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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MARIANA ITAMARO GONÇALVES COMUNICAÇÃO NA PASSAGEM DE PLANTÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM EM UNIDADES DE CUIDADOS INTENSIVOS NEONATAIS E FATORES RELACIONADOS À SEGURANÇA DO PACIENTE FLORIANÓPOLIS 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CINCIAS DA SADE

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM

MARIANA ITAMARO GONALVES

COMUNICAO NA PASSAGEM DE PLANTO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM EM UNIDADES DE CUIDADOS

INTENSIVOS NEONATAIS E FATORES RELACIONADOS SEGURANA DO PACIENTE

FLORIANPOLIS 2012

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MARIANA ITAMARO GONALVES

COMUNICAO NA PASSAGEM DE PLANTO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM EM UNIDADES DE CUIDADOS

INTENSIVOS NEONATAIS E FATORES RELACIONADOS SEGURANA DO PACIENTE

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para obteno do ttulo de Mestre em Enfermagem - rea de Concentrao: Filosofia e Cuidado em Sade em Enfermagem. Orientadora: Profa. Dra. Patrcia Kuerten Rocha Linha de Pesquisa: Modelos e Tecnologias para o Cuidado em Sade e Enfermagem.

FLORIANPOLIS

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Dedico este trabalho aos meus pais, Joo e Hilda, pelo amor incondicional e por estarem ao meu lado em todos os momentos de minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Joo e Hilda, meus melhores amigos. Agradeo todos os dias pelo amor incondicional, conselhos, abraos, beijos, carinhos e muita pacincia em todos os momentos de minha vida. Vocs so meus exemplos! Obrigada pelos valores ensinados e por todo o apoio dado para que eu alcanasse mais esta etapa. Esta conquista no minha, NOSSA!! EU AMO VOCS!!

Ao meus avs Pedro Itamaro e Ana Itamaro (in memoriam), pelo amor e carinho. Saudades eternas!

Ao meu namorado, Luiz Felipe Raupp, que, apesar de no ter acompanhado o processo desde o incio, teve pacincia(muita!) e deu total apoio e carinho durante a finalizao da dissertao. Obrigada!! Amo muito voc!!

Professora Patrcia Kuerten Rocha, pelos ensinamentos, pacincia e compreenso em todos os momentos, um presente de 2011, pois tornou-se alm de orientadora, uma amiga. Obrigada!!!

Tia Maria, pelo carinho e amor. Obrigada por acreditar no meu potencial e pelo apoio que sempre me destes!

s primas Greice Heiden e Glaucia Heiden, minhas "irms", por acreditarem no meu potencial, pelos conselhos, parcerias, risadas, abraos e carinhos em todos os momentos de minha vida, desde os "cachinhos". Amo vocs!

amiga Fabiane Dutra, minha "amiga-me", pela amizade, companheirismo, carinho, conselhos e palavras sbias em todos os momentos! Muito obrigada!!

amiga Jouhanna Menegaz, pela amizade, companheirismo, auxlio nos momentos durante o mestrado e em minha vida pessoal. Ah! tambm pelas festas e risadas, n Migs?!

s amigas Dbora Poletto e Bruna Pedroso Canever, que estiveram comigo durante a graduao e foram exemplos para que eu decidisse fazer o mestrado. Obrigada pelo apoio desde o incio, apesar dos compromissos dirios e distncia que nos impedem de estarmos sempre juntas. Muitas saudades! Amo vocs!

amiga Daiana de Mattia, pelas carinhosas palavras, parceria,

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carinho e amizade. Amo muito!

Aos amigos e colegas de trabalho Geovana Stedile, Ariane Johner e Bruno Andrades e Fabiana de Morais, pelos conselhos, parceria, festas e risadas. O apoio de vocs durante este processo foi essencial para que eu chegasse at aqui! Obrigada!!

s "minhas meninas", amigas e colegas de trabalho, Bruna Pamplona, Helena Pamplona, Andra Holthausen e Loreci Costa e Silva, pelo carinho, compreenso, parceria, conselhos e amizade desde a minha entrada no Centro de Sade. Eu adoro vocs!

coordenadora Alcina Santos, pelo apoio dado para que eu conseguisse conciliar o trabalho e o mestrado, isto foi realmente essencial!! Obrigada!

Aos funcionrios do Centro de Sade Forquilhinhas, pelo incentivo e apoio.

Ao Grupo de Apoio Pessoa Ostomizada-GAO, por vocs me receberem to bem no grupo, pelo carinho e todos os ensinamentos.

s "Flowers", amigas da graduao, que, mesmo de longe, participaram deste processo. Saudades de todas juntas!

s amigas e colegas de mestrado Marciele Misiak, Maria Christina Zapelini e Soraia Rozza, pelo companheirismo, amizade e experincias trocadas durante este perodo.

Aos membros da banca, ProfsDenise M. Kusahara,Sayonara de Ftima Faria Barbosa, Jane Cristina Anders, Ana Izabel Jatob de Souza e Daniela C.C Barra, pela disponibilidade e contribuies dadas.

Ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem e Universidade Federal de Santa Catarina pela excelncia em ensino e pela oportunidade de realizao do mestrado.

Obrigada a todos!

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GONALVES, Mariana Itamaro. Comunicao na passagem de planto da equipe de enfermagem em unidades de cuidados intensivos neonatais e os fatores relacionados segurana do paciente. 2012. 145 p. Dissertao (Mestrado em Enfermagem) - Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Ps-Graduao em Enfermagem, Florianpolis, 2012. Orientadora: Dra. Patrcia Kuerten Rocha rea de Concentrao: Filosofia e Cuidado em Sade em Enfermagem Linha de Pesquisa: Modelos e Tecnologias para o Cuidado em Sade e Enfermagem

RESUMO

Este estudo teve como objetivo avaliar os fatores relacionados comunicao durante a passagem de planto de enfermagem em Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIs-Neo) que podem interferir na segurana do paciente. Trata-se de uma pesquisa descritiva-exploratria, de abordagem quantitativa. A amostra foi composta por 70 profissionais de enfermagem das Equipes de UCIs-Neo de trs hospitais do Sul do Brasil. O estudo compreendeu quatro etapas: elaborao dos formulrios (1 e 2) de coleta de dados, entrada no campo, coleta de dados e anlise dos dados. Para elaborao dos formulrios de coleta de dados foram utilizadas diretrizes para a segurana do paciente da Organizao Mundial da Sade e reviso de literatura. Estes foram enviados experts na rea de segurana do paciente e/ou neonatologia para apreciao. Aps isto, os mesmos foram aprimorados. A coleta de dados foi realizada nos meses de abril a maio de 2012. Para tanto, a mesma foi realizada de duas formas: com a entrega de formulrio 1 de coleta de dados aos sujeitos e por meio de observao no participante, com auxlio de formulrio 2 de observao, notas de campo e gravaes. As duas formas de coleta de dados ocorreram concomitantemente. Para anlise dos dados foi realizada anlise estatstica descritiva contendo frequncia absoluta, relativa, mdias e desvio padro. Ainda, utilizou-se os testes Qui-quadrado de Pearson e T-student,com nvel de significncia de 5%(p

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importncia da comunicao durante as passagens de planto e a segurana do paciente. Dentre os fatores relacionados caracterizao/operacionalizao das passagens de planto verificou-se que as passagens de planto so realizadas pela equipe de enfermagem, ao lado do leito do paciente, geralmente de forma verbal, promovendo interao entre os envolvidos. As informaes repassadas frequentemente so: estado geral, evoluo clnica e procedimentos realizados. Os enfermeiros e os tcnicos de enfermagem percebem como importante o repasse das informaes sobre a condio clnica do paciente e as medicaes, quando ambos so comparados com os auxiliares de enfermagem. Os profissionais com menor tempo de formao referiram mais informaes sobre a condio clnica do paciente (p< 0,002), medicaes (p< 0,004) e cuidados gerais/procedimentos (p< 0,001), quando comparados queles com maior tempo de formao. No se observaram instrumentos padronizados ou recursos tecnolgicos para a realizao das passagens de planto. Quanto aos comportamentos e atitudes dos profissionais durante as passagens de planto identificou-se os atrasos e sadas antecipadas, a realizao de cuidados e as conversas paralelas, como fatores que interferem nas passagens de planto. Em relao aos conhecimentos e percepes, verificou-se que a maioria dos profissionais no identificam as implicaes negativas dos atrasos e sadas antecipadas para as passagens de planto, sendo os enfermeiros aqueles que possuem melhor percepo acerca deste fator quando comparados com os tcnicos de enfermagem (p < 0,001).Conclui-se que os profissionais percebem a importncia das passagens de planto, entretanto, alguns tpicos devem ser revistos. Salienta-se, que as mudanas no cabem somente aos profissionais, mas tambm as instituies de sade, compreendendo que os erros e eventos adversos ocorrem devido s falhas no sistema de sade e concomitantemente a isto, criao de uma forte cultura de segurana no ambiente de trabalho, implementando treinamentos e protocolos especficos, visando realizao de prticas de cuidados seguras e de qualidade. Palavras Chave: Segurana do Paciente; Enfermagem; Comunicao; Unidades de Terapia Intensiva Neonatal.

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GONALVES, Mariana Itamaro. Communication during the nursing staff shift changes in neonatal intensive care units and factors related to patient safety. 2012. 145 p. Dissertation (Masters in Nursing) - Federal University of Santa Catarina, Graduate Program in Nursing, Florianpolis, 2012. Advisor: Dr. Patrcia Kuerten Rocha Concentration Area: Philosophy and Health Care in Nursing Line of Research: Models and Technologies for Health Care and Nursing

ABSTRACT This study aimed to evaluate the factors related to communication during the nursing staff shift change in neonatal intensive care units (Neo-ICUs) that could interfere in the patients' safety. This is a descriptive and exploratory research, of quantitative approach. The sample was composed of 70 nurses from teams of Neo-ICUs of three hospitals in southern Brazil. The study comprised four steps: preparation of data collection forms (1 and 2), field entry, data collection and data analysis. For production of the data collection forms, guidelines for patient safety from the World Health Organization and literature works were used. These were sent to experts in the area of patient safety and/or neonatology for consideration. After that, they were enhanced. Data collection was conducted from april through may 2012. It was done in two ways: delivering data collection form 1 to the subjects and through non-participant observation, with the aid of observation form 2, field notes and recordings. Both forms of data collection occurred simultaneously. For data analysis, a descriptive statistical analysis was performed containing absolute and relative frequency, means and standard deviation. Moreover, the Pearson chi-square and T-student tests were used, with a significance level of 5% (p

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usually verbally, promoting interaction between those involved. The information passed on often are: general condition, clinical evolution and procedures made. The nurses and nursing technicians realize the importance of the transfer of information on the "clinical condition of the patient" and the "medications", when both are compared to nursing assistants. Professionals with less training time reported more information on the clinical condition of the patient (p

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GONALVES, Mariana Itamaro. Comunicacin en el pase de guardia del equipo de enfermera en unidades de cuidados intensivos neonatales y los factores relacionados a la seguridad del paciente. 2012. 145 p. Disertacin (Mster en Enfermera) - Universidad Federal de Santa Catarina, Programa de Posgrado en Enfermera, Florianpolis, 2012. Orientadora: Dra. Patrcia Kuerten Rocha rea de Concentracin: Filosofa en Cuidado y Salud en Enfermera Lnea de Investigacin: Modelos y Tecnologas para el Cuidado en Salud y Enfermera

RESUMEN Este estudio tuvo como objetivo evaluar los factores relacionados a la comunicacin durante el pase de guardia de enfermera en Unidades de Cuidado Intensivo Neonatal (UCIs-Neo) que pueden interferir en la seguridad del paciente. Se trata de una investigacin descriptiva-exploratoria, de abordaje cuantitativa. La muestra est compuesta por 70 profesionales de enfermera de los Equipos de UCI-Neo de tres hospitales del Sur de Brasil. El estudio comprendi cuatro etapas: elaboracin de los formularios (1 y 2) de recopilacin de datos, entrada en el campo, recopilacin de datos y anlisis de los datos. Para la elaboracin de los formularios de recopilacin de datos, se utilizaron, para la seguridad del paciente, directrices de la Organizacin Mundial de la Salud y revisin de literatura. Los mismos se enviaron a peritos en el rea de seguridad del paciente y/o neonatologa, para su apreciacin. Despus de lo cual, fueron perfeccionados. La recopilacin de datos se realiz durante los meses de abril y mayo de 2012. Esta fue realizada de dos formas: con la entrega del formulario 1 de la recopilacin de datos a los sujetos, y por medio de observacin no participante, con la ayuda del formulario 2 de observacin, notas de campo y grabaciones. Las dos formas de recopilacin de datos tuvieron lugar de manera concomitante. Para el anlisis de los datos se realiz un anlisis estadstico descriptivo conteniendo frecuencia absoluta, relativa, medias y desviacin estndar. Se utilizaron tambin las pruebas Chi-cuadrado de Pearson y T-student, con nivel de significancia del 5%(p

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de guardia, a los conocimientos/percepciones de los profesionales con relacin a la importancia de la comunicacin durante el pase de guardia y a la seguridad del paciente. Entre los factores relacionados a la caracterizacin/operacionalizacin del pase de guardia se verific que el mismo se lleva a cabo por el equipo de enfermera, al lado del lecho del paciente, generalmente de forma verbal, promoviendo una interaccin entre los involucrados. Las informaciones transmitidas frecuentemente son: estado general, evolucin clnica y procedimientos realizados. Los enfermeros y los tcnicos de enfermera perciben como un hecho importante la transmisin de las informaciones sobre la condicin clnica del paciente y de las medicaciones, cuando ambos se comparan con los auxiliares de enfermera. Los profesionales con menor tiempo de formacin hicieron ms referencias a las informaciones sobre la condicin clnica del paciente (p< 0,002), las medicaciones (p< 0,004) y los cuidados generales/procedimientos (p< 0,001), cuando se comparan con aquellos que poseen un mayor tiempo de formacin. No se observaron instrumentos estandarizados o recursos tecnolgicos para la realizacin del pase de guardia. Con relacin a los comportamientos y a las actitudes de los profesionales durante el pase de guardia, se identificaron atrasos y salidas anticipadas, la realizacin de cuidados y conversaciones paralelas, como factores que interfieren en los pases de guardia. Con relacin a los conocimientos y a las percepciones, se verific que la mayora de los profesionales no identifica la repercusin negativa de los atrasos y de las salidas anticipadas en el pase de guardia, siendo los enfermeros quienes poseen una mejor percepcin acerca de este factor, cuando se comparan con los tcnicos de enfermera (p < 0,001). Se concluye que los profesionales perciben la importancia de los pases de guardia, mientras que algunos tpicos deben ser revisados. Se destaca que los cambios no le caben solamente a los profesionales, sino tambin a las instituciones de salud, comprendiendo que los errores y los eventos adversos tienen lugar debido a las fallas del sistema de salud y asociado a esto, a la creacin de una fuerte cultura de seguridad en el ambiente de trabajo, implementando capacitaciones y protocolos especficos, con el objetivo de la realizacin de prcticas de cuidados ms seguras y de calidad.

Palabras-Clave: seguridad del paciente; enfermera, comunicacin, unidad de terapia intensiva neonatal.

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LISTA DE SIGLAS

COFEN Conselho Federal de Enfermagem

GIATE Grupo de Pesquisa Clnica, Tecnologias e Informtica em Sade e Enfermagem

IBSP Instituto Brasileiro para a Segurana do Paciente

IOM

HIJG

HRSJ

HU/UFSC

Institute of Medicine

Hospital Infantil Joana de Gusmo

Hospital Regional de So Jos Dr. Homero de Miranda Gomes

Hospital Universitrio Polydoro Ernani de So Thiago

OMS Organizao Mundial da Sade

OPAS Organizao Pan -Americana da Sade

REBRAENSP Rede Brasileira de Enfermagem e Segurana do Paciente SP

RN Recm-Nascido

UCIs-Neo

TCLE

Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFSC

WHO

Universidade Federal de Santa Catarina

World Health Organization

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LISTA DE QUADROS Quadro 01: Categorias de Enfermagem e a Percepo sobre as implicaes dos atrasos e sadas antecipadas para as passagens de planto. ................................................................................................... 72

Quadro 02: Categorias de Enfermagem e os Problemas identificados devido a atrasos e sadas antecipadas que interferem nas passagens de planto .................................................................................................... 72

Quadro 03: Categorias de enfermagem e informaes importantes de serem repassadas nas passagens de planto. .......................................... 75

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LISTA DE GRFICOS Grfico 01: Tipos e frequncias das informaes repassadas durante as passagens de planto .............................................................................. 92

Grfico 02: Fatores que interferem nas passagens de planto .............. 94

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SUMRIO

LISTA DE SIGLAS .............................................................................. 17

LISTA DE QUADROS ........................................................................ 19

LISTA DE GRFICOS ....................................................................... 21

1 INTRODUO ................................................................................. 25

2 OBJETIVOS ...................................................................................... 31 2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................ 31 2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ........................................................... 31

3 REVISO DE LITERATURA ........................................................ 33 3.1 COMUNICAO NA REA DA ENFERMAGEM ..................... 33 3.2 PASSAGEM DE PLANTO DE ENFERMAGEM E A SEGURANA DO PACIENTE ............................................................ 35 3.2.1 Modalidade de Passagem de Planto ........................................ 38 3.3 CULTURA DE SEGURANA DO PACIENTE E A COMUNICAO NA PASSAGEM DE PLANTO .......................... 41 3.4 UNIDADE DE CUIDADO INTENSIVO NEONATAL ............... 43

4 MTODO ........................................................................................... 47 4.1 TIPO DE ESTUDO .......................................................................... 47 4.2 LOCAL ............................................................................................. 47 4.3 POPULAO E AMOSTRA .......................................................... 49 4.4 ETAPAS DO ESTUDO ................................................................... 49 4.4.1 Primeira Etapa: Elaborao dos formulrios de coleta de dados ...................................................................................................... 50 4.4.2 Segunda Etapa: Entrada no campo ........................................... 50 4.4.3 Terceira Etapa: Coleta de dados ............................................... 51 4.4.4 Quarta Etapa: Anlise de Dados ............................................... 59 4.5 CONSIDERAES TICAS ......................................................... 59

5 RESULTADOS .................................................................................. 61 5.1 MANUSCRITO 01: COMUNICAO E SEGURANA DO PACIENTENA PASSAGEM DE PLANTO EM UNIDADES DE CUIDADOS INTENSIVOS NEONATAIS........................................... 61 5.2 MANUSCRITO 02: SEGURANA DO PACIENTE E PASSAGEM DE PLANTO EM UNIDADES DE CUIDADOS INTENSIVOS NEONATAIS ................................................................ 84

CONSIDERAES FINAIS ............................................................ 104

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REFERNCIAS ................................................................................. 108

APNDICES ....................................................................................... 121

ANEXOS ............................................................................................. 139

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1 INTRODUO Apesar dos avanos tecnolgicos nas diversas reas da sade e

inmeros esforos por parte dos rgos competentes para promoo de saberes e prticas de cuidado seguras, ainda so presentes em nosso cotidiano profissional situaes que colocam a segurana do paciente em risco. Atualmente, este tpico vem sendo discutido nos mbitos nacional e internacional devido importncia que representa para os sistemas de sade, profissionais, pacientes, familiares e sociedade (HARADA; MARIN; CARVALHO, 2003).

Assim, a reduo do risco de danos desnecessrios associados ao cuidado em sade ao mnimo aceitvel a definio dada pela Organizao Mundial da Sade OMS- para o termo Segurana do Paciente (OMS, 2009). Quando ocorridos durante a prestao de cuidados sade, estes danos podem resultar em situaes desgastantes para pacientes e suas famlias, aumentar o tempo de internao, elevar os custos hospitalares, e ainda gerar efeitos negativos na vida de profissionais de sade engajados com o cuidado (CARVALHO; VIEIRA, 2002).

Anualmente, milhes de pessoas so vtimas de erros e eventos adversos, sendo estimado que um em cada 10 pacientes que necessitam de assistncia sade sofrer agravo decorrente de erros. Alm disso, os gastos gerados so exorbitantes, podendo chegar at 29 bilhes de dlares em alguns pases desenvolvidos, como os Estados Unidos da Amrica (WHO, 2008).

As preocupaes iniciais com a segurana do paciente surgiram, principalmente, a partir de 1999, quando o Institute of Medicine (IOM) dos Estados Unidos da Amrica publicou o material intitulado To err is human: building a safer health care system, o qual apresentou resultados alarmantes sobre a mortalidade decorrente de erros durante a prestao de assistncia sade, evidenciando a necessidade de mudanas acerca da segurana do paciente. Acrescido a isso, as informaes fornecidas tambm mostraram que muitos desses agravos eram evitveis, gerando maior interesse sobre o assunto em todas as partes do mundo (IOM, 1999; PEDREIRA, 2006).

O tema segurana do paciente prioridade na OMS desde a 55 Assembleia Mundial da Sade, realizada em 2002. Em 2004, na 57 Assembleia Mundial da Sade, foi criada a Aliana Mundial para a Segurana do Paciente, com a finalidade de facilitar o desenvolvimento de prticas e polticas de segurana ao paciente em

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todos os pases (OMS, 2010; HARADA, 2009). Em 2005, a Joint Comission e a Joint Comission Internacional

estabeleceram o Centro Colaborador para Segurana do Paciente da OMS (WHO Collaborating Centre for Patient Safety). Aps a identificao dos principais erros na rea da sade, desenvolveram nove Solues para Segurana do Paciente, sendo estas divulgadas em 2007.

As Solues para a Segurana do Paciente foram definidas como estratgias ou intervenes com objetivo de prevenir ou reduzir o risco de danos aos pacientes advindos de prticas de cuidado inseguras. O Centro Colaborador da OMS realiza o processo de identificao, desenvolvimento, adaptao e divulgao destas Solues (OMS, 2010).

Dentre as solues apresentadas pelo programa, destaca-se a denominada de Comunicao durante a passagem de planto e transferncia do paciente, direcionada para a comunicao durante a passagem de planto da equipe de enfermagem, a qual ser o foco desta pesquisa.

De acordo com Carrara (2009), o conceito de comunicao pode ser compreendido como o processo no qual ocorrem trocas de informaes, de ideias e de sentimentos por meio da palavra escrita ou falada, de sinais e de gestos.

A comunicao como parte integrante do cuidado de enfermagem identificada por alguns autores como responsvel por um cuidado mais humano, qualificado, sendo reforado, ainda, que o profissional de enfermagem pode ter melhor utilizao do processo de comunicao (SOUZA, et al., 2006).

dever dos profissionais da enfermagem, de acordo com seu Cdigo de tica, assegurar ao paciente um cuidado sade livre de danos, bem como garantir a continuidade do cuidado de enfermagem.A Enfermagem constituda atualmente no Brasil, por mais de 1.500.000 trabalhadores, sendo estes profissionais que se destacam pela presena contnua e mais prxima na ateno sade dos indivduos, podendo, assim, atuar como sujeitos ativos no processo de comunicao com vistas segurana do paciente (COFEN, 2007; PEDREIRA, 2009).

O enfermeiro garante um bom desempenho das suas funes exatamente por meio da competncia em comunicao. a partir da comunicao eficiente que ele garante a identificao de dificuldades individuais e coletivas nos pacientes, podendo ento relacion-las com a anlise da situao encontrada e direcion-las para um planejamento de cuidado apropriado e efetivo (SANTOS; BERNARDES, 2010).

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Assim, os profissionais de enfermagem tm na passagem de planto um exemplo de sistema de comunicao, momento no qual o profissional pode identificar os problemas e as reais necessidades do paciente, com o propsito de planejar e executar aes de enfermagem que possibilitem a eficcia do tratamento prescrito (ZOEHLER; LIMA, 2000).

A qualidade dessas informaes depende da habilidade de quem a transmite, da modalidade selecionada, do tempo dispensado e do engajamento da equipe em registrar informaes que relatem as intercorrncias com o paciente. O sucesso da passagem de planto depende de um trabalho de equipe articulado, criando formas alternativas e eficazes para a transferncia de informaes consistentes e de qualidade (SILVA; CAMPOS, 2007).

O IOM (2001) refere que durante a transferncia de informaes que frequentemente ocorre a primeira falha na segurana do paciente. Alm disso, durante as passagens de planto entre as diferentes equipes, as mesmas podem no abordar todos os elementos essenciais e as informaes podem ser mal interpretadas ou errneas (WHO, 2007).

Dentre as diretrizes estabelecidas para garantir a segurana do paciente durante a comunicao nas passagens de planto, tem-se a limitao de interrupes durante sua realizao, a utilizao de linguagem clara, a realizao de comunicao interativa entre os envolvidos, a necessidade de se evitar o uso de abreviaes, a possibilidade do uso de tecnologias para auxiliar a comunicao durante as passagens de planto, bem como o registro das informaes em instrumentos padronizados pela instituio (THE JOINT COMISSION, 2008; WHO, 2007).

Nos hospitais australianos, ocorrem, a cada ano, aproximadamente 7.068.000 passagens de planto das equipes de sade, nmero que expressa a amplitude da temtica apresentada e nos remete a uma reflexo, ao analisarmos as implicaes negativas das passagens de planto, quando no realizadas de acordo com as diretrizes descritas (AUSTRALIAN COMISSION ON SAFETY AND QUALITY IN HEALTH CARE, 2008).

Em relao aos fatores que podem interferir neste processo, alguns autores citam a falta de clareza dos registros, a ausncia de tempo hbil para a passagem de planto, a grande quantidade de pacientes nas unidades, a documentao insuficiente, o atraso entre os colegas, o no aproveitamento do momento de troca de informaes por parte dos profissionais e a ausncia da comunicao direta (ANDRADE et al.,

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2004). Nagpal e colaboradores (2010) avaliaram a transferncia de

informaes e a comunicao a partir do acompanhamento do processo de cuidados cirrgicos em pacientes submetidos a procedimentos gastrointestinais. Utilizaram como ferramentas quatro checklists para as quatro fases dos procedimentos cirrgicos. Identificaram que 75% dos pacientes tiveram problemas clnicos ou efeitos adversos devido a falhas na transferncia de informaes, evidenciando de forma clara a importncia da comunicao na rea da sade e que novas prticas devem ser implantadas.

Os achados apresentados em pesquisas evidenciam que as informaes repassadas durante a passagem de planto devem ser revistas, como observado em estudo desenvolvido em Sydney, Austrlia, no qual foram realizadas avaliaes de 23 passagens de planto em unidade mdica geral, e foi identificado que 84,6% das informaes fornecidas durante essa atividade poderiam ser encontradas em pronturios e demais documentos na unidade. Evidenciou-se tambm que 9,5% das informaes repassadas nesse momento no foram relevantes para o atendimento direto ao paciente, uma vez que incluam declaraes subjetivas e vagas sobre a sade do paciente, que necessitavam de maiores esclarecimentos (SEXTON et al., 2004).

Na perspectiva da segurana do paciente, sabe-se que as Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIs-Neo) tm perfil de clientela constitudo, em sua maioria, por recm nascidos pr-termos, com problemas respiratrios graves, de baixo peso, e que desenvolveram alguma complicao antes, durante ou aps o parto (RIBEIRO et al., 2011).

Acrescido a isso, um setor complexo que possui suas especificidades, presena de alto aparato tecnolgico e onde se tem a atuao ininterrupta de profissionais de diversas reas da sade com qualificao tcnica e cientfica. Dentre as especificidades tem-se: o uso de uma abordagem diagnstica e teraputica quase sempre invasiva; a pequena margem entre as respostas favorveis e possveis reaes adversas ao tratamento institudo; pouca ou nenhuma reao devido imaturidade dos organismos dos recm-nascidos, e, alm disso, a grande vulnerabilidade, especialmente dos mais novos. (DUARTE; SENA; TAVARES, 2010; MARQUES; MELO, 2011; KAMADA; ROCHA, 2006)

No que diz respeito aos erros ocorridos em UCIs-Neo, estudo publicado em 2005 identificou em 55% dos pronturios analisados

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algum erro decorrente do processo de assistncia. Dentre estes, o mais comumente observado foi o erro medicamentoso, em 84%, seguido dos erros de omisso em 8,4% e os erros de procedimentos em 7% das observaes (LERNER,2005).

Diante do exposto, a necessidade de estudar os processos de comunicao durante a passagem de planto da equipe de enfermagem em UCIs-Neo d-se pela condio clnica crtica da criana, que exige cuidados especficos, bem como pelo ambiente de trabalho constitudo por grande aparato tecnolgico e pela presena de vrias classes profissionais que ali desempenham suas atividades, fatores que podem ser propcios ocorrncia de eventos adversos.

Assim, justifica-se a realizao deste estudo por identificar aspectos relacionados comunicao durante a passagem de planto em Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais que possam interferir na segurana do paciente, devido propenso para ocorrncia de situaes que coloquem o recm-nascido (RN) em risco, a gastos desnecessrios gerados para as instituies de sade, e s consequncias negativas na vida dos familiares e profissionais da equipe de enfermagem.

A partir disso a questo norteadora : Quais os fatores relacionados comunicao que podem interferir

na segurana do paciente durante a passagem de planto das equipes de enfermagem em Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais?

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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL - Avaliar os fatores relacionados comunicao durante a

passagem de planto de enfermagem em Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais que possam interferir na segurana do paciente.

2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS - Identificar os fatores relacionados segurana do paciente

quanto comunicao no processo de passagem de planto das equipes de enfermagem em Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais.

- Descrever o processo de passagem de planto das equipes de enfermagem em Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais, focando a segurana do paciente.

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3 REVISO DE LITERATURA 3.1 COMUNICAO NA REA DA ENFERMAGEM

A palavra comunicar tem sua origem do latim communicare,

que significa colocar em comum. A partir de sua provenincia, compreende-se que a comunicao uma habilidade inerente aos seres humanos e que torna possvel a expresso do que se passa interiormente, havendo o intercmbio compreensivo de significao a partir de simbolismos, e em que ocorre reciprocidade na interpretao da mensagem verbal ou no verbal (ORI; MORAES; VICTOR, 2004; MOURO, 2009).

Deste modo, na comunicao verbal as palavras so expressas por meio da fala ou do texto escrito. Este tipo de comunicao tem como qualidade fundamental a clareza na colocao da ideia e a adequao desta ao indivduo que est ouvindo ou lendo o que escrevemos (ORDAHI, 2006).

Em relao comunicao no verbal, esta compreende todas as manifestaes de comportamento no expressas por meio das palavras, mas com os gestos, orientaes do corpo, expresses faciais, as posturas, a relao de distncia entre os indivduos e, ainda, a organizao dos objetos no espao (SILVA et al., 2000).

Conscientemente ou no, na medida em que nos relacionamos, estamos sempre nos comunicando. Na rea da sade - principalmente na enfermagem - a comunicao considerada essencial para o desenvolvimento de suas atividades, uma vez que existe a transmisso de uma informao universal, o que exerce influncia direta sobre os indivduos, tendo como resultado o atendimento das necessidades bsicas do ser humano (ORDAHI, 2006; MOURO, 2009).

Horta (1979) referia que a enfermagem tem a comunicao como um dos instrumentos bsicos da profisso. Desse modo, evidente que o sucesso organizacional das instituies alcanado pelo enfermeiro a partir de sua habilidade em ser o elo da cadeia comunicativa, uma vez que est sempre em contato com a equipe multiprofissional. Alm disso, percebido que a falha do processo comunicativo responsvel pelo desencadeamento de fatores que causam insatisfao com o trabalho nas instituies (SANTOS; BERNARDES, 2010).

Na rea da sade, entende-se que a qualidade do servio prestado

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se constitui no pensar que a instituio e os profissionais que nela trabalham so responsveis por preservar a vida dos pacientes que ali esto internados (RAZERA; BRAGA, 2011).

Nessa perspectiva, cabe ao enfermeiro coordenar e gerenciar de forma global os processos de assistncia aos pacientes internados em suas instituies. Acrescido a isso, funo da equipe de enfermagem cuidar das pessoas e suas especificidades, suas necessidades, alta ou recuperao, devendo desenvolv-lo de forma eficiente, com comprometimento, garantindo a qualidade, bem como a satisfao dos pacientes e seus familiares. Nesse mbito, percebe-se e valoriza-se a importncia do processo de comunicao entre os profissionais assim como entre os usurios, de forma que possibilite a compreenso e a satisfao de todos e o funcionamento adequado da instituio (BARBOSA; MELO, 2008; SANTOS; BERNARDES, 2010).

A relevncia do processo de comunicao na rea da sade pode ser observada nos dados fornecidos pela Joint Comission no perodo 1995 2006, indicando que as principais causas de eventos sentinela foram aquelas relacionadas comunicao (WHO, 2007).

Na Austrlia, ocorreram cerca de 25000 a 30000 eventos adversos evitveis que levaram a incapacidade permanente, sendo 11% destes devido a problemas de comunicao (WHO, 2007). Denomina-se de falhas de comunicao os problemas relacionadas s informaes omitidas ou registradas de forma errnea no pronturio, as quais podem gerar erros de avaliao, e tambm erros na conduo do cuidado e no tratamento prescrito (REBRAENSP, 2010; SES/SC, 2011).

Devido a estas preocupantes repercusses sobre a vida de inmeros pacientes e seus familiares, bem como s consequncias que podem ter na carreira de muitos profissionais, a OMS tem como meta a qualidade da comunicao durante a passagem de planto e transferncia do paciente (WHO, 2007; REBRAENSP, 2010).

Na enfermagem, essa atividade ocorre principalmente por meio das passagens de planto, a qual tem como integrante principal o processo de comunicao dessa equipe, estando este intrinsecamente relacionado realizao dos cuidados desses trabalhadores para com o paciente. Cabe ressaltar que, se por algum fator no for desenvolvida de forma adequada, os eventos adversos resultantes podem gerar consequncias diretas e indiretas aos pacientes e seus familiares, instituio e equipe.

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3.2 PASSAGEM DE PLANTO DE ENFERMAGEM E A SEGURANA DO PACIENTE

O termo passagem de planto utilizado para mencionar a

ocasio na qual a equipe de enfermagem repassa informaes durante a troca de turnos de trabalho, sendo parte essencial do processo de comunicao dessa equipe, proporcionando foco e orientao para os profissionais de enfermagem que daro incio a suas atividades, auxiliando a manter a continuidade da assistncia prestada (FENTON, 2006).

Nesse momento, os pacientes so identificados e posteriormente discute-se sobre o seu estado geral, quais os cuidados realizados, intercorrncias, pendncias, bem como qualquer assunto que esteja relacionado ao processo de trabalho da equipe e que seja importante para o correto funcionamento da unidade de tratamento (KURCGANT; SIQUEIRA, 2005).

No entanto, estudos indicam que durante este processo h falta de coerncia na abordagem entre os enfermeiros, sendo as informaes repassadas inconsistentemente, com detalhes insuficientes e no especficos, ou seja, de forma subjetiva (McFETRIDGE et al., 2007; FENTON, 2006).

OConnell, Macdonald e Kelly (2008) confirmam esses achados em estudo que identificou a percepo de enfermeiras acerca da passagem de planto e determinou fragilidades e potencialidades dessa atividade, sendo referido que 56% das enfermeiras perceberam as informaes recebidas como subjetivas, caracterizando a passagem de planto como deficitria, e que muitas informaes foram esquecidas ou perdidas. Alm disso, 48 % das enfermeiras indicaram que as informaes repassadas poderiam ser obtidas no pronturio do paciente.

Ainda nessa perspectiva, estudo realizado com 22.902 enfermeiras que trabalhavam em hospitais em 10 pases europeus, o qual objetivou explorar a percepo das enfermeiras e as possveis razes para relatarem insatisfaes acerca das passagens de planto, evidenciou que essas profissionais estavam insatisfeitas com as passagens de planto realizadas em suas instituies, expressando percentual que variou de 22% na Inglaterra a 61% na Frana (MEIBNER, et al., 2006).

A insatisfao referida principalmente condicionada aos inmeros problemas relacionados s passagens de planto, seguidos do tempo insuficiente para a realizao da mesma. Um nmero expressivo de pases mostrou associaes similares de insatisfao com o nvel de

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qualificao dos profissionais e tempo de trabalho na rea, mas no com o tipo de passagem de planto realizado pela equipe de enfermagem (MEIBNER, et al., 2006).

Acrescido a isso, a realizao de comunicao adequada entre os enfermeiros pode ser difcil devido grande quantidade de atividades inerentes a esses profissionais, ao elevado nmero de pacientes, bem como ao pouco tempo para o desenvolvimento de suas atividades (THE JOINT COMISSION, 2010).

Dentre os problemas que dificultam a comunicao na passagem de planto,Australian Comission on Safety and Quality in Health Care (2008)identifica a falta de entendimento ou a realizao de uma prtica comum de passagem de planto; a ausncia da realizao da passagem de planto e dos cuidados de forma interdisciplinar; a cultura hierrquica de um hospital; interrupes e distraes; falta de instruo e pesquisa; e tambm o mnimo envolvimento com o paciente e sua famlia.

Tambm foram identificados como fatores que interferem na comunicao durante as passagens de planto: a quantidade excessiva ou reduzida de informaes; a limitada oportunidade para fazer questionamentos; a qualidade inconsistente das informaes; a omisso ou o repasse de informaes errneas; registros ilegveis (STAGGERS; JENNINGS, 2009; GOLDSMITH, 2010; WELSH; FLANAGAN; EBRIGHT, 2010; NAGPAL et al., 2010; 2009; REDA; PENICHE, 2008).

Quanto aos problemas que podem surgir a partir da comunicao frgil durante a passagem de planto, incluem-se a administrao incorreta de medicamentos, atrasos no tratamento ou falha no momento em que est sendo institudo, repetio desnecessria de exames para diagnsticos e reinternaes evitveis (JORM; KANEEN, 2009).

Dentre os erros referidos em UCIs-Neo, sabe-se que em sua maioria ocorrem no perodo noturno, tendo como causa principal a administrao incorreta de drogas (35%), seguida de erros na interpretao da prescrio (26%). Os fatores ambientais (barulho e calor), psicolgicos (tdio, ansiedade e stress) e fisiolgicos (fadiga e sono) tambm contribuem para a ocorrncia de erros (CARVALHO; VIEIRA, 2002).

Corroborando com a pesquisa anterior, observam-se os erros de medicao em UCIs-Neo, os mais comumente referidos na literatura, como pode ser observado em estudo realizado em 2004, o qual avaliou 821 prescries mdicas em UCI-Neo e Emergncia, e identificou 81 erros de medicao (JAIN; BASU; PARMAR, 2009).

Devido importncia da comunicao durante a passagem de

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planto e para a segurana do paciente, The Joint Comission (2008) refere alguns pontos importantes que deve ter uma passagem de planto: oportunidade para que o profissional que est iniciando seu turno de trabalho possa rever os dados do histrico do paciente, como cuidados prestados e tratamentos prescritos; indicao de que as interrupes sejam limitadas com a finalidade de que as informaes no sejam insuficientes ou esquecidas; a existncia de um processo de verificao das informaes recebidas, incluindo repeat-back ou read-back 1; e tambm a realizao de comunicao interativa, de modo que permita a oportunidade para que sejam realizados alguns questionamentos entre os profissionais que esto participando da passagem de planto.

Alm disso, foram tambm identificados na literatura outros fatores que promovem a segurana do paciente durante comunicao na passagem de planto, como: uso de linguagem clara; evitar o uso de abreviaes de termos que possam ser mal interpretados; as informaes devem ser registradas em instrumento padronizado na instituio para garantir comunicao efetiva e segura; o uso da tecnologia auxiliando a comunicao efetiva, pois os registros eletrnicos podem apoiar a transmisso oportuna e eficiente das informaes do paciente (REBRAENSP, 2010; WHO, 2007).

Em relao ao uso de instrumentos padronizados (check-lists estruturados) que assegurem a comunicao para a segurana do paciente, Stahl et al. (2009) compararam as passagens de planto com e sem o uso de instrumento estruturado, e referiram que, num perodo de 24 horas, informaes foram perdidas ou repassadas de forma distorcida, e evidenciaram que o uso de check-lists diminui significativamente os erros para os pacientes devido reduo de problemas de comunicao entre equipes de UCIs-Neo , bem como na perda de informaes repassadas.

No que diz respeito s informaes que devem ser repassadas, autores salientam que principalmente deve ser informado sobre as condies gerais do paciente; as medicaes em uso; alteraes significativas em sua evoluo; resultados de exames realizados; previses do tratamento; bem como recomendaes de procedimentos realizados (REBRAENSP, 2010; WHO, 2007).

Ainda, outros autores indicam que tambm devem ser informados durante a passagem de planto: o nmero do registro do paciente; sua identificao; a idade; as questes relacionadas dieta; o histrico de

__________ 1 Tcnica utilizada para verificao de informaes recebidas, que consiste em repetir o que foi dito para assegurar que a informao est sendo repassada de forma correta.

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sade; a documentao disponvel; as razes para internao do paciente; as restries do paciente; as informaes sobre o acompanhante; as informaes burocrticas; as necessidades de materiais; o risco para quedas; os fatores relacionados segurana; as eliminaes; as questes relacionadas sade mental (MCCLOUGHEN et al., 2008; STAGGERS; JENNINGS,2009; MISTRY, 2010; GOLDSMITH, 2010; YEE et al., 2009; ALEM et al., 2008; WELSH; FLANAGAN; EBRIGHT, 2010; MCFETRIDGE et al., 2007; O'CONNELL; MACDONALD; CHERENE, 2008).

Em relao ao tempo despendido para realizao da passagem de planto, so bastante diferenciadas as informaes encontradas na literatura atual, como pode ser observado em estudo realizado em hospital no sul do Brasil, o qual refere que a passagem de planto ocorre num perodo de 15 minutos, tempo determinado pela prpria instituio de sade, com base nas questes legais trabalhistas quanto jornada de trabalho de 6 horas. No entanto, nem todas as unidades realizam no tempo previsto, variando de 8 a 23 minutos de realizao da atividade como um todo. importante salientar que as observaes foram realizadas em unidades cirrgicas e que as passagens de planto que tiveram menor dispndio de tempo foram as que possuam menor nmero de pacientes internados (PORTAL; MAGALHES, 2008).

De acordo com McCloughen et al. (2009), a durao da passagem de planto em Unidade de Reabilitao em Sade Mental, foi altamente varivel, levando cerca de 5 at 30 minutos, com mdia de 15 minutos, sendo que alguns profissionais acreditam que de 15 a 20 minutos seja o tempo suficiente, enquanto que outros mencionam que o tempo da passagem de planto deve ser determinado pela quantidade de informaes relevantes que devem ser repassadas.

Contrapondo-se aos dados apresentados acima, estudo indica que o tempo da realizao da passagem de planto varia de 1 a 2 minutos por paciente em uma unidade de cuidados no crticos para mais de 6 minutos por paciente em unidades de cuidados crticos (ALVARADO et al., 2006).

3.2.1 Modalidade de Passagem de Planto

A modalidade de passagem de planto ir variar de acordo com a

necessidade local, e nisso se incluem o quantitativo de recursos humanos, a qualidade dos recursos tecnolgicos, o perfil dos

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profissionais e da gesto atuante. Os dados fornecidos e o nvel de detalhes repassados dependem de vrios fatores, como a gravidade do estado de sade do paciente, se os resultados de investigaes esto pendentes e se exigem acompanhamentos imediatos.

A passagem de planto tambm pode ser influenciada pela hora do dia e o perodo da semana em que est ocorrendo (por exemplo, dia de semana versus final de semana, o turno da noite versus o turno da manh), e a relao do turno de trabalho. importante que prioridades sejam definidas para garantir que a informao essencial seja comunicada e compreendida (AMA, 2006).

Assim, no h consenso na literatura em relao ao melhor mtodo para a realizao da passagem de planto, no entanto, quando da sua escolha, imperativo que durante sua realizao deve-se utilizar uma linguagem clara; com informaes concisas; sem uso de abreviaes ou jarges; que no haja interrupes; no ocorram conversas paralelas por parte dos profissionais; que sejam utilizados instrumentos padronizados e recursos tecnolgicos. Alm disso, priorizado que ocorram interaes entre os profissionais, permitindo o esclarecimento de dvidas, discusso e reflexo sobre a situao de cada paciente (FRIESEN; WHITE; BYERS, 2008).

Dentre as modalidades utilizadas para a transferncia de informaes durante as passagens de planto tem-se: a verbal, a escrita, com uso de gravadores, com uso de whiteboards2 e, ainda, a denominada bedside handover, sendo aquela modalidade realizada ao lado do leito do paciente (ALVARADO et al., 2006; FRIESEN; WHITE; BYERS, 2008).

Essas modalidades podem ser utilizadas de forma isolada ou combinadas entre si: passagem de planto verbalmente com associao do uso de gravadores; passagem de planto verbalmente, com notas escritas e o uso de gravadores; passagem de planto com notas escritas e uso de gravadores; passagem de planto realizada oralmente com apoio de whiteboards2; modalidade verbal juntamente com a modalidade escrita; e bedside handover com uso da modalidade escrita.

Quanto s suas especificidades, cada modalidade possui vantagens e desvantagens, as quais so estudadas pelas instituies de sade com a finalidade de alcanar o melhor mtodo para garantir segurana para seus pacientes e funcionrios.

Assim, a modalidade verbal quando utilizada isoladamente,

__________ 2 Quadros com informaes sobre os pacientes que auxiliam os profissionais no momento da passagem de planto.

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identificada de forma positiva por alguns profissionais como um mtodo rpido, conveniente, um momento de reflexo, no qual os envolvidos podem discutir os casos e fazer questionamentos, de forma que os erros sejam minimizados. (MCCLOUGHEN, 2008; BENHAM-HUTCHINS; EFFKEN, 2010; STAGGERS; JENNINGS, 2009; MISTRY, 2010).

Em contrapartida, foi relatado que seu uso isolado possui fragilidades, pois as informaes no so efetivamente retidas, sendo mencionada, tambm, como uma modalidade que pode tornar-se demorada, com foco retrospectivo sobre os cuidados de enfermagem e tratamento mdico, sendo que no considerada de forma adequada a perspectiva do paciente (MCCLOUGHEN, 2008; STAGGERS; JENNINGS, 2009; PATEL et al.,2009; GOLDSMITH, 2010).

O uso dessa modalidade associada modalidade escrita observado na literatura como mtodo de preferncia de alguns profissionais. Essa assertiva pode ser confirmada por estudo realizado no Brasil, o qual evidenciou que, dentre os profissionais de enfermagem, ou seja, enfermeiros, tcnicos e auxiliares de enfermagem, 100%, 59% e 57%, respectivamente, utilizam esta modalidade para a realizao de sua passagem de planto (YEE; WONG; TURNER, 2009; YE et al., 2007; TEODORO; AQUINO, 2010).

Na modalidade escrita, as informaes so repassadas por meio de livro de ocorrncias, pelo envio de e-mails, atravs de cartes contendo os principais tpicos sobre os pacientes a serem repassados e com anotaes realizadas com ou sem o uso de formulrios especficos para a realizao desta atividade. Essas informaes podem ser apresentadas na forma manuscrita ou impressa (ALEM et al., 2008).

O uso dessa modalidade de forma isolada percebido pelos profissionais como uma modalidade que restringe certas aes que potencializam as passagens de planto quando foca-se a segurana do paciente, pois referido que as informaes repassadas so incompletas, inconsistentes, e que no podem ser realizados questionamentos e esclarecimentos de dvidas, e que, ainda, os fatores emocionais e sociais so excludos, comprometendo a continuidade do cuidado (WELSH; FLANAGAN; EBRIGHT, 2010; RABINOVITCH et al., 2009; MEIBNER et al., 2007; PORTAL; MAGALHES, 2008).

No que diz respeito passagem de planto realizada com o uso de gravadores, assim como a modalidade escrita quando utilizada isoladamente, esta referida como uma modalidade cujas informaes repassadas so inconsistentes, onde h limitada oportunidade para realizar questionamentos, bem como gera dvidas a serem esclarecidas, e, ainda, so excludos os aspectos sociais e emocionais, pois no h

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interao direta entre os profissionais. (WELSH; FLANAGAN; EBRIGHT, 2010; MEIBNER et al., 2007).

Os Whiteboards so quadros que contm informaes relevantes sobre os pacientes, sendo tambm utilizados para a realizao das passagens de planto. Essa modalidade pouco referida na literatura, no entanto, segue-se a mesma lgica utilizada para as modalidades escrita e com o uso de gravadores, pois, quando utilizada de forma isolada, no permite interao entre os atores, de forma que as dvidas no so sanadas e, muitas vezes, informaes inconsistentes so repassadas (ALVARADO et al., 2006).

Alm das modalidades identificadas anteriormente, denomina-se bedside handover aquela que ocorre ao lado do leito do paciente. Evidenciou-se que essa modalidade beneficia tanto o paciente quanto os profissionais, pois possibilita que o profissional faa a imediata observao, confirmao de informaes, ocorrendo tambm a participao do paciente em seu plano de cuidados. Alm disso, identificada, como um momento propcio para o ensino, ocorrendo interao facilitada entre os envolvidos devido ao fortalecimento das relaes a partir da comunicao (LAWS; AMATO, 2010; MCMURRAY, 2010; CHABOYER, 2009; CARUSO, 2007; GRIFFIN, 2010).

Dessa forma, a passagem de planto, quando realizada de forma correta, traz benefcios para a instituio de sade, para os pacientes e para todos os profissionais envolvidos, garantindo assim a continuidade do cuidado. Para gerar aes de impacto no sistema de sade necessrio desenvolver mudanas nas aes da equipe de enfermagem, construindo novas prticas a partir da busca e do uso de evidncias cientficas para sustentar a assistncia prestada (ANDRADE, et al., 2004).

3.3 CULTURA DE SEGURANA DO PACIENTE E A COMUNICAO NA PASSAGEM DE PLANTO

O conceito de Cultura de Segurana surgiu a partir de

organizaes que realizavam operaes com grande periculosidade, como a aviao civil e a indstria qumica. Esses setores iniciaram investigaes no processo de trabalho devido ocorrncia de erros humanos durante o desenvolvimento das atividades, criando, a partir disso, estratgias e tecnologias, alcanando a reduo da incidncia de

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eventos adversos (INSTITUTO BRASILEIRO PARA SEGURANA DO PACIENTE/IBSP, 2012; PEDREIRA, 2009).

No contexto da organizao de sade, cultura o conjunto de atitudes, crenas, valores e comportamentos que determina como um grupo e seus integrantes atuam em direo segurana do paciente. Esta possui determinadas caractersticas fundamentais: compreenso de que a operao de um hospital uma atividade de alto risco para os pacientes; um ambiente no punitivo; cooperao interdisciplinar e multiprofissional; comprometimento da organizao no que diz respeito a recursos suficientes para solucionar os problemas relacionados segurana do paciente (NEVES, 2011; IBSP, 2012).

Assim, a cultura de segurana de uma Instituio visa norma-tizao e homogeneizao dos conhecimentos e habilidades tcnico-cientficas dos profissionais, tendo como resultado final a prestao de uma assistncia sade de qualidade e livre de danos para os pacientes.

Dessa forma, para melhor compreenso e padronizao de conceitos sobre o tema segurana do paciente, a Organizao Mundial da Sade (2009) publicou o material intitulado Classificao Internacional para a Segurana do Paciente. Dentre esses conceitos, destaca-se nesta pesquisa aqueles relacionados s consequncias das falhas no processo de cuidados aos pacientes, quais sejam:

Dano: Enfraquecimento da estrutura ou da funo do corpo e/ou qualquer efeito deletrio resultante de dano; inclui doena, leso, sofrimento, incapacidade e morte;

Erro: Falha na finalizao de uma ao planejada ou aplicao de um plano incorreto;

Quase Falha: Incidente que no alcanou o paciente; Incidente sem dano: Incidente que atingiu o paciente sem

danos observveis; Incidente com dano (Evento Adverso): Incidente que

resultou em dano ao paciente. Nessa perspectiva, um ponto-chave na preveno de erros na rea

da sade diz respeito identificao de como ocorre a prestao de servios de sade, pois, sem conhecer os tipos de erros mais frequentes, no possvel implementar aes preventivas. de grande valia a existncia de um sistema de notificaes de erros e eventos adversos como fonte de dados, para que aes sejam planejadas e a melhorias institudas no processo de cuidado. (PEDREIRA, 2009)

Ademais, no que diz respeito erradicao do erro, esta uma complexa tarefa, uma vez que Errar humano. Contudo, esforos

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devem ser feitos para que as taxas de eventos adversos sejam prximas de zero, desenvolvendo atuaes que possam prev-los e estabelecer medidas para evit-los. As causas dos erros so multifatoriais, decorrendo de fatores isolados ou combinados entre si, podendo advir do prprio paciente, dos processos executados ou dos produtos utilizados. (SARRUBBO, 2010)

Assim, necessrio que os erros advindos do processo de comunicao durante a passagem de planto sejam reduzidos a partir da percepo, por parte dos profissionais, deste momento como oportuno e de suma importncia para a continuidade e qualidade do cuidado. Ainda, os profissionais devem identificar as principais informaes sobre o estado de sade do paciente, transmitindo-as de forma rpida, objetiva e concisa, garantindo o entendimento entre os profissionais envolvidos. (ANDRADE et al., 2004)

Outro fator relevante, o qual compete ao enfermeiro responsvel pela equipe, bem como aos gestores das instituies, consiste na identificao prvia de fatores relacionados comunicao na passagem de planto que possam interferir na continuidade e qualidade do cuidado prestado, como: a qualidade dos registros realizados pela equipe, atrasos dos profissionais, quantidade reduzida de recursos humanos, grande quantidades de pacientes nas unidades, tempo insuficiente para a realizao desta atividade, assim como a no valorizao por parte dos profissionais da realizao desta atividade (ANDRADE et al., 2004)

O controle e a preveno do erro devem ter carter formador e nunca devem ser vistos como um processo persecutrio. evidente que no devem ser excludas as responsabilidades tcnicas, ticas e legais dos atores, no entanto, todas as situaes devem ser percebidas como oportunidades para anlise crtica investigativa, reviso dos processos e produtos e tomada de decises para erradicao ou reduo do erro (SARRUBBO, 2010).

3.4 UNIDADE DE CUIDADO INTENSIVO NEONATAL A Unidade de Cuidado Intensivo Neonatal (UCI-Neo) propicia ao

recm-nascido uma experincia diferenciada do ambiente uterino, pois constituda por um ambiente estressante e impessoal, com luzes fortes e constantes, certo grau de rudos, alteraes de temperatura, inmeras interrupes no ciclo do sono, visto que so necessrias repetidas avaliaes e procedimentos, acarretando, muitas vezes, desconforto e

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dor ao recm-nascido (REICHERT; LINS; COLLET, 2007). Nessa unidade so realizados cuidados a recm-nascidos em

estado crtico de sade, vulnerveis, que carecem de cuidado de enfermagem ininterrupto, fatores estes que demandam por parte dos profissionais da sade amplo conhecimento cientfico, desenvoltura tcnica e habilidade de realizar avaliaes criteriosas destas crianas (DUARTE; ELLENSOHN, 2007).

percebida, ainda, como um lugar de aprendizagem, de sofrimento, bem como de esperana. O profissional da sade vivencia diariamente situaes de vida e de morte. Acresce-se a isso a imensa preocupao com as morbidades decorrentes no s do nascimento antecipado, do baixo peso, como das prprias iatrogenias advindas dos cuidados oferecidos aos bebs. (BRASIL, 2011)

Nessa perspectiva, a qualidade do cuidado prestado pele equipe de enfermagem tem sido observada e refletida diariamente no mbito hospitalar, uma vez que o profissional submetido a rotinas de trabalho exaustivas, sobrecarga de trabalho devido deficincia de recursos humanos, condies estruturais pouco favorveis e remuneraes deficitrias. Dessa forma, estes fatores evidenciam fragilidades no sistema, pois este trabalhador se apresenta vulnervel.

Assim, como consequncia tem-se um cuidado fragmentado, evidenciado desestmulo dos funcionrios e acmulo de servios, gerando situaes desgastantes e que colocam em risco a segurana do paciente, como, por exemplo, os conflitos existentes nas passagens de planto decorrentes de atrasos dos profissionais por acmulo de vnculos empregatcios (SILVA et al., 2006).

Ainda na perspectiva das passagens de planto realizadas em UCIs-Neo, o Manual deAteno humanizada ao recm-nascido de baixo peso: Mtodo Canguru, do Ministrio da Sade (2011), cita que a passagem de planto dos profissionais dessas unidades representa um momento de encontro entre essas equipes. referido que esta atividade no deve ser realizada de forma separada entre as equipes de enfermagem e mdica, devendo, inclusive, incorporar outras categorias da rea da sade, como o psiclogo e assistente social. Esta medida deve-se minimizao do risco no s de seguir uma viso dicotomizada do recm-nascido, bem como do estresse surgido por falhas na comunicao entre as diferentes categorias. (BRASIL, 2011)

A experincia da discusso clnica compartilhada entre as vrias categorias da rea da sade tem apresentado resultados positivos, inclusive para problemas no relacionamento entre as equipes mdica e dos profissionais de enfermagem. Nesse momento, a dvida pode ser

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esclarecida, reduzindo o risco de determinada interveno falhar ou ser equivocada, preservando a segurana do recm-nascido. (BRASIL, 2011)

A incluso de diferentes categorias na equipe de sade visa estabelecer formas mais adequadas de comunicao entre os integrantes, para que se tenha uma integrao maior do grupo de trabalho e, consequentemente, possibilite formas de abordagem das tarefas mais padronizadas e seguras. (BRASIL, 2011)

Alm disso, sabe-se que, na rea da sade, muitos profissionais ainda tm dificuldades em compreender e executar trabalho em equipe, realizando aes parceladas e frequentemente desarticuladas, ainda que tenham conhecimento de que por meio da articulao dos cuidados prestados que teremos um trabalho que atender s necessidades multidimensionais dos pacientes de quem cuidamos. Nessa perspectiva, conhecido que, no processo de trabalho na UCI-Neo, mdicos e profissionais de enfermagem, durante a realizao das suas funes diferenciadas, muitas vezes no conseguem se comunicar corretamente (GAVA; SCOCHI, 2004).

Na prtica cotidiana, sabe-se que, em algumas instituies, a passagem de planto no ocorre como previsto e explanado anteriormente, sendo observado que, dentro da prpria equipe de enfermagem, a comunicao prejudicada, seja por sobrecarga de trabalho ou at mesmo falta de habilidade ou conhecimento, havendo, muitas vezes, desarticulao no cuidado realizado. Nesse momento, a segurana do neonato colocada em risco, como, por exemplo, no uso errneo de medicaes ou na realizao incorreta de procedimentos.

Dessa forma, se faz necessrio estudar o processo de comunicao durante a passagem de planto da equipe da equipe de sade, com foco nas equipes de enfermagem das UCI-Neo, com a finalidade de aprofundar o conhecimento e consequentemente promover melhorias nesta rea.

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4 MTODO

4.1 TIPO DE ESTUDO Trata-se de um estudo descritivo-exploratrio, de abordagem

quantitativa, sobre os fatores relacionados comunicao durante a passagem de planto da equipe de enfermagem em Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais que podem interferir na segurana do paciente.

Na abordagem quantitativa, a pesquisa desenvolvida pelo mtodo cientfico tradicional, ou seja, um processo sistemtico e controlado. Os pesquisadores do mtodo quantitativo baseiam suas descobertas em evidncias empricas e procuram generalizaes dessas descobertas para pontos alm de uma situao ou de um setting nico. (POLIT; BECK, 2011)

A pesquisa descritiva aquela que busca as caractersticas de um determinado fenmeno e tem como objetivo descrever os fenmenos de uma realidade particular. Os achados desse tipo de pesquisa so utilizados para aperfeioar as prticas. A pesquisa exploratria, por sua vez, permite ao pesquisador expandir seu conhecimento, alcanando maiores subsdios sobre um determinado problema (SANTOS,1999; TRIVIOS, 2009).

4.2 LOCAL A pesquisa foi desenvolvida em trs Unidades de Cuidados

Intensivos Neonatais da Grande Florianpolis, assim especificadas: do Hospital Universitrio Professor Polydoro Ernani de So Thiago, do Hospital Infantil Joana de Gusmo, e do Hospital Regional de So Jos Dr. Homero de Miranda Gomes.

A UCI-Neo do Hospital Universitrio Professor Polydoro Ernani de So Thiago - HU composta por um total de 16 leitos, sendo seis de cuidados intensivos, seis de cuidados intermedirios e quatro de Mtodo Canguru. No entanto, no momento da coleta de dados, essa unidade estava em reforma e possua o total de sete leitos, sendo dois de cuidados intensivos, trs de cuidados intermedirios e dois de mtodo

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canguru. A equipe de enfermagem composta ao todo, por nove enfermeiros, 26 tcnicos de enfermagem e 11 auxiliares de enfermagem. Os profissionais cumprem escalas de 6 ou 12 horas semanalmente, e aos finais de semana e feriados, cumprem escalas de 12 horas. Em cada turno esto presentes em mdia cinco tcnicos de enfermagem, sendo que durante a semana tem-se duas enfermeiras nos turnos da manh e tarde, e aos finais de semana e feriados uma enfermeira integra a equipe por turno de trabalho.

A UCI-Neo do Hospital Infantil Joana de Gusmo possui 10 leitos, no entanto apenas cinco estavam ativos, por falta de recursos humanos. A equipe de enfermagem composta por um total de seis enfermeiros, 13 tcnicos de enfermagem e trs auxiliares de enfermagem.Os profissionais cumprem escalas de 6 ou 12 horas de acordo com as necessidades da unidade, sendo que, durante a semana, dois enfermeiros cumprem o turno da manh, um enfermeiro, o turno da tarde, e um enfermeiro, o turno da noite, e cada planto tem trs auxiliares e/ou tcnicos de enfermagem. Aos finais de semana apenas um enfermeiro trabalha nos turnos da manh e tarde (planto de 12 horas), e um no turno da noite (12 horas), podendo estes serem de outras unidades. Alm disso, aos finais de semana, esto presentes trs tcnicos e/ou auxiliares de enfermagem por turno, geralmente cumprindo escala de 12 horas.

Na UCI-Neo do Hospital Regional Dr. Homero de Miranda Gomes, a equipe de enfermagem constituda por oito enfermeiros, 28 tcnicos e oito auxiliares de enfermagem. A unidade possui um total de 32 leitos, sendo divididos entre 10 leitos de cuidados intensivos (no entanto, a quantidade de leitos ocupados varia de oito a 10 leitos) e 18 de cuidados intermedirios e mnimos, estando apenas 10 ativos. Existem tambm quatro leitos de isolamento e observao. A inatividade dos leitos se d pela falta de recursos humanos na instituio.

Os profissionais de enfermagem dessa unidade trabalham em escalas de 12 horas, tanto em dias teis como nos finais de semana/feriados. Existe apenas uma enfermeira que faz horrio diferenciado, realizando turnos de 6 horas dirias, sendo esta a chefia da unidade. Nos dias teis, o planto diurno composto geralmente por duas enfermeiras (uma enfermeira que faz 6 horas na parte matutina e uma enfermeira que faz 12 horas) e cinco tcnicos/auxiliares de enfermagem. A equipe dividida da seguinte forma: uma enfermeira e trs tcnicos/auxiliares ficam nos cuidados intensivos e uma enfermeira, e dois tcnicos/auxiliares, nos cuidados mnimos/intermedirios.

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4.3 POPULAO E AMOSTRA A populao era constituda por 112 profissionais de enfermagem

das referidas Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais. A amostra foi do tipo intencional, no probabilstica, constituda

pelos profissionais das equipes de enfermagem atuantes nestas trs UCIs-Neo, que estavam dentro dos critrios de incluso e que concordaram em participar do estudo mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APNDICE A). Os critrios de incluso da pesquisa foram: profissionais da equipe de enfermagem com perodo de admisso naquela unidade ou mudana de setor com perodo superior a 1 (um) ms, pois o profissional j passou pelo treinamento necessrio fase de adaptao das rotinas do setor; profissionais que no estavam de frias, licena ou folga durante o perodo de coleta de dados.

Os critrios de excluso da pesquisa foram: profissionais da equipe de enfermagem com perodo de admisso naquela unidade ou mudana de setor com perodo inferior a 1 (um) ms, profissionais em frias, licena ou folga no perodo da coleta de dados e declnio do consentimento.

Assim, o total da amostra foi de 70 (62,5% da populao) profissionais de enfermagem nas trs (trs) UCIs-Neo, sendo 17 no Hospital A, 25 no Hospital B e 28 no Hospital C.

No Hospital A, participaram deste estudo cinco enfermeiras, 11 tcnicos e 1 auxiliar de enfermagem. Os sujeitos da pesquisa no Hospital B foram seis enfermeiros, 13 tcnicos de enfermagem e seis auxiliares de enfermagem. No Hospital C, constituram a amostra seis enfermeiros, 15 tcnicos de enfermagem e sete auxiliares de enfermagem.

4.4 ETAPAS DO ESTUDO O estudo em questo foi realizado em quatro etapas, conforme

explicitado a seguir:

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4.4.1 Primeira Etapa: Elaborao dos formulrios de coleta de dados

Para a coleta de dados utilizaram-se dois formulrios, os quais

foram elaborados com base nas diretrizes para a segurana do paciente da Organizao Mundial da Sade e em reviso de literatura. Estes foram: o Formulrio 1, questionrio preenchido pelos profissionais da equipe de enfermagem (APNDICE B) e o Formulrio 2, instrumento de observao preenchido pelo pesquisador (APNDICE C).

Os formulrios foram enviados a dez experts via e-mail, e, juntamente, foi enviada a carta de apresentao do estudo (APNDICE D), contendo a contextualizao terica da temtica, justificativa para a realizao do estudo, bem como seus objetivos. Destes, quatro experts, sendo trs da Regio Sudeste e umada Regio Sul do pas, responderam os e-mails, enviando suas apreciaes em cada um dos instrumentos. Inicialmente, foi institudo o prazo de 25 dias, no entanto, devido solicitaes de tais profissionais o prazo foi estendido de acordo com cada situao.

A partir da avaliao dos experts os formulrios foram aprimorados e, para isso, foi estabelecido o nvel de significncia de 70% para anlise, sendo realizadas alteraes nestes tpicos. Assim, o Formulrio 1 permaneceu com quatro eixos, sendo que no eixo A, foram realizadas alteraes em quatro tpicos. No eixo B, foram includos trs tpicos e quatro foram alterados. Em relao ao eixo C, cinco tpicos foram alterados e quatro foram excludos. No eixo D, quatro tpicos foram alterados e dois tpicos foram includos. Em relao ao Formulrio 2, este permaneceu com dois eixos temticos, entretanto, foram realizadas alteraes em quatro tpicos do eixo B.

4.4.2 Segunda Etapa: Entrada no campo Previamente entrada de campo, a pesquisadora entrou em

contato com as chefias de cada UCI-Neo e agendou reunies. Nesse momento, explicou-lhes acerca dos objetivos, justificativa e etapas da pesquisa e obteve algumas informaes sobre o funcionamento de cada unidade, como o quantitativo de profissionais por cargos que ocupavam naquele setor, assim como os turnos de trabalho de cada profissional. A partir disso, a pesquisadora desenvolveu um cronograma para a

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realizao da coleta de dados. Em um segundo momento, realizaram-se visitas dirias, com a

presena da pesquisadora nos Hospitais A e B, durante 3 a 4 dias, previamente o incio da coleta de dados. No Hospital C, essas visitas no foram realizadas, sendo somente apresentado o projeto em uma reunio dos enfermeiros daquela UCI-Neo. Dessa forma, neste hospital, a entrada de campo se deu concomitantemente coleta de dados.

Nos Hospitais A e B, a pesquisadora, durante essas visitas dirias, reuniu pequenos grupos de profissionais de enfermagem antes e aps as passagens de planto, e, nesse momento, lhes fez o convite para participarem da pesquisa, momento no qual foram elucidados de forma sucinta os objetivos, justificativa e etapas da pesquisa. No Hospital C, esses momentos tambm ocorreram, no entanto, no foi previamente coleta de dados, e sim durante a sua realizao.

Alm da forma de convite citada acima, tambm foram afixados cartazes os quais continham os objetivos da pesquisa, bem como a data em que os dados seriam coletados naquela instituio, com a finalidade de reforar a mobilizao para que os profissionais participassem da pesquisa.

4.4.3 Terceira Etapa: Coleta de dados A coleta de dados foi realizada nos meses de abril a maio de

2012. Para tanto, a mesma foi realizada de duas formas: por meio de questionrio (Formulrio 1) e de observao no participante. Sendo que foram elaborados dois formulrios, um para cada etapa da pesquisa (APNDICES B e C).

As duas fases de coleta de dados ocorreram concomitantemente, de forma que, durante a permanncia da pesquisadora nos hospitais estudados, esta observou as passagens de planto e, antes ou aps a observao, aguardou que os questionrios fossem respondidos, seguindo o melhor momento escolhido pelo sujeito.

Aps a etapa da entrada de campo, a pesquisadora deu incio coleta de dados. Para isso, esteve presente nas UCIs-Neo durante 7 dias seguidos. Realizou observaes das passagens de planto (utilizando o instrumento de observao, processo o qual ser posteriormente descrito), bem como entregou e recebeu o Formulrio 1 dos profissionais de enfermagem que aceitaram participar da pesquisa.

Para a entrega dos formulrios, a pesquisadora esteve presente

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nas UCIs-Neo antes e aps a realizao das passagens de planto, perodo este varivel, de acordo com as solicitaes de esclarecimento de dvidas e questionamentos de cada equipe. Durante esses perodos, entrou em contato com os sujeitos,entregando os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE (APNDICE A), e explicou-lhes novamente o estudo e seus objetivos. Aps concordncia por meio da assinatura do TCLE, os sujeitos preencheram o formulrio 1 de coleta de dados (APNDICE B), ressaltando-se que os mesmos ficaram livres para escolher o momento mais adequado para o preenchimento do mesmo.

Os formulrios preenchidos pelos participantes foram colocados em envelopes pardos, e depositados em urnas lacradas na prpria unidade, sem que fosse possvel identificar qual profissional respondeu determinado instrumento. Aps todos responderem, eles foram armazenados em armrios chaveados na Universidade Federal de Santa Catarina UFSC.

As observaes no participantes das passagens de planto foram realizadas por 7 dias seguidos, incluindo finais de semana e feriados, em cada UCI-Neo, de cada instituio de sade. Isso implicou em que a pesquisadora estivesse nos campos de pesquisa nos turnos da manh, tarde e noite, de acordo com a rotina local e quantidade de passagens de planto estabelecida por cada UCI-Neo.

Para essa observao utilizou-se o Formulrio 2 (APNDICE C), notas foram escritas contendo as percepes da pesquisadora, e, ainda, se empregou o recurso de gravadores, para facilitar a compreenso do processo como um todo. Importante salientar que, nas passagens de planto, a pesquisadora fez notas escritas, gravou o que era repassado entre as equipes, e depois preencheu o instrumento de observao com base nas situaes observadas e informaes obtidas.

Alm disso, previamente e posteriormente s passagens de planto, a pesquisadora verificava informaes contidas nos pronturios dos pacientes, bem como nos livros de ocorrncia de enfermagem.

4.4.3.1 Variveis do Estudo O Formulrio 1 (APNDICE B) foi composto por quatro eixos

principais: identificao do profissional; aspectos gerais da passagem de planto; informaes repassadas durante a passagem de planto; e percepes do profissional de enfermagem acerca do processo de

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passagem de planto. O Formulrio 2 (APNDICE C) foi composto por dois grandes

eixos: o primeiro corresponde identificao da passagem de planto, e o segundo corresponde s questes relacionadas passagem de planto propriamente dita.

Segue abaixo a descrio das variveis que constituram os formulrios do estudo: Turno: Perodo em que o profissional trabalha na Instituio, compreendido entre manh, tarde ou noite. Sexo: Masculino ou feminino. Idade: Nmero de anos completos dos profissionais de enfermagem. Identificao do Funcionrio: Definida pela funo do funcionrio, como Enfermeiro, Tcnico de Enfermagem e Auxiliar de Enfermagem, da Unidade de Terapia Intensiva de determinada instituio. Formao: Definida pelo grau de escolaridade dos profissionais de enfermagem da Unidade de Cuidados Intensivos na instituio. Tempo de Formao: Nmero de anos compreendidos entre o perodo de formao no cargo em que o profissional de enfermagem trabalha, at os dias atuais. Tempo de Trabalho na rea da Sade (Total): Nmero de anos em que o profissional de enfermagem desempenha suas atividades desde a concluso de sua formao. Tempo de Trabalho na Instituio (UCI-Neo): Nmero de anos em que os profissionais de enfermagem desempenham suas atividades em determinada instituio. Nmero de vnculos empregatcios: Nmero de instituies em que os profissionais desempenham suas atividades. Realizao das passagens de planto: Ocasio na qual a equipe de enfermagem repassa informaes durante a troca de turnos de trabalho, sendo uma parte importante do processo de comunicao desta equipe, proporcionando foco e orientao para os profissionais de enfermagem que daro incio s suas atividades, auxiliando a manter a continuidade

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do cuidado prestado (FENTON, 2006). Membro da equipe de enfermagem que repassa as informaes: Definio de qual profissional da equipe de enfermagem (Enfermeiro, Tcnico de Enfermagem ou Auxiliar de Enfermagem) repassa as informaes durante a passagem de planto. Membro da equipe de enfermagem que recebe as informaes: Definio de qual profissional da equipe de enfermagem (Enfermeiro, Tcnico de Enfermagem ou Auxiliar de Enfermagem) recebe as informaes durante a passagem de planto. Tipo de passagem de planto realizada na sua Unidade: Modalidade eleita pelos profissionais de enfermagem/demais profissionais de sade da Unidade de Terapia Intensiva para realizar a passagem de planto. Localizao da realizao da passagem de planto: Local onde a passagem de planto realizada dentro da Unidade de Terapia Intensiva pela equipe de enfermagem/demais profissionais de sade. Participao dos acompanhantes na passagem de planto: Definida pela participao ou no do acompanhante do recm-nascido durante as passagens de planto. Tipo de participao dos acompanhantes na passagem de planto:Como se d a participao ativa do acompanhante na passagem de planto. Nmero de leitos: Quantitativo de leitos existentes em cada Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Nmero de leitos ocupados: Quantitativo de leitos ocupados em cada Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Tempo para a realizao da passagem de planto: Quantidade de minutos/horas despendidos para realizao da passagem de planto da equipe de enfermagem. Tempo suficiente para passagem de planto: Identificao por parte dos profissionais de enfermagem da suficincia ou no do tempo de realizao das passagens de planto.

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Oportunidade para questionamentos e dvidas: Momento em que os profissionais envolvidos na passagem de planto faam questionamentos e tirem dvidas sobre as intercorrncias ou estado de sade do paciente, bem como sobre questes relacionadas administrao da Unidade. Verificao de informaes: Definida pela repetio ou leitura das informaes repassadas durante a realizao das passagens de planto. Reviso de Informaes: Definida pelo hbito dos profissionais em rever informaes relacionadas aos pacientes em livros de ocorrncias e pronturios. Passagens de planto nos turnos de 6 e 12 horas: Se h ou no passagens de planto realizadas nos turnos de 6 e 12 horas. Passagens de planto nos finais de semanas e feriados: Passagens de planto realizadas nos finais de semana e feriados. Identificao do paciente durante a passagem de planto: Como o paciente identificado durante a passagem de planto da equipe de enfermagem. Transmisso de informaes sobre medicamentos: Definida pela ocorrncia do repasse das informaes relacionadas a medicamentos. Informaes repassadas sobre os medicamentos utilizados: Informaes repassadas pelos profissionais de sade/equipe de enfermagem relacionadas ao tratamento medicamentoso realizado pelo paciente. Transmisso de informaes sobre exames: Definida pelo repasse das informaes relacionadas a exames. Informaes transmitidas sobre os exames: Informaes transmitidas pelos profissionais de sade/equipe de enfermagem relacionadas aos exames realizados. Transmisso de informaes sobre o estado geral de sade do paciente: Definida pela ocorrncia do repasse das informaes relacionadas ao estado geral de sade do paciente.

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Informaes transmitidas o estado geral de sade do paciente: Transmisso de informaes por parte dos profissionais de sade/equipe de enfermagem referentes a alteraes de sinais e sintomas, alteraes no exame fsico e evoluo no quadro clnico do paciente. Transmisso de informaes as atividades administrativas da Unidade: Definida pela ocorrncia do repasse das informaes relacionadas s atividades administrativas da Unidade. Informaes transmitidas sobre as atividades administrativas da Unidade: Informaes transmitidas durante a passagem de planto relacionadas manuteno de equipamentos da Unidade, pedidos de materiais, bem como informaes relacionadas ao processo de trabalho da Unidade. Percepo das consequncias de situaes internas ou externas Unidade nas passagens de planto: Definida pela identificao dos profissionais de enfermagem sobre a presena de fatores externos ou internos relacionados passagem de planto. Entendem-se como fatores relacionados: rudos, atrasos e sadas antecipadas dos profissionais, conversas paralelas durante as passagens de planto, realizao de cuidados, fatores ambientais. Repasse de informaes no relativas s passagens de planto: Definida como o repasse de informaes que no dizem respeito de modo geral aos pacientes, familiares ou acompanhantes e situaes administrativas da Unidade. Percepo das consequncias de atrasos ou sadas antecipadas dos profissionais nas passagens de planto: Definida pela identificao dos profissionais de enfermagem sobre as consequncias da ocorrncia de atrasos ou sadas antecipadas para a segurana do paciente. Problemas decorrentes de atrasos e sadas antecipadas dos profissionais de enfermagem: Identificao por parte dos profissionais de enfermagem de problemas decorrentes de chegadas tardias e sadas antecipadas s passagens de planto, como interrupes, rudos, conversas paralelas durante as passagens de planto, e questionamentos no cabveis ao momento.

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Atividades realizadas pelos profissionais durante as passagens de planto: Identificao das atividades realizadas pelos profissionais durante a realizao das passagens de planto. Compreenso das informaes repassadas: Definida como o grau de compreenso das informaes repassadas, como a clareza, o entendimento. Caracterizao das passagens de planto: Definio dada pelos profissionais acerca das passagens de planto realizadas em suas UCIs-Neo. Esta caracterizao pode ser ruim, regular, boa, muito boa e excelente. Repasse de informaes necessrias sobre os pacientes: Identificao por parte dos profissionais sobre se so repassadas informaes pertinentes do paciente no intuito de dar continuidade ao cuidado prestado e garantir a segurana do paciente. Informaes repassadas durante as passagens de planto: Caracterizao por parte dos profissionais das informaes que consideram importantes, a serem repassadas durante as passagens de planto. Tipo de informaes repassadas durante as passagens de planto: Caracterizao por parte da pesquisadora das informaes que considera importantes, a serem repassadas durante as passagens de planto. Conhecimento sobre comunicao efetiva durante a passagem de planto para a segurana do paciente: Definida como a percepo por parte dos profissionais a respeito da importncia do processo de comunicao durante a realizao das passagens de planto e suas implicaes para a segurana do paciente. Conhecimento sobre o tema segurana do paciente:Identificao por parte dos profissionais sobre seus conhecimentos quanto ao tema segurana do paciente. Aprendizado formal sobre o tema segurana do paciente: Definida como a ocorrncia de aprendizado formal sobre o tema segurana do paciente.

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Tema segurana do paciente na instituio de sade: Ocorrncia de discusses, aulas ou conversas informais sobre o tema segurana do paciente, na instituio de sade. Presenciar situaes que colocaram paciente em risco: Definida pela ocorrncia de situaes em o que profissional estava presente, e que colocaram de forma direta ou indireta o paciente em risco. Repetio de informaes: Presena de informaes duplicadas durante a realizao das passagens de planto, as quais podem ser registradas em mais de um local ou abordadas mais de uma vez. Identificao de repetio de informaes: Identificao das informaes duplicadas durante a passagem de planto em livros de ocorrncia, folhas de evoluo ou durante a passagem de planto propriamente dita. Interrupes durante a passagem de planto: Ocorrncia de situaes que interromperam as passagens de planto. Tipos de interrupes durante a passagem de planto: Presena de situaes que interromperam as passagens de planto, como rudos, conversas paralelas, chegadas tardias dos profissionais, bem como intercorrncias com pacientes que pudessem gerar interrupes durante a realizao da passagem de planto. Registro das informaes em instrumento padronizado pela Unidade/instituio: Utilizao de formulrio de registro de informaes especfico para realizao da passagem de planto. Utilizao de aparato tecnolgico nas passagens de planto: Utilizao por parte da equipe de qualquer instrumento que auxilie na realizao das passagens de planto, como, por exemplo, o uso de computadores. Engajamento da equipe durante as passagens de planto: Presena de comportamentos e/ou atitudes positivas para a segurana do paciente, por parte dos profissionais na passagem de planto.

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4.4.4 Quarta Etapa: Anlise de Dados Aps a devoluo dos instrumentos e realizao das observaes

das passagens de planto, os dados obtidos foram tabulados em planilha utilizando-se a ferramenta Microsoft Excel de 2003.

Para a anlise dos dados do instrumento de coleta de dados, empregou-se estatstica descritiva, contendo frequncia absoluta e relativa, mdias, mediana e desvio padro. Para verificar associao entre as variveis categricas foi aplicado o teste estatstico Qui-quadrado de Pearson. Para a anlise estatstica dos dados intervalares, foram satisfeitas duas pr-condies: a aderncia curva normal das distribuies em escala intervalar, a partir do teste de Kolmogorov-Smirnov, e o teste de homogeneidade de Levene. Como foi obtida uma distribuio normal para todos os dados intervalares, utilizou-se o Teste T-Student, na anlise estatstica. Nessas anlises, o nvel de significncia estatstica estabelecida foi de 5% (p

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realizavam a comunicao durante o momento da passagem de planto, para que futuramente recebessem, se necessrio, orientaes adequadas para o aprimorar seu conhecimento e oferecer um cuidado seguro.

A pesquisa passou pela anlise do Comit de tica da Universidade Federal de Santa Catarina, como tambm nos Comits de tica dos hospitais em questo, com pareceres n 2278/12; 005/2012 e 56/11(Anexos A, B e C, respectivamente).

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5 RESULTADOS De acordo com as normas do Programa de Ps-Graduao em

Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, os resultados dos estudos devem ser apresentados em forma de manuscritos. Assim, foram destacadas as variveis que representavam maior significncia e que responderam aos objetivos especficos deste estudo, e foram elaborados dois manuscritos, quais sejam:

Manuscrito 01: Comunicao e Segurana do Paciente na Passagem de Planto em Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais.

Manuscrito 02: Segurana do Paciente e a Passagem de Planto em Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais.

5.1 MANUSCRITO 01: COMUNICAO E SEGURANA DO PACIENTENA PASSAGEM DE PLANTO EM UNIDADES DE CUIDADOS INTENSIVOS NEONATAIS

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COMUNICAO E SEGURANA DO PACIENTE NA PASSAGEM DE PLANTO EM UNIDADES DE CUIDADOS

INTENSIVOS NEONATAIS

Mariana Itamaro Gonalves3 Patrcia Kuerten Rocha4

RESUMO: Objetivo: Identificar os fatores relacionados segurana do paciente quanto comunicao no processo de passagem de planto das Equipes de Enfermagem em Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIs-Neo). Mtodo: Estudo descritivo-exploratrio, abordagem quantitativa. A amostra foi composta por 70 profissionais da equipe de enfermagem de trs UCIs-Neo do Sul do Brasil. Coleta de dados realizada entre abril e maio de 2012, por meio de formulrio. Os dados foram tabulados no Microsoft Excel e analisados estatisticamente. Aprovado pelo Comit de tica da Universidade Federal de Santa Catarina, sob Parecer n2278/12. Resultados: Identificaram-se fatores relacionados caracterizao/operacionalizao das passagens de planto; aos comportamentos e atitudes durante as passagens de planto, aos conhecimentos/percepes dos profissionais quanto importncia da comunicao durante as passagens de planto e segurana do paciente. Dentre os comportamentos dos profissionais, identificaram-se os atrasos e sadas antecipadas, a realizao de cuidados e as conversas paralelas. Em relao aos conhecimentos e percepes, verificou-se que a maioria dos profissionais no identificava as implicaes negativas dos atrasos e sadas antecipadas para as passagens de planto, sendo os enfermeiros aqueles que possuam melhor percepo acerca desses fatores, quando comparados com os tcnicos de enfermagem (p < 0,001). Ainda, dentre as informaes repassadas, aquelas relacionadas condio clnica do pa