UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE …...De igual modo, agradeço aos professores Drs....
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
JOÃO RICARDO FREIRE DE MELO
INOVAÇÃO EDUCACIONAL ABERTA DE BASE TECNOLÓGICA: A
PRÁTICA DOCENTE APOIADA EM TECNOLOGIAS EMERGENTES
Natal/RN
2017
JOÃO RICARDO FREIRE DE MELO
INOVAÇÃO EDUCACIONAL ABERTA DE BASE TECNOLÓGICA: A
PRÁTICA DOCENTE APOIADA EM TECNOLOGIAS EMERGENTES
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação -
PPGEd da Universidade Federal do Rio Grande do Norte -
UFRN como requisito parcial para obtenção do Título de Doutor
em Educação.
Linha de Pesquisa: Formação e Profissionalização Docente
Orientadora: Profa. Dra. Betania Leite Ramalho
Natal/RN
2017
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Sistema de Bibliotecas – SISBI
Catalogação da Publicação na Fonte - Biblioteca Central Zila Mamede
Melo, João Ricardo Freire de.
Inovação educacional aberta de base tecnológica: a prática docente apoiada em tecnologias
emergentes / João Ricardo Freire de Melo. - 2017.
216 f. : il.
Tese (doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Educação, Programa de
Pós-Graduação em Educação. Natal, RN, 2018.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Betania Leite Ramalho.
1. Formação de professores - Tese. 2. Inovação pedagógica - Tese. 3. Tecnologias emergentes - Tese.
4. TTATI - Tese. I. Ramalho, Betania Leite
. II. Título.
RN/UF/BCZM CDU 37
JOÃO RICARDO FREIRE DE MELO
INOVAÇÃO EDUCACIONAL ABERTA DE BASE TECNOLÓGICA: A
PRÁTICA DOCENTE APOIADA EM TECNOLOGIAS EMERGENTES
Tese julgada e aprovada para obtenção do grau de Doutorado
em Educação no Programa de Pós-Graduação em Educação -
PPGEd da Universidade Federal do Rio Grande do Norte -
UFRN.
Aprovada em 30 de outubro de 2017.
BANCA EXAMINADORA:
________________________________________________________
Profa. Dra. Betania Leite Ramalho
Orientadora
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
________________________________________________________
Prof. Dr. Joabson Nogueira de Carvalho
Membro Titular Externo
Instituto Federal da Paraíba
________________________________________________________
Prof. Dra. Adriana Valéria Santos Diniz
Membro Titular Externo
Universidade Federal da Paraíba
________________________________________________________
Prof. Dr. Adir Luiz Ferreira
Membro Titular Interno
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
________________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Affonso Henderson Guedes de Oliveira
Membro Titular Interno
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
________________________________________________________
Prof. Dr. Cassiano Zeferino de Carvalho Neto
Membro Suplente Externo
Instituto Tecnológico de Aeronáutica
________________________________________________________
Prof. Dr. Isauro Beltrán Nuñez
Membro Suplente Interno
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
DEDICATÓRIA
Para todos aqueles que entendem a tecnologia educacional como um bem social. Para
aqueles que entendem que, se usada de forma aberta e colaborativa, tende a equalizar
nosso sistema educacional e contrapor as deformações desse atual sistema
discriminatório e excludente de ensino.
AGRADECIMENTOS
A gratidão é uma virtude! E como tal, precisa ser desenvolvida continuamente. No fim
dessa trilha acadêmica, tornar a lembrança àqueles que foram e são importantes para o
nosso desenvolvimento não só acadêmico, mas humano, é condição sine qua non para
nosso próprio crescimento. A todos vocês, meu sincero agradecimento.
A Deus.
Que anseie pelos teus tabernáculos, que encontre os teus altares. O grande Eu Sou (Ex.
3), meu sol e meu escudo (Sl. 84), autor e consumador da minha fé (Hb. 12), meu
libertador, meu lugar de refúgio (Sl. 18), àquele que é poderoso para fazer infinitamente
mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos (Ef. 3). Porque dEle, e por meio dEle, e
para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente (Rm 11).
Ao meu lar.
A minha esposa, Elda Melo, companheira. Meu candeeiro, minha luz. Sem você, não
chegaria aqui; não teria e nem seria o que sou. Minha coorientadora informal. Obrigado
por tudo e, em especial, pelos nossos bens intangíveis, nosso patrimônio de amor.
Aos meus pais, Antônio César e Maria Freire, pelo amor e carinho sempre
demonstrados, pelos ideais de corretude e humildade que são. A minha sogra, Jardelina
Nascimento, pela preocupação e carinho que tem comigo.
As minhas queridas irmãs Maria Cecília e Emmanuela Luana, mesmo por vezes
distantes, sei que torcem por mim.
Ao PPGEd/UFRN(a).
A Profa. Betania Leite Ramalho, pela competência, disposição, engajamento com meu
objeto de estudo e profícuas discursões teórico/metodológicas. Os avanços dessa tese
são, em grande medida, frutos do seu olhar e de sua vivência. Pontuo sua coragem e
ânimo de orientar pessoas com formações tão diferentes e fazê-las convergir para a
formação docente.
Aos professores Drs. António Manuel Rochette Cordeiro, Joaquim Luís Medeiros
Alcoforado (Universidade de Coimbra), Luiz Affonso Henderson Guedes de Oliveira e
Dennys Leite Maia (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) pelos apontamentos
e questionamentos sobre este trabalho.
Aos amigos da linha de pesquisa Educação, Representações e Formação Docente do
PPGEd: Alaine Sinara, Ana Paula, Antônio Carlos, Benedito Silvano, Clevia Suyene,
Isabella Reis, Jailma Carvalho, João Batista, Karine Symonir, Rejane Barros e
Yraguacy Souza.
A CAPES(b) e a UNIVERSITAT DE VALÈNCIA(c) por possibilitarem o meu
Doutorado Sanduiche no Exterior (PDSE).
Ao Prof. Dr. José Beltrán Llavador (Universitat de València) pelo acompanhamento no
período de doutorado sanduiche. Seu apoio, presteza e seu olhar foram primordiais na
confecção desta tese.
De igual modo, agradeço aos professores Drs. Francesc Jesús Hernàndez i Dobon,
David Mascarell, José Díaz Barahona, Paula Jardón Gire (Universitat de València) e
Rubén Tortosa (Universitat Politècnica de València) pelos diálogos e novos olhares
sobre meu objeto de pesquisa.
Ao IFPB CAMPUS PICUÍ(d). Além do meu trabalho, minha casa no seridó paraibano.
Pelos amigos docentes, técnicos administrativos e funcionários terceirizados que
construí nessa casa. São laços de amizade e companheirismo que ficarão sempre.
Aos meus queridos alunos, de tantas instituições de ensino pelas quais passei, que foram
minhas maiores fontes de busca por melhorar enquanto professor.
Aos grandes amigos que construí nesse período. E em especial, a Márcio de Souza
Costa, um grande amigo que nosso Senhor o quis perto dEle.
E, por último, mas não menos importante, à Igreja Batista Zona Sul – Natal/RN(e).
Minha casa de adoração.
(a) http://www.ppged.ufrn.br/
(b) http://www.capes.gov.br/
(c) http://www.uv.es/
(d) http://www.ifpb.edu.br/picui
(e) http://ibzonasul.org.br/
Outro desafio é o de reduzir a inovação à novidade no campo
educacional. Este talvez seja um dos modos mais eficazes de
distrair a atenção e evitar que as verdadeiras inovações que
supõem reformulações básicas no processo educacional se
realizem. A novidade é frequentemente periférica, afeta o
<<suporte>>, como, por exemplo, a introdução de um
equipamento ou de uma técnica como a formulação operacional
de objetivos. Se não for acompanhada de algo mais básico e
fundamental não provoca uma autêntica mudança. O novo pode
ser irrelevante e não levar a nenhuma transformação qualitativa.
A busca acrítica do novo em educação vai frequentemente
acompanhada do tecnicismo, da supervalorização dos métodos e
técnicas que é uma outra forma de transformação dos meios em
fins. (CANDAU, 1979, p. 65)
RESUMO
As tecnologias digitais da informação e comunicação – TDICs vêm ocupando cada vez
mais espaço nas relações humanas. Esse fato tem retroalimentado a produção nessa área
fazendo com que surjam novas tecnologias e formas de agregá-las à vida cotidiana das
pessoas. O campo educacional, historicamente, vem incorporando essas mudanças
tecnológicas de forma gradualmente mais lenta. Esta tese buscou compreender como as
TDICs têm se inserido no contexto escolar, notadamente, na prática pedagógica dos
professores. Estabelecemos como parâmetro as tecnologias emergentes, para perceber
qual o grau de distanciamento/aproximação entre o acesso a essas tecnologias e a
prática dos docentes. Elegemos como objetivo dessa tese, verificar em que medida os
professores utilizam as tecnologias emergentes e, a partir desse diagnóstico, elaboramos
um modelo de plataforma que propicie formação permanente e colaborativa que, no
formato de rede social, possa auxiliar os professores a intercambiar informações acerca
dos conhecimentos produzidos em sua prática. Utilizamos como referentes teórico-
metodológicos a pesquisa quali-quanti, a qual possibilitou a análise de dados
estatísticos, assim como a leitura qualitativa do contexto da pesquisa. Do ponto de vista
teórico, utilizamos a revisão bibliográfica. Para discutir a formação docente, lançamos
mão dos estudos, fundamentalmente, de Ramalho, Núñez e Gauthier (2003), Perrenoud
(2000) e Marcelo Garcia (2001); os escritos de Pedró (2010) para pensarmos o conceito
de inovação e, sobre as tecnologias nos apoiamos em Pretto (2011), Moran et al (2012)
e Buzato (2010). Realizamos uma revisão documental, tendo por lastro, o marco legal,
especialmente, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394/1996,
os Parâmetros Curriculares Nacionais, as Diretrizes Curriculares Nacionais e o atual
Plano Nacional de Educação, além da legislação específica voltada para as TDICs, que
fundamentam as políticas públicas na área. Ainda utilizamos como técnica de pesquisa,
o estado da arte, cujo levantamento pautou-se na compilação das principais pesquisas
empíricas realizadas com professores brasileiros acerca da utilização das TDICs em sua
prática pedagógica. Sobre as tecnologias emergentes, consultamos as principais
publicações internacionais, com vistas a compor um quadro atualizado. Como resultado,
foi possível verificar que os professores não utilizam de forma satisfatória as
tecnologias digitais na sua prática, mas estão constantemente conectados; são motivados
pelos pares, alunos, documentos oficiais e pela coordenação pedagógica; há políticas de
fomento à inserção das TDICs em sala de aula e que a literatura científica sobre
tecnologias emergentes na educação ainda é muito recente, sem especificações das
tecnologias, suas aplicações educacionais e critérios objetivos de avaliação. Ademais, os
principais fatores que obstaculizam sua utilização gravitam em torno da falta de
condições infraestruturais para utilizar as tecnologias na sala de aula; dificuldade de
acesso a uma diversidade maior de recursos tecnológicos, com infraestrutura adequada e
competência para realizar essa mediação didática e, matrizes curriculares dos cursos de
formação inicial e continuada que privilegiem outras competências em detrimento do
ensino com tecnologias digitais. Para dirimir algumas dessas dificuldades explicitamos
a Abordagem Tecnológica Tridimensional para Inovação no Ensino – TTATI, modelo
de formação permanente, aberto e colaborativo que busca melhorar o acesso e utilização
das TDICs, em especial as tecnologias emergentes, na prática docente e, em última
instância, a melhoria da qualidade da educação.
Palavras-chave: Formação de Professores, Inovação Pedagógica, Tecnologias
Emergentes, TTATI
ABSTRACT
Digital information and communication technologies - TDICs have been taking up more
and more space in human relations. This fact has fed the production in this area causing
new technologies to emerge and new ways of adding them to the daily life of people.
The educational field, historically, has been incorporating social changes in a more
gradual way. This work sought to understand how the TDICs have been inserted in the
school context, especially in the pedagogical practice of teachers. We established as a
parameter the emerging technologies, in order to understand the degree of distance /
approximation between access to these technologies and the practice of teachers. We
chose the objective of this work, to verify the extent to which teachers use the emerging
technologies and, from this diagnosis, we elaborate a platform model that provides
permanent and collaborative training that, in the social network format, can help
teachers to exchange information about knowledge produced in their practice. We used
as qualitative-methodological references the quali-quanti research, which enabled the
analysis of statistical data, as well as the qualitative reading of the context of the
research. From the theoretical point of view, we used the bibliographic review. In order
to discuss teacher education, we have used the studies, mainly by Ramalho, Núñez and
Gauthier (2003), Perrenoud (2000) and Marcelo Garcia (2001); (Morro et al., 2012) and
Buzato (2010). In this paper, we present a case study of the concept of innovation. We
carried out a documentary review, taking into account the legal framework, especially,
based on the Law of Guidelines and Bases of National Education n. 9394/1996, the
National Curricular Parameters, the National Curricular Guidelines and the current
National Education Plan, in addition to the specific legislation focused on the TDICs,
which underpin public policies in the area. We still use the state of the art as a research
technique, whose survey was based on the compilation of the main empirical research
carried out with Brazilian teachers about the use of TDICs in their pedagogical practice.
On emerging technologies, we consult the main international publications, with a view
to compiling an updated table. As a result it was possible to verify that teachers do not
use digital technologies in their practice satisfactorily, but are constantly connected; are
motivated by peers, pupils, official documents and pedagogical coordination; there are
policies to promote the insertion of TDICs in the classroom and that the scientific
literature on emerging technologies in education is still very recent, with no
specifications of the technologies, their educational applications and objective
evaluation criteria. In addition, the main factors that hamper its use gravitate around the
lack of infrastructural conditions to use the technologies in the classroom; difficulty in
accessing a greater diversity of technological resources, with adequate infrastructure
and competence to carry out this didactic mediation, and curricular matrices of initial
and continuing training courses that privilege other skills to the detriment of teaching
with digital technologies. In order to solve some of these difficulties, we explain the
Three - Dimensional Technological Approach to Innovation in Teaching - TTATI, a
model of permanent, open and collaborative training that seeks to improve the access
and use of TDICs, especially emerging technologies, teaching practice and, ultimately,
improving the quality of education.
Keywords: Teacher Training, Pedagogical Innovation, Emerging Technologies,
TTATI
RESUMEN
Las tecnologías digitales de la información y la comunicación - TDIC vienen ocupando
cada vez más espacio en las relaciones humanas. Este hecho ha retroalimentado la
producción en esa área haciendo que surjan nuevas tecnologías y formas de agregarlas a la
vida cotidiana de las personas. El campo educativo, históricamente, viene incorporando
estos cambios tecnológicos de forma gradualmente más lenta. Esta tesis buscó
comprender cómo las TDIC se han insertado en el contexto escolar, especialmente en la
práctica pedagógica de los profesores. Establecemos como parámetro las tecnologías
emergentes, para percibir cuál es el grado de distanciamiento / aproximación entre el
acceso a esas tecnologías y la práctica de los docentes. En el caso de los profesores
utilizan las tecnologías emergentes, a partir de ese diagnóstico, elaboramos un modelo de
plataforma que propicie formación permanente y colaborativa que, en el formato de red
social, pueda auxiliar a los profesores a intercambiar informaciones acerca de los
conocimientos producidos en su práctica. Utilizamos como referentes teórico-
metodológicos la investigación cuali-quanti, la cual posibilitó el análisis de datos
estadísticos, así como la lectura cualitativa del contexto de la investigación. Desde el
punto de vista teórico, utilizamos la revisión bibliográfica. Para discutir la formación
docente, utilizamos de los estudios, fundamentalmente, de Ramalho, Núñez y Gauthier
(2003), Perrenoud (2000) y Marcelo García (2001); los escritos de Pedró (2010) para
pensar el concepto de innovación y, sobre las tecnologías nos apoyamos en Pretto (2011),
Moran et al (2012) y Buzato (2010). Realizamos una revisión documental, teniendo por
base, el marco legal, especialmente, a partir de la Ley de Directrices y Bases de la
Educación Nacional y el actual Plan Nacional de Educación, además de la legislación
específica orientada a las TDIC, que fundamentan las políticas públicas en el área. Aún
utilizamos como técnica de investigación, el estado del arte, cuyo levantamiento se basó
en la compilación de las principales investigaciones empíricas realizadas con profesores
brasileños acerca de la utilización de las TDICs en su práctica pedagógica. Sobre las
tecnologías emergentes, consultamos las principales publicaciones internacionales, con
miras a componer un cuadro actualizado. Como resultado, fue posible comprobar que los
profesores no utilizan satisfactoriamente las tecnologías digitales en su práctica, pero
están constantemente conectados; son motivados por los pares, alumnos, documentos
oficiales y por la coordinación pedagógica; hay políticas de fomento a la inserción de las
TDIC en el aula y que la literatura científica sobre tecnologías emergentes en la educación
sigue siendo muy reciente, sin especificaciones de las tecnologías, sus aplicaciones
educativas y criterios objetivos de evaluación. Además, los principales factores que
obstaculizan su utilización gravitan en torno a la falta de condiciones infraestructurales
para utilizar las tecnologías en el aula; la dificultad de acceso a una diversidad mayor de
recursos tecnológicos, con infraestructura adecuada y competencia para realizar esa
mediación didáctica y, matrices curriculares de los cursos de formación inicial y
continuada que privilegien otras competencias en detrimento de la enseñanza con
tecnologías digitales. Para abordar algunas de esas dificultades, explicitamos el Enfoque
Tecnológico Tridimensional para la Innovación en la Enseñanza - TTATI, modelo de
formación permanente, abierto y colaborativo que busca mejorar el acceso y utilización de
las TDIC, en especial las tecnologías emergentes, en la práctica docente y, en última
instancia, la mejora de la calidad de la educación.
Palabras Clave: Formación de Profesores, Innovación pedagógica, Tecnologías
emergentes, TTATI
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Número de usuários da Internet no Brasil. 100
Gráfico 2 – Percentual de penetração da Internet no Brasil. 101
Gráfico 3 – Professores, por tipo de computador existente no domicílio. 103
Gráfico 4 – Professores, por principal local de acesso à Internet. 105
Gráfico 5 – Professores, por deslocamento do computador à escola. 107
Gráfico 6 – Professores, por forma de aquisição do computador existente
no domicílio
108
Gráfico 7 – Professores, por modo de acesso ao curso de capacitação 109
Gráfico 8 – Professores que fizeram curso de formação continuada sobre o
uso de computador e Internet em atividades de ensino
109
Gráfico 9 – Professores que cursaram disciplina específica sobre como usar
o computador e Internet em atividades com alunos de
graduação
110
Gráfico 10 – Professores, por forma de aprendizado e atualização no uso do
computador e da Internet
112
Gráfico 11 – Professores, por atividades realizadas na Internet – parte 01 113
Gráfico 12 – Professores, por atividades realizadas na Internet – parte 02 113
Gráfico 13 – Professores, por atividades realizadas na Internet – parte 03 114
Gráfico 14 – Professores, por percepção sobre possíveis impactos das TIC
em práticas pedagógicas – parte 01
119
Gráfico 15 – Professores, por percepção sobre possíveis impactos das TIC
em práticas pedagógicas – parte 02
120
Gráfico 16 – Professores, por percepção sobre barreiras para o uso de TIC
na escola – parte 01
122
Gráfico 17 – Professores, por percepção sobre barreiras para o uso de TIC
na escola – parte 02
123
Gráfico 18 – Professores, por percepção sobre barreiras para o uso de TIC
na escola – parte 03
123
Gráfico 19 – Professores, por tipo de motivação para o uso de recursos
obtidos na Internet – parte 01
124
Gráfico 20 – Professores, por tipo de motivação para o uso de recursos
obtidos na Internet – parte 02
125
Gráfico 21 – Professores, por tipo de motivação para o uso de recursos
obtidos na Internet – parte 03
126
Gráfico 22 – Professores, por uso de recursos obtidos na Internet para a
preparação de aulas ou atividades com os alunos
127
Gráfico 23 – Professores, por frequência de acesso a recursos da Internet
para a preparação de aulas
128
Gráfico 24 – Professores, por tipos de recursos obtidos na Internet para a
preparação de aulas ou atividades com alunos – parte 01
129
Gráfico 25 – Professores, por tipos de recursos obtidos na Internet para a
preparação de aulas ou atividades com alunos – parte 02
129
Gráfico 26 – Professores, por plataformas acessadas para a preparação de
aulas – parte 01
131
Gráfico 27 – Professores, por plataformas acessadas para a preparação de
aulas – parte 02
131
Gráfico 28 – Professores, por plataformas acessadas para a preparação de
aulas – parte 03
132
Gráfico 29 – Professores, por forma de utilização de recursos obtidos na
Internet
133
Gráfico 30 – Professores, por percepção sobre barreiras para a publicação de
recursos na Internet – parte 01
134
Gráfico 31 – Professores, por percepção sobre barreiras para a publicação de
recursos na Internet – parte 02
135
Gráfico 32 – Professores, por percepção sobre barreiras para a publicação de
recursos na Internet – parte 03
136
Gráfico 33 – Professores, por percepção sobre barreiras para a publicação de
recursos na Internet – parte 04
137
Gráfico 34 – Professores, por percepção sobre a verificação das permissões
de uso de recursos obtidos na Internet
138
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Sistemas de tempo compartilhado e com processamento
descentralizado
78
Figura 2 – Representação do Continuum Reality-Virtuality 95
Figura 3 – Professores que já acessaram a Internet, por último acesso, há
menos de três meses
102
Figura 4 – Professores com acesso à Internet em seu domicílio 106
Figura 5 – Professores que usaram a Internet por meio do telefone celular
nos últimos três meses (sim)
116
Figura 6 – Análise de Similaridade do corpus da pesquisa 143
Figura 7 – Análise de Similaridade do corpus da pesquisa (parte referente
a technology)
144
Figura 8 – Análise de Similaridade do corpus da pesquisa (parte referente
a learn)
145
Figura 9 – Análise de Similaridade do corpus da pesquisa (parte referente
a education)
145
Figura 10 – Análise de Similaridade do corpus da pesquisa (parte referente
a research)
146
Figura 11 – Análise de Similaridade do corpus da pesquisa (parte referente
a survey)
146
Figura 12 – Análise de Similaridade do corpus da pesquisa (parte referente
a uptake)
147
Figura 13 – Análise de Similaridade do corpus da pesquisa (parte referente
a virtual)
147
Figura 14 – Análise de Similaridade do corpus da pesquisa (parte referente
a reality augment)
148
Figura 15 – Nuvem de Palavras do corpus da pesquisa 149
Figura 16 – Tipo de classificação dos sistemas colaborativos 157
Figura 17 – Three-dimensional Technological Approach to Teaching
Innovation enquanto um sistema colaborativo
165
Figura 18 – Compartilhamento de práticas pedagógicas em TTATI 166
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Evolução e empresas das tecnologias de informação e comunicação 73
Quadro 2 – Escala de integração dos circuitos integrados 77
Quadro 3 – Comparação dos “12 Tópicos Finais” a partir dos três projetos de
pesquisa NMC Horizon 82
Quadro 4 – Principais tendências e desafios significativos frente as tecnologias
emergentes 83
Quadro 5 – Análise de similaridade (formação de grupos e seus termos) 144
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Percentual de pessoas que utilizaram a Internet, nos últimos três
meses, na população de 10 anos ou mais de idade 67
Tabela 2 – Série histórica de proporção de domicílios com acesso a
Internet
80
Tabela 3 – Série histórica de tipos de computador presente no domicílio 80
Tabela 4 – Jogos desenvolvidos e empresas por categoria de jogos 92
Tabela 5 – Percentual de pessoas que possuíam telefone móvel, na
população de 10 anos ou mais de idade
118
Tabela 6 – Análise lexicográfica – frequência de vocábulos 142
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
2G Segunda Geração
3D Tridimensional
3G Terceira Geração
4G Quarta Geração
ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações
ARPA Advanced Research Projects Agency
ASCII American Standard Code for Information Interchange
AT&T American Telephone and Telegraph Company
BNCC Base Nacional Comum Curricular
BNDS Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CAPRE Comissão Coordenadora das Atividades de Processamento
Eletrônico
CAIE Comitês de Assessoramento de Informática na Educação
CAI Computer Assisted Instruction
CE/IE Comissão Especial de Informática da Educação
CGI.br Comitê Gestor da Internet no Brasil
CGPID Comitê Gestor do Programa de Inclusão Digital
CIEd Centros de Informática na Educação
CNE Conselho Nacional de Educação
CSN Conselho de Segurança Nacional
DCN Diretrizes Curriculares Nacionais
DEC Digital Equipment Corporation
FUST Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações
GPL General Public License
HP Hewlett-Packard
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBJD Indústria Brasileira de Jogos Digitais
IBM International Business Machines
IEBT Inovação Educacional de Base Tecnológica
IoT Internet of Things
IRAMUTEQ Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes
et de Questionnaires
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
LGT Lei Geral das Telecomunicações
MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
MEC Ministério da Educação e Cultura
MIT Instituto de Tecnologia de Massachusetts
NBIC Nanotechnology, Biotechnology, Information Technology, and
Cognitive Science
NIC.br Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR
NMC New Media Consortium
OLCOS Open e-Learning Content Services Observatory
OSS Open Source Software
PBLE Programa Banda Larga nas Escolas
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNBL Programa Nacional de Banda Larga
PNE Plano Nacional de Educação
PPP Projeto Político Pedagógico
PROINFO Programa Nacional de Tecnologia Educacional
REA Recursos Educacionais Abertos
RFID Radio-Frequency IDentification
RA Realidade Aumentada
RM Realidade Híbrida
RV Realidade Virtual
SEI Secretaria Especial de Informática
SI Scale Integration
SSI (Small Scale Integration)
MSI (Medium Scale Integration)
LSI (Large Scale Integration)
VLSI (Very Large Scale Integration)
ULSI (Ultra Large Scale Integration)
SLSI (Super Large Scale Integration)
TTATI Three-dimensional Technological Approach to Teaching
Innovation
TCP/IP Transmission Control Protocol/Internet Protocol
TDIC Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação
TGD Transtornos Globais do Desenvolvimento
UCA Um Computador por Aluno
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura
URL Uniform Resource Locator
VoIP Voice over Internet Protocol
VRML Virtual Reality Modeling Language
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 21
2 FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS
NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR
29
2.1 Formação de professores, o uso das tecnologias no ensino e tendências
pedagógicas vigentes
30
2.2 Bases legais que pautam a utilização das tecnologias no processo de ensino e
aprendizagem
40
2.3 Políticas de fomento ao uso das tecnologias na educação 47
2.3.1 EDUCOM 49
2.3.2 Lei Geral das Telecomunicações – LGT 51
2.3.3 Programa Nacional de Informática na Educação – PROINFO 52
2.3.4 PROINFO Integrado 53
2.3.5 Projeto Cidades Digitais 53
2.3.6 Programa Nacional de Banda Larga – PNBL 54
2.3.7 Programa Banda Larga nas Escolas – PBLE 55
3 INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 61
3.1 Inovação Educacional: polissemia, possibilidades e desafios 62
3.2 Tecnologia Educacional: da concepção à aplicação 68
3.2.1 Evolução dos computadores: o surgimento da sociedade da informação 72
3.3 Tecnologias Emergentes: entre a novidade e a obsolescência 81
3.3.1 Internet das Coisas: a conectividade da tecnologia 84
3.3.2 Gamificação: a parte lúdica da tecnologia 87
3.3.3 Realidade Aumentada: a parte virtual da tecnologia 92
4 VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR
DAS TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA
96
4.1 Quem são os professores e o que falam sobre tecnologias para o ensino 100
4.2 O que falam as pesquisas sobre tecnologias emergentes 139
5 TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À
INOVAÇÃO NO ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO
PERMANENTE
150
5.1 Formação Permanente: um Modelo Inovador, Colaborativo e Aberto 151
5.1.1 Modelo Colaborativo: intercambiando conhecimentos 153
5.1.2 Modelo Aberto: acessibilidade e interatividade na docência 158
5.2 TTATI - Um modelo para além do repositório 161
5.2.1 Dimensão da Infraestrutura 167
5.2.2 Dimensão das Tecnologias Emergentes 169
5.2.3 Dimensão Didático-Pedagógica 170
CONSIDERAÇÕES FINAIS 177
REFERÊNCIAS 185
APÊNDICES 196
APENDICE A – GLOSSÁRIO DE TECNOLOGIAS EMERGENTES 197
APENDICE B – FORMULÁRIO DE TTATI 201
ANEXOS 203
ANEXO A – RESUMOS 204
1
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO 22
A humanidade, ao longo dos séculos, vem evoluindo na aquisição de novos
conhecimentos. Essa evolução tem como mola propulsora a curiosidade e,
consequentemente, a descoberta. Os achados têm impulsionado o desenvolvimento
humano nas diversas dimensões de sua existência. Desse modo, é patente o fascínio que
o ser humano possui pelo novo. Entretanto, para além do desvelamento do novo é
preciso ressignificar aquilo que já existe, buscando inovar, agregar e articular novos
elementos em consonância com a evolução das relações societárias e suas demandas.
O termo inovacao refere-se à introdução de novidade ou aperfeiçoamento no
ambiente produtivo e social que “resulte em novos produtos, serviços ou processos ou
que compreenda a agregação de novas funcionalidades ou características a produto,
serviço ou processo já existente que possa resultar em melhorias e em efetivo ganho de
qualidade ou desempenho” (BRASIL, 2004, p. 1). Nessa direção, a inovação constitui-
se em um elemento fundante para a evolução do conhecimento, seja este visando à
resolução de problemas simples do cotidiano, seja para compreensão macrocósmica da
existência humana e suas relações com o meio ambiente e com seus grupos sociais.
Sistematicamente as inovações foram impulsionando os mais diversos avanços e
alcançando patamares cada vez mais ousados. O conceito de inovação foi sendo
incorporado ao cotidiano das pessoas e intensificando-se à medida que as sociedades
evoluíam. Nas últimas décadas, inovar tornou-se sinônimo de adotar novos meios,
instrumentos, técnicas e estratégias para otimizar os processos e produtos gerados para
e, pelas pessoas. Especialmente, no que tange aos meios, as tecnologias assumiram um
lugar importante nesse processo.
Nas últimas décadas, o mote vigente consubstanciou-se na utilização das
Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC e, posteriormente, na adoção de
Novas Tecnologias da Informação e Comunicação – NTIC. No contexto brasileiro, o
consumo das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação – TDIC1 vem
atingindo patamares vertiginosos, e, portanto, ocupando os mais diversos espaços e
lugares.
1 Nesta tese, adotaremos a nomenclatura Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação – TDIC ao
que a literatura acadêmica tem denominado TIC, uma vez que, nesta pesquisa, o foco são tecnologias
emergentes e que estas são tecnologias digitais. Embora entendamos que o termo tecnologia, por
concepções reducionistas que o mesmo vem sofrendo, confundindo-o com o puramente instrumental,
constitui-se em um conceito que carrega frequentes equívocos ao ser utilizado. De qualquer forma,
mantêm-se as siglas TIC e NTIC nos casos de citações diretas e indiretas, ou quando as couber.
INTRODUÇÃO 23
O ambiente educacional não é exceção. As instituições de ensino têm buscado
agregar aos processos educacionais diferentes tecnologias, com vistas a consolidar uma
prática pedagógica em consonância com as demandas atuais. Entretanto, esse processo
tem sido lento e gradual, considerando que o Brasil é um país de proporções
continentais e que a adoção das TDIC exige uma gama de competências, notadamente,
dos docentes para utilizá-las como ferramentas potencializadoras do processo de ensino
e aprendizagem.
Partindo da observação do atual desenvolvimento científico, verifica-se que as
tecnologias sofrem rápida transformação e abrangem grandes áreas do conhecimento
que inclui a microeletrônica, o software, as interfaces gráficas, a inteligência artificial,
as comunicações, a Internet e, mais recentemente, a nanotecnologia. Esse vasto campo
de oportunidades tecnológicas vem permitindo sucessivas mudanças de paradigma com
impactos radicais sobre as formas de produzir e usar a tecnologia.
A Internet, por exemplo, vem se tornando ao longo das últimas décadas a
principal plataforma de comunicação, entretenimento, negócios, relacionamento,
aprendizagens, além de se consolidar como infraestrutura básica de uma humanidade
globalizada. A discussão sobre o uso e impactos dessa tecnologia na educação escolar,
propriamente dita, vem sendo bastante veiculada por meios de sites, aplicativos, games,
entre outros meios e, há consenso em relação à suas possibilidades de atratividade, uso
mais efetivo e racional podendo estar mais aliada ao universo curricular. Ela é essencial
para que possamos acompanhar as necessidades educacionais emergentes de forma a
evoluir para um modelo de educação afinado ao mundo digital. O acesso às redes de
computadores possibilita que a aprendizagem ocorra frequentemente no espaço virtual,
estando disponível a tempo completo e não apenas no reduzido espaço-tempo de uma
determinada disciplina. Essa condição tão flexível fará, certamente, grande diferença no
contexto em que se insiram projetos formativos escolarizados, como são os da educação
básica obrigatória.
Para as inovações são exigidas mudanças na maneira de se estruturar o processo
de ensino e aprendizagem na organização escolar e pedagógica. Nessa perspectiva, o
protagonismo do professor ganha forte destaque. A escola é um espaço privilegiado de
interação social, mas esta deve interligar-se e integrar-se aos demais espaços de
conhecimento hoje disponíveis e incorporar os recursos tecnológicos e a comunicação
via redes, permitindo fazer as pontes entre conhecimentos, tornando-se um novo
elemento de aprendizagens, formação e transformação. Pesquisas como as de Garcia
INTRODUÇÃO 24
(2001) já apontam para o fato de que a escola deve ser um espaço de inovação (com
tecnologia) para assim procurar renovar o seu compromisso com uma aprendizagem de
qualidade.
Nesta conjectura, o professor exerce um papel essencial nesse novo mundo
digital, não mais como um “provedor de conteúdo”, mas como um catalisador de
reflexões e conexões para os seus alunos nesse ambiente complexo (GABRIEL, 2013).
Todavia, o que se observa é que esses docentes são formados em rígidos paradigmas
educacionais que privilegiam um modelo de formação baseado na racionalidade técnica
na qual, inevitavelmente, se dá a separação pessoal e institucional entre a investigação e
a prática, tendo dificuldades de se adaptarem aos novos desafios do mundo do trabalho,
provocados pela evolução dos meios tecnológicos e das exigências do novo processo
produtivo (CASTRO, 2005). Essas dificuldades, por vezes, consubstanciam-se na
exclusão tecnológica. Nesse viés, o professor apresenta uma deficiência na sua
formação, que deve ser corrigida com uma formação que o habilite a utilizar a
tecnologia na sua prática pedagógica de forma adequada ao ensino (MANZINI, 2012).
Essa exclusão gera um fator complicador uma vez que impossibilita ao docente um
preparo adequado dos seus alunos frente aos desafios e mudanças que a sociedade vem
passando nos últimos anos.
No contexto de uma sociedade do conhecimento, a educação exige uma
abordagem diferenciada em que o componente tecnológico não pode ser ignorado.
Consideramos a incorporação das tecnológicas digitais como recursos didáticos e
pedagógicos básicos com elevado potencial para reestruturar a relação entre o ensino e a
aprendizagem dos conteúdos curriculares e disciplinares básicos.
Perrenoud (2000) situa bem essa questão ao afirmar que não se pode pensar hoje
uma pedagogia e uma didática do texto sem estar consciente das transformações a que a
informática submete às práticas de leitura e de escrita. Do mesmo modo, não se deveria
pensar numa pedagogia e numa didática da pesquisa documental sem avaliar a evolução
dos recursos e dos modos de acesso. Então, torna-se pertinente questionarmos: como
superar esse divórcio que na atualidade observamos entre as tecnologias e as práticas de
ensino? Como integrar as tecnologias ao currículo? Que vias de acesso e vínculos
institucionais a escola e seu coletivo precisam estabelecer para viabilizar essa
integração?
As pesquisas sobre as mídias na educação têm avançado. No entanto, está sendo
difícil a articulação entre as atividades realizadas pelo professor em sala de aula, o
INTRODUÇÃO 25
amplo potencial das TDIC, as concepções teóricas e metodológicas que permeiam o
modelo didático em vigor com os campos das disciplinas curriculares em geral. Um
desafio é estabelecer meios para que essa articulação possa ajudar o professor a assumir,
com autonomia, as atividades do seu métier numa perspectiva inovadora.
A temática tem nos inquietado e na condição de professor da rede federal de
ensino, o interesse em aprofundar essa temática, ganha maior importância. Uma vez que
os Institutos Federais têm uma missão histórica de ofertar a educação profissional,
tecnológica e humanística em todos os seus níveis e modalidades por meio do ensino, da
pesquisa e da extensão, na perspectiva de contribuir na formação de cidadãos para
atuarem no mundo do trabalho e na construção de uma sociedade inclusiva, justa,
sustentável e democrática. Rede de ensino que atua a mais de um século na formação
profissional, os institutos federais vêm incorporando a tecnologia como aliada natural
no seu campo de inserção.
Buscando compreender essa rede complexa subjacente à prática docente,
elegemos como questões do estudo as seguintes indagações. Que revelam saber os
professores sobre tecnologias emergentes? Sentem-se motivados e reconhecem sua
importância para alcançar os objetivos do ensino? Que demandas formativas apresentam
nessa área? Quais alternativas formativas possibilitariam adquirir as competências
necessárias para utilizar pedagogicamente as TDIC, de forma qualificada?
Com o intuito de elucidar essas questões definimos como objetivo geral desta
tese: analisar em que medida professores da educação básica interagem e fazem uso das
tecnologias emergentes e, a partir desse diagnóstico, sugerir um modelo teórico
conceitual de plataforma de aprendizagens, no formato de uma rede social voltada para
potencializar a mediação entre as necessidades formativas em TDIC dos docentes e o
uso de recursos didático-pedagógicos de base tecnológicas. A partir do objetivo geral
delimitamos o estudo a partir dos seguintes objetivos específicos: (a) identificar se os
professores fazem uso pedagógico das TDIC; (b) verificar a existência de políticas de
fomento para o uso das tecnologias da comunicação e informação na educação; (c)
identificar as necessidades formativas para trabalhar com as novas tecnologias; (d)
identificar as tendências e os desafios na utilização dessas tecnologias e (e) propor um
ambiente de construção e difusão do conhecimento técnico e pedagógico de forma
aberta e colaborativa.
Do ponto de vista teórico, por meio de exaustiva revisão bibliográfica, elegemos
autores de expressão, para discutir a formação docente: Garcia (2001); Perrenoud
INTRODUÇÃO 26
(1993); Ramalho, Núñez e Gauthier (2003); entre outros. Os escritos de Pedró (2010),
Correia (1989), Salerno e Kubota (2008) e Santos (2013) foram basilares para
pensarmos o conceito de inovação. E sobre as tecnologias voltadas ao ensino, nos
apoiamos em Pretto (2002, 2010), Moran (2000), Castell (1999), Lombardero (2015) e
Buzato (2010).
Também realizamos uma revisão documental, tendo por lastro o marco legal,
especialmente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394/1996, Os
Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), as Diretrizes Curriculares Nacionais (2013) e
o atual Plano Nacional de Educação (2014) além da legislação específica voltada para
as TDIC no país e no exterior (UNESCO, 2008) (BRASIL, 2016).
Fizemos uso de bases abertas de dados disponibilizadas pelo Centro Regional de
Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação. Esses dados são
resultados de pesquisa realizada junto a alunos, professores do ensino fundamental e
médio, coordenadores pedagógicos e diretores. Tem abrangência nacional e considera as
escolas públicas (municipais e estaduais) e privadas (a partir de 2011) das áreas urbanas
do Brasil. Para tanto, são selecionadas escolas com turmas regulares do Ensino
Fundamental e do Ensino Médio cadastradas no Censo Escolar conduzido pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
O levantamento das informações sobre a relação dos professores com a TDIC,
nos moldes do estado da arte, nos ajudou a identificar um conjunto de informações que
representam, em escala elevada, informações significativas sobre o objeto tese em
estudo: (a) condições atuais dos professores sobre o acesso à Internet e as tecnologias
disponibilizadas; (b) quantidade deles que são usuários da Internet; (c) participação em
cursos de formação continuada para uso de computador e Internet nas atividades de
ensino; (d) tipos de recursos obtidos na Internet para a preparação de aulas ou atividades
com alunos; (e) percepção dos professores frente à utilização das TDIC, entre outras. O
estudo ainda procurou conhecer o que falam as pesquisas acadêmicas sobre tecnologias
emergentes. Para tanto, utilizamos como fonte de informação, as publicações
disponibilizadas no portal de periódicos da Capes.
Esse conjunto de informações nos aproximou de uma realidade até então pouco
valorizada quando se trata de conhecer e se obter inferências sobre a interação de
expressivo número de professores em face de necessidades formativas de natureza
tecnológicas. Ao sairmos na defesa da inovação educacional aberta de base
tecnológica, situando nesse contexto a prática docente apoiada em tecnologias
INTRODUÇÃO 27
emergentes, temos constatado que as questões explicitadas apontam para um panorama
complexo por estar inserido num contexto social, econômico, político e cultural em que
se evidencia uma tríade que obstaculiza as práticas pedagógicas alinhadas ao uso das
TDIC: (a) as condições objetivas de infraestrutura, (b) o acesso às tecnologias
emergentes e, (c) a competência didático-pedagógica dos professores. Essa trilogia
revela a necessária convergência das condições para se obter uma prática pedagógica
inovadora.
A partir dessas informações elaboramos a proposta, de natureza conceitual, nos
moldes de uma ferramenta formativa que possa propiciar aos professores a tomada de
decisões didático-pedagógicas mediadas por tecnologias emergentes. Abordagem
Tecnológica Tridimensional para Inovação no Ensino (Three-
Dimensional Technological Approach to Teaching Innovation – TTATI), modelo de
formação permanente, aberto e colaborativo proposto, é uma possibilidade a ser
viabilizada para potencializar o acesso e a utilização das TDIC às tecnologias
emergentes, à prática docente e, em última instância, à melhoria da qualidade da
educação. Essa argumentação explicita a tese do presente estudo.
No Capítulo denominado FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS
TECNOLOGIAS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR, apresentamos um
breve histórico da adoção das tecnologias segundo tendências e correntes pedagógicas,
explicitando ainda politicas públicas, programas e projetos voltados para a utilização
das TDIC no contexto educacional.
O Capítulo denominado INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS
EMERGENTES trata dos principais conceitos de inovação educacional, relata o avanço
nas tecnologias da informação e comunicação, além de analisar as tecnologias
emergentes atuais.
O Capitulo denominado PERCURSO METODOLÓGICO apresenta uma análise
quali-quanti dos dados coletados. Como já registramos, optamos por fontes de dados
abertos como o portal de dados estatísticos do STATISTA, a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios do IBGE, dados do Centro Regional de Estudos para o
Desenvolvimento da Sociedade da Informação, além de análise de artigos científicos
disponibilizados pelo Portal de Periódicos da Capes.
No Capítulo denomindo TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA
TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO ENSINO: PERSPECTIVAS PARA
FORMAÇÃO PERMANENTE, apresentamos como proposta, um modelo/plataforma
INTRODUÇÃO 28
teórico colaborativo no formato de rede social, destinado a auxiliar os professores a
intercambiar informações acerca dos conhecimentos produzidos em sua prática
pedagógica.
Por fim, tecemos considerações em que asseveramos que a inovação educacional
aberta de base tecnológica é, antes de tudo, elemento de inclusão social e de
democratização do acesso à educação de qualidade. E como proposição principal do
trabalho, defendemos que as políticas públicas e a formação para a docência são
lacunares no que se refere às condições propícias à adoção de tecnologias emergentes
pelos professores e de uma prática pedagógica inovadora de base tecnológica. Sem
desconsiderar a motivação do professor, faz-se necessário prover uma tríade de
infraestrutura, sistemas tecnológicos emergentes e de competência didática para que a
inovação pedagógica se consubstancie na prática docente ligada a tecnologia
educacional.
2
Formação Docente e a
Integração das
Tecnologias na Prática
Pedagógica do Professor
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 30
A formação docente tem se tornado pauta constante nas políticas públicas para a
educação, notadamente, a partir dos anos de 1990. Outra temática que tem ocupado cada
vez mais espaço é a interação com os meios tecnológicos em todos os níveis e
dimensões da atual sociedade. Nesse capítulo buscamos fazer uma breve historicidade
acerca de como essas duas temáticas se entrecruzam, bem como explicitar o marco legal
e as políticas públicas direcionadas à utilização das tecnologias no meio educacional,
uma vez que tal utilização tem se tornado pano de fundo na busca por uma prática
pedagógica mais condizente com o cenário atual, o qual torna imperativo um exercício
docente inovador, dinâmico e qualificado.
2.1 Formação de professores, o uso das tecnologias no ensino e tendências
pedagógicas vigentes
No Brasil, a formação de professores remonta ao contexto da transicao do
império para a república. A partir da segunda metade do seculo XIX, surge a Escola
Redentora da Humanidade, movimento em que a escola, entre outras funções, assume o
papel de vetor de inculcação da ideologia dominante. Assim, por meio da ampliação do
acesso à escola, a classe dominante buscava garantir e perpetuar sua hegemonia. Nesse
contexto, desencadeou-se, no Brasil, uma campanha pela escola publica, universal e
gratuita, surgiram os sistemas nacionais de ensino e o entusiasmo pela educacao, onde
se acreditava que a escola seria a solucao para os problemas existentes. Tem inicio
assim, a Pedagogia Humanista Tradicional, por meio da qual se permite o acesso das
classes populares ao ensino sistematizado, até então, direcionado apenas às famílias
mais ricas. Esse processo acabou viabilizando a participacao politica da população, em
consequencia de sua alfabetizacao e monstrou-se muito eficiente quanto a transmissao
de conhecimentos (SAVIANI, 2008).
Os principais pilares desta concepcao pautavam-se na busca por uma escola
universal, publica e gratuita; na disposicao em formar homens de cultura, carater e acao,
que tivessem no conhecimento uma fonte de riqueza; e, numa perspectiva mais pratica,
enfatizava a disciplina como elemento fundamental no contexto de sala de aula, ja que,
atraves desta e do esforco do aluno e que se garantiria a aprendizagem. A formacao do
educador passa a ser preponderante para a manutencao do status quo. Outro pilar da
pedagogia tradicional eram as aulas expositivas utilizadas pelos professores na
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 31
transmissao de conteudos. Grande enfase era dada a acao do professor, cabendo ao
aluno receber, de forma passiva, os conhecimentos. Desta forma, o ensino traduzia-se
num ato puramente mecanico, denominado por Freire (1997) de Pedagogia Bancaria.
Ou seja, o aluno era considerado apenas como um deposito, uma gaveta onde os
conhecimentos eram armazenados.
Do ponto de vista da utilização de tecnologias, a escola limitava-se a empregar
como metodologia de ensino a aula expositiva e, como recursos, o quadro, o giz e o
livro didático. Ressaltamos que, embora o conceito de tecnologia seja bastante
polissêmico, adotaremos a concepção de Rodrigues (2001) que afirma que a palavra
tecnologia provem de uma juncao do termo tecno, do grego techne, que significa saber
fazer, e logia, do grego logus, que significa razao ou conjunto de saberes. Portanto, seria
o conjunto de conhecimentos que permite utilizar objetos para modificar o ambiente,
com vista a satisfazer as necessidades humanas.
A populacao alfabetizada passou a cobrar uma maior participacao politica, indo
de encontro aos interesses das classes hegemonicas. Assim, surgiram as criticas a esta
pedagogia e à formação de professores apresentava-se como insuficiente, pois as
contradicoes sociais começaram a emergir e o modelo de professor autoritário e detentor
do conhecimento já não dava conta do contexto educacional posto. Alguns educadores
na decada de 1930, entre eles Fernando Azevedo e Anisio Teixeira, elaboraram um
manifesto que ficou conhecido como Manifesto dos Pioneiros da Educacao Nova, no
qual propunham que o ensino deveria ser gratuito, visando a ampliação e melhoria da
qualidade educacional. Este cenario de embates levou a formacao docente a dar mais
enfase a qualidade do ensino, deslocando, pois, a atencao do ambito politico para o
ambito tecnico-pedagogico (SAVIANI, 2008).
Nesse contexto de criticas a Pedagogia Humanista Tradicional, aos poucos foi
surgindo a Pedagogia Humanista Moderna. Esta adotou os pilares do escolanovismo,
fundamentado no otimismo pedagogico, defendendo uma educação na qual o aluno
deveria ser o centro do processo de ensino e aprendizagem. A psicologia ganha um
papel fundamental, levando em consideracao as diferencas individuais. Ha, ainda, um
deslocamento de eixo em relacao a Pedagogia Humanista Tradicional, ou seja, do eixo
cognitivista para o psicologico; do esforco para o interesse; da disciplina para a
espontaneidade; da quantidade para a qualidade e a premissa fundante passa a ser
aprender a aprender (SAVIANI, 2008). Contrariamente à Pedagogia Humanista
Tradicional, na Pedagogia Humanista Moderna o estudante passa a ter um papel
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 32
diferenciado na construcao do seu proprio conhecimento, uma vez que alteram-se as
concepções de homem e de mundo.
A maior importancia deveria ser dada a crianca, as suas necessidades e
interesses, deixando esta de ser objeto da educacao para ser sujeito dela, enquanto o
professor assume doravante o papel de estimulador e orientador da aprendizagem. A
psicologia e vista como ciencia central, enfatiza-se a descoberta das diferencas
individuais sejam elas cognitivas, culturais, economicas ou sociais. O objetivo passa a
ser um processo ativo que integra todas as informacoes referentes ao objeto de estudo,
pois na busca destas informacoes, o aluno esta aprendendo a aprender. Nessa
perspectiva, aprender torna-se mais lúdico e dinamico e a escola passa a ser um local de
prazer e descobertas, a partir de experiencias cognitivas, realizadas de forma ativa,
despertando o interesse e contemplando as necessidades individuais dos alunos.
Essa nova forma de conceber o ensino, exige do professor também novas formas
de ensinar, demandando a utilização de tecnologias que transcendam a utilização da
tríade quadro/giz/livro. Nesse contexto, o escolanovismo contribuiu para se pensar essa
nova forma de conceber o ensino, buscando a construção ativa do conhecimento pelos
discentes. O ambiente passa a ter fundamental importância e materiais diversificados
passam a ser utilizados em sala de aula. As tecnologias utilizadas traduzem-se em
materiais dispostos em cantos na sala de aula e os educandos podem vivenciar diversas
tarefas e papeis. Também é utilizado material sensorial, disposto segundo as suas
características como: tamanho, cor, textura, peso, temperatura, dimensao. Esses
materiais beneficiam o desenvolvimento da atividade motora e o desenvolvimento
visual fabricados em madeira ou plastico e com cores, tamanhos e formas especificas,
visando o despertar da criatividade, a aprendizagem sobre as formas, a ordem, nocao de
limites, o equilibrio e o dominio psicomotor (BUSQUETS, 2003). O método
Montessoriano e a Pedagogia Freinet são exemplos da utilização de materiais para
realização do processo de ensino e aprendizagem com utilização de diversas
tecnologias. Entretanto, para a aplicacao desta nova concepcao da educacao seria
necessaria uma ampla reforma, que privilegiasse ao inves de professores dominadores
do conhecimento, professores que agiriam como estimuladores e orientadores da
aprendizagem, cabendo aos alunos uma atitude mais criativa e construtiva. Esta
aprendizagem seria uma decorrencia espontanea do ambiente estimulante e da relacao
viva entre aluno e professor. Este, por sua vez, trabalharia com pequenos grupos e uma
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 33
grande variedade de materiais didaticos. Nesse caso, seria necessario um amplo
processo de formacao e qualificacao docente.
Saviani (2008) explica que os ideais escolanovistas contagiaram grande parte
dos professores. Porém, ao adotar o afrouxamento da disciplina e a despreocupacao com
a transmissao do conhecimento, provocaram o rebaixamento do nivel de ensino
destinado as camadas populares. Na realidade, os docentes que se apropriaram dos
ideais escolanovistas, ao se depararem com a pratica, viam-se incapazes de realizar a
teoria apreendida, pois as classes eram lotadas, nao havia material didatico, formacao
adequada, nem ambiente favoravel a sua aplicacao. Assim, apesar de todo o entusiasmo,
constatou-se que a transmissao de conhecimentos ficou comprometida, pois ao
priorizar-se o aluno, abriu-se mao do conhecimento sistematizado, dando-lhe total
liberdade. A formacao docente nesse periodo conseguiu fazer com que os professores se
apropriassem de seus pressupostos, mas sua operacionalizacao ficou comprometida,
uma vez que as escolas nao possuiam a estrutura necessaria.
Com o golpe militar em 1964, ganha expressão a pedagogia Tecnicista. Esta
surge com a finalidade de tornar o ensino objetivo, operacional e pragmatico, retirando
do processo toda subjetividade e a articulacao do pensamento critico. No governo
militar, a formacao educacional do professor dava-se no sentido de torna-lo um tecnico
pronto e preparado para direcionar o processo de aprendizagem de uma sociedade
desenvolvimentista.
O pressuposto que embasa essa pedagogia esta na neutralidade cientiífica,
inspirada nos princípios da racionalidade, eficiencia e produtividade. As tecnologias
aplicadas à educação passam a funcionar a serviço da mecanizacao do processo de
ensino e aprendizagem, por meio do uso dos meios de comunicacao, surgindo o tele-
ensino, instrucao programada, maquinas de ensinar, etc. O elemento principal era a
organizacao racional dos meios, enquanto professor e aluno ocupavam uma posicao
secundaria, o que provocou uma grande fragmentacao do trabalho pedagogico,
acentuando a distancia entre quem planeja e quem executa. A pedagogia tecnicista se
estruturava na teoria da aprendizagem behaviorista, orientada por objetivos instrucionais
pre-definidos e tecnicamente elaborados. Os conteudos didaticos centravam-se no
planejamento formal, ocorrendo uma mecanizacao do processo de ensino (MELO,
2005).
Nesse periodo, havia uma visao funcionalista da educacao e a maioria dos
estudos privilegiava a dimensao tecnica do processo de formacao de professores e
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 34
especialistas em educacao. Nessa perspectiva, Pereira (2000, p. 16) afirma que o
professor era concebido como um organizador dos componentes do processo de ensino-
aprendizagem, os quais deveriam ser planejados para garantir resultados instrucionais
altamente eficazes e eficientes. O alicerce da formacao do professor, era a
instrumentalizacao tecnica e, apesar de rotulada como formacao, tal processo centrava-
se na aquisição de habilidades referentes a operacionalizacao do processo de ensino-
aprendizagem, do saber fazer.
Assim, nas décadas de 1960 e 1970, as novas tecnologias passam a exercer
poderosa influencia na nossa cultura. Na segunda metade da decada de 1970, inicia-se
um movimento de oposicao e rejeicao aos enfoques tecnico e funcionalista que
predominaram na formacao de professores ate esse momento. Nessa epoca as teorias
sociologicas que consideravam a escola como reprodutora das relacoes sociais
chegaram as universidades e aos centros de formacao de professores e a educacao
passou a ser vista como uma pratica social imbricada com o sistema politico e
economico vigente. De acordo com Freire (1970), a partir dessa posicao, a pratica dos
professores deixa de ser considerada neutra e passa a ser compreendida como uma
pratica educativa que possibilita a transformacao e sua formacao deve considerá-lo em
todas as suas dimensoes, politica, social, cultural, didatico-pedagogica, levando-o a uma
compreensao e reflexao de sua pratica em um sentido mais holistico.
Já nos anos de 1980, o debate a respeito da formacao do professor passou a
gravitar em torno do carater politico da prática pedagógica (PEREIRA, 2000). Essa
mudanca de enfoque na formacao de professores evidenciou o desejo de transformacao
da sociedade brasileira no sentido de livrar-se do autoritarismo implantado em 1964 e a
busca da redemocratizacao.
Outra vertente que permeou as discussoes neste periodo postulava a
indissociabilidade entre teoria e pratica na formacao do professor, na qual se
questionava o papel das universidades, ja que essa tem delegado à formacao de
professores uma posicao secundaria, onde o status social e até econômico sao
direcionados aos bacharelados e às pesquisas acadêmico-científicas, em geral delegadas
aos programas de pos-graduacao.
A partir da década de 1990, novas tecnologias começam a fazer parte do
cotidiano das pessoas. O surgimento, especialmente, da Internet leva a questionar-se o
papel do professor como principal agente difusor de informações e conhecimento.
Assim, o professor passou a ser exigido no sentido de incentivar a aprendizagem e o
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 35
pensamento crítico e criativo. Sao exigidas novas habilidades, concepções e posturas,
conforme aponta Lèvy (1999):
O professor torna-se um animador da inteligencia coletiva dos
grupos que estao a seu encargo. Sua atividade sera centrada no
acompanhamento e na gestao das aprendizagens: o incitamento
a troca dos saberes, à mediacao relacional e simbolica, à
pilotagem personalizada dos percursos de aprendizagem, etc.
(LEVY, 1999, p.158).
Neste contexto, as tecnologias passam a ganhar cada vez mais espaço e a
sociedade passa a ser conhecida como sociedade da informação (BELL, 1973).
Entretanto, na escola o que se percebe, muitas vezes, são resistencias e dificuldades na
apropriacao dessa nova abordagem por parte dos professores. No tocante à formação,
Melo (2005) explicita que,
Diante das exigencias de uma melhor formacao, requerida pela
sociedade dinamica em que vivemos e das politicas
governamentais direcionadas aos profissionais da educacao, o
professor se ve envolvido em uma trama que exigira novas
competencias, novos caminhos, um novo repensar e a
consciencia acerca dos objetivos de sua propria formacao.
(MELO, 2005, p. 54).
Nessa direção, percebe-se que as formas de ensinar o conhecimento
sistematizado na escola não sofreram grandes alterações ao longo do tempo. Muito se
deve aos modelos esgotados de formação a que os professores são submetidos e
reproduzem em seu cotidiano profissional. Ou seja, como inovar na prática pedagógica
se essa prática no período de formação continua sendo, disciplinar, eminentemente
teórica, tradicional e mecanicista?
Para Ripper (1994, p. 63),
Essa nova escola requer nao so um novo conceito pedagogico,
mas principalmente, que os professores assumam uma nova
responsabilidade e um papel central como intermediadores do
processo de aquisicao e elaboracao do conhecimento. (...) As
novas tecnologias desenvolvidas pela sociedade e adaptadas ao
ambiente de aprendizagem, os novos meios tecnologicos, como
computadores, podem se tornar poderosos auxiliares dos
professores nesse papel. Entretanto, a introducao da tecnologia
apenas pela tecnologia pode ter resultado oposto ao desejado,
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 36
reforcando a “escola linha de montagem” enquanto cria a ilusao
de modernidade. (RIPPER, 1994, p.63).
As novas tecnologias fazem emergir dois tipos de sentimentos nos professores.
De um lado tem-se aqueles professores dispostos a adotar em sua prática as mais
diversas metodologias para dinamizar as aulas e, nesse contexto, tornam-se professores
que seguem os modismos, normalmente professores recém egressos dos cursos de
formação inicial. De outro lado, tem-se aqueles professores que possuem aversão às
novas tecnologias e às inovações. Estes, preferem não se aventurar em novos formatos,
mantendo sua prática segura, impassível diante das mudanças que vão surgindo. Ambos
correm o risco de tornar sua prática docente dissonante da realidade dos discentes.
Os primeiros, de acordo com Gentil (2015), estão sendo formados com base em
uma sociedade que preza pela pratica em detrimento do saber cientifico, que e
bombardeada de novas informacoes e discursos descartaveis. Assim, nao e interessante
que os professores em formacao estudem teorias em seus rigores, e necessario
aperfeicoar a pratica. Gentil (2015) afirma ainda que:
Os modismos na formacao de professores, entretanto, nao
permitem que o professor se aproprie qualitativamente de uma
teoria epistemologica do conhecimento, pois precisa atender a
demanda aligeirada da sociedade e distancia a pratica de um
embasamento que o sustente. (GENTIL, 2015, p. 191).
Ou seja, nessa busca por estar constantemente atualizados com as novas
perspectivas postas por uma sociedade em constante mudança, em face da revolução
tecnológica, muitos professores buscam adotar novas metodologias e práticas, muitas
vezes de forma superficial, que não condizem com a realidade em que estão inseridos e
que terminam por levá-los a substituir uma tecnologia mais antiga por uma mais
moderna. Nesse sentido, o que se vê é a substituição do quadro e giz/pincel, pelo
datashow; a cópia impressa, do livro da biblioteca, pela cópia (control + C, control +
V) do texto digital da Internet; a memorização dos textos dos livros e apostilas
impressos pela memorização dos e-books.
Os professores que, por outro lado, demonstram ter aversão às novas tecnologias
e mostram resistência ao novo, ministram aulas desinteressantes, expositivas e sem a
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 37
participação dos estudantes; limitam-se às mesmas formas avaliativas e acreditam que
ao expor o conteúdo de forma inteligível, fizeram sua parte.
Diante desse quadro, a formação assume um papel fundante. Os professores que
seguem os modismos e os professores resistentes necessitam de uma formação que
permita a problematização do processo de ensino e aprendizagem em bases teórico-
práticas que levem à reflexão na e para a ação (SCHON, 2000).
Perrenoud (2000) ao tratar sobre as novas competências para ensinar, explicita
que explorar as potencialidades didáticas dos programas em relação aos objetivos do
ensino; comunicar-se à distância por meio da telemática; utilizar as ferramentas
multimídia no ensino são competências fundamentais em uma cultura tecnológica. Para
o autor,
A verdadeira incógnita é saber se os professores irão apossar-se
das tecnologias como um auxílio ao ensino, para dar aulas cada
vez mais bem ilustradas por apresentações multimídia, ou para
mudar de paradigma e concentrar-se na criação, na gestão e
na regulação de situações de aprendizagem. (PERRENOUD,
2000, p. 139).
Como enfatiza Maciel (2004), a escola precisa se tornar um ambiente inteligente,
que fomente a aprendizagem a partir de metodologias e recursos que motivem e
estimulem a criatividade. Onde ao invés de filas de carteiras, haja um espaço
confortável com computadores para realizar as tarefas, assim como para realizar
comunicação digital em nível local, nacional e internacional. O autor cita ainda a
importância da escola oferecer atividades pedagogicamente inovadoras, permitindo
também a comunicacao entre professores e pais dos alunos, ressaltando o papel da
avaliacao que deve ser contínua e com ênfase não na memorização de fatos ou respostas
corretas.
Na capacidade de o aluno pensar e se expressar claramente,
solucionar problemas e tomar decisoes adequadamente; com um
curriculo que reconheca o valor de outras formas de
inteligencia, alem da linguistica e da logica-matematica,
curriculo este que ofereca uma visao holistica do conhecimento
humano e do universo natural que o homem habita; com o uso
cada vez menor do livro-texto e do quadro negro e o aumento
do uso das novas tecnologias de comunicacao, caracterizadas
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 38
pela interatividade, pela sua capacidade de uso individualizado,
pela assincronia (que e tao importante quando a educacao e
vista pela perspectiva de internacionalizacao, com o inevitavel
fato de ter que lidar com fusos horarios diferentes), pela nao-
linearidade (que e a maneira mais dinamica e atual de
apresentar informacao), e pela capacidade de simular eventos
do mundo natural e do imaginario de forma a levar o aluno a
perceber fenomeno que antes nao faziam parte do ensino formal
por falta do apoio tecnologico que permitisse alcancar tais
metas. (MACIEL, 2004, p. 37).
Nessa direção, faz-se necessária uma mudança efetiva no papel do professor que,
ao delegar às tecnologias da informação a responsabilidade do acesso ao conhecimento
pelo aluno, desloca sua função para ser um conselheiro, um parceiro na busca pela
informação, aumentando a participação ativa do aluno.
A inserção das novas tecnologias no cotidiano escolar deve se dar considerando
os objetivos de aprendizagem, os conteúdos a serem abordados e a metodologia de
ensino e de avaliação. Uma das ricas contribuições das novas tecnologias, nesse
contexto, é permitir uma visão transdisciplinar do fenômeno, objeto ou conceito a ser
estudado.
Maciel (2004) advoga ainda que a busca do novo em educação tem sido,
frequentemente, acompanhada do tecnicismo, da supervalorização dos equipamentos,
métodos e técnicas, o que e uma forma de transformar os meios em fins. O autor destaca
que o desafio da informática na educação e o de contribuir para transformar as nossas
praticas pedagogicas, construindo,
Uma nova configuracao do processo de ensino-aprendizagem
capaz de integrar articuladamente processo e produto, dimensao
intelectual e afetiva, objetividade e subjetividade, assimilacao
de conhecimentos e construcao criativa, compromisso com o
saber e a questao do poder na escola, dimensao logica e
psicologica, aspectos gerais e especificos da aprendizagem,
dimensao politica e tecnica da pratica pedagogica, funcao de
ensino e de socializacao da escola, fins da educacao, meios e
estrategias. (MACIEL, 2004, p. 45).
Para tanto, e necessaria uma formacao tanto inicial como continuada com vistas
a capacitar os professores em consonância com essa nova lógica.
Gomes e Carvalho (2016) afirmam que a escola necessita de profissionais
intercambiaveis que combinem imaginacao e acao; aptos a buscar novas informacoes, a
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 39
trabalhar com os novos recursos e interpretar informacoes veiculadas nas midias, o que
exige do professor trabalhar em sala de aula junto com os alunos interpretando dados,
relacionando-os e contextualizando-os, assumindo, assim, o papel de facilitador.
Conforme Masetto (2003, p. 13), “o desenvolvimento tecnologico afeta dois
aspectos que sao o coracao da propria universidade: a producao e divulgacao do
conhecimento e a revisao das carreiras profissionais”. Nesse sentido, os projetos
pedagógicos dos cursos – PPC das licenciaturas devem ser elaborados, contemplando
essas novas competências exigidas ao professor. Analogamente, os cursos de formação
continuada devem estar em sinergia com tais exigências.
Sampaio (1999) coloca que a alfabetizacao tecnologica do professor envolve –
alem da realidade em permanente mutacao – as tecnologias em constante
aperfeicoamento e diversificacao. Portanto, o professor, em sua formacao continuada,
devera buscar sempre inovacoes na area tecnologica, conceitos, conteudos, metodos e
praticas pedagogicas para aquisicao das competencias imprescindiveis na transformacao
do dizer teorico em pratica consciente e critica, no sentido de contextualizar as
informacoes com a realidade do alunado. Essa alfabetização tecnológica do docente
deve obedecer aos novos paradigmas “embebados” da cultura digital. Padilha (2014) os
descreve assim,
Necessitamos modelos formativos que permitam abolir ou
matizar as noções tradicionais de autoria, as relações
hierárquicas, valorizar o erro como fator de aprendizagem e o
ensaio como método produtivo, reconsiderar os processos e os
atores legítimos para criar conhecimento, rever a
organização de tempos e de espaços de aprendizagem, apostar
no colaboracionismo e no compartilhamento, reinventar o papel
do docente e do discente com base em conceitos como
autonomia e autorregulação de grupos e comunidades. É preciso
avançar em desenhos de formação que considerem os novos
paradigmas “embedados” na cultura digital e que possibilitem o
domínio simbólico do mundo digital (PADILHA, 2014, p. 84).
Ramalho e Nuñez (2003) afirmam que o agir competente e interagir uns com os
outros, num processo comunicativo e social. A competência nao se restringe apenas ao
saber, as atitudes, mas utilizar estes e outros recursos para agir em contexto. (GOMES e
CARVALHO, 2016).
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 40
As novas tecnologias oferecem inumeras possibilidades de interacao, de troca e
de pesquisa (MORAN, 1997). Porem, o autor defende a integracao dessas tecnologias
em um novo paradigma educacional, pois, se a instituicao de ensino permanece
autoritaria e controladora, não será a presenca das tecnologias que ira modificar o
processo ja instalado; ou ainda, a escola pode estar preparada, mas falta mao-de-obra
especializada por parte dos professores para manusear as ferramentas juntamente com
seus alunos. Um caminho viável além da formação inicial é a formação continuada para
os professores que já atuam. Nesse caso, é preciso haver investimento na formação, na
estrutura e nas concepções didático-pedagógicas dos professores.
A seguir explicitamos as bases legais e as politicas públicas referentes à inserção
das novas tecnologias na formação dos docentes na atualidade.
2.2 Bases legais que pautam a utilização das tecnologias no processo de ensino e
aprendizagem
As tecnologias são, desde a institucionalização da escola, meios eficazes que
auxiliam professores e alunos no processo de ensino e aprendizagem. Nos últimos
tempos, novas tecnologias têm surgido em profusão, culminando, desde o final do
século XX, com as TDIC, as quais, especialmente no Brasil, exercem grande fascínio,
sendo empregadas nas mais diferentes áreas, esferas e meios, contemplando interesses
pessoais, profissionais e institucionais (PRETTO, 2002).
Nesse contexto, observa-se que a escola é um dos lugares onde a utilização das
novas tecnologias ainda enfrenta resistências. Não obstante, é fato que se constituem em
uma importante fonte de recursos a serem aplicados à educação, possibilitando a
docentes e discentes o emprego de uma gama de formas e estratégias que facilitam a
aprendizagem dos mais variados conteúdos.
Considerando a importância que as novas tecnologias têm assumido e a
necessidade de sua inserção qualificada no contexto escolar, a legislação brasileira, de
forma propositiva, tem induzido os professores a, cada vez mais, se apropriarem das
competências necessárias à utilização desses recursos em sua prática pedagógica.
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 41
Nessa direção, desde a década de 1990 o marco legal que pauta a educação no
país não prescinde de demarcar a importância das novas tecnologias aplicadas à
educação.
A Lei e Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9394/1996, por
exemplo, apresenta em seu texto, diversas referências as tecnologias, ressaltando sua
importância na formação docente e discente. Na seção III, da LDB 9394/1996, que trata
acerca do Ensino Fundamental, o Artigo 32, Inciso II, expõe que este nível de ensino
terá por objetivo, dentre outros, a compreensão do ambiente natural e social, do sistema
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade
(BRASIL, 1996).
Com a recente mudança no governo do país e com a aprovação da reforma do
Ensino Médio, imposta por meio de Medida Provisória que deu origem a Lei n.
13.415/2017, a LDB 9394/1996 sofreu alteração e sua nova redação põe em relevo as
tecnologias nas áreas do conhecimento a serem adotadas no ensino médio.
Não é nosso objetivo discutir o mérito da questão nesse momento. Portanto, nos
ateremos a explicitar o lugar que as tecnologias têm assumido na legislação brasileira.
Nesse sentido, o Artigo 35, da referida LDB, alterado pela Lei n. 13.415/2017, institui
que a Base Nacional Comum Curricular – BNCC definirá direitos e objetivos de
aprendizagem do ensino médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação
– CNE, nas seguintes áreas do conhecimento: I - linguagens e suas tecnologias; II -
matemática e suas tecnologias; III - ciências da natureza e suas tecnologias; IV -
ciências humanas e sociais aplicadas.
O Artigo 39 da LDB 9394/1996 aborda a questão da educação profissional,
fazendo alusão à educação profissional e tecnológica, que no cumprimento dos
objetivos da educação nacional, deve integrar-se aos diferentes níveis e modalidades de
educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia.
No que concerne à educação superior, a lei, no artigo 43, inciso III, define que sua
finalidade é incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse
modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; e, ao tratar da
formação continuada dos profissionais do magistério, o artigo 62, no parágrafo segundo,
é posto que a formação continuada e a capacitação dos profissionais de magistério
poderão utilizar recursos e tecnologias de educação a distância. (BRASIL, 1996).
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 42
Além da LDB 9394/1996, outros documentos têm feito referência às tecnologias
e sua importância na educação brasileira.
Os Parametros Curriculares Nacionais – PCNs para as series finais do ensino
fundamental (BRASIL, 1998) e varios documentos escritos para o Ensino Medio
ressaltam a importancia da tecnologia. A esse respeito, os PCNs explicitam que “Pode-
se antever que, com o barateamento dos meios eletronicos de comunicacao, mais
escolas venham ter acesso a novas tecnologias, possibilitando o desenvolvimento de
outras habilidades comunicativas” (PCN, 2008, p. 21).
As Diretrizes Curriculares Nacionais – DCNs elaboradas para pautar a oferta de
cursos superiores de graduação também elencam competências a serem desenvolvidas
pelos egressos relacionadas ao uso das tecnologias em sua prática profissional. Em
2002, A Resolucao do Conselho Nacional de Educacao de 18 de fevereiro de 2002
instituiu Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formacao de Professores da Educacao
Basica. No Art. 2o, inciso VI, dessa resolucao, esta previsto que a organizacao
curricular de cada instituicao observara o preparo para o uso de tecnologias da
informacao e da comunicacao e de metodologias, estrategias e materiais de apoio
inovadores.
Apresentamos mais detalhadamente as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Formação Inicial e Continuada dos Profissionais do Magistério da Educação Básica, de
julho de 2015, por esta ser atualizada e basilar para os cursos de licenciatura.
No artigo 2, parágrafo segundo, as DCN/2015, exprimem a necessidade de no
exercicio da docencia, a acao do profissional do magisterio da educacao basica ser
permeada por dimensoes tecnicas, politicas, eticas e esteticas por meio de solida
formacao, envolvendo o dominio e manejo de conteudos e metodologias, diversas
linguagens, tecnologias e inovacoes, contribuindo para ampliar a visao e a atuacao desse
profissional.
O artigo 5, ao tratar da formação dos profissionais do magistério, no inciso VI
evidencia que o egresso deve saber utilizar de forma competente as Tecnologias de
Informacao e Comunicacao para o aprimoramento da pratica pedagogica e a ampliacao
da formacao cultural dos(das) professores(as) e estudantes. (BRASIL, 2015). Já no
artigo 7, as DCNs colocam que o egresso da formação inicial e continuada deve ser
capaz de realizar o desenvolvimento, execucao, acompanhamento e avaliacao de
projetos educacionais, incluindo o uso de tecnologias educacionais e diferentes recursos
e estrategias didatico-pedagogicas. E, ainda, no artigo 8, é ressaltado pelas diretrizes que
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 43
o licenciado deve estar apto a relacionar a linguagem dos meios de comunicacao a
educacao, nos processos didatico-pedagogicos, demonstrando dominio das tecnologias
de informacao e comunicacao para o desenvolvimento da aprendizagem.
O artigo 11, refere-se a identidade dos cursos enfatizando que deve ser garantido
projeto formativo que assegure aos estudantes o dominio dos conteudos especificos da
area de atuacao, fundamentos e metodologias, bem como das tecnologias. No inciso VII
é dito que devem ser assegurados recursos pedagogicos como biblioteca, laboratorios,
videoteca, entre outros, alem de recursos de tecnologias da informacao e da
comunicacao, com qualidade e quantidade, nas instituicoes de formacao. E, finalmente,
no artigo 16, parágrafo único, inciso II, coloca-se a necessidade de acompanhar a
inovacao e o desenvolvimento associados ao conhecimento, a ciencia e a tecnologia
(BRASIL, 2015).
O acesso as novas tecnologias por parte de professores e estudantes tem sido
uma preocupação das políticas educacionais, as quais têm buscado fortemente – por
meio da legislação, de Planos, Projetos e Programas – viabilizar esse acesso.
Corroborando com esta assertiva, tem-se, fundamentalmente, nos planos Nacionais de
Educação metas e estratégias direcionadas ao alcance desse objetivo.
O Plano Nacional de Educação – PNE de 2001, possuía duas metas diretamente
relacionadas ao uso das tecnologias, sendo a meta 6 voltada para a Educação a Distância
e Tecnologias Educacionais e a meta 7 referente a Educação Tecnológica e Formação
Profissional. Portanto, já era atribuída as tecnologias um papel de destaque na educação
brasileira.
O referido PNE (BRASIL, 2001) previa que os cursos de formacao deveriam
contemplar, dentre outros itens, “o dominio das novas tecnologias de comunicacao e da
informacao e capacidade para integra-las a pratica do magisterio” (BRASIL, 2001,
p.99). Alem disso, explicitava que se deveria “assegurar a melhoria da infraestrutura
fisica das escolas, generalizando inclusive as condicoes para a utilizacao das tecnologias
educacionais em multimidia” (BRASIL, 2001, p.50).
O Plano deixa claro a importância da educacao a distancia e sua amplitude,
considerando que as tecnologias de comunicacao podem ser integradas em todos os
niveis e modalidades de educacao, seja por meio de correspondencia, transmissao
radiofonica e televisiva, programas de computador, Internet, seja por meio dos mais
recentes processos de utilizacao conjugada de meios como a telematica e a multimidia.
(BRASIL, 2001, p.77).
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 44
Entretanto, no PNE o pressuposto subjacente é de que essas tecnologias nao
deveriam ficar restritas a educacao a distancia, uma vez que:
Elas constituem hoje um instrumento de enorme potencial para
o enriquecimento curricular e a melhoria da qualidade do ensino
presencial. Para isto, e fundamental equipar as escolas com
multimeios, capacitar os professores para utiliza-los,
especialmente na Escola Normal, nos cursos de Pedagogia e nas
Licenciaturas, e integrar a informatica na formacao regular dos
alunos. (BRASIL, 2001, p.78).
Com a elaboração do novo PNE (2014-2024), apesar das metas não trazerem em
suas titulações a temática das tecnologias, percebe-se que a cada meta uma ou mais
estratégias referem-se à utilização de tecnologias.
O Plano traz em sua meta 2, ao se referir a universalização do Ensino
Fundamental, que uma das estratégias (Estratégia 2.6) seria:
Desenvolver tecnologias pedagogicas que combinem, de
maneira articulada, a organizacao do tempo e das atividades
didaticas entre a escola e o ambiente comunitario, considerando
as especificidades da educacao especial, das escolas do campo e
das comunidades indigenas e quilombolas. (BRASIL, 2014, p.
2)
Essa estratégia refere-se, especificamente, a tecnologias pedagógicas, pondo em
relevo os processos interacionais vivenciados em sala de aula, mediados pelo professor
e apoiados pelas tecnologias.
Na meta 3, que trata sobre a universalização do atendimento escolar para a
população de 15 a 17 anos, a estratégia 3.1 explicita a intenção de:
Institucionalizar programa nacional de renovacao do Ensino
Medio, a fim de incentivar praticas pedagogicas com
abordagens interdisciplina- res estruturadas pela relacao entre
teoria e pratica, por meio de curriculos escolares que
organizem, de maneira flexivel e diversificada, conteudos
obrigatorios e eletivos articulados em dimensoes como ciencia,
trabalho, linguagens, tecnologia, cultura e esporte, garantindo-
se a aquisicao de equipamentos e laboratorios, a producao de
material didatico especifico, a formacao continuada de
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 45
professores e a articulacao com instituicoes academicas,
esportivas e culturais. (BRASIL, 2014, p.3)
Nessa estratégia tanto a tecnologia quanto a formação do professor são
considerados elementos importantes para o alcance da universalização do Ensino
Médio.
Ao tratar acerca da Educação Especial, na meta 4 do documento, os recursos
tecnológicos também são mencionados como aliados no processo de inclusão de
pessoas com necessidades especiais e com altas habilidades e superdotação. Portanto, a
estratégia 4.6 expõe que se deve:
Manter e ampliar programas suplementares que promovam a
acessibilidade nas instituicoes publicas, para garantir o acesso e
a permanencia dos(as) alunos(as) com deficiencia por meio da
adequacao arquitetonica, da oferta de transporte acessivel e da
disponibilizacao de material didatico proprio e de recursos de
tecnologia assistiva, assegurando, ainda, no contexto escolar,
em todas as etapas, niveis e modalidades de ensino, a
identificacao dos(as) alunos(as) com altas habilidades ou
superdotacao. (BRASIL, 2014, p.3)
No âmbito da Educação Especial, os recursos tecnológicos ganham contornos
ainda mais relevantes, uma vez que são capazes de promover autonomia e maior
participação dos educandos. A Estratégia 4.10 vai na mesma direção. Para Teixeira
(2010) entre as importantes mudancas que a escola e o professor precisam incorporar,
destaca-se a utilizacao das Tecnologias de Informacao e Comunicacao – TICs, que
constituem um diversicado conjunto de recursos tecnologicos, tais como: computadores;
Internet e ferramentas que compoem o ambiente virtual como chats e correio eletrônico;
fotografia e video digital; TV e radio digital; telefonia movel; Wi-Fi; VoIP; websites e
home pages, ambiente virtual de aprendizagem para o ensino a distancia, entre outros.
Para Giroto, Poker e Omote (2012, p.15),
Tais recursos podem e devem ser utilizados no contexto
educacional de forma a favorecer a aprendizagem dos alunos de
modo geral e, em especial, dos alunos com de ciencias, TGD
(Transtornos Globais do Desenvolvimento) ou altas
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 46
habilidades/superdotacao, uma vez que tambem compreendem
parte dos recursos contemplados pelas salas de recursos
multifuncionais, sob a denominacao de tecnologia assistiva.
Sobre essa última denominação, Bersh (2008, p. 1) afirma,
Tecnologia assistiva e uma expressao utilizada para identficar
todo o arsenal de recursos e servicos que contribuem para
proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com
deficiencias e, consequentemente, promover vida independente
e inclusao. (BERSH, 2008, p. 1)
Já na meta 5, sobre alfabetização, o PNE, nas estratégias 5.3 e 5.4, explicita a
necessidade de:
Selecionar, certificar e divulgar tecnologias educacionais para a
alfabetizacao de criancas, assegurada a diversidade de metodos
e propostas pedagogicas, bem como o acompanhamento dos
resultados nos sistemas de ensino em que forem aplicadas,
devendo ser disponibilizadas, preferencialmente, como recursos
educacionais abertos [...] fomentar o desenvolvimento de
tecnologias educacionais e de praticas pedagogicas inovadoras
que assegurem a alfabetizacao e favorecam a melhoria do fluxo
escolar e a aprendizagem dos(as) alunos(as), consideradas as
diversas abordagens metodologicas e sua efetividade.
(BRASIL, 2014, p. 4)
Ainda na meta 5, a estratégia 5.6 coloca como imperativo,
Promover e estimular a formacao inicial e continuada de
professores(as) para a alfabetizacao de criancas, com o
conhecimento de novas tecnologias educacionais e praticas
pedagogicas inovadoras, estimulando a articulacao entre
programas de pos-graduacao stricto sensu e acoes de formacao
continuada de professores(as) para a alfabetizacao. (BRASIL,
2014, p. 4)
A meta 7 que aborda a qualidade da educação básica, é ainda mais específica na
estratégia 7.15 ao defender que deve-se:
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 47
Universalizar, ate o quinto ano de vigencia deste PNE, o acesso
a rede mundial de computadores em banda larga de alta
velocidade e triplicar, ate o final da decada, a relacao
computador/aluno(a) nas escolas da rede publica de educacao
basica, promovendo a utilizacao pedagogica das tecnologias da
informacao e da comunicacao. (BRASIL, 2014, p. 4)
Na meta 9, a Educação de Jovens e Adultos também deve ter o apoio das
tecnologias, conforme posto na estratégia 9.12.
Considerar, nas politicas publicas de jovens e adultos, as
necessidades dos idosos, com vistas a promocao de politicas de
erradicacao do analfabetismo, ao acesso a tecnologias
educacionais e atividades recreativas, culturais e esportivas, a
implementacao de programas de valorizacao e
compartilhamento dos conhecimentos e experiencia dos idosos
e a inclusao dos temas do envelhecimento e da velhice nas
escolas. (BRASIL, 2014, p. 5)
Encerrando as estratégias relacionadas as tecnologias o documento, na meta 15,
remete-se aos cursos de licenciatura, elencando a estratégia 15.6 que versa sobre:
Promover a reforma curricular dos cursos de licenciatura e
estimular a renovacao pedagogica, de forma a assegurar o foco
no aprendizado do(a) aluno(a), dividindo a carga horaria em
formacao geral, formacao na area do saber e didatica especifica
e incorporando as modernas tecnologias de informacao e
comunicacao, em articulacao com a base nacional comum dos
curriculos da educacao basica, de que tratam as estrategias 2.1,
2.2, 3.2 e 3.3 deste PNE. (BRASIL, 2014, p. 6)
Percebe-se no documento a grande importância atribuída as tecnologias visando
à melhoria da qualidade do ensino. Em todas as etapas, níveis e modalidades da
educação contempladas pelo PNE, é destinado um espaço referente às tecnologias. A
seguir apresentamos os principais Programas e Projetos que constituem parte das
políticas de fomento a utilização das tecnologias na educação.
2.3 Políticas de fomento ao uso das tecnologias na educação
Existe uma complexidade inerente à tarefa de construir e pôr em funcionamento
programas governamentais envolvendo tecnologias da informação e comunicação em
relação à educação. Exemplo disto é que, há bem pouco tempo, o país não possuía
sequer políticas públicas abrangentes voltadas para a popularização da Ciência,
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 48
Tecnologia e Inovação (C,T&I). Se considerarmos a questão temporal, um ano, por
exemplo, é algo bastante significativo quando analisamos políticas de um governo de
quatro anos e, principalmente, quando nos remetemos aos avanços tecnológicos
alcançados no mesmo período. Algumas questões sobre os programas de governo são
levantadas: quais os procedimentos adotados? Qual a cadeia decisória até a aprovação
das várias portarias e/ou decretos? O trabalho técnico foi aprofundado o suficiente para
justificar a legitimidade dessa designação? Quais as reais implicações para a educação
do país?
O que podemos observar atualmente é que os países têm apoiado as inovações
baseadas em tecnologias de muitas formas, durante as últimas décadas.
Especificamente, no plano político brasileiro, esforços importantes estão sendo feitos
em três diferentes direções: (a) determinar as condições que permitem a adoção de
tecnologias; (b) instrumentalizar e apoiar as escolas e professores para gerarem
inovações no âmbito escolar e (c) fornecer apoio para a comunidade de pesquisa
interessada em documentar e analisar inovações educacionais emergentes (OECD,
2010, p. 13).
Especificamente sobre as tecnologias educacionais, o atual Plano Nacional de
Educação – PNE, como visto no item anterior, propõe o fomento ao desenvolvimento de
tecnologias educacionais e de inovação das práticas pedagógicas, bem como a seleção e
divulgação de tecnologias que sejam capazes de alfabetizar e de favorecer a melhoria do
fluxo escolar e a aprendizagem dos alunos. De igual forma, propõe o acompanhamento
dos resultados nos sistemas de ensino em que forem aplicadas, devendo ser
disponibilizadas, preferencialmente, como recursos educacionais abertos. Retrocedendo
às políticas de informática educativa e assemelhados, vejamos, de forma superficial,
algumas leis atinentes às tecnologias da informação e comunicação aplicadas à
educação e editais de fomento gestados nos últimos anos.
Os germes das políticas voltadas à inserção da informática na educação estão
situados na criação da Secretaria Especial de Informática – SEI, fundada em 3 de
outubro de 1979 como órgão complementar do Conselho de Segurança Nacional –
CSN. Esta secretaria recebeu a incumbência de fomentar o desenvolvimento da
indústria nacional na área de informática. Por sua vez, em março de 1980, a SEI criou a
Comissão Especial de Educação, um segmento de apoio ao MEC que se reestruturou
internamente, buscando subsídios para definir sua filosofia e assumir o papel que lhe
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 49
cabe como gerador de normas e diretrizes no novo e amplo campo da informática para a
educação.
2.3.1 EDUCOM
As raízes da história brasileira da Informática Educativa remontam à gênese do
Projeto EDUCOM (1983-1987), ficando a cargo da Comissão Especial de Informática
da Educação (CE/IE) sua elaboração, em 1983. Esse projeto teve suas discussões
iniciadas no 1º Seminário Nacional de Informática na Educação, realizado na
Universidade de Brasília em agosto de 1981.
Nessa oportunidade discutiu-se as possibilidades de utilização
do computador no processo ensino-aprendizagem, enfocando os
aspectos teóricos e a aplicabilidade em todos os níveis de
ensino. Ê recomendado na ocasião, dentre outras ações, a
criação do Grupo de Trabalho Interministerial para estudar e
propor a criação da Comissão Nacional da Informática, a
continuidade dos Seminários anuais, a exemplo da CAPRE,
bem como o desenvolvimento de estudos para a implantação de
Centros-piloto, destinados a subsidiar a Política Nacional de
Informática na Educação. (BRASIL, 1983, p. 6).
Logo após o seminário, em dezembro de 1981, foi divulgado o documento
Subsídios para a Implantação do Programa Nacional de Informática na Educação, que
apresentou o primeiro modelo de funcionamento de um futuro sistema de informática na
educação brasileira elaborado por uma equipe intersetorial. Segundo MORAES (1997),
esse documento recomendava que as iniciativas nacionais deveriam estar centradas nas
universidades e não diretamente nas secretarias de educação, pois era necessário
construir conhecimentos técnico-científicos para depois discuti-los com a comunidade
nacional. Buscava-se a criação de centros formadores de recursos humanos qualificados,
capazes de superar os desafios presentes e futuros então vislumbrados.
Desta feita, em julho de 1983, o Projeto EDUCOM foi aprovado pela Comissão
Especial de Informática na Educação e, em 29 de agosto, a Secretaria Especial de
Informática comunica às Universidades Brasileiras os pré-requisitos necessários para a
seleção e aprovação de projetos visando a implantação dos Centros-piloto previstos no
projeto EDUCOM. Na época da sua aprovação apenas cinco centros piloto foram
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 50
escolhidos: as universidades federais do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Rio
Grande do Sul e a Universidade de Campinas.
A título de exemplo, na época, a Universidade de Campinas criou uma proposta
baseada numa filosofia do uso do computador na educação que era enfatizada pela
linguagem Logo2. A aprendizagem que decorre do uso adequado do computador na
educação é uma aprendizagem por exploração e descoberta, sendo dado ao aluno, neste
processo, o papel ativo de construtor de sua própria aprendizagem, que se caracteriza
não com mera absorção de informações, mas como um fazer ativo. Essa proposta
universitária vinha de encontro à tendência da época do uso do computador na
Educação, em nível de 1° e 2° graus – hoje denominados de Ensino Fundamental e
Médio, respectivamente – cuja direção de procedimentos era do tipo tutorial, com
ênfase em perguntas/respostas de múltipla escolha, prática-e-teste, entre outras
(procedimentos estes comumente denominados de CAI - “Computer Assisted
Instruction”).
Em geral, o Projeto EDUCOM surgiu também como parte integrante do projeto
de informatização da sociedade brasileira dentro da política modernizante então vigente
no país, que buscava uma autonomia tecnológica no setor de informática e
microeletrônica associada a uma perspectiva de progresso econômico e social. Todavia,
o projeto foi desenvolvido num período em que o país vivia na reserva total de mercado
na área de informática3, ou seja, não era possível adquirir equipamentos e softwares
estrangeiros. E como não havia, até então, uma indústria que possibilitasse o
desenvolvimento de computadores e muito menos de softwares de acordo com a
demanda do país, a informática educacional era desenvolvida em escolas particulares e
em pouquíssimas universidades.
Mesmo, nesse período,
Pôde-se criar Comitês de Assessoramento de Informática na
Educação (CAIE) e elaborar um Programa de Ação Imediata
2 Logo é uma linguagem de programação interpretada, criada no final da década de 1960, pelos
professores Seymour Papert e Wallace Feurzeig. A linguagem de programação não foi originalmente
desenvolvida com vistas ao ensino e sim como instrumento para a pesquisa em aprendizagem. Quando se
desenvolveu esta linguagem, no MIT, o objetivo era criar uma situação experimental que interferisse o
menos possível com o estilo cognitivo dos alunos, ou seja, com os seus processos mentais naturais.
3 Política governamental que impede legalmente o acesso e a importação de uma determinada classe de
produtos e bens de consumo com vistas a uma pretensa proteção e desenvolvimento da indústria nacional.
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 51
em Informática na Educação, em 1987, de onde destacaram-se
ações básicas de sedimentação de uma cultura nacional de
informática na educação, tais como: projeto Formar (1987,
1989 e 1992) que se consistiu da realização de Cursos de
Especialização em Informática e Educação; projeto CIEd que
implantou Centros de Informática na Educação junto às
secretarias estaduais; Jornada de Trabalhos: Subsídios para
Políticas; e, Concursos de Software Educativos (1987 a 1989),
visando incentivar a revelação de talentos, a produção
descentralizada e melhoria da qualidade. (ANDRADE, 1996, p.
2).
Percebe-se, portanto, um esforço, ainda que incipiente, para introduzir a
informática no âmbito educacional. Eram as primeiras tentativas de integrar novas
tecnologias ao fazer docente. Nesse período é formulada a Lei Geral das
Telecomunicações.
2.3.2 Lei Geral das Telecomunicações – LGT
A Lei Geral das Telecomunicações (LGT), norma que dispunha sobre
organização dos serviços de telecomunicações, sobre a criação e funcionamento de um
órgão regulador4 além de outros aspectos institucionais, ao ser promulgada em 1997,
atribuía ao poder executivo o encaminhamento ao Congresso Nacional, no prazo de
cento e vinte dias da publicação, mensagem de criação de um fundo para o
desenvolvimento tecnológico das telecomunicações brasileiras. Tendo como objetivo
estimular a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias, incentivar a capacitação
dos recursos humanos, fomentar a geração de empregos e promover o acesso de
pequenas e médias empresas a recursos de capital, de modo a ampliar a competição na
indústria de telecomunicações.
Todavia, de 1997, quando a lei foi promulgada, até agosto de 2000, a
regulamentação ficou tramitando no Congresso Nacional, não se conseguindo, portanto,
4 A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) foi criada pela Lei 9.472, de 16 de julho de 1997 – mais
conhecida como Lei Geral de Telecomunicações, sendo a primeira agência reguladora a ser instalada no Brasil. A
criação da agência fez parte do processo de reformulação das telecomunicações brasileiras iniciado com a
promulgação da Emenda Constitucional 8/1995, que eliminou a exclusividade na exploração dos serviços públicos a
empresas sob controle acionário estatal, permitindo a privatização e introduzindo o regime de competição.
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 52
a sua devida aplicação, pela falta de regulamentação. Somente com a Lei n. 9.998, de 17
de agosto de 2000 ocorreu a instituição do Fundo de Universalização dos Serviços de
Telecomunicações (FUST). Pela legislação, os recursos do FUST seriam aplicados em
programas, projetos e atividades que estivessem em consonância com o plano geral de
metas para universalização de serviço de telecomunicações ou suas ampliações.
Ademais, do total dos recursos deste fundo, dezoito por cento, no mínimo, seriam
aplicados em educação, para os estabelecimentos públicos de ensino. Por causa da
evolução tecnológica observada no setor de telecomunicações, o acesso à Internet tem
cada vez mais importância em relação ao antigo serviço telefônico fixo.
2.3.3 Programa Nacional de Informática na Educação - PROINFO
A principal ação do governo na implantação da informática na educação pública
é o Programa Nacional de Informática na Educação – PROINFO. Esse programa foi
criado pelo Ministério da Educação, através da Portaria nº 522 em 09 de abril de 1997,
sob a batuta da Secretaria de Educação a Distância, com a finalidade de promover o uso
da tecnologia como ferramenta de enriquecimento pedagógico no ensino público
fundamental e médio. A partir de 12 de dezembro de 2007, mediante a publicação do
Decreto Presidencial n° 6.300, o ProInfo passou a ser denominado Programa Nacional
de Tecnologia Educacional.
As diretrizes do PROINFO foram divulgadas com três datas,
sem a seguinte referir-se à anterior ou à história do documento.
A primeira versão foi preparada com a data 19-20 de setembro
de 1996, para a III reunião extraordinária do Conselho Nacional
de Secretários Estaduais de Educação (CONSED), naquele ano.
Na apresentação lê-se que "o Programa Nacional de Informática
na Educação, ora proposto pelo MEC, pretende iniciar o
processo de universalização do uso de tecnologia de ponta no
sistema público de ensino. A segunda e terceira são idênticas,
com exceção das datas." (CYSNEIROS, 2003, p. 121).
Como complementação as ações direcionadas à universalização do uso de
tecnologia de ponta no sistema público de ensino foi criado o PROINFO Integrado.
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 53
2.3.4 PROINFO Integrado
O Proinfo Integrado é um programa de formação voltado para o uso didático-
pedagógico das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no cotidiano escolar,
articulado à distribuição dos equipamentos nas escolas e aos conteúdos e recursos
multimídia e digitais oferecidos pelo Portal do Professor, pela TV Escola e DVD
Escola, pelo Domínio Público e pelo Banco Internacional de Objetos Educacionais.
De fato, com números significativos, o computador só chegou à escola pública
com o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (Proinfo).
Aspecto importante na implementação de um programa desta magnitude é
refletir e garantir sua perenidade, fazê-lo em estreita colaboração com os diferentes
entes federativos pautado em critérios técnicos. Na construção desta cultura, bem como
na execução dos diferentes editais, é relevante estabelecer um marco legal que sustente
este rumo.
2.3.5 Projeto Cidades Digitais
A portaria nº. 376, de 19 de agosto de 2011, do Ministério das Comunicações,
instituiu o Projeto de Implantação e Manutenção das Cidades Digitais cujos objetivos
eram: (a) constituir redes digitais locais de comunicação nos municípios brasileiros; (b)
promover a produção e oferta de conteúdos e serviços digitais; (c) facilitar a apropriação
de tecnologias da informação e da comunicação pela gestão pública local e pela
população, de maneira coordenada e integrada entre esferas dos poderes públicos e da
sociedade. O propósito do Ministério das Comunicações, ao propor o projeto, era
estabelecer uma política contínua e efetiva que integrasse outras ações de inclusão
digital e que fosse sustentável ao longo do tempo. Tomando como base essa
perspectiva, o Projeto Cidades Digitais foi apresentado como um projeto estruturante
cuja meta era contribuir para estabelecer uma cultura digital na sociedade brasileira.
Representava assim mais do que uma ação de implantação de infraestrutura de conexão,
representava um verdadeiro centro aglutinador da cultura digital para o
desenvolvimento social, uma vez que serviria como um canal importante para
integração de outras políticas de governo que têm a inclusão digital como foco ou que
dependem da mesma para melhorar a sua eficiência e os seus respectivos resultados.
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 54
2.3.6 Programa Nacional de Banda Larga – PNBL
Criado pelo decreto n. 7.175/2010, o Programa Nacional de Banda Larga
(PNBL) é uma iniciativa do Governo Federal que tem o objetivo principal de fomentar e
difundir o uso e o fornecimento de bens e serviços de tecnologias de informação e
comunicação massificando o acesso à Internet em banda larga no país, principalmente
nas regiões mais carentes da tecnologia.
Esse programa prevê que o Comitê Gestor do Programa de Inclusão Digital
(CGPID) gerencie o plano, defina tecnicamente o que é banda larga e promova as
parcerias com o setor privado. Trata-se de um comitê composto por representante de
nove ministérios, de duas secretarias e do Gabinete Pessoal do Presidente da República.
Compete ao CGPID a gestão e o acompanhamento do PNBL no âmbito do Poder
Executivo, cabendo-lhe fixar as ações, metas e prioridades do programa, acompanhar e
avaliar suas ações de implementação e publicar anualmente relatório de
acompanhamento, demonstrando os resultados obtidos. Devido à amplitude de temas
abordados, o PNBL foi dividido em duas etapas. Na etapa inicial, o objetivo perseguido
foi a disponibilidade de infraestrutura e o desenho de uma política produtiva e
tecnológica compatível. Na etapa seguinte, o foco seria a promoção de conteúdos
digitais, aplicações e serviços. Em ambas as etapas, o programa apresentaria propostas
para diversas áreas temáticas, tais como governo eletrônico, educação, saúde, segurança
pública, comércio e serviços, informação, entretenimento, entre outras.
Cabe ressaltar que o Decreto nº 7.175, de 12 de maio de 2010, que institui o
Programa Nacional de Banda Larga – PNBL, também menciona a redução das
desigualdades regionais como um de seus objetivos específicos. Apesar disso, não
define mecanismos para sua consecução.
2.3.7 Programa Banda Larga nas Escolas – PBLE
O Programa Banda Larga nas Escolas foi lançado no dia 04 de abril de 2008
pelo Governo Federal, por meio do Decreto nº 6.424 que altera o Plano Geral de Metas
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 55
para a Universalização do Serviço Telefônico Fixo Comutado Prestado no Regime
Público – PGMU (Decreto nº 4.769). O Programa Banda Larga nas Escolas (PBLE) tem
como objetivo conectar todas as escolas públicas urbanas à Internet, rede mundial de
computadores, por meio de tecnologias que propiciem qualidade, velocidade e serviços
para incrementar o ensino público no País.
Em relação ao PBLE, o Relatório de avaliação do Programa Nacional de Banda
Larga (PNBL) menciona,
Convém mencionar que o serviço de acesso à Internet prestado
às escolas públicas, na maior parte dos casos com velocidades
de 1 Mbps ou 2 Mbps, são insuficientes para as demandas
atuais de interatividade que os projetos pedagógicos exigem
[...]. Recomenda-se também que as velocidades do PBLE sejam
atualizadas para uma faixa de 30 Mbps a 100 Mbps, de acordo
com o número de alunos da escola e a disponibilidade de
equipamentos e conteúdos digitais no projeto pedagógico da
escola. (BRASIL, 2015, p.48-49).
Além dos programas citados, o governo passou a lançar Editais para projetos que
tivessem como objetivo incentivar a inovação pedagógica, tecnológica e de gestão
educacional, por meio do desenvolvimento, aplicação, formação, disseminação e
avaliação no uso das TICs na educação, além de promover a melhoria da qualidade do
ensino superior público por meio de métodos e práticas de ensino-aprendizagem
inovadores.
O Marco Civil da Internet, Lei n. 12.965/14, começou a ser elaborado em 2009,
pelo Ministério da Justiça em colaboração com o Centro de Tecnologia e Sociedade, da
Fundação Getúlio Vargas, bem como com a participação direta da sociedade civil,
comunidade empresarial e representantes das áreas técnica e acadêmica, por meio de
colaboração on-line direta e aberta. A Lei não foi apenas um marco da Internet, mas
também do processo legislativo brasileiro, por todo o debate realizado antes e durante a
tramitação no Congresso Nacional.
Quando tratamos da legislação balizadora das tecnologias da informação e
comunicação voltadas a educação, observamos diversos problemas. Na própria
concepção dos programas, na sua implementação, até nas suas formas de controle. A
existência de mecanismos de controle por si só é insuficiente para garantir a boa
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 56
execução de um programa. É necessário haver uma sistemática que permita
regularmente monitorar e avaliar os dados originados desses mecanismos, de forma a
detectar e corrigir desvios em sua execução.
Notadamente, nessas três décadas de programas/ações voltados as TICs na
educação, ocorreram avanços indiscutíveis. Todavia, vários objetivos apregoados por
essas iniciativas governamentais, não foram alcançados. E em alguns casos, estamos
longe de atingí-los. Parte se dá pela própria concepção dos programas/ações. Numa
primeira análise, algumas políticas públicas voltadas para as novas tecnologias foram
desenvolvidas pelo poder executivo e decididas num processo, até certo ponto,
elementar. Como forma de responder às demandas colocadas na própria agenda política
educativa e/ou como resultado de eventos internacionais com impacto local. Ações
pautadas apenas no plano administrativo, ou na competência dos próprios ministérios
setoriais. Sem respaldo do parlamento ou por instâncias diversas de discussão, sem sua
tramitação dentro de esferas diferentes da máquina do Estado e sem grandes estudos
técnicos, simulações, análises de impacto horizontal/vertical, efeitos econômicos ou
orçamentários.
A proposta de construção da legislação educacional frente às TICs deve inovar
também no processo de sua concepção. Ao lançar mão das mesmas ferramentas
tecnológicas, aprimoraríamos a participação ativa e direita dos inúmeros atores sociais
envolvidos no tema (alunos, pais, professores, gestores, academia, iniciativa privada,
parlamentares e outros representantes do governo).
Os alunos que possuem acesso aos meios informatizados têm maior facilidade de
acesso à leitura e à escrita. Podem, dessa forma, apropriar-se melhor dos bens culturais.
Mas, mesmo tendo melhores condições de fazê-lo do que na época da escrita
convencional, não farão melhor somente porque têm um computador à disposição. A
simples mudança de instrumentos, ou seja, do livro didático para o computador, não
sentencia uma maior e melhor apropriação do conhecimento culturalmente significativo.
As escolas públicas caminham no sentido de preservar esse anacronismo, mesmo
quando arrastadas por modismos educacionais. Estão despidas de uma real proposta de
trabalho que produza melhorias no processo ensino-aprendizagem. Acabam, assim,
perpetuando os índices do fracasso, do tradicionalismo e do conservadorismo,
contribuindo em larga escala para a exclusão social, ao deixar de cumprir o seu papel de
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 57
educar o cidadão, garantindo não só o acesso universal, mas uma educação de
qualidade, para além dos rankings a todos os cidadãos brasileiros.
É necessário que a função da educação e o papel da mídia em
nossa sociedade sejam constantemente reavaliados de forma
crítica. Só desta forma a inserção das TICs no cotidiano terá
sentido e se constituirá num ganho para o processo ensino-
aprendizagem e para o acesso democrático ao capital cultural
produzido pela humanidade. Caso contrário, como tem sido
constantemente visto, as políticas públicas para inserção de
tecnologia no cotidiano escolar se tornam material de barganha
eleitoreira a cada eleição, ou vão sendo rebatizadas para que
cada governante possa imprimir seu ego em projetos faraônicos
de compra de computadores (SILVA, 2011, p. 538).
Portanto, acreditamos que a utilização das tecnologias, na prática docente,
depende de uma gama de variáveis que estão para além das políticas públicas. O papel
do professor torna-se fundante nesse processo. Para Allegretti (1998),
A tecnologia na educacao encontrara seu espaco, desde que haja
uma mudanca na atitude dos professores, que devem passar por
um trabalho de autovalorizacao, enfatizando seu saber para que
possam apropriar-se da tecnologia com o objetivo de otimizar o
processo de aprendi- zagem. E a mudanca de atitudes e uma
condicao necessaria, nao so para os professores, como tambem
para os diretores e demais colaboradores, pois estes devem
conceber a sua posicao e a sua autoridade de forma diferente –
como agentes formadores, incentivadores, atuando sobretudo
como mediadores do processo e co-participantes do trabalho
escolar. (ALLEGRETTI, 1998, p. 19)
Evidentemente, integrar as novas tecnologias no cotidiano docente não é uma
tarefa fácil. Pois, para além da mudança de atitude do professor muito há para ser
modificado, especialmente, se considerarmos as condições pedagógicas, estruturais e
formativas inerentes ao ambiente escolar. Entretanto, para Libâneo (2009) a postura do
professor é parte fundante nesse processo. Nessa direção, o autor afirma que:
A presenca do professor e indispensavel para a criacao das
condicoes cognitivas e afetivas que ajudarao o aluno a atribuir
significados as mensagens e informacoes recebidas das midias,
das multimidias e formas variadas de intervencao educativa
urbana. O valor da aprendizagem escolar esta justamente na sua
capacidade de introduzir os alunos nos signficados da cultura e
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 58
da ciencia por meio de mediacoes cognitivas e interacionais
providas pelo professor. E a escola, concebida como espaco de
sintese, estaria contribuindo efetivamente para uma educacao
basica de qualidade: formacao geral e preparacao para o uso da
tecnologia, desenvolvimento de capacidades cognitivas e
operativas, formacao para o exercicio da cidadania critica e a
formacao etica. (LIBÂNEO, 2009, p.12)
De fato, a escolarização tem assumido cada vez mais responsabilidades, em
função de uma demanda que transcende a transmissão do conhecimento sistematizado, o
qual, como vimos, era suficiente na Pedagogia Tradicional. Na atualidade, é preciso
desenvolver no educando novas competências que possibilitem não somente uma
alfabetização literal, mas, fundamentalmente, um letramento digital. Para Kleiman
(2008, p. 19), “Podemos definir hoje o letramento como um conjunto de praticas sociais
que usam a escrita enquanto sistema simbolico e, enquanto tecnologia, em contextos
especificos, para objetivos especificos. O letramento digital consiste em tornar o
estudante competente para utilizar as tecnologias em benefício próprio, nas mais
diversas situações. Nesse sentido, uma das estratégias mais recorrentes e eficientes para
letrar os educandos é o ensino com pesquisa. Para Noviko (2010, p. 213) ensino e
pesquisa sao inseparaveis na essencia, pois, “ambos mediam o conhecimento e
promovem a aprendizagem. O ensino se faz entre outros modos, no ato de pesquisar.
Pesquisar se faz no ato de aprender. Ambos tem seus proprios caminhos, mas se
entrecruzam na busca de conhecimento”. Freire (1996, p. 32) já propunha a fusao entre
ensino e pesquisa, advogando que:
Enquanto ensino, continuo buscando, reprocurando. Ensino
porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago.
Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo
educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda nao
conheco e comunicar ou anunciar a novidade. (FREIRE, 1996,
p.32)
Barato (2010), por sua vez explicita que a pesquisa escolar, com ou sem Internet,
tera outra concepcao quando passar a ser encarada como pratica de investigacao,
engajamento e compromisso, porque tais valores são fundamentais para a ressignficacao
da pesquisa escolar. Alem disso, e necessario realizar um trabalho envolvendo alunos e
professores com relacao a maneira que enxergam e utilizam a Internet, pois,
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 59
A reducao da Internet apenas a uma imensa biblioteca deixa de
lado a ideia de que a rede internacional de computadores e um
ambiente colaborativo. Ou seja, a Internet em sua concepcao
original e um espaco para trabalhos participativos. Essa
caracteristica e pouco considerada em educacao. O sentimento
comum nao e o de colaboracao, mas o de aproveitar a riqueza
de informacoes disponiveis. (BARATO, 2010, p. 19).
Independentemente do tipo de tecnologia, ou das estratégias a serem utilizadas,
importa que sejam ofertadas ao professor as condições necessárias desde sua formação
inicial passando pela formação continuada para que possa, de forma qualificada,
integrar as novas tecnologias à sua prática. Portanto, as políticas devem ser perenes e
suficientes, e o professor tem que se assumir como parte essencial na aquisição do
próprio letramento digital, assim como co-participante no letramento dos estudantes. A
utilização das tecnologias deve estar incorporada ao seu cotidiano, ao seu fazer docente,
não de forma estanque, trocando a exposição em quadro por exposição em algum
software visualizador de apresentações, mas de forma efetiva, de modo que a mediação
pedagógica, com auxílio das novas tecnologias possibilite a atividade fim do processo,
ou seja, a aprendizagem significativa. Esse entendimento da necessidade de oportunizar
momentos de práticas formativas imersivas aos professores, corrobora a idéia que
afirma que projetos exitosos estão centrando seus esforços no interesse em incorporar as
novas tecnologias como uma ferramenta habitual nas práticas docentes, incorporada e
não estanque, como forma de conseguir gradualmente mudanças significativas na
qualidade e efetividade de seu trabalho, permitindo assim, que cada professor perceba,
desde sua própria realidade, interesses e expectativas de como as tecnologias podem ser
úteis a ele.
Uma alternativa, um caminho promissor para a implementação de desenhos
inovadores de formação é a aproximação da educação aos movimentos que vêm
ocorrendo em outros campos da sociedade a fim de refletir sobre os modos como eles se
valem das possibilidades dadas pelas tecnologias. Várias práticas são vivenciadas no
âmbito das artes e da cultura, nos novos movimentos sociais, nos coletivos de makers e
de hackers, nas comunidades de desenvolvimento de software livre e em tantos tipos de
agrupamentos bastante recentes, que vêm se estruturando em torno de formas de
aprendizagem e produção (des)estruturados de maneiras muito distintas (PADILHA,
2014). Trata-se de comunidades, hackathons, ambientes nos quais o conhecimento é
aberto e coletivo, onde ser autor é ser coautor, onde o conhecimento é transitório e as
narrativas incorporam diversas linguagens e suportes. Considerando essa prática hacker,
FORMAÇÃO DOCENTE E A INTEGRAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR 60
Pretto (2010), analisando a tríade - redes colaborativas, ética hacker e educação,
desenvolve um argumento que afirma que os princípios dos hackers possibilitaram a
construção do ciberespaço, que, com os aparatos tecnológicos digitais, possibilitou
intrinsecamente a emergência de novas linguagens e de novas práticas de produção de
conhecimentos e de culturas.
Outra consideração a pontuar na formação de professores com vistas à
tecnologia educacional é sobre a resistência às novas tecnologias por parte dos docentes.
Pesquisas como a de Padilha (2014) e Barahona (2015) já apontam não ser mais
possível afirmar que a resistência do docente é uma barreira relevante para a ampliação
do uso de tecnologias nas escolas, como se propagou por muito tempo e como alguns
insistem em afirmar ainda hoje. Para Barahona (2015, p.342, tradução nossa), a atitude
dos professores é positiva e proativa e "acreditam que a tecnologia melhora os processos
de ensino e a aprendizagem e estão convencidos de que as TIC são tão úteis para a EF
quanto para o ensino de outros assuntos".
Afastado, portanto tal argumento, necessário se faz avançar em outras hipóteses
como ponto de partida para ações mais assertivas para a efetivação de usos de
tecnologias no contexto escolar. Faz-se necessário criar desenhos disruptivos de
formação para que docentes e escolas incorporem uma verdadeira mudança de cultura,
de modelo mental, incorporando e ampliando características que já se observam de
forma incipiente nas práticas espontâneas dos professores apontadas nos dados das
atuais pesquisas em TICs para educação. Do contrário, a predisposição verificada entre
docentes (como poderá ser visto nesta tese) para a adoção das tecnologias não será
revertida em melhoria da qualidade educativa.
3
Inovação Educacional e
Tecnologias Emergentes
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 62
3.1 Inovação Educacional: polissemia, possibilidades e desafios
A era da informação vem cedendo lugar à era da inovação. Um modelo de
sociedade baseado em máquinas passa para um modelo baseado em bits e bytes,
fragmentado, hipertextual, não linear.
O século XX foi abalado por todos os tipos de movimentos
políticos, sociais e, claro, nos campos do pensamento e da
ciência, lideraram este último terreno, por uma revolução
espetacular na tecnologia. Neste cenário cheio de grandes
teorias, realizações incríveis e decepções clamorosas, a
computação viveu seu momento estelar, o que permitiu modelar
o mundo à sua imagem e semelhança através da revolução
digital. (TORRA, 2010, p.105, tradução nossa)
Mas o que seria essa inovação? O que o termo significa?
O termo inovação é considerado polissêmico, plural e complexo, principalmente
quando relacionado a conceitos provenientes do campo da educação, por exemplo,
inovação pedagógica, inovação curricular, inovação educativa. No “Dicionário
Etimológico da Língua Portuguesa” (s.d.), observa-se o significado da palavra “novo”,
do latim “nõvu, jovem, coisa nova, novidade, qualquer coisa a que ainda não se está
habituado; estranho, singular; novo, que se renova variado; novo (outro)”. Segundo o
léxico, a etimologia da palavra inovação surgiu do latim innovatiõne, renovação, surgiu
pela primeira vez em 1453, grafada como enovacão.
Henry Ford, empreendedor estadunidense, disse em algum momento de sua
vida: "Se você tivesse perguntado às pessoas o que queriam para viajar, teriam
respondido: um cavalo rápido". A levar em consideração que o anunciante da fala
anterior foi um modelo de inovador, a inovação não deveria ser entendida como uma
cópia melhorada de processos ou objetos reais - produtos, mais incrementados de design
ou serviços que se baseiam nos mesmos procedimentos (LOMBARDERO, 2015).
Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou
significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou
um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de
trabalho ou nas relações externas.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 63
A inovação implica em criar o novo e o novo contém elementos
que não compreendemos no início e sobre os quais estamos
incertos. Além disso, o grau de incerteza está fortemente
correlacionado com o grau de avanço que propomos em uma
determinada inovação. (KLINE; ROSENBERG, 1986, p. 295).
A capacidade de gerar e absorver inovações vêm sendo considerada, mais do que
nunca, crucial para que um agente econômico se torne competitivo. Apesar de muitos
considerarem, atualmente, que o processo de globalização e a disseminação das
tecnologias de informação e comunicação, permitem a fácil transferência de
conhecimento, observa-se que, ao contrário deste pensamento, apenas informações e
alguns conhecimentos podem ser facilmente transferíveis. Além de não obedecer a um
padrão linear, contínuo e regular, as inovações possuem um caráter cumulativo e um
considerável grau de incerteza, posto que as mudanças e avanços são influenciados pela
experiência acumulada no passado e a solução dos problemas existentes e as
consequências das resoluções são desconhecidas a priori (LEMOS, 1999).
Inovações vêm ajudando a transformar a história da
humanidade desde sempre. Do machado às terapias com
células-tronco, um conjunto infindável de produtos e de
processos modificou as formas de vida. [...] Entre a segunda
metade do século XIX e o início do século XX houve inovações
que condicionaram fortemente a vida cotidiana, a produção e as
formas de uso de bens (SALERNO; KUBOTA, 2008, p. 16).
No que tange a essas definições conceituais, como nos alerta Messina (2001),
acerca da fragilidade teórica do conceito de inovação para explicar os processos
inovadores que são desenvolvidos na educação, o termo inovação vem sendo assumido
como fim em si mesmo e como solução para problemas educacionais estruturais e
complexos. Tomamos como pressuposto, inclusive, que não há uma neutralidade do
conceito de inovação, o qual pode trazer em si valores positivistas de progresso e
desenvolvimento. Portanto, inovação não é apenas um conceito evasivo, mas também
extremamente dependente do contexto.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 64
No meio pedagógico, a inovação tem sido referência obrigatória e recorrente no
campo educacional, empregada para melhorar o estado de coisas vigente. Numa
perspectiva mais reflexiva no campo educacional, inovar, em termos metodológicos,
tem significado de estruturar métodos de ensino que levem o aluno a utilizar habilidades
intelectuais, a exercitar o pensamento reflexivo na solução de problemas e na tomadas
de decisões. Já inovar, do ponto de vista da didática, tem significado de criar métodos
ou técnicas de ensino que favoreçam a integração de conteúdos e a integração social dos
alunos, bem como estimulem a participação destes em outros níveis que não apenas o
intelectual. Os métodos e técnicas de ensino constituem, possivelmente, a dimensão
pedagógica mais sensivelmente afetada pelas tentativas de produção de mudança
educacional, senão em termos qualitativos, pelo menos quantitativamente. Dentre as
varias hipóteses que podem ser aventadas para explicar o fenômeno, não nos parece
desprezível considerar a proposição de que talvez esta constitua a dimensão sobre a qual
o professor tem mais controle e, portanto, mais condições de atuar.
Todavia, destacamos que inovação não é solução mágica que possa ser aplicada
para resolver todos os problemas da esfera educacional. Muitas das propagadas
inovações podem provocar até mesmo retrocesso e prejuízos à qualidade dos sistemas
educacionais. Assim, destaca que inovação em educação deve ser acompanhada de
questionamentos como; a quem interessa; por quem foi proposta ou implementada e a
quem poderá beneficiar.
Utilizaremos neste estudo, a definição de Inovação Educacional de Base
Tecnológica (IEBT). Essa inovação educacional diz respeito a “qualquer mudança
dinâmica que tenha como objetivo agregar valor aos processos educacionais que
promovam resultados mensuráveis” (PEDRÓ, 2010, p. 12). Para este autor, os países
têm apoiado essas inovações baseadas em tecnologia de muitas formas.
Especificamente, no plano político, esforços importantes estão sendo feitos em três
diferentes direções: (a) determinar as condições que permitem a adoção de tecnologia;
(b) instrumentalizar e apoiar as escolas e professores para gerarem inovações no âmbito
da escola ou sala de aula; (c) fornecer apoio para a comunidade de pesquisa interessada
em documentar e analisar inovações educacionais emergentes.
Para além da definição de IEBT, criamos mais um pilar dentro da definição que
seria o conceito de aberto. Uma inovação de caráter aberto pode fornecer ferramentas
capazes de adotar múltiplas formas e significados, associados com o contexto no qual se
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 65
insere (MESSINA, 2001). Quando tratamos de aberto, fazemos uma oposição ao
conceito de proprietário, de fechado.
O termo inovação aberta foi cunhado por Henry Chesbrough,
que o define como ´o uso de fluxos internos e externos de
conhecimento para acelerar a inovação interna e expandir os
mercados para o uso externo dessa inovação’.
(LOMBARDERO, 2015, p. 130)
Atualmente, no campo educacional, um movimento mundial está em
desenvolvimento, promovendo acesso aberto aos recursos digitais para que sejam
usados como um meio de promover a educação e a aprendizagem ao longo da vida
(GESER, 2007). Faz parte de iniciativas que promovem ativamente os "commons", tais
como os recursos naturais, os espaços públicos, o patrimônio cultural e o acesso ao
conhecimento entendido como parte a ser preservada para o bem comum da sociedade.
O movimento em direção aos Recursos Educacionais Abertos (REA) é uma ideia
simples que preceitua o conhecimento como um bem público cuja tecnologia em geral e
da web, em particular, são gestadas como potencializadoras para que todos possam
compartilhar, usar e reutilizar o conhecimento gerado. Para o Open e-Learning Content
Services Observatory (OLCOS)5, os resultados iniciais das pesquisas demonstram que
REA desempenha um papel importante no ensino e aprendizagem, mas é crucial a
promoção da inovação e de mudanças nas práticas educacionais.
A inovação educacional aberta tem lastro na filosofia open-source, ou seja, na
discussão de software de código aberto (open source software – OSS). Ideia essa que
propõe que softwares de computador tenham seu código fonte disponibilizado e
licenciado com uma licença de código aberto no qual o direito autoral forneça o direito
de estudar, modificar e distribuir o software gratuitamente para qualquer finalidade.
Esse movimento de software livre, foi lançado em 1983 e liderado pelo hacker Richard
Stallman.
Raymond, outro estudioso do movimento OSS, "Given enough eyeballs, all bugs
are shallow", em tradução livre: havendo olhos suficientes, todos os erros são óbvios.
5 OLCOS, Open e-Learning Content Services Observatory, é co-financiado no âmbito do Programa
eLearning da União Europeia e visa a construção de um Centro (online) de informação e de observação a
fim de promover o conceito, a produção e utilização de recursos educacionais abertos, em particular,
conteúdo educacional digital aberto (ODEC) na Europa.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 66
Usuários são ótimas coisas para se ter, e não somente porque
eles demonstram que você está satisfazendo uma necessidade,
que você fez algo certo. Cultivados de maneira adequada, eles
podem se tornar co-desenvolvedores [...] E porque o código
fonte está disponível, eles podem ser desenvolvedores eficazes
[...] Com um pouco de estímulo, seus usuários irão diagnosticar
problemas, sugerir correções e ajudar a melhorar o código
muito mais rapidamente do que você poderia fazer sem ajuda.
Tratar seus usuários como codesenvolvedores é seu caminho
mais fácil para uma melhora do código e depuração eficaz.
(RAYMOND, 2001, p.6)
Podemos inserir claramente, nesta discussão, as ideias do educador Paulo Freire
(1986) que desde muito afirmava que os seres humanos têm essa possibilidade de ser
co-criadores/co-desenvolvedores, a qual nos libera de ser meros executores das
programações sociais e de ficar subordinados às metodologias bancárias.
Como se pode observar, na atualidade a difusão da informação e do
conhecimento avança de forma acelerada e sem precedentes na história humana. Fato
este gerado basicamente a partir da emergência das tecnologias de informação e
comunicação, associadas às inovações dela decorrentes. Um círculo ascendente parece
em curso: conhecimento que gera produtos e processos inovadores, e esses ajudando a
aumentar o conhecimento. Para Kubota (2008),
Parte substancial da economia mundial gira ao redor de
atividades baseadas em alto conteúdo tecnológico, baseadas em
conhecimento. Parte substancial da vida de boa parte das
pessoas do planeta ou está imersa em atividades ligadas ao
conhecimento, ou é viabilizada por alto conteúdo tecnológico
(KUBOTA, 2008, p. 16).
Neste ambiente social e econômico mundial, pessoas que não adquirem e não se
apropriam da competência de inovar, podem sofrer de uma nova forma de separação
digital que pode afetar a capacidade de se integrarem plenamente à economia e à
sociedade do conhecimento.
Inovar, na educação, tem o significado de organizar o ensino de forma que o
aluno se envolva ativamente na realização de tarefas de acordo com seu próprio ritmo
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 67
de aprendizagem, obtendo avaliações e incentivos imediatos. Convém destacar que os
recursos audiovisuais podem ou não ser considerados inovadores em função da forma
como são estruturados, das potencialidades que estimulam ou objetivam desenvolver e o
uso que deles se faz.
Os códigos, o software, as máquinas e a capacidade de
processamento – que a cada dia aumenta – foram contribuindo
para a construção de uma nova forma de produzir
conhecimento, que hoje orienta os processos de produção
colaborativa e aberta em rede, que está presente em todas as
áreas, além da computação, e que mostra a dimensão não
instrumental dessas tecnologias. (BONILLA; PRETTO, 2015,
p.5)
Provavelmente a vertente mais usual deste uso de tecnologia seja a Internet.
Sobre esses dados, podemos verificar segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (IBGE, 2015), o seguinte.
Tabela 01. Percentual de pessoas que utilizaram a Internet, nos últimos três meses, na população
de 10 anos ou mais de idade
Grupamentos de atividade do
trabalho principal
Percentual de pessoas que utilizaram a Internet, no
período de referência dos últimos três meses, na
população de 10 anos ou mais de idade, ocupada na
semana de referência (%)
Brasil
Grandes Regiões
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-
Oeste
Total (1) 63,4 49,0 48,7 72,2 67,7 68,7
Agrícola 16,8 12,2 9,8 24,5 24,6 26,6
Indústria 69,6 49,0 56,0 76,8 70,5 69,4
Indústria de transformação 69,3 48,0 54,8 76,5 70,3 68,9
Construção 47,4 41,3 36,2 52,9 51,2 53,3
Comércio e reparação 73,4 60,7 62,4 79,0 79,8 78,7
Alojamento e alimentação 66,1 54,6 56,1 71,6 69,6 71,0
Transporte, armazenagem e
comunicação 68,4 56,8 57,6 74,6 68,6 67,4
Administração pública 80,8 75,1 74,5 83,1 84,4 86,8
Educação, saúde e serviços sociais 87,1 76,1 79,5 91,2 91,1 88,7
Serviços domésticos 44,1 39,7 39,0 46,9 44,7 45,3
Outros serviços coletivos, sociais e
pessoais 80,3 72,7 72,3 83,3 83,1 83,6
Outras atividades 87,6 80,5 83,1 88,9 89,0 89,3
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios 2015.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 68
Observando também os dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br)
existe um número elevado de docentes que acessaram a Internet no período de 2010 a
2013 (cerca de 98%) que condiz com valores de acesso quando levamos em
consideração os dados disponibilizados pela Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD), de 2015, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2015). Para tanto, utilizamos como referência o grupamento de atividade de trabalho:
educação, saúde e serviços sociais, como explicita a tabela anterior.
Para Pedró (2010), a maioria dos professores está convencida dos benefícios que
o uso da tecnologia pode trazer para a sala de aula. Todavia a mudança em nível de
sistema educacional não está acontecendo devido a certas condições. A conexão entre as
práticas pedagógicas envolvendo tecnologia e seus efeitos sobre a qualidade, equidade e
desempenho, permanece mal resolvida. As instituições são incapazes de formar
professores preparados com verdadeira experiência prática em pedagogia melhorada
pela tecnologia e falham, consequentemente, em fornecer direções claras no uso efetivo
da tecnologia em sala de aula. Mudanças pedagógicas requerem um enorme
investimento de esforços por parte dos professores, individual e coletivamente. A
evidência empírica que poderia eventualmente nortear esta mudança, por exemplo,
conectando usos específicos de tecnologia com o avanço no desempenho do aluno, é
escasso e não comunicado devidamente aos professores.
A pertinência teórica deste estudo se baseia em tentar identificar um recurso que
auxilie o avanço de desempenho dos professores junto aos instrumentos tecnológicos
emergentes, permitindo que esses docentes colaborem em processos de produção
colaborativa e aberta em rede.
3.2 Tecnologia Educacional: da concepção à aplicação
Etimologicamente, o termo tecnologia vem das palavras gregas τεχνη —
"tecnica, arte, ofício" e λογια — "estudo". Os conhecimentos derivados da ciência,
quando aplicados na prática, dão origem a diferentes equipamentos, instrumentos,
ferramentas, recursos, produtos, processos, enfim, a tecnologias. Essa passa a ser
considerada como uma aplicação de conhecimentos científicos na resolução de
problemas. Portanto um produto da ciência que envolve um conjunto de instrumentos,
métodos e técnicas que visam a resolução de problemas pré-definidos. O conhecimento
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 69
científico permite desenvolver um saber técnico graças ao qual o homem é,
progressivamente, capaz de se libertar das contingências naturais.
Em documentos oficiais, a tecnologia é conceituada "como a transformação da
ciência em força produtiva ou mediação do conhecimento científico e a produção,
marcada, desde sua origem, pelas relações sociais que a levaram a ser produzida."
(BRASIL, 2013, p. 195). Esses vínculos entre conhecimento, poder e tecnologias estão
presentes em todas as épocas e em todos os tipos de relações sociais. Nessa perspectiva,
o papel da ciência e da tecnologia é tido como fator crucial para estimular, impulsionar
e manter o desenvolvimento socioeconômico dos países. Grandes potências
econômicas, governos ou corporações, preocupam-se em manter seu poderio político e
econômico, investindo em pesquisas de inovações que garantam a manutenção dessa
supremacia. Para Kenski (2012),
Muitos equipamentos, serviços e processos foram descobertos durante
a tensão que existiu entre Estados Unidos e União Soviética pela
ameaça, de ambos os lados, de ações bélicas, sobretudo com o uso da
bomba atômica. A corrida espacial, resultante do avanço científico
proporcionado por essa tensão, trouxe inúmeras inovações: o isopor, o
forno de micro-ondas, o relógio digital e o computador. (KENSKI,
2012, p.16)
Nessa mesma perspectiva, Santos (2005) afirma,
Desde os anos de 1950, quando do lançamento da Sputinik pelos
russos, os países ocidentais começaram a desenvolver programas e a
formalizar políticas de formação científica e tecnológica, voltados
notadamente para objetivos políticos-econômicos, tendo em vista a
Guerra Fria, em detrimento de objetivos sociais e culturais em razão
das necessidades humanas.(SANTOS, 2005, p. 69)
Notadamente, a manutenção do poderio político e econômico se insere no
sistema social em que o capital está baseado na legitimidade dos bens privados. Os
mecanismos intrínsecos de expansão do capitalismo apressam a difusão das tecnologias,
que podem gerar ou veicular todas as formas de lucro. Nasce daí o interesse em ampliar
o alcance da sua difusão, para poder atingir o maior número possível das pessoas
economicamente produtivas, isto é, das que podem consumir (MORAN, 1995).
O surgimento desse novo tipo de sociedade tecnológica é determinado
principalmente pelos avanços das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação
(TDIC) e microetrônica. No âmbito educacional, a aplicação de tecnologia educacional
é vista como,
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 70
Uma estratégia para melhorar os resultados de aprendizagem e a
persistência educacional é a aplicação da tecnologia digital ao
ensino e aprendizagem e outras questões que podem afetar a
aprendizagem, como a falta de envolvimento ou de conexões
sociais e emocionais com a escola. (US DEPARTMENT OF
EDUCATION, 2013, p. 1)
As visões contemporâneas sobre tecnologia oscilam entre a visão da tecnologia
como uma ferramenta, ou meio flexível e adaptável ao uso imputado pelo homem, e a
atribuição à tecnologia do poder de configurar a cultura e a sociedade. Para Peixoto e
Araújo (2012), essas visões distinguem-se da seguinte forma,
Uma visão instrumental, que indica a incorporação das TIC
como recursos didático-pedagógicos moldados pelos sujeitos.
Estes recursos, instrumentos flexíveis e maleáveis, podem ser
utilizados para reproduzir as relações de dominação e de
opressão numa sociedade de massas ou para transformar a
educação segundo o paradigma construtivista. De outro lado, os
trabalhos analisados se baseiam no determinismo tecnológico,
uma visão da tecnologia como um elemento que determina a
configuração social e cultural. Neste caso, a tecnologia já seria,
em si mesma, um novo paradigma pedagógico e deveria ser
imposta ao meio escolar como condição para uma educação em
sintonia com o seu tempo. (PEIXOTO; ARAÚJO, 2012, p. 264)
Como visto, tal dinâmica se reflete na apropriação da tecnologia pelo discurso e,
consequentemente, pelas práticas pedagógicas. As tecnologias são construtos sociais, ou
seja, não podem ser vistas apenas como o fruto lógico de um esquema de
desenvolvimento do progresso técnico. Elas são resultantes de orientações estratégicas,
de escolhas deliberadas, num determinado momento dado da história e em contextos
particulares. Dessa forma, tentamos lançar mão da concepção de Tecnologia na
Educação como proposto por Peixoto e Araújo (2012), a fim de evitar: a) tanto a
tendência a realizar a fetichização das TIC, tratadas como um mero recurso no processo
de ensino e aprendizagem, b) quanto a defesa de seu poder redentor de modernizar a
educação. A educação tem um duplo desafio frente à tecnologia: adaptar-se aos seus
avanços e orientar o caminho para o domínio e a apropriação crítica desses novos
meios. Fazendo com que a tecnologia seja a mais "transparente" possível, ou seja, que
os estudantes possam se concentrar nos conteúdos que estarão sendo abordados e que o
aparato tecnológico seja apenas um meio através do qual todos estarão conectados
(GARONCE; SANTOS, 2012, p. 1012). O avanço tecnológico não só se fez presente no
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 71
espaço da sala de aula, como tende a modificá-lo, lançando-o no ciberespaço (LÉVY,
1999), que descarta a necessidade do homem físico para constituir a comunicação como
fonte de relacionamento entre as pessoas. A escola, agora, tem de criar condições para
que o aluno tenha acesso e meios para analisar o conhecimento disponibilizado com o
compromisso de instrumentalizá-lo para encontrar soluções para os acontecimentos do
seu cotidiano. A escola, desta maneira, também exerce o seu poder em relação aos
conhecimentos e ao uso das tecnologias que farão a mediação entre professores, alunos
e os conteúdos a serem aprendidos.
A tecnologia desenha uma nova geografia, em que já não é tão relevante o lugar
onde cada um habita, mas as suas condições de acesso às novas realidades tecnológicas.
A massificação das tecnologias de comunicação é fundamental para reduzir a assimetria
no acesso à informação nos diversos segmentos da população e nos processos
educacionais, visão assumida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
(MCTI) ao expor que,
Novas tecnologias e sua disseminação contribuem
significativamente para a inclusão social e para a redução das
desigualdades de oportunidade e de inserção ocupacional. As
tecnologias assistivas, por exemplo, são essenciais para a
inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais e para
a criação de oportunidades iguais para todos. (BRASIL, 2016,
p. 95)
É interessante notar que, no atual panorama tecnológico brasileiro, o governo,
através do MCTI, elaborou um quadro estratégico que engloba as Tecnologias de
Informação e Comunicação em junção a outros campos de conhecimento
(nanotecnologia, biotecnologia e as ciências cognitivas - neurociência), propondo uma
convergência tecnológica dessa combinação sinérgica entre as áreas de conhecimento
com intuito de fornecer uma base para a inovação em uma gama de produtos. São
campos que vêm se desenvolvendo com grande velocidade nas últimas décadas e,
individualmente, já são capazes de introduzir modificações significativas na sociedade e
no ambiente, e a combinação das quatro áreas poderá trazer modificações muito mais
expressivas (BRASIL, 2016). Essa convergência tecnológica adotada pelo MCTI teve
origem no acrônimo, NBIC (Nanotechnology, Biotechnology, Information Technology,
and Cognitive Science) - atualmente o termo mais popular para tecnologias
convergentes e emergentes. Foi introduzido no domínio público pela publicação do
Converging Technologies for Improving Human Performance (Tecnologias
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 72
Convergentes para Aprimoramento da Performance Humana), um relatório patrocinado
pela Fundação Nacional da Ciência (ROCO; BAINBRIDG, 2003). Nesse documento,
O termo "tecnologias convergentes" refere-se à combinação
sinérgica de quatro principais temas da ciência e tecnologia
"NBIC" (nano-bio-info-cogno), cada uma das quais atualmente
está progredindo rapidamente: (a) nanociências e
nanotecnologias; (b) biotecnologia e biomedicina, incluindo
engenharia genética; (c) tecnologia da informação, incluindo
computação avançada e comunicações; (d) ciência cognitiva,
incluindo neurociência cognitiva [...] A convergência de
diversas tecnologias é baseada na unidade material na
nanoescala e na integração tecnológica dessa escala. Os blocos
de construção, que são fundamentais para todas as ciências, são
originários da nanoescala. Os avanços revolucionários nas
interfaces entre campos de ciência e tecnologia, previamente
separados, estão prontos para criar ferramentas de
transformação para tecnologias NBIC. Os desenvolvimentos em
abordagens de sistemas, matemática e computação em conjunto
com a NBIC permitem-nos, pela primeira vez, entender o
mundo natural, a sociedade humana e a pesquisa científica
como um complexo estreitamente acoplado, hierárquico
(ROCO; BAINBRIDG, 2003, p. 9, tradução nossa).
Nesse novo modo sinérgico de produção de conhecimentos, parece-nos claro que
o exercício pleno da cidadania dependerá do acesso de todos a um conhecimento de
base em ciência e em tecnologia, devidamente inter-relacionado com as questões de
natureza social, a uma cultura geral de natureza científica e tecnológica, essencial para
que possamos construir relações menos lineares da sociedade e dos seus rumos
(SANTOS, 2005).
3.2.1 Evolução dos computadores: o surgimento da sociedade da informação
Pretendemos discorrer, mesmo de forma sumarizada, sobre a evolução das
tecnologias da informação, identificando cronologicamente quatro paradigmas –
mecânico, eletrônico, microeletrônico e de comunicações. Assim, poderemos situar
melhor o quadro das atuais tecnologias emergentes e seus avanços nas possibilidades no
ensino.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 73
Quadro 01 – Evolução e empresas das tecnologias de informação e
comunicação.
Década Tecnologia Empresa Paradigma
1960-1970 Mainframe IBM
1970-1980 Minicomputador DEC, HP
1980-1990 Computador Pessoal Intel, Apple (1980),
Microsoft (1986)
1990-2000 Internet Microsoft, Netscape (1995)
2000-2010 Web 2.0 Microsoft, Amazon, Google
(2004)
2010-... Computação em nuvem Google, Apple, Facebook Fonte: Adaptado de (TIGRE; NORONHA, 2013, p. 116)
A ideia de automatizar os cálculos vem desde a antiguidade e começou com a
utilização de pedras e outros dispositivos que deram origem aos ábacos, progredindo
durante vários séculos até o aparecimento de computadores digitais na década de 1940
(KOWALTOWSKI, 1996). No paradigma mecânico da história dos computadores,
verificamos o desenvolvimento de alguns dispositivos analógicos primitivos e as
primeiras tentativas de se construir um dispositivo de cálculo com Gottfried Leibniz
(1646-1716), Blaise Pascal (1623-1662), Charles Babbage (1792-1871),
Herman Hollerith (1860- 1929), etc (FONSECA FILHO, 2007). No que conta, essa
história remonta principalmente a Charles Babbage, matemático inglês que concebeu,
em meados do século 19, as primeiras máquinas calculadoras mecânicas, mas que não
chegaram a funcionar devido à falta de motores suficientemente potentes para mover
centenas de engrenagens, eixos e ressaltos que compunham sua complexa estrutura
mecânica. Esse inventor criou uma máquina diferencial que, diferentemente de
calculadoras que surgiram na época, foi desenvolvida para calcular uma série de valores
numéricos e imprimir os resultados automaticamente. Essa máquina limitava-se a
operações matemáticas com base em números inseridos em determinadas sequências.
Todavia a criação mais notável de Babbage foi a Máquina Analítica. Isso porque a
criação não era apenas automática, mas também de uso geral. Torres (2016) comenta
sobre Charles Babbage que,
Depois de projetar a máquina de diferença, ele percebeu que
uma máquina poderia ser construída, o que faria cálculos um
pouco mais gerais. Ele pensou em dar à máquina uma entrada
em que as instruções para "executar" fossem introduzidas por
cartões perfurados, já que eles já existiam nos tecelões
mecânicos da época para introduzir os padrões. E dar à maquina
também uma saída consistindo de uma impressora, um plotter e
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 74
um sino. Além disso, a máquina seria capaz de gerar cartões
perfurados com números a serem reutilizados e usando
aritmética na base 10. (TORRES, 2016, p.4, tradução nossa)
Desta associação com a aritmética, a máquina analítica de Babbage, foi
apelidada de “moinho de números” e tambem designada de engenho analítico. Foi, na
história dos computadores, um projeto de computador mecânico moderno de uso geral.
O grande diferencial do sistema de Babbage era o fato que seu dispositivo ter sido
projetado para ser programável, item imprescindível para qualquer computador
moderno. Portanto, é considerada o ancestral do computador moderno por incorporar
rudimentarmente os princípios da programação e da organização de dados.
Na sequencia de fatos desencadeados à época, verificamos, segundo Tigre
(2014),
Os engenhos mecânicos ganharam aplicações práticas por meio
das máquinas de tabular desenvolvidas por William S.
Burroughs e Herman Hollerith. Além de inovarem em
equipamentos, esses cientistas criaram empresas que mais tarde
vieram a ter um papel fundamental no desenvolvimento da
indústria. Hollerith criou a Tabulating Machines Corporation
(atualmente IBM) e construiu um dispositivo, baseado nos
cartões perfurados de Jacquard (já utilizados em tecelagem e
também por Babbage), considerado o ponto de partida das
máquinas mecanográficas que se difundiram amplamente na
primeira metade do século 20. A máquina Hollerith foi utilizada
com grande êxito no censo demográfico norte-americano de
1890, reduzindo o tempo de apuração de sete anos (no censo de
1880) para apenas seis semanas. A empresa Burroughs (hoje
incorporada a unisys) foi uma das principais desenvolvedoras
de mainframes que dominaram a computação nos anos 1960 e
1970. (TIGRE, 2014, p. 130)
Todos os instrumentos que precederam o computador (réguas de cálculo,
máquina de Pascal, a calculadora de Leibniz, a máquina analítica de Babbage, etc.)
foram manifestações práticas, como resultado da busca pelo homem de reduzir os
problemas das expressões matemáticas, resolvendo-as segundo regras (FONSECA
FILHO, 2007).
O histórico de eventos de criações de máquinas automáticas mostra que houve
uma aceleração no desenvolvimento dessas máquinas de cálculo na década de 1930,
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 75
coincidindo com a disponibilidade de dispositivos eletromecânicos (relés6) e eletrônicos
(válvulas7). Dessa maneira, dispositivos mecânicos foram dando lugar a dispositivos
eletromecânicos e posteriormente para dispositivos eletrônicos digitais
(KOWALTOWSKI, 1996).
Cronologicamente, o século XX foi cenário da construção, no campo bélico, de
um sistema para operacionalizar a ciência nas grandes potências, desenvolvendo
pesquisas estratégicas e direcionando a ciência de ponta. Um fator decisivo para o
desenvolvimento da fase de máquinas automáticas, dentro do paradigma eletrônico, foi
o apoio de agências militares, tanto nos EUA quanto na Europa, durante a Segunda
Guerra Mundial. Especificamente, durante esse período, a utilização racional da
capacidade de inovação dos cientistas proporcionou um avanço qualitativo mediante o
qual os militares fizeram uso massivo do caráter estratégico da ciência e da tecnologia.
As bases conceituais de hardware e software, como atualmente concebidas,
derivaram de estudos nesse período. Destacam-se, neste meio, o britânico Alan
Mathison Turing (1912-1954). Influente no desenvolvimento da ciência da computação
e na formalização do conceito de algoritmo. Suas pesquisas, ligadas a Teoria da
Computabilidade, tornaram possível o processamento de símbolos, ligando a abstração
de sistemas cognitivos e a realidade concreta dos números. Em relação ao conceito da
máquina, destaca-se a arquitetura proposta pelo húngaro John von Neumann (1903-
1957), conhecida como arquitetura de von Neumann. Uma estrutura, hoje considerada
clássica, da disposição interna lógica das unidades que compõe o sistema de
computadores digitais com programa armazenado na própria memória e, portanto,
passível de auto modificação e de geração por outros programas. Essa arquitetura foi a
inspiração para todos os projetos de computadores subsequentes àquela época, tanto no
meio acadêmico quanto na indústria.
Outros conceitos também foram criados à época. A título de exemplo, o código
binário ASCII (American Standard Code for Information Interchange) que se tornou
padrão de transferência de caracteres no campo das telecomunicações.
6 É um tipo de interruptor eletromecânico cuja movimentação física do dispositivo ocorre quando a
corrente elétrica percorre as espiras da bobina do relé, criando assim um campo magnético que por
sua vez atrai a alavanca responsável pela mudança do estado dos contatos.
7 Chamada por vezes de tubo de vácuo é um dispositivo eletrônico formado por um invólucro de vidro de
alto vácuo chamada ampola contendo vários elementos metálicos. Tem como finalidade controlar uma
tensão através de um eletrodo, com ganho de amplificação, ou seja uma pequena tensão de entrada
controla uma grande tensão de placa.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 76
A dinâmica evolucionista tecnológica se deu preponderantemente pelo fomento
do estado que impulsionou uma confluência de pesquisas estratégicas para invenções e
inovações na arte bélica. A ciência de ponta tecnológica estimulada pelo fomento do
Estado, direcionado a pesquisas estratégicas. Como afirma Kowaltowski (1996), as
descobertas à época trouxeram contribuições importantes não só nas áreas de arquitetura
de computadores, computação científica, princípios de programação e análise de
algoritmos, mas também nas áreas de análise numérica, teoria dos autômatos, redes
neurais, tolerância a falhas, entre tantas outras.
A utilização dessas máquinas computacionais, até meados do século passado, era
restrita a determinadas instituições públicas, universidades e grandes empresas privadas.
As aplicações comerciais só foram viáveis quando os “dinossauros eletrônicos”
movidos a válvulas passaram a utilizar transistores8, dispositivo de dimensões e
consumo de energia reduzidos. O primeiro protótipo de transistor foi desenvolvido nos
Laboratórios Bell da AT&T (American Telephone and Telegraph Company) em 1947.
O desenvolvimento desse dispositivo alavancou o uso dos computadores para usos não
industriais.
Pode-se falar por exemplo de uma história dos
microcomputadores, tomando o ano de 1947 quando três
cientistas do Laboratório da Bell Telefonia, W. Shockley, W.
Brattain e J. Bardeen, desenvolveram sua nova invenção sobre o
que seria um protótipo do transistor e de como, a partir daí, ano
após ano, hardware e software progrediram e criaram novos
conceitos, estruturas, em ritmo vertiginoso. (FONSECA
FILHO, 2007, p.22)
A época o transistor veio solucionar problemas inerentes à fragilidade das
válvulas de vidro ou a vácuo, do aquecimento e das tensões de trabalho relativamente
altas, que limitavam sua aplicação econômica. Patterson (1995) evidencia a importância
dessa invenção tecnológica, “Duas invenções provocaram a revolução do computador
[...] durante o final da década de 1940, os pesquisadores inventaram o transistor. [...]
Como tal, eles permitiram que os trabalhadores criassem eletrônicos mais pequenos e
mais rápidos” (PATTERSON, 1995, p.48, tradução nossa). O advento deste pequeno
dispositivo trouxe grandes benefícios à área das tecnologias da informação e
comunicação. Entramos, nesse momento, no paradigma da microeletrônica.
8 A origem do nome foi um neologismo formado com as palavras transfer (transferência) e resistor
(resistência).
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 77
No entendimento desse paradigma, cabe definir, a priori, o que chamamos de
eletrônica. A eletrônica é o controle do fluxo de elétrons (corrente elétrica) pelos
condutores de um caminho completo (circuito) para que a eletricidade transportada para
uma carga qualquer seja modelada da forma exata. Dessa maneira, sistemas eletrônicos
controlam a corrente, modificando suas flutuações, direção e tempo, de várias formas a
fim de realizar uma série de funções. A microeletrônica, por sua vez, é um ramo da
eletrônica, voltado à integração de circuitos eletrônicos. Essa integração de vários
circuitos eletrônicos numa única pastilha de silício, o chip, deu origem aos
microprocessadores. A tecnologia desses circuitos eletrônicos integrados, permitiu a
substituição de dezenas de transistores numa única peça de silício, possibilitando o
surgimento de computadores de menores dimensões, mais rápidos e menos caros.
Obedecendo ao preceituado por Floyd (2007), dependendo da escala de integração, é
possível ter distintos níveis de complexidade: circuitos SSI (Small Scale Integration),
MSI (Medium Scale Integration), LSI (Large Scale Integration), VLSI (Very Large
Scale Integration), ULSI (Ultra Large Scale Integration) e SLSI (Super Large Scale
Integration).
Quadro 02 – Escala de integração dos circuitos integrados.
Abrev. Escala de Integração Complexidade
(no de transistores)
SSI Small Scale Integration 10
MSI Medium Scale Integration 100
LSI Large Scale Integration 1.000
VLSI Very Large Scale Integration 10.000–100.000
ULSI Ultra Large Scale Integration 100.000–1.000.000
SLSI Super Large Scale Integration 1.000.000–10.000.000
Como é possível notar, o avanço na integração dos transistores ocasiona o
fenômeno da miniaturização dos componentes em escala microscópica, uma vez que os
chips reduzem paulatinamente seu tamanho (escala de mícrons ou mesmo nanômetros).
Em julho de 2015, o centro de pesquisas da IBM anunciou o desenvolvimento de chips
de 7 nanômetros em nome de um consórcio internacional liderado pela empresa
(MARKOFF, 2016). Enderlein (1994) afirma que essa área da eletrônica representou o
principal elemento da revolução técnico-científica, comparável a revolução industrial
que liberou o homem do trabalho pesado fornecendo-lhe ferramentas e ampliando sua
força física, a revolução técnico-científica liberou-o de tarefas mentais rotineiras,
provendo sua capacidade mental de “ferramentas pensantes”.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 78
Para além da computação isolada (processamento de informações na máquina),
surgia a necessidade de compartilhar informações. Surge, a partir dessa necessidade, as
redes de computadores que abririam o caminho para as áreas das telecomunicações.
Nasce daí, o paradigma comunicacional. Na mesma dinâmica já citada, do estado
fomentando seus interesses através da ciência e da tecnologia, Araya e Vidotti (2010)
afirmam,
A origem da Internet remonta-se a 1958, quando o
Departamento de Defesa dos Estados Unidos cria a Advanced
Research Projects Agency (Arpa) para favorecer a pesquisa no
ambiente universitário e alcançar a superioridade tecnológica
militar ante a União Soviética, que por causa de seu programa
espacial tinha se tornado uma ameaça à segurança nacional
norte-americana. (ARAYA; VIDOTTI, 2010, p.16)
Essas primárias redes nascem com um conjunto de terminais conectados a um
computador central através de linhas de comunicação, utilizando a técnica de time-
sharing9, o que permitia aos usuários interagir com os seus programas armazenados em
um computador central. A posteriore, com o advento dos minicomputadores, o
processamento se torna descentralizado, embora permaneça a necessidade de
continuarem centralizados devido ao alto custo das máquinas.
Figura 1. Sistemas de tempo compartilhado e com processamento descentralizado.
Fonte: elaborado pelo autor.
9 Essa técnica permitia a um grande conjunto de usuários o compartilhamento de um único computador
para a resolução de uma grande diversidade de problemas, alternando entre os diferentes terminais de
forma que seus usuários tenham a possibilidade de interagir com o computador central.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 79
A grande questão levantada à época era idealizar um modelo de troca e
compartilhamento de informações que permitisse a descentralização das mesmas. Criou-
se um modelo de transmissão baseado em pacotes de dados. Um sistema conhecido
como chaveamento de pacotes, no qual as informações são divididas em pequenos
pacotes, que por sua vez contém trecho dos dados, o endereço do destinatário e
informações que permitiam a remontagem da mensagem original no destinatário. Desse
modelo nasceu a Internet. O conceito de Internet adotado nesta tese é o de uma grande
rede de computadores dispersa por todo o planeta que suporta comunicações usando o
Transmission Control Protocol/Internet Protocol (TCP/IP), fazendo as ligações entre
computadores via roteadores e servidores dedicados. Consubstanciasse, então, num
recurso da tecnologia de informação e comunicação propiciadora do ambiente
informacional Web10 e suas derivações Web 2.011 e Web Semântica12. Para o criador da
Web, Berners-Lee (1992, p. 52), "The World-Wide Web (W3) initiative is a practical
project designed to bring a global information universe into existence using available
technology". A produção, a disseminação e o uso de informação por meio da Internet e
em seus ambientes informacionais Web favorecem o desenvolvimento de uma cultura
baseada em práticas de colaboração.
A maior parte da literatura sobre a Internet tende a se
concentrar, bastante, na computação. E certamente é verdade
que a Internet é uma evolução notável no campo da ciência da
computação. Mas é igualmente um desenvolvimento nas
telecomunicações, uma evolução dos meios de comunicação de
massa. (WOODFORD, 2005, p.1, tradução nossa)
Como Woodford (2005) pontua, a Internet representa um meio de comunicação
de massa. Especificamente no Brasil, verificamos que o crescimento apresentado de
acesso a Internet nos domicílios brasileiros chegou a mais da metade de residências
conectadas a rede mundial de computadores. Como visto na tabela 2, numa faixa de
tempo correspondente a 7 anos, o número de domicílios com acesso subiu de menos de
20% em 2008, para mais de 50% em 2015.
10 Sistema hipertextual que representa o universo da informação acessível na rede global. 11 Ambiente informacional que por meio de serviços e tecnologias disponibilizados na Internet propicia
interações sociais. 12 Sistema web que interliga significados de palavras tendo como finalidade conseguir atribuir um
significado (sentido) aos conteúdos publicados na Internet de modo que seja perceptível tanto pelo
humano como pelo computador.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 80
Tabela 2. Série histórica de proporção de domicílios com acesso a Internet
Ano Proporção de domicílios com
acesso à Internet
2008 18
2009 24
2010 27
2011 36
2012 40
2013 43
2014 50
2015 51
Fonte: Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br)
Nessa geração comunicacional, identificamos também outro fenômeno
importante, a mobilidade. Analisando a série histórica dos tipos de computador
presentes nos domicílios, verificamos que ocorreu uma queda considerável de
dispositivos não móveis (computadores de mesa tipo desktop). Enquanto no ano de
2008, 95% dos domicílios que possuíam acesso à Internet utilizavam computadores de
mesa; no ano de 2015, menos de 40% utilizam para acesso a rede esse recurso.
Ocorrendo, desta feita, um aumento em dispositivos móveis (ver tabela 3).
Tabela 3. Série histórica de tipos de computador presente no domicílio
Ano Computador de mesa(a) - Total Computador portátil(b) - Total Tablet - Total
2008 95.0 10.0 -
2009 93.0 14.0 -
2010 88.0 23.0 -
2011 77.0 41.0 2.0
2012 70.0 50.0 4.0
2013 63.0 57.0 12.0
2014 56.0 60.0 33.0
2015 38.0 - -
Fonte: Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br)
(a) Desktop / PC
(b) Laptop, Notebook, Netbook
Tendo em vista a redução do seu custo relativo, o celular passou
a ser visto como um importante dispositivo para acessar a
Internet. A política de desoneração de smartphones,
encabeçada, em 2013, pelo Ministério das Comunicações,
incentivou a compra e venda de aparelhos e, segundo a Anatel,
o país alcançou, em agosto de 2015, mais de 280 milhões de
linhas ativas na telefonia móvel. (CETIC.BR, 2016, p.3)
A Internet mostra-se plenamente atrelada às práticas mais significativas
desenvolvidas pelos indivíduos em seus cotidianos. A mobilidade digital atualmente é
muito maior do que o conjunto de recursos móveis de acesso. Esse conceito está
permeado de uma nova forma de pensar a tecnologia, mais do que para um simples
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 81
recurso. Computação vestível, carros autônomos e automação residencial são aplicações
de uma tecnologia cada vez mais distribuída, garantindo conveniência, conforto e
segurança a seus usuários (DE LA GUIA et al., 2016). Em um mundo onde as
“distâncias são cada vez mais reduzidas, as fronteiras desparecem e os grandes
problemas são compartilhados, cresce a mobilidade das pessoas, aumenta a
heterogeneidade das comunidades” (COLL; MONEREO, 2010, p. 26), torna-se
evidente a necessidade de trabalhar em conjunto para solucionar os mais diversos
problemas.
3.3 Tecnologias Emergentes: entre a novidade e a obsolescência
Para o entendimento sobre Tecnologias Emergentes, faremos uso da vasta gama
de pesquisas colaborativas desenvolvidas e publicadas pela New Media Consortium
(NMC). Esses estudos têm como foco subsidiar tomadores de decisão sobre os atuais
desenvolvimentos em tecnologias de apoio ao ensino, à aprendizagem e à investigação
criativa pelo mundo. As investigações desenvolvidas utilizam pesquisas com base em
Delphi13 para levar os grupos de especialistas a um ponto de vista consensual acerca do
impacto do desenvolvimento da temática relacionada. Em termos práticos, é solicitado a
um comitê de especialistas e líderes de pensamento, cuidadosamente selecionados, que
analisassem centenas de artigos relevantes, notícias, postagens em blogs, pesquisas e
exemplos de projetos como parte da preparação para o detalhamento dos mais notáveis
avanços em tecnologia, tendências e desafios para a educação superior brasileira no
próximo quinquênio. As publicações utilizadas da NMC nesta tese foram àquelas
destinadas ao subgrupo relacionado ao Brasil. Especificamente o estudo NMC 2015 -
Panorama Tecnológico para as Universidades Brasileiras (FREEMAN; BECKER;
GIESINGER, 2015). Este é o segundo ano de publicação deste relatório.
O comitê de especialistas identifica e classifica as principais tendências que
atualmente afetam a política, a liderança e a prática na educação superior no Brasil e as
usa para prever o entendimento de quais sejam as tecnologias emergentes. Podemos
13 Método de pesquisa que tem amplo uso nas áreas das ciências humanas, com objetivo de obter uma
forma de consenso entre especialistas sobre pontos relevantes da sua realidade, através de feedbacks dos
indivíduos envolvidos nas pesquisas com informações e conhecimentos; acesso aos julgamentos e visões
dos grupos envolvidos; oportunidade para a revisão das visões individuais e certo grau de anonimato das
respostas individuais.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 82
observar no quadro 3, um comparativo entre o panorama tecnológico NMC das
universidades brasileiras em 2014 e 2015 em relação ao quadro geral Horizon Report
em 2015, separados por períodos de adoção.
Quadro 3. Comparação dos “12 Tópicos Finais” a partir dos três projetos de pesquisa NMC
Horizon
Edição 2015 do NMC
Horizon Report na
Educação Superior
Panorama Tecnológico
NMC 2015 para
Universidades Brasileiras
Panorama Tecnológico
NMC 2014 para
Universidades Brasileiras
Período para adoção do Horizon: 1 ano ou menos
Traga seu próprio dispositivo
Sala de aula invertida
Análise da aprendizagem
Aplicativos móveis
Computação na nuvem
Publicações eletrônicas
Aprendizagem on-line
Redes sociais
Sala de aula invertida
Jogos e gamificação
Aplicativos móveis
Aprendizagem on-line
Período para adoção do Horizon: 2 a 3 anos
Ambientes colaborativos
Jogos e gamificação
Makerspaces
Tecnologia utilizável
Traga seu próprio dispositivo
Sala de aula invertida
Análise da aprendizagem
Aprendizagem móvel
Análise da aprendizagem
Aprendizagem móvel
Conteúdo aberto
Laboratórios virtuais e
remotos
Período para adoção do Horizon: 4 a 5 anos
Aprendizagem adaptativa
Exposições flexíveis
A Internet das Coisas
Energia sem fio
Realidade aumentada
Aplicações semânticas
Tradução instantânea
Laboratórios virtuais e
remotos
Realidade aumentada
A Internet das Coisas
Localização inteligente
Assistentes virtuais
Fonte: (FREEMAN; BECKER; GIESINGER, 2015)
Também é atribuição desta comissão identificar e classificar, da mesma forma
que as principias tendências, uma série de importantes desafios enfrentados pela
educação superior no Brasil que impedem a assimilação dessas tecnologias.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 83
Quadro 4. Principais tendências e desafios significativos frente as tecnologias emergentes
Principais Tendências (1) Desafios Significativos(2)
1. Culturas avançadas de mudança e inovação 1. Individualizar a aprendizagem
2. Uso Crescente de projetos de aprendizagem
híbrida
2. Integrar a tecnologia da educação na
faculdade
3. Surgimento de novas formas de estudos
interdisciplinares
3. Expandir o acesso
4. Multiplicação de recursos educacionais
abertos
4. Repensar os papéis dos educadores
5. Reprojeção de espaços de aprendizagem 5. Criar de oportunidades autênticas de
aprendizagem
6. Mudança para abordagens mais profundas
de aprendizagem
6. Recursos insuficientes para a infraestrutura
dos campi
7. Reflexão de como as universidades
funcionam
7. Dimensionar as inovações de ensino
8. Foco crescente na medição da
aprendizagem
8. Gerenciar a obsolescência do conhecimento
9. Mudança no perfil de estudantes – de
consumidores a criadores
9. Equilibrar nossas vidas conectados e
desconectados
10. Aumento da colaboração entre instituições 10. Aprimorar a alfabetização digital Fonte: (FREEMAN; BECKER; GIESINGER, 2015)
(1) Tendências que aceleram a adoção das tecnologias emergentes.
(2) Desafios que impedem a adoção das tecnologias emergentes.
O uso das tecnologias emergentes e os serviços a elas associados podem ser um
fator diferenciador, criativo e inovador no contexto acadêmico. O próprio
desenvolvimento dessas tecnologias, de novos meios e métodos de conectividade
agregados ao seu uso, o desenho e a construção de novos tipos de hardware e de
software permitem que, num futuro próximo, o processo de ensino e aprendizagem seja
efetivado com uma maior precisão.
As potencialidades do uso de tecnologias no ensino parece ser
tão favorável, que grandes empresas mundiais, como a IBM, a
Samsung, a Cisco e a Intel, têm ao longo desta última década
tido a preocupação, de investigar e desenvolver novos produtos
tecnológicos, designados de tecnologias emergentes, que
permitam beneficiar e melhorar o processo de ensino e
aprendizagem, promovendo uma maior participação dos agentes
educativos (GOMES; SERRANO, 2014, p. 137).
Nesse ambiente de novos produtos e processos tecnológicos e baseados no
quadro das tecnologias emergentes disponibilizada pelo NMC, optamos por descrever,
nesta tese, algumas das tecnologias emergentes que já contam com aplicações voltadas
para a educação e possuem teor teórico já consistente no campo educacional14.
14 Esse recorte teórico é fruto exclusivo das análises do autor da tese.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 84
3.3.1 Internet das Coisas: a conectividade da tecnologia
IoT (Internet of Things, Internet das coisas) é uma extensão da Internet atual.
Esta extensão é feita ao proporcionar que objetos do cotidiano se conectem à Internet.
Cronologicamente, seria o momento exato em que foram conectados à Internet mais
"coisas ou objetos" do que pessoas. Segundo Evans (2011) o crescimento explosivo de
smartphones e tablets levou o número de dispositivos conectados à Internet até 12,5
bilhões em 2010, à medida que a população humana chegou a 6,8 bilhões, tornando o
número de dispositivos conectados por pessoa superior a 1 (exatamente 1,84) pela
primeira vez na história.
Esse ramo de conhecimento emergiu dos avanços de várias áreas como sistemas
embarcados, microeletrônica, comunicação e tecnologia de informações. As coisas se
tornariam pequenos computadores e seriam chamadas de smart things (em português:
coisas inteligentes). A proliferação desses objetos inteligentes com capacidade de
monitoramento, processamento e comunicação tem sido crescente nos últimos anos,
preconizando um mundo de objetos físicos embarcados com sensores e atuadores,
conectados por redes sem fio e que se comunicam usando a Internet. Sendo capazes de
moldar uma rede de objetos inteligentes a fim de realizar variados processamentos,
capturar variáveis ambientais e reagir a estímulos externos, proporcionando assim, um
elevado grau de captura autônoma de dados, transferência de eventos, conectividade e
interoperabilidade de rede.
O setor industrial, das mais variadas áreas, poderiam se beneficiar
tecnologicamente das informações provenientes desses objetos. Como pontua Zuin e
Zuin (2016),
Se os sensores de uma geladeira, por exemplo, “percebem” que
não há mais leite, é possível que a própria geladeira envie uma
mensagem ao aparelho celular de seu proprietário informando-
lhe sobre a necessidade de tal compra. Atualmente, já há
projetos de confecção de roupas cujos sensores possibilitam a
análise das temperaturas ambientes, permitindo que as próprias
roupas instantaneamente se adaptem a tais condições. Pacientes
podem ter sensores RFID implantados por meio de chips sob a
pele, de modo que possam ser ininterruptamente monitorados a
distância sem que precisem comunicar pessoalmente quaisquer
alterações de saúde. Sendo assim, em um futuro não muito
distante, pessoas propensas a sofrerem um ataque cardíaco
poderiam ser localizadas e internadas em um hospital, em uma
velocidade que seria decisiva para que pudessem sobreviver.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 85
(ZUIN; ZUIN, 2016, p.764)
Sua estrutura é definida por tecnologias como Radio-Frequency IDentification
(RFID), sensores, rede wireless, etiquetas com códigos 2D e smartphones. É possível
verificar que sua arquitetura transformou a atual Internet em algo sensorial
(temperatura, pressão, vibração, iluminação, umidade e estresse), permitindo que
sejamos mais proativos e menos reativos. A IoT proporcionará o aparecimento de um
novo paradigma de comunicação dominante na rede, que atualmente se concentra na
produção, troca e processamento de informações de máquina para pessoa ou de pessoa
para pessoa. Alargando também para comunicações entre máquina para máquina,
provendo e usando serviços, provendo dados e podendo reagir a eventos, com
comunicações caracterizadas por baixa potência, baixo custo e baixa intervenção
humana (PEI, 2013). Evans (2011) comenta sobre a estrutura arquitetônica da IoT,
No momento, a IoT é composta por uma coleção livre de redes
diferentes e criadas para determinada finalidade. Por exemplo,
os carros atuais têm várias redes para controlar a função do
motor, recursos de segurança, sistemas de comunicação e assim
por diante. Os prédios comerciais e residenciais também têm
vários sistemas de controle para aquecimento, ventilação e ar-
condicionado (HVAC), serviços telefônicos, segurança e
iluminação. À medida que a IoT evolui, essas redes e muitas
outras estarão conectadas com mais recursos de segurança,
análise e gerenciamento. (EVANS, 2011, p. 4)
Quando trazemos a discussão das aplicações de IoT na educação, verificamos
que alguns estudam enfatizam que, embora já vivenciemos a IoT, suas aplicações na
sala de aula ainda são teóricas e isoladas. Como alerta De La Guia et al. (2016), um dos
principais desafios que impedem o uso generalizado dessas tecnologias na sala de aula
seria que uma grande porcentagem de educadores não está familiarizada com essas
novas tecnologias. Para Zuin e Zuin (2016) essa comunicação onipresente entre os
mundos físico e informacional, proporcionada pela IoT, já suscita o repensar da forma
como professores elaboram estratégias didáticas em relação ao modo como as
informações serão apreendidas e aprendidas pelos alunos no transcorrer do processo de
ensino-aprendizagem.
Ver a IoT-education simplesmente como "aprendizagem à
distância usando tecnologia móvel" perde o ponto mais
profundo da concepção. IoT-education representa uma mudança
profunda na forma como a educação é assimilada. Neste artigo,
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 86
definimos o IoT-education como soluções de aprendizagem
habilitadas em tecnologia, disponíveis para usuários em
qualquer momento, em qualquer lugar. Qualquer dispositivo
portátil, como um laptop, tablet ou telefone celular que forneça
acesso ao conteúdo educacional através de uma conexão de fio
ou sem fio (Internet, 2G, 3G, 4G, Wifi, etc.) pode ser uma
ferramenta para o IoT-education. A capacidade de aprender,
independentemente do tempo ou da localização, pode ajudar a
tornar a educação mais fácil acessível. (PEI, 2013, p.2947,
tradução nossa)
Na esfera escolar, um dos maiores benefícios de ter todo o prédio escola
conectado e utilizando os recursos da IoT é ter o progresso escolar completo dos alunos
armazenado, disponível e quantificado, o que facilita o monitoramento da
aprendizagem. Dispositivos da IoT podem ser colocados nas salas de aula, nos pátios,
no refeitório, nas vias de acesso, nos laboratórios, nos auditórios, no transporte escolar e
em qualquer outro ambiente, coletando, processando e disponibilizando dados. A
nuvem permite o armazenamento de toda essa gama de informações, possibilitando a
criação de uma gama de relatórios específicos de progresso estudantil. Ademais, essa
tecnologia inteligente também pode levar em conta aumentos de desempenho,
permitindo ao aluno aprender ao seu próprio ritmo, sugerindo ao professor atividades
personalizadas para cada estudante.
No âmbito escolar, a IoT não se aplica apenas à educação direta dos alunos, mas
também se estende à proteção física dos alunos e seus professores. Permite, por
exemplo, que você controle e acesse através da nuvem, portas com sensores que podem
alertar os administradores de entradas injustificadas ou forçadas e bloqueios inteligentes
que podem ser controlados centralmente pela escola. Desta maneira, este tipo de
tecnologia inteligente fornece às escolas mais controle sobre quem pode e quando
podem entrar em seu(s) edifício(s), sem colocar as pessoas que ali permanecem em
perigo potencial.
A IoT representa um novo momento revolucionário na história da humanidade,
sendo que os efeitos de tal transformação já começam a ser visualizados nas mais
variadas esferas, inclusive a educacional. Os mundos material e informacional que se
fundem, por meio da interface comunicacional entre objetos e objetos e pessoas,
proporcionam o acesso aos dados de uma forma inédita na história da produção
tecnológica. Considerando que a IoT representa a evolução da atual Internet, dando um
grande salto na capacidade de coletar, analisar e distribuir dados que nós podemos
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 87
transformar em informações e conhecimento, ela representa uma das principais
tecnologias emergentes que contribuem para concretizar novos domínios de aplicação
das tecnologias de informação e comunicação. Estabelece assim uma nova fronteira
para a sociedade da informação como conhecemos hoje, onde a ubiquidade15 e
pervasividade da rede abrirão possibilidades para aplicações diversas. Atualmente as
pesquisas em IoT buscam formas de coletar, armazenar, processar e extrair
conhecimento de modo eficiente das informações obtidas dos objetos inteligentes que
podem ser utilizados em sala de aula.
3.3.2 Gamificação: a parte lúdica da tecnologia
A busca por inovações pedagógicas capazes de promover a motivação dos
estudantes é uma constante em vários estudos atualmente. Dentro dessas áreas de
pesquisa, provavelmente a que mais se destaca é a área vinculada aos jogos
educacionais. Nessas áreas de estudos, como aponta Borges et al. (2013), é possível
identificar os seguintes objetivos: aprimorar determinadas habilidades; propor desafios
que dão propósito/contexto a aprendizagem; engajar os alunos em atividades mais
participativas, interativas e interessantes; maximizar o aprendizado de um determinado
conteúdo; promover a mudança de comportamento premiando ações adequadas e
penalizando as inadequadas; e oferecer mecanismos de socialização e aprendizagem em
grupo. Assim, nesse quadro, é possível discutir os benefícios da gamificação na
motivação dos alunos para propor soluções aos diversos problemas de aprendizagem.
Gamification é um termo em inglês, sem tradução em português, que se refere ao
uso de jogos em atividades diferentes de entretenimento puro. A gamificação (versão
“aportuguesada”) corresponde ao uso de mecanismos de jogos orientados ao objetivo de
resolver problemas práticos ou de despertar engajamento entre um público específico.
Sendo comumente utilizada para expressar o uso de elementos de jogos (enredo,
pontuação e ranking) em contextos que não são de jogos (ambiente de aprendizagem)
para motivar ou influenciar as pessoas a realizarem uma determinada atividade. O termo
15 Computação ubíqua, este termo foi criado por Mark Weiser, um cientista da computação que atuava
como CTO (Chief Technology Officer) na Xerox’s Palo Alto Research Center (Parc) e descritos no artigo
The Computer for 21st Century, publicado em 1991, onde defendia uma visão de futuro em que os
computadores seriam invisíveis e incorporados aos objetos do nosso cotidiano.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 88
“gamificação” foi cunhado pela primeira vez em 2002, por Nick Pelling, programador
de computadores e pesquisador britânico.
Mesmo sendo um dos temas mais discutidos quando se refere a tecnologias no
ensino, a gamificação, enquanto conceito, tem sido sistematicamente mal interpretada.
Para Vianna et al. (2013), é um equívoco pensar que se trata de uma ciência que se
debruça sobre o ato de criar jogos, mas sim numa metodologia por meio da qual se
aplicam mecanismos de jogos à resolução de problemas ou impasses em outros
contextos. Diferentemente do design de games voltados ao único propósito de entreter,
a gamificação se destina a utilizar o mecanismo dos jogos para transformar ou
desenvolver novos comportamentos.
Necessário se faz, a priori, com intuito de sistematizar essa metodologia,
entender o conceito de jogo.
Ao longo dos séculos, praticamente todas as civilizações
conhecidas estiveram associadas a algum tipo de competição
importante para a estruturação social da comunidade a qual
pertenciam [...] dos exemplos mais previsíveis, tais como
gregos (Jogos Olímpicos da Antiguidade), romanos (duelos de
gladiadores, corridas de biga) e astecas (jogo de bola
mesoamericano). (VIANNA et al., 2013)
Para Araújo (2012, p. 226), jogo “e um sistema em que o(s) tomador(es) de
decisão engaja(m) na atividade de um desafio artificial, definido por regras e de que a
superação desse é a meta, e cujo resultado é objetivamente quantificável e incerto”. Esse
conceito de jogo aliado ao entendimento de momentos oportunos de aprendizagem
reforçam a utilização da gamificação enquanto metodologia por meio da qual se aplicam
mecanismos de jogos à resolução de problemas.
Analisando especificamente esses momentos de aprendizagem nas interações
sociais, Gee (2008) afirma que as pessoas armazenam melhor suas experiências quando
estas estão relacionadas a metas; as experiências devem ser interpretadas durante e após
as ações; lições devem ser extraídas das experiências anteriores, a fim de antecipar em
quais outros contextos e de que formas essas lições podem ser úteis novamente; as
pessoas devem receber feedback imediato durante as suas experiências, para que possam
reconhecer seus erros; as pessoas precisam de diversas oportunidades para aplicar suas
experiências anteriores em novos contextos; as pessoas precisam aprender a partir das
experiências de outras, o que inclui a discussão com seus pares e a instrução dada por
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 89
mentor. Fazendo um paralelo com o meio educacional atual o que se verifica é que; em
grande parte das vezes, as regras são nebulosas; as metas, um tanto que indeterminadas;
a maneira de alcançar essas metas, por vezes, desconhecida. Por sua vez, as ações e
atitudes por parte dos alunos não costumam receber feedback rápido e as recompensas,
quando existem, podem custar a vir.
A gamificação faz uso de uma linguagem dialética propicia ao trabalho com
esses momentos de aprendizagem, com a qual os indivíduos mais jovens estão
acostumados, adquirida pela conectividade, interação e aprendizagem no contexto dos
games e da cultura digital a que estão imersos. Como o sistema é adaptativo, cada
estudante pode ter uma experiência de aprendizado absolutamente customizada para
suas necessidades, uma vez que os desafios são estipulados de acordo com o
desempenho apresentado. Inclusive, as pesquisas atuais apontam a gamificação como
um novo letramento16, ludoletramento (PAULA, 2011), uma vez que para a prática do
jogo digital, torna-se necessário decodifica-lo e conhecer seus comandos, principais
significados, reconhecer suas formas relativamente estáveis, além de realizar inferências
e hipóteses textuais.
A fim de entender, pelo menos sumariamente o fenômeno estudado, optamos por
trazer a discussão duas teorias: a Teoria da Hierarquia de Necessidades, desenvolvida
em 1943 pelo psicólogo norte-americano Abraham Maslow e a Teoria do Flow,
proposta pelo professor de psicologia Mihaly Csikszentmihalyi.
Csiksgentmihalyi (2002) apoiando-se em descobertas da Psicologia
Contemporânea, definiu a Teoria do Flow como um estado mental de completa imersão
em uma atividade ou ação, cuja meta é alcançar o sucesso. Assim, flow, que do inglês
significa fluxo, é uma condição de foco absoluto que torna qualquer atividade
espontânea, produtiva e resulta na combinação de componentes de uma atividade, na
qual os desafios propostos superam as habilidades na questão motivacional. Essa teoria
tem sido aplicada em diversas áreas nos campos da Educação e Psicologia.
Em nossos estudos, descobrimos que toda atividade de fluxo,
seja envolvendo competição, mudança ou qualquer outra
dimensão da experiência, tinha isso em comum: proporcionava
uma sensação de descoberta, um sentimento criativo de
16 Letramento entendido aqui na perspectiva pedagógica e extrapolando o campo do ensino da
língua e da literatura para outras áreas do conhecimento. Consubstanciado no desenvolvimento
das habilidades que possibilitam ler e escrever de forma adequada e eficiente e não apenas na
decodificação de símbolos (letras e palavras).
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 90
transportar a pessoa para uma nova realidade. Ela projetava a
pessoa para níveis mais altos de desempenho, e a levava para
novos estados de consciência. (CSIKSZENTMIHALYI, 2002,
p. 74)
Já, do ponto de vista das necessidades humanas, Maslow (1943), fez um arranjo
dessas necessidades numa hierarquia que ele denominou de hierarquia de
necessidades humanas. Conforme o seu conceito de premência relativa, uma
necessidade é substituída pela seguinte mais forte na hierarquia, na medida em que
começa a ser satisfeita. Assim, por ordem decrescente de premência, as necessidades
estão classificadas em: fisiológicas, segurança, afiliação, autoestima e auto realização.
Sobre esse relacionamento entre as necessidades, Maslow afirma,
Se nos lembrarmos de que as capacidades cognitivas
(perceptiva, intelectual, de aprendizagem) são um conjunto de
capacidades básicas, que têm, entre outras funções, a satisfação
de nossas necessidades, é claro que qualquer perigo para elas,
qualquer privação ou bloqueio do seu uso, também devem
ameaçar indiretamente as próprias necessidades básicas.
(MASLOW, 1943, p. 384)
De acordo com a lógica sugerida, o ato de jogar estaria, obviamente, relacionado
à parte mais externa das necessidades, uma vez que se classifica como uma atividade
desejável, mas não essencial à sobrevivência. Todavia, de grande importância, sendo
bem compreensível que tenhamos criado jogos, uma vez que eles saciam de modo mais
simples, rápido, claro e eficiente essa constante busca que nos assola por conquistar ou
cumprir objetivos (VIANNA, 2013).
A aplicação de uma bem-sucedida estratégia de gamificação está diretamente
associada ao entendimento do contexto em que se insere o usuário e suas necessidades.
Quando a gamificação é adotada, há a necessidade de adequação das estratégias
didáticas aos diversos contextos das propostas pedagógicas.
A partir do atual momento histórico e do contexto sociocultural, a gamificação
se apresenta como estratégia da nova maneira de tratar o conhecimento. Assim, percebe-
se que a gamificação não é passiva e implica numa participação ativa em ambientes
virtuais, carregados de complexas regras, requerendo que o aluno possua e/ou
desenvolva habilidades metacognitivas necessárias para suprir as dificuldades de ação e
de raciocínio lógico do próprio pensamento.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 91
Fazendo agora uma análise mais prática dos jogos digitais no cenário brasileiro
que tem como marco a chegada do Atari 2600 no final da década de 1970, tomando
grande vulto já na década posterior. Com o sucesso comercial do console da Atari, os
joysticks eram a forma mais antiga e tradicional de interface com jogos digitais que
extrapolam o uso de teclados, possuíam não mais que um botão e uma alavanca
direcional, mas se tornaram uma peça fundamental a ser adquirida com todo console de
vídeo-game. Atualmente assumem formas e funções bem mais sofisticadas que suas
versões iniciais.
O desenvolvimento desse mercado de jogos digitais só foi realmente possível
neste período em decorrência da popularização da informática e redução dos preços dos
equipamentos. Daí verificar que a evolução desses jogos eletrônicos está ligada
intrinsecamente à evolução de aparatos tecnológicos como a televisão, os processadores
de imagem, o computador e os sistemas de transmissão de dados. Hoje, os consoles são
verdadeiras centrais de entretenimento com acesso à Internet e leitores de Blue Ray,
além de oferecerem a possibilidade de assistir filmes e disputar jogos online. Esses
“media centers” inclusive incorporam funcionalidades de outros dispositivos
tecnológicos.
Atualmente a indústria fatura bilhões de dólares em todo mundo e está deixando
de ser apenas entretenimento para ocupar lugar de destaque como ferramenta
educacional e comunicacional. Segundo Vianna et al. (2013), em 2018, o mercado
global de gamificação corresponderá a cerca de U$5.5 bilhões. Na mesma perspectiva e
numa abordagem realizada junto ao público da Geração Y (que engloba os nascidos
entre o início da década de 1980 e o ano 2000), o referido autor informa que metade dos
entrevistados afirma reconhecer aspectos dos jogos aplicados a diversos campos da vida
cotidiana, sendo que esse grupo atualmente representa um quarto da população
economicamente ativa mundial.
Ainda, segundo dados do último censo da Indústria Brasileira de Jogos
Digitais17:
17 O I Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais, com Vocabulário Técnico da IBJD, divulgado em
julho de 2014, se constituiu como a principal fonte para a compreensão da configuração desse setor no
Brasil. O estudo realizado em uma ação conjunta da GEDIGames, NPGT e Escola Politécnica com
financiamento do BNDS (Nº 12.2.0431.1), e se concentrou no mapeamento das empresas brasileiras de
jogos digitais, tendo como foco da pesquisa os desenvolvedores.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 92
Tabela 4. Jogos desenvolvidos e empresas por categoria de jogos
Categoria de Jogos Jogos % Jogos Empresas % Empresas
Advergames 189 13,30% 40 30,10%
Entretenimento 509 35,90% 130 97,80%
Jogos de Entretenimento
desenvolvidos para Terceiros
(clientes internacionais)
188 13,30% 18 13,50%
Jogos de Entretenimento
desenvolvidos para Terceiros
(clientes nacionais)
84 5,90% 32 24,10%
Jogos de Entretenimento
Próprios 237 16,70% 80 60,20%
Serious Games 678 47,90% 64 48,10%
Jogos de Treinamento e
Corporativos 52 3,70% 20 15,00%
Jogos Digitais Educacionais 621 43,80% 39 29,30%
Jogos para Saúde 5 0,40% 5 3,80%
Simuladores com uso de
hardware específico 23 1,60% 10 7,50%
Outros tipos de Jogos
Digitais 18 1,30% 7 5,30%
TOTAL 1.417
133
Fonte: I Censo da IBJD
*As empresas podiam marcar mais de um tipo de jogo
Para Fleury et al (2014), não só pela importância de produção de jogos digitais,
mas de suas conexões com outros temas de fundamental importância social, justifica-se
o estímulo e o desenvolvimento de políticas públicas em torno dessa temática. Essas
conexões podem ser verificadas nas relações dos jogos digitais com a Ciência, a
Tecnologia e a Inovação, bem como com as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento,
nas relações universidade/empresa, na difusão de novas tecnologias, na transferência de
tecnologias, nos padrões técnicos e a propriedade intelectual (averbada nos copyrights,
patentes, modelos, etc.), na condição da infraestrutura científica e tecnológica, no
emprego de recursos humanos de alto nível, entre outros tantos elos existentes.
3.3.3 Realidade Aumentada: a parte virtual da tecnologia
O avanço da Realidade Virtual (RV) e da multimídia, proporcionado pela maior
processamento computacional, permitiu a integração em tempo real, de vídeos e
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 93
ambientes virtuais interativos. De igual forma, o crescimento da largura de banda das
redes de computadores também influenciou na evolução da multimídia, uma vez que
permite a transferência de imagens e outros fluxos de informação.
No caso da Realidade Aumentada (RA), esta transporta o objeto virtual para o
espaço do usuário, permitindo a interação virtual/real, de forma mais natural. Fato
marcante o enriquecimento do ambiente real com objetos virtuais, normalmente feitos
diretamente com a linguagem VRML18, ou com o apoio de software específico de
autoria, sendo vários deles gratuitos, como o Blender19.
Craig (2013) descreve as características comuns para sistemas de RA que devem
compartilhar certos atributos,
Principais aspectos (chaves) da realidade aumentada: (a) o
mundo físico é aumentado por informações digitais sobrepostas
a visão do mundo físico. (b) a informação é exibida no registro
no mundo físico. (c) a informação exibida é apresentada na
localização do mundo real e na perspectiva física da pessoa no
mundo físico. (d) a experiência de realidade aumentada é
interativa, ou seja, uma pessoa pode sentir a informação e fazer
alterações nesta informação, se desejar. O nível de
interatividade pode variar desde a simples mudança da
perspectiva física (por exemplo, sensação de um ponto de vista
diferente) para manipular e até mesmo criar novas informações.
(CRAIG, 2013, p. 16, tradução nossa)
É possível perceber que, ao contrário da RV, as aplicações desenvolvidas a partir
da tecnologia de RA não preveem a imersão total do usuário (VAN KREVELEN;
POELMAN, 2010). Ao contrário, caracterizam-se pelo enriquecimento do mundo real
através da adição de elementos virtuais. É permitido, por exemplo, acrescentar em uma
cena real, capturada por câmara de vídeo, elementos virtuais interativos. Utilizando para
isso a sobreposição de objetos tridimensionais gerados por computador com o ambiente
físico, mostrada ao usuário, com o apoio de algum dispositivo tecnológico. Dessa
forma, a RA permite ao usuário interagir com situações imaginárias, como os cenários
de ficção, envolvendo objetos reais e virtuais estáticos e/ou dinâmicos, usando técnicas
18 É uma linguagem padrão de formato de arquivo para realidade virtual, através do qual é possível criar
objetos (malhas poligonais) tridimensionais podendo definir cor, transparência, brilho, textura
(associando-a a um bitmap). Além dos objetos, também é possível acrescentar interatividade a estes por
meio de sensores. 19 Software aplicativo para modelagem, animação, texturização, composição, renderização, edição de
vídeo e criação de aplicações interativas em 3D, tais como jogos, apresentações e outros.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 94
computacionais que geram, posicionam e mostram objetos virtuais integrados ao
cenário real (CRAIG, 2013).
Normalmente é comum confundir termos como RV e RA nas aplicações que
contam com alguma virtualidade. Milgram et al (1994) propuseram uma representação
gráfica do Contínuo da Realidade-Virtualidade e as variações existentes da Realidade
Mista para clarificar as fronteiras entre ambas. Definindo assim uma taxonomia, ao
verificar que o termo RV vinha sendo aplicado a um conjunto de ambientes que nem
sempre os de imersão total. Propôs o que ele chamou de Continuum Reality-Virtuality,
ou “Contínuo Realidade-Virtualidade”, cujos extremos são: o ambiente virtual e o
ambiente real.
Concordamos que RA e RV estão relacionados e que é bastante
válido considerar os dois conceitos juntos. A visão comum de
um ambiente RV é aquela em que o participante-observador
está totalmente imerso em um mundo completamente sintético,
que pode ou não imitar as propriedades de um ambiente real,
existente ou ficcional, mas que também pode exceder os limites
da realidade física através da criação de um mundo no qual as
leis físicas que regem a gravidade, o tempo e as propriedades
dos materiais não mais se sustentam. Em contraste, um
ambiente estritamente real deve ser limitado pelas leis da física.
Ao invés de considerar os dois conceitos simplesmente como
antíteses, no entanto, é mais conveniente vê-los como se
estivessem em extremidades opostas de um continuum, a que
nos referimos como o Continuum Reality-Virtuality.
(MILGRAN et al, 1994, p. 283, tradução nossa)
Tomando por base esses conceitos, desenvolve-se a ideia de realidade mista
(MR), às vezes referida como realidade híbrida, que representa a união de mundos reais
e virtuais para produzir novos ambientes e visualizações onde objetos físicos e digitais
coexistem e interagem em tempo real. A realidade mista ocorre não só no mundo físico
ou no mundo virtual, mas é uma mistura de realidade e realidade virtual, abrangendo a
realidade aumentada e a virtualidade aumentada através da tecnologia imersiva.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 95
Fonte: MILGRAN et al, 1994)
Figura 2 – Representação do Continuum Reality-Virtuality.
No campo educacional, esses sistemas vêm ajudando estudantes a desenvolver
habilidades e conhecimentos de maneira mais efetiva em relação a outros tipos de
tecnologias de aprendizado (SOUSA, 2015). A virtualização de objetos inseridos em
ambientes reais proporciona o aumento do interesse e motivação do aluno no
aprendizado, favorecendo inclusive o desenvolvimento de novas habilidades. Além
disso, os sistemas de RA oferecem uma solução para áreas de conhecimento onde o
aprendizado depende do entendimento de conceitos muitas vezes abstratos, criando a
visualização virtual de experiências, conceitos ou fenômenos que não podem ser vistos
no mundo real. Dessa forma, a aquisição do conhecimento se torna mais eficiente e
agradável a partir do momento que a visualização do fenômeno objeto torna-se possível.
A parte teórica do aprendizado sendo palpável e aplicada de maneira prática, onde os
resultados, que anteriormente eram obtidos por escrito, ganham visualizações por meio
de movimentos e imagens (SOUSA, 2015; KIRNER, 2006). Portanto, a RA propicia,
tanto ao professor quanto aos alunos, a interação com o objeto de estudo. De forma
resumida, para seu funcionamento são necessários marcadores20 impressos em um
cartão de papel que, ao ser focalizado por uma câmera, o software instalado no
equipamento, de forma automática, exibe a figura/objeto tridimensional, a qual pode ser
manipulada e acompanhada de movimentos e sons. Ou seja, por meio de softwares
específicos, que utilizam o reconhecimento de símbolos (marcadores), é possível gerar,
posicionar e manipular o objeto virtual.
A plataforma computacional, para esse ambiente, deve apresentar as
características apropriadas para multimídia e realidade virtual, tais como: capacidade de
processamento e transferência de mídia (imagem, som, etc.); capacidade de
processamento gráfico tridimensional; interação em tempo real; e suporte a dispositivos
20 Símbolos/figuras previamente cadastradas no sistema de Realidade Aumentada que, ao serem
impressas e inseridas fisicamente no ambiente real, sendo focalizadas, permitirão a geração, o
posicionamento e a manipulação do objeto virtual no ambiente real.
INOVAÇÃO EDUCACIONAL E TECNOLOGIAS EMERGENTES 96
não convencionais. A manipulação de dados e informações multimodais21 é um fator
determinante para a adequada coordenação dos elementos que compõem um sistema de
RA (KIRNER, 2006). Com o surgimento do conceito de interfaces multimodais houve
uma ruptura profunda no paradigma de interação baseado em teclado, mouse e monitor,
diversificando assim as possibilidades de interação disponíveis aos usuários. Nessa área
de conhecimento é importante identificar os dispositivos que foram criados com intuito
de servir como interfaces para o usuário. Para Iglesias et al (2015),
É interessante conhecer os avanços que estão ocorrendo em
dispositivos Head Mounted Display (HMD), porque parece que,
a médio prazo, eles estão sendo os dispositivos predominantes
para usar tanto para RA quanto para RV. De fato, em RV é o
dispositivo que está sendo usado atualmente e que tem
perspectivas de continuar sendo utilizado. No momento, os
dispositivos HMD dentro do campo da RA têm como principal
"concorrente" os smartphones impedindo o momento em que
podem competir em igualdade de condições principalmente por
preço. (IGLESIAS et al, 2015, p. 16, tradução nossa)
Diante disto, uma linha de pesquisa que vem avançando atualmente é aquela
destinada ao desenvolvimento de interfaces multimodais e sua incorporação em
sistemas de RV e RA, uma vez que é uma tarefa fundamental no projeto de interfaces
para RA o suporte para navegação, orientação e manipulação de objetos em um espaço
3D.
21 Interface multimodal é aquela capaz de suportar dois ou mais modos de interação com o usuário
estando normalmente integrada a um sistema multimídia. Representa assim, múltiplas modalidades de
entrada. Estas modalidades podem ser a fala, os gestos, toques, olhares e expressões corporais, de modo
que juntas gerem uma entrada para o sistema.
4
Vida Conectada x
Docência Desconectada:
o Lugar das Tecnologias
na Sala de Aula
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 98
Ao longo desta tese temos advogado a respeito da inovação educacional de base
tecnológica e suas contribuições para o processo de ensino e aprendizagem. Entretanto,
uma das principais defesas relativas à não adoção de novas tecnologias nas salas de aula
está associada, no que concerne ao professor, a dois fatores principais: a falta de
conhecimento e/ou de acesso a essas tecnologias.
Uma das etapas deste estudo foi dedicada à exploração de dados secundários
acerca dessas questões relacionadas ao conhecimento e ao acesso as novas tecnologias
por parte dos professores.
Dentre os dados pesquisados, nos pautamos, fundamentalmente, nas pesquisas
publicadas pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). O referido comitê foi
instituído pelo do Decreto nº. 4.829, de 3 de setembro de 200322 e tem a atribuição de
estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no
Brasil, promover estudos, recomendar procedimentos para a segurança da Internet e
propõe programas de pesquisa e desenvolvimento que permitam a manutenção do nível
de qualidade técnica e inovação no uso da Internet.
Ao longo de sua trajetória, o Comitê Gestor da Internet no
Brasil (CGI.br) consolidou-se como um fórum privilegiado e
altamente qualificado para o debate de assuntos estratégicos
relacionados ao desenvolvimento da Internet e da sua
governança no país. (COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO
BRASIL, 2016, p. 25)
Entre as contribuições do CGI.br, estão as pesquisas produzidas pelo Centro
Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br)23
que visam à produção regular de estatísticas sobre o acesso às tecnologias de
informação e comunicação e seus usos nos mais diversos segmentos sociais. Tais
trabalhos oferecem insumos para que o governo e a sociedade civil atuem em prol do
desenvolvimento de uma estratégia digital brasileira frente à Internet.
22 BRASIL. Decreto nº 4.829, de 03 de setembro de 2003. Dispõe sobre a criação do Comitê Gestor da
Internet no Brasil - CGIbr, sobre o modelo de governança da Internet no Brasil, e dá outras providências.
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 04 set. 2003. Seção 1,
p. 24.
23 Em 2012, o Cetic.br foi instituído como Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da
Sociedade da Informação, atuando sob os auspícios da UNESCO, com o objetivo de cooperar com países
da América Latina e Lusófonos na África para a construção de sociedades do conhecimento inclusivas.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 99
Realizadas com o objetivo de subsidiar a formulação,
implementação e avaliação de políticas públicas de fomento ao
uso das tecnologias de informação e comunicação, os
indicadores e análises gerados pelo Cetic.br representam um
importante instrumento de monitoramento da sociedade da
informação e dos avanços da rede no país. A produção de
estatísticas confiáveis e comparáveis internacionalmente torna-
se ainda mais relevante para o acompanhamento da nova
agenda de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas –
Agenda 2030 – da qual o Brasil é signatário. (CGI.br, 2016, p.
25)
Utilizaremos especificamente a pesquisa sobre as Tecnologias de Informação e
Comunicação nas escolas brasileiras que foi publicada em 2016, referente ao ano de
201524. O objetivo destas pesquisas é identificar a infraestrutura, os usos e a apropriação
das TIC nas escolas brasileiras tanto na prática pedagógica quanto na gestão escolar. A
pesquisa é feita junto a alunos, professores do Ensino Fundamental e Médio,
coordenadores pedagógicos e diretores. Tem abrangência nacional e considera as
escolas públicas (municipais e estaduais) e privadas (a partir de 2011) das áreas urbanas
do Brasil. São selecionadas escolas com turmas regulares do Ensino Fundamental e do
Ensino Médio cadastradas no Censo Escolar conduzido pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Especificamente a versão da
pesquisa de 2016 contou com uma amostra de 1.106 escolas com entrevistas, 935
diretores, 922 coordenadores pedagógicos, 1.854 professores de Língua
Portuguesa, Matemática e multidisciplinares e 11.069 alunos de 5º e 9º ano do
Ensino Fundamental e 2º ano do Ensino Médio (CETIC, 2016).
A forma de acesso aos dados foi feita utilizando uma página web (Portal de
Dados, http://data.cetic.br/cetic/explore). Tal portal é uma ferramenta de visualização
que facilita a consulta aos indicadores e às estatísticas sobre a disponibilidade das
Tecnologias de Informação e Comunicação na sociedade brasileira produzidos pelo
Cetic.br.
A partir dos dados publicados pelo CGI.br (2016), geramos alguns gráficos que
revelam o acesso e a relação dos professores com os computadores e a Internet. Embora
essas duas ferramentas não sejam as únicas disponíveis para a utilização em sala de
aula, elas são as mais acessíveis e compartilhadas hegemonicamente nos dias atuais.
24 A pesquisa TIC Educação busca avaliar a infraestrutura das tecnologias de informação e comunicação
(TIC) em escolas públicas e privadas de áreas urbanas e a apropriação dessas nos processos educacionais.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 100
4.1 Quem são os professores e o que falam sobre tecnologias para o ensino
Tratar sobre a temática de inovação educacional de base tecnológica na
formação docente, requer, a priori, analisar as condições atuais de acesso à Internet e as
tecnologias disponibilizadas a esses professores.
Tomando por base o conjunto de todas as pessoas que fazem uso da internte no
Brasil, podemos observar que o índice de usuários dessa ferramenta vem apresentando
índices crescentes. Esse avanço pode ser explicado pela combinação favorável de uma
tecnologia de baixo custo com a crescente demanda atual por informação, sob o ideal da
comunicação universal, com suas características de bidirecionalidade, conteúdo
multimídia e ampla disponibilidade. Atualmente, o Brasil conta com aproximadamente
120 milhões de pessoas que utilizam a Internet.
Gráfico 1. Número de usuários da Internet no Brasil.
Fonte: Statista (Digital Market Outlook)
Considerando que o número total de habitantes no país é de mais de 207
milhões25de pessoas, há um total aproximado de 58% de pessoas que utilizam esse
recurso tecnológico no Brasil. Esse índice (usuários da Internet pela população) é
entendido como nível de penetração da tecnologia, conforme gráfico a seguir.
25 Dado obtido através do site http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/. O referido sítio web
apresenta uma projeção da população residente do Brasil ajustada a cada segundo.
100
105
110
115
120
125
130
135
2015 2016 2017* 2018* 2019* 2020* 2021*
Nú
me
ro d
e U
suár
ios
em
milh
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s
Ano de Referência* projeções
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 101
Gráfico 2. Percentual de penetração da Internet no Brasil.
Fonte: Statista (Digital Market Outlook)
No início do século, o país contava com aproximadamente 20 milhões de
pessoas conectadas (PRETTO; PINTO, 2006). Ocorreu um acréscimo de
aproximadamente 100 milhões de usuários que utilizam a Internet em 15 anos.
Por um lado, percebe-se um crescimento acelerado no número de
internautas e, mesmo sabendo que em 2001 o Brasil possuía apenas 23
milhões de conectados (menos de 19% da população), pode-se
perceber um aumento de conexão daqueles que estão nas classes
socioeconomicamente menos favorecidas (C, D e E) (PRETTO;
PINTO, 2006, p. 20).
Esse índice de penetração da tecnologia saltou de 19% para 58% da população.
Além disso, percebe-se, não só que a penetração da tecnologia aumentou como também
a inserção de classes sociais mais baixas. Esse aumento originou o fenômeno chamado
de “unclassed”, uma mistura isonômica das classes sociais na Internet.
Filho de um mundo contemporâneo menos dualista e hiperconectado
— no qual toda e qualquer informação pode circular mais livremente
entre os indivíduos — esse comportamento emergente abre a
possibilidade que as pessoas não apenas tenham acesso a referências
comuns independentemente de sua origem de classe, mas que também
encontrem múltiplos canais para expor sua voz e se tornar uma
potencial influenciadora de muitas outras. (SGANZERLA, 2015, p.1)
50.
52.
54.
56.
58.
60.
62.
2015 2016 2017* 2018* 2019* 2020* 2021*
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ação
Ano de Referência* projeções
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 102
Especificamente, sobre os professores pesquisados, a Figura 2, revela a
quantidade de professores usuários da Internet.
Figura 3. Professores que já acessaram a Internet, por último acesso, há menos de três
meses
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
De acordo com o CGI.br/NIC.br são considerados usuários, aqueles que
utilizaram a Internet nos últimos três meses que antecederam a entrevista.
Considerando o exposto na figura 2, percebe-se que o percentual de professores
usuários da Internet está entre 98% e 100%. Esses dados comprovam que, do ponto de
vista do acesso a computadores e à Internet, praticamente todos os professores estão
inseridos na cultura digital.
Coadunando com a figura 2, temos o gráfico 1 a seguir, que demonstra quais
tipos de computadores fazem parte do cotidiano do professor.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 103
Gráfico 3. Professores, por tipo de computador existente no domicílio.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Como é possível observar no gráfico 3, o acesso de professores aos
computadores está bastante disseminado. Onde a grande maioria dos professores possui
computador do tipo portátil, dois terços deles possuem computador de mesa e mais da
metade possuem tablets. Outra constatação, digna de nota, é a aquisição de
computadores portáteis em detrimento dos computadores de mesa. O que reforça a
tendência das pessoas de preferirem aparelhos portáteis que possibilitem seu manuseio
em qualquer local, se assim desejarem.
O investimento nesse segmento tem sido massivo, abrangendo empresas,
residências, universidades e escolas. Na última década foram criados diversos
programas que tinham como objetivo possibilitar o acesso de professores e estudantes
da rede pública aos aparelhos portáteis com acesso à Internet. É o caso do Projeto UCA
- Um Computador por Aluno, que se baseava em uma proposta pedagógica que, como o
próprio nome já diz, pretendia-se possibilitar que houvesse um computador para cada
aluno, proporcionando mobilidade e inserção do estudante na cultura digital.
Essa iniciativa fazia parte de uma política que tinha como premissa a melhoria
da qualidade da educação ofertada na rede pública de ensino a partir da substituição de
velhos e tradicionais modelos de abordagem do ensino, por outras estratégias
inovadoras e mais eficazes, baseadas na inclusão digital. Para tanto, foram distribuídos
tablets aos professores da rede básica de ensino. Porém, sob críticas de se ter
privilegiado o instrumento em detrimento da capacitação para utilizá-lo de forma
67%
88%
56%
33%
12%
44%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Computador de mesa Computador portátil Tablet
Sim
Não
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 104
adequada no sentido de contribuir para a melhoria da prática docente e
consequentemente para qualificar o processo de ensino e aprendizagem
Para Moran (2000),
A educação escolar precisa compreender e incorporar mais as
novas linguagens, desvendar os seus códigos, dominar as
possibilidades de expressão e as possíveis manipulações. É
importante educar para usos democráticos, mais progressistas e
participativos das tecnologias, que facilitem a evolução dos
indivíduos (MORAN, 2000 p. 36).
Essa concepção está se tornando mais forte no discurso circulante dos
professores, posto que nas demais esferas da vida cotidiana as tecnologias se
consubstanciam e se impõem de forma irrevogável.
Nesse contexto, podemos inferir que acesso a computadores e Internet não são,
prioritariamente, os elementos mais decisivos no que diz respeito à resistência dos
professores a utilizarem recursos tecnológicos inovadores em sala de aula. Embora,
existam diversos outros recursos possíveis, não se pode negar que o acesso ao
computador e a Internet fornece possibilidades infinitas de consulta e utilização de
estratégias que dinamizam e facilitam a aprendizagem dos estudantes.
Então, continuamos a questionar sobre os motivos que podem estar contribuindo
para certa apatia de professores quanto a utilização pedagógica de recursos tecnológicos
em sala de aula.
O gráfico seguinte talvez possa lançar indicadores sobre essa questão, pois
apresenta dados acerca dos locais de onde os professores mais acessam a Internet.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 105
Gráfico 4. Professores, por principal local de acesso à Internet.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Conforme dados apresentados no gráfico 4, percebe-se que 86% dos professores
acessam a Internet a partir de suas casas, 12% acessam quando estão na escola e 2% da
casa de outras pessoas. Ao que parece, a maioria dos professores possuem acesso à
Internet, porém essa relação se dá muito mais em sua vida extraescolar.
De acordo com o gráfico seguinte, o principal local de onde os professores
acessam é de seu próprio domicílio.
86%
12%
2%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Casa Escola Casa de outra pessoa
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 106
Figura 4. Professores com acesso à Internet em seu domicílio
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Como esse gráfico expõe a realidade por região brasileira, é fato verificar que
temos poucas distorções no acesso a Internet pelos docentes. Esse percentual de acesso
é pequeno quando se compara regiões do país e não são altos índices.
Este dado pode denotar que as escolas não possuem condições satisfatórias de
acesso a computadores e a Internet; e/ou que os professores estabelecem uma rotina de
ensino que não privilegia esse acesso. Portanto, não há tempo para outras atividades a
não ser aquelas tradicionalmente realizadas como copiar na lousa, resolver listas de
exercícios do livro, fazer exposição do conteúdo de forma oral, entre outras.
O gráfico seguinte demonstra que, embora não utilizem na escola os
computadores pessoais, um grupo considerável de professores se deslocam com estes
equipamentos para seu local de trabalho.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 107
Gráfico 5. Professores, por deslocamento do computador à escola
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
O gráfico 5 demonstra que ao serem perguntados sobre se levavam seus
computadores portáteis para a escola onde lecionavam, 50% dos professores que
possuíam este tipo de equipamento disseram que sim, 37% disseram que não e 12%
disseram não possuir o equipamento. Portanto, nota-se que os professores não estão
alheios à cultura digital instaurada pela atual sociedade da informação e comunicação.
Ao contrário, têm adquirido equipamentos que permitem o constante acesso aos
ambientes digitais.
Nessa direção, apresentamos a seguir um gráfico que demonstra que os
professores têm investido na aquisição de computadores.
50
37
12
0
10
20
30
40
50
60
Sim Não Não possui computadorportátil ou notebook
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 108
Gráfico 6. Professores, por forma de aquisição do computador existente no
domicílio.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
De acordo com os dados fornecidos pelo CGI.br, como pode ser visto, 60% dos
professores adquiriram seus computadores com recursos próprios. Ou seja, há um
investimento do ponto de vista financeiro. Porém, não há disposição para investir em
cursos de capacitação para utilização dos computadores em sua prática pedagógica. É o
que revela o gráfico 7.
60%
6%1%
33%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Recursos pessoaispróprios
Recursos de algummembro da família
Recursossubsidiados poralgum programa
de governo
Não possuicomputador de
mesa
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 109
Gráfico 7. Professores, por modo de acesso ao curso de capacitação.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Nessa direção, foi perguntado aos professores se participaram de cursos de
formação continuada para utilização de computador e Internet para atividades de ensino.
As respostas estão representadas no gráfico 9, a seguir.
Gráfico 8. Professores que fizeram curso de formação continuada sobre o
uso de computador e Internet em atividades de ensino.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
10%15%
3%7%
12%
20%15%
27%23%
18%
70% 70% 70% 70% 70%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Oferecido pelaescola durantetreinamentos
Oferecido pelogoverno ou
Secretarias deEducação
Oferecido poruma empresa,
ONG,associação,
telecentro oualguma outra
entidade
Oferecido poruma
instituição deEnsino
Superior
Pago comrecursospróprios
Sim
Não
Não fez curso deeducaçãocontinuada
12%
22%
88%
77%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Em horário de trabalho Fora do horário de trabalho
Sim
Não
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 110
Apenas 12% dos respondentes disseram ter participado de curso de capacitação
em horário de trabalho, o que pode indicar que foi promovido pela própria instituição de
ensino, ou ao menos, com sua anuência. Um total de 22% de professores fez
capacitação fora do horário de trabalho, retirando do seu descanso um tempo para
investir em formação. Respectivamente, 88% e 77% não realizaram nenhum curso no
horário de trabalho, nem em outro horário.
Essas informações podem levar a duas inferências. Ou existe um consenso latente
de que o professor deve, intuitivamente, descobrir estratégias de como inserir o
computador e a Internet no processo de ensino e aprendizagem; ou, não há uma
valorização acerca dessa prática por parte das instituições de ensino, ficando a cargo de
cada professor investir ou não nesse tipo de formação. O que configuraria formação
continuada.
Ao serem questionados sobre a presença desse tipo de conteúdo nos cursos de
graduação em que se formaram, os resultados demonstram que menos da metade teve
acesso a esse conhecimento, conforme o gráfico 8 a seguir.
Gráfico 9. Professores que cursaram disciplina específica sobre como usar o
computador e Internet em atividades com alunos de graduação
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Outro elemento se agrega à nossa análise. O número de professores que
cursaram ao menos uma disciplina especifica ao uso do computador e da Internet no
processo de ensino e aprendizagem é bem mais significativo que o exposto
anteriormente: apenas 12% dos professores utilizam o computador na escola. Ainda
assim, essa utilização pode não estar relacionada com a prática pedagógica. Nesse
43%
54%
3%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Sim Não Não sabe
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 111
contexto, cabe refletir sobre os seguintes aspectos: será que essas disciplinas ofertadas
nos cursos de formação inicial têm cumprido seu papel formativo? Ou continuam
reproduzindo a dissociação entre teoria e prática, causando inconsistência entre o
conteúdo acadêmico ministrado e o desenvolvimento da competência necessária para
realizar a mediação didática utilizando os recursos tecnológicos?
Outro aspecto passível de problematização diz respeito a concepção subjacente
ao uso desses recursos tecnológicos, pois além de se mostrar bastante incipiente se
considerarmos o universo de conteúdos ofertados durante os cursos de graduação,
muitas vezes, esse conteúdo é trabalhado de forma mecanicista e descontextualizada em
relação ao potencial criativo, inovador e dinâmico que os recursos tecnológicos podem
propiciar. Ademais, esses recursos não devem ser vistos como um fim em si mesmos,
mas como ferramentas que podem auxiliar no processo de ensino e aprendizagem, cujos
princípios éticos, profissionais, políticos, filosóficos e pedagógicos guiem a escolha dos
objetivos, dos métodos e da avaliação da aprendizagem.
Essa reflexão é necessária, pois são estes princípios que devem guiar os planos
e projetos escolares, reverberando na busca por formação continuada dos professores e
em sua constante atualização, com vistas à promoção de um ensino que, para além do
método de ensino escolhido, possa envolver estudantes e professores em atividades
significativas e colaborativas, despertando o pensar criativo e o protagonismo na
construção do conhecimento nas suas mais diversas facetas.
Atualmente, esta ainda se constitui em uma realidade distante do professor
brasileiro, como representado no gráfico 11.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 112
Gráfico 10. Professores, por forma de aprendizado e atualização no uso do computador
e da Internet.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
É possível perceber que a respeito do aprendizado e atualização referente ao uso
do computador e da Internet em atividades de ensino, mais de 90% dos professores
afirmam aprender sozinhos, mais de 60% dos professores aprendem em contatos
informais com outros professores e com vídeos ou tutoriais on-line. Em outras palavras,
parece-nos que não há apoio significativo, interesse, nem estímulo institucional nessa
direção.
Dentre as várias possibilidades de utilização da Internet, existem as redes sociais,
que têm atraído milhões de pessoas a compartilharem os mais diversos conteúdos nesse
tipo de ambiente. E como mostra o gráfico 12, muitos professores possuem perfis em
redes sociais.
Para interesses pessoais os professores aprendem a manusear o computador pelo
método da tentativa e erro, buscando informações com pessoas próximas ou até mesmo
na própria Internet. Como percebido no gráfico que segue.
44%
59%
70%
36%41%
91%
56%
41%
30%
64%59%
9%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Algum grupode
professoresda própria
escola
Com vídeosou tutoriais
on-line
Contatosinformais com
outrosprofessores
Cursosespecíficos
sobrecomputador e
Internet
Revistas etextos
especializadossobre
computador eInternet
Sozinho
Sim
Não
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 113
Gráfico 11. Professores, por atividades realizadas na Internet – parte 01.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
A partir do gráfico 11, notamos que 98% dos professores procuram
informações usando sites de busca. Esse fato é bastante instigante, pois os professores
reconhecem que a Internet auxilia substancialmente na busca por informações. No
entanto, não conseguem inserir em suas aulas estratégias que explorem essa ferramenta,
de modo a potencializar suas possibilidades para enriquecimento das aulas ministradas.
Talvez essa dissociação entre o uso pessoal que faz da Internet e o uso profissional que
poderia fazer em sala de aula, tribute ao fato de que os professores não foram
capacitados ou devidamente sensibilizados para incorporar essa novidade a sua prática.
Gráfico 12. Professores, por atividades realizadas na Internet – parte 02
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
91% 94%98%
9% 6%2%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Enviar emails Enviar mensagensinstantâneas
Procurar informação,usando buscador
Sim
Não
31%
40% 39%
87%
69%
60% 61%
13%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Criou eatualizou blogs
e páginas nainternet
Participou decursos onlinepela internet
Participou defóruns ougrupos de
discussão online
Participou deredes sociais
Sim
Não
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 114
Este gráfico demonstra que o maior índice de acessos à Internet pelos
professores, 87%, destina-se à participação em redes sociais e que ainda é limitado o
número daqueles que participam de cursos on-line. Menos de um terço dos docentes
criou ou atualizou blogs na Internet e aproximadamente 40% desses já participou de
cursos e/ou fóruns na Internet.
O próximo gráfico reforça que a maior atividade está relacionada também com
as redes sociais.
Gráfico 13. Professores, por atividades realizadas na Internet – parte 03
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Observando o gráfico 13, percebe-se que além de participar das redes sociais,
muitos professores de forma reincidente, 67%, acessam a Internet objetivando a
configuração de seus perfis de segurança e privacidade nessas redes.
Recentemente a companhia responsável pelo Facebook, uma das redes sociais
com maior número de adeptos, afirmou que cerca de 1,94 bilhão de pessoas usavam
seus serviços mensalmente até 31 de março de 2017. É, portanto, um meio de
comunicação e disseminação de informação de proporções gigantescas. Porém, muitas
escolas e professores ainda não reconhecem nas redes sociais um potencial para fins
educacionais.
Lorenzo (2013) destaca que em muitas instituições de ensino o acesso às redes
sociais é bloqueado aos alunos, por representarem um fator de distração nas salas de
aula. Desse modo, inviabiliza sua inserção no auxílio ao processo de ensino e
53%
67%
38%
28%
47%
32%
62%
72%
1%0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Baixou einstalou
softwares ouprogramas decomputador
Configurou asopções de
segurança eprivacidade das
redes sociais
Postou filmesou vídeos pela
internet
Usou a internetpara realizarchamadas ou
conversasatravés do
Skype
Sim
Não
Não sabe
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 115
aprendizagem. É verdade que, se não for bem direcionada, essas ferramentas podem
tirar o foco dos alunos no ambiente escolar. Entretanto, o autor ressalta que para que se
possa fazer uso desta ferramenta com vistas a otimizar o ensino, é preciso que as redes
sociais sejam melhor exploradas, considerando um planejamento criterioso, princípios
éticos e fomento à responsabilidade.
Outros índices consideráveis referem-se aos 53% de professores que acessam a
Internet para baixar e instalar softwares e programas de computador em seus
equipamentos e, aos 38% que postam filmes e vídeos, o que revela certa familiaridade
com esses procedimentos. Portanto, reitera-se que os professores têm se inserido cada
vez mais na cultura digital e que dominam os procedimentos básicos de consulta,
downloads e uploads de conteúdos via Internet. Procedimentos basilares para utilizar
diversas inovações de base tecnológica em sua prática pedagógica.
Nesta sociedade onde dados estatísticos, informação e conhecimento são
premissas para o desenvolvimento econômico/social/profissional/educacional, os
professores estão sendo chamados, cada vez mais, a lidar com conhecimentos e recursos
tecnológicos. Como, por exemplo, segurança de dados e privacidade; disponibilidade de
recursos e ferramentas educacionais de qualidade; licenças de autoria, reuso e
distribuição de materiais digitais próprios e de outros; quantidade de bytes por aluno
para navegação na Internet; novas habilidades e novos conteúdos pertinentes ao
contexto digital e suas linguagens e códigos; reorganização do tempo-espaço
educativos. Nessa perspectiva, os professores requerem oportunidades formativas
imersivas, baseadas no fomento à criatividade e à experimentação do professor, em
arranjos de aprendizagem capazes de explorar e ampliar as relações de troca entre
sujeitos.
Em relação ao uso da Internet, esta tem se tornado tão amplamente
compartilhada que para além dos computadores de mesa e portáteis, um grande número
de acessos é realizado por meio de telefones celulares, como apresentado na figura
seguinte.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 116
Figura 4. Professores que usaram a Internet por meio do telefone celular nos últimos
três meses (sim)
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Considerando os professores pesquisados, entre 86% e 94% acessam à Internet
por meio do telefone celular. Sobre esses equipamentos, o Departamento de Educação
Norte Americano expõe,
A tecnologia na educação não é nova: experimentos
usando computadores na sala de aula datam da década de
1960. O que há de novo é a onipresença da tecnologia
digital sofisticada e de baixo custo na vida diária e no
trabalho. [...] A maioria dos profissionais e muitos
estudantes têm um dispositivo móvel em seus bolsos com
mais poder de computação do que os primeiros
supercomputadores. (US DEPARTMENT OF
EDUCATION, 2013, p. 1, tradução nossa)
O crescimento do acesso à rede pode ser explicado também pelo aumento na
produção de telefones móveis, smartphones, experimentado no país e no mundo.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 117
Historicamente, o setor de telefonia móvel no Brasil passou por significativas
reestruturações desde o final da década de 1990, quando da sua privatização. Advindo
daí o fim do monopólio estatal, a privatização das empresas de telefonia e a aprovação
da Lei Geral de Telecomunicações, que estabelecia as condições legais de operação do
setor e a criação de uma agência reguladora, a Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel). No Brasil, segundo a referida agência, o mês de junho de 2017 encerrou com
242,1 milhões de linhas móveis em operação no Brasil. Sendo os aparelhos de telefonia
móvel mais acessíveis do ponto de vista financeiro, muitos estudantes possuem estes
equipamentos e conseguem acessar a Internet em ambientes com sinal wi-fi ou a partir
de planos de operadoras que permitem o acesso a partir de pacotes de dados móveis. O
acesso aos serviços de telefonia móvel atualmente permite que as pessoas estejam
conectadas virtualmente e tenham acesso às informações em todo canto do mundo. Essa
telefonia promoveu avanços que hoje já fazem parte do cotidiano das pessoas, tanto na
comunicação, na disponibilização de serviços e na operabilidade e conforto que essa
tecnologia proporciona. Os fabricantes não só estão criando produtos cada vez mais
modernos e sofisticados, como também estão agregando recursos de outros
equipamentos e mídias ao telefone móvel, o que vem sendo chamado de “convergência
tecnológica”.
Verificando a tabela com o percentual de pessoas que possuem telefone móvel,
podemos observar os elevados índices dessa posse. Considerando o grupamento de
atividade principal como a educação, saúde e serviços sociais, identificamos que este
apresenta o maior índice quando comparado aos outros grupamentos.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 118
Tabela 5. Percentual de pessoas que possuíam telefone móvel, na população de 10 anos ou
mais de idade
Grupamentos de atividade do
trabalho principal
Percentual de pessoas que tinham telefone móvel
celular para uso pessoal, na população de 10 anos
ou mais de idade, ocupada na semana de referência
(%)
Brasil
Grandes Regiões
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-
Oeste
Total (1) 87,2 76,5 78,5 91,7 91,1 93,9
Agrícola 56,0 43,0 45,7 66,7 69,8 79,2
Indústria 91,4 77,6 86,5 93,8 92,7 94,8
Indústria de transformação 91,2 77,2 85,9 93,6 92,6 94,7
Construção 85,1 79,9 78,4 87,3 89,5 92,1
Comércio e reparação 92,7 86,6 89,3 94,3 95,1 96,2
Alojamento e alimentação 90,8 84,1 87,8 92,4 92,6 94,6
Transporte, armazenagem e
comunicação 94,5 88,8 91,2 95,6 96,5 97,9
Administração pública 95,4 93,5 93,0 96,1 96,2 98,1
Educação, saúde e serviços sociais 95,9 91,3 93,5 97,0 97,2 98,1
Serviços domésticos 86,3 79,7 83,5 86,9 90,0 90,6
Outros serviços coletivos, sociais e
pessoais 95,1 92,1 93,3 95,4 96,2 97,7
Outras atividades 97,2 96,5 97,5 96,8 97,5 98,6
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios 2015.
Nessa direção, seria viável inserir nas estratégias de ensino atividades que
envolvessem consultas à Internet sem a preocupação de estar excluindo estudantes,
argumento utilizado, muitas vezes, para rechaçar sua utilização na escola. Ademais, se
encampado pelos projetos politico pedagógicos, as próprias escolas poderiam promover
o acesso a tais meios, o que seria uma forma de promover a chamada alfabetização
tecnológica e de inserir os estudantes na cultura digital de forma qualificada.
Antes de continuarmos nossa análise acerca do envolvimento da escola nesse
processo é preciso conhecer o que falam os professores sobre a utilização das TICs na
escola, uma vez que até o momento os dados demonstram que há interesse e utilização
de computadores e da Internet pelos professores. Nessa direção, o gráfico 14 apresenta a
percepção dos professores sobre o impacto da utilização das TICs em sua prática
pedagógica.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 119
Gráfico 14. Professores, por percepção sobre possíveis impactos das TIC
em práticas pedagógicas – parte 01.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
De acordo com o exposto, percebe-se que dentre os possíveis impactos da
utilização das TICs em sua prática pedagógica, 79% dos professores reconhecem que
passou a colaborar mais com outros colegas da escola, 77% afirmaram que passou a se
comunicar melhor com os alunos e 67% passou a ter contato com professores e com
especialistas de outras escolas. São índices bastante elevados e, embora, 23% dos
professores discordem dessa última assertiva, há em evidência, uma visão positiva dos
professores sobre a utilização das TICs em sua prática pedagógica.
Ainda nesse contexto, o gráfico 15 traz novos elementos elencados pelos
professores como decorrentes da adoção das TICs em suas aulas.
79% 77%
67%
11% 10% 10%10% 13%
23%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
Passou a colaborarmais com outroscolegas da escola
Passou a secomunicar com osalunos com maior
facilidade
Passou a ter contatocom professores e
especialistas deoutras escolas
Sim
Não
Não sabe
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 120
Gráfico 15. Professores, por percepção sobre possíveis impactos das TIC
em práticas pedagógicas – parte 02.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Nesse gráfico, percebe-se índice ainda mais significativos sobre o impacto das
TICS na prática pedagógica. Uma quantidade expressiva de professores, 94% passou a
ter acesso a materiais mais diversificados ou de melhor qualidade. Esse dado revela uma
mudança de extrema relevância, pois os professores passam a ter possibilidade de
transcender a prática tradicional de adotar o livro didático como único e absoluto guia
de sua prática, alargando as fronteiras da sala de aula e enriquecendo o processo de
ensino, com vistas a uma maior e melhor aprendizagem.
Outro aspecto a ser problematizado diz respeito ao fato de 85% dos professores
considerarem que o uso das TICs influencia na busca por novos métodos de ensino.
Esse dado revela que muitos professores não estão estagnados em sua prática e estão
dispostos a inovar.
Essa sensibilidade quanto à busca por novos recursos didático-pedagógicos para
potencializar o ensino sinaliza um processo de mudança na concepção de muitos
professores que acreditavam que seu papel limitava-se a ministrar a aula e ao aluno
caberia se esforçar para aprender. Para Núñez et al (os professores devem estar
preocupados com o processo de ensinagem.
O professor deve desenvolver saberes e ter competências para
superar as limitações próprias dos livros, que por seu caráter
genérico, por vezes, não podem contextualizar os saberes como
85%
75%
94%
8% 8%3%6%
16%
3%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Passou a adotarnovos métodos de
ensino
Passou a fazeravaliações mais
individualizadas dosalunos
Passou a ter acessoa materiais mais
diversificados ou demelhor qualidade
Sim
Não
Não sabe
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 121
não podem ter exercícios específicos para atender às
problemáticas locais. (NÚÑEZ, 2002, p.3).
Essa postura pró ativa é contributiva e confere ao professor uma
profissionalização, pautada na busca da qualificação de sua prática.
Ainda em relação ao gráfico 15, identificamos ainda que 75% dos professores
percebe que o uso da tecnologia é uma forma de customizar o processo avaliativo, isto
é, consideramos um avanço o fato dos professores terem citado que as TICs auxiliam na
realização de avaliações individualizadas.
Historicamente, os momentos avaliativos têm sido compreendidos como
sinônimo de provas. Para alguns professores, torna-se um instrumento disciplinador de
condutas sociais, servindo para controle e critério de aprovação dos estudantes, como
instrumento de disciplina, tornando-os reféns de um sistema autoritário e
antipedagógico.
Para Hoffmann (2005), a avaliação deve ser entendida como mediação. Assim,
A avaliação, enquanto mediação, significa encontro, abertura ao
diálogo, interação. Uma trajetória de conhecimento percorrida
num mesmo tempo e cenário por alunos e professores. Trajetos
que se desencontram, por vezes, e se cruzam por outras, mas
seguem em frente, na mesma direção (HOFFMANN, 2005, p.
40).
As autoras Anastasiou e Alves (2009) ao elencar estratégias diferenciadas para
abordar os conteúdos em sala de aula, acabam indicando formas diferentes de avaliar os
estudantes, considerando para além dos conteúdos conceituais, os procedimentais e
atitudinais.
Portanto, considerando que 75% dos professores lançam esse olhar sobre o
processo avaliativo, colocando as TICs como ferramentas importantes, podemos inferir
que há uma certa compreensão a respeito do seu uso nos processos avaliativos, tema
que, em nosso país, sempre ganha destaque maior que o do aprendizado.
Entretanto, se retomarmos os gráficos anteriores, observamos que há uma
incongruência entre o discurso a respeito dos impactos positivos da utilização das TICs
e a sua efetiva utilização na sala de aula.
Nessa perspectiva, essa análise ganha novos contornos quando se leva em
consideração outros elementos do cotidiano escolar. Dentre os dados disponibilizados
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 122
pelo CGI.br há alguns direcionados diretamente às dificuldades existentes na escola
para utilização dos computadores e Internet como pode ser observado no gráfico
seguinte.
Gráfico 16. Professores, por percepção sobre barreiras para o uso de TIC na
escola – parte 01.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
De acordo com o gráfico 16, cerca de 69% dos professores acreditam que o
número insuficiente de computadores e com acesso à Internet representa um obstáculo
para o uso das TIC nas escolas. E ainda, 66% afirma que equipamentos obsoletos
também contribuem para esse contexto.
O gráfico 17, a seguir, apresenta outros fatores que, na opinião dos professores,
também dificultam o uso das TIC na escola.
66%69% 70%
17% 16% 16%13% 13% 11%
3% 1% 2%1% 1% 1%0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Equipamentosobsoletos ouultrapassados
Númeroinsuficiente decomputadoresconectados à
internet
Númeroinsuficiente decomputadores
por alunos
Dificulta muito
Dificulta um pouco
Não dificulta nada
Nessa escola isso nãoacontece
Não sabe
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 123
Gráfico 17. Professores, por percepção sobre barreiras para o uso das TIC
na escola – parte 02.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Ao observarmos o gráfico 17, é possível perceber que 67% dos professores
acham que a baixa velocidade de conexão à Internet dificulta o uso das TIC e 61%
atribui a não utilização, à ausência de suporte técnico e manutenção dos equipamentos,
embora, 25% defenda que dificulta pouco e 11% afirme que não dificulta em nada.
Gráfico 18. Professores, por percepção sobre barreiras para o uso das TIC
na escola – parte 03.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
61%67%
25%19%
11% 11%
2% 2%1% 1%0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Ausência de suportetécnico e manutenção
dos equipamentos
Baixa velocidade deconexão à internet
Dificulta muito
Dificulta um pouco
Não dificulta nada
Nessa escola isso nãoacontece
Não sabe
49%
36%
28% 27%22%
34%
1% 3%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Ausência de cursoespecífico para o uso do
computador e dainternet nas aulas
Falta de apoiopedagógico aos
professores para o usodo computador e da
internet
Dificulta muito
Dificulta um pouco
Não dificulta nada
Nessa escola isso nãoacontece
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 124
Ainda sobre o mesmo tema, o gráfico 18 revela que, em menor escala, os
professores atribuem a não utilização das TIC, à ausência de curso específico e a falta
de apoio pedagógico para o uso do computador e da Internet nas aulas.
Esses dados denotam que os professores apontam como fator mais problemático
a estrutura para acessar as TIC em detrimento da formação e apoio pedagógico para sua
utilização.
Analisando o comportamento dos professores a partir dos dados já explicitados,
percebe-se que estes não têm utilizado as TIC efetivamente na sala de aula por uma
série de fatores, dentre os quais se destaca a questão da infraestrutura. No entanto,
outros dados apresentados pelo estudo do CGI.br demonstram que os professores
acessam a Internet para consultar materiais que auxiliem no desenvolvimento de suas
aulas, como é possível observar no gráfico a seguir.
Gráfico 19. Professores, por tipo de motivação para o uso de recursos
obtidos na Internet – parte 01.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Ao serem questionados sobre a motivação para buscar recursos na Internet com
a finalidade de usá-los em suas aulas, 96% dos professores disseram que sim, se sentem
motivados e buscam essa alternativa. Ainda nessa direção, foi perguntado sobre o que
os motivava a buscar esses recursos. Os resultados podem ser visualizados nos gráficos
que seguem.
96%
4%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Sim Não utilizou recursos obtidos nainternet
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 125
Gráfico 20. Professores, por tipo de motivação para o uso de recursos
obtidos na Internet – parte 02.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
O gráfico 20 mostra que 55% dos professores tem motivação nos próprios
alunos. A motivação em 67% dos professores pesquisados emergiu dos colegas ou de
outros educadores. E, cerca de 55% dos professores disseram que a motivação foi
propiciada pelo projeto político pedagógico da escola, pelos alunos e pela coordenação
pedagógica.
Ao afirmar que os colegas influenciaram na busca por recursos na Internet,
visando melhoria das aulas, os professores revelam que há uma reciprocidade entre
pares. Visto por essa ótica é possível o entendimento que planejar coletivamente,
capacitar-se, compartilhar ideias e informações torna-se fundante para que esse coletivo
possa ter acesso a novos conteúdos e sinta-se motivado a inovar.
55%
67%
55%
41%
29%
41%
4% 4% 4%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Alunos Colegas e outroseducadores
Coordenaçãopedagógica
Sim
Não
Não utilizou recursosobtidos na internet
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 126
Gráfico 21. Professores, por tipo de motivação para o uso de recursos
obtidos na Internet – parte 03.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Já em relação ao gráfico 21, percebe-se que o lugar do projeto político
pedagógico e da coordenação também está sendo valorizado. Esse fato demonstra, mais
uma vez, que os professores estão buscando, paulatinamente, uma profissionalização,
conferindo as instâncias e documentos que regem o metier docente uma grande
importância.
Tal fato deve ser enfatizado, uma vez que por muito tempo o Projeto Político
Pedagógico – PPP foi considerado um documento elaborado apenas para cumprir uma
formalidade legal. Porém, concordamos com Veiga (2003), quando esta, ao tratar sobre
o PPP, explicita que:
O projeto é um meio de engajamento coletivo para integrar ações
dispersas, criar sinergias no sentido de buscar soluções alternativas
para diferentes momentos do trabalho pedagógico-administrativo,
desenvolver o sentimento de pertença, mobilizar os protagonistas para
a explicitação de objetivos comuns definindo o norte das ações a
serem desencadeadas, fortalecer a construção de uma coerência
comum, mas indispensável, para que a ação coletiva produza seus
efeitos (VEIGA, 2003, p. 275).
Considerando esta assertiva e o que dizem os professores, pode-se inferir que
está em construção um reconhecimento ao PPP como um dos instrumentos norteadores
da escola e da própria prática do professor.
56%
33%
40%
63%
4% 4%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Projeto político-pedagógico
Secretarias de educaçãoou outros órgãosgovernamentais
Sim
Não
Não utilizou recursosobtidos na internet
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 127
Outro dado que chama a atenção são os 63% de professores que afirmam não
serem motivados pela secretaria de educação. Ou seja, de acordo com os pesquisados a
coordenação e o PPP atuam nessa motivação, mas o mesmo não é referenciado ao se
tratar dos órgãos governamentais. Em outras palavras, se o professor estiver disposto a
melhorar sua prática, talvez não possa contar com o apoio das secretarias.
Perguntou-se então, aos professores, se estes buscavam na Internet recursos que
pudessem utilizar em suas aulas. A seguir, observamos os resultados obtidos a partir
desta questão.
Gráfico 22. Professores, por uso de recursos obtidos na Internet para a
preparação de aulas ou atividades com os alunos.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Em sua quase totalidade, 96% dos professores revelam que obtêm recursos por
meio da Internet para preparar aulas e atividades com os alunos.
Observando esse dado e ainda, segundo Santana, Rossini e Pretto (2012),
quando trata dos recursos obtidos pela rede, é que a tendência de produção de materiais
digitais para distribuição pelas redes de ensino tem fundamento.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Sim Não
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 128
Gráfico 23. Professores, por frequência de acesso a recursos da Internet
para a preparação de aulas.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Nessa direção, o gráfico 23 demonstra que entre aqueles que acessam todos os
dias ou, pelo menos, uma vez por semana, há um percentual de 83% de professores.
Foi objeto de questionamento junto aos professores o tipo de conteúdo/recurso
acessado pela Internet, como apresentados nos próximos gráficos.
Gráfico 24. Professores, por tipos de recursos obtidos na Internet para a
preparação de aulas ou atividades com alunos – parte 01.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
33%
50%
11%
6%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Todos os dias ouquase todos os
dias
Pelo menos umavez por semana
Pelo menos umavez por mês
Menos de uma vezpor mês
59%
82%
52%
37%
14%
44%
4% 4% 4%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
Filmes ouanimações
Imagens, figuras,ilustrações ou
fotos
Vídeoaulas
Sim
Não
Não utilizou recursosobtidos na internet
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 129
Dentre os recursos captados na Internet, predomina, 82% dos professores, o uso
de ilustrações e imagens em suas atividades. Entre 50% e 60% utilizou filmes ou
videoaulas. E como evidencia o gráfico seguinte, 85% desses professores buscam a
Internet para obter questões de prova ou avaliações.
Gráfico 25. Professores, por tipos de recursos obtidos na Internet para a preparação de
aulas ou atividades com alunos – parte 02
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Mais uma vez a questão da avaliação emerge, dando pistas para inferirmos que a
avaliação da aprendizagem ainda é utilizada como sinônimo, em muitos casos, de prova.
Para muitos professores, a prova ainda é o único instrumento legítimo de verificação
dessa aprendizagem. Na atual sociedade em que os processos de aprendizagem
colaborativos têm se mostrado muito mais ricos e inclusivos, faz-se necessário ampliar
o leque de instrumentos avaliativos para atender a diversidade de estudantes que
constituem a escola. Inclusive, esta é uma prerrogativa posta nos documentos oficiais ao
discorrerem sobre a necessidade de trabalhar não somente os conteúdos conceituais,
mas também os procedimentais e atitudinais, os quais não podem ser mensurados por
meio de uma prova, no conceito clássico do termo.
38%
55% 54%
85%
58%
41% 42%
11%
4% 4% 4% 4%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
Apresentaçõesprontas
Listas comindicações de
leitura
Planos de aula Questões deprova ou
avaliações
Sim
Não
Não utilizourecursos obtidosna internet
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 130
Ainda nesse gráfico é possível observar que 55% dos professores procuram listas
com indicações de leituras e 54% buscam planos de aula.
Segundo Santana, Rossini e Pretto (2012), uma das possibilidades mais adotadas
pelos professores é o do uso de partículas de conteúdo – fotos, fragmentos de filmes e
vídeos, questões, etc – buscados na Internet e recombinados de forma a facilitar a
exposição de conteúdos.
Esses dados e apontamentos denotam que os professores estão abertos a
intercambiar informações e conhecimentos a partir de procedimentos e sequências
didáticas elaborados por seus pares, aproveitando experiências bem sucedidas. Reforça-
se, portanto, a proficuidade de um ambiente colaborativo que suscite a criticidade, a
criatividade e demais habilidades profissionais dos professores.
Um percentual significativo de professores busca os recursos para preparação de
suas aulas em plataformas disponíveis na Internet, conforme o gráfico 26.
Gráfico 26. Professores, por plataformas acessadas para a preparação de
aulas – parte 01.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
São objeto de consulta, pelos professores, os blogs26 das escolas. Hoje, um
recurso que em grande medida é usado para comunicar atividades e dar visibilidade aos
eventos da comunidade escolar.
26 De acordo com o site www.significados.com.br/blog/ (2017), a palavra blog a partir do termo weblog,
que resulta das palavras web e log. Web significa rede (nesse caso, da Internet) e log seria o registro de
uma atividade. Porém, numa tradução livre seria um "diário online". De forma prática, os blogs, segundo
o site, são páginas da Internet onde regularmente são publicados diversos conteúdos, como textos,
70%
25%26%
71%
4% 4%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Blogs de professores e deescolas
Redes sociais
Sim
Não
Não utilizou recursosobtidos na internet
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 131
Curiosamente, um grande percentual de professores, apesar de consultar os
blogs, não considera que as redes sociais oferecem recursos que possam ser utilizados
em suas aulas, corroborando a discussão evidenciada no início desse capítulo acerca do
alijamento destas redes no processo de ensino desenvolvido pelos professores. Ainda
nessa perspectiva, foram citados pelos professores outros recursos acessados na Internet,
expostos nos gráficos a seguir.
Gráfico 27. Professores, por plataformas acessadas para a preparação de
aulas – parte 02.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Outra plataforma bastante acessada pelos professores são os sites de escolas,
com 68%, sites de revistas/jornais com 59% e sites de editoras com 56% dos acessos a
materiais.
Na sequência, aparece o tipo de plataforma acessada pelos professores na
preparação de aulas. Essa análise é relevante, considerando-se que são meios
privilegiados de informações pensados para, dentre outras, atender a essa finalidade.
imagens, músicas ou vídeos, tanto podendo ser dedicados a um assunto específico como ser de âmbito
geral, podendo haver espaço para comentários dos leitores.
56%
68%
59%
40%
28%
37%
4% 4% 4%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Sites de editoras Sites de escola Sites de revistasou jornais
Sim
Não
Não utilizou recursosobtidos na internet
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 132
Gráfico 28. Professores, por plataformas acessadas para a preparação de
aulas – parte 03.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
O portal do MEC e as enciclopédias digitais são consultados, respectivamente
por 61% e 52% dos professores. Embora, 35% e 44% dos professores, respectivamente,
tenham afirmado não utilizar esses recursos, evidenciando um comportamento que
reforça a seguinte questão: o professor utiliza as novas tecnologias, especialmente
computador e Internet, tanto para fins pessoais como para melhorar suas aulas. No
entanto, ainda não conseguiu incorporar, de forma mais efetiva, a adoção das
tecnologias como recursos didáticos potencializadores das atividades de ensino e
aprendizagem.
Essa abordagem remete a um conceito defendido por Chevallard (1985)
denominado de transposição didática, o qual para o autor é:
Um conteúdo do conhecimento, tendo sido designado como saber a
ensinar, sofre desde então um conjunto de transformações adaptativas
que vão torná-lo apto a tomar o seu lugar entre os objetos de ensino. O
‘trabalho’ que, de um objeto de saber a ensinar faz um objeto de
ensino, é chamado transposição didática. (CHEVALLARD, 1985,
p.39).
Teorizando, nesse sentido, o conceito dos termos ensino e aprendizagem ganha
centralidade. Perrenoud (1993) considera que ensinar é fabricar artesanalmente os
saberes, tornando-os ensináveis, exercitáveis e passíveis de avaliação no quadro de uma
turma, de um ano, de um horário, de um sistema de comunicação e trabalho. Para isso, o
52%
61%
44%
35%
4% 4%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Enciclopédias digitais Portal do professor doMEC
Sim
Não
Não utilizou recursosobtidos na internet
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 133
professor é o sujeito que deve ser capaz de favorecer o processo de aprendizagem,
garantindo condições ideais para que esta ocorra. A aprendizagem, no contexto formal
da educação escolar, é mediada e nascida a partir do desejo do outro (o professor) como
agente que deve fomentar, despertar o desejo de aprender dos seus alunos.
Teixeira (2005) chama a atenção para duas formas de mediação no processo de
ensino-aprendizagem. A mediação didática de natureza mecânica, aquela que se dá sem
que o mediador (no caso, o docente) se dê conta da intencionalidade de suas ações,
produzindo efeitos pouco significativos no processo de aprendizagem dos educandos. Já
a mediação didática de natureza crítica implica em assumir uma postura crítica e
autônoma (não-mecânica) por parte do educador.
Para a autora, essa última deve se situar para além dos livros e manuais didáticos
de modo que não ocorra o eclipse didático, ou seja, que estes não ofusquem o elemento
primordial da prática pedagógica, a busca pela aprendizagem dos educandos. Com
vistas a verificar que tipo de mediação os professores pesquisados têm empregado em
sua prática, apresentamos os gráficos seguintes que demonstram que tipo de ação os
professores mais realizam ao utilizar os recursos obtidos na Internet.
Gráfico 29. Professores, por forma de utilização de recursos obtidos na
Internet.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Segundo o gráfico 29, de forma mais recorrente, 87% dos professores afirmam
ter baixado conteúdos e feito alterações para adaptá-los a sua realidade escolar. Já 82%
87%81%
11%17%
9%15%
85%79%
4% 4% 4% 4%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Baixou oucopiou o
conteúdo efezalterações
Criou umconteúdo
novocombinando
váriosmateriais
Modificou oconteúdo nopróprio site
Utilizou oconteúdo
sem realizarnenhumaalteração
Sim
Não
Não utilizou recursosobtidos na internet
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 134
relata ter criado novos conteúdos a partir dos vários materiais disponíveis;79% dos
professores informam que não modificaram o conteúdo no site consultado, nem
utilizaram o material sem fazer nenhuma alteração.
Diante do exposto, é notável que os professores se preocupam em investir tempo
para melhorar suas aulas e adequar as informações obtidas na Internet à sua realidade,
bem como o fato de não se apropriar daquilo que está publicado sem a devida crítica. O
que indica que buscam fazer uma mediação de natureza crítica e não mecânica.
Ainda é possível notar, a partir dos gráficos que a disposição para fazer
intervenções no próprio site ocorre de forma bem tímida, totalizando 11% dos
participantes da pesquisa.
Nesse viés, foi perguntado aos professores sobre que barreiras existem para que
publiquem recursos na Internet. As respostas estão explicitadas nos gráficos seguintes.
Gráfico 30. Professores, por percepção sobre barreiras para a publicação de
recursos na Internet – parte 01
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Dentre as respostas mais citadas, está o percentual de 51% dos professores que
afirmam ser a falta de tempo o fator que representa a maior barreira para que publiquem
na Internet. Falta de interesse e o fato de não ser remunerado não representam barreiras
muito significativas. O gráfico seguinte apresenta outras razões em relações a essas
barreiras.
21%
51%
22%
37%
31%
24%
35%
11%
47%
7% 7% 7%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Falta de interesseem publicar
Falta de tempo Não serremunerado
Dificulta muito
Dificulta um pouco
Não dificulta nada
Não modificou o conteúdo oucriou um novo a partir doconteúdo obtido da Internet
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 135
Gráfico 31. Professores, por percepção sobre barreiras para a publicação de recursos na
Internet – parte 02.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Os maiores percentuais apresentados revelam que a baixa velocidade da Internet
e os computadores obsoletos, se constituem em barreiras que dificultam a publicação de
conteúdos na Internet pelos professores.
46% 47%
24%
19%
23%
27%
7% 7%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
Baixa velocidade de conexãoà Internet
Uso de computadorultrapassado
Dificulta muito
Dificulta um pouco
Não dificulta nada
Não modificou o conteúdo oucriou um novo a partir doconteúdo obtido da Internet
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 136
Gráfico 32. Professores, por percepção sobre barreiras para a publicação de recursos na
Internet – parte 03.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
De acordo com esse gráfico, para os professores, as maiores dificuldades
gravitam em torno da falta de conhecimento sobre como e onde publicar, bem como
acerca de programas para criar e produzir conteúdos.
27%
32% 31%
42% 41%39%
24%
20%
23%
7% 7% 7%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
Falta deconhecimento
sobre comopublicar
Falta deconhecimento
sobre ondepublicar
Programas paracriar e produzir
conteúdos
Dificulta muito
Dificulta um pouco
Não dificulta nada
Não modificou o conteúdo oucriou um novo a partir doconteúdo obtido da Internet
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 137
Gráfico 33. Professores, por percepção sobre barreiras para a publicação de recursos na
Internet – parte 04.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
Ainda no âmbito das barreiras para publicar conteúdo na Internet, outras
dificuldades expressas pelos professores referem-se ao receio de se expor e de violar os
direitos autorais.
Para encerrar nossas análises trazemos a luz os dados referentes a percepção dos
professores sobre as verificações das permissões do uso de recursos obtidos na Internet.
33%
29%
32%
36%
26%24%
1%3%
1% 1%
7% 7%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
Receio de se expor Receio sobre violação dedireitos autorais
Dificulta muito
Dificulta um pouco
Não dificulta nada
Não sabe
Não respondeu
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 138
Gráfico 34. Professores, por percepção sobre a verificação das permissões
de uso de recursos obtidos na Internet.
Fonte: CGI.br/NIC.br (TIC Educação 2016)
De acordo com o gráfico, 42% dos pesquisados considerou fácil encontrar
informações sobre as referidas permissões e 38% não verificou essas permissões.
Dentro da abordagem tecnológica do Programa para a Abordagem de
Alfabetização em Tecnologia, desenvolvido pela UNESCO (2008), o professor deve
apresentar as seguintes competências. (a) Descrever e demonstrar o uso de
equipamentos tecnológicos comuns. (b) Descrever e demonstrar as tarefas básicas e o
uso de processadores de texto, como composição de texto, edição de texto, formatação
de texto e impressão. (c) Descrever e demonstrar a finalidade e as características básicas
do programa de apresentação e de outros recursos digitais. (d) Descrever a finalidade e a
função básica do programa de gráficos e usar um pacote com esse tipo de programa para
criar uma exibição gráfica simples. (e) Descrever a Internet e a World Wide Web,
elaborar seus usos e descrever como funciona um navegador, usando uma URL para
acessar um sítio. (f) Usar uma ferramenta de busca para fazer uma pesquisa boleana por
palavra-chave. (g) Criar uma conta de e-mail e usá-la para uma série contínua de troca
de mensagens. (h) Descrever a função e a finalidade do programa tutorial e de
atividades e prática, e como eles apoiam a aquisição, por parte dos alunos, de
conhecimento sobre as disciplinas escolares. (i) Localizar os pacotes de programas
educacionais mais adequados e os recursos de Web e avaliá-los em relação à sua
precisão e alinhamento com os padrões curriculares, e ajustá-los às necessidades de
alunos específicos. (j) Utilizar o programa de manutenção de arquivos em rede para
42%
16%
3%1%
38%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
Não foi fácilencotrar as
informações
Foi difícilencontrar asinformações
Não encontrouas informações
Não sabe Não verificouas permissõesde uso quandoobteve algumconteúdo da
Internet
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 139
registrar presença, apresentar as notas e manter os registros do aluno. (k) Usar
tecnologias comuns de comunicação e colaboração, tais como mensagens de texto,
videoconferência e colaboração via web e ambientes sociais.
Destacamos que esse documento foi lançado a praticamente uma década,
UNESCO (2008) e as competências desccritas acima ainda representam uma lacuna
formativa docente.
4.2 O que falam as pesquisas sobre tecnologias emergentes
Ainda no campo metodológico desta pesquisa, havia a necessidade não só
de definir bem o problema, mas também de obter uma ideia precisa sobre o estado atual
dos conhecimentos sobre nosso objeto de estudo, as suas lacunas e a contribuição das
investigações para o desenvolvimento do conhecimento na área.
Partimos do pressuposto que a área de pesquisa sobre o uso didático-pedagógico
das tecnologias emergentes ainda não é madura o suficiente, e, como confirmado nesta
fase da pesquisa, ainda não há muitos estudos publicados. Analisamos, portanto, o que
se tem produzido na academia sobre a temática específica de tecnologias emergentes.
Essa parte da investigação teve como objeto de análise os artigos científicos publicados
por periódicos científicos, uma vez que esses periódicos têm o papel de definir e
legitimar novas disciplinas e campos de estudos, constituindo-se em um legítimo espaço
para institucionalização do conhecimento e avanço de suas fronteiras.
Conduzimos a revisão da literatura utilizando como fonte de pesquisa o portal de
Periódicos da Capes.27 Dessa maneira, executamos uma busca automática como
estratégias de procura dos estudos primários. A partir daí, elaboramos uma string de
busca de acordo com a biblioteca selecionada. Cabe salientar que optamos por deixar a
string de busca do termo em inglês, uma vez que a grande maioria dos periódicos
científicos trazem abstract e/ou são escritos na língua inglesa. A string de busca
27 O Portal de Periódicos da Capes oferece acesso a textos completos disponíveis em mais de 38 mil
publicações periódicas, internacionais e nacionais, e a diversas bases de dados que reúnem desde
referências e resumos de trabalhos acadêmicos e científicos até normas técnicas, patentes, teses e
dissertações dentre outros tipos de materiais, cobrindo todas as áreas do conhecimento.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 140
utilizada na nossa pesquisa foi definida em três termos: technology, emerging e
education.
Do volume total de estudos obtidos, observamos o título e o abstract desses
artigos com o objetivo de eliminar os estudos irrelevantes ou mesmo que pudessem não
ter relação direta com nosso objeto de estudo. Feito isso, obtivemos nossa relação de
artigos primários que foram considerados na nossa revisão da literatura. Não fizemos a
exclusão de nenhum artigo tomando por base critérios como qualidade do estudo, país
de origem, tempo de publicação e/ou número de autores. Foram selecionados, portanto,
21 (vinte e um) artigos científicos, especificados no apêndice desta tese.
A produção do corpus (o conjunto do texto que se pretende analisar na pesquisa)
foi conseguida pela extração manual do título e do resumo dos referidos estudos e
contou com 3.535 (três mil, quinhentas e trinta e cinco) palavras. Essa opção por utilizar
esse fragmento do estudo, pauta-se na ideia de que o resumo apresenta, como afirma
Mendes (2010),
Explanação objetiva dos pontos importantes de uma obra, é um
gênero utilizado há vários anos, principalmente quando, em
meados da década de 1890, foi indicado como um método para
superar o problema de acesso às informações científicas [...] o
resumo busca apresentar, de forma concisa, todos os pontos
relevantes de um documento. (MENDES, 2010, p. 136)
Em seguida, o corpus foi submetido a análises pelo software IRAMUTEQ28
(Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires).
A opção do pesquisador por essa software foi motivado pelo fato do programa ser de
fácil acesso e gratuito. Capaz de realizar análise de dados, especificamente análise
textual, possibilitando assim descrever um material produzido por determinado
produtor, seja individual ou coletivamente (um indivíduo ou um grupo), como também
pode ser utilizada a análise textual com a finalidade comparativa, relacional,
comparando produções diferentes em função de variáveis específicas que descrevem
quem produziu o texto.
28 O IRAMUTEQ é um software gratuito e com fonte aberta e licenciado por GNU GPL, que permite
fazer análises estatísticas sobre corpus textuais e sobre tabelas indivíduos/palavras. Ele ancora-se no
software R (www.r-project.org) e na linguagem Python.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 141
As análises sobre o corpus textual utilizadas nesse estudo foram: análises
lexicográficas clássicas, análise de similaridade29 e nuvem de palavras. Essas análises
são importantes no escopo desta pesquisa, uma vez que, por tratar-se de dados que são
compostos essencialmente pela linguagem, os mesmos mostram-se relevantes aos
estudos sobre pensamentos, crenças e opiniões – conteúdo simbólico produzido em
relação a determinado fenômeno.
Importante identificar quais os termos elencados no corpus que apresentavam
maior frequência. Realizamos, portanto, uma análise clássica de quantitativo de termos.
A tabela 5 revela os vocábulos com frequência mínima de 5.
29 Esse tipo de análise baseia-se na teoria dos grafos. Possibilita identificar as co-ocorrências entre as
palavras e seu resultado traz indicações da conexidade entre as palavras, auxiliando na identificação da
estrutura do conteúdo de um corpus textual. Permite também identificar as partes comuns e as
especificidades em função das variáveis descritivas identificadas na análise.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 142
Tabela 6. Análise lexicográfica – frequência de vocábulos
Vocábulo Freq Vocábulo Freq Vocábulo Freq
Technology 85 Investigate 7 User 5
Learn 50 Institution 7 Trend 5
Education 38 Identify 7 Train 5
Study 26 Focus 7 Tool 5
Research 26 Experience 7 Standardization 5
Emerge 26 Enhance 7 Staff 5
Student 25 Case 7 Serve 5
Educational 15 Base 7 Science 5
High 12 Uptake 6 Review 5
Survey 11 University 6 Result 5
Library 11 Time 6 Real 5
Examine 11 System 6 Popular 5
Understand 10 Sustain 6 Mean 5
Program 10 Special 6 Interview 5
Paper 10 Relate 6 Internet 5
Approach 10 Reality 6 Interactive 5
Virtual 9 Provide 6 Information 5
Report 9 Phone 6 Include 5
LT 9 Leadership 6 GSM 5
Field 9 Framework 6 Google 5
Way 8 Finding 6 Development 5
Service 8 Explore 6 Develop 5
Network 8 Etes 6 Design 5
Method 8 Environment 6 Describe 5
Datum 8 Compute 6 Communication 5
Computer 8 Authentic 6 Change 5
Term 7 Augment 6 Cell 5
Social 7 Advance 6 Affective 5
Researcher 7 Adopt 6
Practice 7 VWE 5
Fonte: elaborado pelo autor.
Pela tabela acima, verificamos que as produções dos artigos analisados são mais
voltados a critérios que apontam para infraestrutura tecnológica (rede, serviço,
computador, computação, telefone, Internet, comunicação), para critérios voltados a
caracterização das tecnologias (avanço, desenvolvimento, interativo, design,
ferramenta) e, principalmente, para critérios vinculados à pesquisa e à educação
(pesquisador, estudante, educacional, aprendizado, estudo, investigação, instituição).
Importante destacar, a principal questão desta parte da pesquisa foi que, embora
fossem achados de busca pelo termo technology, emerging e education, uma pequena
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 143
parte dos trabalhos fez referência específica sobre que tipo tecnologia emergente
utilizou, quais as ferramentas que utilizou para fazer uso dessa tecnologia, quais as
avaliações foram feitas e os resultados a que se chegaram. Fica claro que não
conseguimos desenvolver até o momento, de forma massiva, metodologias para que os
professores possam fazer uso didático-pedagógico de tecnologias emergentes voltadas
ao ensino.
Especificamente, na análise de similaridade, foi possível identificar a formação
de grandes grupos de palavras correlacionadas (technology, education, learn, reality
augment, research, survey, virtual, uptake).
Figura 6. Análise de Similaridade do corpus da pesquisa.
Fonte: elaborado pelo autor.
Segue abaixo um quadro com os principais termos e seus agrupamentos. Alguns
grupos são mais representativos em relação ao número de termos e suas conexões, como
o são os grupos: Technology, Education, Research e Learn.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 144
Quadro 5. Análise de similaridade (formação de grupos e seus termos).
GRUPOS PRINCIPAIS TERMOS
Technology approach, investigate, focus, instruction, system, development,
project, environment, issue, effort, librarian, method , usage,
science, innovation, information, tool, paper, emerge
Education challenge, program, significantly, implement, work,
standardization, special, significant, contexto, train,
tradicional
Learn activity, find, framework, improve, teach, interview,
discussion, authentic, recent, implication, reveal, illustrate
Reality augment combination, real, google, glass, surgical
Research perspective, analisys, present, interdisciplinary, desk,
relevant, fully, major, question, design, review
Survey online, South
Virtual simulation, world, integrate, interactive
Uptake collection, etes, instruction, decision, concept
A seguir, seguem as visões expandidas dos grupamentos na análise de
similaridade.
Figura 07. Análise de Similaridade do corpus da pesquisa (parte referente a
technology).
Fonte: elaborado pelo autor.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 145
Figura 08. Análise de Similaridade do corpus da pesquisa (parte referente ao learn).
Fonte: elaborado pelo autor.
Figura 09. Análise de Similaridade do corpus da pesquisa (parte referente ao education).
Fonte: elaborado pelo autor.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 146
Figura 10. Análise de Similaridade do corpus da pesquisa (parte referente a research).
Fonte: elaborado pelo autor.
Figura 11. Análise de Similaridade do corpus da pesquisa (parte referente ao survey).
Fonte: elaborado pelo autor.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 147
Figura 12. Análise de Similaridade do corpus da pesquisa (parte referente a
uptake)
Fonte: elaborado pelo autor.
Figura 13. Análise de Similaridade do corpus da pesquisa (parte referente a virtual).
Fonte: elaborado pelo autor.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 148
Figura 14. Análise de Similaridade do corpus da pesquisa (parte referente a reality
augment).
Fonte: elaborado pelo autor.
Utilizamos também a análise lexical do tipo nuvem de palavras30. Esta análise
agrupa as palavras e as organiza graficamente em função da sua frequência. É uma
análise lexical mais simples, porém graficamente interessante. Este formato é útil para
visualizar rapidamente os termos mais proeminentes.
30 Nuvem de palavras, no inglês Word Cloud, são termos para a visualização quantificada do número de
ocorrência das palavras (ao inves das “categorias” ou “marcadores” no caso de tags). Normalmente, cada
palavra tem um peso associado a sua importância ou frequência: quanto maior o peso, maior a fonte
utilizada para desenhar a palavra. Assim, o tamanho da fonte em que a palavra é apresentada é uma
função da frequência da palavra no texto: palavras mais frequentes são desenhadas em fontes de tamanho
maior, palavras menos frequentes são desenhadas em fontes de tamanho menor. Visualmente, configura-
se como um recurso gráfico (imagens compostas por palavras de um texto com cores, direções e
tamanhos diferentes) para descrever os termos mais frequentes de um determinado texto.
VIDA CONECTADA X DOCENCIA DESCONECTADA: O LUGAR DAS
TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA 149
Figura 15. Nuvem de Palavras do corpus da pesquisa.
Fonte: elaborado pelo autor.
Essa visualização reforça o que já enfatizamos: os estudos que se voltam para as
tecnologias emergentes na educação refletem pouco o seu uso específico, quais as
ferramentas utilizadas, quais as avaliações foram feitas e os resultados a que se
chegaram.
5
TTATI - Abordagem
Tecnológica
Tridimensional à
Inovação de Ensino:
Perspectivas para a
Formação Permanente
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 151
5.1 Formação Permanente: um Modelo Inovador, Colaborativo e Aberto
A propositura de um modelo que dê alcance aos objetivos desta tese deve partir
da própria concepção de tecnologia e de como essa concepção orienta os diversos
programas do governo para a área. Qual o entendimento que se tem e/ou se construiu
com o passar dos anos sobre tecnologia da informação na educação? Sobre isso, Pretto
(2002) aponta,
Há um entendimento da coisa técnica que me parece
equivocado no trabalho do Ministério da Educação. É a
valorização da técnica em si, e não do fenômeno técnico. Isso
conduz a dar ênfase ao treinamento, que não é educação. O
treinamento consiste em preparar rapidamente a mão-de-obra
para tarefas que às vezes deixam de ter razão de ser, enquanto a
educação é algo que instrumentaliza o homem para ser mais e
melhor cidadão, para entender mais e melhor o mundo, para se
tornar um ser humano na sua plenitude. (PRETTO, 2002, p.
124).
No mesmo viés de pensamento, Tajra (2012) comenta que o início do uso da
tecnologia digital na educação teve um enfoque bastante tecnicista, prevalecendo
sempre como mais importante a utilização em específico do instrumento sem a real
avaliação do seu impacto no meio cognitivo e social. Ainda segundo o autor, a
Tecnologia Educacional era caracterizada pela possibilidade de utilizar instrumentos
visando à racionalização dos recursos humanos e, de forma mais ampla, à prática
educativa.
Entendemos que educação não é treinamento (PRETTO, 2002) e a
aprendizagem, sendo um processo de apreensão, internalização de conhecimentos, em
sua melhor acepção, está imbricada aos imperativos da responsabilidade social e
política. Mesmo nos dias atuais, ainda prevalece o aspecto instrumental das TICs na
educação, em detrimento do aspecto propriamente formativo. Constata-se, portanto que
as TICs têm na prática educacional um papel reduzido e que o uso dessas ferramentas
continua reproduzindo o modelo de transmissão unilateral. Na nossa visão, urge que
prolifere o entendimento em que as TICs, como qualquer ferramenta, devem ser usadas
e adaptadas para servir a fins educacionais e aos distintos esforços formativos que as
iniciativas educacionais, em curso, buscam empreender, ajudando a tornar mais
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 152
acessíveis e conhecidos para os professores, as políticas educacionais, os projetos
pedagógicos, as opções paradigmáticas, tanto quanto as proposições metodológicas das
instituições de ensino.
A própria integração das tecnologias de informação e comunicação nos
processos educacionais pode ser uma estratégia de grande valor, desde que esta
integração considere as TICs como meios e não como finalidades educacionais.
Brandão e Vargas (2016), ao avaliar as condições para a entrada e a permanência de
intervenções digitais em ambientes escolares, define a expressão tripé para a
apropriação de tecnologias digitais em escolas. Essa ideia engloba, em primeiro lugar, a
dimensão da infraestrutura pela qual se verifica que as condições físicas de uma escola e
a existência de equipamentos são cruciais para que uma solução tecnológica
educacional possa ser instalada e mantida. A segunda dimensão desse tripé trata do
campo técnico e se refere à capacidade dos grupos discente, docente e gestor da escola
de lidar com novas tecnologias digitais. E, por último, a dimensão política. Neste campo
se insere o diálogo entre os diversos envolvidos na iniciativa para alinhar o sentido que
se anseia de projeto da escola, e em que medida faz parte do desejo e das intenções dos
docentes e da gestão. Essa ideia coaduna com o que já frisamos nesta tese: a educação
está imbricada aos imperativos da responsabilidade social e política.
A tecnologia precisa então ser contemplada na prática pedagógica do professor,
de modo a instrumentalizá-lo a agir e interagir no mundo com critério, com ética e com
visão transformadora, sem mistificar o uso indiscriminado desse tipo de recurso no
ensino, mas racionalizando com critérios sobre os recursos eletrônicos como
ferramentas para construir processos metodológicos mais significativos para aprender.
Portanto, operacionalizar a inclusão digital na escola é uma condição para que a
educação prepare os indivíduos e a sociedade de forma a que eles mesmos dominem
essas tecnologias. Preparando assim os alunos, como cidadãos dotados de uma força de
trabalho capaz de utilizar as novas tecnologias para apoiar o desenvolvimento social e
econômico do país.
Além da ideia subjacente do uso da tecnologia na educação, o modelo proposto
deve e precisa atender às demandas de formação continuada dos professores. As
mudanças desencadeadas pela sociedade do conhecimento têm desafiado os centros
educacionais de formação no sentido de oferecer uma formação compatível com as
necessidades deste momento histórico. A visão de terminalidade oferecida, por
exemplo, na graduação precisa ser ultrapassada, pois essa vem gerando uma crise
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 153
significativa nos meios acadêmicos. Crise alimentada pela falsa ideia de que, ao
terminar sua formação inicial, o aluno estará pronto para atuar plenamente na profissão.
Daí o entendimento que o modelo seja um instrumento docente que o leve a um
processo de educação continuada para acompanhá-lo na vida acadêmica. Afastando esse
docente da ideia de pronto, de preparado, de terminalidade. Esse julgamento de
permanente busca é um reflexo da própria sociedade atual. Nessa nova visão, o
professor deve mudar o foco, do ensinar para reproduzir um conhecimento definitivo, e
passar a preocupar-se com o aprender e, em especial, o “aprender a aprender”, abrindo
caminhos coletivos de busca e investigação para a produção do seu conhecimento e do
aluno.
A comunidade educacional exige um acesso ágil e simples a
materiais de educação digital de qualidade que possam ser
usados e adaptados a diversas necessidades e circunstâncias
pedagógicas. Para atender a esta necessidade, estão em curso
várias iniciativas para promover a criação, difusão e
catalogação de materiais de qualidade que ofereçam uma ampla
gama de conteúdos digitais para todos os níveis de ensino não
universitário. (BARRIO, 2007, p. 67, tradução nossa)
A forma como o sistema educacional incorpora as TICs afeta diretamente a
diminuição da exclusão digital existente no país. Nosso modelo visa empreender
projetos que privilegiem uma relação dialógica e que permitam ao professor o aprender
a aprender, num processo coletivo para a produção de conhecimento. Cabendo,
portanto, a esse professor provocar perturbações, desequilíbrios e limitar o próprio
desequilíbrio por meio de situações problemas que devem ser superadas pelos alunos e,
por fim, construir seu conhecimento, sua aprendizagem. Ao final, de forma
colaborativa, expor seus resultados, suas vitórias, suas limitações, ou seja, tudo aquilo
que observou, assim como as superações e novos objetivos visualizados no decorrer do
processo.
5.1.1 Modelo Colaborativo: intercambiando conhecimentos
A maioria das atividades humanas socialmente relevantes inclui um trabalho em
grupo. Ter competência para realizar uma grande tarefa, dificilmente pode ser
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 154
considerado como um atributo exclusivamente individual, independente da competência
de outros que estejam, direta ou indiretamente, envolvidos na situação.
Nessa relação dialógica e no âmago do processo coletivo para a produção de
conhecimento, trabalhar colaborativamente tem se tornado uma prática cada vez mais
frequente nos diversos segmentos sociais. Essa forma de trabalho é capaz de favorecer a
aprendizagem de duas maneiras: aprender a colaborar e colaborar para aprender; uma
vez que, tanto o professor como seus alunos constroem o conhecimento por meio de
interações e ajuda recíproca, de forma coordenada e compartilhada, com o fim de atingir
objetivos negociados pelo coletivo do grupo. Os participantes do processo não estão
isolados para realizar atividades individualmente, mas mantêm-se engajados em uma
tarefa compartilhada que é construída e mantida pelo e para o grupo. As relações
colaborativas tendem, portanto a não ser hierarquizadas, mas sim relações
compartilhadas e com responsabilização mútua pela condução das ações. Dentro dos
espaços digitais virtuais, Backes et al. (2017) afirmam que existem relações
heterárquicas entre os envolvidos e que esses espaços,
[...] possibilitam a ação e a interação de todos os envolvidos,
bem como a representação do conhecimento, a expressão das
perturbações, dos conflitos, das diferenças e das diversidades,
por meio de relações heterárquicas – os participantes não pedem
autorização para se expressarem ou propor algo. (BACKES et
al., 2017, p. 1202)
Assim, no trabalho colaborativo predominam as interações, a negociação de
ideias, o compartilhamento de informações e resultados. Não há uma dependência, mas
sim uma interdependência.
A incorporação das TICs aos diferentes âmbitos da atividade humana, e
especialmente às atividades laborais e formativas vem contribuindo de maneira
importante para reforçar essa tendência de projetar metodologias de trabalho e de ensino
baseadas na cooperação. Nessa perspectiva, Duran e Vidal (2007) apontam sobre a
interação entre pares e o que ela gera em termos de conflitos social e cognitivo que,
É a interação entre iguais que produz o confronto de pontos de
vista moderadamente divergentes que se traduz, por um lado, no
conflito social que provocará uma melhoria da comunicação,
uma conscientização e um reconhecimento do ponto de vista
dos demais; e, por outro lado, no conflito cognitivo, decisivo
para que o sujeito possa reexaminar as ideias próprias,
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 155
modificá-las e receber um retorno dos demais. (DURAN,
VIDAL; 2007, p. 20)
No que tange ao poder de dispersão de um sistema comunicativo e colaborativo,
existe o que se convencionou chamar de lei de Metcalfe31, a qual afirma que o poder de
uma rede é proporcional à raiz quadrada do número de ramificações (nodes) que ela
contém (YOKOYAMA, 2016). As conexões crescem de forma exponencial e, nesse
ritmo, as mudanças de uma nova tecnologia afetam inicialmente apenas ela, todavia,
uma vez que essas mudanças crescem, seus efeitos se generalizam.
Especificamente, quando tratamos de um sistema colaborativo (groupware)
verificamos que esse sistema é um artefato tecnológico que apoia o trabalho em grupo,
coletivamente. O termo Sistemas Colaborativos é a tradução adotada no Brasil para
designar “groupware”, junção das palavras inglesas group (grupo) e software
(programas computacionais), e temos ainda o CSCW (Computer Supported Cooperative
Work), cujo jargão é denominado de Sistemas Workflow. Independente da nomenclatura
utilizada, constitui-se em um ciberespaço específico (um palco digital para a
convivência humana) com a finalidade de criar novas formas de trabalho e
interação/organização social. As pessoas que estão envolvidas nesse espaço digital
comungam de um mesmo tema de interesse e participam no desenvolvimento do
próprio ambiente.
Na educação, esses espaços se configuram, como afirma Backers et al.,
No contexto educacional um espaço de convivência se
configura da seguinte forma: o educador tem um espaço que lhe
é próprio para conviver com os estudantes e estes também têm
um espaço que lhes é atribuído. Em interações, educador e
estudantes configuram um espaço de convivência que lhes é
comum, onde todos são coensinantes e coaprendentes. Quando
não se configura este espaço de convivência, pode estar
ocorrendo somente a transmissão de informações, sem propiciar
a transformação do estudante e do educador, tampouco a
construção do conhecimento. (BACKERS et al., 2017, p. 1207)
31 Robert Melancton Metcalfe é um engenheiro americano. Foi um pioneiro no desenvolvimento
tecnológico nos Estados Unidos, co-inventor da Ethernet, com David Boggs, fundou a 3Com e formulou
a Lei de Metcalfe - assertiva que postula que o valor de uma rede é proporcional ao quadrado do seu
número de nodos.
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 156
Essa participação permite a colaboração, interação e compartilhamento que
favoreça a criação e a inovação. Barrio et al (2007) afirmam que, para as iniciativas que
favorecem a pesquisa e desenvolvimento na educação efetiva, é fundamental o
compartilhamento das “boas práticas”.
It is imperative to reinforce all those initiatives that favour
research and development in effective education and training
models. While digital education material is still in its early
stages of development (similar to the beginnings of other media
such as film, televisiono, radio), it is fundamental to explore all
avenues for the creation of these products and establish a
standardised evaluation model permitting the identification and
sharing of “best practices” in education. (BARRIO, 2007, p. 68)
É importante notar que o espaço (ciberespaço) não deve estar carregado por uma
rígida hierarquia sobre seus membros e sim relações que propiciem uma flexibilidade de
horário e lugar (tempo e espaço). Segundo Lisbôa (2010), a colaboração é uma filosofia
de interação que se apoia em processos sinérgicos (de trabalho em conjunto) que vai
desenvolvendo-se e integrando-se em si mesma e que ultrapassa os muros dos simples
processos de cooperação32. Nesta mesma visão, a colaboração, como defende Pimentel
et al (2006), envolve comunicação, coordenação e cooperação, conforme figura que
segue.
32 Como pontua, Pimentel et al (2006) entendemos que a cooperação é uma estratégia de trabalho, uma
técnica para produzir um produto, que pode ser entendida como a divisão do trabalho entre os sujeitos,
onde cada um é responsável por uma parte.
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 157
Figura 16 – Tipo de classificação dos sistemas colaborativos
Fonte: Pimentel et al (2006)
Um sistema colaborativo integra um conjunto de ferramentas que subsidiam a
colaboração. No projeto de sistemas colaborativos, voltados principalmente para a
Educação a Distância, como o AulaNet, TelEduc, AVA, WebCT, Moodle,
GroupSystems, YahooGroups, OpenGroupwar, BSCW podemos identificar três grandes
grupos de ferramentas: comunicação, coordenação e cooperação (LISBÔA, 2010).
Nesse design colaborativo interligam-se ferramentas de Comunicação (Correio, Lista de
Discussão, Fórum, Mural, Brainstorming, Bate-papo, Mensageiro), ferramentas de
Coordenação (Agenda, Relatório de Atividades, Acompanhamento da Participação,
Questionário, Tarefas, SubGrupos, Gerencimaneto de recursos, Orientação, Votação) e
ferramentas de Cooperação (Conteúdos, Quadro Branco, Busca, Glossário, Links,
Jornal Cooperativo, Classificador, Wiki, Gerenciamento de contatos, Revisão em pares,
FAQ, Anotações, RSS). Esses sistemas colaborativos digitais e suas inúmeras
ferramentas são apoiados na web. Que, por sua vez, representa um sistema
hipertextual de acesso e disponibilização de conteúdos e um meio propício à produção
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 158
de trabalhos colaborativos, uma vez que a maior parte das ferramentas da Web 2.033
permite a autoria e coautoria. Esse avanço da web marcou o amadurecimento no uso do
potencial colaborativo da Internet.
O modelo de sistema pretendido nesta tese deve ser especializado o bastante, a
fim de oferecer aos seus usuários formas de interação, de tal forma que facilite o
controle, a coordenação, a colaboração e a comunicação entre as partes envolvidas que
compõem o grupo, tanto no mesmo local, como em locais geograficamente diferentes.
Ademais, as formas de interação podem acontecer ao mesmo tempo ou em tempos
diferentes, possibilitando, assim, interação humana com o objetivo principal de fornecer
um espaço para aprendizado, e não um elemento para subsidiar o controle do trabalho,
de tarefas ou de técnicas utilizadas. Pretende-se projetar um modelo que subsidie um
espaço livre para construção do conhecimento, desenhado para ser condizente com o
espaço digital em rede, com os modos e os estilos de vida instaurados na sociedade
atual.
5.1.2 Modelo Aberto: acessibilidade e interatividade na docência
A gênese do modelo proposto, além de interativo e colaborativo, pretende ser
um modelo aberto. Ao tratar de uma tecnologia educacional aberta, McGrath (2015),
expõe,
O termo “tecnologia educacional aberta” tem significado amplo
que se estende bem além de qualquer definição de denominador
comum, como “software de código aberto para a educação”.
Embora a terminologia possa ser nova, o compartilhamento e a
cooperação mostram que não são. [...] Junto com o desenho e a
adoção de tecnologias abertas nesses projetos estão também
abordagens abertas para ensino e aprendizagem que buscam
derrubar barreiras culturais e reconfigurar os arranjos
instrucionais tradicionais. (MCGRATH, 2015, p.13)
33 Mesmo que o termo tenha uma conotação de uma nova versão para a Web, ele não se refere à
atualização nas suas especificações técnicas da rede, mas a uma mudança na forma de interação dos seus
usuários.
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 159
Atualmente vivenciamos um movimento emergente de educação conhecido
como um movimento do Recurso Educacional Aberto34 (REA). Uma filosofia que prega
o compartilhamento, reuso, adaptação, readaptação, tradução e localização de recursos
educacionais. Vale salientar que a premissa da educação aberta “é um movimento
emergente de educação que combina a tradição de partilha de boas ideias com colegas
educadores e da cultura da Internet, marcada pela colaboração e interatividade”
(DECLARAÇÃO DA CIDADE DO CABO PARA A EDUCAÇÃO ABERTA, 2007, p.
1).
Os recursos podem incluir materiais, planos de aulas, livros, jogos, softwares e
outros materiais de apoio ao ensino e aprendizagem que estejam licenciados
abertamente. Portanto, numa das esferas da educação aberta, os recursos abertos são,
como defendido por Santos (2013),
Materiais de ensino, aprendizagem ou pesquisa que estejam em
domínio público ou que tenham sido disponibilizados sob uma
licença de propriedade intelectual que permita seu livre uso e
adaptação por terceiros. Esses recursos incluem cursos
completos, materiais didáticos, módulos, vídeos, livros,
software e quaisquer ferramentas, materiais ou técnicas usadas
para apoiar o acesso ao conhecimento (SANTOS, 2013, p.7).
Pesquisas como a de Santos (2013) reforçam a ideia de que o conceito de REA
no Brasil requer ainda muita divulgação e ações práticas de implementação pelo
governo e pelos setores público e privado da educação para aproveitar devidamente seu
potencial no apoio ao alcance das metas nacionais para a educação. A própria
declaração de educação aberta da cidade do Cabo, assinada ainda em 2007, já
mencionava esses apontamentos.
Existem muitos obstáculos para realizar esta visão. A maioria
dos educadores ainda não esta a par da existência de um vasto e
crescente grupo de recursos educacionais abertos. Muitos
governos e instituições de ensino não têm conhecimento ou não
estão convencidos dos benefícios da educação aberta. As
diferenças entre os regimes de licenciamento de recursos
abertos criam confusão e incompatibilidade. E, claro, a maioria
34 O termo "Open Education Resources" (OER) foi adotado pela primeira vez no Fórum da UNESCO
sobre o Impacto do Open Courseware para Educação Superior em Países em Desenvolvimento realizado
em 2002 e financiado pela Fundação Hewlett.
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 160
do mundo ainda não tem acesso aos computadores e redes que
são essenciais para a maioria dos atuais esforços de educação
aberta. (DECLARAÇÃO DA CIDADE DO CABO PARA A
EDUCAÇÃO ABERTA, 2007, p. 1)
Além dos recursos, um ponto chave em relação ao modelo aberto de educação
está na questão do acesso da tecnologia a todos os atores sociais. Acessibilidade
entendida aqui como qualidade ou caráter do que é acessível, facilidade na
aproximação, no tratamento ou na aquisição. Para Kahle (2015),
Tradicionalmente, a ideia de acesso que se relaciona à
tecnologia aberta tem sido moldada em termos de ubiquidade e
acessibilidade. Software ou conteúdo que tem um preço além
do alcance de educadores e alunos, ou que requer infraestrutura
técnica sofisticada e que está disponível apenas para poucos
dificilmente, pode ser considerado aberto. Entretanto,
simplesmente porque um recurso está livre ou facilmente
disponível não significa que ele é acessível e útil para os
indivíduos. (KAHLE, 2015, p.33)
As tecnologias digitais aplicadas à educação podem potencializar a construção
de uma sociedade que, ao tentar renunciar às lógicas de exclusão, aproxima-se da utopia
possível de inserção para todos os seus atores sociais. O termo acessibilidade, presente e
discutido em diversas áreas, tem também na tecnologia educacional importante
significado. Ele é, de fato, para o usuário não só o direito de acessar a rede de
informações, mas também o direito de eliminação de barreiras arquitetônicas, de
disponibilidade de comunicação, de acesso físico, de equipamentos e programas
adequados, de conteúdo e apresentação da informação em formatos alternativos.
Portanto, temos a possibilidade de recursos abertos e de acessibilidade ao
conteúdo. Falta-nos inserí-los à prática pedagógica e avaliar modelos abertos para que
faça sentido sua utilização no cotidiano da escola. Mesmo com a parca utilização dos
REA no sistema de educação básica, Santos (2013) comenta que “as estatísticas
apresentadas indicam que os recursos educacionais foram usados pelos professores em
diferentes disciplinas, embora pouco tenha sido dito sobre quão bem sucedido foi
esse uso”. (SANTOS, 2013, p. 69, grifo nosso).
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 161
McGrath (2015) coaduna com esse entendimento de se evidenciar o progresso e
sucesso nos modelos abertos. Para que a tecnologia educacional aberta tenha sucesso, as
iniciativas não podem apenas fazer mais códigos de fonte aberta, mas devem também
preocupar-se em abrir a evidência do progresso de aprendizagem nas atividades que o
software suporta.
Conteúdo aberto, código aberto e educação aberta são ideias coletivas
frequentemente analisadas como um meio de libertação e democratização do
conhecimento humano. Um modelo aberto e colaborativo é a forma de cultivar o
conhecimento sobre tecnologias emergentes e sustentar a produção e consumo de
recursos educacionais oriundos dessas tecnologias em larga escala. Uma forma de
propor inovação educacional que subsidie as complexas necessidades e interesses de
educadores e alunos.
5.2 TTATI - Um modelo para além do repositório
Partindo da ideia de ambientes de trabalho colaborativos e abertos, e de igual
modo reconhecendo, no decorrer da pesquisa, dados que demonstram a situação atual da
tecnologia educacional no país e as tendências que aceleram a adoção de tecnologias no
Brasil, elaboramos uma proposta de modelo aberto para subsidiar uma relação dialógica
entre os professores e os objetos de estudos dentro do ambiente informacional
disponibilizado pela World Wide Web. Para tanto, sintetizamos abaixo as principais
ideias defendidas pelo NMC 2015 e pelos dados obtidos pelo CGI.br/NIC.br no ano de
2016.
Segundo (FREEMAN; BECKER; GIESINGER, 2015), de acordo com o
Panorama Tecnológico da New Media Consortium 2015 - Universidades Brasileiras:
uma análise regional do Horizon Project, algumas das principais tendências que
aceleram a adoção de tecnologias são enumeradas abaixo.
(i) Culturas avançadas de mudança e inovação - a fim de inovar e criar
adaptação às necessidades econômicas, as instituições devem ser
estruturadas de modo a permitir flexibilidade e estimular a criatividade e
o pensamento empreendedor.
(ii) Uso crescente de projetos de aprendizagem híbrida - as percepções sobre
a aprendizagem on-line têm mudado à medida que mais estudantes e
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 162
educadores a compreendem como uma alternativa viável para alguns
modelos de aprendizagem presencial.
(iii) Surgimento de novas formas de estudos interdisciplinares – criação de
programas interdisciplinares que unem técnicas cientificas, humanísticas
e educacionais dentro de uma unidade coerente.
(iv) Multiplicação de recursos educacionais abertos – uma visão comum que
define recursos educacionais abertos não apenas como gratuitos em
termos econômicos, mas também em termos de propriedade e direito de
uso.
(v) Novos projetos de espaços de aprendizagem – tanto os cenários
educacionais formais como informais estão cada vez mais destinados a
facilitar interações baseadas em projetos focados na atenção a
mobilidade, na flexibilidade e no uso múltiplo da técnica.
(vi) Mudança para abordagens mais profundas de aprendizagem – a
aprendizagem baseada em projetos, em problemas, em investigação e em
desafio e outros métodos semelhantes estão fomentando experiências
mais ativas de aprendizagem.
(vii) Foco crescente na medição da aprendizagem – há um interesse crescente
em utilizar dados na personalização da experiência da aprendizagem para
uma avaliação continua do aprendiz.
(viii) Mudança no perfil de estudantes – (consumidores a criadores) –
estudantes estão aprendendo a fazer e criar em vez de apenas consumir
conteúdo.
Além de identificar as principais tendências para adoção da tecnologia, cabe
verificar os dados obtidos pelas pesquisas do CGI.br/NIC.br no ano de 2016, mostrados
ao longo desta tese e sumarizados a seguir.
(i) Os professores, em sua grande maioria, acessam a Internet e o fazem
também a partir da escola (acima de 80%);
(ii) Uma grande parcela de professores faz uso também de telefone móvel
para acessar a Internet;
(iii) A maioria dos professores tem computadores portáteis (88%); e metade
deles (50%) desloca esse computador para a escola.
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 163
(iv) A maioria dos professores envia e-mails (91%), mensagens instantâneas
(94%), procura informações através de buscadores (98%) e participa de
redes sociais (87%).
(v) A maioria dos professores aprende e se atualiza no uso do computador e
da Internet sozinho (acima de 80%) ou através de vídeos e tutoriais on
line (acima de 60%), e/ou com contatos informais com outros professores
(praticamente 80%).
(vi) A maioria dos professores não teve acesso a um curso de educação
continuada (acima de 65%).
(vii) Praticamente a metade dos professores (49%) acredita que a ausência de
um curso específico para o uso do computador e da Internet nas aulas é
uma barreira para o uso de TICs na escola e, 36% dos professores
entende que a falta de apoio pedagógico aos professores também é uma
barreira.
(viii) A maioria dos professores percebe impactos das TICs na prática
pedagógica quando passou a colaborar mais com outros colegas da
escola (79%); quando passou a se comunicar com os alunos com maior
facilidade (77%); quando passou a ter contato com professores e com
especialistas de outras escolas (67%); quando passou a adotar novos
métodos de ensino (85%); quando passou a fazer avaliações mais
individualizadas dos alunos (75%); quando passou a ter acesso a
materiais mais diversificados ou de melhor qualidade (94%).
(ix) Quase totalidade dos professores (96%) fez uso de recursos obtidos na
Internet para a preparação de aulas ou atividades com os alunos.
(x) Um número significativo de professores (88%) apresenta frequência de
acesso a recursos da Internet para a preparação de aulas de, no mínimo,
uma vez por semana.
(xi) Cerca de (69%) dos professores percebem a falta de conhecimento sobre
como publicar, (73%) onde publicar, (70%) percebem o
desconhecimento de programas para criar e produzir conteúdos e (81%)
desses professores percebem que a falta de tempo são barreiras para a
publicação de recursos da Internet.
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 164
Pautados nas premissas e nos dados acima, elaboramos uma proposta para
subsidiar o compartilhamento de práticas educacionais com a utilização de um ambiente
na Internet. Não apenas como forma de compartilhar objetos de aprendizagem, mas de
práticas pedagógicas que versem sobre tecnologias emergentes.
O simples compartilhamento de objetos de aprendizagem normalmente é
realizado via repositórios de conteúdo digital. Esses repositórios são aqueles onde
conteúdos digitais, recursos, estão armazenados e podem ser pesquisados e recuperados
para uso posterior. Um repositório suporta mecanismos de importação, exportação,
identificação, armazenamento e recuperação de recursos digitais (MARTINS et al,
2008). Contamos hoje com vários repositórios com propósitos educacionais, tais como:
Banco Internacional de Recursos Educacionais – MEC, Biblioteca Virtual do Estudante
de Língua Portuguesa (Bibvirt) – USP, EaD - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae), EaD - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(Senai), e-Aulas – USP, Fundação Getulio Vargas Online – FGV, Laboratório Didático
Virtual (LabVirt) – USP, Matemática Multimídia (M3) – Unicamp, Opencourseware –
Unicamp, Portal Ciência à Mão – USP, Portal do Professor – MEC, Portal Domínio
Público – MEC, Rede Interativa Virtual de Educação (RIVED) – MEC, Repositório
Digital (LUME) – UFRGS, Scientific Electronic Library Online (SciELO), entre tantos
outros.
Fazendo uma análise, mesmo que ainda superficial desses repositórios,
identificamos que as principais funções desses ambientes são a guarda e a
disponibilização de conteúdos digitais. Dessa feita, esses ambientes não favorecem a
troca de experiências pedagógicas, a socialização de práticas educativas entre usuários,
o caráter da práxis pedagógica (FREIRE, 1987) no uso das ferramentas tecnológicas. A
propositura de uma ação-reflexão-ação e a retroalimentação da prática docente
possibilitam vivências que conduzem ao aprofundamento e à compreensão da
problemática subjacente à sinergia entre tecnologia e ensino. Esse, inclusive é, ao nosso
ver, o cerne do problema das tecnologias na educação.
As trocas sócio-cognitivas ocorrem por meio da interação e colaboração entre os
envolvidos e envolvem o compartilhamento de ideias, informações, proposituras,
imprecisões e questionamentos. Nessas trocas, os envolvidos podem confrontar seus
pontos de vista com o dos outros, reordenando seu pensamento e provocando a reflexão
e o conflito sócio-cognitivo. A partir de então, surgiu a idéia de se gestar um modelo
colaborativo e aberto tendo como possibilidade, no processo de troca de experiência no
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 165
interior da comunidade, garantir que o conteúdo postado atenda a um padrão mínimo de
qualidade para ser usado por todos, fomentando e promovendo a cultura participativa, a
criatividade, a inovação e exemplos de boas práticas pedagógicas com a utilização de
tecnologias emergentes. Essa proposta visa desenvolver nos usuários as competências e
as habilidades necessárias para avaliar a qualidade do conteúdo compartilhado.
Torna-se objetivo desta tese a propositura de uma abordagem sistêmica que
abarque múltiplas dimensões e que possibilite a implementação de tecnologias da
informação e comunicação de forma exitosa na educação. Propomos, portanto a
abordagem TTATI, figuras 16 e 17, acrônimo de Three-dimensional Technological
Approach to Teaching Innovation.
Figura 17. Three-dimensional Technological Approach to Teaching Innovation
enquanto um sistema colaborativo
Fonte: elaborado pelo autor.
Esse ambiente informacional aberto e colaborativo envolve uma comunidade de
professores que compartilha interesses em tecnologias digitais e que podem
compartilhar experiências de práticas educacionais com o uso desses recursos digitais.
Está configurada como um ambiente virtual de trocas e discussões de práticas
pedagógicas que fazem uso de tecnologias emergentes. Entretanto, para além de um
repositório, essa coleção de práticas pedagógicas que se interligam e podem ser
visitadas e editadas por qualquer usuário da comunidade, torna prático o processo de
acessibilidade, análise e revisão das práticas.
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 166
Figura 18. Compartilhamento de práticas pedagógicas em TTATI
Fonte: elaborado pelo autor.
Estruturalmente, TTATI é uma abordagem que visa analisar diferentes
dimensões que influenciam diretamente a aplicação de TDICs no ensino inovador. As
dimensões elencadas nessa abordagem referem-se à infraestrutura, às tecnologias
emergentes e ao aporte didático-pedagógico, figura 18.
Figura 18. Abordagem Tecnológica Tridimensional para a Inovação Educacional.
Fonte: elaborado pelo autor.
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 167
Partimos da premissa de que se faz necessário estar alicerçado nesse tripé para
que a utilização da TDIC se torne uma realidade no contexto escolar. Portanto, cada
professor, poderia criar novas práticas pedagógicas com tecnologias educacionais sobre
seus interesses pessoais e compartilhá-las no ambiente. Aos demais é facultado o direito
de acessar essas práticas, utilizá-las, adaptá-las, redistribuí-las e aperfeiçoá-las.
5.2.1 Dimensão da Infraestrutura
Promover a educação requer a garantia de um ambiente infraestrutural com
condições para que a aprendizagem possa ocorrer. É patente a necessidade de políticas
públicas que visem diminuir as discrepâncias e promover condições escolares mínimas
para que a aprendizagem possa ocorrer em um ambiente escolar favorável. Torna-se
indispensável proporcionar um ambiente físico de infraestrutura escolar, que estimule e
viabilize o aprendizado, além de favorecer as interações humanas.
No modelo proposto, cumpre analisar as condições de infraestrutura para
efetivação de uma prática tecnológica.
Nessa dimensão analisa-se os recursos físicos disponíveis para subsidiar as
práticas com tecnologias emergentes. Tal análise parte de questionamentos sobre a
existência ou não, sobre o acesso ou não, sobre a quantidade disponibilizada desses
recursos. Cumpre ainda saber quais os recursos infraestruturais disponíveis a partir das
indagações: o espaço físico dos laboratórios de informática é adequado? Que tipo de
computadores podem ser utilizados na prática em questão (computadores de mesa,
portáteis, vestíveis)? O número de equipamentos/alunos é adequado à prática que se
pretende? Quais as configurações desse equipamento (processamento, tamanho de tela,
interface com o usuário)? Existe conectividade à Internet na escola? Se existe, qual a
conectividade com a Internet das escolas? Quais valores de medição de qualidade da
conexão? Existem conexões com ou sem fio? Há outros equipamentos eletroeletrônicos
disponibilizados (impressoras, scanners, plotters, projetores multimídia, máquina
fotográfica, smartphones, óculos 3D, discos rígidos externos, cartões de memória, pen
drives, cabos e adaptadores)? Existe um suporte técnico na própria escola? É possível
contar com o serviço de computação na nuvem (cloud-computing)35? Quais sistemas
35 Utilização de software, informações e/ou recursos computacionais sob demanda, abstraindo os
procedimentos técnicos de instalação e manutenção da infraestrutura envolvida, oferecidos ao usuário via
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 168
operacionais são disponibilizados (livres, proprietários)? Que suíte de escritório é
disponibilizado?
Há uma vasta gama de pesquisas (ROGERS, 2000), (SANTOS, 2013),
(SOARES NETO, 2013), (PRETTO, 2002), (VISWANATH; KUSUMA; GUPTA,
2012), que demonstram a importância de se ter uma estrutura tecnológica adequada nas
escolas. No Brasil, a deficiência de recursos é apontada como fator fundamental na
capacitação docente. Segundo Freeman; Becker; Giesinger (2015) “infraestruturas
escolares essenciais estão com recursos insuficientes, e, no Brasil, esta é considerada
uma das razões para as falhas na preparação de profissionais de TICs”. Essa importância
é vista historicamente, desde a inserção de computadores na escola, como afirma as
pesquisas de Rogers (2000),
Por exemplo, muitas escolas compraram um computador para
cada sala de aula no final da década de 1980, mas não
forneceram suporte técnico ou oportunidades de
desenvolvimento de pessoal. Os computadores estavam
disponíveis e acessíveis, mas inúteis para os professores devido
à falta de suporte técnico e treinamento. (ROGERS, 2000, p.
471)
Além do suporte em tecnologia da informação, temos a deficiência na
implantação das redes de computadores nos prédios escolares. Pretto (2002) comenta
que,
Quando observamos o que de fato está acontecendo no interior
de cada escola, vemos que esses números médios apresentam
um situação ainda lamentável e que, de certa forma, dá a
dimensão do equívoco das nossas políticas públicas ao longo
dos anos. [...] verifica-se que pouca ênfase se tem dado à
conexão das escolas à rede Internet, como já mencionei
anteriormente. (PRETTO, 2002, p. 124)
Já, nesses últimos anos, a computação em nuvem passou de ser um conceito de
negócios promissor para um dos segmentos de mais rápido crescimento da indústria da
Internet por centros de dados especializados e que praticamente não geram gastos com produção ou
armazenamento.
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 169
tecnologia da informação. Contudo, na maioria das escolas no país, é um conceito ainda
distante. Para Viswanath; Kusuma; Gupta (2012), a importância da e-learning baseada
na nuvem,
É o futuro da tecnologia de e-learning e da sua infra-estrutura.
O e-learning baseado em nuvem tem todas as provisões, como
recursos de hardware e software, para melhorar a infra-estrutura
de e-learning tradicional. Uma vez que os materiais
educacionais para sistemas de e-learning são virtualizados em
servidores em nuvem, esses materiais estão disponíveis para uso
para estudantes e outros negócios educacionais sob a forma de
base de aluguel de fornecedores de nuvem. (VISWANATH;
KUSUMA; GUPTA, 2012, p. 16, tradução nossa)
Esses pontos da infraestrutura nas escolas são fundantes quando pensamos em
um modelo que possa dar prosseguimentos a práticas educacionais inovadoras.
5.2.2 Dimensão das Tecnologias Emergentes
Nessa dimensão cumpre analisar especificamente qual ou quais as tecnologias
emergentes que são utilizadas na prática pedagógica. Tecnologias emergentes, como já
mencionado, são inovações tecnológicas, que representam novas técnicas em diversas
áreas da ciência, com uso presente pequeno, mas em crescimento, e com potencial de
criar mudanças gerais em todos os aspectos relacionados a nossa vida. A partir dessa
definição, cabe frisar que as tecnologias emergentes no ensino poderão, ou não, serem
as mesmas no decorrer de um determinado período de tempo.
Importante pontuar que as tecnologias emergentes são passíveis de causar
grande impacto na educação em todo o mundo. Essas áreas emergentes podem levar a
novos desenvolvimentos em educação.
Listamos a seguir, tecnologias emergentes especificadas nas publicações da New
Media Consortium (NMC) nos períodos de 2014 a 2017. São elas: 3D Printing,
Adaptative Learning Technologies, Augmented Reality, Badges/Microcredits, Bring
Your Own Device (BYOD), Collaborative Environments, Collective Intelligence,
Electronic Publishing, Flexible Displays, Flipped Classroom, Games and Gamification,
Geolocation, Immersive Learning, Internet of Things, Learning Analytics, Machine
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 170
Learning, Makerspaces, Massive Open Online Courses, Mobile Learning, Natural User
Interfaces, Online Learning, Open Content, Personalised Learning, Semantic
Applications, Smart Objects, Social Networks, Speech-to-Speech Translation, Tablet
Computing, Virtual and Remote Laboratories, Virtual Assistants e Wereable
Technology.
As ligações entre as dimensões elencadas no modelo de TTATI criam um
relacionamento de interdependência entre cada dimensão, uma vez que determinados
parâmetros influenciam a escolha de outros parâmetros na mesma dimensão ou em
outras dimensões.
Na seleção de um conteúdo a ser ministrado, por exemplo, há uma relação com
algum tipo de tecnologia emergente e com a infraestrutura disponibilizada na escola.
Caso a conectividade à Internet seja um ponto decisivo ou limitante, os parâmetros de
escolha das tecnologias e a dimensão didático-pedagógica serão reajustados. A escolha,
por exemplo, de uma tecnologia tipo Mobile Learning36 em um ambiente de
conectividade limitada ou comprometida será um empecilho à dinâmica de ensino-
aprendizagem. Portanto, a interdependência entre as dimensões traça um fio condutor
que propicia o desenvolvimento e execução do processo de ensino e aprendizagem em
bases tecnológicas e didático-pedagógicas.
5.2.3 Dimensão didático-pedagógica
A formação inicial e continuada de professores, especialmente nas últimas
décadas, tem buscado alinhar a docência com uma postura profissional. Nesse contexto,
a função do professor se complexifica, exigindo o redimensionamento de sua prática
pedagógica em face das demandas societárias atuais, exaustivamente pontuadas ao
longo desta tese, tendo como protagonistas a formação de cidadãos críticos e reflexivos
a partir de uma abordagem dialógica, holística, criativa, inovadora e de base
tecnológica.
Nessa direção, a Abordagem Tecnológica Tridimensional para a Inovação
Educacional alia elementos fulcrais para que esse escopo seja atendido. Além das
dimensões infraestrutural e tecnológica, a dimensão didático-pedagógica torna-se
36 Aprendizagem que ocorre quando a interação entre os participantes se dá através de dispositivos móveis.
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 171
fundante para que os professores obtenham as prerrogativas necessárias a adoção de
uma prática criativa, inovadora e diferenciada rompendo com os modelos tradicionais,
estáticos e desinteressantes que ainda hoje habitam a escola.
Portanto, esta abordagem permite ao professor intercambiar conhecimentos
diversos atinentes a uma prática pedagógica em consonância com os novos paradigmas
educacionais.
Partimos da premissa de que a ação docente não se consolida de forma isolada
nem imediata. A esse respeito, Freire (1991) afirma:
Ninguém começa a ser educador numa certa
terça-feira às quatro horas da tarde. Ninguém
nasce educador ou é marcado para ser educador.
A gente se faz educador, a gente se forma como educador
permanente, na prática e na reflexão sobre a prática. (FREIRE,
1991, p. 50).
Coadunando com Freire (1991), reafirmamos que para tornar-se um professor
profissional, qualificado e competente é necessário vivenciar uxm processo de
construção da sua identidade. Esse processo é desencadeado na formação inicial e vai se
consolidando ao longo de toda a carreira.
Tardif (2002, p. 19) defende que “o saber profissional se dá na confluência de
vários saberes oriundos da sociedade, da instituição escolar, dos outros atores
educacionais, das universidades”. Portanto, para o autor, realizar o trabalho docente,
exige os mais variados tipos de saberes que compõem o metier da docência. Este
classifica estes saberes em: saberes profissionais – conjunto de saberes transmitidos
pelas instituições de formação de professores (psicologia, sociologia, filosofia, por
exemplo); saberes das disciplinas – ofertadas e selecionados pela instituição
universitária, nas diversas disciplinas oferecidas pela mesma; saberes curriculares –
correspondem aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos a partir do qual a
instituição escolar categoriza e apresenta os saberes sociais selecionados a partir da
cultura erudita, sob a forma de programas escolares que os professores devem aprender
e aplicar; saberes da experiência – saberes específicos do trabalho cotidiano e no
conhecimento de seu meio. Eles incorporam-se à vivência individual e coletiva sob a
forma de habilidades, de saber fazer e de saber ser.
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 172
Ao evidenciarmos a Abordagem Tecnológica Tridimensional para a Inovação
Educacional, consideramos que existem fatores preponderantes que concorrem para a
construção de uma prática diferenciada, interativa, criativa e colaborativa da ação
docente. São eles: os princípios formativos, os princípios técnico-pedagógicos, os
princípios sócio-profissionais e os princípios didáticos.
Do ponto de vista dos princípios formativos, o professor deve dominar os
conhecimentos relativos a:
▪ políticas públicas e aparato legal que pautam a educação;
▪ pesquisa colaborativa;
▪ conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais de sua área de
conhecimento;
▪ profissionalismo e profissionalidade;
▪ trabalho colaborativo e
▪ qualificação, capacitação, atualização e aperfeiçoamento permanentes.
Ao tratarmos sobre a formação permanente do professor, levamos em conta a
perspectiva freireana, cuja defesa é de que não deve haver uma cisão entre o momento
em que a professora ou o professor está em formação e a sua atuação docente. A
formação ocorre de forma constante, cotidianamente tendo em vista a realidade concreta
em que os professores estão imersos.
Um ponto chave da formação permanente, no pensamento de Freire (2005),
implica na compreensão de que o ser humano é um ser inconcluso e inacabado, que está
em permanente movimento de procura. “Este e um saber fundante da nossa prática
educativa, da formação docente, o da inconclusão assumida” (FREIRE, 2007, p. 65).
Nessa direção, ressaltamos que a formação docente deve romper com determinados
modelos historicamente instituídos onde conforme Dobon e Llavador (2005, p. 77) “la
formación se traduce em, y se reduce a, uma oferta de cursos à la carte em función de la
demanda de los docentes considerados ahora desde uma perspectiva clientelar”
(DOBON; LLAVADOR, 2005, p. 77). Ou seja, o real objetivo da formação, inclusive,
aludido nos documentos oficiais, torna-se apenas um discurso apologético, sem
ressonância, em face das condições objetivas estruturadas que tornam as investidas de
caráter inovador restritas e inócuas.
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 173
Municiados pela formação permanente, os professores devem dominar os
princípios técnico-pedagógicos que lhe permitam planejar sua ação de forma
qualificada, sendo capaz de:
▪ selecionar conteúdos;
▪ selecionar objetivos;
▪ adotar de forma adequada a metodologia: métodos, recursos (didático-
pedagógico e tecnológicos) e estratégias de ensinagem para
aprendizagem;
▪ avaliar os processos de ensino e de aprendizagem e
▪ produzir e selecionar materiais e referências que enriqueçam a sua
prática.
O planejamento da ação pedagógica, como ressalta Libâneo (2013), é
imperativo porque se trata de um processo de racionalização e organização da ação
docente. É a partir dele que se articulam contexto escolar e contexto social. Suas
funções são: explicitar diretrizes do trabalho docente, assegurando articulação entre a
escola, o contexto social e a participação democrática; assegurar a racionalização,
organização, unidade e coerência do trabalho docente, evitando o improviso e a
rotinização do processo de ensino e aprendizagem; atualizar e aperfeiçoar os planos de
acordo com as necessidades surgidas; facilitar a preparação das aulas.
O planejamento deve ainda ser compreendido de forma sistêmica, como parte de
um todo. Desse modo, deixa de ser apenas uma exigência normativa e passa a refletir a
organicidade pretendida entre a dimensão macroestrutural das políticas públicas para a
educação e os microespaços educativos, como a escola e, em última instância, a sala de
aula. Portanto, devem ser considerados, na constituição do ato docente, os princípios
sócio-profissionais que de forma prescritiva determinam o que os professores devem
considerar:
▪ o aporte teórico-metodológico desenvolvido na área de conhecimento dos
conteúdos a serem abordados em sala de aula;
▪ o conhecimento do contexto local/global;
▪ os conhecimentos prévios dos estudantes;
▪ a articulação teoria-prática;
▪ a mediação didática;
▪ a aprendizagem significativa e
▪ a crítica reflexiva (ação-reflexão-ação).
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 174
Estes princípios estão diretamente relacionados com o ato de ensinar. Embora a
docência, como já mencionado, seja entendida como uma forma de atuação do professor
para além da sala de aula, seu lócus privilegiado de ação é na escola e na efetivação do
ato de ensinar. Dessa forma, o processo de ensino deve gravitar em torno do
desenvolvimento das habilidades e competências dos estudantes, considerando os
princípios didáticos pautados em:
▪ protagonismo estudantil na construção do conhecimento;
▪ trabalho em equipe;
▪ prática interdisciplinar;
▪ abordagem dialógica;
▪ respeito à diversidade e
▪ utilização adequada das tecnologias digitais.
Não obstante estarem subdivididos, todos os grupos de princípios elencados
devem constituir a identidade docente. Nessa direção, é necessário que os professores
estejam dispostos a buscar uma formação permanente que possibilite o conhecimento
tanto dos ambientes, quanto dos recursos tecnológicos. Ademais, é necessário planejar o
processo educativo buscando, a partir da seleção de conteúdos, a definição de objetivos
claros, elegendo métodos, técnicas, estratégias e recursos tecnológicos em consonância
com tais objetivos. Ao professor cabe ter clareza sobre de onde deve partir e, portanto,
considerar os conhecimentos prévios dos estudantes e o contexto local/global no qual
estão inseridos e, onde almeja chegar, ou seja, que competências pretende desenvolver e
que aprendizagens espera propiciar. Subjacente, deve estar a avaliação da aprendizagem
dos estudantes e o acompanhamento de todo o processo. Portanto, para que se realize
uma aprendizagem significativa, para além da mera substituição de um recurso por
outro faz-se necessário realizar a mediação didática e a articulação da teoria com a
prática, elementos que podem ser agregados ao processo de ensino e aprendizagem se
for adotada a TTATI, cujo cerne gravita em torno do suprimento das condições
necessárias ao rompimento com um ensino tradicional, rumo a uma educação não
somente de base tecnológica mas essencialmente (trans)formadora e visceralmente
inovadora.
Em suma, o modelo aludido exige a observância das três dimensões tratadas na
abordagem em tela. No que tange à dimensão da infraestrutura disponível, podemos
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 175
verificar que a conectividade à Internet das escolas é um dos principais fatores que
dificultam a implementação da abordagem sistêmica de ensino. Principalmente quando
nos referimos àquelas escolas mais afastadas dos grandes centros urbanos, que sofrem
com a ausência ou a inconsistência dessa conectividade à Internet. Ademais, para
diversas escolas que possuem conectividade em banda larga (2 a 5 Mbps), esta já não é
adequada para trabalhar com alguns dos recursos tecnológicos. Conexões ainda mais
rápidas são exigidas, por exemplo, conexões em ultra banda larga – de 100 Mbps.
Quando verificamos a dimensão das tecnologias emergentes, essas são,
normalmente, implementadas para solucionar determinados problemas e, depois de
maturadas, são aplicadas às atividades de ensino. Exemplos disso, entre outros, estão:
3D Printing, Electronic Publishing, Games and Gamification, Geolocation, Internet of
Things, Machine Learning, Smart Objects, Social Networks. Esses sistemas
informacionais derivaram para uso em sala de aula, mas não foram concebidos, a priori,
para serem utilizados no ensino.
Ambas as dimensões, infraestrutural e tecnológica, são vitais para que o ensino
inovador de base tecnológica se efetive. Entretanto, essas duas dimensões precisam
estar intimamente ligadas à dimensão didático-pedagógica. Com esta assertiva estamos
buscando evidenciar que um ambiente físico e virtual bem estruturado necessita ser bem
conduzido para que o processo seja eficaz. Nessa direção, é necessário que os
professores estejam dispostos a buscar uma formação continuada que possibilite o
conhecimento tanto dos ambientes, quanto dos recursos tecnológicos. Ademais, é
necessário planejar o processo educativo buscando, a partir da seleção de conteúdos, a
definição de objetivos claros, elegendo métodos, técnicas, estratégias e recursos
tecnológicos em consonância com tais objetivos. O professor deve ter clareza sobre de
onde deve partir e, portanto, considerar os conhecimentos prévios dos estudantes e o
contexto local/global no qual estão inseridos e, onde almeja chegar, ou seja, que
competências pretende desenvolver e que aprendizagens espera propiciar. Subjacente,
deve estar a avaliação da aprendizagem dos estudantes e o acompanhamento de todo o
processo. Portanto, para que se realize uma aprendizagem significativa, para além da
mera substituição de um recurso por outro faz-se necessário realizar a mediação didática
e a articulação da teoria com a prática, elementos que podem ser agregados ao processo
de ensino e aprendizagem se for adotada a TTATI, cujo cerne gravita em torno do
suprimento das condições necessárias ao rompimento com um ensino tradicional, rumo
TTATI - ABORDAGEM TECNOLÓGICA TRIDIMENSIONAL À INOVAÇÃO NO
ENSINO: PERSPECTIVAS PARA FORMAÇÃO PERMANENTE 176
a uma educação não somente de base tecnológica mas essencialmente (trans)formadora
e visceralmente inovadora.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS 178
Ao longo desta tese discutimos como as tecnologias digitais de informação e
comunicação vêm ganhando cada vez mais espaço e como estão muito próximas de
grande parte da população, embora, ainda sejam encontradas dificuldades em seu acesso
e utilização. Pode-se verificar que, a cada ano, um número maior de brasileiros utiliza a
Internet e se apropria principalmente das tecnologias móveis e de novas aplicações
como meio de comunicação, de relacionamento social e de consumo.
A área educacional, como demonstrado no primeiro capítulo tem se modificado
de forma mais lenta e gradual se comparada a outros setores da sociedade que utilizam
essas tecnologias.
Figurando em um subgrupo das tecnologias digitais, foi objeto de análise desta
tese as tecnologias emergentes aplicáveis ao ensino, o que revelou um fosso ainda mais
expressivo entre a prática pedagógica e o acesso e utilização dessas tecnologias. Logo,
existe um universo bem abrangente de tecnologias emergentes e de ponta, cujo acesso e
uso ainda são incipientes, o que pressupõe uma gama de desafios de todas as ordens a
serem superados pela escola e pelos professores.
Nessa perspectiva, as tecnologias emergentes são assumidas, nesta tese, como
parâmetro a partir do qual buscamos perceber qual o grau de distanciamento entre o que
está sendo produzido em termos de inovação tecnológica, passível de ser aplicada à
educação, e, aquelas que efetivamente têm figurado nas práticas cotidianas dos
professores em sala de aula.
Se, ao longo de tantos anos de institucionalização as tecnologias foram tão
pouco consideradas na escola, quando se fala de novas tecnologias digitais e de
tecnologias emergentes, essa questão se assevera.
Diante desta assertiva e a partir das investigações desenvolvidas nessa pesquisa,
foi possível delinear alguns dos fatores que contribuem para esse cenário. Eles
abrangem questões ligadas à formação inicial e continuada; ao currículo; ao
planejamento, contemplando desde as políticas educacionais, em nível macro, passando
pelo Projeto Político Pedagógico da escola, até ao nível micro, concretizado nos planos
de aula; a infraestrutura; aos recursos tecnológicos e a própria motivação docente para
inserir as tecnologias digitais em sua prática pedagógica. Nessa direção, apresentamos
os resultados alcançados a partir das investigações realizadas nesta tese.
No tocante à formação inicial de professores foi possível perceber que esta,
desde sua gênese, não tem priorizado a inserção de recursos tecnológicos nem na prática
dos formadores, nem em suas matrizes curriculares. Desse modo, o futuro professor não
CONSIDERAÇÕES FINAIS 179
tem acesso a práticas pedagógicas com recursos tecnológicos diferenciados, nem tem
acesso a uma formação adequada que o instrumentalize a utilizar as tecnologias quando
assumirem a sala de aula. Ou seja, não se aprende nem pelo exemplo, nem pela
formação. Esse é um dos principais obstáculos postos aos professores, levando-os à
busca improvisada e, muitas vezes tímida, por não dominarem essa habilidade.
A partir da revisão de literatura, revisão documental e do Estado da Arte
realizados nessa pesquisa, percebemos que, de acordo com a tendência pedagógica em
voga, constituíam-se novas formas de adotar e conceber as tecnologias no contexto
escolar. Reconhece-se ter sido na Pedagogia Tecnicista o período em que as tecnologias
da época conquistaram um maior espaço nos ambientes formativos. Tratava-se, todavia,
de um acesso essencialmente mecanicista, cujos modelos de ensino-aprendizagem se
apoiavam em metodologias passivas representadas, por aulas expositivas, acríticas e
dominadas pelo conhecimento unilateral do docente. O foco nas tecnologias se dava
mais para o domínio de conhecimentos relacionados ao mercado de trabalho industrial
que exigia mão de obra treinada e especializada. Assim, surgiram os cursos técnicos
pautados em modelos instrucionais, que treinavam os estudantes, buscando tornar o
ensino e a aprendizagem racionais, focados numa eficiência e eficácia lineares a
exemplo do modelo industrial.
Porém, independentemente da tendência ou corrente pedagógica vigente, as
tecnologias mais utilizadas ao longo da história da educação brasileira foram o
quadro/lousa, o giz/pincel e o livro didático. Estes estão presentes até os dias atuais
como recursos didáticos ainda muito acionados pelo professor. No entanto, nas últimas
décadas com o advento do computador e o desenvolvimento das TDIC cada vez mais
aprimoradas, interativas e funcionais, o perfil do estudante tem se reconfigurado,
exigindo da escola e dos professores a reflexão acerca do redimensionamento da prática
educativa visando atender a essa demanda que é, inegavelmente, irrevogável e
premente.
Ao analisarmos os dados referentes à prática docente e às tecnologias digitais da
informação e comunicação, verificamos, em uma primeira aproximação, que os
docentes na atualidade conhecem e consomem essas tecnologias digitais. Entretanto,
têm dificuldades de aplicá-los à sua atividade pedagógica, demonstrando fragilidades no
domínio conceitual e metodológico o que limita a produção e execução de novos
procedimentos que envolvam os recursos tecnológicos no processo de ensino e
aprendizagem. Perdura, portanto, a reprodução de modelos tradicionais que mantêm
CONSIDERAÇÕES FINAIS 180
práticas arcaicas e repetitivas que hoje, mesmo havendo intenção e até iniciativas para
superá-las, os docentes tardam em modificá-las. Reforça-se o argumento de que se os
licenciandos possuem modelos de formadores que não utilizam novas tecnologias e, não
possuem componentes curriculares práticos que ensinem a utilizá-las, dificilmente
encontrarão meios para desenvolver essa habilidade. A não ser por tentativa e erro, de
forma improvisada, intuitiva e desprofissionalizada.
Tal fato se dá devido ao amplo espaço que as novas tecnologias digitais têm
ocupado na vida cotidiana dos professores e das pessoas em geral. Diversos estudos que
discutem o uso das tecnologias na escola acabam por divergir em relação a esse uso, nos
quais muitos defendem sua plena inserção nos cursos de formação e no contexto
escolar, enquanto outros buscam compreender o fenômeno e ponderar, no sentido de
restringir essa utilização, ou mesmo de estabelecer limites e critérios.
Do ponto de vista das políticas públicas, foi possível observar diversas ações
governamentais, com vistas a inserir os professores na cultura digital, e, em última
instância prepará-los para utilizar as novas tecnologias em sua prática pedagógica.
Considerando este cenário, ressalta-se que foram importantes iniciativas, porém,
insuficientes para “converter” tantos e tão diversos profissionais. Ou seja, essas medidas
obtiveram efeitos em gradações diferenciadas, evidenciando polaridades, nas quais uns
professores tornaram-se fiéis consumidores das novas tecnologias digitais; outros
apenas substituíram as antigas tecnologias pelas novas, sem um redimensionamento da
prática, tributando a estas apenas o papel de meros recursos com fim em si mesmos, a
exemplo do que ocorreu na pedagogia tecnicista; outros, sequer cogitam a possibilidade
de inserí-las em sua prática, apropriando-se de argumentos como aqueles que defendem
que se trata apenas de modismo, ou de que não foram capacitados para tal, ou ainda, de
que são medidas impostas que não consideram a realidade, a infraestrutura precária da
escola, a falta de tempo para apropriarem-se da operacionalização do ensino por meio
do uso das tecnologias. Em suma, essas políticas não foram capazes de promover uma
formação continuada que suprisse a necessidade de capacitação dos professores para
lidar com as novas tecnologias digitais no contexto escolar deixadas pela formação
inicial.
Outro fator que tem dificultado o uso pedagógico das TDIC, pelos professores,
diz respeito ao planejamento, notadamente, no que concerne ao Projeto Político
Pedagógico – PPP da escola. Reconhece-se não ser ele o documento norteador da
prática pedagógica dos professores. Embora haja uma mera formalização documental
CONSIDERAÇÕES FINAIS 181
constando os aspectos formais desse documento - políticos, filosóficos, éticos, estéticos,
culturais e pedagógicos que regem a escola, na verdade trata-se de um formalismo
pedagógico, uma resposta burocrática às exigências legais. Fato é que o Projeto Político
Pedagógico, em um grande número de escolas não existe de fato, ou está em constante
construção, ou ainda, foi elaborado pela equipe pedagógica, descaracterizando o viés
político que exigiria uma construção coletiva com todos os segmentos da comunidade
escolar, para que realmente refletisse os anseios desta, ao invés de ser apenas uma
resposta burocrática às exigências legais.
Mais uma vez evidencia-se que a adoção das tecnologias digitais em sala de aula
fica a critério da sensibilidade de cada professor. Os projetos que poderiam contribuir
para uma mudança de cultura na gestão da educação escolar se tornam inócuos e
distantes da realidade escolar.
A precarização do trabalho docente em virtude dos vários vínculos
empregatícios que possuem; a carga excessiva de trabalho; o grande número de turmas e
alunos; a falta de tempo para capacitar-se; a violência, indisciplina e desinteresse
estudantil entre outros fatores são mencionados constantemente pelos professores como
pivôs de uma prática tradicional e sem atrativos. Outra reclamação recorrente diz
respeito às questões infraestruturais e ao acesso e competência para lidar com os
recursos tecnológicos.
Evidentemente, são muitas questões que precisam ser equalizadas. No entanto,
buscamos com esta tese aventar alternativas que possibilitem auxiliar os professores na
superação de algumas destas dificuldades, especialmente, no que tange à adoção de
novas tecnologias digitais em sua prática.
Diante do exposto constatamos que: (a) os professores não utilizam, em grande
medida, as tecnologias digitais na prática pedagógica com seus alunos, mas utilizam,
cotidianamente, diversas tecnologias, em especial, computadores e tecnologias móveis
conectadas à Internet, ou seja, o professor está conectado; (b) há um significativo
interesse dos docentes em consultar sites governamentais e de pesquisa, blogs, revistas
de conteúdo pedagógico, vídeos, materiais e referências que os motivem a melhorar
suas aulas; (c) em certa medida, os documentos oficiais, a coordenação pedagógica, os
alunos e, especialmente os pares, motivam o professor a buscar conteúdo na Internet
para melhorar suas aulas; (d) há políticas de fomento à inserção das novas tecnologias
digitais em sala de aula. São constatações até certo ponto otimistas, quando se observa
haver manifestações de interesse e iniciativas por parte dos docentes face ao uso das
CONSIDERAÇÕES FINAIS 182
tecnologias digitais. No entanto perduram, ainda, vários obstáculos: (a) precárias
condições infraestruturais para utilizar as tecnologias na sala de aula; (b) dificuldade de
conhecimento e, por vezes, de acesso a uma gama de recursos tecnológicos e (c)
matrizes curriculares dos cursos de formação inicial e continuada que privilegiam outras
competências em detrimento do ensino com tecnologias digitais.
A proposição principal sustentada nesta tese é a de que as políticas públicas e a
formação para a docência são lacunares no que se refere às condições propícias à
adoção de tecnologias emergentes pelos professores e de uma prática pedagógica
inovadora de base tecnológica. Sem desconsiderar a motivação do professor, faz-se
necessário prover a tríade formada pela infraestrutura, sistemas tecnológicos
emergentes e competência didática. Esses fatores são basilares para que a inovação
pedagógica se consubstancie na prática docente integrada à tecnologia educacional.
Propomos, portanto no decorrer da tese, a adoção de um modelo colaborativo e
aberto capaz de prover a troca de experiências pedagógicas, a socialização de práticas
educativas entre usuários – o caráter da praxis pedagógica no uso das ferramentas
tecnológicas. A propositura de uma ação-reflexão e a retroalimentação da prática
docente possibilitam vivências que conduzem ao aprofundamento e à compreensão da
problemática subjacente à sinergia entre tecnologia e ensino. Esse, inclusive é, a nosso
ver, o cerne principal da problemática das tecnologias educacionais na educação.
Considerando os fatores elencados, explicitamos um modelo de Abordagem
Tecnológica Tridimensional para Inovação no Ensino, como um caminho viável para
que o professor: (a) por meio de um ambiente colaborativo, possa interagir com seus
pares e lograr competências muitas vezes negligenciadas na formação inicial; (b) por
seu caráter aberto e construtivo permita o acesso do professor a sequências didáticas e
planos de ensino mediados por tecnologias emergentes aplicadas ao ensino; (c)
potencialize a formação permanente de forma autônoma, crítica e criativa, uma vez que
o professor pode realizar modificações, agregando, suprimindo e alterando o conteúdo
publicado por seus pares; (d) permita o protagonismo docente no processo de criação e
recriação, produção e disseminação de materiais didáticos de base tecnológica; (e)
facilite o intercâmbio entre professores das mais diversas realidades, permitindo as
devidas adequações, incrementos e, consequentemente, o enriquecimento da prática em
sala de aula; (f) propicie a articulação teoria-prática por meio das experiências
vivenciadas no ambiente virtual; (g) possibilite o exercício crítico e reflexivo (a reflexão
sobre a ação) aprimorando as práticas, a partir das dificuldades vivencidas; (h) valorize
CONSIDERAÇÕES FINAIS 183
as práticas exitosas, propiciando visibilidade às inovações e criações dos docentes; (i)
represente um investimento de baixo custo, se considerada a relação custo-benefício, na
comparação com cursos de formação continuada, pois os professores estarão a partir de
seus próprios computadores, ou outro que tenha acesso, a qualquer momento, em
constante contato com novas tecnologias, inclusive emergentes, e práticas pedagógicas
inovadoras.
Não obstante que o modelo apresentado se torne uma realidade, faz-se
necessário um redimensionamento político e pedagógico, posto que as políticas públicas
de fomento ao uso das TDIC na educação, no Brasil, ainda enfrentam enormes
dificuldades para produzirem os resultados esperados pelos gestores públicos. A
implementação eficaz dessas políticas é um processo multifacetado, complexo e que
requer estratégias coordenadas entre governo e sociedade. Ainda precisamos resolver de
forma adequada as questões básicas de infraestrutura de acesso às TIC na escola e
também incentivar, entre os professores, a busca pelo desenvolvimento de competências
e habilidades necessárias para que possam atuar nesse novo ambiente, o que reverbera
nas questões ligadas à formação, ao currículo e às práticas pedagógicas.
A conexão entre as práticas pedagógicas envolvendo tecnologias e seus impactos
sobre a qualidade, equidade e desempenho são ainda divergentes. Certo descompasso
tem origem nos cursos de formação inicial do professor, os quais, no nosso
entendimento, já deveriam ter integrado à sua matriz curricular, os conteúdos referentes
à mediação didática-pedagógica apoiada nas tecnologias para evitar a aprendizagem
informal dos docentes, baseada em critérios não legitimados ou em práticas
inadequadas. A própria universidade brasileira tem dificuldade de inserir inovações de
ensino em sua prática convencional. As instituições de formação docente têm
negligenciado a competência de formar professores preparados, com experiências
práticas e falham em fornecer direções claras para o uso efetivo da tecnologia em sala
de aula.
A tecnologia inovadora é um bem social que agrega valor aos produtos e
serviços tornando-se chave para a competitividade estratégica e para o desenvolvimento
social e econômico de uma região. Os avanços dessa tecnologia devem ser entendidos
como aliados aos processos educativos em qualquer modalidade de ensino.
Outra questão é que, no Brasil, há uma necessidade premente de aumentar o
acesso e permanência dos alunos aos sistemas educacionais. A utilização de recursos
tecnológicos colaborativos e abertos tende a contribuir para equalizar nosso sistema
CONSIDERAÇÕES FINAIS 184
educacional e contrapor as deformações desse atual sistema discriminatório e
excludente que afeta principalmente os mais desfavorecidos e que representam uma
parcela considerável de pessoas. Portanto, prover um ensino de qualidade, mediado por
emergentes tecnologias educacionais refletidas e compartilhadas, de forma colaborativa
e aberta, é uma forma de criar condições para uma sociedade mais humana,
democrática, participativa e consciente dos seus direitos e deveres.
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APÊNDICES
APENDICE A – GLOSSÁRIO DE TECNOLOGIAS EMERGENTES
3D Printing Também conhecida como prototipagem rápida, é uma
forma de tecnologia de fabricação aditiva (processo de
criar objetos a partir de modelos digitais) onde um
modelo físico tridimensional é criado por sucessivas
camadas de material.
Adaptative Learning
Technologies
É um método educacional que visa personalizar o
processo de ensino aprendizagem e adaptar a proposta
de trabalho às necessidades e características exclusivas
de cada aluno, partindo do pressuposto de que cada
aluno é um indivíduo com uma maneira própria de
assimilar um conteúdo.
Augmented Reality É a integração de informações virtuais a visualizações
do mundo real, onde o 3D que imerge em nosso mundo
real. Sendo necessário para isso algum dispositivo que
permita a interpretação e criação do objeto virtual.
Badges/Microcredits É uma forma de incentivo por condecoração/premiação,
um distintivo pelo mérito.
Bring Your Own Device
(BYOD)
Traga seu próprio dispositivo é a nova tendência atual
no campo dos aplicativos móveis e no uso de
dispositivos pessoais. Trata-se de uma política que
permite que funcionários levem seus próprios
dispositivos móveis (notebooks, tablets, smartphones)
para o espaço de trabalho para usá-los com os próprios
aplicativos e informações da empresa.
Collaborative Environments São ambientes projetados para equipes distribuídas que
podem ser definidas como grupos de pessoas que
interagem através de tarefas interdependentes guiadas
por propósitos comuns e trabalham através do espaço,
tempo e limites organizacionais principalmente através
de meios eletrônicos.
Collective Intelligence É uma inteligência compartilhada ou grupal que emerge
da colaboração de muitos indivíduos em suas
diversidades e que aparece na tomada de decisões
consensuais.
Electronic Publishing Publicação na qual a informação é produzida em um
formato digital e distribuída por meio de uma rede de
computadores. Inclui a publicação digital de e-books,
revistas digitais e o desenvolvimento de bibliotecas e
catálogos digitais.
Flexible Displays Uma tela flexível é uma tela eletrônica que é de
natureza flexível; em oposição aos ecrãs de tela plana
tradicionais mais comuns usados na maioria dos
dispositivos eletrônicos.
Flipped Classroom É uma modalidade de B-learning onde há uma inverção
da lógica tradicional de organização do tempo de
aprendizado. Os alunos aprendem o conteúdo em suas
próprias casas, por meio de videoaulas ou outros
recursos interativos, como jogos de computador, textos,
vídeos ou outro conteúdo adicional para estudo, fazendo
com que o tempo em sala de aula seja otimizado e
dedicado à discussões, dúvidas e dinâmicas em grupos.
Games and Gamification Uso de mecânicas e dinâmicas de jogos para engajar
pessoas, resolver problemas e melhorar o aprendizado,
motivando ações e comportamentos em ambientes fora
do contexto de jogos.
Geolocation A geolocalização é a identificação ou estimativa da
localização geográfica real de um objeto, como um
telefone celular ou um terminal de computador
conectado à Internet.
Immersive Learning A aprendizagem imersiva coloca os indivíduos em um
ambiente de aprendizagem interativo, seja fisicamente
ou virtualmente, para replicar possíveis cenários ou para
ensinar habilidades ou técnicas específicas.
Internet of Things É a conexão de dispositivos eletrônicos utilizados no
dia-a-dia (aparelhos eletrodomésticos, eletroportáteis,
máquinas industriais, meios de transporte etc.) à
Internet.
Learning Analytics São ferramentas analíticas que podem ser usadas para
melhorar o processo de aprendizagem, uma vez que
convertem dados educacionais em informações,
permitindo a realização de ações para apoiar a melhoria
da aprendizagem.
Machine Learning É uma área da ciência da computação que usa
algoritmos que aprendem interativamente a partir de
dados, permitindo que os computadores encontrem
insights ocultos (compreensão de alguma coisa ou
determinada situação) sem serem explicitamente
programados para procurar algo específico.
Makerspaces São espaços comunitários (algo como ateliês, oficinas e
até garagens) de fabricação digital tradicional,
equipados com ferramentas (como impressoras 3D,
cortadoras a laser, routers, serra tico-tico, furadeira,
lixadeiras etc) de uso compartilhado para a criação de
projetos, protótipos e trabalhos manufaturados.
Massive Open Online
Courses
Tipos de cursos abertos oferecidos por meio de
ambientes virtuais de aprendizagem, ferramentas da
Web 2.0 ou redes sociais que visam oferecer de forma
massiva (para um grande número de alunos e com
grande quantidade de material) a oportunidade de
ampliar seus conhecimentos num processo de co-
produção onde se pode aprender com os participantes
formando comunidades de alunos e professores, de
caráter universal e colaborativo.
Mobile Learning M-Learning ou aprendizagem móvel é uma das
modalidades do e-learning. Acontece quando a
interação entre os participantes se dá através de
dispositivos móveis, tais como celulares, i-pods,
laptops, rádio, tv, telefone, fax, entre outros.
Natural User Interfaces É uma expressão utilizada no desenvolvimento de
interfaces homem-máquina para se referir a uma
interface que é efetivamente invisível, ou se torna
invisível com os sucessivos níveis de imersão, para o
usuário, sendo baseado na natureza ou elementos
naturais humanos.
Online Learning Método de ensino-aprendizagem que utiliza as
tecnologias da Internet para a comunicação e a
colaboração num contexto educacional.
Open Content É um conteúdo de trabalho criativo que outros podem
copiar ou modificar livremente, sem pedir permissão.
Personalised Learning Instrução em que o ritmo de aprendizagem e a
abordagem instrucional são otimizados para as
necessidades de cada aluno.
Semantic Applications Um termo usado para descrever aplicativos baseados na
Web que incorporam princípios ou tecnologias da
World Wide Web Consortium (W3C) - Semantic Web,
como Resource Description Framework (RDF), Web
Ontology Language (OWL) e outros padrões de
metadados.
Smart Objects Um objeto inteligente é um objeto físico que inclue um
identificador exclusivo que possa rastrear informações
sobre o objeto, permitindo a interação com pessoas e
com outros objetos inteligentes.
Social Networks É uma estrutura social composta por atores socias
(pessoas ou organizações), conectadas por um ou vários
tipos de relações, que partilham valores e objetivos
comuns.
Speech-to-Speech
Translation
Refere-se a tradução automática da língua falada de um
idioma para outro, habilitando a comunicação
interpessoal em tempo real através de linguagem oral
natural para pessoas que não compartilham uma
linguagem comum. Ele visa traduzir um sinal de fala
em um idioma de origem para outro sinal de fala em
uma linguagem de destino.
Tablet Computing Computação móvel via tablet, tipicamente utilizado via
sistema operacional móvel e um circuito de
processamento de tela LCD touchscreen, e uma bateria
recarregável em um único pacote fino e plano.
Virtual and Remote
Laboratories
Em laboratórios virtuais, o comportamento dinâmico do
sistema estudado é simulado. Normalmente são usados
para preparar os alunos para uma sessão de laboratório
real ou para diminuir os efeitos da deficiência do
aprendizado ocasionado pela falta de equipamentos
específicos. Em laboratórios remotos, usa-se as
telecomunicações para realizar experimentos reais (em
oposição aos virtuais) na localização física da
tecnologia operacional, enquanto o cientista está
utilizando tecnologia de uma localização geográfica
separada.
Virtual Assistants Um assistente virtual é um agente de software que pode
executar tarefas ou serviços para um indivíduo.
Wereable Technology Também chamada de tecnologia vestível, refere-se a
uma nova abordagem de computação, redefinindo a
interação humano-máquina. São equipamentos
eletrônicos que contém processadores próprios e que
podem ser usados como peças de roupa (casacos, meias,
palmilhas e coletes) ou acessórios (mochilas, relógios e
pulseiras).
APÊNDICE B
Conectividade:
Suporte (apoio): __ não tenho __tenho pouco ___tenho adequadamente
Ambiente:
Equipamentos:
Computação em Nuvem: __ não tenho ___tenho _ _não necessário
Tecnologia:
Especificação:
Descrição:
Sistema Operacional (M) ___iOS __Android ___Windows Mobile ___Palm OS
Sistema Operacional: __ Linux ___Windows ___ OS X
Conhecimento do contexto do aluno:
Área de conhecimento:
Assunto:
Conhecimento prévio:
Aporte teórico-metodológico
Conteúdo:
Objetivos:
Metodologia de aplicação:
Avaliação da aprendizagem:
DIMENSÃO INFRAESTRUTURA
ÁREA DE CONHECIMENTO
DIMENSÃO TECNOLOGIA EMERGENTE
Usuário Local, data
DIMENSÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Pontos positivos:
Pontos negativos:
Anexos (fotografias, vídeos, referências do conteúdo, links):
CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA
ANEXOS
ANEXOS 204
ANEXO A
JOURNAL ARTICLES 01
Title:
Computerized Reading Assessment: Its Emerging Potential (Reading Technology)
Abstract:
Discusses two promising methods (expert systems and interactive computer
assessment) of providing teachers with information on which to base their decisions
when using comprehension to assess the literacy needs of students.
Publisher:
Reading Teacher
Year of Publication:
1991
JOURNAL ARTICLES 02
Title:
Emerging Communication Technology and Examination Malpractices in Nigerian
Educational Sector
Abstract:
The breakthrough in communication technology, especially that of GSM phones, in
Nigeria is one of the best things that has happened to the nation in terms of its
technological advancement. In Nigeria, GSM means Telecom Explosion. The GSM
revolution began in August 2001 and changed the face of Information and
Communications Technology in Nigeria. It is much easier to reach anybody that you
have his her number, whether they are in the village or in their closet unless in a place
where there is no network of the service provider. As revolutionary as GSM may seem
to be, its negative effect on our educational sector is of great concern. The ongoing war
against examination malpractice is yet to take its toll on perpetrators as they have
devised a new method to continue their game through the cell phone technology.
Described as echeating, the cell phone technology is providing students a smart way to
beat the best effort of stakeholders to stamp out the menace. This paper examines GSM
technology, the various ways in which cell phones are employed to cheat and
suggestions on how to stop echeating through cell phones.
Publisher:
International Journal of Emerging Technologies in Learning
Year of Publication:
ANEXOS 205
2010
JOURNAL ARTICLES 03
Title:
Emerging Educational Technologies and Research Directions
Abstract:
Two recent publications report the emerging technologies that are likely to have a
significant impact on learning and instruction: (a) New Media Consortium’s 2011
Horizon Report (Johnson, Smith, Willis, Levine & Haywood, 2011), and (b) A
Roadmap for Education Technology funded by the National Science Foundation in the
USA (to download the report see http://www.cra.org/ccc/edtech.php). Some of the
common technologies mentioned in both reports include personalized learning, mobile
technologies, data mining, and learning analytics. This paper analyzes and synthesizes
these two reports. Two additional sources are considered in the discussion: (a) the
IEEE Technical Committee on Learning Technology’s report on curricula for advanced
learning technology, and, (b) the European STELLAR project that is building the
foundation for a network of excellence for technology enhanced learning. The analysis
focuses on enablers of (e.g., dynamic online formative assessment for complex learning
activities) and barriers to (e.g., accessibility and personalizability) to sustained and
systemic success in improving learning and instruction with new technologies. In
addition, two critical issues cutting across emerging educational technologies are
identified and examined as limiting factors – namely, political and policy issues.
Promising efforts by several groups (e.g., the National Technology Leadership
Coalition, the IEEE Technical Committee on Learning Technology, Networks of
Excellence, etc.) will be introduced as alternative ways forward. Implications for
research and particular for assessment and evaluation are included in the discussion as
means to establish credible criteria for improvement.
Publisher:
Educational Technology & Society
Year of Publication:
2013
JOURNAL ARTICLES 04
Title:
Emerging technologies in distance education
Abstract:
The term “emerging technologies” is often used without a clear meaning or definition.
My aim in this chapter is to understand the meaning of the term while at the same time
exploring what a clear understanding of emerging technologies means for technology-
ANEXOS 206
enhanced learning. Combining previous conceptualizations of the term, I propose that
emerging technologies are tools, concepts, innovations, and advance- ments utilized in
diverse educational settings to serve varied educa- tion-related purposes. Additionally,
I propose that (“new” and “old”) emerging technologies are evolving organisms that
experience hype cycles, while at the same time being potentially disruptive, not yet
fully understood, and not yet fully researched. These ideas bring to the surface
important issues relating to the use of technology in education.
Publisher:
Athabasca University
Year of Publication:
2010
JOURNAL ARTICLES 05
Title:
Emerging Technologies in Education and Training Applications for the Laboratory
Animal Science Community
Abstract:
This article examines several new and exciting communi- cation technologies. Many of
the technologies were devel- oped by the entertainment industry; however, other
industries are adopting and modifying them for their own needs. These new
technologies allow people to collaborate across distance and time and to learn in
simulated work contexts. The article explores the potential utility of these technologies
for advancing laboratory animal care and use through better education and training.
Descriptions include emerging technologies such as augmented reality and multi- user
virtual environments, which offer new approaches with different capabilities.
Augmented reality interfaces, characterized by the use of handheld computers to infuse
the virtual world into the real one, result in deeply immer- sive simulations. In these
simulations, users can access vir- tual resources and communicate with real and virtual
participants. Multi-user virtual environments enable mul- tiple participants to
simultaneously access computer-based three-dimensional virtual spaces, called
“worlds,” and to interact with digital tools. They allow for authentic experiences that
promote collaboration, mentoring, and commu- nication. Because individuals may
learn or train differently, it is advantageous to combine the capabilities of these tech-
nologies and applications with more traditional methods to increase the number of
students who are served by using current methods alone. The use of these technologies
in animal care and use programs can create detailed training and education
environments that allow students to learn the procedures more effectively, teachers to
assess their prog- ress more objectively, and researchers to gain insights into animal
care.
Publisher:
ILAR Journal
ANEXOS 207
Year of Publication:
2007
JOURNAL ARTICLES 06
Title:
Emerging technologies in physics education
Abstract:
Three emerging technologies in physics education are evaluated from the
interdisciplinary perspective of cognitive science and physics edu- cation research. The
technologies — Physlet Physics, the Andes Intel- ligent Tutoring System (ITS), and
Microcomputer-Based Laboratory (MBL) Tools — are assessed particularly in terms of
their potential at promoting conceptual change, developing expert-like problem-solving
skills, and achieving the goals of the traditional physics laboratory. Pedagogical
methods to maximize the potential of each educational technology are suggested.
Publisher:
Journal of Science Education and Technology
Year of Publication:
2007
JOURNAL ARTICLES 07
Title:
Emerging Technologies Landscape on Education - a review
Abstract:
This paper presents a desk research that analysed available recent studies in the field of
Technology Enhanced Learning. The desk research is focused on work produced in the
frame of FP6 and FP7 European programs, in the area of Information and
Communication Technologies. It concentrates in technologies that support existing
forms of learning, and also in technologies that enhance new learning paradigms. This
approach includes already adopted and successfully piloted technologies. The
elaboration of the desk research had three main parts: firstly, the collection of
documents from CORDIS and other institutions related to TEL research; secondly, the
identification of relevant terms appearing in those documents and the elaboration of a
thesaurus; and thirdly, a quantitative analysis of each term occurrences. Many of the
identified technologies belong to the fields of interactive multimedia, Human-computer
Interaction and-or related to recommendation and learning analytics. This study
becomes a thorough review of the current state of these fields through the actual
development of R&D European projects. This research, will be used as a basis to better
understand the evolution of the sector, and to focus future research efforts on these
sectors and their application to education.
Publisher:
ANEXOS 208
International Journal of Artificial Intelligence and Interactive Multimedia
Year of Publication:
2013
JOURNAL ARTICLES 08
Title:
Emerging Technology in Surgical Education: Combining Real-Time Augmented
Reality and Wearable Computing Devices
Abstract:
The authors describe the first surgical case adopting the combination of real-time
augmented reality and wearable computing devices such as Google Glass (Google Inc,
Mountain View, California). A 66-year-old man presented to their institution for a total
shoulder replacement after 5 years of progressive right shoulder pain and decreased
range of motion. Throughout the surgical procedure, Google Glass was integrated with
the Virtual Interactive Presence and Augmented Reality system (University of
Alabama at Birmingham, Birmingham, Alabama), enabling the local surgeon to
interact with the remote surgeon within the local surgical field. Surgery was well
tolerated by the patient and early surgical results were encouraging, with an
improvement of shoulder pain and greater range of motion. The combination of real-
time augmented reality and wearable computing devices such as Google Glass holds
much promise in the field of surgery.
Publisher:
Orthopedics
Year of Publication:
2014
JOURNAL ARTICLES 09
Title:
Emerging Trends and Technologies for Enhancing Engineering Education: An
Overview
Abstract:
Improving and enhancing education has been a prime goal for higher learning
institutions that seek to provide better learning techniques, technologies, educators, and
to generate knowledgeable students to fulfill the needs of industries. A significant area
where improvements are required is in the engineering field. In this regard, one
approach is to review the delivery and pedagogies used in current education systems.
This paper examines the problems faced by staff and students in the field of
Mechanical Engineering, which are found in the literature. Finally, the authors explore
new technologies that could help enhance and promote the learning process of students
experiencing problems.
ANEXOS 209
Publisher:
International Journal of Information and Communication Technology Education
Year of Publication:
2010
JOURNAL ARTICLES 10
Title:
Examining some assumptions and limitations of research on the effects of emerging
technologies for teaching and learning in higher education
Abstract:
This paper examines assumptions and beliefs underpinning research into educational
technology. It critically reviews some approaches used to investigate the impact of
technologies for teaching and learning. It focuses on comparative studies, performance
comparisons and attitudinal studies to illustrate how under-examined assumptions lead
to questionable findings. The extent to which it is possible to substantiate some of the
claims made about the impact of technologies on the basis of these approaches and
methods is questioned. We contend researchers should ensure that they acknowledge
underlying assumptions and the limitations imposed by the approach adopted in order
to appropriately interpret findings.
Publisher:
British Journal of Education Technology
Year of Publication:
2013
JOURNAL ARTICLES 11
Title:
Higher education and emerging Technologies Student Usage, Preferences, and Lessons
for Library Services
Abstract:
This study examines the utilization and preference of popular Internet and com-
munication technologies among students at Sam Houston State University (SHSU), a
Carnegie Research Doctoral Univer- sity in East Texas. The researchers wished to
study the local relevance of various technology trends reported in librarian- ship
literature and then to use the survey data to inform decisions regarding library service
development. A survey was con- ducted to investigate student ownership of electronic
devices and student usage of technologies such as text messaging, Twit- ter, RSS,
podcasts, social networks, Second Life, and others. Survey results indicated that, while
students do not wish to experi- ence an overwhelming library presence on all social
networking and Internet media, most do wish to have basic library services easily
accessible through a few of the most popular social networking and Internet
ANEXOS 210
technologies. The investigators identified some unique trends in usage among their
local population and have adjusted certain library services and plans in accordance with
their findings. Other libraries are encouraged to study their own users and develop new
services based on those users’ needs rather than popular trends or surveys which may
be based on radically different user groups.
Publisher:
Reference and User Services Quarterly
Year of Publication:
2011
JOURNAL ARTICLES 12
Title:
Higher Education and Emerging Technologies Shifting Trends in Student Usage
Abstract:
This study serves as an update to a previous study by Sam Houston State University
librarians about the use and preferences of Internet, communication, and educational
technologies among students. Since the previous study was initiated in 2010, the iPad
has made its debut and significantly altered the educational technology landscape. In
this new landscape, this study investigates student usage of such technologies as instant
messaging, cell phones, e-readers, social networking, RSS feeds, podcasts, and tablets.
In addition, this study aims to determine which technologies students prefer the library
to utilize for a variety of services, such as reference assistance or book renewals, and
which technologies may not be worth the investment, such as geosocial networking.
The information gained from this survey is intended to provide guidance for libraries
looking to provide services utilizing the most popular technologies with the most
efficient use of resources. Survey results show an increasing use and dependence on
educational technologies and a desire for basic library services to be available on a
variety of platforms and technologies.
Publisher:
The Journal of Academic Librarianship
Year of Publication:
2014
JOURNAL ARTICLES 13
Title:
Identifying emerging trends for implementing learning technology in special education:
a state-of-the-art review of selected articles published in 2008-2012.
Abstract:
As electronic learning (e-learning) becomes increasingly popular in education
worldwide, learning technology (LT) has been applied in various learning
ANEXOS 211
environments and activities to promote meaningful, efficient, and effective learning.
LT has also been adopted by researchers and teacher-practitioners in the field of special
education, but as yet little review-based research has been published. This review
research thus carefully examined the trends of LT implementations in special
education, providing a comprehensive analysis of 26 studies published in indexed
journals in the past five years (2008-2012). Two research questions were addressed: (a)
What are the major research aims, methodologies, and outcomes in these studies of
implementing LT in the field of special education? and (b) What types of LT are
mainly used with special education students, and for what kinds of students? Major
findings include that examining the learning effectiveness of LT using was the most
common research purpose (75%); researchers primarily relied on experimental studies
(46%, 12 studies), followed by interviews and questionnaires (19%, 5 studies).
Moreover, the most common use of LT was computer-assisted technology (such as
web-based mentoring, educational computer games, laptop computers) in special
education; studies investigating the use of LT with mentally disabled students were
more than those with physically disabled ones. It is expected that the findings of this
work and their implications will serve as valuable references with regard to the use of
LT with special education students.
Publisher:
Research in Developmental Disabilities
Year of Publication:
2013
THESIS 14
Title:
Instructor Approaches to Uptake and Sustain the Use of Emerging Technologies for
Education
Abstract:
Emerging Technologies for Education (ETEs) have been defined by Veletsianos (2010)
as “tools, innovations, and advancements utilized in diverse educational settings … to
serve varied education-related purposes”. As noted by Veletsianos (2010), “ETEs
satisfy the ‘not yet’ criteria. … [they] are not yet fully understood. … [and] are not yet
fully researched”. The present research project attempts to address this challenge by
conducting case-study research into the perspectives and behaviours of instructors,
identified as relevant stakeholders within the tertiary education sector. The case studies
examine instructors’ approaches when taking decisions to uptake and sustain use of a
selection of learning ETEs. Data collection was undertaken, through semi-structured
interviews with case-study respondents, about the broad features of different ETEs,
with the concept of perceived affordance facilitating the discussion. System
acceptability theory and other Human-Computer Interaction (HCI) concepts underpin
the design of the data collection instruments. Interpretation of data collected
interrogates decisions to uptake and sustain use of ETEs. This research investigates
beyond any particular technology and its specific features, as it looks at a number of
technologies though their affordances. Data collected in the course of a case-study, at a
major Australian university, is viewed through a design science lens. The interpretation
ANEXOS 212
of the collected data allows understanding of the processes employed by instructors,
when deciding whether (or not) to uptake and sustain the use of an ETE. The insights
developed may inform future technology providers developing ETEs, increasing the
likelihood of positive uptake and sustained use. As a result, instructors may improve
the decision to uptake and sustain the use of an ETE via an appreciation of the
perspectives and behaviours that impact on technology choices.
Publisher:
RMIT University
Year of Publication:
2016
JOURNAL ARTICLES 15
Title:
Integrating emerging technologies into formal education for assessment
Abstract:
Our project used an interdisciplinary approach integrating computer science and
biology to explore the use of emerging technology in the classroom and address the
following research questions: 1. How do college students represent a genome when
provided interactive instruction via a virtual world environment (VWE)? 2. How do
students react to using a VWE as an instructional intervention for improving visual
comprehension of a genome? We integrated interactive virtual world learning activities
into an interdisciplinary classroom composed of students from multiple STEM majors.
Each student engaged in activities related to visualizing genomes, kept records of their
experiences in an electronic lab notebook, and posted about their experiences in a blog.
Following this course, we interviewed students to understand how they learned to
represent a genome and assess their interaction with the VWE. We found that the VWE
offered new ways to explore questions of representation that were transparent in the
types of representations students later generated. The collaborative and social
environment also contributed to student learning. In conclusion, our investigation
provides evidence that learning outcomes valued in science education can be taught
through VWE.
Publisher:
FASEB Journal
Year of Publication:
2012
JOURNAL ARTICLES 16
Title:
Leveraging Emerging Technologies in Management Education - Research and
Experiences
ANEXOS 213
Abstract:
Education is one of the most relevant domains in which the integration of emerging
technologies such as multimedia, groupware, and the Internet, is enabling significant
innovations. A prerequisite for this development are appropriate frameworks to guide
education professionals in exploiting advanced information and communication
technologies to significantly enhance the quality and efficiency of traditional
management learning and training methods. This article describes how such a
conceptual framework, the Business Navigator method, can be adopted as a basis for
integrating advanced multimedia telecommunication, object- oriented simulation,
intelligent agents and virtual reality technology to design 'flight simulator'-like learning
experiences with high pedagogical value. Technological and pedagogical implications
of designing such state-of-the-art management learning approaches are illustrated and
discussed.
Publisher:
European Management Journal
Year of Publication:
1997
JOURNAL ARTICLES 17
Title:
Leveraging informal leadership in higher education institutions: A case of diffusion of
emerging technologies in a southern contexto
Abstract:
In the last decade, emerging technologies and transformative practices have diffused
into higher education social systems in ways that formal leadership styles are
increasingly stretched to both keep abreast of and to manage. While many scholars
have argued for the importance of the role of leadership styles in shaping the strategic
direction of institutions, there is a paucity of research on the role that informal leaders,
and more particularly opinion leaders and change agents, can play in enabling wide-
scale adoption of innovations in higher education institutions. This paper focuses on
the ways in which leadership in higher education can best extend their influence to
accelerate the diffusion of transformational educational practices using emerging
technologies by leveraging informal leaders. To illustrate how this could be achieved,
we report on a study of 22 public higher education institutions in South Africa
involving 259 participants who responded to an online survey. The survey focused on
the uses of emerging technologies to transform the teaching and learning practices and
the nature of institutional support such initiatives received. The findings reveal that for
emerging technologies to be diffused in institutional social systems, more
transformative and less transactional leadership is required. The paper proposes a
model for accelerating the diffusion of emerging technologies in higher education
institutions and concludes that leveraging informal leadership is particularly critical in
accelerating the uptake of emerging technologies practices.
ANEXOS 214
Publisher:
British Journal of Educational Technology
Year of Publication:
2013
JOURNAL ARTICLES 18
Title:
Review of affective computing in education/learning: Trends and challenges
Abstract:
Affect can significantly influence education/learning. Thus, understanding a learner's
affect throughout the learning process is crucial for understanding motivation. In
conventional education/learning research, learner motivation can be known through
postevent self-reported questionnaires. With the advance of affective computing
technology, researchers are able to objectively identify and measure a learner's
affective status during the entire learning process in a real-time manner, and then they
are able to understand the interrelationship between emotion, motivation and learning
performance. There are over 100 papers in the ScienceDirect database with the
keywords “affective computing in education” or “affective computing in learning,”
which reveals that this emerging technology has been applied to education/learning.
This study intends to categorize and summarize those measurements so as to realize
their applicability, feasibility and trends. Finally, some challenges and suggestions are
then raised for helping educational researchers when applying affective computing
technology.
Publisher:
British Journal of Educational Technology
Year of Publication:
2015
JOURNAL ARTICLES 19
Title:
Standardization as emerging content in technology education at all levels of education
Abstract:
Integration of standardization into different levels of technology education has surfaced
as a critical issue for educational practitioners and policy makers at national and
regional (APEC, EU) level. In this paper, we describe and analyze empirical data
collected from 118 educational experiences and practices about technology standards
and stan- dardization in 21 countries of a regional variety. Specifically, this research
examines standardization education programs these countries have implemented, and
explores sug- gestive indications for the design and development of an educational
policy for stan- dardization. Online surveys, offline interviews, face-to-face meetings
ANEXOS 215
and case studies have been used to determine the way these standardization education
programs are segmented and implemented in different contexts. The findings are
consolidated into a framework for standardization education. The framework presents
an applicable combination of target groups (who), appropriate learning objectives
(why), probable program operators (where), prospective contents modules (what), and
preferred teaching methods (how). This framework may contribute to planning and
implementing more inclusive standardization education programs.
Publisher:
International Journal of Technology and Design Education
Year of Publication:
2011
JOURNAL ARTICLES 20
Title:
Tech Expo - A Model for Emerging Technology Education for Library Staff
Abstract:
Emerging technologies, such as personal information management tools like Zotero,
productivity software like Google Documents, and web-based API's and mashups are
important resources for library staff development and productivity. To keep up with
rap- id technological change, the University of Minnesota Libraries developed a staff
educa- tion program on emerging technologies. Begun in 2009, the fun and interactive
program called Tech Expo has been a success. This paper describes our approach and
lessons learned. In recent years, emerging technologies and open source software have
proliferated in higher education. In response to technological change at the University
of Minnesota (UMN), the Libraries created a Technology Librarian position in 2006
with a focus on emerging technologies. However, it became clear that the growing
need for training was not the job of a single librarian, but must be augmented with an
emerging technologies program dedicated to staff education. (This is especially true at
a large research institu- tion like UMN, with a staff of more than 300.) This article
describes the creation and im- plementation of such a program in 2009.
Publisher:
Journal of Library Innovation
Year of Publication:
2012
JOURNAL ARTICLES 21
Title:
The use of emerging technologies for authentic learning: A South African study in
higher education
ANEXOS 216
Abstract:
It is now widely accepted that the transmission of disciplinary knowledge is
insufficient to prepare students leaving higher education for the workplace. Authentic
learning has been suggested as a way to bring the necessary complexity into learning to
deal with challenges in professional practice after graduation. This study investigates
how South African higher educators have used emerging technologies to achieve the
characteristics of authentic learning. A survey was administered to a population of 265
higher educators in South Africa who self-identified as engaging with emerging
technologies. From this survey, a sample of 21 respondents were selected to further
investigate their practice through in-depth interviewing using Herrington, Reeves and
Oliver's nine characteristics of authentic learning as a framework. Interrater analysis
undertaken by five members of the research team revealed both consistencies and
differences among the twenty one cases across the nine elements of authentic learning.
The highest levels of authenticity were found for the elements authentic
context and task, and the lowest for articulation. Furthermore, there was a moderate
correlation identified between levels of authenticity and the role played by emerging
technologies in achieving the authenticity, showing a potentially symbiotic relationship
between them.
Publisher:
British Journal of Educational Technology
Year of Publication:
2013