Aluna: Nathália do Nascimento Teodosio Orientadora: Begoña ...
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE … · INIBIDORES DA FORMAÇÃO DE CRISTAIS...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA
KAROLINE RACHEL TEODOSIO DE MELO
POLISSACARÍDEOS SULFATADOS DA ALGA MARROM Dictyopteris justii COMO AGENTES ANTIOXIDANTES E
INIBIDORES DA FORMAÇÃO DE CRISTAIS DE OXALATO DE CÁLCIO.
NATAL
2013
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KAROLINE RACHEL TEODOSIO DE MELO
POLISSACARÍDEOS SULFATADOS DA ALGA MARROM Dictyopteris justii COMO AGENTES ANTIOXIDANTES E
INIBIDORES DA FORMAÇÃO DE CRISTAIS DE OXALATO DE CÁLCIO.
Dissertação apresentada ao Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Bioquímica. Orientador: Hugo Alexandre de Oliveira Rocha.
NATAL 2013
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UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede
Catalogação da Publicação na Fonte
Melo, Karoline Rachel Teodósio de.
Polissacarídeos sulfatados da alga marrom Dictyopteris justii como agentes
antioxidantes e inibidores da formação de cristais de oxalato de cálcio / Karoline
Rachel Teodósio de Melo. – Natal, RN, 2013.
79 f. : il.
Orientador: Prof. Dr. Hugo Alexandre de Oliveira Rocha.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro
de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica.
1. Fucanas - Dissertação. 2. Glucanas - Dissertação. 3. Urolitíase - Dissertação.
4. Polissacarídeos bioativos - Dissertação. 5. Bioquímica - Dissertação. I. Rocha,
Hugo Alexandre de Oliveira. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV.
Título.
RN/UF/BCZM CDU 582
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KAROLINE RACHEL TEODOSIO DE MELO
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DEDICATÓRIA
Dedico esta obra: A minha mãe que me deu todo o apoio logístico, incentivo pra
continuar caminhando nos estudos e ser uma pessoa melhor ao longo da minha vida, além de ser o meu exemplo de caráter, generosidade e
amor. Eu te amo mãe. A minha querida avó Dorinha (em memória), por ter sido uma grande
e batalhadora mulher, que lutou pela vida até o fim.
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DEDICATÓRIA
Dedico esta obra: A meu orientador e amigo Dr. Hugo Rocha, por ter sido meu
exemplo na vida acadêmica e quem abraçou essa pesquisa junto comigo, me auxiliando e incentivando nessa caminhada. Vou levar
seus ensinamentos ao longo da minha vida.
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AGRADECIMENTOS
A Deus por está sempre presente, pela sua misericórdia e pelas graças
alcançadas.
A minha mãe pelo incentivo, pelos ensinamentos e acima de tudo pelo amor a
mim dedicado durante toda minha vida. Eu te amo muito!
À toda família BIOPOL, Leandro (viu, que eu coloquei você no topo dessa
vez?) Ivan, Valquíria, Kaline, Ana Karina, Letícia, Pablo (Pablito!), Sara, Raniere,
Cíntia, Susana, Marília, Almino, Monique, Danielle, especialmente a Jailma (um dos
meus maiores exemplos! Te adoro!), Dayane (amigona e mãezona de Helena e
Heitor), Mariana (minha gêmula querida), Rafael (um grande amigo e uma pessoa
com um coração maior que ele), Ruth (minha pi..favorita), Gabriel, Moacir Arthur,
Fernando, Daniel ex-biopol, Joana (fofa). Os ICs novos, Larisse, Mariane, Ajax, Fred
e Everton, e os antigos Rony, Max, Vinicius. A todos pela amizade, pelo apoio nos
momentos difíceis e pelas contribuições diretas no desenvolvimento deste trabalho.
Dentre esses citados gostaria de agradecer mais especialmente a Jailma, por
esta sempre ao meu lado em todos os momentos. A Mariana por ser minha amiga
para todas as conversas, a Ruth, e a Rafa por terem se tornado meus grandes
amigos e a Moacir que foi um grande colaborador desse trabalho e Gabriel, por
serem meus amigos desde a graduação, principalmente Gabriel que é meu parceiro
da vida, cuja amizade será eterna.
Também gostaria de agradecer aos agregados, Fernanda Ginani e Luciana,
as pi...que são amizades inesperadas e que eu adoro dar risada com elas. e a Ana
Catarina que me ajudou e aconselhou em vários momentos.
Aos meus colegas de mestrado, Iara (querida!), Rômulo, Ingrid, Henrique,
Érika, Luiza, Cris, Keith, Márcia, Lívia, Gabriel, Moacir, e principalmente Vanessa e
Isabel, que se tornaram minhas amigas pra sempre e que eu adoro dar bolo pra sair
(heheh).
A Samir por me estender a mão nos momentos em que eu mais precisei e
está sempre me incentivando quando bate as incertezas.
Aos meus amigos pelos muitos momentos felizes e pela cumplicidade nas
horas mais difíceis. Em especial a Marília (minha querida maluca e companheira pra
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todas as horas), Miguel, Lara, Bruna, Anthony, Gabizinha, Caio, Anaugusta, Edbar e
minhas amigas de infância Luiza e Cinthia. Amo muito vocês.
A Chico pela amizade, compreensão e por ter me incentivado a nunca
desistir dos meus sonhos.
Aos demais amigos pela certeza de poder contar com cada um, em particular,
em muitos momentos da vida e pela alegria que me proporcionam.
A banca de qualificação (Professores Carlos Eduardo, Vanessa e Gerlane)
pelas contribuições sugeridas que enriqueceram muito o trabalho apresentado.
A banca avaliadora desse trabalho, Leandro e Valquíria, pois sei que a
contribuição de cada um será muito válida e enriquecedora.
Aos demais colegas, funcionários e professores do Departamento de
Bioquímica pela atenção, respeito e receptividade.
A CAPES e CNPq, pelo financiamento que permitiu a conclusão deste
trabalho.
Por fim, e de forma especial, ao meu professor e orientador Dr. Hugo
Alexandre que me recebeu de braços abertos no laboratório, me acompanhou
quando dei meus primeiros passos no mundo científico, me enveredou pelo caminho
do conhecimento e me ajudou a compreender muitas coisas que, com certeza, vou
levar pra vida inteira.
A todos vocês o meu sincero agradecimento.
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Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as
grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível.
Charles Chaplin
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RESUMO
Os cristais de Oxalato de Cálcio são os principais componentes dos cálculos urinários e estes estão intimamente relacionados com o estresse oxidativo na condição fisiopatológica da urolitíase. Por causa disso, estudos recentes tem buscado componentes antioxidantes que também sejam capazes de inibir a formação desses cristais. Diante disso, esse trabalho tem como objetivo avaliar a atividade antioxidante de polissacarídeos sulfatados de alga marrons Dictyopteris justii e seu efeito sobre a cristalização do oxalato de cálcio in vitro. Assim, no presente estudo, quatro frações ricas em polissacarídeos sulfatados(DJ-0.3v, DJ-0.4v, DJ-0.5v, e DJ-1.2v) foram obtidas por proteólise seguida de precipitação sequencial com acetona a partir da espécie Dictyopteris justii. As análises químicas e o FT-IR mostraram que D. justii sintetiza populações de polissacarídeos sulfatados diferentes. A primeira, que se encontra em DJ-0.3v, é rica em glicose, xilose e ácido glucurônico e apresenta traços de fucose; a segunda (DJ-0.4v), que tem como diferencial grandes quantidades de fucose; as duas populações que se encontram em DJ-0.5v e DJ-1.2v, que apresentam apenas glucose e traços de fucose, mas se diferenciam entre si pela quantidade de íons sulfato. Todos os polissacarídeos sulfatados extraídos apresentaram atividade antioxidante para CAT, Poder Redutor e Quelação de Cobre. No entanto, a fração DJ-0.4v foi a que apresentou melhor atividade antioxidante como também foi o que teve melhor capacidade de inibir a cristalização de oxalato de cálcio. Destaca-se também a fração DJ-0.5v, que foi o segundo composto mais potente inibidor da formação de cristais de oxalato, como também foi o composto que estabilizou os cristais dihidratados de oxalato (forma menos agressiva) impedindo-os de se transformarem em cristais monohidratados (forma mais agressiva). Os dados obtidos nos levam a propor que estes polissacarídeos são agentes promissores para serem utilizados posteriormente no tratamento da urolitíase.
PALAVRAS CHAVE: fucana; glucana; urolitíase, polissacarídeos bioativos.
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ABSTRACT
Oxalate crystals and other types of crystals are the cause of urolithiasis, and these are related to oxidative stress. The search for new compounds with antioxidant qualities and inhibitors of these crystal formations is therefore necessary. In this study, we extracted four fractions rich in sulfated polysaccharides, which were called DJ-0.3v, DJ-0.4v, DJ-0.5v and DJ-1.2v, from the marine alga Dictyopteris justii. The presence of sulfated polysaccharides was confirmed by chemical analysis and FT-IR. All the sulfated polysaccharides presented antioxidant activity under different conditions in some of the in vitro tests and inhibited the formation of calcium oxalate crystals. DJ-0.4v was the polysaccharide that showed the best antioxidant activity and was one of the best inhibitors of the crystallization of calcium oxalate. DJ-0.5v was the second most potent inhibitor of the formation of oxalate crystals, as it stabilized dehydrated oxalate crystals (less aggressive form), preventing them from transforming into monohydrate crystals (more aggressive form). The obtained data lead us to propose that these sulfated polysaccharides are promising agents for use in the treatment of urolithiasis. Keywords: fucan; glucan; urolithiasis; bioactive polysaccharides
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Patogênese dos cálculos de oxalato de cálcio nos rins........................ 30
FIGURA 2 Imagens de Microscopia Eletrônica de Varredura de Cristais de
Oxalato de Cálcio...................................................................................................
31
FIGURA 3 Modelo hipotético da representação da deposição/internalização do
cristal de oxalato de cálcio nas células renais por endocitose e processo
intracelular por oxalúria durante condições hiperoxalúricas...................................
33
FIGURA 4 Resposta bioquímica da produção de ROS durante o processo
inflamatório frente aos cristais de oxalato..............................................................
35
FIGURA 5 Geração de hiperoxalúria induzida por Espécies Reativas de
Oxigênio e seus efeitos sobre vários aspectos da formação de cristais, retenção
e desenvolvimento do cálculo dentro dos rins. ......................................................
36
FIGURA 6 Alga Dictyopteris justii........................................................................... 38
FIGURA 7 Obtenção das frações ricas em polissacarídeos sulfatados extraídos
da alga marrom Dictyopteris justii. ........................................................................
41
FIGURA 8 Capacidade antioxidante total de polissacarídeos sulfatados
extraídos da alga marinha marrom D.justii. ..........................................................
51
FIGURA 9. Poder redutor dos polissacarídeos sulfatados de D. justii. Os dados
estão expressos como médias ± desvio padrão. ..................................................
52
FIGURA 10. Atividadade quelante de Cobre dos polissacarídeos sulfatados da
alga marrom D. justii...............................................................................................
55
FIGURA 11. Atividade inibitória dos polissacarídeos sulfatados da alga marrom
D. justii sobre a cristalização de sais de oxalato de cálcio. ...................................
56
FIGURA 12. Cristais observados sob microscópio invertido (60 ×), formado na
solução metastável de CaOx na ausência (A) e na presença de (B) de citrato
trissódico (1 mM) (C) DJ-0.3V (0,1 mg / ml). (D) DJ-0.4V (0,1 mg / mL) (E) DJ-
0.5v (0,1 mg / mL) (F) DJ-1.2v (0,1 mg / mL).........................................................
57
12
LISTA DE TABELAS
TABELA 1. Algumas atividades farmacológicas das fucanas.............................. 19
TABELA 2: Algumas espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio de
interesse biológico................................................................................................
22
TABELA 3. Análise química e relação molar do teor de açúcar e sulfato das
frações ricas em polissacarídeos sulfatados extraídos da alga marrom
Dictyopteris justii..................................................................................................
48
TABELA 4. Principiais assinalamentos encontrados nos espectros de
Infravermelho dos polissacarídeos sulfatados da alga D. justii............................
49
TABELA 5: Sequestro de radicais superóxido e hidroxila pelas frações
polissacarídicas. ..................................................................................................
53
TABELA 6: Atividade de Quelação Férrica.......................................................... 54
TABELA 7. Características dos potenciais Zeta de cristais com tratamento de
polissacarídeos sulfatados de algas marrons D. justii à temperatura de 25 ° C..
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LISTA DE SIGLAS
AC GLU Ácido glucurônico
CaCl2 Cloreto de Cálcio
CAT Catalase/Capacidade Antioxidante Total
COD Oxalato de Cálcio Dihidratado
COM Oxalato de Cálcio Monohidratado
COT Oxalato de Cálcio Trihidratado
DPPH Di(phenyl)-(2,4,6-trinitrophenyl)iminoazanium
EAA Equivalente de Ácido Ascórbico
FUC Fucose
GLI GlIcose
GPx Glutationa Peroxidase
GSH Glutationa Reduzida
JNK c-Jum N-terminal cinase
MAPK Proteína Cinase Ativada por Mitógeno
Na2C2O4 Acetato de Sódio
OPN Osteopontina
Ox Oxalato
PKC Proteína Quinase C
PS Polissacarídeos Sulfatados
RNS Espécies Reativas de Nitrogênio
ROS Espécies Reativas de Oxigênio
Sulf Sulfato
XIL Xilose
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 16
1.1 Glucanas: aspectos gerais................................................................ 16
1.2 Fucanas: considerações gerais....................................................... 17
1.2.1 ATIVIDADES ENVOLVENDO O POTENCIAL FARMACOLÓGICO
DAS FUCANAS....................................................................................
18
1.2.2 ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE FUCANAS....................................... 20
1.2.2.1 RADICAIS LIVRES E ANTIOXIDANTES.............................................. 20
1.2.2.2 ATIVIDADES ANTIOXIDANTES DE FUCANAS.................................. 24
1.3 Fucanas e cálculos renais.............................................................................. 27
1.3.1 UROLITÌASE.......................................................................................................... 27
1.3.2 FORMAÇÃO DE CRISTAIS DE OXALATO DE CÁLCIO E ESTRESSE OXIDATIVO. ....................................................................
29
1.3.3 ANTIOXIDANTES PROTETORES RENAIS......................................... 36
2 MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................. 38
2.1 Materiais............................................................................................. 38
2.1.1 MATERIAL BIOLÓGICO....................................................................... 38
2.1.2 OUTROS MATERIAIS.......................................................................... 38
2.1.3 APARELHOS........................................................................................ 39
2.2 Métodos.............................................................................................. 40
2.2.1 CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA............................................................ 41
2.2.1.1 Dosagem de açúcares totais................................................................ 41
2.2.1.2 Dosagem de proteínas......................................................................... 42
2.2.1.3 Compostos fenólicos totais................................................................... 42
2.2.1.4 Determinação da composição monossacarídica.................................. 42
2.2.1.5 Espectroscopia de Infravermelho ....................................................... 42
2.2.2 ATIVIDADE ANTIOXIDANTE IN VITRO.............................................. 43
2.2.2.1 Capacidade antioxidante total.............................................................. 43
2.2.2.2 Poder redutor........................................................................................ 43
2.2.2.3 Sequestro do radical superóxido (O2-•)................................................ 43
2.2.2.4 Sequestro do radical hidroxila (OH.) .................................................... 44
15
2.2.2.5 Quelação de Ferro................................................................................ 44
2.2.2.6 Quelação de cobre............................................................................... 45
2.2.3 ENSAIO DE CRISTALIZAÇÃO DO OXALATO DE CÁLCIO............... 45
2.2.4 ANÁLISE DA MORFOLOGIA DOS CRISTAIS POR IMAGEM MICROSCÓPICA.................................................................................
46
2.2.5 MEDIDA DE POTENCIAL ZETA (ζ) .................................................... 46
2.2.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA...................................................................... 47
3 RESULTADOS..................................................................................... 48
3.1 Análises químicas das frações obtidas........................................... 48
3.2 Atividade Antioxidante....................................................................... 50
3.2.1 CAT (CAPACIDADE ANTIOXIDANTE TOTAL) ................................... 50
3.2.2 PODER REDUTOR.............................................................................................. 51
3.2.3 SEQUESTRO DOS RADICAIS HIDROXILA E SUPEROXIDO............ 52
3.2.4 QUELAÇÃO FÉRRICA......................................................................... 53
3.2.5 QUELAÇÃO DE COBRE...................................................................... 54
3.3 Ensaio de Inibição da cristalização de sais de oxalato de cálcio in vitro..................................................................................................
55
3.4 Efeito dos polissacarídeos sulfatados sobre a Morfologia dos Cristais.................................................................................................
56
3.5 Determinação do potencial Zeta (ζ) ................................................. 58
4 DISCUSSÃO........................................................................................ 60
5 CONCLUSÕES.................................................................................... 70
REFERÊNCIAS.................................................................................... 71
16
1 INTRODUÇÃO
1.1 Glucanas: Aspectos gerais
As glucanas são um grupo heterogêneo de polímeros de glicose, os quais são
constituintes da parede celular de cereais, fungos e algas (RIOUX, TURGEON E
BEAULIEU, 2010).
As glucanas de cereais são encontradas principalmente na forma β, as quais
estão contidas no endosperma de sementes. A literatura mostra que essas glucanas
diminuem a taxa de colesterol plasmático e atenuam a resposta glicêmica e
insulínica pós-prandial (FUJIMYA, et al 1998). Já as glucanas de fungos são
polissacarídeos com função estrutural na parede celular do micélio, das frutificações
do fungo, ou ainda podem ser exopolissacarídeos. Esses polímeros chamam
atenção por possuir atividades biológicas como anti-inflamatória e antitumoral
(KAWAGISHI et al., 1990).
Em se tratando de algas, as glucanas podem estar presentes como reserva
energética ou ainda ser um importante componente estrutural. Nas algas marrons,
as mais conhecidas são denominadas de laminarinas, as quais contém esse nome
por serem estudadas primeiramente nas algas do gênero Laminaria sp (NOVAK E
VETVICKA, 2008.)
As laminarinas são polissacarídeos pequenos que contém cerca de 5 KDa e tem
uma estrutura química que consiste, principalmente, de uma forma linear β-(1 → 3)-
glucana ligada aleatoriamente a algumas cadeias β-(1 → 6) laterais. Embora sua
estrutura seja importante, o que mais chama atenção para essas glucanas diz respeito
às suas atividades biológicas, sendo as mais bem estudadas a atividade de modulação
da resposta inflamatória, atividade antitumoral, antiapoptótica, antiviral e antibacteriana
(RIOUX, TURGEON E BEAULIEU, 2010).
Curiosamente, muitas atividades biológicas de polissacarídeos de algas marrons
estão relacionados a grupos polares em sua estrutura, principalmente de sulfato. No
entanto, ainda não foi relatada na literatura, até esse trabalho, a presença de
polissacarídeos sulfatados de algas marrons.
Contudo, a introdução desses grupos de maneira artificial já foi relatado na
literatura. Além de modificar a estrutura do polímero, esses grupos podem modular
suas atividades biológicas, intensificando ou adicionando atividade aos
polissacarídeos. Como por exemplo, a adição de grupos sulfato promove diferenças em
17
uma variedade de atividades dos polissacarídeos, como a geração das atividades
anticoagulante ( JOUAULT, et al 2001) e antitrombótica ( MOURÃO et al., 2001); e a
intensificação das atividades antiinflamatória e antitumoral (NOVAK E VETVICKA,
2008.)
1.2 Fucanas: considerações gerais
Fucana é uma denominação utilizada para polissacarídeos sulfatados,
lineares ou não, que tem como característica estrutural mais marcante a presença
de L-fucose sulfatada (ROCHA et al., 2001). As fucanas são observadas em algas
marrons (Phaeophyceae) (BERTEAU e MULLOY, 2003) e em equinodermos
(ouriços e pepinos do mar) (POMIN, 2012). Apesar desta definição simples só há
duas exceções de polissacarídeos que apresentam L-fucose sulfatada em sua
composição que não foram denominados de fucanas: o condroitim fucosilado,
sintetizado principalmente por ascídias (MELO-FILHO et al., 2010) e a rosacelose,
um polissacarídeo sulfatado constituído de glicose e fucose e extraído da esponja do
mar Mixylla rosacea (CIMINO, et al.,2001 ).
Nas algas, as fucanas estão localizadas na matriz mucilagenosa e devido ao
seu caráter altamente higroscópico, acredita-se que protejam a alga da desidratação
quando essa é submetida a longos períodos de exposição ao sol durante as marés
baixas. A natureza mucilagenosa destes compostos, também parece contribuir para
tornar a alga flexível o bastante para crescer em ambiente líquido e rígida o
suficiente para permanecer estendida, e assim, melhor captar a luz e os nutrientes
existentes (PERCIVAL & MACDOWELL, 1967).
Nos ouriços, são encontradas fazendo parte da constituição do gel que cobre
os óvulos e estão relacionadas com a ativação da reação acrossômica durante o
processo de fecundação (ALVES et al.,1997). As análises têm indicado que são
espécie-específicas, impedindo assim, um intercruzamento das várias espécies de
ouriços (VILELA-SILVA et al., 2002). Há poucos relatos sobre fucanas em pepinos
do mar, contudo são descritas como participantes da constituição do tecido muscular
do animal (RIBEIRO et al., 1994).
As fucanas de algas são divididas em dois grandes grupos: homofucanas e
heterofucanas (ROCHA et al., 2012). Segundo a IUPAC as homofucanas, apesar do
nome, podem ser constituídas de até 10% de outros monossacarídeos que não a L-
18
fucose. São mais comuns em algas do gênero Fucus, Laminaria (CUMASHI et al., 2006)
e Sacharina (CROCI et al.,2011). Porém, em comparação com as heterofucanas, as
homofucanas são bem mais raras. Já as heterofucanas são encontradas em todos os
gêneros de algas marrons e em vários casos a quantidade de outros monossacarídeos
chega superar a de fucose (KLOAREG e QUATRANO, 1988).
Estudos com as fucanas de algas têm demonstrado que suas estruturas
variam de espécie para espécie e às vezes, em diferentes partes da mesma planta
(FARIAS, 1992; DIETRICH et al., 1995). Contudo, esse aspecto pode ser visto como
um aspecto positivo e não um problema, se a situação for analisada por outro ponto
de vista, ou seja, cada fucana pode apresentar uma conformação estrutural única, e,
portanto, possuir atividades farmacológicas diferentes e/ou mais potentes do que
outras fucanas ou outros compostos já descritos. Então, a caracterização de uma
nova fucana traz sempre novas perspectivas de descoberta de um novo fármaco ou
de um novo composto a ser utilizado por diversas indústrias, como: química,
farmacêutica ou alimentícia (ROCHA, 1998).
1.2.1 ATIVIDADES ENVOLVENDO O POTENCIAL FARMACOLÓGICO DAS
FUCANAS
As fucanas têm sido avaliadas com relação as suas possíveis atividades
farmacológicas através de diversos modelos experimentais. A tabela 1 mostra algumas
das atividades farmacológicas atribuídas às fucanas.
Tabela 1. Algumas atividades envolvendo o potencial farmacológico das fucanas
Atividade
Alga Referências
Angiogênica Fucus vesiculosus, Sargassum stenophyllum
DIAS et al., 2005, MATSUBARA et al., 2005
Anticomplemento
Laminaria cichorioide,
Laminaria japônica*, Fucus evanescens Ascophyllum
nodosum
BLONDIN et al., 1994, ZVYAGINTSEVA et al.,2000, BOISSON-VIDAL et al., 2007
19
Antiadesiva
A. nodosum, Laminaria
brasiliensis, Spatoglossum schröederi, Sargassum
stenophyllum
LIU et al., 2000, ROCHA et al., 2001
Anticoagulante
Lessonia vadosa, Dictyota
menstruallis, Laminaria cichorioides, Padyna
gymnospora, Dictyopeteris delicatulla, Dictyopeteris
justii
ALBUQUERQUE et al., 2004, SILVA et al., 2005, MAGALHAES
et al.,. 2011, MELO et al.,. 2011
Antiinflamatória
Lobophora variegata, Sargassum hemiphyllum, F.
vesiculosus, Sargassum vulgare
HWANG et al., 2011, PAIVA et al., 2011, PARK et al., 2011, DORE, et
al., 2013
Antiadipogênica
F. vesiculosus
YOKOTA et al., 2009
Antioxidante L. japonica, Sargassum
palidum, Undaria pinnatifida
JIAO et al., 2011
Antiproliferativa
A. nodosum, Laminaria setchellii, Macrocystis
integrifolia, Nereocystis leutkeana, Ecklonia cava,
S. schröederi
ELLOUALI et al., 1993; ATHUKORALA et al.,
2006; YUAN & WALSH, 2006; ALMEIDA-LIMA et al., 2010;
Nobre et al.,, 2013
Antitrombótico A. nodosum, S. schröederi
ROCHA et al., 2005, BARROSO et
al.,2008, JIAO et al., 2011)
Fibrinolítica
E. kurome, F. vesiculosus
DOCTOR et al., 1995; NISHINO et
al., 2000
Hepato-protetora
F. vesiculosus, C. okamuramus
NAKAZATO et al., 2010, HONG et
al., 2011
Antiviral S. horneri, C. indica
HOSHINO et al., 1998; MANDAL et al., 2007; HAYASHI, 2008; JIAO et
al., 2011.
* Laminaria japonica é atualmente denominada de Saccharina japonica Adaptado de COSTA, 2012
Descreve-se abaixo, com maiores detalhes, atividades farmacológicas
descritas para fucanas que estão correlacionadas com os resultados obtidos nessa
dissertação.
20
1.2.2 ATIVIDADES ANTIOXIDANTES DE FUCANAS
1.2.2.1 Radicais Livres e Antioxidantes
O desenvolvimento do estudo de doenças crônicas e sua prevenção
colocaram em evidência termos como radicais livres e antioxidantes. O nascimento
da bioquímica dos radicais livres tem relação direta com os eventos da Segunda
Guerra Mundial (1939-1945), especificamente com as bombas atômicas de 1945,
em Hiroshima e Nagasaki, as quais levaram a morte milhares de pessoas, e os
sobreviventes encurtaram sua vida útil. Em 1954, Gershman e Gilbert especularam
que os efeitos letais da radiação ionizante poderiam ser atribuídos à formação de
espécies reativas de oxigênio (ROS). Desde então, os radicais livres como ROS e
espécies reativas de nitrogênio (RNS) ganharam notoriedade. (GILBERT et al.,,
1981).
O termo Radical Livre designa átomos ou moléculas que contêm um ou mais
elétrons desemparelhados (COSTA, 2008; WICKENS, 2001), conferindo-lhe, dessa
forma, alta reatividade. Os radicais podem ter carga positiva, negativa ou neutra.
Eles são formados como intermediários necessários em uma variedade de reações
bioquímicas normais, mas quando gerada em excesso ou não devidamente
controlada, os radicais podem causar estragos em uma ampla gama de
macromoléculas. Uma característica proeminente de radicais é que eles têm muito
alta reatividade química, o que explica não só as suas atividades biológicas normais,
mas como causam danos nas células (CUZZOCREA et al., 2001).
Existem muitos tipos de radicais, mas aqueles de maior preocupação em
sistemas biológicos são os derivados do oxigênio e conhecidos coletivamente como
espécies reativas de oxigênio (HALLIWELL, 1992). O oxigênio tem dois elétrons
desemparelhados em orbitais separados em sua camada externa. Esta estrutura
eletrônica faz com que o oxigênio seja especialmente suscetível à formação de
radicais. No organismo, essas espécies químicas em excesso podem reagir com
moléculas importantes, e por isso são capazes de inibir ou modificar sua função
dessas moléculas e, consequentemente, provocar inúmeras desordens fisiológicas
(CUZZOCREA et al., 2001). Por exemplo, ao reagir com o DNA os radicais livres
podem modificar as bases púricas e pirimídicas que o compõem, gerando mutações
21
ou inativando genes importantes. Já com proteínas, as espécies reativas são
capazes de oxidar grupos sulfidrilas (-SH) a pontes dissulfeto (S-S), alterando a
conformação e consequentemente a função das proteínas. Ou ainda, pode haver a
oxidação de ácidos graxos poliinsaturados de membranas celulares, proporcionando
mudanças estruturais e funcionais de tais lipídios (VALKO et al., 2006).
Por causa dessa alta reatividade, inúmeras condições relacionadas ao
envelhecimento e a doenças têm sido atribuídas à ação dos radicais livres. Doenças
neurodegenerativas como mal de Parkinson, mal de Alzheimer e esclerose
amiotrófica lateral (BARNHAM; MASTERS; BUSH, 2004), diabetes tipo 2,
aterosclerose (KANETO et al., 2010) e câncer (VALKO et al., 2006) são exemplos de
condições derivadas diretamente ou indiretamente da ação destas espécies reativas.
É importante ressaltar que os radicais livres não tem apenas malefícios. Se
produzidos de uma forma bem regulada, os ROS e RNS têm importante função nos
sistemas biológicos. Por exemplo, o NO, que é uma espécie reativa de oxigênio,
quando produzido pelas células endoteliais é essencial para a regulação do
relaxamento e proliferação de células musculares lisas vasculares, a adesão dos
leucócitos, a agregação de plaquetas, a angiogênese, a trombose, o tónus vascular,
e a hemodinâmica. Além disso, o NO produzido por neurônios serve como um
neurotransmissor. Já aquele gerado por macrófagos ativados é um importante
mediador da resposta imune (FANG, et al.,. 2002).
Outros processos que os radicais livres participam são: Desintoxicação de
xenobióticos pelo citocromo P450 (enzimas de oxidação) e apoptose de células
estéreis ou com defeito; (DEVASAGAYAM, et al., 2006). Na tabela 2 estão contidas
as principais espécies reativas de oxigênio e nitrogênio de interesse biológico.
TABELA 2: Algumas espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio de interesse
biológico
Espécies reativas
Símbolo T de ½
vida (em seg)
Reatividade / Observações
Especies reativas de oxigênio
Superóxido O2.- 10-6 s
Considerado um ROS primário; É capaz
de gerar derivados reativos por
interação direta com outras moléculas
22
ou através de processos catalisados
por enzimas ou metais (VALKO et al.,.
2006). Produzido na mitocôndria ou em
desordens cardiovasculares.
Radical
Hidroxila OH• 10-9 s
É o mais reativo dos radicais, que o
torna extremamente danoso. A sua
principal fonte de produção in vivo se
deve a reação de metais de transição
com o íon superóxido pela reação de
Fenton. Este radical é extremamente
danoso a moléculas de DNA (VALKO et
al.,. 2006).
Peróxido de
Hidrogênio H2O2 estável
Apesar de não ser um radical livre, é
um metabólito do oxigênio
extremamente deletério, porque
participa de reações de Fenton e
Haber-Weiss que produzem o OH•. É
capaz de atravessar camadas lipídicas,
pode reagir com a membrana
eritrocitária e com proteínas ligadas ao
Fe++ (FERREIRA; MATSUBARA,
1997).
Peroxil ROO• segundos
Possuem os maiores potenciais de
redução dentre os ROS, e este
potencial varia de acordo com seu
grupo R. O mais simples dos radicais
peroxil é o radical peroxil (HOO•), que é
o ácido conjugado do íon superóxido
(O2•−) (VALKO et al., 2006).
Especies reativas de nitrogênio
Óxido nítrico
NO• segundos
Neurotransmissor e regulador de
pressão arterial. Durante a reação
imune, pode produzir potentes
oxidantes (DEVASAGAYAM, et al.,
2006).
Peroxinitrito ONOO- 10-3 s
Formado a partir do NO. e superóxido.
Altamente reativo capaz de provocar a
fragmentação do DNA e a peroxidação
lipídica (JOMOVA et al., 2010)
Adaptado de DEVASAGAYAM, et al., 2006
23
O conjunto das substâncias que neutralizam os efeitos biológicos danosos
dos ROS/RNS é chamado de antioxidantes. Esses podem ser enzimáticos e não-
enzimáticos. Segundo Valko (2006), um antioxidante ideal deve ser capaz de
sequestrar radicais livres, quelar metais de transição, interagir com outros
antioxidantes, e ser absorvido, além de trabalhar tanto em soluções aquosas como
em domínios de membrana celular. No entanto, as substâncias até então
descobertas que atuam como antioxidantes possuem apenas uma ou algumas
dessas características (VALKO et al., 2007).
Em eucariotos, os antioxidantes enzimáticos mais eficientes compreendem a
superóxido desmutase, a catalase e a glutationa peroxidase. A superóxido
dismutase (SOD) catalisa a dismutação do superóxido formando H2O2 e O2. A
catalase e a glutationa dismutase removem o peróxido de hidrogênio
(DEVASAGAYAM, et al., 2006). Os não enzimáticos compreendem o ácido
ascórbico (vitamina C), o α-tocoferol (vitamina E), carotenóides, antioxidantes tióis
(glutationa, tioredoxina e ácido lipóico), melatonina, dentre outros (VALKO et al.,
2007; FERREIRA; MATSUBARA, 1997).
Apesar de o organismo humano possuir um potente sistema antioxidante e de
reparo, não é possível combater todos os danos oxidativos. Desse modo, o
organismo faz uso de antioxidantes exógenos fornecidos pela alimentação (SIMIC,
1988).
Existem também os antioxidantes sintéticos, sendo os mais conhecidos o
butil-hidroxitolueno (BHT) e o butil-hidroxianisol (BHA), comumente usados como
conservantes de alimentos (VERHAGEN, et al., 1990). Entretanto, o uso de tais
compostos tem sido relacionado a riscos de saúde como danos no fígado e
possibilidade de promover a carcinogênese, resultando em normas rígidas sobre o
seu uso em alimentos (MCCATHY, et al., 2001).
Desse modo, os estudos com fontes alternativas naturais de antioxidantes
estão tomando espaço no meio científico. Nesse contexto, a pesquisa com
polissacarídeos sulfatados de algas vem ganhando grande destaque (SHAO et al.,
2013).
24
1.2.2.2 Atividades Antioxidantes de Fucanas
As algas marinhas vivem num ambiente de constante estresse salino e
hidrolítico, além de estarem expostas a radiação ultravioleta e altas concentrações
de oxigênio, fatores que levam a formação de radicais livres e outros oxidantes. No
entanto, não se observa danos oxidativos severos nessas algas, nem mesmo
quando estocadas durante grandes períodos, indicando que possuem mecanismos
protetores mediados por enzimas e/ou compostos antioxidantes não-enzimáticos
(AGUILERA et al., 2002; ROCHA et al., 2007).
Dentre os compostos antioxidantes não-enzimáticos algais, destacam-se os
polissacarídeos sulfatados (PS). Os PS extraídos de algas marrons são de longe os
mais estudados, apresentando um potencial antioxidante mediado principalmente
através da capacidade de sequestro de radicais livres, com destaque para a inibição
de radicais hidroxila e superóxido bem como quelação de íons metais (ZHANG et al.,
2003b, HEO et al., 2005, WANG et al., 2008, MAGALHÃES et al., 2011).
Dentre os PS antioxidantes extraídos de espécies de algas marrons, o
fucoidan da alga marrom Laminaria japonica é o PS mais amplamente avaliado. Os
estudos mais sistemáticos com esta molécula iniciaram em 2001, quando Xue et al.,.
(2001) analisaram fucoidans de L. japonica como agentes antioxidantes, usando
para tal o modelo de peroxidação lipídica (teste de TBA) para quantificar a oxidação
de lipoproteínas de baixa densidade (LDL); os polissacarídeos testados foram
fortemente ativos na proteção da oxidação de LDL induzida por AAPH (dicloreto de
2,2’-azobis (2-amidinopropano)), mas não para aquela induzida por Cu2+.
Posteriormente, fucoidans de baixa massa molecular, desta mesma alga, obtidos por
hidrólise ácida demonstram ter a capacidade de seqüestrar os radicais hidroxila e
superóxido (Zhao et al.,. 2006).
Com intuito de obter mais informações sobre a atividade antioxidante de
fucoidan de L. japonica Zhao e colaboradores (2007) obtiveram, a partir do extrato
bruto de polissacarídeos sulfatados da L. japonica, várias frações de fucoidan por
cromatografia de gel filtração (F-A, F-B), por cromatografia de gel filtração seguida
por hidrólise ácida (F-A1, F-A2, F-B1, F-B2) e por processo de degradação de
radical (LM1, LM2). Estes autores verificaram que o fucoidan de baixa massa
molecular (F-A2) apresentou uma potente ação sequestradora de radicais hidroxila e
superóxido, superior até que a dos fucoidans de alto massa molecular F-A e F-B.
25
Além disso, os autores verificaram que os fucoidans de baixo peso molecular mais
sulfatados apresentaram menor atividade antioxidante do que aqueles menos
sulfatados. Segundo os autores, esses dados indicaram que a presença de muitos
grupos sulfato no fucoidans de baixa massa molecular devem promover um
impedimento esterico que bloqueia a reação do polissacarídeo com os radical de
oxigênio. Estes autores, também observaram que a presença de mais de 5% de
ácido glucurônico na composição do polissacarídeo abole sua atividade
sequestradora de radical superóxido.
Outro trabalho publicado também em 2008 demonstrou que fucoidans de L.
japonica obtidos por fracionamento em cromatografia de troca iônica também
apresentavam uma alta atividade antioxidante pelo mecanismo de sequestro dos
radicais superóxido e hidroxila e moderada habilidade de quelação férrica (WANG et
al., 2008). Posteriormente, este grupo também mostrou que esses fucoidans
também tinham atividade antioxidante quando avaliado pelos testes de sequestro do
DPPH e poder redutor (WANG et al., 2010). Viu-se também que fucoidans de L.
japonica modificados pela adição de grupamentos funcionais mostraram excelente
atividade antioxidante, principalmente, os benzoilados (WANG et al., 2009).
Mais recentemente outros gêneros de algas marrons passaram a ser
avaliados como fontes de polissacarídeos sulfatados antioxidantes e um dos
gêneros que mais vem sendo estudado neste sentido é o Sargassum.
Um dos primeiros trabalhos mais relevantes foi publicado em 2007. Neste foi
demonstrado que uma heterofucana de S. fulvellum apresentava excelente atividade
antioxidante pelo teste de DPPH, e atividade sequestradora de peróxido de
hidrogênio, no entanto, apresentou baixa atividade sequestradora para os radicais
hidroxila e superóxido (Kim et al.,, 2010). No ano seguinte, foi demonstrado que
heteropolissacarídeos sulfatados, com diferentes conteúdos de ácido urônico e
distintas massas moleculares foram extraídos de S. fusiforme, estes polissacarídeos,
diferente das fucanas de S. fulvellum, apresentaram atividade sequestradora de
radicais hidroxila e superóxido, sendo o polissacarídeo com maior conteúdo de ácido
urônico e menor massa molecular o que apresentou a mais potente atividade
antioxidante (ZHOU et al., 2008). PS extraídos de S. pallidum também foram
avaliados pelo teste de DPPH, porém, diferente dos polissacarídeos citados até aqui,
os PS de S. pallidum apresentaram uma baixa atividade antioxidante (Ye et al.,
2008).
26
Posteriormente foi demonstrado que heterofucanas de S. filipendula (COSTA
et al., 2011) e S. vulgare (DORE et al., 2013) apresentavam baixa atividade
sequestradora de radicais hidroxila e superóxido. Apesar dos poucos dados, parece
haver um consenso de que este não é o principal mecanismo de ação antioxidante
das fucanas de algas do gênero Sargassum. Por outro lado, verificou-se que uma
heterofucana de S. filipendula apresentou forte atividade no teste do poder redutor
que foi semelhante à encontrada para a vitamina C (COSTA et al., 2011). Como
também se verificou que uma heterofucana de S. vulgare apresentava boa atividade
antioxidante no teste de DPPH (DORE et al., 2013). Ou seja, os dados estão
indicando até o momento que a as fucanas do gênero Sargassum tem como
mecanismo de ação antioxidante principal o fato de atuarem como agentes
redutores.
Fucanas da alga marrom Fucus vesiculosus são obtidas facilmente, pois são
vendidas comercialmente. Portanto, elas foram uma das primeiras fucanas
analisadas como agentes antioxidantes. Já no ano de 2002 demonstrou-se que a
fucana desta alga apresentava alto poder antioxidante avaliado pelo método FRAP
(RUPÉREZ; AHRAZEM; LEAL, 2002). Posteriormente, verificou-se que ela também
apresentava atividade sequestradora dos radicais superóxido e hidroxila (SOUZA et
al., 2007). Estes dados mostram que o mecanismo de ação da fucana de F.
vesiculosus é bem mais complexo do que das fucanas de Sargassum. Contudo, esta
conclusão deve ser vista com ressalvas, pois vários trabalhos mostram que a fucana
obtida comercialmente de F. vesiculosus é na verdade uma mistura de diferentes
fucanas e que a proporção entre elas varia de acordo com o lote.
Amostras ricas em diferentes polissacarídeos extraídos da mesma alga
também foram avaliadas por outros autores. Como por exemplo, Ananthi e
colaboradores (2010) mostraram que amostras ricas em heterofucanas extraídas da
alga Turbinaria ornata possuíam atividade antioxidante nos testes de sequestro de
DPPH, sequestro de óxido nítrico e inibição da peroxidação lipídica (ANANTHI et al.,
2010). Quando amostras ricas em heterofucanas de outras 5 espécies de algas da
ordem Dictyotales foram avaliadas por Costa et al.,. 2010: Dictyota cervicornis,
Dictyota menstrualis, Dictyota mertensii, Dictyopteris delicatula e Spatoglossum
schöederi, observou-se que apenas aquelas oriundas de D. menstrualis e D.
mertensii tiveram a capacidade de sequestrar os radicais hidroxilas, no entanto, esta
atividade foi baixa, tendo os PS a capacidade de sequestrar menos de 8,7% dos
27
radicais formados. Já para o ensaio de sequestro do radical superóxido todas
apresentaram atividade, exceto o de S. schröederi. Para os demais ensaios testados
(poder redutor, capacidade antioxidante total e quelação férrica) as cinco algas
apresentaram atividade de moderada a alta (COSTA et al.,, 2010).
Fucanas purificadas de algas da ordem Dictyotales também já foram
avaliadas como antioxidantes. Heterofucanas de Padina gymnospora apresentaram
atividade antioxidante no ensaio de sequestro do radical hidroxila e uma fucana
extraída da alga Lobophora variegata, denominada F1, apresentou atividade
seqüestrando radicais hidroxila e superóxido e mostrando excelente atividade
redutora (SOUZA et al., 2007, PAIVA et al., 2011). Mais recentemente, cinco
heterofucanas isoladas da alga Canistrocarpus cervicornis apresentaram atividade
antioxidante através dos seguintes mecanismos: Sequestro de radicais superóxido e
hidroxila, capacidade redutora e principalmente capacidade quelante de íons ferro
(CAMARA et al., 2011).
1.3. Fucanas e cálculos renais
1.3.1 UROLITÌASE
A litíase urinária ou urolitíase é uma condição fisiopatológica oriunda da
formação de cálculos renais. Estes cálculos são estruturas sólidas, resultantes da
aglomeração de cristais, compostos por cristais inorgânicos e orgânicos, os quais
podem estar amalgamados por proteínas. Tais cálculos derivam de uma alteração
metabólica crônica do organismo provocando uma excreção aumentada de
substâncias pela urina, como cálcio, oxalato, fosfato e/ou diminuição de excreção de
substâncias inibidoras da cristalização, como o citrato (MOE, 2006).
Evidências paleontológicas mostram que a presença de cálculos renais
acompanha a história da humanidade. De fato, os cálculos em bexiga foram
descobertos em múmias do Egito que remota 7.000 anos atrás (EKNOYAN, 2004).
Além disso, existem registros em papiros feitos por babilônicos e egípcios, a 4.800
anos a.C, de dietas para o tratamento de doenças do trato urinário, incluindo os
cálculos (LOPES E HOPPE, 2010).
28
Segundo Eknoyan (2004), a remoção dos cálculos e alivio da dor foi um dos
tratamentos mais antigos registrados na história. Muitas civilizações antigas,
incluindo egípcios, babilônios, gregos e romanos estudaram procedimentos, até
mesmo cirúrgicos para a retirada do cálculo. As pesquisas só não avançaram
durante a Idade Média, onde somente era oficialmente aceita cirurgia realizada por
cirurgião-barbeiro ou pelo próprio clero. Já no Renascimento, outras metodologias
começaram a ser pesquisadas, inclusive pra elaboração de medicamentos. Contudo,
os estudos metabólicos só começaram a ser elaborados no século XX, com a
descoberta do raio-X, o qual foi possível realizar análises química de pedras, base
para o manejo clínico da litíase urinária.
Atualmente, muitas técnicas e pesquisas têm sido desenvolvidas a fim de
eliminar e ou prevenir os cálculos renais. No contexto do tratamento clínico, a atitude
imediata perante uma crise renal provocada pelos cálculos ainda é a analgesia.
Desse modo, os AINES e as prostaglandinas (PGs) potenciam e modulam os
mecanismos locais e centrais da dor (GOMES, et al., 2002).
Após a analgesia, o procedimento posterior dependerá do tamanho e localização
do cálculo formado. O tratamento tradicional é a eliminação do cálculo
espontaneamente, porém bloqueadores de canais de cálcio (nifedipina) podem ser
utilizados, pois seus efeitos miorrelaxantes parecem aumentar a taxa de eliminação
espontânea dos cálculos. Outro tratamento utilizado é a quemólise para a dissolução
do cálculo de ácido úrico. Porém o bombardeamento por laser e procedimentos
cirúrgicos são ainda a forma de tratamento mais utilizado para cálculos de tamanhos
maiores ou com riscos críticos de obstrução (KNOLL e PEARLE, 2013), mesmo
sendo o método mais invasivo.
Graças aos estudos dos componentes químicos dos cálculos, foi possível
entender o processo de sua formação. Alguns trabalhos recentes mostram que
cálculos calcários, principalmente formados por oxalato de cálcio, são os mais
frequentes na urolitíase, representando mais de 80% dos cálculos encontrados.
Aqueles constituídos de ácido úrico representam cerca de 5-10%, seguido pelos
constituídos de cistina, estruvita, e cálculos de urato ácido de amônio. A formação de
diversos tipos de cálculos altamente incomuns está associado com a presença de
xantina, 8-diidroxiadenina, matriz protéica e fármacos, por exemplo, indinavir e
triantereno. Além disso, cálculos de origem mista não são raros e podem mostrar
uma fisiopatologia subjacente bastante diferente do cálculo formado por um único
29
componente, o que também pode modificar drasticamente o tratamento (MOE,
2006).
Nesse contexto, vários fatores podem estar relacionados a urolitíase sendo os
principais: a herança genética, o sedentarismo, clima e/ou exposição a temperaturas
elevadas, hábitos alimentares, entre outros (SELVAM, 2002). A literatura mostra
ainda que há um risco de cerca de 10 a 15% de desenvolvimento de cálculos em
países desenvolvidos e cerca de 25% nos que estão em desenvolvimento. Além
disso, a probabilidade de recorrência é de 50% entre 5 a 10 anos e 75% em 20 anos
(LOPES E HOPPE, 2010).
1.3.2 FORMAÇÃO DE CRISTAIS DE OXALATO DE CÁLCIO E ESTRESSE
OXIDATIVO.
Em se tratando dos cálculos de oxalato de cálcio, os quais são os mais
comumente desenvolvidos em pacientes litisíacos, além dos fatores citados acima,
também estão comumente relacionados a formação destes cálculos: o distúrbio
metabólico, especialmente a hipercalciúria idiopática e a hiperoxalúria (MOE,2006),
que são fatores essenciais para o processo de supersaturação urinária.
O processo de formação do cálculo de oxalato de cálcio é resultado de um
processo físico-químico correspondente a três fases: nucleação, crescimento e
agregação dos cristais. A primeira condição para a formação de um cristal é a
supersaturação urinária, a qual consiste no estado no qual alguns sais se encontram
dissolvidos na urina em concentrações muito maiores que as plasmáticas (KNOLL,
2010). Os íons, quando em concentrações elevadas em uma solução, tendem a se
agrupar, através de suas cargas, formando pequenos cristais. Tal processo,
denominado de nucleação, dependendo da composição da urina, pode ser
homogêneo ou heterogêneo (RUSSEL, 1972). O processo homogêneo acontece
quando o cristal formado serve de substrato para a deposição de outros nanocristais
semelhantes. Já o heterogêneo, como é mostrado na figura 1, é resultado da
deposição dos cristais sobre um substrato, o qual pode ser constituído por
macromoléculas, ou outro cristal quimicamente diferente (GRASES et al.,, 1998). Os
cristais, por sua vez, se atraem e passam a formar agregados que,
progressivamente, crescem até a formação de uma fase sólida (COE, FAVUS,
30
1997). Esse cristal em fase sólida, pode se ligar a proteínas e outras substâncias
presentes na urina, originando-se, por sua vez, os cálculos.
Figura 1. Patogênese dos cálculos de oxalato de cálcio nos rins. Três categorias de fatores (genética, metabólica e alimentar), em conjunto ou isoladamente para levar a formação do cálculo. O processo de nucleação heterogênea provavelmente precisa de um ninho iniciando no epitélio (I), que constitui o substrato para a cristalização e para o crescimento (II). Fonte: MOE, 2006.
Segundo os estudos de YU et al., (2010), cristais de oxalato de cálcio
desenvolvem-se em três diferentes formas: mono-hidratadas (COM) (Figura 2.A), di-
hidratadas (COD) (FIGURA 2.B) e tri-hidratadas (COT) (FIGURA 2.C). Os cristais de
COM apresentam uma geometria de prisma tetragonal alongada, com superfície
externa irregular, uma estrutura densa e elevada dureza. Os cálculos de COM
consistem basicamente de um núcleo onde os cristais se depositam de modo
concêntrico, e uma camada intermediária estriada radialmente (DAGANELLO, 1991).
O COD são cristais de oxalato de cálcio de geometria piramidal tetragonal que se
apresentam termodinamicamente instáveis. Em contato com líquido gradualmente
eles se transformam na forma mais estável, o COM (GRASES, 1998). A forma COM
é encontrada em grandes quantidades nos cálculos renais, enquanto COD é mais
I
II
31
raro. Já o COT possui uma grande instabilidade termodinâmica, sendo raramente
encontrado nos cálculos.
A B
C
Figura 2: Imagens de Microscopia Eletrônica de Varredura de Cristais de Oxalato de Cálcio. (A) Mono-hidratado; (B) Di-hidratado; (C) Tri-hidratado
Fonte: GRASES et al.,, 1989
O tipo de cristal formado é um passo decisivo no processo da urolitíase, uma
vez que sua forma é determinante para a ligação ao epitélio renal e posterior
formação do cálculo. Desse modo, a forma mono-hidratada (COM) por ter a
morfologia termodinâmica mais estável dentre os três tipos é consequentemente
aquela que mais se ligar ao epitélio renal. Um fato importante relacionado a essa
preferência é a carga de superfície, já que os cristais COM aderem à superfície da
célula em sítios aniónicos específicos, os quais se encaixam perfeitamente a sua
forma tetragonal alongada. Além disso, propriedade adesiva, ligação eletrostática e
interações específicas são também outros fatores mediadores importantes para
adesão desse cristal (FONG-NGERN, et al.,2011)
A ligação ao epitélio acontece preferencialmente nos lugares onde o epitélio
renal está com as suas camadas protetoras (glicosaminoglicanos- GAG) danificadas
ou destruídas. Esse dano está intimamente relacionado ao estresse oxidativo celular
e formação de radicais livres (SELVAN, 2002).
32
As primeiras observações do processo de formação dos cálculos de CaOx
datam de 1930, quando Randall descreveu lesões em formato de placas no epitélio
renal, as quais estavam invariavelmente presentes em pacientes com cálculos de
CaOx. Posteriormente, comprovou-se que essas placas eram provenientes da
peroxidação lipídica decorrente do estresse oxidativo gerado durante a cristalização
na membrana basal das alças de Henle. Esta foi à primeira comprovação da relação
entre o estresse oxidativo e a formação de cálculos renais (MOE et al, 2002).
Estudos com ratos que foram induzidos a formarem cálculos renais de CaOx
com uso de deferentes agentes mostraram que há uma diminuição plasmática das
atividades das enzimas antioxidantes superoxido dismutase (SOD), catalase,
glutationa peroxidase (GPx), glucose-6-fosfato desidrogenase, glutationa-S-
transferase, bem como diminuição dos níveis plasmáticos dos sequestradores de
radicais livres: vitamina E, vitamina C, proteína tiol e glutationa reduzida (GSH). Foi
demonstrado que também havia um aumento plasmático de moléculas marcadoras
de peroxidação lipídica (SELVAN,2002). Alterações semelhantes foram observadas
em pessoas portadoras de cálculo de CaOx, o que mostra uma correlação positiva
entre a diminuição das defesas antioxidantes, a presença do oxalato/CaOx e a
formação de cristais de CaOx (BACKMAN, et al., 1984; ANBAZHAGAN, et al., 1999).
Normalmente pessoas possuem na urina várias moléculas que controlam a
nucleação, crescimento ou agregação dos cristais oxalato de cálcio, como citrato,
magnésio, pirofosfato, glicosaminoglicanos, nefrocalcina e diferentes glicoproteínas.
Uma diminuição na produção dessas moléculas ou uma síntese defeituosa pode
permitir a formação de cálculos. A partir daí o oxalato/oxalato de cálcio/ e cristais tipo
COM desempenham um papel importantíssimo na patogênese da urolitíase,
provocando inclusive a diminuição das defesas antioxidantes citadas acima. Apesar
de não se compreender totalmente como o oxalato/oxalato de cálcio/ e cristais tipo
COM promovem o stress oxidativo na urolitíase, foi proposto uma linha geral de
eventos que levam a formação dos danos renais provocados pelos oxalato/oxalato
de cálcio/ e cristais tipo COM, como pode ser visto na figura 3 (SELVAN,2002).
Os cristais formados se precipitam sobre a superfície celular ligam-se
rapidamente à superfície de células epiteliais e são internalizados. O tipo de cristal é
bastante importante durante esse processo, uma vez que, os monohidratados são
prontamente reconhecidos e endocitados, ao passo que o dihidratado se liga
fracamente a superfície celular e não é endocitado. No citoplasma celular proteínas
33
ligantes de oxalato/CaOx induzem a peroxidação a produção de peróxido de
hidrogênio e do ion superoxido, que por sua vez promovem a peroxidação lipídica.
Esta peroxidação lipídica dessatibiliza a membrana celular, levando ao aparecimento
de regiões pobres em várias moléculas, como glicosaminoglicanos, e
conseuqentemente levando a exposição de substância moléculas aniônicas, como
fosfatidil serina (BIGELOW et al., 1997) e fosfolipídeos (KHAN et al., 1988). Estas
regiões servem de local para a deposição de novos cristais e formação do cálculo
renal. Este cálculo é então endocitado. Não se sabe ainda se forma-se cálculos no
interior celular. Dentro da célula, o cálculo pode promover ativaçao de vários genes,
como cmyc, EGR-1, Nur-77, PAI-1, PDGF–A (HAMMES, et al 1995), levar a morte
celulr (KHAN 2012) e desencadear um processo inflamatorio (SELVAN,2002).
Figura 3: Modelo hipotético da representação da deposição/internalização do cristal de oxalato de cálcio nas células renais por endocitose e processo intracelular por oxalúria durante condições hiperoxalúricas Fonte: SELVAN,2002
A resposta bioquímica que envolve a produção de ROS durante o processo
inflamatório decorrente da alta concentração de cristais de oxalato é bastante
complexa. Primeiramente, a deposição desses cristais parecem estar associados a
34
ao aumento dos hormônios renina e angiotensina II, os quais estão envolvidos no
equilíbrio hemodinâmico do organismo (KHAN,2012).
Ainda segundo Khan (2012), de uma maneira que ainda não foi totalmente
esclarecida, os cristais são capazes de ativar a enzima NADPH oxidase não-
fagocítica, a qual está presente nos macrófagos e ativa ROS por meio de uma via
dependente de PKC. O complexo NADPH-oxidase é formada por um citocromo b
(559), um heterodímero associado a membrana composta de duas subunidades
(NoX2 e p22 (phox)), e quatro proteínas citosólicas (p47 (phox), p67 (phox), Rac, e
p40 (phox). Após estimulação, os componentes citosólicos p47 phox é fosforilado e
translocado juntamente com o componente Rac 1 para a membrana, ativando a via
da MAPK/JUNK. O acionamento dessa via faz com que vários fatores
transcripcionais e de crescimento, incluídos NF-ĸB, AP-1 e TGF-β sejam ativados.
Mediadores secundários também começam a ser gerados como isoprenos,
fosfolipase A2 e prostaglandinas. A produção de quimioatratores, tais como MCP-1 e
a cristalização do modulador OPN é aumentada. Macrófagos infiltram-se no
interstício renal em torno de depósitos de cristais. Daí então, a ativação da NADPH
oxidase fagocíticas resulta na produção de ROS adicional. A partir daí desenvolvem-
se inflamação, fibrose, deposição de colágeno e mineralização, levando a um
crescimento dos depósitos de cristais intersticiais (figura 4).
35
Figura 4: Resposta bioquímica da produção de ROS durante o processo inflamatório frente aos cristais de oxalato Fonte: Khan, 2012
Além disso, lesões apoptóticas e necróticas também se fazem presentes em
decorência desse processo. Estudos prévios afirmam que aonde há essas lesões
urotéliais pode predispor a cristalização de novo e retenção de cristais nos rins.
Estudos in vitro já demonstraram que os lipídeos de membrana, assim como
produtos de degradação celular são excelentes nucleadores para o processo de
cristalização. A figura 5 resume como ocorre o processo de formação do cálculo de
oxalato de cálcio (KHAN,2005).
36
Figura 5. Geração de hiperoxalúria induzida por Espécies Reativas de Oxigênio e seus efeitos sobre vários aspectos da formação de cristais, retenção e desenvolvimento do cálculo dentro dos rins. Fonte: Khan, 2005.
1.3.3 ANTIOXIDANTES PROTETORES RENAIS
O tratamento dos cálculos renais por meio de antioxidantes ainda é pouco
observado na clínica. No entanto, vários antioxidantes específicos são mostrados na
literatura impedindo o desenvolvimento do estresse oxidativo induzido por oxalúria
(KHAN, 2013). O pré-tratamento com a vitamina E (alfa-tocoferol) diminui a
deposição de cristais de oxalato de cálcio (SELVAN, 2002). O tratamento com
metionina ou glutationa monoéster, reduziu também os depósitos de cristais renais
CaOx nos rins dos ratos hiperoxalúricos . A redução ou eliminação total da
deposição de cristais foi associada a restauração das defesas antioxidantes dos rins
por atividades crescentes de enzimas SOD , catalase , glutationa- peroxidase (GPx )
Geração de ROS
Hiperoxaluria
Formação da Pedra Células inflamatórias
no interstício
Retenção do Cristal Mov. do Cristal no
interstício
Fixação/Endocitose do
Cristal
Crescimento/Agregação
do Cristal Nucleação deCaOx
Apoptose/Ne
crose
Modulação da
Cristalização
Proliferação
Celular Quimioatractantes
Ves. Memb. Exposição do Cristal
aos sítios de fixação
37
e /ou removedores de radicais livres , glutationa reduzida (GSH ), ácido ascórbico e
vitamina E (KHAN,2005) .
Recentemente, os polissacarídeos sulfatados de algas também começaram a
ser testados como antioxidantes protetores das injúrias renais. Estudos in vitro,
demonstraram que polissacarídeos da Laminaria Japonica além de diminuir o
tamanho dos cristais COM também estabilizaram o tipo COD, os quais não podem
se ligar a membrana (OUYANG, 2011). Outro polissacarídeo que mostrou ser
eficiente no processo da inibição da cristalização foi da alga marrom Sargassum
Graminifolia (ZHANG, 2012).
Estudos in vivo com suplementação exógena de polissacarídeos sulfatados
para ratos hyperoxalúricos de Fucus vesiculosus foram eficazes na redução do
estresse oxidativo, aumentando a atividade das enzimas antioxidantes como SOD,
CAT, GPX , e limitar a peroxidação lipídica . Além disso, os polissacarídeos
sulfatados foram capazes de evitar a retenção de cristal, por evitar o dano da
membrana induzida por os cristais de oxalato de cálcio (VEENA et al.,. 2007).
No litoral do Nordeste brasileiro são encontradas várias espécies de algas
marrons, porém nenhum polissacarídeo sulfatado dessas algas teve a sua
capacidade de inibição de formação de cristais avaliadas.
Desse modo, esse trabalho tem como objetivo avaliar a atividade antioxidante
de polissacarídeos sulfatados de alga marrons Dictyopteris justii e seu efeito sobre a
cristalização do oxalato de cálcio in vitro.
Para obtenção do objetivo proposto, pretende-se:
Obter frações ricas em polissacarídeos sulfatados da alga marinha
Dictyopteris justii
Caracterizar quimicamente os polissacarídeos sulfatados extraídos;
Avaliar as atividades antioxidantes inerentes aos polissacarídeos
Avaliar a capacidade do polissacarídeo em inibir a cristalização do oxalato de
cálcio in vitro.
Avaliar a capacidade do polissacarídeo em interferir na morfologia dos cristais
formados
Analisar a capacidade do polissacarídeo em modificar o potencial zeta do
cristal de oxalato de cálcio.
38
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Materiais
2.1.1 MATERIAL BIOLÓGICO
FILO: Ochrophyta
CLASSE: Phaeophyceae
ORDEM: Dictyotales
FAMILIA: Dictyotaceae
GÊNERO: Dictyopteris
ESPÉCIE: Dictyopteris justii (V.Lamouroux)
A alga Dictyopteris justii (J.V.Lamouroux) foi coletada na praia de Maracajaú,
município de Maxaranguape (RN, Brasil), distante 64 Km do norte da capital Natal. A
praia é relativamente rasa, de fundo arenoso, em muitos pontos cobertos por algas
calcárias e protegida do embate das ondas pelos arrecifes. Esta praia possui uma
vasta diversidade de algas com um grande número de espécies de Chlorophyceae,
Rhodophyceae e Phaeophyceae.
2.1.2 OUTROS MATERIAIS
Acetato de sódio trihidratado (3 H2O) da VETEC
Ácido acético
Ácido ascórbico, albumina, glicose, nitroblue tetrazolium (NBT), ferrozina, cloreto
de cálcio, oxalato de sódio, cloreto de sódio, acetato de sódio, citrato trisódicom
violeta de pirocatecol, sulfato de cobre II pentahidratado e riboflavina da Sigma-
Aldrich Brasil(São Paulo, SP, Brasil);
Ácido Gálico da CAQ Casa de Química Ind. E Com. (Diadema, SP, Brasil);
Figura 6: Alga Dictyopteris justii Fonte: http://biogeodb.stri.si.edu. Acesso: 13/12/2013
39
Ácido sulfúrico, álcool etílico, álcool metílico, coomasie brilliant blue R 250,
fosfato de sódio dibásico, fosfato de sódio monobásico, hidróxido de sódio,
peróxido de hidrogênio e sulfato de ferro heptahidratado da CRQ (Diadema, SP,
Brasil);
Fenol e molibdato de amônio da Reagen Quimibrás Industrias Químicas (Rio de
Janeiro, RJ, Brasil);
Reagente de Bradford da Bio-Rad (NY, EUA);
Reagente Folin-Ciocalteau e Cloreto de Ferro da Merck;
Todos os demais materiais e reagentes foram obtidos da melhor forma possível.
2.1.3 APARELHOS
Agitador orbital modelo 255-B da FANEM Ltda (São Paulo, SP, Brasil);
Banhos e estufas de temperatura controlável da FANEM Ltda (São Paulo, SP,
Brasil);
Centrífuga refrigerada CR21 da Hitachi Koki Co. Ltda. (Tóquio, Japão);
Espectrofotômetro digital DR5000 UV/VIS da Hach Company® (Loveland,
Colorado, EUA)
Medidor de pH PHTEK, modelo Meter PHS 3B (Tóquio, Japão);
Balança analítica e de precisão da TECNAL (Piracicaba, SP, Brasil);
Microscópio NIKON CFI60, Spectrum – Spectrum Bioengenharia médica
hospitalar LTDA.
Analisador de Potencial Zeta (Zetaplus®), da Instrutécnica (Campinas, SP,
Brasil)
40
2.2 Métodos
A alga Dictyopteris justii (J.V.Lamouroux) foi coletada na praia de Maracajaú,
município de Maxaranguape (RN, Brasil). A extração de polissacarídeos sulfatados
foi adaptada da metodologia descrita por Rocha e colaboradores (2005). A alga
após a coleta foi limpa com água corrente e seca em estufa aerada a 45° C.
Posteriormente foi triturada e submetida a um processo de despigmentação e
delipidação. Após nova secagem sob temperatura ambiente, foram adicionados dois
volumes de NaCl 0,25 M à massa resultante, o pH foi ajustado para 8,0 com NaOH e
adicionou-se Prozima (proteaze alcalina) a mistura para digestão proteolítica. Após
18 h de incubação a 60° C, a mistura foi filtrada e centrifugada (10.000 x g, 10 min.,
4o C) e o sobrenadante foi fracionado por precipitação com acetona. Assim,
inicialmente, 0,3 volumes de acetona (4 °C) foram adicionadas à solução sob
agitação suave e mantida a 4° C por 12 h. A seguir, o precipitado foi separado da
solução por centrifugação (10.000 x g, 10 min., 4º C), secado e armazenado para as
análises posteriores. Ao sobrenadante obtido nessa etapa, adicionou-se mais
solvente até se ter a turvação do material. Esse procedimento foi repetido com
volumes crescentes de acetona até não se conseguir mais a turvação do
sobrenadante. A figura 7 resume-se de maneira esquemática a forma de obtenção
das amostras.
41
Figura 7: Obtenção das frações ricas em polissacarídeos sulfatados extraídos da alga marrom
Dictyopteris justii.
2.2.1 CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA
2.2.1.1 Dosagem de açúcares totais
Para verificação da quantidade de açucares nas frações, foi realizada o
método fenol/ácido sulfúrico, utilizando a glicose como padrão e leitura à 490 nm,
como descrito por Dubois et al (1956).
42
2.2.1.2 Dosagem de proteínas
A quantificação de proteína de cada extrato foi determinada com o reagente
de Bradford de acordo com as instruções do fabricante. Como padrão de leitura, foi
utilizada a albumina. A leitura foi realizada a 595nm.
2.2.1.3 Compostos fenólicos totais
Os compostos foram quantitativamente avaliados pelo método colorimétrico
de Folin-Ciocalteau e as leituras realizadas a 765nm. O ácido gálico foi utilizado
como padrão de leitura (COSTA, et al., 2010) resultado foi expresso em equivalentes
de ácido gálico, que é definido como a razão mg de ácido gálico/g de amostra.
2.2.1.4 Determinação da composição monossacarídica
As frações ricas em polissacarídeos sulfatados extraídos da alga marrom D.
justii foram hidrolisados com 2 M de HCl por 2 horas a temperatura de 100 °C. Após
hidrólise, foram secos à pressão reduzida, na presença de pastilhas de NaOH, esta
etapa foi repetida três vezes. Por fim, o hidrolisado foi ressuspenso e 10 L de cada
solução foi aplicada em papel Whatman n ° 01 para realização da cromatografia em
papel (acetato de etila, piridina, água – na proporção 8:2:1). Os monossacarídeos
foram visualizados após redução de uma solução de nitrato de prata.
2.2.1.5 Espectroscopia de Infravermelho
As frações ricas em polissacarídeos sulfatados (5 mg) foram misturadas
cuidadosamente, com brometo de potássio seco. Os espectros de infravermelho
entre 500 e 4000 cm-1 foram realizados com uma pastilha de KBr e o polissacarídeo.
43
Em seguida, foram medidos em um Thermo-Nicolet Nexus 470 pesetas
espectrômetro de FT-IR. Trinta e duas varreduras em uma resolução de 4 cm-1
foram calculados e referenciada contra o ar.
2.2.2 ATIVIDADE ANTIOXIDANTE IN VITRO
2.2.2.1 Capacidade antioxidante total
O ensaio é baseado na redução do Mo+6 a Mo+5 pela amostra teste, com
formação final de um complexo esverdeado fosfato/molibdênio +5 em pH ácido. As
amostras foram adicionadas em uma solução reagente (28 mM de fosfato de sódio,
0,6 M de ácido sulfúrico, 4 mM de molibdato de amônia). A solução foi mantida a 100
°C por 90 minutos e depois resfriada. A leitura foi feita a 695 nM (PRIETO; PINEDA;
AGUILAR. 1999). Como padrão de leitura, o foi utilizado o ácido ascórbico. O
resultado foi expresso em equivalentes de ácido ascórbico (mg de ácido ascórbico/g
de amostra).
2.2.2.2 Poder redutor
O poder redutor foi quantificado de acordo com metodologia descrita por
Athukorala; Kim; Jeon (2006) e Wang et al. (2008). 4 mL das amostras teste em
diferentes concentrações (0,10-1,00mg/mL) foram misturadas em tampão fosfato
(0,2M, pH 6,6) e ferricianeto de potássio (1%) e incubados por 20 min a 50 °C. A
reação foi interrompida pela adição de TCA (ácido tricloroacético) a 10%.
Posteriormente, foi adicionado água destilada e cloreto de ferro (0,1%). As amostras
foram lidas a 700 nm.
44
2.2.2.3 Sequestro do radical superóxido (O2-•)
Este método baseia-se na capacidade da amostra teste (frações
polissacarídicas) em inibir a redução fotoquímica do nitroblue tetrazolium (NBT) em
um sistema riboflavina-luz-NBT (CÂMARA et al, 2011). 3 mL da solução reagente
contendo: tampão fosfato (50 mM, pH 7,8), metionina (13 mM), riboflavina (2 μM),
EDTA (100 μM), NBT (75 μM) e 1 mL de solução contendo as frações
polissacrídicas em diferentes concentrações (10-2000 µg/mL), foram incubadas sob
iluminação com lâmpada fluorescente por 10 min. A produção do azul de formazan
foi monitorada pelo aumento da absorbância a 560 nm.
2.2.2.4 Sequestro do radical hidroxila (OH.)
O ensaio de sequestro do radical hidroxila foi baseado na reação de Fenton
(Fe2 + + H2O2 → Fe3+ + OH-+ OH.). Estes resultados foram expressos como taxa de
inibição. Os radicais hidroxila foram gerados utilizando 3 mL de tampão de fosfato de
sódio (150 mM, pH 7.4), que continha 10 mM de FeSO4 · 7H2O, 10 mM de EDTA, 2
mM de salicilato de sódio, 30% de H2O2 (200 mL) e concentrações diferentes das
frações. No controle, tampão fosfato de sódio substituiu o H2O2. As soluções foram
incubadas a 37° C durante 1 h, e a presença do radical hidroxila foi detectada
através da monitomento da absorvância a 510 nm. O ácido gálico foi utilizado como
controle positivo.
2.2.2.5 Quelação de Ferro
A capacidade de quelar ferro das frações foi investigada utilizando a seguinte
metodologia: SP em diferentes concentrações foram adicionados a uma mistura de
reação que continha FeCl2 (0.05 mL, 2 mM) e ferrozina (0.2 mL, 5 mM). A mistura foi
agitada e incubada durante 10 min à temperatura ambiente e a absorbância da
45
mistura foi medida a 562 nm contra um branco. O EDTA foi utilizado como controlo
positivo.
2.2.2.6 Quelação de cobre
A habilidade de quelar o íon cobre das frações foi determinada pelo método
descrito por Anton (1960). O violeta de pirocatecol, reagente utilizado neste ensaio,
tem a capacidade de se associar com alguns cátions como alumínio, cobre, bismuto
e tório e assim formar complexos coloridos. Na presença de agentes quelantes esta
associação não é formada, resultando na diminuição da intensidade da cor obtida.
Tal diminuição permite estimar a atividade quelante do íon de cobre. O teste foi
realizado em microplaca de 96 poços que conteve uma mistura de reação contendo
diferentes concentrações das amostras (0,1 – 2,00 mg/mL), Violeta de Pirocatecol (4
mM) e Sulfato de Cobre II pentahidratado (5 H2O) (50 µg/mL). Todos os poços foram
homogeneizados com um auxílio de uma micropipeta e a absorbância da solução foi
medida a 632 nm. A habilidade, das amostras, em quelar o íon cobre foi calculada
usando a equação abaixo:
Absorbância do branco – Absorbância da amostra
Absorbância do branco x 100
2.2.3 ENSAIO DE CRISTALIZAÇÃO DO OXALATO DE CÁLCIO
O efeito das frações ricas em polissacarídeos sulfatados na cristalização de
oxalato de cálcio foi medido espectrofotometricamente durante 30 min a 620 nm,
conforme descreve Zhang et al, (2012). Esse ensaio é baseado na quantificação por
densidade óptica de soluções metaestáveis de Ca2+ e Ox. Utilizando uma mistura de
cloreto de cálcio (8 mmol/L) e oxalato de sódio (1 mmol/L), 200 mmol/L de cloreto
de sódio e 10 mmol/L de acetato de sódio. As concentrações de compostos
presentes nesta mistura estão perto das concentrações fisiológicas urinárias. A
solução de CaCl2 (1.0 mL) foi agitada constantemente a 37° C tanto na ausência
46
quanto na presença de diferentes concentrações dos polissacarídeos sulfatados ou
o do citrato sódico como controle positivo. Após a obtenção de uma linha de base
estável, a cristalização foi induzida pela adição de solução de Na2C2O4 (1.0 mL) para
atingir concentrações finais de 4 mmol/L de cálcio e de 0.5 mmol/L de oxalato. A
partir de uma análise de regressão linear foi possível mensurar o percentual de
inibição da cristalização. A percentagem foi calculada a partir das taxas de
nucleação e de agregação, como se segue: [1- (SNA/SNC)] *100 para o percentual
de nucleação, sendo SNA a inclinação da curva de absorbância da solução de sais
na presença das amostras e SNC a inclinação do controle; [1- (SAA/SAC)] *100 para
o percentual de agregação, sendo SAA a inclinação da curva de absorbância da
solução de sais na presença das amostras e SAC a inclinação da absorbância do
controle.
2.2.4 ANÁLISE DA MORFOLOGIA DOS CRISTAIS POR IMAGEM
MICROSCÓPICA
Os cristais foram induzidos a se formarem na presença ou ausência dos
polissacarídeos sulfatados ou citrato de sódio (1 mM). Após trinta minutos, as
soluções foram centrifugadas (5000 x g) e sobrenadante foi descartado. Os cristais
foram então suspendidos em 0.5 mL de água e uma alíquota de 0.1 mL foi posta
numa lâmina histológica e levada a um microscópio. A morfologia dos cristais foi
analisada em dez campos selecionados aleatoriamente em ampliação de 60×. As
imagens foram capturadas a partir de diferentes campos. Foram realizados três
experimentos distintos.
2.2.5 MEDIDA DE POTENCIAL ZETA (ζ)
Os cristais foram induzidos a se formarem na presença ou ausência dos
polissacarídeos sulfatados ou citrato de sódio (1 mM). Após trinta minutos, as
soluções foram centrifugadas (5000 x g). O concentrado de cristais foi então
47
suspendido com 1,5 mL de água e o potencial zeta das amostras ζ foi obtido com o
uso analisador Zeta Plus®.
2.2.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Todos os dados dos experimentos realizados foram expressos como média ±
desvio padrão (n=3). Para testar diferenças entre os frações, foi utilizado o teste de
análise paramétrica de análise de variância (ANOVA). O teste de Student–Newman–
Keuls (Nível de significância de p<0,05) foi aplicado para se comprovar algumas
similaridades encontradas pela ANOVA
48
3 RESULTADOS
3.1 Análises químicas das frações obtidas
O pó desidratado da alga D. justii foi ressuspenso na presença de enzimas
proteolíticas, que degradaram as proteínas contaminantes e permitiram a maior
solubilização dos polissacarídeos sulfatados. Posteriormente, os polissacarídeos
solúveis foram separados em quatro frações com o uso da precipitação diferencial
com acetona, como descrito em métodos. As frações foram então denominadas de
DJ-0.3v; DJ-0.4v; DJ-0.5v; DJ-1.2v e submetidas às análises, cujos resultados são
descritos abaixo.
Na Tabela 3 têm-se o resumo dos dados obtidos a partir das análises
químicas, pode-se observar que ocorre a presença de açúcares em todas as
frações. Porém, esta presença não ocorre de forma similar, já que o teor de açúcar
variou de acordo com a fração analisada (59,6 a 80,4 %). Com relação ao teor de
sulfato das frações, verificou-se que ele variou entre 3,9% a 7,5%, sendo o maior
valor percentual encontrado na fração DJ-0.4v. Já em relação à contaminação por
compostos fenólicos e proteínas, ambas foram consideradas baixas, variando de 0,5
% a 5% e 0,0% a 1,6 %, respectivamente.
TABELA 3. Análise química e relação molar do teor de açúcar e sulfato das frações ricas em polissacarídeos sulfatados extraídos da alga marrom Dictyopteris justii
Frações Açucares
Totais (%)
Sulfato (%)
Proteínas (%)
Comp.
Fenólicos (%)
Razão Molar1
Gli1
Xil1
Ac, Glu1
Fuc1 Sulf.1
DJ-0,3v 67.5 ± 0.8 3,9 ± 0,4
1,6 ± 0,05 4,4 ± 0,2
1,0 0,8 1,2 0,3 0,9
DJ-0,4v 59.6 ± 1.3 7,5 ± 1,8
0,9 ± 0,04 5,0 ± 0,1
1,0 1,7 1,4 1,2 2,1
DJ-0,5v 75.8 ± 0.1 4,3 ± 0,6
0,1 ± 0,02 2,0 ± 0,2
1,0 0,0 0,0 0,2 1,0
DJ-1,2v 80.4 ± 0.2 6,8 ± 0,2
n,d 0,5 ± 0,0
1,0 0,0 0,0 0,1 1,5
1 Razão Molar utilizando a glicose como parâmetro. n.d= Não detectado; Gli - Glucose, Xil - Xilose,
Fuc – Fucose e Ac. Glu. – Acido Glucurônico
49
Uma análise geral dos dados apresentados na tabela acima leva a afirmação
de que a alga D. justii sintetiza populações de polissacarídeos sulfatados diferentes.
A primeira que se encontra em DJ-0.3v é rica em glicose, xilose e ácido glucurônico
e apresenta traços de fucose; a segunda (DJ-0.4v), que tem como diferencial
grandes quantidades de fucose; as duas populações que se encontram em DJ-0.5v
e DJ-1.2v apresentam apenas glucose e traços de fucose, mas se diferenciam entre
si pela quantidade de íons sulfato.
A fim de verificar as características estruturais dos polissacarídeos sulfatados
DJ-0,3v e DJ-0,4v e das glucanas sulfatadas DJ-0,5v e DJ-1.2, as amostras foram
submetidas a espectroscopia de infravermelho e os resultados estão expressos na
Tabela 4.
TABELA 4. Principiais assinalamentos encontrados nos espectros de Infravermelho dos polissacarídeos sulfatados da alga D. justii
Frações Polissacarídicas
Infravermelho (KBr) (cm-1)
DJ-0.3v 3303, 2924, 1605, 1231, 1159, 1024, 813 DJ-0.4v 3337, 2920, 1603, 1230, 1162, 1031, 811 DJ-0.5v 3316, 2924, 1625, 1244, 1155, 1033, 889 DJ-1.2v 3324, 2921, 1630, 1244, 1158, 1025, 994, 887
Os sinais na região de 3324-3303 cm-1 e 2920-2930 cm-1 comprovam a
existência de polissacarídeos, pois eles indicam a presença dos grupos OH e C-H,
respectivamente, que são encontrados em todos os polissacarídeos. O sinal em na
região em torno de 1605 cm-1 indica a presença das carboxilas dos ácidos
glucurônicos e só foi encontrado em DJ-0.3v e DJ-0.4v. Como este sinal se encontra
largo em sua base (dados não mostrados), pode-se propor que este está sobreposto
com sinais das hidroxilas da água que está solvatando as moléculas de
polissacarídeos. Os sinais das hidroxilas da camada de solvatação da água nos
espectros das frações DJ-0.5v e DJ-1.2v foram identificados nas regiões de 1630-
1625 cm-1. A vibração assimétrica da ligação glicosídica C-O-C foi refenciada à
banda 1150 cm-1, este sinal indicou a presença de aneis piranosídicos em todos os
carboidratos em estudo. Os sinais em torno de 1232-1256 cm-1 indicam vibração
assimétrica S = O e os sinais em torno 1150 e 1025-1033 cm-1 indicam vibração
associada a C-OSO, confirmando a presença de polissacarídeos sulfatados em
todas as frações. Os sinais observados em 813 (DJ-0.3v) e 811 (DJ-0.4v) indicam a
50
presença de sulfato predominante na posição 6 dos resíduos de açucares das
fucanas. Já os sinais em 889 e 887 nas frações DJ-0.5v e DJ-1.2v indicam a
presença de sulfato na posição 6 de resíduos de glicose na configuração β.
3.2 Atividade Antioxidante
A atividade antioxidante das frações ricas em polissacarídeos sulfatados foi
avaliada em seis diferentes ensaios: Capacidade antioxidante total (CAT), poder
redutor, sequestro de radicais hidroxila, sequestro de radicais superóxido, quelação
férrica e quelação cúprica.
3.2.1 CAT (CAPACIDADE ANTIOXIDANTE TOTAL)
No ensaio de Capacidade Antioxidante Total (expresso como equivalentes de
ácido ascórbico), todas as frações ricas em polissacarídeos sulfatados tiveram
atividade antioxidante. As frações DJ-0.5v e DJ-1.2v apresentaram a menor
atividade antioxidante sendo os valores determinados de CAT para elas de 29,6 e
32,8 mg/g de equivalentes de ácido ascórbico (EAA), respectivamente. Por outro
lado, o valor de CAT obtido com a fração DJ-0.3v foi mais pronunciado e
correspondeu a 44,3mg/g. A fração cujo valor de CAT foi significativamente maior
(p< 0,05) foi a DJ-0.4v, que foi igual a 82,9 mg/g de EAA, conforme pode ser
observado na figura 8.
51
FIGURA 8. Capacidade antioxidante total de polissacarídeos sulfatados extraídos da alga marinha marrom D.justii. Os resultados são expressos como equivalentes de ácido ascórbico. Cada valor é a média ± DP de três determinações:
a, b, c Letras diferentes indicam uma diferença significativa
(p <0,05) entre os polissacáridos sulfatados.
3.2.2 PODER REDUTOR
O teste de poder redutor é expresso como atividade redutora equivalente,
calculado a partir da razão da atividade redutora encontrada para os compostos e
aquela encontrada para o ácido ascórbico na concentração de 0,2 mg/mL. Os
valores obtidos com DJ-0.3v e DJ-0.4v foram maiores do que aqueles obtidos com
as frações DJ-0.5v e DJ-1.2v. Outro fato a ser comentado é que as frações DJ-0.3v
e DJ-0.4v exibiram um efeito dose dependente, porém ao se comparar a atividade
de DJ-0.3v com a da fração DJ-0.4v, se observa que DJ-0.3v possui uma potencia
menor como agente redutor, este fato foi observado em todas as concentrações
avaliadas, ficando bem evidente na maior concentração avaliada (1.0 mg/mL), pois
nesta concentração DJ-0.4v apresentou o dobro do poder redutor verificado com
DJ-0.3v (Figura 9).
52
Figura 9. Poder redutor dos polissacarídeos sulfatados de D. justii. Os dados estão expressos como médias ± desvio padrão. A redução de potência está expressa como percentagem da atividade mostrada por 0,2 mg / mL de ácido ascórbico.
a, b, c, d, letras diferentes indicam uma
diferença significativa entre as concentrações de polissacarídeos sulfatados de frações das algas (p <0,05).
1,2,3,4 números diferentes indicam diferença significativa (p <0,05) entre a mesma concentração
de diferentes polissacarídeos sulfatados.
3.2.3 SEQUESTRO DOS RADICAIS HIDROXILA E SUPEROXIDO
No teste de sequestro de radicais hidroxila, todas as frações obtidas da alga
marrom D. justii não apresentaram atividade detectável. Com relação ao sequestro
do ion superoxico, apenas a fração DJ-F0.4v apresentou atividade sequestradora
de íon superoxido (27,4 a 29.4% para 0,25 mg/ml e 0,5 mg/mL respectivamente),
conforme pode ser observado na tabela 5.
53
Tabela 5: Sequestro de radicais superóxido e hidroxila pelas frações polissacarídicas. Valores expressos como a média ± desvio padrão (n=3). a,b,c,d,e Letras indicam diferença significativa (p<0,05) entre as concentrações do mesmo extrato/padrão.
Frações Concentração (mg/mL)
Sequestro do radical hidroxila (%)
Sequestro do radical superóxido (%)
DJ-0.3v 0,05 0,0 0,0
0,1 0,0 0,0
0,25 0,0 0,0
0,5 0,0 0,0
DJ-0.4v 0,05 0,0 0,0
0,1 0,0 0,0
0,25 0,0 29,4 ± 3,2a
0,5 0,0 27,6 ± 4,3a
DJ-0.5v 0,05 0,0 0,0
0,1 0,0 0,0
0,25 0,0 0,0
0,5 0,0 0,0
DJ-1.2v 0,05 0,0 0,00
0,1 0,0 0,00
0,25 0,0 0,00
0,5 0,0 0,00
Ácido Gálico
0,05 24,6 ± 1,7 a 57,73 ± 0,59a
0,1 38,9 ± 3,0b 66,34± 1,83b
0,25 74,1 ± 2,4c 78,50 ± 0,06c
0,5 81,2 ± 1,7d 86,35 ± 2,06d
3.2.4 QUELAÇÃO FÉRRICA
As frações polissacarídicas foram avaliadas quanto à capacidade de quelar
íons ferro (tabela 6). Observa-se que neste ensaio apenas as frações DJ-0.3v e DJ-
0.4v mostraram-se capazes de quelar ferro significativamente, entretanto esta
atividade foi apenas moderada chegando a 23,7% e 27,6 % respectivamente. Em
contrapartida, as frações DJ-0.5v r DJ-1.2v não apresentaram atividade de quelação
férrica.
54
Tabela 6: Atividade de Quelação Férrica. Valores expressos como a média ± desvio padrão (n=3). a,b Letras indicam diferença significativa (p<0,05) entre as concentrações do mesmo extrato/padrão.
Frações Concentração (mg/mL)
Quelação Férrica (%)
DJ-0.3V
0,1 0,0
0,5 0,0
1,0 17,0±2,2a
2,0 23,7±1,8b
DJ-0.4v
0,1 0,5 1,0 2,0
0,00 0,00
19,9 ± 3,4a
27,6 ± 1,1b
DJ-0.5v
0,1 0,5 1,0 2,0
0,00 0,00 0,00 0,00
DJ-1.2v
0,1 0,5 1,0 2,0
0,00 0,00 0,00 0,00
EDTA
0,1 0,5 1,0 2,0
19,7 ± 0,5 55,7 ± 0,3 87,6 ± 0,3 96,8 ± 0,7
3.2.5 QUELAÇÃO DE COBRE
O efeito quelante, sobre íons de cobre exibido por diferentes concentrações
das frações obtidas de D. justii está exposto na figura 10. Observa-se, com base nos
55
dados apresentados que todos os polissacarídeos tiveram atividade quelante de
cobre e em todos os casos o efeito foi dose dependente. Vale salientar, que mais
uma vez as frações DJ-0.3v e DJ-0.4v foram mais potentes do que DJ-0.5v e DJ-
1.2v. Porém, desta vez DJ-0.3v foi mais potente que DJ-0.4v, pois chegou ao platô
de sua atividade numa concentração menor que DJ-0.4v.
Figura 10. Atividadade quelante de Cobre dos polissacarídeos sulfatados da alga marrom D. justii. Os valores representam a média ± desvio padrão de três determinações:
a, b, c, d, e diferentes
letras indicam uma diferença significativa (p <0,05) entre cada uma das concentrações do mesmo polissacarídeo sulfatado.
1,2,3 números diferentes indicam diferença significativa (p <0,05) entre a
mesma concentração de diferentes polissacarídeos sulfatados.
3.3 Ensaio de Inibição da cristalização de sais de oxalato de cálcio in vitro
A partir de uma mistura de sais que simula a urina supersaturada, verificou-se o
efeito inibitório dos polissacarídeos sulfatos antioxidantes de D. justii na cristalização
de oxalato de cálcio (CaOx), com base nos cálculos de regressão linear, conforme
descrito em métodos.
Na figura 11 é possível observar que a fração DJ-0.3v não foi capaz de inibir a
nucleação. A DJ-1.2v teve baixa atividade, com apenas 12,4% de inibição. Os
melhores resultados foram aqueles observados para os polissacarídeos DJ-0.5v e
DJ-0.4v, cuja capacidade de nucleação foi de 73,33% e 84,07% respectivamente,
efeito semelhante ao observado com o citrato de sódio (1 mM). Com relação à
agregação dos cristais, os valores de inibição da agregação encontrados na
presença dos polissacarídeos variou entre 86 a 80%. Apenas os valores obtidos com
DJ-0.4v foram estatisticamente diferentes dos demais polissacarídeos (86%), sendo
56
ainda maior que o citrato de sódio, cuja capacidade de inibição da agregação foi de
84%.
Figura 11. Atividade inibitória dos polissacarídeos sulfatados da alga marrom D. justii sobre a cristalização de sais de oxalato de cálcio. a, b, c, d, x,y Letras diferentes indicam diferença significativa (p <0,05) entre 0,25 mM de citrato de sódio e de polissacarídeos diferentes.
3.4 Efeito dos polissacarídeos sulfatados sobre a Morfologia dos Cristais
Na figura 12A pode-se observar os cristais formados nas condições controle.
Nessas condições são formados os três tipos de cristais de CaOx como indicado na
legenda da figura 12. A observação das lâminas de microscopia em dez campos
diferentes mostraram que 68.5% são do tipo COM, 13.2% do tipo COD e 18.3% são
do tipo COT.
Os cristais formados na presença do citrato de sódio e dos polissacarídeos
são menores (figura 12) do que aqueles encontrados no controle. Em concordância
com o que foi observado no ensaio de agregação, já que todas as amostras
inibiram a agregação de forma significativamente semelhante exceto a fração DJ-
0,5v, a qual foi significativamente maior.
Na figura 12B, observam-se os cristais formados na presença de citrato de
sódio. Foi detectado apenas cristais tipo COM nos dez campos observados, além
57
disso, esses cristais assumem um formato com arestas mais arredondadas do que
os COM observados no controle. Na presença de DJ-0.3v e DJ-0.4v os cristais
encontrados nos 10 campos observados também foram do tipo COM, mas são
ainda menores (figura 12G) e assumem uma forma ainda mais arredondada do que
aqueles observados na presença do citrato (figura 12C e 12D). Notou-se que os
cristais na presença do polissacarídeo DJ-1.2v assumiram duas formas bem
diferentes, uma mais arredondada e menor do tipo COM e outra maior que é do tipo
COD. Além disso, observa-se que 82.6% dos cristais formados na presença DJ-1.2v
são do tipo COM e 17.4% são do tipo COD nos 10 campos observados. Já na
presença do polissacarídeo DJ-0.5v, 87.5% dos cristais encontrados são do tipo
COD e 12.5% são do tipo COM. Vale salientar, que na presença destas duas
frações a geometria dos cristais tipo COD não está bem desenvolvida.
Por fim, também pode ser observado na figura 12 que os cristais na presença
dos todos os polissacarídeos ficam menores, o que já era esperado, pois os
polissacarídeos inibem sua agregação.
58
Figura 12. Cristais observados sob microscópio invertido (60 ×), formado na solução
metastável de CaOx na ausência (A) e na presença de (B) de citrato trissódico (1 mM) (C) DJ-
0.3V (0,1 mg / ml). (D) DJ-0.4V (0,1 mg / mL) (E) DJ-0.5v (0,1 mg / mL) (F) DJ-1.2v (0,1 mg / mL).
indica a forma COM; indica a forma COD e indica a forma COT; (G)
Tamanho médio dos cristais formados. a, b, c,
Letras Diferentes indicam Diferença significativa (p <0,05)
Entre o Controle, o Citrato de Sódio 0,1 uM e os Diferentes polissacarídeos.
3.5 Determinação do potencial Zeta (ζ)
O potencial zeta das amostras foi determinado no intuito de verificar as
59
alterações referentes à carga relacionada a possível mudança na estrutura dos
cristais. Os resultados estão expostos na Tabela 4. Nessa tabela também se
encontra ζ dos cristais formados a partir de soluções em condições semelhantes
aos ensaios de inibição de cristais de oxalato de cálcio. O valor médio do ζ dos
cristais de CaOx sem tratamento foi +8.39 ± 1.79 mV. Este caráter positivo da
superfície do cristal pode ser correlacionado com a presença principalmente dos
íons de Ca2+ presentes na estrutura do cristal.
Todos os polissacarídeos sulfatados diminuíram o potencial zeta dos cristais
de CaOX. Na presença de DJ-0.5v o ζ foi +4,98 ± 1.01 mV, este polissacarídeo foi o
que menos diminuiu o ζ dos cristais. Os polissacarídeos sulfatados DJ-0.3v e DJ-
1.2v diminuíram o valor do ζ dos cristais de maneira semelhante 4,5 ± 1,77 e 4.19 ±
0.9 mV respectivamente. A fucana DJ-0.4v foi o polissacarídeo sulfatado que mais
diminuiu o ζ dos cristais de CaOX, no caso foi determinado um valor de 2.0 ± 0.45
mV.
Tabela 7. Características dos potenciais Zeta de cristais com tratamento de polissacarídeos sulfatados de algas marrons D. justii à temperatura de 25 ° C. a, b, c, d Letras diferentes indicam diferença significativa (p <0,05) de Potencial Zeta entre CaOx e CaOx tratado com cada fração.
Amostras Zeta Potencial (mV)
CaOx + 8.39 ± 1.79a
CaOx + Citrato de Sódio + 3.10 ± 1.11b
CaOx + DJ-0.3v + 4.5 ± 1.77c
CaOx+ DJ-0.4v + 2.00 ± 0.45d
CaOx + DJ-0.5v + 4.98 ± 1.01c
CaOx + DJ-1.2v + 4.19 ± 0.9e
60
4 DISCUSSÃO
O ambiente marinho oferece incontáveis fontes de compostos que possuem
benefícios para saúde humana como, ácidos graxos, minerais, vitaminas e peptídeos
bioativos (NGO, 2012). Dentre os organismos marinhos, as algas despertam um
interesse especial por ser uma boa fonte de diversos componentes com potencial
biotecnológico (KIM, WIJESEKARA 2010). Quando se pensa em atividades como a
indústria de alimentos, cosméticos e de medicamentos, um dos compostos algais
que se destacam são os polissacarídeos sulfatados (REN, 1997).
O grupo em que se insere esta dissertação há mais de uma década vem
extraindo, purificando e caracterizando estruturalmente polissacarídeos sulfatados
de algas marinhas (ROCHA et al., 2001; ROCHA et al., 2005; BARROSO et al.,
2008; ALMEIDA-LIMA et al., 2010, CAMARA et al., 2011; COSTA et al., 2012).
Embora muitos trabalhos de prospecção em busca de polissacarídeos bioativos já
foram realizados (COSTA et al 2010), muitas algas ainda não tiveram seus
polissacarídeos sulfatados avaliados em diversos aspectos.
A escolha pela extração de polissacarídeos sulfatados da alga D. justii se deu
pela sua inedicidade, como também por ser uma alga de fácil obtenção e que ainda
não possui valor comercial.
Nesse contexto, para se verificar a presença de polissacarídeos sulfatados na
Dictyopteris justii, essa alga passou por um tratamento inicial como descrito em
materiais e métodos, e, após a proteólise, obteve-se extratos ricos em
polissacarídeos que foram submetidos à precipitação com o acréscimo de vários
volumes de acetona. Este passo não só teve o objetivo de separar diferentes
polissacarídeos, mas permitiu também a separação dos polissacarídeos sulfatados de
contaminantes como: proteínas e ácidos nucléicos (DIETRICH, 1995). Desse modo,
obteve-se quatro frações que foram denominadas de DJ-0.3v, DJ-0.4v, DJ-0.5v e
DJ-1.2v.
Com relação à caracterização química das frações polissacarídicas (Tabela
3), foi observado um alto teor de açúcares totais em todas as frações. As frações DJ-
0.5v, DJ-0.3v, e DJ-0.4v apresentaram valores correspondentes a 75,8%, 67,5%,
59,6% respectivamente. A fração com a maior taxa percentual foi a DJ-1.2v,
correspondente a 80,4% de açúcares. Estes valores podem ser considerados altos
se comparados com os valores obtidos com frações de algas como Spatoglossum
61
schröederi (ROCHA et al. 2005a) e Canistrocarpus cervicornis (CAMARA et al.,
2011) que não foram superiores a 50 % e mostra que o teor de açúcar varia de
acordo com a espécie de alga estudada.
Já o teor de sulfato das frações apresentou uma variação de 3,9% a 7,5%,
sendo o maior valor percentual, o da fração DJ-0.4v. Quando se compara os valores
de teor de sulfato verificados em frações polissacarídicas da D. justii com aqueles
descritos para frações de outra alga, desse mesmo gênero, encontrada no litoral do
Rio Grande do Norte, Dictyopteris delicatula, percebe-se que os valores descritos
nesse trabalho são mais baixos, pois essa alga apresentou teores que variam de 14
a 19% (MAGALHÃES et al. 2011). Com isso, pode-se inferir que a quantidade de
sulfato e teor de açúcares totais das algas pode variar independente das
características do mesmo gênero.
A contaminação protéica foi baixa nas frações DJ-0,3v, DJ-0,4v, DJ-0,5v e
não detectada para DJ-1,2v (Tabela 3). Tal resultado pode ser considerado baixo se
comparado com outros autores como Hussein et al. (1980) que encontraram em
fucanas de Padina pavonia um elevado teor de proteínas (67%). Já Dietrich et al.
(1995) obtiveram para Padina gymnospora valores compreendidos entre 1,6 - 7,5%.
Mas recentemente, Silva et al.., 2005, utilizando a mesma metodologia de extração
usada neste trabalho, obtiveram frações com níveis de contaminação variando entre
0,6 e 5,8% (SILVA et al., 2005). Esses dados indicam que o uso de proteases como
passo inicial durante o processo de extração dos polissacarídeos é essencial para a
obtenção de baixos níveis de contaminantes protéicos.
Quanto à composição monossacarídica mostrada também na tabela 3, é
possível observar que os polissacarídeos sulfatados das frações obtidas da D. justii
são polímeros heterogêneos. A partir dos dados, pode-se concluir que a glucose e a
fucose são os monossacarídeos presentes em todas as frações, mas a quantidade
desses açúcares é diferente em cada polímero, deixando claro que, os valores
percentuais destes açúcares podem variar de acordo com o polissacarídeo extraído.
Além disso, pode-se verificar claramente que a alga D. justii sintetiza populações de
polissacarídeos sulfatados diferentes.
Assim, pode-se inferir então que a alga D. justii sintetiza duas fucanas,
encontradas em DJ-0,3v e DJ-0,4v, que, pela presença de fucose e sulfato, podem
ser denominadas de fucanas heterogêneas ou heterofucanas. Surpreendentemente,
observou-se a presença de altas concentrações de glucose além de sulfato, nas
62
frações DJ-0.5v DJ-1.2v, o que indica a presença de glucanas sulfatadas. Glucose
não é muito comum na composição de heterofucanas, mas já foi detectada fazendo
parte da constituição de fucanas de algumas algas como D. Cervicornis (CAMARA,
2011). Padina pavonia, Sargassum stenophyllum, Chorda filum (MORYA et al,
2012). Contudo, não foram encontrados artigos que mostrem algas marrons
sintetizando glucanas sulfatadas, portanto, este é o primeiro relato da presença
destes polissacarídeos em algas marrons.
Com relação aos resultados obtidos pela microscopia de infravermelho (tabela
4) foi possível obter algumas características estruturais das frações DJ-0,3v e DJ-
0,4v, DJ-0,5v e DJ-1.2.
Os resultados mostram que todas as frações possuem polissacarídeos
ligados a sulfato em sua composição. Foi observado também diferenças sutis em
relação a posição do sulfato nessas frações, uma vez que os sinais observados em
torno de 813 indicam a presença de sulfato predominante na posição 6 dos resíduos
de açucares das fucanas das frações DJ-0.3v e DJ-0.4 (COSTA et al 2012) e os
sinais em torno de 889 indicam a presença de sulfato na posição 6 de resíduos de
glicose na configuração β (WANG et al 2005).
Levando em consideração a caracterização química das frações, as quais
comprovaram a existência de polissacarídeos sulfatados, avaliou-se então suas
atividades antioxidantes.
O processo de formação de espécies reativas ocorre através de uma reação em
cadeia envolvendo três fases (iniciação, propagação e terminação), em que os
antioxidantes atuam através de vários mecanismos que bloqueia uma ou mais
destas etapas. Assim, utilizou-se métodos diferentes para avaliar o efeito dos
polissacarídeos sulfatados de D. justii nos diferentes estágios de iniciação
(capacidade antioxidante total e poder redutor), de propagação (quelação de cobre e
de ferro) e de terminação (sequestro do radical superóxido e de hidroxila), contudo,
não houve correlação entre eles.
Assim, a primeira atividade antioxidante realizada foi o teste de capacidade
antioxidante total (CAT), cuja finalidade é avaliar a habilidade de uma amostra de
doar elétrons, neutralizando, dessa forma, os radicais livres.
Todas as amostras apresentaram atividade neste teste, como demonstrado
na figura 8. Além disso, vale salientar que todas elas apresentaram resultados
melhores do que aqueles encontrados para polissacarídeos sulfatados de outras
63
algas marrons. Como os da alga C. cervicornis (CAMARA et al 2012). As fucanas de
C. cervicornis apresentaram valores de CAT que variaram entre 20,9 e 39,4 mg/g de
EAA.
Outro ensaio realizado foi a atividade de poder redutor, que também avalia a
capacidade de uma amostra de doar elétrons, porém por mecanismos diferentes do
ensaio de capacidade antioxidante total (LUE, et al., 2010). O resultado desse
ensaio é expresso em atividade redutora equivalente ao ácido ascórbico na
concentração de 0,2 mg/mL. Os dados obtidos com o teste do poder redutor
apresentam um perfil semelhante ao perfil daqueles que foram observados no teste
do TAC, ou seja, DJ-0.3v e DJ-0.4v foram mais potentes do que DJ-0.5v e DJ-1.2v.
Os valores obtidos com DJ-0.4v são próximos daqueles obtidos com uma fucana
extraída de outra alga do gênero Dictyopteris, no caso a D. delicatula, essa fucana,
denominada de F1.3v, apresentou uma atividade de 53,2% de atividade da vitamina
C (MAGALHAES, et al, 2011).
O efeito redutor dos compostos, inclusive polissacarídeos sulfatados, parece
funcionar como inibidor de reações em cadeia de radicais livres através da doação
de elétrons, uma vez que a esta atividade é mediada por reações redox (KAEFFER,
1999). Zhang e colaboradores (2010) relatam que a densidade de cargas negativa
em uma fucana é importante para que ele seja um bom doador de elétrons e, por
conseguinte apresente um bom poder redutor. Isto também é valido para glucanas,
como mostrou Telles e colaboradores (2011). Esses autores promoveram a
sulfatação de uma glucana e verificaram que esta a inserção dos grupos sulfato
aumentou a poder redutor da glucana. Contudo, os dados da literatura levam a
observação de que só a densidade de cargas negativas não é suficiente para
justificar um maior poder redutor de um polissacarídeo, o padrão de distribuição
dessas cargas na molécula aparece também como um fator importante para que
polissacarídeo apresente poder redutor. O que justificaria o fato de DJ-0.4v
apresentar poder redutor semelhante ao da fucana F1.3v da alga D. delicatula
(MAGALHAES et al., 2011), apesar de DJ-0.4v ser menos sulfatada que a fucana
F1.3v. Espera-se que com a purificação dos polissacarídeos sulfatados encontrados
nas frações obtidas de D. justii relações entre estrutura e atividade dessas moléculas
possam ser realizadas e que se possa assim predizer as melhores condições
estruturais de polissacarídeos sulfatados para que eles sejam bons doadores de
elétrons.
64
Outros testes antioxidantes avaliados foram sequestro dos radicais hidroxilas
e ânios superóxidos. Nenhuma fração da alga D. justii apresentou atividade
sequestradora de hidroxila e apenas DJ-F0.4v (0.5 mg/mL) apresentou atividade
sequestradora de íon superoxido (29.4%). A ausência ou a presença de baixa
atividade no ensaio de eliminação de radicais hidroxila e superóxido é comum em
polissacarídeos sulfatados extraídos de algas marrons (COSTA, et al 2010). Isto
mostra que a eliminação de radicais hidroxila provavelmente não é o principal
mecanismo antioxidante desses polissacarídeos.
Foram avaliadas ainda a habilidade das frações em quelar ferro e cobre. O
efeito quelante é muito importante, uma vez que ele inibe a interação entre os metais
e os lipídeos através da formação de complexos metálicos insolúveis com íons
ferrosos. Além disso, é uma maneira eficaz de eliminar a geração de radicais
hidroxila, uma vez que impede o ferro de interagir com H2O2, impedindo então a
decomposição de H2O2, e formação de um radical livre mais danoso (VALCO et al
2006). Das frações ricas em polissacarídeos sulfatados extraídas da D. justii, apenas
DJ-0.3v e DJ-0.4v mostraram-se capazes de quelar ferro, entretanto esta atividade
foi apenas moderada chegando a 23,7% e 27,6 % respectivamente (tabela 6). Em
contrapartida, as frações DJ-0.5v e DJ-1.2v não apresentaram atividade de quelação
férrica, mesmo tendo sulfato em sua composição. Alguns autores correlacionam a
capacidade de quelação férrica do polissacarídeo à presença de sulfato nos
polímeros. De fato, há exemplos de polissacarídeos sem atividade quelante de ferro
que, quando sulfatados artificialmente, passam a apresentar essa atividade (YANG
et al 2005, WANG, et al 2010). No entanto, estudos realizados por Telles e
colaboradores (2011) mostraram que a sulfatação das glucanas melhorou a
atividade antioxidante em diversos ensaios, todavia, a glucana sulfatada não teve
atividade quelante de ferro significativamente diferente da glucana não-sulfatada,
corroborando, dessa forma com a hipótese aqui apresentada, de que não é só a
presença de sulfato que fornece a atividade quelante, e também antioxidante, a um
polissacarídeo, mas a forma como estes grupos sulfatos estão distribuídos na
molécula.
Já a capacidade quelante de cobre foi bastante significativa para todas as
frações em diferentes concentrações (figura 10). A quelação de íons Cu2+ pode ser
crucial para a prevenção da produção de espécies reativas que danificam as
biomoléculas-alvo, uma vez que quando ocorre um desequilíbrio metálico provocado
65
pelo o aumento da concentração de cobre tem-se um aumento na produção de
espécies reativas do oxigênio devido em grande parte a reações de Fenton
(MCCORD, 1985) e de Haber-Weiss (SVINGEN, 1979).
Ao se observar os dados da figura 10, pode-se inferir que mais uma vez DJ-
0.3v E DJ-0.4v foram mais potentes do que as frações ricas em glicose DJ-0.5v e
DJ-1.2v. Estudos com fucanas da alga Undaria pinnatifida (MAK et al., 2013)
mostraram que elas também tinham capacidade de quelar cobre e aquelas com
maior teor de sulfato apresentavam maior atividade, assim como as fucanas de D.
justii. No entanto, não foi possível identificar outros trabalhos que avaliaram o efeito
de outras espécies como quelantes de cobre. Portanto, não há ainda dados
suficientes para se fazer maiores observações desses polissacarídeos para essa
atividade.
As atividades antioxidantes aqui apresentadas pelos polissacarídeos
sulfatados da alga Dictyopteris justii foram bastante significativas, uma vez que
auxilia no tratamento/prevenção de diversas doenças sendo uma delas a urolitíase.
Além disso, alguns trabalhos tem demonstrado que além da capacidade
antioxidante, os polissacarídeos sulfatados poderiam proteger o tecido renal da
agressão provocada pelo oxalato de cálcio, inibindo diretamente a formação de
cristais de oxalato (OUYANG, 2010).
Com base nisso, procurou-se também verificar se as frações ricas em
polissacarídeos sulfatados da D. justii eram capazes de inibir a formação de cristais
de oxalato de cálcio. Desse modo, a partir de uma mistura de sais que simula a urina
supersaturada, foi verificado o efeito inibitório dos polissacarídeos sulfatos
antioxidantes de D. justii na cristalização de oxalato de cálcio (CaOx), com base nos
cálculos de regressão linear, conforme descrito em métodos. Vale salientar, que esta
técnica não é capaz de avaliar o processo de nucleação e crescimento
separadamente. Porém, ela é amplamente utilizada pelos artigos encontrados sobre
este tema (OUYANG, 2010, ZHANG et al 2012).
DJ-0.3v não inibiu a nucleação dos cristais e DJ-1.2v teve baixa atividade
inibitória. Os melhores resultados foram aqueles observados com os polissacarídeos
DJ-0.5v e DJ-0.4v. Com relação a agregação, todas as frações apresentaram
valores de inibição comparáveis ao controle positivo.
Já foi demonstrado que a nucleação/crescimento e agregação dos cristais de
oxalato pode ser inibida pela presença de poliânions como proteínas e carboidratos
66
devido primariamente a presença das cargas negativas nessas moléculas, já que
essas moléculas interagem com cálcio e diminuem a supersaturação do sistema
(HES, 1995), o que justifica os dados encontrados com DJ-0.5v e DJ-0.4v. Contudo,
DJ-0.3v não afetou a nucleação e DJ-1.2v teve um efeito muito reduzido, apesar de
serem poliânions. Um estudo com diferentes glicosaminoglicanos (polissacarídeos
sulfatados de animais) mostrou que cada um deles inibe a nucleação por um
mecanismo diferente daquele utilizada pelo outro glicosaminoglicano e foi proposto
que a inibição da nucleação por polissacarídeos sulfatados não é unicamente um
efeito de cargas, mas também de como estas cargas estão distribuídas na molécula
(ESCOBAR et al., 2007). Isto explicaria o efeito de DJ-0.3v e DJ-1.2v.
Outros fatores que também podem afetar a nucleação/crescimento são a
topologia do cristal e a interação entre o poliânion e as faces do cristal. Os cristais
apresentam faces diferentes, uma rica em Ca2+ e outra rica em oxalato e o
polissacarídeo para ser um bom inibidor de nucleação/crescimento deve ser capaz
de interagir com a face rica em Ca2+, e para tal a conformação que o polissacarídeo
assume é um fator importante (GROHE, 2011). Por isso, sugere-se que DJ-1.2v
assume uma conformação que não permite uma boa interação dele com a face Ca2+
dos cristais nascentes, deixando-o pouco efetivo como inibidor da nucleação.
Os resultados encontrados com os polissacarídeos sulfatados de D. justii
levaram a observação de que alguns polissacarídeos desta alga possuem uma
capacidade semelhante a do citrato de sódio em inibir fortemente a formação de
cristais de oxalato. Além disso, os valores aqui obtidos são melhores do que os
descritos para os polissacarídeos sulfatados da alga marrom Sargassum
graminifolium (ZHANG et al, 2012), neste caso, os valores de inibição de nucleação
e agregação obtidos com os polissacarídeos de S. graminifolium não foram
superiores a 70% e 77%, respectivamente. Mediante esses dados, buscou-se então,
verificar se existem possíveis alterações na morfologia dos cristais formados após
tratamento com as frações ricas em polissacarídeos sulfatados.
Ao se observar a figura 12, é possível perceber claramente uma modificação
na estrutura dos cristais de CaOx tratados com as frações da alga D. justii. Estes
cristais ficaram menores, o que era esperado, já que os polissacarídeos inibem o
crescimento. Além disso, a mudança na morfologia dos cristais em decorrência dos
polissacarídeos é bastante visível. A geometria mais arredondada dos cristais COM
indica que eles estão mais amorfos, o que é provocado pela ruptura da rede
67
cristalina devido à presença dos polissacarídeos que se associaram ao cristal. Tal
geometria tem menor área de superfície, quando comparado com os cristais COM
com arestas e pontas (grupo controle), o que facilita a eliminação desses cristais
para fora do corpo na urina (ESCOBAR, et al 2007).
Escobar e colaboradores (2010) trabalhando com polímero carregado
negativamente [poly(ethyleneglycol)-block-poly(methacrylic acid) copolymer],
também conhecido como PEG-b-PMAA, mostraram que ele induz a formação de
cristais COD em detrimento dos cristais COM. Os autores sugerem que PEG-b-
PMAA por ser hidrofílico estabiliza os cristais COD, impedindo que eles se
transformem em COM. As duas frações ricas em glucose DJ-1.2v e principalmente
de DJ-0.5v são mais facilmente solúveis em água (dado não mostrado) do que DJ-
0.3v e DJ-0,4v. Estes dados nós levam a propor que essas frações, assim como
PEG-bPMAA, estabilizam os cristais COD e impedem que ele se transforme em
COM.
A forma COD, apesar de ser instável, é muito comum na urina de pacientes
saudáveis, o que indica que a urina naturalmente possui moléculas que estabilizam
a forma COD, impedindo sua transformação na forma geométrica COM (YAO, et al
2012). Esse caráter também foi observado nas frações ricas em glucose,
especialmente na DJ-0.5v. Tal estabilização tem um eficaz efeito protetor contra
urolitíase já que os cristais COM tem uma maior capacidade de ligação às células do
túbulo renal.
A fim de verificar as alterações referentes a carga relacionada a possível
mudança na estrutura dos cristais após o tratamento com os polissacarídeos
sulfatados, foi realizado, então, o potencial zeta das amostras.
O potencial zeta (ζ) é uma medida da carga total da superfície de partículas
(inclusive moléculas) em relação as cargas da suspensão líquida na qual ele se
encontra. No caso de moléculas, como polissacarídeos, o ζ reflete também o quanto
a conformação que a molécula assume pode “expor” ou “esconder” as cargas da
molécula. Assim, moléculas que apresentam cargas diferentes, podem apresentar
um ζ semelhante em uma solução e diferente em outro tipo de solução.
Na Tabela 6 também se encontra ζ dos cristais formados a partir de soluções
em condições semelhantes aos ensaios de inibição de cristais de oxalato de cálcio.
O valor médio do ζ dos cristais de CaOx sem tratamento foi +8.39 ± 1.79 mV. Este
caráter positivo da superfície do cristal pode ser correlacionado com a presença
68
principalmente dos íons de Ca2+ presentes na estrutura do cristal. Todos os
polissacarídeos sulfatados diminuíram o potencial zeta dos cristais de CaOx. Na
presença das frações ricas em glucose DJ-0.5v o ζ foi +4,98 ± 1.01 mV, este
polissacarídeo foi o que menos diminuiu o ζ dos cristais. Este fato ocorreu devido ao
DJ-0.5v ser, dentre os quatro polissacarídeos estudados, o menos carregado
negativamente (Tabela 3). Os polissacarídeos sulfatados DJ-0.3v e DJ-1.2v
diminuíram o valor do ζ dos cristais de maneira semelhante 4,5 ± 1,77 e 4.19 ± 0.9
mV respectivamente. Isso pode está relacionado ao fato de que a carga líquida
dessas frações serem semelhantes (Tabela 3), assim como o potencial zeta dessas
frações. A fucana DJ-0.4v foi o polissacarídeo sulfatado que mais diminuiu o ζ dos
cristais de CaOx, no caso foi determinado um valor de 2.0 ± 0.45 mV. Este efeito
provavelmente se deu devido ao maior valor da carga líquida negativa de DJ-0.4v
em comparação com os outros açucares.
Os resultados obtidos com esse trabalho demonstram que as frações ricas em
polissacarídeos sulfatados da alga marrom D. justii, tem uma alta capacidade de
diminuir a cristalização do oxalato de cálcio, como também atuam como
antioxidantes em diferentes ensaios in vitro. Embora os métodos antioxidantes
avaliados não tenham obtido correlação com os ensaios de inibição de cristalização
do CaOx, essas duas atividades atuando em conjunto apontam para uma
promissora frente de tratamento da urolitíase, uma vez que, já foi descrito que as
espécies reativas são capazes de causar injúrias renais, provocadas principalmente
por peroxidação lipídica.
69
5 CONCLUSÕES
A alga marrom Dictyopteris justii sintetiza quatro frações ricas em
polissacarídeos sulfatados DJ-0.3v, DJ-0.4v, DJ-0.5v e DJ1.2v.
A análise da composição monossacarídica dessa alga indicou que essa alga
sintetiza um complexo sistema de polissacarídeos sulfatados. Na fração DJ-
0.3v, glucofucoxyloglucuronana; na fração DJ-0.4v, uma hetrofucana; e nas
frações DJ-0.5v e DJ-1.2v uma glucana sulfatada.
Todas as frações apresentaram atividade antioxidante, com destaque para a
fração DJ-0.4v, que foi a mais potente em todos os ensaios, principalmente
em CAT, poder redutor e Quelação de Cobre; Como também foi a que teve
melhor capacidade de inibir a cristalização de oxalato de cálcio.
Destaca-se também a fração DJ-0.5v, que além de inibir também foi capaz de
estabilizar os cristais COD, impedindo-os de se transformarem em cristais
COM. Estes polissacarídeos são, portanto, agentes promissores para a
possível utilização para tratamento da urolitíase.
70
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