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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Lucía Corral Hurtado AVALIAÇÃO DA PREDAÇÃO DE CRIAÇÕES DOMÉSTICAS POR LOBO-GUARÁ (Chrysocyon brachyurus) NO ENTORNO DO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CANASTRA, MG, BRASIL. Orientador: Prof. Dr. Flávio Henrique Guimarães Rodrigues Dissertação apresentada ao Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais para obtenção do título de Mestre em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre. Belo Horizonte 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Lucía Corral Hurtado

AVALIAÇÃO DA PREDAÇÃO DE CRIAÇÕES DOMÉSTICAS POR LOBO-GUARÁ (Chrysocyon brachyurus) NO ENTORNO DO

PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CANASTRA, MG, BRASIL.

Orientador: Prof. Dr. Flávio Henrique Guimarães Rodrigues

Dissertação apresentada ao Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais para obtenção do título de Mestre em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre.

Belo Horizonte 2007

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CORRAL, Lucía Avaliação da predação de criações domésticas por lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, Brasil. Dissertação (Mestrado) – Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais. Palavras-chave: 1. Conflito entre humanos e predadores, 2. predação por carnívoros, 3. lobo-guará, 4. Chrysocyon brachyurus, 5. Serra da Canastra, 6. Cerrado.

BANCA EXAMINADORA

Dr. Fernando C. C. de Azevedo Prof. Dr. Marcelo X. A. Bizerril

Prof. Dr. Flávio H. G. Rodrigues

(Orientador)

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Agradecimentos

São várias as pessoas e instituições sem as quais não teria sido possível a

realização deste estudo, mas gostaria de agradecer especialmente aqueles que

me apoiaram e ajudaram durante todas as fases do trabalho. Flávio Rodrigues,

por sua orientação e confiança, que me permitiram fazer parte do Projeto do

lobo-guará; Rogério Cunha de Paula, por compartilhar comigo seus

conhecimentos e experiências sobre o tema da pesquisa; Jean Pierre, por ter me

aberto as portas da Serra da Canastra, pela sua ajuda que foi fundamental para

o desenvolvimento deste trabalho, sua paciência e dedicação; Mayra Amboni,

por todo o apoio dado, pela ajuda na coleta de dados, pela amizade e o carinho

oferecido no dia a dia; Fernanda Cavalcanti e Joares May Junior, pela amizade e

por terem me auxiliado em vários momentos do mestrado. Agradeço a todos

meus amigos brasileiros que me acompanharam no decorrer deste tempo e que

agora formam parte valiosa da minha vida. De jeito muito especial agradeço

também a minha família e a Eduardo pelo incentivo e permanente apoio, pela

companhia, mesmo à distância, e por entender o porquê de estar tão longe.

Também não poderia deixar de agradecer as seguintes entidades

brasileiras: CAPES, especialmente ao Programa PEC-PG, pela bolsa concedida e

pela oportunidade de realizar minha pós-graduação no Brasil; Instituto de

Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, principalmente à

Coordenação da Pós-Graduação, pelas facilidades oferecidas para a realização

do mestrado; e o Instituto para a Conservação dos Carnívoros Neotropicais

(Pró-Carnívoros) pelos recursos disponibilizados que permitiram o

desenvolvimento da todas as atividades.

Finalmente, quero manifestar minha especial gratidão aos proprietários

rurais do entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra, com quem tive a

oportunidade e o privilegio de conviver e foram peças fundamentais para o

sucesso deste trabalho. Muito obrigada!

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ÍNDICE Agradecimentos iii Índice de tabelas v Índice de figuras vi Resumo viii Resumen x Abstract xii Capítulo 1. Introdução

1.1 Predação: Um conflito entre humanos e carnívoros silvestres 1.2 Fatores predisponentes à predação 1.3 Fatores influentes no conflito entre humanos e predadores

1.3.1 Nível de perdas da criação 1.3.2 Conhecimento das espécies 1.3.3 Valores culturais

1.4 O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e a importância da resolução do conflito entre humanos e predadores

1.5 Objetivos do estudo

14 14 14 16 16 16 17

18 20

Capítulo 2. Metodologia 2.1 Área de estudo 2.2 Coleta de dados 2.3 Análise de dados

23 23 25 34

Capítulo 3. Resultados 3.1 Características dos entrevistados e as fazendas 3.2 Manejo da criação de galinhas e outras aves 3.3 Predação das criações domésticas 3.4 Conhecimento e percepção do lobo-guará e outras espécies silvestres 3.5 Análise dos fatores relacionados à predação das criações

3.5.1 Cobertura do solo e tipo de vegetação nativa 3.5.2 Distância da fazenda ao limite do PNSC e à cidade mais

próxima 3.5.3 Tamanho da criação 3.5.4 Manejo da criação e presença de cachorros de guarda

3.6 Atitudes tomadas pelos fazendeiros frente ao problema da predação de galinhas

3.7 Resultados do monitoramento de 21 fazendas: Detalhes do problema de predação.

36 36 37 37 42 46 46

49 49 49

50 53

Capítulo 4. Discussão 4.1 Examinando os fatores que influenciaram o conflito 4.2 O lobo-guará é a principal espécie problema? 4.3 Tolerância e atitudes da população local frente ao problema e as

sugestões que dão para prevenir este. 4.4 Recomendações de manejo 4.5 Limitações do projeto e sugestões para pesquisas futuras

58 58 60

62 64 65

Capítulo 5. Conclusões

67

Literatura citada 69 Anexos 77

iv

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ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1. Descrição das categorias selecionadas na perguntas fechadas

no questionário para levantamento de informação sobre predação nas criações domésticas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

27

Tabela 2. Índice usado para qualificar a tolerância para com o lobo-guará dos entrevistados, segundo a opinião de cada um deles e os problemas de predação sofridos, nas fazendas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

31

Tabela 3. Descrição das categorias selecionadas nas perguntas fechadas do questionário utilizado no monitoramento de 21 fazendas (junho-setembro 2006) para levantamento de informação sobre predação das criações domésticas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra.

34

Tabela 4. Tipo de criação predada nas fazendas entrevistadas (setembro 2005-agosto 2006) no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra.

38

Tabela 5. Modo de identificação, usado pelos entrevistados, do predador implicado no ataque de animais domésticos nas fazendas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

41

Tabela 6. Respostas obtidas às perguntas abertas centradas no lobo-guará de entrevistas realizadas aos fazendeiros no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

45

Tabela 7. Relação entre a percentagem do tipo de cobertura e a ocorrência de predação nas fazendas entrevistadas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

47

Tabela 8. Atitude dos fazendeiros entrevistados no entorno do Parque Nacional de Serra da Canastra para com o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) (setembro 2005-agosto 2006).

51

Tabela 9. Índice de tolerância dos fazendeiros entrevistados para com o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

51

Tabela 10. Sugestões dadas pelos entrevistados para a prevenção do problema de predação das criações domésticas por carnívoros silvestres, no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

52

Tabela 11. Resumo das características das 21 fazendas monitoradas, no entorno do Parque Nacional da Serra Canastra (junho-setembro 2006).

53

Tabela 12. Informações sobre as fazendas selecionadas para o monitoramento das ocorrências de predação, no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (junho-setembro 2006).

53

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Tabela 13. Informação sobre os casos de predação das criações domésticas registrados em 12 das 21 fazendas monitoradas ao longo de três meses (junho-setembro de 2006) no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra.

55

Tabela 14. Análise da relação entre o número de ataques sofridos pelas fazendas monitoradas (n=21) e características do local e da criação de galinhas, no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra.

56

Tabela 15. Relação entre a percentagem do tipo de cobertura e a freqüência de predação nas fazendas entrevistadas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

57

ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Distribuição atual do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) 19

Figura 2. Mapa esquemático do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais.

24

Figura 3. Mapa de localização das fazendas visitadas (setembro 2005-agosto 2006) no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra, MG.

26

Figura 4. Exemplo das medições de distância e cobertura do solo realizadas para cada fazenda entrevistada no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

33

Figura 5. Freqüência de predação reportada pelo entrevistado e registrada por acompanhamento, em 21 fazendas monitoradas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (junho-setembro 2006).

38

Figura 6. Localização das fazendas entrevistadas (diferenciadas pela ocorrência de predação) no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

39

Figura 7. Predadores envolvidos em ataques às criações domésticas, segundo os entrevistados, no entorno do PNSC (setembro 2005-agosto 2006).

41

Figura 8. Índices de saliência (S) das espécies mencionadas nas listas-livres elaboradas pelos entrevistados no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

43

Figura 9. Comparação entre a percentagem de menção dos predadores culpados dos ataques às criações domésticas (Fr) no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra e o índice de saliência calculado para cada um deles (S) na mesma área.

44

Figura 10. Tipo de vegetação nativa presente nas propriedades rurais (n=100) do entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006)

46

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Figura 11. Relação entre a presença de vegetação nativa e a ocorrência de predação em fazendas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

47

Figura 12. Tipos de cobertura dentro de uma área de amortecimento de 1 km (a), 2 km (b) e 3 km (c) de raio nas fazendas entrevistadas, no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

48

Figura 13. Distância da fazenda ao limite do Parque Nacional da Serra da Canastra e aos centros urbanos e a ocorrência de predação sobre criações domésticas em fazendas entrevistadas.

49

Figura 14. Manejo da criação de galinhas e presença de cachorros em fazendas com e sem problemas de predação, no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

50

Figura 15. Comparação da tolerância dos fazendeiros, a ocorrência de predação (a) e o tamanho da criação de galinhas (b), nas fazendas visitadas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

52

Figura 16. Distribuição das fazendas monitoradas segundo o número de ataques às criações de galinhas registradas, no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (junho-setembro 2006).

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RESUMO

Os carnívoros (Ordem Carnivora) constituem uns dos predadores mais

importantes nos ecossistemas terrestres e, onde estes são forçados a coexistir

com animais domésticos, a predação pode se tornar em um conflito com as

comunidades locais. Como resultado, várias espécies de carnívoros têm sofrido

perseguição pelo homem, algumas vezes levando-as ao perigo de extinção.

Por esse motivo, o conflito entre humanos e carnívoros silvestres é um

tema de grande interesse para os pesquisadores da Biologia da Conservação. A

prevenção e controle de conflitos entre humanos e carnívoros dependem da

identificação das condições ou fatores que favorecem a predação.

Nesse contexto, o objetivo principal deste trabalho foi adquirir

informação relativa às ocorrências de predação das criações domésticas por

mamíferos carnívoros, com especial atenção ao lobo-guará (Chrysocyon

brachyurus), no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra, localizado

na região sul-sudoeste de Minas Gerais, Brasil, visando à definição de ações de

manejo para diminuir estes problemas.

A coleta de dados foi realizada através de entrevistas aos fazendeiros no

entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra, dentro dos municípios de São

Roque de Minas e Vargem Bonita. Também foram estudados alguns fatores

(cobertura do solo e tipo de vegetação nativa, distância da fazenda ao limite da

área protegida e a distância à cidade mais próxima, tamanho da criação, e a

presença de cães guardiões na fazenda) que se esperavam relacionados à

incidência de predação.

Foram visitadas 106 sedes de fazenda. As fazendas tinham como

atividade econômica principal a criação de gado leiteiro. A criação de animais de

pequeno e médio porte, como aves e porcos, tinha importância comercial

reduzida, sendo principalmente para autoconsumo dos locais.

Entre estas fazendas existe uma ampla ocorrência de ataques às criações

domésticas, sendo que a maioria das fazendas visitadas reportou ter esse

problema. Não foi possível identificar lugares restritos com maior probabilidade

de predação nas criações domésticas.

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A totalidade das mortes de animais domésticos foi atribuída ao ataque de

um predador, culpando, na maioria das vezes, um carnívoro silvestre, e entre

estes o principal acusado como responsável da predação foi o lobo-guará.

Não obstante, ainda que os entrevistados culpassem o lobo como

principal responsável da predação mostraram uma opinião positiva para com a

espécie.

Em geral, níveis muito baixos de cuidado na criação de galinhas foram

observados. A presença de cães foi comum entre as fazendas, mas nem todos

estes são cães de guarda.

Tanto a ocorrência de predação das criações domésticas, em particular as

criações de galinhas e outras aves, quanto a freqüência dos eventos de predação

na área de estudo parecem não estar influenciada por nenhum dos fatores

estudados.

Os resultados deste trabalho sugerem que a predação nas criações

domésticas é de relativa pouca importância para os fazendeiros. As pessoas

assumem a predação como fato normal. Parece ser um problema maior na

percepção dos proprietários danificados do que é na realidade, mas mesmo para

eles o problema não é grave.

Os métodos de prevenção e controle dos problemas de predação devem

ser dirigidos às mudanças no manejo das criações. Métodos como a presença de

cães de guarda, o recolhimento dos animais em galinheiros durante a noite, a

instalação de luz e outros estímulos visuais ou aditivos que afastem o predador,

como os explosivos para assustar o atacante, parecem ser ferramentas viáveis e

poderiam ser implantadas na área de estudo.

Contudo, devem-se concentrar esforços no convencimento das pessoas

para adotar as medidas de prevenção. Entender a ecologia da predação dos

carnívoros silvestres nas criações domésticas em áreas onde a pecuária é

desenvolvida é fundamental para o desenvolvimento de planos de manejo das

espécies.

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RESUMEN

Los carnívoros (Orden Carnivora) constituyen uno de los principales

grupos de depredadores en los ecosistemas terrestres, y en lugares donde éstos

se ven forzados a coexistir con animales domésticos, la depredación puede

transformarse en un conflicto con las comunidades locales. Como resultado,

varias especies de carnívoros han sido perseguidas por el hombre, lo cual puede

llevar a algunas de éstas a estar en peligro de extinción.

Por este motivo, el conflicto entre humanos y carnívoros silvestres se ha

convertido en un tema de gran interés para la Biología de la Conservación. La

prevención y control de conflictos entre humanos e carnívoros dependen de la

identificación de condiciones o factores que favorecen la depredación.

En ese contexto, el objetivo principal de este trabajo fue recopilar

información relativa a la depredación de animales domésticos por mamíferos

carnívoros, con especial atención en el Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus),

entorno al Parque Nacional Sierra de Canastra, sureste de Minas Gerais, Brasil,

apuntando a la definición de acciones de manejo para disminuir esos

problemas.

Los datos fueron colectados por medio de entrevistas a los hacendados

ubicados alrededor del Parque Nacional Sierra de Canastra, dentro de los

municipios de São Roque de Minas y Vargem Bonita. También se estudiaron

algunos factores (cobertura del suelo y tipo de vegetación nativa, distancia al

límite del área protegida y de los centros urbanos más cercanos, tamaño del

rebaño y tipo de manejo de éste, y presencia de perros guardianes) que se

esperaban estuviesen relacionados con la incidencia de depredación.

Fueron visitadas 106 fincas dentro del área de estudio. Las fincas tenían

como actividad principal la crianza de ganado para leche. La crianza de

animales de pequeño y medio porte, como aves y cerdos, tiene reducida

importancia comercial, ya que éstos son principalmente para auto-consumo de

los locales.

Se observó una amplia incidencia de ataques a los animales domésticos,

la mayoría de las fincas reportó tener ese problema. No fue posible identificar

lugares restrictos con mayor probabilidad de ataques.

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Todas las muertes de animales domésticos fueron atribuidas al ataque de

depredadores silvestres, culpando como principal responsable al lobo-guará.

No obstante, a pesar de que los entrevistados culpasen al lobo como

principal responsable de la depredación, éstos mostraron una opinión positiva

hacia la especie.

En general, el manejo de las aves de corral era deficiente. La presencia de

perros fue común en las fincas, aunque no todos son perros guardianes.

Tanto la incidencia de depredación en animales domésticos, en particular

las gallinas y otras aves, como la frecuencia de estos eventos en el área de

estudio no parecen estar influenciados por ninguno de los factores estudiados.

Los resultados de esta investigación sugieren que la depredación de

animales domésticos es relativamente poco importante para los hacendados.

Las personas asumen la depredación como un hecho normal. Parece que ser un

problema más grande en la percepción de los propietarios damnificados de lo

que es en realidad, y aun para ellos no es un problema grave.

Los métodos de prevención y control de los problemas de depredación

deben ser dirigidos a cambiar el manejo de los animales domésticos. Métodos

como la presencia de perros guardianes, encerrar a los animales en gallineros

durante la noche, instalar luz y otros estímulos visuales o auditivos que alejen al

depredador, como explosivos para asustar al atacante, parecen ser herramientas

viables que podrían ser implementadas en el área de estudio.

Sin embargo, se deben concentrar esfuerzos en convencer a las personas

a adoptar esas medidas de prevención. Entender la ecología de la depredación

de carnívoros silvestres en animales domésticos, en lugares donde las

actividades pecuarias y agrícolas son las principales fuente de ingresos, es

fundamental para el desarrollo de planes de manejo de las especies.

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ABSTRACT

Carnivores (Order Carnivora) constitute the main group of predators of

vertebrates in terrestrial ecosystems and, where they are forced to coexist with

domestic animals; predation can be converted into conflict, generating as a

result the persecution by man of some species of carnivores, sometimes taking

them to threat of extinction.

For this reason, human-carnivore conflict has become a subject of great

interest for conservation biologists and wildlife managers. The prevention and

control of human-carnivore conflict depends on identifying the conditions or

factors that favor predation.

In this context, the main objective of this study was to acquire

information related to the occurrences of domestic animal predation by

carnivore mammals, with special attention to the Maned-wolf (Chrysocyon

brachyurus), in the adjacent areas of Serra da Canastra National Park, south-

southwest of Minas Gerais, Brazil, aiming to define management actions to

diminish these problems.

The compilation of data was obtained through interviews to the farmers

in the adjacent to this protected area, inside the districts of São Roque de Minas

and Vargem Bonita. Also a group of factors (land-cover and type of natural

vegetation, proximity to the protected area and urban city, herd size and its

husbandry, and the presence of guarding dogs), expected to had some relation

with predation events, were studied.

One-hundred and six (106) farms inside this area were visited. The main

economic activity of these farms is the raising of cattle for milk. The rearing of

small and medium size animals, like poultry and pigs, has little commercial

importance, being mainly for internal sustenance and for consumption by the

local people.

A wide occurrence of attacks on domestic animals was observed within

these farms, where most of the farms visited reported predation problems. It

was not possible to identify restricted places with larger probability of attacks or

predation hot spots.

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All deaths of domestic animals reported were attributed to the attack by a

predator, most of the time blaming a wild carnivore, the Maned-wolf being the

main culprit.

Nevertheless, despite the blame the interviewed placed on the wolf as the

main responsible of there losses, they demonstrated a positive opinion toward

the species.

In general, a very low level care of the poultry was observed. The

presence of dogs is consistent in almost the totality of the farms, not all being

guarding dogs.

There was no effect of the studied factors, neither with the occurrence of

domestic animal predation, particularly poultry, or with its frequency.

Predation showed to be of relative little importance to the farmers. The

people assume the predation as a normal occurrence. It seems to be a larger

problem in the perception of the affected farmers than what it really is, but at

the same time the problem for them is not serious.

The methods of prevention and control of predation problems must be

directed to husbandry changes. Methods like the presence of guarding dogs, the

enclosure of the animals at night, visual or additive deterrents, and other

methods to scare away the predator, like explosives, seem to be viable tools and

could be implemented in the study area.

However, it is necessary to concentrate efforts in the persuasion of the

people to adopt measures of prevention. To understand the predation ecology

of wild carnivores on domestic animals in areas where livestock and agriculture

are the most important source of profits, is basic for the development of wildlife

management plans.

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1. INTRODUÇÃO

1.1 Predação: Um conflito entre humanos e carnívoros silvestres

A predação – quando um organismo consome outro vivo ou depois de

matá-lo (Ormerod 2002) – é um processo natural que favorece a manutenção

da diversidade biológica e os processos ecológicos (Pitman et al. 2002). A

predação estrutura a cadeia alimentar e a coexistência das espécies nos

ecossistemas, já que ela influencia na distribuição, densidade e dinâmica das

populações de outros organismos (Ormerod 2002).

Os carnívoros (Ordem Carnivora) são os predadores de vertebrados mais

importantes dos ecossistemas terrestres e, onde eles são forçados a coexistir

com animais domésticos, a predação pode se tornar em um conflito com as

comunidades locais (Pitman et al. 2002). Como resultado, várias espécies de

carnívoros têm sofrido perseguição pelo homem, algumas vezes levando-as ao

perigo de extinção.

Por esse motivo, o conflito entre humanos e carnívoros silvestres é um

tema de grande interesse para os pesquisadores da Biologia da Conservação,

mais ainda em um cenário de crescimento populacional que resulta na expansão

das atividades humanas (Woodroffe 2000; Conover 2002) e consequentemente

na progressiva fragmentação e degradação dos hábitats.

1.2 Fatores predisponentes a predação

Há milênios que os conflitos entre humanos e predadores silvestres

existem (Kruuk 2002), mas é no ultimo século que se tem feito esforços para

identificar as condições ou fatores que favorecem a predação das criações

domésticas por carnívoros silvestres.

Estudos prévios têm identificado o tipo de manejo das criações, as

atividades humanas e o comportamento dos carnívoros como atributos que

estão relacionados com o conflito entre humanos e predadores silvestres

(Jackson & Nowell 1996; Linnell et al. 1999).

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Alguns estudos mostram que a vegetação ao redor das áreas onde se

mantêm as criações pode influenciar na ocorrência de ataques por carnívoros

(Jackson et al. 1996; Bangs & Shivik 2001; Stahl & Vandel 2001). Outros

pesquisadores também reportam uma associação negativa entre a predação de

animais domésticos por carnívoros e a densidade de estradas e povoados

humanos (Robel et al. 1981 apud Treves et al. 2004; Jackson et al. 1996; Stahl &

Vandel 2001).

Os predadores podem ter mais contato com criações domésticas ao serem

reduzidas as áreas naturais e também na ausência de áreas de transição entre

reservas, ou áreas protegidas, e propriedades rurais (Azevedo & Conforti 2002).

Também uma redução das presas naturais, em virtude da fragmentação e

degradação dos habitats, pode levar aos carnívoros silvestres a atacar criações

domésticas (Azevedo & Conforti 2002).

A dificuldade de caçar animais silvestres pode levar alguns indivíduos

velhos ou fêmeas com filhotes a atacar animais domésticos, ou então indivíduos

jovens em busca do estabelecimento de seus territórios podem ver se expostos a

encontros com as criações domésticas com maior freqüência (Rabinowitz 1986

apud Pitman et al. 2002).

Outro fator, que algumas pesquisas têm relatado como predisponente a

predação, é o manejo precário das criações, dado que deixa os animais

domésticos mais vulneráveis ao ataque de carnívoros (Azevedo & Conforti

2002).

Existe uma variação local muito marcada em relação ao conflito entre

humanos e carnívoros silvestres, com áreas que não reportam nenhum

problema, enquanto outras reclamam de conflitos freqüentes (Stahl et al.

2002). É provável que a freqüência de ataques tenha uma variação sazonal em

função da disponibilidade de presas naturais e animais domésticos (Silveira

2004).

Algumas vezes, é possível identificar hot spots (pontos quentes) de

predação, que correspondem a pequenas áreas que sofrem ataques

recorrentemente. Por exemplo, Stahl e Vandel (2001) estudaram ataques de

lince europeu a ovelhas na França, e encontraram que em 0,3-4,5% da área total

onde tinham sido registrados ataques ocorreram 33-69% dos ataques.

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Ainda não está claro quão comum é a existência de hot spots de predação

entre as espécies de carnívoros silvestres, nem quais são as características e

causas destes, mas estudos enfocados ao entendimento do fenômeno de

predação poderiam proporcionar informação importante para a elaboração de

planos de manejo das espécies envolvidas mais efetivos (Breck 2004).

1.3 Fatores influentes no conflito entre humanos e predadores

1.3.1 Nível de perdas da criação

Alguns estudos, como o realizado por Sillero-Zubiri e Laurenson (2001),

têm demonstrado que altos níveis de predação sobre as criações influenciam no

conflito entre humanos e predadores silvestres. Este conflito tende a aumentar

no caso de serem atacados animais domésticos valiosos para os afetados, com

importância cultural, ou se estes animais representam uma importante fonte de

renda para seus proprietários (Sillero-Zubiri & Laurenson 2001).

Outro exemplo é o estudo realizado por Naughton-Treves et al. (2003),

sobre o impacto que tem a predação de animais domésticos e o efeito dos

ressarcimentos compensatórios sobre as atitudes dos cidadãos para com o lobo

(Canis lupus). Este estudo mostrou que as pessoas que perderam algum animal

doméstico por ataque de um predador foram menos tolerantes aos lobos que

aquelas que não perderam, e as mesmas pessoas preferiam os métodos letais

como medida de controle e prevenção da predação.

1.3.2 Conhecimento das espécies

Ao longo da sua história, o ser humano apresentou e apresenta atitudes

de admiração, de afeto e uma noção da importância dos animais na natureza.

Muitas destas atitudes são afetadas pelo estilo de vida da pessoa e visão que ela

tem do lugar que ocupa o humano na natureza (Nei 2001). Contudo, algumas

atitudes ligadas ao domínio, à exploração, ao medo e à aversão para com os

animais silvestres têm provocado impactos graves sobre muitas espécies (Eagles

& Muffitts 1990; Newmark et al. 1994; Bizerril 2004). Estas últimas atitudes

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são ainda mais freqüentes quando o grupo animal em questão é de mamíferos

carnívoros.

O conhecimento de uma espécie em particular, assim como as interações

passadas e presentes com dita espécie, tendem a influir nas atitudes humanas

para com os carnívoros em geral (Keller et al. 1996). Nos lugares onde

carnívoros predam criações, as pessoas comumente mantêm atitudes negativas,

como o documentado por Oli et al. (1994) para leopardo-das-neves (Uncia

uncia), e lobos (Canis lupus) por Lenihan (1996).

As pessoas tendem a ser mais tolerantes com os carnívoros silvestres

presentes na sua área quando conhecem mais sobre eles (Ericsson & Heberlein

2003). Também se há observado que pessoas “mais instruídas” geralmente

procuram minimizar a chance de conflito com os animais silvestres (Conover

2002). Mas como indica Bizerril (2006), a mudança de percepção requer, além

de informação, mudanças no componente de afetividade em relação aos

animais. E a afetividade mudará em função da prevenção e controle dos

problemas que os carnívoros silvestres representam para as pessoas.

1.3.3 Valores culturais

A percepção das comunidades sobre o conflito entre humanos e

carnívoros pode ser produto da cultura e as suas crenças religiosas (Dickman

2005). Conforti & Azevedo (2002) afirmam que uma grande parte dos

proprietários e trabalhadores rurais que têm sofrido predação de criações

domésticas, além de ter aversão, medo e preconceitos sobre os carnívoros,

ignoram a importância destes animais silvestres nos ecossistemas.

Os europeus, por exemplo, levaram com eles a sua intolerância aos

carnívoros quando colonizaram outras regiões do mundo, África e América. Ao

redor do ano 1930 os lobos-cinza tinham se quase extinto do território dos

Estados Unidos, dado que esta espécie foi perseguida desde a chegada dos

colonizadores a essas terras (Mech 1970 apud Dickman 2005).

Outro exemplo são os cães-selvagens-africanos que eram indesejados

pelos agricultores europeus e foram deliberadamente mortos nas lavouras e

áreas protegidas (Woodroffe et al. 1997).

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No entanto, a percepção das comunidades africanas foi diferente àquela

que tinham os europeus chegados a essas terras, por exemplo, para os Shona,

em Zimbabwe, a caça de cães-selvagens-africanos como fonte de alimento, e no

caso dos grupos Maasai do leste da África, os protegiam por serem predadores

dos gnus (Connochaetes taurinus), os quais representavam competição para

suas criações nos pastos (Fuller & Kat 1990 apud Sillero-Zubiri & Switzer

2004).

Também nas sociedades Maasai, a hiena-pintada (Crocuta crocuta) foi

geralmente vista com hostilidade, sendo-lhes associados valores negativos como

gula, estupidez e bruxaria, crenças que favorecem uma aversão desproporcional

ao dano que causam ás criações (Frank 1998; Maddox 2002 apud Dickman

2005).

Ao contrário do exemplo anterior, em Manang, Nepal, apesar do

leopardo-das-neves atacar as criações das comunidades budistas, estas são

particularmente tolerantes ao felino, por causa da crença que este animal é

sagrado e que matá-lo seria pecado (Ale 1998).

Assim, a inclusão do componente cultural nas pesquisas sobre os

conflitos entre humanos e carnívoros é fundamental para o entendimento de

todas essas variações e a compreensão das atitudes não desejáveis para com os

animais.

1.4 O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e a importância da resolução do conflito entre humanos e predadores

O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus, Illiger 1815) é o maior canídeo

sul-americano. É uma espécie monotípica, onívora generalista e de hábitos

noturnos. Pode-se encontrar desde a desembocadura do rio Parnaíba no

nordeste do Brasil, no sul do Chaco no Paraguai, ao estado do Rio Grande do

Sul, Brasil, e oeste dos Pampas del Heath em Peru. Também tem sido registrado

em algumas partes de Argentina e Uruguai (Rodden et al. 2004) (Figura 1).

O lobo-guará habita principalmente o bioma Cerrado, mas têm sido cada

vez mais comuns registros em áreas de outros biomas como Pantanal, Floresta

Atlântica, áreas de transição do Cerrado com a Caatinga e também em terras

cultivadas e pastos. A espécie está listada entre as ameaçadas de extinção no

Brasil e está perto de estar ameaçada pela classificação da IUCN (Rodden et al.

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2004), apesar de possuir uma ampla distribuição geográfica (Machado et al.

2005).

Figura 1. Distribuição atual do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). Fonte: Rodden et al. 2004.

Atualmente existe um grande número de estudos sobre a espécie, que

incluem aspectos de dieta, área de vida, variabilidade genética e doenças, além

de descrições gerais da reprodução e comportamento. Porém outros aspectos da

ecologia do lobo-guará permanecem com pouca informação disponível, como o

referente ao comportamento deste nas paisagens dominadas pelas atividades

humanas, assim como ameaças para a conservação da espécie.

A maior ameaça para a conservação do lobo-guará é a redução drástica

do ambiente em que vive, sendo que grande parte da sua área de distribuição já

se encontra degradada e foi ocupada por empreendimentos agropecuários

(Fonseca et al. 1994). O Cerrado é um dos biomas mais ameaçados do Brasil e

do mundo (Myers et al. 2000). Hoje apenas cerca de 20% da área do Cerrado

encontra-se em estado primitivo (Myers et al. 2000).

Lobo-guará é um canídeo solitário e territorial, que se junta em casais na

época reprodutiva. O tamanho da área ocupada por casais pode variar de 25,21

±4,45 km2 a 75,03 ±34,63 km2 (Dietz 1984; Carvalho & Vasconcellos 1995;

Silveira 1999; Rodrigues 2002). O casal partilha a mesma área de vida (Dietz

1984; Rodrigues 2002) e estas áreas podem ser tanto exclusivas, com nenhuma

ou pouca sobreposição entre áreas de casais vizinhos (Dietz 1984), como as

áreas de casais vizinhos podem ter grandes sobreposições (Rodrigues 2002).

O requerimento espacial da espécie é muito alto devido a que utiliza

grandes e exclusivas áreas de vida. Essa característica do lobo-guará o expõe a

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encontros com humanos e animais domésticos, interação que pode trazer para o

lobo problemas relacionados à caça, devido á predação de criações de pequeno e

médio porte, doenças (contraídas de animais domésticos), entre outros

(Rodrigues 2002).

O lobo-guará é freqüentemente relatado como uma ameaça para as

criações domésticas e é responsabilizado por atacar galinhas e outras aves

domésticas (Rodrigues 2002). Não obstante, vários estudos sobre a dieta da

espécie indicam que galinhas são pouco consumidas por o lobo (Dietz 1984;

Motta-Júnior 1997; Rodrigues et al. -no prelo-).

O lobo-guará é pouco conhecido da população urbana (Bizerril &

Andrade 1999), mas Anic (2002) mostra que no meio rural, em Minas Gerais e

São Paulo, apesar da existência de impactos negativos à conservação do lobo-

guará e de indiferença ao animal, o lobo conta com certa simpatia de uma

parcela da população. Porém, ainda existem medo e hostilidade arraigados nas

populações rurais para com o lobo e outros predadores, mesmo que estes

carnívoros não estejam causando problemas na atualidade.

Até o presente, poucos estudos tratam sobre a percepção e conhecimento

das pessoas sobre o lobo-guará, assim como seu envolvimento em conflitos com

as criações domésticas. Anic (2002) estudou aspectos relacionados a esse tópico

com estudantes e fazendeiros do município de São Roque de Minas (onde se

situa o Parque Nacional da Serra da Canastra). Bizerril (2004) trabalhou

também o tema em um estudo mais amplo sobre o Cerrado brasileiro. No

entanto, são necessários estudos que forneçam informação mais específica sobre

a espécie e o conflito com humanos.

1.5 Objetivos do estudo

O lobo-guará é acusado de causar prejuízos sobre as criações domésticas,

particularmente sobre galinhas e outras aves. Não obstante, apesar da existência

do conflito, pouco se sabe sobre as características do problema, a sua magnitude

e a atitude das pessoas frente a este.

Quantificar a predação é fundamental para traçar planos de manejo

direcionados a diminuir os prejuízos e aumentar as chances de conservação

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(Palmeira 2004), não somente do lobo-guará, mas também de outros carnívoros

silvestres envolvidos no conflito entre humanos e predadores silvestres.

O objetivo principal deste trabalho foi adquirir informação relacionada às

ocorrências de predação das criações domésticas por mamíferos carnívoros,

com especial atenção ao lobo-guará, no entorno do Parque Nacional da Serra da

Canastra, visando à definição de ações de manejo para diminuir este problema.

Em primeiro lugar, se pretendeu descrever e quantificar o problema

causado por mamíferos carnívoros nas criações domésticas das fazendas, assim

como determinar a incidência da predação de galinhas e outras aves por lobo-

guará.

Em segundo lugar se buscou identificar a existência de padrões de

predação em relação a algumas características da fazenda: tipo de vegetação

nativa presente na propriedade, cobertura do solo no entorno da fazenda,

distância da fazenda ao limite do Parque Nacional Serra da Canastra e à cidade

mais próxima. Esperava-se encontrar alguma influência do tipo de vegetação

nativa próxima à sede da fazenda e da quantidade de certos tipos de cobertura

do solo sobre a ocorrência e freqüência de predação, devido que a

disponibilidade de presas naturais está afetada pelas características do habitat

(e.g. tipo de vegetação).

Uma redução no tamanho dos hábitats originais poder levar à diminuição

das presas naturais dos carnívoros silvestres e, consequentemente, estimular

eles a procurar animais domésticos como fonte de alimento (Azevedo & Conforti

2002). Também, áreas de vegetação nativa limítrofes com lugares de

permanência das criações domésticas podem aproximar os predadores às

criações e, sendo que os animais domésticos representam presas fácil, favorecer

a ocorrência de predação (Polisar et al. 2003).

A distância da fazenda à unidade de conservação e à cidade mais próxima

foi outro fator que se achava poderia influenciar o acontecimento de ataques nas

criações domésticas, partindo do pressuposto que fazendas localizadas mais

perto do parque e mais longe dos centros urbanos apresentariam uma

incidência maior de problemas de predação. Michalski et al. (2006) reportam

que existe uma tendência forte na variação espacial dos eventos de predação, e

que uma grande proporção dos ataques nas criações por onça-pintada e onça-

parda, na região de Alta Floresta (norte do Mato Grosso, na Amazônia),

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acontecem em fazendas que ou se encontram imersas em fragmentos grandes

de floresta, ou estão localizadas a grandes distâncias dos centros geométricos

dos povoados comerciais, ou ambos. A predação de animais domésticos por

carnívoros silvestres parece estar negativamente associada à densidade de

assentamentos humanos e estradas (Robel et al. 1981 apud Treves et al. 2004;

Jackson et al. 1996; Stahl & Vandel 2001).

Em terceiro lugar, foi considerado o tamanho da criação (número de

cabeças de galinhas) como outro fator que poderia influenciar a ocorrência de

predação. Vários estudos apontam que o tamanho da criação pode estar

positivamente correlacionado com o número de animais atacados, a ocorrência

e freqüência de predação (González 1995; Mazzolli et al. 2002; Michalski et al.

2006). Linnell et al. (1999) sugerem que condições artificiais, nas quais há altas

densidades de presa doméstica fácil de abater, apresentam situações especiais

para os carnívoros, favorecendo matanças.

Em geral, a ocorrência de predação nas criações domésticas pode ser

atribuída ao aumento na facilidade dos encontros entre o predador e a criação

(Oli 1995). Quando a oportunidade se apresenta carnívoros silvestres podem

facilmente atacar animais domésticos (Polisar et al. 2003).

Por este motivo, o quarto objetivo especifico era estudar o efeito do tipo

de manejo que recebem as criações de galinhas e outras aves, já que diminuindo

a proximidade entre o predador e as criações é possível reduzir as perdas por

predação (Oli 1995). Um manejo precário das criações pode levar a altos níveis

de predação (Graham et al. 2005).

O quinto objetivo foi comparar a incidência de predação em fazendas

com e sem cães domésticos. Esperava-se que fazendas com cães apresentem

menos problemas de predação que aquelas sem eles.

Muitos pesquisadores recomendam a utilização de cães de guarda para

prevenção da predação e afirmam que os cães podem ser eficientes na proteção

das criações (Rigg 2004).

Pretendia-se investigar a atitude dos fazendeiros respeito ao lobo-guará,

e determinar se a predação de galinhas tem algum efeito sobre essa atitude.

Esperava se que, em fazendas com maiores níveis de predação as pessoas teriam

atitudes menos positivas ao respeito do predador.

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A ocorrência de predação nas criações domésticas pode acrescentar o

antagonismo dos fazendeiros com os carnívoros silvestres e dar base a atitudes

não desejáveis para com a vida silvestre em geral. Por isso, o ultimo objetivo

especifico foi identificar métodos de manejo das criações de galinhas e outras

aves que poderiam ser utilizados para prevenção da predação por carnívoros

silvestres.

Os dados obtidos neste trabalho serão, no futuro, relacionados com os

resultados de outros estudos em desenvolvimento no Parque Nacional da Serra

da Canastra, do projeto “Biologia comportamental e conservação do lobo-guará

(Chrysocyon brachyurus) no cerrado do estado de Minas Gerais” que está

sendo desenvolvido pelo Instituto para Conservação dos Carnívoros

Neotropicais (PRÓ-CARNÍVOROS) e o Centro Nacional de Pesquisas para

Conservação de Predadores Naturais (CENAP/IBAMA), como são: estudo do

comportamento da espécie na área, acompanhando por meio de radiotelemetria

a movimentação de alguns indivíduos; avaliação do uso espacial e temporal dos

lobos-guarás sendo monitorados; estudos populacionais, tamanho da área de

vida e territorialidade; estudo da disponibilidade de recurso alimentar para a

espécie, entre outros.

2. METODOLOGIA

2.1 Área de estudo

O estudo foi realizado no entorno do Parque Nacional da Serra da

Canastra (PNSC), localizado no sudoeste de Minas Gerais, Brasil (entre 46°15’-

47°00’ W e 20°00’-23°00’S, Figura 2).

O PNSC foi criado no ano 1972, pelo Decreto no. 70.355, e abrange seis

municípios da região: São Roque de Minas, Sacramento, Delfinópolis, São João

do Glória, Capitólio e Vargem Bonita (MMA-IBAMA 2005). O PNSC consta de

duas grandes áreas: o Chapadão de Canastra (71.525 ha.), onde a situação

fundiária encontra-se regularizada; e o Chapadão da Babilônia (130.000 ha.)

com área decretada não regularizada (MMA-IBAMA 2005). A Zona de

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Amortecimento do PNSC, onde devem se respeitar normas e restrições

especificas, inclui terras de outros cinco municípios além dos antes

mencionados.

Figura 2. Mapa esquemático do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais. Fonte: IBDF/FBCN 1981, MMA/IBAMA 2005.

O PNSC situa-se dentro do domínio fitogeográfico do Cerrado, mas na

atualidade a paisagem observada na região é resultado de uma combinação de

ambientes naturais (formações campestres, savânicas e florestais) e ambientes

antropizados (pastagens, reflorestamentos, culturas e lavouras, áreas

urbanizadas) (MMA-IBAMA 2005). O PNSC contribui com a proteção de

aproximadamente 3,8% da área protegida do bioma Cerrado, dentro de

unidades de conservação federais do país (MMA-IBAMA 2005).

O clima regional predominante é o Tropical Sazonal, de inverno seco e

chuvas no verão. A temperatura média anual é de 22-23º C, sendo que o mês

mais frio apresenta temperaturas inferiores a 18º C e o mês mais quente não

ultrapassa 22º C. A precipitação média anual observada na área está entre 1200

e 1800 mm. A precipitação média mensal mostra uma grande estacionalidade,

concentrando-se nos meses de verão (outubro a março), que é a estação

chuvosa. A estação seca compreende o período de abril a setembro (MMA-

IBAMA 2005).

A área do PNSC encontra-se na província zoogeográfica Cariri-bororó

(Melo Leitão), onde se podem encontrar espécies típicas do bioma do Cerrado e

demais formações abertas do Brasil central com influências do bioma Floresta

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Atlântica (MMA-IBAMA 2005). Até agora tem se reportado 59 espécies de

mamíferos no PNSC, das quais 15 são espécies de carnívoros das 21 espécies

registradas para todo o bioma (Redford & Fonseca 1986). A região do parque

abriga populações de várias espécies ameaçadas de extinção, como de

Chrysocyon brachyurus, tatu-canastra (Priodontes maximus) e gato-palheiro

(Leopardus colocolo).

2.2 Coleta de dados

A coleta de dados se realizou através de entrevistas feitas aos fazendeiros

no entorno do PNSC, nos municípios de São Roque de Minas e Vargem Bonita.

Foram visitadas 106 sedes de fazenda dentro desta área (Figura 3).

As entrevistas foram realizadas de setembro de 2005 a agosto de 2006,

sendo que durante os meses de dezembro de 2005 e janeiro e fevereiro de 2006,

não foram realizadas visitas devido às dificuldades de movimentação nas

estradas por causa das chuvas.

As entrevistas foram sempre feitas pessoalmente e utilizando um

questionário semi-estruturado (Anexo 1). Com este questionário pretendia-se

coletar informação geral sobre o entrevistado e a fazenda (características

especificas do local), a ocorrência de predação ou ataques nas criações

(freqüência de ataques, animais afetados, predador envolvido), as técnicas de

manejo dos animais domésticos utilizadas pelos fazendeiros, e dados específicos

sobre o lobo-guará, assim como a percepção das pessoas para com a espécie.

O questionário era composto por perguntas fechadas (perguntas com um

número fixo de respostas, ver Tabela 1) e perguntas abertas (perguntas onde o

entrevistado tem a oportunidade e liberdade de formular uma resposta não

estruturada) (Ditt et al. 2004), e disposto em cinco seções: (1) dados gerais do

entrevistado e da propriedade; (2) características do imóvel, produção e sistema

de criação da fazenda; (3) dados sobre a predação e o manejo da criação; (4)

atitudes dos entrevistados em relação ao problema; e (5) percepção do

entrevistado sobre o lobo-guará e o PNSC. Por exemplo, foi perguntado o

motivo pelo qual o lobo-guará ataca galinhas e também quais outros itens

servem de alimento para o animal.

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Figura 3. Mapa de localização das fazendas visitadas (setembro 2005-agosto 2006) no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra, MG.

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Tabela 1. Descrição das categorias selecionadas na perguntas fechadas no questionário para levantamento de informação sobre predação nas criações domésticas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

Questão Categoria de resposta Descrição

Seção 1: Dados gerais da propriedade

Remanescente de vegetação nativa

Floresta (primaria ou secundária)

Área com predominância de espécies arbóreas onde há formação de dossel, contínuo ou descontínuo (Eiten 1972; Ribeiro e Walter 1998).

Mata de galeria e ciliar Representa a vegetação florestal que acompanha os rios de pequeno, médio e grande porte da região do Cerrado, em que a vegetação arbórea pode ou não formar galerias (corredores fechados de vegetação) (Ribeiro et al. 1983).

Cerrado O Cerrado caracteriza-se por uma formação aberta de árvores e arbustos baixos coexistindo em uma camada rasteira graminosa (Eiten 1972; Ribeiro & Walter 1998).

Mais de um tipo Mais de um tipo de remanescente de

vegetação.

Ausente Nenhum tipo de vegetação nativa

presente.

Seção 2: Características do imóvel, produção e sistema de criação

Atividades econômicas realizadas na fazenda

Criação Bovino Eqüino Ovino Suíno Aviar Outro

Cultivos Milho Café Soja Pastagem Outros

Produção principal Leite e queijo Corte Venda de animais Autoconsumo Outros

Condições gerais das instalações

Precárias Recursos poucos ou insuficientes. Falta de algum dos serviços básicos (água, energia elétrica, etc.).

Regulares Com recursos suficientes. Com disponibilidade dos serviços básicos (água e energia elétrica).

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Tabela 1. (Continuação)

Questão Categoria de resposta Descrição

Boas Que tem quase todas as qualidades adequadas para sua função. Manejo adequado do gado e da produção de queijo.

Seção 3: Dados sobre a predação e manejo da criação

Freqüência de ataque Diária Que ocorre todo dia.

Semanal Que ocorre uma vez por semana.

Mensal Que ocorre uma vez por mês.

Ocasional Que ocorre eventualmente, sem ter uma repetição padronizada. Refere se a um acontecimento incerto.

Horário do ataque Manha 4:00-12:00 horas

Tarde 12:00-20:00 horas

Noite 20:00-4:00 horas

Não sabe Sem poder responder

Época do ano Chuvosa Considera-se o período úmido de outubro a março.

Seca Considera-se o período seco de abril a setembro.

Manejo da criação de galinhas

Soltas o tempo tudo Permanecem soltas durante o dia e a noite

Soltas e poleiro Permanecem soltas e têm um poleiro

para passar a noite.

Soltas e galinheiro Permanecem soltas e fechadas à noite.

Galinheiro Permanecem a maior parte do tempo no

galinheiro.

Identificação do predador responsável do ataque

Visualização Refere-se ao avistamento do animal próximo da área do ataque e um tempo antes ou depois de ocorrida a predação.

Pegadas -

Pelos -

Fezes -

Carcaça -

Identificação do predador

Vocalização -

Palpite Suspeita por parte do entrevistado.

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Tabela 1. (Continuação)

Seção 4: Atitudes dos entrevistados em relação ao problema de predação

Atitudes tomadas das pessoas com problemas de predação

Fazer nada -

Procurar cães guardiões Procurar cães guardiões ou aumentar o número deles no caso de ter já algum.

Prender as galinhas Fechar as galinhas durante a noite.

Avisar alguma instituição para reportar a ocorrência

-

Tentar matar ou atirar do predador

-

Seção 5: Percepção do entrevistado sobre o lobo-guará e o PNSC

Opinião sobre o lobo Positiva Opinião favorável sobre o lobo, interesse nele e na sua conservação. Sentimento de simpatia para com ele.

Indiferente Opinião que mostra desinteresse ao respeito do tema.

Negativa Opinião desfavorável, sem interesse na sua conservação. Sentimento de rejeito para com o animal.

Todos os questionários foram preenchidos pelo pesquisador levando

aproximadamente uma hora para serem completados. Quando possível,

também foram coletadas evidências sobre as ocorrências de predação relatadas

pelos entrevistados para confirmação dos eventos ocorridos. A fim de ajudar à

identificação dos predadores envolvidos nos ataques, foram utilizadas pranchas

com fotografias das espécies de mamíferos carnívoros presentes na área.

Para indagar sobre o conhecimento que as pessoas têm das espécies

silvestres, se pediu a cada entrevistado nomear (lista-livre) todas as espécies

silvestres que ele achava podiam ser encontradas na fazenda e ao redor desta.

Essas listas foram usadas para mensurar a importância relativa, na percepção

dos entrevistados, das diferentes espécies: “Espécies consideradas mais

importantes tendem a ser mencionadas com mais freqüência e primeiro na

lista-livre” (Bernard 2002).

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Utilizando as listas-livres se calculou o Índice de Saliência (S) para cada

espécie mencionada, baseado no número de vezes que cada uma delas foi

nomeada nas listas e a sua posição relativa na lista (Dickman 2005). Utilizou-se

a fórmula apresentada em Maddox (2002), citada e utilizada por Dickman

(2005):

S = Índice de Saliência

N = número de listas-livres

rj = posição do item j na lista

n = número de itens na lista

Os índices de saliência obtidos para cada espécie como indicadores de

conhecimento foram comparados com a freqüência de menção destes como

responsáveis dos ataques para indagar a existência de uma associação entre as

variáveis.

Procurando saber se a percepção dos proprietários para com o lobo-guará

diferia segundo o tamanho das suas criações de galinhas, os entrevistados se

classificaram em três grupos de acordo com o tamanho da criação: pequeno

(<50 animais), médio (50-100 animais), e grande (>100 animais).

Neste questionário também se solicitou informação em relação à

percepção dos entrevistados sobre o lobo-guará e o PNSC. As respostas foram

registradas dentro de três categorias: positiva, indiferente e negativa.

Um Índice de Tolerância se construiu qualificando os entrevistados

dentro de uma escala de 1 a 6 de acordo com a opinião destes a respeito do lobo-

guará e os ataques sofridos na suas criações (Tabela 2). A menor pontuação foi

dada para àqueles que não tiveram perdas por predação e ainda assim tiveram

visão negativa, e a maior pontuação para aqueles que mesmo tendo perda

possuíram visão positiva.

30

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Tabela 2. Índice usado para qualificar a tolerância para com o lobo-guará dos entrevistados, segundo a opinião de cada um deles e os problemas de predação sofridos, nas fazendas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

Pontuação* Perda de criação Opinião do lobo

1 Não Negativa 2 Sim Negativa 3 Não Indiferente 4 Não Positiva 5 Sim Indiferente 6 Sim Positiva

* 1 – 6 de menor a maior tolerância.

A predação nas criações domésticas por predadores silvestres é um

fenômeno complexo que é difícil explicar apontando uma única causa (Oli

1995). Na tentativa de detectar padrões e relações quantitativas (relações de

dependência) entre variáveis ecológicas e sociais com a ocorrência de predação,

foram analisados diferentes fatores da paisagem e do manejo das criações

domésticas, em particular das criações de aves.

Inicialmente a ocorrência de predação foi examinada como variável

binária ao ser comparada com certos atributos das fazendas visitadas.

Posteriormente, foi investigada a variação na freqüência da predação em relação

aos mesmos atributos ou características.

Foram estudados alguns dos fatores (cobertura do solo e tipo de

vegetação, distância da fazenda ao limite da área protegida e a distância à cidade

mais próxima, tamanho e manejo da criação, e a presença de cães guardiões na

fazenda) que em pesquisas anteriores acharam-se relacionados à incidência de

predação (Landa et al. 1999; Mazzolli et al. 2002; Rigg 2004; Treves et al.

2004; Graham et al. 2005; Michalski et al. 2006).

As variáveis cobertura do solo e distâncias foram calculadas com ajuda de

um Sistema de Informação Geográfica, usando o software ArcVIEW 3.3 (ESRI

Inc. 2000) e ArcGIS 8.2 (ESRI Inc. 2002). A cobertura do solo foi extraída da

classificação não supervisada da imagem de satélite Landsat (ETM - Setembro

2000) feita pelo IBAMA. Nesta classificação os tipos de cobertura do solo foram

categorizados dentro de nove classes: campo, campo rupestre, cerrado, corpos

de água e sombras, mata, mineração, reflorestamento, uso agropecuário, e não

definido.

31

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32

As categorias definidas para as distâncias foram: perto (<5 km), média

(5-10 km), e longe (>10 km). E a área de cada tipo de cobertura foi calculada

dentro de uma área de amortecimento (buffer) de um quilômetro, dois

quilômetros e cinco quilômetros de raio, tomando como centro geométrico a

sede da mesma fazenda (Exemplo: Figura 4).

Em uma segunda fase da pesquisa, que tinha como objetivo obter dados

sobre a freqüência dos ataques nas fazendas que relatam problemas de

predação, foi necessário selecionar uma amostra de 21 fazendas do total das

entrevistadas para lograr monitorá-las de junho a setembro de 2006. Isso com o

objetivo de visitar cada fazenda duas vezes por mês (aproximadamente cada 10

dias). Acompanhar as 106 fazendas inicialmente entrevistadas não era possível

pelas limitações de recursos, tempo e pessoal.

Na segunda visita e as seguintes ao longo do monitoramento foi

preenchido um questionário adicional (Anexo 2) para o levantamento.de

informação mais detalhada sobre o conflito.

O questionário utilizado nas fazendas monitoradas constava de apenas

perguntas fechadas e incluía uma seção sobre a atitude para com o lobo e outros

animais silvestres, e as medidas de controle e prevenção da predação que o

entrevistado achava mais conveniente (Tabela 3). Também dispunha de uma

tabela que foi completada em caso de terem ocorrido ataques.

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entrevistada no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006). Figura 4. Exemplo das medições de distância e cobertura do solo, realizadas para cada fazenda

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Tabela 3. Descrição das categorias selecionadas nas perguntas fechadas do questionário utilizado no monitoramento de 21 fazendas (junho-setembro 2006) para levantamento de informação sobre predação das criações domésticas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra.

Questão Categorias de resposta

Gosta do lobo? Sim

Indiferente

Não

O lobo é um problema para as pessoas?

Sim

Indiferente

Não

Os animais silvestres são problema? Sim

Indiferente

Não

Sugestões para resolver o problema de predação.

Mudar o manejo das criações ou usar métodos de prevenção (colocar galinheiro, fechar a área onde os animais se encontrão, colocar luz, ter cães guardiões, etc.).

Matar o animal (is) problema.

Compensação econômica pelos animais perdidos.

Translocar o animal (is) problema para outro lugar.

Remover todos os animais problemas.

Sugestões para resolver o problema de predação.

Conservar maiores áreas de vegetação nativa e permitir espécies silvestres se restabelecerem.

Outra sugestão

Não sabe

2.3 Análise de dados

Cada uma das fazendas visitadas foi considerada como uma unidade de

análise independente. Foram calculadas as porcentagens para cada variável de

resposta em base ao total de respostas obtidas em cada pergunta. Os valores são

apresentados como média ± desvio padrão da média.

34

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Para indagar a existência de associação entre a ocorrência de predação, e

freqüência da predação, e as variáveis explicativas selecionadas (tipo de

vegetação nativa na propriedade, cobertura do solo no entorno da fazenda,

distância da fazenda ao limite do PNSC e distância à cidade mais próxima,

tamanho da criação, tipo de manejo da criação e presença de cães domésticos)

se utilizou o teste de Qui-quadrado (X2), com o método de tabelas de

contingência, em virtude de que as variáveis investigadas eram categóricas e que

se pretendia analisar padrões de freqüências por contagens.

Para as análises dos dados compilados nas fazendas monitoradas, estas

fazendas foram agrupadas segundo a freqüência dos eventos de predação

ocorridos nestas, tomando em conta todos os ataques reportados desde o inicio

da pesquisa, em: ocorrência semanal, 1-2 meses, 3-4 meses, 5-6 meses, 7-8

meses, 9-10 meses, 11-12 meses e única vez.

Com o objetivo de descrever o tipo de associação observada entre as

variáveis estudadas, no caso de existir alguma relação de dependência, foi

utilizado o Coeficiente de Incerteza (Uncertainty Coefficient), por serem as

variáveis categóricas nominais.

O Coeficiente de Incerteza apresenta um valor que pode estar no

intervalo de 0-1 e indica a redução proporcional no erro da predição do valor de

uma variável baseado na outra variável.

O mapa de classificação da cobertura do solo utilizado abarcava

unicamente a área do PNSC e a zona de amortecimento deste. Por tanto, para

fazendas localizadas fora desse limite não foi possível obter dados de cobertura,

tendo que eliminá-las das análises. Assim o n disponível para estudar a relação

entre a ocorrência de predação e a freqüência desta e a cobertura do solo foi

menor que nas analises com os outros fatores.

Com o objetivo de determinar que grupos de espécies sobressaiam para

os entrevistados e identificar diferenças na importância relativa de alguns

grupos taxonômicos entre as espécies mencionadas nas listas-livres, foram

utilizados os testes t-student e análise de variância (ANOVA).

Foram comparados os índices de saliência obtidos para cada Família de

carnívoro (Canidae, Felidae, Procyonidade, Mustelidae), os valores entre as

Ordens de mamíferos (Carnivora, Xenarthra, Primates, Artiodactyla, Rodentia,

35

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Didelphimorphia), e entre as três diferentes Classes incluídas nas listas-livres

(Mammalia, Reptilia, Ave).

Os dados foram analisados usando o software Statistical Package for

Social Sciences (SPSS) versão 13.0 (SPSS Inc. 2004), e para todos os testes

estatísticos foi definida a significância como P<0,05, mas os valores de P<0,10

foram considerados como indicadores de tendências.

3. RESULTADOS

3.1 Características dos entrevistados e as fazendas

A maior parte dos entrevistados foi de pessoas nascidas e crescidas na

região, mas com um tempo de residência na fazenda muito variado, sendo em

média de 21,59 (± 2,56) anos. Todos os entrevistados eram adultos (maiores de

18 anos de idade), onde 71,11% eram homens e 28,89% mulheres; 83,15% dos

entrevistados eram proprietários da fazenda em que moravam, o restante

dividiu-se entre arrendatários, parceiros e ocupantes.

As propriedades com menos de 1 km2 de área somaram 64,44% de um

total de 45 fazendas que forneceram esta informação. Na classe de 1-5 km2

foram registradas 26,67%, e as propriedades com área maior do que 5 km2 eram

8,89%.

A distância média em linha reta das fazendas visitadas ao limite do PNSC

foi de 8,76 (± 0,78) km e à cidade mais próxima 11,96 (± 0,86) km, sendo São

Roque de Minas a cidade mais próxima da maioria das fazendas (71,84%),

seguida pela cidade de São João Batista do Glória (18,45% e Vargem Bonita

(9,71%).

As fazendas tiveram como atividade econômica principal a criação de

gado leiteiro, da qual produzem queijo que comercializam fora do município e,

em alguns casos, do estado. A criação de animais de pequeno e médio porte,

como aves e porcos, teve importância comercial reduzida sendo principalmente

para sustento interno e autoconsumo dos locais.

36

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3.2 Manejo da criação de galinhas e outras aves

Entre os entrevistados 87% se dedicava principalmente à criação de gado

leiteiro. A criação de galinhas e outras aves era para consumo próprio, sendo

que em ocasiões comercializam tanto os animais tanto seus ovos. As galinhas

são vendidas em média por R$ 11,06 (±0,44), os frangos por R$ 12,00 (±0,73), e

os ovos são vendidos geralmente por R$ 2,00 a dúzia.

Do total de entrevistados, 37,74% tinha uma criação pequena de galinhas

(<50 animais), 27,36% tinha uma criação de tamanho médio (50-100 animais),

e 15,09% de tamanho grande (>100 animais). Também foi observada uma

percentagem relativamente alta (19,81%) de fazendeiros que não tinham

controle da criação de galinhas; ou seja, eles não sabiam quantos animais

tinham na fazenda.

Em geral, níveis muito baixos de cuidado na criação de galinhas foram

observados, em 70% das fazendas visitadas as galinhas encontraram-se soltas o

tempo todo, com livre movimentação e passando à noite dispersas pelas árvores.

O resto dos entrevistados utilizava como método de manejo poleiros (8%) e

galinheiros (22%) próximos a casa para prender os animais durante a noite.

É comum a presença de cães em quase a todas as fazendas (93,20%), mas

nem todos são cães de guarda, alguns são cães de estimação, de pequeno porte,

que não ajudam no cuidado das criações.

3.3 Predação das criações domésticas

Das fazendas visitadas, 70,76% dos entrevistados relataram ocorrência de

predação das suas criações (Tabela 4), enquanto 29,25% disseram não ter

(Figura 6).

37

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38

O monitoramento de 21 fazendas mostrou que existe uma diferença entre

a percepção das pessoas e os acontecimentos de predação que realmente

ocorreram (X2=15,19; gl=4; P=0,001), o que graficamente pode ser observado

na Figura 5. Levando a crer que a percepção dos entrevistados quanto à

freqüência com que ocorrem os ataques encontrava-se superestimada.

Os ataques às criações domésticas foram relatados, na maioria das vezes,

como ocasionais (63,24%), seguidos em freqüência pela ocorrência mensal

(13,24%).

Tabela 4. Tipo de criação predada nas fazendas entrevistadas (setembro 2005-agosto 2006) no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra.

Criação abatida por predador Número de fazendas

Galinhas 58

Galinhas e algum outro animal 15

Outro animal (não sendo galinha) 2

Total de fazendas com problema de predação 75

4

2

0 0

6 6

1

3

1 1

9

0

2

4

6

8

1 0

1 2

Diá

ria

Sem

anal

Men

sal

Oca

sio

nal

Ún

ica

vez

Freqüência da predação

mer

o de

obs

erva

ções

Inr een

for m a çã opor ta da pelostr ev ista dos

Inobm o

for m a çã ot ida n on itor a m en to

Figura 5. Freqüência de predação reportada pelo entrevistado e registrada por acompanhamento, em 21 fazendas monitoradas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (junho-setembro 2006).

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Figura 6. Mapa de localização das fazendas entrevistadas (diferenciadas pela ocorrência de predação) no

entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra, MG (setembro 2005-agosto 2006).

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Segundo os fazendeiros, a predação não mostra uma sazonalidade ao

longo do ano, mesmo assim aproximadamente a metade dos entrevistados

(56,52%) concorda que é um pouco mais freqüente durante a época chuvosa

(outubro a março).

De modo geral, os afetados não têm informação sobre o horário em que

ocorrem os ataques sendo que as perdas são descobertas no dia seguinte do

acontecimento.

Considerando todos os relatos de predação abrangidos nesta pesquisa,

em 55,17% dos casos os proprietários souberam dizer quais e quantos de seus

animais foram acometidos e, destes, a média de animais mortos por ataque foi

de 3,37 (±0,56) por evento de predação, sendo que a maioria das vezes o

predador pegava somente um animal.

Analisando os dados referentes apenas às criações de galinhas e outras

aves, a média de captura foi de 4,31 (±0,78) animais por evento de predação, e

também foi observado com mais freqüência a morte de um só animal.

A totalidade das mortes de animais domésticos foi atribuída ao ataque de

um predador, os entrevistados culparam na maioria das vezes um carnívoro

silvestre, e o principal acusado como responsável da predação foi o lobo-guará.

Outros culpados como responsáveis da predação de criações domésticas

são apresentados a seguir (Figura 7). Na categoria “Outros” se encontram:

jaratataca (Conepatus semistriatus) e mão-pelada (Procyon cancrivorus), com

2,52% cada, cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) com 1,68%, gato-do-mato

(Leopardus sp.), gato-mourisco (Puma yaguaroundi), onça-parda (Puma

concolor), gambá (Didelphis albiventris), coati (Nasua nasua) e jibóia (Boa

constrictor), todos eles com a mesma porcentagem de menção como

responsável (0,84%). A listagem completa dos animais avistados em fazendas,

com os respectivos nomes científicos, está no Anexo 4.

As respostas do modo de identificação do predador envolvido no ataque

aos animais domésticos são apresentadas na Tabela 5.

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1 0,08

1 1 ,7 6

3 ,3 6

3 ,3 6

5 ,04

5 ,8 8

5 ,8 8

7 ,5 6

1 0,083 6 ,9 7

0 1 0 20 30 4

Desconhecido

Outros

Lagarto

Raposa

Lontra

Cachorro doméstico

Jaguatirica

Gav ião

Irara

Lobo-guará

% de respostas

0

Figura 7. Predadores envolvidos em ataques às criações domésticas, segundo os entrevistados, no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

Tabela 5. Modo de identificação, usado pelos entrevistados, do predador implicado no ataque de animais domésticos nas fazendas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

Modo de identificação (%)

Predador n

Vis

ual

izaç

ão

Peg

adas

Pel

os

Fez

es

Voc

aliz

ação

Ou

tros

Pal

pit

e

Lobo-guará 65 32,3 6,2 10,8 3,1 13,8 1,5 32,3

Irara 13 46,2 - - - - - 53,8

Gavião 9 66,7 - - - 11,1 - 22,2

Jaguatirica 10 30,0 10,0 - - - 40,0 20,0

Cachorro doméstico 7 71,4 - - - - - 28,6

Lontra 9 66,7 - - - - - 33,3

Raposa 7 42,9 - - - - - 57,1

Lagarto 5 60,0 - - - - - 40,0

Jaratataca 4 50,0 25,0 - - - - 25,0

Mão-pelada 3 - - - - - - 100,0

Cachorro-do-mato 4 50,0 - - - - - 50,0

Gato-do-mato 1 - - - - - - 100,0

Gato-mourisco 1 100,0 - - - - - -

Onça-parda 1 100,0 - - - - - -

Gambá 2 50,0 50,0 - - - - -

Coati 1 - - - - - - 100,0

Jibóia 1 100,0 - - - - - -

Nota: “Visualização” refere-se ao avistamento do animal próximo da área e antes ou depois de ocorrida a predação.

41

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3.4 Conhecimento e percepção do lobo-guará e outras espécies

silvestres

Foram obtidas 82 listas, com um total de 37 espécies mencionadas, das

quais 28 foram espécies de mamíferos, três espécies de répteis e seis espécies de

aves (Anexo 4). Nas listas eram nomeadas de uma a nove espécies, sendo a

média 3,48 (±0,21). Do número total de espécies mencionadas, 18

correspondem a carnívoros que poderiam estar relacionados com problemas de

predação de criações domésticas.

Os índices de saliência para todas as espécies listadas são apresentados

na Figura 8. Estes mostram que a irara (Eira bárbara), a raposa (Lycalopex

vetulus), o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e a lontra (Lontra longicaudis)

foram os carnívoros mais mencionados com relação ao resto dos carnívoros

(t=3,166; gl=3,159; P=0,047); enquanto que o tamanduá-bandeira

(Myrmecophaga tridactyla) e a capivara (Hydrochoerus hydrochoeris) foram

as espécies mais mencionadas do grupo dos mamíferos não carnívoros, mas essa

diferença não foi significativa em relação ao restante deste grupo (t=3,085;

gl=1,014; P=0,197). No grupo das aves listadas, o gavião, que agrupa varias

espécies da Família Falconidae (excetuado o carcará que foi claramente

identificado pelos entrevistados) apresentou um índice de S=0,10, que é

relativamente baixo considerando que inclui várias espécies. Os dois répteis

citados encontram-se entre os índices mais baixos. Por tanto, pode se disser que

os carnívoros terrestres, que podem estar relacionados a problemas de

predação, são os animais mais importantes na percepção da população local.

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0,1 2

0,05

0,1 5

0,02

0,06

0,04

0,01

0,06

0,2 5

0,04

0,05

0,09

0,04

0,02

0,01

0,01

0,1 0

0,03

0,01

0,1 6

0,01

0,01

0,02

0,01

0,03

0,01

0,09

0,02

0,02

0,01

0,00 0,05 0,1 0 0,1 5 0,2 0 0,2 5 0,3 0

Lobo-g u a r á

Ca ch or r o-do-m a to

Ra posa

On ça -pa r da

Ja g u a tir ica

Ga to-do-m a to

Mã o-pela da

Qu a t i

Ir a r a

Ir a r in h a

Ja r a ta ta ca

Lon tr a

Ga m bá

Jibóia

La g a r to

Ca r a ca r á

Ga v iã o

Ta tu

Ta tu -ca n a str a

Ta m a n du á -ba n deir a

Ta m a n du á -m ir im

Ma ca co-pr eg o

Ma ca co-sa u á

Bu g io

V ea do

Ou r iço-ca ch eir o

Ca piv a r a

Pa ca

Em a

Ser iem a

S

Figura 8. Índices de saliência (S) das espécies mencionadas nas listas-livres elaboradas pelos entrevistados no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006). As barras pretas são espécies de carnívoros que poderiam estar implicadas em predação de animais domésticos e as barras brancas são espécies não relacionadas a problemas de predação.

Aparentemente não há um grupo taxonômico que destaque entre o total

de animais mencionados pelos entrevistados, dado que ao testar a igualdade de

médias entre os grupos taxonômicos das diferentes espécies listadas, se

encontrou que não há diferença (F=1,024; gl=3; P=0,432) na menção de cada

43

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Família de carnívoro (Canidae, Felidae, Procyonidade, Mustelidae). Também

não foram estatisticamente significativas as diferenças entre as Ordens de

mamíferos (Carnivora, Xenarthra, Primates, Artiodactyla, Rodentia,

Didelphimorphia) (F=1,673; gl=5; P=0,178), nem entre as três diferentes

Classes incluídas nas listas-livres (Mammalia, Reptilia, Ave) (F=0,927; gl=2;

P=0,405).

Existe uma tendência de animais mais conhecidos serem mais culpados

de causar problemas nas criações domésticas (rS=0,652, n=15 P=0,008). Esta

comparação se apresenta graficamente na Figura 9.

0

5

1 0

1 5

2 0

2 5

3 0

3 5

4 0

4 5

5 0

Lob

o-gu

ará

Cac

horr

o-do

-mat

o

Rap

osa

On

ça-p

arda

Jagu

atir

ica

Gat

o-do

-mat

o

Mão

-pel

ada

Coa

ti

Irar

a

Jara

tata

ca

Lon

tra

Gam

Jibó

ia

Lag

arto

Gav

ião

Fre

qüên

cia

de m

ençã

o co

mo

pred

ador

res

pon

sáve

l (%

)

0 ,00

0,05

0,1 0

0,1 5

0,2 0

0,2 5

0,3 0

Índi

ce d

e sa

liên

cia

(S

)

Fr (%)

S

Figura 9. Comparação entre a percentagem de menção dos predadores culpados dos ataques às criações domésticas (Fr) no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra e o índice de saliência calculado para cada um deles (S) na mesma área.

O lobo-guará é conhecido em todas as fazendas visitadas, sendo que

52,83% dos entrevistados disseram avistá-lo na sua fazenda, e ainda em 82,08%

do total de fazendas o animal é escutado.

Apesar de culparem o lobo-guará como o principal predador das suas

criações, predomina entre os entrevistados uma opinião positiva em respeito à

espécie (66,04%), seguida por uma atitude de indiferença (10,38%) e por último

de uma opinião negativa (3,77%). A percentagem restante dos entrevistados não

44

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quis pronunciar-se sobre o tema. As respostas obtidas às questões nas quais o

lobo-guará era o foco são apresentadas na Tabela 6.

Tabela 6. Respostas obtidas às perguntas abertas centradas no lobo-guará de entrevistas realizadas aos fazendeiros no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

Pergunta Resposta %

Por que o lobo come galinhas? Porque o lobo tem que se alimentar. 40,00

(n = 45 repostas) As fêmeas com filhotes precisam de mais comida. 24,44

Porque o lobo come o que encontra. 8,89

Porque o lobo acostumou-se a comer galinhas. 4,44

Porque o lobo sempre esteve aqui e agora há galinhas. 4,44

Porque o lobo acostumou-se a estar perto das fazendas. 4,44

É a lei da natureza 4,44

O homem tem acabado com a comida dos lobos, assim as galinhas servem de alimento. 2,22

Quando há pouca fruta o lobo come outras coisas. 2,22

Porque as galinhas são comida para ele. 2,22

Porque a galinha é a sua comida preferida. 2,22

Quais outros itens o lobo-guará come? Lobeira (Solanum lycocarpum) 37,50 (n= 48 respostas) Manga 12,50

Goiaba (Psidium sp.) 2,08

Abacate 2,08

Coquinho baboso 2,08

Outras frutas 8,33

Ratos 8,33

Tatus 4,17

Codornas 2,08

Seriemas 2,08

Outros pássaros pequenos 2,08

Lagartos 2,08

Restos de comida humana 2,08

Come de tudo 2,08

Não sabe 8,33

45

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3.5 Análise dos fatores relacionados à predação das criações

3.5.1 Cobertura do solo e tipo de vegetação nativa

No total das fazendas visitadas observou-se um predomínio das

pastagens (não fazendo distinção entre as naturais e as plantadas). Algumas

fazendas ainda conservaram fragmentos de vegetação nativa, sendo a Mata de

galeria ou ciliar a mais freqüentemente encontrada (Figura 10).

1 0

5 0

5

2 1

1 4

0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6

Floresta primariaou secundária

Mata de galeriaou ciliar

Cerrado

Mais de um tipo

Ausente

Percentagem de fazendas

0

Figura 10. Tipos de vegetação nativa presentes nas propriedades rurais (n=100) do entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

O resultado da análise, indagando a relação entre a predação e o tipo de

vegetação (Figura 11), sugere que a ocorrência de predação pode não estar

afetada pela presença de nenhum tipo de vegetação nativa presente na

propriedade (X2=6,352; gl=4; P=0,170). De igual forma, não existe efeito da

proporção de distintos tipos de cobertura nos ataques ocorridos (Tabela 7,

Figura 12).

46

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4

4 8

7

1 5

2 6

4

1 0

5 1

2 3

1 2

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

Flor estapr im a r ia ousecu n dá r ia

Ma ta g a ler iaou cilia r

Cer r a do Ma is de u mtipo

A u sen te

Tipo de vegetação na propriedade

Fre

qüên

cia

(%)

Fa zen da s compr eda çã o (n =7 3 )

Fa zen da s sempr eda çã o (n = 2 7 )

Figura 11. Relação entre a presença de vegetação nativa e a ocorrência de predação em fazendas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

Tabela 7. Relação entre a percentagem do tipo de cobertura e a ocorrência de predação nas fazendas entrevistadas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

Áreas de amortecimento

Tipo de cobertura n X2 gl P

1 km Campo 79 1,819 3 0,686 Campo rupestre - - - - Mata 79 0,001 1 1,000 Uso agropecuário 79 4,666 4 0,330

2 km Campo 74 0,434 3 1,000 Campo rupestre 74 0,350 1 1,000 Mata 74 3,173 2 0,228 Uso agropecuário 74 2,754 4 0,647

5 km Campo 59 2,825 3 0,411 Campo rupestre - - - - Mata 59 0,002 1 1,000 Uso agropecuário 59 4,097 4 0,414 Nota: A percentagem de cobertura de campo rupestre, calculada dentro das áreas área de amortecimento de 1 km e 5 km de raio, foi constante dentro de uma categoria, ou seja, não há fazendas com cobertura de campo rupestre maior que 20%, por isso não foi computada a analise estatística.

47

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a

Área de amortecimento de 1 km

9

1

1 6

64

40

1 6

7 2

0

1 0

20

30

40

50

60

7 0

80

Campo Camporupestre

Mata Uso agrícolae pecuária

Tipo de cobertura do solo

Méd

ia d

e co

ber

tura

(%

)

b

Área de amortecimento de 2 km

1 1

2

1 9

58

70

1 6

67

0

1 0

20

30

40

50

60

7 0

80

Campo Camporupestre

Mata Uso agrícolae pecuária

Tipo de cobertura do solo

Méd

ia d

e co

bert

ura

(%

)

c

Área de amortecimento de 5 km

1 8

4

1 8

48

1 7

2

1 7

54

0

1 0

20

30

40

50

60

Campo Camporupestre

Mata Uso agrícolae pecuária

Tipo de cobertura do solo

Méd

ia d

e co

bert

ura

(%

)

Figura 12. Tipos de cobertura dentro de uma área de amortecimento de 1 km (a), 2 km (b) e 5 km (c) de raio nas fazendas entrevistadas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006). As barras pretas são fazendas que reportam predação das suas criações domésticas e as barras da cor branca são fazendas sem problemas de predação.

48

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3.5.2 Distância da fazenda ao limite ao PNSC e à cidade mais próxima

A predação pareceu não ser influenciada pela distância das fazendas

entrevistadas ao limite do PNSC (X2=3,295; gl=2; P=0,193), nem pela distância

das mesmas à cidade mais próxima (X2=2,204; gl=2; P=0,332) (Figura 13).

Figura 13. Distância da fazenda ao Parque Nacional da Serra da Canastra e aos centros urbanos e a ocorrência de predação sobre criações domésticas em fazendas entrevistadas. As barras pretas são fazendas que reportam predação das suas criações domésticas e as barras brancas são fazendas sem problemas de predação.

1 61 9

2 8

4 9

2 4

6 5

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

7 0

Per to In ter m ediá r io Lon g e

Diatância da cidade

2 9

3 8

1 4

4 8

1 6

5 5

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

Per to In ter m ediá r io Lon g e

Distância do PNSC

Faz

enda

s (%

)

3.5.3 Tamanho da criação

Os resultados quanto à relação entre o tamanho da criação de galinhas e a

ocorrência de predação sugeriram que a predação foi independente do número

de animais presentes na fazenda (X2=0,604; gl=2; P=0,739).

3.5.4 Manejo da criação e presença de cachorros de guarda

Segundos os resultados obtidos, a predação parece não ser afetada pelo

tipo de manejo das criações de galinhas (X2=1,434; gl=3; P=0,735). Na Figura

14 pode se observar a mudança na proporção de freqüências dos diferentes tipos

de manejo e a presença de cachorros em fazendas com e sem problemas de

predação.

49

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Os resultados obtidos indicaram que a presença de cachorros na fazenda

não influenciou a ocorrência de predação (X2=3,086; gl=1; P=0,103). Porém,

sugerem que há uma tendência a fazendas com cachorros terem menos

predação das criações domésticas.

Figura 14. Manejo da criação de galinhas e presença de cachorros em fazendas com e sem problemas de predação, no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006). As barras pretas são fazendas que reportam predação das suas criações domésticas e as barras brancas são fazendas sem problemas de predação.

1 17 7

6 8

71 1

1 4

7 4

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

7 0

8 0

Solta s Solta s epoleir o

Solta s eg a lin h eir o

Ga lin h eir o

Tipo de manejo da criação

Fre

qüên

cia

(%)

1 00

3 1

6 9

0

2 0

4 0

6 0

8 0

1 00

1 2 0

Com ca ch or r os Sem ca ch or r os

Presença de cachorros

Fre

üên

cia

(%)

3.6 Atitudes tomadas pelos fazendeiros frente ao problema da predação de galinhas

Apesar de que a maioria (70,76%) dos entrevistados reclamarem de

problemas com carnívoros silvestres, e que 36,97% culpe ao lobo-guará como

responsável da predação, os entrevistados parece aceitar a presença de espécies

silvestres no entorno das suas fazendas, por razões variadas que incluem o seu

conceito da “ordem da natureza”.

Do total de pessoas que sofreram ataques na suas criações, 70,71%

disseram não querer a mudar seus costumes em quanto ao cuidado que dão aos

animais. Somente 29,29% gostariam de modificar o manejo e procurar proteger

melhor as galinhas.

Nas Tabelas 8 e 9 são apresentadas as atitudes e o índice de tolerância

dos entrevistados para com o lobo.

50

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Tabela 8. Atitude dos fazendeiros entrevistados no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra para com o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) (setembro 2005-agosto 2006).

Opinião respeito ao lobo-guará

% Entrevistados

Positiva 66,04

Negativa 3,77

Indiferente 10,38

Sem resposta 10,38

Sem dado 9,43

Nota: Na categoria “Sem resposta” encontram se as pessoas que não quiseram dar sua opinião, e na categoria “Sem dado” estão aquelas às quais não foi possível fazer a pergunta.

Tabela 9. Índice de tolerância dos fazendeiros entrevistados para com o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

Pontuação de tolerância % Entrevistados

1 0

2 4,65

3 3,49

4 23,26

5 9,30

6 59,30

O índice de tolerância está pontuado de menor (1) a maior (6) tolerância.

Os resultados obtidos, na análise indagando se a tolerância dos

fazendeiros entrevistados divergia entre fazendas com e sem predação e se

existia divergência de tolerância em relação ao tamanho da criação, sugerem

que a tolerância poderia estar influenciada pela ocorrência de predação

(X2=81,127, gl=4, P<0,001), mas não pelo tamanho da criação (X2=5,542, gl=8,

P=0,747) (Figura 15).

51

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a

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

7 0

8 0

9 0

1 2 3 4 5 6

Índice de tolerância

Fre

qüên

cia

(%)

Fa zen da s compr eda çã oFa zen da s sempr eda çã o

b

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

6 0

1 2 3 4 5 6

Índice de tolerância

Fre

qüên

cia

(%)

Pequ en o

Médio

Gr a n de

Figura 15. Comparação da tolerância dos fazendeiros, a ocorrência de predação (a) e o tamanho da criação de galinhas (b), nas fazendas visitadas no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

Em quanto à análise para examinar a força e direção da relação entre a

predação e a tolerância mostrada pelos entrevistados, os resultados sugerem

que a relação é positiva, mas não forte (Coeficiente de incerteza = 0,473; desvio

padrão = 0,052; P<0,001). O resultado anterior sugere que, quanto maior

predação, maior tolerância, mas esta dependência é débil.

As sugestões dadas pelos entrevistados para prevenir o problema de

predação foram registradas nas seguintes proporções (a pergunta feita era

aberta dando a liberdade da resposta ao entrevistado) (Tabela 10).

Tabela 10. Sugestões dadas pelos entrevistados para a prevenção do problema de predação das criações domésticas por carnívoros silvestres, no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (setembro 2005-agosto 2006).

Sugestões para resolver o problema da predação nas criações de galinhas

%

Colocar cães guardiões 60,00

Fazer um galinheiro para fechar as galinhas 23,33

Ajudar às galinhas a subir nas árvores 3,33

Dar mais cuidado à criação 3,33

Deixar luz acesa à noite 3,33

Usar bombas para assustar ao predador 3,33

Colocar cerca eletrificada 3,33

52

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3.7 Resultados do monitoramento de 21 fazendas: Detalhes do problema de predação

As localizações das 21 fazendas selecionadas, para monitoramento das

ocorrências de predação nas criações domésticas, sub-amostra do total de

fazendas visitadas são apresentadas na Figura 6. Dados das fazendas como o

tamanho da criação de galinhas, o manejo da criação, e a freqüência de ataques

relatada pelo entrevistado são mostrados nas Tabelas 11 e 12.

Tabela 11. Resumo das características das 21 fazendas monitoradas, no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (junho-setembro 2006).

Fator Categorias n % de fazendas

Tamanho da criação Pequeno (<50 animais) 5 23,81

Médio (50-100 animais) 6 28,57

Grande (>100 animais) 6 28,57

Não sabe 4 19,05

Manejo da criação Sim 5 23,81

Não 16 76,19

Freqüência de ataques Diária 4 19,05

Semanal 3 14,29

Mensal 2 9,52

Ocasional 11 52,38

Não sabe 1 4,76

Nota: “Manejo da criação” indica se é utilizado algum tipo de poleiro ou galinheiro para fechar os animais durante a noite.

Tabela 12. Informações sobre as fazendas selecionadas para o monitoramento das ocorrências de predação, no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (junho-setembro 2006).

No. da fazenda

Nome Da fazenda

Distância do PNSC (km)

Distância da cidade (km)

Tamanho da criação de galinhas

Manejo da criação

Freqüência de ataques relatada

3 Jacobi 5,86 8,42 - Não Semanal

4 Canastra 4,64 4,04 Pequeno Não Ocasional

9 Porto Belo 10,04 2,20 Médio Não Diária

12 Bicame 2,02 2,77 - Não Semanal

20 Canastra 3,86 5,55 - Não Mensal

21 Lavras 3,09 6,39 - Não Diária

30 São Bento 3,64 6,17 Pequeño Sim Semanal

43 Boa Esperança 6,28 4,50 Médio Sim -

48 Santiago 9,34 5,89 Médio Não Ocasional

49 - 6,35 3,84 Pequeno Sim Diária

53

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Tabela 12. (Continuação)

No. da fazenda

Nome Da fazenda

Distância do PNSC (km)

Distância da cidade (km)

Tamanho da criação de galinhas

Manejo da criação

Freqüência de ataques relatada

54 Lagoa Negra 5,02 8,10 Grande Sim Ocasional

55 Região dos Leites 4,74 8,61 Grande Não Ocasional

56 Retiro 6,31 10,33 Pequeno Não Ocasional

65 Sobradinho 12,13 8,61 Grande Não Diária

71 Emendada 18,44 14,63 Grande Não Ocasional

76 Fibela 19,09 15,57 Médio Sim Ocasional

77 Guine 16,82 13,07 Pequeno Não Mensal

78 Samburá 12,24 12,64 Médio Não Ocasional

80 Samburá 11,48 14,84 Grande Não Ocasional

81 Capão dos Bastos 11,99 15,91 Grande Não Ocasional

92 Canoas 18,42 15,34 Médio Não Ocasional

O tamanho da criação esta definido da seguinte forma: Pequeno (<50 animais), médio (50-100 animais), grande (>100 animais). A coluna de manejo da criação indica se é utilizado algum tipo de galinheiro ou poleiro para fechar os animais durante a noite ou não.

Durante os meses de acompanhamento (junho a setembro de 2006)

foram registrados 30 ataques às criações de galinhas e alguns outros animais

domésticos. Os ataques aconteceram em 12 das 21 fazendas monitoradas,

ocorrendo até seis ataques numa mesma fazenda neste período de tempo

(Figura 16), com uma média de 2,50 (±0,58) ataques.

0

9,52%

4,76%4,76%

9,52%

28,57%

42,86%

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

1 0

0 1 2 3 4 5 6

Número de ataques

mer

o de

faze

nda

s

Figura 16. Distribuição das fazendas monitoradas segundo o número de ataques às criações de galinhas registradas, no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra (junho-setembro 2006).

54

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Nas fazendas monitoradas, 60% dos proprietários não sabiam quantos

animais tinham sido abatidos, mas, segundo as evidências encontradas

(ausência dos animais, penas e rastros), estes foram galinhas ou pintos.

Quarenta por cento dos fazendeiros souberam disser quis e quantos animais

tinham sido predados.

Em muitos dos casos (n=13) o fazendeiro desconhecia qual tinha sido

predador. Entre os acontecimentos nos que foi possível determinar o predador

responsável (n=17), o lobo-guará foi o mais culpado (n=8). Outros predadores

foram: cachorro-do-mato, raposa, jaguatirica, irara, lontra, jaratataca, gavião e

inclusive cachorro doméstico. Os ataques com maior número de animais

abatidos foram produzidos por cachorros domésticos (Tabela 13).

Tabela 13. Informação sobre os casos de predação das criações domésticas registrados em 12 das 21 fazendas monitoradas ao longo de três meses (junho-setembro de 2006) no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra.

No. da fazenda

Nome da Fazenda

No. de ataques

Data dos ataques Predador envolvido

Identificação do predador

Animais abatidos

3 Jacobi 3 10/05/06 Cachorro-do-mato Visualização 1 galinha

30/07/06 Desconhecido Sem rastro 1 galinha

?/09/06 Lobo-guará Vocalização Número indefinido de galinhas

9 Porto Belo 1 ?/07/06 Desconhecido Sem rastro Número indefinido de galinhas

12 Bicame 2 06/06/06 Irara ou raposa Visualização, palpite

Número indefinido de galinhas

?/09/06 Gavião Visualização, palpite

Número indefinido de pintos

21 Lavras 1 01/06/06 Desconhecido Sem rastro Número indefinido de galinhas

49 - 1 17/07/06 Desconhecido Sem rastro Número indefinido de galinhas

55 Região dos Leites 1 29/07/06 Desconhecido Sem rastro 1 galinha

56 Retiro 1 23/06/06 Cachorro doméstico Visualização

15 galinhas, 3 perus

65 Sobradinho 5 01/06/06 Desconhecido Sem rastro 1 galinha

24/06/06 Desconhecido Sem rastro Número indefinido de galinhas

27/06/06 Desconhecido Sem rastro Número indefinido de galinhas

13/07/06 Desconhecido Sem rastro Número indefinido de galinhas

01/08/06 Jaratataca Visualização Número indefinido de pintos

55

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Tabela 13. (Continuação)

No. da fazenda

Nome da Fazenda

No. de ataques

Data dos ataques

Predador envolvido Identificação do predador

Animais abatidos

76 Fibela 6 02/06/06 Lobo-guará Visualização Número indefinido de galinhas

07/06/06 Lobo-guará Vocalização Número indefinido de galinhas

08/06/06 Lobo-guará Fezes Número indefinido de galinhas

05/08/06 Lobo-guará Palpite Número indefinido de galinhas

12/08/06 Lobo-guará Palpite Número indefinido de galinhas

02/09/06 Lobo-guará Sem rastro 1 galinha, 15 pintos

78 Samburá 6 19/06/06 Desconhecido Sem rastro Número indefinido de galinhas

28/06/06 Cachorro doméstico Visualização

5 galinhas, 1 bezerro

07/07/06 Jaratataca Visualização Número indefinido de galinhas

17/07/06 Lobo-guará Pêlos Número indefinido de galinhas

09/08/06 Jaguatirica Visualização 1 galinha

26/08/06 Desconhecido Sem rastro Número indefinido de galinhas

81 Capão dos Bastos 1 07/06/06 Desconhecido Sem rastro 1 galinha

92 Canoas 2 21/06/06 Lontra Rastro 1 galinha

24/07/06 Desconhecido Sem rastro 4 galinhas

A análise dos dados obtidos para o conjunto de fazendas monitoradas

mostrou que não existe uma relação entre a localização das fazendas, com

respeito ao Parque e os centros urbanos, e o número de ataques sofridos no

decorrer dos três meses de acompanhamento.

O número de ataques sofridos pelas fazendas não varia entre aquelas que

têm algum tipo de manejo das suas criações, nem entre os diferentes tamanhos

das criações (Tabela 14).

Tabela 14. Análise da relação entre o número de ataques sofridos pelas fazendas monitoradas (n=21) e características do local e da criação de galinhas, no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra.

Fator X2 gl P

Distância do PNSC 7,972 10 0,632

Distância da cidade mais próxima 8,371 10 0,593

Tamanho da criação 8,316 8 0,403

Manejo da criação 2,625 5 0,758

56

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Os resultados sugerem que a freqüência de predação não foi afetada pela

presença de nenhum tipo de vegetação nativa na propriedade (X2=14,701,

gl=20, P=0,793), nem pelo tamanho das criações (X2=12,108, gl=8, P=0,092), e

nem pelo manejo que as criações recebem (X2=13,792, gl=10, P=0,252),

inclusive também não se viu influenciada pelo número de cachorros presentes

na fazenda (X2=28,597, gl=25, P=0,281).

No entanto, ao estudar o efeito da proporção dos distintos tipos de

cobertura (campo, campo rupestre, mata e uso agrícola e pecuária), os

resultados mostraram que a proporção de área destinada ao uso agropecuário,

dentro de um área de amortecimento de cinco quilômetros de raio (com centro

geométrico na sede da fazenda), estava relacionada com a freqüência de ataques

(Tabela 15).

A proporção de área de uso agropecuário parece ter uma relação positiva,

mas débil (Coeficiente de incerteza=0,606, P=0,032) com a freqüência de

ataques, ou seja, existe uma relação marginal que sugere que a maior área de

uso agropecuário maior a freqüência de predação. Mesmo assim não

necessariamente indica causalidade; o fato de aumentar a freqüência de ataques

com o aumento da área de uso agropecuário, não quer disser que as áreas de uso

agropecuário aumentam os casos de predação. Talvez ambas variáveis sejam

relacionadas à fragmentação do hábitat nativos.

Tabela 15. Relação entre a percentagem do tipo de cobertura e a freqüência de predação nas fazendas entrevistadas no entorno do PNSC (setembro 2005-agosto 2006).

Área de amortecimento

Tipo de cobertura N X2 gl P

1 km Campo 17 13,236 10 0,242 Campo rupestre - - - - Mata 17 7,552 5 0,188 Uso agropecuário 17 15,206 15 0,473

2 km Campo 14 3,383 5 0,835 Campo rupestre - - - - Mata 14 8,338 5 0,143 Uso agropecuário 14 20,767 20 0,531

5km Campo - - - - Campo rupestre - - - - Mata 13 3,705 5 0,876 Uso agropecuário 13 23,703 15 0,040

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Nas fazendas monitoradas, 42,86% dos fazendeiros entrevistados falaram

gostar do lobo-guará, 38,10% foram indiferentes ao animal e 19,05%

responderam não gostar dele. A maioria dos fazendeiros (76,19%), destas 21

fazendas, não percebeu ao lobo como um problema para eles, e esta mesma

percentagem obteve a maior pontuação de tolerância para com a espécie. O

restante 23,81% achava que o lobo é um problema para as pessoas.

A sugestão com mais freqüência dada pelos entrevistados para prevenir o

problema de predação foi “mudar o manejo das criações”, com 61,9% das

respostas. Uma relativa alta percentagem (28,57%) dos entrevistados não

respondeu à pergunta, uma minoria (4,76%) respondeu que a solução seria

“translocar ao animal problema”, e uma percentagem igual respondeu que não

sabia como resolver o problema.

4. DISCUSSÃO

4.1 Examinando os fatores que influenciaram o conflito

Os dados obtidos nesta pesquisa sugerem que existe, no entorno do

PNSC, uma ampla ocorrência de ataques às criações domésticas, sendo que

70,76% das fazendas visitadas reportaram ter esse problema.

Não entanto, os resultados sugerem que ocorrência e freqüência de

predação não foram afetadas pela presença de nenhum tipo de vegetação nativa

presente na propriedade, e também não existe efeito da proporção de distintos

tipos de cobertura estudados nos ataques ocorridos.

É possível que o resultado anterior se deva ao fato de que são várias as

espécies responsabilizadas pelos ataques às criações, e estas espécies diferem

nos seus requerimentos de habitat, fazendo que o possível efeito do tipo de

vegetação nativa se dilua. Por outro lado, a cobertura do solo está dominada

pelo uso agropecuário, podendo isso minimizar a influência de outros tipos de

cobertura.

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Há que considerar também, que algumas espécies de carnívoros têm

demonstrado certa adaptabilidade ás áreas alteradas e conseguem sobreviver

nestes lugares com ocupação humana. Por exemplo, os canídeos tais como lobo-

guará, o cachorro-do-mato e a raposa podem ser encontrados tanto em

ambientes naturais como ambientes antropizados (Sillero-Zubiri et al. 2004a).

Assim, é possível que o tipo de vegetação não constitua um dos principais

fatores que afetam a ocorrência e freqüência de predação por carnívoros

silvestres.

Neste trabalho, apesar dos resultados observados mostrarem uma

variação na ocorrência de predação segundo a localização das fazendas, com

fazendas mais próximas ao PNSC e a cidades tendo mais predação, os resultados

sugerem que, a predação das criações domésticas não tem relação com a

proximidade da fazenda ao PNSC, nem com os centros urbanos.

O número de ataques ocorridos, no tempo de monitoramento, e a

freqüência destes também pareceram ser independentes da distância das

fazendas tanto ao parque quanto à cidade.

Não obstante, o n amostral para as análises de freqüência e número de

ataques foi baixo (21 fazendas monitoradas) e por isso as relações podem ter

resultado não significativas.

O tamanho da criação foi outro fator que, neste estudo, não foi influente

no ataque aos animais domésticos. Esta ausência de relação, entre o tamanho do

rebanho e o número de ataques, foi também reportada por Rigg (2004), em um

estudo sobre predação de ovelhas por lobo-cinza (Canis lupus) e urso (Ursus

arctos), na Eslováquia.

Entre as fazendas entrevistadas, a maioria tinha criações pequenas de

galinhas podendo ser que a diferença existente entre as categorias designadas

para tamanho não fosse suficiente para demonstrar um padrão com respeito à

ocorrência e freqüência da predação.

Estudos anteriores mostram que o problema entre populações humanas e

a fauna silvestre, no entorno de áreas protegidas, pode estar relacionado à

densidade populacional humana (Newmark et al. 1994). Newmark et al. (1994)

encontraram que a freqüência dos problemas reportados com a fauna silvestre e

o tamanho da espécie problema decrescem com o aumento na densidade

humana.

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Esta relação pode ser explicada pelos padrões de uso da terra. Regiões

onde predomina a agricultura como uso da terra têm uma maior freqüência de

problemas do que esperado, enquanto as regiões com uso misto, agricultura,

pastoreio e outros, têm uma freqüência reportada inferior a esperada (Newmark

et al. 1994). Este é o caso da região da Serra da Canastra, com uma paisagem

heterogênea de pastagens, áreas agrícolas e vegetação nativa.

Em geral, nas fazendas visitadas as criações de galinhas e outras aves não

recebem nenhum tipo de cuidado. A maior parte dos entrevistados (70%) tem a

suas galinhas soltas o tempo todo, argumentando que este sistema de criação é

mais econômico para eles.

A diferença no número de fazendas com e sem predação segundo o tipo

de manejo que se tem da criação de galinhas e outras aves não resultou

significativa. Ainda sendo as galinhas fechadas em galinheiros durante a noite,

elas foram atacadas por predadores que conseguiam passar além das barreiras

de proteção. Provavelmente isso é devido a desenhos inadequados e materiais

fracos utilizados na construção dos galinheiros, ou então que estes não sejam

suficientes para frear os predadores de pequeno porte. Em geral, os galinheiros

não eram estruturas próprias para este fim, mas improvisações precárias.

Ao se avaliar a relação entre a presença de cachorros na fazenda e a

ocorrência e freqüência de predação nas criações, apesar dos resultados não

foram significativos, sugerem que existe uma tendência a fazendas com

cachorros terem menor predação. E, segundo o observado, a totalidade de

fazendas sem cachorros sofreram ataques nas suas criações.

Os dados coletados sobre a presença e número de cachorros nas fazendas

não foram o suficientemente detalhados para separar as fazendas que tinham só

cães de companhia (pequeno porte) ou cães de grande porte, podendo esta

informação ser importante na avaliação dos fatores relacionados com a

ocorrência de predação.

4.2 Lobo-guará é a principal espécie problema?

No presente estudo, o lobo-guará foi reportado como sendo o responsável

de uma consideravelmente alta percentagem de ataques em relação às outras

espécies culpadas.

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O fato do lobo-guará se movimentar muito, ser avistado com facilidade,

ter certa atividade ao longo do dia, utilizar áreas abertas inclusive de pastagens,

ter uma grande área de vida (Dietz 1984; Rodrigues 2002; Rodden et al. 2004),

deixar marcação com fezes, uivar, e ser conhecido pela maioria das pessoas,

pode ter influenciado na indicação dele como responsável pela maior parte dos

ataques às criações de galinhas e outros animais de pequeno e médio porte.

Em contraste, algumas outras espécies de carnívoros menores, menos

conspícuos, foram menos responsabilizados pelo abate de animais domésticos.

No entanto, ainda que os entrevistados culpassem ao lobo como principal

responsável dos ataques às criações, 66,04% deles mostrou uma opinião

positiva para com a espécie. E só 3,77% expressaram uma opinião negativa, mas

este valor provavelmente é maior devido a que categoria de “sem resposta”

poderia ser considerada como negativa, sendo que as pessoas não quiseram dar

sua opinião por que ela podia ser negativa.

É importante destacar que algumas respostas obtidas nas perguntas com

respeito ao lobo-guará (Tabela 6), denotaram o entendimento das pessoas de

que a origem dos conflitos é devido à competição entre o homem e a fauna pelos

mesmos recursos. As respostas também sugerem que existe uma aceitação ao

fato que os lobos precisam se alimentar mais ainda no período em que estão

com filhotes e que, tendo acesso aos animais domésticos, vão aproveitar deles.

Os resultados também mostram que é do conhecimento das pessoas o

consumo de itens vegetais por parte do lobo, inclusive estes foram mencionados

em uma proporção maior que os itens animais, mesmo que ambos contam com

igual número de itens. A lobeira (Solanum lycocarpum) foi a mais mencionada

entre os itens vegetais, e os ratos entre os itens animais.

Mesmo sendo do conhecimento das pessoas que o lobo-guará é onívoro

oportunista, e que há outras espécies relacionadas à predação de criações

domésticas, ele foi o mais responsabilizado pelos ataques. E apesar disso, em

geral, a predação não é visto como um grave problema para os fazendeiros.

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4.3 Tolerância e atitudes da população local frente ao problema e

as sugestões que dão para prevenir este

Os resultados deste estudo mostraram que as pessoas são mais tolerantes

para com o lobo-guará e demais carnívoros silvestres do que se podia esperar

pela magnitude do problema que, segundo elas, estes animais causam. Ainda

em fazendas com pequenas criações de galinhas, nas que um baixo número de

ataques representaria um grande prejuízo, os entrevistados mostraram-se

indulgentes aos culpados.

Apesar de que este estudo mostrou certa tolerância das pessoas para com

os carnívoros, também revelou que a predação é um problema comum e que

deve ser abordado porque pode se agravar, e com isso gerar conflitos maiores

que aumentem o risco de perseguição do predador.

Os resultados sugerem que o nível de tolerância é independente do

tamanho da criação (número de galinhas) das fazendas. Entretanto, os

resultados sugerem também que existe uma relação entre a tolerância e a

ocorrência de predação, mas esta relação parece ser diferente à esperada.

Esperava-se uma menor tolerância por parte das pessoas nas fazendas com

maiores níveis de predação, e os resultados mostraram o contrario. Por tanto, a

tolerância pode estar sendo afetada por outros fatores que não exclusivamente

os acontecimentos de predação.

A percepção dos animais silvestres está fortemente associada ao

conhecimento que as pessoas têm sobre estes. Os resultados desta pesquisa

parecem indicar que os fazendeiros entrevistados têm um grau de conhecimento

das espécies silvestres relativamente bom, porque estes reconheceram e

diferenciaram facilmente as espécies locais nas fotos delas mostradas.

Foi detectada uma relação entre o conhecimento das espécies e a

freqüência de menção como culpáveis de predação nas criações domésticas

pelos entrevistados. Porém, é preciso estudar outros indicadores de

conhecimento para corroborar esta relação.

Em geral, a predação não é o um dos principais problemas para os

fazendeiros. As pessoas assumem a predação como fato normal, e os ataques às

criações domesticas como uma conseqüência dos humanos terem ocupado áreas

nas que sempre existiram animais silvestres.

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Assim os resultados deste trabalho sugerem que a tolerância e atitudes

dos fazendeiros para com os carnívoros silvestres não são formadas

exclusivamente por uma relação causa e efeito, considerando os prejuízos

causados por estes carnívoros sobre as criações domésticas, senão também por

outros fatores, como os culturais.

Todos os entrevistados manifestaram a vontade de reduzir a predação

nas suas criações, mas a maioria declarou não querer mudar os seus costumes.

Estes argumentaram que as galinhas caipiras e outras aves domésticas precisam

estar soltas para se alimentar bem e poder chocar, que ao fechá-las não

cresceriam do mesmo jeito e significaria para eles um gasto a mais ter que

alimentá-las com ração.

Mesmo manifestando sua oposição a mudar os seus costumes, as

sugestões dadas por pelos fazendeiros entrevistados enfocam se o aumento dos

métodos de prevenção, o que implica uma mudança no manejo das criações. A

aquisição de cães de guarda foi a sugestão mais comum entre o total das

respostas.

Muitos pesquisadores, em estudos prévios, recomendam a utilização de

cães de guarda para prevenção da predação. Um estudo realizado na Eslováquia

(Rigg 2004) comparou a incidência de predação em rebanhos de ovelhas com

presença e ausência de cães guardiões. Os resultados obtidos nessa pesquisa

sugeriam que a presença dos cães nos rebanhos de ovelhas podem ser eficientes

na proteção delas.

Outra sugestão dada pelos entrevistados foi a construção de galinheiros

para fechar aos animais durante a noite. Também deixar acessa a luz no sitio

onde fica a criação, utilizar explosivos para assustar ao predador e colocar cerca

elétrica. Nenhum dos entrevistados mencionou matar ao animal problema, mas

sem foi sugerido translocar ao animal problema fora do local no qual este causa

prejuízo.

Em forma geral, as pessoas se mostraram interessadas no tratamento do

problema e do tema do lobo e os projetos em desenvolvimento com a espécie.

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4.4 Recomendações de manejo

Ao desenhar projetos de conservação, é muito importante entender a

relação entre a população local e a unidade de conservação e a fauna silvestre.

Para preservar uma espécie de predador silvestre é necessário, além de manter

os hábitats e presas naturais, resolver os conflitos entre estes e as comunidades

locais (Silveira 2004).

Tentativas da resolução do conflito entre humanos e predadores incluem

tanto aquelas que se concentram nos métodos de prevenção, quanto as

direcionadas a aumentar a tolerância das pessoas para com as espécies

silvestres (Sillero-Zubiri et al. 2004a).

No primeiro dos casos, a prevenção dos problemas de predação podem ir

dirigidos a mudanças no manejo das criações. É possível reduzir as perdas de

animais domésticos evitando o contato do predador com as criações através de:

(1) aumentar o cuidado dos animais durante o dia com presença de cães de

guarda, (2) o recolhimento dos animais em galinheiros durante a noite, (3)

instalar luz nas áreas de estância das criações ou alguns outros estímulos visuais

ou aditivos que afastem ao predador e até (4) uso de explosivos para assustar ao

atacante (Oli 1995; Cavalcanti 2004; Breck 2004).

Todos os métodos mencionados anteriormente coincidem com as

sugestões dadas pelos entrevistados nesta pesquisa, e podem ser ferramentas

viáveis na área de estudo. Apesar de essas medidas significarem um custo

econômico relativamente grande para os proprietários das criações, o efeito

potencial na diminuição do prejuízo ocasionado pelas perdas de animais

compensará a um médio e longo prazo.

Em segundo lugar, muitas vezes a falta de reconhecimento da existência

dos problemas que sofrem as comunidades piora o conflito e a intolerância das

pessoas para com a vida silvestre pode aumentar (Sillero-Zubiri et al. 2004a). O

simples ato de atender os reclamos da população local em relação aos

problemas que enfrentam com a fauna silvestre pode ajudar a diminuir o receio

desta para com os animais silvestres (Sillero-Zubiri et al. 2004a). para buscar

soluções aos problemas de predação nas criações domésticas e indispensável

estabelecer laços de confiança com a comunidade afetada (Conforti & Azevedo

2002).

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Uma forma de acrescentar a tolerância das pessoas para com os

carnívoros silvestres é demonstrando que a conservação destas espécies pode

significar um beneficio econômico para eles (Sillero-Zubiri et al. 2004a). Por

exemplo, canídeos conspícuos e atraentes como os cães-selvagens-africanos,

lobo-cinza, lobo da Etiópia, e o lobo-guará poderiam ser atraiçoes turísticas

importantes (Sillero-Zubiri et al. 2004a).

“A aceitação de um projeto de conservação por toda a comunidade

envolvida é determinante para seu sucesso, e essa aceitação, que muitas vezes

envolverá mudanças de atitudes, só ocorrerá de fato, em casos onde os

benefícios para a comunidade sejam evidentes e diretos” (Silveira 2004). Assim

a eficiência dos métodos de prevenção devem ser testados e avaliados

constantemente e serem adaptando às características especificas do local e do

problema.

4.5 Limitações do projeto e sugestões para pesquisas futuras relacionadas

Os resultados obtidos através de entrevistas podem ser dependentes da

acessibilidade que o pesquisador tem para conseguir a informação requerida, ao

entendimento do entrevistado sobre o que se esta perguntando e a sua

motivação para dar respostas precisas (Rigg 2004).

Espera-se que a precisão das respostas seja baixa, quando a pessoa

entrevistada tenha maior hostilidade para com o predador, levando

provavelmente a uma superestimativa dos problemas. Também, podem ser

relatas perdas sem confirmação, ou a pessoa poder ter esquecido informação

relevante no momento da entrevista (Rigg 2004).

Em alguns casos, ocorrências de predação reportadas ao longo deste

estudo se suspeitam terem sido exageradas pelos fazendeiros. Geralmente o

entrevistado relatava uma ocorrência de ataques muito freqüente (diária,

semanal), mas no momento de reportar a data da última vez esta tinha ocorrido

há meses. A contradição na resposta de freqüência de predação e a última

predação ocorrida é um exemplo do exagero. Em ocasiões, ainda com o desejo

de brindar a uma resposta exata, o entrevistado não tinha como dar a

informação precisa requerida.

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No entanto, a aplicação de questionários e o método de entrevistas têm

sido ferramentas importantes para quantificar as predações causadas pela fauna

silvestre (Palmeira 2004). No Brasil, diversos pesquisadores utilizaram esta

metodologia para quantificar e descrever predação nas criações domésticas por

onças (Mazzolli et al. 2000; Conforti & Azevedo 2003; Palmeira 2004).

A obtenção de dados quantitativos objetivos sobre o problema de

predação é muito difícil e precisa de um trabalho constante com a população

local. Para ter informações mais precisas sobre o conflito predador-humano são

necessárias pesquisas ao logo prazo e com inclusão das pessoas.

Por limitações de tempo, com este trabalho se obteve um volume

pequeno de informação, limitado tanto na análise do número de fatores que

poderiam estar influenciando o conflito entre humanos e predadores, quanto à

análise na escala temporal. O n amostral para as análises de freqüência e

número de ataques foi baixo, podendo comprometer a significância dos

resultados.

Estudos a se desenvolver por períodos de tempo maiores são precisos

para medir a variação temporal do problema de predação, também é necessário

a inclusão de novas variáveis explicativas.

Por outro lado, incorporar componentes experimentais para avaliação do

funcionamento de diferentes métodos de manejo das criações seriam elementos

valiosos em estudos futuros. Isto possibilitaria realizar estimativas da redução

nos danos causados por predadores silvestres nas criações domésticas ao serem

aplicados distintos métodos de manejo ou controle, mostrando também as

vantagens e desvantagens destes.

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5. CONCLUSÕES

− A ocorrência de predação das criações domésticas, em particular as criações

de galinhas e outras aves, e a freqüência com que esta ocorre na área no

entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra parece não estar

influenciada por nenhum dos fatores estudados (cobertura do solo e tipo de

vegetação, distância do limite do parque e da cidade mais próxima, tamanho

e manejo da criação, e a presença de cães guardiões).

− O lobo-guará foi culpado como responsável da maioria dos ataques às

criações de galinhas e outras aves. Os resultados mostraram uma

consideravelmente alta percentagem de menção do lobo-guará, em relação

às outras espécies culpadas. Não obstante, ainda que os entrevistados

culparam ao lobo como principal responsável da predação, a opinião deles

para com a espécie foi positiva.

− A predação nas criações domésticas aparenta ser de relativa pouca

importância para os fazendeiros. Os resultados sugerem que as pessoas

assumem a predação como fato normal. Parece ser um problema maior na

percepção dos proprietários danificados do que é na realidade, mas mesmo

para eles o problema não é grave. O conflito canívoro-humano, na Serra da

Canastra, está mais relacionado com a percepção dos fazendeiros sobre o

animal culpado como responsável dos ataques.

− No entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra, os métodos de

prevenção e controle dos problemas de predação devem ir dirigido a

mudanças no manejo das criações. Métodos como a presença de cães de

guarda, o recolhimento dos animais em galinheiros durante a noite, a

instalação de luz e outros estímulos visuais ou aditivos que afastem ao

predador, como os explosivos para assustar ao atacante, parecem ser

ferramentas viáveis e poderia ser implantadas na área. Contudo, devem-se

concentrar esforços no convencimento das pessoas para adotar as medidas

de prevenção, quiçá um caminho para isso é criando espaços nos programas

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de educação ambiental, existentes ou futuros, para a abordagem de temas

focados direitamente à resolução de conflitos entre a comunidade local e a

vida silvestre.

− Entender a ecologia da predação dos carnívoros silvestres nas criações

domésticas é fundamental para o desenvolvimento de planos de manejo das

espécies. Estudos mais profundos sobre a susceptibilidade à predação das

propriedades podem ser eficientes para auxiliar planos de manejo que visem

minimizar ou evitar os ataques.

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ANEXO 1

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ANEXO 2

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ANEXO 3

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ANEXO 4

Espécies mencionadas nas listas livres

Espécies Nome comum

Número de menções

MAMÍFEROS ORDEM CARNIVORA Família Canidae

Chrysocyon brachyurus lobo-guará 12 Cerdocyon thous cachorro do mato 13 Pseudalopex vetulus raposa 20

Família Felidae Puma concolor onça-parda 6 Puma yaguaroundi* gato-mourisco 1 Leopardus pardalis jaguatirica 12 Leopardus tigrinus gato do mato 6

Família Procyonidae Procyon cancrivorus mão-pelada 7 Nasua nasua quati 8

Família Mustelidae Eira barbara irara 40 ? irarinha 5 Conepatus semistriatus jaratataca 9 Lontra longicaudis lontra 13

ORDEM XENARTHRA Família Dasypodidae

Dasypus sp., Cabassous sp, Euphractus? tatu 9 Priodontes maximus tatu-canastra 1

Família Myrmecophagidae Myrmecophaga tridactyla tamanduá-bandeira 26 Tamandua tetradactyla tamanduá-mirim 1

ORDEM PRIMATA Família Cebidae

Cebus apella macaco-prego 1 Callicebus personatus macaco-sauá 4 Alouatta sp. bugio 1 ? macaco 4 ? macaco preto 2 ? macaco amarelo 1 ? macaco marrom 1 ? mico estrela 1

ORDEM ARTIODACTYLA Família Tayassuidade

Tayassu tajacu caitetu 2 Família Cervidae

Mazama sp., Ozotoceros benzoarticus? veado 4 ORDEM RODENTIA Família Erethizontidae

Coendou prehensilis ou Sphiggurus insidiosus? ouriço-cacheiro 1 Família Hydrochaeridae

Hydrochoerus hydrochoeris capivara 11

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Espécies mencionadas nas listas livres (Continuação).

Espécies Nome comum

Número de menções

Família Agoutidae

Agouti paca paca 5 Família Dasyproctidae

Dasyprocta leporina cutia 1 ORDEM DIDELPHIMORPHIA Família Didelphidae

Didelphis albiventris gambá 9 REPTEIS Família Boidae

Boa constrictor jibóia 4 Família Colubridae

? cobra 3 Família Teiidae

? lagarto 3 AVES ORDEM RHEIFORMES Família Rheidae

Rhea americana ema 2 ORDEM ANSERIFORMES Família Anatidae

Mergus octosetaceus pato-mergulhão 2 ORDEM FALCONIFORMES Família Falconidae

Polyborus plancus caracará 2 ? gavião 22

ORDEM GRUIFORMES Família Cariamidae

Cariama cristata seriema 1 ORDEM PICIFORMES Família Ramphastidae

Ramphastos sp. tucano 1

Nota: As espécies sombreadas de cor cinza são aquelas culpadas como responsáveis de ataques às criações domésticas. O gato-mourisco (*) não foi mencionado nas listas-livres, mas sim como responsável de predação.

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