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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DA RELIGIÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO CANTO, ENCANTO E DESENCANTO Estudo da tensão entre a prática do Canto Coral frente às novas tendências musicais nas Igrejas Batistas da Cidade de Campinas por José Ferreira de Souza São Bernardo do Campo Novembro, 2005

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

CANTO, ENCANTO E DESENCANTO

Estudo da tensão entre a prática do Canto Coral frente às novas tendências musicais

nas Igrejas Batistas da Cidade de Campinas

por

José Ferreira de Souza

São Bernardo do Campo

Novembro, 2005

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

CANTO, ENCANTO E DESENCANTO

Estudo da tensão entre a prática do Canto Coral frente às novas tendências musicais

nas Igrejas Batistas na Cidade de Campinas

por

José Ferreira de Souza

Orientador: Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva

São Bernardo do Campo

Novembro, 2005

Dissertação apresentada em cumprimento às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião para obter o grau em mestre.

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BANCA EXAMINADORA

PRESIDENTE: ______________________________________________

1º Examinador(a) ____________________________________________

2º Examinador(a) ____________________________________________

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SOUZA, José Ferreira. CANTO, ENCANTO E DESENCANTO: Um estudo da tensão entre a prática do Canto Coral frente às novas tendências musicais nas Igrejas Batistas na cidade de Campinas. São Bernardo do Campo, SP, Universidade Metodista de São Paulo, Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, 2005. (Dissertação)

SINOPSE

Nesta pesquisa desenvolvemos um estudo focado na convivência conflituosa entre a música

tradicional e a música contemporânea. Foi desenvolvida em um grupo religioso protestante

específico, intuindo investigar a hipótese de que há uma tensão entre a prática do Canto

Coral e as novas tendências musicais representadas pelas Bandas. Como procedimento

metodológico utilizamos uma pesquisa de campo que avaliou a realidade musical em

algumas Igrejas Batistas de Campinas. A partir dos resultados obtidos sugerimos ações

concretas à práxis pastoral. O primeiro capítulo propõe uma retrospectiva conceitual e

histórica do Canto Coral, avaliando sua função antes e depois do processo da reforma e da

nova mentalidade musical desenvolvida por Lutero. O segundo capítulo mostra o

desenvolvimento da pesquisa realizada junto a seis Igrejas Batistas. Tenta mensurar o gosto

musical dos membros dessas comunidades através de um estudo comparativo a partir dos

dois pólos: Canto Coral e Banda, ambos, sendo o específico de um campo maior: Tradição

e Contemporâneo. O terceiro capítulo, partindo dos impulsos obtidos, desenvolve uma

visão crítica sobre os aspectos da tradição, da aceitação à novas tendências, e da tensão

propriamente desenvolvida na convivência entre estilos musicais distintos. Mediante tal

realidade conflituosa, apresentamos um desafio à práxis pastoral no sentido de se obter

possibilidades para uma convivência musical pacífica, considerando a inserção de

elementos da contemporaneidade e da tradição na liturgia Batista.

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SOUZA, José Ferreira. SONG, ENCHANTMENT AND DISENCHANTMENT: A study of the tension between the practice of choral singing and new musical tendencies in Baptist Churches in the city of Campinas. São Bernardo do Campo, SP, Universidade Metodista de São Paulo, Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, 2005. (Dissertation)

ABSTRACT The research presents a study of the conflicting relationship between traditional and

contemporary music. The study was based on a specific Protestant religious group, with

the objective of investigating the hypothesis that there exists a tension between the use of

choral music and new musical tendencies represented by bands. The methodology used is

that of field research which evaluated the musical reality of specific Baptist Churches in

Campinas. Based on the results obtained, concrete actions for pastoral practice are

suggested. The first chapter proposes a conceptual and historical perspective of choral

music, evaluating its function before the Reformation, and after the new musical mentality

developed by Luther. The second chapter discusses the specific research realized in six

Baptist Churches. This research describes the musical preferences of the members of these

communities through a comparative study of the data obtained based on two poles: choral

music and bands. These poles represent the larger context of Tradition and Contemporary.

Bon the research presented, the third chapter offers a critical perspective regarding aspects

of tradition, acceptance of new tendencies, and the tension developed between these distinct

musical styles. In the face of this conflicting relationship, the research presents the

challenge to pastoral practice of seeking a peaceful resolution of this musical relationship,

considering the insertion of contemporary and traditional elements in Baptist liturgy.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela oportunidade de viver.

Minha família, mãe e irmãos, que com dedicação e carinho apoiaram-me nos momentos

cruciais da minha vida.

A minha esposa, Eloína, que soube dividir a minha atenção com os compromissos

acadêmicos.

À minha filha, Laryssa, possibilidades de inspiração.

Amigos, tais como: Reginaldo, Natanael, Felipe e Rosimeire, por todas as contribuições

dadas e pelo incentivo à reflexão e à caminhada acadêmica.

Ao CAPES, que me apoiou com bolsa durante todo o curso, o que possibilitou uma maior

dedicação à pesquisa.

À Faculdade Teológica Batista de Campinas, que tem me acolhido como docente e

oferecido sua estrutura para minha pesquisa.

À Universidade Metodista de São Paulo, com seu corpo docente e funcionários, que de

forma dedicada permitiram-me dar este passo tão importante na minha vida acadêmica.

À minha Igreja, Batista Satélite Íris, pelo apoio, incentivo e orações a meu favor.

Ao Prof. Dr. Geoval, pela orientação paciente e tão grande ajuda para o desenvolvimento

desta dissertação. A minha honrosa gratidão.

Finalmente, a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para o meu sucesso.

Obrigado.

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DEDICATÓRIA

A meu pai, Antonio Alves de Souza, in memóriam, por ter-me forjado o caráter com seu

exemplo, sua vida e principalmente, seu amor incondicional.

Todas as palavras do mundo não seriam capazes de expressar minha gratidão.

Para sempre...

“MEU QUERIDO, MEU VELHO, MEU AMIGO”.

“A QUEM HONRA, HONRA”

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SUMÁRIO

FOLHA DE ROSTO ........................................................................................................ 01

BANCA EXAMINADORA .............................................................................................. 03

SINOPSE ........................................................................................................................... 04

ABSTRACT ...................................................................................................................... 05

AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... 06

DEDICATÓRIA ................................................................................................................ 07

SUMÁRIO ......................................................................................................................... 08

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11

Capítulo 1 ........................................................................................................................... 16

CANTO CORAL: Da tradição ao Contemporâneo ....................................................... 16

Introdução .......................................................................................................................... 16

Conceito – “Coro” ou “Coral”? ....................................................................................... 16

Agrupamento ...................................................................................... 17

Forma ................................................................................................. 17

Espaço ................................................................................................ 17

Retrospectiva histórica da práxis do Canto Coral ......................................................... 18

Pré-Reforma ....................................................................................... 18

Pós-Reforma ....................................................................................... 22

O Canto Coral no contexto brasileiro ............................................................................. 25

No espaço eclesiástico ........................................................................ 25

Na cultura popular .............................................................................. 26

O Canto Coral no espaço litúrgico Batista e as novas tendências musicais ................. 26

Do Coro e seu encanto ....................................................................... 26

Uma nova consciência musical e o desencanto do Coro .................... 39

Coro como um meio de entretenimento .......................................................................... 41

Conclusões Preliminares ................................................................................................... 43

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Capítulo 2 ........................................................................................................................... 44

EXPERIÊNCIA MUSICAL: Entre o Coro e a Banda .................................................. 44

Introdução .......................................................................................................................... 44

O formulário ...................................................................................................................... 44

Aplicação do questionário ................................................................................................ 47

Metodologia ....................................................................................................................... 47

Critérios de investigação ................................................................................................... 47

Contexto da pesquisa ........................................................................................................ 48

Região metropolitana de Campinas ................................................... 48

Contexto Estatístico Batista Campineiro ........................................... 49

1ª Igreja Batista .................................................................. 50

Igreja Batista Central .......................................................... 50

Igreja Batista do Cambuí .................................................... 50

Igreja Batista do Taquaral .................................................. 51

Igreja Batista Boas Novas .................................................. 51

Perspectivas ....................................................................................................................... 52

Análise ................................................................................................................................ 52

Dados Gerais da Pesquisa ................................................................................................. 52

Música – Tradição e Contemporaneidade: Coro e Banda ............................................ 54

Música e Reação ................................................................................................................ 58

Coro e Banda - definindo função ..................................................................................... 62

Música e Identidade .......................................................................................................... 65

O estudo de caso e seu desenvolvimento ......................................................................... 69

Conclusões Preliminares ................................................................................................... 70

Capítulo 3 ........................................................................................................................... 72

PERSPECTIVAS A PRAXIS DO CANTO CORAL NA ATUALIDADE ................. 72

Introdução .......................................................................................................................... 72

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Canto Coral – uma questão de Identidade ..................................................................... 72

Canto Coral – uma questão de Lógica ............................................................................ 78

Coro e Banda – uma questão Dialética ........................................................................... 81

Tentativas de mudanças no culto protestante brasileiro ............................................... 84

Movimento Nacionalista .................................................................... 84

Movimento Gospel ............................................................................. 92

Ação dialética na heterogeneidade .................................................................................. 94

Perspectivas pastorais a práxis musical na contemporaneidade ................................ 102

Práxis da Adoração através da Música ............................................. 103

Práxis da Diaconia através da Música .............................................. 103

Práxis da Koinonia através da Música ............................................. 104

Conclusões Preliminares ................................................................................................. 104

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 105

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 107

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa, “CANTO, ENCANTO E DESENCANTO: estudo da tensão entre a

práxis do Canto Coral e as novas tendências musicais nas Igrejas Batistas da Cidade de

Campinas” foi motivada inicialmente pela hipótese de que a prática do Canto Coral se

enfraqueceu dentro do “espaço musical contemporâneo”. 1

A partir desta suspeita e ao observarmos a convivência entre a música tradicional e

a música contemporânea dentro do contexto Batista surgiram fatores importantes que

motivaram a concretização desta pesquisa. A princípio, por estarmos inseridos neste

contexto atuando como Ministro de Música e Pastor, percebemos que há conflitos que se

estabelecem ao empreendermos a aproximação entre a tradição e o contemporâneo.

Esta relação tensa ocorre, por exemplo, no momento da inserção de novas práticas

num culto tradicional. Há uma “nova cultura musical”, 2 neste contexto contemporâneo,

que é vista como incompatível com as manifestações musicais do passado.

Os conflitos podem se dar na forma de desentendimentos ocorridos no âmbito das

Igrejas e passam por: discussões acaloradas entre líderes do ministério de música, disputas

entre músicos e pastores, competição de poder entre grupos com faixas etárias distinta, tais

como, adultos, jovens e adolescentes e, até, por afirmações de que algumas comunidades,

no caso Batistas, estão mudando suas doutrinas ao executarem um outro tipo de música que

não caracteriza a denominação e toda sua tradição musical histórica.

Esta realidade, que permeia algumas comunidades do protestantismo brasileiro, na

visão de Freddi Junior, cria um ambiente que se caracteriza como “um universo confuso e

cheio de conflitos (...) no qual valores institucionais e tradicionais de igrejas protestantes

históricas se encontram desafiadas e enfraquecidas”.3

1 Constitui uma terminologia para definir a música praticada hoje por bandas e uma escrita musical mais funcional. 2 Esta cultura musical hodierna é alimentada por uma nova consciência que sugere a aplicação de aspectos da cultura musical brasileira ao culto. 3 SERGIO Paulo Freddi Junior. Tendências musicais de Igrejas Presbiterianas da cidade de São Paulo. p.12

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Tendo como ponto de partida esta realidade, a orientação acadêmica nos

encaminhou para um estudo mais específico. Portanto, o objeto da pesquisa não é o Canto

Coral em si ou a prática de uma nova modalidade musical, mas o entendimento dos

aspectos desta tensão gerada num ambiente eclesial pelo encontro de dois estilos musicais

distintos: Coral e Banda. Estes representam respectivamente a música tradicional e música

contemporânea, coexistindo em um espaço comum, a liturgia Batista.

A preocupação, “a priore”, será através da pesquisa de campo, ratificar a existência

desta tensão e compreender as peculiaridades que a caracterizam. A “posteriore” sugerir

ações à práxis pastoral num contexto marcado pela pluralidade e falta de diálogo.

Para um maior entendimento, se faz necessário definir com mais precisão alguns

termos e conceitos abordados durante este estudo. Objetivamos assim limitar as

possibilidades de interpretações para os termos usados.

Por Igrejas Batistas entenda-se as Igrejas da Cidade de Campinas participantes nesta

pesquisa e que fazem parte da Convenção Batista Paulistana. Todas filiadas a Convenção

Batista Brasileira. Estas igrejas apresentam uma convicção doutrinária comum e estão em

pleno acordo com as diretrizes traçadas por esta Convenção. Apenas a Igreja Batista do

Taquaral apresenta uma estrutura diferenciada já que aderiu à estrutura de “igrejas em

células”.4 Este fato ocasionou a supressão do Canto Coral e do hinário oficial da

denominação, o Cantor Cristão. Naturalmente, desenvolve uma liturgia fora dos padrões

tradicionais dos batistas, passando a praticar somente cânticos avulsos através de Bandas.

No entender do pastor da comunidade, é um culto mais contextualizado. Por estes fatores

achamos importante nos aprofundarmos na consciência musical desta comunidade.

Para a palavra “tradição”, tomamos emprestado o conceito usado por Denise

Frederico em sua tese, onde ela assevera que:

4 Segundo Paulo César Lima, pastor da Assembléia de Deus, doutor em teologia, é um movimento que propõe um crescimento das igrejas através de células, com reuniões nas casas a partir de 12 pessoas. Este relato está no livro “ O que está por trás do G12” do autor acima citado.

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Por tradição entende-se o acervo de usos e costumes conservados no decorrer dos tempos por um povo ou segmento social, transmitido através de sucessivas gerações (...) o termo aproxima-se dos vocábulos memória e história. O termo tradicional é tido como a qualidade daquilo que tem tradição, cuja existência tem história e memória, passando de geração em geração. Pode eventualmente também designar algo antigo, velho, do passado. 5

A música tradicional para os Batistas, de um modo geral, é a música herdada de

líderes do passado e tem a ver com um momento histórico-doutrinário e com as raízes da

própria denominação. Neste caso, o Cantor Cristão, sob a designação de hinário oficial e o

Canto Coral representam bem esta tradição.

Optamos neste estudo por não usarmos o termo “música pós-moderna”, levando-se

em consideração as dificuldades conceituais que poderiam surgir. Portanto, para fins maior

clareza decidimos pela palavra “contemporâneo” significando aquilo que se prática na

atualidade. É possível usar palavras cognatas que possuam o mesmo sentido, tais como:

contexto atual, em vigor, cultura hodierna, vanguardista, e outras.

Quanto à metodologia aplicada, baseamo-nos na revisão da literatura existente sobre

o assunto e na aplicação da pesquisa de campo. A população pesquisada teve sua

contribuição mensurada por um questionário e este aspecto da dissertação corresponde a

uma parte importante e fundamental da pesquisa. Através da manifestação das pessoas

pudemos avaliar atitudes, conceitos e preferências. Os resultados foram apresentados

através de gráficos que interpretam a participação do universo consultado.

Temos como referencial teórico: Henriqueta Rosa Fernandes Braga que serviu de

base para o desenvolvimento histórico sobre o coro.

Neste assunto localizamos pouca literatura que pudesse auxiliar-nos,

principalmente, algo que fosse mais recente e que o abordasse numa perspectiva histórica

tendo como marco referencial, a reforma.

5 DENISE Cordeiro de Souza Frederico. A Seleção de Cantos Para o Culto Cristão: critérios obtidos a partir do estudo da tensão entre tradição e contemporaneidade na história da música sacra cristã ocidental. p. 19

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O estudo de Antonio Gouvêa Mendonça foi importante para termos uma visão mais

abrangente do inicio e desenvolvimento do protestantismo no Brasil e as influências que

tiveram na formação de hinódia brasileira. Israel Belo de Azevedo deu-nos uma base

histórica-teológica significativa sobre a formação do pensamento Batista no Brasil.

O primeiro capítulo, após uma tentativa de conceituação de termos, traz um enfoque

histórico da prática coral, explicitando a sua funcionalidade e propósito antes e depois da

reforma. Traz também um panorama desta prática em nossos dias, percebendo-o tanto no

contexto eclesial, quanto em âmbito secular.

Obviamente que a música, de forma geral, sempre esteve atrelada ao seu contexto

social, filosófico, teológico e religioso. Partindo deste pressuposto, podemos detectar

possíveis tensões que servirão de base para a análise da prática musical hodierna.

Por exemplo, na idade média o povo não tinha o direito de participar diretamente da

liturgia. A música, em âmbito eclesial, era privilégio de um grupo previamente escolhido e

para o qual se destinava a sua execução. Em meados do século XVI, já estabelecida a

reforma, a música coletiva adquire novos contornos. Surge o coral como estrutura musical e

possibilita a livre participação dos fiéis no ato litúrgico. Em ambos os casos, a prática

musical é coerente com o seu contexto teológico.

O segundo capítulo trata da pesquisa de campo, metodologia na qual buscamos

apoio. Esta foi realizada em algumas Igrejas Batistas da Cidade de Campinas e será

importante no sentido de comprovar a realidade musical destas comunidades.

O questionário proposto tratou de temas relativos ao gosto musical dos

entrevistados; sobre a importância e o papel do coro e da banda na igreja; e também

pontuou diretamente a questão do conflito, tentando investigar a percepção das pessoas

sobre prováveis incompatibilidades.

Os entrevistados estão reunidos em dois blocos com faixas etárias distintas, a saber:

1º bloco – pessoas com idades entre 7 a 30 anos e o 2º bloco – idades a partir de 31 anos.

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O terceiro capítulo, partindo dos enfoques dados tanto no primeiro quanto no

segundo capítulo, tenta buscar orientações pastorais que possam contribuir com as

comunidades Batistas que estejam vivenciando momentos de instabilidades. Entendemos

que este estudo é importante e passa necessariamente por uma reflexão teológico-pastoral

com visão abrangente de TEMPO – PESSOAS – IGREJAS.

Em épocas distintas da história surgiram tensões no contexto eclesial que de alguma

forma eram alimentos por uma perspectiva ideológica, teológica ou filosófica.

Conseqüentemente, buscou-se soluções que levaram em considerações as características do

seu contexto histórico. Cabe, portanto, aos personagens da história atual, fazerem uma

releitura da nossa época e encontrarem possibilidades que suscitem soluções para os

problemas das igrejas contemporâneas.

Tecidas todas estas considerações, finalizamos com a reflexão de que, apesar de ser

um estudo que delimita sua pesquisa num grupo denominacional específico, os fenômenos

religiosos aqui descritos, situados no campo da tradição e da contemporaneidade com suas

(in)compatibilidades, representam um universo mais abrangente que atingem outros grupos,

sobremodo os do universo protestante de cunho histórico-tradicional. Portanto , a reflexão

também pode ser estendida para além do contexto batista.

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CAPÍTULO I

CANTO CORAL: Da Tradição ao Contemporâneo

“A música é um dos magníficos e deleitáveis presentes que Deus nos tem dado”.

Martin Luther King

Introdução

O que pretendemos neste capítulo é dar um panorama geral a respeito do Coro, sua

prática e desenvolvimento dentro e fora do contexto eclesial. Começamos por definir

conceitualmente alguns termos, que embora os diferencie, reconhecemos que no uso

popular não existe quase distinção. Procuramos também demonstrar o pensamento que

alimentou a prá tica coral antes e depois da reforma, considerando que este evento se tornou

um referencial de inovação para a musicalidade da igreja protestante.

Finalizamos o capítulo fazendo uma aplicação da prática coral ao contexto Batista

que é o universo religioso onde foi realizada a pesquisa.

“Coro” ou “Coral”?

Com freqüência esse questionamento sobre a terminologia é feito tentando decifrar

o uso correto dos termos. Coro e Coral algumas vezes são usados, principalmente por

coralistas, referindo a mesma coisa, ou seja, ao grupo de pessoas que executam uma peça

vocal. Entretanto, no meio acadêmico, costuma-se fazer uma distinção, a saber: “Coro”

como substantivo e “Coral” como adjetivo, mas até esta designação também não é muito

precisa.

Ambos os termos podem ser encontrados se referindo a três blocos de significado

que são: agrupamento, forma e espaço.6

6 ANDRÉ Daniel Lichtler. O Canto Coral na Comunidade Cristã: reflexões e conclusões a partir de uma pesquisa social. p. 48

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Agrupamento – Coro

Grupo de cantores que se apresentam juntos, na distribuição de vozes tradicional

(...) o termo é normalmente usado com qualitativos (p.ex., coro misto, coro feminino, coro

masculino, coro de ópera etc). Em português, CORAL também é sinônimo de coro, mas

sem uma distinção muito clara no uso das duas palavras; em Inglês, a palavra “choir” é

usada para os grupos de cantores eclesiásticos, ou os grupos menores de profissionais,

enquanto a palavra “chorus” é preferida para os grupos grandes e seculares; em alemão,

todos os coros são “chor”, exceto o eclesiástico, que é “Kirchenchor” (“coro de igreja”).7

Forma - Coral

Aqui a palavra freqüentemente usada é Coral para designar uma forma de

composição musical que se desenvolveu a partir do século XVI por ocasião da reforma,

sendo o próprio Lutero um dos grandes compositores e representantes desta forma musical.

O termo coral (em alemão choral) possui entre os germânicos duas diferentes

acepções: canto gregoriano dos católicos-romanos (cantus choralis) e canto congregacional

dos protestantes (choral-styl). A partir da segunda metade do séc. XVI, o coral luterano,

como canto congregacional, teve seu uso generalizado. 8 Esta estrutura musical é conhecida

e executada ainda hoje nas igrejas protestantes.

Espaço - Coro

Aqui se refere ao lugar onde atua os coros. Na igreja, o espaço reservado ao coro

(grupo de cantores) é por vezes chamado de coro. Esse espaço pode ser junto ao altar-mor

ou, num balcão. O espaço sobre o balcão ocupado por grupos instrumentais (coro

instrumental) ou pelo órgão é, também, chamado de coro.9

7 Dicionário Grove de Música, p.225 8 HENHIQUETA Rosa Fernandes Braga. Do Coral e sua Projeção na História da Música. p. 9 9 ANDRÉ Daniel lichtler. O Canto Coral na Comunidade Cristã: reflexões e conclusões a partir de uma pesquisa social. p. 50

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Retrospectiva histórica da práxis do Canto Coral

Pré-reforma

O coro pode ser considerado como um dos mais antigos agentes sonoros coletivos,

mesmo que não possamos comprovar com farta documentação, principalmente a era

conhecida como pré-histórica, a não ser por hipóteses formuladas a partir de gravuras em

pedras e desenhos de instrumentos, os quais nos dão pistas de que:

Entre as culturas primitivas e semiprimitivas até as velhas culturas da Antigüidade, a prática da música em conjunto apresentava características especiais em relação aos executantes e ouvintes. Era o agrupamento em torno de um centro“.

O centro torna-se o germe de toda a potência rítmica. É o lugar onde se encontra o chefe. A condução é feita pelo chefe que canta e bate inicia lmente os ritmos a serem usados, sendo depois repetidos pelos outros. Já encontramos, aqui, os primeiros vestígios de regência (...) coral. 10

No mundo antigo, documentos do Egito e Mesopotâmia sugerem a existência de

uma prática coral ligada aos cultos religiosos e às danças sagradas.11

Na Grécia, os grupos corais desempenhavam papel importantíssimo, mesmo porque

havia música para todas as ocasiões e diversos deuses representavam cada um desses

momentos. Há indícios de coro que datam dos séculos III e II a.C. e que têm sua

composição considerada a Eurípides. “Este coro é um stasimom , uma ode cantada com o

coro imóvel no seu lugar na orquestra, zona semicircular entre o palco e a bancada dos

espectadores”.12 Outros exemplos que podem ter sido executados com a participação coral

são: hino a Hélios, hino à musa Calíope, hino a Nemésis de Mesomede de Creta e outros.

Os relatos históricos dão conta de que os coros eram dirigidos por um Chóregos.

Um tipo de coordenador musical que usava alguns movimentos corporais para comunicar

ao coro sua intenção quanto à interpretação da música. 10 Encontrada em folhas avulsas onde não foi possível identificar o autor. 11 EDUARDO Fonseca. História do Canto Coral. p.1 www.luteranos.com.br/coral/artigos4.htm – 11/02/2003 12 DONALD J. Grout e CLAUDE V. Palisca. História da Música Ocidental. p.31

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Nos calçados havia lâminas de metal para ampliar o ruído. Havia também a

utilização das mãos nos movimentos ascendentes e descendentes para dar ao grupo coral a

claridade sobre o tempo forte do texto.13

Entre os judeus, no contexto bíblico, há referências de grupos corais fazendo parte

do culto judaico. Nos dias do rei Salomão, nas festividades, como a celebração da páscoa,

os levitas - antiga tribo guerreira (Gen 49. 5-7) que se tornou uma casta sacerdotal -

responsabilizavam-se não só pela educação musical instrumental e vocal, mas também

pelas escalas de cultos para todas as cerimônias religiosas da época. (1Cr. 13. 7-8; 15.12;

19; 25.1-6; 2Cr. 5.13; 14; 29.28).14

Quanto à mensagem que estas músicas expressavam, Bentzem afirma que parte da

poesia lírica apresentada na Bíblia está diretamente relacionada com a guerra, produzindo

assim, motivações que caracterizavam os hinos, tais como: hinos de vitórias, hinos de

lamento, hinos de confissão.15

Von Rad também coaduna com esta posição afirmando que Javé escolheu um povo

e estabeleceu com ele um diálogo permanente. Parte deste diálogo deu-se na forma de

louvores16 entoados musicalmente através de hinos. Estes podiam ser colocados dentro de

categorias que expressavam tanto a realidade espiritual do povo, quanto esta relação Javé -

Israel.17

Segundo Von Rad, a forma mais antiga de louvor era o canto de vitória. Um

exemplo disto é o cântico do Mar Vermelho (Êxodo 15) onde se rememorava o livramento

do povo israelita frente às tropas egípcias.

13 EMANUEL Martinez. Regência Coral, Princípios Básicos, p. 16-19 14 DENISE Cordeiro de Souza Frederico. A Seleção de Cantos Para o Culto Cristão: critérios obtidos a partir da tensão entre tradição e contemporaneidade na história da música sacra cristã ocidental. 83 15 AAGE Bentzem. Introdução ao Antigo Testamento. p.155 16 Louvor tem sua origem no verbo hôdâh e significa na realidade, “confessar, reconhecer, aprovar” 17 GERHARD Von Rad. Teologia do Antigo Testamento. p. 342

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Neste evento a profetisa Mirian, irmã de Arão, tomou um tamborim e saíram em

coro, todas as mulheres com tamborins, e diante dela, entoavam: “Cantai ao Senhor, porque

gloriosamente triunfou, e precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro”18.

A partir da prática judaica, outras formas musicais podem ser concebidas como:

canto de confissão; canto da criação e canto de ações de graças. Todas em sua essência

dando plena razão a Javé. 19

O livro de I Crônicas nos capítulos 23 e 25 traz-nos uma noção exata quanto à

estrutura Coral e as exigências que existiam para a sua prática e funcionamento. O relato

bíblico mostra que o Coral era distribuído em 24 pequenos grupos, cada um contendo 12

coralistas e que, provavelmente, revezavam-se acompanhando os sacrifícios. Os relatos

bíblicos de II Samuel 6.5 e I Crônicas 13.8 indicam que havia uma participação musical

efetiva por ocasião das procissões. (ver Êxodo 32.18; Isaías 30.9; Neemias 12.27-43).20

É provável que nestes grupos criados oficialmente para a execução do culto só

houvesse a participação de homens e que necessariamente fossem bem treinados e tivessem

idades a partir de 30 anos, sendo, portanto, proibida a participação feminina. Algum tempo

depois foi incorporado ao coro, grupo de meninos que faziam as vozes mais agudas.

Atualmente esta é uma prática comum na Inglaterra.

Mesmo sendo bem preparados na parte técnica, não há menção de que haja, nesta

estrutura, diversificação vocal. A música provavelmente era entoada em uníssono e os

instrumentos faziam um acompanhamento igualando-se as vozes. 21

Alguns séculos depois, com o advento do cristianismo, surgiu o coro cristão nas

catacumbas de Roma sob o nome de “cantochão” (cantus planus). Entretanto, por não ser

uma religião oficial a música cristã não podia ser entoada com liberdade.

18 JOHN D. Davis. Dicionário da Bíblia. p.407 19 GERHARD Von Rad. Teologia do Antigo Testamento. p. 342-344 20 AAGE Bentzem. Introdução ao Antigo Testamento. p.169 21 Ibid. p.83

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21

Como percebemos, o contexto de cada época influencia diretamente na forma e no

conteúdo musical executado. No início da Igreja Cristã, devido ao contexto de

perseguições, havia no cerne de cada canção a evocação divina que objetivava:

[pedir] o auxílio para a sua causa, e coragem para a luta sem tréguas onde o ideal cristão haveria de vencer. Os primeiros cristãos não conheciam uma melodia capaz de expressar a pureza de seus sentimentos, nem tão pouco um som que se prestasse às suas preces.22

Entretanto, a música ocupou uma importantíssima função no espaço cultual cristão,

pois, mesmo sofrendo fortes influências da cultura grega, aos poucos vai definido uma

estrutura religiosa-doutrinária bem peculiar se fazendo distinta de outras práticas musicais.

Estas peculiaridades vão influenciar diretamente na formação do pensamento musical

cristão ocidental através de um legado hinológico substancialmente importante.

A tradição coral ocidental que começa com o cristianismo primitivo, é percebida

nos escritores patrísticos os quais fazem referência ao canto de antífonas e responsórios nos

sécs. II e III 23. No séc. IV apareceu o Rito Ambrosiano que era um cantochão entoado na

forma de responsos, a dois coros, ainda hoje chamado de decani e contoris.24

Em toda a Idade Média há indícios de que já havia cânticos com execução coral,

mas foi a partir da consolidação da polifonia, após 1430, que os grupos corais se efetivaram

com maior participação.

Nas igrejas e mosteiros medievais, a exemplo da tradição grega, os coros eram

inteiramente compostos por homens, às vezes com meninos, devido à proibição da

participação de mulheres no canto das igrejas. Um típico coro de catedral podia reunir de

quatro a seis meninos e de dez a treze homens.25

22 EDUARDO Fonseca. História do Canto Coral. p.2 -www.luteranos.com.br/coral/artigos4.htm – 11/02/2003 23 Dicionário Grove de Música, 1994, p. 226 24 ANSELMO Silveira. Música Antiga – História Completa – www. victorian.fortunecity.com/brutalis. 25 Dicionário Grove de Música, p. 226.

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No renascimento (Séc. XIV-XVI), a polifonia – música cantada a várias vozes –

definiu-se estruturalmente a quatro vozes, ou seja, aproximando-se da concepção moderna

de coro composto por: soprano, contralto, tenor e baixo. As partes do soprano, até o séc.

XVI eram em geral destinadas a meninos, quando cantores castrati foram introduzidos nos

coros da Igreja Católica Romana.26

No período barroco, há indícios de vários grupos corais, p.ex., festa de S. Petrônio,

em Bolonha, 1687, com um grupo coral de 65 integrantes; nos funerais de Haendel, em

Londres, em 1759, onde três coros se reuniram; no final deste período, S Marcos de Veneza

tinha um coro de 36 vozes.27

Neste contexto musical da Antigüidade os conflitos existentes partiam de um

aspecto conceitual. A Igreja tendenciosamente desclassificava toda e qualquer manifestação

musical que acontecia fora do âmbito eclesial. E isto estabeleceu uma oposição entre a

música religiosa e a música popular, pois para o clero:

a maior parte desta música estava associada a práticas sociais que a igreja primitiva via com horror ou a ritmos pagãos que julgava deverem ser eliminados: Por conseguinte, foram feitos todos os esforços não apenas para afastar da igreja esta música, que traria tais abominações ao espírito dos fiéis, como, se possível, para apa gar por completo a memória dela.28

Esta separação entre as coisas sagradas e profanas perdurou por toda a história do

cristianismo, mas em diversos momentos, apesar da polarização, uma vai influenciar a

outra.

Reforma

Para entendermos adequadamente o desenvolvimento e a função da prática coral na

reforma, faz-se necessário rememorarmos o contexto religioso desta época que data do

século XVI.

26 Dicionário Grove de Música. p 226 27 Idem. p.226 28 DONALD J. Grout e CLAUDE V. Palisca. História de Música Ocidental. p.16

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Na visão de Matinho Lutero, 29 havia algum tempo que a igreja vinha se

distanciando de sua verdadeira vocação ministerial. Cedia espaço cada vez maior para uma

outra ideologia que fazia com que ela se tornasse irrepugnante e carnal. Tanto que dentre os

fatores que impulsionaram a realização da reforma, estão:

A secularização da igreja, a influência dos humanistas, os privilégios escandalosos administrados pela nobreza, os abusos do clero, e a falta de esclarecimento em questões de fé paralelame nte à cobrança das indulgências.30

Lutero insurgiu sobremodo contra estas indulgências, 31 que pareciam representar a

prova mais concreta de fé. Sobre tal pensamento discordava com grande veemência e isto o

levou a engajar-se, mesmo contra a sua vontade, no que ficou conhecida como a “Reforma

Protestante”, a qual trouxe modificações significativas para o culto.

Segundo Sasse, Lutero foi um reformador muito conservador, mas, rejeitou

radicalmente tudo que representasse contradição a Escritura. Por isso que gradativamente

ele abandona pontos de doutrina e praxe católicas tais como: a realização da missa, os

sacrifícios realizados pelos sacerdotes em favor dos vivos e dos mortos e o emprego de

língua estrangeira na missa.32 Estes pontos constituem-se importantes na formatação de

uma nova estrutura litúrgica.

Compreendendo que o ser humano tem possibilidades de estabelecer relação direta

com Deus, Lutero reduz o culto a dois elementos básicos: a pregação da palavra e a

celebração da Ceia.33

29 Martinho Lutero nasceu no ano de 1483 em Eislebem – leste da Alemanha. Tornou-se advogado e mais tarde se formou em Teologia quando entrou para os frades agostinianos em Erfurt. Foi um profícuo escritor tendo entre seus escritos mais famosos as teses que desencadeou o processo da reforma protestante. Sua morte data do ano de 1545. 30 DENISE Cordeiro de Souza Frederico. A Seleção de Cantos Para o Culto Cristão: critérios obtidos a partir do estudo da tensão entre tradição e contemporaneidade na história da música sacra cristã ocidental. p. 136 31 O que a igreja entendia por indulgência era a remissão total ou parcial das penas que cada um devia sofrer, na terra ou no purgatório, depois de ter obtido no sacramento da penitência a absolvição dos seus pecados e a remissão do castigo eterno. In, DANIEL-ROPS. A Igreja da Renascença e da Reforma I. p.266 32 HERMANN Sasse. Isto é o Meu Corpo. p. 62-65 33 Ibid., p.314

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O clericalismo que até então detinha todas as funções do culto, inclusive a da

prática musical, perde a sua força e abre possibilidades para a participação do povo no ato

cúltico.

Dentro deste novo contexto eclesial e como fruto do raciocínio teológico luterano, a

música passa a ter função estratégica, tanto como meio de aproximação das pessoas com

Deus, quanto de propagação da própria teologia luterana.

No aspecto musical percebemos que o sentido de coro é ampliado, tanto em seu

conteúdo, quanto em sua forma e função. Neste novo cenário religioso, Lutero estende ao

povo o privilégio de participar do momento litúrgico e estabelece o canto congregacional

como sendo um reflexo do seu conceito teológico de sacerdócio universal.

Portanto, o coral neste contexto se desenvolve como uma estrutura especifica de

música, e por ter sido organizado por Lutero, é até hoje designado pelo seu nome. Enquanto

canto congregacional, teve seu uso generalizado na segunda metade do séc. XVI, quando,

após um período de evolução, fixou a sua estrutura (...) e alcançou sucesso e larga

divulgação, integrando-se na vida religiosa, comunal e doméstica alemã, não apenas

naquela época, porém ainda nos séculos seguintes. 34

A partir de então, tanto o coro, como grupo de pessoas, quanto o coral, enquanto

forma musical se tornaram populares. Saiu dos recônditos das igrejas e ganhou as ruas,

como manifestação cúltica dominical e eram executados num clima festivo em frente das

casas dos crentes. Esta expansão se verificou não apenas nas regiões protestantes; mas da

parte católica, também foram adotados os corais usando-os tal qual, quando o texto podia

servir- lhes. 35

Neste contexto da igreja reformada, há vários fatores importantes a serem

observados, mas vale ressaltar que houve a quebra do abismo que existia entre a igreja e o

povo. Este distanciamento acontecia tanto pela sacralidade dos ofícios e oficiantes, quanto

34 HENRIQUETA Rosa Fernandes Braga. Do Coral e sua Projeção na História da Música. p. 9 35Ibid., p.10

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pela incapacidade do povo entender o que era falado e cantado, já que a parte cúltica era

oferecida em latim.

O que Lutero fez foi usar a música, através do coral, para estabelecer uma nova

relação entre comunidade e igreja. Ele partiu do pressuposto de que as pessoas deviam

entender o culto que praticavam.

O propósito da música e, conseqüentemente do Canto Coral, esteve diretamente

voltado à realidade e necessidade religiosa do povo. Mesmo sendo estimulada pelos reis,

pelo clero e pelas pessoas mais abastadas, visava sempre manter as festividades locais,

disseminar doutrinas religiosas, além de atrair e integrar fiéis às igrejas.36 Ou seja, de

alguma forma inserida nas necessidades coletivas.

Mesmo intimamente ligada à vida religiosa, a música teve sempre como pano de

fundo a cultura de sua época e assim, como nos dias atuais, se tornou objeto de dissensão e

controvérsia provocando cismas e influenciando na história da igreja e do próprio

protestantismo.

O Canto Coral no contexto brasileiro

No espaço eclesiástico

No contexto brasileiro, mesmo com fortes indícios de que já no início da

colonização portuguesa em 1549 havia a presença de protestantes, 37 não se tem registro de

prática coral neste período, mesmo porque no período colonial não havia tamanha liberdade

religiosa38 que propiciasse uma expressividade cúltica mais abrangente, inclusive com

música. 39

36 EDUARDO Fonseca. História do Canto Coral. www.luteranos.com.br/coral/artigos4.htm – 11/02/2003 37 ANTONIO Gouvêa Mendonça. O Celeste Porvir: a inserção do protestantismo no Brasil. p.18 38 Segundo Mendonça, desde a colonização portuguesa (1549) até 1823 quando por ocasião da constituinte de 1823, foi debatida a questão da liberdade religiosa, há algumas tentativas de estabelecimento do protestantismo no Brasil, mas sempre com fortes restrições pela igreja oficial, a Igreja Católica Romana, tanto que em 1720, uma lei proibiu que qualquer pessoa chegasse a solo brasileiro, a não ser que fosse a serviço da coroa ou da igreja. In, ANTONIO Gouvêa Mendonça. O Celeste Porvir: a inserção do protestantismo no Brasil . p.17-21 39 Ibid., p.18

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É possível que o Canto Coral só tenha aportado aqui por ocasião da chegada da

corte européia e, certamente, estando ligada diretamente à igreja. As músicas de então

mostram uma elaboração propícia a grupos vocais que talvez participassem das missas.

Como o Brasil era só um receptor das tendências européias, a prática coral por aqui,

desenvolvia o que se fazia por lá. No âmbito protestante o coral surgiu somente alguns

séculos mais tarde, o que trataremos adiante.

Na cultura popular

Fora dos limites da religião, o que sabemos sobre o Canto Coral, com projeção

nacional, veio através de um grande músico brasileiro Heitor Villa Lobos (1887 – 1959).

Além de grande compositor de obras corais, foi o idealizador de grandes concertos com

grupos escolares. Foi ele o responsável pela implantação do canto orfeônico 40 na grade

curricular das escolas, o que permaneceu até a década de 1970. Após isto vieram as

reformas educacionais que sacaram a prática da música como disciplina obrigatória e a

incorporaram como um assunto a ser estudado na disciplina de Educação Artística.

O Canto Coral nas Igrejas Batistas e as novas tendências musicais

Do Coro e seu encanto

O Canto Coral no meio dos Batistas se tornou uma prática extremamente comum a

partir de 1931, por meio do regente de coro Artur Lakschevitz. Oriundo da Letônia

Lakschevitz se to rnou uma referência forte à música sacra no Brasil. Chegou aqui no dia 24

de junho de 1923, residindo em Bauru e mais tarde em São Paulo.

Anos mais tarde casou-se com a brasileira Iracema Fernandes e passou a se dedicar

a organização de grupos corais. Durante 14 anos regeu o coro da 1ª Igreja Batista do Rio de

Janeiro, depois também por alguns anos foi regente na Igreja Batista do Méier e da Igreja

Batista Itacuruçá.

40 Canto Orfeônico é a designação que se dá à sociedade cujos membros dedicam-se ao canto coral, com ou sem acompanhamento instrumental. Uma outra designação mais comum para canto orfeônico é coro. (Dicionário Aurélio)

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Em 1931, lançou uma coletânea de músicas para coro com o título de Coros Sacros

e este fato ajudou na propagação de grupos corais por todo o Brasil a ponto de ser

popularizado entre os Batistas. A contribuição de Lakschevitz também é notada na área

acadêmica, pois foi professor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e do Colégio

Batista Shepard, no Rio de Janeiro. Através da docência trabalhou a consciência de seus

alunos sobre a importância da música e em especial, do Canto Coral.41

A história do compositor Batista mais importante, em termos de Coral, serve para

demonstrar a influência que a hinódia protestante brasileira sofreu em sua formação. Esta,

que tem o seu início e desenvolvimento a partir do século XIX, desde sua origem foi

construída fundamentada no pensamento teológico europeu e americano. Os missionários,

assim como Lakschevitz, estabeleceram um protestantismo missionário e ortodoxo. Eram

também impulsionados por um sentimento expansionista que emergiu primeiro na

Inglaterra e depois na Alemanha. Mais tarde, originário s dos Estados Unidos, chegaram os

avivalistas que:

apresentavam uma voracidade por crescimento numérico e usavam uma forma sentimental de culto que refletiu diretamente na produção musical das igrejas reformadas. A música servia como apoio para um texto apelativo, com objetivo conquistador ou sedutor.42

Então, podemos afirmar que o Canto Coral foi um reflexo desta teologia e foi,

naturalmente, usado como apoio para se alcançar os fins teológicos estabelecidos. Esta

afirmação é ratificada por Mendonça ao defender a indissolubilidade entre hinologia e

teologia no culto protestante brasileiro. Ele afirma que “a hinologia é o reflexo da teologia

da Era Missionária, assim como a mentalidade de base das igrejas brasileiras é o reflexo de

sua hinologia”. 43

41 ARTUR Lakschevitz. Coros Sacros: Hinos Especiais Para Coros. p.2 42 SERGIO Paulo Freddi Junior. Tendências Musicais de Igrejas Presbiterianas Independentes na Cidade de São Paulo. p. 33 43 ANTONIO Gouveia Mendonça. A Crise no Culto Protestante Brasileiro. p. 55

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Os primeiros indícios da prática coral protestante no Brasil vêm dos anglicanos em

meados de 1800. Uma das músicas mais entoadas neste período teria sido o hino Holy,

Holy, Holy Lord God Almight 44.

Mas tarde a Igreja Luterana, também através de seus primeiros missionários

alemães, trouxeram o coro como prática tradicional em seus cultos.

Portanto, o Canto Coral nas Igrejas Batistas sofre influências diretas destas

denominações e é certo que Lakschevitz vai desenvolver seu compêndio baseado no

repertório coral destes hinários anteriores e já em uso nos cultos brasileiros.

Um destes hinários pioneiros, que pode tê- lo influenciado, é o Salmos e Hinos

desenvolvido pelo casal Kalley. Supomos que tenha sido o primeiro hinário com uma

estrutura a quatro vozes permitindo assim a execução de suas músicas por um grupo de

pessoas com maiores habilidades musicais.

Mendonça faz um paralelo entre estes dois hinários, Coros Sacros e Salmos e Hinos

e estabelece, a partir daí, uma aproximação encontrando pontos em comum quanto ao seu

conteúdo. Este fato ratifica as influências que Lakschevitz sofreu ao estruturar a hinódia

Batista brasileira. Mendonça diz que:

O que se nota desde logo, no Coros Sacros, é o mesmo sincretismo encontrado nos Salmos e Hinos, isto é, as várias tendências teológicas que, desembocando no final do século XVIII, se expressam na abundante hinologia européia do século XIX. O arranjo dos hinos nos volumes é desordenado, aparentemente sem nenhuma preocupação litúrgica. A teologia reflete a mesma índole do Salmos e Hinos; é predominantemente pietista/individualista.45

Portanto, além do diálogo teológico há nítida semelhança entre estes dois hinários

na sua estrutura musical, pois ambos propiciam o estabelecimento do coro nas igrejas.

44 Este hino, bastante entoado pelos coros nas Igrejas Batistas, é o de nº 9 do Cantor Cristão e possui vários arranjos para a execução Coral e tem sua tradução como (Santo, Santo, Santo, Senhor Deus Onipotente). 45 ANTONIO Gouveia Mendonça. A Crise no Culto Protestante Brasileiro. p. 48

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O fato é que pela escas sez de pessoas qualificadas musicalmente, parece que, com o

tempo, o coro se tornou um grupo musicalmente diferenciado na ig reja até mesmo pelo

papel de liderança e pela qualidade que apresentava na execução das músicas. Assim, a

participação do grupo coral no culto era estratégica sendo considerada uma preparação para

o sermão e depois uma preparação para o apelo pastoral. Durante algum tempo nas

comunidades Batistas, o coro também tinha uma função pedagógica de ensinar novos hinos

para a congregação. Porém pressupomos que o encantamento do coro na prática batista,

tenha se dado primordialmente a partir de fatores: circunstanciais, temporais e teológicos.

O primeiro estaria na gênese do protestantismo brasileiro e nas condições

encontradas aqui pelos missionários para a estruturação do culto. É importante lembrar que

os missionários que chegaram da Europa e Estados Unidos usaram os recursos que tinham.

Musicalmente se desenvolveram a partir dos conhecimentos e dos materiais que adquiriram

em seus respectivos países. É o caso do casal Kalley que construiu o primeiro hinário

evangélico, o Salmos e Hinos obviamente fazendo uso dos conhecimentos adquiridos

anteriormente.

Este hinário, desde suas primeiras edições, já apresentou uma estrutura musical

propícia à expansão da prática coral, já que continha suas músicas a quatro vozes. Logo,

passou a ser uma referência muito forte para o culto brasileiro, como assevera Mendo nça,

a história do material de culto no Brasil gira, essencialmente, em torno do Salmos e Hinos e (...) serviu de base para os demais que foram, com o correr do tempo, aparecendo.46

O Cantor Cristão veio um pouco depo is, mas manteve as mesmas características dos

Salmos e Hinos. O certo é que se tornou uma referência musical para a prática Coral

Batista.

O segundo fator preponderante parece estar exatamente no “tempo de uso”, visto

que este hinário completou mais de 100 anos de uso nas Igrejas Batistas do Brasil. Suas

músicas sempre foram fontes inspiradoras para prática Coral.

46 ANTONIO Gouvêa Mendonça. A Crise do Culto Protestante no Brasil. p. 46

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Dentre os vários hinos, muitos arranjos foram feitos para coros e orquestras e por

toda a tradição que os envolvem, são até hoje executados em eventos importantes da

denominação. Mesmo com as reedições, o Cantor Cristão manteve-se durante todos esses

anos, integralmente fiel à sua origem. Ou seja, o tempo contribuiu para a perpetuação de

uma tradição. Dentre as músicas do Cantor Cristão que se tornaram peças corais muito

executadas, estão as que expomos abaixo. A estrutura musical destes hinos tem a mesma

forma concebida pelo próprio Lutero e traz possibilidades de execução a quatro vozes.

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47 Castelo Forte é uma das músicas mais executadas por coros em todo o Brasil e foi composta por Martinho Lutero estando também presente na hinódia Batista desde a origem da denominação.

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O terceiro fator favorável ao encantamento da prática Coral entre os Batistas está na

tipologia teológica expressa. Este legado é uma herança dos movimentos que

caracterizaram o expansionismo evangelical dos quais os Batistas surgiram enquanto grupo

denominacional aqui no Brasil.

Percebemos a interação entre música e teologia numa análise mais criteriosa de

algumas doutrinas musicadas pelos Batistas. Tomamos emprestada uma tipologia

desenvolvida por Uipirangi em sua dissertação48. As músicas analisadas a seguir foram

extraídas do HCC (Hinário Para o Culto Cristão) e CC (Cantor Cristão). Ambos hinários

em uso atualmente nas comunidades Batistas.

TEISMO – Deus é pessoal e interage pessoalmente com suas criações. A vontade

de Deus é relacionar-se com suas criaturas, que possuindo valores individuais, precisam

permitir esse relacionamento.

HINO 25 HCC – TÚ ÉS FIEL

Letra: Thomas Obediah Chisholm, 1923

Música: Willian Marion Runyan, 1923

Tu és fiel, Senhor, meu Pai celeste;

Pleno poder aos teus filhos darás.

Nunca mudaste, tu nunca faltaste:

Tal como eras, tu sempre serás.

Tu és Fiel, Senhor, tu és fiel, Senhor

Dia após dia, com bênçãos sem fim.

Tua mercê me sustenta e me guarda;

Tu és fiel Senhor, fiel a mim.

Flores e frutos, montanhas e mares,

Sol, lua, estrelas no céu a brilhar:

48 UIPIRANGI Franklin da Silva. Palco, Música e Ilusão, 2003

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Tudo criaste na terra e nos ares,

Todo o universo vem, pois, te louvar!

Pleno perdão tu dás, paz segurança;

Cada momento me guia, Senhor.

E, no porvir oh, que doce esperança!

Desfrutarei do teu rico favor.

BIBLICISMO – A Bíblia é a palavra revelada de Deus e deriva dela os

fundamentos para a teologia Batista, sua devoção pessoal e para as decisões que tomam no

campo moral e da ética.

HINO 214 HCC – É DIVINA, SÁBIA E PURA

Letra: Desconhec ido

Música: Natalie Sleeth, 1986

É divina, sábia e pura a palavra do Senhor;

E corrige a vida impura do perdido pecador.

Do Senhor a majestade nesse livro posso achar,

Fonte viva de verdade os meus passos vem guiar.

São prudentes os conselhos do meu Mestre e Salvador

E me mostram, como espelhos, que sou mau, sou pecador.

Mas que o sol resplandecente, os preceitos de Jesus

Iluminam nossas mentes com radiante e clara luz.

Livro santo, verdadeiro, que me ensina o amor de Deus!

É preciso companheiro na jornada para os céus.

Nele sempre meditando, quero a Cristo obedecer;

Os pecados evitando seus ensinos vou viver.49

49 Esta última estrofe foi composta por João Soares da Fonseca em 1990.

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CONVERSIONISMO – O homem totalmente corrompido carece da manifestação

da graça de Deus em sua vida para que seja salvo. Essa salvação é individual, intransferível,

portanto, é de responsabilidade pessoal para a aceitação ou recusa dessa salvação.

HINO 259 CC - A ÚLTIMA HORA

Letra e Música: João Diener, 1911.

Ao findar o labor desta vida,

Quando a morte ao teu lado chegar,

Que destino há de ter a tua alma,

Qual será no futuro o teu lar?

Meu amigo hoje tu tens a escolha,

Vida ou morte, qual vais aceitar?

Amanhã pode ser muito tarde,

Hoje Cristo te quer libertar.

Tu procuras a paz neste mundo,

Em prazeres que passam em vão.

Mas, na última hora da vida,

Eles já não te satisfarão.

Tens manchada tua alma e não podes

Contemplar o semblante de Deus.

Só os crentes com corações limpos,

Poderão ter o gozo nos céus.

Se decides deixar teus pecados

E entregar tua vida a Jesus,

Trilharás, sim, na última hora

Um caminho brilhante de luz.

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CONTRACULTURALISMO – Os Batistas crêem que os valores de Deus são

superiores e opostos aos valores humanos. Decorrente deste conceito, acreditam que

precisam abandonar os costumes anteriores à experiência da conversão.

HINO 256 HCC – QUE MUDANÇA ADMIRÁVEL

Letra: Rufus Henry McDaniel, 1914

Música: Charles Hutchison Gabriel, 1914

Que mudança admirável na vida provei,

Pois Cristo minha alma salvou!

Tenho a luz do céu que eu tanto busquei,

Pois Cristo minha alma salvou.

Oh, Cristo minha alma salvou!

Sim, Cristo minha alma salvou!

Mesmo ali sobre a cruz, foi que Jesus

Da morte minha alma salvou

Já deixei de trilhar as veredas do mal,

Pois Cristo minha alma salvou.

E feliz eu desfruto o favor divinal,

Pois Cristo minha alma salvou.

Sobre o vale da morte já brilhou uma luz,

Pois Cristo minha alma salvou.

E eu avisto meu lar, no porvir, com Jesus,

Pois Cristo minha alma salvou.

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SALVACIONISMO – Deus sempre desejou salvar a humanidade. A partir dessa

compreensão, os Batistas consideram-se responsáveis por cumprir esse desejo, chamando

todos os homens para um encontro pessoal de reconciliação com Deus, através do método

da evangelização. 50

HINO 439 CC – ORAÇÃO PELA PÁTRIA

Letra: William Edwin Entzminger

Música: Emiline Willis Lindsey, 1916

Minha pátria para Cristo eis a minha petição

Minha pátria tão querida, eu te dei meu coração;

Lar prezado, lar formoso, é por ti o meu amor;

Que o meu Deus de excelsa graça te dispense seu favor.

Salve Deus a minha pátria minha pátria varonil

Salve Deus a minha terra, esta terra do Brasil

Quero, pois, com alegria, ver meu povo tão gentil

Aceitando o evangelho nesta terra do Brasil.

“Brava gente brasileira, longe vá temor servil”.

Ou ficar a Pátria salva, ou morrer pelo Brasil.

O resumo da teologia Batista presente nas peças corais pode ser visto da seguinte

forma: O amor de Deus por toda a humanidade, o perdão divino tão graciosamente dado

por meio da fé, o sacrifício expiatório de Jesus Cristo, e a regeneração visível da ética do

mundo e a expectativa da vida eterna no céu.

Estes fatores acima descritos certamente contribuíram para o encantamento do Coro

no culto Batista brasileiro, como também a causa de sua duração por tantos anos.

50 UIPIRANGI Franklin da Silva. Palco, Música e Ilusão, 2003

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A formação de uma nova consciência musical e o desencanto do coro

A partir da década de setenta aconteceram algumas transformações musicais no

cenário evangélico e teve a ver com o desenvolvimento da tecnologia nos meios de

comunicações, como por exemplo, o aperfeiçoamento dos recursos de áudio e vídeo. Houve

também um aperfeiçoamento nos instrumentos musicais. Os acústicos deram lugar aos

eletrônicos.

Na década anterior, o rock roll ditava o ritmo e chegou como “expressão musical da

contracultura, isto é, como contestação e ruptura com a tradição musical Ocidental, seja

erudita ou popular”. 51

A influência deste movimento começou a ser percebida nas Igrejas Batistas

brasileiras no final da década de setenta. Nesta ocasião, algumas igrejas permitiram a

introdução, em seus cultos, da bateria, da guitarra, do órgão eletrônico e do contrabaixo.

Como complemento, vieram outros equipamentos eletrônicos.

Algumas mudanças também aconteceram nos ritmos e na estrutura musical. As

cifras passaram a ser usadas com mais freqüência. Os cânticos começaram a ganhar

popularidade nos cultos e o coro passou a dividir o espaço com esta nova manifestação

musical.

Com a inserção das bandas e dos “grupos de louvor”, a função desempenhada pelo

coro, gradativamente foi se transferindo para estes grupos. É provável que tenha sido a

partir deste evento que se desencadeou um processo de desencanto da prática coral.

Conseqüentemente, diante deste contexto inovador há notadamente uma mudança na

preferência musical, principalmente entre jovens.

Quanto à funcionalidade do coro, Mendonça entende que este se estabelece no culto

brasileiro seguindo duas vertentes: uma se refere ao grupo coral enquanto manifestação

estética.

51 NELSON Mathias Silva. A Música na Experiência Religiosa . p. 198

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“Nesta circunstância, o coro começa e termina em si mesmo, ou seja, não tem

necessariamente implicação litúrgica, vez que seu papel é narrativo. Seu papel é o de

expressar musicalmente a história da fé cristã em estilo épico ou romântico”. 52

O Coro, percebido nesta função, teria um caráter performancista, passando a

depender exclusivamente da técnica e do bom desempenho mus ical. Este aspecto pode ter

contribuído para a perda de espaço da prática coral visto que a técnica instrumental das

bandas sobressaiu principalmente para os meios de comunicações.

A outra vertente que pode explicar a função do coro segundo Mendonça é a de

expressão coletiva, na qual o coro faz parte de um todo e é entendido dentro de um contexto

litúrgico inter-relacionados. Mendonça afirma que:

Se quisermos entender a função do coro na liturgia temos de recordar sua origem no teatro clássico em que o coro era um conjunto harmônico de atores que, como representantes do povo junto aos personagens principais, declarando e cantando narravam a ação, e comentavam, e freqüentemente nela intervinham com ponderações e conselhos. No culto o diálogo evolui em duas direções assimétricas: ora entre o povo e o oficiante, ora entre o povo e Deus. O diálogo entre o povo e Deus pode ser direto através das orações coletivas e dos cânticos congregacionais, e indireto através dos atos do oficiante e da participação do coro. É neste sentido que a função do coro se torna semelhante à do teatro clássico: ora faz declarações divinas em resposta às orações do povo, através dos responsos e intróitos por exemplo, ora do povo ao chamado de Deus, como nos finais e améns; expressa, também, o sentimento coletivo de louvor e adoração através das doxologias, e assim por diante.53

Esta função interativa, anteriormente desenvolvida pelo Coro, é agora,

desempenhada pela Banda que possibilita um maior envolvimento das pessoas durante os

cultos.

52 ANTONIO Gouvêa Mendonça. A Crise do Culto Protestante no Brasil. p.47 53 Ibid., p. 47

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Outro fator que pode também ter contribuído para o desencanto da prática coral na

maioria das comunidades Batistas é que as peças corais em sua maioria ainda são

adaptações ou traduções de coletâneas americanas. Esta influência musical ainda é muito

forte no culto protestante brasileiro.

Entretanto, a música gospel apresenta uma possibilidade de aproximação com a

cultura brasileira. Isto é perceptível no uso de instrumentos musicais regionais e em

músicas que descrevem mais da realidade brasileira através de repertórios nacional.

Atualmente, a função do coro, nas comunidades que ainda o preservam, não é clara

e depende do tipo de liturgia que é praticada naquele grupo.

O Coro como meio de “Entretenimento”

O entretenimento pode ser considerado como uma terceira função a ser

desempenhada na prática coral e não estar relacionada diretamente com as outras funções

descritas por Mendonça. O coro de entretenimento não tem objetivos religiosos e não há

necessariamente uma exigência de performance, visto que boa parte de seus regentes é

voluntária sem tantos conhecimentos musicais.

Esta constatação veio da experiência que tivemos como regente do coro da Empresa

Telefônica de Campinas. Neste contato percebemos que, ao contrário das Igrejas Batistas, o

coro tem tido uma aceitação considerável fora do contexto eclesial. Obviamente que, como

já dissemos, a motivação do Canto Coral neste contexto segue outras vertentes sem

pretensões religiosas.

O importante a ser observado é que Canto Coral deixou de ser exclusivo da igreja e

se expandiu para os diversos campos da sociedade, como é o caso das escolas, que como já

dissemos, teve seu desenvolvimento no maestro Villa-Lobos. Mas também tem sido uma

prática comum em empresas públicas e privadas, onde exerce uma função muito importante

de socialização. O Canto Coral passou a existir como forma objetiva de integração entre

funcionários de diversos setores seculares.

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O educador musical Antônio Sérgio afirma que:

no dia-a-dia de trabalho, muitas vezes as pessoas se interage m superficialmente, pois cada um leva em consideração os seus próprios problemas. No ensaio coral, todos se unem para desenvolver uma mesma atividade. No grupo, o cargo que cada integrante exerce na empresa deixa de ter importância. (...) A música e a convivência entre os participantes despertam a sensibilidade de todos não só para as questões relacionadas às áreas de atuação de cada um, mas também para assuntos das organizações como um todo, através do coro.54

Na cidade de Campinas, existem várias empresas que oferecem aos seus

empregados a oportunidade de participar de coros, como é o caso da: Telefônica, Tim,

Bosh, EPTV, Pirelli, Lucent, Cica, DPaschoal e outras.

Nas apresentações destes coros, as empresas querem levar até a comunidade a sua

preocupação com os aspectos culturais e educacionais. Além disso, transformam o coro

num trabalho de marketing, já que estes grupos levam a marca de suas empresas e chegam

ao público de forma acessível. Neste aspecto ele é comercial, mas muito mais de

entretenimento.

Vladimir Silva vê com bastante otimismo este novo quadro musical, pois para ele

“um dos pontos mais importantes e positivos dessa expansão tem sido, incontestavelmente,

a geração de novos empregos. O mercado vem sendo sensivelmente modificado e podemos

ratificar nossa afirmação quando assistimos, num encontro de coros, a grupos com distintas

denominações e finalidades. 55

Uma outra constatação quanto à força do Canto Coral, fora do contexto eclesial, dá-

se ao acessar a Internet. Numa rápida busca podemos encontrar uma variedade de grupos

oriundos de todo país, reunidos tanto em associações como atuando de forma independente.

54 Esta citação foi encontrada numa folha avulsa sem possibilidades de constatação de fonte. 55 VLADIMIR Silva. Mão e Contra -Mão: Os (Des) Caminhos do Canto Coral Brasileiro. www.pianoclass.com

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Existe uma associação brasileira de regentes de coros com publicação periódica

desde o ano de 2002 que abrange todo o território nacional e é apoiada pelo ministério da

cultura. A segunda edição desta revista, chamada “Canto Coral”, traz uma relação de

atividades corais, tais como: festivais, congressos, workshop seminários e convenções,

tanto nacional, como internacionalmente. Isto nos dá uma visão da abrangência desta

prática não vinculada à pratica eclesial.

Conclusões Preliminares

A formação de uma nova consciência musical no meio Batista, certamente provocou

um certo desencanto na prática coral, pois tanto a função estética, quanto a função

interativa educacional, anteriormente atribuída ao coro, passou a ser melhor desempenhada

pela banda.

Há uma comprovação de que houve mudanças na preferência musical. O grande

problema que surge a partir desta realidade é que se estabelece uma tensão no âmbito das

Igrejas Batistas – em particular as igrejas pesquisadas na cidade de Campinas – provocando

uma série de mudanças no comportamento cúltico destas comunidades. No bojo destas

mudanças existe a discussão sobre a contextualização da liturgia e a música atual seria um

dos fatores que justificaria o abandono de práticas mais antigas, dentre as quais, o Canto

Coral.

Entretanto, se por um lado esta música é capaz de falar com mais intensidade para

uma faixa etária mais jovem, por outro é vista por uma parcela de pessoas mais adultas,

como uma tipologia que se distancia dos ideais Batistas, seja pela ótica do tradicionalismo,

ou seja, pela perspectiva teológica.

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CAPÍTULO 2

ESTUDO DE CASO: Aplicação e mensuração do questionário

“Sem música, a vida seria um erro”.

Friedrich Nietzsche

Introdução

Este capítulo tem como objetivo apresentar os resultados da pesquisa realizada em

seis Igrejas Batistas na cidade de Campinas. A interpretação dos dados obtidos possibilitou-

nos esclarecer com mais exatidão a existência de uma tensão gerada a partir de conceitos e

práticas que envolvem a música tradicional e a música contemporânea.

O formulário

O objetivo do questionário foi verificar a importância e a influência que a música

exerce sobre as pessoas. Acreditando que tanto o Coro quanto a Banda podem conduzir as

pessoas a diferentes experiências, os pesquisados tiveram que expressar seus sentimentos

em relação a estas duas expressões musicais.

O formulário apresentado aos pesquisados é o que segue abaixo.

FORMULÁRIO DE PESQUISA CIENTÍFICA

I – DADOS PESSOAIS

Nome do pesquisado:__________________________________________________

Idade: _____ anos Sexo ( ) F ( )M

Igreja a que pertence: _________________________________________________

Qual a sua escolaridade? _______________________________________________

II – COMPOSIÇÃO DO QUESTIONÁRIO

1 - A sua igreja possui coro?

( ) Sim ( ) Não

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2 - O que isso significa para você?

( ) É Bom

( ) É Ruim

( ) É indiferente

3 - A sua igreja possui banda?

( ) Sim ( ) Não

4 - O que isso significa para você?

( ) É Bom

( ) É Ruim

( ) É indiferente

5 – Qual é a prioridade musical para a sua igreja?

( ) Ter um coro

( ) Ter uma banda

( ) Os dois

6 - Que tipo de reação a música coral desperta em você?

( ) Introspecção

( ) Emoção

( ) Bem estar

( ) Indiferença

( ) Nada acontece

( ) Não respondeu

7 - Que tipo de reação a música de uma banda eletrônica desperta em você?

( ) Introspecção

( ) Emoção

( ) Bem estar

( ) Indiferença

( ) Nada acontece

( ) Não respondeu

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8 - Que função a banda deve desempenhar no culto?

( ) Didática

( ) Performance

( ) Louvor

( ) Adoração

( ) Louvor e Adoração

9 - Que função o coro deve desempenhar no culto?

( ) Didática

( ) Performance

( ) Louvor

( ) Adoração

( ) Louvor e Adoração

10 - Que tipo de música mais se identifica com os Batistas?

( ) Coro

( ) Banda

( ) Os Dois

( ) Não Sei

11 - No culto Batista, o que é mais envolvente?

( ) Musica Coral

( ) Cânticos

( ) Os Dois

12 – A relação entre a música tradicional (coro, hino) e contemporânea (banda,

cânticos) no culto Batista é:

( ) Conflituosa

( ) Compatível

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Aplicação do questionário.

As entrevistas foram aplicadas através do questionário tendo como objetivo a

obtenção de dados qualitativos para se chegar a descoberta de “motivações, crenças,

atitudes e sensações” 56 sobre a música como expressão da tradição e/ou da

contemporaneidade.

Os dados recolhidos correspondem a 92% dos formulários entregues, visto que 8%

dos entrevistados decidiram não participar da pesquisa.

Metodologia

A metodologia adotada está baseada no método comparativo, por entender que é o

melhor instrumental teórico para a realização desta pesquisa. Segundo Lakatos, o método

comparativo:

Realiza comparações com a finalidade de verificar similitudes e explicar divergências (...) é usado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, ou entre os existentes e os do passado, quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimentos.57

Através da interpretação dos dados colhidos na pesquisa de campo, procuramos

identificar os possíveis pontos de tensão entre a música Coral, representando a tradição e a

Banda como expressão musical contemporânea.

Critérios de Investigação

Para entender com mais exatidão a aceitabilidade da pesquisa, procuramos defini- la

através de três critérios:

Por faixa etária

Por gênero

56 NARESH K. Malhotra. Pesquisa de Marketing: Uma Orientação Aplicada. p. 163. 57 EVA Maria Lakatos. Metodologia Científica. p. 92

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Por nível de escolaridade

A pesquisa foi desenvolvida com pessoas que, de alguma forma, estão ligadas à

música, participando em Coros ou em Bandas. Essas pessoas têm uma influência direta nas

programações da igreja local e participam em muitas decisões, sobremodo no aspecto

musical.

A maior participação de pesquisados está na faixa etária que vai dos 16 a 30 anos,

com 44%. Em seguida a idade dos 31 a 45 anos, com 27%, e depois, pessoas com idade

acima dos 46 anos, com 16%. Por último, a idade dos 7 aos 15 anos, que representou 13%

do universo pesquisado.

Contexto da pesquisa.

Região Metropolitana de Campinas

Campinas é hoje um dos maiores centros do país, sendo considerada a maior cidade

interiorana do país, com aproximadamente 1 milhão de habitantes. Segundo a revista

Metrópole,58 só nos últimos cinco anos mais de duzentas mil pessoas migraram para a

região, elevando sua população num ritmo muito rápido. Isto por ser uma forte expressão

tanto no comércio, indústria e lazer, como no turismo e pesquisa. A cidade, que aniversaria

em 14 de julho, surgiu na primeira metade do século XVII.59

Tanto a cidade quanto a região que está próxima a Campinas, apresentam diferentes

expressões e manifestações culturais, religiosas, turísticas e artísticas. E no campo

religioso, há uma diversidade de práticas, que por sua vez, expõe um cenário inovador no

aspecto musical.

Constatamos a existência de várias escolas de música de maior e menor expressão, e

com maior repercussão, os cursos de graduação oferecidos pela Universidade de Campinas

58 A revista Metró pole é uma edição que circula sempre aos domingos incorporada ao jornal local Correio Popular. A que serviu de fonte para esta pesquisa data de 17 de março de 1997. 59 LISTEL Publicar, 2005, p. 6-11

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– UNICAMP. Acreditamos que todos estes fatores, de alguma forma, influenciam na

prática musical das Igrejas Batistas campineira.

É neste contexto desenvolvimentista que os Batistas têm procurado se inserir,

contando hoje com mais de cinqüenta igrejas só no perímetro urbano. Há mais de vinte

anos, funciona o FTBC (Faculdade Teológica Batista de Campinas) que incorpora, além do

curso teológico, um curso de música sacra.

A proposta é desenvolver a pesquisa considerando toda esta estrutura e o contexto

apresentado, principalmente no aspecto musical.

Contexto Estatístico Batista Campineiro

Segundo dados da própria denominação, encontrados na agenda da Convenção

Batista de São Paulo, (CBESP),60 os Batistas na cidade de Campinas e adjacências são

aproximadamente 7.000 membros distribuídos em duas associações, compostas por mais de

60 igrejas e com uma média de 70 pastores.

As igrejas pesquisadas e identificadas abaixo são representações destas associações.

As igrejas pesquisadas estão inseridas nestas associações e são as primeiras comunidades a

se estabelecerem na cidade. Portanto, as que têm mantido por mais tempo a prática do

Canto Coral e um culto mais conservador.

Outro fator importante, é que o autor da pesquisa atua como pastor e ministro de

música em uma dessas associações e é professor da Faculdade Batista lecionando

disciplinas que se aproximam do assunto pesquisado.

1ª Igreja Batista

Rua: Andrade Neves, nº 1848 - Bairro do Castelo/Campinas-SP

Pastor: Carlos Walter M. da Silva

60 CBESP - Convenção Batista do Estado de São Paulo, é o órgão que reúne todas as igrejas e congregações do estado, sendo filiada a CBB – Convenção Batista Brasileira que é a instância máxima da denominação. Tanto as convenções estaduais quanto a nacional se reúnem uma vez ao ano para tomarem decisões de ordem administrativas, eclesiásticas e teológicas.

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Ministro de Música: Helena Teixeira

Data de fundação: 03 de outubro de 1907

Hoje a Igreja conta com 500 membros ativos

É uma comunidade de classe média

Possui uma banda e três coros: coro misto, coro jovem e coro

Infantil.

Igreja Batista Central

Rua Dr. Quirino, nº 930 – Bairro Centro/Campinas-SP

Pastor: Leandro Borges Peixoto

Ministro de Música: Wanilton Mahfuz

Data de fundação: 14 de dezembro de 1957

Hoje a Igreja conta com 1.237 membros ativos

É uma comunidade de classe média alta.

Possui quatro bandas e cinco coros: Coro misto, jovem,

adolescente, 3ª idade e coro infantil.

Igreja Batista do Cambuí

Rua Vieira Bueno, nº 20 – Bairro Cambuí/Campinas-SP

Pastor: Isaltino Gomes Coelho

Ministro de Música: Afrâneo Tadeu

Data de fundação: 1º de janeiro de 1931

Hoje a Igreja conta com 325 membros ativos

É uma comunidade de classe alta

Possui uma banda e três coros: Coro misto, adolescente, infantil

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Igreja Batista do Taquaral

Av. Júlio Prestes, nº 288 – Bairro Taquaral/Campinas-SP

Pastor: Agostinho Césa r Martins Soler

Não tem mais Ministro de Música

Data de fundação: 19 de abril de 1970

Hoje a Igreja conta com 280 membros ativos

É uma comunidade de classe média baixa

Possui duas bandas, um grupo de coreografia e não possui mais

coros.

Obs.: Esta igreja apresenta uma realidade litúrgica diferente pois adotou um

sistema eclesiástico denominado G12. Esta condição provocou mudanças em sua prática

musical levando-a a supressão da hinódia tradicional Batista.

Igreja Batista Nova Canaã

Rua: Almirante Richard, nº 364 – Bairro Chácara da

Barra/Campinas-SP

Pastor: Rúbem Cleviton Lota

Ministro de Música: Moisés Cantus e Rúbens Daminelli

Data de fundação: 27 de outubro de 1985

Hoje a Igreja conta com 150 membros ativos

É uma comunidade de classe média

Possui uma banda e dois coros: coro misto e coro infantil

Igreja Batista Satélite Íris

Rua: Pastor Samuel de Campos Chiminazzo, 129 – Satélite Íris/Campinas-SP

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Pastor: Mário Gomes de Barros

Diretor de Música: Luzier Tavares

Data de fundação: 27 de outubro de 1985

Hoje a Igreja conta com 280 membros ativos

É uma comunidade de classe baixa

Possui uma banda e dois coros: coro misto e coro infantil

Perspectivas

A elaboração do questionário teve uma escolha criteriosa das questões diante das

inúmeras possibilidades que o tema apresenta. Foi necessário sintetizar o assunto para que

através da especificidade se extraísse o maior número de informações possíveis e relevantes

a esta pesquisa. Portanto, as perguntas presentes no questionário são específicas de campos

mais abrangentes, conforme apresentado abaixo:

1. Música – tradição e contemporaneidade: coros e bandas

2. Música e Reação

3. Música e Função

4. Música e Identidade

Análise

Dados Gerais da Pesquisa

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Os 8% dos formulários não respondidos correspondem a membros que

simplesmente não quiseram participar da pesquisa, devolvendo-os em branco.

As crianças com idade acima de 7 anos que responderam a pesquisa, são

participantes de coros em suas respectivas igrejas. Objetivamos com a participação delas

mensurar, além do gosto musical a influência da música tradicional e/ou contemporânea

sobre elas.

Em todas as igrejas a participação feminina é perceptivelmente maior em quase

todas as atividades musicais da igreja.

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Somente três das igrejas pesquisadas possuem um nível social mais elevado. Nestas

foram encontrada quase a totalidade dos 36% de pessoas cursando ou já com formação

superior. É comum perceber a participação em coros de: médicos, engenheiros, dentistas,

universitários e outros.

Música – Tradição e Contemporaneidade: Coros e Bandas

Nas questões de 1 a 4 foi investigada a preferência dos crentes em relação a música

Coral e/ou Banda. Eles escolheram entre as opções: bom, ruim e indiferente, para

conceituar a presença destes dois estilos musicais no culto. Dos entrevistados, 91%

possuíam coros em suas respectivas igrejas e apenas 9% não contava com a participação

coral em seus programas musicais.

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Onde a participação coral é efetiva, 98% responderam que é “bom” que a igreja

mantenha esta forma de musicar. Apenas 2% foram contrários à manutenção do grupo

coral. Vale ressaltar que as igrejas pesquisadas são comunidades que possuem uma tradição

forte na prática coral.

Na única igreja pesquisada onde não existe mais coral, 40% se dizem desencantado

e acham “bom” o fato de ele não existir. Entretanto, outros 40% manifestaram opiniões

contrárias, apontando para a opção “ruim”. Os outros 20% se dizem “indiferentes” a

presença ou não do Canto Coral.

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Na igreja mencionada acima há somente duas bandas e um grupo de coreografia.

Segundo o líder da comunidade, o Coro já não responde aos anseios musicais

contemporâneos, principalmente dos jovens e adolescentes.

Quando a indagação se referiu à Banda, 100% dos entrevistados afirmaram ter pelo

menos uma em sua igreja.

Há um percentual de 93% dos entrevistados que estão encantados com a música

executada pelas Bandas eletrônicas e somente um grupo de 7% se mostraram

“indiferentes”.

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A presença deste grupo de 7% de “indiferentes” explica-se pela grande quantidade

de pessoas há anos participando de coro. Destes, pelo menos de 16% estão com idade

acima dos 46 anos, que visivelmente preferem as músicas mais tradicionais. Entretanto,

referente à Banda, ninguém apontou para a opção “ruim”.

A tensão que se percebe nestas primeiras questões está no fato de que igrejas de

cunho tradicional61 e com um discurso lógico-tradicional, 62 têm no decorrer dos tempos

modificado sua forma de culto, diante de um encantamento cada vez maior desta nova

modalidade musical, chamada “gospel”. Entretanto elas conservam traços da tradição tanto

na estética, quanto na estrutura litúrgica.

Nestas igrejas, o órgão e o piano ainda fazem parte de um cenário que nos remete à

tradição. Ambos são colocados numa posição estratégica para melhor percepção dos

movimentos do regente, do coro e da congregação. Entretanto, este cenário tem se

modificado para dar lugar à bateria, ao teclado, à guitarra, ao contrabaixo e uma quantidade

considerável de instrumentos de percussão. Portanto, há uma disputa de espaço também se

referindo à estética dos templos.

A questão 5 considera o aspecto da “prioridade”, entre a Banda e o Coro. Todavia,

durante a pesquisa um grupo de pessoas sugeriu uma terceira alternativa, que seria a

manutenção prioritária dos dois.

Para este item, o resultado ficou assim estabelecido: a maioria, 40%, coloca como

prioridade para o culto a presença de uma “banda”; 38% acha que o aspecto musical

prioritário seria o “coro”, entretanto, 22% opta pela manutenção dos “dois”.

61 Refere-se à igreja que mantém traços de uma tradição litúrgica estabelecidas há mais de um século e fazem parte de um grupo de igrejas denominadas históricas. 62 Quisemos dizer por discurso lógico, um discurso onde a manifestação da emoção não é enfatizada ou de certa forma precisa ser controlada.

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Pela estrutura das igrejas pesquisadas, um fato perceptível é que há um investimento

por parte da liderança na denominada “música sacra”. Parece ser uma tentativa de manter a

tradição musical peculiar dos Batistas. Elas remuneram o “ministro de música”; investem

em instrumentos caros, como é o caso do piano e do órgão de pedal; além de

desenvolverem uma estrutura litúrgica que favorece a presença da música mais tradicional.

Apesar dos esforços envidados neste sentido, o que a questão 5 confirma é que há

uma nova consciência musical formada e que as prioridades, em termos musicais, são bem

distintas dentro da igreja.

M úsica e Reação

As questões 6 e 7 foram inseridas no questionário com o intuito de investigar o tipo

de reação desenvolvida pelas pessoas durante a audição ou a participação do Coro e/ou da

Banda.

É inegável que a música interfere de forma direta na vida das pessoas fazendo com

que elas não fiquem indiferentes psicologicamente ao ouvi- la ou ao cantá- la. Ou seja, a

música sempre despertará algum tipo de reação no indivíduo. Por isso que Rosileny dos

Santos, em sua pesquisa sobre a função terapêutica do canto congregacional, afirma que a

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música ocupa uma função psicológica importante. Às vezes, traz paz e outras vezes

provoca até mesmo a angústia. 63

As opções sugeridas no questionário não têm a intenção de fazer uma investigação

mais aprofundada a partir do aspecto psicológico, porque não é esta a proposta deste

trabalho, mas é importante observar de que maneira a música coral e a música

contemporânea, com suas diferentes características, podem desenvolver reações nas

pessoas em momentos distintos durante o culto.

Ao se referir à música coral, a reação mais forte que envolve as pessoas é a

“introspecção”, com 38,3%. Entenda-se introspecção como a reação que leva as pessoas a

pensarem muito mais sobre a sua condição interior; a refletirem sua espiritualidade e a

criarem imagens internas relacionadas com formas mais profundas de percepção do

sagrado. 64

A segunda opção indica que em 36,3% dos pesquisados, a música coral vai ser

desencadeante de outros tipos de sentimentos, seja de alegria, entusiasmo, euforia, choro e

outros mais e que, em 23,6% traz uma sensação de bem estar.

63 ROSILENY dos Santos Cândido Machado. A função Terapêutica do Canto Congregacional. p.68 64 Ibid., p.67

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A questão 7 investigou as reações mais importantes que a música contemporânea

desperta nas pessoas. Observamos então que 54,6% consideram a “emoção” o sentimento

mais forte. Se considerarmos que a “emoção” pode conduzir os crentes a outras reações

como, explosões de alegrias e choro, este fato se constituirá como um ponto de tensão,

visto que, para as Igrejas de culto tradicional as reações emocionais são controladas.

As outras respostas para esta questão ficaram assim definidas: “Emoção” aparece

com 54,6%; outros 30,4% têm um sentimento de “bem estar”; 9,6% são levados à

“introspecção”; 3,6% afirmam que “nada acontecem”; e 1,8% mostraram um sentimento de

“indiferença”.

A fim de obtermos mais informações para esta pesquisa, decidimos participar de

reuniões com a predominância de um público jovem. Este tipo de programação geralmente

denominado de “culto jovem”, acontece aos sábados em algumas das igrejas pesquisadas.

Chegamos à igreja escolhida por volta das 19h20 e já estava repleta de jovens. Às

19h45 o líder da juventude começou o culto. Houve uma breve saudação e logo em seguida

iniciou-se o período musical sendo acompanhado por uma banda que se compunha de:

bateria, contrabaixo, guitarra, violão, teclado, percussão, sax, e trompete. As pessoas

participaram de uma forma fervorosa durante trinta e cinco minutos de músicas

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ininterruptas. Percebemos que todas as músicas eram cânticos que fazem parte deste novo

repertório gospel.

Neste primeiro período, as músicas executadas definiram dois momentos

específicos: um bem ritmado e um outro bem mais calmo. Em ambos, as pessoas se

comportaram com reações próprias de cada momento. Quando as músicas foram

aceleradas, além da ênfase nos instrumentos de percussão, houve a participação com

palmas e danças. Era um clima de euforia que partia do próprio ministrante. Quase s empre,

ao final de cada música ouvíamos gritos de “Amém”.

Porém, as músicas calmas levaram-nos a outra direção. Neste momento percebemos

pessoas emocionadas com as mãos levantadas, olhos fechados e lágrimas. Veio após isso

uma reflexão pastoral, que durou uns 45 minutos, sendo finalizado o culto com outro

período musical de menor duração.

A saída das pessoas se deu num clima bastante fraterno com beijos e abraços.

Talvez possamos dizer que entre aqueles jovens havia uma sensação muito grande de bem

estar, pois é exatamente este sentimento que aparece na pesquisa, como sendo o segundo

mais vivenciado, com 30,4% dos que se encantam com a Banda.

Voltamos a esta mesma igreja no dia seguinte, ou seja, no domingo, agora para

participar do culto da noite o qual aconteceu liturgicamente bem diferente da noite anterior.

Neste, as pessoas chegavam e sentavam de imediato ao som do piano. O culto começou

com uma oração, vindo logo a seguir a execução de hinos do hinário oficial Batista

precedido pela participação do Coro. O mais característico deste momento foi, além da

técnica do coro, um silêncio apropriado após um pianíssimo 65 no último fraseado musical.

Daí, talvez, a explicação para o item “introspecção” como sendo o sentimento mais

vivenciado por ocasião da música Coral.

Neste ponto da pesquisa a tensão que pode haver está relacionada, tanto com o

estilo desenvolvido em cada culto, quanto pela liberdade ou não de expressão desenvolvida

65 Se caracteriza pela suavidade do som musical principalmente na parte final da música.

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em cada programação. As atitudes, sentimentos e posturas são significativamente distintas..

Os jovens que na noite anterior podiam extravasar seus sentimentos, agora estavam

contidos e tendo que participar de um culto com aspectos mais racionais. A liturgia

desenvolvida lhes direcionava a um comportamento mais reflexivo. É importante frisar que

na noite anterior, percebemos a ausência quase que total de adultos no “culto jovem”.

Esta distinção litúrgica, no contexto Batista, acontece a partir dos anos oitentas,

quando a juventude passou a exigir um espaço exclusivo. Este espaço deveria lhes permitir

uma maior liberdade em suas expressões musicais. A participação dos jovens em cultos

direcionados a sua faixa etária, ao mesmo tempo em que representava um tipo de

renovação, trazia insegurança para muitos pastores “desconfiados” e “desacostumados”

com este novo momento. Entretanto, preocupados com a evasão dos jovens para outras

comunidades, aos po ucos os pastores foram permitindo espaços para esta nova participação

musical.

Coro e Banda - definindo função

Como já frisamos anteriormente, esta discussão é muito antiga na história da música

e na própria história do cristianismo. Pois desde a Antigüidade existia a preocupação de se

definir a função apropriada para a música, dentro e fora do espaço litúrgico. Podemos

afirmar que as expressões musicais desenvolvidas no passado tinham limites estabelecidos

para o seu funcionamento desde os aspectos estéticos até a sua execução. Estas exigências

estavam diretamente relacionadas com a função que a música desempenhava.

Relembremos então Mendonça já que ele admite duas possibilidades funcionais

para a música, seja ela uma expressão do Coro ou da Banda. Ele define como “função

narrativa” e/ou “função interativa”, ou talvez possamos traduzir estes termos como sendo

“função não litúrgica” e “função litúrgica”.

A “função não litúrgica” dá a estes grupos (Coro e Banda) um caráter mais estético.

Na realidade teriam uma função interpretativa, e neste caso, se faz necessário uma

preparação tecnicamente apropriada. A preocupação última seria a de desenvolver uma

performance a mais perfeita possível. Para isso faz-se necessário o aprimoramento de

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técnicas adequadas requeridas para cada estilo. A música assim praticada, segundo

Mendonça tem uma função em si mesma.66

O Coro desenvolve esta função quando prioriza o aprimoramento e refinamento de

técnicas presentes, como por exemplo, nos oratórios, missas e cantatas. A boa interpretação

coral, segundo as técnicas de regência, considera o estilo do compositor e a sua respectiva

época. Os regentes que procuram por uma boa performance tentam se aproximar ao

máximo do pensamento que estes compositores tiveram ao escrever suas obras. Para as

bandas, no atual contexto, este caráter performancista ocorre pela habilidade e rapidez com

que cada músico executa os movimentos em seus instrumentos.

Na função litúrgica, o papel do Coro e por extensão, da banda, é interativa, pois

segundo Mendonça durante o culto se estabelece um diálogo entre o povo e Deus evoluindo

de forma direta ou indireta.67 Neste caso, o coro e/ou a banda leva o povo a um diálogo

indireto com o seu Deus, mas é necessário que estejam inseridos dentro de um contexto

litúrgico.

As questões 8 e 9 tentam investigar exatamente esta função partindo da percepção

dos pesquisados. Qual a função primordial a ser desempenhada tanto pelo Coro, quanto

pela Banda dentro do contexto cúltico? Por acreditarmos que pelo fato destes grupos

estarem participando do culto não significa necessariamente que há o estabelecimento de

interatividade, inserimos a opção “performance”.

Nos dados obtidos pelo questionário a “Adoração” aparece como a principal função

a ser desempenhada pelo Coro, com 48% das indicações. A Banda é indicada para a mesma

função com 49%. Para a opção performance, ninguém a indicou como sendo função do

Coro e apenas 2% acredita ser esta a principal atribuição da banda.

66 ANTONIO Gouvêa Mendonça. A Crise do Culto Protestante no Brasil. p.47 67 Idem., p.47

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Segundo Nelson Bomilcar, um dos principais líderes da denominação Batista na

área de música, Adoração é diálogo. É um momento de conversa e comunhão íntima com

Deus, conhecendo seus propósitos e sua vontade.68 Concluímos então que as pessoas

acreditam que, tanto o Coro quanto a Banda podem direta ou indiretamente levá- los a uma

íntima relação com seu Deus.

68 NELSON Bomilcar. Ministério de Adoração na Igreja Contemporânea. p.27 O autor é pastor, compositor e músico, e tem trabalhado na adoração e música cristã nos últimos 30 anos, ministrando e pastoreando músicos batistas, tendo produzido inúmeros cantores e grupos do Brasil. É membro da Associação dos Músicos Cristãos (AMC) do Brasil.

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Segundo a percepção deles, mesmo sendo de estilos diferentes estão dentro de uma

perspectiva interativa. A tensão que pode acontecer aqui se relaciona com a discussão sobre

quem tem mais possibilidades de levar os crentes a maior envolvimento na “Adoração”.

Música e Identidade

Como já afirmamos, os Batistas chegaram em solo brasileiro a partir da segunda

metade do século XIX como resultado do plano expansionista americano. Desde a chegada

dos primeiros missionários, houve a preocupação de se construir um pensamento teológico

genuinamente Batista.

Dentre os formadores desta teologia estão teólogos e musicólogos, tais como:

Antonio Teixeira de Albuquerque, Zachary Taylor, Theodoro Rodrigues Teixeira, Salomão

Luiz Ginsburg e Willian Edwin Entzminger, sendo estes dois últimos considerados os

maiores compositores Batistas e formadores da hinódia Batista brasileira.

Estes líderes, no decorrer daqueles primeiros anos, trabalharam preocupados com a

construção de uma doutrina coesa que representasse em sua plenitude o verdadeiro “jeito-

de-ser” Batista. Portanto, a produção literária, a liturgia, as prédicas e principalmente a

hinódia, foram fatores de definição para esta identidade. O Cantor Cristão representa este

legado e é até os dias atuais, considerado por alguns, o mais fiel representante do

pensamento musical Batista brasileiro. “Nada é mais parecido com os Batistas do que nosso

hinário”. Afirmação “apaixonada” de um dos fiéis.

Foi neste contexto de definição que o Canto Coral se incorporou como umas das

práticas musicais ma is importantes na estrutura cúltica dos Batistas.

Esta afirmação se concretiza na questão 10 da pesquisa onde 55% acham que o

Coro ou a música coral é, dentre as atividades musicais, a que mais se identifica com a

denominação. Enquanto que 27% apontam para a Banda.

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Com a inserção das Bandas, de novos ritmos e de uma hinódia mais popular, esta

preocupação pela identidade tornou-se ponto de debate entre os Batistas. Provocou até

mesmo uma reflexão mais abrangente sobre a liturgia Batista por toda a América Latina.

Adveio destas inquietações a realização do I Congresso Latino Americano Batista de

Adoração. Este evento aconteceu no Rio de Janeiro, na Igreja Batista de Niterói, nos dias

15 a 18 de março de 2000.

O Congresso promovido pela Aliança Bat ista Mundial teve como enfoque o debate

sobre o culto Batista latino-americano. Uma das preocupações explicitadas num manifesto

ao final do congresso foi: a transformação, com muita freqüência, do culto em “show” e

exibição de beleza musical ou de talento retórico, como seu objetivo principal. O que para

alguns dos congressistas desvirtua a postura teológica Batista.

Nas palavras de um dos preletores, Antô nio Silvino, é perceptível a tensão gerada a

partir da crítica que este direciona a esta nova forma musical contemporânea. Assim ele

diz:

...mas recentemente, graças ao retoque que os cursos de Música Sacra vem dando às ordens de culto, os cultos de adoração receberam tratamento mais elaborado e novas nomenclaturas. Em contraponto, ao culto litúrgico, surge o culto pop, influenciado pela música evangélica popular, que entrou pelas janelas das igrejas, por principal via radiofônica, e conseguiram um mercado competitivo e

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comercialmente estimulador. As formatações de adoração passaram a ser comandadas pelos instrumentos de cordas com sons estridentes, e de percussão. Deu-se lugar às partituras cifradas dos corinhos. Fechou-se o Cantor Cristão por considerá- lo ultrapassado (...) Inaugurou-se a era do “louvorzão”, culto jovem, com a resistência dos adultos taxados de tradicionais e conservadores.

Estes pouco a pouco vão se acomodando ao novo contexto, talvez por falta de opção ou pela habilidade de seus pastores que conseguem justificar um novo culto, para os novos tempos, para segurarem os jovens na igreja, pois os jovens emigrariam para as igrejas/culto pop ou iriam para o mundo, comprometendo desta forma o futuro das igrejas Batistas.

Aceleradamente ao novo ritmo os cultos vão tomando formas coreográficas, consideradas por alguns mais radicais como sessões aeróbicas ou de danças, uma conjugação adorativa do espírito no balanço do corpo conduzindo o espírito, ou vice-versa, o espírito conduzindo o corpo.

Seria esta a adoração Batista, brasileira, que veio pra ficar? Será este o futuro da adoração Batista? Ou será esta uma formatação ecumênica, globalizante, pós-moderna, flutuante, que se dissolve no ar, influenciada pela força da mídia? O futuro da adoração Batista já chegou, ou é mais um modismo, mas uma expressão característica de uma época, um protesto aos ce m anos de rosto enrugado de uma adoração legada “pelos nossos pais americanos”? 69

Podemos perceber que esta é uma manifestação de um líder com uma visão mais

tradicional e que, com veemência rechaça os aspectos contemporâneos que são realidades

presentes no culto protestante brasileiro inclusive entre os Batistas.

Apesar desta perspectiva de Silvino, quanto a esta nova consciência musical,

comandada pelas Bandas, a questão 11 da pesquisa faz uma revelação contundente, a qual

aponta exatamente para este novo estilo, como sendo aquele que mais envolve as pessoas

no ato da adoração.

69 SILVINO Neto. Texto apresentado por ocasião de um painel do I Congresso latino-americano Batista de Adoração. In, Revista Louvor, vol. 3 nº 84, 3t2000, p.24

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Dos entrevistados, 64% concordaram que a Banda tem maior capacidade de tornar a

liturgia mais participativa, outros 18% vêem no coro esta possibilidade.

Finalmente, a 12ª questão quis saber em que grau as pessoas percebem no culto

Batista a (in)compatibilidade entre a música tradicional e contemporânea. Tiveram como

parâmetro o Coro e os hinos dos hinários oficiais, e a música contemporânea que tem nas

Bandas e cânticos os seus maiores referenciais.

Dos entrevistados, 89% afirmaram que há compatibilidade entre os dois estilos

enquanto apenas 11% percebem conflito. Entretanto, nas respostas anteriores percebemos

preferências distintas tanto que os jovens, em sua maioria, optam pela música de aspecto

contemporâneo. Na faixa etária adulta, a preferência é pela música mais tradicional.

Esta compatibilidade que representa 89% das respostas não é perceptível na liturgia,

visto que há cultos distintos permitindo diferentes manifestações musicais. O culto jovem,

por exemplo, é realizado aos sábados, o que é uma prática comum de quase todas as igrejas

Batistas. O culto de cunho mais tradicional se realiza quase sempre aos domingos à noite.

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Diríamos que atualmente o conflito entre o tradicional e contemporâneo acontece

uma forma mais silenciosa diante da abertura que estas igrejas mais tradicionais

promoveram em suas liturgias. Esta concessão em alguns casos não se deu na inovação do

culto ou na substituição de repertór io, mas na permissão de outras manifestações musicais.

Entretanto, sendo realizadas em momentos e espaços diferentes, como é o caso do “culto

jovem”.

O estudo de caso e seu desenvolvimento

O estudo de caso foi desenvolvido seguindo basicamente quatro momentos:

1 – Fase aberta e exploratória

2 – Coleta de dados através do questionário (para líderes e membros das igrejas

citadas)

3 – Análise e interpretação de dados

4 – Elaboração do relatório

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No primeiro momento, objetivamos mostrar através do questionário os pontos de

tensão que porventura existissem e que fossem perceptíveis nas respostas sugeridas pelos

entrevistados.

O questio nário foi aplicado nas igrejas que possuem ou já tiveram uma estrutura

musical organizada e que nos permitiu uma melhor percepção do grau de influência,

compatibilidade ou incompatibilidade entre a música tradicional e contemporânea,

coexistindo num mesmo espaço litúrgico.

A grande questão pertinente era investigar se há uma tensão gerada a partir dos

diferentes aspectos presentes na música tradicional e contemporânea e de que maneira esta

tensão se processa nas ações das pessoas e, principalmente, na estrutura litúrgica das

igrejas.

Esta fase permitiu, através do questionário, explorar diferentes conceitos, vontades e

ansiedades das pessoas que semanalmente estão nas igrejas participando do culto e que nem

sempre manifestam de forma direta seus sentimentos.

O segundo momento foi a coleta de dados e para uma melhor delimitação,

procuramos definir pontos específicos de investigação, tais como: preferência, prioridade,

função e identificação. Todos estes pontos estão atrelados à música tradicional e/ou à

música contemporânea, como campo ma ior de investigação e podem estar exatamente

nestes pontos as possibilidades de tensões.

O terceiro momento – a análise e interpretação dos dados – é o que vai resultar no

capítulo relatório onde estão os gráficos a serem mensurados.

E o quarto momento surge dos comentários exploratórios das informações obtidas

no questionário e que foram analisados de forma objetiva tentando fazer uma aproximação

com o tema e sua relevância.

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Conclusões Preliminares

Nestas duas últimas décadas, os Batistas tiveram que conviver com grandes

transformações que chegaram até mesmo a desafiar antigas estruturas eclesiásticas e

obrigá- los a uma revisão de suas práticas musicais até então consideradas apropriadas com

suas diretrizes teológicas. Sendo um grupo de forte ênfase no púlpito, ou seja, na prédica,

de repente se vêem bombardeados por uma forte “onda musical” e que a rigor traz ao

cenário, aspectos estranhos à cultura musical da denominação.

Contextualização tem sido a palavra mais cogitada nos últimos tempos para

justificar as tentativas de mudanças no cenário musical Batista. Mas tem acontecido sob o

protesto de muitos que prevêem o enfraquecimento da tradição e o abandono de antigos

valores que nortearam por muito tempo o pensamento Batista brasileiro.

Mesmo que as inovações sejam necessárias, ou mesmo que façam parte da história

humana, o seu estabelecimento quase sempre se dá de forma conflituosa; gera-se uma

tensão que propicia grandes discussões e acaba por nutrir ambientes desconfortáveis, climas

favoráveis à cisões e uma instabilidade na unidade do grupo.

O entendimento desta tensão em nossos dias é necessário para gerar na igreja uma

reflexão adequada que resulte numa práxis atualizada e inserida em um contexto, seja

teológico, litúrgico ou musical. Entretanto, as renovações não podem perder de vista

valores sólidos do passado, considerados pelas denominações históricas um “legado de

conquista”.

Para os Batistas, dentre estas conquistas, está a identidade da denominação

estabelecida por uma riqueza de princípios que emergiram no decorrer da história. Para

Darci Dusilek, entretanto, “esta se encontra empaledecida, devido ao estado de subnutrição

histórica e teológica do nosso povo”.70 E sobre este assunto trataremos no capitulo a

seguir.

70 ZAQUEU Moreira de Oliveira. Liberdade e Exclusivismo: ensaios sobre os Batistas Ingleses. p. 6

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CAPÍTULO 3

PERSPECTIVAS DA PRÁXIS DO CANTO CORAL NA ATUALIDADE

“A música de entretenimento preenche os vazios do silêncio que se instalam entre as pessoas deformadas pelo medo, pelo cansaço e pela docilidade de escravos sem exigências.”

Theodor W. Adorno

Introdução

Pretendemos neste último capítulo, sugerir ações à práxis pastoral que oriente a

prática musical num contexto de pluralidade. As sugestões aqui apresentadas partem de um

princípio de diálogo como possibilidade de aproximação entre aspectos distintos, tanto da

práxis teológica, quanto da práxis litúrgico-musical e cultural

Partimos da hipótese de que há uma tensão gerada entre a música tradicional e a

música contemporânea e que isto se dá, em parte, pelo distanciamento existente entre

ambas, não só no aspecto temporal, mas também no aspecto estético. O nosso objetivo foi a

de provocar uma aproximação que possibilite às igrejas um equilíbrio vivencial entre a sua

hinódia tradicional e as novas manifestações musicais.

Canto Coral – Uma questão de identidade

Durante a pesquisa vislumbramos um fato importante que emergiu dos contatos e

dos dados obtidos através do questionário e sintetiza bem um sentimento de autodefesa

entre os Batistas. Ficou claro que no bojo de tantas discussões sobre o aspecto litúrgico, há

uma preocupação relativamente importante sobre a identidade denominacional.

Obviamente que num contexto de pluralidade religiosa, e particularmente, num cenário

plurimusical, algumas vezes, como diz Freddi Junior “as preferências estéticas se

confundem com os pensamentos teológicos e ideológicos causando conflitos que,

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freqüentemente, debilitam as igrejas locais e, por conseqüência, a denominação como

instituição”. 71

Mediante estas possibilidades, os Batistas têm se mostrados preocupados com sua

identidade. Aliás, este sentimento existe desde os primórdios da denominação aqui no

Brasil. É portanto, uma herança deixada pelos primeiros missionários que, na ocasião se

mostravam cuidadosos com a influência de outras correntes teológicas.

Com aparente dificuldade de conviver na pluralidade, os primeiros Batistas

brasileiros desenvolveram um pensamento antiecumênico, antidenominacional e,

enfaticamente, anticatolicista, beirando quase o isolacionismo.

Como diz Azevedo, até a década de setenta os Batistas tinham uma forma bem

particular de se auto -denominarem. Expressavam-se numa frase de impacto que resumia a

sua auto-compreensão religiosa. Assim diziam: “EU NÃO SOU CRENTE BAT ISTA, EU

SOU UM BATISTA CRENTE”. Para ele esta afirmativa era um reflexo do pensamento

pioneiro Batista expresso através de Bagby72 em 1884, o qual enfaticamente afirmava que:

Uma Igreja Batista não pode estar em absoluta fraternidade com instituição alguma fora de outra Igreja Batista.(...)”.

Devemos estar em paz e boas relações para com igrejas e outras instituições fora da nossa denominação, mas somente quando for possível, e até onde for possível. É preciso que a pessoa, instituição ou igreja se harmonize primeiro com o evangelho, para que assim possa estar em completa e absoluta relação com as Igrejas Batistas.73

A formação do pensamento Batista brasileiro nasce então buscando uma coesão

doutrinária e preocupada em firmar uma identidade forte que, além de protegida de

qualquer influência externa fosse claramente distinta de qualquer outro grupo.

71 SERGIO Freddi Junior. Música Cristã Contemporânea: renovação ou sobrevivência? p. 194 72 O pastor Bagby e família chegaram ao Brasil no dia 02 de março de 1881 e residiram em Santa Bárbara d’Oeste. Ele assumiu o pastorado no dia 25 de maio do mesmo ano. JOSÉ Pereira Reis. Histórias do Batistas no Brasil. p.472 – Reedição ampliada e atualizada. 73 BAGBY, W. B. Carta à Foreign Mission Board, 29.8.1884,mss. In, ISRAEL Belo de Azevedo. A Celebração do Indivíduo: a formação do pensamento Batista brasileiro. p.212

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Alimentados por este cuidado, anos mais tarde foi editado um documento que se

tornou oficial na denominação intitulado de “Declaração de Fé dos Batistas brasileiros”. 74

Neste documento estão condensadas as convicções e crenças que devem nortear a vida do

povo Batista no Brasil.

Segundo edito da denominação esta declaração é uma formulação doutrinária que

concretamente está fundamentada e autorizada na Bíblia. Sendo ela (Bíblia) a única fonte

de onde partem as sistematizações conceituais sobre a antropologia, soteriologia,

eclesiologia, dentre outros aspectos considerados importantes para a formação do

pensamento teológico da denominação.75

Em concordância com a perspectiva teológica, e buscando uma unidade doutrinária,

a hinologia76 Batista, é desde a sua primeira edição em 1891, através de seu hinário mais

tradicional, o Cantor Cristão77, um instrumento estratégico de propagação e sustentação

desta identidade.78 Israel afirma que, de certo modo, o pensamento dos protestantes

brasileiros [está] menos nos livros dos seus teólogos e mais nos hinos que (muitos) cantam

(...). 79

74 Refere -se a um documento editado pela Convenção Batista Brasileira que é o órgão máximo representativo da denominação no país e se realiza uma vez por ano. A CBB teve seu início em 22 de junho de 1907. In, JOSÈ Pereira Reis. História dos Batistas no Brasil. Reedição atualizada e ampliada. p. 142 75 ISRAEL Belo de Azevedo. A Celebração do Indivíduo: a formação do pensamento Batista brasileiro . p.259 76 Segundo Mendonça, a hinologia protestante brasileira foi desenvolvida como um instrumento apropriado à expansão conversionista, ou seja, era o pano de fundo de sustentação para a teologia da era missionária. Como ele mesmo ratifica: “A profusa produção hinológica dos séculos XVIII e XIX, de todas as procedências

imagináveis (...) traz, em profundidade, a marca dessa poderosa teologia. Salvo por poucas exceções, essa coleção de hinos que constitui a base da hinologia protestante brasileira, situa-se no plano de apoio à pregação conversionista central. A maioria absoluta dos hinos traz a marca de universalidade teológica Wesleyana e Pietista: o individualismo (na maioria são escritos na 1ª pessoa do singular), o voluntarismo (o apelo para a decisão) e a pedagogia e o emocionalismo pietitas (as extensas letras expõem a doutrina da salvação e o apelo emocional do Crucificado). In, ANTONIO Gouvêa Mendonça. A Crise do Culto Protestante no Brasil. p.36”. 77 O CC foi um hinário que surgiu da iniciativa do missionário Batista Salomão Ginsburg, vindo ao Brasil a convite do casal Kalley, fundadores do trabalho congregacional no Brasil. A primeira edição do CC data de 1891 sendo reeditado em 1894. De lá para cá já passou por outras reedições. In, JOSÈ Pereira Reis. História dos Batistas no Brasil. Reedição atualizada e ampliada. p. 98 78 ISRAEL Belo de Azevedo. A Celebração do Indivíduo: a formação do pensamento Batista brasileiro . p. 207 79Ibid., p. 154

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Assim a prática litúrgica Batista se desenvolveu dentro de uma estética própria que

no decorrer dos anos se tornou uma especificidade da denominação. Caracteristicamente

sempre foi um culto marcado pela forte presença musical através dos hinos e da prática

coral definindo portanto um “jeito-batista-de-ser”. Com o tempo estas práticas passaram a

se confundir com a própria história doutrinária.

A partir da década de sessenta, surgem alguns movimentos renovacionistas que vão

influenciá- los exatamente nestes aspectos considerados peculiarmente Batistas, ou seja, em

sua teologia, liturgia e música. Passaram a ter sérias dificuldades em manter uma unidade

em torno de suas diretrizes eclesiásticas, tanto que nas décadas seguintes o que se

testemunha é a ocorrência de alguns cismas importantes 80. Estes acontecimentos

desencadearam uma série de discussões traze ndo à tona mais uma vez a questão da

identidade e unidade denominacional. A rigor parece não ter sido suficiente para estancar

muitas mudanças que viriam a ocorrer na estrutura do grupo, fragmentando assim a tão

desejada coesão.

Passados mais de 120 anos de história Batista no Brasil a realidade atual mostra que

no mínimo se alimentam antigas preocupações. Não só por causa dos persistentes

movimentos renovacionistas, mas também devido a esta pluralidade que caracteriza a vida

religiosa brasileira hodierna e que pode influenciar nas estruturas denominacionais.

Atualmente, diferentemente de um passado exclusivista, os Batistas experimentam

uma convivência conflituosa na pluralidade. Há uma diversidade nas práticas cúlticas, nos

estilos musicais e até mesmo no aspecto teológico.

80 A primeira grande divisão sofrida no Brasil pelos Batistas data de 1965 lideradas pelos pastores Enéas Torgnini e Rego do Nascimento, de onde se originou a Convenção Batista Nacional, contando hoje com mais de 400 igrejas. Posteriormente, outras divisões aconteceram através de Valnice Milhomes, da qual surgiu a Igreja Batista El Shadai, depois com Átila Brandão de Oliveira e Agnaldo Leito do Sacramento, de onde surgiu a Igreja Batista Shalon, e em Campinas com o Pr. João Batista Martins de Sá de onde se originou a Igreja Batista Àgape. Sem contar as diversas igrejas que têm se desligado dos batistas pelo movimento G12.

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Para alguns de seus líderes, existem aspectos nesta diversidade que são

completamente dissonantes com os princípios que nortearam a formação do grupo desde

1609.81

Marcílio de Oliveira Filho formatou, a partir de uma pesquisa de campo uma

tipologia que expressa a diversificação presente nas Igrejas Batistas na atualidade.

Inevitavelmente algumas destas expressões cúlticas pressupõem um princípio teológico

próprio. Este aspecto é traduzido como uma ameaça concreta à unidade e identidade da

denominação. Portanto, partindo de um aspecto teológico e litúrgico podemos encontrar as

seguintes designações de igrejas, conforme observa Marcilio :

1. Igrejas Batistas Históricas

São igrejas com características conservadoras, nas quais os programas de educação seguem literatura e estilos denominacionais, não havendo aberturas para a introdução de inovações. Os cultos e programa musical são conservadores. O repertório segue estritamente a linha proposta pelo hinário oficial. No caso do Brasil, limita-se exclusivamente ao Cantor Cristão, utilizando coros, conjuntos instrumentais e orquestra, quando possível.

2. Igrejas Batistas Contemporâneas

São igrejas que procuram um programa totalmente novo. Não seguem a literatura oficial e buscam público alvo específico. Os cultos e o programa musical são inovadores, buscando interação com as tendências do novo século. O repertório é baseado em cânticos, abandona ndo os hinários oficiais.

Uma das preocupações na liturgia é a dos cânticos verticais, buscando no adorador uma identidade e aproximação com o adorado. Há a exclusão quase total dos coros, dando-se ênfase ao louvor congregacional, às bandas e aos pequenos grupos vocais.

81 Os relatos históricos dão conta de que mediante um contexto de extrema perseguição religiosa da igreja oficial anglicana, através da monarquia inglesa, no início do século 17, surge a primeira igreja batista, em solo holandês, visto que seus dois principais líderes, Jonh Smyth e Thomás Helwys, tinham fugido de sua terra natal por serem considerados como traidores, rebeldes, arrogantes e foras da lei, ou mesmo maiores inimigos do governo (...) ZAQUEU Moreira de Oliveira. Liberdade e Exclusivismo: ensaios sobre os Batistas Ingleses. p. 29

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3. Igrejas Batistas Renovadas ou Carismáticas

São igrejas que vivem uma busca de experiências crescentes ou avivamento. Seguem uma literatura própria e seus temas são geralmente os dons e as manifestações do Espírito Santo.

Os cultos e o programa musical são conservadores. Portanto, o repertório é tradicional, seguindo geralmente o estilo histórico, usando o Cantor Cristão (Brasil) como fonte principal ou, em outros países, os hinários mais antigos.

Uma das preocupações na liturgia é a busca por experiências espirituais, levando a um crescente envolvimento das pessoas na dinâmica do culto. Curiosamente, encontramos também igrejas renovadas que não aceitam o repertório tradicional e hinários, utilizando cânticos de comunidades ou de outros grupos de neopentecostalismo, com características rítmicas mais fortes e que alguns chamam de “cânticos de batalhas”.

4. Igrejas Batistas Abertas

São igrejas que buscam, no equilíbrio entre as tendências acima, um estilo novo para conviver com as diferenças. Não estão preocupados com um estilo só e buscam, nessa convivência com as divergências, organizar um programa alternativo. Os cultos e o programa musical são flexíveis, ora utilizando os hinos tradicionais com uma roupagem mais contemporânea, ora utilizando os cânticos verticais e até os de batalha. A literatura do programa educacional é voltada para as diversas idades, mas nem sempre segue a temática denominacional. A ênfase do trabalho prioriza as pessoas e não a estrutura, procurando envolvê- la em grupos pequenos, células ou Koinonias”. 82

Todas estas possibilidades são encontradas dentro do núcleo Batista pertencente a

Convenção Batista brasileira. Ou seja, percebemos inseridos na mesma denominação

diferentes raciocínios litúrgicos e teológicos.

82 MARCILIO de Oliveira Filho. Convivendo com as Diferenças. p. 25 . In, Revista Louvor 2T2002

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Como já dissemos, em março de 2000 na cidade de Niterói-RJ, aconteceu o último

congresso Batista em nível internacional. O encontro propôs a discussão sobre a natureza e

a importância da adoração e as implicações da pluralidade sobre a identidade Batista

brasileira. 83 Como resultado deste encontro surgiu um documento que inicia exatamente

falando desta realidade e afirmando que os Batistas brasileiros “estão conscientes da

situação que vivem algumas (...) igrejas e convenções para as quais a adoração tem sido

tema de debate, razão de conflitos e causa de lamentáveis divisões.”84.

Entretanto, fica transparente que, a rigor, a liderança Batista ainda não encontrou

alternativas concretas que possam solucionar este estado de tensão e conflitos. Condição

esta que oferece possibilidades de enfraquecimento das estruturas e conseqüentemente, da

identidade.

Partindo deste cenário conflituoso podemos indagar: Quais são as lógicas que

predominam neste universo Batista? Quais seriam as possibilidades das praticas

tradicionais, como o Canto Coral, diante de uma igreja em transição, coexistir num espaço

comum com outras manifestações contemporâneas sem que isto necessariamente seja

entendido como abandono aos pilares da doutrina?

Canto Coral – Uma questão de lógica

Entendemos que do ponto vista da prática religiosa Batista, existem duas lógicas

que podem ser percebidas neste contexto conflituoso e que ambas procuram estabelecer um

tipo de identidade, mas é claro, cada uma emergindo de sua própria ótica e pratica.

83 O I CONGRESSO LATINO -AMERICANO BATISTA DE ADORAÇÃO, aconteceu no mês de março, de 15 a 18, no templo da PIB de Niterói (RJ). O objetivo foi o de conhecer e compartilhar aspectos da adoração e do culto Batista com líderes, pastores e ministros de música de muitos lugares do Brasil e de outros lugares. Foi promovido pela Aliança Batista Mundial (ABM) e pela União Batista Latino-Americana (UBLA). Teve a participação de preletores representando variadas correntes de cultos presentes na América Latina. Este evento aconteceu à semelhança do Congresso Mundial de Adoração, ocorrido em Berlim, de 15 a 18 de outubro de 1998. Artigo da Revista Louvor, Ano 23, vol. 3 - nº 84. 3T2000. 84 I CONGRESSO LATINO-AMERICANO BATISTA DE ADORAÇÃO, Revista Louvor, Ano 23, vol. 3 nº 84. 3T2000. p. 23

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Consideraremos uma como “lógica exclusivista” e a outra como “lógica dialética”.

A lógica exclusivista se caracteriza pela persistência na manutenção de antigas prá ticas e

diretrizes considerando-as como sendo verdades universais e exclusivas. O exclusivista

relaciona a identidade de sua denominação diretamente com a tradição de suas práticas.

Diríamos que na hinologia esta lógica está fortemente presente na defesa incondicional dos

hinários oficiais, das músicas do passado e da prática coral.

Os aspectos da tradição, segundo a lógica dos exclusivistas, são os que realmente se

identificam com a sua denominação. Geralmente as pessoas que se encaixam neste perfil,

são irredutíveis em suas posições e nutrem um sentimento de posse muito forte.

A ênfase da identidade para os exclusivistas dá-se muito mais pela tradição de uma

práxis eclesiológica do que pelo conhecimento das doutrinas, teologia e da própria história

denominacional.

Segundo Moreira, este é um aspecto problemático para os Batistas, pois cerca de

95% dos fiéis, incluindo pastores e outros líderes da denominação, sabem pouco ou quase

nada de suas doutrinas, seus princípios, sua origem, conhecimento da vida, obra e caráter

dos seus precursores 85 Diante da falta de conhecimento de sua própria denominação

Dusilek86 diz que as pessoas procuram estabelecer tal identidade somente a partir da práxis

eclesiológica, sem qualquer vínc ulo com a sua própria história 87 e complementa citando

Hegel que diz “quem não conhece a sua história está condenado a viver sem a direção e

perspectiva que ela oferece (...) aqueles que desconhecem a história estão condenados a

viver sem a luz de sua memória”. 88

85 ZAQUEU Moreira de Oliveira. Liberdade e Exclusivismo: ensaios sobre os Batistas Ingleses. p.13 86 Darci Dusilek é mestre em Ciência da Informação, tem vários outros cursos de graduação e pós-graduação e trabalha como pastor batista, professor universitário e escritor. Foi Presidente da Convenção Batista Brasileira; Pastor da igreja Batista de Itacuruçá, na cidade de Rio de Janeiro, e Professor do Seminário Teológico Batista do Sul, além de exercer outras atividades na denominação. Por 10 anos atuou como Diretor Executivo da Visão Mundial para o Brasil. 87 ZAQUEU Moreira de Oliveira. Liberdade e Exclusivismo: ensaios sobre os Batistas Ingleses. p. 18 88Ibid., p. 17

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Os Batistas exclusivistas se identificam mais com determinadas práticas do que

propriamente a seus princípios bíblico-teológicos. E neste caso o Canto Coral é uma destas

práticas tradicionais que reforça a identidade, segundo a lógica exclusivista.

Uma outra lógica é entendida como a “lógica dialética” e se caracteriza pela

capacidade que possui em se aproximar e dialogar com aspectos distintos num contexto

plural. Com tantas possibilidades que o contexto contemporâneo oferece, os Batistas do

século XXI têm pela frente o desafio da pluralidade. Estabelecer uma identidade nestas

condições parece não ser uma tarefa fácil. Faz-se necessário sair do isolacionismo ou

exclusivismo e redefinir a identidade a partir do diá logo com as várias possibilidades sejam

teológicas, litúrgicas e musicais.

A “lógica dialética” aplicada ao aspecto litúrgico-musical vislumbra uma identidade

a partir do diálogo, como por exemplo, com a cultura local. Neste caso, abrem-se

possibilidades de inserção no contexto eclesial de manifestações da cultura popular que por

vezes a religião rechaçou com veemência.

Entretanto, num processo dialético há o desencadear de um outro desafio que é o da

aceitação, pois a tensão entre valo res do passado e do presente caracteriza-se certamente

pela não aceitação da realidade de ambas as partes. Há uma rigidez que promove um estado

de conflito e impede o diálogo.

Um dos pilares de sustentação da doutrina Batista é exatamente o da liberdade de

consciência religiosa. Como diz Langston:

Os Batistas são um povo que tem a coragem das suas convicções. Crêem num indivíduo livre, numa igreja livre, num estado livre; crêem na competência da cada alma tratar diretamente com Deus da sua própria salvação; crêem nos direitos iguais para todos e privilégios especiais para ninguém; crêem numa democracia política, religiosa, social, econômica e educativa(...)89

89 LANGSTON. A. B. Verdadeira Democracia . p. 70 In, Israel Belo de Azevedo. A Celebração do Indivíduo: a formação do pensamento Batista brasileiro . p. 263

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Este conceito de liberdade, segundo Moreira, exposto como confissão de fé Batista,

foi se expandindo com o tempo e hoje pode ser entendido como algo que vai muito mais

além da livre expressão de pensamentos. Deve ser entendido como um sentimento de

tolerância em relação às manifestações e interpretações diferentes.90

Este princípio doutrinário parece dar suporte à “lógica dialética” ao colocar em

relevo o fator tolerância. No mínimo deveria permitir com mais naturalidade o intercâmbio

entre os aspectos da tradição e da contemporaneidade sem maiores sobressaltos.

Banda e Coro – Uma questão dialética

Vemos na aproximação entre o Coro e Banda uma possibilidade de diálogo. Na

pratica musical dialogar significa mesclar estilos, cruzar arranjos entre a música tradicional

e a música contemporânea. De repente, tirar o velho órgão e colocar a Banda para fazer o

acompanhamento de um grupo coral, ou possibilitar que uma banda execute clássicos

corais e assim por diante. Maraschim falando sobre a inovação cúltica, diz que “são

inúmeros hoje em dia os pensadores cristãos empenhados em romper com a rigidez dos

nossos livros de reza e dos nossos hinários tradicionais. Entretanto, nem sempre temos

sabido o que oferecer em seu lugar”. 91

Esta compreensão de “substituir” parece ser um outro fator de tensão que acaba

dificultando o processo de contextualização.

Como diz Denise Frederico, a tradição pode ser considerada um patrimônio “cuja

existência tem história e memória, passando de geração em geração”. As pessoas que se

identificam com a música do passado, além de ressaltar o seu gosto pessoal, relacionam o

seu próprio ato de culto a este estilo. Portanto, dificilmente aceitariam mudanças, daí a

importância de se pensar na contextualização partindo do diálogo ao invés da substituição

total e radical.

90 ZAQUEU Moreira de Oliveira. Liberdade e Exclusivismo: ensaios sobre os Batistas Ingleses. p. 22 91 JACI Maraschim. É no Corpo que somos Espírito. p. 112. In, Estudos de Religião, ano XVII, nº 24, junho de 2003, São Bernardo do Campo, SP, Universidade Metodista de São Paulo.

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Mas nesta direção existem implicações que se referem à própria gênese do

protestantismo brasileiro, pois os primeiros missionários estabeleceram aqui um culto

caracterizado pelo distanciamento da práxis religiosa com a práxis cultural. 92

Desde o início fomos doutrinados a olhar para as manifestações fora da igreja como

inaceitáveis e assim estabelecemos no decorrer da história evangélica brasileira um

progressivo enrijecimento entre os aspectos culturais e religiosos. Ou seja, não

desenvolvemos a prática do diálogo.

Segundo Magali:

As culturas evangélicas no Brasil, desde seus primórdios no século XIX, assentaram-se sobre as bases da negação das manifestações culturais autóctones e da supervalorização do americam way of life e da cultura religiosa anglo-saxã; do autoritarismo, presente no forte clericalismo; da intolerância religiosa e do antiecumenismo de uma visão de mundo dua l em que o sagrado e o profano são antagônicos, concretizados no dualismo igreja-mundo, alicerces de um sectarismo; de um anti-intelectualismo, baseado em uma fé de certezas;

de uma religiosidade racional, com pouca ênfase na emoção; de um modo de vida rural, inserindo práticas e costumes rurais nas formas de institucionalização e organização; de uma ética restritiva nos costumes, fundada no moralismo puritano (não dançar, não beber, não fumar, guardar o domingo, adotar indumentária sóbria são exemplos de costumes a serem cultivados). 93

Este distanciamento, que dá-se em dimensões mais abrangentes como sagrado e o

profano, contribuiu para que o culto protestante brasileiro se desenvolvesse fazendo clara

distinção entre passado e presente, entre tradição e contemporaneidade.

92 Segundo Raymond Williams a cultura é o processo social de dar e receber sentidos, um lento desenvolvimento de sentidos comuns, formados por aquelas direções já conhecidas com as quais os sujeitos estão acostumados, mas também pelas novas observações e os novos sentidos que são recebidos e testados. RAYMOND Williams. Culture is ordinary. In, MAGALI do Nascimento Cunha: Consumo: novo apelo evangélico em tempos de cultura gospel. p.54. – In, Estudos de Religião – ano XVII, nº 26, junho de 2004, São Bernardo do Campo, SP: UMESP. 93 MAGALI do Nascimento cunha. Consumo: novo apelo evangélico em tempos de cultura gospel. p. 55. In, Estudo de Religião – Ano XVII, nº 26, junho de 2004, São Bernardo do Campo, SP – UMESP.

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Deste modo, quando as igrejas brasileiras pensam numa renovação, logo surge a

impossibilidade de diálogo que acaba por inviabilizar o processo. Maraschin ratifica esta

proposição dizendo que:

...a necessidade de renovação (...) levou muita gente a pensar que só se renova na medida em que se abandona o passado. Ou melhor, que só se renova se conseguirmos abandonar as melhores tradições da igreja. Nada mais falso. Por outro lado, há muita gente que tem medo das “inovações” porque lhes parece ameaçadoras da paz eclesiástica e, portanto, do progresso da igreja. 94

Entender contextualização a partir de um processo de substituição, parece facilitar

um clima conflituoso e neste caso Freddi Junior adverte que sem o diálogo:

As igrejas locais são terrenos (...) fecundos para estes conflitos, pois nelas as divergências surgem em diferentes pontos, como nas questões etárias – jovens x adultos - nas preferências estilísticas, tendências tradicionais ou renovadoras, como também inclinações eruditas ou populares e nas discussões teológicas e ideológicas, nas quais a postura se dá numa relação vertical, homem e Deus, ou em condutas horizontalistas, sociedade, cultura, etc.95

As igrejas identificadas com a tradição sentirão dificuldades de abandonar suas

expressões cúlticas históricas, seus hinários e suas músicas as quais se confundem com a

própria história do grupo. Por isso que promover o diálogo entre o Coro e Banda pode ser

uma possibilidade de aproximação entre tradição e contemporâneo tornando a

contextualização um processo facilitado.

Nestes últimos anos, alguns esforços foram envidados no sentido de promoverem

mudanças no culto protestante brasileiro. A partir do aspecto musical propôs-se a repensar

uma estrutura litúrgica na qual pudesse se promover um diálogo com a cultura brasileira.

Estas iniciativas, mesmo sendo ações individualizadas, representaram um sentimento que a

rigor estava presente em todos os segmentos religiosos de cunho histórico.

94 JACI Maraschin. A Beleza da Santidade: ensaios de liturgia. p. 19 95 SERGIO Freddi Junior. Música Cristã Contemporânea: renovação ou sobrevivência? p.41

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O que faremos a seguir é analisar dois movimentos que são considerados pioneiros

e importantes no processo de contextualização do culto protestante brasileiro.

Tentativas de mudanças no culto protestante brasileiro

Movimento Nacionalista

Um dos movimentos que surgiu foi o “nacionalista”,96 considerado assim pela

tentativa de abrasileiramento da liturgia97 introduzindo aspectos da cultura local na

estrutura do culto. A contextualização aqui era entendida a partir da inculturação, tanto que

musicalmente houve uma ênfase muito forte nos ritmos considerados brasileiros, tais como:

o samba, o maxixe, o baião. Também no aspecto teológico foram observadas algumas

mudanças, pois as letras falam mais a partir de um contexto sócio-cultural brasileiro

expressando a nossa realidade.

Os exemplos a seguir são composições consideradas bem brasileiras, pois são

harmonizadas em ritmo e melodia nordestina, no caso, o baião.

96 É importante pontuar que os músicos participantes dos Vencedores por Cristo e de outros grupos estão em atividades até hoje exercendo funções em suas respectivas igrejas. Dentre estes estão: João Alexandre, Guilherme Kerr e Nelson Bomilcar. 97 Liturgia aqui entendida, segundo Maraschin, como a realização mais perfeita da experiência da vida da Igreja com Deus. Move-se, pois, entre o espaço da experiência e o espaço da revelação. Nesse movimento, estão presentes a história, portadora da tradição, a cultura, que expressa os des ejos humanos, e a arte, manifestação do poder criativo do ser humano. In, JACI Maraschin. Na Beleza da Santidade. p. 67

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Este movimento, pelo menos no contexto Batista, não se tornou uma iniciativa tão

abrangente e permanente, mas, foi notável a sua influência na liturgia da denominação.

Alguns grupos musicais contribuíram nesta tentativa de mudanças no culto protestante

brasileiro, tais como os: Vencedores por Cristo, Milad, Novo Som, Grupo Elo.

Talvez como fruto deste movimento surgiu no contexto Batista, o HCC – Hinário

para o Culto Cristão - após 100 anos de um mesmo hinário o CC – Cantor Cristão. Este

novo hinário surgiu, a princípio, com uma proposta de renovação que se aproximasse da

realidade brasileira, entretanto ainda trouxe um repertório miscigenado e com uma maioria

absoluta de músicas americanas e européias. Mas houve abertura significativa dando

oportunidade a compositores brasileiros.

Outras manifestações que emergiram se localizaram em outros grupos

denominacionais, com é o caso do Projeto Canteiro da Igreja Presbiteriana Independente, o

Nova Canção da Igreja Anglicana e o Novo Canto da Terra. Este último movimento

musical, foi o resultado dos esforços de um grupo de músicos e teólogos de várias origens

protestantes.98

Estas iniciativas, porém, parecem não ter logrado o êxito desejado, pois se por um

lado faltou continuidade no processo, por outro a música americana e européia continuou

ditando o tom da música protestante e dominando o espaço litúrgico brasileiro.

Deste modo, suspeitamos que qualquer movimento dentro do protestantismo

brasileiro que busque uma identidade musical própria, tentando dialogar com a cultura

local, esbarre-se em pelo menos duas tarefas difíceis. A primeira provavelmente seria a de

caráter estético e advém da dificuldade de se formular um conceito preciso de música

brasileira. Devemos considerar que o Brasil, desde a sua colonização, tornou-se um país

culturalmente miscigenado, fruto da presença e influência de africanos, indígenas,

espanhóis, portugueses, italianos, ingleses e outros.

98 SERGIO Freddi Junior. Música Cristã Contemporânea : renovação ou sobrevivência. p. 51

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Tinhorão aponta para as dificuldades de se falar na existência de ações musicais nos

primeiros duzentos anos de colonização. Ele afirma que neste período as manifestações

musicais genuinamente brasileiras seriam somente os cantos e danças ritualísticas dos

indígenas acompanhados por instrumentos de sopro.99 Porém, este tipo de música parece

nunca ter sido percebida.

Outras manifestações que se constituíram em algo representativamente popular e

brasileiro, tais como: a modinha, o lundu, o maxixe, o choro, o frevo, o samba e até mesmo

o baião, chegaram até nós através do processo de colonização. É da fusão destas cantigas e

danças que se originou o que hoje é conhecido de base da música popular brasileira. Como

diz Freddi Junior “...esta música não contém uma tipologia pura. Fruto de influências e

misturas, o perfil desta arte é um leque de opções, criado em território brasileiro, de caráter

sincrético...”100

Se a cultura musical brasileira é tão rica em influênc ias importadas, quais os

aspectos desta música poderiam ser considerados importantes para a formação de um

pensamento musical evangélico e puramente brasileiro? E por quais critérios se definiriam

estes aspectos? Diante destas indagações a tarefa de formatar um conceito de música

brasileira tornou-se um desafio que requer ações interpretativas eficazes.

Um segundo desafio para a implantação de uma identidade musical própria mais

próxima do contexto brasileiro seria de caráter teológico. E se refere à “polarização entre o

sagrado e profano”. Uma dualidade que veio na bagagem dos missionários pione iros. Para

Magali do Nascimento, esta teologia dualística nasceu com o protestantismo do Brasil e se

caracterizou pela forte ação proselitista, como também, pela racionalidade, pela restrição

aos costumes e pelo estabelecimento de uma dualidade entre: bem-mal, igreja-mundo,

sagrado-profano.101

99 JOSÉ Ramos Tinhorão. Pequena História da Música Popular. p. 5 100 SERGIO Freddi Junior. Música Cristã Contemporânea: renovação ou sobrevivência. p. 49 101 MAGALI do Nascimento Cunha. Consumo: novo apelo evangélico em tempos de cultura gospel. p. 58. In, Estudos de Religião. Ano XVII, nº 26, São Bernardo d o Campo – SP: UMESP.

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Um aspecto importante deste raciocínio teológico não é a supremacia de um dos

pólos sobre o outro, mas o permanente estado de tensão entre eles.102

No aspecto musical, esta separação, justificada pela igreja, remonta a uma antiga e

longa história de discussões, preconceitos e disputas. A musicalidade do povo sempre

transitou numa linha tênue entre o sagrado e o profano 103 e o protestantismo brasileiro

herdou e desenvolveu com grande eficácia este aspecto teológico medieval.

Maraschin sugere que a igreja promova uma renovação litúrgica dando espaço para

o que ele considera de aspectos musicais mais próximos da realidade de nossas igrejas. Ele

assim diz:

A liturgia precisa se libertar da tirania dos hinários(...) herdados e do tipo de música alienígena que trouxeram para nossas igrejas (...) desmitizar o órgão. Mostrar a sacralidade maravilhosa do violão, dos tambores, dos pandeiros e das cuícas (...) experimentar a beleza do nosso samba, da nossa marcha-rancho, do nosso xaxado.104

Mas, tanto os instrumentos quanto os estilos musicais citados por Maraschin são

considerados profanos por uma grande parte dos evangélicos, associado-os à ma nifestações

profanas. Os tambores, por exemplo, estão associados ao candomblé; os pandeiros e cuícas

a rodas de sambas e bonitas mulatas: o próprio samba remete ao carnaval onde há um

afloramento de todas as “manifestações carnais” possíveis.

102 MARCELO Ayres Camurça. Novos Movimentos: entre o secular e o sagrado. p. 49 103 O conceito de sagrado relacionado à música estava ligado diretamente ao fato de ela ser uma criação dos deuses, a exemplo da antiga Grécia onde o venerado Hermes era tido como o deus da música, o mensageiro divino, e por esta razão a musicalidade estava associada à vida religiosa do povo, adequando-se aos diversos momentos sociais. Mas se encontra também em outras culturas essa atribuição lendária e mitoló gica, sempre a invocar a interferência dos deuses, tais como: no Japão cantavam cânticos à deusa do sol quando ela “amuava” e se escondia na sua gruta. Ainda hoje, os japoneses entoam cantos antigos quando há um eclipse solar; na América do Norte, uma tribo acreditava que a música era uma prenda do deus Tezcathipoca; aos assírios apareceu um deus que os ensinou a ler e a escrever e depois lhes ofereceu a música; na mitologia germânica, a música é representada por Wodan, protetor dos cantores e dos músicos, pois ele também o era; na idade média acreditava-se que a música tinha sido criada por Jubal, filho de Caim. Já o conceito de profano aparecia todas as vezes que a música era usada para o deleite do corpo e da sexualidade, como é o caso da música no contexto romano, onde era desvencilhada completamente da ética para dar lugar à sensualidade, onde principalmente o corpo feminino era usado para divertimentos particulares e públicos, nos banquetes e circos. MÚSICA RENASCENTISTA. http:/neh.no.sapo.pt/documentos/música_renascentista.htm 104 JACI Maraschin. A Beleza da Santidade: ensaios de liturgia. p. 135

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O conceito de sagrado desenvolvido entre os Batistas, talvez, de uma forma geral se

aproxime desta visão e isto se constitui um grande desafio ao movimento inculturador. Um

avanço nestes conceitos, provavelmente significaria um rompimento no distanciamento

entre a tradição e o contemporâneo.

Movimento Gospel

Este movimento surgiu no início da década de noventa e pode ser considerado como

um dos maiores fenômenos religiosos ocorridos nestes últimos anos, tanto pela influência

quanto pela sua inserção em todos segmentos religiosos brasileiros. A grande característica

deste movimento é a supervalorização da música como um veículo eficaz de aproximação

ao sagrado.

Entretanto, antes de haver este boom musical que marcou estes últimos quinze anos,

a década anterior já propunha algumas mudanças no comportamento musical brasileiro. Na

ocasião surgiu um movimento musical de menor expressividade que ficou conhecido de

“louvorzão”.

Conforme Justino:

[O louvorzão foi] promovido inicialmente pela missão Vencedores por Cristo. Voltado mais para os cristãos, eram (na verdade, ainda são) movimentos que reuniam jovens em grandes locais (igrejas e até ginásios) para momentos de louvor e meditação na Palavra de Deus: aprendiam novos cânticos, via-se uma nova forma de culto, aprendiam-se maneiras de liderar a congregação e até de falar em público. Este movimento se expandiu e muitas igrejas adotaram esta forma em suas atividades normais, usando-se até hoje com nomes similares, como por exemplo, Noite de Louvor.

Os jovens voltaram a encontrar uma razão para ir à igreja aos sábados, encontrar-se com os amigos e alimentar-se da Palavra de Deus.105

105 EMIRSON Justino. Os Estilos de Culto no Brasil. p. 171. In, PAUL Basden. Estilos de louvor

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Se considerado como o prelúdio para gospel, o louvorzão se diferenciou

basicamente pela ausência direta da grande mídia, mas que em alguns pontos assemelham-

se, principalmente no fato de ambas serem produtos de importação dos Estados Unidos.

Mas é a partir do movimento gospel que percebemos realmente uma grande inovação no

culto protestante brasileiro com influências até mesmo no catolicismo romano através do

movimento carismático. De acordo com Magali, o gospel, que se tornou sinônimo de

música religiosa contemporânea106 chegou ao Brasil através da Igreja Renascer, mas se

expandiu em todas as denominações, como também chegou em outros setores da vida

religiosa.

Atualmente este movimento reflete-se na literatura, na forma de vestir, nos meios de

comunicações e em outros objetos de consumo, tais como: chaveiros, marcadores de

bíblias, bolsas e camisetas. Criou assim um estilo próprio e é visto por alguns

pesquisadores como um tipo de cultura que impregnou a vida do povo, passando assim à

condição de “cultura gospel”.

Magali se refere a este movimento afirmando que:

A cultura gospel (...) está presente em todas denominações do campo religioso e no campo católico-romano, e o transpõe, pois essa expressão cultural religiosa é vivenciada mesmo por pessoas que não possuem vínculo religioso. Ela é errante ou desterritorializada, porque “flutua livremente” ao ser medida pelo mercado, pela mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados.107

A gospelmania surgiu com força capaz de abalar as bases eclesiológicas e as

diretrizes do protestantismo tradicional brasileiro. Por isso tem causado conflitos em

diversos grupos religiosos, obrigando-os a repensarem seus cultos ou levando-os a um

rompimento total com suas antigas estruturas.

106 MAGALI do Nascimento Cunha. Consumo: novo apelo evangélico em tempos de cultura gospel. p.59 In, Estudos de Religião. Ano XVII, nº 26, São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo. 107Ibid., p. 63

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Os Batistas estão vivendo um momento de readaptação, procurando talvez um

estado de equilíbrio onde possa ancorar com firmeza os seus princípios teológicos sem, no

entanto, deixar de responder as indagações do mundo contemporâneo. Como diz Justino:

Temos vivido momentos de incerteza quanto ao rumo que a igreja deve tomar. Líderes batistas têm observado que as formas de culto adotadas nas igrejas da denominação em todo o mundo têm evoluído, deixando de ser estáticas e frias para tornar-se mais dinâmica e envolvente (...) o que se quer destacar é que, mesmo entre as culturas tradicionalmente mais “frias” o culto chamado Batista tem se diversificado.108

O movimento gospel não é entendido como uma expressão que emergiu a partir da

cultura brasileira e nem tão pouco para a cultura brasileira. Também parece não ter surgido

objetivando um diálogo direto com a cultura local.

Ação dialética na heterogeneidade

Como nos últimos anos se intensificou a cobrança por uma prática cúltica

fundamentada na cultura brasileira, esta temática tem sido debatida em congressos,

seminários e grupos de pesquisas nos mais diversos grupos religiosos e é apresentada pela

expressão “contemporização”. Percebemos através disto os esforços no sentido de tornar os

cultos mais expressivos e atualizados, o que não significa necessariamente “abrir mão” das

heranças do passado.

Ocorre que vivemos numa pluralidade que atinge todos os setores da vida moderna

e de forma especial, a religião. Qualquer processo inovador deve considerar este aspecto

pensando sempre na condição de diálogo.

Na base do discurso da contextualização está a tríade “teologia- liturgia-cultura”,

cada uma, de forma independente e dentro de suas similaridades, apresenta um cabedal de

importantes possibilidades, ao mesmo tempo em que, aponta para uma série de dificuldades

de leitura interpretativa.

108 EMIRSON Justino. Os Estilos de Culto no Brasil. p.160. In, PAUL Basden. Estilos de Louvor:

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Por exemplo, a teologia109 encontra-se acuada diante da heterogeneidade de

posições e óticas das quais se pode perceber o sagrado. Como diz Cláudio Carvalhaes, os

vestígios de Deus, ou do sagrado, estão espalhados em diversos lugares e expressos por

diferentes vozes. 110

Camurça afirma que, diante dos novos movimentos religiosos, dos movimentos

místicos, dos neo-esotéricos e da new age, além da revivescência de tradições e

fundamentalismos, no seio das religiões institucionalizadas, existem para os interlocutores

religiosos deste novo milênio diversas possibilidades interpretativas e classificatórias da

ação do sagrado neste contexto sócio -cultural contemporâneo.111 Este aspecto pluri-

religioso exige das diversas denominações e em particular dos Batistas brasileiros, uma

reformulação nítida dos princípios teológicos que lhes dão sustentação, sob o risco de terem

suas estruturas eclesiásticas ameaçadas.

No aspecto litúrgico encontramos também um campo fértil, tanto para as antigas

quanto para as novas manifestações. Basden formata uma tipologia litúrgica que caracteriza

com propriedade as diversas possibilidades e tentativas de mudanças ocorridas na história

do cristianismo. Ambas imprimem de uma forma ou de outra suas influências na praxis

religiosa atual. Para descrevê- las ele toma como referencial o contexto americano, posto

que todas estas expressões estão em uso atualmente, mas que pode também ser situada no

contexto brasileiro. Segundo Basden a liturgia desenvolveu-se dentro dos seguintes estilos:

1 . Estilo litúrgico

(...) é, de longe, o mais tradicional de todos os estilos. Ele reivindica a mais antiga herança, com raízes no solo dos patriarcas da igreja e na era medieval.

109 A desfiguração ininterrupta do sagrado e a linha confusa que separa o divino e o secular na pós-modernidade confrontaram a produção da teologia, abalando os fundamentos, desafiando seus pressupostos, carregando-a novamente com novos conteúdos ou com impossibilidade de conteúdos, fornecendo outras ferramentas para a sua reelaboração ou mesmo para a sua impossibilidade. CLAUDIO Carvalhaes. Rastros dos deuses nos estudos pós-modernos de teologia e religião. p. 124. In, Estudos de Religião, ano XVII, nº 24, junho de 2003, São Bernardo do Campo – SP: Umesp 110 Ibid., p. 117 111 MARCELO Ayres Camurça. Novos Movimentos Religiosos: entre o secular e o sagrado. p. 49. In, Estudos de religião – ano XVII, nº25, dezembro de 2003, São Bernardo do Campo, SP - Umesp

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Este estilo de culto continua sendo praticado pela maior parte das igrejas alinhadas ao protestantismo histórico e com a igreja católica Romana, chegando a ganhar popularidade entre algumas igrejas evangélicas. (...) O clima do culto litúrgico reflete um equilíbrio entre a contemplação e a majestade (...) valoriza muito a reverência (...) é muito bem planejado e completamente estruturado (...) O estilo litúrgico reflete exatamente o modo como muitos cristãos adoravam tanto na igreja primitiva e nos tempos medievais como em várias manifestações da igreja reformada.[Como antecedente histórico] tem a igreja primitiva a partir do ano 100 de nossa era, coincidindo com a morte do último apóstolo original de Cristo e o fechamento do canôn do Novo Testamento (...) durante os séculos quarto e quinto, esse tipo de culto se firmou ainda mais nas grandes catedrais e santuários.

3 – Estilo Tradicional

Apesar de ser claramente menos formal que o estilo litúrgico, o culto tradicional também segue uma ordem planejada e estruturada (...) originou-se nos Estados Unidos na época em que os pioneiros cruzaram os Montes Apalaches em sua peregrinação rumo ao oeste e ganhou um lugar permanente na adoração protestante depois que as fronteiras foram estabelecidas. O estilo tradicional é por isso uma mistura do culto litúrgico como o reavivamento da fronteira. [Como antecedente histórico] o culto tradicional surgiu logo após o término da Idade Média. Foi uma correção do estilo de culto medieval, visando corrigir seus abusos. [A reforma a partir do século XVI] desenvolveu um estilo litúrgico modificado, tanto na Suíça quanto na Inglaterra.

4 – Estilo Avivado

O estilo avivado que vemos atualmente espelha-se nos modelos desenvolvidos nas fronteiras dos Estados Unidos durante o início do século XIX. Caracterizado pela informalidade, exuberância, entusiasmo e pregação agressiva, esse estilo de culto busca levar o pecador perdido ao Deus da misericórdia. O clima entusiástico dos cultos causa impacto direto nas emoções, de modo que as pessoas venham a “sentir” a presença de Deus durante os momentos de adoração. Apesar de os cultos avivados serem considerados antilitúrgicos, geralmente a ordem de culto ainda é planejada e estruturada com antecedência. [Como antecedente histórico] Huldreich Zwuinglio, que viveu de 1484 a 1531 (...) ficou

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conhecido por sua decisão radical de romper com Lutero, em 1529 (...) expurgou dos cultos em Zurique toda referência a coisas físicas, incluindo imagens, música e instrumentos (...) até mesmo destruía órgãos de tubo todas às vezes eu os via nos santuários e nas catedrais pelos quais passava; Os Quakers, ou Sociedade dos Amigos, representam outra expressão do movimento das Igrejas Livres da Inglaterra. Fundado por George Fox (1624-1691), foi a mais radical de todas as tentativas de reforma. Fox e seus seguidores rejeitavam o clero, os livros usados nos cultos, os sacramentos visíveis, a pregação, os corais e os órgãos. Sem “evidências exteriores”, seus cultos eram marcados apenas pelo silêncio e por eventuais reflexões; Metodistas (...) constituiu-se na última expressão das igrejas livres. Foi fundado pelos irmãos João Wesley(1703-1791) e Charles Wesley (1707-1788) (...) pode ser considerado um movimento de contracultura dentro da igreja anglicana, o qual enfatizava cultos entusiásticos, marcados por cânticos vibrantes e pela pregação bíblica, freqüentemente feita por leigos.

5 – Estilo Louvor & Adoração

Identificado, de modo pejorativo e errôneo, como “pentecostal”, o estilo de hoje é popularmente conhecido como contemporâneo ou “louvor & adoração” caracteriza-se por um culto vivo, informal e com muito som, no qual a congregação busca ativamente a presença imediata de Deus (...) É comum vermos nesse estilo claras tendências carismáticas, como falar em línguas, interpretação de línguas e expulsão de demônios. [Como antecedente histórico temos duas expressões na história americana] o culto negro que existe há mais de três séculos como uma realidade dinâmica e poderosa dentro da grande igreja cristã (...) A primeira característica comum ao culto negro é o amor pelos sermões que abordam passagens da Bíblia que atingem as estruturas sociais responsáveis pela opressão ou marginalização dos afro-americanos. Os sermões do falecido pastor Martin Luther King Jr. – revestidos de poderosas citações proféticas do Antigo Testamento e temperados com apelos de amor e perdão do Novo Testamento – são um excelente exemplo de ousadia e beleza da pregação dos negros. Uma Segunda característica é a reação alegre e espontânea dos adoradores enquanto o sermão é pregado; [outro antecedente histórico é] o culto pentecostal [que] seguindo a “liderança do Espírito Santo”, os líderes rejeitam o formalismo e abraçam a

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espontaneidade, tanto no conteúdo quanto na seqüência do culto.

6 – Estilo Facilitador

(...) O conceito do culto facilitador alcançou reconhecimento no final da década de 80 quando Bill Hybels, pastor da Igreja Comunidade de Willow Creek, no subúrbio de Chicago, recebeu destaque da imprensa nacional em vários jornais e revistas americanas (...) É um culto evangelístico, breve e alegre, criado especialmente para os “interessados”, ou seja, não cristãos que estão procurando Deus (...) Escolhe-se o melhor dia para os interessados comparecerem (Domingo pela manhã), a música é aquela de que eles mais gostam (todas em estilo contemporâneo) e procura-se responder às perguntas mais profundas (...) A atitude informal e o estilo não litúrgico escondem, na verdade, o fato de culto ser extremamente planejado e estruturado pelos ministros, talvez até mais do que em qualquer outro estilo. (...) O movimento do culto facilitador tem promovido um fantástico crescimento numérico nas igrejas. Para se ter uma idéia dessa proporção, a igreja de Willow Creek atrai atualmente uma média de quinze mil pessoas a seus três cultos facilitadores por final de semana”. 112

Todas estas perspectivas nos dão conta tanto da historicidade quanto dos caminhos e

descaminhos percorrido pela liturgia. Como diz Nelson Kirst, neste assunto não estamos

sozinhos pois antes de nós há um longo período milenar que cobre mais de dois mil anos de

culto cristão e anterior a isto, mais de um milênio de liturgia judaica que certamente

influencia a prática litúrgica hoje. 113

Sabemos que dentre as atividades de uma comunidade, a ação litúrgica requer uma

atenção especial, pois é através deste evento (...) que as pessoas têm acesso às próprias

verdades teológicas e confessionais e como dizia o papa Pio XI (...) o culto é precisamente

aquela mediação que faz a passagem da doutrina para a vida. 114 Assim cada denominação

precisa reformular também com atenção a sua liturgia.

112 PAUL Basden. Estilos de Louvor. p. 45-100 113 NELSON Kirst. Liturgia: O Culto, Rancho na Roça da Comunidade Cristã. In, Teologia Prática no Contexto da América Latina. p. 119 114 Ibid., p. 140

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Em nenhum outro aspecto da práxis eclesiológica há tantas possibilidades de se

firmar uma identidade denominacional.

No campo cultural o que temos é uma representação diversificada de conceitos que

caminham para uma mesma direção. Ambas tentam traduzir comportamentos, idéias e

costumes presentes em grupos, povos e raças de todas as partes do mundo.

Os antropólogos trouxeram um grande benefício para o conceito de cultura, quando

além de ampliarem o seu conceito, desvencilharam-na do juízo de valores, tais como bom

ou mau, a qual estava submetida sobremodo a partir da ótica da religião.115 Esta libertação

trouxe maiores possibilidades de diálogo entre religião e cultura.

O Brasil, devido a sua miscigenação, tem em todas as regiões do país uma riqueza

de manifestações, seja através da música, da culinária, de comportamentos e costumes. São

aspectos que representam diversos países e que de certa forma já estão assimilados pela

cultura local. Além disso, através dos nossos índios, podemos constatar uma riqueza

cultural extraordinária que se manifesta em parte no aspecto musical.

Como já afirmamos anteriormente, o início do protestantismo no Brasil foi marcado

por um estado de preconceito e exclusivismo. A igreja evangélica sempre rechaçou

qualquer manifestação da cultura local, e partindo de uma ótica teológica equivocada

manteve-se quase que totalmente afastada. Este era um tempo no qual se pregava que

mudar de vida representava uma ruptura total, social e culturalmente, em prol de novos

valores.

Há indícios, felizmente, que nos últimos anos tem aumentado a consciência no

contexto religioso, como um todo, da importância de aproximação do evangelho com a

cultura.116

115 PAUL G. Hiebert. A Cultura e as Diferenças Culturais. In, RALPH D. Winter/STEVEN C. Hawthorne. Missões Transculturais: uma perspectiva cultural. p. 445 116 Cultura é a expressão da globalidade da vida de cada grupo humano (etnia, povo, nação), que se subdivide, para fins de compreensão, em três subsistemas: o material, o social e o interpretativo. (...) [Assim] a cultura diz respeito ao modo de ser e viver. (...) [sendo] um conjunto de bens, significados e normas (condutas) produzidos coletivamente o espaço da experiência cognitiva e material, no território reflexivo e consciente, livre e tutelado. Cf. PAULO Suess. Cultura e Religião, in: ID (Org.) Culturas e evangelização. p. 41-47

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Vários seminários, conferências, artigos e livros têm se proposto a discutir o assunto

procurando pontuar as implicações efetivas que uma pode ter sobre a outra. É provável que

a partir destas reflexões consiga-se ame nizar a falta de diálogo que marcou os primeiros

séculos de cristianismo brasileiro.

O anteprojeto elaborado pela Associação dos Músicos Batistas sobre os

Fundamentos da Música Sacra das Igrejas Batistas do Brasil, sugere que além da tolerância,

os Batistas brasileiros acenem para a possibilidade de um diálogo entre passado e presente e

com isso mantenha para o futuro uma herança musical consistente e alicerçada na história e

nos princípios teológicos da denominação. Eis aqui a transcrição literal de alguns trechos:

A música sacra nas Igrejas Batistas é uma herança recebida no passado e será uma herança que está sendo desenvolvida para o futuro.

Assim como a teologia Batista não é só nacional, assim também seria difícil pensar numa hinódia somente batista, exclusivamente nacional e contemporânea. A herança vem de longe e de muitos países.

Os hinários (...) contém também as expressões do passado que ainda falam, ensinam, edificam e trazem à memória a atuação de Deus através dos séculos (...).

Deve-se evitar a posição extremada de substituir toda a música de outras culturas. (...) Esta herança deve ser alicerçada no passado e firmada no presente, para que os filhos na fé possam ter uma base musical e hinológica profunda, correta e segura.117

Principalmente em tempo de globalização, torna-se muito difícil pensar em

exclusivismo, pois como diz Eudora “...nenhum povo está isento de receber influências

externas, como costumes, arte culinária, expressões idiomáticas (...) que, com o tempo,

acabam incorporados aos costumes e à linguagem do povo e, pela insistência do uso, até

de forma definitiva”. 118

117 ASSOCIAÇÃO dos Músicos Batistas no Brasil. Fundamentos da Música Sacra das Igrejas Batistas do Brasil, p. 13 - Anteprojeto elaborado pela comissão do hinário para o Culto Cristão, 1985 118 EUDORA Pitrowisk Salles. Música Importada. Revista Louvor, vol. 2, 1999, p. 21-22

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Ainda segundo ela, os próprios hebreus incorporaram à sua cultura vários aspectos

da cultura de outros povos – Mesopotâmia, Grécia, Egito - tais como: danças, música e

instrumentos, assim como a música entre os primeiros cristãos também recebeu influência

direta da música hebraica e grega. (...) A igreja [primitiva] não possuía ainda uma

construção de regras para os seus cânticos. 119

No século XVI Martinho Lutero, ao empreender a reforma, não ignorou a riqueza

musical que existia fora da igreja, tanto que utilizou forma direta as melodias populares tais

como os Lieds alemães que eram canções simples, de fácil compreensão e que não

requeriam grande esforço técnico para a sua execução. Foi a partir daí que surgiu o gênero

coral que veio a se popularizar entre as igrejas reformadas.120

Um pouco depois no século XVII, os puritanos ingleses ameaçados pela igreja

oficial fugiam para os Estados Unidos em 1620 e firmavam morada na cidade de Plymouth

Rock. Lá fundaram a Colônia de Nova Inglaterra. Trouxeram não só suas famílias mas

também sua cultura, seus costumes e principalmente sua música e assim estabeleceram uma

semente cultural importada. 121

No século XVIII chega ao Brasil o casal Robert Reid Kalley e Sara Poulton Kalley,

missionários congregacionais, oriundos da Escócia e Inglaterra respectivamente. Aqui se

instalaram trazendo a sua cultura, suas convicções religiosas, suas músicas. E foi através

destes aspectos que compartilharam a sua fé deixando um legado musical importantíssimo

para o protestantismo brasileiro de todos os segmentos até os dias de hoje. Os Salmos e

Hinos é uma junção de culturas diferentes, tais como americana, inglesa, escocesa que Sara

Poulton aglomerou e que sobreviveu e influenciou muitas gerações no decorrer destes

últimos dois séculos.122

119 EUDORA Pitrowisk Salles. Música Importada. Revista Louvor, vol. 2, 1999, p.21 120 Ibid., p.23 121 Idem., p.23 122 SERGIO Freddi Júnior. Música Cristã Contemporânea: renovação ou sobrevivência. p. 29

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Portanto, os interlocutores que lutam por uma contextualização no culto protestante

brasileiro, ou até mesmo os que defendem o tradicionalismo, precisam perceber que há uma

realidade heterogênica e que as práticas litúrgico-musical, teológica e cultural de um povo

faz-se tanto a partir de sua expressão individual como por aquilo que se toma emprestado

de outras raças, tribos e nações sem que isto o descaracterize. Parece que o desafio que as

igrejas tem neste contexto contemporâneo é o desenvolvimento de práticas dialéticas em

meio à pluralidade.

Perspectivas pastorais à práxis musical na contemporaneidade

Em todos os séculos a música foi fundamental no processo de conduzir as pessoas a

uma aproximação com o sagrado. Independente da estética, do tempo e do espaço foi capaz

de suscitar experiências religiosas em indivíduos e coletividades, dentro e fora da igreja.

Mais do que qualquer outro aspecto da vida humana, a mús ica se faz entender por sua

linguagem simples e universal. Ela sim foi capaz de se adequar as mais diversas culturas

para expressar em harmonias e melodias as experiências marcantes do cristianismo.

A mensagem da igreja primitiva foi expressa de uma forma singela, reportando-se

sempre aos aspectos da espiritualidade, da verdade e do compromisso amoroso com as

pessoas. Tudo isso através de um culto caracterizado pela simplicidade, espontaneidade e

alegria.123 A música que entoavam era só um reflexo destes sentimentos vividos em

coletividades, portanto sendo um “meio” e jamais um “fim” nela mesma.

O objetivo do plano de Deus é o estabelecimento da comunidade em seu sentido

mais elevado.124 A sua práxis deverá ser focada em três pilares essenciais para a

concretização deste plano aqui na terra. A música neste contexto deixa de ser um “fim” nela

mesma para ser um “meio” de vivência desta práxis.

123 GEOVAL Jacinto da Silva. A Inter-Relação Histórica e Teológica da Liturgia Judaica e Cristã. p.164 In, Estudo de Religião – Ano XVII, nº 25, dezembro de 2003, São Bernardo do Campo, SP - Umesp 124 STANLEY J. Grenz. Pós-modernismo um guia para entender filosofia de nosso tempo. p. 244

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Práxis da Adoração através da Música

Nestes últimos tempos a música eclodiu com bastante força nos grupos religiosos

brasileiros. A igreja tão acostumada à palavra passou a cantar numa quantidade de espaço e

tempo jamais visto anteriormente na história da religião. O grande benefício percebido

neste fenômeno é que houve uma redescoberta da liturgia como o espaço propício de

celebração coletiva. Neste aspecto podemos dizer que houve uma valorização da igreja

enquanto comunidade espiritual.

Novas idéias musicais foram aparecendo, novas práticas surgiram e com isso houve

uma democratização da prática cúltica. Um grupo cada vez maior de pessoas passou a

participar dos eventos de suas respectivas igrejas.

A música enquanto criação divina serve para conduzir as pessoas a declararem que

Deus é digno de todo Louvor e Adoração. Este fato está acima de todos os outros interesses

supostamente humano.

Já a música enquanto arte praticada no contexto eclesial deve revelar às pessoas o

caráter perfeito de seu criador. Mesmo fazendo arte, a música que a igreja prática deve

levar as pessoas a uma adoração que Deus deseja.

Práxis da Diaconia através da Música

Enquanto aspecto vivencial da comunidade, a musicalidade precisa ser praticada

também sob o prisma do diaconato. Este, entendido como uma articulação que faz parte da

missão da igreja. A música, não sendo um fim nela mesma precisa será um instrumental

importante a serviço da Igreja no sentido de cumprir sua missão.

A dimensão diaconal da música desdobra-se em três vertentes: a música a serviço

da adoração, a música a serviço da edificação, e a música a serviço da missão

evangelizadora da igreja.

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A música, com o fim de propiciar a adoração está voltada primordialmente para os

valores divinos. Neste caso a música enquanto manifestação artística é só uma parte

secundária neste processo.

Para propiciar a edificação da comunidade, a música precisa ser comunicativa, falar

aos corações, identificar-se com os sentimentos e fé das pessoas. Por isso que ela precisa

ser praticada dentro de um contexto no qual todos estejam inseridos. Seu objetivo final é

levar transformação através do evangelho do Cristo ressuscitado.

Práxis da Koinonia através da Música

Num ambiente litúrgico, a música cria a experiência da proximidade que se refere

não só à relação com o sagrado, mas também à relação interpessoal. Se ela estiver

vinculada a um gosto pessoal, ou a um grupo específico, perderá o seu apelo a comunhão.

Se a música é capaz de levar as pessoas a uma comunhão com Deus,

necessariamente ela conduz as pessoas à unidade corporal em Cristo. Ela se torna o elo que

permite o encontro de Deus com o seu povo, ao mesmo tempo em que cria um clima de

envolvimento das pessoas. Assim, quando as manifestações musicais em qualquer espaço e

tempo provocarem conflitos e tensões é porque esta dimensão da koinonia não está sendo

observada por seus interlocutores. Ao entendermos esta dimensão através da música, não

haverá dentro das comunidades de fé qualquer tipo de conflito, mesmo que os estilos

musicais sejam diferentes. Haverá uma auto-aceitação que se colocará acima das diferenças

e indiferenças.

Conclusões Preliminares

Segundo Moreira, “[Aos Batistas] a única maneira de justificar [o] apelo [por uma]

identidade, dentro ou fora de uma igreja unida, (...) é firmar-se sobre o valor espiritual

permanente das coisas que [defendem e serem capazes de mostrar que os seus princípios]

são a expressão da essência das verdades do Evangelho (...)”125 que se refletem da sua

adoração, no serviço e na comunhão.

125ZAQUEU Moreira. Liberdade e Exclusivismo: Ensaios sobre os Batistas Ingleses. p. 163

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos três capítulos desta dissertação tentamos averiguar aspectos da tensão existente

entre a música tradicional e a música contemporânea. Ambas co-existindo no espaço

litúrgico Batista.

Ao elegermos as Igrejas Batistas na cidade de Campinas procuramos compreender

como estas comunidades, que ainda têm mantido fortes traços de um culto tradicional, se

relacionam com esta nova consciência musical. Assim, desenvolvemos um estudo paralelo

de dois campos mais abrangente, tradição e contemporaneidade, procurando especificar a

utilização do Canto Coral e da Banda na estrutura cúltica Batista. O intuito foi entender o

conflito que há entre estes estilos distintos de prática musical e interpretar as suas

circunstâncias.

No capítulo inicial da dissertação, ao apresentarmos o desenvolvimento histórico do

Canto Coral, descobrimos as funções que lhe foram atribuídas no decorrer dos séculos. O

uso desta prática no culto ou em manifestações religiosas durante tanto tempo serviu

também para demonstrar toda a tradição que a envolve.

O passo seguinte foi estabelecer parâmetros para a realização da pesquisa, o que

consta integralmente no segundo capítulo. Portanto, num primeiro momento delimitamos o

campo da pesquisa e um segundo momento, definimos a população a ser pesquisada.

Os critérios exigidos para esta etapa foram que a investigação teria que ser em

igrejas de tradição Batista; que esta tradição fosse expressa primordialmente no campo

litúrgico; e que estas igrejas apresentassem traços da prática musical contemporânea.

Somente uma das igrejas pesquisadas não utilizava mais o Canto Coral. Mesmo assim foi

importante a sua participação, pois além de ser uma das primeiras comunidades Batistas de

Campinas, portanto de origem tradicional, seria útil para a pesquisa descobrir qual a

consciência que fundamentava o seu novo paradigma musical.

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Ao final da dissertação esta igreja foi afastada do rol das Igrejas Batistas

pertencentes à Convenção Batista Brasileira. Segundo o conselho de ética da denominação,

ela já não se enquadrava dentro dos parâmetros Batistas.

Um outro critério que definimos foi que a investigação abrangeria faixas etárias

bem distintas. A idade mínima definida foi de 7 anos e com a livre participação de pessoas

da terceira idade.

Ratificada a hipótese de que há um conflito nas Igrejas Batistas entre a música

tradicional e a música contemporânea, o terceiro capítulo finaliza a dissertação sugerindo

ações à práxis pastoral no sentido de provocar uma convivência amistosa através do diálogo

entre aspectos distintos da prática musical.

Finalmente, consideramos que a música é capaz de conduzir as pessoas a uma

verdadeira adoração a Deus e criar um ambiente propício ao serviço. Como também, pode

propiciar uma convivência pacífica entre as pessoas através da comunhão, levando-as a

uma auto-aceitação, ao respeito mútuo e a superação das preferências individuais.

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