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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTASDepartamento de Ciência dos Alimentos
Curso de Bacharelado em Química de AlimentosDisciplina de Seminários em Alimentos
Farinhas de Grãos:Características e Aplicações
Diogo Tatsch dos Santos
Pelotas, 2008
DIOGO TATSCH DOS SANTOS
FARINHA DE GRÃOS:Características e Aplicações
Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de Bacharelado em Química de Alimentos da Universidade Federal de Pelotas como requisito parcial da Disciplina de Seminários.
Orientador: Profa. Dra. Carla Mendonça
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Pelotas, 2008.
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Carla Rosane Barbosa Mendonça, pela
orientação e pelos ensinamentos que foram muito além da área acadêmica.
Aos professores Moacir Cardoso Elias, Manoel Artigas Schirmer e Josiane
Chim pela dedicação e interesse no meu desenvolvimento educacional.
Aos colegas do Laboratório de Pós-Colheita, Industrialização e Controle de
Qualidade de Grãos, pela boa vontade ao fornecer explicações e materiais para
pesquisa.
Por fim, quero agradecer a todas as pessoas que de certa forma
contribuíram para a execução deste trabalho.
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Muito Obrigado!
"Campeões não são feitos em academias. Campeões são feitos de algo que
eles têm profundamente dentro de si - um desejo, um sonho, uma visão."
Muhammad Ali
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SANTOS, D. T. Farinhas de grãos: características e aplicações. 2008. 33f. Seminário (Disciplina de Seminários em Alimentos) – Departamento de Ciência dos Alimentos, Curso de Bacharelado em Química de Alimentos, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.
Resumo
Farinhas são os produtos obtidos de partes comestíveis de uma ou mais espécies
de cereais, leguminosas, frutos, sementes, tubérculos e rizomas por moagem e ou
outros processos tecnológicos considerados seguros para produção de alimentos. A
farinha mais comum é a farinha de trigo, por ser de ótima aplicação em pães e
outras massas, além de ser um cereal largamente produzido no Brasil e no mundo.
Devido às diferenças de propriedades e de composição entre os grãos, existem
várias limitações às inovações. Assim como a maioria dos alimentos, os grãos em
geral, sejam eles cereais ou oleaginosas, são compostos por carboidratos,
proteínas, fibras, lipídeos, minerais, vitaminas. Mas de todos estes, os que exigem
maior atenção são o amido e o glúten, ao passo que ambos influenciam diretamente
nas propriedades reológicas de farinhas e massas. O trigo é o mais rico em glúten,
tendo sua farinha ótimas propriedades, o que justifica a vasta aplicabilidade. Já o
arroz, por sua vez, é isento de glúten, servindo como alternativa na alimentação de
celíacos, ou seja, alérgicos a esta proteína; a falta deste componente prejudica a
obtenção de massas a partir deste cereal, tendo-se como maior aplicação a ação
espessante em sopas industriais. A soja, além de ser utilizada como grande fonte de
enriquecimento protéico, é ideal na alimentação de diabéticos, pois possui baixo teor
de amido absorvível pelo organismo humano. Outros grãos como ervilha, aveia,
centeio, são aplicados na produção de farinhas, mas geralmente em misturas, com o
fim de complemento nutricional.
Palavras-chave: Farinha de trigo. Farinha de arroz. Propriedades reológicas.
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Lista de Figuras
Figura 1 – Consumo de farinha de trigo por região do Brasil ....................................Figura 2 – Consumo de farinha de trigo por segmento no Brasil ..............................Figura 3 – Distribuição da produção de trigo no mundo (expressa em toneladas) ...Figura 4 – Ligações glicosídicas do tipo α-1,4 da amilose ........................................Figura 5 – Ramificação da amilopectina via ligação α-1,6 ........................................Figura 6 – Estrutura molecular da celulose ...............................................................Figura 7 – Farinógrafo ..............................................................................................Figura 8 – Representação esquemática de um farinógrafo antigo (1. Misturadora;
2. Dinamômetro; 3. Eixo de apoio; 4. Sistema de pesos; 5. Sistema de óleo; 6. Escala; 7. Registro; 8. Termostato; 9. Resistência; 10. Termorregulador; 11. Bureta....................................................................
Figura 9 – Extensógrafo ............................................................................................Figura 10 – Bolha formada na massa pela injeção de ar durante a alveografia .......Figura 11 – Aparelho utilizado na análise do numero de queda ...............................
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Lista de Tabelas
Tabela 1 – Composição química do grão de trigo ....................................................Tabela 2 – Composição química (%) média do arroz ..............................................Tabela 3 – Composição química do grão de centeio comparado com o de trigo ....Tabela 4 – Composição nutricional da soja (valores em relação a 100g .................
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Sumário
1. Introdução................................................................................................................92. Revisão de literatura..............................................................................................112.1.Números da produção de grãos..........................................................................112.2.Números da produção de farinhas......................................................................123. Composição dos grãos..........................................................................................133.1. Amido..................................................................................................................133.2. Proteínas............................................................................................................143.3. Componentes secundários.................................................................................153.3.1. Celulose...........................................................................................................153.3.2. Açúcares..........................................................................................................153.3.3. Lipídeos...........................................................................................................163.3.4. Enzimas...........................................................................................................163.3.5. Vitaminas e minerais........................................................................................164. O grão e sua farinha..............................................................................................174.1.Avaliações das propriedades das farinhas..........................................................174.1.1. Farinografia......................................................................................................174.1.2. Extensografia...................................................................................................184.1.3. Alveografia.......................................................................................................184.1.4. Número de queda (falling number)..................................................................194.2. Tipos de grãos e suas farinhas...........................................................................194.2.1. Trigo................................................................................................................194.2.1.1. Aplicações.....................................................................................................214.2.2. Arroz................................................................................................................224.2.2.1. A importância das massas não convencionais à base de arroz para portadores de doença celíaca....................................................................................234.2.2.2. Aplicações....................................................................................................244.2.3. Milho................................................................................................................244.2.3.1. Aplicações.....................................................................................................254.2.4. Centeio............................................................................................................264.2.4.1. Aplicações.....................................................................................................274.2.5. Soja.................................................................................................................274.2.5.1. Aplicações.....................................................................................................284.3.Outros grãos e cereais........................................................................................284.3.1. Aveia...............................................................................................................284.3.2. Ervilha.............................................................................................................294.3.3. Cevada............................................................................................................305. Conclusão..............................................................................................................316. Referências bibliográficas.....................................................................................32
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1. Introdução
Conforme definido pela Resolução RDC nº 263, de 22 de setembro de 2005,
farinhas são os produtos obtidos de partes comestíveis de uma ou mais espécies de
cereais, leguminosas, frutos, sementes, tubérculos e rizomas por moagem e ou
outros processos tecnológicos considerados seguros para produção de alimentos
(BRASIL, 2005). Ainda dentro das definições da legislação brasileira, a Resolução -
CNNPA nº 12, de 1978 declara que o produto é designado "farinha", seguido do
nome do vegetal de origem, citando-se como exemplos "farinha de mandioca",
"farinha de arroz", “farinha de banana" (BRASIL, 1978).
As farinhas são classificadas, de acordo com as suas características, em
farinhas simples, onde os produtos são obtidos por processos individuais de
moagem ou raladura dos grãos, rizomas, frutos ou tubérculos de uma só espécie
vegetal, ou então em farinhas mistas, obtidas pela mistura de farinhas de diferentes
espécies vegetais. Independentemente da classificação e do processo aplicado,
estes produtos devem ser fabricadas a partir de matérias-primas limpas, isentas de
matéria terrosa e parasitos. Não podem estar úmidas, fermentadas ou rançosas.
(BRASIL, 1978).
As espécies vegetais que possibilitam a obtenção de farinha são diversas,
conforme evidenciado acima, podendo-se processar o produto desde simples
cereais e grãos até frutos e tubérculos. Entretanto, a mais comum, e de utilização
panefícea bastante acentuada no Brasil, é a farinha de trigo (INMETRO, 2008). Nos
gráficos abaixo se pode analisar o consumo nacional de farinha de trigo e sua
utilização na indústria (Fig. 1 e 2).
Figura 1 – Consumo de farinha de trigo por região do BrasilFonte: INMETRO, 2008.
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Figura 2 – Consumo de farinha de trigo por segmento no BrasilFonte: INMETRO, 2008.
Com relação aos dois gráficos, fica evidente a importância da região sul do
Brasil, a qual suporta 50% da produção nacional, uma vez que o clima frio favorece
a cultura de trigo (EMBRAPA, o segundo gráfico evidencia a importância do trigo na
panificação, observando-se um valor de 48% dos segmentos alimentícios. Mas ao
contrário do trigo, outros vegetais são pouco aplicados na panificação, tornando este
segmento pobre em variedades.
A necessidade do desenvolvimento de novos produtos torna este problema
uma fonte muito interessante de estudos, uma vez que são várias as opções de
matérias-primas na produção de farinha, sendo que cada variedade possui sua
identidade quanto à composição e as propriedades do produto final.
Devido a isso que o presente estudo teve como objetivo analisar a aplicação
de grãos na produção de farinhas, tratando-se principalmente de suas composições,
propriedades reológicas, além de abordar os números de produção.
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2. Revisão de literatura
2.1. Números da produção de grãosNão é somente no Brasil que o trigo possui destaque na produção agrícola.
Segundo León e Rosell (2007), a cultura de trigo é a terceira maior entre os demais
cereais no mundo, perdendo para o arroz e o milho. Entre os maiores produtores de
trigo estão Argentina, Estados Unidos, China e Índia (Fig. 3).
Figura 3 – Distribuição da produção de trigo no mundo (expressa em toneladas)
Fonte: FAO, 2008.
Observando-se os dados revelados pela Fig. 3, percebe-se a grande
diferença entre as produções de Brasil e Argentina. Enquanto nossa produção de
trigo está numa faixa de um a dez milhões de toneladas, nosso vizinho produz de
dez a cinqüenta milhões de toneladas do cereal em questão por ano, mesmo tendo
o Brasil uma área total bem superior à Argentina.
A partir dessa disparidade é que se pode entender porque o Brasil é o
segundo maior importador de trigo do mundo, atrás somente do Egito (FAO, 2008).
Esse fator interfere diretamente na nossa economia, principalmente na área da
panificação, basta ver que desde o ano de 2007 o preço dos panefícios tem
aumentado constantemente, já que a quantidade de trigo importado da Argentina
tem se elevado (AGÊNCIA BRASIL, 2008).
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Em contrapartida à necessidade de importação de trigo, o Brasil é um
grande produtor de arroz, sendo responsável por aproximadamente 50% da
produção arrozeira da América do Sul – de 22 milhões de toneladas o Brasil é
responsável por 10 milhões (EMBRAPA, 2008; FAO, 2008). Além disso, a produção
brasileira tende a aumentar 8,5% no ano de 2008 (AGÊNCIA BRASIL, 2008). Em
termos mundiais, a Ásia é responsável por aproximadamente
Outro grão de vasta cultura no Brasil é a soja, com produção média de 55
milhões de toneladas por ano (EMBRAPA, 2008). Este valor faz do Brasil o segundo
maior produtor de soja do mundo, atrás somente dos Estados Unidos - 71 milhões
de toneladas por ano (FAO, 2008).
2.2. Números da produção de farinhasDevido a fatores como o constante aumento do preço dos grãos em geral,
proporcional a diminuição no plantio, a produção das farinhas obtidas a partir destes
tende a diminuir em 4%, queda sem precedentes (FAO, 2008). Este mesmo órgão
indica um decréscimo bastante acentuado da produção mundial; por exemplo, a
farinha de soja, que no corrente ano renderá 10 milhões de toneladas a menos que
em 2007. Entretanto, apesar do conseqüente aumento de preços, o consumo
mundial de farinhas continuará crescendo.
É devido a fatores como estes que, segundo Shewry et al. (2001),
pesquisadores têm trabalhado fortemente em busca de variações quanto à aplicação
das farinhas em geral. Em relação à utilização de grãos para obtenção deste
produto, dentre os mais analisados estão a soja, o arroz, a aveia.
Porém, devido às diferenças de propriedades e de composição entre os
grãos mais pesquisados, existem várias limitações às inovações. Um dos fatores
mais avaliados tem sido a substituição da farinha de trigo pelas de arroz e de soja,
grãos de larga produção nacional, 10 e 55 milhões de toneladas por ano,
respectivamente, como citado anteriormente.
Estes números mostram que inovações na área de alimentos são
necessárias e bastante viáveis, já que implicariam numa redução de preços e na
diversidade de produtos disponíveis ao consumidor.
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3. Composição dos grãos
Assim como a maioria dos alimentos, os grãos em geral, sejam eles cereais
ou oleaginosas, são compostos por carboidratos, proteínas, fibras, lipídeos,
minerais, vitaminas. Mas de todos estes, os que aparecem em maior abundância
são os carboidratos, mais precisamente o amido, o qual atua como reserva
energética, assim como o glicogênio nos animais.
3.1. AmidoRefletindo sua atuação como carboidrato de reserva, o amido é encontrado
em grande abundância nos tecidos de plantas como em tubérculos e no
endosperma das sementes, e por isso é tido como sinônimo de carboidratos nestes.
Este polissacarídeo ocorre em forma de grânulos de formato geralmente
arredondado e irregular, variando de 2 a 100 μm de tamanho (COULTATE, 2004).
O amido, segundo Wong (1995), é composto por duas macromoléculas:
amilose e amilopectina. A amilose é uma cadeia linear, composta por longas cadeias
de resíduos de α-D-glicopiranosil, unidos por ligações α-1,4 (Fig. 4); há uma
incerteza no que diz respeito ao comprimento dessas cadeias, mas acredita-se que
elas possuam muitas centenas de unidades de glicose, visto que o peso molecular
médio situa-se ao redor de 2x106 Da (COULTATE, 2004).
Figura 4 – Ligações glicosídicas do tipo α-1,4 da amiloseFonte: COULTATE, 2004.
Já a amilopectina, de acordo com Hoseney (1991), constitui a parte
ramificada do amido, sendo composta por moléculas de α-D-glicose, unidas por
ligações α-1,4; a ramificação é oriunda de interações entre as posições α-1,6 (Fig.
5). Com relação ao tamanho, a amilopectina apresenta em torno de 595 mil restos
de glicose e, quanto ao peso molecular, gira em torno de 108 Da.
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Figura 5 – Ramificação da amilopectina via ligação α-1,6Fonte: COULTATE, 2004.
3.2. ProteínasAs proteínas são polímeros formados por aminoácidos unidos por ligações
peptídicas, encontrados naturalmente em todos os organismos vivos (HOSENEY,
1991).
São diversos os exemplos de proteínas presentes nos grãos, mas quando se
tem como foco o estudo de farinhas utilizadas na panificação, o glúten merece
destaque (SHEWRY et al., 2001). Este é uma proteína amorfa que se encontra na
semente de muitos cereais, combinada com o amido, e é composta de gliadinas
(35%) e gluteninas (65%). Entretanto, mesmo presente na maioria das sementes,
somente o trigo é rico neste elemento - representa 85% do total de suas proteínas
(CALAVERAS, 1996; LEÓN e ROSELL, 2007).
Segundo Coultate (2004), a denominação glúten é dada ao grupo de
proteínas de reserva das sementes, insolúveis em meio aquoso comum e
responsáveis pela elasticidade da massa da farinha, o que permite sua fermentação,
assim como a consistência elástica esponjosa dos pães e bolos.
As propriedades reológicas das massas são governadas pela estrutura do
glúten e pelas interações estabelecidas entre as proteínas que o compõe,
particularmente pelos macropolímeros de gluteninas (LINDSAY e SKERRITT, 1999).
Conforme exposto por León e Rosell (2004), as proteínas que integram o
glúten encontram-se localizadas em corpos protéicos no endosperma do grão;
durante o amassamento produz-se a ruptura destes corpos e suas hidratações,
formando uma rede tridimensional contínua onde se encontra retido o amido. De
acordo com León e Rosell (2004 apud LINDAHL, 1990), as proteínas que compõem
o glúten tomam funções diferentes: enquanto as gliadinas (monoméricas) são
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responsáveis pela viscosidade do glúten, as gluteninas formam grandes agregados
protéicos, determinando a força e a elasticidade deste componente.
3.3. Componentes secundáriosA palavra ‘secundários’ presente acima não significa que os componentes
tratados a seguir tenham menos importância, mas sim que estão presentes em
menores quantidades.
3.3.1. CeluloseEm geral, a celulose é o polissacarídeo mais importante dos vegetais.
Quimicamente é muito simples, sendo composta por moléculas de D-glicose unidas
por ligações β-1,4.
Figura 6 – Estrutura molecular da celuloseFonte: GOOGLE IMAGENS, 2008.
Como não é ramificada e tem sua configuração essencialmente linear,
associa-se fortemente consigo mesmo e é muito insolúvel. Chega a constituir 50%
de partes vegetais como palha e casca; no endosperma dos grãos, não passa de
0,5% (HOSENEY, 1991). Em relação às suas funções e utilidades, confere rigidez e
firmeza às plantas; no organismo humano não possui utilidade, pois não é digerida,
por isso enquadra-se em composições de fibras (RIBEIRO e SERAVALLI, 2004).
3.3.2. AçúcaresOs açúcares estão presentes em valores aproximados de 3%, sendo
encontrados, por exemplo, glicose (0,1%), frutose (0,07%) e sacarose (0,9%)
(HOSENEY, 1991).
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3.3.3. LipídeosNos mais diversos grãos são encontrados diferentes tipos de lipídeos, com
destaque para os do tipo acil, presentes em maiores proporções. Entre estes
predominam os triglicerídeos que contêm ácido palmítico, esteárico, oléico, linoléico
e linolênico (LEÓN e ROSELL, 2007).
3.3.4. EnzimasEste grupo encontra-se representado por inúmeros exemplos, com destaque
aos presentes em maiores concentrações, como a amilase, proteases e lipases.
A amilase está entre as mais importantes enzimas industriais (OLIVEIRA et
al., 2007). É responsável pela degradação das ligações glicosídicas α-1,4. O
resultado desta ação é a rápida diminuição do tamanho das moléculas de amido e,
com isso, redução da viscosidade da solução composta por este polissacarídeo. Por
ser de total importância na avaliação de farinhas, é tida como a principal enzima na
área de panificação.
3.3.5. Vitaminas e mineraisA maioria dos cereais, além de outros grãos, como a soja e a ervilha, são
fontes importantes de vitaminas, como a tiamina, niacina, riboflavina, piridoxina,
ácido pantotênico e tocoferol (SALINAS, 2002). Além disso, são boas fontes de
minerais. Contudo, tanto vitaminas quanto minerais estão em sua maior parte
situados na periferia da semente. Desta forma, os teores referentes aos grãos que
sofrem descascamento ou outros processos mais bruscos, com relação aos grãos in
natura, são bem menores. Um exemplo clássico é arroz, que durante o processo de
beneficiamento é polido, perdendo seus nutrientes mais externos através do farelo
originado (AMATO e ELIAS, 2005)
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4. O grão e sua farinha
Antes da explanação sobre alguns dos grãos utilizados na produção de
farinhas, é importante deixar claro que não somente a composição destes define as
propriedades do produto, mas sim as interações entre compostos naturalmente
presentes, ou destes com ingredientes adicionados.
4.1. Avaliações das propriedades das farinhasDe acordo com Quaglia (1991), deve-se ter muito conhecimento das
propriedades reológicas de uma farinha antes de utilizá-la, já que estas têm um
papel importante na qualidade do produto e suas determinações permitem a
previsão do comportamento de diferentes tipos de farinhas durante o processo de
panificação. São inúmeras as análises reológicas possíveis de realizar-se com o
produto moído dos grãos, como farinografia, extensografia, alveografia, número de
queda, dentre outros.
4.1.1. FarinografiaRealizada num aparelho denominado farinógrafo (Fig. 7 e 8), baseia-se na
medição da consistência de uma massa mediante a força necessária para misturá-
la, a uma velocidade constante. A absorção de água necessária para se alcançar
esta consistência também é analisada neste teste (QUAGLIA, 1991).
Figura 7 – FarinógrafoFonte: TECNOSA, 2008.
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Figura 8 – Representação esquemática de um farinógrafo antigo (1. Misturadora; 2. Dinamômetro; 3. Eixo de apoio; 4. Sistema de pesos; 5. Sistema de óleo; 6. Escala; 7. Registro; 8. Termostato; 9. Resistência; 10. Termorregulador; 11. Bureta.
Fonte: QUAGLIA, 1991.
4.1.2. ExtensografiaA extensografia, conforme descrito por Calaveras (1996) mede a
estabilidade de uma massa e a resistência que ela apresenta quando esticada,
sempre após uma fermentação de 45 minutos. O aparelho utilizado chama-se
extensógrafo (Fig. 9).
Figura 9 – ExtensógrafoFonte: TECNOSA, 2008.
4.1.3. AlveografiaQuanto à alveografia, realizada no alveógrafo de Chopin, consiste na
formação de pequenos discos planos de massa, colocados sobre uma base
perfurada, firmemente presos pelas bordas. Desta base faz-se a injeção de ar,
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formando-se uma bolha com a massa (Fig. 10); a análise tem fim no momento em
que surge a primeira ruptura na massa (CALAVERAS, 1996).
Figura 10 – Bolha formada na massa pela injeção de ar durante a alveografia
Fonte: GRANOTEC, 2008.
4.1.4. Número de queda (falling number)Avalia o efeito ou atividade da α-amilase, bem como fornece informações
sobre as propriedades viscoelásticas do amido gelatinizado de uma suspensão
farinácea durante o processo de aquecimento (XU, BIETZ e CARRIERE, 2007). O
método consiste apenas no tempo que um êmbolo leva para chegar ao fundo do
recipiente onde se encontra uma mistura de farinha e água, sob aquecimento
(QUAGLIA, 1991). A Fig. 11 mostra o aparelho utilizado nesta análise.
Figura 11 – Aparelho utilizado na análise do número de queda
Fonte: GRANOTEC, 2008.
4.2. Tipos de grãos e suas farinhas4.2.1. Trigo
O trigo é uma gramínea, um cereal fasciculado, de fruto oval pertencente à
família Gramínea e do gênero Triticum, possuindo diversas espécies. O tipo de
maior interesse comercial é o Triticum aestivum L. (trigo comum), utilizado na
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panificação, produção de bolos, biscoitos, massas e produtos de confeitaria. O tipo
Triticum durum é mais especialmente destinado ao preparo de massas alimentícias
(OSÓRIO; WENDT, 1995).
O trigo é um dos mais importantes grãos para a humanidade. Entre os
maiores produtores destacam-se os EUA e o Canadá como grandes exportadores.
Entre os importadores destacam-se a China, Índia, Rússia, Japão e Brasil (FAO,
2008).
O grão do trigo é a semente da qual a planta de trigo cresce, mantendo
assim o ciclo continuo. Cada semente contém três distintas partes que são objetivos
de separação durante o processo de moagem para produzir a farinha de trigo.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (ARBITRIGO, 2008),
as três principais partes do grão são: endosperma, casca e gérmen.
Endosperma: Constitui aproximadamente 83% do peso do grão de trigo.
Ele é a fonte de farinha branca de trigo. O endosperma contém a maior parte da
proteína do grão inteiro, carboidratos, ferro, como também algumas vitaminas do
complexo B (riboflavina, niacina e a tiamina).
Casca: Corresponde aproximadamente a 14,5% do peso do grão. A casca
é incluída na farinha de trigo integral e também é encontra separadamente, como no
farelo de trigo e no remoído. Os nutrientes no trigo integral, onde a casca contém
uma pequena quantidade de proteínas, larga quantidade de vitaminas do complexo
B, traços de minerais e material celulósico de difícil digestibilidade, também
chamado de fibra alimentar.
Germe: Aproximadamente 2,5% do peso do grão de trigo. O germe é o
embrião da semente, usualmente separado devida à quantidade limite de gordura
que interfere na qualidade de conservação da farinha de trigo. Dos nutrientes no
grão de trigo inteiro, o germe contém mínimas quantidades de proteínas, mas
grande parte das vitaminas e traços de minerais. O germe de trigo pode ser obtido
separadamente, ou de forma incluída na farinha de trigo integral.
Em relação a sua composição, em valores mais exatos, o trigo possui
números variáveis, dependendo da região onde é cultivado (QUAGLIA, 1991). Na
Tab. 1 pode-se perceber a variação dos nutrientes presentes no trigo, com destaque
para proteínas, umidade e amido.
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Tabela 1 – Composição química do grão de trigoMínimo (%) Máximo (%)
Proteínas 7,0 18,0
Cinzas 1,5 2,0
Lipídeos 1,5 2,0
Umidade 8,0 18,0
Amido 60,0 68,0
Pentoses 6,2 8,0
Sacarose 0,2 0,6
Maltose 0,6 4,3
Celulose 1,9 5,0
Fonte: QUAGLIA, 1991.
Quando se trata do valor nutricional, o trigo novamente aparece como um
dos destaques, já que desde os tempos mais primórdios ele compõe boa parte da
pirâmide alimentar. Além disso, sabe-se que este cereal é responsável por 20% do
total de calorias de uma dieta normal (LEÓN e ROSELL, 2007).
Considerando-se que o endosperma representa 83% do grão e que nele se
encontra a grande parte dos nutrientes de maior interesse, a moagem do trigo
consiste na separação desta parte das demais, com conseqüente transformação em
farinha (HOSENEY, 1991; CALAVERAS, 1996).
Como exposto anteriormente, em média 13% do grão de trigo é composto de
proteínas, sendo o glúten a mais importante, contabilizando 85% deste total. Mas a
importância deste componente não se deve ao seu alto percentual, mas também a
sua influência nas determinações reológicas da farinha de trigo.
Muitos trabalhos evidenciam resultados referentes à reologia de farinha de
trigo, como o realizado por Costa et al. (2008), por exemplo, que avaliou a qualidade
de farinhas nacionais e importadas. Na farinografia realizada neste trabalho são
dados valores de aproximadamente 55% de absorção de água, assim como no
estudo de Indrani e Rao (2007), caracterizando uma estabilidade mediana.
4.2.1.1. AplicaçõesO destino final das farinhas é muito variado, mas a grande maioria destina-
se a elaboração de pães e massas em suas diferentes versões. Às farinhas
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destinadas as panificação exige-se uma adequada capacidade de retenção de
gases e uma atividade amilásica adequada (LEÓN e ROSELL, 2007). No caso do
trigo isso não é problema, por ser rico em ambos. Aliás, segundo estes mesmos
autores, o glúten do trigo é o único que possui capacidade de formar a rede
tridimensional que prende os gases durante a fermentação. Por isso que a farinha
de trigo é a mais usada na elaboração de pães e bolos.
4.2.2. ArrozO arroz é uma planta da família das gramíneas que alimenta mais da
metade da população humana do mundo. Está constituído por sete espécies, sendo
a principal Oryza sativa, cultivada em todo o mundo (WIKIPEDIA, 2008; LEÓN e
ROSELL, 2007).
Assim como o trigo, é um dos principais cereais na dieta humana, chegando
a valores de consumo de 16 kg/pessoa/ano (países desenvolvidos) até 104
kg/pessoa/ano (países em desenvolvimento).
O grão de arroz, assim como diversos vegetais, tem sua composição
química dependente dos métodos e das condições de produção. Um dos grandes
problemas é o fato de muitos de seus componentes situarem-se entre a casa e o
grão, sendo perdidos durante o polimento, por exemplo (LEÓN e ROSELL, 2007).
Independentemente desses fatores, o arroz é rico em carboidratos, principalmente
em amido, assim como em proteínas (12-15%) e lipídeos (15-20%). A Tab. 2 mostra
a composição de diferentes estados do grão de arroz.
Tabela 2 – Composição química (%) média do arrozArroz inteiro Arroz polido Farinha integral Farinha branca
Carboidratos 77,2 79,9 76,5 80,1
Proteínas 7,9 7,1 7,2 5,9
Fibras 3,5 1,3 3,4 2,4
Lipídeos 2,9 0,7 2,8 0,7
Minerais 1,5 0,6 1,5 0,6
Fonte: USDA - Nutrient database, 2008.
A análise da tabela deixa evidente a perda de fibras, lipídeos e minerais
durante o processamento deste cereal. Percebe-se também que os carboidratos são
22
os componentes mais abundantes do arroz, mais precisamente em amido, chegando
a um total de 80%. Devido a isso que o amido é o maior responsável pelas
propriedades e funcionalidades do grão de arroz, e estas são dependentes em
grande parte da relação amilose-amilopectina (FITZGERALD, 2004).
Pelo fato da amilose ser um indicador da qualidade do arroz na cocção, é
dada como mais importante por pesquisadores. Segundo Milatovic e Ballini (1986) é
importante conhecer a variedade do arroz usada para a produção de massas, sua
origem e características de cozimento. O uso de farinha de arroz de variedades
européias, que apresentam conteúdo de amilose muito baixo (cerca de 17%) quando
comparado com variedades asiáticas (maior que 30%), pode influenciar os
resultados obtidos no produto final. Foi observado que conforme a porcentagem de
farinha de arroz na mistura com trigo crescia, a perda de sólidos na água de
cozimento aumentava, e a absorção de água diminuía, com conseqüente redução
do volume da massa. Também para Pagani, Resmini e Dalbon (1986) o amido ideal
para a produção desse tipo de produto deve apresentar alto teor de amilose com
grande tendência à retrogradação. Tal reação é influenciada pelo tamanho das
moléculas e pela quantidade de amilose insolúvel presente no amido.
Mas o grande problema na elaboração de massas a partir de farinha de
arroz é a ausência de glúten. Sendo assim, são necessárias diversas inovações
para se obter o crescimento desejado destes produtos. Segundo Mestres, Colonna e
Buleon (1988) as massas obtidas com materiais isentos de glúten envolvem
propriedades funcionais do amido que são reveladas por um ou dois tratamentos
térmicos e que proporcionam a completa gelatinização do amido. Pagani, Resmini e
Dalbon (1981) citam tecnologia que prevê a pré-gelatinização de uma parte da
matéria-prima (5-7%) e a posterior mistura dessa porção com a massa restante não
tratada. A pré-gelatinização ocorre na fração de amilose, favorecendo a
repolimerização e criando estrutura com funções similares as do glúten.
4.2.2.1. A importância das massas não convencionais à base de arroz para portadores de doença celíaca
A doença celíaca, também conhecida como intolerância ao glúten, é
caracterizada pela má absorção de nutrientes como conseqüência de dano causado
às células epiteliais de absorção que envolvem o intestino delgado. Esse dano
ocorre em pessoas suscetíveis quando ingerem trigo e alguns outros cereais ou
23
seus derivados. Os primeiros sintomas são diarréia e dores gastrointestinais. A
prolongada carência da maioria dos nutrientes pode causar efeitos diversos como
dores nos ossos devido à má absorção de cálcio e de vitamina D ou anemia
relacionada à deficiência de ácido fólico (KASARDA, 1978).
A incidência da doença celíaca varia conforme a região. Estima-se que uma
pessoa em cada 200 a 500 pessoas apresentem a doença em países como Irlanda,
Áustria e Escandinávia (SKERRITT, DEVERY e HILL, 1990). Ormenese e Chang
(2002) explicam que a doença celíaca é genética e afeta um entre 150-250
americanos. Afirmam que a incidência da doença é maior em descendentes de
europeus, ocorrendo raramente entre negros e asiáticos. No Brasil, ainda não
existem dados sobre a incidência dessa doença (ACELBRA, 2008).
O único tratamento satisfatório para celíacos é a completa retirada do trigo,
centeio, cevada e aveia da dieta (KASARDA, 1978). A substituição desses cereais
pode ser feita por soja, arroz, milho, batata, mandioca e cará, sendo que dentre
esses, o arroz é o menos alergênico (AMUSSEN, 1990; PENNA e MOTA, 1988;
LORENZ, 1990, ACELBRA, 2001). A dieta deve ser seguida por toda a vida, mesmo
que o paciente não apresente sintomas após a ingestão de glúten (ACELBRA,
2001).
4.2.2.2. AplicaçõesPelo seu alto teor em fibras (componente relacionado com a diminuição do
colesterol e triglicerídeos, regulação do trânsito intestinal, prevenção do câncer de
cólon e melhora da flora intestinal), o farelo de arroz tem sido apontado como um
ingrediente funcional passível de utilização em formulações de alimentos integrais
(pães, bolachas, bolos, cereais matinais, barras de cereais, e outros). Outra
aplicação do arroz é em alimentos infantis, como as chamadas papinhas, já que o
alto teor de amido propicia uma ótima ação geleificante. Além disso, outros produtos
são produzidos a partir da farinha de arroz, como algumas batatas-fritas
industrializadas, bolos tipo sonho (GALERA, 2006).
4.2.3. MilhoO milho é um conhecido cereal cultivado em grande parte do mundo. É
extensivamente utilizado como alimento humano ou ração animal, devido às suas
24
qualidades nutricionais. Existem várias espécies e variedades de milho, todas
pertencentes ao gênero Zea (WIKIPEDIA, 2008).
Atualmente, somente cerca de 5% de produção brasileira se destina ao
consumo humano e, mesmo assim, de maneira indireta na composição de outros
produtos. Isto se deve principalmente à falta de informação sobre o milho e à
ausência de uma maior divulgação de suas qualidades nutricionais, bem como aos
hábitos alimentares da população brasileira, que privilegia outros grãos (EMBRAPA,
2008).
Puro ou como ingrediente de outros produtos, é uma importante fonte
energética para o homem. Ao contrário do trigo e o arroz, que são refinados durante
seus processos de industrialização, o milho conserva sua casca, que é rica em
fibras, fundamental para a eliminação das toxinas do organismo humano (QUAGLIA,
1991).
Como mencionado anteriormente, o milho, como um vegetal, é rico em
carboidratos, principalmente em amido; este polissacarídeo corresponde a
aproximadamente 72% do grão (LEÓN e ROSELL, 2007). Não obstante a alta
concentração de amido, alguns açúcares presentes merecem destaque, como a
sacarose, a glicose e a frutose, presentes em valores de 0,6 a 3,0%. Possui em
torno de 10% de proteínas, porém é um grão pobre em aminoácidos importantes
como lisina e triptofano (QUAGLIA, 1991). Em relação a outros nutrientes, tem-se
valores de 4,5% de lipídeos e 1,3% de minerais.
4.2.3.1. AplicaçõesApesar da farinha de milho ter seu sabor muito bem aceito pelos
consumidores, além do baixo custo e alta disponibilidade no mercado, não
representa uma grande parcela em relação à produção total de milho (ALVIM,
SGARBIERI e CHANG, 2002). Por ser pobre em alguns aminoácidos, o glúten do
milho não confere bons aspectos à farinha, também chamada de fubá. O produto
moído deste cereal apresenta baixa reprodutibilidade na aplicação em pães.
Alguns estudos abordam este problema relacionado ao glúten do milho.
Pesquisas desenvolvidas no Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL)
demonstraram que é possível, no processo de panificação, a adição de farinha de
milho integral e desengordurada à farinha de trigo, na proporção de 25%, sem
25
alterações aparentes na qualidade do produto final, e ainda se tem um
enriquecimento considerável (VITTI et al., 1980).
Todavia, o chamado fubá é muito utilizado para confecção de bolos, de
comidas típicas como tortillas, polenta e snacks.
4.2.4. CenteioO centeio (Secale cereale) é uma gramínea cultivada em grande escala para
colheita de grãos e forragem e tem forte parentesco com o trigo e a cevada
WIKIPEDIA, 2008). Seu grão é bastante similar ao de trigo, sendo dividido em
pericárpio, endosperma e germe, cuja principal parte é o endosperma.
Assim como a estrutura do grão, a composição do centeio é bastante
parecida com a do trigo (Tab. 3). Até mesmo as quantidades de enzimas e amido,
bem como suas propriedades, se assemelham, o que é evidenciado nas análises de
suas respectivas farinhas (LEÓN e ROSELL, 2007).
Tabela 3 – Composição química do grão de centeio comparado com o de trigoUmidade (%) Proteínas (%) Lipídeos (%) Glicídios (%) Cinzas (%)
Centei
o
12,5 13,0 1,7 76,0 2,1
Trigo 12,0 13,5 1,9 74,0 1,8
Fonte: USDA – NUTRIENT DATABASE, 2008.
De acordo com Villegas (1980), o valor nutricional do centeio faz dele um
grão de alta relevância na dieta humana e animal, com altas concentrações de
amido e proteínas, sendo estes de grande qualidade. O centeio é também riquíssimo
em minerais, fato este comprovado por León e Rosell (2007), que apresentam
valores de sódio, cálcio, fósforo e potássio em torno de 175mg, 20mg, 36mg e
51mg, respectivamente (valores referentes a uma fatia de 25g de pão de centeio).
Quanto aos aspectos reológicos de massas obtidas a partir da farinha de
centeio, uma vez que o glúten presente é semelhante ao de trigo, estas
propriedades são também semelhantes. Obtêm-se massas de boa elasticidade e
força (LEÓN e ROSELL, 2007).
26
4.2.4.1. AplicaçõesAlém do pão, produto mais conhecido do centeio, o centeio também é
utilizado para fazer ração animal, cerveja, alguns tipos de whisky e grande parte das
vodkas (WIKIPEDIA, 2008).
4.2.5. SojaA soja é um dos grãos mais ricos em proteínas, cultivado como alimento
tanto para humanos quanto para animais. Pertence à família Fabaceae
(leguminosa), assim como o feijão, a lentilha e a ervilha. A palavra soja vem do
japonês shoyu. A soja é originária da China (EMBRAPA, 2008).
O maior produtor de soja do mundo são os Estados Unidos, seguido do
Brasil, Argentina, China, Índia e ParaguaI. A produção mundial de soja em 2004 foi
de 190 milhões de toneladas (FAO, 2008). A soja é uma das plantações que estão
sendo geneticamente modificadas em larga escala, e a soja transgênica está sendo
utilizada em um número crescente de produtos. Atualmente, 80% de toda a soja
cultivada para o mercado comercial é transgênica. A Monsanto é a empresa líder na
soja geneticamente modificada.
A soja é considerada uma fonte de proteína completa, isto é, contém
quantidades significativas de todos os aminoácidos essenciais que devem ser
providos ao corpo humano através de fontes externas, por causa de sua inabilidade
para sintetizá-los.
Como ilustração do poder nutritivo da soja (Tab. 4), saliente-se o fato de que
ela é o único alimento protéico fornecido por organizações humanitárias a africanos
famélicos. Com uma alimentação exclusivamente baseada em soja, crianças à beira
da morte recuperam todo o seu peso em poucas semanas. Esse fenômeno ocorreu
em larga escala nas crises humanitárias de Biafra (Década de 1970), Etiópia
(Década de 1980) e Somália (Década de 1990).
27
Tabela 4 – Composição nutricional da soja (valores em relação a 100g)
Calorias (kcal) 417Umidade (g) 11,0Gordura (g) 19,0Fibras (g) 17,0Carboidratos (g) 23,0Proteínas (mg) 38,0Vitaminas E (mg) 1,8Niacina (mg) 2,2Fonte: EMBRAPA, 2008.
O grão de soja tem em torno de 20% de carboidratos. Porém, apenas 5%
desta cota está sob forma de amido absorvível pelo organismo humano. Por esta
razão, esta oleaginosa é o alimento excelente para pessoas diabéticas, obesas ou
em regimes para perda ou manutenção do peso. Contudo, este baixo índice de
amido faz da soja refém de misturas para obtenção de produtos de panificação de
boa qualidade.
Além do mais, as proteínas da soja, segundo León e Rosell (2007), são as
maiores responsáveis pelos problemas com panifíceos. Estes nutrientes da soja
provocam alta absorção de água, ligando-a fortemente; devido às altas
temperaturas, estes nutrientes geleificam e coagulam facilmente, conferindo também
pegajosidade à massa.
4.2.5.1. AplicaçõesA soja é principalmente aplicada na produção de óleo, que é o mais utilizado
pela população mundial no preparo de alimentos. Também é extensivamente usada
em rações animais. Outros produtos derivados da soja incluem óleos, sabão,
cosméticos, resinas, tintas, solventes e biodiesel (QUAGLIA, 1991).
4.3. Outros grãos e cereais4.3.1. Aveia
A aveia é um cereal muito nutritivo, que possui cálcio, ferro, proteínas, além
de vitaminas, carboidratos e fibras. A aveia está em evidência atualmente pelo alto
poder benéfico da sua fibra solúvel, que está relacionada a um bom funcionamento
28
intestinal, à diminuição na absorção de colesterol total e LDL-colesterol e
manutenção de níveis adequados dos mesmos (WIKIPEDIA, 2008).
Existem estudos que dizem ainda que o consumo de aveia em diferentes
quantidades está associado ao controle da glicemia (açúcar no sangue),
manutenção e diminuição do colesterol sangüíneo, controle da pressão arterial e
regulador do trânsito intestinal, evitando a obstipação (intestino preso).
A fibra solúvel presente na aveia, a chamada β-glucana, é responsável por
parte das vantagens do consumo da aveia, já que existe a vantagem nutricional
deste alimento. As fibras solúveis retardam o esvaziamento gástrico, que tem como
resultado uma maior saciedade. Elas, também, ao entrarem em contato com a água,
formam géis que tornam o bolo fecal maior e mais viscoso e, com isso, ocorre uma
menor absorção de substâncias presentes neste bolo, como glicose e colesterol,
devido a uma menor ação de enzimas digestivas (CALAVERAS, 1996).
A farinha de aveia é considerada grossa quanto a granulometria; possui um
número de queda de aproximadamente 421 segundos, o que caracteriza uma baixa
atividade enzimática (TEDRUS et al., 2001).
Este cereal é muito utilizado como suplemento alimentar, sendo consumido
junto ao leite e ao iogurte.
4.3.2. ErvilhaO isolado protéico de leguminosas (IPL) vem sendo estudado há anos. A
vicilina (proteína de reserva de sementes de leguminosas) é a principal proteína
presente no IPL. Importantes propriedades funcionais desta proteína já foram
determinadas, como capacidade de emulsificação, retenção de ar e formação de gel,
de filmes e de microcápsulas. A ervilha é uma leguminosas adotada para tais
estudos por ser de cultura típica de clima tropical e subtropical, bastante difundida
no Brasil e no mundo, e por ser de baixo custo. Esta semente possui em sua
composição fibras, minerais, vitaminas, carboidratos e lipídios, que são removidos
no processo de obtenção do IPL, mas que poderiam ser utilizados futuramente em
outras aplicações (BRAZACA, 2006).
Assim como a soja, a ervilha apresenta problemas em produtos de
panificação, devido ao alto teor de proteínas, sendo utilizada apenas como
complemento nutricional.
29
4.3.3. CevadaCereal também rico em proteínas, porém carece de gliadina e glutenina, ou
seja, seu glúten não é de boa qualidade. Sendo assim, a farinha de cevada não é
muito utilizada na produção de pães. A principal influência desta farinha na
elaboração de panefíceos é que a massa obtida necessita de maiores quantidades
de água, devido à baixa capacidade de absorção desta, além de possuir baixa
capacidade de fermentação. A cevada é freqüentemente empregada na indústria de
panificação como malte, produto derivado de sua germinação e sucessivas fases de
purificação, que propicia um ótimo gosto e teor de fibras ao produto (QUAGLIA,
1991).
30
5. Conclusão
Após a análise de diversos fatores em relação aos grãos mais comuns na
alimentação humana, pode-se concluir que a farinha é um produto facilmente obtido,
sendo necessária apenas a moagem do grão.
Além disso, fica evidente a importância de saber-se as características dos
produtos resultantes desta moagem, principalmente quando objetiva-se a
elaboração de massas para pães, ou outros derivados da panificação.
Contudo, a deficiência apresentada por cada exemplar pode ser preenchida
pela união a outro produto, como, por exemplo, as farinhas mistas de trigo e soja,
que originam um alimento de alta qualidade reológica, além de rico em proteínas.
Enfim, conclui-se que a melhor farinha para produção de pães é a de trigo,
mas com a diversidade dos estudos e o avanço da tecnologia em breve teremos na
nossa alimentação a presença de produtos dos mais diversos tipos, sejam eles
pães, biscoitos, concentrados protéicos.
31
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