UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS FÁCIES SEDIMENTARES DAS FORMAÇÕES ANDIRÁ E ARARI, PERMIANO DA BACIA DO AMAZONAS, COM BASE EM TESTEMUNHOS DE SONDAGEM NO LAGO SOARES, AMAZONAS. ZIOMAR COSTA E SILVA JUNIOR MANAUS 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

FÁCIES SEDIMENTARES DAS FORMAÇÕES ANDIRÁ E

ARARI, PERMIANO DA BACIA DO AMAZONAS, COM BASE

EM TESTEMUNHOS DE SONDAGEM NO LAGO SOARES,

AMAZONAS.

ZIOMAR COSTA E SILVA JUNIOR

MANAUS

2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

ZIOMAR COSTA E SILVA JUNIOR

FÁCIES SEDIMENTARES DAS FORMAÇÕES ANDIRÁ E ARARI,

PERMIANO DA BACIA DO AMAZONAS, COM BASE EM

TESTEMUNHOS DE SONDAGEM NO LAGO SOARES, AMAZONAS.

Orientador: Prof. Dr. Emílio Alberto Amaral Soares

MANAUS

2018

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Geociências da Universidade

Federal do Amazonas, como requisito para

obtenção do título de Mestre em Geociências,

área de concentração em Geociências.

Ficha Catalográfica Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

S586f Fácies sedimentares das formações Andirá e Arari, permiano da bacia do Amazonas, com base em testemunhos de sondagem no lago Soares, Amazonas. / Ziomar Costa e Silva Junior. 2018 75 f.: il. color; 31 cm.

Orientador: Emílio Alberto Amaral Soares Dissertação (Mestrado em Geociências) - Universidade Federal do Amazonas.

1. Bacia do Amazonas. 2. Formações Andirá e Arari. 3. Lago Soares. 4. Fácies sedimentares. 5. Paleoambiente. I. Soares, Emílio Alberto Amaral II. Universidade Federal do Amazonas III. Título

Silva Junior, Ziomar Costa e

À minha esposa Raquel, minhas filhas Ana Beatriz e Maria Fernanda, meu pai Ziomar (in memoriam), minha mãe Joana e meus irmãos.

Família, a base de tudo.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pois até aqui Ele me ajudou, nunca deixou desanimar,

e sem Ele nada seria possível para a realização deste trabalho.

Agradeço de todo o coração à minha esposa Raquel Brandão Costa e Silva, e minhas

filhas Ana Beatriz Brandão e Maria Fernanda Brandão, por todo amor a mim dedicados e pela

compreensão mesmo nos momentos em que não pude dar atenção, me incentivando durante

este estudo.

Ao meu orientador Prof. Dr. Emílio Soares, em meio a todas dificuldades ocorridas

nestes últimos dois anos, por todo apoio, pela valiosa contribuição nas sugestões, discussões e

correções do texto, pelos puxões de orelha, que foram de grande importância tanto para meu

aprendizado como para o dia a dia. Lembrando que nem sempre o “sim” como resposta e os

textos que sumiam do nada eram pra passar insegurança, mas significavam que tudo ia dar

certo.

Agradeço ao CAPES, pelo apoio financeiro e implementação da bolsa de estudos,

assim como a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e ao Programa de Pós-Graduação

em Geociências, por toda infraestrutura oferecida para a realização deste trabalho.

À empresa Potássio do Brasil pelos testemunhos de sondagem e informações cedidos

para a realização do trabalho. À todos os colegas do Projeto Potássio Amazonas – Autazes e

Belo Horizonte, com quem tive a honra de trabalhar, em especial ao Geol. José Jacob Fanton

pela cordialidade e incentivo.

Ao Prof. Dr. Roberto César de Mendonça Barbosa e Profa. Dra. Elena Franzinelli pelas

sugestões na elaboração da dissertação.

Aos professores do Departamento de Geociências-UFAM, Prof. Dr. Lucindo Antunes

Fernandes Filho, Profa. Dra. Rosemery Silveira da Rocha, Profa. Michelle Andriolli e Profa.

Suzy Pedroza, que colaboraram com sugestões e comentários sobre alguns capítulos da

dissertação.

Ao técnico de laminação Wianei e ao Geol. Gato, da CPRM, pela confecção das

lâminas delgadas.

Ao técnico Alfredo do laboratório de Técnicas Mineralógicas da UFAM, pelo auxílio

durante as análise de DRX.

Agradeço aos meus amigos de pós-graduação Katy Marylim, Patrícia Rocha, Marcelo

Versiani, Paulo Jerry, Consuelo Andrade, Adnilson Cruz, Manoel Zafra Torres, Leonardo

Palmera, Marcel Passos, e em especial aos meus amigos Igor Torres, Francisco Plebson e

Rafaela Santana, por toda ajuda, apoio, conversas e momentos de descontração, e a todos os

demais colegas da pós-graduação que sempre me ajudaram e apoiaram em todas etapas da

pós-graduação.

Aos Prof. Dr. Rodolfo Dino e Profa. Dra. Luzia Antonioli pelas análises e contribuição

para o capítulo de palinologia.

Aos alunos de graduação William Nunes, André Sena e Samuel, pela ajuda nas

análises no laboratório de Sedimentologia (UFAM).

À Jéssica Muniz pelo auxílio na formatação da dissertação.

Agradeço a todos os irmãos do Grupo de Oração Ricarte e Cinthia, por fazer parte

desse grupo e por sempre colocarem a realização deste trabalho em seus pedidos de orações,

com palavras de bom ânimo em todos momentos. Que Deus os abençoe sempre. Amém!

Agradeço também a todos que não foram citados, mas que de alguma forma

contribuíram para a realização deste trabalho.

Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.

2 Timóteo 4:7

RESUMO

Este trabalho apresenta os resultados de análises sedimentológicas realizadas em

aproximadamente 230m de testemunhos do furo de sondagem, PBAT-15-43, onde foram

descritas as fácies sedimentares e relações de contato entre depósitos de leques aluviais (base)

e fluviais (topo) das formações paleozoicas Andirá e Arari da Bacia do Amazonas,

respectivamente. Esta sondagem localiza-se no Lago do Soares (Autazes, Amazonas) e foi

selecionada em função da qualidade dos testemunhos recuperados, disponibilizados pela

empresa Potássio do Brasil. Dez fácies sedimentares foram identificadas e agrupadas em três

associações de fácies, denominadas informalmente de I, II e III. A associação I foi

interpretada como de ambiente fluvial com depósitos de canal e planície de inundação. A

associação II igualmente de ambiente fluvial engloba fácies deformadas oriundas de processos

de sobrecarga, liquefação e atividade sísmica, penecontemporâneas à formação dos depósitos

aluviais. A associação III foi interpretada como de ambiente de leques aluviais com depósitos

de fluxos gravitacionais de detritos. Adicionalmente procedeu-se a análise palinológica destas

formações que ratificaram a interpretação da fase final do processo de deposição no Permiano

da região. A unidade inferior (Arari) mostrou-se estéril em palinomorfos e nas amostras da

unidade superior (Andirá) não foram detectados elementos do paleomicroplancton marinho. A

palinoflora recuperada é constituída principalmente pelas espécies Lueckisporites virkkiae,

Corisaccites alutas, Hamiapollenites andiraensis, H. karooensis, Vittatina costabilis, V.

saccata, V. subsaccata e Tornopollenites toreutos; secundadas por espécies dos gêneros

Punctatisporites, Verrucosisporites, Limitisporites, Cycadopites e Stratopodocarpites. Os

dados sedimentológicos, corroborados pelos palinológicos indicam que a sedimentação pode

ser associada ao ambiente continental (fluvial-lacustre), definindo a idade Permiano Superior

para as camadas da Formação Andirá.

Palavras-chave: Bacia do Amazonas, Formações Andirá e Arari, Lago Soares, fácies

sedimentares, palinologia, paleoambiente

ABSTRACT

This work presents the results of sedimentological and palynological analysis carried

out in approximately 230 m of core samples of the PBAT-15-43 borehole, where sedimentary

fácies and contact relationships were described among alluvial (base) deposits and fluvial

(top) fans of the Paleozoic Andirá and Arari formations from Amazon basin, respectively.

This borehole is located at Soares' Lake (Autazes, Amazon) and it was selected in function of

the good quality of the recovered cores, freely available by the Potassio do Brazil company.

Ten sedimentary facies were identified and clustered in three facies associations, denominated

informally as I, II and III. The facies association I were interpreted as fluvial with channel and

flood plain deposits. The association II, similarly, of fluvial environment includes facies from

processes of seismic nature and pen contemporaneous to the formation of alluvial deposits.

The association III were interpreted as an alluvial fan environment with deposits of

gravitational debris flows. Additionally palynological analysis in these formations endorsed

the age, and environmental interpretation of the final deposition process phase of the Permian

in the area. The inferior unit (Arari) was barren in palynomorphs. The Andirá Formation,

superior unit, contains a fairly well preserved palynoflora constituted mainly by the species

Lueckisporites virkkiae, Corisaccites alutas, Hamiapollenites andiraensis, H. karooensis,

Vittatina costabilis, V. saccata, V. subsaccata and Tornopollenites toreutos. Important species

of the Punctatisporites, Verrucosisporites, Limitisporites, Cycadopites and

Stratopodocarpites genera are also present. Elements of the paleomicroplancton (acritarchs)

were not detected. The sedimentologic data, corroborated by the recovered palynoflora

indicate that the sedimentation can be associated to the continental (fluvial-lacustrine)

environment, indicating a Late Permian age for the Andirá's strata formation.

Keywords: Amazon Basin, Andirá and Arari Formation, Soares Lake, sedimentary facies,

palynology, paleoenvironment

LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO I Figura 1: Mapa do Estado do Amazonas com a localização do furo PBAT-15-43 na região do Lago Soares, a Nordeste de Autazes. Imagem LANDSAT 8, b654, 2017, Instituto de Pesquisas Espaciais – INPE ..................................................................................................................................................... 17 Figura 2: Descrição macroscópica de testemunhos de sondagem. A) Sonda Atlas Copco CS-4002; B) Descrição das caixas de amostras no galpão da empresa (Autazes) ...................................................... 18 Figura 3: Tabela de descrição de testemunhos de sondagem, seguindo a compilação dos modelos de Boyle et al. (1986), Pessoa & Borghi (2005) e Mendes & Borghi (2005) ............................................. 19 Figura 4: Perfil litológico cedido pela empresa Potássio do Brasil (Relatório Interno, Potássio do Brasil 2014), indicando os locais de coleta de amostras para análises sedimentológica, granulométrica, química e palinológica ........................................................................................................................... 20 Figura 5: Esquema ilustrando a relação entre fácies sedimentares, associações, ambientes e sistemas deposicionais. Modificado de Walker (1992) ........................................................................................ 21 Figura 6: Equipamentos utilizados na análise granulométrica. A) Estufa TECNAL-TE-394/1 utilizada na secagem das amostras; B) Peneiramento com agitador mecânico; C) Aparato para separação de minerais pesados por sedimentação gravimétrica .................................................................................. 22 Figura 7: Diagrama de classificação das rochas sedimentares (Pettijonh et al., 1987) .......................... 23 Figura 8: Tabela do grau de arredondamento e esfericidade. Fonte: Powers (1953) ............................. 24 Figura 9: Preparação de amostras para análise por difração de raios-x ................................................. 24 Figura 10: Organograma contendo todas as etapas empregadas na análise palinológica ...................... 27 CAPÍTULO II – CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL Figura 11: Localização da Bacia do Amazonas, delimitada pelos escudos das Guiana e Brasil Central e arcos estruturais (Cunha et al., 2007) ..................................................................................................... 28 Figura 12: Carta estratigráfica da Bacia do Amazonas (Fonte: Cunha 2007) ........................................ 29 CAPÍTULO III – ARTIGO Figura 1 Mapa do Estado do Amazonas com a localização do furo PBAT-15-43 na região do Lago Soares, Nordeste de Autazes (Fonte: Imagem de Satélite LANDSAT 8, b654, 2017 – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) ............................................................................................... 35 Figura 2 Seção colunar do Furo PBAT-15-43 (Autazes-AM) ilustrando a distribuição vertical das fácies sedimentares individualizadas, bem como as relações de contato entre as unidades Superior e Inferior e os locais de coleta de amostras ............................................................................................... 38 Figura 3 Fácies Conglomerado de arcabouço aberto (Cma) .................................................................. 40 Figura 4 Fácies Conglomerado de arcabouço fechado (Cmf) ................................................................ 41 Figura 5 Fácies Pelito laminado (Pl) com Detalhe 10x-NP. NP - nicóis paralelos ................................ 43

Figura 6 Fácies Pelito maciço (Pm) ....................................................................................................... 44 Figura 7 Fácies Arenito maciço (Am). Fotomicrografia mostrando grãos de quartzo-arenito mal selecionado (5x-NX), contatos longitudinais (Cl) e côncavo-convexos (Cc), além de poros (P) intergranulares e irregulares (5x-NP); Histograma de frequência simples, mostrando a predominância de arenitos fino a grosso. Siglas: NX – nicóis cruzados e NP – nicóis paralelos ................................... 45 Figura 8 Fácies Arenito com laminação plano-paralela (Ap) ................................................................ 46 Figura 9 Fácies Arenito e Pelito com laminação heterolítica inclinada (APhi) ..................................... 47 Figura 10 Estampa I com Fotomicrografia dos palinomorfos identificados nas amostras do furo PBAT-15-43, com vista proximal e lateral, foco mediano e proximal. Abreviações: VP, vista proximal; VL, vista lateral; FM, foco mediano; FP, foco proximal .............................................................................. 52 Figura 11 Estampa II com Fotomicrografia dos palinomorfos identificados nas amostras do furo PBAT-15-43, com vista distal, proximal e foco mediano. Abreviações: VD, vista distal; VP, vista proximal; FM, foco mediano ................................................................................................................. 52 Figura 12 Estampa III com a Fotomicrografia dos palinomorfos identificados nas amostras do furo PBAT-15-43, com vista proximal e foco mediano. Abreviações: VP, vista proximal; FM, foco mediano .................................................................................................................................................. 53 Figura 13 Bloco diagrama do modelo deposicional proposto para as formações Andirá e Arari, com base nos dados de litofácies e palinológicos obtidos no furo PBAT-15-43, da região de Autazes-AM 55 CAPÍTULO IV Figura 13: Fácies Pelito deformado (Pd) ................................................................................................ 61 Figura 14: Fácies Arenito deformado (Ad) ............................................................................................ 62 Figura 15: Fácies Ritmito deformado (Rd) ............................................................................................ 63 Figura 16: Associação das principais estruturas descritas na Unidade Superior e sua comparação com as classificações de Owen (1977) e Allen (1977) .................................................................................. 64 Figura 17: A) Sequência idealizada por Seilacher (1969) para o desenvolvimento de sismito e Detalhes B e C mostrando zonas fraturadas e brechadas que se assemelham as zonas 2 e 3 de Seilacher (1969) 65 Figura 18: Histogramas de frequência das amostras PB-03G, PB-04G e PB-05 (Unidade Superior) com posicionamento estratigráfico indicadas na Figura 4 ..................................................................... 65 Figura 19: Assembleia de minerais pesados da Unidade Superior (Formação Andirá): Zircão – Zr (prismáticos e subarredondados), Turmalina – Tu (amarela e esverdeada), Granada – Gr, Monazita – Mo, Cianita – Ci, Silimanita – Sl, Topázio – To e Estaurolita – Es ....................................................... 66 Figura 20: A-C) Difratogramas de raios x da unidade inferior (Arari) mostrando a mineralogia da matriz dominada por quartzo (Qz), calcita (Ca), dolomita (Do), anidrita (Anh) e rutilo (Ru) ............... 67 Figura 21: A-F) Difratogramas de raios x da unidade superior (Andirá) mostrando a mineralogia da matriz dominada por quartzo (Qz), calcita (Ca), dolomita (Do), caulinita (Ka), ilita (I), feldspato potássico (FK) e rutilo (Ru) .................................................................................................................. 68

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO III – ARTIGO

Tabela 1 Resumo das fácies sedimentares grossas indeformadas da Unidade Inferior ............. 39

Tabela 2 Resumo das fácies sedimentares indeformadas da Unidade Superior ....................... 42

Tabela 3 Resumo das associações de fácies sedimentares das unidade Superior e Inferior

descritas no furo PBAT-15-43, da região de Autazes-AM (Amazônia Central) ....................... 48

Tabela 4 Ocorrências dos palinomorfos identificados nas amostras do furo PBAT-15-43, com a atribuição da palinozona e idade inferidas ............................................................................ 51 CAPÍTULO IV

Tabela 1: Resumo das fácies sedimentares deformadas da Unidade Superior .......................... 60

Tabela 2: Intervalos granulométricos das três amostras da Formação Andirá (Unidade Superior) .................................................................................................................................... 65

SUMÁRIO

CAPÍTULO I ........................................................................................................................... 16

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 16

2 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA ................................................................................................. 17

3 OBJETIVOS ........................................................................................................................... 17 3.1. Objetivo Geral ................................................................................................................ 17

3.2. Objetivos Específicos ..................................................................................................... 17

4 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................... 18 4.1. Levantamento Bibliográfico .......................................................................................... 18

4.2. Sondagens exploratórias, Descrição e Coleta Sistemática de Amostras ....................... 18

4.3. Análise de Fácies ........................................................................................................... 19

4.4. Análise Granulométrica ................................................................................................. 21

4.5. Separação de Minerais Pesados ..................................................................................... 21

4.6. Confecção de Lâminas Delgadas ................................................................................... 22

4.7. Descrição Petrográfica de Lâminas de Grãos e Delgadas ............................................. 23

4.8. Análise por Difração de Raios X ................................................................................... 24

4.9. Datação Palinológica ..................................................................................................... 25

4.9.1 Fotomicrografias ..................................................................................................... 26

4.9.2 Análise Qualitativa .................................................................................................. 26

4.9.3 Análise Quantitativa ................................................................................................ 26

CAPÍTULO II – CONTEXTO GEOLÓGICO ..................................................................... 28

5 BACIA DO AMAZONAS ..................................................................................................... 28

5.1. Arcabouço estratigráfico da região de Autazes ............................................................. 29

5.2. Formação Nova Olinda .................................................................................................. 29

5.3. Formação Arari .............................................................................................................. 30

5.4. Formação Andirá ........................................................................................................... 31

DECLARAÇÃO DO IGEO........................................................................................................ 32

CAPÍTULO III – ARTIGO .................................................................................................... 33

1 Introdução ............................................................................................................................... 34

1.1 Contexto estratigráfico da região de Autazes (Amazônia Central) ................................ 34

2 Materiais e métodos ................................................................................................................ 37

3 Fácies Sedimentares ............................................................................................................... 37

3.1 Fácies Grossas indeformadas – Unidade Inferior ................................................................ 39

3.1.1 Conglomerado Maciço de Arcabouço Aberto (Cma) .................................................. 39

3.1.2 Conglomerado Maciço de Arcabouço Fechado (Cmf) ................................................. 40

3.2 Fácies Finas indeformadas – Unidade Superior .................................................................. 42

3.2.1 Pelito Laminado (Pl) ..................................................................................................... 42

3.2.2 Pelito Maciço (Pm) ....................................................................................................... 43

3.2.3 Arenito Maciço (Am) ................................................................................................... 44

3.2.4 Arenito com Laminação Plano-paralela (Ap) .............................................................. 45

3.2.5 Arenito e Pelito com Laminação Heterolítica Inclinada (APhi) .................................. 46

4 Associação de Fácies .............................................................................................................. 47

5 Palinologia .............................................................................................................................. 48

5.1 Principais Características da Palinoflora ........................................................................ 48

6 Modelo Deposicional .............................................................................................................. 53

7 Discussões e Conclusões ........................................................................................................ 54

8 Agradecimentos ...................................................................................................................... 56

9 Referências ............................................................................................................................. 56

Apêndice 1 ................................................................................................................................. 59

CAPÍTULO IV ......................................................................................................................... 60

6 FÁCIES DEFORMADAS – UNIDADE SUPERIOR ........................................................... 60

6.1 Pelito Deformado (Pd) .................................................................................................... 60

6.2 Arenito Deformado (Ad) ................................................................................................ 61

6.3 Ritmito Deformado (Rd) ................................................................................................. 62

7 ANÁLISE GRANULOMÉTRICA ........................................................................................ 65

8 ANÁLISE DE MINERAIS PESADOS .................................................................................. 66

9 ANÁLISE POR DIFRAÇÃO DE RAIO X ............................................................................ 67

CAPÍTULO V – DISCUSSÕES E CONCLUSÕES ............................................................. 69

CAPÍTULO VI – REFERÊNCIAS ........................................................................................ 71

16

CAPÍTULO I

1 INTRODUÇÃO

A megassequencia paleozoica da Bacia do Amazonas tem sido definida

principalmente com base em dados de sondagens (Cunha et al. 2007). Entretanto, essa

megassequencia ainda é pouco estudada, principalmente em função da dificuldade de acesso

aos testemunhos, já que a maioria das perfurações é de uso restrito das empresas de petróleo e

gás. Parte dela também aflora em faixas contínuas e paralelas nas bordas norte e sul da bacia,

onde o acesso é dificultado pela escassez de estradas e densa cobertura de vegetação e solo.

Desde a década de 1970, com a pesquisa da silvinita na seqüência pensilvaniana-permiana em

sondagens nos municípios de Nova Olinda do Norte e Itacoatiara, Amazônia Central, pela

Petrobrás Mineração S.A (PETROMISA), a prospecção deste bem mineral tornou-se

potencialmente interessante, em função da dependência do país à importação de cloreto de

potássio, que hoje supera os 90% (Potássio do Brasil 2014). Desde 2009, a empresa Potássio

do Brasil é a nova detentora dos direitos de exploração deste recurso mineral e já executou 43

sondagens exploratórias profundas em Autazes, totalizando mais de 34.000 metros

perfurados. Preliminarmente, os dados indicam a descoberta de uma reserva mineral de

potássio (silvinita), de classe mundial, na profundidade entre 700 a 900m, inserida na

Formação Nova Olinda (Grupo Tapajós), composta de folhelhos, carbonatos, anidritas, e

halitas, depositados em ambiente marinho raso. Entretanto, pouco se conhece sobre a unidade

paleozóica sobreposta a camada de silvinita nesta região, incluindo dados faciológicos,

posicionamento estratigráfico e relações de contato e, de forma generalizada, tem sido

associada a Formação Andirá, constituída por arenitos e siltitos fluvio-lacustres. Para tal

propósito, foi estudado aproximadamente 230m (intervalo 631,93 a 397,67m) do Furo PBAT-

15-43, situado acima da camada de silvinita e localizado na região do Lago Soares, nordeste

de Autazes, Amazonas (Figura 1). Este furo, disponibilizado pela Potássio do Brasil, foi

escolhido em função da qualidade dos testemunhos, que permitiram identificar os conjuntos

de fácies sedimentares e eventos relacionados a deposição, bem como o posicionamento

estratigráfico e os processos diagenéticos superimpostos.

17

2 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA A área de estudo localiza-se na região do Lago Soares, situado a 15 km à nordeste do

município de Autazes (Amazônia Central) (03°29’29,39”S e 58°58’24,83”W), que tem como

principal via de acesso à rodovia AM-254 o Rio Madeirinha (Figura 1).

Figura 1: Mapa do Estado do Amazonas com a localização do furo PBAT-15-43 na região do Lago Soares, a Nordeste de Autazes. Imagem LANDSAT 8, b654, 2017, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

3 OBJETIVOS

3.1. Objetivo Geral Este trabalho visa a identificação das fácies sedimentares das formações Andirá e

Arari (Grupo Tapajós) em testemunhos de sondagens do Furo PBAT-15-43 (Município de

Autazes – AM), visando a definição do paleoambiente deposicional.

3.2. Objetivos Específicos - Definir o arcabouço estratigráfico e obtenção de dados sobre a proveniência

sedimentar a partir da análise de fácies sedimentares das formações Andirá e Arari, auxiliadas

por estudos petrográficos (classificação textural, estrutural, morfológica e aspectos

diagenéticos superimpostos) e de minerais pesados;

- Posicionamento estratigráfico, dados paleoambientais e correlação estratigráfica a

18

partir de datação palinológica do intervalo estudado;

- Proposição de um modelo deposicional com base na integração de dados

sedimentológicos, estratigráficos, palinológicos e químicos.

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Levantamento Bibliográfico Na compilação de dados bibliográficos, foram enfocados temas relacionados aos

métodos sedimentológicos (análises granulométricas, texturais e de minerais pesados),

estratigráficos, ambientes de sedimentação, estruturas sedimentares e análise palinológica.

Além destes, dados estratigráficos e perfis geológicos da empresa Potássio do Brasil.

4.2. Sondagens exploratórias, Descrição e Coleta Sistemática de Amostras Na região de Autazes, cerca de 43 furos de sondagens com até 950m de profundidade

(Projeto Amazonas) foram realizados pela empresa Potássio do Brasil, entre 2009 a 2016.

Para este Projeto de Mestrado, foi escolhido o furo PBAT-15-43, em função continuidade

lítica (sondagem rotativa) e da boa qualidade dos testemunhos, obtidos pela sonda Atlas

Copco CS-4002 (Figura 2A).

A descrição macroscópica dos testemunhos e documentação fotográfica foi realizada

no galpão da referida empresa, em Autazes (Figura 2B). A descrição teve como base a tabela

confeccionada a partir dos modelos de Boyle et al. (1986), Pessoa & Borghi (2005) e Mendes

& Borghi (2005) (Figura 3), que enfatizam a litologia, textura (tamanho, seleção e

arredondamento dos grãos), estruturas sedimentares, cor, relações das camadas em termos de

espessura e composição, feições biogênicas, conteúdo fossilífero e contatos geológicos.

Figura 2: Descrição macroscópica de testemunhos de sondagem. A) Sonda Atlas Copco CS-4002; B) Descrição das caixas de amostras no galpão da empresa (Autazes).

19

Figura 3: Tabela de descrição de testemunhos de sondagem, seguindo a compilação dos modelos de Boyle et al. (1986), Pessoa & Borghi (2005) e Mendes & Borghi (2005).

Amostras foram selecionadas para análises sedimentológica (lâminas delgadas e de

grãos e granulometria), química (difração de raios-x) e datação (palinologia), onde foram

considerados critérios específicos (principalmente litológicos) para cada tipo de análise. No

total, foram coletadas 222 amostras, sendo 87 amostras para palinologia, 67 para lâmina

petrográficas, 68 para química e 05 para granulometria cuja distribuição é mostrada na Figura

4. 4.3. Análise de fácies

Gressly (1938 apud Walker 1992; Barba 1999) deu início aos estudos científicos de

rochas sedimentares e verificou que todas elas poderiam ser agrupadas em um número finito

de tipos, de acordo com os aspectos das rochas descritas, com base na composição, cor,

textura, granulometria, geometria e conteúdo fossilífero. Neste estudo a análise de fácies das

unidades estudadas foi baseada na determinação de litologias, geometria, textura e estruturas

sedimentares, seguindo a metodologia de Walker (1992, 2006). Depois de identificadas, as

fácies foram representadas em uma seção colunar, representativa do furo estudado, visando a

interpretação dos processos sedimentares. Este método tem como objetivo a análise de fácies,

o agrupamento por meio da associações, a caracterização das propriedades e as principais

características das rochas, para determinar os processos, ambientes e subambientes

sedimentares (Figura 5).

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20

Figura 4: Perfil litológico cedido pela empresa Potássio do Brasil (Relatório Interno, Potássio do Brasil 2014), indicando os locais de coleta de amostras para análises sedimentológica, granulométrica, química e palinológica.

21

Figura 5: Esquema ilustrando a relação entre fácies sedimentares, associações, ambientes e sistemas deposicionais. Modificado de Walker (1992).

4.4. Análise Granulométrica Para a análise granulométrica, foram coletadas 05 amostras predominantemente

arenosas (100 a 300g) ao longo do furo. Destas, 03 foram submetidas ao método convencional

de peneiramento no Laboratório de Sedimentologia do Departamento de Geociências

(DEGEO/UFAM). As amostras foram levadas para secagem na estufa (TECNAL-TE-394/1) a

uma temperatura de 60°C (Figura 6A) durante 72 horas. Posteriormente, foram

homogeneizadas e peneiradas durante 15 minutos (Figura 6B), nos intervalos 1 mm, 0,71mm,

0,50mm, 0,35mm, 0,25mm, 0,177mm, 0,125mm, 0,088mm, 0,062mm e <0,062mm;

abrangendo desde a fração areia grossa (2 φ ou 1mm) até muito fina (4 φ ou 0,0625mm),

conforme proposto por Folk & Ward (1957). A geração dos dados estatísticos foi pelo

software Sysgran 3.0, segundo metodologia de Camargo (2006).

4.5. Separação de Minerais Pesados Após a determinação das frações granulométricas, foi separada a fração 0,125mm –

0,062mm (areia muito fina) para separação de minerais pesados. Para a individualização dos

grãos magnéticos foi utilizado o imã de mão. Posteriormente, visando à limpeza dos grãos

(possivelmente recobertos por cimento ferruginoso), parte das amostras foi submetida a

banhos com ácido oxálico (H2C2O4) com densidade de 1,653 g/cm3, na concentração de 5%

e aquecida a 50ºC por até 6 horas. Após a lavagem, os pesados transparentes foram

recuperados e postos para secagem. A separação densimétrica de minerais leves e pesados

22

seguiu a metodologia enfatizada por Remus et al. (2008), na qual utiliza-se uma estrutura

(Figura 6C) com o líquido denso convencional bromofórmio (d= 2,89). Os grãos foram

montados em lâminas de vidro com a utilização de uma resina não birrefringente (Bálsamo do

Canadá com índice de refração = 1,54) aquecidas a cerca de 70°C, recobertas com lamínulas

de vidro para fixação. Por último as lâminas de grão, foram etiquetadas e armazenadas em

caixas apropriadas.

Figura 6: Equipamentos utilizados na análise granulométrica. A) Estufa TECNAL-TE-394/1 utilizada na secagem das amostras; B) Peneiramento com agitador mecânico; C) Aparato para separação de minerais pesados por sedimentação gravimétrica. a) estrutura de apoio; b) vidro de relógio; c) funil de separação; d) minerais leves; e) líquido de separação; f) suporte do funil; g) tubo de borracha; h) minerais pesados; i) pinça que não deixa (ou deixa) passar o líquido e a fração pesada; j) suporte do funil de filtração; k) funil de filtração; l) frasco de recepção.

4.6. Confecção de Lâminas Delgadas

De um total de 67 amostras coletadas, apenas 21 foram escolhidas para a confecção de

lâminas delgadas (Figura 6), segundo a metodologia utilizada no laboratório de Laminação da

CPRM (Serviço Geológico do Brasil), sede Manaus (AM). As amostras previamente

orientadas foram cortadas com serra elétrica Tyrolit para obter dimensões apropriadas de

30x50mm de área. Uma das superfícies do tablete obtida foi polida em politriz metalográfica

a uma rotação de ~450 rpm com abrasivo (Alumina – Al2O3) de 320# (mesh/peneira)

finalizando com um de 600#. Posteriormente, a amostra foi levada à estufa por 6 horas a 70°C

e, ainda quente, é colada nela uma lâmina de vidro com araldite. Uma vez coladas, as

amostras e a lâmina de vidro foram são levadas novamente para a estufa por 20 min. a 70°C,

onde logo após esfriar, a amostra foi rebaixada com a microserra Hillquist, se obtendo uma

espessura aproximada de 2,5 mm (2,0 mm da lâmina + 0,5 mm da amostra). A amostra

(tablete + lâmina de vidro) foi desgastada no rebolo abrasivo até atingir uma espessura

23

aproximada de 70 μm. O conjunto de tablete + lâmina de vidro foi submetido ao desgaste

novamente com alumina (320#, finalizando com 600#) com a ajuda de um disco rotativo até

que se obtenha uma superfície polida e com uma espessura de rocha da ordem dos 30 μm.

4.7. Descrição Petrográfica de Lâminas de Grãos e Delgadas A descrição das lâminas de grãos e delgadas foi realizada no Laboratório de

Microscopia do PPGGEO (UFAM), utilizando o microscópio óptico (Olympus-BX51) com

luz polarizada transmitida. As principais feições petrográficas das lâminas foram fotografadas

com ajuda do software Soft Imaging System/FIVE (Olympus Soft Imaging Solutions) para a

aquisição de imagens no microscópio.

Neste estudo, foi efetuada apenas a análise quantitativa visando individualização da

unidade foco deste estudo, e sua comparação mineralógicas com outras unidades da Bacia do

Amazonas. Na descrição das lâminas de grãos, foram observadas feições diagnósticas

características dos minerais pesados, como forma, cor, propriedades óticas, clivagem,

inclusões, alteração, zoneamento, entre outros, descritas por Mange & Maurer (1992).

A descrição das lâminas delgadas visou descrever e identificar os constituintes do

arcabouço da rocha sedimentar (grãos, matriz, cimento e poros) para posterior classificação

no diagrama de Pettijonh et al. (1987) (Figura 7). De forma complementar, o grau de

arredondamento foi determinado com auxílio da tabela comparativa de Powers (1953) (Figura

8).

Figura 7: Diagrama de classificação das rochas sedimentares (Segundo Pettijonh et al. 1987).

24

Figura 8: Tabela do grau de arredondamento e esfericidade. Fonte: Powers (1953)

4.8. Análise por Difração de Raios-X A análise por difração de raios X das amostras (rocha total) visa determinar a

composição mineralógica das rochas, principalmente as pelíticas, por meio dos argilominerais

(Suguio, 1992). Foram coletadas um total de 68 amostras, das quais 16 foram escolhidas em

função do posicionamento estratigráfico (Figura 4). Na análise de rocha total, coletou-se cerca

de 5g em cada amostra, para uso no Difratômetro Lab X, modelo XR-6000, do Laboratório de

Difração de Raios-X do Departamento de Geologia da UFAM (DEGEO). O estudo dos

argilominerais foi efetuado em frações finas, menores do que 2µm, cuja preparação, ilustrada

na Figura 9, incluiu as etapas: 1) secagem das amostras em estufa com temperatura controlada

a 60ºC; 2) desagregação das amostras com água deionizada, em almofariz de cerâmica com

pistilo de borracha; 3) preparação no porta amostra para análise de Raios-x. Os argilominerais

foram analisados em seu estado natural (seco ao ar).

Figura 9: Preparação de amostras para análise por difração de raios-x. A) Obtenção da fração fina; B e C) Preparação de porta amostra para análises; C) Difratômetro Lab X, modelo XR-6000.

25

4.9. Datação Palinológica De um total de 67 amostras coletadas, somente 31 amostras foram selecionadas para o

estudo palinológico, identificadas na Figura 4. Como critério de escolha das amostras,

procurou-se obter amostras em intervalos aproximados de 10 em 10m ou intervalos ainda

menores, dependendo das variações faciológicas identificadas. A amostragem recaiu

preferencialmente nos sedimentos finos e de coloração mais cinza a preto, por constituírem

sedimentos ricos em matéria orgânica e, em consequência, potencialmente portadores de

grande número de palinomorfos.

As amostras palinológicas foram preparadas nos laboratórios de palinomacerais da

Faculdade de Geologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) utilizando as

técnicas de processamento palinológico descritas inicialmente por Uesugui (1979), e que

seguem as mesmas utilizadas por Dettmann (1963), Phipps & Playford (1984) e Wood et al.

(1996).

Inicialmente foram fragmentadas 45 gramas de cada amostras em tamanhos 5,0 mm

aproximadamente e transferidas para bécheres de polipropileno, devidamente identificados,

para o primeiro estágio da maceração por acidificação. Após a desagregação mecânica do

material seguida de uma sequência de ataques químicos, pôde-se obter um resíduo isento de

material inorgânico e húmico, contendo apenas material orgânico concentrado em

palinomorfos. A seguir descreveu-se resumidamente as etapas deste processamento químico

(Figura 10), segundo as técnicas de Uesugui (1979):

O tratamento inicia adicionando às amostras, ácido clorídrico concentrado (HCl-32%)

a fim de eliminar os possíveis carbonatos (2 horas). Em seguida a amostra sofre um ataque

com ácido fluorídrico concentrado (HF-40%), visando a eliminação dos silicatos (12 horas).

Posteriormente é adicionado à mesma ácido clorídrico diluído (HCl-10%), para eliminação do

fluorsilicato, formado durante o processo anterior.

Ressalta-se que, ao final de cada etapa anteriormente descrita, procedeu-se a lavagem

das amostras com água destilada, visando neutralizar as amostras, para posterior ataque

químico. No intuito de eliminar a fração mais grossa do resíduo, e consequentemente

proporcionar a concentração dos palinomorfos, fez-se uso de peneira com malha de 200 µm;

Em seguida, o material sofre ataque com ácido nítrico concentrado (HNO3) juntamente com

clorato de potássio (KClO3) com duração de 15 minutos. Posteriormente é adicionado ao

material cloreto de zinco (20 minutos), objetivando a separação do material pesado do

material mais leve (separação por flotação) e, finalmente, o material resultante é peneirado em

malha de 10 µm onde foram montadas as lâminas palinológicas.

26

4.9.1. Fotomicrografias Com a utilização do fotomicroscópio (Axiophot) da Zeiss, e com uma câmera

acoplada utilizando o programa Analisys, foram obtidas as fotos de palinomorfos. Os

palinomorfos diagnósticos de idade e ambiente foram marcados através das coordenadas da

lâmina (England Finder).

A maior parte das fotografias dos morfotipos foram confeccionadas com a objetiva de

imersão de 100x, sendo algumas com objetiva de 40x devido as dimensões de alguns dos

palinomorfos.

4.9.2. Análise Qualitativa A análise qualitativa consistiu na individualização dos diferentes morfotipos presentes

no material. Em estudos palinológicos essas análises são efetuadas através da observação das

lâminas palinológicas à luz do microscópio óptico comum.

As análises foram realizadas utilizando um microscópio óptico do tipo AXIOPLAN da

Zeiss, com objetivas de 20X e 40X, seguindo caminhos verticais consecutivos e realizando

uma superposição ao redor de 10% dos campos observados.

Cada tipo encontrado foi identificado, fotografado e marcadas as suas coordenadas nas

lâminas. Após a identificação taxonômica de cada morfotipo encontrado, procedeu-se à

individualização de cada grupo de acordo com sua similitude morfológica (esporos de

briófitas e pteridófitas, grãos de pólen e esporos; e grãos de afinidade incerta).

4.9.3. Análise Quantitativa Os trabalhos bioestratigráficos, envolvendo a utilização das técnicas de tratamento de

dados quantitativos, inclusive com o auxílio de programas de computação específicos para

este fim, vêm demonstrando a vital importância do uso desta ferramenta na resolução de

estudos detalhados de correlação estratigráfica.

Desta forma, a partir do tratamento estatístico dos morfogrupos presentes nos

depósitos da Formação Andirá, será possível obter um panorama de toda a composição

palinoflorística da seção sedimentar analisada.

Os dados para a contagem de frequência relativa foram obtidos através da contagem

dos primeiros 200 palinomorfos encontrados na lâmina, por estar de acordo com as

argumentações de Chang (1967), onde o autor demonstrou que ao contar-se 200 espécimes, a

margem de erro será de apenas 5% da população presente.

27

Figura 10: Organograma contendo todas as etapas empregadas na análise palinológica.

28

CAPÍTULO II – CONTEXTO GEOLÓGICO

5. BACIA DO AMAZONAS A Bacia Sedimentar do Amazonas apresenta cerca de 500.000 km², sendo limitada ao

norte e ao sul pelos escudos das Guianas e Brasil Central, respectivamente, a leste pelo Arco

de Gurupá, que a delimita da Bacia do Marajó e, a oeste, pelo arco de Purus, que a delimita da

Bacia do Solimões (Cunha, 2000) (Figura 11).

Figura 11: Localização da Bacia do Amazonas, delimitada pelos escudos das Guiana e Brasil Central e arcos estruturais (Cunha, 2000).

O preenchimento da Bacia do Amazonas é caracterizado por duas megassequências de

primeira ordem, paleozoica e mesozoica-cenozoica, que totalizam mais de 5.000m (Cunha et

al., 2007) (Figura 12). A paleozoica tem sido mais estudada em função da indústria do

Petróleo, sendo constituída por quatro sequências de segunda ordem: Sequência Ordovício-

Devoniana (Grupo Trombetas), Sequência Devono-Tournaisiana (Grupos Urupadi e Curuá),

Sequência Neoviseana (Formação Faro) e Sequência Pensilvaniano-Permiana (Grupo

Tapajós), delimitadas por superfícies de descontinuidades (Cunha et al., 2007). Destas, a

sequência Pensilvaniano-Permiana é a mais expressiva em área aflorante, principalmente na

borda sul da bacia, com as faixas das formações Monte Alegre e Itaituba (Matsuda et al.,

2010).

29

Figura 12: Carta estratigráfica da Bacia do Amazonas (Fonte: Cunha et al., 2007). Em vermelho destaque para a

formação estudada.

5.1. Arcabouço estratigráfico da região de Autazes

Na região de Autazes, sudeste de Manaus, se concentra grande parte dos furos de

sondagens da Empresa Potássio do Brasil que visa a exploração da silvinita contida na

Formação Nova Olinda (Sequência Pensilvaniano-Permiana, Grupo Tapajós) por meio de

mina subterrânea. O contexto estratigráfico desta região ainda é pouco conhecido devido a

carência de dados geológicos disponibilizados para estudos sedimentológicos e

estratigráficos. Dados do Projeto Amazonas (Potássio do Brasil, 2016) contemplam 43 furos

de sondagens exploratórias efetuadas entre 2009-2016, que alcançaram os limites superiores

da Formação Nova Olinda, a qual é recoberta nesta região por cerca de 2000m de rochas

sedimentares das formações Andirá e Alter do Chão.

5.2. Formação Nova Olinda A denominação de Formação Nova Olinda foi proposta por Kistler (1954) no relatório

final do poço 1-NO-1-AM (Petrobras) como um intervalo constituído por camadas de

evaporitos, sobreposto a Formação Itaituba. Posteriormente, a formação foi subdividida por

Cunha et al. (2007) nos membros Fazendinha (basal) e Arari (Superior). O primeiro é

composto de folhelhos, carbonatos, anidritas, halitas e, localmente silvinita, depositados em

30

ambientes marinho raso, de planície de sabkha e lagos hipersalinos, enquanto o segundo,

constituído por folhelhos e siltitos, com pacotes de halitas cristaloblástica, também de

ambiente marinho restrito. Em função da natureza dos sedimentos e datações palinológicas,

Matsuda et al. (2004) reconheceram uma discordância na parte superior da Formação Nova

Olinda, separando-a em duas unidades, superior (Membro Arari) e inferior (Formação Nova

Olinda). Caputo (2014) propõe que a seção inferior, situada desde o marco 70 até o marco 07

de Szatmari et al. (1975) continue como Formação Nova Olinda, enquanto que a seção

superior, discordante, seja elevada à categoria de Formação Arari.

A porção basal da Formação Nova Olinda aflora nas bordas da Bacia do Amazonas,

mas grande parte ocorre apenas em subsuperfície (Caputo, 2014). Esta porção basal é

composta por calcário fino (pobre em fósseis), folhelho variegado, anidrita ou gipsita branca a

cinza clara, nodular ou laminada, além de arenito fino variegado e halita branca a rosa, em

repetições cíclicas resultantes de mudanças rápidas do nível do mar e de flutuações sazonais e

climáticas na região (Caputo, 2014). Ocorrem também depósitos de silvinita branca rósea na

parte superior da unidade (Szatmari et al., 1975). Estudos palinológicos de Playford & Dino

(2000), permitiram posicionar a Formação Nova Olinda na porção superior do

Mesopensilvaniano (eo-mesodesmoinesiano).

5.3. Formação Arari Apresenta sedimentação cíclica (flutuações sazonais e climáticas) com menos

influência marinha na deposição (Cunha et al., 2007). Corresponde a fase regressiva

continental clástica, contendo halita cristaloblástica em rede argilosa, depositados em

ambiente fluvial-lacustre, o que indica redeposição de sal na bacia, proveniente da erosão

desse material na borda leste (Gurupá) por águas continentais.

Neste período, a bacia de sedimentação encolheu e muito material depositado da

Formação Nova Olinda foi parcialmente redepositado na Formação Arari, que contém halita

(Caputo 2014), as quais gradam lateralmente para sais menos solúveis, como carbonatos e

sulfatos (Szatmari et al., 1975). Arenitos, geralmente de feições deltaicas e de leques aluviais

são comuns na base desta Formação.

É atribuída à Formação Arari idade eopermiana (sakmariana-artinskiana?) por

Playford & Dino (2000), baseados nos estudos da palinozona Vittatina costabilis, enquanto o

hiato com a Formação Nova Olinda (sobreposta) pode exceder 20 Ma (Caputo, 2014).

Anteriromente, Daemon & Contreiras (1971), Caputo et al. (1971), Carozzi et al. (1972),

Szatmari (1975), consideravam este contato como concordante.

31

5.4. Formação Andirá A Formação Andirá, proposta por Caputo et al. (1972), foi incluída por Caputo (1984)

no Grupo Tapajós. O contato superior com a Formação Alter do Chão é descrito como

discordante e subparalelo (Daemon & Contreiras, 1971, Caputo et al., 1971, Carozzi et al.,

1972 e Szatmari et al., 1975). Esta formação encerra a deposição paleozoica na Bacia do

Amazonas, com sedimentação flúvio-lacustre e eólica (Caputo, 2014), representada por

siltitos e arenitos avermelhados (red beds) e raras anidritas, que atestam uma mudança

climática significativa, passando de clima frio para quente e árido (Cunha et al., 2007). Ao

final da deposição dos evaporitos, a bacia foi definitivamente isolada e submetida à erosão e

diluição com sedimentação continental progressiva, culminando em assoreamento por

sedimentos clásticos (Szatmari et al., 1975). A Formação Andirá ocorre apenas em

subsuperfície, nas porções mais centrais da bacia, com espessura de aproximadamente 700m

(Cunha et al., 2007).

Na região de Autazes, dados do relatório interno da Empresa Potássio do Brasil (2014)

mostram sua continuidade lateral da Formação Andirá por cerca de 10 km nos furos

analisados e mergulho suave das camadas para SE. É constituída por sedimentos

siliciclásticos, onde predominam litotipos finos, carbonáticos, como calcilutito marrom a

cinza com intercalações métricas a decamétricas de calcarenito marrom a marrom amarelado.

Além destes, correm também espessos pacotes de brecha sedimentar, com matriz suportada,

contendo clastos angulosos de tamanho grânulo a seixos, de siltitos, arenitos e anidrita,

depositados em ambiente continental lacustre e fluvial. Neste região, o contato com a

Formação Alter do Chão sobreposta, é marcado por discordância angular erosiva. Segundo

dados palinológicos de Daemon & Contreiras (1971) e Playford & Dino (2000),

principalmente pela ocorrência de Lueckisporites virkkae e outros pólens bissacados teniados,

a idade da formação Andirá foi posicionada no Neopermiano. Porém, Rodrigues et al. (1993,

1997), através de dados isotópicos de 87Sr/86Sr, mostram que a idade da formação Andirá

remete ao Eoperminano.

32

Rio de Janeiro, 11 de junho de 2018.

DECLARAÇÃO

Declaro para os devidos fins que o manuscrito Fácies Sedimentares das

formações Andirá e Arari, Permiano da bacia do Amazonas, com base

em testemunhos de sondagem no Lago Soares, Amazonas de autoria

de Ziomar Costa e Silva Junior, Emílio Alberto Amaral Soares , Rodolfo

Dino & Luzia Antonioli foi submetido para avaliação no Anuário do

Instituto de Geociências.

Ismar de Souza Carvalho Editor

33

CAPÍTULO III – ARTIGO

FÁCIES SEDIMENTARES DAS FORMAÇÕES ANDIRÁ E ARARI, PERMIANO DA BACIA DO AMAZONAS, COM BASE EM TESTEMUNHOS DE SONDAGEM NO

LAGO SOARES, AMAZONAS Sedimentary facies of the Andirá and Arari formations, Permian of the Amazon basin, based on cores

from Soares Lake, Amazonas Ziomar Costa e Silva Junior 1; Emílio Alberto Amaral Soares 2, Rodolfo Dino 3 & Luzia Antonioli 4

1,2 Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Programa de Pós-Graduação em Geociências (PPGGEO), Departamento de Geociências (DEGEO), Av. Gal. Rodrigo O. J. Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM, Brasil; 3,4 Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Departamento de Estratigrafia e Paleontologia, Rua São Francisco Xavier, 524, 20550-900, Rio de Janeiro-RJ, Brasil; Resumo Este trabalho apresenta os resultados de análises sedimentológicas realizadas em aproximadamente 230m de testemunhos do furo de sondagem, PBAT-15-43, onde foram descritas as fácies sedimentares e relações de contato entre depósitos de leques aluviais (base) e fluviais (topo) das formações paleozoicas Andirá e Arari, respectivamente. Esta sondagem localiza-se no Lago do Soares (Autazes, Amazonas) e foi selecionada em função da qualidade dos testemunhos recuperados, disponibilizados pela empresa Potássio do Brasil. Sete fácies sedimentares foram identificadas e agrupadas em duas associações de fácies, denominadas informalmente de I e II. A associação I foi interpretada como de ambiente fluvial com depósitos de canal, planície de inundação e crevasse splay. A associação II foi interpretada como de ambiente de leques aluviais com depósitos de fluxos gravitacionais de detritos. Adicionalmente procedeu-se a análise palinológica destas formações que ratificaram a interpretação da fase final do processo de deposição no Permiano da região. A unidade inferior (Arari) mostrou-se estéril em palinomorfos e nas amostras da unidade superior (Andirá) não foram detectados elementos do paleomicroplancton marinho. A palinoflora recuperada é constituída principalmente pelas espécies Lueckisporites virkkiae, Corisaccites alutas, Hamiapollenites andiraensis, H. karooensis, Vittatina costabilis, V. saccata, V. subsaccata e Tornopollenites toreutos; secundadas por espécies dos gêneros Punctatisporites, Verrucosisporites, Limitisporites, Cycadopites e Stratopodocarpites. Os dados sedimentológicos, corroborados pelos palinológicos indicam que a sedimentação pode ser associada ao ambiente continental (fluvial-lacustre), definindo a idade Permiano Superior para as camadas da Formação Andirá. Palavras-chave: Bacia do Amazonas; Formação Andirá; Formação Arari; Lago Soares; fácies sedimentares; palinologia; paleoambiente Abstract This work presents the results of sedimentological and palynological analysis carried out in approximately 230m of core samples of the PBAT-15-43 borehole, where sedimentary fácies and contact relationships were described among alluvial (base) deposits and fluvial (top) fans of the Paleozoic Andirá and Arari formations, respectively. This borehole is located at Soares' Lake (Autazes, Amazon) and it was selected in function of the good quality of the recovered cores, freely available by the Potassio do Brazil company. Seven sedimentary facies were identified and clustered in two facies associations, denominated informally as I and II. The facies association I were interpreted as fluvial with channel, flood plain and crevasse splay deposits. The association II were interpreted as an alluvial fan environment with deposits of gravitational debris flows. Additionally palynological analysis in these formations endorsed the age, and environmental interpretation of the final deposition process phase of the Permian in the area. The inferior unit (Arari) was barren in palynomorphs. The Andirá Formation, superior unit, contains a fairly well preserved palynoflora constituted mainly by the species Lueckisporites virkkiae, Corisaccites alutas, Hamiapollenites andiraensis, H. karooensis, Vittatina costabilis, V. saccata, V. subsaccata and Tornopollenites toreutos. Important species of the Punctatisporites, Verrucosisporites, Limitisporites, Cycadopites and Stratopodocarpites genera are also present. Elements of the paleomicroplancton (acritarchs) were not detected. The sedimentologic data, corroborated by the recovered palynoflora indicate that the sedimentation can be associated to the continental (fluvial-lacustrine) environment, indicating a Late Permian age for the Andirá's strata formation. Keywords: Amazon Basin; Andirá Formation; Arari Formation; Soares Lake; sedimentary facies; palynology; paleoenvironment

34

1 Introdução

A megassequência paleozoica da Bacia do Amazonas, subdividida nas sequências

Ordovício-Devoniana, Devono-Toirnaisiana, Neoviseana e Pensilvaniano-Permiana tem sido

definida principalmente com base em dados de sondagens (Cunha et al., 2007). Entretanto,

essa megassequência ainda é pouco estudada, principalmente em função da dificuldade de

acesso aos testemunhos, já que a maioria das perfurações é de uso restrito das empresas de

petróleo e gás. Parte dela também aflora em faixas contínuas e paralelas nas bordas norte e sul

da bacia, onde o acesso é dificultado pela escassez de estradas e densa cobertura de vegetação

e solo. Desde a década de 1970, com a pesquisa da silvinita na sequência pensilvaniana-

permiana em sondagens nos municípios de Nova Olinda do Norte e Itacoatiara, Amazônia

Central, pela Petrobrás Mineração S.A (PETROMISA), a prospecção deste bem mineral

tornou-se potencialmente interessante, em função da dependência do país à importação de

cloreto de potássio, que hoje supera os 90% (Potássio do Brasil, 2014). Desde 2009, a

empresa Potássio do Brasil é a nova detentora dos direitos de exploração deste recurso

mineral e já executou 43 sondagens exploratórias profundas em Autazes, totalizando mais de

34.000m perfurados. Preliminarmente, os dados indicam a descoberta de uma reserva mineral

de potássio (silvinita), de classe mundial, na profundidade entre 700 a 900m, inserida na

Formação Nova Olinda (Grupo Tapajós). Entretanto, pouco se conhece sobre a unidade

paleozóica sobreposta a camada de silvinita nesta região, incluindo dados faciológicos,

posicionamento estratigráfico e relações de contato e, de forma generalizada, tem sido

associada a Formação Andirá. Para tal propósito, foi estudado aproximadamente 230m

(intervalo 631,93 a 397,67m) do Furo PBAT-15-43, situado acima da camada de silvinita e

localizado na região do Lago Soares, nordeste de Autazes, Amazonas (Figura 1). Este furo,

disponibilizado pela Potássio do Brasil, foi escolhido em função da qualidade dos

testemunhos, que permitiram identificar os conjuntos de fácies sedimentares e eventos

relacionados a deposição, bem como o posicionamento estratigráfico e os processos

diagenéticos superimpostos.

1.1 Contexto estratigráfico da região de Autazes (Amazônia Central)

O preenchimento sedimentar da Bacia do Amazonas é baseado principalmente em

dados de furos de sondagens, sendo caracterizado por duas megassequências de primeira

ordem, paleozoica e mesozoica-cenozoica, que totalizam mais de 5.000m (Cunha et al.,

2007). A paleozoica tem sido mais estudada em função da indústria do Petróleo, sendo

constituída por quatro sequências de segunda ordem: Sequência Ordovício-Devoniana (Grupo

35

Trombetas), Sequência Devono-Tournaisiana (Grupos Urupadi e Curuá), Sequência

Neoviseana (Formação Faro) e Sequência Pensilvaniano-Permiana (Grupo Tapajós),

delimitadas por superfícies de descontinuidades (Cunha et al., 2007). Parte destas sequências

afloram em faixas nas bordas norte e sul da bacia, sendo que as faixas das formações Monte

Alegre e Itaituba, se destacam na borda sul.

Figura 1 Mapa do Estado do Amazonas com a localização do furo PBAT-15-43 na região do Lago Soares, Nordeste de Autazes (Fonte: Imagem de Satélite LANDSAT 8, b654, 2017 – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Na região de Autazes, sudeste de Manaus, se concentra grande parte dos furos de

sondagens da Empresa Potássio do Brasil que visa a exploração da silvinita na Formação

Nova Olinda por meio de mina subterrânea. O contexto geológico desta região ainda é pouco

conhecido devido a carência de estudos sedimentológicos e estratigráficos detalhados. Dados

do Projeto Amazonas (Potássio do Brasil, 2014) contemplam 43 furos de sondagens

exploratórias efetuadas entre 2009-2016, que alcançaram os limites da Formação Nova

Olinda, a qual encontra-se recoberta por aproximadamente 2000m de rochas sedimentares das

formações Andirá e Alter do Chão.

A denominação de Formação Nova Olinda foi proposta por Kistler (1954) para o

intervalo do poço 1-NO-1-AM (Petrobras), constituído por camadas de evaporitos, sobreposto

a Formação Itaituba. Posteriormente, esta formação foi subdividida por Cunha et al. (2007)

nos membros Fazendinha (basal) e Arari (Superior). O primeiro é composto de folhelhos,

36

carbonatos, anidritas, halitas e, localmente silvinita, depositados em ambientes marinho raso,

de planície de sabkha e lagos hipersalinos, enquanto o segundo, é constituído por folhelhos e

siltitos, com pacotes de halitas cristaloblástica de ambiente marinho restrito. Matsuda et al.

(2004) reconheceram uma discordância na parte superior da Formação Nova Olinda,

separando-a em duas unidades, Membro Arari (superior) e Formação Nova Olinda (inferior).

Caputo (2014) propõe que a inferior, situada entre os marcos 70 e 07 de Szatmari et al. (1975)

continue como Formação Nova Olinda, enquanto que a superior, discordante, seja elevada à

categoria de Formação Arari. A porção basal da Formação Nova Olinda aflora nas bordas da

bacia, sendo que grande parte ocorre apenas em subsuperfície. É constituída por calcário

(pobre em fósseis), folhelho, anidrita ou gipsita branca a cinza (nodular ou laminada), além de

arenito fino variegado e halita branca a rosa, em repetições cíclicas resultantes de mudanças

rápidas do nível do mar e de flutuações sazonais e climáticas na região (Caputo, 2014). Na

porção superior desta formação ocorrem depósitos de silvinita branca-róseo (Szatmari et al.,

1975). Estudos palinológicos de Playford & Dino (2000), posicionaram-na na porção superior

do Mesopensilvaniano (eo-mesodesmoinesiano).

A Formação Arari corresponde a fase regressiva continental clástica, contendo halita

cristaloblástica argilosa, depositados em ambiente fluvial-lacustre (Cunha et al., 2007). Em

função do encolhimento da bacia, material da Formação Nova Olinda foi parcialmente

redepositado na Formação Arari (Caputo, 2014), que contém também carbonatos e sulfatos,

além de arenitos deltaicos e leques aluviais na base (Szatmari et al., 1975). Idade eopermiana

(sakmariana-artinskiana?) foi atribuída a esta formação, com base na definição da palinozona

Vittatina costabilis (Playford & Dino, 2000), cujo hiato com a Formação Nova Olinda pode

exceder 20 Ma (Caputo, 2014).

A Formação Andirá, proposta por Caputo et al. (1972), foi incluída no Grupo Tapajós

por Caputo (1984). Esta formação encerra a deposição paleozoica na Bacia do Amazonas,

com sedimentação flúvio-lacustre e eólica (Caputo, 2014), representada por siltitos e arenitos

avermelhados (red beds) e raras anidritas, que atestam uma mudança climática significativa,

de frio para quente e árido (Cunha et al., 2007). Ao final da deposição dos evaporitos, a bacia

foi definitivamente isolada e submetida à erosão com sedimentação continental progressiva,

culminando em assoreamento por sedimentos clásticos (Szatmari et al., 1975). Esta formação

ocorre apenas em subsuperfície, nas partes mais centrais da bacia, com espessura de

aproximadamente 700 m. Daemon & Contreiras (1971) e Playford & Dino (2000), com base

nos palinomorfos, principalmente pela ocorrência de Lueckisporites virkkae e outros grãos de

pólen bissacados teniados, atribuem idade Neopermiano a Formação Andirá. Entretanto,

37

dados isotópicos de 87Sr/86Sr de Rodrigues et al. (1993, 1997) indicam idade Eoperminano.

Os estudos de Cunha et al. (1994) e Reis et al. (2006) consideram que os contato desta

unidade com as formação Nova Olinda e o Alter do Chão são discordante e subparalelo,

respectivamente.

2 Materiais e Métodos

A análise de fácies do intervalo de 232,68m estudados do furo PBAT-1543 considerou

principalmente a descrição detalhada das litologias, estruturas sedimentares, relações de

contatos e conteúdo fossilífero (quando presente), seguindo a metodologia de Walker (1992,

2006). Posteriormente, as fácies foram agrupadas em associações, cuja características e inter-

relações permitiram a interpretação dos processos, ambientes e subambientes sedimentares em

que a rocha foi gerada. Das 67 amostras coletadas, 35 amostras foram selecionadas para

palinologia, consistindo de sedimentos finos cinza a preto, ricos em matéria orgânica e,

portanto, potencialmente portadores de grande número de palinomorfos, conforme

distribuição ilustrada na Figura 2. As amostras palinológicas foram preparadas nos

laboratórios de palinomacerais da Faculdade de Geologia da Universidade do Estado do Rio

de Janeiro (UERJ) utilizando as técnicas de processamento palinológico descritas inicialmente

por Uesugui (1979), e que seguem as mesmas utilizadas por Dettmann (1963), Phipps &

Playford (1984) e Wood et al. (1996).

3 Fácies Sedimentares

No intervalo estudado do furo PBAT-15-43 foram individualizadas sete litofácies,

segundo a metodologia de Walker (1992, 2006) e agrupadas nas unidades Inferior (Formação

Arari) e Superior (Formação Andirá). A Inferior, definida entre 590,15 a 631,65m, é

composta por 2 fácies, Conglomerado de Arcabouço Aberto – Cma e Conglomerado de

Arcabouço Fechado – Cmf. A Superior, definida no intervalo entre 398,97-590,15m, é

constituída pelas fácies indeformadas Pelito Laminado – Pl, Pelito Maciço – Pm, Arenito

Maciço – Am, Arenito com Laminação Plano-Paralela – Ap, Arenito e Pelito com Laminação

Heterolítica Inclinada – APhi) (Tabelas 1, 2 e Figura 2). Localmente, parte das fácies da

unidade Superior apresenta-se deformada, exibindo laminação convoluta, estruturas de

sobrecarga e diques clásticos, entre outros. No local do furo, a unidade superior é recoberta

por espesso pacote sedimentar (intervalo de 398,97m até a superfície) constituído por

camadas métricas a decamétricas de arenitos com intercalações de siltitos e argilitos,

atribuídos a cobertura sedimentar cretácea-neógena (Potássio do Brasil, 2014).

38

Figura 2 Seção colunar do Furo PBAT-15-43 (Autazes-AM) ilustrando a distribuição vertical das fácies sedimentares individualizadas, bem como as relações de contato entre as unidades Superior e Inferior e os locais de coleta de amostras.

39

Tabela 1 Resumo das fácies sedimentares grossas indeformadas da Unidade Inferior.

3.1 Fácies Grossas indeformadas – Unidade Inferior

3.1.1 Conglomerado Maciço de Arcabouço Aberto (Cma)

Esta fácies é representada por paraconglomerado de coloração marrom rosado,

maciço, polimítico e intraformacional, de arcabouço aberto, cujos constituintes clásticos são

suportados por matriz areno-siltosa com grânulos (Figuras 3A-G). Os clastos variam de

centimétricos a decimétricos, são compostos predominantemente de anidrita e,

subordinadamente, de pelitos e arenitos maciços e laminados, subarredondados a

subangulosos, com menor proporção de angulosos (Figuras 3B-G). Em geral, esta fácies é

constituída por camadas métricas (até 10 m) com variações no tamanho e quantidade de

clastos, que definem um tênue padrão de estratos plano-paralelos (Figura 2).

Fácies Litologia Estruturas

Sedimentares Outras

Características Contatos

Interpretação dos Processos

Fáci

es S

edim

enta

res G

ross

as

Cm

a

Conglomerado de arcabouço aberto com

clastos (cm a dm) diversos de anidrita e, subordinadamente, de

siltitos e arenitos

Maciço Camadas com

granocrescência ascendente

Contato superior e inferior

gradacional com a fácies Cmf

Rápida sedimentação,

fluxos gravitacionais de

detritos

Cm

f Conglomerado de arcabouço fechado com

clastos (cm a dm) de anidrita

Maciço

Feições de dissoluções nas

bordas dos clastos

Contatos superior e inferior

gradacional com a fácies Cma

Rápida sedimentação,

fluxos gravitacionais de

detritos

40

Figura 3 Fácies Cma. A – D) Paraconglomerado polimítico, com clastos de pelitos marrom (P) e cinza (Pc),

3.1.2 Conglomerado Maciço de Arcabouço Fechado (Cmf)

A fácies Cmf é representada por um ortoconglomerado de coloração cinza com

porções marrom, maciço, oligomítico e intraformacional, de arcabouço fechado, com clastos

suportados por matriz areno-siltosa intersticial (Figuras 4A-C). Os seixos são de anidrita cinza

(maciça e laminada), subangulosos, com até 10 cm de comprimento, que definem contatos

longitudinal e côncavo-convexo (Figura 4A). Parte dos clastos apresentam feições de

dissolução nas bordas (Figura 4C).

41

Figura 4 Fácies Cmf. A – C) Ortoconglomerado com seixos (centimétricos) de anidrita cinza (maciça e laminada – Anh), predominantemente subangulosos, que definem contatos longitudinal (Cl) e concâvo-convexo (Cc). Exibem feições de dissolução (D) nas bordas.

Interpretação das Fácies Grossas

Paraconglomerados e ortoconglomerados maciços, mal selecionados, tem sido

associados por Miall (1996), a fluxos de detritos de alta intensidade. Bull (1977) também

associa esses litotipos a fluxos de detritos (viscosos ou coesivos), em função da variação de

tamanho dos clastos, matriz areno-siltosa suportada e ausência de estruturação. Em geral, o

aspecto maciço é resultante do transporte dos clastos sob alta viscosidade, em função da

elevado teor de matriz (areno-siltosa), comum nos depósitos gravitacionais (Reineck & Singh,

1980), denominados também de fluxos de detritos pseudoplásticos por Lowe (1975, 1982) e

Miall (1996). Sem distinção, Fambrini et al. (2006), associa a gênese de conglomerados de

arcabouço aberto e fechado, com clastos de até 1 metro de diâmetro, à fluxos de detritos de

porções proximais de leques aluviais. Segundo Shultz (1984), o caráter proximal é função da

ausência de matriz.

42

Tabela 2 Resumo das fácies sedimentares indeformadas da Unidade Superior.

3.2 Fácies Finas indeformadas – Unidade Superior

3.2.1 Pelito Laminado (Pl)

A fácies Pl é a mais representativa do furo estudado, sendo constituída por pelitos

variegados (cinza, cinza esverdeado e marrom rosado), com laminação plano-paralela,

definida por intercalações milimétricas de arenito fino (Figuras 5A-D). Localmente, são

observadas intercalações milimétricas de arenito fino com laminação cruzada cavalgante

(Lcv) (Figura 5B). Esta fácies exibe contato superior por sobrecarga e inferior gradacional-

irregular com a fácies Ap. Por vezes, falhas deslocam as laminações (Figura 5C) e cristais

carbonáticos (aciculares e alongados) ocorrem dispersos (Figura 5E), por vezes, preenchendo

Fácies Litologia Estruturas

Sedimentares Outras

Características Contatos

Interpretação dos Processos

Fáci

es S

edim

enta

res D

epos

icio

nais

(Ind

efor

mad

as)

Pl

Pelito laminado variegado, com intercalações milimétricas

arenosas

Laminação plano-paralela, localmente laminação cruzada

cavalgante nas intercalações arenosas

Concentrações dispersas de cristais (mm) de carbonatos e no preenchimento de planos de falhas

O contato superior irregular-erosivo e

inferior gradacional-irregular com a

fácies Ap

Decantação a partir de

suspensão

Pm

Pelito variegado, com delgadas

intercalações de areia fina.

Localmente, intercalações de

pelito escuro

Aspecto maciço e laminações plano-

paralela e inclinadas, incipientes

Cristais (mm) de carbonatos dispersos e no preenchimento de planos de falhas

Contato superior e inferior brusco com as fácies Pl e Am, respectivamente.

Localmente, contato discordante com a

fácies Cma sobreposta

Deposição por suspensão e

rápido influxo trativo em área

externa ao canal

Ap Arenito fino,

bem selecionado

Laminação plano-paralela com

intercalações delgadas (mm) de pelitos. Por

vezes, ocorre laminação cruzada

cavalgante

Porções carbonáticas, irregulares e

dispersas

Contatos superior e inferior irregular e

erosivo com a fácies Pl

Deposição por suspensão e, por

vezes, tração

Am

Arenito fino a grosso, mal selecionado

Aspecto maciço, por vezes, com laminação

plano-paralela incipiente

Planos de fraturas preenchidas por

cristais de carbonato

Contatos superior e inferior brusco e irregular com as fácies Pl e Pm.

Rápida deposição, sem

tempo suficiente para a formação

de estruturas sedimentares

Aph

i

Intercalações milimétricas de

arenito bege, muito fino a fino com pelito cinza

escuro

Laminação plano-paralela, por vezes,

ondulada e inclinada

Concentrações carbonáticas

irregulares dispersas e no preenchimento

de fraturas

Contatos superior e inferior brusco com

as fácies Pl e Pm

Alternância de processos de suspensão e

tração

43

planos de microfalhas e microfraturas (Figuras 5C e F).

Interpretação

Pelitos com laminação plano-paralela podem ser interpretados como resultados da

deposição por alternância de processos de suspensão e tração relacionadas a ambiente de maré

(Miall, 1996). A migração de formas de leito é responsável pela formação de laminação

cruzada cavalgante, onde o influxo de areias finas intercala-se com o pelito (Lindholm, 1987).

Figura 5 Fácies Pl. A, C, D) Pelito com laminação plano paralela definida por delgadas intercalações arenosas; B) Contato por sobrecarga (linha tracejada) entre as fácies Ap e Pl, sendo que a última apresenta intercalações arenosas (mm) com laminação cruzada cavalgante (Lcv); C e F) Microfalhas (F) e microfraturas (Fr) preenchidas por material carbonáticos que seccionam a laminação (Detalhe F, 10x-NP). NP - nicóis paralelos; E) Porções com concentrações localizadas de cristais carbonáticos aciculares e alongados.

3.2.2 Pelito Maciço (Pm)

Esta fácies é formada por pelito de cores variegadas (marrom, cinza, bege rosado), de

aspecto maciço (Figuras 6A-C). Localmente, ocorrem porções com tênue laminação plano-

paralela, marcada por intercalações milimétricas de areia fina (Figura 6A). Esporadicamente,

porções centimétricas de pelito cinza com laminação inclinada (até 20°) se destacam no pelito

maciço (Figura 6C). O contato superior e inferior é brusco com as fácies Pl e Am e

44

discordante com a fácies Cma. Por vezes, porções do pelito alterado, exibem coloração

esverdeada. Nesta fácies ocorrem cristais carbonáticos dispersos (aciculares e alongados)

(Figuras 6A e B) e, localmente, preenchendo planos de microfalhas.

Figura 6 Fácies Pm. A e B) Aspecto maciço da fácies Pm, com delgadas intercalações de areia fina, com cristais carbonáticos (aciculares e alongados) dispersos; C) Intercalação centimétrica de pelito cinza, com laminação inclinada.

Interpretação

A fácies Pm representa a deposição a partir de suspensão em áreas de planícies

inundadas, com rápidos influxos trativos de sedimentos externos ao canal, que permitiram a

deposição de delgadas intercalações de areias (Miall, 1996; Tucker, 2003).

3.2.3 Arenito Maciço (Am)

Esta fácies é constituída por quartzo-arenito friável, predominantemente de aspecto

maciço (Figuras 7A-C), exibindo localmente laminação plano-paralela incipiente (Figura 7A).

Apresenta coloração bege rosada com tonalidades avermelhada a esbranquiçada (Figuras 7A-

F), sendo constituído principalmente por grãos de quartzo finos a grossos, mal selecionados,

que variam de subarredondados a arredondados, que definem um arcabouço fechado (Figuras

7D-F). Predominam contatos superior e inferior bruscos com as fácies Pl, Pm e Rd e,

localmente, contato superior irregular por falha com a fácies Pl (Figura 7C).

Interpretação

A deposição da fácies Am pode estar associada à rápida sedimentação, com a

45

obliteração total de estruturas primárias em zonas com elevada taxa de acumulação de sedimentos

(Miall, 1996).

Figura 7 Fácies Am. A-B) Arenito fino a grosso de aspecto maciço, por vezes com laminação plano-paralela incipiente; C) Contato lateral por falha com a fácies Pl; D) Fotomicrografia mostrando grãos de quartzo-arenito mal selecionado, que varia, de subarredondados a arredondados, com arcabouço fechado (5x-NX). E) Arenito com arcabouço fechado exibindo principalmente contatos longitudinais (Cl) e côncavo-convexos (Cc), além de poros (P) intergranulares e irregulares (5x-NP); F) Histograma de frequência simples, mostrando a predominância de arenitos fino a grosso. Siglas: NX – nicóis cruzados e NP – nicóis paralelos.

3.2.4 Arenito com Laminação Plano-paralela (Ap)

A fácies Ap é constituída por arenitos muito finos, bem selecionados, com grãos que

variam de subarredondados a arredondados. Exibe coloração bege a avermelhado, com

laminação plano-paralela (Figuras 8A-D) marcada por intercalações milimétricas de pelitos

(Figuras 8B e C) e, por vezes, apresenta níveis com laminação cruzada cavalgante (Figuras

8A e C). Os contatos superior e inferior com a fácies Pl são predominantemente irregulares e

46

erosivos (Figura 8B), sendo que por vezes, o inferior com a fácies Pl é marcado feições de

sobrecarga com estrutura em chama (Ec). Localmente, ocorrem feições carbonáticas

irregulares com até 1 cm de diâmetro (Figura 8D).

Interpretação

Esta fácies pode ser formada a partir de processos de deposição em formas de leito

plano subaquosas em correntes de altas velocidades, durante regime de fluxo superior (Miall,

1996), com períodos de baixa energia e decantação de pelito.

Figura 8 Fácies Ap. A) Arenito com laminação plano-paralela, localmente exibindo intercalações com laminação cruzada (Lcv); B) Contatos superior e inferior irregulares com a fácies PI, destacando as feições de sobrecarga, como estrutura em chama (Ec); C) níveis com laminação cruzada cavalgante (Lcv) individualizados por delgadas intercalações de pelito; D) Feições carbonáticas irregulares.

3.2.5 Arenito e Pelito com Laminação Heterolítica Inclinada (APhi)

A fácies Aphi é constituída por delgadas intercalações (principalmente milimétricas)

de arenito bege e pelito cinza, depositados em sets inclinados, formando a laminação

heterolítica inclinada. Estas laminações apresentam mergulhos que variam de 5 a 30°

(Figuras 9A-C). As intercalações entre no pelito e o arenito formam pares, com ciclos

granodecrescentes. O arenito é predominante, sendo representado por lâminas milimétricas

até 1 centímetro, constituído por grãos de quartzo finos a médios (0,062 até 1,00 mm), bem

selecionados, que variam de subarredondados a subangulosos. Em geral, essa fácies exibe

contatos superior e inferior bruscos com as fácies Pm e Pl.

Interpretação

A fácies Aphi pode ser interpretada como produto de processos de suspensão e tração

em barras de acreção lateral, com inclinação de baixo ângulo (Thomas et al., 1987), que gera

a laminação heterolítica inclinada. O desenvolvimento desta estrutura em ambiente fluvial

tem sido relacionado a sazonalidade (enchentes e vazantes) dos rios na Bacia (Soares et al.,

47

2010; Rozo et al., 2012; Gonçalves Jr., 2013).

Figura 9 Fácies Aphi. A-B) Laminação heterolítica inclinada definida por intercalações milimétricas de arenitos e pelitos.

4 Associação de Fácies

Foram reconhecidas 2 associações de fácies, organizadas de acordo com a tabela 3,

agrupadas em duas categorias principais, conforme sua natureza: I – deposicional fina

(indeformada) e II – deposicional grossa (indeformada).

A associação I é representada pelo agrupamento de fácies: Pl, Pm, Am, Ap e APhi,

onde predominam fácies indicativa de paleoambiente fluvial/lacustre. As fácies Pl e Pm

caracterizadas por espessos pacotes de pelitos laminados e maciços indicam deposição por

decantação em planície de inundação e/ou lagos, enquanto as fácies APhi e Ap, caracterizadas

por espessas camadas de arenitos finos, maciços e com laminações plano-paralela e

inclinadas, intercaladas pela fácies Pl, são indicativas de depósitos de canal e barras em

pontal, característicos de rios meandrantes. Neste estilo fluvial, a barra em pontal caracteriza

o elemento arquitetural de acreção lateral (Miall, 1992). Particularmente, os depósitos

delgados das fácies Ap e Am que ocorrem intercalados as fácies pelíticas foram associados a

ruptura de dique marginal, que desenvolveram crevasse splay inconfinados, conforme a

classificação de Reineck & Singh (1973); Bristow et al. (1999); Elliot (1986); Gross et al.

(2011).

A associação II, constituída pelas fácies grossas (Cma e Cmf) de orto e

paraconglomerados (polimíticos e oligomíticos), é indicativa de depósitos de fluxos de

detritos em leques aluviais.

48

Tabela 3 Resumo das associações de fácies sedimentares das unidades Superior e Inferior descritas no furo PBAT-15-43, da região de Autazes-AM (Amazônia Central).

5 Palinologia

Das 35 amostras processadas do furo PBAT-15-43, 17 mostraram resultados

palinológicos satisfatórios (cerca de 50%), sendo as 18 restantes estéreis. Todo o material

estudado pertence litoestratigraficamente a Unidade Superior, a qual apresenta uma grande

variedade litológica caracterizada por uma deposição dominantemente continental. As

ocorrências dos espécimes são apresentadas na tabela 4, de acordo com o registro e qualidade

do resíduo palinológico recuperado. Fotomicrografias de espécies selecionadas são

apresentadas nas Figuras 10 a 12. As informações sobre proveniência dos espécimes

ilustrados constam no Apêndice 1, de acordos com a unidade investigada.

5.1 Principais Características da Palinoflora

A Unidade Superior apresentou-se relativamente pobre em palinomorfos, e estes se

encontram em razoável estágio de preservação com formas um tanto oxidadas, apesar de

abundantes em alguns níveis. Desse modo, foi possível recuperar formas diagnósticas que

permitiram o enquadramento no zoneamento proposto por Playford & Dino (2000b). A

associação esporo-polínica identificada inclui 33 espécies (20 gêneros) de miósporos e algas

do gênero Botryococcus.

A palinoflora recuperada, mesclada de elementos gondwânicos e euro-americanos, é

dominada por grãos de pólen bissacados taeniados, principalmente dos gêneros Lueckisporites

e Corisaccites, com as consistentes co-ocorrências dos genêros Hamiapollenites,

Tornopollenites e Vittatina. Os esporos com afinidades pteridofíticas, se apresentam em

frequências relativamente altas em alguns níveis da seção. Entretanto são pouco

UN

IDA

DE

CARÁTER DAS FÁCIES

CONJUNTO DE FÁCIES

ASSOCIAÇÃO DE FÁCIES

OBSERVAÇÕES INTERPRETAÇÃO

SUPE

RIO

R

Fácies sedimentares

finas

Pl, Pm

I

Planície de inundação

Ambiente Fluvial/Lacustre

APhi, Ap, Pl Canal fluvial e Barra

de Pontal

Ap, Am Crevasse splay

INFE

RIO

R

Fácies sedimentares

grossas Cma, Cmf II Fluxo de detritos Leques aluviais

49

diversificados, com predomínio dos gêneros Punctatisporites, Verrucosisporites e

Calamospora. As formas monossacadas e bissacadas não estriadas (Potonieisporites,

Plicatipollenites e Limitisporites) são constituintes menores da associação. Além disso,

detectou-se a presença comum de algas (Botryococcus) indicativas de agua doce e salobra.

Não foram detectados componentes do paleomicroplancton marinho (acritarcos) na

associação.

A palinoflora recuperada é essencialmente a mesma que a detectada por Playford &

Dino (2000b) para a Formação Andirá e indicativa de idade Neopermiana. Igualmente

apresenta grande semelhança com a associação presente na parte superior da Formação Pedra

de Fogo da Bacia do Parnaíba (Dino et al., 2002). Além disso, mostra estreita correlação com

associações de idade Permiano Superior registradas em várias partes do mundo tais como:

África (Jardiné, 1974; Broutin et al., 1990); Oriente Médio (Broutin et al., 1995) e Oeste da

Europa (Visscher, 1973, 1974, 1980).

As espécies mais conspícuas da palinozona Tornopollenites toreutos (Playford &

Dino, 2000b) são: Tornopollenites toreutos, Hamiapollenites andiraensis, H. karooensis e

Verrucosisporites insuetos. No Brasil estas espécies só foram registradas, até o momento,

com ocorrências bastante comuns no terço superior da Formação Pedra de Fogo (Bacia do

Parnaíba – Dino et al., 2002) e da Formação Andirá (Bacia do Amazonas – Playford & Dino,

2000b). Na Bacia do Paraná estas espécies estão virtualmente ausentes. Balarino (2014) criou

a palinozona de associação Tornopollenites toreutos – Reduviasporonites chalastus (TC),

reconhecida nos estratos da Formação Tunas (Claromecó Basin – Argentina). Esta palinozona

apresenta essencialmente as mesmas espécies diagnósticas identificadas por Playford & Dino

(2000b), e a autora traça uma correspondência temporal com as palinozonas: Bacia do

Paraná – Brasil (possível correlação com a parte superior da palinozona de intervalo

Lueckisporites virkkiae (Lv) de Souza & Marques – Toigo (2005). Ressalta-se aqui que

Playford & Dino (2000b) consideram que a palinozona Tornopollenites toreutos situa-se

estratigraficamente acima da palinozona (Lv). Bacia do Paraná – Uruguai (correlação com a

porção basal da palinozona de associação Striatoabieites anaverrucosus–Staurosaccites

cordubensis (AC) de Beri et al. (2011). Bacia do Chaco-Paraná (correspondência com a

palinozona de associação Striatites (S) de Gutiérrez et al. (2003). Bacias do Centro-Oeste –

Argentina (correlação com a parte superior da palinozona de associação Lueckisporites-

Weylandites (LW) de Césari & Gutiérrez (2001). Para demais correspondências com

palinozonas definidas em sequências do Permiano Superior ver Playford & Dino (2000b –

fig.4).

50

Em termos de idade, todas estas palinozonas são consideradas, em função das espécies

presentes como sendo de idade Guadalupiano – Lopingiano, ratificando assim a idade

diagnosticada por Playford & Dino (2000b) para a Formação Andirá.

Em termos ambientais as evidências sedimentológicas e palinológicas indicam que o

paleoambiente predominante durante a deposição da Unidade Superior era quente e seco. A

abundancia dos grãos de pólen bissacados-taeniados afins às coníferas indicam condições

quentes em ambientes áridos a semi-áridos.

51

400,22Estéril. Sem resíduo

orgânico

406,18Estéril. Sem resíduo

orgânico

408,11Estéril. Sem resíduo

orgânico411,75 • • • • •414,90 • • • • • • • • •417,50 • • • • • • • • •419,42 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Resíduo orgânico rico

em MOA globosa

421,50 • • • • Res. Orgânico rico em MOA oxidada

423,40

428,53

433,82 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •441,50 • • • • • • • • • • • • • • • • • • •443,96

446,85

453,42

459,25 • • • • • • • • • •461,40 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •465,95

Estéril. Sem resíduo orgânico

472,96 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •Rico resíduo orgânico amorfo + lenhoso algo

carbonizado475,95 • • • • • • •479,90 • • • • • • •482,00 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •490,00 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •496,20 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •502,20 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •507,75 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •523,00527,75538,02567,90571,85574,30578,09590,50616,95

Luec

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sp.

Raro resíduo orgânico amorfo + lenhoso algo

carbonizado

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Estéril. Sem resíduo orgânico

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Raro resíduo orgânico lenhoso

Rico resíduo orgânico amorfo + lenhoso algo

carbonizado

Estéril. Sem resíduo orgânico

PA

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Torn

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leni

tes

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reut

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Raro resíduo orgânico lenhoso

Estéril. Raro resíduo orgânico lenhoso

carbonizado

Resíduo orgânico rico em MOA globosa

Tabela 4 Ocorrências dos palinomorfos identificados nas amostras do furo PBAT-15-43, com a atribuição da palinozona e idade inferidas.

52

Figura 10 Fotomicrografia dos palinomorfos identificados nas amostras do furo PBAT-15-43. 1, 2, 3. Punctatisporites sp. aff. P. gretensis Balme & Hennelly, 1956. 1, 2, VP, FM; 3, FP; 4. Punctatisporites sp. Balme & Hennelly, 1956. VL; 5. Verrucosisporites insuetus Playford & Dino, 2000. VP; 6. Verrucosisporites sp. VL; 7, 8. Laevigatosporites vulgaris (Ibrahim) Ibrahim, 1933. VP; 9. Laevigatosporites minor Loose, 1934. VP. Abreviações: VP, vista proximal; VL, vista lateral; FM, foco mediano; FP, foco proximal.

Figura 11 Fotomicrografia dos palinomorfos identificados nas amostras do furo PBAT-15-43. 1, 2. Cycadopites sp. cf. C. follicularis Wilson & Webster, 1946. 1, VD; 2. FM; 3. Plicatipollenites malabarensis (R. Potonié & Sah) Foster, 1975. FM; 4. Limitisporites sp. VP; 5. Pteruchipollenites sp. FM; 6. Staurosaccites cordubensis Archangelsky & Gamerro, 1979 FM. 7. Corisaccites alutas Venkatachala & Kar, 1966, FM; 8. Lueckisporites virkkiae, R. Potonié & Klaus emend. Clarke, 1965. FM; 9. Vittatina sp. aff. V. fasciolata, 1934 (Balme & Hennelly) Bharadwaj, 1962. VP. Abreviações: VD, vista distal; VP, vista proximal; FM, foco mediano.

53

Figura 12 Fotomicrografia dos palinomorfos identificados nas amostras do furo PBAT-15-43. 1. Vittatina vittifera (Luber) Samoilovich 1953. FM; 2. Vittatina subsaccata Samoilovich, 1953. VP; 3. Vittatina costabilis Wilson, 1962. FM; 4. Hamiapollenites karroensis (Hart) Hart, 1964, FM; 5. Hamiapollenites andiraensis Playford & Dino, 2000. FM; 6. Hamiapollenites sp. cf. H. fusiformis Marques-Toigo emend. Archangelsky & Gamerro, 1979. FM; 7, 8, 9. Tornopollenites toreutos Morgan, 1972. FM. Abreviações: VP, vista proximal; FM, foco mediano.

6 Modelo Deposicional

As fácies sedimentares identificadas para as formações Andirá (Unidade Superior) e

Arari (Unidade Inferior) no furo de sondagem PBAT-15-43 estudado, bem como a relação de

contato entre elas, sugerem os processos de deposição e eventos relacionados abaixo.

A deposição das fácies grossas maciças (Cma e Cmf) da Formação Arari, pode ser

associada a atuação de fluxos gravitacionais de detritos em sistemas de leques aluviais. Na

Bacia do Amazonas, o desenvolvimento dos leques pode ser relacionado as fases de

soerguimento e de continentalização, os quais estão associados à mudanças climáticas e a

orogenia Tardi-Herciniana (Figura 13A). Esses processos induziram a regressão marinha e

resultou no retrabalhamento de pacotes de arenitos, siltitos, halitas e anidritas cristaloblásticas

da Formação Nova Olinda, que foram soerguidos nas bordas da bacia e redepositados nas

áreas mais centrais (Szatmari et al., 1975; Silva, 1996; Cunha et al., 2007). A deposição foi

contínua e resultou no empilhamento de camadas métricas, com variações no tamanho e

quantidade de clastos, que definem um tênue padrão de estratos plano-paralelos. A ausência

de estruturas internas pode ser resultante de transporte dos clastos sob alta viscosidade, em

função do elevado conteúdo de matriz, comum em depósitos gravitacionais (Rossetti, 1999).

Posteriormente, a bacia passou por um período de soerguimento, com erosão parcial do

54

sistema de leques e desenvolvimento de discordância (Figura 13B). Nova fase de subsidência

na bacia foi marcada pela gradativa da conexão com o mar aberto e o estabelecimento de

condições cada vez mais continentais, de clima árido, com a deposição de camadas detríticas

da Formação Andirá (Figura 13C). Estes depósitos, carreados por águas continentais diluíram

as salmouras bacinais, criando condições pseudo-marinhas (Szatmari et al., 1975). As

litofácies individualizadas no furo estudado, com predominância de pelitos (fácies Pm, Pl) e

arenitos (fácies Am, Ap, APhi) subordinados, são indicativas de ambiente fluvial/lacustre,

cujo material foi depositado por processos trativos e suspensivos em canal fluvial, planície de

inundação (incluindo lagos) e diques marginais. A laminação heterolítica inclinada (fácies

APhi) é indicativa de deposição de barras em pontal em sistema meandrante.

7 Discussões e Conclusões

No intervalo estudado do furo PBAT-15-43 foram definidas 2 conjuntos distintos de

fácies sedimentares, que permitiram a individualização das unidades superior e inferior. A

inferior é constituída por fácies grossas (Cma e Cmf), as quais foram associadas a deposição

por fluxos gravitacionais em ambiente de leques aluviais, desenvolvidos durante a orogenia

Tardi-Herciniana. A superior, composta por fácies finas (Pl, Pm, Am, Ap e Aphi), é

representativa de paleoambiente fluvial meandrante (canal, planície de inundação-lagos e

crevasse splay).

Dados palinológicos da unidade Superior permitiram posicioná-la no Permiano

Superior, sendo portanto, associada à Formação Andirá. Este dado corrobora com os estudos

palinológicos sobre esta unidade, obtidos por Daemon & Contreiras (1971), Picarelli &

Quadros (1992) e Playford & Dino (2000). Além disso, a presença de algas de água doce (a

salobra) e a ausência de palinomorfos marinhos corroboram com o paleoambiente fluvial

proposto neste estudo, bem como nos trabalhos anteriores de Caputo et al. (1972), Szatmari et

al. (1975), Santos et al. (1975), Caputo (1984), Matsuda et al. (2004), Cunha et al. (2007) e

Caputo (2014). Como não foi obtida idade para a unidade inferior, devido seu posicionamento

estratigráfico e fácies sedimentares, ela foi associada neste estudo à Formação Arari,

corroborando com os estudos estratigráficos de Szatmari et al. (1975), Matsuda et al. (2004),

Cunha et al. (2007) e Caputo (2014).

55

Figura 13 Bloco diagrama do modelo deposicional proposto para as formações Andirá e Arari, com base nos dados de litofácies e palinológicos obtidos no furo PBAT-15-43, da região de Autazes-AM. A) No Permiano, a bacia sofreu soerguimento com a orogenia

tardi-herciniana, que resultou na regressão marinha e deposição de leques aluviais da Formação Arari por meio de fluxos de detritos nas porções mais centrais da bacia; B) Novo soerguimento provocou erosão parcial dos leques com desenvolvimento de superfície

erosiva; C) Nova fase de subsidência marcou o início da continentalização da bacia, com a implantação do sistema flúvio-lacustre e, consequentemente, deposição de sedimentos pelíticos e arenosos da Formação Andirá, com fácies características de ambientes de canal,

planície de inundação e dique marginal, relacionado a um sistema fluvial meandrante.

56

8 Agradecimentos

O autor agradece ao CAPES pelo apoio financeiro e implementação da bolsa de

estudo, assim como a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e o Programa de Pós-

Graduação em Geociências (PPGGEO) pela infraestrutura oferecida. Em particular, a empresa

Potássio do Brasil pela disponibilização dos testemunhos de sondagem e informações

geológicas dos relatórios internos.

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59

Apêndice 1 Registro das espécies ilustradas da Formação Andirá recuperadas do furo PBAT-1543.

Espécies Estampa / Figura

Profundidade (metros)

Número da Lâmina

England Finder

Punctatisporites sp. aff. P. gretensis 1/1 507,75 17098 C30/2

Punctatisporites sp. aff. P. gretensis 1/2 507,75 17098 F19/4

Punctatisporites sp. aff. P. gretensis 1/3 433,82 17083 Q43/1

Punctatisporites sp. 1/4 507,75 17098 M35

Verrucosisporites insuetus 1/5 502,20 17097 N32/4

Verrucosisporites sp. 1/6 419,42 17071 O37/2

Laevigatosporites vulgaris 1/7 419,42 17071 K38/1

Laevigatosporites vulgaris 1/8 433,82 17083 S42/3

Laevigatosporites minor 1/9 502,20 17097 F32/2

Cycadopites sp. cf. C. follicularis 2/1 502,20 17097 L37/1

Cycadopites sp. 2/2 507,75 17098 J32/3

Plicatipollenites malabarensis 2/3 507,75 17098 P32/1

Limitisporites sp. 2/4 461,40 17089 S27/3

Pteruchipollenites sp. 2/5 433,82 17083 R34/2

Corisaccites alutas 2/6 461,40 17089 B46/1

Corisaccites alutas 2/7 433,82 17083 K41/3

Lueckisporites virkkiae 2/8 502,20 17097 J45/2

Vittatina sp. aff. V. fasciolata 2/9 433,82 17083 G32

Vittatina vittifera 3/1 496,20 17096 L34/3

Vittatina subsaccata 3/2 461,40 17089 M21/3

Vittatina costabilis 3/3 507,75 17098 P46/4

Hamiapollenites karroensis 3/4 507,75 17098 R31/1

Hamiapollenites andiraensis 3/5 496,20 17096 L32

Hamiapollenites sp. cf. H. fusiformis 3/6 507,75 17098 R36/1

Tornopollenites toreutos 3/7 496,20 17096 C51/3

Tornopollenites toreutos 3/8 419,42 17071 P46

Tornopollenites toreutos 3/9 461,40 17089 Q21/1

60

CAPÍTULO IV

6 FÁCIES DEFORMADAS – UNIDADE SUPERIOR No intervalo estudado do furo PBAT-15-43 foram individualizadas três litofácies,

segundo a metodologia de Walker (1992, 2006) agrupadas na unidade Superior, compostas

por Pelito Deformado – Pd, Arenito Deformado – Ad e Ritmito Deformado – Rd) (Tabela 1 e

Figura 2).

Tabela 1: Resumo das fácies sedimentares deformadas da Unidade Superior.

6.1 Pelito Deformado (Pd)

Esta fácies é constituída predominantemente por pelito com delgadas intercalações de

lâminas de areia muito fina, cuja associação definem estruturas de sobrecarga, como

laminação convoluta, almofada e pseudonódulo (ball and pillow), dique clástico e mistura

irregular de materiais (Figuras 13A-T). As laminações convolutas são formadas por

microdobras anticlinais assimétricas e, por vezes, irregulares (Figuras 13A-I). Os

pseudonódulos caracterizam-se por porções milimétricas de areia muito fina, na forma de

Fácies Litologia Estruturas sin e pós-

deposicionais

Outras

Características Contatos

Interpretação

dos Processos

Fáci

es S

edim

enta

res S

in e

Pós

-dep

osic

iona

is (D

efor

mad

as)

Pd

Pelito deformado,

coloração cinza

com tonalidade

esverdeada

Laminação

convoluta, estrutura

em chama, ball and

pillow, dique clástico

e mistura de materiais

Falhas deslocando

lâminas, gerando

brechação

Contatos superior e

inferior irregular

marcado por feição

de sobrecarga com

as fácies Am e Pm

Sedimentação

rápida gerando

sobrecarga e/ou

atividade sísmica

Ad

Arenito muito

fino a fino de

coloração bege a

rosado

Laminações

convolutas e misturas

de materiais

Falhas deslocando

a laminação

(gerando

brechação) e

preenchidas por

carbonatos

Contatos superior e

inferior irregular

marcado por

feições de

sobrecarga com as

fácies Pl e Ap

Sedimentação

rápida gerando

sobrecarga e/ou

atividade sísmica

Rd

Intercalações de

arenito bege fino

e pelito marrom

Laminação

convoluta, ball and

pillow, mistura de

material e dique

clástico

Falhas deslocando

a laminação

(gerando

brechação)

Contatos superior e

inferior marcado

por feições de

sobrecarga com as

fácies Ap e Pm

Sedimentação

rápida gerando

sobrecarga e/ou

atividade sísmica

61

bolas concêntricas que penetram no pelito (Figuras 13H-L). Os diques clásticos, com até 10

cm de comprimento, não exibem estrutura interna e deformam a laminação ao redor (Figuras

13I, M-N). Misturas irregulares de arenito e pelito, de diversos tamanhos (Figuras 13F e L).

Localmente, microfalhas deslocam e quebram as laminações, gerando porções brechadas,

onde predominam intraclastos subangulosos a angulosos de arenitos e pelitos, de tamanhos

variados (milimétricos a centimétricos) (Figuras 13N-T).

Figura 13: Fácies Pd. A – I) Laminações convolutas (Lc) com dobras assimétricas e irregulares; H – L) Feições de sobrecarga (Sc) e ball and pillow (Bp); I, M-N) Diques clásticos arenosos de formas irregulares (Dc); F-L) Misturas das litofácies arenito e pelito (Mm); N – T) Lâminas rompidas (Rl) por microfalhas (F), gerando brechação (Bre).

6.2 Arenito Deformado (Ad)

Esta fácies, constituída predominantemente por arenito com intercalações de pelito,

exibe principalmente laminações convolutas (Figuras 14A e C). Associado ocorrem feições de

62

sobrecarga na interface arenito-pelito bem como porções irregulares (com cerca de 8 cm de

diâmetro) de misturas entre as litofácies de arenitos e pelitos (Figura 14B). Localmente,

ocorrem concentrações irregulares de anidrita, que variam de 1 a 8cm, que por vezes,

mostram-se seccionadas por delgados diques clásticos arenosos (Figura 14B). Microfalhas,

subverticais, quebram, deslocam e rotacionam os planos de laminação, gerando brechações

(Figuras 14C e D). Planos de fraturas são também observados, preenchidos por carbonato

(Figura 14D). Esta fácies exibe contatos superior e inferior marcados por feições de

sobrecarga com as fácies Pl e Ap.

Figura 14: Fácies Ad. A e C) Arenito com laminações convolutas irregulares (Lc); B) Mistura das litofácies arenito-pelito e concentrações irregulares de anidrita dispersos (Anh), que localmente mostra-se seccionado por dique (Dc); C) Laminações rompidas (Rl) e deslocadas por microfalhas (F) gerando brechação (Bre); D) Porção brechada (Bre) definida por laminas de arenito quebradas e rotacionadas por microfraturas (Fr), onde os planos mostram-se preenchi dos por minerais carbonáticos.

6.3 Ritmito Deformado (Rd)

Nesta fácies, composta de intercalações delgadas de lâminas de arenito fino e pelito,

ocorrem feições de sobrecarga, definida por afundamentos de lâminas de arenitos nos pelitos,

além de feições de ball and pillow; porções irregulares de misturas de arenitos e pelitos,

diques clásticos e microfalhas que deslocam as laminações (Figuras 15A-C). Em geral,

ocorrem porções brechadas com clastos subangulosos de pelitos e arenitos. Esta fácies exibe

contatos superior e inferior irregulares, marcados por feições de sobrecarga entre as fácies Ap

e Pm.

63

Figura 15: Fácies Rd. A) Feições de sobrecarga na interface arenito-pelito (S) e ball and pillow (Bp); B) Dique clástico (Dc) e planos de microfalhas (F) quebrando e rompendo as lâminas de arenito; C) Feições de sobrecarga (S) e misturas irregulares (Mm) de arenito e pelito.

Interpretação das Fácies Deformadas

Laminações convolutas, pseudonódulos (ball and pillow), diques clásticos e misturas

de materiais definem as fácies deformadas Pd, Ad e Rd (Figuras 16 e 17). As laminações

convolutas são interpretadas como sin-sedimentares em sistemas aquosos, muitas vezes

desenvolvidas por influência da sobrecarga e intensa atividade gravitacional, que gera

também pseudonódulos (ball and pillow) (Allen, 1977; Owen, 1987). Do mesmo modo, Lowe

(1975) associa o desenvolvimento das feições de sobrecarga unicamente a instabilidade

gravitacional, que deforma suavemente a laminação, sem produzir liquefação. Laminações

convolutas e pseudonódulos, abundantes na Unidade Superior deste estudo, foram

comparadas às classificações propostas por Allen (1977) e Owen (1987), conforme ilustrado

nas Figuras 16A-F.

Diques clásticos e misturas irregulares de materiais são relacionados a processos de

liquefação e fluidização, com escape de fluidos durante a compactação e consolidação dos

sedimentos (Rossetti, 1999). Em geral, essas estruturas são associadas a deformação

penecontemporânea e compreendem camadas sedimentares perturbadas, distorcidas ou

deformadas no momento ou logo após a deposição dos sedimentos (Reineck & Singh, 1980).

Geralmente, tais deformações são de caráter local, confinadas a uma camada única entre

camadas não deformadas (Reineck & Singh, 1980). Diversos estudos (Lowe, 1975; Allen,

1984; Owen, 1987; Rossetti, 1999), relacionam às estruturas deformacionais em sedimentos

inconsolidados a mudanças de pressão dos poros em função do escape instantâneo de fluidos

durante eventos de fluidificação e liquefação. Da mesma forma, os estudos de Lowe (1975),

64

Allen (1984), Owen (1987), Lindholm (1987), Cojan & Thiry (1992), Rossetti (1999),

Rossetti & Góes (1999), Moretti (1999), Rossetti & Santos Jr. (2003), Castro (2002),

Fambrini et al. (2006), Chamani (2011), Soares et al. (2013), associam a gênese das estruturas

deformacionais em sedimentos inconsolidados à atividade sísmica, particularmente à

terremotos de magnitude média a alta (m>6.5 Richter). Diques clásticos são estruturas

relacionadas ao escape ascendente da água, desencadeados também por choques sísmicos

(Tucker, 2003).

Laminações quebradas, rotacionadas e brechadas são associadas por Sims (1975),

Sieh (1978), Williams (1976), Weaver (1976) e Mills (1983) a processos pós-deposicionais,

onde a liquefação e/ou fluidização foram provocadas por choques sísmicos. A sequência de

Seilacher (1969) mostra as fases de desenvolvimento de sismito (Figura 17A), as quais foram

relacionadas as porções brechadas descritas na Unidade Superior deste estudo (Figuras 17B e

C). O desenvolvimento de ball and pillow tem sido relacionado a processos de afundamento

de camadas arenosas em movimentos descendentes, empilhados em matriz argilosa (Allen,

1977) (Figura 16A).

Figura 16 Associação das principais estruturas descritas na Unidade Superior. A-B) Feições de sobrecarga e sua comparação com as estruturas (simples e pendulares) da classificação de Owen (1987); C-D) Laminações convolutas e sua comparação com os tipos descritos na classificação de Allen (1977); E-F) Microdobras e sua comparação com as estruturas multicamada e interpenetrativa descritas por Allen (1977).

65

Figura 17: A) Sequência idealizada por Seilacher (1969) para o desenvolvimento de sismito: 1) Zona liquefeita (soupy zone); 2) Zona fragmentada (rubble zone); 3) Zona segmentada (segmented zone); 4) Sedimento não perturbado. Os Detalhes B e C mostram zonas fraturadas e brechadas, com rotação de laminas, que se assemelham as zonas 2 e 3 de Seilacher (1969).

7 ANÁLISE GRANULOMÉTRICA A análise granulométrica foi realizada em três amostras da Formação Andirá (Unidade

Superior) (Tabela 02) com base nas fórmulas de Folk & Ward (1957). A granulometria

predominante é de areia muito grossa, com variação até grossa (amostras PB-03G e PB-04G)

e grânulos (amostra PB-05G), que define uma seleção moderada (Figuras 18 A-C).

Tabela 2: Intervalos granulométricos das três amostras da Formação Andirá (Unidade Superior).

Figura 18: A-C) Histogramas de frequência das amostras PB-03G, PB-04G e PB-05 (Unidade Superior), com posicionamento estratigráfico indicado na Figura 4.

Intervalos granulométricos (mm)

AMOSTRAS 1 0,71 0,5 0,35 0,25 0,177 0,125 0,088 0,062 0,04

PB-03G 2,66 0,43 2,65 21,7 54,18 51,48 0,91 3,6 17,87 5,16

PB-04G 5,59 2,14 17,17 49,25 64,72 23,88 10,01 0,95 5,9 1,2

PB-05G 12,59 4,81 22,81 22,53 22,29 21,93 30,91 0,17 12,98 8,97

66

8 ANÁLISE DE MINERAIS PESADOS Os arenitos da Unidade Superior contém uma assembleia mineralógica constituída por

zircão, turmalina, granada, cianita, estaurolita, silimanita, topázio e monazita, conforme

ilustrado na Figura 19. A seguir são descritas as principais características dos minerais

pesados transparentes encontrados:

Zircão (Zr): Os grãos de zircão são incolores e amarelados, geralmente arredondados

e, subordinadamente, ocorrem em formas prismáticas euedrais/subedrais. Caracterizam-se

pelo relevo alto e birrefringência alta.

Turmalina (Tu): Predominam grãos de coloração verde-oliva e marrom, que variam de

subarredondados a arredondados e, subordinadamente, prismáticos. Possui um relevo

moderado, intenso pleocroísmo e birrefringência média.

Granada (Gr): Presente com certa abundância em todas as lâminas observadas, onde os

grãos são incolores, levemente esverdeados, relevo forte, variando de prismáticos (com

facetas) a subangulosos.

Cianita (Ci): Consiste de grãos incolores, raramente azulados, geralmente prismáticos,

contendo partições perpendiculares ao alongamento e birrefringência moderada.

Sillimanita (Sl): Ocorre em grãos incolores, geralmente prismáticos (por vezes com

bordas quebradas) a angulosos, exibindo aspecto fibroso. Birrefringência baixa a moderada.

Estaurolita (Es): Predominam grãos de coloração amarelada, por vezes, com

tonalidades amarelo-avermelhada. Os grãos são geralmente irregulares, variando de

subangulosos a angulosos, com raros grãos arredondados e baixa birrefringência.

Topázio (To): Os grãos são incolores, angulosos a sub angulosos. Possui um relevo

baixo, apresenta pequenas identações e de baixa birrefringência.

Monazita (Mo): Grãos de coloração amarelada, subarredondados. Possui relevo forte,

pleocroísmo muito fraco nos tons de amarelo, extinção quase reta e birrefringência forte.

Figura 19: Assembleia de minerais pesados da Unidade Superior (Formação Andirá): Zircão – Zr (prismático e subarredondados), Turmalina – Tu (amarela a esverdeada), Granada – Gr, Monazita – Mo, Cianita – Ci, Silimanita – Sl, Topázio – To e Estaurolita – Es.

67

9 ANÁLISE POR DIFRAÇÃO DE RAIOS X Foram analisadas, por difração de raio x (rocha total), 22 amostras das unidades

Inferior (Formação Arari) e Superior (Formação Andirá), distribuídas uniformemente no furo

PBAT-15-43, conforme ilustrado na Figura 4. Na Unidade Inferior foram analisados a matriz

e os clastos das fácies conglomeráticas, sendo que a mineralogia da matriz arenítica é

constituída por quartzo, calcita, dolomita e rutilo (Figuras 20A, B, C - amostra PB 110Q),

enquanto que os clastos são constituídos unicamente por anidrita (Anh) (Figura 20C - amostra

PB 111Q). Os resultados da Unidade Superior indicam uma mineralogia composta

principalmente por quartzo, calcita, dolomita, caulinita, ilita, feldspato potássico e rutilo para

as fácies pelíticas (Figuras 21 A-F) e quartzo, caulinita e calcita para as fácies areníticas

(Figuras 21 C, F - amostra PB 99Q).

Figura 20: A-C) Difratogramas de raios x da unidade inferior (Arari). A e B mostram a mineralogia da matriz (amostras PB-105Q, PB-107Q, PB-108Q, PB-109Q e PB-110Q), com: quartzo (Qz), calcita (Ca), dolomita (Do) e rutilo (Ru). O detalhe C mostra a mineralogia dos clastos desta unidade (amostra PB-111Q), constituídos unicamente por anidrita (Anh). O posicionamento das amostras é demonstrado na figura 4.

68

Figura 21: A-F) Difratogramas de raios x da unidade superior (Andirá) mostrando a mineralogia de pelitos e arenitos: Quartzo (Qz), calcita (Ca), dolomita (Do), caulinita (Ka), ilita (It), feldspato potássico (FK) e rutilo (Ru). O posicionamento das amostras é demonstrado na figura 4.

69

CAPÍTULO V – DISCUSSÕES E CONCLUSÕES

No intervalo estudado do furo PBAT-15-43 foram definidas 3 conjuntos distintos de

fácies sedimentares, que permitiram a individualização das unidades superior e inferior. A

inferior é constituída por fácies grosseiras (Cma e Cmf), as quais foram associadas a

deposição por fluxos gravitacionais em ambiente de leque aluvial durante a orogenia Tardi-

Herciniana. A superior, composta por fácies finas (Pl, Pm, Am, Ap e Aphi), é representativa

de paleoambiente fluvial meandrante (canal, planície de inundação-lagos e crevasse splay).

Durante a deposição da unidade superior, processos de deformação sin e pós-

deposicionais, podem ter induzidos à liquefação e fluidização que deformaram trechos desta

unidade, com desenvolvimento de laminações convolutas, ball and pillow, estruturas em

chama, diques clásticos e misturas de materiais. Os possíveis mecanismos responsáveis pela

desestabilização e deformação dos sedimentos seriam em função da rápida deposição do

material sobreposto (sobrecarga) e/ou por choque sísmico. A atuação deste último pode ser

corroborada pelos seguinte fatores: a) por ser um evento instantâneo, as estruturas geradas

estão restritas a um único horizonte estratigráfico, b) processos de liquefação e fluidização

são comumente desencadeados a partir de sismos e c) as estruturas de deformação descritas

são de ambiente fluvial e não foram geradas a partir de deslizamentos em rampas.

A recorrência dos níveis deformados intraformacionais, aliada principalmente a

presença de porções brechadas (geradas por microfalhas, rompimento e deslocamento de

lâminas) podem ser indicativos de eventos de paleosismicidade (com magnitude > 6.5

Richter) que ocorreram na Bacia do Amazonas. Registos de atividades sísmicas com tais

estruturas características tem sido descritos nos estudos de Lowe (1975), Allen (1984), Owen

(1987), Lindholm (1987), Rossetti (1999), Rossetti & Góes (1999), Moretti (1999), Castro

(2002), Fambrini et al. (2005), Chamani (2011) e Soares et al. (2013).

Dados palinológicos da unidade Superior permitiram posicioná-la no Permiano

Superior, sendo portanto, associada à Formação Andirá. Este dado corrobora com os estudos

palinológicos sobre esta unidade, obtidos por Daemon & Contreiras (1971), Picarelli &

Quadros (1992) e Playford e Dino (2000). Além disso, a presença de algas de água doce (a

salobra) e a ausência de palinomorfos marinhos corroboram com o paleoambiente fluvial

proposto neste estudo, bem como nos trabalhos anteriores de Caputo et al. (1972), Szatmari

(1975), Santos et al. (1975), Caputo (1984), Matsuda et al. (2004), Cunha et al. (2007) e

Caputo (2014). Como não foi obtida idade para a unidade inferior, devido seu posicionamento

70

estratigráfico e fácies sedimentares, ela foi associada neste estudo à Formação Arari,

corroborando com os estudos estratigráficos de Szatmari (1975), Cunha et al. (2007), Matsuda

et al. (2004) e Caputo (2014).

A assembleia de minerais pesados metaestável (zircão, granada, turmalina, cianita,

sillimanita, estaurolita, topázio e monazita) encontrada para a Formação Andirá, não pôde se

comparada com nenhuma unidade do Grupo Tapajós, devido à falta de dados disponíveis.

Entretanto, essa assembleia difere parcialmente da encontrada nas unidades Siluro-Devoninas

da borda norte da Bacia do Amazonas, que exibem apenas zircão, turmalina, granada, rutilo e

anatásio (possivelmente diagenético), conforme descrito por Santos (2012), Soares (2013) e

Cuervo (2014). Além disso, mostra semelhança mineralógica com a assembleia descrita por

Alves & Soares (2015) para a sequência sedimentar cretácea-neógena sobreposta, que exibe

zircão, turmalina, rutilo, cianita, epidoto, sillimanita, apatita, topázio, hornblenda e estaurolita.

Os dados geoquímicos de rocha total permitiram diferenciar a mineralogia das

formações Arari e Andirá. A primeira, conglomerática, apresenta matriz com quartzo, calcita,

dolomita e rutilo, com clastos exclusivamente de anidrita, enquanto a segunda apresenta nas

fácies pelíticas e areníticas uma mineralogia composta por quartzo, calcita, dolomita,

caulinita, ilita, feldspato potássico e rutilo. Os carbonatos identificados nas duas unidades

podem ser associados à cimentação superimposta, já que ocorrem também como cristais

dispersos e preenchendo planos de fraturas. Dados químicos (ICP-OES e ICP-MS –

Espectrometria de Massa com plasma indutivamente acoplado) obtidos pela Potássio do

Brasil (2014) para o intervalo salino da Formação Nova Olinda (sotoposto ao trecho

estudado), mostram que o mesmo é constituído por halita, calcita e anidrita. Este dado

corrobora com a mineralogia dos clastos de anidrita das fácies conglomeráticas da Formação

Arari, sendo portanto, indicativo de área fonte para a mesma, durante a deposição dos leques

aluviais.

71

CAPÍTULO VI – REFERÊNCIAS

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