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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DISCIPLINA: INT5162 ESTÁGIO SUPERVISIONADO II BRUNO PEREIRA DAL PAZ JAQUELINE CRISTINA COSTA MARIANA SIFRONI FARIAS RELATÓRIO DE PESQUISA A PERCEPÇÃO DOS FAMILIARES SOBRE AS DEMANDAS DE CUIDADO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES DEPENDENTES DE TECNOLOGIA FLORIANÓPOLIS 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

DISCIPLINA: INT5162 – ESTÁGIO SUPERVISIONADO II

BRUNO PEREIRA DAL PAZ

JAQUELINE CRISTINA COSTA

MARIANA SIFRONI FARIAS

RELATÓRIO DE PESQUISA

A PERCEPÇÃO DOS FAMILIARES SOBRE AS DEMANDAS DE CUIDADO DE

CRIANÇAS E ADOLESCENTES DEPENDENTES DE TECNOLOGIA

FLORIANÓPOLIS

2011

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BRUNO PEREIRA DAL PAZ

JAQUELINE CRISTINA COSTA

MARIANA SIFRONI FARIAS

RELATÓRIO DE PESQUISA

A PERCEPÇÃO DOS FAMILIARES SOBRE AS DEMANDAS DE CUIDADO DE

CRIANÇAS E ADOLESCENTES DEPENDENTES DE TECNOLOGIA

Trabalho de Conclusão de Curso, referente à

disciplina: INT5162 - Estágio Supervisionado II,

apresentado ao Curso de Graduação em

Enfermagem da Universidade Federal de Santa

Catarina, para obtenção do grau de Enfermeiro.

Orientadora: Profª. Drª. Ana Izabel Jatobá de Souza

Co-orientadora: Profª. Drª. Patrícia Kuerten Rocha

FLORIANÓPOLIS

2011

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Agradecemos...

...A todos aqueles que nos apoiaram, nos deram forças e nos acompanharam nesta fase de

crescimento profissional e pessoal, contribuindo de alguma forma na construção deste

trabalho.

...A Deus, por nos permitir chegar até aqui.

...Aos nossos Familiares, obrigado pelo carinho, palavras de incentivo e por entenderem

nossa ausência em determinados momentos.

...Às nossas mães, obrigado pela imensa dedicação e apoio. Por serem grandes mulheres

sempre nos incentivando em nossas escolhas e por propiciarem a realização deste sonho.

...Aos amigos de longa data, que mesmo longe sempre se preocuparam conosco e se faziam

presente.

...Aos nossos colegas de faculdade, agradecemos pelas experiências e aprendizados, vocês

nos proporcionaram os melhores momentos durante as aulas e os estágios.

...À nossa orientadora Drª. Ana Izabel Jatobá de Souza e co-orientadora Drª. Patrícia

Kuerten Rocha, obrigado por toda dedicação, carinho, momentos de escuta, ensinamentos

trocados e por acreditar em nossos ideais e confiar em nosso potencial.

...À Professora Jane Cristina Anders, que como membro de banca muito contribuiu para o

enriquecimento de nosso trabalho.

...Aos enfermeiros supervisores de estágio, em especial a Enfermeira Vanessa Andrade e o

Enfermeiro André de Bastiani Lancini, por nos proporcionar crescimento profissional.

...À toda equipe Multiprofissional do Centro de Saúde da Agronômica, agradecemos pela

maravilhosa experiência de estar diariamente com vocês. Trocamos ensinamentos e

aprendemos sobre o maravilhoso universo da saúde pública. Obrigado pela atenção e

compreensão diárias.

...Ao Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão na Saúde da Criança e Adolescente

(GEPESCA), por nos ter dado a oportunidade de trabalhar com esse valioso conteúdo, e por

compartilhar a riqueza de sua temática.

...A Prof. Dra. Edilza Maria Ribeiro, por ser a percursora desta temática e grande

incentivadora da continuidade deste trabalho.

...À Universidade Federal de Santa Catarina e aos professores do Curso de Graduação em

Enfermagem.

...A todos os anjos disfarçados sejam de pacientes, amigos e pessoas que cruzaram nossas

vidas e fizeram uma grande diferença.

NOSSO MUITO OBRIGADO A TODOS!

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“Descobri como é bom chegar quando se tem paciência,

e para chegar onde quer que seja, aprendi que

não é preciso dominar a força, mas a razão.

É preciso antes de qualquer coisa, querer!”.

(Amyr Klink)

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DAL PAZ, Bruno Pereira; COSTA, Jaqueline Cristina; FARIAS, Mariana Sifroni. A

percepção dos familiares sobre as demandas de cuidado de crianças e adolescentes

dependentes de tecnologia. 2011. 57f. (Trabalho de Conclusão de Curso). Curso de

Graduação em Enfermagem, Departamento de Enfermagem, Universidade Federal de Santa

Catarina, Florianópolis, 2011.

Trata-se de um relatório de pesquisa desenvolvido como Trabalho de Conclusão do Curso

(TCC), por acadêmicos da oitava unidade curricular do Curso de Graduação em Enfermagem

da Universidade Federal de Santa Catarina. O aumento do número de Crianças e Adolescentes

Dependentes de Tecnologia (CADT) passou a demandar maior atenção e cuidado,

principalmente no âmbito domiciliar. Em razão disso, este estudo teve como objetivo

conhecer a percepção dos familiares sobre as demandas de cuidado de CADT. Trata-se de um

estudo com abordagem qualitativa de natureza exploratório-descritiva, realizado em um

hospital pediátrico de referência no sul do Brasil, aprovado pelo Comitê de Ética da

Instituição sob parecer no

045-2009, sendo seus dados coletados na primeira etapa no período

de agosto a novembro de 2009, e na segunda etapa no período de março a novembro de 2010.

Constituíram-se sujeitos da pesquisa quinze familiares acompanhantes de CADTs. A análise

interpretativa dos dados foi orientada pela proposta metodológica de Minayo (2010). Dos

resultados emergiram três categorias: descobrindo e descobrindo-se: a percepção de si e do

outro na realização do cuidado com a tecnologia; atores em foco: o responsável e a

responsabilidade pela realização dos cuidados a criança dependente de tecnologia; e

cotidiano familiar: a percepção sobre a reconfiguração necessária. Evidenciou-se que a

percepção das famílias sobre as demandas de cuidados das CADT é a de que estas trazem

consigo limitações, dificuldades, renúncias, aprendizado, superação, escolhas nem sempre

desejáveis, mas necessárias impostas pela condição familiar. A percepção sobre tais demandas

retrata pessoas com coragem e capacidade para superar as adversidades, mesmo que com

estas venham as dificuldades e percalços do cotidiano, vencidos pela esperança de que a

tecnologia garanta a sobrevivência e a qualidade de vida da CADT.

Descritores: Pediatria; Enfermagem; Relações Familiares; Tecnologia.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 9

2. OBJETIVO ......................................................................................................................... 14

3. MARCO REFERENCIAL ................................................................................................ 15

3.1 CONCEITOS QUE SUSTENTAM A PROPOSTA ..................................................... 15

3.2 PRESSUPOSTOS .......................................................................................................... 18

4. METODOLOGIA ............................................................................................................... 21

4.1 CONTEXTO DA PESQUISA ....................................................................................... 21

4.2 LOCAL .......................................................................................................................... 21

4.3 SUJEITOS DA PESQUISA........................................................................................... 21

4.4 COLETA DOS DADOS ................................................................................................ 22

4.5 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................... 22

4.6 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ....................................................................................... 24

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 25

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 45

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 47

ANEXO A – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA ..................................................... 51

ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO ....................................... 55

ANEXO C – INSTRUMENTO DE ENTREVISTA ............................................................ 56

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1. INTRODUÇÃO

O cuidado voltado à criança e ao adolescente vem sofrendo modificações ao longo do

tempo, estas são em decorrência de influências políticas, econômicas, culturais e sociais, com

ênfase na crescente evolução e incorporação de novas tecnologias (GÓES; CABRAL, 2010;

PIVA; GARCIA; LAGO, 2011).

Atualmente o crescente avanço da tecnologia que se encontra a favor das ciências

biomédicas, tem contribuído para o aumento da incidência de crianças e adolescentes que

conseguem sobreviver às diversas situações graves de saúde. Uma das consequências destes

avanços foi o surgimento de um grupo que necessita de cuidados de saúde especializados e

contínuos; sejam por condições genéticas, congênitas, doenças agudas e crônicas,

prematuridade, infecções ou lesões traumáticas (WANG; BARNARD, 2004; FRACOLLI;

ANGELO, 2006; DRUCKER, 2007; LEITE; CUNHA, 2007).

A partir desta nova realidade, vem aumentando consideravelmente o número de

crianças e adolescentes dependentes de tecnologia, ou seja, crianças e adolescentes que

dependem de dispositivos tecnológicos e/ou de grupos farmacológicos, para compensar a

perda de uma função vital e substancial do corpo humano. Dispositivos esses que são

indispensáveis para que ocorra uma melhor recuperação clínica e até mesmo à sobrevivência,

gerando dependências que muitas vezes farão parte do ambiente domiciliar (DRUCKER,

2007).

Os tipos de tecnologia mais encontrados em nosso dia a dia são: ventilação mecânica,

nutrição parenteral, terapias com drogas (de uso oral, endovenoso, entre outros), diálise

peritoneal, hemodiálise, oxigenioterapia, alimentação enteral, monitoração cardiorrespiratória,

entre outros. Além das necessidades técnicas, que demandam cuidadores com experiência

para a manutenção desses artefatos tecnológicos, essas crianças e adolescentes requerem uma

demanda de cuidado qualificado e prolongado devido a situação de saúde em que se

encontram, devendo os cuidadores estarem cientes dos problemas relacionados à doença de

base e das alterações clínicas frequentes (FRACOLLI; ANGELO, 2006).

Porém, os benefícios proporcionados à sociedade pelos avanços tecnológicos no

campo pediátrico aumentaram as chances desse grupo de crianças e adolescentes, exigindo

um acompanhamento profissional a longo-prazo, sendo responsável pela sua inserção no

contexto social como um grupo emergente na sociedade que demanda atenção, cuidados e

formas de saberes ainda desconhecidos pelo senso comum (GÓES; CABRAL, 2010).

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A fim de quantificar essa clientela, verificou-se que os estudos denotam a escassez de

registros nacionais e internacionais sobre a prevalência de CADTs. Pesquisas referentes ao

final da década de 80 nos EUA e início do ano 2000 no Reino Unido estimavam,

respectivamente, cerca de 100.000 e 6.000 crianças pertencentes a este grupo. No Brasil por

sua vez, esses dados inexistem, mas em decorrência de experiências pontuais evidencia-se um

número absoluto expressivo destas crianças e adolescentes (FLORIANI, 2010).

A presença de uma criança ou adolescente dependente de tecnologia (CADT) leva a

importantes modificações no sistema familiar. A grande mudança inicial na família

caracteriza-se pelo momento em que se deparam com a necessidade tecnológica do filho

ocasionando uma desordem em suas vidas. Este momento é de grande impacto e merece ser

valorizado pela equipe de saúde, a fim de ser tratado com igual importância e respeito. Este,

além disso, evidencia a necessidade de repensar no modelo de assistência através do

compromisso de incluir as famílias nos cuidados de saúde, compreendendo-as como sujeito

principal da ação de cuidado à criança/adolescente (LEITE; CUNHA, 2007).

Segundo Carnevale et al. (2006) em estudo realizado em um Hospital Infantil de

Montreal, Canadá, é necessário uma dedicação e atenção extraordinárias às necessidades das

crianças que dependem de tecnologia. Esses pais lutam continuadamente com uma tensão

emocional bastante significativa, seja pela dependência física e psicológica da criança, seja

pelo impacto causado nas relações familiares.

Estas alterações acarretam na reconfiguração do cotidiano destas famílias, dentre as

quais destacam-se: o aumento da disponibilidade para cuidar da criança/adolescente;

interrupção de atividades laborais por parte de um dos pais; a convivência com o sofrimento

de outros filhos sentindo-se em segundo plano; alterações no relacionamento conjugal;

problemas financeiros; dificuldades para a realização de atividades cotidianas; bem como, a

falta de infra-estrutura domiciliar para a adequada instalação do filho. Tais mudanças, muitas

vezes os impedem temporalmente de compreender o que realmente está acontecendo (GÓES;

LA CAVA, 2009).

A constante demanda de cuidados pode afetar adversamente a saúde física e mental

dos cuidadores de uma criança/adolescente dependente de tecnologia, sendo a preocupação

financeira também uma das fontes de tensão nestas famílias. As restrições e a inibição do

funcionamento familiar podem trazer um impacto negativo sobre a qualidade de vida dessas

famílias. Os pais muitas vezes passam pela experiência de uma tensão moral, e encontram-se

frente ao dilema de proporcionar a seus filhos toda a vantagem de ser cuidados no ambiente

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domiciliar enquanto travam uma verdadeira luta com as tensões pessoais que esta decisão

implica (CARNEVALE et al., 2006).

Ainda assim, a equipe de saúde que cuida da criança/adolescente no ambiente

hospitalar pressupõe que as famílias estão preparadas para desenvolver seus cuidados no

âmbito domiciliar. Todavia, na prática há uma falta de sintonia entre as expectativas dos

profissionais e a dos pais. É preciso que a equipe respeite a fase inicial de adaptação de cada

familiar, inserindo-os gradualmente nos cuidados dos filhos, assegurando, desta forma, o

conhecimento necessário para a realização dos procedimentos com maior segurança e

tranquilidade durante o processo de ensino-aprendizagem, que muitas vezes é complexo e

estressante para eles, em função de suas angústias e preocupações (POLETTO et al., 2011).

Atualmente, a enfermagem pediátrica está focada nos aspectos técnico-científicos

necessários ao cuidado corporal da criança/adolescente, pautando a educação do familiar num

modelo de cuidado biomédico-tecnicista e de educação vertical, ambos precários para a

demanda dos familiares cuidadores. O enfermeiro utiliza-se do modelo tradicional ao

transmitir o seu conhecimento como único e superior, restringindo o treinamento à unidade de

internação com base em suas condições existentes, considerando seu término associado ao

retorno da criança/adolescente para o domicílio (GÓES; CABRAL, 2010).

No entanto, considerando a importância da família no cuidado à criança/adolescente é

necessário que a equipe esteja atenta às necessidades de cada acompanhante, vendo-os não

somente como uma fonte de cuidados, mas como um grupo detentor de saberes, construídos

pela sua práxis que demanda de instrumentos para o cuidar. O estabelecimento de uma

interação entre a equipe de enfermagem e a família permite que esta desenvolva novas

habilidades e participe ativamente do processo terapêutico instituído. Assim, torna-se

importante a realização de avaliações e reflexões periódicas da qualidade do cuidado,

originando ou fortalecendo condutas que melhorem sua prática e permitam a construção de

padrões assistenciais mais efetivos (GÓES; CABRAL, 2010).

É durante a hospitalização da criança que os familiares recebem as orientações de seu

cuidado, as quais podem ser perdidas em função da nova demanda que lhes é apresentada,

assim, torna-se responsabilidade do enfermeiro assegurar que as informações estejam

corretas, sejam compreendidas e usadas de forma adequada. Para isso, é preciso que o

enfermeiro e sua equipe dediquem-se ao diálogo com seus clientes de forma empática e

confiável, visando facilitar a compreensão dos envolvidos neste processo de cuidar e prepará-

los para o desenvolvimento de habilidades aos cuidados complexos necessários. O papel de

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educador neste momento exige disponibilidade aos educandos, competência profissional,

escuta qualificada, diálogo e consciência nas decisões (POLETTO et al., 2011).

Desta forma, a prática do cuidado à criança/adolescente centrado na família, configura

um novo modelo de organização da enfermagem, com a necessidade de mudanças. É preciso

que a equipe multiprofissional esteja envolvida e receba os pais e demais membros familiares

como parte do cuidado, dando-lhes força e estímulo para atuar nas atividades de cuidado,

priorizando os aspectos e relações familiares, apoiando e potencializando suas capacidades

com o intuito de criar e promover seu desenvolvimento e capacidades (GÓES; CABRAL,

2010).

O processo de adaptação da família frente às mudanças exige tanto dos profissionais

quanto dos serviços de saúde comprometimento com esta demanda, considerando que a

qualidade do cuidado posteriormente prestado pelos familiares está diretamente ligado à

assistência e suporte oferecidos a eles neste período (LEITE; CUNHA, 2007).

Com isso, torna-se relevante preparar as famílias para serem sujeitos de sua própria

história. Neste momento é que se recomenda aos enfermeiros a criação de grupos educativos

com os familiares (GÓES; LA CAVA, 2009). Esta atividade caracteriza-se por auxiliar o

diálogo entre profissional e cuidador familiar a partir de um trabalho coletivo que possibilita a

construção de conhecimentos baseados em seus interesses e necessidades, fornecendo suporte

real e emocional aos participantes, reduzindo o risco de isolamento, estimulando a troca de

experiências e oportunizando o desenvolvimento de habilidades pessoais e sociais (LEITE;

CUNHA; TAVARES, 2011).

Este processo educativo deve ser pautado em discussões, reflexões e exposições acerca

das necessidades biopsicossociais da família, suas fortalezas e fragilidades no cuidado da

criança e suporte para a convivência diária, compreensão e enfrentamento da nova realidade,

visando a construção coletiva de meios que facilitem este processo de cuidado e promovam a

qualidade de vida da criança/adolescente (no domicílio), bem como, a orientação sobre como

e onde buscar os recursos necessários para a manutenção desta nova trajetória. Então, torna-se

evidente que o papel do enfermeiro não se resume ao ensinamento de um procedimento, mas

expande-se ao diálogo sobre pontos de vista voltados às necessidades gerais e a busca de

suporte para a manutenção dessa nova realidade (GÓES; LA CAVA, 2009).

O retorno da família ao domicílio, munidos das orientações e seguros para realizar o

cuidado implica transcender mais uma etapa desse processo, a qual exige adaptações no

cotidiano domiciliar e social que envolve o empenho de um ou mais membros da família,

modificações na dinâmica familiar para acolher a criança/adolescente em casa e recursos para

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o tratamento que vão desde o financeiro até a rede de apoio para a manutenção e eventuais

complicações de saúde da criança/adolescente (POLETTO et al., 2011). Os cuidadores muitas

vezes acabam se sobrecarregando devido às diversas responsabilidades e cuidados que seus

filhos possuem (HALEY, 2011).

Esta etapa inicia após a alta hospitalar da criança/adolescente, onde ocorre uma

“transferência parcial” das responsabilidades da instituição de saúde aos familiares e sua

comunidade. Portanto, é necessário firmar um elo com a família desde sua admissão no

mesmo e que deve ser fortalecido durante a internação para que se assegure a qualidade de

vida da família e da criança no domicílio, garantindo que o cuidado à criança/adolescente

dependente de tecnologia não termine no momento da alta hospitalar (GÓES; CABRAL,

2010).

Neste sentido é preciso ampliar a investigação acerca de como a família lida com a

situação de ter um (a) filho (a) dependente de tecnologia. Dada a expansão desta clientela, a

presente investigação justifica-se no sentido de ampliar o entendimento acerca da realidade

apresentada pela mesma, bem como sobre suas necessidades de saúde. Ressaltamos ainda que

persiste uma escassez de publicações na literatura nacional acerca da temática que propicie

subsídios teóricos e práticos em torno do tema.

Portanto, acreditamos que este estudo contribuirá com os profissionais de saúde,

ampliando seus conhecimentos frente ao universo vivido pelos familiares de CADT e suas

demandas de cuidado, além de contribuir para uma melhor compreensão do processo de

cuidar desta clientela. Para tanto, este estudo pretende responder a seguinte questão: “Qual é

a percepção dos familiares sobre as demandas de cuidado da criança dependente de

tecnologia?”.

Cabe ressaltar que o presente estudo dá continuidade a pesquisa: “Percepção dos

familiares de estressores nas suas relações decorrentes das demandas de cuidado de crianças

e adolescentes dependentes de tecnologia”, proposta por Guerini, Cordeiro e Osta (2009),

pertencente ao Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão na Saúde da Criança e Adolescente

(GEPESCA).

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2. OBJETIVO

Conhecer a percepção dos familiares sobre as demandas de cuidado da

criança/adolescente dependente de tecnologia.

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3. MARCO REFERENCIAL

Este estudo é derivado da pesquisa “Percepção dos Familiares de Estressores nas suas

Relações Decorrentes das Demandas de Cuidado de Crianças e Adolescentes Dependentes de

Tecnologia”. Esta teve como marco teórico a Teoria do Modelo de Sistemas de Cuidados à

Saúde de Bety Neuman, enfocando a presença de estressores nas relações familiares e sua

inter-relação com o ambiente familiar.

Considerando que o presente trabalho centra-se na percepção de familiares sobre às

demandas de cuidado de crianças e adolescentes em uso de um ou mais dispositivo(s)

tecnológico(s), verificamos que a Teoria do Modelo de Sistemas de Cuidado à Saúde, não

oferecia um suporte teórico e filosófico que respondesse às questões deste estudo a partir de

sua nova perspectiva. Assim, foi elaborado um marco referencial constituído por seis

conceitos embasados em diferentes autores e pressupostos.

3.1 CONCEITOS QUE SUSTENTAM A PROPOSTA

A seguir apresentamos seis conceitos relacionados à situação de cuidado de CADT

utilizados para sustentar teoricamente esta pesquisa. Esses conceitos foram escolhidos devido

a sua inter-relação com a nova proposta de conteúdo do estudo, visto que ao analisarmos as

entrevistas fez-se necessário o entendimento do significado e dimensão dos mesmos em nosso

cotidiano e dos cuidadores de uma CADT.

ENFERMAGEM – trata-se de uma profissão única que se relaciona com todas as

variáveis que afetam a reação humana diante aos problemas enfrentados, as quais devem ser

tratadas na sua totalidade. O seu trabalho visa à manutenção ou recuperação do equilíbrio

físico, psicológico, sociocultural, de desenvolvimento e espiritual da “pessoa”, enquanto o

mesmo enfrenta as adversidades (SOUZA, 2007).

Exercer a profissão de Enfermagem é lidar com o ser humano em sua totalidade e não

somente com o corpo (para manipulação de procedimentos técnicos), é atender o indivíduo de

uma forma sensível, sabendo reconhecer suas características mais expressivas e suas

principais necessidades (GOMES; ERDMANN, 2005).

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Ao prestar cuidados a uma criança/adolescente, a enfermagem deve sempre interagir

com a família em sua totalidade, permitindo-se ao diálogo e a escuta destes percebendo sua

problemática, suas perspectivas e principalmente as relações existentes entre os membros

dessa família e o mundo social no qual estão inseridos, refletindo sobre as necessidades e

negociando com esses familiares as possíveis alternativas para solucionar os problemas

(GOMES; ERDMANN, 2005).

CRIANÇA/ADOLESCENTE DEPENDENTE DE TECNOLOGIA - Ser humano em

processo de crescimento e desenvolvimento o qual é único, dinâmico, complexo, transitando

para o amadurecimento e independência gradual, em nível biológico, emocional, relacional,

intelectual e social. Está inserido em uma família e na sociedade, das quais demanda cuidados

de saúde, educação, habitação e políticas públicas. Requer artefatos tecnológicos e/ou

farmacológicos para obter uma condição clínica compatível com a recuperação e/ou

sobrevivência, inclusive no ambiente domiciliar, tais artefatos podem auxiliar a nutrição,

eliminações, respiração ou outros. Estas crianças/adolescentes necessitam de uma tecnologia

para compensar a perda substancial de uma função vital corporal, e requerem habilidosos

cuidados continuados de enfermagem para evitar a morte ou posterior deficiência. Além das

necessidades técnicas, essas crianças/adolescentes requerem cuidados qualificados e

prolongados em função dos problemas relacionados à doença e às alterações clínicas

freqüentes. (GUERINI; CORDEIRO; OSTA, 2009; FLORIANI, 2010).

FAMÍLIA – Família é um conjunto de pessoas que constituem sistemas abertos em

contato com seu meio e em permanente mudança e movimento, interagindo entre si. A família

é compreendida como a unidade primária de cuidado, pois é nela que seus membros

interagem, apóiam-se, trocam experiências, relacionando-se, e juntos buscam esforços para

amenizar a dor e solucionar os problemas que a transição de saúde-doença do filho gerou.

Todos os seres que constituem a família são protagonistas na luta pela sobrevivência, pelos

cuidados em saúde, estabelecendo desta forma relações de convivência (BRANDALIZE;

ZAGONEL, 2006; PRÓSPERO et al., 2011).

Estas relações são produzidas quando os membros da família convivem, compartilham

sentimentos, expectativas, concepções, experiências e tarefas, na busca de equilíbrio,

satisfação, crescimento e enfrentamento das demandas do ciclo vital ou das intercorrências

que afetam a dinâmica familiar. As mesmas são muito diversificadas, e seu funcionamento

muda quando alterações ocorrem em um membro ou no sistema como um todo. A

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flexibilidade com que a família irá lidar com as situações depende das experiências prévias,

aprendizado e personalidade dos seus membros. (SILVA; DESSEN, 2001).

CUIDADO – Segundo Cunha e Zagonel (2006), muitos são os conceitos que podem

ser usados para definir cuidado, dentre eles podemos citar: assistir, vigiar ou ajudar. O

cuidado pode ser definido por mais do que um ato ou uma atitude de ocupação e

responsabilidade, mas também como um envolvimento afetivo.

Diante dessas idéias, podemos entender o cuidado como uma atitude interligada ao

sentimento de um ser humano por algo ou alguém, ao se tratar de outro ser humano, que

quando baseado em um processo interativo, é executado respeitando a existencialidade do

indivíduo e valorizando a individualidade e experiência vivenciada por cada um. O cuidado é

exercido nessa intersubjetividade humana, nesse encontro genuíno entre o profissional e o

indivíduo a ser cuidado, em um momento de complementação de ações e reações e

sentimentos (CUNHA; ZAGONEL, 2006).

Cuidado é precaver pelo outro, aplicar o pensamento a algo e a alguém, refletir, tratar,

considerar, atender a nós e ao outro na saúde, na aparência ou na apresentação. Portanto, é

inquietar-se por algo ou alguém. Cuidar não é somente um procedimento técnico de

enfermagem, no qual triunfa o aspecto técnico científico, mas é principalmente usar da

própria humanidade para assistir o outro (LIMA; JORGE; MOREIRA, 2006).

CUIDADO DE ENFERMAGEM - o objetivo da Enfermagem é o cuidado, centrado

na promoção da saúde, prevenção de doenças e na recuperação e reabilitação da saúde.

Quando praticado, diz respeito ao zelo, atenção, tratamento qualificado e solicitude,

fundamentando-se em um meio no qual a pessoa sai de si para cuidar do outro. Ele expressa

um “saber-fazer” embasado na ciência, na arte, na ética e na estética, direcionado às

necessidades do indivíduo, da família e da comunidade. (VALE; PAGLIUCA, 2011).

TECNOLOGIA - A tecnologia na área da saúde compreende os saberes específicos,

procedimentos técnicos, instrumentos e equipamentos utilizados nas práticas profissionais.

(BARRA et al., 2006; MARQUES; SOUZA, 2010). Ela vem a serviço do homem

contribuindo em larga escala para a solução de problemas antes insolúveis, trazendo para a

vida e saúde do paciente melhores condições de vida. Em virtude desses fatos, justifica-se a

introdução de tecnologias cada vez mais aprimoradas que buscam, por meio de aparelhos,

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preservar e manter a vida do paciente (BARRA et al., 2006; RABELLO; RODRIGUES,

2010).

A tecnologia é um processo que envolve as mais diversas dimensões, resultando em

um produto, que pode ser considerado um bem durável, uma teoria, um modo novo de se

fazer algo, e até mesmo, em bens ou produtos simbólicos. Dessa maneira a tecnologia abrange

saberes e habilidades e necessita ser diferenciada de um equipamento ou aparelho tecnológico

(ROCHA et al., 2008). Portanto a compreensão de tecnologia não pode ser vista somente

como algo concreto, um produto que possa ser palpável e sim como o resultado de um

trabalho que engloba um conjunto de ações abstratas ou concretas, que apresentem uma

finalidade nesta situação, o cuidado em saúde (ROCHA et al., 2008).

3.2 PRESSUPOSTOS

Com base nas vivências e crenças adquiridas durante nossa trajetória pessoal e

acadêmica, apresentamos os seguintes pressupostos que dão sustentação ao desenvolvimento

da proposta:

A criança é um ser humano em fase de desenvolvimento tanto físico, psicológico,

espiritual, social e moral, que possui o direito de beneficiar-se de todas as condições

que permitam seu integral desenvolvimento de modo que sua dignidade de pessoa

humana seja garantida.

A criança/adolescente em situação crítica de saúde, que possui uma ou mais de suas

funções vitais ameaçada, seja por uma situação aguda ou crônica passa a ser alvo de

cuidados especializados/qualificados, sejam eles temporários ou permanentes.

A maioria das crianças e adolescentes dependentes de tecnologia exige maior atenção

devido a suas demandas de cuidados, que somadas às alterações em seu cotidiano

acabam por exigir dos cuidadores uma dedicação especial, por vezes exclusiva, para

dar conta de suas necessidades biopsicossociais;

As CADTs demandam uma série de cuidados que aparentemente seriam de domínio

dos profissionais de saúde, entretanto, muitas vezes estes são atribuídos aos seus

cuidadores familiares. Por sua vez, estes cuidadores assumem tais responsabilidades

19

para assegurar sua realização, visando a manutenção e adequação às condições

mínimas de qualidade de vida destas crianças/adolescentes;

Os cuidados de enfermagem auxiliam as famílias a conviver com a doença e a

dependência tecnológica da criança/adolescente;

Cuidar da criança/adolescente e de sua família significa compreendê-la em seu

processo de viver e estar atento ao seu modo de enfrentamento diante da doença;

O cuidado da família à criança/adolescente dependente de tecnologia se aprimora com

o tempo, vindo a fazer parte da rotina do familiar;

A família é a primeira referência para a criança, é a partir/através de seu núcleo que ela

se desenvolve, cresce, adquire hábitos e socializa-se;

A família vivencia os múltiplos conflitos ao longo da vida da criança, e por isso está

sujeita a transformações, necessitando, muitas vezes, redimensionar-se em suas

posturas diante de diversas realidades e adversidades, as quais são submetidas, na

busca de superação e equilíbrio;

As transformações familiares motivadas pela doença da criança/adolescente e sua

dependência tecnológica geram profundas modificações no seio familiar, predispondo

e/ou tornando seus membros mais frágeis diante dos eventos habituais;

É imprescindível que o enfermeiro utilize o diálogo e interaja durante a prática do

exercício profissional para identificar o que acontece no cerne das famílias e como

essas mudanças interferem no seu funcionamento. No intuito de poder auxiliar estes

protagonistas do cuidado a enfrentar da melhor forma possível os percalços envolvidos

no cenário do cuidado;

Os dispositivos tecnológicos são ferramentas oriundas dos avanços da ciência em prol

da melhoria e/ou manutenção da saúde dos seres humanos que dependem delas para

garantir melhores condições de vida. Eles estão presentes no contexto da saúde como

aliados aos cuidados exigidos por uma vasta clientela em expansão e, demandam um

conhecimento, ou sua busca, a fim de viabilizar a utilização em vista a beneficência do

indivíduo que lhe faz uso;

As tecnologias e seus dispositivos demandam dos profissionais de saúde, em especial

a equipe de enfermagem, um vasto conhecimento científico e tecnológico sobre sua

aplicabilidade. Conhecimento este que deve estar sempre atualizado, acompanhando o

avanço tecnológico, e que ainda exige habilidade suficiente para a educação dos

familiares cuidadores quanto às rotinas e especificidades exigidas;

20

A inserção dos dispositivos tecnológicos na vida da criança/adolescente para a

manutenção de sua saúde exige muita dedicação em seu aprendizado e manuseio, pois

estes artefatos passarão a fazer parte da rotina do cuidador familiar e da criança por

tempo indeterminado em caráter provisório e/ou permanente, exigindo conhecimento

suficiente para a sua manutenção e correta utilização;

O processo de ensino-aprendizagem do familiar cuidador sobre a realização de cada

cuidado demandado pelos dispositivos tecnológicos exige a valorização do

conhecimento prévio de cada cuidador, a fim de inseri-los neste contexto, contribuindo

com seu conhecimento prévio, sem a imposição do saber de profissional enquanto

único e exclusivamente correto;

A enfermagem, enquanto profissão, inserida no contexto científico, também é

responsável pela construção e manutenção do conhecimento. Esta responsabilidade é

assumida junto ao compromisso do cuidar, com o intuito de aprimorar-se e contribuir

com o conhecimento científico em expansão em sua área de atuação.

21

4. METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa qualitativa de natureza exploratório-descritiva, com intuito

de investigar a percepção dos familiares sobre as demandas de cuidado da criança dependente

de tecnologia.

4.1 CONTEXTO DA PESQUISA

Como afirmado anteriormente, o presente estudo dá continuidade a pesquisa:

“Percepção dos familiares de estressores nas suas relações decorrentes das demandas de

cuidado de crianças e adolescentes dependentes de tecnologia”, que foi desenvolvida por

Guerini, Cordeiro e Osta (2009), pertencente ao Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão na

Saúde da Criança e Adolescente (GEPESCA), no ano de 2009.

4.2 LOCAL

A pesquisa foi desenvolvida no Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), nas

unidades B (Unidade Cirúrgica), D (Pneumologia e Rim), E (Neurologia) e Oncologia

(internação e ambulatório).

O Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), é uma instituição de saúde vinculada a

Secretaria Estadual de Saúde. Atualmente, conta com 124 leitos ativos, 856 funcionários,

caracterizando-se como pólo de referência estadual às patologias de média e alta

complexidade. Sua clientela compreende em maioria pacientes oriundos da Grande

Florianópolis (51,33%) e os demais (48,67%) de outros municípios do Estado de Santa

Catarina (HOSPITAL INFANTIL JOANA DE GUSMÃO, 2011).

4.3 SUJEITOS DA PESQUISA

22

Constituíram-se sujeitos da pesquisa quinze familiares acompanhantes hospitalares de

crianças/adolescentes dependentes de tecnologia que atenderam os seguintes critérios: serem

cuidadores no domicílio, maiores de 18 anos, presentes no hospital por um período superior a

48 horas, cuja criança/adolescente estivesse em uso de dispositivo(s) tecnológico(s) há pelo

menos dois meses, considerando que este é um tempo mínimo para evidenciar o reflexo da

situação vivida nas relações familiares.

4.4 COLETA DOS DADOS

A coleta de dados foi realizada em duas etapas: 1ª etapa desenvolvida no período de

agosto a novembro de 2009, por três acadêmicas da oitava unidade curricular (UC) do Curso

de Graduação em Enfermagem desta Universidade, durante o desenvolvimento da Disciplina

INT5162 – Estágio Supervisionado II e, uma aluna bolsista de extensão do GEPESCA; 2ª

etapa ocorreu no período de março a novembro de 2010, sendo a coleta de dados realizada

por três acadêmicos do mesmo curso e disciplina supracitados, e dois bolsistas de extensão do

GEPESCA.

A escolha dos sujeitos de pesquisa foi efetuada por contato direto com a(s)

enfermeira(s) responsável(eis) pelas unidades, confirmando a internação de

crianças/adolescentes acompanhados dos familiares que atendessem aos critérios de inclusão

estabelecidos.

Inicialmente houve a apresentação da pesquisa, e o convite para que os mesmos

participassem. Neste momento foi assinado o termo de consentimento informado (anexo B), e

agendada a entrevista em data/horário conveniente para os familiares. As entrevistas foram

organizadas em duas partes, na primeira com o preenchimento da ficha de identificação da

família e, na segunda parte, com a aplicação do questionário guiado por questões semi-

estruturadas (anexo C), gravadas em formato mp3, sendo que posteriormente houve a

transcrição das mesmas.

4.5 ANÁLISE DOS DADOS

23

A pesquisa qualitativa não se restringe a organizar, de modo simplista, citações

literais unidas às falas de sujeitos que responderam a questionários nem sempre bem

elaborados. A pesquisa qualitativa deve buscar no fenômeno investigado os seus

significados para aquela pessoa ou grupo, as representações psíquicas e sociais e os

constructos simbólicos das mesmas (SILVA; ASSIS, 2010, p. 151).

A análise de conteúdo, expressão comumente utilizada ao referir-se sobre o tratamento

dos dados de uma pesquisa qualitativa possui um significado que vai além do procedimento

técnico (MINAYO, 2010). Ela é definida como um conjunto de técnicas analíticas da

comunicação, que visa obter, a partir de procedimentos sistemáticos, indicadores que

permitam a replicação e validação de inferências relativas a um grupo de dados de um

determinado contexto (BARDIN, 1979 apud MINAYO, 2010).

Operacionalmente falando, a análise de conteúdo ocorre a partir da leitura inicial das

falas, depoimentos e documentos, a fim de alcançar um nível mais profundo, que ultrapasse o

sentido manifestado em seu material. Este deve proceder de forma objetiva, seguindo um

rigor sistemático claro, que permita sua replicação por qualquer investigador com a mesma

obtenção dos resultados (MINAYO, 2010).

Para tanto, faz-se necessária a escolha por uma modalidade de análise, sendo a análise

temática a opção considerada mais adequada para pesquisas qualitativas na área da saúde. De

acordo com Minayo (2010), esta, desdobra-se nas seguintes etapas:

a) Pré-Análise: é a fase de organização que objetiva a operacionalização e

sistematização das idéias que conduzirão o desenvolvimento da pesquisa. Neste

momento são escolhidos os documentos a serem analisados e retomados as

hipóteses e objetivos iniciais do estudo. Há ainda a decomposição das tarefas em

três momentos: o de Leitura Flutuante, onde ocorre um contato intenso com o

material de campo, impregnando-se por seu conteúdo; a Constituição do Corpus,

onde depois de organizados os dados, busca-se a validação de algumas normas

como: exaustividade do material, sua representatividade contemplando as

características do universo pretendido, homogeneidade, obedecendo aos temas de

forma precisa e, pertinência onde verifica-se a adequabilidade dos documentos

frente aos objetivos do trabalho; e a Formulação e reformulação de Hipóteses e

Objetivos, incluindo-se aqui a determinação das unidades de registro (palavras-

chave; frases), unidades de contexto, os recortes e suas formas de categorização e

codificação, e os conceitos teóricos mais gerais que guiarão a análise.

24

b) Exploração do Material: momento de classificação do conteúdo, com vista a

atingir a compreensão dos textos a partir das categorias estabelecidas na etapa

anterior.

c) Tratamento dos Resultados Obtidos e Interpretação: neste momento as

informações relevantes oriundas das categorias sofrem inferências e interpretações

dos pesquisadores conforme previstas em seu quadro inicial e/ou abrem um leque

para novas dimensões teóricas ou de possibilidades interpretativas.

4.6 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

O projeto de pesquisa que viabilizou a coleta de dados para este estudo foi aprovado

pela Comissão de Ética do HIJG, sob nº045-2009 (anexo A), estando pautado na resolução

196/96 do Conselho Nacional de Saúde, seguindo princípios como os de beneficência, não

maleficência, justiça, e autonomia, além dos princípios do Código de Ética Profissional de

Enfermagem.

Todos os nomes reais dos participantes foram omitidos e substituídos pela letra “E”,

somada ao número correspondente à entrevista do familiar acompanhante e a respectiva

criança/adolescente dependente de tecnologia.

25

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados do relatório de pesquisa desenvolvido como Trabalho de Conclusão do

Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, são

apresentados a seguir no formato de artigo científico, conforme acordado pelo Colegiado da

8ª Unidade Curricular do referido Curso.

Ressaltamos que nem todos os dados coletados puderam ser explorados no artigo

elaborado: “A percepção dos familiares sobre as demandas de cuidado de crianças e

adolescentes dependentes de tecnologia”.

Sua formatação segue as instruções do periódico indexado de escolha dos acadêmicos

e orientadoras, ao qual será encaminhado: Revista Gaúcha de Enfermagem. Entretanto, foram

realizadas algumas adaptações, visando atender as normas de apresentação gráfica para

Trabalho de Conclusão de Curso dispostas no Guia para Diagramação de Trabalhos

Acadêmicos, da Universidade Federal de Santa Catarina.

26

A PERCEPÇÃO DOS FAMILIARES SOBRE AS DEMANDAS DE CUIDADO DE

CRIANÇAS E ADOLESCENTES DEPENDENTES DE TECNOLOGIA1

Bruno Pereira Dal Paz2

Jaqueline Cristina Costa3

Mariana Sifroni Farias4

Ana Izabel Jatobá de Souza5

Patrícia Kuerten Rocha6

RESUMO

O aumento do número de Crianças e Adolescentes Dependentes de Tecnologia (CADT)

passou a demandar maior atenção e cuidado, principalmente no âmbito domiciliar. Em razão

disso, este estudo teve como objetivo conhecer a percepção dos familiares sobre as demandas

de cuidado de CADT. Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa de natureza

exploratório-descritiva, realizado em um hospital pediátrico de referência no sul do Brasil,

aprovado pelo Comitê de Ética da Instituição sob parecer no

045-2009, sendo seus dados

coletados na primeira etapa no período de agosto a novembro de 2009, e na segunda etapa no

período de março a novembro de 2010. Constituíram-se sujeitos da pesquisa quinze familiares

acompanhantes de CADTs. A análise interpretativa dos dados foi orientada pela proposta

metodológica de Minayo (2010). Dos resultados emergiram três categorias: descobrindo e

descobrindo-se: a percepção de si e do outro na realização do cuidado com a tecnologia;

atores em foco: o responsável e a responsabilidade pela realização dos cuidados a

criança dependente de tecnologia; e cotidiano familiar: a percepção sobre a

reconfiguração necessária. Evidenciou-se que a percepção das famílias sobre as demandas

de cuidados das CADT é a de que estas trazem consigo limitações, dificuldades, renúncias,

1 Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina.

2 Acadêmico do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Membro do

GEPESCA - Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão na Saúde da Criança e Adolescente. Contato:

[email protected]. 3 Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Membro do

GEASS - Grupo de Estudos no Cuidado de Pessoas nas Situações Agudas de Saúde. Contato:

[email protected]. 4 Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Contato:

[email protected]. 5 Orientadora. Professora Doutora da graduação e pós-graduação do Departamento de Enfermagem da

Universidade Federal de Santa Catarina. Membro do GEPESCA - Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão na

Saúde da Criança e Adolescente, membro do GAPEFAM - Grupo de Assistência, Pesquisa e Educação na Área

da Saúde da Família. Contato: [email protected]. 6 Co-orientadora. Professora Doutora da graduação e pós-graduação do Departamento de Enfermagem da

Universidade Federal de Santa Catarina. Membro do GEPESCA - Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão na

Saúde da Criança e Adolescente, membro do GIATE - Grupo de Pesquisa Clínica, Tecnologias e Informática em

Saúde e Enfermagem. Contato: [email protected].

27

aprendizado, superação, escolhas nem sempre desejáveis, mas necessárias impostas pela

condição familiar. A percepção sobre tais demandas retrata pessoas com coragem e

capacidade para superar as adversidades, mesmo que com estas venham as dificuldades e

percalços do cotidiano, vencidos pela esperança de que a tecnologia garanta a sobrevivência e

a qualidade de vida da CADT.

Descritores: Pediatria; Enfermagem; Relações Familiares; Tecnologia.

INTRODUÇÃO

O aumento crescente das tecnologias no âmbito dos cuidados em saúde tem

contribuído muito para a incidência de crianças que sobrevivem às mais diversas situações

graves de saúde. Em consequência deste avanço surgiu um grupo de crianças que necessita de

cuidados de saúde especializados e contínuos. Sejam por condições genéticas, congênitas,

doenças agudas e crônicas, prematuridade, infecções ou lesões traumáticas, entre outros

(WANG; BARNARD, 2004; FRACOLLI; ANGELO, 2006; DRUCKER, 2007; LEITE;

CUNHA, 2007).

Essa nova realidade fez com que emergisse um grupo denominado de Crianças e

Adolescentes Dependentes de Tecnologia (CADT), ou seja, crianças e adolescentes que

dependem de dispositivos tecnológicos e/ou de grupos farmacológicos, para alcançar uma

condição clínica compatível com a recuperação e/ou sobrevivência, inclusive no ambiente

domiciliar (DRUCKER, 2007). As tecnologias mais encontradas no dia-a-dia são para

nutrição, eliminação e respiração, entre outras. Além das necessidades técnicas, que

demandam cuidadores com experiência para a manutenção desses artefatos tecnológicos,

essas crianças/adolescentes requerem uma demanda de cuidado qualificado e prolongado

devido a situação de saúde em que se encontram, devendo o cuidador estar ciente dos

problemas decorrentes da patologia e suas alterações clínicas frequentes (FRACOLLI;

ANGELO, 2006).

A presença de uma CADT leva a importantes modificações no sistema familiar. A

grande mudança inicial caracteriza-se pelo momento em que se deparam com a necessidade

tecnológica do filho ocasionando uma desordem em suas vidas. Este momento é de grande

impacto e merece ser valorizado pela equipe de saúde, a fim de ser tratado com igual

importância e respeito (LEITE; CUNHA, 2007).

É importante ressaltar que geralmente as famílias não estão preparadas para a chegada

de um filho dependente de tecnologia, com necessidades de cuidados complexos e

28

especializados. Portanto, isto ocasiona importantes alterações no estilo de vida (GÓES; LA

CAVA, 2009). Cuidar de um filho nessas condições provoca impactos familiares que

desorganizam as dimensões do viver do ponto de vista emocional, social e financeiro,

implicando em significativas mudanças na rotina (GÓES; LA CAVA, 2009; LEITE;

CUNHA; TAVARES, 2011).

O processo de adaptação da família frente às mudanças exige tanto dos profissionais

quanto dos serviços de saúde comprometimento com esta demanda, considerando que a

qualidade do cuidado posteriormente prestado pelos familiares está diretamente ligado à

assistência e suporte oferecidos a eles neste período (LEITE; CUNHA, 2007).

O retorno dos familiares ao domicílio, mesmo munidos de orientações para realizar o

cuidado vai exigir adaptações no cotidiano domiciliar e social que envolve o empenho de um

ou mais membros da família, modificações na dinâmica familiar para acolher a criança em

casa e recursos para o tratamento, que vão desde o financeiro até a rede de apoio para a

manutenção das eventuais complicações de saúde da criança/adolescente. Este misto de

responsabilidades é responsável pela sobrecarga que as demandas das CADTs acarretam aos

familiares cuidadores (HALEY, 2011; POLETTO et al., 2011).

Neste sentido é preciso ampliar a investigação acerca de como a família lida com a

situação de ter um(a) filho(a) dependente de tecnologia. Dada a expansão desta clientela, a

presente investigação pretende aprofundar o conhecimento acerca da realidade apresentada

por essas famílias, bem como sobre suas necessidades de saúde. Ressalta-se ainda a escassez

de publicações na literatura nacional acerca desta temática que propicie subsídios teóricos e

práticos em torno do tema.

Portanto, acreditamos que este estudo contribuirá com os profissionais de saúde,

ampliando seus conhecimentos frente ao universo vivido pelos familiares de CADTs e suas

demandas de cuidado, além de contribuir para uma melhor compreensão do processo de

cuidar desta clientela. Para tanto, este estudo pretende responder a seguinte questão: “Qual é

a percepção dos familiares sobre as demandas de cuidado de crianças e adolescentes

dependentes de tecnologia?”.

Cabe ressaltar que o presente estudo dá continuidade a pesquisa: “Percepção dos

familiares de estressores nas suas relações decorrentes das demandas de cuidado de crianças

e adolescentes dependentes de tecnologia”, proposta por Guerini, Cordeiro e Osta (2009),

pertencente ao Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão na Saúde da Criança e Adolescente

(GEPESCA), do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina.

29

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa de natureza exploratório-descritiva,

o qual dá continuidade, a partir do banco de dados já existente da pesquisa desenvolvida por

Guerini, Cordeiro e Osta (2009), pertencente ao GEPESCA, no ano de 2009.

O estudo foi realizado em um Hospital Pediátrico de referência no sul do Brasil, em

unidades de internação de clínica médica e cirúrgica, sendo seus dados coletados em duas

etapas (nos períodos de agosto a novembro de 2009 e de março a novembro de 2010). Esta

pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da instituição, sob parecer no 045-2009.

Os critérios de inclusão da pesquisa exigiam que o participante fosse cuidador no

domicílio, maior de 18 anos, com tempo de acompanhamento no hospital por um período

superior a 48 horas, cuja criança/adolescente estivesse em uso de dispositivo(s) tecnológico(s)

há pelo menos dois meses, considerando que este é um tempo mínimo para evidenciar o

reflexo da situação vivida nas relações familiares.

Assim, constituíram-se sujeitos da pesquisa quinze familiares acompanhantes

hospitalares de CADT. Dentre as entrevistadas, quatorze eram mães da criança ou adolescente

e apenas uma era irmã. A idade das mulheres variou entre vinte e quarenta e oito anos,

havendo entre elas quatro mulheres com idade entre 20 e 25 anos, cinco entre 26 e 35 anos,

cinco entre 39 a 48, e apenas uma não informante. Em se tratando do grau de escolaridade das

participantes, seis possuíam o Ensino Fundamental incompleto, uma Ensino Fundamental

completo, uma Ensino Médio incompleto, quatro Ensino Médio completo, uma Ensino

Superior e, duas não informaram sua escolaridade.

Quando questionadas sobre sua ocupação profissional, dez mulheres referiram-se

como donas de casa, três trabalhavam em profissões que não exigem preparo formal

(costureira, vendedora e agricultora), uma estava aposentada em profissão de nível superior

(enfermeira) e uma estava na perícia, mas não informou a qual cargo profissional tratava-se.

Neste caso, destacamos que mais da metade das mulheres estavam fora do mercado de

trabalho, dedicadas as atividades voltadas ao domicílio e suas CADT.

No que tange a religiosidade das participantes, verificou-se que cinco mulheres eram

católicas, três eram Evangélicas, uma possuía crença em um “Deus maior”, porém sem uma

religião definida, uma era atéia e cinco delas não se posicionaram quanto ao questionamento.

Ainda com o intuito de descrever a clientela envolvida neste estudo, apresentamos no

quadro abaixo as CADT com suas respectivas idades, diagnóstico médico, dispositivo

tecnológico utilizado e seu tempo de uso, ambas as informações correspondentes a entrevista

de seus familiares acompanhantes identificados neste trabalho:

30

Quadro 1: Caracterização das Crianças e Adolescentes Dependentes de Tecnologia

CADT Idade Diagnóstico Médico Dispositivo tecnológico Tempo

de uso

E1 2a 2m Alergia Alimentar e Hipogamaglobulinemia Sonda de gastrostomia 2m15d

E2 1a 2m Síndrome de Down e Laringotraqueomalácea Boton de gastrostomia 9m

E3 14a Mielomeningocele, Bexiga neurogênica

evoluindo para Hidronefrose bilateral e Refluxo

Vesicoureteral (RVU) bilateral grau V

Sonda Vesical de Alívio

(SVA), Sonda Vesical de

Demora (SVD)

SVA 14a

SVD 3m

E4 11a Extrofia de bexiga Cateter de mitrofanoff 8m

E5 7a Bexiga neurogênica e Hidronefrose Cateter de mitrofanoff 7a

E6 2a Microcefalia, Distúrbio de deglutição, Retardo do

desenvolvimento, Desvio do septo direito

Sonda de gastrostomia 1a10m

E7 12 Insuficiência renal crônica (IRC) + Síndrome

nefrótica + Descompensação laboratorial de IRC

Cateter de mitrofanoff,

SVA

12

E8 17 Bexiga neurogênica SVA 17

E9 13 Mielomeningocele SVA 13

E10 13 Síndrome nefrótica SVA 9a

E11 7 Hidrocefalia e Mielomeningocele SVA 7a

E12 13 Insuficiência renal crônica Diálise peritoneal + SVA 11m

E13 3a 1m Má formação do trato genito-urinário Colostomia 3a 1m

E14 5a 1m Estenose esofágica Gastrostomia 3a

E15 5a 6m Desnutrição, Hipopotassemia, Síndrome de

Bartten

Gastrostomia 3a

A análise interpretativa dos dados foi orientada pela proposta metodológica de Minayo

(2010), utilizando-se da análise temática do conteúdo, seguindo as etapas de pré-análise,

exploração do material e análise final dos dados, com intuito de aprofundar o olhar acerca da

percepção da família sobre as demandas de cuidado das CADT.

Buscamos contemporizar o diálogo entre a teoria e a prática, e embasar teoricamente a

pesquisa por meio da construção de um marco referencial com o desenvolvimento de

conceitos, como: enfermagem, CADT, família, cuidado, cuidado de enfermagem e tecnologia.

Como também elaboramos pressupostos baseados nas vivências e crenças adquiridas durante

o percurso da trajetória pessoal e acadêmica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Da análise dos dados emergiram sete categorias, que neste manuscrito serão abordadas

apenas três, a saber: descobrindo e descobrindo-se: a percepção de si e do outro na

realização do cuidado com a tecnologia, a qual evidencia as descobertas do cuidador acerca

da tecnologia, sobre o seu potencial e suas incompletudes na prestação dos cuidados à

criança/adolescente, desvelando o impacto vivenciado pelos familiares desde a inserção do

dispositivo tecnológico em suas vidas e na de seus filhos; atores em foco: o responsável e a

responsabilidade pela realização dos cuidados a CADT, onde são revelados os atores que

de alguma forma estão envolvidos no cuidado, bem como a responsabilidade destes no

31

processo de cuidar; cotidiano familiar: a percepção sobre a reconfiguração necessária,

evidenciando as alterações das mais distintas ordens no cotidiano das famílias tais como a

privação do lazer por parte dos cuidadores principais e das alterações do comportamento

familiar, com destaque para as mudanças decorrentes das demandas de cuidado das CADT.

Descobrindo e descobrindo-se: a percepção de si e do outro na realização do cuidado

com a tecnologia

A família constitui um sistema de relações que atravessa momentos de equilíbrio e

desequilíbrio. Quando esta se depara com as necessidades de cuidado impostas pela situação

de saúde da CADT, até então desconhecidos, descobrem sentimentos, que os levam por vezes

ao resgate de suas potencialidades, e em outras vezes suas incompletudes. Embora os

dispositivos tecnológicos empregados no cuidado à saúde da criança/adolescente auxiliem a

família, estas não devem se tornar mais significativas do que a essência humana, própria dos

cuidadores. Desta forma, a humanização no atendimento ao doente, acaba por se estender a

todos que estão envolvidos no processo de saúde-doença, com destaque ao cuidador principal

que irá prestar mais intensivamente os cuidados no domicílio (ALMEIDA et. al., 2006).

Neste sentido é importante realçar que nos casos em que a criança/adolescente irá

demandar cuidados, sentimentos como insegurança, medos e expectativas quanto a

melhora/piora são desencadeados no cuidador principal. A necessidade constante em aprender

como realizar os cuidados ao doente faz com que o mesmo se sinta impotente no início do

processo de aprendizado. Este sente-se inicialmente inseguro frente ao cuidado que irá

prestar, visto que é uma nova situação com a qual não esperava ter que lidar. Isto pode ser

percebido nas falas abaixo:

O que causa na gente às vezes é uma insegurança, um medo de machucar [...]. (E1)

Fiquei com medo, com medo de fazer errado. (E2)

[...] eu pensei ai meu Deus como é que eu vou saber botar, aquilo ali dentro. Eu ficava

olhando aquilo apavorada. (E6)

Os relatos das cuidadoras reforçam o fato de que, apesar das dificuldades iniciais, elas

acabam por descobrirem-se capazes de realizar os cuidados, mesmo com todo o medo e

insegurança que ronda na realização deste.

A gente sempre fala, a gente sempre acha que não é capaz de fazer as coisas né, mas com o

tempo tu vais aprendendo, tu vais sabendo lidar e vai vivendo. (E12)

32

Após o impacto inicial e diante das necessidades exigidas pelo(a) filho(a), a cuidadora

no momento em que realiza o cuidado, se percebe no processo resgatando seus próprios

potenciais e superando, até mesmo suas incompletudes.

A gente acha que é difícil, mas tudo a gente se acostuma. (E9)

[...] é difícil né, é difícil, tudo é dificil, mas depois de acostumar a gente vê que é normal né

[...] até ri da gente mesmo, que a gente pensa: não meu Deus, se eu fizer uma coisa errada. A

gente fica com medo né, depois se acostuma. (E11)

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, a cuidadora e a família da CADT acabam

por se descobrir capazes de prestar os cuidados necessários, fazendo com que o medo e a

insegurança fiquem para trás e a complexidade das demandas se incorporem na rotina diária.

Geralmente os familiares estão ansiosos na expectativa do nascimento de uma criança

saudável, ou ainda, de que o seu crescimento e desenvolvimento ocorra dentro de um

processo contínuo, considerado por eles normal e em condições de saúde favoráveis, que não

excedam a intercorrências habituais. Consequentemente, o momento em que tomam

conhecimento da situação de saúde do filho, configurando-se uma CADT que dependerá de

seus cuidados, isto determina um grande impacto, desencadeando muitas vezes, intenso

sofrimento para eles, como podemos verificar a seguir:

[...] no começo foi mais difícil [...] eu não sabia lidar com isso [...] também no começo ficava

meio sem saber o que fazer. (E1)

Ah no começo eu fiquei, vou falar a verdade, [...] quando ele veio, meu... fiquei bem

estressada, tava... primeiro era uma coisa, o impacto depois foi outro porque, [...] Aí eram

outros cuidados que eu não estava acostumada [...]meu Deus aquilo ali foi pra mim [...] No

começo foi um baque assim... Meu, colocar aquele cateter ali [...]. (E4)

Dentre os relatos dos familiares cuidadores, prevaleceram os discursos enfatizando o

momento da descoberta da tecnologia como parte dos cuidados necessários à saúde da

criança/adolescente. Esta se configura como uma etapa complicada, sendo que a tecnologia é

algo novo e desconhecido, e até então os cuidados eram vistos sobre uma perspectiva

diferente. Neste contexto, igualmente surgiram os motivos que os levaram a aceitar a inserção

dos dispositivos tecnológicos em suas vidas, em algumas vezes perfazendo-se como uma

condição para a alta hospitalar do(a) filho(a), noutras pela expectativa de sua melhora a partir

do uso dos mais diversos dispositivos. Percepção que pode ser verificada por meio dos

trechos que seguem:

[...] no início foi bem complicado porque ninguém me ajudou [...]. Eu aceitei porque do jeito

que ele tava não podia ficar. Ou eu ficava aqui no hospital ah... vamos dizer, é... com a sonda

no nariz ou bota o boton e ia pra casa, então eu preferi botar o boton e ir pra casa. (E2)

33

Outro ponto relevante inserido no contexto das famílias é o momento em que os pais

tem o primeiro contato com os diferentes dispositivos tecnológicos, o que exige novos

conhecimentos e habilidades, necessitando ainda de suporte por parte da equipe de saúde

frente a essa situação (POLETTO et al., 2011). Neste momento é imprescindível conhecer a

percepção dos acompanhantes frente aos cuidados exigidos pela criança/adolescente,

contribuindo, desta forma, para um cuidado específico, capaz de atender as necessidades da

clientela e auxiliar na superação das fontes de angústia e estresse (STRASBURG et al., 2011).

É possível ainda, verificarmos que a religiosidade se faz presente no cerne de algumas

famílias que vivenciam situações semelhantes. Esta muitas vezes assume um papel ambíguo,

onde simultaneamente serve de amparo e consolo, mas também como foco para a expressão

de revolta dos familiares. Estes sentimentos e percepções variam de intensidade de acordo

com o momento vivido pelas famílias e diante do tempo de experiência com o uso dos

dispositivos tecnológicos em suas vidas, conforme evidenciam os depoimentos selecionados:

Deus pode tudo? Não pode nada! Se pudesse ele não ia deixar a criança nascer assim [...]

Ninguém sabe me explicar o propósito [...]deu mais raiva. Então que mostrasse no exame...

mas não mostrou nada, então a gente tinha garantia que vinha uma criança saudável. (E6)

No começo foi horrível né, até tu se acostumar, chora muito, mas depois a gente se acostuma,

que é pro bem do filho da gente [...] no começo foi horrível, eu senti que meu filho era um

robô, era horrível [...] meu Deus, eu fiquei mais ou menos uns 5, 6 meses chorava direto. [...]

foi a primeira tragédia na nossa vida, porque ele não usava, o problema dele não era pra ter

isso, aí eu chorava muito, eu dizia: ai Deus porque isso comigo!? (E11)

Constata-se uma forte inter-relação entre a família e o estado de saúde-doença de um

de seus membros. Entretanto, o surgimento de uma criança/adolescente que demanda

cuidados complexos causa modificações no cerne familiar, exigindo que a família perceba a

doença, de forma a obter um novo equilíbrio e adaptar-se às novas necessidades. Desta forma

é necessário que todos os membros desenvolvam suas habilidades e aprendam sobre os

cuidados necessários, proporcionando a toda família uma melhor adaptação frente às

demandas existentes.

Atores em foco: o responsável e a responsabilidade pela realização dos cuidados a

CADT

Após o momento inicial desencadeado pelo impacto vivenciado pelos familiares,

ocorre uma organização espontânea entre seus membros, onde algumas pessoas acabam por se

envolver com a realização do cuidado prestado às CADTs.

34

Neste estudo foi possível verificar que dentre os cuidadores envolvidos nas demandas

de cuidado, encontravam-se principalmente os membros da família, com destaque para as

mães na maioria dos casos. Estas assumiam integralmente tais responsabilidades, muitas

vezes sem auxílio de outras pessoas externas ao núcleo familiar. Apenas em um caso houve a

participação de uma cuidadora extra-familiar, ou seja, a baby-sitter, que esteve inserida neste

contexto em função do acúmulo de demandas da criança e seus dispositivos tecnológicos

somado aos demais irmãos ainda pequenos. Contudo, no desdobramento do viver e devido à

instabilidade financeira da família, a mãe teve que dispensá-la retomando exclusivamente os

cuidados.

Não! É só eu e deu, mais ninguém. (E2)

Até pouco tempo eu tinha uma pessoa que cuidava junto comigo mas agora, pelas condições

sem trabalhar, eu não tenho como né? Cuidar, pagar alguém pra cuidar, pra ajudar cuidar.

(E3)

Dentre os achados, verifica-se que a mãe assume o papel de cuidadora principal e,

esporadicamente, conta com o apoio de outros membros da família nos cuidados. Quando

estes outros membros estão presentes, o apoio se origina dos filhos mais velhos que a criança,

avós, tios e primos. Evidenciou-se ainda, a tentativa das mães em inserir o pai neste contexto,

o que ocorreu efetivamente em apenas um caso, onde este assumiu as tarefas junto a sua

esposa. Esta situação foi única, não se repetindo entre as demais participantes do estudo,

inclusive quando se tratava de casais separados, conforme verifica-se a seguir:

[...] como o meu marido ele é muito companheiro, então se eu não tô em casa ele mesmo

cuida dele [CADT], ele faz sonda, ele faz... dá remédio, ele orienta o T. no banho, então se eu

não tiver em casa ele leva o T. onde que é pra ir,[...] o meu marido ali é meu enfermeiro [...]

me ajuda bastante. (E7)

Quando o pai dele vinha visitar ele né, eu tentava pedir pra ele vim ver fazer o curativo, tudo

assim, ele dava um jeitinho de se escapar porque ele dizia que não conseguia ver. (E13)

O pai dele, [...] nós somos separado, ele não participa assim muito sabe, só às vezes. (E11)

Esta realidade configura uma situação que corrobora com os estudos de Neves e

Cabral (2009) onde o pai (marido/companheiro) se ausenta das responsabilidades com o

cuidado direto da criança/adolescente, sendo estas assumidas exclusivamente pela mulher

(mãe). Parece que a realização dos cuidados com a CADT é vista como uma obrigação

direcionada exclusivamente para a mulher, em especial a mãe. Esta responsabilidade muitas

vezes é imposta pela demanda da criança/adolescente, o que determina a centralização das

tarefas em apenas uma cuidadora. Isto se deve, não somente pela ausência de alguém para

compartilhar as atividades, mas sim a aspectos culturais atribuídos à figura feminina. Nela se

35

perpetua a crença de que o cuidado direto deve ser centrado na mulher/mãe e que o

homem/pai/companheiro é responsável por outras demandas familiares que não estão

vinculadas ao cuidado da criança/adolescente. Isto, somado a crença e ou interpretação da

mulher/mãe de que somente ela será capaz de atender as necessidades da criança/adolescente,

a ausência de outra pessoa para dividir tais demandas, aliada a falta de iniciativa/coragem de

outros familiares em apoiá-la, resultando na sobrecarga de tarefas, como pode ser verificado

nas seguintes falas:

Ah! Estressa a gente tá cansado né... Tá cansado, tá com uma dor de cabeça, uma coisa assim

às vezes e tem que fazer aquilo ali né, então se soubesse que não usasse, não precisasse, dava

um banho e ia dormir, e aquilo ali às vezes não tá muito bem e tem que fazer. [...] sou

sozinha, ninguém tem coragem cuidar ele, passar sonda nele, mas a questão é a sonda [...]

(E10)

[...] ali ele poderia ter sido mais, me ajudado mais, fiquei sozinha... Naquele momento... Não

que eu fiquei sozinha... naquele momento naquele mês ali... é que ele é acostumado a

trabalhar, bota comida dentro de casa... essas coisas assim entende?[...] Aquilo ali é o jeito

dele, não é que ele não queria me ajudar é porque ele achava que aquilo ali tinha que ser eu.

(E4)

[...] a minha filha nunca colocou a mão, não tem coragem, nunca teve coragem, só eu [...].

(E10)

Embora seja pequena a participação de outros cuidadores além da mãe no cuidado

prestado a criança/adolescente, é possível verificar que muitas vezes as tarefas atribuídas a

estes, possuem menor nível de complexidade. Ou seja, exigem menor preparo para sua

realização, permanecendo ao encargo da mãe aquelas que ela avalia como potencialmente

complexas. É importante destacar, que habitualmente as mulheres/mães aceitam ajuda

principalmente quando estão entrando em um esgotamento físico e/ou psíquico ocasionado

pela sobrecarga de atividades desenvolvidas cotidianamente e por ter que assumir

exclusivamente os cuidados necessários.

A sobrecarga ocorre devido a preocupação decorrente da percepção destas no sentido

de oferecer ao(a) filho(a) um cuidado de qualidade. Soma-se a este fato a insegurança destas

quanto a transferência de suas responsabilidades para “terceiros”, uma vez que muitos destes

ajudantes não acompanham ou não dão continuidade de maneira correta às restrições exigidas

na prestação dos cuidados, resultando em uma demanda maior por parte da mãe na supervisão

das atividades. A experiência enquanto mãe e cuidadora permite a estas mulheres discernir os

riscos relacionados às condutas incorretas na manutenção da saúde de seus filhos, assim,

tornando a realização dos cuidados a CADT, de acordo com seus níveis de complexidade,

36

restritos a um pequeno grupo de pessoas capazes de desempenhar ações pontuais, como

retratam os seguintes discursos:

[...] eu deixei porque eu tava muito cansada porque se não [...] Com outras pessoas assim não

deixo. É praticamente só eu mesmo. (E6)

[...] tem que sempre faze no horário, quando ele tava com a mãe, ele não... a mãe não

“catetava” um horário, a mãe fazia passava da hora, então isso dava inflamação [...] Aí

depois que eu comecei a cuida dele, então o horário do “cate” é o horário certinho que tem

que faze “cate” [...]. (E7)

Outro importante protagonista do cuidado refere-se a própria CADT. Dependendo da

faixa etária, a fase de crescimento e desenvolvimento que se encontram e as situações

relacionadas ao adoecimento e tratamento livre de limitações relacionadas ao discernimento e

compreensão sobre o que estão vivendo, estas demonstram interesse ou até mesmo assumem

parcialmente a responsabilidade pelo seu próprio cuidado. Neste sentido, mesmo com o

envolvimento irregular dos integrantes da família, a criança/adolescente passa a se sentir mais

segura.

Entretanto, até que isso aconteça, os familiares buscam apoio nos profissionais de

saúde em diferentes momentos de sua trajetória, solicitando informações sobre os cuidados

que terão que prestar. É fundamental que o profissional, em especial os de enfermagem, avalie

a família em sua estrutura, funcionamento e desenvolvimento. Pois desta forma será possível

identificar quais as principais dificuldades, fazendo com que o cuidador vá para seu domicílio

consciente do cuidado que será prestado, com habilidades suficientes para fazê-lo

(BARBOSA et. al., 2009).

O responsável pelo cuidado no ambiente domiciliar, diante da nova realidade do viver,

está atento a cada orientação de cuidado recebida do profissional de saúde. Por se tratar de

procedimentos que possuem graus de complexidade variados, faz-se necessário que este

explique detalhadamente cada passo para a realização do cuidado, certificando-se que a

cuidadora compreendeu corretamente e está apta para a sua realização.

Eu só saí quando eu me senti segura de que eu ia chegar em casa e conseguir fazer certinho.

Foi tranqüilo. Daí fui pra casa ciente e conseguindo fazer tranquilão, não teve problema

nenhum. (E5)

[...] dentro do hospital eu fui bem instruída, eu achava que eu não ia dar conta de fazer, mas

saí do hospital sabendo mexer, sabendo fazer o manuseio [...] dar a alimentação pra ele né.

(E13)

Para tanto, ao se discutir sobre os cuidados voltados às CADTs, torna-se importante

resgatar um pouco do processo de aprendizado destes cuidadores, sejam eles profissionais de

saúde, familiares ou a própria criança/adolescente. Através dos discursos colhidos, verifica-se

37

que na maioria dos casos, ocorreu o processo de aprendizado dos cuidadores para o manuseio

dos dispositivos e os demais cuidados exigidos pela criança/adolescente. Havendo,

excepcionalmente duas situações isoladas no cotidiano das participantes que merecem

destaque devido as consequências na vida dos familiares envolvidos.

Na primeira situação, a mãe da criança percebeu-se desamparada pela equipe de saúde

hospitalar, quando fora do hospital teve contato com a tecnologia no cuidado do filho. Já na

segunda, o aprendizado para o cuidado estendeu-se ao ambiente domiciliar através da

participação de uma enfermeira da rede de atenção básica em saúde, viabilizando a contra-

referência direcionada à família/cliente fora do ambiente hospitalar, conforme podemos

verificar nos seguintes discursos:

[...] daqui [hospital] eu não tive ajuda nenhuma, não me explicaram nada [...] aí foi quando

ele começou a fazer fisioterapia no centro de reabilitação e aí a enfermeira foi olhar os

ferimentos dele por que ficou muito machucado nas pernas porque machucou roçou

machucou, e aí foi aí que eu aprendi que me ensinaram a usar bolsa, e ai eles me ensinaram.

(E12)

Quando tudo, bem dizer todo mundo se escapava né eu me sentia, ai, sei lá, sozinha né, a,

indiferente sabe que, eu tentava pedir, ajuda buscar ajuda e ninguém tinha, tava ali pra

muitas vezes me ajudar, e quando tinha ajuda era pouca né, aí tinha a, tinha a enfermeira do

posto de saúde que vinha toda segunda-feira né, ela vinha, dava uma olhada, fazia o curativo.

(E13)

Estas situações remetem à reflexão sobre a responsabilidade e o compromisso dos

profissionais de saúde no processo de aprendizado destes cuidadores para o cuidado intra e

extra-hospitalar das CADTs. De igual forma, é relevante assinalar a importância dos

profissionais na referência e contra-referência para as famílias nestas situações no âmbito

domiciliar.

O cotidiano familiar: a percepção sobre a reestruturação necessária

Os familiares que acompanhavam as CADTs relataram a ocorrência de diversas

mudanças das mais distintas ordens, evidenciando em especial a necessidade de alterações no

cotidiano familiar.

Reforça-se que após as famílias passarem pelo impacto que a tecnologia causou em

suas vidas, estas precisam lidar com alterações que variam entre: modificações físicas em suas

residências para receber a criança/adolescente e dessa forma poder prestar os cuidados

necessários no ambiente domiciliar; conviver com a ausência do pai da criança/adolescente

tanto no cuidado direto como em outras circunstâncias do viver; mudar a rotina do dia a dia

implicando muitas vezes no abandono do emprego da mãe, a fim de dedicar-se

38

exclusivamente aos cuidados com o(a) filho(a). Estas são algumas das mudanças relevantes

do cotidiano das famílias, confirmadas nos discursos a seguir:

[...] parei de trabalhar, só posso trabalhar como vendedora, mas para ele melhorar a gente

faz de tudo, larga até serviço... Eu tenho meu marido pra me manter, aí fiz esse sacrifício por

ele, que ele merece. (E7)

[...] é horrível ficar parada assim, é ruim, a gente toda vida trabalho né... Mas nós... tem que

acostumar, nós como mãe. Tem que acostumar, a vida é assim mesmo né. (E11).

Muitos dos familiares responsáveis pelo cuidado da CADT realizam um esforço sobre

humano para suprir as diversas demandas de cuidado que essas crianças/adolescentes exigem

(NEVES; CABRAL, 2009). E, uma vez mais se percebe que o indivíduo da família que mais

sofre alterações em sua vida cotidiana é a mulher/mãe. Os pais muitas vezes passam pela

experiência de uma tensão moral, e encontram-se em frente ao dilema de proporcionar a seus

filhos toda a vantagem de serem cuidados no ambiente domiciliar, enquanto travam uma

verdadeira luta com as tensões pessoais e emocionais que esta decisão implica

(CARNEVALE et al., 2006).

Os depoimentos abaixo evidenciam a mudança que as mães passaram a ter em suas

vidas, algumas por obrigação e outras por acreditarem que o sacrifício é necessário a fim de

proporcionar uma melhor qualidade de vida a seus filhos.

[...] tudo envolvido pra ele né, eu mesmo... A minha vida é em função dele. Eu vivo pra ele.

Tudo o que faço é em função dele. (E5)

Não é como antes [rotina]. Acordo já vou ver como ele tá né, durante o dia também não, eu

não deixo ele muito mais a vontade, tem que tá sempre olhando, medo né dele se machucar,

acontecer alguma coisa ruim. [...] eu tive que abrir mão dos meus quatro filhos [...] eu

entreguei pro pai deles, tive que abrir mão né. Porque aqui no hospital eu fiquei muito tempo

internada com ele, eu fiquei 35 dias. (E11)

Drucker (2007) reforça que a tecnologia passa a ser o foco central das famílias que

possuem uma CADT e, por mais que esses familiares planejem e organizem as demandas de

cuidados, a fim de alcançar alguma estabilidade, sempre surgem fatores inesperados. Assim

como a privação do lazer, em função do cuidado que esse grupo demanda de seus cuidadores,

trazendo grandes consequências que podem resultar no isolamento social devido à carência de

atividades que ofereçam prazer e diversão.

Os momentos de lazer são reduzidos drasticamente, em virtude dos obstáculos

impostos pelos cuidados, levando as famílias a um tipo de confinamento domiciliar. Este

acontecimento está relacionado ao fato de os familiares considerarem bastante trabalhosa e

desgastante a saída de casa com todos os dispositivos tecnológicos necessários, outras por

relatarem que acham incomodo, pois algumas crianças começam a chorar e até mesmo por

39

medo. Dessa forma, o lazer tanto dos responsáveis pelos cuidados e até mesmo das

crianças/adolescentes acaba por se restringir as atividades domiciliares como única fonte de

prazer.

Mesmo quando a demanda de cuidados da CADT não interrompe as atividades de

lazer de seus cuidadores, percebe-se que não existe um desligamento total deles, em relação à

situação de saúde da criança, pois esses cuidadores estão sempre preocupados se os cuidados

estão sendo realizados de forma adequada.

Poletto et al. (2011) reforçam que a inserção e o convívio social de uma CADT

geralmente é bastante reduzida devido a imposição de cuidados, levando suas famílias a um

certo tipo de confinamento domiciliar. Já para Leite e Cunha (2007), as atividades sociais

compreendem outro aspecto que sofre importantes mudanças diante da necessidade da

demanda de cuidados destas crianças/adolescentes.

Quando questionadas sobre suas atividades de lazer, as entrevistadas evidenciaram a

dificuldade ou impossibilidade, principalmente por parte delas, enquanto cuidadoras, em

desfrutar destes momentos. Os depoimentos a seguir ilustram as afirmações efetuadas:

Não, não, não. Por causa do mamar dela, né? Eu acho que é muito... Como é que vou dizer...?

Não é muito confortável tá levando ela assim pra sair. Sempre tem que tá mamando né?! [...]

Meu não tem! Nem dá tempo pra isso. O meu lazer é só minha filha né?! (E1)

[...] É o problema dela em si que impede muita coisa [...] Tem uma hora que ela começa

choraminga né e aí incomoda e a gente vem logo embora...De lazer não tem muita coisa pra

fazer né...Com esse probleminha. (E6)

Vale ressaltar que, dentre todas as entrevistadas, houve apenas uma cuidadora que

mesmo com toda a demanda de cuidados exigida pela CADT não se privou de seus momentos

de lazer e descontração, referindo ter sido assim desde a descoberta da tecnologia em sua

vida, conforme o relato a seguir:

Ah, o meu lazer é sair, barzinho, boate, eu quando eu posso eu faço... Eu e meu namorado a

gente sai bastante. [...] Sempre foi, sempre foi assim oh! Sempre que ele tava bem, eu me

divertia bastante com minhas amigas... Nunca me impediu de nada entende? Nunca foi

empecilho nenhum. (E3)

Entretanto, é evidente que na maioria das vezes, são as mães que se tornam as

principais responsáveis pelos cuidados às CADTs, necessitando de apoio para suprir suas

demandas. E, quando este apoio não existe, a doença e os problemas enfrentados passam a ser

difíceis de lidar, fazendo com que a cuidadora fique sobrecarregada conforme é evidenciado

anteriormente neste estudo e apontado por Schultz (2007).

Esta situação nos remete ao fato de que o viver em família é permeado por hábitos,

que diferem para cada integrante. A rotina familiar alterada por uma criança/adolescente que

40

passa a depender de um ou mais dispositivo tecnológico e a demandar cuidados específicos e

hospitalizações frequentes, faz com que muitas vezes o cuidador se distancie do núcleo

familiar, contribuindo para as alterações no comportamento de cada membro (HAYAKAWA;

MARCON; HIGARASHI, 2009; SILVA et al., 2010; SCHULTZ, 2007).

Para Fontoura (2010) as manifestações de sentimentos de angústia e sofrimento ao

descobrir a doença e as primeiras modificações diante da dependência de um dispositivo

tecnológico e das demandas de cuidado que a CADT irá exigir podem ser evidenciadas no

depoimento de uma das mães/cuidadoras:

[...] não que eu estou falando que ele estressa mas pelo próprio problema dele realmente(..)

isso abala sabe, eu não vou dizer que não, isso abala entende? O marido também abalou ele,

ele já ia trabalhar preocupado, voltava preocupado. (E4)

É notável que as modificações no cotidiano familiar, decorrentes das novas demandas

que advém do filho doente fazem com que os pais se vejam emocionalmente afetados,

permitindo que seu comportamento interfira em sua rotina com os demais membros da

família. Apenas em uma das entrevistas verificamos uma situação onde os irmãos da CADT

aceitaram bem a situação sem sofrer qualquer alteração comportamental por terem

conhecimento prévio sobre a doença, e conhecerem as demandas impostas por sua condição

de saúde, como se constata no depoimento que se segue:

Não... Meus filhos levaram bem isso bem, eles já sabiam que ia nascer com problema, a gente

já preparou com paciência. Não teve ciúme não, nenhum, nada disso, muito pelo contrário,

me ajudaram até a cuidar, eles me ajudaram bastante. (E3)

Entretanto, muitos dos irmãos de CADT sofrem com o fato de suas mães/cuidadoras

oferecerem atenção redobrada ao filho doente. Estes sentem-se em segundo plano, como

observamos nos trechos:

[...] principalmente com o filho, porque quando eu ganhei ela, ele ainda era pequeninho,

então hoje ele que atenção, a gente ta levando ele na psicóloga, que ele anda bem teimoso.

Mudou, mudou muita coisa sim, em relação a ela, a eu me dedicar mais a ela na cirurgia, que

eu tenho que ta presente e ausente pra ele em casa. (E8)

[...] eles dizem que eu gosto mais do Y. do que deles né, porque eu tenho, eu venho no hospital

com ele, eu fico aqui, fico, quenem as outras duas vezes eu fiquei vinte dias com ele, aí eu fico,

fiquei quinze em casa, um mês em casa depois voltei de novo pra cá e, eles acham que eu não

gosto deles [...]. (E13)

O distanciamento do restante da família gera nas mães a preocupação e angústia com o

fato de estarem deixando em casa seus outros filhos, fazendo com que ela se sinta dividida

entre as demandas com o lar e seus outros filhos, e a criança doente.

41

[...] aí o meu medo maior era o pequeninho não me reconhecer, não querer mais vim comigo,

até em, em novembro ele não, não fez tanta diferença, mas agora em abril eu cheguei lá e

levou três horas pra me reconhecer. (E14)

Diante da necessidade de hospitalização, o cotidiano da família passa a ser organizado

de acordo com as necessidades da criança/adolescente doente (SILVA, et. al, 2010). A

família, ao mesmo tempo em que promove cuidado, necessita manter suas rotinas domésticas.

Contudo, nem sempre é possível conciliar ambos, pois necessita alterar uma série de hábitos e

costumes (SILVA, et. al, 2009). Os familiares, em sua maioria apreensivos, voltam-se para os

cuidados com a CADT, permanecendo a maior tempo possível em sua companhia e

absorvendo todas as suas demandas, mesmo quando estão no domicílio.

[...] mas tudo envolvido pra ele né, eu mesmo... a minha vida é em função dele. Eu vivo pra

ele. Tudo que eu faço é em função Dele. (E5)

As famílias acabam por enfrentar várias modificações em suas relações e em seu

cotidiano, fazendo com que cada membro se comporte de uma maneira diferente frente ao

problema, de acordo com suas características pessoais. Cada membro tem sua maneira de

lidar com a doença e com os cuidados que a criança/adolescente demanda (FONTOURA,

2010).

Contudo, foi possível detectar que um membro da família ao assumir os cuidados

acaba renunciando e modificando seu comportamento diante de suas atividades cotidianas,

para que desta forma a CADT possua todo o acompanhamento necessário.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente, o crescente número de crianças e adolescentes dependentes de tecnologia,

fez com que suas famílias percorressem um longo caminho em busca de conhecimentos e

habilidades técnicas para que essas pudessem receber os cuidados de saúde necessários a

manutenção de suas vidas.

Ao analisarmos as entrevistas realizadas com as cuidadoras de uma CADT, foi

possível que desvendássemos a percepção sobre a demanda de cuidados de crianças e

adolescentes dependentes de tecnologia a partir de três categorias.

A primeira categoria evidenciada neste estudo além de evidenciar o impacto causado

pela descoberta da tecnologia no viver confirmou que o início do aprendizado do manuseio da

tecnologia é difícil, pois a maioria dos cuidadores se sente impotente diante desta nova

42

realidade. Isto reforça a necessidade de apoio dos profissionais da saúde, em especial da

enfermagem, a fim de que estejam aptos para realização dos cuidados.

A segunda categoria reforça uma vez mais o papel consagrado da mulher/mãe como

cuidadora principal e, muitas vezes, a solidão em que esta se encontra no cuidado direto de

seus filhos. Isto exige que o profissional de saúde trabalhe no sentido de contribuir para a

inclusão de outras pessoas na realização dos cuidados das crianças/adolescentes a fim de

diminuir a sobrecarga sobre o único responsável pelos cuidados.

Na terceira categoria evidenciam-se as alterações ocorridas na configuração e

organização da família. Muitas vezes sendo necessário a modificação por parte dos familiares

modifiquem da estrutura de suas casas, da rotina resultando no abandono de emprego por

parte do responsável pelo cuidado prejudicando as atividades de lazer.

Outro aspecto significativo evidenciado pelos resultados é a necessidade de referência

e contra referência, visto que a maioria das famílias deste estudo utilizava o hospital como

única fonte de apoio profissional não tendo um vínculo com as Unidades Básicas de Saúde.

Muitas dessas famílias necessitavam viajar longas distâncias para chegar ao hospital, pois este

é o único de referência para o estado. O apoio dos profissionais das Unidades Básicas de

Saúde diminuiria muito os transtornos causados pela necessidade desse deslocamento.

Muitas vezes ao lidarmos com os familiares de CADT não prestamos a atenção ao que

estes cuidadores necessitam. Não percebemos quão grande é o impacto dessa nova realidade

em suas vidas. Devemos como profissionais de enfermagem estar atentos aos medos,

angústias e dificuldades que esses cuidadores demonstram. Através de uma observação

sensível conseguiremos amparar os cuidadores da CADT ajudando-os no resgate de suas

potencialidades e enfrentamentos da situação de saúde, ampliando as possibilidades de que as

CADTs tenham um crescimento e desenvolvimento saudável dentro das possibilidades do seu

quadro clínico.

Em síntese, a percepção das famílias sobre as demandas de cuidados das CADT é a de

que estas trazem consigo limitações, dificuldades, renúncias, aprendizado, superação,

escolhas nem sempre desejáveis, mas necessárias impostas pela condição familiar. De igual

forma, a percepção sobre tais demandas retrata pessoas com coragem e capacidade para

superar as adversidades, mesmo que com estas venham as dificuldades e percalços do

cotidiano, vencidos pela esperança de que a tecnologia garanta a sobrevivência e a qualidade

de vida da CADT.

43

Constatamos a necessidade de novas pesquisas, em especial pelo avanço das ciências

biomédicas, pois há uma enorme tendência de que este grupo aumente cada vez mais.

Portanto, é nosso dever, como profissionais da saúde identificar as necessidades da clientela

que atendemos, para que o cuidado possa contemplar as mais diversificadas dimensões que

envolvem as crianças e adolescentes dependentes de tecnologia e suas famílias.

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45

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao desenvolvermos esta pesquisa, não tínhamos idéia da quantidade de conteúdo o

material nos reservava. Com o tema escolhido, pudemos reconhecer a percepção dos

familiares acerca dos cuidados que CADT demandam, e suas implicações no cerne familiar.

Para tal, consideramos realizar uma revisão de literatura que abordasse este grupo de

crianças e adolescentes e todo o contexto histórico em que estão envolvidos, assim como suas

implicações no contexto familiar e suas demandas de cuidados. Desta forma, imergimos no

universo da família, estando preparados para analisar o conteúdo e poder extrair deste o maior

número de informações relevantes ao objetivo da pesquisa.

Destacamos que apesar de termos todo o material já coletado, através da análise das

entrevistas pudemos nos aprofundar no conteúdo, assim como nos sentimos parte importante

neste processo. Isso se confirma pelo resultado encontrado.

Nossa pesquisa procurou olhar o material disponível em busca de evidenciar a

percepção sobre as demandas de cuidados da família com CADTs. Chegamos a um resultado

muito rico, sendo que do total de 15 entrevistas semi estruturadas, totalizamos cerca de 13

pré-categorias. Optamos por trabalhar com 7 destas, as quais foram comprimidas e agrupadas

em 3 categorias finais e são abordadas neste trabalho.

Cremos que alcançamos nosso objetivo, pois pudemos perceber que as demandas de

cuidados com o uso de um artefato tecnológico pela criança/adolescente ocasiona grandes

modificações em todos os membros da família.

Consideramos que a realização dessa pesquisa permitiu o desenvolvimento de um

trabalho com natureza qualitativa, fazendo com que nos sensibilizássemos acerca do cuidado

integral e humanizado, e não centrado somente no paciente doente, mas sim em toda sua

família. Para isso, enfatizamos que a atuação dos profissionais de enfermagem precisa ser

cada vez mais qualificada. De igual forma, ressaltamos a importância do desenvolvimento de

práticas que visem não somente as questões técnicas, mas um cuidado em que as questões

emocionais e o amparo à toda família estejam presentes.

Cabe ainda destacar que durante o percurso de efetivação deste trabalho, houve

algumas limitações que merecem ênfase, a saber: a dificuldade de agrupamento de todo

material em sua íntegra para a pesquisa e a mudança do foco da pesquisa e seu percurso

metodológico a partir de um conjunto de dados previamente coletado.

46

Entende-se que este estudo poderá oferecer subsídios para outras pesquisas que

objetivem o aprimoramento do cuidado centrado na família.

47

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51

ANEXO A – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA

52

53

54

55

ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

Percepção dos familiares de estressores nas suas relações decorrentes das

demandas de cuidado de crianças e adolescentes dependentes de tecnologia

Eu _____________________________________________, RG____________,

residente à _______________________________abaixo assinada, fui informada (o) que está

sendo realizado um trabalho de conclusão de curso de graduação em Enfermagem da

Universidade Federal de Santa Catarina que tem como objetivo estudar o impacto do uso de

tecnologias médicas nas relações familiares.

Explicaram-me que a minha participação consistirá em ser entrevistada durante o

período de internação da criança e/ou adolescente dependente de tecnologia médica da qual

tenho relação, para que eu responda perguntas relacionadas às mudanças que o uso a

tecnologia médica trouxe nas relações com a minha família. As respostas serão gravadas em

formato mp3 e/ou cassete pelas acadêmicas. Fui informada que meu nome será mantido em

sigilo, que todas as informações que darei não serão associadas a minha pessoa e que a

entrevista durará cerca de 40 minutos.

Também fui informada que tenho o direito de não responder a qualquer pergunta que

não deseje e que em qualquer momento posso desistir de participar do trabalho de conclusão

do curso de graduação em Enfermagem. Garantiram-me que todas as informações colhidas

serão confidenciais.

Tive a oportunidade de fazer perguntas, após as informações recebidas, sendo que me

forneceram os esclarecimentos solicitados. Assim, aceito voluntariamente participar deste

trabalho de conclusão do curso de graduação em Enfermagem.

Para qualquer esclarecimento, poderei procurar as acadêmicas de enfermagem

realizadoras desse trabalho, Isabelle C. Guerini, Priscilla K.S. Cordeiro e Samantha Z. Osta, a

qualquer hora, nos telefones (48) 9619-1017, (48) 3240-9882, (48) 8439-5908,

respectivamente.

Florianópolis, ____ de __________________ de 2009.

Assinatura do cuidador: _________________________________

Assinatura da pesquisadora: ______________________________

56

ANEXO C – INSTRUMENTO DE ENTREVISTA

I. IDENTIFICAÇÃO DA CRIANÇA

Código de identificação da criança/adolescente:

Idade da criança/adolescente:

Diagnóstico médico:

Síntese da condição clínica da criança/adolescente:

Artefato(s) tecnológico(s) utilizado:

Tempo de uso do artefato tecnológico:

1.2 DA FAMÌLIA

Local de moradia da família:

Estrutura da família: Código de identificação

dos membros

Idade Sexo Posição na família Escolaridade Profissão Renda

Crença Religiosa:

1.3 DO ENTREVISTADO

Código de identificação do entrevistado:

Idade:

Sexo:

Familiar acompanhante hospitalar: SIM ( ) NÃO( )

Relação com a criança:

57

II. QUESTÕES ORIENTADORAS DA ENTREVISTA

2.1 Poderia descrever como tem sido sua vida desde que sua criança/adolescente ficou

doente e precisou utilizar ......................(nomear o/os artefato/os tecnológico/os)?

2.2. Quais são os cuidados que sua família tem em função da doença e uso de

...............(nomear o/os artefato/os tecnológico/os) por ............................(nome da

criança/adolescente) ?

2.3 Para você, o que mais estressa sua família em função da doença e uso de

...............(nomear o/os artefato/os tecnológico/os) por ............................(nome da

criança/adolescente) ?

2.4 Considera que houveram mudanças nas relações familiares em função das

necessidades de cuidado de............................(nome da criança/adolescente). Quais? Com

quem?

2.5 Há alguma questão nas relações familiares surgidas em função da situação

de..............(nome da criança/adolescente) que estejam preocupando você? O quê e por quê?

2.6 Poderia descrever o que sua família possui como apoio, forças, ajuda, para dar conta

das necessidades de cuidado de............................(nome da criança/adolescente)?.

2.7 Quais são as atividades de lazer atuais de sua família?

2.8 Quais sentimentos (amor, amizade, ajuda, ansiedade, medo, culpa, raiva, descrença, etc.)

predominam na sua família atualmente? Algum deles surgiu em função das necessidades

de cuidado de sua criança/adolescente?

2.9 Como as orientações/o preparo para o cuidado de....................... (nome da

criança/adolescente) efetuada pelos profissionais de saúde tem influenciado a vida de sua

família?