UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CURSO DE … · Ao Diretor do Senai Paulista-PE, Sr. Eduardo...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA A IMPLANTAÇÃO DAS BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO EM PANIFICADORAS DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE CRISTINA FARAH SERAFINI Orientador: Prof. Dr. Maurílio José dos Santos Recife, novembro de 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CURSO DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA

A IMPLANTAO DAS BOAS PRTICAS DE FABRICAO

EM PANIFICADORAS

DA REGIO METROPOLITANA DO RECIFE

CRISTINA FARAH SERAFINI

Orientador: Prof. Dr. Maurlio Jos dos Santos

Recife, novembro de 2006

S482i Serafini, Cristina Farah

A implantao das boas prticas de fabricao em panificadoras da regio metropolitana do Recife / Cristina Farah Serafini. Recife: O Autor, 2006.

195 f.; il., grfs., tabs. Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de

Pernambuco. CTG. Depto. de Engenharia Mecnica, 2006. Inclui referncias bibliogrficas e apndices. 1. Engenharia Mecnica. 2. Boas Prticas de

Fabricao Indstria de Alimentos. 3. Produtividade. 4. Panificao. 5. Resoluo n. 216. I. Ttulo.

621 CDD (22.ed.) UFPE/BCTG/2006-126

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CURSO DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA

A IMPLANTAO DAS BOAS PRTICAS DE FABRICAO

EM PANIFICADORAS

DA REGIO METROPOLITANA DO RECIFE

CRISTINA FARAH SERAFINI

Dissertao de Mestrado apresentada ao

Programa de Ps-Graduao em

Engenharia Mecnica da Universidade

Federal de Pernambuco, como requisito

parcial para a obteno do ttulo de Mestre

em Engenharia Mecnica.

Recife 2006

Agradecimentos

Aos meus pais, Marlene e Armando, pelo carinho e confiana que em mim depositam.

Aos meus filhos, Fernanda e Filipe e ao meu marido Ricardo: minha razo de viver, crescer e

amar.

Ao Diretor do Senai Paulista-PE, Sr. Eduardo Veiga, por ter possibilitado a realizao dos

trabalhos de campo pertinentes dissertao.

Ao Coordenador Tcnico do Programa Alimentos Seguros no Estado de Pernambuco,

Sr.Adamastor de Oliveira Junior, pelo apoio, incentivo e ensinamentos da metodologia dos

trabalhos de campo para implantao das BPF nas padarias.

Ao Prof. Dr. Maurlio dos Santos,

meu orientador, por seus ensinamentos, sem os quais no teria alcanado os resultados desta

pesquisa.

Ao Departamento de Ps-graduao em Engenharia Mecnica, que tanto contribui

para o andamento do curso.

Aos examinadores interno e externo, Prof. Dr. Severino Urtiga e ao Prof. Dr.

Cosmo Severiano, que contriburam muito com suas sugestes e crticas ao trabalho.

Ao Professor Ivanilson Bastos de Melo, do curso de ingls, Cultura Inglesa, pela

contribuio na reviso do abstract.

E a todos que de alguma forma contriburam para esta pesquisa.

Resumo

A indstria de Panificao uma das mais antigas atividades desenvolvidas pelo

Homem e nos primrdios das civilizaes, todo o processo de fabricao era, naturalmente,

artesanal e rudimentar. Com a evoluo e o passar dos sculos, foi se aprimorando

lentamente, at chegar aos dias de hoje em que a atividade de panificao dispe de

equipamentos e tcnicas para seu fabrico, de uma vasta quantidade e crescente variedade de

pes.

Com o crescimento da populao e o aumento na demanda por alimentos prontos

para o consumo - incluindo-se nestes os pes - os governos foram forados a editar leis a fim

de adequar sua fabricao a normas regulamentares, visando assegurar a melhor qualidade do

produto e forar a observncia de requisitos mnimos de higiene e sanitizao.

No Brasil, dentre essas normas, sobressai a Resoluo n. 216 da Agncia Nacional

de Vigilncia Sanitria, de setembro de 2004, com o objetivo de padronizar os trabalhos de

limpeza e higiene de mquinas e equipamentos, higiene pessoal, limpeza de reservatrios e o

controle de pragas urbanas. A este projeto foi dado o nome de Boas Prticas de Fabricao

(BPF). Esta Resoluo padroniza os trabalhos e exige dos estabelecimentos produtores a

elaborao de manuais de produo e os procedimentos operacionais padronizados,

concernentes aos itens acima referidos.

A presente pesquisa tem por objetivo descrever os trabalhos de implantao das

BPFs em 25 panificadoras da regio metropolitana do Recife. No escopo desta dissertao

relaciona-se uma vasta reviso bibliogrfica sobre o assunto e a descrio, pari passu, dos

trabalhos de campo realizados entre os meses de agosto de 2005 e agosto de 2006.

De posse dos dados coletados no trabalho de campo, possvel demonstrar como

a implantao das Boas Prticas de Fabricao e o treinamento dos manipuladores de

alimentos podem auxiliar a obter melhores resultados para os prprios estabelecimentos e a

benefcio da populao. Resultados estes que transcendem o objetivo da qualidade dos

produtos e contribuem para o aumento da produtividade.

Palavras-chave: BPF, qualidade, produtividade, resoluo n.216, panificao.

Abstract

The bread industry is one of the oldest activities developed by mankind and, at the

ancient civilizations, it was done by using rudimentary and artisan processes. Throughout

centuries of evolution, it slowly improved, getting up to the current days in which different

equipments and techniques are available within a vast quantity and growing variety of breads.

Along with the growth of the population and the increase of demand for fast food

(for consumption) including bread the governments have been forced to establish laws in

order to adjust its manufacture to the prescribed norms, aiming at assuring the best quality of

product and at forcing the fulfillment of minimum requirements of hygiene and sanitation.

In Brazil, amongst the norms, the September 2004 ANVISA resolution no 216 is

highlighted, which has the objective to standardize the cleaning procedure, the hygiene of

machines and equipments, personal hygiene, storage cleaning as well as the control of urban

plagues. The resolution, named Good Manufacturing Practices (GMP), standardizes the

procedures and requires from the production establishments, the elaboration of a manual of

production and standard operational procedures, related to this issue.

The present research aims at describing the Good Manufacturing Practices at 25

bakeries in the Metropolitan of Recife. In the scope of this research there is a vast

bibliographical revision on the subject matter and the description of the fieldwork that took

place from August, 2005 to August, 2006.

Considering the collected data from this project, it was possible to show how the

implantation of Good Manufacturing Practices and the training provided to the food

manipulators could enable them to provide the population with the benefit and to get better

financial results for their establishments. Those results went beyond their objective to reach a

better quality of products and contributed to the increase of productivity.

Keywords: GMP, quality, productivity, resolution n.216, bakery industry.

Sumrio Agradecimentos .......................................................................................................................04

Resumo ....................................................................................................................................05

Abstract....................................................................................................................................06

Lista de figuras ........................................................................................................................09

Lista de fotografias ..................................................................................................................09

Lista de grficos ......................................................................................................................09

Lista de siglas ..........................................................................................................................10

1. Consideraes iniciais ao estudo realizado......................................................................12 1.1 Contextualizao do tema e formulao do problema ......................................................12

1.2 Justificativa .......................................................................................................................14

1.3 Objetivos da pesquisa .......................................................................................................17

1.3.1 Objetivo geral ................................................................................................................17

1.3.2 Objetivos especficos .....................................................................................................17

2. Histrico sobre a fabricao dos pes e do surgimento das primeiras padarias ........18

3. Referencial terico ............................................................................................................20

3.1 Descrio bsica dos setores de uma panificadora - caracterizao do estabelecimento .20

3.2 Descrio bsica da fabricao de pes, seguindo o modelo das panificadoras

atendidas .................................................................................................................................23

3.3 Contaminao alimentar ...................................................................................................29

3.3.1 Introduo aos microrganismos .....................................................................................29

3.3.2 As doenas transmitidas por alimentos (DTA) ..............................................................31

3.3.3 A inibio microbiana em produtos de panificao ......................................................32

3.3.4 A relao entre a contaminao e a produo de alimentos seguros .............................32

3.3.5 A relao entre a higiene e as contaminaes na indstria de alimentos ......................39

3.4 A qualidade na indstria da panificao ...........................................................................45

3.4.1 A evoluo da qualidade ...............................................................................................45

3.4.1.1 Taylor .........................................................................................................................46

3.4.1.2 Fayol ...........................................................................................................................47

3.4.1.3 Ford .............................................................................................................................48

3.4.1.4 Deming .......................................................................................................................50

3.4.1.5 Juran ...........................................................................................................................51

3.4.1.6 Qualidade total ............................................................................................................51

3.4.1.7 Toyota .........................................................................................................................52

3.4.1.8 Fim do sculo XX/Atualidade ....................................................................................53

3.5 A ferramenta boas prticas de fabricao propriamente dita ...........................................54

3.6 A relao entre a lista de 14 pontos de Deming e a ferramenta BPF ...............................62

3.7 Outras ferramentas de qualidade utilizadas na indstria de alimentos .............................65

3.8 As ferramentas de qualidade possveis de serem utilizadas nas panificadoras

estudadas .................................................................................................................................81

3.9 A relao entre a administrao e higiene ........................................................................82

3.10 As boas prticas de fabricao e sua relao com a produtividade na indstria de

panificao ..............................................................................................................................83

3.11 O treinamento de manipuladores como aliado na garantia da qualidade .......................88

4. Procedimentos metodolgicos da pesquisa .....................................................................91

4.1 Introduo .........................................................................................................................91

4.2 Estudos de caso .................................................................................................................91

4.3 Estrutura dos estudos de caso ...........................................................................................92

4.3.1 O Programa do Senai modelo utilizado nos trabalhos de campo ................................92

4.3.2 Levantamento de dados .................................................................................................95

4.3.3 Descrio detalhada das visitas ......................................................................................97

5. Apresentao e anlise dos resultados ..........................................................................104

5.1 Introduo .......................................................................................................................104

5.2 Anlise e interpretao dos dados ..................................................................................104

5.3 Resultados e discusses ...................................................................................................153

6. Concluses .......................................................................................................................158

7. Recomendaes para futuros trabalhos .......................................................................159

Referncias bibliogrficas ..................................................................................................161

Apndices..............................................................................................................................167

Lista de figuras

Figura 01 Leiaute bsico de produo de pes ....................................................................22 Figura 02 Adaptao da figura do Senai: Etapas de implementao do programa de BPF .57 Figura 03 Adaptao de figura do Ciclo do PDCA de controle de processos......................80

Lista de fotografias

Fotografia 01 Equipamento balana digital ......................................................................24 Fotografia 02 Equipamento masseira ...............................................................................25 Fotografia 03 Equipamento cilindro .................................................................................25 Fotografia 04 Equipamento divisora ................................................................................26 Fotografia 05 Equipamento modeladora ..........................................................................26 Fotografia 06 Equipamento estufa de fermentao ..........................................................27 Fotografia 07 Equipamento forno ....................................................................................28

Lista de grficos

Grfico 01 Evoluo da Implantao das BPFs no critrio edificaes e instalaes .......151 Grfico 02 Evoluo da Implantao das BPFs no critrio equipamentos, mveis e utenslios................................................................................................................................151 Grfico 03 Evoluo da Implantao das BPFs no critrio colaboradores e hbitos higinicos...............................................................................................................................152 Grfico 04 Evoluo da Implantao das BPFs no critrio fluxo de produo e matria prima......................................................................................................................................152 Grfico 05 Evoluo Geral da implantao das BPFs .......................................................154

Lista de tabelas

Tabela 01 Resultados do levantamento efetuado antes e aps as atividades de campo .....157

Lista de siglas

ABIP Associao Brasileira das Indstrias de Panificao e Confeitaria ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria APPCC/ HACCP Anlise de Perigos e Pontos Crticos de Controle / Harzard Analysis and Critical Control Points a.C. Antes de Cristo BPF/GMP Boas Prticas de Fabricao / Good Manufacturing Practices CCQ Crculos de Controle da Qualidade CDC Center for Disease Control and Prevention CEL Centro de Excelncia em Laticnios CEP Controle Estatstico do Processo CNPJ Cadastro Nacional da Pessoa Jurdica DTA/ETA - Doena Transmitida por Alimentos / Enfermidade Transmitida por Alimentos FDA Food and Drug Administration FMEA Failure Mode and Effect Analysis ISO International Organization for Standartization JIT Just in Time MBPF Manual de Boas Prticas de Fabricao MS Ministrio da Sade PCC Ponto Crtico de Controle PDCA Ciclo de Deming, Plan, Do, Check e Action POP/SSOP Procedimento Operacional Padronizado/ Sanitation Standard Operation Procedures PROPAN - Programa de apoio panificao ppm partes por milho QFD Quality Function Deployment

SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas SENAC Servio Nacional de Aprendizagem Comercial SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial TQC Total Quality control

1. Consideraes iniciais ao estudo realizado 1.1 Contextualizao do tema e formulao do problema

O ramo de panificao um dos setores mais antigos da histria da alimentao e

o po, em si mesmo, segundo Flandrin e Montanari (1998),

o smbolo da civilizao, da distino entre o homem e o animal. (...) o sinal que distingue uma sociedade que no repousa sobre os recursos naturais, mas que capaz de fabricar, ela prpria, seus recursos, de criar - com a agricultura e a criao de animais - suas prprias plantas e seus prprios animais.

Evoluram as civilizaes, aperfeioaram-se os mtodos de produo, alteraram-se

os costumes alimentares, mas o po continua sendo um dos principais alimentos dos povos. E

na atualidade, agregaram-se os recursos tecnolgicos, ensejando a fabricao em massa, de

modo que os mtodos produtivos e de vendas trouxeram para este setor tambm o fenmeno

da concorrncia, mormente nas grandes cidades, num mercado cada vez mais competitivo.

Este fenmeno da concorrncia origina-se da conjugao de diferentes variveis, tais como:

- Aumento das exigncias dos consumidores e mudana de seu perfil, este influenciado pelo

tipo de vida, com mais trabalho e menos tempo;

- Aumento do nmero de estabelecimentos panificadores (dentre estes tambm os

clandestinos);

- Produo e/ou venda de pes em supermercados;

- Diferentes tcnicas de administrao dos estabelecimentos.

A preocupao em produzir alimentos seguros e durveis, utilizar corretamente as

matrias-primas e treinar os funcionrios, dentre outros quesitos, tem sido cada vez mais

evidente, pois os fabricantes vem-se tangidos pelas questes atinentes perda na produo e

reduo de produtividade em sua indstria. E, por via de conseqncia, a preocupao com

a lucratividade (GAVA, 2002).

Na realidade, a qualidade dos produtos alimentcios uma questo crucial e, as

empresas que no querem apenas manter-se estagnadas no mercado - qui com crescimento

meramente vegetativo - mas sim sobressarem s demais, devem adotar as ferramentas da

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qualidade, como meio seguro para reduzir custos, diminuir perdas de produo e evitar a

rotatividade de funcionrios. Dessa forma, podero conquistar notabilidade e destaque no

mercado.

No contexto antes delineado, entende-se por perdas na produo, segundo

Michael (2001), todo e qualquer produto danificado, que no atende s especificaes, que

no passvel de re-trabalho ou no pode ser vendido como produto de valor comercial.

Perdas, para Shingo (1989), so aquelas atividades que no contribuem, ou no adicionam

valor ao produto ou prpria atividade, como interrupes e esperas, ou acmulos entre

etapas do processo. E isto sem falar no reprocessamento e sua seqela de efeitos negativos. J

quanto produtividade, Davis et al (2001) a define como:

A eficincia a qual as entradas so transformadas em produtos finais.

Em outras palavras, a produtividade da empresa medir-se- pelo quo bem se

converte as entradas em sadas de produtos.

Dentre as diversas perdas possveis em um estabelecimento produtor de alimentos

tem-se, segundo Lara e Lopes (2004; 2006):

1) Possibilidades de provocar surtos, epidemias e at mortes de pessoas que possam

ser intoxicadas com alimentos contaminados;

2) Desperdcios de matrias-primas;

3) Desperdcios de produto acabado;

4) Perdas por retrabalho;

5) Reclamao de clientes, com conseqente perda de clientela;

6) Perda da reputao do estabelecimento comercial;

7) Perda do emprego de funcionrios responsveis pela manipulao dos alimentos,

caso sejam comprovadamente responsabilizados pela contaminao dos mesmos;

8) Havendo fiscalizao por parte da vigilncia sanitria, o estabelecimento poder

sofrer penalizaes, como: pagar tratamento mdico s vitimas da contaminao;

ser duramente multado por negligncia; ou, ainda, ser obrigado a indenizar as

vtimas da contaminao;

9) Interdio do estabelecimento.

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H diversas ferramentas para obter a qualidade, como a anlise de perigos e

pontos crticos de controle, 5S, controle estatstico do processo, dentre outras, aplicadas

indstria em geral e alimentcia, com o objetivo de reduzir as perdas e, consequentemente,

aumentar a produtividade. Dentre estas, as Boas Prticas de Fabricao (BPFs) constituem

uma das ferramentas mais eficientes e sua aplicao, no Brasil, foi normatizada pela resoluo

da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA), ano 2004, nmero 216, assentada em

trs pilares: elaborao do Manual de Boas Prticas de Fabricao (MBPF) e dos

Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs) e a aplicao do treinamento dos

manipuladores de alimentos (SENAI, 2001; 2002; SENAC, 2001).

Hoje, indiscutvel a relevncia das BPFs em indstrias alimentcias, pelo fato de

ser considerada a base das ferramentas de qualidade. Ou seja, altamente recomendvel que

sua implantao anteceda a qualquer outra. Assim se afirma porque, ao implant-la e capacitar

os funcionrios, so estabelecidos procedimentos que garantam as adequadas condies

higinico-sanitrias do alimento preparado. Seguem-se, naturalmente, os efeitos benficos da

qualidade e a reduo de perdas.

Deste modo, a razo e o estmulo desta pesquisa demonstrar que as boas prticas

e o treinamento dos manipuladores de alimentos - introduzidos em panificadoras da regio

metropolitana do Recife - auxiliaram a alcanar as conformidades exigidas pela legislao.

Possibilitaram, tambm, realizar comparaes entre as informaes levantadas nos check list

inicial e final. Com isso, ensejaram estabelecer procedimentos de rotina para melhoria

contnua da produtividade e, em particular, responder questo:

Como as boas prticas de fabricao e o treinamento dos manipuladores

podem contribuir para reduzir as perdas na produo na indstria de panificao?

1.2 Justificativa

Nos ltimos anos, a incorporao de tecnologias no ramo de panificao brasileiro

conferiu grande e proveitosa heterogeneidade aos estabelecimentos. Enquanto uns utilizam a

mais moderna tecnologia, outros continuam produzindo de modo artesanal e o que pior -

sem as mnimas condies higinico-sanitrias (BRAMORSKI et al, 2004).

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A intoxicao alimentar um fenmeno nocivo presente em todos os locais em

que se fabricam alimentos, e quanto maior a quantidade, maior o risco de contaminao. Isto

porque, quanto maior a produo, maior ser o nmero de manipuladores e o tempo de

exposio dos alimentos. Portanto, maiores as chances de haver o desenvolvimento dos

microrganismos.

Quanto a critrios sanitrios, a higiene rigorosa das mos dos manipuladores

vital por ser considerado o principal veculo de transferncia de agentes infecciosos. A

propsito, 71% dos manipuladores de um laticnio, localizado na regio de Londrina,

possuam a bactria Escherichia coli, microrganismo indicador tpico de falta de higiene aps

o uso dos sanitrios, pois, o intestino de animais de sangue quente, dentre eles o homem, seu

habitat (KARAM et al, 1998).

Bramorski et al (2004) relatam que 86% das panificadoras localizadas em

Joinville, Santa Catarina, apresentaram caractersticas insatisfatrias quanto s condies

fsicas e higinico-sanitrias. Ademais, a avaliao do perfil dos funcionrios revelou 77% de

desqualificao para o ramo e 69% dos estabelecimentos apresentaram conceitos

insatisfatrios quanto ao recebimento e armazenamento da matria-prima. Neste contexto, as

condies higinico-sanitrias das confeitarias no so diferentes, apresentando 78,5% de

inadequao.

Oliveira et al (2003) citam o exemplo de uma comemorao, ao dias das crianas,

realizado em Recife, da qual participaram 665 pessoas, sendo que deste total, 202 foram

hospitalizadas em decorrncia de ingesto de alimentos previamente preparados, cujas

anlises microbiolgicas revelaram a presena de bactrias do tipo Staphylococcus aureus, em

80% das amostras, 5% de Clostridium perfringes e 65% para coliformes fecais. De posse das

informaes, a autora afirma que fica evidente que as causas provveis da contaminao

foram: manipulao inadequada, preparo dos alimentos com demasiada antecedncia e

manuteno dos alimentos temperatura ambiente.

Estima-se que, anualmente, ocorra 1,5 bilho de episdios de gastroenterocolite

aguda em todo o mundo, dos quais 70% so causados pela ingesto de alimentos

contaminados. O resultado final trgico, uma vez que a diarria causa de bito de 3

milhes de crianas menores de 5 anos, a cada ano, sendo que estes episdios ocorrem

principalmente em pases subdesenvolvidos - embora a gastroenterocolite aguda no seja

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exclusiva de pases pobres. Nos Estados Unidos da Amrica, h cerca de 33 milhes de

casos/ano de toxiinfeces alimentares e no Reino Unido, 35.000 internaes/ano para

tratamento desta doena. Pode-se ressaltar que sua incidncia provavelmente subestimada

pelo fato de apenas 10% dos pacientes adultos com diarria procurarem os servios de

atendimento mdico e destes, somente 20% so submetidos a exames comprobatrios da

doena (BALBANI e BUTUGAN, 2006).

O risco de contaminao com os nveis de inadequao acima citados constitui

permanente preocupao, pois pode causar danos importantes aos consumidores, bem como

imagem da empresa fabricante. De acordo com o Centro de Controle e Preveno (CDC),

ocorrem, nos Estados Unidos, 76 milhes de intoxicaes de origem alimentar, 300.000

hospitalizaes e cerca de 5.000 mortes a cada ano (CDC, 2005).

Segundo Lara e Lopes (2006), os dados das pesquisas na rea de alimentos,

principalmente na rea de higiene, evidenciam o desconhecimento ou negligncia dos

responsveis pela adoo de corretas prticas de higiene. Isto refora a importncia de

trabalhos de conscientizao dos proprietrios e funcionrios, a fim de contribuir para a

melhor qualidade do alimento e reduzir os riscos sade dos consumidores. Portanto, a autora

refora que o estabelecimento que adotar as tcnicas, cumprir os cuidados na implantao das

BPFs e treinar seus funcionrios, conseguir oferecer mercadorias de qualidade alimentos

seguros.

Assim, mantendo a linha de raciocnio de Lara e Lopes, para contornar as

estatsticas perversas, necessrio implantar ferramentas de qualidade nas indstrias de

alimentos para evitar tanto as perdas produtivas, como as intoxicaes alimentares, as duas

faces de um mesmo fenmeno, com prejuzo econmico e de sade pblica; pois a nica

maneira segura de prevenir os riscos de contaminao dos alimentos saber identificar suas

origens e conhecer os meios para evit-las. Para tanto, as panificadoras devem, no mnimo,

seguir a Resoluo n 216, de 15/09/2004, que contm subsdios aos estabelecimentos

produtores de alimentos, para que consigam oferecer produtos seguros e de qualidade a seus

clientes. E o caminho para alcanar esse objetivo implantar as boas prticas de fabricao e

capacitar as equipes de produo (CHESWORTH, 1999; LARA e LOPES, 2006).

Segundo Panza et al (2006), quando corretamente aplicadas, as tcnicas de

manipulao dos alimentos e de higiene corporal, ambiental e de alimentos, consegue-se

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reverter o quadro dramtico das contaminaes alimentares. A autora conclui que, aps a

aplicao de boas prticas de fabricao em um restaurante no centro universitrio de

Maring, foram muitas as mudanas aps o treinamento dos funcionrios, tendo citado dados

como um aumento de conformidades na ordem de:

- 18% em relao a aspectos gerais de higiene pessoal;

- 70% no que diz respeito lavagem de mos;

- 49% em relao ao comportamento dos funcionrios durante a manipulao e

- 37% no item uso e cuidados com os uniformes.

Portanto, com base no que se acaba de expor, esta dissertao teve como objetivo

descrever a contribuio das boas prticas de fabricao e do treinamento dos manipuladores

de alimentos, para reduzir as perdas em panificadoras na regio metropolitana do Recife,

sabendo-se que contribuem, inclusive, para melhorar os resultados dos estabelecimentos. Mas,

principalmente, para reduzir os malefcios das intoxicaes.

1.3 Objetivos da pesquisa 1.3.1 Objetivo geral

Descrever a contribuio das boas prticas de fabricao, aliadas ao treinamento

dos manipuladores de alimentos, no aumento da produtividade e na reduo das perdas em

panificadoras na regio metropolitana do Recife.

1.3.2 Objetivos especficos OE1: Descrever o processo de implantao das boas prticas de fabricao, em 25

panificadoras tendo, cada estabelecimento, recebido no mnimo dez visitas.

OE2: Aplicar o questionrio inicial (conhecer a situao das panificadoras), capacitar os

colaboradores, descrever as dificuldades encontradas na implantao das boas prticas de

fabricao e aplicar o questionrio final (conhecer e descrever a situao das panificadoras

aps a implantao das boas prticas);

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OE3: Discutir os resultados dessas duas verificaes (questionrios) estabelecendo

comparao entre as duas situaes: antes e o aps o treinamento dos manipuladores, com a

implantao das BPFs;

OE4: Descrever a primeira avaliao, feita de forma subjetiva, no momento do primeiro

encontro na panificadora.

2. Histrico da fabricao de pes e do surgimento das primeiras padarias

Como se sabe, o po um alimento que resulta do cozimento de uma massa feita

com farinha de certos cereais, principalmente trigo, com adio de gua e sal e sua produo

remonta aos mais antigos registros da civilizao do Homem.

Segundo o site da internet Terra-notcias (2006), uma equipe de arquelogos

norte-americanos descobriu restos e vestgios do que deve ter sido a padaria mais antiga do

mundo, usada pelos egpcios para produzir o po do sol. A equipe encontrou armrios onde

se armazenaram gros, bandejas e ferramentas usadas para fermentar a massa. Especialistas

afirmam que os egpcios foram bem sucedidos na fabricao de pes, na poca de 2686 a

2181 a.C.

Na verdade, o uso do po para alimentao humana antiqssimo. Pelo que se

tem registro, sua produo remonta a milhares de anos a.C. Inicialmente, eram assados sobre

pedras quentes ou debaixo de cinzas, datando, ao que consta, do VII milnio a.C. a utilizao

de fornos de barro para seu cozimento. Refere-se que foram os egpcios os primeiros a usar os

fornos, sendo-lhes atribuda tambm descoberta do acrscimo de lquido fermentado

massa, para torn-la leve e macia (ABIP, 2006).

A Associao Brasileira das Indstrias de Panificao e Confeitaria (ABIP)

(2006) tambm informa que, no Egito, o po era o alimento bsico. E, segundo Herdoto

cognominado o Pai da Histria o po era amassado com os ps e, normalmente, feito de

cevada ou outras espcies de trigo de qualidade inferior. Os pes preparados com trigo de

qualidade superior eram destinados apenas aos mais abastados. Com o po tambm se

pagavam os salrios: um dia de trabalho valia trs pes e dois cntaros de cerveja. Os judeus

tambm fabricavam seus pes na mesma poca, porm no utilizavam fermentos (pes

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zimos, do grego azymos = sem fermento) por acreditarem que a fermentao era uma forma

de putrefao e impureza. Na Europa, o po chegou atravs dos gregos. Em Roma era feito

em casa, tendo passado, mais tarde, a ser fabricado em padarias, dando origem ao ofcio de

padeiro.

Com a queda do Imprio Romano e da organizao por ele imposta, as padarias

europias desapareceram, retornando o fabrico domstico do po na maior parte da Europa. O

senhor feudal permitia apenas o uso do moinho e dos fornos. Voltou-se a consumir, pela

comodidade do fabrico, o po zimo, sem fermento e achatado, que acompanhava outros

alimentos como carnes e as sopas. Nessa poca, apenas os castelos e conventos possuam

padarias. Os mtodos de fabrico eram incipientes e, apesar das limitaes na produo, as

corporaes de padeiros j tinham alguma fora. No sculo XVII, com a introduo dos

modernos processos de panificao, a Frana tornou-se o centro de fabricao de pes de

luxo. Depois, a primazia de fabricao passou para Viena e ustria, onde se desenvolveram

tambm os estabelecimentos de confeitaria (ABIP, 2006).

No entanto, a grande mudana na produo dos pes veio com a revoluo

industrial, pela utilizao de mquinas, alterando-se progressivamente muitos processos

produtivos (LARA e LOPES, 2006).

A introduo de novos processos de moagem da farinha contribuiu em muito para

as melhorias na indstria da panificao. A comear pela triturao (moagem) dos gros de

trigo, em moinhos de pedra manuais, a que se seguiram aqueles tracionados por animais ou

movidos pela gua e, finalmente, pelos moinhos de vento. Apenas em 1784, apareceram os

moinhos movidos a vapor e em 1881, com a inveno dos cilindros, a triturao dos gros de

trigo e, conseqentemente, a produo de pes, foi aprimorada consideravelmente (ABIP,

2006).

No Brasil - segundo o antroplogo e socilogo Gilberto Freire - o po chegou no

sculo XIX. Antes dele, consumia-se, em tempos coloniais, o biju de tapioca. Registros

encontrados relatam que, em Pernambuco, em 1816, tambm no era comum o uso do po,

apesar da cultura do trigo principalmente em Campina Grande, Paraba. Outras informaes

de viajantes estrangeiros em 1839 do conta do completo desconhecimento do po pelos

nordestinos moradores do serto, a esta poca (ABIP, 2006).

20

No Brasil, a atividade de panificao difundiu-se com os imigrantes italianos,

cujos pioneiros dessa atividade situavam-se em Minas Gerais. Nos grandes centros

proliferaram as padarias tpicas, sendo que, em alguns bairros da cidade de So Paulo, como o

Bexiga, existem ainda hoje, padarias que fabricam pes italianos de forma tradicional (ABIP,

2006).

bem de ver que a histria do po se confunde com a evoluo do homem, pois

h sculos e sculos se consomem esse alimento, passando de geraes para geraes, os

diversos modos de produzi-lo em diferentes culturas. Mais recentemente, as inovaes

tecnolgicas do setor fizeram com que aumentasse espantosamente as panificadoras em

nmero e em desempenho de produo. Apesar disto, estima-se que 90% das panificadoras

trabalhem de forma artesanal e que a medida de consumo de po francs no Brasil, por ano,

por pessoa, de 27 kg (LARA e LOPES, 2006).

3. Referencial terico 3.1 Descrio bsica dos setores de uma panificadora caracterizao do

estabelecimento

Quanto ao tipo de estabelecimento empresarial, as panificadoras podem ser

simples produtoras de pes, com apenas o setor de produo, depsito e balces de venda ou

do tipo Boutique, de Servios e Convenincia. As do tipo Boutique, situam-se em regies de

alto poder aquisitivo, oferecendo produtos prprios e importados. As de Servio localizam-se

em regies centrais ou em ruas de grande circulao de pessoas, oferecendo produtos

alimentcios base de pes e seus derivados e atendimento de bar e lanchonete. J as de

Servios e de Convenincia, alm de produtos prprios de padaria e confeitaria, incluem a

oferta de bens importados, congelados, bolos, bem como servios de auto atendimento

(LARA e LOPES, 2006).

No que concerne ao estabelecimento em si de uma panificadora, pode-se dizer que

seus setores de produo so organizados e distribudos conforme caractersticas prprias,

mas sempre em conformidade com a Resoluo vigente n 216, de 15/09/2004, sobre leiaute,

para evitar contaminaes.

21

Em se tratando da diviso fsica, uma panificadora (Figura 01), tem, basicamente,

os seguintes setores (DICAS DA PADARIA, 2006):

- Setor de Recebimento

Por ser inapropriado o ingresso ou permanncia, no setor de vendas de uma

panificadora, de outros produtos que no sejam aqueles prontos para o fornecimento,

importante que o estabelecimento tenha uma dependncia especificada como setor de

recebimento de matrias-primas ou outros insumos. Por ele, deve efetuar-se o recebimento de

todo e qualquer produto, desde a matria-prima, at aqueles prontos para os consumidores.

Este procedimento evita desconforto para os clientes, facilita a conferncia dos materiais no

ato do recebimento e evita as contaminaes cruzadas.

- Setor de Armazenamento

Este setor recebe, para depsito, o material que foi recebido e classificado no setor

anterior, a fim de que sejam armazenados, com um mnino de organizao, separados por

grupos de produtos e classificados por tipo ou natureza: produtos secos, refrigerados e

congelados. Vale lembrar, a este passo, os antigos armazns que vendiam os mais variados

tipos de produtos e eram designados como "Armazm de Secos e Molhados".

- Setor de Produo

O setor de produo composto por trs reas especficas: panificao, confeitaria

e pastelaria.

Na rea de panificao elaboram-se os pes, de diversos tipos, a partir dos

seguintes equipamentos bsicos: masseira, divisora, cilindro, modeladora, estufas (armrios

de fermentao), batedeiras, fornos, mesas e utenslios em geral.

A rea de confeitaria destina-se ao preparo de bolos, tortas, doces, dentre outros.

A rea de pastelaria reservada ao fabrico de coxinhas, pastis, dentre outros.

22

- Setor de Exposio

o local onde so expostos para venda os produtos de fabricao prpria ou de

terceiros, tais como pes, a granel e embalados, assim como demais alimentos, perecveis ou

no.

Vide abaixo uma sugesto de leiaute para uma padaria, proposto no site Dicas da

padaria! (2006):

- Pequena, com rea prxima de 20m2 para produo; aproximada de 450 pes de

50g/ h.

- Mdia, com rea prxima de 35m2 para produo; aproximada de 750 pes de

50g/ h.

- Grande, com rea prxima de 60m2 com produo de pes; aproximada de 1500

pes de 50g/ h.

Figura 01 Leiaute bsico de produo de pes Fonte: O site de dicas da Padaria!. Leiaute bsico de produo. Disponvel em: http://www.padariaonline.com.br/html/pol/monte_sua_padaria/#Lay-out%20Bsico%20rea%20de%20Vendas. Acesso em: 07 de junho de 2006.

23

3.2 Descrio bsica da fabricao de pes, seguindo o modelo das panificadoras

atendidas

Segundo o regulamento tcnico para fixao de identidade e qualidade de po, a

Resoluo n. 90 de 2000 define:

O po o produto obtido pela coco, em condies tecnologicamente adequadas, de uma massa fermentada ou no, preparada com farinha de trigo e/ou outras farinhas que contenham naturalmente protenas formadoras de glten ou adicionadas das mesmas e gua, podendo conter outros ingredientes.

No caso de pes fermentados, a fermentao pode ser biolgica natural ou

biolgica industrial. A primeira obtida a partir de uma auto-seleo natural de cepas de

leveduras (tipo de fungo) e de lactobacilos (tipo de bactria benfica) presentes na farinha de

trigo e a segunda, a partir de uma seleo de leveduras Saccharomyces cerevisiae (tipo de

fungo), obtida atravs de processo industrial (RESOLUO n. 90, 2000).

O produto classificado conforme os ingredientes utilizados, o processo de

fabricao e/ou atravs do formato que possua. Segundo a Resoluo n. 90, os tipos so: po

zimo, po francs, po de forma, po integral, panetone, grissini, torrada, farinha de po ou

de rosca.

O mercado de panificao predominantemente regional, devido alta

perecibilidade de seus produtos, mas no que concerne a equipamentos, tem influncia do

mundo globalizado e altamente competitivo, com demanda por itens tecnicamente evoludos,

de maior qualidade e menor preo (ESTELLER, 2004).

Por conseqncia, as panificadoras de maior porte buscam mquinas e sistemas

produtivos que permitam, ao mesmo tempo, automatizar os processos produtivos,

uniformizarem a produo, aumentar a produtividade e qualificar a mo-de-obra. H oferta de

grande variedade de equipamentos para as diferentes etapas do processamento, tais como

masseiras, cilindros, modeladoras, dentre outros (ESTELLER, 2004; LARA e LOPES, 2006).

Segundo Esteller (2004), Lara e Lopes (2006) e o site da internet Como Fazer Po

(2006), o processo bsico de elaborao de pes fermentados nas panificadoras estudadas, o

seguinte:

24

- Pesagem dos ingredientes:

Etapa realizada em balanas (Fotografia 01) aferidas e tem grande importncia,

pois a correta pesagem dos ingredientes garante adequada relao quantitativa, o que

determina a qualidade do po. Todavia, alguns ingredientes no necessitam de pesagem e sim

de dosagem, como no caso da gua, medida por meio de um dosador.

Fotografia 01 Equipamento balana digital Fonte: Segurana Alimentar em Padarias, 2006. - Masseira - mistura dos ingredientes:

Equipamento utilizado para dispersar e homogeneizar a gua e os demais

ingredientes (Fotografia 02), pesados na etapa anterior, agregados farinha, at o

desenvolvimento da massa, mediante seu movimento contnuo pelo qual ocorre a mistura dos

ingredientes e a incorporao de ar. A incorporao de ar muito importante, pois a massa

tem um decrscimo de sua densidade e o ar permite a formao dos caminhos por onde o

gs carbnico perpassa os alvolos da massa elaborada. A mistura deve ocorrer em

temperaturas entre 26-28C e o controle da temperatura so realizados atravs da adio de

gua na mistura.

As masseiras so encontradas em diversos tamanhos e modelos (0,5 kg a 500 kg),

com velocidade de batimento da massa: lento ou ultra-rpido. H tambm masseiras

horizontais com carga e descarga automtica e masseiras com cuba fixa e cuba basculante.

25

Fotografia 02 Equipamento - masseira Fonte: Segurana Alimentar em Padarias, 2006. - Cilindros:

o equipamento utilizado para abrir a massa preparada na etapa anterior,

tornando-a homognea (Fotografia 03). Nesta etapa o operador manualmente abre a massa e

verifica se o glten est no ponto. Se estiver, a massa encaminhada para a divisora.

Fotografia 03 Equipamento - cilindro Fonte: Segurana Alimentar em Padarias, 2006. - Divisora:

Aps devidamente misturados os ingredientes e cilindrados, a massa dividida

em pedaos apropriados ao po que se deseja fabricar. Esta diviso pode ser feita manual ou

mecanicamente (Fotografia 04), sendo que as divisoras funcionam com base em volume ou

peso.

Esta etapa deve ser precisa e propiciar uniformidade ao processo, uma vez que o

excesso representa perda econmica e a falta de peso pode levar violao da lei quanto ao

peso do po.

26

Depois de dividida a massa, esta deve ser moldada (Fotografia 05), visando

melhorar a textura e a estrutura do po e dar a forma desejada ao produto. Esta etapa pode ser

realizada manualmente ou com modeladoras.

Fotografia 04 Equipamento - divisora Fonte: Segurana Alimentar em Padarias, 2006.

Fotografia 05 Equipamento - modeladora Fonte: Segurana Alimentar em Padarias, 2006. - Descanso da massa-estufa:

Esta etapa reservada fermentao, quando a massa, j no formato final do po,

levada a um ambiente com temperaturas entre 30-35C e umidade relativa de 75-80%, em

armrios (Fotografia 06) adequados para este fim. O tempo aproximado de descanso entre

55-65 minutos.

27

O fenmeno da fermentao fundamental no fabrico de pes: a capacidade que

a massa tem de aumentar seu volume, por ao dos microrganismos da levedura (o fermento)

que atacam os acares presentes na massa e os transformam em dixido de carbono. E a ao

destes gases, durante o descanso da massa, faz com que esta dobre de volume, provocando o

crescimento do po.

Cabe ressaltar que as condies de temperatura e umidade devem ser bem

monitoradas, porque temperaturas inferiores s recomendadas podem retardar o processo

fermentativo, enquanto que as temperaturas mais altas podem reduzir a capacidade de

reteno dos gases na massa. O controle da umidade tambm fundamental, pois baixas

umidades causam a secagem da massa com conseqente formao de uma crosta indesejada

na superfcie do po. Ademais, nveis elevados de umidade deixam massa pegajosa e de

difcil manuseio.

Fotografia 06 Equipamento - estufa de fermentao Fonte: Segurana Alimentar em Padarias, 2006. - Forneamento:

Depois de devidamente fermentados, os pes so encaminhados ao forno

(Fotografia 07) onde permanecem em torno de 35 a 50 minutos a uma temperatura entre 230 a

300C.

Nesta fase de forneamento, ocorre a transio da massa para o po no seu estado

final. Forma-se a casca e se desenvolvem a cor, cheiro e sabor caractersticos do produto.

Estas transformaes ocorrem por diferentes alteraes fisico-qumicas da massa.

28

Fotografia 07 Equipamento - forno Fonte: Segurana Alimentar em Padarias, 2006. - Resfriamento:

Determinados tipos de pes, que so embalados e/ou fatiados depois de assados,

necessitam da etapa de resfriamento, a fim de que, em temperatura mais baixa - prxima do

ambiente - sejam evitadas deformaes no fatiamento. Evita-se, tambm, que o po seja

embalado ainda quente, propiciando aumento na proliferao de fungos, em funo do

aumento de umidade dentro da embalagem.

Para isto, os pes so retirados do forno e colocados em armrios com prateleiras

e deixados ali at que atinjam a temperatura adequada.

- Embalagem:

A embalagem dos pes pode ser realizada manual ou mecanicamente, atravs de

um equipamento especial para esta atividade. Nas panificadoras atendidas, durante a

realizao deste trabalho, a maior parte realiza a embalagem manual.

Sua finalidade proteger e preservar o produto elaborado e, tambm, atuar como

propaganda para o estabelecimento, a partir da marca da empresa impressa no pacote. Os

materiais mais utilizados para empacotar pes so os celofanes cobertos com nitro-celulose ou

cloreto de polivinilideno e o plstico de polipropileno.

29

- Armazenamento:

Etapa importantssima em se tratando de pes, pelo fato destes j sofrerem

transformaes ao sarem do forno, as quais se intensificam durante a etapa de

armazenamento.

Na medida em que o po envelhece, seu miolo e estrutura endurecem, devido ao

contato com o ar ambiente. Observam-se tambm a perda de crocncia e modificao de

aroma. Por isto, a produo deve ser estimada e calculada conforme a mdia de consumo,

para evitar o armazenamento de pes de um dia para o outro.

As panificadoras devem seguir as orientaes das boas prticas de fabricao em

termos de estocagem, a fim de proteger os produtos de insetos e pragas urbanas; para tal,

devem armazenar os pes em armrios com portas de vai-e-vem e, em se tratando de balces,

mant-los sempre tampados.

3.3 Contaminao Alimentar

3.3.1. Introduo aos microrganismos

Microrganismos so seres vivos, invisveis a olho nu, que participam de quase

todos os aspectos da existncia humana com efeitos benficos ou nocivos. Os cientistas

deduzem que os microrganismos originaram-se aproximadamente h 4 bilhes de anos, a

partir de material orgnico complexo em guas ocenicas, ou possivelmente de nuvens que

circundavam a Terra em formao. Estudos cientficos atribuem tambm a estes seres a

origem de todas as outras formas de vida no nosso planeta (PELCZAR et al, 1996).

Entretanto, segundo Franco e Landgraf (2005):

impossvel determinar exatamente quando, na histria da humanidade, o homem tomou conhecimento da existncia de microrganismos e da sua importncia para os alimentos. Aps um perodo no qual o ser humano tinha a sua alimentao baseada apenas nos abundantes recursos da natureza, o homem passou a plantar, criar animais e produzir o seu prprio alimento. Com o surgimento de alimentos preparados, comearam a ocorrer os problemas relacionados com doenas transmitidas pelos alimentos e com a rpida deteriorao devido, principalmente, conservao inadequada dos alimentos.

30

Segundo Siqueira (1995), a microbiologia um ramo da biologia que estuda os

microrganismos e suas atividades, com aplicao em diversas outras reas do conhecimento,

como: medicina, meio ambiente, os solos e o ar. A microbiologia de alimentos se desenvolveu

pela necessidade vital de se conhecer os microrganismos e os efeitos de sua interao no

metabolismo humano.

A microbiologia, segundo Pelczar et al (1996), o estudo de organismos

microscpicos, sabendo-se que tal denominao deriva de trs palavras gregas: mikros

(pequeno), bios (vida) e logos (cincia). Assim, a microbiologia significa o estudo da vida

microscpica.

Os estudos e o entendimento do que so os microrganismos evoluram, como

tantos outros campos da cincia, sendo o francs Louis Pasteur o primeiro cientista a

compreender o papel dos microrganismos nos alimentos. Em 1837, ele demonstrou que o

azedamento do leite era provocado por microrganismos e, em 1860, empregou o calor para

destruir microrganismos indesejveis em alimentos (ROITMAM et al, 1987; FRANCO e

LANDGRAF, 2005).

Os microrganismos classificam-se em grupos: Reino Monera, Reino Fungi e

Reino Protista. Nessa classificao, aqueles que tm interesse para a microbiologia de

alimentos so os reinos Fungi (fungos e leveduras) e Monera (bactrias), por serem eles

responsveis por processos de deteriorao de alimentos, por participarem da elaborao de

alimentos, ou por serem responsveis por toxiinfeces de origem alimentar (SIQUEIRA,

1995).

Vale ressaltar que os microrganismos podem desempenhar papis muito

importantes nos alimentos, sendo possvel classific-los em trs grupos distintos, dependendo

da interao entre o microrganismo e o alimento: microrganismos deteriorantes,

microrganismos patognicos e os microrganismos benficos (PELCZAR et al, 1996).

Os microrganismos deteriorantes so aqueles que causam alterao qumica nos

alimentos e que tm a capacidade de causar mudana na cor, no odor, na textura e no aspecto

dos alimentos. Os microrganismos patognicos causam doenas, tanto no homem quanto nos

animais, representando, portanto, risco sade. J os do tipo benficos, so os que causam

31

alteraes benvolas nos alimentos, modificando suas caractersticas originais para

desenvolver novos alimentos (SENAI, 2002; LARA e LOPES, 2006).

Todavia, Franco e Landgraf (2005) escrevem que apesar de ser fcil estabelecer

categorias para classificar os microrganismos, bastante difcil definir qual categoria

pertence um determinado microrganismo devido ao fato de que um mesmo microrganismo

pode ter atividades diferentes em alimentos diferentes.

Portanto, a preservao de alimentos consiste, basicamente, em evitar sua

contaminao pelos microrganismos acima citados, antes, durante e aps as operaes de

processamento. Por conseguinte, graas ao desenvolvimento da microbiologia de alimentos,

os produtos alimentcios industrializados podem ser produzidos com maior garantia de

qualidade microbiolgica, evitando-se perdas por deterioraes e problemas de Sade

Pblica, antes to freqentes pela falta de controles sanitrios (SIQUEIRA, 1995).

3.3.2 As doenas transmitidas por alimentos (DTA)

Doenas transmitidas por alimentos so causadas a partir da ingesto de alimentos

contaminados; seja por microrganismos e/ou outros contaminantes. Existem muitos tipos de

microrganismos causadores de doenas e devido a este fato, existem muitos tipos de doenas

classificadas em infeces e intoxicaes. No caso das infeces, o homem adoece devido ao

fato de ingerir clulas viveis do microrganismo causador da doena e este crescer e se

multiplicar dentro do organismo. Quando ocorre a intoxicao, ingere-se a toxina que o

microrganismo deixou no alimento e est desencadear a doena e, neste caso, no h a

ingesto de clulas do microrganismo (PELCZAR et al, 1996; SENAI, 2000; FRANCO e

LANDGRAF, 2005; MOMESSO et al, 2005).

Segundo Benevides e Lovatti (2004), Enfermidade Transmitida por Alimentos

(ETA) ocorre quando duas ou mais pessoas apresentam sintomas semelhantes aps a ingesto

de um alimento comum. A mortalidade relacionada ETA varia em razo da quantidade de

alimento contaminado ingerido, do tipo de microrganismo contaminante e o estado de sade

do indivduo acometido pela doena.

Mais de 250 diferentes tipos de doenas alimentares so descritas na literatura,

segundo CDC (2006), sendo que em sua grande maioria so infeces causadas por diferentes

32

bactrias, vrus e parasitas. As doenas transmitidas por alimentos esto mudando ao longo

dos anos, sendo que antigamente doenas como a febre tifide, tuberculose e clera eram

comuns e, hoje em dia, devido aos diversos avanos na medicina e por conta das melhorias

em termos de segurana dos alimentos, estas doenas foram praticamente erradicadas.

Dentre alguns exemplos de microrganismos desencadeadores de doenas

alimentares tem-se: Salmonella spp, Staphylococcus aureus, Clostridium botulinum, Bacillus

cereus, Escherichia coli, Campylobacter jejuni, Listeria monocytogenes, Aspergillus flavus,

Fusarium, Penicillium, dentre outros.

3.3.3 A inibio microbiana em produtos de panificao

A indstria de alimentao busca incansavelmente solues para as alteraes

causadas nos alimentos pelos microrganismos.

Alm da adoo de um rgido controle de qualidade e programas de sanitizao e

limpeza durante a fabricao dos produtos, possveis atravs das ferramentas de boas prticas

de fabricao e anlise dos perigos e pontos crticos de controle, o uso de agentes

antimicrobianos tem sido muito empregado (EL-DASH et al, 1991).

Os preservativos qumicos so considerados agentes antimicrobianos. Estes

agentes devem apresentar as seguintes caractersticas: largo espectro antimicrobiano, no ser

txico ao homem, ser efetivo em baixas concentraes, no alterar as caractersticas prprias

do produto, alm de ser estvel durante a estocagem (EL-DASH et al, 1991; MARRIOT e

GRAVANI, 2006).

Existem diversos tipos de agentes antimicrobianos, dentre estes a ao, isto , o

mecanismo como estes produtos agem sobre os microrganismos, diferente ou usado para

inibir ou para matar os microrganismos, sendo que cada um tem uma forma de atuar. Como

exemplo de agentes, tem-se: os benzoatos, os propionatos e os sorbatos (EL-DASH et al,

1991; PELCZAR et al, 1996).

3.3.4 A relao entre a contaminao e a produo de alimentos seguros

Goodman (1992) questiona:

33

Quo seguro so os alimentos que comemos? E afirma:

Que os consumidores esto comeando a se questionar mais acerca das caractersticas dos alimentos, relativamente a contaminaes qumicas, bacterianas e outras possibilidades de contaminao alimentar.

As questes concernentes segurana dos alimentos tm aumentado de

importncia, na mesma proporo em que se desenvolvem novas tecnologias de processo na

industrializao de alimentos. Por isso, a produo de alimentos seguros constitui um desafio

atual, visando oferta de alimentos livres de agentes que possam por em risco a sade do

consumidor. O assunto alimento seguro tema recorrente que interessa a todo o sistema

alimentar, da produo ao consumo.

Desde os ataques terroristas nos Estados Unidos em 2001, os trabalhos para

prevenir tais atos ganharam uma amplitude maior, envolvendo inclusive a rea de alimentos,

em razo das possibilidades de alimentos serem utilizados como arma mortfera. O

conhecimento acerca desta ameaa na rea de processamento e preparo de alimentos torna-se

essencial para manter a segurana na cadeia de suprimento alimentar. Todos os envolvidos na

rea de higiene precisam ter conhecimento adequado sobre os tipos de contaminantes,

incluindo microrganismos, alergnicos, perigos fsicos, qumicos e pesticidas. A indstria de

alimentos vulnervel a estes tipos de perigos e a possibilidade de contaminao alimentar.

Portanto, de grande importncia para a proteo completa de toda a cadeia alimentar,

considerando-se, a, todos os riscos: contaminantes fsicos, qumicos e microbiolgicos

(MARRIOTT e GRAVANI, 2006).

Em relao oferta de alimentos, a vida moderna imps um ritmo acelerado no

cotidiano dos indivduos, sendo que, em termos de alimentao, ocorreram mudanas

significativas nos hbitos da populao. A introduo das refeies rpidas levou ao

crescimento de problemas relacionados contaminao alimentar, pois nem todos os

estabelecimentos produtores de alimentos implantam e seguem as boas prticas de fabricao.

34

Benevides e Lovatti (2004) relatam que o conceito de que o alimento pode ser seu

prprio remdio, ganhou um outro enfoque, ou seja, o alimento pode ser um medicamento,

mas tambm pode ocasionar surtos de enfermidades por ele transmitidas.

Portanto, em se tratando da produo de alimentos, seja em escala industrial ou

em termos de refeies coletivas, os objetivos do controle higinico-sanitrio so, segundo S

e Moretto (2004), os seguintes:

- Aumentar a vida de prateleira (prazo de validade) dos produtos;

- Diminuir o grau de contaminao proveniente de manipuladores, instalaes e

matrias-primas;

- Diminuir as contaminaes cruzadas;

- Reduzir as perdas por deteriorao;

- Minimizar os prejuzos econmicos;

- Padronizar e selecionar fornecedores;

- Reduzir os casos de contaminao alimentar.

A qualidade higinico-sanitria, como fator de segurana, tem sido amplamente

estudada e discutida, pois as doenas veiculadas por alimentos so um dos principais fatores

que contribuem para os ndices de mortalidade. Hoje, admite-se que as doenas por alimentos

contaminados so, provavelmente, o maior problema de sade no mundo contemporneo

(AKUTSU et al, 2005).

Pesquisadores calculam que, aproximadamente 100 milhes de indivduos, em

todos os pases industrializados, contraem doenas decorrentes de alimentos, atravs do

consumo de refeies e gua contaminadas (OLIVEIRA et al, 2003).

Segundo Oliveira et al (2003), a Organizao Mundial da Sade, em 1989, relata

que mais de 60% das doenas alimentares so provocadas por agentes microbiolgicos,

ressaltando que o manipulador o principal veculo de transmisso, durante o preparo dos

alimentos.

Segundo Riedel (2005) e Marriott e Gravani (2006), os manipuladores de

alimentos podem transmitir bactrias ou outros tipos de microrganismos aos alimentos,

causando doenas alimentares. Na realidade, os seres humanos so os maiores transmissores

de doenas veiculadas por alimentos. Suas mos, cabelos, suor, fossas nasais e secrees

35

possuem um grande nmero e variedade de tipos de microrganismos que, em contato com os

alimentos, podem multiplicar-se, desencadeando as doenas alimentares.

As toxiinfeces alimentares constituem um problema srio de sade pblica no

Brasil, sendo que dentre as empresas produtoras de alimentos, as de refeies coletivas

representam a maior fonte de surtos de doenas alimentares (CHESCA et al, 2003).

Para que aconteam doenas alimentares, necessrio que o alimento esteja

contaminado. Os alimentos comumente fornecem a quantidade e os tipos de nutrientes

necessrios, bem como esto com um pH (ndice de alcalinidade) que favorece a proliferao

microbiana. Durante o processamento dos alimentos, estes podem ser contaminados atravs

do ar, solo, das guas e dos prprios manipuladores que contm microrganismos. A destruio

destes microrganismos e de outros provenientes de diversos alimentos depende de fatores

ambientais, como a habilidade do microrganismo em utilizar alimentos frescos, de questes

relacionadas presena ou no de oxignio, temperatura; dentre outros fatores (MARRIOTT

e GRAVANI, 2006).

A contaminao alimentar pode ocorrer de vrias formas, (HOBBS e GILBERT,

1986):

- Do ambiente para o alimento;

- Dos manipuladores para o alimento;

- Das superfcies para o alimento;

- Dos alimentos crus para o pronto para consumo (contaminao cruzada).

Por contaminantes, a legislao Resoluo n. 216, de 15/09/2004, define como:

Substncias ou agentes de origem biolgica, qumica ou fsica, estranhos ao alimento, que sejam considerados nocivos sade humana ou que comprometam a sua integridade.

Os contaminantes so os perigos, e estes so assim definidos segundo Senai

(2002) e Oliveira (2006):

36

- Contaminao biolgica (perigo biolgico)

Este tipo de contaminao ocorre quando um microrganismo e/ou suas toxinas

esto presentes no alimento.

Franco e Landgraf (2005) descrevem que, em termos de contaminantes

microbiolgicos, estes vm do solo e da gua, das plantas, dos utenslios, do trato intestinal do

homem e dos animais, dos manipuladores de alimentos, da rao animal, da pele dos animais

e do ar e do p.

- Contaminao qumica (perigo qumico)

Quando substncias estranhas aos alimentos como inseticidas, metais pesados,

desinfetantes, sabes, dentre outros, entram em contato com o alimento.

- Contaminao fsica (perigo fsico)

Quando corpos estranhos aos alimentos como fragmentos de insetos, cabelo,

pregos, dentre outros, atingem o alimento.

Todavia, muito difcil que uma toxinfeco alimentar seja veiculada por pes,

uma vez que estes alimentos possuem baixa umidade e, geralmente, no permita o

crescimento de todos os tipos de bactrias. Alm disto, o processamento trmico a altas

temperaturas (forneamento) que o po sofre durante sua produo, elimina eventuais

microrganismos presentes na massa. Ainda assim, posteriormente, quando o po entra em

contato com o ar ambiente, este se contamina com os fungos presentes neste e tambm pode

vir a ser contaminado pelo contato direto com os manipuladores (EVANGELISTA, 2001).

Quanto aos fungos areos, estes so agentes causadores do mofo do po e chegam

sua superfcie e penetram em seu interior, procedentes do ar, durante o perodo de seu

resfriamento ou quando do seu corte em fatias, das operaes de manuseio, dos utenslios

contaminados, do papel ou saco de acondicionamento, do envolvimento do produto ainda

quente, das condies de temperatura e umidades relativas do ar (EVANGELISTA, 2001).

Todavia, no se pode pensar que todos os perigos esto eliminados devido ao fato

das contaminaes relacionadas s bactrias serem quase que totalmente descartadas; outros

37

tipos de contaminaes, alm da ocasionada pelos fungos, so possveis de ocorrer e lesar o

consumidor: as contaminaes fsicas e qumicas.

Um dos problemas comumente encontrados em produtos de panificao a

ocorrncia de perigos fsicos. Dessa forma, deve-se ter muito cuidado com a seleo da

matria-prima utilizada, alm dos utenslios empregados na produo e na limpeza do

ambiente em geral. Utenslios como pincis para untagem das formas e estiletes para dar o

formato aos pes, podem soltar fragmentos, o que pode provocar a contaminao fsica.

Utenslios de palha de ao e colheres de madeira so proibidos devido ao fato destes

desprenderem fragmentos, provocando a contaminao (LARA e LOPES, 2004).

Muitos corpos estranhos que contaminam os produtos de panificao esto

presentes originalmente na matria-prima, que consiste basicamente de farinha de trigo, a qual

pode conter fragmentos de insetos, plos de roedores, insetos, larvas de caros, entre outros.

Lara e Lopes (2006) escrevem que os alimentos podem ser contaminados pela

ao dos microrganismos, que podem entrar em contato com os alimentos atravs de vrias

fontes de contaminao, como:

- Ar contaminado, que, eventualmente, entre em contato com alimentos desprotegidos,

depsitos de lixo nas imediaes da panificadora, por exemplo, podem se tornar uma fonte de

contaminao atravs do ar;

- Animais e pragas domsticas, caso existam nos locais de armazenamento, preparao

ou exposio dos alimentos;

- Instalaes, utenslios e equipamentos mal higienizados;

- gua utilizada na preparao dos alimentos, caso os reservatrios no sejam limpos

periodicamente;

- Embalagens grosseiras dos produtos, como caixas de papelo, de madeira e fardos de

plstico que entram incorretamente na rea de armazenamento, preparo e exposio dos

alimentos;

- Armazenamento inadequado dos produtos;

- e o homem, caso no siga os cuidados necessrios com a higiene pessoal, durante a

preparao dos alimentos.

38

Uma vez em contato com os alimentos, se os microrganismos encontrarem

condies favorveis sua proliferao, como temperatura, pH e gua, se reproduziro e

causaro a contaminao dos mesmos (FRANCO e LANDGRAF, 2005).

Quanto aos ingredientes, a farinha de trigo o principal ingrediente em todas as

formulaes de pes e deve-se ter uma ateno especial na sua armazenagem. Em condies

ambientais adequadas, a farinha apresenta excelente durabilidade, contudo em climas midos

e quentes, como os encontrados na Regio Metropolitana do Recife, a sua vida de prateleira

pode ser reduzida. Alm disto, muitas das padarias apresentam condies de armazenamento

que comprometem as condies sanitrias das farinhas, haja vista que estas so armazenadas

encostadas s paredes do depsito, muitas vezes diretamente sobre o cho, isto , sem serem

colocadas sobre estrados, muitos depsitos midos e sem ventilao adequada, outros sem a

proteo nas janelas por telas, dentre outros fatores.

Devido ao fato dos pes serem assados, muitos estabelecimentos desprezam as

questes relacionadas aos cuidados com as matrias-primas em funo de atriburem que por

serem forneados, os produtos sero adequados ao consumo. Esta viso deturpada de qualidade

alimentar comum dentre os panificadores e grave devido ao fato de muitos produtores

usarem matrias-primas inadequadas ao consumo na formulao de seus pes.

Portanto, a segurana do alimento est diretamente relacionada com o tipo de

sistema de controle de qualidade empregado nas empresas, tais como as boas prticas de

fabricao e tambm est relacionada com a qualificao dos recursos humanos que atuam no

setor. Neste sentido, Oliveira et al (2003) e Serafini (2005) escrevem, em seus artigos, que

para contornar problemas de contaminao, deve-se averiguar a maneira como os

manipuladores esto trabalhando, capacitar os funcionrios quanto s boas prticas de

fabricao, reforando a importncia da lavagem das mos e dos utenslios, sendo que estes

so considerados pontos crticos dos trabalhos de elaborao de alimentos.

Carvalho e Frosini (1995) escrevem que a segurana e qualidade originam-se da

educao de todos, ao longo da cadeia, para fazer da preveno um hbito resultante do

conhecimento do que fazer, da capacidade de como fazer e do desejo de melhorar e prolongar

a expectativa de vida do produto.

39

Para facilitar e orientar os trabalhos de preveno s contaminaes alimentares, a

ANVISA tem como finalidade institucional promover a proteo da sade da populao, por

intermdio do controle e da comercializao de produtos e servios submetidos vigilncia

sanitria, inclusive dos ambientes, processos, insumos e das tecnologias a eles relacionados.

Para tal, ela desenvolve leis, como por exemplo: a Resoluo n. 216, de 15/09/2004, a

Portaria n. 326, de 30/07/1997 e a Portaria do Ministrio da Sade (MS) n. 1428 de

26/11/1993, a Resoluo n. 275, de 21/10/2002, dentre outras.

Somando-se os esforos da ANVISA, em regulamentar as leis, com o

desenvolvimento de ferramentas de qualidade como as boas prticas de fabricao, alcana-se

o objetivo maior dentro da indstria alimentcia: a produo de alimentos seguros. E, para

reforar o tema, Carvalho e Frosini (1995) escrevem:

Segurana e qualidade so dimenses inseparveis em todas as fases da cadeia alimentar.

3.3.5 A relao entre a higiene e as contaminaes na indstria de alimentos

Hobbs e Gilbert (1986) definem higiene de alimentos como:

A cincia sanitria que tem por objetivo produzir alimentos sos e com boa qualidade para o consumidor.

Higiene alimentar uma cincia aplicada a desenvolver conceitos e tcnicas para

alcanar a produo de alimentos seguros, com condies de higiene necessrias no fabrico e

manipulao dos alimentos, segundo Marriott e Gravani (2006), que tambm descreve que

antigamente, esta rea no era to explorada e tinha poucos profissionais capacitados para

atuar com competncia neste segmento.

Marriott e Gravani (2006) escrevem que a palavra higiene provm do latim

sanitas, que significa sade e que aplicada na rea de alimentos significa a criao e

manuteno das condies de higiene e sade. a aplicao de uma cincia que tem por

objetivo prover a segurana do alimento processado, preparado, distribudo e tambm as

condies de higiene ambiental e a sade do trabalhador; com isto evitar-se-iam as doenas

transmitidas por alimentos e minimizar-se-ia a proliferao de alimentos contaminados por

40

microrganismos. Sendo assim, ela resume que higiene so todos os procedimentos aplicados

para garantir a produo de alimentos seguros.

A higiene dos alimentos uma matria muito ampla, sendo que seu objetivo de

estudo entender e aplicar os mtodos de higiene na produo e preparao de alimentos, de

forma a ter-se uma garantia de que se est produzindo alimentos seguros. Fundamentalmente,

a higiene de alimentos se caracteriza pelos processos pelos quais os alimentos se tornam

higienicamente e sanitariamente adequados para o consumo, envolvendo para isto, a

utilizao de tcnicas de processamento, utilizando o calor ou o frio para a garantia dos

produtos, alm de tcnicas e produtos para limpeza e desinfeco de vrios gneros de

alimentos (HOBBS e GILBERT, 1986; SILVA, 1995).

Silva (1995) e Chesworth (1999) definem higienizar como qualquer procedimento

aplicado ao controle que elimine os riscos de transmisso de agentes causadores de doena,

oferecendo condies saudveis. E para higienizar alimentos, equipamentos, superfcies,

dentre outros, necessrio fazer a higienizao destes, que definida na Resoluo n. 275 de

21/10/2002, como:

A operao que dividida em duas etapas: a limpeza e a desinfeco. Sendo que limpeza, segundo a mesma fonte, a operao de remoo de terra, resduos de alimentos, sujidades e/ou outras sustncias indesejveis.

E desinfeco, segundo a portaria n. 326, de 30/07/1997,

a reduo, atravs de agentes qumicos ou mtodos fsicos adequados, do nmero de microrganismos.

Portanto, para se produzir alimentos seguros e com qualidade, necessrio que os

colaboradores entendam e pratiquem a diferena bsica entre os conceitos de limpar e

higienizar e tambm conheam as regras adequadas das boas prticas de fabricao que

englobam noes de higiene dos alimentos, dos equipamentos, das instalaes, do ambiente e

tambm pessoal.

Quanto higiene dos alimentos, Lara e Lopes (2006) escrevem que esta consiste,

basicamente, em eliminar as substncias qumicas, biolgicas ou fsicas que possam

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contaminar os alimentos. Para tal, deve-se ter como principal preocupao manter os

alimentos protegidos e utilizar mtodos de armazenamento e de preparao capazes de inibir o

desenvolvimento ou de destruir os microrganismos, bem como capacitar os colaboradores de

maneira que estes, ao desempenharem suas atividades, consigam evitar as contaminaes

fsicas e qumicas, mediante cuidados bsicos durante o fabrico dos alimentos.

Quanto higienizao dos equipamentos e das instalaes, primeiramente definir-

se- que, na higienizao dos equipamentos, so considerados todos os equipamentos,

mquinas, recipientes e utenslios que entrem em contato com o alimento, bem como todas as

partes integrantes das instalaes, como paredes, piso, teto e etc. Estes devem ser limpos e

posteriormente desinfetados seguindo a seguinte ordem: pr-limpeza, limpeza, enxge e

sanitizao (LARA e LOPES, 2006).

Sendo assim, faz-se primeiramente a etapa de pr-limpeza, removendo-se os

restos de alimentos com auxilio de esptulas, escovas, etc, visando reduo das sujidades.

Em seguida, executa-se a limpeza propriamente dita, que lavar com detergente ou sabo

neutro adequado para a atividade. Posteriormente, enxgua-se com gua corrente at a

completa remoo do produto qumico utilizado. Finalmente, desinfeta-se com o auxilio de

sanitizantes adequados, como soluo de lcool a 70% ou base de hipoclorito de sdio, a

200 ppm (partes por milho), para a eliminao dos microrganismos (SENAI, CARTILHA 2,

2002; SENAC, CARTILHA 2, 2002; LARA e LOPES, 2006).

Em se tratando da higiene pessoal, que considerada a principal fonte de

contaminao alimentar, Lara e Lopes (2006) colocam que necessrio que os manipuladores

tenham conscincia da importncia da higiene pessoal, antes e durante o preparo dos

alimentos, pois um simples contato das mos no higienizadas com os alimentos poder ser

suficiente para que ocorra a transmisso de vrios tipos de microrganismos aos mesmos.

A palavra higiene descreve a aplicao de princpios higinicos que so

elaborados com o objetivo de garantir a sade. Higiene pessoal, portanto, designa a higiene do

manipulador, da pessoa que est em contato com o alimento. A sade dos manipuladores um

dos itens dos programas de qualidade relacionados ao controle e garantia da higiene e

segurana dos alimentos (SENAI, 2002).

42

Oliveira et al (2005) relatam que a possibilidade do manipulador de alimentos vir

a contaminar os alimentos depende do maior ou menor contato direto com os produtos e do

tipo de matria-prima a ser manipulada e que a grande maioria dos manipuladores no tem

conscincia do real perigo que a contaminao pessoal, biolgica ou qumica pode representar

ao alimento.

Assim, com relao higiene dos colaboradores em indstrias de alimentos,

necessrio que estes adotem os seguintes cuidados bsicos (CHESWORTH, 1999; LARA e

LOPES, 2006):

- Tomar banho dirio: indispensvel que o manipulador tome banho diariamente, de

preferncia no local de trabalho antes de iniciar suas atividades;

- Cuidados com os cabelos: os cabelos devero ser mantidos limpos, penteados e

protegidos por touca ou rede para no carem nos alimentos;

- No utilizar adornos: durante o tempo em que estiver no trabalho, o manipulador

nunca poder usar relgio, brincos, anis e etc. Essa medida visa evitar que alguns desses

objetos venham, acidentalmente, cair nos alimentos ou entre em contato com os mesmos, o

que representaria risco de contaminao fsica;

- Cuidados com os dentes: devero estar sempre escovados;

- Uso de uniforme completo: o cuidado com o fardamento um requisito que deve ser

levado em considerao e deve ser confeccionado na cor clara, estarem em bom estado de

conservao e limpeza, no devero ter bolsos acima da cintura e devero ser trocados

diariamente.

As cartilhas elaboradas tanto pelo Servio Nacional de Aprendizagem Industrial

(SENAI) como pelo Servio Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), ambas em

2002, salientam que a indstria de alimentos deve dispor nos sanitrios, nos vestirios e nas

entradas para a rea de produo, os produtos de pias com o: sabo bactericida ou sabo

lquido e gel a 70% e papel toalha feito de material no reciclvel ou ar quente. Quanto ao

comportamento pessoal, devido ao fato do homem ser fonte de microrganismos e outros

perigos aos alimentos, deve-se dar especial ateno s boas prticas de higiene pessoal e de

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comportamento, a fim de proteger os alimentos contra as contaminaes fsicas, qumicas e

microbiolgicas. Portanto, os cuidados com a aparncia e higiene so muito importantes.

Quanto higiene ambiental, Senai (2002) evidencia que a higiene

correlacionada com o ambiente do estabelecimento produtor de alimentos. Este dever se

situar em reas isentas de odores indesejveis, em terrenos no sujeitos s inundaes e a rea

externa no dever oferecer riscos de contaminao por proliferao de pragas, sendo que

para isto necessrio evitar o acmulo de objetos em desuso.

Segundo Senai (2002),

1) Quanto s reas externas

- Devem ser cimentadas, asfaltadas ou no mnimo cobertas por pedrisco;

- Devem existir caladas de pelo menos um metro de largura contornando as instalaes com

declive de no mnimo 1% para fora, cimentadas;

- O estacionamento do estabelecimento dever ser pavimentado e ter declive mnimo de 2%

para escoamento;

- rvores e arbustos devem manter distncia de no mnimo 10m das instalaes alimentcias;

- As reas externas devem ser iluminadas, porm devem ser instaladas as lmpadas distantes

das portas para no haver a atrao de insetos.

2) Quanto construo civil

- As instalaes devem ser construdas de forma a reduzir as contaminaes, facilitar as

operaes e permitir fcil limpeza e manuteno;

- As instalaes e o fluxo de operaes devem ser adequados de forma a evitar as

contaminaes cruzadas;

- Os forros e as coberturas devem ser mantidos limpos, sem mofo e em bom estado de

conservao;

- As paredes, o teto e os azulejos devem ser de material de fcil limpeza e de cor clara. Entre

o teto e a parede no deve haver aberturas e/ou frestas que possibilitem a entrada de pragas ou

a formao de ninhos;

44

- Os azulejos devem ser colocados at uma altura mnima de 2 metros do cho e os rejuntes

devem ser impermeveis;

- O piso, alm de ser anti-derrapante, dever ser lavvel, impermevel e resistente ao trfego e

corroso. Nas reas de lavagem, a rea mida dever apresentar declividade de 1%;

- Se houver ralos no piso, estes devero ser com tampa com fechamento para evitar a entrada

de pragas;

- Os ngulos de 90 formados entre o piso e o teto, bases de equipamentos, paredes e etc

devero ser amenizados com o arredondamento atravs de rejunte para evitar o acmulo de

sujidades e mofo;

- Todas as aberturas, portas, janelas, exaustores, dentre outros, devero ser dotados de telas

milimetradas para controle de entrada de pragas;

- As portas devem possuir o sistema de fechamento automtico, tanto na produo como na

entrada dos banheiros;

- Todas as instalaes devero ser devidamente elaboradas de forma a no permitir o acmulo

de sujeiras, de serem de fcil acesso e permitirem a limpeza;

- Quanto s luminrias, estas devem ser dotadas de proteo contra exploso, evitando com

isto a contaminao do ambiente com pedaos de vidro e em caso de exploso, as conexes

eltricas devem ser protegidas por canaletas para facilitar a limpeza, e a iluminao deve ser

boa o suficiente para a correta iluminao dos alimentos;

- Quanto aos sanitrios, estes no podem ter comunicao com a rea fabril, devem ter portas

com fechamento automtico e devem ser mantidos limpos e ventilados;

- Todos os lavadores de mos, tanto dos sanitrios quanto os da produo, devem ser dotados

de sabo lquido bactericida, papel toalha no reciclvel e cesto coletor de lixo com

acionamento automtico, por pedal;

- A gua que abastece a empresa dever ser potvel e necessrio que a potabilidade seja

atestada anualmente em rgo oficial.

Portanto, em se tratando da higiene ambiental, percebe-se que esta abrange todos

os aspectos referentes a edificaes, instalaes, abastecimento de gua, dentre outros, de

forma a assegurar que o ambiente no contamine os alimentos.

Por fim, existe uma relao direta entre os diferentes tipos de higiene e as diversas

formas de contaminao dos alimentos e, para evit-las, necessrio que se estabeleam

45

regras e uma cultura empresarial voltada para a prtica da higiene em equipamentos,

instalaes, manipuladores e ambiente.

3.4 A qualidade na indstria de panificao

3.4.1 A evoluo da qualidade

As empresas buscam incansavelmente reduzir as perdas e, via de conseqncia,

gerar maior produtividade. E ao se escrever sobre as ferramentas para reduzir as perdas na

produo - como as Boas Prticas de Fabricao no se pode deixar de abordar conceitos de

qualidade e tambm repassar a valiosa contribuio que os grandes mestres desta rea legaram

ao longo do tempo; em especial nos ltimos cinqenta anos. Dentre os importantes

pensadores e estimuladores esto: Taylor, Ford, Deming, Juran, Taiichi Ohno.

De fato, a longa histria da organizao das atividades produtivas conduziu

gradativa melhoria da qualidade, que, por si s com o tempo, passou a merecer estudos

especficos. interessante acompanhar essa longa e ininterrupta evoluo.

Nos sculos XVIII e XIX havia um entendimento e uma percepo muito

diferente dos dias atuais do que se considerava qualidade. Os modelos e mtodos de produo

eram artesanais, tipicamente empricos e necessitavam de muita orientao dos mestres mais

experientes.

Segundo Martins (1998), antigamente as pessoas eram muito habilidosas na

produo de bens artesanais e em geral, em sua grande maioria, no tinham consumidor

especfico. Com o passar do tempo, aprimoraram seu desempenho e passaram a produzir

conforme solicitao e especificao pr-determinadas. Surgiram, ento, os primeiros artesos

profissionais e a primeira forma de produo organizada, j que estes estabeleciam prazo de

entrega e prioridades; atendiam a especificaes preestabelecidas e fixavam preos para suas

encomendas. Com o tempo e com o incremento da demanda, houve necessidade de contratar

ajudantes para fazer os trabalhos grosseiros e de menor responsabilidade. Espontaneamente,

surgia a necessidade de organizar as atividades.

O avano dos mtodos de produo e as diversas alteraes na forma de trabalhar,

que ocorreram simultaneamente neste perodo, desencadearam a denominada Revoluo

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Industrial, cuja primeira fase ocorreu na Gr-Bretanha. Uma caracterstica notvel foi o fato

de ter ocorrido espontaneamente, sem induo ou assistncia governamental. Considera-se os

meados da dcada de 1780 como incio desta importante transformao. E ningum, segundo

Deane (1982), negaria

Que ocorreram mudanas importantes e de implicaes profundas no ritmo caracterstico da vida econmica da Inglaterra, e que estas se constituram numa transformao que foi, num sentido, o prottipo da transio das formas de organizao econmica pr-industriais para as industriais, transio essa que se apresenta em todo e qualquer lugar como condio necessria ao moderno desenvolvimento econmico.

Devido a tais mudanas na forma de produzir, os artesos, que at ento

trabalhavam em suas prprias oficinas, comearam a ser agrupados nas primeiras fbricas.

Esta revoluo na forma como os produtos eram fabricados e na maneira como as pessoas

trabalhavam trouxe consigo algumas exigncias do tipo: padronizao de produtos e dos

processos de fabricao, treinamento e habilitao da mo-de-obra direta, criao e

desenvolvimento dos quadros gerenciais e de superviso. Gradualmente, desenvolveram-se

tcnicas de planejamento, controle da produo, e mais recentemente, controle financeiro e

tcnicas de venda (DEANE, 1982; MARTINS, 1998).

3.4.1.1 Taylor

No processo de evoluo das tcnicas de qualidade, deve-se ressaltar a

importncia de Frederick W. Taylor, considerado o Pai da Administrao Cientfica, devido

ao fato de ter revolucionado os mtodos gerenciais da poca, separando planejamento de

execuo, tendo conseguido com isto alteraes substanciais nos ndices de produtividade das

empresas norte americanas da poca (MIRSHAWKA, 1990).

Neste perodo, ainda segundo Mirshawka, Taylor elaborou mtodos para o

aumento da produtividade da mo-de-obra, que constituram a base para a administrao

cientfica e o nascimento da era do especialista em eficincia.

A evoluo das teorias administrativas teve um desdobramento natural e elas

sempre estiveram relacionadas ao conceito de melhorias nas condies de trabalho e na

qualidade de vida do trabalhador. Conforme Taylor, existe uma correlao entre prosperidade

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do empregado e a do empregador. Ambos mantm uma relao de interdependncia,

necessitando um do outro para sua sobrevivncia. Para Taylor, era preciso dar ao trabalhador

o que ele mais almejava: altos salrios; ao empregador: baixo custo de produo. A

administrao cientfica introduziu uma estrutura de trabalho cent