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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
MESTRADO EM SISTEMAS DE GESTÃO
PEDRO PAULO SILVEIRA FELICÍSSIMO
DIMENSÕES ESTRATÉGICAS PARA PROPOSIÇÃO DE UM ÍNDICE DE VALOR
ADICIONAL SUSTENTÁVEL DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE RECICLAGEM
DE ALUMÍNIO
Niterói
2016
PEDRO PAULO SILVEIRA FELICÍSSIMO
F314 Felicíssimo, Pedro Paulo.
Dimensões estratégicas para proposição de um índice de valor
adicional sustentável de avaliação de projetos de reciclagem de
alumínio / Pedro Paulo Felicíssimo. – Niterói, 2016.
133 p. : il. ; 30 cm.
Orientador: D. Sc. Gilson Brito Alves Lima.
Dissertação (Pós-Graduação Strictu Sensu Mestrado Profissional em
Sistemas de Gestão - Área de Concentração: Organizações e Estratégia)
Universidade Federal Fluminense, 2016.
Bibliografia: p. 114-120.
1. Reaproveitamento (sobras, refugos, etc.). 2. Alumínio – Materiais -
Reaproveitamento. I. Felicíssimo, Pedro Paulo. II. Título.
CDD 673.7220286
AGRADECIMENTOS
Inicialmente agradeço a Deus, essa força criadora que nos inspira, anima e admoesta no
caminho do bem, nos direcionando para a realização de ações com o objetivo de contribuir para
um mundo melhor, mais solidário e equitativo.
Ao meu orientador Gilson Brito Alves Lima, em particular pela admoestação e orientação
incansável, proporcionando a mim a realização de um excelente trabalho de pesquisa, o qual
veio a complementar um caminho profissional que percorro há uma década.
A todos os meus professores do mestrado pelo apoio incondicional ao estudo e permanente
incentivo para a conclusão do Mestrado,
A minha esposa Ana Márcia Fonseca Ramires por ser paciente e incentivadora nas diversas
horas de pesquisa e consolidação deste trabalho.
A todo o universo de pesquisadores acadêmicos, cuja luta incansável nos estudos e contra todas
as adversidades possíveis, torna realidade um Brasil melhor, em especial, ao grupo de trabalho
coordenado pelo professor Luiz Gavião, o qual muito me auxiliou neste trabalho.
RESUMO
Este trabalho de pesquisa apresenta uma avaliação das dimensões estratégicas para proposição
de um índice de valor adicional sustentável para avaliação de projetos de reciclagem de
alumínio. Para este propósito, utilizou-se as metodologias do tipo qualitativa com revisão da
literatura sobre os modelos, dimensões e indicadores de sustentabilidade mais utilizados por
empresas, aplicando-se a pesquisa quantitativa, a partir das análises dos relatórios de
sustentabilidade e das práticas reais de benchmarking do mercado de reciclagem de alumínio.
O método difuso complementa a pesquisa na observação e comprovação dos comportamentos
dos indicadores ambientais, econômicos, sociais e normativos, frente às adições crescentes de
conteúdo reciclado no produto final. As conclusões da aplicação dos métodos qualitativo,
quantitativo e difuso, sinalizam um papel preponderante da dinâmica da dimensão social do
modelo para a adição de valor e de sustentabilidade aos processos da logística reversa do
alumínio. O acréscimo da dimensão normativa ao modelo proposto, permite aos pesquisadores,
questões e perspectivas de futuros estudos para a identificação de estratégias, padrões e
parâmetros das empresas na inclusão da reciclagem ao final do ciclo de vida dos produtos.
Palavras-chave: sustentabilidade, reciclagem, modelos, dimensões, indicadores, ecoeficiência,
eco social eficiência, ciclo de vida do produto, valor adicional sustentável, lógica fuzzy.
ABSTRACT
This research presents an assessment of the strategic dimensions to propose an index of
sustainable additional value for the evaluation of aluminum recycling projects. For this purpose,
methods of qualitative type was used with literature review of models, dimensions and
sustainability indicators most used by companies, to applying quantitative research, from the
analysis of sustainability reports and the actual practices of benchmarking aluminum recycling
market. The fuzzy method complements research on observation and verification of the
behavior of environmental indicators, economic, social and normative, front of increasing
additions of recycled content in the final product. The conclusions of the application of
qualitative methods, quantitative and fuzzy, signal an important dynamic role of the social
dimension of the model for adding value and sustainability to the processes of reverse logistics
aluminum. The addition of the normative dimension to the proposed model, allows researchers,
questions and prospects of future studies to identify strategies, standards and parameters of the
companies in the inclusion of recycling at the end of life product cycle.
Keywords: sustainability, recycling, models, dimensions, indicators, eco-efficiency, social
eco-efficiency, life cycle analysis, sustainable additional value, fuzzy logic.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 1 Evolução dos índices de reciclagem de PET no Brasil.............................. 14
Figura 1 Diagrama de produção de nova embalagem PET....................................... 15
Gráfico 2 Reciclagem de latas de alumínio no mundo............................................... 16
Figura 2 Fluxograma do Ciclo de Vida do Produto com Reciclagem ao Final de
Vida.............................................................................................................
40
Figura 3 Modelo Base dos 3 P.................................................................................. 47
Figura 4 Indicadores SEE Balance de Impactos Ambientais.................................... 64
Figura 5 Gráfico de Pareto de Ecoeficiência............................................................ 66
Figura 6 Indicadores SEE Balance de Ecosocial Eficiência..................................... 68
Figura 7 Cubo Ecosocial Eficiência......................................................................... 70
Figura 8 Interface Gráfica de Criação e Controle do SIF......................................... 81
Figura 9 Sistema de Inferências Fuzzy do Modelo................................................... 86
Figura 10 SIF Ambiental............................................................................................ 87
Figura 11 SIF Econômico........................................................................................... 88
Figura 12 Base de Regras: Ambiental........................................................................ 89
Figura 13 Base de Regras: Econômico........................................................................ 89
Figura 14 Funções de Pertinência da Dimensão Ambiental....................................... 89
Figura 15 SIF Social................................................................................................... 91
Figura 16 Funções de Pertinência da Dimensão Social - Associativismo.................. 91
Figura 17 Funções de Pertinência da Dimensão Social - Cooperativismo................. 92
Figura 18 Funções de Pertinência da Dimensão Social – Ecosocial Eficiência.......... 92
Figura 19 Base de Regras: Social ............................................................................... 93
Figura 20 Ecosocial Eficiência – superfície tridimensional........................................ 93
Figura 21 SIF Normativo........................................................................................... 94
Figura 22 Funções de Pertinência Normativa: Conteúdo Reciclado.......................... 94
Figura 23 Funções de Pertinência Normativa: Conformidade.................................... 95
Figura 24 Base de Regras: Normativa ....................................................................... 95
Figura 25 Função Conteúdo Reciclado versus Grau de Conformidade....................... 96
Figura 26 SIF Valor Adicional Sustentável............................................................... 96
Figura 27 Base de Regras: VAS.................................................................................. 97
Figura 28 SIF do Alumínio Primário com Reciclagem de 46%................................. 99
Figura 29 SIF da Sucata de Alumínio com Reciclagem de 46%................................. 101
Figura 30 SIF do Alumínio Primário com Reciclagem de 80%................................. 104
Figura 31 SIF da Sucata de Alumínio com Reciclagem de 80%................................. 106
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Atividades de processamento e recuperação de materiais......................... 38
Quadro 2 Etapas da ACV com reciclagem e reaproveitamento industrial................. 41
Quadro 3 Quadro teórico referencial de dimensões do modelo................................. 46
Quadro 4 Quadro teórico referencial de indicadores do modelo............................... 60
Quadro 5 Relação entre GRI G4, Legislação Brasileira e Indicadores Fuzzy.......... 71
Quadro 6 Levantamento bibliográfico...................................................................... 130
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Geração de resíduos globais.......................................................................... 16
Tabela 2 Receita global com a logística reversa.......................................................... 18
Tabela 3 Nível de emprego no setor de reciclagem - Brasil........................................ 18
Tabela 4 Linha de base: categorias e indicadores para emissões atmosféricas............. 64
Tabela 5 Linha de base: categorias e indicadores para emissões na água..................... 65
Tabela 6 Alumínio primário com abordagem de corte ............................................. 100
Tabela 7 Alumínio primário com reciclagem de 46%............................................... 100
Tabela 8 Sucata de alumínio com abordagem de corte ............................................ 102
Tabela 9 Sucata de alumínio com reciclagem de 46%............................................... 102
Tabela 10 Alumínio primário com abordagem de corte ............................................. 105
Tabela 11 Alumínio primário com reciclagem de 80%............................................... 105
Tabela 12 Sucata de alumínio com abordagem de corte ............................................ 107
Tabela 13 Sucata de alumínio com Reciclagem de 80%............................................... 107
Tabela 14 Emissões do alumínio primário e sucata de alumínio abordagem cut-off... 122
Tabela 15 Comportamento das emissões com 46% de reciclagem............................. 123
Tabela 16 Comportamento das emissões com 80% de reciclagem............................. 123
Tabela 17 Custos do alumínio primário e sucata de alumínio abordagem cut-off....... 125
Tabela 18 Comportamento dos custos com 46% de reciclagem................................. 126
Tabela 19 Comportamento dos custos com 80% de reciclagem................................. 127
Tabela 20 Ecoeficiência com abordagem cut-off....................................................... 128
Tabela 21 Ecoeficiência com 46% de reciclagem..................................................... 128
Tabela 22 Ecoeficiência com 80% de reciclagem..................................................... 129
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
3 P – People, Planet and Profit
4 R – Reciclagem, Redução, Reutilização, Reeducação
ABAL - Associação Brasileira do Alumínio
ABIPET - Associação Brasileira da Indústria do pet
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública
ACV - Análise do Ciclo de Vida
BMW - Bayerische Motoren Werke
BNDES- Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CH4 – Metano
CO2 – Dióxido de Carbono
DIN - Deutsches Institut für Normung e.V.
EN - European Normative
EoL - End of Life
GM - General Motors
GRI G4 - Global Reporting Initiative
GWP – Global Warming Potential
HP - Hewlett-Packard
ICV - Inventário do Ciclo de Vida
IPCC – Intergovernmental Panel Climate Change
ISO - International Organization for Standardization
LME – London Metal Exchange
NBR - Norma Brasileira
ONU - Organização das Nações Unidas
P&D&I – Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
P+L - Produção mais Limpa
PET – Polietileno Tereftalato
PNPB - Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel
PNRS - Política Nacional de Resíduos Sólidos
PRM – Product Recovery Management
SEE – Social Eco Efficiency
SIF – Sistema de Inferências Fuzzy
SIBR - Sistema Integrado de Bolsa de Resíduos
VAS - Valor Adicional Sustentável
VEA - Valor Econômico Adicional
VERA - Valoração Econômica de Recursos Ambientais
VS - Valor de Spread
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 12
1.1 Contextualização do tema.............................................................................. 12
1.2 Formulação da situação-problema................................................................. 17
1.3 Objetivos da pesquisa.................................................................................... 19
1.4 Questões da pesquisa..................................................................................... 21
1.5 Delimitação e importância da pesquisa........................................................... 21
1.6 Organização da pesquisa................................................................................ 24
2 REFERENCIAL TEÓRICO....................................................................... 28
2.1 Logística reversa............................................................................................ 29
2.2 A responsabilidade social e ambiental das empresas e o conceito de
sustentabilidade..............................................................................................
33
2.3 O reaproveitamento industrial de materiais e resíduos.................................... 35
2.4 Análise e inventário do ciclo de vida do produto.......................................... 38
2.5 Dimensões da sustentabilidade....................................................................... 45
2.6 Indicadores da sustentabilidade...................................................................... 59
2.7 O modelo difuso.............................................................................................. 76
3 METODOLOGIA........................................................................................ 82
3.1 Classificação científica.................................................................................. 82
3.1.1 Quanto aos fins.............................................................................................. 83
3.1.2 Quanto aos meios........................................................................................... 85
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................. 98
5 CONCLUSÕES............................................................................................. 109
5.1 Questões e perspectivas.................................................................................. 111
REFERÊNCIAS........................................................................................... 114
APÊNDICES................................................................................................ 121
12
1 INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização do tema
Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável surgem como temas de debates nos fóruns
internacionais a partir da década de 60. Afirma Cardoso (2011), que o foco principal estava
centrado inicialmente nos problemas do esgotamento dos recursos naturais e do crescimento
populacional como causas da degradação ambiental.
Conforme o autor (op. cit.), soluções iniciais propostas como controle das taxas de natalidade
e monitoramento dos modelos de desenvolvimento econômico de países em desenvolvimento,
causaram grandes controvérsias e questionamentos, incluindo do Brasil, nos quais se viam
conceitos de perpetuação de um modelo econômico e industrial de subordinação ao capital dos
países mais desenvolvidos.
Segundo Oliveira et. al. (2012), até 1972 os estudos sobre o tema tinham como base uma série
de modelos matemáticos de previsões da relação entre crescimento populacional, processo de
industrialização, produção de alimentos e esgotamento dos recursos naturais.
Diante do acelerado processo de degradação ambiental e do agravamento dos problemas
econômicos mundiais em anos subsequentes, Guerra (2005), afirma que diversas alternativas
estratégicas e de maior consenso foram surgindo e sendo aperfeiçoadas na busca de uma
intermediação entre a preservação dos recursos naturais e meio ambiente com um modelo de
desenvolvimento econômico e industrial mais sustentável.
A publicação do Report of the World Comission on Environmental and Development,
conhecido como o Relatório Brundtland nas Organizações das Nações Unidas em 1987, tornou-
se um marco na discussão de um novo modelo de sustentabilidade ao dividir as questões
socioambientais em três grupos, contribuindo para facilitar a abordagem e a busca por soluções
de forma compartilhada (ONU, 1987):
13
Poluição Ambiental;
Redução dos Recursos Naturais;
Problemas de Ordem Social
Sobre este documento, popularmente conhecido como “Nosso Futuro Comum”, Cardoso
(2011) afirma que o conceito de desenvolvimento sustentável é inicialmente formulado e
apresentado como um modelo que buscava satisfazer as necessidades atuais de urbanização,
industrialização e crescimento econômico com o comprometimento de manutenção desta
capacidade para as próximas gerações.
Descreve Demajorovic (1995) que ao final dos anos 60 até o início da década de 90 vão se
incorporando ao debate sobre sustentabilidade, questões relacionadas à gestão e a destinação
final dos resíduos. Estes resíduos, gerados em sua maioria por atividades de consumo à medida
que progredia a renda per capita das populações, aumentava mais que proporcionalmente às
soluções para seu descarte adequado, proporcionando novos questionamentos ao problema
socioambiental: como realizar o descarte adequado, promovendo a recuperação e
reaproveitamento industrial de materiais e resíduos?
Assim surge, conforme o autor (op. cit.), a reciclagem como um componente importante a mais
na análise do ciclo de vida do produto (ACV), sugerindo um sistema circular em lugar de um
sistema linear para a gestão ambiental, onde as quantidades de materiais desperdiçados no
processo produtivo e descartados posteriormente no meio ambiente, adquirem tendências a
reduções gradativas, à medida que quantidades cada vez maiores de materiais e resíduos são
coletados, tratados e reaproveitados nos seus respectivos processos industriais ou em outros
processos como, por exemplo, na incineração para a produção de energia.
Seara; Gonçalves; Azevedo (2013), afirmam que surgem neste período como uma resposta das
empresas e contraposição importante a este cenário, fortes tendências dos mercados à uma
imposição de padrões de consumo massivos e sempre crescentes aos mercados, decorrentes do
processo de globalização e acirramento da concorrência, tendência que se mantém atualmente.
Desta forma, conforme os autores (op. cit.), em um ambiente de contradições, cada vez mais
acentuadas, produtos são fabricados com menores ciclos de vida em busca de menores custos,
o que influencia a qualidade e agrava o problema socioambiental com uma disposição elevada
14
dos resíduos ao final de vida (EoL), tornando crítica a capacidade dos sistemas tradicionais
existentes de absorção de materiais e resíduos. Emerge então uma necessidade de busca por
novas alternativas para a gestão de resíduos, como forma de minimizar os impactos
socioambientais cada vez mais crescentes e graves, sendo uma das soluções tornar viável
econômica e tecnicamente, a logística reversa.
Tendência crescente ao reaproveitamento industrial de materiais e resíduos pós ciclo de vida no
Brasil, pode ser observado no gráfico 1, obtido do 9º Censo da Reciclagem do Polietileno
Tereftalato (PET) realizado pela Associação Brasileira da Indústria do pet, que apresenta
índices de reciclagens crescentes nas duas últimas décadas (ABIPET, 2013).
Gráfico 1 – Evolução dos índices da reciclagem de PET no Brasil. Fonte: ABIPET (2013) – adaptado pelo autor.
Pode-se relacionar a evolução e o desenvolvimento crescente do mercado de reciclagem e
reutilização industrial de PET às determinadas condições consideradas favoráveis do mercado,
que estimulam a coleta, tratamento, beneficiamento e comercialização destes recicláveis? Se
verdadeira esta afirmativa, como as dimensões econômicas, ambientais, sociais e normativas
influenciam estrategicamente as avaliações positivas do setor e quais indicadores melhor
expressariam estas avaliações?
15
A figura 1 aponta para uma nova estratégia com uma base tecnológica nestas avaliações de uma
empresa multinacional no mercado de refrigerantes a partir do reaproveitamento do PET e tendo
como aditivo um outro componente, um polímero desenvolvido a partir da biomassa da cana
de açúcar.
PET Padrão
PET Plant Bottle
=
Figura 1 – Diagrama de produção de nova embalagem PET.
Fonte: COCA-COLA (2015) – desenvolvido pelo autor.
Outro exemplo significativo da tendência no mercado brasileiro para o reaproveitamento de
materiais pós ciclo de vida útil, pode ser verificado no gráfico 2, o qual apresenta com base no
Relatório de Sustentabilidade da Associação Brasileira do Alumínio para o ano de 2012, a
evolução da reciclagem das latas de alumínio nos mercados globais e no Brasil, incluindo este
último como líder neste mercado (ABAL, 2012).
Componente A
70%
Componente B
30%
Resina do PET
Componente A
70%
Material a base de biomassa da
cana de açúcar + etanol
30%
Resina do PET
16
Gráfico 2 - Reciclagem de latas de alumínio no mundo.
Fonte: ABAL (2012) – adaptado pelo autor.
Laurent et. al. (2014) afirmam que a disposição de resíduos em todo o mundo vem se elevando
mais que proporcionalmente às soluções apresentadas para sua disposição final adequadas e
volumes de reaproveitamento industrial. A tabela 1 a seguir apresenta o volume estimado em
2014 e a previsão para os próximos 30 anos:
Tabela 1- Geração de resíduos globais.
Ano
Volume de Resíduos Sólidos Globais (T/ano)
2014
17bi T/a
2050
27bi T/a
Fonte: LAURENT ET. AL. (2014) – desenvolvido pelo autor.
Esta constatação nos leva a formulação das três situações-problemas que são descritas a seguir.
17
1.2 Formulação da situação-problema
O primeiro problema que se apresenta para resolução pela pesquisa é como a ampliação dos
volumes para reciclagem e reaproveitamento industrial de materiais e resíduos pós ciclo de vida
útil, a logística reversa, pode ser viável técnica e economicamente para as empresas.
Conforme descreve Dowlatshahi (2000), a logística reversa vem ganhando uma maior
importância estratégica para as empresas, sendo apresentada como um negócio lucrativo e que
proporciona uma imagem de sustentabilidade ao mercado. Empresas que atuam no mercado
brasileiro como HP, GM, BMW, DuPont, Delphi e outras, realizam processos de logísticas
reversas já alguns anos para o reaproveitamento industrial de peças, componentes e materiais
de seus próprios produtos.
Para Pitta Junior et. al. (2009), entretanto, a logística reversa na empresa só adquire uma forte
sustentabilidade, quando a soma de todos os custos das operações necessárias à reversibilidade
dos produtos e materiais e dos processos para seu reaproveitamento, são menores ou apresentam
tendências futuras a serem menores do que os custos da matéria prima e do processo original.
Sendo assim, os custos logísticos reversos, os quais são os custos que envolvem as operações
de coleta seletiva, transporte, separação, armazenagem, tratamento e beneficiamento dos
materiais recicláveis, devem apresentar menores custos do que os valores de comercialização
final do novo produto com conteúdo reciclado.
Estes autores (op. cit.) concluem que as operações de logística reversa, realizadas em sua
maioria por cooperativas de catadores, devem proporcionar economias de escala, sendo
necessário que as empresas invistam ao longo das diversas etapas que compõem a cadeia
reversa para a agregação de valor, tornando-se assim um caminho adequado para a
sustentabilidade do sistema.
A segunda situação problema é exposta por Gutberlet (2012) e está relacionada às receitas
adquiridas pelas empresas com a reciclagem e o reaproveitamento industrial de materiais e
resíduos. Estas receitas, extremamente significativas e com tendências a serem crescentes nas
duas próximas décadas, estão sendo incorporada diretamente aos lucros das empresas e não
18
reinvestidas na base dos stakeholders da empresa relacionados a estas operações. Promover o
direcionamento destes recursos principalmente às cooperativas de reciclagem ao longo das
etapas fundamentais: educação ambiental, coleta seletiva, disponibilidade de tecnologias e
equipamentos para seleção, tratamento e beneficiamento dos materiais recicláveis é uma das
situações que a pesquisa busca resolver.
Na tabela 2 abaixo, podemos verificar as receitas estimadas no ano de 2012 e as projeções para
as duas próximas décadas.
Tabela 2 - Receita global com a logística reversa.
Ano Receita Global
2012
US$ 800 mi/ano a US$ 2 bi/ano
2020 - 2030
US$ 5 bi/ano
Fonte: GUTBERLET (2012) – desenvolvido pelo autor.
Uma terceira situação-problema situa-se na dimensão social e estratégica do modelo proposto
pelo trabalho: a geração de emprego e renda no setor atual de reciclagem e a promoção da
inclusão social e econômica do catador de recicláveis no mercado formal de trabalho.
Para o autor (op. cit.), apesar do mercado brasileiro de reaproveitamento industrial de materiais
e resíduos movimentar anualmente uma receita significativa, sendo o meio de trabalho e de
sustento de 1% da população brasileira, ou seja, 2.000.000 de pessoas vivem da reciclagem,
50% desta mão de obra atua na informalidade, sendo a renda per capita em média deste
trabalhador de um salário mínimo.
O potencial para implantação de políticas públicas para a geração de emprego e renda a partir
do setor de reciclagem e reaproveitamento de materiais, pode ser visto na tabela 3 a seguir.
Tabela 3 - Nível de emprego no setor de reciclagem - Brasil.
Total do nº de empregados nas atividades de
recuperação de materiais no Brasil (2012)
Nº de empregados informais nas atividades de
recuperação de materiais no Brasil (2012)
1% da população brasileira ou 2.4 milhões de pessoas 50% ou 1.2 milhões de pessoas
Fonte: GUTBERLET (2012) – desenvolvido pelo autor.
19
A respeito da formação de economias de escalas e geração de emprego e renda a partir da
reciclagem e reaproveitamento de materiais, Jacobi e Besen (2011) quanto Gutberlet (2012)
afirmam que a formação de acordos setoriais para planejamento e execução de operações de
logísticas reversa com a inclusão das cooperativas de catadores nos processos, proporcionam
uma ótima condição para a ampliação das metas de responsabilidade social das empresas,
principalmente em torno do conceito de empresa sustentável, criando uma imagem positiva da
empresa junto ao mercado. Ao mesmo tempo, a geração de trabalho e renda para populações
estigmatizadas pelo mercado de trabalho informal, atuaria como fator de potencialização de
políticas públicas de combate à pobreza e à marginalidade.
1.3 Objetivos da pesquisa
O objetivo principal é analisar as dimensões estratégicas para proposição de um índice de valor
adicional sustentável de avaliação de projetos de reciclagem de alumínio.
Conforme descrito por Amaral (2003), as dimensões estratégicas devem ser representativas dos
diversos interesses das partes que compartilham os riscos do negócio (stakeholders), sendo
definidas, a partir de modelos já consagrados pelas empresas de avaliação de projetos de
responsabilidade socioambiental.
Tomando como base o modelo Triple Bottom Line, recomendado pela ONU e descrito em Lima
(2007) e Oliveira et. al. (2012), trabalha-se a questão do valor adicional sustentável à partir da
sustentabilidade nas três dimensões: econômica, ambiental e social, acrescidas de uma quarta
dimensão, a normativa, dada a observação de que a percepção de um valor adicional sustentável
pela empresa e partes interessadas, sugerem que a adição de conteúdo reciclado ao novo
produto, obteve conformidades com as normas ambientais e a qualidade de aceitação pelo
mercado.
20
Os objetivos secundários da pesquisa são:
Comparar, demonstrar e comprovar pela modelagem difusa, a hipótese de que a reciclagem e a
utilização industrial crescente de conteúdo reciclado na fabricação de novos produtos, altera
significativamente o comportamento dos impactos ambientais e valores econômicos adicionais,
respectivamente, as emissões e custos do alumínio primário e da sucata de alumínio,
consequentemente, afetando a ecoeficiência do produto final com conteúdo reciclado, tornando
menos atraente a sua utilização do ponto de vista ambiental, econômico, social e normativo
para a empresa.
Conforme definido por Talmasky; Tavares (2012), a responsabilidade socioambiental para as
empresas sempre será uma conjugação harmoniosa entre uso eficiente dos capitais,
produtividade e lucratividade, dada uma disponibilidade atual dos recursos naturais. No caso
da reciclagem e utilização de conteúdo reciclado em seus produtos, do ponto de vista da
responsabilidade socioambiental da empresa, requer o desenvolvimento de tecnologias e
investimentos significativos, os quais conduzem à uma reavaliação dos processos industriais e
tecnológicos e à uma reestruturação nos procedimentos gerenciais, técnicos e de recursos
humanos, mudanças culturais significativas nos ambientes internos e externos da empresa e que
conforme afirmam Figueiredo; Moynier; Rocha, (2013), requer a imersão da logística reversa
no seu planejamento estratégico.
Isto conduz o trabalho aos objetivos secundários de demonstrar que a aplicação da modelagem
difusa sob uma ótica estratégica na dimensão social é capaz de provocar modificações
significantes no comportamento final do sistema, tornando mais atraente para as empresas a
reciclagem e a utilização de conteúdo reciclado, anteriormente limitados pela ecoeficiência e
pelos impactos ambientais e custos econômicos adicionais.
A avaliação da responsabilidade social da empresa no desenvolvimento do novo produto com
conteúdo reciclado, demonstra que investimentos em tecnologias e inovações e, na base dos
seus stakeholders, contribuem para um maior Valor Adicional Sustentável final.
21
1.4 Questões da pesquisa
A primeira questão que a pesquisa busca responder diz respeito a definição de um modelo de
sustentabilidade que reflita as avaliações das empresas na implementação da logística reversa e
na utilização de conteúdos recicláveis em seus respectivos processos industriais.
Segundo Maia; Romeiro; Reydon (2004), um modelo de sustentabilidade tem como condição
necessária, fornecer informações consistentes ao mercado sobre as relações interdependentes
entre o desenvolvimento econômico, uso dos recursos naturais e o estágio atual dos impactos
socioambientais da empresa.
Uma segunda questão, diz respeito à criação de indicadores e métricas na busca por um Valor
Adicional Sustentável final, atribuindo valores econômicos a uma hipotética eficácia
socioambiental das ações de logística reversa implementadas e da utilização de conteúdo
reciclado pelas empresas.
Conforme descrevem Medeiros; Mello; Campos Filho (2007), as avaliações das dimensões
social e ambiental da empresa sobre os reais impactos ambientais, econômicos e sociais
adicionais são cercadas por subjetividades e incertezas, sendo expostos a diferentes juízos de
valor e mudanças de contextos ao longo do tempo de maturação dos projetos.
1.5 Delimitação e importância da pesquisa
Na abordagem da logística reversa, a pesquisa foi delimitada as análises da Reciclagem e da
Reutilização de conteúdo reciclado no novo produto, não aprofundando-se em questões mais
complexas referentes à disposição e reaproveitamento de conteúdo reciclado de materiais e
resíduos realizados em sistemas e circuitos abertos ou fechados, o que influencia, segundo
Nicholson et. al. (2009), nas mensurações e alocações dos impactos ambientais adicionais sobre
22
o ICV dos produtos. Não são abordadas questões sobre a Reeducação do Consumo, ou seja, a
Educação Ambiental, nem questões referentes a reutilização de peças e componentes por
desmontagem e upgrades dos produtos.
A utilização como referenciais das Análises de Ciclo de Vida (ACV) e de Inventários do Ciclo
(ICV), foram delimitadas na consideração por parte das empresas de uma abordagem
estratégica com Reciclagem ao Final de Vida, conforme descrito em Vogtländer; Brezet;
Hendriks (2001) e utilizado por Frischknecht (2010) no desenvolvimento de suas análises e
funções determinísticas.
Os indicadores da dimensão ambiental estratégica, ficaram delimitados na mensuração de
energia e emissões, normalizados por kg CO2 eq- por kg de material, conforme recomendado
por Kratena (2004) de realizar uma abordagem biofísica. As emissões normalizadas foram
utilizadas por Frischknecht (2010) para demonstrar o comportamento das variáveis econômicas
e ambientais, frente as adições crescentes de reciclagem e utilização de conteúdo reciclado para
fabricação do novo produto.
O indicador na dimensão econômica de forma estratégica, seguiu as recomendações de Figge;
Hahn (2004) e Figge; Hahn (2005), delimitando-se a uma abordagem sob o ponto de vista da
avaliação do custo de oportunidade de ambos os materiais, com ou sem conteúdo reciclado
considerando como custos internos relevantes, segundo Shonnard; Kicherer; Saling (2003) para
a comparação de produtos, os preços de comercialização nos respectivos mercados.
Não foram considerados os custos com a logística reversa do conteúdo reciclado, tomando
como base as afirmações de Daher; Silva; Fonseca (2006) de que estes podem ser abordados de
forma agregada ao Custeio do Ciclo de Vida Total do novo produto.
Esta delimitação foi reforçada pela complexidade de se analisar custos sob um efeito “cascata”,
conforme descrito por Vogtländer; Brezet; Hendriks (2001), idas e vindas do produto e do
conteúdo reciclado no interior dos ciclos de vida e dos inventários próprios ou de terceiros
produtos.
As atividades do final de vida do produto, como as atividades de reciclagem e de
destinação final do resíduo, tais como o tratamento, transporte e destinação final, ou
seja, a logística reversa, se causam impactos ambientais e custos, devem ser atribuídos
23
a qual produto na cascata de fabricação e utilização?1 (VOGTLÄNDER; BREZET;
HENDRIKS, 2001).
Também não foram considerados os potenciais custos de produção do novo produto com
conteúdo reciclado, considerando as afirmações de Dowlatshahi (2000) de que a tendência
inicial da empresa é utilizar tecnologias de produção já existentes para a redução de custos e
como forma de aprendizado na P&D&I de novos produtos.
Na abordagem da dimensão social do modelo, a ecosocial eficiência final do produto está
relacionada a Responsabilidade Social da empresa, conforme descreve Schaffel (2010),
sofrendo os indicadores comparações em busca de similaridades mas com mudanças
significativas em relação ao recomendado para indicadores sociais por modelos existentes,
como o Global Report Initiative (GRI G4, 2015) e o SEE Balance (BASF, 2015), dado o foco
da pesquisa analisar somente os impactos sociais associados a implementação de acordos
setoriais para o desenvolvimento de ações de logísticas reversas e ao cooperativismo,
principalmente, os potencias e positivos efeitos destes dois indicadores sobre a formação de
economias de escala e para a redução de custos para as empresas com a geração de emprego e
renda no setor de reciclagem.
Desta forma, a inclusão dos indicadores de Associativismo e Cooperativismo partiu do
estabelecimento de uma similaridade entre os indicadores sociais propostos pelo SEE Balance
da BASF e as recomendações do GRI G4 e a Lei 12.3005 de 2010 que instituiu a Política
Nacional de Resíduos Sólidos no Brasil.
Os indicadores na abordagem da dimensão normativa estratégica do modelo, foi delimitada ao
estabelecimento de uma correlação entre os padrões e requisitos mínimos recomendados pelas
normas ABNT NBR ISO 14040 – 14044 para a ACV e ICV e o novo produto com conteúdo
reciclado com o objetivo de identificar parâmetros e referenciais estratégicos da empresa para
a inclusão de uma abordagem de Reciclagem ao Final do Ciclo de Vida e fornecer subsídios
para futuros estudos e pesquisas sobre o tema proposto por este trabalho (ISO, 2001).
1 Tradução livre do autor.
24
Na definição do Valor Adicional Sustentável, a relação entre economia e meio ambiente,
apresentou uma dicotomia sobre qual variável deveria ser fixada no denominador da expressão
para o cálculo da ecoeficiência, segundo o método recomendado por Zhang et. al. (2008):
Quando quer se avaliar a alocação eficiente dos recursos ou a utilização de
determinada tecnologia, o correto é utilizar no denominador da relação entre
economia e meio ambiente, o valor econômico adicional (ZHANG et. al., 2008).2
Posterga-se assim a estudos subsequentes, uma análise integrada da ecoeficiência sobre os dois
focos, econômico e ambiental.
1.6 Organização da pesquisa
O referencial teórico inicia apresentando um panorama resumido da problemática de gestão dos
resíduos sólidos em todo o mundo e introduz dois instrumentos conceituais básicos para o
desenvolvimento do tema da pesquisa: a Logística Reversa e a Análise do Ciclo de Vida
(ACV).
O subcapítulo 2.1 analisa a logística reversa em suas fundamentações legais, os requisitos para
uma gestão integrada e problemas existentes ao longo das etapas do processo reverso sendo
apresentadas para discussão as condições fundamentais para alcance da sustentabilidade frente
ao posicionamento atual das empresas e potenciais incentivos para o desenvolvimento,
implementação e eficácia da logística reversa.
O subcapítulo 2.2 esclarece como evoluiu o debate das questões sobre Meio Ambiente e
Sustentabilidade para a questão da Responsabilidade Social e Ambiental das Empresas.
O subcapítulo 2.3 descreve os diversos modos de reaproveitamento industrial de materiais e
resíduos e os potenciais econômicos da reciclagem sob as formas de produção de energia,
economia com custos de aquisições de matérias primas e redução de desperdícios, além da
2 Tradução livre do autor.
25
contribuição positiva para a imagem da empresa de responsabilidade social e ambiental junto
ao mercado.
O subcapítulo 2.4 aborda a Análise e Inventário do Ciclo de Vida do Produto sob a perspectiva
dos 4 R da Logística Reversa, análise crítica de algumas soluções existentes para o problema
de destinação final dos resíduos, apresentando a Reciclagem ao Final de Vida como a solução
estratégica e potencial mais adequada do ponto de vista ambiental, econômico, social e
normativo para as empresas e para a sociedade. Descreve também a complexidade que envolve
o levantamento de dados para o Inventário do Ciclo de Vida (ICV) dos produtos e seus reflexos
na análise de sustentabilidade o sistema final.
O subcapítulo 2.5 inicia a abordagem para a obtenção de um Índice de Valor Adicional
Sustentável com a inclusão da Reciclagem ao Final de Vida, a partir das interações do modelo
Triple Bottom Line e suas dimensões: ambiental, econômica e social, acrescida de uma quarta,
a normativa ou de conformidade a ser exigida ao novo produto com conteúdo reciclado.
A dimensão ambiental é apresentada inicialmente sob a perspectiva de utilização das fontes de
energia, renováveis e não renováveis para demonstrar o desgaste dos modelos atuais de
produção sob a ótica do conceito de sustentabilidade e a necessidade de trabalhar o conceito
este mesmo conceito em busca de novos processos e produtos.
A análise da dimensão econômica apresenta as diversas formas de capital atuante da empresa e
a sua busca por alocações mais eficientes dos recursos sob a perspectiva de avaliação do custo
de oportunidade. A inclusão da reciclagem e utilização de conteúdo reciclado são descritas
como uma forte estratégia de busca pelas empresas por sustentabilidade no médio e longo prazo.
A dimensão social aborda inicialmente severas críticas ao tecnicismo atual de soluções
apresentadas para a resolução das questões de gestão de resíduos, que relegam a um segundo
plano as dimensões sociais e seus impactos de implementação, tais como a incineração.
Defende-se assim um novo pacto social em torno do associativismo das empresas e da inserção
das cooperativas de reciclagem nos processos logísticos reversos para definição de um modelo
de avaliação da sustentabilidade com base no conceito de Economia Solidária e geração de
26
emprego e renda em torno da reciclagem e do reaproveitamento de materiais e resíduos ao final
dos seus ciclos de vida.
A reciclagem é apresentada como uma poderosa ferramenta no apoio à implantação de políticas
públicas de geração de emprego e renda nas camadas mais pobres da população e na reversão
do grave quadro de degradação social e ambiental atual. Busca-se assim posicionar a hipótese
de que a responsabilidade social proporciona um valor adicional sustentável final para as
empresas.
A análise da dimensão normativa do modelo tem por objetivo proporcionar ao pesquisador uma
ferramenta para a obtenção de dados, padrões e parâmetros técnicos, econômicos, ambientais e
sociais que justifiquem a utilização de conteúdo reciclado pela empresa nos processos
industriais de fabricação de novos produtos.
Em 2.6 apresenta-se a estratégia de definir inicialmente unidades funcionais de benefícios aos
clientes para obtenção dos indicadores de sustentabilidade. Os indicadores ambientais
apresentam como base e referência o modelo SEE Balance da BASF cuja metodologia passa a
ser descrita para permitir posteriormente a compreensão da análise do comportamento das
métricas de fluxos normalizados de energia e emissões, frente a reciclagem e utilização de
conteúdo reciclado no processo de fabricação do alumínio.
São também descritos os indicadores sociais de associativismo e cooperativismo, cujas métricas
tem como base checklists desenvolvidos e validados por especialistas para a mensuração do
grau de efetividade dos acordos setoriais na viabilização de ações de logística reversa e do grau
de inserção e especialização das cooperativas de reciclagem nas diversas etapas que compõem
esse processo, permitindo compreender a importância da dimensão social e do indicador de
responsabilidade social para a obtenção de um valor adicional sustentável final para a
reciclagem e utilização industrial de conteúdo reciclado pelas empresas.
O indicador e métrica normativos são descritos para estabelecer uma relação entre a utilização
de determinado percentual de conteúdo reciclado do novo produto e a conformidade técnica,
econômica, ambiental e social exigida pela legislação e mercado, a partir de um checklist,
desenvolvido para a pesquisa e validado por especialistas com base nos padrões e requisitos
mínimos das normas ABNT NBR ISO 14040-14044.
27
Em 2.7 é apresentado a metodologia fuzzy ou difusa, suas características e funcionalidades,
assim como a contribuição proporcionada pela sua aplicação à pesquisa.
O capítulo 3 apresenta a metodologia utilizada na pesquisa com 3.1 apresentando a classificação
científica: quanto aos fins e quanto aos meios, as bases teórico-conceituais da pesquisa
qualitativa, as bases de dados utilizados na pesquisa quantitativa e o método utilizado na
aplicação da modelagem fuzzy.
Os resultados e discussões da aplicação da modelagem difusa são apresentadas no capítulo 4.
O capitulo 5 apresenta as conclusões do trabalho com 5.1, descrevendo as questões em aberto
para futuros estudos e análises.
O capítulo 6 apresenta as referências bibliográficas utilizadas no trabalho.
O capítulo 7 apresenta nos Apêndices A, B e C as funções determinísticas que serviram de base
na modelagem difusa para as dimensões ambiental e econômica do modelo proposto. No
Apêndice D é apresentado um quadro do levantamento bibliográfico realizado pelo pesquisador
e no Apêndice E a ficha técnica do sistema de inferência fuzzy utilizado no trabalho.
28
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Segundo Laurent et. al. (2014), atualmente a geração de resíduos sólidos totais por ano em todo
o mundo ultrapassa 17 bilhões de toneladas, sendo que 1.3 bilhões são produzidos no meio
urbano à partir da geração de bens de consumo. A estimativa é que o total de resíduos gerados
até a metade do século XXI alcance 27 bilhões de toneladas/ano, tornando-se um sério problema
ambiental a sua gestão e destinação final de forma adequada.
Dento deste contexto, a reciclagem e a produção industrial com conteúdo reciclado passa a ser
abordada como uma solução, estabelecida sobre a base de dois instrumentos conceituais
importantes: a Logística Reversa, a qual, conforme Daher; Silva; Fonseca (2006), conceituam
são todas as operações relacionadas com a reintrodução de produtos e materiais aos ciclos
produtivos e as Análises do Ciclo de Vida do Produto (ACV).
Para Figge; Hahn (2004), Figge; Hahn (2005) e Frischknecht (2010) ao incluírem a Logística
Reversa ao Ciclo de Vida do Produto, as empresas visam o custo de oportunidade de manterem
estoques de capitais naturais, críticos e estratégicos, na busca por uma forte sustentabilidade
para seus negócios.
Desta forma, o Valor Adicional Sustentável final, perceptível para as partes que compartilham
o risco do negócio da empresa, sua base de stakeholders, tem como foco um valor econômico
adicional sob a forma sustentável para todas as dimensões estratégicas do modelo (FIGGE;
HAHN, 2005):
A dimensão econômica é abordada sob a ótica do custo de oportunidade (FIGGE;
HAHN, 2004);
A dimensão ambiental sobre a análise dos fluxos líquidos de energia e emissões
normalizados em kg CO2 eq- (FRISCHKNECHT, 2010);
A dimensão social relacionando a responsabilidade social da empresa aos investimentos
sociais em sua base de stakeholders, em busca da ecosocial eficiência (SCHAFFEL,
2010);
29
A dimensão normativa, referente as adequações e conformidades às normas legais e
ambientais de certificação e aceitação pelo mercado do novo produto. (FINKBEINER,
2006).
2.1 Logística reversa
Guerra (2005), afirma que o princípio do Poluidor Pagador no Direito Ambiental veio
demonstrar às empresas que não podem atuar no mercado sem restrições de forma a não
responder pelos impactos ambientais, sociais e econômicos de suas atividades, adotando
práticas industriais e econômicas em detrimento da qualidade do meio ambiente.
Desta forma, tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas, devem arcar com os custos adicionais
necessários para eliminar ou reduzir os impactos ambientais em suas atividades econômicas,
incluindo as atividades de consumo. Uma gestão integrada e sustentável para o problema dos
resíduos sólidos, deve ter como foco o modelo dos 4 R: redução na extração de matérias primas
com a reutilização de conteúdo reciclado de materiais, reutilização de peças, componentes e
materiais, partes do produto, que são então reintegrados ao processo produtivo, a reeducação
do consumo por meio da educação ambiental e a reciclagem como estratégia na disposição ao
Final do Ciclo de Vida do Produto (VOGTLÄNDER; BREZET; HENDRIKS, 2001).
Segundo Daher; Silva; Fonseca (2006), as diversas operações de um fluxo reverso, compõem
o que se denominou de PRM – Product Recovery Management ou Gestão de Recuperação de
Produtos, definida como sendo uma responsabilidade compartilhada, social e ambiental da
empresa pelo ciclo de vida do seu produto, seja sob a forma contratual, legal ou sob outro
qualquer formato de gerenciamento dos seus produtos, componentes (inclusas as embalagens)
e materiais (inclusos resíduos), utilizados e descartados ao final de vida ou pós consumo.
A este propósito, a Lei Federal 12.305 de 2010, regulamentada pelo Decreto Federal 7.404/10
que estabeleceu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, tornou obrigatória a disposição
adequada de materiais e resíduos descartados ao final do ciclo de vida útil, fortalecendo os
30
princípios da gestão integrada, propondo a formação de sistemas de responsabilidade
compartilhada entre produtores e consumidores, incluindo acordos setoriais com participação
das cooperativas de reciclagem (BRASIL, 2010).
Entretanto, como afirmam Jacobi e Besen (2011), a etapa fundamental para a efetividade do
processo reverso, a qual é a coleta seletiva, apresenta dificuldades para uma coordenação
integrada entre as diversas partes que compartilham o risco da empresa (sua base de
stakeholders) e os diversos canais de distribuição reversos.
Um dos fatores para esta afirmativa, segundo Gutberlet (2012), é a não inclusão social e
econômica pelas empresas no interior dos processos das cooperativas de reciclagem,
responsáveis pela maior parte dos volumes coletados e a ausência de investimentos públicos e
privados, necessários para uma viabilização técnica e operacional.
O importante mecanismo para eficácia da ação integrada na abordagem da logística reversa, a
inclusão das cooperativas de catadores de materiais recicláveis nos acordos setoriais, é
recomendada juridicamente pelo Decreto Federal 7.405 de 23 de dezembro de 2010 que criou
o Programa Pró Catador (BRASIL, 2010).
O principal objetivo do Programa Pró Catador é tornar a atividade um mecanismo gerador de
empregos, renda e inclusão social do catador no interior dos processos de logísticas reversas
(BRASIL, 2010).
Para Giovannini; Kruglianskas (2008), a logística reversa deve atender algumas condições
fundamentais para obter sustentabilidade no médio e longo prazo:
Agregação de valor em todas as etapas do ciclo reverso do produto;
Seleção e tratamento de forma adequada de materiais e resíduos de forma a alcançar
padrões de qualidades exigidos para os fins industriais a que se destinam;
Economias de escala, ou seja, volumes que justifiquem uma atividade de cunho
empresarial compatível com os seus custos logísticos;
Demanda estável do mercado para os recicláveis.
31
Tanto Jacobi; Besen (2011) quanto Slivnik; Falvo; Sato (2012), concordam que dentre os
maiores obstáculos para esta efetividade, está o de manter a viabilidade econômica e gerencial,
ou seja, agregação de valor, economia de escala e capacidade de geração de renda interna,
proporcionando a sustentabilidade exigida.
Deriva daí a importância de se avaliar no indicador social, o nível de inserção e especialização
das cooperativas de reciclagem no interior dos processos de logística reversa ao longo das
diversas etapas operacionais que compõe a cadeia de reaproveitamento de materiais.
A importância da logística reversa e a criação de um mercado estável para os conteúdos
recicláveis, pode ser entendido a partir do surgimento das Bolsas de Resíduos, iniciativas das
Federações de Indústrias em diversos Estados brasileiros, as quais têm o intuito de contribuir
de atuar como intermediadoras nas negociações entre cooperativas, empresas beneficiadoras e
empresas industriais, compradoras finais do produto (SIBR, 2015).
Shibao; Moori; Santos (2010), afirmam que o setor empresarial vem despertando grande
interesse para o controle sobre os ciclos de vida dos seus produtos (ACV) e da logística reversa.
O controle da produção até a destinação final das embalagens e resíduos gerados pós-consumo
e o seu reaproveitamento industrial, estão sendo considerados métodos para economia de custos
com matérias primas ou de geração de energia nos processos. Ao mesmo tempo, a empresa
busca um reconhecimento no mercado como empresa de responsabilidade social e ambiental,
contribuindo este fator para ampliação do market share (SHIBAO, MOORI E SANTOS, 2010).
Giesta (2009), esclarece quais conceitos, teorias e práticas são discutidas como prioridades em
relação ao tema socioambiental no interior das empresas:
Desenvolvimento de tecnologias limpas de produção (P+L);
Sistemas de controle da poluição, tipo end of pipe, ecodesign de produtos e embalagens,
marketing verde e logicamente, a certificação ambiental no cumprimento dos requisitos
legais.
A não inclusão da logística reversa como prioridade nas empresas, pode ser explicado em
Dowlatshahi (2000) e Figueiredo; Moynier; Rocha (2013), quando afirmam que as operações
32
de logísticas reversas à medida que se tornam mais usuais e complexas, impactam diretamente
no planejamento estratégico em todos os setores da empresa, influenciando a Supply Chain
Management dos fluxos convencionais, tornando assim necessária a sua inserção no
planejamento estratégico.
Estudos de casos comprovam que o controle e o planejamento da capacidade normal da empresa
não são capazes de gerir com eficiência as necessidades que se originam dos volumes de
material recuperado e reutilizado, podendo ocorrer incertezas no fornecimento, transporte e
armazenamento, sendo estas as áreas que mais necessitam de estudos de reengenharia
(DOWLATSHAHI, 2000).
Portanto, faz sentido defender que estas etapas logísticas fiquem a cargo das cooperativas de
reciclagem através de investimentos sociais na base de stakeholders das empresas
(SCHAFFEL, 2010).
Figge; Hahn (2004) e Figge; Hahn (2005), concluem que um simples ato de apoio das empresas
à reciclagem pode ocultar estratégias de distanciamento entre o conceito de sustentabilidade e
reais práticas operacionais da empresa no mercado.
A importância de se analisar a logística reversa sobre a perspectiva da sustentabilidade e da
responsabilidade socioambiental das empresas, pode ser justificada por:
...ao se ampliarem os volumes de reciclagem e seu reaproveitamento industrial, os
volumes de produção da indústria podem vir a ser estimulados como consequência da
elevação das margens de lucro, fenômeno nomeado como “efeito rebote”, anulando
desta forma os benefícios socioambientais do reaproveitamento do material ou
resíduo.3 (FIGGE; HAHN, 2004 e FIGGE; HAHN, 2005).
3 Tradução livre do autor.
33
2.2 A responsabilidade social e ambiental das empresas e o conceito de sustentabilidade
Segundo Schaffel (2010), o Relatório Brundtlant em 1987 consagrou a ideia de que crescimento
econômico e proteção ambiental não seriam incompatíveis. Em 1992, a Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento ocorrida no Rio de Janeiro foi um marco para
o movimento de Responsabilidade Social Corporativa. Surge então o conceito de ecoeficiência
proposto basicamente por empresas e para empresas.
No entanto, do ponto de vista da dimensão social, Figueiredo; Moynier; Rocha (2013), afirmam
que um maior acesso à informação, proporcionado pelo processo de globalização e os avanços
no setor de comunicações nas três últimas décadas, trouxe como consequência uma sociedade
mais preparada, exigente e consciente quanto ao consumo de recursos naturais e aos impactos
sociais e ambientais decorrentes do processo de industrialização crescente e do modelo de
desenvolvimento econômico atual.
A responsabilidade social e ambiental que passou a ser exigida às empresas, conduziram os
processos de gestão não apenas a uma preocupação com os problemas existentes, mas também
ao desenvolvimento de programas e ferramentas em torno do conceito de sustentabilidade
(FIGUEIREDO; MOYNIER; ROCHA, 2013).
Em Pedrini (2008), encontramos os cinco eixos orientadores da empresa na implementação e
gestão de projetos de responsabilidade social e ambiental:
Criação de um valor adicional;
Busca pela ecoeficiência;
Atuação em todas as etapas do Ciclo de Vida do Produto;
A realização de investimentos sociais;
A promoção da educação ambiental.
Ao se defender a incorporação da responsabilidade social no planejamento estratégico e no
gerenciamento de projetos, busca-se reduzir a distância entre a empresa e a base de stakeholders
da sociedade mais afetada pelos seus negócios (FIGUEIREDO; MOYNIER; ROCHA, 2013).
34
Para Selig; Ávila Lerípio; Viegas (2012), as empresas assumiram um papel proativo e
estratégico ao realizarem mudanças em suas avaliações do ponto de vista das dimensões social
e ambiental. Antes centrada apenas na metodologia de avaliação dos impactos ambientais e nos
relatórios de sustentabilidade, passaram a uma abordagem centrada no processo de cisório e
voltada a objetivos específicos, adquirindo um caráter de interatividade, a partir do pressuposto
de que somente a informação técnica não exerce influência positiva sobre o processo de tomada
de decisão, mas sendo acrescida de outros aspectos, tais como, o conflitos de valor,
significativos níveis de incertezas, subjetividade, relações de poder assimétricas, cultura
política e negociações na base dos stakeholders direta ou indiretamente afetados por estas
decisões.
Para Figueiredo; Moynier; Rocha (2013), segundo a Teoria das Externalidades, existe um efeito
externo quando uma empresa produz ou quando o consumo de seus produtos afetam o padrão
de vida da sociedade. No que se refere ao reconhecimento deste fenômeno enquanto atuante
sobre a gestão das empresas, também se reconhece a responsabilidade social frente as demandas
atuais por sustentabilidade.
Schaffel (2010) e Mamede (2013) concordam que diversas são as vantagens econômicas para
as empresas da implementação da responsabilidade social e ambiental em busca da
sustentabilidade com foco de investimentos na base de seus stakeholders:
Aumentar o conhecimento das expectativas das partes interessadas e da empresa em
relação ao tipo de projeto ou negócio;
Melhorar a gestão de riscos e imagem da empresa no mercado;
Construir relações de confiança e fidelização do mercado;
Potencializar as decisões e ações das partes interessadas que têm impacto nas
organizações e na sociedade;
Permitir reunir recursos (conhecimento, pessoas, fundos e tecnologia) para a resolução
conjunta de problemas;
Contribuir para um desenvolvimento mais equitativo e sustentável, dando oportunidade
de expressar a sua opinião àqueles que de outra forma seriam silenciados.
Giacchetti; Giacchetti; Monken (2014), afirmam que nos últimos anos foram criados diversos
modelos, metodologias e técnicas no apoio à avaliação da sustentabilidade. Entre as principais
são relacionadas:
35
Modelos que incorporam os fluxos biológicos ao processo econômico, denominado de
capitalismo natural;
Modelos de Economia Verde;
Ecossocialismo;
Modelos de Economia Solidária.
Segundo Schaffel (2010) e Gutberlet (2012) um modelo com foco no social com base no
associativismo entre as empresas e cooperativismo entre os trabalhadores na busca de soluções
integradas para a questão da gestão e destinação dos resíduos sólidos sob a forma da reciclagem
e reaproveitamento de materiais, se constitui em uma importante ferramenta para políticas
públicas de geração de emprego e renda.
2.3 O reaproveitamento industrial de materiais e resíduos
Afirmam Singh et. al. (2014) que os materiais e resíduos pós consumo de produtos (embalagens
em sua maioria), eram considerados até alguns anos, desperdícios, custos e problemas para as
empresas. Com o processo de globalização e o acirramento da concorrência por mercados,
passaram a ser percebidos como fonte de redução dos custos de extração e produção,
reaproveitamento na fabricação de novos produtos ou como fontes geradoras de energia, através
da incineração nos processos.
Entre exemplos da nova visão, dados pelos autores (op. cit.) estão:
A energia recuperada em determinados processos térmicos de reciclagem de materiais,
a qual reduz o custo energético de tecnologias convencionais de produção;
A reciclagem e a reutilização de materiais como, por exemplo, alumínio e plásticos, as
quais podem conter a expansão desenfreada na extração de matérias primas e na
produção de polímeros a partir de combustíveis fósseis.
Para Maia; Romeiro; Reydon (2004), diversos modelos de avaliação como o VERA –
Valoração Econômica de Recursos Ambientais, têm sido utilizados para elaborar estatísticas
36
consistentes, capazes de fornecer informações e evidências para a empresa da relação entre
meio ambiente e desenvolvimento econômico com base no valor de uso ou da opção de não uso
dos recursos naturais. O processo de reciclagem de latas de alumínio representa uma das
aplicações do modelo VERA, visto que considera os conceitos de valor de uso e valor de não
uso dos recursos naturais em suas avaliações.
Segundo Shibao; Moori; Santos (2010), a reciclagem do alumínio, significa um ganho em
eficiência energética para o setor, devido em grande parte à razão das empresas manterem-se
presentes e atuantes sobre todo o ciclo de vida deste produto.
A utilização de conteúdo reciclado nos processos de fabricação, proporciona um consumo de
apenas 5% de energia elétrica, não considerando as demais fontes de energia e ao processo de
extração da bauxita, quando comparado ao processo tradicional de fabricação do alumínio
primário. A redução no consumo de energia proporcionada pela reciclagem do alumínio, daria
para iluminar uma cidade como o Rio de Janeiro durante um mês (ABAL, 2012).
Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública, o Brasil reciclou
em 2012, 508 mil toneladas de alumínio, volume correspondente a aproximadamente 35% do
consumo doméstico registrado neste mesmo ano. Dado que a média mundial, tendo como base
o ano de 2011, girava em torno de 30%, este indicador garantiu ao país uma posição de destaque
em eficiência energética e competitividade no custo de produção, obtido através da logística
reversa do setor (ABRELPE, 2014).
Neste mesmo ano, a taxa de reciclagem no Brasil alcançava 97,9% das embalagens produzidas,
no entanto, a utilização e conteúdo reciclado na produção a liga de alumínio gira atualmente
em torno de 46% (NOVELIS, 2015).
A reciclagem e o reaproveitamento industrial do alumínio, torna-se assim um modelo
importante e significativo de logística reversa para a avaliação nesta pesquisa das dimensões
estratégias na proposição de um índice de valor adicional sustentável para o setor.
Ainda à respeito da redução do consumo de energia, proporcionada pela utilização de conteúdo
reciclado nos processos de fabricação de novos produtos, Goldemberg (2009) afirma que a
produção de energia domiciliar e industrial nos dois últimos séculos é totalmente dominada
37
pelos combustíveis fósseis, fontes de energia não renováveis e altamente poluentes. Carvão,
petróleo e gás respondem por mais de 80% da geração de energia no mundo e apenas 1,91%
estão sob formas modernas de produção de energia sustentável.
Consequentemente, a produção de energia a partir do reaproveitamento de biomassas residuais
ou de materiais e resíduos descartados pós ciclo de vida útil, apresenta uma excelente relação
custo/benefício para as indústrias. Outra razão além da redução na extração e uso dos recursos
naturais é proporcionada pelo enorme potencial teórico de conversão energética de alguns
materiais como, por exemplo, os plásticos ou polímeros (FORLIN; FARIA, 2002 e
GOLDEMBERG, 2009).
O potencial econômico e social existentes no reaproveitamento de materiais e resíduos através
da reciclagem, reutilização ou incineração, são também explicitados em Seara; Gonçalves;
Azevedo (2013) quando se referem a uma pesquisa sobre os volumes gerados na cidade de São
Paulo em 2010: cerca de 10 mil toneladas diárias de resíduos sólidos urbanos domiciliares, uma
média de 1,338 kg/hab./dia. Papéis, plásticos, vidros e alumínio, representaram mais de 30%
do composite do total destes materiais e resíduos. Destes, cerca de 80% seriam recicláveis,
podendo vir a ser reutilizados em processos produtivos, representando um ganho significativo
em energia e custo em economia de matérias primas para as empresas.
Casos atuais de atuação empresarial no setor de reaproveitamento de materiais estão sempre
presentes na mídia: Coca Cola na utilização da biomassa da cana de açúcar, Klabin na
reciclagem de papéis, Saint-Gobain na reciclagem de vidro e Latasa na reciclagem das latas de
alumínio, realizam há alguns anos o reaproveitamento industrial para composites na fabricação
de novos produtos com um real valor adicional sustentável economicamente (SEARA;
GONÇALVES; AZEVEDO, 2013).
As atividades atuais existentes de processamento e recuperação de materiais e resíduos pós
consumo são listadas no quadro 1:
38
Atividades de
Processamento e
Recuperação
Incineração Energia Elétrica
Compostagem Queima Simples
Reutilização Compostos Orgânicos (Húmus)
Aterros Controlados
Reuso, Remanufatura, Reciclagem
Biogás e Coleta de Chorume
Quadro 1 - Atividades de processamento e recuperação de materiais
Fonte: SEARA; GONÇALVES; AZEVEDO (2013).
Laurent et. al. (2014), observam que as composições dos resíduos variam não só entre países,
mas também entre regiões e cidades, estando estreitamente relacionados à situação econômica,
produtiva e cultural, local ou regional. Conforme Singh et. al. (2014), a situação econômica e
produtiva local e a composição dos resíduos, impacta diretamente na coleta, volume e na
disposição final, estimando-se que por razões que incluem também a complexidade da
composição destes resíduos, em todo o mundo, 70% do total estejam disponibilizados
landfilled, ou seja, fora dos sistemas tradicionais de coleta e tratamento, tais como lixões e
aterros sanitários. Pereira (2013) acrescenta que ocorre também uma complexidade, decorrente
de somatório de elementos sociais, políticos, éticos e culturais, o que dificulta a elaboração de
políticas públicas na gestão de materiais e resíduos a níveis locais e regionais.
A fabricação de produtos com conteúdo reciclado deve ser compatível com a estratégia global
que a empresa adota para seus produtos usuais. Segundo Dowlatshahi (2000), produtos de má
qualidade afetam a imagem de mercado, ou seja, produtos fabricados com material ou insumos
reciclados ou recuperados têm de ter a mesma qualidade que os produtos originais
correspondentes. Descreve Mamede (2013), que o objetivo da proposta da reciclagem e do
reaproveitamento industrial de materiais e resíduos é agregar volume e valor econômico
adicional ao produto frente ao mercado.
Entretanto, custos, questões ambientais normativas e de conformidade do produto inerentes à
qualidade e, outros problemas decorrentes da viabilização técnica, econômica e ambiental,
remete a necessidade de internalização do processo de logística reversa no planejamento
estratégico da empresa e na ACV e ICV (VOGTLÄNDER; BREZET; HENDRIKS, 2001),.
39
Por sua vez, a inclusão de uma abordagem da ACV e ICV com Reciclagem ao Final de Vida
dos produtos só pode vir a ocorrer a partir da percepção de um valor adicional sob a forma
sustentável para todas as partes que compartilham os riscos do negócio (FIGGE; HAHN, 2004;
FIGGE; HAHN, 2005).
A inclusão da logística reversa e do reaproveitamento de materiais e resíduos na ACV e no ICV
da empresa e suas implicações para este estudo, são analisados no tópico seguinte.
2.4 Análise e inventário do ciclo de vida do produto
Koroneos; Nanaki (2012), Talmasky; Tavares (2012) e Laurent et. al. (2014), afirmam que a
Análise de Ciclo de Vida do Produto (ACV) e o Inventário do Ciclo de Vida (ICV) têm diversas
aplicações, permitindo as empresas mapearem os tipos e as quantidades de materiais utilizados
na composite de seus produtos, as fontes e quantidades de energia consumidas nos processos,
quantificar os efluentes e as emissões atmosféricas durante as diversas etapas de produção desde
a extração da matéria-prima, fabricação, transporte e consumo, até a quantidade e a qualidade
dos resíduos na disposição final. Permite assim à empresa obter uma visão holística de todas as
suas atividades, necessárias ao seu planejamento estratégico.
Conforme assinalam Shibao; Moori; Santos (2010), as atividades de logísticas reversas podem
ser relacionadas a atuação das empresas sobre o ciclo de vida de seus produtos. A abordagem
da Reciclagem ao Final de Vida na ACV e no ICV é desta forma uma ferramenta que maximiza
técnica, gerencial e economicamente a Supply Chain Management, incorporando um closed-
loop supply chain ou uma cadeia de suprimentos em circuito fechado. Desta forma, segundo
Daher, Silva e Fonseca (2006), a inclusão da logística reversa proporciona a empresa obter uma
Cadeia de Suprimentos Integral.
Giovannini; Kruglianskas (2008) afirmam que a presença de uma grande empresa, atuante no
Ciclo de Vida do produto e compondo a ACV de forma a inserir a reciclagem ao final de vida
e a reutilização de conteúdo reciclado, impõe ao mercado, padrões técnicos, comportamentais
40
e de segurança às demais partes que compartilham o risco do negócio, proporcionando a
sustentabilidade necessária.
Apoiando e investindo em infraestrutura, processos, equipamentos e transferência de
tecnologias, a empresa passa em contrapartida, a ser uma referência ou benchmarking do setor.
Um modelo de ACV com Reciclagem ao Final de Vida em acordo com as normas ABNT NBR
ISO 14040 - 14044 (ISO, 2006) é apresentado no fluxograma da figura 2:
Figura 2 - Fluxograma do ciclo de vida do produto com reciclagem ao final de vida.
Fonte: VOGTLÄNDER, BREZET E HENDRIKS (2001) – adaptado pelo autor.
De acordo com Vogtländer; Brezet; Hendriks (2001), as alocações de custos e impactos
ambientais aos produtos devem refletir uma relação causa-efeito, tendo como base a ciência
física de materiais e no fluxograma foi dividida em dois subsistemas A e B em acordo com a
ABNT NBR ISO 14041. Os custos e os impactos ambientais do subsistema B são atribuídas ao
Final de Vida (EoL) do produto antigo, que pode ser o produto virgem ou primário, enquanto
os custos e impactos ambientais do subsistema A são atribuídos à fabricação do produto
secundário ou o novo produto com conteúdo reciclado.
41
As novas etapas com a introdução da Reciclagem ao Final de Vida e o reaproveitamento de
materiais e resíduos nos processos produtivos vão fornecer os dados ambientais adicionais para
o levantamento do Inventário do Ciclo de Vida (ICV), estando descritas no quadro 2:
Quadro 2 - Etapas da ACV com reciclagem e reaproveitamento industrial.
Fonte: VOGTLÄNDER, BREZET E HENDRIKS (2001) – adaptado pelo autor.
Observa-se pelo fluxograma que as cooperativas de reciclagem ocupam um papel estratégico
no extremo da cadeia ao Final de Vida do Produto (EoL) e que determina também o marco
inicial do ciclo logístico reverso.
A este respeito, Carmo (2009) afirma, entretanto, que as cooperativas de reciclagem não contam
com tecnologias, infraestrutura em equipamentos ou mesmo locais para armazenagens que
adicionem valor econômico aos produtos recicláveis.
Consequentemente a qualidade, o volume e os preços praticados no mercado, acabam sendo
insatisfatórios para estas partes que compartilham o risco do negócio e consequentemente
comprometem a sustentabilidade do ciclo reverso. O papel da iniciativa privada torna-se assim
fundamental para a eficiência e a eficácia do processo de reciclagem e de reutilização industrial
de conteúdo reciclável, através de investimentos ao longo das diversas etapas operacionais da
cadeia logística reversa (CARMO, 2009).
A respeito dos processos de incineração com ou sem geração de energia constantes do
fluxograma, Koroneos; Nanaki (2012), observam que estas soluções tradicionais de tratamento
1 – Prolongamento da vida útil do produto;
2 – Renovação do produto;
3 – Reutilização de componentes (partes) do produto;
4 – Reutilização de materiais;
5 – Aplicação útil de resíduos;
6 – Imobilização com aplicação útil;
7 – Imobilização sem aplicação útil;
8 – Incineração com recuperação de energia;
9 – Incineração sem recuperação de energia;
10 – Aterro.
42
e eliminação de resíduos, atualmente em voga no Brasil para implementação, sofrem críticas
por especialistas em ACV por produzirem e liberarem quantidades significativas de metano
(CH4) e outras substâncias na atmosfera.
O CH4 além do CO2 e outros compostos nocivos à saúde, produzidos em lixões e aterros
sanitários em todo o mundo, contribuem entre 3% a 4% para as emissões de gases do efeito
estufa de todas as atividades humanas.
Sobre a incineração, Gutberlet (2012), reafirma que o enorme potencial de produção de energia
por este método, principalmente dos materiais plásticos, apresenta sérias controvérsias, quando
avaliados os impactos socioambientais, principalmente os relativos às emissões poluentes.
Esta solução tem como feedback uma maior emissão de poluentes na atmosfera, tais como o
ácido clorídrico, o monóxido de carbono, o óxido de nitrogênio, metais pesados e dioxinas,
cujas presenças são cada vez maiores na composite dos diversos tipos de produtos, materiais e
resíduos, estes dois últimos dispostos de forma conjunta ao final de vida útil em lixões e aterros
sanitários (GUTBERLET, 2012).
Afirmam Nicholson et. al. (2009) que o perfil ambiental de um produto é condicionado por sua
carga ambiental. Matérias primas e insumos apresentam composites cada vez mais complexas
nos produtos, tornado também complexas a ACV e o ICV a estes relacionados.
Desta forma, Laurent et. al. (2014), afirmam que a ACV e o levantamento dos impactos
ambientais para o ICV são duas das fases de maiores custos e trabalhos para as empresas, dado
esta heterogeneidade na composição dos produtos.
Também contribuem para estas dificuldades, as diferentes qualidades de fluxos de materiais e
resíduos finais que são dependentes da existência de coleta seletiva na fonte, dos sistemas
aplicados para esta coleta e da necessidade de rastreamento dos poluentes. Por sua vez o
rastreamento dos poluentes, depende do tipo de destinação final e da própria abordagem no ICV
adotada pela empresa para estimativa das emissões no longo prazo (LAURENT et. al., 2014).
Kicherer; Aktiengesellschaft (2007), também afirmam que a complexidade da ACV,
compromete o desempenho de diversas variáveis na contabilidade do ICV, distorcendo-os,
43
particularmente, na alocação dos valores e impactos para cada fase do produto. Matérias primas
e insumos são atualmente utilizados na fabricação de uma multiplicidade de produtos (exemplos
são os diversos tipos de plásticos) com diferentes tempos de ciclo de vida distintos entre as
datas de fabricações e os períodos estimados para suas respectivas reciclagens.
Segundo Singh et. al. (2014) a crescente complexidade atual nas composites dos produtos
também comprometem os resultados da ACV e ICV, visto que os sistemas atuais de produção
agem como sistemas de diluição de recursos, promovendo mudanças nas composições físicas e
químicas e nas propriedades biológicas dos materiais, o que tornam as suas reciclagens e
reaproveitamentos industriais do ponto de vista técnico e tecnológico, um processo
extremamente complexo, levando a necessidade excessiva no uso de energia, insumos e
aditivos, consequentemente acarretando custos elevados.
Aos fatores da complexidade da composição dos produtos, devem-se adicionar outras questões
em aberto (VOGTLÄNDER; BREZET; HENDRIKS, 2001) (KICHERER;
AKTIENGESELLSCHAFT, 2007):
Se a ACV e o ICV foram realizados para Circuitos Abertos ou para Circuitos Fechados
de Reaproveitamento;
Se a disposição ao final do ciclo de vida útil (EoL) foi realizado em Sistema Aberto ou
Sistema Fechado. A ACV e as alocações dos impactos ambientais para o ICV, constitui-
se em um problema em sistemas de tratamentos abertos, como os aterros sanitários em
que os materiais e resíduos de um produto se misturem aos materiais e resíduos de outros
produtos.
Sob a perspectiva econômica, Frischknecht (2010) descreve que a opção estratégica da empresa
de inserir a Reciclagem ao Final de Vida do Produto na ACV e ICV, objetiva que materiais e
resíduos recicláveis ao serem reutilizados industrialmente, determinem o montante de matérias
primas não requeridas na reposição dos inventários dos respectivos estoques primários.
Como se defende em Figge; Hahn, (2004) e Figge; Hahn, (2005), ao centrarem-se a análise de
inserção da Reciclagem ao Final de Vida do Produto na ACV e ICV sob a ótica deste custo de
oportunidade para a empresa, observa-se que não ocorre uma substituição de capital natural por
capital self made man, como descreve em seu trabalho Frischknecht (2010), mas uma
compensação econômica do capital natural, relacionado a uma busca por alocação mais
44
eficiente de recursos de um capital estratégico com o propósito de dar a maior contribuição
possível para o lucro dos acionistas, tendo como consequência, uma maior contribuição para a
sustentabilidade do negócio.
Em termos de sustentabilidade, a reciclagem e a reutilização de materiais e resíduos em
processos industriais, passam a ser um fator estratégico para manter no longo prazo, estoques
críticos de capital natural (matérias primas), mantendo ao mesmo tempo a ecoeficiência do
produto por meio de créditos ambientais de emissões evitadas, com aumento da competitividade
no mercado e consequente elevação dos lucros (FIGGE; HAHN, 2004 e FRISCHKNECHT,
2010).
Singh et. al. (2014) afirmam que os problemas na ACV e no ICV dos produtos é na verdade
complexo, pois muitas das políticas estratégicas implementadas pelas grandes empresas sob a
ótica da sustentabilidade, devido ao processo de globalização, resultaram na criação de novos
problemas socioambientais.
Exemplos são os processos de internacionalização com deslocamentos geográficos das etapas
de produção mais poluentes para os países em desenvolvimento das diversas etapas e que
compõem a ACV dos produtos como, por exemplo, os processos de extração e produção. A
atratividade do fenômeno são os menores custos de mão de obra e regulamentos ambientais
menos rigorosos e as principais consequências são também o deslocamento dos passivos
ambientais dos países mais desenvolvidos para países menos desenvolvidos, sob a forma de
poluição industrial e geração de resíduos (SINGH et. al., 2014).
Segundo Laurent et. al. (2014), este fenômeno também serve de justificativa para a
apresentação de inconsistências e não conformidades nos Relatórios de Sustentabilidade,
incluindo de empresas de setores estratégicos analisados por este estudo.
As Análises de Ciclos de Vida de Produtos (ACV) e dos Inventários Ambientais (ICV),
apresentam para os países mais desenvolvidos, baixas taxas na geração de resíduos nas etapas
fundamentais de extração e produção, as mais poluentes. Em contrapartida apresenta altas taxas
para as atividades de consumo. Os dados se invertem quando apresentados dos países em
desenvolvimento, ainda que as taxas de consumo estejam crescentes a cada ano, devido as
melhorias da renda per capita de diversos países. Há aqui uma clara comprovação de que existe
45
uma relação estreita entre níveis elevados de renda e de consumo e a geração excessiva de
resíduos (SINGH et. al., 2014).
Em pesquisas sobre ACV e ICV realizados em empresas estratégicas de países em
desenvolvimento como o Brasil, apontam para inconsistências que envolvem desde a ausência
na abordagem de parâmetros de avaliação dos impactos sociais da atividade industrial e
econômica, tais como, sobre a saúde ocupacional, a coleta informal e a reciclagem, assim como
a existência de não conformidades em acordo com as recomendações e requisitos mínimos das
normas ABNT NBR ISO 14040-14044, ao se omitirem abordagens sobre as medidas de
prevenção de impactos socioambientais e de composição de materiais e resíduos dos produtos
(DIAS; SOEKHA; SOUZA, 2010).
Uma análise da aplicação e da efetividade das normas ABNT NBR ISO 14040-14044 que
disciplinam os requisitos mínimos para a ACV e o ICV é capaz de proporcionar uma clara visão
da estratégia e comprometimento da empresa com a sustentabilidade e atuação no ciclo de vida
do produto, ao incluir a abordagem de Reciclagem ao Final de Vida (VOGTLÄNDER;
BREZET; HENDRIKS, 2001).
No entanto, fabricado com conteúdo reciclado ou não, os produtos sempre conduzem em si os
encargos ambientais de produção do material primário. Os reciclados por ainda utilizarem
estoques secundários das matérias primas originais. Desta forma, a utilização de conteúdo
reciclado nos processos industriais de fabricação de novos produtos está limitada a um
determinado percentual estratégico, uma limitação técnica e econômica que só poderá vir a ser
superada pela atuação social da empresa de forma estratégica (NICHOLSON et. al., 2009).
2.5 Dimensões da sustentabilidade
As dimensões da sustentabilidade foram analisadas a partir da revisão bibliográfica, segundo o
quadro 3:
46
Dimensões
Bibliografia (ano)
Ambiental Econômica Social Normativa
Dowlatshahi (2000)
Noal (2000)
Vogtländer, Brezet e Hendriks (2001)
Saling et. al.(2002)
Amaral (2003)
Shonnard, Kicherer e Saling (2003)
Barbieri (2004)
Figge e Hahn (2004)
Hart e Milstein (2004)
Kratena (2004)
Van Bellen (2004)
Figge e Hahn (2005)
Dowlatshahi (2000)
Vianna (2006)
Kicherer e Aktiengesellschaft (2007)
Medeiros, Mello e Campos Filho (2007)
Zhang et. al (2008)
Carmo (2009)
Guerra (2009)
Hopewell, Dvorak e Kosior (2009)
Nicholson et. al. (2009)
Dias, Soekha e Souza (2010)
Frischknecht (2010)
Schaffel (2010)
Cardoso (2011)
Valim (2011)
Gutberlet (2012)
Koroneos e Nanaki (2012)
Loureiro (2012)
Noal (2012)
Oliveira et al (2012)
Selig, De Ávila Lerípio e Viegas (2012)
Slivnik, Falvo e Sato (2012)
Talmasky e Tavares (2012)
Figueiredo, Moynier e Rocha (2013)
Mamede (2013)
Pereira (2013)
Giacchetti, Giacchetti e Monken (2014)
Teixeira (2014)
Laurent et al (2014)
Uribe-Saldarriaga (2014)
Quadro 3 – Quadro teórico referencial de dimensões do modelo.
Fonte: AUTOR (2016).
O modelo Triple Bottom Line, foi inicialmente definido para obtenção das dimensões
estratégicas na proposição de um índice de valor adicional sustentável para a reciclagem do
alumínio. O Triple Bottom Line nasce do conceito de sustentabilidade interdependente dos 3 P:
People, Planet and Profit ou Pessoas, Planeta e Lucro. Entre as diversas interpretações, as
análises das interseções duas a duas das dimensões, resultando em equações a serem
respondidas pela empresa sobre o projeto a ser implementado: é viável? É equitativo? É
47
suportável? Como representado na figura 3, a interseção entre as três dimensões, apresenta
como resultado a sustentabilidade em médio e longo prazo do projeto (OLIVEIRA et. al.,
2012):
.
Figura 3 – Modelo base dos 3 P.
Fonte: PLANET (2015) – adaptado pelo autor.
Para Hart; Milstein (2004), ocorre sempre nas avaliações dos projetos, uma forte interação entre
as ações de sustentabilidade propostas pela empresa e a criação de valor para os acionistas, ou
seja, para as partes que compartilham o risco do negócio. Também ocorrem sobre as avaliações:
Um fenômeno de simultaneidade ao ter a empresa de manter níveis altos de
lucratividade ao mesmo tempo que deve criar tecnologias com olhar futuro no mercado;
Situação paradoxal de ter de destruir portfólios de produtos antigos para recriar novos
portfólios.
Mamede (2013), afirma que uma das formas de avaliar estas questões controversas nos
processos decisórios, é analisá-las sob uma ótica da interdependência entre as dimensões do
modelo.
O modelo Triple Bottom Line busca um equilíbrio entre lucratividade e sustentabilidade, através
da integração entre os subsistemas (MAMEDE, 2013):
Econômico, com a criação de valor econômico adicional, mas de forma sustentável no
longo prazo;
Social, através de inclusão de ações de responsabilidade social nos projetos, tanto no
ambiente interno quanto externo da empresa;
Ambiental nas diversas operacionalizações da produção;
Conformidade de processo e produto com as normas legais de qualidade, ambiental e
aceitação pelo mercado.
48
Para Oliveira et. al. (2012) e Dias; Soekha; Souza (2010), embora muitas empresas tenham
incluído a busca por sustentabilidade em seus discursos mercadológicos, são raras as que
realmente a implementam em suas operações, processos e produtos. Este fato é devido em
grande parte a inexistência de um modelo que integre o conceito de sustentabilidade ao
planejamento estratégico da empresa, o que inclui a percepção de um Valor Adicional
Sustentável final, ou seja, com a predominância do econômico, conforme corroboram Hart e
Milstein (2004), ao analisarem os impactos da dimensão social da sustentabilidade sobre a
dimensão econômica do modelo.
O aumento dos ritmos populacional e a desigualdade de renda, exercem fortes e crescentes
pressões sobre o desempenho econômico das empresas, onde devido aos decréscimos nos
padrões e níveis de consumo, ocorre a perda do poder aquisitivo de compra, contrastando com
potenciais investimentos das empresas necessário em adequações às normas de qualidade e
ambientais dos novos processos e produtos, criando assim um processo de estagnação entre as
dimensões do modelo (HART; MILSTEIN, 2004).
Para Amaral (2003), a ausência de uma metodologia integradora entre as dimensões do modelo
Triple Bottom Line faz com que os indicadores existentes para medir a sustentabilidade, sofram
justaposição nas informações sem propiciar uma visão sistêmica. Cada uma das dimensões do
modelo, gera na empresa expectativas e incertezas em múltiplos enfoques, perspectivas e
abordagens, que diferem de setor para setor e de empresa para empresa. Este fato decorre da
existência de um estímulo natural ao lucro com consequente expansão no mercado.
No entanto, como descrevem Hart; Milstein (2004), a inclusão da ótica de dimensão social no
modelo demonstra importância para o equilíbrio final do sistema de sustentabilidade: os
investimentos empresariais em recursos humanos, treinamentos e capacitações na base dos
stakeholders das empresas, podem vir a contribuir para integrar as dimensões do modelo em
torno da questão estratégica da lucratividade, ou seja, a obtenção de um valor econômico
adicional final sob a forma sustentável.
Há ainda uma grande parcela de stakeholders, formadores de opiniões e ativos politicamente,
assumindo o papel de monitores e disciplinadores de padrões e comportamentos
socioambientais, pressionando as empresas por adequação às normas legais e o mercado por
incentivos ao consumo responsável (OLIVEIRA et. al., 2012).
49
A dimensão ambiental do modelo Triple Bottom Line, relacionada à busca por sustentabilidade,
demonstra maior relevância, quando o foco da análise é observado a partir da perspectiva futura
da produção e uso das diversas fontes de energia do planeta, renováveis ou não e as respectivas
emissões (NOAL, 2012).
Um exemplo é o paradoxo global que cerca a utilização de fontes não renováveis de energia,
principalmente o petróleo e seus derivados:
A população dos EUA, representada por apenas 5% da população mundial, responde
pelo consumo de 30% da energia produzida em todo o mundo. Por outro lado, 50%
da população mundial é ainda extremamente dependente do uso intensivo do carvão
vegetal e da queima da madeira como fontes de energia para o seu desenvolvimento.
Como consequência desta distorção, têm-se dois grandes problemas: o agravamento
do desmatamento mundial e a degradação do meio ambiente (NOAL, 2012).
Sobre a importância de um modelo de avaliação da sustentabilidade de projetos de reciclagem
e utilização industrial de conteúdo de reciclados, Hopewell; Dvorak; Kosior (2009), observam
que cerca de 4% do petróleo mundial e da produção de gás de fontes fósseis são utilizados como
matérias primas na produção de plásticos e mais 3% a 4% são as fontes de energia para suas
fabricações.
Isto permite concluir que a reciclagem e reaproveitamento industrial dos polímeros plásticos
como ocorre no Brasil com o Polietileno Tereftalato (PET), oferecem as oportunidades para
reduções consideráveis no uso destes recursos não renováveis e para as reduções nas emissões
de dióxido de carbono na atmosfera, além de reduções também nas disposições de volumes
significativos de resíduos de forma inadequada no meio ambiente (HOPEWELL; DVORAK;
KOSIOR, 2009).
Afirma Uribe-Saldarriaga (2014), que sob o ponto de vista da dimensão ambiental dos modelos,
a busca pelas indústrias por matérias primas ou recursos energéticos na forma de economia ou
utilização de fontes de recursos renováveis, encontra sempre dificuldades para sua
implementação e ampla aceitação pelo mercado, devido a necessidade de conciliar a dimensão
ambiental com conceitos como o de utilidade econômica e uso social do produto, ou seja,
conciliar a dimensão ambiental com as dimensões econômica e social.
Um exemplo da campanha desenvolvida pela empresa multinacional Ecopetrol na Colômbia
entre 2008 e 2010 no lançamento do diesel “limpo”, combustível derivado do petróleo, mas
50
com baixo teor de enxofre. Considerado pela empresa como um avanço no uso de energia, este
produto enfrentou fortes resistências de aceitação no mercado com questionamentos sobre a
real eco eficiência, legislação ambiental rigorosa e pressões de grupos ambientalistas (URIBE-
SALDARRIAGA, 2014).
Em 2014, a Petrobrás lançou produto semelhante no mercado brasileiro sem grandes impactos
na redução de custos ou mesmo ambientais.
Com o programa do biodiesel brasileiro, ocorre e ainda persiste problema semelhante. Apesar
de ser uma alternativa mais econômica e social eficiente, pois além de eliminar as emissões de
óxido de enxofre e reduzir as emissões de dióxido de carbono, inclui a agricultura familiar no
processo de produção e fornecimento de matérias primas, enfrentou sérios questionamentos
sobre questões de interação entre as dimensões econômica, ambiental e social, dado que as
matérias primas para sua produção (plantas oleaginosas como o milho e o girassol por
exemplos) são também fontes de alimentação das pessoas (VIANNA, 2006).
Para Noal (2012), muitas tecnologias atuais e os impactos ambientais e sociais, derivaram de
decisões políticas, tecnológicas, econômicas e sociais que não foram cuidadosamente
analisadas sob esta ótica de interação entre as dimensões econômica, ambiental, social e
normativa de modelos de sustentabilidade.
Alguns exemplos: as emissões de dioxina na atmosfera na produção de papel, a combustão de
produtos à base de cloro na fabricação de plásticos, a chuva ácida no processo de mineração em
céu aberto, a radiação das torres transmissoras de energia e de sinal celular, as adições químicas
na produção dos alimentos e a escassez dos recursos hídricos (NOAL, 2012).
Como observado anteriormente, para Schaffel (2010) uma avaliação pelas empresas dos
projetos do ponto de vista econômico e ambiental, portanto, uma avaliação da ecoeficiência,
torna-se insatisfatória como única contribuição para a sustentabilidade, sendo necessária a
inclusão nos modelos da responsabilidade social.
Para Saling et. al. (2002) e Barbieri (2004), a ecoeficiência de um produto é definida pela
relação entre o valor econômico adicional obtido e o correspondente custo e impacto ambiental
adicional gerado pelo produto. O impacto ambiental adicional pode ser avaliado pela
51
quantidade total de energia e emissões medidas ao longo de todas as fases do ciclo de vida do
novo produto.
Para Frischknecht (2010), a ecoeficiência é percebida pela empresa como melhor à medida que
a relação US$/kg CO2 eq- aumenta ou kg CO2 eq-/US$ decresce, dependendo do ponto de vista
de abordagem da análise, ambiental ou econômica, respectivamente (ZHANG ET. AL., 2008).
Há aqui um ponto interessante a ser observado sobre a expressão para cálculo da ecoeficiência
utilizado neste trabalho:
...ainda se constitui em objeto de controvérsias, estudos e análises como exatamente
determinar o denominador e o numerador da relação entre economia e meio ambiente
no desenvolvimento de um indicador sustentável4 (ZHANG et. al., 2008).
Isto significa que quando a análise tiver como foco a alocação eficiente dos recursos
econômicos ou a dimensão econômica do modelo, o correto é utilizar no denominador o valor
econômico adicional (VEA) conforme a expressão 1 a seguir.
Se o foco da empresa é a avaliação da dimensão ambiental decorrente das modificações nos
processos ou produtos, o correto é utilizar a unidade de impacto ambiental adicional no
denominador, conforme a expressão 2 abaixo:
Como o objetivo deste trabalho é obter um Valor Adicional Sustentável final para as quatro
dimensões do modelo proposto com predominância da dimensão econômica, foi utilizada a
expressão 1 na avaliação da ecoeficiência entre o alumínio primário e a sucata de alumínio, de
forma que quanto menor for a relação entre a influência ambiental e o valor econômico de um
produto maior será a sua ecoeficiência.
4 Tradução livre do autor.
(2) Ecoeficiência = Valor Econômico Adicional
Impacto Ambiental Adicional
(1) Ecoeficiência = Impacto Ambiental Adicional
Valor Econômico Adicional
52
Em Figge; Hahn (2004) e Figge; Hahn (2005) é proporcionada uma interessante visão holística
da atuação das empresas sobre o modelo de sustentabilidade Triple Bottom Line:
Diversas são as formas de capital atuante das empresas que estão relacionadas as dimensões do
modelo de sustentabilidade adotado:
Capital econômico;
Natural ou ambiental, representados pelo acesso e utilização dos recursos naturais;
Self made man ou o capital produzido pelo trabalhador: bens e produtos, inclusive
representados ao final do seu ciclo de vida;
Capital social, representado pelas relações com o mercado, instituições, grupos de
trabalho e a sociedade em geral.
Poderia se acrescentar diversas outras formas de capital atuante ou dimensões ao modelo de
sustentabilidade: tecnológico, institucional, normativo e outros. As diversas formas da empresa
se apropriar, utilizar e realizar intercâmbios entre as diversas formas de capital atuante,
condicionam a sua estratégia de busca por sustentabilidade (FIGGE; HAHN, 2005).
Se uma empresa atua com um determinado tipo de capital estratégico ou dimensão do modelo
e ela encontra dificuldades de intercambiá-lo por outro tipo de capital ou dimensão de atuação
quando está obtendo um mau desempenho no mercado, ela busca então por uma forte
sustentabilidade em suas ações e projetos. Inversamente, se a empresa atua com equilíbrio no
mercado entre as diversas formas de capital ou dimensões, apresentando facilidades de
compensar um mau desempenho em um tipo de dimensão ou capital por um bom desempenho
em outro, ou seja, substituindo facilmente um capital por outro então seus projetos e ações são
em uma base fraca de sustentabilidade (FIGGE; HAHN, 2004).
Há uma percepção inicial para o pesquisador de que a reciclagem e a utilização de conteúdo
reciclado pelas empresas estariam situadas em uma base fraca de sustentabilidade já que
ocorreria uma substituição do capital natural (recursos naturais) por capital self made man ou
produtos reciclados ao final do seu ciclo de vida útil (FRISCHKNECHT, 2010).
Entretanto, Figge; Hahn (2005), afirmam que a reciclagem e a utilização de conteúdo reciclado
pelas empresas, constituem uma base de busca por uma forte sustentabilidade nos negócios,
quando avaliado os investimentos sob a perspectiva econômica do custo de oportunidade. Não
53
há uma substituição real de capital natural, mas uma compensação econômica do mesmo pelas
empresas com o objetivo estratégico de manter estoques de capital crítico na dimensão do
modelo onde apresenta uma maior atuação e consequente maior vulnerabilidade, pois o mesmo
não é intercambiável por outros tipos de dimensões ou capitais.
A busca pelas empresas por um valor adicional sustentável final ou uma forte sustentabilidade
em seus negócios, passa necessariamente pela percepção em sua base de stakeholders de um
valor adicional econômico sob a perspectiva de análise de todas as dimensões do modelo
proposto. Perceptível sempre que os benefícios de implementação sob a ótica de análise do
custo de oportunidade do projeto, excedam os seus custos internos e externos, estes últimos os
impactos ambientais, sociais, normativos, ou seja, os custos de externalidade do projeto
(FIGGE; HAHN, 2004).
Na modelagem difusa para definição dos custos internos relevantes, seguiu-se a orientação de
Shonnard; Kicherer; Saling (2003) para a comparação de produtos: o preço final de
comercialização do alumínio e da sucata de alumínio em seus respectivos mercados.
Não foram considerados os custos de processamento para a inclusão de conteúdo reciclado no
novo produto, considerando as afirmações de Dowlatshahi (2000) de que torna-se preferível
técnica e economicamente para a empresa utilizar processos de fabricação atuais e já
comprovados, desde que o conteúdo de utilização não comprometa a qualidade do produto final,
o que elimina a necessidade de reinventar processos.
A vantagem da utilização dos processos originais, além da redução de custos é a de permitir a
identificação de possíveis deficiências na fabricação dos novos produtos, através do método de
tentativa e erro, além das reduções de inventários de materiais com defeito e de refugos e,
melhorias nas tecnologias de processos (DOWLATSHAHI, 2000).
Não foram considerados também os custos de implementação da logística reversa da sucata de
alumínio. Daher; Silva; Fonseca (2006), afirmam que estes custos com a logística reversa,
podem vir a ser abordados posteriormente de forma conjunta com outros custos no Custeio da
ACV do novo produto.
54
Sob o ponto de vista da intersecção entre as dimensões ambiental e social do modelo triple
bottom line, Noal (2012) e Loureiro (2012) criticam o tecnicismo aplicado nos projetos das
empresas ou as soluções puramente tecnológicas, defendidas como meios eficazes para a gestão
dos recursos naturais e das disposições finais dos produtos, materiais e resíduos aos finais dos
seus ciclos de vida como, por exemplo, os processos de incineração
O conflito entre o ambiental e o social é sempre um embate entre interesses públicos e privados,
orbitando sobre questões de propriedade e utilização de espaços e recursos naturais. Este fato
posiciona a questão ambiental entre os campos social e político-econômico, conforme
descrevem Guerra (2005), Cardoso (2011) e Gutberlet (2012), ajudando a confirmar a alta
subjetividade destes indicadores e a necessidade de internalização da responsabilidade social
no planejamento estratégico das empresas e nos modelos de sustentabilidade (FIGUEIREDO;
MOYNIER; ROCHA, 2013).
Desta forma, a reciclagem no Brasil de produtos como o polietileno tereftalato (PET) e o
alumínio das latas, deveriam passar necessariamente por uma análise dos impactos sociais e
econômicos da atividade sobre as cooperativas de reciclagem. O objetivo seria de planejar uma
integração entre indústrias – empresas beneficiadoras – cooperativas – consumidores finais com
apoio do poder público para manter no longo prazo a sustentabilidade do processo, incentivando
e incrementando o desenvolvimento da logística reversa, principalmente através de
investimentos ao longo de todas as etapas das cadeias desses produtos (SLIVNIK; FALVO;
SATO, 2012).
Pereira (2013) afirma que as atividades de coleta seletiva, transporte, armazenagem e
tratamento de materiais e resíduos descartados ao final de vida útil que constituem-se nas etapas
da logística reversa de materiais e resíduos pós ciclo de vida útil são desenvolvidas por
cooperativas em sua maioria, constituídas por trabalhadores com baixos poder aquisitivo e nível
de educação formal, desta forma, apresentam uma alta vulnerabilidade, social e
economicamente.
Sendo assim, o apoio do setor privado com interesses na implementação das ações de logística
reversa e reaproveitamento industrial de materiais e resíduos, torna-se fundamental para a
eficácia do processo em todas as etapas (PEREIRA, 2013).
55
Assim também afirma Gutberlet (2012) de que as atividades de logística reversa quando
conjugadas com o reaproveitamento industrial para a produção com conteúdo reciclado,
fornecem do ponto de vista social, um enorme potencial para formulação de políticas públicas
de geração de empregos e renda para as camadas mais pobres da população, sendo capazes de
reverter o quadro crítico de pobreza, desemprego e de degradação ambiental que se acentua
cada vez mais no entorno das grandes cidades.
Reafirma Schaffel (2010) que um exemplo do reconhecimento da importância da inclusão da
responsabilidade social nos modelos de avaliação da sustentabilidade, são as aplicações de
indicadores sociais ao Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel – PNPB no Brasil.
O programa exige das empresas fornecedoras o Selo Combustível Social. Este selo condiciona
as participações das empresas nos leilões de comercialização do biodiesel às aquisições de
cooperativas ou da agricultura familiar de 40% das matérias primas (oleaginosas), a serem
utilizadas nos processos de produção de biodiesel (BRASIL, 2015).
Conclui Gutberlet (2012), que as práticas metodológicas de análise da sustentabilidade sob
óticas puramente econômicas e ambientais diferem das práticas metodológicas com inclusão da
responsabilidade social, dado o potencial do trabalho associativo e cooperativo na busca pelas
empresas por uma forte de sustentabilidade. Este potencial serve às empresas para lidar com o
enfraquecimento do capital econômico e social nas periferias das grandes cidades e no interior
dos mercados, pois o desemprego e a pobreza são ameaças que comprometem a renda e o
consumo no longo prazo e, consequentemente, afetam os resultados econômicos das empresas.
Assim, para Carmo (2009), os investimentos sociais devem ser direcionados pelo setor público
e privado às cooperativas de reciclagem, através de metas de capacitação técnica e gerencial,
dotação de recursos, financeiros, tecnológicos e infraestruturas, objetivando a inserção das
mesmas nos acordos setoriais do setor privado para potencializar os processos de logísticas
reversas, principalmente no fornecimento de materiais recicláveis em volumes e qualidades
necessários para obtenção de economias de escalas e consequente redução de custos das
empresas, fato que só recentemente começou a ser implementado no Brasil.
De acordo com Slivnik; Falvo; Sato (2012), com o intuito de contribuir para o desenvolvimento
de políticas públicas nas gerações de emprego e de renda a partir do setor de logística reversa,
a Lei 12.305 de 2010 reafirma o princípio da Responsabilidade Compartilhada pelo ciclo de
56
vida dos produtos, recomendando a formação de acordos setoriais para a potencialização das
ações de logística reversa com a inclusão das cooperativas de reciclagem, inserindo-as nos
processos, estratégia que é reforçada pelo Decreto 7.404 de regulamentação e Decreto 7.405 de
23 de dezembro de 2010 que criou o Programa Pró Catador (BRASIL, 2010).
Diversos acordos setoriais no âmbito do Ministério do Meio Ambiente para viabilização das
operações de logísticas reversas estão atualmente em fases gradativas de maior ou menor
implementação (BRASIL, 2015):
Descarte de medicamentos;
Embalagens em geral;
Embalagens de óleos lubrificantes e seus resíduos;
Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e luz mista;
Eletroeletrônicos.
Paralelamente, Bolsas de Resíduos foram formadas nas Federações de Indústrias para viabilizar
e auxiliar os acordos setoriais em suas respectivas operações de logística reversa, procurando
criar e disciplinar desta forma, um mercado na negociação de materiais e resíduos recicláveis
(SIBR, 2015).
Sobre a importância da responsabilidade compartilhada e da gestão integrada na
potencialização dos processos reversos, Valim (2011), cita o projeto de expansão de uma planta
industrial de reaproveitamento de plásticos, instalada na cidade de Nova Santa Rita, Estado do
Rio Grande do Sul que valida esta conjugação positiva entre o setor privado, cooperativas de
reciclagem e apoio do setor público.
Este projeto obteve sucesso ao integrar uma empresa industrial do setor de plásticos, recursos
captados na linha de financiamento do BNDES Pró Plástico, empresas recicladoras e
cooperativas de catadores em torno do reaproveitamento industrial de polímeros, demonstrando
a viabilidade técnica e econômica desta forma de investimento, cooperativo e integrado em três
dimensões: econômica, ambiental e social e consequentemente, atendendo a uma quarta, a
normativa ou legal (VALIM, 2011).
Acerca da abordagem da dimensão normativa no modelo proposto Teixeira (2014), afirma que
a estratégia de aplicação dos 4 R na gestão de resíduos, envolvem:
57
Redução na utilização de matérias primas virgens nos processos de fabricação;
Reutilização de materiais, peças ou componentes;
Reciclagem;
Recuperação de materiais e resíduos nos processos industriais, incluindo os processos
de incineração para produção de energia.
Os 4 R consistiriam assim na implementação de um conjunto de normas institucionais e
aplicações tecnológicas, associadas às fases de produção, recolhimento, transferência,
transporte, armazenamento, controle, valorização e disposição final dos materiais e resíduos
(com ou sem reaproveitamento) ao longo de todo o ciclo de vida do produto, ou seja, a aplicação
de uma dimensão normativa ao modelo de sustentabilidade do sistema logístico reverso segue
a ACV (TEIXEIRA, 2014).
Quando se incluem a reciclagem e o reaproveitamento de materiais, predominam parâmetros
que condicionam e proporcionam uma maior ou menor eficiência ao processo logístico reverso:
(a) as quantidades produzidas e suas respectivas densidades, (b) a composição qualitativa dos
materiais, incluindo seus aditivos e (c) taxas de variações de conteúdo reciclado adicionado ao
processo industrial original (HOPEWELL; DVORAK; KOSIOR, 2009).
Estas características apontam para a necessidade de adequações da empresa na normatização
dos processos e conformidade dos produtos que vão utilizar conteúdo reciclado. A busca por
padrões de normatização e conformidade de novos produtos, podem ser assim associadas
diretamente aos requisitos técnicos mínimos que regem as Análises de Ciclo de Vida (ACV) e
os respectivos Inventários Ambientais (ICV) fornecem os indicadores necessários à empresa
para adição de um conteúdo estratégico de material reciclado, dado, certamente o limite do
estágio atual de desenvolvimento tecnológico da empresa (HOPEWELL; DVORAK; KOSIOR,
2009).
A dimensão normativa do modelo toma assim como referência, as Normas da Série ABNT
NBR ISO 14.000, particularmente as da Série ABNT NBR ISO 14040 - 14044, as quais
abordam especificamente, padrões e requisitos mínimos para as Análises dos Ciclos de Vidas
dos Produtos (ACV) e para o levantamento de dados dos Inventários Ambientais (ICV),
recomendando critérios mínimos para a sua aprovação (ISO, 2006).
58
O checklist validado por especialistas tem o objetivo de conduzir o pesquisador para uma
análise da ACV e ICV do novo produto com conteúdo reciclado em busca de parâmetros
técnicos, econômicos e ambientais das empresas que se utilizam da reciclagem ao final da vida
útil de seus produtos. Ao verificar os graus de consistência e de aderência da ACV e do ICV do
novo produto às normas ABNT NBR ISO 14040-14044 ACV, estabelece-se uma linha de base
para futuros análises no reaproveitamento de outros materiais.
Atualmente a utilização de conteúdo reciclado no setor de alumínio gira em torno de 46%, tendo
um target estimado de utilização de 80% para o ano de 2020 (NOVELIS, 2015).
Segundo Frischknecht (2010), duas abordagens estratégicas são mais utilizadas pelas empresas
ao considerarem a ACV e o ICV de seus produtos: (a) Cut-off ou uma abordagem de Corte em
que o material primário e o conteúdo reciclado tem seus custos econômicos e impactos
ambientais avaliados separadamente e (b) Abordagem com Reciclagem ao Final de Vida, em
que custos e impactos são considerados como interdependentes, interagindo e influenciando na
avaliação da ecoeficiência final de ambos os produtos, material primário e conteúdo reciclado.
Na abordagem de corte, ocorre a opção da empresa por uma clara aversão ao risco do passivo
ambiental ser ou não reaproveitado futuramente. Desta forma este tipo de abordagem assume
que a cada produto, primário ou reciclado, só devem ser atribuídos os impactos ambientais
diretamente gerados por ele. Não existe interesse da empresa por uma substituição do capital
natural (matéria prima) por créditos ambientais ou capital self made man, produtos ao final de
seu ciclo de vida (FRISCHKNECHT, 2010).
Para entender melhor a abordagem Cut-off e as suas implicações sobre os impactos ambientais
adicionais no ICV do produto, utilizamos a explicação dada por Nicholson et. al. (2009):
A produção e a carga ambiental do material primário (V1) é atribuída ao ciclo de vida
(L1) para o produto (P1). A reciclagem e a carga do material secundário (R1)
associado com o produto (P1) é atribuída ao ciclo de vida (L2) do produto (P2). A
reciclagem e a carga (R2) associado ao Produto (P2) é atribuída ao ciclo de vida (L3)
do produto (P3) e assim sucessivamente até o ciclo de vida (Ln) do produto (Pn) que
59
é o último produto e assume os encargos associados ao tratamento de resíduos final
(Wn)5 (NICHOLSON ET. AL., 2009).
Na abordagem com Reciclagem ao Final de Vida útil do produto, a empresa ao contrário,
concede a si mesma, créditos ambientais, mas os quais podem vir a ocorrer somente em 10, 20
e até 50 anos, assumindo o risco deste crédito ocorrer ou não ocorrer e de estar ou não preparada
para pagá-los, se esta última opção vier a acontecer por algum motivo (FRISCHKNECHT,
2010).
A questão estratégica que se coloca então para a empresa é: deve assumir ou não o risco
ambiental ao se utilizar da reciclagem e de conteúdo reciclado em seus produtos? (FIGGE;
HAHN, 2005)
Por esta razão torna-se importante a inclusão da dimensão normativa ao modelo de
sustentabilidade para permitir a empresa verificar o grau de conformidade ambiental, social e
econômica do novo produto em relação aos padrões e requisitos mínimos exigidos pelo
mercado e legislações específicas (VOGTLÄNDER; BREZET; HENDRIKS, 2001).
Van Bellen (2004) e Giacchetti; Giacchetti; Monken (2014), afirmam que se faz essencial que
o modelo de sustentabilidade e de gestão adotados sejam complementados por indicadores que
avaliem o comportamento dos impactos ambientais, econômicos, sociais e normativos
adicionais sobre o desempenho organizacional da empresa para uma real implementação e
efetividade no médio e longo prazos.
2.6 Indicadores da sustentabilidade
Na definição dos indicadores e métricas para cada dimensão do modelo proposto tomou-se
como base uma revisão da literatura segundo o quadro 4:
5 Tradução livre do autor.
60
Indicadores
Bibliografia (ano)
Impacto
Ambiental
Adicional
Valor
Econômico
Adicional
Associativismo
Cooperativismo
Conteúdo
Reciclado
Vogtländer, Brezet e Hendriks (2001)
Saling et al.(2002)
Amaral (2003)
Shonnard, Kicherer e Saling (2003)
Figge e Hahn (2004)
Kratena (2004)
Van Bellen (2004)
Figge e Hahn (2005)
Kicherer e Aktiengesellschaft (2007)
Medeiros, Mello e Campos Filho (2007)
Zhang et al (2008)
Nicholson et al. (2009)
Frischknecht (2010)
Schaffel (2010)
Gutberlet (2012)
Koroneos e Nanaki (2012)
Selig, De Ávila Lerípio e Viegas (2012)
Slivnik, Falvo e Sato (2012)
Talmasky e Tavares (2012)
Giacchetti, Giacchetti e Monken (2014)
Laurent et al (2014)
Quadro 4 – Quadro teórico referencial de indicadores do modelo.
Fonte: AUTOR (2016).
De acordo com Saling et. al. (2002), Shonnard; Kicherer; Saling (2003) e Kicherer;
Aktiengesellschaft (2007), uma condição estratégica inicial para o desenvolvimento de
indicadores nos modelos de comparação de alternativas para avaliação de projetos de
responsabilidade socioambiental das empresas é a indicação de unidades funcionais dos
benefícios que serão criados para os clientes ou para as próprias empresas.
Para Van Bellen (2004), os indicadores devem ser amplos e abrangentes, relacionando o
objetivo de alcance da sustentabilidade com as dimensões do modelo proposto, possibilitando
assim uma aproximação da realidade e da teoria em torno do planejamento estratégico da
empresa. Dimensões e indicadores devem então cumprir funções de:
Análise e interpretação a partir do cruzamento de dados;
Estabelecer uma comunicação entre a empresa, sua base de stakeholders e o mercado;
Servir de padrões e parâmetros para a empresa em suas relações com a sociedade;
Coordenar e integrar as diversas áreas da empresa em torno do seu planejamento
estratégico
61
Amaral (2003), afirma que indicadores são descritivos e normativos. Os primeiros refletem as
condições reais e atuais do meio ambiente, da economia, das relações sociais e da legislação
entre outras e o segundo, comparam estas condições reais e atuais com parâmetros ou condições
referenciais.
Os indicadores de sustentabilidade também devem ter como base condições referenciais que
permitam avaliações e ajustes, devendo levar em consideração para análise: (i) a intensidade no
uso de materiais; (ii) intensidade no uso de energia; (iii) consumo dos recursos e a (iv) dispersão
de poluentes em relação aos seus custos e potenciais valores adicionais para a empresa
(AMARAL, 2003).
Para Laurent et. al. (2014) em análises de projetos de reciclagem e de reutilização industrial de
materiais e resíduos, quatro classes de unidade funcional podem vir a ser observadas: (i)
utilização de métricas unitárias como, por exemplo, administrar uma tonelada de resíduos; (ii)
utilização de métricas geradas a partir de uma linha de base, por exemplo, uma determinada
quantidade de resíduos é disponibilizada em um aterro sanitário em um determinado período
de tempo; (iii) utilizar indicadores com base no input ambiental, por exemplo, x quantidades de
valores residuais entram em uma determinada instalação versus a capacidade instalada de
absorção desta instalação; (iv) utilizar indicadores tendo como base os resultados esperados
como, por exemplo, definir os desperdícios em subprodutos, quantidades y de energia
recuperada ou z de material reciclado. Na maioria dos estudos de ACV e ICV, utilizam-se
medidas unitárias.
Uma vez definidas, as unidades funcionais devem estar presentes no foco de análise em todas
as etapas da ACV para levantamento dos custos e impactos ambientais do ICV do produto. Os
fluxos funcionais são os fluxos físicos exigidos pelos sistemas para cumprir a unidade
funcional, ou seja, para fornecer ou obter o serviço, devendo estar bem claros e delineados e
em acordo com o recomendado pelas normas ABNT NBR ISO 14040- 14044 (LAURENT et.
al., 2014).
Como foi observado anteriormente, Frischknecht (2010) em uma comparação entre a produção
com material primário e a produção com conteúdo reciclado, elege para avaliação do indicador
ambiental, uma normatização dos fluxos de energia e emissões, uma mensuração dos impactos
62
ambientais adicionais através dos fluxos de carbono emitidos e evitados, utilizando a unidade
funcional kg de CO2 eq- por kg de material utilizado.
Na aplicação da modelagem difusa a este trabalho, as unidades funcionais de kg CO2 eq- por
kg do alumínio primário e por kg da sucata de alumínio para avaliação do impacto ambiental
adicional da ACV com reciclagem ao final de vida, tiveram seus valores extraídos da base de
dados da Ecoinvent (2015).
De maneira similar, as unidades funcionais de US$/kg de alumínio primário e US$/kg de sucata
de alumínio, foram utilizadas para mensurar o valor econômico adicional da ACV com
reciclagem ao final de vida, tendo, respectivamente, seus valores econômicos extraídos da
Bolsa de Commodities da London Metal Exchange - LME (2015) e no endereço eletrônico da
Associação Brasileira do Alumínio - ABAL (2015).
Estas duas unidades funcionais serviram à demonstração da ecoeficiência de ambos os materiais
frente à inclusão da reciclagem e utilizações do conteúdo reciclado, obedecendo ao
recomendado para as expressões de cálculo de Zhang et. al. (2008) para a relação entre meio
ambiente e economia.
A partir das unidades funcionais definidas, diversas hipóteses se tornaram implícitas no trabalho
de pesquisa, sendo capaz de contribuir no desenvolvimento de futuros estudos e análises.
(FIGGE; HAHN, 2004):
Se a decisão da empresa de produzir com material primário ou compor o produto com
um percentual de conteúdo reciclado, obedeceu a uma estratégia pré-definida de
avaliação dos custos econômicos e dos impactos ambientais adicionais
(FRISCHKNECHT, 2010);
Se o percentual ótimo e estratégico de conteúdo reciclado utilizado, obedeceu a
princípios técnicos e normativos da ISO 14040 – 14044 (VOGTLÄNDER; BREZET;
HENDRIKS, 2001);
Em qual dimensão do modelo de sustentabilidade ocorreu a percepção de um maior
valor adicional para os stakeholders (FIGGE E HAHN, 2005);
Quais parâmetros e normas regem a conformidade produto reciclado a partir da ACV e
ICV do novo produto (VOGTLÄNDER; BREZET; HENDRIKS, 2001).
63
A pesquisa que definiu os indicadores de avaliação dos impactos ambientais adicionais tomou
como referência o método SEE Balance da BASF, usualmente aplicado por diversos setores e
empresas na mensuração e comparação da ecoeficiência entre produtos. Este método tem a
vantagem de utilizar o modelo Triple Bottom Line e um sistema de análises, indicadores e
inferências de dados muito compatível ao SIF aplicado a este trabalho (BASF, 2015).
Inicialmente, o método SEE Balance está em conformidade com as regras da DIN EN ISO
14040 a 14044, as quais definem os padrões e requisitos mínimos para a ACV e o ICV do
produto, sendo o resultado de um estudo cooperativo realizada entre os anos de 2002 e 2005
entre a BASF SE e várias instituições de pesquisas acadêmicas, incluindo o Institute for
Geography and Geoecology of Karlsruhe University, Ökoinstitut e.V. and Jena University,
sendo parte do projeto de pesquisa “Sustainable Aromatics Chemistry”, financiado pelo
German Federal Ministry of Education and Research (BASF, 2015).
Em segundo lugar, os indicadores SEE Balance demonstram uma boa aderência as
recomendações do Global Reporting Initiative (GRI G4, 2015), as quais por sua vez servem de
base aos Relatórios de Sustentabilidade de diversas empresas do setor de alumínio, pesquisadas
neste trabalho, como os das empresas benchmarking do setor no Brasil (ALCOA, 2014) e
mundial (NOVELIS, 2015) e utilizadas para a definição de indicadores e métricas na aplicação
final da modelagem difusa.
A análise da ecoeficiência de produtos no método SEE Balance BASF é dividida em sete
indicadores, conforme é apresentado na figura 4 (BASF, 2015):
Consumo no uso de água:
Empobrecimento dos recursos abióticos;
Consumo cumulativo de energia;
Uso do solo;
Emissões;
Potencial de toxicidade;
Doenças ocupacionais e acidentes.
64
Figura 4 - Indicadores SEE Balance de impactos ambientais.
Fonte: BASF (2015) – adaptado pelo autor.
De acordo com Saling et. al. (2002) e Shonnard; Kicherer; Saling (2003), os valores das
emissões são calculados inicialmente separadamente: ar, água e solo (resíduos), incluindo
emissões por consumo de energia, mensurados em todas as etapas da ACV do produto.
As categorias de impactos para emissões atmosféricas e os respectivos valores são subdivididas
e agrupadas para formar uma linha de base. A tabela 1, mostra a inter-relação entre dados e
valores de categorias e indicadores a serem preenchidos e comparados com valores de
referência, conforme a tabela 4, a seguir:
Tabela 4 - Linha de base: categorias e indicadores para emissões atmosféricas.
Categorias
De
Emissões
Atmosféricas
CO2 SO2 NOx CH4 HC* Halogen
HC*
NH3 N2O HCI HF
GWP
ODP
POCP
AP
Fonte: SALING et. al. (2002) – adaptado pelo autor.
As categorias de emissões atmosféricas são:
GWP = Potencial de Aquecimento Global;
ODP = Potencial de Destruição de Ozônio;
POCP = Potencial de Criação Fotoquímica do Ozônio;
65
AP = Potencial de Acidificação.
O GWP está relacionado às emissões de dióxido de carbono, metano, hidrocarbonetos
halogenados e ao óxido nitroso (SALING et. al., 2002).
Na mensuração das emissões no meio hídrico, utiliza-se o método de volumes críticos ou limites
críticos para descarga em águas de superfície, indicado nos planos de regulamentação nacional
para águas residuais, valores que são específicos de cada região ou país. Quanto maior o perigo
do contato de uma substância com o meio hídrico, menor deverá ser o seu limite de
concentração para descarga (SALING et. al., 2002).
Consideram-se os indicadores a serem preenchidos conforme a tabela 5 abaixo:
Tabela 5 - Linha de base: categorias e indicadores para emissões na água.
COD Demanda química de oxigênio
DBO Demanda biológica de oxigênio
N-tot Nitrogênio Total
NH4+ Amônio
PO4 3- Fosfato
AOX Orgânicos absorvíveis halogenados
HMS Metais Pesados
HC Hidrocarbonetos
SO4 2- Sulfato
Cl Cloreto
Fonte: SALING et. al. (2002) – adaptado pelo autor.
Na mensuração dos impactos do uso do solo, a disposição em terra dos resíduos sólidos, os
resultados são combinados a partir de três categorias: resíduos especiais, resíduos que se
assemelham a lixo doméstico e entulho/restolho (materiais e resíduos provenientes da
construção civil). Os potenciais de impactos são ponderados com base nos custos médios para
a eliminação destes resíduos (BASF, 2015).
As emissões são calculadas em relação a uma linha de base (valores de referência que variam
de país para país e de região para região) para todas as alternativas e normalizadas de forma a
serem comparadas, sendo dado à alternativa menos favorável, o valor 1 e as outras alternativas
66
são alinhadas num eixo de 0 a 1 em termos relativos de modo a formar um ranking (BASF,
2015).
Após o levantamento do ICV, os dados ambientais passam por uma normalização em relação
as linhas de base tomadas como referências pela empresa, sendo então ponderados de acordo
com a sua criticidade. Os resultados obtidos para cada uma das sete categorias de impacto são
resumidos em um único indicador médio ponderado. Os custos econômicos ambientais (custos
internos e externos) também são auferidos e normalizados ao longo de todas as etapas da ACV
para a análise final do custo – efetividade (SALING et. al., 2002).
O método do SEE Balance analisa então os impactos ambientais na proporção custo-efetividade
para a avaliação da ecoeficiência final dos produtos.
Os dados então são plotados em um gráfico de Pareto como apresentado na figura 5, onde os
custos são demonstrados no eixo horizontal e os impactos ambientais no eixo vertical.
Figura 5 - Gráfico de Pareto de Ecoeficiência.
Fonte: BASF (2015) - adaptado pelo autor.
Neste caso, a alternativa 1 apresenta em seu desenvolvimento maior ecoeficiência em relação,
por exemplo, a alternativa 4 que apresenta um mau desempenho econômico e ambiental.
67
Tanto Saling et. al. (2002) quanto Kratena (2004), afirmam que a utilização de valores relativos
entre impactos ambientais e custos adicionais para análise da efetiva contribuição do produto,
ajuda na resolução de uma questão crucial no debate sobre indicadores de sustentabilidade e de
contabilidade ambiental: o problema de como realizar a avaliação econômica da degradação
ambiental resultante da atividade econômica ou seja, como mensurar custos ambientais.
Em relação a simplificação do método de levantamento dos dados sobre os impactos ambientais
adicionais para cálculo da ecoeficiência, Kratena, (2004), recomenda a abordagem biofísica
com base nos fluxos de entrada e saída de energia e emissões, considerando serem esses os
indicadores mais relevantes, permitindo assim deduzir-se os valores dos fluxos líquidos.
Argumenta a favor dessa abordagem que como a meta de sustentabilidade é buscar um
equilíbrio entre os fluxos de carbono emitidos para a atmosfera e os fluxos de carbono emitidos
pelos sumidouros ou vazadouros de lixo de modo que a concentração atmosférica de carbono
não se eleve, permite assim que os fluxos de energia e emissões dos produtos sejam
normalizados em kg CO2 equivalentes (KRATENA, 2004).
Em um modelo de avaliação da sustentabilidade, Van Bellen (2004) e Selig; Ávila Lerípio;
Viegas (2012), reconhecem os diversos problemas na definição de indicadores sociais, visto
que refletem contextos culturais, históricos e políticos de uma realidade local atual sujeito a
mudanças no tempo, bem como juízos de valor, ou seja, apresentam um alto grau de
subjetividade, sendo difícil alcançar um consenso entre as partes que compõem a base de
stakeholders da empresa.
Para Schaffel (2010), quando se inclui uma dimensão social no modelo, a definição de
indicadores e métricas proporciona uma avaliação sob uma ótica do que denominou de
ecosocial eficiência final do produto, criando assim uma maior aderência ao conceito de
sustentabilidade e de responsabilidade social da empresa.
A pesquisa procurou ao definir os indicadores sociais, alcançar um consenso com os indicadores
do método SEE Balance (BASF, 2015), as recomendações da Global Reporting Initiative (GRI
G4, 2015) para a dimensão social dos relatórios de sustentabilidade, correlacionando-os
também às normas e recomendações da Lei 12.305 de 2010 que instituiu a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010).
68
Um indicador de ecosocial eficiência no método SEE Balance, inicia-se com uma consulta às
partes que compartilham os riscos do negócio, onde vão emergir questões e interesses comuns
ou conflituosos entre a empresa e sua base de stakeholders (SCHAFFEL, 2010).
A estas questões são atribuídas um maior ou menor grau de risco, podendo assim ser agrupadas
por fatores de criticidade, dando origem a indicadores mensuráveis e que são então
considerados para a elaboração de matrizes de riscos e oportunidades, compartilhadas entre os
interesses de ambas as partes, empresa e base de stakeholders (SCHAFFEL, 2010).
Segundo Kicherer e Aktiengesellschaft (2007), os impactos sociais no método SEE Balance são
agrupados conforme a figura 6 em cinco categorias de indicadores para a realização das
consultas às partes:
Condições de Trabalho para Empregados;
Comunidade Internacional;
Gerações Futuras;
Consumidor;
Comunidade Local e Nacional.
Figura 6 – Indicadores SEE Balance de Eco social Eficiência.
Fonte: BASF (2015) - adaptado pelo autor.
69
As categorias são avaliadas como:
Positivas (maior-melhor);
Negativas (menor-melhor).
Por exemplo, quanto maiores os salários, melhor para os trabalhadores ou quanto menor o
número de acidentes de trabalho, melhores as condições de trabalho (KICHERER;
AKTIENGESELLSCHAFT, 2007).
Assim como no cálculo da ecoeficiência dos produtos por este método, os impactos sociais
passam por uma normalização em relação a uma referência (benchmarking) no mercado, no
qual a empresa espera alcançar a ecosocial eficiência de seu processo ou produto e, então são
ponderados de acordo com a sua criticidade. Os resultados obtidos para cada uma das cinco
categorias de impacto social são resumidos em um indicador médio (BASF, 2015).
Similarmente explicam que ao se avaliarem cada uma das alternativas e o seu comportamento
correspondente a cada uma das categorias é dado a categoria menos favorável valor 1 e as outras
categorias alinhadas num eixo de 0 a 1 em termos relativos, de modo a formar um ranking.
Neste método, além da condição estratégica inicial de definir uma unidade funcional de
benefício ao cliente é exigido que todos as categorias sociais estejam em um indicador
mensurável sobre o volume de produção. Por exemplo, doenças ocupacionais por kg de material
(SALING et. al., 2002; KICHERER; AKTIENGESELLSCHAFT, 2007)
Na obtenção do indicador de ecosocial eficiência se utilizam vários bancos de dados estatísticos,
avaliados em conjunto, para obter-se um quociente das categorias sociais para determinadas
quantidades de produção. A avaliação realizada sob esta forma, pode vir a apresentar
alternativas avaliadas simultaneamente de forma favorável em uma categoria e desfavorável
em outra categoria (SALING et. al., 2002).
O resultado final do SEE Balance para as dimensões ambiental, econômica e social, surge na
forma de um cubo tridimensional conforme a figura 7. Sua principal contribuição está no apoio
às tomadas de decisões nos setores de P&D&I, planejamento estratégico e marketing,
facilitando desta forma o fluxo de informações no interior da empresa e desta com sua base de
stakeholders e a identificação das inter-relações causas-efeitos entre as dimensões econômica,
ambiental e social (BASF, 2015).
70
Figura 7 – Cubo Ecosocial Eficiência.
Fonte: BASF (2015) – adaptado pelo autor.
Por sua vez, o modelo SEE Balance adota em sua concepção as recomendações do Global
Reporting Initiative (GRI G4, 2015) para a abordagem da dimensão social nos relatórios de
sustentabilidade das empresas.
As Diretrizes GRI G4 para os Relatórios de Sustentabilidade constituem uma referência
internacional, pois são desenvolvidas em conformidade com documentos internacionalmente
reconhecidos, oferecendo um conjunto de princípios, conteúdos e um manual de implementação
para que as empresas realizem a elaboração de seus relatórios de responsabilidade social. Os
objetivos dos relatórios de sustentabilidade são promoverem a divulgação de informações sobre
a forma de gestão da empresa, seus desempenhos ambiental, social e econômico, relacionados
aos impactos de curto e de longo prazo, diretos, indiretos, positivos e negativos sobre a base de
seus stakeholders em níveis local, nacional e global (GRI G4, 2015).
As Diretrizes oferecem subsídios valiosos na elaboração de estudos e análises, inclusive para a
criação de indicadores, pois são desenvolvidas por meio de processos que envolvem diversos
stakeholders, entre os quais representantes de empresas, trabalhadores, sociedade civil e os
mercados sendo, conforme defendido por Schaffel (2010) para uma análise da
Responsabilidade Social, produto de um intenso diálogo entre empresa e sociedade.
Na definição dos indicadores sociais desta pesquisa: grau de associativismo das empresas
(formação de acordos setoriais para implementação de ações da logística reversa) e grau de
cooperativismo no setor de reciclagem (grau de inserção e especialização das cooperativas de
71
reciclagem nas diversas etapas que compõem a logística reversa), procurou-se estabelecer uma
relação entre o método SEE Balance de avaliação da ecosocial eficiência, as diversas
recomendações do GRI G4 para os relatórios de sustentabilidade das empresas e a Lei 12.305
de 2010 que instituiu no Brasil a Política Nacional de Resíduos Sólidos, conforme descrito no
quadro 5 a seguir:
GRI G4 PR3 Legislação Brasileira SIF Modelagem Difusa
Product Responsibility Lei 12.305 de 2010 Índice de Associativismo
Ref.: Procedimentos
organizacionais para
Informações sobre
Produtos e Serviços -
Disposição final do
Produto e seus Impactos
Ambientais e Sociais
Art. 3º. Parágrafo XVII
Ref.: Responsabilidade
Compartilhada pelo
Ciclo de Vida do
Produto;
Art. 15º Parágrafo I
Ref.: Acordos Setoriais.
Formação de Acordos
Setoriais para viabilização
das operações de logística
reversa.
Checklist:
Não existência;
Em
implementação;
Em execução.
Society Lei 12.305 de 2010 Índice de Cooperativismo
Porcentagem das
operações implementadas
com engajamento
comunitário local,
avaliação de impactos e
desenvolvimento de
programas – Referentes a
organizações de
trabalhadores, conselhos
de segurança e saúde
ocupacional e outros
grupos de representações
para lidar com os
impactos.
Art. 3º. Parágrafo XII
Ref.: Logística Reversa;
Art 23º. Parágrafo IV
Ref.: Requisitos dos
Acordos Setoriais.
Inserção e Especialização
das Cooperativas de
Reciclagem.
Checklist:
Coleta Seletiva;
Transporte;
Armazenagem;
Seleção;
Tratamento;
Fardamento;
Beneficiamento;
Comercialização.
Quadro 5 - Relação entre GRI G4, Legislação Brasileira e Indicadores Fuzzy.
Fonte: AUTOR (2016).
72
Os indicadores sociais recomendados pelo GRI G4 que mais se aproximam da Lei 12.305 de
2010 são : (i) PR3 (Product Responsibility): Informações dos Tipos de Produtos e Serviços
Requeridos pelos Procedimentos Organizacionais para Informações e Rotulagem de Produtos
e Serviços - Disposição final do Produto e seus Impactos Ambientais e Sociais e (ii) SO1
(Society): Porcentagem das operações implementadas com engajamento comunitário local,
avaliação de impactos e desenvolvimento de programas - Referentes a organizações de
trabalhadores, conselhos de segurança e saúde ocupacional e outros grupos de representações
para lidar com os impactos (GRI G4, 2015).
A Lei 12.305 de 2010 em seu artigo 3º parágrafo XVII consagra o princípio da
Responsabilidade Compartilhada pelo Ciclo de Vida do Produto. Em seu artigo 15º parágrafo I
recomenda a formação de Acordos Setoriais para implementação e potencialização de ações de
logística reversa, recomendando no artigo 3º parágrafo XII que trata da logística reversa e no
artigo 23º parágrafo IV que trata dos requisitos dos Acordos Setoriais, a inclusão das
cooperativas de reciclagem nos processos a serem implementados. (BRASIL, 2010).
A definição dos indicadores sociais: associativismo e cooperativismo, também seguiu as
recomendações de Schaffel (2010), Valim (2011), Gutberlet (2012) e Slivnik; Falvo; Sato
(2012) de que existe a necessidade de um associativismo entre setor público e privado e inserção
das cooperativas de reciclagem e de manejo de resíduos nos processos e nas decisões de
investimentos na cadeia de logística reversa como forma de reduzir custos, implementar e
potencializar economias de escala, obter qualidade, gerar emprego e renda e formular políticas
públicas de combate à pobreza e degradação ambiental.
Na modelagem difusa forma elaborados checklists validados com ajuda de especialistas para
verificação do grau de associativismo na formação de acordos setoriais para logística reversa e
de especialização das cooperativas de reciclagem nas diversas etapas que compõem o ciclo de
reversibilidade a reaproveitamento do produto.
Sobre a definição do indicador normativo, a busca no mercado por certificações ABNT NBR
ISO 14000 , apesar de se constituírem na principal motivação para as ações de responsabilidade
social das empresas, vieram a contribuir de forma global, sensivelmente para a propagação e
aceitação dos atuais princípios, estruturas, requisitos técnicos e orientações relativas a gestão
73
ambiental, entre as quais incluem-se a reciclagem e a reutilização industrial de materiais e
resíduos ao final de ciclo de vida útil (FINKBEINER et. al., 2006).
Especificamente, as Normas ABNT NBR ISO 14040 a 14044, contém os padrões e requisitos
mínimos para as Análises do Ciclo de Vida (ACV) do produto e levantamento de dados para
Inventário do Ciclo de Vida (ICV), atuando como direcionadores para a opção estratégica da
empresa por uma abordagem de inclusão da Reciclagem ao Final de Vida e consequentemente,
a responsabilidade pela reintrodução do produto, material ou resíduo ao seu ciclo produtivo.
(VOGTLÄNDER; BREZET E HENDRIKS, 2001; ISO, 2006).
A este respeito, Nicholson et. al. (2009), observa que existe uma grande dificuldade no caso da
reintrodução de produtos, materiais e resíduos reciclados ao ciclo produtivo na elaboração da
ACV e do ICV do novo produto.
Como atribuir os custos e os impactos ambientais adicionais ou créditos ambientais e suas
cargas. Se a mesma ocorre em circuitos abertos, como os lixões e os aterros sanitários, a
dificuldade é maior pela moisture de materiais, suas composites e emissões durante todo o
tempo de ocorrência do processo de degradação do material. Outro problema são as idas e
vindas do produto com conteúdo reciclado no interior do ciclo de vida, conhecido como efeito
cascata do produto (NICHOLSON et. al., 2009).
Também, como bem observado por Vogtländer; Brezet; Hendriks (2001), o material reciclável
sofre uma perda de qualidade que exige um certo nível de atualização (upgrading) ou uma
composição com a matéria prima de origem, para que realize a mesma função do produto
original.
A contestação do fato da perda da qualidade, reflete-se no custo de tratamento e de adequações
dos processos de fabricação e de conformidade final do produto, influindo técnica e
economicamente na decisão de reutilizar ou não conteúdos reciclados ou mesmo nos
percentuais a serem utilizados (VOGTLÄNDER; BREZET; HENDRIKS, 2001 e
NICHOLSON et. al., 2009).
Desta forma é marcante para a empresa, a importância que a Análise de Ciclo de Vida do
Produto (ACV) e do Inventário do Ciclo (ICV) têm nas suas decisões de inclusão da Reciclagem
74
ao Final de Vida do Produto e de utilização de conteúdo reciclado ao permitir mapear os tipos
e as quantidades de materiais utilizados no produto, as fontes e quantidades de energia
consumidas nos processos e ao longo de todas as etapas do ciclo de vida, a quantificação dos
efluentes e das emissões, permitindo as empresas obterem uma visão holística do produto e das
atividades necessárias ao planejamento estratégico de mercado e aos projetos de
responsabilidade socioambiental (KORONEOS; NANAKI, 2012 e TALMASKY; TAVARES,
2012 e LAURENT et. al., 2014).
Para Frischknecht (2010), a determinação da empresa de utilizar um percentual de conteúdo
reciclado na fabricação de seus produtos, envolve estratégias não só de percepção de valores
econômicos adicionais, aversão ou não ao risco e ecoeficiência que se quer demonstrar ao
mercado, mas também de adequação às normas ambientais legais e conformidade do novo
produto, estas últimas, conforme Vogtländer; Brezet; Hendriks (2001), avaliadas pela ACV e
ICV do novo produto.
Conforme afirmam Van Bellen (2004) e Giacchetti; Giacchetti; Monken (2014) há uma
dificuldade de encontrar um método de consenso, com normas e indicadores para avaliação da
sustentabilidade organizacional, sendo assim necessário estabelecer padrões e referências
adaptadas à realidade de cada empresa e seu negócio.
Na definição do indicador normativo, seguiu-se as recomendações das normas ISO 14040-
14044 (ISO, 2006) para a ACV e ICV do novo produto, padrões e requisitos mínimos,
relacionados à utilização de um determinado percentual de conteúdo reciclado.
- 1º Definição de objetivo;
- 2º Definição do escopo e requisitos mínimos:
A unidade funcional;
O sistema de produto a ser estudado;
As fronteiras do sistema de produto;
Procedimentos de alocação;
Tipos de impacto e metodologia de avaliação de impacto e interpretação subsequente a
ser usada;
Requisitos dos dados;
Suposições;
75
Limitações;
Requisitos da qualidade dos dados iniciais;
Tipo de análise crítica, se aplicável;
Tipo e formato do relatório requerido para o estudo;
- 3º Estrutura da avaliação do ciclo de vida;
- 4º Análise de inventário (ICV);
- 5º Avaliação dos impactos.
Para as empresas, avaliar a sustentabilidade de um projeto socioambiental, envolve avaliar não
só cada dimensão individualmente do modelo Triple Bottom Line, mas avaliar também a
interdependência entre as dimensões: as relações custos e benefícios dos impactos econômicos
sobre as dimensões sociais e ambientais e o resultado final econômico do projeto em cenários
de sustentabilidade a médios e longos prazos (MEDEIROS; MELLO e CAMPOS FILHO,
2007).
Desta forma, um Valor Adicional Sustentável final é representado para a empresa em termos
monetários como um valor econômico adicional obtido após os ajustes em sua ecosocial
eficiência, mantidas todas as outras formas de capital mais ou menos constantes (FIGGE;
HAHN, 2004 e FIGGE; HAHN, 2005).
Esta afirmação está em acordo com a regra econômica do capital constante, visto que para se
alcançar a sustentabilidade final do sistema é necessário manter todos os demais estoques de
capital mais ou menos constantes ao longo do período e maturação do projeto (FIGGE; HAHN,
2004; FIGGE; HAHN, 2005).
Ao se multiplicar o Valor de Spread do Capital i (VSi) obtido pela Quantidade de Capital i (Ki),
empregado pela empresa, obtém-se o Valor Econômico Adicional, sustentável, no entanto,
apenas para a utilização daquele determinado capital i:
Ao se considerar um modelo de sustentabilidade com n = 4 formas de capital, o Valor Adicional
Sustentável Final (VAS), seria determinado por:
VAS Ki = VSi * Ki
76
2.7. O modelo difuso
Garcia et. al. (2007), afirmam que a metodologia mais adequada e usual nas empresas para a
avaliação da sustentabilidade em projetos de responsabilidade socioambiental é aquela que
permite avaliar não somente cenários ex-ante, mas também cenários ex-post, devendo também
considerar os impactos somatórios ou dos resultados finais na formação dos fenômenos
socioambientais, principalmente com foco na origem dos indicadores utilizados nestas
avaliações.
Para Medeiros; Mello; Campos Filho (2007), o atual desenvolvimento e utilização pelas
empresas de modelos de avaliação da sustentabilidade em projetos, cuja características
subjetivas dos indicadores, envolvem juízos de valor e natureza não linear dos problemas,
acarreta uma alta subjetividade e imprevisibilidade aos diversos agentes sociais e ambientais
(stakeholders), partes envolvidas nestes projetos, direta e indiretamente, trazendo
consequentemente, altos graus de incertezas sobre a sustentabilidade e seus resultados
econômicos finais, mostrando-se assim insatisfatórios para a visualização de possíveis cenários
ex-post, ou seja, após as suas reais implantações.
O objetivo de avaliação das empresas pela implementação ou não de um projeto socioambiental
é precisamente o de reduzir incertezas e riscos de insucesso, os quais possam vir a acarretar
prejuízos financeiros ou danos à imagem da empresa e ao produto no mercado (MEDEIROS;
MELLO; CAMPOS FILHO, 2007).
Conforme descrevem Cornelissen et. al. (2001), o conceito de sustentabilidade é difuso e a
aplicação da lógica fuzzy permite a atuação sobre múltiplos valores, oferecendo assim uma
estrutura matemática não formal.
VAS = ¼ ∑ VAS K𝑖 𝑛=4𝑖=1
77
Sua característica e contribuição principal na avaliação da sustentabilidade é permitir a
avaliação do projeto no campo intermediário ou zona difusa, entre o estritamente sustentável e
o estritamente insustentável com a imprecisão descrevendo o grau em que a sustentabilidade
ocorre. É então aplicada sob a forma de regras if-then (se...então), obtendo-se ao final no
módulo de defuzzificação, um valor crisp para a sustentabilidade final do sistema
(CORNELISSEN et. al., 2001).
Para Toledo (2003), a principal contribuição da aplicação da modelagem difusa aos modelos de
avaliação dos projetos de responsabilidade social e da sustentabilidade é tornar a análise mais
abrangente e próxima da realidade, integrando às pesquisas de caráter qualitativo e quantitativo
sob uma mesma perspectiva de avaliação, ou seja, gerando resultados quantitativos a partir de
dados qualitativos.
A noção de sustentabilidade pela modelagem difusa, envolve trade-offs entre os custos de
oportunidades das diversas dimensões e os trade-offs por sua vez, interferem diretamente sobre
o conceito final do que é ou não sustentável, definindo qual a alocação mais eficiente do capital
estratégico para a empresa (CORNELISSEN et. al., 2001 e FIGGE; HAHN, 2005).
Cornelissen et. al. (2001) afirmam que uma avaliação eficaz da sustentabilidade de um projeto
pela modelagem difusa dependerá das dimensões e dos indicadores propostos. A seleção dos
indicadores para o modelo, definirá o quanto se sabe sobre a sustentabilidade do mesmo, ou
seja, a quantidade de informação disponível e o quanto não se sabe sobre esta mesma
sustentabilidade, ou seja, a quantidade de informação que não está disponível. Desta forma, a
certeza sobre a sustentabilidade de um projeto com o uso da lógica difusa, dependerá de
informações completas e coerentes.
Para reduzir a incerteza sobre a sustentabilidade do projeto para um nível maior de controle e
para se obter um modelo viável é, portanto, necessário, reduzir a quantidade dos indicadores.
Torna-se racional este procedimento, segundo o autor (op. cit.), pois informações incompletas
são uma característica fundamental de conceitos complexos como o conceito de
sustentabilidade. As informações também são sempre inconsistentes e mutáveis, pois,
expectativas sociais ou humanas, alteram-se ao longo do tempo em função de oportunidades,
portanto, dependentes do contexto ou período de análises. Portanto, o modelo é flexível e
mutável ao longo do tempo.
78
Phillis e Andriantiatsaholiniaina (2001) afirmam que as informações obtidas para um
tratamento de dados consistente deve conter: (i) abordagem de todas as dimensões do modelo
proposto; (ii) indicação clara se o objetivo será cumprido; (iii) poderem ser expressos
quantitativamente; (iv) serem compreensíveis para não especialistas e (v) conterem parâmetros
para uma avaliação no longo prazo.
Para Kachba et. al. (2010), a abordagem da modelagem matemática da lógica difusa difere da
lógica tradicional booliana, a qual verifica simplesmente o fato do elemento pertencer ou não a
um determinado conjunto. A lógica difusa avalia o grau de pertinência de um determinado
elemento em relação a um dado conjunto também difuso.
O grau de pertinência assume valores entre 0 e 1, sendo que os extremos representam,
respectivamente, a exclusão total ou a total pertinência do elemento em relação ao conjunto:
Sendo µA (x) a função de pertinência do elemento x no conjunto A cujo domínio é X
e o contra domínio o intervalo de [0;1], um conjunto nebuloso A em x é um conjunto
de pares ordenados dado pela equação:
A = {(x, µA(x)) | x ϵ X} (KACHBA et. al., 2010).
O grau de pertinência não é uma medida provável, mas sim compatível ao conjunto analisado.
Desta forma existe uma diferença conceitual importante entre as funções de uma distribuição
probabilística, onde a probabilidade determina a ocorrência ou a chance de uma variável
assumir um determinado valor e a distribuição fuzzy, a qual trabalha com a incerteza ou o grau
de possibilidade da variável assumir um determinado valor (KACHBA et. al., 2010).
Toledo (2003), cita um exemplo para a distinção entre a lógica fuzzy e os modelos estatísticos:
Imaginemos que um indivíduo sedento deve optar pela escolha entre duas garrafas A
ou B, contendo líquidos e exista um subconjunto L de todos os líquidos potáveis. Os
rótulos informam que o grau de pertinência (µ) fuzzy da garrafa A em relação a L é
dado por:
L: µ (A ϵ L) = 0,91
E que o a probabilidade da garrafa B pertencer ao subconjunto L é dado por:
Prob (B ϵ L) = 0,91
Uma leitura fuzzy nos indica que o conteúdo de A é muito similar a água potável
(poderia conter por exemplo, água da pia, água de um pântano, mas nunca ácido
clorídrico, por exemplo). A leitura estatística no rótulo da garrafa B, no entanto, nos
79
informa que existe uma possibilidade de 9% de seu conteúdo ser inadequado a saúde
humana ou mesmo ser um veneno.
Portanto, a lógica fuzzy dá a indicação correta ao consumidor de escolher e consumir
o conteúdo da garrafa A (TOLEDO, 2003).
Outra diferença entre a lógica difusa e a lógica booleana é a utilização de variáveis linguísticas
(exemplos: limitada, ampla, isolada, média, boa, ruim, etc.) em substituição às variáveis
numéricas, respectivamente. No método fuzzy a utilização de variáveis linguísticas é
denominada de Módulo da Base de Regras.
As variáveis linguísticas definem os graus de intensidade das interações entre os indicadores.
O módulo da Base de Regras é definido por quatro itens: (i) indicadores; (ii) os seus respectivos
valores linguísticos (iii) as funções de pertinência destes valores linguísticos e (iv) o domínio
físico sobre o qual a variável toma valores quantitativos (PHILLIS;
ANDRIANTIATSAHOLINIAINA, 2001).
As relações entre as variáveis linguísticas de entrada e saída são descritas pelo Módulo de
Inferências (preposições e conectivos) que modela a Base de Regras, tais como:
SE; ENTÃO;
Ex.: SE x ϵ A E y ϵ B ENTÃO z ϵ C
E (grau de pertinência mínimo)
Ex.: x ϵ A ᴧ y ϵ B = min {µA (x), µB (y)}
OU (grau de pertinência máximo)
Ex.: x ϵ A ᴠ y ϵ B = max {µA (x), µB (y)}
Os resultados obtidos com a aplicação das diversas inferências fuzzy são então agregados,
considerando os valores máximos (conectivo OU) para os graus de pertinência da variável de
saída em relação a um determinado conjunto fuzzy.
Ocorre então a formalização por meio da representação de um dado número não fuzzy
(denominado de número crisp) resultante da aplicação das diversas inferências para o gráfico
do conjunto fuzzy agregado, trazendo-o assim para o modo discreto através do módulo de
defuzzificação. Comumente utiliza-se para a defuzzificação, o método de cálculo do baricentro
ou centro de gravidade.
80
Um exemplo da aplicação da lógica nebulosa está a seguir adaptado de Phillis e
Andriantiatsaholiniaina (2001), onde uma determinada empresa que busca avaliar a
sustentabilidade de um processo de fabricação de um novo produto utiliza as variáveis
linguísticas para os valores econômicos: “muito”, “pouco” e para os valores sociais e
ambientais: péssima”, “insuficiente”, “satisfatória” e “ótima” No módulo de defuzzificação,
“péssima”, “insuficiente”, “satisfatória” e “ótima” vão fornecer um único valor crisp ou discreto
para a avaliação da sustentabilidade do projeto.
SE a empresa tem “muito” lucro e polui “pouco”, ENTÃO ela é “ótima” em
Sustentabilidade.
SE a empresa tem “muito” lucro e polui “muito”, ENTÃO ela é “insuficiente” em
Sustentabilidade.
SE a empresa tem “pouco” lucro e polui “pouco”, ENTÃO ela é “satisfatória” em
Sustentabilidade.
SE a empresa tem “pouco” lucro e polui “muito”, ENTÃO ela é “péssima” em
Sustentabilidade6 (PHILLIS; ANDRIANTIATSAHOLINIAINA, 2001).
A figura 8, ilustra as potencialidades da interface gráfica do MATLAB para a criação e controle
dos sistemas de inferência fuzzy.
6 Tradução e adaptação livre do autor.
82
3 METODOLOGIA
Inicialmente foi realizada uma abordagem qualitativa, utilizando a metodologia teórica
conceitual com revisão de literatura. Dado que conforme afirma Flick (2012), este tipo de
abordagem pode envolver pouco ou nenhum contato direto com a realidade, foi acrescentada
uma pesquisa quantitativa, realizada a partir de análises das práticas reais de mercado e de
benchmarking de setores mais relevantes para a análise da reciclagem e utilização de conteúdo
reciclado como o setor de plásticos (especificamente o polietileno tereftalato) e de alumínio.
Com o objetivo de comprovar ou diferenciar o método de pesquisa teórico conceitual e do
estado de arte atual do método quantitativo, o qual envolvia diversas variáveis subjetivas,
sujeitas a juízos de valor e alterações no contexto ao longo do tempo, foi realizada uma
aplicação da lógica difusa para comparar e validar aspectos metodológicos e hipótese utilizadas
na pesquisa.
3.1 Classificação científica
Segundo Vergara (2005), dois critérios podem ser utilizados para classificação científica de
uma pesquisa: (a) quanto aos fins e (b) quanto aos meios.
83
3.1.1 Quanto aos fins
A pesquisa em sua abordagem qualitativa é descritiva, conforme descreve Flick (2012), onde
as práticas sociais, culturais e do meio ambiente, interagem sobre os diversos agentes dos
processos sob análise e são então descritas com o principal objetivo de explorar novos aspectos
para as questões propostas. A partir destes novos pontos se desenvolvem hipóteses e teorias
necessárias ao alcance do objetivo principal do estudo.
A pesquisa também é exploratória pois define metas a serem alcançados pelas empresas em
busca da sustentabilidade em seus negócios, no entanto, estabelecendo limites e desafios a
serem ainda superados no rumo desta mesma sustentabilidade.
No caso, o objetivo principal da pesquisa é propor a partir do foco em análises das dimensões
econômica, ambiental, social e normativa de um modelo difuso, um indicador de valor adicional
sustentável para reciclagem do alumínio e sua reutilização industrial.
A pesquisa também é metodológica e aplicada, pois o objetivo do pesquisador ao escolher a
abordagem qualitativa, descrevem Vergara (2005) e Gray (2012) é obter uma perspectiva mais
profunda, intensa e holística sobre os métodos escolhidos pelas empresas, no caso específico
deste trabalho para análise de seus projetos de responsabilidade socioambiental.
Na promoção da sustentabilidade, método e interação entre empresa e stakeholders são
confrontados com as práticas reais de mercado, no caso específico, as relações comerciais da
empresa com seus colaboradores, consumidores, grupos formadores de opinião, comunidades
e organismos públicos e privados em torno da decisão de aplicação de uma dinâmica social para
inclusão da logística reversa reciclagem e utilização de conteúdo reciclado na fabricação de
novos produtos.
Em relação a aplicação da abordagem quantitativa à pesquisa, Flick (2012) afirma que a mesma
é caracterizada pelo procedimento de partir de conceitos previamente expressos sob formas de
teorias ou hipóteses, os quais foram extraídos da pesquisa qualitativa, para a formulação de
84
indicadores e operacionalizações, buscando na mensuração por métricas, as comprovações
necessárias.
No caso desta pesquisa, buscou-se comprovar pela modelagem difusa as hipóteses de
Frischknecht (2010) de que a partir de um determinado ponto de equilíbrio entre o impacto
ambiental adicional e valor econômico adicional da matéria prima original e do conteúdo
reciclado, a ecoeficiência de ambos os tipos de materiais se invertem, tornando assim menos
atraente para as empresas a inclusão da reciclagem ao final de vida útil dos seus produtos.
A partir da exploração bibliográfica dos conceitos teóricos fundamentais da Logística Reversa
e da Análise do Ciclo de Vida dos Produtos e de hipóteses que levariam a empresa a
implementar a reciclagem e a utilização de conteúdo reciclado em seus processos industriais, a
pesquisa buscou investigar modelos e aplicações consagradas pelas empresas para as avaliações
de ecoeficiência, ecosocial eficiência ou responsabilidade social e da conformidade final de
produtos com conteúdo reciclado.
Devido a razão do conceito de sustentabilidade ser fragmentado, não podendo ser bem definido
devido a um grande número de componentes individuais, ou seja, indicadores e métricas, cuja
síntese é quase impossível de se alcançar, a teoria da probabilidade com base na teoria clássica
dos conjuntos e da lógica de dois valores, obtidos por tentativa e erro ou mesmo, uma
abordagem matemática formal, tal como a análise de custo-benefício ou algébrica para definir
a sustentabilidade ou a não de um projeto, tornam-se insatisfatórias, pois alguns fatores de
natureza subjetiva, sujeita a juízos de valor, acabam por se situarem fora destas avaliações.
A aplicação da lógica nebulosa a pesquisa tem a finalidade, conforme definido por Toledo
(2003), de tornar a análise subjetiva mais abrangente e próxima do mundo real, integrando as
pesquisas de caráter qualitativo e quantitativo sob uma mesma ótica de avaliação, ou seja,
gerando resultados quantitativos econômicos a partir de dados qualitativos sociais, ambientais
e normativos.
85
3.1.2 Quanto aos meios
Quanto aos meios, a pesquisa qualitativa com revisão da literatura, tomou como referência,
analisar cada dimensão do modelo proposto triple bottom line
A pesquisa quantitativa ao definir as dimensões, indicadores e métricas, seguiu as
recomendações de Oliveira et. al. (2012) de buscar como proposta um modelo de alinhamento
dos princípios de sustentabilidade às estratégias organizacionais das empresas
Recomendações da Global Reporting Initiative (GRI G4, 2015) são utilizadas na pesquisa
quantitativa para definição dos indicadores sociais, seguindo as recomendações de Lima (2007)
de que o estabelecimento de metas e diretrizes socioambientais de maior amplitude,
proporcionam um desafio para as empresas, contribuindo assim para o desenvolvimento e o
aperfeiçoamento dos modelos de sustentabilidade.
O modelo SEE Balance, desenvolvido pela empresa BASF da Alemanha (BASF, 2015), tornou-
se uma das referências para delinear o formato da modelagem difusa por ser utilizado em muitas
empresas para cálculo da ecoeficiência e da ecosocial Eficiência na comparação de produtos e
devido as observações de Schaffel (2010) de que devido a sua dinâmica e flexibilidade, o
modelo SEE Balance poderia vir a ser adaptado para aplicação na quase totalidade de setores,
incluindo na reciclagem e no reaproveitamento industrial de materiais e resíduos.
Nesse ponto, a pesquisa é experimental ao aliarmos o modelo SEE Balance, o GRI G4, a Lei
12.305 de 2010 e os Relatórios de Sustentabilidades das empresas benchmarking do setor de
alumínio no Brasil (ALCOA, 2014) e no mundo (NOVELIS, 2015) para identificar o estado da
arte atual e target para o setor de reciclagem e reutilização de conteúdo reciclado de alumínio,
proporcionando assim as contribuições na definição das métricas para a aplicação da
modelagem difusa.
Na simulação do modelo difuso aplicado a pesquisa, o Sistema de Inferência Fuzzy (SIF) é
apresentado sendo composto por quatro subsistemas: ambiental, econômico, social e normativo.
86
A sustentabilidade global é avaliada através do Índice de Valor Adicional Sustentável (VAS),
sendo uma função de integridade de cada subsistema individual, concebido através da lógica
difusa, conforme a figura 9:
(p , q)
(1-p , 1-q)
(p , q)
(1-p , 1-q)
Figura 9 – Sistema de inferências Fuzzy do modelo.
Fonte: AUTOR (2016).
O Sistema de Inferências Fuzzy (SIF) SUGENO foi aplicado às dimensões ambiental e
econômica do modelo de sustentabilidade. A aplicação do SIF SUGENO é característica
quando existem funções determinísticas que podem ser inseridas na modelagem.
As funções determinísticas foram extraídas dos estudos de Frischknecht (2010), sobre o
comportamento das variáveis ambiental e econômica frente a uma abordagem da empresa da
ACV e ICV com Reciclagem ao Final do Ciclo de Vida. Ilustrações destas análises podem ser
consultadas nos Apêndices A, B e C da pesquisa.
p é uma variável, representada pelo percentual de alumínio primário na liga ou produto final
q é uma variável, representada pelo percentual de sucata de alumínio na liga ou produto final
O SIF Ambiental no editor de regras é representado pela figura 10 a seguir:
Ambiental (Emissões)
Eco
Eficiência
Econômica (Custos)
Conteúdo Reciclado
FIS Sugeno
Normativa
VAS
Associativismo
C
CCooperativismo
Social
FIS Mamdani
FIS Mamdani
87
Figura 10 – SIF ambiental.
Fonte: AUTOR (2016)
Com base nas análises desenvolvidas por Frischknecht (2010) para avaliação do
comportamento dos impactos ambientais adicionais (normalizados em emissões) do alumínio
primário e na sucata de alumínio com a inclusão da reciclagem ao final de vida, as funções
determinísticas aplicadas nas entradas ou inputs do SIF Ambiental estão descritas abaixo:
Emissões em kg de CO2 eq-/kg do Alumínio Primário c/ Reciclagem
Emissões em kg de CO2 eq-/kg da Sucata de Alumínio c/ Reciclagem
Onde
p é uma variável, representada pelo percentual de alumínio primário na liga ou produto final
q é uma variável, representada pelo percentual de sucata de alumínio na liga ou produto final
c1, constante, representada pelas emissões do alumínio primário
c2, constante (emissões da Sucata de Alumínio)
O SIF Econômico no editor de regras está representado na figura 11 abaixo:
p*c1 + q*c2
(1-p)*c1 + (1-q)*c2
88
Figura 11 – SIF Econômico.
Fonte: AUTOR (2016).
Da mesma forma, as análises desenvolvidas por Frischknecht (2010) para avaliação do
comportamento dos valores econômicos adicionais do alumínio primário e da sucata de
alumínio com a inclusão da reciclagem ao final de vida, forneceram as funções determinísticas
a serem aplicadas nas entradas ou inputs do SIF Econômico:
Custo em US$/kg do Alumínio Primário c/ Reciclagem
Custo em US$/kg da Sucata de Alumínio c/ Reciclagem
Onde
p, variável (percentual de Alumínio Primário na Liga)
q, variável (percentual de Sucata de Alumínio na Liga)
k1, constante (custo do Alumínio Primário)
k2, constante (custo da Sucata de Alumínio)
A base de regras para a dimensão ambiental é apresentada na figura 12:
p*k1 + q*k2
(1-p)*k1 + (1-q)*k2
89
Figura 12 – Base de Regras: Ambiental.
Fonte: AUTOR (2016).
A base de regras para a dimensão econômica é apresentada na figura 13:
Figura 13 – Base de Regras: Econômico.
Fonte: AUTOR (2016).
As funções de pertinência para o SIF Ambiental e o SIF Econômico apresentam o mesmo
comportamento e portanto a mesma configuração gráfica pode representá-las como na figura
14.
Figura 14 – Funções de Pertinência da Dimensão Ambiental.
Fonte: AUTOR (2016).
90
Os inputs ou entradas dos SIF Ambiental e Econômico, partem sempre dos percentuais situados
no range entre 0 e 1 (correspondendo a 0% a 100%) de material primário (p) e do material
reciclado (q) utilizados na composição do produto final.
No caso da dimensão ambiental o output ou saída é o Impacto Ambiental Adicional,
representado pelas emissões normalizadas em kg CO2 eq-/kg de material utilizado. No caso da
dimensão econômica o output ou saída é o Valor Econômico Adicional (VEA) em US$/kg de
material utilizado.
Observa-se nas funções de pertinência ambiental e econômica que há um parâmetro [0.0 0.5]
que define uma zona difusa a partir do ponto onde emissões e custos passam por uma inflexão
em suas tendências de altas e baixas com a consequente inversão das ecoeficiências finais de
cada tipo de material. Ilustrações das análises determinísticas de Frischknecht (2010), sobre
estas inversões podem ser consultadas nos Apêndices A, B e C da pesquisa.
A relação entre meio ambiente e economia é representada pelo cálculo da ecoeficiência. A
ecoeficiência é expressa em um valor relativo entre o Impacto Ambiental Adicional e o Valor
Econômico Adicional do produto final (ZHANG et. al., 2008).
Como o foco da pesquisa é a avaliação segundo Figge; Hahn (2005) de um Valor Adicional
Sustentável com a inclusão da Reciclagem ao Final de Vida do produto e consequentemente a
utilização de um determinado conteúdo reciclado, a expressão que define o valor relativo da
ecoeficiência do produto final, conforme recomenda Zhang et. al. (2008) é apresentada a seguir:
Desta forma, quanto menor for a relação entre as emissões em kg CO2 eq-/US$ de valor
adicional obtido pela empresa por kg de material a ser utilizado no processo de fabricação,
maior será a ecoeficiência em sua utilização.
O Sistema de Inferências Fuzzy (SIF) MAMDANI foi aplicado às dimensões social e normativa
do modelo. A aplicação do SIF MAMDANI é característica quando não há funções
determinísticas que possam vir a ser aplicadas. As dimensões e os indicadores apresentam
elevados graus de subjetividade, sujeitos a julgamento de valor pelos stakeholders, sendo difícil
(1) Ecoeficiência = Impacto Ambiental Adicional
Valor Econômico Adicional
91
a sua mensuração ou atribuição por valores discretos, consequentemente não podendo ser
expressas através de métodos tradicionais como, por exemplo, o método probabilístico.
O SIF Social no editor de regras é descrito na figura 15 a seguir:
Figura 15 – SIF Social.
Fonte: AUTOR (2016).
Os indicadores de Associativismo e Cooperativismo estão representados no editor de funções
de pertinências e são descritos a seguir:
A figura 16, apresenta as funções de pertinência para o grau de associativismo do setor,
representado por um checklist de não existência, implementação ou execução de acordos
setoriais para ações de logística reversa.
Figura 16 – Funções de Pertinência da Dimensão Social – Associativismo.
Fonte: AUTOR (2016).
Observa-se nas funções de pertinência social - associativismo que o parâmetro [0.0 0.15] define
uma zona difusa de baixo associativismo do setor, onde os acordos setoriais são inexistentes ou
ainda não estão totalmente na fase de implementação.
92
A figura 17, apresenta as funções de pertinência para o grau de cooperativismo do setor,
representado por um checklist da inserção e especialização das cooperativas de reciclagem nas
diversas etapas que compõem a logística reversa do produto: coleta seletiva, transporte,
armazenagem, seleção, tratamento, beneficiamento, fardamento e comercialização finais.
Figura 17 – Funções de Pertinência da Dimensão Social – Cooperativismo.
Fonte: AUTOR (2016).
Observa-se nas funções de pertinência social - cooperativismo que o parâmetro [0.0 0.5] define
uma zona difusa de baixa inserção e especialização das cooperativas de reciclagem nos
processos logísticos reversos, resumida às etapas de coleta seletiva, transporte, armazenagem e
seleção do produto reciclado.
No caso da dimensão social o output ou saída é um indicador de ecosocial eficiência
apresentado na figura 18 e que reflete a responsabilidade compartilhada ou comprometimento
social da empresa com a ACV do produto e sua reciclagem ao final de vida.
Figura 18 – Funções de Pertinência da Dimensão Social – Ecosocial Eficiência.
Fonte: AUTOR (2016).
A base de regras da dimensão social é descrita na figura 19:
93
Figura 19 – Base de Regras: Social.
Fonte: AUTOR (2016).
A ecosocial eficiência do produto final no visualizador de superfícies é apresentada abaixo na
figura 20.
Figura 20 – Ecosocial Eficiência – superfície tridimensional.
Fonte: AUTOR (2016).
O SIF Normativo é representado no Editor de Regras pela figura 21:
94
Figura 21 – SIF Normativo.
Fonte: AUTOR (2016).
As funções de pertinência para o conteúdo reciclado do novo produto estão representadas no
editor de funções de pertinências abaixo.
A figura 22 representa a entrada ou input de percentuais de conteúdo reciclado em um range [0
a 0.8] correspondente a 0% e 80% respectivamente com base nas informações dos relatórios de
sustentabilidade da Novelis (2014) que apontam para um estado da arte atual de 46% de
utilização da sucata de alumínio e um target estimado de 80% desta utilização para o ano de
2020.
Figura 22 – Função de Pertinência Normativa - Conteúdo Reciclado.
Fonte: AUTOR (2016).
A figura 23, representa a saída ou output da conformidade exigida para o novo produto com a
utilização de um percentual de conteúdo reciclado.
95
Figura 23 – Função de Pertinência Normativa - Conformidade.
Fonte: AUTOR (2016).
A base de regras da dimensão normativa é apresentada na figura 24:
Figura 24 – Base de Regras: Normativa.
Fonte: AUTOR (2016).
Observa-se nas funções de pertinência ambiental e econômica que há um parâmetro [0.0 0.5]
que define uma zona difusa a partir do ponto onde ocorre uma inflexão nas relações entre
percentual de conteúdo reciclado e conformidade exigida para o novo produto: de diretamente
proporcionais para inversamente proporcionais.
O gráfico desta função é apresentado na figura 25, mostra a relação entre o percentual de
conteúdo reciclado no produto e o grau de conformidade exigido.
96
Figura 25 – Função: conteúdo reciclado versus grau de conformidade.
Fonte: AUTOR (2016).
O Valor Adicional Sustentável do produto final é avaliado no SIF a partir das funções de
integridade de cada subsistema individual: o SIF 1 da ecoeficiência obtida na relação entre
impacto ambiental adicional e valor econômico adicional do novo produto com conteúdo
reciclado, o SIF 2 da ecosocial eficiência ou inclusão da Responsabilidade Social da empresa
com o ciclo de vida do produto e o SIF 3 do grau de conformidade exigido em acordo com o
conteúdo reciclado, sendo ilustrado na figura 26 a seguir.
Figura 26 – SIF Valor Adicional Sustentável.
Fonte: Fonte: AUTOR (2016).
A base de regras definida para o VAS está demonstrada na figura 27:
97
Figura 27 – Base de regras VAS.
Fonte: AUTOR (2016).
O VAS então é um valor crisp relativo que demonstra a relação entre os custos e impactos
socioambientais adicionais do novo produto com conteúdo reciclado e o valor econômico
adicional obtido pela empresa (já descontado o custo de oportunidade) ao optar pela Reciclagem
e Reutilização ao Final de Vida (PHILLIS; ANDRIANTIATSAHOLINIAINA, 2001 e
SALING et. al., 2002 e KRATENA, 2004 e FIGGE; HAHN, 2005).
98
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na simulação da modelagem fuzzy aplicada à pesquisa, foram consideradas as seguintes
métricas para comparações e avaliações da dinâmica de comportamento dos indicadores
ambientais, econômicos, sociais e normativos definidos e a obtenção do VAS final do produto
para cada tipo de material utilizado na composição do produto final:
As constantes de emissões para o alumínio primário de 11.8 kg CO2 eq-/kg de material
e da sucata de alumínio 0.41 kg CO2 eq-/kg de material em uma abordagem inicial Cut-
off ou sem a inclusão da reciclagem (FRISCHKNECHT, 2010; ECOINVENT, 2015).
As constantes de custos para o alumínio primário de US$ 1.5/kg de material e da sucata
de alumínio US$ 1/kg de material em uma abordagem inicial Cut-off ou sem a inclusão
da reciclagem (ABAL, 2012; LME, 2015).
0.54 ou 54% de utilização de alumínio primário (p);
0.46 ou 46% de estado da arte atual na utilização atual de conteúdo reciclado de
alumínio na produção da liga (q = 1-p) (NOVELIS, 2015);
0.46 ou 46% de conteúdo reciclado para análise e obtenção de conformidade e
adequação do novo produto ao mercado;
0.5 ou 50% de associativismo para um status atual do acordo setorial em implementação
do setor de embalagens e recipientes em geral, incluindo as latas de alumínio (BRASIL,
2015);
0.75 ou 75% para o grau de inserção e especialização das cooperativas que reciclam
alumínio. Etapas de coleta seletiva, transporte, armazenagem, seleção, tratamento e
fardamento (ABAL, 2012).
Na figura 28 a seguir, observa-se na simulação com a inclusão de um conteúdo reciclado de
46%, o comportamento das emissões, custos, ecoeficiência, ecosocial eficiência e do VAS final
para o alumínio primário:
100
Os resultados observados no comportamento dos indicadores do alumínio primário e que
refletiriam o estado atual da arte são apresentados na tabela 6 com a abordagem de corte
inicial e na tabela 7 com a reciclagem de 46% e demais índices:
Tabela 6 – Alumínio primário com abordagem de corte.
Alumínio US$/kg kg CO2 eq-/kg Ecoeficiência
kg CO2 eq-/US$
Primário 1.50 11.8 7.87
Fonte: AUTOR (2016).
Tabela 7 – Alumínio primário com reciclagem de 46%.
Alumínio US$/kg kg CO2 eq-/kg Ecoeficiência
kg CO2 eq-/US$
Primário 1.301 6.148 4.727
Fonte: AUTOR (2016).
Índice de Conformidade: 4.98
Índice Social: 5.569
Índice VAS: 2.542
A figura 29 a seguir, observa-se na simulação com a inclusão de um conteúdo reciclado de 46%,
o comportamento das emissões, custos, ecoeficiência, ecosocial eficiência e do VAS final para
a sucata de alumínio:
102
Os resultados observados no comportamento dos indicadores da sucata de alumínio e que
refletiriam o estado atual da arte são apresentados na tabela 8 com a abordagem de corte
inicial e na tabela 9 com a reciclagem de 46% e demais índices:
Tabela 8 – Sucata de alumínio com abordagem de corte.
Alumínio US$/kg kg CO2 eq-/kg Ecoeficiência
kg CO2 eq-/US$
Sucata 1.00 0.41 0.41
Fonte: AUTOR (2016).
Tabela 9 – Sucata de alumínio com reciclagem de 46%.
Alumínio US$/kg kg CO2 eq-/kg Ecoeficiência
kg CO2 eq-/US$
Sucata 1.297 6.062 4.673
Fonte: AUTOR (2016).
Índice de Conformidade: 4.98
Índice Social: 5.569
Índice VAS: 2.537
Como os índices de Conformidade e Social são os mesmos para o alumínio primário e para a
sucata de alumínio e essa ainda permanece mais ecoeficiente do que aquela, a obtenção de um
VAS final menor para a sucata de alumínio pode ser interpretada como ocasionada diretamente
pelo aumento das suas emissões em CO2 e dos seus custos de aquisição no mercado. O aumento
das emissões da sucata de alumínio é atribuído ao “efeito cascata” do produto, descrito como o
retorno do conteúdo reciclado ao ciclo produtivo na composição do novo produto, o qual pode
ocorrer inúmeras vezes até se tornar um resíduo final (VOGTLÄNDER; BREZET;
HENDRIKS, 2001).
O aumento nos custos de aquisição da sucata de alumínio é atribuído as leis econômicas de
oferta e procura e de equilíbrio dos mercados sob uma análise do custo de oportunidade
(FIGGE; HAHN, 2004 e FIGGE; HAHN, 2005 e SPINACÉ; PAOLI, 2005 e HOPEWELL;
DVORAK; KOSIOR, 2009).
103
Para efeitos de comparações e avaliações da dinâmica de comportamento dos indicadores
ambientais, econômicos, sociais e normativos definidos e a obtenção do VAS final do produto
para cada tipo de material utilizado na composição do produto, frente a elevação do percentual
de conteúdo reciclado para 80%, foram consideradas as seguintes métricas para simulação no
modelo fuzzy:
As constantes de emissões para o alumínio primário de 11.8 kg CO2 eq-/kg de material
e da sucata de alumínio 0.41 kg CO2 eq-/kg de material em uma abordagem inicial Cut-
off ou sem a inclusão da reciclagem (FRISCHKNECHT, 2010; ECOINVENT, 2015);
As constantes de custos para o alumínio primário de US$ 1.5/kg de material e da sucata
de alumínio US$ 1/kg de material em uma abordagem inicial Cut-off ou sem a inclusão
da reciclagem (ABAL, 2012; LME, 2015);
0.20 ou 20% de utilização de alumínio primário (p);
0.80 ou 80% de estado da arte atual na utilização atual de conteúdo reciclado de
alumínio na produção da liga (q = 1-p) (NOVELIS, 2015);
0.80 ou 80% de conteúdo reciclado para análise e obtenção de conformidade e
adequação do novo produto ao mercado;
1 ou 100% de associativismo para um status atual do acordo setorial em execução do
setor de embalagens e recipientes em geral, incluindo as latas de alumínio;
1 ou 100% para o grau de inserção e especialização das cooperativas que reciclam
alumínio. Todas as etapas de coleta seletiva, transporte, armazenagem, seleção,
tratamento, fardamento, beneficiamento e comercialização a indústria.
Na figura 30 a seguir, observa-se na simulação com a inclusão de um conteúdo reciclado de
80%, o comportamento das emissões, custos, ecoeficiência, ecosocial eficiência e do VAS final
para o alumínio primário:
105
Os resultados observados no comportamento dos indicadores do alumínio primário e que
refletiriam a meta da empresa benchmarking mundial no setor de reciclagem de alumínio da
empresa (Novelis, 2015) para o ano de 2020 são apresentados na tabela 10 com a abordagem
de corte inicial e na tabela 11 com a reciclagem de 80% e demais índices:
Tabela 10 – Alumínio primário com abordagem de corte.
Alumínio US$/kg kg CO2 eq-/kg Ecoeficiência
kg CO2 eq-/US$
Primário 1.50 11.8 7.87
Fonte: AUTOR (2016).
Tabela 11 – Alumínio primário com reciclagem de 80%.
Alumínio US$/kg kg CO2 eq-/kg Ecoeficiência
kg CO2 eq-/US$
Primário 1.147 2.162 1.885
Fonte: AUTOR (2016).
Índice de Conformidade: 5.908
Índice Social: 8.367
Índice VAS: 2.59
A figura 31 a seguir, observa-se na simulação com a inclusão de um conteúdo reciclado de 80%,
o comportamento das emissões, custos, ecoeficiência, ecosocial eficiência e do VAS final para
a sucata de alumínio:
107
Os resultados observados no comportamento dos indicadores da sucata de alumínio e que
refletiriam a meta da empresa benchmarking mundial no setor de reciclagem de alumínio
(Novelis, 2015) para o ano de 2020 são apresentados na tabela 12 com a abordagem de corte
inicial e na tabela 13 com a reciclagem de 80% e demais índices:
Tabela 12 – Sucata de alumínio com abordagem de corte.
Alumínio US$/kg kg CO2 eq-/kg Ecoeficiência
kg CO2 eq-/US$
Sucata 1.00 0.41 0.41
Fonte: AUTOR (2016).
Tabela 13 – Sucata de alumínio com reciclagem de 80%.
Alumínio US$/kg kg CO2 eq-/kg Ecoeficiência
kg CO2 eq-/US$
Sucata 1.451 10.05 6.927
Fonte: AUTOR (2016).
Índice de Conformidade: 5.908
Índice Social: 8.367
Índice VAS: 2.885
Com um percentual de reciclagem maior de 80%, os índices de Conformidade e Social
continuam sendo iguais para o alumínio primário e para a sucata de alumínio, mas agora
observa-se que alumínio primário se torna mais ecoeficiente, devido a redução das suas
emissões e custos de aquisição no mercado.
A obtenção de um índice de VAS final maior para a sucata de alumínio pode ser interpretada
como ocasionada diretamente pelo aumento dos índices de Conformidade e Social para a liga
de alumínio com 80% de conteúdo reciclado e 20% de alumínio primário.
A análise do ponto de vista estritamente econômico e ambiental na utilização de um conteúdo
reciclado de 80% na fabricação da liga de alumínio, ou seja a análise da ecoeficiência final do
produto, sinaliza para a empresa a opção de custos e impactos socioambientais menores na
utilização do alumínio primário. No entanto, uma análise com inclusão das dimensões sociais
108
e normativas, no entanto, apontam para um maior índice de VAS final para a utilização
industrial do conteúdo reciclado.
109
5 CONCLUSÕES
Uma primeira conclusão da pesquisa é a validação de Frischknecht (2010), sobre o
comportamento dos impactos ambientais e valores econômicos adicionais do material primário
e da sucata, advindos do aumento dos percentuais de reciclagem e de adição crescente de
conteúdo reciclado à produção da liga de alumínio, consequentemente da ecoeficiência do
produto final.
Há uma percepção da empresa e da base de seus stakeholders de que a inclusão da Reciclagem
ao Final de Vida na ACV e no ICV dos seus produtos, obedece a um determinado percentual
estratégico de reutilização, relacionado as análises de seus indicadores de impactos nos custos
e emissões adicionais. Uma análise do ponto de vista estritamente econômico e ambiental dos
materiais utilizados no processo de fabricação e consequentemente da viabilidade do novo
produto.
Impactos ambientais e valores econômicos adicionais de ambos os materiais, alumínio primário
e sucata de alumínio, tendem inicialmente a convergir a uma determinada taxa de reciclagem e
utilização de conteúdo reciclado (em torno de 50%) para um ponto de equilíbrio, econômico e
ambiental.
A partir deste ponto, o comportamento econômico e ambiental de ambos os materiais se inverte,
tornando menos ecoeficiente a reciclagem e a utilização de conteúdo reciclado.
A aplicação da modelagem difusa na avaliação da ecoeficiência de ambos os materiais vem
então comprovar as observações de Frischknecht (2010) ilustradas nos Apêndices A, B e C
desta pesquisa.
A segunda conclusão importante da pesquisa é sobre a necessidade do modelo de avaliação dos
projetos de responsabilidade socioambiental das empresas, incluírem dimensões e indicadores
normativos e sociais para a avaliação da sustentabilidade no médio e longo prazo,
110
principalmente ao avaliarem a opção por uma abordagem de Reciclagem ao Final de Vida a ser
incluída na ACV e no ICV de seus produtos.
Investimentos sociais na base de stakeholders das empresas, como por exemplo, os indicadores
escolhidos neste trabalho: associativismo do setor para a implementação e potencialização das
ações de logística reversa e a inserção e especialização das cooperativas no interior destes
processos, contribui para a obtenção de um maior valor adicional sustentável (VAS) final para
os projetos.
No caso específico da reciclagem e utilização de conteúdo reciclado nos processos de
fabricação de novos produtos, os investimentos sociais na base dos stakeholders da empresa,
principalmente ao longo dos diversos elos que compõem a cadeia de logística reversa,
proporcionam a formação de economias de escala com aumento dos volumes de material e da
qualidade exigida para seu reaproveitamento com consequente redução dos custos industriais.
Do ponto de vista comercial, as empresas ao se utilizarem da logística reversa, cumprem o
aspecto normativo e legal da responsabilidade social e compartilhada pelo ciclo de vida dos
seus produtos. As boas práticas de fabricação melhoram a imagem da empresa no mercado e,
consequentemente, potencializam seus marketshares, tornando-se assim referência para o setor
em que atuam (benchmarking).
Ao se utilizarem de conteúdo reciclado em seus processos industriais de fabricação de novos
produtos, as empresas reduzem a sua curva de aprendizagem no mercado e ampliam os limites
impostos pelas análises reducionistas das dimensões ambiental e econômica de seus modelos
na busca por sustentabilidade em seus negócios. Ao se tornarem referência, provocam um efeito
linkage em todo o setor de atuação ampliando assim o benefício socioambiental para toda a
economia.
Uma terceira conclusão refere-se a contribuição da abordagem de inclusão da Reciclagem ao
Final de Vida na ACV e ICV dos produtos das empresas para análise da sustentabilidade. A
pesquisa dá uma importante contribuição a respeito da dimensão normativa do sistema, visto
que proporciona ao pesquisador identificar padrões e parâmetros estratégicos ambientais,
econômicos, sociais e normativos para a conformidade de produtos que utilizam ou venham a
utilizar conteúdo reciclado em suas composições, através de uma simples checklist de
111
verificação na ACV e ICV do novo produto de acordo com os padrões e requisitos mínimos
descritos pelas normas ISO 14040-14044.
Conforme afirma Gutberlet (2012), faz sentido defender a formulação de um novo contrato
social de forma a envolver e integrar todos os agentes e fatores econômicos, ambientais, sociais
e tecnológicos em torno das questões socioambientais, ou seja, defender uma gestão integrada
e globalizada em busca de soluções abrangentes e eficazes.
Os encontros e cúpulas entre países de todo o mundo em 2016 para discutir o aquecimento
global é um exemplo da busca por alcançar um novo contrato social em torno das questões
socioambientais sob um ponto de vista focado no econômico. Busca-se assim quantificar
economicamente, os impactos ambientais e sociais adicionais, sem deixar de levar em conta os
custos de adequação e normatização das empresas e países.
No entanto, concordamos com Singh et. al. (2014) quando afirmam que a conscientização e a
educação ambiental desempenham papéis primordiais no desenvolvimento de uma sociedade
sustentável, onde um modelo de consumo responsável, inclui o descarte de forma adequada e
sustentável dos recursos utilizados na produção de bens e produtos ao final do ciclo de sua vida
útil.
A participação das pessoas de forma a consumir conscientemente é fundamental e a pobreza é
um agravante social, tornando ambos os fatores, os processos de reciclagem e o
reaproveitamento de materiais e resíduos, ineficientes e ainda sendo confrontados a soluções
duvidosas do ponto de vista ambiental como, por exemplo, os aterros sanitários controlados e
a incineração de materiais e resíduos como os plásticos para a geração de energia.
5.1 Questões e perspectivas
As questões deixadas em aberto pelo trabalho dissertativo têm como objetivo estimular o debate
entre empresa, academia e sociedade sobre a questão da reciclagem e do reaproveitamento
112
industrial de materiais e resíduos, principalmente no que concerne aos seus reais impactos
socioeconômicos e ambientais e as implicações técnicas, normativas e das decisões de
investimentos no âmbito dos planejamentos estratégicos das empresas ao optarem pela
reutilização industrial de materiais e resíduos pós ciclo de vida dos seus produtos
A primeira questão em aberto está relacionada as análises mais detalhadas sobre o “efeito
rebote” sobre a economia e o meio ambiente. Este efeito é descrito como o aumento de produção
da empresa que se utiliza de conteúdo reciclado, provocado pela redução dos seus custos e
expansão das receitas.
Uma segunda perspectiva de estudo é sobre a questão relacionada ao “efeito cascata”
anteriormente abordado e seus efeitos sobre a ecoeficiência final dos materiais e produtos. O
“efeito cascata” é definido como o número de vezes em que o produto percorre o circuito
reciclagem-produção -reciclagem.
Uma terceira questão está relacionada a expressão de cálculo para a ecoeficiência e a escolha
do denominador da relação entre economia e meio ambiente. Conforme é decidido qual
denominador deve ser utilizado: se o valor econômico adicional ou os impactos ambientais
adicionais, altera-se significativamente a análise e a percepção econômica e ambiental para a
empresa e sua base de stakeholders sobre qual material, primário ou reciclado, apresenta maior
ecoeficiência à medida que as taxas de reciclagem e de utilização e conteúdo reciclado
aumentam.
Zhang et. al. (2008), defendem que o cálculo de ecoeficiência para os modelos de
sustentabilidade no reaproveitamento industrial de materiais e resíduos, devem levar em conta
uma análise integrada sob as duas perspectivas.
Uma quarta e última questão deixada em aberto na pesquisa é sobre as ACV e ICV em Circuitos
e Sistemas, tanto Abertos quanto Fechados.
As normas ISO 14040 a ISO 14044 não abordam explicitamente os procedimentos para a
contabilidade ambiental para o ICV com Reciclagem ao Final de Vida em circuitos abertos,
onde o material reciclado é reaproveitado no interior de outros sistemas de produção,
apresentando mudanças em suas composições e propriedades iniciais, o que representa sérias
113
dificuldades metodológicas para as alocações de custos e impactos (NICHOLSON et. al.,
2009).
As Análises do Ciclo de vida (ACV) e de alocações para o Inventário do Ciclo (ICV),
constituem-se em problemas complexos em sistemas de tratamento abertos como, por exemplo,
os aterros sanitários em que os materiais e resíduos de um produto se misturam aos materiais e
resíduos de outros produtos. Como estratégias na resolução destes problemas, recomenda-se
abordá-los sob a ótica das três perspectivas mais utilizadas de olhar para o Final de Vida de um
produto: o ciclo deste produto, a sua cadeia de logística reversa e o “efeito cascata”
(VOGTLÄNDER; BREZET; HENDRIKS, 2001).
114
REFERÊNCIAS
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<http://www.abal.org.br/sustentabilidade/reciclagem/preco-da-sucata/?hc_location=ufi>.
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_____________. Relatório de sustentabilidade 2012. Disponível em:
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ano 2012. Disponível em: <http://www.abipet.org.br/index.html?method=mostrarDownloads
&categoria.id=3>. Acesso em: 19 out. 2015.
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no Brasil. 2014. Disponível em: http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2014.pdf.
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redução do impacto ambiental originado pelo lixo informático. RECADM, v. 7, n. 1, p. 1-12,
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ALCOA. Relatório de Sustentabilidade 2014. Disponível em: <https://www.alcoa.com/brasil
/pt/resources/pdf/relatorios_sustentabilidade/Alcoa_RS2014.PDF>. Acesso em: 06 set. 2015.
AMARAL, S. P. Estabelecimento de indicadores e modelo de relatório de sustentabilidade
ambiental, social e econômica: uma proposta para a indústria de petróleo brasileira. Tese
de Doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2003
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121
APÊNDICE A - IMPACTO DA RECICLAGEM SOBRE O IMPACTO ADICIONAL DO
PRODUTO FINAL
Com a finalidade da comprovar apenas o comportamento ambiental do fluxo de emissões de
ambos os materiais com a abordagem de inclusão da Reciclagem ao Final de Vida,
consideraram-se as hipóteses em Spinacé; Paoli (2005) e Hopewell; Dvorak; Kosior (2009) ao
estudarem o reaproveitamento industrial dos polímeros plásticos de que os valores econômicos
de ambos os materiais a um dado percentual de utilização de conteúdo reciclado, convergem
para um valor de equilíbrio no mercado.
Vamos considerar para ambos os materiais, alumínio primário e sucata de alumínio um Valor
Econômico Adicional de 1 US$ por kg de material.
Visto que desejamos avaliar o impacto ambiental adicional, dado a hipótese de valor econômico
adicional constante e igual para ambos os materiais, segue-se a recomendação de Zhang et al
(2008) de utilizar a relação (1) para a avaliar a ecoeficiência.
Frischknecht (2010), realiza uma comparação entre duas abordagens: (i) Cut-Off ou de Corte e
(ii) Reciclagem no Final de Vida o alumínio primário e a sucata de alumínio, realizando uma
análise do comportamento de ecoeficiência dos dois tipos de materiais à medida que se
acrescenta um maior conteúdo reciclado.
A abordagem do tipo Cut-off ou de Corte, considera o indicador do fluxo de emissões nos dois
tipos de materiais separadamente. A abordagem com Reciclagem ao Final de Vida considera
os indicadores ambientais de emissões de ambos os materiais, como interdependentes e
interagindo para o desempenho ambiental do produto final.
(1) Eco eficiência = Impacto Ambiental Adicional
Valor Econômico Adicional
122
Os dados com abordagem Cut-off são apresentados na tabela 14:
Impactos ambientais do alumínio primário;
Impactos ambientais da sucata de alumínio:
Ecoeficiências do alumínio primário e da sucata de alumínio.
Tabela 14 - Emissões do alumínio primário e sucata de alumínio abordagem cut-off.
Alumínio US$/kg *kg CO2 eq-/kg kg CO2 eq- /US$
Primário 1 11.8 11.8
Sucata 1 0.41 0.41
Fonte: FRISCHKNECHT (2010) - adaptado pelo autor.
* banco de dados da Ecoinvent em http://www.ecoinvent.org/database/database.html. Acesso em: 22 jul. 2015.
Observa-se que na abordagem de Corte, considerando as emissões do alumínio primário e da
sucata separadamente, a percepção inicial para os stakeholders sob a perspectiva ambiental é
que sucata de alumínio apresenta maior ecoeficiência do que o alumínio primário.
Na abordagem com Reciclagem ao Final de Vida, considerando o estado da arte atual da
utilização de um percentual de 46% de conteúdo reciclado no processo industrial de fabricação
da liga de alumínio (Novelis, 2015), temos:
Carga Ambiental Evitada sobre as emissões do alumínio primário:
Carga Ambiental Evitada sobre as emissões da sucata de alumínio:
As emissões e a ecoeficiências finais do alumínio primário e da sucata de alumínio com a taxa
de reciclagem de 46% passam a ser conforme apresenta a tabela 15:
(1 – 0.46) * 11.8 kg CO2 eq-/kg + 0.46* 0.41 kg CO2 eq- /kg
0.46 * 11.8 kg CO2 eq-/kg + (1 – 0.46) * 0.41 kg CO2 eq-/kg
123
Tabela 15 - Comportamento das emissões com 46% de reciclagem.
Alumínio US$/kg kg CO2 eq-/kg kg CO2 eq-/US$
Primário c/ reciclagem 1 6.56 6.56
Sucata c/ reciclagem 1 5.65 5.65
Fonte: FRISCHKNECHT (2010) - adaptado pelo autor.
Como observado, a sucata de alumínio continua sendo mais ecoeficiente. No entanto,
Frischknecht (2010), avalia que os resultados com a abordagem de Reciclagem ao Final de
Vida, demonstram que as emissões do alumínio primário vão sendo substancialmente reduzidas
em contraposição as emissões da sucata de alumínio, as quais vão se tornando cada vez mais
elevadas. Ambos, impactos ambientais e ecoeficiências finais vão convergindo para um ponto
de equilíbrio sob um determinado percentual de reciclagem e de reaproveitamento da sucata.
Vamos considerar agora a taxa de reciclagem de 80%, target estabelecido pela empresa Novelis
(2015), a ser alcançado até o ano de 2020 na utilização e conteúdo de reciclados, dado
assinalado no Relatório de Sustentabilidade da empresa.
Carga Ambiental Evitada sobre os impactos ambientais do alumínio primário:
Carga Ambiental Evitada sobre os impactos ambientais da sucata de alumínio:
A ecoeficiência do alumínio primário e da sucata de alumínio com a taxa de reciclagem de 80%
passam a ser conforme apresenta a tabela 16:
(1 – 0.80) * 11.8 kg CO2 eq-/kg + 0.80* 0.41 kg CO2 eq-/kg
0.80 * 11.8 kg CO2 eq-/kg + (1 – 0.80) * 0.41 kg CO2 eq-/kg
124
Tabela 16 - Comportamento das emissões com 80% de reciclagem.
Alumínio US$/kg kg CO2 eq-/kg kg CO2 eq-/US$
Primário c/ reciclagem 1 2.69 2.69
Sucata c/ reciclagem 1 9.52 9.52
Fonte: FRISCHKNECHT (2010) - adaptado pelo autor.
A esta taxa de reciclagem e reutilização de conteúdo de reciclados, a sucata de alumínio passa
a ser menos eco eficiente para a empresa do que o alumínio primário, desestimulando sua
utilização do ponto de vista ambiental da empresa.
125
APÊNDICE B – IMPACTO DA RECICLAGEM SOBRE O VALOR ECONÔMICO
ADICIONAL DO PRODUTO FINAL
Com a finalidade de comprovar apenas o comportamento econômico dos custos de ambos os
materiais com a abordagem de inclusão da Reciclagem ao Final de Vida, vamos considerar a
hipótese de Nicholson et al. (2009) com base na segunda lei da termodinâmica de que os
Impactos Ambientais Adicionais de ambos os materiais, convergem para um equilíbrio térmico,
a um dado percentual de utilização de conteúdo reciclado.
Vamos considerar para ambos os materiais, alumínio primário e sucata de alumínio o valor de
1 kg de CO2 eq-/kg de material de impacto ambiental adicional.
Visto que desejamos avaliar o valor econômico adicional, dado a hipótese de impacto ambiental
adicional constante e igual para ambos os materiais, conforme recomenda Zhang et. al. (2008)
utilizaremos a relação (2) para cálculo da Ecoeficiência.
Os dados com a abordagem Cut-off são apresentados na tabela 17:
Custo do alumínio primário;
Custo da sucata de alumínio;
Ecoeficiências do alumínio primário e da sucata de alumínio.
Tabela 17 - Custos do alumínio primário e sucata de alumínio abordagem cut-off.
Alumínio *US$/kg kg CO2 eq-/kg US$/kg CO2 eq-
Primário 1.50 1 1.50
Sucata 1.00 1 1.00
Fonte: FRISCHKNECHT (2010) - adaptado pelo autor.
* Preço médio obtido para o alumínio primário no dia 23.12.2015 no site da London Metal Exchanges (LME)
http://www.lme.com/metals/non-ferrous/aluminium/. Preço médio de janeiro de 2015 obtido para a sucata de
alumínio no dia 23.12.2015 no endereço eletrônico da ABAL:
(2) Ecoeficiência = Valor Econômico Adicional
Impacto Ambiental Adicional
126
http://www.abal.org.br/sustentabilidade/reciclagem/preco-da-sucata/?hc_location=ufi. Taxa de Câmbio utilizada
para o preço da sucata no mercado interno foi do dia 22.12.2015: 1 US$ = R$ 3,977 no site do Banco Central do
Brasil em http://www4.bcb.gov.br/pec/taxas/port/ptaxnpesq.asp?id=txcotacao
Observa-se que na abordagem de Corte, considerando o alumínio primário e a sucata de
alumínio separadamente, a percepção inicial para os stakeholders quando avaliada sob uma
perspectiva econômica é de que a sucata de alumínio apresenta maior ecoeficiência do que o
alumínio primário
Ao se considerar o estado da arte atual no mercado de um percentual de 46% de conteúdo de
reciclado no processo industrial de fabricação do alumínio (NOVELIS, 2015):
Encargos Econômicos Evitados sobre o preço do alumínio primário:
Encargos Econômicos Evitados sobre o preço da sucata de alumínio:
A ecoeficiência do alumínio primário e da sucata de alumínio com a taxa de reciclagem de 46%
passam a ser conforme apresenta a tabela 18:
Tabela 18 - Comportamento dos custos com 46% de reciclagem.
Alumínio US$/kg kg CO2 eq-/kg US$/kg CO2 eq-
Primário c/ reciclagem 1.27 1 1.27
Sucata c/ reciclagem 1.23 1 1.23
Fonte: FRISCHKNECHT (2010) - adaptado pelo autor.
Como observado, a sucata de alumínio continua sendo mais ecoeficiente. No entanto, como
bem observa Frischknecht (2010), os resultados com a abordagem de Reciclagem ao Final de
Vida, demonstra que o preço do alumínio primário vai sendo substancialmente reduzido em
contraposição ao preço da sucata de alumínio, o qual vai se tornando cada vez mais elevado.
(1 – 0.46) * US$ 1.50 + 0.46 * US$ 1.00
0.46 * US$ 1.50 + (1 – 0.46) * US$ 1.00
127
Vamos considerar agora a taxa de reciclagem de 80%, target estabelecido pela empresa Novelis
(2015) a ser alcançado até o ano de 2020 na utilização de conteúdo reciclado, dado assinalado
no Relatório de Sustentabilidade da empresa.
Encargos Econômicos Evitados sobre o preço do alumínio primário:
Encargos Econômicos Evitados sobre o preço da sucata de alumínio:
A ecoeficiência do alumínio primário e da sucata de alumínio com a taxa de reciclagem de 80%
passam a ser conforme apresenta a tabela 19:
Tabela 19 - Comportamento dos custos com 80% de reciclagem.
Alumínio US$/kg kg CO2 eq-/kg US$/kg CO2 eq-
Primário c/ reciclagem 1.10 1 1.10
Sucata c/ reciclagem 1.40 1 1.40
Fonte: FRISCHKNECHT (2010) - adaptado pelo autor.
A esta taxa de reciclagem e reutilização de conteúdo de reciclados, a sucata de alumínio passa
a ser menos ecoeficiente para a empresa do que o alumínio primário, desestimulando sua
utilização do ponto de vista econômico da empresa.
(1 – 0.80) * US$ 1.50 + 0.80 * US$ 1.00
0.80 * US$ 1.50 + (1 – 0.80) * US$ 1.00
128
APÊNDICE C – IMPACTO DA RECICLAGEM SOBRE A ECOEFICIÊNCIA DO
PRODUTO FINAL
Como segundo Figge; Hahn (2004), a empresa busca obter Valor Adicional Sustentável final
em todas as dimensões do modelo a ser aplicado, utilizaremos segundo recomendações de
Zhang et. al. (2008), a relação (1) para determinar o indicador de Ecoeficiência no exercício de
Frischknecht (2010) e comparar com os valores de indicador de saída idêntico, obtido pelo
sistema de inferências Sugeno na aplicação da modelagem difusa à pesquisa.
Na abordagem de Corte, a percepção inicial é que a sucata apresenta uma maior ecoeficiência
do que o alumínio primário conforme apresenta a tabela 20:
Tabela 20 - Ecoeficiência com abordagem cut-off.
Alumínio US$/kg kg CO2 eq-/kg kg CO2 eq-/US$
Primário 1.50 11.8 7.87
Sucata 1.00 0.41 0.41
Fonte: FRISCHKNECHT (2010) - adaptado pelo autor.
Com a abordagem de reciclagem ao final de vida de 46%, temos conforme apresenta a tabela
21:
Tabela 21 - Ecoeficiência com 46% de reciclagem.
Alumínio US$/kg kg CO2 eq-/kg kg CO2 eq-/US$
Primário c/ reciclagem 1.27 6.56 5.17
Sucata c/ reciclagem 1.23 5.65 4.59
Fonte: FRISCHKNECHT (2010) - adaptado pelo autor.
Com a abordagem de reciclagem ao final de vida de 80%, temos na tabela 22:
(1) Ecoeficiência = Impacto Ambiental Adicional
Valor Econômico Adicional
129
Tabela 22 - Ecoeficiência com 80% de reciclagem.
Alumínio US$/kg kg CO2 eq-/kg kg CO2 eq-/US$
Primário c/ reciclagem 1.10 2.69 2.45
Sucata c/ reciclagem 1.40 9.52 6.80
Fonte: FRISCHKNECHT (2010) - adaptado pelo autor.
A demonstração comprova que as elevações nos percentuais de Reciclagem ao Final de Vida e
utilização de conteúdo reciclado são acompanhadas por elevações dos valores econômicos e
impactos ambientais adicionais do material reciclável e por reduções nos valores econômicos e
impactos ambientais adicionais do material primário, consequentemente atuando sobre a
Ecoeficiência final do produto com conteúdo reciclado, tornando mais ou menos atraente para
a empresa a inclusão da logística reversa de materiais para utilização industrial na fabricação
de novos produtos (FRISCHKNECHT, 2010).
130
APÊNDICE D – LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO
Fontes e bases de
dados
Número de publicações
Scielo 09 (nove) artigos
Elsevier 08 (oito) artigos
Research Gate 08 (oito) artigos
Springer Science 01 (um) artigo
Biblioteca do Porto 02 (dois) artigos
Royal Society 01 (um) artigo
Biblioteca do MIT 01(um) artigo
Biblioteca da FGV 02(dois) artigos
Livro 08 (oito) livros
Tese 04 (quatro) teses
Dissertação 03 (três) dissertações
TCC 01 (um) trabalho de conclusão de curso
Google Acadêmico 23 (vinte e três) artigos em periódicos científicos
01 (um) texto para discussão
WEB
06 (seis) Documentos Oficiais Públicos
04 (quatro) Relatórios de Empresas
04 (quatro) Bases de Dados
02 (dois) sites de empresas
02 (dois) Estudos de Mercado
01 (uma) consulta ao site do governo
01 (um) site institucional privado
Quadro 6 - Levantamento bibliográfico.
Fonte: AUTOR (2016).
131
APÊNDICE E – FICHA TÉCNICA DO SISTEMA DE INFERÊNCIA FUZZY
[System] Name='Emissões.CO2' Type='sugeno' Version=2.0 NumInputs=2 NumOutputs=1
NumRules=3 AndMethod='prod' OrMethod='probor' ImpMethod='prod' AggMethod='sum'
DefuzzMethod='wtaver'
[Input1] Name='Percentual.ALU' Range=[0 1] NumMFs=3 MF1='Baixo':'trimf',[0 0 0.5]
MF2='Medio':'trimf',[0 0.5 1] MF3='Alto':'trimf',[0.5 1 1]
[Input2] Name='Percentual.Sucata' Range=[0 1] NumMFs=3 MF1='Baixo':'trimf',[0 0 0.5]
MF2='Medio':'trimf',[0 0.5 1] MF3='Alto':'trimf',[0.5 1 1]
[Output1] Name='Emissões.CO2' Range=[0 1] NumMFs=3 MF1='Baixo':'constant',[0.41]
MF2='Medio':'constant',[6.105] MF3='Alto':'constant',[11.8]
[Rules]
1 3, 1 (1) : 1
2 2, 2 (1) : 1
3 1, 3 (1) : 1
[System] Name='Custo_da_Liga' Type='sugeno' Version=2.0 NumInputs=2 NumOutputs=1
NumRules=3 AndMethod='prod' OrMethod='probor' ImpMethod='prod' AggMethod='sum'
DefuzzMethod='wtaver'
[Input1] Name='Percentual.ALU' Range=[0 1] NumMFs=3 MF1='Baixo':'trimf',[0 0 0.5]
MF2='Medio':'trimf',[0 0.5 1] MF3='Alto':'trimf',[0.5 1 1]
[Input2] Name='Percentual.Sucata' Range=[0 1] NumMFs=3 MF1='Baixo':'trimf',[0 0 0.5]
MF2='Medio':'trimf',[0 0.5 1] MF3='Alto':'trimf',[0.5 1 1]
[Output1] Name='Custo.da.Liga' Range=[0 1] NumMFs=3 MF1='Baixo':'constant',[1.08]
MF2='Medio':'constant',[1.299] MF3='Alto':'constant',[1.518]
132
[Rules]
1 3, 1 (1) : 1
2 2, 2 (1) : 1
3 1, 3 (1) : 1
[System] Name='Social' Type='mamdani' Version=2.0 NumInputs=2 NumOutputs=1
NumRules=6 AndMethod='min' OrMethod='max' ImpMethod='min' AggMethod='max'
DefuzzMethod='centroid'
[Input1] Name='Associativismo' Range=[0 1] NumMFs=3 MF1='Baixo':'trimf',[0 0 0.15]
MF2='Medio':'trimf',[0 0.15 1] MF3='Alto':'trimf',[0.15 1 1]
[Input2] Name='Cooperativismo' Range=[0 1] NumMFs=3 MF1='Baixo':'trimf',[0 0 0.5]
MF2='Medio':'trimf',[0 0.5 1] MF3='Alto':'trimf',[0.5 1 1]
[Output1] Name='Índice Social' Range=[0 10] NumMFs=3 MF1='Baixo':'trimf',[0 0 5]
MF2='Medio':'trimf',[0 5 10] MF3='Alto':'trimf',[5 10 10]
[Rules]
1 0, 1 (1) : 2
0 1, 1 (1) : 2
2 0, 2 (1) : 2
0 2, 2 (1) : 2
3 0, 3 (1) : 2
0 3, 3 (1) : 2
[System] Name='Normativo' Type='mamdani' Version=2.0 NumInputs=1 NumOutputs=1
NumRules=3 AndMethod='min' OrMethod='max' ImpMethod='min' AggMethod='max'
DefuzzMethod='centroid'
[Input1] Name='Conteudo.Rec' Range=[0 1] NumMFs=3 MF1='Baixo':'trimf',[0 0 0.5]
MF2='Medio':'trimf',[0 0.5 1] MF3='Alto':'trimf',[0.5 1 1]
133
[Output1] Name='Conformidade' Range=[0 10] NumMFs=3 MF1='Baixa':'trimf',[0 0 5]
MF2='Medio':'trimf',[0 5 10] MF3='Alto':'trimf',[5 10 10]
[Rules]
1, 1 (1) : 2
2, 2 (1) : 2
3, 3 (1) : 2
[System] Name='VAS' Type='mamdani' Version=2.0 NumInputs=3 NumOutputs=1
NumRules=9 AndMethod='min' OrMethod='max' ImpMethod='min' AggMethod='max'
DefuzzMethod='centroid'
[Input1] Name='SIF.1' Range=[0 8] NumMFs=3 MF1='Baixa':'trimf',[0 0 4]
MF2='Medio':'trimf',[0 4 8] MF3='Alto':'trimf',[4 8 8]
[Input2] Name='SIF.2' Range=[0 10] NumMFs=3 MF1='Baixo':'trimf',[0 0 5]
MF2='Medio':'trimf',[0 5 10] MF3='Alto':'trimf',[5 10 10]
[Input3] Name='SIF.3' Range=[0 10] NumMFs=3 MF1='Baixo':'trimf',[0 0 5]
MF2='Medio':'trimf',[0 5 10] MF3='Alto':'trimf',[5 10 10]
[Output1] Name='VAS' Range=[0 5] NumMFs=3 MF1='Baixo':'trimf',[0 0 2.5]
MF2='Medio':'trimf',[0 2.5 5] MF3='Alto':'trimf',[2.5 5 5]
[Rules]
1 0 0, 1 (1) : 2
0 1 0, 1 (1) : 2
0 0 1, 1 (1) : 2
2 0 0, 2 (1) : 2
0 2 0, 2 (1) : 2
0 0 2, 2 (1) : 2
3 0 0, 3 (1) : 2
0 3 0, 3 (1) : 2
0 0 3, 3 (1) : 2