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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAO
GESTO DO ESPORTE
CRISTINA EMY SHINTANI
COMPETITIVIDADE NOS CONTEXTOS URBANO E DO NEW PUBLIC
GOVERNANCE: UM ESTUDO EM ORGANIZAES E ENTIDADES DO ESPORTE
EM MUNICPIOS
So Paulo
2014
CRISTINA EMY SHINTANI
COMPETITIVIDADE NOS CONTEXTOS URBANO E DO NEW PUBLIC
GOVERNANCE: UM ESTUDO EM ORGANIZAES E ENTIDADES DO ESPORTE
EM MUNICPIOS
Dissertao apresentada ao Programa Mestrado Profissional
em Administrao Gesto do Esporte da Universidade
Nove de Julho UNINOVE, como requisito parcial para
obteno do grau de Mestre em Administrao - Gesto
do Esporte.
Orientador: Prof. Dr. Benny Kramer Costa
So Paulo
2014
CRISTINA EMY SHINTANI
COMPETITIVIDADE NOS CONTEXTOS URBANO E DO NEW PUBLIC
GOVERNANCE: UM ESTUDO EM ORGANIZAES E ENTIDADES DO ESPORTE EM
MUNICPIOS
DISSERTAO APRESENTADA AO PROGRAMA DE
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAO -
GESTO DO ESPORTE DA UNIVERSIDADE NOVE
DE JULHO UNINOVE, COMO REQUISITO PARCIAL
PARA OBTENO DO GRAU DE MESTRE EM
ADMINISTRAO GESTO DO ESPORTE.
_________________________________________________________
Presidente: Prof. Benny Kramer Costa, Dr. Orientador, UNINOVE
_________________________________________________________
Membro Externo: Prof. Joo Maurcio Gama Boaventura, Dr., FEA/USP
_________________________________________________________
Membro Interno: Prof. Joo Paulo Lara de Siqueira, Dr., UNINOVE
So Paulo, 15 de dezembro de 2014.
Por que um dia preciso parar de sonhar, tirar os planos
das gavetas e, de algum modo, comear.
Amyr Klink
AGRADEDIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Dr. Benny Kramer Costa, pelo empenho, profissionalismo, e
incentivo, fundamentais nesse processo de retorno ao ambiente acadmico, que representa a
retomada de novo flego profissional e pessoal. Pela generosidade e enorme disponibilidade
para compartilhar seu conhecimento e indicao de caminhos, meu muito obrigada!
Aos professores da Uninove, por abrirem todo um mundo novo de conhecimento e
ferramentas que hoje me credenciam a ser uma melhor profissional na gesto do esporte, mas
principalmente, pela dedicao e profissionalismo que, tenho certeza, deixam marcas em cada
um ns. Prof. Dr. Vnia Nassif e Prof. Dr. Joo Manuel Malaia Casquinha Santos, por me
reapresentarem escrita cientfica, por assim dizer, de forma to apaixonada e competente.
Ao Prof. Dr. Joo Paulo Lara de Siqueira, ao Prof. Dr. Ary Rocco Jr., ao Prof. Ms. Fernando
Malagrino, ao Prof. Dr. Leandro Carlos Mazzei, e ao Prof. Dr. Jlio Arajo Carneiro da
Cunha, pela disposio, disponibilidade e aconselhamento, dentro e fora do ambiente das
aulas, mas principalmente, pelos subsdios tericos e prticos que hoje enriquecem minha
atuao acadmica e prtica profissional diria. Aos Prof. Dr. Edmilson Lima, Prof. Dr.
Henrique Csar Melo Ribeiro e Prof. Dr. Joo Maurcio Boaventura, por suas valiosas
consideraes nas bancas de qualificao e defesa que tornaram esse trabalho possvel.
Aos meus queridos colegas de curso, com quem dividi as horas de maior companheirismo e
produtividade ao longo desses ltimos dois anos, especialmente aos que se tornaram
verdadeiros amigos nesse perodo de muita aprendizagem, no apenas acadmica e
profissional, mas principalmente, pessoal.
Aos amigos de trabalho e colegas de profisso por seu apoio e compreenso. Aos alunos e
atletas queridos, pelo comprometimento e dedicao nos momentos de maior desafio que
enfrentamos nesse ano que se passou, mas principalmente, por compreenderem nas minhas
cobranas, o incentivo ao seu prprio desenvolvimento.
Finalmente, aos meus pais, pelo apoio e incentivo irrestrito minha nsia de evoluo
pessoal. Mais do que isso, por compreenderem desde o incio a importncia que a educao
teria em nossas vidas, a despeito do que conseguiram vislumbrar nossos avs, proporcionando
a duras penas, as condies que hoje tornaram possvel o encerramento de mais este ciclo. Por
tudo isso, muito obrigada!
RESUMO
As mudanas ambientais exercem influncia nas atividades de organizaes diversas desde o
advento da especializao do trabalho. Desde ento os estudos da competitividade proliferam
na literatura de diferentes reas, como na economia, na administrao, no esporte e na gesto
pblica para a soluo do problema da sobrevivncia e sucesso de organizaes de reas de
atuao e contextos diversos. Essa situao estende-se ao cotidiano e qualidade de vida de
residentes das cidades, e nesse sentido, observa-se a importncia do esporte para o bem estar
fsico e social do indivduo e do cotidiano das cidades em geral, pelo seu poder de gerar
oportunidades econmicas em nvel local, regional e internacional. Considerando-se o papel
do Estado em garantir a infraestrutura e a prestao de servios necessria para a
competitividade das cidades e a consequente importncia das aes da gesto pblica em
municpios, este trabalho procura identificar como os elementos de competitividade
concebidos nos contextos urbano e do New Public Governance no mbito do esporte em nvel
local, podem contribuir para as aes realizadas nas atividades esportivas dos municpios.
Para isso, foi realizada uma pesquisa exploratria e descritiva do fenmeno da
competitividade, com a utilizao de um mtodo qualitativo de anlise por meio de um estudo
de casos comparativo entre os grupos de interesse com atividade no esporte nos municpios de
So Bernardo do Campo e So Caetano do Sul, localizados na regio metropolitana de So
Paulo. Espera-se, com esse trabalho, contribuir para as aes realizadas na atividade do
esporte em municpios, e a observao de elementos que possam contribuir para o
desenvolvimento da gesto do esporte no Brasil.
Palavras-chave: Competitividade, competitividade urbana, exporte, gesto pblica, new
public governance.
ABSTRACT
Environmental changes influence the activities of various organizations since the advent of
labour specialization. Since then competitiveness studies multiply in different literature areas
as economy, management, sport and public administration to solve the survival problem and
success of organizations involved in different sectors and contexts. This scenario projects into
the daily actions and quality of life of different city residents and so is possible to observe the
importance of sport to the physiological and social wellness of the individuals and cities, due
the power to generate business opportunities in local, regional and international levels.
Considering the governmental duty to guarantee necessary infrastructure and service for the
cities competitiveness, and the importance of the local public administration and governance
to do so, this work tries to identify how the competitiveness elements observed in the context
of the new public governance approach in the local sport context may contribute for the sport
activity in the municipality. With this goal in mind, an exploratory descriptive research of the
competitiveness phenomenon will be held, by the use of a qualitative multiple case analysis
involving different interest groups with sport activity in So Bernardo do Campo and So
Caetano do Sul cities, located in So Paulos metropolitan area. This work aims to contribute
to the local sport activities and to achieve elements for the development of the sport
management in Brazil.
Key-words: Competitiveness, urban competitiveness, sport, public administration, new
public governance.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Modelo de delimitao do estudo. ......................................................................................................... 43 Figura 2: Esquema terico preliminar de estudo da competitividade baseado no referencial estudado. ............... 59 Figura 3: Esquema terico preliminar para verificao em campo entre os stakeholders do esporte. ................... 60 Figura 4: Atributos de competitividade observados na pesquisa de campo. ....................................................... 119
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Caracterizao dos stakeholders consultados com atividade no esporte no municpio de So Bernardo
do Campo. ............................................................................................................................................................. 49
Quadro 2: Caracterizao dos stakeholders consultados com atividade no esporte no municpio de So Caetano
do Sul..................................................................................................................................................................... 49
Quadro 3: Sntese dos atributos da competitividade em nvel local das firmas e organizaes. ........................... 55
Quadro 4: Sntese dos atributos de competitividade da gesto do esporte. ........................................................... 55
Quadro 5: Sntese dos atributos do New Public Governance. ............................................................................... 56
Quadro 6: Sntese dos atributos da competitividade em nvel das cidades, regies e naes. ............................... 58
Quadro 7: Questes norteadoras das entrevistas semiestruturadas aplicadas para a observao das prticas de
competitividade nas organizaes com atividade no esporte nos municpios. ...................................................... 62
Quadro 8: Sntese da anlise dos atributos de competitividade observados na Secretaria de Esporte e Lazer de
So Bernardo do Campo. ....................................................................................................................................... 74
Quadro 9: Sntese da anlise dos atributos de competitividade observados na Associao Sanbernardense de
Atletismo. .............................................................................................................................................................. 81
Quadro 10: Sntese da anlise dos atributos de competitividade observados na Universidade Metodista de So
Paulo. ..................................................................................................................................................................... 88
Quadro 11: Sntese da anlise dos atributos de competitividade observados na Secretaria de Esporte e Turismo
de So Caetano do Sul. .......................................................................................................................................... 96
Quadro 12: Sntese da anlise dos atributos de competitividade observados na Associao Desportiva Classista
da General Motors. .............................................................................................................................................. 103
Quadro 13: Sntese da anlise dos atributos de competitividade observados na Universidade Municipal de So
Caetano do Sul..................................................................................................................................................... 112
LISTA DE SIGLAS
ADC Associao Desportiva Classista
ASA Associao Sanbernardense de Atletismo
CBAt Confederao Brasileira de Atletismo
CBHb Confederao Brasileira de Handebol
IAAF Federao Internacional de Atletismo
ME Ministrio do Esporte
NEFE Ncleo de Referncia em Esporte, Exerccio Fsico e Sade
NPG New Public Governance
NPM New Public Management
PEC Programa Esportivo Comunitrio
SESP para a Secretaria de Esporte de So Bernardo do Campo
SEEST para a Secretaria de Esporte e Turismo de So Caetano do Sul
Snear Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento
Snelis Secretaria Nacional de Esporte, Educao, Lazer e Incluso Social
SRI Stanford Research Institute
SUMRIO
1 INTRODUO .................................................................................................................. 12
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ..................................................................................... 14
1.2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 14
1.3 PRESSUPOSTOS DE PESQUISA ............................................................................. 16
1.4 OBJETIVOS ................................................................................................................ 17
1.4.1 Objetivo geral ........................................................................................................ 17
1.4.2 Objetivos especficos............................................................................................. 18
1.5 PROPOSIES DO TRABALHO ............................................................................. 18
1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................................ 19
2 FUNDAMENTAO TERICA ..................................................................................... 20
2.1 ESTUDOS DA COMPETITIVIDADE ....................................................................... 20
2.2 COMPETITIVIDADE URBANA ............................................................................... 25
2.3 COMPETITIVIDADE NA ATIVIDADE DO ESPORTE E A GESTO PBLICA
DO ESPORTE ...................................................................................................................... 30
2.3.1 Estudos da Competitividade no Esporte................................................................ 31
2.3.2 A gesto pblica do esporte: atribuies do Estado para o esporte e stakeholders
34
2.4 A COMPETITIVIDADE DO ESTADO E O NEW PUBLIC GOVERNANCE ........... 37
3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ....................................................................... 42
4.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA ........................................................................... 42
4.2 AMOSTRA .................................................................................................................. 45
3.1.1 As cidades de So Bernardo do Campo e So Caetano do Sul e sua atividade no
esporte ............................................................................................................................... 46
3.1.2 Caracterizao das organizaes analisadas ......................................................... 49
3.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA E DE ANLISE DE DADOS ............................ 53
3.2.1 Questes do estudo de caso ................................................................................... 54
4 ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS DA PESQUISA ................................. 63
4.1 ESTUDO DE CASO 1: SO BERNARDO DO CAMPO ......................................... 63
4.1.1 Stakeholder 1 - Secretaria de Esportes de So Bernardo do Campo (SESP) ........ 63
4.1.2 Stakeholder 2 - Associao Sanbernardense de Atletismo (ASA SBC) ............... 74
4.1.3 Stakeholder 3 - Universidade Metodista de So Paulo ......................................... 81
4.2 ESTUDO DE CASO 2 SO CAETANO DO SUL ................................................. 88
4.2.1 Stakeholder 4 Secretaria de Esportes e Turismo de So Caetano do Sul (SEEST)
88
4.2.2 Stakeholder 5 Associao Desportiva Classista General Motors (ADC GM) ... 97
4.2.3 Stakeholder 6 Universidade Municipal de So Caetano do Sul (USCS) ......... 104
4.3 ESTUDO COMPARATIVO DE CASOS SO BERNARDO DO CAMPO x SO
CAETANO DO SUL: ANLISE E CONTRIBUIES PARA APLICAO............... 112
5 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................... 120
5.1 CONSIDERAES EM RELAO AS CONTRIBUIES PARA APLICAO
NOS MUNICPIOS ............................................................................................................ 120
5.2 CONCLUSES GERAIS .......................................................................................... 127
5.3 LIMITAES DO ESTUDO .................................................................................... 130
5.4 SUGESTES PARA ESTUDOS FUTUROS ........................................................... 130
6 REFERNCIAS ............................................................................................................... 132
12
1 INTRODUO
O tema competitividade representa importante preocupao por parte de organizaes que
atuam em diversos setores da sociedade e por estudiosos em diversas reas do saber: na
sociologia, por exemplo, o trabalho de Bezes, et al. (2012); na contabilidade, Yunis et al.
(2012); na psicologia, Luchner et al. (2011) e Hibbard e Buhrmester (2010) e, em relao a
aspectos ticos na administrao, Mudrack e Turnley (2011). Os estudos da competitividade
remontam poca do nascimento da economia moderna, frutos das preocupaes de
diferentes reas do saber, desde o advento da diviso da fora de trabalho e o incio da
economia de escala, gerando as diferenas na produtividade das naes (Anca, 2006).
Foco constante de investigao entre acadmicos, gestores e formuladores de polticas
pblicas (CERRATO e DEPPERU, 2011), observam-se diferentes entendimentos da
competitividade de acordo com a rea de interesse e atuao das organizaes. Em especial na
rea econmica e na administrao, a queda de barreiras internacionais no final dos anos 1980
criou a necessidade de estudos para suprir as firmas com uma capacidade de adaptao
instabilidade do ambiente (ANCA, 2006), assim como a capacidade de sobreviver e competir
nos mercados globais (AMBASTHA, 2004). Segundo esses estudos, a competitividade exige
um carter multidimensional de anlise, pois atinge firmas, cidades, regies e naes.
A competitividade em cidades e regies corresponde a espaos geogrficos nos quais se
concentram as atividades das firmas, e tem como desafio, o acesso e o desenvolvimento de
recursos que levam a um crescimento urbano sustentvel. Nesse sentido, estudos como os de
Kresl e Singh (2011), Chorianopoulos et al. (2010), Caragliu, Del Bo e Nijkamp (2011) e
Jiang e Shen (2010, 2013) mostram preocupao em investigar modelos e frameworks
voltados capacidade de atrair residentes, negcios e visitantes, obter condies para criar e
distribuir riquezas, tangveis ou intangveis (CARAGLIU, DEL BO e NIJKAMP, 2011), ou
ainda, a capacidade de criar um ambiente propcio atividade produtiva e prestao de
servios, minimizando os custos sociais e ambientais gerados pelo crescimento urbano
(KRESL e SINGH, 2011). Assim, observada a dupla caracterstica da competitividade, de
qualidade geradora de benefcios e objetivo substantivo a ser alcanado (CERRATO e
DEPPERU, 2011), surge a inquietao quanto anlise da influncia da competitividade,
13
tanto na atuao, como na relao entre diferentes grupos de interesse que mantm atividades
no cotidiano das cidades, como no caso do esporte.
Como prtica institucionalizada e organizada, o esporte est presente nas cidades em
diferentes dimenses. Seja na prtica educadora, de participao, ou de competio, tem papel
estratgico para a incluso social (AZEVEDO e GOMES, 2011), e influencia diretamente
firmas e organizaes, observada a sua importncia enquanto gerador de demandas por
produtos e servios para diferentes stakeholders (BORLAND e MACDONALD, 2003). Por
essas razes, o esporte apresenta-se como elemento de contribuio para o ambiente das
cidades, e ao mesmo tempo, depende da competitividade, enquanto setor de atuao
econmica, para suprir a demanda de firmas e organizaes por recursos e processos, no
ambiente da gesto pblica, privada, ou do terceiro setor. Para isso, necessria uma anlise
da gesto das organizaes com atividade no esporte presente nos municpios, bem como a
capacidade do poder pblico de fornecer a infraestrutura e servios para promover a
competitividade no ambiente urbano.
Como observado por Aijala (2002), o setor pblico enfrenta cada vez mais dificuldade na
competio por recursos humanos e de investimentos frente iniciativa privada. Fruto da
pouca eficincia e eficcia da gesto, a baixa competitividade pode ser observada na perda
crescente de credibilidade, e para suprir essa dificuldade, observam-se na literatura diferentes
abordagens como os estudos da chamada new public governance (NPG), que buscam a
adoo de um conjunto de aes com base nas relaes intersetoriais, interorganizacionais e
de governana (BINGHAM, NABATCHI e OLEARY, 2005; CHEUNG, 2013; OSBORNE,
RADNOR e NASI, 2012) para o aumento da eficincia e eficcia da prestao de servios
pelo poder pblico. Sendo assim, o NPG pode trazer contribuies, observadas as aes
previstas pelo Ministrio do Esporte, para o fomento e desenvolvimento do esporte.
Por meio de aes como a governana colaborativa (ROSEMBLOOM, 2013), e a
participao popular na tomada de decises estratgicas na gesto pblica municipal, o NPG
serve ainda como forma alternativa aos modelos tradicionais que adotam uma perspectiva
gerencial para a administrao pblica, com o uso de ferramentas oriundas do setor de
negcios (CHEUNG, 2013). A governana colaborativa e a lgica da prestao de servios
que norteiam as abordagens defendidas pelo New Public Governance, podem indicar
caminhos que favoream a criao e desenvolvimento de servios pblicos que contribuam de
14
forma mais efetiva para a atividade de diferentes organizaes, pblicas, privadas ou do
terceiro setor, para a sua atividade nos municpios brasileiros.
Portanto, o interesse desse estudo gira em torno da observao da efetiva contribuio da
competitividade para a atividade de organizaes do esporte presente nos municpios, e seu
potencial de contribuio para a competitividade urbana. Para isso, procurou-se realizar
observaes relativas efetiva contribuio do poder pblico para a competitividade da
gesto do esporte em organizaes com atividade no esporte nos municpios, com o uso de
aes relacionais entre governo, sociedade civil, entidades privadas, prestadoras de servios, e
demais grupos envolvidos com o esporte, no alto nvel de rendimento ou nas aes de
insero social presentes no municpio, buscando a proposio de contribuies para a
formulao de polticas pblicas da gesto do esporte no Brasil.
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA
O problema de pesquisa envolve os constructos de competitividade, do New Public
Governance, no mbito do esporte em municpios. Sendo assim, esse trabalho procurar
responder a seguinte pergunta de pesquisa:
Como os elementos de competitividade, observados nos contextos das abordagens da
competitividade urbana e do New Public Governance, presentes no mbito do esporte, em
municpios, contribuem para as aes realizadas nestas atividades locais?
1.2 JUSTIFICATIVA
A competitividade vem constituindo uma importante preocupao por parte de
organizaes de diferentes setores de atuao presentes na sociedade. Essa afirmao pode ser
observada nas diferentes reas de estudo da competitividade consultadas, que mostram a
preocupao na elaborao de modelos e frameworks de estudos da competitividade, porm,
foram encontrados poucos estudos empricos de determinantes e influncias da
15
competitividade. No contexto urbano, Jiang e Shen (2010 e 2013) indicam a predominncia
das abordagens econmicas, e a necessidade de observao de indicativos ambientais, sociais
e econmicos para a medio da competitividade que, assim como observado por Kresl e
Singh (2012), exercem influncia mtua e sofrem modificaes do ambiente com o tempo. Os
autores mostram a importncia do equilbrio entre essas variveis para a competitividade de
cidades e regies.
Os trabalhos consultados mostram a falta de investigaes sobre a competitividade de
organizaes presentes nas diferentes esferas de atuao do esporte. Estudos da gesto do
esporte tm predominncia de anlises intraorganizacionais e aes estratgicas em
organizaes reguladoras do esporte (ADCROFT e TECKMAN, 2008; FERKINS e
SHILBURY, 2012; SHILBURY, 2012; WINAND et al., 2011), mas no especialmente no
mbito das esferas pblica, privada, de prestao de servios, pblico-privadas, que muitas
vezes so dependentes da infraestrutura e prestao de servios, que segundo Anca (2006)
devem ser ofertadas pelo Estado.
O papel do poder pblico quanto ao fomento do esporte em todo o territrio nacional se
confunde com a contribuio do esporte para atrair negcios e visitantes para as cidades. A
funo estratgica do esporte pode ser observada na capacidade de agregar valor s cidades
enquanto destinos tursticos (FLAGESTAD e HOPE, 2001) e na criao de oportunidades
econmicas geradas por grandes eventos esportivos (LEFEBVRE e ROULT, 2011). Porm, a
literatura no permite afirmar at que ponto o esporte pode ser considerado qualidade
geradora de competitividade urbana, e como a gesto pblica capaz de atender aos
interesses dos stakeholders envolvidos na atividade do esporte nos municpios.
Objetivo substantivo da gesto pblica, a atividade do esporte est presente nos
municpios no alto nvel de rendimento, nas aes de incluso social, e como gerador de
negcios e oportunidades diversas. O desafio deste trabalho ento comea por explorar a
relao entre os elementos de competitividade das cidades e da gesto do esporte e m suas
diferentes manifestaes.
Considerando o papel do poder pblico no atendimento dos interesses dos stakeholders
envolvidos no esporte e as contingncias especficas geradas pela competitividade urbana,
esta investigao exige tambm a anlise da competitividade do Estado, que deve desenvolver
meios para garantir os direitos e interesses dos envolvidos na atividade do esporte em
16
municpios, mas que, assim como unidades de negcios e as cidades, dependem de sua
capacidade adaptativa s mudanas ambientais para o desenvolvimento de suas aes.
Sendo assim, este trabalho procurou contribuir para apontar um conjunto de elementos de
competitividade que possa ser utilizado na atividade do esporte nos municpios, pensado de
maneira ampla e que possa fazer um elo com as ideias do New Public Governance.
1.3 PRESSUPOSTOS DE PESQUISA
O conceito de competitividade varia de acordo com o foco da respectiva rea, mas em
especial na economia, nos mbitos das firmas e naes, trata da capacidade de atrair e
processar recursos que possibilitem a produo e trocas comerciais, em um ambiente de
constante mudana e velocidade de informao, podendo ser entendida como qualidade
direcionadora de benefcios e objeto substantivo a ser alcanado (CERRATO e DEPPERU,
2011). Porm, esse entendimento da competitividade, com foco na produtividade, no
considera a influncia de vrios fatores atrelados atividade de firmas e organizaes
prestadoras de servios, e no caso da competitividade de cidades e regies.
No contexto das cidades, o entendimento geral dos estudos da competitividade est
direcionado obteno da capacidade de atrair negcios, visitantes e residentes para um
desenvolvimento sustentvel e condies de equilibrar custos sociais gerados pelas dinmicas
urbanas, visando a melhora das condies de vida de seus habitantes. Nesse sentido, as
pesquisas apontam para a necessidade de considerar um conjunto de fatores que considerem
questes econmicas, sociais, ambientais e institucionais para a atividade de firmas e
organizaes que compem a dinmica urbana.
Portanto, esse estudo considerou inicialmente o termo competitividade como sendo o
conjunto de atributos1 que permitem a identificao, aquisio e processamento de recursos
(tangveis e intangveis), pelas firmas e/ou organizaes, que possibilitem a avaliao e
adaptao ao ambiente em que est inserido, e a produtividade ou a eficiente prestao de
servios de forma sustentvel. No contexto das cidades, conforme Yu, Gu e Shen (2010),
entende-se a competitividade urbana como a capacidade de atrair, controlar, dominar e
1 caracterstica qualitativa ou quantitativa, que identifica um membro de um conjunto observado.
17
transformar recursos durante o desenvolvimento urbano, e a capacidade de gerar riqueza,
desenvolvimento e padro de vida e a manuteno de desenvolvimento sustentvel.
O esporte enquanto setor de atividade econmica (BORLAND e MACDONALD, 2003),
e prtica institucionalizada e organizada, presente no ambiente das cidades como instrumento
de incluso social (AZEVEDO e GOMES, 2011), considerado nesse estudo enquanto
potencial instrumento de competitividade urbana, bem como stakeholder (firmas e
organizaes) em busca de competitividade. Tendo o poder pblico municipal, a atribuio de
fomentar e desenvolver as diferentes dimenses de prtica nas cidades, conforme
determinaes da Constituio Brasileira, a gesto pblica deve ser capaz de atender os
interesses dos diferentes stakeholders envolvidos com a prtica do esporte em municpios, e
garantir a infraestrutura (social e fsica) e a prestao de servios, necessrias para esse fim.
Nesse sentido, o modelo do new public governance pode contribuir de forma ampla para a
gesto pblica dos municpios por defender a adoo de prticas de governana na
administrao pblica, baseado em aes intersetoriais e de parcerias pensadas
estrategicamente para o alcance de objetivos, alm de considerar influncias ambientais na
ao operacional e estratgica da gesto de organizaes prestadoras de servios, e no a
simples aplicao de ferramentas gerenciais oriundas do setor de negcios.
Sendo assim, o pressuposto geral adotado neste estudo entende que os atributos de
competitividade, nos moldes estabelecidos pelo New Public Governance, trazem
contribuies para a atividade do esporte em municpios, atendendo aos objetivos
estabelecidos pelo Ministrio do Esporte, e contribuindo para o desenvolvimento da
competitividade urbana e o desenvolvimento de polticas pblicas de esporte em nvel de
municpios.
1.4 OBJETIVOS
1.4.1 Objetivo geral
Considerando a competitividade de stakeholders com atividade no esporte em
municpios, inseridos no contexto da competitividade urbana e o papel do Estado em fornecer
18
infraestrutura e prestao de servios atravs da gesto pblica do esporte para a
competitividade dos municpios, este trabalho procurar:
Identificar e analisar os elementos de competitividade no contexto das abordagens da
competitividade urbana e do New Public Governance no mbito do esporte em municpios, de
modo a verificar sua forma de atuao e sugerir contribuies nas aes esportivas.
1.4.2 Objetivos especficos
1) Identificar os elementos de competitividade, geral e no esporte, que fazem interface
com as abordagens da competitividade urbana e do New Public Governance;
2) Conceber um framework que contemple os elementos de competitividade no contexto
urbano e do New Public Governance, a partir da literatura discutida;
3) Analisar nos stakeholders investigados, as formas de atuao relacionadas
competitividade, a partir do framework concebido;
4) Sugerir contribuies locais que proporcionem a melhoria em termos de
competitividade no setor do esporte.
1.5 PROPOSIES DO TRABALHO
1) Quais os elementos de competitividade, geral e no esporte, e como estes fazem
interface com as abordagens da competitividade urbana e do New Public Governance?
2) De que maneira pode-se conceber um framework que contemple os elementos de
competitividade no contexto urbano e do New Public Governance, a partir da
literatura discutida?
3) Como ocorrem as formas de atuao dos stakeholders presentes na atividade do
esporte luz do framework concebido?
4) Que contribuies podem ser sugeridas que proporcionem a melhoria da
competitividade do esporte local?
19
1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO
Este trabalho foi organizado em 06 partes. Na primeira apresentado o problema, o
contexto, os objetivos a serem alcanados, a justificativa e a relevncia da pesquisa.
A segunda seo trata da fundamentao terica, adotada para a abordagem dos temas
competitividade, competitividade urbana, competitividade no esporte e as abordagens do new
public governance.
Na terceira parte, so apresentados os procedimentos metodolgicos adotados, o
detalhamento da pesquisa, os critrios para escolha e a caracterizao da amostra da pesquisa
os procedimentos para a coleta e anlise dos dados, incluindo o esquema terico preliminar de
estudo elaborado a partir da reviso da literatura.
A quarta parte apresenta a anlise e discusso das prticas de competitividade de cada
stakeholder estudado, luz do esquema terico preliminar, feitas a partir das anlises
intracaso de cada municpio e a anlise comparativa das cidades que compuseram este estudo,
e as contribuies para aplicao.
A quinta seo apresenta as consideraes em relao s contribuies para aplicao,
as concluses gerais, as limitaes do estudo e finalmente, as sugestes para estudos futuros.
Na sexta seo, so apresentadas as obras que compuseram o referencial terico.
20
2 FUNDAMENTAO TERICA
A literatura consultada apresentada a seguir busca fazer a convergncia dos constructos da
competitividade em diferentes reas de estudo para trazer referncias para a anlise da
competitividade no setor da atividade do esporte em municpios. Foi considerada para a
pesquisa, a busca pela maior eficincia nas aes e capacidade de sobrevivncia dos
stakeholders com atividade do esporte em municpios, e o papel do poder pblico em garantir
as condies necessrias para a competitividade dos atores identificados, seguindo as
diretrizes estabelecidas pela Constituio para o fomento do esporte, e observadas as
contribuies que o esporte pode trazer para a diminuio dos custos sociais do crescimento
urbano. Para tanto, tambm so investigados elementos que proporcionem maior eficincia da
gesto pblica para o cumprimento de suas aes voltadas atividade do esporte, no intuito
de criar as bases necessrias ao alcance dos objetivos propostos neste trabalho.
2.1 ESTUDOS DA COMPETITIVIDADE
A competitividade vem sendo objeto de anlise de diversos estudos, sobretudo com
enfoque das reas econmica e da administrao como Ambastha (2004), Anca (2006),
Avella, Fernndez e Vzquez (2001), Beechler e Woodward (2009), Carey, Mason, Misener
(2011), Cerrato e Depperu (2011), De Sa Guerra et al. (2012) e Demeter (2003), entre outros.
Organizaes de diferentes reas, influenciadas por diferentes contextos so foco de estudos
que demonstram a abrangncia, relevncia e dificuldade do estudo do tema.
Os trabalhos consultados de diferentes reas mostram que apesar da farta literatura
disponvel, o termo de difcil conceituao (AMBASTHA e MOMAYA, 2004; ANCA,
2006; CERRATO e DEPPERU, 2011; JIANG e SHEN, 2010; MENDOZA, JURADO e
CONTIGIANI, 2009; SHILBURY, 2012). Segundo Jiang e Shen (2010), o conceito foi
utilizado primeiramente nos setores industrial e de negcios que esto inseridos naturalmente
em um ambiente de competio. Anca (2006) salienta que ainda no h uma viso comum em
relao ao conceito e a literatura da rea econmica mostra alguns aspectos importantes,
como a no existncia de uma perspectiva terica complexa o bastante para a definio do
termo, a correlao com fatores e condies qualitativas e quantitativas, o seu carter
21
multidimensional (nacional, regional e local), e sua composio por mltiplos fatores. Essas
observaes podem fornecer um indicativo para a investigao das fontes e determinantes da
competitividade.
A capacidade adaptativa para mudanas ambientais so invariavelmente o gatilho para as
investigaes observadas. Com o traado da evoluo histrica do conceito da
competitividade na rea econmica, Anca (2006) mostra que o advento da especializao e da
diviso da fora de trabalho deu origem economia de escala e s consequentes diferenas de
produtividade entre as naes. Desde ento, h um aumento progressivo nas demandas por
uma maior competitividade em um ambiente de livre comrcio, exigindo cada vez mais uma
perspectiva multidimensional de anlise.
O estudo da competitividade acompanha a evoluo das teorias econmicas desde o
advento das cincias econmicas, atribudo a Adam Smith, que publicou em 1776 o primeiro
trabalho referente riqueza das naes, com a formulao dos princpios de liberdade de
mercado. Desde ento, diferentes abordagens da competitividade vm sendo elaboradas,
como as de David Ricardo, sobre a vantagem comparativa das naes em ambiente de livre
comrcio, e a Teoria de Keyne, que considera o capital e trabalho fatores de produo
complementares, com base nas dinmicas da demanda e no grau de empregabilidade. Mais
recentemente, no final dos anos 1980, a Teoria do crescimento endgeno, baseada no
conhecimento, e a perspectiva macroeconmica para a competitividade das naes entre as
mais contemporneas, sendo uma das diferenas mais marcantes entre essas teorias e a teoria
clssica, a considerao do desenvolvimento do padro de vida da populao para a
competitividade e no apenas na produtividade, sendo esta a concepo adotada neste
trabalho.
Ambastha e Momaya (2004), Anca (2006) e Cerrato e Depperu (2011) mostram que o
incio do sculo 21 foi marcado por eventos que influenciaram o sucesso e a sobrevivncias
das firmas, indstrias e naes. Os ataques terroristas de setembro de 2001 e o colapso de
grandes corporaes abalaram a confiana nos negcios e so alguns dos exemplos citados
por Ambastha e Momaya (2004) para descrever a crise econmica americana instaurada aps
um longo perodo de crescimento econmico com o advento e desenvolvimento da internet.
Ao lado da m fase econmica do Japo, outra gigante economia mundial, os autores
destacam a dependncia dos pases na competitividade como forma de sobrevivncia e
sucesso frente turbulncia dos mercados.
22
No contexto mais recente, Yunis et al. (2012) destacam que a queda de barreiras
internacionais e o desenvolvimento das tecnologias de informao e comunicao geraram
uma srie de desafios, mas tambm de oportunidades. Em tempos de crise econmica
mundial, gestores de firmas e agentes governamentais responsveis pela elaborao de
polticas pblicas enfrentam o desafio de elaborar e implantar programas e estratgias para a
obteno e manuteno da competitividade global das naes. Segundo o estudo, a
competitividade pode incentivar a abertura de novos mercados, estratgias, formas de
prestao de servios, que so potencializadas pelo dinamismo do ambiente e surgem da
tentativa de adaptao em diferentes mbitos alm do econmico.
Tendo como foco a competitividade das naes, Yunis et al. (2012) analisaram a
influncia de fatores scioeconmicos e tecnolgicos para a maturidade das tecnologias de
informao e comunicao. A forma rpida com que essas tecnologias evoluram geraram
amplas mudanas culturais, sociais e econmicas, direcionando a gerao de competitividade
em nvel das firmas, indstrias, nacional e internacional. Este cenrio pode ser atribudo
capacidade das tecnologias de informao e comunicao, de desenvolver a dinmica e a
interatividade das operaes, aproximando firmas e indstrias para uma rede de valor
agregado, e a oportunidade de pases estarem ligados em um modelo de redes globais.
Citando exemplos de casos em nvel da firma e das naes, os autores reforam os
resultados positivos alcanados com a implantao das tecnologias de informao e
comunicao para o aumento da competitividade. Em nvel da firma, ressaltada a
convergncia na utilizao de capacidades internas, infraestrutura tecnolgica e a internet para
o fornecimento de servios financeiros mais eficientes e eficazes. Em nvel dos pases, os
autores citam o caso de Singapura por colocar essas tecnologias no centro de sua estratgia
nacional para inovao e desenvolvimento, ao implantar as capacidades de utilizao das
tecnologias de informao e comunicao por todo o pas.
O acesso a computadores e internet, o aumento da conectividade de alta velocidade, so
alguns dos exemplos citados que possibilitaram a transformao dos modelos de negcios e
da economia em direo a um melhor uso das tecnologias de informao e comunicao.
Frente aos resultados, o governo incentivou ainda mais fortemente a adoo de alta
tecnologia, especialmente as tecnologias de banda larga, assim como a capacidade de
inovao pelas firmas. Nesse sentido, cresce a importncia das tecnologias de informao e
comunicao, pois por meio destas, o compartilhamento do conhecimento e a colaborao
23
entre stakeholders de organizaes domsticas e estrangeiras so operacionalizadas,
representando um importante direcionador da competitividade no cenrio atual (Yunis et al.,
2012).
A crise financeira global e a desacelerao da economia geram problemas sociais ao
prejudicar o fluxo sustentvel de riquezas (tangveis e intangveis) entre as firmas e os
indivduos. Beechler e Woodward (2009) observaram que a diminuio do desempenho das
firmas fora a reduo do nmero de empregados, a perda da capacidade de atrair e manter
funcionrios com maior grau de capacitao, assim como os investimentos em programas de
desenvolvimento e treinamento de pessoal, criando um crculo vicioso que gera custos sociais
e ambientais para as cidades. Observando ainda que o nvel de prosperidade das naes est
no resultado da interao da competitividade das firmas, dos indivduos e da nao (Anca,
2006), torna-se imprescindvel que o Estado seja capaz de prestar servios e infraestrutura que
possibilitem a gerao e distribuio de riquezas e a minimizao dos custos sociais
relacionados.
Outra caracterstica da competitividade a ser observada sua dupla condio de qualidade
geradora de resultados e objetivo substantivo a ser alcanado, corroborando Cerrato e
Depperu (2011) e Ambastha e Momaya (2004), que atestam que a competitividade pode ser
tratada como varivel dependente ou independente, de acordo com as perspectivas de cada
abordagem sobre o tema. Cerrato e Depperu (2011) desmembram o constructo da
competitividade internacional em ex ante competitiveness, voltadas firma e vantagens
especificamente relacionadas localizao como direcionadores de competitividade, o perfil
internacional da firma, resultado das caractersticas qualitativas e quantitativas da presena da
firma em geral, e ex post competitiveness, relacionada ao desempenho financeiro ou no,
nos mercados internacionais.
Um bom nmero de estudos consultados vem se concentrando na elaborao de modelos e
frameworks para o estudo da competitividade em contextos diversos. Ambastha e Momaya
(2004) em relao competitividade das firmas de software na ndia, Cerrato e Depperu
(2011) na competitividade internacional das firmas europeias, Kresl e Singh (2012) com
relao competitividade dos territrios nos Estados Unidos, Caber, Albayrak e Matzler
(2012) sobre a competitividade de destinos tursticos na Turquia, Mendoza, Jurado e
Contigiani (2009) sobre a medio da competitividade das cidades no Mxico, e Manzano
(2009) na competitividade urbana das cidades na Amrica Latina. Os trabalhos mostram
24
grande variedade de indicadores e variveis com caractersticas dinmicas e que se alteram
com o tempo, sofrendo influncias mtuas e de fatores sociais, econmicos e ambientais.
Contudo, segundo Ambastha e Momaya (2004) os frameworks e modelos existentes
falham muitas vezes por no relacionarem a competitividade com processos estratgicos e
funcionais. Cerrato e Depperu (2011) reforam a falta de um framework organizado que
possibilite a sua aplicao dentro de um corpo de conhecimento potencialmente enorme da
literatura, mesmo com contribuies de diferentes ramos da pesquisa como relaes
internacionais, marketing e gesto estratgica.
O framework sugerido por Ambastha e Momaya (2004) foi baseado nos processos de
competitividade das firmas na ndia. Os autores consideram a transformao de artefatos
naturais e de infraestrutura como fontes de competitividade, j que ajudam a identificar a
importncia e o desempenho corrente de reas como gesto estratgica, recursos humanos,
gesto operacional e gesto tecnolgica (AMBASTHA, 2004). Na prtica, o estudo observou,
alm da falta de clareza sobre o conceito da competitividade, a dificuldade das firmas
indianas identificarem as contribuies dos diferentes setores (marketing, finanas,
operacionais) para a competitividade da firma. Porm, existe a falta de integrao entre os
processos de competitividade e os processos tradicionais de gesto estratgica, necessria para
a competitividade da firma.
O estudo de Avella, Fernndez e Vzquez (2001), um bom exemplo da necessidade da
ao integrada dos diferentes setores da firma e os processos estratgicos. Com um survey
eletrnico realizado em 1994 direcionado a firmas industriais espanholas que empregavam
mais de 200 funcionrios, a pesquisa no conseguiu observar correlaes positivas entre as
estratgias de manufatura e o sucesso competitivo ou o desempenho nos negcios das firmas
industriais observadas. A competitividade segundo Ambastha e Momaya (2004), vem sim, do
esforo integrado das diferentes funes e, portanto, com ligao prxima com processos
estratgicos.
Portanto, os estudos consultados convergem para a adoo de indicadores relacionados
capacidade estratgica e operacional e processos geradores de competitividade levando-se em
considerao fatores ambientais e sociais dinmicos. Ateno especial dada busca por
economias mais competitivas e dinmicas baseadas no conhecimento, propiciando um
crescimento econmico sustentvel, como destacado por Yunis et al. (2012), mais empregos e
25
coeso social (ANCA, 2006). Beechler e Woodward (2009) discutem a chamada war for
talent, ou guerra por talentos, estabelecida entre as firmas nos anos iniciais do novo milnio
como base para a atrao e reteno de funcionrios do mais alto grau de capacitao,
potencializando os processos de competitividade da firma.
Por fim, fatores ambientais, ecolgicos e sociais tambm devem ser considerados para a
competitividade, pois o dinamismo do ambiente influencia diretamente a atuao das firmas, e
sua atividade define a gerao de crescimento e desenvolvimento urbano, mas com custos
sociais, econmicos e ambientais para as cidades e sua competitividade (JIANG e SHEN,
2010; MENDOZA, JURADO e CONTIGIANI, 2009), foco dos estudos da competitividade
urbana.
Portanto, para esse estudo, entendemos a competitividade, em nvel das firmas e
organizaes, como o conjunto de atributos que possibilitam a avaliao das demandas do
ambiente, a aquisio e processamento de recursos tangveis e intangveis, para a produo ou
prestao de servios de forma eficiente e sustentvel, gerando ao mesmo tempo, condies
para o desenvolvimento de um maior padro de vida para o ambiente e os stakeholders
envolvidos.
2.2 COMPETITIVIDADE URBANA
Como tratado no subitem anterior, nas cidades que as firmas exercem suas atividades e
tm seu valor agregado, constituindo a competitividade das naes (ANCA, 2006). Segundo
Mendoza, Jurado e Contigiani (2009), as cidades podem ser geradoras de um ambiente fsico,
social, econmico e institucional capaz de atrair investimentos e propiciar o desenvolvimento
de atividades produtivas. Ao concentrar novas tecnologias e infraestruturas de informao e
comunicao, servios especializados, centros de cincia e tecnologia, assim como pessoal de
alta qualificao, tm o poder de atrair e reter investimento, gerando empregos e
contribuies para seus residentes.
Contudo, a anlise da competitividade urbana precisa considerar a dupla caracterstica de
qualidade geradora de benefcios e objetivo substantivo a ser alcanado, observado no
constructo da competitividade. Nesse sentido, alm das contribuies mencionadas as cidades
precisam desenvolver tambm a sua capacidade de competir com outras cidades por
26
preferncias polticas, investimentos da iniciativa privada, e para seu desenvolvimento urbano
sustentvel (JIANG e SHEN, 2010). Kresl e Singh (2012) afirmam que cidades que
ignorarem o aumento da competitividade estaro destinadas a um futuro de marginalizao e
estagnao.
Conforme Jiang e Shen (2010), o conceito de competitividade quando aplicado a entidades
como cidades deve ser considerado de forma diferente por serem sistemas social-ecolgicos,
mais complexos do que as unidades de negcios analisadas no contexto da competitividade das
firmas. Conforme Manzano (2009) a importncia e alcance investigativo das cidades
transcendem em muito o mbito estritamente econmico, e o enfoque da competitividade
urbana contribui com sua qualidade analtica que propicia o estudo integrado das dinmicas
urbanas e suas interrelaes com diferentes mbitos como o territorial, ambiental e
institucional.
Entre os estudos consultados na literatura, o conceito de competitividade de Yu, Gu e
Chen (2005), parece contribuir de forma mais ampla para entendimento do conceito da
competitividade no contexto das cidades, e por isso foi o conceito adotado para esse estudo.
Segundo os autores, podemos considerar como competitividade urbana a capacidade das
cidades de atrair, controlar, dominar e transformar recursos durante o desenvolvimento
urbano, e a capacidade de gerar riqueza, desenvolvimento do padro de vida e a manuteno
de desenvolvimento sustentvel. Podemos dizer ainda que para uma cidade ser considerada
competitiva, precisa ter a capacidade de atrair e reter um conjunto de recursos tangveis e
intangveis adequados, definidos em termos econmicos, sociais e ambientais, para atender as
necessidades de seus residentes, observando consideraes feitas por Jiang e Shen (2010).
Caragliu, Del Bo e Nijkamp (2011), assim como na rea econmica, tambm indicam a
importncia de um framework estratgico para o desenvolvimento da competitividade urbana.
Os trabalhos consultados mostram vrias tentativas de elencar indicadores de competitividade
urbana em cidades de culturas e realidades diversas, ressaltando a influncia de questes
variadas como as ambientais, socioculturais e institucionais nos indicadores que exercem
maior influncia. Estudos de Jiang e Shen (2010 e 2013), Xu e Ye (2003); Wong, Tang e Van
Horen (2006), Yu, Gu e Chen (2005) relatam o contexto vivido pelas cidades chinesas na
busca pela rpida urbanizao defendida pelos governos locais para ganho de competitividade
da nao, mas com problemas muito caractersticos de um pas em transio para uma
abertura poltica e econmica no cenrio mundial.
27
Mais especificamente, Wong, Tang e Van Horen (2006) descrevem as principais
dificuldades enfrentadas na gesto estratgica de cidades chinesas no final dos anos 1990. Os
autores observam que a capacidade de formulao e implantao de estratgias e a capacidade
operacional so afetadas por um conjunto de problemas como a falta de autonomia para
tomada de decises estratgicas, a pouca capacidade de gesto, o desequilbrio no
investimento entre aes de gesto e manuteno em comparao ao investimento em
infraestrutura fsica, a falta de transparncia e acompanhamento fiscal gerada pela
ambiguidade na atribuio de responsabilidades, e a falta de capacidade institucional das
cidades para o aumento da regulao na administrao pblica, ou seja, um conjunto de boas
prticas de governana. Nesse sentido, Mendoza, Jurado e Contigiani, (2009) tambm
ressaltam que a no observncia das peculiaridades das cidades de cada pas nos estudos que
vm sendo publicados, levam a uma interpretao pouco clara dos resultados.
Contudo, a preocupao pela competitividade das cidades pode ser observada tambm em
trabalhos que investigam cidades inseridas em outro contexto. Cidades europeias (VAN DEN
BERG e BRAUN, 1999; CARAGLIU, DEL BO e NIJKAMP, 2011; MUSTERD e GRITSAI,
2013), latino americanas (MANZANO, 2009; MENDOZA, JURADO e CONTIGIANI,
2009), e tambm regies norte-americanas (KRESL e SINGH, 2011) so objeto de anlise
que partem invariavelmente da influncia da realidade econmica para a observao de
variveis de natureza social e cultural, tambm nas abordagens adotadas para a investigao
de indicadores e estratgias pelos modelos e frameworks observados.
Em geral, indicadores estratgicos e de capacidade operacional so mencionados, e
autores como Jiang e Shen (2010 e 2013), Caragliu, Del Bo e Nijkamp (2011), Mendoza,
Jurado e Contigiani (2009) apontam entre outros indicadores, o investimento em
infraestrutura para o desenvolvimento econmico e a prestao de servios para a populao.
Elementos relacionados ao capital social e processos de competitividade tambm so foco de
anlise. Van den Berg e Braun (1999) enfatizaram a necessidade de observao de fatores que
levem a um crescimento urbano inteligente e sustentvel.
A partir da anlise dos estgios de desenvolvimento urbano observados nas cidades na
Europa, o estudo de Van den Berg e Braun (1999) aponta a capacidade de organizao e a
implantao de polticas empreendedoras e antecipatrias para a competitividade das cidades.
A lgica seguida pelos autores a de que as cidades durante o processo de desenvolvimento
passam por estgios de adensamento populacional, formando os grandes centros urbanos,
28
concentrando sua atividade produtiva e de servios. Porm, conforme o processo de
desenvolvimento avana, os muncipes tendem a se deslocar para reas adjacentes em busca
de custo de vida mais baixos, mas mantendo sua dependncia com relao atividade
econmica e de servios das grandes cidades, aumentando os custos sociais gerados pelo
aumento da demanda por servios de transporte e baixa na qualidade de vida dessa parcela da
populao.
Nesse cenrio de crescente competitividade das cidades para atrair e reter muncipes,
visitantes e negcios, as tecnologias de informao e comunicao influenciaram as mudanas
na atividade econmica das cidades. As novas tecnologias possibilitaram a criao de redes de
cooperao crescente entre firmas e indstrias, em um cenrio onde as firmas precisam de
flexibilidade para responder rapidamente s mudanas do mercado e ao mesmo tempo, de
acesso a vrios recursos (conhecimento, tecnologia, capital, canais de distribuio) em busca
de inovao.
De forma semelhante, Caragliu, Del Bo e Nijkamp (2011) apontam o conjunto do que
chamam de capital fsico e social, como determinantes de competitividade urbana. Alm da
infraestrutura (capital fsico), os autores, assim como Van den Berg e Braun (1999)
consideraram variveis como a transmisso de conhecimento e a infraestrutura social (capital
humano e social) como principais determinantes para a competitividade urbana, ao propiciar o
desenvolvimento de setores como o de alta tecnologia, turismo, eventos internacionais que
somados, geram melhores condies de vida para os habitantes das cidades. Musterd e Gritsai
(2012) mencionam ainda um grupo de fatores relacionado a redes de relacionamento pessoais,
que impactam perspectivas econmicas, que incluem links pessoais, relaes profissionais e
sociais e outros tipos de conexes sociais locais relacionados ao cotidiano das pessoas.
As aes estratgicas destacadas nos estudos incluem tambm as polticas
empreendedoras e antecipatrias com a utilizao de ferramentas de marketing estratgico na
gesto urbana como citadas por Van den Berg e Braun (1999). E Kresl e Singh (2012)
consideram como determinantes estratgicos a efetividade da administrao pblica,
estratgia urbana, cooperao pblico-privada e flexibilidade institucional, alm dos
determinantes econmicos, ao observar a variao de indicadores de competitividade ao longo
do tempo, de 23 reas metropolitanas norte-americanas, classificadas por rgos oficiais do
governo.
29
O estudo de Kresl e Singh (2012) um bom exemplo dos estudos que partem de variveis
econmicas para elencar indicadores influenciadores de outros mbitos. O estudo inicia com a
adoo de trs variveis, com a evoluo medida durante os anos de 1977 a 2002:
remunerao do trabalho, vendas no varejo e servio profissionais. A variao da
remunerao retrata o aumento da produtividade. O aumento de vendas de varejo indica
crescimento populacional e/ou de renda pessoal e considerado por no residentes como um
atrativo para cultura, recreao, compras e, em geral, para uma experincia urbana. Servios
profissionais designers, engenheiros, servios financeiros, consultores etc. so requeridos
para cidades em processo de transio econmica sustentvel nas dcadas futuras.
Kresl e Singh (2012) desdobram os determinantes de competitividade e obtm uma
segunda srie de indicadores, relacionados ao percentual da populao com mais de 25 anos
com curso superior completo. Os autores afirmam a importncia da manuteno de baixos
ndices de criminalidade para a garantia da segurana pessoal desses indivduos, e um sistema
de transporte satisfatrio para a locomoo de trabalhadores, bem como a atuao dos rgos
governamentais para garantir oportunidades adequadas de atividades de lazer, incluindo
estruturas de recreao e eventos culturais, ou seja, um conjunto de fatores que se traduzam
na melhora da qualidade de vida da populao, corroborando avaliaes feitas anteriormente
por Van den Berg e Braun (1999) e Caragliu, Del Bo e Nijkamp (2011).
De forma mais abrangente, Jiang e Shen (2010) apresentam um modelo com indicadores
que incluem a dimenso social, institucional e a ambiental/ecolgica, grande problema
caracterstico das grandes cidades na China. Como indicadores de competitividade social,
adotam variveis relacionadas a recursos humanos e educao, qualidade de vida, nvel de
desenvolvimento urbano e operaes e iniciativas governamentais como variveis
institucionais. Na dimenso ambiental/ecolgica, componentes de competitividade tais como
rudo, reas verdes, resduos industriais, qualidade do ar e outros indicadores especficos da
China, onde o estudo foi realizado, so usados.
No entanto, Chorianopoulos et al. (2010) mostram que a falta de um planejamento
adequado pode resultar em queda da competitividade de uma cidade, gerando impactos
socioeconmicos negativos de mdio e longo prazos. Em seu estudo sobre os efeitos do
planejamento espacial urbano da cidade de Atenas resultantes das intervenes na
infraestrutura realizadas para os Jogos Olmpicos de 2004, as prioridades adotadas alteraram a
direo do crescimento urbano, principalmente da rea metropolitana de Atenas, causando
30
uma mudana no uso do territrio e aumentando a tendncia de crescimento da rea perifrica
de forma desordenada. Wong, Tang e Van Horen (2006) tambm observaram que a rpida
urbanizao contribuiu para o crescimento econmico, especialmente nas reas urbanas, mas
tambm gerou problemas como congestionamento, falta de moradias, poluio, degradao
ambiental e conflitos sociais.
Nesse sentido, destaca-se o papel do poder pblico em garantir as condies necessrias
para o desenvolvimento da competitividade, principalmente como interlocutor entre as esferas
superiores de governo, a iniciativa privada e a sociedade civil. Mendoza, Jurado e Contigiani
(2009) destacam a importncia das associaes ou redes entre os atores governamentais,
sociais e privados, que podem funcionar como agentes promotores de investimento, servios
avanados, mo de obra qualificada, obteno de financiamentos pblicos, propiciar o
desenvolvimento de setores de alta tecnologia, turismo, eventos internacionais, gerando
melhores condies para o desenvolvimento econmico e da vida social da populao.
A caracterizao de Mendoza, Jurado e Contigiani (2009) para a cidade competitiva
apresenta uma sntese do quadro de atributos desenvolvido pelos estudos observados at aqui:
...a cidade competitiva capaz de criar melhores condies urbano-ambientais e institucionais, seja em
termos de infraestrutura bsica e telecomunicaes, como na qualidade dos servios especializados,
inovaes tecnolgicas, meio ambiente sustentvel, instituies transparentes, qualidade nas regulaes,
combate insegurana e promoo da coeso social; isto , melhores condies gerais para a produo
econmica e para o desenvolvimento da vida social. (Mendoza, Jurado e Contigiani, 2009. pag. 81).
Tendo em vista a preocupao apontada pelos estudos apresentados com relao a
elementos que levem a um quadro que permita a diminuio de custos sociais e ambientais do
desenvolvimento urbano, e ao mesmo tempo, que permita a atrao de investimento e
oportunidades para as cidades, observaremos as possibilidades de contribuio do esporte,
suas demandas para a competitividade de atividade nos municpios, e o papel do poder
pblico para contribuies neste contexto.
2.3 COMPETITIVIDADE NA ATIVIDADE DO ESPORTE E A GESTO PBLICA DO
ESPORTE
31
2.3.1 Estudos da Competitividade no Esporte
Assim como nos estudos da competitividade de outras reas, possvel observar tambm
nos estudos no mbito do esporte, uma confuso conceitual importante. Slack (1996) j
salientava, no final dos anos 1990, a concentrao de estudos relacionados competitividade
esportiva, ou seja, relacionada principalmente aos elementos influenciadores do desempenho
esportivo.
Essa confuso envolvendo o termo competitividade analisada por Shilbury (2012), que
destaca a ligao direta entre a competio e a definio do esporte, historicamente
relacionado ao desempenho esportivo dentro do campo. Muito da ambiguidade observada
na conceituao da competitividade das organizaes esportivas pode ser atribuda ao sentido
comum do termo competio, entendido como medida de superioridade, principalmente no
mbito do esporte de alto rendimento.
As discusses acerca do conceito do esporte no Brasil podem ser observadas em estudos
voltados formulao de polticas pblicas para o seu desenvolvimento. Nesse sentido,
podemos citar Azevedo e Gomes (2011) e Alves e Pieranti (2007), que procuraram subsdios
para entender o esporte enquanto atividade de lazer, instrumento de benefcios sociais
populao, bem como a sua importncia enquanto setor de atividade econmica. Alves e
Pieranti (2007) trazem o enfoque sob o ponto de vista da administrao, da relao entre o
esporte, a sociedade e o Estado, aqui entendido como o conjunto de estruturas poltico-
administrativas, organizadas em conformidade com regulamentaes legais originadas no
mbito pblico (ALVES e PIERANTI, 2007). J Azevedo e Gomes (2011), trazem a tica
sociolgica para a discusso das contribuies do esporte para a sociedade.
Com o uso do mtodo historiogrfico, Alves e Pieranti (2007) trazem a evoluo do
conceito do esporte, utilizado como referncia para a elaborao das polticas pblicas no
contexto brasileiro ao longo do tempo. De acordo com os autores, o termo esporte surgiu de
uma expresso utilizada por marinheiros europeus no sculo XVI, que significava sair do
porto, fazendo referncia atividades de passatempo onde eram exigidas habilidades fsicas.
Desde ento o conceito evoluiu, de acordo com Tubino (1992), do entendimento relacionado
seleo dos melhores e mais capazes, presente nas manifestaes esportivas na Inglaterra do
sculo XIX.
32
O esporte no contexto brasileiro atual entendido como fenmeno social presente no
cotidiano das cidades, bem como um importante setor de negcios. Nesse sentido, Azevedo e
Gomes (2011) e Alves e Pieranti (2007) baseiam-se na conceituao de Helal (1990), que
afirma que esportes so jogos institucionalizados. Segundo o autor, praticar um esporte
praticar um jogo de alto rendimento, segundo regras institucionalmente definidas que no
esto disposio de seus praticantes. E alm delas, h normas de organizao. Helal define
brincadeira como qualquer atividade espontnea, voluntria, sem regras fixas, que
proporciona prazer e diverso e que no tem finalidade ou sentido alm ou fora de si. Jogos,
por sua vez, so brincadeiras organizadas e podem ou no ser competitivos, mas esportes
so sempre jogos competitivos organizados. Azevedo e Gomes (2011) argumentam, porm,
que a distino entre esporte, jogo e brincadeira feita por Helal no capaz de capturar todas
as dimenses das prticas esportivas.
A discusso de ambos os trabalhos citados com relao ao conceito do esporte, chegam
ento a adoo da conceituao proposta por Tubino (1992), que complementam o
entendimento sociolgico feito por Helal (1990). De acordo com Tubino, o esporte uma
prtica institucionalizada e organizada, sendo caracterizada por trs dimenses de prtica: o
educacional, o participativo e o de competio. Como destaca o autor (Tubino, 1992, p.20):
Retomando aos usurios-praticantes, percebemos que a prtica esportiva pode ser dividida em
prticas de aprendizagem, de treino, de competio, de prtica regular, de recreio e a tantas
outras identificadas na abrangncia das dimenses sociais do esporte, isto , do esporte-
educao, do esporte-participao e do esporte-performance.
Estas dimenses de prtica observadas por Tubino (1992) vm sendo adotadas para a
elaborao das polticas pblicas de esporte pelo Ministrio do Esporte, mas como podemos
observar, principalmente na literatura internacional, o esporte tem forte presena enquanto
setor de negcios. Entre os estudos consultados, destaca-se a reviso da literatura feita por
Shilbury (2012), que observou a demanda pela formulao e implantao de estratgias que
levem ao aumento da competitividade tambm nas organizaes esportivas. J Ferkins e
Shilbury (2012) e Winand, et al. (2011) apontam a capacidade de desempenho organizacional
como principais determinantes da competitividade das organizaes de gesto do esporte.
Estudos sobre a competitividade de organizaes reguladoras do esporte apontam a
importncia da competitividade dos conselhos administrativos. Winnand et al. (2011),
observando organizaes nacionais de esporte na Blgica, afirmaram que necessria uma
33
abordagem multidimensional combinando medidas financeiras e no financeiras nos
contextos com e sem fins lucrativos. Os objetivos devem ser voltados tanto para os resultados
do alto rendimento esportivo, como tambm para o fomento do esporte comunitrio. Para isso
se apoiam no desempenho organizacional, definido como a habilidade de adquirir e processar
adequadamente recursos humanos, financeiros e fsicos para o alcance dos objetivos, com a
combinao de meios (determinantes do desempenho como habilidades humanas e
administrativas) e fins (objetivos estratgicos), para identificar elementos de competitividade.
Ferkins e Shilbury (2012) seguem uma linha de pensamento semelhante. Com uma
abordagem um pouco mais dinmica, os autores destacam elementos como a presena de
pessoas capacitadas, um quadro de referncia para a adoo de aes estratgicas, processos
eficientes dentro dos conselhos de administrao, e uma rede de relacionamentos regionais
eficientes como fatores principais de competitividade em organizaes sem fins lucrativos.
Estudos direcionados ao fomento do esporte so raros. O recente estudo de Mackintosh,
Cookson e Griggs (2014) uma exceo encontrada na literatura investigada e faz um estudo
de caso de um programa voltado ao esporte comunitrio desenvolvido por uma organizao
nacional de governana do esporte na Inglaterra. Segundo os prprios autores, a pesquisa faz
parte de um campo de estudo relativamente emergente que comea a examinar o papel de
organizaes governamentais de esporte nacionais direcionadas ao aumento da participao
popular no esporte.
Estudos tambm tratam de estratgias para aumento da competitividade econmica de
organizaes do esporte. Evans e Smith (2005) observaram a influncia da internet na
maximizao das oportunidades em um estudo das quatro maiores ligas profissionais de
esporte na Austrlia, corroborando a importncia das tecnologias de informao e
comunicao para a competitividade, defendidas por Yunis et al. (2012).
A afirmao de Anca (2006) sobre a importncia do equilbrio para a competitividade,
tambm foi observada em estudos da competitividade do esporte. O equilbrio competitivo
entre times, torneios e temporadas foi apontado nos trabalhos de De Sa Guerra et al. (2012) e
Soebbing e Mason (2009), que realizaram dois estudos sobre a gesto do esporte em grandes
ligas profissionais de basquete. De acordo com os dois trabalhos, esse equilbrio
fundamental para que se garanta a imprevisibilidade no esporte, e pelo fato dos resultados
mudarem de acordo com o investimento. Sendo assim, as prticas institucionais so
determinantes para a garantia desse equilbrio, como no caso especfico da National
34
Basketball Association (NBA) que mantm uma srie de regulaes especficas da liga norte
americana, para a contratao e transferncia de atletas e permisso ou no de entrada de
novos investidores, para garantir o equilbrio competitivo.
Observam-se tambm estudos relacionados competitividade do ou pelo esporte que se
relacionam a competitividade territorial. A adoo do esporte como estratgia para a criao
de valor de cidades e destinos tursticos o foco de estudos como os de Lefebvre e Roult
(2011), Xiaoyan e Chalip (2006) que citam as possibilidades de ganhos financeiros e
oportunidades diversas com eventos esportivos como Jogos Olmpicos e provas do circuito de
automobilismo (no caso a Formula 1), que atraem ateno de pblico, mdia e investidores
diversos.
Portanto, possvel observar que tambm nessa rea tem-se a competitividade do esporte
e pelo esporte. Assim como nos estudos da competitividade geral e das cidades, necessrio
observar um conjunto de elementos e condies que possibilitem o desenvolvimento e
sucesso das atividades dos organismos e instituies. Porm, para essa investigao
necessrio analisar at onde se estendem as atribuies do Estado e os stakeholders
envolvidos na atividade do esporte em municpios.
Por fim, entendemos para os objetivos deste estudo, que o esporte um importante
elemento de contribuio para a melhora das condies de vida e trabalho da populao das
ciudades, bem como setor de atividade de firmas e organizaes que dependem da
competitividade para o alcance de seus objetivos. Estes por sua vez, podem gerar importantes
contribuies incluso social e interlocuo com grupos de muncipes, nas diferentes
dimenses de prtica, conforme detalhados por Tubino (1992), ou seja, no esporte-educao,
esporte-participao e esporte de competio. Por isso, necessria a investigao com
relao participao do Estado para o fomento do esporte nos municipios.
2.3.2 A gesto pblica do esporte: atribuies do Estado para o esporte e stakeholders
As atribuies do Estado com relao ao esporte no Brasil so definidas pela Constituio
Federal de 1988. Segundo as suas diretrizes, cabe ao Estado fomentar as diferentes
manifestaes do esporte como garantia de direitos essenciais do indivduo. O ministrio do
esporte (ME) o rgo responsvel pela construo da poltica nacional de esporte, que
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apresenta como misso o desenvolvimento do esporte de alto rendimento e aes de incluso
social por meio do esporte, garantindo populao o acesso gratuito prtica esportiva,
qualidade de vida e desenvolvimento humano. Para isso, organiza suas aes entre a
secretaria nacional de esporte, educao, lazer e incluso social (Snelis), e a secretaria
nacional de esporte de alto rendimento (Snear), e a secretaria nacional de futebol e defesa dos
direitos do torcedor. Esta ltima tem como misso atuar como um interlocutor entre governo e
rgos pblicos e privados, parte da preparao para sediar a Copa do Mundo de 2014.
Cabe ao Snelis atuar para a formulao, coordenao e implantao de polticas
relativas ao esporte educacional, de lazer e incluso social, garantindo aes de planejamento,
avaliao e controle de programas, projetos e aes em todo o territrio nacional. Sua misso
prev prestao de cooperao tcnica e assistncia financeira suplementar a outros rgos da
administrao pblica federal, aos estados, ao Distrito Federal, aos municpios e s entidades
no governamentais sem fins lucrativos, nas aes ligadas aos programas e projetos sociais
esportivos e de lazer. Alm disso, articular-se com os demais segmentos da administrao
pblica federal para a execuo de aes integradas a rea dos programas sociais esportivos e
de lazer, planejamento, controle e acompanhamento de pesquisas com instituies de ensino
superior visando obteno de novas tecnologias voltadas ao desenvolvimento do esporte
educacional, recreativo e de lazer para a incluso social, e articulao com demais entes da
federao para implantar poltica de esporte nas escolas.
J ao Snear compete implantar decises relativas ao Plano Nacional do Esporte e aos
programas de desenvolvimento do esporte de alto rendimento, coordenar, formular e
implantar a poltica relativa aos esportes voltados para competio, desenvolvendo gestes de
planejamento, avaliao e controle de programas, projetos e aes. Alm disso, realizar
estudos, planejar, coordenar e supervisionar o desenvolvimento do esporte e a execuo de
aes de promoo de eventos, prestar cooperao tcnica e assistncia financeira
suplementar como no caso do Snelis, e manter intercmbio com organismos pblicos e
privados, nacionais, internacionais e governos estrangeiros para o desenvolvimento do esporte
de alto rendimento.
Podemos assim, observar a existncia de diferentes grupos de interesse envolvidos na
prtica do esporte em municpios. As atribuies das secretarias nacionais esto definidas de
modo a garantir as diferentes prticas do esporte e que so dirigidas a diferentes pblicos e
prev um papel de interlocuo e apoio financeiro, operacional e estratgico para essas aes.
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Porm a identificao dos indivduos e organismos dependentes das condies oferecidas pelo
estado, tanto para a prtica como para a oferta das aes tambm fazem parte da
responsabilidade do estado para garantir o acesso e o desenvolvimento do esporte, como
estabelecido pela Constituio. Para esse propsito, a teoria dos stakeholders traz indicativos
da rea da administrao para a identificao dos indivduos e organizaes, influenciados e
influenciadores das aes do esporte.
O trabalho de Freeman (1984) um dos trabalhos de referncia da teoria dos
stakeholders. Segundo o autor, o surgimento do termo se remete a um memorando interno do
SRI Stanford Resarch Institute de 1963, fazendo referncia ao grupo cuja relevncia dava
suporte sobrevivncia da empresa. Nesse caso a lista de stakeholders inclua os
proprietrios, acionistas, empregados, fornecedores, clientes, consumidores, competidores,
financiadores e a sociedade (FREEMAN, 1984, p. 32). A partir de ento, a temtica tem sido
explorada em grande profuso na literatura, mas para os fins deste trabalho, adotaremos
apenas alguns indicativos principais para a definio de grupos de stakeholders que norteiem
o estudo da competitividade nas e das aes do esporte em municpios.
Observam-se na literatura consultada diversas definies para o termo, entre elas a de
Freeman (1984, p.31) que define como stakeholder qualquer grupo ou indivduo que pode
afetar ou ser afetado pelo alcance dos propsitos de uma firma. Frooman (1999) aponta a
importncia da identificao dos stakeholders para a visualizao dos objetivos e / ou
finalidades das organizaes, e os mtodos ou aes que possibilitaro o alcance desses
objetivos. Essas afirmaes indicam a observao da relevncia e do propsito dos grupos de
interesse com relao organizao ou atividade do esporte para identificar quais os
stakeholders principais devem ser consultados para essa investigao.
Para auxiliar a seleo dos stakeholders temos a categorizao feita por Stoner e
Freeman (1999) que considera dois grupos de interesse: os externos (consumidores,
fornecedores, grupos com interesses especiais, outras instituies), e os internos, que incluem
no caso das firmas, empregados, acionistas e o conselho de administrao. Clarkson (2005),
tambm com enfoque do setor das firmas, a empresa tem como obrigao atender, mesmo que
parcialmente, os interesses de seus stakeholders, com o objetivo de manter a satisfao e a
reteno dos mesmos.
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No caso da gesto pblica do esporte, podemos relacionar entre os stakeholders
externos principais os prprios muncipes, muitas vezes dependentes da formulao e
implantao de programas pblicos de esporte e lazer ou ainda, de instalaes esportivas e
locais diversos para a sua prtica. Ao mesmo tempo, esse muncipe tem o poder de influncia
ao eleger os responsveis pela formulao das polticas de fomento ao esporte, bem como as
prioridades adotadas pelo poder pblico e a fiscalizao dessas aes.
Por outro lado, temos os stakeholders internos, ou seja, os indivduos ou grupos
responsveis pela formulao de polticas pblicas e os que so dependentes de recursos ou
processos oferecidos pelo estado para ofertar atividades de esporte nos municpios. Alm
desses grupos, tm-se ainda os stakeholders que, conforme apontado por Frooman (1999)
podem influenciar a organizao por meio de intermedirios, o que podemos relacionar com
aqueles que do suporte ao desenvolvimento do esporte, atravs de parcerias estratgicas ou
operacionais.
Portanto, procuraremos observar as indicaes dos autores consultados para a seleo
dos stakeholders que sero foco da anlise proposta neste trabalho, tendo por base o grau de
influncia, propsito e condio interna ou externa organizao.
2.4 A COMPETITIVIDADE DO ESTADO E O NEW PUBLIC GOVERNANCE
No mbito da gesto pblica, tambm observamos um grande nmero de pesquisas com
foco de anlise intraorganizacional apontando para a necessidade do desenvolvimento da
competitividade do Estado. Grande parte das demandas relaciona-se ineficcia e ineficincia
na prestao de servios, atribudos a problemas caractersticos do setor pblico. O Report on
the Competitive Public Employer Project, baseado no Expert Meeting on the Competitive
Public Employer Project (IJLA, [s.d.]) (encontro internacional realizado no ano de 2001,
na cidade de Paris, organizado pela Organizao para a Cooperao e o Desenvolvimento
Econmico), aponta a preocupao em relao ao desenvolvimento de habilidades crticas e
profissionalismo no servio pblico, visando o aumento de competitividade dos empregadores
pblicos. Dentre os principais fatores de competitividade apontados esto aspectos
relacionados qualidade das habilidades crticas disponveis nas organizaes, e fatores de
aprendizagem organizacional que potencializem os processos internos e externos de atuao.
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Em relao competitividade do Estado, o modelo da New Public Management
(NPM) citado por um bom nmero de estudos que buscam solues para o aumento da
eficcia e flexibilidade da gesto pblica (BEZES et al., 2012; CHEUNG, 2013;
RODRIGUES, 2007; SCHUBERT, 2009; SILTALA, 2013; WOSNIAK e REZENDE, 2012).
Nesse modelo, a competitividade est pautada no ganho de eficincia, eficcia, e qualidade na
prestao dos servios, adotando prticas e ferramentas caractersticas de agentes privados.
O modelo prope o foco nos resultados, com a adoo de estratgias que levem a um
perfil mais enxuto e flexvel, gerando maior agilidade e eficincia dos governos com a
profissionalizao dos servios. O objetivo oferecer maior autonomia gerencial, propiciando
um maior controle e em consequncia, maior eficincia na alocao de recursos pblicos.
Nesse sentido, Rodrigues (2007) contextualiza o modelo implantado na gesto pblica dos
governos locais de Portugal, como alternativa ao modelo de gesto tradicional, caracterizado
pela centralizao, alta hierarquizao e burocracia, alm dos altos custos. Wosniak e
Rezende (2012) mostram a mesma orientao busca de competitividade do Estado no
contexto brasileiro, pautada na formulao, implantao e controle estratgicos, formalizao
dos processos e diretrizes organizacionais, com a anlise de fatores ambientais.
Hood (1991) destaca como componentes da Nova Gesto Pblica, a gesto
profissional, as medidas de desempenho (definio de objetivos e indicadores de
desempenho), o controle de resultados (gastos e recompensas ligados ao desempenho), a
fragmentao das unidades pblicas, a competio no setor pblico, instrumentos de gesto
privada em relao liberdade de contratao e sistemas de punio e recompensas, e a
disciplina na gesto, em relao ao corte nos custos e aumento de produtividade.
Portanto, podemos observar a preocupao de acadmicos e prticos pela adoo de
aes que levem maior competitividade do Estado, mas considerando as diferenas dos
objetivos enfatizados pela iniciativa privada, que tem nos resultados financeiros o seu
objetivo principal. De acordo ijla (2002), devem-se considerar as caractersticas que
diferenciam os servidores pblicos dos funcionrios da iniciativa privada, no que diz respeito
forma de admisso e vnculo empregatcio estabelecido. O carter de estabilidade altera
substancialmente a cultura organizacional e as aes de avaliao, monitoramento e controle,
em relao ao desempenho individual e da organizao na prestao dos servios, aes
fundamentais apontados por Ramos e Schabbach (2012) para o planejamento estatal, em
busca de maior profissionalismo em suas aes.
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Porm, o modelo da NPM recebe diversas crticas. Como descrito por Cheung (2013),
a implantao da NPM na cidade de Hong Kong na reforma da gesto pblica iniciada no
perodo compreendido entre os anos 1980 e 1990, tornou o sistema implantado insustentvel
devido perda da confiana poltica e ceticismo gerado pela falta de democracia e polticas de
responsabilidade. O autor faz referncia crise de governabilidade enfrentada aps 1997, ou
seja, aps a implantao do modelo da Nova Gesto Pblica no contexto chins, por no criar
um senso comum de propsito e identidade, fazendo com que a percepo de confiana
domstica seja muito diferente das avaliaes externas postivas, devido aos problemas sociais
e polticos internos.
Como proposta Cheung sugere que problemas estruturais internos, fundamentais para
a governana pblica, sejam considerados pela gesto, no apenas reproduzindo modelos
externos e priorizando a confiana e a governabilidade na agenda de discusses. Portanto,
segundo o autor, a lgica da eficincia gerencial no foi suficiente para o enfrentamento da
crise de governabilidade enfrentada em Hong Kong. Nesse sentido, Bingham, Nabatchi e
OLeary (2005) defendem a horizontalizao das redes de organizaes pblicas, privadas e
do terceiro setor para a substituio da organizao hierrquica nas tomadas de deciso na
governana pblica.
Um bom exemplo de problemas estruturais internos apresentado por Bezes et al.
(2012), que mostram as restries geradas pela percepo de perda de autonomia por parte
dos servidores pblicos. A abordagem sociolgica desse trabalho tambm condiz com as
contingncias apresentadas pelo relatrio descrito por ijl [s.d.], ressaltando a forte
influncia de fatores sociais e ambientais na eficincia da governana pblica.
Osborne, Radnor and Nasi (2012) apontam duas falhas principais na abordagem
adotada at ento pela maioria dos estudos. Em primeiro lugar, assim como Cheung (2013),
no mais possvel continuar com o foco somente nos processos administrativos ou na gesto
intraorganizacional preocupaes centrais da administrao pblica e da NPM
respectivamente. Ao invs disso, estes focos devem ser integrados em um paradigma mais
amplo que enfatize a governana das relaes interorganizacionais (e intrasetoriais) e a
eficcia nos sistemas de prestao de servios pblicos, ao invs das organizaes de servios
pblicos com misso e objetivos distintos. O segundo argumento dos autores que muito da
teoria da gesto pblica contempornea tem sido baseada conceitualmente nas pesquisas
genricas de gesto, conduzidas pelo setor industrial e no dos servios.
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Com base nesses dois argumentos, Osborne, Radnor and Nasi citam o modelo do New
Public Governance, que adota um quadro conceitual mais amplo para a gesto e
administrao pblicas. O modelo, tambm defendido por Cheung (2013) e Bingham,
Nabatchi e OLeary (2005), defende uma gesto pblica dirigida a um propsito, entendendo
que a maioria dos "produtos pblicos" (sejam eles fornecidos pelo governo, pelo terceiro
setor, ou pelo setor privado) deve ser entendida na verdade como "servios pblicos", e no
"produtos pblicos". A prestao de servios na sade, no esporte, educao, servios de
suporte econmico e de negcios, desenvolvimento e regenerao da comunidade, por
exemplo, so todos servios, e no produtos concretos, ou seja, so atributos intangveis,
direcionadores de processos e baseados em uma premissa do que ser fornecido. Os autores
salientam que mesmo elementos concretos, como as tecnologias de informao, no de