UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ … Universidade Federal do Ceará-UFC Ao professor João Figueredo,...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO TEORIA E PRÁTICA DO ENSINO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FRANCIONE CHARAPA ALVES AÇÃO TUTORIAL NA EDUCAÇÃO SUPERIOR EM DOIS PROGRAMAS: PET/BRASIL E PTM23/PORTUGAL FORTALEZA 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR

FACULDADE DE EDUCAO

DEPARTAMENTO TEORIA E PRTICA DO ENSINO

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO

FRANCIONE CHARAPA ALVES

AO TUTORIAL NA EDUCAO SUPERIOR EM DOIS PROGRAMAS:

PET/BRASIL E PTM23/PORTUGAL

FORTALEZA

2016

1

FRANCIONE CHARAPA ALVES

AO TUTORIAL NA EDUCAO SUPERIOR EM DOIS PROGRAMAS: PET/BRASIL E

PTM23/PORTUGAL

Tese apresentada ao Programa de de Ps-

graduao em Educao da Universidade Federal

do Cear, como parte dos requisitos para obteno

do ttulo de Doutor em Educao. rea de

Concentrao: Educao, Currculo e Ensino.

Orientadora: Prof. Dr. Meirecele Calope

Leitinho

Coorientadora: Prof Dr. Patrcia Helena

Carvalho Holanda

FORTALEZA

2016

2

0

FRANCIONE CHARAPA ALVES

AO TUTORIAL NA EDUCAO SUPERIOR EM DOIS PROGRAMAS: PET/BRASIL

E PTM23/PORTUGAL

Tese apresentada ao Doutorado em Educao

do Departamento de Teoria e Prtica da

Universidade Federal do Cear, como parte

dos requisistos para obteno do ttulo de

Doutor em Educao. rea de Concentrao:

Educao, Currculo e Ensino.

Aprovada em: ____/ ____/ ______

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

Prof Dr. Meirecele Calope Leitinho (Orientadora)

Universidade Federal do Cear (UFC)

_________________________________________________

Prof Dr. Patrcia Helena Carvalho Holanda

Universidade Federal do Cear (UFC)

_________________________________________________

Prof Dr. Ana Maria Iorio Dias

Universidade Federal do Cear (UFC)

_________________________________________________

Prof Dr. Francisca Rejane Bezerra Andrade

Universidade Estadual do Cear (UECE)

_________________________________________________

Prof. Dr. Jos Albio Moreira de Sales

Universidade Estadual do Cear (UECE)

1

Deus, a quem consagro tudo o que sou, tudo

o que tenho e tudo o que fao!

Nossa Senhora, pelo amor singelo e

maternal!

minha famlia pelo amor e apoio

incondicional, e por entenderem as minhas

ausncias!

Jean Claude Lachaud, meu bem precioso (in

memoriam), por todo amor, doao, carinho,

companheirismo, pelos ensinamentos de afeto!

Saudade o amor que fica!

professora Cludia Maria Magalhes

Grangeiro (in memoriam).

Aos que colaboraram com a pesquisa no Brasil

e em Portugal.

2

AGRADECIMENTOS

Gratido algo que deve nos acompanhar durante toda a vida. O que aqui est

escrito no bastar para expressar o que sinto. E, se, porventura, no calor das emoes, eu me

esquecer de citar algum nome, peo perdo! Nestas pginas ficaro impressas no somente

palavras, mas o sentimento de um caloroso: MUITO OBRIGADA!

Ao divino... amor que me move, razo do meu existir!

Deus em primeiro lugar. Que mesmo na minha pequenhez me acolhe em

momentos to meus! E Nossa Senhora, minha mezinha, pela Sua proteo!

Aos laos familiares... histrias de amor primeiro!

minha famlia por me ensinar o significado e o sentido de : amor, famlia, afeto,

paternidade, maternidade, solidariedade, luta, irmandade, e doao.

Ao meu pai, Francisco Carneiro Alves, que me ensinou a conquistar uma vida

com muito trabalho, doao e honradez!

Mainha, Francisca Charapa Alves, que significa a fora e a f da mulher na

minha vida!

Aos meus irmos Francisco Fredson, Alan Carlos e Ccero Ricardo, por seguirem

os passos de nossos pais e serem irmos to amorosos!

s minhas irms Ftima, Ktya Elyzabeth, irms pra toda hora, amor demais!

Aos meus sobrinhos: Clara e Joo, Nicolle, Arthur, Nichollas e Eduardo, Letcia

e Guilherme, Ana Beatriz, Gabriel, gotas de alegria que Deus me deu!

Aos professores da escola e da vida... outros laos... outras histrias de afeto!

minha orientadora Dr Meirecele Calope Leitinho pelos ensinamentos e pelo

carinho e pela compreenso! Pela dedicao sem medida. Por me dar a oportunidade de ser

sua orientanda! Meu respeito e meu afeto!

professora Dr Patrcia Holanda por partilhar de conhecimentos e sentimentos!

professora Socorro Lucena pelas suas palavras to sbias e humanas!

professora Ana Irio por me ensinar muito de afeto e de humanidade na

educao.

3

Ao professor lbio Sales, pela participao na minha formao como

pesquisadora!

professora Rejane pelas contribuies dadas para o aprimoramento da tese!

A todos os professores da Universidade Federal do Cear- UFC que contriburam

para a minha formao nessa trajetria do doutorado.

Aos amigos antigos... outros nem to antigos assim:

Meire, Yana, Palmira, Marilene, pela amizade que perpassa o tempo!

s filhinhas do Cariri, Ana Maria, Gercilene, Katyane, pela convivncia, por

vezes diria, ainda lembraremos muito dessas experincias de irmandade!

Inamb, pela amizade pela fora.

A Nilson, Andra, Artur, Andr e Mrcia, Fernando, Danzinho, presentes que

Deus me deu, irmos de partilha de vida!

Jaqueline pelas demonstraes de amizade.

Lia Freitas pela disponibilidade em ajudar.

A Cssio, pelo profissionalismo, pelas escutas e conselhos em final da escrita!

Na Universidade Estadual do Cear- UECE

Aos meus queridos colaboradores da pesquisa: interlocutoras, tutores e tutorandos

do PET.

Aos professores Andrea Pereira, Tarcileide, Cludia Magalhes, Joo Rameres,

Dafne Paiva, Manuela Barros, Helena Frota, Oriel Herrera, Jerffeson Teixeira.

Na Universidade Federal do Cear-UFC

Ao professor Joo Figueredo, Felipe, Flvio, Alice, Marlia, pelo aprendizado na

Comisso de Bolsas.

A Srgio, Geza, Adalgiza, Ariadna, pelos servios prestados a ns alunos!

Aos colegas do grupo de avaliao curricular, especialmente Elivnia, Germana e

Aline pelas partilhas em muitas quintas-feiras de estudo.

Rochely pela partilha e pela amizade.

E nos momentos finais, duas pessoas especiais... uma mensagem de despertar...

4

"E de repente, num dia qualquer, acordamos e percebemos que j podemos lidar

com aquilo que julgvamos maior que ns mesmos. Porque no foram os abismos que

diminuram, mas ns que crescemos". (Fabola Simes)

Paulinha, uma irm em meu caminho, histrias to iguais!

A Felipe, o seu exemplo de fortaleza me incentivou nesta caminhada!

Lisboa...aos de Lisboa!

Larrossa nos diz que A experincia o que nos passa, o que nos acontece, o que

nos toca (LARROSA, 2002, p.21). Grata pela experincia que tive em Portugal,

especialmente a Lisboa, este lugar lindo que faz parte da minha histria de vida! Pela

oportunidade de caminhar s mrgens do Tejo. E s pessoas com quem convivi!

Na Avenida Almirante Reis... nos arredores da Alameda Dom Afonso Henriques, nunca

esquecerei!

Ao meu querido Jean, por tudo que me proporcionou, abrindo as portas deste

caminho para mim. De onde tudo comeou!

Aos queridos amigos da pastelaria Fonte da Alameda: Ao Sr. Graa, pelas

demonstraes de amizade, carinho e respeito; Lourdes, Filomena, Dona Maria Joo, Dona

Nazar, Dona Tica, Dona Antonieta, e todos aqueles que me deram palavras de fora; Nuno,

Tereza, Lina, isabel e famlia, pelos cafs da tardinha, cheios de risos! Ao Z, amigo com

sorriso sempre aberto!

Aos queridos Sr Gracinda e Sr. Joaquim, pelo carinho e ateno!

Na Universidade de Lisboa...

professora Ana Margarida Veiga Simo, por abraar esta causa dos M23, pelo

seu profissionalismo e conhecimentos partilhados.

Aos meus queridos alunos Maiores de 23 que colaboraram com a minha pesquisa,

sem vocs nada disso seria possvel!

Arlete Verhaeghe, Clia, Ana Marques, Sofia Francisco, Adriana, Ins, Edna

Correia, Jos Carlos, Marlene Igreja, Carolina Mangana, Bruno Fernandes, Andr, pela

disponibilidade, ateno e abertura!

Silvana, Tereza Silva, Suammy, Sidclay, Nbia, Helen, Carmedite, cadinhos de

Brasil na Universidade de Lisboa.

5

Em Alcntara, naquela casinha branca de quintal ensolarado: havia flores, havia calor

humano, havia havia Patrcia e Brbara!

Brbara, por dividir comigo momentos to importantes!

Patrcia pelo acolhimento incondicional, a companhia, o carinho, por

compartilhar espaos, sentimentos de irmandade! Momentos que ficaro para sempre na

minha memria!

Outras amizades alm mar...

s famlias: Arnaldo e Aldair e Stfano; Giovanna e Jos; Adriana Kovcs, Peter

e Eduardo, pelos momentos de partilha, pela amizade e pelo carinho.

Tina, pelo apoio e pela amizade.

Ccile e Carlos, irmos que a vida me deu, sou grata por vocs existirem, pelo

carinho e pela amizade que fica para sempre!

s instituies...do Brasil e de Portugal!

Universidade Federal do Cear- UFC pela formao que tenho recebido.

Universidade de Lisboa, espao de realizao do Doutorado Sanduche.

UECE por ceder o espao para a investigao.

CAPES pelo financiamento da pesquisa no Brasil e em Portugal!

Ao meu Brasil, quando estive alm mar de ti senti saudades!

todos que participaram direta ou indiretamente na escrita desta colcha de

retalhos que compem a tese e que se misturam com a vida. Tese e vida, vida e tese.

E penso que assim mesmo que a vida se faz de pedaos de outras gentes que

vo se tomando parte da gente tambm. E a melhor parte que nunca estaremos prontos,

finalizados...haver sempre um retalho novo para adicionar alma. Portanto, obrigada a

cada um de vocs, que fazem parte da minha vida e que me permitem engrandecer minha

histria com os retalhos deixados em mim. Que eu tambm possa deixar pedacinhos de mim

pelos caminhos e que eles possam ser parte das suas histrias(Cora Coralina).

6

RESUMO

A presente pesquisa teve como objeto de estudo a ao tutorial na Educao Superior e como

objetivo geral: compreender como se constitui a ao tutorial no Programa de Educao

Tutorial (PET) da Universidade Estadual do Cear (UECE) e no Programa de Tutoria Maiores

de 23 (PTM23) da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa (FP-UL) em seus

aspectos terico-prticos e poltico-pedaggicos. Utilizamos a metodologia do Discurso do

Sujeito Coletivo-DSC que se fundamenta na Teoria das Representaes Sociais (atribuio de

sentido de sujeitos) para tratamento dos dados do tipo depoimentos coletados em discursos

verbais ou escritos. O resgate dos discursos ocorreu em dois momentos: na etapa I, no Brasil,

realizamos entrevistas semiestruturadas com duas interlocutoras e com sete tutores; e grupos

de discusso com 68 petianos. Na etapa II, em Portugal, fizemos entrevistas semiestruturadas

com duas coordenadoras; duas tutoras; e oito alunos Maiores de 23. A anlise foi realizada

partir da criao de eixos discursivos organizados por grupos de atores sociais com base nas

ancoragens para a criao dos DSCs. Os referenciais terico-metodolgicos da pesquisa

centraram-se nas construes de Sacristn (2000), Macedo (2008, 2011, 2013), Veiga Simo,

Flores (2005); Baudrit (2009), lvarez Prez e Gonzlez Afonso (2008), Leitinho (2008),

Zabalza (2011), Lefvre e Lefvre (2005, 2010), dentre outros. Os achados revelaram que h

uma necessidade de formao dos tutores e no tocante prtica, a ao tutorial

multidimensional, enriquecendo profissionalmente os tutores, dando-lhes oportunidade de

mltiplas aprendizagens, e para os alunos ela promove o seu desenvolvimento pessoal,

acadmico e profissional para atuarem em sociedade. Conclumos que o conceito de tutoria

no uniforme, havendo tutorias diversas, sendo que cada uma atende a necessidades

especficas em contextos diferenciados. O desenvolvimento da tutoria deve ocorrer de

maneira sistematizada e adaptada s realidades, por meio da superao das dificuldades e dos

desafios que se apresentam, tornando-se importante a institucionalizao de suas prticas.

Nesse sentido, a tutoria necessita de avaliao constante promovendo uma melhoria de

qualidade das suas aes, o que ir repercurtir nas metodologias de ensino e de aprendizagem,

na gesto, no currculo, enfim, em toda a instituio e para aqueles que dela se beneficiam.

Palavras-chave: Ao tutorial. Tutoria. Educao Superior. Programa de Educao Tutorial

(PET). Programa de Tutoria Maiores de 23 (PTM23).

7

ABSTRACT

The present study had as object of study the tutorial action in Higher Education and as a

general objective: to understand how the tutorial action is constituted in the Program of

Tutorial Education (PET) of the State University of Ceara (UECE) and in the Tutoring

Program Over 23 (PTM23) of the Faculty of Psychology of the University of Lisbon (FP-UL)

in its theoretical-practical and political-pedagogical aspects. We used the methodology of the

Discourse of the Collective Subject-DSC that is based on the Theory of Social

Representations (attribution of sense of subjects) for the treatment of the data of the type

testimonies collected in verbal or written discourses. The rescue of the speeches occurred in

two moments: in stage I, in Brazil, we conducted semi-structured interviews with two

interlocutors and with seven tutors; and discussion groups with 68 petianos. In stage II, in

Portugal, we conducted semi-structured interviews with two coordinators; two tutors; and

eight students "Over 23". The analysis was carried out from the creation of discursive axes

organized by groups of social actors based on the anchorages for the creation of the DSCs.

The theoretical-methodological references of the research centered on the constructions of

Sacristn (2000), Macedo (2008, 2011, 2013), Veiga Simo, Flores (2005); Baudrit (2009),

lvarez Prez and Gonzlez Afonso (2008), Leitinho (2008), Zabalza (2011), Lefvre and

Lefvre (2005, 2010), among others. Results revealed that there is a need for tutors training

and in concerning practice, the tutorial action is multidimensional, professionally enriching

the tutors, giving them the opportunity for multiple learnings, and for the students it promotes

their personal, academic and professional development to act in society. We concluded that

the concept of tutoring is not uniform and there are several "tutorials", each of which attends

to specific needs in different contexts. The development of the tutoring should take place in a

systematized way and adapted to the realities, by overcoming the difficulties and the

challenges that are presented, making it important to institutionalize their practices. In this

sense, tutoring requires constant evaluation, promoting an improvement in the quality of its

actions, which will impact on teaching and learning methodologies, on management, on the

curriculum, in the end, on the whole institution and for those who benefit from it.

Keywords: Tutorial action. Tutoring. College education. Tutorial Education Program (PET).

Tutoring Program Over 23 (PTM23).

8

RESUM

Cette recherche a eu pour objet dtude laction de tutorat dans lEnseignement Suprieur et

comme objectif gnral : comprendre comment est l'action de tutorat dans le Programme

dEnseignement Tutoriel (PET) de l'Universit d'tat du Cear (UECE) et dans le Programme

de Tutorat Plus de 23 (PTM23) de la Facult de Psychologie de lUniversit de Lisbonne (FP-

UL) dans leurs aspects thoriques, pratiques, pdagogiques et politiques. Nous avons utilis la

mthodologie du Discours du Sujet Collectif - DSC qui repose sur la Thorie des

Reprsentations Sociales (attribution de signification des sujets) pour le traitement de donnes

de type tmoignages collectes dans des discours oraux ou crits. Le sauvetage des discours a

eu lieu en deux phases : dans la phase I, au Brsil, nous avons men des entretiens semi-

structurs avec deux interlocuteurs et sept tuteurs; et des groupes de discussion avec 68

participants du PET. Dans la phase II, au Portugal, nous avons men des entretiens semi-

structurs avec deux coordinateurs; deux tuteurs; et huit tudiants "Plus de 23". L'analyse a

t ralise partir de la cration d'axes discursifs organiss par des groupes dacteurs sociaux

sur la base des points d'ancrage pour la cration de DSCs. Les cadres thorique et

mthodologique de la recherche sont axs sur les constructions de Sacristn (2000), Macedo

(2000, 2011, 2013), Veiga Simo, Flores (2005); Baudrit (2009), lvarez Prez et Gonzlez

Afonso (2008), Leitinho (2008), Zabalza (2011), Lefvre et Lefvre (2005, 2010), parmi

dautres. Les rsultats ont rvl quil y a un besoin en formation des tuteurs et l'gard de la

pratique, laction de tutorat est multidimensionnelle, enrichissant professionnellement les

tuteurs, en leur donnant la possibilit d'apprentissages multiples et, pour les tudiants, elle

favorise leur dveloppement personnel, acadmique et professionnel pour tre acteurs dans la

socit. Nous concluons que le concept de tutorat nest pas uniforme, avec des tutorats

divers, dont chacun rpond aux besoins spcifiques dans des contextes diffrents. Le

dveloppement du tutorat doit tre systmatique et adapt aux ralits, en surmontant les

difficults et les dfis, d'o limportance de linstitutionnalisation de leurs pratiques. En ce

sens, il faut valuer constamment le tutorat pour promouvoir lamlioration de la qualit de

ses actions, ce qui aura des rpercussions dans les mthodologies d'enseignement et

d'apprentissage, la gestion, les programmes scolaires, enfin, dans toute l'organisation et pour

ceux qui en bnficient.

Mots-cls: Action de tutorat, Tutorat, Enseignement Suprieur, Programme dEnseignement

Tutoriel (PET), Programme de Tutorat Plus de 23 (PTM23).ional, enriquecendo pronalmente

9

os tutores, dando-lhes oportunidade de mltiplas aprendizagens, e para os alunos ela

envolve asiLISTA DE ILUSTRAES

Figura 1 Desenho do Percurso metodolgico 37

Figura 2 Programa e Projeto que assistem os alunos M23 123

Figura 3 Estrutura do Projeto de Tutoria M23 (PTM23) 125

Figura 4 Sujeitos envolvidos no PTM23 127

10

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Figuras metodolgicas do DSC 35

Quadro 2 Campo social de investigao 38

Quadro 3 Distribuio dos sujeitos da pesquisa de acordo com a IES 39

Quadro 4 Datas dos encontros com os Grupos PET-UECE 45

Quadro 5 Datas das entrevistas com tutores e interlocutores do PET-UECE 46

Quadro 6 Datas das entrevistas com sujeitos do PTM23 48

Quadro 7 Seleo de teses e dissertaes do Banco de Teses Capes relacionadas

ao tema da Formao do Tutor

52

Quadro 8 Seleo de teses e dissertaes do Banco de Teses Capes relacionadas

ao tema da Prtica do Tutor

53

Quadro 9 Seleo de textos do Portal Peridicos Capes (CaF) para tema da

tutoria no Ensino Superior

58

Quadro 10 Seleo das dissertaes e teses do RCAAP sobre tutoria 62

Quadro 11 Seleo dos artigos RCAAP sobre tutoria 64

Quadro 12 Seleo das dissertaes e teses do RCAAP sobre Maiores de 23 65

Quadro 13 Seleo dos artigos da temtica Maiores de 23 66

Quadro 14 Dimenses tutoriais 79

Quadro 15 Funes Tutoriais 80

Quadro 16 Tarefas do tutor 88

Quadro 17 Histrico de Editais MEC/SESu para Criao de Novos Grupos PET 107

Quadro 18 Campus da UECE 111

Quadro 19 Resumo do planejamento de atividades dos grupos PET UECE - 2015 113

Quadro 20 Modelo do Instrumento de Anlise dos Discursos - IAD 129

11

LISTA DE GRFICOS

Grfico 1 Eixos e sub-eixos discursivos de anlise dos discursos dos tutores - PET 132

Grfico 2 Eixo das concepes de tutoria no PET com suas ancoragens 133

Grfico 3 Eixo e sub-eixos da prtica da tutoria no PET com suas respectivas

ancoragens

136

Grfico 4 Eixo e sub-eixos da formao para o exerccio a tutoria no PET com

suas respectivas ancoragens

146

Grfico 5 Eixo do perfil do tutor e suas ancoragens 152

Grfico 6 Eixo da relao currculo e tutoria e suas ancoragens 155

Grfico 7 Eixo da trade: ensino, pesquisa e extenso e suas ancoragens 158

Grfico 8 Eixo da avaliao e suas ancoragens 159

Grfico 9 Eixo dos aspectos institucionais e normativos e suas respectivas

ancoragens

164

Grfico 10 Eixos e sub-eixos discursivos de anlise dos discursos dos tutorandos

PET

167

Grfico 11 Eixo das concepes de tutoria e suas respectivas ancoragens 168

Grfico 12 Eixo do perfil do tutor e suas respectivas ancoragens (tutorandos) 170

Grfico 13 Eixo da prtica e sub-eixos e suas respectivas ancoragens (tutorandos) 171

Grfico 14 Eixo de expectativas dos tutorandos em relao a mudana de tutor e

suas respectivas ancoragens (tutorandos)

176

Grfico 15 Eixos e sub-eixos da tutoria no PTM23 181

Grfico 16 Eixo das concepes de tutoria no PTM23 e suas ancoragens 182

Grfico 17 Eixo e sub-eixos da prtica no PTM23 e suas respectivas ancoragens 184

Grfico 18 Eixo e sub-eixos da Formao no PTM23 e suas ancoragens 190

Grfico 19 Eixo do perfil do tutor e suas ancoragens 192

Grfico 20 Eixo da avaliao e suas respectivas ancoragens 194

Grfico 21 Eixos e sub-eixos das concepes dos tutorandos sobre o PTM23 198

Grfico 22 Eixo das concepes de tutoria e suas ancoragens (tutorandos) 198

Grfico 23 Eixo da prtica do PTM23 e suas ancoragens (tutorandos) 200

Grfico 24 Eixo do perfil do tutor no PTM23 e suas ancoragens (tutorandos) 204

Grfico 25 Eixo da avaliao do PTM23 e suas ancoragens (tutorandos) 205

12

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CAPES Coordenao de Apoio e Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

CED Centro de Educao

CECITEC Centro de Educao, Cincias e Tecnologia da Regio dos Inhamuns

CH Centro de Humanidades

CESA Centro de Estudos Sociais Aplicados

CCS Centro de Cincias da Sade

CCT Centro de Cincias e Tecnologia

CLAA Comit Local de Acompanhamento e Avaliao

DEPEM Departamento de Projetos Especiais de Modernizao e Qualificao do

Ensino Superior

EaD Educao a Distncia

ENCEPET Encontro Cearense dos grupos PET

ENEPET Encontro Nordestino dos grupos PET

ENAPET Encontro Nacional dos grupos PET

FP Faculdade de Psicologia

FECLI Faculdade de Educao, Cincias e Letras de Iguatu

FAEC Faculdade de Educao de Crates

FACEDI Faculdade de Educao de Itapipoca

FAFIDAM Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos

FAVET Faculdade de Veterinria

FECLESC Faculdade de Educao, Cincias e Letras do Serto Central

FUNCAP Fundao Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico-

IES Instituio de Ensino Superior

ISCB Instituto Superior de Cincias Biomdicas

MEC Ministrio da Educao (Brasil)

ME Ministrio da Educao (Portugal)

M23 Maiores de 23

MOB Manual de Orientaes Bsicas

PET Programa de Treinamento Especial (antiga denominao)

13

PET Programa de Educao Tutorial (nomenclatura atual do programa)

PROGRAD Pr-Reitoria de Graduao

PROPGPq Pr-Reitoria de Ps-Graduao e Pesquisa

PPGEB Programa de Ps-Graduao em Educao Brasileira

PTM23 Programa de Tutoria Maiores de 23

SESU Secretaria de Educao Superior

SIGPET Sistema de Gerenciamento de bolsas do PET

UECE Universidade Estadual do Cear

UL Universidade de Lisboa

UAB Universidade Aberta do Brasil

UFC Universidade Federal do Cear

14

SUMRIO

1 INTRODUO

21

2 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO: FUNDAMENTAO E PERCURSO

METODOLGICO

31

2.1 Fundamentao terica do Discurso do Sujeito Coletivo-DSC: Teoria das

Representaes Sociais e Teoria da Reproduo Social

31

2.2 Mtodo Discurso do Sujeito Coletivo (DSC): princpios bsicos e conceitos

fundamentais

34

2.3 Percurso metodolgico

36

2.3.1 Campo social da investigao

38

2.3.2 Atores/Agentes sociais da pesquisa

39

2.4 Resgate do Pensamento Coletivo

40

2.4.1 Instrumentos e tcnicas

40

2.4.2 Passo a passo do resgate do pensamento coletivo: Campo Social I e II

42

2.5 Anlise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) dos atores sociais

49

2.6 O Estado da questo

51

2.6.1 Banco de Teses Capes

51

2.6.2 Portal Peridicos Capes

57

2.6.3 Portal RCAAP - Repositrio Cientfico de Acesso Aberto de Portugal

61

3 REFERENCIAL TERICO

68

3.1 Tutoria ou tutorias? Etimologia do termo e exemplos de tutoria

68

3.1.1 Concepes e configuraes atuais da tutoria na educao

76

3.1.2 A tutoria no contexto universitrio contemporneo

82

3.1.3 Desafios da docncia e da tutoria na educao superior

85

3.2 Currculo: Campos Conceituais

89

3.2.1 Os atos de currculo

93

15

4 ANLISE DO CONTEXTO SCIO-HISTRICO E SUA RELAO COM A

TUTORIA

98

4.1 Dados de Contexto do Campo Social da Pesquisa I- Programa de Educao Tutorial-

PET

99

4.1.1 Antecedentes histricos e legais da criao do PET

99

4.1.2 Da criao do Programa Especial de treinamento-PET ao Programa de Educao

Tutorial-PET

105

4.1.3 Campos Social da Pesquisa I - O Programa de Educao Tutorial na UECE

110

4.2 Dados de Contexto do Campo Social da Pesquisa II: O acesso ao Ensino Superior em

Portugal por meio dos Maiores de 23

115

4.2.1 Antecedentes histricos e legais da criao do Acesso Maiores de 23 em Portugal

115

4.2.2 Da criao do Acesso Maiores de 23

119

4.2.3 Campos Social da Pesquisa II - Contextualizao do projeto de tutoria maiores de 23 -

PTM23 na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa

121

5 REPRESENTAES DA TUTORIA PARTIR DOS DISCURSOS DOS

ATORES SOCIAIS

129

5.1 Representaes sociais da tutoria no Programa de Educao Tutorial - PET da

Universidade Estadual do Cear - UECE

131

5.1.1 Concepes de tutores e interlocutores sobre a tutoria no PET

132

5.1.2 Concepes de tutorandos sobre a tutoria no PET

167

5.2 Representaes sociais da tutoria no Programa de Tutoria Maiores de 23 da Faculdade

de Psicologia da Universidade de Lisboa

181

5.2.1 Concepes de tutores, coordenadores e professores sobre a tutoria no PTM23

181

5.2.2 Concepes de tutorandos sobre o PTM23

197

6 O DSC: UM DISCURSO DO EU AMPLIADO

209

7 REFLEXES FINAIS

216

REFERNCIAS

226

APNDICES

237

APNDICE A TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE

ESCLARECIDO

238

APNDICE B CARTA CONVITE DA ETAPA I DA PESQUISA 239

16

APNDICE C FORMULRIO DO TUTORANDO

241

APNDICE D FORMULRIO DO TUTOR

244

APNDICE E ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA TUTORES

247

APNDICE F ROTEIRO DE ENTREVISTA COM ASSESSORES

248

APNDICE G ROTEIRO DE ENTREVISTA COM EX-ASSESSORES

249

APNDICE H ROTEIRO DE GRUPO DE DISCUSSO COM

TUTORANDOS

250

APNDICE I CARTA CONVITE DA ETAPA II DA PESQUISA 252

APNDICE J GUIO DA ENTREVISTA COM TUTORADOS

(PRIMEIRO ANO)

253

APNDICE K GUIO DA ENTREVISTA COM TUTORADOS

(SEGUNDO E TERCEIRO ANO)

255

APNDICE L GUIO DA ENTREVISTA COM DOCENTE 257

APNDICE M GUIO DA ENTREVISTA COM TUTOR(A) 259

APNDICE N GUIO DA ENTREVISTA COM EX-TUTOR(A) 261

APNDICE O GUIO DA ENTREVISTA COM COORDENADORA DO

PROGRAMA

263

APNDICE P GUIO DA ENTREVISTA COM COORDENADORA DO

GAPE

265

APNDICE Q INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 1 (IAD 1)

267

APNDICE R INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 2 (IAD 2)

273

APNDICE S INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 3 (IAD 3)

278

APNDICE T INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 4 (IAD 4)

286

APNDICE U INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 5 (IAD 5)

292

APNDICE V INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 6 (IAD 6)

303

APNDICE W INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 7(IAD 7)

309

APNDICE X INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 8 (IAD 8)

315

APNDICE Y INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 9 (IAD 9)

320

APNDICE Z INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 10

325

APNDICE AA INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 11 331

17

APNDICE BB INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 12 335

APNDICE CC INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 13

347

APNDICE DD INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 14

356

APNDICE EE INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 15

362

APNDICE FF INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 16

367

APNDICE GG INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 17

373

APNDICE HH INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 18

377

APNDICE II INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 19

395

APNDICE JJ INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 20

399

APNDICE KK INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 21

401

APNDICE LL INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 22

417

APNDICE

MM INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 23

420

APNDICE NN INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 24

422

APNDICE OO INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 25

425

APNDICE PP INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 26

429

APNDICE QQ INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 27

440

APNDICE RR INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 28

443

APNDICE SS INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 29

448

APNDICE TT INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 30

450

APNDICE UU INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 31

453

APNDICE VV INSTRUMENTO DE ANLISE DE DISCURSO 32

455

21

1 INTRODUO

Esta investigao se insere no eixo de Currculo e na linha de Educao, Currculo

e Ensino (LECE) do Programa de Ps-Graduao em Educao Brasileira da Universidade

Federal do Cear (UFC) e tem como objeto de estudo a ao tutorial do tutor no Programa de

Educao Tutorial (PET) da Universidade Estadual do Cear (UECE) e no Programa de

Tutoria Maiores de 23 (PTM23)1 da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa

(FP/UL), em Portugal, visando uma compreenso de como essa ao se constitui em seus

aspectos terico-prticos e poltico-pedaggicos.

Entendemos que no podamos estudar esta temtica sem identificar as polticas

educacionais e curriculares estabelecidas pelo Ministrio da Educao e Cultura (MEC) no

Brasil e pelo Ministrio da Educao (ME) em Portugal, que orientaram currculos,

interferiram na docncia, nos novos papis assumidos pelos sujeitos envolvidos no processo

educacional na Educao Superior e que influencia no papel do tutor. Assim, para investigar a

ao tutorial presencial nas referidas Instituies de Ensino Superior (IES) mencionadas,

optamos por analis-la no contexto do Programa de Educao Tutorial (PET) da

Universidade Estadual do Cear (UECE) e no Programa de Tutoria Maiores de 23 (PTM23)

da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa (FP/UL).

Ressaltamos que nossa investigao teve como marco temporal e conceitual: a

Declarao de Bolonha (1999)2, ocorrida no Espao Europeu; a oficializao do Programa de

Educao Tutorial (PET), no Brasil (2005)3; e a Poltica de Acesso ao Ensino Superior M23

(2006), em Portugal.

Fez-se necessrio observar as constantes transformaes ocorridas nos

fundamentos terico-prticos e metodolgicos da docncia na Educao Superior, face s

1 Maiores de 23 uma denominao dada uma poltica de acesso ao Ensino Superior em Portugal atravs do

concurso especial, regulamentada pelo Decreto-Lei 64 de 21 de Maro de 2006. Entretanto, a Faculdade de

Psicologia da Universidade de Lisboa - FP/UL criou o Programa de Tutoria Maiores de 23 - PTM23, com o

objetivo de facilitar a permanncia desses acadmicos na universidade. 2 A Declarao de Bolonha (19 de junho de 1999) que desencadeou o denominado Processo de Bolonha

um documento conjunto assinado pelos Ministros da Educao de 29 pases europeus, reunidos na cidade

italiana de Bolonha. A declarao marca uma mudana em relao s polticas ligadas ao ensino superior dos

pases envolvidos e estabeleceu em comum um Espao Europeu de Ensino Superior a partir do

comprometimento dos pases signatrios em promover reformas de seus sistemas de ensino. A declarao

reconhece a importncia da educao para o desenvolvimento sustentvel de sociedades tolerantes

e democrticas. Embora a Declarao de Bolonha no seja um tratado, os governos dos pases signatrios

comprometem-se a reorganizar os sistemas de Ensino Superior dos seus pases de acordo com os princpios dela

constantes. 3 Embora o Programa de Educao tutorial tenha sido criado em 1979, somente foi oficialmente institudo em

2005, pela Lei 11.180/2005 e regulamentado pelas Portarias n 3.385/2005, n 1.632/2006 e n 1.046/2007.

22

atuais mudanas ocorridas na sociedade contempornea e nas Instituies de Ensino Superior

(IES) e que na atualidade tem gerado investigaes sobre a formao continuada do professor

desse nvel de ensino para o exerccio do ensinar4, preparando-o para diversas atividades que

vm surgindo na sociedade, como, por exemplo, a ao tutorial. nesse cenrio que

investigamos a formao e a prtica do tutor no exerccio da tutoria em dois contextos: um no

Brasil e outro em Portugal.

De acordo com Zabalza (2007) a tutoria na atualidade utilizada na Educao

Superior, com a finalidade de melhorar a interao pedaggica entre tutores e tutorandos,

extremamente necessria para orientar e dirigir os processos ensino e de aprendizagem. O

autor afirma que a tutoria uma das competncias da docncia universitria, apresentando-se

como conhecimento bsico da formao (ZABALZA, 2007). Corroborando com este

pensamento, lvarez Prez (2002) afirma que a ao tutorial inerente competncia

docente.

No Brasil, a tutoria passa a existir na docncia universitria a partir da proposio

de polticas educacionais, que definiram programas de tutoria institucionalizados como a

tutoria do Programa de Educao Tutorial (PET) e da Educao a Distncia da Universidade

Aberta do Brasil (EaD/UAB). Portanto, a ao tutorial uma atividade de mediao exercida

pelo professor, com finalidades de orientao acadmica, profissional e pessoal, incluindo,

portanto, dimenses afetivas e motivacionais do tutorando.

O tutor ento aquele orientador que est integrado aos processos de ensino e de

aprendizagem via funo docente ou no5, e que necessita de uma formao especfica para

um desempenho competente na ao tutorial. Essa formao est vinculada a aspectos ligados

carreira profissional e ao planejamento de outras intervenes especficas para atingir os

objetivos desejados de desenvolvimento individual do tutorando. A formao e a orientao

so, portanto, dois elementos indissociveis do bom desempenho da tutoria (BAUDRIT,

2009; LVAREZ PREZ, 2002; ARGIS et al., 2002).

Afirmo que a escolha de um objeto de estudo no ocorre por acaso: ela se d em

consonncia com acontecimentos da vida e com a formao de cada um, experincias essas

que se mesclam entre si. Por esse motivo trago6 alguns excertos do percurso formativo, que

4 Cf. Garcia (1999); Andr et al. (2002); Pimenta e Anastasiou (2002); Masetto (2000); Cunha, (2002);

Anastasiou (2002); Balzan (2000); Morosini (2001), dentre outros. 5 No caso da tutoria do Programa de Tutoria Maiores de 23 (PTM23) no exercida por um docente, mas por

uma psicloga do curso. 6 A partir desse momento o texto ser escrito na primeira pessoa devido ao gnero das reflexes subjetivas, que

so abordadas, e dos relatos de experincias pessoais.

23

me direcionaram para uma problemtica em relao formao e prtica do tutor no mbito

da educao superior.

Minha trajetria de formao se confunde com minha narrativa de vida, uma vez

que o meu percurso formativo profissional no aconteceu por acaso, mas na complexidade

cotidiana e no delinear das escolhas que fiz no decorrer da minha vida. Por esse motivo, trago

memria alguns momentos vividos e experienciados por mim que foram significativos e que

influenciaram na construo da minha identidade profissional. Experincias singulares me

conduziram a estudos que realizei no doutorado e influenciaram na minha concepo de

educao, de ser humano e de mundo, que foi se construindo ao longo da minha carreira

docente.

Minhas primeiras experincias de docncia no Ensino Superior foram no Curso de

Filosofia do Instituto Dom Jos7, local em que cursei a graduao em Filosofia. Ao conclu-

lo, fui convidada a ministrar uma disciplina de Introduo a Economia na turma do primeiro

ano deste curso, visto que eu tinha uma formao em Cincias Econmicas pela Universidade

Regional do Cariri (URCA). Trabalhei em vrios cursos da Universidade do Vale do Acara

(UVA) do Crato e, em 2005, fui aprovada em um concurso para professor substituto na

URCA em uma vaga para Filosofia da Educao no curso de Pedagogia. Estas foram algumas

das experincias mais desafiadoras da minha vida profissional.

Nesse contexto tive oportunidade de ressignificar o conceito de Educao a partir

das novas leituras, das reunies de colegiado, nos momentos de luta pelas causas sociais, que

envolvem a profisso docente, e todos os momentos vivenciados, foram muito significativos

para mim. Nesse processo, alguns professores mais experientes me auxiliaram muito e

contriburam no somente para o domnio de conhecimentos terico-metodolgicos e

polticos, mas tambm para a aquisio de atitudes, das relaes interpessoais e de

competncias vinculadas aos processos pedaggicos na Educao Superior.

Simultaneamente ao trabalho desenvolvido na Universidade fui professora na

Educao Bsica, o que me proporcionou o crescimento na compreenso da relao escola-

universidade e o repensar da minha prtica docente, foi um perodo de muita riqueza e

aprendizado, que me conduziu ao mestrado.

No ano de 2009, iniciei o mestrado no Programa de Ps-Graduao em Educao

da UECE, rea de concentrao de Formao de Professores, linha de Didtica e Formao de

7 Instituto de Filosofia Dom Jos, local onde fiz a minha graduao de Filosofia, funcionava no Seminrio So

Jos do Crato e ofertava somente esse curso, que tinha como objetivo a formao dos padres diocesanos e

capuchos. Entretanto, a minha turma foi a primeira a formar leigos. Atualmente a Faculdade Catlica do Cariri.

24

Professores, que culminou com a dissertao intitulada A Pesquisa como Instrumento de

Formao Docente8, pesquisa-ao realizada com professores da Educao Bsica. Neste

perodo, participei tambm do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Formao do Educador

(GEPEFE/Cear)9, um espao para a reflexo sobre didtica, formao docente e pesquisa em

educao.

Ao terminar o mestrado, em 2011, fui convidada para trabalhar na Pr-Reitoria de

Graduao (PROGRAD)10

da UECE como bolsista da Fundao Cearense de Apoio ao

Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (FUNCAP), como coordenadora do Estgio e

Atividades Complementares dos cursos de graduao desta IES. Nesta atividade passei a

conhecer outra face da universidade.

Em 2012, participei do processo seletivo para o Programa de Ps-Graduao em

Educao Brasileira da Universidade Federal do Cear (PPGEB/UFC) e entrei para a linha de

Pesquisa Educacional e o Eixo de Avaliao Curricular. No ano de 2013 houve uma

reorganizao do PPGEB-UFC e o meu projeto foi realocado para a Linha Educao,

Currculo e Ensino (LECE), no Eixo de Currculo.

Percebo que cada momento dessa trajetria foi fundamental para o meu

desenvolvimento profissional docente, e compreendo esse percurso como um processo

formativo que me faz realizar um movimento constante de pensar sobre mim como pessoa e

como profissional docente, sobre a minha formao e prtica, o meu trabalho no contexto em

que eu vivo e atuo, bem como sobre as polticas subjacentes minha profisso.

Na UECE tambm conheci de perto o programa de Educao Distncia (EaD)

da Universidade Aberta do Brasil (UAB), que tem como objetivo a formao de professores

em municpios do interior do Cear.11

Em suas plataformas, os cursos de graduao a

distncia possuem uma organizao e uma estrutura diferente dos presenciais, bem como

papis docentes apropriados para outra forma de ensinar e de aprender.

8 A Pesquisa como Instrumento de Formao Docente, pesquisa-ao realizada com professores da educao

bsica do Iborepi, distrito do Municpio de Lavras da Mangabeira - Cear, orientada pela Dra. Maria Socorro

Lucena Lima. 9 Grupo de Estudos coordenado pela professora Socorro Lucena e Marina Cavalcante no Cear e vinculado ao

GEPEFE da Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo (FEUSP). 10

A PROGRAD da UECE possua uma Clula Tcnica Pedaggica (CTP), que era constituda pelas assessorias

como a de Estgio e as Atividades Complementares, o Progrma de Monitoria, o Programa de Educao Tutorial

(PET), o Programa de Iniciao docncia (PIBID), a assessoria de construo dos Projetos Pedaggicos para

reconhecimento e validao dos cursos, enfim, assim, percebemos ainda mais a complexidade que uma

instituio como a UECE envolve. 11

Cursos ofertados por meio da Secretaria de Apoio s Tecnologias Educacionais (SATE) e financiamento da

Universidade Aberta do Brasil (UAB).

25

Quando fui professora formadora nos cursos de Licenciatura em Pedagogia e em

Qumica, na modalidade distncia UECE, tive contato com tutores presenciais e a distncia

da UAB, identificando os desafios enfrentados por eles no tocante sua formao e prtica.

Com base nessa experincia, realizamos pesquisas exploratrias com a finalidade de conhecer

melhor a ao tutorial12

efetivada por esses profissionais, o que resultou em pesquisas

exploratrias e artigos cientficos, que foram publicados em eventos cientficos.

Estas investigaes revelaram que a formao especfica para ser tutor nos

Programas investigados da UECE era inexistente at aquele momento, nunca tendo sido

ofertada nem pela instituio, nem pelo MEC. Houve um processo de autoformao na prtica

cotidiana do tutor, no prprio exerccio da tutoria e com os saberes que j possuam na

profisso docente. Por isso, faz-se necessrio a institucionalizao da formao do tutor, para

que esse processo no se resuma na procura isolada e espontnea de cada tutor ou somente no

saber da experincia.

Alm das experincias relatadas, considero relevante tambm a minha

participao em um Curso de Formao de Tutores13

que propiciou a atuao como tutora a

distncia em um curso de formao de gestores pela UECE. Nesse momento, percebi o quanto

a ao tutorial promove novas aprendizagens do fazer docente, na relao com o aluno, com

os outros professores e em relao s metodologias de ensino, que exigem novos saberes,

domnio das tecnologias de informao e uma formao especfica para exercer esta prtica

no ensino distncia.

No ano de 2015, vivenciei outra experincia marcante e nica, que gerou uma

relao mais prxima com a minha temtica investigativa: a realizao de um Doutorado-

Sanduche (ou Doutoramento Intercalar)14

, em Lisboa, Portugal. O perodo de realizao do

Doutorado Sanduche foi de seis meses, compreendidos entre setembro de 2015 a maro de

2016.

12

Estado da Arte: Portal Peridico Capes e Banco de Teses Capes outubro e novembro de 2013. Tambm

realizamos pesquisas exploratrias, com tutores da Educao a Distncia do Curso de Pedagogia da UECE e com

tutores do PET da UECE, que deram origem aos artigos: ALVES, F.C.; LEITINHO, M.C. A tutoria na

graduao: foco nos professores tutores de Curso de Pedagogia na Modalidade Distncia da UECE, 2011.

(Publicado no Enforsup); A formao do professor para o exerccio da tutoria no Programa de Educao

Tutorial. 2013. (Publicado no livro Currculo: dilogos possveis); FILHO, A.C.; SALES, V.M.B.; ALVES,

F.C. A identidade docente do tutor da Educao a distncia, 2012. (Publicado no SIED/ENPED); ALVES, F.C.;

LEITINHO, M.C. Experincias de tutoria entre iguais, 2013. (Publicado no XI ENPPG). 13

Curso de Formao de Tutores Distncia na Universidade Estadual do Cear (UECE), 2013. Aps o curso,

atuei como tutora durante trs meses no Curso de Formao de Gestores Escolares do Macio do Baturit. 14

A nomenclatura utilizada em Portugal para o Doutorado Sanduche Doutoramento Intercalar. Entretanto,

no texto utilizaremos a denominao do Brasil.

26

A ideia de submeter o meu projeto ao Programa de Doutorado Sanduche no

Exterior (PDSE/CAPES) surgiu a partir do momento em que soube da possibilidade de

submeter o projeto, a partir do conhecimento de experincias de outros colegas do doutorado.

O primeiro contato com os textos de tutoria em Portugal ocorreu pela leitura da

obra Tutoria e Mediao em Educao15

(2009) organizada por trs professoras da

Universidade de Lisboa (UL). O meu estgio foi orientado pela professora Dra. Ana

Margarida Veiga Simo16

, da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa (FP/UL)

que havia coordenado investigaes sobre tipos de tutoria na educao superior, dentre as

quais podemos mencionar Concepes e prticas de tutoria na universidade: a perspectiva

dos docentes (2007/2009).

A escolha por Portugal se deu pelo vnculo histrico-cultural que este pas tem

com o Brasil, exercendo forte influncia sobre a educao. E no tocante tutoria, o Ensino

Mtuo existente no perodo ps-jesutico foi uma prtica semelhante tutoria entre pares

existente nos dias atuais.

Neste pas, optei por investigar a ao do tutor em um programa de tutoria

especfico ofertado para os alunos Maiores de 23 que ingressam no Mestrado Integrado em

Psicologia, na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa (FP/UL), denominado

Programa de Tutoria Maiores de 23 (PTM23). Uma das razes para a escolha desse Programa

foi por ele se constituir em uma tutoria presencial e por ser bem distinta daquela exercida no

PET, assim poderia conhecer outra experincia. Outro motivo foi por estar alocado na mesma

instituio em que eu realizaria o Doutorado Sanduche, pois assim eu poderia racionalizar o

tempo e conhecer melhor este espao de formao. Estava, assim, ampliando o meu repertrio

de conhecimento sobre a ao tutorial, fato que viria a agregar conhecimentos e gerar novos

questionamentos aos que j havia traado anteriormente, principalmente no que diz respeito

formao e prtica do tutor para exercer tal atividade.

15

Cf.: SIMO, Ana Margarida Veiga; CAETANO, Ana Paula; FREIRE, Isabel (Orgs.) Tutoria e mediao.

Lisboa, PT: Educae Autores, 2009. 16

Professora da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. Membro, em representao da Faculdade

de Psicologia, da Comisso Cientfica, nomeada pelo Reitor da Universidade de Lisboa para organizar e

acompanhar o processo de acesso e creditao das qualificaes dos maiores de 23 anos na Universidade de

Lisboa. Investigadora (membro efetivo) do Centro de Investigao em Psicologia da Faculdade de Psicologia da

Universidade de Lisboa. Investigadora (membro colaborador) da Unidade de Investigao & Desenvolvimento

em Educao e Formao da Universidade de Lisboa. Principais reas Cientficas de Investigao: Psicologia da

Educao (autorregulao da aprendizagem, estratgias de aprendizagem); Formao de Professores

(Desenvolvimento profissional de professores, Formao de professores em contextos colaborativos); Relao

Educativa (Violncia entre pares/promoo da convivncia e do bem-estar dos alunos, Gesto do Conflito,

Bullying and Cyberbullying) e Pedagogia no Ensino Superior (tutoria).

27

A problemtica da minha investigao est centrada na ao tutorial dos

programa de tutoria que exige dos professores e de outros profissionais que iro exercer essa

atividade complexa que tenham formao adequada e sem que a sua atividade seja

devidamente institucionalizada e reconhecida.

Os Programas que tm a tutoria como atividade essencial foram retomados na

atualidade de forma legal e institucionalizado no Brasil pelo Ministrio da Educao (MEC) a

partir da proposio do Programa de Educao Tutorial (PET) e da oferta de cursos de

graduao na modalidade a distncia da Universidade Aberta do Brasil (UAB), sob a

responsabilidade da CAPES, considerando estes programas como elementos de avaliao

institucional. No caso de Portugal, o Programa de Tutoria Maiores de 23 (PTM23) surge para

suprir necessidades de um pblico especfico, que so os alunos Maiores de 23.17

E em

Portugal, a atuao do tutor na universidade tm sido mais exigida aps o Acordo de Bolonha.

No desenvolvimento desses programas quase inexistem experincias de formao

especfica para o exerccio da ao tutorial, que vo para alm da docncia, desenvolvendo

dentre outras atividades as de aconselhamento e orientao profissional, podendo ser exercida

individualmente ou em grupo de forma diversificada.

O problema desta investigao est centrado nas questes problemticas da

tutoria, principalmente no tocante ao docente que ela agregada o exerccio da ao

tutorial e as implicaes desse problema no currculo e formao para exerc-la.

Observamos que a ao tutorial nos Programas de tutoria investigados nesta

pesquisa no foram analisados cientificamente, havendo uma ausncia de estudos

investigativos tanto sobre o Programa de Educao Tutorial (PET) da Universidade Estadual

do Cear (UECE) e o Programa de Tutoria Maiores de 23 (PTM23) da Faculdade de

Psicologia da Universidade de Lisboa (FP/UL), especificamente no que diz respeito

formao e prtica dos tutores. Da surgir o nosso interesse de investigar a tutoria e os seus

efeitos em contextos diferentes.

Constatamos que h muitas pesquisas sobre as produes do PET nas diversas

reas e em instituies de todo o pas e sobre as atividades realizadas pelos petianos em seu

grupo. Entretanto, a ao que o tutor exerce nesse programa pouco estudada no Brasil. Em

Portugal, semelhante fato ocorre em relao ao Programa de Tutoria Maiores de 23 (PTM23),

17

Decreto-Lei 64, de 21 de Maro 2006. Pela lei esses alunos tm direito de acesso especial na educao

superior; entretanto, quando eles ingressam na instituio, precisam de um apoio diferenciado devido a uma srie

de fatores, como o fato de terem passado um longo perodo sem estudar, o que dificulta a sua permanncia na

graduao.

28

as pesquisas encontradas focam apenas na forma de acesso Maiores de 23, falta estudar sobre

a tutoria nesse programa.

Face ao problema especificado, justifica-se ento esta investigao a partir das

seguintes questes:

a) Questo central:

Como se constitui a ao tutorial no Programa de Educao Tutorial (PET) da

Universidade Estadual do Cear (UECE) e no Programa de Tutoria Maiores de 23

(PTM23) da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa (FP/UL) em seus

aspectos terico-prticos e poltico-pedaggicos?

b) Questes especficas:

Quais as caractersticas do Programa de Educao Tutorial (PET) da

Universidade Estadual do Cear (UECE) e do Programa de Tutoria Maiores de 23 (PTM23)

do curso de Psicologia da Universidade de Lisboa (UL) e suas influncias sobre as aes de

tutoria?

Em que contextos histricos e sociopolticos surgem os programas de tutoria

investigados nas respectivas universidades e seus impactos para o ser tutor?

Quais as concepes dos tutores e dos tutorandos do PET/UECE e do

PTM23/UL sobre a ao tutorial?

Como o exerccio da tutoria tem contribudo para a formao do tutor?

Que aspectos devem ser considerados na organizao de um programa de

formao especfica de um tutor?

A partir das questes enunciadas, definimos os objetivos desta investigao:

a) Objetivo geral:

Compreender como se constitui a ao tutorial exercida no Programa de Educao

Tutorial (PET) da Universidade Estadual do Cear (UECE) e o Programa de Tutoria

Maiores de 23 (PTM23) da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa

(FP/UL) em seus aspectos terico-prticos e poltico-pedaggicos.

b) Objetivos especficos:

Analisar a estrutura e o funcionamento dos Programas de tutoria presenciais

investigados, o Programa de Educao Tutorial (PET) da Universidade Estadual do Cear

(UECE) e o Programa de Tutoria Maiores de 23 (PTM23) da Faculdade de Psicologia da

Universidade de Lisboa (FP/UL) afim de identificar as influncias sobre as aes de tutoria;

29

Descrever o contexto histrico e sociopoltico em que surgem o PET e o

PTM23.

Identificar os significados atribudos tutoria pelos sujeitos envolvidos no PET

e no PTM23.

Elaborar um mapeamento temtico, que sirva como base para um programa de

formao contnua do tutor.

Portanto, a tese que defendemos : a inexistncia de uma formao especfica

para exercer a ao tutorial nos programas investigados contribui para que o

desenvolvimento desta prtica nos dois programas esteja centrado apenas em aspectos

tcnico-pedaggicos.

O presente texto estrutura-se da seguinte forma: no primeiro captulo, intitulado

Discurso do sujeito coletivo: fundamentao e percurso metodolgico, trago os fundamentos

tericos do mtodo utilizado, o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), na perspectiva dos

autores Lefvre e Lefvre (2005). Apresento, tambm o caminho percorrido, as tcnicas

utilizadas para o resgate dos discursos dos atores sociais, a definio dos campos sociais da

investigao, dos atores sociais e a anlise segundo os critrios do DSC e por ltimo, o estado

da questo, em que trago o mapeamento acadmico-cientfico sobre tutoria, realizado a partir

das buscas em portais e bases de pesquisa de origem brasileira e portuguesa. Este captulo nos

permite compreender a importncia da relao entre a escolha do mtodo e o objeto de

investigao, bem como de que modo o estado da questo nos auxilia na construo deste

objeto por meio do levantamento das obras que tratam do tema.

No segundo captulo, Referencial terico, destaco a discusso sobre a Tutoria na

Educao Superior e em seguida, as concepes de currculo e de atos do currculo. Aqui

podemos perceber a tutoria em diversos contextos, trazendo a compreenso da ao tutorial

como uma ao curricular, exercida pelos atores curriculantes que esto diretamente

envolvidos nesta prtica.

No terceiro captulo, denominado Anlise do contexto scio-histrico e sua

relao com a tutoria, apresento os dois campos sociais de investigao. No Brasil, as

discusses sobre o ensino, da pesquisa e da extenso no Ensino Superior e a criao do

Programa Especial de Treinamento (PET); em Portugal, algumas transformaes ocorridas na

educao superior aps a Declarao de Bolonha, que proporcionaram a criao do programa

de acess ao ensino superior Maiores de 23 e, consequentemente, o Programa de Tutoria para

30

alunos Maiores de 23 da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, o PTM23. Este

captulo nos d uma viso ampla do cenrio que cerca os dois tipos de tutoria investigados.

No quarto captulo, Representaes da tutoria a partir dos discursos dos atores

sociais, apresento a forma como a coleta e anlise dos dados foi efetivada pelo DSC, e a

partir dos discursos gerados realizo as discusses sobre os achados da pesquisa. Este captulo

se constitui como o pice da pesquisa por trazer as contribuies de todos os participantes da

investigao por meio dos DSCs elaborados a partir dos discursos resgatados.

Por fim, trago o texto produzido pela pesquisadora, denominado DSC: um

discurso do Eu ampliado que um discurso elaborado pela pesquisadora na primeira

pessoa, representando o DSC dos DSCs elaborados, em seguida as Reflexes finais em que

fazemos um fechamento do trabalho refletindo de que modo respondemos aos objetivos da

pesquisa e nossa tese.

31

2 DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO: FUNDAMENTAO E PERCURSO

METODOLGICO

Neste captulo, apresentamos a fundamentao terico- metodolgica do DSC,

bem como o caminho percorrido para realizarmos esta investigao que perpassa pelas

tcnicas utilizadas para o resgate dos discursos dos atores sociais, a definio dos campos

sociais da investigao, dos atores sociais e a anlise segundo os critrios do DSC.

Tambm como parte desse percurso, realizamos o estado da questo. Neles

trazemos o contexto acadmico-cientfico sobre tutoria, realizado a partir de um mapeamento

em portais e bases de pesquisa de origem brasileira e portuguesa.

2.1 Fundamentao terica do Discurso do Sujeito Coletivo-DSC: Teoria das

Representaes Sociais e Teoria da Reproduo Social

De acordo com Lefvre e Lefvre (2005a; 2005b; 2010), o DSC se fundamenta

em duas abordagens tericas: a Teoria das Representaes Sociais, de Serge Moscovici

(1978), e a Teoria da Reproduo Social, de forma bem mais especfica nos conceitos de

esquemas sociocognitivos e habitus, formulado essencialmente por Pierre Bourdieu (1988).

O conceito de representaes sociais foi inicialmente trabalhado por mile

Durkheim na sua obra As regras do mtodo sociolgico (1895), sendo denominado de

representaes coletivas, que constituam uma classe muito genrica de fenmenos

psquicos e sociais (MOSCOVICI, 1978, p. 42). Durkheim quis assim designar a

especificidade do pensamento social em relao ao pensamento individual (MOSCOVICI,

1978, p.25). Porm, em 1978, Serge Moscovici trabalha esse conceito sob outra perspectiva

em sua obra A representao social da Psicanlise (1978). De acordo com Cruso (2004) a

discusso iniciada por Durkheim foi de suma importncia para que Moscovici buscasse na

sociologia um contraponto para a perspectiva individualista da psicologia social.

Moscovici (1978) defende que a representao social deve ser encarada tanto na

medida em que ela possui uma contextura psicolgica autnoma como na medida em que

prpria de nossa sociedade e de nossa cultura (MOSCOVICI, 1978, p. 45). Assim, a

representao social possui duas dimenses, sujeito e sociedade, e situa-se na encruzilhada

de uma srie de conceitos sociolgicos e de uma srie de conceitos psicolgicos

(MOSCOVICI, 1978, p. 41), tornando-se um conceito difcil de apreender.

32

O conceito trabalhado no DSC tem sua fundamentao naquele apresentado por

Serge Moscovici (1978), que trouxe a noo de que representar um fenmeno cotidiano, que

se desenvolve em um determinado contexto social, onde o indivduo se apropria dos valores

construdos na coletividade, internalizando-os para ento expressar ideias consensuais em prol

da comunicao. Portanto, para ele, o conceito de representao social se refere a um

fenmeno produzido e partilhado coletivamente e que contribui para a construo social da

realidade, orientando comportamentos e comunicaes e permitindo interpretar os

acontecimentos do cotidiano (CRUSO, 2004).

Assim, de acordo com Moscovici (1978), fica claro que as representaes no so

criadas por um indivduo de forma isolada. O autor acrescenta que elas so

objeto de um permanente trabalho social, no e atravs do discurso, de tal modo que

cada novo fenmeno pode ser sempre reincorporado dentro de modelos explicativos

e justificativos que so familiares e, consequentemente, aceitveis (MOSCOVICI,

2004, p.216).

Ainda buscando definir as representaes sociais, Moscovici (1978) declara que:

[] elas circulam, se entrecruzam e se cristalizam continuamente, atravs duma

palavra, dum gesto, ou duma reunio em nosso mundo cotidiano. Elas impregnam a

maioria de nossas relaes estabelecidas, os objetos que ns produzimos ou

consumimos e as comunicaes que estabelecemos (MOSCOVICI, 1978, p. 41).

As representaes nascem na e para a sociedade, sendo, portanto, sociais. Assim,

os saberes que foram criados na Histria sero sempre reinterpretados, sofrendo alteraes

semnticas, a fim de facilitar a comunicao entre grupos, de acordo com cada gerao.

Jodelet (1989, p. 54) afirma que as representaes sociais constituem-se em um

Ato de pensamento pelo qual o sujeito se refere a um objeto. Este tanto pode ser

uma pessoa, uma coisa, um acontecimento material, psicolgico ou social, um

fenmeno natural, uma ideia ou uma teoria, etc.; tanto pode ser real como

imaginrio ou mtico, mas ser sempre requerido. No h representao sem objeto

(JODELET, 1989, p. 54).

As representaes podem ser vistas, portanto, como um importante recurso de

anlise de aspectos sociais, uma vez que nos ajudam a compreender como o indivduo se

constitui a partir de suas relaes. Desta forma, a Teoria das Representaes Sociais recupera

o sujeito que, atravs de sua ao e relao com o mundo, constri o mundo e a si prprio e

ainda, nessa relao, constri saberes sociais. Sobre isso, Lefvre e Lefvre (2010) afirmam

33

que, de modo geral, as representaes sociais de um determinado grupo sociocultural ou so

semelhantes ou apresentam algo em comum, o que o faz ser diferente de outro grupo.

Assim, no que se refere Teoria das Representaes Sociais, o DSC encontra o

seu suporte em uma viso socioantropolgica da realidade social e no pensamento dos sujeitos

de determinada formao sociocultural representada pela concepo e ao dos sujeitos. Vale

lembrar que a formao sociocultural dentro dessa viso concebida como um sistema de

troca (dilogo, conflito, conciliao, confronto etc) de ideias, e para que elas possam ser

trocadas precisam ter algo em comum (LEFVRE; LEFVRE, 2010, p. 30).

Portanto, sobre essa fundamentao, os autores Lefvre e Lefvre (2005b)

justificam a adoo da viso socioantropolgica para compreender o pensamento de uma

coletividade:

Adota-se, aqui, um pressuposto socioantropolgico de base na medida em que e entende

que o pensamento de uma coletividade sobre um dado tema pode ser visto como um

conjunto de discursos, ou formaes discursivas, ou representaes sociais existentes na

sociedade e na cultura sobre esse tema, do qual, segundo a cincia social, os sujeitos

lanam mo para se comunicar interagir, pensar, Bourdieu fala a respeito dos habitus

como esquemas sociocognitivos (LEFVRE; LEFVRE, 2005b, p. 16).

Os sistemas simblicos, e dentro deles as representaes sociais, portanto, no se

do no vazio, eles sofrem uma grande influncia do contexto scio-histrico em que

determinados grupos esto inseridos. Assim sendo, os indivduos no pensam ou tem ideias,

opinies sobre qualquer coisa, mas sempre sobre temas social ou coletivamente

compartilhados (LEFVRE; LEFVRE, 2010, p. 22). Por outro lado, os sujeitos tambm

influenciam as relaes sociais, culturais, polticas, deste mesmo contexto em que vivem e,

consequentemente, as representaes so influenciadas pelos atributos ou lugares de onde

falam.

Essa discusso da relao entre pessoa e sociedade encontra seu fundamento na

Teoria da Reproduo Social de Bourdieu e de Passeron, cuja categoria base o habitus18

,

conceito que j fora utilizado por muitos tericos antes de Bourdieu. Entretanto, construir a

noo de habitus para ele significava compreend-la como um

sistema de esquemas adquiridos que funciona no nvel prtico como categorias de

percepo e apreciao, ou como princpios de classificao e simultaneamente

como princpios organizadores da ao, significava construir o agente social na sua

verdade de operador prtico de construo de objetos (BOURDIEU, 1988, p. 26).

18

De acordo com Bourdieu (1982, p. 25), essa noo j havia sido utilizada por autores como Hegel, Husserl,

Weber, Durkheim e Mauss, de uma forma mais ou menos metdica, entretanto, o seu conceito rompe com a

viso desses autores, diferenciando-se pois da tradio idealista, positivista, dentre outras.

34

Nesse sentido, o individual, o pessoal e o subjetivo so ao mesmo tempo sociais e

coletivamente orquestrados. O habitus , ento, uma subjetividade socializada (BOURDIEU,

1992). Bourdieu afirma que o cientista social pode descobrir a necessidade, a coao das

condies e dos condicionamentos sociais, at no ntimo do sujeito (BOURDIEU, 1988, p.

27). Atravs da forma do que ele denomina de habitus. O autor ainda complementa que

a anlise das estruturas objetivas- as estruturas dos diferentes campos- inseparvel

da anlise da gnese, dos indivduos biolgicos, das estruturas mentais ( que so em

parte produto da incorporao das estruturas sociais) e da anlise da gnese das

prprias estruturas sociais: o produto de lutas histricas ( nas quais os agentes se

comprometem em funo de sua posio no espao social e das estruturas mentais

atravs das quais eles apreendem esse espao) (BOURDIEU, 1988, p. 26).

Compreendemos que cada grupo social mediante e em funo das condies

objetivas que caracterizam sua posio na estrutura social constitui um sistema especfico de

disposies e de predisposies para a ao, gerando assim o habitus incorporado pelos

indivduos (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2004). importante ressaltar que os indivduos

podem agir de duas formas: em conformidade com o habitus de um determinado grupo ou

classe social, seja de forma voluntria, ou podem ser coagidos por algum tipo de violncia

simblica.

luz dessas teorias, que nos trazem os conceitos de Representaes Sociais e de

habitus que fomos buscar a compreenso do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) presente

nos discursos dos sujeitos envolvidos nos programas de tutoria investigados, pois eles

apreendem essa realidade com mais propriedade por estarem mergulhados nesse contexto.

2.2. Mtodo Discurso do Sujeito Coletivo (DSC): princpios bsicos e conceitos

fundamentais

No que concerne ao mtodo, a nossa opo foi pela metodologia do Discurso do

Sujeito Coletivo (DSC), que pode ser definida como um conjunto de procedimentos

destinados a conformar, descritivamente, os discursos de uma dada coletividade como produto

quantiqualitativo, o qual prope uma anlise que contemple uma explicao sociolgica,

antropolgica, tica, poltica e pedaggica do fenmeno investigado, entendendo o

depoimento discursivo como: manifestao lingustica de um posicionamento diante do

35

tema, composto por uma ideia central e seus respectivos contedos de argumentos

(LEFVRE; LEFVRE, 2005 a, p. 13).

O Discurso do Sujeito Coletivo permite a construo de um pensamento coletivo,

expressado e relatado individualmente, e constitudo como forma de representao social de

um sujeito coletivo. Por isso, o DSC pode ser visto como um eu ampliado, ou seja, como

uma tentativa de reconstruir um sujeito coletivo que, como (primeira) pessoa coletiva, esteja

veiculando uma representao ou um discurso como contedo ampliado. Apresenta-se, no

entanto, como um discurso individual composto na primeira pessoa do singular (LEFVRE;

LEFVRE, 2005 a, p. 58).

O eu ampliado do DSC relacionado a uma determinada opinio, que pertence a

um universo de opinies possveis da comunidade estudada, num determinado tempo

histrico compreendido, assim, por agregar em um discurso uno os vrios depoimentos com

sentido semelhante em um discurso. Dessa maneira, possibilita que boa parte do contedo seja

uma opinio compartilhada socialmente pelos sujeitos que participaram da pesquisa. O DSC

permite, por meio de uma pesquisa social e emprica, resgatar o pensamento de uma

coletividade sobre determinado tema, que no caso, subsidia a organizao de um painel de

depoimentos discursivos. Para confeccionar os DSC os autores criaram as seguintes figuras

metodolgicas:

Quadro 1 Figuras metodolgicas do DSC FIGURA

METODOLGICA

SIGLA

DEFINIO

Expresses-chave

ECH

As expresses-chave so pedaos, trechos ou transcries literais do

discurso, que devem ser sublinhadas, pelo pesquisador, e que revelam

a essncia do depoimento, do contedo discursivo dos segmentos em

que se divide o depoimento (que em geral, correspondem s questes

da pesquisa). As expresses-chave so uma prova discursivo-emprica

da verdade das ideias centrais e das ancoragens e vice-versa.

Ideias Centrais

IC

A ideia central um nome ou expresso lingustica que revela e

descreve, da maneira mais sinttica, precisa e fidedigna possvel, o

sentido de cada um dos discursos analisados e de cada conjunto

homogneo de ECH, que vai dar nascimento, posteriormente, ao DSC.

Ela no uma interpretao, mas uma descrio do sentido de um

depoimento ou de um conjunto de depoimentos.

Ancoragem

AC

Algumas ECH remetem no a uma IC correspondente, mas a uma

figura metodolgica que sob a inspirao da teoria da representao

social, denomina-se ancoragem, que a manifestao lingustica

explcita de uma dada teoria, ou ideologia, ou crena que o autor do

discurso professa e que, na qualidade de afirmao genrica, est

sendo usada pelo enunciador para enquadrar uma situao

especfica.

Discurso do Sujeito

Coletivo

DSC um discurso-sntese redigido na primeira pessoa do singular e

composto pelas ECH que tm a mesma IC ou AC.

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

36

2.3. Percurso metodolgico

O objetivo geral desta investigao foi compreender como se constitui a ao

tutorial exercida no Programa de Educao Tutorial (PET) da Universidade Estadual do Cear

(UECE) e o Programa de Tutoria Maiores de 23 (PTM23) da Faculdade de Psicologia da

Universidade de Lisboa (FP/UL) em seus aspectos terico-prticos e poltico-pedaggicos.

Para atender esse objetivo, utilizamos como metodologia de coleta e de anlise de

dados o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC)19

na perspectiva dos autores Lefvre e Lefvre

(2005a), que uma metodologia quantiquali centrada no discurso dos sujeitos. Ressaltamos

que a nossa abordagem foi somente qualitativa.

Semelhante a outras metodologias, o DSC exige um rigor metdico em todo o

percurso. Seguimos todos os passos que o DSC aponta para a preparao do projeto de

investigao, conforme apresentamos a seguir:

a) Identificao de temas e problema de pesquisa;

b) Construo do campo social:

Definio dos atores/ agentes sociais;

Definio de lugares do campo social;

Definio de nmero de sujeitos de pesquisa;

c) Resgate do pensamento coletivo.

Entrevistas individuais;

Entrevistas Grupais;

Apresentamos na sequncia, a escolha dos campos sociais e dos atores sociais da

pesquisa, as tcnicas utilizadas no resgate dos depoimentos e os passos efetivados para a

elaborao do Discurso do Sujeito Coletivo. Para compreender melhor esse processo,

esboamos um desenho alusivo ao percurso metodolgico da nossa investigao:

19

Ver fundamentao terica do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) no captulo quatro.

37

Figura 1 Desenho do Percurso metodolgico

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

LEGENDA:

DSC - Discurso do Sujeito coletivo.

ECH - Expresses-Chave.

IC - Ideias Centrais.

AC Ancoragens.

I DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO DSC

(QUALITATIVA)

NFASE

LII ANLISE

ICOLE COLETA DAS INFORMAES

UECELII LII ETAPA I CAMPO SOCIAL I

PET- UECE

ETAPA II CAMPO SOCIAL II

PTM23- FP/UL

ENTREVISTAS Tutores e Interlocutores

GRUPOS DE DISCUSSO Alunos

DOCUMENTAL Manual de orientaes

ENTREVISTAS Alunos M23

Coordenadores Professores e Tutores

DOCUMENTAL Formulrios e folder

do PTM23

ANLISE

ANLISE

ECH IC AC ECH IC AC

Elaborao e anlise DSCs

Elaborao do discurso sntese do pesquisador (EU AMPLIADO)

38

2.3.1 Campos sociais da investigao

Segundo Lefvre e Lefvre (2010) uma pesquisa de opinio que utiliza o Discurso

do Sujeito coletivo requer a presena no espao ou no campo social de sujeitos ou conjunto

de sujeitos a serem entrevistados para quem o problema de investigao faa sentido. O

campo social entendido ento como um espao que enquadra ou condiciona a ao de

atores sociais (LEFVRE; LEFVRE, 2010, p. 40). Desse modo, sendo o nosso objeto de

investigao a ao tutorial, percorremos um longo caminho at tomar a deciso por dois

campos sociais especficos onde encontraramos esses atores ou agentes sociais.

Vale lembrar que na definio do campo social recomendvel analisar as

possibilidades reais de realizao da pesquisa, levando em considerao a pertinncia em

relao ao tema e aos problemas pesquisados, os atores selecionados, bem como a

acessibilidade (LEFVRE; LEFVRE, 2010, p. 42).

Os dois campos sociais desta investigao consistiram no municpio cearense de

Fortaleza-Cear/Brasil, uma vez que optamos por realizar a nossa investigao no Programa

de Educao Tutorial (PET) da Universidade Estadual do Cear (UECE); e na cidade de

Lisboa - Portugal, devido realizao do Doutorado-Sanduche que nos permitiu investigar o

Programa de Tutoria para os Maiores de 23 (PTM23) da Faculdade de Psicologia na

Universidade de Lisboa (FP/UL).

Quadro 2 Campo social de investigao

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

39

2.3.2 Atores/Agentes sociais da pesquisa

De acordo com Lefvre e Lefvre (2010), sendo os atores sociais definidos por

posies relativas no espao de investigao para quem a problemtica investigativa seja

significativa, eles sero capazes de, sobre o problema, emitir julgamentos, opinies,

posicionamentos [...] (LEFVRE; LEFVRE, 2010, p. 39). Observando este aspecto foi que

optamos por sujeitos que pudessem julgar e tecer argumentos correspondentes sobre a tutoria

e a ao tutorial do tutor nos dois programas definidos: PET e PTM23. Assim, definimos os

nossos sujeitos:

Quadro 3 Distribuio dos sujeitos da pesquisa de acordo com a IES

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Ressaltamos que os sujeitos da pesquisa foram definidos tendo em considerao

os atores sociais envolvidos diretamente com o Programa de Educao Tutorial (PET) do

Ministrio da Educao (MEC) da UECE e com o Programa de Tutoria para os Maiores de 23

(PTM23) da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa (UL), em Portugal.

As opinies e percepes dos atores sociais acerca da tutoria foram coletadas

pelos discursos dos sujeitos atravs de instrumentos prprios para o resgate do pensamento

coletivo, que descreveremos passo a passo.

40

2.4 Resgate do Pensamento Coletivo

Lefvre e Lefvre (2010) nos dizem que os pensamentos de uma coletividade

podem ser obtidos de vrios modos. Neste tpico, descrevemos o modo como resgatamos o

discurso dos atores sociais, especificando o passo a passo que seguimos para a sua realizao.

2.4.1 Instrumentos e tcnicas

Os instrumentos utilizados por ns foram: levantamento estruturado por meio de

um questionrio; entrevistas semiestruturadas; grupos de discusso; anlise documental.

a) Questionrios

Com professores tutores, alunos tutorandos (Campo Social I).20

Antes de selecionarmos os agentes sociais da Etapa I, realizamos uma pesquisa

exploratria por meio de questionrios on-line pelo Google Docs. Essa tcnica nos

possibilitou duas escolhas posteriores, que foram de suma importncia para a pesquisa. A

primeira foi a definio dos atores sociais e a segunda foi a elaborao de um roteiro para a

entrevista que contemplasse mais a realidade.

b) Entrevistas semiestruturadas

Realizamos entrevistas nos dois campos sociais I e II da nossa investigao, por

considerarmos essa tcnica muito pertinente na busca de respostas para o nosso objeto de

estudo.

Com professores tutores e interlocutores (Campo Social I);21

Com coordenadores do programa de tutoria e mentoria, docentes, tutores e

alunos tutorandos (Campo Social II).22

Lefvre e Lefvre (2010) afirmam que as pesquisas com DSC em sua maioria se

utilizam de entrevistas individuais ou grupais em que os respondentes sejam convidados a

expor livremente seu pensamento sobre o tema pesquisado (LEFVRE; LEFVRE, 2010,

20

Cf.: Apndices C e D. 21

Cf.: Apndices E e F. 22

Cf.: Apndices J, K, L, M, N, O, P.

41

p.51). Vale lembrar que o roteiro da entrevista e as orientaes que o pesquisador cede, no

decorrer da mesma, devem estar ancorados no referencial terico-metodolgico do DSC.

c) Grupos de discusso

Com alunos tutorandos (Campo Social I);23

De acordo com Weller e Pfaff (2010, p. 56), o grupo de discusso objetiva a

obteno de dados que possibilitem a anlise do contexto ou do meio social dos entrevistados,

assim como suas vises de mundo ou suas representaes coletivas. Permite captar as

opinies de grupo e as orientaes coletivas que tm origem em determinado contexto social

dos sujeitos que participam da investigao.

No grupo de discusso o pesquisador assume a postura que Mannheim (1982

apud WELLER; PFAFF, 2010) definiu como sociogentica ou funcional, em que h um

mnimo de interveno do pesquisador e as perguntas devem ser do tipo como, que

fomentam a reflexo e narrao, gerando um discurso e evitando-se perguntas do tipo o que

ou por qu. Essas perguntas so exigidas pelo DSC, devido necessidade de levar os

sujeitos a produzirem um discurso a respeito de determinadas experincias e no somente a

descrio de fatos (WELLER; PFAFF, 2010). Assim, as autoras afirmam que:

Os grupos de discusso realizados com pessoas que partilham de experincias em

comum reproduzem estruturas sociais ou processos comunicativos nos quais

possvel identificar um determinado modelo de comunicao. Esse modelo no

casual ou emergente, muito pelo contrrio: ele documenta experincias coletivas

assim como caractersticas sociais desse grupo (WELLER; PFAFF, 2010, p. 58).

Ainda na viso das autoras, os grupos de discusso representam um instrumento

atravs do qual o investigador pode estabelecer um caminho, que permite a reconstruo dos

diferentes meios sociais e do habitus coletivo do grupo. Por isso considerarmos essa tcnica

apropriada para o nosso mtodo do DSC no sentido de que queramos compreender a

percepo dos alunos sobre a tutoria desenvolvida no seu programa.

d) Anlise documental

No DSC os discursos tambm podem ser encontrados nos documentos oficiais ou

no. A anlise documental complementa informaes obtidas por outros instrumentos. Assim,

23

Cf. Apndices H.

42

o investigador deve interpret-los, sintetizar as informaes, determinar tendncias e na

medida do possvel fazer a inferncia. May (2004) diz que os documentos no existem

isoladamente, mas precisam ser situados em uma estrutura terica para que o seu contedo

seja entendido. Nesta investigao, confrontamos o discurso que est no Manual de

Orientaes do PET, por exemplo, com o que ocorre na realidade da ao tutorial.

2.4.2 Passo a passo do resgate do pensamento coletivo: Campo Social I e II

medida que realizvamos as entrevistas e os grupos de discusso, registrvamos

tudo por meio de gravaes e de anotaes.

No intuito de atender s premissas tericas e metodolgicas da proposta dessa

pesquisa, os procedimentos da nossa investigao foram realizados em dois campos sociais,

que correspondem a duas etapas, a saber:

ETAPA I /CAMPO SOCIAL I: Coleta de dados nos grupos PET na

Universidade Estadual do Cear (UECE).

ETAPA II / CAMPO SOCIAL II: Coleta de dados na Faculdade de Psicologia

da Universidade de Lisboa (UL).

A seguir apresentamos um quadro no qual resumimos o nosso percurso

metodolgico e a descrio de como ocorreram as etapas investigativas.

A. Etapa I / Campo Social I: Coleta de dados nos grupos PET na Universidade Estadual

do Cear (UECE)

Em um primeiro contato com a pr-reitora de graduao da UECE solicitamos a

autorizao para realizar a pesquisa, uma vez que o PET um programa vinculado a esta pr-

reitoria na IES.

Em seguida realizamos o contato com a interlocutora do PET e, to logo

iniciamos a pesquisa de campo, no ms de junho de 2015, a interlocutora prontamente se

disponibilizou a apresentar os pormenores do PET,concedeu todos os contatos dos tutores do

programa de tutoria e nos mostrou alguns documentos que regulamentam o programa de

Educao Tutorial (PET). Ressaltamos que, com os e-mails em mos, iniciamos efetivamente

a coleta de dados no PET, que foi realizada de forma intensa no perodo de junho a agosto de

2015.

43

Nesta oportunidade, a interlocutora nos convidou para a reunio do CLAA, na

qual participam interlocutora, tutores e representantes petianos de cada grupo. A reunio do

CLAA do PET ocorreu no dia 19 de junho de 2015.

A partir desse momento com a posse dos e-mails dos professores tutores e alunos

tutorandos dos grupos do PET, realizamos um levantamento estruturado para o qual

elaboramos um roteiro de formulrio on line24

, com questes abertas e fechadas para ter um

conhecimento preliminar do PET e dos sujeitos envolvidos no Programa.

Obtivemos resposta de seis (6) tutores e de quarenta e um (41) tutorandos. O

objetivo desse levantamento estruturado foi traar um perfil do PET da UECE para escolher

um curso a ser trabalhado. Os dados do questionrio permitiu tomarmos a deciso de trabalhar

com todos os grupos PET da Universidade Estadual do Cear (UECE). Alm disso, o

questionrio que favoreceu obter as respostas prvias sobre algumas questes do PET

ajudou a melhorar o intrumento da segunda etapa, que seriam as entrevistas.

No dia 19 de junho participamos da reunio do CLAA com a nossa orientadora de

tese e procedemos explanao dos objetivos da investigao e ao convite para participarem

da investigao. A aceitao dos tutores e tutorandos representantes que estavam presentes foi

bastante positiva.

Nesta reunio do CLAA, reforamos o envio do questionrio para os seus e-mails

e solicitamos o preenchimento. A partir de ento todos os grupos receberam o formulrio on

line. Tambm neste dia levamos o formulrio dos tutores impresso junto com a carta convite25

da pesquisa para cada um deles e pedimos autorizao para visitar os grupos PET e apresentar

a pesquisa para cada grupo individualmente.

A proposta que levamos para o grupo foi de que daramos um retorno para os

colaboradores da pesquisa por meio de formaes ministradas por ns, para os tutorandos

(petianos) e pela professora orientadora, e para os tutores. Percebemos que eles ficaram muito

animados. Ressaltamos que a nossa viso de pesquisa que devemos colaborar com os nossos

investigados, consistindo em uma relao de parceria.

Na ocasio, agendamos a entrevista com alguns tutores. E com alguns petianos

que estavam presentes solicitamos que pedissem autorizao ao grupo para a visita individual.

Eles nos deram o conhecimento dos horrios de suas reunies e ficaram de mencionar com os

outros petianos para que em uma prxima reunio pudssemos apresentar a proposta da

pesquisa para todos.

24

Apndices C e D. 25

Apndice B.

44

Os grupos que no tinham representantes na reunio CLAA, medida que

visitvamos alguns, informvam-nos os dias em que poderamos encontrar os outros e fomos

batendo de porta em porta nas salas do PET, insistindo nos e-mails at conseguirmos marcar

outros encontros.

Os tutores que no estiveram presentes contatamos por e-mail e eles agendaram as

datas das suas entrevistas. Mesmo assim, precisamos participar de uma segunda reunio do

CLAA, no dia 15 de julho de 2015, para conseguirmos fechar o agendamento com mais

alguns tutores e grupos.

O contato com os grupos ocorreu em trs momentos: o primeiro para apresentao

da pesquisa e coleta de sugestes dos petianos; o segundo , que consistiu em um minicurso

com um tema escolhido por eles26

;o terceiro momento, no qual seria o grupo de discusso-

GD propriamente dito para a coleta dos dados necessrios pesquisa.

Aps o primeiro contato com os grupos em que realizamos a apresentao dos

objetivos da pesquisa e obtivemos a aceitao de todos eles , optamos por realizar a

formao antes da coleta de dados para poder romper um pouco com as b