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IPH 02058: Tratamento de Água e Esgoto, Capítulo 10 Prof. Gino Gehling
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Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Pesquisas Hidráulicas
Departamento de Obras Hidráulicas
IPH 02058: Tratamento de Água e Esgoto
Engenharia Hídrica
Prof. Gino Roberto Gehling
Agradecimento: O prof. Gino agradece ao prof. Antônio D. Benetti pela
cessão do arquivo fonte deste capítulo10, gerado por ele para a disciplina
IPH 02050 da Engenharia Civil. O mesmo recebeu ajustes de formatação
ao padrão da disciplina IPH 02058 (Tratamento de Água e Esgoto),
oferecida pela primeira vez à Engenharia Hídrica no primeiro semestre de
2016.
Março de 2017
IPH 02058: Tratamento de Água e Esgoto, Capítulo 10 Prof. Gino Gehling
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10. TRATAMENTO PRIMÁRIO DE ESGOTOS
10.1. OBJETIVOS
O tratamento primário tem o objetivo de remover sólidos suspensos
sedimentáveis. Os sólidos removidos incluem matéria orgânica; desta forma, ocorre
uma redução da DBO no tratamento primário. Segundo Metcalf & Eddy (2003), as
remoções de sólidos suspensos e DBO variam, respectivamente, entre 50% a 70% e
25% a 40%. Pacheco e Jordão (1995) indicam faixas de remoção entre 40% a 60%
(SS) e 25% a 35% (DBO).
10.2. ESTRUTURA FÍSICA
O tratamento primário realiza-se em unidades denominadas de decantadores
primários. Estas unidades são tanques de formato cilíndrico ou retangular. Os
esgotos permanecem dentro do tanque por um certo intervalo de tempo, havendo a
separação de sólidos que são mais densos que o líquido. No fundo do tanque,
braços giratórios e rodos conduzem o lodo para uma zona central de onde deixam o
tanque em direção ao tratamento de lodos. Na superfície, o líquido decantado é
coletado em vertedores, sendo conduzido ao tratamento secundário de esgotos. É
comum a formação de escuma na superfície dos decantadores; por esta razão,
utiliza-se um anteparo com a finalidade de reter a escuma e evitar seu arraste com
o líquido decantado. A escuma recolhida é enviada ao digestor. A Figura 1 apresenta
um decantador primário com vistas em planta e corte.
10.3. O PROCESSO DE SEDIMENTAÇÃO
Em tanques de decantação primária ocorre o processo de sedimentação
chamado floculenta. Neste processo, as partículas coalescem e floculam durante a
sedimentação. As partículas ganham massa e alteram a velocidade de
sedimentação (Figura 2). A aglomeração depende de contatos entre partículas, que
varia em função da taxa de aplicação superficial, profundidade da tanque,
concentração de partículas e gradientes de velocidade no sistema.
Na sedimentação discreta, viu-se que a velocidade crítica era dada pela
Equação (1).
18
)(2S
c
Dgv (1)
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Figura 1: Decantador primário circular.
Figura 2: Sedimentação floculenta e discreta.
Na sedimentação floculenta, o tamanho da partícula, representada por D na
Equação (1) e sua densidade alteram-se durante a sedimentação.
Até o presente momento não há um modelo matemático que permita
estabelecer parâmetros de projeto para o decantador primário. Os parâmetros são
Sedimentação
discreta
Sedimentação
floculenta
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determinados através de ensaio de sedimentação ou são usados dados publicados
na literatura.
10.4. TESTE DE SEDIMENTAÇÃO
O conteúdo de todo este ítem 4 seria objeto de uma aula prática em
laboratório. Mas a reduzida carga horária desta disciplina não contempla aulas em
ambiente laboratorial. Assim, o conteúdo a partir daqui até o fim da página 12, que
descreve o teste de sedimentação, não é cobrado em avaliações, constando apenas
para descrição do teste.
O teste de sedimentação é realizado em uma coluna de diâmetro de 15 cm e
profundidade superior a 2,00 m. Nesta coluna são feitas saídas nas profundidades
de 0,60 m, 1,20 m e 1,80 m (Figura 3).
Figura 3: Coluna para o teste de sedimentação.
H1 = 0,60
m
H2 = 1,20 m
H3 = 1,80
m
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Procedimento para o teste de sedimentação
1o) Encher a coluna com o esgoto a ser testado, mantendo uma concentração
uniforme em toda a coluna, com auxílio de um misturador.
2o) Em tempos pré-determinados, coletar amostras nas saídas 1, 2 e 3, medindo as
concentrações de sólidos suspensos.
Por que as medidas são realizadas a 0,60 m, 1,20 m e 1,80 m? Isto deve-se
ao fato de ser 2,0 m a profundidade mínima de decantador primário. Os resultados
do teste permitirão determinar a remoção de sólidos em suspensão em função da
taxa de aplicação superficial e tempo de detenção.
Exemplo:
Um esgoto possui concentração de sólidos suspensos de 430 mg/L. Um teste
de sedimentação com este esgoto apresentou os resultados mostrados no Quadro
(1). Com base nestes dados, estabeleça a relação entre percentagem de remoção
de sólidos com a taxa de aplicação superficial e tempo de detenção.
Quadro 1: Resultados do teste de sedimentação
Tempo (min)
Concentração de Sólidos Suspensos (mg/L)
0,60 m 1,20 m 1,80 m
0 430 430 430
5 357 387 396
10 310 346 366
20 252 299 316
30 198 254 288
40 163 230 252
50 144 196 232
60 116 179 204
75 108 143 181
Procedimento
1o) Calcular a percentagem de sólidos suspensos removidos em cada amostra.
A fração de sólidos que permanece em suspensão é dado por:
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Fração de sólidos que permanecem na suspensão = 0
,
C
C ht (2)
sendo Ct,h = concentração de sólidos em suspensão na altura H e tempo t;
C0 = concentração de sólidos suspensos no tempo t = 0, 430 mg/L
A fração de sólidos removida é o complemento da Equação (2).
Fração removida = 1 - 0
,
C
C ht (3)
O Quadro (2) apresenta os percentuais de sólidos suspensos removidos em cada
altura e tempo t. A Figura (4) mostra o gráfico dos dados do Quadro (2).
Quadro 2: Sólidos suspensos removidos a altura H nos tempos de detenção
Tempo Rt,h (%)
(min) 0,60 m 1,20 m 1,80 m
0 0 0 0
5 17 10 8
10 28 20 15
20 41 30 27
30 54 41 33
40 62 47 41
50 67 54 46
60 73 58 53
75 75 67 58
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Remoção de sólidos suspensos vs tempo de detenção
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Tempo de detenção (min)
SS
rem
ovid
os (
%)
H = 0,60 m
H = 1,20 m
H = 1,80 m
Figura 4: Remoção de sólidos suspensos vs tempo de detenção
2o) Calcular os tempos de detenção, em cada altura, que correspondem aos
percentuais de sólidos suspensos removidos.
Estas informações são retiradas do gráfico da Figura (4). Por exemplo, os
tempos de detenção requeridos para que 20% de sólidos suspensos sejam
removidos, respectivamente nas alturas 0,60 m, 1,20 m e 1,80 m, são 6,5, 10,5 e
14,5 minutos. O Quadro (3) apresenta os tempos de detenção calculados para as
percentagens de sólidos removidos. Com base nos dados do Quadro (3) prepara-se
o gráfico do perfil de sedimentação, com as curvas de iso-eficiências (Figura 5).
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Quadro 3: Tempos de detenção e percentagem de remoção em cada altura H Perfil de Sedimentação
Remoção (%)
t (min)
0,60 m 1,20 m 1,80 m
0 0,0 0,0 0,0
5 1,2 2,5 3,7
10 2,5 5,0 6,5
20 6,5 10,5 14,5
30 11,5 19,0 25,0
40 18,0 30,0 39,0
50 27,0 44,0 56,5
60 38,5 61,5 77,5
70 55,0 87,5 -
75 75,0 - -
Figura 5: Perfil de sedimentação
3o) Calcular a percentagem de remoção de sólidos suspensos versus a taxa de
aplicação superficial
A velocidade de sedimentação efetiva de uma partícula é definida pelo tempo
gasto pela partícula para atingir a zona de lodo (1,80 m no teste)
t
HvS (4)
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Uma suspensão contém partículas com diferentes velocidades de sedimentação
efetiva.
Partículas com velocidade de sedimentação efetiva vS igual ou maior que a
velocidade crítica vsc serão completamente removidas. A velocidade crítica é
a taxa de aplicação superficial (m3/m2dia)
Partículas com velocidade de sedimentação efetiva vS menor que a
velocidade crítica vsc serão removidas a uma taxa igual a razão vS/vsc, ou,
equivalentemente, a razão h/H.
As velocidades de sedimentação efetivas são obtidas a partir do perfil de
sedimentação.
3.1) Do Quadro (3), retirar os valores dos tempos de detenção (min) para remoção
de sólidos de 5%, 10%, 20%, 30%, 40%, 50% e 60%. As velocidades de
sedimentação efetiva serão a razão entre a altura 1,80 m e os respectivos tempos.
Estes dados encontram-se no Quadro (4).
Quadro 4: Velocidade de sedimentação efetiva
Remoção Tempo vS
(%) (min) (m/h)
5 3,7 29,2
10 6,5 16,6
20 14,5 7,4
30 25,0 4,3
40 39,0 2,8
50 56,5 1,9
60 77,5 1,4
3.2) Para cada tempo de detenção, calcular a percentagem de remoção de sólidos.
Por exemplo, considere o tempo de detenção de 25 minutos. Neste caso, a
velocidade crítica é 4,3 m/h. De acordo com o perfil de sedimentação, 30% das
partículas serão removidas porque atingem a profundidade de 1,80 m em 25 minutos
ou menos. Para partículas com vS menor que 4,3 m/h, a fração removida será dada
por
ii
isc
i,sf
H
hf
v
v (5)
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Neste caso, hi será a altura média que corresponde ao intervalo de remoção. Por
exemplo, entre o intervalo 30% a 40%, a altura média será o valor médio entre 1,8 m
e 1,0 m.
1o intervalo: 30% a 40%
fração removida = 078,0100
)3040(
8,1
1
2
)0,18,1(
2o intervalo: 40% a 50%
fração removida = 043,0100
)4050(
8,1
1
2
)55,00,1(
3o intervalo: 50% a 60%
fração removida = 026,0100
)5060(
8,1
1
2
)38,055,0(
4o intervalo: 60% a 70%
fração removida = 018,0100
)6070(
8,1
1
2
)28,038,0(
5o intervalo: 70% a 75%
Fração removida = 007,0100
)7075(
8,1
1
2
)20,028,0(
Desta forma, a fração de sólidos suspensos que será removida quando a velocidade
crítica for de 4,3 m/h será:
Fração total removida = 0,30 + 0,078 + 0,043 + 0,026 + 0,018 + 0,007 = 0,472
(~ 47%)
O mesmo procedimento é repetido para os outros tempos de detenção. Estes
resultados são tabulados (Quadro 5) e plotados (Figura 6).
Quadro 5: Remoção por tempo de detenção
Tempo (min)
Sólidos Removidos (%)
3,7 13,4
6,5 20,1
14,5 33,9
25,0 47,3
39,0 55,0
56,5 64,3
77,5 71,1
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Sólidos suspensos removidos versus tempo de detenção
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80
Tempo de detenção (min)
Só
lid
os s
usp
en
so
s r
em
ovid
os (
%)
Figura 6: Remoção de sólidos suspensos por tempo de detenção
3.3) Calcular a percentagem de sólidos suspensos removidos em função da taxa de
aplicação superficial.
O Quadro (6) apresenta as taxas de aplicação superficiais correspondentes
as velocidades críticas e os percentuais de sólidos removidos. A Figura (7)
apresenta o gráfico relacionando remoção de sólidos versus taxa de aplicação.
Quadro 6: Taxas de aplicação vs remoção de sólidos suspensos
Tempo vS Taxa Apl. Remoção
(min) (m/h) (m3/m2.dia) (%)
3,7 29,2 701 13,4
6,5 16,6 399 20,1
14,5 7,4 179 33,9
25,0 4,3 104 47,3
39,0 2,8 66 55,0
56,5 1,9 46 64,3
77,5 1,4 33 71,1
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Taxa de aplicação superficial vs remoção de sólidos suspensos
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750
Taxa de aplicação superficial (m3/m
2dia)
Rem
oção
SS
(%
)
Figura 7: Taxa de aplicação superficial vs remoção de sólidos suspensos
4. Equações de remoção de DBO e sólidos suspensos em decantadores
primários
O gráfico da Figura (6) pode ser representado pela equação (6) (Metcalf &
Eddy, 2003).
tba
tR
(6)
sendo: R = eficiência de remoção esperada (%)
t = tempo de detenção, [h]
a, b = constantes empíricas
A Equação (6) é válida tanto para SS quanto para DBO. O Quadro (7) mostra os
valores das constantes a e b para DBO e SS.
Quadro 7: Valores das constantes a e b para DBO e SS
a B
DBO 0,018 0,020
SS 0,0075 0,014
Os coeficientes do Quadro 7 são válidos apenas com estimativas para esgotos
sanitários.
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5. REQUISITOS DE PROJETO PELA NBR 12209/2011
Vazão de dimensionamento do decantador primário deve ser a vazão máxima
horária afluente a ETE;
A taxa de aplicação superficial deve ser:
o 60 m3/m2dia quando preceder a filtração biológica
o 90 m3/m2dia quando preceder o processo de lodos ativados
o 90 m3/m2dia quando for o processo de decantação primária
quimicamente assistida
ETE com vazão de dimensionamento maior que 250 L/s deve ter mais de um
decantador primário
Tempo de detenção hidráulica
o 3 horas para vazão média
o > 1 hora para vazão máxima
Taxa de escoamento através do vertedor de saída 500 m3/dm de vertedor
Em decantadores com remoção mecanizada de lodo, a altura mínima de água
deve ser 3,5 m; em decantadores sem remoção mecanizada de lodo a
altura mínima deve ser 0,5 m.
Exemplo de aplicação
Escolhe-se uma taxa de aplicação que corresponda a % desejada de
remoção de sólidos suspensos. Por exemplo, para 60% de remoção de SS, a taxa
de aplicação superficial é de aproximadamente 50 m3/m2.dia (Figura 7). Para a
vazão máxima de 450 L/s, são necessários, no mínimo, dois decantadores. A área e
o diâmetro de cada decantador serão:
2
23
3
8,388400.86/50
1
2
450,0m
dia
s
diamms
m
Tx
QA
A
QAplTx
mmA
D 2,224
8,38844 2
Valores típicos para diâmetros de decantadores primários situam-se entre 12
m e 45 m.
De acordo com a NBR 12209/2011, a altura mínima de água no decantador
mecanizado deverá ser de 3,5 m. O volume do decantador será:
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14
323
m8,360.1m5,3m8,388s
m
2
450,0HAV
Verificação dos tempos de detenção
Vazão máxima:
h7,1
hs3600
sm
2
450,0
m8,1360
Q
Vt
3
3
Vazão média:
h0,3
hs3600
sm
2
250,0
m8,1360
Q
Vt
3
3
Vazão mínima:
h0,6
hs3600
sm
2
125,0
m8,1360
Q
Vt
3
3
O requerimento de tempo de detenção é atendido.
Caso usássemos a TAS especificada pela NBR 12209 para decantador que
precede o sistema de lodos ativados, a área do decantador seria:
TAS = 90 m3/m2dia
2
2
3
3
m216
diamm90
1
dia
s86400
s
m
2
450,0A
. O diâmetro correspondente é
1,6 m.
6. BALANÇO DE MASSAS PARA SÓLIDOS SUSPENSOS E DBO NO
DECANTADOR PRIMÁRIO
6.1. OBJETIVO
O balanço de massas objetiva determinar a quantidade de sólidos suspensos
e DBO que seguirão ao tratamento de lodos e ao tratamento biológico. Estas
informações são necessárias para o dimensionamento das estruturas.
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6.2. EQUAÇÕES DESCRITIVAS
O teor de lodos é geralmente dado em termos de percentagem de sólidos. De
acordo com metcalf & Eddy (2003), o teor de sólidos típico em lodos do decantador
primário varia entre 5% e 9 %, com valor típico de 6%.
O volume de lodo irá depender da massa e teor de sólidos, e da gravidade
específica do lodo (Equação 7)
SLOH
S
fS
MV
2
(7)
sendo V = vazão de lodos, [L3/T]
MS = massa de sólidos removidos por dia, [M/T]
H2O = massa específica da água, [M/L3]
SL = densidade específica do lodo, [ - ]
fS = fração de sólidos no lodo, [ - ]
Na Equação (7), as seguintes unidades representam as variáveis:
Lodod
L
Lodokg
SSkg
1
OHL
OHkg
lodoL
Lodokg
1
OHL
OHkg
1
d
SSkgV
2
2
2
2
A Equação (7) é deduzida a partir do conceito de massa específica.
L
LL
V
M
LO2H
L
L
LL
S
MMV
(8)
A fração de sólidos fs é a razão entre a massa de sólidos e a massa de lodo
(Equação 9).
L
ss
M
Mf (9)
s
sL
f
MM (10)
Substituindo-se a Equação (10) na (8), chega-se a Equação (7).
Densidade relativa é a razão entre a massa específica da substância e a massa
específica da água. No caso do lodo, a densidade relativa será:
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OH
LLS
2
(11)
A massa específica do lodo, por sua vez, corresponde a razão entre a massa do
lodo e seu volume (Equação 12)
L
LL
V
m (12)
A massa de lodos corresponde a soma entre a massa de sólidos e a massa de água.
A massa de sólidos é igual a soma entre a massa de sólidos voláteis e sólidos fixos.
O volume de lodo é igual a soma dos volumes de água, sólidos voláteis e fixos.
SOHL mmm 2
(13)
FVS mmm (14)
FVOHL mmmm 2
(15)
SOHL VVV 2
(16)
FVS VVV (17)
FVOHL VVVV 2
(18)
De uma maneira geral, tem-se que:
OHOH 22
1
V
mS
Assim, O2HL
L
OH
LL
1
V
mS
2
OHL
LL
S
mV
2
1
Da mesma forma, O2HF
FF
O2HV
VV
O2HOH
OH
OH
1
V
mV;
1
S
mV;
1
S
mV
2
2
2
. Substituindo
na Equação (18),
OHF
F
OHV
V
OHOH
OH
OHL
L
S
m
S
m
S
m
S
m
2222
1111
2
2
F
F
V
V
OH
OH
L
L
S
m
S
m
S
m
S
m
2
2 (19)
Dividindo a Equação (19) por mL,
LF
F
LV
V
LOH
OH
LL
L
mS
m
mS
m
mS
m
mS
m 1111
2
2
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F
F
V
V
OH
OH
L S
f
S
f
S
f
S
2
21
(20)
sendo f = fração em massa.
Exemplo
Considerar que o efluente do tratamento preliminar tenha concentrações de
sólidos suspensos de 350 mg/L, sendo 75% voláteis e 25% fixos. A DBO é de 300
mg/L
Figura 8: Balanço de massas no decantador primário
Admitir que:
60% dos sólidos suspensos são removidos no decantador primário.
35% da DBO é removida
Teor de sólidos no lodo = 6%
75% dos sólidos são voláteis, 25% são fixos
Massa específica da água = 1,0 kg/L
Massa específica dos sólidos voláteis = 1,0 kg/L
Massa específica dos sólidos fixos = 2,5 kg/L
A carga de sólidos entrando no decantador será Q0X0 =
Q0X0 = SSdia
kg
dia
s
m
L
mg
kg
L
mg
s
m560.7400.861010350250,0
3
363
Carga de sólidos no efluente primário = QEXE = 0,40 x 7.560 = 3.024 kg/dia SS
Carga no lodo = QUXU = 7.560 – 3.024 = 4.536 kg/dia SS
O volume diário de lodo produzido no decantador primário é dado pela
Equação (7).
Q0, X0 QE, XE
QU, XU
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MS = 4.536 kg/dia SS
H2O = 1,0 kg/L
fS = 6%/100% = 0,06
SL = densidade relativa do lodo, [ - ]
As frações de água e sólidos do lodo são, respectivamente, 0,94 e 0,06, ou 94/100 e
6/100. Dos sólidos, 75% são voláteis; portanto a fração de sólidos voláteis e fixos
são, respectivamente, 0,045 e 0,015, ou 4.5/100 e 1.5/100. Substituindo-se na
Equação (20), têm-se
0091,1S9910,05,2
1
100
5.1
0,1
1
100
5.4
0,1
1
100
94
S
1L
L
A densidade relativa do lodo será 1,0091, dado
OHm
OHkg1000
1
lodom
lodokg10091
2
3
23
Substituindo os valores de MS, H2O, fS e SL na Equação (7),
dia
lodom9,74
dia
lodoL74918
lodoskg100
SSkg6
OHm
OHkg1000
1
lodom
lodokg10091
OHm
OHkg1000
dia
SSkg536.4
V3
2
3
23
2
3
2
Resumo
1. Vazões
dia
m
L
m
dia
s
s
LQ
333
0 2160010400.86250
dia
m9,74Q
3
U
dia
m1,525.219,74600.21Q
3
E
2. Cargas
Sólidos: Afluente - dia
kgXQ 560.700
Efluente - dia
kgXQ EE 024.3
Lodo - dia
kgXQ UU 536.4
IPH 02058: Tratamento de Água e Esgoto, Capítulo 10 Prof. Gino Gehling
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DBO Afluente = 300 mg/L x 0,250 m3/s x 10-6 kg/mg x 103L/m3 x 86.400 s/dia
= dia
DBOkg480.6
DBO efluente tratamento primário = 6.480 x (1 – 0,35) = dia
DBOkg212.4
DBO lodo primário = 6.480 – 4.212 = dia
DBOkg268.2
3. Concentrações
Afluente - sólidos: X0 = 350 mg/L
- DBO: C0 = 300 mg/L
Efluente primário – sólidos: XE = 350 x (1 – 0,60) = 140 mg/L
CE = 300 x (1 – 0,35) = 195 mg/L
Lodo primário – sólidos: L
SSmg60561
m
L10
1
kg
mg10
dia
m9,74
dia
kg536.4
X
3
3
6
3U
DBO: L
DBOmg3028010
dia
m9,74
dia
kg268.2
C 3
3U
Os resultados encontram-se resumidos na Figura 9.
Figura 9: Resumo do balanço de massas no decantador primário.
Q0 = 21.600 m3/dia
X0 = 350 mg/L C0 = 300 mg/L Carga SS = 7.560 kg/dia
Carga DBO = 6.480 kg/dia
QE = 21.487 m3/dia
XE = 140 mg/L CE = 195 mg/L Carga SS = 3.024 kg/dia
Carga DBO = 4.212 kg/dia
QU = 74,9 m3/dia
Xu = 60.561 mg/L Cu = 30.280 mg/L Carga SS = 4.536 kg/dia Carga DBO = 2.268 kg/dia
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7. REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12209: projeto de estações de tratamento de esgoto sanitário. Rio de Janeiro, 2011. JORDÃO, E. P.; PESSÔA, C. A. Tratamento de esgotos domésticos. 4. ed. Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental: Rio de Janeiro, 2005. METCALF & EDDY, INC. Wastewater engineering: treatment and reuse. 4rd ed. New York: McGraw-Hill, 2003..