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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO - UNINOVE PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO STRICTU SENSU VERA LUCIA SILVA RIGONI EFEITO DO VENENO DO ESCORPIÃO Tityus serrulatus EM CÉLULAS EPITELIAIS BRÔNQUICAS HUMANAS (BEAS) E CÉLULAS ENDOTELIAIS (tEnd) SÃO PAULO 2013

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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO - UNINOVE

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO STRICTU SENSU

VERA LUCIA SILVA RIGONI

EFEITO DO VENENO DO ESCORPIÃO Tityus serrulatus EM CÉLULAS EPITELIAIS BRÔNQUICAS HUMANAS (BEAS) E

CÉLULAS ENDOTELIAIS (tEnd)

SÃO PAULO 2013

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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO - UNINOVE

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO STRICTU SENSU

VERA LUCIA SILVA RIGONI

EFEITO DO VENENO DO ESCORPIÃO Tityus serrulatus EM CÉLULAS EPITELIAIS BRÔNQUICAS HUMANAS (BEAS) E

CÉLULAS ENDOTELIAIS (tEnd)

Dissertação de mestrado apresentada

ao Programa de Pós-Graduação em

Medicina da Universidade Nove de

Julho, como requisito para obtenção

do título de Mestre em Medicina.

Orientador: Profª. Drª. Stella Regina

Zamuner

Co-orientador: Prof. Dr. Rodolfo de

Paula Vieira

SÃO PAULO 2013

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Rigoni, Vera Lucia Silva.

Efeito do veneno do escorpião Tityus serrulatus em células epiteliais

brônquicas humanas (BEAS) e células endoteliais (tEnd)./ Vera Lucia

Silva Rigoni. 2013.

50 f.

Dissertação (mestrado) – Universidade Nove de Julho - UNINOVE,

São Paulo, 2013.

Orientador (a): Pra. Dra. Stella Regina Zamuner.

1. Inflamação. 2. Citocinas. 3. Veneno tityus serrulatus.

I. Zamuner, Stella Regina. II. Titulo

CDU 615.831

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DEDICATÓRIA

Ao Criador pelo inestimável presente da vida, pela paz e serenidade para fazer

bom uso do meu livre arbítrio, buscando o meu e respeitando a individualidade de

cada um.

Aos meus queridos pais, Jair Araujo Rigoni e Gilda Silva Rigoni (in memorian), ao

meu irmão Marcelo Rigoni e minha cunhada Laís Silva, por me apoiarem e me

fazerem acreditar que sou capaz.

Aos meus queridos e amados filhos, Caroline Rigoni Jacomino e Luiz Felipe

Rigoni Jacomino, razão de toda minha existência, pela qual dedico esta obra.

Ao meu marido Luiz Américo Amadei Jacomino, pelo apoio e paciência na minha

ausência.

À minha orientadora Profª. Drª Stella Regina Zamuner, mestre e mentora, por todo

conhecimento compartilhado, pela paciência, confiança, apoio e amizade. Meu

exemplo de dedicação e sabedoria.

Ao meu querido Amigo (orientador), Prof. Dr. Joelmir Lucena Veiga da Silva, pela

força, participação, paciência, amizade, sugestões, sempre disponível a me

auxiliar:

”(...) Há orientadores que são gaiolas. Há orientadores que são asas.

Orientadores que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte

do vôo. Passáros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu

dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono.

Deixaram de ser pássaros. Porque a essência do pássaro é o vôo. Orientadores

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que são asas não amam pássaros engaiolados. O que eles amam são os

pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o

vôo eles não podem fazer, porque o võo já nasce dentro dos pássaros. O võo não

pode ser ensinado. Só pode ser encorajado. (...)”

Meus mais sinceros agradecimentos à vocês dois, Profª. Stella e Prof.

Joelmir, por sempre terem sido grandes asas, no meio de tantas gaiolas!!!

Adaptação do texto “Gaiola e Asas” de Rubens Alves, colunista da

Folha de São Paulo, publicado em 5 de dezembro de 2001, p A3.

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Humberto Dellê, pelas críticas construtivas e idéias brilhantes.

Ao Prof. Dr. Rodolfo de Paula Vieira, pela confiança, apoio e infinitas sugestões.

À Profª Ana Paula Ligeiro, pelo suporte nas dosagens de citocinas.

À Profª. Drª. Camila Daher, do laboratório de Neurobiologia da dor (USP) e seu

aluno de doutorado Adriano, pela colaboração e confiança.

À Profª. Silvia Zamuner pela participação e sugestões. À coordenadora da pós graduação da Universidade Nove de Julho (UNINOVE),

Profª. Drª Fernanda Consolim Colombo pela oportunidade e confiança.

À Profª. Drª. Viviane Louise Andree Nouailhetas, Departamento de Biofísica

(UNIFESP) pela convivência, compreensão e apoio.

À Drª. Telma Lisboa, grande Amiga, por me incentivar sempre nesta caminhada e

me fazer acreditar sempre.

À Silene Fernandes da Costa, Amiga e irmã do coração, por sempre me ouvir e

compartilhar dos momentos bons e ruins.

Aos grandes Amigos Cátia Rosa Trebacchetti, Heloisa Bolorino e Orion Santana,

pela inestimável amizade, atenção e apoio sempre.

Às alunas de iniciação científica da UNINOVE, Luciana Mioto e Aline pela grande

participação e ajuda.

Aos colegas da pós graduação, Ana Teresa Barufi Franco, Nikele Andrade, Camila

Alves, Adriano Santos, Marcelo de Paula Silva, pela união, colaboração e

convivência.

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Às queridas técnicas de laboratório de pesquisa da Universidade Nove de Julho

(UNINOVE), Luciana Teixeira e Angela Santos, pelas horas que passamos juntas,

por serem super prestativas e preocupadas no desenvolvimento da pesquisa e de

todo trabalho de bancada.

Aos colegas do laboratório de eletrofisiologia do departamento de Biofísica da

Universidade Federal de São Paulo, Thalyta Munhoz, Gabriel Andrade Alves,

Amanda Araújo, Marcus Buri pela ajuda e apoio.

À mestre e Amiga do laboratório de Biofísica (UNIFESP) Alessandra Campos pela

convivência, apoio e amizade.

À secretaria da pós graduação UNINOVE, Denise Freitas pela sua amizade,

carinho e paciência para a realização deste trabalho.

À todos que direta ou indiretamente foram responsáveis pela conclusão desta

tese.

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ÍNDICE

RESUMO ............................................................................................................. i ABSTRACT ......................................................................................................... iii Lista de Figuras ................................................................................................. v 1.Introdução ....................................................................................................... 1 1.1 Epidemiologia .............................................................................................. 1

1.2 Escorpião Tityus serrulatus .................................................................. 3 1.3 Quadro Clínico do escorpionismo e tratamento ................................ 5

1.4Comprometimento Respiratório em Resposta ao veneno escorpião Tityus serrulatus

10

1.5 Células epiteliais brônquicas humanas (BEAS) .................................. 11 1.6 Considerações gerais sobre o endotélio ............................................. 12

2. Justificativa .................................................................................................... 14 3. Objetivos ........................................................................................................ 15

3.1 Geral ......................................................................................................... 15 3.2 Específicos .............................................................................................. 15

4. Material e métodos ........................................................................................ 16 4.1 Drogas e reagentes ................................................................................ 16

4.1.1 Células endoteliais de camundongos ........................................ 17 4.1.2 Células epiteliais brônquicas humanas ..................................... 17 4.1.3 Veneno do escorpião Tityus serrulatus ..................................... 17

4.2 Preparação dos meios de cultura celular ............................................ 18 4.2.1 Meio DMEN .................................................................................... 18 4.2.2 Meio BEBM .................................................................................... 18

4.3 Cultura de células ................................................................................... 18 4.3.1Células endoteliais de camundongo (tEnd) ................................ 19 4.3.2 Células epiteliais brônquicas humanas(BEAS) ......................... 19

4.4 Preparação de monocamadas ............................................................... 19 4.5 Avaliação de Viabilidade Celular (MTT) ................................................ 20 4.6 Dosagem de LDH .................................................................................... 21 4.7 Citologia BEAS e tEnd............................................................................ 21 4.8 Dosagem de citocinas ............................................................................ 22 4.9 Análise estatística .................................................................................. 23

5. Resultados ..................................................................................................... 24 5.1 Análise da viabilidade celular (MTT) .................................................... 24

5.1.1 BEAS ............................................................................................. 25 5.1.2 tEnd ............................................................................................... 26

5.2 Lactato desidrogenase (LDH) ................................................................ 27 5.2.1 BEAS ............................................................................................. 27 5.2.2 tEnd ............................................................................................... 28

5.3 Citologia BEAS ....................................................................................... 5.3.1 ....................................................................................................... 5.3.2 tEnd................................................................................................

29 29 30

5.4 Interleucinas BEAS ................................................................................. 31 5.4.1 IL-1β ............................................................................................. 31 5.4.2 IL-6 ............................................................................................... 32 5.4.3 IL-8 ............................................................................................... 33

6.Discussão ........................................................................................................ 34 7.Conclusão ....................................................................................................... 40 8. Referências bibliográficas ............................................................................ 41

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RESUMO

O escorpionismo é considerado um problema mundial de saúde pública,

sendo a espécie Tityus serrulatus a principal causadora de acidentes graves no

Brasil. Os sintomas do envenenamento pelo escorpião Tityus serrulatus vão desde

dor local até reações sistêmicas severas, como disfunção cardíaca e edema

pulmonar agudo, sendo este a principal causa de morte. A quantidade de veneno

inoculado, idade, condições físicas e fatores genéticos das vítimas relacionam-se

com a gravidade dos sintomas apresentados pelos pacientes. As células

endoteliais, em condições fisiológicas, desempenham papel protetor do sistema

cardiovascular. Em caso de disfunção ou lesão desse tecido há repercussão sobre

a estrutura vascular, tecido adjacente e, por fim sobre o sistema cardiovascular.

Já, nas células epiteliais brônquicas após injúria, ocorre mecanismo de reparo

mediado por citocinas e fatores de crescimento, ocorrendo também proliferação e

diferenciação celular após o dano epitelial. Assim, o presente estudo tem como

objetivo avaliar o efeito modulador do veneno do escorpião Tityus serrulatus em

células endoteliais e células epiteliais brônquicas, analisando a viabilidade destas

células e o mecanismo de inflamação pela qual são acometidas. Para tanto, as

células em estudo foram cultivadas e incubadas em placas de cultura com o

veneno do escorpião Tityus serrulatus, em diferentes concentrações e em

diferentes períodos de tempo. O mecanismo inflamatório foi avaliado através da

dosagem de citocinas no sobrenadante destas células. Os resultados

demonstraram que o veneno de Tityus serrulatus alterou a viabilidade de

i

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monocamadas das células epiteliais brônquicas e células endoteliais, sendo que

esse efeito foi mais evidente nas células epiteliais brônquicas. Ainda, os

resultados demonstraram que o veneno induz a liberação das citocinas IL-1, IL-6

e IL-8.

Estes estudos ampliam o conhecimento das ações do veneno do escorpião

Tityus serrulatus nas células endoteliais (tEnd) e epiteliais brônquicas (BEAS),

comprovando assim alterações na fisiologia pulmonar que poderão contribuir para

uma melhor estratégia de tratamento do envenenamento escorpiônico.

Palavras chave: células epiteliais brônquicas, veneno Tityus serrulatus, escorpião,

citocinas, inflamação, células endoteliais.

ii

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ABSTRACT

The scorpionism is considered a public health worldwide, with Tityus serrulatus

the main cause of accidents in Brazil. Symptoms of envenomation by Tityus

serrulatus ranging from local pain to severe systemic reactions such as cardiac

dysfunction and pulmonary edema, which is the leading cause of death. The

amount of venom injected the age, physical and genetic factors of the victims are

related to the severity of the symptoms presented by patients. Endothelial cells

under physiological conditions play a protective role in the cardiovascular system.

In the case of dysfunction or injury of that tissue occurs repercussion in the

vascular structure, surrounding tissue, and finally on the cardiovascular system. In

bronchial epithelial cells after injury, occurs repair mechanism mediated by

cytokines and growth factors also occur increase in cell proliferation and

differentiation after epithelial damage. Thus, this study aims to evaluate the

modulating effect of Tityus serrulatus scorpion venom on endothelial cells and

bronchial epithelial cells analyzing the viability of these cells and the mechanism by

which inflammation occurs. Therefore, the cells in this study are cultured and

incubated in culture plates with Tityus serrulatus scorpion venom in different

concentrations and periods of time. The inflammatory mechanism was assessed

through the measurement of cytokines in the supernatant of these cells. The

results showed that Tityus serrulatus venom changed the viability of monolayers of

endothelial cells (tEnd), and bronchial epithelial cells (BEAS), and this effect was

more marked in bronchial epithelial cells. The results also demonstrate that the

venom induces the release of cytokines IL-1, IL-6 and IL-8.

iii

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This study extend the knowledge of the actions of the venom of the scorpion

Tityus serrulatus on bronchial epithelial and endothelial cells thus demonstrating

changes in pulmonary physiology that may contribute to a better treatment strategy

of scorpion envenomation.

Key Words: bronchial epithelial cells, Tityus serrulatus venom, scorpion, cytokines,

inflammation, endothelial cells.

iv

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LISTA DE FIGURAS

Fig.1 Notificações de acidentes por animais peçonhentos no Brasil 1 Fig.2 Distribuição geográfica dos escorpiões da espécie TsV no Brasil 3 Fig.3 Escorpião Tityus serrulatus 4 Fig.4 Efeito do TsV (0,5 - 10µg/mL) na viabilidade (MTT) de BEAS 24 Fig.5 Efeito do TsV (10 - 50µg/mL) na viabilidade (MTT) de BEAS 25 Fig.6 Efeito do TsV na viabilidade de tEnd 26 Fig.7 Efeito do TsV na liberação de LDH nas BEAS 27

Fig.8 Efeito do TsV na liberação de LDH nas tEnd 28 Fig.9 Aspecto citológico das células BEAS 29 Fig.10 Liberação de IL-1β induzida pelo TsV em BEAS 30 Fig.11 Liberação de IL-6 induzida pelo TsV em BEAS 31 Fig.12 Liberação de IL-8 induzida pelo TsV em BEAS 32

v

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1

1. INTRODUÇÃO

1.1 Epidemiologia

O escorpionismo representa um problema mundial de saúde pública, sendo

que aproximadamente 1,2 milhões de acidentes ocorrem anualmente, com mais

de 3.250 óbitos/ano (Chippaux et al., 2008). No Brasil, dentre os acidentes

causados por animais peçonhentos, o escorpionismo é o que vem crescendo ao

longo dos anos, segundo dados do Sistema de Informações de Agravos de

Notificações, do Ministério da Saúde (Fig. 1).

Figura 1: Notificações de acidentes por animais peçonhentos no Brasil.

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Em 2012, foram notificados 65.008 casos novos de acidentes por escorpiões

no Brasil, ou seja 45% do total de acidentes por animais peçonhentos (SINAN,

2012).

Os escorpiões são classificados como animais peçonhentos, sendo

capazes de gerar diferentes tipos de reações nos animais no qual injetam seu

veneno, geralmente acompanhado de muita dor. Os escorpiões têm hábitos

noturnos. Encontram-se em pilhas de madeiras, cercas, sob pedras, cupinzeiros,

muros cobertos por plantas onde podem ficar escondidos de 2 até 3 meses

(Santos, 1999).

Os escorpiões não são agressivos para o homem e somente picam quando

tocados ou se sentem ameaçados. São praticamente cegos e sentem suas presas

através de vibrações do solo e apenas a curtas distâncias. Em sua defesa ou para

se alimentarem, agarram a vítima com suas pinças, e num movimento de trás para

frente, cravam a cauda em seus corpos. É no último segmento da cauda, o télson,

que se localizam as glândulas de veneno (Cupo et al., 1999).

Existem grandes variações dos venenos das diferentes espécies de

escorpião. No entanto, pode-se observar uma sintomatologia muito parecida nas

vítimas que tem sido picadas. O efeito tóxico do veneno de escorpião decorre de

alguns fatores como: a espécie do escorpião, a capacidade e o estado fisiológico

das glândulas de veneno, a dose inoculada, o peso, a idade e o estado de saúde

da vítima, sua sensibilidade específica e o local da picada (Santos, 1999).

Nos países tropicais, o envenenamento humano por escorpiões é frequente

e acidentes fatais são comumente relatados, especialmente em crianças (Freira-

Maia et al., 1994). No Brasil, três espécies de escorpiões do gênero Tityus têm

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sido responsabilizados por acidentes humanos graves, inclusive casos fatais:

Tityus serrulatus (escorpião amarelo), Tityus Bahienses (escorpião marrom) e

Tityus stigmurus. O escorpião Tityus serrulatus é a mais importante espécie, que

causa maior número de acidentes, e induz às mais severas formas de

envenenamento.

Escorpião Tityus serrulatus

No Brasil, o escorpião Tityus serrulatus, que será nossa base de estudo, é

encontrado em grande parte de território brasileiro, sendo a espécie mais

causadora de acidentes, principalmente na região sudeste (Fig 2).

Figura 2: Distribuição geográfica dos escorpiões da espécie Tityus serrulatus no

Brasil.

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O escorpião Tityus serrulatus (Fig. 3) possui alta plasticidade ecológica,

podendo ser encontrado em florestas tropicais, pradarias, savanas, florestas

temperadas, cavernas e montanhas (revisado por Cologna et al., 2009). Essa

espécie é oportunista, pois, se adapta muito bem em ambientes modificados pela

ação do homem, com falta de saneamento básico e problemas de coleta de lixo,

onde se acumulam baratas e outros insetos, que servem de alimento aos

escorpiões (Lourenço; Von Eickstedt, 2009).

As fêmeas do escorpião Tityus serrulatus são capazes de se auto-

reproduzirem por partenogênese, forma de reprodução assexuada, a qual ocorre

sem a necessidade da fecundação do gameta masculino (Cologna et al., 2009).

Figura 3: Escorpião da espécie Tityus serrulatus.

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Os venenos de escorpiões consistem de uma mistura de compostos

farmacologicamente ativos, principalmente proteínas e peptídeos. Tais proteínas

são geralmente de baixo peso molecular e com ponto isoelétrico variando entre

8,0 e 9,0 (Miranda et al.,1964). A tityotoxina (TsTX) é um dos componentes mais

tóxicos do veneno.

O veneno do escorpião Tityus serrulatus (TsV) não é miotóxico, mas

apresenta propriedades biológicas, composição química, toxicidade, ação

biológica, características farmacocinéticas e farmacodinâmicas muito variáveis

(Petricevich et al., 2007).

Grande parte das toxinas isoladas de venenos de escorpiões atuam sobre

canais iônicos, como os de sódio (Na+), potássio (K+), cálcio (Ca2+) e cloreto (Cl-)

que estão presentes em diferentes tipos celulares como neurônios, células

musculares e células do sistema imune, sendo essenciais para a manutenção do

equilíbrio eletrolítico do organismo (Catterall et al., 2007).

1.2 Quadro Clínico do escorpionismo e Tratamento

Os envenenamentos por escorpiões progridem com sintomas de dor local a

reações sistêmicas severas levando à morte quando não são devidamente

tratadas (Cupo et al.,1994).

Os sintomas se iniciam dentro de poucos minutos após a picada e

normalmente progridem até a máxima severidade dentro de aproximadamente

cinco horas (Mebs, 2002).

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Os sintomas pós picada do escorpião Tityus serrulatus com atividade sobre

o sistema nervoso autônomo é responsável pelo quadro sistêmico, observado

principalmente em crianças, nas quais ocorre após intervalo de minutos até

poucas horas (2 a 3 horas) podendo surgir diversas manifestações sistêmicas tais

como hipertensão arterial, taquipnéia e hiperpnéia, taquicardia e bradicardia,

sudorese profunda, vômitos profusos, salivação excessiva, alternância entre

agitação e exaustão, convulsões, podendo evoluir para choque cardíaco e edema

agudo de pulmão, podendo também induzir uma resposta inflamatória sistêmica

ocasionando a liberação de mediadores inflamatórios tanto em pacientes (Abdel-

Hallem, 2006;D Suze et al., 2003; Fukuhara et al., 2003; Magalhães et al., 1999),

quanto em modelos experimentais (De Matos et al., 1997; Pessini et al.,2003

Petricevich; Penã, 2002).

O tratamento pelo CIT/RS (Centro de Informação Toxicológica do Rio

Grande do Sul), e o Ministério da Saúde, recomendam manutenção de sinais vitais

e tratamento específico com soro anti-escorpiônico ou anti-aracnídico (Cologna et

al., 2009).

O objetivo do soro é neutralizar a ação do veneno na circulação. Dessa

forma, o tempo entre o acidente e a utilização do soro é importante. A dor local e

os vômitos melhoram rapidamente após o uso do soro. Já a sintomatologia

cardiovascular regride mais tardiamente. Casos leves não tem indicação de soro;

em casos moderados devem ser usadas duas a três ampolas do soro por via

endovenosa (EV); enquanto que casos graves possuem indicação de 4 a 6

ampolas do soro, EV. Deve se atentar para as reações ao soro, que ocorrem em

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torno de 7,5% dos acidentes que necessitam de soroterapia, com predomínio de

lesões cutâneas (Cologna et al.,2009, Cupo et al.,1994).

O prognóstico geralmente é bom, principalmente para acidentes leves a

moderados. Nos casos graves, as primeiras 48 horas são as que merecem maior

atenção, pois é neste período que podem surgir complicações cardiovasculares e

pulmonares (Petricevich et al., 2007).

O TsV é capaz de exercer uma variedade de efeitos nos tecidos excitáveis,

com ação no sistema nervoso periférico aumentando a liberação de

neurotransmissores. Vítimas de envenenamento pelo escorpião Tityus serrulatus

podem apresentar várias patologias envolvendo principalmente estimulação do

sistema nervoso simpático como taquicardia, hipertensão arterial, sudorese e

midríase e estimulação do sistema nervoso parassimpático como bradicardia,

hipotensão, secreções e mioses. No sistema nervoso central, as manifestações

que podem ocorrer, pela ação do TsV são: irritabilidade, hipertermia, vômitos,

tremores e convulsão (Petricevich, et al.,2007). Ainda, após o envenenamento

pelo escorpião Tityus serrulatus, podem ocorrer reações sistêmicas severas, como

disfunção cardíaca, edema pulmonar agudo e hemorragia alveolar (Petricevich et

al,2007). Ademais, dados obtidos tem mostrado disfunção ventricular esquerda em

pacientes com edema pulmonar agudo após envenenamento pelo escorpião

Tityus serrulatus (Gueron et al.,1996).

A disfunção cardíaca tem sido tradicionalmente atribuída ao aumento

abrupto da sobrecarga ventricular esquerda, secundária à liberação maciça de

catecolaminas pelo TsV (Freire-Maia et al., 1978; Freire-Maia and Campos, 1989).

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O edema pulmonar é a principal causa de morte por envenenamento

causado pelo Tityus serrulatus, especialmente em crianças. São sugeridos dois

mecanismos responsáveis pela indução do edema pulmonar sendo um deles de

origem cardiogênica, pelo qual ocorre disfunção cardíaca ventricular esquerda e o

de origem não cardiogênica, pela possível liberação de mediadores inflamatórios

por meio da ativação da resposta inflamatória e subsequente aumento da

permeabilidade vascular (Benvenuti et al.,2002).Os mediadores inflamatórios de

origem não cardiogênica envolvidos no envenenamento pelo TsV incluem as

cininas, os fatores de ativação plaquetária (PAF) e as citocinas inflamatórias

(Freire et al, 1993).

Algumas alterações bioquímicas também são observadas, tanto em

pacientes quanto em modelos experimentais, como a liberação massiva de

angiotensina-II, aumento de marcadores de função hepática, como aspartato

aminotransferase, alanina aminotransferase e gama- glutamil transferase. Ocorre

também hiperamilasemia, leucocitose, policitemia, hiperglicemia, que é causada

pelo aumento da secreção de cortisol e diminuição dos níveis de insulina.

Também foi observado em pacientes, alterações nos níveis plasmáticos de cininas

(bradicinina e calicreína), sugerindo que tais componentes podem estar envolvidos

na patogênese do envenenamento humano (Corrêa et al.,1997; D’Suze et al.,

2003; Fukuhara et al., 2003; revisado por Petricevich, 2010; Ribeiro et al., 2010).

Além dos sintomas clínicos e alterações bioquímicas os pacientes

severamente envenenados por escorpiões apresentam um aumento significativo

nos níveis plasmáticos de mediadores inflamatórios como IL-1α, IL-1β, IL-6, IL-8,

IL-10, IFN-γ, TNF-α e óxido nítrico, pouco tempo após o envenenamento, a

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presença desses mediadores no soro podem estar diretamente relacionada com

as manifestações fisiopatológicas (Abdel-Hallem et al., 2006).

Para o tratamento de acidentes moderados e graves causados pelo

escorpião Tityus serrulatus é feita a administração endovenosa dos soros anti-

escorpiônico ou polivalente anti-aracnídico, sendo iniciado o mais cedo possível

para que se torne eficaz, já que as toxinas do veneno são rapidamente difundidas

do local da picada para os órgãos alvos (FUNASA, 2001; Rezende,1995).

Após inoculação pelo TsV, foram observadas alterações pulmonares, como

presença de edema e hemorragia alveolar, bem como aumento de neutrófilos e

macrófagos, liberação de citocinas e quimiocininas (Petricevich et al., 2007).

Ainda, níveis alterados de citocinas pró-inflamatórias (IL-1β, IL-6, IL-8 e TNF-α) e

anti-inflamatórias (IL-10) podem ser detectadas em indivíduos picados pelo

escorpião Tityus serrulatus (Fukuhara et al., 2004).

Citocinas são mediadores inflamatórios produzidas por células imunes e

não imunes, quando ocorre processos inflamatórios e mediadas em todas as fases

dos processos inflamatórios. As citocinas pró inflamatórias tem como função

aumentar a resposta inflamatória, enquanto que as citocinas anti-inflamatórias

atenuam esta reposta.

As IL-1β, IL-6 e TNF-α são consideradas citocinas pró inflamatórias

(Simons and Hoyt, 1994), e altas concentrações de IL-1 e TNF-α podem estar

associadas com a síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS), choque

séptico e morte (Amaral et al., 1997). Por outro lado, IL-10 inibe a liberação de

citocinas pró-inflamatórias e a expressão de enzimas envolvidas em processos

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inflamatórios como Cox 2 (ciclooxigenase 2) e óxido nítrico sintase (Amaral et al.,

1997).

As citocinas são liberadas por macrófagos em resposta inflamatória ao

envenenamento (Petricevich, 2004). Autores como Sofer et al. (1996); Barbouche

et al. (1996), Barraviera (1997), Meki: Mohey-el-Dean (1998) e Magalhães et al.

(1999) demonstraram um aumento de interleucinas (IL-6, IL-1α e IL-1β), óxido

nítrico(NO), interferon gama (IFN-γ) e fator estimulante de colônias monocíticas

granulocíticas (GM-CSF) após a picada de escorpiões do gênero Leiurus,

Buthotus e Tityus no sangue de pacientes. Estas citocinas podem contribuir para o

choque e disfunção cardíaca e pulmonar (Petricevich, 2004, Petricevich et al.,

2007). A resposta inflamatória sistêmica com subsequente liberação de citocinas

(Chaudry et al., 1989) pode mobilizar leucócitos e causar a liberação de fatores de

ativação de plaquetas (PAF), leucotrienos e prostaglandinas (Magalhães et al.,

1989; De Matos et al., 2001; Sofer et al., 1996; Meki; Monhey El-Dean, 1998;

Petricevich; D’Suze et al., 2003; Fukuhara et al., 2003; Andrade et al., 2007).

1.3 Comprometimento Respiratório em Resposta ao veneno de escorpião

Tityus serrulatus

Segundo Ismael (1995), estudo clínicos das vítimas por escorpiões

descrevem diferentes tipos de movimentos respiratórios anormais, tais como

taquipnéia, respiração anormal ofegante e falência respiratória. O edema

pulmonar é um achado frequente e muitas vezes fatal e implica no surgimento de

um padrão ventilatório intenso a ponto de produzir insuficiência respiratória aguda.

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A manifestação mais séria e fatal encontrada nos casos de intoxicação

produzida pelo TsV é o edema pulmonar. Os casos de edema pulmonar de origem

não cardiogênica estariam relacionados com o aumento da permeabilidade

vascular que acompanha a ativação da cascata inflamatória (Amaral e Resende,

1997).

A literatura mostra que o edema pulmonar é secundário a ativação de um

processo inflamatório, o qual envolve liberação do fator de ativação plaquetária de

leucotrienos e prostaglandinas, consequentemente resultando num aumento da

permeabilidade vascular pulmonar (De-Matos et al., 1997). Ainda, foi

recentemente mostrado que o edema pulmonar causado pelo TsV não é devido

ativação de mastócitos no pulmão (Zuliani et al., 2013). E também o TsV diminui o

“clearance” (depuração) do líquido pulmonar de ratos, por uma diminuição da

quantidade da bomba Na+/K+-ATPase no epitélio alveolar (Comellas et al., 2003).

1.4 Células epiteliais brônquicas

As células epiteliais brônquicas humanas (BEAS) são células do trato

respiratório humano, sendo consideradas células de defesa contra vários

patógenos aéreos (Kim et al., 2013), podendo produzir citocinas e quimiocininas,

aumentando a inflamação local e a resposta imune. Após injúria, células epiteliais

brônquicas humanas migram, ocorrendo um mecanismo de reparo precoce, sendo

mediado por citocinas e fatores de crescimento (Kim et al., 2013), ocorrendo

também proliferação e diferenciação celular após o dano epitelial.

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Estudos in vitro sobre a ação do TsV em células epiteliais brônquicas

humanas (BEAS) poderão contribuir significativamente no entendimento sobre o

mecanismo inflamatório local, contribuindo assim para inovações terapêuticas e

farmacológicas futuras.

1.5 Considerações gerais sobre o endotélio

O endotélio vascular é constituído por uma camada continua de células

endoteliais que revestem o lúmem dos vasos e separam o sangue dos tecidos. A

sua integridade funcional e estrutural é fundamental para a manutenção da

homeostasia e da função circulatória (Moncada et al.,1988).

As células endoteliais de um modo geral são alongadas, poligonais e

dotadas de ampla superfície. A parte luminal está continuamente exposta às

células circulantes e aos componentes plasmáticos. A porção oposta, abluminal,

está em contato com a matriz extracelular e tecidos adjacentes, que por meio de

integrinas, liga-se a lâmina basal. Esta é constituída por vários tipos de colágenos

(tipo IV, V e VII), laminina, sulfato de heparan e de condroitina, proteoglicianos,

entactina, nidogênio e sialoglicoproteínas, associados à fribonectina (Ondetti MA &

Cushman DW, 1982).

O endotélio, além da sua função como membrana semipermeável, é

considerado um tecido metabolicamente ativo. Por sua capacidade de sintetizar e

secretar inúmeras substâncias que exercem várias funções fisiológicas: a) no

metabolismo de substâncias vasoativas, por conter enzimas que transformam a

angiotensina I em angiotensina II e inativam a noradrenalina, serotonina e

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bradicinina; b) na hemostasia, por meio da produção de substâncias coagulantes

(fator de Von Willebrand; c) inibidor de antígenos dos grupos A e B, fibronectina,

colágenos; d) na modulação do tônus vascular, por sua capacidade de produzir e

liberar fatores relaxantes da musculatura lisa dos vasos, como o óxido nítrico

(Vane et al., 1987).

Por outro lado as células endoteliais sofrem alterações de estrutura, função

e propriedades metabólicas, em resposta a fatores de crescimento, substâncias

vasoativas e citocinas, que variam de acordo com o tecido em que se localizam

(Thuillez et al.,2005). Desse modo, o endotélio ativado afeta o crescimento de

músculo liso, por sua capacidade de gerar diversos fatores de crescimento que

induzem espessamento da parede dos vasos e favorecem o desenvolvimento de

doenças cardiovasculares (Carvalho et al.,1996).

Em síntese, o endotélio, em condições fisiológicas, desempenham papel

protetor do sistema cardiovascular, liberando substâncias que modulam a

contração do músculo liso vascular, a sua proliferação, a adesão e a agregação

plaquetária e controlam a hemostasia. Portanto, em condições de disfunção ou

lesão desse tecido, há repercussão sobre a estrutura vascular, tecido adjacente e,

por fim, sobre o sistema cardiovascular.

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2. JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

A literatura mostra que o envenenamento causado pelo escorpião Tityus

serrulatus apresenta ação neurotóxica, citotóxica e não miotóxica, podendo causar

alterações na mecânica pulmonar, bem como liberação de mediadores

inflamatórios no sangue de pacientes picados por esse escorpião. Estudos em

humanos mostram como principal causa mortis, edema agudo de pulmão e a

participação das células pulmonares. O endotélio vascular é formado por células

que desempenham várias funções fisiológicas, tanto no metabolismo como na

homeostasia, mas em casos de disfunção pode haver repercussão neste tecido e

sobre o sistema cardiovascular. Desse modo, o conhecimento das ações in vitro

do TsV em células endoteliais (tEnd) e células epiteliais brônquicas (BEAS)

poderão contribuir para um melhor entendimento no processo fisiopatológico e

para uma melhor estratégia de tratamento do envenenamento escorpiônico.

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3. OBJETIVOS 3.1 Geral

Analisar o efeito in vitro do TsV em BEAS e tEnd.

3.2 Específicos

Através de ensaios in vitro, avaliar o efeito modulador do TsV em cultura de

células BEAS e tEnd no que se refere a:

- Viabilidade das células pela dosagem de MTT e LDH. - Liberação de citocinas pró inflamatórias IL-1β, IL-6 e IL-8.

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4. MATERIAL E MÉTODOS

Este projeto foi desenvolvido no laboratório de pesquisa em biologia celular e

molecular do curso de Mestrado e Doutorado em Medicina da Universidade Nove

de Julho (UNINOVE) em parceria com o Departamento de Biofísica da

Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Foram realizados os ensaios de

viabilidade celular pelo método MTT nas BEAS e tEnd, dosagem da enzima

lactato desidrogenase no sobrenadante das mesmas incubadas com TsV em

diferentes concentrações e em diferentes períodos de tempo. Foram realizados

também dosagens das interleucinas IL1β, IL6 e IL8 no sobrenadante das BEAS

incubadas com TsV em diferentes concentrações e em diferentes períodos de

tempo.

4.1 Drogas e Reagentes

Avidina fosfatase alcalina (Sigma)

Bicarbonato de sódio (Merck)

Cloreto de sódio (Merck)

Cromógeno α nitrofenil fosfato (Sigma)

Estreptomicina (Sigma)

Glicose (Merck)

Hepes (Sigma)

Meio BEBM (Bronchial Epithelial Cell Basal Medium, marca Lonza)

Meio DMEN (Dulbeccos Modified Eagle Medium, marca Cultilab)

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Sal MTT (3-(4,5-dimethylthiazol-2-yl)-2,5,-diphenyltetrazolium bromide) (Sigma)

NADH (Sigma)

PBS gelatina (Sigma)

PBS tween (Sigma)

Penicilina (Sigma)

Piruvato (Sigma)

Soro fetal bovino (Cultilab)

Tampão fosfato salina (Merck)

Tris HCl (Merck)

4.1.1 Células endoteliais de camundongos (tEnd):

Foram utilizadas células endoteliais murinas (hibridomas) da linhagem

tEnd (thimic endothelium), gentilmente cedidas pelo Dr. Bruno Lomonte, do

Instituto Clodomiro Picado, da Universidade da Costa Rica, Costa Rica.

4.1.2 las epiteliais brônquicas humanas (BEAS-2b):

Cedida pelo Prof. Dr. Roger Chammas, do Laboratório de Oncologia

Experimental, LIM 24 da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

4.1.3 neno do escorpião Tityus serrulatus (TsV):

Gentilmente cedido pelo prof. Dr. Fabio Kwasniewski da Universidade Estadual

de Londrina, Paraná.

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4.2 Preparações dos meios de cultura

4.2.1 MEN (Cultilab)

O meio de cultura Dulbeccos Modified Eagle (DMEN) utilizado nas tEnd, foi

dissolvido em aproximadamente 950 ml de água Milli-Q, sendo adicionados 25

mM de bicarbonato de sódio, 11 mM de HEPES e 11 mM de glicose, sob agitação

magnética. O PH foi acertado em 7,4 em pHmetro. Após completar o volume para

um litro, a solução foi filtrada em filtros com poros de 0,22 micrômetros de

diâmetro no fluxo laminar, aliquotada e colocada em estufa a 37°C por 48 horas

para o teste de esterilidade. Posteriormente, o meio DMEN foi armazenado a 4° C

até o momento do uso, quando foram suplementados com 100 U/mL de penicilina

e 100 µg/mL de estreptomicina. Também foi adicionado SFB a 10% segundo o

experimento a ser realizado.

4.2.2 cultura BEBM (Lonza)

O meio de cultura BEBM (Lonza) utilizado para BEAS, já vem pronto para

uso. Apenas suplementamos com soro fetal bovino (SFB) a 10% e adicionamos

100 U/mL de penicilina e 100 µg/mL de estreptomicina.

4.3 Culturas de células

As culturas de células BEAS e tEnd foram cultivadas e mantidas no

laboratório de cultivo celular do Departamento de Biofísica da Universidade

Federal de São Paulo (UNIFESP).

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4.3.1 las endoteliais de camundongo (tEnd)

Após o descongelamento das tEnd, estas foram colocadas em um tubo

cônico estéril e centrifugadas a 1.111 xg por 05 minutos, desprezando o

sobrenadante e ressuspendendo o pellet formado em meio DMEN, suplementado

com SFB 10% e penicilina e streptomicina 1%, e colocadas em garrafa de cultura

estéril média (75 cm3) e mantidas em estufa com 5% CO2 a 37°C até

apresentarem uma boa subconfluência. Para expansão e repique das células tEnd, realizou se a tripsinização e posteriormente expansão para novas garrafas

de cultura a cada 2 ou 3 dias.

4.3.2 las epiteliais brônquicas humanas (BEAS)

Para as BEAS foram realizados procedimentos similares de cultivo celular

aos das tEnd, exceto o meio de cultura utilizado para as BEAS foi meio BEBM

(Lonza), suplementado com SFB 10% e penicilina e streptomicina 0,01%. Para

expansão das células epiteliais brônquicas realizamos a observação destas a

longo prazo, de 30 a 60 dias, devido a demora quanto a aderência destas células.

Após aderência e com uma boa subconfluência, realizamos expansão e repique

destas células.

4.4 Preparação de monocamadas de células endoteliais e epiteliais

brônquicas humanas para ensaios com o veneno de Tityus serrulatus:

A partir das culturas celulares obtidas, foram feitas as diluições necessárias

para a semeadura das células em placas estéreis de 96 poços e colocadas em

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estufa com 5% de CO2 a 37°C por 48 horas. Após a confluência, o meio específico

para cada tipo celular (tEnd e BEAS) foi retirado e as células foram incubadas com

TsV, diluídos nos meios específicos sem suplementação nas concentrações de 10

e 50 µg/mL após 01 hora, 03 horas, 06 horas e 24 horas de incubação.

4.5 Avaliação da Viabilidade Celular: Análise da Atividade

Mitocondrial Qualitativa: ensaio de MTT.

A função mitocondrial das células BEAS e tEnd foi avaliada usando o

ensaio MTT (3-(4,5-dimethylthiazol-2-yl)-2,5,-diphenyltetrazolium bromide)

(Sigma-Aldrich, St. Louis, MO, USA).

É uma forma de medida da atividade da desidrogenase mitocondrial. Este

é um sal tetrazólico que possui cor amarela e após ser metabolizado por

desidrogenases presentes nas mitocôndrias de células vivas, origina um sal que

cristaliza, os cristais de formazan e cuja concentração pode ser expressa pelo

aparelho de Enzyme linked Immunosorbent Assay (ELISA) (Siewerts et al., 1995).

As células foram plaqueadas (106 células/por poço) em placas de 96 poços e após aderência (24 a 48 horas), estas foram carenciadas de Soro Fetal

Bovino (SFB) para sincronização do ciclo celular por 24 horas. Os poços foram

lavados com PBS e então acrescentados 50 µL de MTT, sendo incubadas na

estufa de CO2 por 02 a 03 horas para que ocorra o metabolismo do sal tetrazólico.

Em seguida foram acrescentados 50µL de isopropanol por poço e feito a quebra

dos cristais de formazan, mecanicamente com auxílio de uma ponteira. A leitura

da absorbância nos poços foi realizada em 660 nm no leitor de ELISA.

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4.6 Avaliação da Viabilidade Celular: Dosagem da Enzima

Desidrogenase Láctica (LDH):

A desidrogenase láctica (LDH) é uma enzima intracelular responsável pela

oxidação reversa do lactato em piruvato, catalisa a conversão reversível de ácido

láctico muscular em ácido pirúvico, um passo essencial nos processos

metabólicos que, em última análise, produzem energia celular. É amplamente

distribuída em todas as células do organismo, concentrando se mais

especialmente no miocárdio, rim, fígado, hemáceas e músculos.

A atividade enzimática da LDH, presente no sobrenadante das culturas

celulares em estudo, foi tomada como parâmetro da viabilidade celular. Após cada

período de incubação, o sobrenadante foi retirado e centrifugado a 1.111 xg (2000

rpm) por 6 minutos. A seguir, 20 µL do sobrenadante foi adicionado a outras

placas de cultura de 96 poços, acompanhados da adição de 200 µL do substrato,

em tampão fosfato contendo: NaCl 200 mM, NADH 0,2 mM, piruvato 1,6 mM/poço.

Foi feita a leitura da densidade óptica a 340 nm, no intervalo de tempo entre 0 e

10 minutos. Os resultados foram expressos pelo decréscimo da D.O. resultante da

oxidação do NADH, na presença do piruvato, em relação ao tempo zero.

4.7 Citologia das BEAS e tEnd

Para verificar a citologia das BEAS e tEnd, as mesmas foram fotografadas

antes e depois da incubação do TsV na concentração de 50µg/ml por 24 hs

(Fig.10). As preparações foram visualizadas em microscópio óptico Nikon TS-100

com objetivas de câmera 40x (abertura numérica: 0,55) e 100x (abertura

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numérica: 1,25). As imagens foram captadas na câmera CCD DS-Fi 1 (Nikon,

EUA).

4.8 Dosagem de Citocinas

Para verificar se o TsV incubado nas BEAS e tEnd em diferentes

concentrações e em diferentes tempos libera em seu sobrenadante citocinas pró-

inflamatórias, realizou-se a dosagem das citocinas IL-1β, IL-6 e IL-8 pelo método

ELISA (enzima imuno ensaio) no sobrenadante colhido destas células.

Os sobrenadantes foram coletados 1, 3, 6 e 24 hs após a incubação com o

TsV em solução com meio de cultura, para a determinação das citocinas. Após a

centrifugação a 277,8 xg (1000 rpm) por 2 minutos, o sobrenadante foi coletado

para a determinação dos níveis de IL-6 e IL-1β e IL8. Em resumo, placas de 96

poços foram sensibilizadas com 50 µL do anticorpo de captura (anti- IL-1β ou anti-

IL-6 ou IL-8) marca Abcam, diluídos em PBS, e incubadas por 2 horas, a 37ºC.

Após esse período, os sítios livres foram bloqueados com 200 L de tampão de

bloqueio, contendo gelatina 3% em PBS e as placas incubadas por 18 horas, a

4ºC. Após lavagem da placa com PBS/Tween 20 0,05%, 50 L de amostras ou

padrões (recombinantes) foram adicionados em cada poço e as placas incubadas

por 1 hora, a 37ºC. A placa foi lavada com de PBS/Tween20 0,05% e a ligação

aos anticorpos foi detectada pela adição do anticorpo de captura, diluído em PBS-

gelatina 1% (5 g/mL, 50 L/poço), seguido de incubação por 1 hora a 37ºC. Após

lavagem da placa, 50 L de avidina-fosfatase alcalina, na diluição de 1:15000 em

PBS-gelatina 1%, foram adicionados e incubados por 1 hora à temperatura

ambiente, lavando-se em seguida. Para a revelação, foi utilizado o substrato

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cromógeno -nitrofenil fosfato (200 L/mL), diluído em 1:5 em TRIS-HCl pH 9,8 1

M e salina 0,5 M. A absorbância foi determinada em leitor de ELISA (Labsystems

Multiscan) a 405 nm e os resultados confrontados a uma curva padrão efetuada

com o anticorpo recombinante para a determinação da concentração de cada

citocina, representada em ng/mL.

4.9 Análise estatística

Os valores foram expressos em média e desvio-padrão se aderirem à

curva de Gauss ou em mediana e intervalo interquartílico se não aderirem. A

comparação entre os grupos foi realizada pelo teste de ANOVA, dados

paramétricos. O teste de contraste (Pos Hoc) utilizado foi o Pós Teste Dunnet. Os

resultados foram considerados estatisticamente significantes se p menor ou igual

a 0,05. Os dados foram analisados por meio do programa GraphPadPrism 5.0

(GraphPad Software, San Diego, CA, EUA).

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5. RESULTADOS

5.1 Determinação do efeito citotóxico do veneno Tityus serrulatus

(TsV): método MTT

5.1.1 las epiteliais brônquicas (BEAS)

O efeito do TsV sobre a viabilidade de BEAS foi analisado nos tempos de

30 e 60 minutos após a adição do veneno na concentração de 0.5, 1, 5 e 10

µg/mL. Os resultados demonstraram que não houve diferença estatisticamente

significativa em nenhuma das doses utilizadas que receberam o veneno nos

períodos de 30 e 60 minutos (Fig. 4), quando comparado ao controle.

Figura 4. Efeito do veneno Tityus serrulatus (TsV) na viabilidade de células epiteliais

brônquicas. Células brônquicas BEAS foram plaqueadas em placas de 96 poços e incubadas por

24-48 horas para adesão celular. Após esse período o veneno foi adicionado nas concentrações

0,5, 1, 5, e 10 µg/mL ou somente meio de cultura (controle) e incubadas por 30 e 60 minutos. A

viabilidade celular foi determinada pelo método MTT. Cada valor representa a média ± EPM de três

experimentos independentes.

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A b

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( %

c o

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l e

)

A b

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A b

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)

A b

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c o

n t r o

l e

)

Para verificar se o veneno teria uma ação mais tardia ou se doses maiores

causariam inviabilidade celular, incubamos o TsV (10 e 50 µg/mL) por 1, 3, 6 e 24

horas e avaliamos a viabilidade celular das BEAS. Como observado na figura 5, o

TsV (10 e 50 µg/mL, respectivamente) reduziu de maneira significante a

viabilidade apenas após 3 horas (50,1 ± 0,1 e 49,2 ± 2,2 %, respectivamente) e 24

horas (51,1 ± 2,2 e 26,7 ± 2,5 %, respectivamente).

1 h

3 h

1 0 0

1 0 0

7 5 7 5

5 0 5 0 * ** * **

2 5 2 5

0 0

[ T s V ] g / m L [ T s V ] g / m L

6 h 2 4 h

1 0 0

1 0 0

7 5 7 5 **

5 0 5 0 **

2 5 2 5

0 0

[ T s V ] g / m L [ T s V ] g / m L

Figura 5. Efeito do veneno Tityus serrulatus (TsV) na viabilidade de BEAS. As BEAS foram

plaqueadas em placas de 96 poços e incubadas por 24-48 horas para adesão celular. Após esse

período o veneno foi adicionado nas concentrações 10 e 50 µg/mL ou somente meio de cultura

(controle) e incubadas por 1, 3, 6 e 24 horas. A viabilidade celular foi determinada pelo método

MTT. Cada valor representa a média ± EPM de três experimentos independentes. Cada valor

representa a média ± EPM de três experimentos independentes. * p < 0,05, vs controle (ANOVA).

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A b

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A b

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A b

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l e

)

5.1.2 Células endoteliais (tEnd)

Quando avaliamos a viabilidade de tEnd incubadas com o TsV, verificamos

que o veneno não foi capaz de alterar a viabilidade das mesmas, mesmo na

concentração mais alta (50 g/mL) e em todos os tempos de incubação (fig. 6).

1 h 3 h

1 0 0

1 0 0

7 5 7 5

5 0 5 0

2 5 2 5

0 0

[ T s V ] g / m L [ T s V ] g / m L

6 h 2 4 h

1 0 0

1 0 0

7 5 7 5

5 0 5 0

2 5 2 5

0 0

[ T s V ] g / m L [ T s V ] g / m L

Figura 6. Efeito do veneno Tityus serrulatus (TsV) na viabilidade de tEnd. As tEnd foram

plaqueadas em placas de 96 poços e incubadas por 24-48 horas para adesão celular. Após esse

período o veneno foi adicionado nas concentrações 10 e 50 µg/mL ou somente meio de cultura

(controle) e incubadas por 1, 3, 6 e 24 horas. A viabilidade celular foi determinada pelo método

MTT. Cada valor representa a média ± EPM de três experimentos independentes.

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27

m m

o l

N A

D H

/m

in

5.2 Determinação do efeito citotóxico do veneno Tityus serrulatus (TsV): dosagem de LDH

5.2.1 las epiteliais brônquicas (BEAS)

A perda da integridade da membrana após incubação com TsV foi

monitorada pela análise da liberação no meio de cultura da enzima citoplasmática

LDH. Células que receberam o veneno, na concentração de 50 µg/mL,

apresentaram aumento de 85% nos níveis de LDH no sobrenadante, no tempo de

24 horas, comparado ao grupo que recebeu somente meio de cultura (controle). O

mesmo efeito não foi observado nos outros tempos estudados e na concentração

de 10 µg/mL (fig. 7).

1 . 5

C o n t r o le

T s V ( 1 0 g /m L )

T s V ( 5 0 g /m L )

* 1 . 0

0 . 5

0 . 0

1 3 6 2 4

T e m p o ( h )

Figura 7: Efeito do veneno do escorpião Tityus serrulatus (TsV) na liberação de LDH de

BEAS.. Células brônquicas epiteliais foram plaqueadas em placas de 96 poços e incubadas por

24-48 horas para adesão celular. Após esse período foi adicionado o TsV (10 e 50 µg/mL), ou meio

de cultura (controle) e foram incubadas por 1, 3, 6 e 24 horas. Após cada período de tempo, 20 uL

de cada amostra foram adicionados ao substrato e a atividade da LDH foi determinada pelo

decréscimo da D.O., como descrito em Material e Métodos. Cada valor representa a média ± EPM

de três experimentos independentes, * p < 0,05, vs controle (ANOVA).

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28

mm

ol

NA

DH

/min

*

5.2.2 las endoteliais (tEnd)

Quando o TsV foi incubado com tEnd, houve liberação significante de LDH

no sobrenadante, no tempo de 24 horas nas concentrações de 10 e 50 g/mL,

quando comparado ao grupo que recebeu somente meio de cultura (controle). O

mesmo efeito não foi observado nos outros tempos estudados (fig. 8).

1.2

0.9

0.6

Controle *

TsV (10 g/mL)

TsV (50 g/mL)

*

0.3

0.0 1 3 6 24

Tempo (h)

Figura 8: Efeito do TsV na liberação de LDH de tEnd.. As tEnd foram plaqueadas em placas de

96 poços e incubadas por 24-48 horas para adesão celular. Após esse período foi adicionado o

TsV (10 e 50 µg/mL) ou meio de cultura (controle) e foram incubadas por 1, 3, 6 e 24 horas. Após

cada período de tempo, 20 uL de cada amostra foram adicionados ao substrato e a atividade da

LDH foi determinada pelo decréscimo da D.O., como descrito em Material e Métodos. Cada valor

representa a média ± EPM de três experimentos independentes. * p < 0,05, vs controle (ANOVA).

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29

5.3 CITOLOGIA 5.3.1 Citologia de células BEAS após incubação com o veneno de Tityus

serrulatus (TsV).

As células BEAS em cultura foram observadas em microscopia óptica antes

e após 24 horas da incubação de TsV (50 µg/mL). Pode-se observar uma redução

na quantidade de células na presença do TsV (Fig. 9 C e D), quando comparadas

com o controle (Fig. 9 A e B). Além disso, também se observa uma diminuição do

volume citoplasmático (plasmólise) das mesmas.

Controle TsV (50 µg/mL)

A C

B D

Figura 9: Aspecto citológico das BEAS. As BEAS foram plaqueadas em placas de 96 poços e

colocadas para aderir por 24-48 horas. Após esse período foi adicionado o TsV (50 µg/mL) ou meio

de cultura (controle) e incubadas por 24 horas, a seguir a placa foi fotografada em microscópio

invertido. A e B: controle, C e D: TsV 50 µg/mL (100 e 400x respectivamente). A e C: 10x, B e D:

40x.

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5.3.2 das células tEnd após incubação com o veneno de Tityus serrulatus (TsV)

As células tEnd em cultura foram observadas em microscopia óptica antes e

após 24 horas da incubação de TsV (50µg/mL). Pode se observar que não ocorreu

uma redução significativa na quantidade de células na presença do TsV (Fig. 10 C

e D), quando comparadas com o controle (Fig 10 A e B).

Figura 10: Aspecto citológico das tEnd. As tEnd foram plaqueadas em placas de 96 poços e

colocadas para aderir por 24-48 horas. Após esse período foi adicionado o TsV (50 µg/mL) ou meio

de cultura (controle) e incubadas por 24 horas, a seguir a placa foi fotografada em microscópio

invertido. A e B: controle, C e D: TsV 50 µg/mL (100 e 400x respectivamente). A e C: 10x, B e D:

40x.

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IL1

ng

/mL

5.4 Dosagem de interleucinas em células BEAS

5.4.1 Liberação de IL-1β induzida pelo TsV em BEAS.

As concentrações de IL-1β foram avaliadas no sobrenadante de cultura de

BEAS, no período de 1, 3, 6 e 24 horas após a incubação com o TsV (10 e 50

µg/mL) ou meio de cultura (controle). O TsV foi capaz de aumentar

significativamente a liberação da IL-1β quando foi incubado por 6 horas na

concentração 50 g/mL (Figura 10).

Controle

TsV (10 g/mL)

30 TsV (50 g/mL)

*

20

10

0

1 3 6 24

Tempo (h)

Figura 10: Liberação de IL-1β induzida pelo TsV em BEAS. As BEAS foram plaqueadas em

placas de 96 poços e incubadas por 24-48 horas para adesão celular. Após esse período foi

adicionado o TsV (10 e 50 µg/mL) ou meio de cultura (controle) e foram incubadas por 1, 3, 6 e 24

horas. As concentrações de IL-1β foram avaliadas por EIA em sobrenadante das células em

cultura. Cada valor representa a média ± EPM de três experimentos independentes, * p< 0,05, vs

controle (ANOVA).

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32

IL-6

ng

/mL

5.4.2 Liberação de IL-6 induzida pelo TsV em BEAS.

As concentrações de IL-6 foram avaliadas no sobrenadante de cultura de

BEAS, no período de 1, 3, 6 e 24 horas após a incubação com o TsV (10 e 50

µg/mL) ou meio de cultura (controle). Ambas as concentrações estudadas foram

capazes de induzir a liberação de IL-6, pelas BEAS, que foi significativamente

diferente do controle em todos os tempos analisados, sendo que a maior liberação

dessa citocina ocorreu às 3 e 24 horas após a incubação do TsV (Fig. 11).

4000

Controle

TsV (10 g/mL)

TsV (50 g/mL)

3000 *

* * * 2000

* * * * 1000

0 1 3 6 24

Tempo (h)

Figura 11: Liberação de IL-6 induzida pelo TsV em BEAS. As BEAS foram plaqueadas em placas de 96 poços e incubadas por 24-48 horas para adesão celular. Após esse período foi adicionado o TsV (10 e 50 µg/mL) ou meio de cultura (controle) e foram incubadas por 1, 3, 6 e 24 horas. As concentrações de IL-6 foram avaliadas por ELISA em sobrenadante das células em cultura. Cada valor representa a média ± EPM de três experimentos independentes, * p< 0,05, vs controle (ANOVA).

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IL-8

ng

/mL

5.4.3 Liberação de IL-8 induzida pelo TsV em BEAS.

As concentrações de IL-8 foram avaliadas no sobrenadante de cultura de

BEAS, no período de 1, 3, 6 e 24 horas após a incubação com o TsV (10 e 50

µg/mL) ou meio de cultura (controle). Ambas as concentrações estudadas foram

capazes de induzir a liberação de IL-8, pelas BEAS, que foi significativamente

diferente do controle em todos os tempos analisados, sendo que a maior liberação

dessa citocina ocorreu às 3 e 6 horas após a incubação do TsV (Fig. 12).

2500

2000 *

* 1500

1000

* * 500

Controle

TsV (10 g/mL)

TSV (50 g/mL)

*

* *

*

0 1 3 6 24

Tempo (h)

Figura 12: Liberação de IL-8 induzida pelo TsV em BEAS. As BEAS foram plaqueadas em placas de 96 poços e incubadas por 24-48 horas para adesão celular. Após esse período foi adicionado o TsV (10 e 50 µg/mL) ou meio de cultura (controle) e foram incubadas por 1, 3, 6 e 24 horas. As concentrações de IL-8 foram avaliadas por ELISA em sobrenadante das células em cultura. Cada valor representa a média ± EPM de três experimentos independentes, * p< 0,05, vs controle (ANOVA).

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34

6. DISCUSSÃO

O TsV é o que causa o maior número de acidentes em humanos, e induz às

mais severas formas de envenenamento, quando comparado as outras espécies

de escorpião de importância médica no Brasil. No entanto, os estudos da ação

deste veneno em células em cultura são escassos. Assim, este trabalho teve

como objetivo investigar o efeito in vitro do TsV de em cultura de células epiteliais

brônquicas humanas (BEAS) e células endoteliais murinas (tEnd).

A literatura mostra que o envenenamento causado pelo TsV causa

alterações pulmonares como edema pulmonar agudo, sendo a principal causa de

óbito, principalmente em crianças (Amaral e Resende, 1997). No entanto, não está

esclarecido os mecanismos celulares pelo qual isto ocorre.

Neste estudo avaliou-se a capacidade do TsV em causar injúria em células

epiteliais brônquicas e em células endoteliais in vitro.

Na primeira fase do trabalho avaliou-se a viabilidade das BEAS e tEnd, pelo

método do MTT, onde dosou-se a enzima desidrogenase mitocondrial, pois em

casos de injúria ocorre extravasamento desta enzima para o citoplasma das

células, onde pode se observar na literatura que o método MTT serve também

para estimar o número de mitocôndrias e o número de células vivas em lavado

bronco alveolar de cavalos após injúria (Hall JA et al, 2006). Já Xie et al. (2011)

determinaram a atividade anti-proliferativa pelo MTT, onde quantificou a

viabilidade/morte celular por apoptose em carcinoma mucoepidermóide de pulmão

em humanos. Após a avaliação pelo MTT, os resultados mostraram que o TsV foi

capaz de diminuir a viabilidade das células BEAS em 3, 6 e 24 horas de incubação

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nas concentrações de 10 e 50 g/mL, mostrando que o TsV é tóxico para essas

células. Já foi demonstrado que o TsV é capaz de causar alterações na mecânica

do tecido pulmonar em camundongos (Peres et al, 2009), onde essas alterações

podem ser decorrentes da toxicidade do veneno sobre as BEAS como

observamos neste trabalho. Já em períodos mais precoces de incubação (30 min

e 1 h) o TsV não causou citotoxicidade.

Quando avaliou-se o efeito do TsV nas tEnd, verificou-se que o veneno não

é citotóxico para essas células em nenhum dos tempos avaliados e nenhuma das

concentrações, resultados semelhantes foram encontrados quando o TsV foi

avaliado sobre macrófagos em cultura (Petricevich, 2002). No entanto, não se

pode descartar a possibilidade do veneno ter alguma modulação sobre as tEnd,

uma vez que o endotélio é um importante componente tecidual que medeia o

processo inflamatório e a resposta vascular à injúria pulmonar (Parra-Bonilla G et

al., 2010).

Para avaliar outra forma de dosagem da viabilidade celular frente ao TsV,

dosou-se a liberação da enzima lactato desidrogenase (LDH), uma enzima

intracelular que após rompimento da membrana celular é liberada, podendo ser

dosada no sobrenadante de cultura celular. A LDH converte piruvato a lactato,

gerando NAD, que é importante para sustentação do fluxo glicolítico. A LDH

converte o piruvato, que é o produto final da glicólise em lactato na ausência ou

em pequenas quantidades de oxigênio, realiza também reação reversa via

glicolítica anaeróbica no fígado. Na presença de grandes concentrações de

lactato, a enzima exibe inibição por “feedback” e a taxa de lactato a piruvato é

reduzida. Na literatura podemos observar que a enzima LDH está presente na

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disfunção endotelial e que pode ser considerada uma indicadora de morte celular

por necrose (Zhang SL et al, 2010). Já em células endoteliais pulmonares de

ratos, é mostrado que uma subunidade da LDH, a LDH-A está relacionada com a

regulação do rápido crescimento celular e que a supressão de LDH-A expressa

estímulo respiratório mitocondrial e diminuição do crescimento celular, enquanto

que em células cancerígenas a LDH-A participa da tumorigênese (Parra-Bonilla et

al, 2010). Os resultados mostraram um aumento significante da LDH após 24

horas da incubação do TsV (50 g/mL), tanto nas células BEAS como nas células

tEnd, indicando que o TsV leva a lesão celular nos dois tipos celulares estudados.

Os dados obtidos demonstraram que o veneno causa tanto a liberação de

LDH e alteração da atividade oxidativa mitocondrial em células BEAS. Por outro

lado, o veneno causou a liberação de LDH, mas não alterou a atividade oxidativa

mitocondrial nas tEnd

. A partir desses dados, pode-se sugerir que os mecanismos de ação do

TsV sobre a viabilidade das monocamadas de BEASl e tEnd sejam diferentes.

A análise citológica das células BEAS está de acordo com a observada na

análise bioquímica de citotoxicidade, uma vez que foi observado redução do

número de células e do volume citoplasmático na presença do TsV em 24 horas.

Esta redução de volume está de acordo com a alteração da bomba Na+/K+-

ATPase causada pelo TsV relatada em células epiteliais alveolares do tipo II em

ratos, que pode contribuir para a morbidade e mortalidade de vítimas que

desenvolveram edema pulmonar após a acidente com o TsV (Comellas et al.,

2003).

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37

Com a finalidade de verificar se as BEAS estariam participando da

inflamação local, avaliou-se a capacidade das BEAS de produzir citocinas pró-

inflamatórias, visto que diversas citocinas já foram verificadas in vivo após

envenenamento pelo Tityus serrulatus. (Fukuhara et al., 2002).

As citocinas são um grupo de proteínas muito importantes nos processos

de comunicação entre as células. Constituem uma classe de compostos diferentes

em termos de origem e função e são fundamentais para o funcionamento

adequado da resposta imune inata e adaptativa (Mtodzikowska-Albrecht et al.,

2007).

Além de sua ação sobre os neurotransmissores, já foi demonstrado que o

veneno do escorpião pode estimular a liberação de citocinas principalmente em

casos de envenenamento severo (Meki, Monhey-El-Dean, 1998; Zoccal et al.,

2011). Níveis elevados de IL-6 foram encontrados no plasma de pacientes picados

pelo escorpião Tityus serrulatus (Magalhães et al, 1999; Fukuhara et al., 2003) e

ocorreu aumento de IL-6 e IL-1 em camundongos expostos aos venenos dos

escorpiões T. serrulatus e Centruroides noxius (Petricevich e Peña 2002; Pessini

et al., 2003; Petricevich et al., 2006). Há trabalhos na literatura com o TsV ou

toxinas purificadas deste, mostrando que o pico máximo de IL-1β ocorre antes do

pico máximo de IL-6. (Petricevich et al, 2007).

Baseado nestas informações, estudou-se as citocinas IL-1β, IL-6 e IL-8,

pelo fato de estudos mostrarem, em humanos, uma correlação direta dessas

interleucinas no plasma, com a severidade do envenenamento pelo TsV

(Fukuhara Y D et al, 2003). Os resultados obtidos nas células BEAS, mostrou que

houve um aumento significativo na liberação da IL-1β no período de incubação de

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6 horas pelo TsV. Já, o TsV causou um aumento significante das citocinas IL-6 e

IL-8, nas células BEAS em todos os períodos de tempo analisados.

A IL-1 é sintetizada por vários tipos celulares incluindo as células epiteliais.

As ações biológicas da IL-1 são múltiplas e diversificadas. O principal efeito

biológico desta citocina é mediar o processo inflamatório. Essa citocina aumenta a

síntese e secreção de proteínas de fase aguda pelos hepatócitos e promove

acúmulo de granulócitos, particularmente de neutrófilos, nos sítios de inflamação,

através do aumento da expressão de moléculas de adesão nas células

endoteliais. A IL-1 causa edema e induz a produção de quimiocinas como a IL-8 e

de outras citocinas como o TNF-e a IL-6 (para revisão vide DINARELLO, 1988;

1991; MIZEL, 1989; STYLIANOU & SAKLATVALA, 1998). A IL-6 está relacionada

à resposta de fase aguda da reação inflamatória, que é caracterizada por

leucocitose, febre, aumento da permeabilidade vascular, alterações das

concentrações plasmáticas de esteróides, aumento da produção de proteínas de

fase aguda (KISHIMOTO, 1989) e aumento da expressão da molécula de adesão

ICAM-1 (TILG et al., 1997). A IL-8 é produzida por uma enorme variedade de

células (monócitos, linfócitos, células do endotélio ou epitélio, fibroblastos) em

resposta a diferentes estímulos como o LPS e a outras citocinas (TNFα, IL-1β).

Ainda, a IL-8 é um potente quimiotático e ativador de neutrófilos (Montón et al

1998). Desse modo, pode-se sugerir que as citocinas IL-1β, Il-6 e IL-8, liberadas

pelas células BEAS contribuam para o recrutamento leucocitário induzido pelo

veneno e/ou aumento de permeabilidade vascular, eventos causados pelo TsV já

demostrados na literatura (ZULIANI et al., 2013; Fialho et al., 2011; Peres et al.,

2009).

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39

Em conjunto, pelos dados obtidos, verificou-se a ação in vitro do TsV em

BEAS e tEnd. Concluiu-se que o envenenamento causado pelo TsV que ocorre no

pulmão (mecanismo in vivo) apresenta ação local em BEAS (mecanismo in vitro),

e que essas células contribuem para o processo inflamatório observado nos

pacientes picados pelo TsV. Podemos também inferir que o TsV é tóxico para

BEAS e que esta seria uma das causas das alterações na mecânica pulmonar

causada por este veneno.

Esses dados colaboram para um melhor entendimento no processo

fisiopatológico deste envenenamento, contribuindo para uma conduta médica

precoce e mais direcionada da vítima logo após a picada pelo TsV, evitando

evolução para o edema agudo de pulmão e morte.

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40

7. CONCLUSÃO

√ O veneno de TsV alterou a viabilidade de monocamadas das BEAS e

tEnd, sendo que esse efeito foi mais pronunciado nas BEAS.

√ O TsV induz a liberação das citocinas IL-1, IL-6 e IL-8 pelas BEAS.

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41

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manuscript 4326 - Receipt - Basic & Clinical Pharmacology & Toxicology

Basic & Clinical Pharmacology & Toxicology <[email protected]>

qui 30/01/2014 05:26

Para:

Stella Regina Zamuner;

Manuscript title: EFFECTS OF Tityus serrulatus SCORPION VENOM ON

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