UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......de Pós-Graduação em Cirurgia do Centro de...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIRURGIA
DENIS WAKED DE BRITO
AVALIAÇÃO DO PERFIL METABÓLICO URINÁRIO RELACIONADO À
NEFROLITÍASE EM PACIENTES SUBMETIDOS À GASTRECTOMIA
VERTICAL: um estudo prospectivo
Recife
2020
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DENIS WAKED DE BRITO
AVALIAÇÃO DO PERFIL METABÓLICO URINÁRIO RELACIONADO À
NEFROLITÍASE EM PACIENTES SUBMETIDOS À GASTRECTOMIA
VERTICAL: um estudo prospectivo
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Cirurgia do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Cirurgia.
Área de concentração: Cirurgia Clínica e Experimental
Orientador: Prof. Dr. Flavio Kreimer
Recife
2020
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Catalogação na Fonte
Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4 1010
B862a Brito, Denis Waked de.
Avaliação do perfil metabólico urinário relacionado à nefrolitíase em pacientes submetidos à gastrectomia vertical: um estudo prospectivo / Denis Waked de Brito. – 2020.
70 f.: il.; tab.; quad.; 30 cm. Orientador: Flávio Kreimer. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco,
CCS. Programa de Pós-Graduação em Cirurgia. Recife, 2020. Inclui referências, apêndices e anexos. 1. Cirurgia bariátrica. 2. Obesidade. 3. Nefrolitíase. 4. Ácido úrico. 5.
Urina. I. Kreimer, Flávio (Orientador). II.Título. 617.91 CDD (20.ed.) UFPE (CCS2020-223)
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DENIS WAKED DE BRITO
AVALIAÇÃO DO PERFIL METABÓLICO URINÁRIO RELACIONADO À
NEFROLITÍASE EM PACIENTES SUBMETIDOS À GASTRECTOMIA
VERTICAL: um estudo prospectivo
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Cirurgia do Centro de Ciências Médicas (CCM) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Cirurgia.
Aprovada em 25/11/2020
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________
Dr. Flavio Kreimer (Presidente da Banca)
Professor Adjunto - Dep. de Cirurgia - CCM – UFPE
______________________________________________________
Dr. Álvaro Antônio Bandeira Ferraz (Examinador Interno)
Professor Titular - Dep. de Cirurgia - CCM – UFPE
______________________________________________________
Dr. Fábio de Oliveira Vilar (Examinador Externo)
Professor Associado - Dep. de Cirurgia - CCM - UFPE
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AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Angela e Morgan, e ao meu irmão, Hogan, pelo incentivo
em todos os passos da minha formação e pelo apoio em todas as minhas escolhas;
À minha esposa, Caroline, pela paciência e suporte incondicionais
durante esta jornada;
Ao meu orientador, prof. Dr. Flavio Kreimer, pela presteza,
disponibilidade e estímulo constantes;
Aos colegas preceptores e residentes dos Serviços de Cirurgia Geral e
de Urologia do Hospital das Clínicas da UFPE;
Aos alunos da Pós-Graduação em Cirurgia, especialmente os mais
próximos: Flávio Arruda (cirurgião plástico), Rodolfo Brilhante (urologista), Adriano
Pereira (cirurgião geral) e Wendell Fernandes (cirurgião vascular);
Aos amigos de longa data, Pablo Viana e David Embiruçu, que
ofereceram suporte matemático e estatístico para construção dessa dissertação;
Aos funcionários e professores do Programa de Pós-Graduação em
Cirurgia, pela dedicação, ética e responsabilidade demonstrados no trato com os
alunos;
A todos os professores e preceptores que fizeram parte da minha
formação profissional e me despertaram o interesse pela carreira acadêmica.
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RESUMO
Introdução: A obesidade é uma doença de alta prevalência na atualidade e a cirurgia
bariátrica é uma das formas de tratamento mais eficazes para os casos graves. A
associação entre as cirurgias disabsortivas e o desenvolvimento de nefrolitíase está
bem estabelecida, porém estudos prospectivos abordando pacientes submetidos à
gastrectomia vertical (GV) são escassos. Objetivo: Analisar o perfil bioquímico
urinário relacionado à nefrolitogênese em pacientes obesos submetidos à
gastrectomia vertical no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Pernambuco. Método: Estudo prospectivo no qual 32 indivíduos foram submetidos
a análise de urina de 24h no período pré-operatório (sete dias antes da cirurgia) e
seis meses após realizarem a GV. As variáveis bioquímicas dosadas foram: volume
urinário, oxalúria, citratúria, uricosúria, calciúria, magnesiúria, creatininúria, pH e
supersaturação de oxalato de cálcio. Resultados: Os pacientes eram
majoritariamente mulheres (26 - 81,2%), com média de idade de 40,6 anos. O índice
de massa corpórea médio pré e pós-operatório foi de 47,1 kg/m2 e 35,5 kg/m2,
respectivamente (p
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ABSTRACT
Background: Obesity is a highly prevalent disease today and bariatric surgery is one
of the most effective forms of treatment for severe cases. The association between
disabsorptive surgeries and the development of nephrolithiasis is well established,
but prospective studies addressing patients undergoing sleeve gastrectomy (SG)
are scarce. Purpose: to evaluate the urinary biochemical profile related to the
urolithogenesis processes after SG. Method: Prospective study in which 32
individuals underwent a 24-hour urine analysis preoperatively and six months after
performing a SG. The studied biochemical variables were urinary volume, oxaluria,
citraturia, uricosuria, calciuria, magnesiuria, creatininuria, pH and calcium oxalate
supersaturation. Results: Patients were mainly women (26 - 81,2%), with mean age
of 40.6 years. Mean pre- and postoperative body mass index were 47.1 kg/m2 and
35.5 kg/m2, respectively (p
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Derivação gástrica em Y-de-Roux 20
Figura 2 - Gastrectomia vertical 20
Figura 3 - Amostra 27
Quadro 1 - Variáveis bioquímicas 28
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Classificação da obesidade segundo
a OMS e o CFM
16
Tabela 2 - Classificação da obesidade segundo
a IFSO e SBCBM
17
Tabela 3 - Dados epidemiológicos 33
Tabela 4 - Comorbidades associadas (pré-
operatório)
34
Tabela 5 - IMC pré-operatório 34
Tabela 6 - Peso e IMC 35
Tabela 7 - Bioquímica urinária 36
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CFM Conselho Federal de Medicina
CNS Conselho Nacional de Saúde
COVID-19 Corona Virus Disease 2019
DGYR Derivação Gástrica em Y-de-Roux
DM Diabetes Mellitus
DP Desvio Padrão
GLP-1 Glucagon-Like Peptide 1
GV Gastrectomia Vertical
HAS Hipertensão Arterial Sistêmica
HC Hospital das Clínicas
IFSO International Federation for the Surgery of Obesity and
Metabolic Disorders
IMC Índice de Massa Corpórea
MDRD Modification of Diet in Renal Disease
NICE National Institute for Health and Care Excellence
OMS Organização Mundial de Saúde
pH Potencial Hidrogeniônico
SBCBM Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica
SCG Serviço de Cirurgia Geral
SS CaOx Supersaturação de Oxalato de Cálcio
TC Tomografia Computadorizada
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UFPE Universidade Federal de Pernambuco
USG Ultrassonografia
VR Valor de Referência
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 12
2 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO............................................................ 14
3 OBJETIVOS......................................................................................... 15
3.1 Objetivo Geral...................................................................................... 15
3.2 Objetivos Específicos........................................................................... 15
4 REVISÃO DA LITERATURA............................................................... 16
4.1 Obesidade............................................................................................ 16
4.2 Cirurgia bariátrica................................................................................. 19
4.3 Litíase urinária...................................................................................... 21
5 MATERIAIS E MÉTODOS................................................................... 25
5.1 Desenho e local do estudo................................................................... 25
5.2 População, tamanho amostral e período de estudo............................ 25
5.3 Critérios de inclusão............................................................................. 25
5.4 Critérios de exclusão............................................................................ 25
5.5 Variáveis............................................................................................... 27
5.6 Procedimentos técnicos....................................................................... 28
5.7 Procedimentos analíticos..................................................................... 29
6 PROCEDIMENTOS ÉTICOS............................................................... 31
6.1 Aprovação pelo comitê de ética........................................................... 31
6.2 Riscos para os indivíduos.................................................................... 31
7 RESULTADOS..................................................................................... 33
8 DISCUSSÃO........................................................................................ 37
9 CONCLUSÃO...................................................................................... 43
REFERÊNCIAS.................................................................................... 44
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO...................................................................................
51
APÊNDICE B - FORMULÁRIO DE COLETA DE DADOS.................. 54
APÊNDICE C - PLANILHAS DE DADOS........................................... 55
APÊNDICE D - ARTIGO ACEITO PARA PUBLICAÇÃO................... 57
ANEXO A - REPOSIÇÃO DE OLIGOELEMENTOS........................... 69
ANEXO B - PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA....... 70
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12
1 INTRODUÇÃO
As doenças crônicas e a obesidade surgiram como preocupações de
saúde no século XX, sobretudo devido a mudanças ambientais e no estilo de vida
(1,2).
Algumas estimativas globais recentes da Organização Mundial de Saúde
(OMS) indicam que, em 2016, mais de 1,9 bilhão de adultos apresentavam excesso
de peso, correspondendo a 39% da população. Ainda se estimou que cerca de 650
milhões de adultos (13% da população) eram obesos, evidenciando que a
prevalência global de obesidade quase triplicou nas últimas três décadas (2).
No espectro da síndrome metabólica, a obesidade e comorbidades
relacionadas, tais como doenças cardiovasculares, endócrinas (diabetes mellitus
tipo 2, dislipidemias, síndrome do ovário policístico etc.) (3) e alguns tipos de câncer,
reduzem a expectativa de vida e adicionam custos econômicos aos sistemas de
saúde e aos pacientes (4). A cirurgia bariátrica é reconhecida como o tratamento
mais efetivo para pessoas com obesidade grave, com índice de massa corpórea
(IMC) igual ou maior que 40 kg/m², ou maior que 35 kg/m², caso apresentem
complicações relacionadas à obesidade (5).
A cirurgia bariátrica envolve modificações cirúrgicas da anatomia do trato
gastrointestinal com consequente diminuição do fluxo de nutrientes, que afetam a
biologia do sistema digestório (6,7). Existem diversos tipos de cirurgias bariátricas,
sendo a gastrectomia vertical (GV) – sleeve gástrico – e a derivação gástrica em Y-
de-Roux (DGYR) os mais empregados atualmente (8). Em 2013, a GV ultrapassou
a cirurgia de DGYR como o procedimento bariátrico mais comum nos Estados
Unidos (9).
A partir de 2005 surgiram publicações com pacientes submetidos à
cirurgia bariátrica que, apesar de apontarem para a redução da prevalência de DM,
de hipertensão arterial, de doenças cardiovasculares e de morte, também
evidenciavam o aumento do risco de litíase renal. Isso levantou a hipótese de que
o procedimento poderia ser fator de risco para litogênese, o que tem sido confirmado
em diversos estudos (10). A interação entre nefrolitíase e cirurgia bariátrica tem sido
apontada como um aspecto importante a ser investigado já que as pesquisas em
relação às operações restritivas são escassas (11).
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13
A nefrolitíase é uma das condições urológicas mais comuns. De fato,
estimativas recentes colocam a prevalência na população dos Estados Unidos em
10,6% para homens e 7,1% para mulheres; em obesos, a prevalência é ainda maior
(12). Além disso, o risco de desenvolver nefrolitíase, na população geral, vem
aumentando nas últimas décadas (13).
Fatores de risco urinários, como hipercalciúria, hipocitratúria e
hiperoxalúria, combinados ou isolados, estão associados a cálculos de cálcio
(sendo estes o tipo mais comum). Hábitos alimentares e condições clínicas
subjacentes podem influenciar os fatores de risco urinários (14).
O mecanismo da hiperoxalúria nas síndromes disarbsortivas, a exemplo
de alguns tipos de cirurgia bariátrica (15), é bem conhecido e será abordado na
revisão da literatura.
A maioria dos artigos que relacionam litíase urinária e cirurgia bariátrica
avaliou sobretudo os pacientes submetidos à DGYR. Eles comprovam a associação
do DGYR com diversas alterações urinárias que predispõem à nefrolitogênese, tais
como hiperoxalúria, hipocitratúria e diminuição do volume urinário. Entretanto, em
relação aos procedimentos restritivos, como a GV, há relativamente poucos estudos
prospectivos acerca de seus efeitos nos metabólitos urinários e seus resultados são,
por vezes, conflitantes (9).
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14
2 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM)
aponta que o número de cirurgias bariátricas realizadas no Brasil aumentou 84,73%
ao passar de 34.629 em 2011 para 63.969 em 2018. Comparando-se os anos de
2018 e de 2017, o aumento foi de 4,38%. O Brasil é considerado o segundo país do
mundo em número de cirurgias realizadas (16,17).
O aumento no número de procedimentos realizados está relacionado ao
crescimento da obesidade no Brasil e, também, às novas regras do Conselho
Federal de Medicina (CFM), que ampliaram o número de doenças associadas à
obesidade que podem levar a indicação da cirurgia bariátrica (16).
Esse imenso volume de cirurgias realizadas também se reflete no
surgimento de complicações pós-operatórias. Diversos estudos mostram que pode
haver um aumento da incidência de urolitíase em pacientes submetidos à cirurgia
bariátrica (11,18,19).
Esta relação parece estar bem estabelecida nos casos relativos às
cirurgias disabsortivas (15) ou mistas, pois elas levam a alterações conhecidas no
metabolismo urinário que predispõem a litogênese. Em referência às cirurgias
restritivas, existem poucos estudos prospectivos, cujos resultados por vezes são
controversos (9).
Nos últimos anos houve um grande aumento no número de cirurgias
restritivas, sobretudo a GV, em detrimento da DGYR (9). Esta realidade também se
reflete no Brasil. O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco
(HC/UFPE) é referência no tratamento da obesidade, contando com uma equipe
multidisciplinar completa que acompanha os pacientes a longo prazo, nos períodos
pré e pós-operatórios.
A realização de um estudo prospectivo, avaliando pacientes
submetidos à gastrectomia vertical, possibilita estabelecer se há relação direta ou
indireta deste procedimento com alterações potencialmente litogênicas na
bioquímica urinária. Os resultados são relevantes para a abordagem e para a
condução pós-operatória dos pacientes, visando, futuramente, identificar e intervir
em possíveis fatores envolvidos na formação do cálculo urinário.
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15
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
Analisar o perfil bioquímico urinário relacionado à nefrolitogênese em
pacientes obesos submetidos à gastrectomia vertical.
3.2 Objetivos específicos
- Quantificar os níveis de oxalúria, citratúria, calciúria, uricosúria,
magnesiúria, creatininúria, saturação de oxalato de cálcio, do pH e do volume
urinário em 24 horas de pacientes obesos em pré-operatório para gastrectomia
vertical;
- Quantificar os níveis de oxalúria, citratúria, calciúria, uricosúria,
magnesiúria, creatininúria, saturação de oxalato de cálcio, do pH e do volume
urinário em 24 horas dos pacientes seis meses após a gastrectomia vertical;
- Correlacionar os achados bioquímicos urinários pré e pós cirúrgicos nos
indivíduos em análise.
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4 REVISÃO DA LITERATURA
4.1 Obesidade
A prevalência mundial de excesso de peso duplicou desde 1980, a ponto
de quase um terço da população agora ser classificada como com sobrepeso ou
obesidade (20). A obesidade afeta adversamente quase todas as funções
fisiológicas do corpo e compreende uma ameaça significativa à saúde pública (21).
A OMS define obesidade e sobrepeso como acúmulo anormal ou
excessivo de gordura que pode prejudicar a saúde. O IMC é um índice matemático
simples, comumente utilizado para classificar sobrepeso e obesidade em adultos. É
definido como o peso de uma pessoa em quilogramas dividido pelo quadrado da
sua altura em metros (kg/m²) (2). A obesidade é definida como um IMC maior ou
igual a 30 kg/m², e excesso de peso é considerado presente quando o IMC está
entre 25 e 30 kg/m² (1,22).
O grau de obesidade é classificado, pela OMS e pelo CFM, de acordo
com a seguinte Tabela:
Tabela 1 – Classificação da obesidade segundo a OMS e o CFM
Classificação IMC (kg/m²)
Sobrepeso 25-29,9
Grau I 30-34,9
Grau II 35-39,9
Grau III >=40
Fonte: Criada pelo autor com adaptação (2,23)
A Federação Internacional para Cirurgia da Obesidade e Desordens
Metabólicas (International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic
Disorders – IFSO) (24) e a SBCBM (17) acrescentam, ainda, os termos superobeso
e super-superobeso a esta classificação (Tabela 2).
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Tabela 2 – Classificação da obesidade segundo a IFSO e SBCBM
Classificação IMC (kg/m²)
Superobeso 50-60
Super-superobeso >60
Fonte: Criada pelo autor com adaptação (17,24)
De acordo com avaliação recente baseada na população dos Estados
Unidos, a incidência de obesidade em adultos atinge 34,9%. Nas últimas quatro
décadas, o IMC médio aumentou em 0,4-0,5kg/m² por década para ambos os sexos
(4). No Brasil, a prevalência de obesidade estimada, em 2018, era de cerca de
19,8% da população adulta (25).
Esta doença representa um grande desafio à saúde, pois aumenta
substancialmente o risco de doenças como DM tipo 2, doença hepática gordurosa,
hipertensão, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, demência,
osteoartrite, apneia obstrutiva do sono e vários cânceres, contribuindo para um
declínio na qualidade e na expectativa de vida (26,27). A obesidade e suas
características associadas também podem levar à menor produtividade laboral,
desemprego e desvantagens sociais (28). As recomendações atuais de saúde se
baseiam no fato de que a causa fundamental da obesidade é um desequilíbrio
energético entre calorias consumidas e calorias gastas. No entanto, no nível
individual, intervenções para perda de peso que visam reduzir a ingestão de calorias
e aumentar o gasto energético frequentemente não são bem-sucedidas a longo
prazo (28).
A obesidade é, sabidamente, uma doença multifatorial. Embora o
consumo de calorias além da capacidade do corpo de gastar energia seja essencial
para armazenar excesso de calorias no tecido adiposo, a obesidade é uma doença
heterogênea onde múltiplos fatores obesogênicos biológicos, ambientais e
comportamentais interagem para gerar um estado de balanço energético positivo.
O meio ambiente é um elemento crucial na etiologia da obesidade. Na maioria dos
casos, uma propensão biológica ao desenvolvimento desta doença requer interação
com fatores ambientais para que a obesidade seja expressa (29).
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Com exceção dos subtipos de obesidade originários de etiologias
monogênicas ou de fatores que causam redução no gasto de energia, decisões
individuais e estilos de vida são essenciais para precipitar a interação entre fatores
biológicos e ambientais para gerar um estado de obesidade (29).
O tipo de alimentação, com ingestão aumentada de gorduras e de
açúcares, bem como de comidas processadas, resulta no excesso de aporte
calórico. O estilo de vida sedentário associado à falta de atividades físicas regulares,
resultando em um menor gasto energético, tendem a promover o ganho de peso
(30).
Existem diversas formas de tratar o excesso ponderal. Pode-se
estratificar as medidas terapêuticas em não-farmacológicas (mudanças dietéticas,
incremento nas atividades físicas), em farmacológicas e em intervencionistas (30).
As mudanças dietéticas consistem na redução do aporte calórico, na
substituição de refeições e na escolha de estilos de dieta mais saudáveis. Os
guidelines do National Institute for Health and Care Excellence (NICE), Reino Unido,
de 2014, recomendam tratamento farmacológico em associação com dieta
hipocalórica e exercícios físicos regulares, para manutenção da perda de peso.
Drogas de diversas classes já foram usadas para este fim, tais como inibidores da
absorção de gordura, análogos do glucagon-like peptide 1 (GLP-1), supressores do
apetite, entre outros (31).
Apesar das diversas opções disponíveis para tratamento do paciente
obeso, a cirurgia bariátrica ainda é considerada o tratamento mais eficaz devido à
substancial redução de peso que pode durar ao longo do tempo (32,33). Muitos
estudos clínicos demonstraram a superioridade da cirurgia bariátrica em termos de
eficácia e sustentabilidade da perda de peso e na resolução de comorbidades
relacionadas à obesidade quando comparada com intervenções médicas e de estilo
de vida intensivas (5). Além disso, a cirurgia bariátrica não é apenas uma operação
de redução de peso, é também uma intervenção metabólica cujos excelentes
resultados em perda de peso duradoura levam a uma redução significativa das
morbidades relacionadas à doença (34).
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19
4.2 Cirurgia bariátrica
A era dos estudos em cirurgia bariátrica teve início com a observação de
que pacientes submetidos à ressecção de intestino delgado, por neoplasias ou
isquemia mesentérica, evoluíam com má absorção e consequente perda ponderal
sustentada. Em 1954, Kremen e colaboradores, em pesquisa com cães,
observaram que, após a ressecção controlada de determinada parte do intestino
delgado, os animais apresentavam falha na absorção de gordura e perda de peso,
a despeito do aporte nutricional ingerido (35,36). A partir dessas observações, deu-
se início ao desenvolvimento da cirurgia bariátrica.
Em 1963, a equipe do Departamento de Medicina e Cirurgia da
Universidade da Califórnia, liderada por Payne e DeWind, publicou um trabalho
sobre resultados cirúrgicos em pacientes obesos submetidos à derivação jejuno-
colônica. Os pacientes apresentaram, de fato, perda de peso substancial, porém
diversas complicações foram relatadas: esteatorreia, diarreia, hipovitaminoses,
desidratação, anemia, colelitíase, nefrolitíase, cirrose hepática, entre outras. Devido
a essas complicações importantes, esse procedimento foi abandonado (35,37). Nos
anos seguintes, os mesmos autores propuseram a derivação jejunoileal, que
também se mostrou com altos índices de complicações pós-operatórias.
Em 1967, Mason reportou o primeiro estudo sobre derivação gástrica em
pacientes obesos (38). Sua ideia foi desenvolvida, modificada e aprimorada no
decorrer dos anos, possibilitando o desenvolvimento da atual DGYR.
Scopinaro e colaboradores, em 1979, reportaram o primeiro
procedimento bariátrico combinado (disabsortivo e restritivo): a derivação
biliopancreática, que associava a derivação jejunoileal a uma gastrectomia
horizontal. Esse procedimento foi modificado por Hess (1988) e por Marceau (1993),
passando a ser realizado através de uma gastrectomia vertical preservando o piloro
(derivação biliopancreática com switch duodenal) (35). Esta variação deu origem à
gastrectomia vertical empregada na atualidade.
No decorrer dos anos, várias outras técnicas foram desenvolvidas, sendo
atualmente a DGYR considerada o “padrão-ouro” (Figura 1). Esta técnica envolve a
diminuição do reservatório gástrico e a transposição de segmento de intestino
delgado, sendo considerada um procedimento misto (disabsortivo e restritivo) (8).
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20
Este tipo de cirurgia era o mais realizado nos Estados Unidos até 2013, quando foi
ultrapassado pela GV (9).
A GV tornou-se um dos procedimentos bariátricos mais populares do
mundo. É uma operação que consiste na retirada da grande curvatura do estômago,
deixando um reservatório tubular com capacidade de 150-200mL (Figura 2). A GV
é um procedimento tecnicamente menos complexo, com curva de aprendizado curta
e com perda de peso efetiva, com menor risco de complicações (39). A ausência de
anastomose digestiva simplifica a técnica cirúrgica, reduzindo as complicações
relacionadas à anastomose, como fístula, estenose e úlcera marginal. Além disso,
o respeito pela continuidade digestiva preserva as funções do piloro, que regula o
esvaziamento gástrico, e do duodeno, onde o cálcio, as vitaminas do complexo B e
o ferro são absorvidos (40).
Figura 1 – Derivação gástrica em Y-de-Roux
Fonte: Miras e Le Roux (41)
Figura 2 – Gastrectomia vertical
Fonte: Miras e Le Roux (41)
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21
Sabe-se que a GV apresenta melhores resultados do que os
procedimentos puramente restritivos. Isso ocorre pois este tipo de cirurgia promove
modificação na motilidade gastrointestinal, alterações hormonais, alterações nos
sais biliares e na microbiota intestinal. A GV provoca um aumento na velocidade de
esvaziamento gástrico e do trânsito intestinal, ocasionando um aumento pós-
prandial de GLP-1 e peptídeo YY (moléculas sacietogênicas). Ocorre também a
diminuição dos níveis séricos de grelina, substância orexígena produzida pelas
células oxínticas do fundo gástrico (42). Fica claro, portanto, que a GV não é uma
técnica puramente restritiva, sendo responsável por inúmeras alterações
metabólicas orgânicas não apenas relacionadas à diminuição da capacidade do
estômago.
O desenvolvimento de técnicas minimamente invasivas e a crescente
população de pacientes com obesidade mórbida promoveram a rápida
popularização da cirurgia bariátrica (39).
No Brasil, o CFM autoriza o emprego da cirurgia bariátrica em pacientes
com IMC>35kg/m² ou para controle metabólico em pacientes com comorbidades
específicas e IMC entre 30-35kg/m² (16,23).
4.3 Litíase urinária
A litíase urinária é um problema global (43) e sua incidência e prevalência
vêm crescendo constantemente em todo o mundo (44). É descrita desde a
antiguidade, sendo atualmente uma das doenças urológicas mais comuns.
A doença calculosa urinária ocorre com mais frequência em homens,
mas há evidências que a diferença entre os gêneros está diminuindo. É mais comum
em caucasianos e tem pico de incidência entre a quarta e sexta décadas de vida. A
distribuição geográfica tende a acompanhar os fatores de risco ambientais, tendo
maior prevalência em locais de clima quente e seco ou áreas tropicais (43,45).
O processo físico-químico de formação de cálculos decorre de uma
sequência de eventos que ocorrem após a filtração glomerular, quando a urina se
torna supersaturada de sais formadores de cálculo, havendo precipitação e
formação de cristais. Esses cristais podem fluir com a urina ou ficar retidos no rim,
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22
promovendo agregação de novos componentes, levando a formação do cálculo
(46).
Existem diversos subtipos de cálculos urinários, sendo os de oxalato de
cálcio e fosfato de cálcio os mais frequentes. Dentre os não cálcicos, os mais
comuns são os de ácido úrico, estruvita e cistina (43,47).
O excesso de substâncias que estimulam a cristalização e a redução de
inibidores promove principalmente a produção e a retenção de cristais nos túbulos
renais. Eles se formam quando as concentrações dos íons, assim como os solutos,
como o hidrogênio, o sódio e o ácido úrico, estão presentes no filtrado em
quantidades superiores às normais. Essa condição é conhecida como
supersaturação e os íons supersaturados têm maior probabilidade de sair da
solução e cristalizar (47). Os fatores de risco para a supersaturação incluem
desidratação, dieta rica em gorduras e proteína animal, alta ingestão de sal e
obesidade (43).
A associação entre obesidade e síndrome metabólica com a
nefrolitogênese já foi extensamente investigada, apesar de que o mecanismo exato
ainda não foi completamente elucidado (48,49). Sabe-se que a obesidade é um fator
de risco independente para nefrolitíase (50). Em pacientes obesos, a prevalência
de litíase renal pode atingir cerca de 12% (12). Alguns estudos de bioquímica
urinária de pacientes obesos evidenciam alterações potencialmente litogênicas, tais
como hipercalciúria, hipocitratúria, volume urinário reduzido, hiperoxalúria,
hiperuricosúria e redução do pH (51,52).
A obesidade também influencia a composição dos cálculos. Apesar do
oxalato de cálcio ainda compor a maioria dos cálculos, à medida que o IMC
aumenta, a proporção de cálculos de ácido úrico também se eleva (12). A produção
excessiva de ácido úrico pelo tecido adiposo, através da via da xantina-
oxidoredutase, associada a acidificação urinária provocada pela resistência
insulínica justificam o maior risco de formação de cálculos de ácido úrico (53,54).
O citrato é o principal íon inibidor da agregação de cristais. Atua como
inibidor da formação de cálculos de cálcio reduzindo a disponibilidade de cálcio
iônico, diminuindo sua interação com o oxalato; atua também inibindo diretamente
a precipitação espontânea do oxalato de cálcio (55,56).
O estado ácido-base desempenha papel significativo na excreção de
citrato, uma vez que a acidose leva ao aumento da utilização do citrato mitocondrial.
-
23
A diminuição do citrato intracelular facilita a reabsorção do citrato renal e a
diminuição da excreção urinária. Assumindo uma produção de urina de 2 litros com
pH urinário e potássio sérico normais, o nível “ideal” de excreção de citrato urinário
é de 640 mg/dia em indivíduos saudáveis, enquanto hipocitratúria é definida como
excreção de citrato de menos de 320 mg por dia (19,57). O magnésio também atua
como inibidor da formação de cálculos de cálcio (58), porém com menor efeito do
que o citrato.
Desde meados dos anos 2000 publicações têm evidenciado o aumento
da incidência de nefrolitíase em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica (59). Com
o reconhecimento do surgimento de nefrolitíase nessa população, estudos
buscaram investigar suas causas e fatores de risco. Além de a obesidade por si só
ser um fator de risco conhecido para nefrolitíase, alguns tipos de cirurgia bariátrica,
em especial as disabsortivas, têm sido associados a uma maior incidência de
cálculo urinário no pós-operatório (9,15,51,60–62).
A hiperoxalúria é fator característico após procedimento bariátrico
disabsortivo e mantém-se mesmo com o uso de dieta restrita em oxalato nos
operados. Diversos estudos têm mostrado a hiperoxalúria como um fator litogênico
determinante, sendo essa a anormalidade mais significante após operação do tipo
disabsortiva (63–65). As evidências têm indicado que o acúmulo de oxalato de
cálcio pode ser causado por mecanismo já conhecido no qual ocorre má absorção
de gorduras, deixando mais oxalato livre na luz intestinal para a absorção na luz
colônica (66,67). Outro mecanismo proposto é a alteração na flora bacteriana
colônica após a cirurgia bariátrica, que poderia aumentar a absorção de oxalato no
intestino (11,61,68).
Os estudos que abordaram preponderantemente pacientes submetidos
a cirurgias mistas ou disabsortivas conseguiram estabelecer relações causais entre
a cirurgia e o surgimento de alterações metabólicas urinárias. Espino-Grosso e
Canales (9), em estudo de revisão publicado em 2017, evidenciaram alterações
bioquímicas e metabólicas em pacientes submetidos à DGYR, a saber: maiores
níveis de oxalato urinário, aumento da supersaturação de oxalato de cálcio (SS
CaOx), menores volumes de urina e hipocitratúria na análise da urina de 24 horas,
identificando pacientes com maior risco de desenvolvimento de urolitíase.
Em relação às operações restritivas, os estudos são conflitantes.
Algumas publicações definem que a GV poderia aumentar o risco de nefrolitíase por
-
24
diminuir o volume urinário (9,61); outros, porém, sugerem que este procedimento
poderia diminuir o risco de litíase, pelo fato de não provocar hiperoxalúria, associado
a perda ponderal (53).
Mirheydar et al. (69), em estudo retrospectivo publicado em 2013,
identificaram uma incidência muito baixa de nefrolitíase em pacientes submetidos a
procedimentos restritivos. Para Espino-Grosso e Canales (9), cirurgias restritivas
não parecem aumentar o risco de formação de cálculo, apesar de diminuírem o
volume urinário em 24h, que é um fator de risco potencial para litogênese. Como
nenhum segmento de intestino é “excluído” nos procedimentos restritivos, não há
nenhum componente disabsortivo; portanto, a hiperoxalúria entérica seria
inesperada (70).
A escassez de estudos prospectivos avaliando exclusivamente pacientes
obesos submetidos a GV é evidente na literatura científica, o que demonstra a
relevância deste trabalho.
-
25
5 MATERIAIS E MÉTODOS
5.1 Desenho e local de estudo
Estudo prospectivo e longitudinal realizado com os pacientes vinculados
ao Serviço de Cirurgia Geral (SCG) do Hospital das Clínicas da Universidade
Federal de Pernambuco.
5.2 População, tamanho amostral e período de estudo
Toda a população de pacientes submetidos a Gastrectomia Vertical
neste Hospital entre julho de 2018 e março de 2020 foi triada para participar da
pesquisa. Neste intervalo de tempo ocorreram 51 gastrectomias verticais. Dez
indivíduos não obedeceram aos critérios de inclusão/exclusão. Desta população,
quarenta e um pacientes foram submetidos à coleta inicial. Destes, dois (4,8%)
foram excluídos por terem apresentado complicações cirúrgicas graves no pós-
operatório (fístulas complexas) – Figura 3. Sete (17%) perderam seguimento e não
realizaram a segunda coleta.
Trinta e dois participantes fizeram o acompanhamento ambulatorial
completo e foram submetidos a nova análise da bioquímica urinária de 24 horas. O
tempo médio entre a cirurgia e a segunda coleta foi de aproximadamente 185 dias.
5.3 Critérios de inclusão
- Pacientes com indicação de cirurgia bariátrica, em programação de
realização de gastrectomia vertical;
- Idade >=18 anos e =< 60 anos.
5.4 Critérios de exclusão
- Taxa de filtração glomerular pré-operatória < 60ml/min/1,73m² pela
MDRD (estudo Modification of Diet in Renal Disease);
-
26
- Uso de fármacos com potencial de alterar o metabolismo urinário
(diuréticos, probenecida, citrato de potássio);
- Antecedente ou diagnóstico atual de nefrolitíase.
-
27
Figura 3 – Amostra
(*) Pacientes que não retornaram para realizar a segunda coleta urinária
(**) Complicação cirúrgica grave no pós-operatório, com necessidade de reoperação.
Fonte: Elaborada pelo autor
5.5 Variáveis
Foram avaliadas as seguintes variáveis sócio-demográficas: sexo, idade
e cor (por autodeterminação). O peso, o IMC e comorbidades associadas também
foram analisados.
As variáveis bioquímicas estudadas foram (Quadro 1):
-
28
Quadro 1 – Variáveis bioquímicas
Método de Aferição Valor de Referência
Uricosúria Enzimático - uricase 250 a 750mg/24h
Oxalúria Enzimático 4 a 44mg/24h
Volume urinário Aferição simples 800 a 2500ml/24h
Calciúria Colorimétrico
-
29
refrigerador até ser analisado em laboratório. Enfatizou-se aos indivíduos a correta
técnica e os procedimentos de coleta para evitar amostras inadequadas e
subcoletadas, bem como a coleta excessiva.
O material foi enviado para o laboratório de análises químicas, onde
foram quantificadas as seguintes variáveis: volume urinário, oxalúria, citratúria,
uricosúria, creatininúria, calciúria, magnesiúria e pH. Todas as amostras foram
analisadas em um único laboratório privado. A supersaturação do oxalato de cálcio
foi calculada pelo índice de Tiselius (77,78).
O tempo entre a primeira coleta e a intervenção cirúrgica foi de 07 dias.
Esse prazo foi adotado pois, no protocolo de Cirurgia Bariátrica adotado pelo SCG
do HC/UFPE, os pacientes iniciam dieta líquida exclusiva nos cinco dias que
antecedem a operação (very low calorie diet). Desse modo, realizamos a coleta da
urina de 24 horas no menor período possível entre a realização do exame e a
cirurgia, de forma que os resultados não sofressem as interferências da dieta líquida
total.
Os pacientes foram submetidos à gastrectomia vertical
videolaparoscópica pela equipe cirúrgica SCG do HC/UFPE e acompanhados
ambulatorialmente.
A segunda coleta foi realizada 6 meses após a cirurgia (média de 185
dias). Nos primeiros seis meses pós-operatórios a perda de peso e as mudanças
metabólicas no organismo ocorrem de forma mais acentuada (15), sendo, por isso,
o intervalo escolhido para a segunda avaliação.
Salienta-se que todos os indivíduos estudados fizeram reposição padrão
de oligoelementos (anexo A), sob acompanhamento da equipe de Nutrição do
HC/UFPE, como parte protocolar do programa de Cirurgia Bariátrica.
5.7 Procedimentos analíticos
As informações dos pacientes foram coletadas através de formulário
específico e um banco de dados foi construído utilizando o programa Microsoft Excel
2010. Foram utilizados os Softwares SPSS 13.0 (Statistical Package for the Social
Sciences) para Windows e o Excel 2010 para tratamento estatístico; todos os testes
foram aplicados com 95% de confiança.
-
30
Os resultados estão apresentados em forma de Tabela com suas
respectivas frequências absoluta e relativa, e as variáveis numéricas estão
representadas pelas medidas de tendência central e pelas medidas de dispersão.
Foi utilizado o teste de Normalidade de Kolmogorov-Smirnov para
variáveis quantitativas. Para análise entre os grupos pareados, foi utilizado o teste
T de Student pareado (para distribuição normal) e o teste de Wilcoxon (para
distribuição não-Gaussiana).
-
31
6 PROCEDIMENTOS ÉTICOS
6.1 Aprovação pelo comitê de ética
O presente estudo foi elaborado respeitando o preconizado pelas
Resoluções 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), foi
submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFPE em Junho de 2018 (Certificado
de Apresentação de Apreciação Ética: 90653918.6.0000.5208) e foi aprovado para
início em 20 de Julho de 2018 (anexo B).
A participação na pesquisa foi condicionada à compreensão e à
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido específico (apêndice B).
6.2 Riscos para os indivíduos
A coleta da urina de 24h é um exame inócuo, não provocando nenhum
risco para a saúde do paciente. A realização da pesquisa não interferiu de modo
algum no tempo de espera para realização do procedimento cirúrgico. Todos os
passos da pesquisa foram explicados detalhadamente aos participantes. Pode ter
ocorrido algum incômodo ou desconforto durante a realização do questionário e da
coleta do exame. Para minimizar este desconforto, o pesquisador assegura que
estes procedimentos foram realizados em local reservado e que o indivíduo teve
liberdade para não responder questões com as quais não se sentisse
confortável. Para minimizar o receio do sujeito da pesquisa em relação à coleta, foi
explicado que se tratava de um procedimento simples, no qual toda a urina
produzida pelo próprio paciente (micção espontânea) num período de 24 horas seria
armazenada em recipiente específico fornecido pelo pesquisador e posteriormente
analisada em laboratório.
Trata-se de estudo com material biológico, sendo assegurado pelo
pesquisador que as amostras não foram utilizadas para novas pesquisas sem
autorização dos participantes. A manipulação e o descarte dos materiais biológicos
foram feitos por profissionais habilitados do próprio laboratório, segundo as normas
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Todas as informações desta pesquisa são confidenciais e serão
divulgadas apenas em eventos ou em publicações científicas, não havendo
-
32
identificação dos voluntários, a não ser entre os responsáveis pelo estudo, sendo
assegurado o sigilo sobre a sua participação. Os dados coletados nesta pesquisa
(dados de exames clínico e laboratorial) ficaram armazenados em computador
pessoal do pesquisador e em pastas de arquivo físico, garantindo a não violação e
integridade dos documentos.
-
33
7 RESULTADOS
Para fins de análise, foram considerados somente os indivíduos
acompanhados durante todo o seguimento, ou seja, os 32 pacientes que realizaram
as coletas pré e pós-operatórias.
A amostra foi composta predominantemente por mulheres (81,2%). A
idade média foi de 40,6 anos; a cor predominante, por autodesignação, foi a branca
(75%) (Tabela 3).
Tabela 3 – Dados epidemiológicos
Variáveis N %
Sexo
Masculino 6 18,8
Feminino 26 81,2
Cor
Branco 24 75,0
Pardo 7 21,9
Negro 1 3,1
Média ± DP Mínimo – Máximo
Idade (anos) 40,63 ± 9,77 23,00 – 59,00
Fonte: Elaborada pelo autor
-
34
Em relação às comorbidades associadas, a hipertensão arterial sistêmica
(HAS) foi a mais prevalente, seguida do DM tipo 2 (Tabela 4).
Tabela 4 – Comorbidades associadas (pré-operatório)
Comorbidades n %
HAS 15 46,8
DM tipo 2 7 21,8
Dislipidemia 8 25
Sem comorbidades 6 18,7
Fonte: Elaborada pelo autor
Quanto ao grau de obesidade avaliado pelo IMC, no pré-operatório, a
maioria dos pacientes enquadrava-se como grau III ou superior (84,4%) (Tabela 5).
Tabela 5 – IMC pré-operatório
IMC (Kg/m²) n %
Grau II 5 15,6
Grau III 19 59,4
Superobeso 5 15,6
Super-superobeso 3 9,4
Total 32 100
Fonte: Elaborada pelo autor
-
35
Comparando-se o IMC e o peso absoluto dos indivíduos nas análises pré
e pós-operatórias, identificou-se diminuição estatisticamente significante (Tabela 6).
Tabela 6 - Peso e IMC
Coleta de dados
Variáveis Pré Pós p-valor
Média ± DP Média ± DP
Peso (kg) 123,14 ± 23,56 92,09 ± 16,93 < 0,001 *
IMC 47,07 ± 8,34 35,49 ± 6,11 < 0,001 *
(*) Teste t Student Pareado
Fonte: Elaborada pelo autor
Em análise comparativa em relação à bioquímica urinária, identificamos
variações em diversos parâmetros analisados, com significância estatística, a saber
(Tabela 7):
- Diminuição do volume urinário;
- Aumento da supersaturação de oxalato de cálcio;
- Diminuição da excreção de ácido úrico.
-
36
Tabela 7- Bioquímica urinária
Coleta de dados
Variáveis Pré Pós p-valor
Média ± DP Média ± DP
Volume (ml) 2242,50 ± 798,26 1240,94 ± 352,39 < 0,001 *
Volume/peso (ml/kg) 18,58 ± 6,92 13,92 ± 4,65 < 0,001 *
Supersaturação de
Oxalato de cálcio (***) 0,11 ± 0,10 0,24 ± 0,18 < 0,001 *
Ácido úrico (mg) 482,34 ± 195,80 434,75 ± 158,38 0,027 *
Citrato (mg) 366,59 ± 282,74 368,66 ± 253,97 0,849 *
Magnésio (mg) 51,25 ± 26,35 52,34 ± 20,68 0,708 *
Cálcio (mg) 84,53 ± 62,69 82,03 ± 49,57 0,505 *
Creatinina (mg) 1302,61 ± 498,37 1299,53 ± 320,91 0,953 *
pH 5,86 ± 0,60 6,02 ± 0,52 0,229 **
Oxalato (mg) 7,23 ± 4,00 8,32 ± 2,94 0,140 *
(*) Teste t Student Pareado (**) Teste de Wilcoxon
(***) A supersaturação de oxalato de cálcio foi obtida através de cálculo matemático, utilizando a
fórmula de Tiselius: SS CaOx = 1,9 x Cálcio0,84 x Oxalato x Citrato-0,22 x Magnésio-0,12 x Volume-1,03
Fonte: Elaborada pelo autor
-
37
8 DISCUSSÃO
Sabe-se que o desenvolvimento de urolitíase em indivíduos submetidos
a cirurgias bariátricas ocorre geralmente após o primeiro ou o segundo ano
(18,59,60,63), sendo o intervalo médio entre a cirurgia e o diagnóstico de litíase de
1,5 a 3,6 anos (18). No entanto, as alterações metabólicas urinárias surgem
precocemente (50), desde o 2° mês a até pelo menos o 6° mês pós-operatório,
conforme publicação de Agrawall e colaboradores (2014). Em nossa casuística,
amostras de urina de 24 horas foram coletadas no pré-operatório e seis meses após
a GV.
Apesar de alguns estudos descreverem alterações urinárias
potencialmente litogênicas em obesos (51,52), na nossa análise pré-operatória
todos os indivíduos apresentaram pH, excreção de oxalato, cálcio, ácido úrico e
supersaturação de oxalato de cálcio dentro dos limites da normalidade. Em estudo
realizado por Deng (73), em 2017, a bioquímica urinária de 560 adultos (com peso
normal, obesos ou com sobrepeso) sem urolitíase, foi avaliada. Sua análise
comparativa também não encontrou alterações significantes das variáveis entre os
grupos.
Interessante ressaltar que, apesar de a população obesa ter uma
predisposição ao desenvolvimento de cálculos de ácido úrico – conforme analisado
em revisão sistemática publicada por Santos (11) - a média de excreção dessa
substância na análise pré-operatória foi de 482,34 mg/24h, dentro da faixa de
normalidade.
Outro ponto importante a se avaliar é que a média dos níveis de citrato
urinário, no pré-operatório, foi de 366,59 mg/24h; apesar de estar compreendida na
faixa de normalidade (320-1240 mg/24h), estava abaixo do nível “ideal”
(640mg/24h) para prevenção de urolitíase (57). A média da citratúria pré-operatória,
em nosso estudo, se assemelha com a de pacientes obesos sem nefrolitíase de
outros estudos (73). A dosagem pré-operatória de magnésio, outra substância
inibidora da litogênese, mostrou-se abaixo do limite de normalidade (51,25 mg/24h)
– VR 70-120mg/24h.
Alguns autores levantaram a hipótese de que procedimentos não
disabsortivos poderiam aumentar o risco de urolitíase devido à redução do volume
urinário (61). Outros apontam em direção oposta, ao sugerir que esses
-
38
procedimentos não aumentariam o risco de formação de cálculos, pois não levam à
hiperoxalúria, consequência de cirurgias de má absorção (53). Chen et al.
encontraram, em um estudo retrospectivo com 85 pacientes acompanhados por
26,8 meses após a GV, que a incidência de urolitíase nesses indivíduos era muito
baixa: apenas 5,25 por 1.000 pessoas-ano (80). Esses autores, entretanto, não
estudaram o perfil bioquímico urinário de suas amostras. Apesar da avaliação da
incidência de litíase não ter sido objetivo do nosso estudo, salienta-se que, durante
o período em que foi realizado o seguimento dos participantes, nenhum deles
desenvolveu quadro de cólica nefrética.
Quanto à análise pós-operatória, observamos algumas características
que podem contribuir para a formação de cálculos urinários, como redução
importante do volume urinário (tanto em valores absolutos como ajustados ao peso
corporal) e aumento da supersaturação de oxalato de cálcio (SS CaOx). No entanto,
também identificamos uma redução na excreção urinária de ácido úrico, o que
poderia reduzir a incidência de cálculos dessa natureza.
Observamos uma diminuição importante no IMC (média 47,07 para 35,49
kg/m² - p
-
39
normalidade (VR 250-750mg/24h). Este achado torna-se relevante quando
consideramos que a hiperuricosúria desempenha papel importante na litogênese
em obesos – este resultado sugere que a GV e a perda ponderal resultante podem
ser um fator protetor contra a gênese de cálculos de ácido úrico.
Não encontramos suporte teórico que justifique a diminuição da
uricosúria secundária ao procedimento cirúrgico propriamente dito, sendo esperada
sua redução tanto após cirurgias restritivas quanto mistas (60). É possível que esta
redução seja decorrente da perda ponderal e da diminuição do tecido adiposo (54),
não necessariamente relacionada à técnica cirúrgica empregada per se.
A SS CaOx é um dos mais importantes parâmetros para se avaliar a
probabilidade de precipitação deste sal na urina, desencadeando o processo de
formação do cálculo. É importante ressaltar que houve um aumento relevante desta
variável (0,11 para 0,24), com significância estatística (p
-
40
Em consonância com a literatura, identificamos uma mínima variação nos
níveis de oxalato (7,23 x 8,32 mg/24h) – VR 4 – 44mg/24h, porém sem significância
estatística. De acordo com Lieske e colaboradores (81), a hiperoxalúria se
desenvolve em cerca de metade dos indivíduos após cirurgias mistas (como a
DGYR), mas não ocorre após procedimentos restritivos, como a GV. De fato, a
hiperoxalúria não tem suporte fisiológico ou anatômico neste tipo de cirurgia, pois
não há exclusão de segmento intestinal que promova o mecanismo clássico de
aumento da saponificação do cálcio no intestino, resultando em uma maior absorção
de oxalato e consequente incremento de sua excreção urinária (70).
O citrato e o magnésio urinários, que são importantes inibidores da
litogênese, apresentaram mínima variação na avaliação comparativa. Os níveis de
citrato aumentaram para uma média de 368,66 mg/24h (p=0,849), porém ainda se
mantiveram abaixo do nível “ideal”. A dosagem de magnésio também apresentou
um incremento para uma média de 52,34 mg/24h (sem significância estatística),
permanecendo abaixo do limite da normalidade.
Estudos referentes a cirurgias restritivas não observaram variação
significativa na quantificação dessas substâncias (70,81). Em relação à DGYR, é
comum a ocorrência da diminuição da citratúria e da magnesiúria (9,18,19). Em
artigo de revisão publicado em 2017, Canales identificou consistente redução da
excreção de citrato após cirurgias disabsortivas (9).
A dosagem de cálcio urinário, após o sexto mês pós-operatório,
apresentou uma discreta diminuição (82,03 mg/24h), sem significância estatística,
dentro da faixa de normalidade (VR
-
41
a apresentar níveis de pH urinário mais baixos (11,51,72). Na nossa investigação,
porém, não encontramos essa característica. As mensurações pré e pós-
operatórias foram semelhantes, dentro dos limites da normalidade (5,86 - 6,02) e
sem variações estatisticamente significantes.
A dosagem de creatinina teve por objetivo apenas avaliar a confiabilidade
da coleta da urina de 24h, Estudos sugerem que duas coletas sucessivas de urina
de 24 horas podem produzir resultados mais confiáveis; porém, isso exigiria um grau
muito maior de adesão do paciente, além de majorar substancialmente os custos
(75). Desse modo, optamos pela realização de apenas uma coleta pré e outra pós-
cirurgia. Conforme proposto por Leslie e colaboradores (75), para estimar a
confiabilidade da coleta utilizamos a mensuração da creatinina total de 24 horas na
amostra. A excreção normal total de creatinina na urina de 24 horas é de 955 mg a
2936 mg em homens (13 a 29 mg/kg de peso corporal por 24 horas) e de 601 mg a
1689 mg em mulheres (9 a 26 mg/kg de peso corporal por 24 horas). A creatinina
total insuficiente para um teste de urina de 24 horas traduziria a possibilidade de
uma coleta inadequada (76), excluindo a amostra do estudo. Não houve variação
significante na comparação entre a creatininúria pré e pós-operatória.
É importante mencionar alguns fatores limitantes deste estudo. O número
de participantes estava diretamente condicionado à quantidade de cirurgias
realizadas no período estabelecido. Falta de insumos e outros problemas logísticos
inerentes aos hospitais públicos limitaram a realização dos procedimentos. Parte do
período programado para as coletas e cirurgias coincidiu com a pandemia de
COVID-19, limitando a progressão do estudo. Sete (17%) dos 41 indivíduos
inicialmente selecionados perderam seguimento. Esta perda é compreensível em
estudos de coorte. Em publicação recente sobre fatores preditivos da perda de
acompanhamento ambulatorial de pacientes bariátricos do HC/UFPE, Belo e
colaboradores identificaram perda de seguimento de cerca de 23% dos indivíduos
num período de um ano pós-cirurgia (82). Não houve um controle estrito sobre a
dieta dos indivíduos, o que pode eventualmente ter resultado em alterações na
excreção de metabólitos.
Há de se considerar também que, apesar de a tomografia
computadorizada (TC) apresentar maior sensibilidade para litíase do que a
avaliação ecográfica, não utilizamos este exame nesta pesquisa. Utilizamos a
-
42
ultrassonografia (USG), realizada pelo Serviço de Radiologia do HC/UFPE, como
screening para nefrolitíase. Vários estudos acerca da avaliação metabólica urinária
em pacientes obesos, como o de Valezi (72) e o de Deng (73), também usaram a
USG como triagem para nefrolitíase. A TC não faz parte da rotina pré-operatória
para cirurgia bariátrica em pacientes assintomáticos do ponto de vista urológico. A
realização deste exame traria diversos inconvenientes, destacando-se a exposição
à radiação ionizante (em obesos, a dose de radiação utilizada é maior do que a
população com peso normal (74)), o custo e a própria dificuldade técnica para
realização de TC em pacientes com IMC elevado (limitação mecânica do aparelho).
O tomógrafo disponível no HC/UFPE – Toshiba Aquila CXL® – suporta pacientes
de até 150kg, de modo que sua utilização implicaria na redução da amostra
estudada.
Diante do exposto, pode-se inferir que a gastrectomia vertical promove
alterações metabólicas que podem interferir no mecanismo litogênico urinário.
Essas mudanças são muito menores do que as promovidas pelas cirurgias mistas
ou disabsortivas, principalmente por não promover a hiperoxalúria, conforme
amplamente exposto na literatura. A realização de estudos com maior tempo de
seguimento será útil para corroborar esses achados; a avaliação do
desenvolvimento ou não de cálculos urinários também é um desfecho importante
que necessita, porém, de um seguimento mais prolongado.
-
43
9 CONCLUSÃO
A gastrectomia vertical promove alterações no metabolismo urinário
relacionadas à nefrolitogênese. Os indivíduos analisados apresentaram redução do
volume urinário, aumento da supersaturação de oxalato de cálcio (abaixo do limiar
de precipitação) e redução da uricosúria. Este procedimento não altera
significativamente a excreção urinária de cálcio, oxalato, citrato e magnésio, bem
como o pH da urina.
-
44
REFERÊNCIAS
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-
51
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr. (a) para participar como voluntário (a) da pesquisa “Avaliação
dos fatores metabólicos urinários relacionados à nefrolitíase em pacientes
submetidos à gastrectomia vertical”, que está sob a responsabilidade do
pesquisador Denis Waked de Brito, residente na Avenida Beira Rio, número 330,
Bairro Ilha do Retiro, Recife – Pernambuco, CEP 50750-400, telefone 81-
988521055, e-mail [email protected]. Esta pesquisa está sob a orientação do
Prof. Dr. Flávio Kreimer, e-mail [email protected].
Todas as suas dúvidas podem ser esclarecidas com o responsável por esta
pesquisa. Apenas quando todos os esclarecimentos forem dados e você concorde
com a realização do estudo, pedimos que rubrique as folhas e assine ao final deste
documento, que está em duas vias. Uma via lhe será entregue e a outra ficará com
o pesquisador responsável.
Você estará livre para decidir participar ou recusar-se. Caso não aceite participar,
não haverá nenhum problema, desistir é um direito seu, bem como será possível
retirar o consentimento em qualquer fase da pesquisa, também sem nenhuma
penalidade.
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:
Esta pesquisa tem por objetivo a avaliação de alterações na urina de pacientes
submetidos à cirurgia bariátrica, que possam predispor a formação de “pedras no
rim” (cálculo urinário). Os resultados poderão ser importantes na abordagem e
condução pós-operatória dos pacientes, visando a identificar e intervir em possíveis
fatores envolvidos na formação do cálculo urinário. Serão coletadas amostras de
urina antes da realização da cirurgia e nova coleta 6 (seis) meses após a cirurgia.
As coletas serão realizadas no próprio Hospital das Clínicas; a primeira durante o
internamento para cirurgia e a segunda durante consulta ambulatorial pós cirúrgica
(ambulatório de Cirurgia Geral). A coleta é um procedimento simples, no qual toda
a urina produzida pelo próprio paciente num período de um dia (24 horas) deverá
ser armazenada em recipiente fornecido pelo pesquisador e analisada pelo
laboratório. A coleta da urina de 24h é um exame inofensivo, não provocando
nenhum risco para a saúde do paciente. A realização da pesquisa não irá interferir
mailto:[email protected]
-
52
de modo algum no tempo de espera para realização do procedimento cirúrgico.
Todos os passos da pesquisa serão explicados detalhadamente aos
participantes. Pode ocorrer algum incômodo ou desconforto durante a realização do
questionário e a coleta do exame. Para minimizar este desconforto, o pesquisador
assegura que estes procedimentos serão realizados em local reservado e que o
indivíduo terá liberdade para não responder questões com as quais não se sinta
confortável. Para minimizar o receio do sujeito da pesquisa em relação à
coleta, será explicado que este é um procedimento simples, no qual toda a urina
produzida pelo próprio paciente (micção espontânea) num período de 24 horas
deverá ser armazenada em recipiente específico fornecido pelo pesquisador e
posteriormente analisado em laboratório. O acompanhamento pós-operatório será
ambulatorial, não havendo necessidade de nova internação para coleta dos
exames. Trata-se de estudo com material biológico, sendo assegurado pelo
pesquisador que as amostras não serão utilizadas para novas pesquisas sem
autorização dos participantes. A manipulação e o descarte dos materiais biológicos
serão feitos por profissionais habilitados do próprio laboratório do Hospital das
Clínicas, segundo as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Todas as
informações desta pesquisa serão confidenciais e serão divulgadas apenas em
eventos ou publicações científicas, não havendo identificação dos voluntários, a não
ser entre os responsáveis pelo estudo, sendo assegurado o sigilo sobre a sua
participação. Os dados coletados nesta pesquisa (dados de exames clínico e
laboratorial) ficarão armazenados em computador pessoal do pesquisador e em
pastas de arquivo físico, garantindo a não violação e integridade dos documentos.
Nada lhe será pago e nem será cobrado para participar desta pesquisa, pois a
aceitação é voluntária, mas fica também garantida a indenização em casos de
danos, comprovadamente decorrentes da participação na pesquisa, conforme
decisão judicial ou extrajudicial. Se houver necessidade, as despesas para a sua
participação serão assumidas pelos pesquisadores (ressarcimento de transporte e
alimentação).
Em caso de dúvidas relacionadas aos aspectos éticos deste estudo, você poderá
consultar o Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da UFPE no
endereço: (Avenida da Engenharia s/n – 1º Andar, sala 4 - Cidade Universitária,
Recife-PE, CEP: 50740-600, Tel.: (81) 2126.8588 – e-mail: [email protected]).
-
53
___________________________________________________
Denis Waked de Brito - Pesquisador
CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO VOLUNTÁRIO (A)
Eu, _____________________________________, CPF _________________,
abaixo assinado, após a leitura (ou a escuta da leitura) deste documento e de ter
tido a oportunidade de conversar e ter esclarecido as minhas dúvidas com o
pesquisador responsável, concordo em participar do estudo “Avaliação dos fatores
metabólicos urinários relacionados à nefrolitíase em pacientes submetidos à
gastrectomia vertical” como voluntário (a). Fui devidamente informado (a) e
esclarecido (a) pelo(a) pesquisador (a) sobre a pesquisa, os procedimentos nela
envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha
participação. Foi-me garantido que posso retirar o meu consentimento a qualquer
momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção do meu
tratamento ou acompanhamento.
Local e data __________________
Assinatura do participante: __________________________
Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimentos sobre a
pesquisa
e o aceite do voluntário em participar. (02 testemunhas não ligadas à equipe de
pesquisadores):
Nome: Nome:
Assinatura: Assinatura:
-
54
APÊNDICE B - FORMULÁRIO DE COLETA DE DADOS
Formulário para registro de dados referente à pesquisa intitulada “AVALIAÇÃO DOS FATORES
METABÓLICOS URINÁRIOS RELACIONADOS A NEFROLITÍASE EM PACIENTES SUBMETIDOS
A GASTRECTOMIA VERTICAL”
1) Nome completo:
2) Número do Prontuário: RG: CPF:
3) Nome da mãe:
4) Data de nascimento:
5) Idade:
6) Sexo:
7) Cor:
8) Peso: pré- pós-
9) Altura:
10) IMC: pré- pós-
11) Endereço:
12) Telefone fixo: ( )
13) Telefone celular: ( )
14) Data da cirurgia: / /
15) Comorbidades: ( )Hipertensão ( )Diabetes ( )Outras:________
Medicações em uso:
16) Clearance de Creatinina (MDRD):
17) Dados laboratoriais urinários:
Pré-operatório ( / / ) Pós-operatório ( / / )
Oxalato de cálcio
Supersaturação de oxalato
Citrato
Magnésio
Cálcio
Creatinina
Ácido úrico
pH
Volume
__________________________
Responsável pelo preenchimento
-
55
APÊNDICE C - PLANILHAS DE DADOS
-
56
-
57
APÊNDICE D - ARTIGO ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
Urolithiasis and sleeve gastrectomy: a prospective assessment of urinary
biochemical variables
Denis W. Brito1, Fernando Santa-Cruz2, Maria-Améllia R. Aquino2, Wagner A.
Nascimento3, Álvaro A. B. Ferraz3, Flávio Kreimer3
1Urology Division, Hospital das Clínicas at Federal University of Pernambuco
(HC/UFPE), Recife, PE, Brazil
2Medical school, Federal University of Pernambuco (UFPE), Recife, PE, Brazil
3General Surgery Division, Hospital das Clínicas at Federal University of
Pernambuco (HC/UFPE), Recife, PE, Brazil
Abstract
Objective: Evaluate urinary biochemical alterations related to urolithogenesis
processes after sleeve gastrectomy (SG).
Methods: Prospective study with 32 individuals without previous diagnosis of
urolithiasis who underwent SG. 24-hour urine test was collected seven days prior to
surgery and at the 6-month follow-up consultation. The studied variables were urine
volume, urinary pH, oxalate, calcium, uric acid, citrate, magnesium, creatinine and
calcium oxalate supersaturation (CaOx SS).
Results: Patients were mainly women (81.2%), with mean age of 40.6 years. Mean
pre- and postoperative BMI were 47.1 ± 8.3 Kg/m2 and 35.5 ± 6.1 Kg/m2, respectively
(p
-
58
Conclusion: SG lead to important alterations in the urinary metabolism