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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA – CAEN
MESTRADO PROFISSIONAL EM ECONOMIA
JOSÉ MORAES FEITOSA
A RELAÇÃO ENTRE RETORNOS DE MERCADO E RETORNOS CONTÁBEIS: UM ESTUDO DE CASO DO SETOR BANCÁRIO BRASILEIRO
FORTALEZA 2009
1
JOSÉ MORAES FEITOSA
A RELAÇÃO ENTRE RETORNOS DE MERCADO E RETORNOS CONTÁBEIS: UM ESTUDO DE CASO DO SETOR BANCÁRIO BRASILEIRO
Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Economia – Mestrado Profissional – da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Economia. Orientador: Prof. Dr. Paulo de Melo Jorge Neto
FORTALEZA 2009
F336r Feitosa, José Moraes A relação entre retornos de mercado e retornos contábeis: um estudo de caso do setor bancário brasileiro / José Moraes Feitosa. 2009.
87f. Orientador: Prof. Dr. Paulo de Melo Jorge Neto Dissertação (Mestrado Profissional) -
Universidade Federal do Ceará. Curso de Pós-Graduação em Economia – CAEN, Fortaleza, 2009
1. Setor bancário 2. Causalidade de Granger I. Título
CDD – 332.1
2
JOSÉ MORAES FEITOSA
A RELAÇÃO ENTRE RETORNOS DE MERCADO E RETORNOS CONTÁBEIS: UM ESTUDO DE CASO DO SETOR BANCÁRIO BRASILEIRO
Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Economia – Mestrado Profissional – da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Economia.
Aprovada em: 25/09/2008
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________ Prof. Dr. Paulo de Melo Jorge Neto
Orientador
_____________________________________ Prof. Dr. Andrei Gomes Simonassi
Membro
_____________________________________ Prof. Dr. Ireleno Porto Benevides
Membro
3
AGRADECIMENTOS
Gratidão é um sentimento único, pois serve para “pagar dívidas” que não podem ser
“quitadas” com o vil metal. Baseando-me nisso, resolvi demonstrar a minha gratidão
tornando-a pública neste trabalho.
Começo agradecendo a DEUS por tudo e por todos que coloca na minha vida: tenho
absoluta certeza que não sou merecedor de tanta bondade, mas como aceito de
bom grado os seus desígnios lhe serei eternamente grato e sempre elevarei o seu
nome.
Na minha família cada membro é um exemplo: Roberson (meu pai) de sabedoria,
Maria José (minha mãe) de obstinação, Junior (o melhor irmão que alguém pode ter)
de bondade e compreensão, Rejane (irmã) de amizade, Roberto (irmão) de
dedicação e competência, Flávio Marques (irmão postiço) de decência e correção e
Irlene Feitosa (prima-irmã e segunda mãe, merecedora de homenagem especial) de
organização. Dilurdes (cunhada) e Antônio Luiz (cunhado) também contribuem para
que a minha família seja especial. A todos eles, o meu obrigado pelos exemplos e
apoio constantes, além dos lindos sobrinhos que enchem a minha vida de brilho e
esperança.
Aprendemos, quando crianças, que a escola é a continuação do lar. Como creio
nisso, faço aqui referência a todos que foram meus professores, em qualquer das
fases do meu aprendizado. De maneira especial, agradeço aos membros da Banca
Examinadora: o Prof. Andrei Simonassi é um novo amigo, estudioso dos mesmos
assuntos acadêmicos; o Prof. Ireleno Benevides foi meu primeiro professor
universitário e me ensinou que professores e alunos podem – e devem – ser amigos
pessoais (aqui fica expressa toda a minha satisfação em tê-lo como membro da
banca, companheiro de trabalho e amigo pessoal). O meu orientador, Prof. Paulo
Neto, merece distinção especial por fazer parte de várias “categorias”: foi meu
professor, orientador, companheiro de trabalho e bancas de monografia e hoje é um
amigo-irmão, de valor incomparável, demonstrando confiança em mim e na minha
capacidade mais do que qualquer outra pessoa. Conhecê-lo e tornar-me seu amigo
foi, sem dúvida nenhuma, a melhor coisa que me aconteceu neste mestrado. A
você, meu amigo Paulo, toda a minha gratidão e amizade – sempre!
4
Não menos especial é o meu agradecimento e reconhecimento a todos os
funcionários e servidores do CAEN. A sua consideração, apoio e amizade realmente
completaram em mim o sentimento de que este Centro era, e sempre será, a
extensão da minha casa. Incluo aqui, uma referência de gratidão a todos que
estudaram comigo, nesta e em outras etapas da minha vida, pelos ensinamentos
que me proporcionaram, mesmo quando era eu quem ensinava.
Tratando-se de amizade, muitos dos meus amigos são dignos de agradecimentos
especiais. Merecem especial distinção Lavor Neto e Raphael Almeida, que formaram
comigo um trio, no saudoso Colégio Militar de Fortaleza. A irmandade gerada nessa
época não consegue se dizimada nem pela ausência eterna: Raphael faleceu
recentemente e este trabalho é todo dedicado a ele, um exemplo de amigo, de pai,
de professor – um exemplo de vida! Obrigado por fazer parte da minha vida, Rapha,
mesmo que por tão pouco tempo. Lourenço, Geisler e Flávio (junto com suas
esposas Ana Stela, Renata e Vládia, além da Beatriz e Aquino Neto, seus filhos) me
tratam como um irmão – afinal, amigos são a família que escolhemos – assim como
me tratam Juliana Moraes, Débora Freitas e Carlos Tourinho, nominando apenas
este pequeno grupo, para não citar outros não menos importantes ou queridos, pois
graças ao Senhor tenho uma gama infindável de “melhores amigos” e este é o meu
maior tesouro.
Amizade fraternal é o sentimento que tenho por todos os meus alunos, pois sinto-me
não apenas como mestre, mas como amigo e irmão mais velho (não tão velho
assim!). Thiago Ribeiro e Carlos Rodrigues foram, além de alunos, companheiros de
monitoria e consultoria e eu espero ter devolvido em ensinamentos todo o trabalho e
dedicação que me devotaram. Samuel Fontenelle merece todo o reconhecimento
pela substancial ajuda neste trabalho, pois topou o desafio de fazer a sua
monografia de graduação sobre o mesmo assunto, ajudando-me bastante: sem ele a
execução deste estaria comprometida e seria uma tarefa Hercúlea. A todos os
outros alunos, sem distinção, o meu eterno agradecimento.
No período que lecionei na Universidade Federal do Ceará e na Universidade
Estadual do Ceará fiz grandes amigos entre os meus pares. Agradeço a todos na
mesma dimensão, pois foi um orgulho tê-los como companheiros, mas seria injusto
se não fizesse uma menção especial a Natália Duarte, pois todo o carinho que a ela
ofereci sempre me foi retribuído de forma multiplicada. A você, minha companheira
de trabalho e de infindáveis bancas de monografia, o meu especial agradecimento.
5
Companheirismo, cumplicidade e estímulo também me foram dados por algumas
mulheres: Germana me fez começar, Joanna me deu um novo alento, Cália me fez
recomeçar, Louise me fez continuar e Authyiolla, com seu jeito especial, me deu o
ânimo que faltava para terminar. A todas, de maneira idêntica, agradeço pelo apoio,
compreensão e sacrifício, pois sei que declinaram de muitas coisas e oportunidades
agradáveis apenas para me fazer companhia nas minhas tarefas. Parte deste
trabalho também contém suas lágrimas.
Sei que muitas outras pessoas contribuíram de alguma forma, mesmo que apenas
torcendo pelo meu sucesso. A todos um fraternal e agradecido abraço e me
perdoem pelas omissões. Muito obrigado de coração!
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RESUMO
Esta dissertação investiga a relação entre os retornos de mercado e retornos contábeis trimestrais das maiores empresas do setor bancário por meio do teste econométrico de causalidade de Granger, assim como examina o comportamento dos preços das ações dos bancos antes e depois das divulgações financeiras. A amostra utilizada constitui os quatro maiores bancos brasileiros negociados na Bolsa de Valores de São Paulo durante o terceiro trimestre de 1997 ao segundo trimestre de 2008. O objetivo do estudo é identificar a existência de causalidade entre as duas séries de retornos para cada empresa da amostra, e analisar o comportamento dos preços de suas ações antes e depois das divulgações trimestrais dos balanços, também examinando a existência de causalidade. Os resultados mostram que existe evidência marginal de que os retornos contábeis desses bancos causam, no sentido de Granger, os retornos de mercado, não se aplicando em sentido oposto. Já as demonstrações contábeis trimestrais não parecem causar os retornos das ações antes e depois de sua divulgação, pois não apresentam mudanças significativas em seu comportamento. Palavras-chave: causalidade de Granger; retornos de mercado; setor bancário; eficiência de mercado; divulgações financeiras.
7
ABSTRACT
This paper examines the relationship between accounting and market quarterly returns of the largest companies in the banking sector using the econometric test causality of Granger, and investigated the behavior of stock prices of banks before and after the financial disclosures. The sample used is the four major Brazilian banks traded on BOVESPA during the third quarter of 1997 to second quarter of 2008. The objective was to identify the existence of causality between the two sets of returns for each sample company and analyze the behavior of their stock prices before and after the financial disclosures, also examining the existence of causality. The results showed an evidence that the returns of these banks accounting cause, to Granger, the returns of the market, so do not apply in the opposite direction. The financial disclosures do not mean to cause the stock returns before and after releases, just because it did not show significant changes in their behavior. Key words: Granger causality; Banks; quaterly earnings; market returns; market efficiency.
8
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Teste de Estacionariedade das Séries de Retorno dos Bancos......... 69
TABELA 2 - Teste de Causalidade de Granger em ROE e RET dos Bancos........ 71
TABELA 3 - Teste de Granger em RET e ROE do Bradesco com 6 lags.............. 71
TABELA 4 - Teste de Granger em RET e ROE do Bradesco com 8 lags ............. 72
TABELA 5 - Teste de Causalidade de Granger para Retornos Pré e Pós-Divulgações dos Balanços.................................................................. 72
9
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Reação do Preço da Ação a Novas Informações em Mercados Eficientes e Ineficientes...................................................................... 27
FIGURA 2 - Gráficos das Séries de Retorno dos Bancos...................................... 69
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ADF Augmented Dickey-Fuller (teste de raiz unitária / estacionaridade) AR Auto-regressivo (teste de auto-regressividade) BB Banco do Brasil BOVESPA Bolsa de Valores de São Paulo BRAD Banco Bradesco CAPM Capital Asset Pricing Model (Modelo de Precificação de Ativos) CVM Comissão de Valores Mobiliários DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos HEM Hipótese da Eficiência de Mercado IBOVESPA Índice Bovespa (carteira teórica que mede a variação do mercado) ICV Índice do Custo de Vida IFC International Finance Corporation IT Banco Itaú
L Lucro LL Lucro Líquido LOG Logarítimo LPA Lucro por Ação P Preço P/L Índice Preço/Lucro PIB Produto Interno Bruto PL Patrimônio Líquido PROER Programa de Financiamento de Reestruturação do Setor Bancário ROE Return on Equity (retorno sobre o patrimônio líquido) RET Retorno de Mercado
SPB Sistema de Pagamentos Brasileiro SUMOC Superintendência da Moeda e do Crédito UNI Banco Unibanco
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 13
2. O MERCADO BANCÁRIO NACIONAL................................................................. 15
2.1 Histórico do Setor.............................................................................................. 16
2.2 A Estrutura do Mercado Bancário Nacional...................................................... 20
2.3 Os Serviços Bancários e a Participação nos Resultados dos Bancos............. 22
2.4 Alavancagem e Risco no Mercado Bancário.................................................... 24
2.5 Regulamentação do Mercado Bancário: o Índice de Basiléia........................... 26
3. EFICIÊNCIA DE MERCADO................................................................................. 27
3.1 O Mercado de Capitais e a Eficiência Informacional........................................ 27
3.1.1 Histórico sobre os Estudos do Comportamento dos Preços no Mercado.... 29
3.1.2 A Hipótese de Eficiência do Mercado (HEM)............................................... 30
3.1.2.1 Origem..................................................................................................... 30
3.1.2.2 O Conceito e suas Características.......................................................... 31
3.1.2.3 Implicações da HEM............................................................................... 32
3.1.2.4 Modelos Econômicos da HEM e os Tipos Diferentes de Eficiência........ 33
3.1.2.5 Forma Fraca............................................................................................ 34
3.1.2.6 Forma Semiforte...................................................................................... 38
3.1.2.7 Forma Forte............................................................................................. 39
3.1.2.8 As Críticas e Estudos Contrários à HEM................................................ 40
3.2 Anomalias do Mercado de Capitais.................................................................. 41
3.3 O Impacto das Informações nos Preços das Ações......................................... 44
4. AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS.............................................................. 47
4.1 Os Demonstrativos Financeiros........................................................................ 47
4.2 Conteúdo Informacional das Demonstrações Financeiras............................... 50
5. O ESTUDO DE CASO........................................................................................... 58
5.1 O Problema ...................................................................................................... 58
5.2 Objetivos........................................................................................................... 59
5.2.1 Objetivo Geral.............................................................................................. 59
5.2.2 Objetivos Específicos................................................................................... 59
5.3 Aspectos Metodológicos................................................................................... 60
5.3.1 Conceitos Básicos de Econometria.............................................................. 60
5.3.2 Testes Econométricos.................................................................................. 62
5.3.2.1 Teste de Estacionariedade...................................................................... 62
5.3.2.2 O Teste de Causalidade de Granger...................................................... 64
12
5.3.3 Seleção da Amostra..................................................................................... 66
5.3.4 Dados e Período Estudado.......................................................................... 67
5.3.5 Cálculos de Retorno do Mercado (RET) e Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE).............................................................................................. 67
5.3.6 Modelos Econométricos............................................................................... 68
5.3.6.1 Teste de Estacionariedade das Séries do Estudo.................................. 68
5.3.6.2 Teste de Causalidade de Granger do Estudo......................................... 70
5.4 Resultados e Discussão.................................................................................... 71
5.4.1 Teste de Causalidade de Granger dos Retornos de Mercado (RET) e Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) dos Bancos.............................. 71
5.4.2 Teste de Causalidade de Granger para Retornos Anteriores e Posteriores às Divulgações dos Balanços...................................................................... 72
6. CONCLUSÃO........................................................................................................ 75
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 77
13
1. INTRODUÇÃO
A reação do mercado às informações contábeis tem despertado interesse
na moderna teoria das finanças desde os estudos de Ball e Brown (1968) e Beaver
(1968), quando as duas questões mais pertinentes quanto aos estudos eram: como
essas informações impactam no mercado de ações e quando ele reage a essas
informações contábeis? Essas informações são de grande valia para o investidor,
que consideram o impacto das variáveis macroeconômicas e específicas da
empresa para tomar decisões com o objetivo de maximizar riqueza. Considera-se,
então, que este buscará o maior número de informações relevantes, inclusive
contábeis, para avaliar a condição do ativo no mercado. O investidor procura quais
das informações trazem a melhor forma de se precificar corretamente a ação, e se o
preço da ação condiz com as notícias divulgadas sobre a empresa.
Esse pensamento está diretamente relacionado com a hipótese de
eficiência do mercado. Para Fama (1970), um mercado de capitais pode se dizer
eficiente quando o preço das ações ajusta-se rapidamente à divulgação de uma
nova informação e, portanto, seu preço reflete toda a informação relevante sobre
determinada ação. Dessa maneira, o mercado é eficiente em se equilibrar às
informações divulgadas pelas empresas, em suas demonstrações contábeis, e em
ajustar as expectativas de lucros futuros das respectivas ações. Assim, não existe
possibilidade de ocorrer estratégias de negociação baseadas em informações
passadas e que promovam ganhos anormais ou retornos que excedam os preços
normalmente esperados.
Esta dissertação busca se utilizar desses conceitos e abordar o setor
bancário como estudo de caso para aplicação da teoria. O estudo consiste em
investigar se existe relação entre os retornos contábeis e os retornos das ações
dessas empresas durante o período do terceiro trimestre do ano de 1997 até o
segundo trimestre do ano de 2008. A eficiência de mercado foi testada verificando
se existem padrões de comportamento das ações antes e depois das divulgações
financeiras, tentando evidenciar quando e como os preços reagem às informações.
O método utilizado para testar a relação entre as informações contábeis e os
14
retornos de mercado é o teste econométrico de causalidade de Granger.
Este trabalho está organizado da seguinte maneira: o capítulo 2 trata
acerca do mercado bancário naconal, estudando os principais conceitos bancários, e
a estrutura do setor; o capitulo 3 discursa sobre a hipótese de eficiência de mercado,
seu conceito, formas e críticas, dando noções de como as informações são captadas
pelo mercado; o capitulo 4 envolve as demonstrações financeiras e seus
indicadores, mostrando os principais índices que norteiam as análises do setor
bancário e a importância das demonstrações contábeis para o mercado; o capítulo
5, que traz o estudo de caso, seus objetivos, metodologia e resultados; e,
finalmente, no capítulo 6, a conclusão do estudo.
15
2. O MERCADO BANCÁRIO NACIONAL
O mercado bancário está presente em todas as circunstâncias da vida
econômica de uma sociedade. Seria difícil nos dias hoje viver sem a presença dos
intermediários financeiros. Através deles recebemos nossos salários e quaisquer
outros rendimentos, pagamos contas, liquidamos contratos, contratamos seguros,
aplicamos nossas poupanças, financiamos consumo e investimentos, obtemos
crédito e realizamos incontáveis operações financeiras em nossa vida civil e
profissional. O fluxo da riqueza de uma nação se move ao mesmo ritmo da dinâmica
de seu sistema bancário.
Um sistema bancário consiste numa rede integrada de bancos comerciais
(oficiais e privados) e bancos múltiplos com carteira comercial, com o poder legal de
realizar três funções básicas: receber depósitos à vista e a prazo, conceder
empréstimos e facilitar a transferência de fundos financeiros por toda a economia.
Essas três funções exigem uma estreita cooperação entre os elementos do sistema,
por exemplo, no caso de empréstimos que, de tão vultosos, colocariam em risco os
ativos de um único banco, cooperação essa regida pelo Banco Central, na figura de
“Banco dos Bancos”.
O desenvolvimento econômico de um país depende da estrutura do
mercado bancário e sua relação com empresas, estado e indivíduos. Os bancos
auxiliam indiretamente o Banco Central na oferta de moeda além de dinamizarem a
economia: de um lado oferecem oportunidades aos poupadores de recursos, que se
interessam em acumular riqueza e realizar aplicações financeiras com prazos
variados. De outro, auxiliam as pessoas físicas e jurídicas que necessitam de
captação de recursos para financiar seus investimentos ou cobrir suas despesas.
Em relação à propriedade, os bancos procuram capitalizar e preservar o
valor do principal dos investimentos financeiros dos seus depositantes. E procedem
a essa complexa tarefa detectando as mais atraentes oportunidades de negócios,
captando e aplicando recursos, gerando serviços financeiros, oferecendo
assessoramento, criando bases para parcerias, buscando alternativas locais e
16
internacionais de fortalecimento da estrutura de capitais a baixo custo e gerando
parcerias estratégicas.
A principal função do sistema financeiro nacional é a intermediação
financeira, tendo como objetivo adequar esse fluxo de poupança e de investimento
existente na economia, ajustando os interesses, em função dos prazos, volumes,
taxas de remuneração e grau de risco, que nem sempre são semelhantes dos
poupadores e tomadores, segundo Silva (2000). Bancos são instituições de
intermediação financeira que buscam auferir um ganho, pagando uma certa
remuneração a quem se interessa em emprestar recursos financeiros, recebendo,
por outro, remuneração supostamente superior daqueles que necessitam de
recursos emprestados. Os bancos são hoje instituições de caráter universal, no que
toca à diversidade de suas operações, e com presença marcante no mundo
globalizado.
No Brasil, o sistema financeiro apresenta características bastante
particulares em relação aos sistemas financeiros de outros países. Tanto países
desenvolvidos como os subdesenvolvidos, em sua grande maioria, apresentam
sistemas financeiros que se resumem à existência de bancos comerciais. Estes
possuem funções básicas como a captação de depósitos e a realização de
empréstimos. O sistema financeiro nacional é diversificado. Nele, as instituições
financeiras sempre buscam oferecer serviços e produtos cada vez mais variados
que atendam às necessidades específicas, tanto dos aplicadores como dos
tomadores de recursos. O Brasil dispõe hoje, reconhecidamente, de um sistema
financeiro eficiente, por qualquer padrão de comparação internacional, e sólido,
capaz de enfrentar os desafios do financiamento do desenvolvimento.
2.1 Histórico do Setor
No Brasil, do período imperial até meados do século XX as atividades
bancárias do sistema financeiro eram influenciadas pelo modelo europeu, que
operava basicamente captando recursos via depósitos e na concessão de
empréstimos através de descontos de duplicatas.
17
Nos tempos da Segunda Guerra Mundial, o Governo Federal criou a
Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), de acordo com o Decreto Nº
293, visando ter maior controle das instituições financeiras. Seu poder de decisão,
no entanto, era bastante limitado, sendo a SUMOC subordinada ao Ministério da
Fazenda. Na época, as principais operações do Tesouro Nacional eram realizadas
pelo Banco do Brasil.
A expansão da economia brasileira, principalmente a partir do
desenvolvimento industrial iniciado na era Vargas, gerou a necessidade de uma
maior coordenação das instituições financeiras, com o objetivo de melhorar a
captação de recursos para financiamentos dos investimentos necessários.
Objetivando disciplinar o mercado financeiro a Lei 4.595/64 criou o Banco
Central do Brasil e o Conselho Monetário Nacional. Iniciava-se uma estrutura melhor
definida e organizada do sistema financeiro nacional. A partir deste período, com o
intuito de facilitar a captação de poupança interna para financiar os investimentos no
país, foram criados as Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento, cujo
objetivo era de instituir operações de financiamento de bens duráveis e
semiduráveis. Por outro lado, os bancos comerciais ficariam focados em
empréstimos de curto prazo, principalmente operações de capital de giro. As
operações de empréstimos de longo prazo ficariam a cargo dos bancos de
investimentos. O Banco do Brasil com abrangência em todo o território nacional
atuaria como um banco comercial misto, simultaneamente em operações de curto e
longo prazo.
A elevada inflação, marca da economia brasileira de 1960 até 1994 (data
do Plano Real), boa parte do montante das receitas das instituições financeiras
deriva da captação de recursos oriundos dos depósitos dos correntistas. Silva (2000)
afirma que os lucros dos bancos centralizavam na aplicação da quantia que se
encontrava disponível no caixa da instituição no mercado de títulos públicos, no
chamado open market. Em sua maioria, constituíam em operações que tinham custo
zero, devido serem depósitos à vista. A operação era de rotina, pois existia a
necessidade do governo de financiar o déficit público. Assim, as taxas de juros
mantinham-se elevadas e o crédito para o setor privado tornou-se cada vez mais
18
caro e escasso.
A economia brasileira passou por um longo período inflacionário de forma
bastante peculiar, segundo Carvalho (2005). Em países que apresentavam tal
situação, o público reagiu à desvalorização da moeda local, adotando o dólar
americano. No Brasil, o governo desenvolveu um escape através da criação de
ativos financeiros indexados, e criados igualmente, mas em menor grau, pelo setor
privado. Esses ativos eram comercializados por instituições financeiras públicas e
privadas, que destinavam ao público, ou os usavam como lastro para a captação de
recursos. Desse modo, no Brasil, o distanciamento da moeda nacional, longe de
enfraquecer as instituições financeiras domésticas, abriu-lhes um novo e promissor
campo de atividades. Por outro lado, em nações como a Argentina, a larga utilização
do dólar americano privou o sistema financeiro local de qualquer possibilidade de
sobrevivência.
Tendo em vista a alta inflação, uma das maiores necessidades dos
clientes era a existência de um sistema de pagamento rápido, que diminuísse o
tempo das transações bancárias. Os bancos brasileiros corresponderam a essa
demanda de maneira eficiente. Por exemplo, a compensação de cheques desde o
final dos anos 1980, requer um tempo significantemente menor no Brasil do que em
economias, como a americana ou a européia. A recente implantação do Sistema de
Pagamentos Brasileiro (SPB) deu rapidez à liquidação de débitos e créditos, infundiu
maior segurança às transações financeiras e reduziu o risco sistêmico.
Desde a implantação do Plano Real, no ano de 1994, as receitas das
instituições financeiras com operações de títulos públicos diminuiu devido a baixa
inflação. O novo cenário de estabilidade inflacionária causou muitos bancos a
perderem o ganho gerado pelas transferências de recursos financeiros, trazendo
instabilidade interna e exigindo a adoção, por parte dos bancos, de medidas que
fortalecessem o mercado bancário. Diante do novo ambiente econômico, as
instituições financeiras passaram a buscar novas fontes de receita, como por
exemplo, o aumento na cobrança de tarifas pela prestação de seus serviços.
Com o fim da inflação elevada no Brasil, esperava-se que as instituições
19
financeiras tomassem medidas em favor do suporte ao investimento e ao consumo
privados. Todavia, a insistência de desequilíbrios fiscais e o surgimento de graves
desequilíbrios externos que forçaram a manutenção de altas taxas domésticas de
juros para atrair capitais externos, acabaram por gerar um quadro muito similar ao
anterior. Dessa maneira, Títulos da Dívida Pública mantêm-se muito atraentes,
mostrando que o problema central do sistema financeiro brasileiro é, na verdade,
exterior, representado pelos incentivos gerados pela própria política
macroeconômica.
Segundo fontes do Banco Central do Brasil, o total de operações de
crédito em 2007 foi de R$ 932,3 bilhões ou 27,3% superior a 2006. Tendo em vista o
PIB, o volume de crédito atingiu 34,7% no ano, sendo este o maior percentual desde
1995. O volume de empréstimos direcionados para pessoas jurídicas apresentou
crescimento de 31,4% em 2007, totalizando R$ 342,2 bilhões. As operações de
crédito para pessoas físicas acumularam R$ 316,8 bilhões no ano, expansão de
33,1% em relação a 2006. Analisando melhor o cenário, ao averiguar a qualidade da
carteira de crédito do Sistema Financeiro, percebe-se uma diminuição da
inadimplência nos últimos anos, o que é reflexo das atuais técnicas de concessão de
crédito. Com relação às operações de Tesouraria, devido à elevada taxa de juros, os
bancos adotaram uma postura mais conservadora e continuaram se beneficiando
das elevadas posições em Títulos e Valores Mobiliários.
No entanto, a receita fundamental para a composição dos resultados dos
bancos provém da prestação de serviços, adiante abordada em seção própria.
Tendo em vista a queda dos spreads bancários no Brasil nos últimos anos, os
bancos têm buscado novos negócios para geração de receitas não financeiras, com
o objetivo de conquistar uma independência da receita proveniente da intermediação
financeira, que oscila de acordo com a conjuntura econômica. Nos últimos sete
anos, as receitas com serviços, que cobriam 67% das despesas com pessoal do
Sistema Financeiro, evoluíram até os atuais 95%. A tendência é que este percentual
se torne cada vez mais importante na formação dos resultados dos bancos
brasileiros.
20
2.2 A Estrutura do Mercado Bancário Nacional
O modelo de instituição financeira que predomina no Brasil é o banco
universal, chamado também de tipo alemão, denominado banco múltiplo. Múltiplo,
pois atua em vários segmentos do mercado financeiro, desde a captação de
depósitos, à intermediação de crédito e as transações nos mercados de títulos.
Criado oficialmente em 1988, pela resolução nº 1542 do Banco Central do Brasil, o
modelo de organização financeira, nos moldes alemães praticamente extinguiu o
modelo norte-americano, adotado, anteriormente, com as reformas de 1964 e 1965.
O desenvolvimento das operações em mercados de títulos foi
conseqüência da importante e crescente evidência dos mercados de dívida pública.
Através disso a atuação dos bancos comerciais transformou-os em bancos
universais, fortemente inseridos nos dois principais segmentos do mercado
financeiro: de crédito e de papéis. Segundo dados do Banco Central do Brasil, em
setembro de 2007, 134 dos 176 bancos existentes no Brasil, eram múltiplos.
Ceretta e Niederauer (2001) argumentam que o sistema bancário nacional
é caracterizado pela ocorrência de várias fusões e incorporações, sempre visando a
maior solidez das instituições financeiras. Ainda mais, encontra-se em pleno
desenvolvimento, em um vasto processo de adaptação e expansão de modernas
tecnologias de gestão que geram maior satisfação para os clientes, tanto interna
quanto externamente às organizações. Essas tecnologias propiciam à assimilação e
à adaptação de novos paradigmas gerenciais existentes em outros países,
enfatizando-se desde pequenos ajustes operacionais até à redefinição da estratégia
de negócio dos bancos. Essas tecnologias visam tornar o banco mais competitivo,
com ganhos de eficiência e rentabilidade de longo prazo.
As diversas incorporações de bancos menores por bancos maiores ou por
bancos estrangeiros, nos últimos anos, aceleraram a tendência de concentração do
sistema bancário privado. Os cinco maiores bancos privados, que em 1996 detinham
42% dos ativos totais da rede privada, passaram a acumular 53% em julho de 2002.
Os 15 maiores bancos já possuem uma fatia de 81% dos ativos totais.
21
A Constituição de 1988 também contribuiu para a fixação de aspectos
importantes do sistema existente no Brasil atualmente. No momento, a entrada de
novas instituições estrangeiras no país, está proibida, exceto com autorização do
Presidente da República. Entre os anos de 1996 e 1998, vários bancos estrangeiros
receberam permissão para se instalar no país, com base neste dispositivo. Sendo
assim, estes bancos aumentaram sua participação nos ativos totais do setor
bancário brasileiro de 8,4%, em 1993, para 22,9% em 2004. Mesmo assim, a
liderança do setor bancário foi mantida por bancos nacionais. Dentre os seis maiores
bancos do país, dois são oficiais, três são privados com controle nacional e apenas
um é estrangeiro (BACEN).
A privatização de vários bancos estaduais e federais aliada à liquidação
ordinária ou extinção de outros estaduais reduziu o número de instituições oficiais de
30 em 1993 para 14, em julho de 2002. A experiência histórica dos bancos estaduais
não foi boa no Brasil. Injunções políticas levaram esses bancos a fazer má alocação
de recursos, gerando elevados prejuízos à sociedade. No esforço para tirar o setor
público do sistema financeiro, 10 bancos foram privatizados, um virou agência de
fomento e nove foram liquidados ou extintos. A privatização e o saneamento das
instituições oficiais, embora a um custo elevado, melhoraram a eficiência e tornaram
o sistema bancário mais estável.
Outro fator relevante no mercado financeiro nacional foi a criação do
PROER, pelo Banco Central, em 1994. O PROER é um programa de financiamento
de reestruturação do setor bancário, com o intuito de facilitar a compra de bancos
que estejam com problemas por outros, saudáveis. Apesar das críticas que recebeu,
o PROER foi eficiente na aderência do sistema bancário à estabilidade de preços.
Hoje, os principais bancos brasileiros aderiram aos “Princípios do Equador”, a
convite da Internacional Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco
Mundial, em que são definidas as diretrizes do envolvimento das instituições
financeiras com a temática da sustentabilidade corporativa junto à comunidade de
negócios.
Os “Princípios do Equador” são tidos como critérios mínimos ambientais e
de responsabilidade social, que deverão ser atendidos para a concessão de crédito.
22
As regras serão aplicadas pelos bancos signatários a todos os financiamentos de
projetos acima de US$ 50 milhões. Para Carvalho (2005), alguns fatores, acabaram
por reforçar a saúde das instituições financeiras que operam no país, especialmente
as de propriedade nacional, das quais destacamos: a força acumulada pelos bancos
durante o período inflacionário, a pronta ação do Banco Central para evitar a
ocorrência de uma crise de maiores proporções e os esforços para a modernização
da supervisão financeira, através da adesão ao Acordo da Basiléia.
Tais novas exigências impactaram em substancial elevação dos valores
mínimos de capital realizado e patrimônio liquido; a criação de uma central de riscos
e a vinculação do capital mínimo à qualidade dos ativos bancários.A partir do ano
2000, os bancos passaram obrigatoriamente a classificar o risco de seus
empréstimos - e também a estabelecer correspondentes provisões para perdas - sob
critérios mais amplos e conservadores. Antes, os parâmetros diziam respeito ao
atraso nos pagamentos e à existência ou não de garantias. Agora existem nove
níveis de risco que levam em consideração, além dos critérios anteriores, a
qualidade do devedor, o tipo, a destinação e o valor do empréstimo. As novas regras
exigem uma provisão maior e mais ajustada de reservas em relação às efetivas
condições de risco de crédito nas carteiras dos bancos.
Estudando o cenário, podemos inferir que o sistema financeiro brasileiro é
constituído por um conjunto de instituições bancárias sólidas, bem capitalizadas e
capazes de aproveitar de forma ágil e eficiente as oportunidades e variações do
mercado. A nova estrutura, que resultou de todo esse processo de transformação,
concentração, consolidação e regulamentação da atividade bancária iniciado com o
Plano Real, apresenta bancos saneados, adequadamente capitalizados e
assumindo menores riscos, o que os torna mais preparados para enfrentar e
sobreviver aos efeitos de crises externas e internas.
2.3 Os Serviços Bancários e a Participação nos Resultados dos Bancos
Com base em um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (DIEESE, 2006) afirma-se que, devido ao atual controle
inflacionário, os resultados oriundos da cobrança de tarifas bancárias conquistam
23
uma importância maior nos lucros dos bancos, em substituição às receitas
anteriormente proporcionadas pelos altos índices de inflação. No início do Plano
Real, em 1994, as receitas de prestação de serviço somavam 6,25% do total das
receitas do setor bancário, crescendo para 12,7% ao final de 2005. Ainda assim, os
ganhos decorrentes das elevadas taxas de juros e das operações de crédito são
responsáveis pela maior parcela do lucro dos bancos.
O estudo revela que a partir do conceito de valor adicionado (a
contribuição de cada componente na geração da renda da atividade bancária), tanto
as operações de crédito como as de tesouraria contribuem com 9% do valor
adicionado destinado ao lucro líquido dos bancos. Isto é, do total de R$ 59,1 bilhões
(crédito) e R$ 28,1 bilhões (tesouraria) da geração do valor adicionado, apenas R$
5,5 bilhões e R$ R$ 2,6 bilhões são distribuídos, respectivamente, na forma de lucro
líquido. Por outro lado, do total do valor adicionado pela prestação de serviços a
parcela destinada ao lucro líquido atinge 12%, ou em termos absolutos, são
distribuídos na forma de lucro líquido R$ 4,9 bilhões de um total de valor adicionado
de R$ 39,8 bilhões.
O estudo diz que na prestação de serviços, de cada R$ 1,00 recebido,
22% foram para pagamento das despesas de pessoal, 51% para outras despesas
estruturais, 15% para tributos e 12% para o lucro. Isso significa que na margem, a
prestação de serviços é mais lucrativa aos bancos. As conclusões estão
fundamentadas no resultado apresentado por esses bancos no primeiro semestre de
2005.
A crescente imposição de cobrança pelos serviços bancários e a política
de contenção nos gastos de pessoal contribuíram para aumentar o grau de
eficiência dessas instituições, segundo alguns padrões de eficiência definidos pelo
mercado financeiro. Em dezembro de 1994, a soma de todas as receitas de
prestação de serviços do setor “cobriam” 26,0% do total das despesas de pessoal.
Em 2005, a cobertura subiu para 113,9%. A razão para essa mudança é que, entre
dezembro de 1994 e dezembro de 2005, o montante das Receitas de Prestação de
Serviços aumentou 582,0%, em valores nominais, enquanto as Despesas de
Pessoal cresceram 56,5%, diante de uma inflação acumulada de 168,9% segundo o
24
Índice do Custo de Vida (ICV), calculado pelo Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE, 2006).
2.4 Alavancagem e Risco no Mercado Bancário
Segundo Diamond e Rajan (2001), no lado dos ativos os bancos fazem
empréstimos para tomadores em dificuldade e sem liquidez – admitindo assim o
fluxo de crédito para as empresas – ao passo que do lado do passivo eles garantem
liquidez conforme ocorra uma demanda por parte dos depositantes. Isso envolve
uma transformação de ativos, que Diamond e Dybvig (1983) definiram como a
capacidade de transformar ativos sem liquidez em demandas de depósitos com
necessidade de liquidez imediata.
A existência dos depósitos à vista no passivo faz com que demande a
necessidade de uma reserva de ativos com liquidez suficiente para o atendimento
dos saques dos valores depositados. Tais depósitos à vista possuem a vantagem de
não ser pago juros sobre eles e, desse modo, o conveniente seria pensar que seria
salutar para um banco financiar a maior parte possível de seus ativos com eles.
Contudo, ainda que não sejam remunerados, os depósitos possuem como
desvantagem o fato de que podem ser retirados a qualquer momento. Como falam
Kashyap, Rajan e Stein (2002) e também Flannery (1994), os ativos líquidos que,
por esse motivo, devem ser mantidos como reserva de liquidez – caixa, títulos
governamentais, etc. – possuem um peso morto e uma parte dos ganhos é perdida,
do modo que o retorno líquido desses ativos é sempre diminuído desse peso,
fazendo com que nem sempre o banco mantenha o nível desejado de reserva.
Por outro lado, desde que Miller (1995) mostrou que as proposições de
Modigliani e Miller (1958) quanto à indiferença da estrutura de financiamento se
aplicam também aos bancos, vários artigos demonstram a empregabilidade dos
modelos teóricos tradicionais às estruturas de capital dessas empresas financeiras,
mas as particularidades do ramo bancário são tratadas com importância devida.
As teorias de agência mostram que companhias alavancadas operam
25
com incentivos de investimento desvirtuados, que fazem com que elas rejeitem
alguns projetos com valor presente líquido positivo e aceitem outros de valor
negativo. Tais distorções desagregam valor da empresa e os acionistas é que
pagam os custos dos investimentos mal avaliados. Todavia, ainda que tendo seus
incentivos de investimento influenciados pela dívida do mesmo modo que as
empresas não-financeiras, os bancos apresentam um elevado nível de alavancagem
quando comparados a elas. Isso, evidentemente, os submete a riscos maiores e
mais diversificados do que as empresas tradicionais.
Segundo Flannery (1994), os bancos possuem também uma particular
aptidão de encontrar oportunidades para realizar a troca de ativos no curso normal
de seus negócios e a sucessiva renovação de empréstimos é um veículo para isso.
Os ativos dos bancos possuem tão pouca liquidez quanto os de outras firmas, mas
sua estrutura pode mudar rapidamente quando comparados aos dessas firmas,
como consta na obra de Diamond e Dybvig (1983). Para Flannery (1994), essa
capacidade de mudar rapidamente a estrutura dos ativos cria, por outro lado, um
risco moral elevado para os bancos.
As principais fontes de instabilidade dos bancos são: o descasamento da
maturidade entre ativos e passivos, a baixa capitalização e a carteira de ativos com
riscos (LASTRA, 2000). Uma característica única, a instabilidade proporcionada pelo
descasamento é foco da inquietação dos administradores bancários e motiva os
bancos comerciais a serem singularmente vulneráveis ao que os autores citados
chamam de corridas bancárias, devido à relativa falta de liquidez de seus
empréstimos, que não podem ser vendidos rapidamente sem deságio, e devido aos
depósitos serem direitos não-contingentes, isto é, podem ser sacados por pedido e a
qualquer momento. Desse modo, com o sucesso pelos países do sistema de reserva
fracionado, a qualquer instante um banco pode tornar-se incapaz de cumprir com
todas as suas obrigações se tiver que convertê-las de imediato em dinheiro.
Todas essas particularidades dos bancos quanto à liquidez, solvência e
riscos, além das causas externas negativas que podem acontecer na economia, que
geram uma necessidade de regulamentação no setor bancário, tema do próximo
tópico.
26
2.5 Regulamentação do Mercado Bancário: O Índice de Basiléia
A regulamentação do setor bancário acerca das exigências de capital
tornou-se, desde 1994, com a publicação da norma 2.099/1994 pelo Banco Central
do Brasil – uma preocupação a mais para os administradores do setor. Além de
reduzirem a alavancagem de seus negócios devido a exigências de um capital
mínimo para cobrir os riscos de suas operações, tiveram de melhorar as ferramentas
que gerenciam esses riscos e buscar atingir o chamado Índice da Basiléia no
patamar mínimo estabelecido pelo agente regulador.
Fixado atualmente em 11%, esse valor mínimo do Índice de Basiléia
corresponde à menor proporção que deve ser obtida entre um patrimônio exigido e a
soma dos ativos ponderados, cada qual por seu fator de risco. Em se tratando de
uma razão matemática, tal índice pode crescer tanto por incrementos no numerador,
no caso o patrimônio exigido, como por reduções no denominador, que são os ativos
ponderados.
Os acréscimos no numerador (aumento do patrimônio exigido) ocorrem de
operações que diminuam o risco derivado de atividades de balanço e extrabalanço –
como swaps, por exemplo, – da emissão de dívida subordinada ou de aumentos de
capital. Já as reduções no numerador podem ser por diminuição do volume daqueles
ativos aos quais se atribui um maior peso na ponderação, pelo aumento do volume
daqueles com menor peso ou por ambas as ações conjugadas. Essa substituição de
ativos, quando feita de forma a propiciar ao banco o atendimento dos requisitos da
resolução sem que tenha de promover aumento de seu capital, é que tem suscitado
questionamentos, não só quanto à eficácia das normas reguladoras, mas também
quanto a possíveis práticas adotadas pelos gestores dos bancos, tais como a
redução no crédito ou a aquisição maciça de títulos do governo.
27
3. EFICIÊNCIA DE MERCADO
3.1 O Mercado de Capitais e a Eficiência Informacional
A relevância dos mercados de capitais para o desenvolvimento
econômico de um país consiste por alocar poupança a recursos de investimentos,
função que, ao ser desempenhada, fornece sinais importantes à formação dos
preços dos títulos, que devem refletir as informações existentes no sistema
econômico a qualquer tempo (FAMA, 1970). Mercados de capitais
informacionalmente eficientes proporcionam economia de tempo e de recursos que
seriam gastos na análise de informações, uma vez que estas já estão refletidas nos
preços (Figura 1). Dessa maneira, tal mercado estimula não só a participação do
investidor individual que não se especializa na análise de informações, como
também o empresariado mais produtivo e a própria atividade econômica (BRITO,
1978).
Figura 1 - Reação do Preço da Ação a Novas Informações em Mercados Eficientes e Ineficientes Fonte: ROSS, WESTERFIELD, JAFFE, 2002, p. 281
Em seu trabalho, Brito (1977) resume a importância do mercado de
capitais, sugerindo que ele deve ser eficiente em três níveis:
a) Nível Informacional, associado à capacidade dos analistas financeiros
de processar e refletir instantaneamente nos preços dos títulos o fluxo
28
de informação existente no mercado;
b) Nível Alocacional, associado à capacidade do mercado de desenvolver
títulos que melhor correspondam à demanda de poupadores e
investidores, permitindo uma melhor alocação de recursos;
c) Nível Operacional, associado aos custos e recursos envolvidos no
processo de intermediação financeira.
Em seu nível informacional, um mercado de capitais pode apresentar
diferentes graus de desenvolvimento, de acordo com a velocidade e a acurácia com
que os preços refletem todas as informações disponíveis. Quanto mais rápida e
precisa for essa incorporação, mais desenvolvido é tido o mercado. A classificação
de eficiência de mercado mais aceita e utilizada é a sugerida por Roberts (1967) e
estruturada por Fama (1970) e (1991), e prevê três formas de eficiência: fraca,
semiforte e forte.
A Hipótese da Eficiência de Mercado, ou simplesmente HEM, baseia-se
na afirmação de que a cotação de uma ação reflete as informações disponíveis a
respeito da firma que a emitiu. Dessa forma, novas informações afetarão sua
cotação, de maneira mais rápida ou mais lenta. Ela se refere, em seus testes de
verificação, a dois aspectos do ajustamento dos preços a essas novas informações:
velocidade e qualidade, direção e magnitude (SALLES, 1991).
A eficiência do mercado de capitais pressupõe que informações atendam
às exigências legais e às expectativas dos seus participantes, para que uma nova
informação seja assimilada de maneira rápida, com a conseqüência de um ajuste
nos preços dos títulos. Informações relevantes são aquelas que afetam a geração de
fluxo de caixa da firma e as expectativas futuras dos investidores, interferindo no
processo de precificação de títulos (PROCIANOY e ANTUNES, 2001). Salles (1991)
afirma que os preços dos títulos são influenciados por vários tipos de informação
(índices econômico-financeiros da análise fundamentalista, volatilidade, lucros
futuros, preços passados, fatores políticos, variáveis econômicas, etc.), que
ocasionam alterações maiores ou menores, dependendo do contexto do mercado,
29
da relevância da informação e do tempo que essa informação leva para ser
incorporada pelo mercado.
3.1.1 Histórico sobre os Estudos do Comportamento dos Preços no Mercado
O comportamento dos preços de títulos no mercado foram inicialmente
estudados por Barchelier (1900), que, segundo Fama (1970), articulou os primeiros
relatórios e testes do chamado modelo Random Walk , baseado no conceito de que
o comportamento dos preços poderia ser traduzido pela especulação, a qual deveria
ser um Fair Game (jogo justo), pelo fato de a expectativa de retorno do especulador
ser igual a zero.
Working (1934) igualmente identificou o comportamento aleatório dos
preços de bens e mercadorias. Já na década de 50, o estatístico Kendall (1953) deu
princípio a sistematização da Random Walk Theory ao tentar identificar ciclos
regulares de preços; não os encontrando, concluiu que seguiam um caminho
randômico e que as variações dos preços eram independentes umas das outras. Tal
afirmação foi confirmada com a fundamental ajuda do desenvolvimento
computacional. Desde então, os estudos sobre comportamento dos preços no
mercado tiveram significativa evolução. Neste mesmo espaço, destacam-se os
estudos de Osborne (1959) e Roberts (1959), este o primeiro a fazer uma
comparação entre as séries dos números aleatórios e as séries de preços correntes.
O progresso desses estudos evoluiria ainda mais a partir da década de
60, com os trabalhos de Samuelson (1965) e Mandelbrot (1966), que produziram um
estudo rígido da importância do modelo de expectativa de retorno do Fair Game na
teoria de mercados eficientes e do relacionamento entre esse modelo e a Random
Walk Theory. Nos primeiros trabalhos sobre as duas teorias, as discussões teóricas
eram demasiadamente intuitivas, careciam de rigor e freqüentemente eram sem
conteúdo relevante. Até a formulação dos modelos de Mandelbrot-Samuelson existia
um largo corpo de resultados empíricos em busca de uma teoria rigorosa (FAMA,
1970).
Através dos estudos de Roberts (1967) e de Fama (1970) a eficiência de
30
mercado passou ter importante espaço na Teoria das Finanças, com fundamentais
discussões de teóricos contra e a favor de sua existência. Assim, partir dos estudos
desses autores pôde-se aperfeiçoar pesquisas sobre o comportamento de preços no
mercado assim como teorias que tentavam explicar a sua trajetória ao longo do
tempo, introduzindo a cerne teórica que existe atualmente.
3.1.2 A Hipótese de Eficiência do Mercado (HEM)
A HEM é um dos pilares da Moderna Teoria das Finanças. Sua origem e
desenvolvimento se deram no decorrer do século passado, principalmente a partir
de modelos econômicos desenvolvidos ao longo da década de 60.
3.1.2.1 Origem
A hipótese de eficiência de mercado origina-se dos estudos realizados em
1900, quando a idéia do comportamento aleatório dos preços passou a ser
desenvolvida, e sua evolução empírica e teórica ocorreu no decorrer desse século.
Em meados dos anos 60, foi formalizada matematicamente e traduzida em modelos
econômicos. A partir daí, os economistas desenvolveram a idéia de que não havia
nenhum padrão nos preços históricos, ou seja, estes não eram úteis para prever
mudanças futuras. A HEM teve o seu desenvolvimento atrelado ao modelo
Martingale e, de forma mais específica, ao seu parente próximo, o modelo do
Random Walk (CERETTA, 2001).
Segundo Jensen (1978), a HEM tornou-se amplamente aceitável desde
que o interesse por ela foi revivido no final dos anos 50 e início dos anos 60, quando
apareceu sob o nome de Random Walk Theory, na literatura de Finanças, e de
“Teoria das Expectativas Racionais”, no mainstream da literatura de Economia.
Segundo Keane (1985) apud Salles (1991), a HEM é reconhecida como um
subconjunto de um amplo conceito da teoria econômica, a Hipótese das
Expectativas Racionais, que vem ganhando espaço na Macroeconomia.
31
3.1.2.2 O Conceito e suas Características
São mercados eficientes aqueles em que os investidores formam
expectativas em relação aos preços, baseando-se em todas as informações
disponíveis sobre eventos que possam influenciar os preços do ativo negociado,
como definem Brealey e Myers (1995). O preço da ação é um indicador da avaliação
que o mercado faz do produto e da empresa, e por conseqüência, deve refletir as
informações disponíveis sobre o mercado em determinado momento.
Elton e Gruber (1995) afirmam que nesses mercados os preços dos
títulos refletirão as informações até o limite em que os benefícios marginais
derivados da incorporação da informação, ou seja, os lucros que ainda podem ser
obtidos, não sejam superados pelos custos marginais de transação e de aquisição
das informações.
Lucas (1978) traça um paralelo entre o conceito de eficiência de mercado
e o de Expectativas Racionais. Neste, os preços dos ativos são determinados em
função do nível atual de outputs da economia e têm seu comportamento
acompanhado ao longo do tempo pelos investidores. Como os investidores tomam
decisões com base nas suas expectativas sobre os preços futuros dos ativos e nas
expectativas dos outputs da economia, é natural que a Expectativa Racional seja
compatível com algum grau de previsibilidade dos retornos esperados.
Em seu estudo, Stiglitz (1981) diferencia as eficiências de mercado e da
economia. Para ele, são termos empregados em situações distintas. O primeiro
termo tem uma conotação mais específica, referindo-se à forma pela qual o mercado
incorpora determinado conjunto de informação, enquanto o segundo expressa a
melhor forma de alocação de recursos, que é eficiente (pareto-eficiente) se não
existir qualquer outra alternativa possível de melhor desempenho.
Para Elton e Gruber (1995), eficiência informacional e racionalidade do
mercado possuem conceitos distintos entre si. Eficiência informacional refere-se à
velocidade com que as informações são incorporadas ao preço da ação, enquanto a
racionalidade do mercado se refere à exatidão com que as informações são
32
incorporadas ao preço da ação, significando que os preços refletem as expectativas
dos investidores sobre o valor presente dos fluxos de caixa futuros da empresa. Se
um mercado é racional, diferenças sistemáticas entre os preços de ações e o valor
de um título baseado no valor presente dos fluxos de caixa para detentores de títulos
não deverão existir. Isto significa que a maior parte dos testes da HEM apenas
considera a questão de quão rápido as informações são incorporadas, mas não
considera se o são corretamente.
Leroy (1989) afirma que ao avaliar as informações no mercado, os
investidores devem levar em consideração, além de sua veracidade, o seu nível de
divulgação, se elas já estão públicas, de conhecimento geral e, por conseguinte, já
incorporadas aos preços dos títulos no mercado. Essa assimilação das informações
resultará da posição dos investidores sobre a eficiência do mercado; se o mercado
realmente for eficiente, será um custo desnecessário.
HEM constitui uma teoria de estabilidade aplicada ao mercado de ações,
segundo Ceretta (2001). Um investidor que possui vantagens de comparação no
mercado será possível apenas pela posse de níveis de informação diferenciados,
que não estejam totalmente assimilados pelos preços dos ativos. Na sua forma forte
a HEM apresenta um grande paradoxo: de que, num mercado em equilíbrio,
habitado por investidores racionais, as informações estão disponíveis publicamente
e, conseqüentemente, não forneceriam a seu detentor vantagem na elaboração de
estratégias de negociação. O preço corrente é um preço justo, dado o conjunto de
informações disponíveis.
Um dos requisitos impostos pela teoria dos mercados eficientes é de que
não devem existir quaisquer regularidades ex post nos retornos observados, isto é, a
inexistência de padrões de comportamento no mercado que resultem em retornos
anormais (LEMOS e COSTA JR., 1995).
3.1.2.3 Implicações da HEM
Fama (1970) concluiu que são as seguintes condições suficientes para
que a HEM se verifique:
33
a) inexistência de custos de transação nas negociações de títulos;
b) todas as informações são disponibilizadas sem custos para todos os
participantes do mercado;
c) concordância geral nas expectativas dos investidores quanto aos
efeitos das informações sobre os preços atuais das ações, assim como
sobre suas distribuições futuras. Em tal mercado, o preço corrente de
um título reflete toda informação disponível.
Tais condições satisfazem a teoria, mas não significa que são
necessárias. Altos custos de transação não impedem o ajuste dos preços às novas
informações, ainda mais, o mercado pode sim ser eficiente se um número hábil de
investidores tiver acesso à informação. Perobelli e Ness Jr. (2000) argumentam que
as definições da HEM são demasiadamente gerais para que possam ser testadas
empiricamente, é necessário que o processo de formação de preços seja
inicialmente definido.
Nesse ponto reside o maior obstáculo aos testes de eficiência: o conceito
é, via de regra, testado juntamente com algum modelo de equilíbrio preestabelecido.
3.1.2.4 Modelos Econômicos da HEM e os Tipos Diferentes de Eficiência
Na hipótese de eficiência do mercado, Fama (1970) afirma que as
distribuições de freqüência dos retornos dos títulos são próximas à curva normal e
que esses retornos são variáveis aleatórias, sendo o retorno médio a melhor
expectativa, por ser a maior que se pode obter.
Perobelli e Ness Jr. (2000) destacam em seu trabalho, que, baseados
neste conceito, indiferente do modelo utilizado para determinar o retorno esperado
do ativo em t+1, as informações disponíveis em t serão completamente incorporadas
ao preço projetado para t+1. Portanto, é nesse sentido que se pode deduzir que o
conjunto de informações disponíveis estão totalmente refletidos no preço no instante
t.
34
O equilíbrio dos preços no mercado, segundo essas concepções, dá-se
quando a identificação de alguma possibilidade de obtenção de preços futuros
superiores ou inferiores ao preço atual desencadearia em uma compra ou venda do
ativo em questão, até que seu preço se equilibrasse ao preço atual, anulando sua
atratividade. O modelo que descreve essa formação dos preços como um processo
aleatório sem tendenciosidade é o chamado Martingale (BRASIL, 1997).
Ceretta (2001) diz que o modelo Martingale é considerado condição
fundamental para a HEM, apesar de não levar em consideração o risco.
Considerando que uma mudança no preço esperado de um ativo for positiva, pode
ser que essa seja o impulso necessário para induzir o investidor a adquirir ativos
arriscados. Através dessa lógica, Leroy (1989) e Lucas (1978) afirmaram que o
modelo Martingale não é uma condição necessária e nem suficiente para se
determinar racionalmente os preços dos ativos.
Os resultados obtidos pelos estudos de Fama (1965) fortificaram o
modelo Martingale, pois mudanças nos preços diários das ações tendem a ser
seguidas de grandes fatos, de acontecimentos sem previsões, o que indica que
informações importantes não podem ser avaliadas sumariamente, mas que o
ajustamento inicial dos preços no primeiro dia da informação é imparcial, o que é
suficiente para esse modelo.
A formulação das diferentes formas de eficiência do mercado teve a
contribuição significativa de Roberts (1967) e Fama (1970), que dividiram os testes
com base em três conjuntos de informação: informações passadas, ou seja, preços
históricos; informações publicamente disponíveis e todo o conjunto de informações.
São estas as três formas de eficiência:
3.1.2.5 Forma Fraca
A forma fraca da HEM indica que o mercado incorpora completamente as
informações sobre os preços passados dos títulos. Assim, retornos anormais não
podem ser obtidos baseados nos preços passados, mesmo aqueles que geraram
expectativas de bons sinalizadores dos preços futuros.
35
O principal desígnio dessa forma de eficiência é o de que os retornos
esperados em condições de equilíbrio são formados a partir do conjunto de
informações disponíveis, que está totalmente refletido nos preços. Eliminando a
possibilidade de existirem estratégias de negociação baseadas apenas em
informações passadas que garantam ganhos anormais ou retornos que excedam os
de equilíbrio.
Muitas vezes a eficiência na forma fraca é representada pela seguinte
equação:
(1)
A equação diz que o preço atual é igual à soma do último preço
observado com o retorno esperado da ação e um componente aleatório que ocorra
no período considerado. (ROSS, WESTERFIELD, JAFFE, 2002).
Em termos econômicos, a supervalorização do preço de mercado do título
j no período t+1, isto é, a constatação de um processo Fair Game significa que não
haverá diferença entre o preço observado em t+1 e seu valor esperado, definido por
um modelo qualquer e baseado no histórico dos preços. Por considerar um modelo
gerador de preços (e retornos) de equilíbrio na observação de retornos anormais, a
hipótese de Fair Game pode ser rejeitada erroneamente, já que a hipótese de
eficácia do modelo de equilíbrio escolhido é testada conjuntamente (PEROBELLI e
NESS JR., 2000).
Isto significa que não existe a possibilidade de usar as informações
disponíveis no período t para obter retornos acima do normal em t+1 (ELTON e
GRUBER, 1995). Como diz o modelo Fair Game, transação nenhuma deve fornecer
retornos esperados superiores aos retornos normais. Se o fato gerador de retornos
fosse tal que qualquer preço futuro esperado diferisse do preço corrente real, o
comportamento que leva a maximizar o lucro dos investidores provocaria a
eliminação do componente estável, conhecido como processo gerador, através da
arbitragem, como conceitua Contador (1975).
Pt = Pt-1 + Retorno esperado + Erro aleatório
36
Tal hipótese é limitada no que se refere à informações sobre o processo
gerador dos retornos de equilíbrio, por atestar somente que: (1) as condições de
equilíbrio de mercado podem ser estabelecidas em termos das expectativas de
retornos (cujo excesso seria igual a zero); e (2) as informações em t são totalmente
utilizadas pelo mercado na formação do equilíbrio das expectativas de retorno assim
como dos preços atuais (FAMA,1970).
Conseqüentemente, começaram a utilizar outros modelos empiricamente
testáveis, como o modelo Martingale (Submartingale) e o Random Walk. De acordo
a hipótese do modelo Submartingale, os ganhos que se poderiam obter com
estratégias de negociações no mercado.
O modelo Martingale demonstra que o retorno esperado para o futuro é
maior ou igual ao preço de hoje; nesse caso, a melhor estimativa de j, que se pode
obter, tomando como base os dados históricos.
Um dos precursores a relacionar o modelo Submartingale à HEM foi
Samuelson (1965). Bruni e Famá (1998) afirmam que a teoria do Martingale e
Submartingale é um Fair Game no qual o preço futuro é igual (Martingale) ou maior
(Submartingale) que o preço presente. O que significa que os retornos são nulos
(Martingale) ou positivos (Submartingale).
O modelo Random Walk está baseado em duas hipóteses distintas:
a) o preço atual de um título reflete toda a informação disponível,
indicando que os movimentos dos preços no tempo são séries de
números aleatórios (correlação serial igual a zero); e
b) as mudanças de preços obedecem à mesma distribuição de
probabilidade (FAMA, 1965).
Assim como no modelo Fair Game, a expectativa de se obter valores
presentes positivos é nula, significando que os retornos dos títulos seguem
caminhos totalmente aleatórios.
37
Perobelli e Ness Jr. (2000) sobressaltam que na hipótese do Fair Game
pressupõe-se que a média da distribuição de retornos em t+1 é independente da
informação disponível em t, enquanto o modelo Random Walk estabelece que a
distribuição completa dos retornos é independente de t . Assim sendo, o modelo
Random Walk não estabelece que as informações passadas possuem valor nulo na
distribuição dos retornos futuros, mas sim que a ordem de retornos passados não
tem implicações na distribuição de retornos futuros, sinalizado também como
correlação serial igual a zero.
Contador (1975) explica que a implicação prática e importante desse
modelo é pôr em dúvida a eficiência de estratégias de transação que alegam obter
lucros excessivos sistematicamente com base apenas na informação contida em
séries de preços históricos. As variações nos preços e retornos de um mercado
competitivo devem se ajustar a um modelo de Fair Game.
A possibilidade de encontrar uma série temporal caracterizada pela
independência perfeita é quase nula, conceitua Fama (1965). Afirma ainda que o
modelo Random Walk não é totalmente preciso na descrição da realidade. Na
prática, considera-se a premissa da independência do modelo desde que a
dependência em séries sucessivas de mudanças de preços esteja dentro de limites
aceitáveis.
Os testes para verificar essa forma de eficiência objetivam ratificar a
independência em mudanças sucessivas de preços. São eles: testes de correlação
serial; testes de corrida de sinal; testes de estratégia de filtro.
Brito (1978) argumenta que a interpretação de resultados de Segundo
Fama (1970), no modelo Fair Game, estratégias de filtro é intuitiva e a dos
resultados de testes de autocorrelação serial e de corridas de sinal é formal,
indicando que a aceitação ou rejeição da hipótese testada não se limita à condição
de eficiência, pois os testes examinam a hipótese conjunta de estacionariedade e
independência serial na série temporal de taxas de retorno.
38
3.1.2.6 Forma Semiforte
Já na forma semiforte da hipótese de eficiência do mercado, indica que os
preços refletem não apenas o histórico do comportamento de preços, como também
todas as informações disponíveis publicamente, como demonstrativos financeiros e
outras informações periódicas e não-periódicas. Investidor nenhum consegue obter
retornos extraordinários baseando-se em informações públicas, pois os preços se
ajustam rapidamente às novas informações divulgadas. Informações públicas são
aquelas que se tornam conhecidas ao mesmo tempo em que afetam os preços, isto
é, que influenciam os preços antes que algum investidor possa negociar com essas
informações, no tempo em que as informações privadas são o oposto, afetando os
preços somente através da negociação.
Damodaran (2001) indicia que o mercado pode se comportar de três
formas diferentes quando da divulgação de uma informação relevante:
a) reagir imediatamente à divulgação, de forma adequada (confirmando a
hipótese de eficiência semiforte);
b) reagir gradualmente, quando a divulgação é seguida de um aumento
gradual nos preços, situação que permite aos investidores realizar
operações de arbitragem até o ajuste completo; e
c) os preços no mercado reagem instantaneamente à divulgação, mas de
maneira inadequada, com a correção sendo feita nos dias que se
seguem.
O método mais utilizado para se verificar a existência da forma semiforte
são os “estudos de evento”, cujos testes tentam mensurar a velocidade da
adaptação dos preços das ações próximos a uma data específica, ao passo da
divulgação de informações relevantes, tais como: subscrição de ações, emissão de
títulos de dívida (debêntures) e de recibos de depósito em outros mercados;
bonificações, pagamento de dividendos, anúncios trimestrais, semestrais ou anuais
de lucros; fusões e aquisições, vencimento de opções, desdobramento de ações
39
(splits), etc.
Cada teste individual está relacionado na forma pela qual os preços se
adéquam à informação específica gerada por um evento, implicando em um suporte
de evidência para o modelo de eficiência de mercado, baseado na idéia de que, pela
acumulação de semelhante evidência, a validade do modelo será estabelecida.
3.1.2.7 Forma Forte
A forma forte de eficiência do mercado supõe que os preços refletem
todas as informações existentes no mercado, seja históricas, públicas e privadas.
Desse modo, um insider, aquele de posse de informações privilegiadas, não
conseguiria auferir retornos extraordinários, pois o ajuste dos preços no mercado é
instantâneo e eficiente. Estudos da forma forte são feitos com investidores que
possuem acesso a informações privilegiadas, tais como fundos de pensão e seus
administradores. Os testes exigem a análise do acesso desses investidores a
informações privilegiadas pela identificação e mensuração de retornos anormais em
mais de um período observado.
Não existem, em mercados de capitais eficientes na forma forte,
estratégias de investimento com base no conjunto informações disponíveis que
produzam rentabilidade extraordinária positiva, sendo admissível afirmar que essa
forma de eficiência não descreve de maneira real o comportamento do mercado de
capitais, dado suas dificuldades de mensuração e evidências contraditórias (BRITO,
1978).
A maioria dos estudos rejeita a versão da forma forte de eficiência do
mercado. As formas fraca e semiforte são responsáveis pelas pesquisas empíricas
no mercado de capitais.
Ao estabelecer esses conceitos, Fama (1970) já mencionava que não
tinha a intenção de que seu modelo fosse uma descrição exata da realidade, salvo
as evidências dissidentes, principalmente para a forma forte. Maluf Filho (1991)
argumenta em seu estudo que as formas de eficiência seguem um critério de
40
dominância. A forma semiforte exige que as condições da forma fraca sejam
satisfeitas, assim como o nível forte requer que sejam atingidas as condições das
formas fraca e semiforte.
Em um trabalho mais recente de Fama (1991), o autor sugeriu outras
denominações para as formas de eficiência. Ao contrário dos testes de eficiência da
forma fraca, propôs testes mais abrangentes, interessados na “previsibilidade de
retornos passados”, com variáveis como dividendos anuais e taxas de juros. Ao
invés dos testes da forma semiforte, de ajustamento de preços a anúncios públicos,
propôs um título comum de “estudos de eventos”. E ao invés dos testes da forma
forte, para verificar se investidores específicos têm informações que não estão
refletidas nos preços do mercado, “testes de informação privada”.
3.1.2.8 As Críticas e Estudos Contrários à HEM
O modelo elaborado por Fama (1970) passou por várias críticas e
reformulações por autores da moderna teoria das finanças. Um exemplo disso foi
Leroy (1976), que apresentou a forte e contundente revisão dos testes da teoria feita
por Fama, alegando que apresentava passagens importantes desenvolvidas de
forma “tautológica”, sendo, por conseguinte, um pouco ilusórias. Fama (1976)
rebateu essas críticas, corrigindo algumas das irregularidades do seu modelo.
Haugen (1995) também atirou duras críticas à concepção da eficiência de
mercado, apresentando um dossiê de evidências e argumentos contra a HEM, que
ele designa ironicamente de The Fantasy. O estudo diz que os preços dos títulos no
mercado sobre-reagem lentamente, pois os investidores reagem às novas
informações com significante atraso.
Se de uma maneira a Random Walk Theory defende que as mudanças
sucessivas de preços são independentes, variáveis aleatórias identicamente
distribuídas, por outro lado existem diferentes teorias da Análise Gráfica ou Técnica
cuja suposição básica é a de que o comportamento passado do preço de um título é
rico em informações a respeito do comportamento futuro, com os dados históricos se
repetindo em padrões de comportamento (FAMA, 1965), o que é contrário ao
41
pressuposto do comportamento aleatório dos preços da HEM na sua forma fraca.
Já o trabalho de Roberts (1959), argumenta que a Teoria de Dow (Dow
Theory) e suas descendentes são evidências de que o comportamento passado do
mercado é rico em informações, sendo necessário somente, num caso extremo,
estudar esses padrões passados para prever o comportamento futuro de um título.
Brito (1977) expõe que a forma semiforte da HEM vai de encontro à
conjetura da Análise Fundamentalista, uma vez que esta se utiliza de informações
públicas para antecipar o comportamento futuro dos preços e obter maior
rentabilidade em aplicações no mercado de capitais. É a existência dessas
tentativas de antecipação que faz com que as informações se reflitam
instantaneamente sobre os preços, ao passo de sua publicação.
Contrário à HEM, a Análise Fundamentalista supõe que o mercado não é
eficiente. Os fundamentalistas estimam que o mercado reage mais lentamente à
chegada de novas informações e que os preços não refletem imediatamente essas
informações (AMARAL, 1990).
Muitos estudos procuram identificar padrões de comportamento nos
retornos dos títulos ou anomalias, sobretudo estudos sobre retornos positivamente
ou negativamente exagerados. E apesar de todas as teorias de suporte da eficiência
do mercado, existem inúmeras situações específicas em períodos pontuais que
proporcionam ganhos extraordinários. O mercado estaria apenas antecipando
informações sobre o seu desempenho econômico-financeiro.
3.2 Anomalias do Mercado de Capitais
A existência de padrões de comportamento de retornos irregulares ou
anormais que não se enquadram em nenhuma teoria relacionada à eficiência do
mercado é denominada de anomalia.
Elton e Gruber (1995) identificam possíveis explicações para a existência
desses padrões:
42
a) com centenas de pesquisadores examinando o mesmo conjunto de
dados, padrões serão encontrados, mesmo se forem aleatórios;
b) esses padrões são induzidos pela estrutura de mercado e por outros
fluxos;
c) o relacionamento observado não é real;
d) as características das firmas servem de substituto para uma variável de
risco omitida e, uma vez que essa variável é levada em consideração,
o relacionamento entre as características das firmas e o retorno
excessivo desaparece;
e) os mercados são ineficientes.
As principais evidências desfavoráveis à HEM podem ser classificadas,
conforme Bruni e Famá (1998), Lemos e Costa Jr. (1995) e Fama e French (1992),
em:
� Anomalias de Calendário:
a) efeito Janeiro (The January Effect): retornos de ações são
significativamente maiores em janeiro do que nos outros meses do ano;
b) efeito Mudança de Mês (Turn of the Month Effect): as ações
apresentam retornos maiores no último e nos quatro primeiros dias do
mês;
c) efeito Dia da Semana (Day of Week Effect): o retorno proporcionado
pelo investimento em ações é significativamente maior no início e no
final da semana;
d) efeito Segunda-Feira (The Monday Effect): os retornos são menores
nesses dias porque as firmas esperam o fechamento dos mercados na
43
sexta-feira para divulgar más notícias.
� Anomalias Fundamentais ou de Valor: que são obtidas pela aplicação do
instrumental da Análise Fundamentalista. As principais são:
a) efeito de Sobre-Reação (Overeaction Effect): investidores
superestimam dados recentes e subestimam os anteriores, provocando
movimentos extremos nos preços;
b) efeito Tamanho (Size Effect): retornos ajustados ao risco de ações de
firmas pequenas são maiores do que os retornos de firmas grandes;
c) efeito do Índice P/L (Preço/Lucro): os retornos ajustados ao risco de
ações com baixo índice P/L são superiores aos previstos por modelos
de equilíbrio de mercado;
d) além de: Relação Valor Contábil/Valor de Mercado (Book/Market
Ratio); Relação Preço/Vendas (Price/Sales Ratio); Relação
Lucro/Preço (Price/Sales Ratio); Rendimento dos dividendos (Dividend
Yield); Ações Negligenciadas (Neglected Stocks).
� Anomalias Técnicas: obtidas pela aplicação de técnicas da Análise Gráfica.
a) uso de Médias Móveis (Moving Averages);
b) quebra de faixa de negociação (Trading Range Break).
Além dessas anomalias, Haugen (1995), baseado na pesquisa de Fama e
French (1992), destaca a anomalia apresentada pelas firmas caracterizadas como
value (alta relação Book/Market Ratio) e growth (baixa relação Book/Market Ratio),
na qual os investidores supervalorizam as ações de firmas com um passado
atraente (growth) e desprezam as de firmas que não o têm (value), apesar de que,
de maneira geral, as firmas value apresentam desempenhos superiores aos das
firmas growth.
44
3.3 O Impacto das Informações nos Preços das Ações
Para se verificar o conteúdo informacional ou o valor como informação da
ocorrência de um evento envolvendo as ações de uma determinada empresa, é
necessário que tal evento seja desconhecido por completo do mercado. Do enfoque
econômico atribuído à informação surge a possibilidade de mensurar o seu valor. A
definição de valor esperado da informação é dada em função do acréscimo na
utilidade esperada com o uso de um determinado sistema de informação (LEITE e
SANVICENTE, 1990).
Deparando-se com a possibilidade de se avaliar o valor da informação em
decorrência da mudança de opinião de seus usuários em relação aos possíveis
eventos futuros, isto se reflete na variação do preço de uma ação, transformando-se
em um indicador eficaz para avaliar o impacto de uma informação no mercado de
capitais.
Segundo Tertuliano et al. (1993), a avaliação do impacto de uma
informação é uma maneira de mensurar a adequação desta informação às
necessidades dos investidores e a sua capacidade em proporcionar aos
participantes desse mercado os subsídios necessários para formar expectativas
adequadas com relação ao futuro de um ativo.
Além disso, os autores demonstram ainda que o preço da ação não é
meramente um parâmetro de equilíbrio entre oferta e procura. Considera-se,
também, como um indicador da avaliação que o mercado faz do produto em questão
e deve refletir as informações disponíveis sobre um mercado em determinado
momento. Vários trabalhos foram realizados dando um enfoque para a variação no
preço das ações decorrente do impacto causado por um evento. Podemos citar os
estudos de Cready (1988), Holthausen e Verrechia (1990).
Tais estudos analisam a hipótese da eficiência de mercado, cuja premissa
é a de que os preços dos ativos ajustam-se em decorrência da informação divulgada
ao mercado. Dessa maneira, a variação anormal no preço de uma ação é derivada
do impacto que uma informação gera sobre o mercado em relação ao retorno
45
esperado deste ativo.
Reilly (1994) diz que variação anormal no preço de uma ação é
determinada pela diferença do retorno realizado e o retorno esperado desta ação
para o mesmo período. Uma das ferramentas para mensurar os impactos das
informações que chegam ao mercado é a utilização da análise técnica, por meio da
qual se estuda o movimento passado dos preços e dos volumes de negociação de
ativos financeiros com o objetivo de fazer previsões sobre o comportamento futuro
desses preços.
Dessa forma, se em exercícios anteriores ao período a ser estimado o
lucro de uma empresa mostraram correlação significativa com o retorno médio de
mercado, então o conhecimento desta relação, associado às variações no retorno do
mercado, possibilita estimar o lucro da empresa em exame e o valor esperado do
retorno de sua ação. Assim, o efeito da informação divulgada e o nível de eficiência
de um mercado podem ser medidos pela diferença entre a variação esperada e a
variação real observada no preço de um ativo.
A diferença entre o retorno esperado e o ocorrido reproduz a parcela da
variação decorrente do retorno deste ativo, que não está relacionada a fatores que
afetaram o mercado, conceitua o modelo apresentado por Fama (1976). Tal
diferença ou resíduo é resultado de fatores relacionados com a própria empresa sob
exame e representa a posição dos participantes do mercado em relação à
informação divulgada sobre a referida empresa. Portanto, tem-se que:
a) o retorno esperado de uma ação pode ser mensurado a partir da
correlação histórica do retorno desta ação com o retorno médio
observado no mercado; e
b) o retorno de uma ação é determinado pelos dividendos recebidos mais
os ganhos de capital proporcionados pela variação do seu preço de
mercado; conseqüentemente, a diferença entre o retorno esperado e o
retorno realizado de uma ação é o retorno residual, podendo ser tanto
positivo quanto negativo.
46
A diferença ou retorno residual mencionado anteriormente é chamado de
retorno anormal e pode ser considerado como resultado da divulgação de
informação possível de influenciar o mercado em relação à rentabilidade desta ação.
47
4. AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS
4.1 Os Demonstrativos Financeiros
As demonstrações financeiras são o grupo de contas que refletem, com
transparência, as mutações ocorridas no exercício social de determinada empresa, e
a situação de seu patrimônio líquido em determinado momento.
Com o objetivo de elaborar os demonstrativos financeiros, devem ser
destacados da escrituração mercantil, contas e valores apresentados no final do
exercício, atribuindo-lhes formas e disposições estabelecidas na Lei das Sociedades
por Ações, a Lei 6404/76. A Lei das Sociedades por Ações fixa que ao fim do
exercício social as companhias devem elaborar, tendo como base a escrituração
comercial, as seguintes demonstrações contábeis, as quais devem demonstrar a
situação do patrimônio e as mutações ocorridas no exercício:
a) balanço Patrimonial, que busca evidenciar, quantitativa e
qualitativamente, em uma determinada data, a posição patrimonial e
financeira de uma empresa;
b) demonstração de Resultados do Exercício, que demonstra a
composição do resultado formado em um determinado período de
operações da empresa;
c) demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados, que evidencia, em
um determinado período, as mutações nos resultados acumulados da
empresa;
d) demonstração de Origens e Aplicações de Recursos, que evidencia,
em um determinado período, as modificações que originaram as
variações do capital circulante líquido de uma empresa.
As empresas de capital aberto são obrigadas a elaborar e publicar a
48
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, em substituição à
Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados. A demonstração de Mutações
do Patrimônio Líquido comprova, em um determinado período, a movimentação das
contas que integram o patrimônio da empresa.
As empresas abertas estiveram também, até o final de 1995, obrigadas à
elaboração e publicação das Demonstrações Contábeis em Moeda Constante, para
assegurar ao Princípio do Denominador Comum Monetário.
Em harmonia com as medidas econômicas adotadas, a Lei 9249/95
eliminou, dado 01 de janeiro de 1996, a adoção de qualquer sistema de correção
monetária, inclusive para fins societários. A CVM, através da Instrução 248/96, além
de exigir a apresentação das informações trimestrais em consonância com a Lei
9249/95, tornou facultativa a elaboração e a sua divulgação em moeda de
capacidade aquisitiva constante.
Segundo o Parecer de Orientação 29 da CVM de 1996, as empresas de
capital aberto devem avaliar a importância dessas informações, até mesmo para
efeito de análise comparativa, e de sua divulgação, a fim de responder, de uma
maneira mais plana, à demanda do mercado. As mesmas que optarem por divulgar
demonstrações complementares, elaboradas em moeda de capacidade aquisitiva
constante, devem basear-se, como forma de orientação, os requisitos constantes
deste Parecer.
Iudícibus (1987) afirma que os demonstrativos financeiros podem ser
vistos como um sistema de geração de informações relevantes, capazes de
influenciar os tomadores de decisão. Deve ser um arquivo básico de informações
que possa ser usado, de maneira maleável, por vários tipos de investidores e
usuários, cada um com enfoques divergentes de tipo de informação, neste ou
naquele tipo de avaliação, porém extraídos todos os informes do arquivo básico
estabelecido pela Contabilidade.
A utilização de princípios semelhantes na elaboração das demonstrações
financeiras, proporcionam a interpretação adequada dos fatos econômicos que a
49
compõe, visando entre outros objetivos, à finalidade fundamental de proteger as
relações e os interesses dos acionistas e terceiros que mantenham relacionamento
(MUSSOLINI, 1994).
As companhias deixaram de divulgar demonstrações em moeda
constante a partir de 1996, e essa descontinuidade de procedimentos, já que
algumas não adotam, acabou por prejudicar a interpretação dos fatos econômicos
com prejuízo nas relações da empresa e o mercado, na medida em que algumas
empresas estão apresentando números ajustados pela inflação e outras estão
omitindo estas informações cria-se assim, um diferencial na transparência do
conteúdo divulgado nestas demonstrações.
De acordo com Riccio (1989), os fins da contabilidade devem ser
consonantes, de alguma forma explicita ou implícita, àquilo que o investidor
considera como dados importantes para seu processo decisório e ainda, a verdade
da contabilidade reside em ser instrumento útil para a tomada de decisões pelo
usuário, tendo em vista a empresa.
Segundo Guagliardi (1987), independentemente de quem usufrua das
informações contábeis, um aspecto é comum: a confiabilidade nas informações e a
preferência por informações quantitativas. São elas as mais objetivas, subsidiando
os usuários na melhor utilização de recursos que possibilitam maximizar resultados.
Silva e Nakagawa (1995) exprimem que os fatos contábeis estão contidos
no universo dos eventos econômicos de uma empresa; é um mundo dinâmico de
atividades econômicas, onde vários grupos tais como gerentes, acionistas, credores,
clientes e outros usuários das informações contábeis, são influenciados e
influenciam uns aos outros.
Assim, as empresas devem avaliar com esforço quais são as
necessidades de informação que os diversos usuários da informação contábil
apresentam, qual o nível de detalhes que os usuários precisam.
50
4.2 Conteúdo Informacional das Demonstrações Financeiras
Tendo como base a hipótese de eficiência do mercado, na sua forma
semi-forte, o demonstrativo financeiro é somente uma das fontes de informações
publicamente disponíveis relacionados a empresas e seus títulos. Como
argumentam Hendriksen e Van Breda (1999), informações econômicas gerais e
setoriais, notícias e artigos divulgados em periódicos financeiros, notas de imprensa,
entrevistas de diretores com analistas financeiros, grandes investidores ou
representantes de grupos de interesses podem ter implicações especiais para uma
empresa.
Tais estudiosos adicionam que quando as demonstrações financeiras
estão públicas, a informação nelas contida já se tenha tornado publicamente
disponível ou tenha sido antecipada. Sendo assim, o resultado é de que os preços
dos títulos reagirão à informação assim que se torne publicamente disponível, ou
seja, antecipada e nenhum ajuste adicional será necessário no momento em que as
demonstrações financeiras forem publicadas.
Ball e Brown (1968) são reconhecidos como os precursores nos trabalhos
sobre a relação entre informação contábil o mercado de capitais. No estudo seminal
titulado “An Empirical Evaluation of Accounting Income Numbers”, apresentado em
1968, os autores analisaram a influência dos lucros residuais sobre os preços das
ações negociadas na bolsa de Nova York, objetivando descobrir evidências
empíricas sobre o impacto da contabilidade sobre os preços das ações. Os autores
demonstraram uma correlação positiva entre os sinais da variação anormal dos
lucros e a variação nos preços comprovando a existência do conteúdo informativo
das demonstrações contábeis e do impacto da divulgação do lucro contábil.
Segundo Iudícibus e Lopes (2004), após esse trabalho, vários autores de
nações diferentes reproduziram os estudos de Ball e Brown a fim de verificar se o
comportamento dos preços em relação aos lucros é o mesmo em outros mercados.
Os autores destacam que também foram feitos trabalhos com o objetivo de
averiguar o impacto da magnitude da variação dos lucros e a variação do retorno
anormal das ações. Os pioneiros desse estudo foram Beaver, Clark e Wright (1979),
51
Beaver, Lamber e Morse (1980). Então, a questão da intensidade da variação nos
lucros em relação com a intensidade da variação dos retornos necessita ser mais
explorada, ao passo que uma simples alteração na forma de organizar os portfólios
torna os resultados bem diferentes dos resultados anteriores, conquanto fique claro
que os lucros impactam e são impactados pela geração dos fluxos de caixa.
Quase todas as pesquisas que tentam averiguar a relação entre as
informações contábeis e os preços das ações foram realizadas em países que
possuem mercados de capitais desenvolvidos, especialmente Estados Unidos e
Inglaterra. Lopes (2001) afirma que pesquisas realizadas em mercados emergentes,
são quase inexistentes, especialmente tratando-se da América latina. O Brasil pode
ser classificado ainda onde os trabalhos sobre mercados de capitais representam
uma pequena parte das pesquisas realizadas pela contabilidade brasileira. Os
próximos parágrafos falarão sobre os trabalhos realizados no Brasil sobre essa linha
de pesquisa.
Schiehll (1996) investigou se a divulgação das demonstrações
financeiras, anuais e trimestrais, das empresas de capital aberto produz efeitos no
comportamento do preço de suas ações no mercado brasileiro de ações,
encontrando evidências de que o evento da divulgação é relevante ao mercado de
capitais e produz efeitos significativos sobre o comportamento dos preços das
ações.
Prux Jr. (1998) averiguou se a divulgação das demonstrações contábeis
em moeda constante, das empresas de capital aberto com ações negociadas na
Bovespa produz efeitos no comportamento do preço das ações. Os resultados
empíricos obtidos evidenciaram efeitos significativos das divulgações sobre os
preços das ações.
Martinez (2002) pesquisou o registro de componentes discricionários nos
resultados contábeis das empresas brasileiras no período de 1995 a 1999. As
evidências encontradas demonstraram empiricamente que os resultados contábeis
têm impacto sobre os retornos no mercado de capitais, justificando, em certa
medida, a preocupação das companhias em “gerencial” seus resultados, o que era
52
tema central do seu trabalho.
Bernardo (2001), baseando-se na bastante utilizada metodologia de
estudo de eventos, avaliou empiricamente o efeito dos anúncios trimestrais do
resultado sobre os valores das ações no mercado brasileiro de capitais, concluindo
que os resultados estatísticos obtidos foram consistentes com a literatura existente
sobre conteúdo informacional das divulgações contábeis trimestrais.
Lopes (2001) reforçou essa linha de evidências, ao analisar o papel da
informação contábil como variável explicativa do comportamento dos títulos na
BOVESPA utilizando como estrutura teórica o modelo de Ohlson. Concluiu que a
informação contábil é mais significativa do que os dividendos para a explicação dos
preços correntes.
Lopes (2002) também investigou o papel das informações contábeis para
explicar o comportamento dos preços dos títulos negociados na Bovespa. Os
resultados encontrados sugerem um modelo contábil que efetivamente fornece
informações para o mercado de capitais que aparentemente está focado nos
resultados de curto prazo.
Sarlo Neto, Lopes e Loss (2002) tentaram determinar um aspecto
específico entre lucros contábeis e as variações dos preços das ações no mercado
brasileiro, onde avaliaram se há evidências da influência da regulamentação nessa
associação. Nos resultados, não foram encontradas evidências consistentes que
permitam responder à questão da pesquisa.
Usando dos mesmos conceitos de Ball e Brown (1968), Sarlo Neto, Lopes
e Loss (2003) em sua pesquisa investigaram se as informações contidas nas
demonstrações contábeis divulgadas ao mercado são refletidas nos preços das
ações. Evidenciaram indicativas de que as duas variáveis tendem a correlacionar-se,
o que demonstra a utilidade das informações contábeis para os investidores.
Seguindo o mesmo princípio, Sarlo Neto, Loss e Nossa (2004)
investigaram como os retornos das ações de diferentes tipos, ordinárias ou
53
preferenciais, reagem à divulgação dos resultados contábeis, obtendo em seus
resultados indicação de que as variações dos preços das ações preferenciais
seguem a mesma direção dos resultados divulgados, enquanto para as ações
ordinárias somente as ações com retornos negativos seguiram a mesma direção dos
resultados obtidos.
Lima e Terra (2004) analisaram se o conteúdo informacional das
demonstrações financeiras é capaz de surpreender o mercado, impactando no
processo de precificação das ações. Os resultados da pesquisa evidenciaram que a
divulgação das demonstrações financeiras, das empresas com ações negociadas na
Bovespa, não influenciou o preço das suas ações, ou seja, não foram constatados
retornos anormais estatisticamente significativos na data da publicação dos
demonstrativos. Embora estes resultados corroborem a hipótese de mercado
eficiente na forma semi-forte, percebeu-se indícios de possíveis imperfeições do
mercado na medida em que se observam retornos anormais significativos nos dias
próximos à data da divulgação.
Estudos foram feitos com objeto de investigar a reação do mercado em
relação aos anúncios publicamente disponíveis, averiguando se o impacto
informativo dos lucros divulgados tende a ser reduzido em função da divulgação
pública de informações.
Alguns autores chamam de Efeito Preço-Lucro o fato de que ações de
empresas com índices preço/lucro (P/L) baixos apresentam retornos ajustados ao
risco acima dos retornos esperados, calculados pelos diversos modelos de
equilíbrio. Isto sugere que o investimento em ações de empresas com baixos índices
P/L pode proporcionar ganhos anormais.
Basu (1972) utilizou do cálculo do CAPM para demonstrar que ações de
baixos índices P/L obtêm retornos adicionais positivos em relação ao mercado e que
ações de alto índice P/L desempenham-se pior do que o mercado. Goodman e
Peavy (1983) utilizaram de índices P/L relativos do setor e concluíram que ações
com baixos índices P/L em relação ao setor em que operam obtêm retornos
adicionais.
54
Rudge e Cavalcante (1996) demonstram que a fundamental limitação de
uso do P/L está no pressuposto da estabilidade e perpetuidade do lucro/ação
estimado. Também se critica o P/L porque ele somente seria um indicador
verdadeiro se todo o lucro fosse distribuído igualmente aos acionistas na forma de
dividendo. Nesse sentido, é interessante observar que empresas em fase de
crescimento mantêm projetos de expansão que requerem alto índice de retenção de
lucros. Por outro lado, empresas maduras, com projeto de expansão moderados,
podem distribuir parcelas significativas de seus lucros.
O comportamento do índice P/L apresenta intensa relação com o
desempenho do mercado, espelhando as diferentes euforias dos investidores com
determinadas ações (ASSAF NETO, 2004). Dessa forma, na decorrência de maior
atratividade por certas ações, o P/L desses papéis elevar-se-á, refletindo maior
confiança do mercado. Por outro lado, se houver uma avaliação de um risco
crescente no comportamento da ação, o índice P/L diminui, como forma de
compensar a maior incerteza do investidor
Hendriksen e Van Breda discursam:
Seus resultados, dizendo essencialmente que os preços de títulos variam na mesma direção dos lucros contábeis, [...] Isso pode estar ocorrendo porque os títulos estão reagindo aos mesmos eventos que os lucros. Alternativamente, pode estar ocorrendo que os lucros transmitem informação ao mercado de títulos. No mínimo, o mercado se comporta como se os lucros contivessem informação. Parte do motivo para a falta de correlação perfeita está no fato de que os preços captam o impacto de um conjunto de informações muito mais amplo do que o representado apenas por lucros contábeis. Por exemplo, os preços reagem a coisas tão exóticas como boatos de guerra e tão corriqueiras quanto variações da taxa de juros de Letras do Tesouro. (HENDRIKSEN e VAN BREDA, 1999, p. 206)
Tais indícios encontrados possibilitam construir uma base para
construções de hipóteses de pesquisa sobre as influências dos mais diversos tipos
de elementos quanto à relação entre lucros e preços. Dentre tais diversos
elementos, podemos considerar aqueles presentes no ambiente econômico, como o
nível das taxas de juros e o nível de liquidez do mercado, ou aqueles presentes no
ambiente governamental ou societário da contabilidade, como a regulamentação ou
a classificação das ações negociadas.
55
Holthausen e Verrechia (1998) demonstram analiticamente que a força de
variação dos preços das ações na época do anúncio de lucros é negativamente
correlacionada com a quantidade de informação incorporada aos preços na ocasião
das informações prévias aos anúncios de lucros. No estudo de Schroeder (1995), o
autor adapta o modelo de Holthausen e Verrechia, visando o retorno anormal
acumulado. O resultado dessa adaptação indica que o retorno anormal acumulado
reflete as informações divulgadas, previamente ao anúncio do lucro, diminuindo
assim o caráter informativo da informação pré-divulgada.
Pesquisas empíricas demonstram evidências sólidas de que as reações
do mercado aos anúncios de lucros estão negativamente correlacionadas com o
grau da informação pré-divulgada sobre a companhia, fundamentado em resultados
obtidos por meio de várias proxies de informação pré-divulgada. Atíase (1985)
realizou uma pesquisa empírica, focando em proxies como o tamanho da empresa.
Grant (1980) e Atíase (1987) utilizaram como proxy as empresas listadas em bolsa.
Estes estudos concluem que, sistematicamente, existe mais informação disponível
sobre empresas maiores e empresas que negociam suas ações em grandes bolsas
de valores do que sobre empresas menores ou empresas que negociam em bolsas
de valores pequenas. Estes estudos iniciais focaram mais nas características das
empresas do que na mensuração informação divulgada sobre as empresas.
Dempsey (1989), Lobo e Mahmoud (1989) e Shores (1990)
desenvolveram uma proxy para a informação pré-divulgada com o fim de capturar
indiretamente o grau de organização de informações sobre uma empresa antes do
anúncio de lucros. Colocam o acompanhamento de analistas como uma proxy para
a informação pré-divulgada e alegam que quanto mais os analistas analisam uma
empresa, mais informações são divulgadas aos investidores antes do anúncio de
lucros.
El-Gazzar (1998) ratifica que os investidores institucionais devotam-se a
atividades de procura de informações e documenta o efeito de uma associação
negativa entre carteiras institucionais e a intensidade dos retornos anormais por
ocasião dos anúncios de lucros. Skinner (1990) e Ho (1993) explicam que a
existência de negociação pública de opções de ações incentiva a busca de
56
informação adicional pelos investidores. Tais estudos mostram evidências de que as
reações de mercado aos anúncios de lucro são menores em magnitude para
empresas com opções de ações listadas em bolsas de valores.
Grant (1980) e Shores (1990) também procuraram mensurar a quantidade
de informação publicamente disponível sobre uma empresa antes dos anúncios de
lucros contando o número de notas de imprensa divulgadas sobre a empresa. Kross
e Schroeder (1989) também tentaram medir a quantidade de informação
publicamente disponível contando os centímetros de colunas ocupados por uma
empresa no índice do jornal de Wall Street. Concluíram que as reações do mercado
aos anúncios de lucros são inversamente relacionadas com o volume de cobertura
de publicação na mídia antes do anúncio de lucros.
Recentemente, Cheon, Christensen e Bamber (2001), mediram a
quantidade de informação incorporada nos preços antes do anúncio de lucros
acumulando os retornos anormais durante o trimestre. Encontraram evidências de
que esta proxy mensuram a informação pré-divulgada residual imputada no preço
que não é capturada por outras proxies. Encontram evidências de que a intensidade
dos retornos anormais próximo dos anúncios dos lucros está inversamente
relacionada com suas proxies de informação pré-divulgada.
Easton e Zmijewski (1989) fizeram regressões dos retornos anormais
sobre os lucros não esperados para examinar o conteúdo de informação da
divulgação de lucros. O retorno anormal acumulado mede a variação unitária dos
preços por cada dólar de lucros não esperados. Além disso, os termos de interação
entre lucros não esperados e outros fatores foram normalmente incluídos nestes
testes de forma a examinar a influência daqueles fatores no caráter informativo do
lucro.
Kross e Schroeder (1989) e Kasznik e Lev (1995) têm inter-relacionado
proxies de informação pré-divulgada com o lucro não esperado a fim de medir os
efeitos da informação pré-divulgada no conteúdo da informação de anúncio de
lucros. Concluíram que estas proxies realmente não medem a quantidade de
informação pré-divulgada incorporada no preço. Elas captam a informação divulgada
57
ou alguma medida de visibilidade da empresa e então, inferem que, na medida em
que a informação pré-divulgada já está incorporada no preço, a reação do mercado
a um anúncio subseqüente de lucros será menor em magnitude.
Christensen, Smith e Stuerke (2004), realizaram um estudo a fim de
analisar a dimensão pela qual a pré-divulgação pública de informação, refletida no
preço das ações durante o trimestre, afeta o caráter informativo dos subseqüentes
anúncios de lucros trimestrais. Comprovaram evidências empíricas implicando que
os retornos anormais dos lucros são inversamente relacionados com o volume de
informação refletida nos preços durante o trimestre, nas datas dos anúncios
públicos. Os resultados corroboram que esta afirmação é atribuível a três tipos de
notícias: (1) estimativas gerenciais de lucros, (2) notícias relacionadas com ações ou
dividendos e (3) notícias operacionais.
Em oposição à evidência empírica de associação negativa entre as
reações do mercado aos anúncios de lucros e tamanho das empresas e
acompanhamento de analistas, os resultados encontrados no estudo de
Christensen, Smith e Stuerke (2004) implicam que, logo após de examinar a
informação pré-divulgada embutida aos preços durante o trimestre e a concentração
setorial, os anúncios de lucros das empresas maiores e com maiores análises de
profissionais do mercado, são mais informativos.
58
5. O ESTUDO DE CASO
O presente estudo busca testar a existência de causalidade, em termos
de Granger, dos retornos de mercado, dados pelos preços das ações, e os retornos
contábeis do setor bancário, através do teste econométrico de causalidade de
Granger. O estudo também tenta evidenciar a eficiência de mercado verificando se
existem expectativas e reações significantes do mercado para retornos contábeis
pré e pós-divulgações dos balanços.
5.1 O Problema
Nas finanças, vários estudos testaram a reação do mercado às
informações contábeis, como é mencionado no referencial teórico deste trabalho.
Eles mostram que ainda é difícil verificar empiricamente a precisão do grau de
eficiência do mercado. Ainda mais, essa definição tem de levar em conta o tipo de
mercado analisado assim como o grupo de investidores. No caso deste estudo,
procurou-se estreitar o mercado para apenas o setor bancário, a fim de observar
suas particularidades e compará-las com a teoria.
É relevante se perguntar qual é o sentido da reação do mercado quanto a
essas informações contábeis, que podem ser de quatro formas:
a) prices lead earnings, como apresentaram Ball e Brown (1968), que
significa que os preços são indicadores antecedentes dos lucros, ou
seja, que as informações refletidas nos preços das ações são mais
ricas que aquelas nas séries passadas de lucros contábeis;
b) earnings lead prices, através de Watts (1978), que verificou que as
informações de lucros passados possibilitaram estratégias de
negociação que levaram a retornos anormais nos preços das ações, e
sugerindo que os lucros causavam os preços de mercado;
c) de que são independentes, que não possuem nenhuma relação entre
59
si, e que outras variáveis explicam o comportamento do mercado;
d) de forma controversa às três alternativas anteriores, de que existe uma
causalidade bidirecional, que ambas se influenciam em um equilíbrio
de mercado.
5.2 Objetivos
5.2.1 Objetivo Geral
Esta dissertação tem como objetivo, através do teste de causalidade de
Granger, examinar por um estudo de caso a relação entre os retornos contábeis e
retornos de mercado, ou seja, os preços das ações, dos quatro maiores bancos
negociados na Bolsa de Valores de São Paulo.
5.2.2 Objetivos Específicos
a) Verificar a existência de causalidade, em sentido de Granger, entre
retornos de mercado e retornos contábeis dos bancos selecionados, a
fim de constatar se: (1) os retornos de mercado, em sentido de
Granger, causam os retornos contábeis; (2) os retornos contábeis
causam, em sentido de Granger, os retornos de mercado; (3) existe
uma causalidade bidirecional, onde os retornos causam um a outro; (4)
existe a independência entre as séries de retorno, onde as variáveis
não explicam o comportamento da outra.
b) Examinar o comportamento dos preços das ações dos bancos antes e
depois das divulgações financeiras, com o objetivo de verificar se
essas informações impactam no comportamento do preço das ações,
portanto, se existe expectativas e reações do mercado quanto às
divulgações dos resultados.
60
5.3 Aspectos Metodológicos
5.3.1 Conceitos Básicos de Econometria
Wooldridge (2006) conceitua econometria como uma ferramenta que visa
desenvolver métodos estatísticos para estimar relações econômicas, testar teorias,
avaliar e implementar políticas e governo e de negócios. Literalmente significa
medida econômica, um complexo que envolve economia, matemática e estatística.
A teoria econômica preocupa-se basicamente com a relação entre suas
variáveis, como oferta e demanda, função do custo, de produção, taxa de juros e
investimentos. Mas não nos dá medidas numéricas da relação entre elas. A
econometria nos fornece medidas econômicas através de uma abordagem teórica
que combina formulações matemáticas, procedimentos estatísticos complexos e
mensuração empírica dos fenômenos econômicos por meio da análise de uma base
de dados.
A preocupação da econometria está em testar as proposições teóricas
nestas relações e estimar parâmetros envolvidos. Procura isolar efeitos de relações
de causalidades, deste modo, fornecendo fundamento para análises de variáveis
econômicas, suas causas e efeitos.
A técnica básica para se poder estudar econometria é a análise de
regressão, utilizada pelos economistas para fins de análise estrutural, análise de
política econômica e previsões. Basicamente, essa técnica ocupa-se no estudo da
dependência de uma variável em relação a uma ou mais variáveis explicativas com
o objetivo de conhecer os pormenores do fenômeno estudado.
Pindyck e Rubinfeld (2004) utilizam três classes gerais de modelos que
podem ser construídos com a finalidade de previsão ou análise de políticas públicas,
são eles:
a) Modelos de série temporal, onde não sabemos sobre a causalidade
que afeta a variável que estamos tentando prever. Em lugar disso,
61
estudamos o comportamento passado de uma série temporal com o
objetivo de inferir algo sobre o seu comportamento futuro. O método
utilizado para prever tal comportamento pode envolver o uso de um
modelo determinístico simples, como uma extrapolação linear ou o uso
de modelo estocástico complexo para previsão adaptativa.
b) Modelos de regressão de uma única equação, que a variável que
queremos estudar é explicada através de uma função (linear ou não)
de uma certa quantidade de variáveis explanatórias. Na em sua
maioria, a equação depende do tempo, explicitamente dado no modelo,
de tal modo que se pode prever a resposta da variável em estudo ao
longo do tempo quando há mudanças em uma ou mais variáveis
explanatórias.
c) Modelos de equações múltiplas, onde a variável a ser estudada pode
ser função de várias variáveis explanatórias, que estão relacionadas
entre si e igualmente relacionadas com a variável em estudo por meio
de um conjunto de equações.
No entanto, mensurando apenas pela a análise de regressão não implica
em causalidade. Sobre isso, Kendall e Stuart (1961) argumentam que a previsão de
uma relação estatística entre duas ou mais variáveis, por mais intensa que seja,
nunca pode estabelecer uma relação causal entre elas; nossas convicções a
respeito de qualquer relação de causalidade devem se originar de fora da estatística,
com base, fundamentalmente, em alguma teoria já estabelecida ou até mesmo no
senso comum. Sendo assim, quando testamos modelos econômicos empiricamente
estamos nos norteando numa relação causal que já deve estar implícita no modelo
postulado.
Podemos encontrar uma situação onde duas variáveis quaisquer X e Y
podem ter um efeito mútuo entre si, dependendo da estrutura de defasagens
distribuídas entre elas. O econometrista, dadas as informações, tem a tarefa de
responder às seguintes questões: (1) se é possível dizer que X causa Y (X → Y); (2)
se Y causa X (Y → X); ou (3) se existe simultaneidade entre as duas (X → Y e Y →
62
X). Resumindo, o grande interesse está em descobrir se podemos identificar uma
relação estatística de causa e efeito entre X e Y quando existe uma relação de
precedência temporal entre as duas variáveis.
Assim sendo, é importante mencionar que o termo causalidade, no
sentido estatístico, não é sinônimo de endogeneidade. Por esse motivo, Leamer
(1983) sugere o uso do termo precedência ao termo causalidade. Todavia, o termo
encontra-se disseminado e bem estabelecido na literatura econométrica.
5.3.2 Testes Econométricos
Esta seção apresenta as bases econométricas aplicadas na presente
dissertação para a identificação da existência ou não da causalidade entre o retorno
de mercado e o retorno contábil no setor bancário. Os testes utilizados são de
estacionariedade, através do método ADF – Augmented Dickey-Fuller, e o teste de
causalidade de Granger.
5.3.2.1 Teste de Estacionariedade
A estacionariedade é uma condição essencial para a análise de dados
quando estão em séries de tempo. Séries não-estacionárias não possibilitam um
tratamento econométrico viável em séries de tempo. Complementando, as
premissas do modelo de regressão clássico resultam na necessidade de que tanto a
variável dependente quanto as variáveis independentes sejam estacionárias e que
os resíduos tenham média zero e variância constante.
Gujarati (2004, p.730) afirma que:
Regressões envolvendo dados de série temporal incluem a possibilidade de se obter resultados espúrios ou duvidosos, ou seja, superficialmente, os resultados parecem bons, mas, depois de investigações adicionais, eles parecem suspeitos.
Deste modo, regressões entre variáveis não-estacionárias podem resultar
no problema de regressão espúria relatado por Granger e Newbold (1974). A
63
estacionariedade de uma série refere-se ao comportamento de sua distribuição
conjunta de probabilidade no decorrer do tempo. O conceito de estacionariedade
fraca é quase sempre utilizado na análise de séries de tempo.
Uma série que se diz econometricamente fraca tem média e variância
constantes no tempo e autocorrelação que não variam em relação ao tempo. A
relevância da estacionariedade está no fato de que séries com tendência são, em
maioria, não estacionárias, como grande parte das séries econômicas e financeiras.
Torna-se importante identificar se a tendência da série é determinística ou
estocástica. Dawid (2004, p.2) argumenta:
Quando um componente de uma série temporal é um passeio aleatório, costuma-se dizer que a série possui uma raiz unitária, ou que é integrada de ordem 1, I(1). A relevância de se saber se uma série possui raiz unitária está no fato de que, em caso afirmativo, os choques externos causam efeito permanente na série. Ao passo que, em uma série estacionária, há um retorno à média após certo tempo.
O método mais divulgado de tendência estocástica é o random walk,
representado pela seguinte fórmula:
1t t tY Y u−= +
(2)
onde Yt, caso do random walk, é o log do preço da ação no período t, e ut é a parte
estocástica da tendência, que é média igual a zero quando se calculam os
regressores através dos mínimos quadrados ordinários. O random walk pode se
apresentar com tendência constante, ou seja, em que existe um crescimento
constante da série, representada da seguinte forma:
0 1t t tY Y uβ −= + +
(3)
onde 0β é um componente de tendência fixo. O caso mostra que a melhor previsão
da série é o valor anterior mais uma tendência fixa. Conclui-se que uma série
random walk é não-estacionária devido sua variância aumentar com o tempo.
64
O modelo AR de Box e Jenkins, acima descrito, caracteriza-se pelo
regressor Yt-1 ter raiz unitária e o cálculo seguir uma tendência estocástica. Se o
regressor tiver raiz unitária e o componente também for estacionário, não dependerá
de t, dessa maneira, podemos afirmar que a curva histórica de dados é estacionária.
É fundamental lembrar que, quando uma série possui raiz unitária, pode-se afirmar
que ela não é estacionária.
Nesse estudo, será utilizado o teste ADF – Augmented Dickey-Fuller –, e
será utilizada em sua forma descrita a seguir, considerando a hipótese nula:
0: 0H δ =
1: 0H δ ≠
na equação:
1t t tY Y uα β δ −∆ = + Τ+ +
(4)
A estatística δ representa a estatística de Dickey- Fuller. Essa equação,
como utilizada no software Eviews, representa a adição de uma constante (α) e
tendência (βT). Se o resultado a seguir for diferente de 0, significa que a equação
possui raiz unitária. No software Eviews, é dado diretamente esse resultado através
de um teste utilizando a distribuição t.
5.3.2.2 O Teste de Causalidade de Granger
O econometrista Clive Granger assume que o futuro não pode causar o
passado nem o presente. Por exemplo, se o evento A ocorre depois do evento B,
inferimos que A não pode causar B. Concomitantemente, se A ocorre antes que B,
isso não significa que A, necessariamente, cause B. O exemplo clássico são as
previsões de chuva do meteorologista. O fato de a previsão ocorrer primeiro do que
a chuva não significa que o meteorologista causou a chuva. Na verdade, o que
temos são duas séries temporais A e B e estaríamos interessados em saber se A
precede B, ou B precede A, ou se A e B ocorrem simultaneamente. Esse é o
65
fundamento do teste de causalidade de Granger, que não se propõe a identificar
uma relação de causalidade no seu sentido de endogeneidade.
Considere as séries de tempo Xt e Yt. O teste de causalidade de Granger
adota que a informação relevante para a predição das respectivas variáveis X e Y
está inserida somente nas séries de tempo sobre essas duas variáveis. Dessa
maneira, uma série de tempo estacionária X causa, no sentido de Granger, uma
outra série estacionária Y se melhores predições estatisticamente significantes de Y
podem ser obtidas ao incluirmos valores defasados de X aos valores defasados de
Y. Em termos matemáticos, o teste abrange estimar as seguintes regressões:
1
2
t i t i i t i t
t i t i i t i t
X a Y b X u
Y c Y d X u
− −
− −
= + +
= + +
∑ ∑
∑ ∑
onde uit são os resíduos que assumimos serem não-correlacionados.
A equação (5) indica que valores correntes de X estão relacionados a
valores passados do próprio X bem como a valores defasados de Y; a equação (6),
toma um comportamento semelhante para a variável Y. As variáveis X e Y podem
ser representadas na forma de taxas de crescimento, o que tem sido quase que a
regra geral na literatura, haja vista que é difícil achar variáveis que sejam
estacionárias em seus níveis.
Podemos evidenciar quatro casos diferentes depois da estimação:
a) Causalidade unilateral de Y para X: é dado quando os coeficientes
estimados em (5) para a variável defasada Y são conjuntamente
diferentes de zero (∑ai≠0), e quando o conjunto de coeficientes
estimados em (6) para a variável X não forem estatisticamente
diferentes de zero (∑di=0).
(5)
(6)
66
b) Causalidade unilateral de X para Y: ocorre quando o conjunto de
coeficientes defasados para a variável Y na equação (5) não for
estatisticamente diferente de zero (∑ai=0) e o conjunto de coeficientes
defasados para a variável X em (6) o for (∑di≠0).
c) Bicausalidade ou simultaneidade: dá-se quando os conjuntos de
coeficientes defasados de X e Y forem estatisticamente diferentes de
zero em ambas as regressões.
d) Independência: ocorre quando, em ambas as regressões, os conjuntos
de coeficientes defasados de X e Y não forem estatisticamente
diferentes de zero.
Em termos mais abrangentes, considerando que o futuro não pode
predizer o passado, se a variável X Granger causa a variável Y, então mudanças em
X devem preceder temporalmente mudanças em Y.
5.3.3 Seleção da Amostra
Através do banco de dados do software Economática, foram selecionados
e analisados os bancos negociados na Bolsa de Valores de São Paulo. Os critérios
para a seleção da amostra são os seguintes:
a) Considerou-se os quatro maiores bancos quanto ao lucro e patrimônio
líquido;
b) são negociados na Bolsa de Valores de São Paulo, BOVESPA;
c) representam os ativos de maior liquidez do setor bancário do mercado;
d) apresentam demonstrativos financeiros desde o terceiro trimestre do
ano de 1997.
Satisfazendo todos os critérios, a amostra ficou constituída dos seguintes
67
bancos: Banco Bradesco, Banco Itaú, Banco do Brasil e Unibanco.
5.3.4 Dados e Período Estudado
O estudo compreendeu os balanços divulgados e os preços de mercado
trimestrais desde o terceiro trimestre de 1997 (03T07) até o segundo trimestre de
2008 (02T08), obtidos pelo software Economática. Foram coletados os dados de
patrimônio líquido, lucro líquido e as cotações das classes de ações dos bancos
selecionados que possuem maior liquidez no mercado. Os dados financeiros são
consolidados e as cotações ajustadas por todos os proventos.
O principal motivo de se começar pelo terceiro trimestre de 1997 (03T07),
além da já estabilidade da moeda nacional, foi a inclusão do Unibanco à amostra,
haja vista que suas ações começaram a ser negociadas apenas nesse período,
impossibilitando assim, o cálculo de retorno do mercado anterior a esta data.
Preferiu-se, então, adicionar mais um banco à amostra a fim de dar maior sustância
ao estudo.
5.3.5 Cálculos de Retorno do Mercado (RET) e Retorno sobre o Patrimônio
Líquido (ROE)
O cálculo de retorno do mercado (RET), ou seja, do retorno das ações no
trimestre t, é dado:
( 1)
( 1)
( )it i t
it
i t
P PRET
P
−
−
−=
(7)
Sendo itP o preço de fechamento da ação do banco i no trimestre t. Já os
retornos pré-divulgação de balanços, no estudo, considerados como retornos de
expectativas do mercado, são calculados como itP = ( 1)i d
P − , sendo o preço da ação
no dia anterior a data de divulgação (d) para o cálculo dos retornos de ( 20)i dP − ,
68
( 10)i dP − , ( 7)i dP − . Para o cálculo do retorno em d-1, considerou-se ( 1)i t
P − = ( 2)i dP − , dia
anterior ao último dia antes da divulgação. Para os retornos pós divulgação do
balanço: itP = ( 1)i dP + ; ( 7)i dP + ; ( 10)i dP + ou ( 20)i dP + com ( 1)i t
P − = idP , que é o preço no dia
da divulgação do balanço.
Já o cálculo de retorno sobre o patrimônio líquido (ROE), no trimestre t é
assim expressado:
( 1)( ) 2/
itit
it i t
LLROE
PL PL −
=+
(8)
onde itLL é o lucro líquido do banco i no trimestre t e it
PL é o patrimônio líquido do
banco i no trimestre t.
5.3.6 Modelos Econométricos
5.3.6.1 Teste de Estacionariedade das Séries do Estudo
Antes de testar a existência de uma causalidade de Granger é preciso
verificar se as séries trimestrais são estacionárias, através do teste ADF –
Augmented Dickey-Fuller. O programa utilizado para testar os modelos foi o Eviews
6.0. Para os testes foram considerados testes de raiz unitárias em nível,
considerando interceptos individuais e tendência, com uma defasagem de lag em 1.
Uma boa previsão para saber se uma série é estacionária é verificar no
seu gráfico o comportamento da série ao passar do tempo (figura 1). Se gráfico
mostrar um crescimento constante significa que não é estacionária, evidenciando
presença de raiz unitária. Os gráficos indicam que as séries de retorno dos bancos
são estacionárias, pois apresenta um comportamento estacionário entre os eixos do
gráfico.
69
-.4
-.2
.0
.2
.4
.6
98 99 00 01 02 03 04 05 06 07
RETBB
-.4
-.2
.0
.2
.4
.6
.8
98 99 00 01 02 03 04 05 06 07
RETBRAD
-.4
-.2
.0
.2
.4
.6
98 99 00 01 02 03 04 05 06 07
RETIT
-.6
-.4
-.2
.0
.2
.4
.6
.8
98 99 00 01 02 03 04 05 06 07
RETUNI
.00
.05
.10
.15
.20
.25
.30
98 99 00 01 02 03 04 05 06 07
ROEBB
.00
.05
.10
.15
.20
.25
.30
98 99 00 01 02 03 04 05 06 07
ROEBRAD
.04
.08
.12
.16
.20
.24
.28
.32
.36
98 99 00 01 02 03 04 05 06 07
ROEIT
.00
.05
.10
.15
.20
.25
.30
98 99 00 01 02 03 04 05 06 07
ROEUNI
Figura 2 – Gráficos das Séries de Retorno dos Bancos Fonte:
A tabela 1 descreve o resultado do teste. Dado o pequeno tamanho das
amostras, em que há o viés pela aceitação da existência de raiz unitária, considerou-
se os resultados do teste para significância de 5% que todas as séries são
estacionárias.
Tabela 1 – Teste de Estacionariedade das Séries de Retorno dos Bancos Series Prob. Series Prob. Series Prob. Series Prob. Series Prob.
BBid
P 0.0019 BRADid
P 0.0001 ITAUid
P
0.0000 UNIid
P
0.0049 RETBB
0.0000
BB( 1)i d
P −*
0.1102 BRAD
( 1)i dP −
0.0016 ITAU( 1)i d
P −
0.0001 UNI
( 1)i dP −
0.0006 RETBRAD
0.0001
BB( 10)i d
P −
0.0019 BRAD
( 10)i dP −
0.0010 ITAU( 10)i d
P −
0.0002 UNI
( 10)i dP −
0.0007 RETIT
0.0002
BB( 20)i d
P −
0.0001 BRAD
( 20)i dP −
0.0005 ITAU( 20)i d
P −
0.0009 UNI
( 20)i dP −
0.0047 RETUNI
0.0000
BB( 7)i d
P −
0.0001 BRAD
( 7)i dP −
0.0006 ITAU( 7)i d
P −
0.0001 UNI
( 7)i dP −
0.0001 ROEBB
0.0000
BB( 1)i d
P +
0.0018 BRAD
( 1)i dP +
0.0075 ITAU( 1)i d
P +
0.0041 UNI
( 1)i dP +
0.0009 ROEBRAD
0.0000 BB
( 10 )i dP +
0.0226 BRAD( 10)i d
P + 0.0001 ITAU
( 10)i dP +
0.0001 UNI( 10)i d
P + 0.0005 ROEIT 0.0000
70
Series Prob. Series Prob. Series Prob. Series Prob. Series Prob.
BB( 20)i d
P +
0.0007 BRAD
( 20)i dP +
0.0008 ITAU( 20)i d
P +
0.0032 UNI
( 20)i dP +
0.0147 ROEUNI
0.0000
BB( 7)i d
P +
0.0010 BRAD ( 7)i d
P + 0.0008 ITAU ( 7)i dP +
0.0002 UNI ( 7)i d
P +
0.0000 Fonte: Dados da pesquisa
O teste revelou que apenas a série BB ( 1)i dP − , que é o retorno das ações
no dia anterior às divulgações financeiras do Banco do Brasil, aceitou a hipótese de
raiz unitária em significância 1%. Para 10%, tornou-se estacionária. Todas as outras
séries rejeitaram a hipótese nula de não-estacionariedade da série, ou seja,
presença de raiz unitária em significância de 5%.
5.3.6.2 Teste de Causalidade de Granger do Estudo
Através do teste de causalidade de Granger, adota-se que a informação
relevante prediz das variáveis ROE e RET está contida apenas nas séries de tempo
das duas variáveis. Dessa maneira, uma série de tempo estacionária ROE causa, no
sentido de Granger, outra série estacionária RET, se melhores predições
estatísticamente significantes de RET podem ser obtidas com a inclusão de valores
defasados de ROE na equação.
As seguintes regressões são usadas para aplicação do teste:
( ) ( )
1 1
m m
it n t i n t j nt
i j
ni bjaROE RET ROE ε− −= =
= + +∑ ∑ (9)
( ) ( )
1 1
m m
it n t i n t j nt
i j
ni djcRET ROE RET ψ− −= =
= + +∑ ∑ (10)
Considerando que nas dadas regressões os resíduos não sejam
correlacionados. As defasagens ficaram em 4 lags devido ao teste ser aplicado em
dados trimestrais, considerando, assim, a melhor verificação do teste.
71
5.4 Resultados e Discussão
5.4.1 Teste de Causalidade de Granger dos Retornos de Mercado (RET) e
Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) dos Bancos
Os resultados dos testes de causalidade de Granger estão agrupados na
tabela 2, descrevendo a hipótese nula (H0), se o retorno de mercado (RET) causa o
retorno contábil (ROE), se o retorno contábil (ROE) causa o retorno de mercado
(RET), (ou se existe bicausalidade) e sua probabilidade de aceitação (Prob).
Considerou-se uma significância de 5%.
Tabela 2 – Teste de Causalidade de Granger em ROE e RET dos Bancos Hipótese nula Prob. RET Bradesco não causa em sentido de Granger ROE Bradesco 0.0031 ROE Bradesco não causa em sentido de Granger RET Bradesco 0.0097 RET Unibanco não causa em sentido de Granger ROE Unibanco 0.8364 ROE Unibanco não causa em sentido de Granger RET Unibanco 0.2250 ROE Itaú não causa em sentido de Granger RET Itaú 0.0471 RET Itaú não causa em sentido de Granger ROE Itaú 0.7702 ROE Banco do Brasil não causa em sentido de Granger RET Banco do Brasil 0.3103 RET Banco do Brasil não causa em sentido de Granger ROE Banco do Brasil 0.1292
Fonte: Dados da pesquisa
Os resultados mostraram que existe uma causalidade bidirecional dos
retornos de mercado (RET) e contábil (ROE) banco Bradesco, ou seja, existe um
mecanismo de feedback , onde cada variável é influenciada pela outra. Os
resultados para o Unibanco mostraram uma independência das variáveis entre si,
mas indicando maior força de que o retorno contábil pode causar o retorno de
mercado. O Banco Itaú apresentou que o retorno contábil causa, em sentido de
Granger, o retorno de mercado. Já o Banco do Brasil apresentou resultado diferente,
foi o único banco que apresentou maior força de que os retornos de mercado
causam, em sentido de Granger, os retornos contábeis.
Tabela 3 – Teste de Granger em RET e ROE do Bradesco com 6 lags Hipótese nula Prob. RET Bradesco não causa em sentido de Granger ROE Bradesco 0.0251 ROE Bradesco não causa em sentido de Granger RET Bradesco 0.0088
Fonte: Dados da Pesquisa
72
Tabela 4 – Teste de Granger em RET e ROE do Bradesco com 8 lags Hipótese nula Prob. RET Bradesco não causa em sentido de Granger ROE Bradesco 0.1169 ROE Bradesco não causa em sentido de Granger RET Bradesco 0.0390
Fonte: Dados da pesquisa
Como o teste para o banco Bradesco apresentou bicausalidade,
dificultaria inferir, neste estudo de caso, que os retornos contábeis causam o de
mercado. Para testar a intensidade de ROE causar RET, aumentou-se a defasagem
no teste de Granger para 6 lags , e depois para 8 lags (TABELAS 3 e 4).
Considerando a sensibilidade do teste a sua defasagem, verificou-se que ROE
causa, com significância a 10%, RET. Não evidenciando o contrário.
5.4.2 Teste de Causalidade de Granger para Retornos Anteriores e Posteriores
às Divulgações dos Balanços
Os resultados dos testes estão descritos na tabela 5. Não foi possível
constatar nenhuma causalidade entre retornos anteriores às divulgações, que são
considerados neste trabalho como expectativas do mercado para os retornos
contábeis, e posteriores às divulgações de balanços, vistos como reações do
mercado depois das divulgações financeiras.
Tabela 5 – Teste de Causalidade de Granger para Retornos Pré e Pós-Divulgações dos Balanços Banco do Brasil - Hipótese nula Prob. Bradesco - Hipótese nula Prob. ROEBB não causa em sentido de Granger BB(+20) 0.5321
ROEBRAD não causa em sentido de Granger BRAD(+20) 0.4246
BB(+20) não causa em sentido de Granger ROEBB 0.9280
BRAD(+20) não causa em sentido de Granger ROEBRAD 0.7962
ROEBB não causa em sentido de Granger BB(+10) 0.6971
ROEBRAD não causa em sentido de Granger BRAD(+10) 0.4969
BB(+10) não causa em sentido de Granger ROEBB 0.9301
BRAD(+10) não causa em sentido de Granger ROEBRAD 0.5240
ROEBB não causa em sentido de Granger BB(+7) 0.5137
ROEBRAD não causa em sentido de Granger BRAD(+7) 0.2394
BB(+7) não causa em sentido de Granger ROEBB 0.9859
BRAD(+7) não causa em sentido de Granger ROEBRAD 0.8547
ROEBB não causa em sentido de Granger BB(+1) 0.9403
ROEBRAD não causa em sentido de Granger BRAD(+1) 0.9314
BB(+1) não causa em sentido de Granger ROEBB 0.8093
BRAD(+1) não causa em sentido de Granger ROEBRAD 0.8227
ROEBB não causa em sentido de Granger BB(d) 0.8814
ROEBRAD não causa em sentido de Granger BRAD(d) 0.7255
BB(d) não causa em sentido de Granger ROEBB 0.3722
BRAD(d) não causa em sentido de Granger ROEBRAD 0.8823
ROEBB não causa em sentido de 0.5178 ROEBRAD não causa em sentido de 0.4494
73
Banco do Brasil - Hipótese nula Prob. Bradesco - Hipótese nula Prob. Granger BB(-1) Granger BRAD(-1) BB(-1) não causa em sentido de Granger ROEBB 0.5893
BRAD(-1) não causa em sentido de Granger ROEBRAD 0.3063
ROEBB não causa em sentido de Granger BB(-7) 0.2005
ROEBRAD não causa em sentido de Granger BRAD(-7) 0.7497
BB(-7) não causa em sentido de Granger ROEBB 0.2553
BRAD(-7) não causa em sentido de Granger ROEBRAD 0.8424
ROEBB não causa em sentido de Granger BB(-10) 0.3828
ROEBRAD não causa em sentido de Granger BRAD(-10) 0.6738
BB(-10) não causa em sentido de Granger ROEBB 0.0797
BRAD(-10) não causa em sentido de Granger ROEBRAD 1.000
ROEBB não causa em sentido de Granger BB (-20) 0.6488
ROEBRAD não causa em sentido de Granger BRAD(-20) 0.1684
BB(-20) não causa em sentido de Granger ROEBB 0.1443
BRAD(-20) não causa em sentido de Granger ROEBRAD 0.3498
Itaú - Hipótese nula Prob. Unibanco - Hipótese nula Prob. ROEIT não causa em sentido de Granger ITAU(+20) 0.1180
ROEUNI não causa em sentido de Granger UNI(+20) 0.3217
ITAU(+20) não causa em sentido de Granger ROEIT 0.8146
UNI(+20) não causa em sentido de Granger ROEUNI 0.9702
ROEIT não causa em sentido de Granger ITAU(+10) 0.5802
ROEUNI não causa em sentido de Granger UNI(+10) 0.4902
ITAU(+10) não causa em sentido de Granger ROEIT 0.9243
UNI(+10) não causa em sentido de Granger ROEUNI 0.9907
ROEIT não causa em sentido de Granger ITAU(+7) 0.3450
ROEUNI não causa em sentido de Granger UNI(+7) 0.1688
ITAU(+7) não causa em sentido de Granger ROEIT 0.4132
UNI(+7) não causa em sentido de Granger ROEUNI 0.9460
ROEIT não causa em sentido de Granger ITAU(+1) 0.6220
ROEUNI não causa em sentido de Granger UNI(+1) 0.8547
ITAU(+1) não causa em sentido de Granger ROEIT 0.6129
UNI(+1) não causa em sentido de Granger ROEUNI 0.9087
ROEIT não causa em sentido de Granger ITAU(d) 0.4826
ROEUNI não causa em sentido de Granger UNI(d) 0.8404
ITAU(d) não causa em sentido de Granger ROEIT 0.2809
UNI(d) não causa em sentido de Granger ROEUNI 0.6634
ROEIT não causa em sentido de Granger ITAU(-1) 0.3676
ROEUNI não causa em sentido de Granger UNI(-1) 0.3636
ITAU(-1) não causa em sentido de Granger ROEIT 0.6946
UNI(-1) não causa em sentido de Granger ROEUNI 0.9805
ROEIT não causa em sentido de Granger ITAU(-7) 0.9823
ROEUNI não causa em sentido de Granger UNI(-7) 0.5701
ITAU(-7) não causa em sentido de Granger ROEIT 0.9738
UNI(-7) não causa em sentido de Granger ROEUNI 0.4844
ROEIT não causa em sentido de Granger ITAU(-10) 0.6557
ROEUNI não causa em sentido de Granger UNI(-10) 0.5010
ITAU(-10) não causa em sentido de Granger ROEIT 0.4226
UNI(-10) não causa em sentido de Granger ROEUNI 0.6605
ROEIT não causa em sentido de Granger ITAU(-20) 0.2999
ROEUNI não causa em sentido de Granger UNI(-20) 0.2329
ITAU(-20) não causa em sentido de Granger ROEIT 0.9609
UNI(-20) não causa em sentido de Granger ROEUNI 0.8841
Fonte: Dados da pesquisa
74
Nenhum teste teve significância suficiente para rejeitar a hipótese de não-
causalidade. Pode-se inferir, segundo o teste realizado, que essas informações para
esses bancos não afetam o mercado antes, como no modo de expectativas de
mercado, e depois, como reações do mercado aos retornos apresentados
75
6. CONCLUSÃO
Outros trabalhos sobre o tema, tanto no Brasil como no exterior,
constataram uma maior intensidade de bicausalidade entre os retornos contábeis e
os retornos de mercado. Ainda assim, constatando leve força de que os retornos
contábeis causam os retornos de mercado. O setor bancário, neste trabalho,
apresentou maiores evidências de que os retornos contábeis causam, em sentido de
Granger, os retornos de mercado. Pode-se considerar como viés de se estudar um
único setor, ou considerar as peculiaridades de cada setor.
As particularidades do setor bancário são muitas, o que pode tentar
explicar um pouco esse fenômeno. A enorme evolução dos dados financeiros como
o lucro líquido e o patrimônio liquido dos bancos durante o período estudado são
únicas do setor. Os retornos trimestrais sobre o patrimônio líquido cresceram em
média 13,45%, diferentemente dos outros setores da economia, ainda mais
apresentando um regime de tão pouca concorrência, considerando o fato de que os
quatro cresceram uniformemente e com alta correlação.
Em média, os retornos de mercado dos bancos cresceram 8% ao
trimestre, contra 5,35% do IBOVESPA, que mede os retornos do mercado em geral.
A correlação entre os retornos contábeis e o retorno do mercado em geral, o
IBOVESPA, é baixíssima. Enquanto os preços de mercado oscilaram junto com a
economia, andaram no mesmo ritmo, os retornos contábeis dos bancos
apresentavam crescimento estável.
Em um momento de turbulência do mercado de ações, por exemplo, a
crise cambial de 1998, os retornos contábeis dos bancos cresciam em média 9,47%
enquanto o mercado de ações via quedas de até 30%. As ações dos bancos
também caíram quase na mesma intensidade, mas não espelhando diretamente em
seus dados financeiros.
Quanto ao estudo de causalidade dos retornos das ações pré e pós-
divulgações financeiras, foi interessante perceber que, mesmo na data das
76
divulgações contábeis, não houve mudança significativa nos retornos do mercado.
Muito menos os retornos no dia após essas divulgações, que não apresentam
nenhuma reação correlacionada aos retornos apresentados nos balanços. Os
preços, parecem, à menor evidência, que se ajustam aos retornos contábeis apenas
no sétimo dia após a divulgação desses, oscilando ao décimo e se ajustando
novamente ao vigésimo.
As informações contábeis parecem não influenciar expressivamente o
comportamento dos preços das ações dos bancos no dia, dias antes e depois da
divulgação. Até em retornos acima do esperado não se expressou um retorno acima
do normal. Os preços parecem se ajustar ao longo prazo, no compasso dos retornos
contábeis, como mostra o teste de causalidade anterior. Outras informações
relevantes, como divulgação de pagamento de dividendos, aquisições, fusões, etc,
impactam com maior intensidade nesses curtos espaços de tempo, perdendo essa
reação de intensidade com o tempo, e os preços se ajustam ao mercado e às
informações relevantes a longo prazo.
77
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