UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE UFF FACULDADE DE … Mara Fernandes... · A equipe do Controle de...
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF
FACULDADE DE FARMÁCIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUÇÃO EM CIÊNCIAS APLICADAS A
PRODUTOS PARA SAÚDE – PPG-CAPS
MARA FERNANDES RIBEIRO
ESTUDO DAS ATIVIDADES DO VENENO DA ARANHA
MARROM (LOXOSCELES INTERMEDIA)
Niterói
2014
MARA FERNANDES RIBEIRO
AÇÃO DO VENENO DA ARANHA MARROM (LOXOSCELES
INTERMEDIA) EM CAMUNDONGOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós
Graduação em Ciências Aplicadas a Produtos para a
Saúde da Universidade Federal Fluminense, como
Requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre.
Área de concentração: Interdisciplinar.
Orientadora: Profa. Dra. Sabrina Calil Elias – UFF
Niterói
2014
MARA FERNANDES RIBEIRO
AÇÃO DO VENENO DA ARANHA MARROM (LOXOSCELES
INTERMEDIA) EM CAMUNDONGOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós
Graduação em Ciências Aplicadas a Produtos para a
Saúde da Universidade Federal Fluminense, como
Requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre.
Área de concentração: Interdisciplinar.
Apresentada em 22 de julho de 2014
BANCA EXAMINADORA
Dra. Sabrina Calil-Elias – UFF
Orientadora
Dr. Paulo de Assis Melo – UFRJ
Dr. Luis Eduardo Menezes Quintas – UFRJ
Niterói
2014
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, aos meus irmãos, ao meu marido
Felipe, aos amigos do Instituto Vital Brazil e do
Laboratório de Farmacologia da Faculdade de
Farmácia da Universidade Federal Fluminense.
AGRADECIMENTOS
A Deus por sempre me conceder momentos de paz e serenidade, me guiando e me protegendo.
Ao meu pai Marco Antônio e a minha mãe Terezinha pelo amor, pelo incentivo e por todo o esforço
para que eu estudasse e buscasse meus maiores sonhos.
A minha irmã Milla, ao meu cunhado Rodrigo, a minha sobrinha Sara, ao meu irmão Milton, a minha
cunhada Bruna, a minha sogra Rosa e ao meu sogro Ademir, por me amarem tanto e por depositarem
tanta confiança em mim.
Ao meu marido príncipe Felipe, por todo amor, carinho, respeito e contribuição para o
desenvolvimento deste trabalho. Obrigada pelo constante incentivo, pelo exemplo e por me fazer
acreditar que eu podia fazer sempre melhor.
A minha orientadora Profa. Dra. Sabrina Calil-Elias, pela confiança e por ter me dado a
oportunidade de crescer na carreira científica. Obrigada por todo o ensinamento e dedicação a este
trabalho.
Ao meu orientador do Instituto Vital Brazil, Prof. Cláudio Maurício Vieira Souza. Obrigada por todos
os ensinamentos e pela intensa colaboração e contribuição para a realização deste trabalho.
As minhas chefes amigas do Instituto Vital Brazil, Celina e Isabela, pelo apoio, pela paciência, pelos
ensinamentos e por acreditarem sempre no meu potencial.
A equipe do Controle de Qualidade Físico-Químico do Instituto Vital Brazil pela amizade,
cumplicidade e enorme contribuição para meu crescimento profissional, em especial as amigas Aline,
Haline e Iara por “preencherem” a minha ausência e compartilharem comigo a expectativa dos
resultados a cada experimento.
A equipe do Aracnário do Instituto Vital Brazil pela enorme contribuição, paciência e dedicação,
essenciais para o desenvolvimento deste trabalho. Em especial Priscila e Sílvio, por participarem de
cada experimento, e Bianca, Jonathan, Robson, Thainá e Valmir por contribuírem no manejo e
cuidados com animais, reagentes e materiais necessários ao trabalho.
Aos amigos do Laboratório de Farmacologia da Faculdade de Farmácia (UFF) pela amizade, pelo
constante aprendizado e por me ensinarem a importância de se trabalhar em equipe. Meu muito
obrigada especialmente para: Angélica, Artur, Gersica, Juliana, Mayara, Paula, Rafaela, Tainá,
Tarciana, Thaisa, Thiago e William.
A Profa. Dra. Carla Valéria Guilarducci Ferraz pelos ensinamentos, pela dedicação e intensa revisão
desta dissertação.
Ao Prof. Dr. Paulo de Assis Melo por aceitar o convite de participar desta banca de defesa de
mestrado e por colaborar na execução dos experimentos, para isso agradeço em especial ao seu
aluno Marcos Monteiro Machado pela enorme colaboração com este trabalho.
Ao Prof. Dr. Luis Eduardo Menezes Quintas por aceitar o convite de participar desta banca de defesa
de mestrado e contribuir para o desenvolvimento deste trabalho.
A Universidade Federal Fluminense, em especial a Faculdade de Farmácia, por oferecer um estudo
gratuito e de qualidade, e por contribuir para minha formação acadêmica.
RESUMO
Os acidentes causados por aranhas do gênero Loxosceles representam importante problema de
saúde pública no Brasil, sendo as principais espécies de importância médica L. intermedia, L.
laeta e L. gaucho. O veneno dessas aranhas promove grave dermonecrose no local da picada,
e menos comumente, doença sistêmica que pode ser fatal. O mecanismo de ação desse veneno
não está completamente elucidado, trata-se de um processo multifatorial, que envolve a ação
direta do veneno sobre os tecidos e a resposta do organismo a agressão causada pelo mesmo.
Os camundongos constituem o modelo experimental menos susceptível ao desenvolvimento
dos efeitos locais decorrentes do envenenamento por aranhas Loxosceles, dessa forma, sua
utilização representa grande interesse clínico, cujo objetivo é desvendar tal mecanismo de
proteção presente nestes animais. Este trabalho teve como objetivo caracterizar as atividades
do veneno de Loxosceles intermedia, bem como avaliar as atividades in vivo deste veneno em
camundongos. A manipulação e os procedimentos com os animais obedeceram aos princípios
da CEUA/UFF (Comissão de Ética no Uso de Animais da Universidade Federal Fluminense).
Foi demonstrado, in vitro, que o veneno de L. intermedia não apresenta atividade
fosfolipásica A2, a atividade hialuronidásica e colágenásica foram dependente da
concentração do veneno enquanto que a atividade proteolítica e esfingomielinásica foram
observadas apenas em altas concentrações. Para descrever as ações do veneno de L.
intermedia em camundongos, foi proposta a utilização de três diferentes linhagens: BALB/c,
C57BL/6 e Suiço. A atividade edematogênica na pata dos camundongos inoculados com o
veneno foi observada para as três linhagens testadas, sendo persistente por 24 horas, apenas
para as linhagens BALB/c e C57BL/6. A análise histopatológica do local de inoculação
intradérmica do veneno no abdomen apresentou diferenças relevantes, como, intensa
congestão vascular em Suiços e presença de infiltrado inflamatório no local de inoculação na
pele de BALB/c e C57BL/6. A partir destes achados, investigou-se a mobilização de células
inflamatórias a partir da medula óssea, no baço e no sangue por citometria de fluxo, que
demonstrou resposta imunológica inata típica, com aumento da cinética de células mieloides e
linfócitos T citotóxicos para camundongos C57BL/6, e resposta tipicamente
adquirida/humoral, com aumento preferencial de linfócitos B convencionais e T auxiliar para
camundongos BALB/c. Desta forma, este trabalho demonstrou que modelos animais
semelhantes podem apresentar diferentes respostas a inoculação deste veneno. A presença do
infiltrado inflamatório no local de inoculação do veneno e a mobilização de células
inflamatórias a partir da medula óssea, baço e sangue revelaram que diferentes linhagens de
camundongos apresentam diferenças no tipo celular envolvido na resposta imunológica
decorrente do envenenamento ou esta diferença pode estar relacionada ao tempo e velocidade
da resposta em cada linhagem de camundongos. A partir destes resultados este trabalho
sugere que camundongos da linhagem BALB/c podem ser utilizados como modelo para
estudar a produção de IgM e IgG induzido pelo veneno, incluindo análise de citocinas,
quimiocinas e mecanismos moleculares, por outro lado camundongos C57BL/6 podem ser
utilizados para descrever a participação de células mielóides durante o envenenamento por
aranhas do gênero Loxosceles.
Palavras-chave: Loxosceles intermedia; Camundongos; Pele; Infiltrado inflamatório.
ABSTRACT
Accidents caused by spiders of the genus Loxosceles represent an important public health
problem in Brazil, being the major species of medical importance L. intermedia, L. laeta and
L. gaucho. The venom of these spiders induces an intense dermonecrosis at the bite site, and
less commonly, systemic disease that can be fatal. The mechanism of action of this venom is
not fully elucidated, it is a multifactorial process, which involves the direct action of the
venom on the tissues and the body's response to aggression caused by it. The mice are an
experimental model less susceptible to development the local effects of poisoning Loxosceles
spiders. Thus, their use is great clinical interest, whose goal is to unravel the mechanism of
this protection in these animals. This study aimed to characterize the activities of Loxosceles
intermedia venom, as well as evaluating the in vivo activity of this venom in mice.
Manipulation and procedures with animals obeyed the principles of CEUA / UFF (Ethics
Committee on Animal Use Universidade Federal Fluminense). It has been shown in vitro that
the venom of L. intermedia shows no phospholipase A2 activity and the hyaluronidase and
collagenase were dependent on the concentration of the poison and while the proteolytic and
sphingomyelinase activity were observed only at high concentrations. To describe the actions
of the venom of L. intermedia in mice, it was proposed to use three different strains: BALB/c,
C57BL/6 and Swiss. The activity in the paw edema of mice inoculated with the venom was
observed for the three strains tested, being persistent for 24 hours, only for the strains
BALB/c and C57BL/6. Histopathological analysis of the site of venom intradermal
inoculation in the abdomen showed significant differences, as intense vascular congestion in
Swiss and inflammatory infiltration at the site of inoculation in the skin of BALB/c and
C57BL/6. From these findings, we investigated the mobilization of inflammatory cells from
the bone marrow, spleen like effector organ, and migration into the blood by flow cytometry,
which showed a typical innate immune response, with increased kinetics of myeloid cells and
cytotoxic T lymphocytes to C57BL/6 mice, and response typically acquired / humoral, with a
preferential increase of conventional B lymphocytes and T helper to BALB/c mice. Thus, this
study demonstrated that similar animal models may have different responses to inoculation of
this venom. The presence of the inflammatory infiltrate at the site of inoculation of the venom
and the mobilization of inflammatory cells from the bone marrow, spleen and blood revealed
that different strains of mice differ in cell type involved in the immune response resulting
from poisoning and this difference can be related time and speed of response for each strain of
mice. From these results, this study suggests that BALB/c mice can be used as a model to
study the production of IgM and IgG induced by the venom, including analysis of cytokines,
chemokines and molecular mechanisms, on the other hand C57BL/6 mice can be used to
describe the involvement of myeloid cells during poisoning by spiders of the genus
Loxosceles.
Keywords: Loxosceles intermedia; mice; skin; Inflammatory infiltrate.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO, p.14
1.1 As aranhas do gênero Loxosceles: biologia e distribuição, p.14
1.2 Caracterização do veneno das aranhas Loxosceles, p.18
1.3 Loxoscelismo humano: Aspectos clínicos, p.19
1.4 Modelo experimental, p.22
2. OBJETIVOS, p.28
2.1 Objetivos Gerais, p.28
2.2 Objetivos Específicos, p.28
3. MATERIAIS E MÉTODOS, p.29
3.1 Materiais, p.29
3.2 Extração do veneno de Loxosceles intermédia, p.29
3.3 Caracterização do veneno das aranhas Loxosceles intermédia, p.30
3.3.1 DOSAGEM DE PROTEÍNAS PELO MÉTODO DE BRADFORD, P.30
3.3.2 ENSAIOS IN VITRO DAS ATIVIDADES DO VENENO, P.31
3.3.2.1 Atividade Fosfolipásica, p.31
3.3.2.2 Atividade Hialuronidásica, p.31
3.3.2.3 Atividade Proteolítica, p.32
3.3.2.4 Atividade Colagenásica, p.33
3.3.2.4 Atividade Esfingomielinásica, p.33
3.4 Efeitos do veneno das aranhas Loxosceles intermedia em camundongos, p.34
3.4.1 ATIVIDADE EDEMATOGÊNICA, p.34
3.4.2 AÇÃO LOCAL, p.35
3.4.2.1 Processamento Histológico, p.35
3.5 Mobilização de Leucócitos, p.36
3.5.1 ANÁLISES POR CITOMETRIA DE FLUXO, p.36
3.5.1.1 Obtenção das amostras, p.36
3.5.1.2 Preparo da Suspensão Celular, p.37
3.5.1.3 Ajuste do Citômetro, Aquisição e Análise de dados, p.37
3.5.2 ANÁLISE DIFERENCIAL NO SANGUE, p.38
3.6 Análise Estatística, p.38
4. RESULTADOS, p.39
4.1 Caracterização do veneno das aranhas Loxosceles intermédia, p.39
4.1.1 DOSAGEM DE PROTEÍNAS DO VENENO, p.39
4.1.2 ENSAIOS IN VITRO DAS ATIVIDADES DO VENENO, p.42
4.1.2.1 Atividade Fosfolipásica, p.42
4.1.2.2 Atividade Hialuronidásica, p.42
4.1.2.3 Atividade Proteolítica, p.43
4.1.2.4 Atividade Colagenásica, p.44
4.1.2.4 Atividade Esfingomielinásica, p.45
4.3 Efeito do veneno das aranhas Loxosceles intermedia em camundongos, p.46
4.3.1 ATIVIDADE EDEMATOGÊNICA, p.46
4.3.2 AÇÃO LOCAL, p.48
4.3.2.1 Análise Histológica da Pele, p.49
4.3.3 MOBILIZAÇÃO DE LEUCÓCITOS APÓS 24 HORAS, p.53
4.3.3.1 Celularidade, p.53
4.3.3.2 Contagem de Leucócitos no sangue, p.55
4.3.3.2.1 Células Mielóides, p.55
4.3.3.2.2 Linfócitos T, p.57 4.3.3.2.3 Linfócitos B, p.59
4.3.3.2.4 Lâminas de Sangue, p.61
4.3.3.3 Contagem de Leucócitos na Medula Óssea, p.62
4.3.3.3.1 Células Mielóides, p.62
4.3.3.2.2 Linfócitos T, p.64
4.3.3.2.3 Linfócitos B, p.66
4.3.3.4 Contagem de Leucócitos do Baço, p.68
4.3.3.4.1 Células Mielóides, p.68
4.3.3.2.2 Linfócitos T, p.70
4.3.3.2.3 Linfócitos B, p.72
5. DISCUSSÃO, p.75
6. CONCLUSÃO, p.82
REFERÊNCIAS, p.83
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Tabela 1. Notificações de ocorrência segundo o tipo de aranha, em alguns municípios do
Estado do Rio de Janeiro, no período compreendido entre 2007 e 2012, p.15
Figura 1. Morfologia externa da aranha marrom, p.16
Figura 2. Técnica de extração do veneno da aranha L.intermedia, p.30
Tabela 2. Dosagem de proteínas do veneno de aranhas Loxosceles intermedia em extrações
consecutivas, p.40
Tabela 3. Dosagem de proteínas do veneno de 6 diferentes aranhas Loxosceles intermedia,
p.40
Figura 3. Correlação linear entre o peso da aranha e a quantidade de veneno extraída, p.41
Figura 4. Avaliação da atividade fosfolipásica do veneno da aranha Loxosceles intermedia,
p.42
Figura 5. Avaliação da atividade hialuronidásica do veneno das aranhas Loxosceles
intermedia, p.43
Figura 6. Avaliação da atividade proteolítica do veneno das aranhas Loxosceles intermedia,
p.44
Figura 7. Avaliação da atividade colagenásica do veneno das aranhas Loxosceles intermedia,
p.45
Figura 8. Avaliação da atividade esfingomielinásica do veneno das aranhas Loxosceles
intermedia, p.46
Figura 9. Efeito edematogênico na pata de camundongos inoculados com veneno de
Loxosceles intermedia, p.47
Figura 10. Sobrevida de camundongos inoculados com 1,2 µg/g de veneno de Loxosceles
intermedia na pata, p.48
Figura 11. Efeito da inoculação de veneno das aranhas Loxosceles intermedia (1,2 μg/g) no
ventre, p.48
Figura 12. Cortes transversais da pele de camundongos da linhagem BALB/c 24h após a
inoculação do veneno da aranha L. intermedia na região ventral, p.50
Figura 13. Cortes transversais da pele de camundongos da linhagem C57BL/6 24h após a
inoculação do veneno da aranha L. intermedia na região ventral, p.51
Figura 14. Cortes transversais da pele de camundongos da linhagem Suiço 24h após a
inoculação do veneno da aranha L. intermedia na região ventral, p.52
Figura 15. Celularidade no sangue, medula óssea e baço de camundongos inoculados com
veneno da aranha Loxosceles intermedia, p.54
Figura 16. Quantificação de células mieloides no sangue de camundongos inoculados com
veneno da aranha Loxosceles intermedia, p.56
Figura 17. Quantificação de linfócitos T no sangue de camundongos inoculados com veneno
da aranha Loxosceles intermedia, p.58
Figura 18. Quantificação de linfócitos B no sangue de camundongos inoculados com veneno
da aranha Loxosceles intermedia, p.60
Figura 19. Análise do esfregaço sanguíneo de camundongos inoculados com veneno da
aranha Loxosceles intermedia, p.61
Figura 20. Quantificação de células mieloides na medula óssea de camundongos inoculados
com veneno da aranha Loxosceles intermedia, p.63
Figura 21. Quantificação de linfócitos T na medula óssea de camundongos inoculados com
veneno da aranha Loxosceles intermedia, p.65
Figura 22. Quantificação de linfócitos B na medula óssea de camundongos inoculados com
veneno da aranha Loxosceles intermedia, p.67
Figura 23. Quantificação de células mieloides no baço de camundongos inoculados com
veneno da aranha Loxosceles intermedia, p.69
Figura 24. Quantificação de linfócitos T no baço de camundongos inoculados com veneno da
aranha Loxosceles intermedia, p.71
Figura 25. Quantificação de linfócitos B no baço de camundongos inoculados com veneno da
aranha Loxosceles intermedia, p.73
Figura 26. Diferenciação de linfócitos B no baço de camundongos C57BL/6 inoculados com
veneno da aranha Loxosceles intermedia, p.74
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
ACK - Cloreto de potássio e amônio
APC - Aloficocianina
CaCl2 - Cloreto de Cálcio
CD4 - Cluster of differentiation 4
CD5 - Cluster of differentiation 5
CD8 - Cluster of differentiation 8
CD19 - Cluster of differentiation 19
CD23 - Cluster of differentiation 23
CD45 - Cluster of differentiation 45
CEUA - Comissão de Ética no Uso de Animais
DMEM - Dulbecco’s Modified Eagle’s Medium
FITC - Isotiocinato de Fluoresceína
FSC - Forward Scatter
H2O2 - Peróxido de Hidrogênio
IgG - Imunoglobulina G
IgM - Imunoglobulina M
IL-1β - Interleucina 1 beta
IL-6 - Interleucina 6
IVB - Instituto Vital Brazil
KC - Quimioatraente de queratinócitos
KCl - Cloreto de Potássio
LTB4 - Leucotrieno B4
MCP-1 - Proteína quimioatrente de monócitos
MgCl2 - Cloreto de Magnésio
NaCl - Cloreto de Sódio
NaH2PO4 - Fosfato de Sódio monobásico
NaOH - Hidróxido de Sódio
OMS - Organização Mundial da Saúde
PE - Ficoeritrina
PERCP - Proteína Peridina Clorofila
pH - Potencial Hidrogeniônico
PSS - Solução Salina Fisiológica
SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação
SSC - Side Scatter
TNF-α - Fator de necrose tumoral alfa
Tris-HCl - Trisaminometano hidrocloreto
TXB2 - Tromboxano B2
UFF - Universidade Federal Fluminense
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro
14
1. INTRODUÇÃO
1.1 As aranhas do gênero Loxosceles: biologia e distribuição
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera apenas quatro gêneros de aranhas
(Latrodectus, Phoneutria, Atrax e Loxosceles) com espécies que podem causar
envenenamento grave no ser humano. As aranhas do gênero Loxosceles, comumente
denominadas “aranha marrom”, são encontradas no Brasil em oito espécies diferentes:
Loxosceles similis, Loxosceles amazonica, Loxosceles puortoi, Loxosceles hirsuta, Loxosceles
adelaida, Loxosceles gaucho e Loxosceles laeta e Loxosceles intermedia (CARDOSO et al.,
2003; MARQUES-DA-SILVA e FISCHER, 2005). Dentre os acidentes por aranhas no Brasil,
notificados ao Ministério da Saúde no período de 2007 a 2012, cerca de 43% destes foram
atribuídos as aranhas do gênero Loxosceles, sendo Loxosceles gaucho, Loxosceles laeta e
Loxosceles intermedia as principais espécies (CARDOSO et al., 2003; SINAN, 2012).
No Estado do Rio de Janeiro os acidentes por aranhas apresentam baixa incidência de
notificação (SINAN 2012). Acredita-se que a ocorrência de acidentes não corresponda a
quantidade de notificações, e ainda que casos notificados não forneçam todas as informações
sobre a aranha responsável pelo acidente. Por exemplo, no munícipio de Petrópolis no período
compreendido entre os anos de 2007 e 2012 foram registrados 502 acidentes por aranhas,
sendo que destes, 456 não tiveram o agente responsável devidamente identificado (Tabela 1).
Dentre os municípios que apresentam o maior número de acidentes, Nova Friburgo se destaca
com o maior número de acidentes por aranhas do gênero Loxosceles (Tabela 1).
As possíveis explicações para a ineficácia na identificação das aranhas, responsáveis
pelos acidentes registrados, estão baseadas no fato da pessoa acidentada não se preocupar em
capturar o animal peçonhento, ou ainda na falta de preparo técnico dos profissionais de saúde
em identificar este animal. Em ambos os casos, o maior acesso a informação sobre acidentes
por animais peçonhentos, sobretudo por aranhas, poderia contribuir para a eficiência dos
sistemas de notificação. Isto seria de extrema importância na prevenção, sobretudo, dos locais
de maior ocorrência de determinadas aranhas, possibilitando o melhor atendimento e proteção
a vida do acidentado. Enquanto isto não ocorre, os acidentes por aranhas continuam sendo
15
negligenciados por parte das autoridades sanitárias e governamentais, mesmo com registro
que chega a 115 acidentes por mês nos últimos cinco anos de notificação, apenas no Estado
do Rio de Janeiro (SINAN, 2012).
Tabela 1. Notificações de ocorrência de acidentes segundo o tipo de aranha, em alguns municípios do Estado do
Rio de Janeiro, no periodo compreendido entre 2007 e 2012 (SINAN, 2012).
Município de
Ocorrência
Casos
Ignorados
Phoneutria Loxosceles Latrodectus Outra
espécie
Total
Angra dos Reis 309 2 0 0 5 316
Araruama 68 1 1 0 1 71
Areal 161 3 7 0 7 178
Barra do Piraí 126 1 0 0 2 129
Barra Mansa 167 2 4 0 1 174
Bom Jardim 83 22 1 0 0 106
Magé 117 1 2 0 0 120
Niterói 38 0 0 0 0 38
Nova Friburgo 277 13 69 1 2 362
Paraíba do Sul 116 8 7 1 2 134
Parati 350 9 5 0 6 370
Petrópolis 456 25 11 0 10 502
Pinheiral 175 3 1 0 9 188
Piraí 121 10 3 0 8 142
Resende 67 7 5 0 2 81
Rio das Flores 171 3 6 0 3 183
Rio de Janeiro 574 11 28 0 11 624
São Fidélis 77 1 5 1 5 89
Teresópolis 194 26 4 0 6 230
Três Rios 87 0 2 0 0 89
Valença 91 1 2 0 5 99
Vassouras 69 6 1 0 3 79
Volta Redonda 133 6 6 1 6 152
Total 6382 210 199 6 136 6933
As aranhas do gênero Loxosceles são aranhas pequenas de 1 cm de corpo e até 5 cm de
comprimento total, com colorido marrom acinzentado (Figura 1A). Caracterizam-se pela
presença de seis olhos dispostos aos pares e de cor branca. Tem o corpo dividido em duas
partes: abdome (ou opistossoma) e cefalotórax (ou prossoma), com uma parte mais escura em
16
forma de violino na superfície dorsal (Figura 1B). O cefalotórax é baixo, não excedendo em
altura ao abdome e um par de quelíceras é soldado na base do cefalotórax, por onde é lançado
o veneno (Figura 1C). Tem hábitos noturnos vivendo em teias irregulares. Tem costume de
habitar fendas de barrancos, sob e juntos as raízes e cascas de árvores, em folhas caídas e
bambuzais. Sua característica criptozóica (preferência por viver em ambientes fechados)
favorece sua presença nas proximidades e dentro de residências, escondendo-se atrás de
móveis, no sótão, em garagens e porões, em entulho de telha e madeira. Não são aranhas
agressivas e picam somente quando pressionadas (WEN et al., 2009; CHAIM et al., 2011).
Fêmea Macho
Loxosceles intermedia
1 cm
Figura 1. Morfologia externa da aranha marrom adulta, Loxosceles intermedia (A); Formato de violino na
superfície dorsal do cefalotórax – seta, e seis olhos dispostos em pares formando um semicírculo – pontas de seta
(B); Veneno saindo das quelíceras na base do cefalotórax (C). Adaptado de CHAIM et al., 2011.
A ocorrência de aranhas do gênero Loxosceles no Brasil é registrada a partir de 1891
(KEYSERLING, 1891) e a primeira espécie nativa (Loxosceles similis) foi descrita por
Moenkhaus em 1898 (MOENKHAUS, 1898). Na América Latina, as aranhas do gênero
Loxosceles começaram a ser reconhecidas como de importância médica em 1937, quando
17
foram atribuídos a Loxosceles laeta casos de araneísmo cutâneo gangrenoso e hemolítico
ocorridos no Chile (MACCHIAVELLO, 1937). No Brasil, somente em 1954 as aranhas do
gênero Loxosceles foram imputadas como agente causador de acidente cutâneo necrótico
(ROSENFELD et al., 1957). Em 1988, implantou-se o sistema de notificações dos acidentes
araneídicos no Brasil. Desde então, observa-se que a maioria das notificações é proveniente
das Regiões Sul e Sudeste, sendo a maioria dos casos predominantes nos meses quentes do
ano (SINAN, 2012).
Desde a década de 90, os acidentes causados por aranhas do gênero Loxosceles são
considerados as formas mais importantes de araneísmo na América do Sul (WHITE et al.,
1995). Apesar da importância clínica deste acidente, menos de 50 % dos acidentados
registrados procuram atendimento médico em um período de até 12 horas após a picada
(SINAN, 2012). A picada geralmente ocorre no ambiente intradomiciliar, em circunstâncias
onde a aranha é comprimida contra o corpo do indivíduo, tais como ao vestir-se ou dormir.
Em consequência disso, o tronco e a região proximal dos membros são os segmentos do corpo
comumente acometidos (WEN et al., 2009).
É característica das aranhas a presença de glândulas de veneno associado as quelíceras.
Porém, nem todas são responsáveis por acidentes humanos graves, devido a diversos fatores
como: quantidade insuficiente de veneno injetado, quelíceras incapazes de perfurar a pele ou
pelo fato de habitarem locais pouco frequentados pelo homem (FOELIX, 2010). Devido ao
tamanho das quelíceras, as aranhas do gênero Loxosceles podem fazer somente pequenas
inoculações intradérmicas do seu veneno, mas quantidades ínfimas desse veneno são
suficientes para o desenvolvimento de edema e eritema no local da inoculação do veneno,
seguido de necrose do tecido. Na dependência da dose inoculada, o acidente pode restringir-se
a lesão local ou então evoluir para o envenenamento sistêmico, com febre, hemoglobinúria,
icterícia e falência renal, que pode determinar o óbito do paciente (FURLANETTO 1961;
MAJESKI e DURST 1976; CACY e MOLD 1999; FORKS 2000; DA SILVA et al. 2004;
WILSON et al. 2005; ISBISTER e FAN 2011).
18
1.2 Caracterização do veneno das aranhas Loxosceles
O veneno de aranhas do gênero Loxosceles é líquido, incolor e cristalino, formado por
uma mistura complexa de proteínas, glicoproteínas e peptídeos de baixo peso molecular, com
predomínio de toxinas com pesos moleculares que variam de 5 a 40 kDa (CHAIM et al.,
2011; GREMSKI et al., 2014).
A grande dificuldade em se trabalhar com o veneno de aranhas do gênero Loxosceles
está na mínima quantidade de veneno adquirido em cada processo de extração
(aproximadamente 20 a 200 microgramas de proteínas em poucos microlitros de veneno)
(SENFF-RIBEIRO et al., 2008). Para superar esta dificuldade, as extrações geralmente são
feitas em coleções de centenas ou milhares de aranhas e o veneno total mantido como único
estoque, liofilizado ou em solução (CHAIM et al., 2011). Outra técnica que vem sendo
bastante utilizada consiste na construção de uma biblioteca de DNA recombinante da glândula
de veneno das aranhas Loxosceles (CHAIM et al., 2011), a clonagem e a síntese de várias
toxinas recombinantes (RIBEIRO et al., 2007; APPEL et al., 2008) tem auxiliado na
elucidação dos mecanismos de ação do veneno destas aranhas.
Em relação à composição, o veneno loxoscélico é rico em proteases, fosfatase alcalina,
hialuronidases, fosfolipases, metaloproteases dentre outros componentes (TAMBOURGI et
al., 2000; BARBARO et al., 2005; DA SILVEIRA et al., 2007a; DA SILVEIRA et al., 2007b;
CHAIM et al., 2011). A atividade hialuronidásica atribuída ao veneno é considerada um dos
fatores responsáveis pelo espalhamento do veneno, fazendo com que a lesão dermonecrótica
se espalhe pela pele em sentido gravitacional (FUTRELL, 1992). A família das fosfolipases D
tem sido principalmente relacionada com a ocorrência de dermonecrose após a picada
(TAMBOURGI et al., 1998; KALAPOTHAKIS et al., 2007; APPEL et al., 2008). A
fosfolipase D é a molécula mais estudada do veneno, sendo referida na literatura como
esfingomielinase-D, devido a sua capacidade de hidrolisar a esfingomielina (TAMBOURGI et
al., 1998; DA SILVA et al., 2004; TAMBOURGI et al., 2005). O grande interesse nessa
proteína, em detrimento dos demais componentes do veneno, é devido à sua habilidade em
reproduzir efeitos necróticos do Loxoscelismo. Dentre as principais propriedades biológicas
descritas, pode-se destacar a ocorrência de dermonecrose no local da inoculação do veneno,
intensa resposta inflamatória com infiltração de neutrófilos e ativação do complemento,
19
hemólise, falência renal, toxicidade para diversos tipos de cultura de células e letalidade
animal (TAMBOURGI et al., 2005;APPEL et al., 2008; TAMBOURGI et al., 2010).
Ao longo dos últimos anos, muitas toxinas diferentes tiveram seu mecanismo de ação
descrito, tais toxinas podem ser relacionadas com a resposta inflamatória inicial, estimulando
a liberação de mediadores endógenos pró-inflamatórios que contribuem com a migração de
células inflamatórias e o consequente desenvolvimento da lesão (VEIGA et al., 2001;
ZANETTI et al., 2002; HOGAN et al., 2004). Toxinas deste veneno interagem com a
membrana celular, degradam componentes da matriz extracelular, induzem a ativação do
sistema complemento e o recrutamento de leucócitos polimorfonucleados e plaquetas, entre
outros eventos que contribuem para o estabelecimento da inflamação local (TAMBOURGI et
al., 1998; HOGAN et al., 2004; DA SILVA et al., 2004; NOWATZKI et al., 2010).
As toxinas dermonecróticas são compostas por complexa família de proteínas com
massa molecular semelhante, sendo sete isoformas identificadas com atividade fosfolipásica e
dermonecrótica (VUITIKA et al., 2013). Essas toxinas foram obtidas por meio de DNA
recombinante, empregando bibliotecas de cDNA montadas a partir da glândula da aranha da
espécie Loxosceles intermedia. Em particular, a toxina dermonecrótica recombinante
(LiRecDT1) apresenta estrutura tridimensional e atividade análoga a toxina dermonecrótica
selvagem (RIBEIRO et al., 2007). A maior parte dos efeitos tóxicos causados pelo veneno de
aranhas Loxosceles pode ser reproduzida experimentalmente através das toxinas
dermonecróticas (CHAIM et al., 2011).
1.3 Loxoscelismo humano: Aspectos clínicos
Loxoscelismo é a síndrome causada em humanos pela picada das aranhas do gênero
Loxosceles. O veneno dessas aranhas apresenta toxicidade variável, dependendo da espécie
responsável pelo acidente (BARBARO et al., 1996). Dentre as espécies de importância
médica, Loxosceles deserta, Loxosceles rufescens e Loxosceles arizonica são responsáveis por
lesões relativamente suaves (SAMS et al., 2001). Em geral, as espécies encontradas na
América do Sul apresentam alta incidência de eventos sistêmicos em humanos (SCHENONE
et al., 1989; RIBEIRO et al., 1990; SEZERINO et al., 1998; MALAQUE et al., 2002), sendo
20
o veneno da espécie Loxosceles intermedia relacionado a ocorrência de eventos clínicos mais
severos (BARBARO et al., 1996).
As manifestações clínicas do envenenamento loxoscélico caracterizam-se por
inflamação e dermonecrose no local da picada (HOGAN et al., 2004), embora em alguns
casos sejam observadas hemólises sistêmicas e falência renal aguda (ABDULKADER et al.,
2008). O mecanismo de ação desse veneno não está completamente elucidado, trata-se de um
processo multifatorial, que envolve a ação direta do veneno sobre os tecidos e a resposta do
organismo à agressão causada pelo mesmo. Acredita-se que a lesão dermonecrótica observada
seja decorrente de processo complexo inicialmente caracterizado pelo efeito direto do veneno
sobre componentes da membrana celular, da membrana basal e matriz extracelular
(GREMSKI et al., 2014). A interação inicial entre o veneno e os tecidos ativaria mecanismos
endógenos tais como: ativação do sistema complemento, migração e liberação de enzimas
proteolíticas pelos polimorfonucleados, agregação plaquetária, liberação de diversas citocinas
e quimiocinas, participação de enzimas hidrolíticas que contribuiriam para o aumento da
lesão, por meio de danos na microvascularização, perturbação do fluxo sanguíneo, indução de
edema e ação isquêmica (FUTRELL, 1992; TAMBOURGI et al., 1998; TAMBOURGI et al.,
2005). Isso levaria a degeneração celular e dano tecidual local. Por outro lado, a insuficiência
renal aguda seria resultado, entre outros fatores, da ação nefrotóxica e hemolítica do veneno
(WRIGHT et al., 1997).
O diagnóstico é fundamentalmente clínico-epidemiológico, contudo é realizado, na
maioria dos casos, quando o quadro clínico está instalado, além disso, poucos pacientes
capturam o agente causador do acidente (WEN et al., 2009). Como a picada é pouco dolorosa
e a lesão dermonecrótica é de progressão lenta, o tempo médio decorrido entre o acidente e o
primeiro atendimento médico varia de 12 a 48 horas e o desconhecimento por parte dos
profissionais da saúde das alterações induzidas pelo veneno tem contribuído para maior
retardo no diagnóstico (SEZERINO et al., 1998; HOGAN et al., 2004; SINAN, 2012).
Em casos confirmados de loxoscelismo, nas primeiras 6 horas surgem edema e eritema
no local da picada, que pode ser inicialmente interpretado como reação alérgica ou abscesso
em formação. Posteriormente, após cerca de 24 a 36 horas do acidente, a lesão evolui com
áreas equimóticas mescladas com palidez, cercada por eritema. Após cerca de 5 a 7 dias, a
21
lesão vai se delimitando até formar uma crosta necrótica seca, sendo incomum a presença de
infecção secundária. Após 2 a 3 semanas, a crosta necrótica se desprende deixando uma
úlcera. Além do quadro cutâneo, manifestações gerais inespecíficas como febre, mal estar,
fraqueza, náuseas e vômitos podem estar presentes na fase aguda (WEN et al., 2009). A
evolução do quadro clínico pode levar ao desenvolvimento da forma mais grave do
loxoscelismo, caracterizado pela hemólise intravascular associada a anemia aguda, icterícia
cutânea mucosa e hemoglobinúria em graus variáveis. Essas manifestações são observadas
mais frequentemente nos dois primeiros dias do acidente, mas podem ocorrer mais
tardiamente (WILSON et al., 2005). O óbito é raramente observado, mas pode ocorrer nos
casos em que o paciente evolui com insuficiência renal aguda (CACY e MOLD, 1999).
A terapêutica do loxoscelismo ainda é assunto controverso. Divergências quanto a
eficácia do soro antiaracnídico ou antiloxoscélico na neutralização dos efeitos locais fazem
que haja diferentes propostas terapêuticas (PAULI et al., 2006; PAULI et al., 2009). Além do
antiveneno, corticosteróides tem sido rotineiramente empregados no tratamento e a crosta
necrótica removida cirurgicamente após a sua delimitação (DELASOTTA et al., 2014). Sabe-
se que os primeiros danos teciduais ocorrem dentro de poucas horas após o envenenamento
(PAULI et al., 2009). Isto pode ser uma das causas que explicam a reduzida eficácia do
tratamento, inclusive da soroterapia, uma vez que a maioria dos pacientes procuram
atendimento médico após 12 horas do acidente (SINAN, 2012).
Devido às dificuldades na reversão dos efeitos desencadeados pelo veneno
loxoscélico, vários protocolos de tratamento têm sido propostos e testados. O mais aceito para
picada por aranha marrom é composto por dapsona, corticosteroide, antibióticos e soro
antiaracnídico ou antiloxoscélico. A dapsona, utilizada para o tratamento da hanseníase (e
várias formas de dermatite) é usada para limitar a migração e infiltração neutrofílica no local
da picada e por apresentar efeitos antimicrobianos (SWANSON e VETTER, 2005).
Corticosteróide é usado devido aos seus efeitos antiinflamatórios (DA SILVA et al., 2004).
Antibióticos são usados para prevenir infecções secundárias, ou como agentes quelantes para
inibir as proteínas do veneno (PAIXAO-CAVALCANTE et al., 2007). E o soro
antiaracnídico ou antiloxoscélico são os únicos tratamentos específicos para neutralizar a
atividade do veneno (PAULI et al., 2006; PAULI et al., 2009).
22
1.4 Modelo experimental
Os efeitos locais e sistêmicos do veneno das aranhas do gênero Loxosceles estão bem
descritos na literatura para coelhos, que constituem o melhor modelo experimental para
reprodução dos efeitos deste envenenamento observados em humanos (FURLANETTO,
1961; ELSTON et al., 2000; OSPEDAL et al., 2002; DA SILVA et al., 2003; TAVARES et
al., 2004; PAULI et al., 2009). Por outro lado,modelos murinos não desenvolvem lesão
dermonecrótica característica deste envenenamento, sendo utilizados apenas para análises de
eventos inflamatórios (BECKWITH et al., 1980; SUNDERKOTTER et al., 2001; BARBARO
et al., 2010).
Além de ser o melhor modelo animal para reprodução dos sinais de envenenamento, o
coelho é também o mais adequado para os ensaios de neutralização do veneno com os soros
antiaracnídico e antiloxoscélico. Em experimentos com neutralização in vivo, realizados com
injeções independentes de veneno de Loxosceles rufipes e soro na orelha de coelhos, foi
observada completa inibição da dermonecrose quando o antiveneno foi administrado
intravenosamente até 4 horas após a inoculação do veneno. Ainda, foi observada inibição
parcial até 8 horas depois, e redução da lesão dermonecrótica à metade do tamanho inicial
quando o antiveneno foi administrado até 16-24 horas (FURLANETTO, 1961). A redução
parcial da necrose em coelhos administrados com soro específico até 48 horas após o
envenenamento também foi observada, e pode ser atribuída a neutralização dos efeitos do
veneno responsáveis pelo desenvolvimento da necrose, porém sem inibição da reposta
inflamatória iniciada (PAULI et al., 2009). Dessa forma, o uso do soro específico contribui
para a recuperação do organismo submetido ao envenenamento, bem como reduz o tamanho
e, consequentemente, melhora a cicatrização da lesão gerada, sendo essencial sua
administração, mesmo que tardia.
A análise histológica da pele de coelhos, 24 horas após a administração do veneno de
Loxosceles gaucho, demonstra a presença maciça de leucócitos e plaquetas, hemorragia e
formação de trombos no local de inoculação do veneno (TAVARES et al., 2004). Sob tempos
de exposição prolongados, ocorre necrose das miofibrilas e infiltração de leucócitos no
músculo esquelético, sendo a destruição da integridade da epiderme e a necrose das fibras de
23
colágeno próximas a epiderme, sendo estes os últimos eventos observados durante o
desenvolvimento da lesão dermonecrótica em coelhos (GREMSKI et al., 2014).
A inoculação de veneno de Loxosceles reclusa induz a formação de vacúolos
subendoteliais e a deposição de fibrina e trombos intravascular (SMITH e MICKS 1970;
ELSTON et al. 2000). O veneno de Loxosceles intermedia desorganiza a membrana basal do
tecido conjuntivo e atua como potente agonista de células endoteliais, com espessamento
endotelial e vasodilatação, e ainda massivo acúmulo de leucócitos polimorfonucleados ao
redor dos vasos sanguíneos, o que ocorre dependendo do tempo e do local da picada (VEIGA
et al. 2001; ZANETTI et al. 2002). A exposição de células endoteliais, isoladas da aorta de
coelhos, às toxinas do veneno demonstrou alterações morfológicas tais como retração celular,
aumento da projeção de filopodos e perda da adesão a matriz extracelular (PALUDO et al.,
2006). Estes efeitos citotóxicos podem estar relacionados a ativação de plaquetas e a migração
de leucócitos, bem como a coagulação intravascular disseminada e ao aumento da
permeabilidade vascular (PALUDO et al., 2006; SENFF-RIBEIRO et al., 2008). Os
mecanismos envolvidos na atividade direta do veneno sobre as células endoteliais ainda não
estão completamente elucidados, sabe-se apenas que as toxinas do veneno se ligam a
superfície das células endoteliais e são internalizadas (NOWATZKI et al., 2010).
O veneno loxoscélico estimula a expressão de E-selectina e a liberação de grande
quantidade de interleucina-8 (IL-8), sendo esses marcadores responsáveis pela amplificação
da resposta inflamatória local e sistêmica do veneno (HOGAN et al., 2004). A IL-8 é uma
interleucina produzida por diferentes células relacionadas ao processo inflamatório
(monócitos, linfócitos, células do endotélio ou epitélio, fibroblastos) em resposta a diferentes
estímulos a fim de atuar como quimiotático e ativador de neutrófilos (MONTON et al., 1998).
As E-selectinas são glicoproteínas que aparecem nas células endoteliais após terem sido
ativadas por citocinas inflamatórias e, desta forma, participam do processo de adesão de
leucócitos ao endotélio vascular durante eventos iniciais que levam ao processo inflamatório,
inicialmente marcado pela migração de neutrófilos para o local da ocorrência de dano tecidual
(CEOLOTTO et al., 2014).
Alterações celulares ocorrem desde a medula óssea ao sangue periférico após a
exposição ao veneno de Loxosceles intermedia. Amostras de medula óssea e sangue periférico
24
de coelhos, colhidos antes do envenenamento, e em períodos que variaram de 4 horas a 30
dias após inoculação do veneno demonstram que a série vermelha não é afetada pelo veneno,
somente os eritroblastos apresentam decréscimo. Ainda, é possível observar depleção medular
de megacariócitos e trombocitopenia no sangue periférico, a qual está diretamente relacionada
aos achados histopatológicos, obtidos a partir de biópsias da pele dos coelhos. Outro achado
experimental, em coelhos submetidos ao envenenamento loxoscélico, consiste no aumento do
número de células mielóides na medula óssea, o que correlaciona-se significativamente com o
aumento no número de neutrófilos no sangue periférico (DA SILVA et al., 2003). A contagem
de células no sangue periférico através do hemograma, a função plaquetária, a coagulação
sanguínea e parâmetros bioquímicos dependentes do tempo de exposição também foram
estabelecidos em coelhos nos tempos 3, 24, 48, 72 e 120 horas após o envenenamento por
Loxosceles. Observou-se trombocitopenia e leucopenia inicial, seguida de aumento de
leucócitos, agregação plaquetária, fibrinogênio elevado e significativa diminuição do fator VII
da coagulação (TAVARES et al., 2004).
Dentre os eventos clínicos relacionados ao envenenamento por aranhas do gênero
Loxosceles a ocorrência de coagulação intravascular, causando oclusão de vênulas e arteríolas
em humanos e coelhos, adicionado a ocorrência de hipóxia tecidual (ZANETTI et al., 2002)
constitui um evento clínico preocupante. A coagulação intravascular também ocorre no
pulmão, fígado e rins quando o veneno atinge a circulação sistêmica (FUTRELL, 1992),
podendo evoluir para o óbito resultante de falência renal.
Em camundongos, as toxinas do veneno promovem danos no fígado, rins, coração e
sistema nervoso central com possível evolução para o óbito. Contudo, crises hemolíticas
descritas em humanos e coelhos após o envenenamento, não foram observadas em
camundongos inoculados com o veneno, inferindo que nestes animais, os efeitos sistêmicos,
em resposta ao veneno das aranhas do gênero Loxosceles, não envolve hemólise intravascular
disseminada (BABCOCK et al., 1981).
A atividade nefrotóxica direta do veneno de Loxosceles genus, em camundongos, foi
observada através das alterações nas estruturas glomerulares e tubulares. De modo geral, tanto
a porção medular quanto a cortical do tecido renal apresentam padrão difuso de citotoxicidade
e os animais testados apresentam concentração aumentada de uréia na urina (CHAIM et al.,
25
2006). Apesar do grande número de estudos realizados, os mecanismos envolvidos na
fisiopatologia do envenenamento e na ação específica do veneno, ainda não estão totalmente
elucidados (BECKWITH et al., 1980; BABCOCK et al., 1981; BABCOCK et al., 1986;
BARBARO et al., 1996; ABDULKADER et al., 2008; RATTMANN et al., 2008;
BARBARO et al., 2010).
O veneno das aranhas do gênero Loxosceles não induz dermonecrose em
camundongos (BABCOCK et al., 1981; FUTRELL, 1992), e a disponibilidade de
esfingomielina parece ser fator determinante para o desencadeamento ou não da
dermonecrose local entre as diferentes espécies de mamíferos (DOMINGOS et al., 2003). A
fim de comprovar a importância da esfingomielina para o desenvolvimento da lesão,
esfingomielina exógena foi utilizada, demonstrando que sua presença auxilia a retenção do
veneno no local da inoculação, evitando sua dispersão sistêmica, o que favorece a formação
da lesão local em camundongos, evitando o óbito precoce destes animais. A formação da
ferida na pele e a ocorrência de reação semelhante a um abscesso interno são resultados da
exacerbação da resposta inflamatória local decorrente da coadministração de esfingomielina e
veneno de Loxosceles gaucho por injeção intradérmica em camundongos, havendo maiores
níveis de veneno no local da inoculação (DOMINGOS et al., 2003). Estes resultados são
extremamente importantes para a compreensão do desenvolvimento da lesão dermonecrótica
em humanos. Em coelhos, como modelo experimental clássico, foi demonstrado que a extensa
inflamação dérmica está diretamente relacionada com a dispersão do veneno de Loxosceles
reclusa (GOMEZ et al., 2001).
Uma vez que o veneno das aranhas do gênero Loxosceles possui a enzima
esfingomielinase D (TAMBOURGI et al., 1998), que é capaz de clivar a esfingomielina em
colina e ceramida fosfato, a compreensão da importância destes substratos para o processo
inflamatório decorrente do envenenamento se faz necessário. As ceramidas são potentes
reguladores de vários processos biológicos, atuando na migração de neutrófilos, adesão
celular, fagocitose, liberação de mediadores inflamatórios e geração de espécies reativas de
oxigênio durante o processo inflamatório (BALLOU et al., 1996). Isso sugere que a ação do
veneno sobre a esfingomielina estimula o desenvolvimento da resposta inflamatória e a
migração de leucócitos, mantendo o veneno mais tempo no local da picada.
Histopatologicamente, o recrutamento de leucócitos é evento crucial para o início da resposta
26
imunológica contra as toxinas do veneno, sendo os neutrófilos as principais células
inflamatórias relacionadas ao desenvolvimento da lesão dermonecrótica (OSPEDAL et al.,
2002; BARBARO et al., 2010).
Coleman e colaboradores (1980) sugerem que a estrutura e o conteúdo de
esfingomielina na membrana celular varia entre as diferentes espécies animais, tendo sido
observadas diferenças funcionais em hemácias de diferentes espécies, correlacionadas com o
conteúdo de esfingomielina presente na membrana. Foi observado ainda, que a esfingomielina
presente em diversos tecidos de ratos e camundongos apresenta longa cadeia de ácido graxo
que não está presente na esfingomielina encontrada em humanos (BETTGER et al., 1998).
Embora muitos sintomas do envenenamento causado por aranhas Loxosceles estejam
bem caracterizados, em relação a formação da lesão dermonecrótica, várias perguntas visando
o entendimento dos mecanismos intracelulares envolvidos na reação imunológica aguda após
a picada ainda permanecem sem resposta. O envolvimento de mediadores pró-inflamatórios
clássicos como interleucina 1 beta (IL-1β), fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), leucotrieno
B4 (LTB4) e tromboxano B2 (TXB2), não foi observado durante a resposta inflamatória ao
veneno de Loxosceles gaucho após inoculação na pata de camundongos, tendo sido observada
a liberação local de outros mediadores inflamatórios solúveis, tais como interleucina 6 (IL-6),
proteína quimioatrente de monócitos (MCP-1) e quimioatraente de queratinócitos (KC), sendo
estes mediadores responsáveis por desencadear a resposta inflamatória induzida por este
veneno (BARBARO et al., 2010).
O coelho como modelo de estudo clássico requer manejo diferencial e alto custo de
criação e manutenção. Visando simular os efeitos locais do envenenamento em modelos
experimentais murinos, a implantação subcutânea de esponjas em camundongos tem sido
usada, a fim de permitir a amplificação da resposta imunológica contra um corpo estranho,
que evolui com intensa granulação vascular. E assim vários componentes do tecido
subcutâneo podem ser analisados por parâmetros bioquímicos, funcionais e histológicos. A
inoculação do veneno de Loxosceles similis em camundongos implantados com esponja
permitiu a observação de eventos inflamatórios típicos, como infiltração neutrofílica, edema,
vasodilatação, hiperemia e severa hemorragia (PEREIRA et al., 2012; PEREIRA et al., 2014).
Desta forma, este modelo pode ser usado para o estudo das ações do veneno de Loxosceles em
27
camundongos, o que possibilita novo alvo de investigação, não apenas dos efeitos
inflamatórios do veneno, mas também dos mecanismos de injúria tecidual. A descrição da
patogênese do loxoscelismo cutâneo, utilizando o modelo implantado com esponjas
subcutâneas, permitiu ainda, observar a presença de trombos oclusivos, depleção celular,
degradação de fibras de colágeno, aumento do número de mastócitos e ocorrência de
degranulação em pequenos intervalos de tempo após a injeção do veneno (PEREIRA et al.,
2014).
Com base no que foi exposto, compreender o mecanismo de ação do veneno de
Loxosceles em diferentes animais se faz necessário, sobretudo a fim de demonstrar os
mecanismos diferenciais de ação quando se utiliza o camundongo como modelo experimental.
Os camundongos são referidos na literatura como o modelo menos susceptível ao
desenvolvimento dos efeitos locais decorrentes do envenenamento por aranhas Loxosceles
(MAJESKI e DURST, 1976; BECKWITH et al., 1980; BABCOCK et al., 1981; DOMINGOS
et al., 2003; BARBARO et al., 2010; PEREIRA et al., 2012; PEREIRA et al., 2014), dessa
forma, sua utilização representa grande interesse clínico, cujo objetivo é desvendar tal
mecanismo de proteção presente nestes animais.
28
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivos Gerais
Caracterizar a ação do veneno da aranha Loxosceles intermedia em camundongos.
2.2 Objetivos Específicos
Caracterização do veneno de Loxosceles intermedia:
Avaliar a atividade hialuronidásica in vitro
Avaliar a atividade proteolítica in vitro
Avaliar a atividade colagenásica in vitro
Avaliar a atividade fosfolipásica in vitro
Avaliar a atividade esfingomielinásica in vitro
Ação do veneno em camundongos:
Observar o desenvolvimento de edema durante 24 horas após a inoculação do
veneno de Loxosceles intermedia na pata de camundongos.
Caracterizar microscopicamente as alterações histopatológicas na pele 24 horas
após a inoculação intradérmica do veneno de Loxosceles intermedia em
camundongos.
Avaliar a mobilização de células inflamatórias através do sangue e a partir da
medula óssea e baço, após a inoculação do veneno de Loxosceles intermedia.
29
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Materiais
O veneno bruto da aranha Loxosceles intermedia foi extraído e cedido pelo Instituto
Vital Brazil (IVB-Niterói/RJ) em colaboração com o Prof. MSc Cláudio Maurício V. Souza, a
partir de um lote de aranhas capturadas naturalmente na cidade de Petrópolis/RJ. Os ensaios
in vitro da atividade do veneno foram realizados em colaboração com o Prof. Dr. Paulo A.
Melo do Laboratório de Farmacologia das Toxinas, localizado no Instituto de Ciências
Biomédicas, UFRJ. A análise por espectrofluorimetria foi realizada em colaboração com o
Prof. Dr. Ricardo Cassella do Instituto de Química, UFF. As análises por citometria de fluxo
foram realizadas em colaboração com o Prof. Dr. Felipe Leite de Oliveira do Laboratório de
Proliferação e Diferenciação Celular, localizado no Instituto de Ciências Biomédicas, UFRJ.
Todos os reagentes utilizados nos ensaios possuem grau analítico.
3.2 Extração do veneno de Loxosceles intermedia
A extração do veneno foi realizada através de procedimento padronizado pelo
aracnário do Instituto Vital Brazil, a saber: Primeiro aranhas fêmeas da espécie L. intermedia
foram mantidas em jejum por uma semana, após este período foram separadas para a extração
do veneno bruto; com auxílio de uma pinça, a aranha foi posicionada, sob a lupa, sendo uma
lâmina metálica inserida entre o lábio e a quelícera, a fim de evitar a contaminação do veneno
extraído com regurgitação gastroesofágica; em seguida, um capilar foi colocado sobre a
quelícera e a aranha recebeu uma eletroestimulação a 15 mV no cefalotórax. A partir deste
estímulo elétrico, o veneno foi lançado para dentro do capilar (Figura 2). Este capilar foi
colocado em solução salina fisiológica – PSS (NaCl 135 mMol; KCl 5 mMol; MgCl2 1
mMol; NaH2PO4 1 mMol) e, através de uma bomba de ar, o veneno foi expulso para dentro
desta solução.
30
Figura 2. Técnica de extração do veneno da aranha Loxosceles intermedia. CT: capilar; V: veneno; CH:
quelícera; VG: Glândula de veneno; E: Eletroestimulação; L: lábios; MF: lamínula. Fonte: Imagem cedida pelo
Aracnário – Instituto Vital Brazil.
3.3 Caracterização do veneno das aranhas Loxosceles intermedia
3.3.1 DOSAGEM DE PROTEÍNAS PELO MÉTODO DE BRADFORD
A dosagem de proteínas foi realizada a partir do Método de Bradford, 1976,
modificado. Para a preparação do reagente de Bradford, dissolveu-se 10 mg de Coomassie
Brilliant Blue G-250 em 5 mL de etanol 95 % e, em seguida, adicionou-se 10 mL de ácido
fosfórico 85 %. A solução foi avolumada para 100 mL com água destilada. Após filtração em
papel de filtro, a solução foi mantida em geladeira. As soluções-padrão diluídas foram
preparadas em tampão acetato de sódio 0,05 M em pH 4,8, adicionado de NaCl 0,15 M. O
tampão foi preparado titulando-se acetato de sódio 0,05 M com ácido acético até pH final de
4,8, e, em seguida, dissolveu-se o NaCl. A solução de albumina bovina foi então preparada
em NaCl 0,15M para concentração final de 1065 µg/mL, e a partir desta, foram preparadas
quatro diluições com as seguintes concentrações: 10,65 µg/mL; 26,63 µg/mL; 53,25 µg/mL;
79,88 µg/mL, para o estabelecimento da curva padrão de albumina utilizada para a dosagem
de proteínas do veneno. Em tubos de ensaio, 5 mL do reagente de Bradford foram misturados
a 0,1 mL de cada uma das diluições da solução de albumina. Em seguida, as respectivas
absorbâncias foram determinadas a 595 nm em espectrofotômetro, utilizando a solução
tampão acetato de sódio 0,05 M no lugar da solução padrão para o branco. Para a
determinação das absorbâncias das amostras de veneno também foi utilizado 0,1 mL da
diluição do veneno em tampão acetato de sódio 0,05 M, misturado a 5 mL do reagente de
Bradford.
31
3.3.2 ENSAIOS IN VITRO DAS ATIVIDADES DO VENENO
3.3.2.1 Atividade Fosfolipásica
A atividade fosfolipásica foi determinada através do método turbidimétrico adaptado
de Marinetti (1965). Utilizou-se como substrato uma suspensão de gema de ovo de galinha
que é rica em fosfatidilcolina. Para o preparo da solução estoque (SE), a gema de ovo fresca
foi separada da clara, coada e diluída em solução salina 0,9 % até o volume de 100 mL. A
partir da SE, foi preparada uma diluição a 20 % (v/v) chamada solução de trabalho (ST). A ST
foi diluída ou concentrada pela adição de solução salina 0,9% ou SE, respectivamente, de
forma que ao serem adicionados aos demais reagentes, obtenha-se leitura na faixa de
absorbância entre 0,600 – 0,700. Para tal avaliação realizou-se leitura a 925 nm de uma
amostra de 200 μL da ST e 800 μL de solução salina 0,9%. Para o preparo da solução de uso
(SU) foi adicionado 300 μL de ST, 20 μL de CaCl2 (0,5 M), 25 μL de taurocolato de sódio
(0,4%), 25 μL de tampão Tris-HCl (pH 7,5; 0,2 M) e 630 µL de solução salina 0,9% para o
volume final de 1,0 mL. A leitura foi realizada utilizando-se 180 μL da SU e 20 μL de solução
salina 0,9% (substrato). O volume correspondente ao veneno testado foi subtraído do volume
de solução salina para obtenção da concentração final. A reação ocorreu a 37 °C por 30
minutos, sendo as absorbâncias das soluções lidas em Elisa a 925 nm, através do software de
aquisição de dados “SoftmaxPro” nos tempos 0, 5, 10, 15, 20, 25 e 30 minutos após a adição
do veneno. O veneno das aranhas L. intermedia foi utilizado na concentração de 100 µg/mL
(n=4) e como controle da reação foi utilizada a absorbância do próprio substrato. Os
resultados foram expressos como variação da absorbância das amostras contendo o veneno
em relação ao controle.
3.3.2.2 Atividade Hialuronidásica
A atividade hialuronidásica foi avaliada por turbidimetria através do método adaptado
de Di Ferrante (1956). O ácido hialurônico bovino foi utilizado como substrato (Fluka®, St.
Louis, EUA) para avaliar a degradação do mesmo através da diminuição da turbidez da
solução. O ácido hialurônico foi reconstituído com tampão acetato-ácido acético 0,2 M,
adicionado de NaCl 0,15 M, em pH 6,0 ajustado com solução de ácido acético glacial. O
32
equivalente a 50 µg/mL de ácido hialurônico foi adicionado a tubos plásticos e completado
com o tampão para o volume final de reação de 333,3 µL. O veneno de L. intermedia foi
utilizado em três diferentes concentrações, 10, 30 e 100 μg/mL (n=4/cada), sendo seus
volumes descontados do tampão. As soluções foram agitadas por 5 segundos e permaneceram
por 60 minutos em banho-maria a 37°C. Ao término, foi adicionado 666.7 µL de cetrimide
2,5 % e após 10 minutos em repouso a temperatura ambiente, realizou-se a leitura em
espectofotômetro a 400 nm. O tampão acetato-ácido acético foi utilizado como controle da
reação e os resultados expressos em função da variação da absorbância na presença do veneno
em relação ao controle.
3.3.2.3 Atividade Proteolítica
O estudo da atividade proteolítica foi realizado através do método adaptado por Garcia
e colaboradores (1978). O método consiste na digestão de azocaseína e leitura do grupamento
azo liberado para a solução, que gera coloração alaranjada. Uma solução de azocaseína 0,4 %
foi diluída em solução salina 0,9 % e NaOH 0,05 M (1:1). Em cada tubo de ensaio foi
adicionado 100 μL da solução de azocaseína a 0,4 %, 50 µL de tampão Tris-HCl (pH 7,5; 0,2
M), 4 μL de CaCl2 1M e água destilada em quantidade suficiente para volume final de 200
μL. O veneno da aranha L. intermedia foi utilizado em três diferentes concentrações, 10, 30 e
100 μg/mL (n=4/cada), sendo seus volumes descontados da água destilada. A reação ocorreu
durante 3 horas à temperatura de 37 ºC e foi interrompida pela adição de 100 µL de ácido
tricloroacético a 15%. Cada tubo de ensaio foi centrifugado a 5000 rpm, a 20 °C durante 5
minutos. Após esse processo, alíquotas de 150 µL do sobrenadante foram retiradas e, então,
adicionadas a 75 µL de NaOH 2 M. As leituras foram realizadas em ELISA a 420 nm, através
do software de aquisição de dados “SoftmaxPro”. Considerou-se como controle da reação a
leitura do substrato, correspondente à alíquota sem o veneno e os resultados foram expressos
como variação das absorbâncias registradas em relação ao controle.
33
3.3.2.4 Atividade Colagenásica
A avaliação da atividade colagenásica do veneno foi realizada pelo método
colorimétrico adaptado de Chavira e colaboradores (1984). Foi preparada uma solução 0,3 %
de colágeno impregnado com corante azo (Azocoll®, Sigma-Aldrich, St. Louis, EUA),
substrato que confere coloração lilás decorrente da sua degradação, e diluído em tampão Tris-
HCl (pH 7,5; 0,2 M) como diluente. Adicionou-se a cada tubo de ensaio 200 µL dessa solução
de Azocoll®, 4,4 µL de solução de CaCL2 a 1 M e água destilada em quantidade suficiente
para 220 µL. O veneno da aranha L. intermedia foi utilizado nas concentrações de 10, 30 e
100 µg/mL (n=4/cada), sendo seus volumes descontados da água destilada. Todos os tubos
foram mantidos a 37 °C por 3 horas e agitados levemente a cada 10 minutos. Ao término
desse período, cada tubo de ensaio foi centrifugado a 5000 rpm, a 20 °C durante 5 minutos.
Após esse processo, alíquotas de 170 µL do sobrenadante foram retiradas, e as leituras foram
realizadas em ELISA a 520 nm, através do software de aquisição de dados “SoftmaxPro”.
Considerou-se como controle da reação a leitura do substrato, correspondente à alíquota sem
o veneno e os resultados foram expressos em função da atividade colagenásica do veneno,
expressa pelo aumento da absorbância, em relação ao controle.
3.3.2.4 Atividade Esfingomielinásica
A atividade esfingomielinásica foi mensurada utilizando o kit Amplex Red (Molecular
Probes, Eugene, EUA). Neste ensaio, a atividade esfingomielinásica é monitorada usando 10-
acetil-3,7-dihidroxifenoxazine (reagente Amplex Red), reagente fluorogênico sensível para
H2O2. Primeiramente, a esfingomielinase hidrolisa a esfingomielina à ceramida-1-fosfato e
colina. A colina, por sua vez, é oxidada pela enzima colina oxidase à betaina e H2O2.
Finalmente, a H2O2, na presença da peroxidase reage com o Amplex Red
estequiometricamente (1:1), gerando um produto altamente fluorescente, o Resorufin (APPEL
et al., 2008). Para mensurar a atividade esfingomielinásica do veneno de Loxosceles
intermedia, este foi incubado com o Reagente Amplex Red, nas concentrações de 10, 30 e 100
μg/mL, à 37ºC por 30 minutos. Foi utilizada como controle positivo a enzima
esfingomielinase do próprio Kit, e como controle da reação apenas o Reagente Amplex Red
mais o tampão (0.5M Tris-HCl, 50 mM MgCl2, pH 7.4), ambos também à 37ºC por 30
34
minutos. A florescência foi mensurada em um espectrofluorímetro (Varian Cary Eclipse)
usando comprimento de onda de excitação em 570 nm e emissão em 590 nm.
3.4 Efeitos do veneno das aranhas Loxosceles intermedia em camundongos
O intrigante fato de modelos murinos não desenvolverem a lesão dermonecrótica
típica do envenenamento por aranhas do gênero Loxosceles, estimulou o desenvolvimento
deste trabalho. A fim de investigar a razão para esta diferença na ação local do veneno, o
camundongo foi escolhido como modelo experimental. Para isso foram utilizados
camundongos de três linhagens diferentes: Suiço, BALB/c e C57BL/6, para verificar como
seria a resposta em modelos experimentais semelhantes, porém com características
morfológicas particulares. A manipulação e os procedimentos com os animais obedeceram
aos princípios da CEUA/UFF (Comissão de Ética no Uso de Animais da Universidade
Federal Fluminense). Os animais não receberam nenhum tipo de analgésico ou
antinflamatório após a administração do veneno. A razão para descartar o uso de analgésicos
opióides está baseada em dados da literatura (SEHGAL et al., 2011) que verificaram aumento
progressivo de receptores opióides periféricos durante a inflamação. Portanto, a administração
destas substâncias poderia interferir no resultado, pois o processo inflamatório se faz
fundamental para a avaliação dos mesmos.
3.4.1 ATIVIDADE EDEMATOGÊNICA
Camundongos adultos machos de três diferentes linhagens, Suiços (n=4), BALB/c
(n=4) e C57BL/6 (n=4), pesando cerca de 25 ± 5 g, durante todo o experimento receberam
água e ração “ad libitum” e foram mantidos em ciclo de 12 horas claro-escuro à temperatura
de 22 ± 2 °C. Cada camundongo teve a pata esquerda inoculada por via intradérmica (ID)
com 100 µL de PSS (NaCl 135 mMol; KCl 5 mMol; MgCl2 1 mMol; NaH2PO4 1 mMol),
como controle do volume, e a pata direita inoculada por via ID com 1,2 µg/g de veneno de
Loxosceles intermedia em 100 µL de PSS. Cada camundongo inoculado teve as medidas da
altura e largura da pata, direita e esquerda, realizada antes da inoculação e nos seguintes
intervalos de tempo após a inoculação: 30 minutos, 1 hora, 2 horas, 3 horas, 4 horas, 6 horas,
35
16 horas e 24 horas. Para tais medições foi utilizado paquímetro universal da marca
”Mitutoyo”. Os resultados foram expressos como área da pata em função do tempo.
3.4.2 AÇÃO LOCAL
Para avaliar as alterações histológicas decorrentes da inoculação do veneno de
Loxosceles intermedia na pele de camundongos, foram utilizados camundongos adultos
machos, pesando cerca de 25 ± 5 g. Durante todo o experimento receberam água e ração “ad
libitum” e foram mantidos em ciclo de 12 horas claro-escuro à temperatura de 22 ± 2 °C.
Foram testadas três diferentes linhagens de camundongos: Suiços (n=8), BALB/c (n=8) e
C57BL/6 (n=8). Cada linhagem foi dividida em dois grupos: O primeiro grupo recebeu 1,2
µg/g de veneno no ventre, por via intradérmica (ID), em 100µL de PSS (NaCl 135 mMol;
KCl 5 mMol; MgCl2 1 mMol; NaH2PO4 1 mMol). O segundo, grupo controle, recebeu
100µL de PSS por via ID no ventre. Após 24 horas, os animais foram eutanaziados com
sobredose de enflurano, e as peles dos animais do grupo veneno e do grupo controle foram
retiradas, sendo a área de inoculação cortada e processada para a análise histopatológica.
3.4.2.1 Processamento Histológico
As peles foram fixadas em solução de paraformaldeído à 10 % em tampão fosfato
(pH=7,4) por 48 horas, desidratadas em concentrações crescentes de álcool por 1 hora cada
passagem. Em seguida, incluídas em xilol (3 passagens de 1 hora), em parafina (dois banhos a
60ºC por 1 hora) e, emblocadas para obtenção de lâminas com cortes de 5 µm, coradas com
Hematoxilina-Eosina. As carcaças dos animais foram mantidas no freezer e posteriormente
recolhidas por equipe da Universidade Federal Fluminense para serem encaminhadas para a
firma de descarte.
36
3.5 Mobilização de Leucócitos
3.5.1 ANÁLISES POR CITOMETRIA DE FLUXO
3.5.1.1 Obtenção das amostras
Para avaliar a mobilização de leucócitos 24 horas após o envenenamento, foram
analisados sangue, baço e medula óssea de camundongos submetidos a inoculação do veneno
de Loxosceles intermedia. Para a obtenção do material, os camundongos das linhagens
BALB/c (n=6) e C57BL/6 (n=6), foram divididos em dois grupos experimentais, o primeiro
grupo recebeu 1,2 µg/g de veneno no ventre, por via intradérmica (ID), em 100µL de PSS
(NaCl 135 mMol; KCl 5 mMol; MgCl2 1 mMol; NaH2PO4 1 mMol) e o segundo, grupo
controle, recebeu 100µL de PSS por via ID no ventre. Os animais foram eutanaziados
conforme descrito anteriormente e passaram pelos procedimentos descritos abaixo:
Sangue – O sangue foi obtido através de punção intracardíaca, em seringa de 3mL
(22G-1) com heparina, para evitar a formação de coágulos. A quantidade de sangue extraída
foi de 1mL para cada animal. Posteriormente, as hemácias foram lisadas em solução
hipotônica ACK (Cloreto de potássio e amônio) durante 5 minutos e centrifugadas a 1200
rpm/5min. Em seguida, o precipitado celular foi centrifugado duas vezes em PSS (NaCl 135
mMol; KCl 5 mMol; MgCl2 1 mMol; NaH2PO4 1 mMol) e depois ressuspendido em 1 mL de
PSS. As células obtidas foram contadas em câmara de Neubauer.
Baço – O baço foi removido e mantido em meio de cultura DMEM (Dulbecco’s
Modified Eagle’s Medium). Posteriormente, o baço foi dissociado mecanicamente e a cápsula
removida. Em seguida, as hemácias foram lisadas em solução hipotônica ACK durante 5
minutos e centrifugadas a 1200 rpm/5min. Em seguida, o precipitado celular foi centrifugado
em PSS e depois ressuspendido em 1 mL de PSS (NaCl 135 mMol; KCl 5 mMol; MgCl2 1
mMol; NaH2PO4 1 mMol). As células obtidas foram contadas em câmara de Neubauer.
Medula Óssea (MO) – Um fêmur por animal foi removido e mantido em solução
salina. Imediatamente, as epífises do fêmur foram retiradas e a extração das células da medula
óssea foi realizada com o auxílio de uma seringa de 5 mL (22G-1), com 3 mL de meio de
37
cultura DMEM (Dulbecco’s Modified Eagle’s Medium) em seu interior. Posteriormente, a
medula óssea foi dissociada mecanicamente e a suspensão de células foi centrifugada a 1200
rpm/5min. Em seguida, o precipitado celular foi centrifugado em meio de cultura e depois
ressuspendido em 1 mL de PSS (NaCl 135 mMol; KCl 5 mMol; MgCl2 1 mMol; NaH2PO4 1
mMol). As células em suspensão foram contadas em câmara de Neubauer.
3.5.1.2 Preparo da Suspensão Celular
Para saturar os receptores Fc, todas as células foram incubadas com o bloqueador de
Fc (linhagem celular 2.4G2 - Banco de Células do Rio de Janeiro) por 15 minutos. Em
seguida, as células foram transferidas para uma placa de 96 poços, num volume máximo de
200 μL por poço. Então, centrifugadas a 1200 rpm por 5 minutos e o sobrenadante
desprezado. Os anticorpos monoclonais específicos foram adicionados em um volume de 40
μL, sendo previamente diluídos em PSS (1:400), e incubados por 30 minutos. Em seguida, a
placa foi novamente centrifugada, o sobrenadante desprezado e o precipitado celular
ressuspendido em 100 μL de PSS. As suspensões celulares foram então recolhidas em 400 μL
PSS, em tubos específicos de citometria para aquisição no citômetro. Os anticorpos
monoclonais utilizados são conjugados a moléculas fluorescentes, dessa maneira quando
encontram os antígenos de superfície celular se ligam e a molécula fluorescente é detectada
pelo citômetro. Para as marcações, os respectivos anticorpos foram utilizados: anti-Mac1,
anti-CD8 e anti-IgM FITC-conjugados; anti-CD19, anti-CD4 e anti-CD23 PE-conjugados;
anti-Gr1, anti-CD45 e anti-CD5 PERCP-conjugados; anti-B220 e anti-C-kit APC-conjugados
(todos sendo da BD Bioscience, CA/EUA).
3.5.1.3 Ajuste do Citômetro, Aquisição e Análise de dados
Previamente à leitura das amostras, o citômetro deve ser padronizado, para isso, foi
preparada uma amostra sem anticorpos (controle negativo), e outras quatro amostras contendo
células marcadas com apenas um dos anticorpos citados (FITC, PE, PERCP e APC). Estas
amostras são consideradas os controles, permitindo que se faça a retirada de interferência
entre as cores e também da auto-fluorescência das células. Primeiro foi feito o ajuste do
38
tamanho e densidade das células (Forward scatter - FSC x Side scatter - SSC) e depois, as
amostras marcadas com apenas um dos anticorpos foram analisadas para ajustar a
interferência de uma cor na outra. Os parâmetros de voltagem e amperagem também foram
estabelecidos e definidos para cada um dos experimentos. Após os ajustes feitos e com o
citômetro calibrado, o aparelho ainda foi ajustado de maneira a serem lidas apenas as células
desejadas – através da definição de uma região (gate) plotada no gráfico FSC x SSC. As
leituras das amostras foram realizadas em citômetro de fluxo (FACScalibur, BD Bioscience,
CA/EUA) utilizando o programa de aquisição “Cell Quest” e analisadas com auxílio do
programa de análises WinMDI 2.9.
3.5.2 ANÁLISE DIFERENCIAL NO SANGUE
Para análise diferencial de células foi feito esfregaço sanguíneo de camundongos das
duas linhagens selecionadas para estudo da mobilização de leucócitos, de todos os grupos
experimentais. As lâminas foram coradas pelo método de May-Grunwald e Giemsa.
3.6 Análise Estatística
Os dados foram expressos como média ± erro padrão, e o teste t de Student utilizado para
análise contra dois grupos de dados. Para análise de vários grupos e em procedimentos temporais
foi utilizado ANOVA, seguido pelo pós-teste de Bonferroni. Os valores de p < 0,05 foram
utilizados para indicar diferença significativa entre as médias. As regressões lineares foram
utilizadas para o delineamento das curvas.
39
4. RESULTADOS
4.1 Caracterização do veneno das aranhas Loxosceles intermedia
4.1.1 DOSAGEM DE PROTEÍNAS DO VENENO
A dosagem de proteínas do veneno teve por objetivo, permitir a padronização da dose
de veneno a ser utilizada. Desta forma, imediatamente após a extração do veneno das aranhas
Loxosceles intermedia o pool coletado em solução salina fisiológica (PSS) foi dosado
utilizando o Método de Bradford. A fim de avaliar se o método de extração utilizado preserva
a capacidade total de produção de veneno das aranhas, a coleta foi realizada, inicialmente,
com 200 aranhas e 30, 60 e 90 dias depois com as aranhas sobreviventes. Os resultados
apresentados demonstram que após a primeira extração, as aranhas não são capazes de
produzir a mesma quantidade de veneno com 30 dias de recuperação e que ao final de 4
extrações apenas 10 % das aranhas sobrevivem (Tabela 2). Ainda na tentativa de padronizar a
dose de veneno a ser utilizada, de acordo com o peso da aranha, realizou-se a extração de
veneno individual, utilizando-se seis aranhas de tamanhos e pesos diferentes (Tabela 3). Não
foi possível estabelecer relação entre peso da aranha e quantidade de proteína no veneno
liberado durante a extração. A quantidade de proteína liberada por cada aranha varia
independente de seu peso (Figura 3).
40
Tabela 2. Dosagem de proteínas do veneno de aranhas Loxosceles intermedia em extrações consecutivas.
Extração
(Dias)
Total Aranhas Dosagem
Proteínas (µg/mL)
Total Proteínas /
Aranha (µg)
0 200 5750,0 28,8
30 121 1020,5 8,4
60 40 316,2 7,9
90 23 204,6 8,9
Tabela 3. Dosagem de proteínas do veneno de 6 diferentes aranhas Loxosceles intermedia.
Aranha Peso (mg) Total Proteínas (µg)
1 285 148,95
2 221,4 72,715
3 274,5 83,765
4 314 178,45
5 351,4 97,575
6 203,4 97,6
41
150 200 250 300 350 4000
50
100
150
200
Peso da aranha (mg)
To
tal
Pro
teín
as (
ug
)
Number of XY Pairs 6
Pearson r 0,4364
95% confidence interval -0.5811 to 0.9216
P value (two-tailed) 0,3870
P value summary ns
Is the correlation significant?
(alpha=0.05) No
R squared 0,1904
Figura 3. Correlação linear entre o peso da aranha e a quantidade de veneno extraída. Não foi observada relação
direta entre o peso da aranha e a quantidade de proteína do veneno extraído (Prism 5).
42
4.1.2 ENSAIOS IN VITRO DAS ATIVIDADES DO VENENO
4.1.2.1 Atividade Fosfolipásica
O método escolhido para verificação da atividade fosfolipásica do veneno foi baseado
na atividade sobre um substrato rico em fosfatidilcolina, sobre o qual foi comprovada
atividade fosfolipásica A2 para outros venenos (STRAUCH et al., 2013; EL-KIK et al., 2013).
O veneno de Loxosceles intermedia, na concentração de 100 μg/mL, não apresentou atividade
fosfolipásica A2, uma vez que não foi observada qualquer redução do substrato do meio
reacional e diminuição da turbidez durante 30 minutos de reação. Como controle da reação foi
utilizado o próprio substrato (Figura 4).
Atividade Fosfolipásica
0 5 10 15 20 25 30
0.60
0.65
0.70
0.75Controle
Loxosceles intermedia
Tempo (min)
Ab
so
rbân
cia
(925n
m)
Figura 4. Avaliação da atividade fosfolipásica do veneno da aranha Loxosceles intermedia. O veneno não
apresentou atividade fosfolipásica na concentração de 100 μg/mL. ANOVA: p<0.05 considerado significativo.
n=4 amostras por grupo experimental.
4.1.2.2 Atividade Hialuronidásica
A atividade hialuronidásica medida através do método de Di Ferrante (1956)
modificado, permite avaliar a degradação do ácido hialurônico bovino, utilizado como
43
substrato, através da diminuição da turbidez da solução. Foram testadas três diferentes
concentrações do veneno (10, 30 e 100 μg/mL), sendo possível observar que o veneno
extraído das aranhas Loxosceles intermedia apresenta atividade hialuronidásica, sendo
observada grande redução do substrato do meio reacional após três horas de reação, em todas
as concentrações testadas, sendo esta maior com o aumento da concentração (Figura 5). Como
controle da reação, utilizou-se o tampão acetato-ácido acético.
Atividade Hialuronidásica
Contr
ole
LI 10
ug/mL
LI 30
ug/mL
LI 100
ug/m
L
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
**
*
*
Ab
so
rbân
cia
(400n
m)
Figura 5. Avaliação da atividade hialuronidásica do veneno das aranhas Loxosceles intermedia (LI). O veneno
apresenta atividade hialuronidásica dependente da concentração. ANOVA: p<0.05 considerado significativo.
n=4 amostras por grupo experimental.
4.1.2.3 Atividade Proteolítica
A avaliação da atividade proteolítica, realizada pelo método descrito por Garcia (1978)
modificado, consiste na digestão de azocaseína e liberação do grupamento azo para a solução,
que gera coloração alaranjada. Quanto maior a quantidade de grupamento azo livre, maior a
absorbância da solução e maior a atividade proteolítica do veneno testado. Foi possível
observar que o veneno de L. intermedia apresenta atividade proteolítica com o aumento da
concentração (30 e 100 µg/mL), não sendo observada atividade em nível mais baixo de
44
concentração (10 µg/mL), após três horas de reação (Figura 6). Como controle da reação foi
utilizado o próprio substrato.
Atividade Proteolítica
Contr
ole
LI 10
ug/mL
LI 30
ug/mL
LI 100
ug/m
L
0.00
0.05
0.10
0.15
*
*
Ab
so
rbân
cia
(420n
m)
Figura 6. Avaliação da atividade proteolítica do veneno das aranhas Loxosceles intermedia (LI). Observou-se
atividade proteolítica com aumento da concentração do veneno de L. intermedia (30 e 100 µg/mL). ANOVA:
p<0.05 considerado significativo. n=4 amostras por grupo experimental.
4.1.2.4 Atividade Colagenásica
A atividade colagenásica do veneno pode ser avaliada através da reação colorimétrica
que se desenvolve a partir da capacidade do veneno em clivar o azocolágeno e liberar o
grupamento azo, o que leva ao aumento da absorbância da solução, de acordo com o método
adaptado de Chavira, 1984. Foram testadas três diferentes concentrações do veneno (10, 30 e
100 μg/mL), sendo observada atividade dependente da concentração utilizada no ensaio, após
três horas de reação (Figura 7). Como controle da reação foi utilizado o substrato,
correspondente à alíquota sem o veneno.
45
Atividade Colagenásica
Contr
ole
LI 10
ug/mL
LI 30
ug/mL
LI 100
ug/m
L
0.00
0.05
0.10
0.15*
*
*
Ab
so
rbân
cia
(520n
m)
Figura 7. Avaliação da atividade colagenásica do veneno das aranhas Loxosceles intermedia (LI). O veneno
apresentou alta atividade colagenásica, sendo esta dependente da concentração. ANOVA: p<0.05 considerado
significativo. n=4 amostras por grupo experimental.
4.1.2.4 Atividade Esfingomielinásica
A atividade esfingomielinásica foi avaliada através do kit Amplex Red Assay à 37ºC
por 30 minutos, sendo o produto da reação determinado em 570 nm, com detecção de emissão
à 590 nm. Este método foi escolhido por apresentar eficiência comprovada para avaliar a
atividade das esfingomielinase-D do veneno de aranha-marrom (APPEL et al., 2008). Foram
testadas três diferentes concentrações do veneno (10, 30 e 100 μg/mL), sendo observado
aumento da intensidade de fluorescência apenas para a maior concentração testada, após trinta
minutos de reação (Figura 8). A enzima enfingomielinase (5 mM) do próprio kit, utilizada
como controle positivo, apresentou intensidade de fluorescência satisfatória. E o controle da
reação utilizado foi o reagente Amplex Red mais o tampão, sem adição do veneno.
46
Atividade Esfingomielinásica
Contr
ole
Esf
ingom
ielin
ase
LI 10
ug/mL
LI 30
ug/mL
LI 100
ug/m
L
0
50
100
150
200
250
*
*
Inte
nsid
ad
e d
e F
luo
rescên
cia
(Em
issão
590 n
m)
Figura 8. Avaliação da atividade esfingomielinásica do veneno das aranhas Loxosceles intermedia (LI).
Observou-se atividade esfingomielinásica apenas na maior concentração testada do veneno de L. intermedia (100
µg/mL). ANOVA: p<0.05 considerado significativo. n=4 amostras por grupo experimental.
4.3 Efeito do veneno das aranhas Loxosceles intermedia em camundongos
4.3.1 ATIVIDADE EDEMATOGÊNICA
A avaliação do edema decorrente da ação local do veneno de Loxosceles intermedia
foi realizada na pata de três diferentes linhagens de camundongos: BALB/c, C57BL/6 e
Suiço. O veneno se mostrou capaz de induzir edema na pata de todos os camundongos quando
inoculado por via intradérmica. Para os três grupos experimentais o pico do edema ocorreu
após 60 minutos da inoculação de 1,2 µg do veneno. Este edema se manteve por até 24 horas
para o grupo de camundongos das linhagens BALB/c (Figura 9A) e C57BL/6 (Figura 9B) que
receberam veneno. Para os camundongos da linhagem Suiço (Figura 9C), o edema se manteve
por até 16 horas. A área sob a curva (Figura 9D) permite afirmar que o edema de pata
decorrente da inoculação do veneno de L. intermedia é significativo em relação ao grupo
controle, nas 3 linhagens testadas, para o período de 24 horas de observação. Todos os
47
animais continuaram sendo observados para avaliação da sobrevida após a inoculação do
veneno na pata (Figura 10).
Edema de pata - Suiço
00,
5 1 2 3 4 6 16 24
0.05
0.06
0.07
0.08
0.09
0.10Suiço Controle
Suiço Veneno
*
*
**
* * *
Tempo (h)
Áre
a (
mm
2)
A B
C D
Edema de pata - BALB/c
00,
5 1 2 3 4 6 16 24
0.05
0.06
0.07
0.08
0.09BALB/c Controle
BALB/c Veneno*
* *
*
* *
*
Tempo (h)
Áre
a (
mm
2)
Edema de pata - C57BL/6
00,
5 1 2 3 4 6 16 24
0.04
0.05
0.06
0.07
0.08
0.09C57BL/6 Controle
C57BL/6 Veneno*
*
** *
* **
Tempo (h)
Áre
a (
mm
2)
Edema de pata - C57BL/6
00,
5 1 2 3 4 6 16 24
0.04
0.05
0.06
0.07
0.08
0.09Controle
Veneno*
*
** *
* **
Tempo (h)
Áre
a (
mm
2)
Edema de pata - BALB/c
00,
5 1 2 3 4 6 16 24
0.05
0.06
0.07
0.08
0.09Controle
Veneno*
* *
*
* *
*
Tempo (h)
Áre
a (
mm
2)
Edema de pata - Suiço
00,
5 1 2 3 4 6 16 24
0.05
0.06
0.07
0.08
0.09
0.10Controle
Veneno
*
*
**
* * *
Tempo (h)
Áre
a (
mm
2)
Área sob curva
Suiç
o contr
ole
Suiç
o ven
eno
C57
BL/6
contr
ole
C57
BL/6
ven
eno
BALB
/c c
ontrole
BALB
/c v
enen
o
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0* * *
Áre
a (
mm
2/h
ora
)
Figura 9. Efeito edematogênico na pata de camundongos inoculados com 1,2 µg/g de veneno de Loxosceles
intermedia. Camundongos BALB/c (A) e C57BL/6 (B) inoculados apresentaram edema significativo em todos
os tempos de observação, durante 24 horas. Camundongos Suiços inoculados apresentaram edema significativo
durante 16 horas (C). Considerando a área sob a curva no período de 24 horas (D) é possível inferir que a área
por hora foi significativamente maior para os animais inoculados com veneno em relação aos seus controles.
ANOVA: p<0.05 considerado significativo. n=4 animais por grupo experimental para cada linhagem de
camundongos.
48
Edema de pata - Sobrevida
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100
50
100
150Swiss
C57/BL6
Balb/C
Tempo (dia)
So
bre
vid
a (
%)
Figura 10. Sobrevida de camundongos inoculados com 1,2 µg/g de veneno de Loxosceles intermedia na pata. Os
camundongos das linhagens BALB/c e C57BL/6 apresentaram óbito de 100% dos animais três e seis dias após a
inoculação do veneno, respectivamente. Enquanto que, os camundongos da linhagem Suiço não foram a óbito
após 10 dias de observação.
4.3.2 AÇÃO LOCAL
Para verificar o efeito sobre o local de inoculação do veneno das aranhas Loxosceles
intermedia em camundongos foram testadas três linhagens diferentes: BALB/c (n=8),
C57BL/6 (n=8) e Suiço (n=8). Após 24 horas da inoculação do veneno, nenhum dos
camundongos apresentava qualquer alteração local. Em contrapartida, foi possível observar a
formação da lesão dermonecrótica no coelho (n=1) como controle positivo (Figura 11).
A B C D
Figura 11. Efeito da inoculação de veneno das aranhas Loxosceles intermedia (1,2 μg/g) no ventre. Nenhuma
das três linhagens de camundongos testadas, BALB/c (A), C57BL/6 (B) e Suiço (C), apresentaram formação de
lesão local. O coelho (D), inoculado com a mesma dose, como controle positivo, apresentou formação de lesão
dermonecrótica.
49
4.3.2.1 Análise Histológica da Pele
As peles de todos os camundongos, das três linhagens testadas, foram retiradas 24
horas após a inoculação do veneno para avaliação histopatológica. Nos camundongos da
linhagem BALB/c foi observado intenso processo inflamatório no local da inoculação do
veneno (Figura 10), nos animais do grupo controle, inoculados com PSS não foram
observadas quaisquer alterações (Figura 12A/C). Para o grupo inoculado com veneno
observou-se a presença de folículos eosinofílicos, que podem indicar ocorrência de
inflamação (Figura 12B), e infiltrado inflamatório, sobretudo próximo à camada muscular e
hipoderme (Figura 12D). Nos camundongos da linhagem C57BL/6, não foram observadas
alterações histológicas para o grupo controle, inoculado com PSS (Figura 13A/C) e a
avaliação histopatológica do grupo inoculado com veneno permitiu observar características
típicas do processo inflamatório agudo (Figura 13B/D), dentre os quais se destacam: intensa
dilatação de vasos linfáticos (Figura 13B*), infiltrado inflamatório moderado, próximo a
camada muscular e hipoderme (Figura 13D) e marginalização de leucócitos intravascular e
diapedese (Figura 13D*). Nos camundongos da linhagem Suiço foi observada a presença
numerosa de folículos na derme tanto nos animais do grupo controle, inoculados com PSS
(Figura 14A/C), como nos animais do grupo veneno (Figura 14B/D), não sendo considerada
alteração histológica para nenhum dos dois grupos. Os animais inoculados com veneno
apresentaram intensa congestão vascular, não sendo esta característica observada para os
animais do grupo controle.
50
Controle – BALB/c Veneno –BALB/c
BA
C D
Figura 12. Cortes transversais da pele de camundongos da linhagem BALB/c 24 horas após a inoculação do
veneno da aranha L. intermedia na região ventral. Para os animais do grupo controle foi possível observar a
integridade das camadas da pele (A) e ausência de infiltrado inflamatório (C). Para os animais inoculados com
1,2 µg/g de veneno foi possível observar folículos eosinofílicos na derme (B ) e presença de infiltrado
inflamatório moderado a intenso no tecido muscular e hipoderme (D ). n=4 animais por grupo experimental.
51
Controle – C57BL/6 Veneno –C57BL/6
BA
C D
*
*
Figura 13. Cortes transversais da pele de camundongos da linhagem C57BL/6 24 horas após a inoculação do
veneno da aranha L. intermedia na região ventral. Para os animais do grupo controle foi possível observar a
integridade das camadas da pele (A) e ausência de infiltrado inflamatório (C). Para os animais inoculados com
1,2 µg/g de veneno foi possível observar dilatação de vasos linfáticos na derme (B* ) e presença de infiltrado
inflamatório moderado no tecido muscular (B/C ), bem como marginalização de leucócitos e diapedese a
partir dos vasos sanguíneos da hipoderme (D* ). n=4 animais por grupo experimental.
52
Controle – Suiço Veneno – Suiço
B
C D
A
Figura 14. Cortes transversais da pele de camundongos da linhagem Suiço 24 horas após a inoculação do
veneno da aranha L. intermedia na região ventral. Para os animais do grupo controle foi possível observar a
integridade das camadas da pele (A) e ausência de congestão vascular (C). Para os animais inoculados com 1,2
µg/g de veneno foi possível observar intensa congestão vascular (B/C ), sem marginalização de leucócitos e
infiltrado inflamatório ausente (D). n=6 animais por grupo experimental.
53
4.3.3 MOBILIZAÇÃO DE LEUCÓCITOS APÓS 24 HORAS
A presença do infiltrado inflamatório no local da inoculação do veneno de L.
intermedia após 24 horas despertou o interesse por compreender a mobilização de leucócitos
decorrente deste envenenamento. A partir desta compreensão é possível inferir sobre o tipo de
resposta imunológica envolvida neste envenenamento e compreender a dinâmica celular
desde o local da inoculação, até a produção pela medula óssea e ativação pelo baço. Para isso,
foram selecionadas duas linhagens de camundongos, BALB/c e C57BL/6, por apresentarem
resposta histopatológicas, no local de inoculação do veneno na pele, mais evidentes da
ocorrência do processo inflamatório dentre as três linhagens testadas.
4.3.3.1 Celularidade
O veneno de L. intermedia promoveu leucocitose nos animais BALB/c (Figura 15A –
Controle: 1,2 e Veneno: 2,1 x 105 leucócitos/mL) e C57BL/6 (Figura 15B – Controle: 1,2 e
Veneno: 2,7 x 105 leucócitos/mL) 24 horas após a inoculação, o que representa resposta
inflamatória aguda. A medula óssea dos animais C57BL/6 também respondeu prontamente a
inoculação do veneno, sendo possível observar aumento no número de células em relação aos
animais controle (Figura 15D – Controle: 14,6 e Veneno: 18,7 x 106 leucócitos/mL), fato não
observado nos camundongos BALB/c (Figura 15C – Controle: 17,9 e Veneno: 20,0 x 106
leucócitos/mL). O baço de ambas as linhagens de camundongos também respondeu a
inoculação do veneno com o aumento no número de células para BALB/c (Figura 15F –
Controle: 56,5 e Veneno: 73,6 x 106 leucócitos/mL) e C57BL/6 (Figura 15E – Controle: 43,3
e Veneno: 53,4 x 106 leucócitos/mL). Com base no aumento da celularidade do sangue,
medula óssea e baço dos animais inoculados com o veneno de Loxosceles intermedia, foram
investigados os tipos celulares envolvidos nesta resposta ao veneno.
54
C57BL/6 x
105
leu
cóci
tos/
mL
SAN
GU
E
x 10
6le
ucó
cito
s/m
L MED
ULA
ÓSSEA
x 10
6le
ucó
cito
s/m
L
BA
ÇO
BALB/c
0,0
10,0
20,0
30,0
PBS Venom
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
PBS Venom
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
PBS Venom
0
25
50
75
100
PBS Venom
A B
C D
E F
*
*
**
0
10
20
30
40
PBS Venom
0
1
2
3
4
5
PBS Venom
*
Controle Veneno
Controle VenenoControle Veneno
Controle VenenoControle Veneno
Controle Veneno
Figura 15. Celularidade no sangue, medula óssea e baço de camundongos inoculados com veneno da aranha
Loxosceles intermedia. O veneno induziu resposta celular após a inoculação de 1,2 µg/g na região ventral,
caracterizada por leucocitose nos camundongos C57BL/6 (A) e BALB/c (B). A medula óssea dos animais
C57BL/6, inoculados com o veneno, apresentou maior celularidade que o grupo controle (C), fato não observado
nos animais BALB/c (D). O veneno estimulou aumento da celularidade no baço dos camundongos C57BL/6 (E)
e BALB/c (F). Teste t: p<0.05 considerado significativo. n=3 animais por grupo experimental.
55
4.3.3.2 Contagem de Leucócitos no sangue
4.3.3.2.1 Células Mielóides
Com o objetivo de identificar as células relacionadas a leucocitose observada para as
duas linhagens de camundongos testadas, o padrão de distribuição de monócitos e neutrófilos
no sangue foi verificado 24 horas após a inoculação do veneno de Loxosceles intermedia
(Figura 16). O veneno proporcionou aumento no número de monócitos em relação ao controle
nos animais C57BL/6 (Figura 16E – Controle: 1,0 e Veneno: 3,1 x 105 células). Nestes
animais, o número de neutrófilos imaturos (Figura 16F – Controle: 0,3 e Veneno: 2,2 x 105
células) e maduros (Figura 16G – Controle: 2,1 e Veneno: 9,6 x 105 células) também estavam
aumentados após a inoculação do veneno. Estes resultados caracterizam resposta imunológica
inata aguda. Nos animais BALB/c, o veneno não modificou as populações mieloides após sua
inoculação. Os monócitos representaram 1,2 e 1,6 x 105 leucócitos, respectivamente, para os
grupos controle e veneno nos animais BALB/c (Figura 16H). Os neutrófilos imaturos
representaram 0,2 e 0,1 x 105 leucócitos, respectivamente, para os grupos controle e veneno
(Figura 16I). Para os neutrófilos maduros também não foi observada diferença entre os grupos
veneno e controle (Figura 16J – Controle: 2,1 e Veneno: 2,7 x 105 células).
56
Controle
R1
Veneno
R2
R3
R1
R2
R3
R1
R2
R3
R1
R2
R3
A B
C D
C5
7B
L/6B
ALB
/c
C5
7B
L/6B
ALB
/c
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
PBS Venom
Monócitos
x 1
05
célu
las/
mL
0,0
3,0
6,0
9,0
12,0
15,0
PBS Venom
Neutrófilos
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
PBS Venom
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
PBS Venom
E F
H I
x 1
05
célu
las/
mL
**
Controle Veneno Controle Veneno
Controle VenenoControle Veneno
Neutrófilos imaturos
G
J
*
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
1 2
0,0
2,0
4,0
6,0
1 2Controle Veneno
Controle Veneno
Figura 16. Quantificação de células mieloides no sangue de camundongos inoculados com veneno da aranha
Loxosceles intermedia. A inoculação de 1,2 µg/g de veneno induziu monocitose (E) e aumento de neutrófilos
imaturos (F) e maduros (G) no sangue dos camundongos C57BL/6. Para os camundongos BALB/c não foi
observada nenhuma diferença significativa entre os grupos controle e veneno. Dot-Plot (A/B;C/D): Monócitos
foram selecionados na região R1 (células Mac-1+Gr-1
-) e neutrófilos foram selecionados em R3 (células Mac-
1+Gr-1
+). Na região R2, foi selecionada população de neutrófilos imaturos (células Mac-1
+Gr-1
Low). Teste t:
p<0.05 considerado significativo. n=3 animais por grupo experimental.
57
4.3.3.2.2 Linfócitos T
A quantificação de linfócitos T no sangue dos animais inoculados com 1,2 µg/g de
veneno de L. intermedia foi realizada após 24 horas (Figura 17), a fim de avaliar o tipo de
resposta imunológica envolvida com o envenenamento. Para os camundongos C57BL/6, o
veneno induziu aumento da população de linfócitos T CD8+ (Figura 17E – Controle: 0,9 e
Veneno: 1,9 x 105 células) e CD4
+ (Figura 17F – Controle: 2,0 e Veneno: 3,2 x 10
5 células),
sendo proporcionalmente mais evidente nos linfócitos T CD8+, comparado ao grupo controle.
Nos animais BALB/c, o veneno proporcionou aumento nos dois tipos de células, tanto os
linfócitos T CD8+ (Figura 17G – Controle: 0,5 e Veneno: 1,0 x 10
5 células) quanto os CD4
+
(Figura 17H – Controle: 1,1 e Veneno: 5,0 x 105 células), comparado ao grupo controle. Os
resultados indicam que ambas as classes de linfócitos T, CD4+ e CD8
+, aumentaram no
sangue dos camundongos C57BL/6 e BALB/c após a inoculação do veneno, sendo
proporcionalmente mais evidente nos linfócitos T CD8+ para os animais C57BL/6 e nos
linfócitos T CD4+ para os BALB/c.
58
R2
R1
R2
R1
R1
R2 R2
R1
Controle VenenoA B
C D
C5
7B
L/6B
ALB
/c
C5
7B
L/6B
ALB
/c
T CD4+T CD8+
*
*
x 1
05
célu
las/
mL
x 1
05
célu
las/
mL
*
*
E F
G H0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
1 2Controle Veneno
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
1 2Controle Veneno
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
1 2Controle Veneno
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
1 2 Controle Veneno
Figura 17. Quantificação de linfócitos T no sangue de camundongos inoculados com veneno da aranha
Loxosceles intermedia. A inoculação de 1,2 µg/g de veneno induziu aumento de linfócitos T CD8+ (E) e CD4
+
(F) no sangue de camundongos C57BL/6. O mesmo resultado foi observado após a inoculação do veneno em
camundongos BALB/c, aumento de linfócitos T CD8+ (G) e T CD4
+ (H) no sangue. Dot-Plot (A/B;C/D):
Linfócitos T CD8+ foram selecionados na região R1 (células CD8
+ CD4
-) e linfócitos T CD4
+ foram
selecionados em R2 (células CD8-
CD4+). Teste t: p<0.05 considerado significativo. n=3 animais por grupo
experimental.
59
4.3.3.2.3 Linfócitos B
A quantificação de linfócitos B no sangue dos animais foi realizada 24 horas após a
inoculação do veneno de Loxosceles intermedia (Figura 18). Dois subtipos de linfócito B
foram identificados, os linfócitos B convencionais, relacionados a resposta imunológica
adquirida, e os linfócitos B1 relacionados a produção de anticorpos de baixa afinidade,
resposta imediata não específica a antígeno. Não houve aumento de linfócitos B
convencionais nos camundongos C57BL/6 inoculados com veneno (Figura 18E – Controle:
5,3 e Veneno: 6,9 x 105 células), porém, o veneno induziu aumento da população de linfócitos
B1 comparado ao grupo controle neste animais (Figura 18F – Controle: 0,2 e Veneno: 2,7 x
105 células). Nos animais BALB/c, o veneno proporcionou aumento da população de
linfócitos B convencionais (Figura 18G – Controle: 6,7 e Veneno: 11,7 x 105 células), e a
população de linfócitos B1 não apresentou alteração significativa (Figura 18H – Controle: 1,2
e Veneno: 1,1 x 105 células).
60
R1
R2
Controle
R1
Veneno
R2
R1
R2
R1
R2
A B
C D
BA
LB/c
C5
7B
L/6
BA
LB/c
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
PBS Venom
*
Linfócitos B1
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
PBS Venom
0,0
4,0
8,0
12,0
PBS Venom
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
PBS Venom
*
Linfócitos B convencionais
C5
7B
L/6
x 1
05
célu
las/
mL
x 1
05
célu
las/
mL
E F
G H
Controle VenenoControle Veneno
Controle Veneno Controle Veneno
Figura 18. Quantificação de linfócitos B no sangue de camundongos inoculados com veneno da aranha
Loxosceles intermedia. A inoculação de 1,2 µg/g de veneno induziu aumento de linfócitos B1 em camundongos
C57BL/6 (F) e aumento de linfócitos B convencionais nos camundongos BALB/c (G). Dot-Plot (A/B;C/D):
Linfócitos B convencionais foram selecionados na região R1 do gráfico 14 (células B220high
IgMlow
) e linfócitos
B1 foram selecionados em R2 (células B220low
IgMhigh
). Teste t: p<0.05 considerado significativo. n=3 animais
por grupo experimental.
61
4.3.3.2.4 Lâminas de Sangue
Em relação a contagem de leucócitos no sangue, é possível inferir que os animais
C57BL/6 respondem ao veneno com elementos celulares envolvidos com a resposta imune
inata: Monócitos, Granulócitos, Linfócitos T CD8+ e Linfócitos B1. Em acordo com estes
resultados, a análise diferencial de células no sangue dos camundongos C57BL/6 inoculados
com veneno apresenta neutrófilos e monócitos ativados (Figura 19B), células não observadas
para o grupo controle (Figura 19A). Os animais BALB/c respondem ao veneno com
componentes majoritariamente presentes nas respostas humorais e/ou adaptativas: Linfócitos
T CD4+ e Linfócitos B convencionais, sendo possível observar a presença pouco aumentada
de neutrófilos no grupo veneno (Figura 19D) em relação ao grupo controle (Figura 19C). A
partir destes resultados, investigou-se a mobilização celular a partir da medula óssea (Tecido
de origem) e Baço (um dos órgãos efetores).
Lin
Neut
A
Lin
NeutNeut ativado
Monoc ativado
B
Lin
C
Lin
Neut
D
Controle Veneno
C5
7B
L/6
BA
LB
/c
Figura 19. Análise do esfregaço sanguíneo de camundongos inoculados com veneno da aranha Loxosceles
intermedia. A inoculação de 1,2 µg/g de veneno induziu aumento de neutrófilos e monócitos ativados no sangue
após a inoculação do veneno em camundongos C57BL/6 (B), células não observadas nas lâminas do grupo
controle em (A). Nos animais BALB/c foi observado aumento moderado de neutrófilos no grupo inoculado com
veneno (D) em relação ao grupo controle (C). n=3 animais por grupo experimental.
62
4.3.3.3 Contagem de Leucócitos na Medula Óssea
4.3.3.3.1 Células Mielóides
A mobilização de células mielóides a partir da medula óssea 24 horas após a
inoculação do veneno de Loxosceles intermedia foi verificada com o objetivo de identificar as
células recrutadas durante o envenenamento agudo (Figura 20). O veneno proporcionou
aumento no número de monócitos em relação ao controle nos animais C57BL/6 (Figura 20E –
Controle: 1,5 e Veneno: 2,6 x 106 células). Nestes animais, o número de neutrófilos também
estava aumentado após a inoculação do veneno (Figura 20G – Controle: 39,2 e Veneno: 56,4
x 106 células), entretanto demais granulócitos não apresentaram aumento significativo em
relação ao controle (Figura 20F – Controle: 15,4 e Veneno: 22,4 x 106 células). A partir destes
resultados, é possível afirmar que a medula óssea dos animais C57BL/6 apresentou intensa
mielopoese horas após a inoculação do veneno, o que poderia explicar o aumento das células
mieloides no sangue. Nos animais BALB/c, o veneno não modificou as populações mieloides
após a inoculação. Os monócitos representaram 2,7 x 105 leucócitos, para ambos os grupos,
controle e veneno (Figura 20H) e os neutrófilos representaram 59,2 e 57,4 x 105 leucócitos,
respectivamente, para os grupos controle e veneno nos animais BALB/c (Figura 20J). A
população de células mista, composta por outros granulócitos, foi reduzida após a inoculação
do veneno nos animais BALB/c (Figura 20I – Controle: 14,2 e Veneno: 4,7 x 106 células).
Estes resultados corroboram com aqueles encontrados no sangue destes animais, com o
número de monócitos e granulócitos semelhantes ao controle após a inoculação do veneno.
63
R1
R2 R3
R1
R2 R3
Controle VenenoA B
C D
R1
R2 R3
R1
R2 R3
C5
7B
L/6B
ALB
/c
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
PBS Venom
*
Monócitos
x 1
06
célu
las/
mL C
57
BL/6
BA
LB/c
E F
H IControle Veneno
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
PBS Venom
Outros Granulócitos
Controle Veneno
G
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
PBS Venom
*
Neutrófilos
x 1
06
célu
las/
mL
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
1 2
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
1 2Controle Veneno Controle Veneno
JControle Veneno
*0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
1 2Controle Veneno
Figura 20. Quantificação de células mieloides na medula óssea de camundongos inoculados com veneno da
aranha Loxosceles intermedia. A inoculação de 1,2 µg/g de veneno induziu monocitose (E) e aumento na
produção de neutrófilos (G) na medula óssea dos camundongos C57BL/6, sem aumento na produção de outros
granulócitos (F). Para os camundongos BALB/c não foi observada diferença significativa entre os grupos
controle e veneno com relação a produção de monócitos (H) e neutrófilos (J), contudo o veneno induziu redução
na população mista contendo outros granulócitos (I). Dot-Plot (A/B;C/D): Monócitos foram selecionados na
região R1 (células Mac-1+Gr-1
-) e neutrófilos foram selecionados em R3 (células Mac-1
+Gr-1
+). Na região R2,
foi selecionada população mista de outros granulócitos (células Mac-1+Gr-1
Low). Teste t: p<0.05 considerado
significativo. n=3 animais por grupo experimental.
64
4.3.3.2.2 Linfócitos T
A quantificação de linfócitos T na medula óssea foi realizada 24 horas após a
inoculação de 1,2 µg/g do veneno de Loxosceles intermedia (Figura 21). A medula óssea dos
camundongos C57BL/6 apresentou aumento no número de linfócitos T CD4+ (Figura 21E –
Controle: 2,3 e Veneno: 3,7 x 105 células) e T CD8+ (Figura 21F – Controle: 1,6 e Veneno:
5,0 x 105 células), sendo mais evidente para os linfócitos T CD8+. Nos animais BALB/c, o
veneno proporcionou aumento apenas dos linfócitos T CD4+ (Figura 21H – Controle: 0,9 e
Veneno: 2,3 x 105 células), não sendo observada diferença significativa para os linfócitos T
CD8+ (Fig. 21G – Controle: 0,6 e Veneno: 1,5 x 10
5 células), comparado ao grupo controle.
Os resultados demonstram que o recrutamento de linfócitos T, tanto CD4+ quanto CD8
+, a
partir da medula óssea, aumentou nos camundongos C57BL/6 após a inoculação do veneno,
sendo proporcionalmente mais evidente nos linfócitos T CD8+. Para os camundongos
BALB/c, foi possível observar apenas aumento da mobilização de linfócitos T CD4+ a partir
da medula óssea após a inoculação do veneno. Os resultados encontrados para ambas as
linhagens testadas corroboram com aqueles observados para o sangue, com aumento
preferencial de linfócitos T CD8+
para camundongos C57BL/6 e linfócitos T CD4+ para
camundongos BALB/c.
65
Controle Veneno
R1
R2
R1
R2
R1
R2
R2
R1
A B
C D
C5
7B
L/6B
ALB
/c
C57BL/6
Linfócitos T CD4+ Linfócitos T CD8+
* *
BALB/c*
x 106
célu
las/
mL
Controle VenenoControle Veneno
Controle Veneno Controle Veneno
0,0
2,0
4,0
6,0
1 2
x 106
célu
las/
mL
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
1 2
0,0
2,0
4,0
6,0
1 2
0,0
2,0
4,0
6,0
1 2
E F
G H
Figura 21. Quantificação de linfócitos T na medula óssea de camundongos inoculados com veneno da aranha
Loxosceles intermedia. A inoculação de 1,2 µg/g de veneno induziu aumento de linfócitos T CD8+ (E) e T CD4
+
(F) na medula óssea de camundongos C57BL/6. Para os camundongos BALB/c o veneno não promoveu
alteração siginificativa no número de linfócitos T CD8+ (G), induziu aumento apenas de linfócitos T CD4
+ (H),
após a inoculação do veneno. Dot-Plot (A/B;C/D): Linfócitos T CD8+ foram selecionados na região R1 (células
CD8+
CD4-) e linfócitos T CD4
+ foram selecionados em R2 (células CD8
- CD4
+). Teste t: p<0.05 considerado
significativo. n=3 animais por grupo experimental.
66
4.3.3.2.3 Linfócitos B
A diferenciação de linfócitos B na medula óssea dos animais foi verificada 24 horas
após inoculação com veneno de Loxosceles intermedia (Figura 22). Linfócitos B em três
diferentes etapas de diferenciação foram identificados, os linfócitos pré-pró B, uma fase de
transição e reposição de linfócitos B, os linfócitos B imaturos e os linfócitos B maduros. Para
os camundongos C57BL/6, o veneno reduziu a população de linfócitos pré-pró B (Figura 22E
– Controle: 3,5 e Veneno: 1,9 x 105 células) e aumentou os linfócitos B maduros (Figura 22G
– Controle: 0,7 e Veneno: 1,5 x 105 células), para os linfócitos B imaturos o veneno não
promoveu alteração, comparado ao grupo controle (Figura 22F – Controle: 0,8 e Veneno: 0,9
x 105 células). A diferenciação de linfócitos B na medula óssea dos camundongos BALB/c,
por sua vez, apresentou aumento da população de linfócitos B imaturos (Figura 22I –
Controle: 0,8 e Veneno: 1,4 x 105 células) e também de linfócitos B maduros (Figura 22J –
Controle: 0,3 e Veneno: 0,9 x 105 células), para os linfócitos pré-pró B não foi observada
nenhuma diferença nos animais inoculados com veneno, comparado ao grupo controle (Figura
22H – Controle: 0,8 e Veneno: 1,9 x 105 células).
67
R1
R3R2
R1
R3R2
R1
R3R2
Controle Veneno
A
C
B
D
R1
R3R2
C5
7B
L/6B
ALB
/c
C57BL/6BA
LB/c
E F G
x 10
5cé
lula
s/m
L
*
x 10
5cé
lula
s/m
L
Pré/Pró B B imaturos B maduros
0,0
2,0
4,0
6,0
1 2H I J
*
0,0
1,0
2,0
3,0
1 2
0,0
2,0
4,0
6,0
1 2
0,0
1,0
2,0
3,0
1 2
*
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
1 2Controle Veneno Controle Veneno Controle Veneno
*
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
1 2Controle Veneno Controle Veneno Controle Veneno
Figura 22. Quantificação de linfócitos B na medula óssea de camundongos inoculados com veneno da aranha
Loxosceles intermedia. A inoculação de 1,2 µg/g de veneno reduziu a quantidade de linfócitos pré-pró B (E) e
induziu aumento de linfócitos B maduros (G) na medula óssea dos camundongos C57BL/6. Para os
camundongos BALB/c, houve aumento de linfócitos B imaturos (I) e maduros (J) após a inoculação do veneno.
Dot-Plot (A/B;C/D): Células Pré-Pró B foram selecionadas na região R1 (células B220low
IgM-), células B
imaturas foram selecionados na região R2 (células B220low
IgM+) e células B maduras foram selecionados em R3
(células B220high
IgM+). Teste t: p<0.05 considerado significativo. n=3 animais por grupo experimental.
68
4.3.3.4 Contagem de Leucócitos do Baço
4.3.3.4.1 Células Mielóides
A presença de células mielóides no baço 24 horas após a inoculação do veneno de
Loxosceles intermedia foi verificada com o objetivo de avaliar a taxa de ativação destas
células durante o envenenamento agudo (Figura 23). Nos animais C57BL/6, o veneno não
modificou as populações mielóides presentes no baço. Os monócitos representaram 0,7 e 0,5
x 105 leucócitos, respectivamente, para os grupos controle e veneno (Figura 23E). Os
neutrófilos representaram 1,1 e 1,2 x 105 leucócitos, respectivamente, para os grupos controle
e veneno nos animais C57BL/6 (Figura 23G), o mesmo foi observado para a população de
células mista, composta por outros granulócitos (Figura 23F – Controle: 0,8 e Veneno: 0,7 x
106 células). Os resultados obtidos também não apresentaram diferenças significativas para os
camundongos BALB/c após a inoculação do veneno, nem em relação aos monócitos (Figura
23H – Controle: 2,0 e Veneno: 1,6 x 106 células), nem aos neutrófilos (Figura 23J – Controle:
1,9 e Veneno: 1,5 x 106 células), tampouco foi observada diferença para a população mista
composta por outros granulócitos (Figura 23I – Controle: 0,5 e Veneno: 0,6 x 106 células),
comparado ao grupo controle.
69
R1
R2 R3
Controle VenenoA B
C D
R1
R2 R3
R1
R2 R3
R1
R2 R3
C5
7B
L/6B
ALB
/c
C5
7B
L/6B
ALB
/c
E F G
x 1
06
célu
las/
mL
Monócitos Outros Granulócitos
Neutrófilos
x 1
06
célu
las/
mL
H IControle Veneno Controle Veneno J Controle Veneno
Controle Veneno Controle Veneno Controle Veneno
0,0
1,0
2,0
3,0
1 2
0,0
1,0
2,0
3,0
1 2
0,0
1,0
2,0
3,0
1 2
0,0
1,0
2,0
3,0
1 2
0,0
1,0
2,0
3,0
1 20,0
1,0
2,0
3,0
1 2
Figura 23. Quantificação de células mieloides no baço de camundongos inoculados com veneno da aranha
Loxosceles intermedia. Não foi observada diferença significativa em relação as células mieloides presentes no
baço dos camundongos inoculados com 1,2 µg/g de veneno, comparado ao grupo controle, tanto para os
camundongos C57BL/6, como para BALB/c. Dot-Plot (A/B;C/D): Monócitos foram selecionados na região R1
(células Mac-1+Gr-1
-) e neutrófilos foram selecionados em R3 (células Mac-1
+Gr-1
+). Na região R2, foi
selecionada população mista de outros granulócitos (células Mac-1+Gr-1
Low). Teste t: p<0.05 considerado
significativo. n=3 animais por grupo experimental.
70
4.3.3.2.2 Linfócitos T
A presença de linfócitos T no baço pode representar o aumento da maturação destas
células 24 horas após a inoculação de 1,2 µg/g do veneno de Loxosceles intermedia (Figura
24). O baço dos camundongos C57BL/6 apresentou aumento no número de linfócitos T CD8+
(Figura 24E – Controle: 2,0 e Veneno: 4,8 x 105 células), não sendo observada diferença
significativa para os linfócitos T CD4+ (Figura 24F – Controle: 5,9 e Veneno: 5,5 x 10
5
células), comparado ao grupo controle. Nos animais Balb/C, o veneno proporcionou aumento
dos linfócitos T CD4+ (Figura 24H – Controle: 13,2 e Veneno: 21,4 x 10
5 células), não sendo
observada diferença significativa para os linfócitos T CD8+ (Figura 24G – Controle: 4,7 e
Veneno: 6,1 x 105 células), comparado ao grupo controle. Os resultados encontrados para
ambas as linhagens testadas corroboram com aqueles observados para o sangue e medula
óssea, com aumento preferencial de linfócitos T CD8+
para camundongos C57BL/6 e
linfócitos T CD4+ para camundongos Balb/C.
71
Controle Veneno
R1
R2
R1
R2
R1
R2
R2
R1
A B
C D
C5
7B
L/6B
ALB
/c
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
1 2
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
1 2
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
1 2
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
1 2
C57BL/6
Linfócitos T CD4+ Linfócitos T CD8+
*
BALB/c
*
x 106
célu
las/
mL
Controle Veneno Controle Veneno
Controle VenenoControle Veneno
x 106
célu
las/
mL
E F
G H
Figura 24. Quantificação de linfócitos T no baço de camundongos inoculados com veneno da aranha Loxosceles
intermedia. A inoculação de 1,2 µg/g de veneno induziu aumento de linfócitos T CD8+ (E) no baço de
camundongos C57BL/6 e aumento de linfócitos T CD4+ (H) no baço de camundongos BALB/c. Dot-Plot
(A/B;C/D): Linfócitos T CD8+ foram selecionados na região R1 (células CD8
+ CD4
-) e linfócitos T CD4
+ foram
selecionados em R2 (células CD8-
CD4+). Teste t: p<0.05 considerado significativo. n=3 animais por grupo
experimental.
72
4.3.3.2.3 Linfócitos B
Os linfócitos B presentes no baço dos animais inoculados com veneno de Loxosceles
intermedia foram analisados após 24 horas (Figura 25). A maioria dos linfócitos B presentes
no baço estão ativados e disponíveis a ocorrência de respostas imunológicas a diferentes
antígenos. Para os camundongos C57BL/6, não foram observadas diferenças significativas
entre os grupos controle e veneno em relação aos linfócitos B convencionais (Figura 25E –
Controle: 18,7 e Veneno: 19,8 x 105 células). Em relação as populações de outros linfócitos
B, foi observado aumento no grupo veneno, comparado ao grupo controle (Figura 25F –
Controle: 7,2 e Veneno: 9,2 x 105 células). Para o total de linfócitos B também não foram
observadas diferenças significativas, entre os grupos controle e veneno (Figura 25G –
Controle: 25,9 e Veneno: 29,0 x 105 células). A presença de linfócitos B no baço dos
camundongos BALB/c, por sua vez, apresentou aumento de linfócitos B convencionais
(Figura 25H – Controle: 30,2 e Veneno: 38,5 x 105 células). Para os outros linfócitos B não
foi observada nenhuma diferença nos animais inoculados com veneno, comparado ao grupo
controle (Figura 25I – Controle: 6,4 e Veneno: 5,5 x 105 células). O total de linfócitos B, por
sua vez, apresentou aumento significativo em relação ao grupo controle (Figura 25J –
Controle: 36,6 e Veneno: 44,1 x 105 células). Estes resultados corroboram com aqueles
observados para o sangue, com aumento de outros linfócitos B para os camundongos
C57BL/6 e aumento de linfócitos B convencionais para os camundongos BALB/c.
73
R2
R1
R2
R1
R2
R1
R2
R1
Controle Veneno
A
C
B
D
C5
7B
L/6B
ALB
/c
C57BL/6BA
LB/c
E F G
x 10
5cé
lula
s/m
L
*
x 10
5cé
lula
s/m
L
Total de Linfócitos BLinfócitos B
convencionais
Outros Linfócitos B
0
20
40
60
PBS Venom0
20
40
60
PBS Venom
0
5
10
15
20
PBS VenomH I J
Controle VenenoControle Veneno Controle Veneno
0
20
40
60
PBS Venom
*
0
20
40
60
PBS Venom
0
20
40
60
PBS Venom Controle VenenoControle Veneno Controle Veneno
*
Figura 25. Quantificação de linfócitos B no baço de camundongos inoculados com veneno da aranha Loxosceles
intermedia. A inoculação de 1,2 µg/g de veneno induziu aumento de outros linfócitos B em camundongos
C57BL/6 (F) e aumento de linfócitos B convencionais (H) e no total de linfócitos B (J) nos camundongos
BALB/c. Dot-Plot (A/B;C/D): Linfócitos B convencionais foram selecionados na região R1 (células IgM+
CD23+) e outros linfócitos B foram selecionados na região R2 (células IgM
+ CD23
-), já o total de linfócitos foi
quantificado a partir da soma das regiões selecionadas R1 e R2. Teste t: p<0.05 considerado significativo. n=3
animais por grupo experimental.
74
Os camundongos C57BL/6 inoculados com veneno não apresentaram diferenças
significativas no total de linfócitos B no baço, porém, a população de linfócitos B (“Outros
linfócitos”) contendo linfócitos B1a, B1b ou linfócitos B da zona marginal (ZM) aumentou
em relação ao grupo controle. A fim de indentificar a população de linfócitos B responsável
por este aumento, outro marcador foi utilizado para diferenciar linfócitos B1a e B1b (e
também linfócitos ZM), sendo possível observar que a população aumentada constitui uma
fração mista contendo linfócitos B1b e linfócitos ZM (Figura 26), não sendo observado
aumento da população de linfócitos B1a.
Controle
R1
Veneno
R1
R2 R2
B1a B1a
B1b + ZM B1b + ZM
Figura 26. Diferenciação de linfócitos B no baço de camundongos C57BL/6 inoculados com veneno da aranha
Loxosceles intermedia. Linfócitos B selecionados na região R2 (células IgM+
CD23-) podem ser classificados
como B1a, B1b ou linfócito B de zona marginal (ZM), para diferenciá-los outro marcador foi utilizado, o CD5,
presente nos linfócitos B1a. Não foram observadas populações de linfócitos B1a dentre os linfócitos presentes no
baço dos camundongos C57/BL6, sendo possível afirmar que houve aumento de população mista contendo
linfócitos B1b e linfócitos ZM.
75
5. DISCUSSÃO
O veneno de Loxosceles intermedia não gera lesão dermonecrótica em camundongos,
contudo desencadeia intensa resposta inflamatória local e sistêmica. Apesar das diferenças em
relação ao loxoscelismo cutâneo descrito na literatura para humanos e outros modelos
experimentais (WRIGHT et al., 1997; ELSTON et al., 2000; OSPEDAL et al., 2002;
WILSON et al., 2005), a compreensão dos eventos decorrentes do envenenamento por
aranhas do gênero Loxosceles em camundongos pode contribuir para a compreensão dos
efeitos do veneno envolvidos no desenvolvimento desta lesão. Os resultados apresentados
neste trabalho visam contribuir para a descrição das ações do veneno de Loxosceles
intermedia neste modelo experimental, para isso foi proposta a utilização de camundongos de
três diferentes linhagens: BALB/c, C57BL/6 e Suiço. Foi possível observar diferenças
relevantes, tais como, intensa congestão vascular em Suiços e presença de infiltrado
inflamatório no local de inoculação na pele de camundongos BALB/c e C57BL/6. A partir
destes achados histopatológicos, investigou-se a mobilização de células inflamatórias a partir
da medula óssea, baço e sangue, o que demonstrou resposta imunológica inata típica, com
aumento da cinética de células mieloides e linfócitos T CD8+ citotóxicos, para os
camundongos C57BL/6, e resposta tipicamente adquirida, com aumento preferencial de
linfócitos B convencionais e T CD4+ auxiliar, para os camundongos BALB/c. Por outro lado,
o desenvolvimento de edema na pata dos camundongos inoculados com o veneno foi
observado para as três linhagens testadas, sendo persistente por 24 horas, apenas para as
linhagens BALB/c e C57BL/6.
As atividades in vitro do veneno de Loxosceles intermedia também foram avaliadas
com o objetivo de caracterizar o veneno utilizado. As aranhas foram naturalmente capturadas
na cidade de Petrópolis, e o veneno das aranhas da região serrana do Estado do Rio de Janeiro
não havia sido descrito anteriormente. O veneno loxoscélico é composto por fosfolipase-D,
hialuronidase, metaloproteases, serino proteases entre outros componentes (FUTRELL, 1992;
LEE e LYNCH, 2005; KALAPOTHAKIS et al., 2007; DA SILVEIRA et al., 2007a; DA
SILVEIRA et al., 2007b; DE ALMEIDA et al., 2008; SENFF-RIBEIRO et al., 2008;
VUITIKA et al., 2013). Entre estes a hialuronidase é responsável pelo espalhamento do
veneno (DA SILVEIRA et al. 2007a), e a fosfolipase D, referida na literatura como
76
esfingomielinase-D ou fosfodiesterase D, devido a sua capacidade de hidrolisar
esfingomielina (DA SILVA et al., 2004), são as principais enzimas descritas. Neste trabalho
demonstrou-se que o veneno de Loxosceles intermedia apresenta atividade esfingomielinásica
em altas concentrações, contudo não apresenta atividade fosfolipásica A2 sobre substrato rico
em fosfatidilcolina, como demonstrado para venenos de diferentes espécies de serpentes
(FULY et al., 2004; FULY et al., 2007; STRAUCH et al., 2013). Apesar da fosfatidilcolina
ser substrato também para a fosfolipase D, provavelmente as condições reacionais não
favoreceram a verificação da atividade desta enzima. A atividade hialuronidásica foi
observada, sendo intensa inclusive com baixas concentrações do veneno. A ação do veneno
sobre o colágeno também foi demonstrada como atividade dependente da concentração do
veneno, o que corrobora com a atividade sobre o colágeno descrita in vivo (PEREIRA et al.,
2014). Sabendo que este veneno apresenta diferentes proteases (VEIGA et al., 2000; CHAIM
et al., 2011) este trabalho demonstrou atividade proteolítica do veneno em altas concentrações
sobre substrato enriquecido com caseína. A avaliação destas atividades, sobretudo proteolítica
e colagenásica, não haviam sido descritas na literatura utilizando metodologias semelhantes
para o veneno de Loxosceles intermedia, dessa forma, estes resultados representam importante
contribuição para a caracterização deste veneno.
Embora muitas atividades do veneno dessas aranhas estejam sendo descritas, o
mecanismo de ação do veneno de Loxosceles ainda não está completamente elucidado, apesar
de alguns estudos indicarem a esfingomielinase D presente no veneno como o principal
componente responsável pelos efeitos locais e sistêmicos observados no loxoscelismo
(TAMBOURGI et al., 1998; TAMBOURGI et al., 2002; TAMBOURGI et al., 2005). A
quantidade e o tipo de esfingomielina presente no local de inoculação do veneno pode estar
relacionada com a evolução da necrose induzida pelo veneno de Loxosceles em humanos e
outros modelos experimentais, uma vez que foi observado desenvolvimento de lesão em
camundongos quando a esfingomielina foi adicionada ao local de inoculação do veneno
(DOMINGOS et al., 2003). Em acordo com esta observação, o modelo experimental
utilizando esponja implantada em camundongos (PEREIRA et al., 2012), demonstra que a
retenção do veneno no local da inoculação pode contribuir para a ocorrência dos eventos
inflamatórios também observados em modelos experimentais clássicos.
77
Camundongos BALB/c, C57BL/6 e Suiço pertencem a mesma espécie Mus musculus,
porém de linhagens diferentes. Quando presentes em diferentes linhagens, características
genéticas semelhantes podem resultar em fenótipos completamente distinta, de forma que o
mesmo estímulo pode induzir resposta completamente diferente. Dados na literatura
demonstram consequências funcionais influenciadas pela linhagem de camundongos, que
incluem: tolerância alcooólica (BOWERS et al., 1999), incidência de tumor (DONEHOWER
et al., 1995), secreção de insulina (ANDRIKOPOULOS et al., 2005), agregação de plaquetas ,
reparo tecidual (VAN DEN BORNE et al., 2009) e angiogênese fisiológica e fisiopatológica
(LIU et al., 2010).
A ocorrência do edema é um dos primeiros eventos durante a inflamação aguda, este
fenômeno, associado ao aumento da pressão hidrostática secundária à vasodilatação, resulta
em acentuada perda de líquidos e acúmulo no tecido intersticial (MA et al., 2013). As três
linhagens de camundongos testadas neste trabalho apresentaram edema siginificativo após a
inoculação do veneno. Contudo, é importante salientar que o edema de pata foi persistente
para as linhagens BALB/c e C57BL/6 durante 24 horas, sendo este resultado diferente do
observado para o veneno de Loxosceles gaucho inoculado na pata de camundongos BALB/c,
que persistiu por apenas duas horas após a inoculação (BARBARO et al., 2010).
Diversas alterações histológicas decorrentes da ação local do veneno da aranha
Loxosceles intermedia foram observadas. Alguns autores descrevem como principal alteração
tecidual, após o envenenamento em seres humanos, intensa infiltração de células inflamatórias
e geração de mediadores inflamatórios no local da picada (OSPEDAL et al., 2002;
DOMINGOS et al., 2003; BARBARO et al., 2010). O infiltrado de polimorfonucleados, em
parte recrutado por ativação indireta do sistema complemento, é considerado o principal
contribuinte ao dano tecidual (TAMBOURGI et al., 2005), por isso a maioria dos tratamentos
tem buscado reduzir a infiltração dos polimorfonucleados (PAIXAO-CAVALCANTE et al.,
2007; TAMBOURGI et al., 2010).
A análise histopatológica da pele de camundongos da linhagem BALB/c e C57BL/6
após a inoculação do veneno, permitiu a observação de intenso infiltrado inflamatório, mais
evidente na hipoderme e tecido muscular. A evolução do processo inflamatório local que
antecede o desenvolvimento da lesão dermonecrótica é caracterizado inicialmente pela
inflamação da camada muscular e posterior necrose do músculo, derme e epiderme
78
(OSPEDAL et al., 2002), o que corrobora com os resultados observados em camundongos,
que todavia, não evoluem para a inflamação da derme e necrose da epiderme, após dias de
observação. Ainda, em camundongos implantados com esponja, uma matriz sintética análoga
a biomateriais implantados, foi observado maior infiltrado de neutrófilos em BALB/c, quando
comparado as linhagens C57BL/6 e Suiço (MARQUES et al., 2011), o que corrobora com a
observação de maior infiltrado inflamatório nestes animais, posterior a inoculação do veneno.
Os camundongos da linhagem Suiço, por sua vez, apresentaram congestão vascular acentuada
sem infiltrado inflamatório na pele após inoculação do veneno. A congestão vascular pode
representar o ínicio da resposta inflamatória (SUNDERKOTTER et al., 2001), contudo não
foi observada a presença de leucócitos intravascular, tampouco infiltrado inflamatório
tecidual, o que pode indicar o início de uma resposta inflamatória tardia, em relação as demais
linhagens de camundongos estudadas.
Embora a modulação da atividade de leucócitos seja observada pela intensa infiltração
destas células nas camadas da pele, o veneno de Loxosceles reclusa não exerce efeito direto
sobre leucócitos em cultura (GOMEZ et al., 1999). A ativação de leucócitos representa efeito
indireto sobre células endoteliais e vasos sanguíneos expostos a toxinas do veneno,
estimulando a expressão de E-selectina e interleucina-8 pelas células endoteliais, e fator do
crescimento por queratinócitos (PATEL et al., 1994; DESAI et al., 2000). O veneno de
Loxosceles intermedia também atua sobre células endoteliais promovendo a adesão de
leucócitos ao endotélio (ZANETTI et al., 2002) e a internalização de toxinas do veneno que
culmina em morte celular e degradação do endotélio vascular (NOWATZKI et al., 2010).
Camundongos BALB/c, C57BL/6 e Suiço são utilizados em diferentes protocolos
experimentais e apresentam diferentes respostas, como por exemplo, durante infecção
experimental por Leishmania major. Beil e colaboradores (1992) demonstraram diferenças na
resposta a esta infecção, sendo camundongos BALB/c suscetíveis e C57BL/6 resistentes.
Além disso, o tipo de célula presente na lesão leishmaniótica foi diferente para estas duas
linhagens. No estágio inicial, os neutrófilos estão presentes no infiltrado inflamatório no
camundongo BALB/c, enquanto que nos C57BL/6, macrófagos e eosinófilos são as células
predominantes (BEIL et al., 1992). Neste trabalho, quando comparadas as alterações
histopatológicas em camundongos BALB/c, C57BL/6 e Suiços observou-se diferenças
significativas, como a intensidade do infiltrado inflamatório, maior em BALB/c e ausente em
79
Suiços, e eventos de resposta inflamatória aguda como marginalização de leucócitos e
diapedese em camundongos C57BL/6. As divergências entre estas linhagens de camundongos
estimularam a busca pela compreensão a cerca da mobilização de células inflamatórias
desencadeada pelo veneno nestes animais. Uma vez que camundongos Suiços não
apresentaram infiltrado inflamatório no tempo de observação proposto neste trabalho, não se
fez necessária a avaliação da cinética inflamatória nestes animais.
O infiltrado inflamatório depende da migração de células a partir do sangue periférico
para o tecido alvo da ação do veneno. A fim de compreender esta mobilização celular
relacionada a resposta inflamatória, foi investigada a produção destas células na medula
óssea, sua ativação no baço, e posterior migração para o sangue. Em acordo com a presença
do infiltrado na pele, foi observado aumento do número de leucócitos no sangue, tanto em
camundongos BALB/c como C57BL/6. Esta celularidade aumentada também foi observada
no baço de ambas as linhagens de camundongos analisadas. Em relação ao número de
leucócitos na medula óssea, foi observado aumento significativo para a linhagem C57BL/6, o
que representa resposta imunológica medular decorrente de maior recrutamento de leucócitos
pelo envenenamento nestes animais. A linhagem BALB/c não apresentou a mesma resposta
para a medula óssea, não havendo alteração da celularidade com a inoculação do veneno, esta
observação pode representar uma possível resposta acelerada destes animais, de forma que a
resposta máxima da medula óssea ao recrutamento de leucócitos seja mais rápida do que a
resposta observada para os camundongos C57BL/6.
As principais células envolvidas com a resposta imunológica inata pertencem a classe
das células mieloides, e são representadas por monócitos e granulócitos, que por sua vez
inclui neutrófilos, basófilos e eosinófilos (MEDZHITOV e JANEWAY, 2000; WICKS et al.,
2014). Para os camundongos C57BL/6 foi observado significativo aumento no número de
monócitos e neutrófilos no sangue e aumento da produção destas células pela medula óssea, o
que caracteriza resposta inflamatória inata. Estes resultados corroboram com outro achado
experimental, em coelhos submetidos ao envenenamento loxoscélico, que consiste no
aumento do número de células mielóides na medula óssea, correlacionado significativamente
com o aumento no número de neutrófilos no sangue periférico (DA SILVA et al., 2003). Estas
alterações não foram observadas para a linhagem BALB/c, demonstrando que a resposta
inflamatória nestes animais não apresenta perfil de resposta inata. Sendo assim, a leucocitose
80
observada nos camundongos BALB/c não pode ser atribuída ao aumento de células mieloides
no sangue.
As células linfóides consistem em outra classe celular importante durante a resposta
imunológica, dentre as quais destacam-se os linfócitos B e os linfócitos T (JOSEFOWICZ et
al., 2012; PIEPER et al., 2013). Linfócitos T estão presentes em duas subclasses, os linfócitos
T que expressam CD4+ e os que expressam CD8
+ na membrana, sendo cada uma destas
células relacionadas a diferentes vias de sinalização durante o desenvolvimento da resposta
inflamatória. Linfócitos T CD4+
ou linfócitos T auxiliares estão relacionados a resposta
imunológica adaptativa, através da ativação de linfócitos B e produção de anticorpos
específicos. Os linfócitos T CD8+
ou citotóxicos participam da resposta imunológica inata,
sendo a primeira resposta imunológica do organismo frente a um antígeno (JOSEFOWICZ et
al., 2012). A participação destas células durante o envenenamento por Loxosceles intermedia
em camundongos foi descrita neste trabalho, sendo observada resposta tipicamente inata com
aumento preferencial no número de linfócitos T CD8+
na medula óssea, baço e sangue de
camundongos C57BL/6 após a inoculação do veneno, que corrobora com o aumento de
células mieloides observado nestes camundongos. O aumento preferencial dos linfócitos T
CD4+
em camundongos BALB/c caracteriza resposta imunológica adaptativa decorrente da
inoculação do veneno nestes animais, o que pode representar uma segunda fase da resposta
imunológica nesta linhagem de camundongos ou ainda um tipo de resposta diferenciada entre
inata e adaptativa para cada linhagem testada.
O aumento de linfócitos T CD4+
em camundongos BALB/c havia sido demonstrado
durante o desenvolvimento experimental de atresia biliar, não sendo observado tal aumento
em camundongos C57BL/6. Para estes camundongos a incidência de atresia biliar foi
significativamente menor quando comparado aos camundongos BALB/c (LEONHARDT et
al., 2010). Estes resultados podem ser correlacionados com aqueles observados neste trabalho,
que apresentou o aumento desta classe de linfócitos T durante a resposta inflamatória
decorrente do envenenamento por Loxosceles intermedia em camundongos BALB/c.
Leonhardt e colaboradores (2010) demonstraram que a maior susceptibilidade ao
desenvolvimento de atresia biliar experimental foi associado ao aumento de células T CD4+
no fígado de camundongos BALB/c, enquanto que a resposta inflamatória no local de
81
inoculação do veneno de Loxosceles intermedia foi mais intensa nestes animais, o que
demonstra a importante participação destas células T durante a resposta inflamatória.
Em relação a presença de linfócitos B nos eventos inflamatórios desencadeados pela
inoculação do veneno de Loxosceles intermedia, observou-se que a diferenciação de linfócitos
B na medula óssea dos animais C57BL/6 é caracterizada pela redução das células pré-pró B
em função da produção de células B maduras, e por causa dessa rápida transição a quantidade
de células B imaturas permaneceu constante. Provavelmente, esta redução de células pré-pró
B ocorre devido a baixa reposição pela medula óssea que pode estar voltada para a produção
de células mielóides. Nos camundongos BALB/c foi possível observar o aumento de células
B imaturas e maduras, justificando o aumento de linfócitos B observados no sangue destes
animais. Sendo assim, é possível inferir que a resposta imunológica, decorrente da inoculação
de veneno de Loxosceles intermedia, em camundongos C57BL/6 não é imediatamente
dependente da ativação de linfócitos B. Nos camundongos BALB/C, o aumento no número de
linfócitos B convencionais no baço, sugere recrutamento deste tipo de célula na fase de
resposta aguda a este envenenamento, pois corrobora com os resultados obtidos na medula
óssea e no sangue, onde estes linfócitos B também estavam aumentados. Por outro lado, o
aumento no número de linfócitos B não convencionais no baço e linfócitos B1 no sangue de
camundongos C57BL/6 pode estar relacionado a resposta imunológica não específica ao
veneno inoculado. Linfócitos B1 estão relacionados a respostas não específicas com produção
de anticorpos de baixa afinidade (FAGARASAN et al., 2000). Os tipos predominantes de
linfócitos B presentes no baço após a inoculação do veneno nos camundongos C57BL/6
foram linfócitos B de zona marginal (ZM) e linfócitos B1b. Os linfócitos B ZM apresentam
resposta rápida e independente de ativação por linfócitos T, contudo os linfócitos B1b não
apresentam sua função durante a resposta imunológica bem definida (ALUGUPALLI, 2008).
Sendo assim, é possível inferir que a resposta imunológica ao veneno de Loxosceles
intermedia apresenta perfil de resposta inata, dependente de células B1 nos animais C57BL/6
e perfil de resposta imunológica humoral nos animais BALB/c.
Os resultados obtidos neste trabalho visam contribuir com o desenvolvimento de
metodologias e modelos experimentais que possam ser utilizados para estudo da ação do
veneno da aranha Loxosceles intermedia. As atividades in vitro do veneno contribuem para a
compreensão dos mecanismos envolvidos com a ação do veneno in vivo. A ação local deste
82
veneno em diferentes linhagens de camundongos revelou que modelos animais semelhantes
podem apresentar diferentes respostas a inoculação deste veneno, o que pode contribuir para a
descrição dos efeitos do veneno sobre o organismo alvo e a evolução da lesão. Por fim, a
presença do infiltrado inflamatório no local de inoculação do veneno e a mobilização de
células inflamatórias a partir da medula óssea, ativação no baço como órgão efetor e migração
para o sangue revelou que diferentes linhagens de camundongos apresentam diferenças no
tipo celular envolvido na resposta imunológica decorrente do envenenamento ou esta
diferença pode estar relacionada ao tempo e velocidade da resposta em cada linhagem de
camundongos.
6. CONCLUSÃO
O veneno de Loxosceles intermedia não apresentou atividade fosfolipásica A2, porém
as atividades hialuronidásica e colagenásica demonstraram efeito dependente da concentração
do veneno. As atividades proteolítica e esfingomielinásica, por sua vez, foram observadas
apenas na presença de alta concentração do veneno. Em relação as ações do veneno em
camundongos, este trabalho demonstrou o desenvolvimento de processo inflamatório, desde o
infiltrado na pele até o recrutamento na medula óssea, sendo possível afirmar que o veneno
induziu resposta celular supostamente inata nos animais C57BL/6 e adaptativa e/ou humoral
nos animais BALB/c. As alterações na medula óssea dos camundongos C57BL/6 são
indicativas de resposta imunológica voltada para a produção de células mieloides, enquanto
nos BALB/c, esta resposta foi caracterizada pelo aumento de precursores linfoides, com
predomínio de linfócitos T CD4 e linfócitos B convencionais, o que representa o
desenvolvimento de reposta imunológica específica dependente da ativação por linfócitos T.
O baço dos camundongos C57BL/6 apresentou aumento no grupo de células B1b ou células B
da zona marginal (ZM), o que representa resposta ao veneno independente da ativação por
linfócitos T, sendo essa resposta rápida e inespecífica. A partir destes resultados este trabalho
sugere que camundongos da linhagem BALB/c podem ser utilizados como modelo para
estudar a produção de IgM e IgG induzido pelo veneno, utilizados nas soroterapias, incluindo
analise de citocinas, quimiocinas e mecanismos moleculares.
83
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