UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ......de Pós-Graduação em Cirurgia do Centro de...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIRURGIA DENIS WAKED DE BRITO AVALIAÇÃO DO PERFIL METABÓLICO URINÁRIO RELACIONADO À NEFROLITÍASE EM PACIENTES SUBMETIDOS À GASTRECTOMIA VERTICAL: um estudo prospectivo Recife 2020

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIRURGIA

    DENIS WAKED DE BRITO

    AVALIAÇÃO DO PERFIL METABÓLICO URINÁRIO RELACIONADO À

    NEFROLITÍASE EM PACIENTES SUBMETIDOS À GASTRECTOMIA

    VERTICAL: um estudo prospectivo

    Recife

    2020

  • DENIS WAKED DE BRITO

    AVALIAÇÃO DO PERFIL METABÓLICO URINÁRIO RELACIONADO À

    NEFROLITÍASE EM PACIENTES SUBMETIDOS À GASTRECTOMIA

    VERTICAL: um estudo prospectivo

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Cirurgia do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Cirurgia.

    Área de concentração: Cirurgia Clínica e Experimental

    Orientador: Prof. Dr. Flavio Kreimer

    Recife

    2020

  • Catalogação na Fonte

    Bibliotecária: Mônica Uchôa, CRB4 1010

    B862a Brito, Denis Waked de.

    Avaliação do perfil metabólico urinário relacionado à nefrolitíase em pacientes submetidos à gastrectomia vertical: um estudo prospectivo / Denis Waked de Brito. – 2020.

    70 f.: il.; tab.; quad.; 30 cm. Orientador: Flávio Kreimer. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco,

    CCS. Programa de Pós-Graduação em Cirurgia. Recife, 2020. Inclui referências, apêndices e anexos. 1. Cirurgia bariátrica. 2. Obesidade. 3. Nefrolitíase. 4. Ácido úrico. 5.

    Urina. I. Kreimer, Flávio (Orientador). II.Título. 617.91 CDD (20.ed.) UFPE (CCS2020-223)

  • DENIS WAKED DE BRITO

    AVALIAÇÃO DO PERFIL METABÓLICO URINÁRIO RELACIONADO À

    NEFROLITÍASE EM PACIENTES SUBMETIDOS À GASTRECTOMIA

    VERTICAL: um estudo prospectivo

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Cirurgia do Centro de Ciências Médicas (CCM) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Cirurgia.

    Aprovada em 25/11/2020

    BANCA EXAMINADORA

    ______________________________________________________

    Dr. Flavio Kreimer (Presidente da Banca)

    Professor Adjunto - Dep. de Cirurgia - CCM – UFPE

    ______________________________________________________

    Dr. Álvaro Antônio Bandeira Ferraz (Examinador Interno)

    Professor Titular - Dep. de Cirurgia - CCM – UFPE

    ______________________________________________________

    Dr. Fábio de Oliveira Vilar (Examinador Externo)

    Professor Associado - Dep. de Cirurgia - CCM - UFPE

  • AGRADECIMENTOS

    Aos meus pais, Angela e Morgan, e ao meu irmão, Hogan, pelo incentivo

    em todos os passos da minha formação e pelo apoio em todas as minhas escolhas;

    À minha esposa, Caroline, pela paciência e suporte incondicionais

    durante esta jornada;

    Ao meu orientador, prof. Dr. Flavio Kreimer, pela presteza,

    disponibilidade e estímulo constantes;

    Aos colegas preceptores e residentes dos Serviços de Cirurgia Geral e

    de Urologia do Hospital das Clínicas da UFPE;

    Aos alunos da Pós-Graduação em Cirurgia, especialmente os mais

    próximos: Flávio Arruda (cirurgião plástico), Rodolfo Brilhante (urologista), Adriano

    Pereira (cirurgião geral) e Wendell Fernandes (cirurgião vascular);

    Aos amigos de longa data, Pablo Viana e David Embiruçu, que

    ofereceram suporte matemático e estatístico para construção dessa dissertação;

    Aos funcionários e professores do Programa de Pós-Graduação em

    Cirurgia, pela dedicação, ética e responsabilidade demonstrados no trato com os

    alunos;

    A todos os professores e preceptores que fizeram parte da minha

    formação profissional e me despertaram o interesse pela carreira acadêmica.

  • RESUMO

    Introdução: A obesidade é uma doença de alta prevalência na atualidade e a cirurgia

    bariátrica é uma das formas de tratamento mais eficazes para os casos graves. A

    associação entre as cirurgias disabsortivas e o desenvolvimento de nefrolitíase está

    bem estabelecida, porém estudos prospectivos abordando pacientes submetidos à

    gastrectomia vertical (GV) são escassos. Objetivo: Analisar o perfil bioquímico

    urinário relacionado à nefrolitogênese em pacientes obesos submetidos à

    gastrectomia vertical no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de

    Pernambuco. Método: Estudo prospectivo no qual 32 indivíduos foram submetidos

    a análise de urina de 24h no período pré-operatório (sete dias antes da cirurgia) e

    seis meses após realizarem a GV. As variáveis bioquímicas dosadas foram: volume

    urinário, oxalúria, citratúria, uricosúria, calciúria, magnesiúria, creatininúria, pH e

    supersaturação de oxalato de cálcio. Resultados: Os pacientes eram

    majoritariamente mulheres (26 - 81,2%), com média de idade de 40,6 anos. O índice

    de massa corpórea médio pré e pós-operatório foi de 47,1 kg/m2 e 35,5 kg/m2,

    respectivamente (p

  • ABSTRACT

    Background: Obesity is a highly prevalent disease today and bariatric surgery is one

    of the most effective forms of treatment for severe cases. The association between

    disabsorptive surgeries and the development of nephrolithiasis is well established,

    but prospective studies addressing patients undergoing sleeve gastrectomy (SG)

    are scarce. Purpose: to evaluate the urinary biochemical profile related to the

    urolithogenesis processes after SG. Method: Prospective study in which 32

    individuals underwent a 24-hour urine analysis preoperatively and six months after

    performing a SG. The studied biochemical variables were urinary volume, oxaluria,

    citraturia, uricosuria, calciuria, magnesiuria, creatininuria, pH and calcium oxalate

    supersaturation. Results: Patients were mainly women (26 - 81,2%), with mean age

    of 40.6 years. Mean pre- and postoperative body mass index were 47.1 kg/m2 and

    35.5 kg/m2, respectively (p

  • LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    Figura 1 - Derivação gástrica em Y-de-Roux 20

    Figura 2 - Gastrectomia vertical 20

    Figura 3 - Amostra 27

    Quadro 1 - Variáveis bioquímicas 28

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Classificação da obesidade segundo

    a OMS e o CFM

    16

    Tabela 2 - Classificação da obesidade segundo

    a IFSO e SBCBM

    17

    Tabela 3 - Dados epidemiológicos 33

    Tabela 4 - Comorbidades associadas (pré-

    operatório)

    34

    Tabela 5 - IMC pré-operatório 34

    Tabela 6 - Peso e IMC 35

    Tabela 7 - Bioquímica urinária 36

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CFM Conselho Federal de Medicina

    CNS Conselho Nacional de Saúde

    COVID-19 Corona Virus Disease 2019

    DGYR Derivação Gástrica em Y-de-Roux

    DM Diabetes Mellitus

    DP Desvio Padrão

    GLP-1 Glucagon-Like Peptide 1

    GV Gastrectomia Vertical

    HAS Hipertensão Arterial Sistêmica

    HC Hospital das Clínicas

    IFSO International Federation for the Surgery of Obesity and

    Metabolic Disorders

    IMC Índice de Massa Corpórea

    MDRD Modification of Diet in Renal Disease

    NICE National Institute for Health and Care Excellence

    OMS Organização Mundial de Saúde

    pH Potencial Hidrogeniônico

    SBCBM Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica

    SCG Serviço de Cirurgia Geral

    SS CaOx Supersaturação de Oxalato de Cálcio

    TC Tomografia Computadorizada

  • UFPE Universidade Federal de Pernambuco

    USG Ultrassonografia

    VR Valor de Referência

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 12

    2 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO............................................................ 14

    3 OBJETIVOS......................................................................................... 15

    3.1 Objetivo Geral...................................................................................... 15

    3.2 Objetivos Específicos........................................................................... 15

    4 REVISÃO DA LITERATURA............................................................... 16

    4.1 Obesidade............................................................................................ 16

    4.2 Cirurgia bariátrica................................................................................. 19

    4.3 Litíase urinária...................................................................................... 21

    5 MATERIAIS E MÉTODOS................................................................... 25

    5.1 Desenho e local do estudo................................................................... 25

    5.2 População, tamanho amostral e período de estudo............................ 25

    5.3 Critérios de inclusão............................................................................. 25

    5.4 Critérios de exclusão............................................................................ 25

    5.5 Variáveis............................................................................................... 27

    5.6 Procedimentos técnicos....................................................................... 28

    5.7 Procedimentos analíticos..................................................................... 29

    6 PROCEDIMENTOS ÉTICOS............................................................... 31

    6.1 Aprovação pelo comitê de ética........................................................... 31

    6.2 Riscos para os indivíduos.................................................................... 31

    7 RESULTADOS..................................................................................... 33

    8 DISCUSSÃO........................................................................................ 37

    9 CONCLUSÃO...................................................................................... 43

    REFERÊNCIAS.................................................................................... 44

    APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

    ESCLARECIDO...................................................................................

    51

    APÊNDICE B - FORMULÁRIO DE COLETA DE DADOS.................. 54

    APÊNDICE C - PLANILHAS DE DADOS........................................... 55

    APÊNDICE D - ARTIGO ACEITO PARA PUBLICAÇÃO................... 57

    ANEXO A - REPOSIÇÃO DE OLIGOELEMENTOS........................... 69

    ANEXO B - PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA....... 70

  • 12

    1 INTRODUÇÃO

    As doenças crônicas e a obesidade surgiram como preocupações de

    saúde no século XX, sobretudo devido a mudanças ambientais e no estilo de vida

    (1,2).

    Algumas estimativas globais recentes da Organização Mundial de Saúde

    (OMS) indicam que, em 2016, mais de 1,9 bilhão de adultos apresentavam excesso

    de peso, correspondendo a 39% da população. Ainda se estimou que cerca de 650

    milhões de adultos (13% da população) eram obesos, evidenciando que a

    prevalência global de obesidade quase triplicou nas últimas três décadas (2).

    No espectro da síndrome metabólica, a obesidade e comorbidades

    relacionadas, tais como doenças cardiovasculares, endócrinas (diabetes mellitus

    tipo 2, dislipidemias, síndrome do ovário policístico etc.) (3) e alguns tipos de câncer,

    reduzem a expectativa de vida e adicionam custos econômicos aos sistemas de

    saúde e aos pacientes (4). A cirurgia bariátrica é reconhecida como o tratamento

    mais efetivo para pessoas com obesidade grave, com índice de massa corpórea

    (IMC) igual ou maior que 40 kg/m², ou maior que 35 kg/m², caso apresentem

    complicações relacionadas à obesidade (5).

    A cirurgia bariátrica envolve modificações cirúrgicas da anatomia do trato

    gastrointestinal com consequente diminuição do fluxo de nutrientes, que afetam a

    biologia do sistema digestório (6,7). Existem diversos tipos de cirurgias bariátricas,

    sendo a gastrectomia vertical (GV) – sleeve gástrico – e a derivação gástrica em Y-

    de-Roux (DGYR) os mais empregados atualmente (8). Em 2013, a GV ultrapassou

    a cirurgia de DGYR como o procedimento bariátrico mais comum nos Estados

    Unidos (9).

    A partir de 2005 surgiram publicações com pacientes submetidos à

    cirurgia bariátrica que, apesar de apontarem para a redução da prevalência de DM,

    de hipertensão arterial, de doenças cardiovasculares e de morte, também

    evidenciavam o aumento do risco de litíase renal. Isso levantou a hipótese de que

    o procedimento poderia ser fator de risco para litogênese, o que tem sido confirmado

    em diversos estudos (10). A interação entre nefrolitíase e cirurgia bariátrica tem sido

    apontada como um aspecto importante a ser investigado já que as pesquisas em

    relação às operações restritivas são escassas (11).

  • 13

    A nefrolitíase é uma das condições urológicas mais comuns. De fato,

    estimativas recentes colocam a prevalência na população dos Estados Unidos em

    10,6% para homens e 7,1% para mulheres; em obesos, a prevalência é ainda maior

    (12). Além disso, o risco de desenvolver nefrolitíase, na população geral, vem

    aumentando nas últimas décadas (13).

    Fatores de risco urinários, como hipercalciúria, hipocitratúria e

    hiperoxalúria, combinados ou isolados, estão associados a cálculos de cálcio

    (sendo estes o tipo mais comum). Hábitos alimentares e condições clínicas

    subjacentes podem influenciar os fatores de risco urinários (14).

    O mecanismo da hiperoxalúria nas síndromes disarbsortivas, a exemplo

    de alguns tipos de cirurgia bariátrica (15), é bem conhecido e será abordado na

    revisão da literatura.

    A maioria dos artigos que relacionam litíase urinária e cirurgia bariátrica

    avaliou sobretudo os pacientes submetidos à DGYR. Eles comprovam a associação

    do DGYR com diversas alterações urinárias que predispõem à nefrolitogênese, tais

    como hiperoxalúria, hipocitratúria e diminuição do volume urinário. Entretanto, em

    relação aos procedimentos restritivos, como a GV, há relativamente poucos estudos

    prospectivos acerca de seus efeitos nos metabólitos urinários e seus resultados são,

    por vezes, conflitantes (9).

  • 14

    2 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

    A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM)

    aponta que o número de cirurgias bariátricas realizadas no Brasil aumentou 84,73%

    ao passar de 34.629 em 2011 para 63.969 em 2018. Comparando-se os anos de

    2018 e de 2017, o aumento foi de 4,38%. O Brasil é considerado o segundo país do

    mundo em número de cirurgias realizadas (16,17).

    O aumento no número de procedimentos realizados está relacionado ao

    crescimento da obesidade no Brasil e, também, às novas regras do Conselho

    Federal de Medicina (CFM), que ampliaram o número de doenças associadas à

    obesidade que podem levar a indicação da cirurgia bariátrica (16).

    Esse imenso volume de cirurgias realizadas também se reflete no

    surgimento de complicações pós-operatórias. Diversos estudos mostram que pode

    haver um aumento da incidência de urolitíase em pacientes submetidos à cirurgia

    bariátrica (11,18,19).

    Esta relação parece estar bem estabelecida nos casos relativos às

    cirurgias disabsortivas (15) ou mistas, pois elas levam a alterações conhecidas no

    metabolismo urinário que predispõem a litogênese. Em referência às cirurgias

    restritivas, existem poucos estudos prospectivos, cujos resultados por vezes são

    controversos (9).

    Nos últimos anos houve um grande aumento no número de cirurgias

    restritivas, sobretudo a GV, em detrimento da DGYR (9). Esta realidade também se

    reflete no Brasil. O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco

    (HC/UFPE) é referência no tratamento da obesidade, contando com uma equipe

    multidisciplinar completa que acompanha os pacientes a longo prazo, nos períodos

    pré e pós-operatórios.

    A realização de um estudo prospectivo, avaliando pacientes

    submetidos à gastrectomia vertical, possibilita estabelecer se há relação direta ou

    indireta deste procedimento com alterações potencialmente litogênicas na

    bioquímica urinária. Os resultados são relevantes para a abordagem e para a

    condução pós-operatória dos pacientes, visando, futuramente, identificar e intervir

    em possíveis fatores envolvidos na formação do cálculo urinário.

  • 15

    3 OBJETIVOS

    3.1 Objetivo geral

    Analisar o perfil bioquímico urinário relacionado à nefrolitogênese em

    pacientes obesos submetidos à gastrectomia vertical.

    3.2 Objetivos específicos

    - Quantificar os níveis de oxalúria, citratúria, calciúria, uricosúria,

    magnesiúria, creatininúria, saturação de oxalato de cálcio, do pH e do volume

    urinário em 24 horas de pacientes obesos em pré-operatório para gastrectomia

    vertical;

    - Quantificar os níveis de oxalúria, citratúria, calciúria, uricosúria,

    magnesiúria, creatininúria, saturação de oxalato de cálcio, do pH e do volume

    urinário em 24 horas dos pacientes seis meses após a gastrectomia vertical;

    - Correlacionar os achados bioquímicos urinários pré e pós cirúrgicos nos

    indivíduos em análise.

  • 16

    4 REVISÃO DA LITERATURA

    4.1 Obesidade

    A prevalência mundial de excesso de peso duplicou desde 1980, a ponto

    de quase um terço da população agora ser classificada como com sobrepeso ou

    obesidade (20). A obesidade afeta adversamente quase todas as funções

    fisiológicas do corpo e compreende uma ameaça significativa à saúde pública (21).

    A OMS define obesidade e sobrepeso como acúmulo anormal ou

    excessivo de gordura que pode prejudicar a saúde. O IMC é um índice matemático

    simples, comumente utilizado para classificar sobrepeso e obesidade em adultos. É

    definido como o peso de uma pessoa em quilogramas dividido pelo quadrado da

    sua altura em metros (kg/m²) (2). A obesidade é definida como um IMC maior ou

    igual a 30 kg/m², e excesso de peso é considerado presente quando o IMC está

    entre 25 e 30 kg/m² (1,22).

    O grau de obesidade é classificado, pela OMS e pelo CFM, de acordo

    com a seguinte Tabela:

    Tabela 1 – Classificação da obesidade segundo a OMS e o CFM

    Classificação IMC (kg/m²)

    Sobrepeso 25-29,9

    Grau I 30-34,9

    Grau II 35-39,9

    Grau III >=40

    Fonte: Criada pelo autor com adaptação (2,23)

    A Federação Internacional para Cirurgia da Obesidade e Desordens

    Metabólicas (International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic

    Disorders – IFSO) (24) e a SBCBM (17) acrescentam, ainda, os termos superobeso

    e super-superobeso a esta classificação (Tabela 2).

  • 17

    Tabela 2 – Classificação da obesidade segundo a IFSO e SBCBM

    Classificação IMC (kg/m²)

    Superobeso 50-60

    Super-superobeso >60

    Fonte: Criada pelo autor com adaptação (17,24)

    De acordo com avaliação recente baseada na população dos Estados

    Unidos, a incidência de obesidade em adultos atinge 34,9%. Nas últimas quatro

    décadas, o IMC médio aumentou em 0,4-0,5kg/m² por década para ambos os sexos

    (4). No Brasil, a prevalência de obesidade estimada, em 2018, era de cerca de

    19,8% da população adulta (25).

    Esta doença representa um grande desafio à saúde, pois aumenta

    substancialmente o risco de doenças como DM tipo 2, doença hepática gordurosa,

    hipertensão, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, demência,

    osteoartrite, apneia obstrutiva do sono e vários cânceres, contribuindo para um

    declínio na qualidade e na expectativa de vida (26,27). A obesidade e suas

    características associadas também podem levar à menor produtividade laboral,

    desemprego e desvantagens sociais (28). As recomendações atuais de saúde se

    baseiam no fato de que a causa fundamental da obesidade é um desequilíbrio

    energético entre calorias consumidas e calorias gastas. No entanto, no nível

    individual, intervenções para perda de peso que visam reduzir a ingestão de calorias

    e aumentar o gasto energético frequentemente não são bem-sucedidas a longo

    prazo (28).

    A obesidade é, sabidamente, uma doença multifatorial. Embora o

    consumo de calorias além da capacidade do corpo de gastar energia seja essencial

    para armazenar excesso de calorias no tecido adiposo, a obesidade é uma doença

    heterogênea onde múltiplos fatores obesogênicos biológicos, ambientais e

    comportamentais interagem para gerar um estado de balanço energético positivo.

    O meio ambiente é um elemento crucial na etiologia da obesidade. Na maioria dos

    casos, uma propensão biológica ao desenvolvimento desta doença requer interação

    com fatores ambientais para que a obesidade seja expressa (29).

  • 18

    Com exceção dos subtipos de obesidade originários de etiologias

    monogênicas ou de fatores que causam redução no gasto de energia, decisões

    individuais e estilos de vida são essenciais para precipitar a interação entre fatores

    biológicos e ambientais para gerar um estado de obesidade (29).

    O tipo de alimentação, com ingestão aumentada de gorduras e de

    açúcares, bem como de comidas processadas, resulta no excesso de aporte

    calórico. O estilo de vida sedentário associado à falta de atividades físicas regulares,

    resultando em um menor gasto energético, tendem a promover o ganho de peso

    (30).

    Existem diversas formas de tratar o excesso ponderal. Pode-se

    estratificar as medidas terapêuticas em não-farmacológicas (mudanças dietéticas,

    incremento nas atividades físicas), em farmacológicas e em intervencionistas (30).

    As mudanças dietéticas consistem na redução do aporte calórico, na

    substituição de refeições e na escolha de estilos de dieta mais saudáveis. Os

    guidelines do National Institute for Health and Care Excellence (NICE), Reino Unido,

    de 2014, recomendam tratamento farmacológico em associação com dieta

    hipocalórica e exercícios físicos regulares, para manutenção da perda de peso.

    Drogas de diversas classes já foram usadas para este fim, tais como inibidores da

    absorção de gordura, análogos do glucagon-like peptide 1 (GLP-1), supressores do

    apetite, entre outros (31).

    Apesar das diversas opções disponíveis para tratamento do paciente

    obeso, a cirurgia bariátrica ainda é considerada o tratamento mais eficaz devido à

    substancial redução de peso que pode durar ao longo do tempo (32,33). Muitos

    estudos clínicos demonstraram a superioridade da cirurgia bariátrica em termos de

    eficácia e sustentabilidade da perda de peso e na resolução de comorbidades

    relacionadas à obesidade quando comparada com intervenções médicas e de estilo

    de vida intensivas (5). Além disso, a cirurgia bariátrica não é apenas uma operação

    de redução de peso, é também uma intervenção metabólica cujos excelentes

    resultados em perda de peso duradoura levam a uma redução significativa das

    morbidades relacionadas à doença (34).

  • 19

    4.2 Cirurgia bariátrica

    A era dos estudos em cirurgia bariátrica teve início com a observação de

    que pacientes submetidos à ressecção de intestino delgado, por neoplasias ou

    isquemia mesentérica, evoluíam com má absorção e consequente perda ponderal

    sustentada. Em 1954, Kremen e colaboradores, em pesquisa com cães,

    observaram que, após a ressecção controlada de determinada parte do intestino

    delgado, os animais apresentavam falha na absorção de gordura e perda de peso,

    a despeito do aporte nutricional ingerido (35,36). A partir dessas observações, deu-

    se início ao desenvolvimento da cirurgia bariátrica.

    Em 1963, a equipe do Departamento de Medicina e Cirurgia da

    Universidade da Califórnia, liderada por Payne e DeWind, publicou um trabalho

    sobre resultados cirúrgicos em pacientes obesos submetidos à derivação jejuno-

    colônica. Os pacientes apresentaram, de fato, perda de peso substancial, porém

    diversas complicações foram relatadas: esteatorreia, diarreia, hipovitaminoses,

    desidratação, anemia, colelitíase, nefrolitíase, cirrose hepática, entre outras. Devido

    a essas complicações importantes, esse procedimento foi abandonado (35,37). Nos

    anos seguintes, os mesmos autores propuseram a derivação jejunoileal, que

    também se mostrou com altos índices de complicações pós-operatórias.

    Em 1967, Mason reportou o primeiro estudo sobre derivação gástrica em

    pacientes obesos (38). Sua ideia foi desenvolvida, modificada e aprimorada no

    decorrer dos anos, possibilitando o desenvolvimento da atual DGYR.

    Scopinaro e colaboradores, em 1979, reportaram o primeiro

    procedimento bariátrico combinado (disabsortivo e restritivo): a derivação

    biliopancreática, que associava a derivação jejunoileal a uma gastrectomia

    horizontal. Esse procedimento foi modificado por Hess (1988) e por Marceau (1993),

    passando a ser realizado através de uma gastrectomia vertical preservando o piloro

    (derivação biliopancreática com switch duodenal) (35). Esta variação deu origem à

    gastrectomia vertical empregada na atualidade.

    No decorrer dos anos, várias outras técnicas foram desenvolvidas, sendo

    atualmente a DGYR considerada o “padrão-ouro” (Figura 1). Esta técnica envolve a

    diminuição do reservatório gástrico e a transposição de segmento de intestino

    delgado, sendo considerada um procedimento misto (disabsortivo e restritivo) (8).

  • 20

    Este tipo de cirurgia era o mais realizado nos Estados Unidos até 2013, quando foi

    ultrapassado pela GV (9).

    A GV tornou-se um dos procedimentos bariátricos mais populares do

    mundo. É uma operação que consiste na retirada da grande curvatura do estômago,

    deixando um reservatório tubular com capacidade de 150-200mL (Figura 2). A GV

    é um procedimento tecnicamente menos complexo, com curva de aprendizado curta

    e com perda de peso efetiva, com menor risco de complicações (39). A ausência de

    anastomose digestiva simplifica a técnica cirúrgica, reduzindo as complicações

    relacionadas à anastomose, como fístula, estenose e úlcera marginal. Além disso,

    o respeito pela continuidade digestiva preserva as funções do piloro, que regula o

    esvaziamento gástrico, e do duodeno, onde o cálcio, as vitaminas do complexo B e

    o ferro são absorvidos (40).

    Figura 1 – Derivação gástrica em Y-de-Roux

    Fonte: Miras e Le Roux (41)

    Figura 2 – Gastrectomia vertical

    Fonte: Miras e Le Roux (41)

  • 21

    Sabe-se que a GV apresenta melhores resultados do que os

    procedimentos puramente restritivos. Isso ocorre pois este tipo de cirurgia promove

    modificação na motilidade gastrointestinal, alterações hormonais, alterações nos

    sais biliares e na microbiota intestinal. A GV provoca um aumento na velocidade de

    esvaziamento gástrico e do trânsito intestinal, ocasionando um aumento pós-

    prandial de GLP-1 e peptídeo YY (moléculas sacietogênicas). Ocorre também a

    diminuição dos níveis séricos de grelina, substância orexígena produzida pelas

    células oxínticas do fundo gástrico (42). Fica claro, portanto, que a GV não é uma

    técnica puramente restritiva, sendo responsável por inúmeras alterações

    metabólicas orgânicas não apenas relacionadas à diminuição da capacidade do

    estômago.

    O desenvolvimento de técnicas minimamente invasivas e a crescente

    população de pacientes com obesidade mórbida promoveram a rápida

    popularização da cirurgia bariátrica (39).

    No Brasil, o CFM autoriza o emprego da cirurgia bariátrica em pacientes

    com IMC>35kg/m² ou para controle metabólico em pacientes com comorbidades

    específicas e IMC entre 30-35kg/m² (16,23).

    4.3 Litíase urinária

    A litíase urinária é um problema global (43) e sua incidência e prevalência

    vêm crescendo constantemente em todo o mundo (44). É descrita desde a

    antiguidade, sendo atualmente uma das doenças urológicas mais comuns.

    A doença calculosa urinária ocorre com mais frequência em homens,

    mas há evidências que a diferença entre os gêneros está diminuindo. É mais comum

    em caucasianos e tem pico de incidência entre a quarta e sexta décadas de vida. A

    distribuição geográfica tende a acompanhar os fatores de risco ambientais, tendo

    maior prevalência em locais de clima quente e seco ou áreas tropicais (43,45).

    O processo físico-químico de formação de cálculos decorre de uma

    sequência de eventos que ocorrem após a filtração glomerular, quando a urina se

    torna supersaturada de sais formadores de cálculo, havendo precipitação e

    formação de cristais. Esses cristais podem fluir com a urina ou ficar retidos no rim,

  • 22

    promovendo agregação de novos componentes, levando a formação do cálculo

    (46).

    Existem diversos subtipos de cálculos urinários, sendo os de oxalato de

    cálcio e fosfato de cálcio os mais frequentes. Dentre os não cálcicos, os mais

    comuns são os de ácido úrico, estruvita e cistina (43,47).

    O excesso de substâncias que estimulam a cristalização e a redução de

    inibidores promove principalmente a produção e a retenção de cristais nos túbulos

    renais. Eles se formam quando as concentrações dos íons, assim como os solutos,

    como o hidrogênio, o sódio e o ácido úrico, estão presentes no filtrado em

    quantidades superiores às normais. Essa condição é conhecida como

    supersaturação e os íons supersaturados têm maior probabilidade de sair da

    solução e cristalizar (47). Os fatores de risco para a supersaturação incluem

    desidratação, dieta rica em gorduras e proteína animal, alta ingestão de sal e

    obesidade (43).

    A associação entre obesidade e síndrome metabólica com a

    nefrolitogênese já foi extensamente investigada, apesar de que o mecanismo exato

    ainda não foi completamente elucidado (48,49). Sabe-se que a obesidade é um fator

    de risco independente para nefrolitíase (50). Em pacientes obesos, a prevalência

    de litíase renal pode atingir cerca de 12% (12). Alguns estudos de bioquímica

    urinária de pacientes obesos evidenciam alterações potencialmente litogênicas, tais

    como hipercalciúria, hipocitratúria, volume urinário reduzido, hiperoxalúria,

    hiperuricosúria e redução do pH (51,52).

    A obesidade também influencia a composição dos cálculos. Apesar do

    oxalato de cálcio ainda compor a maioria dos cálculos, à medida que o IMC

    aumenta, a proporção de cálculos de ácido úrico também se eleva (12). A produção

    excessiva de ácido úrico pelo tecido adiposo, através da via da xantina-

    oxidoredutase, associada a acidificação urinária provocada pela resistência

    insulínica justificam o maior risco de formação de cálculos de ácido úrico (53,54).

    O citrato é o principal íon inibidor da agregação de cristais. Atua como

    inibidor da formação de cálculos de cálcio reduzindo a disponibilidade de cálcio

    iônico, diminuindo sua interação com o oxalato; atua também inibindo diretamente

    a precipitação espontânea do oxalato de cálcio (55,56).

    O estado ácido-base desempenha papel significativo na excreção de

    citrato, uma vez que a acidose leva ao aumento da utilização do citrato mitocondrial.

  • 23

    A diminuição do citrato intracelular facilita a reabsorção do citrato renal e a

    diminuição da excreção urinária. Assumindo uma produção de urina de 2 litros com

    pH urinário e potássio sérico normais, o nível “ideal” de excreção de citrato urinário

    é de 640 mg/dia em indivíduos saudáveis, enquanto hipocitratúria é definida como

    excreção de citrato de menos de 320 mg por dia (19,57). O magnésio também atua

    como inibidor da formação de cálculos de cálcio (58), porém com menor efeito do

    que o citrato.

    Desde meados dos anos 2000 publicações têm evidenciado o aumento

    da incidência de nefrolitíase em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica (59). Com

    o reconhecimento do surgimento de nefrolitíase nessa população, estudos

    buscaram investigar suas causas e fatores de risco. Além de a obesidade por si só

    ser um fator de risco conhecido para nefrolitíase, alguns tipos de cirurgia bariátrica,

    em especial as disabsortivas, têm sido associados a uma maior incidência de

    cálculo urinário no pós-operatório (9,15,51,60–62).

    A hiperoxalúria é fator característico após procedimento bariátrico

    disabsortivo e mantém-se mesmo com o uso de dieta restrita em oxalato nos

    operados. Diversos estudos têm mostrado a hiperoxalúria como um fator litogênico

    determinante, sendo essa a anormalidade mais significante após operação do tipo

    disabsortiva (63–65). As evidências têm indicado que o acúmulo de oxalato de

    cálcio pode ser causado por mecanismo já conhecido no qual ocorre má absorção

    de gorduras, deixando mais oxalato livre na luz intestinal para a absorção na luz

    colônica (66,67). Outro mecanismo proposto é a alteração na flora bacteriana

    colônica após a cirurgia bariátrica, que poderia aumentar a absorção de oxalato no

    intestino (11,61,68).

    Os estudos que abordaram preponderantemente pacientes submetidos

    a cirurgias mistas ou disabsortivas conseguiram estabelecer relações causais entre

    a cirurgia e o surgimento de alterações metabólicas urinárias. Espino-Grosso e

    Canales (9), em estudo de revisão publicado em 2017, evidenciaram alterações

    bioquímicas e metabólicas em pacientes submetidos à DGYR, a saber: maiores

    níveis de oxalato urinário, aumento da supersaturação de oxalato de cálcio (SS

    CaOx), menores volumes de urina e hipocitratúria na análise da urina de 24 horas,

    identificando pacientes com maior risco de desenvolvimento de urolitíase.

    Em relação às operações restritivas, os estudos são conflitantes.

    Algumas publicações definem que a GV poderia aumentar o risco de nefrolitíase por

  • 24

    diminuir o volume urinário (9,61); outros, porém, sugerem que este procedimento

    poderia diminuir o risco de litíase, pelo fato de não provocar hiperoxalúria, associado

    a perda ponderal (53).

    Mirheydar et al. (69), em estudo retrospectivo publicado em 2013,

    identificaram uma incidência muito baixa de nefrolitíase em pacientes submetidos a

    procedimentos restritivos. Para Espino-Grosso e Canales (9), cirurgias restritivas

    não parecem aumentar o risco de formação de cálculo, apesar de diminuírem o

    volume urinário em 24h, que é um fator de risco potencial para litogênese. Como

    nenhum segmento de intestino é “excluído” nos procedimentos restritivos, não há

    nenhum componente disabsortivo; portanto, a hiperoxalúria entérica seria

    inesperada (70).

    A escassez de estudos prospectivos avaliando exclusivamente pacientes

    obesos submetidos a GV é evidente na literatura científica, o que demonstra a

    relevância deste trabalho.

  • 25

    5 MATERIAIS E MÉTODOS

    5.1 Desenho e local de estudo

    Estudo prospectivo e longitudinal realizado com os pacientes vinculados

    ao Serviço de Cirurgia Geral (SCG) do Hospital das Clínicas da Universidade

    Federal de Pernambuco.

    5.2 População, tamanho amostral e período de estudo

    Toda a população de pacientes submetidos a Gastrectomia Vertical

    neste Hospital entre julho de 2018 e março de 2020 foi triada para participar da

    pesquisa. Neste intervalo de tempo ocorreram 51 gastrectomias verticais. Dez

    indivíduos não obedeceram aos critérios de inclusão/exclusão. Desta população,

    quarenta e um pacientes foram submetidos à coleta inicial. Destes, dois (4,8%)

    foram excluídos por terem apresentado complicações cirúrgicas graves no pós-

    operatório (fístulas complexas) – Figura 3. Sete (17%) perderam seguimento e não

    realizaram a segunda coleta.

    Trinta e dois participantes fizeram o acompanhamento ambulatorial

    completo e foram submetidos a nova análise da bioquímica urinária de 24 horas. O

    tempo médio entre a cirurgia e a segunda coleta foi de aproximadamente 185 dias.

    5.3 Critérios de inclusão

    - Pacientes com indicação de cirurgia bariátrica, em programação de

    realização de gastrectomia vertical;

    - Idade >=18 anos e =< 60 anos.

    5.4 Critérios de exclusão

    - Taxa de filtração glomerular pré-operatória < 60ml/min/1,73m² pela

    MDRD (estudo Modification of Diet in Renal Disease);

  • 26

    - Uso de fármacos com potencial de alterar o metabolismo urinário

    (diuréticos, probenecida, citrato de potássio);

    - Antecedente ou diagnóstico atual de nefrolitíase.

  • 27

    Figura 3 – Amostra

    (*) Pacientes que não retornaram para realizar a segunda coleta urinária

    (**) Complicação cirúrgica grave no pós-operatório, com necessidade de reoperação.

    Fonte: Elaborada pelo autor

    5.5 Variáveis

    Foram avaliadas as seguintes variáveis sócio-demográficas: sexo, idade

    e cor (por autodeterminação). O peso, o IMC e comorbidades associadas também

    foram analisados.

    As variáveis bioquímicas estudadas foram (Quadro 1):

  • 28

    Quadro 1 – Variáveis bioquímicas

    Método de Aferição Valor de Referência

    Uricosúria Enzimático - uricase 250 a 750mg/24h

    Oxalúria Enzimático 4 a 44mg/24h

    Volume urinário Aferição simples 800 a 2500ml/24h

    Calciúria Colorimétrico

  • 29

    refrigerador até ser analisado em laboratório. Enfatizou-se aos indivíduos a correta

    técnica e os procedimentos de coleta para evitar amostras inadequadas e

    subcoletadas, bem como a coleta excessiva.

    O material foi enviado para o laboratório de análises químicas, onde

    foram quantificadas as seguintes variáveis: volume urinário, oxalúria, citratúria,

    uricosúria, creatininúria, calciúria, magnesiúria e pH. Todas as amostras foram

    analisadas em um único laboratório privado. A supersaturação do oxalato de cálcio

    foi calculada pelo índice de Tiselius (77,78).

    O tempo entre a primeira coleta e a intervenção cirúrgica foi de 07 dias.

    Esse prazo foi adotado pois, no protocolo de Cirurgia Bariátrica adotado pelo SCG

    do HC/UFPE, os pacientes iniciam dieta líquida exclusiva nos cinco dias que

    antecedem a operação (very low calorie diet). Desse modo, realizamos a coleta da

    urina de 24 horas no menor período possível entre a realização do exame e a

    cirurgia, de forma que os resultados não sofressem as interferências da dieta líquida

    total.

    Os pacientes foram submetidos à gastrectomia vertical

    videolaparoscópica pela equipe cirúrgica SCG do HC/UFPE e acompanhados

    ambulatorialmente.

    A segunda coleta foi realizada 6 meses após a cirurgia (média de 185

    dias). Nos primeiros seis meses pós-operatórios a perda de peso e as mudanças

    metabólicas no organismo ocorrem de forma mais acentuada (15), sendo, por isso,

    o intervalo escolhido para a segunda avaliação.

    Salienta-se que todos os indivíduos estudados fizeram reposição padrão

    de oligoelementos (anexo A), sob acompanhamento da equipe de Nutrição do

    HC/UFPE, como parte protocolar do programa de Cirurgia Bariátrica.

    5.7 Procedimentos analíticos

    As informações dos pacientes foram coletadas através de formulário

    específico e um banco de dados foi construído utilizando o programa Microsoft Excel

    2010. Foram utilizados os Softwares SPSS 13.0 (Statistical Package for the Social

    Sciences) para Windows e o Excel 2010 para tratamento estatístico; todos os testes

    foram aplicados com 95% de confiança.

  • 30

    Os resultados estão apresentados em forma de Tabela com suas

    respectivas frequências absoluta e relativa, e as variáveis numéricas estão

    representadas pelas medidas de tendência central e pelas medidas de dispersão.

    Foi utilizado o teste de Normalidade de Kolmogorov-Smirnov para

    variáveis quantitativas. Para análise entre os grupos pareados, foi utilizado o teste

    T de Student pareado (para distribuição normal) e o teste de Wilcoxon (para

    distribuição não-Gaussiana).

  • 31

    6 PROCEDIMENTOS ÉTICOS

    6.1 Aprovação pelo comitê de ética

    O presente estudo foi elaborado respeitando o preconizado pelas

    Resoluções 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), foi

    submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFPE em Junho de 2018 (Certificado

    de Apresentação de Apreciação Ética: 90653918.6.0000.5208) e foi aprovado para

    início em 20 de Julho de 2018 (anexo B).

    A participação na pesquisa foi condicionada à compreensão e à

    assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido específico (apêndice B).

    6.2 Riscos para os indivíduos

    A coleta da urina de 24h é um exame inócuo, não provocando nenhum

    risco para a saúde do paciente. A realização da pesquisa não interferiu de modo

    algum no tempo de espera para realização do procedimento cirúrgico. Todos os

    passos da pesquisa foram explicados detalhadamente aos participantes. Pode ter

    ocorrido algum incômodo ou desconforto durante a realização do questionário e da

    coleta do exame. Para minimizar este desconforto, o pesquisador assegura que

    estes procedimentos foram realizados em local reservado e que o indivíduo teve

    liberdade para não responder questões com as quais não se sentisse

    confortável. Para minimizar o receio do sujeito da pesquisa em relação à coleta, foi

    explicado que se tratava de um procedimento simples, no qual toda a urina

    produzida pelo próprio paciente (micção espontânea) num período de 24 horas seria

    armazenada em recipiente específico fornecido pelo pesquisador e posteriormente

    analisada em laboratório.

    Trata-se de estudo com material biológico, sendo assegurado pelo

    pesquisador que as amostras não foram utilizadas para novas pesquisas sem

    autorização dos participantes. A manipulação e o descarte dos materiais biológicos

    foram feitos por profissionais habilitados do próprio laboratório, segundo as normas

    da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

    Todas as informações desta pesquisa são confidenciais e serão

    divulgadas apenas em eventos ou em publicações científicas, não havendo

  • 32

    identificação dos voluntários, a não ser entre os responsáveis pelo estudo, sendo

    assegurado o sigilo sobre a sua participação. Os dados coletados nesta pesquisa

    (dados de exames clínico e laboratorial) ficaram armazenados em computador

    pessoal do pesquisador e em pastas de arquivo físico, garantindo a não violação e

    integridade dos documentos.

  • 33

    7 RESULTADOS

    Para fins de análise, foram considerados somente os indivíduos

    acompanhados durante todo o seguimento, ou seja, os 32 pacientes que realizaram

    as coletas pré e pós-operatórias.

    A amostra foi composta predominantemente por mulheres (81,2%). A

    idade média foi de 40,6 anos; a cor predominante, por autodesignação, foi a branca

    (75%) (Tabela 3).

    Tabela 3 – Dados epidemiológicos

    Variáveis N %

    Sexo

    Masculino 6 18,8

    Feminino 26 81,2

    Cor

    Branco 24 75,0

    Pardo 7 21,9

    Negro 1 3,1

    Média ± DP Mínimo – Máximo

    Idade (anos) 40,63 ± 9,77 23,00 – 59,00

    Fonte: Elaborada pelo autor

  • 34

    Em relação às comorbidades associadas, a hipertensão arterial sistêmica

    (HAS) foi a mais prevalente, seguida do DM tipo 2 (Tabela 4).

    Tabela 4 – Comorbidades associadas (pré-operatório)

    Comorbidades n %

    HAS 15 46,8

    DM tipo 2 7 21,8

    Dislipidemia 8 25

    Sem comorbidades 6 18,7

    Fonte: Elaborada pelo autor

    Quanto ao grau de obesidade avaliado pelo IMC, no pré-operatório, a

    maioria dos pacientes enquadrava-se como grau III ou superior (84,4%) (Tabela 5).

    Tabela 5 – IMC pré-operatório

    IMC (Kg/m²) n %

    Grau II 5 15,6

    Grau III 19 59,4

    Superobeso 5 15,6

    Super-superobeso 3 9,4

    Total 32 100

    Fonte: Elaborada pelo autor

  • 35

    Comparando-se o IMC e o peso absoluto dos indivíduos nas análises pré

    e pós-operatórias, identificou-se diminuição estatisticamente significante (Tabela 6).

    Tabela 6 - Peso e IMC

    Coleta de dados

    Variáveis Pré Pós p-valor

    Média ± DP Média ± DP

    Peso (kg) 123,14 ± 23,56 92,09 ± 16,93 < 0,001 *

    IMC 47,07 ± 8,34 35,49 ± 6,11 < 0,001 *

    (*) Teste t Student Pareado

    Fonte: Elaborada pelo autor

    Em análise comparativa em relação à bioquímica urinária, identificamos

    variações em diversos parâmetros analisados, com significância estatística, a saber

    (Tabela 7):

    - Diminuição do volume urinário;

    - Aumento da supersaturação de oxalato de cálcio;

    - Diminuição da excreção de ácido úrico.

  • 36

    Tabela 7- Bioquímica urinária

    Coleta de dados

    Variáveis Pré Pós p-valor

    Média ± DP Média ± DP

    Volume (ml) 2242,50 ± 798,26 1240,94 ± 352,39 < 0,001 *

    Volume/peso (ml/kg) 18,58 ± 6,92 13,92 ± 4,65 < 0,001 *

    Supersaturação de

    Oxalato de cálcio (***) 0,11 ± 0,10 0,24 ± 0,18 < 0,001 *

    Ácido úrico (mg) 482,34 ± 195,80 434,75 ± 158,38 0,027 *

    Citrato (mg) 366,59 ± 282,74 368,66 ± 253,97 0,849 *

    Magnésio (mg) 51,25 ± 26,35 52,34 ± 20,68 0,708 *

    Cálcio (mg) 84,53 ± 62,69 82,03 ± 49,57 0,505 *

    Creatinina (mg) 1302,61 ± 498,37 1299,53 ± 320,91 0,953 *

    pH 5,86 ± 0,60 6,02 ± 0,52 0,229 **

    Oxalato (mg) 7,23 ± 4,00 8,32 ± 2,94 0,140 *

    (*) Teste t Student Pareado (**) Teste de Wilcoxon

    (***) A supersaturação de oxalato de cálcio foi obtida através de cálculo matemático, utilizando a

    fórmula de Tiselius: SS CaOx = 1,9 x Cálcio0,84 x Oxalato x Citrato-0,22 x Magnésio-0,12 x Volume-1,03

    Fonte: Elaborada pelo autor

  • 37

    8 DISCUSSÃO

    Sabe-se que o desenvolvimento de urolitíase em indivíduos submetidos

    a cirurgias bariátricas ocorre geralmente após o primeiro ou o segundo ano

    (18,59,60,63), sendo o intervalo médio entre a cirurgia e o diagnóstico de litíase de

    1,5 a 3,6 anos (18). No entanto, as alterações metabólicas urinárias surgem

    precocemente (50), desde o 2° mês a até pelo menos o 6° mês pós-operatório,

    conforme publicação de Agrawall e colaboradores (2014). Em nossa casuística,

    amostras de urina de 24 horas foram coletadas no pré-operatório e seis meses após

    a GV.

    Apesar de alguns estudos descreverem alterações urinárias

    potencialmente litogênicas em obesos (51,52), na nossa análise pré-operatória

    todos os indivíduos apresentaram pH, excreção de oxalato, cálcio, ácido úrico e

    supersaturação de oxalato de cálcio dentro dos limites da normalidade. Em estudo

    realizado por Deng (73), em 2017, a bioquímica urinária de 560 adultos (com peso

    normal, obesos ou com sobrepeso) sem urolitíase, foi avaliada. Sua análise

    comparativa também não encontrou alterações significantes das variáveis entre os

    grupos.

    Interessante ressaltar que, apesar de a população obesa ter uma

    predisposição ao desenvolvimento de cálculos de ácido úrico – conforme analisado

    em revisão sistemática publicada por Santos (11) - a média de excreção dessa

    substância na análise pré-operatória foi de 482,34 mg/24h, dentro da faixa de

    normalidade.

    Outro ponto importante a se avaliar é que a média dos níveis de citrato

    urinário, no pré-operatório, foi de 366,59 mg/24h; apesar de estar compreendida na

    faixa de normalidade (320-1240 mg/24h), estava abaixo do nível “ideal”

    (640mg/24h) para prevenção de urolitíase (57). A média da citratúria pré-operatória,

    em nosso estudo, se assemelha com a de pacientes obesos sem nefrolitíase de

    outros estudos (73). A dosagem pré-operatória de magnésio, outra substância

    inibidora da litogênese, mostrou-se abaixo do limite de normalidade (51,25 mg/24h)

    – VR 70-120mg/24h.

    Alguns autores levantaram a hipótese de que procedimentos não

    disabsortivos poderiam aumentar o risco de urolitíase devido à redução do volume

    urinário (61). Outros apontam em direção oposta, ao sugerir que esses

  • 38

    procedimentos não aumentariam o risco de formação de cálculos, pois não levam à

    hiperoxalúria, consequência de cirurgias de má absorção (53). Chen et al.

    encontraram, em um estudo retrospectivo com 85 pacientes acompanhados por

    26,8 meses após a GV, que a incidência de urolitíase nesses indivíduos era muito

    baixa: apenas 5,25 por 1.000 pessoas-ano (80). Esses autores, entretanto, não

    estudaram o perfil bioquímico urinário de suas amostras. Apesar da avaliação da

    incidência de litíase não ter sido objetivo do nosso estudo, salienta-se que, durante

    o período em que foi realizado o seguimento dos participantes, nenhum deles

    desenvolveu quadro de cólica nefrética.

    Quanto à análise pós-operatória, observamos algumas características

    que podem contribuir para a formação de cálculos urinários, como redução

    importante do volume urinário (tanto em valores absolutos como ajustados ao peso

    corporal) e aumento da supersaturação de oxalato de cálcio (SS CaOx). No entanto,

    também identificamos uma redução na excreção urinária de ácido úrico, o que

    poderia reduzir a incidência de cálculos dessa natureza.

    Observamos uma diminuição importante no IMC (média 47,07 para 35,49

    kg/m² - p

  • 39

    normalidade (VR 250-750mg/24h). Este achado torna-se relevante quando

    consideramos que a hiperuricosúria desempenha papel importante na litogênese

    em obesos – este resultado sugere que a GV e a perda ponderal resultante podem

    ser um fator protetor contra a gênese de cálculos de ácido úrico.

    Não encontramos suporte teórico que justifique a diminuição da

    uricosúria secundária ao procedimento cirúrgico propriamente dito, sendo esperada

    sua redução tanto após cirurgias restritivas quanto mistas (60). É possível que esta

    redução seja decorrente da perda ponderal e da diminuição do tecido adiposo (54),

    não necessariamente relacionada à técnica cirúrgica empregada per se.

    A SS CaOx é um dos mais importantes parâmetros para se avaliar a

    probabilidade de precipitação deste sal na urina, desencadeando o processo de

    formação do cálculo. É importante ressaltar que houve um aumento relevante desta

    variável (0,11 para 0,24), com significância estatística (p

  • 40

    Em consonância com a literatura, identificamos uma mínima variação nos

    níveis de oxalato (7,23 x 8,32 mg/24h) – VR 4 – 44mg/24h, porém sem significância

    estatística. De acordo com Lieske e colaboradores (81), a hiperoxalúria se

    desenvolve em cerca de metade dos indivíduos após cirurgias mistas (como a

    DGYR), mas não ocorre após procedimentos restritivos, como a GV. De fato, a

    hiperoxalúria não tem suporte fisiológico ou anatômico neste tipo de cirurgia, pois

    não há exclusão de segmento intestinal que promova o mecanismo clássico de

    aumento da saponificação do cálcio no intestino, resultando em uma maior absorção

    de oxalato e consequente incremento de sua excreção urinária (70).

    O citrato e o magnésio urinários, que são importantes inibidores da

    litogênese, apresentaram mínima variação na avaliação comparativa. Os níveis de

    citrato aumentaram para uma média de 368,66 mg/24h (p=0,849), porém ainda se

    mantiveram abaixo do nível “ideal”. A dosagem de magnésio também apresentou

    um incremento para uma média de 52,34 mg/24h (sem significância estatística),

    permanecendo abaixo do limite da normalidade.

    Estudos referentes a cirurgias restritivas não observaram variação

    significativa na quantificação dessas substâncias (70,81). Em relação à DGYR, é

    comum a ocorrência da diminuição da citratúria e da magnesiúria (9,18,19). Em

    artigo de revisão publicado em 2017, Canales identificou consistente redução da

    excreção de citrato após cirurgias disabsortivas (9).

    A dosagem de cálcio urinário, após o sexto mês pós-operatório,

    apresentou uma discreta diminuição (82,03 mg/24h), sem significância estatística,

    dentro da faixa de normalidade (VR

  • 41

    a apresentar níveis de pH urinário mais baixos (11,51,72). Na nossa investigação,

    porém, não encontramos essa característica. As mensurações pré e pós-

    operatórias foram semelhantes, dentro dos limites da normalidade (5,86 - 6,02) e

    sem variações estatisticamente significantes.

    A dosagem de creatinina teve por objetivo apenas avaliar a confiabilidade

    da coleta da urina de 24h, Estudos sugerem que duas coletas sucessivas de urina

    de 24 horas podem produzir resultados mais confiáveis; porém, isso exigiria um grau

    muito maior de adesão do paciente, além de majorar substancialmente os custos

    (75). Desse modo, optamos pela realização de apenas uma coleta pré e outra pós-

    cirurgia. Conforme proposto por Leslie e colaboradores (75), para estimar a

    confiabilidade da coleta utilizamos a mensuração da creatinina total de 24 horas na

    amostra. A excreção normal total de creatinina na urina de 24 horas é de 955 mg a

    2936 mg em homens (13 a 29 mg/kg de peso corporal por 24 horas) e de 601 mg a

    1689 mg em mulheres (9 a 26 mg/kg de peso corporal por 24 horas). A creatinina

    total insuficiente para um teste de urina de 24 horas traduziria a possibilidade de

    uma coleta inadequada (76), excluindo a amostra do estudo. Não houve variação

    significante na comparação entre a creatininúria pré e pós-operatória.

    É importante mencionar alguns fatores limitantes deste estudo. O número

    de participantes estava diretamente condicionado à quantidade de cirurgias

    realizadas no período estabelecido. Falta de insumos e outros problemas logísticos

    inerentes aos hospitais públicos limitaram a realização dos procedimentos. Parte do

    período programado para as coletas e cirurgias coincidiu com a pandemia de

    COVID-19, limitando a progressão do estudo. Sete (17%) dos 41 indivíduos

    inicialmente selecionados perderam seguimento. Esta perda é compreensível em

    estudos de coorte. Em publicação recente sobre fatores preditivos da perda de

    acompanhamento ambulatorial de pacientes bariátricos do HC/UFPE, Belo e

    colaboradores identificaram perda de seguimento de cerca de 23% dos indivíduos

    num período de um ano pós-cirurgia (82). Não houve um controle estrito sobre a

    dieta dos indivíduos, o que pode eventualmente ter resultado em alterações na

    excreção de metabólitos.

    Há de se considerar também que, apesar de a tomografia

    computadorizada (TC) apresentar maior sensibilidade para litíase do que a

    avaliação ecográfica, não utilizamos este exame nesta pesquisa. Utilizamos a

  • 42

    ultrassonografia (USG), realizada pelo Serviço de Radiologia do HC/UFPE, como

    screening para nefrolitíase. Vários estudos acerca da avaliação metabólica urinária

    em pacientes obesos, como o de Valezi (72) e o de Deng (73), também usaram a

    USG como triagem para nefrolitíase. A TC não faz parte da rotina pré-operatória

    para cirurgia bariátrica em pacientes assintomáticos do ponto de vista urológico. A

    realização deste exame traria diversos inconvenientes, destacando-se a exposição

    à radiação ionizante (em obesos, a dose de radiação utilizada é maior do que a

    população com peso normal (74)), o custo e a própria dificuldade técnica para

    realização de TC em pacientes com IMC elevado (limitação mecânica do aparelho).

    O tomógrafo disponível no HC/UFPE – Toshiba Aquila CXL® – suporta pacientes

    de até 150kg, de modo que sua utilização implicaria na redução da amostra

    estudada.

    Diante do exposto, pode-se inferir que a gastrectomia vertical promove

    alterações metabólicas que podem interferir no mecanismo litogênico urinário.

    Essas mudanças são muito menores do que as promovidas pelas cirurgias mistas

    ou disabsortivas, principalmente por não promover a hiperoxalúria, conforme

    amplamente exposto na literatura. A realização de estudos com maior tempo de

    seguimento será útil para corroborar esses achados; a avaliação do

    desenvolvimento ou não de cálculos urinários também é um desfecho importante

    que necessita, porém, de um seguimento mais prolongado.

  • 43

    9 CONCLUSÃO

    A gastrectomia vertical promove alterações no metabolismo urinário

    relacionadas à nefrolitogênese. Os indivíduos analisados apresentaram redução do

    volume urinário, aumento da supersaturação de oxalato de cálcio (abaixo do limiar

    de precipitação) e redução da uricosúria. Este procedimento não altera

    significativamente a excreção urinária de cálcio, oxalato, citrato e magnésio, bem

    como o pH da urina.

  • 44

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    83. The Modification of Diet in Renal Disease Study: Design, Methods, and Results From the Feasibility Study. Am J Kidney Dis [Internet]. 1992;20(1):18–33. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/S0272-6386(12)80313-1

    84. Naim M. Maalouf, Prasanthi Tondapu, Eve S. Guth, Edward H. Livingston and KS. Hypocitraturia and Hyperoxaluria After Roux-en-Y Gastric Bypass Surgery. J Urol. 2008;34(5):880–6.

    85. Abate N, Chandalia M, Cabo-Chan A V., Moe OW, Sakhaee K. The metabolic syndrome and uric acid nephrolithiasis: Novel features of renal manifestation of insulin resistance. Kidney Int. 2004;65(2):386–92.

    86. Tarplin S, Ganesan V, Monga M. Stone formation and management after. Nat Publ Gr [Internet]. 2015;1–8. Available from: http://dx.doi.org/10.1038/nrurol.2015.67

  • 51

    APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

    Convidamos o (a) Sr. (a) para participar como voluntário (a) da pesquisa “Avaliação

    dos fatores metabólicos urinários relacionados à nefrolitíase em pacientes

    submetidos à gastrectomia vertical”, que está sob a responsabilidade do

    pesquisador Denis Waked de Brito, residente na Avenida Beira Rio, número 330,

    Bairro Ilha do Retiro, Recife – Pernambuco, CEP 50750-400, telefone 81-

    988521055, e-mail [email protected]. Esta pesquisa está sob a orientação do

    Prof. Dr. Flávio Kreimer, e-mail [email protected].

    Todas as suas dúvidas podem ser esclarecidas com o responsável por esta

    pesquisa. Apenas quando todos os esclarecimentos forem dados e você concorde

    com a realização do estudo, pedimos que rubrique as folhas e assine ao final deste

    documento, que está em duas vias. Uma via lhe será entregue e a outra ficará com

    o pesquisador responsável.

    Você estará livre para decidir participar ou recusar-se. Caso não aceite participar,

    não haverá nenhum problema, desistir é um direito seu, bem como será possível

    retirar o consentimento em qualquer fase da pesquisa, também sem nenhuma

    penalidade.

    INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:

    Esta pesquisa tem por objetivo a avaliação de alterações na urina de pacientes

    submetidos à cirurgia bariátrica, que possam predispor a formação de “pedras no

    rim” (cálculo urinário). Os resultados poderão ser importantes na abordagem e

    condução pós-operatória dos pacientes, visando a identificar e intervir em possíveis

    fatores envolvidos na formação do cálculo urinário. Serão coletadas amostras de

    urina antes da realização da cirurgia e nova coleta 6 (seis) meses após a cirurgia.

    As coletas serão realizadas no próprio Hospital das Clínicas; a primeira durante o

    internamento para cirurgia e a segunda durante consulta ambulatorial pós cirúrgica

    (ambulatório de Cirurgia Geral). A coleta é um procedimento simples, no qual toda

    a urina produzida pelo próprio paciente num período de um dia (24 horas) deverá

    ser armazenada em recipiente fornecido pelo pesquisador e analisada pelo

    laboratório. A coleta da urina de 24h é um exame inofensivo, não provocando

    nenhum risco para a saúde do paciente. A realização da pesquisa não irá interferir

    mailto:[email protected]

  • 52

    de modo algum no tempo de espera para realização do procedimento cirúrgico.

    Todos os passos da pesquisa serão explicados detalhadamente aos

    participantes. Pode ocorrer algum incômodo ou desconforto durante a realização do

    questionário e a coleta do exame. Para minimizar este desconforto, o pesquisador

    assegura que estes procedimentos serão realizados em local reservado e que o

    indivíduo terá liberdade para não responder questões com as quais não se sinta

    confortável. Para minimizar o receio do sujeito da pesquisa em relação à

    coleta, será explicado que este é um procedimento simples, no qual toda a urina

    produzida pelo próprio paciente (micção espontânea) num período de 24 horas

    deverá ser armazenada em recipiente específico fornecido pelo pesquisador e

    posteriormente analisado em laboratório. O acompanhamento pós-operatório será

    ambulatorial, não havendo necessidade de nova internação para coleta dos

    exames. Trata-se de estudo com material biológico, sendo assegurado pelo

    pesquisador que as amostras não serão utilizadas para novas pesquisas sem

    autorização dos participantes. A manipulação e o descarte dos materiais biológicos

    serão feitos por profissionais habilitados do próprio laboratório do Hospital das

    Clínicas, segundo as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Todas as

    informações desta pesquisa serão confidenciais e serão divulgadas apenas em

    eventos ou publicações científicas, não havendo identificação dos voluntários, a não

    ser entre os responsáveis pelo estudo, sendo assegurado o sigilo sobre a sua

    participação. Os dados coletados nesta pesquisa (dados de exames clínico e

    laboratorial) ficarão armazenados em computador pessoal do pesquisador e em

    pastas de arquivo físico, garantindo a não violação e integridade dos documentos.

    Nada lhe será pago e nem será cobrado para participar desta pesquisa, pois a

    aceitação é voluntária, mas fica também garantida a indenização em casos de

    danos, comprovadamente decorrentes da participação na pesquisa, conforme

    decisão judicial ou extrajudicial. Se houver necessidade, as despesas para a sua

    participação serão assumidas pelos pesquisadores (ressarcimento de transporte e

    alimentação).

    Em caso de dúvidas relacionadas aos aspectos éticos deste estudo, você poderá

    consultar o Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da UFPE no

    endereço: (Avenida da Engenharia s/n – 1º Andar, sala 4 - Cidade Universitária,

    Recife-PE, CEP: 50740-600, Tel.: (81) 2126.8588 – e-mail: [email protected]).

  • 53

    ___________________________________________________

    Denis Waked de Brito - Pesquisador

    CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO VOLUNTÁRIO (A)

    Eu, _____________________________________, CPF _________________,

    abaixo assinado, após a leitura (ou a escuta da leitura) deste documento e de ter

    tido a oportunidade de conversar e ter esclarecido as minhas dúvidas com o

    pesquisador responsável, concordo em participar do estudo “Avaliação dos fatores

    metabólicos urinários relacionados à nefrolitíase em pacientes submetidos à

    gastrectomia vertical” como voluntário (a). Fui devidamente informado (a) e

    esclarecido (a) pelo(a) pesquisador (a) sobre a pesquisa, os procedimentos nela

    envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha

    participação. Foi-me garantido que posso retirar o meu consentimento a qualquer

    momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção do meu

    tratamento ou acompanhamento.

    Local e data __________________

    Assinatura do participante: __________________________

    Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimentos sobre a

    pesquisa

    e o aceite do voluntário em participar. (02 testemunhas não ligadas à equipe de

    pesquisadores):

    Nome: Nome:

    Assinatura: Assinatura:

  • 54

    APÊNDICE B - FORMULÁRIO DE COLETA DE DADOS

    Formulário para registro de dados referente à pesquisa intitulada “AVALIAÇÃO DOS FATORES

    METABÓLICOS URINÁRIOS RELACIONADOS A NEFROLITÍASE EM PACIENTES SUBMETIDOS

    A GASTRECTOMIA VERTICAL”

    1) Nome completo:

    2) Número do Prontuário: RG: CPF:

    3) Nome da mãe:

    4) Data de nascimento:

    5) Idade:

    6) Sexo:

    7) Cor:

    8) Peso: pré- pós-

    9) Altura:

    10) IMC: pré- pós-

    11) Endereço:

    12) Telefone fixo: ( )

    13) Telefone celular: ( )

    14) Data da cirurgia: / /

    15) Comorbidades: ( )Hipertensão ( )Diabetes ( )Outras:________

    Medicações em uso:

    16) Clearance de Creatinina (MDRD):

    17) Dados laboratoriais urinários:

    Pré-operatório ( / / ) Pós-operatório ( / / )

    Oxalato de cálcio

    Supersaturação de oxalato

    Citrato

    Magnésio

    Cálcio

    Creatinina

    Ácido úrico

    pH

    Volume

    __________________________

    Responsável pelo preenchimento

  • 55

    APÊNDICE C - PLANILHAS DE DADOS

  • 56

  • 57

    APÊNDICE D - ARTIGO ACEITO PARA PUBLICAÇÃO

    Urolithiasis and sleeve gastrectomy: a prospective assessment of urinary

    biochemical variables

    Denis W. Brito1, Fernando Santa-Cruz2, Maria-Améllia R. Aquino2, Wagner A.

    Nascimento3, Álvaro A. B. Ferraz3, Flávio Kreimer3

    1Urology Division, Hospital das Clínicas at Federal University of Pernambuco

    (HC/UFPE), Recife, PE, Brazil

    2Medical school, Federal University of Pernambuco (UFPE), Recife, PE, Brazil

    3General Surgery Division, Hospital das Clínicas at Federal University of

    Pernambuco (HC/UFPE), Recife, PE, Brazil

    Abstract

    Objective: Evaluate urinary biochemical alterations related to urolithogenesis

    processes after sleeve gastrectomy (SG).

    Methods: Prospective study with 32 individuals without previous diagnosis of

    urolithiasis who underwent SG. 24-hour urine test was collected seven days prior to

    surgery and at the 6-month follow-up consultation. The studied variables were urine

    volume, urinary pH, oxalate, calcium, uric acid, citrate, magnesium, creatinine and

    calcium oxalate supersaturation (CaOx SS).

    Results: Patients were mainly women (81.2%), with mean age of 40.6 years. Mean

    pre- and postoperative BMI were 47.1 ± 8.3 Kg/m2 and 35.5 ± 6.1 Kg/m2, respectively

    (p

  • 58

    Conclusion: SG lead to important alterations in the urinary metabolism