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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PPGE MESTRADO LINHA DE PESQUISA TEORIA E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO O COLÉGIO MANUEL DA NÓBREGA: O papel da educação jesuíta nos projetos de restauração católica no Recife (1917-1930) LIZABETHLI PETRONIO DA SILVA Recife, 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGE – MESTRADO

LINHA DE PESQUISA – TEORIA E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

O COLÉGIO MANUEL DA NÓBREGA:

O papel da educação jesuíta nos projetos de restauração católica no Recife

(1917-1930)

LIZABETHLI PETRONIO DA SILVA

Recife, 2015

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LIZABETHLI PETRONIO DA SILVA

O COLÉGIO MANUEL DA NÓBREGA:

O papel da educação jesuíta nos projetos de restauração católica no Recife

(1917-1930)

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção de título no Curso

de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade

Federal de Pernambuco - UFPE

Orientador: Prof. Dr. André Gustavo Ferreira da Silva

RECIFE, ABRIL 2015

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Catalogação na fonte

Bibliotecária Andréia Alcântara, CRB-4/1460

B586c Silva, Lizabethli Petronio da.

O Colégio Manuel da Nóbrega: o papel da educação jesuíta nos

projetos de restauração católica no Recife (1917-1930) / Lizabethli

Petronio da Silva. – Recife: O autor, 2015.

131 f. ; 30 cm.

Orientador: André Gustavo Ferreira da Silva.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco, CE.

Programa de Pós-graduação em Educação, 2015.

Inclui Referências e Anexos.

1. Educação - História. 2. Jesuítas – Educação - História. 3.

Restauração católica. 4. UFPE - Pós-graduação. I. Silva, André

Gustavo Ferreira da. II. Título.

370.9 CDD (22. ed.) UFPE (CE2015-66)

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LIZABETHLI PETRONIO DA SILVA

O COLÉGIO MANUAL DA NÓBREGA: O PAPEL DA EDUCAÇÃO

JESUÍTA NOS PROJETOS DE RESTAURAÇÃO CATÓLICA NO RECIFE

(1917 – 1930)

Dissertação apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em

Educação da Universidade Federal

de Pernambuco, como requisito

parcial para a obtenção do título de

Mestre em Educação.

Aprovada em: 30/04/2015.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. André Gustavo Ferreira da Silva (Orientador) Universidade Federal de Pernambuco

Prof. Dr. Luiz Carlos Luz Marques (Examinador Externo) Universidade Católica de Pernambuco

Prof.ª Dr.ª Adriana Maria Paulo da Silva (Examinador Interno) Universidade Federal de Pernambuco

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A Deus, em quem nos apoiamos em todos os momentos de

aflições.

À Marilin Ferreira, minha mãe, sem ela não teria sido possível

conseguir completar esta tarefa tão árdua. Sinto orgulho de

você e de suas palavras.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Deus Pai, forte protetor, que me guarda em todos os momentos de

minha vida. Ao Deus Filho, misericordioso, que segura minha mão todas as vezes

quando estou prestes a desmoronar. Ao Deus Espírito Santo, meu eterno consolador,

que me faz ter a certeza da concretude e presença desta Santíssima Trindade nos mais

difíceis ou gloriosos dias.

À grande professora Marilin, minha mãe, que não só me ensinou as primeiras

letras, mas também me abriu um universo de possibilidades, dando-me os livros como

melhores amigos desde a mais tenra idade, doutrinando-me a encarar e buscar o

conhecimento acadêmico como uma incansável colheita que nos fornece os mais

preciosos frutos. A essa minha grande matriarca, que nas limitações de unidade

conseguiu se fazer múltipla, sendo minha mãe, pai, professora, médica e terapeuta.

Somado a ela, agradeço a Ilson Lagedo, um pai de outra vida, que em sua

infinita paciência esteve sempre pronto a me escutar. Esse que, além de aguentar

cotidianamente minhas falácias e partilhar as loucuras da minha cabeça, vive numa

incansável tentativa de ajudar o próximo e de ser solícito a quem lhe bate a porta.

À Jaqueline Ferreira, minha tia/mãe que, com seu carinho e seu afeto mais doce,

não mede esforços para estar presente nos mais importantes momentos da minha vida.

Sempre me encorajando a continuar nos caminhos que escolho seguir, se alegrando e se

entusiasmando com minhas conquistas, mais até do que se dela fossem.

Ao meu amor, Otávio Vinícius, por sua infinita compreensão nos meus

momentos de ausência. Por me incentivar a nunca parar de buscar o futuro com o qual

sonhamos juntos, por estar sempre lá quando mais preciso e, principalmente, por me

fazer esquecer tudo nos momentos que eu mais necessitei.

A minha melhor amiga, irmã e companheira de jornada acadêmica, Rafaela

Ribeiro, responsável por 90% do valor da minha conta telefônica, que mesmo quando

não pode, me atende, sendo muitas vezes até minha orientadora. Agradeço-lhe a

amizade e até as sábias palavras.

A minha querida “diva acadêmica” Olívia Tereza, grande amiga que muitas

vezes abdicou dos únicos momentos livres que tinha para me ajudar, demonstrando com

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sua prontidão em me socorrer, uma amizade e afeto que um dia espero ter o privilégio

de retribuir.

Aos meus primeiros Orientadores e queridos amigos Emanuela Ribeiro e Luiz

Carlos Marques, que demonstraram, desde muito cedo, em seus atos cheios de afeto,

cuidado e atenção, grandes exemplos de excelência acadêmica a seguir. Orgulho-me de

lhes ter na história de minha vida, me ensinando não só a empenhar-me em ser uma boa

profissional, mas um ser humano melhor.

A André Ferreira, meu querido orientador, que sempre se esforça a quebrar as

barreiras entre professor/aluno, sempre acessível e pronto para ajudar, tornando muito

mais leve esta etapa para mim e meus companheiros, fazendo sempre o possível e o

impossível para nos auxiliar.

Aos professores que compuseram a banca de defesa, André Ferreira, Adriana

Paulo e Luiz Carlos Marques, que num compromisso altruísta pelo desenvolvimento

educacional e científico do país, estiveram sempre de prontidão, amparando-me neste

início de vida acadêmica.

Aos meus companheiros do PPGE, Ramon de Oliveira, Amaury, Clara Angeiras,

Alex Lins, Reginaldo, etc. que tornaram esta etapa extremamente prazerosa de ser

vivenciada. A amizade de vocês foi aquilo que de mais importante ficou desta

experiência.

Aos funcionários da Biblioteca da Universidade Católica de Pernambuco, que

extremamente solícitos e competentes, sempre se comprometem a facilitar o máximo

possível a vida dos pesquisadores que a eles recorrem, montando, sem sombra de

dúvida, uma das melhores estruturas entre os arquivos do Estado de Pernambuco.

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RESUMO

O objeto desta dissertação encontra-se na investigação do envolvimento da

Companhia de Jesus nos trabalhos desenvolvidos em nome da restauração católica. Os

recortes estão delimitados através da análise das atividades dos Jesuítas no Colégio

Manuel da Nóbrega no Recife, no período entre 1917 a 1930, na tentativa de

compreender a função desempenhada por esta instituição e qual a natureza deste

processo de restauração. Para tal, os fundamentos teóricos que direcionaram nosso olhar

foram, em especial, aquele encontrado no conceito de habitus de Pierre Bourdieu.

Assim, as questões cotidianas, encontrados principalmente nos diários do Colégio

Nóbrega, foram examinadas pelas ligações com seu contexto histórico, no intuito de

decifrar a realidade social que envolveu aquela prática, o que, ao longo deste trabalho,

nos fez deduzir o Colégio Nóbrega como um espaço de produção e reprodução de

discursos, aliado aos mais diversos setores sociais, inclusive e especialmente o político,

vinculado a uma realidade que não demonstrou a necessidade de uma restauração da

instituição, no sentido literal da palavra.

Palavras-chave: Estado, Igreja, Restauração Católica, República Velha

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ABSTRACT

The object of this work is to investigate the involvement of the Society of Jesus in work

on behalf of Catholic restoration. The side view is delimited by the review on the

activities of the Jesuits at the Manuel da Nobrega College, in Recife, in the period from

1917 to 1930, in an attempt to try understanding the role played by this institution and

the nature of this restoration process. Therefore, the theoretical foundations that were

directed our gaze, are especially those found in the concepts of social place of Michel

De Certeau and habitus of Pierre Bourdieu. So the everyday issues were examined by

the links with their historical context in order to decipher the social reality involving

this practice, which made us deduce, during this paper, the Nobrega College as a place

of production and reproduction of speeches, connected with the various social sectors,

including and especially the political one, linked to a reality that did not seem to need a

restoration, at least in the literal sense of the word.

Keywords: State, Church, Catholic Restoration, Old Republic

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 10

1.1 Transposição do Atlântico ........................................................................................ 10

1.2 Destaques sobre Jesuítas e relações Igreja/Estado na historiografia contemporânea 15

2. CAPÍTULO 1: O LUGAR DO COLÉGIO MANUEL DA NÓBREGA .............. 23

2.1 Em defesa da moral e dos bons costumes................................................................. 27

2.2 Relação entre ricos e pobres ..................................................................................... 33

2.3 Liberalismo, Socialismo e Comunismo .................................................................... 38

2.4 Maçonaria ................................................................................................................. 42

3. CAPÍTULO 2: UM HABITUS CIVILIZANTE: QUESTÕES DE

HIERARQUIA, DISCIPLINA E HIGIENE .............................................................. 46

3.1 Disciplina: subjetivação e naturalização do credo para o futuro Militante Católico 51

3.1.1 Liga para a Restauração dos Ideais........................................................................ 53

3.1.2 Práticas disciplinares para a formação de um modelo padrão de moço cristão

combatente ...................................................................................................................... 58

3.2 Higiene: principal confluência com a modernidade ................................................. 63

4. CAPÍTULO 3: ENTRE PESSOAS, LUGARES E INSTITUIÇÕES: UM

ESTREITAMENTO DE LAÇOS COM A ELITE PERNAMBUCANA COMO

ESTRATÉGIA POLÍTICA? ....................................................................................... 68

4.1 Rede católica de intercâmbio do CMN..................................................................... 70

4.2 Deveres sagrados de mãe e esposa: o posicionamento estratégico da mulher católica

........................................................................................................................................ 75

4.3 Relação com as Forças Armadas .............................................................................. 77

4.4 Aproximação política ............................................................................................... 81

5. CAPÍTULO 4: O QUE PODEMOS PENSAR PARA O RECIFE, UM

PROJETO DE RESTAURAÇÃO CATÓLICA OU MANUTENÇÃO DO PODER?

........................................................................................................................................ 93

5.1 Laicidade e Restauração Católica ............................................................................. 96

5.2 Onde esta O Movimento de Escola Nova? ............................................................. 104

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 109

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 113

ANEXOS ..................................................................................................................... 121

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Transposição do Atlântico

Nesta dissertação, investigamos o envolvimento da Companhia de Jesus no

Recife nos esforços de restauração do poder aparentemente perdido pela Igreja com a

implantação do Estado Laico. Através da análise das atividades dos Jesuítas no Colégio

Manuel da Nóbrega, no período de 1917 a 1930, tentamos compreender qual a natureza

desse processo de restauração e decifrar a realidade social que envolveu aquela prática

vinculando as questões cotidianas ao contexto histórico,

Antes, é necessário transpormos o Atlântico para visualizar os republicanos

portugueses que eram contrários ao Cristianismo Católico, descartando a possibilidade

de que o catolicismo pudesse contribuir de alguma forma à vida nacional. Eles

miravam, entre outros, a Companhia de Jesus, como um adversário visível, cujas

atividades desviavam radicalmente Portugal do caminho para onde a República

apontava. No fim do século XIX e no início do século XX, os Republicanos estavam

lutando contra o catolicismo e suas expressões culturais em Portugal.

Essas ideias tornaram-se mais fortes, após implantação do Regime Republicano

em 04 de outubro de 1910, período em que se destacaram as medidas do então Ministro

da Justiça Afonso da Costa, que em 08 de outubro do mesmo ano, expulsou os Jesuítas

de Portugal e restabeleceu a legislação pombalina, abolindo as ordens e expressões

religiosas. Assim, estigmatizada por uma série de mudanças históricas, a década de

1910 foi demasiado turbulenta para a Igreja Católica em Portugal, que se viu sem

significativas influências num estado Laico a partir de 20 de abril de 1911, através da

Lei de Separação do Estado e da Igreja.

Exilados, os Jesuítas veem no Brasil, não apenas um país com afinidades

culturais, linguísticas e religiosas, mas um excelente refúgio proporcionado por um

contexto histórico-político favorável para onde, não só eles, mas, muitos outros clérigos,

iam buscar asilo da legislação “anti-católica” que orbitava a Europa no início do século

XX:

Os Jesuítas exilados refletiam o exemplo de milhares de imigrantes que,

noutros tempos, vieram às Américas, perseguidos por causa de suas crenças

religiosas e buscando um lugar onde pudessem praticá-las. Além disso, os

Jesuítas portugueses encontravam-se num estado psicológico muito especial:

Como lusitanos, buscavam uma terra anteriormente parte de Portugal, mas

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dele separada com a proclamação da sua independência em 1822. Como

Jesuítas, estavam retornando a uma terra marcada maciçamente pela ação

cultural de seus correligionários na época colonial. Mas então e na mesma

terra o iluminismo pombalino suprimira a Companhia de Jesus e, mais de

século e meio mais tarde, o mesmo iluminismo na sua forma republicana

expulsou a Companhia de Portugal. Numa doce ironia, esse mesmo

iluminismo, desta vez, na sua forma republicana brasileira, recebe os Jesuítas

portugueses que, de maneira imprevista, iriam fruir, como a Igreja, a

liberdade da Velha República. (AZEVEDO, 1986. p. 01)

Embora existissem campanhas portuguesas solicitando a não aceitação dos

Jesuítas no Brasil e sendo aqui também a Igreja separada constitucionalmente do Estado

desde a instauração do Regime Republicano, alguns estudos apontam que, para a elite o

importante era evitar a incompatibilidade entre os seus ideais e os da nação. Toda a ação

nesse sentido estava centralizada na criação de um conjunto de valores identificados

com as bases tradicionais da Pátria que se mostrasse como um elemento dinamizador e

arregimentador das riquezas históricas do povo, daí retirando os valores que guiariam o

seu processo e a sua elevação moral numa unidade mais coesa, assim como o

crescimento intelectual dos indivíduos que integram a nação. O que indica que no Brasil

as influências católicas aparentemente se davam nos âmbitos político, social, econômico

e cultural, tornando possível a vinda da Companhia de Jesus.

Chegando ao Brasil, fora nomeado, em 02 de fevereiro de 1911, o Pᵉ Antônio

Menezes como Superior da Missão Jesuíta Brasileira Septentrional da Província

Portuguesa que abrangia os Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba,

Rio Grande do Norte, Piauí, Ceará, Maranhão, Pará e Amazonas, para quem a maior

preocupação era garantir que não se dispersasse a Ordem Jesuíta (AZEVEDO, 1986).

Estabelecidos, os Jesuítas no Brasil receberam inúmeras solicitações para o

aproveitamento profissional dos religiosos considerados exilados, uma vez que se

tratavam de educadores entre os mais qualificados para o ensino primário e secundário

de toda a Europa, o que fez dos colégios católicos, especialmente de ordens religiosas,

como a dos Jesuítas, empreendimentos eficientes e lucrativos.

`É importante salientar que somente com a implantação do Estado Novo o

ensino primário e o ensino secundário tornaram-se dever da Federação, de modo que

este era de responsabilidade da União e dos Governos Estaduais e o primário dos

Estados e municípios, os quais raramente conseguiam manter instituições que

atendessem a demanda da sociedade que acabava recorrendo a grande oferta das

instituições privadas e, especialmente, as de ordens religiosas. Sendo assim, várias

instituições de ensino foram estabelecidas no Brasil pela Companhia da Jesus., entre as

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principais delas no Nordeste estão: o Instituto São Luiz Gonzaga e o Colégio Antônio

Vieira na Bahia, a Escola Apostólica em Baturité no Ceará e o Colégio Manuel da

Nóbrega em Pernambuco.

Acompanhando as tendências nacionais, em 1912, foi solicitado aos Jesuítas

pelo Arcebispo de Olinda e Recife, D. Luiz Correia da Silva Britto, que fundassem um

colégio no Recife. Entretanto, essa solicitação só foi atendida na gestão do Arcebispo D.

Sebastião Leme, que reiterou o pedido feito pelo bispo anterior. Então, em março de

1917, os jesuítas fundaram o Colégio Manuel da Nóbrega, estabelecido no Palácio da

Soledade1, prédio antes pertencente à Arquidiocese de Olinda e Recife.

Não só o Colégio Manuel da Nóbrega, mas o ensino secundário em todos os

colégios fundados no Nordeste pelos Jesuítas neste período, desde o seu planejamento,

já possuíam um público alvo muito bem definido: os grupos pertencentes à elite local.

De modo que o projeto pedagógico dessas instituições continha disciplinas que

preparavam seus alunos para os cursos universitários, especialmente, o de Direito, já

que dois terços da elite republicana era composta por advogados (HEINZ, 2006). Além

disso, desde 1915 a Reforma Maximiliano instituiu o exame do vestibular e a

obrigatoriedade do diploma de conclusão do ensino secundário para o ingresso no

ensino superior, excluindo assim, as classes proletárias que, quando muito, só

conseguiam ter acesso ao ensino primário e ao profissionalizante.

Durante toda a República Velha, a Igreja Católica empreendeu um projeto

intitulado, na época, de recatolização com o objetivo de “retomar” sua influência na

sociedade, já que, como instituição, teria perdido grande parte do seu suposto poder

político de intervenção após a instauração do Estado Laico. Como a Igreja precisava

aumentar sua abrangência de influência, uma das maneiras mais eficientes foi iniciando

uma reaproximação com as elites, primeiro no âmbito local, depois expandindo o raio

de alcance do discurso Católico para os espaços extra- católicos, em sentido amplo

(MICELI, 1988).

Como término de nosso recorte cronológico, escolhemos a Revolução de 1930,

por entendermos que essa mudança sistemática nas relações políticas, trouxe às

1 Localizado na Rua Oliveira Lima, nº 824, Bairro da Boa Vista, Recife-PE. Atualmente a

edificação do Palácio da Soledade serve como filial ao Instituto de Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional (IPHAN-Recife), enquanto o Colégio Manuel da Nóbrega, atual Colégio

Liceu Nóbrega, encontrasse no mesmo terreno do Palácio mas em um edifício diferente, com

sua fachada voltada à Rua do Príncipe, em frente à Universidade Católica de Pernambuco

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discussões em torno das relações Igreja/Estado um novo elemento, que tiveram

repercussões no cotidiano do colégio, inaugurando um novo período, ao qual não

desejamos nos ater nesta fase da pesquisa.

Auxiliado pelo contexto do pós 1ª Guerra e a “ameaça comunista”, o discurso

anticomunista, antes apropriado pela Igreja, é incorporado ao ensino, e, num pacto com

o Estado após a Revolução de Trinta, a Igreja consegue colher os frutos do processo de

romanização e recatolização empreendidos na República Velha. Assim sendo, a

construção do Estado vai se basear na trindade “Pátria, Catolicismo e Família”, em que

um nacionalismo com profundas conotações moralistas é instaurado e vai se utilizar do

discurso da Igreja, como auxiliar na formação de um povo ordeiro (ANDRADE;

ALMEIDA, 2001).

Desse modo, durante as primeiras décadas do século XX, a Igreja Católica e o

Estado viam na Educação um meio de legitimação do poder, com interesses que se

confluíram, fecharam um “pacto” que atendia a ambos. Por conseguinte, caberia, pois,

aos profissionais da educação, a missão de implantação de um saber positivo, ordeiro,

disciplinador e legitimador das tradições patrióticas, de caráter profético e restaurador a

serviço da naturalização do caráter hierárquico da sociedade elitista, que dualizasse e

dicotomizasse o contexto político, colocando os detentores do poder como salvadores

da sociedade, excluindo qualquer ideologia que se afastasse destes objetivos

(ANDRADE; ALMEIDA, 2001).

Portanto, o Colégio Manuel da Nóbrega representa um lugar social (CERTEAU,

2000) muito significativo para uma análise das relações sociopolíticas entre o

catolicismo e os ideais estatais de ordem social vigentes no período. O que nos leva a

indagar a seguinte questão: na vinculação dos Jesuítas do Colégio Manuel da Nóbrega

aos supostos esforços de recristianização política empreendidos por membros da Igreja

Católica no Estado Laico Republicano, qual seria o conceito de recristianização que as

práticas sugerem?

Para tanto, ainda como introdução ao nosso estudo, destacaremos no próximo

tópico, na historiografia contemporânea, quais conceitos e correntes estamos filiados

dentre os inúmeros estudos que tratam das amplas relações estabelecidas entre a Igreja e

Estado, principalmente, aquelas mais específicas sobre a Companhia de Jesus.

No primeiro capítulo, partiremos especialmente do Arcebispo D. Leme, pela

vinculação do Colégio Manuel da Nóbrega (CMN) ao seu pensamento, segundo nossas

fontes, e das ideologias papais em que se apoia, pois, uma vez sendo um ambiente de

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produção de discursos, precisamos compreender a seguinte pergunta: em que contexto

ideológico se fundava a educação jesuíta do Nóbrega?

Já a indagação, encontra-se o aparelhamento do colégio jesuíta do Recife a

serviço da formação do Católico militante, pois, é aquele que impulsiona as análises

feitas no capítulo “um habittus Civilizante: questões de hierarquia, disciplina e higiene”

onde a partir das análises feitas no primeiro capítulo em comparação com os dados

encontrados nas Consultas2, nos Diários do CMN e nas obras Institucionais da

Congregação Mariana, partimos para investigação de como se planejava construir a

subjetividade de um futuro católico militante.

No capítulo intitulado “Entre pessoas, lugares e instituições: um estreitamento de

laços com a elite pernambucana como estratégia política?”, partimos das análises das

encíclicas3 Rerum Novarum, tomando-a como pensamento impulsionador e a

Quadragésimo anno, como contexto resultante, reafirmado o marco da doutrina social

Leonina, que juntamente com as anteriores ordenanças do ensino da doutrina cristã de

Pio X formam o pensamento basilar do Episcopado de D. Sebastião Leme, observando

onde situa-se o Colégio Manuel da Nóbrega em confluência com esse programa.

Em vista disso, faremos uma comparação dos discursos proferidos nestes

documentos com as relações estabelecidas com agentes políticos, das Forças Armadas e

da Elite Eclesiástica e Leiga no cotidiano do Colégio Nóbrega, encontrados nos Diários

de Fundação do colégio para questionarmos: estariam as relações estabelecidas entre os

agentes do Colégio Manuel da Nóbrega e uma dita Elite Pernambucana, encontradas

nos Diários de Fundação do CMN, a serviço de um amplo projeto de Recristianização?

Estariam os jesuítas se somando aos esforços da Igreja em manter-se como um dos

principais atores políticos nacionais, em reação à suposta laicidade da República?

Esta investigação do envolvimento católica política, também nos leva a

questionar: será que podemos pensar para o Recife um projeto de Recatolização ou

simplesmente uma Manutenção do Poder? E é aqui que nos permitimos uma certa

ousadia, contudo, com a humildade que cabe a qualquer pesquisador, não podendo

fechar os olhos àquilo que encontramos em nossa documentação (além do não dito),

que sinceramente nos fez duvidar de trabalhos mais gerais, que pensam para o Brasil

uma investida de retomada da política para a Igreja, perdida com a implantação do

2 Anexo C

3 Todas elas disponíveis no acervo da Biblioteca Central da Universidade Católica de Pernambuco

(UNICAP).

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Estado Laico e com o crescimento dos pensamentos liberais. Pois, acreditamos que

quando falamos na República Pernambucana, não podemos pensar nos mesmos moldes

da República Carioca e Paulista. Partindo disso, demostraremos aqui as conclusões com

que as práticas do cotidiano do CMN nos permitiram chegar.

Começamos, então, com os diários de Fundação do Colégio Manuel da Nóbrega,

nossas fontes principais, que até onde sabemos, ainda não foram usados em nenhum

trabalho acadêmico semelhante ao nosso, depois com o livro de registro intitulado

Consultas, dado ao quase ineditismo do seu uso4. De acordo com tais fontes, há vários

indícios da inexistência de uma ruptura significativa entre Igreja e Estado pensados para

uma República Laica. Também utilizamos como uma extensão de nossas fontes

primárias usando as encíclicas.

É necessário destacar também, que ao explorarmos os Diários5 de Fundação do

Colégio Manuel da Nóbrega, notamos a ausência de certos registros, como as dos anos

de 1923, 1925 e 1926. Logo, a falta de tais registros nos fazem levantar algumas

questões ,como sobre quais foram os motivos que levaram ao não registro dessas datas,

no que concerne às atividades cotidianas, uma vez que os diários são cadernos corridos

e, no que se refere à conservação e preservação deste material, não notamos nenhum

dano que indicasse a supressão das páginas com esse conteúdo?.

1.2 Destaques sobre Jesuítas e relações Igreja/Estado na historiografia

contemporânea

Antes de qualquer coisa, é necessário esclarecer que partimos de análises gerais

com o intuito de chegarmos às correntes historiográficas educacionais, mesclando

estudos em História das Religiões e História da Educação, contribuindo-se, assim, com

as concepções que pautam a compreensão do contexto influenciador da formação de

determinado pensamento pedagógico.

Partindo-se desse pressuposto, é interessante ressaltar, que a partir da mudança

paradigmática instalada na História com o movimento dos anos de 1970, um novo olhar

foi estabelecido a respeito do papel da religião na sociedade. Antes diagnosticada como

4 Ferdinand Azevedo chega a citá-los na obra A missão portuguesa da Companhia de Jesus no

Nordeste 1911-1936 em um dos capítulos sobre a criação dos Colégios Jesuítas no Nordeste 5 Anexos A e B.

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“retrocesso” para as sociedades modernas, a religião começou a ser entendida como um

importante aspecto da vida social.

O Dicionário das Ciências Históricas, Franco Pierini, aponta o estabelecimento

de um “setor de pesquisa de não secundária importância” na Itália, que acompanha esse

movimento de releitura de estudos sobre a História da Igreja e do Cristianismo, o qual

não ocorreu só na Itália, mas em outras partes do mundo. Historiadores laicos italianos,

de “sólida formação marxista”, dirigiram um trabalho sobre História do Cristianismo, os

quais admitiram que “a milenar experiência cristã constitui um dado inalienável do

nosso patrimônio cultural e histórico” (MARQUES, 2006.).

Na América Latina esse movimento é acompanhado pela criação, em 1973, da

Comissão de Estudos de História da Igreja na América Latina e no Caribe (CEHILA).

Aqui, tal movimento é confirmado com a criação do CEHILA-Brasil, fundado em 1980,

que possui entre seus principais trabalhos, destacados nas obras coletâneas de História

da Igreja no Brasil, destacam-se os que focam os diversos ciclos econômico-religiosos,

através dos quais a Igreja expandiu-se no Brasil, e aqueles cujas obras compõem as

coletâneas de História das Religiões no Brasil, que antes de tudo, promovem o

escoamento de uma enorme rede de núcleos de estudos críticos sobre as manifestações

religiosas vislumbradas no Brasil.

Quando avaliamos sobre qual pensamento formador da elite burguesa

republicana, que era embasado na ordem e hierarquia, recorremos a Marilena Chauí,

em o Brasil o Mito Fundador e sociedade autoritária, no qual é mostrado que o

imaginário nacional foi construído simbolicamente em torno da ordem, em que um

político não é visto como estando a serviço do povo, mas sim a serviço do Estado.

Em torno da instauração do Estado Laico na República, precisamos evidenciar

duas grandes correntes interpretativas, das quais a mais recorrente é aquela que acredita

ter havido uma enorme perda de poder com este fato. Já outros autores, numa corrente

inaugurada ainda em sua contemporaneidade, pelo Padre Júlio Maria, acreditam que a

partir disso a Igreja vai ter a liberdade e a independência institucional para atuar, uma

vez acabado, juntamente a vinculação estatal o regime do padroado.

Recorremos às inúmeras obras do seminarista salesiano Riolando Azzi, nascido

em 1928, que cursou História Eclesiástica na Pontifica Universidade Gregoriana, foi

professor de história do Instituto Teológico Pio XI e trabalhou como assessor em

movimentos, como, o MEB por exemplo, para uma visão geral da acentuada

participação da Igreja Católica em todos os setores da sociedade brasileira, em especial

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nas suas influências na formação da elite burguesa em seus esforços de não perder o

espaço político e a influência social, além de visões mais específicas em torno do

estabelecimento salesiano no Brasil e algumas interpretações sobre a atuação dos leigos

e do bispado brasileiro.

É importante, nesse caso, destacar o que entendemos por elites. Utilizamos a

concepção de “administradores” dos negócios públicos das sociedades organizadas,

conceito apresentado por Flávio Heinz, em Por outra História das elites. Seus estudos,

partem de análises historiográficas de pesquisas sobre as elites, centrados especialmente

na análise das metodologias utilizadas desses estudos. Heinz, usando a metodologia de

biografias coletivas, pontua algumas perspectivas sobre os mais diversos tempos

históricos, demostrando que os estudos sobre as elites são tradicionalmente entranhados

de valores dicotômicos que muitas vezes impedem análises mais objetivas.

Segundo o estudioso, antes do início da República, os cargos mais altos eram

reservados para uma pequena elite escolhida pela monarquia hereditária e seus

sucessores, “(...) procedimentos democráticos somente eram empregados para preencher

cargos locais, provinciais e alguns parlamentares.” Com a Constituição de 1891, ficou

estabelecido que se realizassem eleições para praticamente todos os postos dos poderes

executivos e legislativos.

Também utilizamos suas concepções no entendimento de que no início do novo

regime essa intenção, de modo geral, não fora plenamente cumprida, haja vista os

líderes estivessem sempre tentando se reeleger ou colocar seus sucessores como forma

de manter-se no poder. A democracia passou todo o século XX numa gradual tentativa

de aperfeiçoamento. Segundo Heinz:

Nos primórdios do século XX, a elite política coincidia bastante com as elites

sociais, econômicas e intelectuais. Cada vez mais, porém, disponibilizou-se o

acesso ao cargo público a indivíduos da classe média, de modo que a elite

política não mais se sobrepunha tanto às outras. Carreiras políticas tornaram-

se meios de mobilidade ascendente para pessoas talentosas com qualificações

certas. Essa tendência trouxe um certo grau de democratização à sociedade

brasileira, porque a liderança não mais estava restrita a um pequeno número

de pessoas. (HEINZ, 2006, p. 28)

Podemos intuir a partir de Heinz que “as elites políticas coincidiam bastante com

as elites sociais, econômicas e intelectuais” são intelectuais católicos que estavam

presentes nas mais diferentes rodas de discussão, tinham contato com pessoas

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pertencentes aos mais diferentes setores da esfera pública, já que, como foi dito, a Igreja

e o Estado tinham se separado.

Embora diversas obras não tratem diretamente dos jesuítas, são importantes para

análise das relações entre as ordens e congregações religiosas católicas, o estado e a

sociedade do período em questão, entre elas destacam-se: o Historiador cearense João

Alfredo de Sousa Montenegro, na obra Evolução do catolicismo no Brasil, nos

fornecendo as pistas necessárias ao entendimento contextual de como a Igreja consolida

sua influência nessa sociedade republicana:

Consolidada a organização republicana, acomoda-se a Igreja ao novo regime

político começando a plantar as bases de um trabalho pastoral duradouro e

marcante, o qual é orientado pela concepção religiosa da vida, não de todo

uniforme ao longo de sua ascendência, mas desdobrando-se com

extraordinária capacidade de resistência às pressões da secularização, num

conservadorismo recebido das fontes católicas europeias com o pontificado

de PIO IX. (MONTENEGRO, 1972 p. 154)

Ainda de acordo com Montenegro, percebemos que através de uma herança

cultural, o moralismo, juntamente a necessidade de “ordem”, formou-se um sistema de

valores, que já vinha de longe e ia se consolidando na república, integrando-se como

elemento-chave numa concepção religiosa da vida. Entretanto, esse sistema de valores

nasceu em meio à ebulição nacionalista, sofrendo o impacto da crise da quebra da

hegemonia católica no Brasil, o pensamento católico não pode fugir à influência das

novas correntes ideológicas.

A partir daí e com base em Emanuela Sousa Ribeiro, na sua tese de Doutorado

Modernidade no Brasil, Igreja Católica, Identidade nacional – Práticas e estratégias

intelectuais: 1889-1930, vimos que a Igreja se adaptou-se à modernidade, usando uma

abordagem da religião adaptada aos novos preceitos modernos para manter o moralismo

cristão e a modernidade atrelados.

Isso nos levou a necessidade do entendimento de outro aspecto: a importância do

catolicismo na formulação de uma identidade nacional. A noção de nacionalidade na

República Velha supervalorizava os modelos estrangeiros, passando o nacional a ser

mais forte só na década de 30 e 40. Embora a separação entre Igreja e Estado tivesse

sido feita e houvesse essa supervalorização do modelo estrangeiro, existia uma busca

pela formação de uma identidade nacional. Símbolos que unissem a nação naquele

momento eram de imprescindível importância, pois, caso contrário, as elites

republicanas veriam a nação fragmentada em pouco tempo.

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Essa busca por algo que unisse a nação é abordada no livro A formação das

almas: o imaginário da República no Brasil, de José Murilo de Carvalho. Usando como

fontes documentos históricos, tratados políticos e obras literárias, o historiador e

cientista político ligado à UFRJ, possui por temática a busca por símbolos e mitologias

a serviço do sistema político. A busca de “Heróis” para esta nova República e a não

aceitação da cópia da simbologia francesa, representada em forma de mulher, contribui,

inevitavelmente, para a manutenção do povo como coadjuvante da vida política do

Estado. Tais fatos provam a imutabilidade de valores e estruturas na dinâmica

institucional, com a proclamação da República, uma vez que a cultura do patriarcado já

estava arraigada em nossa sociedade. Entre os vários exemplos retratados pelo autor, há

a figura de Tiradentes, “O Cristo cívico”, tido como a representação do modelo

patriarcal cristão, que continuava a vigorar no Brasil, legitimando, assim, os homens

brancos e cristãos católicos do poder.

Percebendo o quanto essa busca de uma identidade nacional era importante, pois

a modernidade tinha trazido a falta de interesse do homem para com a esfera pública. O

catolicismo vem, assim, como auxílio para a construção da nação utilizando as

influências sociais como ferramentas para se fazer presente nas instituições políticas.

Isso pode ser percebido no Programa de Ação Católica, no capítulo que mostra os

deveres dos cristãos diante da política e dos ramos da esfera pública:

(...) Lacordaire: ‘depois do serviço desinteressado de Deus, não conheço nada

mais heróico que o serviço público do homem de Estado. Seria comparável a

renuncia dos católicos a colaborar na política, até certos respeitos, ao chefe

de família que negligenciasse o andamento e bem estar do seu lar. Que outra

cousa é a Pátria sinão o prolongamento da Familia? Demais, cooperar no

governo de um país é para o catolico uma ocasião oportuna de restaurar o

domínio de Cristo na Sociedade. Ensina-o o Papa atual quando disse: ‘Bem

que se abstenha da política de partido, a Ação Catolica quer preparar-se

para fazer a boa política; quer formar politicamente as conciencias dos

cidadãos, forma-los política e cristianamente... Não só a Ação Catolica não

dificulta aos particulares a participação na boa política, mas até lhes inculta

isso como dever rigoroso, pondo-os em condição de intervir na política com

uma conciencia mais iluminada e mais profunda. A Ação Catolica como

ação católica não faz política, ela quer apenas ensinar aos catolicos a

fazer da política o melhor uso, ao qual são obrigados todos os cidadãos e

os catolicos de um modo particular. (grifo nosso) (NERY, 1933, p.107)

Pode-se ver que o projeto de Recristianização, Recatolização e Restauração

Católica, podia servia de estratégia de reaproximação política Esse fato fica evidente

em outras obras da historiografia brasileira que embora divirjam quanto ao especto

cronológico e a questões de nomenclatura, sustentam esse entendimento, sendo,

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portanto, quase unânimes de que a ideia de esses projetos foram gestados no fim da

República Velha e consolidados na Era Vargas, mostrando que o termo Restauração

foi o termo usado pelos próprios agentes da época, sendo encontrado na própria

documentação, e sobre o qual nos aprofundaremos no decorrer do texto.

Na verdade alguns historiadores atribuem a Bruneau a inauguração de uma

corrente historiográfica que afirma que nos trinta primeiros anos da República houve

uma brusca separação entre Igreja e Estado, ocorrendo uma reaproximação apenas em

1921, com a criação da revista A Ordem que implanta as bases da aproximação da

Igreja, que é consolidada apenas no Estado Novo (RIBEIRO, 2009).

Quanto aos aspectos do projeto de Romanização, alguns autores mais clássicos,

como Bruneau, por exemplo, acreditam que “por volta dos anos 20 (num espaço de duas

a três gerações) o Catolicismo romano já estava implantado no Brasil, deixando

sobreviver o antigo catolicismo brasileiro apenas em setores marginais” (Bruneau,

1974. p. 140). Segundo o autor, por volta de 1922 corresponderia também o fim do

período de consolidação do catolicismo romanizado no país.

Já para Alípio Casali, cuja interpretação nos filiamos, existem sinais muito

anteriores aos acima citados, como, por exemplo, a Carta Pastoral ao Clero a aos Fieis

da Arquidiocese de Olinda de D. Sebastião Leme da Siqueira Cintra em 1916 e sua

atuação posterior como Cardeal no Rio de Janeiro que servem de marcos para a

reaproximação da Igreja com o Estado no Brasil.

D. Leme, por sua vez, com a Carta Pastoral de 1916 tornou-se, segundo certa

corrente, _cujos alguns autores serão mais destacados a seguir_, aquele que inaugura os

trabalhos de Restauração Católica no Recife, estabelecendo as diretrizes daquilo que

seria o programa da Ação Católica responsável pelo incentivo e criação de uma série de

instituições católicas leigas, assistencialistas, de intelectuais, de caridade, escolas, etc.

Consideramos também Sérgio Miceli, que em vários estudos sobre o processo de

Romanização do catolicismo brasileiro defende que era clara a noção que os projetos

clérigos nacionais, em especial do episcopado, em conjunto com as autoridades romanas

faziam parte de um conjunto de ações para regeneração da Igreja Brasileira.

Ainda nessa linha de pensamento, citamos o livro Fé, Saber e Poder – os

intelectuais entre a Restauração Católica e a política no Recife (1930-1937) de Carlos

André Silva de Moura, que ao abordar a figura de D. Leme e a história da recatolização

do Recife, que vem desde publicação da Carta Pastoral de 1916, mostra a contribuição

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dos “letrados” e leigos da Faculdade de Direito do Recife às empreitadas da Igreja na

restauração da política para o pensamento católico.

A obra Igreja Católica e a política no Brasil, de Scott Mainwaring, brasilianista

de nova geração, traz à historiografia esse tão importante olhar estrangeiro sobre a

interação entre Igreja Católica e a política brasileira. Além disso, o status de não

católico o deu ainda mais autonomia e o necessário distanciamento à análise de suas

fontes, coletadas na época que trabalhava no Instituto Brasileiro de Desenvolvimento

econômico e Social (IBRADES), centro jesuíta no Rio de Janeiro. Scott analisou a

temática a partir de documentos e entrevistas coletados em várias cidades do Brasil,

inclusive em Recife, aos quais teve acesso enquanto trabalhava no instituto.

O argumento-chave de sua obra é o de que a Igreja é uma instituição, e como tal

defende seus interesses. Logo, qualquer análise sobre ela deve partir dos aspectos que

compõe essa instituição. No caso da Igreja Católica, devemos levar em conta que as

maiores tensões internas não se dão entre a base e a hierarquia, mas entre as inúmeras

concepções de missão da Igreja. Diferentes modelos geram diferentes interesses, de

modo que o desenvolvimento político foi o especto que Mainwaring mais deu ênfase,

haja vista a instituição (ou a missão que a representa) acreditar que o é. Essa crença

pode derivar dos mais diferentes contextos, pois inserida na sociedade, a Igreja

acompanhará as mudanças sociais nela ocorridas, ou servirá de componente inspirador

ao questionamento da ordem.

No caso do período Neocristandade, que toma como marco inicial a publicação

da Carta Pastoral de 1916 do cardeal D. Leme (periodização a qual nos filiamos). A

partir de então, dissolvido o regime do padroado, a Igreja possuí maior autonomia para

atuar nas mais diferentes esferas. Os movimentos de base social da Igreja naquele

momento não podiam ser negligenciados, pois eram uns dos mais importantes canais de

manutenção política da Igreja. Uma aproximação das elites governamentais era

realizada através das estratégias de estreitamento e inserção do católico leigo na defesa

dos interesses institucionais.

Para Scott, (concordamos com ele), a questão não é “se” a Igreja estava

envolvida na política, mas sim “como”. Ele parte do pressuposto de que a Igreja em

muitos de seus segmentos no período denominado por Neocristandade estava

abertamente envolvida com a política, além de enxergarem o modelo educacional como

pertencente ao grupo de interesses indispensáveis ao aumento da influência católica na

sociedade.

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Já em relação ao enfoque de nossa pesquisa, é interessante lembrar que diversos

trabalhos já foram publicados sobre os Jesuítas e a Companhia de Jesus, abordando as

polêmicas em torno da validade das ações desta Ordem religiosa. Em relação aos

autores pernambucanos mais recentes que trabalharam esse tema, como por exemplo,

Nilo Pereira6, e as contemporâneas Giselda Brito

7 e Zuleica Dantas

8, Newton Cabral e

Ferdinand Azevedo.

Entretanto, em relação à proximidade de nosso objeto, destacamos dois autores:

o primeiro é Ferdinand Azevedo9 com a obra A Missão Portuguesa da Companhia de

Jesus no Nordeste 1911-1936, cuja tese central, orbita em torno das razões pela escolha

do Brasil como refúgio do restabelecimento da Legislação Pombalina em Portugal,

relatando que os Jesuítas viam o Brasil, não apenas um país com afinidades culturais,

linguísticas e religiosas, mas um excelente refúgio proporcionado por um contexto

histórico-político favorável.

Já o segundo, é Newton Cabral10

com a obra Memórias de um cotidiano escolar:

A Universidade Católica de Pernambuco, 1943-1956, cuja abordagem sobre a fundação

da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Manuel da Nóbrega, em 1943, atual

Universidade Católica de Pernambuco, inicia-se com as discussões sobre a tendência

nacional de criação de instituições de Ensino Superior católica e a mudança de enfoque

do Colégio Manuel da Nóbrega, considerado por essa faculdade o “centro do trabalho

dos Jesuítas em Pernambuco. A faculdade era considerada, não apenas a “continuação

do apostolado educacional para alunos do Colégio Nóbrega”, em sentido estrito, mas

também o “coroamento do projeto de recatolização” em sentido amplo.

6 Foi Professor Emérito da Universidade Federal de Pernambuco, Membro da Academia de Letras

Jurídicas, Membro da Academia Nordestina de Letras e Arte, Vice presidente da Academia

Pernambucana de Letras “Conflitos entre a igreja e o estado no brasil”, “A Encíclica 'Rerum Novarum' e a

condição operária”, “ A expulsão dos Jesuítas de Pernambuco”. 7 Possui publicações como: A base cristã do integralismo em Pernambuco; Política e Religião: a

construção da ordem feminina no Brasil e em Portugal do séc. XX; O universo católico como espaço

circulante da produção de sentido dos discursos integralistas no pós-1930 8 Possui trabalhos como: Religião e Sociedade: identidades ou singularidades?;Marianos

Recatequizando Pernambuco; Mercado e Religião na América latina. 9 Era graduado em Filosofia pela Gonzaga University (1963), mestre em História pela Loyola

University of Los Angeles (1968) e doutor em História pela CatholicUniversityofAmerica (1974). Norte-

americano, entrou na Companhia de Jesus em 1957 e chegou à Universidade Católica de Pernambuco em

75, tendo sido Provincial do Nordeste de 96 a 2001. 10

Entre seus trabalhos encontramos: A Congregação Mariana da Mocidade Acadêmica no Recife:

uma atuação religiosa, política e social, Repercussões da romanização da Igreja nos anos iniciais da

Universidade Católica de Pernambuco e Nascida do coração da Igreja no centro do Recife: Universidade

Católica de Pernambuco, 70 anos de educação superior católica.

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2. CAPÍTULO 1: O LUGAR DO COLÉGIO MANUEL DA NÓBREGA

Entendemos que o CMN, como um dos muitos outros, posicionou-se como

legítimo porta-voz da visão de mundo católico cujo aparente objetivo final, naquele

momento, de seu conjunto de esforços era sacralizar a política, segundo apontam nossos

documentos. Contudo, ao encararmos o CMN como um espaço de produção destes

discursos de recristianização da política, precisamos estudar também as relações sócias,

econômicas e culturais mantidas pelo colégio, assim como as questões que envolvem

essas esferas. Foi então que percebemos que os discursos produzidos pelos sujeitos que

compõem esse meio não são apenas “corpos flutuantes” (CERTEAU, 2000), são falas

que enquanto subjetivavam o seu tempo, estavam situados no seu tempo.

Além disso, não podemos entendê-lo puro e simples como ambiente que produz,

pois, ao estar situado num determinado contexto social, econômico, político e cultural

ele acaba por se submeter a imposições deste contexto, assim como se liga aos

privilégios que estão enraizados em cada particularidade. Afinal, que instituições

formaram o sujeito? Quais têm relação direta com sua visão de mundo? É, pois,

impossível analisar o discurso histórico independentemente da instituição em função do

qual ele se organiza silenciosamente (CERTEAU, 2000), ou se pensar no discurso,

única e exclusiva pela sua fala, sem analisar de suas práticas, e vice versa.

Desta forma os principais debates em que os agentes do CMN se envolveram, ou

que eram recorrentes no período histórico que estudamos estão presentes neste capítulo

com o intuito de dar o primeiro passo em situar as práticas cotidianas da educação

jesuíta recifense ao contexto ideológico a que se vincula, tentando determinar qual o

papel desta instituição num campo político que abraça os ideais ditos de restauração

católica.

Veremos como os sujeitos do CMN pareciam ocupar um lugar privilegiado junto

às ordens diretivas políticas por conseguirem, através de sua capacidade discursiva,

“construir” simbolicamente um governo. E aqui me entendo fazendo apenas uma

conclusão lógica natural, daquilo que tradicionalmente não seria nenhuma novidade ao

mundo acadêmico, apenas indicando aquilo que historicamente já se tornou natural e

elementar: instituições religiosas e de ensino quase sempre ocuparam o papel de

produtoras de sentido dos tempos históricos.

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Sendo assim, eles ocupam naturalmente um posicionamento de destaque num

“lugar social” carregado de pressupostos, ao se colocarem na defesa daqueles interesses

políticos e da estrutura a que estão vinculadas, e acabando por colocar em risco a lógica

de qualquer sistema de governo que tendam a negligenciá-las, uma vez que um governo

muitas vezes necessita do apoio de um capital simbólico para legitimá-lo.

Usamos, neste capítulo, documentações como encíclicas papais publicadas desde

o Pontificado do Papa Pio IX ao de Pio XI, o programa de Ação Católica em D. Leme, e

uma série de documentos oficiais proclamados pela Igreja com o intuito de neles,

encontramos as pistas iniciais dos interesses confluentes que permitiram a aproximação

dos dirigentes da dita república laica a segmentos que de inicio poderiam parecer

antagônicos.

Ao analisarmos o CMN, levamos em consideração também sua condição de

vinculo a uma instituição secular que por maiores contradições que possam existir

internamente, acaba trazendo consigo uma serie de posicionamentos previamente

estabelecidos por um ordenamento hierárquico que, segundo encontramos nos diários,

era obedecido. Especialmente pela força do movimento de Romanização no Recife, ao

menos em relação aos Jesuítas, referendamos documentos romanos em nosso texto, que

em sua maioria não se tratam especificamente do caso pernambucano, mas que parecem

ter sido, ao estudarmos nossas fontes, inspiração para uma série de ações no Colégio

Nóbrega.

Um ótimo exemplo introdutório é a carta encíclica Syllabus, que foi elaborada

por uma comissão de cardeais, possuindo 80 proposições reunindo condenações que o

Papa Pio IX já havia feito em vários escritos. Nele, que foi escrito na metade do século

XIX, encontramos posicionamentos claros e objetivos de afirmações que oficialmente

eram considerados “Erros destes tempos”, que tocaram nos mais diversos assuntos,

consolidando o posicionamento da Igreja em debates que se tornaram comuns mais

tarde, no fim do século XIX e início do XX:

18. O protestantismo nada mais é do que uma forma diferente da mesma

verdadeira religião cristã, e nesta, como na Igreja Católica, é possível agradar

a Deus.

45. Todo regime de escolas públicas nas quais se educa a juventude de

qualquer estado cristão, feita exceção apenas de algum modo aos

seminaristas diocesanos, pode e deve ser atribuída à autoridade civil, de tal

modo que não seja reconhecido a qualquer outra autoridade nenhum direito

de imiscuir-se na organização as escolas, no regulamento dos estudos, nas

colações de graus e nas escolhas e aprovações dos professores.

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47. A condição ideal da sociedade civil requer que as escolas populares – que

estão abertas a todas as crianças de qualquer classe popular, e dos institutos

públicos em geral, destinados ao ensinamento das letras e disciplinas mais

rigorosas e aos cuidados da educação da juventude – sejam esvaziados de

toda autoridade, força de regulamentação e ingerência da Igreja, sendo

submetidas ao inteiro controle da autoridade civil e política, segundo o

beneplácito dos soberanos e em conformidade com as opiniões comuns do

tempo.

49. Os católicos podem aceitar aquele sistema de educação da juventude que

seja separado da fé católica e do poder da Igreja, e que diga respeito somente,

de modo exclusivo ou ao menos primário, ao conhecimento das coisas

naturais e aos âmbitos da vida social terrena.

55. A Igreja deve ser separada do Estado e o Estado da Igreja

66. O sacramento do matrimônio outra coisa não é do que elemento acessório

ao contrato e deste separável, e o sacramento consiste apenas numa benção

nupcial.

67. Por direito natural o vínculo do matrimônio não é indissolúvel, e em

diversos casos o divórcios pode ser sancionado pela autoridade civil.

68. A Igreja não tem o poder de introduzir impedimentos dirimentes no

matrimônio, mas tal poder compete à autoridade civil, da qual devem ser

removidos os impedimentos existentes.

73. Um verdadeiro matrimônio pode subsistir apenas sustentado pelo contrato

civil, sendo falso que o contrato de matrimônio entre cristãos seja sempre o

sacramento, ou que o contrato é nulo se for excluído o sacramento

74. As causas matrimoniais e os esponsais por sua própria natureza dizem

respeito ao foro civil. (IGREJA CATÓLICA, 1846)

Com o intuito de compreender os trabalhos desenvolvidos no Recife pelos

Jesuítas no CMN, nossas análises começam com a Encíclica Rerum novarum no

exercício do magistério divino a ele confiado, por ter sido sob seu impulso que nasceu

uma verdadeira ciência social católica. A partir daí foram surgindo por toda a parte e

cada vez mais numerosas as associações, fundadas segundo os conselhos e diretivas da

Igreja e ordinariamente sob a direção do clero de mútuo socorro aos mais diversos

estratos sociais, inclusive para operários (LEÃO XIII, 1891).

Em seguida, o Papa Pio X, trouxe grande influência aos trabalhos desenvolvidos

em grande parte do Nordeste após o seu Pontificado. Aqui, precisamos destacar seu

papel como uma das grandes inspirações à formulação das estratégias posteriormente

desenvolvidas por D. Sebastião Leme. Citado várias vezes pelo próprio clérigo, ele

encontra no Sumo Pontífice grandes inspirações em relação ao ensino da doutrina cristã,

além de percebemos grandes confluências em relação ao modo de ensino da doutrina

através do catecismo de adultos (auxiliado pelos leigos quando necessário), e da enorme

necessidade da construção de escolas ligadas a este propósito. Por isso, algumas

encíclicas do Prelado, ganham destaque em nosso texto.

Considerado o marco inicial dos trabalhos da ação católica desenvolvidas em

Pernambuco, a Carta Pastoral de 1916, escrita por D. Sebastião Leme da Siqueira

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Cintra, saudando a diocese de Olinda, será supracitada nesta pesquisa, pela relação de

proximidade que os Jesuítas do Nóbrega possuíam com ele e o apoio completo que

forneciam a seus projetos.

A partir disso, analisaremos primeiramente os mais fortes posicionamentos

oficiais da Igreja com as quais o colégio, segundo nossa documentação, compactua,

visando encontrar neles, os fios condutores que levaram uma ligação entre as

comunidades eclesiásticas e os leigos, para que através deles ocorresse uma ligação, a

primeira vista improvável, entre Igreja e Estado Laico.

Delimitando mais este recorte espacial, trazendo-o a realidade brasileira iremos

notar a série de reafirmações destes dispositivos nas posteriores pastorais coletivas e

especificamente em Recife através do programa de Ação Católica.

A validade da Ação Católica em seu estreitamento de laços políticos e da

eficiência na incorporação do apostolado leigo, nos trabalhos iniciados na Arquidiocese

de Olinda e Recife é reconhecida mais tarde pelo Papa Pio XI em carta ao clérigo

Sebastião Leme

Estamos convencidos de que a Ação Católica é uma grande graça de Deus

para os fiéis que são chamados a colaborar mais estreitamente com a

hierarquia eclesiástica, com os bispos e os sacerdotes, que irá sempre

encontrar pessoas dispostas nas fileiras da Ação Católica para ajudá-los de

forma eficaz na sua tarefa sagrada diária. Na verdade, quem não vê que,

mesmo nos países católicos, o número de sacerdotes é insuficiente para dar a

todos os fiéis a assistência necessária? (PIO XI, 1935)

Sua validade não foi reconhecida apenas pelo auxílio ao clero, mas pela forma

como ampliou e ordenou estes trabalhos, coordenando este reforço de forma estratégica

a alcançar os mais variados setores, convencendo-os através do auxílio mútuo – e ainda

sim numa relativa harmônico no convívio com os outras esferas sociais para defender

seus interesses, o que até a década de 30 vai consolidar o trabalho da Igreja com as

associações leigas:

Deve também reconhecer que as associações nascentes não só vivem em

perfeita harmonia, mas também ser devidamente coordenada em unidade

orgânica mais perto e mais; associações da paróquia, a diocese eo Conselho

Nacional de Diretores estão unidos e conectados. Como membros de um só

corpo, como as coortes de um exército invencível. Forças da União, não

espalhar; não um concurso ocasional funciona, mas ordenada colaboração

para o bem comum; sem compressão da floração espontânea de associações

individuais, mas o desenvolvimento dos partidos e forças, para que a

dignidade e beleza, em uns componentes orgânicos complexos, brilhar em

todo o corpo. Seria, portanto, um erro e um dano grave se paróquias ou

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dioceses surgir associações de fiéis com fins semelhantes aos da Católica,

mas completamente independentes e de forma coordenada para a Acção

Católica, ou pior, entrando em conflito com ele. Os benefícios especiais, ou

limitada a um pequeno círculo de fiéis de tais associações permanecem

completamente eliminados do dano que causaria com dispersa e quebrar e,

por vezes, colocá-los em uma colisão entre as forças católicas; estes, como

dito acima, nos tempos atuais deve ser acordado e associados, sob a

orientação dos Pastores, para o benefício da Igreja. (PIO XI, 1935)

O Programa de Ação Católico, oficialmente só ganha esta roupagem na década

de 1930. Todavia, como já demonstramos através de nossos destaques historiográficos,

e pelos indicativos de nossa documentação, os projetos de recristianização e

recatolização no Recife dentro da Ação Católica são muito anteriores aos anos 30,

tendo de fato por marco inicial o apostolado de D. Sebastião Leme, em 1916, com a

publicação da Carta Pastoral de saudação.

2.1. Em defesa da moral e dos bons costumes

Em referência aos costumes da modernidade, tanto os de cunho moral quanto os

advindos com o saber científico, disse o Papa Pio XI: “Somente uma rígida disciplina

dos costumes, energicamente apoiada pela autoridade pública, poderia ter afastado ou

mesmo prevenido tão graves inconvenientes” (PIO XI, 1931). Esta lógica utilizada por

Pio XI, tem aplicabilidade especial no Brasil pós-império, onde pelo seu contexto de

militantismo combinado a de hierarquia e de elites, faz parecer que as únicas

alternativas viáveis de projetos pensados pelo catolicismo só alcançariam eficácia se

formulados e dirigidos sempre de cima para baixo (GONÇALVES, 2008).

Contudo, as hierarquias católicas não podiam atuar isoladamente, num sistema

de cunho ditatorial, pois, elas foram construídas por meio de uma ação conjunta dos

mais variados setores sociais que apoiavam a intelectualidade. Isso significa dizer, que

suas ações de cunho hegemônico, não necessariamente, impunham seus preceitos

usando os mecanismos legais do Estado absolutamente. O poder simbólico das mais

variadas esferas que compunham a estrutura social, em sua maior parte, se mostraram

eficientes a esse propósito (ANDRADE; ALMEIDA, 2001).

Segundo o historiador Walter Valdevino do Amaral, nas primeiras décadas do

século XX, a modernidade urbana vivida pela elite recifense longe de se chocar com o

catolicismo, confluiria quando o assunto era reordenar e disciplinar a sociedade. Essas

elites queriam constantemente delimitar seus espaços sociais e estabelecer modelos de

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comportamento e família, além de criar referências que as diferenciassem de outros

setores da sociedade (AMARAL, 2012).

Ocorre uma hierarquização dos costumes, trazendo um correto “modo de ser”,

extremamente ligado ao movimento de “boa imprensa”, principal instrumento de

comunicação com as massas. Apoiado pela Ação Católica, esse movimento era de

extrema relevância, pois, “ao pé da escola, o apostolado moderno toparia com a

imprensa”, porque eles não eram apenas folhas de tinta, eram “o livro do operário e do

burguês” (NERY, 1933. pg. 92) perpassando pelos mais diversos espaços.

Ainda segundo Walter Amaral, naquele período, muitos esforços da Igreja se

intensificaram com o intuito de criação de uma imprensa que estivesse a serviço da

defesa da moral, da ética e da fé cristã. De forma que a comunidade católica começou a

difundir e preservar um jornalismo que defendesse uma “verdade católica” (a boa

imprensa), para que ela fosse usada em combate a um jornalismo que a cada dia mais

difundisse a “irreligião” e a “imoralidade” (má imprensa) (AMARAL, 2012).

Sabe-se por exemplo que a sensualidade ameaça arruinar a constituição

juvenil dos estudantes; torna-los membros raquíticos, definhados, inúteis à

sociedade e a privar a nossa pátria de seus filhos, levando-os a senilidade

precoce. A esse inimigo nacional a nossa Liga declara guerra de morte,

procurando premunir os seus membros contra ele por muitos modos.

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1924-1927. pg.45)

Foi por causa desse pensamento que em janeiro de 1910 foi criado o Centro da

Boa Imprensa. Aprovado pelo Cardeal Arcoverde e pelo episcopado brasileiro, possuía

entre as finalidades de seu estatuto, a de “favorecer a fundação e manutenção de bons

jornais e revistas. Formar jornalistas e escritores; amparar jornalistas católicos na

indigência” (SOARES, 1988. pg. 186 apud AMARAL, 2012).

Logo após, no Congresso dos Jornalistas Católicos, foi criada a Liga da Boa Imprensa,

que tinha como principal função o auxílio financeiro e administrativo do Centro da Boa

Imprensa. Nela, grupos de católicos deveriam contribuir mensalmente com a quantia de

dez mil réis.

Isso ocorria porque os periódicos católicos representavam muito mais que um

projeto de comunicação social, pois se havia percebido que o jornalismo influía na

consciência de parte da sociedade urbana no século XX. Logo, era imprescindível a

organização de jornais e revistas que compactuassem com o modo de ser católico. Fato

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que resultou, ainda em 1913, num total de 140 publicações periódicas, segundo dado

estatístico encontrado por Walter Amaral em seus estudos.

A partir disso, um conjunto de ações solicita que instituições primárias de ensino

incentivassem a formação de jornalistas, muitas das quais com o tempo evoluíram,

tornando-se elas próprias instituições superiores de formação de jornalistas. O que

torna mais explícito o Programa de Ação Católica: “é necessário ir mais adiante, criar e

sustentar a imprensa católica” (NERY, 1933. pg. 93) e criar “uma escola formadora de

jornalistas” (NERY, 1933. pg. 94).

Sendo a imprensa usada como difusora da verdade católica, alguns debates

calorosos na imprensa sobre o ensino entre liberais e católicos são citados em vários

livros. Um dos argumentos que nos chama atenção nesse momento é a referência ao

constante crescimento dos índices de criminalidade, atribuindo isto a falta da disciplina

e da moral, antes fornecida pelos clérigos, e falta da formação na escola de uma

instrução corretiva dentro da religião católica (CARVALHO, 2007).

A “boa imprensa”, além de difusora da verdade católica, justificava e blindava a

moral dos agentes da Igreja, por esse motivo a proximidade direta entre produtores da

imprensa e os sujeitos das mais diversas comunidades eclesiásticas tomaram um papel

estratégico na ação católica nos espaços urbanos, tornando-se “usufrutuários de

vantagens sociais” (GONÇALVES, 2008. pg. 73).

Essa justificativa ia além dos jornais católicos, aqui em Recife a lógica de

“Contra a Imprensa, Imprensa” usadas nos estudos de Walter Valdevino, chega não só à

imprensa católica como aos jornais seculares. Nos recortes de nossa pesquisa, seus

estudos foram usados em especial para cobrir os ataques relacionados à venda do

Palácio da Soledade11

à Companhia de Jesus.

De toda a Imprensa local, apenas o ‘Jornal do Recife’ se atreveu a censurar

ligeiramente o Arcebispo por ter cedido o seu Palácio aos Jesuítas; mas

vendo-se só sua lucta, depressa se calou. E mais tarde todos os jornaes do

Recife se recusaram a aceitar contra o Arcebispo e contra nós, de modo que

os maçons se viram obrigados a crear um jornaleco em Pau d’Alho, por nome

Radical, para extravasarem a sua bílis. (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-

1929 p. 08)

Alguns anos mais tarde, o Jornal da Noite publicou uma matéria criticando a

venda do Palácio da Soledade aos Jesuítas, e algumas discussões voltaram sobre a

11

Anexo D.

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questão, a qual, segundo alguns autores foram um dos principais motivos a por em crise

o apostolado de D. Leme na Arquidiocese de Olinda e Recife.

14/06/1921 – “O Jornal a Noite[?] publicou uma carta do Conego[?] Azevedo

censurando a _________[?], pelo Arcebispo, aos Padres Jesuítas do Palácio

da Soledade, protesta e diz que Palácio tem de voltar para a ________[?]. O

jornal ___________[?] a _______[?] do Conego e levanta contra o Sr.

Arcebispo numa campanha nesse sentido. A imprensa unanimemente não

______[?] parte e alguns, como o Diário de Pernambuco e o Jornal do

Comercio escreveriam algo de _______[?] para os Jesuítas. (DIÁRIO DE

FUNDAÇÃO 1917-1929. pg. 135)

Esta publicação a qual se referiu o diário de Nóbrega foi respondida em nota

publicada no Jornal do Comércio no exemplar do dia seguinte:

O Palácio archiapiscopal – Remette-nos o Padre João Baptista Golçalves

diretor do Collegio Nóbrega: ‘A directoria do Collegio Nóbrega roga a v.

exc. A fineza de mandar publicar no seu conceituado jornal o seguinte, em

referência ao editorial d’’A Noite’ do dia 13 do corrente, favor pelo qual se

confessa desde já agradecida:

1) Os Jesuítas não cogitam nunca em negociar com firma alguma

conhecida, ou desconhecida, qualquer parcela do terreno da chacara do

Palacio da Soledade;

2) Quando os Jesuítas entraram em posse do referido Palácio, não

encontramos nele, nem na Capella, quadros alguns, ou objectos

artísticos;

3) Da biblioteca do Palacio archiapiscopal nenhum livro passou ao uso dos

Jesuítas;

4) Os Jesuítas não se apossaram do Palacio da Soledade com altivez ou em

represalia de quaesquer factos precedentes: encontraram na posse dele

mediante prévio contracto, e pelo preço estipulado. (JORNAL DO

COMÉRCIO, 15/06/1921)

Poucos dias depois, em 18 de junho de 1921, outra opinião foi emitida em

matéria publicada ainda sobre o assunto. Intitulada “A venda do palácio da Soledade”,

ela traz argumentos defendendo a moral jesuíta, de D. Leme e mostrando como a

aquisição do palácio pela Companhia de Jesus só beneficiou os recifenses, quão injusta

e anacrônica é a “campanha” agitada naquele momento contra eles.

Em primeiro lugar falou-se do inoportuno momento da oposição à compra da

propriedade, pois a venda já tinha sido realizado há quatro anos, não ocorrendo na época

nenhum protesto significativo. Portanto, contraditoriamente eram “protestos violentos

por parte daquelles mesmos que a nada se oppuzeram, dando-lhe pelo contrário, o seu

assentimento”. Em segundo, expôs-se a legitimidade da aquisição, acordada a quantia

de 300 contos de réis pelo bem (JORNAL DO COMÉRCIO, 18/06/1921).

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Depois, mostrou-se como a capital pernambucana só teve a lucrar com o

negócio, pois ganhou um “collegio onde o ensino é ministrado com solicitude e

dedicação”, por isso o argumento de “suposta revolta da consciência católica” não se

sustentava, uma vez que a propriedade não foi utilizada como “sede de qualquer clube

profano, onde as jogatinas e a orgia desrespeitassem a antiga residência dos bispos desta

diocese”, porém o oposto ocorreu, lá “funciona uma casa de instrucção, e de instrucção

religiosa entregue a sacerdotes competentes e do mesmo credo” (JORNAL DO

COMÉRCIO, 18/06/1921). Isso significava a:

(…) maior prova de que a familia pernambucana se encontra satisfeitíssima

está no prestígio de que tem cercado os jesuítas, confiando-lhe os filhos para

o ensino, de modo que ultrapassa de 500 o numero de crianças cursando o

estabelecimento. (JORNAL DO COMÉRCIO, 18/06/1921)

A manutenção da moral dos Jesuítas e de tantos outros ligados à Igreja era

necessária por serem eles primeiros anunciadores da verdade católica. E foi assim que

terminou aquela reportagem, com ares de revolta pronunciando o quão inaceitável eram

os ataques aos Jesuítas e a figura de D. Sebastião Leme pelo posicionamento sagrado

que eles ocupavam, os quais falavam sempre da boca do próprio cristo.

Através da imprensa secular, também muitos setores da Igreja, inclusive os

Jesuítas do Nóbrega, davam um maior alcance aos trabalhos desenvolvidos, como, por

exemplo, as comemorações do Mês Mariano, que possuíam missas diárias na Capela do

Palácio da Soledade12

.

Ademais, encontramos sinais sutis no Jornal de Comércio do Recife como, por

exemplo, o aumento da coluna de Seção Religiosa, que no início da década de 20 não

chegava a 1/16 por página, dividida com outros credos, passando em meados da mesma

década a grandes colunas de mais de 1/3 da página, praticamente restrita à Igreja

Católica, utilizadas, inclusive, para as publicações das cartas pastorais do Bispo,

chegando a mais de uma página nessas ocasiões.

Além de algumas publicações sobre a “impossibilidade moral” de alguns agentes

públicos de exercerem funções de chefia, inclusive no exército, embora que não nos

deteremos ao assunto por não ser o foco principal desta pesquisa, apontamos isso como

demonstração de grandes espaços de disputas, resultando em vitórias simbólicas

significativas do catolicismo.

12

Anexos E e G.

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Voltando a ideia da existência de uma verdade católica, nesse período ela tinha

como primeiro alvo a recristianização da família, sendo esta uma prioridade da Igreja

que mobilizou ações conjuntas e interligadas. Isso ocorria por ser ela a semente da

sociedade, na qual se encontravam as bases da formação dos sujeitos. Note-se que aqui,

a família ganha uma nova configuração, passando do formato patriarcal de clã das

sociedades rurais para a família patriarcal nuclear (pai, mãe e filhos) dos centros

urbanos.

Sendo assim, a primeira proteção devia ser dada a esse modelo de família

ameaçada pelas lutas a favor do divórcio. Posicionamento que era totalmente contrário

ao defendido pela Igreja, seja em suas esferas locais ou internacionais, que mantinha

posicionamento enfático durante nas primeiras décadas do século XX.

(…) sua [do casamento] consequência primária é a indissolubilidade. Os que

se casam deviam meditar bem estas palavras: o matrimônio não é só

felicidade, mas responsabilidade. Antes dele, é o direito de se amarem,

homem e mulher; depois de contraído é o dever de se amarem os cônjuges.

(NERY, 1933. pg. 80) (grifos originais)

Além disso é direito inalienável da Igreja, e simultaneamente seu dever

indispensável vigiar por toda a educação de seus filhos, os fiéis, em qualquer

instituição, quer pública quer particular, não só no atinente ao ensino aí

ministrado, mas em qualquer outra disciplina ou disposição, enquanto estão

relacionadas com a religião e a moral. (PIO XI, 1937)

Nesse modelo de família nuclear protegida pelo catolicismo se pautava nas

formas de distinção baseadas no papel das mulheres, que segundo o Historiador Walter

Amaral, passaram a ter uma nova identidade e um papel definido, promovendo-se, em

certa medida, uma inclusão social feminina. (AMARAL, 2012).

Embora, as mulheres, passassem a figurar como beneméritas, religiosas,

educadoras e protetoras dos pobres, tornando-se participantes assíduas de atividades

culturais e religiosas beneficentes, não deixaram, por isso, de serem alvos constantes da

rígida disciplina para que as tentações vindas através do cinema e da moda, nas classes

mais abastadas, principalmente, as advindas dos contatos com homens nas fábricas, para

aquelas das classes mais baixas, não as desviassem de seus papeis de imaculadas mães

de família. Isso pode ser observado no seguinte trecho:

Sentimo-Nos horrorizados ao pensar nos gravíssimos perigos a que estão

expostos nas fábricas modernas os costumes dos operários (sobre tudo

jovens) e o pudor das mulheres e donzelas. (PIO XI, 1931)

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Por muitas delas não terem acesso à educação formal, um dos principais veículos

de doutrinamento dessas mulheres eram aqueles periódicos católicos que circulavam na

época. Grandes receptoras dessa modalidade de imprensa, um grande número de

revistas especializadas no público feminino começaram a surgir.

Mais que receptoras, as mulheres também acabaram por se tornarem grandes

fomentadoras desses projetos, pois trabalhavam como arrecadadoras de assinaturas,

chegando em 1919 a Ação Católica Feminina apresentarem 708 assinaturas da revista A

Tribuna ao Arcebispo. (AMARAL, 2012)

Portanto, caberia à boa imprensa difundir um modelo de moral pré-estabelecido

pela Igreja e às elites tanto nas esferas domésticas quanto nas públicas, desestimulando

o consumo daquilo produzido pela má imprensa, para que esta não infectasse a

sociedade com maus costumes, pois era “O dever do católico deante dos abusos é não

assinar tais folhas, nem compra-lás, (…) não consentir que seus subalternos e amigos a

retenham.” (NERY, 1933. pg. 92).

2.2. Relação entre ricos e pobres

Trazendo um individualismo mais centrado no homem e uma progressiva

adaptação às novas formas de interação social, o século XX faz com que a Igreja precise

adaptar os mais diferentes princípios articulando-os num todo orgânico. Neste período,

também existia uma resistência em se abandonar o lugar central que a sociedade

colocava a igreja, haja vista que a partir de então, tanto a ordem vigente pela ideologia

liberal, quanto à alternativa proposta pelos socialistas e comunistas, eram prejudiciais à

instituição. (CAMACHO, 1995).

Defendendo a ideia de que para o comum exercício da economia, uns deveriam

contribuir com o capital, outros com o trabalho; no tópico intitulado “Não luta, mas

concórdia das classes”, a Igreja, manifestada pela encíclica de Leão XIII, tenta

estabelecer seu papel de maior conciliadora dos conflitos sociais.

O primeiro princípio a pôr em evidência, é que o homem deve aceitar com

paciência a sua condição: é impossível que na sociedade civil todos sejam

elevados ao mesmo nível. É, sem dúvida, isto o que desejam os socialistas;

mas contra a natureza todos os esforços são vãos. Foi ela, realmente que

estabeleceu entre os homens diferenças tão múltiplas quanto profundas;

diferenças de inteligência, de talento, de habilidade, de saúde, de força;

diferenças necessárias, de onde nasce espontaneamente a desigualdade das

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condições. Esta desigualdade, por outro lado, reverte em proveito de todos,

tanto da sociedade como dos indivíduos; porque a vida social requer um

organismo muito variado e funções muito diversas. (LEÃO XIII, 1891.

pg.18)

Entretanto, vários grupos questionavam a ordem social e queriam uma

flexibilização dela, o que deu margem a uma série de “novas” doutrinas que pretendiam

abolir a propriedade privada (CAMACHO 1995). Mas a Igreja estava inserida numa

corrente que a defende, mostrando que o fim da propriedade só fere o direito natural de

quem se tenta socorrer. (LEÃO XIII, 1891)

O que pretendemos destacar aqui é o posicionamento de defesa à ordem natural

adotado pela Igreja, que incentivava o auxílio mútuo entre os cristãos através da criação

de associações, pois a ordem natural é irmão auxiliando irmão, contribuindo, assim,

para o nascimento de uma sociedade civil com o auxílio mútuo dos seus pares. Tanto

profissionais liberais quanto empresários, assim como os operários (LEÃO XIII, 1891)

tinham o direito, segundo a Igreja, de criar associações e aquilo que hoje conhecemos

como sindicatos:

(…) não certamente por preconceitos ideológicos nem por uma mentalidade

de classe, mas porque o associar-se é um direito natural do ser humano e

portanto, anterior à sua integração na sociedade política. De fato, “o Estado

não pode proibir a sua formação, por que ele deve tutelar os direitos naturais,

não destruí-los. Impedindo tais associações, ele contradiz-se a si mesmo.

(LEÃO XIII, 1891)

Diante do quadro, a Igreja se vê obrigada a criar sindicatos “neutros” (LEÃO

XIII, 1891) para acompanhar as reivindicações dos trabalhadores, ao mesmo tempo que

não se indispõe com a classe dominante vigente. Assim, a Igreja em seu papel

conciliador, estabelece a “Tríplice relação do salário”, que seria aquela na qual se deve

considerar: o sustento do operário e da família (mulher e filhos); a situação da empresa

(não se pode pôr em perigo o lucro da empresa de forma que ela possa fechar) e as

exigências do bem comum (não se pode pôr em risco a economia pública). (PIO XI,

1931)

Segundo Leão XIII, com a Rerum Novarum, que precisou lidar com o socialismo

e o liberalismo, Pio XI com a Quadragesimo Anno, e lidar com um movimento social

emergente, a solução definitiva para acabar com os conflitos e lutas de classe seria a

caridade, pois esta findaria com o ódio e o despeito do pobre.

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Não sendo uma obrigação legal que deveria ser exigida em tribunais de Justiça, a

caridade era uma obrigação instituída pelo próprio Deus. Sendo assim, não caberia ao

Estado mediá-la, mas à Igreja no exercício de suas competências de representante da

divindade. Dessa forma, se restabeleceria uma harmonia entre as diferentes classes, uma

vez que a raiz dos males da sociedade moderna foi o abandono dos princípios cristãos

(CAMACHO, 1995).

É dentro deste contexto de separação imposta pelo direito natural que a educação

se localiza. Uma vez da impossibilidade de uma educação “amoral” ou neutra, a divisão

social existia e a educação deveria adaptar-se a esta divisão, sendo assim, somente a

Igreja poderia fornecer às crianças a oportunidade de crescimento dentro de sua

realidade, além de estar o ensino religioso nas escolas como um apaziguador dos

conflitos sociais.

Quanto a Igreja, ela recebeu a missão de ensinar da própria boca do Cristo.

(…) Daí o interesse que tem para todos os católicos a introdução do ensino

religioso nas escolas e por conseguinte a obrigação do apostolo leigo de

promover esta reivindicação todas as vezes que houver ocasião para tal. (…)

Amputar o ensino religioso nas escolas é mutilar o homem (…) a educação

amoral, conveniente apenas aos animais irracionais ofende a natureza livre e

moral do homem. (NERY, 1933. pg. 88)

Nota-se que uma educação dualista era mantida entre secundário e ensino

superior contra primário e profissionalizante, no qual o discurso do Estado estava em

fornecer uma educação para todos, “ricos e pobres”. Apoiado pela Igreja, que afirmava

que esse tipo de educação visava atender a demanda socioeconômica das massas, que

era diferente das elites, pois esta era formada para o trabalho, o qual as dignificaria, ao

contrário da igualdade de ensino e a “aristocratização das massas” que criariam um

“proletário de intelectuais sem trabalho”. (ANDRADE; ALMEIDA, 2001) A

legitimação do regime nas massas, logo, efetuou-se através da aliança entre Igreja e

Estado, apoiada em um sistema de representações dos quais os valores católicos se

faziam presentes. Essas relações entre campo religioso e o campo de poder político, a

ordem simbólica assegura e legitima a ordem imposta.

Os espaços escolares, oficiais ou não, se destacavam dentro dos projetos da

Igreja recifense, pois se dariam através delas a manutenção desta ordem específica

apoiada pela restauração católica.

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Para alcançarmos a sua importância basta refletirmos que nella passam longo

tempo os meninos. Bem orientada, desempenha papel nobilíssimo; infiltrada

de máu espirito, torna-se um fóco de infecção para a vida popular. É

evidente, por isso mesmo, que o Episcopado e o Clero não se podem

desinteressar pelos destinos da escola. Trairíamos a nossa missão de pastores.

Official ou não, a escola não pode prescindir do ensino cristão. (LEME,

1916)

O que não impede o sustento da existente divisão entre ricos e pobres,

perpetuada pela própria educação. Mesmo a educação popular deveria ficar a encargo

da Igreja, pois ela já seria tradicionalmente a responsável por isto.

Paul Barbier, em seu estudo sobre o assumpto, mostra como devemos nunca

perder de vista a consideração preciosa de que as escolas populares e

gratuitas, hoje a cargo de governos e municípios, são de instituições

puramente Ecclesiastica. Quando em instrucção popular nem de longe

pensavam os governos, já à sombra das cathedraes e dos presbyterios

floresciam as escolas populares da Igreja. Reconhecem-na os próprios

adversários do Christianismo. Augusto Conte escreveu: O catolicismo foi o

mais eficaz promotor do desenvolvimento popular da intelligencia humana.

(LEME, 1916)

Em tópico especial da carta pastoral D. Leme fala sobre as pregações, e como

elas são feitas de forma errada. Nelas, os padres deveriam aproveitar a oportunidade e

ir além da pregação, pois era necessário que houvesse “ensinamento”, já que

representavam oportunidades que deveriam ser aproveitadas para o doutrinamento das

massas. (LEME, 1916)

Sendo assim, em Recife, projetos mais específicos foram criados para educação

dos mais desfavorecidos, desde a educação escolar formal, através de cursos técnicos

oferecidos de forma gratuita, especialmente desenvolvidos pela ordem dos Salesianos

na República Velha (ARAÚJO e SANTOS, 2013). Contudo, os Jesuítas só se

ofereceram cursos dessa natureza apenas no fim da década de 20 (CONSULTAS, 1917-

1943), dedicando-se com mais ímpeto ao magistério social através de trabalhos externos

de catequese nos bairros mais pobres do Recife (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-

1929).

Quando falamos do convívio entre as classes mais abastadas e os setores mais

pobres da sociedade Brasileira pós-escravocrata do início do século XX, muito antes da

relação entre burguesia e classe operária, não podemos deixar de citar o quase que

intrínseco apartheid, que delimitava aqueles que pertenciam a este ou aquele espaço

usando como único critério a cor da pele.

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O Colégio Manuel da Nóbrega, de acordo com nossos registros, fazia parte de

uma rede de colégios implantados pelos Jesuítas no Brasil naquele período. Estes

colégios eram constantemente supervisionados pelas mais diferentes escalas

hierárquicas de “superiores de missão” de forma que as decisões tomadas estavam quase

sempre interligadas a cadeia de comando responsável. No Colégio do Recife aconteciam

uma série de assembleias, intituladas, segundo a documentação investigada, de

“consultas”, nas quais “consultores” decidiam sobre os mais diversos assuntos que

envolviam o cotidiano do Colégio, em particular, e as vezes o de outros centros da

Companhia de Jesus.

Neste momento, gostaríamos de destaque uma determinada consulta ocorrida no

Nóbrega que discutia sobre a necessidade de aceitação de negros em um colégio da

Companhia no Ceará:

“Consulta do dia 20 de fevereiro (ano de 1927) ________[?] fazer pelo R. P.

Superior da Missão, para tratar se devia ser admittida gente de cor em

Baturité, ou, pelo contrário, se se devia negar-lhe a admissão.

Todos os CC concordaram que a face do Leste[?], facto não se podia

admittir uma tal exceção; que, portanto se devia suprimir, no prospecto

de Baturité, aquela clausula exclusiva, que só serveria para nos tornar

odiosos num paiz, onde entre o clero secular, ha sacerdotes não só mulatos,

mas de cor e feições __________[?] africanas.

Os NN de França admittem na Companhia de Melgaches[?], que afinal não

______[?] muito dos africanos quanto as cores e feições.Na prática, caso

haja inconveniente em admitir os que se apresentam, existem muitos meios

de se lhe negar a admissão sem recorrermos a uma excepção estabelecida

como um princípio[?] de direito na legislação da Missão Lusitana do Norte

do Brasil. (CONSULTAS, p. 167) (grifos nossos)

Confirma-se, assim, como esse colégio é um ótimo exemplo para análise dos

elementos de produção de um discurso, com a qual podemos ao menos ensaiar algumas

especulações básicas, como, por exemplo, a percepção de que existia uma mudança

paradigmática no cenário pós-sociedade escravocrata, onde mudanças reveladas

aconteciam, mas que montando-se um discurso inclusivo apenas de fachada que velava

outro exercício, no qual “Na prática (...) existem muitos meios de se lhe negar a

admissão”.

Fugindo da lógica que circundava as novas repúblicas europeias, as quais viam

no catolicismo uma ameaça a um “novo iluminismo”. A Companhia de Jesus não

significava mais um lugar social benéfico àquela dinâmica, tão pouco seus agentes

puderam permanecer junto àqueles que ocupavam um espaço de poder em Portugal.

Entretanto, aqui no Recife, eles puderam não só desfrutar da nossa república, como

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conseguiram ocupar um espaço diplomático que não lhe pusesse declaradamente contra

as “evoluções de pensamento”, tampouco contra os estratos do poder a que se

associaram.

Scott Mainwaring pode nos ajudar a entender isso ao mostrar que “A fé é um

fenômeno supra-racional que se proclama pairar sobre todos os outros valores. A igreja

tem início nessa fé, mas como toda instituição, ao desenvolver interesses, então tenta

defende-los” (MAINWARING,1989. pg. 15). Embora esteja situado na sociedade, e

precise mudar, essas mudanças, ainda assim, serão direcionadas para o interesse de

expandir a influência da instituição.

Assim, concordamos com Scott quando diz que as “práticas sociais e as

identidades institucionais não se modificam porque surgem novas ideias, mas, sim,

porque o conflito social leva a uma nova maneira de se compreender a realidade”.

(MAINWARING, 1989. pg. 25)

2.3. Liberalismo, Socialismo e Comunismo

Precedidos de uma atmosfera intelectual que os deu suporte, não houve, segundo

o historiador filósofo Michel Zaidan Filho, em Pernambuco, nos meios operários

recifenses um anarco-sindicalismo ortodoxo ligado de fato aos moldes tradicionalmente

inspirados pela Revolução Russa. (ZAIDAN FILHO, 2012). Muito antes disso, “essa

atmosfera intelectual se transferiu da cena política republicana para as cátedras das

faculdades de Direto como um sopro renovador do liberalismo jurídico então

predominante” (ZAIDAN FILHO, 2012. pg. 113). Essas ideias acabaram por criar

ambientes de disputa entre polos que perpassavam pelo marxismo-leninismo,

liberalismo e por um catolicismo social.

Interessando-nos mais aqui o polo do catolicismo social, iniciamos destacando

as bases intelectivas da doutrina que serviram de embrião aos trabalhos desenvolvidos

no Recife no fim da República Velha.

Estas doutrinas foram condenadas com extrema veemência em cartas encíclicas,

como a Qui Pluribus, de 1846; Quibus quantiste, 1849; Nostiset Nobiscum, 1849;

Singulari quandam perfusi, 1854; Quanto conficiamur, 1863, entre outras. Ainda no

Pontificado de Pio IX, a preocupação eclesiástica especialmente sobre os livros que

propagavam as doutrinas,

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Por isso dileto filho e veneráveis irmãos, não sejais cães mudos incapazes de

latir; mas de um lado com a palavra, de outro com os escritos uteis e

adequados, não cesseis de desmascarar as insídeias dos adversários, de

refutar os erros, de opor-vos corajosamente às iniciativas ímpias. Não cesseis

de retirar das mãos dos fiéis os livros danosos, obscenos e ímpios e de

advertir e estimular os fiéis a permanecer firmes cada dia mais na profissão

da religião católica e a não se deixar nunca enganar e arrastar ao erro pelos

fabricantes da mentira e pelos anunciadores de doutrinas perversas. (PIO IX.

1848, pg. 121)

Em argumento tradicionalmente usado pela Igreja para vários assuntos, ela alega

que o ideário comunista é contrário ao “direito natural” instituído por ordenança divina.

(…) apontam aqueles perversos ensinamentos sobretudo da filosofia que

enganam e corrompem miseravelmente a desprotegida juventude, fazendo-a

beber o fel do dragão no cálice da Babilônia. Essa doutrina funesta – mais do

que nunca, contrária ao direito natural – aponta para o que chamam

comunismo. (grifos nosso)(PIO IX, 1846. pg. 89)

Os mais importantes argumentos, todavia, vieram em discurso que usou uma

série lógica extremamente coerente do Papa Leão XIII, o qual demostra que o colapso

do sistema capitalista e a emergência do comunismo prejudicariam em especial o

próprio operariado, pois,

O fim imediato visado pelo trabalhador é conquistar um bem que possuirá

como próprio e como pertencendo-lhe; porque, se põe a disposição de outrem

as suas forças e a sua indústria, não é evidentemente, por outro motivo senão

para conseguir com que possa prover ao seu sustento e às necessidades da

vida, e espera do seu trabalho, não só o direito ao salário, mais ainda um

direito estrito e rigoroso para usar dele como entender. Portanto, se reduzindo

as despesas, chegou a fazer algumas economias, e se, para assegurar a sua

conservação, as emprega por exemplo, num campo, torna-se evidente que

esse campo não é outra coisa senão o salário transformado: o terreno , assim

adquirido, será propriedade do artista com o mesmo título que a remuneração

do seu trabalho. Mas quem vê que é precisamente nisso que consiste o direito

de propriedade mobiliária e imobiliária? Assim, esta conversa da propriedade

particular em propriedade coletiva, tão preconizada pelo socialismo, não teria

outro efeito senão tornar a situação dos operários mais precária, retirando-

lhes a livre disposição do seu salário e rouando-lhes, por isso mesmo, toda a

esperança e toda a possibilidade de engrandecerem o seu patrimônio e

melhorarem a sua situação (LEÃO XIII, 1891. pg. 12)

Para remediar este mal (a injusta distribuição das riquezas e a miséria dos

proletários) os socialistas excitam, nos pobres, o ódio contra os ricos, e

defendem que a propriedade privada deve ser abolida, e os bens de cada

um tornem-se comuns a todos (…) mas esta teoria, além de não resolver a

questão acaba por prejudicar os próprios operários, e é até injusta por

muitos motivos, já que vai contra os direitos dos legítimos proprietários,

falseia as funções do Estado e subverte toda a ordem social (grifos nosso)

(LEÃO XIII, 1891 pg, 99)

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O socialismo era, para eles, considerado um comunismo mitigado, mas não é por

isso, todavia, que deixa de possuir uma natureza anticristã. Segundo uma série de Papas

da época essa lógica deveria ser seguida, como posteriormente pontuou o Papa Pio XI

que “Socialismo religioso, socialismo católico são termos contraditórios: ninguém pode

ser ao mesmo tempo bom católico e verdadeiro socialista” (PIO XI, 1931). Dessa forma

os cristãos não podiam de forma alguma deixar de combater qualquer expressão dessa

modalidade de pensamento em nome de uma racionalidade diplomática.

Embora, essas correntes tivessem como principal inimigo o sistema capitalista,

para a Igreja o verdadeiro mal não seria o capitalismo em si, pois aquilo que provocava

as desigualdades tão discrepantes e os estados de semiescravidão era a “anarquia do

mercado” que veio com o liberalismo, trazendo “a facilidade dos lucros, que levam

muitos a darem-se ao comércio desejoso unicamente de enriquecer sem grande

trabalho”. (PIO XI, 1931). Desse modo, o liberalismo se mostrou, de um modo geral,

incapaz de resolver convenientemente a questão social (LEÃO XIII, 1891), pois ele

tirava do controle a mão forte e justa do Estado.

Essa esfera intelectual desembocou em Recife, enquanto o posicionamento

filantrópico da Igreja tentava amenizar a tensão social. Mas, embora que, em linhas

gerais, a Igreja estivesse associada à classe dominante em listas de esmolas e realizações

de festivais, nada mudou de fato a situação do operariado que teve suas mais sérias

reivindicações entre 1914-1922. (REZENDE, 2012).

Entretanto, esse posicionamento apaziguador e de caráter apenas reformista é

extremamente criticado pelos setores mais radicais da luta operária, ganhando vários

destaques em A Hora Social, ao denunciar aquilo que para eles seria uma tentativa de

harmonização entre explorados e uma classe parasitária, prejudicando, assim, de forma

catastrófica o caminho em direção à revolução (REZENDE, 2012). Dessa forma, a

solução Leonina da caridade foi criticada com veemência por vários intelectuais

socialistas e comunistas, chegando a alguns deles a solicitar aos pobres que não

aceitassem a caridade, mas que pelo contrário, se revoltassem contra ela. (ZAIDAN,

2012)

Um destaque extremamente importante que precisamos fazer é em relação ao

fato de as manifestações e as greves envolvendo o operariado recifense em sua maioria

tinha um caráter extremamente reformista e tratavam quase sempre de questões

pontuais. Além disso, em certos momentos, elas se transformaram em manifestações

generalizadas pelos altos impostos e carestia do custo de vida, porém, não se

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transformaram mesmo assim em movimentos de caráter revolucionário (REZENDE,

2012).

No Jornal A Ordem, de apoio ao Governo de Manuel Borba, é publicado um

projeto-lei do Deputado Andrade Bezerra sobre a responsabilidade dos patrões nos

acidentes. Ele era católico defensor dos princípios da Rerum Novarum, (REZENDE,

2012) também era professor da Faculdade de Direito e mantinha estreitas relações com

os diretores e alunos do Nóbrega (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929).

Ao que parece, o envolvimento dos Jesuítas do Nóbrega se limitavam às mesmas

práticas desenvolvidas pela maioria das ordens ligadas à Igreja, promovendo em

especial séries de missas para solicitar a providência divina para “acalmar os ânimos”

em vários bairros do Recife e Olinda, tanto naqueles tradicionalmente de elite como os

de classes mais baixas (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929).

Nos relatos do CMN sobre a greve geral de 1919 que começou com os operários

da Tramways, não só a paralisação do serviço de transporte por si só interrompe a rotina

do colégio, como também o estado de violência e o caos em que se encontrava a cidade.

No mês de junho a falta de luz nas ruas e especialmente a ameaça de falta de alimentos

(DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929, pg. 89),a queima de alguns carros e

depredações na Usina Central no mês de julho (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929,

pg. 90), puseram em alerta os jesuítas que temiam especialmente a segurança dos alunos

internos.

A Força Nacional se estabeleceu no bairro da Boa Vista e, aquelas estabelecidas

no Quartel se estende da Rua do Riachuelo à Rua do Príncipe começando uma série de

operações que mudaram completamente a rotina do CMN

29/05/1922 – “Esta Manhã apareceu a rua Riachuelo ocupada militarmente

pela força federal, que esta aquartelada no quartel da Soledade. O transito

estava[?] impedido temporariamente; e os padres que chegavam ________[?]

fora eram acompanhados por praças que estavam na _________[?] _____[?]

___[?] ___[?] até os portões do colégio. Não houve aulas. A noite veio um

oficial da força observar o collegio e o ______[?], verificar[?] a[?]

possibilidade[?] de alguma agressão; pediu que vigiássemos o lado posterior

da casa para o caso de alguma invasão por este lado para atacar o quartel;

mas que em todo o caso, _____[?] maneira fazer fogo para o lado do

collegio.” (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929, pg. 151)

Com essa mudança, o antigo temor pela segurança dos alunos tornou-se mais

forte, pois o Colégio situava-se no centro das disputas, colocando o colégio numa

inevitável posição geográfica de risco.

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30/05/1922 – “Esta madrugada por volta das 3 horas, foi o collegio alarmado

por vários tiros[?] nações[?] em frente. Os alunnos maiores levamtaram-se

________[?] fugindo para o interior. Uma bala tinha atravessado[?] o

dormitório, felizmente a altura de não ocasionar desastre[?]. Verificou-se

depois que mais balas tinham penetrado também na capella. Atribui-se o

posto/parte[?] a sentinela, medrosa[?] ter visto luz e galhos a janela,

mandando apagar as luzes, não o fizeram, então a sentinela,

____________[?], fez fez[?] para o collegio. Pela manhã o comandante veio

informar-se do que houve, lamentando o ocorrido, pedindo desculpas e

garantindo que não mais se repetiria tal fato, que só por providência especial

não teve graves consequências. (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929, pg.

152)

Embora a visita do Comandante tivesse “esclarecido” o ocorrido, não podemos

descartar a possibilidade de investidas nas redondezas da escola, uma vez que desde

1920 era comum a ocorrência de conflitos entre exército e ativistas na calada da noite,

além de não ser incomum a depredação das sedes sindicais, assim como a busca e a

prisão de líderes dos movimentos em suas casas no meio da madrugada (FRANCISCO,

2012).

Em junho de 1922 o inevitável aconteceu: “algumas famílias de alunnos

aterrorizados com boatos de futuras [?] desordens ente os partidos começaram a retirar os alunos

internos”. (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929, pg. 154)

Um dado interessante é que tanto nos movimentos iniciados 1919 e 1922, conta-

nos os relatos do Nóbrega, foram acalmados após as eleições e os partidos entrarem em

acordo.

2.4. Maçonaria

As discórdias entre maçons e católicos não são nenhuma novidade para os

estudiosos do Império. Entretanto, precisamos destacar em relação aos centros urbanos

pernambucanos da época, a existência de uma real preocupação quanto ao espaço de

poder que os maçons estavam ocupando.

Durante o fim Império e início da República percebeu-se um aumento no

“poder” dos participantes da “seita maçônica. Esse fato é interessante para nossa

discussão, porque aponta a preocupação demonstrada pela Igreja com o espaço ganho

no “poder civil” pelos integrantes. Diante disso, a igreja precisou se submeter a certas

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ordens emanadas do poder civil, pois neste espaço estavam infiltrados elementos da

“seita”.

Na carta “Exortae inista”, sobre a maçonaria, endereçada aos Bispos do Brasil

em 29 de abril de 1876, o Papa Pio IX pretendia que chegassem ao “venerável irmão de

Olinda”, as instruções de combate dessa “perversão infiltrada nas comunidades cristãs”.

Para nós, esta carta vale como orientação do que mais tarde foi se tornando uma

das estratégias mais importantes para a Igreja no Brasil Republicano, pois neste havia

um crescente aumento de instituições leigas que representavam a atuação eclesiástica

indireta no governo laico, uma vez que o “ser católico” poderia trazer uma série de

tendências a posicionamentos que influenciariam de forma decisiva em deliberações

legislativas:.

Afinal, os leigos não foram postos como cabeça do governo eclesiástico, mas

para sua utilidade e salvação devem estar submissos aos legítimos pastores,

sendo sua função oferecer-se como ajudantes do clero para as situações

particulares, não devendo se intrometer naquelas coisas confiadas por Cristo

aos sagrados pastores. (…) Para alcançar essa meta, veneráveis irmãos,

considerados os intercâmbios que ocorrem entre as comunidades e o poder

civil, naquilo que ocorrem entre as comunidades e o poder civil, naquilo que

concerne à sua constituição e ordenamento nas coisas temporais, já as

concedemos ao nosso cardeal secretário de Estado os devidos mandatos para

agir com governo imperial, buscando reunir com ele os esforços úteis para

obter os resultados desejados. Confiamos que a autoridade civil unirá o seu

solícito interesse ao nosso. (PIO IX, 1876)

A visão da Igreja e da política do Papa Pio XI (1922-1939) aproximava-se com

as de D. Leme (MAINWARING, 1989. pg. 43,) assim como a visão doutrinal do

Pontificado do Papa Pio X possui grande influência naquela que consideramos o marco

inicial dos trabalhos do nosso antigo Arcebispo através da Carta Pastoral de 1916.

O principal destaque às lojas maçônicas, aqui são dadas devido ao seu

posicionamento nos espaços de poder civil, que colocava o poder político legal a serviço

delas através dos seus correligionários, ameaça que preocupava imensamente a Igreja,

não só no fim do império como também durante toda a República Velha. Isso pode ter

servido como reforço aos esforços de (re)aproximação das elites dirigentes leigas com

as mais diversas comunidades eclesiásticas, por deterem eles a máquina pública ao seu

comando.

Basta saber que as Lojas Maçonicas andam empenhadas na consecução desse

açambarcamento, para desde logo se suspeitar da ortodoxia dele. As Lojas

reclamam o estabelecimento da Escola Única e o monopólio do ensino, é o

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que se lê numa decisão da Grande Loja da França. Bem claras são as

afirmações de M. Ducos, relator do projeto da Escola Única na Comissão de

Ensino: ‘é preciso que o Estado tenha amanhã o direito de fechar todos os

estabelecimentos onde se continuaria a envenenar moral e socialmente (as

escolas) pelo fato de uma educação especial separada’. A estatização assim

consumada seria a ruína do ensino livre, único reduto onde ainda se pode

abertamente falar nos direitos do homem para com Deus. Seria a derrocada

dos nossos colégios católicos e consequentemente o veto de ensino para as

congregações religiosas. (NERY, 1933. pg. 87)

Os Jesuítas do Nóbrega no alto da sua imodéstia diziam que “do Palácio da

Soledade partiu para todos os recantos do Brasil o primeiro movimento católico para se

libertar do Liberalismo e da tirania maçônica” (CONGREGAÇÃO MARIANA

ACADÊMICA, 1925. pg. 07), e de fato não estão errados. Do interior daquele

monumento saíram grandes movimentos católicos, e com a Ação Católica promovida

pelos Jesuítas não seria diferente.

Durante toda a década de 20, especialmente nos debates do início dos anos 30, a

loja maçônica parece ter sido considerada o maior e mais direto inimigo do Colégio

Nóbrega, aparecendo como seu declarado opositor em relação às questões que

compunham o jogo político, mas não passando de suas citações em eventos.

Ao comparar o discurso contido na carta do Papa Pio IX e os movimentos

católicos nos anos que se seguiram, aqui especialmente se referindo ao nosso objeto,

percebemos uma mobilização em torno da associação dos detentores do poder civil de

uma forma diferente daquela que aconteceu no império com o regime do padroado, na

qual os “leigos foram postos como cabeça do governo eclesiástico”.

Sendo uma das grandes preocupações a perda do monopólio da educação e a

campanha em torno da abolição do ensino religioso, um dos primeiros passos das

ordens católicas, inclusive a jesuíta, foi montar uma alternativa de escoamento do seu

pensamento através da Boa Imprensa católica para assim atingir o “burguês e o

operário” contra os elementos maçônicos infiltrados na educação.

A partir daí, a Igreja se associou aos setores conservadores da elite

demonstrando a não intenção no rompimento drástico da “ordem natural”, ao mesmo

tempo em que não se declarou elitista, antes disso, defendeu o pobre através de uma

educação dualista, que os abrangessem e abrangessem também os sindicatos “neutros”

que defendiam o patrão e o operário através da “tríplice relação do salário”.

Assim, ficou demonstrada uma prática restauradora, que possuía como a

principal meta os “intercâmbios entre as comunidades eclesiásticas e o poder civil” sem

que houvesse uma subordinação da instituição eclesiástica, demonstrando, portanto, que

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uma instituição como o CMN, por exemplo, pode representar um lugar social válido na

nossa República, não na República portuguesa, e como os sujeitos do Nóbrega podem

representar metaforicamente bons historiógrafos à nossa “corte” republicana – leiam-se

numa lógica comparativa com aqueles que podem, discursivamente, “fazer o homem de

governo” do século XVI na concepção de Certeau –, sem conseguir a mesma

receptividade dos detentores do poder na República de Portugal.

Assim, fica demonstrado o pensamento restaurador produzido e reproduzido no

Nóbrega, que possuía entre suas principais metas os “intercâmbios entre as

comunidades eclesiásticas e o poder civil” sem que houvesse uma subordinação da

instituição eclesiástica, demostrando que uma instituição como o CMN, por exemplo,

pode representar uma válida instituição intelectual na nossa República, e não na

República portuguesa, e como os sujeitos do Nóbrega podem representar

metaforicamente bons historiógrafos à nossa “corte” republicana – leiam-se numa lógica

comparativa com aqueles que podem, discursivamente, “fazer o homem de governo” do

século XVI na concepção de Certeau –, sem conseguir a mesma receptividade aos

detentores do poder na República de Portugal.

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3. CAPÍTULO 2: UM HABITUS CIVILIZANTE: QUESTÕES DE

HIERARQUIA, DISCIPLINA E HIGIENE

Nesse capítulo, nossas lentes referenciais estarão em Bourdieu, referentes as

questões de habitus como práticas que naturalizam a regulação do sujeito. Aqui,

pretendemos compreender os aspectos axiológicos que orbitam em torno da prática

cotidiana que levaram os sujeitos componentes do CMN aproximação das metas

recristianizadoras, assim como definir de forma mais clara a práxis que as envolveram.

Pierre Bourdieu, na teoria do construtivismo estruturalista ou estruturalismo

construtivista esclarece que:

O estruturalismo é um ponto de vista objetivista, no sentido em que as

estruturas são consideradas como realidades que existem objetivamente e que

impõem sua lógica, do exterior aos agentes, que estarão mais estreitamente

submetidos a ela quanto menos consciência disso tiverem. (BONNEWITZ,

2003, p. 24)

Além de suas referências como conceito explicativo da estrutura das relações

sociais e de sua intermediação de conflitos e relacionamento, o conceito de campo nos

remete aos processos de convivência dos sujeitos históricos em diversos âmbitos da

sociedade, permitindo que os conflitos por interesses diversos sejam mediados pela

localização dos indivíduos em diversos setores da sociedade. Sendo assim, a produção

dentro qualquer espaço social pode significar relações objetivas com o que é produzido

em outro espaço, desde que exista um intercâmbio de indivíduos entre eles, que possam

levar aquilo que é produzido em uma esfera para a outra.

Dentre os vários campos que compõem a estrutura social, o CMN será mais

intimamente analisado em sua perspectiva de campo intelectual, se vinculando nesse

aspecto aos interesses e interações que interligam este campo aos demais:

(...) para construir realmente a noção de campo, foi preciso passar para além

da primeira tentativa de análise do ‘campo intelectual’ como universo

relativamente autônomo de relações específicas: com efeito, as relações

imediatamente visíveis entre os agentes envolvidos na vida intelectual –

sobretudo as interações entre os autores ou entre os autores e os editores –

tinham disfarçado as relações objetivas entre posições ocupadas por esses

agentes que determinam a forma de tais interações (BOURDIEU, 1998. P.

65).

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Para Bourdieu, a sociedade é composta por estruturas, e a cultura, usada como

sistema de dominação, é também um “sistema de significações hierarquizadas. A

cultura se torna um móvel de lutas entre grupos sociais cuja finalidade é manter os

distanciamentos distintivos entre classes sociais”. Bourdieu enfatiza, principalmente,

que a cultura é um capital produzido num campo particular. Ele considera que:

(...) a cultura não apenas como acesso a um patrimônio artístico e cultural,

mas também como uma hierarquia de valores e de práticas. (...) a cultura tem

todas as propriedades de um capital. Como tal, ela é móvel de lutas num

campo que se automatizou. (BONNEWITZ, 2003 p. 25)

Partindo de alguns pensamentos semelhantes aos de Marx, Bourdieu defende a

que a luta de classes toma proporções simbólicas através da cultura, que funciona a

partir de uma espécie de lógica de mercado, lei da oferta e da procura, com a qual os

produtos tornam-se “códigos simbólicos” de acordo com as necessidades de sistemas

culturais que podem ser constituídos de “maneiras de ver, maneiras de sentir e maneiras

de raciocinar”. Esses conflitos simbólicos são utilizados como uma espécie de arma

manipuladora da mentalidade das massas.

É importante compreender que o conceito de habitus como a naturalização das

coisas que regulam o sujeito, é, antes de tudo, um processo dialético de construção da

sociedade, na qual a convivência dos sujeitos históricos em diversos âmbitos da

sociedade permite que os conflitos por interesses diversos sejam mediados pela

localização dos indivíduos em diversos campos; sendo que cada campo lida com uma

dinâmica entre pessoas e grupos, na qual a realidade é um conceito social. Existir é

existir socialmente, em relação aos outros. O que é real é relacional (BONNEWITZ,

2003).

Sobre essa mesma lógica, nos reportamos a Camacho que enfatiza que quando

se pensa nas questões econômicas com que teve que lidar a Igreja no período de

crescentes movimentos sociais, a solução estabelecida através da caridade faz com que a

questão social, além de econômica seja moral e religiosa. Dessa forma, a Igreja através

de Leão XIII propõe que as ações de caridade devem ter caráter permanente e ser

estruturadas, o que põe hierarquicamente a Igreja como coordenadora (CAMACHO,

1995. pg. 93).

Consequentemente, nas mais diversas práticas cotidianas os sujeitos que compõe

o CMN estavam cercados de signos e símbolos que os elevariam numa hierarquia social

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afigurando suas leituras de mundo estruturadas dentro das especificidades de

determinado campo, como “a verdade”.

Emanuela Ribeiro, no trato metodológico de suas fontes, traça um paralelo entre

a atuação da Igreja que procurava se alinhar com as diretrizes romanas e a atuação desta

parcela dominante que idealizou a modernidade brasileira, mostrando de que maneira os

distintos grupos sociais foram coagidos a manter a ordem e os bons costumes impostos

pela “moral de direito e do Evangelho, ou seja, pela moral do Estado/das elites e da

Igreja.” (RIBEIRO, 2009. p. 18)

Embora alguns autores como Scott Mainwaring acreditem que exista uma

enorme discrepância entre a Igreja institucionalizada e as práticas religiosas populares,

até eles admitem que este modelo de crença religiosa ainda influenciou e muito a visão

de mundo de grande parte da população (MAINWARING, 1989).

Já Ribeiro mostra que um dos principais pontos de confluência entre Catolicismo

e Modernidade, era o disciplinamento da sociedade, com o qual as questões de

normatização dos costumes era usada na “tentativa de adequação ao modus vivendi”

(SOUSA, 2004. p.11) e de normatização de higiene, é entendido por nós, como

extensivo às questões disciplinares.

No dizer dos bispos os leigos praticavam uma religião que se conserva como

herança, que se pratica por habito, que se segue sem convicção. Deste modo,

compreendemos que a elite eclesiástica considerava necessário o

disciplinamento religioso da maior parte da população brasileira. Neste ponto

convergiam os dirigentes da sociedade civil e os da sociedade religiosa,

ambos pretendiam evitar desordem, confusão, perturbação da paz social,

inquietação das consciências. (SOUZA, 2004. p. 18)

Segundo Montenegro, a ordem é vista de forma convergente entre Igreja e

Estado que constituía um dogma a inspirar mais de perto o positivismo e o catolicismo,

facilitando a formação de uma liga implícita entre ambos em torno do problema da

separação entre a Igreja e o Estado (MONTENEGRO, 1974.p. 141).

Precisamos lembrar que a Carta de 1916 de D. Leme, inaugurou um novo

momento para a Igreja, e este período da neocristandade trouxe novos olhares para uma

sociedade que também estava em constante mudança. É a partir daí que pensamos a

necessidade de instituições como o CMN que se utilizou deste novo período, no qual as

instituições religiosas desfrutavam de uma formação tradicional, e com as novas

estratégias alienantes que este momento histórico pedia, formavam intelectuais,

políticos e burocratas católicos.

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Em suas interpretações sobre o período, a historiadora Margareth Rago, trabalha

com ênfase no projeto de “moralização dos costumes e redefinição da família”,

mostrando que o catolicismo possui estratégias para impor-se, dando enfoque especial a

dois tipos de sujeitos: a mulher e a criança. Mais uma vez, a necessidade de instituições

como o Nóbrega foi reiterada, transcendendo não só o seu papel principal de instituição

de ensino, mas se posicionando como auxiliadora no movimento da neocristandade.

Recorrendo a Certeau, percebemos que existe um uso do elemento social da

diferenciação religiosa, no qual os sujeitos se reagrupam em função desse critério:

(...) A determinação daquilo que se conhece, quando se é Católico ou

Reformado, fornece à comunidade seu modo de identificação e distinção. “Os

catecismos mudam, remodelados pela urgência dessas definições que

circunscrevem ao mesmo tempo os conteúdos intelectuais e os limites sócio

institucionais”. (CERTEAU. 2000. p.36)

Nesse sentido, vemos que a religião é usada como forte elemento de

agrupamento e constituição de relações sociais.

A igreja começou a formular uma doutrina social mais progressista durante o

papado de Leão XIII (1878-1903) Esta encíclica marcava a aceitação tardia

do mundo moderno pela Igreja depois de seu combate aberto contra a

modernização durante grande parte do século XIX. (…) O papa Pio X (1903-

1914) repudiava os esforços no sentido de se fazer uma adaptação ao mundo

moderno e Benedito XV (1914-1922) e o papa Pio XI (1922-1939) eram

fundamentalmente conservadores. (MAINWARING, 1989. pg 43)

Ao encontrarmos em nossa documentação citações como esta: “Fez-se

Juramento contra a modernidade, como ordenou o Santo Padre Pio X no Motu [?]

próprio “Sacrorum Antistitem”[?] (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929. pg.22),

percebemos que trata-se de “uma crise de sentido” e de uma “aceitação tardia” da

modernidade. Pois, aqui, a “modernidade” tem um sentido mitigado, uma vez da

existência de campanhas higienistas dentro do colégio, consequentes do espaço já

consolidado pela ciência médico farmacêutica e até uma leitura sobre aspectos da

modernidade médico-legal que podem demonstrar um caráter dinâmico e metamórfico

desse habitus, como de uma necessidade de adaptação da Igreja.

Autores das mais diversas correntes historiográficas contemporâneas, como por

exemplo, Lêda Sellaro, Scott Mainwaring e Lyndon Santos, atribuem às mudanças

conjunturais ocorridas no início do século XX uma “crise de sentido”, que colocam em

xeque vários aspectos da vida em sociedade.

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Desta forma, quando abordamos em um dos diários do Nóbrega sobre a

“modernidade”, podemos especular, baseando-se nas discussões historiográficas, as

implicações, significados e especialmente o “sentido” deste termo para época, além de

compreender a necessidade de mitigar não só aquele “juramento” como também a

“ordenança”.

Por isso a Igreja está tão longe de se opor à cultura das artes e das disciplinas

humanas que até a auxilia e promove, porque não ignora nem despreza as

vantagens que delas provêm para a vida da humanidade e até ensina que elas,

assim como provêm de Deus, Senhor das ciências, assim também, se tratadas

rectamente, conduzem a Deus com a sua graça. E de nenhum modo ela

proíbe que tais disciplinas, cada uma na sua esfera, usem do método e

princípios próprios, mas reconhecida esta justa liberdade, provê

cuidadosamente a que não caiam em erro, opondo-se aventurosamente à

doutrina divina, ou ultrapassando os próprios limites, ocupem e revolucionem

o campo da fé (PIO XI, 1929)

Ao considerarmos o habitus dos agentes do CMN, devemos levar em

consideração primeiramente a existência de um poder simbólico que os colocava, em

certos campos, como os locutores da verdade. E, como tais, caberia a eles o

disciplinamento social, tanto das futuras elites dirigentes como, até certo ponto, da

população em geral. Assim sendo, a praxe presente no cotidiano do colégio continha

ações e atividades voltadas para este sentido. Logo, quando comparamos o juramento

contra a modernidade por ordem de Pio X e a aceitação de certos aspectos da

modernidade, como a do conhecimento científico em Pio XI, com as práticas dos

sujeitos do CMN descritas ao longo de nossa documentação, observamos que essa

“oposição” à modernidade desde Pio X já era complexa e relativa.

Nessa lógica, veremos que pelo contexto parecia se referir tanto à centralização

no conhecimento científico, quanto às mudanças de hábitos na vida social cotidiana – já

em sua contemporaneidade apresentavam práticas de certa aceitação e adaptação aos

aspectos que eles consideravam menos nocivos da modernidade, sendo estes, contudo,

tutelados pela própria Igreja, como vemos depois em Pio XI.

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3.1. Disciplina: subjetivação e naturalização do credo para o futuro Militante

Católico

Dois aspectos precisam ser antes de tudo destacados. O primeiro deles é que

entendemos disciplina como uma ação dirigente que, por meio dos mais variados

processos de doutrinamento e instrução, regem certas coletividades a um conjunto

normativo de leis, ordens e costumes. Dito isto, pedimos auxílio à Emanuela Ribeiro

que fala que a noção de “exclusão da Igreja do domínio público” pode ser relativizada,

pois, a “posição de detentora das grandes massas da população” não é negada.

Assim, quando falamos do aparelho disciplinar do Nóbrega, nos remetemos a

uma naturalização do disciplinamento pelas elites e pelo Estado, que necessitava do

auxílio da Igreja, que tratou de tecer seu “principal ponto de ligação com o Estado,

construindo, através da ordem sua nova forma de se posicionar no domínio público.”

(RIBEIRO, 2009).

É preciso deixar claro que reconhecemos o grande poder de influência de

instituições como o Nóbrega, o que não nos faz negar, de forma alguma, os outros tipos

e níveis de poder simbólico presentes na sociedade, apenas os citamos por não

configurar objeto deste estudo. Nele, admitimos e reconhecemos, a luz de Bourdieu, que

existem instituições que detêm grande poder de prestígio, e que o CMN concentra nele

aquele poder pertencente às instituições de ensino e às religiosas.

Entre seus empreendimentos extramuros de disciplinamento social, os mais

comuns eram aqueles de ordem mais generalizada como as missas, catequeses, cruzadas

e comícios públicos. As missas promovidas pelos padres do Nóbrega – podemos dizer

sem receio nenhum de cometer exageros – eram celebradas em praticamente todo o

Estado Pernambuco, desde cidades vizinhas a Recife até as mais remotas do Interior

(DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929).

Essas missas ocorriam nas mais diversas épocas do ano e pelos mais diversos

motivos, especialmente para comemoração das datas tradicionalmente festivas como

Natal, Páscoa, São João, etc. Entretanto, desde o início que o objetivo catequético da

maioria dessas missas estava claro: 23/06/1917 – O Pe. Geral da Missão oferece 100

missas para que o Collegio “crescateat ad M. Dei Gloriam atsalutemnobilis gentis

Brasilienses13

” (?) (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929. pg. 18)

13

Para a glória de Deus e a salvação do nobre brasileiro.

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Já os trabalhos catequéticos pareciam estar também vinculados a esta ordenança

de D. Leme:

Não basta ensinar o catecismo às crianças, deante do povo. É necessário,

determina a lei, ensina-los directamente ao povo,em hora diferente da que se

destina aos meninos. Não basta a homilia ou pratica do evangelho. É

necessário fazer uma explicação do catecismo, que não é a simples alocução

ou a prédica, mas verdadeiro Curso de Instrucção da Doutrina Cristã.

(LEME, 1916)

Outro tipo de arma usada eram os famosos Retiros do Nóbrega. Eles começaram

como eventos internos, mas ganharam força e fama entre as rodas de conversas no

Recife. Com o tempo esses retiros foram ampliados para atender os mais diversos

públicos, desde turmas de acadêmicos das diversas instituições superiores que contavam

com personalidades como, por exemplo, Andrade Bezerra, Nilo Pereira14

e Barreto

Campello (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.139), a retiros operários15

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 108). Esses retiros chegaram aos anos

30 com 14 turmas já realizadas (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.108)

tendo mais que dobrado no fim dos anos 30, chegando a alguns anos as turmas lotaram

e eles solicitaram aos beneditinos que tomassem alguns em suas turmas.

Foi assim que, baseado nos Retiros do Nóbrega, e por não terem condições

financeiras de garantir a locomoção dos seus moços para Recife, a Vila Nóbrega,

congregações, ordens e instituições de diversos lugares, que começaram seus próprios

retiros em lugares como Pau D’alho, Bezerros, João Pessoa, Piauí, Campina Grande

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 119), entre outros.

Já os comícios, analisando a totalidade de nossos documentos, ficaram mais

comuns a partir da segunda metade da década de 20 e contavam com a participação de

alunos do Nóbrega, que em muitos casos eram os próprios organizadores dos eventos.

Antes, porém, deste disciplinamento social pelas elites sirva aos interesses da

Igreja, é necessário que sejam elas – as elites – àquelas doutrinadas nos preceitos e

normas que as façam militar pela causa católica, nos diversos espaços sociais. Dessa

maneira, estruturas educacionais como o CMN serviam de verdadeiros centros de

“doutrinadores”, pois a partir dele processos formais e não formais doutrinavam os mais

diversos atores sociais, tanto de forma direta como indireta.

14

Anexo H. 15

Comunhão com os operários, anexo T.

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Para tanto, o envolvimento Jesuíta nos esforços de restauração católica, em que

as mais diversas ordens estavam envolvidas, tem em suas conquistas período com maior

repercussão a Congregação Mariana da Mocidade Acadêmica e a Liga para a

Restauração dos Ideais (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 09). Através dos

trabalhos disciplinadores desenvolvidos por estes programas, os próprios jesuítas

reconheciam possuir os recursos para a restauração católica no Recife, como veremos

de forma mais clara no item 3.1.2 (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.55).

A biblioteca foi elemento que também foi reconhecido como forma

indispensável à conquista pela recristianização Jesuíta. Os documentos diz que “uma

biblioteca moderna adequada à nossa ação”, a qual “Foi sempre um ponto de carinho

especial do nosso programa. Tanto assim, que, depois de unida a Liga para a

Restauração dos Ideais à Congregação Mariana, a nossa biblioteca é a melhor do Recife

em autores modernos Católicos.” (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.55)

Por enquanto o que de mais importante precisamos destacar neste tópico é que

existia um longo raio de alcance nos métodos doutrinários dos jesuítas do CMN, e que

eles de alguma forma conseguiam adeptos de sua metodologia nos mais variados

centros de trabalhos com leigos, em seus mais variados tipos de trabalhos: “Até as

outras agremiações que se fundavam em volta da Congregação tiveram o influxo dos

Exercícios Espirituais da Vila Nóbrega16

: são elas o Centro D. Vital, a Ação

Universitária Católica por Deus e pela Pátria.” (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-

1923 pg.115).

3.1.1. Liga para a Restauração dos Ideais

Ao longo dos inúmeros trabalhos desenvolvidos pelos jesuítas do CMN, esse foi

o que mais nos chamou atenção, por ter sido ele idealizado por alunos, configurando

para nós um ótimo exemplo do tipo de impacto que o habitus de colégios como o

Nóbrega podia causar em seus estudantes.

O foco em trabalhos com a “mocidade” ganhou mais força e forma no período

de direção do Pe. Antônio Fernandes, os quais constam na introdução da obra

Institucional “Arquivo da Congregação Mariana” como, por exemplo, a experiência da

16

Anexo J.

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reconciliação de um sargento, que serviu de inspiração para o enfoque de trabalhos com

a juventude (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923).

Nessa obra, o padre fala da necessidade de formação de uma mocidade

acadêmica, que lidere trabalhos de restauração católica se aliando a trabalhos seculares.

Cita, como exemplo, um agente público chamado Salazar, que assumiu as “Finanças

Nacionais”, consideradas irremediáveis à época, meados da década de 20 e que

conseguiu as controlar (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 16), para

pontuar que a competência profissional do católico é algo de extrema importância, não

devendo ser negligenciada, mas que se deve ir além dessa competência e levar cristo a

todos os lugares.

Foi com esse empenho, de formar uma futura liderança católica leiga que

militasse pela causa católica nas mais diferentes esferas, que a partir de 1924, foi criada

a Congregação Mariana de Mocidade Acadêmica, onde as reuniões eram feitas no

Nóbrega com os “jovens mais entusiasmados” e com professores do CMN

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.30).

Neste trabalho não daremos nenhum destaque à Congregação Mariana em si,

pela infinidade de pesquisas já existentes sobre o assunto17

. O que é importante saber

aqui é que seus trabalhos eram desenvolvidos pelos Jesuítas do Nóbrega e que uma de

suas maiores contribuições à Ação Católica em Pernambuco, em nossa opinião, foi a

Liga para a Restauração dos Ideais.

A Liga foi idealizada por três jovens em um colégio da Bahia – colégio não

especificado na fonte – que ao assistirem um sermão entenderam receber um chamado

divino de atuação nos tempos tão difíceis de Estado Laico para fazer a partir de seu

convívio acadêmico ações que reaproximassem os jovens dos ideários cristãos e assim

retomar a sociedade para Cristo. (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 68-)

Um desses jovens era Clóvis Leal, ex-aluno do Colégio Manuel da Nóbrega, que

pouco tempo após se mudar para a Bahia escreve uma carta, datada de 20 de agosto de

1926, endereçada ao Pe. Fernandes, na qual relata esse acontecimento e fala sobre a

Fundação da LRI18

na Bahia e pede a fundação de uma Liga no Nóbrega.

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 68)

17

Para aprofundamento sobre a CMMA ler autores como Sílvia Cortez Silva, Ferdinand Azevedo,

Andrea Carla Pinto, Zuleica Dantas, entre muitos outros. 18

Anexo O.

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55

Na carta ele diz como a ideia da Liga para a Restauração dos Ideais foi fruto do

tempo que passou com o Pe. Fernandes na CMMA, e fala da existência de muitas sub

ligas na Bahia e em São Paulo. Conta o auxílio que lhe foi dado pelo Pe. Torrend19

,

também professor do Nóbrega, que estava passando um tempo na Bahia. Além de

apontar os ideais da Liga:

Transformar a sociedade! Modificar costumes que se mostram como

verdadeiras leis a dominar o mundo! Reconstruir os alicerces dessa multidão

numerosa de indivíduos inteiramente cego no caminho da vida,

completamente ignorantes dos mais rudimentares preceitos da moral e da

religião! (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 68)

Recebida a carta, o Pe. Fernandes a lê para os alunos do 4º ano, segundo a carta

resposta datada de 22 de setembro de 1926, com orgulho e entusiasmo leva a proposta

aos integrantes do Nóbrega, que aceitam a fundação de uma LRI no colégio jesuíta do

Recife. (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 68)

Os primeiros trabalhos da Liga são internos, apenas com os próprios alunos do

Nóbrega, que envoltos em uma atmosfera particular de práticas, desenvolvem os mais

diversos exercícios para desenvolver as competências acadêmicas e morais (só

destacaremos no próximo subtópico).

O escolhido para patrono da Liga foi D. Vitalem como reconhecimento e

memória de seus trabalhos no Palácio da Soledade, além de uma homenagem ao Centro

D. Vital e a admissão da compatibilidade ideológica com o mesmo (CONGREGAÇÃO

MARIANA 1916-1923 pg.72) e o estabelecimento de correspondência com o Centro D.

Vital do Rio de Janeiro por intermédio do Presidente Dr. Jackson de Figueiredo

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.76).

A ata de abertura da primeira sessão solene da Liga para a Restauração dos

Ideais foi realizada no dia 10 de outubro de 1926, presidida pelo Superior da Missão

Setentrional dos Jesuítas, Revmo. P. Luiz Gonzaga. Participaram “alunos, professores

deste Colégio, doutores e acadêmicos de Direito e Medicina” e “várias outras pessoas

gradas” (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 75).

Na ata da segunda sessão solene da LRI, em 01 de novembro de 1926, presidida

por Andrade Bezerra está registrada entre outras, as discussões “A Igreja e a ciência” e

“Refutação do Darwinismo” e, terminando a sessão, “em eloquentes palavras, externou

a sua admiração pela geração atual que não negligenciava os problemas essenciais da

19

Anexo F.

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56

religião e da ciência”, lamentando que não haja o mesmo acontecido com as gerações

passadas que “descuraram” o estudo da religião. Dá como exemplo dessa falta o

eminente médico brasileiro Dr. Miguel Couto, o qual por lamentável ignorância

religiosa aplaudiu, em entrevista, a implantação do divórcio no Brasil, quando se

discutia a possibilidade de decretação no Brasil” (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-

1923 pg. 77).

Após ganhar mais credibilidade, as notícias sobre a LRI eram publicadas nas

revistas Maria e a Tribuna que, em confluência daquilo que se espera de uma “boa

imprensa”, se tornaram porta-vozes da liga trazendo desde notícias e calendário de

atividades, sendo verdadeiros escoadores da ideologia restauradora da Ação Católica do

Nóbrega. (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.77).

Com o tempo, as sessões solenes públicas se tornaram cada vez mais comuns e

contavam quase sempre com a presença de grandes personalidades, como a do diretor

da Faculdade de Direito do Recife (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 41).

Em uma delas, compareceram o Arcebispo D. Miguel de Lima Valverde, acompanhado

de alguns bispos. Ele proferiu vários elogios à Liga (CONGREGAÇÃO MARIANA

1916-1923 pg.78). Milton Cabral, aluno, apresentou um trabalho intitulado “Prece”

reflexão religiosa e patriótica falando sobre a pátria. (CONGREGAÇÃO MARIANA

1916-1923 pg. 81). Também participaram dessa sessão o Sr. Dr. João Viana Pais,

magistrado e Procurador Geral do Estado, que proferiu algumas palavras como um

sermão, e os acadêmicos das Escolas superiores do Recife. (CONGREGAÇÃO

MARIANA 1916-1923 pg.82)

Já consolidada a ideia da Liga, em potest. de 24 de outubro de 1927 eles

declaram um Ato de consagração ao Sagrado Coração de Jesus, adotado pela Liga para

a Restauração dos ideais fundados no Colégio Nóbrega, onde se comprometeram a fazer

a vontade de Deus que é, entre outras coisas, a que eles aprendam a fundo sobre a

religião, que a pratiquem, que a defendam e exerçam um apostolado leigo em volta

deles. (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 59).

Com o tempo, os projetos desenvolvidos pela Liga foram se expandindo cada

vez mais, especialmente os retiros, provendo dentro deles conferências e palestras para

que os alunos tivessem contato com católicos leigos que se empenhavam em

empreendimentos em prol da Ação Católica no Recife. Só o relatório dos retiros da

segunda metade da década de 20, contavam com uma listagem de cerca de 450 nomes,

só entre visitantes externos que fizeram parte das turmas dos retiros mensais, divididos

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entre: Bacharéis, Médicos, Engenheiros civis, Químicos Industriais, Padres,

Engenheiros mecânicos, Agrônomos, Professores, Funcionários públicos, Banqueiros,

Farmacêuticos, Jornalistas, Industriais, Comerciantes, Acadêmicos de Direito,

Acadêmicos de Engenharia, Acadêmicos de Agronomia, Acadêmicos de Medicina,

outros estudantes e Senhores (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 137-151)

Entre os destaques de frequência e relevância nesses retiros são dados a Andrade

Bezerra e Nilo Pereira. Aquele, um dos mais envolvidos nas atividades com a Liga

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.74), chegou a ter uma sessão

extraordinária da LRI em sua homenagem no dia 13 de Novembro de 1932, que contou

como um dos oradores foi Nilo Pereira (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923

pg.87).

Em discurso proferido em outubro de 1929, o secretário do Nóbrega José Mariz

de Moraes traduz o sentimento de orgulho que a Liga trouxe aos alunos e professores do

Nóbrega: “(…) este entusiasmo, esta vida, este calor, que faz com que a nossa Liga uma

associação conhecida em vários pontos do Brasil e até da Europa, como modelo.”

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 56). Este sentimento advém do

reconhecimento da Liga Recifense como referência não só de cunho local, como

internacional.

Um dos episódios que mais demonstrou esse espírito foi o fato de que era

comum os pontífices autografarem os mais diferentes pedidos, fotos e projetos em sinal

de apoio a eles, entretanto Pio XI julgou mais razoável tornar mais raras essas

concessões. Porém, por meio do Pe. José de Oliveira Dias, antigo professor do Nóbrega

que a época era Magister da Universidade Gregoriana o Pontífice tomou conhecimento

da LRI, assinou uma petição a eles e ainda escreveu “muito afetuosamente e da melhor

boa vontade no Senhor”. Dizem os mais próximos a ele que “são o máximo que ele

costuma escrever, e isto mesmo só em casos muito excepcionais”. (CONGREGAÇÃO

MARIANA 1916-1923 pg.62)

O que se pode tirar de lição é que embora aquele ideário inicial, de “Transformar

a sociedade! Modificar costumes que se mostram como verdadeiras leis a dominar o

mundo!”, não tenham sido alcançados, a idealização, construção e manutenção de uma

Liga por alunos, auxiliado e influenciada por professores, que teve por objetivos

restaurar aqueles ideais católicos de uma sociedade laicizada se configurou uma das

maiores visualizações da contínua força e influência do pensamento católico no Recife.

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Formando, assim, os futuros militantes católicos que iriam atuar em projetos que

tomaram potência e se traduziram em grandes conquistas de retomadas no Estado Novo.

3.1.2. Práticas disciplinares para a formação de um modelo padrão de moço cristão

combatente

Ao longo de nossas análises documentais, encontramos vários indicativos de

como eram organizadas as práticas do CMN em relação à Ação Católica, entretanto,

uma delas consegue deixar mais claro como esta instituição tinha, aparentemente,

objetivos bem definidos quanto a contribuição e as ações que eles consideravam como

práticas restauradoras. Portanto, “pelo que fica dito, deduz-se que ao pensarmos em

restauração nos pautamos em dois recursos : 1) Retiros fechados; 2) Personificação de

um modelo moço de cristão combatente, digno de ser tomado como padrão.”

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.55)

Neste subtópico descreveremos as práticas que faziam parte das atividades

cotidianas dos agentes do CMN e tentaremos analisar como essas mesmas práticas

contribuíam para o principal objetivo restaurador jesuíta de estabelecer aquilo que eles

entendiam como a “Personificação de um modelo moço de cristão combatente, digno de

ser tomado como padrão.” (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.55)

Para tanto, os projetos de restauração do Nóbrega vão “empregar meios naturais

e sobrenaturais” (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.17) para alcançar a

confluência entre a formação de um alto padrão de profissional secular com o ativo

militante católico.

A carta a Europa o P.C. Torrend, em 17 de outubro de 1925, nos fornece grandes

pistas de como eles direcionavam atitudes comportamentais a estudantes

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 57-59) a partir da compreensão de um

“estado psicológico naturalmente inerente na sua subconsciência”.

Se o educador souber apelar para eles para construir, mostrar confiança no

seu valor, compreender os seus ímpetos generosos, em vez de os contradizer

ou em vez de abafar a sua personalidade principiante, como isso infelizmente

acontece ainda a tantos pedagogos ignaros da psicologia moderna, é

assombroso como esses moços tomam consciência do seu valor e das suas

qualidades. (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 58)

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Segundo ele, o educador precisa, pois, “falar a estas crianças grandes como a

homens de experiência, deixar-lhes o cuidado de se treinar intelectualmente e

moralmente de se corrigirem mutuamente” (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923

pg. 58). Desse modo o seu papel se limitará a ganhar plenamente a confiança delas, para

assim, dirigir o seu entusiasmo, temperar o seu ardor, alimentar os seus ímpetos

generosos, e especialmente ajudá-las a “fazer uma guerra sem trégua ao desânimo, que é

a pior das tentações no dizer de S. Francisco de Sales que conhecia a fundo a psicologia

humana embora Freud ainda não tivesse inventado a psicanálise moderna”.

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 58).

Conforme o Pe. Torrend é especialmente sobre este “terreno da psicologia

prática que se deve exercitar o principal trabalho do educador, quero dizer, do diretor

espiritual.” Ele dá o exemplo: quando um associado que esteja desanimado porque

contra todos os seus propósitos cometeu uma falta, é preciso fazer-lhe encarar a falta

sob o lado otimista, “obfelix culpa que lhe permite estudar os fatores destruidores de

sua vontade precisamente na idade em que pode reagir e mudar as más tendências em

bons hábitos.” (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 58)

É interessante deixar claro que ao analisarmos o nosso conjunto de fontes,

concluímos que a aplicação dessa postura de aproveitar-se de um “estado psicológico”

já existente do aluno não significou, de forma alguma, uma educação voltada à

autonomia do sujeito. Muito pelo contrário, aquelas práticas voltadas a uma disciplina

rígida, com um acompanhamento cotidiano, feita sobre os alunos nunca foram

abandonadas.

Um bom exemplo disso é que toda a estrutura arquitetônica do Palácio da

Soledade sofreu uma série de reformas no início da década de 20 para facilitar a

vigilância aos alunos (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929), elas iam desde aberturas

nos dormitórios à torres de vigilância (CONSULTAS).,Além disso, medidas

disciplinares corretivas eram constantemente tomadas, especialmente em relação aos

comportamentos considerados, de uma forma geral, indesejados. Mas, nada que

diferisse muito de qualquer outro colégio de cunho tradicional do início do século XX.

A atuação dos jesuítas não se dava apenas nas relações envolvendo estados

psicológicos dos alunos, teriam relação especial, dado ao período histórico por eles

vivido, também com a forma de encarar seu patriotismo. Para isso, o diretor Pe. Antônio

Fernandes, que também era o professor de história do CMN, realizava conferências e

exortações “seguindo a risca o programa patriótico-religioso” procurando educá-los,

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especialmente os envolvidos com a LRI, nos “verdadeiros sentimentos de patriotismo”

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 45):

O verdadeiro patriotismo deve estar no Brasil, baseado na religião católica e

nortear-se pelos seus princípios. Ora existem muitas forças, umas ocultas,

outras manifestas, que lutam sem cessar para examinar a Igreja de Deus. E

quem deve preparar-se para a frente se não a mocidade estudiosa?

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.45)

Segundo o Pe. Fernandes o patriotismo não pode consistir simplesmente em dar

vivas ao Brasil, soltar foguetes, celebrar festas, pronunciar discursos altissonantes. Tudo

isso é muito bom e louvável, mas não basta. O verdadeiro patriotismo visa mais alto:

Digo verdadeiro, e torno a dizer que ela move um patriotismo verdadeiro e

real, e não um patriotismo fictício, artificial, efêmero, superficial. Esforça-se

por estudar quais os fatos que possam concorrer para o engrandecimento do

Brasil, e quais os germens demolidores que por ventura venham no seu

organismo, a fim de promover os primeiros, e combater os segundos.

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.45)

Ainda na linha de construção ideológica, percebemos o quanto a formação de

um pensamento católico militante nos alunos era importante para os jesuítas do CMN.

Por essa razão, eles consideraram uma de suas principais conquistas, intimamente

ligadas ao espírito de restauração católica, a construção de sua biblioteca. Creditada

como fruto do trabalho conjunto da LRI e da CMMA, nela eles dão destaques aos livros

de autores como “Mercier, Psichari, Termier, Hello, La Prune, CHesterton, Pastor, etc.,

juntamente com a enciclopédia Espasa, e os dicionários de Apologética, Teologia,

Geografia e História Eclesiástica” (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.55).

Entretanto, o primeiro questionamento que naturalmente nos ocorreu foi: Qual a

garantia de que os alunos de fato liam essas obras e autores? Essa indagação, ao que nos

parece também foi um ponto de preocupação dos dirigentes jesuítas, que, segundo um

discurso proferido pelo secretário do CMN, José Mariz de Maraes, essa apreensão

resultou numa satisfatória surpresa, pois eles tinham “tido um registro de leitura e

consulta bem animador. Exatamente o contrário do pessimismo, até certo ponto

razoável, antigamente proclamava entre nós, isto é, que os livros jazeriam sem leitores.”

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.55)

Como dissemos no início, a instrução dos estudantes do Nóbrega envolvia o

emprego de “meios naturais e sobrenaturais” (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-

1923 pg.17). Dessa maneira, a formação acadêmica dos alunos estava sempre associada

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a atividades de cunho religioso. Assim, uma praxe que merece atenção nas atividades

cotidianas do CMN era a constante realização dos denominados exercícios espirituais

(DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929).

Os exercícios espirituais tinham por finalidade levar os indivíduos a

“aprenderem o domínio de si, a disciplina, a formação necessária para exercerem

qualquer função na sociedade” (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 115).

Pode-se dizer que a fonte principal da formação interior dos congregados e da

sua atividade externa são os Exercícios de Santo Inácio. É na Vila Nóbrega

que nós haurimos a coragem para vencermos as paixões, para guardarmos a

castidade (espetáculo novo nos acadêmicos), para professarmos a nossa fé em

comícios públicos, para lutarmos contra a maçonaria e para exercemos a ação

católica em outros sectores”. (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.

115)

Alguns exercícios seguindo essa mesma linha funcionavam assim: para os

problemas espirituais práticos eram feitas reuniões de grupos onde cada um podia

confessar publicamente suas dificuldades, como desânimo, falta de controle do gênio,

etc. e na reunião seguinte, trechos de textos sagrados eram escolhidos para serem

aprofundados por todos. (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 59)

Já nos atritos entre os componentes da LRI, o Diretor Espiritual, que

acompanhava de perto o progresso de cada um, analisava os fatores inconscientes que

de longa data influíam no inconsciente dos seus espíritos para fomentar antipatias, que

poderiam se exteriorizar em brigas. Dessa forma eles aprenderiam a estimar-se

mutuamente, a perdoarem algumas palavras irrefletidas e serem otimistas nas

interpretações das opiniões alheias. (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 59)

Sobre esses exercícios, João Paulo Temporal traz um ótimo comentário em

publicação na revista Maria:

Esta juventude sintetiza em si o que há de mais nobre e mais e mais forte

entre os católicos brasileiros e os exercícios espirituais são a arma mais forte

que dispõe o cristianismo para aquele fim, e o seu exemplo vem do próprio

Cristo para regenerar o homem. São eles feitos com fervor e entusiasmo

produzem estes gigantes de Fé e santidade, que, como o sangue dos primeiros

mártires, são verdadeiras sementes cristãs.” (CONGREGAÇÃO MARIANA

1916-1923 pg. 121)

Notem que, como já demonstramos, publicações como essas fazem parte do

movimento restaurador da “boa imprensa”. Aliás, ao longo dos anos as ações do CMN

eram divulgadas na imprensa, especialmente na revista Maria e na Tribuna. Como

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mostra, por exemplo, uma reportagem sobre a Liga em A Tribuna em 2 de Novembro

de 1926, que falava, entre outras coisas sobre “o desejo dos Jovens do Colégio Nóbrega

organizar uma biblioteca para os seus estudos e adquirir um retrato a óleo de D. Vital, o

grande bispo da Igreja, para honrar a sala dos seus trabalhos. (CONGREGAÇÃO

MARIANA 1916-1923 pg.78)

Outro evento que virou notícia e foi publicado por Oswaldo Moura em matéria

da Revista Maria da edição de setembro de 1928 foi a “comunhão reparadora entre os

estudantes do curso superior, do Recife.” Essa comunhão era realizada nas primeiras

sextas-feiras na capela do Colégio Nóbrega (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923

pg. 56) e se ampliava a cada ano, resultando em uma série de jovens das Escolas

Superiores do Recife “madrugando cedo a fim de poderem vir ao Colégio Nóbrega e,

após a comunhão, ainda chegarem as aulas das 8 h” (CONGREGAÇÃO MARIANA

1916-1923 pg.64).

Ademais, suas relações com essas revistas iam muito além do anúncio dos

trabalhos jesuítas. Os agentes dirigentes do CMN queriam ampliar o envolvimento dos

alunos do colégio com essas revistas. Eles pretendiam com isso cultivar as “faculdades

comunicativas” dos estudantes, começando com a “propaganda pela imprensa” através

de cursos preparatórios pela revista católica Maria. Eles se baseavam no ideal de “Não

se pode ser cristão sem ser apóstolo” para estimular o desenvolvimento das capacidades

retóricas que os militantes católicos iriam precisar na “propaganda” do evangelho.

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 55)

Nas análises mais gerais de nossa documentação, percebemos como a educação

jesuíta valorizava estas experiências que pusessem os alunos em contato com católicos

leigos atuantes e com instituições que cooperassem entre si para a constituição de um

programa de Ação Católica. Logo, em um julgamento simplicista podemos incluir como

praxe contributiva à construção do “moço cristão atuante” as inúmeras atividades

extracurriculares, se é que aqui cabe o termo, e a inclusão numa comunidade cristã que

ultrapassasse os muros do Palácio da Soledade.

Entre os frutos desses empreendimentos doutrinadores desenvolvidos pelo

Colégio, estavam o Congresso Católico da Mocidade, que a princípio era um evento

estadual, se expandido e se tornando um congresso de toda a região nordeste. Para ele se

pensava uma perspectiva mais prática, contendo em seu programa campanhas e

discussões pontuais, com objetivos claros e bem definidos. Entre os quais destacamos:

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I Formação Religiosa:

A) Desenvolver o estudo do Catecismo e da apologética nos colégios, estimulando

os alunos com prêmios grandes.

B) Introdução do estudo de problemas religiosos nos cursos livres das Escolas

Superiores e nas organizações acadêmicas particulares.

C) Ensino do Catecismo nas Escolas Públicas primárias.

D) Incluir no programa das associações piedosas masculinas e femininas o dever

do catecismo principalmente as crianças pobres e descuidadas.

II Formação Moral:

D) Cinemas Educativos Católicos

E) Campanha contra a pornografia

III Formação Intelectual:

A) Desenvolver o mais possível o ensino da filosofia escolástica, afim de suprir a

falta de uma Universidade Católica.

C) Organização do trabalho intelectual em outros ramos de influência católica,

como sociologia, etc.

D) Fundação de um Instituto Católico para comerciantes

IV Formação Política:

A) Iniciar os nossos jovens mais talentosos nos princípios católicos que devem

informar, orientar e dirigir a ciência do governo das nações

V Formação Física:

A) Organização de associações desportivas terrestres e náuticas com atmosfera

católica

VI Campanhas:

A) Propaganda de livros de cultura católica, folhetos Jornais, etc.

B) Com operários (CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg.117)

Antecipando algumas considerações conclusivas, nos arriscamos a dizer que o

disciplinamento jesuíta demonstrou resultados esperados, tendo alguns alunos, de fato,

incorporado o espírito rescristianizador, de querer restaurar todas as coisas em Cristo.

A constituição da Liga, criada por pelos alunos, para a Restauração dos Ideais é um dos

melhores exemplos disso.

Por fim podemos usar como exemplo da absorção dessa praxe a campanha

realizada em setembro de 1932 pela LRI de “horror as conversas imorais” onde os

integrantes tinham o “compromisso sobre ponta de honra de não só se evitar todo gesto,

palavra ou conversa imoral”, como também fazer campanha de “propaganda contrária a

fim de libertar a nossa estremecida pátria deste vergonhoso hábito que mata as almas

das crenças inocentes e desdoira o nome do querido Brasil” (CONGREGAÇÃO

MARIANA 1916-1923 pg.86).

3.2. Higiene: principal confluência com a modernidade

A partir de alguns autores percebemos que as questões de higienização eram

uma das maiores incorporações dos discursos modernizantes da igreja. Já no cotidiano

do Nóbrega, através da nossa documentação, encontramos uma infinidade de textos

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preocupados a higiene, nos quais o discurso médico-cientista foi incorporador numa

série de práticas, que vão desde dedetizações, cuidados contra epidemias, a criação de

diretorias específicas responsáveis pela higiene do colégio (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO

1917-1929).

A confluência com o discurso da modernidade não seria, portanto uma novidade.

Ainda em tempos agostinianos percebe-se que aceitações da razão e das inovações

advindas de suas contemporaneidades fazem-se necessária para a adaptação da Igreja. O

que, claro, não a impede de delimitar o uso da racionalidade à ótica da fé.

Com o tempo, tornou-se comum em alguns textos publicados pela Igreja, a aceitação da

razão, da modernidade, e das inovações benéficas, especialmente nas áreas de saúde.

Com argumentos totalmente ilógicos e enganosos, não deixam de invocar a

força e superioridade da razão humana, e de destacá-la contra a santíssima fé

de Cristo; e resmungam descaradamente que tal fé é contrária a razão

humana. Não se pode sequer imaginar e cogitar nada que seja mais

desconsiderado de tudo isso, mais ímpio e repugnante à razão mesma.

Embora a fé seja superior a razão, todavia não se pode nunca afirmar que

entre elas exista dissídio e conflito, porque as duas provêm da única idêntica

fonte de imutável e eterna verdade, ótimo e máximo Deus, e se auxiliam

mutuamente. (PIO IX, 1846. pg. 84)

Segundo José Gonçalves Gondra, na obra “Artes de civilizar – Medicina,

Higiene e Educação Escolar na Corte Imperial”, foi em meio a um jogo de afastamento

e aproximação entre religião e ciência, e a partir da dinâmica interna entre dois modelos

mais gerais, um francês, outro inglês e inúmeras correntes médico-acadêmicas, que a

medicina vai se institucionalizando no Brasil no século XIX (GONDRA, 2004).

Destacando, contudo, o que concerne ao nosso foco, Gondra mostra como o

higienismo estava ligado a um discurso utópico de um modelo escolar integral que

concentrou numa instituição a educação física, moral e intelectual (GONDRA, 2004).

E é esse um dos pontos que se concentra uma das confluências entre a

racionalidade acadêmica positivista médica, o social do Estado e a moral da Igreja: “A

escola enquanto lugar de cura para uma sociedade descrita sob marcos da incivilidade,

desordem, feitiçaria, curandeirismo, práticas mágicas, curiosidade e desrazão”

(GONDRA, 2004. pg. 12).

Embora indiscutivelmente ameaçada pela crescente racionalidade de alguns

modelos, a Igreja se posiciona de uma forma a abraçar aquilo que de forma inevitável já

tinha conquistado certo espaço de credibilidade social, e durante o fim do século XIX e

início do XX vai tentando flexibilizar a negação da modernidade:

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Assim como o Estado, também a ciência, o método e a investigação

científica, nada têm a temer do pleno e perfeito mandato educativo da Igreja.

Os institutos católicos, a qualquer grau de ensino e de ciência a que

pertençam, não têm necessidade de apologias. O favor de que gozam, os

louvores que recebem, as produções científicas que promovem e multiplicam,

e mais que tudo, os sujeitos, plena e excelentemente preparados que oferecem

à magistratura, às várias profissões, ao ensino, e à vida em todas as suas

actividades, depõem mais que suficientemente em seu favor (PIO XI, 1929)

A admissão da validade do conhecimento científico na modernidade traz um

novo discurso da Igreja, numa faixada mais desenvolvimentista que abandona ideias

arcaicas de sociedade, mostrando que a defesa da tradição da Igreja não significa

necessariamente uma negação do bom progresso:

Uma sciencia existe, mas que todas necessária; sciencia que as crianças,

novas ainda no mundo lhes ensina o donde ellas vêm, o porque vêm, e para

onde vão; sciencia que revela ao homem a sua missão, o seu valor e o seu

destino; sciencia que única possue o segredo de uma moral eficaz; é a

sciencia da Religião. Si a escola moderna, pois, é o templo da sciencia, não

pode deixar de fora o ensinamento da mais importante das sciencias: a

Religião. (LEME, 1916)

Trazendo isto ao cotidiano recifense, Augusto Lins e Silva, é um ótimo exemplo

para mostrar que essa confluência com a modernidade em seus discursos higienistas não

era exclusividade do Nóbrega, mas sim do pensamento católico, que também podia se

manifestar com moldes mais “racionais”. Mostrando que o catolicismo republicano não

nega a validade científica, ele discursava sobre como a responsabilidade médico-legal

pode levar para as discussões que envolvam conceitos éticos e morai influências da

doutrina católica. Ele o faz na formulação de uma linha do tempo sobre a

responsabilidade médico-legal, em que dá mérito à Igreja por aceitar as pesquisas acerca

do assunto, viável apenas pela desvinculação delas das superstições, dando a ela

credibilidade:

(...) depois, o direito eclesiástico, acceitando intelligentemente as pesquisas

medico-legais dá importância honrosa à medicina, pela media edade, a

despeito das praticas cahoticas, abstrusas e superticiosas que enchem o

terreno menos vasto das jurisdicções e são o apanagio consolador do seu

tempo sem depurar a ordem dos factos accresce que já por esse tempo, o

casamento (...) (SILVA, 1913, pg. 6) ·.

E isso não se limita aos olhares da Igreja sobre o assunto. Segundo Lêda Sellaro,

no início do século XX a ideia de que só por meio da educação haveria a assimilação de

hábitos higiênicos pelos sujeitos sociais e as iniciativas ligadas à política sanitária

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surtiriam os efeitos possíveis e desejáveis se aplicadas de forma correta. (SELLARO,

2009). Então, com o intuito diretivo a códigos “cristãos, brancos, europeus e

masculinos” no que se refere a corpo e espírito, os jesuítas desde a chegada ao Brasil

ainda no período colonial atendem a população física e espiritualmente (GONDRA,

2004):

O socorro aos corpos tornou-se um mecanismo cuja finalidade era amparar a

alma daqueles indivíduos considerados selvagens. Eminentemente

missionários, os jesuítas também se tornaram médicos, boticários e

enfermeiros. Num país marcadamente representado pelo signo da falta,

puderam preencher múltiplas funções assistindo igualmente índios, brancos e

negros, o que implicava cuidar dos doentes, hospitalizar, fornecer e ministrar

medicamentos, lancetar, sangrar, sarjar e partejar. (GONDRA, 2004. pg. 35).

Essa postura de “salvação” do “gentio” indicando-lhe o padrão a seguir não

parece mudar na vinda dos jesuítas no início do século XX (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO

1917-1929).

No CMN visualizamos a vinculação a um trabalho dentro do programa social de

Ação Católica de assistência moral e religiosa aos doentes, existindo até guias sobre o

assunto no arquivo do colégio20

. Além disso, o cotidiano dos alunos do colégio era

cercado de atividades disciplinadoras voltadas ao cuidado do corpo21

, nas quais estava

incluída a higiene.

Entretanto, periodicamente ondas de “peste” assolavam a cidade do Recife na

República Velha, e consequentemente o Colégio por sua posição geográfico central.

(DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929). As que mais causaram impacto no CMN

foram as ocorridas nos anos de 1918 e 1919, levando, em14/05/1919, o diretor de

higiene do colégio a solicitar o fechamento do CMN por questões de segurança. Esse

reabriu três dias depois, após o Dr. Otávio de Freitas, a pedido do Diretor do CMN,

enviar uma equipe para desinfetar o colégio. (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929.

pg. 82)

Continuando nossa exposição, ao longo deste capítulo visualizaremos outras

práticas cotidianas que envolviam o colégio e que não encontraram dificuldades de

serem aplicadas, seja pelo apoio de uma grande parcela da sociedade ou pela ausência

20

COSTA, Joaquim Pinto Da. Assistencia moral e religiosa aos doentes: Notas de teologia

pastoral pratica e accao social catolica. 1. ed. Porto: Biblioteca utiledulci, 1924. 495 p 21

Associação Desportiva Acadêmica, anexo Q.

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significativa de um movimento opositor de cunho mais radical como encontraram em

Portugal.

Embora tenha havido a necessidade de adaptação ao discurso da modernidade,

as ações do CMN denominadas por seus próprios agentes como restauradoras, nem

precisaram serem de fato “restauradas”, uma vez que o discurso de uma moral

“civilizante” vindo “de baixo para cima” já era algo ordinário na cultura da sociedade

recifense. As ações “catequizadoras” elitistas ocupavam o espaço público sem grandes

dificuldades, usando instituições de ensino religiosas para, ao mesmo tempo, instruir os

futuros militantes católicos, e realizar um disciplinamento social das massas.

E é justamente na promessa de instauração da “ordem pública”, que o discurso

produzido pelos agentes do CMN ganha mais receptividade nos setores de elites

políticas, que precisavam lidar na época com uma série de revoltas pontuais e

necessitavam do apoio de um discurso diplomático que contivessem os ânimos e

agissem como razão conciliadora entre eles e as massas.

Assim, garantindo a manutenção da ordem para as elites e exercendo sua divina

obrigação de auxílio ao pobre por meio das mais variadas campanhas de caridade e de

ensino profissionalizante gratuito, que o CMN consegue se instaurar como mediador

dos conflitos entre essas camadas sociais, garantindo um lugar de destaque na sociedade

recifense, o que os permitiram ir além, fazendo com que os discursos moralizantes

representassem uma força real que não poderiam ser ignoradas pelos setores

políticos/legislativos.

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4. CAPÍTULO 3: ENTRE PESSOAS, LUGARES E INSTITUIÇÕES: UM

ESTREITAMENTO DE LAÇOS COM A ELITE PERNAMBUCANA COMO

ESTRATÉGIA POLÍTICA?

Esse capítulo tratará, além das aproximações culturais, das pistas indicativas de

aproximações de forma prática, muitas delas aparentemente sutis, mas que se vinculam

às estratégias maiores, que em pleno Estado Laico, inauguraram ou apelaram para

manutenção de práticas até os dias atuais e que são difíceis de serem abandonadas.

Aqui abordaremos a Instituição redirecionando o olhar para os sujeitos e os

agentes que a compõem, analisando o trânsito entre lideranças eclesiásticas e leigos,

destacando suas inserções sociais e chamando atenção ao fato de seus discursos e ações

estarem cobertos de sentido, não com o intuito de esgotar suas análises, mas apenas

como sinais indicativos de direções conclusivas, as quais esta pesquisa pretende chegar.

Quando falamos de um período como a República Velha, a confissão de uma fé

católica é algo que traz prestígio social mesmo na república, “(...) logo são restituídas à

hierarquia as marcas exteriores de prestígio e respeito, e mesmo acrescidas. Os homens

políticos, mesmo antigo livre pensadores como Rui Barbosa, sentem-se obrigados a

fazer pública confissão de fé em suas campanhas”22

Sérgio Miceli, que acabou se tornando um autor clássico dos estudos dessa

temática ( citado ao longo do texto), vem demonstrando que para continuar relevante e

próxima aos detentores do poder no Brasil a Igreja precisou reagir as mudanças

impostas no período republicano: recrutando seus quadros entre a elite do país,

tornando-se a principal entidade da rede de ensino privada no país, criando novas redes

de imprensa e abrindo novas dioceses no país (MICELI, 2009).

Desse modo, ela se beneficiou do Estado Laico Brasileiro para retomar o

controle sobre a formação e a disposição do pessoal religioso, que a muito perdera em

função do regime do padroado no Império, e não hesitou em usar as solenidades dos

cultos romanizados para legitimar e fortalecer o sistema de poder das elites a que

estavam associadas. (MICELI, 2009). Nesse sentido todo “plano” de ação da Igreja

22

MOURA, e ALMEIDA in FAUSTO1977Vol. 2., p. 329

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parece obedecer uma lógica de etapas, que vão desde sua restauração institucional, até a

conquista simbólica de vários setores socioculturais e políticos.

A expansão organizacional da Igreja tomou o feitio de um processo de

‘estadualização’ do poder eclesiástico. Com a Igreja tendo perdido o status

oficial de ‘ramo da administração pública’, destituída dos privilégios

inerentes à condição de corporação subsidiada e sem poder contar com o

respaldo de qualquer segmento de peso na coalizão à testa do novo regime

republicano, os detentores dos postos de decisão na alta hierarquia

concentraram esforços e investimentos na área mais próxima de influência.

(MICELI, 2009. pg.65)

Com o objetivo de formar um “cerco territorial” montado no Nordeste visando,

sobretudo, acordos políticos com setores dirigentes, uma série de dioceses foram criadas

e de gestões de prelados como D. Leme que serviram de forma estratégica aos interesses

da Igreja (MICELI, 2009):

A política de ‘estadualização foi implementada através de estratégias

diferenciadas conforme o peso político e a contribuição econômica de cada

unidade federativa para a manutenção do pacto oligárquico e, por

conseguinte, uma função da margem de influência e prestígio á conquistada

pela Igreja, do grau de receptividade à sua contribuição por parte dos círculos

dirigentes locais e do potencial de mobilização dos católicos como grupos

articuladores de pressão a ponto de influir sobre decisões governamentais

suscetíveis a afetar as áreas vitais de interesse para organização eclesiástica.

(MICELI, 2009. pg.66)

Essa não foi uma particularidade do Nordeste, nem da gestão de D. Leme. Com

o intuito de uma política expansionista da Igreja, cada estado do Brasil ganhou uma

diocese, foram feitas alianças com setores de peso da oligarquia em troca,

principalmente, da prestação de serviços educacionais e controle de ordem das massas

subversivas (MICELI, 2009).

Colégios contemporâneos ao CMN, abrigaram uma gama de interesses sócio-

políticos em sua criação. Eles não só serviam aos interesses econômicos de empresários

que viam grandes possibilidades de lucros ao apoiar financeiramente esses

empreendimentos, com tinham o apoio de um setor oligárquico que via no prestígio

social da Igreja uma forma de promoção, especialmente na política, além da alternativa

à demanda não suportada pelo governo de instituições de ensino que atendessem a

população.

Em contrapartida, a Igreja se fazia presente nas mais diversas esferas da

estrutura ideológica do país, travando batalhas simbólicas de “tomada de território” dos

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espaços públicos, que iam desde benzer prédios públicos, gerir hospitais, etc. e que

culminou na retomada do ensino religioso nas escolas públicas na Era Vargas (MICELI,

2009).Como, por exemplo, a reposição do Jesus Cristo Crucificado no salão do Júri de

Olinda, no dia 09/11/1919, realizada pelos Jesuítas do Nóbrega (DIÁRIO DE

FUNDAÇÃO 1917-1929.pg. 97). Embora pareça se tratar de simples rotina, está

carregado de sentido, pois, segundo o historiador Marcos Gonçalves, aparentemente

estava ligada ao movimento “Cristo no Júri”, da década de 1910, encabeçado pela

Revista Ave Maria; um movimento fundamentalista, que visava reintroduzir a figura do

Cristo nos lugares onde se produz a justiça dos homens. Segundo o pesquisador:

implica-se ao destaque dado a determinada visão ou símbolo primitivo,

original, como principal e mesmo único foco da tradição. O crucial, segundo

Eisenstadt, não é apenas a seleção de certo tema ou símbolo da tradição em

prejuízo dos demais, e sim, a subordinação dos diferentes aspectos e camadas

da tradição às presumíveis implicações desse princípio único e a sua

concomitante hierarquização (GONÇALVES, 2008. pg. 78)

´É interessante frisar que a prestação de serviços educacionais, como aqueles

fornecidos pelo CMN para as elites, passou a constituir a diretriz-mor da política

expansionista seguida pela organização eclesiástica.

A criação de escolas secundárias femininas e masculinas, se tornaram um dos

principais itens dos programas de governo dos dirigentes oligárquicos. (…)

Não podendo arcar diretamente com os encargos financeirose institucionais

requeridos pela formação de quadros docentes e administrativos, e sem

contar com o respaldo de políticas públicas adequadas na área educacional,

os governantes estaduais e alguns setores de peso dos grupos dirigentes locais

preferiram dar mão forte aos empreendimentos confessionais.

Emprestandoou fazendo cessão de terrenos e prédios em condições

vantajosas, concedendo subsídios financeiros diretos ou sob a forma de

bolsas de estudos, convênios, contrato de serviços, e, sobretudo, matriculando

seus próprios filhos, os grupos dirigentes se mostraram particularmente

empenhados no sucesso desta política educacional entregue nas mãos de

autoridades diocesanas e das ordens religiosas, sobretudo das estrangeiras,

especializadas na prestação desse tipo de serviço. (MICELI, 2009. pg.29)

Notem, que a prestação de serviços educacionais a política pública aproximou a

igreja dos setores oligárquicos mais estratégicos do país, que por sua vez, constituíam

um canal participativo da Igreja no Estado.

4.1. Rede católica de intercâmbio do CMN

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Como vimos, durante o processo de “estadualização” empreendida pela Igreja na

República velha, as instituições de ensino tinha um importante papel de aproximação

política. Aqui, entretanto, destacaremos algo que precede a isso, a vinculação do CMN

ao papel de articuladora das ordens religiosas, clérigas e leigas, nas campanhas que

exigiram uma maior convergência de esforços.

No tópico sobre a aproximação política veremos os agentes componentes do

Nóbrega se associando às principais campanhas político-legislativas em que o Nóbrega

se envolveu diretamente no período estudado: a campanha contra legalização do

divórcio e a em prol do ensino religioso nas escolas públicas.

Em tais campanhas, vemos os padres jesuítas, alunos e congregados da

Congregação Mariana de Mocidade Acadêmica e da Liga para a Restauração dos Ideais

do Nóbrega, encabeçando grandes atividades que mobilizaram e articularam o

catolicismo pernambucano, e em certas vezes até nacional.

A Congregação Mariana, desenvolvendo, no Recife e no interior do Estado,

um movimento de tamanha amplitude espiritual, não fazia mais do que dar

um eloquente testemunho de compreensão dos seus deveres perante Deus e a

Nação. Ela quis demonstrar que uma restauração nacional não pode ser

conseguida sem os fundamentos da educação cristã. (CONGREGAÇÃO

MARIANA 1924-1927. pg. 100)

Em relatório sobre a campanha em prol à CMMA, Nilo Pereira fala aos moços

congregados da CMMA

sentiram que havia chegado a ocasião oportuna de agir em nomedos Direitos

de Deus, esquecidos e postergados em má hora de quase divinização dos

chamados direitos do homem. (…) juventude católica saísse a rua para

mostrar ao agitado povo que a solução dos males não estava no golpe

revolucionário; ela estava antes de tudo, na educação cristã da nossa gente,

que expiava tragicamente as culpas da sua ingratidão (…) com acervo de 40

anos de regime o doloroso fardo de uma longa e causuística

experiência”(CONGREGAÇÃO MARIANA 1928-1940. pg. 116)

Os trabalhos que ganharam mais proporção foram os comícios em prol do ensino

(detalhados no tópico sobre aproximação política), que se espalharam na virada para

década de 30, nos quais os professores e os alunos distribuíam boletins de propaganda

católica de ensino, vinculados a uma série de congregações:

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as forças ponderáveis do catolicismo pernambucano, ligadas pela ação

constante e eficiente desta Congregação, prepararam o advento do ensino

religioso, conquista há muito desejada por quantos anseiam ver nossa

estremecida pátria liberta do laicismo perversor e separatista

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1928-1940 pg. 126)

Outra ação que ganhou grande adesão, desta vez nacional, foi a “Cruzada de

orações pela Restauração cristã do Brasil”23

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1928-1940

pg. 107). Nela, os jovens Marianos primeiramente solicitaram um “tríduo de preces” em

preparação à festa de Cristo Rei através da imprensa e depois percorreram pessoalmente

hospitais e associações piedosas. Em Seguida, enviaram um telegrama “aos bispos do

Brasil”, solicitando nominalmente à adesão de cada diocese brasileira ao movimento.

Logo em seguida, uma série de cartas, endereçadas ao Pe. Fernandes chega ao Colégio

confirmando a adesão à ação e o parabenizando pelos trabalhos desenvolvidos com a

juventude (CONGREGAÇÃO MARIANA 1928-1940 pg. 107-113).

Abaixo, transcrevemos algumas instituições eclesiásticas e Leigas que se

vincularam a estas ações promovidas pelos agentes do Nóbrega:

1. Colégio Salesiano do

Recife

2. Instituto N. S. do

Carmo

3. Colégio do Coração

Eucarístico

4. Conferencistas de São

Vicente de Paulo

5. Colégio S. Margarida

6. Noelistas Brasileiras

7. Colégio de S. José

8. Redação da A.

Tribuna e todas as

associações do

Colégio do Coração

Eucaristico

9. Comité Noelista de

Pernambuco

10. Centro D. Vital 11. Paroquia de Gravatá 12. Companhia de Caridade

23

Não está especificada na documentação a data do evento

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13. Centro do Apostolado

da Oração para as

Faculdades

Superiores do Recife

14. Associações Católicas

de minha paroquia

15. Apostolado da Oração

16. Liga dos Católicos de

Olinda

17. Irmandade de S.

Pedro dos Clérigos

18. Pia União do Hospital

das Doenças Nervosas e

Mentais

19. Centro Social

Católico de Afogados

20. Ordem 3a.de Nossa

Senhora do Carmo do

Recife

21. Filhas de Santa Ana

22. Hospital Português de

Beneficência

23. Pelo Convento de S.

Francisco do Recife

24. Associação das

Senhoras de Caridade

do Recife

25. Circulo Católico de

Pernambuco

26. Paróquia da Soledade

27. Associações da Matriz

da Graça

28. Asilo do Bom Pastor

29. Associação de Bôa

Imprensa

30. Centro Social Católico

31. Conferência de Nossa

Senhora do Rosário

da Várzea

32. Liga para a

Restauração dos

Ideais

33. Colégio da Sagrada

Família

34. Apostolado da Oração

da Várzea

35. Apostolado da Oração

dos alunos externos e

semi-internos do

Colégio Nóbrega

36. Associação dos Santos

Anjos

37. Obra dos Batizados

38. Lazaristas do Recife 39. Pia – União das Filhas

de Maria do Colégio da

Sagrada Família de

Casa Forte

40. Colégio Salesiano do

Recife

41. Ordem Terceira do

Convento da Penha

42. Colégio das Dâmas da

Instrução Cristã

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43. Associação dos Ex-

alunos de D.Bosco

44. Convento de S.

Francisco

45. Pia – União das Filhas

de Maria

46. Associações da

Paróquia da Torre

47. Ordem 3a.de S.

Francisco

48. Associações da

Freguesia da Várzea

49. Conselho Central

Metropolitano da

Sociedade de S.

Vicente de Paulo em

Pernambuco

50. Associações da Igreja

do Convento de S.

Francisco Olinda

51. Conferência de Nossa

Senhora das Dôres

52. Colégio Marista da

Imaculada Conceição

53. Seminário de Olinda

54. Associações religiosas

da Fabrica de

Camaragibe

55. Ginásio do Recife

56. Religiosas

Beneditinas em

Olinda

57. Associação de N. S. de

Lourdes

58. Academia S. Luiz de

Gonzaga

59. Academia de S.

Gertudes em Olinda

60. Conferência de S.

Vicente

61. Conferência do SS.

Sacramento

62. Abadía de S. Bento

em Olinda

63. Associação da Sagrada

Família da Matriz de

Santo Antônio

64. União de Moços

Católicos da Torre

65. Instituto anexo dos

Oblatos de S. Bento

66. Mães Cristãs

67. Pritaneu

68. Conferência das mães

Cristãs

69. Pia – União das Filhas

de Maria

70. Congregação Mariana

de S. Luiz

71. Ordem Carmelitana

de Pernambuco

72. Pia – União das Filhas

de Maria da Matriz da

Piedade

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73. Santos Anjos

74. Associações que

funcionam nas suas

Casas Religiosas

75. Conselho Particular da

Sociedade de S.

Vicente de Paulo em

Recife

76. Cruzada Eucaristica

77. Colégio N. S. de

Pompeia

78. Pia – União das Filhas

de Maria da Madre de

Deus

79. Religiosas da Sagrada

Família de

Camaragibe

80. Congregação das

Filhas de Maria

81. Pia – União das Filhas

de Maria da Matriz de

S. José

82. Centro Acadêmico de

Agricultura de S.

Bento

83. Conferência Vicentina

de S. Salvador em

Olinda

84. Paróquia de S. José do

Recife

Percebemos até aqui as proporções que o CMN conseguiu atingir através de seu

empreendimento; seja liderando, articulando ou participando. Precisamos destacar, que

à rede de relações do Colégio conseguia assegurar às Ações de Recristianização a que se

dispunha promover tamanha magnitude, constituindo-se um dos principais sinais

indicativos do posicionamento sociopolítico nas campanhas políticas que ocorreram

durante a República Velha.

4.2. Deveres sagrados de mãe e esposa: o posicionamento estratégico da mulher

católica

No capítulo anterior, nos detivemos sobre a questão da moralização de vários

setores empreendida pela Igreja no período e como, a partir de esse objetivo, ela

conseguiu se aliar a uma elite conservadora que viu nessa associação uma grande

oportunidade de disciplinamento social.

Constatamos que, indo além da lógica extensiva daquilo que Sérgio Miceli

falava sobre a reestruturação da Igreja enquanto instituição durante a República Velha e

sua sólida aliança com setores estratégicos oligárquicos, para chegar à política a igreja

precisou passar pelas mulheres católicas. Buscando constantemente as marcas sociais

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76

para uma distinção aristocrática, a alta sociedade recifense via num modelo de família

nuclear aquela urbanidade intelectualizada, mas ainda conservadora, que era um modelo

a ser seguido tanto pelas mais distintas famílias pernambucanas, como também pela

mulher comum.

Destacava-se a “Mãe marina”, “esposa consagrada”, “católica devota”, “mulher

virtuosa” em algumas das descrições encontradas na documentação acerca das mulheres

que transitavam no cotidiano do Colégio. Seu papel político também ficou claro, uma

vez que representando aquilo que de mais “puro e santificado” que existe na sociedade,

deveriam partir delas as principais lutas protetivas da família.

Embora o CMN fosse originalmente uma escola masculina, as mães de seus

alunos, assim como as “distintas senhoras” da sociedade pernambucana contribuíam

com os trabalhos do colégio, seja ornamentando a capela do Palácio seja fazendo

cruzadas beneficentes, angariando donativos, fazendo levantes em assuntos políticos e

demonstrando seu apoio ou repúdio às decisões legislativas que envolviam a

moralidade.

É interessante notar que Mãe e esposa dedicada pode significar e várias vezes ser

reproduzidas como um personagem mártir que honra a todo custo os preceitos católicos,

e que por isso esteve sempre pronta a sacrificar até a vida em nome de seus deveres

cristãos.

D. Lilia pode ser apontada como modelo às senhoras pernambucanas. As

suas afirmativas categóricas, recusando-se a atender aos conselhos médicos,

que lhe indicavam perigosa a maternidade, bem provam em que conta tem

esta matrona virtuosa o dever sagrado de esposa católica, no século do

comodismo e do descaso para os mais santos preceitos de Deus e da Igreja.

Ela tem sofrido tanto nessas ocasiões, chegando mesmo às portas da morte,

respondeu àqueles conselheiros: ‘eu sei morrer para cumprir o meu dever de

maternidade’” (CONGREGAÇÃO MARIANA 1928-1940 pg. 12)

No entanto, aquele que aparentemente melhor coube às mulheres foi a atribuição

de criar com os homens mais influentes dos setores políticos uma ligação e conexão

entre eles e a Igreja. D. Lilia Barreto Campelo, esposa do deputado Dr. Barreto

Campelo, com quem teve 13 filhos, é um ótimo exemplo disso. Descrita como uma das

maiores incentivadoras das causas católicas, foi citada na documentação em contextos,

onde figura como grande incentivadora do marido, que mesmo quando adoentado

recebia estas palavras da célebre esposa: “Barreto, a sua vida não pertence a você,

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pertence a Igreja Católica. Trate de levantar e se por a caminho”. (CONGREGAÇÃO

MARIANA 1928-1940 pg. 12)

Parece que o apelo a influência das esposas é bastante recorrente no cotidiano da

instituição. Isso ocorria pelo conhecimento dos jesuítas sobre a necessidade da adesão

dos setores simbolicamente mais influentes da sociedade para que as diligências em prol

da causa fossem consideradas prioridades no novo programa de governo. Foi o que

aconteceu com a campanha em prol do ensino:

Assim preparada, iniciou a Congregação Mariana o movimento para se obter

o ensino religioso o ensino religioso no Estado de Pernambuco. Para este fim

recorreu primeiro às Mães Cristãs, e por meio do colégio de São José, a um

grupo, a um grupo de professoras para mediante aprovação do Senhor

Arcebispo, conseguir a assinatura dos homens. Preparou também um livro de

ouro para arquivar opiniões dehomens notáveis sobre o ensino religioso.

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1928-1940 pg. 113 )

Nesse esforço para a volta do ensino religioso nas escolas, cogitou-se então

enviar, ao Interventor Federal, em outubro de 1930, um longo documento memorial,

assinado por altas senhoras da sociedade pernambucana, tendo à frente Madame Lima

Cavalcante. “Através desse importante documento vibraria, em justos anseios de

reivindicação, a alma feminina desta heroica terra” (CONGREGAÇÃO MARIANA

1928-1940 pg. 117).

Assim, no período estudado, as mulheres também demonstraram ser um campo

estratégico rumo à política. E o CMN cumpriu bem o seu papel de fomentador dos

trabalhos femininos, seja diretamente, ou em cooperação com outras instituições, como

aconteceu de forma recorrente com as Doroteias do Recife, cuos trabalhos geraram

ótimas alianças e laços afetivo-familiares à oligarquia política recifense.

4.3. Relação com as Forças Armadas

Inaugurado ainda nos tempos da Primeira Guerra Mundial, o Nóbrega deu início

e consolidou seus trabalhos à sombra de um contexto de guerra e entre guerras, o que

torna plausível a extensão da aproximação com as elites políticas às forças armadas.

Mesmo assim, para nós, essa associação inusitada entre Jesuítas e comandos do

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Exército e Marinha recifenses, além dos aviadores24

militares da futura Força Aérea

Brasileira, registradas nos documentos analisados, nos chamou atenção e nos incitou

várias dúvidas, as quais preferirmos dar certo destaque neste tópico.

No espírito da restauração católica, pode ter havido uma aproximação do CMN

com as forças armadas a pedido de D. Leme, pois desde a inauguração de seus trabalhos

como Bispo da Diocese de Olinda que ele demonstrou interesse na retomada católica da

engrenagem do Brasil oficial

Na verdade, nós catholicos, somos a maioria do Brasil e, no entanto,

catholicos não são os princípios e os orgams da nossa vida política. Não é

catholica a lei que nos rege. Da nossa fé prescindem os depositários da

autoridade. Leigas são as nossas escolas, leigo o ensino. Na Força Armada da

República, não se cuida da Religião. Enfim, não vemos uma só manifestação

de vida catholica (LEME, 1916. pg.)

Segundo o Programa de Ação católica as “blasfémias laicistas” pronunciadas

pelos “vermelhos defensores da Fé Leiga” foram aquilo que sistematicamente excluíram

da vida pública todas as práticas religiosas, “ateisando” a marinha, o exército, a justiça e

o magistério (NERY, 1933. pg. 109). Com isso, ações conjuntas foram estruturadas com

o intuito de retomar uma aproximação com essas estruturas.

E, como já foi comentada, parece não conseguir se pensar para aquele momento

histórico qualquer projeto de modelo de sociedade que não fosse posto “de cima para

baixo”. Assim, a recristianização das forças militares aparentemente não fugiu a regra,

fazendo com que, ao menos a aproximação Jesuíta, se desse com os altos comandos do

Exército e da Marinha no Recife.

Falando em especial de instituições com uma disciplina hierárquica tão rígida,

sem querer neste momento entrar na complexidade existente em qualquer interação

social, usaremos a máxima de que a lógica da época seria a de estabelecer relações com

os altos postos para conseguir otimizar o alcance do discurso dentro daquela instituição.

Isso explica o porque de encontrarmos registrados no cotidiano do colégio,

relações que iam desde todos os quatro filhos de um Comandante estudando no Nóbrega

(DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929. pg. 19), as mais comuns como todos os alunos

do colégio sendo levados para assistir as paradas militares (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO

1917-1929. pg. 30). Aliás, registros da participação dos alunos do CMN e dos jesuítas

24 Anexo N

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79

em eventos militares se mostraram uma constante em nossos documentos, como por

exemplo: “13/05/1919 – “O General de Divisão convidou para irmos assistir ao

juramento da bandeira dos novos recrutas no Quartel General” (DIÁRIO DE

FUNDAÇÃO 1917-1929. pg. 81); ou quando em 11/06/1919 – “foram alguns alunnos

com o Pe. Superior à festa que os Aprendizes da Escola de Marinheiros promoveram,

em comemoração da batalha do Riachuelo” (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929. pg.

84)

Entre os anos de 1919 e 1930 um destaque especial também foram dadas às

celebrações de missas pelos jesuítas ou a que contavam com sua participação em

eventos militares, como, por exemplo, a missa campal em “ação de Graças pelo regresso

da esquadra que tinha seguido para a Grande Guerra” (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO

1917-1929. p. 83).

Outro evento dessa ordem que merece destaque era a “Páscoa dos Militares”,

comunhão que se tornou entre os militares e o Nóbrega “uma fortíssima praxi”

(CONGREGAÇÃO MARIANA ACADÊMICA, 1925. pg. 178). Segundo os

documentos por nós analisados, essa tradição cresceu e se tornou “uma grande marcha

dos militares do exército e da marinha todos unidos, obedientes ao mesmo rufo do

tambor marchando em demanda para o bairro do Derby. E, ao chegar, são recebidos

com pétalas de rosas e flores, jogadas pelas senhorinhas de nossa melhor sociedade, as

noelistas” (CONGREGAÇÃO MARIANA ACADÊMICA 1916-1924. pg. 181)

Assistências mais específicas como o auxílio aos doentes e benções em leitos de

morte, um hábito à época, também eram dadas: “19/04/1917 – Visita do Pe. Dignam a

um marinheiro no hospital Português que ‘Graças a Deus o enfermo reconciliou-se com

a Igreja Catholica’” (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929. p. 12)

Entretanto, um tipo de vinculação nos deixou completamente intrigados. Alguns

escritos encontradas nos Diários de Fundação do Nóbrega nos levaram a pensar num

possível novo perfil de Jesuíta, que até o presente momento, não era permitido pela

instituição.. Entretanto, ainda permitindo que professores seculares ensinassem em suas

salas, houve a introdução de comandantes militares, durante às aulas, para ver as

instruções que eram dadas aos seus alunos:

09/05/1919 – “Veio ao Collegio pela tarde o Capitão Inspetor dos Tiros de

Guerra. Formou o Collegio todo, fazendo gynnastica sueca e depois o tiro fez

varias evoluções. O inspetor gostou muito dos alunos; felicitou o instrutor e

os alunos pelo modo como se apresentaram” (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO

1917-1929. pg. 80)

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80

Diante disso nos indagando sobre as conjunturas responsáveis por esse tipo de

relação. Por isso, esse tipo de situação recorrente entre os anos de 1919 e 1927, nos fez

duvidar se de fato era algo aceitável nas ordens religiosas, uma vez que o Papa Pio XI

em 1929 faz um pronunciamento que tocou no assunto de militares ministrando

atividades físicas em colégios religiosos:

Todavia, é claro que, em todos estes modos de promover a educação e

instrução pública e privada, o Estado atêm de observar a justiça distributiva,

deve também respeitar os direitos congénitos da Igreja e da família sobre a

educação cristã. Portanto é injusto e ilícito todo o monopólio educativo ou

escolástico, que física ou moralmente constrinja as famílias a frequentar as

escolas do Estado, contra as obrigações da consciência cristã ou mesmo

contra as suas legítimas preferências.

c) Qual educação pode reservar-se

Isto porém não impede que para a recta administração do Estado e para a

defesa externa e interna da paz, coisas tão necessárias ao bem comum e que

requerem especiais aptidões e peculiar preparação, o Estado se reserve a

instituição e direção de escolas preparatórias para o exercício dalgumas das

suas funções, e nomeadamente para o exercito, desde que não ofenda os

direitos da Igreja e da família naquilo que lhes pertence. Não é inútil

repetir aqui, dum modo particular, esta advertência, visto que nos nossos

tempos (em que se vai difundindo um nacionalismo tão exagerado e falso

quanto inimigo da verdadeira paz e prosperidade) costuma o Estado

ultrapassar os justos limites, organizando militarmente a chamada

educação física dos jovens (e às vezes mesmo das meninas, contra a própria

natureza das coisas humanas), absorvendo muitas vezes desmesuradamente,

no dia do Senhor, o tempo que deve ser dedicado aos deveres religiosos e ao

santuário da vida familiar.

Não queremos, de resto, censurar o que pode haver de bom

relativamente ao espírito de disciplina e de legitima ousadia, em tais

métodos, mas semente todo o excesso, qual é por exemplo o espírito de

violência, que não deve confundir-se com o espírito de intrepidez nem com o

nobre sentimento do valor militar em defesa da Pátria e da ordem publica,

qual é ainda a exaltação do atletismo que marcou a decadência e a

degenerescência da verdadeira educação física, mesmo na época clássica

pagã.

Em geral pois, pertence à sociedade civil e ao Estado a educação que pode

chamar-se cívica, não só da juventude mas também a de todas as idades e

condições, que consiste na arte de apresentar publicamente tais objectos de

conhecimento racional, de imaginação e de sensibilidade, que atraiam a

vontade para o honesto e lho inculquem por uma necessidade moral, tanto

pela apresentação da parte positiva de tais objectos, como pela da negativa,

que impede os contrários.

Tal educação cívica, tão ampla e múltipla que compreende quase toda a acção

do Estado pelo bem comum, assim como deve ser informada pelas normas da

rectidão, assim também não pode contradizer a doutrina da Igreja que foi

divinamente constituída e é mestra destas normas. (PIO XI. 1929) (grifos

nossos)

O que nos fez indagar se havia uma “intervenção” estatal militar “forçada”, no

período entre guerras, nas escolas, como um possível fomento de ingressos nas carreiras

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81

militares. Infelizmente nossa documentação não subsidia nenhum tipo de resposta mais

concreta, por isso como não configura objeto de nossa pesquisa, nos resignamos a abrir

questionamentos para novos estudos.

Na verdade, objetivamos mostrar o espaço de prestígio que configurava o

Colégio Manuel da Nóbrega, e que por isso era usado para uma aproximação das elites

dirigentes da máquina pública, inclusive as forças armadas, na concretização dos mais

diversos intuitos de recristianização social.

Reforçamos, mais uma vez, que esse objetivo foi de fato cumprido pela

Companhia de Jesus, pois as associações dos jesuítas do Nóbrega com os militares se

deram com os mais altos postos, gozando de incrível prestígio social, uma vez que eram

visitados por personalidades de alto prestígio social local e algumas vezes nacional e

internacional, como foi o caso do aviador Ribeiro de Barro, pioneiro na travessia aérea

do Atlântico Sul em 1927

11/07/1927 – “Vieram ao Collegio os aviadores brasileiros Ribeiro de

Barrose seus companheiros. De tarde foi feriado e revelaram-se os visitantes

em pátio[?] preparado de ante mão ofereceram-lhes alunnos uma taça e

fizeram evoluções de gynnastica sueca” (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-

1929. pg. 171)

4.4. Aproximação política

Até aqui visualizamos como se manifestavam as aproximações das elites

conservadoras do Recife e como elas pretendiam chegar àquelas oligarquias políticas.

Mainwaing mostra que essa “relação de proximidade com as elites governamentais era

parte do modelo de Igreja na neocristandade” (MAINWARING,1989. pg. 19), tal

aproximação política era importante porque essa configuração da Igreja acreditava que

ela era. O que não exclui, claro, os conflitos dentro da própria Igreja e também a

possibilidade de que as ideologias políticas da sociedade brasileira tenham influenciado

a concepção de fé e os interesses da Igreja.

Especificamente em Recife, os trabalhos para aproximação política nesses

moldes tinha por eixo a Carta Pastoral de 1916 de D. Sebastião Leme, sendo ele um dos

prelados posto de forma estratégica para este fim (MICELE, 2009). Ela daria início ao

chamado lemista, que concocavam os católicos para que tomassem seu lugar na

sociedade e fizessem valer em nome do espírito democrático que rege a república

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82

brasileira, o respeito ao catolicismo nos espaços públicos por ser esta a religião da

maioria do povo:

Na verdade, os catholicos, somos a maioria do Brasil e, no entanto,

catholidos não são os princípios e os orgams da nossa vida política. Não é

catholica a lei que nos rege. Da nossa fé prescindem os depositários da

autoridade. Leigas são as nossas escolas, leigo o ensino. Na força armada da

República, não se cuida da Religião. Enfim, na engrenagem do Brasil oficial

não vemos uma só manifestação de vida catholica. O mesmo se pode dizer de

todos os ramos da vida pública. (LEME, 1916)

Por sua vez as conexões de instituições como o CMN se davam porque

ambientes Educacionais nesse período representavam grandes demarcadores sociais, e

eventos em um colégio considerado marcadamente de elite como o Nóbrega era o

responsável, entre outros, pela formação das futuras elites dirigentes do Estado, além de

aproximar naturalmente das elites políticas que já estavam no poder.

19/03/1917 – Inauguração do colégio com missa celebrada pelo Pe. Diretor.

Presentes as família, o Rev. Pe. Do Salesiano, Mons. Casimiro, Dr. Barata,

Pe. Ambrosino, Pe. Ferreira, e mais tarde vieram os padres Felix

(?),subdiretor do Colégio Arquidiocesano João Olímpio - Coadjutor da Boa

Vista, Eduardo Dubeme (?) Barcellos: reporte do diário de Pernambuco

DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929.

Para nós, o Colégio era não só um espaço de prestígio, mas também o formador

das intelectualidades que davam suporte ao discurso político. Certeau, citando Gramsci

fala dos “intelectuais orgânicos”, grupo particular sobre o qual analisa a relação entre

sua “posição” social e os discursos que eles “produzem” (CERTEAU, 2000. p. 40).

Nos documentos do CMN, não raros momentos, vemos sinais que indicam a

tentativa de formação de militantes para as causas por eles defendidas, sendo mais que

natural a uma instituição de ensino influenciar em todos os aspectos da formação do

homem sociopolítico.

13/05/1917 – “O Pe. Superior foi com uma deputação de allunos assistir a

sessão solene que fez realiza no theatro de Santa Izabel a Liga da defesa

Nacional. O Sr.(?) Arcebispo fez ali um discurso de abertura” (DIÁRIO DE

FUNDAÇÃO 1917-1929. pg. 13).

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83

Na formalidade das práticas “as instituições políticas utilizam as instituições

religiosas, infiltram nelas seus critérios, dominam-nas com sua proteção e destinam-nas

aos seus objetivos”. Para Certeau, o que é novo, portanto, não é a ideologia religiosa (o

poder impõe um retorno à ortodoxia católica), mas a prática que, de ali em diante, faz a

religião funcionar a serviço de uma política da ordem. A investidura religiosa de que

esta ordem é credora está destinada a captar as organizações existentes e consolidar a

unidade política. De forma que a consciência cristã fica a serviço da moralidade pública,

na qual contratos efetuam uma razão política para revelar a ordem nova que se inscreve

nos comportamentos tradicionais (CERTEAU, 2000. p. 161).

Assim vemos uma série de membros das elites, agentes políticos, de saúde, etc.

sendo citados nos Diários do Nóbrega e no Arquivo da Congregação Mariana, com os

quais, em sua imensa maioria, o colégio mantém relações amistosas e de estreita

cumplicidade. Isso se explica, como já fora visto acima, porque no período da

neocristandade “clérigos destacados cultivavam amizades com políticos com o fito de

extrair favores do estado” (MAINWARING, 1989. pg. 11), além do catolicismo

brasileiro, naquele momento, ter caminhado na direção de uma instituição mais voltada

para o leigo (MAINWARING, 1989).Os quais deveriam:

Permanecer firmes e inabaláveis em nossa divina religião, única e verdadeira,

única que prepara para a vida eterna, que salva e torna próspera a sociedade

civil. Por isso não cesseis – sobretudo com a ajuda dos párocos e dos outros

eclesiásticos estimados pela integridade de vida, austeridade nos costumes, sã

e sólida doutrina – de anunciar a divina palavra, de catequizar os povos

confiados aos vossos cuidados, de ensinar a eles continuamente e com zelo os

mistérios, a doutrina, os preceitos e a disciplina de nossa augusta religião

(PIO IX, 1864. pg. 239)

A importância do estabelecimento forte dessas ligações de forma esquemática

iniciada por D. Leme no Recife vai se expandindo de forma eficiente, tendo sua

validade reconhecida mais tarde pelo Papa Pio XI em carta endereçada ao cardeal:

Queremos mostrar que, uma vez mais, como explicar da colaboração, que os

leigos podem dar ao clero, não só para defender a verdade ea vida cristã

de tantas armadilhas que a ameaçam, mas também para tornar-se, sob a

liderança de seus pastores, uma grande ajuda para um progresso cada vez

mais religioso e civil. (grifos nossos) (PIO XI, 1935.

Logo, a importância dos leigos se vincula principalmente ao fato de não serem

exceções entre membros dirigentes da Política ou associações com grande influência

política que possuíam alguma ligação específica com o Nóbrega ou com a Companhia

de Jesus, a Congregação Mariana ou seus componentes.

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Marco importante, estavam os enunciados de D. Leme, os quais estavam ligados

a tais discursos. Especialmente aqueles críticos ao ensino leigo nas escolas públicas.

Pela lógica lemista, o Estado não podia entrar nas competências parentais, infringindo

assim o direito natural que possuem os pais de decidirem o tipo de educação que seus

filhos terão:

Não se diga que o Estado, impondo o ensino leigo, defende a liberdade do

menino, para que não o prendam a uma religião que pode ser mais não queira

abraçar.

Não, porque essa singular defesa da liberdade infantil importa em substituir a

influência do Estado, o que representa uma tyrannia sem nome.

Se, na primeira idade não está o homem em condições de, por si mesmo,

escolher uma crença ou crença nenhuma, uma influição é fatal que sobre ele

se há de exercer: ou a influição do Estado, por meio do ensino leigo, ou a

paterna, por meio do ensino religioso. Entre uma e outra, - não há logar para

hesitações – prevalece a influência paterna.

É um collorario incontrovertível dos princípios inconcussos do Direito

Natural. (LEME, 1916. pg. 91)

O clérigo também apontava uma grave violação do direito à liberdade de

pensamento e à liberdade de culto através desse ato:

Não é depois de quatro séculos de vida nacional, que um golpe ousado, em

antinomia com todas as leis de evolução histórica, consegue estabelecer um

divorcio o dizendo entre o coração da pátria e o seu organismo político.

Embora separado da Igreja, o Estado não tem o direito de prohibir o ensino

religioso nas escolas públicas. (LEME, 1916. pg. 94)

Além disso, com esse tipo de atitude, segundo o pároco, não respeitaria o Estado

a vontade da maioria dos pais brasileiros, que são católicos. Logo, incorreria numa

atitude antidemocrática, além de condicionar suas práticas em desarmonia com as

tradições e sentimentos do povo, o que incorreria num erro social e político. Sendo o

mínimo aceitável às escolas o ensino religioso facultativo

Mas, se de nada valem os direitos de uma maioria absoluta, que nos valha, ao

menos, o espírito liberal de nossos estadistas. Dê-nos a nós, que somos a

quase totalidade da nação, aquilo que a mais livre das repúblicas, a Norte

Americana, não nega aos seus subsídios catholicos, em minoria: o ensino

religioso facultativo. (LEME, 1916.)

Caso isso não acontecesse, os republicanos laicistas estariam indo contra o

ideário libertário republicano, assim como, mostrariam também a incompetência

gerencial dos laicitas, que em nome da não vinculação religiosa, usariam o dinheiro

público para fins divergentes ao da vontade do povo

Não é admissível que, em pleno regime de liberdade e hyperliberdade, como

apregoam que é o nosso, obrigados sejam pais catholicos a contribuir com

impostos sem fim, para que aos seus filhos se distribua um ensino que eles

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detestam. Bem seu que respondem logo: o governo não obriga os pais

catholicosa se aproveitarem de suas escolas; que abram eles escolas de ensino

religioso. Esta evasiva é a prova mais evidente da injustiça clamorosa do

ensino laico. É injusto, porque, apezar de mantido por catholicos, não pode

ser utilizado por eles. (LEME, 1916)

Embora a retórica lemista pareça uma inofensiva tentativa de retomada de

direitos perdidos, ela está muito mais vinculada à busca da reconquista da hegemonia

católica em certos espaços sociais, como é o caso do educacional

Urge lutar para que seja proscrito das nossas escolas o ensino leigo. Enquanto

não o conseguimos, reclamemos o ensino religioso facultativo e não

esqueçamos das escolas livres, com ou sem subvenção governativa. O que

não convém é que vivamos inactivos de olhos pregados num futuro que nos

sorri ou a chorar um passado que se foi. Esperando os dias esplêndidos,

melhoremos os nossos actuaes. Escolas secundárias – Deveres dos pais –

Preferência dos collegios catholicos – Condenação dos collegios

protestantes e outros – Os Gymnasios officiais – Obrigação grave das

directorias dos collegios de orientação catholicas. (grifos nossos) (LEME,

1916)

Quando falamos aqui dessa retomada política, não desconsideramos as

complexidades dentro da própria Igreja em relação a essa “restauração” católica que

pretendia reaver para Igreja seu lugar de destaque na política, nem tão pouco os

posicionamentos como os de Júlio Maria, por exemplo. Apenas enfatizamos que o

modelo de restauração católica ao estilo lemista se dá pelos sinais de uma forte

conexão entre os trabalhos desenvolvidos por D. Leme e pelos jesuítas do Nóbrega.

Para frisar como ocorria na prática o envolvimento do CMN na política, citamos

os maiores nomes do conservadorismo católico ligados ao Colégio, uma vez que eram

através de seus agentes, especialmente os congregados à Congregação Mariana e a Liga

para a restauração dos ideais, que esta “interferência” se manifestava. Nas diversas

ações políticas que ganharam repercussão no Nóbrega, destacam-se, em especial,

Andrade Bezerra e o de Barreto Campelo muito atuantes nos debates de maior

envolvimento do Colégio, como, por exemplo, na ação contra legalização do divórcio e

a campanha em prol do ensino religioso (destacados mais a frente).

É importante pontuar que ao nos referirmos as instituições como o Círculo

Católico de Pernambuco, podemos associar suas ações as do Nóbrega, uma vez que

vários congregados da CMMA, da LRI, os professores, o diretor do Colégio na época

dessas campanhas, Pe. Fernandes, participavam na condição de sócios fundadores do

círculo.

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Feitos tais esclarecimentos, um dos primeiros apontamentos deve ser com

relação à afinidade do CMN com a Liga Eleitoral Católica. O Nóbrega não tomou parte

coletivamente no movimento da LEC. Entretanto, os congregados da CMMA Dr.

Andrade Bezerra, Dr. Barreto Campelo, José Inácio, Dr. Nilo Pereira, Dr. José Pimentel,

Dr. José Vieira Coelho, João Temporal, João Andrade e o vigário de São Lourenço.

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1928-1940 pg.11) participaram da organização da

LEC.

Lembremos que a Liga Eleitoral Católico tinha o objetivo de articular e dá força

política ao grupo católico conservador, apontando aos eleitores os candidatos políticos

aprovados pela Igreja. Embora o CMN não se vinculasse diretamente a LEC,

os congregados [da CMMA], apoiados nos conselhos de instrução que na

congregação fartamente lhes foram ministrados, constituíram-se pessoas

salientes, já encabeçando a atividade da Liga, já cooperando desinteressada e

eticamente na realização do seu vasto e patriótico plano” (CONGREGAÇÃO

MARIANA 1928-1940 pg. 10).

Chegando a certo momento, um congregado da CMMA à presidente da

LEC:“Dr. Andrade Bezerra “como presidente imprimiu com o prestígio de seu nome

grande alcance aos atos da Liga” (CONGREGAÇÃO MARIANA 1928-1940 pg. 11).

Já os destaques a Antônio Vicente de Andrade Bezerra25

, não começaram na LEC, mas

muito antes, quando estavam envolto nas campanhas conservadoras de mobilidade e

união dos católicos fala em Conferência do Círculo Católico de Pernambuco:

A constante preocupação com esses assuntos, e, o que muito mais vale, o

devotamento em lhes achar adequada e equitativa solução, decorrem, como

corolários naturais, das duas grandes virtudes eminentemente sociais do

cristianismo, a justiça e a caridade, (...) Vejamos agora, numa breve síntese,

quais os traços dominantes da orientação católico-social nestes últimos

tempos. A primeira inspeção, verifica-se que nela o aspecto social vai cada

vez mais sobrelevando ao político. Ele disse que “cuida a atividade católica

de influir nas instituições livres, criando, mantendo e inspirando sindicatos,

cooperativas, associações de socorro, obras de patronato de todo gênero e

sobretudo obras de instrução”. Porque o que não se deve perder de vista é o

caráter essencialmente moral e religioso de cada um dos problemas que se

enfeixam na chamada questão social (BEZERRA, 1920, p. 7).

25

Presidente da Academia Pernambucana de Letras no período compreendido entre 29/03/1932 e

22/02/1933, tornando-se PATRONO da Cadeira nº 34, sócio Remido do Círculo Católico de Pernambuco,

Diretor do Jornal “A Tribuna” em 1925, redator em 1927 e colaborador principal em 1932, Diretor da

Associação da Boa Imprensa em 1928, Professor da Faculdade de Direito do Recife, Secretário da Justiça

de Pernambuco em 1911, Secretário de Finanças de Pernambuco em 1916, Secretário Geral (em nível de

gabinete) em 1916 e 1917 e Presidente da Assembléia em 1933, tendo assumido o Governadordo Estado

entre 12/10 e 06/12/1935

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Recorremos também a Andrade Bezerra para falar o que, finalmente, motivava

esses intelectuais a levar tal proposta aos distintos ramos da sociedade:

Uma das maiores belezas do catolicismo é a identidade de sentimentos que a

proxima os que professam a mesma fé, animados pelo mesmo ideal de

perfeição, como uma só família universal, guardada e protegida pelo amor do

mesmo Pae Comum. (...) nossas regras espirituais nos impõem a resignada e

alegre aceitação dos mesmos deveres, individuais e coletivos, e nenhum laço

mais forte há de união fraternal entre homens. (...) Quisera, tendo em vista as

condições do momento e do meio, traçar (a nosso modo) um programa de

obras sociais. (...) Na medida do possível, vamos cumprindo as árduas

obrigações que nos impõem as regras da ética cristã, em face das tristes

misérias sociais dos tempos presentes. (BEZERRA, 1920 p. 4)

O prestígio de Bezerra aponta sua importância estratégica nas relações com o

CMN, pois como contato era Membro Fundador do Círculo Católico de Pernambuco,

Instituição criada para auxiliar a formação de Jovens, e professor da Faculdade de

Direito do Recife que era o encaminhamento natural dos ex-alunos do Colégio Nóbrega.

Pudemos perceber o posicionamento estratégico de Andrade Bezerra

considerado uma dos “grandes elementos de êxito” da congregação do Recife

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1916-1923 pg. 31) dentro das campanhas

moralizadoras da política empreendidas pelos militantes católicos. As Instituições

Leigas e os discursos nas Assembleias eram de suma importância para o escoamento do

pensamento desenvolvido, entre outros, pelo Colégio Nóbrega.

As principais influências Católicas parecivam ocorrer principalmente em

assuntos políticos que necessitavam do auxílio do discurso moralista da Igreja para se

embasarem. É o que podemos perceber com os embates sobre o projeto de Lei do

Divorcio com Manuel Netto Carneiro Campello26

, que publicou na obra intitulada “Á

Margem do Parlamento” alguns discursos proferidos no Parlamento Nacional, dos quais

três deles possuíam como pauta opiniões acerca do projeto do divórcio, externando a

indignação dos associados do Círculo Católico de Pernambuco, concordando com eles e

fazendo discursos expondo argumentos para que o projeto fosse rejeitado, pois, em sua

concepção, provocaria a infelicidade da família brasileira. Netto Campello embasa sua

concordância com os membros do Círculo Católico de Pernambuco sob o ponto de vista

religioso, ético e social:

26

membro da Academia Pernambucana de Letras, sócio fundador do Circulo Católico, Lente

Catedrático da Faculdade de Direito do Recife e sócio efetivo do Instituto Arqueológico, Histórico e

Geográfico Pernambucano, além de político brasileiro, publicou livros como “História parlamentar de

Pernambuco”, “Barão de Lucena: escorço biographico”.

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Deputado Netto Campello – Rio – em sessão da directoria foi resolvido

telegrafar aos dignos consócios pedindo o obsequio de apresentar o protesto

do Circulo Catholico de Pernambuco contra o projecto de divorcio, que é

offensivo aos sentimentos e direitos da maioria da sociedade brazileira –

Corrêa de Brito, presidente27

( CAMPELLO, 1913, p.19).

O deputado afirmou várias vezes em sessão oficial no Parlamento, ser “catholico

liberal e Republicano”, expondo em outro discurso trechos de uma carta que recebeu do

Bispo da Diocese de Floresta, que retomava a discussão sobre o divórcio, que ainda

estava em pauta. Isso nos concluir que relações informais entre os representantes da

Igreja e os seguidores da doutrina católica, era uma forma mais bastante eficiente do

pensamento católico influenciar nas decisões tomadas pela elite republicana:

(..) do Exmº, e Revdmº Sr. D. Augusto Alvaro da Silva, eminente bispo da

Diocese de Floresta (...) ‘Beberibe, 3 de outubro de 1912 – caríssimo amigo

– Quanto a sua attitude nesta malfadada questão do divorcio, era já de se

esperar a rectidão e a nobreza do seu procedimento em vista da rectidão e

nobreza de seu alto caracter patriótico e chistão (...) e se puder fazer ouvir

mais um protesto em nome da diocese de floresta, mais reconhecido lhe

ficarei. Felizmente nós temos na Camara do paiz homens de envergadura do

caro amigo e da maioria dos membros do Parlamento Nacional. E deixe-lhe

fallar a verdade: eu estou certíssimo de que ainda esta vez não vingara o

attentado que se procura fazer à religião e à Patria’ (...) essas declarações

traduzem bem o protesto da diocese de Floresta em perfeita comunhão de

vistos com o arcebispo de Olinda, para não dizer (...) com os sentimentos

catholicos do altivo povo pernambucano28

(CAMPELLO, 1913, p.29).

Quando cruzamos aquilo que encontramos nos documentos do Nóbrega com

outras documentações e com as conclusões de outros estudos similares ao nosso,

percebemos, inicialmente, que a relação com professores da Faculdade de Direito do

Recife possuía extrema importância estratégica para a garantia de continuação da

formação de alunos como os do Colégio Nóbrega, especialmente antes da fundação da

Faculdade Manuel da Nóbrega (atual Universidade Católica de Pernambuco).

Recorremos aos estudos de Heinz para refletir sobre a composição das mais

diferentes esferas das elites brasileiras, as quais sendo elites políticas, intelectuais,

econômicas, etc. em vários momentos eram formadas por agentes comuns entre si, de

forma que esse tipo de aproximação com Professores da instituição, declaradamente

católicos, membros fundadores de instituições católicas leigas para jovens, envolvidos

na política, como é o caso de Neto Campello, que ocupou o cargo de Deputado Federal,

27

“Discurso pronunciado na 118ª sessão em 4 de outubro de 1912 em virtude do protesto do

circulo catholico de Pernambuco contra o projecto de divorcio”. 28

“Discurso pronunciado na 128ª sessão em 17 de outubro de 1912 a proposito do protesto da

Diocese de Floresta contra o projecto do divorcio”.

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além de enunciadores de discursos a favor de um catolicismo como ideal salvacionista

político, forneciam eficazes portfólios para a ideologia Jesuíta.

Era comum personalidades, como, por exemplo, Neto Campello, participarem

cotidianamente das atividades do Nobrega, presidindo, em várias ocasiões, no Colégio

Nóbrega, as Festividades que incluíam: um Festival Literário, Festa de Independência e

uma espécie de Campeonato de Jogos29

, para os quais, serviram de sede o Nóbrega e

entre outros, o Colégio do Recife e o Ginásio Pernambucano (DIÁRIO DE

FUNDAÇÃO 1917-1929. pg. 157).

O discurso católico era declaradamente contra o divórcio, dado ao fato de ser a

família uma instituição divina, a base da sociedade. Isso fica claro no capítulo “A

Recristianização da família” do livro “Programa de Ação Católica”, que foi escrito em

forma de manual instruindo sobre como deveriam ser as práticas e ações dos indivíduos

à luz da doutrina:

A família é a semente da sociedade. Quem se propuzer restaurar a sociedade

tem que começar conseguintemente pela família. Ora segundo o conceito

cristão, o matrimonio não é apenas um agregado de dois seres que se

propõem agradar mutuamente, nem tampouco um mero contrato humano que

poderá ser desfeito quando os contraentos assim no entenderem. E’ uma

ligação sagrada que escapa á competencia do tabelião ou do juiz civil. E’ um

sacramento instituído por Cristo, e realizado em face da Igreja, para a

propagação da humanidade. Ele não é, não pode serum laço efêmero que se

possa desamarrar ao capricho dos sentimentos ou á mercê das idades. (...)

Muitos se insurgem, contra as repetidas advertências da Igreja, esquecidos de

que a proibição do divorcio vem do próprio Cristo. (NERY, 1933 p.74)

Não sabemos se de fato esse foi o “manual” propriamente dito da Ação Católica,

mas através do registro de um discurso numa conferência do Círculo Católico de

Pernambuco, percebemos a necessidade da publicação de um “Programa de Ação

Católica”. Dessa forma, como já havia a preocupação de incluir os jovens em um

programa didático da doutrina, deduzimos que poderia ter sido aquele manual que

atendeu a solicitação dessa carência, além de percebermos como seus pensamentos já

estavam embutidos nos discursos de alguns intelectuais:

(...) para esses estudos, faltam-nos, sobretudo, bons livros e até

manuais em que eles estejam ao alcance de toda a gente. Para remediar

a essa falha, seria preciso formar bibliotecas circulantes, exigindo-se

contribuição módica dos associados. (...) E’ ainda mais do que em livros, é

nas revistas que acompanha o movimento das ideias. Proveitosíssimo

resultado colheriam os jovens católicos sociais lendo assiduamente as

grandes revistas dirigidas ou orientadas pelos jesuítas, as quais abordam os

mais importantes assuntos doutrinários e práticos, com a notável competência

de seus maiores especialistas. (NERY, 1933, p. 105)

29 Anexos R e S

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90

Outra campanha que ganhou o envolvimento dos agentes do CMN, tornando-se

a mais interessante para o nosso trabalho, haja vista pertencer aos estudos de história da

educação, foi a campanha em prol do ensino religioso nas escolas públicas, promovida,

diretamente, pelo CMN. Desde 1925, com as discussões nacionais em torno da Emenda

Plínio Marques que os debates sobre o assunto começaram no CMN através dos círculos

de Estudo dirigidos pelo Pe. Fernandes (CONGREGAÇÃO MARIANA 1924-1927).

Ainda na virada do regime no ano de 1930 e com a medida que se aproximou a

escolha dos deputados para formação da constituinte que o envolvimento do Nóbrega

nas diligências se intensificou, visando, através do prestígio social que detinha e a rede

de relações que conseguira formar até então, retomar uma das maiores perdas trazidas

pelo regime republicano:

Aproximando-se as eleições de deputados à constituinte, o povo católico de

Pernambuco bem conheceu quão grande seria um erro de se postar

indiferente à escolha dos homens a quem se ia a elaboração da lei básica do

país (CONGREGAÇÃO MARIANA 1928-1940 pg. 10).

Feito isso, procurou dispor, por meio do congregado Dr. Barreto Campelo, um

dos principais nomes do CMN naquele momento, o “ânimo do senhor Interventor

Federal em Pernambuco” em favor dessa campanha para obter do “Diário da Manhã,

folha governamental, a manchete de 1930 defendendo o ensino do catecismo.”

(CONGREGAÇÃO MARIANA 1928-1940 pg. 113)

O Sr. Interventor a fim de se apoiar na opinião pública para o decreto que

prometia publicar, manifestou desejo de se promover um grande comício na cidade em

prol do ensino de catecismo (CONGREGAÇÃO MARIANA 1928-1940 pg. 114)

Logo após, para conseguir a propaganda de ensino religioso propôs a ideia de se fundar

um Diário Católico. Houve uma tentativa de comprar o Diário de Pernambuco, que com

“o entusiástico apoio do Con. Lyra, seu proprietário em grande parte” foi antecipado

sobre esse projeto. Contudo, abatido por uma doença na época, o Dr. Barreto Campelo,

cabeça desse empreendimento, ficou impossibilitado de realizar a compra, o que fez

com que o projeto não se concretizasse (CONGREGAÇÃO MARIANA 1928-1940 pg.

113)

Barreto Campelo participava como orador dos comícios públicos pelo ensino

Religioso, dos quais um dos mais vigorosos foi o comício da Torre, com cerca de 4 mil

pessoas (CONGREGAÇÃO MARIANA 1928-1940 pg. 122)

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Esses comícios públicos em pró do Ensino Religioso promovidos pela CMMAforam

realizados em São José, Olinda, Torre, A.D.A , Soledade, Largo da Paz, Pau d’Alho,

São Lourenço, Graças, Santo Amaro e Encruzilhada (CONGREGAÇÃO MARIANA

1928-1940 pg. 126). Neles, também participaram outras personalidades, além dos

padres e alunos do CMN como oradores. O resultado foi a vitória de uma série de

candidatos católicos, inclusive o do Dr. Barreto Campelo, congregado da CMMA e da

LRI, e dos principais nomes do Nóbrega na política:

O Dr. Barreto Campelo, candidato católico, em que a Congregação e o Povo

pernambucano punham os suas maiores esperanças (…) e esta vitória foi

brilhantíssima, conseguindo-se para o Dr. Barreto Campelo uma votação

superior, colocando-o como candidato mais votado dos eleitos por

Pernambuco (CONGREGAÇÃO MARIANA 1928-1940 pg. 11)

Marcos Gonçalves, no artigo da Revista Brasileira de história afirma que

“Iniciativas conjuntas anteriores de hierarquia e elites leigas traduziram a expectativa e

a persistência da ‘maioria católica’ em produzir uma redução de distância entre

demandas políticas e religiosas” (GONÇALVES,2008. pg.74).

Vê-se, assim, que desde a instituição do Estado Laico, novas estratégias de

aproximação política foram incentivadas pela Igreja, e a crescente importância do

apostolado leigo faz com que dos agentes ligados à hierarquia católica seja esperada

uma aproximação e o doutrinamento daqueles que se tornaram os novos representantes

dessa instituição tradicional na política.

Com nossos destaques, esperávamos demonstrar a vinculação do Nóbrega à

política, através dos sujeitos que compuseram esse colégio, que assim como muitas

outras instituições religiosas e de ensino da época, teve suas atividades cotidianas

cercadas pelos interesses e significados, que influenciavam a mentalidade não só de

seus estudantes, mas também de todas as diferentes esferas em que atuava.

Isso só foi possível graças a imensa rede de mobilização que o CMN conseguia

através de seu poder de articulação com várias instituições que faziam com que suas

ações repercutissem nas mais diversas esferas através de discursos que representaram

fontes de ameaça ou de aliança política.

A aproximação política dos jesuítas em sua contemporaneidade foi dada graças

aos laços afetivos criados com famílias de personalidades importantes, que militaram e

se envolveram em campanhas pelos mais diversos interesses com o CMN. Já a

manutenção desta aproximação, era feita pelo doutrinamento dos filhos dessa elite,

cultivando os próximos representantes leigos dos interesses eclesiásticos.

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Assim, percebe-se declaradas ações restauradoras católica aos modos lemistas

no Nóbrega, que tem por principal inclinação as aproximações políticas, mas que ainda

assim conseguem se articular nesse propósito, somente graças, contraditoriamente, a

separação entre a Igreja e o Estado, que trouxe possibilidade da quebra do regime do

padroado e de uma reorganização institucional na Igreja.

Necessária a esses projetos de restauração, essa reorganização institucional

forneceu suporte a uma influência política da Igreja sem os moldes de “repartição

pública”, que se preocupava Pio IX, muito antes disso, com os “leigos como cabeças do

governo eclesiástico. Assim, a Igreja parece ficar livre a recristianizar suas efetivas

perdas, entre elas o monopólio do ensino ou ao menos a volta do ensino religioso nas

escolas públicas, como aconteceu na Era Vargas.

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5. CAPÍTULO 4: O QUE PODEMOS PENSAR PARA O RECIFE, UM

PROJETO DE RESTAURAÇÃO CATÓLICA OU MANUTENÇÃO DO

PODER?

É importante destacar a nossa filiação a corrente historiográfica pouco explorada

que estuda a aproximação, entre Estado e Igreja pós implantação do Estado Laico.

Entretanto, o analisarmos a documentação, especialmente de alguns autores,

percebemos que o destaque que uma determinada ideologia religiosa ganha na política

pernambucana, dita laica, vai muito além do simples confronto que certo segmento da

historiografia contemporânea diz existir.

Pareceu-nos haver, aqui no Recife, algo que ultrapassou aquele receio de

negação às raízes culturais, aquela na qual até “Os homens políticos, mesmo antigos

livre pensadores como Rui Barbosa, sentem-se obrigados a fazer pública confissão de fé

em suas campanhas”30

. A nosso ver, aqui não se chegou nem a haver uma ruptura real

dos segmentos tradicionais, patriarcais e religiosos com a política, mas, apenas, no

máximo, uma modificação da interface desta, de modo que onde antes víamos a

Instituição Igreja atuando, agora vemos seus agentes.

Sabendo do risco que enfrentamos ao assumir esse posicionamento, indicamos

neste capítulo as fontes que nos levaram a pôr em duvidar os ramos mais unificadores

da história que acreditam numa grande ruptura com a Igreja a partir da vigência da Lei

de Separação da Igreja e do Estado em 1891 em Pernambuco.

Logo, refletimos sobre a existência de uma série de influências dos segmentos

cristãos na política hodiernamente. É difícil imaginarmos que a República Café com

Leite, do Voto de Cabresto, das Elites Rurais, num contexto propício à abertura de

grande espaço na política para discursos como o de D. Leme e instauração de várias

instituições de Católicos Leigos, abandonarem aqui o Catolicismo, de forma que fosse

necessário um projeto com moldes de “Restauração”. Haja vista a manutenção da

ordem ser aquilo que Montenegro falava: “Em prol da “ordem”, os republicanos

liberais sacrificam um tanto a “Liberdade”, procurando restringir a ação da Igreja”.

“(MONTENEGRO, p. 142)”,podemos pensar nisso como o próprio contraponto que faz

com que eles venham pra cá, como Ferdinand dizia: como Igreja, eles vem gozar da

liberdade de nossa República (AZEVEDO, 1986)

30

MOURA,e ALMEIDAin FAUSTO1977Vol. 2., p. 329

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Alguns autores já apontam a necessidade de uma análise mais cuidadosa das

relações políticas da Igreja na República, que embora tenha perdido seu lugar de

destaque como religião oficial do Estado, ganhou mais autonomia institucional a partir

da libertação do regime do padroado.

Embora oficialmente considerasse a separação legal entre a Igreja e o Estado

como sendo uma heresia a modernidade, no Brasil esse desmembramento

legal libertou a Igreja de uma relação de subserviência ao Estado. O fato de

sentir-se ameaçada levou a Igreja a realizar reformas internas que ajudaram a

melhorar sua imagem. Auxiliada por um novo fluxo de clero estrangeiro, a

Igreja começou a reverter a decadência institucional das décadas anteriores.

As ordens religiosas, que haviam sido enfraquecidas pelo decreto de 1855,

começaram a recrutar e a importar novos membros. Foram criadas novas

dioceses e o controle episcopal sobre as atividades clericais cresceu.

(MAINWARING, 1989. pg. 42)

De um lado vemos autoras como, por exemplo, Lêda Sellaro, que entende que

emerge nesse período histórico específico uma “tentativa de renovação e/ou adaptação

da educação à nova realidade, pela mediação do Estado brasileiro, via legislação

educacional” (SELLARO, 2009. pg. 23); de outro, autores, como, por exemplo, Scott

Mainwaring que afirma que a Neocristandade é um período de investida da Igreja.

Nosso posicionamento se encontra próximo ao de Mainwaring, pois não

acreditamos que reformas legislativas iriam de fato mudar o panorama educacional do

Estado, e por mais que essas reformas tenham tido importância, se analisarmos de um

ponto de vista do processo de longo crescimento histórico, ainda assim, não acreditamos

na real eficácia dessas medidas, pois vemos essas reformas como meramente de cunho

emergencial, em respostas as tensões vividas na época e, principalmente, a necessidade

de mão de obra gerada pela modernidade.

Além disso, indagamos se essa ampliação de acesso à educação não veio em

moldes que em si não se diferenciaram muito daquilo que D. Leme trouxe como

“educação para todos, ricos e pobres”. Pois nos parece, apoiados em certa medida pela

Sellaro, para a qual “os chamamentos da modernidade criam expectativas de

participação e a educação começa a desenvolver ilusões de uma mobilidade social que

possibilite tal participação minimizando as frustrações decorrentes das discriminações

então impostas” (SELLARO, 2009. pg. 23) (grifos nossos).

Ainda se pensarmos no tradicionalismo do ensino, perceberemos como a

dualidade no ensino permanecia, como, por exemplo, os cursos tradicionais que ainda

permaneciam preparando a elite para áreas tradicionais, como o de Direito, por

exemplo. Em 1916 eram 16 faculdades de Direito em todo o país, sendo o curso que

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ainda trazia mais prestígio ao país, mesmo com o crescimento de outros cursos advindos

da modernidade, “éramos um país de doutores e analfabetos” (SELLARO, 2009).

Com o fim do Regime do Padroado, a Igreja estava mais autônoma, gozando da

liberdade de nossa república. Com essa maior liberdade, em 1899, o Papa Leão XIII

convocou em Roma um encontro do episcopado Latino-americano, onde um dos

objetivos principais era que o Concílio de Trento fosse introduzido na vida eclesiástica

americana (SELLARO). Além disso, embora tenha significado de fato certas perdas,

mesmo com a laicização do estado a orientação católica em relação ao ensino manteve

suas concepções e objetivos (WEREBE, 1997).

Precisamos deixar claro que não negamos a indiscutível perda de espaço em

muitos setores, apenas apontamos que isso já vinha ocorrendo a muito tempo,

especialmente, naquele papel de único fornecedor da significação do mundo, que no

século XIX já preocupava os segmentos eclesiásticos, haja vista a difusão de novas

doutrinas religiosas e o contínuo crescimento de novas ideias de formas de governo.

(…) é expressamente proibido publicar livros ou escritos que não tenham

sido antes examinados e aprovados pela autoridade eclesiástica. Todavia a

ânsia de escrever e de ler faz com que o número de livros, e sobretudo de

jornais, aumente dia a dia em nossa época, a tal ponto que já se tornou de fato

muito difícil aos censores eclesiásticos examiná-los todos com adequada

tempestividade, e abriu-se um caminho ainda mais largo aos que se lançavam

a propagar doutrinas perversas e nocivas à religião e ao Estado com folhetos

e especialmente com opúsculos publicados clandestinamente. (PIO IX. 1848.

pg. 121)

Pontuamos, usando principalmente autores que partem ou se aproximam de uma

linha de pensamento como a de Sergio Miceli. O autor demonstra que a igreja para

continuar relevante e próxima aos detentores do poder no Brasil, precisou tornar-se

plural, se estruturando para reagir as mudanças impostas no período republicano,

recrutou seus quadros entre a elite do país, tornando-se a principal entidade da rede de

ensino privada no país, onde criou novas redes de imprensa e abriu novas dioceses

(MICELI, 2009).

Assim, ela se beneficiou do Estado Laico Brasileiro para retomar o controle

sobre a formação e a disposição do pessoal religioso, que a muito não tinha em função

do regime do padroado no Império, não hesitando em usar as solenidades dos cultos

romanizados para legitimar e fortalecer o sistema de poder das elites a que estavam

associadas. (MICELI, 2009).

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5.1. Laicidade e Restauração Católica

Em seus estudos, César Alberto Ranquetat Júnior aponta que o termo laicidade

foi utilizado pela primeira em um voto que o conselho geral de Seine na França, no

século XIX, expediu a favor do ensino laico, não confessional e sem instrução religiosa,

contra os obscurantismos presentes no sistema escolar (RANQUETAT JÚNIOR,

2008.pg. 64).

Considerando suas origens, nada mais plausível que um dos pontos mais

delicados ao falarmos das relações entre Igreja Católica e estados laicos, no início do

século XX, seja o ensino. Ranquetat Júnior ao fazer um estudo teórico conceitual sobre

os termos laicidade e secularização, faz comparações entre as mais diferentes praxes de

estados laicos, inclusive o Brasil.

[a laicidade] pode ser compreendida como a exclusão ou ausência da religião

da esfera pública. A laicidade implica a neutralidade do Estado em matéria

religiosa. Esta neutralidade apresenta dois sentidos diferentes, o primeiro já

destacado acima: exclusão da religião do Estado e da esfera pública. Pode-se

falar, então, de neutralidade-exclusão.(RANQUETAT JÚNIOR, 2008. pg.

63)

Ele aponta como esse fenômeno não é de forma alguma linear e irreversível, não

podendo ser confundido com tolerância e liberdade religiosa, pois a laicidade é um

processo que pretende de fato excluir qualquer religião da política. Nessa lógica, ele

conclui que em alguns países, assim como o Brasil, o fato da Igreja Católica se fazer

presente em vários aspectos da vida social e evitando um processo de secularização –

exclusão e/ou diminuição da pertinência religiosa na esfera sócio-cultural – acabou

chegando num estado de “quase laicidade”, ou seja, sua influência sócio-cultural não

permitiu sua completa exclusão da política (Ranquetat Júnior, 2008. pg. 69).

Assim, os pontífices que precisaram lidar com a onda de laicização dos Estados

no fim do século XIX e início do XX, tiveram uma postura de respeito às autoridades

civis, o que não quis dizer que não tenham incitado uma séria de investidas de

retomadas aos seus espaços perdidos, entre eles o educacional.

Desse modo, se aproveitando de tal carência de instituições e profissionais na

área de educação em alguns países, um dos primeiros passos da Igreja foi reclamar para

si o direito, que já lhe seria natural, de espaço no cenário educacional:

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Deus dividiu entre dois poderes o governo do gênero humano, o eclesiástico

e o civil, um para prover às coisas divinas e outro às humanas: ambos

supremos, cada um na sua esfera; ambos têm confins determinados, que lha

limitam, e marcados pela própria natureza e fim próximo de cada um; de

modo que chega a descrever-se como que uma esfera dentro da qual se

exerce, com exclusivo direito, a ação de cada um. Mas como a estes dois

poderes estão sujeitos os mesmos subditos, podendo dar-se que a mesma

matéria, embora sob aspectos diversos pertença à competência e juízo de

cada um deles, Deus providentíssimo, de Quem ambos dimanam, deve ter

marcado a cada um os seus caminhos. Os poderes que existem são regulados

por Deus (LEÃO XIII, 1885)

Essa ordenança, originalmente de Leão XIII, foi reiterada pelo Papa Pio XI, em

1929, ao falar sobre os limites das escolas mantidas pelo Estado e a relação entre Estado

e Igreja, acrescentou:

Ora a educação da juventude é precisamente uma daquelas coisas que

pertencem à Igreja e ao Estado (...) a qual é comparada e com razão àquela

pela qual a alma e o corpo se unem no homem (PIO IX, 1929).

Tendo Jesus Cristo mandado que se “dê a César o que é de César e a Deus o que

é de Deus”, se alguém recusasse admitir estes princípios e consequentemente aplicá-los

à educação, chegaria necessariamente a negar que Cristo fundou a sua Igreja para a

eterna salvação dos homens, e a sustentar que a sociedade civil e o Estado não estão

sujeitos a Deus e à sua lei natural e divina.

e) Necessidade e vantagens do acordo com a Igreja

Pois que, enquanto o superior eclesiástico procura formar um bom cristão

com a autoridade e os meios espirituais, segundo o seu fim, procura ao

mesmo tempo e por necessária conseqüência formar um bom cidadão, como

ele deve ser sob o governo político. O que verdadeiramente se dá, porque na

Santa Igreja Católica Romana, cidade de Deus, é absolutamente uma e a

mesma coisa, o bom cidadão e o homem de bem. Pelo que grave é o erro

daqueles que separam coisas tão unidas e pensam poder conseguir bons

cidadãos por outras normas e por meios diversos daqueles que contribuem

para formar o bom cristão. (PIO IX, 1929)

A Igreja tenta mostrar como um pacto com a ela traz benefícios de ordem para o

Estado, principalmente levando em consideração o contexto do entre guerras, as

ameaças das “doutrinas subversivas”, pois “Com efeito nunca deve perder-se de vista

que o sujeito da educação cristã é o homem, o homem todo” (PIO XI, 1929).

Nessa defesa, chamasse atenção ao fato de “O bom católico, precisamente em

virtude da doutrina católica, é por isso mesmo o melhor cidadão, amante da sua Pátria e

lealmente submisso à autoridade civil constituída em qualquer legítima forma de

governo” (PIO XI, 1929). À vista disso, a grande moeda de troca da Igreja seria a

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entrega, através da educação, de um povo ordeiro. Aalgo de extrema importância

naquele contexto.

c) Escola

- Neutra, laica - Daqui resulta precisamente que a escola chamada neutra ou

laica, donde é excluída a religião, é contrária aos princípios fundamentais da

educação. De resto uma tal escola é praticamente impossível, porque de fato

torna-se irreligiosa. Não ocorre repetir aqui quanto acerca deste assunto

disseram os Nossos Predecessores, nomeadamente Pio IX e Leão XIII, em

cujos tempos começou particularmente a dominar o laicismo na escola

pública. Nós renovamos e confirmamos as suas declarações, e juntamente as

prescrições dos Sagrados Cânones pelas quais é proibida aos jovens católicos

a freqüência de escolas acatólicas, neutras ou mistas, isto é, daquelas que são

abertas indiferentemente para católicos e não católicos, sem distinção, e só

pode tolerar-se tal freqüência unicamente em determinadas circunstâncias de

lugar e de tempo, e sob especiais cautelas de que é juiz o Ordinário. (PIO XI,

1929)

- Mista, única - E não pode admitir-se para os católicos a escola mista (pior

se única e obrigatória para todos), na qual, dando-se-lhes em separado a

instrução religiosa, eles recebem o resto do ensino em comum com os alunos

não católicos de professores acatólicos. Pois que uma escola não se torna

conforme aos direitos da Igreja e da família cristã e digna da freqüência dos

alunos católicos, pelo simples fato de que nela se ministra a instrução

religiosa, e muitas vezes com bastante parcimônia. (PIO XI, 1929)

Em nossas primeiras análises documentais no Nóbrega, percebemos um pouco

da não superação daquilo que Michel De Certeau fala sobre “usar o mundo como uma

página em branco (selvagem) para nela escrever o querer ocidental. Transformar o

espaço do outro num campo de expansão para o sistema de produção” (CERTEAU,

2000. p.11) De forma que percebemos, não só a forte a vinculação a “Missão” , uma

forte implementação do processo de Romanização, obediência ao Papa, etc, como

também a não superação da colonização Portuguesa que ainda pretendia a salvação do

“gentio”.

Segundo alguns historiadores, como Wellcherline Miranda Lima, por exemplo, a

própria associação República e Laicidade argumenta que a laicidade garantiria uma

liberdade de crença e de culto dentro dos limites das leis comuns e da ordem pública. A

questão de maior choque à laicidade é quando ela se opõe a esse clericalismo, que

preconiza discriminações ou tenta apropriar-se da totalidade ou de uma parte do espaço

público. (LIMA, 2012)

Isso é o que ocorre no Brasil, que não permite o afastamento do catolicismo dos

espaços de destaque, especialmente o público, por ele representar uma demarcação do

território que pode ser empregada para explicar elementos importantes dos mitos, dos

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ritos, das crenças, da fé em sua eficácia, da ilusão, da alucinação religiosa e estética, do

delírio coletivo e de suas correções (LIMA, 2012. pg. 123).

Para D. Leme uma “causas do Grande Mal” eram os católicos não praticavam os

dogmas, não participavam das liturgias, e, principalmente, não militavam pelas causas

do catolicismo. Eles eram os “[...] católicos de nome, por tradição” (LEME, 1916. pg

III). Esse foi um dos maiores trunfos usados por D. Sebastião Leme ao reivindicar o

direito político da Igreja no estado laico, pois sendo a maioria absoluta de brasileiros

católica, seria mais que natural que eles pudessem em nome do espírito democrático

respeitar essa maioria. E para tanto os maiores esforços da Igreja aqui em Recife se

priorizavam tornar os “católicos de tradição e de nome” verdadeiros militantes do

catolicismo.

Para construção de uma elite que fosse os “olhos e ouvidos” da Igreja, o projeto

de recristianização de D. Leme tenta instrumentalizar a formação de um grupo coeso

que representaria a quebra da ruptura entre Estado e Igreja, pois uma vez na política

essa elite católica inseriria a Igreja no contexto político (MOURA, 2012).

Assim, de meados para o fim da República Velha, os trabalhos com o apostolado

leigo, como vimos, vão crescendo no Recife, trazendo aquela intervenção indireta do

Catolicismo na política que deu sinais mais claros durante a Era Vargas e demonstrou

seu auge com influências de personalidades como, por exemplo, Pe. Fernandes, e as

atuações de Nilo Pereira no governo de Agamenon.

É de fato incontestável que houve algumas perdas significativas para Igreja com

a Laicidade, como aquelas supracitadas em trabalhos sobre o tema: laicização dos

cemitérios, casamento civil e a retirada do ensino religioso das escolas, etc. Todavia,

apontamentos contemporâneos ao período estudado, como os de Júlio Maria, por

exemplo, já demonstravam que o ganho de autonomia organizacional com a declaração

do Estado Laico mostrou ser extremamente benéfica para a Igreja. Além disso, muitos

concordam que até o fim da suposta hegemonia do ensino confessional diante da

laicidade não passou de entusiasmo inicial, uma vez que ao chamar para si as

responsabilidades de ensino, o Estado não conseguiu dar conta dessa demanda,

acabando por não conseguir dar fim ao monopólio desse aspecto das oligarquias

regionais. (CARVALHO, 2007)

Isso pode ter sido a causa e/ou o efeito de uma aproximação em outros aspectos

estruturais na sociedade, pois a hierarquia da Igreja foi se organizando ao longo da

primeira república com o objetivo de aproximação do poder, que iam além das questões

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mais imediatas em torno do liberalismo e governo republicano, etc., demostrando que

ambas, Igreja e República, não pretendiam alterações profundas nos quadros sociais,

mas possuíam o objetivo em comum de uma política de manutenção da ordem

(GOMES, 2009).

Para se manter institucionalmente forte, entre as manobras da Igreja, estava a

disposição estratégica de dioceses com o intuito de controlar os focos de reação do

catolicismo popular, considerado ignorante pela elite intelectual e eclesiástica da época,

e o fortalecimento político através dos laços afetivos familiares entre o quadro

eclesiástico e as elites regionais (GOMES, 2009).

Marcos Gonçalves publicou uma análise sobre esse panorama, em artigo na

Revista Brasileira de história, resumindo bem as impressões que ele e uma série de

outros autores produziram após suas análises sobre o assunto:

Se por um lado, o estatuto jurídico do Estado republicano disposto na

Constituição de 1891, ao afirmar a neutralidade em matéria religiosa,

colocava em pé de igualdade todas as confissões e desprestigiava o

catolicismo hegemônico, por outro lado acenava com a possibilidade de

plena liberdade de movimentos para a Igreja católica, desincumbindo-a

de ser um apêndice religiosoda política ou de exercer o papel de “repartição

pública” tal como observado no regime de padroado extinto pela

República.(GOLÇALVES, 2008. pg. 65) (grifos nossos)

Ele aponta como essa restauração católica da sociedade foi muito mais que uma

restauração das instituições católicas com o fim de reformular novas estratégias

operacionais para o catolicismo:

Durante, pelo menos, as três primeiras décadas da República ocorreu um

notável empenho das instituições católicas para (re)construírem, ou

imaginarem, os mecanismos sociais sob normas morais que dessem

expressão aocatolicismo como necessidade coletiva. As vantagens materiais e

simbólicasconseguidas no início da década de 1930, ratificadas pela

Constituição de1934, e os estreitos vínculos de interesse — na educação, nas

subvenções assistencialistas,no combate à ‘subversão’ etc.— pronunciados

entre Estado ecatolicismo dentro desse mesmo período testemunham a

adesão das esferaspolíticas dominantes às teses católicas e a contrapartida na

forma de apoioexplícito dos governantes religiosos às fases mais autoritárias

e excepcionaisda vida republicana. (GOLÇALVES, 2008. pg. 74) (grifos

nossos)

A limitação de ação da Igreja imposta pela primeira constituição republicana não

parece ter sido em nada pior que àquelas impostas pelo império. A impossibilidade

prática de se tornarem efetivas as propostas de reforma de ensino que fizeram com que

os governos dos estados da federação e as oligarquias continuassem estimulando e até

subsidiando o ensino católico, acabaram por manter a Igreja ainda no papel de

formadora de opiniões (GOMES, 2009).

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Nessa mesma linha de pensamento, Emanuela Ribeiro explica como as

constantes interdições impostas pelo governo imperial a vinda de noviços da Europa,

causaram sérios danos estruturais às ordens mais antigas no Brasil: “Para a maioria das

antigas ordens religiosas, a separação entre Igreja e Estado significou uma oportunidade

para a sua restauração” (RIBEIRO, 2009. pg. 123).

Dessa forma, a laicização do estado descaracterizou a Igreja como “repartição

pública” e deu a ela autonomia para reestruturar as ordens religiosas ainda estabelecidas

no país e restaurar a presença de outras. A partir daí, o catolicismo precisava mostrar a

sociedade que também era capaz de atender as necessidades dos tempos modernos,

especialmente àquelas trazidas pela ciência e pela educação (RIBEIRO, 2009).

Edgar Gomes também pontua a importância da manutenção do credo na

sociedade através do ensino, e como ele foi um dos pontos chaves para o sucesso nos

empreendimentos da Igreja no início do século XX:

Oligarquias e Estado permitiram a reaproximação da hierarquia eclesiástica

durante a República Velha mantendo a influência do catolicismo na

sociedade brasileira. Formadores de uma identidade nacional, o catolicismo

consegue imprimir mesmo naqueles que não confessam sua fé, certas

particularidadespertencentes ao seu credo (GOMES, 2008. pg. 110)

Especialmente com a finalidade educacional, o episcopado nacional durante a

República Velha se esforçou para montar gestões que garantissem o fomento à

restauração e a vinda de novas ordens que garantiriam um aumento de mão de obra

eclesiástica nas atividades cotidianas das arquidioceses (missas, confissões, batismos,

etc.)(RIBEIRO, 2009). É aí que gestões como a de D. Leme, que impulsionaram a

restauração de ordens como a dos Jesuítas no Recife, se enquadram num panorama

nacional.

As ordens restauradas e as congregações trabalharam prioritariamente com

elementos que interessavam a todos os intelectuais, católicos e leigos: a

educação de ricos e pobres. As escolas destinadas à atender os pobres faziam

questão de demonstrar o seu compromisso com a educação popular e o

desenvolvimento nacional. Enquanto as escolas católicas destinadas às elites

faziam questão de apontar sua afinidade com a ciência e a razão. (RIBEIRO,

2009. pg. 126).

Assim, quando se fala de uma concorrência com o Estado a Igreja não possui

necessariamente um posicionamento rival, mas sim aquela ideia da doutrina do Direito

de complementaridade das funções do Estado através da Igreja. Pois, como já dissemos

baseado em estudos de outros autores, passado aquele entusiasmo da laicidade o Estado

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não conseguiu dar conta da demanda educacional e não findou na prática o monopólio

das oligarquias regionais nesse campo (CARVALHO, 2007).

Para ser capaz de operar um trabalho molecular, uma das principais ferramentas

era o enquadramento dos leigos nas mais diversas associações. Elas eram eficazes para

difusão dos conceitos éticos e morais estabelecidos pela Igreja Católica tanto para

atingir as grandes massas populares, como também as elites sociais e culturais

(AMARAL, 2013).

Em seus estudos, Walter Amaral aponta como os laços formados com as elites

regionais e com as massas eram especialmente formados através das associações

católicas:

Na vida social, as associações católicas tornaram-se notórias devido a sua

capacidade de conseguir reunir membros das principais famílias em um

mesmo grupo de interesses, multiplicando cada vez mais seus adeptos em

defesa da tradição familiar, da ética e da moral, não só cristã, mas também

civil, destacando-se também pelas atividades beneficentes. As associações

cumpriram um papel de cimentação social, de conservação da unidade

ideológica das camadas sociais, especificamente da elite. (AMARAL, 2013.

pg. 299)

Ainda segundo o historiador, esses laços forneciam um maior espaço à atuação

do fiel dentro da Igreja, o que consequentemente dava maior sentido ao sentimento de

identidade elaborada a partir de ritos e práticas.

O processo de criação dessas associações aumentou a capacidade de reunir

um maior número de pessoas em torno de um objetivo comum, proporcionou

aos líderes eclesiásticos uma posição mais privilegiada na sociedade civil

brasileira, possibilitando, assim, o surgimento de uma nova comunidade

católica, mais fortalecida diante de um Estado laico(AMARAL, 2013. pg.

300).

Tanto o discurso do clero quanto do laicato mais intelectualizado, davam ênfase

a preservação de valores familiares e do bem-estar da sociedade, valores padrões,

muitas vezes, difundidos através do ensino e da “boa imprensa”:

ao insistir na tradição familiar, os líderes eclesiásticos e as elites sociais

desejavam efetivamente construir um caminho que reordenasse a sociedade,

em oposição àquelas transformações socioculturais, as quais eram

responsáveis pela desordem e anarquia social e, ao mesmo tempo, favorecer

o surgimento de uma tradição da família nuclear com papéis bem definidos,

de forma que ela fosse normatizada (AMARAL, 2013. pg. 293)

Logo, a ênfase nas associações das tradições familiares – principalmente aquela

de composição nuclear, com papeis bem definidos – começou a constituir uma das

grandes marcas de diferenciação das elites sociais pernambucanas, não só as militantes

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católicas. Todavia, a defesa desse padrão de família começou a ser um dos símbolos da

defesa dos ideários políticos de ordem do catolicismo (AMARAL, 2013).

Essa característica política pode ter atraído um maior número de homens para

as associações, pois ser membro de uma alguma associação católica, além de

status na sociedade, poderia significar um verdadeiro trampolim para a vida

política ou mesmo uma ameaça para aqueles que tivessem e/ou pretendessem

entrar na vida política (AMARAL, 2013. pg. 301).

Com plena noção da força de alcance do discurso católico, construtor ou

destruidor da imagem pública, as elites políticas mantiveram uma relação de “boa

vizinhança” (AMARAL, 2013. pg. 290) com as associações católicas e todas as outras

instituições formadoras de opinião vinculadas à Igreja.

Um ótimo exemplo disso foi um fato histórico relatado por Emanuela Ribeiro

sobre o assunto: Desde o Império que a Assembleia Legislativa de Pernambuco recebia

convites de várias Irmandades católicas para suas procissões. E era costume o

presidente da Câmara nomear uma comissão de três deputados para representar a casa

(RIBEIRO, 2009. pg.163).

Em 1908, um desses episódios virou polêmica quando a Irmandade Bom Jesus

dos Passos da Graça em Olinda enviou o costumeiro convite e um dos deputados

questionou a legalidade do ato. Em resumo, em uma sessão foi julgada a

constitucionalidade do ato, por 15 votos a um, ficando decidido manter a tradição por se

considerar, entre outros argumentos, uma questão de cortesia e a constituição não

permitir que “nenhum poder deixe de ser respeitado” (grifos nossos) (Annaes da

Câmara dos Deputados in RIBEIRO 2009. pg. 165)

Esse contexto parece que fez com que os Jesuítas aceitassem o papel de

primeiros formadores das futuras gerações da intelectualidade católica militante no

Recife com esforços de uma Ação Católica desenvolvida tanto pelos seguimentos de

ordem nacional e regional /local, como pela cúpula central da Igreja.

Pois instituições como o CMN no desenvolvimento de seus papéis de construtoras de

ideários, se tornaram um terreno fértil para emigração de ideologias do campo das ideias

para o campo da práxis (MOURA, 2012). Nela percebemos um enorme trânsito de

pessoas através das atividades de ensino do Colégio e da vinculação à associações

fornecendo a formação daqueles laços afetivos familiares, especialmente, com as elites,

mas também de forma secundária com as massas.

Temáticas extremamente comuns ao período contemporâneo do estabelecimento

dos primeiros trabalhos dos jesuítas no Recife eram abordadas das mais diversas

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formas, moldando o cotidiano do colégio de acordo com as necessidades estratégicas da

Igreja, tanto em cunho local como internacional.

Além disso, o engajamento dos agentes do Nóbrega na difusão do projeto

católico através da organização de eventos acadêmicos e religiosos, publicação de

textos, formação de futuros jovens militantes católicos e o doutrinamento social das

massas, que vimos ao longo deste trabalho constitui a fonte histórica dessa vinculação

ao projeto de restauração católica adaptada a esta laicidade do Recife.

A criação da Congregação Mariana de Mocidade Acadêmica e a Liga para

Restauração dos Ideais, além de atribuir a vinculação e/ou o status de sócio-fundador a

associações, como, por exemplo, o Circulo Católico de Pernambuco, Centro D. Vital e

Liga Eleitoral Católica dos agentes do Nóbrega, criaram uma conexão a uma Identidade

Católica que os inseriu das mais diversas formas na luta por aquela restauração católica

na sociedade, pretendida pela Igreja para Pernambuco no Estado Laico.

5.2. Onde esta O Movimento de Escola Nova?

Quando pensamos em educação no início do século XX, logo nos vem à mente o

movimento escola novista, ganhando força e implantando novos paradigmas no fazer

educacional. Reformas políticas nacionais e locais são lembradas como esquentando os

debates com as escolas confessionais.

Entretanto o que vemos em nossa documentação são as amistosas relações do

Colégio Manuel da Nóbrega mantidas com as escolas laicas. Embora existam em nossa

documentação campanhas que de forma clara se opõem ao protestantismo e liberalismo,

que seria aquilo que mais se aproximaria dos embates com escolanovistas, estas não

parecem ultrapassar os campos religioso e político-econômico, respectivamente. Assim

nosso intuito de chamar atenção a Escola Nova neste tópico está em demonstrar a

inexistência de conflitos com este segmento, além de visualizar como o contrario

aconteceu, instituições escolares que não deveriam, enquanto laicas, não manter

relações com instituições como o CMN, permitindo que os discursos do colégio e de

seus agentes se associassem a sua prática.

Em relação ao protestantismo e a suas manifestações, não percebemos nem ao

menos a vinculação a colégios como o Americano Batista e o Agnes. O que talvez,

possa ser um indicador de que esses conflitos com o movimento tenham de fato um

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cunho religioso e não pedagógico, ou então, que esses Colégios que pareciam trazer ao

Recife aquele pensamento, na verdade só incorporaram algumas técnicas, não chegando

a ser de fato representantes desse modelo educacional.

Percebemos que o mesmo aconteceu com a declarada guerra ao Liberalismo, que

em suas relações se limitavam às referências leoninas de combate político e econômico,

mostrando que ele era o grande vilão dos tempos modernos, já que pretendia tirar a mão

forte do estado do mercado e deixá-la a mercê da ganância de certos homens.

Não descartando, claro, a importância dos novos pensamentos que surgem no

fim do século XIX e já preocupavam a Igreja, como vimos com o Papa Pio IX, não

percebemos grandes ameaças do movimento progressista no Recife, no qual a

Maçonaria, o Protestantismo, o Liberalismo, o Comunismo, o Socialismo e até a

modernidade parecem representar uma ameaça muito mais significativa que aqueles.

Até aquilo que mais se aproximou de combates foram feitos de forma

extremamente generalizada pelo sumo pontífice, e defendo que elas não traziam nada de

novidade, eram apenas tentativas de exigências da natureza pseudo- autônoma, pelas

quais a própria Igreja já lutava.

Tais são na sua generalidade aqueles sistemas modernos, de vários nomes,

que apelam para uma pretendida autonomia e ilimitada liberdade da criança,

e que diminuem ou suprimem até, a autoridade e a acção do educador,

atribuindo ao educando um primado exclusivo de iniciativa e uma actividade

independente de toda a lei superior natural e divina, na obra da sua educação.

(…) Diriam, sim, a verdade, se com algumas daquelas expressões quisessem

indicar, ainda que impropriamente, a necessidade cada vez mais consciente,

da cooperação activa do aluno na sua educação, e se entendessem afastar

desta o despotismo e a violência (a qual, de resto, não é a justa correcção),

mas não diriam absolutamente nada de novo e que a Igreja não tenha já

ensinado e atuado na prática da educação cristã tradicional, à semelhança do

que faz o próprio Deus com as criaturas que chama a uma activa cooperação,

segundo a natureza própria de cada uma, visto que a sua Sabedoria « se

estende com firmeza de um a outro extremo, e tudo governa com bondade »

(PIO XI, 1929)

A quase regra de importar modelos estrangeiros progressistas e caricaturar a

moda do conservadorismo Pernambucano, parece se aplicar aqui com perfeição, pois a

existência desse movimento aqui é inquestionável, como provam diversos autores das

mais distintas correntes historiográficas, mas, mais uma vez, o tradicionalismo

oligárquico pareceu moldar e/ou sufocar isso, que visto como um processo histórico

representou um bom começo, mas que porém não teve grandes repercussões em sua

contemporaneidade.

Até mesmo alguns estudiosos desses movimentos no período, reconhecem a

complexidade de se falar deles nesse período, onde o pensamento católico ainda era

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106

muito influente, que tendia a impedir a propagação de movimentos mais radicais no

Recife. Segundo Lêda Sellaro, isso parece ter acontecido com a ação chamada de

Escola do Recife sob a liderança de Tobias Barreto, que acabou adaptando o

modernismo a um regionalismo mais ligado à tradição pernambucana:

Além das personalidades supracitada, a Escola do Recife envolveu nomes

como Martins Jùnior, Capristrano de Abreu, Oliveira Lima, Nina Rodrigues,

Arthur Ramos e Graça Aranha, um dos inspiradores do modernismo. Por

estes e outros fatos ligados à tradição local, o Recife mostrava-se mais

propenso para o regionalismo, no sentido de restauração ou conservação do

antigo, do que para o rompimento que marcava o modernismo. Já São Paulo,

sem tradição literária de maior envergadura, envolvido na construção do seu

futuro industrial, seria mais receptivo às mudanças. (SELLARO, pg. 119)

Os indícios encontrados em nossa documentação que confirmam esse fato,

apontam para a existência de uma aproximação, e até quem sabe aqueles laços afetivos -

familiares, que os agentes da hierarquia eclesiástica tentaram cultivar com as elites

políticas, com as personalidades envolvidas nesses movimentos.

Era bastante comum as visitas dessas personalidades ao Nóbrega ou as relações

de amizade mantidas entre eles e os jesuítas do CMN. Um bom exemplo disso é o fato

de Oliveira Lima, fazer parte da ação da Escola do Recife, participando de conversas no

Nóbrega:

23/05/1917 – “Veio visitar-nos Ex-ministro Dr. Oliveira Lima. O Pe.

Superior foi ao Palácio Archiepiscopal assistir a reunião de vigários e

superiores regulares, que vessou sobre o ensino da doutrina christã, e

adoração diária do S.S. Sacramento na cidade do Recife.” (DIÁRIO DE

FUNDAÇÃO 1917-1929. pg. 14)

Além disso, relações com outras instituições educacionais laicas eram mantidas

de forma cotidiana. Os padres do Nóbrega constantemente frequentavam essas

instituições para celebrar missas, assistir cerimônias, participar ou ministrar cursos e

palestras, envolvendo-se em campeonatos esportivos, etc. (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO

1917-1929.), normalmente a convite de diretores ou professores:

24/02/1919 – “O Pe Superior foi assisti a solene instalação do instituto dos

professores de humanidades no Gynnasio Pernambucano. Vieram professores

convidar os NN para o acto” (DIÁRIO DE FUNDAÇÃO 1917-1929. pg. 69)

Listamos outros exemplos de instituições não confessionais com as quais o

CMN mantinha relações:

Carneiro Leão

Faculdade de Direito

Escola de Aprendizes de marinheiro

Gynnasio Pernambucano

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Colégio da Torre

Ginásio do Recife

Percebemos que essas relações não se davam apenas no âmbito local. Clóvis

Leal, ex-aluno do colégio Nóbrega da Bahia e um dos fundadores da Liga para a

Restauração dos Ideais, em carta escrita em 20 de agosto de 1926, conta (entre muitas

coisas que já citamos no tópico sobre a LRI, sobre uma sessão solene em comemoração

ao aniversário do Pe. Torrend, da qual participou o Diretor-Geral de ensino, Anísio

Teixeira, que chegou em outro momento, ao que parece até a participar de uma turma

dos retiros da CMMA31

:

Realizamos já diversas sessões e entre elas a sessão solene no dia 21 de

junho, aniversário do nosso diretor, Pe. Torrend, S.J., à qual assistiram

pessoas de destaque como o Diretor Geral do ensino, o Dr. Anísio Spínola

Teixeira que ficou admiradíssimo de ver uns Ideais tão levantados numa

geração tão nova como a nossa! Por toda parte em todos os colégios e entre

as altas famílias da capital só se ouve o grito de combate da nossa

Liga…(CONGREGAÇÃO MARIANA pg. 68)

Essa disputa ficou mais nítida próxima a elaboração da constituição de 193,

com o surgimento de oportunidades para diversos grupos envolvidos em debates que

antecederam a concretização constitucional de seus princípios. A partir daí, os dois

grupos se destacaram nos conflitos: “os educadores profissionais identificados como

Pioneiros da Escola nova e os líderes intelectuais católicos juntamente com os membros

da hierarquia católica” (CURY, 1945. pg. 11).

Apesar das sucessivas reformas do ensino empreendidas ao longo da República,

contendo muitas vezes óbices consideráveis ao desenvolvimento do ensino

confessional, e da concorrência crescente das escolas protestantes, o mercado de ensino

secundário constituiu ainda a alavancada mais dinâmica e rentável dos

empreendimentos eclesiásticos no período (MICELI, 2009. pg. 28).

Como já dissemos, mesmo os embates com o protestantismo, que em muitos

locais estavam intimamente ligados à escola nova, com os seus supostos representantes

em nossa capital, como, por exemplo, o Colégio Americano Batista e o Agnes, nos

parecem de fato restringir-se às disputas no campo Religioso. De forma que a

materialização do escola-novismo em Recife parece ter sido ofuscado por outros

movimentos.

Embora conscientes que as documentações não são suficientes para se afirmar a

inexistência de conflitos entre os escola-novistas e as escolas confessionais no período

31

Foto datada de 15 de agosto de 1926 no Anexo K

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republicano, elas servem para questionarmos se boas relações do CMN com esse

segmentos laicos eram uma exceção?

Não pretendemos alcançar respostas, com tal questão, pois ele não configura

objeto de nossa pesquisa, porém gostaríamos apenas de destacar, como fizemos em

inúmeros tópicos desse estudo, a imersão do Nóbrega, ou falta dela, em debates

contemporâneos ao nosso período, pois poderia de alguma forma nos auxiliar na

compreensão do que pode ter influenciado a formação do pensamento da época e em

que debates estavam envolvidos os agentes do CMN.

Acreditamos que a definição que melhor cabe para explicar as relações que

acabamos de apontar, foi dada por Alceu Amoroso Lima, em prefácio de uma obra que

analisando a composição da Ideologia Educacional no Brasil fala sobre a relação entre

católicos e escola- novistas:

Dois amigos sustentam vivamente teses opostas em relação a determinado

tema. No dia seguinte se encontram de novo. E, mesmo de longe, um deles

diz ao outro: ‘você sabe que ontem me conveceu?’. E o outro respondendo

sem hesitar: ‘não senhor, foi você que me convenceu’. E retomam a

discussão, em posições antagônicas às da véspera… Se não houvesse isso,

entre ‘católicos’ e ‘pioneiros’, houve pelo menosuma compreensão recíproca

da finalidade pedagógica comum, de tirar de cada ser humano o que há de

latente no sentido de aperfeiçoamento pessoal e coletivo. (LIMA in CURY.

1945 pg. XI)

Pela observação dos aspectos analisados, podemos interpretar que não houve

com a proclamação da república, grandes rupturas com o poder e seus representantes

que justificassem uma ação restauradora. Elas buscavam, ao menos nominalmente, a

restauração de um poder que, na prática, tinha sido perdida muito antes da instauração

do Estado Laico no Brasil, que ao parece nos remeter a uma perda muito anterior, ainda

em épocas de contra -reforma. O que não quer dizer, que houve perdas de cunho

material, monopólios que a Igreja e o CMN, em particular, não estavam prontos a abrir

mão.

Por isso que os projetos, então denominados de restauradores, promoviam ações

que auxiliavam o ganho de uma força simbólica e cultural que se expressava em

posicionamentos políticos e com a volta ou instauração de garantias legislativas que

servissem aos seus interesses.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo de nossas pesquisas, nosso foco esteve nas funções dos sujeitos do

CMN, dentro do projeto de restauração católica, denominação dada pela própria

documentação. Entretanto, nossas análises nos conduziram para o questionamento sobre

a natureza das ações que envolviam tais sujeitos, de forma que as praticas ligadas a aos

esforços restauradores nos fizeram duvidar da essência do processo em si, e se a

restauração, no que se refere aos nossos recortes cronológicos e espaciais, se manifestou

de forma, a de fato restaurar, no sentido textual da palavra, o que pressuporia a perda

de algo.

Para decifrar essa realidade usamos como base alguns documentos oficiais da

Igreja Católica, especialmente encíclicas papais e acordos pastorais, na montagem de

um cenário, tanto no âmbito internacional como no nacional mais generalizado, visando

entender o que consiste esse cenário e as motivações que levaram a necessidade dessa

restauração. Nesse contexto, passamos a traçar a proposta local que mais tinha

coerência com o discurso do CMN, que, segundo nossas fontes, estava em maior

confluência com as proposições lemistas da época.

Visualizamos, no primeiro capítulo, que os discursos que estavam ligados as

práticas em si foram montados a partir da influência do ponto de vista do lugar que o

colégio ocupa no campo da restauração católica, e que os sujeitos que dele faziam parte

reproduziam e produziam certa verdade histórica, e como tais eram importantes aliados

aos atos que possuíam necessidade do apoio deste discurso legitimador, especialmente

na esfera política.

Como era de se esperar, os discursos mais latentes em nossa documentação

mantinham relação com as questões contemporâneas da época. As questões em torno

das relações entre ricos e pobres não ficaram de fora. Além de opiniões emitidas sobre o

Comunismo, Socialismo e Liberalismo, que guardavam ligação com aqueles das

sentenças proferidas nos registros e da maçonaria, que usava a posição de seus

seguidores para destruir a sociedade.

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Lembrando bem, a riqueza e a pobreza, segundo os documentos, eram inerentes

às sociedades organizadas, pois era um nexo permitido por Deus. De forma que

questionar sua existência, seria questionar a própria ordem natural das coisas, pois ser

rico ou ser pobre guarda relação direta com a espiritualidade, já que o próprio Cristo

veio como um pobre. Isto posto, num posicionamento contrário a moral divina, o

Comunismo e o Socialismo instigam o ódio do pobre pelo sistema, demandado de uma

insatisfação que foi iniciada quando o Liberalismo impediu a mão forte do estado de

atuar no mercado, o deixou entregue à ganância dos maus ricos, que desequilibraram o

sistema e exploravam em excesso o pobre. A solução para a diminuição dos conflitos

seria o fomento a caridade, que por sua vez estaria ligada a moral da Igreja e a colocaria

como intermediária e conciliadora entre essas camadas sociais.

Já a posição dos maçons como os principais opositores da moral cristã, foi

encontrada de forma mais demarcada, entretanto, se limitando a citações nos escritos do

próprio CMN. Tendo a documentação um cunho mais geral, apontando, principalmente,

para como a maçonaria conseguia a legitimação de seus preceitos a partir da

proximidade com os agentes detentores do poder civil, especialmente no fim do século

XIX. Foi talvez por essa razão, que as estratégias com ênfase no “retorno” das alianças

e do fortalecimento dos laços familiares com as elites dirigentes ganharam tanto espaço

nos esforços restauradores do início do século XX.

Ao Nóbrega, coube, inicialmente, o papel de formar elites católicas militantes,

pois partilhavam dos esforços de D. Leme em conseguir que o católico por tradição, que

somavam a maioria no país, se tornassem católicos por ação.

Os trabalhos recristianizadores mais comuns, no cotidiano do CMN, estavam ligados a

uma proposta principal da “Personificação de um modelo moço de cristão combatente,

digno de ser tomado como padrão”, sendo a este ligado a instauração de “Retiros

fechados”, e, posteriormente, a fundação de uma biblioteca para a formação intelectual

desses autores católicos. Para isso, um imenso aparelho e rede de relações foram

montados, tendo como principais agremiações do CMN a Congregação Mariana de

Mocidade Acadêmica e a Liga para a Restauração dos Ideais.

Isso não excluiu trabalhos específicos com mulheres e operários, que chegaram a

ganhar retiros próprios no fim da década de 20. A mulher, em especial, ganhou uma

função de destaque nas atividades do colégio, especialmente por serem, através dela,

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fortalecidos e criados os laços familiares com as elites, tão importantes aos esforços

recristianizadores. A mulher, cabia a missão de organizar os eventos, angariar fundos

para a caridade, educar os filhos nos preceitos cristãos e aproximar os maridos dos

trabalhos do CMN.

Em um segundo momento, o Nóbrega começou a atuar de uma forma mais

“extramuros” do Palácio da Soledade, através de comícios, catequeses, trabalhos na

comunidade e da realização com mais frequência durante o ano de retiros mais

tradicionais .Isso fez com que seu apoio, em assuntos políticos, se tornasse cada vez

mais importante. Os grandes destaques se encontraram na campanha contra o divórcio e

a favor do ensino religioso nas escolas públicas.

Uma vez que definimos o papel do CMN, com base nas nossas fontes, como

sendo fomentador de trabalhos específicos nas mais diversas esferas de atuação social,

formador de elites militantes, defensor político de assuntos de cunho moral através dos

congregados da CMMA e da LRI, entre outros, passamos a questionar a manifestação

da laicidade e da necessidade de restauração católica no Recife.

Quando voltarmos ao início de nossos estudos, nos deparamos com a

Companhia de Jesus e outras irmandades sendo expulsas de Portugal. Lá, a onda de

laicização dos estados entendia que essas instituições não tinham nada a oferecer às

novas configurações da política, mas, muito pelo contrário, elas eram vistas como

ameaças a um “novo iluminismo” que estava se estabelecendo em alguns países da

Europa naquele momento.

A oposição à vinda dos refugiados que chegaram ao Recife não encontrou

nenhum obstáculo que impedisse o estabelecimento deles em nossa capital. Pelo

contrário, a mão de obra qualificada de educadores logo os fizeram ser amplamente

aproveitados para suprir as carências de instituições de ensino que ainda não

conseguiam ser atendidas pelo poder público.

As ligações com a alta elite recifense e com as famílias de altos políticos, se

fizeram ainda nos primeiros anos, elevando o prestígio dos jesuítas, que crescia de

forma a passarem a ter cada vez mais uma certa influência nas questões políticas. A

Campanha pela volta do ensino religioso às escolas públicas, em parte encabeçada pelo

CMN, e dentro dela a vitória de Barreto Campello, congregado mariano, na campanha à

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formação da constituinte no pós 30, foi um dos maiores indícios que o colégio não era

alheio às questões políticas de sua época.

De modo que ao observar nossas fontes, podemos afirmar que a laicidade do

estado no Recife não se manifestou de forma absoluta, uma vez que questões que

guardavam relação à moralidade católica – e se destaque a católica, pois outras religiões

não tiveram este mesmo espaço – conseguiram entrar no debate político e colecionar

certas vitórias em um estado dito laico.

Da mesma forma a recristianização, no sentido de “retomar tudo para Cristo”

aqui pareceu ser irrelevante. Dito de forma simplista, nunca deixamos de ser cristãos, a

política era tranquilamente regida por questões que passavam unicamente pelo cunho

religioso, como até os dias atuais não parece ser difícil colecionar exemplos desses

fatos. Assim, a restauração católica se manifestou muito mais como manutenção e

fortalecimento de laços, do que como um restabelecimento no sentido literal da palavra.

Em fim, tais conclusões não indicam que perguntas não tenham ficado sem

respostas após nossos estudos. Muito pelo contrário, de imediato podemos destacar a

nossa incapacidade de responder o porquê dos jesuítas representarem valiosos aliados

aqui e serem considerados ameaças em Portugal. O fato do movimento escola novista

não ter sido considerado um ator histórico pelas nossas fontes, que consegue declarar os

maçons como seus inimigos e mantém amistosas relações com as escolas laicas do

Recife e com figuras como Oliveira Lima e Anísio Teixeira, ainda representa, também,

um enigma que só outros estudos específicos poderão apontar.

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ANEXOS

Diários de Fundação do Colégio Manuel da Nóbrega

Anexo A Anexo B

Anexo C - Livro Consultas do Colégio Manuelda Nóbrega

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Archivo mariano academico (1916 a 1923)

Anexo D

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Anexo E

Anexo F

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Anexo G

Anexo H

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Anexo I

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Anexo J

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Anexo K

Anexo L

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Anexo M

Anexo N

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Anexo O

Archivo Mariano Acadêmico (1924 A 1927)

Anexo P

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Anexo Q

Anexo R

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Anexo S

Anexo T