UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2....

53
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DE ASSEMBLEIAS DE PEIXES EM POÇAS DE MARÉ EM MANGUEZAL Átila Dantas Escóssia de Melo Orientador: Helder Mateus Viana Espírito Santo Natal, 2019

Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2....

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA

VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DE ASSEMBLEIAS DE PEIXES EM POÇAS

DE MARÉ EM MANGUEZAL

Átila Dantas Escóssia de Melo

Orientador: Helder Mateus Viana Espírito Santo

Natal, 2019

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

2

Átila Dantas Escóssia de Melo

VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DE ASSEMBLEIAS DE PEIXES EM POÇAS

DE MARÉ EM MANGUEZAL

Dissertação de mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Ecologia da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como requisito para a obtenção do título de Mestre

em Ecologia.

Orientador: Prof. Dr. Helder Mateus Viana Espírito Santo

Natal, Rio Grande do Norte

2019

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

3

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - ­Centro de Biociências - CB

Melo, Átila Dantas Escóssia de.

Variação espaço-temporal de assembleias de peixes em poças de

maré em manguezal / Átila Dantas Escóssia de Melo. - Natal, 2019.

53 f.: il.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-graduação em Ecologia.

Orientador: Prof. Dr. Helder Mateus Viana Espírito-Santo.

1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade -

Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder Mateus Viana. II. Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. III. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 574

Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

4

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Helder Mateus Viana Espírito Santo

Presidente da banca

Prof. Dr. Mario Barletta

Membro externo (UFPE)

Prof. Dr. Tommaso Giarrizzo

Membro externo (UFPA)

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

5

Agradecimentos

Agradeço à minha mãe, Evânia que sem dúvida foi o maior alicerce em todos os

momentos desse processo, me mantendo com pé no chão através de suas palavras. Ao

meu pai, Marcelo, que esteve presente nos momentos em que precisei, e contribuindo

sempre. Às minhas irmãs, Marla e Valentina, por todo amor e carinho, tão importantes

nesses últimos meses.

Agradeço à Lindisay, minha namorada e companheira de vida, pelo

companheirismo, carinho, amor e apoio, me incentivando e acreditando no meu potencial

durante todo esse processo.

Agradeço aos amigos Mateus Germano, Ana Bennemann e Yuri Abrantes, que

foram muito além de grandes parcerias nos trabalhos. O “Kryptos Team” sempre terá

um lugar especial no meu coração. Sentirei saudades dos nossos campos.

Ao professor Dr. Sergio Lima, agradeço pela oportunidade que me foi dada de

participar do projeto, e além disso, por ter me mostrado uma linda relação de amizade

que mantém com seus alunos. Não desejo menos que isso para ninguém.

Ao Dr. Helder, meu orientador, pela amizade, pela oportunidade que me foi

dada para desenvolver esse trabalho, pelo aprendizado que foi construir esse pedacinho

de conhecimento, pela orientação acadêmica nesse processo, e por lições que vou levar

para a vida.

Agradeço a todos e todas que compõem o LISE (Laboratório de Ictiologia,

sistemática e Evolução) e o Laboratório de Fauna Aquática (DBZ-UFRN) pela

disponibilidade das instalações e materiais, pela boa convivência, pelas risadas e pelo

acolhimento de alguém que “caiu de paraquedas” por lá.

Agradeço aos membros da banca de qualificação, Prof. Dr. Guilherme Longo e o

Prof. Dr. Alexander Ferreira, pelas valiosas contribuições que fizeram ao trabalho.

Agradeço à banca de defesa, composta pelo Prof. Dr. Mario Barletta e pelo Prof.

Dr. Tommaso Giarrizzo, por se disponibilizarem a avaliar e contribuir com o trabalho.

Ao corpo docente do Programa de pós-graduação em Ecologia, pelos

conhecimentos fornecidos ao longo das disciplinas. Aos colegas de curso da Pós, do

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

6

mestrado, doutorado, das disciplinas, cursos de campo, da “salinha de estudos da Pós”,

pelas trocas de ideias, conhecimentos e experiências.

Aos funcionários e funcionárias do CTA-UFRN (Centro Tecnológico de

Aquicultura), Daniele, Adriano, João Paulo, Alexander, Paulo Sérgio, Ricardo,

Francisco “Chiquinho” e Seu Damião.

Aos funcionários e funcionárias dos Departamentos de Ecologia (DECOL) e

Botânica e Zoologia (DBZ) da UFRN, servidores e terceirizados.

Agradeço à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela formação

acadêmica (graduação e mestrado), por toda estrutura física, pelo enriquecimento

cultural, pelo desenvolvimento de uma maior consciência social, pela expansão dos

horizontes do pensamento.

Agradeço ao CNPq pela bolsa de mestrado, que sem esse financiamento, minha

permanência na pós-graduação seria inviável.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento

de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

Agradeço à natureza pela vida, pelo fascínio e encantamento. Agradeço ao

universo.

Muito obrigado!

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

7

SUMARIO

RESUMO..........................................................................................................................8

ABSTRACT...................................................................................................................10

INTRODUÇÃO.............................................................................................................11

MATERIAL E MÉTODOS...........................................................................................14

Área de estudo..................................................................................................................14

Parcelas amostrais..........................................................................................................16

Parâmetros ambientais....................................................................................................17

Coleta de peixes...............................................................................................................18

Análise de dados..............................................................................................................21

RESULTADOS..............................................................................................................23

Variações Temporais.......................................................................................................23

Ictiofauna.........................................................................................................................26

Variações Espaciais.........................................................................................................30

Microhabitat....................................................................................................................36

DISCUSSÃO..................................................................................................................38

CONCLUSÕES..............................................................................................................45

PERSPECTIVAS...........................................................................................................45

Referências bibliográficas.............................................................................................46

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

8

RESUMO

Florestas intertidais de mangue desempenham papéis importantes para a persistência de

espécies de peixes, fornecendo alimento e abrigo contra predadores para peixes marinhos

e estuarinos de pequeno porte. Apesar do grande avanço no conhecimento científico de

sistemas estuarinos e manguezais nas últimas décadas, pouco se sabe sobre a dinâmica de

comunidades de peixes nos ambientes temporários dos manguezais. Este trabalho busca

entender como as espécies de peixe se distribuem dentro da floresta de mangue ao longo

do estuário (dinâmica espacial), entre períodos de um ciclo sazonal (dinâmica temporal)

e de acordo com características de microhabitat. Realizamos cinco expedições de campo

entre novembro de 2017 e setembro de 2018 no manguezal do rio Ceará-Mirim

(Extremoz, RN). As amostragens foram feitas em 17 parcelas de 10m x 10m distribuídas

ao longo do estuário, onde coletamos peixes nas marés baixas com esforço amostral

padronizado. Variáveis físico-químicas e de microhabitat (raízes, poças, tocas,

propágulos, cobertura de dossel, profundidade e quantidade de poças) foram aferidas em

cada parcela. Foram coletados 1189 indivíduos pertencentes a 10 espécies: Kryptolebias

hermaphroditus (52% da abundância total), Poecilia vivipara (24%), Ctenogobius

smaragdus (11%), Ctenogobius shufeldti (2%), Ctenogobius boleosoma (2%),

Evorthodus lyricus (3%), Dormitator maculatus (1%), Eleotris pisonis (1%), Guavina

guavina (4%) e Erotelis smaragdus (<1%). Abundância, diversidade e riqueza, foram

maiores no período chuvoso. P. vivipara e as espécies de Gobiidae seguiram esse padrão,

com abundâncias maiores durante esse período. K. hermaphroditus e as espécies de

Eleotridae foram mais constantes ao longo do ano. Encontramos uma relação inversa

entre diversidade e abundância ao longo do estuário, em que quanto mais próximo ao

mar, maior diversidade e menor abundância, contrastando com as áreas mais acima do

estuário com menor diversidade e maior abundância. P. vivipara ocorreu principalmente

nas áreas mais acima do estuário, enquanto C. boleosoma e o E. pisonis tenderam a

ocorrer mais próximas ao mar. As outras espécies ocorreram de forma mais constante ao

longo do estuário. Além disso, as diferentes características de microhabitat dentro das

florestas de mangue também se mostraram importantes na distribuição das espécies.

Encontramos evidências de que as assembleias de peixes nas florestas de mangue, são

moduladas tanto pelas chuvas ao longo do ano, quanto pela proximidade com o mar e

pelas características de microhabitat e discutimos isso em frente ao conhecimento atual

sobre peixes residentes em manguezais

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

9

Palavras-chave: sazonalidade, biodiversidade, gradientes ecológicos, ecologia de

comunidades.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

10

ABSTRACT

Intertidal mangrove forests play important roles for especies persistence, providing food

and shelter from predators for marine and estuarine small fishes. Despite the great

progress in knowledge of estuarine and mangrove systems in the last decades, little is

know about fish community dynamics in the temporary enviroments of mangroves. The

present study aims for understand the fish species distribution on tidepools inside the

mangrove forest along the estuary (spatial dynamics), between seasonal surveys

(temporal dynamics) and according to microhabitat characteristics. Field work was

conducted from november 2017 to september 2018 on the Ceará-Mirim river mangrove

(Northeastern Brazil). We stabilished 17 10m x 10m quadrats distributed along the

estuary, which were used as sample units. Our fish collection followed a standardized

protocol during low tide. Physical-chemical and microhabitat variables (density of roots,

ponds, crab burrows, propagules, canopy cover and pond number and depth) were

mesured. 1189 individuals belonging to 10 species were collected. with Kryptolebias

hermaphroditus being the dominant species (52% of total fish abundance), followed by

Poecilia vivipara (24%), Ctenogobius smaragdus (11%), Ctenogobius shufeldti (2%),

Ctenogobius boleosoma (2%), Evorthodus lyricus (3%), Dormitator maculatus (<1%),

Eleotris pisonis (1%), Guavina guavina (4%) and Erotelis smaragdus (<1%). Abundance,

richness and diversity was higher in the rainy months. P. vivipara and Gobiidae species

followed this pattern, with major abundances in this period. K hermaphroditus and

Eleotridae species were more constant along the year. We found a inverse relationship

between diversity and abundance along the estuary, with major diversity and minor

abundance occurring closer to de ocean, in constrast with upper areas with minor diversity

and major abundance. P vivipara occured more in the upper areas of the estuary, while

C. boleosoma and E. pisonis tended to occur closer to the ocean. Other species were more

constant along the estuary. The different microhabitat characteristics within the mangrove

forest were also important to species distribution. We found evidences that the fish

assemblages in the mangrove forest are modulated by rainfall cycle, the closeness to the

ocean and microhabitat characteristics. We discuss these findings in light of the current

knowledge on mangrove fish.

Key words: Seasonality, biodiversity, ecological gradients, community ecology.

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

11

INTRODUÇÃO

Tipicamente tropicais e subtropicais, os manguezais são ambientes de transição

entre o mar e continente com grande relevância ecológica. Desempenham diversos

serviços ecossistêmicos para nós, seres humanos, e para muitas outras espécies (Barletta

et al., 2010; Barbier et al., 2011; Thrush et al., 2013; Sheaves et al., 2015). Sabendo que

esses ambientes vêm sofrendo com níveis alarmantes de degradação já há algum tempo,

e pela necessidade de melhor conservação e manejo, o número de estudos têm crescido

muito nas últimas décadas (Valiela et al., 2001; Lee et al., 2014; Ferreira & Lacerda,

2016). Um dos principais grupos taxonômicos estudados nesse crescimento científico são

os peixes (Blaber & Barletta, 2016). Dessa forma, uma ampla literatura sobre a ictiofauna

em manguezais vêm se desenvolvendo e alguns dos principais fatores que têm sido

utilizados para explicar a estruturação das assembleias de peixes em manguezais são a

sazonalidade, gradientes espaciais e a dinâmica de marés (Barletta et al., 2005; Reis-Filho

et al., 2010; Neves et al., 2011; Krumme et al., 2015; De Azevedo et al., 2016; Blaber &

Barletta, 2016).

Os processos ecológicos pelos quais se formam assembleias biológicas podem ser

de diferentes naturezas, podemos explorar o assunto partindo de filtros ecológicos:

acessibilidade, limitações fisiológicas e interações (Barletta et al., 2005; Castellanos-

Galindo & Krumme, 2015; Krumme et al., 2015). A acessibilidade, promovida pela

dinâmica de marés, por exemplo, é uma das principais características em ecossistemas

estuarinos, pois interage com os peixes permitindo ou limitando sua mobilidade,

possibilitando a utilização de habitats disponíveis temporariamente, como as raízes do

manguezal durante a maré cheia (Giarrizzo & Krumme, 2009, Krumme et al., 2015).

Apesar de a grande maioria dos estudos se concentrarem na ictiofauna que habita os

canais, os manguezais apresentam outros habitats utilizados por peixes como os canais

intertidais e dentro da floresta (Giarrizzo & Krumme, 2009; Krumme et al., 2015;

Sridharan & Namboothri, 2015), onde ocorre a formação de pequenos canais rasos e

poças de maré. Esse tipo de ambiente carece muito de informações, e no Brasil, o pouco

que se conhece sobre peixes nesses ambientes provêm do estudo realizado por Barletta

(2000), no rio Caeté, no estado do Pará e dos estudos com a espécie Kryptolebias

hermaphroditus, no rio Ceará-Mirim, Rio grande do Norte (Lira et al., 2015; Berbel-filho

et al., 2016).

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

12

Sridharan & Namboothri (2015), observaram que a facilidade de acesso às

florestas e ao ambiente temporário durante as marés cheias através dos canais consistia

em uma das principais forças estruturando as assembleias de peixes em florestas

intertidais de manguezais. De acordo com esse estudo, a proximidade com os canais está

relacionada com maior risco de predação pelo maior acesso de peixes piscívoros maiores.

Contudo a maior riqueza de espécies encontrada nessas áreas também foi associada com

a facilidade de entrada e saída da floresta (Sridharan & Namboothri, 2015). Assim, quanto

maior a distância dos canais, maior abundância e menor riqueza de espécies, refletindo

assim à restrição de acesso a essas áreas para muitas espécies (Sridharan & Namboothri,

2015).

Quanto às limitações fisiológicas, a sazonalidade é apontada como uma das

principais fontes de variação. Estudos têm demonstrado que o balanço pluviométrico

entre os períodos chuvosos e secos acarretam em flutuações em variáveis ambientais

como salinidade, turbidez e temperatura, e com isso ocorre a movimentação dos peixes

em função das tolerâncias de cada espécie, alterando a composição das assembleias

(Barletta et al., 2005, De Azevedo et al., 2016; Castillo-Rivera et al., 2017). De Azevedo

e colaboradores (2016) também observaram resultados semelhantes, ao constatarem

também que as assembleias de peixes mudaram durante os ciclos sazonais, mostrando-se

mais ricas e abundantes durante os períodos de maior pluviosidade e temperatura.

Além da sazonalidade, gradientes espaciais também podem gerar padrões em

variáveis ambientais. Alguns estudos encontraram gradientes de salinidade que

compreendem a parte mais acima do estuário com menor salinidade e aumentando à

medida em que se aproxima da foz. Este padrão é seguido por alterações em alguns

parâmetros das comunidades de peixes, como a riqueza, diversidade e composição de

espécies (Barletta et al., 2003; Neves et al., 2011, Reis-Filho et al., 2014). Castellanos-

Galindo & Krumme (2015), em um estudo que comparou dois manguezais em regiões

biogeográficas distintas, observaram que a correlação entre salinidade e riqueza pode ser

tanto negativa quanto positiva, sendo dependente da riqueza local de espécies dulcícolas.

Assim, as respostas da comunidade que acompanham as variações espaciais podem estar

relacionadas com processos específicos de cada área estudada.

A maioria destes estudos foi, no entanto, realizada nos canais dos manguezais,

ambiente tipicamente lótico. Assembleias biológicas em sistemas lóticos são regidas por

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

13

processos longitudinais, variando de maneira previsível de acordo com o aumento da

dimensão e mudanças nas fontes de nutrientes ao longo da bacia de drenagem (Vannote

et al., 1980). No entanto, o habitat de interesse no presente estudo são as poças de maré

dentro do manguezal. A formação de assembleias biológicas neste habitat pode ser regida

por processos longitudinais, uma vez que a posição ao longo do rio pode definir o pool

de espécies disponíveis para colonização (Couto et al., 2018). No entanto, por serem

ambientes periféricos temporários, a ocupação destes ambientes é limitada a espécies com

capacidade de chegada e resistência a condições extremas do habitat temporário. Assim,

a dinâmica lateral sazonal dos rios pode ganhar importância neste sistema, afetando as

assembleias tal qual acontece em grandes rios de planície de inundação (Junk et al., 1989).

Tendo em vista a grande escassez de informações sobre esses sistemas intertidais

frente ao que já se conhece sobre sistemas estuarinos (Blaber & Barletta, 2016), o objetivo

desse trabalho é investigar a variação espaço-temporal das assembleias de peixes em

poças de maré dentro do manguezal e a relação entre a distribuição das espécies e as

características de microhabitat.

Para isso, estabelecemos os seguintes pontos a serem investigados:

A influência da sazonalidade nas assembleias de peixes no ambiente de

poças na floresta de mangue:

Sendo a sazonalidade uma das principais fontes de variação nos parâmetros físico-

químicos, a assembleia deve responder de acordo com as chuvas por tolerância

fisiológica, bem como devido a possíveis processos de migração e reprodução.

A influência da proximidade com o oceano nas assembleias de peixes no

ambiente de poças ao longo do estuário:

A proximidade com o mar provavelmente também é um ponto chave para essas

assembleias. Isto é esperado tanto pelo acesso de peixes aos ambientes de poças durante

as marés cheias ser maior, devido ao maior pool de espécies próximo ao oceano, quanto

pela própria qualidade da água, possivelmente mais salina.

A relação entre a distribuição das espécies e as características de micro-

habitat no ambiente de poças na floresta de mangue:

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

14

As espécies, embora compartilhando o mesmo habitat de poças nas florestas de

mangue, devem responder de formas distintas a diferentes configurações de microhabitat.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estudo foi realizado no manguezal do rio Ceará-Mirim, município de Extremoz

(05°40'33.2" S, 035°13'04.8'' W), Rio Grande do Norte, Brasil. A floresta de mangue do

rio Ceará-Mirim se restringe a uma faixa de 5 km de extensão a partir da foz. Na parte

baixa do rio, próximo à foz, desenvolvem-se atividades turísticas bem como a extração

de recursos como pesca, coleta de caranguejos e mariscos. Algumas fazendas de

aquicultura são também encontradas em seu entorno (Fig. 1 e Fig. 2). O ciclo hidrológico

da região é unimodal, marcado por uma concentração de chuvas de março a agosto (Fig.

3) e o regime de marés pode ser considerado mesotidal, com marés flutuando em até 2.7

m (Capitania dos portos do RN, Centro de Hidrografia da Marinha do Brasil, 2019). A

área também engloba o Centro Tecnológico de Aquicultura da UFRN (CTA-UFRN), que

ofereceu com estrutura com alojamento e outras dependências. Costa e colaboradores

(2017) realizaram um levantamento da ictiofauna do rio Ceará-Mirim e encontraram 65

espécies, sendo 39 dessas entre estuarinas e marinhas encontradas na área do estudo.

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

15

Figura 1: Manguezal do rio Ceará-Mirim, Extremoz, Rio Grande do Norte, Brasil. As

bolinhas brancas representam as parcelas amostrais e demarcado com linha tracejada

dentro do manguezal o CTA.

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

16

Figura 2: Imagem de satélite representando o manguezal do rio Ceará-Mirim, Extremoz,

Rio Grande do Norte, Brasil. As bolinhas amarelas representam as parcelas enumeradas.

Figura 3: Dados do INMET de precipitação mensal acumulada dos últimos oito anos

para a estação de Natal, RN.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

17

Parcelas amostrais

Como unidades amostrais, estabelecemos 17 parcelas de 10m x 10m (Fig. 4). O

tamanho das parcelas foi definido visando um desenho amostral que pudesse englobar

todo o gradiente espacial de acordo com a distância da foz do manguezal e que fosse

plausível de realização. Para isso utilizamos o Google Earth e visitas prévias para auxiliar

no estabelecimento definitivo. As parcelas dentro e na periferia do CTA (7 parcelas)

foram acessadas a pé através de trilhas, partindo das dependências do Centro. As outras

10 parcelas foram acessadas a partir da foz, utilizando um caiaque como meio de

transporte pelos canais do manguezal. Todas as parcelas foram amostradas durante maré

baixa de sizígia, partindo do ponto mais acima e finalizando no ponto mais próximo ao

oceano, repetindo-se em 5 eventos amostrais buscando cobrir o ciclo hidrológico da

região. Os eventos ocorreram nos meses de novembro de 2017 (período seco), janeiro

(período seco), março (período chuvoso), maio (período chuvoso) e agosto de 2018

(período seco).

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

18

Figura 4: Parcelas amostrais com dimensões de 10m x 10m que foram utilizadas como

unidade amostrais para o estudo. No exemplo uma parcela dominada por árvores jovens

de mangue branco (Laguncularia racemosa).

Parâmetros ambientais

Foram aferidos in situ o pH e Temperatura da água (ºC) com medidor portátil

Hanna (modelo HI 710042), e a salinidade (PPM) também com refratômetro portátil.

Amostramos também características de microhabitat utilizando diferentes métodos.

Fotografias padronizadas foram realizadas para estimar a incidência de luz na parcela e a

composição do substrato. Para a incidência de luz, caracterizada pela abertura de dossel,

foram tomadas quatro fotografias do dossel da floresta, cada uma apontando para um lado

da parcela (Fig. 5). Para a composição do substrato, uma foto foi tomada em cada um dos

quatro cantos da parcela (Fig. 5). Em todas as fotos, a câmera foi mantida na posição

horizontal, afastada do corpo e à altura do peito do pesquisador. Para medição da

profundidade (média de seis medições) das poças foram utilizadas trenas métricas.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

19

Figura 5: O esquema acima indica a disposição da captura de imagens em cada parcela.

As setas apontadas para baixo representam as fotos do substrato enquanto as setas para

cima representam as fotos do dossel, que posteriormente foram analisadas com os

softwares imageJ e CPCe, respectivamente.

Coleta de peixes

A coleta ativa foi realizada por duas pessoas utilizando peneiras retangulares

(dimensões 60 cm X 45 cm) de malha fina (1mm) durante 20 minutos em cada parcela.

Ao final de cada coleta, os indivíduos visualmente identificados eram medidos

(comprimento em milímetros) e devolvidos ao habitat. Os indivíduos passíveis de

identificação e medida em campo, foram devolvidos às poças após estes procedimentos.

Isso se limitou principalmente a Kryptolebias hermaphroditus e Poecilia vivipara,

espécies menos crípticas dentro dessas assembleias. Já os peixes não identificados eram

anestesiados por imersão em solução de óleo de cravo (Eugenol) e fixados em Formol à

10% para identificação em laboratório. Os indivíduos fixados foram identificados nas

dependências do Laboratório de Fauna Aquática (Departamento de Botânica e Zoologia

– DBZ/UFRN), e posteriormente tombados na coleção do museu de morfologia da

UFRN. A partir do 5º evento amostral, todos os indivíduos passaram a ser identificados

em campo. Logo após o término da coleta ativa e a medição dos comprimentos, foram

devolvidos ao habitat.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

20

Figura 6: Coleta ativa de peixes nas poças nas florestas de manguezal do rio Ceará-Mirim,

no Rio Grande do Norte. Na imagem uma parcela dominada por mangue vermelho,

Rhrizophora mangle.

Análise das imagens

Cobertura de dossel

Utilizamos o software ImageJ (V1.52a) para analisar as imagens capturadas do

dossel (Schneider et al., 2012). Cada fotografia foi transformada em uma imagem binária

de pixels em preto e branco (Fig. 7), e a partir disso, uma porcentagem de cobertura de

dossel foi calculada com base na quantidade de pixels pretos. Pixels brancos

representaram a porcentagem de dossel aberto. Dessa forma utilizamos a média de

porcentagem de dossel fechado de quatro fotografias para obter a cobertura do dossel em

cada parcela.

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

21

Figura 7: Representação das transformações das imagens pelo imageJ. As fotos à

esquerda correspondem às imagens do dossel capturadas em campo e à direita as mesmas

imagens transformadas em pixels preto e branco. As duas imagens acima representam

uma situação com baixa cobertura de dossel, enquanto as abaixo representam um dossel

bastante coberto.

Composição do substrato

Para analisar a diversidade de microhabitat, utilizamos o software Coral Point

Count with excel extension 4.1 (CPCe). Este aplicativo é comumente utilizado para

analisar estrutura de cobertura de ambientes recifais através de fotos obtidas com método

de fotoquadrado (Kohler & Gill, 2006). No nosso caso, adaptamos o uso dessa ferramenta

para adquirir dados de micro-habitat a partir de quatro fotos tiradas nos vértices das

parcelas. Programamos o software para distribuir 30 pontos de forma aleatória em cada

imagem do substrato da floresta de mangue. Cada ponto foi categorizado de forma manual

de acordo com o local em que estava (Fig. 8). Os pontos foram classificados entre seis

categorias previamente determinadas: Raízes, Propágulos, Tocas, Poças, Folhiço e Solo

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

22

exposto. A partir disso foram calculadas as porcentagens de cada variável para cada foto.

Para cada parcela amostral, foi considerada a média das porcentagens das fotos

correspondentes.

Figura 8: Ilustração da utilização do CPCe. As imagens à esquerda correspondem às fotos

do substrato da parcela e à direita as mesmas fotos em processamento, com os pontos

aleatórios distribuídos pelo software.

Análise de dados

Para descrever as assembleias de peixes, usamos os parâmetros abundância total

de peixes, riqueza de espécies e os índices de diversidade de Shannon-Weaver e de

Simpson. Ambos os índices são baseados na abundância relativa das espécies em uma

amostra, mas o índice de Shannon-Weaver é mais sensível às espécies raras (Shannon &

Weaver, 1949), enquanto o índice de Simpson é mais sensível às espécies mais

dominantes (Smith & Wilson, 1996). Para os testes de hipóteses, foram construídos

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

23

GLMs com as variáveis resposta (parâmetros ambientais ou da comunidade) em função

dos diferentes eventos amostrais e em função do gradiente espacial, as distribuições dos

erros foram ajustadas em Gaussiana e Poisson para as respostas com valores contínuos e

discretos, respectivamente. Além disso, utilizamos o teste a posteriori de Tukey para

identificar diferenças entre cada evento amostral. Como algumas espécies tiveram uma

baixa abundância, analisamos a probabilidade de ocorrência das espécies em função do

gradiente espacial usando GLMs binomiais com dados de presença e ausência. As

probabilidades de ocorrência em função da distância do oceano foram calculadas

individualmente para todas as espécies, com exceção de Erotelis smaragdus, pois apenas

dois indivíduos foram coletados.

Tanto as imagens do imageJ quanto do CPCe foram analisadas e convertidas em

uma planilha de micro-habitat. Estes dados foram usados para a construção de uma

Análise de Correspondência Canônica (CCA), que teve o objetivo de entender a relação

entre as variáveis ambientais e a ocorrência das espécies. Para a esta análise, foram

utilizados dados binomiais de presença ou ausência para as espécies, dados ambientais,

incluindo as porcentagens dos substratos e as variáveis físico-químicas (pH, temperatura

e a salinidade da água), e a distância do oceano. Todas as análises estatísticas foram

desenvolvidas no software R (R Core Team, 2018).

RESULTADOS

Variações Temporais

Não encontramos variação significativa no pH entre os eventos amostrais (Figura

9B). Já a salinidade apresentou variação de acordo com a sazonalidade diminuindo com

o aumento da intensidade de chuvas e voltando a aumentar com a diminuição da

intensidade de chuvas (Fig. 9C). O teste a posteriori de Tukey indicou a diferença de

salinidade entre os eventos amostrais 1 e 3 (p < 0.001), 1 e 4 (p = 0.001), 2 e 3 (p = 0.002)

e 2 e 4 (p = 0.021; Tab. 1). A temperatura da água também variou ao longo do tempo de

forma significativa (Fig. 9D). O teste de Tukey realizado indicou que o evento amostral

5 apresentou temperaturas menores que os outros eventos (5-1: p = 0.002, 5-2: p = 0.014,

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

24

5-3: p < 0.001 e 5-4: p < 0.001) e que os eventos 2 e 3 também diferiram (p = 0.013; Tab.

1).

Tabela 1. Valores críticos (p) ajustados pelo método de Tukey para comparações

múltiplas a posteriori das varáveis físico-químicas e da comunidade entre os eventos

temporais. Valores em negrito destacam comparações significativas ao nível de 5% de

credibilidade.

Pares de

eventos

Variáveis físico-químicas Variáveis da comunidade

pH Salinidade

(ppm)

Temperatura

(ºC) Abundância Riqueza

Diversidade

Shannon

Diversidade

Simpson

1-2 0.999 0.818 0.893 0.734 0.490 0.274 0.291

1-3 0.961 <0.001 0.213 0.734 0.313 0.023 0.022

1-4 0.839 0.001 0.999 0.027 0.011 0.001 0.003

1-5 0.513 0.277 0.002 0.857 0.993 0.985 0.001

2-3 0.869 0.003 0.013 1.000 0.997 0.776 0.746

2-4 0.908 0.021 0.784 0.311 0.349 0.191 0.336

2-5 0.353 0.809 0.014 0.999 0.196 0.502 0.169

3-4 0.365 0.940 0.215 0.311 0.547 0.835 0.961

3-5 0.816 0.141 <0.001 0.999 0.098 0.055 0.829

4-5 0.093 0.455 <0.001 0.197 0.001 0.002 0.995

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

25

Figura 9: Variação dos parâmetros físico-químicos de poças em cinco eventos amostrais

ao longo do ano, através dos eventos amostrais no manguezal do rio Ceará-Mirim.

Precipitação acumulada (mm) [A]; pH [B]; Salinidade (ppm) [C] e Temperatura da água

(ºC) [D]. Os eventos amostrais correspondem aos seguintes meses: 1 = novembro 2017,

2 = janeiro 2018, 3 = março 2018, 4 = maio 2018 e 5 = agosto 2018.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

26

Ictiofauna

Um total de 1189 indivíduos pertencentes a 10 espécies foram coletados, sendo

uma pertencente à família Cynolebiidae (Kryptolebias hermaphroditus [52%]), uma

Poeciliidae (Poecilia vivipara [24%]), quatro Gobiidae (Ctenogobius smaragdus [11%],

Evorthodus lyricus [3%]), Ctenogobius shufeldti [2%], Ctenogobius boleosoma [2%]) e

quatro Eleotridae (Guavina guavina [4%], Dormitator maculatus [1%], Eleotris pisonis

[1%] e Erotelis smaragdus [<1%]). A abundância total de cada espécie por evento

amostral é apresentada na Tabela 2 e fotos das espécies são apresentadas na Figura 10.

Figura 10: Kryptolebias hermaphroditus (A); Poecilia vivipara (B), Ctenogobius

smaragdus (C), Evorthodus lyricus (D), Ctenogobius boleosoma (E), Ctenogobius

shufeldti (F), Guavina (G), Eleotris pisonis (H), Dormitator maculatus (I) e Erotelis

smaragdus (J). Fotos: (A) W. Berbel-Filho, (B) F. Schäefer, (C) J. Venassel, (D, E, F) R.

Macieira, (G) N. Costa, (H) Aquasymbio, (I) Laparé e (J) Gobynet.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

27

Tabela 2. Valores de abundância para cada espécie de peixe capturada em poças no

manguezal do rio Ceará-Mirim. Os dados são apresentados por evento amostral, que

representam os seguintes meses: 1 = novembro 2017, 2 = janeiro 2018, 3 = março 2018,

4 = maio 2018, 5 = agosto 2018 e representam o número total de indivíduos amostrados

com peneiras por duas pessoas em 17 parcelas de 10 x 10 metros.

Abundância por evento amostral

Família / Espécie 1 2 3 4 5 Total

CYNOLEBIIDAE

Kryptolebias hermaphroditus

(Costa, 2011)

80 126 86 156 171 619

POECILIIDAE

Poecilia vivipara

(Bloch & Schneider, 1801)

4 48 105 124 4 285

GOBIIDAE

Ctenogobius smaragdus

(Valenciennes, 1837)

4 48 6 44 25 127

Ctenogobius shufeldti

(Jordan & Eigenmann, 1887)

3 18 21

Ctenogobius boleosoma

(Jordan & Gilbert, 1882)

4 2 3 18 1 28

Evorthodus lyricus

(Girard, 1858)

3 12 8 12 35

ELEOTRIDAE

Guavina guavina

(Valenciennes, 1837)

2 12 5 9 16 44

Eleotris pisonis

(Gmelin, 1789)

1 1 5 8 1 16

Dormitator maculatus

(Bloch, 1792)

1 8 3 12

Erotelis smaragdus

(Valenciennes, 1837)

2 2

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

28

A abundância total de peixes sofreu variação de acordo com a sazonalidade. O

Evento 4 (período chuvoso) apresentou visualmente maior abundância total de peixes que

os demais (Fig. 11A), porém, o teste de Tukey indicou diferença significativa apenas entre

os eventos 1 e 4 (p = 0.027).

A riqueza de espécies também variou temporalmente, aumentando durante o

período chuvoso e diminuindo ao fim desse período (p = 0.002, Fig. 11B). O teste de

Tukey indicou diferenças entre os eventos 1 e 4 (p = 0.011) e entre 4 e 5 (p = 0.001).

A diversidade de Shannon variou de forma significativa entre os eventos

amostrais, de forma que os eventos 2, 3 e 4 apresentaram de forma crescente as maiores

diversidades (p < 0.001, Fig. 11C). O teste de Tukey indicou diferenças entre os eventos

1 e 3 (p = 0.023), entre 1 e 4 (p = 0.001) e entre 4 e 5 (p = 0.002). A diversidade de

Simpson foi maior nos eventos amostrais 3, 4 e 5 (p < 0.001, Fig. 11D). Diferenças

significativas foram apontadas entre os eventos 1 e 3 (p = 0.022), 1 e 4 (p = 0.003) e 1 e

5 (p = 0.001).

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

29

Figura 11: Variação dos atributos da comunidade de peixes de poças do estuário do rio

Ceará-Mirim entre os cinco períodos amostrais ao longo de um ano. Abundância total

(A), Riqueza de espécies (B), índice de diversidade de Shannon (C) e índice de

diversidade de Simpson (D). Os eventos amostrais correspondem aos seguintes meses: 1

= novembro 2017, 2 = janeiro 2018, 3 = março 2018, 4 = maio 2018, 5 = agosto 2018.

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

30

Variações Espaciais

Parâmetros Físico-químicos

O pH sofreu uma diminuição à medida que a distância da foz do rio aumentou (p

= 0.017, r2 = 0.077 e F = 5.918; Fig. 12A). Apesar de visualmente se perceber uma menor

variação próxima à foz (Fig. 12B) o efeito da distância do oceano sobre a salinidade não

foi significativo (p = 0.284). A temperatura da água também apresentou, menor variação

mais próximo à foz (Fig. 12C), também não houve relação significativa (p = 0.417).

Parâmetros da Comunidade

A abundância total de peixes apresentou aumento à medida que a distância do

oceano aumenta (p = 0.013, r2 = 0.075 e F = 6.392; Fig. 13A). A riqueza, por outro lado,

apresentou grande variação ao longo deste gradiente (Fig. 13B), não sofrendo efeito

significativo da distância do oceano (p = 0.749).

Assim como a riqueza de espécies, o índice de Shannon também apresentou

grande variação em todo o intervalo espacial (Fig. 13C) e não sofreu variação

significativa com relação ao gradiente de distância do oceano (p = 0.185). Já o índice de

Simpson indicou que a diversidade foi maior quanto mais próximo da foz, diminuindo à

medida que as parcelas se afastam do oceano (p < 0.001, r2 = 0.1645 e F = 15.55; Fig.

13D).

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

31

Figura 12: Variação dos parâmetros físico-químicos de poças de manguezal em relação à

distância do oceano no rio Ceará-Mirim. pH [A]; Salinidade (ppm) [B] e Temperatura da

água (ºC) [C] ao longo do gradiente espacial. Os pontos mais escuros correspondem a

sobreposições de dois ou mais pontos.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

32

Figura 13: Variação dos parâmetros das assembleias de peixes de poças de manguezal em

relação à distância da foz do rio Ceará-Mirim. Abundância total (A), Riqueza de espécies

(B), índice de diversidade de Shannon (C) e índice de diversidade de Simpson (D) ao

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

33

longo do estuário, de acordo com a distância do oceano. Os pontos mais escuros

correspondem a sobreposições de dois ou mais pontos.

Probabilidade de ocorrência

Para a maioria das espécies, a probabilidade de ocorrência foi baixa (menor que

0.5, Fig. 14). Isso significa que nas 17 parcelas em 5 eventos amostrais, essas espécies

foram registradas em menos de 50% das vezes. Exceções a este padrão foram as espécies

Kryptolebias hermaphroditus e Poecilia vivipara. A probabilidade de ocorrência de K.

hermaphroditus foi alta (maior que 0.75) em todo o gradiente de distância do oceano.

Embora a curva indique um aumento de chance de ocorrência desta espécie à medida em

que as parcelas se afastam do oceano (Fig. 14H), essa variação não foi significativa (p =

0.245). Já Poecilia vivipara (Fig. 14I) tem probabilidade de ocorrência menor que 10%

nas parcelas próximas ao oceano, mas apresenta uma tendência forte e significativa de

aumento de ocorrências à medida que se aumenta a distância do oceano (p = 0.003). Esta

espécie chega a ter quase 60% de chance de ser registrada nas parcelas distantes do

oceano.

Entre as espécies da família Gobiidae, a tendência geral foi de diminuição de

probabilidade de ocorrência à medida em que as parcelas se afastavam do oceano (Fig.

14A-D). Ctenogobius boleosoma foi a espécie com o padrão mais forte e a única com

uma curva significativa (p = 0.013), com probabilidades de ocorrência próximas a 40%

nas parcelas próximas ao oceano, mas atingindo praticamente zero nas parcelas acima de

3km do oceano (Fig. 14A). Ctenogobius smaragdus apresentou probabilidades maiores

do que C. boleosoma, ocorrendo com cerca de 50% de chance nas parcelas próximas ao

oceano e decaindo até cerca de 20% nas parcelas distantes (Fig. 14C). Esta relação não

foi significativa (p = 0.131). Embora tenha apresentado leve tendência de diminuição de

ocorrência em relação à distância do oceano, Ctenogobius shufeldti (Fig. 14B) e

Evorthodus lyricus (Figura 14D) tiveram poucos registros, apresentando baixas

probabilidades de ocorrência (< 20%) em todo o gradiente espacial (p = 0.504 e p = 901,

respectivamente).

Entre as espécies de Eleotridae, a ocorrência de Guavina guavina foi levemente

maior com o aumento da distância do oceano (Fig. 14E), porém não significativa (p =

0.305), enquanto que a probabilidade de ocorrência de Eleotris pisonis diminuiu

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

34

significativamente (Fig. 14F) com a distância do oceano (p = 0.007). A análise de

Dormitator maculatus (Fig. 14G) indicou baixas ocorrências em todo o gradiente (<20%)

e sem padrão espacial significativo (p = 0.263). A Figura 14J ajuda a visualizar as

variações na probabilidade de ocorrência das espécies nas assembleias de peixes ao longo

do manguezal, como o aumento e a diminuição de probabilidades de ocorrência de

determinadas espécies em detrimento de outras.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

35

Figura 14: Probabilidades de ocorrência de cada espécie baseadas nos GLMs binomiais.

(A) Ctenogobius boleosoma, (B) Ctenogobius shufeldti, (C) Ctenogobius smaragdus, (D)

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

36

Evorthodus lyricus, (E) Guavina guavina, (F) Eleotris pisonis, (G) Dormitator maculatus,

(H) Kryptolebias hermaphroditus, (I) Poecilia vivipara, (J) todas as espécies juntas: 1

(Kryptolebias hermaphroditus), 2 (Poecilia vivipara), 3 (Guavina guavina), 4

(Ctenogobius smaragdus), 5 (Evorthodus lyricus), 6 (Dormitator maculatus), 7

(Ctenogobius shufeldti), 8 (Eleotris pisonis) e 9 (Ctenogobius boleosoma), sendo as

linhas contínuas os resultado significativos e as curvas tracejadas os resultados não

significativos. Os pontos mais escuros correspondem a sobreposições de dois ou mais

pontos.

Microhabitat

A Análise de Correspondência Canônica (CCA) indicou como as variáveis

influenciam a disposição das espécies (Fig. 15). As setas em azul representam as variáveis

e o comprimento das setas representam o tamanho do efeito de cada uma delas. Algumas

variáveis influenciam de forma semelhante, como é o caso da cobertura do dossel

(Cobertura_dossel) e a quantidade de raízes (Raizes; Fig. 15). Estas variáveis, que

tiveram direção e magnitude de efeito parecidas, de certa forma indicam o quanto a

floresta de mangue é densa. Outras variáveis afetam para o lado oposto, como é o caso da

proporção de propágulos (Propagulos), poças (Pocas) no substrato e da profundidade de

poças (Profundidade). Estas variáveis parecem aumentar à medida em que se aumenta a

distância do oceano (Distancia_foz; Fig. 15). Solo exposto, representado no gráfico pela

seta Lama_Areia aponta para uma direção diferente das demais, estando associada com a

salinidade. Folhiço, pH e quantidade de tocas foram as variáveis menos influentes nesse

panorama (Fig. 15).

Esses resultados nos dão uma ideia de como as próprias características de

microhabitat estão dispostas ao longo do estuário do rio Ceará-Mirim. As áreas mais

próximas ao oceano apresentaram florestas mais densas, isto é, maior quantidade de raízes

e dossel mais fechado (Fig. 15). Em contrapartida, áreas mais acima do estuário

apresentaram maior disponibilidade de água nas parcelas de acordo com quantidade e a

profundidade das poças (Fig. 15).

A disposição das espécies (códigos em vermelho na Fig. 15) indica que mesmo

dentro do mesmo habitat de poças na floresta de mangue, há uma grande variedade de

configuração de variáveis e que as espécies estão distribuídas de acordo com essas

configurações. Eleotris pisonis (Eleopiso, Fig. 15), por exemplo, aparece disposta

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

37

próxima a Ctenogobius boleosoma (Ctenobo) no extremo direito superior da figura,

indicando que essas espécies se associam a características de floresta mais fechada (dossel

mais fechado e maior quantidade de raízes). Enquanto espécies como Dormitator

maculatus (Dmacu) e Poecilia vivipara (Poevivi) ficaram mais associadas à maior

quantidade de poças e propágulos, além de menor salinidade e solo exposto. Ctenogobius

shufeldti (Ctenoshuf) foi a espécie mais próxima do centroide, indicando que sofreu

menor influência das variáveis analisadas. Guavina guavina (Guavi) e Kryptolebias

hermaphroditus (Kherma) apareceram próximas uma da outra, associadas à profundidade

das poças. Ctenogobiu smaragdus (Ctenosmara) foi a única espécie de seu quadrante,

associada também a floresta mais densa, salinidade e tocas de caranguejo.

Figura 15: Representação gráfica da Análise de Correspondência Canônica (CCA)

indicando as variáveis ambientais em azul, sendo o comprimento das setas representando

o tamanho do efeito de cada uma e em vermelho as espécies Kryptolebias hermaphroditus

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

38

(Kherma), Poecilia vivipara (Poevivi), Evorthodus lyricus (Evortho), Ctenogobius

boleosoma (Ctenobo), Ctenogobius smaragdus (Ctenosmara), Ctenogobius shufeldti

(Ctenoshuf), Eleotris pisonis (Eleopiso), Dormitator maculatus (Dmacu) e Guavina

guavina (Guavi).

Tabela 3: Valores resultantes da CCA para cada variável de microhabitat obtida em

campo em cada um dos eixos apresentados na Figura 14, sendo o CCA1 o eixo vertical e

CCA2 o eixo horizontal.

Variável de

Microhabitat CCA1 CCA2

Temp 0.01673 0.45797

pH 0.10208 -0.10388

Salinidade 0.46152 -0.46878

Distancia_foz -0.65946 -0.08324

Profundidade -0.45248 -0.23770

Cobertura_Dossel 0.58456 0.20312

Raizes 0.47732 0.23524

Pocas -0.53077 0.06429

Propagulos -0.52701 0.14175

Folhico -0.03828 0.13496

Tocas 0.33233 -0.05558

Lama_Areia 0.27577 -0.53718

DISCUSSÃO

Variações temporais

Das variáveis físico-químicas analisadas, apenas o pH não apresentou variação

significativa ao longo do ano. A temperatura da água e a salinidade, embora de formas

opostas, ambas variaram sazonalmente. A temperatura da água foi maior nos períodos de

maior pluviosidade que corrobora com o que foi encontrado por Pichler et al. (2015),

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

39

porém, que contrasta com trabalhos como (Barletta-Bergan et al., 2002; Barletta et al.,

2003; De Azevedo et al, 2016), que encontraram menores temperaturas da água em

períodos chuvosos. Já a salinidade respondeu de forma que no período chuvoso, menores

valores foram encontrados em todo o estuário, sugerindo que o carreamento de água de

chuvas para o manguezal cause uma diluição na água do estuário, corroborando com

vários estudos em manguezais (Barletta-Bergan et al., 2002; Barletta et al., 2003; Pichler

et al., 2015; De Azevedo et al., 2016).

Em coletas piloto, observamos que poças mais distantes dos canais principais

apresentavam uma dinâmica diferente, possivelmente situadas na zona supratidal, em que

a água da maré só alcançaria as parcelas em marés altas de sizígia. Isso refletia em

parâmetros físico-químicos mais discrepantes do que das poças próximas aos canais,

como alta salinidade e temperatura. Além disso, algumas dessas poças mais distantes

também sofreram influência das chuvas, sendo essas possivelmente moduladas tanto pela

dinâmica de marés quanto pelo período chuvoso.

A comunidade também foi alterada ao longo do ano de acordo com o período

chuvoso, de forma que houve aumento na abundância total, riqueza e diversidade nesses

ambientes. Isso pode se dar por vários motivos ou pela soma de vários processos. Um

dos principais conceitos sobre ecologia fluvial é o conceito do pulso de inundação (Junk

et al., 1989). Este conceito prevê que durante os períodos de águas altas os rios

localizados em regiões planas tendem a se expandir lateralmente, podendo alagar vastas

regiões, dependendo principalmente da dimensão do rio e da topografia do terreno (Junk

et al., 1989). Tais processos laterais têm sido demonstrados em rios de várias dimensões

e em várias porções das bacias hidrográficas, mas muito pouco se discute em estuários.

Além de funcionar como um ecossistema autônomo, com uma fauna característica, as

poças de manguezais podem também sofrer os efeitos do pulso sazonal de inundação dos

canais do manguezal. Processos acontecendo nas poças de manguezais poderiam então

ser comparados com os processos que acontecem nas zonas alagáveis em outras porções

dos sistemas fluviais. Em pequenos riachos de floresta na Amazônia, por exemplo, as

poças representam um ambiente sazonal colonizado por várias espécies de peixes (Pazin

et al., 2006). Durante o período chuvoso, esses ambientes temporários podem abarcar

uma imensa quantidade de peixes, com aumento de abundância e riqueza de espécies

(Espírito-Santo & Zuanon, 2017). O uso sazonal dessas poças é previsível, e parece

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

40

estruturado por processos de migração lateral (Espírito-Santo et al., 2017) e reprodução

das espécies (Espírito-Santo et al., 2013). Nas poças de manguezal, processos

semelhantes podem estar acontecendo. O aumento de riqueza e diversidade nas poças

durante o período chuvoso pode estar sendo regido tanto pela entrada de indivíduos

provenientes do rio quando por processos reprodutivos. A ictiofauna que detectamos nas

poças de manguezal é dominada por espécies de pequeno porte, que raramente aparecem

em estudos nos canais do manguezal. Isso limita nossas inferências sobre a movimentação

lateral sazonal nos manguezais, mas a ausência dessas espécies nos canais de manguezal

pode ser apenas um resultado do uso de métodos de captura voltados para espécies de

maior porte nos estudos dos canais (De Azevedo et al., 2016; Reis-Filho et al., 2010).

Estudos voltados à movimentação dos peixes entre as poças e os canais dos manguezais

podem trazer importantes contribuições ao entendimento da importância destas áreas

alagáveis para a ecologia de peixes nos manguezais. Reis-Filho et al. (2016), estudando

a movimentação de assembleias de peixes entre os canais, região da borda e dentro do

manguezal, encontraram padrões bem definidos, demonstrando a sincronia do uso dos

habitats periféricos do manguezal por muitas espécies com o alagamento desses

ambientes nas marés cheias. Vale ressaltar ainda, que as espécies encontradas por Reis-

Filho et al. (2016) são diferentes das espécies encontradas em nosso estudo, com exceção

de Ctenogobius boleosoma. Isso sugere que das espécies encontradas na maré seca nas

poças, muitas provavelmente não realizam essa movimentação entre habitats, sendo,

portanto, residentes do interior do manguezal.

A maior disponibilidade de água no sistema, proveniente das chuvas, pode,

portanto, aumentar a produtividade das poças, facilitar a movimentação entre o ambiente

de poças e os canais e também favorecer a reprodução de várias espécies. Sabemos que

muitas espécies se reproduzem nesses períodos por uma série de fatores tais como maior

disponibilidade de recursos e maior possibilidade de juvenis ocuparem esses habitats mais

periféricos como uma forma de proteção contra predadores, uma vez que estariam mais

protegidos dentro da complexa rede de raízes nesses ambientes (Teixeira, 1994; Barletta-

Bergan et al., 2002; Sheaves et al., 2015). Teixeira (1994) analisou o desenvolvimento

gonadal de Dormitator maculatus e Eleotris pisonis, e encontrou que essas espécies

apresentam período reprodutivo durante os períodos chuvosos. No nosso estudo não

encontramos evidências de maior recrutamento em função do período chuvoso, já que

nossos resultados indicam abundâncias constantes ao longo do ano para essas espécies.

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

41

Porém, vale destacar que embora tenhamos dados de tamanho de todos os indivíduos, não

analisamos a estrutura populacional dessas espécies. Além disso, esse sistema apresenta

uma dinâmica complexa de alagamento que envolve marés e período chuvoso, de forma

que não podemos descartar subamostragens para algumas espécies. Barletta-Bergan et al.

(2002) em um estudo com ictioplâncton em canais de manguezal, encontraram que

Guavina guavina apresentou recrutamento contínuo ao longo do ano. Este resultado

corrobora com nossos dados, em que essa espécie apresentou abundâncias constantes em

comparação com outras que apresentaram picos de abundância no período chuvoso, como

P. vivipara, C. boleosoma e C. shufeldti.

Variações espaciais

Alguns trabalhos encontram claros gradientes de salinidade nos estuários, em

função da distância para o oceano. Barletta et al. (2005), estudando o estuário do rio

Caeté, no Pará, encontraram diferentes salinidades para pontos com diferentes distâncias

do oceano, em que locais mais acima no estuário apresentaram menores salinidade do que

as áreas mais abaixo e próximas do oceano, discutindo a grande importância dessa

variável para esses sistemas. Neves et al. (2011) encontraram um padrão parecido,

mostrando esse gradiente salino, em função da distância do oceano. No nosso estudo,

entretanto, não encontramos esse gradiente e a dimensão do manguezal estudado pode ser

importante para entender esse resultado, sendo o estuário do rio Ceará-Mirim

relativamente pequeno, comparado com estudos anteriores, com cerca de 4km de

extensão. Um outro aspecto importante é que estamos lidando com poças e não com o

canal do manguezal. As poças podem não responder de forma tão previsível como o canal

do manguezal. As mudanças sazonais de salinidade causadas pela chuva, por exemplo,

podem reduzir bastante o efeito da distância do mar sobre a salinidade nas poças. Entender

as mudanças físico-químicas nas poças envolve um esforço mais direcionado para separar

os efeitos diretos da chuva, da água da zona hiporréica e da conectividade com o rio.

De acordo com nossos resultados, encontramos um padrão de abundância em que

as áreas mais acima do estuário apresentaram maior número de indivíduos do que as áreas

mais abaixo, contrastando com a diversidade que foi maior nas áreas próximas à foz.

Algumas espécies responderam à proximidade com a foz do rio, aumentando ou

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

42

diminuindo suas probabilidades de ocorrência. Isso pode se dar tanto pela qualidade da

água (maior pH próximo ao mar) como por outros fatores. No caso de C. boleosoma e E.

pisonis que ocorreram significativamente mais nas áreas próximas ao mar enquanto P.

vivipara apresentou um padrão contrário, ocorrendo mais em áreas mais longe do mar.

Gomes & Bonecker (2014), em um estudo com larvas de Gobiidae no Rio de Janeiro,

encontraram maior densidade de C. boleosoma em áreas em torno da foz do que em áreas

mais acima do estuário, que de certa forma corrobora com o local de maior ocorrência

dessa espécie no nosso estudo. Porém quando olhamos para as abundâncias, Gomes et al.

(2014) encontraram em um estuário da Bahia, C. boleosoma como a espécie mais

representativa do estudo, contrastando com nossos resultados em que essa espécie

apresentou baixas abundâncias comparada com outras espécies no estudo como

Kryptolebias hermaphroditus e P. vivipara. Quanto a Eleotris pisonis, estudos indicam

ocorrência em áreas mais acima do estuário, possivelmente em decorrência dessas

apresentarem água menos salinas (Neves et al., 2011; Reis-Filho et al., 2014). Isso difere

dos nossos resultados, pois embora não tenhamos encontrado um gradiente espacial de

salinidade, encontramos que essa espécie apresentou ocorrência significativamente maior

nas áreas próximas à foz.

A maior diversidade próximo ao oceano também pode estar relacionada com uma

menor dominância nas áreas próximas ao mar. Por exemplo, P. vivipara foi a segunda

espécie mais abundante e diminuiu drasticamente sua ocorrência nas áreas em torno da

foz, sugerindo que a própria diminuição da ocorrência dessa espécie pode ter um efeito

positivo na diversidade nessa área do estuário. É importante observar também, que ao

passo que a diversidade aumenta, a abundância diminui, o que nos permite pensar na

relação entre essas duas variáveis. É possível que essas áreas em torno da foz sofram

maior pressão de predação do que as áreas mais acima do estuário, pool de espécies, o

que explicaria a menor abundância total e maior diversidade.

Em um estudo desenvolvido por Sridharan & Namboothri (2015) na Índia, foi

observado que a pressão de predação dentro da floresta de mangue era maior nas áreas

próximas aos canais do que nas áreas mais longe dos canais, e como reflexo disso, a

diversidade e abundância apresentaram um padrão inverso, em que locais mais perto dos

canais tinha maior diversidade e menor abundância, enquanto locais mais longe dos

canais tinha menor diversidade e maior abundância, um padrão semelhante ao que

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

43

encontramos com relação à distância do oceano. Dessa forma, embora em uma escala

diferente, um processo parecido pode estar acontecendo na nossa área de estudo, em que

uma maior pressão de predação nas áreas em torno da foz esteja influenciando abundância

e diversidade. Assim, estudos que avaliem a variação espacial na pressão de predação nas

florestas de mangue são necessários para compreender melhor os fatores que estruturam

as assembleias de peixes nesse sistema.

Microhabitat

As características de microhabitat mostraram-se importantes para a distribuição

das espécies. Nossos resultados indicam que há preferência das espécies por parte de

certas características. E. pisonis e C. boleosoma, por exemplo, que foram as espécies que

mais se relacionaram com a proximidade com o mar, foram também as espécies que mais

se relacionaram com estrutura mais densa da floresta, isto é, maior cobertura de dossel e

maior quantidade de raízes. Essas características promovem complexidade ao habitat, e

estiveram mais presentes em áreas próximas ao mar. Assim, podemos pensar que além de

um maior pool de espécies próximo ao mar, a maior complexidade de habitat nessas áreas

também contribui para o aumento da diversidade. A complexidade de habitat, através da

diversificação de nichos e da redução de interações agonísticas, é reconhecida como um

potencializador da diversidade em comunidades biológicas. Em assembleias de peixes,

modelos teóricos (Menge & Sutherland, 1976) e estudos empíricos (Willis et al., 2005)

apontam para um efeito positivo direto da complexidade estrutural do habitat sobre a

riqueza taxonômica e funcional dos peixes. Em manguezais, as raízes aéreas,

especialmente de Rhizophora mangle, são tidas como agentes centrais para a

complexidade do habitat e a diversidade de peixes (Faunce & Serafy, 2006; Mackenzie

& Cormier, 2012; Pierre & Colavenko, 2014). O processo pelo qual estes atributos da

escala local afetam as diferenças nas assembleias de peixes na escala da bacia ainda é

incerto. Estudos de campo sobre uso e seleção de habitats e experimentos manipulativos

sobre interações e complexidade de habitat podem ajudar a entendê-lo.

Embora o efeito das tocas sobre a distribuição da ictiofauna na CCA apresente um

menor efeito do que outras variáveis, ao longo das coletas, capturamos indivíduos de

diferentes espécies dentro ou ao redor de tocas, o que nos leva a pensar sobre a

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

44

possibilidade de existir alguma relação entre esses peixes e as tocas de caranguejo. Uma

espécie de Gobiidae de pequeno porte, o Redigobius dewaali na África do Sul por

exemplo, utiliza tocas de Scylla serrata como habitat desde juvenis a adultos,

apresentando profundas interações ecológicas como competição intraespecíficas dentro

das tocas e possivelmente comensalismo (Wasserman & Mostert, 2014, Kramer et al.,

2015). Outra espécie de peixe que também se relaciona com as tocas é Kryptolebias

marmoratus, táxon pertencendo ao mesmo complexo de espécies que o K.

hermaphroditus, espécie mais abundante no nosso estudo, que as utilizam como abrigo

nos manguezais da Flórida nos Estados Unidos (Taylor, 2012). A utilização dessas tocas

como abrigo por essas espécies pode ser importante para a compreensão do sistema,

sobretudo nas áreas mais distantes dos canais que dependendo do momento do ciclo lunar

podem ficar completamente secas. Foi observado em campo que algumas áreas em que

ocorreram capturas de peixes normalmente, ficavam completamente secas, sem poças,

em períodos de marés de quadratura. Por isso, é possível que algumas dessas espécies

utilizem essas tocas não só para proteção contra predadores, mas também como uma

proteção contra os períodos de marés de quadratura, em que a água não alcança essas

áreas, até que as marés voltem a abastecer o habitat e o ambiente de poças ser

reestabelecido. Um estudo desenvolvido por Krumme et al. (2015) sobre a relação das

assembleias de peixes em canais intertidais e os ciclos temporais atuantes (lunares, marés,

diários) em um manguezal na Índia suporta essa ideia. Em seu trabalho, encontraram

evidências de que muitas espécies apresentam um uso do habitat alinhados a combinações

de momentos específicos nesses ciclos temporais, que além de gerar diversas mudanças

a curto-prazo na comunidade, nos leva a pensar que processos semelhantes podem ocorrer

na nossa área de estudo. O eventual uso de tocas de caranguejo pelas espécies de peixe

no nosso estudo pode estar relacionado aos ciclos de marés e lunares. Dessa forma, mais

investigações precisam se dar no sentido de tentar compreender melhor a relação entre a

comunidade de peixes e os ciclos temporais atuantes, o uso do habitat (através do uso de

tocas de caranguejo, por exemplo) e possíveis interações entre esses elementos.

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

45

CONCLUSÕES

O período chuvoso influencia fortemente as assembleias de peixes em poças de

manguezais, de forma que há aumento na abundância total de indivíduos, riqueza e

diversidade durante os meses de chuva.

A distância para o oceano também é de grande importância para as assembleias,

apresentando maior diversidade, menor abundância e menor dominância nas

proximidades da foz. Além disso, também influenciou na probabilidade de ocorrência das

espécies. De acordo com o gradiente espacial, espécies apresentaram diferentes

probabilidades de ocorrer em função da distância do oceano.

A composição da ictiofauna nas poças é influenciada pelo microhabitat. Embora

esses ambientes configurem de certa forma o mesmo habitat, há uma grande variação nas

características. A principais variáveis nesse aspecto foram a quantidade de raízes,

cobertura do dossel, profundidade das poças, quantidade de poças e de propágulos de

mangue no substrato.

PERSPECTIVAS

Esse estudo traz informações importantes sobre uma parte do manguezal que

ainda carece muito de conhecimento. Porém para podermos inferir melhor sobre essa

comunidade, precisamos entender a relação dessa comunidade biológica com a

sazonalidade da região, através de estudos com séries temporais maiores. A própria

biologia dessas espécies também precisa ser melhor compreendida. Faltam dados de

dieta, dinâmica de populações, reprodução e movimentação. As interações entre essas

espécies, bem como com outras espécies que habitam as mesmas áreas como os diversos

caranguejos, também precisam de investigação, de forma a compreender melhor o

funcionamento do sistema. Também é importante investigar sobre o que acontece nesses

ambientes durante as marés cheias, quais espécies compartilham esse ambiente durante

esses períodos para entender que tipos de pressão essas comunidades sofrem.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

46

Referências bibliográficas

BARBIER, E. B.; HACKER, S. D.; KENNEDY, C.; KOCK, E. W.; STIER, A. C.;

SILLMAN, B. R. The value of estuarine and coastal ecosystem services. Ecological

Monographs, v. 81, n. 2, p. 169–193, 2011.

BARLETTA-BERGAN, A.; BARLETTA, M.; SAINT-PAUL, U. Community structure

and temporal variability of ichthyoplankton in north Brazilian mangrove creeks. Journal

of Fish Biology, v. 61, p. 33–51, 2002.

BARLETTA, M.; BARLETTA-BERGAN, A.; SAINT-PAUL, U.; HUBOLD, G.

Seasonal changes in density, biomass, and diversity of estuarine fishes in tidal mangrove

creeks of the lower Caeté Estuary (northern Brazilian coast, east Amazon. Marine

Ecology Progress Series. v. 256, p. 217-228, 2003.

BARLETTA, M.; BARLETTA-BERGAN, A.; SAINT-PAUL, U.; HUBOLD, G. The

role of salinity in structuring the fish assemblages in a tropical estuary. Journal of Fish

Biology. v. 66, p. 45-72, 2005.

BARLETTA, M.; JAUREGUIZAR, A. J.; BAIGUNS, C.; FONTOURA, C.;

AGOSTINHO, A. A.; ALMEIDA-VAL, V. M. F.; VAL, A. L.; TORRES, R. A.;

JIMENES-SEGURA, L. F.; GIARRIZZO, T.; FABRÉ, N. N.; BATISTA, V. S.; LASSO,

C.; TAPHORN, D. C.; COSTA, M. F.; CHAVES, P. T.; VIEIRA, J. P.; CORRÊA, M. F.

M. Fish and aquatic habitat conservation in South America: A continental overview with

emphasis on neotropical systems. Journal of Fish Biology, v. 76, n. 9, p. 2118–2176,

2010.

BARLETTA, M; SAINT-PAUL, U; BARLETTA-BERGAN, A; EKAU, W;

SCHORIES, D. Spatial and temporal distribution of Myrophis punctatus (Ophichtidae)

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

47

and associated fish fauna in a northern Brazilian intertidal mangrove forest.

Hydrobiologia, v. 426, p. 65-74, 2000.

BERBEL-FILHO, W. M.; ESPÍRITO-SANTO, H. M. V.; LIMA, S. M. Q. First record

of a male of Kryptolebias hermaphroditus Costa, 2011 (Cyprinodontiformes:

Cynolebiidae). Neotropical Ichthyology, v. 14, n. 3, e160024, 2016.

BLABER, S. J. M.; BARLETTA, M. A review of estuarine fish research in South

America: what has been achieved and what is the future for sustainability and

conservation? Journal of Fish Biology, v. 89, n. 1, p. 537-568, 2016.

CASTELLANOS-GALINDO, G. A.; KRUMME, U. Tides, Salinity, and Biogeography

Affect Fish Assemblage Structure and Function in Macrotidal Mangroves of the

Neotropics. Ecosystems, v. 18, n. 7, p. 1165–1178, 2015.

CASTILLO-RIVERA, M.; ORTIZ-BURGOS, S.; ZÁRATE-HERNÁNDEZ, R.

Temporal changes in species richness and fish composition in a submerged vegetation

habitat in Veracruz, Mexico. Acta Ichthyologica et Piscatoria, v. 47, n. 1, p. 23-32,

2017.

CAPITANIA DOS PORTOS DO RN, CENTRO DE HIDROGRAFIA DA MARINHA,

MARINHA DO BRASIL. Disponível em: <https://www.marinha.mil.br/chm/tabuas-de-

mare>, 2019.

COSTA, N. K. R.; PAIVA, R. E. C.; SILVA, M. J.; RAMOS, T. P. A.; LIMA, S. M. Q.

Ichthyofauna of Ceará-Mirim River basin, Rio Grande do Norte State, northeastern

Brazil. ZooKeys. v. 715, p. 39–51, 2017.

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

48

COUTO, T. B. A.; ZUANON, J.; OLDEN, J. D.; FERRAZ, G. Longitudinal variability

in lateral hydrologic connectivity shapes fish occurrence in temporary floodplain ponds.

Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, v. 75, n. 2, p. 319-328, 2018.

DE AZEVEDO, M. C. C.; DA CRUZ-FILHO, A. G.; ARAÚJO, F. G. Mangrove habitat

use by fishes in Southeastern Brazil: are there temporal changes in the structure of the

community? Marine Ecology, v. 37, n. 6, p. 1223–1238, 2016.

ESPÍRITO-SANTO, H. M. V.; RODRÍGUEZ, M. A.; ZUANON, J. Strategies to avoid

the trap: stream fishes use fine-scale hydrological cues to move between the strem

channeland temporary pools. Hydrobiologia. v. 792, p. 183-194, 2017.

ESPÍRITO-SANTO, H. M. V.; ZUANON, J. Temporary pools provide stability to fish

assemblages in Amazon headwater streams. Ecology of Freshwater Fish. v. 26, p. 475-

483, 2017.

ESPÍRITO-SANTO, H. M. V.; RODRÍGUEZ, M. A.; ZUANON, J. Reproductive

strategies of Amazonian stream fishes and their fine-scale use of habitat are ordered along

a hydrological gradient. Freshwater Biology. v. 58, p. 2494-2504, 2013.

FAUNCE, C. H.; SERAFY, J. E. Mangroves as fish habitats: 50 years of field studies.

Marine Ecology Progress Series, v. 318, p. 1-18, 2006.

FERREIRA, A. C.; LACERDA, L. D. Degradation and conservation of Brazilian

mangroves, status and perspectives. Ocean and Coastal Management. v. 125, p. 38-46,

2016.

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

49

GIARRIZZO, T.; KRUMME, U. Temporal Patterns in the occurrence of selected tropical

fishes in mangrove creeks: Implications for the fisheries management in north Brazil.

Brazilian Archives of Biology and Technology, v. 52, n. 3, p. 679-688, 2009.

GOMES, E. A. P.; CAMPOS, P. N.; BONECKER, A. C. T. Occurrence of Gobiidae

larvae in a tropical Brazilian estuary, with particular emphasis on the use of size classes

to categorize species guilds. Journal of Fish Biology, v. 84, n. 4, p. 996–1013, 2014.

GOMES, E. A. P.; BONECKER, A. C. T. Structure and dynamics of Gobiidae larvae

(Teleostei, Perciformes) in a tropical estuary: Seasonal relationships with tidal cycles.

Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom, v. 94, n. 7, p.

1557–1568, 2014.

JUNK, W. J.; BAYLEY, P. B.; SPARKS, R. E. The flood pulse concept in river-

floodplain systems. Canadian Special Publication in Fisheries and Aquatic Sciences.

v. 106, p. 110–127, 1989.

KOHLER, K. E.; GILL, S. M. Coral Point Count with Excel extensions (CPCe): A visual

basic program for the determination of coral and substrate coverage using random point

count methodology. Computers & Geosciences. v. 32, n. 9, p. 1259-1269, 2006.

KRAMER, R.; MCQUAID, C. D.; VINK, T. J. F.; MOSTERT, B. P.; WASSERMAN,

R. J. Utilization of mangrove crab-burrow micro-habitats by the goby Redigobius

dewaali: Evidence for dominance hierarchy. Journal of Experimental Marine Biology

and Ecology, v. 462, p. 1–7, 2015.

KRUMME, U.; GRINVALDS, K. ZAGARS, M. ELFERTS, D.; IKEJIMA, K.;

TONGNUNUI, P. Tidal, diel and lunar patterns in intertidal and subtidal mangrove creek

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

50

fish assemblages from southwest Thailand. Environmental Biology of Fishes, v. 98, n.

6, p. 1671–1693, 2015.

LEE, S. Y.; PRIMAVERA, J. H.; DAHDOUH-GUEBAS, F.; MCKEE, K.; BOSIRE, J.

O.; CANNICCI, S.; DIELE, K.; FROMARD, F.; KOEDAM, N.; MARCHAND, C.;

MENDELSSOHN, I.; MUKHERJEE, N.; RECORD, S. Ecological role and services of

tropical mangrove ecosystems: A reassessment. Global Ecology and Biogeography, v.

23, n. 7, p. 726–743, 2014.

LIRA, M. G. S.; PAIVA, R. E. C.; RAMOS, T. P. A.; LIMA, S. M. Q. First record of

Kryptolebias hermaphroditus Costa, 2011 (Cypronodontiformes: Rivulidae) in the

extreme north Atlantic Forest mangroves, Rio Grande do Norte state, Brazil. Check List.

v. 11, n. 3, 2015.

MACKENZIE, R. A.; CORMIER, N. Stand structure influences nekton community

composition and provides protection from natural disturbance in Micronesian mangroves.

Hydrobiologia, v. 685, p. 155-171, 2012.

MENGE, B. A.; SUTHERLAND, J. P. Species diversity gradients: Synthesis of the roles

of predation, competition, and temporal heterogeneity. The American Naturalist, v. 110,

n. 973, p. 351-369, 1976.

NEVES, L. M.; TEIXEIRA, T. P.; ARAUJO, F. G. Structure and dynamics of distinct

fish assemblages in three reaches (upper, middle and lower) of an open tropical estuary

in Brazil. Marine Ecology, v. 32, n. 1, p. 115–131, 2011.

PAZIN, V. F. V.; MAGNUSSON, W. E.; ZUANON, J.; MENDONÇA, F. P. Fish

assemblages in temporary ponds adjacent to “terra-firme” streams in Central Amazonia.

Freshwater Biology, v. 51, n. 6, p. 1025–1037, 2006.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

51

PICHLER, H. A.; SPACH, H. L.; GRAY, C. A.; BROADHURST, M. K.; SCHWARZ

JR, R.; OLIVEIRA NETO, J. F. Environmental influences on resident and transient fishes

across shallow estuarine beaches and tidal flats in a Brazilian World Heritage area.

Estuarine, Coastal and Shelf Science, v. 164, p. 482–492, 2015.

PIERRE, J. I. ST.; KOVALENKO, K. E. Effect of habitat complexity atrributes on

species richness. Ecosphere, v. 5, n. 2, 22, 2014.

R CORE TEAM. A language and environment for statistical computing. R Foundation

for Statistical Computing, Vienna, Austria. URL: https://www.R-project.org/, 2018.

REIS-FILHO, J.A., NUNES, J.A.C.C.; FERREIRA, A. Estuarine ichthyofauna of the

Paraguaçu River, Todos os Santos Bay, Bahia, Brazil. Biota Neotropica, v. 10, n. 4, p.

301-311, 2010.

REIS-FILHO, J. A.; SANTOS, A. C. A. Effects of substratum type on fish assemblages

in shallow areas of a tropical estuary. Marine Ecology, v. 35, p. 456-470, 2014.

REIS-FILHO, J. A.; GIARRIZZO, T.; BARROS, F. Tidal migration and cross-habitat

movements of fish assemblage within a mangrove ecotone. Marine Biology, v. 163, n.

111, 2016.

SCHNEIDER, C. A.; RASBAND, W. S.; ELICEIRI, K. W. NIH Image to ImageJ: 25

yeas of image analysis. Nature Methods, v. 9, n. 7, p. 671-675, 2012.

SHANNON, C. E.; WEAVER, W. The mathematical theory of communication.

University of Illinois, 1949.

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

52

SHEAVES, M.; BAKER, R.; NAGELKERKEN, I. True value of estuarine and coastal

nurseries for fish: Incorporaring complexity and dynamics. Estuaries and Coasts, v. 38,

n. 2, p. 401-414, 2015.

SMITH, B.; WILSON, J. B. A consumer’s guide to evenness índices. Oikos, v. 76, p. 70-

82, 1996.

SRIDHARAN, B.; NAMBOOTHRI, N. Factors affecting distribution of fish within a

tidally drained mangrove forest in the Andaman and Nicobar Islands, India. Wetlands

Ecology and Management, v. 23, n. 5, p. 909–920, 2015.

TAYLOR, D. S. Twenty-four years in the mud: What have we learned about the natural

history and ecology of the mangrove rivulus, Kryptolebias marmoratus? Integrative and

Comparative Biology, v. 52, n. 6, p. 724–736, 2012.

TEIXEIRA, R. L. Abundance, reproductive period, and feeding habits of eleotrid fishes

in estuarine habitats of north-east Brazil. Journal of Fish Biology, v. 45, p. 749-761,

1994.

THRUSH, S. F.; TOWNSEND, M.; HEWITT, J. E.; DAVIES, K.; LOHRER, A. M.;

LUNDQUIST, C.; CARTNER, K. the Many Uses and Values of Estuarine Ecosystems.

Ecosystem Services in New Zealand: Conditions and Trends, p. 226–237, 2013.

VALIELA, I.; BOWEN, J. L.; YORK, J. K. Mangrove Forests: One of the World’s

Threatened Major Tropical Environments. BioScience, v. 51, n. 10, p. 807, 2001.

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...1. Ecologia de comunidades - Dissertação. 2. Sazonalidade - Dissertação. 3. Biodiversidade - Dissertação. I. Espírito-Santo, Helder

53

VANNOTE, R. L.; MINSHALL, G. W.; CUMMINS, K. W.; SEDELL, J. R.; CUSHING,

C. E. The river continuum concept. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic

Sciences. v. 37, p. 130-137, 1980.

WASSERMAN, R. J.; MOSTERT, B. P. Intertidal crab burrows as a low-tide refuge

habitat for a specific gobiid: Preliminary evidence for commensalism. Marine and

Freshwater Research, v. 65, n. 4, p. 333–336, 2014.

WILLIS, S. C.; WINEMILLER, K. O.; LOPEZ-FERNANDEZ, H. Habitat structural

complexity and morphological diversity of fish assemblages in a Neotropical floodplain

river. Oecologia, v. 142, p. 284-295, 2005.