mercado de crédito rural no Estado de Mato

Grosso. E se há possibilidade da atuação de procedimentos que distorcem o planejamento ou a

execução organizacional, destaca-se a necessidade de maior inserção das organizações

bancárias, bem como das organizações representantes dos produtores rurais, para o estímulo à

elaboração de um melhor ambiente institucional, e de fato serem expressivos no planejamento

das políticas de concessão do crédito rural para investimento no Estado de Mato Grosso.

Com essa inserção, será possível o equilíbrio do mercado de crédito rural oficial, ao

ponto de existirem instituições fortes e presentes, acarretando melhores oportunidades de

crédito aos agentes deste mercado, fazendo com que a concessão de crédito e a adimplência

sejam aperfeiçoadas.

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