UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE … · “Eu sou de uma terra que o povo padece Mas...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE MEDICINA
DEPARTAMENTO DE SAÚDE COMUNITÁRIA
PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA
DOUTORADO EM SAÚDE PÚBLICA
MARTA CRISTHIANY CUNHA PINHEIRO
ECOEPIDEMIOLOGIA DA ESQUISTOSSOMOSE MANSONI EM ÁREAS DA
TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO NO ESTADO DO CEARÁ
FORTALEZA-CE
2017
21
MARTA CRISTHIANY CUNHA PINHEIRO
ECOEPIDEMIOLOGIA DA ESQUISTOSSOMOSE MANSONI EM ÁREAS DA
TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO NO ESTADO DO CEARÁ
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Universidade Federal do Ceará, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Saúde Pública. Área de concentração: Epidemiologia e Vigilância de Doenças Transmissíveis. Orientador: Prof. Dr. Alberto Novaes Ramos Junior. Coorientador: Prof. Dr. Fernando Schemelzer de Moraes Bezerra.
FORTALEZA
2017
MARTA CRISTHIANY CUNHA PINHEIRO
ECOEPIDEMIOLOGIA DA ESQUISTOSSOMOSE MANSONI EM ÁREAS DA
TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO NO ESTADO DO CEARÁ
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Universidade Federal do Ceará, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Saúde Pública. Área de concentração: Epidemiologia e Vigilância de Doenças Transmissíveis.
Data da aprovação: ____/____/________.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________ Prof. Dr. Alberto Novaes Ramos Júnior (Orientador)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
________________________________________________________ Prof. Dr. Fernando Schemelzer de Moraes Bezerra (Coorientador)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
________________________________________________________ Prof.ª Dra. Maria de Fátima Oliveira
Universidade Federal do Ceará (UFC)
________________________________________________________ Prof. Dr. José Mauro Peralta
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
________________________________________________________ Prof. Dr. Naftale Katz
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)
________________________________________________________ Prof.ª Dra. Regina Helena Saramago Peralta
Universidade Federal Fluminense (UFF)
À Deus, toda honra e toda glória.
Aos meus pais amados Ideuzuila e
Prodamy (in memorian).
À minha irmã adorada Rayanne.
Aos meus filhos amorosos Gabrielly e
Prodamy Neto.
Ao meu companheiro Alcides.
AGRADECIMENTOS
A Deus Todo Poderoso, por Sua infinita misericórdia. Tua destra é que me sustenta.
Ao Prof. Dr. Alberto, por ter aceitado ser meu orientador nesse processo de
doutoramento. Agradeço por todo o apoio, incentivo e principalmente pela paciência.
Obrigada por entender minhas dúvidas e limitações, pelo exemplo de pesquisador e
ativista dedicado às causas sociais. Agradeço pela sensibilidade e compreensão que
teve comigo nos meus piores momentos, em especial na perda de meu amado pai.
Ao Prof. Dr. Fernando, por ter me apresentado a pesquisa científica, abrindo as
portas de seu laboratório. Obrigada por todo o conhecimento dividido comigo
durante praticamente toda a minha vida acadêmica (boa parte da Graduação, o
Mestrado – orientação e agora o Doutorado – coorientação). Agradeço
principalmente por toda a confiança depositada, pelos projetos de pesquisa que me
confiou à elaboração e execução.
Aos professores participantes da Banca Examinadora: Dra. Fátima, Dr. Naftale, Dr.
Peralta e Dra. Regina pelo tempo que dedicaram, colaborando com valiosas
sugestões, para o meu crescimento e na melhoria dessa Tese.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da UFC que
mudaram a minha visão de mundo, mostrando que as doenças são frutos de
complexos processos bio-psico-sócio-econômico. Em especial à Dra. Raquel Rigotto
por seu exemplo de sensibilidade com as populações rurais vulneráveis.
À atual equipe do Laboratório de Pesquisa em Parasitologia e Biologia de Moluscos
e a todos que passaram por lá. De alguma forma, nos ajudaram a construir uma
história. Em especial, ao meu amigo José Damião ("Júnior") por sua valiosa ajuda,
apoio, amizade e companhia nos momentos bons e ruins.
Ao Grupo de Pesquisa em Doenças Negligenciadas do Departamento de Saúde
Comunitária/UFC. Em especial ao Anderson por sua valiosa ajuda e as queridas
Adriana, Nágila e Nayla pelo carinho.
Aos meus colegas do Departamento de Análises Clínicas/FFOE/UFC pelo incentivo.
Em especial ao Afrânio, Coelho e Roxyane.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
Ao meu pai (in memorian), por ter me incentivado com toda a admiração que tinha
por cada pequena conquista que eu conseguia alcançar.
À minha mãe, a quem devo absolutamente tudo, sem ela eu jamais teria tido
condições de me dedicar aos estudos e a minha vida profissional.
Ao meu marido, por nunca ter me deixado desacreditar da vida e por me apoiar em
tudo sempre.
Aos meus filhos, pelo amor incondicional e pela compreensão de todo o nosso
tempo de convívio que precisou ser sacrificado para realização desse trabalho.
À minha irmã que sempre foi uma grande incentivadora, exemplo de garra e
determinação.
A toda minha família materna e paterna pelo apoio e incentivo. Em especial aos
meus avós Ataíde, Airton e Francila que olham por mim lá dos céus. E minha avó
Zuleide que me cobre de carinho e me deixa a par das novidades de minha amada
terra natal Umirim, todas as vezes que vou visitá-la.
Aos meus amigos que me acompanharam de perto durante essa jornada, me dando
muito carinho, palavras de incentivo e ombro amigo nos momentos de desespero.
“Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrer
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome, pergunto o que há?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará”.
Patativa do Assaré
RESUMO
A esquistossomose acomete cerca de 240 milhões de pessoas em 78 países. No
Brasil, estima-se 1,5 milhões de infectados, com aproximadamente 25 milhões
residindo em áreas de risco. O Ceará possui taxa média de positividade de 0,57%,
de baixa endemicidade focal. Alguns estados do Nordeste Setentrional passam por
ampla intervenção eco-bio-social gerada pelo Projeto de Integração do Rio São
Francisco (PISF), que estima beneficiar 12 milhões de pessoas em 390 municípios
de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Este contexto poderá
contribuir não somente para dispersão ou introdução de hospedeiros intermediários
da esquistossomose, como também de outras doenças de transmissão hídrica.
Somado ao aumento de movimentos migratórios oriundos de áreas endêmicas, o
número de focos de transmissão poderá ser ampliado. Objetivou-se descrever a
situação epidemiológica e ambiental da esquistossomose no estado do Ceará, nas
áreas que serão diretamente abrangidas pelo Projeto de Integração do Rio São
Francisco. A tese foi estruturada em dois eixos temáticos. Eixo 1: Estudos
ecológicos, sendo analisadas todas as mortes no Brasil em que a esquistossomose
foi mencionada na declaração de óbito como causa básica ou associada, no período
de 2000 a 2015. Foram calculados coeficientes brutos e suavizados, por município
de residência, período total e distribuídos em quadriênios. Eixo 2: Estudos
transversais para identificação de fatores ambientais e epidemiológicos relacionados
à transmissão. Dentre os 21 municípios do Ceará que serão diretamente afetados
pelo PISF, foram selecionados seis de importância epidemiológica: Aurora, Brejo
Santo, Jaguaretama, Jaguaribara, Jati e Mauriti; e 33 coleções hídricas dessas
regiões. Foram realizados levantamento malacológico límnico e caracterização dos
padrões físico-químicos e microbiológicos dos corpos d’água pesquisados.
Caramujos Biomphalaria foram submetidos à pesquisa de cercárias de Schistosoma
mansoni e à identificação molecular para diferenciação entre espécies. Os dados
primários de positividade para esquistossomose das populações sentinelas foram
obtidos por meio das técnicas de Kato-Katz e POC-CCA. Foi determinado o nível de
concordância entre as diferentes técnicas de diagnóstico. Os dados espaciais foram
processados para elaboração de mapas temáticos. Foram registrados no Brasil,
nesse período, 11.587 óbitos relacionados à esquistossomose. O coeficiente médio
anual de mortalidade foi de 0,38 mortes/100.000 habitantes. Os coeficientes
apresentaram tendência de declínio a nível nacional no período global. O leste e sul
da Região Nordeste, assim como o norte da Região Sudeste, mantiveram-se como
áreas potenciais de risco de morte. Levantamento malacológico identificou
Biomphalaria sp.; Drepanotrema sp.; Melanoides sp.; Physa sp.; e Pomacea sp.
Todos os municípios apresentaram coleção hídrica com presença de Biomphalaria
sp., sendo identificados Biomphalaria straminea e Biomphalaria kuhniana. Nenhum
escolar foi positivo e a taxa geral de positividade entre os trabalhadores foi 2,88%. A
esquistossomose ainda é uma causa negligenciada de mortalidade no Brasil, com
diferenças regionais consideráveis. Os municípios sob influência do PISF avaliados
representam áreas com potencial para transmissão da esquistossomose. O PISF
pode amplificar a dinâmica de transmissão, sendo importante reforçar ações de
vigilância e controle. São necessárias medidas estruturais que possam reverter
determinantes sociais da doença, evitando disseminação, ocorrência de formas
graves e mortes associadas.
Palavras-chave: Esquistossomose mansoni. Rio São Francisco. Transposição.
Epidemiologia. Controle.
ABSTRACT
The schistosomiasis affects about 240 million people in 78 countries. In Brazil, is
estimated 1,5 million infected, with approximately 25 million living in risk areas Ceará
has a medium positive rate of 0,57%, in low focal endemicity. Some states in the
Northeast go through a broad eco-bio-social intervention created by the São
Francisco's River Integration Project (Projeto de Integração do Rio São Francisco -
PISF), that esteem to benefit 12 million people at 390 counties in Pernambuco,
Ceará, Paraíba and Rio Grande do Norte. This context may contribute not only for
dispersal or introduction of intermediary schistosomiasis host, as well of others water
transmission disease. Added to the rise of migratory movements from endemic
areas, the transmission hubs number may be extended. It is aimed to describe the
schistosomiasis' epidemiological and environmental situation in Ceará, at the areas
that will be directly covered by the São Francisco's River Integration Project. The
thesis was structured at two thematic axes. Axis 1: Ecological studies, being
analyzed all deaths in Brazil that schistosomiasis was mentioned at the death
certificate how basic cause or associated, in the period from 2000 to 2015. Were
calculated gross coefficients and adjusted, per county of residence, total period and
distributed in quadrennium. Axis 2: Transversal studies for identification of ambient
factors and epidemiological related to transmission. Among the 21 county in Ceará
that will be directly affected by PSIF, were selected six of epidemiological
importance: Aurora, Brejo Santo, Jaguaretama, Jaguaribara, Jati, Mauriti, and 33
regions of these water collections. Were realized liminal malacological survey and
characterization of the physical-chemical and microbiological patterns of the water
bodies researched. Biomphalaria snails were submitted to research of Schistosoma
mansoni cercariae and to molecular identification for differentiation between species.
The primary data of positivity for schistosomiasis of sentinels population were
obtained through the Kato-Katz and POC-CCA techniques. The spatial data were
processed for elaboration of thematic maps. Were registered in Brazil, at this period,
11.587 deaths related to schistosomiasis. The mortality annual medium coefficient
was of 0,38 deths/100.000 population. The coefficients presented a decline tendency
on a national level at the global period. The east and south of Northeast region, as
too the north of Southeast Region, remained as death risk potential areas. The
malacological survey has identified Biomphalaria sp., Drepanotrema sp., Melanoides
sp., Physa sp., and Pomacea sp. All the counties presented waters collections with
presence of Biomphalaria sp., being identified Biomphalaria straminea and
Biomphalaria kuhniana. None scholar was positive and the general rate of positivity
among the workers were 2,88%. The schistosomiasis still is a neglected mortality
cause in Brazil, with considerable regional differences. The counties under PSIF
influence evaluated represents areas with potential for schistosomiasis transmission.
The PSIF can amplify the transmission dynamics, being important reinforce actions of
vigilance and control. Structural measures that can reverse the disease's social
determinants are necessary, avoiding dissemination, occurrence of severe forms and
associated deaths.
Key words: Schistosomiasis mansoni. Rio São Francisco. Transposition.
Epidemiology. Control.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Distribuição global dos países onde a esquistossomose humana
é transmitida, por agente etiológico ................................................ 25
Figura 2 - Ciclo de vida de Schistosoma mansoni.......................................... 26
Figura 3 - Distribuição da esquistossomose no mundo .................................. 27
Figura 4 - Número estimado de indivíduos, por país, que necessitavam de
quimioterapia preventiva para esquistossomose anualmente,
2016 ................................................................................................ 29
Figura 5 - Número de indivíduos tratados em todo o mundo, 2016 ................ 30
Figura 6 - Cobertura global de tratamento para a esquistossomose, 2016 .... 30
Figura 7 - Expansão da esquistossomose mansoni no Brasil ........................ 31
Figura 8 - Áreas endêmicas para Schistosoma mansoni no Brasil ................ 33
Figura 9 - Distribuição dos hospedeiros intermediários de S. mansoni no
Brasil ............................................................................................... 34
Figura 10 - Positividade por esquistossomose mansoni no Ceará ................... 36
Figura 11 - Resposta global ao controle de vetores ......................................... 40
Figura 12 - Localização e delimitação institucional do semiárido brasileiro e
das capitais estaduais .................................................................... 48
Figura 13 - A Bacia do Rio São Francisco ........................................................ 49
Figura 14 - Eixos do Projeto de Integração do Rio São Francisco ................... 51
Figura 15 - Projeto Cinturão de Águas do Ceará. Canais e Eixos de
Integração de Bacias no Ceará ...................................................... 53
ARTIGO 1
Tabela 1 - Número de mortes, coeficientes brutos e padronizados por idade
de mortalidade relacionada à esquistossomose (por 100 000
habitantes) estratificada por sexo, faixa etária, raça/cor e Região
de residência no Brasil, 2000-2015 ................................................ 87
Figura 1 - Distribuição espacial dos coeficientes brutos médios anuais (não
suavizadas) de mortalidade relacionada à esquistossomose (por
100.000 habitantes) por município de residência no Brasil, 2000- 90
21
2015 ................................................................................................
Figura 2 - Distribuição espacial dos coeficientes médios anuais de
mortalidade suavizados pelo método Bayesiano (por 100.000
habitantes) por município de residência no Brasil, 2000-2015 ....... 91
Figura 3 - Análise de agrupamento espacial e espaço-temporal de
coeficientes de mortalidade relacionada à esquistossomose (por
100.000 habitantes) por município de residência no Brasil, 2000-
2015 ................................................................................................ 92
Figura 4 - Análise espacial e espaço-temporal de áreas quentes (Getis-Ord
Gi *) dos coeficientes de mortalidade relacionadas à
esquistossomose (por 100.000 habitantes) por município de
residência no Brasil, 2000-2015 ..................................................... 93
ARTIGO 2
Figura 1 - Distribuição espacial dos coeficientes médios de mortalidade
relacionada à esquistossomose (por 100.000 habitantes) por
estados de residência no Brasil, 2000-2015 .................................. 111
Figura 2 - Tendências dos coeficientes ajustados por idade de mortalidade
relacionada à esquistossomose (por 100.000 habitantes) no
Brasil e regiões, 2000-2015 ............................................................ 112
Tabela 1 - Análise por regressão Joinpoint dos coeficientes de mortalidade
relacionada à esquistossomose no Brasil, 2000-2015 ................... 113
Figura 3 - Análise de clusters espacial e espaço-temporal por varredura
espaço-tempo dos coeficientes de mortalidade relacionada à
esquistossomose (por 100.000 habitantes) por município de
residência no Brasil, 2000-2015 ..................................................... 115
Tabela 2 - Clusters espaço-temporais significantes de mortes relacionadas à
esquistossomose, definidas utilizando estatísticas de varredura
espaço-tempo, por município de residência no Brasil, 2000-2015 . 116
22
ARTIGO 3
Tabela 1 - Número de escolares elegíveis e examinados das escolas
selecionadas para participar do estudo, por zona e municípios da
área diretamente afetada pelo PISF no Estado do Ceará .............. 136
Tabela 2 - Dados socioeconômicos e de contato com águas naturais dos
escolares participantes do estudo, por municípios da área
diretamente afetada pelo PISF no Estado do Ceará ...................... 137
Tabela 3 - Resultados das análises físico-químicas das coleções hídricas
estudadas e presença de Biomphalaria sp., por coleção hídrica
de cada município pesquisado na área diretamente afetada pelo
PISF no Estado do Ceará ............................................................... 139
Figura 1 - Distribuição espacial das escolas trabalhadas e das coleções
hídricas onde foram investigadas a presença de Biomphalaria sp.
nos seis municípios pesquisados ................................................... 141
ARTIGO 4
Tabela 1 - Moluscos de água doce (Classe Gastropoda – Cuvier, 1795)
distribuídos por município, na área diretamente afetada pela
Transposição do Rio São Francisco, Estado do Ceará, Brasil,
coletados de fevereiro de 2015 a outubro de 2016 ........................ 159
Tabela 2 - Características ecológicas das coleções hídricas pesquisadas na
área de influência do Projeto de Transposição do Rio São
Francisco no estado do Ceará – Brasil .......................................... 161
Figura 1 - Biomphalaria sp. em coleções hídricas nas áreas de influência do
Projeto de Integração do Rio São Francisco no estado do Ceará -
Brasil ............................................................................................... 164
Figura 2 - Gel de poliacrilamida corado com prata a 6% mostrando os perfis
de restrição, após digestão da região ITS do DNA ribossômico
com DdeI, dos caramujos de referência e dos caramujos
coletados em Brejo Santo-Ceará ................................................... 165
23
ARTIGO 5
Figura 1 - Circuito do projeto de transposição do rio São Francisco – Eixo
Norte, com ênfase no Estado do Ceará e no município de Brejo
Santo .............................................................................................. 177
Figura 2 - Positividade para esquistossomose mansoni em trabalhadores
dos canteiros de obra do Projeto de Integração do Rio São
Francisco no município de Brejo Santo – Ceará, de acordo com
técnicas de Kato-Katz (uma, duas e três lâminas) e teste POC-
CCA ................................................................................................ 182
Tabela 1 - Comparação entre os métodos Kato-Katz e POC-CCA na
detecção de Schistosoma mansoni em amostras obtidas de
trabalhadores dos canteiros de obras do PISF no município de
Brejo Santo – Ceará ....................................................................... 183
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AAPC Average Annual Percent Change (Variação Percentual Média Anual)
ACS Agentes Comunitários de Saúde
ADA Área Diretamente Afetada
AID Área de Influência Direta
AII Área de Influência Indireta
APC Annual percent change (Variação Percentual Anual)
APHA American Public Health Association (Associação Americana de Saúde
Pública)
AWWA American Water Works Association (Associação Americana de
Trabalhadores da Água)
CAA Circulating Anodic Antigen (Antígeno Anódico Circulante)
CAC Projeto Cinturão de Águas do Ceará
CCA Circulating Cathodic Antigen (Antígeno Catódico Circulante)
CDC Centers for Disease Control and Prevention (Centros de Controle e
Prevenção de Doenças)
CID Código Internacional de Doenças
COPROM Coordenação de Promoção e Proteção à Saúde
CPqAM Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães
DALY Disability-Adjusted Life Year (Anos de Vida Ajustados por
Incapacidade)
DATASUS Departamento de Informática do SUS
DNA Deoxyribonucleic Acid (Ácido Desoxirribonucleico)
DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra a Seca
DO Declaração de Óbito
DTN Doenças Tropicais Negligenciadas
EA Eixão das Águas
FE Farmácia Escola
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
FUNASA Fundação Nacional de Saúde
GBD Global Burden of Disease (Carga Global da Doença)
GPS Global Positioning System (Sistema De Posicionamento Global)
HIV Human Immunodeficiency Virus (Vírus da Imunodeficiência Adquirida)
kM Kilometro
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IC Intervalo de Confiança
IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
IEC/MC Informação, Educação, Comunicação e Mobilização Comunitária
IMF Fundo Monetário Internacional
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INPEG Inquérito Nacional de Prevalência da Esquistossomose e Geo-
helmintoses
ITS Internal Transcribed Spacer (região espaçadora transcrita interna)
LACEN Laboratório Central de Saúde Pública
LISA Local Indicators of Spatial Association (Indicadores locais de
associação espacial)
LPBM Laboratório de Parasitologia e Biologia de Moluscos
mM Milímetro
MS Ministério da Saúde
MW Megawatt
OMS Organização Mundial de Saúde
ONGs Organizações Não-Governamentais
OPG Ovos por Grama de Fezes
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PCDEN Programa de Controle de Doenças Endêmicas
PCE Programa de Controle da Esquistossomose
PCR Polymerase Chain Reaction (Reação em Cadeia da Polimerase)
PECE Programa Especial de Controle da Esquistossomose
PIB Produto Interno Bruto
PISF Projeto de Integração do Rio São Francisco
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
POC-CCA Point-of-care CCA (Ponto de cuidado CCA)
PSF Programa e Saúde da Família
RFLP Restriction Fragment Length Polymorphism (Polimorfismono
Comprimento do Fragmento de Restrição)
RIMA Relatório de Impacto Ambiental
RMF Região Metropolitana de Fortaleza
RR Riscos Relativos
SCORE Schistosomiasis Consortium for Operational Research and Evaluation
(Consórcio de esquistossomose para pesquisa e avaliação
operacional)
SESA-CE Secretaria de Saúde do Estado do Ceará
SIH Sistema de Informações Hospitalares
SIM Sistema de Informações sobre Mortalidade
SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação
SISPCE Sistema de Informação do Programa de Vigilância e Controle da
Esquistossomose
SNIS Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
SRH Secretaria dos Recursos Hídricos
SUCAM Superintendência de Campanhas de Saúde Pública
SUS Sistema Único de Saúde
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TSD Sólidos Totais Dissolvidos
UF Unidade da Federação
UFC Universidade Federal do Ceará
UTM Universal Transversa de Mercator
VPRs Vilas Produtivas Rurais
WEF Water Environment Federation (Federação do Ambiente Aquático)
WHO World Health Organization (Organização Mundial de Saúde)
YLLs Years of Life Lost (Anos de Vida Perdidos)
µL Microlitro
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO .................................................................................. 22
2 INTRODUÇÃO .................................................................................. 24
2.1 Aspectos Gerais .................................................................................... 24
2.1.1 Schistosoma mansoni .......................................................................... 25
2.2 Epidemiologia da esquistossomose no mundo ................................. 28
2.3 Situação epidemiológica da esquistossomose no Brasil ................. 31
2.4 Situação epidemiológica da esquistossomose no Ceará ................. 35
2.5 Estratégias globais de prevenção e controle da esquistossomose 37
2.6 Programa de Controle da Esquistossomose no Brasil ..................... 40
2.7 Ações de controle da esquistossomose no Ceará ............................ 43
2.8 Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) .......................... 47
3 JUSTIFICATIVA ..................................................................................... 55
4 OBJETIVOS ............................................................................................ 59
4.1 Objetivo geral ........................................................................................ 59
4.2 Objetivos específicos ........................................................................... 59
5 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................... 60
5.1 Eixos 1 e 2 .............................................................................................. 60
5.1.1 Desenho do estudo ............................................................................... 60
5.1.2 Área do estudo – Brasil ........................................................................ 60
5.1.3 Base de dados do estudo ..................................................................... 61
5.1.4 Fontes de dados .................................................................................... 61
5.1.5 Processamento e Análise dos dados – Eixo 1 ................................... 62
5.1.6 Processamento e Análise dos dados – Eixo 2 ................................... 64
5.1.7 Aspectos éticos ..................................................................................... 66
5.2 Eixo 3 ...................................................................................................... 66
5.2.1 Desenho do estudo ............................................................................... 66
5.2.2 Área do estudo ...................................................................................... 66
5.2.3 Coleta das amostras de água .............................................................. 68
5.2.4 Análises físico-químicas da água ........................................................ 68
5.2.5 Análises microbiológicas da água ...................................................... 68
5.2.6 Processamento dos dados .................................................................. 69
5.3 Eixo 4 ...................................................................................................... 69
5.3.1 Desenho do estudo ............................................................................... 69
5.3.2 Área do estudo ...................................................................................... 69
5.3.3 Coleta das amostras de caramujos ..................................................... 70
5.3.4 Classificação morfológica .................................................................... 70
5.3.5 Identificação molecular ........................................................................ 71
5.3.6 Pesquisa de cercárias de Schistosoma mansoni .............................. 72
5.3.7 Análises estatísticas e processamento dos dados geoespaciais .... 72
5.4 Eixo 5 ...................................................................................................... 73
5.4.1 Desenho do estudo ............................................................................... 73
5.4.2 Área do estudo ...................................................................................... 73
5.4.3 Populações de estudo .......................................................................... 75
5.4.4 Coleta e Processamento de amostras biológicas em campo ........... 75
5.4.5 Procedimentos laboratoriais ................................................................ 75
5.4.6 Tratamento parasitológico ................................................................... 76
5.4.7 Análises estatísticas ............................................................................. 76
5.5 Aspectos éticos - Eixos 3, 4 e 5 ........................................................... 77
6 RESULTADOS ....................................................................................... 78
6.1 Eixo 1: Padrões epidemiológicos e tendências temporais de
mortalidade relacionadas à esquistossomose no Brasil .................. 78
6.1.1 Artigo 1: Esquistossomose no Brasil: padrões epidemiológicos
de mortalidade, 2000-2015 ................................................................... 78
6.2 Eixo 2: Padrões de presença e distribuição de aglomerados
espaço-temporais de elevado risco para mortalidade relacionada
à esquistossomose no Brasil .............................................................. 103
6.2.1 Artigo 2: Esquistossomose no Brasil: uma análise de dezesseis
anos das tendências de mortalidade e padrões espaciais............... 103
6.3 Eixo 3: Fatores físico-químicos e microbiológicos das coleções
hídricas de importância epidemiológica em áreas de influência do
PISF no Ceará ........................................................................................ 125
6.3.1 Artigo 3: Fatores condicionantes relacionados à
esquistossomose em área diretamente afetada pelo projeto de
transposição de água em grande escala do Rio São Francisco no
Nordeste do Brasil ................................................................................ 125
6.4 Eixo 4: Caracterização da fauna malacológica límnica das
coleções hídricas de importância epidemiológica em áreas de
influência do PISF no Ceará e os padrões espaciais de sua
distribuição ............................................................................................ 150
6.4.1 Artigo 4: Biomphalaria sp. e outros caramujos de água doce em
áreas diretamente afetadas pelo projeto de transposição de água
em grande escala do Rio São Francisco no Nordeste do Brasil ...... 150
6.5 Eixo 5: Schistosoma mansoni em populações sentinelas das
áreas de influência do PISF no Ceará ................................................. 172
6.5.1 Artigo 5: Detecção de esquistossomose em uma área diretamente
afetada pelo projeto de transposição de água em grande escala
do rio São Francisco no Nordeste do Brasil ...................................... 172
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 193
REFERÊNCIAS ...................................................................................... 196
APÊNDICE A – PRODUÇÕES TÉCNICO-CIENTÍFICAS AO LONGO
DO DOUTORAMENTO ........................................................................... 213
APÊNDICE B – PARTICIPAÇÃO EM PROJETOS DE PESQUISA E
EM EVENTOS CIENTÍFICOS AO LONGO DO DOUTORAMENTO ...... 216
ANEXO A – PARECER E APROVAÇÃO DO COMITÉ DE ÉTICA EM
PESQUISA DE EMENDA AO PROJETO ORIGINAL ............................ 218
ANEXO B – PARECER E APROVAÇÃO DO COMITÉ DE ÉTICA EM
PESQUISA DO PROJETO ORIGINAL .................................................. 219
ANEXO C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARE-
CIDO (TCLE) – ESCOLARES ................................................................ 220
ANEXO D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARE-
CIDO (TCLE) – TRABALHADORES ...................................................... 222
ANEXO E – TERMO DE ASSENTIMENTO ........................................... 224
22
1 APRESENTAÇÃO
A presente tese de doutorado teve como objeto de estudo a
esquistossomose no Estado do Ceará, em cenários de transposição do Rio São
Francisco, quer seja como Bacias Receptoras ou como Bacias de Transferência. As
principais áreas endêmicas no Brasil com transmissão registrada se sobrepõem às
áreas que serão impactadas. A esquistossomose representa uma doença parasitária
de veiculação hídrica com elevada carga de morbimortalidade, com estreita relação
com condições de pobreza e de insalubridade do ambiente, bem como com
aspectos organizacionais dos sistemas de saúde. Apesar dos avanços tecnológicos
alcançados nos últimos anos, com diretrizes internacionais constantemente
atualizadas, e das agendas internacionais reiterando a relevância de seu controle, a
esquistossomose segue mantendo o caráter de doença endêmica negligenciada.
A partir do referencial da epidemiologia crítica no Campo da Saúde
Coletiva, procurou-se integrar diferentes perspectivas epidemiológicas e
operacionais de controle da esquistossomose em áreas no Estado do Ceará que
serão diretamente afetadas por esse grande empreendimento hídrico. Diferentes
técnicas analíticas foram utilizadas para avaliar a mortalidade relacionada à
esquistossomose dentro da perspectiva espaço & tempo, no contexto amplo e
desigual do território nacional. A proposta foi partir de um olhar global no País para
um olhar mais acurado voltado para o Estado do Ceará. Após esta perspectiva mais
ampliada, o recorte geográfico no estado teve como objetivo analisar fatores
ambientais envolvidos na transmissão em áreas afetadas pelas obras do Projeto de
Integração do Rio São Francisco (PISF) com as Bacias Hidrográficas do Nordeste
Setentrional, de forma a estabelecer parâmetros com vistas a acompanhar possíveis
modificações, de forma comparativa.
Para alcançar estas dimensões tão diversas e complexas, a presente tese
foi estruturada em duas etapas principais que traduziam os objetivos específicos
delineados a partir de dados primários ou secundários. Cada etapa buscava
responder a questões delimitadas, abordando de uma forma geral aspectos relativos
às análises de risco e vulnerabilidade para mortalidade da esquistossomose no
Brasil, como também caracterizando fatores potencialmente relacionados à
23
ocorrência da esquistossomose nas áreas que serão impactadas pelo PISF (no
estado do Ceará).
Ao final da Tese estão apresentados artigos resultantes (submetidos,
aprovados e/ou publicados) destas diferentes etapas, com ênfase no espectro tanto
nacional quanto internacional do Campo da Saúde Coletiva.
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2 INTRODUÇÃO
2.1 Aspectos gerais
A esquistossomose (CID 10: B65) é uma doença infecciosa, adquirida por
meio do contato com água doce contaminada por cercárias (forma larval) de um
parasito multicelular, pertencente à classe Trematoda, família Schistomatidae, e
gênero Schistosoma. Estes vermes apresentam como características principais
serem delgados de coloração leitosa, digenéticos (organismos que completam seu
ciclo evolutivo passando pelo menos por dois hospedeiros), dioicos (animais de
sexos separados), com nítido dimorfismo sexual, onde a fêmea adulta é mais
alongada e encontra-se alojada em uma fenda do corpo do macho – denominada de
canal ginecóforo (BRASIL, 2014a).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2016) as principais
espécies envolvidas na transmissão dessa doença aos seres humanos no mundo
são: Schistosoma haematobium – agente etiológico da esquistossomose urogenital,
comum na África, Oriente Médio e Córsega (França); Schistosoma mansoni – agente
etiológico da esquistossomose intestinal, característico das Américas (Caribe, Brasil,
Venezuela e Suriname), presente também na África e Oriente Médio; Schistosoma
japonicum – agente etiológico da esquistossomose intestinal, encontrado na Ásia
(principalmente na China, Indonésia e Filipinas); Schistosoma mekongi – agente
etiológico da esquistossomose intestinal, encontrado no Sudeste Asiático (vários
distritos do Camboja e da República Democrática Popular do Laos); e Schistosoma
guineensis e Schistosoma intercalatum – agentes etiológicos da esquistossomose
intestinal, encontrados em áreas da floresta tropical na África Central.
Além destes vermes relacionados a seres humanos, outras espécies de
Schistosoma parasitam, principalmente, outros mamíferos e pássaros, causando
geralmente apenas dermatite cercariana na população humana (CDC, 2012).
Cada uma dessas espécies tem uma gama específica de planorbídeos
(caramujos) como hospedeiros intermediários (ex: S. haematobium associa-se ao
gênero Bullinus, S. mansoni está relacionado ao gênero Biomphalaria e S.
japonicum ao gênero Oncomelania). A distribuição espacial da doença é definida
pelos habitats desses caramujos, conforme demonstrado na Figura 1 (COLLEY,
2014).
25
Figura 1 – Distribuição global dos países onde a esquistossomose humana é
transmitida, por agente etiológico.
Fonte: GRYSEELS et al. (2006). Nota: Adaptado de DOUMENGE & MOTT (1984).
2.1.1 Schistosoma mansoni
De todas as espécies de Schistosoma que parasitam o homem, apenas
S. mansoni está presente nas Américas. Desenvolve-se em estádios no hospedeiro
intermediário (moluscos do gênero Biomphalaria) e no hospedeiro definitivo
(homem), conforme ilustrado na Figura 2.
O indivíduo infectado elimina ovos de S. mansoni nas suas fezes que ao
entrarem em contato com água doce não tratada e em condições ambientais ideais
eclodem liberando miracídios (larva ciliada) que nadam e penetram em caramujos
susceptíveis do gênero Biomphalaria. Dentro destes a multiplicação ocorre por meio
de fases assexuadas (esporocisto primário e secundário) e após, cerca de quatro a
sete semanas, darão origem a milhares de cercárias, que são liberadas na água.
Elas penetram ativamente na pele íntegra dos seres humanos, podendo causar
erupções cutâneas (dermatite cercariana) que duram horas ou até uma semana
após a exposição à água contaminada (CDC, 2012). Após a penetração, as
26
cercárias perdem suas caudas bifurcadas e rapidamente transformam-se em
esquistossômulos, que migram pela circulação sanguínea até pontos diversos do
organismo, sendo o fígado o órgão preferencial. Neste local as formas jovens dão
início a organogênese e o sistema reprodutor se diferencia da grande maioria dos
demais trematódeos digenéticos, ocorrendo a formação do canal ginecóforo. Após o
completo amadurecimento sexual, acasalam e migram pela veia porta até o plexo
mesentérico. Nos ramos terminais das vênulas da submucosa intestinal ocorre a
postura dos ovos que, progressivamente, movimentam-se em direção ao lúmen do
intestino grosso (através dos vasos e paredes deste órgão), sendo excretados
juntamente com as fezes do hospedeiro. Essa migração provoca microhemorragias
e áreas de inflamação que juntas são responsáveis pelo aparecimento de diarreia
muco-sanguinolenta e outros distúrbios gastrointestinais (COLLEY, 2014).
Figura 2 – Ciclo de vida de Schistosoma mansoni.
Fonte: Adaptado de dpd.cdc.gov.
O período de transmissibilidade dessa doença inicia-se de quatro a sete
semanas no hospedeiro intermediário, momento em que este começa a eliminar
cercárias e pode durar toda a vida do caramujo infectado, que é de cerca de um ano.
Nos seres humanos, os ovos viáveis começam a ser eliminados a partir de cinco
27
semanas após a infecção e, sem tratamento, podem manter-se por um período de
seis a dez anos, normalmente. Entretanto, já foram relatados casos em que
indivíduos com mais de vinte anos de infecção ainda estavam eliminando ovos
viáveis (BRASIL, 2014b).
A esquistossomose mansoni é classificada em duas fases: aguda e
crônica. As formas agudas podem ser assintomáticas ou sintomáticas. Inicialmente,
pode passar despercebida (maioria das pessoas) ou ser confundida com outras
doenças parasitárias na fase aguda. A doença pode ser sugerida apenas por
alterações encontradas nos exames laboratoriais de rotina como eosinofilia, em
hemograma, e presença de ovos de S. mansoni em exames coproscópicos (SOUSA
et al., 2011). A fase crônica é menos frequentemente diagnosticada, manifestando-
se geralmente com hepatoesplenomegalia e outros sinais de hipertensão portal
(ANDRADE & BINA, 1985).
A dermatite cercariana corresponde à fase de penetração das larvas
(cercarias) através da pele. Esta lesão caracteriza-se por micropápulas eritematosas
e pruriginosas, semelhantes a picadas de inseto e eczema de contato, com duração
de até cinco dias após a infecção. Após 3 a 7 semanas de exposição, a resposta
imune à doença é basicamente via atividade T-helper do tipo 1 (Th1), podendo
ocorrer a síndrome toxêmica que possui sinais e sintomas característicos dessa
fase, porém inespecíficos como: astenia, febre, dor abdominal difusa, diarreia,
calafrios, mialgia, tosse seca e, com menor frequência, dispneia, edema, elevação
de enzimas hepáticas, insuficiência respiratória e pericardite (RIBEIRO DE JESUS et
al., 2004). Estas duas últimas alterações estão associadas à presença de complexos
imunes circulantes, sugerindo que esses sintomas podem ser causados pela
deposição de complexos imunes nos tecidos. Em residentes de áreas endêmicas
geralmente não há manifestações clínicas nessa fase, sendo estes sintomas mais
comumente apresentados por indivíduos de áreas não endêmicas que por ventura
entrem em contato com coleções hídricas naturais contaminadas, principalmente os
viajantes de turismo ecológico (PRATA, 1991; CLERINX & VAN GOMPEL, 2011).
A patogenia da doença não está relacionada aos vermes, mas à reação
do corpo humano aos ovos e substâncias por eles excretadas (GRYSEELS, 2012).
Alguns ovos não conseguem ser eliminados, ficando retidos nas paredes do
intestino, podendo levar à formação de pseudotumores, ou serem carreados pela
corrente sanguínea a diversos órgãos (SOUSA et al., 2011). As reações
28
imunopatológicas, principalmente a reação granulomatosa periovular, induzem um
processo inflamatório contínuo que leva a manifestações como doença intestinal
obstrutiva, inflamação hepatoesplênica e fibrose hepática, que caracterizam a fase
crônica da doença (ANDRADE & PEIXOTO, 1992). A hipertensão portal leva ao
hiperesplenismo e a citopenias, principalmente trombocitopenia e neutropenia
(ROSS et al., 2002).
Essa parasitose causa síndromes clínicas sistêmicas não específicas,
mas incapacitantes, incluindo anemia, desnutrição e prejuízos ao desenvolvimento
infantil, ao metabolismo do ferro, à aptidão física e à função cognitiva (BUSTINDUY
et al., 2011). Ademais, podem ocorrer quadros clínicos inesperados devido à
deposição ectópica dos ovos ou migração dos parasitos para o Sistema Nervoso
Central, com sintomas de compressão espinhal ou encefalopatia (FERRARI et al.,
1993; ROSS et al., 2002).
O padrão de morbidade da doença, representado principalmente pelas
formas mais graves, está associado à intensidade e duração da infecção e à
resposta imune do hospedeiro aos antígenos do parasito, entre outros fatores
(COELHO et al., 1996; SANTOS, SOUZA & ANDRADE, 2000). A carga parasitária,
por sua vez, é influenciada pelo grau de contato com a água, reflexo das condições
socioeconômicas e culturais da população (COURA, CONCEICAO & PEREIRA,
1984; PRATA, 1991).
2.2 Epidemiologia da esquistossomose no mundo
A transmissão da esquistossomose é resultado da interação de fatores
ambientais, climáticos, biológicos, demográficos, econômicos, sociais, culturais e
políticos. As mudanças ecológicas resultantes de alterações nos recursos hídricos
e/ou os movimentos populacionais também são importantes determinantes da
epidemiologia da esquistossomose (BRUUN & AAGAARD-HANSEN, 2008).
A transmissão da esquistossomose é relatada em 78 países do mundo
(Figura 3), afetando quase 240 milhões de pessoas. Mais de 700 milhões vivem em
áreas endêmicas e correm o risco de adquirir a doença, por causa da pobreza,
analfabetismo, condição insalubre de moradia, abastecimento inadequado de água
tratada e insuficiência ou inexistência de esgotamento sanitário (WHO, 2016).
29
Figura 3 – Distribuição da esquistossomose no mundo.
Fonte: WHO (2012).
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (WHO, 2017a), em
2015, aproximadamente 218,8 milhões de pessoas necessitavam de tratamento
para a esquistossomose, em 52 países, dos quais mais de 118,5 milhões eram
crianças em idade escolar (5-14 anos). Foi estabelecida a meta de tratar pelo menos
75% dessas crianças, em todos os países endêmicos, até 2020. O número de
pessoas que receberam quimioterapia preventiva foi de mais de 66,5 milhões
(28,2% de cobertura global), sendo mais de 53 milhões de crianças em idade
escolar (42,2% da meta específica) (Figuras 4, 5 e 6).
Figura 4 – Número estimado de indivíduos, por país, que necessitavam de
quimioterapia preventiva para esquistossomose anualmente, 2016.
Fonte: Adaptado de WHO (2017a).
30
Figura 5 – Número de indivíduos tratados em todo o mundo, 2016.
Fonte: Adaptado de WHO (2017a).
Figura 6 – Cobertura global de tratamento para a esquistossomose, 2016.
Fonte: Adaptado de WHO (2017a).
A taxa global de mortalidade por esquistossomose ainda permanece
incerta, sendo difícil de ser estimada em virtude de patologias ocultas, que se
associam à doença, como a insuficiência hepática e renal e o câncer de bexiga
(WHO, 2016). Em relatório recentemente publicado, estimou-se o número global de
mortes por esquistossomose em 10,1 milhões de pessoas. A taxa global de
mortalidade ajustada por idade foi de 0,1/100.000 habitantes, havendo 367,4
milhões de anos de vida perdidos relacionados à esquistossomose (YLLs – Years of
Life Lost) e 5,0 YLLs ajustados por idade. Em comparação com os indicadores
apresentados por esse agravo em 2006, todos apresentaram queda significativa de -
22,1%; -36,9%; -23,9% e -35,3%; respectivamente (GBD, 2016). A faixa etária de
15-29 anos é a mais afetada por anos de vida ajustados por incapacidade (DALY),
em ambos os sexos (WHO, 2017b).
31
2.3 Situação epidemiológica da esquistossomose no Brasil
A entrada da esquistossomose no Brasil deu-se principalmente por meio
do tráfico de escravos, trazidos da costa ocidental da África, e que estavam doentes.
Os africanos, muitos com esquistossomose, chegaram principalmente pelos portos
das cidades de Recife e Salvador para trabalhar nas lavouras de cana de açúcar do
Nordeste brasileiro (restrito inicialmente às áreas mais litorâneas), posteriormente
seguiram fluxos migratórios internos que ocorreram por conta de novos ciclos
econômicos (ciclo do ouro e pedras preciosas; ciclo da criação de gado; ciclo da
borracha e industrialização), conforme evidenciado na Figura 7 (BRASIL, 2014b).
Figura 7 – Expansão da esquistossomose mansoni no Brasil.
Fonte: BRASIL, 2014b. Nota: Adaptado por Heloisa M. N. Diniz do mapa original publicado em BRASIL, 1998.
Os recursos hídricos indispensáveis ao desenvolvimento agrícola e
demais processos produtivos contribuíram para a propagação da esquistossomose
no país, principalmente quando explorados inadequadamente. Contudo, são os
fluxos migratórios, os contextos de pobreza e os hábitos de vida do ser humano que
32
podem propiciar novos e amplos habitats para os moluscos hospedeiros,
favorecendo, além disso, o contato estreito e frequente da população humana com a
água contaminada, o que culmina com a disseminação da doença (BRASIL, 2008).
O Brasil é o responsável em grande parte pelas elevadas taxas de
detecção de Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN) verificadas na América Latina
e abriga a maior parte dos casos de esquistossomose: esquistossomose (96%),
leishmaniose visceral (93%), hanseníase (86%), dengue (40%), leishmaniose
cutânea (39%) e doença de Chagas (25%), dentre outras (HOTEZ e FUJIWARA,
2014).
Dados do Inquérito Nacional de Prevalência da Esquistossomose e Geo-
helmintoses (INPEG), promovido pelo Ministério da Saúde (MS), entre 2011 e 2014,
estimou em cerca de 1,5 milhões de pessoas infectadas por S. mansoni no Brasil.
Os estados com os maiores índices de positividade geral foram Sergipe (8,1%),
Minas Gerais (3,8%), Alagoas (2,3%), Bahia (2,1%), Pernambuco (2,1%) e Rio de
Janeiro (1,6%) (KATZ et al., 2014). Nos últimos anos casos novos da doença
continuam sendo registrados em todas as regiões do Brasil, principalmente em 18
estados da federação e no Distrito Federal. Conforme mostra a Figura 8, as
principais áreas endêmicas situam-se nos estados de Alagoas, Bahia, Espírito
Santo, Minas Gerais e Pernambuco, enquanto as principais áreas focais ainda se
localizam no Ceará, Distrito Federal, Maranhão, Pará, Rio Grande do Norte, Rio de
Janeiro e São Paulo (BRASIL, 2014b).
A proporção de casos positivos para esquistossomose no país foi de
0,99%. Quando esses dados foram estratificados em municípios com população
com mais e com menos de 500.000 habitantes, para áreas endêmicas alcançou-se
0,27 e 3,28% de positividade geral e em áreas não endêmicas, 0,05 e 0,13%,
respectivamente. O Sudeste (2,35) e o Nordeste (1,27) foram as macrorregiões que
apresentaram as maiores taxas de positividades. Os estados que apresentaram as
maiores proporções de positividade nas áreas com população até 500 mil habitantes
estavam localizados em Sergipe (10,67), Pernambuco (3,77), Alagoas (3,35), Minas
Gerais (5,81) e Bahia (2,91). Nos municípios com mais de 500.000 habitantes
chamam atenção aqueles localizados nos estados do Rio de Janeiro (2,80),
Pernambuco (2,48) e Sergipe (2,28). Com a exceção do Espírito Santo (1,02), nos
demais estados a proporção de positividade foi menor que 0,5% (KATZ et al., 2017).
33
Figura 8 – Áreas endêmicas para Schistosoma mansoni no Brasil.
Fonte: SCHOLTE et al., 2014.
Segundo dados do Departamento de Informática do SUS (Sistema Único
de Saúde) – DATASUS, no ano de 2015, foram realizados 709.169 exames para
diagnóstico da esquistossomose em todo o território nacional, por meio do Programa
de Controle da Esquistossomose (PCE). Foram identificados 22.434 infectados,
representando uma positividade de 3,2%. Foram notificados 12.815 casos de
esquistossomose, detectados em áreas não endêmicas no Sistema de Informação
de Agravos de Notificação (SINAN) – esses dados incluem a notificação de formas
graves em áreas endêmicas. A taxa de internações hospitalares relacionadas à
esquistossomose a partir do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) foi de 0,10
internações por 100.000 habitantes, com redução de 78% quando comparado aos
dados de 2006. A taxa bruta de mortalidade relacionada à esquistossomose pelo
Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) foi de 0,22 óbitos por 100.000
habitantes, correspondendo a 459 óbitos nesse referido ano (DATASUS, 2016).
Em 2016, segundo a OMS o número de indivíduos que necessitavam de
quimioterapia preventiva para a esquistossomose anualmente no Brasil estava
estimado em 1.535.838 (0,74% da necessidade global). Apenas 16.054 tratamentos
34
preventivos foram realizados no país correspondendo a uma cobertura nacional de
0,2% e, destes, 3.643 eram crianças em idade escolar (WHO, 2016).
No Brasil existem dez espécies e uma subespécie do gênero
Biomphalaria: B. amazônica (Paraense, 1976), B. glabrata (Say, 1818), B. intermedia
(Paraense & Deslandes, 1962), B. kuhniana (Clessin, 1883), B. occidentalis
(Paraense, 1981), B. oligoza (Paraense, 1974), B. peregrina (Orbigny, 1835), B.
schrammi (Crosse, 1864), B. straminea (Dunker 1848), B. tenagophila (Orbigny,
1835) e B. tenagophila guaibensis (Paraense, 1984). Contudo, somente três destas
espécies são infectadas naturalmente por S. mansoni: B. glabrata, B. tenagophila e
B. straminea. Além disso, B. amazônica, B. peregrina e B. cousini são consideradas
potenciais hospedeiras, pois infectam-se experimentalmente pelo parasita (BRASIL,
2008).
Figura 9 – Distribuição dos hospedeiros intermediários de S. mansoni no Brasil.
Fonte: Adaptado de BRASIL, 2014b.
Na Figura 9 observa-se a distribuição espacial dos principais hospedeiros
intermediários do agente etiológico da esquistossomose mansoni no Brasil. B.
glabrata é a espécie de maior importância epidemiológica, por apresentar altos
níveis de infecção e sua distribuição quase sempre está associada à ocorrência da
esquistossomose. A espécie melhor adaptada a variações climáticas é a B.
straminea, possuindo ampla distribuição no território nacional, sendo registrada em
1.295 municípios distribuídos por 24 estados brasileiros. A transmissão da
esquistossomose nas Regiões Sul e Sudeste do país está relacionada à presença
de B. tenagophila, responsável pela maioria dos casos autóctones de
35
esquistossomose no estado de São Paulo e pelos focos da doença no estado de
Santa Catarina (BRASIL, 2008).
2.4 Situação epidemiológica da esquistossomose no Ceará
Os principais marcos históricos da esquistossomose no Ceará (ALMEIDA,
1999; ALENCAR, ROUQUAYROL & BEZERRA, 1978) foram:
Primeiro relato de casos positivos (2,8%) entre os 141 marinheiros
cearenses estudados por Maciel em 1925 e 1936;
Davis (1934) relatou a presença de S. mansoni em amostras de fígado
colhidas para diagnóstico de febre amarela; tendo encontrado uma positividade de
5,20% para Juazeiro, 2,25 % para Baturité e 0,22% para Fortaleza;
Evandro Chagas foi o primeiro pesquisadoe a realizar levantamento de
casos dessa doença no município do Crato (sul do estado), em 1938;
Alencar (1940 e 1947) foi o pioneiro no Ceará na realização de
diagnóstico por exame parasitológico de fezes, com 12,2% de positividade para o
município de Redenção e 11,7% para Pacoti;
Pará (1946) identificou 0,48% de viscerectomias com presença de S.
mansoni, provenientes dos municípios de Aracoiaba, Barbalha, Baturité, Juazeiro do
Norte, Maranguape, Pacoti e Redenção;
Durante o primeiro inquérito helmintológico escolar do Brasil,
coordenado por Pellon e Teixeira, entre 1947 a 1950, os exames no Ceará foram
realizados no ano de 1948. A positividade geral para o estado foi de
aproximadamente 1%, com casos detectados em 19 municípios, sendo três na
região litorânea, cinco na região das serras, três no Vale do Cariri, um no Sertão do
Cariri, um no Vale do Jaguaribe, dois no Baixo Jaguaribe, um no Médio Jaguaribe e
três no Sertão;
Freitas (1972), a partir de revisão das informações existentes no Brasil,
estimou que a doença afetava 27 municípios, dos quais cinco (Juazeiro do Norte,
Pacatuba, Pacoti, Quixadá e Redenção) apresentavam taxas superiores a 4%.
Nos levantamentos malacológicos iniciais realizados no estado B.
straminea foi a única espécie encontrada. Durante os estudos conduzidos por
36
Alencar (1940 e 1947), examinando-se moluscos em Redenção e Pacoti, encontrou-
se índice de positividade de 17,9% e 14,7% respectivamente. Porém, outros
pesquisadores encontraram índices bem mais baixos de positividade, como 0,25% e
0,08% apresentados por Bezerra, nas mesmas localidades (1955).
Segundo dados do Sistema de Informação do Programa de Vigilância e
Controle da Esquistossomose – SISPCE, a taxa global de positividade para a
doença no estado do Ceará foi de 0,75% em 2015. Foram realizados 15.727 exames
nesse ano, em 18 municípios, onde apenas nove apresentaram casos positivos, com
taxas mais elevadas em Jati (10,40%), Mauriti (8,87%) e Maranguape (2,25%).
Conforme demonstra a Figura 10, as principais áreas endêmicas do estado para
esse agravo são: Região do Cariri, Maciço de Baturité e Serra da Ibiapaba (SESA-
CE, 2016).
Figura 10 – Positividade por esquistossomose mansoni no Ceará.
Fonte: SESA-CE, 2015
No período de 2010 a 2015, a positividade total foi de 0,28%
(488/171.927), distribuída em 26,7% (19/71) dos municípios do Ceará que
realizaram o exame coproscópico. O número médio de ovos encontrados foi de 1 a 4
37
em 90% (441/448) das amostras analisadas e 68% dos casos identificados eram do
sexo masculino (332/448). De 1996 a 2016, o estado registrou 100 óbitos onde a
esquistossomose foi relatada como causa básica de morte, distribuídos em 45
municípios (CEARÁ, 2016).
A Secretaria de Saúde do estado, em colaboração estreita com o grupo
de pesquisa do Laboratório de Parasitologia e Biologia de Moluscos (LPBM) da
Universidade Federal do Ceará (UFC), vêm detectando casos de esquistossomose
entre os trabalhadores dos canteiros de obras da transposição do Rio São Francisco
nos municípios de Brejo Santo (9,1% - 45/352); Mauriti (5,5% – 23/416) e Penaforte
(1,21% – 3/247) desde o ano de 2010 (CEARÁ, 2016).
Todos os 184 municípios do estado apresentam B. straminea, sendo esta
a espécie responsável por manter o ciclo de transmissão local da esquistossomose.
Foram encontrados exemplares liberando cercárias de S. mansoni nos municípios
de Aurora, Baturité, Brejo Santo, Jaguaretama, Mauriti, Missão Velha e Orós. Outros
hospedeiros intermediários do gênero foram detectados, como B. scharammi crosse
em Aracati e Baturité; e B. kuhniana em Baturité e Icó. Entretanto, estes não são
infectados naturalmente pelo parasito e nem atuam na manutenção do ciclo dessa
parasitose (CEARÁ, 2016). Gomes e colaboradores (2011) relataram o encontro de
dois exemplares de B. glabrata no município de Aurora, em área próxima a uma
criação comercial de peixes. Porém, nenhum exemplar dessa espécie foi encontrado
durante amplo inquérito malacológico límnico realizado nesse município por
pesquisadores do LPBM/UFC, onde foram avaliadas 19 coleções hídricas nos
meses de outubro/2011, março/2012 e agosto/2012 (SOUSA et al., 2013).
2.5 Estratégias globais de prevenção e controle da esquistossomose
No início dos anos 2000 a estratégia da OMS para o combate da
esquistossomose visava basicamente o controle da carga de morbidade, porém
alguns países (Brasil, Burkina Faso, Camboja, China, Egito, Marrocos e Uganda)
conseguiram ir além e reduziram a transmissão da doença. Esses países
combinaram o controle de caramujos, por meio do uso de moluscicidas ou pelo
manejo ambiental, com tratamento em larga escala de populações afetadas e
tiveram uma redução no tamanho da área endêmica e/ou na prevalência de
38
infecção. Uma das principais recomendações da OMS era de que entre 5% e 10%
do orçamento do programa de controle fosse reservado para monitoramento e
avaliação, principalmente do indicador da cobertura de tratamento (WHO, 2001). No
período de 2006 a 2010 o número de pessoas tratadas para a esquistossomose
quase triplicou, porém representava apenas 13% dos que necessitavam de
quimioterapia preventiva. Com base nessa experiência positiva de alguns países, a
OMS estabeleceu como meta o controle progressivo da doença, visando a
eliminação da mesma como problema de saúde pública e até a interrupção da sua
transmissão (WHO, 2013).
A frequência de tratamento é determinada pela prevalência de infecção
em crianças em idade escolar. Mesmo que a reinfecção possa ocorrer após o
tratamento, o risco de desenvolver doença grave é diminuído e mesmo revertido
quando o tratamento é iniciado e repetido na infância. Assim, em áreas de alta
transmissão, o tratamento deve ser repetido todos os anos por vários anos. Segundo
diretrizes da OMS, os grupos-alvo para o tratamento são (WHO, 2016):
- crianças em idade escolar de áreas endêmicas;
- adultos considerados sob risco em áreas endêmicas e pessoas com
ocupações envolvendo contato com água contaminada, como pescadores,
agricultores, trabalhadores de áreas irrigadas e mulheres cujas tarefas domésticas
as colocam em contato com água contaminada;
- comunidades inteiras que vivem em áreas altamente endêmicas.
Vários países endêmicos possuem limitações que precisam ser
superadas para alcançar o controle a partir da eliminação da esquistossomose
(WHO, 2013). Os principais fatores identificados foram:
- compromisso político – destinar recursos financeiros adequados ao
programa e melhorar o acesso ao tratamento;
- coordenação do programa – melhorar a coordenação nos países e
implementar a coordenação internacional;
- comunicação – mostrar a importância da esquistossomose como
problema de saúde pública e sensibilizar os gestores e as comunidades afetadas;
- capacidade técnica – reforçar o apoio técnico aos países e definir a
estratégia de quimioterapia preventiva para cada área/país;
39
- monitoramento e avaliação – definir e utilizar indicadores e relatórios
padronizados; melhorar os métodos de monitoramento e avaliação;
- orientação operacional – quanto a ferramentas de diagnóstico
adequado; controle de caramujos e gestão da água; além de atenção à grupos com
maior vulnerabilidade como crianças em idade escolar, pessoas infectadas por HIV,
pacientes com hematúria.
Dados da OMS já demonstraram que esforços contínuos possibilitam
controle de morbidade a partir do tratamento em massa das populações sob risco
em nível nacional. Porém, a eliminação é um desafio muito maior, mais demorado e
que requer uma complexa combinação de fatores, além do tratamento em massa
(controle de caramujos, água, saneamento, mudança de comportamento, etc). O
principal desafio na atualidade é identificar quais combinações são mais efetivas
para o mínimo de dinheiro disponibilizado pelos governos e em um curto espaço de
tempo.
Frente a isso, surge o programa chamado Consórcio de esquistossomose
para pesquisa operacional e avaliação (SCORE - Schistosomiasis Consortium for
Operational Research and Evaluation), financiado pela Fundação Bill e Melinda
Gates. Esse consórcio é formado por mais de 55 pesquisadores que realizam
projetos em 19 países, com a participação de 26 instituições diferentes. O objetivo
principal é desenvolver pesquisas operacionais que norteiem quais as melhores
estratégias de controle devem ser adotadas para o efetivo controle e eliminação da
esquistossomose causada por S. mansoni e S. haematobium (COLLEY, 2014).
Recentemente foi publicado o documento Global Vector Control
Response 2017-2030 (WHO, 2017c), com diretrizes específicas para o controle de
vetores como abordagem fundamental para prevenir doenças e responder a surtos.
Sinalizou como principais diretrizes a implementação de esforços para maior
capacitação técnica dos programas de controle locais; melhoria da infraestrutura
sanitária de áreas em risco; sistemas de monitoramento e vigilância reforçados,
maior envolvimento e mobilização da comunidade. Essas medidas são os alicerces
que permitirão o cumprimento de objetivos específicos nacionais e globais que
visam reduzir a carga e o risco de doenças transmitidas por vetores que afetam os
seres humanos (Figura 11).
40
Figura 11 – Resposta global ao controle de vetores.
OBJETIVOS MARCOS ALVOS
2020 2025 2030
Reduzir a mortalidade por doenças transmitidas por vetores globalmente em relação a 2016
Pelo menos 30% Pelo menos 50% Pelo menos 75%
Reduzir a incidência de casos por doenças transmitidas por vetores globalmente em relação a 2016
Pelo menos 25% Pelo menos 40% Pelo menos 60%
Prevenir epidemias de doenças transmitidas por vetores *
Em todos os países sem
transmissão em 2016
Em todos os países
* Rápida detecção e redução de surtos para evitar propagação além do país.
Fonte: Adaptado de WHO, 2017c.
2.6 Programa de Controle da Esquistossomose no Brasil
O controle governamental da esquistossomose a nível nacional somente
foi implementado em 1975, com a criação do Programa Especial de Controle da
Esquistossomose (PECE), pela Superintendência de Campanhas de Saúde Pública
(SUCAM). O PECE tinha como atividades principais o reconhecimento geográfico de
cada localidade, que incluía: censo completo com levantamento do número de
casas, do número de habitantes (por casa e por localidade) e das condições
sanitárias locais; delimitar essas áreas pela construção de croquis, identificando as
vias de acesso, os limites naturais ou artificiais e as coleções hídricas; realizar
levantamento malacológico e aplicação de moluscicida nas coleções hídricas que
apresentarem maior importância epidemiológica para a comunidade (sendo
realizado em menor escala e de forma irregular); realizar o diagnóstico coproscópico
de portadores dessa doença (foco principal em crianças de 7 a 14 anos de idade) e
aplicar o tratamento específico, geralmente, realizado em massa (MACHADO, 1982).
Durante os anos de 1976 a 1981, foram examinados 333.427 escolares
em 18 estados e a prevalência média foi de 3,7%. Esse programa resultou em mais
de 12 milhões de tratamentos para a doença em todo o país, principalmente na
Região Nordeste, reduzindo o número de portadores, as formas graves e a taxa de
mortalidade da doença (LIMA e COSTA et al., 1993).Dados da Fundação Nacional
de Saúde (FUNASA) mostraram que as taxas de morbimortalidade relacionadas à
41
esquistossomose tiveram uma redução de 50%: de 0,65 para 0,30 óbitos por
100.000 habitantes, no período de 1977 a 1993; enquanto as internações
hospitalares foram de 3 internações por 10.000 em 1989 para 1,5 por 10.000 em
1995 (KATZ, 1998).
Na década de 1990 muitas mudanças aconteceram, e esse programa foi
incluído nas atividades do Programa de Controle de Doenças Endêmicas (PCDEN)
em 1989, a SUCAM foi incorporada à FUNASA em 1991 e em 1999 ocorreu
oficialmente a descentralização das ações de controle e vigilância da
esquistossomose, por meio de convênios com os municípios, inicialmente
aumentando a área de cobertura do programa. Além das medidas de controle que
priorizavam o tratamento e as atividades malacológicas, ainda em 1993 foram
iniciadas obras de saneamento básico nas áreas com prevalência acima de 30%
(COURA e AMARAL, 2004).
O PCE iniciou sua informatização em 1994 a partir da implementação do
Sistema de Informação do Programa de Vigilância e Controle da Esquistossomose –
SISPCE, implantado em julho de 1995, primeiramente em Minas Gerais e nos anos
seguintes foi expandido para os demais estados. Esse sistema era de
responsabilidade da FUNASA, por intermédio dos Distritos Sanitários e
Coordenações Regionais, e posteriormente passou a ser operacionalizado e
gerenciado pelas Secretarias de Saúde de Estados e Municípios. Os formulários de
campo anteriormente utilizados foram adequados ao novo sistema, permitindo o
registro de informações operacionais relativas a inquéritos coproscópicos,
epidemiológicos e de malacologia (FARIAS et al., 2007).
Em 1996, estimou-se que ainda poderiam existir 7,4 milhões de pessoas
com a doença no Brasil (KATZ e PEIXOTO, 2000), sendo a perspectiva de controle
da doença ainda um imenso desafio, pois não foram alcançados os objetivos de
redução da prevalência a níveis inferiores a 25% (em algumas áreas focais);
supressão das formas graves da doença; eliminação das áreas focais e prevenção
da expansão para áreas vulneráveis indenes (AMARAL, 2006).
No final dos anos1990, após a descentralização das ações do PCE e
criação do SUS foi estabelecido que as ações de vigilância e controle deste
programa deveriam ser incluídas na rotina das equipes de Atenção Básica à Saúde.
Os recursos destinados a estas atividades, que antes eram exclusivos do governo
federal, foram redistribuídos e passaram a ser de responsabilidade dos gestores
42
municipais. Apesar da mudança de modelo, os objetivos do programa não foram
alcançados por insuficiência de recursos financeiros e humanos (BRASIL, 2014b).
Após os grandes inquéritos realizados até a década de 1970 apenas
trabalhos isolados se seguiram, dificultando a estimativa do número de pessoas
infectadas a nível nacional e o estabelecimento de novas diretrizes técnicas de
controle principalmente por conta da diversidade geográfica, social, econômica e
cultural do país. Em 2003, Katz e Almeida realizaram uma análise crítica do possível
número de portadores da esquistossomose e apontaram a necessidade da
realização de um inquérito nacional, a fim de mostrar a real situação da doença no
Brasil. Destaca-se a importância de um dimensionamento correto do tamanho
amostral, visando adequada representatividade das populações de todos os estados
do país, visto que a doença não apresenta distribuição regular no território, mas sim
de expressão focal (KATZ e PEIXOTO, 2000). Em 2010, o governo aprovou o
Inquérito Nacional de Prevalência da Esquistossomose e Geo-helmintoses (INPEG),
por sugestão de especialistas, cujo principal objetivo era conhecer a prevalência da
esquistossomose, ascaridíase, tricuríase e ancilostomíase em crianças, em idade
escolar, no âmbito do território nacional.
A esquistossomose passou a ser doença de notificação compulsória nas
áreas não endêmicas em 2014, conforme a Portaria de número 1.271, da Secretaria
de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, porém recomendava-se que todas
as formas graves, em área endêmica, fossem notificadas. Deveriam ser notificados
também todos os casos de esquistossomose diagnosticados nas áreas indenes e
vulneráveis, bem como nas áreas focais dos estados do Pará, Piauí, Rio de Janeiro,
São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. Os
casos notificados deveriam ser investigados a partir da ficha específica de
investigação de caso de esquistossomose, disponibilizada pelo Sistema de
Informação de Agravos de Notificação – SINAN (BRASIL, 2014b).
Atualmente o PCE ainda foca no diagnóstico precoce (pelo método Kato-
Katz, descrito em 1972) e no tratamento de portadores de S. mansoni como
estratégia principal para o controle da doença, realizados por equipes móveis por
meio da busca ativa de casos a partir dos inquéritos coproscópicos domiciliares.
Esta estratégia já mostrou que funciona muito bem na redução da mortalidade, da
morbidade e do número de hospitalizações associados a ela. Porém, é insuficiente
para a redução da prevalência, principalmente em áreas de baixa endemicidade, ou
43
para a eliminação da transmissão de forma duradoura e sustentável. Portanto, é de
extrema importância a integração de suas atividades à Rede de Atenção Básica à
Saúde e a implantação de medidas complementares como educação em saúde,
saneamento ambiental e controle de hospedeiros intermediários, com melhorias
reais das condições de vida da população (ROLLEMBERG et al., 2015).
A ineficiência do PCE nos moldes atuais, mesmo após décadas de sua
implantação, foi muito bem explicada por Katz, ainda em 1986, onde afirmava que
essa abordagem puramente médica no controle da doença estava fadada ao
insucesso, pois a esquistossomose não pode ser entendida como um fenômeno
individual, mas como um fenômeno complexo, que ocorre dentro de contextos
sociais, políticos, econômicos e sanitários (CARDIM, 2011).
2.7 Ações de controle da esquistossomose no Ceará
A esquistossomose vem sendo notificada no Ceará desde 1929, a partir
de trabalhos publicados, sequencialmente por Alencar (1940), Pellon e Teixeira
(1950/53) e Rouquayrol (1964/65), identificando a presença da doença em diversos
municípios do estado, conferindo á endemia o caráter de problema de saúde
pública. A partir de 1976, o Ministério da Saúde organiza o Programa Especial de
Controle da Esquistossomose (PECE), que iniciou o levantamento epidemiológico
sistemático para delimitação das áreas consideradas endêmicas para
esquistossomose nos estados de Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio
Grande do Norte e Sergipe (MACHADO, 1982). Nos anos de 1977 e 1978, foi
realizado o primeiro inquérito coproscópico no Ceará, onde foram identificados 16
municípios como endêmicos, alguns com percentuais de positividade muito
significativos como: Baturité (31,0%), Pacoti (21,4%), Redenção (16,2%), Aracoiaba
(13,2%), Guaramiranga (10,3%), Palmácia (10,1%) e Pacatuba (10,0%) (SOUSA,
FERNANDES & SILVA, 1995). Essas áreas foram divididas de acordo com a
hidrografia regional: Região hidrográfica I – Pacoti, Choró, Pirangi; Região
hidrográfica II – Rio Curu (com municípios envolvidos em projetos de irrigação do
Departamento Nacional de Obras Contra a Seca-DNOCS) e Região hidrográfica III –
Quixadá e localidades periféricas (com focos alimentados pelos canais de irrigação
que provinham do açude Cedro); Região Hidrográfica IV – municípios da Bacia do
44
Rio Jaguaribe, expandindo-se para os municípios de Barbalha, Crato, Juazeiro do
Norte e Missão Velha (PONTES et al., 1999).
As ações do PECE foram divididas em três etapas: Fase Preparatória
(delineamento das áreas endêmicas – reconhecimento geográfico, levantamento
malacológico, levantamento coproscópico, realização de obras de saneamento
básico e educação sanitária), Fase de Ataque (tratamento em massa da população
de acordo com os índices de prevalência encontrados, tratamento com moluscicidas
das coleções hídricas de importância epidemiológica, acompanhamento de medidas
de melhorias sanitárias e educação sanitária) e Fase de Vigilância (levantamentos
coproscópico periódicos, tratamentos e retratamentos das populações selecionadas,
controle de caramujos nas coleções hídricas de importância epidemiológica,
conservação das obras de melhoria sanitária e manutenção das atividades de
educação sanitária) (PONTES et al., 1999).
No Ceará a Fase Preparatória foi realizada entre 1977 a 1979
integralmente nas Regiões Hidrográficas I e II, a Região Hidrográficas III tendo sido
trabalhada parcialmente (70%) e apenas os municípios de Itapiúna e Mulungu foram
considerados não endêmicos. Na Fase de Ataque, os municípios da Região
Hidrográficas III não foram operacionalizados por insuficiência do número de
servidores nessa área. Em todas as áreas positivas, independente dos níveis de
prevalência, foi realizado o tratamento universal da população de 1 a 70 anos, por
opção da coordenação estadual do programa, sob alegação da existência de
medicamentos em quantidade suficiente. O controle da fauna planorbídea foi
efetuada com a aplicação de Bayluscid® nas coleções hídricas de importância
biológica. A Fase de Vigilância iniciou-se a partir de 1980, onde as reavaliações
coproscópicas foram realizadas a cada semestre até 1982, nas áreas trabalhadas
anteriormente e a partir de 1983 a periodicidade passou a ser anual. No entanto, os
municípios de Aracoiaba e Baturité permaneceram com avaliações semestrais até
1984 por manutenção de altos índices da doença (PONTES et al., 1999).
Quando iniciou o PCE, como parte do Programa de Controle das Doenças
Endêmicas do Nordeste (PCDEN), as ações a serem executadas foram divididas em
três grupos principais considerando-se: objetivos relacionados aos aspectos
processuais do programa de controle, objetivos voltados à obtenção de um impacto
epidemiológico sobre a esquistossomose, realização de ações de Informação,
Educação, Comunicação e Mobilização Comunitária (IEC/MC). No Ceará, técnicos
45
responsáveis pela execução dessas atividades referiram que continuaram adotando
basicamente as diretrizes do PECE. Em 1989, os municípios foram categorizados
em área endêmica (26 municípios) e área com potencial endêmico (16 municípios),
com periodicidade de trabalho bienal e anual, respectivamente. Entre 1989 e 1994,
na Região Hidrográfica I foram trabalhados 70% (1.818/2.597) das localidades
endêmicas, examinando-se em média 65% da população residente, com 21%
(379/1.805) dessas localidades apresentando casos da doença. Na Região
Hidrográfica IV trabalhou-se 87% (1.142/1.313) das localidades, examinando 53%
da população residente e encontrando 39% das localidades positivas. Foi trabalhada
também a Bacia Hidrográfica do Rio Parnaíba, na Região da Serra de Ibiapaba,
onde foram trabalhas 62% das localidades, com 27% delas positivas (PONTES,
1996).
No período de 1997 a 2011, a taxa de positividade era de 0,82% (12.665
portadores de S. mansoni em 1.041.880 exames coproscópico realizados).
Atualmente o PCE atua em 71 municípios de áreas endêmicas, localizadas em três
regiões do estado do Ceará: Cariri, Maciço de Baturité e Serra da Ibiapaba (SESA-
CE, 2011).
No Ceará, após a descentralização das ações do programa de controle, a
realização de lâminas para diagnóstico da esquistossomose passou a ser de
responsabilidade dos técnicos das secretárias estaduais e municipais de saúde, com
apoio de servidores da FUNASA. Porém, grande parte do pessoal da Fundação
sofreu desvio de função, ao ser cedida para prefeituras municipais, situação que foi
agravada com o passar dos anos quando muitos destes profissionais se
aposentaram. Este fato comprometeu de forma significativa a execução das ações
de vigilância, em especial o diagnóstico parasitológico, onde o número de exames
passou de 100.000 anuais para 40.000. Como forma de compensação a
Coordenação de Promoção e Proteção à Saúde – COPROM, responsável pelo PCE
no estado, firmou parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública – LACEN,
desenvolvendo uma rede de diagnóstico com apoio de farmacêuticos-bioquímicos
do LACEN central e regional. O controle de qualidade desses exames tem sido
atualmente realizado pelo serviço de referência do Centro de Pesquisa Aggeu
Magalhães – CPqAM (SESA-CE, 2015).
Além das áreas costumeiras, o programa tem ampliado a vigilância do
agravo por meio de buscas ativas nas áreas não anteriormente trabalhadas, mas
46
que apresentam casos suspeitos e fatores ambientais (coleções hídricas,
insuficiência de saneamento básico e presença do hospedeiro), mas que contribuem
fortemente para transmissão e dispersão de casos. Tal medida de vigilância tem
proporcionado a descoberta de novos focos potencialmente endêmicos no estado
em áreas que não eram trabalhadas pelo programa, a exemplo dos municípios de
Aquiraz (5 casos, no ano de 2013), Itapipoca (21 casos, no ano de 2014) e
Martinópole (12 casos, no ano de 2010) (SESA-CE, 2017).
Em parceria com o Grupo de Pesquisa em Esquistossomose da UFC,
algumas áreas foram trabalhadas em termos de ampliação das ferramentas
diagnósticas e de ações de educação em saúde. No período de 2007 a 2008 foi
desenvolvido projeto de pesquisa na localidade de Caititú de Cima, em Pacoti, onde
foram oferecidos a população exame coproscópico (técnica de Kato-Katz) e
sorológicos (ELISA IgG), com positividade de, respectivamente, 3,8% e 33,8%. Foi
realizado ainda o método de Lutz, detectando 65,2% de positividade para outros
parasitos intestinais (FROTA et al., 2011). No período de 2009 a 2010 foi
desenvolvido projeto de pesquisa na localidade de Planalto do Cajueiro, em
Maranguape, com realização de diagnóstico para esquistossomose por ELISA-IgG
(47,2% reativos), Kato-Katz (8,8% – com leitura de três lâminas e 1,3% – com leitura
de uma lâmina, segundo rotina do PCE), Gradiente salínico (18,0%), Helmintex
(47,1%), PCR (37,5%) (PINHEIRO, 2010; PINHEIRO et al., 2012; CARNEIRO et al.,
2013). Entre 2010 a 2011, nessa mesma área, foram desenvolvidos ainda projetos
de pesquisa envolvendo a presença de marcador de dano à função renal causada
por esquistossomose (HANEMANN et al., 2013) e avaliação de resposta alérgica
entre portadores desse agravo (OLIVEIRA et al., 2014). Na localidade de
Bananeiras, em Capistrano no ano de 2013, foi desenvolvido o primeiro estudo no
Brasil utilizando as novas ferramentas de diagnóstico da esquistossomose por
detecção de antígenos circulantes (CCA e CAA), com positividade respectivamente
de 6,2% e 34,4% (desconsiderando os resultados irresolutos), em contraste com
1,6%de positivos encontrados pelo método de Kato-Katz (SOUSA, 2015).
A partir do ano de 2009 esse grupo de pesquisa, com apoio do PCE
estadual, passa a construir uma “linha de base” dos municípios a serem atingidos
pelo PISF no Ceará, por meio da avaliação do perfil demográfico, dos indicadores
socioeconômicos e ambientais e suas implicações na transmissão da
esquistossomose (GOMES, 2010; GOMES, 2013). A partir do ano de 2013, iniciam-
47
se as atividades de diagnóstico da esquistossomose e ações de educação em saúde
nas áreas a serem diretamente afetadas pelo PISF com risco para esquistossomose
no Ceará, estudo esses que deram origem à presente Tese de Doutorado.
2.8 Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF)
A crise hídrica tem despontado cada vez mais como uma problemática
agravada por um contexto adverso de natureza social, econômica e ambiental no
século XXI (TUNDISI, 2008). Diante disso, nas últimas décadas, a construção de
represas tem sido uma alternativa na gestão e na utilização das águas, de forma a
possibilitar o desenvolvimento econômico e social de muitos países. Porém, essas
intensas ações antrópicas com transformações das paisagens naturais, vêm
ocasionando mudanças de diferentes naturezas no solo, na água, na atmosfera, na
biodiversidade e na população humana, contribuindo para o desenvolvimento e a
disseminação de diversas endemias (TUBAKI et al., 2004; TUNDISI, 2008). Além
disto, têm suscitado grandes debates sobre o acesso às águas, em virtude dos
conflitos gerados por priorização a objetivos relativos ao “desenvolvimento
econômico” em detrimento das populações locais, tradução de desenvolvimento
humano e social (BACCI& PATACA, 2008).
O aumento na prevalência da esquistossomose tem sido observado como
um dos efeitos deletérios à saúde da população, em consequência do aumento no
número de represas em escala mundial. Sem planejamento relativo a estes
impactos, a construção pode criar ambiente ecologicamente favorável à introdução e
dispersão de Schistosoma sp. (GAZIN et al., 2000; MALEK, 1975; ABDEL-WAHAB,
1979; TRAORÉ, 1989). Na medida em que o represamento de água, e a
consequente passagem de um sistema lótico para lêntico, propiciam mudanças
ambientais na qualidade da água, na riqueza da fauna, na densidade de espécies e
em outros aspectos da biodiversidade, acaba por possibilitar condições propícias ao
estabelecimento dos moluscos transmissores da esquistossomose. Além disso, não
menos importante, leva ao aumento do assentamento humano, muitas vezes
precarizado, e do turismo nestes locais (LIMA & BATISTA, 2010; LEME, 2007;
NOGUEIRA; HENRY; JORCIN, 2005).
48
No Brasil, este movimento também tem sido observado. A crescente
demanda de energia, associada à grande disponibilidade de recursos hídricos
favoráveis, estimularam a construção de barragens e hidrelétricas nas últimas
décadas (BRONZATTI; IAROZINSKI NETO, 2008). Já a Região Nordeste do país
possui outro grande agravante que reforça ainda mais a necessidade de um amplo
número de reservatórios: a seca. Essa região tem 1,56 km² (18,2% do território
nacional), com mais de 47 milhões de habitantes (quase 28% da população
brasileira). O semiárido nordestino (Figura 12) caracteriza-se por ser uma região que
possui apenas 3% da disponibilidade de água do país, com precipitações médias
anuais muito irregulares (200 a 700mm por ano), o que provoca grande
irregularidade na distribuição desse recurso natural (BRASIL, 2006). Essa
característica causa uma forte dependência da intervenção do homem sobre a
natureza no sentido de garantir o armazenamento de água para abastecimento
humano e demais usos produtivos (BUAINAIN e GARCIA, 2013).
Figura 12 – Localização e delimitação institucional do semiárido brasileiro e das
capitais estaduais.
Fonte: Adaptado de BUAINAIN & GARCIA, 2013.
A maioria dos rios nordestinos possui regime temporário, permanecendo
secos grande parte do ano. A maior exceção a isso é o Rio São Francisco,
intermitente e com grande aporte hídrico, concentrando 70% dos recursos hídricos
da região. Esse grande rio nordestino que se estende por 2.700km, porém, nasce na
Serra da Canastra, no Estado de Minas Gerais, e somente após centenas de
quilômetros de percurso entra na região Nordeste e desemboca no mar entre
49
Alagoas e Sergipe (Figura13). Outros rios permanentes são encontrados no
Maranhão, no Piauí e na Bahia, com destaque para o Rio Parnaíba. Os rios de
regime temporário são encontrados na porção nordestina que se estende desde o
Ceará até a região setentrional da Bahia. Entre esses, destaca-se o Jaguaribe, no
Ceará, pela sua extensão e potencial de aproveitamento, pois em sua bacia
hidrográfica encontram-se alguns dos maiores reservatórios do Nordeste, como o
Açude Castanhão e o Açude Orós (CIRILO et al., 2003).
Figura 13 – A Bacia do Rio São Francisco.
Fonte: Plano Nascente São Francisco (Brasil, 2016a).
A ideia de utilizar as águas do Rio São Francisco para aplacar os danos e
os limites de desenvolvimento impostos ao Nordeste pela seca, remonta ao Período
Colonial. Segundo historiadores, intelectuais do Império Brasileiro de Dom Pedro II
já idealizavam essa solução, porém, naquela época não existiam recursos
50
tecnológicos suficientes para isso. A ideia vai sendo melhor elaborada e discutida
durante diversos governos (Getúlio Vargas, João Batista Figueiredo, Itamar Franco e
Fernando Henrique Cardoso), até que no primeiro mandato do Presidente Lula são
finalizados estudos e relatórios de impactos ambientas (CAMELO FILHO, 2007).
Sobre fortes protestos de Organizações Não Governamentais (ONGs), de alguns
políticos e até mesmo da Igreja Católica, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) aprova o projeto que posteriormente
ficaria conhecido como “Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias
Hidrográficas do Nordeste Setentrional” (AVEIRO, 2014; RUFINO, 2013; CAPPIO,
2008; MOREIRA, 2007), que a partir deste ponto será identificado nesse texto
apenas como PISF.
O PISF é um empreendimento do Governo Federal, sob a
responsabilidade do Ministério da Integração Nacional, dividido em dois eixos: o Eixo
Norte que levará água para os sertões de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio
Grande do Norte; e o Eixo Leste que beneficiará parte do sertão e das regiões
agrestes de Pernambuco e da Paraíba (Figura14). O objetivo principal é solucionar a
deficiência hídrica dessa região até 2025 por meio da transferência de
aproximadamente 1,4% de água da vazão média do Rio São Francisco por canais
para abastecer açudes e perenizar rios menores. Dessa forma, o acesso à água
seria garantido a cerca de 12 milhões de habitantes em mais de 390 municípios,
entre pequenas, médias e grandes cidades do Nordeste Setentrional (BRASIL,
2005).
Essas pressupostas melhorias na qualidade de vida, prometidas com a
execução dessas obras, deveriam ser sentidas diretamente por mais de 78 mil
habitantes, em 294 comunidades que se localizam às margens dos canais do Eixo
Norte e do Eixo Leste. Dentre estas comunidades rurais a serem beneficiadas 12
são comunidades quilombolas, 23 indígenas e nove assentamentos do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA (BRASIL, 2014c). Além disso,
grandes centros urbanos terão reforço no seu abastecimento de água: Campina
Grande, Caruaru, Crato, Juazeiro do Norte, Mossoró e até mesmo Fortaleza, que
também irá se beneficiar da transposição devido a um projeto estadual denominado
Cinturão das Águas, que pretende interligar todas as bacias hidrográficas do Ceará
(BRASIL, 2004a).
51
Figura 14 – Eixos do Projeto de Integração do Rio São Francisco.
Fonte: Editoria de Arte/Folhapress, 2017.
Dentre as ações socioambientais, incluiu-se a previsão de construção de
18 Vilas Produtivas Rurais (VPRs) que se destinam ao reassentamento de
moradores que viviam na área de implantação das estruturas do PISF. Sendo
constituídas por um setor residencial e um setor produtivo, conta com redes de
abastecimento de água, rede de esgoto e energia elétrica, posto de saúde, escola,
estrutura de lazer (campo de futebol e praça) e áreas destinadas ao comércio e à
construção de espaços religiosos. Cada família recebe um setor produtivo, com no
mínimo cinco hectares, sendo um (1) hectare destinado à irrigação. Essa política de
compensação prevê contemplar 848 famílias nos quatros estados abrangidos pela
obra, 16 já foram concluídas e restam duas a serem entregues no Ceará (BRASIL,
2014c). A despeito destas ações, o impacto gerado nas pessoas, suas famílias e
comunidades destes territórios em virtude destas obras e/ou de sua remoção deve
ser considerado (BRASIL, 2004a).
Em 2007 o governo brasileiro criou o Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), que teve como principal objetivo a retomada do planejamento e
execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética,
52
visando o desenvolvimento acelerado e sustentável do país. Transporte, energia,
saneamento, habitação e recursos hídricos foram as principais áreas contempladas
pelo montante dos recursos destinados, cerca de R$ 504 bilhões (BRASIL, 2007).
Dentro desse plano de governo e linha de financiamento específica, deu-se início às
obras do PISF que vem gerando desenvolvimento social na Região Nordeste. Em
algumas etapas da obra, chegaram a ser empregados quase 11.500 trabalhadores,
que se revezavam dia e noite nos canteiros e quase 4.000 máquinas foram
utilizadas (AVEIRO, 2014).Este projeto prevê a recuperação de 23 açudes,
construção de 27 reservatórios que irão funcionar como pulmões de água para os
sistemas de abastecimento do agreste, que contam ainda com quatro túneis, 14
aquedutos e nove estações de bombeamento, que fornecerão 6m3 de água por
segundo. Insere-se entre as maiores obras não só do país como do mundo, com
projetos secundários que pretendem criar uma área de 1.142.400 km2 de área
irrigada (equivalente à 160 mil campos de futebol). Há a previsão de uma política de
desenvolvimento regional sustentável associada, e pensada para abranger as
questões multivariadas como as socioambientais e as arqueológicas do semiárido.
Ademais, ainda estão previstas construções de duas pequenas centrais hidrelétricas
junto aos reservatórios de Jati e Atalho, no Ceará, com capacidade para gerar
respectivamente 40MW e 12 MW (BRASIL, 2004a).
O PISF no estado do Ceará encontra um cenário de potencial favorável
para seu desenvolvimento, a despeito dos aspectos relativos a que populações,
instituições ou corporações terão acesso à água (GOMES, 2012). O Estado possui
93% de seu território inserido na região do semiárido nordestino brasileiro, onde
todos os rios são intermitentes e a disponibilidade de recursos hídricos subterrâneos
é limitada. O governo estadual têm implantado obras que visavam melhorar o
acesso a água no território cearense. Em 1993, emergencialmente, foi construído o
Canal do Trabalhador que capta água do Rio Jaguaribe, sendo transportada por
mais de 100km até o Complexo de Açudes Pacoti-Gavião. Atualmente essa água
serve para abastecimento de 27mil habitantes do entorno do canal e irriga 1,5 mil
hectares, atendendo, principalmente, pequenas propriedades com desenvolvimento
de agricultura familiar. Inicialmente essa obra foi pensada para resolver as
constantes irregularidades no abastecimento da capital Fortaleza, porém, o aumento
na demanda da Região Metropolitana levou à necessidade de outras obras de maior
53
porte.Nesta perspectiva, surge o Eixão das Águas (EA) que foi inaugurado em 2009
e substituiu a função desse canal (CEARÁ, 2009).
Figura 15 – Projeto Cinturão de Águas do Ceará. Canais e Eixos de Integração de
Bacias no Ceará.
Fonte: Secretaria dos Recursos Hídricos, Ceará (2010).
O EA é um conjunto de obras que leva águas do Açude Castanhão para a
Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e para o Complexo Industrial e Portuário
do Pecém, contando com 256 km de canais, túneis e adutoras, abastecendo 18
municípios cearenses e beneficiando 4 milhões de cearenses. Com as obras do
PISF, o governo do Ceará, vislumbrou a possibilidade de interligação dessas duas
grandes obras, o EA foi ampliado e passou a ser denominado Projeto Cinturão de
Águas do Ceará – CAC (Figura15), que integrará todas as 12 Bacias Hidrográficas
do estado e distribuirá as águas do Rio São Francisco por cerca de 93% do território
cearense (CEARÁ, 2010).
54
Em território cearense as águas do Rio São Francisco, represadas no
reservatório de Jati (extremo sul do estado do Ceará), irão correr por intermédio dos
canais, desembocando no Açude do Atalho (divisa entre Jati e Brejo Santo). Neste
ponto haverá geração de energia elétrica a partir da previsão de obra de usina
elétrica a ser construída. Essas águas irão novamente escoar por gravidade, nos
canais, até serem lançadas no leito do Rio Salgado (na altura do município de
Aurora), de lá seguirão o fluxo natural até desembocar no Rio Jaguaribe que é
represado pelo Açude Castanhão (entre Jaguaretama e Jaguaribara). Deste ponto
as águas seguem, pelo Canal da Integração para abastecer a grande região
metropolitana de Fortaleza e vão finalizar seu percurso no Complexo Industrial-
Portuário do Pecém no município de São Gonçalo do Amarante (BRASIL, 2005).
O PISF tinha orçamento inicial estimado em R$ 4,5 bilhões, quase R$ 1
bilhão destinado à realização de programas ambientais, representando
aproximadamente 12% do recurso total (BRASIL, 2004a). Por conta de erros em
cálculos estruturais, falhas técnicas na execução de algumas etapas, dentre outros,
os valores gastos com este mega projeto ultrapassaram R$9,5 bilhões, segundo
levantamentos não oficiais. Possivelmente, todos esses custos serão repassados
para os consumidores dessa água, que ainda deverá ser tratada pelas cidades
receptoras (MENEZES, 2015).
O Eixo Leste foi inaugurado em 10 de março de 2017 na cidade de
Monteiro (PB), e em junho de 2017, o levantamento divulgado pelo governo afirmava
que o Eixo Norte tem previsão de entrega e funcionamento para o início de 2018,
estando com quase 95% das obras executadas (BRASIL, 2016b).
55
3 JUSTIFICATIVA
É inquestionável a importância da esquistossomose como problema de
saúde pública, considerando-se a elevada carga de morbimortalidade associada. A
despeito de sua relevância, segue como doença negligenciada, causa e
consequência da pobreza estrutural dos países endêmicos, ampliando os desafios
para o controle. O Brasil tem sido uma área endêmica relevante para o controle
global, em especial na região Nordeste do País. Nesta perspectiva, o Estado do
Ceará insere-se com o desafio de sustentar no século XXI as ações de vigilância e
controle. Além disto, há uma grande responsabilidade para os pesquisadores no
País em termos da geração de evidências que possam contribuir efetivamente para
estas ações, mas também a atenção integral à saúde para as pessoas afetadas, a
partir do desenvolvimento de novos métodos complementares diagnósticos e
preditores da evolução clínica, assim como de opções terapêuticas.
Coutinho e colaboradores, em 1992, afirmavam que a esquistossomose é
uma doença preferencialmente da zona rural e que tem acompanhado a
humanidade há muito tempo, todavia sem ser debelada pelos progressos modernos.
Reconheciam ser o próprio homem o responsável pela manutenção e expansão da
doença, por modificar o espaço geográfico em seu benefício e gerando
desigualdades. Porém, sem tomar os devidos cuidados, fornece novos habitats a
parasitos e cita como exemplo a construção de barragens e as obras de irrigação.
Essas afirmações são, ainda hoje, extremamente atuais, a despeito da
complexificação dos cenários epidemiológicos, políticos e econômicos,
principalmente nos países mais pobres ou naqueles de grande extensão territorial,
como é o caso do Brasil, onde a pobreza ainda persiste.
Os indicadores de prevalência e mortalidade bem como a intensidade
dessa infecção, dentre outros, são influenciados por padrões de contato com a água
(específico de cada população), da imunidade adquirida (respostas individuais) e
dos fatores comportamentais, profissionais, culturais e religiosos locais (GRYSEELS
et al., 2006). O Brasil é um país plural, de dimensões continentais, formado por
várias regiões e microrregiões que diferem muito entre si sob diversos aspectos.
Assim, deve-se pensar em ações de controle para a doença que possam ser
eficazes dentro de cada uma das realidades locais.
56
As obras de engenharia sanitária são seguramente as principais medidas
a serem tomadas para interromper a transmissão da esquistossomose. Elas evitam
a eliminação inadequada dos dejetos e, dessa forma, impedem a propagação da
endemia por meio de esgotos a céu aberto, córregos e rios poluídos (KATZ &
ALMEIDA, 2003). O fornecimento de água tratada à comunidade, principalmente as
rurais, evitam o contato com águas naturais e que as mesmas sejam contaminadas.
No Brasil, o abastecimento de água tratada alcança 83,3% da população, porém
mais de 35 milhões não possuem acesso a este serviço básico, principalmente nas
zonas rurais. O Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS)
evidenciou que 50,3% dos brasileiros têm acesso à rede de coleta e 42,7% ao
tratamento de esgoto, porém mais de 100 milhões não dispõem desse serviço
(SNIS, 2015). Além disto, mais de 4 milhões de brasileiros não têm acesso a
banheiros (WHO/UNICEF, 2014).Outra medida fundamental é implementar ações de
informação, educação e comunicação em saúde junto às comunidades que vivem
em áreas endêmicas, buscando empoderamento e mudança de comportamento nas
comunidades (ROLLEMBERG et al., 2015).
Dentro deste cenário de dúvidas e preocupações relativas ao PISF,
despontam questões relativas ao impacto deste complexo de obras na transmissão
de doenças de veiculação hídrica, principalmente a esquistossomose. Sabe-se que
esta doença, assim como seu principal transmissor, B. glabrata, está presente em
quase toda a Bacia do Rio São Francisco, distribuídos em muitos municípios por ele
banhados, desde sua nascente no estado de Minas Gerais até sua foz na divisa dos
estados de Alagoas e Sergipe. Na Bahia vários municípios às margens do rio
principal e seus tributários são endêmicos. Muitas dessas cidades às margens do rio
despejam esgoto sem tratamento em suas águas, o que poderia ocasionar a
transferência dessa água com a presença de hospedeiro intermediário e do agente
etiológico para os reservatórios do projeto (BRASIL, 2004b).
O Ceará é o único estado do Nordeste sem o registro da presença de B.
glabrata, sendo grande o temor que esta espécie estabeleça criadouros nessa
região por intermédio da interligação das águas cearense com as do Rio São
Francisco. Isto poderia contribuir para o aumento na transmissão da doença,
principalmente considerando o grande processo migratório entre as cidades que
recebem os canteiros de obras desse tipo de projeto; a falta de infraestrutura
sanitária e a não sustentabilidade e ineficiência dos serviços de vigilância
57
epidemiológica dessas cidades (BEZERRA, 2016). Estes fatores poderiam estar
associados potencializando os determinantes e condicionantes para a manutenção
da dinâmica de transmissão da esquistossomose já existentes na região sul do
estado: pessoas infectadas; espécie transmissora da doença (B. straminea);
coleções hídricas propícias para a vida dos moluscos e os hábitos da população que
levam ao contato com águas naturais – atividades domésticas (lavagem de roupas e
louças), dessedentação de animais, lazer e atividades produtivas ligadas à irrigação
(ROLLEMBERG et al., 2015). Desta forma, áreas atualmente livres dessa endemia,
apesar da presença de um dos vetores, tornar-se-iam potencialmente endêmicas em
função das modificações ambientais e socioeconômicas proporcionadas pelo PISF.
Sendo real, o agravamento dessa situação levaria ao risco de introdução e
disseminação de B. glabrata, principalmente, devido a sua alta capacidade para
povoar valas, açudes e canais; além do seu amplo limite de tolerância a fatores
físico-químicos da água que permitem sua sobrevivência mesmo em locais com
baixa qualidade da água. A adoção de medidas de controle, particularmente em
projetos onde existirão canais a céu aberto, é fundamental devido ao poder de
proliferação desse vetor nos taludes (BRASIL, 2004b).
Tornando-se imprescindível uma articulação do Setor Saúde, em suas
diversas instâncias, com outros setores relacionados ao uso e à gestão dos recursos
hídricos, visando o estabelecimento de ações no sentido de minimizar esses riscos
de aumento na transmissão da esquistossomose. O fortalecimento do arcabouço
institucional torna-se um fator preponderante para a execução de tais práticas, frente
ao enfraquecimento das estruturas municipais de saúde após o processo de
descentralização. Para tanto, são estratégicos: promoção da sensibilização dos
gestores e principais atores do SUS quanto ao risco de transmissão da
esquistossomose além da capacitação dos mesmos quanto aos critérios técnicos a
serem utilizados no direcionamento dessas ações. Ressalta-se ainda a importância
de se estimular a participação das diversas instâncias do SUS, em especial da
população, e a integração deste com outros setores-chave como os relacionados
aos recursos hídricos e às Secretarias de Educação.
Com base nas informações expostas, este estudo justifica-se ainda pela
relevância da esquistossomose nas áreas de influência da transposição do Rio São
Francisco no estado do Ceará, única região do Nordeste que ainda não possui B.
glabrata estabelecida. Torna-se relevante, portanto, conhecer a malacofauna límnica
58
atual dessas áreas, antes do possível impacto da construção do PISF sobre a
dinâmica populacional dos moluscos vetores da esquistossomose. Como contexto
geral, o conhecimento sobre a carga da morbidade e da mortalidade potencializa a
correta tomada de decisões, em todos os níveis e esferas de gestão, quanto às
ações mais adequadas a serem tomadas para o controle da doença e a alocação
dos recursos necessários. Tornando-se importante, ainda a identificação e o
acompanhamento de populações vulneráveis, que deverão tornar-se sentinelas no
processo de avaliação e acompanhamento de impactos futuros sobre a transmissão
da esquistossomose durante e após a conclusão das obras do PISF.
Assim o estudo destes fatores aqui proposto contribuirá para a vigilância
epidemiológica da transmissão da esquistossomose nessa área, frente às mudanças
antrópicas no espaço, gerando informações úteis para o planejamento dos serviços
de saúde quanto às medidas preventivas e os modelos de intervenção a serem
adotados para o efetivo controle da esquistossomose.
59
4 OBJETIVOS
4.1 Objetivo geral
Analisar a situação epidemiológica e ecológica da transmissão da
esquistossomose nas áreas que serão abrangidas pelo Eixo Norte do Projeto de
Integração do Rio São Francisco (PISF) com as Bacias do Nordeste Setentrional no
estado do Ceará.
4.2 Objetivos específicos
Caracterizar padrões epidemiológicos e tendências temporais de
mortalidade relacionadas à esquistossomose no Brasil;
Identificar padrões de presença e distribuição de aglomerados espaço-
temporais de elevado risco para mortalidade relacionada à esquistossomose no
Brasil;
Caracterizar os fatores físico-químicos e microbiológicos das coleções
hídricas de importância epidemiológica em áreas de influência do PISF no Ceará;
Caracterizar a fauna malacológica límnica das coleções hídricas de
importância epidemiológica em áreas de influência do PISF no Ceará e os padrões
espaciais de sua distribuição;
Determinar a taxa de positividade da esquistossomose em populações
sentinelas das áreas de influência do PISF no Ceará.
60
5 MATERIAL E MÉTODOS
Buscando facilitar a leitura e compreensão, esta seção da tese é dividida
em cinco eixos temáticos, de acordo com a natureza dos estudos epidemiológicos
empreendidos (estudos com base em dados secundários oficiais do Ministério da
Saúde – Eixos 1 e 2; estudos com base em dados primários – Eixos 3, 4 e 5) e com
os respectivos procedimentos metodológicos empregados. Cada objetivo específico
foi respondido na forma de um artigo científico, conforme apresentado na seção de
Resultados.
5.1 Eixos 1 e 2
5.1.1 Desenho do estudo
Estudo epidemiológico de base populacional nacional, do tipo ecológico
misto, de série temporal e espacial, com abordagens descritiva e analítica, a partir
da utilização de indicadores de mortalidade relacionados à esquistossomose.
5.1.2 Área do estudo - Brasil
A República Federativa do Brasil é constituída por 27 unidades
federativas (26 estados autônomos e o Distrito Federal), divididos em cinco regiões
geográficas (Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste) totalizando 5.570
municípios, até 2014. É o quinto maior País em extensão territorial do mundo,
ocupando uma área de 8.515.759,090 km² (IBGE, 2016a). Em 2014, a população
estava estimada em aproximadamente 207,6 milhões de habitantes (IBGE, 2016b),
distribuídos em 67 milhões de domicílios particulares permanentes (PNUD, 2013),
sendo 3,9 a média de residentes por domicílio (IBGE, 2014).
O País tem o maior Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina e do
Caribe e o nono do mundo, segundo o Fundo Monetário Internacional (IMF, 2016).
Contudo, apresenta uma das maiores disparidades entre ricos e pobres do mundo
(índice de Gini de 0,490 em 2014), com diferenças consideráveis entre as
macrorregiões (Região Sul – 0,442; Região Norte – 0,468; Região Sudeste – 0,478;
61
Região Centro-Oeste – 0,487 e Região Nordeste – 0,501), apesar da melhora que
vem apresentando (PNUD, 2013).
5.1.3 Base de dados do estudo
Foram incluídos todos os óbitos em que a esquistossomose foi inserida
como causa básica ou causa associada da morte e registrados no Brasil, no período
de 2000 a 2015.
As causas de morte relacionadas à esquistossomose foram identificadas
de acordo com a Décima Revisão da Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10): B65 (esquistossomose
(Bilharziose)).
Causa básica de morte é definida como a doença ou lesão que iniciou a
cadeia de eventos que conduziram à morte ou as circunstâncias do acidente ou
violência que produziram a lesão fatal. Para cada óbito, apenas uma única causa
básica é selecionada entre todas as condições relatadas. Por sua vez, a causa
associada de morte é definida como as causas (imediatas, intermediárias e
contribuintes), exceto a causa básica, que foram determinantes para o óbito (WHO,
2010).
Inicialmente foram obtidos os dados de mortalidade de cada Unidade da
Federação (UF), referentes aos óbitos por esquistossomose (causa básica ou
associada) de indivíduos residentes em cada UF, para cada ano estudado do
período de 2000-2011 e posteriormente de 2012-2015. Procedeu-se, então, a
padronização e consolidação das bases geradas por cada UF, reunindo todas para
gerar um banco nacional. Alguns registros foram ajustados, pois continham mais de
uma causa mortis em uma mesma linha, criando-se novas categorias para utilizar
adequadamente todos os dados.
5.1.4 Fontes de dados
Os dados referentes aos óbitos por local de residência foram obtidos a
partir do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), desenvolvido pelo
Ministério da Saúde (MS) em 1975 e informatizado em 1979. O SIM fornece
informações relevantes e estratégicas que permitem construir indicadores e análises
62
epidemiológicas que possam contribuir para maior eficiência da gestão em saúde. A
Declaração de Óbito (DO) é o documento padronizado que deve ser preenchido pelo
médico para atestar a causa mortis do indivíduo, contendo informações
demográficas e clínicas, referente às causas múltiplas de morte. Os dados do SIM
são de domínio público e foram obtidos a partir do site do Departamento de
Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS):
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/sim/dados/cid10_indice.htm
Para o cálculo dos indicadores (neste como também nos demais
objetivos), os dados populacionais utilizados foram obtidos a partir da Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base em dados oriundos
dos Censos Demográficos Nacionais de 2000 e 2010; para os anos intercensitários
(2000-2009, 2011), foram utilizadas os dados populacionais estimados por projeção
do IBGE e disponibilizadas a partir do site do DATASUS:
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?ibge/cnv/popuf.def
Para o georreferenciamento das informações e, posteriormente, análise
espacial, foram utilizadas as malhas digitais de regiões, unidades federativas e
municípios brasileiros de 2010, obtidas a partir das bases cartográficas disponíveis
no site do IBGE.
5.1.5 Processamento e Análise dos dados – Eixo 1
Para análise da distribuição espacial e dos padrões espaço-temporais de
mortalidade relacionada à esquistossomose, utilizaram-se como unidades de análise
geográfica os municípios de residência do indivíduo que foi à óbito (n = 5.570).
Foram excluídos os óbitos em que o município de residência era desconhecido.
Procedeu-se ao cálculo dos coeficientes brutos da mortalidade (com seus
respectivos Intervalos de Confiança de 95% (IC 95%)) relacionada à
esquistossomose, dividindo-se o número de mortes relacionadas à esquistossomose
pela população de cada ano, multiplicando por 100.000 (para número de mortes
para cada 100.000 habitantes). Esse calcúlo foi realizado a nível municipal para o
período de 16 anos de estudo, e distribuídos em quadriênios (2000-2003, 2004-
2007, 2008-2011, 2012-2015).
Após cálculo dos coeficientes brutos de mortalidade, realizou-se
estratificação com seguintes variáveis: sexo/gênero, faixa etária, raça/cor e regiões
63
de residência. Posteriormente, foram calculados os coeficientes de mortalidade
padronizados por idade pelo método direto, utilizando-se a estrutura etária da
população do Brasil, referente ao censo de 2010 como padrão. Para tanto, foram
empregadas como categorias de idade para padronização: 0-14, 15-29, 30-39, 40-
49, 50-59, 60-69 e ≥70 anos.
Com base nos coeficientes brutos de mortalidade, os Riscos Relativos
(RR) de mortalidade foram estimados para determinar as diferenças entre os grupos
de estudo (sexo, grupos etários, regiões e raça/cor). A significância estatística das
diferenças entre os grupos foi calculada por meio do teste qui-quadrado (χ2).
Para reduzir as variações aleatórias e proporcionar maior estabilidade dos
coeficientes de mortalidade em municípios com populações pequenas e eventos
raros, foram calculados os coeficientes de mortalidade suavizados (por 100.000
habitantes) por meio do método Bayesiano Empírico Local.
Avaliou-se ainda a presença de autocorrelação local utilizando o índice de
Moran I local. O método baseado nas estatísticas LISA (Indicadores Locais de
Associação Espacial) permite verificar quais os municípios em que há aglomeração
de valores que se assemelham. Quatro categorias foram geradas, cada uma
fazendo referência a um quadrante do diagrama de dispersão de Moran. Neste
estudo, o quadrante alto-alto, representou cluster de elevados coeficientes de
mortalidade relacionados à esquistossomose; o quadrante baixo-baixo, cluster de
baixos coeficientes de mortalidade relacionado a esquistossomose; alto-baixo,
indicando municípios com alto coeficiente de mortalidade por esquistossomose
cercados por municípios com baixos coeficientes e baixo-alto, cluster onde se
localizam municípios com baixo coeficiente cercado por municípios com altos
coeficientes de mortalidade por esquistossomose. Os mapas foram construidos
considerando-se os municípios com diferenças estatisticamente significativas (p
<0,05).
Para a análise de dependência espacial foram utilizados os índices G e
Gi* (Gi star) de Getis-Ord, que ao determinar um escore conhecido com Z e o
respectivo valor P, revela aglomeração espacial de valores com significância
estatística. As análises partiram do princípio de que um valor alto do escore Z e
pequeno valor P de um parâmetro indicavam uma aglomeração espacial de valores
elevados. Um baixo escore Z negativo e pequeno valor P indicam um agrupamento
espacial de valores baixos. Estes índices identificaram a presença de agregados de
64
altos valores ou de baixos valores dentro do agregado de municípios. Esta
ferramenta verificou cada característica dentro do contexto de características
vizinhas. Para ser um ponto crítico estatisticamente significativo, um município
deveria ter um valor alto e estar rodeado por outros recursos com valores também
altos. A soma local para uma característica e seus vizinhos foi comparada
proporcionalmente à soma de todas as características. Quando a soma local foi
muito diferente da esperada, e essa diferença foi muito grande para ser o resultado
de uma chance aleatória, obtinha-se uma pontuação Z estatisticamente significativa.
As análises estatísticas foram realizadas utilizando o software Stata
versão 11.2 (StataCorp LP, CollegeStation, TX, EUA). O software ArcGIS versão 10
(Instituto de Pesquisa de Sistemas Ambientais - ESRI, Redlands, CA, EUA) e o
software TerraView versão 4.2.2 (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE,
São José dos Campos, SP) foram utilizados para análise, cálculo de indicadores de
autocorrelação e construção de mapas temáticos.
5.1.6 Processamento e Análise dos dados – Eixo 2
As análises das tendências de mortalidade foram realizadas por meio de
modelos de regressão Joinpoint (regressão linear segmentada) (KIM et al., 2000). As
tendências temporais foram calculadas utilizando os coeficientes padronizados (sexo
e regiões) e específicos por idade como variáveis dependentes e o ano de
ocorrência do desfecho como variável independente.
Essa análise identifica pontos de inflexão (joinpoints) por meio de um
modelo log-linear em que a direção/magnitude das linhas das tendências muda
significativamente. Possibilita o ajuste de dados de uma série a partir do menor
número possível de joinpoints (zero, ou seja, uma reta sem pontos de inflexão) e
testa se a inclusão de um ou mais joinpoints (até três joinpoints na análise deste
estudo) no modelo é estatisticamente significativa. Assim, este método testa se
vários segmentos de reta (com vários joinpoints) explicam melhor uma tendência no
tempo do que uma reta única. No modelo final, cada joinpoint (se houver algum)
indica uma mudança significativa na queda ou aumento da tendência (KIM et al.,
2000).
A significância estatística foi testada por meio do teste de permutação de
Monte Carlo, que escolhe o melhor segmento para cada modelo. Uma vez que o
65
modelo da regressão é escolhido, foi calculada a variação percentual anual (annual
percent change -APC) (com seu respectivo IC 95%) para cada segmento com a
função de descrever e quantificar a tendência, bem como avaliar se esta tendência é
estatisticamente significativa. Para simplificar a comparação das tendências para os
indicadores com mais de uma inclinação significativa no período, foi calculada
também a variação percentual anual média (average annual percent change -AAPC)
para o período completo. Esta foi estimada como a média geométrica ponderada da
APC, com os pesos iguais ao comprimento de cada intervalo de tempo do
segmento. As tendências foram consideradas estatisticamente significativas quando
a APC e a AAPC apresentaram valores de p <0,05.
Adicionalmente, foi utilizada a estatística Scan espaço-tempo para
identificar clusters espaço-temporais de alto risco para os desfechos relacionados à
esquistossomose (KULLDORF; NAGARWALLA, 1995; KULLDORFF, 1997, 2009).
Para identificação dos clusters espaço-temporais, os dados foram analisados por
meio de estatística de varredura, com o tipo de análise espaço-temporal
retrospectivo, utilizando-se o modelo de distribuição de probabilidade de Poisson.
Para tanto, foram obedecidos os seguintes parâmetros: aglomerados com formato
circular, não ocorrência de sobreposição geográfica ou temporal dos clusters,
tamanho máximo do cluster igual a 20% da população em risco e tamanho máximo
do cluster temporal igual a 50% do período de estudo. O cluster mais importante
(primário) e os clusters secundários foram detectados por meio do teste da razão de
verossimilhança (KULLDORFF, 2009). A significância estatística foi calculada
usando 999 permutações de Monte Carlo, com o objetivo de se alcançar um p valor
de maior validade estatística.
A análise dos dados foi realizada por meio do programa Stata versão 11.2
(StataCorp LP, College Station, TX, EUA). As análises de regressão Joinpoint foram
realizadas utilizando o Joinpoint Regression Program versão 4.0.4 (US National
Câncer Institute, Bethesda, MD, EUA). Os softwares ArcGIS versão 10
(Environmental Systems Research Institute, ESRI, Redlands, CA, EUA) e TerraView
versão 4.2 (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE, São José dos Campos,
SP, Brasil) foram utilizados para entrada, processamento, cálculo de autocorrelação
espacial e construção de mapas temáticos. A estatística Scan foi realizada utilizando
o software SaTScan versão 9.1.1 (Harvard Medical School, Boston e Information
Management Service Inc, Silver Spring, MD, EUA).
66
5.1.7 Aspectos éticos
Este estudo baseou-se exclusivamente em dados de natureza secundária
e as bases de dados utilizadas referem-se ao banco do SIM e do IBGE, com acesso
amplo e gratuito, de domínio público. Estas bases são disponibilizadas com dados
anônimos, não permitindo inferir ou vincular informações relativas à identificação de
indivíduos. Todas as publicações ou apresentações técnico-científicas derivadas
desta pesquisa têm garantia da referência das bases de dados utilizadas, bem como
dos financiadores.
5.2 Eixo 3
5.2.1 Desenho do estudo
Estudo epidemiológico transversal descritivo relativo aos fatores físico-
químicos e microbiológicos das coleções hídricas de importância epidemiológica
para a transmissão da esquistossomose em áreas de influência do PISF no Estado
do Ceará.
5.2.2 Área do estudo
O estudo foi conduzido no período de fevereiro de 2015 a outubro de
2016, em 33 coleções hídricas de importância epidemiológica para a transmissão da
esquistossomose em áreas de influência direta do PISF no Ceará, em municípios
que representam as diferentes etapas no percurso das águas do Rio São Francisco
até sua total mistura com as águas localizadas no Ceará (BRASIL, 2014c):
1) Jati – as águas do Rio São Francisco, captadas na estação de
bombeamento em Cabrobó – Pernambuco, seguirão inicialmente para Jati, onde
serão represadas e a partir daí seguirão por gravidade por intermédio de canais
abertos. Este percurso é conhecido como Meta 1N do PISF e tem 140km. Na
Barragem Jati haverá captação das vazões transportadas do PISF para o Trecho 1
(153,6km) do Cinturão das Águas do Ceará (Jati-Cariús), que interligará as Bacias
do Salgado com o Alto Jaguaribe e o São Francisco, com destino final no Açude
67
Orós. Abastecerá os municípios de Jati, Brejo Santo, Porteiras, Abaiara, Missão
Velha, Barbalha, Crato e Nova Olinda;
2) Brejo Santo – que engloba a Meta 2N (39km), onde as águas
represadas no Reservatório de Jati seguirão pelos canais e passarão por um
conjunto de cinco novas barragens que estão sendo construídas (Porcos,
Canabrava, Cipó, Boi 1 e Boi II), além do Açude Atalho que está sendo ampliado.
Esse açude fica na divisa entre os municípios de Jati e Brejo Santo;
3) Mauriti – os canais do trecho da Meta 3N (81km) atravessarão toda a
extensão desse município, desde a saída do reservatório Boi II (divisa deste com
Brejo Santo) até o reservatório Engenheiro Ávidos, no município de Cajazeiras na
Paraíba. Momento em que o Eixo Norte do PISF deixa as terras cearenses para
voltar novamente no município de Barro. Nesta etapa, existem dois túneis: o Cuncas
II (4km) e o Cuncas I (15 km), considerado o maior túnel para transporte de água da
América Latina.
4) Aurora – as águas do PISF voltam ao Ceará na divisa entre os
municípios de Barro e Aurora, no que é chamado de 2ª Derivação do Eixo Norte do
PISF para o Ceará. Os canais abertos despejarão essas águas no leito do Rio
Salgado, que seguirá seu fluxo natural para desaguar no Rio Jaguaribe (Bacia do
Médio Jaguaribe), chegando ao Açude Castanhão, onde será represada;
5) Jaguaretama – um dos municípios mais antigos e desenvolvidos, que
faz limite com o Açude Castanhão, possui 1/3 da área inundada do açude. Esse
reservatório serviu não só para represar as águas do Rio Jaguaribe, com o intuito de
abastecer a Região Metropolitana de Fortaleza, mas também para perenizar o Rio
Jaguaribe e, atualmente, funcionará como reservatório pulmão para transposição de
águas do rio São Francisco;
6) Jaguaribara – cidade reconstruída para abrigar a comunidade que foi
desalojada das terras que deram lugar ao Açude Castanhão, em 2001, e acolheu
cerca de 3.600 pessoas da área urbana da antiga sede do município. Localiza-se a
apenas 6km dessa grande barragem, abriga os outros 2/3 de área inundada pelo
açude, e sua zona rural é atendida por diversos projetos de irrigação, onde as águas
que abastecem os mesmos, também correm por canais abertos.
68
5.2.3 Coleta das amostras de água
A coleta da água (1 litro) para a análise físico-química foi realizada por
meio de garrafas de polietileno padronizadas e disponibilizadas pela Farmácia
Escola da Universidade Federal do Ceará (FE-UFC). Na coleta para a análise
microbiológica, foi utilizado frasco esterilizado de vidro neutro de forma a possibilitar
uma coleta de aproximadamente 200mL de água.
No ato da coleta avaliou-se a temperatura do ambiente e da água, além
de registrar o horário da coleta.
Após as coletas, as garrafas e os frascos foram identificados (com nome
da localidade, tipo de criadouro, data da coleta, etc.) e mantidos refrigerados
(temperatura de aproximadamente 8ºC). O transporte foi realizado em caixas
térmicas com gelo reutilizável, de forma a evitar variações bruscas de temperatura.
5.2.4 Análises físico-químicas da água
As análises físico-químicas da água foram conduzidas no Laboratório de
Análises Físico-químicas da FE-UFC, seguindo a Portaria do Ministério da Saúde Nº
2914 de 12 de dezembro de 2011 (BRASIL, 2011) e o Standard Methods for the
Examination of Water and Wastewater publicado conjuntamente por American Public
Health Association (APHA), American Water Works Association (AWWA) e Water
Environment Federation (WEF) (APHA, 1998).
Os seguintes parâmetros foram analisados: pH, dureza total, cloretos,
sulfatos, alcalinidade em bicarbonatos, acidez, condutividade, turbidez e Sólidos
Totais Dissolvidos.
5.2.5 Análises microbiológicas da água
A análise microbiológica foi realizada pelo Laboratório de Análises
Microbiológicas da FE-UFC, seguindo também o Standard Methods for the
Examination of Water and Wastewater, publicação conjunta de APHA, AWWA e
WEF (APHA, 1998), utilizando também o Sistema Colilert®.
Verificou-se a presença de Coliformes Totais e Fecais pelo Método do
Substrato Cromogênico (citação), com pesquisa e identificação de Pseudomonas sp.
69
5.2.6 Processamento dos dados
As coordenadas geodésicas, das estações de captura das coleções
hídricas pesquisadas, foram demarcadaspor meiode um receptor GPS (sistema de
posicionamento global) de navegação – modelo Garmin Montana® 650, utilizando o
sistema de projeção UTM.
Um banco de dados foi elaborado com o auxílio do programa Microsoft
Office Excel 2010 (Microsoft Corp., Redmond, WA, USA) para organização e
armazenamento dos dados referentes as análises dos parâmetros físico-químicos e
microbiológicos das águas.
Os dados espaciais foram armazenados e analisados no software GIS,
ArcGis 10 (Environmental Systems Research Institute, Redlands, CA, EUA) para
manipulação e vinculação dos atributos descritivos à forma gráfica, bem como para
elaboração de mapas temáticos.
5.3 Eixo 4
5.3.1 Desenho do estudo
Estudo epidemiológico transversal descritivo relativo à fauna malacológica
límnica das coleções hídricas de importância epidemiológica para a transmissão da
esquistossomose em áreas de influência do PISF no Ceará, conduzido no período
de fevereiro de 2015 a outubro de 2016.
5.3.2 Área do estudo
Foram selecionadas 33 coleções hídricas, localizadas nos municípios de
Aurora, Brejo Santo, Jati, Jaguaretama, Jaguaribara e Mauriti, todos no estado do
Ceará. Esses municípios estão localizados em área definida pelo Relatório de
Impacto Ambiental como área de influência direta do PISF, e sofrerão (ou estão
sofrendo) transformações ambientais diretas decorrentes do empreendimento. No
estado do Ceará, essa área engloba 21 municípios (BRASIL, 2004a).
70
A seleção dos municípios baseou-se nos seguintes critérios: ter registro
de casos de esquistossomose com base em dados do Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (SINAN) e/ou do Sistema de Informação do Programa de
Vigilância e Controle da Esquistossomose (SISPCE); estar em bacias hidrográficas
com características eco-epidemiológicas indicativas de transmissão ou risco
potencial para instalação de focos de esquistossomose e ter histórico de
hospedeiros intermediários positivos para S. mansoni.
5.3.3 Coleta das amostras de caramujos
A coleta dos moluscos foi realizada pela raspagem da vegetação
submersa, das margens e do fundo dos criadouros, utilizando concha de captura. Na
superfície, o material recolhido foi cuidadosamente analisado quanto à presença de
moluscos, observando-se as folhas e os pequenos gravetos onde espécimes jovens
ou pequenos encontravam-se presos. Os moluscos coletados foram acondicionados
em recipiente plástico com identificação do ponto de coleta (nome da localidade, tipo
de criadouro, data da coleta). O material restante na concha de captura foi lavado e
verificado repetidas vezes, até a confirmação da ausência de moluscos, para então
ser desprezado. Essa varredura foi realizada por dois coletadores, em área
demarcada de 30 metros, durante um intervalo de 30 minutos.
Para o transporte, estas amostras foram embaladas em gaze umedecida
com água. A fim de evitar que a gaze perdesse a umidade, estas foram
acondicionadas em sacos plásticos, devidamente identificados. O material foi
colocado em caixas térmicas resistentes e transportado para o Laboratório de
Parasitologia e Biologia de Moluscos (LPMB) da UFC, onde os moluscos foram
mantidos em reservatórios de plástico com água desclorada e alimentados com
alface fresca descontaminada (BRASIL, 2008) até a realização das devidas análises.
5.3.4 Classificação morfológica
Todos os moluscos coletados nos municípios de Aurora, Brejo Santo,
Jaguaretama, Jaguaribara, Jati e Mauriti foram classificados com base na
comparação das características externas das conchas (BARBOSA, 1995).
71
5.3.5 Identificação molecular
Realizou-se identificação molecular por meio da técnica de reação em
cadeia da polimerase e análise de polimorfismos por tamanho de fragmentos de
restrição (RFLP-PCR), de um conjunto de 18 exemplares de caramujos do gênero
Biomphalaria coletados exclusivamente no município de Brejo Santo. Esse município
foi escolhido por ser o primeiro, no Estado do Ceará, em que as águas do Rio São
Francisco irão se misturar às águas naturais e onde será construído o maior número
de novos reservatórios do PISF. Esses aspectos são relevantes, pois estão
diretamente relacionados ao aumento da diversidade e da densidade populacional
dos caramujos transmissores da esquistossomose.
Um fragmento da parte mole (base “feet”) do caramujo foi retirado para
extração de DNA e utilização nos estudos moleculares. O restante do corpo foi
acondicionado em frascos contendo o fixador de Haillet-Henry e a concha em
frascos contendo algodão. Essas amostras foram enviadas ao Laboratório de
Helmintologia e Malacologia Médica do Centro de Pesquisas René Rachou,
localizado na Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em Minas Gerais, onde foi realizada
a identificação molecular desses caramujos.
A extração de DNA foi realizada utilizando o kit Wizard Genomic DNA
Purification® da Promega® (Vidigal et al. 2000). Inicialmente o fragmento foi colocado
em 200µL de solução de lise nuclear e incubado por 12 a 16 horas com 50mg/mL de
proteinase K em banho-maria a 37ºC. Em seguida foram adicionados 80µL de
solução de precipitação proteica. Esse preparado foi submetido ao vórtex e
centrifugado a 13.000rpm por cinco minutos. O sobrenadante contendo ácido
desoxirribonucleico (DNA) foi transferido para outro tubo contendo 200µL de
isopropanol para precipitação do DNA que foi misturado por inversão por 20 minutos
e centrifugado a 13.000rpm por 5 minutos. O DNA foi lavado com 300µl de etanol a
70%. O pellet foi tratado com 25µL de solução de reidratação de DNA por 30
minutos a 37ºC e estocado à -20ºC.
A amplificação da região ITS foi realizada utilizando-se os iniciadores
ETTS1 (5’-TGCTTAAGTTCAGCGGGT-3’) e ETTS2 (5’-
TAACAAGGTTTCCGTAGGTGAA-3’) (Kane & Rollinson 1994) homólogos às
extremidades conservadas 18S e 28S. A PCR, com um volume total de 10 µl,
consiste de 10-20 ng de DNA alvo, tampão (1,5 mM MgCl2, 50 mM KCl, 10mM Tris-
72
HCl, pH 8,5), 200µM de cada dNTP, 1,0U de Taq-DNA polimerase e 6,4pmoles de
cada iniciador. A reação foi coberta com uma gota de óleo mineral e submetida aos
ciclos de amplificação onde a desnaturação inicial foi realizada durante três minutos
a 95ºC, seguida de 33 ciclos: desnaturação a 95°C por 45 segundos, anelamento a
54ºC por 1 minuto e extensão a 72°C por dois minutos, além de uma extensão final a
72ºC por cinco minutos.
Todos os experimentos foram acrescidos de um controle negativo, sem
adição de DNA. Três microlitros do produto de amplificação acrescentado de 3µL de
tampão de amostra foram submetidos à eletroforese em gel de poliacrilamida 6% e
corados pela prata para observação do perfil dos produtos da PCR.
Do produto da PCR, foi separada uma alíquota de 10µL adicionando-se
0,3µL da enzima DdeI juntamente com 1,0µL de seu respectivo tampão, obtendo um
volume final de 11,3µL. Este produto foi deixado por 3,5 horas a uma temperatura de
37ºC. Em seguida foram adicionados 13µL de fenol-clorofórmio (1/1) e,
posteriormente, centrifugado por dois minutos. Após transferir o sobrenadante para
outro tubo, 3µL do produto da digestão acrescentado de 3µL de tampão de amostra
foram submetidos à eletroforese em gel de poliacrilamida a 6% corados por nitrato
de prata. Os perfis obtidos foram comparados com os perfis já descritos por Caldeira
et al. (2016) como característicos da espécie.
5.3.6 Pesquisa de cercárias de Schistosoma mansoni
O exame foi realizado por meio da exposição individualmente dos
moluscos do gênero Biomphalaria à luz artificial (lâmpada de 60 W) a uma distância
de 30 cm por um período de quatro horas, para estimular a eliminação de cercárias
de S. mansoni ou de qualquer outro trematódeo de importância médica ou
veterinária. Após essa etapa a água dos recipientes com caramujos foi analisada em
microscópio estereoscópio. O mesmo experimento foi repetido três vezes no período
de 30 dias.
5.3.7 Análises estatísticas e processamento dos dados geoespaciais
Um banco de dados foi elaborado com o auxílio do programa Microsoft
Office Excel 2016 (Microsoft Corp., Redmond, WA, USA) para organização e
73
armazenamento dos dados referentes aos caramujos coletados nas coleções
hídricas pesquisadas.
As coordenadas geodésicas, das estações de captura das coleções
hídricas pesquisadas, foram demarcadas por meio de um receptor GPS (sistema de
posicionamento global) de navegação – modelo Garmin Montana® 650, utilizando o
sistema de projeção Universal Transversa de Mercator (UTM).
Os dados espaciais foram armazenados e analisados no software ArcGis
9.3 (Environmental Systems Research Institute, Redlands, CA, EUA) para
manipulação e vinculação dos atributos descritivos, bem como para elaboração de
mapas temáticos.
5.4 Eixo 5
5.4.1 Desenho do estudo
Estudo epidemiológico transversal descritivo com utilização de diferentes
métodos de diagnóstico para identificação da presença de S. mansoni em
populações humanas sentinelas (escolares e trabalhadores dos canteiros de obras
do PISF) em área de influência do PISF no Ceará.
5.4.2 Área do estudo
Estudo conduzido no período de fevereiro de 2015 a outubro de 2016, nos
municípios de Aurora, Brejo Santo, Jaguaretama, Jaguaribara, Jati e Mauriti, no
Estado do Ceará. Estes municípios estão localizados numa área definida pelo RIMA
como de influência direta, a qual sofrerá transformações diretas decorrentes do
empreendiemnto.
O município de Aurora estende-se por 889,9km² e possui 24.470
habitantes, segundo último censo realizado no ano de 2012. Situado a 259 metros
de altitude e a 361km de Fortaleza, Aurora tem as seguintes coordenadas
geográficas: Latitude: 6° 56' 4'' Sul, Longitude: 38° 57' 51'' Oeste.
O município de Brejo Santo estende-se por 663,4km² e possui 46.207
habitantes, segundo último censo realizado no ano de 2012. Situado a 380 metros
74
de altitude e a 422km de Fortaleza, Brejo Santo tem as seguintes coordenadas
geográficas: Latitude: 7° 29' 13'' Sul, Longitude: 38° 58' 47'' Oeste.
O município de Jaguaretama estende-se por 1.759,7km² e possui 17.839
habitantes, segundo último censo realizado no ano de 2012. Situado a 115 metros
de altitude e a 212km de Fortaleza, Jaguaretama tem as seguintes coordenadas
geográficas: Latitude: 5° 36' 51'' Sul, Longitude: 38° 46' 0'' Oeste.
O município de Jaguaribara estende-se por 668,7km² e possui 10.652
habitantes, segundo último censo realizado no ano de 2012. Situado a 97 metros de
altitude e a 217km de Fortaleza, Jaguaribara tem as seguintes coordenadas
geográficas: Latitude: 5° 39' 44'' Sul, Longitude: 38° 37' 8'' Oeste.
O município de Mauriti estende-se por 1.079km² e possui 44.836
habitantes, segundo último censo realizado no ano de 2012. Situado a 356 metros
de altitude e a 410km de Fortaleza, Mauriti tem as seguintes coordenadas
geográficas: Latitude: 7° 23' 43'' Sul, Longitude: 38° 46' 12'' Oeste.
O município de Jati estende-se por 361,1km² e possui 7.647 habitantes,
segundo último censo realizado no ano de 2012. Situado a 421 metros de altitude e
a 445km de Fortaleza, Jati tem as seguintes coordenadas geográficas: Latitude: 7°
41' 33'' Sul, Longitude: 39° 0' 30'' Oeste.
5.4.3 Populações de estudo
Escolares
O estudo foi realizado em escolares de 7 a 14 anos de idade em escolas
da rede municipal dessas cidades. Levou-se em consideração para o cálculo
amostral: prevalência geral da doença no estado do Ceará de 5% (valor
extrapolado), margem de erro de 5% e nível de confiança de 95%, o que originou
uma amostragem aleatória simples mínima de 72, 73, 72, 70, 69 e 73 alunos para os
municípios de Aurora, Brejo Santo, Jaguaretama, Jaguaribara, Jati e Mauriti,
respectivamente.
Para seleção das escolas tomou-se como base a área diretamente
afetada (ADA), definida no Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) como uma faixa
com 5 km de largura para cada lado das estruturas a serem construídas no PISF
75
(BRASIL, 2004b). Para melhor representatividade, foram incluídas pelo menos uma
escola da zona urbana, de cada município.
Trabalhadores do canteiro
No período de execução desse estudo, existiam canteiros de obras
localizados nos municípios de Brejo Santo, Jati, Mauriti e Penaforte. Foram
selecionados os canteiros de obras localizados no município de Brejo Santo por
apresentarem o maior número de trabalhadores. Para a realização das abordagens
a estes indivíduos, contamos com participação da Secretaria Estadual de Saúde do
Ceará, Secretaria Municipal de Saúde de Brejo Santo e empresa envolvida nas
obras do PISF. Ressalta-se a complexidade operacional desta avaliação dentro dos
canteiros de obra considerando-se os sensíveis aspectos trabalhistas e econômicos
envolvidos.
5.4.4 Coleta e Processamento de amostras biológicas em campo
Durante a abordagem, os participantes do estudo receberam dois
coletores de plástico e instruções para coletar amostras de fezes e urina, sendo
convidados a devolver os recipientes com as amostras já no dia seguinte.
Foram confeccionadas três lâminas de cada amostra de fezes segundo o
método Kato-Katz (KATZ; CHAVES; PELLEGRINO et al., 1972) utilizando-se o kit
Helm-Test® (Bio-Manguinhos/Fiocruz, RJ, Brasil). Do frasco coletor de urina foi
retirada uma alíquota de 5mL e armazenada em criotubos devidamente
identificados, para posterior análise pelo método de detecção de antígenos
catódicos circulantes (CCA). As alíquotas foram acondicionadas à temperatura de -
20°C até serem transportadas para Fortaleza, para o Laboratório de Parasitologia e
Biologia de Moluscos (LPBM) localizado na Universidade Federal do Ceará, onde
foram armazenadas à temperatura de -80°C.
5.4.5 Procedimentos laboratoriais
Realizou-se a leitura das três lâminas prepararas pelo método Kato-Katz,
contabilizando-se todos os ovos encontrados. A intensidade da infecção foi
76
calculada determinando o número médio de ovos de S. mansoni encontrados nas
três lâminas e multiplicando por 24 para obter número de ovos por grama de fezes
(OPG).
Foi realizado o POC-CCA (Rapid Medical Diagnostics®, Pretoria, África do
Sul), em uma versão anterior ao teste comercializado atualmente. O teste foi
realizado a temperatura ambiente, seguindo as instruções do fabricante.
Resumidamente, retirou-se uma alíquota de urina do microtubo com auxílio da
pipeta plástica (do kit) e transferiu-se duas gotas para o poço circular do dispositivo
teste e, após 20 minutos, foi realizada a leitura. Dessa forma, os testes válidos
(banda controle visualizada) foram classificados como positivos, traços (banda teste
fraca) ou negativos. Os testes inválidos (banda controle não visualizada) foram
repetidos usando a mesma amostra de urina.
5.4.6 Tratamento parasitológico
Após a realização dos exames todas as pessoas que apresentarem
resultados positivos para esquistossomose foram tratados com Praziquantel® 60
mg/kg/DU se crianças ou 50mg/kg/DU se adultos). Esse medicamento foi
disponibilizado pela Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, sendo que a
prescrição e administração foram supervisionadas pelos profissionais médicos das
Unidades Básicas de Saúde dos municípios, no caso dos escolares, e pela equipe
de saúde contratada que presta serviço nos canteiros de obras, no caso dos
trabalhadores do PISF.
5.4.7 Análises estatísticas
Os dados foram inseridos no Excel (Microsoft Corp., Redmond, WA, EUA)
e analisados usando GraphPad Prism versão 5.0 (GraphPad, San Diego, CA, EUA).
A co-positividade e a co-negatividade foram calculadas com base na
combinação dos resultados do teste Kato-Katz (3 lâminas) + POC-CCA (Positivo +
Traço) e analisadas em tabelas 2 × 2. Foram calculados os intervalos de confiança
de 95% (IC) para cada uma das diferentes abordagens avaliadas. O teste de
McNemar foi utilizado para comparar as taxas de positividade obtidas pelas
diferentes técnicas. O nível de concordância entre diferentes técnicas de diagnóstico
foi determinado pelo coeficiente Kappa. De acordo com Landis e Koch (1977), a
77
concordância é considerada fraca quando menor que 0,20; fraca entre 0,21-0,40,
moderado entre 0,41-0,60, bom entre 0,61-0,80 e excelente, quando maior que 0,81.
Um nível de significância de 5% foi adotado para todos os procedimentos
inferenciais.
5.5 Aspectos éticos - Eixos 3, 4 e 5
A pesquisa foi realizada seguindo os princípios da Resolução 466/2012
do Conselho Nacional de Saúde (autonomia, não maleficência, beneficência, justiça
e equidade). Para a realização dos eixos temáticos 3, 4 e 5 deste estudo, o projeto
foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (COMEPE) da
Universidade Federal do Ceará (UFC), por meio do ofício nº 04/14, emitido em 20 de
março de 2014 (ANEXO A). Esta autorização trata-se de uma emenda ao projeto
anterior intitulado “A esquistossomose mansoni e o risco de dispersão nos
municípios do estado do Ceará, envolvidos no projeto de integração de bacias do
Nordeste Setentrional”, iniciado por nosso grupo de pesquisa ainda em 2011
(ANEXO B).
Todos os indivíduos selecionados na amostra das populações sentinelas
receberam orientações verbalmente sobre o projeto e os procedimentos aos quais
seriam submetidos e foram convidados a participar do estudo, sendo solicitada a
assinatura do TCLE (ANEXO C) por parte do participante ou de seu responsável
legal, em caso de menores entre 14 e 17 anos, confirmando suas participações pela
assinatura do Termo de Assentimento (ANEXO D).
O presente estudo não traz nenhum risco maior para os sujeitos da
pesquisa, além de incomodo decorrente do preenchimento de cadastros e, por
ventura, algum constrangimento na coleta e entrega dos materiais biológicos.
Quanto à confidencialidade dos dados, os arquivos físicos (cadastros e termos) e
eletrônicos do projeto (banco de dados, resultados brutos) estão salvaguardados
com segurança. O único documento que contém a identificação das pessoas
incluídas no estudo são os termos, os quais estão em local separado dos outros
documentos, que contêm apenas um código identificando esses indivíduos.
78
6 RESULTADOS
6.1 Eixo 1: Padrões epidemiológicos e tendências temporais de mortalidade
relacionadas à esquistossomose no Brasil
6.1.1 Artigo 1: Esquistossomose no Brasil: padrões epidemiológicos de
mortalidade, 2000-2015
Marta Cristhiany Cunha Pinheiro1,2,*, Anderson Fuentes Ferreira1, Reagan Nzundu
Boigny1, Mauricélia da Silveira Lima1, Fernando Schemelzer de Moraes Bezerra2,3,4,
Francisco Rogerlândio Martins-Melo5, José Damião da Silva Filho2, Mariana Silva
Sousa2,3, Alberto Novaes Ramos Junior1
1Universidade Federal do Ceará-UFC, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-
Graduação em Saúde Pública, Fortaleza, CE, Brasil
2Universidade Federal do Ceará-UFC, Departamento de Análises Clínicas e
Toxicológicas, Laboratório de Pesquisa em Parasitologia e Biologia de Moluscos,
Fortaleza, CE, Brasil
3Universidade Federal do Ceará-UFC, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-
Graduação em Ciências Médicas, Fortaleza, CE, Brasil
4Universidade Federal do Ceará-UFC, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-
Graduação em Patologia, Fortaleza, CE, Brasil
5Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará-IFCE,
Departamentode Medicina Clínica, Caucaia, Ceara, Brasil
Autor correspondente: Marta Cristhiany Cunha Pinheiro (e-mail:
Universidade Federal do Ceará, Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas,
Rua Professor Costa Mendes, 1210, Rodolfo Teófilo, 60430140 - Fortaleza, CE -
Brasil, Telefone: +55 85 3366- 8242; Fax: +55 85 3266- 8206.
79
RESUMO
OBJETIVO: Analisamos a distribuição dos padrões espaciotemporais da mortalidade
relacionada à esquistossomose no Brasil de 2000 a 2015.
MÉTODOS: Realizamos um estudo de base populacional nacional – com base nos
dados oficiais de mortalidade do Sistema Brasileiro de Informação sobre
Mortalidade. Incluímos todas as mortes ocorridas no Brasil, nas quais a
esquistossomose foi mencionada no atestado de óbito como causa de morte básica
ou associada (causas múltiplas de morte). Utilizamos os municípios de residência
como unidade de análise geográfica e os coeficientes médios de mortalidade (por
100.000 habitantes) por quadriênios foram suavizados pelo método Bayesiano
Empírico Local.
RESULTADOS: Ao longo do período de estudo de 16 anos, 17.374.134 mortes
foram registradas no Brasil. A esquistossomose foi mencionada em 11.587 óbitos,
em 8.216 (70,91%) como causa básica e em 3.371 (29,09%) como causa associada.
O coeficiente médio de mortalidade de 0,38 mortes / 100.000 habitantes (intervalo
de confiança [IC] 95%: 0,35-0,41). Sexo / Gênero Masculino (RR: 1,14; IC 95% 0,99
- 1,32), aqueles com idade ≥ 70 anos (RR: 72,13; CI 95% 46,63 - 111,59) e
residentes na região Nordeste (RR: 11,35; IC 95% 6,24-20,63) tiveram os maiores
riscos relativos relacionados à esquistossomose. Foram identificados municípios
com altos coeficientes de mortalidade (> 1,0 óbito / 100.000 habitantes) em todas as
regiões. O Índice de Moran Global mostrou autocorrelação espacial positiva
significativa nos quatro períodos de tempo. Em todos os períodos, clusters de
municípios identificados de acordo com a análise LISA, bem como a análise de
pontos críticos (Getis-Ord Gi *) indicaram a região leste e sul da região Nordeste e o
norte da região Sudeste como áreas de alto risco.
CONCLUSÕES: A esquistossomose persiste como importante causa de óbito no
Brasil especialmente em áreas com elevada prevalência da doença, como parte das
regiões Nordeste e Sudeste. Reforça-se a necessidade de desenvolvimento de
ações de vigilância em saúde e controle nestas áreas, com atenção à população
masculina e de idosos.
Palavras-Chave: Esquistossomose. Epidemiologia. Mortalidade. Estudos de Séries
Temporais. Análise Espacial.
80
ABSTRACT
OBJECTIVE: We analyze the epidemiological profile and the spatiotemporal patterns
of schistosomiasis-related mortality in Brazil from 2000 to 2015.
METHODS: We performed a nationwide study population-based on official mortality
data obtained from the Brazilian Mortality Information System. We included all deaths
in Brazil in which schistosomiasis was mentioned on the death certificate as an
underlying or associated cause of death (multiple causes of death). We used
municipalities of residence as the geographical unit of analysis and the mortality
means rates (per 100.000 inhabitants) were distributed in quadrennium and
smoothed by the local empirical bayesian method.
RESULTS: Over the 16-year study period, 17.374.134 deaths were recorded in
Brazil. Schistosomiasis was mentioned in 11,587 deaths, including in 8,216 (70.91%)
as an underlying cause and in 3,371 (29.09%) as an associated cause Average
annual mortality rate were, 38 deaths/100.000 inhabitants (CI 95%: 0.35 a 0.41).
Males (OR: 1.14; CI 95% 0.99 – 1.32), those aged ≥70 years (OR: 72.13; CI 95%
46.63 – 111.59), and residents in the Northeast region (OR: 11.35; CI 95% 6.24-
20.63) had the highest schistosomiasis-related relative risks. There were
municipalities with high mortality rates (> 1.0 deaths / 100,000 inhabitants) in all
regions of the country. The Global Moran’s Index showed significant positive spatial
autocorrelation over the four time periods: 2000-2003 (0,185; p = 0,000), 2004-2007
(0,228; p = 0,000), 2008-2011 (0,229; p = 0,000) e 2012-2015 (0,214; p = 0,000).
Throughout all periods, clusters of municipalities identified according to the analysis
LISA, as well as the analysis of hotspots (Getis-Ord Gi *) indicated the eastern and
southern of the Northeast region, and the north of the Southeast region as high risk
areas.
CONCLUSIONS: Schistosomiasis was not still eliminated in Brazil, remaining with
significant morbidity and mortality rates in the main endemic areas.
Keywords: Schistosomiasis. Epidemiology. Mortality. Temporal-series Studies.
Spatial Analysis.
81
INTRODUÇÃO
Entre as doenças parasitárias que afetam os seres humanos, a
esquistossomose é de grande importância porque é a terceira doença tropical mais
devastadora em termos de morbidade, bem como sua importância e repercussão
socioeconômica. A taxa global de mortalidade por esquistossomose permanece
incerta, sendo difícil de estimar devido a patologias ocultas associadas,
especialmente insuficiência hepática e renal e câncer de bexiga (WHO, 2016).
A esquistossomose está intimamente associada à pobreza, saneamento
deficiente, falta de água tratada e baixas condições socioeconômicas, sendo uma
das doenças parasitárias mais comuns em áreas tropicais e subtropicais. A carga
global de doença relacionada à esquistossomose é subestimada, bem como suas
sequelas crônicas, com duração por toda vida, o impacto na saúde e no
desempenho humano, em suas múltiplas dimensões (MIGUEL & KREMER, 2004;
KING, 2010).
Os benefícios iniciais do programa de controle da esquistossomose
permanecem incertos, uma vez que as reinfecções de baixo nível são recorrentes e
perpetuam os impactos negativos da doença em áreas endêmicas. Permanecendo
como um problema de saúde pública global, mesmo que seu controle e eliminação
tenham sido inseridos nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio desde 2001. No
entanto, algumas questões continuam não resolvidas, como áreas de alto risco, com
taxas de mortalidade consideráveis, exigindo a aplicação de novas ferramentas de
pesquisa e estratégias de controle integrado (KING et al., 2006; UTZINGER et al.,
2011).
No Brasil, a única espécie transmissora encontrada é o Schistosoma
mansoni cujos hospedeiros intermediários são caramujos do gênero Biomphalaria. A
real prevalência da doença ainda é desconhecida, mas de acordo com os dados
preliminares do Inquérito Nacional de Prevalência de Esquistossomose e
Geohelmintoses (INPEG), realizado pelo Ministério da Saúde, estima-se que pelo
menos 1% da população brasileira tem esquistossomose, as regiões Nordeste e
Sudeste apresentam as maiores taxas de positividade, respectivamente 1,27% e
2,35% (KATZ et al., 2017).
82
No entanto, a esquistossomose está emergindo em áreas onde estão
sendo desenvolvidas importantes obras de gerenciamento de recursos hídricos
(STEINMANN et al., 2006).
As taxas de mortalidade, prevalência e intensidade desta infecção, entre
outros, são influenciadas por fatores sócio-ecológicos predominantes, destacando o
comportamento humano (por exemplo, padrões de contatos de água contaminada e
defecação em áreas abertas) e características ecológicas (por exemplo, habitar
próximo a coleções hídricas em que proliferam caramujos hospedeiros
intermediários) (GRYSEELS et al., 2006; UTZINGER et al., 2011). O Brasil se torna
um caso especial devido à sua extensão territorial e as intensas desigualdades
socioeconômicas entre as várias regiões que compõem a realidade tão plural desse
país. Os longos períodos de seca no Nordeste brasileiro, bem como infraestrutura
inadequada de água e saneamento, são os principais responsáveis por este território
ser o mais pobre do país, com grandes problemas sociais e as maiores taxas de
esquistossomose no país (LEAL NETO et al., 2012; OLIVEIRA et al., 2013;
ROLLEMBERG et al., 2015).
Estudos recentes indicam que as doenças tropicais negligenciadas foram
responsáveis como causa básica de 76.827 mortes, das quase 12.500.000 mortes
em geral ocorridas no período de 2000 a 2011, das quais 58.928 foram devidas à
doença de Chagas, seguidas de 6.319 mortes relacionadas à esquistossomose e
3.466 para a leishmaniose. Esses dados são um alerta grave ao sistema de
vigilância epidemiológica do país, que desprezam essas doenças e atualmente
superestimam as arboviroses, deslocando recursos e equipes de campo para seu
controle, em detrimento das outras doenças. Apesar dos amplos relatos da mídia
sobre as contínuas epidemias de dengue no Brasil nas últimas décadas,
representaram apenas 4% das mortes causadas por DTNs em 12 anos (MARTINS-
MELO et al., 2012a; 2014; 2016).
É necessária uma melhor avaliação da carga de mortalidade por
esquistossomose no país, gerando informações úteis para o planejamento dos
serviços de saúde e definindo os locais onde as ações de controle devem ser
intensificadas. Além de permitir o monitoramento e avaliação de impactos futuros
sobre a esquistossomose, após a implementação dessas novas estratégias. Dessa
forma, o objetivo deste estudo é analisar o padrão de distribuição espaço-temporal
da mortalidade relacionada à esquistossomose no Brasil de 2000 a 2015.
83
MÉTODOS
Área de estudo
O Brasil tem uma extensão territorial de 8,5 milhões de km² com uma
população estimada de 207,6 milhões de habitantes. O Brasil está dividido em 5
macrorregiões (Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul), 27 Unidades
Federativas (26 estados e Distrito Federal) e 5.570 municípios (IBGE, 2016a; IBGE,
2016b).
Desenho do estudo e população
Estudo ecológico de base populacional, com abordagem espacial, em que
foram incluídos todos os óbitos ocorridos no Brasil entre 2000 a 2015. Foram
consideradas todas as declarações de óbito em que a esquistossomose estava
mencionada como causa básica ou associada de morte (chamadas causas múltiplas
de morte).
As causas de morte relacionadas à esquistossomose foram identificadas
de acordo com a Décima Revisão da Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10): B65 (esquistossomose
(Bilharziose)).
Fontes de dados
Os dados de mortalidade do Brasil foram obtidos a partir do Sistema
Nacional de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Esses
dados são de domínio público e estão disponíveis gratuitamente no site do
Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS),
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obt10br.def.
O SIM contém dados referentes a todas as declarações de óbitos
preenchidas por profissionais médicos. Nessa declaração as causas básicas e
associadas de morte devem constar, além de variáveis demográficas como
sexo/gênero, idade, raça/cor, nível educacional, estado civil, local de residência ou
de ocorrência da morte. Uma vez preenchida, cabe às secretarias municipais e
estaduais de saúde a entrada desses dados no sistema.
Os dados populacionais foram obtidos no IBGE, disponíveis em
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?ibge/cnv/popuf.def, com base nos
84
Censos Demográficos Nacionais (2000 e 2010) e nas estimativas populacionais para
os anos intercensitários (2001–2009 e 2011–2015).
Análises estatísticas
Para a caracterização epidemiológica do período de estudo – 2000 a
2015, calculou-se o percentual pelo total de óbitos e taxa bruta, com seu respectivo
IC, para os óbitos gerais, assim como para as características sociodemograficas
como sexo (masculino e feminino), faixa etária (<15, 15-19, 30-39, 40-49, 50-59, 60-
69 e ≥70), regiões de residência (norte, nordeste, sudeste, sul e centro-oeste) e
raça/cor (branca, preta, amarela, parda e indígena).
Para análise da distribuição espacial e dos padrões espaço-temporais de
mortalidade relacionada à esquistossomose, utilizou-se como unidade de análise
geográfica os municípios de residência (n = 5.570, divisão territorial de 2013). Foram
excluídos os óbitos em que o município de residência era desconhecido. Procedeu-
se ao cálculo dos coeficientes médios de mortalidade relacionada à
esquistossomose (por 100.000 habitantes) no nível municipal para o período de 16
anos de estudo, distribuídos em quadriênios (2000–2003, 2004–2007, 2008–2011, e
2012–2015).
Para reduzir as variações aleatórias e proporcionar maior estabilidade dos
coeficientes de mortalidade em municípios com populações pequenas e eventos
raros, calcularam-se os coeficientes de mortalidade suavizados (por 100.000
habitantes) por meio do método Bayesiano Empírico Local.
Avaliou-se ainda a presença de autocorrelação global e local utilizando o
índice de Moran I local. O método baseado nas estatísticas LISA (Local Indicators of
Spatial Association – Indicadores Locais de Associação Espacial) expressou quais
os munícipios em que há aglomeração de valores que se assemelham. Quatro
categorias foram geradas, cada uma fazendo referência a um quadrante do
diagrama de dispersão de Moran. Neste estudo, o quadrante alto-alto, representou
cluster de elevados coeficientes de mortalidade relacionados à esquistossomose; o
quadrante baixo-baixo, cluster de baixos coeficientes de mortalidade relacionada à
esquistossomose; alto-baixo, indicando municípios com alto coeficiente de
mortalidade por esquistossomose cercados por municípios com baixos coeficientes
e baixo-alto, onde se localizam municípios com baixo coeficiente cercado por
municípios com altos coeficientes de mortalidade por esquistossomose. Os mapas
85
foram utilizados considerando municípios com diferenças estatisticamente
significativas (p <0,05).
Para a análise de dependência espacial foram utilizados os índices G e
Gi* (Gi star) de Getis-Ord, que ao determinar um escore conhecido com Z e o
respectivo valor P, revela aglomeração espacial de valores com significância
estatística. As análises partiram do princípio de que um valor alto do escore Z e
pequeno valor P de um parâmetro indicava uma aglomeração espacial de valores
elevados. Um baixo escore Z negativo e pequeno valor P indica um agrupamento
espacial de valores baixos. Esses índices identificaram a presença de agregados de
altos valores ou de baixos valores dentro do agregado de municípios.
Essa ferramenta verificou cada característica dentro do contexto de
características vizinhas. Para ser um ponto crítico estatisticamente significativo, um
município deveria ter um valor alto e estar rodeado por outros recursos com valores
também altos. A soma local para uma característica e seus vizinhos foi comparada
proporcionalmente à soma de todas as características. Quando a soma local foi
muito diferente da esperada, e essa diferença foi muito grande para ser o resultado
de uma chance aleatória, obtinha-se uma pontuação Z estatisticamente significativa
(ARCGIS E, 2010).
As análises estatísticas foram realizadas utilizando o software Stata
versão 11.2 (StataCorp LP, CollegeStation, TX, EUA). O software ArcGIS versão 10
(Instituto de Pesquisa de Sistemas Ambientais – ESRI, Redlands, CA, EUA) e o
software TerraView versão 4.2.2 (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE,
São José dos Campos, SP) foram utilizados para análise, cálculo de indicadores de
autocorrelação e construção de mapas temáticos.
Aspectos éticos
A análise baseou-se exclusivamente em dados anônimos de natureza
secundária, que são disponíveis publicamente e sem possibilidade de identificação
dos indivíduos.
86
RESULTADOS
No período de 16 anos do estudo, foram registrados 17.374.134 óbitos no
Brasil. A esquistossomose foi identificada em 11.587 declarações (mortalidade
proporcional: 0,07%), 8.216 (70,91%) como causa básica de óbito e 3.371 (29,09%)
como causa associada. O número médio anual de mortes relacionadas à
esquistossomose foi de 724,2 óbitos (IC 95%: 723,4-725,0; desvio padrão: 42,0).
Características epidemiológicas
O coeficiente médio anual de mortalidade relacionada à esquistossomose
foi de 0,38 mortes/100.000 habitantes (IC 95%: 0,35-0,41). O sexo masculino deteve
54,1% dos óbitos por esquistossomose, com coeficiente de mortalidade de 0,42
mortes/100.000 habitantes. O risco relativo revelou-se maior e estatisticamente
significativo quando a pessoa acometida pela esquistossomose tinha idade entre:
50-59 anos (RR: 20,03; IC 95% 12,79-31,37), 60-69 anos (RR: 39,93; IC 95% 25,63-
62,20) e 70 anos ou mais (RR: 72,13; IC 95% 46,63-111,59).
A região do País que mostrou maior coeficiente de mortalidade por
esquistossomose foi a região Nordeste (RR: 11,35; IC 95% 6,24-20,63)
centralizando 64,0% dos óbitos, enquanto o Sudeste (RR: 3,65; IC 95% 1,99-6,68)
respondeu por 33,2% dos óbitos.
Avaliados os coeficientes de mortalidade estratificados por raça/cor,
observamos que a raça/cor parda (52,4% [5.416/10.345]; coeficiente 0,50/100.000
mil habitantes) apresenta o maior coeficiente de mortalidade relacionada a
esquistossomose, porém o Risco Relativo resultante é fraco (1,28). Embora tenha
verificado risco relativo estatisticamente significativo nas raças/cor indígena (RR:
0,03; IC 95% 0,00-0,23) e branca (RR: 0,71; IC 95% 0,53-0,96), esses valores
expressam proteção para o desfecho, mesmo a raça/cor branca representando
aproximadamente 35% dos óbitos por esquistossomose no Brasil durante o período
estudado.
Os demais números de mortes, os coeficientes de mortalidade
relacionada à esquistossomose (por 100 000 habitantes) e seus respectivos riscos
relativos estratificados por sexo, faixa etária, raça/cor e Região de residência do
indivíduo que foi a óbito estão descritos na Tabela 1.
87
Tabela 1 – Número de mortes, coeficientes brutos e padronizados por idade de mortalidade relacionada à esquistossomose (por
100 000 habitantes) estratificada por sexo, faixa etária, raça/cor e Região de residência no Brasil, 2000-2015.
Variáveis Mortes Coeficiente de mortalidadea Risco Relativo
(RR) IC 95% - RR P-valor
N % Coeficiente IC 95%
Total de óbitos relacionados à esquistossomose 11.587 100,0 0,38 0,35-0,41
Sexo/Gênero
Feminíno 5.321 45,9 0,37 0,33-0,40 Ref - -
Masculino 6.266 54,1 0,42 0,38-0,46 1,14 0,99-1,32 0,0764
Faixa etária (anos)
<15 46 0,4 0,01 0,00-0,01 0,14 0,04-0,46 < 0,0013
15-29 383 3,3 0,04 0,02-0,06 Ref - -
30-39 711 6,1 0,15 0,11-0,20 3,58 2,15-5,97 < 0,0001
40-49 1.357 11,7 0,37 0,29-0,44 8,57 5,37-13,69 < 0,0001
50-59 2.317 20,0 0,86 0,72-1,00 20,03 12,79-31,37 < 0,0001
60-69 2.865 24,7 1,71 1,46-1,96 39,93 25,63-62,20 < 0,0001
≥70 3.908 33,7 3,09 2,70-3,48 72,13 46,63-111,59 < 0,0001
Região de residência
Centro-Oeste 180 1,6 0,08 0,03-0,13 Ref - -
Nordeste 7.263 64,0 0,91 0,83-0,99 11,35 6,24-20,63 < 0,0001
Norte 62 0,5 0,03 0,00-0,05 0,32 0,10-1,01 0,0516
Sudeste 3.771 33,2 0,29 0,26-0,33 3,65 1,99-6,68 < 0,0001
Sul 75 0,7 0,03 0,01-0,04 0,32 0,12-0,82 0,0178
Não informado 236 - - - - - -
88
Variáveis Mortes Coeficiente de mortalidadea Risco Relativo
(RR) IC 95% - RR P-valor
N % Coeficiente IC 95%
Raça/cor
Amarela (Asiático-descendente)
35 0,3 0,12 0,00-0,29 0,32 0,08-1,30 0,1117
Branca (Caucasiano) 4.046 39,1 0,28 0,24-0,31 0,71 0,53-0,96 0,0264
Indígena (Ameríndio) 21 0,2 0,01 0,00-0,04 0,03 0,00-0,23 < 0,0007
Parda (Raça Mista/ Pardo Brasileiro)
5.416 52,4 0,50 0,45-0,54 1,28 0,96-1,71 0,0972
Preta (Afro-Brasileiro / Afro-descendente)
827 8,0 0,39 0,28-0,49 Ref - -
Não informado 1.242 - - - - - -
IC: interval de confiança; RR: risco relativo; -: não calculado.
aCoeficiente médio anual (por 100.000 habitantes), calculado utilizando a média do número de óbitos relacionados à esquistossomose no período de 16 anos como numerador e o tamanho da população no meio do período de estudo como denominador. Os dados populacionais sobre raça/cor foram provenientes dos Censos Demográficos de 2000 e 2010. O tamanho da populaçãode indivíduos por raça/cor no período foi calculado como a média da população raça/cor estimada no PNAD.
89
Distribuição espacial e clusters de alto risco
No período de estudo de 16 anos, 46,6% (1.377/5.570) dos municípios do
Brasil registraram pelo menos um óbito relacionado à esquistossomose. As Figuras
1 e 2 revelam a distribuição espacial dos coeficientes médios anuais e suavizados,
respectivamente. Os maiores coeficientes médios anuais de mortalidade,
estratificados por quadriênios, foram 2000-2003 (25,84 mortes/100.000 habitantes
[mediana: 0,33; desvio padrão: 1,50]) e 2008-2011 (24,28 mortes/100.000 habitantes
[mediana: 0,34; desvio padrão: 1,41]). Os maiores coeficientes de mortalidade
suavizados foram observados nos mesmos quadriênios: 2000-2003 (9,33
mortes/100.000 habitantes [mediana: 0,26; desvio padrão: 0,78]) e 2008-2011 (9,99
mortes/100.000 habitantes [mediana: 0,29; desvio padrão: 0,83]).
Foram identificados municípios com altos coeficientes de mortalidade
relacionados à esquistossomose (>1,0 óbito/100.000 habitantes) em todas as
regiões do Brasil. O método Bayesiano gerou coeficientes de mortalidade corrigidos
mais estáveis (Figura 2).
Para todos os óbitos relacionados à esquistossomose, o índice de Moran I
global apresentou autocorrelação espacial positiva significativa nos quatro períodos
de tempo: 2000-2003 (0,185; p = 0,000), 2004-2007 (0,228; p<0,001), 2008-2011
(0,229; p<0,001) e 2012-2015 (0,214; p<0,0001), evidenciando a existência de
dependência espacial entre os coeficientes dos municípios com padrões
semelhantes. A Figura 3 apresenta os clusters de municípios identificados de acordo
com a análise LISA para os coeficientes de mortalidade nos quatro períodos de
tempo. Ao longo de todos os períodos, identificou-se um grupo de municípios de alto
risco de mortalidade situado nas regiões leste e sul da região Nordeste, assim como
o norte da região Sudeste.
A análise de hotspots (Getis-Ord Gi *) dos coeficientes de mortalidade
relacionada à esquistossomose apresentou significância estatística de aglomerado
espacial em todos os períodos de tempo: 2000-2003 (0.263; p<0,001), 2004-2007
(0.263; p<0,001), 2008-2011 (0.269; p<0,001) e 2012-2015 (0.246; p<0,001). As
regiões leste e sul da região Nordeste, assim como o norte da região Sudeste,
mantém-se como áreas de maior risco (Figura 4).
90
Figura 1 – Distribuição espacial dos coeficientes brutos médios anuais (não
suavizadas) de mortalidade relacionada à esquistossomose (por 100.000 habitantes)
por município de residência no Brasil, 2000-2015.
Fonte: Elaborada pelos autores.
91
Figura 2 – Distribuição espacial dos coeficientes médios anuais de mortalidade
suavizados pelo método Bayesiano (por 100.000 habitantes) por município de
residência no Brasil, 2000-2015.
Fonte: Elaborada pelos autores.
92
Figura 3 – Análise de agrupamento espacial e espaço-temporal de coeficientes de
mortalidade relacionada à esquistossomose (por 100.000 habitantes) por município
de residência no Brasil, 2000-2015.
Fonte: Elaborada pelos autores.
93
Figura 4 – Análise espacial e espaço-temporal de áreas quentes (Getis-Ord Gi *) dos
coeficientes de mortalidade relacionadas à esquistossomose (por 100.000
habitantes) por município de residência no Brasil, 2000-2015.
Fonte: Elaborada pelos autores.
94
DISCUSSÃO
O coeficiente médio anual de mortalidade relacionada à esquistossomose
(0,38 mortes/100.000 habitantes), calculado com base nos anos de 2000 a 2015, é
consistente com o valor encontrado por um estudo semelhante que avaliou o
período de 2000 a 2011 (0,39 mortes/100.000 habitantes) (MARTINS-MELO et al.,
2014), porém com diferenças nas análises metodológicas. Mesmo após alguns anos
de ações do Programa de Controle da Esquistossomose, sob novas recomendações
da Organização Mundial de Saúde – Strategic Plan 2012-2020 (WHO, 2013), ainda
não foi possível observar efeitos significativos sobre a redução da mortalidade
relacionada à doença no Brasil. Porém, é importante lembrar que o país segue
cumprindo parcialmente uma das principais diretrizes da WHO, o tratamento
preventivo em áreas de risco. Segundo relatório dessa organização, em 2012, o
Brasil possuía 1.485.112 crianças em idade escolar necessitando de tratamento
preventivo e o número de pessoas efetivamente tratadas, relatada pelo programa de
controle nacional, foi de apenas 27.178 (1,83%). Os dados apresentados para 2016
trazem um cenário ainda mais crítico, com a necessidade de realização de
1.535.838 quimioterapias preventivas e somente 16.054 (0,20%) tratamentos
efetivamente realizados (WHO, 2017a).
A média anual de mortes relacionadas à esquistossomose no período
estudado (724,19 óbitos por ano) pode estar ainda subestimada, se considerarmos
que em alguns óbitos a causa básica, assim como as causas associadas de morte
apontadas nas certidões podem ter sido codificadas como hemorragia digestiva,
hipertensão portal, varizes esogageanas, enquanto que a própria esquistossomose
não tenha sido apontada em nenhum momento.
Vale ressaltar que o componente de mortalidade somado aos anos de
vida ajustados por incapacidade (disability-adjusted life-year – DALY) para
esquistossomose está associado a significativos impactos econômicos e sociais, por
afetar principalmente a população masculina, provedores do orçamento doméstico
na maioria dos lares no Brasil, onde 59.5% dos domicílios são chefiados por homens
e que respondem por 59,1% da renda familiar (IBGE, 2016c).
A mortalidade relacionada à esquistossomose apresentou taxas
progressivamente maiores com o aumento da idade, provavelmente devido às taxas
de exposição no passado, à história natural da doença, bem como às características
95
imunológicas, fisiológicas e comorbidades frequentes, como as doenças crônicas
nessa faixa etária (AMARAL et al., 2006). Os menores coeficientes de mortalidade
em grupos etários mais jovens (<15 anos) podem ser atribuídas, em parte ao fato de
que o público-alvo das ações governamentais de controle dessa doença são
crianças em idade escolar, principalmente de Escolas de Ensino Fundamental em
áreas com alta prevalência (FERREIRA & TABOSA E SILVA, 2007). No entanto, a
manutenção dessas taxas de mortalidade, independente da faixa etária, apontam
para fragilidades nas principais ações do PCE como a falta de opções diagnósticas
mais modernas e sensíveis (principalmente em áreas de baixa endemicidade)
disponíveis para a utilização na rotina das equipes de saúde local e o
direcionamento seletivo das estratégias de tratamento quimioterápico (crianças em
idade escolar, principalmente de 7 a 14 anos) (NASCIMENTO E OLIVEIRA, 2014).
Áreas de vulnerabilidade social das regiões Nordeste e Sudeste do Brasil
são as que concentram a maior parcela da população de raça/cor parda (38% e
34%, respectivamente), de analfabetos com idade superior a 10 anos (54,6% e
23,3%, respectivamente) e da população com rendimento mensal domiciliar até 01
(um) salário mínimo (R$ 788 = U$ 225), respectivamente, 48,8 % e 27,3% (IBGE,
2016c). Esses são indicadores socioeconômicos que podem estar influenciando às
altas taxas de mortalidade para esquistossomose nessas duas regiões destacadas
nesse estudo. Uma grande parcela da população da região Nordeste ainda vive em
condições inadequadas de moradia. Em 2015, 20,3% dos nordestinos moravam em
residências sem acesso à água tratada e 57,1% não tinham o esgotamento sanitário
de suas residências ligado à rede coletora (IBGE, 2016c).
Ainda em relação ao diagnóstico, em áreas de alta endemicidade, o fator
que pode contribuir para maior taxa de mortalidade, principalmente entre os adultos,
é o diagnóstico tardio já em uma fase avançada da doença. Nas áreas de baixa
endemicidade, o maior problema reside no método complementar diagnóstico
utilizado de rotina pelo programa de controle nacional tendo em vista a sua baixa
sensibilidade (PINHEIRO et al., 2012). Além deste aspecto, insere-se a existência de
fatores confundidores para o diagnóstico clínico, como as doenças parasitárias que
guardam certas semelhanças na sintomatologia, como o aumento do fígado (ex.
doença de Chagas e leishmaniose visceral), principalmente na região Nordeste onde
essas parasitoses apresentam elevada endemicidade (BADARÓ et al., 1986), a
necessidade de maior atenção ao diagnóstico diferencial, a demora ou a não
96
realização do diagnóstico laboratorial, a fragilidade da Rede de Atenção Básica à
Saúde (que direciona seus esforços para o combate a outras doenças, como
dengue), podem levar à negligência e demora na garantia de acesso ao tratamento
adequado.
Em relação ao tratamento específico ofertado aos casos de
esquistossomose, devem-se avaliar dois aspectos: a) o PCE não realiza
sistematicamente a investigação de cura após a realização do tratamento, o que
gera incerteza da eliminação de vermes adultos, podendo ocorrer apenas redução
significativa da carga parasitária. Por outro lado, uma baixa postura de ovos pode
ser mantida por esses parasitos remanescentes, possibilitando a continuidade do
comprometimento de órgãos e tecidos (WU, HALIM; 2000), e b) mesmo que o
tratamento tenha sido completamente eficaz, esse indivíduo pode ter sido
diagnosticado e tratado tardiamente, já se encontrando em fase avançada da
doença. Portanto, como o tratamento quimioterápico disponível atualmente apenas
elimina os vermes adultos, não é capaz de interromper o curso natural da doença
relacionada à formação dos granulomas ao redor dos ovos do parasitao e nem
reverter as complicações já existentes na fase crônica da doença, como
hepatoesplenomegalia ou dano renal (HANEMANN et al., 2013).
As análises espaciais indicam clusters com maior impacto de mortalidade
relacionada à esquistossomose no leste e sul da Região Nordeste e no norte da
Região Sudeste. Esses locais remetem-se a áreas de maior vulnerabilidade social e
se sobrepõem às áreas que mantiveram altas taxas de positividade para a doença e
as mais altas cargas parasitárias (acima de 400 ovos por grama de fezes) ao longo
dos anos desse estudo (DATASUS, 2016), demonstrando ineficiência relativa do
PCE. Existe forte fluxo migratório de pessoas naturais da região Nordeste, oriundos
de áreas pobres e sem condições de emprego e renda, para a Região Sudeste, nas
periferias dos centros urbanos a procura de melhores condições de vida. Porém,
estas áreas eram por vezes mais insalubres do que seus locais de origem, e muitos
desses migrantes vinham de áreas altamente endêmicas para a esquistossomose, o
que acabou por tornar esses espaços áreas potenciais de transmissão da doença
(KLOOS et al, 2008).
Diferente do que é atualmente preconizado pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) para controle da esquistossomose, dados do Ministério da Saúde
brasileiro indicam que houve redução no número de exames realizados no país. O
97
número de exames realizados em 2015 (709.169) foi 48,8% inferior ao número de
exames realizados em 2010 (1.385.929) e 65,5% inferior ao que foi realizado em
2005 (2.055.523), considerando-se todas as regiões (DATASUS, 2016). Esse fato é
preocupante à medida que fragiliza o efetivo controle da doença, pois a redução da
oferta de diagnóstico à população, principalmente em áreas endêmicas, potencializa
a evolução para fases crônicas, com desfechos potencialmente mais graves,
inclusive a morte.
Ressalta-se ainda que a região Nordeste do País passa por uma ampla
intervenção eco-bio-social gerada pelo Projeto de Integração do Rio São Francisco
(PISF). Este projeto pode potencialmente contribuir para dispersão ou introdução de
hospedeiros intermediários de S. mansoni em áreas não anteriormente afetadas.
Essas obras estimam beneficiar 12 milhões de pessoas em 390 municípios dos
estados nordestinos mais afetados pelos períodos de seca: Ceará, Pernambuco,
Paraíba e Rio Grande do Norte (BRASIL, 2014c). Ademais, estas áreas têm
apresentado intensos movimentos migratórios, principalmente de trabalhadores da
construção civil migrantes e suas famílias (SILVA FILHO et al, 2017).
Alguns pesquisadores têm alertado para o risco do aumento de
transmissão da esquistossomose nessas áreas a serem diretamente impactadas
pelo PISF, indicando inclusive a presença de vetores apresentando formas larvais
de S. mansoni e escolares positivos (FAVRE et al, 2016), além de trabalhadores
positivos nos canteiros de obras do PISF (SILVA FILHO et al, 2017). Dados da
Secretaria de Saúde do Governo do Estado do Ceará registraram trabalhadores
positivos nos canteiros dos municípios de Penaforte com 1,21% (3/247) de
positividade, Mauriti com 5,5% (23/416) e Brejo Santo com 9,1% (45/432) (SESA-
CE, 2016).
Desse modo, outro fator a ser considerado é o controle da transmissão da
doença que perpassa necessariamente pelo controle vetorial, visto que o agente
etiológico da esquistossomose desenvolve parte do seu ciclo de vida em caramujos
de água doce. Em 2017, a WHO publicou The Global Vector Control Response
2017-2030 com diretrizes específicas que visam o controle de vetores como uma
abordagem fundamental para prevenir doenças e responder a surtos. Ressalta-se a
necessidade de se implementar esforços para maior capacidade técnica dos
programas de controle, garantia de infraestrutura melhorada, sistemas de
monitoramento e vigilância reforçados além de maior envolvimento e mobilização da
98
comunidade. Essas medidas são os alicerces que permitirão o cumprimento de
objetivos específicos nacionais e globais que visam reduzir a carga e o risco de
doenças causadas por vetores, além de contribuir para o alcance dos Objetivos do
Milênio de Desenvolvimento Sustentável e Cobertura de Saúde Universal.
O presente estudo apresenta algumas limitações. A utilização de dados
secundários de mortalidade pode apresentar inconsistências na quantidade e
qualidade da informação ao longo do tempo e entre as regiões geográficas
(AMARAL et al., 2006; MARTINS-MELO et al., 2012a; 2014). As mortes podem ter
sido subestimadas, apesar do progresso alcançado durante o período de
observação em termos de cobertura de SIM e a qualidade da informação sobre
causas de morte. A cobertura (a proporção de óbitos relatados e estimados) também
pode ter apresentado variação entre as regiões do Brasil, com menor cobertura nas
regiões Norte e Nordeste (MARTINS-MELO et al., 2012a, 2012b, 2014). A causa
básica do óbito pode ter sido codificada como uma complicação ou agravamento
associado à esquistossomose (tal como sangramento gastrointestinal, hipertensão
portal e varizes esofágicas) (NASCIMENTO E OLIVEIRA, 2014; MARTINS-MELO et
al., 2014). Desta forma, a média anual de mortes relacionadas à esquistossomose
no período estudado (724,19 óbitos por ano) pode estar ainda subestimada, se
considerarmos que em muitos casos outras patologias, como insuficiência hepática
e renal, aparecem como causa básica de morte nas declarações de óbitos, onde
essas na realidade são complicações da doença de base, mas acabam por
mascarar a taxa real de mortalidade por esquistossomose. Houve ainda um
considerável número de variáveis com informações incompletas, especialmente nas
variáveis raça/cor, portanto, as respectivas análises e interpretações devem ser
avaliadas com cautela (MARTINS-MELO et al., 2012a; 2014). Apesar dessas
limitações, os resultados deste estudo são altamente consistentes e representativos,
visto que foram analisadas todas as declarações de óbitos registradas no Brasil,
durante um período total de 16 anos (2000–2015).
O presente estudo apresenta consistente análise da mortalidade por
esquistossomose no Brasil. Mesmo após 40 anos de criação do PCE, a doença
ainda persiste com elevada carga de morbimortalidade. A doença persiste como
importante causa de óbito no Brasil especialmente em áreas com elevada
prevalência, em parte das regiões Nordeste e Sudeste. Reforça-se a necessidade de
99
desenvolvimento de ações de vigilância em saúde e controle nestas áreas, com
atenção à população masculina e de idosos.
Novas diretrizes são necessárias, a fim de contribuir para a solução de
problemas históricos relativamente negligenciados como a baixa sensibilidade do
método diagnóstico para utilização na rotina do PCE no país, a implantação do
tratamento preventivo para crianças em idade escolar que moram em áreas de risco,
o fortalecimento das ações de Educação em Saúde a nível comunitário e, sobretudo,
os investimentos em saneamento básico, principalmente nos municípios/localidades
mais afetadas pela doença.
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103
6.2 Eixo 2: Padrões de presença e distribuição de aglomerados espaço-
temporais de elevado risco para mortalidade relacionada à esquistossomose
no Brasil
6.2.1 Artigo 2: Esquistossomose no Brasil: uma análise de dezesseis anos das
tendências de mortalidade e padrões espaciais
Marta Cristhiany Cunha Pinheiro1,2,*, Anderson Fuentes Ferreira1, Mauricélia da
Silveira Lima1, Reagan Nzundu Boigny1, Francisco Rogerlândio Martins-Melo3, José
Damião da Silva Filho2, Fernando Schemelzer de Moraes Bezerra2,4,5, Alberto
Novaes Ramos Jr1
1Universidade Federal do Ceará-UFC, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-
Graduação em Saúde Pública, Fortaleza, CE, Brasil
2Universidade Federal do Ceará-UFC, Departamento de Análises Clínicas e
Toxicológicas, Laboratório de Pesquisa em Parasitologia e Biologia de Moluscos,
Fortaleza, CE, Brasil
3Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará-IFCE,
Departamentode Medicina Clínica, Caucaia, Ceara, Brasil
4Universidade Federal do Ceará-UFC, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-
Graduação em Patologia, Fortaleza, CE, Brasil
5Universidade Federal do Ceará-UFC, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-
Graduação em Ciências Médicas, Fortaleza, CE, Brasil
Autor correspondente: Marta Cristhiany Cunha Pinheiro (e-mail:
Universidade Federal do Ceará, Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas,
Rua Professor Costa Mendes, 1210, Rodolfo Teófilo, 60430140 - Fortaleza, CE -
Brasil, Telefone: +55 85 3366- 8242; Fax: +55 85 3266- 8206.
104
RESUMO
INTRODUÇÃO: As informações sobre os óbitos por esquistossomose constituem
elementos importantes para o monitoramento das tendências de mudanças nos
padrões de distribuição em grupos populacionais e áreas geográficas.
OBJETIVO: Avaliar os óbitos relacionados à esquistossomose no Brasil, no período
de 2000 a 2015, quanto as tendências temporais, os agrupamentos espaciais e
espaçotemporais de alto risco da mortalidade relacionada à esquistossomose.
MÉTODOS: Foram incluídas todas as mortes no Brasil entre 2000 e 2015, nas quais
a esquistossomose foi mencionada em atestados de óbito, como causas múltiplas
de morte. Os dados de mortalidade foram obtidos a partir de certificados de óbito,
conforme disponível no Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM do
Ministério da Saúde. A análise da tendência temporal das taxas de mortalidade
ajustadas por idade foi realizada usando modelos de regressão Joinpoint,
fornecendo a variação percentual anual (APC) e IC 95% em taxas de mortalidade
ajustadas por idade.
RESULTADOS: A esquistossomose foi identificada em 8.216 (70,91%) como causa
básica e 3.371 (29,09%) como causa de morte associada. A taxa geral de
mortalidade bruta relacionada à esquistossomose no período de 16 anos foi de 0,38
mortes / 100 000 habitantes (IC 95%: 0,35-0,41) e a taxa ajustada à idade foi de
0,39 mortes / 100 000 habitantes. As taxas de mortalidade apresentaram uma
diminuição significativa a nível nacional (APC: -1,2%; IC 95%: -1,8 a -0,5) ao longo
do período de 16 anos. Havia padrões diferentes entre as regiões com uma
diminuição das taxas ajustadas por idade em todas as regiões, tendo o Sul com
significância estatística. A análise espaçotemporal de varredura demonstrou a
presença de três clusters significativos.
CONCLUSÃO: O estudo demonstrou que mesmo diante de um declínio observado
da mortalidade por esquistossomose no Brasil, as medidas instituídas com foco na
diminuição da morbimortalidade não vêm sendo suficientes para a eliminação da
doença e diminuição significativa dos óbitos.
Palavras-Chave: Esquistossomose. Análise Espacial. Epidemiologia. Mortalidade.
Estudos de Séries Temporais. Brasil.
105
ABSTRACT
INTRODUCTION: Information on deaths from schistosomiasis are important
elements for monitoring trends in changes in distribution patterns in population
groups and geographic areas
OBJECTIVE: Evaluate the deaths related to schistosomiasis in Brasil, on the period
from 2000 to 2015, ass well the time trend, the spatial and spatio-temporal groupings
of high risk of mortality related to schistosomiasis.
METHODS: Were included all the deaths in Brazil between 2000 and 2015, in wich
schistosomiasis were mentioned at death certificate as multiples causes death. The
mortality data were obtained from the Mortality Information System - SIM of the
Health Ministery. The analysis of the time trend of age-adjusted mortality rate was
realized using the Joinpoint regression model. The Joinpoint analysis of the point
provides the annual percentage variation (APC) and 95% CI in the mortality rates
adjusted by age.
RESULTS: The schistosomiasis was identified in 8216 (70.91%) as underlying cause
and 3.371 (29.09%) as associated death cause. The general gross mortality rate
related to schistosomiasis in the period of 16 years was 0.38 deaths / 100,000 people
(IC 95%: 0.35-0.41) and the age adjusted taxe was 0.39 deaths / 100,000 people.
The mortality rates presented a significant decrease in the national level (APC: -
1.2%; 95% CI: -1.8 to -0.5) over the 16 years period. There were different patterns
among the regions, having South with statistic significance. The sweep
spatiotemporal analyze demonstrated the presence of three significant clusters.
CONCLUSION: The study demonstrated that even against the observed mortality
decline for schistosomiasis in Brazil, the measures taken with focus on the mortality
diminution has not been enough for the diseases elimination and significant
diminution of the deaths.
Keywords: Schistosomiasis. Spatial Analysis. Epidemiology. Mortality. Temporal-
series Studies. Brazil.
106
INTRODUÇÃO
A esquistossomose mansoni é uma das doenças de veiculação hídrica de
maior prevalência no mundo, no Brasil é causada pelo parasita Schistosoma
mansoni. A Organização Mundial de Saúde avalia que a esquistossomose afeta 240
milhões de pessoas e representa ameaça para mais de 700 milhões de indivíduos
que vivem em áreas de risco (WHO, 2016). Atualmente o Brasil conta com
aproximadamente 207,6 milhões de habitantes, segundo pesquisa realizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2016a) e calcula-se que cerca
de 1,5 milhões de pessoas residem em locais de risco que possibilitam contrair a
doença (KATZ et al., 2014). As regiões Nordeste e Sudeste são as mais atingidas,
de acordo com relatório da vigilância da esquistossomose mansoni, a doença é
encontrada em todas as regiões do país (BRASIL, 2014).
Sua transmissão está associada à utilização de águas contaminadas para
o exercício da agricultura, trabalho doméstico e lazer. A doença é mais incidente em
regiões sem saneamento ou com saneamento básico impróprio, representando risco
à saúde das populações rurais e das periferias urbanas dos países em
desenvolvimento; e está associada à pobreza e ao baixo desenvolvimento
econômico. A ampla distribuição geográfica dos hospedeiros intermediários da
esquistossomose (caramujos do gênero Biomphalaria), em quase todo o território
nacional, é um dos responsáveis por existirem casos de transmissão da doença,
assim como de óbitos em todas as regiões do país (BRASIL, 2008; KATZ;
PEIXOTO, 2000).
No Brasil, a dimensão geográfica, a grande diversidade de situações
ecológicas, a diveridade socioeconômica e cultural, em conjunto, colaboram para a
disseminação dessa doença. Portanto, a esquistossomose continua preocupando os
responsáveis pela saúde do país e pesquisadores no sentido de buscar novas
diretrizes que se adaptem às condições e realidades locais, buscando não só a
redução da morbimortalidade como também interromper o ciclo de transmissão do
parasito e sua eliminação como problema de saúde pública (KATZ, ALMEIDA,
2003).
As informações sobre os óbitos por esquistossomose constituem
elementos importantes para o monitoramento das tendências de mudanças nos
padrões de distribuição em grupos populacionais e áreas geográficas, assim como
107
verificar o impacto de intervenções das políticas públicas voltadas para o controle
desse agravo (SANTO, 2007). Além disso, conhecer os fatores etiológicos
relacionados aos grupos populacionais que estão sujeitos a maior risco de morte por
esquistossomose, são procedimentos de baixo custo que permitem direcionamento
dos processos de planejamento, gestão e avaliação dos programas de controle
(RESENDES, SOUZA-SANTOS, BARBOSA, 2005; MARTINS-MELO, 2011).
Esse estudo foi delineado com o objetivo de avaliar como os óbitos
relacionados à esquistossomose no Brasil, no período de 2000 a 2015, distribuíram-
se de forma temporal, definindo os agrupamentos espaciais e espaçotemporais de
alto risco.
MÉTODOS
Desenho do estudo e população
O Brasil é o maior país da América do Sul, com 8,5 milhões de km²
dividido em 27 Unidades Federativas (1 Distrito Federal, 26 Estados), distribuídos
em cinco regiões geográficas oficiais (Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e
Sul). E a população está estimada em cerca de 207,6 milhões de habitantes em
2016 (IBGE, 2016a; IBGE, 2016b).
Nesse estudo nacional, analisamos as tendências temporais, os
agrupamentos espaciais e espaço-temporais de alto risco de mortalidade
relacionada à esquistossomose.
Foram incluídas todas as mortes no Brasil entre 2000 e 2015, nas quais a
esquistossomose foi mencionada no atestado de óbito, como causa básica ou como
causas associadas (causas múltiplas de morte). Selecionamos os códigos da
esquistossomose usando a Décima Revisão da Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) para
codificar causas de morte (WHO, 2010). Foram incluídas todas as mortes com
código do grupo B65 "Esquistossomose (bilharziose)": B65.0 "Esquistossomose
devida ao Schistosoma haematobium (esquistossomose urinária)"; B65.1
"Esquistossomose devida Schistosoma mansoni (esquistossomose intestinal)";
B65.2 "Esquistossomose devida Schistosoma japonicum"; B65.3 "Dermatite
108
cercariana"; B65.8 "Outras esquistossomoses", B65.9 "Esquistossomose, não
especificada".
Fontes de dados
Os dados de mortalidade foram obtidos a partir de certidões de óbito,
disponível no Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM do Ministério da
Saúde. As certidões de óbito incluem informações sobre sexo/gênero, nível de
escolaridade, raça/cor, estado civil, data de falecimento, local de residência, local de
ocorrência da morte e causas de morte. Os dados são de domínio público. Os
detalhes sobre o download e o processamento dos conjuntos de dados foram
descritos anteriormente em detalhes (WHO, 2010; MARTINS-MELO et al., 2012a;
2015; 2016).
Os dados de recenseamento foram obtidos do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE) -
utilizamos informações exatas de 2000 e 2010 (anos de censos demográficos no
Brasil) e estimativas para os anos inter-censitários (2001 – 2009 e 2011 – 2015).
Tendências temporais
A análise das tendências temporais das taxas de mortalidade ajustadas
por idade foi realizada usando modelos de regressão Joinpoint (KIM et al., 2000). A
análise da junção dos pontos de inflexão (joinpoints) encontra a linha de melhor
ajuste no período de estudo usando um algoritmo que testa se uma linha multi-
segmentada é, de fato, um ajuste significativamente melhor, uma linha direta ou
menos segmentada.
Esta análise identificou joinpoints que indicam uma mudança
estatisticamente significativa na tendência com a melhor linha de ajuste para cada
segmento. O modelo de regressão joinpoints se encaixa em uma série de linhas
retas unidas em uma escala de registro através de um método log-linear que
determina a direção ou a significância estatística pelo teste de permutação de Monte
Carlo (KIM et al., 2000).
A análise começou com 0 joinpoint, que representa uma linha reta sem
joinpoint, e testa se a inclusão de um até o máximo de três joinpoints no modelo foi
estatisticamente significante. As análises de joinpoints fornecem a variação
percentual anual (annual percent change – APC) e IC 95% em taxas de mortalidade
109
ajustadas por idade, identificando pontos onde uma mudança estatisticamente
significante na tendência ou séries temporais na inclinação linear para cada
segmento (KIM et al., 2000).
Para simplificar a comparação das tendências para os indicadores de
mortalidade com mais de uma inclinação, também calculamos a variação percentual
média anual (average annual percent change – AAPC) durante todo o período. Isso
foi estimado como a média ponderada geométrica da APC, com os pesos refletindo
o comprimento de cada segmento de intervalo de tempo (KIM et al., 2000). As
tendências temporais foram consideradas estatisticamente significativas quando a
APC e a AAPC apresentaram p <0,05, testando a hipótese de que a tendência das
taxas de mortalidade relacionadas à esquistossomose não está aumentando nem
diminui.
Nós também analisamos as mortes relacionadas à esquistossomose por
variáveis extraídas dos atestados de óbito incluindo sexo/gênero (masculino,
feminino), faixa etária (0-14, 15-29, 30-39, 40-49, 50-59, 60-69 e ≥ 70), raça/cor
(branca - caucasiano, preta - afro-brasileiro/afro-descendente, amarela -
descendente asiático, parda/castanha - raça mista/pardo brasileiro e indígena -
ameríndios) e local de residência (regiões geográficas) como variáveis dependentes
e o ano da morte como uma variável independente.
Análise de clusters espaço-temporais
Utilizamos as estatísticas de varredura espaço-temporal retrospectivas de
Kulldorff para identificar clusters espaço-temporais de alto risco (CLIFF & ORD,
1981; KULLDORFF & NAGARWALLA; 1995; KULLDORFF, 1997). Como os eventos
individuais em análise (mortes) são contáveis e considerados raros, utilizamos o
modelo probabilístico discreto de Poisson. Definimos as seguintes condições:
aglomerados com formato circular, não ocorrência de sobreposição geográfica ou
temporal dos clusters, tamanho máximo do cluster igual a 20% da população em
risco e tamanho máximo do cluster temporal igual a 50% do período de estudo. O
cluster mais importante (primário) e os clusters secundários foram detectados por
meio do teste da razão de verossimilhança (KULLDORFF, 2009). Calculamos a
significância estatística usando 99.999 simulações de Monte Carlo.
Após a análise espaço-temporal, foram considerados clusters
estatisticamente significativos à presença de três ou mais municípios como vizinhos.
110
Também realizamos a análise de Joinpoint para cada cluster significativo
identificado na análise espaço-temporal usando como variáveis dependentes:
sexo/gênero, faixa etária e raça/cor.
As análises de regressão Joinpoint foram baseadas no uso do programa
Joinpoint Regression 4.0.4 (US National Cancer Institute, Bethesda, MD, EUA). A
estatística Scanfoi realizada usando o software SaTScan versão 9.1.1 (Harvard
Medical School, Boston e Information Management Service Inc, Silver Spring, MD,
EUA). Outras análises estatísticas foram realizadas utilizando o software Stata
versão 11.2 (StataCorp LP, College Station, TX, EUA).
Aspectos éticos
A análise baseou-se exclusivamente em dados anônimos de natureza
secundária, disponíveis publicamente, sem possibilidade de identificação das
pessoas atingidas.
RESULTADOS
Identificamos 11.587 / 17.374.134 (mortalidade proporcional: 0,07% [IC
95%: 0,065-0,068]) certidões de óbito que mencionaram a esquistossomose como
causa básica ou associada de morte. A esquistossomose foi identificada em 8.216
(70,91%) como causa básica e 3.371 (29,09%) como causa de morte associada. A
taxa geral de mortalidade bruta relacionada à esquistossomose no período de 16
anos foi de 0,38 mortes / 100 000 habitantes (IC 95%: 0,35-0,41) e a taxa ajustada à
idade foi de 0,39 mortes / 100 000 habitantes.
Análises de tendências temporais
A Figura 1 apresenta a distribuição espacial dos coeficientes médios de
mortalidade relacionadas à esquistossomose (por 100.000 habitantes) por estados
de residência, dos indíviduos que evoluíram para esse desfecho, no período de
2000-2015.
A Figura 2 apresenta as tendências temporais os coeficientes de
mortalidade ajustados por idade por mortes relacionadas à esquistossomose, com
diferenças entre regiões.
111
Figura 1 – Distribuição espacial dos coeficientes médios de mortalidade relacionada
à esquistossomose (por 100.000 habitantes) por estados de residência no Brasil,
2000-2015.
Fonte: Elaborada pelos autores.
Os coeficientes de mortalidade apresentaram uma diminuição significativa
a nível nacional (APC: -1,2%; IC 95%: -1,8 a -0,5) ao longo do período de 16 anos
(Tabela 1). Foram encontrados padrões diferentes entre as regiões (Figura 2; Tabela
1) com uma diminuição dos coeficientes ajustados por idade em todas as regiões,
com significância estatística na Região Sul.
112
Figura 2 – Tendências dos coeficientes ajustados por idade de mortalidade
relacionada à esquistossomose (por 100.000 habitantes) no Brasil e regiões, 2000-
2015.
Fonte: Elaborada pelos autores.
A mortalidade ajustada por idade foi maior em homens (APC: -1,7%; IC
95%: -2,6 a -0,9) do que em mulheres, mas ambos os sexos/gênero mostram uma
diminuição estatisticamente significante em todo o período. Uma diminuição
significativa foi verificada na faixa etária entre <15 a 69 anos; Por outro lado, as
idades acima de 70 anos apresentaram uma tendência de diminuição ao longo do
tempo sem significância. A raça/cor amarela apresentou diminuição significativa
(APC: -12,2%; IC: -17,9 a -6,1) no período de estudo. A raça/cor indígena teve um
aumento significativo (APC: 7,8; IC 95%: 1,4 a 14,6).
113
Tabela 1 – Análise por regressão Joinpoint dos coeficientes de mortalidade
relacionada à esquistossomose no Brasil, 2000-2015.
Indicador/
Variáveis
Tendências Período inteiro
Período APC IC 95% AAPC IC 95%
Brasil – Total 2000-2015 -1,2* -1,8 to -0,5 -1,2* -1,8 to -0,5
Sexo/Gênero
Feminino 2000-2015 -0,4 -1,1 to 0,3 -0,4 -1,1 to 0,3
Masculino 2000-2015 -1,7* -2,6 to -0,9 -1,7* -2,6 to -0,9
Faixa etária 1 (years)
<15 2000-2015 -7,7* -12,6 to -
2,6 -7,7* -12,6 to -2,6
15-29 2000-2015 -9,6* -12 to -7,1 -9,6* -12 to -7,1
30-39 2000-2015 -6,5* -8,5 to -4,5 -6,5* -8,5 to -4,5
40-49 2000-2015 -6,4* -7,9 to -4,9 -6,4* -7,9 to -4,9
50-59 2000-2015 -4,2* -5,6 to -2,9 -4,2* -5,6 to -2,9
60-69 2000-2015 -2,6* -3,5 to -1,7 -2,6* -3,5 to -1,7
≥70 2000-2015 -0,4 -1,5 to 0,8 -0,4 -1,5 to 0,8
Raça/cor
Amarela (Asiático-descendente)
2000-2015 -12,2* -17,9 to -
6,1 -12,2* -17,9 to -6,1
Branca (Caucasiano) 2000-2015 -0,9 -1,8 to 0,0 -0,9 -1,8 to 0,0
Indigena (Ameríndio) 2000-2015 7,8* 1,4 to 14,6 7,8* 1,4 to 14,6
Parda (Raça Mista/ Pardo Brasileiro)
2000-2007 3,4* 0,1 to 6,8 -0,1 -1,2 to 1,1
2007-2015 -2,6* -4,8 to -0,2
Preta (Afro-Brasileiro / Afro-descendente)
2000-2015 0,3 -1,3 to 1,9 0,3 -1,3 to 1,9
Region of residence
Centro-Oeste 2000-2015 -2,5 -5,2 to 0,4 -2,5 -5,2 to 0,4
Nordeste 2000-2015 -0,3 -1,5 to 0,9 -0,3 -1,5 to 0,9
Norte 2000-2015 -5,2 -10,2 to 0,0 -5,2 -10,2 to 0,0
Sudeste 2000-2015 -0,7 -1,4 to 0,0 -0,7 -1,4 to 0,0
Sul 2000-2015 -5,2* -9,7 to -0,6 -5,2* -9,7 to -0,6
114
Indicador/
Variáveis
Tendências Período inteiro
Período APC IC 95% AAPC IC 95%
Cluster
Áreas não cluster 2000-2015 -3,5* -6,4 to -0,5 -3,5* -6,4 to -0,5
Todas as áreas do cluster 2000-2015 -0,4 -1,4 to 0,7 -0,4 -1,4 to 0,7
Cluster 1 2000-2015 -1,4 -3,2 to 0,4 -1,4 -3,2 to 0,4
Cluster 2 2000-2015 3,5* 2,6 to 4,5 3,5* 2,6 to 4,5
Cluster 3 2000-2015 -2,3* -3,2 to -1,3 -2,3* -3,2 to -1,3
APC: annual percent change (alteração percentual anual); AAPC: average annual percent change (alteração percentual média anual); 95% IC: 95% intervalos de confiança. * Significância diferente de 0 (p <0,05).
Análise de clusters espaço-temporais
As análises espaço-temporais de varredura identificaram três clusters
espaço-temporais significativos de alto risco para mortes relacionadas à
esquistossomose (Figura 3, Tabela 2). O cluster mais importante (cluster primário)
ocorreu no início do período de estudo, de 2000 a 2009, e incluiu 180 municípios
distribuídos nos estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba. O coeficiente anual de
mortalidade bruto foi de 3,80 mortes / 100 000 habitantes e o RR foi de 13,09. O
segundo cluster mais significativo foi identificado no período 2008-2015, com um
coeficiente anual de 0,70 mortes por 100 000 habitantes e risco relativo de 2,09.
Este cluster incluiu 674 municípios localizados nos estados da Bahia (Nordeste),
Minas Gerais e Espírito Santo (Sudeste) (Figura 3; Tabela 2). O terceiro cluster
secundário estava localizado apenas no estado de São Paulo (Região Sudeste). O
coeficiente anual de mortalidade bruto e o RR desse cluster secundário foram 0,50
mortes / 100,000 habitantes e 1,40 respectivamente (Tabela 2).
Análise de tendências do tempo em clusters
Uma análise agrupada das três áreas de clusters identificadas mostra
uma tendência de estabilização / queda, ao longo de todo o período, mas sem
significância estatística (AAPC: -0.4; IC 95%: -1.4 a 0.7). Por outro lado, uma análise
das áreas não pertencentes a clusters indicam tendência de redução (AAPC: -3,5; IC
95%: -6,4 a -0,5) de 2000 a 2015 (Tabela 1).
115
O cluster primário (regiões Nordeste) mostra tendências de tempo
decrescente em todos os períodos, mas sem significância estatística. O segundo
cluster mais significativo (Regiões Sudeste e Nordeste) apresentou em todo o
período uma tendência de aumento (AAPC: 3,5; IC 95%: 2,6 a 4,5). O terceiro
cluster mais importante (região Sudeste) apresentou em todo o período uma
tendência decrescente (AAPC: -2,3; IC 95% -3,2 a -1,3).
Figura 3 – Análise de clusters espacial e espaço-temporal por varredura espaço-
tempo dos coeficientes de mortalidade relacionada à esquistossomose (por 100.000
habitantes) por município de residência no Brasil, 2000-2015.
Fonte: Elaborada pelos autores.
116
Tabela 2 – Clusters espaço-temporais significantes de mortes relacionadas à esquistossomose, definidas utilizando estatísticas de
varredura espaço-tempo, por município de residência no Brasil, 2000-2015.
Cluster Período
de tempo
Número de municípios
Estados Região Raio (Km)
Número de
mortes
Número esperado
de mortes
Coeficiente de
mortalidade anual *
RR LLR P-valor
1 2002 a 2009
180 Alagoas,
Pernambuco, Paraíba
Nordeste 167,53 2721 267,08 3,8 13,09 4156,674 < 0,00001
2 2008 a 2015
674 Bahia, Minas
Gerais, Espirito Santo
Nordeste, Sudeste
481,48 1119 564,7 0,7 2,09 225,4829 < 0,00001
3 2000 a 2007
30 São Paulo Sudeste 38,26 760 553,5 0,5 1,4 36,45404 < 0,00001
RR: risco relativo para o cluster em comparação com o resto do país; LLR: razão logs de verossimilhança.
* Coeficientes de mortalidade relacionadas à esquistossomose (por 100.000 habitantes) durante o tempo do período do cluster.
117
DISCUSSÃO
O presente estudo, baseado em dados populacionais, englobando o
Brasil, traz uma visão abrangente da magnitude da mortalidade relacionada à
esquistossomose em um período de 16 anos. Apresenta as tendências temporais e
define os agrupamentos espaciais e espaço-temporais de alto risco. Já descrito nos
resultados.
No presente estudo adotou-se a metodologia do estudo de causas
múltiplas de morte, justificando-se que a utilização apenas da causa básica de morte
relacionada à esquistossomose pode levar a sub-registros desses dados, pois
sequelas e complicações da doença de base levam a casos graves da doença, que
muitas vezes podem evoluir para o óbito e constarão nas declarações de óbito como
causas múltiplas de morte. Assim, com o objetivo de otimizar a mensuração da
carga de mortalidade por esquistossomose foram consideradas todas as condições
pré-existentes relacionadas aos acontecimentos patológicos que levaram
diretamente à morte ou que contribuíram para esse desfecho (MARTINS-MELO,
2011).
Nossos dados mostram uma tendência decrescente não significante da
mortalidade por esquistossomose no Brasil, ao longo do período de 16 anos, porém
apresentando padrões diferenciados entre as regiões. Houve padrões diferentes
entre as regiões com uma diminuição dos coeficientes padronizados por idade em
todas as regiões, a região apresentou um decréscimo estatisticamente significativo.
A redução no coeficiente de mortalidade apresentado, a nível nacional, no período
total do estudo, pode ser reflexo da melhoria das condições socioeconômicas e de
investimentos realizados em obras de infraestrutura sanitária ao longo desse
período. Entre 2000 e 2015 houve um aumento significativo a nível nacional na
cobertura da rede de coleta e tratamento de esgoto em 69,8% (de 34,8% para
59,1%), enquanto que o serviço de abastecimento de água tratada apresentou
aumento em apenas 6,8% (79,96% para 85,4%). Na última década, entre 2005 e
2015, a Região Sul foi a segunda que apresentou a maior ampliação do serviço de
esgotamento sanitário, com aumento de 88,80% (passou de 25,9% para 48,9%).
Ficando atrás apenas da Região Norte que passou de 4% para 13,6%, com aumento
de 240%, porém com baixíssima cobertura nessa área (IBGE, 2006; 2016c). Outros
fatores a serem destacados é a maior oferta de serviços de saúde e a melhoria na
118
qualidade da assistência médica prestada, principalmente às populações
socialmente desfavorecidas, desde a implantação do Sistema Único de Saúde. A
cobertura de serviços de saúde como os prestados por Agentes Comunitários de
Saúde (ACS) e Programa e Saúde da Família (PSF) aumentaram de 34,39% e
9,2%, respectivamente no ano 2000, para 66,35% e 62,54%, respectivamente no
ano de 2015 (BRASIL, 2017).
A mortalidade ajustada por idade foi maior no sexo masculino, no entanto,
ambos os sexos mostram uma diminuição estatisticamente significativa em todo o
período. Uma diminuição significativa foi verificada no grupo etário entre <15 a 69
anos; Por outro lado, as idades até 70 anos apresentaram uma tendência de
diminuição ao longo do tempo sem significância estatística. As raças/cor amarela e
indígena apresentaram diminuição e aumento, respectivamente, significativos Os
tratamentos em massa realizados sucessivamente pelo PCE durante as últimas
décadas, sobretudo em crianças em idade escolar e em populações de risco nas
áreas endêmicas, refletiram na redução da mortalidade relacionada à
esquistossomose, principalmente nos grupos etários mais jovens. O que acaba por
deslocar a ocorrência de formas hepatoesplênica para os grupos etários mais
idosos, além do próprio caráter crônico da doença e do aumento na carga de
comorbidades em idosos (BARBOSA, GONÇALVES & MELO, 1995; RESENDES,
SOUZA-SANTOS, BARBOSA, 2005). Essa estratégia tem se mostrado uma
importante ferramenta de controle da morbimortalidade dessa parasitose, sendo
necessária sua manutenção dentro das ações de controle da doença, porém gera
elevados custos para o governo, sendo um dos fatores que impulsionam a pesquisa
em busca de formas mais eficazes de controle de morbimortalidade, como o
desenvolvimento de vacinas (BERGQUIST et al., 2002).
A análise espaçotemporal de varredura demonstrou a presença de três
clusters significativos. O primeiro cluster localizado na região Nordeste - incluiu 180
municípios distribuídos nos estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba, o mesmo
apresentou tendências temporais decrescente em todos os períodos, mas sem
apresentar significância estatística. No entanto, o segundo cluster, significativo
estatisticamente (regiões Nordeste e Sudeste - incluiu 674 municípios localizados
nos estados da Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo), apresentou em todo o período
uma tendência de aumento e o terceiro cluster mais importante do grupo (região
Sudeste, englobando municípios do estado de São Paulo) apresentou tendência
119
decrescente. A permanência de altos coeficientes de mortalidade por
esquistossomose na Região Nordeste é condizente com os dados de prevalência da
doença apresentados por essa região, que concentra áreas altamente endêmicas
(MARTINS-MELO et al., 2016). O aglomerado que apresentou o mais elevado risco
de morte relacionada a essa parasitose situa-se, principalmente, na Zona da Mata
do litoral nordestino. Essas áreas reúnem condições ecológicas (temperatura,
índices pluviométricos baixos, uso da terra e ampla distribuição dos vetores) e de
organização do espaço, que associados a vulnerabilidade social e domiciliar
propiciam intensa transmissão (CARVALHO et al., 1998; BARBOSA, et al. 2000;
RESENDES, SOUZA-SANTOS & BARBOSA, 2005). Essas condições somam-se
ainda aos hábitos culturais relacionados principalmente a contatos constantes com
águas infestadas com cercárias (por necessidade de trabalho ou por falta de opção
de lazer), tornando o controle da doença ainda mais difícil. Havendo, assim, a
necessidade de ampliação de investimentos em infraestrutura hídrica e sanitária,
visando à melhoria das condições de vida de uma forma geral para que sejam
alcançados índices mais expressivos de redução de morbimortalidade por
esquistossomose nessas áreas. É importante lembrar ainda que uma importante
parcela da população residente em área endêmica pode não ter sido tratada em
nenhum momento, uma vez que o tratamento em massa é recomendado pelo PCE
apenas quando altas taxas de prevalência são identificadas por amostragem em
escolares de 7 a 14 anos. Assim, a não realização de inquéritos coproscópicos de
rotina adequados à realidade local pode subestimar a prevalência da doença e a
recomendação de tratamento não alcançará muitos adultos com chance de
desenvolver formas graves de esquistossomose, podendo evoluir para o óbito
(PORDEUS et al., 2008). Outro fator a destacar, é que essa região passa por uma
ampla intervenção eco-bio-social gerada pelo Projeto de Integração do Rio São
Francisco (PISF), que pode contribuir para dispersão ou introdução de hospedeiros
intermediários do Schistosoma mansoni em áreas não anteriormente afetadas, o que
pode interferir na distribuição espaçotemporal da esquistossomose à longo prazo.
O segundo maior aglomerado identificado em termos de risco localiza-se
na parte sul do sertão nordestino que faz limite com o norte de Minas Gerais e divide
também com este estado, características em comum como o clima semiárido, com
baixos índices pluviométricos e baixos indicadores sociais (CARMO & BARRETO,
1994). Observa-se que ao se comparar com os dados do cluster descrito acima, o
120
mesmo apresenta melhores condições socioeconômicas e maior cobertura de
distribuição de água potável intradomiciliar, que associado a tratamentos seguidos
das populações de risco, levou a redução na prevalência e na carga da doença
(VASCONCELOS et al., 2009). Porém novos focos e casos agudos da doença
continuam sendo descritos, gerados principalmente pela expansão do turismo
ecológico e de aventura que atraem muitos adeptos para essa região por suas
muitas belezas naturais (ENK, AMORIM & SCHALL, 2003; GAZZINELLI & KLOOS,
2007; VIDAL et al., 2011).
O terceiro aglomerado está restrito a uma área focal no estado de São
Paulo, provavelmente relacionada à coincidência de zonas intensamente
colonizadas por vetores da esquistossomose (B. glabrata e B. tenagophila), que se
sobrepõem aos municípios dos vales dos rios Paraíba do Sul e Ribeira de Iguape,
da Baixada Santista, Grande São Paulo e Campinas, regiões com elevados níveis
de poluição e urbanização. Cenário ideal para a formação e preservação de focos
endêmicos (TELES, 2005). A introdução da esquistossomose na Região Sudeste
deu- se por nordestinos migrantes que muitas vezes evoluíam para formas graves
da doença com desfecho final de morte, principalmente, pela baixa cobertura de
tratamento quimioterápico dessa parcela marginalizada da população. A partir da
introdução da diretriz de tratamento em larga escala pelo programa, da crescente
atenção por parte das autoridades de saúde, da melhoria gradual da salubridade
ambiental associada a um progresso social e econômico dessa população;
ocorreram melhorias no padrão de vida que apontaram para uma menor prevalência
e menores taxas de mortalidade (TELES, FERREIRA & CARVALHO, 2014). O
presente estudo apresenta algumas limitações. A utilização des dados secundários
de mortalidade, apesar da evolução do SIM nos últimos anos - com aumento na
cobertura e notificação dos óbitos, ainda podem ocorrer a problemas de
subnotificação, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, Contudo, os dados
analisados mostraram-se consistentes, permitindo a caracterização do panorama
geral da mortalidade por esquistossomose no Brasil e nas regiões de maior risco.
Em conclusão, o estudo demonstrou que mesmo diante de um declínio
observado da mortalidade por esquistossomose no Brasil, as medidas instituídas
com foco na diminuição da morbimortalidade não vêm sendo suficientes para a
eliminação da doença e diminuição significativa dos óbitos. Grupos populacionais de
alto risco foram identificados, com diferenças regionais consistentes.
121
O reconhecimento de que a prevalência e o estabelecimento de novos
focos de transmissão continuam em expansão, devido a fatores que tornam mais
difícil o controle da doença, como a migração populacional, condições sanitárias
inseguras e a ocorrência de novos focos devem ser levados em consideração na
instituição de políticas públicas para o controle da doença nas regiões brasileiras.
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125
6.3 Eixo 3: Fatores físico-químicos e microbiológicos das coleções hídricas de
importância epidemiológica em áreas de influência do PISF no Ceará
6.3.1 Artigo 3: Fatores condicionantes relacionados à esquistossomose em
área diretamente afetada pelo projeto de transposição de água em grande
escala do Rio São Francisco no Nordeste do Brasil
Marta Cristhiany Cunha Pinheiro1,2, José Damião da Silva Filho1, Issis Maria
Nogueira de Castro1,3, Mariana Silva Sousa1,4, Alberto Novaes Ramos Júnior2,
Fernando Schemelzer de Moraes Bezerra1,3,4
1Universidade Federal do Ceará-UFC, Departamento de Análises Clínicas e
Toxicológicas, Laboratório de Pesquisa em Parasitologia e Biologia de Moluscos,
Fortaleza, CE, Brasil
2Universidade Federal do Ceará-UFC, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-
Graduação em Saúde Pública, Fortaleza, CE, Brasil
3Universidade Federal do Ceará-UFC, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-
Graduação em Patologia, Fortaleza, CE, Brasil
4Universidade Federal do Ceará-UFC, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-
Graduação em Ciências Médicas, Fortaleza, CE, Brasil
Autor correspondente: Marta Cristhiany Cunha Pinheiro (e-mail:
Universidade Federal do Ceará, Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas,
Rua Professor Costa Mendes, 1210, Rodolfo Teófilo, 60430140 - Fortaleza, CE -
Brasil, Telefone: +55 85 3366- 8242; Fax: +55 85 3266- 8206.
126
RESUMO
INTRODUÇÃO: As alterações ambientais decorrentes de construções hídricas
afetam as características das águas gerando graves impactos ecológicos como a
perda de biodiversidade, alterações na densidade de espécies, dentre elas as
transmissoras da esquistossomose mansoni.
OBJETIVO: Determinar a presença de S. mansoni em escolares além do perfil sócio-
econômico dessa população sentinela, bem como determinar a ocorrência de
Biomphalaria sp. e as características físico-químicas das águas de coleções hídricas
próximas às construções do Projeto de Integração do Rio São Francisco no estado
do Ceará.
MÉTODOS: Estudo epidemiológico conduzido no período de fevereiro de 2015 a
outubro de 2016 baseado no diagnóstico para esquistossomose de escolares de 7 a
14 anos por meio do método Kato-katz, mapeamento da ocorrência de Biomphalaria
sp. e caracterização físico-química de águas superficiais em municípios cearenses
atingidos pela transposição do rio São Francisco.
RESULTADOS: 50,50% dos escolares são do sexo feminino. 57,95% (350/604) dos
escolares possuem renda familiar menor que um salário mínimo. Apenas 35,1%
(212/604) dos escolares consomem água da rede pública. Apenas 15,56% (94/604)
relataram o destino do esgoto ligado à rede pública. O motivo de contato com águas
naturais mais relatado foi tomar banho e/ou higiene pessoal, seguido de lavar louça
e lavar roupa. Em nenhuma das 1.812 lâminas (3 lâminas/escolar) foi evidenciada a
presença de ovos de S. mansoni mesmo após releitura interlaboratorial. Em um total
de 33 coleções hídricas foi coletada água, destas em 69,70% (23/33) foi evidenciado
presença de Biomphalaria sp.
CONCLUSÕES: As características físico-químicas das coleções hídricas dos seis
municípios onde foi evidenciada a presença de Biomphalaria sp. variaram bastante
mostrando a capacidade deste caramujo se adaptar a diversos ambientes hídricos
mostrando que são necessárias realizações de medidas de controle e preventivas
para evitar a expansão da doença.
Palavras-Chave: Biomphalaria. Qualidade da água. Esquistossomose mansoni.
Epidemiologia. Recursos Hídricos. Vigilância.
127
ABSTRACT
BACKGROUND: The environmental’s alterations resulting from water constructions
affect the waters’ characteristics generating serious ecological impacts like the
biodiversity loss, alterations at thr species density, among them the schistosomiasis
mansoni transmitters.
OBJECTIVE: Determinate the S. mansoni presence in school children beyond this
sentinels population’s socioeconomic profile, as well as determinate the Biomphalaria
sp.’s occurrence and the waters’ physicochemical characteristics of water collections
near by the São Francisco’s River Integration Project constructions at the Ceará
state.
METHODS: Epidemiological study conducted on the period from 2015's february to
2016's october based on the diagnostic for schistosomiasis of school children from 7
to 14 years old by the Kato-katz method, maping the Biomphalaria sp’s occurrence
and the superficial water’s physicochemical characterization at Ceara’s counties
hitten by São Francisco’s river transposition.
FINDINGS: 50.50% of the school children are female. 57.95% (350/604) of the
shcool children have familiar rent of less than one minimum salary. Only 35.1%
(212/604) of the school children consume water from the public network. Only
15.56% (94/604) reported the sewer’s destiny connected to the public network. The
motive for contact with natural waters most reported was taking baths and / or
personal hygiene, followed by washing dishes and wash clothes. In none of the 1812
sheet (3 sheet/school child) was evidenced the presence of S. mansoni’s eggs after
interlaboratory re-reading. In a total of 33 water collections were collected water, of
these in 69,70% (23/33) was evidenced the presence of Biomphalaria sp.
CONCLUSIONS: The water collections physicochemical characteristics of the
counties where was evidenced the presence of Biomphalaria sp. varied a lot showing
that are necessary the realization of control measures and preventive to avoid the
disease expansion.
Key words: Biomphalaria. Water quality. Schistosomiasis mansoni. Epidemiology.
Water Resources. Surveillance.
128
INTRODUÇÃO
A crise hídrica vem sendo agravada, no século XXI, nos contextos social,
econômico e ambiental. Frente a isso, a construção de represas tem sido uma
alternativa na gestão e utilização das águas, possibilitando o desenvolvimento
econômico e social de muitos países (TUNDISI, 2008). Porém, a implantação de
grandes projetos hídricos é responsável por importantes alterações ambientais,
econômicas e socioculturais, que envolvem os mais dissonantes aspectos da
dinâmica regional, interferindo no cotidiano das populações e modificando seus
modos de subsistência, sobretudo no tocante às condições de saúde e à qualidade
de vida (SILVEIRA, 2016).
As alterações ambientais decorrentes de construções hídricas afetam as
características das águas causando eutrofização, alterando o padrão hidrológico e a
dinâmica ecológica dos rios e das bacias. Dessa forma, geram graves impactos
ecológicos como a perda de biodiversidade, alterações na densidade de espécies,
bem como a ocorrência de efeitos tóxicos (FERNANDEZ et al., 2014).
No contexto água e saúde humana, é fundamental a percepção de que
esses projetos hídricos podem favorecer o surgimento de doenças, até o momento,
não endêmicas nessas regiões e/ou o aumento destas em áreas de baixa
endemicidade (TUNDISI, 2008). Embora avanços substanciais nas ciências
biomédicas e medidas de saúde pública tenham facilitado o controle de muitas
doenças infecciosas, o panorama das questões de saúde humana e ecossistema
tornou-se cada vez mais abrangente, com a proliferação de vetores e a expansão
geográfica de doenças emergentes e reemergentes (BARCELLOS et al., 2009).
Neste cenário, há o aumento na incidência de doenças que afetam
principalmente populações que vivem na pobreza, com saneamento básico
inadequado, carência de água potável e com deficiências no acesso a cuidados
médicos. Dentre as quais destaca-se a esquistossomose, uma doença de veiculação
hídrica que provoca número expressivo de formas graves e óbitos anualmente,
caracterizando-se como um importante problema de saúde pública no país (BRASIL,
2014).
O aumento do número de represas em escala mundial acarretou um
aumento na prevalência da esquistossomose; fato frequentemente observado, como
na represa de Aswan, no Egito; Selingue, em Mali; Três Gargantas, na China; e
129
Kossou, na Costa do Marfim (MALEK, 1975; ABDEL-WAHAB et al., 1979; TRAORÉ,
1989; ZHENG et al., 2002; N’GORAN et al., 1997).
Diante disso, a transposição do Rio São Francisco no Nordeste do Brasil
fomenta grandes preocupações no contexto da saúde pública, por envolver uma
extensa porção territorial de quatro estados brasileiros, os quais possuem diferentes
índices de prevalência e carga parasitária da esquistossomose, além de ampla
distribuição dos hospedeiros intermediários do Schistosoma mansoni.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) garantirá a
segurança hídrica, em 2025, a cerca de 12 milhões de habitantes de 390 municípios
do Agreste e do Sertão dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande
do Norte, com abastecimento de grandes áreas urbanas e indústrias, perímetros de
irrigação e usos difusos, traduzidos numa possibilidade de geração de emprego,
produtividade e renda, além da melhoria na qualidade de vida das populações
residentes nas áreas assistidas (CASTRO 2011, BRASIL 2004a).
O projeto é um empreendimento de infra-estrutura hídrica composto por
dois sistemas independentes de obras hidráulicas, denominados de Eixo Norte
(Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte) e Eixo Leste (Pernambuco e
Paraíba), que englobam canais, estações de bombeamento de água, pequenos
reservatórios intermediários e usinas hidrelétricas de auto-suprimento do projeto
(CASTRO, 2011). Esta apresenta três recortes espaciais na área de influência do
projeto: Área Diretamente Afetada (ADA), Área de Influência Direta (AID) e Área de
Influência Indireta (AII) (BRASIL, 2004b).
O represamento da água e consequente passagem de um sistema lótico
para lêntico, além das mudanças ambientais já citadas, poderão contribuir para a
expansão de habitat propício para os moluscos transmissores da esquistossomose
(Biomphalaria spp). Além disso, não menos importante, pode levar a um aumento do
assentamento humano e do turismo nesses locais (LIMA & BATISTA, 2010; LEME,
2007).
As densidades populacionais desses caramujos são influenciadas por um
conjunto de diversos fatores bióticos e abióticos. Porém, apesar da versatilidade
para a sobrevivência sobre amplos limites de parâmetros límnicos relacionados à
qualidade da água (pH, turbidez e dureza das águas, dentre outros), e sob diferentes
fluxos hídricos e oscilações pluviométricas, as mudanças nessas características
podem favorecer ou inibir a atividade reprodutiva das espécies (TELES &
130
CARVALHO, 2008). Em consonância a pesquisa malacológica, a determinação
inicial desses parâmetros de qualidade das águas dessas coleções hídricas são
importantes ferramentas na prática de vigilância em saúde (BRASIL, 2008; SILVA et
al., 2006).
Somado a essas investigações, faz-se necessário o diagnóstico da
esquistossomose em crianças em idade escolar, funcionando como um indicador
adequado da prevalência local, sendo esta uma população sentinela para o
monitoramento do progresso dos programas de controle (COULIBALY et al., 2013).
Para estabelecer uma base de dados que servirão de subsídios para
futuras comparações subsequentes à conclusão dessas obras, o presente estudo
tem como objetivos determinar a presença de S. mansoni em escolares e determinar
o perfil sócio-econômico dessa população sentinela, bem como determinar a
ocorrência de Biomphalaria sp. e as características físico-químicas das águas de
coleções hídricas próximas às construções dos canais do PISF no estado do Ceará.
MÉTODOS
Desenho do estudo
Estudo epidemiológico de fatores relacionados à transmissão da
esquistossomose mansoni em municípios do estado do Ceará atingidos pela
transposição do rio São Francisco, sendo realizado: diagnóstico para
esquistossomose em escolares de 07 a 14 anos; mapeamento da ocorrência de
Biomphalaria sp. nas principais coleções hídricas de importância epidemiológica e
caracterização fisico-química e microbiológica dessas águas superficiais.
Área de estudo
Estudo conduzido no período de fevereiro de 2015 a outubro de 2016, nos
municípios cearenses de Jati, Brejo Santo, Mauriti, Aurora, Jaguaribara e
Jaguaretama. Esses municípios estão localizados em área diretamente afetada
(ADA) do Projeto de Transposição do Rio São Francisco (PISF), definida pelo
Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), a qual sofrerá transformações ambientais
131
decorrentes diretamente da construção desse empreendimento. No estado do
Ceará, essa área engloba 21 municípios (BRASIL, 2004b).
Devido a limitações operacionais e financeiras, a seleção dos municípios
baseou-se nos seguintes critérios: história de esquistossomose com base em dados
do Sistema de Informação de Agravos de Notificáveis (SINAN) e/ou Sistema de
Informação do Programa de Controle da Esquistossomose (SISPCE); presença de
bacias hidrográficas com características eco-epidemiológicas indicativas de
transmissão ou risco potencial de instalação de focos de esquistossomose; história
da presença de hospedeiros intermediários positivos para S. mansoni;
consentimento e contrapartida das Secretarias Municipais de Saúde e de Educação
para realização da pesquisa.
O município de Jati estende-se por 361,1km² e possui 7.647 habitantes,
segundo último censo realizado no ano de 2012. Situado a 421 metros de altitude e
a 445km de Fortaleza, Jati tem as seguintes coordenadas geográficas: Latitude: 7°
41' 33'' Sul, Longitude: 39° 0' 30'' Oeste.
O município de Brejo Santo estende-se por 663,4km² e possui 46.207
habitantes, segundo último censo realizado no ano de 2012. Situado a 380 metros
de altitude e a 422km de Fortaleza, Brejo Santo tem as seguintes coordenadas
geográficas: Latitude: 7° 29' 13'' Sul, Longitude: 38° 58' 47'' Oeste.
O município de Mauriti estende-se por 1.079km² e possui 44.836
habitantes, segundo último censo realizado no ano de 2012. Situado a 356 metros
de altitude e a 410km de Fortaleza, Mauriti tem as seguintes coordenadas
geográficas: Latitude: 7° 23' 43'' Sul, Longitude: 38° 46' 12'' Oeste.
O município de Aurora estende-se por 889,9km² e possui 24.470
habitantes, segundo último censo realizado no ano de 2012. Situado a 259 metros
de altitude e a 361km de Fortaleza, Aurora tem as seguintes coordenadas
geográficas: Latitude: 6° 56' 4'' Sul, Longitude: 38° 57' 51'' Oeste.
O município de Jaguaretama estende-se por 1.759,7km² e possui 17.839
habitantes, segundo último censo realizado no ano de 2012. Situado a 115 metros
de altitude e a 212km de Fortaleza, Jaguaretama tem as seguintes coordenadas
geográficas: Latitude: 5° 36' 51'' Sul, Longitude: 38° 46' 0'' Oeste.
O município de Jaguaribara estende-se por 668,7km² e possui 10.652
habitantes, segundo último censo realizado no ano de 2012. Situado a 97 metros de
132
altitude e a 217km de Fortaleza, Jaguaribara tem as seguintes coordenadas
geográficas: Latitude: 5° 39' 44'' Sul, Longitude: 38° 37' 8'' Oeste.
População de estudo
Escolares
Tamanho da amostra:
Para seleção das escolas tomou-se como base a área diretamente
afetada (ADA), definida no Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) como uma faixa
com 5 km de largura para cada lado das estruturas a serem construídas no PISF
(BRASIL, 2004b). Para melhor representatividade, buscou-se selecionar escolas da
zona urbana e da zona rural, de cada município. Na Tabela 1 são apresentadas as
escolas selecionadas, o número de escolares recrutados e a quantidade que
participou efetivamente do diagnóstico parasitológico para esquistossomose
mansoni.
O estudo foi realizado em escolares de 7 a 14 anos de idade em escolas
da rede municipal dessas cidades, inseridas no perímetro da ADA (estabelecido pelo
RIMA). Levou-se em consideração para o cálculo amostral: prevalência geral da
doença no estado do Ceará de 5% (valor extrapolado), margem de erro de 5% e
nível de confiança de 95%, população de escolares da ADA de cada município, o
que originou uma amostragem aleatória simples mínima de 72, 73, 72, 70, 69 e 73
alunos para os municípios de Aurora, Brejo Santo, Jaguaretama, Jaguaribara, Jati e
Mauriti, respectivamente.
Coleta e processamento do material biológico:
Os escolares, após entrega dos questionários sóciodemográfico
preenchido previamente pelos pais, receberam coletores de plástico e instruções
para coletar amostras de fezes, sendo convidados a devolver os recipientes com as
amostras no dia seguinte.
Foram confeccionadas três lâminas (L1, L2 e L3) da amostra de fezes de
cada escolar, segundo o método Kato-Katz (KATZ et al., 1972), utilizando-se o kit
Helm-Test® (Bio-Manguinhos/Fiocruz, RJ, Brasil).
133
Após 12 horas, as lâminas de cada individuo foram embaladas,
identificadas, sendo acondicionadas em caixas e transportadas para o Laboratório
de Parasitologia e Biologia de Moluscos (LPBM) da Universidade Federal do Ceará
(UFC), onde ficaram armazenadas à temperatura ambiente, em caixas
colecionadoras de lâminas, devidamente identificadas e com adição de material
absorvente de umidade (sílica).
Caramujos
Coleta e classificação dos moluscos
Foi realizado um mapeamento das coleções hídricas de importância
epidemiológica e a identificação dos criadouros dentro da área diretamente afetada
pelo PISF nos seis municípios do estudo, com auxílio dos Agentes de Endemias das
Secretarias Municipais de Saúde.
As coordenadas geodésicas das estações de captura das coleções
hídricas foram demarcadas através de um receptor GPS (sistema de posicionamento
global) de navegação - modelo Garmin Montana® 650, utilizando o sistema de
projeção UTM.
A coleta dos moluscos foi realizada através de raspagem da vegetação
submersa, das margens e do fundo dos criadouros, utilizando concha de captura. Na
superfície, o material recolhido foi cuidadosamente analisado à procura dos
moluscos, observando-se as folhas e os pequenos gravetos, onde os espécimes
jovens ou pequenos encontravam-se presos. Os moluscos coletados foram
acondicionados em recipiente plástico com identificação do ponto de coleta (nome
da localidade, tipo de criadouro, data da coleta, etc.). O material restante na concha
de captura foi lavado e verificado repetidas vezes, até a confirmação da ausência de
moluscos, para então ser desprezado. Essa varredura foi realizada por dois
coletadores, numa área demarcada (30 metros), durante um intervalo de 30 minutos.
Para o transporte, estes foram embalados em gaze umedecida com água.
A fim de evitar que a gaze perdesse a umidade, estas foram acondicionadas em
sacos plásticos selados, devidamente identificados. O material foi colocado em
caixas térmicas resistentes e transportado para o LPBM-UFC, onde os moluscos
foram mantidos adequadamente para as devidas análises (Brasil, 2008).
Todos os moluscos coletados nos municípios foram classificados com
base na comparação das características externas das conchas (BARBOSA, 1995).
134
Classificação dos caramujos
Todos os moluscos coletados nos municípios de Aurora, Brejo Santo,
Jaguaretama, Jaguaribara, Jati e Mauriti foram classificados com base na
comparação das características externas das conchas, segundo Barbosa (1995).
Água
Coleta das amostras de água
As estações de coleta de águas superficiais foram pré-selecionados em
consonância com as coletas malacológicas, levando em consideração a facilidade
de acesso e a disponibilidade de água. No ato da coleta foram mensuradas as
temperaturas do ambiente e da água, além de registrar o horário da coleta.
A coleta da água (01 litro) para a análise físico-química foi realizada por
meio de garrafas de polietileno padronizadas e disponibilizadas pela Farmácia
Escola da Universidade Federal do Ceará (FE-UFC).
Após as coletas, as garrafas foram identificadas (com nome da localidade,
tipo de criadouro, data da coleta, etc.) e mantidos refrigerados (temperatura de
aproximadamente 8ºC). O transporte foi realizado em caixas térmicas com gelo
reutilizável, de forma a evitar variações bruscas de temperatura.
Análises físico-químicas da água
Foram conduzidas no Laboratório de Análises Físico-químicas da FE-
UFC, segundo a Portaria do Ministério da Saúde Nº 2914 de 12 de dezembro de
2011 (Brasil, 2011) e Standard Methods for the Examination of Water and
Wastewater publicação da American Public Health Association (APHA), American
Water Works Association (AWWA) e Water Environment Federation (APHA, 1998).
Os seguintes parâmetros foram analisados: pH, dureza total, cloretos,
sulfatos, alcalinidade em bicarbonatos, acidez, condutividade, turbidez, e Sólidos
Totais Dissolvidos (TSD).
Aspectos éticos
O protocolo do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em
Humanos da Universidade Federal do Ceará (COMEPE nº 254/11 - Ofício nº 14/16).
135
Todos os participantes e pais/responsáveis legais foram informadas sobre
seus direitos assegurados na Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde
e receberam os devidos esclarecimentos da pesquisa, do caráter participativo, e a
garantia de que não haverá divulgação de nomes ou de qualquer outra informação
que ponha em risco a sua privacidade. A concordância em participar foi comprovada
através da assinatura de termo de consentimento livre e esclarecido pelos
responsáveis legais dos escolares e com a assinatura do termo de assentimento por
parte dos escolares acima de 12 anos de idade.
Análises estatísticas e dados geoespaciais
Um banco de dados foi elaborado com o auxílio do programa Microsoft
Office Excel 2010 (Microsoft Corp., Redmond, WA, USA) para organização e
armazenamento dos dados referentes aos escolares, às coleções hídricas
pesquisadas e caramujos do gênero Biomphalaria coletados.
Os dados espaciais foram armazenados e analisados no software GIS,
ArcGis 10 (Environmental Systems Research Institute, Redlands, CA, EUA) para
manipulação e vinculação dos atributos descritivos à forma gráfica, bem como para
elaboração de mapas temáticos.
RESULTADOS
Foram entregues coletores a 893 crianças, cujos pais autorizaram a
participação no estudo. Destas, 604 (67,63%) trouxeram amostra de fezes em
quantidade e qualidade suficiente para confecção de três lâminas pelo método Kato-
Katz. Na Tabela 1 tem-se a distribuição das turmas investigadas.
Das 604 amostras analisadas, totalizando 1.812 lâminas, não foi
evidenciada a presença de ovos de S. mansoni. Sabendo do erro de leitura ser uma
potencial falha em métodos que envolvem microscopia, que dependem da qualidade
do treinamento e da experiência dos técnicos de laboratório, foi realizado releitura
interlaboratorial. Porém, os resultados mantiveram-se inalterados.
136
Tabela 1 – Número de escolares elegíveis e examinados das escolas selecionadas
para participar do estudo, por zona e municípios da área diretamente afetada pelo
PISF no Estado do Ceará.
EEI - Escola de Ensino Infantil e Fundamental / EEF - Escola de Ensino Fundamental (*) - Refere-se ao Nº de EEF na área diretamente (ADA) do PISF, segundo mapa da Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará
Como demonstrado na Tabela 2, mais da metade (57,95%; 350/604) dos
escolares possuem uma renda familiar menor que um salário mínimo – valor de
referência BRL 788.00 (USD 269.52) em 2015. Quanto à origem de água para
consumo, apenas 35,1% (212/604) dos escolares relataram ter origem da rede
pública. Em relação ao destino do esgoto, apenas 15,56% (94/604) relatou ter o
esgoto ligado à rede pública. O contato com aguas naturais foi relatado por 57,12%
(345/604) dos escolares, sendo a principal finalidade tomar banho e/ou higiene
pessoal, seguida de lavar louça e lavar roupa.
MUNICÍPIO Nº DE
ESCOLAS* ESCOLAS
SELECIONADAS
ZONA DA
ESCOLA
NÚMERO DE ESCOLARES
ELEGÍVEIS EXAMINADOS
Aurora 3
EEIF Romão Sabiá Urbana 124 82
EEIF Vicente Rodrigues dos
Santos Rural 52 20
Brejo Santo 4
EEF Maria Leite de Araújo
Rural 75 58
EEF Clotildes Moreira Tavares
Urbana 64 51
Jaguaretama 7 EEIF São José Urbana 46 30
EEF Cláudio Oliveira
Rural 90 58
Jaguaribara 3
EEF Fenelon Bezerra
Rural 58 39
EEF Onze de agosto
Rural 54 49
Jati 3
EEF Profa Maria Nubia Vieira Novais
Urbana 123 68
EEF Antônia Maria da Conceição
Rural 30 24
Mauriti 22
EEF Humberto Bezerra
Urbana 54 40
Centro Educacional de Mauriti
Urbana 59 37
EEF Edson Olegário de
Santana Rural 64 48
TOTAL 42 893 604
137
Tabela 2 – Dados socioeconômicos e de contato com águas naturais dos escolares participantes do estudo, por municípios da
área diretamente afetada pelo PISF no Estado do Ceará.
AURORA BREJO SANTO JAGUARETAMA JAGUARIBARA JATI MAURITI TOTAL
Sexo
Feminino 54 60 36 43 52 60 305 Masculino 48 49 52 45 40 65 299
Renda familiar
<01 salário 61 68 55 41 45 80 350 01 - 03 salário 29 27 27 29 21 21 154 03 - 05 salário 0 0 0 0 3 1 4
>05 salário 0 1 0 0 1 1 3 NI 12 13 6 18 22 22 93
Ajuda do governo
Sim 81 91 74 55 67 102 470 Não 15 9 7 20 12 10 73 NI 6 9 7 13 13 13 61
Destino do esgoto
Ligado à rede 21 12 14 3 27 17 94 Direto na rua 39 20 7 0 4 39 109
Canal 2 1 4 0 0 0 7 Fossa vedada 27 51 49 67 43 34 271
Fossa não vedada 3 7 1 2 3 10 26 NI 10 18 13 16 15 25 97
Destino do lixo
Caminhão do lixo 59 34 41 4 42 56 236 Queima 35 66 38 65 38 41 283
Joga no rio 0 0 0 0 0 0 0 Céu aberto 2 0 1 2 0 8 13
Enterra 0 0 0 2 0 4 6 NI 6 9 8 15 12 16 66
Origem da água
CAGECE 59 8 40 15 53 37 212 Cisterna 6 9 35 23 10 7 90
Poço 22 71 1 0 15 56 165
138
AURORA BREJO SANTO JAGUARETAMA JAGUARIBARA JATI MAURITI TOTAL
Origem da água
Vizinho 4 1 1 9 0 5 20 Rio 0 2 0 2 0 0 4
Outro 2 2 1 22 1 1 29 NI 9 16 10 17 13 19 84
Contato com água
Sim 52 83 46 53 45 66 345 Não 43 13 33 18 35 45 187 NI 7 13 9 17 12 14 72
Tipos de contato
Buscar água 16 11 20 4 7 19 77 Lavar louça 27 62 30 45 29 52 245 Lavar roupa 29 52 26 34 29 48 218
Tomar banho/higiene
pessoal 40 88 45 65 49 54 341
Nadar (lazer) 25 17 9 17 27 9 104 Pescar 15 13 5 10 17 6 66
Atravessar 10 9 4 9 14 4 50 Regar horta 9 38 10 23 8 10 98 Trabalho na
lavoura 12 4 3 6 7 22 54
Retirar areia 4 7 0 0 3 5 19 Outros 0 1 21 0 1 4 27
NI: não informado.
139
Tabela 3 – Resultados das análises físico-químicas das coleções hídricas estudadas e presença de Biomphalaria sp., por coleção
hídrica de cada município pesquisado na área diretamente afetada pelo PISF no Estado do Ceará. M
un
icíp
io
Ponto de coleta
Bio
mp
hala
ria
sp
.
Acid
ez
Alc
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Clo
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Co
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Su
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s
Tem
p. ág
ua
d
Tem
p.
am
bie
nte
d
Tu
rbid
ez
Au
rora
Aç. Cachoeiras 0 71 35,58 165,5 43,81 8,12 70 4,05 31 38 2,8
Aç. Mofumbo 56 0 119 35,58 264 115,54 7,93 112 8,46 28 33 4,96
Açude Solidade 13 1 36 35,58 113,6 47,81 7,14 18 24,28 30 31 13,4
Açude Tipi 44 2 78 35,58 188 55,78 7,1 80 12,24 28 28,5 4,41
Açude Tipi de Baixo
14 1 144 35,58 243 87,65 7,05 103 8,09 28 30 3,06
Barr. Passagem das Pedras
46 1 116 71,17 375 91,63 7,48 160 9,2 28 37 4,08
Rio Salgado 431 3 138 71,17 518 123,5 7,51 219 9,2 31 37 3,38
Sangradouro do Aç. Cachoeiras
21 1 81 35,58 184 63,74 7,12 78 13,61 34,5 39,5 10
Bre
jo S
an
to Açude Atalho 4 88 73,22 385 155,38 7,95 164 22,44 28 29 25
Açude Cipó 44 0 771 235,95 1104 691,41 8,6 651 32,37 5,59
Riacho Cana Brava
2 71 43,93 186 75,7 8,1 79 12,13 30,5 32,5 8,82
Riacho Pinheira 4 5 140,9 43,93 448 175,3 7,26 192 12,51 31 34 3,61
Riacho Porcos 51 4 57 73,22 519 211,15 7,41 220 16,55 27 31 6,28
Riacho Torrões 42 3 130,9 87,87 500 167,33 7,6 214 9,56 28 32 3,14
Jag
uare
tam
a Açude Alegre 78 0 322,08 348,42 845 63,23 7,7 355 3,68 28 32 3,83
Aç. Castanhão (Sítio Angico)
48 1,03 246,44 88,97 404 83,66 8,3 172 21,7 33 37 28,2
Açude Genésio Bezerra
0 117,12 1026,9 3,35 510 8,8 1428 0,226 33 42 21,8
Barr. Santa Bárbara
12 141,52 4,35 9,34 268,74 6,4 >1000 96,74 26 38 35,5
140
Mu
nic
ípio
Ponto de
coleta
Bio
mp
hala
ria
sp
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Acid
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Clo
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Du
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Tem
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bie
nte
d
TD
Sc
Tu
rbid
ez
Su
lfato
s
Jag
uari
bara
Aç. Castanhão (cidade antiga)
19 6 292,8 110,03 397 47,42 7,3 28 30,5 167 19,8 28,32
Aç. Castanhão (Comportas)
23 0 141,52 73,22 366 91,63 9 29 36 156 1,35 6,62
Canal Curupati Irrigação (Ponte)
14 0 0 142,35 83,66 7,5 31 34,5 1,97 20,97
Canal da Integração (Piscinão)
150 0 165,92 56,56 230 71,13 7,4 28,5 35,3 98 0 4,78
Curupati-Peixe 06 0 251,32 73,22 394 97,47 8,5 28 32 168 0 4,05
Rio Jaguaribe 06 0 263,52 73,35 327 55,33 7,5 31 36 138 0 6,25
Jati
Aç. Carnaúbas 11 1 79 36,07 230 82,87 8,35 97 27,1 25,38
Açude Atalho 2 60 91,53 513 175,3 8,21 32 37 217 21,2 0,06
Riacho Poço da Barra
43 0 184,8 180,1 886 223,1 8,54 29 35 373 3,16 11,03
Riacho Porcos 70 1 210 144,08 863 197,33 7,3 25 28 365 28,3 22,81
Mau
riti
Açude Pastora 4 60 29,29 122,34 47,81 7,35 31 35 53 50 68,78
Aç. Quixabinha 2 117 73,22 384 171,31 8,66 30 33 164 18,1 20,6
Barragem Bom Sucesso
2 80 102,51 178,7 75,7 8,46 32 35 77 27,9 22,44
Barr. Palestina 28 6 100,5 29,29 247 99,6 7,16 27 32 106 50 64,74
Barragem São Miguel
16 5 27 117,16 629 151,39 7,27 25 30 270 27,4 43,77
Legenda: a = mg de CaCO3/l; b = µS/cm; c = mg/l; d = UT; Aç. = Açude; Barr. = Barragem.
141
A Tabela 3 apresenta os resultados das análises físico-químicas das 33
coleções hídricas investigadas, além da quantidade de exemplares do gênero
Biomphalaria coletados. Foram avaliados os seguintes números de coleções
hídricas em cada município: Aurora – oito coleções hídricas; Brejo Santo e
Jaguaribara – seis; Mauriti – cinco; Jaguaretama e Jati - quatro coleções hídricas.
Todos os municípios apresentaram alguma coleção hídrica com presença
de transmissor da esquistossomose. Em um total de 33 coleções hídricas
pesquisadas, em 69,70% (23/33) foi evidenciado presença de Biomphalaria sp
(Figura 1).
Figura 1 – Distribuição espacial das escolas trabalhadas e das coleções hídricas
onde foram investigadas a presença de Biomphalaria sp. nos seis municípios
pesquisados.
Fonte: Elaborada pelos autores.
142
DISCUSSÃO
Trata-se de um estudo que buscou integrar uma população sentinela de 7
a 14 anos, a distribuição e as características físico-químicas dos hábitats de
caramujos do gênero Biomphalaria, em áreas que serão diretamente afetadas pela
maior obra de engenharia hídrica do Brasil.
No contexto brasileiro, historicamente, a avaliação do impacto de projetos
hídricos em relação à esquistossomose tem se limitado aos estudos sobre a
introdução de hospedeiros intermediários (FERNANDEZ, et al., 2014; REZENDE et
al., 2009; THIENGO; SANTOS; FERNANDEZ, 2005). Por exemplo, no estudo
realizado na região da Usina de Serra da Mesa, Estado de Goiás, no qual foram
descritas alterações na malacofauna, com destaque na disseminação do
Biomphalaria straminea. O levantamento malacológico nessa área teve início em
1996, meses antes do fechamento do rio para o enchimento do reservatório, e
prosseguiu até 2004, em oito municípios de seu entorno (Barro Alto, Campinaçu,
Campinorte, Colinas do Sul, Minaçu, Niquelândia, Santa Rita do Novo Destino e
Uruaçu). Tal estudo permitiu registrar quando e como surgiram as primeiras
populações de B. straminea no reservatório construido para abastecer a usina, nas
enseadas formadas, bem como em fazendas às margens do reservatório
(THIENGO, SANTOS & FERNANDEZ, 2005). Assim, também realizamos um
levantamento prévio quanto a presença de transmissores da esquistossomose nas
coleções hídricas de importância epidemiológica no estado do Ceará, antes da
entrada das águas do Rio São Francisco nesse território.
O fato de não termos evidenciado nenhum escolar positivo através do
método de Kato-Katz nas áreas trabalhadas é condinzente com um dos poucos
estudos realizados com esse objetivo, onde Favre et al (2016), entre abril de 2011 e
junho de 2012, realizaram a pesquisa da presença de S. mansoni em 4.770
escolares de municípios dos quatro estados abrangidos pelo PISF. Demonstrando
seis crianças (0.13%) positivas pelo método Kato-Katz (duas lâminas): uma em
Terra Nova-PE, três em Sousa-PB e duas em Jucurutu-RN. Esses achados reforçam
a necessidade de acompanhar crianças em idade escolar como um grupo sentinela
ou de referência para estimar a situação da esquistossomose nas comunidades,
planejar estratégias de controle e avaliar o impacto dessas obras e das medidas de
controle implementadas.
143
Nas últimas décadas, o PCE se baseou principalmente em busca ativa de
casos por meio da realização de diagnóstico coproscópico, programas de tratamento
de base populacional em áreas endêmicas e vigilância e controle de hospedeiros
intermediários de S. mansoni (caramujos do gênero Biomphalaria). Como
consequência das ações de controle e da melhoria relativa das condições gerais de
vida em áreas endêmicas, a carga de morbimortalidade da esquistossomose foi
reduzida, não significando, entretanto, eliminação (BRASIL, 2014).
No caso deste nosso estudo, a não evidência de casos de S. mansoni é
consistente com a história epidemiológica da área de estudo, mas pode subestimar
a extensão real da doença devido a limitação do método de Kato-Katz em áreas de
baixa prevalência.
Diferentemente do que é preconizado pela OMS, buscou-se padronizar,
nesta e em outras pesquisas conduzidas pelo grupo, a utilização de três lâminas de
uma única amostra de fezes, a fim de melhorar a sensibilidade do método. Mesmo
com essa alternativa para melhorar o desempenho do método, em áreas de baixa
prevalência (<10%) ou de indivíduos com baixa carga parasitária (<100OPG), a
associação e a utilização de outras técnicas (parasitológicas, imunológicas e
moleculares) se fazem necessárias a fim de evitar a ocorrência de casos falso-
negativos e o não estabelecimento da prevalência real da região (CAVALCANTI et
al., 2013; PINHEIRO et al., 2012). Uma alternativa é a detecção de antígenos
circulantes (CCA), que vêm demonstrando resultados satisfatórios para o
diagnóstico oportuno, oferecendo estratégias complementares promissoras ao
exame parasitológico tradicional (SIQUEIRA et al., 2016; COLLEY et al., 2013).
Esse estudo foi realizado baseado na importância de pesquisar a situação
epidemiológica da esquistossomose nas fases anteriores ao funcionamento do
empreendimento, de forma a permitir uma precoce identificação de casos positivos,
tratamento, prevenção e monitoramento da instalação de novos focos (BERHE et al.,
2004).
Por muito tempo a esquistossomose foi considerada uma endemia rural.
Contudo, é crescente a urbanização da doença. Essa expansão é decorrente da
migração, além do aumento da população a nível local e muitas dessas pessoas
vêm a residir em áreas sem condições básicas de saneamento, onde existem cursos
naturais de água propicias para a presença de criadouros naturais dos planorbídeos
144
envolvidos no ciclo de transmissão da doença (KLOSS et al., 2010; GUIMARÃES &
TAVARES-NETO, 2006).
Neste estudo observou-se também o quão diversificado podem ser as
características físico-químicas de ambientes propícios à ocupação de caramujos do
gênero Biomphalaria. No Ceará, o B. straminea, é o hospedeiro intermediário
responsável pela transmissão da esquistossomose. É encontrado nos 184
municípios, sendo Baturité, Orós, Missão Velha, Mauriti, Jaguaretama, Aurora e
Brejo Santo os que apresentaram caramujos eliminando cercárias (SESA-CE, 2016).
Além disso, em pesquisa realizada por Gomes (2012), foi evidenciado no açude do
Atalho (Brejo Santo) a presença de B. straminea positivo para cercária do S.
mansoni; este reservatório terá um papel fundamental no fluxo e no armazenamento
de águas da transposição em nosso estado. Dessa forma, pode-se compreender
que a prevalência da infecção seja reflexo de um contexto que coincide com os
aspectos comportamentais e de exposição ao S. mansoni (MELO et al, 2011).
Os achados do presente estudo são epidemiologicamente importantes,
por apresentarem todos os elementos necessários para a transmissão da
esquistossomose principalmente se levarmos em conta os cenários demonstrados
por alguns autores, em que o aumento do número de represas em escala mundial
tem possibilitado aumento da prevalência da esquistossomose (BARAKAT, 2013;
McMANUS et al., 2010; ZHU et al., 2008; STEINMANN et al., 2006; N’GORAN et al.,
1997), como foi observado em um estudo realizado na Costa do Marfim. As
barragens de Kossou e de Taabo estão em operação desde década de 1970, e
proporcionaram aumento na prevalência e na intensidade da esquistossomose.
N’GORAN et al. (1997) compararam a prevalência para S. haematobium em 1992
com a prevalência antes da construção da barragem. Analisando 548 amostras de
urina de escolares de cinco aldeias, observou-se um aumento acentuado na
prevalência geral de S. haematobium, de 14% para 53% em torno do Lago Kossou e
de 0% para 73% em torno do Lago Taabo.
Algo bastante praticado no âmbito do estado do Ceará é a Carcinicultura
e a Piscicultura. Há décadas, a literatura destaca que as construções de criadores
de peixes afetam as características da água superficial levando ao aumento da
prevalência de esquistossomose. Algo, como ocorreu na África subsaariana
(DESCHIENS, 1972), em Camarões (RIPERT et al. 1982) e no sul do Gana
(THOMAS, 1965). Isso remete atenção nas áreas abrangidas pelo PISF, visto que
145
nosso estado é o maior produtor de camarão e criador de peixes em cativeiro do
Brasil, e muitos desses criadores estão próximos à região do açúde Castanhão e à
bacia do Jaguaribe, regiões diretamente afetadas pela transposição (G1-CEARÁ,
2013; DDN, 2012).
Certamente, o PISF trará mudanças no equilíbrio do ecossistema e de
sua biodiversidade. A grande questão que nos leva ao estudo dessa problemática é
ser o estado do Ceará historicamente conhecido como região de baixa
endemicidade. Com o projeto em operação, isso poderá possibilitar a introdução de
novas espécies que poderão causar mudanças na diversidade nativa (TEODORO et
al. 2011). Essas novas espécies poderão ser vetores mais eficientes para S.
mansoni (Biomphalaria glabrata), ou mesmo a entrada de um maior quantitativo de
Biomphalaria straminea (nativa no Ceará), ambas as espécies presentes em
diversas partes da Bacia do Rio São Francisco (GUIMARÃES et al., 2009).
Por fim, este estudo reafirma a complexidade e a urgência de se discutir e
propor, no âmbito de uma abordagem intersetorial, uma relação estreita entre as
áreas da saúde, do meio ambiente e do desenvolvimento, com vistas a possibilitar
elaboração de políticas de saúde que incorporem questões alusivas à
sustentabilidade ecológica e social.
Identificar os impactos de grandes empreendimentos à saúde humana,
como é o caso do PISF, que visa garantir seguridade hídrica a mais de 12 milhões
de pessoas, é complexo e se impõe como um grande desafio.
A partir do diagnóstico situacional da esquistossomose na região
estudada, entende-se a necessidade de uma nova ótica sobre as questões
socioambientais decorrentes das modificações do território.
Por fim, apesar da não evidência de casos positivos na população
estudada, a dinâmica de transmissão da esquistossomose persiste nessa região,
podendo sofrer influência com a chegada das águas do Rio São Francisco. Dessa
forma, são necessários investimentos nas ações de vigilância, em especial, com
utilização de técnicas mais sensíveis e adequadas a essa realidade, além da
realização de estudos sistemáticos sobre o impacto do maior projeto hídrico em
construção no Brasil em toda a área de influência, antes, durante e após a sua
construção.
146
REFERÊNCIAS
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18(3):285-304. BERHE, N. et al. Variations in helminth faecal egg counts in Kato-Katz thick smears and their implications in assessing infection status with Schistosoma mansoni. Acta Tropica. 2004; 92(3):205-12. BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional – Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Brasília: MIN, 2004a. 136p. Disponível em: <http://www.mi.gov.br/documents/10157/3678963/Rima+-+Relat%C3%B3rio+de+Impacto+Ambiental.pdf/4324863d-cbff-4522-9bd0-eab9d34b8fe2>. Acesso em: 25 nov. de 2016. BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional – Consolidação dos Estudos Ambientais. Brasília: Consórcio Ecology Brasil, Agrar Consultoria e Estudos Técnicos, JP Meio Ambiente; 2004b. 120p. BRASIL. Ministério da Saúde. Vigilância e controle de moluscos de importância epidemiológica: Diretrizes técnicas: Programa de Vigilância e Controle da Esquistossomose (PCE). Brasília: MS: SVS, 2. ed., 2008. 178p.
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150
6.4 Eixo 4: Caracterização da fauna malacológica límnica das coleções hídricas
de importância epidemiológica em áreas de influência do PISF no Ceará e os
padrões espaciais de sua distribuição
6.4.1 Artigo 4: Biomphalaria sp. e outros caramujos de água doce em áreas
diretamente afetadas pelo projeto de transposição de água em grande escala
do Rio São Francisco no Nordeste do Brasil
Fernando Schemelzer de Moraes Bezerra1,2,3, Marta Cristhiany Cunha Pinheiro1,4,
José Damião da Silva Filho1, Roberta Lima Caldeira5, Albeniza Barbosa Cavalcante6,
Issis Maria Nogueira de Castro2, Mariana Silva Sousa3, Alberto Novaes Ramos
Júnior4
1Universidade Federal do Ceará-UFC, Departamento de Análises Clínicas e
Toxicológicas, Laboratório de Pesquisa em Parasitologia e Biologia de Moluscos,
Fortaleza, CE, Brasil
2Universidade Federal do Ceará-UFC, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-
Graduação em Patologia, Fortaleza, CE, Brasil
3Universidade Federal do Ceará-UFC, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-
Graduação em Ciências Médicas, Fortaleza, CE, Brasil
4Universidade Federal do Ceará-UFC, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-
Graduação em Saúde Pública, Fortaleza, CE, Brasil
5Fundação Oswaldo Cruz-Fiocruz, Instituto René Rachou, Grupo de Pesquisa em
Helmintologia e Malacologia Médica, Belo Horizonte, MG, Brasil
6Governo do Estado do Ceará, Secretaria de Recursos Hídricos, Fortaleza, CE,
Brasil
Autor correspondente: Marta Cristhiany Cunha Pinheiro (e-mail:
Universidade Federal do Ceará, Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas,
Rua Professor Costa Mendes, 1210, Rodolfo Teófilo, 60430140 - Fortaleza, CE -
Brasil, Telefone: +55 85 3366- 8242; Fax: +55 85 3266- 8206.
151
RESUMO
INTRODUÇÃO: A ampla intervenção eco-bio-social gerada pelo Projeto de
Integração do Rio São Francisco (PISF) pode contribuir para dispersão ou
introdução de hospedeiros intermediários da esquistossomose em áreas sem
registro prévio. O aumento de movimentos migratórios com a implantação deste
projeto pode ampliar o número de focos existentes.
OBJECTIVE: Caracterizar a malacofauna límnica e sua distribuição ao longo de
bacias hidrográficas envolvidas no PISF no estado do Ceará.
MÉTODOS: Estudo transversal a partir da coleta de moluscos de 33 coleções
hídricas, dos municípios cearenses de Aurora, Brejo Santo, Jaguaretama,
Jaguaribara, Jati e Mauriti. As coordenadas geodésicas foram mapeadas por GPS.
Foi realizada identificação morfológica de todos os moluscos coletados. Os
caramujos do gênero Biomphalaria foram submetidos à pesquisa de cercárias de
Schistosoma mansoni e a identificação molecular (apenas moluscos do Brejo Santo-
CE) para diferenciação entre as espécies.
RESULTADOS: Foram encontrados Biomphalaria sp.; Drepanotrema sp.;
Melanoides sp.; Physa sp. e Pomacea sp. Observou-se que Pomacea sp. (75,8%) e
Biomphalaria sp. (72,7%) foram as espécies mais prevalentes. Os pontos de coleta
com maior diversidade foram Riacho dos Porcos e Riacho Poço da Barra, ambos no
município de Jati. Todos os municípios apresentaram alguma coleção hídrica com
presença de Biomphalaria sp., com média de 32 caramujos (variando entre 4 e 78) e
alta densidade populacional na estrutura inicial do Canal da Integração (n=150),
localizado no município de Jaguaretama, e no Rio Salgado (n=450), em Aurora.
Foram identificados molecularmente Biomphalaria straminea (Riacho dos Porcos) e
Biomphalaria kuhniana nos açudes Boi 1 e Cipó (Brejo Santo).
CONCLUSÕES: Os municípios sob influência do PISF avaliados representam áreas
com potencial para transmissão da esquistossomose. É necessário intensificar
ações de controle e vigilância em saúde nestas áreas.
Palavras-chave: Mollusca. Biomphalaria. Biologia Molecular. Esquistossomose
mansoni. Epidemiologia. Recursos Hídricos.
152
ABSTRACT
BACKGROUND: The wide eco-bio-social intervention generated by the San
Francisco River Integration Project (PISF) may contribute to the dispersion or
introduction of schistosomiasis intermediate hosts in areas without prior recording.
The increase in migratory movements with the implementation of this project can
increase the number of existing foci.
OBJECTIVE: To characterize the limnic malacofauna and its distribution along
watersheds involved in the PISF in the state of Ceará.
METHODS: Cross - sectional study based on the collection of mollusks from 33
water bodies, from Aurora, Brejo Santo, Jaguaretama, Jaguaribara, Jati e Mauriti,
municipalities in the state of Ceará. The geodetic coordinates were mapped by GPS.
The morphological identification of all collected mollusks was carried out. The snails
of the genus Biomphalaria were analyzed for the presence of Schistosoma mansoni
cercariae and the molecular identification (only mollusks from Brejo Santo-CE) for
differentiation between species.
FINDINGS: The following species were found: Biomphalaria sp.; Drepanotrema sp.;
Melanoides sp.; Physa sp.; and Pomacea sp. It was observed that Pomacea sp.
(75.8%) and Biomphalaria sp. (72.7%) were the most prevalent species. The most
diversified collection points were Porcos Stream and Poço da Barra Stream, both
located in the municipality of Jati. All municipalities had some water collections with
Biomphalaria sp., with an average of 32 snails (ranging from 4 to 78) and high
population density in the initial structure of the Integration Channel (n = 150), located
in the municipality of Jaguaretama, and in Salgado River (n = 450), in Aurora.
Biomphalaria straminea (Porcos Stream) and Biomphalaria kuhniana were identified
in the Boi 1 and Cipó reservoirs (Brejo Santo).
CONCLUSIONS: The evaluated municipalities under the PISF influence represent
areas with potential for schistosomiasis transmission. It is necessary to intensify
control actions and health surveillance in these areas.
Key words: Mollusca. Biomphalaria. Molecular biology. Schistosomiasis mansoni.
Epidemiology. Water resources.
153
INTRODUÇÃO
A esquistossomose mansoni é uma doença crônica causada por
Schistosoma mansoni (Sambon, 1907). No Brasil, estima-se que cerca de 1,5
milhões de pessoas vivem em áreas sob o risco de transmissão da doença (BRASIL,
2014a). Os estados das regiões Nordeste e Sudeste são os mais afetados sendo
que a ocorrência está diretamente ligada à presença dos moluscos transmissores.
Os hospedeiros intermediários são moluscos das espécies Biomphalaria glabrata
(Say, 1818), Biomphalaria straminea (Dunker, 1848) e Biomphalaria tenagophila
(Orbigny, 1835).
No período de 2001 a 2009 a taxa de incidência média para o país foi de
22,63 casos por 100 mil habitantes, com maior proporção nas Regiões Nordeste,
Centro-Oeste e no norte do estado de Minas Gerais. Ressalta-se que a Região
Nordeste é caracterizada por seu padrão sustentado de endemicidade para
esquistossomose (TEIXEIRA et al., 2014).
A crescente dispersão de hospedeiros intermediários, e,
consecutivamente, da esquistossomose, tem na execução de projetos que envolvem
recursos hídricos, um determinante em áreas de maior vulnerabilidade social (VAN
DEN BROECK et al., 2015, STEINMANN et al., 2006). A maior obra de infraestrutura
hídrica do Brasil, cujo objetivo é garantir a segurança hídrica no Nordeste
Setentrional do país, remete-se à transposição de águas do maior rio dessa região:
o Rio São Francisco (BRASIL, 2004).
O empreendimento é conduzido pelo Ministério da Integração Nacional
(MI), denominado oficialmente como Projeto de Integração do Rio São Francisco
(PISF). As construções tiveram início em 2007, sendo divididas em dois eixos (Norte
e Leste) e engloba 477km de canais, 27 reservatórios, 13 aquedutos, 9 estações de
bombeamento, 9 subestações de 230kW, 270km de linhas de transmissão em alta
tensão e quatro túneis, incluindo o maior túnel para transporte de água da América
Latina – o Cuncas I, que possui 15km de extensão. Essas obras almejam beneficiar
12 milhões de pessoas em 390 municípios dos estados nordestinos mais afetados
pelos períodos de seca: Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte
(BRASIL, 2014b). Entretanto, existem conflitos já identificados a partir das famílias
afetadas em todos os estados, principalmente no Ceará e Pernambuco. De fato, o
projeto de transposição das águas do São Francisco agudiza conflitos ambientais
154
envolvendo populações vulneráveis radicadas no território afetado, que reivindicam
o acesso e uso da água (SILVA et al., 2015).
Estas áreas apresentam intensos movimentos migratórios, gerados
principalmente por modelos político-econômicos que não priorizam as populações
mais pobres que migram em busca de melhores condições de vida. Esse importante
fator, associado à ampla distribuição de hospedeiros intermediários da
esquistossomose e às condições precárias de engenharia sanitária na maioria dos
municípios, leva ao surgimento de novos focos da esquistossomose (KLOOS et al.,
2010; COURA & AMARAL 2004).
Além disto, estes projetos podem contribuir já ao longo do seu
desenvolvimento para a dispersão de doenças de veiculação hídrica em áreas não
anteriormente afetadas em virtude de trabalhadores da construção civil migrantes e
suas famílias. Dados da Secretaria de Saúde do Governo do Estado do Ceará
indicam uma realidade preocupante, com registro de trabalhadores positivos para a
esquistossomose nos canteiros de obras do PISF no município de Penaforte com
1,21% (3/247) de positividade, Mauriti com 5,5% (23/416) e Brejo Santo com 9,1%
(45/432) (CEARÁ, 2016).
Ressalta-se que dos 184 municípios existentes no estado do Ceará, 71
(38,5%) são áreas endêmicas e o Programa de Controle da Esquistossomose (PCE)
desenvolve ações sistemáticas de vigilância e controle desde 1977. No entanto, no
período de 2010 a 2015, apenas 22,5% (16/71) destes municípios realizaram
pesquisa malacológica e sete evidenciaram caramujos B. stramine a eliminando
cercárias de S. mansoni. E entre os municípios que demonstraram transmissão ativa
da esquistossomose inserem-se Brejo Santo e Aurora, áreas de influência direta da
transposição do Rio São Francisco (CEARÁ, 2016).
Para além da carga de morbidade, a esquistossomose é considerada uma
causa negligenciada de morte no Brasil. Estudo de base populacional no período de
2000 a 2011, que avaliou todos os óbitos nos quais a esquistossomose foi
mencionada como causa básica de morte ou associada (múltiplas causas de morte),
indicou taxa de mortalidade média anual ajustada à idade de 0,49 mortes/100.000
habitantes e taxa de mortalidade proporcional de 0,070%. As áreas de maior risco e
impacto da mortalidade também estão localizadas na região Nordeste do país,
principalmente nos estados de Alagoas, Pernambuco e Sergipe (MARTINS-MELO et
al., 2014; 2015).
155
É fundamental conhecer e monitorar a espacialização e a dinâmica
populacional de caramujos, tanto em nível de diversidade, quanto de densidade,
nestas áreas afetadas pelo PISF no estado do Ceará, com vistas a prevenir ou
minimizar os possíveis impactos sobre os padrões de distribuição dos hospedeiros
intermediários e, consecutivamente, sobre a ocorrência de casos da
esquistossomose.
Nesse estudo buscamos conhecer a malacofauna límnica e sua
distribuição, ao longo das principais bacias hidrográficas envolvidas no Projeto de
Integração do Rio São Francisco no Ceará, bem como pesquisar larvas de S.
mansoni nos caramujos do gênero Biomphalaria.
MÉTODOS
Estudo epidemiológico descritivo da fauna malacológica límnica,
conduzido no Estado do Ceará, entre fevereiro de 2015 a outubro de 2016, nos
municípios de Aurora, Brejo Santo, Jaguaretama, Jaguaribara, Jati e Mauriti. Esses
municípios estão localizados em área definida pelo Relatório de Impacto Ambiental
como área de influência direta do PISF, e sofrerão transformações ambientais
diretas decorrentes do empreendimento. No estado do Ceará, essa área engloba 21
municípios (BRASIL, 2004).
A seleção de municípios baseou-se nos seguintes critérios: ter registro de
casos de esquistossomose com base em dados do Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (SINAN) e/ou do Sistema de Informação do Programa de
Vigilância e Controle da Esquistossomose (SISPCE); estar em bacias hidrográficas
com características eco-epidemiológicas indicativas de transmissão ou risco
potencial de instalação de focos de esquistossomose e ter histórico de hospedeiros
intermediários positivos para S. mansoni.
Foi realizado mapeamento das coleções hídricas de importância
epidemiológica, nas quais foram selecionados 33 pontos de coleta de exemplares da
malacofauna límnica, dentro da área diretamente afetada pelo PISF nos seis
municípios do estudo (Tabela 1). Essas coleções hídricas foram classificadas de
acordo com algumas características ecológicas e comparadas quanto à presença de
tipos e quantidade de caramujos encontrados (Tabela 2).
156
As coordenadas geodésicas, das estações de captura das coleções
hídricas pesquisadas, foram demarcadaspor meio de um receptor GPS (sistema de
posicionamento global) de navegação – modelo Garmin Montana® 650, utilizando o
sistema de projeção UTM.
População de caramujos
A coleta dos moluscos foi realizada pela raspagem da vegetação
submersa, das margens e do fundo dos criadouros, utilizando concha de captura. Na
superfície, o material recolhido foi cuidadosamente analisado quanto à presença de
moluscos, observando-se as folhas e os pequenos gravetos onde espécimes jovens
ou pequenos encontravam-se presos. Os moluscos coletados foram acondicionados
em recipiente plástico com identificação do ponto de coleta (nome da localidade, tipo
de criadouro, data da coleta). O material restante na concha de captura foi lavado e
verificado repetidas vezes, até a confirmação da ausência de moluscos, para então
ser desprezado. Essa varredura foi realizada por dois técnicos, em área demarcada
de 30 metros, durante um intervalo de 30 minutos.
Para o transporte, os moluscos foram embalados em gaze umedecida
com água. A fim de evitar que a gaze perdesse a umidade, estas foram
acondicionadas em sacos plásticos, devidamente identificados. O material foi
colocado em caixas térmicas resistentes e transportado para o Laboratório de em
Parasitologia e Biologia de Moluscos localizado na Universidade Federal do Ceará
(LPMB-UFC), onde os moluscos foram mantidos em reservatórios de plástico com
água desclorada e alimentados com alface fresca descontaminada (Brasil, 2008) até
a realização das devidas análises.
Pesquisa de cercárias de Schistosoma mansoni
O exame foi realizado por meio da exposição individual dos moluscos do
gênero Biomphalaria à luz artificial (lâmpada de 60 W) a uma distância de 30 cm por
um período de 4 horas, para estimular a eliminação de cercárias de S. mansoni ou
de qualquer outro trematódeo de importância médica ou veterinária. Após essa
etapa a água dos recipientes com caramujos foi analisada em microscópio
estereoscópio. O mesmo experimento foi repetido três vezes no período de 30 dias.
157
Classificação Morfológica
Todos os moluscos coletados nos municípios de Aurora, Brejo Santo,
Mauriti, Jaguaretama, Jaguaribara e Jati foram classificados com base na
comparação das características externas das conchas (BARBOSA, 1995).
Identificaçao Molecular
Alguns exemplares do município de Brejo Santo-CE, foram selecionados
para identificação molecular, no Laboratório de Referência Nacional em
Esquistossomose do Instituto René Rachou/Fiocruz-MG. Foi realizada a extração do
DNA com kit Wizard Genomic DNA Purification® da Promega®. O DNA foi submetido
à reação em cadeia da polimerase e subsequente análise do polimorfismo de
tamanho de fragmentos de restrição (PCR-RFLP), direcionada para a região
espaçadora transcrita interna do gene do RNA ribossomal (ITS-rDNA), e clivada com
a enzima DdeI, conforme descrito previamente por Caldeira et al (2016). Esse
município foi escolhido por ser o primeiro, no Estado do Ceará, em que as águas do
Rio São Francisco irão se misturar às águas naturais e onde será construído o maior
número de novos reservatórios do PISF. Esses fatores estão diretamente
relacionados ao aumento da diversidade e da densidade populacional dos
caramujos transmissores da esquistossomose.
Análise estatística e dados geoespaciais
Um banco de dados foi elaborado com o auxílio do programa Microsoft
Office Excel 2016 (Microsoft Corp., Redmond, WA, USA) para organização e
armazenamento dos dados referentes às coleções hídricas pesquisadas e
caramujos coletados.
Os dados espaciais foram armazenados e analisados no software GIS,
ArcGis 10 (Environmental Systems Research Institute, Redlands, CA, EUA) para
manipulação e vinculação dos atributos descritivos à forma gráfica, bem como para
elaboração de mapas temáticos.
Aspectos éticos
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal do Ceará (nº 254/11).
158
RESULTADOS
Foram encontrados moluscos de água doce de cinco gêneros, todos
pertencentes à Classe Gastropoda (Cuvier, 1795): Biomphalaria (Preston, 1910);
Drepanotrema (Crosse & P. Fischer, 1880); Melanoides (Olivier, 1804); Physa
(Draparnaud, 1801) e Pomacea (Perry, 1810). Durante o levantamento malacológico
límnico foram coletados alguns espécimes de caramujos anfíbios do gênero
Omalonyx (d´Orbigny, 1837) em quase todas as coleções hídricas visitadas no
município de Jati, com exceção do Açude Atalho. Algumas espécies da Classe
Bivalvia (Linnaeus, 1758) foram encontradas em grandes quantidades no Rio
Jaguaribe e nos grandes reservatórios dos municípios de Jaguaretama e
Jaguaribara, principalmente no Açude Castanhão, porém, não serão detalhadas
neste estudo.
A Tabela 1 apresenta a distribuição das espécies de moluscos de água
doce encontradas por município. As espécies Pomacea sp. e Biomphalaria sp. foram
mais frequentes ao longo das bacias hidrográficas estudadas; presentes,
respectivamente, em 25 (75,8%) e 24 (72,7%) pontos de coleta. As espécies Physa
sp. (9; 27,3%) e Drepanotrema sp. (6; 18,2%) tiveram menor distribuição espacial.
Porém, os caramujos exóticos da Família Thiaridae apresentaram uma distribuição
importante, alcançando 23 (69,7%) coleções hídricas. Os pontos de coleta com
maior diversidade de espécies de moluscos foram: Riacho dos Porcos e Riacho
Poço da Barra, ambos no município de Jati; seguidos do Reservatório Alegre, no
município de Jaguaretama; das estruturas hídricas que abastecem o projeto de
irrigação e de piscicultura Curupati, no município de Jaguaretama; e do Açude
Castanhão, que cobre parte dos municípios de Jaguaretama e Jaguaribara. Por
outro lado, houve coleções hídricas com ausência de molusco: Riacho Cana Brava,
no município de Brejo Santo e Barragem, Bom Sucesso, no município de Mauriti.
As características ecológicas (Tabela 2) mais comuns a todas as coleções
pesquisadas foram: presença de coliformes totais (91,7%), presença de coliformes
fecais (72,7%), ambientes artificiais (72,7%), não-sombreados (72,7%),
ecossistemas lóticos (69,7%), de áreas peridomiciliar (62,5%). Os pontos de coleta
com maior diversidade de moluscos estavam em área peridomiciliar (87,5%) e
apresentaram coliformes totais (100%) e coliformes fecais (87,5%).
159
Tabela1 – Moluscos de água doce (Classe Gastropoda – Cuvier, 1795) distribuídos por município, na área diretamente afetada
pela Transposição do Rio São Francisco, Estado do Ceará, Brasil, coletados de fevereiro de 2015 a outubro de 2016.
Municípios Ponto de coleta Ampullariidae Planorbidae Physidae Thiaridae
Pomacea sp. Biomphalaria sp. Drepanotrema sp. Physa sp. Melanoides sp.
Aurora
Açude Cachoeiras X X
Açude Mofumbo X ++ X
Açude Solidade X +
Açude Tipi X + X X
Açude Tipi de Baixo X + X
Barragem Passagem de Pedras X + X
Rio Salgado X ++++ X
Sangradouro do Aç. Cachoeiras X +
Brejo Santo
Açude Atalho X X
Açude Cipó +
Riacho Cana Brava
Riacho dos Porcos X ++ X
Riacho dos Torrões X + X
Riacho Pinheira +
Jaguaretama
Açude Castanhão X + X X*
Açude Alegre X ++ X X
Açude Genésio Bezerra X
Barragem Santa Bárbara X*
Jaguaribara
Açude Castanhão (Cidade antiga)
X + X X*
Açude Castanhão (Comportas) X + X X
Canal de Irrigação Curupati (Ponte)
X + X
Canal de Irrigação Curupati-Peixe
X + X X
Canal da Integração (Piscinão) ++++ X
Rio Jaguaribe X + X
160
Municípios Ponto de coleta Ampullariidae Planorbidae Physidae Thiaridae
Pomacea sp. Biomphalaria sp. Drepanotrema sp. Physa sp. Melanoides sp.
Jati
Açude Atalho X X*
Açude Carnaúbas X + X
Riacho dos Porcos X ++ X X X
Riacho Poço da Barra X + X X X
Mauriti
Açude Pastora X X
Açude Quixabinha X X*
Barragem Bom Sucesso
Barragem Palestina X + X X
Barragem São Miguel + X Legenda: x = ocorrência; * = grandes quantidades; quantidade de espécimes coletados: + = 1-49; ++ = 50-99; +++ = 100-149; ++++ => 150.
161
Tabela 2 – Características ecológicas das coleções hídricas pesquisadas na área de influência do Projeto de Transposição do Rio
São Francisco no estado do Ceará – Brasil.
Municípios Ponto de coleta Correnteza Tipo de área Coliformes Cobertura Ambiente
Lênt. Lótic. Isolada Peridom Fecais Totais Somb Ñ-somb Artific. Natural
Aurora
Açude Cachoeiras X X X* X X X
Açude Mofumbo X X X* X X X
Açude Solidade X X X* X X
Açude Tipi X X X* X X X
Açude Tipi de Baixo X X X* X X X
Barragem Passagem de Pedras X X X* X X X
Rio Salgado X X X* X X X
Sangradourodo Açude Cachoeiras X X X X
Brejo Santo
Açude Atalho X X X* X X X
Açude Cipó X X X X
Riacho Cana Brava X X X* X X
Riacho dos Porcos X X X* X X
Riacho dos Torrões X X X* X X X
Riacho Pinheira X X X* X X
Jaguaretama
Açude Alegre X X X X X X
Açude Castanhão X X X X X
Açude Genésio Bezerra X X X X X X
Barragem Santa Bárbara X X X X X X
Jaguaribara
Açude Castanhão (Cidade antiga) X X X X X X
Açude Castanhão (Comportas) X X X X X X
Canal da Integração (Piscinão) X X X X X
Canal de Irrigação Curupati (Ponte) X X X X X X
Canal de Irrigação Curupati-Peixe X X X X X X
Rio Jaguaribe X X X X X X
Açude Atalho X X X* X X X
Açude Carnaúbas X X X* X X
Riacho dos Porcos X X X* X X X
Riacho Poço da Barra X X X* X X X
162
Municípios Ponto de coleta Correnteza Tipo de área Coliformes Cobertura Ambiente
Lênt. Lótic. Isolada Peridom Fecais Totais Somb Ñ-somb Artific. Natural
Mauriti
Açude Pastora X X X* X X X
Açude Quixabinha X X X* X X X
Barragem Bom Sucesso X X X* X X X
Barragem Palestina X X X* X X X
Barragem São Miguel X X X* X X X Legenda: x = ocorrência; quantidade de espécimes coletados: + = 1-49; ++ = 50-99; +++ = 100-149; ++++ => 150; * ocorrência de Pseudomonas sp.
163
A Figura 1 demonstra os locais nos quais houve presença da espécie de
importância médica - Biomphalaria sp., e a quantidade proporcional encontrada
entre as coleções. Todos os municípios apresentaram alguma coleção hídrica com
presença dessa espécie. A média de exemplares Biomphalaria sp. coletada foi de 32
caramujos (variando entre 4 e 78), excetuando-se dois pontos de coleta que
apresentaram alta densidade populacional para essa espécie, como descritos a
seguir. O ponto onde foi encontrada a maior quantidade de Biomphalaria sp. (450
exemplares coletados) foi o Rio Salgado, no município de Aurora. O outro local foi a
estrutura inicial do Canal da Integração, conhecido como Piscinão (150 Biomphalaria
sp. coletados), no município de Jaguaribara.
Todos os exemplares de Biomphalaria sp. coletados foram analisados e
nenhum foi encontrado eliminando as formas larvais de S. mansoni ou de quaisquer
outros trematódeos.
Uma amostra de Biomphalaria sp. coletadas no município de Brejo Santo
foi submetida à identificação molecular para diferenciação, e duas espécies foram
identificadas (Figura 2). B. straminea, espécie transmissora natural de Schistosoma
mansoni, foi identificada no Riacho dos Porcos (100% dos 6 exemplares analisados
deste ponto de coleta). Já Biomphalaria kuhniana (Clessin, 1883), espécie não
suscetível a S. mansoni foi encontrada nos açudes Boi 1 e Cipó (100% dos 6
exemplares analisados de cada um desses pontos de coleta).
164
Figura 1 – Biomphalaria sp. em coleções hídricas nas áreas de influência do Projeto
de Integração do Rio São Francisco no estado do Ceará - Brasil.
Fonte: Elaborada pelos autores.
165
Figura 2 – Gel de poliacrilamida corado com prata a 6% mostrando os perfis de
restrição, após digestão da região ITS do DNA ribossômico com DdeI, dos
caramujos de referência e dos caramujos coletados em Brejo Santo-Ceará.
Legenda - Linha 1: marcador de tamanho molecular phiX 174. Linhas 2 e 22: Biomphalaria kuhniana de Tucuruí/Pará. Linhas 3 e 23: Biomphalaria straminea de Monte Carmelo/Minas Gerais. Linhas 4 a 9: caramujos coletados de Riacho dos Porcos – Brejo Santo/Ceará. Linhas 10 a 15: caramujos coletados de Açude Boi 1 – Brejo Santo/Ceará. Linhas 16 a 21: caramujos coletados de Cipó – Brejo Santo/Ceará. Fonte: Elaborada pelos autores.
DISCUSSÃO
O presente estudo traz as primeiras evidências integrando diferentes
componentes da complexa dinâmica de transmissão da esquistossomose em áreas
de influência do PISF no Estado do Ceará. Amplia o conhecimento a respeito da
diversidade da malacofauna límnica assim como sua distribuição. Além disso, traça
um panorama atual da distribuição dos caramujos do gênero Biomphalaria –
transmissores da esquistossomose mansoni – em áreas que serão diretamente
afetadas pela maior obra de engenharia hídrica do Brasil (o Projeto de Integração do
Rio São Francisco às Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional). Por fim,
reforça o caráter de endemicidade para a doença nos municípios estudados e o
potencial de ampliação de sua dinâmica de transmissão.
A biodiversidade e o padrão de distribuição das espécies de caramujos
nos municípios analisados são descontínuos, mesmo sendo um espaço micro-
geográfico. Os habitats antropogênicos (coleções hídricas com presença de
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
166
coliformes totais, fecais e proximidade de áreas peridomiciliares) foram os que
apresentaram maior diversidade e densidade populacional de caramujos,
principalmente em relação ao gênero Biomphalaria, que sabidamente apresenta
preleção por ambiente com riqueza de matéria orgânica (ABÍLIO et al., 2006). O
clima é outro fator preponderante para isso, sendo o Nordeste Setentrional a região
brasileira que mais sofre com secas periódicas intensas, estimulando os caramujos a
desenvolverem características biológicas específicas para se adaptar a esses
habitats sujeitos a perturbações hidrológicas – ciclos de cheia-seca (TUAN, 2009).
Biomphalaria straminea é a espécie que apresenta as mais baixas taxas
de infecção natural por S. mansoni, porém apresenta elevada capacidade de resistir
à dessecação, sendo um dos fatores que explicam a ampla distribuição geográfica
desses caramujos no Nordeste brasileiro (BARBOSA, SILVA & BARBOSA, 1996).
No estado do Ceará esta é a única espécie nativa que está envolvida na
transmissão de S. mansoni. Porém, o PISF trará mudanças no equilíbrio desse
ecossistema e de sua biodiversidade considerando-se a possibilidade de introdução
de novas espécies (ex: B. glabrata - vetor mais competente da esquistossomose)
que poderão causar diminuição ou até extinção de outras espécies; mudanças na
diversidade genética das comunidades nativas (ex: entrada de um maior quantitativo
de B. straminea), com diminuição ou aumento, principalmente por hibridização
(TEODORO et al., 2011). Ambas as espécies citadas estão presentes em diversas
partes da Bacia do Rio São Francisco (GUIMARÃES et al., 2009). Essa problemática
tornou-se realidade em outras partes do mundo (VAN DEN BROECK et al., 2015,
STEINMANN et al., 2006) e, também, no Brasil (FERNANDEZet al., 2014;
REZENDE et al., 2009 e THIENGO, SANTOS & FERNANDEZ, 2005).
Os pontos de coleta que apresentaram quantidades elevadas de
Biomphalaria sp. são ambientes com grande aporte hídrico, e as obras do PISF
visam exatamente a perenização das bacias hidrográficas receptoras, com
manutenção de um elevado volume de água nos açudes e demais ambientes
aquáticos. A potencial influência direta do PISF na densidade populacional dos
planorbídeos, remete-se à presença de novos reservatórios, o que possibilita maior
acúmulo de matéria orgânica pela redução da velocidade do fluxo das águas
(REZENDE et al., 2009) e propicia a formação de novos criadouros (FAVRE et al.,
2016). Existe, ainda, o risco de dispersão desses caramujos por todos os municípios
por onde essas águas irão circular, podendo chegar até a Região Metropolitana de
167
Fortaleza, que em sua periferia apresenta condições propícias para a instalação de
focos de transmissão dessa doença. Além disso, os movimentos migratórios,
gerados por essas mudanças, podem contribuir com o estabelecimento do ciclo de
transmissão, algo que foi demonstrado por nosso grupo de pesquisa nessa região,
onde foram identificados trabalhadores do PISF já infectados por S. mansoni (SILVA
FILHO et al., 2017).
No âmbito de seu funcionamento, o PISF viabilizará o fornecimento de
água para vários fins, como abastecimento humano, irrigação, dessedentação de
animais, o que potencializa ainda mais a vulnerabilidade da área abrangida por esse
empreendimento (BRASIL, 2004). A abundância de água poderá intensificar velhos
costumes nordestinos, como o banho e a lavagem de roupas e utensílios domésticos
em águas naturais (KLOOS et al., 2008), podendo ainda se tornar um atrativo
turístico para a prática de pesca e de lazer, como já mostrado em outros locais (ENK
et al., 2010).
As áreas afetadas pelo PISF no Ceará são epidemiologicamente
importantes por apresentarem todos os elementos necessários para a transmissão
da doença. Nossos achados evidenciaram uma ampla distribuição de caramujos do
gênero Biomphalaria em todos os municípios pesquisados, porém nenhum dos
exemplares analisados apresentou formas larvais do parasito transmissor dessa
doença. Contudo, o PCE no Estado do Ceará (2016) já havia identificado
anteriormente caramujos dessa espécie eliminando cercárias em Aurora, Brejo
Santo e Mauriti, além de ter demonstrado a existência de trabalhadores do PISF
com ovos viáveis do parasito em suas fezes; no canteiro de obras em Brejo Santo
foram identificados 45 casos (9,1% – 45/432) e 23 casos em Mauriti (5,5% –
23/416). Esse cenário é agravado pela vulnerabilidade social desses municípios, que
apresentam baixos índices de educação, economia de subsistência, baixa cobertura
de atenção à saúde e condições insuficientes de saneamento básico. De fato, as
taxas de pobreza são fatores preocupantes nesses municípios, em que a quantidade
média da população que vive em condições de pobreza chega a 41,4% (média para
os 6 municípios pesquisados), enquanto a média nacional é de 15,2%. O porcentual
da população em domicílios que dispõe de coleta e tratamento de esgoto é de
28,6%, considerando-se a média dos 6 municípios pesquisados, enquanto a média
nacional é de 59,1% (PNUD, 2013). As obras de tratamento dessas águas naturais
(do PISF) para o abastecimento doméstico, assim como do esgotamento sanitário
168
ficarão a cargo das prefeituras locais, que atualmente não dispõem de recursos
financeiros para a realização de obras desse porte.
Uma limitação do estudo foi o fato de a identificação molecular ter sido
realizada em apenas 3 coleções hídricas (18 exemplares, 6 em cada ponto de
coleta) de um dos seis municípios pesquisados. Esse resultado parcial mostrou que
2 pontos possuíam apenas B. kuhniana, enquanto o último ponto possuía apenas B.
straminea. Alguns questionamentos persistem, por conta da amostra estudada: A
população de B. kuhniana seria maior do que a de B. straminea no estado do
Ceará? Se for, este é um dos fatores que poderiam explicar a baixa prevalência da
doença em nosso estado, mesmo com todos os fatores de risco presentes para a
manutenção de altos índices de transmissão? Ocorreria deslocamento competitivo
entre essas duas espécies? Vale lembrar que o estado do Ceara é o único estado
da Região Nordeste que não tem a presença de B. glabrata, principal hospedeiro da
esquistossomose mansoni no país.
Os municípios sob influência do PISF avaliados representam áreas com
potencial para transmissão da esquistossomose em diferentes pontos do PISF. Este
cenário epidemiológico descrito reforça a complexidade e a urgência de discutir e
propor, no âmbito de uma abordagem intersetorial, uma relação estreita entre as
áreas da saúde, do meio ambiente e do desenvolvimento social para propiciar a
elaboração de ações e medidas efetivas de controle e prevenção, visto que essa
região dispõe de todas as condições necessárias para a transmissão da
esquistossomose. Nesse contexto, são necessários estudos malacológicos
adicionais que contribuam para o monitoramento dos caramujos vetores da
esquistossomose, e para o conhecimento mais abrangente sobre os tipos de
moluscos de água doce dessa região, e de como essas espécies serão impactadas
por essa grande obra de engenharia hídrica. Ressalta-se ainda o fortalecimento das
ações de promoção e educação em saúde pública, que preconize modificações
positivas nos fatores de risco visando prevenir a transmissão e a ocorrência dessa
doença.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Laboratório de Referência de Esquistossomose
do Instituto Rene Rachou – FIOCRUZ-MG (em particular a Amanda Domingues de
169
Araújo por suporte técnico), às Secretarias de Saúde dos municípios de Aurora,
Brejo Santo, Jaguaretama, Jaguaribara, Jati e Mauriti e Secretaria de Saúde do
Governo Estadual do Ceará pelo suporte técnico e logístico.
REFERÊNCIAS
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172
6.5 Eixo 5: Schistosoma mansoni em populações sentinelas das áreas de
influência do PISF no Ceará.
6.5.1 Artigo 5: Detecção de esquistossomose em uma área diretamente afetada
pelo projeto de transposição de água em grande escala do rio São Francisco
no Nordeste do Brasil
José Damião da Silva Filho1,2, Marta Cristhiany Cunha Pinheiro1,3, Mariana Silva
Sousa1,4, Vivian da Silva Gomes5, Issis Maria Nogueira de Castro1,2, Alberto Novaes
Ramos Júnior3e Fernando Schemelzer de Moraes Bezerra1,2,4
1Universidade Federal do Ceará-UFC, Departamento de Análises Clínicas e
Toxicológicas, Laboratório de Pesquisa em Parasitologia e Biologia de Moluscos,
Fortaleza, CE, Brasil
2Universidade Federal do Ceará-UFC, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-
Graduação em Patologia, Fortaleza, CE, Brasil
3Universidade Federal do Ceará-UFC, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-
Graduação em Saúde Pública, Fortaleza, CE, Brasil
4Universidade Federal do Ceará-UFC, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-
Graduação em Ciências Médicas, Fortaleza, CE, Brasil
5Governo do Estado do Ceará, Secretaria de Saúde,Núcleo de Controle de Vetores,
Fortaleza, CE, Brasil
Autor correspondente: PhD. Fernando Schemelzer de Moraes Bezerra (e-mail:
Universidade Federal do Ceará, Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas,
Rua Professor Costa Mendes, 1210, Rodolfo Teófilo, 60430140 - Fortaleza, CE -
Brasil, Telefone: +55 85 3366- 8242; Fax: +55 85 3266- 8206.
173
RESUMO
INTRODUÇÃO: O desenvolvimento do Projeto de Integração do Rio São Francisco
(PISF) no estado do Ceará tem gerado mudanças ambientais e socioeconômicas
com riscos potenciais à saúde pública.
OBJETIVO: Determinar a presença de Schistosoma mansoni em escolares de 7 a 14
anos e trabalhadores do canteiro de obras em área sob influência direta do PISF no
município de Brejo Santo-CE, de forma a subsidiar ferramentas para prevenção e
controle dessa patologia.
MÉTODOS: Estudo transversal com utilização de diferentes métodos para
identificação da presença de S. mansoni: ovos pelo método parasitológico Kato-Katz
em amostras de fezes (3 lâminas para cada amostra) e antígeno catódico circulante
de Schistosoma mansoni pelo teste rápido imunocromatrográfico POC-CCA em
urina.
RESULTADOS: No geral, as taxas de positividade para S. mansoni foram de 1,90%
(2/106) entre escolares e de 2,88% (4/138) entre trabalhadores. Dois (1,44%)
trabalhadores foram positivos pelo Kato-Katz e 3 (2,16%) pelo POC-CCA. Nenhuma
criança teve evidência de ovos de S. mansoni pelo Kato-Katz; pelo POC-CCA
(1,90%) foram positivas. Se os traços fossem considerados negativos na análise
implicaria em taxas de positividade de 0,95% e 0,72% para escolares e
trabalhadores, respectivamente.
CONCLUSÕES: Reconheceu-se a transmissão ativa da esquistossomose nessa
região abrangida pelo PISF, reforçando a necessidade de fortalecer ações de
vigilância e controle, além de ações estruturais de saneamento para reverter os
determinantes sociais da doença.
Palavras-chave: Transposição do Rio São Francisco. Diagnóstico. Schistosoma
mansoni. Escolares. Trabalhadores. Epidemiologia.
174
ABSTRACT
INTRODUCTION: The development of the São Francisco River Integration Project
[Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF)] in the State of Ceará, Brazil,
has resulted in environmental and socioeconomic changes with potential risks to
public health.
OBJECTIVE: To determine the presence of Schistosoma mansoni infections in
schoolchildren (aged 7-14 years) and workers from the construction site in an area
under the direct influence of the PISF in the municipality of Brejo Santo-CE, to aid in
the prevention and control of schistosomiasis.
METHODS: We conducted a cross-sectional study using two S. mansoni-detection
methods: detection of S. mansoni eggs by the Kato-Katz parasitological method in
stool samples (assessed in triplicate for each sample) and S. mansoni circulating
cathodic antigen by the point-of-care immunochromatographic rapid test POC-CCA
in urine.
RESULTS: In general, the positivity rates for S. mansoni detection were 1.9% (2/106)
among schoolchildren and 2.9% (4/138) among workers. No child had evidence of S.
mansoni eggs in their stools; 1.9% tested positive by the POC-CCA method. Among
workers, two (1.4%) tested positive by the Kato-Katz test and three (2.2%) by the
POC-CCA test. If the POC-CCA test results that were scored as traces were
considered negative, then the positivity rates dropped to 0.9% and 0.7% for
schoolchildren and workers, respectively.
CONCLUSIONS: The active transmission of schistosomiasis in a region covered by
the PISF was recognized, reinforcing the necessity to consolidate surveillance and
control actions, as well as structural sanitation measures to reverse the social
determinants of the disease.
Key-words: São Francisco River transposition. Diagnosis. Schistosomiasis.
Schoolchildren. Workers. Epidemiology.
175
INTRODUÇÃO
A esquistossomose é um problema de saúde pública persistente, com
uma carga global de 3 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade
(Disability-Adjusted Life Year – DALYs), afetando mais de 240 milhões de pessoas.
Estima-se que quase um bilhão de pessoas ao redor do mundo esteja sob risco
(GBD 2013 DALYs and HALE Collaborators, 2015; WHO, 2016; HOTEZ et al., 2014).
No Brasil, estima-se que existam 1,5 milhões de pessoas infectadas com
base no Inquérito Nacional de Prevalência da Esquistossomose e Geo-helmintoses
(2011-2014), com cerca de 25 milhões de pessoas residindo em áreas de risco
(KATZ et al., 2014). Há registros de transmissão da doença em todas as suas
regiões, atingindo 18 estados e o Distrito Federal (BRASIL, 2014a). A mortalidade
por esquistossomose foi a segunda entre as doenças tropicais negligenciadas
(DTNs) no país durante um período de 12 anos (2000-2011), com média anual
superior a 700 mortes (MARTINS-MELO et al., 2016).
No Ceará, o Programa de Controle da Esquistossomose (PCE) tem sido
desenvolvido desde 1977, alcançando 71 dos 184 (38,5%) municípios do Estado.
Ainda é detectada de forma rotineira, principalmente, em municípios de três regiões
do estado do Ceará: Cariri, Maciço do Baturité e Serra da Ibiapaba. No período de
2010 a 2015, foram realizados 171.927 exames parasitológicos diretos, em 0,28%
(488/171.927) detectaram-se casos de infecção por S. mansoni, distribuídos em
26,7% (19/71) dos municípios avaliados (CEARÁ, 2016).
Complexos fatores determinam sua ocorrência e dificultam o efetivo
controle da esquistossomose no país. Inserem-se, nesta perspectiva, a pobreza e as
precárias condições sanitárias, além de processos migratórios, combinadas com a
ampla distribuição geográfica de hospedeiros intermediários, favorecendo a
persistência e o estabelecimento de novos focos no Brasil (BRASIL, 2014a).
Além destas, contribuem as modificações introduzidas pelo ser humano
nos ecossistemas e biomas, como a construção de barragens e hidrelétricas,
intervenções estas para atender necessidades econômicas, como a crescente
demanda energética, abastecimento de água e produção de alimentos. Estes
projetos hídricos podem criar ambientes ecologicamente favoráveis à introdução e
dispersão de Schistosoma mansoni por meio do estabelecimento de novos
criadouros de caramujos hospedeiros intermediários desse parasito naturalmente
176
localizados na região ou introduzidos de outras regiões endêmicas (REZENDE et al.,
2009; DIAKITÉ et al., 2017).
O Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) com as Bacias
Hidrográficas do Nordeste Setentrional insere-se nesta perspectiva. O objetivo
principal é aumentar a disponibilidade hídrica e, consequentemente, contribuir para o
desenvolvimento socioeconômico da região. Essa região possui apenas 3% da
disponibilidade de água do país e abriga 28% da população brasileira,
constantemente exposta à escassez e má distribuição das chuvas (BRASIL, 2014b).
Este projeto estruturante prevê a construção de mais de 700km de canais,
distribuídos em dois grandes eixos: o Eixo Norte que levará água para os sertões de
Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte; e o Eixo Leste que beneficiará
parte do Sertão e região Agreste de Pernambuco e da Paraíba. As obras incluem
recuperação de 23 açudes, construção de 27 novos reservatórios, além de nove
estações de bombeamento, quatro túneis e 14 aquedutos. Estima-se que em 2025
haverá garantia de segurança hídrica a cerca de 12 milhões de habitantes em mais
de 390 cidades (BRASIL, 2004a; CASTRO, 2011).
A infecção por S. mansoni tem sido registrada ao longo do Rio São
Francisco, apresentando altas taxas de infecção e de mortalidade, principalmente
nos estados de Pernambuco, Alagoas e Sergipe (FAVRE et al., 2016; MARTINS-
MELO et al., 2015). Somado a isso, há populações de hospedeiro intermediários da
esquistossomose em todos os estados que constituem a região, sendo Biomphalaria
glabrata e Biomphalaria straminea os responsáveis pela transmissão.
O presente estudo parte da linha tênue entre saúde, ambiente e
desenvolvimento e da importância de estimar riscos relativos à dinâmica de
transmissão da esquistossomose em áreas sob influência da transposição de águas
do rio São Francisco. Para tanto, objetivou-se determinar a presença de S. mansoni
em crianças em idade escolar bem como em trabalhadores do canteiro de obras de
município pertencente à área de influência direta do PISF no estado do Ceará,
utilizando metodologias de diagnóstico parasitológico e imunológica. Reforça-se, a
partir daí a relevância do planejamento e da realização de ações específicas em
razão das alterações que possam afetar direta ou indiretamente o ambiente e a
qualidade de vida da população.
177
MÉTODOS
Área de estudo e população
Estudo conduzido no período de 2015 a 2016 no município de Brejo
Santo (Latitude: 7º 29' 36"; Longitude: 38º 59' 07"), situado na Mesorregião Sul do
Estado do Ceará, localizado a 502Km do município de Fortaleza (capital), com área
de 661,96 km² (Figura 1). O município possui uma população residente estimada em
2016 de 45.193 habitantes, com densidade demográfica de mais de 68
habitantes/km² (IBGE, 2017).
Figura 1 – Circuito do projeto de transposição do rio São Francisco – Eixo Norte,
com ênfase no Estado do Ceará e no município de Brejo Santo.
Legenda: PISF = Projeto de Integração do Rio São Francisco. Fonte: Adaptado de http://atlas.srh.ce.gov.br/.
178
Dos quatro municípios do Estado onde estão instalados canteiros de
obras do PISF, Brejo Santo é o município que possui o maior produto interno bruto
(PIB - R$ 11.260,12 em 2014) (IBGE, 2017). Sua economia está baseada
principalmente na construção civil e no comércio. Essas características tornam essa
área atrativa para absorção de mão de obra. Essa situação tem sido um fator
condicionante para o fluxo migratório de trabalhadores e, nos últimos anos, Brejo
Santo absorveu força de trabalho de diversos municípios cearenses e de outros
Estados. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) para 2010 foi de
0,647, entretanto, 59,7% dos domicílios contavam com esgotamento sanitário
adequado neste mesmo ano (PNUD, 2013).
Escolares
Segundo o Censo Demográfico de 2010 - Educação, a população de
crianças de 7 a 14 anos em Brejo Santo era de 4.097 alunos, distribuídos em 37
escolas municipais das áreas urbanas e rurais (IBGE, 2012). Levou-se em
consideração para o cálculo amostral: prevalência geral da doença no estado do
Ceará de 5% (valor extrapolado), margem de erro de 5% e nível de confiança de
95%, o que originou uma amostra estimada inicial mínima de 72 alunos.
Para seleção das escolas tomou-se como base o que o Relatório de
Impacto Ambiental (RIMA) definiu como área diretamente afetada: faixa com 5 km de
largura para cada lado das estruturas a serem construídas no PISF (BRASIL,
2004b). Dessa forma, identificou-se somente uma escola da zona rural em
funcionamento, as demais tinham sido destruídas pelas obras da transposição. Para
melhor representatividade, optou-se por selecionar adicionalmente uma escola da
zona urbana. Assim, dos 149 indivíduos elegíveis, 128 concordaram em participar do
estudo e seus responsáveis legais assinaram um formulário de consentimento e
preencheram questionário com informações socioeconômicas. Destes, 106 (2,6% do
total de estudantes do município) efetivamente participaram do estudo, entregando
as duas amostras biológicas em quantidade e qualidade adequadas para a
realização dos exames.
Trabalhadores do canteiro de obras
Dos 500 trabalhadores alocados no canteiro de Brejo Santo no período,
138 (27,6%) foram incluídos mediante a assinatura do termo de consentimento e
179
entrega das duas amostras biológicas em quantidade e qualidade adequadas para a
realização dos exames. Todo este processo foi conduzido com participação da
Secretaria Estadual de Saúde do Ceará, Secretaria Municipal de Saúde de Brejo
Santo, empresa envolvida nas obras do PISF e da Universidade Federal do Ceará.
Ressalta-se a complexidade operacional desta avaliação dentro dos canteiros de
obra considerando-se os aspectos trabalhistas e econômicos envolvidos.
Coleta e Processamento de amostras biológicas em campo
Os participantes receberam dois coletores de plástico e instruções para
coletar amostras de fezes e urina, sendo convidados a devolver os recipientes com
as amostras no dia seguinte.
Foram confeccionadas três lâminas de cada amostra de fezes segundo o
método Kato-Katz (KATZ; CHAVES; PELLEGRINO et al., 1972) utilizando-se o kit
Helm-Test® (Bio-Manguinhos/Fiocruz, RJ, Brasil). Do frasco coletor de urina foi
retirada uma alíquota de 5mL e armazenada em criotubos devidamente
identificados, para posterior análise pelo método de detecção de antígenos
catódicos circulantes (CCA). As alíquotas foram acondicionadas à temperatura de -
20°C até serem transportadas para Fortaleza, para o Laboratório de Parasitologia e
Biologia de Moluscos (LPBM) localizado na Universidade Federal do Ceará, onde
foram armazenadas à temperatura de -80°C.
Procedimentos laboratoriais
Realizou-se a leitura das três lâminas prepararas pelo método Kato-Katz,
contabilizando todos os ovos encontrados. A intensidade da infecção foi calculada
determinando o número médio de ovos de S. mansoni encontrados nas três lâminas
e multiplicando por 24 para obter número de ovos por grama de fezes (OPG).
Foi realizado o POC-CCA (Rapid Medical Diagnostics®, Pretoria, África do
Sul), em uma versão anterior ao teste comercializado atualmente. O teste foi
realizado a temperatura ambiente, seguindo as instruções do fabricante.
Resumidamente, retirou-se uma alíquota de urina do microtubo com auxílio da
pipeta plástica (do kit) e transferiu-se duas gotas para o poço circular do dispositivo
teste e, após 20 minutos, foi realizada a leitura. Dessa forma, os testes válidos
(banda controle visualizada) foram classificados como positivos, traços (banda teste
180
fraca) ou negativos. Os testes inválidos (banda controle não visualizada) foram
repetidos usando a mesma amostra de urina.
Análises estatísticas
Um banco de dados foi elaborado com o auxílio do programa Microsoft
Office Excel 2016 (Microsoft Corp., Redmond, WA, USA) e para as análises foi
utilizado o programa GraphPad Prism versão 5.0 (GraphPad, San Diego, CA, USA).
A co-positividade e a co-negatividade foram calculadas com base na combinação
dos resultados do teste Kato-Katz (3 lâminas) + POC-CCA (Positivo + Traço) e
analisadas em tabelas 2 × 2. Foram calculados os intervalos de confiança de 95%
(IC) para cada uma das diferentesabordagens avaliadas. O teste de McNemar foi
utilizado para comparar as taxas de positividade obtidas pelas diferentes técnicas. O
nível de concordância entre diferentes técnicas de diagnóstico foi determinado pelo
coeficiente Kappa. De acordo com Landis e Koch (1977), a concordância é
considerada fraca quando menor que 0,20; fraca entre 0,21-0,40, moderado entre
0,41-0,60, bom entre 0,61-0,80 e excelente, quando maior que 0,81. Um nível de
significância de 5% foi adotado para todos os procedimentos inferenciais.
As coordenadas geodésicas, das estações de captura das coleções
hídricas pesquisadas, foram demarcadaspor meiode um receptor GPS (sistema de
posicionamento global) de navegação – modelo Garmin Montana® 650, utilizando o
sistema de projeção Universal Transversa de Mercator (UTM).
Os dados espaciais foram armazenados e analisados no software ArcGis
10 (Environmental Systems Research Institute, Redlands, CA, EUA) para
manipulação e vinculação dos atributos descritivos, bem como para elaboração de
mapas temáticos.
Aspectos éticos
O protocolo do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em
Humanos da Universidade Federal do Ceará (COMEPE nº 254/11 - Ofício nº 14/16).
Todos os participantes (escolares e trabalhadores) e pais/responsáveis legais foram
informadas sobre seus direitos assegurados na Resolução nº 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde e receberam os devidos esclarecimentos da pesquisa.
181
RESULTADOS
Escolares
Dos 106 escolares, a maioria era do sexo feminino (54,7%), natural do
próprio município de Brejo Santo (60,4%) e com renda familiar mensal menor que 1
salário mínimo (69,8%) – valor de referência BRL 788.00 (USD 269.52) em 2015.
Pelo método Kato-Katz, das 106 amostras de escolares analisadas (318
lâminas), em nenhuma foi evidenciada a presença de ovos de S. mansoni. No teste
POC-CCA foi identificada uma (0,95%) amostra positiva, um (0,95%) traço e 104
(98,1%) negativas.
Um dos dois casos positivos era natural do próprio município de Brejo
Santo (autóctone), e o outro escolar era natural do município de Santa Maria da Boa
Vista, Pernambuco.
Trabalhadores do Canteiro de obras
Todos os 138 trabalhadores eram do sexo masculino, com idade média
de 40 anos (variando de 24 a 68 anos de idade). No método Kato-Katz, dois (1,4%)
foram positivos, sendo que um indivíduo (individuo A) tinha as três lâminas positivas
(L1, L2 e L3), e o outro (indivíduo B) apenas a L3 foi positiva. A média de ovos
(considerando as três lâminas) foi de 5,33 para o indivíduo A (OPG=128) –
moderada carga parasitária – e de 0,33 para o indivíduo B (OPG=8) – baixa carga
parasitária.
Das amostras de urina testadas com o POC-CCA, uma (0,7%) foi positiva
(P), duas (1,4%) foram traços (T) e 135 (97,8%) negativas (N). Em geral, um total de
quatro indivíduos foram positivos por positividade de ovo e / ou CCA, resultando em
taxa de positividade de 2,9% (Figura 2).
A co-positividade foi de 50,0% considerando ou não traço como positivo.
Já a co-negatividade foi de 98,1%, considerando traço como positivo e de 100%
considerando traço como negativo. A concordância entre a técnica parasitológica e o
teste POC-CCA foi fraca, (= 0.39), quando considerado traço como positivo. Por
outro lado, a concordância foi boa, (= 0,66), quando considerado traço como
negativo.
182
Figura 2 – Positividade para esquistossomose mansoni em trabalhadores dos
canteiros de obra do Projeto de Integração do Rio São Francisco no município de
Brejo Santo – Ceará, de acordo com técnicas de Kato-Katz (uma, duas e três
lâminas) e teste POC-CCA.
Legenda - POC-CCA: ponto-de-cuidado do antígeno catódico circulante; t-: traço-negativo; t+: traço-positivo. Fonte: Elaborada pelos autores.
A Tabela 1 mostra a concordância entre as abordagens de diagnóstico e
combinação de Kato-Katz (3 lâminas) e POC-CCA (t+). Houve melhores níveis de
concordância para o Kato-Katz com três lâminas (k=0.6581; IC= 0.1887-1) e para o
POC-CCA (P+T) (k=0.8524; IC= 0.5644-1). Estes métodos indicaram,
respectivamente, taxas de co-positividade 50% e 75%. Ambas as taxas de co-
negatividade foram de 100%.
183
Tabela1 – Comparação entre os métodos Kato-Katz e POC-CCA na detecção de
Schistosoma mansoni em amostras obtidas de trabalhadores dos canteiros de obras
do PISF no município de Brejo Santo – Ceará.
Kato-Katz (3 lâminas) + POC-CCA (t+)
Positivo Negativo Total Kappa IC95%
Kato Katz positivo (1 lâmina)
1 0 1 0.39 0-0.93
Kato Katz negativo 3 134 137
Kato Katz positivo (2 lâminas)
1 0 1 0.39 0-0.93
Kato Katz negativo 3 134 137
Kato Katz positivo (3 lâminas)
2 0 2 0.66 0.22-1.00
Kato Katz negativo 2 134 136
POC-CCA (t-) 1 0 1 0.39 0-0.93
POC-CCA negativo 3 134 137
POC-CCA (t+) 3 0 3 0.85 0.57-1.00
POC-CCA negativo 1 134 135
POC-CCA: ponto-de-cuidado do antígeno catódico circulante; PISF: Projeto de Integração do Rio
São Francisco; t−: traço-negativo; t+: traço-positivo; IC95%: intervalo de confiança 95%.
DISCUSSÃO
Trata-se do primeiro estudo integrando a análise da população de
escolares e trabalhadores do canteiro de obras do PISF, que associado aos dados
do PCE local, sinaliza a dinâmica de transmissão ativa da esquistossomose em área
de influência do PISF no Ceará. O padrão de baixa endemicidade prévio à
transposição das águas pode ser amplificado pela influência das águas do Rio São
Francisco. A utilização de técnicas mais sensíveis de diagnóstico como o POC-CCA
mostrou-se operacional e adequada a essa realidade, agregando valor às técnicas
parasitológicas tradicionalmente utilizadas.
A implantação de grandes empreendimentos invariavelmente acarreta
importantes alterações ambientais, econômicas e socioculturais, que envolvem os
mais dissonantes aspectos da dinâmica regional, interferindo no cotidiano das
184
populações e modificando seus modos de subsistência, sobretudo no tocante às
condições de saúde e à qualidade de vida (SILVEIRA, 2016).
Os benefícios econômicos e sociais aliados à melhoria global da
qualidade de vida que serão proporcionados pelo PISF são inquestionáveis. No
entanto, este amplo projeto de intervenção hídrica também poderá gerar grandes
impactos ambientais que podem repercutir no desenvolvimento e na disseminação
de doenças (TUBAKI et al., 2004). Além disso, os movimentos migratórios, gerados
por essas mudanças, podem contribuir tanto na dispersão de doenças existentes
nas áreas de origem dos migrantes, como também no aumento de doenças
existentes nas áreas receptoras (BARBOSA et al., 2010; THIENGO, SANTOS &
FERNANDEZ, 2005; WHO, 2001).
Nesse cenário, nós evidenciamos nesse período pré-transposição a
presença da infecção por S. mansoni entre os escolares de 7 a 14 anos e entre os
trabalhadores do canteiro de obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco
(PISF) do município de Brejo Santo no estado do Ceará.
No contexto brasileiro, atualmente, a avaliação do impacto de projetos
hídricos em relação à esquistossomose tem se limitado aos estudos sobre a
introdução de hospedeiros intermediários (FERNANDEZ, et al., 2014; REZENDE et
al., 2009; THIENGO, SANTOS & FERNANDEZ, 2005), sendo escassas as
pesquisas que enfatizem a presença do S. mansoni nas populações de residentes e
flutuantes, em especial na fase de construção das obras. Um dos poucos estudos, a
exemplo deste, foi realizado na região do Rio Itabapoana, divisa dos estados do Rio
de Janeiro e do Espírito Santo, no qual na triagem pré-admissional para a
construção da Usina Hidrelétrica do Rosal foram identificados 13 trabalhadores,
oriundos de área endêmica, infectados por S. mansoni (CERJ, 1992).
Estudo realizado por Favre et al. (2016) entre abril de 2011 e junho de
2012 com 4.770 escolares em municípios dos quatro estados abrangidos pelo PISF,
onde seis crianças (0.13%) foram positivas pelo método Kato-Katz (duas laminas):
uma em Terra Nova-PE, três em Sousa-PB e duas em Jucurutu-RN. Esses achados
corroboram com o presente estudo, visto que apesar de baixas positividades
encontradas nesses municípios, a evidencia de escolares positivos denota a
presença do S. mansoni nessa população, que pode funcionar como população
sentinela para o monitoramento do progresso dos programas de controle
(COULIBALY et al., 2013).
185
Nas últimas décadas, o PCE baseou-se principalmente em busca ativa de
casos por meio da realização de diagnóstico coproscópico, programas de tratamento
de base populacional em áreas endêmicas, vigilância e controle de hospedeiros
intermediários de S. mansoni (caramujos do gênero Biomphalaria). Como
consequência das ações de controle e da melhoria relativa de condições gerais de
vida em áreas endêmicas, a carga de morbimortalidade da esquistossomose foi
reduzida, não significando, entretanto, eliminação (BRASIL, 2014a).
Por muito tempo a esquistossomose foi considerada uma endemia rural.
Contudo, a urbanização da doença tem sido crescente. Essa expansão é decorrente
da migração, além do aumento da população a nível local e muitas dessas pessoas
vêm a residir em áreas sem condições básicas de saneamento, onde existem cursos
naturais de água com características adequadas para a presença de criadouros
naturais dos planorbídeos envolvidos no ciclo de transmissão da doença (KLOOS et
al., 2010; GUIMARÃES & TAVARES-NETO, 2006).
Os achados do presente estudo reforçam as questões levantadas por
alguns autores, em que o aumento do número de represas em escala mundial tem
possibilitado aumento da prevalência da esquistossomose, como foi observado com
a construção da represa de Aswan, no Egito (BARAKAT, 2013; STEINMANN et al.,
2006), da represa Três Gargantas na China (ZHU et al., 2008; McMANUS et al.,
2010) e da represa Kossou, na Costa do Marfim (N’GORAN et al., 1997). Esse
contexto demonstra a importância do diagnóstico nas fases anteriores ao
funcionamento do empreendimento, de forma a permitir uma precoce identificação
de casos positivos e tratamento para prevenção e monitoramento da instalação de
novos focos (BERHE et al., 2004).
Vale ressaltar que os canteiros de obras do PISF chegaram a
aproximadamente 10 mil profissionais contratados nos estados envolvidos (BRASIL,
2016). O presente estudo considera apenas em parte a realidade de um dos
canteiros de obra do PISF no Ceará, provavelmente subestimando a real amplitude
da situação da esquistossomose nessa população.
Houve um aumento na taxa de positividade dos trabalhadores pelo
método Kato-Katz, com o aumento do número de lâminas lidas para cada indivíduo,
corroborando com a literatura, em que outros estudos vêm mostrando que o
aumento do número de lâminas examinadas, proporciona um aumento na taxa de
positividade e consequente aumento na prevalência para S. mansoni (PINHEIRO et
186
al., 2012). De fato, a leitura de apenas uma lâmina ou duas lâminas, como é
rotineiramente realizada em programas de controle de esquistossomose mansoni
(WHO, 2002), teria detectado apenas um indivíduo positivo.
Diferentemente do que é recomendado pela WHO, buscou-se padronizar
nesta e em outras pesquisas conduzidas pelo grupo a utilização de três lâminas de
uma única amostra de fezes, a fim de melhorar a sensibilidade do método. Outra
alternativa para melhorar o desempenho deste método é a utilização de diferentes
amostras da mesma pessoa com múltiplas lâminas, porém, em estudos
epidemiológicos, exames repetidos são inviáveis economicamente, com praticidade
diminuída (ENK et al., 2008; UTZINGER et al., 2000).
Os ensaios para detecção de antígenos circulantes vêm demonstrando
resultados satisfatórios para o diagnóstico oportuno, oferecendo estratégias
complementares promissoras ao exame parasitológico tradicional (SIQUEIRA et al.,
2016; COLLEY et al., 2013). Nesse estudo, a taxa de positividade determinada pelo
POC-CCA foi superior à determinada pela técnica de Kato-Katz mesmo com três
lâminas. Entre os escolares a taxa passou de 0% pelo método Kato-Katz para 1,9%
pelo teste rápido. Já entre os trabalhadores do canteiro de obras, a taxa, também, foi
superior, passando de 1,4% para 2,2%, quando os resultados traços foram
considerados positivos. A concordância entre a técnica imunológica e a
parasitológica foi melhor quando considerado o traço como negativo, como descrito
em outro lugar (COULIBALY et al., 2013).
O POC-CCA apresenta algumas vantagens adicionais em relação às
técnicas parasitológicas tradicionais: por utilizar como amostra biológica a urina,
permite maior adesão ao diagnóstico por ser menos constrangedor às pessoas
avaliadas; além da facilidade na execução da técnica e praticidade dos kits, sendo
aplicável a testagem em grandes populações. No entanto, a interpretação dos
resultados dos testes POC-CCA requer estudos adicionais, pois a distinção entre
leituras positivas e traços é subjetiva e requer padronização dos limiares a serem
usados para a interpretação visual dos resultados.
De qualquer forma, apesar das limitações acima mencionadas e de
algumas divergências entre as metodologias empregadas, a combinação mostrou-se
uma estratégia diagnóstica efetiva para obter melhor estimativa da taxa de infecção
por S. mansoni nesta área, que historicamente possui baixa endemicidade.
187
Ressalta-se que a OMS delineou um plano global para integrar o acesso
à água, saneamento e serviços de higiene com quatro outras intervenções de saúde
pública para acelerar o progresso global de controle de DTNs até 2020, no qual a
esquistossomose está como uma das prioridades (WHO, 2012). Juntamente com os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), abrem-se espaços estratégicos
em agendas globais e nacionais para o desenvolvimento de ações integradas de
controle (ONU, 2015).
Apesar da baixa positividade encontrada na área de estudo, a dinâmica
de transmissão da esquistossomose persiste nessa região, podendo sofrer influência
com a chegada das águas do Rio São Francisco. São necessários investimentos
nas ações de vigilância em especial com utilização de técnicas mais sensíveis e
adequadas a essa realidade, além da realização de estudos sistemáticos sobre o
impacto do maior projeto hídrico em construção no Brasil em toda a área de
influência, antes, durante e após a construção.
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193
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do estudo ecológico inserido nesta tese foi possível reconhecer ao
longo dos 16 anos avaliados (2000-2015) a relevância da esquistossomose no Brasil
a partir dos padrões de distribuição espacial, temporal e espaço-temporal da
mortalidade relacionada. Mesmo com a tendência geral de redução no coeficiente de
mortalidade médio nacional, a doença permanece como um problema de saúde
pública significativo que necessita de maior priorização por parte das autoridades de
saúde do País.
A análise dos coeficientes de mortalidade reconheceu níveis mais
expressivos em grupos de maior idade. E, entre crianças e adolescentes, o
coeficiente foi menor, sendo provavelmente um reflexo da recomendação em
períodos mais recentes de focarlizar no diagnóstico e tratamento de crianças em
idade escolar. Ainda por meio destas análises, outro grupo que apresentou elevados
coeficientes de mortalidade e com certa estabilidade com o passar do tempo foram
os indivíduos de raça/cor parda, fato possivelmente ligado à condições inadequadas
de moradia, com baixa cobertura dos serviços de abastecimento de água tratada e
da rede de coleta e tratamento de esgoto, traduzindo contextos de vulnerabilidade
individual e social.
As análises de clusters permitiram observar uma tendência temporal de
aumento no risco de morte por esquistossomose em municípios localizados em
áreas altamente endêmicas no litoral da Região Nordeste, que ainda mantêm
territórios com índices significativos de morbimortalidade desse agravo. Essas áreas
reúnem condições ecológicas e de organização do espaço favoráveis a manutenção
da transmissão da doença, que associados à vulnerabilidade social e individual
amplificam os riscos de transmissão. Essas condições somam-se ainda aos hábitos
culturais relacionados principalmente a contatos constantes com águas
contaminadas com cercárias (por necessidade de trabalho ou por falta de opção de
lazer), tornando o controle da doença ainda mais difícil.
Nesse cenário insere-se a maior obra de engenharia hídrica do país, o
PISF, que tem o potencial de possibilitar a ampliação das áreas de risco de
transmissão da doença. A partir do estudo de áreas de importância epidemiológica
no estado do Ceará foi possível identificar a presença de fatores determinantes e
condicionantes para a ocorrência da doença, como a existência de coleções hídricas
194
altamente povoadas por caramujos vetores de Schistosoma mansoni, além da
presença de indivíduos positivos entre as populações sentinelas avaliadas. Outro
ponto importante a ser destacado é a intensa migração humana nessa região, por
conta da abertura de postos de trabalhos em função das obras da transposição com
presença de migrantes originários de diferentes áreas endêmicas para a
esquistossomose no País.
Este cenário epidemiológico descrito reforça a complexidade dos
determinantes sociais da doesnçae a urgência de discutir, no âmbito de uma
perspectiva intersetorial, a estreita relação entre saúde, meio ambiente, trabalho e
desenvolvimento social e humano. Remete-se, portanto, à elaboração de ações e
medidas efetivas de controle e prevenção da instalação de novos focos, visto que
essa região dispõe de condições necessárias para a amplificação da dinâmica de
transmissão da esquistossomose. Nesse contexto, são necessários estudos
malacológicos adicionais que contribuam para o monitoramento de caramujos
vetores da esquistossomose, e para o conhecimento mais abrangente sobre os tipos
de moluscos de água doce dessa região, e de como essas espécies serão
impactadas por essa grande obra de engenharia hídrica. Ações de saneamento
ambiental devem ser necessariamente realizadas nas coleções hídricas que
receberão as águas da transposição, a fim de evitar que estas sejam contaminadas
antes mesmo da utilização pela população deste território.
Ressalta-se ainda a necessidade de fortalecimento das ações de
promoção e educação em saúde pública, que preconizem modificações positivas
nos fatores determinantes junto a populações mais vulneráveis, visando a
conscientização e o envolvimento das comunidades afetadas pelo PISF. É
necessário o empoderamento por parte desses indivíduos em termos das
informações sobre os riscos aos quais estão (e estarão) expostos, para que se
organizem e cobrem das autoridades governamentais maiores investimentos em
infraestrutura nessas áreas com diferentes graus de endemicidade, visando a
melhoria das condições de vida de uma forma geral com vistas a reduzir a
morbimortalidade por esquistossomose.
A fim de fortalecer o programa de controle da esquistossomose nas áreas
diretamente afetadas pelo PISF, é necessário o estabelecimento de diretrizes
específicas para esses locais, como a implantação de ferramentas diagnósticas mais
sensíveis, intensificação na realização desses diagnósticos com aumento na
195
periodicidade e ampliação da população a ser investigada e, consecutivamente,
tratada. É imprescindível que os atores-chave locais (Vigilância Ambiental, Vigilância
Epidemiológica, Vigilância em Saúde do Trabalhador, Vigilância Sanitária, Agentes
de Combate à Endemias, Agentes Comunitários de Saúde, Equipes de Saúde da
Família, Equipe de Saúde da Atenção Básica, Gestores em Saúde, entre outros)
sejam sensibilizados e habilitados para a execução de investigação, controle,
prevenção e monitoramento de possíveis ocorrências da doença.
196
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Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2015. SOUSA, S. P.; FERNANDES, S. M. D.; SILVA, R. S. Esquistossomose no estado do Ceará (III): prevalência entre 1977 e 1994 nos principais municípios da área
210
endêmica. In: Encontro Universitário de Iniciação à Pesquisa. Anais... Universidade
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213
APÊNDICE A – PRODUÇÕES TÉCNICO-CIENTÍFICAS AO LONGO DO
DOUTORAMENTO
Artigos Publicados (em negrito, vinculados ao objeto desta tese)
SILVA FILHO, J. D. ; PINHEIRO, M. C. C.; CASTRO, I. M. N.; SOUSA, M. S.; GOMES, V. S.; RAMOS JUNIOR, A. N.; BEZERRA, F. S. M. Detection of schistosomiasis in an area directly affected by the São Francisco River large-scale water transposition project in the Northeast of Brazil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 50, p. 658-665, 2017.
MARTINS-MELO, F. R.; PINHEIRO, M. C. C.; RAMOS JUNIOR, A. N.; ALENCAR, C. H.; BEZERRA, F. S. M.; HEUKELBACH, J. Spatiotemporal Patterns of Schistosomiasis-Related Deaths, Brazil, 2000 2011. Emerging Infectious Diseases (Online), v. 21, p. 1, 2015.
MARTINS-MELO, F. R.; PINHEIRO, M. C. C.; RAMOS JR, A. N.; ALENCAR, C. H.; BEZERRA, F. S. M.; HEUKELBACH, J. Trends in schistosomiasis-related mortality in Brazil, 2000-2011. International Journal for Parasitology, v. 44, p. 1055-1062, 2014.
OLIVEIRA, S. M.; BEZERRA, F. S. M.; CARNEIRO, T. R.; PINHEIRO, M. C. C.; QUEIROZ, J. A. N. Association between allergic responses and Schistosoma mansoni infection in residents in a low-endemic setting in Brazil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (Impresso), v. 47, p. 770-774, 2014.
Artigos Submetidos (em negrito, vinculados ao objeto desta tese)
Bezerra, F. S. M.; Leal, J.K.; Sousa, M. S.; Pinheiro, M. C. C.; Ramos Jr., A. N.; Silva-Moraes, V.; Katz, N. Evaluation of Point-of-Care Circulating Cathodic Antigen test (POC-CCA) for detection of Schistosoma mansoni infection in a low endemic area in the northeast of Brazil. Acta Tropica. 2017.
Sousa, M. S.; Pinheiro, M. C. C.; Ramos Júnior, A. N.; Silva-Filho, J. D.; Bezerra, F. S. M. Epidemiology and predictors of occurrence of Schistosoma mansoni infection in a low-endemicity area in Northeast Brazil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 2017.
Resumos expandidos publicados em anais de congressos
OLIVEIRA, J. V. S.; SOUZA, Y. N.; PINHEIRO, M. C. C.; SOUSA, M. S.; VALENTIM, J. T.; BEZERRA, F. S. M. Desenvolvimento de atividade educacional em área endêmica para esquistossomose no município de Capistrano - CE. In: V Seminário Internacional em Promoção da Saúde, 2014, Fortaleza. V Seminário Internacional em Promoção da Saúde, 2014.
214
Resumos publicados em anais de congressos
PINHEIRO, M. C. C.; CASTRO, I. M. N.; SILVA FILHO, J. D.; SOUSA, M. S.; CAVALCANTE, C. R. O.; FONSECA, S. G. C.; BEZERRA, F. S. M.;RAMOS JUNIOR, A. N. Transposição do Rio São Francisco no Estado do Ceará: caracterização da malacofauna límnica e análises da qualidade das águas em áreas diretamente afetadas. XXV Encontro Brasileiro de Malacologia e III Simposio Latino Americano de Jovens Taxonomistas. Mossoró-RN. 2017.
PINHEIRO, M. C. C.; SILVA FILHO, J. D.; BOIGNY, R. N.; FERREIRA, A. F.; BEZERRA, F. S. M.; RAMOS JUNIOR, A. N. Schistosoma mansoni mortality in São Francisco River Integration Project Areas. XXV Congresso Brasileiro de Parasitologia, Búzios - Rio de Janeiro. 2017.
SOUSA, M. S.; PINHEIRO, M. C. C.; SILVA FILHO, J. D.; FRANCO, T. A.; RAMOS JUNIOR, A. N.; BEZERRA, F. S. M. Epidemiological characteristics and predictors of occurrence of Schistosoma mansoni infection in a low endemic area in Northeast of Brazil. XXV Congresso Brasileiro de Parasitologia, Búzios - Rio de Janeiro. 2017.
SOUSA, M. S.; PINHEIRO, M. C. C.; SILVA FILHO, J. D.; SOUZA, Y. N.; RAMOS JUNIOR, A. N.; BEZERRA, F. S. M. Evaluation of urine Point-Of-Care circulating cathodic antigen test (POC-CCA) for detection of Schistosoma mansoni infection before and after treatment in a low endemic area in Northeast of Brazil. XXV Congresso Brasileiro de Parasitologia, Búzios - Rio de Janeiro. 2017.
PINHEIRO, M. C. C.; SILVA FILHO, J. D.; SOUSA, M. S.; CASTRO, I. M. N.; GOMES, V. S.; BEZERRA, F. S. M.; RAMOS JUNIOR, A. N. Ações de controle da esquistossomose em municípios cearenses envolvidos na integração do Rio São Francisco. In: 52º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2016, Maceio. 52º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2016.
SILVA FILHO, J. D.; SOUSA, M. S.; CASTRO, I. M. N.; PINHEIRO, M. C. C.; GOMES, V. S.; FRANCO, T. A.; ALVES, T. M.; BEZERRA, F. S. M. Prevalência do Schistosoma mansoni em trabalhadores dos canteiros de obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco no Estado do Ceará. In: 52º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2016, Maceio. 52º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2016.
BEZERRA, F. S. M.; LEAL, J. K. F.; PINHEIRO, M. C. C.; SOUSA, M. S.; VALENTIM, J. T.; SOUZA, Y. N.; SANTOS, M. S. Detecção de antígeno catódico circulante (CCA) de Schistosoma mansoni na urina de moradores de área de baixa endemicidade para a esquistossomose no Nordeste do Brasil. In: 51º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical - MEDTROP, 2015, Fortaleza. Anais MEDTROP 2015 - 51° Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2015. v. 1. p. 1-1.
215
SOUSA, M. S.; PERALTA, R. H. S.; PERALTA, J. M.; PINHEIRO, M. C. C.; OLIVEIRA, J. V. S.; BEZERRA, F. S. M. Reação em cadeia da polimerase em tempo real e teste imunocromatográfico no diagnóstico da infecção por Schistosoma mansoni em uma área de baixa endemicidade. In: 51º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical - MEDTROP, 2015, Fortaleza. ANAIS MEDTROP 2015 - 51º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical - MEDTROP, 2015. v. 1. p. 1-1.
PINHEIRO, M. C. C.; SILVA FILHO, J. D.; SOUSA, M. S.; CASTRO, I. M. N.; OLIVEIRA, C. L. C. G.; BEZERRA, F. S. M.; RAMOS JUNIOR, A. N. Presença de transmissores da esquistossomose mansoni e análise das águas em coleções hídricas de áreas de influência direta da transposição do Rio São Francisco no estado do Ceará. In: 51° Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2015, Fortaleza. ANAIS MEDTROP 2015 - 51° Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2015. v. 1. p. 1-1.
SOUSA, M. S.; PERALTA, R. H. S.; PERALTA, J. M.; PINHEIRO, M. C. C.; OLIVEIRA, J. V. S.; SILVA FILHO, J. D.; SOUZA, Y. N.; BEZERRA, F. S. M. Schistosoma mansoni infection diagnosis in a low endemic area in Northeast Brazil using four different methods. In: 14° Simpósio Internacional sobre Esquistossomose, 2015, Salvador. Anais do 14° Simpósio Internacional sobre Esquistossomose, 2015. v. 1. p. 1-1.
VALENTIM, J. T.; SANTOS, M. S.; SOUSA, M. S.; PINHEIRO, M. C. C.; BEZERRA, F. S. M. Reavaliação da prevalência da esquistossomose mansoni, através do teste imunocromatográfico POC-CCA, em uma área de baixa endemicidade no Estado do Ceará. In: XXXIV Encontro de Iniciação Científica - Encontros Universitários da UFC, 2015, Fortaleza. XXXIV Encontro de Iniciação Científica - Encontros Universitários da UFC, 2015.
PINHEIRO, M. C. C.; OLIVEIRA, J. V. S.; SOUZA, Y. N.; SOUSA, M. S.; RAMOS JUNIOR, A. N.; BEZERRA, F. S. M. Educational activity in Schistosomiasis mansoni in an endemic area of Ceara. In: THE NETWORK, 2014, Fortaleza. THE NETWORK, 2014.
216
APÊNDICE B – PARTICIPAÇÃO EM PROJETOS DE PESQUISA E EM EVENTOS
CIENTÍFICOS AO LONGO DO DOUTORAMENTO
Atuação como pesquisador em projetos (em negrito, vinculados ao objeto desta tese)
Avaliação do CAA UCP-LF no Diagnóstico e Eficácia do Tratamento da Esquistossomose Mansoni através da Detecção do Antígeno Anódico Circulante na Urina e no Soro de Indivíduos Residentes em Área de Baixa Endemicidade, no Estado do Ceará, Brasil
Teste Imunocromatográfico para Diagnóstico e Avaliação do Tratamento da Esquistossomose Mansoni através da Detecção de Antígeno Catódico Circulante (CCA) na Urina de Indivíduos Residentes em Área de Baixa Endemicidade, no Estado do Ceará, Brasil
Vigilância e Controle da Esquistossomose Mansoni em Áreas de Transposição do Rio São Francisco no Estado do Ceará
Participação em eventos técnicos-científicos
Semana da Saúde UFC 2017. Tenda das Doenças Tropicais Negligenciadas. 2017. (Encontro).
Curso Revisão Sistemática Cochrane do Registro do Título á Publicaçãp. 2016. (Outra)
X Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação - Encontros Universitários da UFC. Qualidade da água e fauna malacológica em áreas diretamente afetadas pelo projeto de transposição do Rio São Francisco no estado do ceará. 2017. (Encontro).
IX Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação - Encontros Universitários da UFC. Controle da esquistossomose em municípios cearenses envolvidos na integração do Rio São Francisco. 2016. (Encontro).
VIII Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação - Encontros Universitários da UFC. Avaliação das estratégias de vigilância, prevenção e controle da esquistossomose nos municípios diretamente afetados pelas obras da transposição do Rio São Francisco no estado do Ceará. 2015. (Encontro).
VII Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação - Encontros Universitários da UFC. Transposição do Rio São Francisco e transmissão da esquistossomose no estado do Ceará: análise de potencialidades. 2014. (Encontro).
XXXI The Network - TUFH Educational Meeting. Educational activity in schistosomiasis mansoni endemic area. 2014. (Congresso).
217
Artes Cênicas
SOUZA, Y. N.; SOUSA, M. S.; PINHEIRO, M. C. C.; BEZERRA, F. S. M. Desvendando a Xistose!. Jaguaretama-CE. 2015. Teatral.
Organização de eventos, congressos, exposições e feiras
PINHEIRO, M. C. C.; OLIVEIRA, M. F.; SILVA FILHO, J. D.; COSTA, A. C.; MELGACO, F. M.; RAMOS JUNIOR, A. N. I Simpósio Cearense em Doença de Chagas. 2015.
Entrevistas, mesas redondas, programas e comentários na mídia
FERNANDO, S. M. B.; PERALTA, J. M.; CAVALCANTI, M. G.; PINHEIRO, M. C. C. Esquistossomose. 2016. (Mesa redonda - 52º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Maceio, 2016).
218
ANEXO A – PARECER E APROVAÇÃO DO COMITÉ DE ÉTICA EM PESQUISA
DE EMENDA AO PROJETO ORIGINAL
219
ANEXO B – PARECER E APROVAÇÃO DO COMITÉ DE ÉTICA EM PESQUISA
DO PROJETO ORIGINAL
220
ANEXO C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) –
ESCOLARES
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA OS
RESPONSÁVEIS PELOS ESCOLARES
Seu filho está sendo convidado a participar da pesquisa “A
Esquistossomose mansoni e o risco de dispersão nos municípios do Estado do
Ceará, envolvidos no projeto de interligação de bacias do Nordeste Setentrional.”
Que está sendo coordenada pelo Prof. Dr. Fernando Schemelzer Moraes Bezerra.
Para que seu filho possa participar é necessário que você leia este documento com
atenção. Ele pode conter palavras que você não entenda. Por favor, peça ao
responsável pelo estudo para explicar claramente qualquer palavra que você não
entenda.
A participação de seu filho é muito importante, porém, não é obrigatória.
Sua recusa não trará nenhum prejuízo para você ou para seu filho em relação ao
pesquisador ou com a instituição e mesmo assinando este documento, você terá a
liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase desta pesquisa.
O objetivo da pesquisa é determinar o risco de dispersão da
esquistossomose nos municípios envolvidos no projeto de interligação de bacias do
Nordeste setentrional com o Rio São Francisco através dos exames de fezes em
escolares de 07 a 14 anos.
“Estou sendo informado que a escola em que meu filho estuda, bem como
sua sala de aula foi sorteada para participar da pesquisa, minha participação
consiste, exclusivamente, em entregar aos agentes do estudo uma amostra de fezes
do meu filho para a pesquisa de ovos do verme que causa a esquistossomose,
permitir a coleta de uma amostra de sangue do meu filho e responder a um
questionário sobre minhas condições econômicas, sociais e sobre a
esquistossomose”.
“Estou sendo informado que com a retirada da amostra de sangue, de
meu filho, podem ocorrer um pouco de dor, devido à picada da agulha, inchaço e
aparecimento de manchas roxas no braço, que passam logo. Mas há coisas boas
que podem acontecer como descobrir a doença antes mesmo dela aparecer. Assim,
221
esse estudo ajudará a tratar a doença o mais cedo possível, diminuindo as chances
de desenvolver as complicações que ela causa. Além de ajudar na melhoria das
ações do governo para a prevenção e controle desta doença”.
“A identidade de meu filho será mantida em sigilo bem como o resultado
dos exames de fezes e sangue que serão entregues no final do inquérito. Caso o
exame do meu filho seja positivo, ele será encaminhado para tratamento médico
gratuito para as verminoses (s) detectadas, junto ao Sistema Único de Saúde”.
Após os detalhamentos informo que eu
___________________________________________________________________
concordo com este termo e que é de minha livre e espontânea vontade a decisão
que tomo, neste momento, de permitir a participação de meu filho neste estudo e
que recebi uma cópia deste documento.
_________________________-CE, ____de _________de 2014.
___________________________________________________________
Assinatura do declarante (Pai ou Responsável)
___________________________________________________________
Assinatura do pesquisador
Qualquer esclarecimento, entrar em contato com o pesquisador Fernando
Schemelzer de Moraes Bezerra pelo telefone: (85) 33668242 ou dirigir-se ao
Laboratório de Pesquisa em Parasitologia e Biologia de Moluscos do Departamento
de Análises Clínicas e Toxicológicas da Universidade Federal do Ceará - Rua
Capitão Francisco Pedro, 1210 – Rodolfo Teófilo.
Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa,
entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFC – Rua Cel.
Nunes de Melo,1127, Rodolfo Teófilo; fone: 3366-8344 – E-mail: [email protected]
222
ANEXO D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) –
TRABALHADORES
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TRABALHADORES
DOS CANTEIROS DE OBRAS INSTALADOS NO CEARÁ
O Sr(a) está sendo convidado a participar do estudo “A Esquistossomose
mansoni e o risco de dispersão nos municípios do Estado do Ceará, envolvidos no
projeto de interligação de bacias do Nordeste Setentrional”. Queremos saber qual a
situação da Esquistossomose mansoni nos trabalhadores dos canteiros de obras do
Projeto de Integração do Rio São Francisco instalados no Estado do Ceará e se
você tem está doença.
Você não precisa participar da pesquisa se não quiser, é um direito seu.
Não terá nenhum problema se desistir. Se você concordar em participar da
pesquisa, irá fornecer informações básicas como nome completo, data de
nascimento e telefone para contato. Você terá que realizar uma coleta de sangue e
entregar uma amostra de fezes e de urina para que se façam exames nesses
materiais e poder avaliar se você tem ou não esta parasitose.
Com a retirada de sangue podem ocorrer um pouco de dor, devido à
picada da agulha, inchaço e aparecimento de manchas roxas no braço, que passam
logo. Mas há coisas boas que podem acontecer como descobrir a doença antes
mesmo dela aparecer. Assim, esse estudo ajudará a tratar a doença o mais cedo
possível, diminuindo as chances de desenvolver as complicações que ela causa.
Ninguém saberá que você está participando da pesquisa, não falaremos a
outras pessoas, nem daremos a estranhos as informações que você nos der. Os
resultados da pesquisa vão ser publicados, mas sem identificar os resultados de
cada participante da pesquisa. Se você tiver alguma dúvida, você pode me
perguntar ou perguntar ao pesquisador Fernando Schemelzer de Moraes Bezerra.
Eu escrevi os telefones na parte de baixo desse texto.
Eu________________________________________________________
aceito participar da pesquisa “A Esquistossomose mansoni e o risco de dispersão
nos municípios do Estado do Ceará, envolvidos no projeto de interligação de bacias
do Nordeste Setentrional”, que tem como objetivo principal saber qual a situação da
Esquistossomose nos canteiros de obras. Entendi as coisas ruins e as coisas boas
223
que podem acontecer. Entendi que posso dizer “sim” e participar, mas que, a
qualquer momento, posso dizer “não” e desistir, pois não vai ter nenhum problema
para mim. Os pesquisadores tiraram minhas dúvidas e conversaram com os meus
responsáveis. Recebi uma cópia deste termo de assentimento e li e concordo em
participar da pesquisa.
Após eu ____________________________________________________
ter lido o presente consentimento livre e esclarecido e compreendido seus termos, o
Sr.(a) deverá assiná-lo em duas vias, fornecendo uma delas para o pesquisador e
ficando com a outra.
_________________________-CE, ____de _________de 2015.
___________________________________________________________
Assinatura do participante
___________________________________________________________
Assinatura do pesquisador
Qualquer esclarecimento, entrar em contato com o pesquisador Fernando
Schemelzer de Moraes Bezerra pelo telefone: (85) 33668242 ou dirigir-se ao
Laboratório de Pesquisa em Parasitologia e Biologia de Moluscos do Departamento
de Análises Clínicas e Toxicológicas da Universidade Federal do Ceará.
Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa,
entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFC – Rua Cel.
Nunes de Melo,1127, Rodolfo Teófilo; fone: 3366-8344 – E-mail: [email protected]
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ANEXO E – TERMO DE ASSENTIMENTO
TERMO DE ASSENTIMENTO
Você está sendo convidado para participar da pesquisa “A
Esquistossomose mansoni e o risco de dispersão nos municípios do Estado do
Ceará, envolvidos no projeto de interligação de bacias do Nordeste Setentrional”.
Seus pais permitiram que você participasse. Queremos saber qual a situação da
Esquistossomose em seu município e se você tem esta doença.
Você não precisa participar da pesquisa se não quiser, é um direito seu.
Não terá nenhum problema se desistir. Se você concordar em participar da
pesquisa, irá responder, com a ajuda dos seus pais, perguntas sobre a
Esquistossomose e dados sobre a casa onde moram e sobre a renda da família.
Você terá que realizar uma coleta de sangue após as entrevistas e entregar fezes
para que se façam exames nesses materiais também, para poder fazer o exame e
ver se está doente ou não.
Com a retirada de sangue podem ocorrer um pouco de dor, devido à
picada da agulha, inchaço e aparecimento de manchas roxas no braço, que passam
logo. Mas há coisas boas que podem acontecer como descobrir a doença antes
mesmo dela aparecer. Assim, esse estudo ajudará a tratar a doença o mais cedo
possível, diminuindo as chances de desenvolver as complicações que ela causa.
Ninguém saberá que você está participando da pesquisa, não falaremos a
outras pessoas, nem daremos a estranhos as informações que você nos der. Os
resultados da pesquisa vão ser publicados, mas sem identificar as crianças que
participaram da pesquisa. Se você tiver alguma dúvida, você pode me perguntar ou
perguntar ao pesquisador Fernando Schemelzer de Moraes Bezerra. Eu escrevi os
telefones na parte de baixo desse texto.
Eu________________________________________________________
aceito participar da pesquisa “A Esquistossomose mansoni e o risco de dispersão
nos municípios do Estado do Ceará, envolvidos no projeto de interligação de bacias
do Nordeste Setentrional”, que tem como objetivo principal saber qual a situação da
Esquistossomose nos moradores da localidade onde eu moro e avaliar as ações do
programa de controle da esquistossomose em meu município. Entendi as coisas
ruins e as coisas boas que podem acontecer. Entendi que posso dizer “sim” e
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participar, mas que, a qualquer momento, posso dizer “não” e desistir, pois não vai
ter nenhum problema para mim. Os pesquisadores tiraram minhas dúvidas e
conversaram com os meus responsáveis. Recebi uma cópia deste termo de
assentimento e li e concordo em participar da pesquisa.
_________________________-CE, ____de _________de 2014.
___________________________________________________________
Assinatura do menor
___________________________________________________________
Assinatura do pesquisador
Qualquer esclarecimento, entrar em contato com o pesquisador Fernando
Schemelzer de Moraes Bezerra pelo telefone: (85) 33668242 ou dirigir-se ao
Laboratório de Pesquisa em Parasitologia e Biologia de Moluscos do Departamento
de Análises Clínicas e Toxicológicas da Universidade Federal do Ceará - Rua
Capitão Francisco Pedro, 1210 – Rodolfo Teófilo.
Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa,
entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFC – Rua Cel.
Nunes de Melo, 1127, Rodolfo Teófilo; fone: 3366-8344 – E-mail: [email protected]