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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA ROCHA POMBO, RELATO E TESTEMUNHO DA REVOLUÇÃO FEDERALISTA NO PARANÁ EM 1894 CURITIBA DEZEMBRO 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE HUMANAS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

ROCHA POMBO, RELATO E TESTEMUNHO DA REVOLUÇÃO FEDERALISTA NO PARANÁ EM 1894

CURITIBA DEZEMBRO 2009

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MARCELO SILVA ECHEVERRIA

ROCHA POMBO, RELATO E TESTEMUNHO DA REVOLUÇÃO FEDERALISTA NO PARANÁ EM 1894

Monografia apresentada à disciplina de Estágio Supervisionado em Pesquisa Histórica como requisito parcial à conclusão do Curso de História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Carlos Roberto Antunes dos Santos

CURITIBA DEZEMBRO 2009

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Sumário Sumário ............................................................................................................... i Agradecimentos: .................................................................................................. i Resumo: .............................................................................................................. ii Abstract ............................................................................................................. iii Introdução:.......................................................................................................... 1

1 A Revolução Federalista: .......................................................................... 5

1.1 Algumas considerações preliminares: .................................................. 5

1.2 Contexto Político e antecendentes da Revolução Federalista: ............. 6

1.3 A Revolução nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina: ..... 8

1.4 A Revolução Federalista no Paraná ................................................... 16

1.5 O Cerco da Lapa ................................................................................. 17

1.6 Término da Revolução ....................................................................... 20

2 A vida e a obra de José Francisco da Rocha Pombo: ............................. 21

2.1 Quem foi Rocha Pombo: .................................................................... 23

3 Análise do livro Para a História: notas sobre a invasão federalista no Paraná ......................................................................................................... 39

3.1 Origem da publicação do livro Para a História: ................................ 41

3.2 Análises publicadas do livro Para a História: ................................... 47

3.3 Estrutura do livro Para a História: ...................................................... 53

3.4 Notícia biográfica do Barão do Serro Azul: ....................................... 56

3.5 Histórico dos acontecimentos que se deram no Paraná ...................... 60

3.6 Idéia dos excessos que cometeu a legalidade triunfante .................... 68

Conclusão: ........................................................................................................ 75

Biliografia:........................................................................................................ 78

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i

Agradecimentos:

Este trabalho não teria sido possível sem a ajuda de diversas pessoas. A começar

agradeço a Deus, que me deu vida e capacidade de chegar até aqui. Agradeço minha

esposa Milene pela paciência e suporte. Também agradeço a meus pais e meu irmão

sem os quais não teria sido possível fazer o curso de história. Agradeço ao professor

Carlos pela disponbilidade e orientação. Por fim, agradeços aos pesquisadores Rafael

Sêga e Eric Hunzicker por me receberem e pelo material cedido. Também agradeço à

Associação Comercial do Paraná, na figura de Tânia Vieira que também me recebeu

prontamente cedendo todas as fontes que pedi. Por fim, agradeço à instituição

Biblioteca Pública do Paraná pelos empréstimos especiais de obras sem as quais este

trabalho não ficaria completo.

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ii

Resumo:

Esse trabalho tem como objetivo analisar o livro Para a História: notas sobre a invasão federalista no Paraná do historiador José Francisco da Rocha Pombo. A análise foi feita tendo em vista suas possíveis contribuições para a investigação de alguns aspectos da invasão federalista no Paraná. Para sua realização, foi feito um levantamento bibliográfico acerca da história Revolução Federalista, bem como da vida de Rocha Pombo. Junto a isso, foi feito uma análise das três partes que compõe o livro Para a História. O objetivo dessas análises foi de verificar qual o ponto de vista de Rocha Pombo a respeito da Revolução Federalista, quais suas motivações ao escrever o Para a História. Por fim, também se verifica quais são os aspectos subjetivos da vida de Rocha Pombo que devem ser levados em consideração para se entender o contexto de confecção da obra. Concluiu-se com a presente pesquisa que o trabalho de Rocha Pombo expresso na obra de análise é pouco estudado. Também foi possível verificar que Rocha Pombo ao escrever o Para a História não consegue se manter longe de seus sentimentos fazendo com que o texto tenha um claro caráter denunciativo e que procura recuperar a dignidade do Barão do Serro Azul.

Palavras-chave: livro Para a História; Rocha Pombo biografia, Revolução Federalista no Paraná, invasão federalista em Curitiba.

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iii

Abstract

The purpose of this paper is to analyze the book Para a História: notes of the federalist invasion in Paraná wrote by José Francisco da Rocha Pombo. The analyses was made to realize wich are the contributions of the book to study the federalist invasion in Paraná. A thorough bibliographic research was made about the history of Federalist Revolution. Besides that the tree parts of the book were studied. The purpose of this analyses is to verify what was the Rocha Pombo’s point of view of the Federalist Revolution whe he wrote the Para a História. Finally was also verified what were the subjective aspects of Rocha Pombo’s life and how they can be used to understand the context of the revolution. Was concluded whit this paper that Rocha Pombo is not very studied. Also was possible to verify that Rocha Pombo can keep his feeling away when he is writing Para a História. Is it possible to understand his feelings of Revolt trying to recuparet the diginity of Barão do Serro Azul.

Keywords: book Para a História, Rocha Pombo biography; Federalist Revolution in Paraná; federalist invasion in Curitiba.

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1

Introdução:

Esta monografia foi desenvolvida dentro do campo de estudo da história. O

objetivo principal deste trabalho é a análise da obra Para a História: �otas sobre a

invasão federalista no Paraná1 escrita pelo historiador Rocha Pombo no final do século

XIX. O livro Para a História não foi, até a presente data, objeto de estudo exclusivo de

nenhum trabalho de historiográfico. Dessa forma entende-se o ineditismo desta pesquisa

que tem como objetivo analisar a fundo o livro Para a História, publicado tardiamente

no ano de 1980, cerca de 80 anos após ser escrito.

Levamos em conta os temas que tem relação com livro tais como a Revolução

Federalista, principalmente os acontecimentos que se deram no Paraná. A própria vida

do escritor e historiador Rocha Pombo. Seu relacionamento com personagens do

conflito, como por exemplo, o Barão do Serro Azul.

Ao longo deste trabalho procura-se analisar de que forma Rocha Pombo escreve

suas notas ainda no calor dos acontecimentos. O livro começa a ser escrito em Curitiba

no ano de 1894, enquanto o exército federalista ocupava a capital do Paraná. Foi

finalizado em 1898 sendo publicado somente em 1980. A problemática que se coloca é

a de entender de que forma Pombo Pombo, sendo testemunha e personagem dos

acontecimentos, encara a Revolução Federalista no Paraná, quais suas motivações

pessoais e sentimentos ao escrever o Para a História. Este trabalho se insere na linha de

pesquisa Intersubjetividade e Pluralidade: reflexão e sentimento na História.

Procuramos ao longo da pesquisa trabalhar com fontes primárias relativas ao

período em questão. Foram visitadas diversas instituições em Curitiba como as

bibliotecas da Universidade Federal do Paraná, Biblioteca Pública do Paraná, Círculo de

Estudos dos Bandeirantes, além do acervo da Associação Comercial do Paraná. Foram

também visitadas as cidades da Lapa e Morretes. Nestes locais foram feitas entrevistas

de caráter prospectivo com historiadores de Morretes e Curitiba que estudaram o

1 POMBO, José f. R. Para a História; notas sobre a invasão federalista no Estado do Paraná. Curitiba:

Fundação Cultural da Prefeitura Municipal, 1980.

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período a fim de recolher fontes e bibliografia para esta pesquisa.

A análise do livro Para a História se deu em três momentos. Primeiramente foi

desenvolvido um breve levantamento bibliográfico da Revolução Federalista, desde os

seus precedentes políticos até seu desenvolvimento nos estados do Rio Grande do Sul,

Santa Catarina e Paraná e suas implicações internacionais. Com esse levantamento

pretendemos traçar o plano de fundo do que foi a Revolução Federalista. Para o estudo

foram utilizados autores que representam tanto a historiografia tradicional do estudo do

tema, como também publicações mais recentes. Como exemplos de uma historiografia

mais tradicional citamos Romário Martins, Ruy Wachowicz e David Carneiro. Como

representantes de uma historiografia mais contemporânea citamos Rafael Augustus

Sêga, Élio Chaves Flores e Eduardo Dabrik.

O segundo capítulo teve como objetivo fazer um levantamento biográfico a

respeito do historiador Rocha Pombo. Foram buscadas fontes primárias para se

reconstituir a trajetória de vida do autor a fim de demonstrar sua importância dentro do

advento da Revolução Federalista no Paraná e também sua relevância para o estudo da

história desse evento. Utilizamos como autores para sustentar esta parte do trabalho

Nestor Vitor, Gilson Queluz, Brasil Pinheiro Machado, Valfrido Piloto, Carlos Roberto

Antunes dos Santos e Eric Hunzicker.

No terceiro capítulo, o principal deste trabalho, consta a análise propriamente

dita do livro Para a História. Dentro deste capítulo procuramos inicialmente entender

qual a origem emocional do texto, em outras palavras, o que levou Rocha Pombo a

escrever tais notas, bem como situar sua produção dentro da sua biografia. Em um

segundo momento procuramos identificar qual a origem da publicação do Para a

História uma vez que o texto passou pelas mãos de diversos intelectuais antes de ser

publicado em 1980. Em seguida levantamos os principais trabalhos historiográficos a

respeito do Para a História. Por fim, foi feito um estudo da estrutura do texto sendo

levantados em três tópicos os principais elementos de cada uma das partes do livro Para

a História.

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3

Tendo em vista a divisão do trabalho é interessante introduzir também quem foi

o autor Rocha Pombo. José Francisco da Rocha Pombo nasceu no Paraná, na cidade de

Morretes em 1857 e desde cedo se mostrou inclinado para o estudo das letras. Foi

professor, jornalista, escritor, deputado, historiador tendo se aventurado também em

empreitadas comerciais. Com isso podemos perceber que Rocha Pombo foi um

intelectual sempre atuante ainda que nem sempre esteve completamente inserido dentro

da intelectualidade brasileira. Rocha Pombo possuía características próprias, como um

apurado senso de autonomia, que muitas vezes o fez ficar isolado, principalmente na

política quando foi deputado pela cidade de Castro. Também percebemos que durante

toda sua vida, em maior ou menor grau Rocha Pombo foi um historiador que se colocou

em seus textos diante da realidade que lhe era apresentada. Nestor Vitor, uma das

principais fontes utilizadas no segundo capítulo foi amigo pessoal de Rocha Pombo

tendo escrito sobre ele diversos artigos.

Com o levantamento biográfico é possível entender melhor quem foi Rocha

Pombo e também compreender qual sua relevância para o estudo da Revolução

Federalista. A análise, mesmo correndo o risco de se tornar um descrição factual, foi

desenvolvida no sentido de se entender não só as características objetivas da vida de

Rocha Pombo, mas também as características subjetivas que dizem respeito às suas

publicações. Isso pois a obra posta em foco nesta pesquisa é carregada de elementos

subjetivos e emocionais com os quais Rocha Pombo tem que lidar.

Durante a análise do livro Para a História propriamente dita, procuramos

relacionar a história de vida do seu autor com o texto final. É um objetivo também

entender de que forma se deu a origem da publicação. Como já explicitado, ainda que o

livro tenha sido finalizado em 1898 ele só vem a ser publicado em 1980. Nesse período

passou pelas mãos de diversos intelectuais que em raras ocasiões puderam citar as

notas. O primeiro vestígio do livro Para a História foi encontrado em um livro

intitulado Profanações2 de Valfrido Piloto datado de 1947. Nesse livro o autor comenta

que teve conhecimento das notas a respeito da Revolução Federalista de Rocha Pombo

2 PILOTO, Valfrido. Profanações, Curitiba, Gráfica Condor, 1947.

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após uma conversa com Leôncio Correia no Rio de Janeiro. Leôncio Correia

provavelmente recebera do próprio Rocha Pombo o qual não pode publicar, pois

diversos personagens citados e criticados em sua obra ainda estavam vivos na época.

Leôncio Correia por sua vez envia o documento para Valfrido Piloto através de Octávio

Secundino. Valfrido Piloto após receber o texto mostra-o a Caio Machado, filho de

Vicente Machado, um dos personagens criticados por Rocha Pombo no Para a História.

Caio Machado reclama os originais afirmando que era dele que Leôncio Correia havia

obtido. Valfrido Piloto em 1947, alguns anos após o Congresso do Cinqüentenário da

Revolução Federalista finalmente publica alguns trechos do livro Para a História em

um capítulo do seu livro Profanações intitulado Rocha Pombo, testemunha ocular da

história. Valfrido Piloto havia recebido, no entanto, apenas as duas últimas das três

partes que compunham o livro de Rocha Pombo. A primeira parte, faltante até então, ele

foi localizar em uma obra publicada alguns anos antes pelo próprio Leôncio Correia

intitulada Barão do Serro Azul3 na qual ele insere, sem referência alguma de autoria ou

data, a primeira parte do trabalho de Rocha Pombo. Mais tarde também encontramos

uma breve nota se referindo ao Para a História no livro A Última Viagem do Barão do

Serro Azul4 de 1973 escrito por Túlio Vargas.

Das análises mais recentes a respeito do livro Para a História citamos o trabalho

de Gilson Queluz, Octavio Secundino Junior, Carlos Roberto Antunes dos Santos além

da citação em trabalhos como o de Rafael Sêga e outros autores. Também encontramos

citações em artigos de jornais que não possuem a mesma pretensão acadêmica dos

autores citados. Lembramos, no entanto, que nenhum dos trabalhos citados tem como

objetivo principal a análise da obra de Rocha Pombo. Ele figura nos textos pesquisados

apenas um tópico ou no máximo como um capítulo.

Por fim, temos a conclusão do trabalho respondendo à problemática. Conclui-se

que a Revolução Federalista é um tema amplamente estudado, porém o Para a História

é uma fonte pouco conhecida pela historiografia. Conclui-se também que mesmo que

Rocha Pombo tente se isentar a fim de escrever uma história imparcial dos

3 CORREIA, Leôncio. Barão do Serro Azul, Curitiba, 1942 4 VARGAS, Túlio. A última viagem do Barão do Serro Azul. Ed. O formigueiro, Brasília, 1973.

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acontecimentos no Paraná ele se posiciona muito claramente. Seu texto é recheado de

juízos de valor e sentimentos os quais deixa transparecer quase que sem preocupação.

Ao analisarmos a biografia de Rocha Pombo entendemos que o Para a História, assim

como diversos trabalhos historiográficos do mesmo autor, são pouco estudados, ainda

que possam contribuir significativamente para análises da História do Brasil no final do

século XVIII e início do século XIX. E como conclusão final temos no Para a História

uma tentativa de Rocha Pombo de resgatar a dignidade e afirmar a inocência de seu

amigo Barão do Serro Azul diante das acusações de colaborar com os revolucionários,

bem como se posiciona no sentido de responsabilizar Vicente Machado pelos

assassinatos e atrocidades acontecidas em Curitiba.

1 A Revolução Federalista:

1.1 Algumas considerações preliminares:

A Revolução Federalista foi um conflito ocorrido na região sul do país, alguns

anos após a Proclamação da República. É possível considerar a Revolução Federalista

como uma das principais lutas armadas que ocorreram principalmente nos estados do

Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná tendo também implicações internacionais.

O conflito atingiu diretamente os três estados do Sul o que fez com que a Revolução

Federalista fosse tema amplamente debatido pela historiografia brasileira,

principalmente nesses estados.

Neste capítulo vamos apontar quais foram os pontos principais deste conflito.

Seus precedentes, dentro da perspectiva da política brasileira logo após a proclamação

da república em fins do século XIX. Dessa forma, pretendemos apontar as

características que marcaram o conflito e também seus principais expoentes. Por fim

vamos tentar entender como se deu o conflito no estado do Paraná. Entende-se que é

necessário apontar tais fatos, ainda que em muitas vezes adote-se uma postura descritiva

dos acontecimentos para que no terceiro capítulo seja possível fazer uma análise

completa do livro Para a História: notas sobre a invasão federalista no Estado do

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6

Paraná de Francisco da Rocha Pombo.5

1.2 Contexto Político e antecendentes da Revolução Federalista:

Após a Proclamação da República em 1889 surgem divergências em diversos

pontos do País, como em Minas Gerais, Maranhão, Rio de Janeiro e no sul do país, em

especial no Rio Grande do Sul. Segundo Elio Chaves Flores6 o federalismo implantado

em 1891 deliberou aos estados as questões de segurança pública, e assim cada estado

organizou seu aparelho repressivo. Com isso há o surgimento de disputas partidárias,

estas que já vinham do período imperial. Com a renúncia de Deodoro da Fonseca,

conhecido como o Marechal Deodoro, e com a ascensão de Floriano Peixoto ao poder,

acreditava-se que as agitações nas províncias diminuiriam, fato que não aconteceu. A

República foi efetivada sob a posição de diversos grupos, os quais após a implantação

do regime passaram a exercer pressão para que seus projetos de sociedade fossem

concretizados.

No Rio Grande do Sul o abandono de Júlio de Castilhos do governo do estado

em 12 de novembro de 1891 foi seguido por um breve governo republicano liderado por

Barros Cassal e que seria derrubado com a volta dos Castilhistas em meados do ano

seguinte, em 17 de junho de 1892. Segundo Flores, Júlio de Castilhos através do jornal

A federação batizou esse curto de governo de “governicho”, marcando com isso o termo

na historiografia regional. O “governicho” foi uma sucessão de renúncias e posses.

Flores coloca que “durante esse período, a situação no estado, principalmente nas

regiões da campanha e da fronteira, passa a ser de insegurança e exacerbação

partidária”.7

Esse partidarismo era composto por um lado pelos seguidores de Júlio

Castilho, também chamados de castilhistas, que tinham como objetivo defender o

governo de Floriano Peixoto. Do outro lado estavam os seguidores de Gaspar Silveira

5 POMBO, José f. R. Para a História; notas sobre a invasão federalista no Estado do Paraná. Curitiba: fundação Cultural da Prefeitura Municipal, 1980. 6 FLORES, Élio Chaves. A consolidação República: rebeliões de ordem e progresso. 2003, p. 73. 7 FLORES, Élio Chaves. Op. Cit., 2003, p.73.

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Martins, chamados Gasparistas, que desde o congresso de Bagé, em 31 de março de

1892, fundaram o Partido Federalista. Rafael Augustus Sêga, em seu livro Tempos

Beliciosos afirma que “as propostas federativas levadas a efeito pela implantação da

República no Brasil tentavam atender a uma nova realidade regional do país, dando uma

maior autonomia para os Estados”.8 Ruy Wachowicz coloca que o Marechal Floriano

Peixoto “suspeitava das tendências políticas monárquicas e parlamentaristas de Gaspar

Silveira Martins”9. Com isso Floriano teria se aproximado de Júlio de Castilhos na luta

comum contra Silveira Martins e seus seguidores. Romário Martins (1939) ainda no

calor dos acontecimentos também reafirma a mesma tese para o início dos conflitos.

Segundo o autor em seu livro clássico dedicado à História do Paraná, os acontecimentos

políticos provindos da eleição de Marechal Deodoro, foram de suma importância para o

início do conflito. “Principalmente no Rio Grande do Sul, os acontecimentos tiveram

larga repercussão e motivaram da parte dos ‘federalistas’ (partidários de Gaspar Silveira

Martins) profunda exacerbação de ódios contra os ‘castilhistas’ (partidários do

Governador Júlio de Castilhos)”10.

Eduardo Dabrik11 aponta ainda um novo fato que também procura explicar,

dentro de uma ótica nacional, o descontentamento regional causado pela renúncia de

Deodoro e a sucessão de Floriano. Segundo Dabrik, o então vice-presidente da

República, Floriano Peixoto subiu ao poder apenas através de um artifício. A

Constituição previa que o vice só poderia assumir caso o titular tivesse cumprido

metade de seu mandato. Deodoro, no entanto, renunciou antes de completar metade do

mandato, assim Floriano chamou os líderes do Congresso e solicitou a reforma imediata

da Constituição para que pudesse assumir. No mesmo dia o Congresso reformou a

Constituição e Floriano pode assumir a presidência.

Sêga, citando Ricardo Costa de Oliveira, coloca que a Revolução Federalista

abriu a “caixa de pandora” da política dos três estados do sul do Brasil. Costa de

Oliveira ainda coloca que “o mais grave conflito entre as diferentes frações da classe

8 SÊGA, Rafael Augustus. Tempos Beliciosos. Ed. Aos quatro ventos, 2005, p. 85. 9 WACHOWICZ, Ruy. História do Paraná. 9ºed, Imprensa Oficial do Paraná. 2001, p.165. 10 MARTINS, Romário. História do Paraná. 3º edição. Ed. Guairá. 1939, p. 239 11 DABRIK, Eduardo. Nova visão da nossa história. Imprensa Oficial, 2006.

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dominante do sul do Brasil foi seguramente a Revolução Federalista de 1893-1894.

Suas causas estão vinculadas à implantação do sistema político-partidário republicano

no sul do Brasil.”12

Ainda antes do conflito em si, deve-se apontar para o quadro de insegurança e

instabilidade no Rio Grande do Sul. Flores afirma que “se o primeiro semestre de 1892

foi marcado pela instabilidade governamental, o segundo semestre do mesmo ano seria

radicalizado por perseguições políticas.”13 A violência era crescente, e diversos

funcionários públicos sofriam com perseguições políticas. O autor afirma que no final

de outubro de 1892 o coronel Castilhista Evaristo do Amaral foi “trucidado” por um

grupo federalista. Republicanos e federalistas entram em combate desde antes da

revolução, e assim os federalistas sofrem com 134 vítimas, e os republicanos também já

começam a elaborar as listas de pessoas assassinadas em várias cidades do interior e as

publicar em seus jornais.14

A violência é tanta que no início de 1892 um militar denuncia ao presidente da

República, Floriano Peixoto, “a total ausência de garantias constitucionais para a

população, enfatizando o quadro de guerra civil.”15

Nos primeiros três meses do ano de 1893 a situação se agrava. Em janeiro Júlio

de Castilhos toma posse da presidência do estado, prometendo salvar a República dos

federalistas, e, em fevereiro e março, ocorre a mobilização militar. Ocasião em que

grupos armados se organizam nas fronteiras do Uruguai e da Argentina e invadem o

estado para o enfrentamento com as tropas legalistas.

1.3 A Revolução nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina:

Existem diversas opiniões sobre quais eram os verdadeiros ideais que

determinaram o movimento revolucionário da Revolução Federalista. Alguns autores

colocam como o ponto principal a vontade de grupos insatisfeitos com a política

12 OLIVEIRA, Ricardo Costa de. in SÊGA, R. A. Op. Cit., 2005. p 168. 13 FLORES Op. Cit., 2003, p 73. 14 FLORES Op. Cit., 2003, p 74. 15 FLORES Op. Cit., 2003, p 74

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presente de voltarem à monarquia. Outros queriam a República, mas sem Floriano no

poder. Outros ainda pensavam em um presidencialismo moderado, e por fim os mais

radicais queriam a separação do Rio Grande do Sul e a união com o “estado oriental”

(Uruguai).

Para Wachowicz durante todo o conflito não houve uma unidade entre os

maragatos. “Os chefes dos maragatos nunca tiveram unidade de ação e nem, ao menos,

os mesmo objetivos políticos”. Essa falta de objetivos comuns dos chefes federalistas

fez com que nunca houvesse um comando realmente unificado.”16

No entanto, mesmo com tais incongruências a revolta começou. De um lado os

florianistas, partidários da república, também conhecidos como os pica-paus. Do outro

se encontravam os federalistas, também conhecidos como maragatos, um termo

pejorativo de origem castelhana que significava pessoa desqualificada17. Os

Revolucionários receberam o nome pejorativo de Maragatos dos republicanos legalistas.

Ele foi atribuído com intentos de mercenários e estrangeiros, no entanto, a denominação

passou mais tarde a ter conotação positiva para os defensores da causa parlamentarista.

Flores afirma que as tropas castilhistas eram chamados de pica-paus por causa do

armamento que utilizavam e pelo uniforme semelhante ao do exército.

A invasão de uma coluna de maragatos de Gumercindo Saraiva (1851-1894) ao

Rio Grande do Sul em 05 de fevereiro de 1893, vindos de Aceguá, no Uruguai é

considerado como o início formal da Revolução Federalista por grande parte dos

historiadores. Os maragatos teriam transposto a fronteira e acampado em Ana Correia,

próximo ao rio Jaguarão, no município de Bagé.

Para David Carneiro o início do conflito de 1893 é difícil de ser estabelecido.

O autor afirma que “não é possível bem marcar o momento em que começa a revolta

16 Essa posição é atestada por WACHOWICZ, Op. Cit., 2001, p. 166. 17 Sêga também discute a origem do termo Maragatos considerando que ela também tinha o pretesto de designar “pessoa desqualificada”. O autor aponta que sua origem é controversa, porém a hipótese mais aceita retrocede a uma região na Espanha chama La Margataria. Para os Uruguaios o termo designava as pessoas oriundas do departamento de San José, descendentes de maragatos espanhóis. SÊGA, R. A. Op. Cit., 2005, P. 97.

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armada denominada de 1893, nem quais foram a princípio os seus chefes militares mais

influentes.”18

Tomando como exemplo a discussão a respeito de qual foi exatamente o

estopim da revolução levantamos a consideração de que no estudo da Revolução

Federalista a unanimidade não é comumente alcançada. Os pontos de vista do que teria

determinado o início do conflito, seus idéias, e até mesmo a discussão factual variam

nas análises dos historiadores. SÊGA (2005) corrobora essa afirmação quando discute

qual seriam as datas limítrofes de início e fim do conflito. “Podemos, então, reparar que

a Revolução Federalista é um tema onde o consenso e a unanimidade de posições estão

longe de serem alcançadas”.19

David Carneiro (1982) comentando que mesmo com uma possível vitória

federalista as divergências internas do movimento seriam notáveis. Assim:

“(...) não havia dúvida alguma que, se houvesse acontecido a vitória

revolucionária, na seria possível construir, em vista da divergência completa

de opiniões e de vontades, e os mesmo espíritos construtores ficariam de

braços cruzados ou se agitariam na luta de eliminação recíproca.”20

Flores afirma que o conflito se inicia após a entrada dos revolucionários no

país. Segundo o autor as forças invasoras federalistas, após um tempo de organização

além da fronteira, eram de aproximadamente 3 mil homens. Esse exército que estava

armado com armas compradas por Gaspar Silveira Martins em Montevidéu, era

chamado também de Exército Libertador.

Nem todas as forças do exército no Rio Grande do Sul aderiram à revolução.

Segundo Wachowicz (2001) “O senador Pinheiro Machado se pôs à frente das forças

que permaneceram fiéis ao governo do Rio de Janeiro. Organizou, no interior rio-

grandense, a famosa Divisão do Norte, que iria fustigar continuamente, e pela

18 CARNEIRO, David. O Paraná e a revolução federalista. 2º Edição. Secretaria da Cultura e do esporte, 1982, p. 58. 19 SÊGA, R. A. Op. Cit., 2005, p. 95. 20 CARNEIRO, David. Op. Cit., 1982, p. 58.

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retaguarda, os federalistas.”21

O conflito primeiramente não parecia ter poder para se propagar. Romário

Martins (1939) afirma que o fato decisivo foi o apoio do almirante, ministro da marinha

no primeiro governo da república, Wandenkólck, que se uniu aos federalistas

declarando guerra aos “Castilhistas”. Martins aponta que o almirante “lançou contra a

barra do Rio Grande uma esquadra de navios mercantes armados em guerra, que foram,

afinal, aprezados pelo cruzador República”22. Em agosto o Coronel Salgado, com mil

gaúchos, une-se ao líder federalista Gumercindo Saraiva em Lavras e ambos se lançam

novamente em ação. Deve-se levar em conta neste período que o Almirante Custódio de

Melo se subleva no porto do Rio de Janeiro, dando à revolução federalista o plano de

fundo ideal, uma vez que as tropas republicanas deveriam ficar na cidade para protegê-

la de um possível ataque. Romário Martins afirma que com o aumento das forças que

guerreavam no Rio Grande do Sul, as forças do Coronel Salgado marcharam para

Laguna, em Santa Catarina, onde o governo dava apoio aos federalistas, e Gumercindo

Saraiva se dirigia ao Paraná.

Em meados de 1893, mais especificamente no mês de julho Gumercindo

Saraiva já é general do exército Libertador. Ele junta suas tropas com as do General

Salgado e juntos, ainda que possuíssem divergências, conseguem somar quase dois mil

homens. Eles procedem suas operações tomando pequenas cidades até chegar em Cerro

de Ouro, em fins de agosto.

No início do mês de agosto os federalistas recebem notícias da capital da

República que aumentam seu ânimo. A Revolta da Armada, que acontecia

simultaneamente sob a liderança de Custódio de Melo havia se rebelado contra a

ditadura de Marechal Floriano Peixoto.

É importante considerar, no entanto, que embora a Revolta da Armada e a

Revolução Federalista tenham acontecido simultaneamente por um bom período, elas

não tinham propósitos comuns, sendo que muitas vezes estes eram até mesmo

21 WACHOWICZ, Op. Cit., 2001, p. 166. 22 MARTINS, Romário. História do Paraná. 3º edição. Ed. Guairá. 1939, p. 239

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incompatíveis. SÊGA (2005) afirma que a Revolta da Armada “foi um movimento

surgido no centro do poder e proposto por militares de altas patentes.”23

No entanto, alguns autores colocam que nos meses de setembro e outubro de

1893 Gurmercindo Saraiva se coloca frente aos Castilhistas nas batalhas do Rio Grande

do Sul, seguindo, após guerrear contra a Divisão Norte, para Santa Catarina e em

seguida para o Paraná.

Wachowicz (2001) afirma que em setembro de 1893 a ida da esquadra chefiada

pelo Almirante Custódio de Melo, que mais tarde receberia o apoio de Saldanha da

Gama, foi o fato que colocou a revolução em âmbito nacional. “A situação de Floriano

tornou-se crítica, pois não poderia mais abastecer por mar suas tropas no sul, e teria que

manter, na capital da República, poderosa força militar, para impedir um desembarque

no Rio de Janeiro”24. O mesmo autor coloca ainda que Custódio de Melo sairia da Baía

da Guanabara para tomar o litoral de Santa Catarina, inclusive Desterro, que mais tarde

seria conhecida como a cidade de Florianópolis. Ali Custódio teria organizado um

governo a fim de forçar a neutralidade das nações estrangeiras, procurando dessa força

“impedir o fornecimento de armas ao governo legal do Marechal Floriano”.25

Flores (2003) também considera a ligação da Revolução Federalista com a

Revolta da Armada. Ele afirma que no mês de setembro os revoltosos, após transporem

a fronteira na região de Santa do Livramento, receberam a notícia sobre a Revolta da

Armada, e “eufóricos” com os acontecimentos ocorridos na capital “acham que podem

avançar pelos estados sulinos, e em São Paulo, aglutinar os contingentes antiflorianistas

e se apossar do Rio de Janeiro”26. O autor afirma que nesses meses, os últimos de 1893

e os três primeiros meses de 1894, o florianismo esteve mesmo na iminência de

sucumbir, porém o “o enlace dos dois movimentos, a Revolta da Armada e a Revolução

Federalista, tinha apenas um fator comum, a hostilidade ao legalismo florianista”.27

23 SÊGA, R. A. Op. Cit., 2005, p.105. 24 WACHOWICZ, Op. Cit., 2001, pp. 166- 167. 25 WACHOWICZ, Op. Cit., 2001, p. 167. 26 FLORES Op. Cit., 2003, p.76. 27 FLORES Op. Cit., 2003, p. 77.

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13

Em fins de novembro de 1893 aconteceu um dos conflitos mais violentos da

Revolução. Uma força governista foi dominada pelo maragato Joca Tavares às margens

do rio Negro, nas proximidades de Bagé. Na noite do dia 24 de novembro cerca de 300

prisioneiros, de um total de mil, foram executados por degola, sob supervisão de Adão

Latorre.

Logo após a chacina do Rio Negro, Joca Tavares faz uma investida para tomar

a cidade de Bagé. Esta cidade tinha um valor subjetivo para os revolucionários, pois era

considerada o berço do movimento federalista. No entanto, ainda que com um

contingente de aproximadamente 3 mil homens Joca Tavares não obtém sucesso. A

resistência fortemente armada da cidade de Bagé, sob a liderança de Carlos Maria da

Silva Telles faz com que os revolucionários desistissem da mesma no início de janeiro

do ano de 1894, após 47 dias de cerco.

O combate do Rio Negro ficou conhecido pela brutalidade com que os

prisioneiros foram mortos. Nas proximidades de Bagé um grande contingente de

prisioneiros foi sumariamente degolado. Após receber informações do ocorrido Júlio de

Castilhos classificou-as de exageradas, acreditando que os rebeldes não possuíam tanta

munição muito menos homens suficientes para tamanha vitória. Flores fazendo uma

análise do ocorrido afirma que “as conseqüências das notícias das degolas perante as

massas combatentes pareciam ser temidas pelos oficiais”.28

Sêga (2005) cita Elio Chaves Flores (1996) e seu estudo �o tempo da degolas;

revoluções imperfeitas29 apontando que a degola, também chamada gravata colorada,

foram frutos da radicalização política endógena do Rio Grande do Sul na Primeira

República.

Neste ponto levantamos a questão do porque da degola como método utilizado.

Sabe-se que a maioria dos combatentes federalistas era peões de estâncias. Eles não

possuíam, em sua maioria, instrução militar formal nem mesmo faziam parte de um

28 FLORES Op. Cit., 2003, p. 77. 29 FLORES, Élio C. No tempo das degolas; revoluções imperfeitas. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1996, PP. 10-11. In: SÊGA, Rafael Augustus. 2005, p. 95.

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14

movimento marcado por ideais muito bem definidos, uma vez que a Revolução

Federalista tem como característica uma desorganização interna aparente. Um exemplo

é o fato dos federalistas não utilizarem uniformes militares, mas sim seus “ponchos” nas

batalhas.

Este ponto também foi discutido por Gumercindo Saraiva e Salgado. Salgado

era um militar de carreira. No intuito de organizar a tropa obrigou os combatentes a

utilizarem fitas vermelhas nos chapéus. A cor vermelha viria mais tarde a marcar a

identificação dos revolucionários.

Voltando à questão da degola é sabido que por ser homens do campo esse era o

método utilizado tradicionalmente para matar gado e outros animais. Dessa forma a

degola fazia parte do cotidiano do combatente quando este ainda era um estancieiro. A

escassez de munição, a falta de organização militar e a própria cultura do combatente

explica o porquê da utilização da degola como método utilizado pelos federalistas para

matar seus adversários.

A Divisão do Norte, composta pelos governistas seguia fielmente o rastro

deixado pelo exército libertador. Isto faz com que Gumercindo e o General Salgado

dividam suas forças em duas. A primeira coluna ficou com o General Salgado e a

segunda com Gumercindo Saraiva. Esta após atravessar o rio Pelotas ruma para cidade

Lajes e em seguida para Blumenau. Após passar por Blumenau Gumercindo se dirige à

Itajaí onde pretendia se juntar aos revoltosos da Armada. O intento de Gumercindo era

audacioso, tomar as principais cidades de Santa Catarina além de cercar e tomar as

cidades montadas por Floriano no Estado do Paraná, no caso Tijucas e a Lapa. Custódio

de Melo por sua vez se encarregaria do porto de Paranaguá.

O General Salgado que comandava a outra coluna do exército libertador tomou

outro caminho contrariando os rumos da Revolução. Salgado guia sua coluna pelo

litoral passando pelas cidades de Araranguá, Criciúma, Tubarão e Laguna. O General

decide rumar em direção à cidade de Desterro, que mais tarde viria a ser chamada de

Florianópolis em homenagem ao Marechal Floriano Peixoto. A intenção, após Desterro,

Page 21: universidade federal do paraná setor de humanas departamento

15

era voltar ao Rio Grande do Sul. Esse aspecto novamente corrobora a hipótese de que a

Revolução Federalista, apesar da força que possuía era um movimento desorganizado

internamente.

A tomada das cidades florianista no Estado do Paraná marcaria o auge da

Revolução Federalista. David Carneiro (1982) afirma que a Revolução atingiria seu

máximo militar no estado do Paraná.

“A revolução em seu aspecto militar de maior importância, deixa o Rio

Grande, e passando Santa Catarina vai culminar no Paraná, nos primeiros

dias do ano de 1894. No grande estado sulino as lutar ficaram como

efervescência endêmica que não cessaria senão pelo esgotamento dos

contendores em oposição”.30

É dentro da perspectiva da invasão do Paraná, no início de 1894, que faremos

mais a frente a análise do livro Para a História de Rocha Pombo.

O General Salgado experimentou em Desterro o sabor da vitória. Segundo

Sêga (2005):

“(...) Salgado e os aristocráticos oficiais navais esbanjaram o raro momento

de vitórias da revolução em sua estadia em Desterro, deleitando-se em bailes

elegantes oferecidos pela “nata” da sociedade mais preeminente da cidade e

pleiteando cargos no Governo Provisório...”31

Curioso notar que alguns historiadores paranaenses como Ruy Wachowicz,

Romário Martins, entre outros, não se atém aos fatos ocorridos no Rio Grande do Sul e

em Santa Catarina no início da Revolução, dando enfoque apenas aos acontecimentos

ocorridos no Paraná. Alexandre Dabrik, outro exemplo dessa preferência dos autores

regionais, dispõe poucos parágrafos para comentar os acontecimentos no Rio Grande do

Sul e Santa Catarina.

Neste aspecto vamos versar especificamente sobre o conflito que se deu em

30 CARNEIRO, David. Op. Cit., 1982, p. 63. 31 SÊGA, R. A. Op. Cit., 2005, p.105.

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16

terras paranaenses que é o contexto específico no qual se insere este trabalho.

1.4 A Revolução Federalista no Paraná

Tendo a Revolução Federalista tomado forma e âmbito nacional o próximo

Estado no caminho dos revoltosos que tinham como objetivo principal São Paulo em

seguida o Rio de Janeiro, era o Paraná. A fim de apresentar o plano de fundo em que a

obra central deste trabalho se insere faremos um breve levantamento descritivo e factual

da Revolução Federalista no Paraná. Com isso pretendemos estabelecer as pontes

necessárias para uma análise historiografia da obra Para a História de Rocha Pombo no

terceiro capítulo.

David Carneiro (1982) afirma que nos primeiros dias de outubro de 1893 a

invasão do Paraná, estando Santa Catarina entregue aos revolucionários, era iminente32.

Em 25 de outubro, os navios Meteoro e Urano chegaram a São Francisco carregados de

material bélico. “Aprontaram-se, então os revolucionários, com toda a fôrça, para a

investida contra o Paraná”.33 A invasão do Paraná tem início no dia 11 de janeiro de

1894.

Gumercindo Saraiva inicia o cerco na cidade de Tijucas. Em uma semana de

cerco a munição dos sitiados acabou e a cidade se rendeu. Gumercindo segue então para

a cidade da Lapa onde encontra resistência franca do comandante Antonio Ernesto

Gomes Carneiro. A cidade da Lapa só viria a render-se após 26 dias de cerco, no dia 11

de fevereiro de 1894.

Partindo da Lapa, para cuidar de seus feridos e se restabelecer do longo

conflito que lá se traçou os maragatos tomam o trem com destino à cidade de Curitiba,

capital do estado do Paraná que já estava sob a liderança de Custódio de Melo desde o

dia 20 de janeiro.

Em Paranaguá o almirante Custódio de Melo iniciou sua ofensiva da Armada

32 CARNEIRO, David. Op. Cit., 1982, p. 75. 33 CARNEIRO, David. Op. Cit., 1982, p. 78

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17

na manhã do dia 15 de janeiro. O então General de Divisão José Maria Pêgo Júnior

abandona a cidade em um trem para Curitiba levando consigo seu o contingente de

oficiais deixando a cidade abandonada.

Temos neste aspecto um breve resumo da chegada dos maragatos ao estado do

Paraná. A tomada da Lapa, nos Campos Gerais, é sem duvida o cerco mais marcante da

Revolução Federalista.

1.5 O Cerco da Lapa

Flores (2003) afirma que um dos momentos simbólicos da resistência dos

legalistas ocorreu no cerco da lapa, episódio que marcou o embate dos federalistas e

governistas no Estado do Paraná. Em janeiro de 1894 as tropas legalistas lideradas pelo

coronel Gomes Carneiro, foram atacadas pelos federalistas, resistindo ao cerco por

quase um mês. Porém, sem receber auxílio, com os males da fome, e o avanço contínuo

dos revoltosos a Lapa caiu no dia 11 de fevereiro.

A importância do cerco da Lapa é notável para a historiografia paranaense.

Algumas visões sobressaem do conflito, tais como a criação dos heróis da Lapa.

Primeiramente nota-se a descrição de David Carneiro do povo residente na cidade:

“Seus habitantes sempre foram disciplinados e dóceis, sempre hospitaleiros,

espontaneamente inclinados à agricultura e aos trabalhos de paz, cuidados de

seus deveres, prestando auxílios aos mais necessitados, sempre que deles se

socorriam. Por uma fatalidade histórica, passaram por mais de uma vez da

atividade de agricultura, para a de guerreiros, abandonando os arados, as

charruas, as picaretas e as enxadas, pelas espadas, pistolas, os fuzis e os

canhões”.34

Ruy Wachowicz descreve o conflito dentro do contexto da queda de Tijucas,

cidade que havia resistido a Gumercindo Saraiva, porém sem munição, cavalaria ou

alimentos foi obrigada a render-se. Também nota-se o fato de que Paranaguá já havia

sido ocupada e o governo paranaense chefiado pelo governador Vicente Machado, havia

34 CARNEIRO, David. Op. Cit., 1982, p. 91.

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18

abandonado Curitiba e se instalado provisoriamente em Castro. O autor coloca que após

pedir auxílio a Curitiba e à Divisão Norte, Gomes Carneiro não teve outra opção senão

a resistência total.

Uma cartilha destinada a estudantes produzida em comemoração aos 100 anos

do Cerco da Lapa, pela Caixa Econômica Federal e pela Prefeitura Municipal da Lapa,

coloca o conflito com uma importância extrema, numa clara tentativa de criação de uma

identidade e orgulho de seus habitantes. A cartilha escrita por Iara Scandelari

Milczewski também aponta o conflito dentro da perspectiva citada acima por Ruy

Wachowicz, porém, após os revezes de Paranaguá e Tijucas, caberia somente a

resistência da Lapa “salvar a república”. A autora também coloca que o tempo gasto

pelos revolucionários nos “26 dias de heróica resistência da Lapa”35 foi de fundamental

importância para que os exércitos de Floriano pudessem se reorganizar.

Também é notável o que se escreve a respeito dos líderes do exército

republicano que estavam em combate na Lapa. Primeiramente tem-se a chegada do

General Argolo, destinado a estabelecer o plano de defesa do Estado. Para David

Carneiro (1982) esse fato foi de suma importância, como ele escreve: “A chegada a

Curitiba do General Argolo fora providencial. Correspondera às necessidades do

momento, e às necessidades locais”.36

As diferenças entre Argolo e Carneiro também são enfatizadas por Carneiro:

“O General Argolo, um general de nome tradicional no exército e no país, descendente

de militares notáveis, fora substituído por ordem do Marechal Floriano, por um simples

coronel de engenheiros, completamente desconhecido, então, em nosso meio”.37

Também fisicamente havia diferenças, o General Argolo, que se retirava era, segundo

descrição de David Carneiro, um homem fisicamente imponente, com voz de trovão e

gestos arrogantes, enquanto Carneiro possuía estatura regular, era delgado, com o rosto

magro, com uma voz pausada de mineiro. No entanto, contraditoriamente as descrições

o General Carneiro era provido de “imensa coragem e bravura”, qualidades que seria

35 MILCZEWSKI, Iara S. O Cerco da Lapa. Ed. Gráfica Autêntica. 1994. Pág 31. 36 CARNEIRO, David. Op. Cit., 1982, p. 76. 37 CARNEIRO, David. O Cerco da Lapa e seus heróis. Ed. Bibliex. 1991. Pág 39.

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19

então essencial para liderar as tropas. Ainda sobre a liderança de Carneiro no Cerco da

Lapa David Carneiro afirma:

“Foi preocupação imediata de Gomes Carneiro, que chegara a 26 de

novembro à cidade da Lapa, conhecer os seus subordinados, sobretudo depois

que o General Argolo, conversou longamente com ele, antes de entregar-lhe

o comando da coluna, justificando inteiramente a sua retirada para a Lapa.

Dizia Argolo que sem 500 ou 1.000 homens mais, era loucura manifesta

tentar progredir, quando o inimigo estava muito melhor aparelhado de

material e de gente”.38

Após o cerco da Lapa e com as constantes investidas dos revoltosos os exércitos

do governo não resistiram. O General fora atingido e após um tempo no qual não houve

melhoras faleceu. Com sua morte os exércitos, já cansados do combate, com falta de

munição, fome, e também com as insalubridades provenientes do estado de guerra, se

renderam.

De qualquer forma a cidade da Lapa teria sua influência marcante na Revolução

Federalista, sobretudo no Estado do Paraná. David Carneiro, ao comentar a participação

da cidade e também de eventos que marcaram o fim da revolução deixa transparecer sua

influência positivista, orientada pelos idéias de progresso tão presentes nos estudos

teóricos desse movimento:

“A Lapa era um baluarte isolado, defendendo a ordem e a lei dentro de um

campo de anarquia. Por coincidência decide-se sua sorte no mesmo dia em

que sérios combates no centro, mostram inócua a ação ofensiva dos

revolucionários, e esse mês de fevereiro assiste no Rio Grande, no Paraná e

na Guanabara aos conjuntos decisivos de operações que hão de dar ganho de

causa à República, à ordem e conseqüentemente às condições essenciais e

básicas do progresso” (CARNEIRO, 1982).39

O General Carneiro morreria no dia 09 de fevereiro pedindo que seus

companheiros resistissem até a morte. No entanto, dois dias depois a cidade seria

38 CARNEIRO, David. Op. Cit., 1982, p. 100. 39 CARNEIRO, David. Op. Cit., 1982, p.195.

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20

tomada pelos federalistas. Gumercindo Saraiva acompanhado de Ângelo Dourado que

relatou os acontecimentos iria para Curitiba em um trem carregado com feridos da

batalha. Segundo Rafael Sêga (2005) é neste período que a Revolução Federalista atinge

seu auge, em terras paranaenses.40

1.6 Término da Revolução

Por fim, após a queda da Lapa os revoltosos se dirigiram a Curitiba, onde se

detiveram por um tempo. A chegada dos revoltosos a Curitiba, bem como a postura de

Vicente Machado e a derrocada de Gumercindo com suas tropas serão melhor descritas

nos próximos capítulos pela sua relevância com o texto de Rocha Pombo no Para a

História.

David Carneiro encerra seu comentário sobre a revolução afirmando que o

apogeu e decréscimo se deram no estado do Paraná: “Tristemente terminou, no Paraná,

como se vê, a revolução federalista, começada com glória e com atos de bravura

intensa. Como fora do Estado, em todo o Brasil, a revolução teve depois do seu surto

inicial, no Paraná, a sua ascensão até o apogeu para um decréscimo lento até completa

extinção”.41

Flores (2003) afirma que “a ofensiva governista avança nos estados sulinos

depois do heroísmo singular nos muros e ruínas da Lapa”.42 Em abril de 1894 Desterro

é retomada e em maio os revoltosos abandonam Curitiba, assim os estados do Paraná e

Santa Catarina vão aos poucos voltando ao poder das tropas legalistas. O autor afirma

que os federalistas são perseguidos e combatidos dispersando em deslocamentos as

vezes não tão eficazes. Gumercindo Saraiva é perseguido e consegue retornar ao Rio

Grande do Sul, porém é morto no início de agosto.

Ruy Wachowicz por sua vez levanta a questão da barbárie. Segundo o autor

“Não foram os milhares de pessoas que perderam a vida, nem os avultados prejuízos

40 SÊGA, R. A. Op. Cit., 2005, p.198. 41 CARNEIRO, David. Op. Cit., 1982, p 364. 42 FLORES Op. Cit., 2003, p. 78.

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21

materiais causados à nação que caracterizaram a revolução federalista e sim sua

crueldade e barbárie”.43 Segundo Wachowicz as atrocidades foram cometidas em ambos

os lados do conflito. Assaltos, destruição de hospitais, massacre de prisioneiros, bem

como a vingança dos legalistas são alguns dos exemplos dessas atrocidades. Dabrik

sobre o mesmo assunto afirma que “a maneira como as tropas de Gumercindo deixavam

um rastro de sangue em sua passagem antecedia a sua marca e punha pavor a todos”.44

Para a maioria dos historiadores a Revolução Federalista é derrotada no dia 24

de junho no combate de Campo Osório, em que morreu o Almirante Saldanha da Gama.

Alguns dias após esse combate é assinado o Armistício de Piratini, firmado entre

republicanos e federalistas que é tido como o marco de encerramento do conflito.

2 A vida e a obra de José Francisco da Rocha Pombo:

Neste segundo momento trataremos da ligação em José Francisco da Rocha

Pombo com o estado do Paraná e a sua ligação com a Revolução Federalista. Será feita

uma apresentação do autor Rocha Pombo a fim de que o leitor possa perceber a

relevância desse personagem para a historiografia paranaense. Rocha Pombo esteve na

cidade de Curitiba no final do século XIX e vivenciou todos os acontecimentos que

contaria mais tarde no seu livro Para a História, tema central deste trabalho.

A história carece de pesquisas bibliográficas aprofundadas do autor José

Francisco da Rocha Pombo. Foram vários os esforços no sentido de encontrar fontes

seguras a respeito de quem foi Rocha Pombo. Procurou-se enfatizar aspectos subjetivos

do autor uma vez que seu texto Para a História tem como característica uma carga

emocional muito grande. Dessa forma resgatamos além de textos de autoria própria de

Rocha Pombo, fontes que foram escritas a respeito dele, por exemplo, dois artigos que

Nestor Vitor, amigo pessoal de Rocha Pombo, publicou. O primeiro deles intitulado

Rocha Pombo, Historiador45 publicado em 1906 sob o pseudônimo de Nunes Vidal. O

43 WACHOWICZ, Op. Cit., 2001, p. 172. 44 DABRIK, E. Op. Cit., 2006 p. 178. 45 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. in: Obra Crítica, vol III. Secretaria da Cultura do Estado do Paraná, p. 03.

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22

segundo intitulado Rocha Pombo no Paraná46, publicado em 1924.

Também contamos com três livros de Valfrido Piloto, então membro da

Academia Paranaense de Letras e do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico

Paranaense. O primeiro intitulado Profanações foi publicado no ano de 1947 e é de

suma importância para o estudo do livro Para a História de Rocha Pombo. Outro livro

do mesmo autor intitulado Rocha Pombo foi publicado em 1953 e o terceiro intitulado

Morretes e Rocha Pombo47 compreende uma conferência proferida em Morretes em

1983, porém que só veio a ser publicada em 1991. Valfrido corrobora a posição da

escassez de estudos a respeito de Rocha Pombo ao afirmar na metade do século XX que

“não está suficientemente estudado, não está nada estudado o notabilíssimo filho do

Paraná.”48 Brasil Pinheiro Machado, no artigo intitulado Rocha Pombo, também

comenta o pouco valor que se tem dado a obra de Rocha Pombo. Após afirmar que a

crítica da época não “peneirava” suas obras literárias ele diz: “Mesmo a crítica atual dos

historiadores das letras e da cultura brasileiras mal tocam sem seus livros.”49

O artigo Rocha Pombo de Brasil Pinheiro Machado serve de apresentação para

o livro Paraná no Centenário50 do próprio Rocha Pombo. Também tivemos em mãos

para realizar este trabalho artigos do professor Carlos Roberto Antunes dos Santos.

Além dele outros autores mais recentes que estudaram Rocha Pombo, como por

exemplo, Gilson Queluz, que desenvolveu uma dissertação de mestrado especialmente

sobre o autor intitulado Rocha Pombo: Romantismo e Utopias.51 O livro de Queluz tem

como foco uma análise das relações de Rocha Pombo com a modernidade no período de

1880 e 1905, tendo como foco principalmente as obras literárias do autor nesse período,

mais especificamente Petrucello e �o Hospício.Ele também faz pequenas observações

sobre o Para a História. O trabalho de Queluz foi desenvolvido como uma dissertação

46 VITOR, Nestor. Rocha Pombo no Paraná. in: Obra Crítica, vol III. Secretaria da Cultura do Estado do Paraná, p. 58. 47 PILOTO, Valfrido. Morretes e Rocha Pombo. Morretes – Paraná, 1991. 48 PILOTO, Valfrido. Rocha Pombo. Curitiba, 1953. 49 MACHADO, Brasil Pinheiro. Rocha Pombo, in: Paraná No Centenário, Rio de Janeiro, José Olympio, 1980, p. X. 50 MACHADO, Brasil Pinheiro. Op. Cit., 1980, p. X. 51 QUELUZ, Gilson L. Rocha Pombo: Romantismo e Utopias - 1880/1905. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1998.

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23

de mestrado do curso de História da Universidade Federal do Paraná, vindo a ser

publicado em 1998. É possível afirmar que foi o trabalho mais completo, que tem como

foco o escritor Rocha Pombo, que pudemos localizar devido ao uso de fontes primárias

e artigos do próprio Rocha Pombo.

Também lembramos aqui uma coletânea de fontes cedidas pelo historiador

morretense Éric Joubert Hunzicker (2007) e ainda não publicadas. Apesar da

dificuldade em identificar a bibliografia, autores e datas dos documentos compilados, a

coletânea é rica em informações, fotos e textos publicados sobre o autor.

2.1 Quem foi Rocha Pombo:

É difícil resumir a importância de quem foi Rocha Pombo para o estado do

Paraná e até mesmo para o Brasil devido ao grande número de atribuições que este autor

possuía. Vamos expor a seguir os dados biográficos do autor, porém não temos a

intenção de simplesmente descrever suas principais obras e feitos. O objetivo deste

levantamento bibliográfico, que se apóia na cronologia, é mesclar a vida de Rocha

Pombo com as impressões subjetivas, que são notadas somente com o distanciamento

pelo qual estão sendo analisadas. Estas impressões podem ajudar a explicar suas

motivações e sua personalidade. O foco principal deste levantamento é perceber de que

forma, por exemplo, a morte de uma de suas filhas ao fim da Revolução Federalista, ou

mesmo sua frágil saúde, podem ter colaborado, ainda que em pequeno grau para que

Rocha Pombo escrevesse seu livro Para a História, objetivo principal deste trabalho.

Também podemos desta forma situar a obra Para a História dentro de sua produção.

José Francisco da Rocha Pombo nasceu em Morretes (PR) no dia 04 de

dezembro do ano de 1857. Rocha Pombo, na sua cidade natal substituiria seu pai

Manoal Francisco da Pombo no magistério quando tinha cerca de 18 anos em 1875.

Pouco tempo depois inicia sua carreira como jornalista. Para Nestor Vitor, Rocha

Pombo se torna adolescente em um período de efervescência por conta do término da

Guerra do Paraguai. Vitor diz:

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24

“Filho do povo, nascido em uma quase aldeia de província, tendo sido o

Paraná, ainda mais, simples e meio abandonada comarca paulista até há

pouco, fez-se ele adolescente, porém, quando nossa terra entrava a participar

do entusiástico renascimento que em todas as esferas se pronunciava no

Brasil com a feliz terminação da guerra do Paraguai, cujas prematuras tinha

absorvido o país por mais de um decênio, a contar-se desde os primeiros fatos

que lhe deram origem.”52

Pouco tempo depois, em 1879 ainda na cidade de Morretes quando tinha 22 anos

de idade Rocha Pombo fundou o hebdomadário Republicano O Povo. Nestor Vitor

também traça considerações a respeito do hebdomadário dizendo que “Com essa folha

pretendia ele fazer em terras paranaenses a propaganda republicana”.53 Além disso

Nestor Vitor relata que:

“Tão pobre era ainda, entretanto, a atmosfera intelectual de nossa terra por

esse tempo, que tal iniciativa, sobretudo partindo do recanto de onde partiu,

representava uma verdadeira temeridade, tanto mais que se responsabilizada

por ela um pobre moço vindo havia pouco de ser mestre primário, como fora

seu pai, e de um simples lugarejo, o Anhaia, subúrbio, por assim dizer, de

Morretes.”54

Temos, portanto o plano de fundo em que Rocha Pombo inicia sua carreira como

intelectual. No início como professor primário, em seguida como jornalista. Sobre sua

função de jornalista Nestor Vitor comenta que “No Brasil geralmente faz-se jornalista

quem não pode, sequer ser burocrata.”55 Também diz que a imprensa é o “único refúgio

possível para os legitimamente desesperados da justiça social, para os inamoldáveis a

toda e qualquer classificação comum.”56 Muito embora a prática jornalística para Nestor

Vitor também estava se tornando uma “cousa fingida”, semelhante a uma “indústria

qualquer”, nas palavras do autor “Quando Rocha Pombo se fez jornalista, porém, dava-

52 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 60. 53 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 62. 54 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., pp. 62-63. 55 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 60. 56 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 60.

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25

se ainda mui frequentemente esse caso de exceção.”57

Rocha Pombo antes de se fazer jornalista “quando ensinava o a, b, c às crianças

do Anhaia”58 já havia enviado para uma revista fluminense um trabalho intitulado A

Escola que foi transcrito pela Revista Del Plata editada em Buenos Aires. Junto com

outros jovens Rocha Pombo tinha como objetivo fazer da província um núcleo de

intelectuais. Destacando-se, inevitavelmente de seus colegas, Rocha Pombo cerca de um

ano depois não podendo mais manter seu hebdomadário O Povo transfere-se para

Curitiba a fim de trabalhar em outro jornal republicano. Ficou pouco tempo e no ano

seguinte em 1881 com apenas 24 anos publicava seu primeiro romance A Honra do

Barão, também publicado no estrangeiro no jornal uruguaio Pátria. No ano seguinte em

1882 publica ainda outro ensaio intitulado de Dadá ou A Boa Filha e em 1883 outros

dois livros, os quais Nestor Vitor afirma serem de outro gênero, no caso ambos

classificados como estudos.59 São eles A Supremacia do Ideal e A Religião do Belo.

Gilson Queluz também faz um levantamento bibliográfico de Rocha Pombo.O

autor afirma que em 1883 Rocha Pombo fixa residência em Castro, onde haveria de

terminar os dois trabalhos acima citados. Além dos trabalhos edita o semanário Eco dos

Campos. Em Castro, no ano de 1883, Rocha Pombo se casa com Carmelita Madureira.

Carmelita e Rocha Pombo tiveram ao longo do seu relacionamento seis filhos, Maria

Júlia, José Francisco, Regina, Vítor, Marieta e Carmelita. Seu amigo Nestor Vitor

comenta o fato do seu casamento afirmando que Carmelita continuava como sua

companheira até o ano de 1924, quando escrever seu artigo, totalizando até o momento

41 anos de casados:

“Ocorria naquele ano (1883) um fato de grande importância na vida do nosso

brilhante e tenro plumitivo: ele casara-se em Castro, lá no centro do Paraná,

com a senhora que vem sendo que vem sendo sua admirável companheira até

hoje. A opinião pública não estranharia qualquer passo naquele sentido,

compreendendo, como em nosso país se compreende tão bem, que a época

57 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 60. 58 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 63. 59 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 63.

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26

das loucuras, para aquele moço, já passara.”60

Em uma passagem interessante Nestor Vitor afirma em 1883, que “Até aí

nenhum paranaense subira intelectualmente tão alto perante a opinião de seu meio,

nenhum fizera carreira tão vertiginosa na imprensa e nas letras.”61 Por essa razão afirma

o autor que aquele era o momento oportuno para Rocha Pombo utilizar sua “aura” afim

de conseguir para si uma cadeira como professor na cidade, ou então um emprego em

alguma repartição provincial ou na alfândega. Diz Nestor Vitor que Rocha Pombo

recusa tal “parasitismo” ao contrário de muitos que se diziam republicanos pelo Brasil.

Queluz afirma também que esse mesmo prestígio que descreve Nestor Vitor foi

uma das razões para que Rocha Pombo entrasse em conflito com o Partido Liberal,

sendo então convidado pelo partido Conservador a sair candidato a deputado pelo 2º

Distrito. Foi eleito e sua atuação seria marcada por um “espírito de independência e pela

apresentação de projetos reformistas.”62 Tais atitudes geraram a desconfiança tanto de

conservadores como de republicanos, assim volta a ser deputado apenas em 1916

segundo Queluz “muito mais em caráter honorífico, por sua atuação no Distrito

Federal.”63

Valfrido Piloto também comenta da atuação política de Rocha Pombo citando

Romário Martins em artigo escrito em 1933, no jornal O Dia.

“Duas vezes foi deputado, uma no Império, em 1886, e outra na República,

em 1916, conta-nos Romário Martins: ‘Da primeira vez, moço, idealista,

intimorato, abolicionista, suspeito de republicano, sua atuação desagradou o

conservantismo e irritou o carrancismo da época. Da segunda, o desiludido

foi ele: - o legislativo paranaense era um poder sem poder, anulado pelo

controle do executivo, peado pelas injunções partidárias, mera formalidade

democrática. Voltou para o Rio de Janeiro antes mesmo de finda a

legislatura, e nunca mais voltou ao Paraná, senão em espírito e sentimento,

que esses ele sempre os teve, com exaltação, voltados para a sua terra (O Dia,

60 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 63 61 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 63 62 QUELUZ, Gilson L., Op. Cit., 1998, p. 3. 63 QUELUZ, Gilson L., Op. Cit., 1998, p. 3.

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27

28-06-33).”64

Segundo Nestor Vitor, foi durante o tempo em que Rocha Pombo publicava o

seu Eco do Campos e o período em que teve discussões com o Partido Liberal é que eles

se encontram pela primeira. Transcrevemos aqui a passagem de Nestor Vitor por conta

de sua descrição “física” de Rocha Pombo.

“Foi por esse tempo que tive ocasião de encontrar-me com ele pela primeira

vez. Eu ainda estava na minha adolescência, com dezessete anos, mas já era

‘descrente da Monarquia’, como dizíamos então, e ensaiava na propaganda

republicana. Não via, pois, com muito bons olhos, assim de longe, como

político, o ilustre patrício, que tanto já prezava e a quem era tão grato no

terreno literário. Lembra-me até lhe havia escrito uma epístola solene,

quando o vi eleito deputado; tratava-o por ‘Excelência’ nessa mensagem, em

que condenava sua ‘apostasia’. Nosso encontro, contudo, foi dos mais

cordiais. A impressão de presença que me causou Rocha Pombo nunca mais

a esqueci. Magro, pálido, quase cor de marfim, larga fronte, grandes olhos

negros, mas sonhadores e cortados um pouco à feição de amêndoas,

bigodinho chinês e rosto naturalmente quase depilado, ele tinha na fisionomia

qualquer cousa de um jovem Confúcio. Ao mesmo tempo lembrava um

romântico do tempo de Lamartine, vestindo, abotoado, longo sobrecasaco

histórico, trazendo cartola, e com andar, com maneiras quase solenes, embora

sem nenhuma gravidade antipática.”65

Em 1887 volta para Curitiba com planos de montar um jornal propriamente seu.

Lança novo empreendimento jornalístico, O Diário Popular. Nesse meio tempo

continuou trabalhando em suas obras literárias publicando o poema Guairá, em 1886 e

o estudo �ova Crença em 1887. Em 1888 temos o primeiro fato que demonstra contato

com o Barão do Serro Azul, do qual falaremos com mais detalhes mais adiante. Rocha

Pombo dirigiu os jornais O Paraná e o Diário do Comércio. Queluz afirma essa posição

ao colocar “Rocha Pombo era membro do mesmo partido do qual o Barão do Serro

Azul era líder. Podemos depreender um relacionamento próximo entre eles,

especialmente pelo desempenho do papel de diretor do jornal Diário do Comércio, de

64 PILOTO, Valfrido. Rocha Pombo. Curitiba, 1953. pp. 15-16. 65 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., pp. 65-66.

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28

propriedade do Barão do Serro Azul (...).”66

O jornal próprio que construíra, no entanto, O Diário Popular, desapareceu

rapidamente. No ano de 1889 vêm o 15 de novembro e a Proclamação da República e a

expectativa de quem primeiramente iria “aderir e tomar conta das posições”. Ao que

parece Rocha Pombo em pouco se envolveu nesse período, parecendo que estava em

um período de esquecimento. Essa é a posição de Nestor Vitor. “Certo a mudança de

regímen, ou por outra, de rótulo, aos seus olhos era secundária; parecer-lhe-ia

interessante, isso sim, verificar como são iniludíveis as leis da história.67 Vitor ainda

complementa falando um pouco do cotidiano da vida de Rocha Pombo, afirmando que

este estava construindo numerosa família, porém cada vez se encontrava mais fora da

política. Na opinião de Nestor Vitor a única forma de um homem de letras ter

normalmente “mesa posta e um teto onde se abrigue com os seus”, ou seja, ter sustento,

é através da política. No entanto, Rocha Pombo “não pediu um emprego, a ninguém,

não se candidatou a eleição nenhuma.”68

Carlos Roberto Antunes dos Santos bem destaca essa característica própria de

isolamento que Rocha Pombo parece possuir em seu artigo Rocha Pombo – A solidão

de um historiador.69 O autor coloca: “(...) ainda que dono de um saber universal, Rocha

Pombo construiu toda uma vida acadêmica à parte de muitos intelectuais de renome

regional, criando e enfrentando desafios que o distanciaram do saber comum.” Segundo

Antunes dos Santos Rocha Pombo foi um abolicionista em plena sociedade escravista e

um empolgante republicano no período imperial.

“Nesse sentido, em suas obras como historiador, de certa forma, faz perfilar

esta sua visão de mundo, ligada ao cotidiano do povo, a educação, costumes,

opiniões, crenças, legislação, instituições, moral e riqueza. Portanto, este

mundo visionário defendido por Rocha Pombo o distancia e o isola, mas ao

66 QUELUZ, Gilson L., Op. Cit., 1998, p. 30. 67 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 68 68 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 68 69 SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Rocha Pombo – A Solidão de um historiador.

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mesmo tempo o destaca no conjunto da “inteligenzia” regional.”70

Em 1890 Rocha Pombo continua com seus trabalhos literários e publica a série

Plano para uma epopéia, na revista Club Curitibano, também o livro de contos e

poesias Visões. Este último é considerado por Nestor Vitor como “uma mescla de

soluços pela morte de duas queridas filhinhas, de indignações contra ‘paixão-política’ e

de lágrimas sobre as ruínas de Palmira.”71

Nesse período, que mais tarde seria conhecido como período do Encilhamento,

Rocha Pombo vai ao rio de Janeiro e com facilidade consegue um financiamento de

cerca de “vinte ou trinta contos de reis.”72 Esse dinheiro foi conseguido junto ao

Ministério da Agricultura para instalação de núcleos colônias na Zona Rural. No

entanto, todos esse dinheiro gerou uma grande responsabilidade. Nestor Vitor conta que

estava em Curitiba quando Rocha Pombo voltou do Rio de Janeiro e pode “testemunhar

como o esmagava a responsabilidade, até ali nunca por ele conhecida.”73 Por fim, Rocha

Pombo conseguiu dividir a responsabilidade com diversos outros “solidários” que se

envolveram no projeto.

No ano de 1892 Rocha Pombo publica mais um romance chamado de

Petrucello. O ano de 1892 é também muito relevante na vida de Rocha Pombo por uma

empreitada vanguardista que visava a criação de uma Universidade em Curitiba.

Valfrido Piloto dedica um dos cinco capítulos de sua biografia intitulada Rocha Pombo,

a qual já foi citada neste trabalho. Piloto relata em poucas palavras as tentativas de

Rocha Pombo em lançar a pedra fundamental e conseguir apoio para fundar a

Universidade:

“É em 1892, na bisonha Curitiba de então. Conseguiu ele o terreno no antigo

largo e hoje Praça Ouvidor Pardinho. Lançou a pedra fundamental do

edifício. Fez ali construir depósito e reuniu material. Organizou estatutos,

regulamentos, programas. Tomou, para as primeiras despesas, um

70

SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Rocha Pombo – A Solidão de um historiador. 71 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 69 72 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 69 73 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 69

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empréstimo de oito contos de réis. Foi ao Rio, ver se conseguia o auxilio do

governo federal. Pleiteou, perante o governo estadual, garantia de juros para

o capital que fosse efetivamente empregado. Mexeu-se. Insistiu. Lutou. Sua

idéia, no entanto, era demais para o ambiente, e incômoda para a má política.

Essa fatalidade condenaria o idealista e realizador a tombar sobre seus

materiais, os seus estatutos e programas, e as suas dívidas. Não tendo podido

empreender isso e outras coisas, foi embora de sua terra.”74

Valfrido Piloto também transcreve notas deixadas por Rocha Pombo as quais

classifica como “notas íntimas” endereçadas a sua filha D. Júlia Rocha Pombo Bond, na

qual ele expressa sua frustração. A estrutura da carta de Rocha Pombo é muito

semelhante à passagem acima citada de Valfrido Piloto, inclusive começando citando o

ano em questão. A diferença é que Rocha Pombo se atém a nomes e valores. Também é

de se notar a forma com que ele se dirige ao Governo do Estado do Paraná. Por duas

vezes ele cita o governo como “politicazinha”. Rocha Pombo dá a entender que possuía

inimigos ao citar um estadista paranaense que “se morde de raiva quando ouve dizer

que minha idéia é boa”. Rocha Pombo retruca o chamando de botocudo!

“Em 1892 organizei projeto de fundação de uma universidade, ou escola de

ensino superior, em Curitiba. Consegui, a muito custo, do Congresso

Estadual uma lei de garantia de juros. Tomei um empréstimo de oito mil

contos de réis, afiançado pelo Comendador José Macedo; assentei a pedra

fundamental do edifício no largo do Ouvidor Pardinho; fiz ali construir

depósito e reuni material, dando começo ao nivelamento do largo. Fui, em

seguida, ao Rio, onde apenas tive animação do Dr. Ubaldino do Amaral,

senador por esse Estado, o qual apresentou ao Senado um projeto, que,

depois de aprovado em 2º, caiu em 3ª discussão, havendo quem me

assegurasse que nesse resultado interviera a politicazinha dominante no

Paraná. Desiludido de conseguir o capital para a fundação do estabelecimento

em edifício próprio, procurei torná-lo exeqüível requerendo ao Congresso da

politicazinha que, em vez de uma garantia de juros que de nada me servia

(por que o Estado não se garantia a si, quando mais a outrem...), me

concedesse um subvenção de 60 contos, para inaugurar logo provisoriamente

a Escola. E isso eu estava habilitado a fazer, visto como já tinha tudo

organizado, - estatutos, regulamentos, programas, etc. A subvenção que eu

74 PILOTO, Valfrido. Rocha Pombo. Curitiba, 1953. pp. 15-16

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pedia era equivalente, quando muito, à despesa que o Estado fazia mantendo

um Ginásio e uma Escola Normal. De sorte que a questão cifrava-se em

escolher entre uma Escola Normal, etc. – e o estabelecimento existente,

incompleto, mal administrado e quase inútil, a julgar mesmo pela freqüência

que sempre teve. Mas os estadistas paranaenses não quiseram escolher, Há

um deles que se morde de raiva quando ouve dizer que a minha idéia é boa.

O coitado do botocudo!”75

Tendo em vista os dois trechos citados mais uma vez verificamos que o

isolamento político de Rocha Pombo é uma característica visível e que trouxe

conseqüências diretas à sua carreira e projetos. Do ano de 1892 partimos para o período

em que se desenvolve a Revolução Federalista, como é possível verificar no primeiro

capítulo deste trabalho. A Revolução chegou ao Paraná em janeiro de 1894 e foi

acompanhada de perto por Rocha Pombo. Na época Rocha Pombo esta com 37 anos.

Suas impressões foram descritas na obra Para a História; notas sobre a revolução

federalista que será melhor analisada no próximo capítulo. Pretendemos aqui levantar

os dados biográficos de Rocha Pombo durante o período da invasão a Curitiba, bem

como se deu sua produção posterior à revolução. Dentro das várias atribuições de Rocha

Pombo após a revolução nos interesse levantar sua produção histórica, sendo que seus

trabalhos de literatura vão continuar a ser citados.

Gilson Queluz afirma que os acontecimentos da Revolução Federalista tiveram

grande impacto na atividade jornalística do Paraná. Por sua vez o impacto nas

atividades de Rocha Pombo é devastador, ficando ele impossibilitado de qualquer

atividade. Nestor Vitor também confirma essa posição ao afirmar: “significava isso,

mormente na província, inevitável colapso da imprensa que representasse por qualquer

modo uma opinião propriamente livre.”76

Como é possível ver em diversas ocasiões Rocha Pombo se coloca quando

escreve. Sempre esteve à parte de outros intelectuais devido à maneira com que

expressava suas opiniões. Nestor Vitor diz que essa posição que os jornais assumem é

75 POMBO, Rocha in: PILOTO, Valfrido. Rocha Pombo. Curitiba, 1953. pp. 23-24. 76 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 69

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ainda pior para Rocha Pombo. “era, pois, para pobres jornalistas como ele o regimén do

jejum e do terror, mais do que para os outros.”77

Nestor Vitor ainda diz que durante toda sua vida Rocha Pombo teve sua saúde

debilitada. Sendo ele nascido e criado na faixa litorânea era “anêmico, dispéptico, andou

sempre mais ou menos valetudinário enquanto viveu.”78 Serra acima, ou seja, em

Curitiba o clima frio agrava ainda mais a saúde do escritor. Dessa forma, no período da

invasão federalista “ainda mais doente ele ficou”.79

Finda a Revolução Federalista Rocha Pombo fica por muito pouco tempo em

Curitiba mudando para Paranaguá logo em seguida. Em 1895 colabora com a revista O

Cenáculo, dirigida por Dario Vellozo Silveira, Júlio Perneta e Antônio Braga. Colabora

também com a revista Club Curitibano com diversos textos. Em 1896 Rocha já está em

Paranaguá. Nestor Vitor vai à cidade visitar sua mãe que está no leito e morte quando

relata novamente um encontro com Rocha Pombo. Note que a “tormenta” a qual Nestor

Vitor se refere é a própria revolução federalista.

“Quando, em começo de 1896, depois da tormenta, fui a Paranaguá por

cumprir um doloroso dever, encontrei ali Rocha Pombo fazendo lembrar um

naufrago preso à ultima tábua de salvação. (...) Precisando manter-se,

estabelecera naquela – nossa pequenina Santos – ele que jamais conhecera o

comércio – uma modesta agência de negócios.”80

Temos pela primeira vez um relato de Rocha Pombo se aventurando no

comércio. Talvez em razão de sua convivência próxima com o Barão do Serro Azul,

relação esta que será melhor analisada no terceiro capítulo. Sua empreitada mercantil

rendeu bons lucros o que o fez a lançar um semanário chamado A Aurora. Também no

período em que viveu em Paranaguá Rocha Pombo escreveu um trabalho intitulado

Marieta (o mesmo nome de uma de suas filhas), o qual forneceu para seu amigo Nestor

Vitor. Este conta que Marieta era uma mais uma história trágica, na qual Rocha Pombo

77 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 70. 78 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 70. 79 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 70. 80 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 71

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relata “a morte de outra filhinha ao findar essa convulsão geral que ele testemunhara.”81

Novamente temos uma referência à revolução federalista quando Nestor Vitor fala em

“convulsão”. Também novamente temos um pouco do aspecto subjetivo que acometia

Rocha Pombo no período pós-revolução. Além de estar com a saúde fragilizada, como

comentado anteriormente, também sofre o golpe da morte de mais uma filha.

Por fim, Nestor Vitor, no final de seu relato afirma que foi até com

contentamento que soube que Rocha Pombo estava “às moscas” na agência. Também

soube através de outros que a direção que o jornal estava tomando, de elogiar

adversários, estava sendo comparado à falta de caráter pelos leitores. Nestor Vitor

imaginava que com isso Rocha Pombo finalmente atenderia seu chamado e iria se

mudar para o Rio de Janeiro. E foi o que aconteceu, Rocha Pombo muda-se em 1897

para o Rio onde escreveu suas principais obras.

Dois anos depois em 1899 Rocha Pombo publica seu primeiro livro como

historiador. História da América, ainda inédita recebe do Conselho Superior de

Instrução do Distrito Federal um prêmio. Temos que ressaltar que é neste ponto, após

sua mudança para o Rio de Janeiro que Rocha Pombo escreve grande parte das notas

contidas no livro Para a História. É possível confirmar essa afirmação ao se verificar a

data na qual Rocha Pombo escreve seu prefácio onde consta: “Rio, novembro de

1898.”82

Em 1900, ano das comemorações do centenário do Brasil publica Paraná no

Centenário. O próprio Rocha Pombo escreve uma breve apresentação intitulada O fim

deste livro, no qual, como o título diz explica o porquê de sua publicação. “Este livro é

escrito determinadamente para figurar nas festas do Centenário como se fosse uma nota,

espontânea e singela, com que o Paraná quisesse entrar no grande concerto de 1900.”83

Deve-se notar que Rocha Pombo, na sua apresentação do Paraná no Centenário,

81 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 71. 82 A data vem logo abaixo da assinatura R. P. no prefácio da obra. POMBO, José F. R. Para a História; notas sobre a invasão federalista no Estado do Paraná. Curitiba: Fundação Cultural da Prefeitura Municipal, 1980. 83 POMBO, José F. R. O Paraná do Centenário. 2. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1980, p. 3.

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se coloca a favor de que cada Estado da República deve elaborar através de concurso,

obras as mais completas possíveis para o que ele considera um dos “mais graves

momentos da vida do Continente.”84 Entretanto isso não acontece e a Comissão Central

das festas abre concurso apenas para certos pontos da história do Brasil, por essa razão

Rocha Pombo afirma que “é provável que os concorrentes não sejam muitos, e neste

caso teremos de ver a expressão literária das festas reduzida quase às simples descrições

do cerimonial (...).”85

Alguns estados, no entanto, ofereceram recursos à comissão central a fim de que

as obras pudessem ser escritas. Rocha Pombo afirma que “por uma circunstância quase

fortuita o Paraná é um desses poucos Estados que figuram de tal modo nas festas

comemorativas.”86 E então Rocha Pombo descreve que em dezembro vários

paranaenses se reuniram em um salão para discutir os festejos no qual ele teve a

oportunidade de apresentar a idéia do Paraná desenvolver “algum trabalho que desse

testemunho do nosso amor à terra natal, ao mesmo tempo que revelasse a situação

presente e o grau de progresso em que, sob diversos pontos de vista, se acha o nosso

Estado.”87

É assim que, após sua apresentação, o Sr. Conselheiro Correia ergue a voz para

dizer que considerava um compromisso formal aquela idéia que Rocha Pombo lançava.

Por essa razão ficou discutido diante de todos que Rocha Pombo escreveria e o Centro

Paranaense ficaria responsável pela impressão da obra. Aqui temos que ressaltar a razão

pela qual fazemos essa descrição dos motivos aparentes que levaram Rocha Pombo a

escrever o Paraná no Centenário.

É sabido que apenas dois anos antes Rocha Pombo havia escrito Para a

História, e agora, cerca de um ano depois ele estava novamente “negociando” com o

Governo do Estado. Lembramos ainda que não fazia muito Rocha Pombo havia

chamado o Governo do Estado de “politicazinha”, ao ter seu projeto de criação uma

84 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 3. 85 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 3 86 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 4 87 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 4

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universidade negado.

Assim, no momento em que ele escreve que o Centro Paranaense ficaria

responsável pela impressão coloca um asterisco para uma nota de rodapé. Na nota

encontramos a informação de que o Centro Paranaense ficara aliviado de tal encargo

(impressão da obra), pois o Governo Paranaense “acudiu prontamente ao apelo que lhe

foi feito, amparando com auxílio eficaz a impressão deste livro.”88 Além disso, no final

da nota Rocha Pombo traça considerações sobre o Vicente Machado, que durante a

Revolução Federalista ficou no encargo de governador da província e agora era senador,

sendo ele o acusado por Rocha Pombo por diversas arbitrariedades que ocorreram no

estado. Na nota Rocha Pombo escreve elogiando Vicente Machado:

“O ilustre Senador Sr. Dr. Vicente Machado, de acordo com o Governador,

correspondeu com patriótica solicitude ao reclamo da colônia paranaense,

apresentando no Congresso estadual um projeto, logo convertido em lei,

autorizando o poder executivo a contribuir para esta obra. Consola-nos

imensamente o concurso que no coração dos nossos compratrícios foi

encontrar a nossa iniciativa; e folgamos de aqui exprimir as mais sinceras

congratulações com todas as almas que sabem sentir pelos destinos da terra

amada.”89

É compreensível que o Governo do Estado tenha auxiliado a idéia de Rocha

Pombo e do Centro Paranaense, porém a razão da nota é o que nos intriga. Talvez como

uma manobra política Rocha Pombo tenha escrito tais agradecimentos, porém como vai

ser possível ver no próximo capítulo Vicente Machado é uma das figuras que Rocha

Pombo condena em seu Para a História.

Brasil Pinheiro Machado, que escreve o artigo Rocha Pombo, presente na obra O

Paraná no Centenário, edição de 1987, afirma que o texto “não é uma obra histórica, é

uma crônica vivenciada, onde as fontes históricas, isto é, os raros documentos citados

têm uma função muito secundária em face de sua própria experiência e de sua intensa

88 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 5 89 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 5

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comunhão com a comunidade.”90

No ano de 1903 Rocha Pombo publica sua História da América que já havia

ganhado um prêmio em 1899. Porém, dois anos depois que temos o ano que pode ser

considerado o de maior importância dentro da sua carreira como escritor. Em 1905 ele

publica o que viria a ser considerado como o seu melhor romance, �o Hospício. Gilson

Queluz sobre seu romance afirma:

“O Romance �o Hospício, por sua vez, é reconhecidamente o mais

significativo do autor. Foi aquele de maior repercussão, pois publicado em

sua primeira edição pela importante editoria Garnier, no então centro cultural

do país, o Rio de Janeiro. É considerado pela crítica como uma das únicas

tentativas de romance simbolista do país.”91

O ano de 1905 também é emblemático pois é nele que Rocha Pombo inicia sua

maior empreitada, escrever uma História do Brasil. Rocha Pombo tem 48 anos de idade

em 1905 quando começa a escrever. Doze anos de trabalho se passam até que, aos 60

anos ele publique sua História do Brasil em 10 volumes. Brasil Pinheiro Machado sobre

esse trabalho diz que: “Embora recebesse o apoio popular, foi violentamente atacada

pelos historiadores dominantes, principalmente por Capistrano que, como membro da

comissão julgadora, chegou a reprovar Rocha Pombo a uma cátedra de História no

Colégio Pedro II”.92

Ainda sobre Capistrano de Abreu Machado afirma que ele “dominava e, mesmo

monopolizava o campo dos estudos históricos, ditando o que era científico e o que era

simplesmente ensaístico.”93 No final de seu artigo, voltando a falar sobre a História do

Brasil de Rocha Pombo e a influência de Capistrano, Machado comenta:

“Ele (Rocha Pombo) nunca é citado nem nunca foi criticado em crítica

científica. Sua obra foi realmente encerrada no silêncio imposto pelo

prestígio de Capistrano de Abreu e de seus continuadores. E quando o

90 MACHADO, Brasil Pinheiro. Op. Cit., 1980, p. X. 91 QUELUZ, Gilson L., Op. Cit., 1998, p. 25. 92 MACHADO, Brasil Pinheiro. Op. Cit., 1980, p. XVI. 93 MACHADO, Brasil Pinheiro. Op. Cit., 1980, p. XV.

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fascínio científico da história positivista se diluiu, já sua obra parecia

desatualizada, embora seus temas adquirissem grande atualidade.”94

Nestor Vitor em artigo datado de setembro de 1906, sob o pseudônimo de Nunes

Vidal, faz considerações e elogios por conta da publicação do primeiro volume da obra

História do Brasil.

“Do que se vê pelo primeiro volume, ora concluído, da importante obra que o

Sr. Rocha Pombo empreendeu, já se pode antecipar que este seu livro está

destinado a ter um lugar obrigatório em todas as nossas bibliotecas. (...) Esse

volume inicial que já foi organizado por essa forma, parece que é uma prova

decisiva de que, junto às vantagens primordiais referidas, o Sr. Rocha Pombo

dispõe de capacidade de trabalho e obedece a um método de organização

suficientemente raros para garantirem-no de todo contra um êxito

medíocre.”95

Os anos que se seguem são de relativa calma para Rocha Pombo que vive como

editor assalariado. Em 1911 publica outro trabalho, Contos e Pontos. Um ano depois, já

como Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais passa a fazer parte do corpo docente da

Universidade Popular do Rio de Janeiro ministrando aulas de História Geral.96 Publica

também nos anos subseqüentes o Dicionário de Sinônimos da língua portuguesa.

No ano de 1916 volta a figurar como deputado pelo Paraná. Retomando a

passagem de Romário Martins que já foi citada neste trabalho, Rocha Pombo sequer

termina sua legislatura, voltando para o Rio de Janeiro e nunca mais tendo visitado o

Paraná.

Como em toda sua vida Rocha Pombo não para de publicar seus romances,

estudos históricos e artigos vou citar os mais importantes. Em 1917 publica �ossa

Pátria, obra que teve 63 edições, também o 9º e o 10º volumes da História do Brasil.

Em 1918 �otas de Viagem, além de uma versão de História do Brasil para o curso

94 MACHADO, Brasil Pinheiro. Op. Cit., 1980, p. XX. 95 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 03. 96 POMBO, Rocha. �o Hospício. Org. Cassiana Lacerda Carollo.Curitiba: Prefeitura Municipal de Curitiba, 1996. 280p. (Coleção Farol do Saber) p. 37

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fundamental. Em 1919 História de São Paulo. Em 1920 publica o ensaio A Grande

Parábola. Em 1922 publica História do Rio Grande do �orte e mais uma edição de sua

História do Brasil, agora sem notas e ilustrações em 4 volumes. Em 1927 Elementos de

Instrução Moral e Cívica, em 1928 História Universal, em 1929 História do Paraná

(também didático).

Por fim, em 1933 Rocha Pombo é eleito para a Academia Brasileira de Letras,

na vaga de Alberto Farias. Ele estava então com 76 anos, com a saúde debilitada. Por

essa razão não pode assumir formalmente sua vaga vindo a falecer no dia 26 de junho

de 1933.

Em 1957 a prefeitura de Morretes, cidade natal do escritor, preparou uma série

de eventos em comemoração ao primeiro centenário de nascimento de Rocha Pombo.

Foram dias de festa, com conferências literárias, recitais e até mesmo um desfile pelos

alunos das escolas da cidade. Participou das comemorações a filha de Rocha Pombo

Sra. Júlia Rocha Pombo Bond. Fontes primárias do evento que foram doadas pelo

historiador morretense Éric Joubert Hunzicker. Em 2007 foram comemorados os 150

anos de nascimento de Rocha Pombo, novamente em Morretes, quando inclusive foi

criada a Comenda Rocha Pombo, medalha da aos mais ilustres morretenses ainda vivos

e também a Casa Rocha Pombo, centro de cultura que tinha com o objetivo resgatar a

história do escritor e manter se acervo.

Tendo em vista a biografia neste capítulo estampada, é possível compreender

melhor quem é o autor do livro Para a História. Não podemos encarar a trajetória de

Rocha Pombo com nada perto de um fracasso. A qualidade de suas obras, sua constante

produção e a maneira com que influenciou a política, literatura e história são intensas.

Como disse Carlos Roberto Antunes do Santos, Rocha Pombo “mesmo isolado,

criticado e abandonado soube ser um homem universal.”97

No próximo capítulo vamos atentar para uma obra específica, o livro Para a

História, e através dela tentar inquirir qual é o ponto de vista de Rocha Pombo dos

97 SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Rocha Pombo – A Solidão de um historiador.

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39

acontecimentos e qual contribuição ele pode dar para o estudo da Revolução

Federalista.

3 Análise do livro Para a História: notas sobre a invasão

federalista no Paraná

Neste capítulo vamos realizar a análise da obra Para a História de Rocha Pombo

com o intuito de observar a concepção do autor a respeito dos acontecimentos de 1894 e

de que forma esta visão pessoal do autor pode colaborar para estudar a Revolução

Federalista fora dos termos comuns da historiografia tradicional.

Primeiramente devemos entender o que é o Para História, sob que

circunstâncias foi escrito e com que finalidade. Basicamente o Para História é um

relato escrito por Rocha Pombo para demonstrar como se deu a invasão federalista no

Estado do Paraná. Podemos inferir que Rocha Pombo inicia o Para História ainda em

Curitiba, porém só vem a terminar anos mais tarde por volta de 1898. A finalidade

inicial do trabalho é fornecer subsídios para um trabalho futuro no qual Rocha Pombo

pretendia trabalhar. Rocha Pombo relata em uma passagem o que foi afirmado acima

comprovando que estava em Curitiba e que suas notas iniciais deveriam servir para um

trabalho futuro:

“Logo depois que se deram os acontecimentos do Paraná, dos quais posso

dizer que fui infelizmente testemunha ocular, porque permaneci com minha

família em Curitiba durante todo o longo período em que eles se

desenrolaram, escrevi algumas notas que me pudessem servir de base para

algum trabalho futuro.”98

Dessa forma é possível entender que a obra inicia-se em Curitiba provavelmente

ainda em 1894, tendo continuidade nos anos seguintes até serem finalizadas em 1898 no

Rio de Janeiro como consta na assinatura de Rocha Pombo no prefácio. Nesse meio

tempo, como foi possível ver no capítulo anterior, Rocha Pombo muda-se de Curitiba

98 POMBO, José f. R. Para a História; notas sobre a invasão federalista no Estado do Paraná. Curitiba: Fundação Cultural da Prefeitura Municipal, 1980, p. 33.

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40

para Paranaguá em 1896 onde inicia no comércio e mantém suas atividades jornalísticas

com a criação do semanário Aurora. Nestor Vitor aponta que logo após a Revolução

Federalista, Rocha Pombo que sempre teve a saúde frágil “ainda mais doente”99 havia

ficado. Somado à sua frágil saúde Rocha Pombo ainda escreve o livro Marieta que,

novamente nas palavras de seu amigo Nestor Vitor, descreve “a morte de outra

filhinha”100.

Temos claro então que o período que se inicia em 1894 e se estende até 1897,

quando Rocha Pombo muda-se para o Rio de Janeiro, é extremamente conturbado na

vida de nosso autor. Primeiramente ele presencia os acontecimentos revolucionários e a

entrada dos maragatos em Curitiba no início de 1894. Como vimos no capítulo anterior

Rocha Pombo não pode, nesse período, desenvolver suas atividades profissionais o que

é semelhante a um regime de “jejum e de terror”, segundo Nestor Vitor. ”101 Além

disso, Rocha Pombo presencia a morte de seu amigo o Barão do Serro Azul, uma das

figuras mais admiradas no Paraná nesse período. Também temos descrito a morte de

mais uma filha de Rocha Pombo e sua ida para uma pequena cidade no litoral do Paraná

que não gozava de nenhum prestígio perante a intelectualidade brasileira. Conclui-se

que a obra Para a História foi escrita em um momento de grande sofrimento emocional

de seu autor. Essa postura é visível em todo o texto, no qual o Rocha Pombo, indignado,

denuncia os acontecimentos que “excedem todas as loucuras humanas”102 como é

possível compreender pelo texto a seguir:

“Com a alma confragida de angústias assisto ao que se passa, como

relâmpagos, ante meus olhos, de todo voltados para a Justiça Suprema no dia

em que vi a terra deserta, até da piedade que se encontra no fundo das

organizações mais rudes. E posso dizê-lo com toda minha franqueza das

paixões, dos excessos de fanatismo que atormentam esta geração: posso dizer

que o que se opera em mim neste instante, à vista dos acontecimentos que se

desdobram, não é senão a fase do delíquio e do espasmo que sucede à

contínua e profunda confração em que de há tempos nos obrigam a viver. (...)

99 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 70. 100 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 71. 101 VITOR, Nestor. Rocha Pombo, Historiador. Op. Cit., p. 70. 102 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 34.

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41

O que se passa ante meus olhos excede a todas as loucuras humanas, filia-se

à ordem dos crimes que vêm de noite moral, que bradam para as alturas e que

parecem ficar pesando eternamente sobre a cabeça dos povos. Estas

desgraças, estes horrores; os gemidos de uns, no meio dos ímpios desplantes

dos irmãos, ó Senhor, não encontram símile em tempo algum, na história de

nação alguma!”103

Essa pode-se dizer, é a origem emocional do Para a História. É o momento de

vida de Rocha Pombo que no alto de seus 41 anos termina seu relato sobre a invasão

federalista no Paraná escrito febrilmente no calor dos acontecimentos.

3.1 Origem da publicação do livro Para a História:

Agora que pudemos perceber qual a origem emocional do livro Para a História

podemos fazer um resgate da origem da sua publicação. Primeiramente é necessário

entender que ainda que a obra tenha sido terminada em 1898 no Rio de Janeiro ela não

chega a ser publicada na época. Mesmo Rocha Pombo dá a entender que ele tem um

caráter temporário e que as notas foram registradas sem um maior rigor. “Estas notas

vão registradas quase a esmo, em desordem, sem nexo ou sem sucessividade

cronológica.”104

A edição com a qual trabalhamos neste trabalho foi publicada somente cerca de

85 anos depois que os originais foram escritos, tendo chegado a público inédito, ao

menos em sua forma quase completa, apenas em 1980 através da Fundação Cultural de

Curitiba. Neste momento fazemos uma ressalva importante. A versão com que

trabalhamos não é condizente com a versão integral que Rocha Pombo produziu. O

apresentador do livro publicado em 1980 explica que a publicação é baseada em uma

das cópias datilografadas existentes em Curitiba. As originais, segundo o mesmo

apresentador, estão “ciosamente guardadas (...) escondidas como um tesouro.”105 O

texto chegou à fundação em várias laudas de papel almaço cortadas ao meio em sentido

103 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, pp. 33-35. 104 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 18. 105 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 9.

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longitudinal, “cheias de letrinha fina, caprichada, feminina de Rocha Pombo”106, porém

com diversos pedaços faltantes. O apresentador conclui que isso se dá por razões

óbvias: “o julgamento severo dos personagens envolvidos no episódio, os conceitos

desairosos emitidos, feriram suscetibilidades, motivo por que essas laudas foram

suprimidas aos originais, redundando numa cópia mutilada, perceptível ao deparar-se

com trechos descontínuos.”107

De qualquer forma, ainda com o silêncio que envolve sua publicação,

conseguimos através da bibliografia localizar alguns lugares por onde a obra passou até

chegar a presente versão. Primeiramente o primeiro vestígio encontrado da obra Para a

História de Rocha Pombo foi achada no livro Profanações do escritor Valfrido Piloto

publicada em Curitiba no ano de 1947.108 O livro é uma espécie de coletânea de

assuntos e artigos relacionados à história e literatura em sua maioria de autores

paranaenses. Um dos capítulos é intitulado Rocha Pombo, testemunha ocular da

história.109 Nesse capítulo temos o primeiro relato e análise, ainda que superficial da

obra Para a História.

O capítulo inicia-se com as palavras direcionadas para o próprio Valfrido Piloto,

então membro da Academia Paranaense de Letras, proferidas por Leôncio Correia por

volta de 1938 em seu apartamento no Rio de Janeiro. “O Rocha é o patrono da tua

cadeira na Academia e tens te interessado pelos esclarecimentos históricos. Desejo, pois

te confiar um precioso trabalho que ele deixou inédito.”110

O “precioso trabalho” inédito que Leôncio Correia se referiu é o Para a História

que estava em sua posse no Rio de Janeiro. Ele afirma que “Rocha” é o patrono da

cadeira de Valfrido Piloto, pois Rocha Pombo havia sido o fundador da cadeira nº 1 da

Academia Paranaense de Letras e Valfrido Piloto era seu primeiro ocupante. No

entanto, lembramos que a Academia Paranaense de Letras foi fundada apenas em 1936,

ou seja, três anos após a morte de Rocha Pombo. Antes disso chamava-se Academia de

106 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 9. 107 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 9. 108 PILOTO, Valfrido. Profanações, Curitiba, Gráfica Condor, 1947. 109 PILOTO, Valfrido. Op. Cit., 1947, p. 129. 110 PILOTO, Valfrido. Op. Cit., 1947, p. 129.

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Letras do Paraná, fundada em 1922 da qual Rocha Pombo fez parte.111

Valfrido Piloto continua o relato afirmando que após as palavras inicias de

Leôncio Correia havia ficado muito interessado no inédito. Correia continuou: “Trata-se

de extenso relato, com numerosos documentos, sobre a Revolução Federalista no

Paraná. Tenho-o, nos meus caixotes de livros, em casa de minha filha. Se não puderes

vir aqui antes do teu regresso para Curitiba, providenciarei, depois, a remessa.”112 É

assim que Valfrido Piloto, alguns dias após esse contato inicial volta à casa de Leôncio

Correia para despedi-se, uma vez que iria voltar para Curitiba, com a expectativa de

levar em mãos o referido documento. Ele mesmo descreve que é com “um enormíssimo

interesse pelos originais” que vai visitar novamente Leôncio Correia. No entanto,

Leôncio Correia fica doente e não consegue ter em mãos o documento. Dessa forma

Valfrido Piloto avisa Leôncio que seu amigo o Sr. Otávio Secundino, “portador de

confiança” estava no Rio de Janeiro a passeio e que Correia poderia envia por ele o

relato. E é exatamente isso o que acontece. Cerca de 15 dias depois Valfrido Piloto

receberia das mãos de Otávio Secundino um volume contendo o trabalho de Rocha

Pombo.

Recebemos durante pesquisa nos acervos da Associação Comercial do Paraná

um livro do filho de Otávio Secundino, o jornalista Octávio Secundino Junior, intitulado

O Solar do Barão. Não consta na obra local ou ano de publicação, embora o mesmo

título tenha sido bibliografado em outros artigos como sendo de 1994.113 No Solar do

Barão, Octávio Secundino Junior propõe uma releitura da história do Estado do Paraná,

afirmando que poucos foram os trabalhos profundos a respeito da história do Estado. O

livro em questão pretende analisar a figura do Barão do Serro Azul, por conseqüência a

Revolução Federalista no Paraná. Um dos capítulos intitulado O Segredo de Rocha

Pombo corrobora o relato feito por Valfrido Piloto no livro Profanações. Octávio

Secundino Junior escreve:

111 http://www.academiaprletras.kit.net/historico.html - acesso em novembro de 2009 112 PILOTO, Valfrido. Op. Cit., 1947, p. 129. 113 COSTA, Vania de Moura e. Como era isso antes de eu estar aqui, Colégio Estadual Princesa Isabel, http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/427-2.pdf?PHPSESSID=2009050416095955 – acesso em novembro de 2009.

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“O escritor Rocha Pombo havia entregue no Rio de Janeiro, ao seu

contemporâneo Leôncio Correia, os mencionados inéditos e este foi instado a

revelá-los após a morte de seu autor, que se dera em 1933. Já havia então um

clima bem mais favorável para o surgimento da verdade e o paranaense

Leôncio Correia pretendia entregar os originais à Academia de Letras do

Paraná, quando recebeu a visita do historiador Valfrido Pilotto, propondo

intermediar. Meu pai, Octavio Secundino, recebeu esses originais do seu

coestadano Leôncio Correia e, vindo para Curitiba, fez entrega dos

mesmos.”114

Além de confirmar o relato de Valfrido Piloto afirma que a publicação de Piloto

só acontece após o Congresso do Cinqüentenário da Revolução Federalista acontecido

em Curitiba em 1944, sendo o livro Profanações editado em 1947. O ponto mais

importante do escrito de Octávio Secundino Júnior é a afirmação que do original

faltavam 47 páginas e quando da publicação do Para a Historia pela fundação ainda

faltavam essas 47 páginas. Um dos trechos identificados por Octávio Secundino Júnior

que falta é um longo trecho acusatório do Dr. Valadares, o qual segundo ele consta por

inteiro no Diário do Congresso Nacional de 15-12-94.115

Valfrido Piloto afirma que o original de Rocha Pombo era composto de

“duzentas e tantas laudas”, porém não podemos afirmar se se trata do mesmo formato

de texto o qual Octávio Secundino Júnior se refere, assim a contagem de páginas

faltantes é incerta. Sabe-se, no entanto, que os originais foram clamados pelo Dr. Caio

Machado, filho de Vicente Machado, o qual procurou Valfrido Piloto a fim de retomar o

trabalho afirmando que pertenciam a ele e que dele é que Leôncio Correia o havia

obtido:

“Aquelas folhas amarelecidas estavam fadas, porém, a não se esquentarem no

meu agasalho. O portador, em conversa com o Dr. Caio Machado, lhe

participa a incumbência que tivera, e, incontinenti, o brilhante jornalista

conterrâneo me procura, alegrando lhe pertenciam os originais, e de suas

mãos é que Leôncio os obtivera. Não exigi provas, nem tive dúvida em

atender o filho de Vicente Machado. Ficou todavia, cuidadosa cópia... E

114 SECUNDINO JUNIOR, Octavio. O Solar do Barão, sem data, pp. 188-189. 115 SECUNDINO JUNIOR, Octavio. Op. Cit., p. 189.

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posso, hoje, devassar, publicamente, o legado terrível. Por alguns trechos

apenas, é que desejo conduzir o leitor. Necessária essa dupla profanação a

documentos e afetividades, para colocá-lo no ambiente vivo da Curitiba

daqueles dias funestos. Algo de ressurreição. Convite para assistir o real.

Visita à verdade. E isso enquanto ainda viviam as pessoas que sabem da

existência do depoimento de Rocha Pombo e como o pude deletrar.”116

Por fim, Valfrido Piloto faz uma denúncia afirmando que das três partes de que o

livro é composto vieram apenas as duas últimas. A primeira, que dá conta da �otícia

biográfica do Barão do Serro Azul, só a encontrou depois em 1942 colocada sem

indicação de procedência e autoria, como parte essencial de um dos capítulos da obra

Barão do Serro Azul 117 escrita por Leôncio Correia. De fato é possível encontrar no

original de Leôncio Correia entre as páginas 89 e 109 a primeira parte do trabalho Para

a História de Rocha Pombo, colocado dentro das análises de Leôncio Correia sem

qualquer tipo de referência. O livro, por sua vez, foi escrito dedicado à memória do

Barão do Serro Azul: “Começado em 1894 o livro que dedico à memória do meu maior

e do meu melhor amigo, logo após o monstruoso crime que o levou do convívio da vida

terrena, só agora me foi possível rematá-lo.”118

Interessante o discurso de Leôncio Correia no início do seu livro que se

aproxima muito do discurso de Rocha Pombo, pois ambos viveram em Curitiba quando

houve a invasão dos maragatos. Os dois autores escrevem ainda no calor dos

acontecimentos, Rocha Pombo primeiramente escreve falando sobre o estado de sua

alma para contar de seu sentimento, enquanto que da mesma forma Leôncio também

fala da alma ao se referir ao período. Tais referências são importantes pois representam

a maneira como autores descreveram o seu sentimento perante aos acontecimentos.

Rocha Pombo diz, “Com a alma confrangida de angústias assisto ao que se

passa, como relâmpagos, ante meus olhos, de todo voltados para a Justiça Suprema no

dia em que vi a terra deserta da piedade que se encontra no fundo das organizações mais

116 PILOTO, Valfrido. Op. Cit., 1947, p. 130. 117 CORREIA, Leôncio. Barão do Serro Azul, Curitiba, 1942. 118 CORREIA, Leôncio. Op. Cit., 1942, p. 23.

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rudes.”119 Leôncio Correia semelhantemente diz: “O sentimento de indignação

atravessava-me a alma, como se ardesse ela entre as chamas de um incêndio

gigantesco.”120

Ambos pensam em seus textos como documentos para o futuro afirmando que

podem servir de base para que se possa avaliar melhor o que foi a Revolução Federalista

em Curitiba. Rocha Pombo diz: “A nós outros – testemunhas dos sucessos – só nos é

lícito oferecer, aos escritores que vierem, os elementos do contexto definitivo.”121

Leôncio Correia afirma na mesma linha: “Deus concedeu-me a graça de permanecer na

terra o tempo preciso para, acepilhando as asperezas do primeiro ímpeto irado, entregar

ao julgamento das gerações futuras um documento sereno e honesto, pelo qual se possa

avaliar, nos seus justos termos, o que foi essa página sombria da nossa história.”122

Uma terceira semelhança entre ambos os autores é o fato deles descreverem que

demoraram um certo tempo para publicarem ou mesmo finalizarem seus trabalhos. O

objetivo claro é para que pudesse haver distanciamento e assim injustiças não fossem

cometidas. Rocha Pombo diz: “De propósito demorei alguns meses este trabalho, a ver

se passados os calefrios do horror que me dominou, ficar-me-ia um pouco mais de

serenidade para a narração que vou fazer(...)”123 Leôncio Correia, no seu caso, tem um

distanciamento bem maior, não sendo meses, mas sim anos, porém da mesma forma faz

questão de deixar exposto esse fato: “Esperei pacientemente quarenta e sete anos para

lhe pingar o ponto final. Se eu o houvesse publicado no instante terrivelmente

dramático, em que o escrevi sob a impressão de incontida revolta, certo estaria hoje

arrependido de tê-lo feito.”124

As semelhanças são várias ao longo do texto, além da parte que é copiada

integralmente que diz respeito à �otícia Biográfica do Barão do Serro Azul. A razão

119 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 34. 120CORREIA, Leôncio. Op. Cit., 1942, p. 23. 121 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 18. 122 CORREIA, Leôncio. Op. Cit., 1942, p. 23. 123 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 34. 124 CORREIA, Leôncio. Op. Cit., 1942, p. 23.

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das semelhanças, no entanto, é difícil de ser explicada. Pode-se perceber claramente que

meses após o conflito ou mesmo anos depois os sentimentos ainda eram mal resolvidos

para ambos os autores. Além disso, também podemos perceber que ambos tem

consciência de que o estudo da Revolução Federalista sobretudo em Curitiba ainda tem

muito a se desenvolver, por essa razão deixam seus trabalhos como fontes para serem

utilizadas pelas gerações futuras. Os dois autores também fazem tentativas de se

distanciar dos acontecimentos para escreverem, no entanto, somente o fato deles

afirmarem a necessidade desse distanciamento comprova que estavam mais do que

inseridos no contexto em que ocorreram.

3.2 Análises publicadas do livro Para a História:

Como já visto a obra de Rocha Pombo como um todo não é amplamente

estudada ao contrário da Revolução Federalista que já foi objeto de diversas pesquisas,

principalmente nos estados do Sul do Brasil. Com a obra Para a História não é

diferente. Para esta pesquisa tentamos buscar análises que pudessem servir de base ou

mesmo comparação, no entanto, não foi encontrado nenhum trabalho dedicado

exclusivamente para o estudo do Para a História, sendo que este é na maior parte das

vezes apenas citado ou, em ocasiões especiais, figura como tema de um capítulo no

máximo, em livros que tem como tema a Revolução.

É uma necessidade classificar o livro Para a História como um depoimento

pessoal, neste trabalho uma fonte primária do estudo da biografia de Rocha Pombo e

conseqüentemente do seu ponto de vista a respeito da Revolução Federalista.

Rafael Sêga, em uma breve apuração historiográfica sobre a Revolução

Federalista no Paraná aponta que a forma mais comum de explicação histórica tem sido

a descrição factual dos acontecimentos125. Os fatos descritos são em sua maioria os

precedentes políticos, a invasão do estado, a tomada de Tijucas, a investida sobre

Curitiba, o cerco da Lapa e a debandada dos Revoltosos terminando com o assassinato

125 SÊGA, R. A. Op. Cit., 2005, p. 18

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do Barão do Serro Azul. Dentro desses eventos o autor afirma que dois deles são

colocados como centrais no conflito: o falecimento de Antonio Ernesto Gomes Carneiro

durante o cerco da Lapa e também o assassinato do Barão do Serro Azul. Para Sêga

esses dois fatos são privilegiados pela historiografia tradicional.

Carlos Roberto Antunes dos Santos aponta que a história como heroísmo e a

história como tragédia tem sido os principais focos de produção historiográfica a

respeito da Revolução126. A narrativa, segundo o autor, está centrada preferencialmente

nas estratégias militares e na violência. Levando em conta essas categorias “heróicas” e

“trágicas”, Sêga insere a obra Para a História dentro da perspectiva da história como

tragédia na qual se verifica uma corrente que tem como objetivo resgatar a dignidade do

Barão do Serro Azul127. No entanto, no caso especifico do livro Para a História

preferimos considerar que Rocha Pombo transita tanto dentro da perspectiva da história

como heroísmo como também da história como tragédia. Como heroísmo no sentido

que tem o objetivo claro de defender a figura do Barão do Serro Azul e exaltar suas

ações empresarias, políticas e por fim sua postura durante a invasão de Curitiba. Como

trágica no sentido que Rocha Pombo procura, principalmente na terceira parte de seu

livro em que trata dos excessos de violência acontecidos em Curitiba, apontar com

clareza o martírio dos que na cidade estiveram, bem como do próprio Barão do Serro

Azul e seu trágico assassinato no quilômetro 65 da Estrada para Paranaguá.

Independente da classificação que se faz do livro Para a História tem-se claro

que ele é uma fonte de grande relevância para o estudo da Revolução. Primeiramente

colocamos aqui o já citado Rafael Sêga que possui o estudo mais recente, publicado em

2005, a respeito da Revolução Federalista que localizamos. Seu trabalho traz menção ao

Para a História. Sêga afirma acerca da relevância do texto de Rocha Pombo:

“Todavia, elegemos dois trabalhos mais importantes produzidos por autores

paranaenses (pelo menos os mais citados) sobre o assunto para ilustrar a

abordagem historiografia naquele estado. Esses trabalhos são: ‘Para a

126 SANTOS, C. R. A. “Por uma nova leitura da revolução: pensar a revolução fora da revolução.”In: WESTPHALEN, Cecília M. (org.) Revolução Federalista. Curitiba: Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica, 1997, pp. 79-80 127 SÊGA, R. A. Op. Cit., 2005, p. 20.

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História: notas sobre a invasão federalista no Estado do Paraná’, de José

Francisco da Rocha Pombo (1857-1933) e “O Paraná e a Revolução

Federalista’, de David Antonio da Silva Carneiro (1904-1990).”128

Para Sêga, o livro Para a História:

“se constitui, antes de mais nada, em um libelo de indignação contra a

chacina do Barão do Cerro Azul e seus ‘infortunados companheiros de ideal’,

contudo, podemos sentir a intenção de Rocha Pombo de conciliar sua

condição de contemporâneo aos fatos com a preocupação de inseri-los em

uma conjuntura histórica (levada a efeito na 2º parte...), ma como homem de

seu tempo, tais preocupações têm limites e o que reparamos ao final é, nas

palavras do professor Carlos, um posicionamento de ‘recolhimento de fatos

particulares e reverenciados dentro da história.”

Outro trabalho também recente, publicado em 1998 é o livro Rocha Pombo:

Romantismo e Utopias de Gilson Queluz.129 O trabalho tem como foco uma análise das

relações de Rocha Pombo com a modernidade no período de 1880 e 1905, dessa forma

tem o Para a História dentro de sua delimitação temporal. São dedicadas apenas 7

páginas para tratar de toda a obra inseridas entre as análises de dois romances,

Petrucello e �o Hospício. Queluz se refere à Revolução Federalista como Guerra Civil

afirmando que ela teve impactos que seriam decisivos na vida de Rocha Pombo em

diversos aspectos. “Na questão estética definiria a passagem do nosso autor do neo-

romantismo para o simbolismo; em relação à sua visão de mundo, auxiliou a transição

de uma postura romântico-liberal para outra romântico-liberária e utópica.”130

Queluz ainda afirma que a inserção de um item sobre a Revolução Federalista é

relevante entre a análise dos dois romances principalmente “pela existência de

importante testemunho pessoal de Rocha Pombo, a crônica Para a História, nossa

principal referência de análise.”131 O texto de Queluz passa rapidamente por alguns

pontos da obra Para a História, como por exemplo o abandono do general Pego Júnior

128 SÊGA, R. A. Op. Cit., 2005, p. 117. 129 QUELUZ, Gilson L. Rocha Pombo: Romantismo e Utopias - 1880/1905. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1998. 130 QUELUZ, Gilson L., Op. Cit., 1998, p. 102. 131 QUELUZ, Gilson L., Op. Cit., 1998, pp. 102-103.

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50

dois dias antes da invasão da cidade de Curitiba “deixando-a deserta à mercê dos

invasores.”132 Também afirma que Rocha Pombo retoma críticas à República também

presentes em seu romance Petrucello. Queluz afirma que Rocha Pombo ainda que não

declarasse apoio aos federalistas também não condenava o gesto de revolta dos

federalistas. Segundo Queluz :

“Rocha Pombo apenas retomava o ideário Romântico de crença na revolução

como forma de garantir o advento dos povos ao reino da justiça social. (...)

Rocha Pombo invoca o sentido original do termo, pois para ele a revolução

seria o espaço instituinte da liberdade, capaz de restaurar a Idade de Ouro

perdida da modernização”.

Queluz também analisa as questões mais salientes do texto, tais como a atuação

da Junta Comercial comandada pelo Barão do Serro Azul, no interesse de proteger a

cidade de Curitiba. Além disso cita o mês de maio de 1894 considerado por Rocha

Pombo como o mais tenebroso, e em seguida cita uma passagem do Para a História que

denuncia os crimes cometidos no Paraná no pós-invasão. Por fim, considera:

“O fortalecimento de uma política adversa, provoca em Rocha Pombo, a

exemplo do que acontecera com os românticos da primeira metade século

XIX, uma profunda desilusão. Isso o levara ao agravamento da crise de

identidade e ao desenraizamento do tempo presente. (...) Neste sentido a

Revolução Federalista seria a senha de entrada para o simbolismo e o

fortalecimento gradual da visão romântica libertária e utópica em detrimento

do seu romantismo liberal. A exemplo de seus personagens, Petrucello e

Fileto, Pombo retira-se à procura de redenção. Em seu caminho interior

trava-se o encontro com a consciência libertária e com a expectativa de

redenção messiânica. Na revolta silenciosa contra a modernidade, que o

fascina, continuará a imaginar utopias.”

Outro texto já citado, Solar do Barão de 1994 escrito por Octavio Secundino

Junior também cita o trabalho Para a História, porém não chega a fazer nenhum tipo de

análise. O texto é citado no capítulo O Segredo de Rocha Pombo, porém resume-se a

informar da existência do trabalho e também relatar os aspectos pelos quais o trabalho

132 QUELUZ, Gilson L., Op. Cit., 1998, p. 104.

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51

chegou até as mãos de seu pai Octavio Secundino, quando este trouxe do Rio de Janeiro

as páginas escritas por Rocha Pombo e que continham as últimas duas partes do Para a

História. O restante do capítulo é utilizado para se comentar as atrocidades acontecidas

no Paraná em 1894 não sendo feita nenhuma citação direta ao trabalho de Rocha

Pombo.

Além desses trabalhos também encontramos citações que não tem a mesma

pretensão acadêmica a respeito do Para a História133. Temos em jornais como, por

exemplo, a coluna �ostalgia do jornal Gazeta do Povo, edição de 1993. Nesse artigo

Cid Destefani, historiador e de dono de acervo de fotografias antigas da cidade de

Curitiba homenageia o historiador Rocha Pombo pelos seus “serviços prestados à

comunidade”. Após um breve resgate da história de Rocha Pombo, Destefani fala a

respeito da origem do texto Para a História acrescentando ao que já foi descrito

anteriormente neste capítulo. Ele afirma que em 1940, Rocha Pombo é homenageado

em Morretes e acrescenta:

“Em 1940, além desta homenagem foi cometida uma grande injustiça com

uma obra de Rocha Pombo. Leôncio Correia, outro paranaense que morava

no Rio de Janeiro, ficou com um texto inédito do historiador sobre os

ocorridos no Paraná durante e após a Revolução Federalista de 1894. Rocha

Pombo escreveu cruamente sobre os fatos não poupando culpados, entre eles

Vicente Machado. Leôncio entregou os originais para Caio Machado, filho de

Vicente, para que tomasse conhecimento do escrito. O texto voltou às mãos

de Leôncio multilado. Mesmo assim este publicou, em 1940, o livro “Barão

do Serro Azul” usando o que lhe tinha sido entregue, como obra sua.

Descobrimos esta falcatrua quando, em junho de 1980, a Fundação Cultural

de Curitiba publicou o livro Para a História como sendo obra inédita de

Rocha Pombo, entretanto já não o era mais, pois em 1940 Leôncio usara o

mesmo, descaradamente, como de sua autoria. Registramos aqui, para a

história, sessenta anos após a morte de Rocha Pombo, o nosso protesto, a

133 Para que este trabalho fique completo citamos ainda o livro Maragatos x Pica-paus de Milton Miró Vernalha, que dedica uma parte de seu último capítulo para falar do Para a História. Ele critica, embora sem muito embasamento, discrepâncias entre a versão publicada em 1980 e uma versão presente no livro Profanações de Valfrito Piloto. Ao decorrer desta pesquisa também encontramos diversas diferenças entre os textos do mesmo Para a História que não interferem significativamente na análise. VERNHALHA, Milton M. Maragatos x Pica-Paus. Curitiba: Lítero-Técnica, 1984.

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bem da verdade, contra a injustiça sofrida pelo nosso historiador maior e, a

quem dúvidas tiver, provas temos em mãos.”134

Temos além desses as citações anteriores a publicação em 1980 feita pela

Fundação Cultura de Curitiba. Um exemplo é uma nota no livro A Última Viagem do

Barão do Serro Azul de Tulio Vargas135. No final do IX capítulo intitulado O Terror136

ele coloca uma nota atribuída a Rocha Pombo em um texto ainda inédito que chama de

�otas sobre a invasão federalista no Paraná137. Vargas escreve da seguinte forma a

sétima e última nota do capítulo: “Rocha Pombo, que esteve preso em Paranaguá, narra

em ‘Notas sobre a Invasão federalista no Paraná”, ainda não publicadas o seguinte: - Tal

era o aglomerado nos cubículos ...”.138 Aqui fazemos uma ressalva. A nota está inserida

em um texto de cerca de 7 páginas que Tulio Vargas publica de um documento

intitulado Diário de Um Preso Político, escrito por Balbino Mendoça em 09 de maio de

1894 quando este esteve na mesma prisão do Barão do Serro Azul. Não está descrito se

a nota pertence ao original ou se foi colocada por Tulio Vargas, porém tudo leva a crer

que foi colocada por Tulio Vargas.

Localizamos a passagem e constatamos, no entanto, que existe um engano feito

pelo autor uma vez que Rocha Pombo não esteve preso em Paranaguá. A passagem

pode ser encontrada em uma nota do livro Para a História139, referente à segunda parte,

dos acontecimentos ocorridos no estado quando da invasão dos revolucionários. O texto

original de Rocha Pombo diz respeito, na verdade ao período em que a esquadra de

Custódio de Melo entrava em Paranaguá. Um grupo de cerca de 40 pessoas organizou

uma tentativa de revolta na guarnição da cidade, tentativa que segundo Rocha Pombo

134 “Gazeta do Povo”, Curitiba, 26-06-1993. Fazemos algumas ressalvas do texto de Destefani uma vez que a publicação de Leôncio Correia do livro Barão do Serro Azul data de 1942 e não 1940 como citado. Também consideramos o que Valfrido Piloto escreve afirmando que após entregar a Caio Machado fez para ele uma cópia, dessa forma o que Destefani coloca que o texto voltou mutilado pode ser questionado. 135 VARGAS, Túlio. A última viagem do Barão do Serro Azul. Ed. O formigueiro, Brasília, 1973. 136 Uma coincidência se dá aqui pois Rocha Pombo chama esse período de retomada legalista como Dias do Terror. POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 60. 137 Atentamos para o fato de não colocar o nome da obra Para a História. Uma explicação provável é que sua versão não contivesse esse nome. 138VARGAS, Túlio. Op. Cit., 1973, p. 149. 139 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 122

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53

denunciava algum acordo com as forças do contra-almirante Custódio de Melo. Rocha

Pombo coloca essa nota justamente por conter uma “minuciosa descrição do que se

passou em Paranaguá naqueles dias.”140 O trecho específico diz respeito então a uma

prisão em Paranaguá e não a de Curitiba na qual estiveram presos Balbino Mendoça e o

Barão do Serro Azul.

Citamos, por fim, os textos de Valfrido Piloto, tanto o mais citado Profanações

de 1947 quanto a pequena biografia intitulada Rocha Pombo de 1953 que trazem

citações do trabalho antes de sua publicação. Por último lembramos o livro de Leôncio

Correia Barão do Serro Azul que não possui uma citação, mas sim um pedaço

integralmente copiado.

3.3 Estrutura do livro Para a História:

O Livro Para a História possui uma estrutura definida em três partes. A

primeira, menor de todas, é intitulada �otícia Biográfica do Barão do Cerro Azul141. A

segunda parte tem o título de Histórico dos acontecimentos que se deram no Paraná e a

terceira e última é intitulada Idéia dos excessos que cometeu a legalidade triunfante.

Cada uma das partes tem características exclusivas e diferenciadas que dão a

entender que não foram todas escritas em um só momento. A primeira parte parece ter

sido escrita em um momento de tranqüilidade na qual Rocha Pombo consegue deixar de

lado o sentimento de revolta com o acontecido e foca-se em desenvolver uma

argumentação da história pessoal de seu amigo o Barão do Serro Azul. A primeira parte

é por isso a mais bem acabada, pois nela o texto encontra-se conciso. Rocha Pombo

parece ter preparado com esmero a biografia de seu amigo, procurando levantar diversas

140 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 122. 141 Aqui como em todo o decorrer do texto de Rocha Pombo será possível ver a grafia de Barão do Serro Azul com “C” ao contrário de “S”. No entanto, em outras fontes como o livro de Leôncio Correia, ou mesmo nas partes do Para a História, descritas no livro Profanações de Valfrido Piloto, Barão do Serro Azul está escrito com “S”. Entendemos que pelo fato do Para a História ter sido várias vezes copiado, erros como esse são passíveis de acontecer, assim como é possível encontrar diversas diferenças pontuais ao longo da publicação da Fundação Cultural de Curitiba de 1980 que estamos trabalhando, quando comparada com os livros acima citados. Tais diferenças não comprometem o entender do texto, porém carecem de revisão. Neste trabalho vamos nos ater à forma como que cada autor coloca, sendo que as vezes Serro será escrita com “S” e às vezes com “C” por conta do autor a que nos referirmos tratar dessa forma.

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informações acerca de sua carreira empresarial. Não é possível notar nesta parte do livro

um posicionamento declarado acerca da Revolução Federalista como nas partes

subseqüentes. Pelo contrário, a história do Barão do Serro Azul é narrada

eufemisticamente, exaltando seus feitos empresariais e sua participação política. Sua

morte é tratada no final do capítulo como uma conseqüência de sua própria natureza

moral.

Rocha Pombo deixa claro que pretende caracterizar a individualidade do

Barão, no entanto, afirma que está convencido que “só quem viveu no Paraná, durante

estes últimos quinze ou vinte anos, é que poderá fazer um juízo exato do grande papel

que coube ao Barão do Cerro Azul na obra da civilização e do progresso material

daquele Estado.”142 Rocha Pombo ainda apresenta algumas fontes durante seu texto, são

elas: uma carta escrita para o Barão por C. Barata Ribeiro, da praia de Botafogo em 23

de junho de 1890; outra carta agora escrita pelo próprio Barão em Curitiba endereçada

ao Coronel Firmino Pires Ferreira em 5 de maio de 1894, período final da invasão

Federalista no Paraná; o último documento é um estudo publicado pela revista Boletin

Industrial de Buenos Aires em 8 de dezembro de 1895 acerca da casa comercial e das

fábricas de mate fundadas pelo Barão do Serro Azul.

A segunda parte do livro Para a História de Rocha Pombo é a segunda

também em tamanho. Ela da conta da História dos Acontecimentos que se deram no

Paraná. Rocha Pombo tem o cuidado de delimitar logo abaixo do título o período ao

qual essa parte se refere “desde a entrada dos revolucionários do Sul, em janeiro de

1894, até a retomada, pelas forças do Governo Geral em maio do referido ano.”143

Também encontramos aqui claramente Rocha Pombo afirmando que seu texto foi

finalizado com uma junção de notas que havia escrito no período em que residiu em

Curitiba e também informações que buscou em diversas fontes após o conflito.

“Como subsídio valioso para esta segunda parte da presente obra, vou

aproveitar o que foi então escrito, sob a impressão ainda viva dos sucessos; e

em seguida acrescentarei as informações que subseqüentemente fui obtendo

142 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 17. 143 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 33.

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de diversas fontes, a fim de dar uma análise exata dos fatos, no meio dos

quais destacarei o papel que coube ao Barão do Cerro Azul durante o

domínio revolucionário no inditoso Estado do Sul.”144

É no início da segunda parte do Para a História em que se encontra a maior

parte do texto que o narrador, no caso Rocha Pombo, escreve a respeito de si mesmo e

de seu sentimento. Ele afirma o estado de sua alma, bem como o propósito de demorar

algum tempo para escrever afim de não cometer injustiças. Rocha Pombo ainda afirma

que não tem intenção de fazer uma simples crônica, mas sim a narração e o estudo “de

sucessos que só por si caracterizam o doloroso momento da política do nosso país.”145

Rocha Pombo também afirma no início da segunda parte, em que expõe suas

razões para o referido texto, que seu objetivo é cumprir um ato de dever que está na

natureza moral dos homens que tendem para a justiça. Neste caso ele mesmo fazendo

justiça em prestar “um serviço às gerações futuras” colocando diante delas os fatos

acontecidos.

Também é nítido que Rocha Pombo enquanto escreve suas razões e

considerações sobre o texto tem consciência de que seu posicionamento de revolta pode

influenciar a ordem de sua narrativa. Em determinado momento, imediatamente antes

de iniciar de fato a descrição dos acontecidos ele afirma: “mas não quero adiantar-me

sem ordem. É preciso que meu coração emudeça um pouco, para que minha memória

possa narrar.

Diversos são os documentos utilizados por Rocha Pombo neste ponto do livro.

Depoimentos contidos nas notas a respeito da invasão em Paranaguá; Um memorial do

Barão do Serro Azul em que comenta como os comerciantes se organizaram para

proteger-se diante das ameaças federalistas; depoimentos do vice-governador Vicente

Machado; ata de capitulação de Tijucas; telegramas de Custódio de Mello e

Gumercindo Saraiva ao Marechal Floriano Peixoto; ata da sessão da Comissão de

Comércio nomeada para levantar os empréstimos de guerra para os revolucionários; ata

144 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 33. 145 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 33.

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56

de capitulação da Lapa e por fim notas do jornal Diário do Comércio.

Esses documentos, aliados aos fatos escritos em suas notas pessoais e mais a

memória de Rocha Pombo procuram refazer os acontecimentos que ocorreram dentro da

cidade de Curitiba de janeiro a maio de 1894.

A terceira parte do livro Para a História é sem dúvida a parte com discurso mais

intenso e declarado de Rocha Pombo. Como o próprio título diz ela pretender dar uma

Idéia dos excessos que cometeu a legalidade triunfante em Curitiba após a fuga dos

federalistas. Nesta parte do texto podemos ver claramente o clima emocional de

indignação de Rocha Pombo a respeito da violência praticada pelas forças legais após a

restauração. É também a parte mais extensa do livro e que conta com o maior número

de notas. Novamente o autor aponta diversos documentos relevantes para o estudo,

primeiramente uma carta da viúva Baronesa do Serro Azul ao Senador Barão do

Ladário a respeito da prisão de seu marido; pequenas biografias e envolvimento de cada

um dos assassinados na Estrada de Ferro de Paranaguá; artigos de jornais,

principalmente do jornal O Paiz; apresentação dos decretos de transferência da Capital

de Curitiba para Castro; discussões presentes no diário do Congresso Nacional; discurso

do Dr. Valladares atacando o governo de Floriano Peixoto e por fim artigos da imprensa

que tinham como finalidade enaltecer a restauração da legalidade. Essa é a estrutura

principal do Para a História.

3.4 6otícia biográfica do Barão do Serro Azul:

Rocha Pombo era sem dúvida um amigo e admirador de Ildefonso Pereira

Correia, que mais tarde passou a chamar-se Barão do Serro Azul. Segundo Rocha

Pombo após sua mudança para Curitiba ele influencia grandemente a indústria,

principalmente a indústria do mate no Paraná:

“Mudando-se para Curitiba em 1878, o seu espírito agitou-se logo em meio

mais vasto e dessa época em diante a influência do seu gênio progressista

pode-se dizer que foi um verdadeiro sopro misterioso de vida e de energia

para todas as iniciativas que se criavam. Com o seu alto tino mercantil e

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57

sabendo ver nos horizontes abertos, compreendeu ele que a indústria do mate

ainda tinha muito a dar e para ela dirigiu todos os seus esforços.”146

Na passagem acima é possível notar o tom de admiração de Rocha Pombo

através da adjetivação de seu “alto tino mercantil e sabendo ver nos horizontes abertos”.

Rocha Pombo na verdade compartilhava muito da visão do Barão do Serro Azul para o

desenvolvimento econômico do Paraná. Gilson Queluz afirma que “Rocha Pombo

pretendia, em um primeiro plano, incentivar o desenvolvimento da indústria e da

agricultura, através de um maior intercâmbio de técnicas de fabrico e do conhecimento

aprofundado dos empresários sobre sua produção”.147 Essa citação diz respeito ao

período anterior à Revolução Federalista quando ainda era deputado por Castro. Rocha

Pombo propõe, para atingir seus objetivos, exposições industriais que na segunda

metade do século XIX tinham grande importância para o desenvolvimento de novos

mercados. Ainda segundo Queluz esse foi o único projeto de Rocha Pombo que foi

aprovado. Voltando ao Para a História, Rocha Pombo afirma que o Barão do Serro

Azul compartilhava dos mesmos ideais, “como se disse: ao mesmo tempo que arriscava

tempo, trabalho e capitais para melhoramento da indústria, empenhava-se seriamente

por criar novos mercados de consumo (...).”148

Esse aspecto do Barão do Serro Azul também é corroborado no estudo de Odah

Regina Costa, A ação empresarial do Barão do Serro Azul149 o qual insere as atividades

do Barão do Serro dentro da atividade econômica do Paraná considerando-o como

modelo de empresário Schumpteriano. Odah Regina em seu trabalho faz um breve

resumo da atuação do Barão apontando inclusive sua participação na Revolução

Federalista.

“Ildefonso Pereira Correia, por tradição de família, que exercia papel

destacado na comunidade paranaense e nas esferas político-administrativas

do Império e do partido conservador, ele próprio eleito deputado provincial,

em 1877, e camarista da cidade de Curitiba, ocupando a presidência da

146 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 20 147 QUELUZ, Gilson L., Op. Cit., 1998, p. 27. 148 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 20. 149 COSTA, Odah R. G. Ação Empresarial do Barão do Serro Azul. Curitiba: Secretaria do Estado da Cultura e do Esporte, 1981.

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Câmara Municipal, sendo agraciado pelo governo imperial com a comenda

Ordem da Rosa e, em 1888, com o título de Barão do serro Azul, exercendo a

Presidência da Província do Paraná, além da projeção no cenário industrial da

erva-mate e da madeira e em todas as iniciativas de progresso da época e nos

acontecimentos políticos que envolveram a Revolução Federalista e que

culminaram no seu brutal desaparecimento, teve sempre projeção e

ascendência social, tendo oportunidade aumentar a sua fortuna particular,

gerindo os seus negócios, ampliando-os e aplicando os lucros na dinamização

das suas empresas e na sua renovação e constante aperfeiçoamento, além da

sua diversificação, atuando nos setores mais rendosos da economia

paranaense, o ervateiro e o madeiro.”150

Rocha Pombo destaca na primeira parte do seu livro Para a História que o

Barão do Serro Azul não se limitou apenas ao mercado do mate, expandindo seus

interesses para outros ramos. “Na comarca vizinha de S. José dos Pinhais, onde havia

adquirido grandes prazos de terras, montou serrarias a vapor, as mais importantes do

Paraná, e estabeleceu núcleos colônias que tornaram-se em pouco tempo florescentes

(...)”151. Ainda mais além Rocha Pombo afirma que a partir de 1885 o Barão do Serro

Azul se tornou a figura mais importante de todo o movimento econômico e social do

Paraná.152

Da participação política Rocha Pombo afirma que o Barão do Serro Azul

“andou quase sempre acima dos partidos.”153 No entanto, diz que se o Barão tivesse

temperamento para a política e se quisesse utilizar de seu prestígio teria condições de se

tornar chefe supremo no Paraná ainda depois do 15 de novembro 1889.154

Rocha Pombo publica ainda uma carta muito interessante escrita pelo próprio

Barão do Serro Azul no calor dos acontecimentos de 1894. A carta data de 05 de maio e

é endereçado ao Coronel Firmino Pires Ferreira. Na carta o Barão afirma saber que

“desafetos seus” tem procurado tornar criminosos os atos que ele tinha praticado em

150 COSTA, Odah R. G. Op. Cit., 1981, pp. 23-24. 151 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 23. 152 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 24. 153 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 26 154 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 26

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Curitiba desde janeiro do decorrente ano. No entanto, o Barão confronta essas

afirmações dizendo que há dois anos havia publicado através da imprensa seu

afastamento de quaisquer grupos políticos. Ele mesmo explica que tinha consciência de

que era uma das influências políticas do Paraná em oposição à política do Marechal

Deodoro. No entanto essa posição desagradou a muitos e por essa razão ele estava

sendo vitimado. No final da carta a passagem mais interessante. O Barão do Serro Azul

afirma que sabia que existia uma ameaça para consigo, porém decide não fugir para

lugar nenhum, pois tal atitude poderia ser entendida como a confissão de crimes que ele

acreditava não ter cometido:

“Amigos e parentes meus, influentes no partido da legalidade, tem me

procurado para aconselhar-me a que fuja para o Rio da Prata, a fim de evitar

vexames de que estou ameaçado. Pela minha honra e pela dignidade do

Governo Legal, tenho recusado tais conselhos. A minha fuga seria a

confissão de qualquer crime ou a falta de confiança nas leis pátrias e nos

juízes que me hão de julgar. Não sou criminoso nem revolucionário.

Necessito justificar os meus atos, para o que desde hoje me considero

prisioneiro à disposição de V. As. De que me subscrevo com apreço (...).”155

Da carta e do que foi apresentado acima podemos influir algumas

considerações. Primeiramente está claro que a figura do Barão do Serro Azul era de

extrema relevância e poder político dentro do Paraná. Rocha Pombo o considera como a

pessoa mais importante do Estado, dessa forma tal opinião deveria ser compartilhada

com a liderança legalista ou no mínimo conhecida. Por essa razão ele era tido como

uma possível ameaça já que as ligações, mesmo que anteriores, do Barão se davam com

o partido da oposição. Outro ponto que fica claro é que o Barão sabia que tinha inimigos

ou como ele mesmo se refere “desafetos”. Por fim, o Barão tinha expectativas claras de

ser julgado e de ter a oportunidade de justificar seus atos.

Rocha Pombo ao analisar a carta comprova a veracidade dos pontos dizendo

“Tudo que se lê nela é positivamente a verdade, desde as asserções até os

155 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 29

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pressentimentos daquela grande alma.”156 Além disso Rocha Pombo afirma que quando

o Barão havia publicado na imprensa que se afastava dos partidos ele mesmo era redator

do Diário do Comércio (1891 – 1892) e presenciou a publicação. Rocha Pombo faz

ainda um julgamento de que o Barão se portou de forma ingênua: “e também é exata

infelizmente a ingenuidade daquela nobre vítima, que tinha a consciência serena, tão

fora dos tumultos daquele momento, para acreditar na dignidade do governo legal e na

justiça de tribunais cuja audiência reclamava, entregando-se, confiante e álacre.”157

Queluz a respeito dessa ligação entre os dois personagens ainda acrescenta:

“Podemos depreender um relacionamento próximo entre eles, especialmente

pelo desempenho do papel de diretor do jornal “Diário do Comércio”, de

propriedade do Barão do Serro Azul, em 1892 e pelo necrológico

emocionado e elogioso, escrito por Rocha Pombo após a morte de seu amigo,

o livro Para a História. Mais íntima, podemos constatar, é a semelhança

entre diagnósticos da crise e as proposições para resolvê-la. A mesma ênfase

na excessiva dependência do mate, o mesmo anseio por reformas estruturais,

tais como imigração, abertura de estradas, arregimentação de capitais para as

indústrias e diversificação da produção agrícola. A coincidência entre as

propostas parece apontar para um ideário básico, assumido pelos industriais

ervateiros e seus intelectuais, partícipes do Partido Conservador.

Como já visto Rocha Pombo era muito ligado ao Barão. Tão ligado que é por

conta de dividirem os mesmos preceitos políticos e considerações sobre o

desenvolvimento do estado é que podemos considerar a razão pela qual Rocha Pombo

tem tanto cuidado e zelo para escrever no Para a História essa breve biografia do

Barão. Rocha Pombo não se preocupa em problematizar a vida do Barão, nem apontar

prováveis causas para seu assassinato nesta parte inicial do livro, porém ele vai adotar

outro posicionamento quando trata especificamente do episódio do assassinato do Barão

na terceira parte.

3.5 Histórico dos acontecimentos que se deram no Paraná

156 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, pp. 28-29. 157 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, pp. 28-29.

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No início da segunda parte intitulada História dos Acontecimentos que se

deram no Paraná temos diversos parágrafos onde encontramos uma interlocução de

Rocha Pombo com o leitor. Basicamente Rocha Pombo situa o leitor primeiramente no

recorte temporal que estabelece, de janeiro a maio de 1894, e depois situa a si mesmo

explicando que durante os acontecimentos permaneceu com sua família em Curitiba.

Por essa razão Rocha Pombo se coloca como “testemunha ocular”158 dos

acontecimentos. Vemos no início da segunda parte do livro Para a História um discurso

de legitimidade. Rocha Pombo considera que ele, por ter vivido aquele espaço, tem

legitimidade para prestar “um serviço às gerações futuras”159 ao relatar a história dos

acontecimentos vividos em Curitiba.

O primeiro ponto que Rocha Pombo levanta é a expectativa da invasão.

“Estávamos no mês de janeiro de 1894. Desde muitos dias se falava na eminência da

invasão revolucionária.”160 O autor afirma que a revolta já havia começado e a esquadra

já havia tomado conta de Desterro e do Sul. No entanto, afirma também que nem todos,

principalmente o Governo Federal, acreditava numa invasão. Rocha Pombo critica que

o Governo Legal não havia distribuído mais de 2000 homens e que estes eram em

muitas vezes apenas lavradores.

Rocha Pombo conta também que o governo estadual fazia tentativas de

organizar uma resistência, porém faz novamente uma crítica afirmando que tais ações

eram desordenadas. Na passagem a seguir também verificamos o “pavor” relatado por

Rocha Pombo atribuído aos revolucionários:

“É assim que o governo estadual esforçava-se também por preparar a

resistência. Mas os seus esforços eram sempre desordenados e o grande mal

que o perturbava era o pavor que espalhavam as avalanches do Sul, pavor

agravador pela exageração das notícias que corriam.”161

Podemos inferir neste ponto que as notícias que causavam o “pavor” a que

158 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 33. 159 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 33. 160 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 35. 161 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 36.

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Rocha Pombo se refere dizem respeito, além da eminência da invasão, à violência com

que foram feitas as invasões nos outros estados do Sul. Além disso, também verificamos

que não somente a Revolução Federalista tinha como característica uma desordem

interna, como foi visto no primeiro capítulo deste trabalho. Também o próprio governo

tinha problemas em organizar-se corretamente.

Outro ponto levantado por Rocha Pombo são os “boateiros”, os quais

espalhavam notícias a respeito da invasão causando medo e apreensão. No entanto,

Rocha Pombo faz uma análise dizendo que todos em Curitiba eram “boateiros” e que

parecia óbvia a todos a invasão. “Mas os boateiros não davam pelas cóleras do governo,

porque afinal boateiro era todo mundo em Curitiba, porque todo mundo tinha olhos

para ver o desdobramento dos sucessos.”162

A organização da resistência em Curitiba é ponto também presente no texto.

Desde antes da invasão a Curitiba, comerciantes e proprietários nomearam uma

comitiva para “fazer sentir ao comandante do Distrito Militar (então o general Pego

Junior) a situação aflitiva do espírito público ante a contingência a que se achava

exposta a cidade, de ser assaltada pelos revolucionários.”163 Notamos que existe, além

do “pavor” espalhado pelos boateiros, havia a necessidade de fazer conhecer, como

Rocha Pombo diz, a “situação aflitiva do espírito público”. Por essa razão entendemos

que a expectativa da invasão dizia respeito à população da cidade como um todo, sendo

objeto de conhecimento público.

Como resposta à visita da comitiva o então Vice-governador Vicente Machado

disse que iria refletir a respeito das atitudes que iria tomar, porém já tentava acalmar o

povo dizendo que não se daria combate dentro da cidade. Uma passagem de Rocha

Pombo diz que:

“No dia 17, o vice-governador fazia distribuir por todos os habitantes uma

reclamação, dando a notícia do feito da esquadra, mas garantindo à

população que os bandidos não subiriam a serra, e que ele – vice-governador

162 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 36 163 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 37.

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63

– estaria firme em seu posto enquanto lhe restasse nas veias uma gota de

sangue”

Logo em seguida temos Rocha Pombo, se referindo ao dia seguinte à

distribuição da reclamação acima mencionada, em passagem que conta em detalhes de

como se deu a fuga do vice-governador.

“À tarde desse dia 18, observava-se nas ruas um movimento extraordinário,

especialmente de cavaleiros. Ao pôr do sol, o vice-governador, a cavalo, de

bombachas e seguido de ordenanças, atravessava a galope diversas ruas, com

ares de susto, mas valha a verdade, com garbo de quem cumpre

corajosamente o seu dever, e até o fim, como assegurava no manifesto da

véspera. (...) Ao anoitecer, porém, a população desafogou-se: o combate não

se daria; o vice-governador tinha preferido, e nisso foi muito bem

aconselhado, retirar-se para São Paulo com um piquete de amigos e

funcionários. (...) O vice-governador, e alguns dos seus auxiliares e amigos

que puderam saber a tempo da resolução que se tomara, tinham partido à

tarde, pela estrada do Assungi; e ao anoitecer, o comandante do Distrito e a

maior parte dos oficiais que nele serviam, tomavam o trem para Palmeira. A

cidade ficara inteiramente abandonada e deserta as ruas.”

Ao se observar a passagem acima podemos perceber que Rocha Pombo faz

questão de encadear seu discurso de forma que o vice-governador tenha, em primeiro

momento, prometido que ficaria em seu posto, e Rocha Pombo cita, “enquanto lhe

restasse nas veias uma gota de sangue”, para em seguida apontar sua fuga. Podemos

perceber um tom irônico no texto ao afirmar que Vicente Machado atravessava a galope

“com ares de susto, mas valha a verdade, com garbo de quem cumpre corajosamente o

seu dever.”164 Por fim, ainda temos a descrição de que a cidade ficaria inteiramente

abandonada. Em passagem mais a frente Rocha Pombo volta a afirma que a capital do

Paraná ficara abandonada “ao salve-se quem puder”, uma vez que com o vice-

governador e com o general Pego Junior fora praticamente toda a polícia.

Temos em seguida a descrição da entrada dos revolucionários a Curitiba.

164 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 38.

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64

Rocha Pombo em determinado momento deixa transparecer um pouco de que lado se

situava, se do federalista ou legalista. Ele diz que é preciso conhecer quem eram os

revolucionários e que no Paraná a revolução contava com “grandes elementos”. Dessa

forma podemos ver que a visão dele não era de extrema repulsa diante dos invasores.

No entanto, contava com “grandes elementos” antes de se saber o que era exatamente a

revolução.

Ele compara o pensamento da época com “descrentes do deus que se adora e

que esperam outro deus, mesmo sem saberem que deus é que vem.”165 Tentando

entender a analogia de Rocha Pombo o deus que se adora é a República, os descrentes

são os conservadores que não tem outra opção senão adorar a república. Esses

conservadores estão à espera de outro deus, que seria a forma de governo instalada após

a revolução, que ninguém, no entanto, sabia exatamente qual seria.

Em Curitiba foi criada uma Junta de Comércio que instituiu uma polícia

provisória. A mesma Junta foi responsável pelo pagamento de empréstimos de guerra

afim de que os revolucionários não pilhassem o comércio da cidade. Nessa conjuntura

que o Barão do Serro Azul tem papel de suma importância por ter sido um dos

responsáveis pela Junta Comercial. Rocha Pombo, ao tratar desse tema coloca suas

próprias memórias: “Quem esteve em Curitiba durante os dias do domínio

revolucionário deve ter notado como foram incansáveis os membros da Comissão

central em evitar tudo quanto era possível de sacrifícios e vexames para o comércio e

para os industriais.”166 Nota-se novamente o discurso legitimador de Rocha Pombo ao

afirmar que “quem esteve em Curitiba” pode notar os esforços da junta. Ele, como

estava em Curitiba, pode então notar e agora escrever o que se deu.

Em outra passagem Rocha Pombo novamente recorre à memória para afirmar

que o Barão do Serro Azul não tinha simpatias com Gumercindo Saraiva, chefe

revolucionário:

“Recordo-me ainda de que num dos últimos dias da anômala situação em que

165 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, pp. 39-40. 166 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 41.

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65

se viu o Paraná, encontrando-me por acaso na praça Tiradentes com o Barão

do Cerro Azul, este mostrou-me um ofício de Gumercindo Saraiva, dizendo-

me mais ou menos: ‘Vou agora mesmo entender-me com o Gumercindo. Já

há muitos dias que entreguei a tarefa a outros... ando exausto... mas, como vê,

o homem reclama de novo, exige os meus serviços... e vejo as cousas muito

mal paradas... tudo a complicar-se e que fazer? Tenho muito medo desses

instantes...”167

Rocha Pombo utiliza a memória, “recordo-me”, para falar de seu amigo o

Barão do Serro Azul. Não temos como saber se Rocha Pombo anotou as palavras que

trocou com o Barão ou se o texto escrito é o que ele tinha em sua memória. Neste caso

podemos influir que ele escreveria influenciado pelos acontecimentos posteriores à

morte do Barão, assim a transcrição da conversa provavelmente teria como objetivo

inocentar o Barão de qualquer relação mais próxima com Gumercindo. Também

devemos entender que a conversa é feita quase no final da invasão à Curitiba. É o

próprio Rocha Pombo que situa a conversa após o desastre de Saldanha da Gama no Rio

de Janeiro. Isso provocou um abatimento das forças revolucionárias e temia-se que em

breve as forças legalistas iriam iniciar uma retomada. Pelo trecho acima podemos

perceber que o Barão já estava cansado, “exausto” e também que tem muito medo dos

últimos dias quando tudo está se complicando.

Rocha Pombo comenta as razões do fim da revolução afirmando que a fuga do

governo provisório instalado depois da invasão em Curitiba fez com que a população

acreditasse que o desastre do Almirante Saldanha da Gama realmente iria produzir a

retomada legalista. Também comenta a respeito do cerco da Lapa afirmando que a

resistência oferecida pelo coronel168 Gomes Carneiro retardara de tal modo as forças

revolucionárias que havia tornado praticamente impossível o seu avanço imediato para

o Norte como pretendia. Rocha Pombo afirma em seguida: “Junte-se a isso a

desmoralização da causa, o desânimo de muitos, a anarquia geral e tudo quanto

caracterizava nos últimos dias (...) e ver-se-á como a revolução perdeu-se por si mesma,

167 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 41. 168 Também encontramos citações a Gomes Carneio como General. Por fidelidade à fonte vamos manter a nomenclatura utilizada por Rocha Pombo, sendo assim ora Coronel ora General.

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66

desde o dia em que chegou ao Paraná.”169

Novamente temos a consideração de que faltou organização aos

revolucionários e esta é, para Rocha Pombo, uma das causas principais de sua derrota.

Ele afirma que acredita que foram cerca de 2000 homens que entraram no estado do

Paraná. “Aqui (em Curitiba) organizaram-se, e muito mal, alguns pequenos

contingentes que poderiam ter elevado aquele número a 2.500 homens.”170 O “muito

mal” corrobora a afirmação de que a faltava organização para o exército revolucionário.

Um detalhe que não podemos deixar passar é que Rocha Pombo coloca um parênteses,

“Aqui (em Curitiba)”, ou seja, situa o local onde escreve esse trecho. Isso nos faz pensar

que essa parte do texto foi escrita logo em seguida aos acontecimentos, pois tempos

depois Rocha Pombo muda-se para Paranaguá e depois se dirige ao Rio de Janeiro.

Em seguida as notas de Rocha Pombo versam sobre a marcha do exército legal

de volta à Curitiba. Narra também a situação de Curitiba quando os chefes

revolucionários preparavam sua retirada deixando os ânimos ainda mais tensos na

cidade. O autor começa a versar a respeito do modo com que a autoridade legal inicia

uma perseguição, não esperada pela população local, dos culpados. Neste ponto Rocha

Pombo faz uma interlocução e uma pausa. Ele diz assim: “Interrompo aqui a transcrição

das notas para continuá-la na parte competente, de forma a não infringir a ordem dos

fatos que desejo manter.”171 Podemos perceber que Rocha Pombo interrompe a

narrativa pois começa a falar dos abusos da autoridade legal, enquanto que o título e a

idéia central dessa segunda parte é a de contar a história dos acontecimentos que se

deram no Paraná de janeiro a maio. Os pontos relevantes aos excessos do governo de

volta instituído será tratado na terceira parte e por essa razão que Rocha Pombo diz que

vai tratar desses assuntos “na parte competente”. O trecho em seguida afirma “Irei agora

completando algumas informações que subseqüentemente pude obter.”172 Aqui temos o

ponto de quebra citado no início da segunda parte, quando Rocha Pombo afirma que

está transcrevendo notas que escreveu quando dos acontecimentos em Curitiba com

169 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 43. 170 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 43 171 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 46. 172 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 46

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67

notas escritas depois do término da Revolução.

O texto continua com um relato dos feitos do Dr. João de Menezes Dória.

Rocha Pombo descreve com detalhes a história desse maragato que, ao fazer cerco na

cidade da Lapa, tem conhecimento de que de Curitiba partiriam trens para Palmeira a

fim de transportar o batalhão Frei Caneca para o estado do Paraná. Uma vez que esse

batalhão fosse realmente trazido de São Paulo poderia atacar o exército legalista que

estava na Lapa pela retaguarda. O Dr. Dória então decide ir até a estação da Serrinha a

fim de impedir a marcha dos trens para Palmeira. Rocha Pombo conta com detalhes que

o Dr. Dória se apodera de um aparelho telegráfico e envia ao vice-governador um

recado chamando-o para uma conferência urgente. O interessante, no entanto, é que o

Dr. Dória se apresenta como sendo o General Gomes Carneiro. Ele diz que os

federalistas haviam feito um violento assalto à cidade da Lapa e havendo “horrível

mortandade” somente ele, Carneiro e mais 46 homens conseguiram fugir. Também

aproveita para pedir informações sobre Tijucas e Paranaguá, onde estavam as outras

frentes legalistas, conseguindo as informações que desejava.173

Por fim, Rocha Pombo volta a analisar as causa do fim do conflito e o fracasso

maragato em conseguir avançar até São Paulo. Ele resume os acontecimentos:

“O movimento revolucionário que se estendera de Sul para o Norte e que,

apoiado pela esquadra do contra-almirante Custódio de Mello, chegou a

apoderar-se do dois Estados de Santa Caratarina e do Paraná, contava, não há

dúvida, com os mais notáveis elementos de triunfo. Desde que se viu o

Paraná invadido, a luta continuando nas campanhas do Rio Grande e na baía

do Rio de Janeiro, muito poucos tiveram esperanças de que o marechal

Floriano conseguisse dominar a revolução. E de fato, se os chefes que a

dirigiam não tivessem feito do Paraná a sua Cápua; contando de sitiá-la,

continuando solicitamente a operar sobre o Norte, invadindo São Paulo – é

mais do que provável que o governo legal não seria capaz de resistir; pois

que, além dos recursos com que contava, tinha ainda a revolução, a garantir-

173 Tal relato pode ser encontrado entre as páginas 46 a 50. POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, pp. 46-50.

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68

lhe a vitória, o pavor que muitas léguas avante lhe ia abrindo caminho.”174

Nesse trecho Rocha Pombo retoma diversos pontos já analisados. Começando

do fim, “o pavor que muitas léguas avante lhe ia abrindo caminho.”175 Assim como

aconteceu e foi narrado em Curitiba o pavor dos revolucionários chegava antes mesmo

dos próprios exércitos. Esse pavor fazia com que os exércitos fugissem e a vida pública

se agitasse, assim como aconteceu em Curitiba. Também lembra que uma vez em São

Paulo seria difícil do governo legal conter a revolução.176 E essa parece ser a principal

opinião de Rocha Pombo que também afirma: “Pode haver exageração neste modo de

apreciar as cousas. Entretanto, no fundo, o que aí fica era a verdade: se Gumercindo,

com 200 homens, invadisse São Paulo assim que se viu senhor do Paraná, teria chegado

vitorioso ao Rio.”177 Essa é a hipótese final que Rocha Pombo apresenta na segunda

parte do livro Para a História.

3.6 Idéia dos excessos que cometeu a legalidade triunfante

A terceira parte do livro Para a História é sem dúvida a de maior peso

emocional para Rocha Pombo. O foco dessa parte é verificar de que forma a autoridade

legal restaurada no poder se fez saber de volta ao domínio da lei. Esta parte começa

como Rocha Pombo aponta, “completando a transcrição do trabalho iniciada na segunda

parte”, ou seja, a partir do momento em que o autor faz a pausa descrita no tópico

anterior.

O primeiro ponto levantado por Rocha Pombo é a demissão em massa dos

funcionários, tanto federais quanto estaduais. Não foram apenas os chefes e

funcionários das repartições públicas que foram demitidos, mas pessoas comuns, por

exemplo, carteiros. Rocha Pombo escreve “carteiros do correio foram despedidos

porque continuaram a servir sob o domínio revolucionário e com nota grave de como

174 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 56. 175 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 56 176 Lembramos aqui a análise de Rafael Sêga que afirma que “a consolidação de comportamentos gaúchos sobre os paulistas na sociedade camponesa ajuda-nos a subsidiar nossa tese de que, quando da eclosão da Revolução Federalista, esses setores serão os mais identificados culturalmente com os maragatos de Gumercindo.” 176 SÊGA, R. A. Op. Cit., 2005, p. 145. 177 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 57.

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69

traidores à república.”178 O autor também conta o caso de um telegrafista que se

manteve na repartição cumprindo o seu dever “sofreu horrores em Castro, porque... não

teve a retentiva de montar canhões na estação telegráfica para repelir Gumercindo.”179

Notamos nessa passagem que Rocha Pombo traz de novo seu tom irônico como forma

de denunciar os absurdos.

Rocha Pombo chama o período de retomada da autoridade do governo legal

como “dias do terror” referindo-se a como iriam ficar na história “aqueles dolorosos

dias.”180 Ele afirma que foram os revolucionários que primeiro inventaram uma maneira

de vexar os legalistas colocando-os em prisões imundas. A autoridade legal, por sua vez

“aproveitou, mas aproveitou demais a invenção.”181 Percebe-se pelo destaque dado ao

“aproveitou, mas aproveitou demais” que Rocha Pombo está fazendo uma crítica à

conduta legalista que foi semelhante, ou pior, do que a dos revolucionários.

Novamente o autor volta a falar que nas prisões estavam pessoas comuns,

cidadãos:

“os que não haviam amado a república como o veado ama o pêlo”, é assim

que Rocha Pombo compara os presos. Ele relata os dias do terror como o

período em que centenas de cidadãos eram obrigados a fazer faxina nos

quartéis, limpar as cadeias, até mesmo ruas. Nos sítios afastados “os mais

ferozes belegerias andavam à caça de gente e traziam em cordas velhos e

moços, pais, filhos e mulheres às manadas, chegando-se a entregar meninas à

brutalidade dos instintos que caracterizam a soldadesca reles.”182

Pela passagem novamente percebemos o tom de indignação de Rocha Pombo a

narrar que eram cidadãos comuns que estavam sendo presos e torturados. A causa para

tais prisões é levantada mais tarde:

178 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 59. 179 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 59. 180 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 60. 181 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 60. 182 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 60.

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70

“Mas, afinal qual era o grande crime de todas essas vítimas? Nada mais do

que a adesão à causa federalista, ou antes, nada mais do que não terem fugido

ou não terem ficado lutando contra os invasores enquanto os patriotas

fugiam. Bastava que um cidadão não fosse correligionário do partido que

entrava triunfante no meio das tropas legais: tinha aderido e era traidor.”183

Por esse trecho notamos que Rocha Pombo considera arbitrária a

criminalização de qualquer cidadão que não tenha fugido ou que tenha realmente

aderido à causa revolucionária. Percebemos uma clara alusão à fuga de Vicente

Machado. Também é possível verificar que existia uma disputa partidária, “bastava que

um cidadão não fosse correligionário do partido que entrava”, o que demonstra com

clareza que o partido de oposição estava fadado à repressão.

Para Rocha Pombo o mês de maio foi o mais “tenebroso”. Com o passar dos

dias, no entanto, os presos começavam a ser tratados com mais humanidade. O autor

relata os critérios das execuções. Os soldados, às vezes tomados pelo álcool, faziam

inserções pelos cubículos abarrotados de presos para buscar alguns nomes. Em um

episódio um dos soldados entra em uma cela e diz: “Ah” – és tu, padre! (...) Ainda não é

a tua vez... Espera até amanhã, que é tempo... Enquanto isso, cuida de rezar.”184 Outra

vítima chamava-se Philippe Paiva. Ele fora levado para o quartel general, porém o

comandante do Distrito já estava em seus aposentos. Com isso o Paiva é levado para

outro quartel a fim de aguardar a noite seguinte. Nesse meio tempo, no entanto, um

capitão intercede por ele e “em vez de assassinado como uma besta, foi posto em

liberdade como um bom cidadão...”185 Rocha Pombo afirma que “naquele momento era

a mesma cousa: tão fácil era ir para a rua como ir para o cemitério.”186 Entende-se

novamente que Rocha Pombo está criticando a arbitrariedade com que os assassinatos

ocorriam.

Do cerimonial das execuções nosso autor conta o seguinte: “O condenado era,

a desoras, conduzido, sempre debaixo das chufas da soldadesca, até o quartel general, e

183 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 61. 184 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 62. 185 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 63. 186 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 63.

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71

dali, à senha convencionada, para o cemitério público, onde era suplicado junto da cova

já aberta!”

Rocha Pombo também dedica algumas páginas de seu trabalho a fim de trazer

a público como se deu a prisão do Barão do Serro Azul. Ele afirma que alguns dias após

da sua chegada à Curitiba o coronel Pires Ferreira foi cedo à casa do Barão. Para

tranqüilizar sua família afirmou que só tinha ido conhecer o Barão e cumprimentá-lo.

Em seguida o mesmo coronel o convidou a acompanhá-lo até o quartel-general. O

Barão se mostrou esquivo, porém a própria Baronesa o animou a confiar no convite que

lhe era feito. O Coronel o tratou bem e apenas mandou que voltasse para casa e lá

ficasse detido. Um tempo depois, no entanto, o Barão fora chamado novamente agora

para se recolher a uma sala do quartel, tendo o coronel Pires afirmado à família que o

Barão ficaria apenas como seu hóspede. Nesse meio tempo Rocha Pombo relata que foi

visitar o Barão: “Ali fui visitar o Barão, sendo-me franqueado o inimigo sem

formalidade alguma. Encontrei lá muitos visitantes, prosando em alta voz e até alguns

dizendo coisas que não deviam ser ditas, se o governo revelasse outras disposições.”187

Pela passagem percebemos que Rocha Pombo não só narrou como também viveu o

momento que escreve. Alguns dias depois o Barão foi obrigado a ser transferido para

uma prisão comum onde ficou incomunicável. Sobre a partida do Barão para o Rio de

Janeiro, Rocha Pombo conta, logo que um oficial chamou seu nome e outros 5 na noite

do dia 20 de maio, para ir até a estação: “O Barão do Cerro Azul pediu licença para

mandar vir um carro, mas não lhe deram, e teve de atravessar a cidade toda a pé,

tiritando de frio e talvez de horror, no meio de uma numerosa escolta.”188 O oficial

comandante recebeu uma carta que deveria ser aberta somente depois que o trem

deixasse a estação. Rocha Pombo, neste momento, cita os 6 que foram no trem e faz um

breve resumo de quem eram cada um deles.189 Por fim, Rocha Pombo chega até o

momento que talvez seja o principal de toda a narrativa. Ele descreve o que teria

ocorrido logo que o trem parou no quilômetro 65 da Estrada de Ferro:

187 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 64. 188 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 65. 189 Rocha Pombo cita que junto do Barão foram o Comendador Priscilliano da Silva Correia, Capitão José Ferreira de Moura, Balbino Carneiro de Mendonça, José Lourenço Schleder e Rodrigo de Mattos Guedes. POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 66.

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“Como é fácil imaginar, os executados horrorizados, só saíam dos carros

arrastados violentamente pela soldadesca. O primeiro dizem foi José Moura.

Este já andava quase morto quando recebeu a descarga. José Schleder soltou

gritos de desesperação – gritos que repercutiram pelas montanhas desertas,

interrompendo talvez o sono tranqüilo das feras, mas sem abalarem aquelas

outras implacáveis feras humanas. Balbino de Mendonça agarrou-se a uns

varões de ferro, pedindo que o não matassem, pois agora é que começava

ainda a viver... Os soldados quebraram-lhe os braços e ele, desfalecido,

tombou para receber tiros de revolver... Sim: foram mortos a revólver um a

um... o Barão pediu... mas pedir a quem? Disse que o privassem de tudo, mas

que lhe deixassem a vida... Que o deportassem, que o banissem, contanto que

lhe deixassem a esposa e os filhinhos. Sentindo a inutilidade dos seus

clamores, pediu mais um momento para orar. Ajoelhou-se e de joelhos

recebeu a descarga. Priscilliano só teve palavras de revolta. Rugia como um

possesso e morreu amaldiçoando os assassinos. Mattos Guedes ficou num

estado lastimoso. Era um homem fraco e doentio. Ia deixar na miséria mulher

e nove filhos menores!”190

Essa passagem demonstra com clareza os detalhes que fazem da terceira parte

do livro Para a História a com maior peso emocional para Rocha Pombo. Não sabemos

de que forma Rocha Pombo chega até essas considerações, porém podemos influir que

essa foi a forma com que os assassinatos foram descritos na cidade.

Destacamos também uma carta que a então viúva Baronesa do Serro Azul

escreve para o Barão do Ladário e que foi lida perante o Senado. Rocha Pombo insere a

carta nas suas notas. A Baronesa escreve cheia de emoção jurando pela inocência de seu

marido que sequer tinha “simpatias pela revolução.”191 Também diz que o Barão do

Cerro Azul tinha plena confiança de que não havia cometido qualquer crime, sempre se

dispondo a expor ao Governo Legal todas suas atitudes. A Baronesa lembra por mais de

uma vez a fuga de Vicente Machado. Podemos perceber também pelo conteúdo da carta

que muito da descrição feita por Rocha Pombo a respeito da morte do Barão está

presente na carta, sendo muito provavelmente ela a sua fonte principal. A carta da

Baronesa é tão rica em detalhes que certamente é possível se desenvolver um trabalho

190 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 69. 191 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 153.

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mais dedicado somente a ela.

Entre outros pontos detalhados por Rocha Pombo temos o cerco da Lapa e a

resistência do coronel192 Carneiro. Rocha Pombo afirma que nos últimos dias de março

e em meados de fevereiro procurava notícias da resistência. Neste ponto temos uma

passagem interessante de Rocha Pombo que se coloca, junto de outros que também

procuravam notícias, como um dos “sustentadores da causa legal”. Como já vimos

anteriormente a posição de Rocha Pombo com relação aos maragatos não era de

extrema repulsa no início da revolução. No entanto, nesta passagem verificamos que ele

se aproximaria mais do lado legalista. Podemos inferir que é devido ao período do

“terror” e de perseguições tenha sido uma escolha de Rocha Pombo, assim como de

vários na cidade, fazer essa afirmação de que era um defensores da causa legal. Esse

posicionamento logicamente muda radicalmente quando Rocha Pombo escreve as notas.

Algumas fontes também são apresentadas por Rocha Pombo. Ele descreve

passagens de um artigo do primeiro ou segundo jornal do órgão oficial que colocava

como mártires aqueles que “tinham abandonado a sua terra, fartos de recursos;

criminosos execráveis – os que não tinham podido fugir e que ficaram entregues a todos

os azares da invasão.”193 Mais a frente Rocha Pombo volta a falar dos jornais dizendo

que “Os próprios jornais do Estado estiveram por muito tempo impedidos de noticiar o

falecimento dos infelizes.”194

Por fim, Rocha Pombo faz pensar a postura de Vicente Machado frente aos

assassinatos. Tendo Machado recebido de um ministro em Buenos Aires um telegrama

no qual afirmava que alguns paranaenses, ex-revolucionários, queriam voltar ao Paraná

e pedem que não sejam perseguidos. Machado responde que os seus “patrícios que por

um motivo qualquer caírem debaixo da ação da lei pela comunhão com a revolta,

podem se conservar tranqüilos quanto a perseguições e violências por parte das

192 Novamente Gomes Carneiro é descrito como coronel e não General. 193 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 79. 194 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 107.

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autoridades do Estado...”195 Ora, o que Rocha Pombo questiona é que apenas quatro

dias antes havia ocorrido a “tragédia da serra”, dessa forma ele propõe três hipóteses:

“1. Ou S. Exa. Ignorava ainda quanto se havia passado, ou pelo menos não

dava crédito aos boatos que ocorriam: e neste caso era, portanto, sincero nas

seguranças que dava a seus patrícios.

2. Ou S. Exa. (a excluir-se essa primeira hipótese e a julgar pelos termos

positivos do manifesto acima transcrito) entendia por aquele só e

exclusivamente só dentro da lei serão colhidos os que de armas na mão e os

que por solidariedade política serviram à causa da revolução, S. Exa,

entendia, dizemos, que a faculdade de matar como cães aqueles que fossem

colhidos de armas na mão e os que por solidariedade política serviram à

revolução era uma faculdade que ficava perfeitamente dentro da lei;*

3. Ou então finalmente, sentindo sua responsabilidade de republicano e de

governo, e tendo a zelar o seu nome de paranaense, S. Exa., ciente de tudo,

satisfez com arredar de si e de seu partido ao menos a cumplicidade moral

naqueles crimes infamantes.”196

Ainda que proponha as três hipóteses Rocha Pombo afirma que nenhuma delas

poderia “salvar a conduta” do partido legal que voltara às terras paranaenses naqueles

dias do terror. De qualquer forma Rocha Pombo deixa transparecer que parece acreditar

mais na terceira hipótese. Ele acredita que o governador e seus partidários, desalojados

pela revolta levaram consigo “na alma um grande despeito e uma cólera imensa.”197

Assim, ao voltarem à sua terra tinham um enorme desejo de vingança. Também lembra

o vexame dado por Vicente Machado:

“não era facilmente suportável a contingência de uma fuga atropelada,

enquanto outros ficavam talvez rindo e increpando de covardia e vileza os

fugitivos, e portanto não podia deixar de rugir dentro daqueles peitos uma

indignação incontinente contra todos os que não se tinham julgado

195 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 109 196 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, pp. 109-110. 197 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 111.

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incompatíveis com o domínio revolucionário.”198

Temos o autor Rocha Pombo fazendo análises que, por mais que o autor

queira, não saem do campo do sentimento. A terceira parte do Para a História é

carregada de emoção. Rocha Pombo defende claramente um ponto de vista, o de

denunciar as atrocidades acontecidas, principalmente com pessoas de bem que nada

tiveram a ver com os revolucionários. O autor ao longo do texto constrói a narrativa de

forma que o ponto principal continua sendo o assassinato do Barão do Serro Azul.

Outras histórias, no entanto, são contadas a fim de exemplificar os excessos cometidos

pela autoridade legal. Por fim, percebe-se que Rocha Pombo faz ao mesmo tempo que

uma narrativa histórica um desabafo. Ele queria contar o que viveu, o que sentiu e fazer

saber ao mundo que aqueles que estiveram no Paraná naquele período presenciaram

uma “monstruosidade que maculou para sempre a civilização deste país e que não

encontra símile na historia da humanidade.”199

Conclusão:

Tendo em vista a pesquisa feita a respeito do livro Para a História escrita pelo

historiador Rocha Pombo, podemos chegar a algumas conclusões. Primeiramente fica

claro que, respondendo à problemática, a Revolução Federalista foi um conflito que tem

extrema importância para Rocha Pombo, influenciando o autor ao longo de sua vida.

Também fica claro que os aspectos subjetivos da vida de Rocha Pombo são

relevantes para se entender o caráter denunciativo do texto. Ainda que o autor no início

do segundo capítulo afirme que quer se distanciar do tema e de seus sentimentos a fim

de fazer um trabalho histórico com rigor, percebe-se que o sentimento de revolta de

Rocha Pombo transparece claramente em seu texto. Temos no Para a História uma

tentativa de Rocha Pombo de resgatar a dignidade e afirmar a inocência de seu amigo

Barão do Serro Azul diante das acusações de colaborar com os revolucionários.

Também fica claro que o autor se posiciona no sentido de responsabilizar Vicente

198 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 111. 199 POMBO, José F. R. Op. Cit., 1980, p. 156.

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Machado pelos assassinatos e atrocidades acontecidas na estrada de ferro para

Paranaguá e também em Curitiba.

Também foi possível perceber que o tema da Revolução Federalista é

amplamente estudado, porém o Para a História é uma fonte pouco conhecida pela

historiografia. Ainda que tenha sido possível encontrar os vestígios referentes à origem

da publicação os esforços no sentido de encontrar trabalhos historiográficos a respeito

da obra específica foram frustrados. O que existe a respeito do Para a História fica em

um lugar comum, não sendo problematizados as questões acima descritas referentes aos

aspectos subjetivos da intenção do autor a escrever. Vê-se dessa forma que o Para a

História assim como a maior parte das obras de Rocha Pombo são pouco estudadas,

talvez com exceção do romance simbolista �o Hospício que é amplamente debatido

dentro do campo de estudo das letras.

Com referência à linguagem e fundamentação foi possível entender que Rocha

Pombo, ainda que não seja extremamente rigoroso em citar suas fontes, as utiliza a fim

de fundamentar seus pontos de vista. A primeira parte é muito diferente das seguintes

possuindo um texto encadeado, fluente e que claramente foi escrito com zelo e cuidado.

Os textos e a linguagem usados por Rocha Pombo nos capítulos seguintes são mais

sentimentais e não seguem uma ordem muito bem definida como o primeiro. A

linguagem deixa claro os juízos de valor que o autor faz.

Conclui-se também que mesmo que Rocha Pombo tente se isentar a fim de

escrever uma história imparcial dos acontecimentos no Paraná ele se posiciona. Seu

texto é recheado de juízos de valor e sentimentos os quais deixa transparecer quase que

sem preocupação.

Finalizamos esta pesquisa com um pedido às autoridades competentes, tanto de

Curitiba como Morretes e do estado do Paraná de reeditar a obra Para a História, já

esgotada. Se possível fazer um resgate do texto completo, o qual acredita-se existir,

segundo os indícios que levantamos. Com isso acreditamos que a obra será ainda mais

conhecida e estudada e fará jus a um texto que é de extrema importância para o estudo

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da invasão dos federalistas no Paraná. Também pedimos que sejam retomadas

iniciativas, como por exemplo, da Casa Rocha Pombo, em Morretes que se encontra

hoje abandonada. A Casa Rocha Pombo foi criada com o intuído de manter viva a

memória a respeito desse autor, bem como manter acessível o acervo de Rocha Pombo à

população. Também lembramos a biblioteca David Carneiro da Associação Comercial

do Paraná que há anos está sem cuidados e sem bibliotecário fazendo com que os livros

e fontes se percam e desorganizem.

Por fim, esta pesquisa teve o objetivo de fazer uma análise do livro Para a

História levando em consideração a vida de Rocha Pombo bem como os estudos já

feitos sobre a Revolução Federalista no Paraná. O objetivo foi alcançado, tornando esta

pesquisa inédita, no sentido de se estudar especificamente uma das obras históricas do

historiador Rocha Pombo.

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