UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO PROGRAMA DE PÓS...
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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
CÉLIA MARIA RONZANI
“VESTIR A CAMISA” DA INOVAÇÃO: AFETO, INSTRUMENTO OU
NORMA? COMPROMETIMENTO DE EQUIPES DE P&D&I E A CAPACIDADE DE
INOVAÇÃO EM NEGÓCIOS TRADICIONAIS E DE IMPACTO SOCIAL
São Paulo
2018
CÉLIA MARIA RONZANI
“VESTIR A CAMISA” DA INOVAÇÃO: AFETO, INSTRUMENTO OU
NORMA? COMPROMETIMENTO DE EQUIPES DE P&D&I E A CAPACIDADE DE
INOVAÇÃO EM NEGÓCIOS TRADICIONAIS E DE IMPACTO SOCIAL
EMBRACING INNOVATION: AFFECTION, A TOOL OR THE NORM? THE
COMMITMENT OF R&D&I TEAMS AND THE CAPACITY TO INNOVATE IN
BOTH TRADITIONAL AND SOCIAL BUSINESSES
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Administração (PPGA) da
Universidade Nove de Julho (UNINOVE), como
requisito para obtenção do título de Mestre em
Administração.
Orientadora: Profª. Drª. Priscila Rezende da Costa
São Paulo
2018
Ronzani, Célia Maria.
“Vestir A Camisa” da Inovação: afeto, instrumento ou norma?
Comprometimento de Equipes de P&D&I e a Capacidade de Inovação em Negócios
Tradicionais e de Impacto Social. / Célia Maria Ronzani. 2018.
97f.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Nove de Julho -
UNINOVE, São Paulo, 2018.
Orientador (a): Drª. Profª Priscila Rezende da Costa.
1. Comprometimento. 2. Equipes de P&D&I. 3. Capacidade de
inovação. 4. Negócios tradicionais. 5. Negócios de impacto social.
I. Costa, Priscila Rezende. II. Titulo.
CDU 658
“VESTIR A CAMISA” DA INOVAÇÃO: AFETO, INSTRUMENTO OU
NORMA? COMPROMETIMENTO DE EQUIPES DE P&D&I E A CAPACIDADE DE
INOVAÇÃO EM NEGÓCIOS TRADICIONAIS E DE IMPACTO SOCIAL
CELIA MARIA RONZANI
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Administração (PPGA) da
Universidade Nove de Julho (UNINOVE), como
requisito para obtenção do título de Mestre em
Administração, sendo a banca examinadora
formada por:
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Dênis Renato de Oliveira (Membro Externo) – Universidade Federal de Lavras -
UFLA
___________________________________________________________________________
Profª Drª. Sonia Francisca Monken de Assis (Membro Interno) - Universidade Nove de Julho
UNINOVE
___________________________________________________________________________
Profª. Drª. Priscila Rezende da Costa (Orientadora) – Universidade Nove de Julho –
UNINOVE
São Paulo, 03 de maio de 2018.
Dedico aos meus filhos Bruno e Thais Ronzani Suannes .
AGRADECIMENTOS
Essa jornada que começou com muitos percalços, dúvidas, desafios, medos, exigindo
grande dedicação, adaptação e doação da minha parte. E, aos poucos, foi sendo atenuada pela
ação competente e humana da minha orientadora, que soube dosar os momentos de cobrança,
compreensão e direção em relação às minhas dificuldades diante dessa nova empreitada rumo
ao mundo acadêmico.
Agradeço, então, imensamente à Profª Drª Priscila Rezende da Costa, minha
orientadora, pois sem ela, com certeza, eu não teria chegado a esse resultado, com a mesma
qualidade, consistência e pertinência, que é uma das suas marcas, registradas nos trabalhos
daqueles que têm a sorte de encontrá-la pelo caminho.
Esses agradecimentos se estendem a todos os professores do PPGA 2016, cada um na
sua competência, que me auxiliaram nessa jornada. Em especial, às professoras Dr ª. Cristiane
Drebes Pedron e Drª. Cláudia Terezinha Kniees - uma por ensinar metodologia, cuja
importância eu só fui entendendo à medida que o projeto ia se desenvolvendo; e a outra, por
sua assertividade técnica e amorosa nas avaliações dos trabalhos e apresentações.
Agradeço à minha família, que entendeu as minhas ausências nos almoços de
domingos e aniversários; aos meus filhos, pelos passeios que foram postergados; aos meus
amigos de sala Arnaldo Di Petta, , Diego Domingues, Eduardo Corneto, Flávia Fernandes,
Karina Castro Alves e Marcus Cesso pela companhia e apoio nos momentos de dúvidas.
Obrigada, igualmente, à Rosana Yasue Narazaki e Marcelo Alvarenga, amigos que
acompanharam o meu processo de crescimento e angústias e, em especial à Drª Mônica
Império Costa que, com sua competência técnica e carinho, revisou o trabalho nesta etapa
final.
Faço questão de registrar o meu agradecimento carinhoso à Profª Drª Magda Sales,
coordenadora do curso de Recursos Humanos da Uninove, que sempre me incentivou à
conclusão do mestrado e, na medida do possível, poupou-me de algumas atividades extras,
nos períodos mais críticos e exigentes desse processo.
Agradeço à instituição Uninove, por ter me propiciado a oportunidade de cursar o
mestrado com uma equipe de professores doutores competentes e diferenciados.
E, por fim, mas dentre todos, o mais importante, agradeço ao mestre dos mestres, por
ter me propiciado saúde e disposição para concluir essa jornada, que está só começando.
RESUMO
A capacidade de inovação aborda o conjunto de habilidades de uma organização, com vistas à mobilização
de recursos humanos, físicos, tecnológicos e financeiros, e em prol da geração de novidades para a sociedade.
Nesse processo, as equipes que atuam diretamente nas atividades de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
(P&D&I) assumem relevância distintiva, pois seu comprometimento pode ser considerado um fenômeno
social de destaque, tanto no campo teórico quanto prático dos negócios, haja vista a possibilidade da
movimentação dos recursos pró-inovação, que aguçam a capacidade de inovação das organizações. Além
disso, trata-se de um fenômeno que possui nuances diferenciadas, no que diz respeito ao âmbito de atuação
dos negócios tradicionais e daqueles de impacto social. Diante desse contexto, levanta-se a seguinte questão
de pesquisa: Como o comprometimento de equipes de P&D&I pode contribuir para a mobilização de
recursos que fomentam a capacidade de inovação de negócios tradicionais (NT) e de impacto social (NIS)?
Esta pesquisa, de natureza qualitativa e descritiva, adotou como método o estudo de caso múltiplo, sendo as
unidades de análise: um negócio tradicional, a BRAILE, vencedora do prêmio “FINEP de Inovação
(Financiadora de Estudos e Projetos de Inovação)”, categoria Média Empresa; e um negócio de impacto
social, o CREN, vencedor do prêmio “Empreendedor Social”, do Jornal Folha de S. Paulo. Os dados foram
coletados a partir de entrevistas semiestruturadas (total de 14) e levantamento de documentos (total de 2). A
pesquisa de campo resultou em 10h30 horas de gravação e 114 páginas de transcrição, além de 2 páginas de
evidências obtidas a partir da pesquisa documental. Para a interpretação dos dados, adotou-se a análise de
conteúdo, com o auxílio do software Atlas Ti., para a organização e codificação dos dados. A partir da análise
agregada dos resultados, foi possível validar a proposição central de que capacidade de inovação e o
comprometimento afetivo das equipes de P&D&I (categorias centrais de análise) foram decisivas à
diferenciação do negócio tradicional investigado (BRAILE), pois alavancaram o desenvolvimento de
inovações tecnológicas com características frugais. Essas categorias foram também importantes para o
negócio de impacto social investigado (CREN), promovendo o valor social e, com ele, as inovações sociais.
Validou-se também a proposição secundária de que a gestão de pessoas e os fundamentos estratégicos do NT
e do NIS (categorias secundárias de análise) influenciaram a mobilização interna de recursos pró-inovação e,
consequentemente, estimularam o comprometimento afetivo de equipes de P&D&I, potencializando, assim,
a troca de conhecimentos tácitos e explícitos e, também, a geração de inovações para o mercado e para a
sociedade. Desta forma, foi possível propor um framework sobre o significado das categorias
comprometimento, capacidade de inovação, fundamentos estratégicos e gestão de pessoas, enfatizando-se as
distinções e similaridades de negócios tradicionais e de impacto social.
Palavras-chave: Comprometimento; Equipes de P&D&I; Capacidade de Inovação; Negócios
Tradicionais; Negócios de Impacto Social.
SUMMARY
Innovation capacity encompasses an organization’s skill set aimed at mobilizing human,
physical, technological and financial resources to bring society something new. In this
process, teams that work directly in Research, Development and Innovation (R&D&I) take
center stage, as their commitment can be considered a relevant social phenomenon in both
theoretical and practical terms, considering the possibility of mobilizing pro-innovation
resources, which hone the organizations’ innovation capacity. Additionally, it is a
multilayered phenomenon with regards to traditional and social businesses’ scopes of
operation. In light of this context, the following question was raised: how can the commitment
of R&D&I teams contribute towards mobilizing resources that foster traditional business (TB)
and social business’ (SB) innovation capacity? This qualitative-descriptive research adopted
the multiple-case study method, and its units of analysis are: a traditional business, BRAILE,
winner of the “FINEP (Innovation Studies and Projects Finance Company)” award in the
Medium Company category; and a social business, CREN, recipient of Folha de S. Paulo’s
“Social Entrepreneur” award. Data was gathered from semi-structured interviews (14) and
document surveys (2). The field study generated 10.5 hours of recordings and a 114-page
transcription, in addition to two pages of evidence obtained from documental research. The
data was interpreted by means of content analysis, with the help of the Atlas Ti. software,
which was used to organize and code the data. From the combined analysis of results, it was
possible to validate the primary proposition that the innovation capacity and the R&D&I
teams’ (main categories analyzed) affective commitment were crucial to set apart the
traditional business investigated (BRAILE), as they boosted the development of technological
innovations with frugal characteristics. These categories were also important for the social
business investigated (CREN), promoting social value and, consequently, social innovations.
It was also possible to validate the secondary proposition that people management and the TB
and SB’s strategic fundaments (secondary categories analyzed) have an effect on the internal
mobilization of pro-innovation resources and, consequently, stimulated the R&D&I teams’
affective commitment, enhancing the exchange of tacit and explicit knowledge and also the
generation of innovation to the market and society. This way, we were able to propose a
framework for what commitment, innovation capacity, strategic fundaments and people
management stand for, highlighting the differences and similarities between traditional and
social businesses. Key words: Commitment; R&D&I Teams; Innovation Capacity;
Traditional Business; Social Business.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA
C&S
CI
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
Cargos e Salários
Capacidade de Inovação
CLT
CO
Consolidação das Leis do Trabalho
Comprometimento Organizacional
CREN Centro de Recuperação e Educação Nutricional
EPM
FAPESP
FATESP
FE
FINEP
GP
Escola Paulista de Medicina
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
Faculdade de Tecnologia e Educação Superior Profissional
Fundamentos Estratégicos
Financiadora de Estudos e Projetos de Inovação
Gestão de Pessoas
IBGE
IES
NIS
NT
ONG
P&D
P&D&I
PME
R&S
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Instituição de Ensino Superior
Negócio de Impacto Social
Negócios Tradicionais
Organização Não Governamental
Pesquisa e Desenvolvimento
Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
Pequenas e Médias Empresas
Recrutamento e Seleção
RH
SALUS
SEBRAE
SUS
TI
T&D
UBS
UNESP
UNIFESP
USP
Recursos Humanos
Associação para a Saúde/Núcleo Paulista
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
Sistema Único de Saúde
Tecnologia da Informação
Treinamento e Desenvolvimento
Unidade Básica de Saúde
Universidade Federal Paulista
Universidade Federal de São Paulo
Universidade de São Paulo
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Os três componentes do comprometimento organizacional, segundo o Modelo
Tridimensional de Meyer e Allen (1997) ................................................................................. 25
Figura 2 - Principais antecedentes e sua relação com o comprometimento, segundo alguns
autores ....................................................................................................................................... 26
Figura 3 - Facilitadores da capacidade de inovação e seus respectivos autores ....................... 34
Figura 4 - Modelos de capacidade de inovação ........................................................................ 36
Figura 5 - Descrição das diferenças em aspectos da inovação tecnológica e inovação social . 38
Figura 6 - Modelo conceitual.................................................................................................... 44
Figura 7 - Matriz metodológica ................................................................................................ 46
Figura 8 - Negócio tradicional selecionado .............................................................................. 48
Figura 9 - Negócio de impacto social selecionado ................................................................... 48
Figura 10 - Quadro síntese das entrevistas ............................................................................... 50
Figura 11- Protocolo de Pesquisa ............................................................................................. 51
Figura 12 - Matriz de Amarração e representação da categoria de análise “Capacidade de
Inovação” e as Dimensões “Potencial de Inovação” e “Processos" ......................................... 53
Figura 13 - Matriz de Amarração e representação da categoria de análise “Capacidade de
Inovação” e a Dimensão “Resultados” ..................................................................................... 54
Figura 14 - Matriz de Amarração e representação da categoria de análise “Comprometimentos
das Equipes de P&D&I” e os componentes “Afetivo” e “Instrumental” ................................. 55
Figura 15 - Matriz de Amarração e representação da categoria de análise “Comprometimentos
das Equipes de P&D&I” e o componente “Normativo”........................................................... 56
Figura 16 - Matriz de Amarração e representação da categoria de análise “Fundamentos
Estratégicos” e as dimensões “Missão, Visão, Valores e Estrutura”........................................ 57
Figura 17 - Matriz de Amarração e representação da categoria de análise “Gestão de pessoas”
e as dimensões “Recrutamento e Seleção, Cargo e Salário, e Treinamento e
Desenvolvimento” .................................................................................................................... 58
Figura 18 - Síntese intracaso sobre a “Caracterização dos Negócios” ..................................... 67
Figura 19 - Rede com os componentes relacionados à categoria “Fundamentos Estratégicos”
.................................................................................................................................................. 69
Figura 20 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Missão, Visão e Valores”........................................................................................................ 72
Figura 21 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Estrutura e Estratégia de P&D&I” .......................................................................................... 74
Figura 22 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Autoavaliação”........................................................................................................................ 76
Figura 23 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Feedback” ............................................................................................................................... 78
Figura 24 - Composição da equipe de P&D&I da BRAILE .................................................... 80
Figura 25 - Composição de Equipe de P&D&I do CREN ....................................................... 80
Figura 26 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Formação da Equipe de P&D&I” ........................................................................................... 81
Figura 27 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Requisitos de Avaliação dos Resultados de P&D&I” ............................................................ 83
Figura 28 - Síntese intracaso da categoria complementar de análise “Fundamentos
Estratégicos” ............................................................................................................................. 84
Figura 29 - Rede com os componentes relacionados à categoria complementar “Gestão de
Pessoas” .................................................................................................................................... 86
Figura 30 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Recrutamento e Seleção” ........................................................................................................ 90
Figura 31 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Cargo
e Salário” .................................................................................................................................. 92
Figura 32 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Treinamento e Desenvolvimento” .......................................................................................... 95
Figura 33 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Carreira”.................................................................................................................................. 97
Figura 34 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Indicadores de Comprometimento” ........................................................................................ 99
Figura 35 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Parceria”................................................................................................................................ 101
Figura 36 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Reconhecimento” .................................................................................................................. 103
Figura 37 - Síntese intracaso da categoria complementar de análise “Gestão de Pessoas” ... 104
Figura 38 - Rede com os componentes relacionados à categoria central “Capacidade de
Inovação” ................................................................................................................................ 106
Figura 39 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Potencial de Inovação” ......................................................................................................... 111
Figura 40 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Processo” .............................................................................................................................. 115
Figura 41 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao Componente
“Resultados” ........................................................................................................................... 118
Figura 42 - Síntese intracaso da categoria central de análise “Capacidade de Inovação” ...... 119
Figura 44 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Comprometimento Afetivo” ................................................................................................. 125
Figura 45 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Comprometimento Normativo” ............................................................................................ 128
Figura 46 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Comprometimento Instrumental” ......................................................................................... 130
Figura 47 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Comprometimento de Equipes de P&D&I” ......................................................................... 132
Figura 48 – Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente
“Ausência de comprometimento” ........................................................................................... 134
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Coocorrência dos códigos ....................................................................................... 61
Tabela 2 - Agrupamento de códigos considerando os maiores níveis de coocorrência e as
categorias de análise da pesquisa.............................................................................................. 62
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Componentes analisados e suas evidências ........................................................... 60
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ........................................................................................... 18
1.1.1 Questão de Pesquisa ........................................................................................................ 19
1.2 OBJETIVOS ...................................................................................................................... 19
1.2.1 Geral ................................................................................................................................ 19
1.2.2 Específicos ...................................................................................................................... 19
1.3 JUSTIFICATIVA PARA ESTUDO DO TEMA .............................................................. 19
2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................ 21
2.1 COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL ............................................................. 21
2.2 CAPACIDADE DE INOVAÇÃO ..................................................................................... 29
2.2.1 Modelos de capacidade de inovação ............................................................................... 34
2.2.2 Capacidade de inovação das pequenas e médias empresas (PME) ................................. 36
2.2.3 Inovação social e tecnológica ......................................................................................... 38
2.3 MODELO CONCEITUAL ............................................................................................... 40
2.3.1 Comprometimento operacional das equipes de P&D&I (CO) ........................................ 41
2.3.2 Capacidade de inovação (CI) .......................................................................................... 42
2.3.3 Gestão de pessoas (GP) ................................................................................................... 42
2.3.4 Fundamentos estratégicos (FE) ....................................................................................... 44
3 MÉTODO E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA ....................................................... 46
3.1 CARACTERIZAÇÃO E DELINEAMENTO DA PESQUISA ........................................ 47
3.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA DOS DADOS ........................................................... 49
3.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS ............................................................ 51
3.4 PROTOCOLO DE PESQUISA ......................................................................................... 51
3.5 MATRIZ DE AMARRAÇÃO .......................................................................................... 52
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................... 59
4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS NEGÓCIOS ........................................................................ 62
4.1.1 Impacto ........................................................................................................................... 64
4.1.2 Investidores ..................................................................................................................... 65
4.1.3 Público-alvo .................................................................................................................... 66
4.1.4 Área de atuação ............................................................................................................... 67
4.2 FUNDAMENTOS ESTRATÉGICOS .............................................................................. 68
4.2.1 Missão, Visão e Valores ................................................................................................. 70
4.2.2 Estrutura e Estratégias de P&D&I ................................................................................. 73
4.2.3 Autoavaliação ................................................................................................................. 75
4.2.4 Feedback ......................................................................................................................... 77
4.2.5 Formação da Equipe de P&D&I ..................................................................................... 79
4.2.6 Requisitos de Avaliação dos Resultados de P&D&I ...................................................... 82
4.3 GESTÃO DE PESSOAS ................................................................................................... 85
4.3.1 Recrutamento e Seleção .................................................................................................. 87
4.3.2 Cargo e Salário ................................................................................................................ 91
4.3.3 Treinamento e Desenvolvimento .................................................................................... 93
4.3.4 Carreira ........................................................................................................................... 96
4.3.5 Indicadores de Comprometimento .................................................................................. 98
4.3.6 Parceria .......................................................................................................................... 100
4.3.7 Reconhecimento ........................................................................................................... 102
4.4 CAPACIDADE DE INOVAÇÃO ................................................................................... 105
4.4.1 Potencial de Inovação ................................................................................................... 107
4.4.2 Processo ........................................................................................................................ 112
4.4.3 Resultado ....................................................................................................................... 116
4.5 COMPROMETIMENTO ................................................................................................ 120
4.5.1 Comprometimento Afetivo ........................................................................................... 122
4.5.2 Comprometimento Normativo ...................................................................................... 126
4.5.3 Comprometimento Instrumental ................................................................................... 129
4.5.4 Comprometimento de Equipes de P&D&I ................................................................... 131
4.5.5 Ausência de comprometimento ..................................................................................... 133
4.5.6 Eficiência ...................................................................................................................... 135
4.5.7 Envolvimento ................................................................................................................ 136
4.5.8 Flexibilidade .................................................................................................................. 138
4.5.9 Proatividade................................................................................................................... 140
4.5.10 Responsabilidade ........................................................................................................ 142
4.5.11 Visão Sistêmica .......................................................................................................... 144
5 FRAMEWORK PROPOSITIVO ...................................................................................... 149
6 CONCLUSÕES .................................................................................................................. 159
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 163
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA (FUNDADOR OU DIRETOR
EXECUTIVO) ....................................................................................................................... 171
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA (GESTOR DE RH) ............................. 172
APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA (GESTOR DE P&D&I) ..................... 174
APÊNDICE D – ROTEIRO DE ENTREVISTA (FUNCIONÁRIO QUE INTEGRAM A
EQUIPE P&D&I) ................................................................................................................. 175
APÊNDICE E – ROTEIRO PARA A CONDUÇÃO DA PESQUISA DOCUMENTAL
NAS ÁREAS DE RH E P&D&I .......................................................................................... 177
15
1 INTRODUÇÃO
As constantes mudanças do ambiente competitivo, no qual as organizações estão
inseridas e que são responsáveis pela imprevisibilidade na dinâmica empresarial cotidiana,
exigem a adoção de estratégias cada vez mais elaboradas de inovação e de estímulo ao
comprometimento das equipes, que mobilizam recursos como forma de garantir a
sobrevivência do negócio e sua estabilidade no mercado.
A busca de um diferencial não depende apenas de conseguir posições mais elevadas
frente aos concorrentes, a partir de aspectos tangíveis, como o lançamento de novos produtos
e aquisição de tecnologia disponível; os negócios, atualmente, voltam-se, também, aos
aspectos intangíveis, que permeiam as relações de trabalho, de comprometimento e de
desenvolvimento de capacidades organizacionais, como a capacidade de inovação que,
segundo Lawson e Samson (2001a), transforma continuamente o conhecimento e as ideias em
novos produtos, processos e sistemas, em prol da organização e de seus stakeholders.
A capacidade de inovação é um construto multidimensional (Tidd & Bessant, 2008),
pois envolve dimensões organizacionais e individuais, como: visão estratégica,
aproveitamento das competências, gestão da criatividade e das ideias, estrutura e sistemas
organizacionais, cultura e clima, inteligência organizacional e gestão da tecnologia (Lawson
& Samson, 2001a); capacidade de desenvolvimento tecnológico, de operações, de
gerenciamento e de transação (Zawislak, Alves, Tello-Gamarra, Barbieux, & Reichert, 2012);
cultura de liderança participativa, geração de ideias, de estrutura e de clima organizacional,
promoção do bem-estar, desenvolvimento de know-how, regeneração, conhecimento externo e
atividade individual (Saunila, Pekkola, & Ukko, 2014); potencial de inovação (liderança e
processos decisórios; estruturas organizacionais e comunicação; colaboração, cultura, clima
organizacional e criatividade), processos de inovação (identificação e análise de
oportunidades, seleção de ideias e desenvolvimento de tecnologia) e resultados do processo
(Saunila & Ukko, 2012).
Assim como a capacidade de inovação, o comprometimento também é um construto
multidimensional, baseado em três componentes: (a) o afetivo: apego ou envolvimento, pelo
qual há a identificação com a organização; (b) o instrumental: derivado dos custos associados
à saída da organização; e (c) o normativo: obrigação em permanecer na organização (Meyer
& Allen, 1991).
Considerando conjuntamente os construtos “capacidade de inovação” e
“comprometimento”, levanta-se a proposição de que as práticas de gestão de pessoas, como
16
recrutamento, seleção, treinamento, desenvolvimento, cargos e salários, além de outros
fundamentos estratégicos de um negócio, como missão, visão, valores e estrutura, podem
influenciar a mobilização interna de recursos pró-inovação e, consequentemente, estimular o
comprometimento das equipes de P&D&I, potencializando, assim, a troca de conhecimentos
tácitos e explícitos e, também, a geração de inovações para a sociedade (Lepak & Snell, 2002;
Tsui, Pearce, Porter, & Tripoli, 1997).
Nesse sentido, Marescaux, De Winne e Sels (2013) reforça, ainda, que um conjunto de
práticas de gestão de pessoas, relacionadas aos recursos financeiros (remuneração, bônus,
incentivos e benefícios) e aos recursos socioemocionais (trabalho passível de promover
realizações, desenvolver habilidades, avaliar o desempenho, aconselhar, oportunizar a
participação e a autonomia), tem influência positiva no comprometimento e desempenho da
equipe e, por extensão, na geração de inovações para a sociedade.
Outros estudos também indicam a contribuição das práticas de gestão de pessoas para
o desenvolvimento de produtos e atividades de inovação tecnológica, organizacionais (Chen
& Huang, 2009) e de processos (De Saá-Pérez & Díaz-Díaz, 2010). A literatura enfatiza,
igualmente, o papel fundamental da gestão de recursos humanos para o aumento da vantagem
competitiva dos negócios, que resulta em lucros superiores aos da concorrência (Becker &
Gerhart, 1996; Wright, McMahan, & McWilliams, 1994).
Cabe salientar que a obtenção de ganhos financeiros é um dos indicadores da
efetividade da inovação (Tidd & Bessant, 2008) nos negócios classificados como tradicionais,
cuja tendência predominante é inovar em produtos, tecnologia e processos organizacionais
capazes de oferecer retorno financeiro.
Segundo Schumpeter (1961), a expectativa de retomada de lucro é condição prévia
para a decisão de inovar. Ressalta-se, contudo, que isso não se restringe especificamente a
lucros financeiros em espécie, uma vez que há, também, melhorias na qualidade de vida das
pessoas. Sendo assim, se a inovação se apresentar como prática recorrentemente utilizada por
um negócio, a partir da criação de novos serviços ou produtos destinados à promoção de
mudanças sociais, atendendo às necessidades dos indivíduos, ela pode, então, ser configurada
como uma “inovação social”, em negócios de impacto social (Bahmani, Galindo, & Méndez,
2012; Cajaiba-Santana, 2014).
Dessa forma, os negócios tradicionais (NT) e os negócios de impacto social (NIS)
podem ser diferenciados, conforme especificado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (SEBRAE, 2017), a partir de: (a) impactos: nos NT, a função social do
negócio é gerar lucro (conceito econômico); já, nos NIS, busca-se rentabilidade e lucros, mas
17
com geração de impacto social, devido à contribuição para a diminuição da desigualdade
social. Ressalta-se, ainda, que, nos NIS, a viabilidade econômica e a preocupação
socioambiental fazem parte do mesmo plano de negócio, tendo, portanto, igual importância;
(b) investidores: nos NT, é desconsiderado ou pouco considerado o impacto social na decisão
de investimento (o foco do modelo de negócio é a maximização da rentabilidade); já, nos NIS,
a abrangência do impacto social é essencial à escolha do projeto a ser financiado; (c) público-
alvo: nos NT, o foco está nas classes sociais com maior poder de consumo (A, B e C); já, nos
NIS, nas faixas de renda mais baixas, consideradas como a base da pirâmide (C, D e E); (d)
áreas de atuação: nos NT, os negócios são voltados a produtos e serviços da área de
tecnologia, incluindo as startups brasileiras, em sua grande maioria; já, nos NIS, são poucos
negócios de impacto social atuando no Brasil com inovações (estima-se apenas 12% do total
de empresas inovadoras, segundo dados do SEBRAE (2017).
Para efeito de operacionalização desta pesquisa, considera-se “Negócio Tradicional
(NT)”, a organização com fins lucrativos, geradora de inovações tecnológicas para o mercado
e que visa à obtenção de resultados financeiros superiores aos da concorrência. Entende-se,
por sua vez, como “Negócio de Impacto Social (NIS)”, a organização sem fins lucrativos que,
além da missão social, realiza, igualmente, atividades de produção e/ou comercialização de
bens ou serviços, gerando renda para a própria instituição.
A definição acima é derivada do conceito de empresa social, indicado no trabalho de
Defourny (2014), que apresenta as seguintes características: (a) ter como missão o benefício
de um grupo ou comunidade de pessoas que partilham um interesse comum; (b) possuir
atividade contínua de produção e comercialização de bens e serviços (o que não exclui a
possibilidade de receber doações ou repasses de recursos públicos); (c) possuir autonomia, ou
seja, não estar sujeita a determinações de outras organizações (do Estado ou da iniciativa
privada); e d) contar com a atuação conjunta de trabalhos assalariados e voluntários.
Além disso, para efeito de operacionalização desta pesquisa, considera-se que a
capacidade de inovação aborda o conjunto de habilidades de uma organização, a fim de
mobilizar recursos humanos, físicos, tecnológicos e financeiros, em prol da geração de
inovações para a sociedade. Nesse sentido, as equipes que estão envolvidas nessa mobilização
de recursos, especificamente as que atuam diretamente nas atividades de Pesquisa,
Desenvolvimento e Inovação (P&D&I), assumem relevância distintiva.
A compreensão do comprometimento das equipes de P&D&I constitui-se, então, um
fenômeno social relevante no campo teórico e prático dos negócios, haja vista que isso pode
contribuir para a mobilização dos recursos pró-inovação, aguçando, por conseguinte, a
18
capacidade de inovação das organizações e, ainda, indicar possíveis nuances, se considerado o
âmbito de atuação dos negócios tradicionais e dos negócios de impacto social. A título de
alinhamento de conceito, será considerada “equipe” o conjunto de profissionais que atuam na
área de P&D&I.
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA
A capacidade de inovação e o comprometimento das equipes de P&D&I são
elementos relevantes à diferenciação dos negócios tradicionais (Saunila et al., 2014), pois
geram inovação tecnológica. A partir dessa premissa, a proposição central deste trabalho é,
então, investigar se esses fatores são igualmente importantes para os negócios de impacto
social, promovendo o valor social e, com ele, as inovações sociais.
Estudos seminais foram realizados sobre o comprometimento organizacional
(Caldwell, Chatman, & O’Reilly, 1990; Mathieu & Zajac, 1990; Mowday, Steers, & Porter,
1979; Steers, 1977) e sobre a capacidade de inovação (Barney, 1991; Damanpour &
Gopalakrishnan, 2001; Gopalakrishnan, Shanti, & Damanpour, 1997), mas não há artigos
empíricos sobre o alinhamento do comprometimento em equipes e da capacidade de inovação
de negócios, tanto tradicionais como de impacto social, o que indica, por conta disso, a
existência de um gap teórico.
Vale também destacar a existência de estudos de abordam empírica e
quantitativamente a relação do “comprometimento” com outros construtos relacionados à
inovação, como “redes de inovação” e “alianças estratégicas para inovação” (Feldman &
Simon, 2010; Hammarfjord & Rosenhall, 2017), mas não especificamente sobre o construto
“capacidade de inovação”.
A fim de preencher essa lacuna e conseguir o mapeamento das similaridades e
distinções entre os negócios tradicionais e os de impacto social, neste trabalho, foi conduzida
uma pesquisa empírico-qualitativa, a fim de analisar em profundidade a relação entre os
construtos “comprometimento organizacional” e “capacidade de inovação”. De forma
adicional, os fundamentos estratégicos dos negócios tradicionais e dos negócios de impacto
social (missão, visão, valores e estrutura) e suas práticas de gestão de pessoas (recrutamento e
seleção, cargo e salário, treinamento e desenvolvimento) foram estudados, para verificar
como eles contribuíram para o comprometimento das equipes de P&D&I (afetivo,
instrumental ou normativo) e, consequentemente, estimularam a mobilização de recursos
fomentadores da capacidade de inovação nesses dois tipos de negócio.
19
1.1.1 Questão de Pesquisa
Buscou-se, neste trabalho, responder à seguinte questão de pesquisa: Como o
comprometimento de equipes de P&D&I pode contribuir para a mobilização de recursos que
fomentam a capacidade de inovação em negócios tradicionais e de impacto social?
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Geral
Entender como o comprometimento de equipes de P&D&I contribui para a
mobilização de recursos que fomentam a capacidade de inovação em negócios tradicionais e
de impacto social.
1.2.2 Específicos
a) Caracterizar as dimensões (potencial, processo e resultado) da capacidade de
inovação de negócios tradicionais e de impacto social;
b) Mapear os componentes do comprometimento (afetivo, instrumental ou
normativo) de equipes de P&D&I de negócios tradicionais e de impacto social;
c) Verificar as similaridades e as distinções das contribuições do comprometimento
de equipes de P&D&I de negócios tradicionais e de impacto social.
1.3 JUSTIFICATIVA PARA ESTUDO DO TEMA
Os negócios inovam de forma diferente, dado que a inovação, em muitos casos, é
utilizada para a obtenção de vantagem competitiva e lucro (Saunila et al., 2014); e, em outros,
pode ser um diferencial para ampliar o impacto social e ambiental de produtos e processos
(Cajaiba, 2014; Camelo, García, Sousa, & Valle, 2011; Phillis, Lee, Ghobadian, O’Regan, &
James, 2015). Por isso, é importante entender a temática da capacidade de inovação dos
negócios tradicionais e dos negócios de impacto social. Ademais, a justificativa de relevância
do tema é reforçada pelo fato de que o capital humano é um dos recursos cruciais para que
haja desenvolvimento adequado das inovações (McDermott, Heffernan, & Beynon, 2013).
20
Este estudo, portanto, contribui para o avanço do conhecimento, pois apresenta uma
compreensão detalhada do alinhamento entre o comprometimento das equipes de P&D&I e a
capacidade de inovação, com destaque às distinções e similaridades desse elo em negócios
tradicionais e de impacto social.
Há, igualmente, contribuições práticas e insights, obtidos a partir dos resultados
empíricos da pesquisa, úteis aos gestores de RH e da área de P&D&I, por elencarem as
características comportamentais de colaboradores e de equipes, que favorecem o
comprometimento com o negócio e com a inovação de negócios tradicionais e de impacto
social. Isso pode ajudar na definição de práticas relacionadas à atração, seleção, treinamento e
acompanhamento do desempenho da equipe envolvida nos processos de P&D&I, a partir da
peculiaridade do negócio, elevando, assim, a chance de sucesso no alcance dos objetivos de
inovação.
21
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Os construtos “comprometimento organizacional” e “capacidade de inovação” são
abordados nos Capítulos 2.1 e 2.2, respectivamente; e, no Capítulo 2.3, apresenta-se o modelo
conceitual da pesquisa, enfatizando a proposição de alinhamento de ambos os construtos.
De forma específica, a análise do “comprometimento organizacional” se dá a partir do
modelo multidimensional, desenvolvido por Meyer e Allen (1991); já a discussão sobre
"capacidade de inovação", decorre dos modelos de Zawislak et al. (2012); Saunila et al., 2014
e Saunila e Ukko (2012).
A escolha do modelo de Meyer e Allen (1991) de comprometimento organizacional, se
deu por ser o modelo seminal sobre a temática, precursor para outros modelos posteriores. O
artigo divulgando o modelo ainda é muito citado, evidenciando sua consistência e pertinência
ainda nos dias atuais.
Latané, B. (1981) propõe a teoria The psychology of social impact, que especifica o
efeito de outras pessoas no comportamento de um indivíduo. Apesar de envolver aspectos
atitudinais, impactantes no tipo de comprometimento apresentado pelo funcionário, não será
considerada como referencial teórico para o presente trabalho, por se tratarem de linhas
teóricas distintas.
2.1 COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL
O contexto de trabalho é fundamental para a formação das atitudes e comportamentos
dos indivíduos perante suas atividades, tendo impacto direto na produtividade e na eficácia
organizacional (Johns, 2006; Meyer & Allen, 1997; Meyer & Maltin, 2010). Comprometer
pode, então, significar envolver-se, engajar-se, obrigar-se por compromisso, e expor-se a algo,
a algum risco ou perigo.
Bastos et al. (2000) ressaltam o comprometimento como uma "disposição", visto que
ele é usado para descrever não só ações, mas o próprio indivíduo, caracterizado por
sentimentos ou reações afetivas positivas, como a "lealdade em relação a algo". E Dutra
(2010) trata-o como “(...) o envolvimento do indivíduo com a organização que incita a realizar
um esforço considerável em prol da empresa, sendo este afetado pela natureza do vínculo”.
Tal vínculo, segundo o autor, “passa pela responsabilidade individual e consequentemente
coletiva”.
22
Para Medeiros e Enders (1998), o comprometimento é uma forte crença, a aceitação
dos valores e objetivos da organização, isto é, é comprometido o colaborador que está
disposto a exercer um esforço considerável em benefício da sua empresa, tendo muito desejo
de nela se manter como membro.
Mael e Ashforth (1992), por sua vez, consideram como comprometimento
organizacional a união do funcionário com sua empresa, de tal forma que o sucesso e o
fracasso da organização são experimentados e sentidos como se fossem dele. Em geral,
quanto mais os funcionários se identificam com suas empresas, mais esforços dedicam a elas,
envolvendo-se estreitamente nessa relação (Baruch & Cohen, 2007).
A conceituação de comprometimento organizacional pode variar, a partir:
(...) da concepção de que explica a permanência do individuo para a ideia de que é um vinculo que se
traduz em empenho extra, identificação, lealdade, aquiescência, trocas, alienação, sentimento de
obrigação, compartilhamento de metas, motivação, atitudes, comportamentos ou que seja simplesmente
um elo entre indivíduo e organização (Rodrigues, Bastos, & Gondim, 2013).
O comprometimento organizacional pode ser entendido como a forma (ações,
intenções e afetos) pela qual o indivíduo lida com seu trabalho/empresa. Dessa maneira, os
fatores pessoais de cada trabalhador podem ser identificados e decodificados em suas atitudes
perante o trabalho.
Na atualidade, o fator humano é tido como elemento fundamental para a empresa
atingir os resultados esperados, processando, então, mudanças necessárias ao seu
desenvolvimento. Por isso, pessoas talentosas são bem-vindas às empresas; espera-se
delas alinhamento às estruturas e aos processos organizacionais, criatividade e, por
extensão, a criação de produtos e serviços inovadores.
Conforme Rodrigues, Bastos e Gondim (2013), comprometimento não é a
permanência por necessidade; a continuação no curso de ação devido à perda de
investimentos, aos sacrifícios pessoais ou à limitação de alternativas. Trata-se de um vínculo,
estabelecido entre o indivíduo e a organização, que se inclui no conceito de comprometimento
organizacional.
Para haver comprometimento organizacional, é preciso promover adequações ao
modelo de gestão de pessoas, de modo que ele contemple os seguintes aspectos: manter
os talentos dentro da empresa, criar cultura e clima favoráveis à disseminação do
conhecimento, formar líderes inspiradores, estimular o trabalho em equipe, tornar o ambiente
de trabalho um local satisfatório para as pessoas e lidar com a diversidade organizacional.
Nas últimas décadas, nota-se um considerável aumento no número de pesquisas sobre
a identificação organizacional dos funcionários, em especial nas áreas de gestão de recursos
23
humanos e comportamento organizacional (Albert, Ashforth, & Dutton, 2000; Baruch &
Cohen, 2007; Edwards, 2009; Haslam, Oakes, & Turner, 1996), o que se configura como um
indicador desse movimento.
Conseguir identificar, pois, as variáveis-chaves na ligação do trabalhador com a
organização (Aryee & Heng, 1990) é algo essencial. Isso pode ser motivado por: aumento
e/ou manutenção do volume de negócios (Mowday et al., 1979), qualidade do desempenho
(Koch & Steers, 1978; Mowday et al., 1979), diminuição do absenteísmo e rotatividade
(Steers, 1977).
Com o desafio de entender o vínculo de comprometimento (ou, mais precisamente,
desvendar que tipo de processo psicológico embasa a relação do indivíduo com a
organização), reunindo diferentes perspectivas, foi criado um modelo capaz de refletir os
pensamentos dos colaboradores – chamado de Tridimensional, pois tem como base três
dimensões de comprometimento: o afetivo (affective), o instrumental (continuance) e o
normativo (normative), além de definir o perfil do indivíduo em cada uma dessas dimensões.
Isso se dá do seguinte modo: “empregados com forte comprometimento afetivo permanecem
na organização, porque eles querem; aqueles com comprometimento instrumental
permanecem, porque eles precisam; e aqueles com comprometimento normativo permanecem
na organização, porque eles sentem que são obrigados” (Meyer & Allen, 1997).
O primeiro tipo de comprometimento, o afetivo, é caracterizado por uma relação forte
de identificação do indivíduo com a organização, indicado por pelo menos três fatores: (1)
estar disposto a exercer esforço considerável em benefício da organização; (2) forte crença e
aceitação dos objetivos e valores da organização; e (3) forte desejo de se manter membro da
organização (Mowday et al., 1979).
O comprometimento afetivo é desencadeado por experiências anteriores de trabalho,
especialmente aquelas que satisfizeram necessidades psicológicas do indivíduo, levando-o a
se sentir confortável dentro da organização e competente em sua função. São indicadores do
comprometimento afetivo: a felicidade do indivíduo em dedicar o resto de sua carreira à
organização, a percepção de que os problemas organizacionais pertencem a ele, o forte senso
de integração com a organização, o vínculo emocional mantido com ela e o imenso
significado pessoal proporcionado.
O segundo tipo de comprometimento, o instrumental (ou de continuidade), é
desenvolvido a partir de dois fatores antecedentes: a magnitude e/ou o número de
investimentos feitos pelo indivíduo na organização e a falta de alternativas de empregos no
mercado. Ele é percebido pelo funcionário como uma relação de troca, em termos de custo e
24
benefício, ou seja, são condições que pontuam sua decisão de sair ou ficar na organização
(Becker, 1960).
Segundo Meyer e Allen (1997), indivíduos com comprometimento instrumental
permanecem na organização porque precisam das recompensas oferecidas, que são
contabilizadas, juntamente com os custos, de diversas maneiras: (1) verificam o equilíbrio
entre o que recebem da organização (como benefícios e salário, por exemplo) e o que
disponibilizam para ela (tempo, capacidades etc.); (2) ponderam se é vantajoso continuar na
organização; (3) avaliam a facilidade de deixá-la e as perdas potenciais, caso decidam por isso
(Whitener & Walz, 1993).
Para (Siqueira & Gomide Júnior, 2004), são fatores que influenciam a dimensão
instrumental: as posições alcançadas na organização, os privilégios ocupacionais, os
benefícios oferecidos, o tempo de trabalho e os planos de aposentadoria.
O terceiro tipo de comprometimento, o normativo, está relacionado a um alto nível de
compromisso pessoal por parte do indivíduo para com a organização. De acordo com Meyer e
Allen (1997), os indicadores dessa dimensão são: sentimento de obrigação do indivíduo em
permanecer na organização; o fato de não achar certo – mesmo sendo vantajoso para ele –,
deixá-la naquele momento; o sentimento de culpa, caso isso aconteça; sua lealdade perante
ela; a obrigação moral em relação às pessoas do trabalho; e o sentimento de ter uma dívida
para com a organização.
Conforme Wiener (1982), a dimensão normativa pode ser resultante do foco centrado
em normas e regulamentos, ou, ainda, de uma missão marcante e disseminada por toda a
organização. Jaros, Jermier, Koehler e Sinsich (1993) corroboram essa ideia, definindo o
comprometimento normativo como o “estágio em que indivíduo está psicologicamente ligado
à organização empregadora através da internalização de suas metas, valores e missão”.
O comprometimento é, então, um estado psicológico determinante da ligação do
empregado com a organização, cujos componentes são as três dimensões descritas por Meyer
e Allen (1991), que estabelecem vínculos diferenciados pelo caráter pessoal e, por isso, de
natureza subjetiva.
Botelho e Paiva (2011, p.1260) sumarizam os comprometimentos da seguinte maneira:
a) Comprometimento Afetivo (Affective Commitment): comprometimento como um envolvimento,
apego, no qual ocorre identificação com os objetivos e valores da organização. Representa algo além
da simples lealdade passiva, envolvendo uma relação ativa, na qual o indivíduo deseja dar algo de si
para contribuir com o bem-estar da organização;
b) Comprometimento Instrumental (Continuance Commitment): comprometimento percebido como
altos custos associados a deixar a organização;
c) Comprometimento Normativo (Normative Commitment): comprometimento como uma obrigação em
permanecer na organização.
25
É possível encontrar, num determinado indivíduo, dimensões diversificadas de
comprometimento, como, por exemplo, uma forte necessidade (instrumental), uma forte
obrigação (normativo) e um baixo desejo (afetivo) de permanecer na organização, sugerindo a
possibilidade de existir a combinação de níveis nas três dimensões da composição de um
estado de comprometimento organizacional (Meyer & Allen, 1997).
Meyer, Allen e Smith (1993) desenvolveram duas escalas para pesquisas com a
multidimensionalidade do comprometimento: uma com 21 itens e outra, mais reduzida, com
18. Ambas trazem questões fechadas sobre comprometimento organizacional no formato
Likert; e os indicadores do instrumento são divididos em três: um terço para cada um dos
comprometimentos (afetivo, instrumental e normativo).
Na Figura 1, estão as três dimensões dos comprometimentos, de acordo com o Modelo
Tridimensional de Meyer e Allen (1997), sua caracterização, as razões de permanência e o
estado emocional do indivíduo.
Figura 1 - Os três componentes do comprometimento organizacional, segundo o Modelo Tridimensional de
Meyer e Allen (1997)
DIMENSÕES CARACTERIZAÇÃO RAZÕES DA
PERMANÊNCIA
ESTADO
Afetiva
Grau em que o indivíduo se sente
emocionalmente ligado, identificado e
envolvido com a organização.
O indivíduo quer
permanecer.
Desejo
Instrumental
Grau em que o indivíduo se mantém
ligado à organização devido ao
reconhecimento dos custos associados à
sua eventual saída. Esse reconhecimento
pode advir da ausência de alternativas de
emprego, ou do sentimento de que os
sacrifícios pessoais gerados pela saída
serão elevados.
O indivíduo tem
necessidade de
permanecer.
Necessidade
Normativa
Grau em que o indivíduo possui um
sentido de obrigação ou dever moral de
permanecer na organização.
O indivíduo sente que
deve permanecer.
Obrigação
Fonte: Allen e Meyer (1997, pp. 41-60).
Algumas fragilidades do modelo tridimensional de Meyer e Allen (1991) têm sido
apontadas por Rodrigues, Bastos e Gondin (2013), como sendo um esticamento indevido do
conceito, com escalas desenvolvidas a partir de propriedades inadequadas e baixa consistência
empírica, gerando controvérsia em sua estrutura fatorial. Para Leite e Albuquerque (2008, p.
21), por sua vez, no comprometimento organizacional, o vínculo do trabalhador é perpetuado
26
por intermédio de pressões normativas, cujo estado psicológico caracteriza a relação
individuo-organização, e o que as diferencia é a natureza desse estado.
Meyer e Allen (1997) concluem que empregados com forte comprometimento afetivo
permanecem na organização porque desejam ou porque estão emocionalmente ligados a ela.
Por isso, faltam menos ao trabalho e sentem-se mais motivados na execução de suas tarefas.
Empregados com forte comprometimento instrumental permanecem porque necessitam ou
consideram oneroso o seu desligamento. Dessa forma, não se pode esperar que esses
empregados tenham o desejo de contribuir para o desenvolvimento da empresa; ao contrário,
essa situação pode criar ressentimentos ou frustrações, levando à baixa produtividade e ao
aumento do absenteísmo. Há, então, negativa correlação entre o comprometimento
instrumental e os indicadores de desempenho e permanência no trabalho. Entretanto, segundo
os autores, o alto comprometimento organizacional pode ter impactos negativos na vida do
empregado, como (a) gasto excessivo de tempo e energia com assuntos da organização, que
poderiam ser gastos com a família e o lazer; (b) pode levar os empregados a não
desenvolverem os conhecimentos e habilidades que os manteriam competitivos no mercado.
Segundo Mowday, Steers e Porter (1979), fatores externos à organização favorecem
também a obtenção do comprometimento do funcionário. No caso do comprometimento
afetivo (desejo) e normativo (obrigação), uma liderança participativa, o apoio organizacional
para desempenho das atividades, apoio da supervisão e colegas, a recepção de feedback sobre
o desempenho, as funções desafiantes, a percepção de que a organização é socialmente
responsável e a justiça são considerados antecedentes para se estabelecer esse tipo de vínculo.
Para os autores, as características pessoais e experiências anteriores no trabalho influenciam a
percepção dos funcionários quanto a essas variáveis, colaborando com a formação de um ou
outro tipo de vínculo.
Vários pesquisadores da temática relacionam aspectos considerados como
antecedentes e que podem favorecer a ligação do funcionário com a organização,
independentemente do tipo de comprometimento (afetivo, instrumental ou normativo) (Figura
2).
Figura 2 - Principais antecedentes e sua relação com o comprometimento, segundo alguns autores
ANTECEDENTES RELAÇÃO COM O COMPROMETIMENTO REFERÊNCIA
Idade cronológica Cresce à medida que aumenta a idade dos indivíduos. (Mathieu & Zajac, 1990)
(Medeiros & Enders,
1998a)
Nível educacional Decresce com o aumento do nível de escolaridade;
entretanto, aqueles com nível médio revelam mais forte
(Mathieu & Zajac, 1990)
(Mowday et al., 1979)
27
apego à organização do que aqueles com os demais
níveis.
(Medeiros & Enders,
1998)
(Cohen, 1993)
Tempo de serviço Quanto maior o tempo de serviço na organização,
maior é o comprometimento do indivíduo em relação a
ela; ele é mais elevado entre aqueles que aderem aos
valores intrínsecos.
(Bastos, Correa, & Lira,
2000)
(Cohen, 1993)
(Aryee & Heng, 1990)
Área funcional Maior comprometimento na área-fim do que na área-
meio.
(Mathieu & Zajac, 1990)
Ações de treinamento
e qualificação
Essas ações, em especial, o treinamento introdutório,
aumentam o envolvimento do trabalhador com a
organização, pois fomentam o sentimento de ajuste
entre expectativas e realidade.
(Bastos et al., 2000)
Oportunidade de
crescimento e
promoção
Priorizar indivíduos da empresa para ocuparem cargos
mais elevados aumenta o comprometimento, que é
percebido por todos os colaboradores da organização.
(Bastos et al., 2000)
Política de
reconhecimento e
recompensas
Entre as políticas de reconhecimento e recompensas,
estão: a avaliação positiva das chefias (um indicador de
relações em que o desempenho individual é
reconhecido e reforçado), e remuneração acima da
média do mercado. Perceber a justiça e a equidade nas
remunerações revela-se um preditor de
comprometimento organizacional. Os sistemas de
recompensas e carreiras relacionam-se aos maiores
níveis de comprometimento instrumental.
(Meyer & Allen, 1997)
Recrutamento e
seleção
Processos de recrutamento e seleção estão aliados a um
sistema de valores claros e a altos níveis de
comprometimento organizacional, com base na
identificação e na internalização. A forma técnica e
cuidadosa com que o processo de seleção foi procedido,
envolvendo o setor que absorveu o trabalhador,
aumenta as chances de elevação do comprometimento,
a posteriori.
(Caldwell et al., 1990)
Admissão Ter as expectativas avaliadas e atendidas no momento
de construção inicial do vínculo e o tratamento
realístico daquilo que a organização pode oferecer se
traduzem em maior comprometimento,
(Bastos et al., 2000)
Cargos e salários Eleva-se o comprometimento com o aumento do nível
ocupacional e da remuneração (maior dimensão
instrumental).
(Medeiros & Enders,
1998)
Lotação Lotação dos indivíduos, de acordo com competência
técnica, afinidade, habilidade e vocação, elevam o grau
de comprometimento.
(Bastos et al., 2000)
Ética protestante do
trabalho
O comprometimento é mais elevado em indivíduos que
adotam valores integrantes da ética protestante do
trabalho, cuja base é a ideia de que ética e trabalho
constituem as dimensões mais fundamentais do ser
humano.
(Mathieu & Zajac, 1990)
Competência pessoal Mais elevado com aqueles que percebem a sua
competência pessoal e acreditam na sua atuação e
controle pessoal.
(Mathieu & Zajac, 1990)
Natureza do trabalho Alto grau de comprometimento mediante a variedade, (Mathieu & Zajac, 1990)
28
caráter não rotineiro e escopo do trabalho.
Organização clássica e
moderna
A clássica organização burocrática possui um baixo
comprometimento organizacional afetivo, ao contrário
das organizações ditas inovadoras, que possuem um
alto grau de comprometimento.
(Bastos & Pereira, 1997)
Natureza do trabalho Correlações negativas moderadas entre
comprometimento e ambiguidade, conflito e sobrecarga
do papel.
(Mathieu & Zajac, 1990)
Centralidade do
trabalho na vida do
trabalhador
Indivíduos que têm a vida centrada no trabalho
possuem um alto grau de comprometimento
organizacional e produtividade; enquanto que os
descomprometidos dão maior ênfase à família.
(Dubin & Champoux,
1977)
Fonte: Elaborada pela autora.
Esses antecedentes, segundo os autores, podem favorecer a obtenção do
comprometimento do funcionário. Porém, não se trata de uma relação direta de causa e efeito,
pois envolve o ser humano e toda a subjetividade inerente a ele. O comprometimento é da
pessoa e não da organização, perpassando por suas necessidades, interesses, sentimentos e
convívio com os demais. Isso explica o porquê de ele não poder ser controlado como um
processo técnico.
Meyer, Stanley, Herscovith e Topolnytsky (2002) sumarizam os principais
antecedentes, consequentes e correlatos ao comprometimento organizacional, segundo a
abordagem tridimensional desenvolvida por Meyer & Allen (1991), e encontrados nas
pesquisas sobre o tema.
Observar como os indivíduos “percebem” o seu contexto organizacional é
fundamental para a formação de atitudes e comportamentos de trabalho (Rosen, Chang,
Johnson, & Levy, 2009). A percepção, ou seja, como o funcionário interpreta a ação da
empresa, influenciará a sua atitude (crença e decisão interna) e, consequentemente, o
comportamento a ser adotado (manifestação externa). Se a percepção for positiva, a
identificação é mais forte e a obtenção do comprometimento tem mais chance de ocorrer
(Ngo, Loi, Foley, Zheng, & Zhang, 2013).
Uma das práticas usuais para informar o negócio e obter a adesão e o alinhamento do
funcionário é a elaboração da missão empresarial. Desmidt et al (2011) em pesquisa sobre o
assunto e os resultados organizacionais, identificar que, embora não seja capaz de promover
o desempenho organizacional, a missão pode constituir um instrumento que aumente ou
garanta o compromisso dos membros da organização. Constatou-se, ainda, que a declaração
de missão pode ser usada para estabelecer um objetivo primordial de liderança, qualidade ou
tecnologia, colocando o desempenho financeiro num papel secundário, haja vista que isso
29
levará ao comprometimento dos funcionários e se traduzirá, automaticamente, em
rendimentos financeiros mais elevados.
Apesar das práticas e políticas de RH, como formação, comunicação e programas
participativos favorecerem a percepção positiva, uma variável externa não controlada pode
desequilibrar essa relação: trata-se da questão da insegurança da permanência no trabalho,
sentimento que aparece em situações de mudança (reestruturação, downsizing, outsourcing,
falência, fusões e aquisições). Quando se percebem inseguros, os funcionários tendem a
reavaliar o seu relacionamento com o empregador e ajustar suas atitudes e comportamento em
conformidade a isso (Ngo et al., 2013).
Portanto, para que uma organização possa acompanhar o movimento do mercado, da
tecnologia e os desafios empresariais, ela precisa manter uma vantagem competitiva frente
aos concorrentes. Para tanto, há que se inovar em produtos, processos ou serviços, além de
manter o foco; ademais, seja qual for o tipo de inovação, um dos elementos fundamentais e
altamente representativo é o grau de comprometimento dos funcionários, pois são eles os
responsáveis pela prática das ações organizacionais.
2.2 CAPACIDADE DE INOVAÇÃO
Pela capacidade de inovação, é possível transformar continuamente o conhecimento
interno, externo e as ideias existentes na empresa em novos produtos, processos, modelos de
negócio e sistemas, a fim de que sejam usados em seu benefício e de seus stakeholders,
levando à inovação (Lawson & Samson, 2001; Saunila, Pekkola, & Ukko, 2014; Tidd &
Bessant, 2008).
Na gestão das organizações, os indivíduos são estimulados a inovar e a empresa,
algumas vezes, forçada a mudar alguns aspectos, como equipes, orçamentos, produtos e até a
própria estratégia. A velocidade da inovação, em especial a voltada para o setor tecnológico, é
incontestavelmente rápida. No último século, viram-se mudanças inimagináveis, empregos
foram extintos e houve uma redefinição dos processos de aprendizagem e da qualificação dos
profissionais, os quais precisam estar sempre atualizados, principalmente no que tange aos
softwares utilizados nas organizações, que são rapidamente melhorados (Barlach & Lisete,
2009).
No atual cenário econômico, esse conceito já está difundido na literatura e praticado
pelas organizações inovadoras. Até final dos anos 1990 e início de 2000, contudo, as
empresas aumentavam seus lucros e receitas por meio da produtividade, com ganhos em
30
volume e diminuição de custos, ou pelo aprimoramento da qualidade dos produtos e serviços.
Com o crescimento da competitividade, a inovação passou a ser a forma encontrada pelas
organizações para se sobressaírem diante da concorrência, constituindo um diferencial
competitivo sustentável (Dervitsiotis, 2010).
Segundo a Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica 2011 (PINTEC, 2011), do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que faz o levantamento de informações
para a construção de indicadores nacionais sobre as atividades de inovação empreendidas
pelas empresas, a inovação de processo pode incluir equipamentos, softwares e técnicas novas
ou aperfeiçoadas nas tarefas de apoio à fabricação, tais como: planejamento e controle da
fabricação, mensuração de desempenho, controle da qualidade, compra, computação
(infraestrutura de TI) ou manutenção (IBGE, 2011).
A Lei 10.973/04 (Lei da Inovação) apresenta o seguinte conceito para inovação:
“introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em
novos produtos, processos ou serviços”; já, para a Lei 13.243/16 (Marco Legal da Ciência,
Tecnologia e Inovação), tal termo é conceituado como:
(...) a introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo e social que resulte em novos
produtos, serviços ou processos ou que compreenda a agregação de novas funcionalidades ou
características a produto, serviço ou processo já existente que possa resultar em melhorias e em efetivo
ganho de qualidade ou desempenho.
O processo para inovar pode ser visto como o resultado da interação dinâmica de
vários conhecimentos e competências complementares, que permitem à empresa adotar três
estratégias básicas para a inovação: (1) identificar as inovações oriundas das necessidades dos
clientes, desenvolvendo o portfólio de inovações apenas em fase posterior; (2) observar o que
os concorrentes desenvolveram e está bem aceito no mercado, para depois iniciar o processo
internamente; (3) posicionar-se como empresa geradora de avanços tecnológicos (Dervitsiotis,
2010).
Definida como a visão ampla da geração e desenvolvimento do conhecimento
relacionado aos produtos e processos intrínsecos à organização, a gestão da inovação é o
primeiro nível desse processo, sendo mais abrangente do que o gerenciamento do
desenvolvimento de produtos. Senhoras, Takeuchi e Takeuchi (2007) afirmam que essa fase é
composta por dois subsistemas:
(...) por um lado há o subsistema exógeno à empresa, por onde existem relações de transferência
tecnológica e de conhecimentos (Universidades e Centros de Pesquisa) e relações comerciais de compra
tecnológica (empresas de bem de capital e fornecedores), e por outro lado existe o subsistema endógeno
à empresa, por onde acontece a gestão do processo de desenvolvimento ou aprimoramento de produtos
via relações de integração comunicacional entre os diversos departamentos.
31
O segundo nível é a gestão do desenvolvimento do produto, que objetiva a melhoria
contínua dos processos técnicos e organizacionais que serão incluídos nos projetos de criação
dos novos produtos.
Por fim, como último nível da hierarquia da inovação, está o desenvolvimento do
produto, isto é, a “materialização operacional de um processo de geração de inovações sob a
forma de produto, constituindo-se no núcleo-duro da instrumentalização inovativa" (Senhoras
et al., 2007).
Muitas empresas inovam sem pesquisar o mercado e acreditam que, por meio disso,
conseguirão adquirir e conquistar novos clientes. Inovação, todavia, é um processo que
transforma oportunidades em novas ideias e essas ideias em algo amplamente utilizado. É,
portanto, mais do que apenas uma grande ideia; trata-se da oportunidade de resolver um
problema que importa (Saunila & Ukko, 2014).
Drucker (2013) afirma que a inovação é o instrumento dos empreendedores, o meio
pelo qual as mudanças no ambiente podem ser exploradas como oportunidades para novos
negócios. Inovar, então, é explorar, com sucesso, novas ideias. A inovação pode ser um novo
produto, bem ou serviço, uma nova tecnologia de processo de produção, uma nova estrutura
ou sistema administrativo ou, ainda, um novo plano ou programa relativo aos membros da
organização.
Coral, Ogliari e Abreu (2012) afirmam que a introdução de uma novidade, em um
mercado, não caracteriza uma inovação; para isso acontecer, ela precisa ser percebida e aceita
pelos clientes da empresa – essa é a principal diferença entre invenções e inovações. A
inovação não impõe necessariamente uma revolução, mas uma evolução; ela é formada por
uma série de mudanças relativamente pequenas e cumulativas, construídas em sequência,
sempre tendo como base algo que foi desenvolvido anteriormente e pode ser melhorado. As
decisões necessárias ao processo de inovação são difíceis de serem tomadas e aceitas, pois,
como pondera Moreira (2014), os incentivos de curto prazo, a falta de apetite ao risco, o
desconhecimento e dificuldade de se avaliar o potencial de uma nova tecnologia são alguns
dos fatores que compõem o “Dilema da Inovação”.
A inovação é constituída por dois aspectos-chave: o grau e o tipo (Slater, Mohr, &
Sengupta, 2014). Quanto ao grau de inovação, ela pode ser radical (relacionada ao
desenvolvimento e introdução de um novo produto, processo ou forma de organização de
produção); ou incremental (responsável pela inclusão de melhoria em um produto, processo
ou organização da produção, sem que haja alteração na estrutura industrial).
32
Em relação ao tipo, há cinco inovações mais encontradas: (1) inovação de produto:
desenvolvimento ou melhoria significativa na aparência, qualidade ou função de um produto
para introdução no mercado; (2) inovação de processo: criação ou melhoria, por meio de
novos materiais ou equipamentos, de um método produtivo da empresa; (3) inovação de
marketing: utilização de novas ferramentas, como pesquisa de mercado, canais de varejo,
sistemas de informação, entre outros, que melhoram as estratégias de marketing; (4) inovação
de serviço: algo que ofereça a satisfação do cliente na pré-venda, durante o relacionamento e
na pós-venda; e (5) inovação administrativa: mudanças que envolvem recursos, tarefas,
suprimentos, entre outros (Gopalakrishnan, Shanthi, Bierly, & Kessler, 1999; Lin, Chen, &
Kuan-Shun Chiu, 2010).
Os resultados desses cinco tipos de inovação, que claramente podem fazer avançar a
posição competitiva da empresa, são vários, como: ganhos de eficiência, por meio de
reduções de custos e aumento da produção em volumes (Frishammar, Kurkkio, Abrahamsson,
& Lichtenthaler, 2012); redução do tempo de desenvolvimento de produtos (Pisano, 1996);
adição de valor diretamente aos clientes, devido à qualidade do produto melhorado;
confiabilidade (Gopalakrishnan, Shanti & Damanpour, 1997); e ganhos de eficácia.
O conjunto dessas condições é denominado capacidade de inovação, e ela pode ser
entendida como aquela que transforma continuamente o conhecimento e as ideias em novos
produtos, processos e sistemas, em benefício da empresa e de seus stakeholders.
Quando os recursos necessários para a inovação estão presentes, as empresas que já
possuem uma cultura inovadora conseguem utilizá-los mais rapidamente, pois há, entre os
colaboradores, pessoas motivadas, infraestrutura adequada e processos que criam valor para
as inovações surgirem espontaneamente em seus setores internos (Saunila & Ukko, 2014).
Há, então, dois tipos de recursos essenciais para as organizações desenvolverem a
capacidade de inovação: os tangíveis (pessoas, recursos financeiros, tempo e equipamentos) e
os intangíveis que, de acordo com Saunila e Ukko (2014), são culturas e práticas de liderança
participativa, clima de trabalho, desenvolvimento de know-how dos funcionários para a
inovação, processos e ferramentas para a gestão de ideias, fontes externas de conhecimento e
desenvolvimento de conhecimento individual. Vale ressaltar, contudo, que os recursos da
empresa não efetivarão sua vantagem competitiva; o que a diferenciará das concorrentes é a
forma como esses recursos são geridos.
Quanto maior a complexidade do ambiente econômico no qual a empresa está
inserida, maior a necessidade de organizar e integrar os vários tipos de recursos existentes. As
33
pequenas e médias empresas são escassas de recursos tangíveis, por isso os intangíveis estão
mais presentes na criação de inovação (Rosenbusch, Brinckmann, & Bausch, 2011).
Independentemente do tamanho da empresa, algumas dimensões da capacidade de
inovação devem ser desenvolvidas. Segundo Akman e Yimaz (2008), essas dimensões são a
proatividade, a análise e a futuridade. A proatividade é a capacidade de a empresa perceber
novas oportunidades, identificar mudanças de forma antecipada e adiantar-se aos concorrentes
na busca por crescimento de mercado. Ela requer flexibilidade, fator afetado pelo tamanho e
complexidade da organização: quanto maior a empresa, mais lento o processo de percepção e
resposta, em comparação às pequenas e médias empresas. A análise envolve a interpretação
dos dados, a identificação de oportunidades e as ameaças, além da definição do que será
transformado nas inovações. A futuridade representa a capacidade de observar o futuro,
antecipar as ações das empresas, antes mesmo de ocorrerem alterações no mercado.
A capacidade de inovação requer, também, por parte da empresa, elementos que
funcionem como facilitadores para a sua ocorrência, fortalecendo as capacidades
organizacionais (Taherparvar, Esmaeilpour, & Dostar, 2014). Dentre esses elementos, estão:
(1) a capacidade de aprendizagem: empresas que possuem estrutura interna para
aprendizagem são capazes de adquirir conhecimento, a partir de alianças estratégicas com
outras empresas, e de desenvolver o seu conhecimento interno; com isso, elas terão mais
conhecimento acumulado, o que lhes permitirá responder às mudanças do ambiente com
inovações mais rápidas e superiores, se comparadas a outras empresas (Wang & Ellinger,
2011); (2) a orientação para o mercado: cultura que busca criar valor para os compradores da
empresa e, com isso, favorecer ambos. Ela requer coordenação interfuncional para
desenvolver um ambiente organizacional que suporte as inovações, por meio da integração
entre os departamentos (Kumar, Jones, Venkatesan, & Leone, 2011).
Conforme Camisón e Villar-López (2011), a capacidade de aprendizagem é
extensivamente estudada com fins de promover inovações tecnológicas. Já no âmbito das
inovações não tecnológicas, são raros os estudos.
Outro facilitador são as redes de relacionamento, pois as interações frequentes e
parcerias próximas entre as empresas possibilitam a transferência do conhecimento tácito (não
verbalizado e intuitivo) e do conhecimento explícito (de forma codificada e sistemática). De
acordo com Cavusgil, Calantone e Zhao (2003), para que as redes de valor possam ser
benéficas, criando oportunidades para os agentes, todas as empresas envolvidas precisam
compartilhar uma visão comum sobre seus benefícios inovativos.
34
A capacidade de inovação colaborativa é uma prática que pode fortalecer o processo
de inovação da empresa. Ela ocorre quando os clientes atuam como parceiros de cocriação de
inovações, por meio de um processo de geração de conhecimento. Para Akman e Yimaz
(2008), ao conhecer seus clientes, as empresas estarão mais preparadas para entender suas
necessidades e as mudanças presentes no ambiente externo, podendo, assim, selecionar
corretamente as inovações que precisam ser desenvolvidas. Quando os projetos de inovação
são elaborados de forma colaborativa, há mais chances de melhora geral na organização. Isso
se dá por haver redução nos custos e no tempo de desenvolvimento, pela introdução de
inovações no mercado, aperfeiçoamento no desempenho dos projetos de inovação,
incorporação da eficiência aos trabalhos e aumento da criatividade. Na figura 3 estão
relacionados os facilitadores da capacidade de inovação, segundo parecer dos autores citados.
Figura 3 - Facilitadores da capacidade de inovação e seus respectivos autores
FACILITADORES AUTORES
Capacidade de aprendizagem (Wang & Ellinger, 2011)
Orientação para o mercado (Kumar et al., 2011)
Proatividade, Capacidade de análise, Futuridade (Akman & Yilmaz, 2008)
Redes de relacionamento (Cavusgil et al., 2003)
Inovação colaborativa (Akman & Yilmaz, 2008; Ngo, & O’cass, 2013)
Fonte: Elaborada pela autora.
2.2.1 Modelos de capacidade de inovação
A literatura apresenta inúmeros modelos consolidados para a implantação do processo
da capacidade de inovação, cujo grau de complexidade e abrangência é elevado, se
considerado o universo de estudo de cada inovação.
O primeiro modelo destacado é o desenvolvido por Lawson e Samson (2001), que
inclui a capacidade de inovação entre as várias capacidades organizacionais para as quais o
gerenciamento e o investimento precisam ser constantes, a fim de realizar, de forma eficaz, os
processos necessários à melhoria do desempenho econômico da empresa. A capacidade de
inovação, segundo os autores, é constituída por dimensões distintas, porém, complementares,
que devem ser observadas e gerenciadas holisticamente. São elas: visão e estratégia,
aproveitamento das competências, gestão da criatividade e de ideias, estrutura e sistemas
organizacionais, cultura e clima, inteligência organizacional e gestão da tecnologia.
35
No segundo modelo, indicado no artigo de Zawislak et al. (2012), questiona-se (1) por
que nem todas as empresas investidoras em capacidade tecnológica são inovadoras; e (2) o
que torna empresas, cujos recursos financeiros aplicados em tecnologia são escassos, mais
inovadoras do que aquelas que investem nela massivamente. Para esses autores, a capacidade
de inovação é formada pela junção de quatro capacidades complementares: de
desenvolvimento tecnológico, de operações, de gerenciamento e de transação. Embora essas
capacidades estejam presentes em todas as empresas, será a predominância de cada uma delas
a responsável por um tipo diferente de inovação. Salienta-se que, quando criadas, as
organizações já contam, principalmente, com as capacidades de desenvolvimento tecnológico
e transacional; sendo as outras desenvolvidas à medida que elas amadurecem no mercado.
O terceiro modelo escolhido é o de Saunila et al. (2014), desenvolvido como parte de
um estudo que mede o relacionamento entre a capacidade de inovação e a performance da
organização. Para tanto, a capacidade de inovação é dividida em sete dimensões: (1) cultura
de liderança participativa, (2) geração de ideias e estrutura organizacional, (3) clima
organizacional e bem-estar, (4) desenvolvimento do know-how, (5) regeneração, (6)
conhecimento externo e (7) atividade individual.
No quarto modelo, Saunila e Ukko (2012) argumentam em favor da medição constante
de desempenho organizacional, feita por uma lógica estrutural e a partir da consideração de
todas as perspectivas essenciais à constatação de um potencial estado de inovação. Para os
autores, três dimensões da capacidade de inovação são importantes: (1) o potencial de
inovação: formado por fatores que afetam e interferem na capacidade atual de inovação da
empresa, podendo melhorá-la ou piorá-la; (2) os processos de inovação: entendidos como os
sistemas e atividades que auxiliam na utilização do potencial de inovação da empresa; e (3) os
resultados dos processos de inovação: como a inovação de determinado produto ou serviço.
O processo de inovação é constituído por três dimensões da capacidade de inovação:
(1) identificação e análise de oportunidades, (2) seleção de ideias e (3) desenvolvimento de
tecnologia, que podem ter efeitos sobre o desempenho de negócios, não precisando seguir uns
aos outros, em uma ordem específica. As organizações que explorarem essas perspectivas
terão, provavelmente, resultados de sucesso, que impactarão de forma positiva no seu
desempenho global, em longo prazo (Saunila & Ukko, 2012).
As dimensões acima mencionadas recebem influência direta de cinco categorias do
potencial de inovação: (1) liderança e processo decisório; (2) estruturas organizacionais e
comunicação; (3) colaboração; (4) cultura e clima organizacional; e (5) criatividade individual
e know-how. Caso o processo de inovação seja bem sucedido, ele resultará num tipo de
36
inovação, podendo ser algo novo ou relativamente melhorado, que gere valor para a empresa
e seus stakeholders (Saunila & Ukko, 2012).
Na Figura 4, há um quadro demonstrativo dos modelos de capacidade de inovação
alinhados com este trabalho, e suas respectivas dimensões e autores.
Figura 4 - Modelos de capacidade de inovação
DESCRIÇÃO DO MODELO DIMENSÕES AUTOR
A capacidade de inovação é constituída
por dimensões distintas, porém
complementares, que precisam ser
observadas e gerenciadas de forma
holística.
Visão estratégica; aproveitamento das
competências; gestão da criatividade e das
ideias; estrutura e sistemas organizacionais;
cultura e clima; inteligência organizacional;
gestão da tecnologia.
(Lawson &
Samson, 2001)
A formação da capacidade de inovação
acontece pela junção de quatro
capacidades complementares, detidas por
todas as empresas. No entanto,
dependendo da predominância de cada
um desses recursos, haverá um tipo de
inovação diferente.
Capacidade de desenvolvimento tecnológico;
capacidade de operações; capacidade de
gerenciamento; capacidade de transação.
(Zawislak et al.,
2012)
Várias iniciativas organizacionais são
necessárias para construir uma
capacidade de inovação forte e que
permitirá resultados expressivos na
performance organizacional.
Cultura de liderança participativa; geração de
ideias e estrutura organizacional; clima
organizacional e bem-estar; desenvolvimento de
know-how; regeneração; conhecimento externo;
atividade individual.
(Saunila et al.,
2014)
A empresa precisa medir constantemente
o potencial da sua capacidde de inovação.
Potencial de inovação (liderança e processos
decisórios; estruturas organizacionais e
comunicação; colaboração, cultura e clima
organizacional; e criatividade).
Processos de inovação (identificação e análise de
oportunidades, seleção de ideias e
desenvolvimento de tecnologia).
Resultados do processo.
(Saunila &
Ukko, 2012)
Fonte: Elaborada pela autora.
2.2.2 Capacidade de inovação das pequenas e médias empresas (PME)
Na percepção da abordagem neoschumpeteriana, o processo inovativo tem a empresa
como seu agente central; considera o conhecimento o principal insumo produtivo, e as formas
de transmissão do aprendizado, fundamentais para explicar como tais relações se traduzem na
incorporação de progresso técnico.
Chesbrough, H., Vanhaverbeke, W., & West, J. (2006) entenderam que as empresas
devem utilizar ideias externas e internas da mesma maneira, combinando-as e as levando ao
mercado por caminhos internos e externos, com o intuito de promover a inovação e o
aperfeiçoamento da tecnologia. Para que isso aconteça, certas ferramentas devem ser
37
utilizadas como mecanismos de transferência de recursos, por meio de redes colaborativas,
como alianças estratégicas, joint ventures e licenças, ora denominadas redes de inovação
colaborativa.
Guerra (2010) pondera que, apesar do mérito da visão proporcionada pelos escritos de
Schumpeter, a possibilidade das pequenas empresas realizarem inovação não está descartada,
não havendo, portanto, uma tendência inexorável de eliminação do pequeno capital. O
crescimento, a estagnação e a morte das firmas dependem, pois, do ritmo da introdução das
inovações e da convivência dos novos métodos de produção ou de organização industrial com
as antigas formas praticadas.
Devido às características especiais das PME, o potencial da inovação é observado
mais atentamente do que seu fim comercial. A escassez de recursos humanos (de gestão e de
pessoal), de capital financeiro, de tempo e de segurança têm sido consideradas características
das PME (Ates & Bititci, 2011; Singh, Garg, & Deshmukh, 2008).
Embora o tamanho represente uma fraqueza, em termos de recursos disponíveis, ele
favorece a estrutura organizacional, pois não há burocracia e maior flexibilidade,
adaptabilidade e velocidade, em resposta à mudança de ambiente (Garengo, Biazzo, & Bititci,
2005). Por essa razão, as PME têm, geralmente, um elevado potencial de inovação, o que
pode resultar em tipos de produtos diferentes daqueles apenas comerciais.
A capacidade de inovação requer constância e comprometimento da equipe. Para
Chang, Wang e Huang (2013), o absenteísmo e/ou turnover são indicadores de que há baixo
comprometimento por parte dos funcionários, o que causa um efeito negativo na
produtividade da organização, quer pela inconstância no desempenho das funções, quer pela
perda de mão de obra valiosa, quando há concretização da decisão do indivíduo de deixar a
organização. Nas PME, o impacto é maior, em razão do número menor de funcionários
atuantes.
A medição de desempenho é vista como um processo abrangente, uma vez que todas
as ações da organização são consideradas como geradoras de impacto. Essas ações incluem a
atuação da liderança, da gestão, a motivação dos funcionários para realizar tarefas, a
qualidade das operações, a capacidade e a qualidade dos produtos para satisfazer às
necessidades dos clientes (Franco & Bourne, 2003; Ukko, Tenhunen, & Rantanen, 2008). A
medição de desempenho concentra-se tradicionalmente em medidas financeiras (Bourne,
Kennerley, & Franco-Santos, 2005).
38
2.2.3 Inovação social e tecnológica
O processo de aprendizagem organizacional envolve a elaboração de novos mapas
cognitivos, viabilizadores da compreensão da dinâmica dos ambientes interno e externo, e a
definição de novos comportamentos, que evidenciam a efetividade do aprendizado. Conforme
Dathein (2015), a produção e a transmissão do aprendizado tecnológico e organizacional são
determinadas pelas relações internas (entre os indivíduos e deles com a empresa) e externas
(nas relações da empresa com outras instituições).
As inovações social e tecnológica (esta mais usual nas organizações com fins
lucrativos) possuem características diferentes, mas não necessariamente excludentes. Muitas
inovações tecnológicas têm caráter social, assim como inovações sociais podem lançar mão
da tecnologia. A inovação social se distingue da tecnológica, principalmente em função da
finalidade, estratégia, locus, processo de desenvolvimento e da difusão do conhecimento
(Bignetti, 2011).
A difusão tecnológica e o surgimento de inovações podem ser vistos como resultados
de um processo de transferência gradual desses construtos para firmas diferentes daquelas nas
quais eles se originaram. Do mesmo modo, a intensidade de inovação é proporcional ao
tamanho das empresas.
Ou seja, a maior intensidade está associada às grandes empresas. Entretanto, estudos posteriores a estes
realizados por Schumpeter chegaram a duas proposições; primeiramente, a inovação tem uma relação
positiva com o tamanho da empresa: a inovação cresce mais que proporcionalmente ao tamanho da
empresa e cresce também como concentração de mercado (Santos, 2012, p. 4).
Figura 5 - Descrição das diferenças em aspectos da inovação tecnológica e inovação social
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA ASPECTO INOVAÇÃO SOCIAL
Apropriação do valor; autointeresse dos
grupos econômicos.
FINALIDADE
(Santos, 2012)
Criação do valor; interesse dos grupos
sociais e da comunidade.
Busca de vantagem competitiva.
ESTRATÉGIA
(Santos, 2012)
Busca de cooperação para resolver
questões sociais.
Centrada na empresa, mesmo nas
concepções de fechada e aberta. Altos
investimentos em P&D são destinados a
gerar inovações radicais e a promover o
desenvolvimento de processos e produtos
que visam às estratégias de diferenciação
no mercado.
(Chesbrough, Vanhaverbeke, & West,
2006)
LÓCUS
Geralmente, é voltada para as ações
comunitárias e, frequentemente,
começa com esforços pequenos e
locais, pois os recursos de alavancagem
são escassos.
(Goldsmith, 2010)
O processo se desenvolve por etapas
sequenciais, definidas e controladas por
ferramentas de gestão específicas. É
gerenciado de dentro para fora, isto é, pela
PROCESSO DE
INOVAÇÃO
É um processo de construção social, de
geração de soluções, dependente da
trajetória. A concepção, o
desenvolvimento e a aplicação estão
39
introdução de um novo processo de
produção, produto ou serviço dirigido ao
mercado.
(Cooper & Edgett, 2009)
intimamente imbricados e são
realizados por meio da relação e da
cooperação entre todos os atores
envolvidos. Significa um processo de
aprendizagem coletivo, que se baseia
no potencial dos indivíduos e dos
grupos, que adquirem as capacidades
necessárias para realizar as
transformações sociais.
(Bignetti, 2011)
Mecanismos de proteção intelectual
procuram impedir que uma ideia ou uma
tecnologia desenvolvida e aplicada por
uma empresa possa ser copiada e utilizada
por concorrentes. As inovações
tecnológicas são de todas as formas
blindadas, de modo a permitir um período
de exclusividade e um prazo para a
obtenção dos lucros extraordinários,
preconizados por Schumpeter (1961).
DIFUSÃO DO
CONHECIMENTO
GERADO
As inovações sociais seguem
mecanismos de difusão que favorecem
a replicação e a expansão dos
resultados a outras comunidades.
Assim, a transposição de experiências
de uma comunidade para outra, ou
entre organizações, é prática comum e
alimentada por centros de inovação
social, por redes organizacionais e por
diferentes fóruns de discussão de ideias
e de apresentação de casos.
(Bignetti, 2011)
Fonte: Elaborada pela autora, com base em Bignetti (2011).
Quando as inovações sociais são direcionadas da organização para o ambiente, o
objetivo básico é o atendimento das necessidades de grupos e comunidades. Nesse caso, é
importante ressaltar que o termo “organizações” é encontrado na literatura, aplicado no seu
sentido mais amplo, envolvendo todos os arranjos cooperativos formais.
Nidumolu, Prahalad e Rangaswami (2009) argumentam que não há incompatibilidade
entre competitividade, lucros e atitudes empresariais socialmente responsáveis, advogando
pela adoção de estratégias empresariais e pelo desenvolvimento de inovações voltadas à
sustentabilidade.
Organizações com fins lucrativos ou empresas comerciais podem realizar ações de
cunho social de diversas formas: no controle de suas operações, visando à preservação do
ambiente; no desenvolvimento de projetos junto às comunidades; e na criação de fundações
ou de outros arranjos institucionais.
Austin et al (2006) discutem as seguintes variáveis, que explicam a diferença entre as
empresas voltadas exclusivamente para o lucro e as empresas com fins sociais: (1) falha de
mercado - surge quando as forças comerciais são incapazes de atender a uma necessidade ou
os resultados econômicos são ineficientes ou indesejáveis, gerando oportunidades para os
empreendimentos sociais; (2) diferenças entre as missões e sua manifestação na gestão e na
motivação dos colaboradores; (3) medidas de desempenho do impacto social. Nesse sentido,
40
para o social, são os stakeholders (isto é, todos os que influenciam ou são influenciados pela
empresa) e não os stockholders (os acionistas) que têm importância. Sendo assim,
Motivar quer dizer “mover para ação”, mobilizar energia e esforços na busca da realização de
determinada meta, motivação, portanto, é o que move uma pessoa para uma determinada ação. Essa
motivação muitas vezes vem da própria pessoa, no entanto, ela pode ser estimulada pela empresa de
várias formas (Knapik, 2010, p. 96)
Para Evangelista e Vezzani (2010), a inovação organizacional é capaz de levar ao
desenvolvimento de recursos estratégicos específicos, proporcionar vantagem competitiva e
desempenho superior que, por sua vez, podem ser utilizados para reinvestir em inovação,
sustentando o avanço competitivo. Assim, essa é a forma mais importante de inovação não
tecnológica, e a mais difícil de ser compreendida, tanto em termos conceituais quanto
empíricos. Os autores afirmam que pouco se sabe sobre a extensão das inovações
organizacionais em complementos ou substitutos da inovação tecnológica, tampouco acerca
dos reais impactos financeiros para as empresas.
Na mesma linha de pensamento, Dart (2004), que investigou a relação entre
capacidade de inovação organizacional e desempenho da empresa, afirma que a organização
social surge como oposição à organização sem fins lucrativos, nos moldes das entidades
beneficentes, à medida que possui estratégia, estrutura, normas e valores representativos de
uma inovação radical, relacionados a organizações mais voluntaristas, pró-sociais e que,
tradicionalmente, vivem de doações e de subvenções. Os resultados mostraram que três
aspectos da capacidade de inovação têm efeito no desempenho da empresa: (1) estruturas de
ideação e organização, (2) cultura de liderança participativa e (3) desenvolvimento de know-
how.
De acordo com os resultados do estudo, a ideação e as estruturas da organização estão
positivamente relacionadas ao desempenho da empresa. Isso corrobora o que dizem Jiménez-
Jiménez e Sanz-Valle (2011) a respeito das rotinas organizacionais como auxiliadoras das
empresas, permitindo a realização de suas atividades de forma mais eficiente e melhor
desempenho.
2.3 MODELO CONCEITUAL
A proposição central desta pesquisa considera o comprometimento das equipes de
P&D&I e a capacidade de inovação elementos relevantes para a diferenciação dos negócios
tradicionais, resultando em inovação tecnológica; e dos negócios de impacto social, gerando
valor social e inovações sociais.
41
Será investigado, como proposição complementar, se os fundamentos estratégicos dos
negócios (missão, visão e valores) e suas práticas de gestão de pessoas (recrutamento e
seleção; cargo e salário; e treinamento e desenvolvimento) podem contribuir para a distinção
dos componentes do comprometimento (afetivo, instrumental ou normativo) das equipes de
P&D&I, e se, consequentemente, estimulam a capacidade de inovação.
Considerando essas proposições (a central e a complementar), nota-se que, além do
comprometimento organizacional das equipes de P&D&I (CO) e da capacidade de inovação
(CI), outros dois aspectos gerenciais foram considerados complementares neste estudo, por
caracterizarem os negócios analisados: os fundamentos estratégicos (FE) dos negócios
(missão, visão e valores) e as práticas de gestão de pessoas (GP) (recrutamento e seleção;
cargo e salário; treinamento e desenvolvimento). A seguir serão detalhadas as categorias
centrais de análise (CO e CI) e as complementares (FE e GP).
2.3.1 Comprometimento organizacional das equipes de P&D&I (CO)
A teoria-base desta pesquisa é a desenvolvida por Meyer e Allen (1997), que classifica
o comprometimento como um construto multidimensional, baseado em três componentes: (a)
o afetivo, pelo qual o funcionário se dedica à empresa por se sentir emocionalmente ligado a
ela, identificando-se com seus valores e gestão e desejando permanecer na organização. Seus
antecedentes são as experiências favoráveis, especialmente as que satisfizeram as
necessidades psicológicas do empregado, levando-o a se sentir confortável e competente em
seu trabalho; (b) instrumental, indicativo do quanto o funcionário permanece ligado à
organização por necessidade, devido ao reconhecimento dos custos associados a uma eventual
saída; e (c) normativo, que reflete a postura de obrigação moral do funcionário de permanecer
na empresa, por gratidão pelo que já recebeu. Seus antecedentes são os valores pessoais e a
obrigação que a pessoa julga ter para com seu empregador, pela oferta de cursos de
aperfeiçoamento profissional, por exemplo.
Lacombe e Tonelli (2001) citam que uma organização bem sucedida procura
compreender os sentimentos, as necessidades e motivações dos colaboradores, a fim de
garantir um clima de trabalho propício ao alcance de resultados.
Essas dimensões são permeáveis, sendo alteradas de acordo com o contexto
organizacional, o cenário de emprego no mercado e também o momento de vida do
funcionário. Quando for necessária uma tomada de decisão, entretanto, existirá a
predominância de um deles.
42
2.3.2 Capacidade de inovação (CI)
Vários são os modelos para o entendimento e obtenção da capacidade de inovação em
uma organização. Este trabalho adotará o modelo de Saunila e Ukko (2012), que considera as
seguintes dimensões e suas associações: potencial de inovação (liderança e processo
decisório, estrutura organizacional e comunicação, colaboração, cultura e clima
organizacional, criatividade individual e know-how), processo de inovação (identificação e
análise de oportunidades, seleção de ideias e desenvolvimento de tecnologias) e resultado
(algo novo ou relativamente melhorado, que gere valor para a empresa e seus stakeholders).
Essas dimensões são dinâmicas, o que significa que, para uma acontecer, a outra deve
estar total ou parcialmente atendida. O percentual de influência entre elas varia de situação
para situação, devido ao tipo de negócio e conforme os resultados esperados.
2.3.3 Gestão de pessoas (GP)
O termo “recursos humanos” é a maneira corriqueira de se referir às pessoas, aos
funcionários da organização; e, também, a forma simplificada de alusão a uma área na
estrutura empresarial, cuja responsabilidade é desenvolver, aplicar e monitorar as práticas que
envolvem a relação pessoal e legal dos funcionários com a organização. É nesse sentido mais
amplo, como área, que o RH está sendo considerado nesta pesquisa (DuBrin, 2003).
A evolução dos recursos humanos para a gestão de pessoas exige novas competências
de todos os profissionais, especialmente dos gestores. Compreender a realidade e saber
aproveitar as oportunidades no trabalho; produzir em equipe; enfrentar os conflitos de forma
construtiva e ética; comunicar-se com clareza e eficácia, tanto oralmente quanto por meio da
escrita; administrar o tempo; compreender as particularidades de cada indivíduo; ser
resiliente; planejar seu autodesenvolvimento etc.
De acordo com McDermott, Heffernan e Beynon (2013), a gestão de pessoas
considera o colaborador fundamental ao alcance de metas e objetivos organizacionais; é
responsável por definir quais métodos ou caminhos serão adotados para gerir seu principal
diferencial competitivo – seus funcionários, fator fundamental para a eficácia desses agentes e
da própria empresa. Nessa perspectiva, as pessoas devem ser vistas como seres humanos
capazes de interferir na qualidade empresarial, atuando como parceiras da organização. Dessa
forma, é possível observar o papel estratégico e relevante assumido pelas pessoas na empresa,
43
por isso sua gestão deve ser devidamente suportada por teorias coesas e consistentes e, ainda,
precisa estar alinhada ao planejamento e à estratégia organizacional.
Os estudos realizados pela Escola das Relações Humanas identificaram a importância
dos fatores psicológicos no desempenho dos funcionários. Com os estudos comportamentais,
foi possível perceber a influência das ações da organização na motivação dos indivíduos.
Descobriu-se que a motivação não se caracteriza apenas por recompensas monetárias, mas
também por propostas de trabalho e perspectivas de carreira, desafios e responsabilidades que
a organização oferece. Dadas essas condições, os indivíduos permaneceriam no trabalho e
comungariam objetivos organizacionais com objetivos pessoais (Ventura, 2012).
Para ser estratégica, a gestão de pessoas necessita contemplar estratégia, estrutura,
pessoas e processos em suas ações (Höpner et al., 2008). Inúmeras são as práticas de RH que
influenciam o comportamento do funcionário e a forma como ele percebe a empresa e
estabelece o seu tipo de comprometimento. Todas são importantes, mas, aqui, serão
pesquisadas três práticas bastante relevantes: (1) recrutamento e seleção (R&S): a cultura da
empresa e o perfil do cargo exigem características específicas do seu ocupante; cabe a essa
área, portanto, atrair e selecionar os candidatos mais adequados à vaga e que possam atender
às expectativas da empresa; (2) cargos e salário (C&S): essa estrutura deve ser equivalente ao
grau de exigência, expectativa e resultados esperados pela empresa. O desequilíbrio entre o
que é oferecido e o exigido pode estabelecer uma fonte de conflitos de diversas naturezas,
capaz de se refletir no clima organizacional; (3) treinamento e desenvolvimento (T&D): no
contexto de negócios inovadores, a aquisição, troca e acúmulo do conhecimento interno e
externo são fundamentais. A capacitação técnica e comportamental para liderança e equipe é
parte significativa no contexto de negócios inovadores (DuBrin, 2003).
Souza, Paixão e Souza (2011) comentam que a política de recrutamento e seleção pode
ser definida como uma atividade que procura atender às necessidades internas da organização,
mediante o emprego de métodos e técnicas específicas, criadas para atrair e escolher os
melhores candidatos. Ela se inicia com o planejamento da necessidade de pessoal da
instituição, que deve estar voltado ao alcance dos objetivos organizacionais. Em seguida,
realiza-se a descrição e análise dos cargos, que deve minuciar as incumbências e as atividades
esperadas para o ocupante de determinado cargo, incluindo os conhecimentos, as habilidades
e as atitudes necessárias para o sujeito desempenhar com sucesso suas atribuições. E, por fim,
recorre-se ao recrutamento e seleção, que tratam da atração e identificação de um grupo de
candidatos, entre os quais serão escolhidos e contratados os que tiverem melhor desempenho
(Bezerra & Helal, 2009).
44
O objetivo da seleção eficaz é combinar características individuais (capacidade,
experiência) com os requisitos do cargo. Isso nem sempre é possível, pois há muita
interferência no processo, devido à subjetividade dos selecionadores (Robbins, Judge, &
Sobral, 2010)
2.3.4 Fundamentos estratégicos (FE)
Saber qual é o seu negócio, como a empresa quer ser conhecida e como alinhar o
comportamento de todos os envolvidos ao tipo de estrutura são questionamentos essenciais,
uma vez que, a partir dessas definições, todas as demais práticas serão definidas. Nesse
construto, este trabalho pesquisará três dimensões: (1) missão, (2) visão e valores e (3)
estrutura (Desmidt et al., 2011).
O modelo conceitual do estudo (Figura 6) é, portanto, representado por quatro
categorias e um total de doze dimensões. Vale destacar que cada categoria é formada por
dimensões que se inter-relacionam, e o mesmo acontece com as categorias. Sendo assim, as
setas da figura a seguir procuram representar as relações entre as categorias, que são cíclicas e
dinâmicas.
Figura 6 - Modelo conceitual
45
Fonte: Modelo baseado em Lawson e Samson (2001); Zawislak et al. (2012); Saunila et al. (2014); Saunila e
Ukko (2012); Meyer e Allen (1997); Desmidt et al. (2011); Thompson Jr. e Gamble (2012); Lacombe e Tonelli
(2001).
46
3 MÉTODO E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA
Nesta pesquisa, que é qualitativa e descritiva, utilizou-se como método o estudo de
caso múltiplo, tendo como unidades de análise os negócios tradicionais e de impacto social,
incluindo, respectivamente: o Centro de Recuperação e Educação Nutricional (CREN),
negócio vencedor do prêmio “Empreendedor Social” do Jornal Folha de S. Paulo; e a
BRAILE Biomédica, vencedora do prêmio “FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) de
Inovação”, categoria Média Empresa.
Os dados foram coletados a partir de entrevistas semiestruturadas e levantamento
documental nos negócios investigados em profundidade; e interpretados pela análise de
conteúdo das entrevistas e dos documentos secundários coletados (Figura 7). Utilizou-se o
software Atlas Ti. na organização e codificação dos dados brutos.
Figura 7 - Matriz metodológica
MATRIZ METODOLÓGICA AUTORES
Natureza da pesquisa Qualitativa
(Godoy, 1995b)
(Martins & Theóphilo, 2009)
(Minayo, 2011)
Abordagem metodológica Descritiva (Martins & Theóphilo, 2009)
(Gil, 2008)
Paradigma Interpretativismo (Martins & Theóphilo, 2009)
Método Estudo de caso múltiplo
(Yin, 2011)
(Creswell, 2007)
(Godoy, 1995b)
Unidade de análise
2 casos (um negócio tradicional
e um negócio com impacto
social).
Organizações vencedoras do prêmio
“Empreendedor Social” do Jornal Folha
de S. Paulo ou do prêmio “FINEP de
Inovação”, nas categorias Média
Empresa, Tecnologia Assistiva e
Tecnologia Social.
Procedimentos de coleta de
dados
Entrevistas semiestruturadas e
levantamento documental. (Godoy, 1995b)
Instrumentos de coleta de
dados
Roteiros de entrevista e de
investigação documental.
Análise dos dados
Análise de conteúdo das
entrevistas e documentos
coletados e utilização do
software Atlas Ti. na
organização e codificação dos
dados brutos.
(Godoy, 1995a)
(Minayo, 2011)
Fonte: Elaborada pela autora.
47
3.1 CARACTERIZAÇÃO E DELINEAMENTO DA PESQUISA
A pesquisa é de natureza qualitativa, pois o pesquisador vai a campo, buscando captar
o fenômeno em estudo, a partir da perspectiva das pessoas nele envolvidas, e considera, por
isso, todos os pontos de vistas relevantes (Godoy, 1995a). Esse tipo de pesquisa se preocupa
com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e
explicação da dinâmica das relações sociais; além disso, trabalha com o universo dos
significados, motivos, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis (Minayo, 2011).
A abordagem descritiva adotada tem como característica observar os fatos, registrá-
los, analisá-los, classificá-los e interpretá-los, sendo que não há interferência do pesquisador,
já que os fenômenos do mundo físico e humano são estudados, mas não manipulados (Martins
& Theóphilo, 2009).
O paradigma é o interpretativismo ou epistemologia interpretativista, de acordo com
(Saccol, 2009), é construtivista, pois a realidade é reproduzida por meio de interações sociais,
à espera de uma descoberta. A lógica que prevalece é indutiva, já que o entendimento se dará
após o contexto ter sido explorado, permitindo ao pesquisador a apresentação do seu
posicionamento (uso da primeira pessoa), bem como dos indivíduos pesquisados. Dentro
desse paradigma, encontram-se, principalmente, os métodos qualitativos: estudo de caso, a
pesquisa-ação e a etnografia (método de coleta de dados pela antropologia).
Quanto ao método, trata-se de um estudo de caso múltiplo, no qual o pesquisador
explora em profundidade um programa, um fato, uma atividade, um processo ou uma ou mais
pessoas, usando uma variedade de procedimentos de coleta de dados (Creswell, 2007). Esse
tipo de estudo investiga similaridades e diferenças entre diversos fatores, permitindo
estabelecer a complementaridade entre os estudos de caso, o que favorece a análise dos dados
(Martins & Theóphilo, 2009).
Para Yin (2001), o estudo de caso múltiplo permite a generalização analítica, pelo
pesquisador, de um conjunto de resultados, relacionando-o a alguma teoria mais abrangente.
Para isso acontecer, é necessário que a teoria seja testada por meio da replicação das
descobertas num segundo ou terceiro local, nos quais se supõe que deveriam ocorrer os
mesmos resultados.
A coleta de dados ocorreu a partir de entrevistas e de análise documental. A entrevista
é uma técnica de pesquisa para coleta de informações, dados e evidências, cujo objetivo
48
básico é compreender o significado que os entrevistados atribuem a questões e situações, em
contextos que não foram estruturados anteriormente, com base nas suposições e conjecturas
do pesquisador (Godoy, 1995a).
A análise documental, segundo Godoy (1995a), é o exame de materiais de natureza
diversa (textos, estatísticas, elementos iconográficos, como sinais, fotografias, filmes etc.),
que ainda não receberam um tratamento analítico e que podem ser reexaminados, buscando-se
novas e/ou interpretações complementares. Classificam-se como primários (produzidos por
quem vivencia diretamente o evento) ou secundários (quando coletados por pessoas que não
estavam presentes na ocasião da sua ocorrência).
As unidades de análise contemplaram: um negócio tradicional, a BRAILE, vencedora
do prêmio “FINEP de Inovação (Financiadora de Estudos e Projetos de Inovação)” (Figura 8),
categoria Média Empresa, e um negócio de impacto social, o CREN, vencedor do prêmio
“Empreendedor Social”, do Jornal Folha de S. Paulo (Figura 9). A escolha dessas premiações
deu-se em razão das inovações geradas com distinção de mérito (incluindo inovações
tecnológicas e sociais), o tamanho dos negócios (organizações de pequeno e médio porte) e
sua finalidade (negócios de inovação tecnológica e social).
Figura 8 - Negócio tradicional selecionado
CATEGORIAS DO PRÊMIO FINEP DE INOVAÇÃO
Negócio Tradicional Breve descrição do negócio
BRAILE Biomédica (negócio premiado em 2014)
A BRAILE Biomédica é um avançado polo fabricante de
produtos médico-cirúrgico-hospitalares, que tem por
missão aplicar ciência, inovação, liderança e tecnologia
na criação e fabricação de produtos e equipamentos
médicos. Única no segmento com tecnologia 100%
nacional, possui produtos nos segmentos: cardiovascular,
biológico & soluções; eletromédico, endovascular e
oncológicos.
Fonte: Elaborada pela autora, com base no site www.finep.gov.br.
Figura 9 - Negócio de impacto social selecionado
CATEGORIAS DO PRÊMIO EMPREENDEDOR SOCIAL
Negócio de impacto social Resumo
CREN - Centro de Recuperação e
Educação Nutricional (negócio
premiado em 2011)
“O Cren promove a recuperação e a educação nutricional efetiva de crianças e
adolescentes com desnutrição primária leve, moderada ou grave, sobrepeso e
obesidade exógena por meio de avaliação e triagem em comunidades pobres
(busca ativa), atendimento ambulatorial interdisciplinar (medicina, nutrição,
psicologia e assistência social) e semi-internato (hospital-dia). Com uma
abordagem que envolve a família, beneficiou mais de 50 mil pessoas nas duas
unidades em São Paulo, em Jundiaí (SP) e nos diversos locais para onde foi
replicado (Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Haiti, Honduras, Itália, México,
Moçambique, Peru etc.)” (Folha, 2017).
Fonte: Elaborada pela autora, com base no site http://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/.
49
3.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA DOS DADOS
Os dados foram coletados a partir de entrevistas semiestruturadas realizadas com:
diretores, gestores de RH, gestores de P&D&I (no total de seis, sendo duas entrevistas, uma
na BRAILE e a outra no CREN, para cada um dos cargos); e funcionários que integram a
equipe de P&D&I (no total de oito, sendo quatro na BRAILE e quatro no CREN). Foi
também realizado um levantamento documental nos negócios investigados.
Os Diretores e os Gestores de RH , tanto do Negócio Tradicional como de Impacto
Social, após serem entrevistados, é que indicaram os sujeitos sociais que desempenhavam
atividades relevantes na gestão de P&D&I e gestão de RH que deveriam ser entrevistados
para efeito da presente pesquisa.
Nas entrevistas, foram buscadas evidências sobre o comprometimento das equipes de
P&D&I e suas contribuições para a capacidade de inovação, levando-se em consideração a
influência dos fundamentos estratégicos e as práticas de gestão de pessoas. Essas entrevistas
foram realizadas presencialmente, gravadas e transcritas para registro e, posterior
interpretação das evidências.
Vale detalhar que, nas entrevistas com os gerentes de RH, foram coletadas evidências
sobre as práticas de seleção, contratação, treinamento, desenvolvimento, benefícios,
acompanhamento do desempenho e carreira, que se aplicam aos profissionais que integram a
equipe de P&D&I. Nas entrevistas com os diretores e gerentes de P&D&I, as características
buscadas tinham a finalidade de complementar a análise, destacando a relevância dessa área
para a estrutura formal da organização, a composição da equipe, metas e resultados
alcançados nos últimos 24 meses, no que diz respeito ao desenvolvimento de produtos e
processos inovadores.
Para Martins e Theóphilo (2009), a entrevista é uma técnica de pesquisa para a coleta
de informações, dados e evidências, cujo objetivo básico é compreender o significado que os
entrevistados atribuem a questões e situações, em contextos que não foram estruturados
anteriormente, com base nas suposições e conjecturas do pesquisador. Para Trivinos (1987), a
entrevista semiestruturada é aquela que utiliza questionamentos básicos, apoiados em teorias e
hipóteses, que interessam à pesquisa e, em seguida, oferecem amplo campo de interrogação,
ao lado de novas hipóteses, que vão surgindo à medida que o pesquisador recebe as respostas
do informante. Tanto na entrevista estruturada como na semiestruturada, sua elaboração deve
estar ancorada no referencial que está dando suporte teórico ao estudo.
50
Destaca-se, também, a obtenção de dados secundários a partir da pesquisa documental
na área de RH, considerando os relatórios que informam a frequência e performance dos
funcionários integrantes da equipe de P&D&I, durante os últimos 24 meses anteriores à data
da entrevista, a saber: relatório de frequência (marcação de ponto), promoções recebidas,
relatório de turnover na área de P&D&I e o resultado das últimas três avaliações de
desempenho formal dos integrantes da equipe pesquisada. Ainda, como procedimento de
coleta de dados secundários, foram levantados os relatórios de projetos desenvolvidos nos
últimos 2anos, pela área de P&D&I , e que resultaram em produtos ou processos inovadores.
Particularmente, sobre os instrumentos de coleta de dados utilizados, destacam-se:
roteiro de entrevista semiestruturada (Apêndices A, B, C e D) e roteiro para análise
documental (Apêndice E), todos eles fundamentados na literatura, conforme autores citados
na última coluna da matriz de amarração, apresentada no Capítulo 3.5.
Por fim, vale sintetizar que a pesquisa de campo resultou em 14 entrevistas
presenciais, 10h30 de gravação e 114 páginas de transcrição, além do levantamento de
documentos, que resultaram em 02 páginas de compilação das evidências coletadas (Figura
10).
Figura 10 - Quadro síntese das entrevistas
Código dos
Entrevistados
Cargo do entrevistado Duração da entrevista em
minutos
Nº de páginas transcritas
1 Diretor Executivo - BRAILE 27:07 5
2 Gerente de P&D&I - BRAILE 32:48 8
3 Gerente RH - BRAILE 1h14 18
4 Equipe de P&D&I 1º -
BRAILE
35:26 8
5 Equipe de P&D&I 2º -
BRAILE
55:01 8
6 Equipe de P&D&I 3º -
BRAILE
24:25 6
7 Equipe de P&D&I 4º -
BRAILE
27:27 5
8 Gerente geral - CREN 46:40 10
9 Gerente P&D&I - CREN 1h21 14
10 Gerente de RH - CREN 36:22 5
11 Equipe de P&D&I 1º - CREN 1h03 8
12 Equipe de P&D&I 2º- CREN 36:02 5
13 Equipe de P&D&I 3º - CREN 28:40 6
14 Equipe de P&D&I 4º - CREN 22:36 5
Total de horas: 10h30; Quantidade de entrevistas: 14; Total de Páginas: 114 (111 de entrevistas + 3 páginas
referentes aos documentos secundários).
51
Fonte: Elaborada pela autora.
3.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS
Foi adotado o procedimento de análise de conteúdo, o qual, segundo Godoy (1995b),
tem como pressuposto a existência de um ou vários sentidos, escondidos por trás do discurso
aparente, simbólico e polissêmico, e que convém ao pesquisador desvendar. Ele busca
compreender as características, estruturas e/ou modelos que se “camuflam” nos fragmentos
das mensagens levadas em consideração. Essa é uma técnica para se estudar e analisar a
comunicação de maneira objetiva e sistemática.
De forma específica, na análise de conteúdo, foram buscadas: inferências confiáveis de
dados e informações, com respeito a determinado contexto e a partir dos discursos escritos ou
orais de seus atores e/ou autores; a essência de um texto, nos detalhes das informações, dados
e evidências disponíveis. Salienta-se que não se trabalha, em tal análise, somente com o texto,
mas com detalhes do contexto, por isso ela pode ser utilizada tanto para fins exploratórios (de
descoberta) quanto de verificação (confirmando, ou não, proposições e evidências). (Martins
& Theóphilo, 2009).
Para a organização das análises, utilizou-se o software Atlas Ti que, segundo Lee e
Esterhuizen (2000), possibilita a organização e a recuperação de informações relacionadas à
ideia ou ao conceito subjacente às categorias de análise, criadas pelo pesquisador –
procedimento importante para estruturá-las e validá-las empiricamente no processo de retorno
aos dados qualitativos. Nesta pesquisa, essas categorias foram assim definidas: espaços e
contextos de aprendizagem; motivação para o empreendedorismo social; e trajetória de
liderança social.
3.4 PROTOCOLO DE PESQUISA
No protocolo de pesquisa, consta a descrição, de forma sequencial, das ações
realizadas no decorrer da pesquisa de campo:
Figura 11- Protocolo de Pesquisa
ETAPAS DA PESQUISA DESCRIÇÃO OPERACIONAL
Selecionar um negócio tradicional e um negócio de
impacto social.
Análise dos negócios vencedores do Prêmio FINEP de
Inovação e do Prêmio Empreendedor Social.
52
Contatar as organizações, apresentando o projeto
de pesquisa, convidando-as a nele participar.
Envio de e-mail e/ou ligação telefônica para confirmação
do interesse em participar da pesquisa.
Coleta de dados primários junto aos diretores dos
negócios selecionados.
Entrevista semiestruturada com diretores dos negócios
selecionados (conforme Apêndice A).
Coleta de dados primários junto aos gestores de
RH dos negócios selecionados.
Entrevista semiestruturada com os gestores de RH dos
negócios selecionados (conforme Apêndice B).
Coleta de dados primários junto aos gestores de
P&D&I dos negócios selecionados.
Entrevista semiestruturada com os gestores de P&D&I dos
negócios selecionados (conforme Apêndice C).
Coleta de dados primários junto aos funcionários
que atuam nas equipes de P&D&I dos negócios
selecionados.
Entrevista semiestruturada com funcionários que atuam
nas equipes de P&D&I dos negócios selecionados
(conforme Apêndice D).
Levantamento de dados secundários, a partir de
documentos do RH e do P&D&I.
Compilação de evidências coletadas nos documentos
fornecidos pelo RH e pelo P&D&I (conforme Apêndice
E).
Análise dos dados coletados, buscando estabelecer
relação com a questão de pesquisa e objetivos.
Análise das evidências coletadas e elaboração das
discussões e conclusões da pesquisa.
Fonte: Elaborada pela autora.
3.5 MATRIZ DE AMARRAÇÃO
A matriz de amarração fornece a visão geral sobre os principais pilares conceituais e
metodológicos da pesquisa, relacionando, de forma integradora: objetivo geral, objetivos
específicos, categorias de análise e suas dimensões, bem como as perguntas de pesquisa
(Figura 12).
53
Figura 12 - Matriz de Amarração e representação da categoria de análise “Capacidade de Inovação” e as Dimensões “Potencial de Inovação” e “Processos"
Objetivo Geral: Compreender como o comprometimento das equipes de P&D&I contribui para a mobilização de recursos que fomentam a capacidade de inovação de negócios tradicionais e de
impacto social.
Objetivos Específicos: (a) caracterizar as dimensões (potencial, processo e resultado) da capacidade de inovação de negócios tradicionais e de impacto social; (b) mapear os componentes do
comprometimento (afetivo, instrumental ou normativo) das equipes de P&D&I de negócios tradicionais e de impacto social; e (c) verificar as similaridades e as distinções das contribuições do
comprometimento das equipes de P&D&I de negócios tradicionais e de impacto social.
Categorias
centrais de
análise
Dimensões Diretores Gerentes de RH Gerentes de P&D&I Funcionários que atuam nas
equipes de P&D&I
Base
conceitual
Capacidade
de Inovação
Potencial de
inovação
Em linhas gerais, como se dá a
formação técnica e
comportamental dos gestores e
funcionários de P&D&I que
atuam no negócio (tradicional ou
de impacto social)? (5)
Como a cultura do negócio (tradicional
ou de impacto social) favorece as
atividades de P&D&I? (12)
Como a cultura do
negócio (tradicional ou
de impacto social)
estimula o desempenho
das lideranças de
P&D&I? (2)
Que ações da liderança do
negócio (tradicional ou de
impacto social) favorecem o seu
desempenho em P&D&I? (3)
(Lawson &
Samson,
2001),
(Zawislak et
al., 2012),
(Saunila et al.,
2014) e
(Saunila &
Ukko, 2012).
Como se dá a formação técnica e
comportamental das lideranças de
P&D&I que atuam no negócio
(tradicional ou de impacto social)? (13)
Processos
Há uma estrutura formal (departamento)
para as atividades de P&D&I? Em caso
positivo, qual a sua localização no
organograma? Em caso de estrutura
informal de P&D&I, especificar como as
atividades são, portanto, administradas.
(3)
Como se dá o reconhecimento
da equipe de P&D&I e,
particularmente, o seu, quando
da finalização de um projeto de
inovação (tecnológica ou
social)? (2)
Fonte: Elaborada pela autora.
54
Figura 13 - Matriz de Amarração e representação da categoria de análise “Capacidade de Inovação” e a Dimensão “Resultados”
Objetivo Geral: Compreender como o comprometimento das equipes de P&D&I contribui para a mobilização de recursos que fomentam a capacidade de inovação de negócios tradicionais e de
impacto social.
Objetivos Específicos: (a) caracterizar as dimensões (potencial, processo e resultado) da capacidade de inovação de negócios tradicionais e de impacto social; (b) mapear os componentes do
comprometimento (afetivo, instrumental ou normativo) das equipes de P&D&I de negócios tradicionais e de impacto social; e (c) verificar as similaridades e as distinções das contribuições do
comprometimento das equipes de P&D&I de negócios tradicionais e de impacto social.
Categorias
centrais de
análise
Dimensões Diretores Gerentes de RH Gerentes de P&D&I Funcionários que atuam nas
equipes de P&D&I
Base
conceitual
Capacidade
de Inovação
Resultado
Quais os requisitos considerados
para avaliar o resultado das
atividades de P&D&I (o que é
usado e como é feito?) (3) Como é reconhecido o
desempenho dos envolvidos nas
atividades de P&D&I? (14)
Nos últimos 24 meses, que
projetos de inovação (tecnológica
ou social) foram concluídos com
sucesso? Pode descrever
brevemente o caso de maior
destaque? (3)
Na sua percepção, como
ocorrem as seguintes
associações:
a) Resultados da inovação
(tecnológica ou social) e
“remuneração” dos
funcionários envolvidos nas
atividades de P&D&I?
b) Resultados da inovação
(tecnológica ou social) e
“reconhecimento” dos
funcionários envolvidos nas
atividades de P&D&I?
c) Resultados dos projetos de
inovação (tecnológica ou
social) e
“comprometimento” dos
funcionários envolvidos nas
atividades de P&D&I? (14)
(Lawson &
Samson,
2001),
(Zawislak et
al., 2012),
(Saunila et
al., 2014) e
(Saunila &
Ukko, 2012).
Nos últimos 24 meses, que
projetos de inovação (tecnológica
ou social) foram concluídos com
sucesso? Pode descrever
brevemente o caso de maior
destaque? (4)
Na sua percepção, como ocorrem
as seguintes associações:
a) Resultados da inovação
(tecnológica ou social) e
“remuneração” dos
funcionários envolvidos nas
atividades de P&D&I?
b) Resultados da inovação
(tecnológica ou social) e
“reconhecimento” dos
funcionários envolvidos nas
atividades de P&D&I?
c) Resultados dos projetos de
inovação (tecnológica ou
social) e “comprometimento”
dos funcionários envolvidos
nas atividades de P&D&I? (8)
Na sua percepção, como
ocorrem as seguintes
associações:
a) Resultados da inovação
(tecnológica ou social) e
“remuneração” dos
funcionários envolvidos nas
atividades de P&D&I?
b) Resultados da inovação
(tecnológica ou social) e
“reconhecimento” dos
funcionários envolvidos nas
atividades de P&D&I?
c) Resultados dos projetos de
inovação (tecnológica ou
social) e
“comprometimento” dos
funcionários envolvidos nas
atividades de P&D&I? (15)
Na sua percepção, como ocorrem
as seguintes associações:
a) Resultados da inovação
(tecnológica ou social) e
“remuneração” dos
funcionários envolvidos nas
atividades de P&D&I?
b) Resultados da inovação
(tecnológica ou social) e
“reconhecimento” dos
funcionários envolvidos nas
atividades de P&D&I?
c) Resultados dos projetos de
inovação (tecnológica ou
social) e “comprometimento”
dos funcionários envolvidos
nas atividades de P&D&I?
(10)
Fonte: Elaborada pela autora.
55
Figura 14 - Matriz de Amarração e representação da categoria de análise “Comprometimentos das Equipes de P&D&I” e os componentes “Afetivo” e “Instrumental”
Objetivo Geral: Compreender como o comprometimento das equipes de P&D&I contribui para a mobilização de recursos que fomentam a capacidade de inovação de negócios tradicionais e de impacto social.
Objetivos Específicos: (a) caracterizar as dimensões (potencial, processo e resultado) da capacidade de inovação de negócios tradicionais e de impacto social; (b) mapear os componentes do comprometimento (afetivo,
instrumental ou normativo) das equipes de P&D&I de negócios tradicionais e de impacto social; e (c) verificar as similaridades e as distinções das contribuições do comprometimento das equipes de P&D&I de negócios
tradicionais e de impacto social.
Categorias
centrais de análise Componentes Diretores Gerentes de RH Gerentes de P&D&I
Funcionários que atuam nas
equipes de P&D&I Base conceitual
Comprometimento
das equipes de P&D
Afetivo
Na sua percepção, o que se
entende por
"comprometimento" e o que é
feito para obter esse
comportamento por parte dos
envolvidos (gestores e
funcionários) nas atividades de
P&D&I? (6)
Que práticas o RH adota para os
funcionários sentirem que seu
trabalho é importante para o
negócio? Há alguma ação específica
para os funcionários envolvidos nas
atividades de P&D&I? (7)
Que práticas são adotadas para
que o funcionário envolvido nas
atividades de P&D&I sinta que
seu trabalho é importante para o
negócio (tradicional ou de
impacto social)? (5)
Quais situações presentes no
negócio (tradicional ou de
impacto social) hoje te
deixam feliz em trabalhar
nele? E que situações te
deixam infeliz? (10)
(Meyer & Allen,
1997)
Como é feito o processo de
feedback de desempenho aos
membros da equipe de P&D&I?
(6)
Como você se sente ao
receber feedback sobre o seu
desempenho em P&D&I? (4)
Que canais de comunicação o RH
utiliza para manter os funcionários
de P&D&I informados das decisões
que os afetam, tanto no aspecto
profissional como pessoal? (8)
Como você falaria do negócio
(tradicional ou de impacto
social) em que atua para uma
pessoa que não o conhecesse?
(5)
Instrumental
Como você avalia o seu
salário (ou recompensas não
monetárias), hoje,
comparando com o mesmo
cargo em outros negócios de
porte e interesse semelhantes?
(6)
Como o RH disponibiliza aos
funcionários orientações em assuntos
pessoais? Há alguma ação específica
para os funcionários envolvidos nas
atividades de P&D&I? (10)
Caso recebesse uma proposta
de trabalho, o que seria
determinante para a sua não
saída do negócio (tradicional
ou de impacto social)? (11)
Como ocorrem as promoções (cargo
e salário) e as ações de
reconhecimento dos funcionários
envolvidos nas atividades de
P&D&I? (9)
Como você visualiza a sua
carreira profissional no
negócio (tradicional ou de
impacto social)? (7)
Fonte: Elaborada pela autora.
56
Figura 15 - Matriz de Amarração e representação da categoria de análise “Comprometimentos das Equipes de P&D&I” e o componente “Normativo”
Objetivo Geral: Compreender como o comprometimento das equipes de P&D&I contribui para a mobilização de recursos que fomentam a capacidade de inovação de negócios tradicionais e de impacto
social.
Objetivos Específicos: (a) caracterizar as dimensões (potencial, processo e resultado) da capacidade de inovação de negócios tradicionais e de impacto social; (b) mapear os componentes do
comprometimento (afetivo, instrumental ou normativo) das equipes de P&D&I de negócios tradicionais e de impacto social; e (c) verificar as similaridades e as distinções das contribuições do
comprometimento das equipes de P&D&I de negócios tradicionais e de impacto social.
Categorias
centrais de
análise
Componentes Diretores Gerentes de RH Gerentes de P&D&I Funcionários que atuam
nas equipes de P&D&I Base conceitual
Normativo
Que características pessoais
você identifica nos gestores e
funcionários mais
comprometidos e envolvidos
nas atividades de P&D&I?
(7)
Na sua percepção, o que se
entende por "comprometimento" e
o que o RH faz para obter esse
comportamento por parte dos
colaboradores envolvidos nas
atividades de P&D&I? (5)
O que é comprometimento e
como você identifica esse
comportamento nos líderes e
funcionários de P&D&I? (7)
O que é comprometimento
para você? Você se avalia
um funcionário
comprometido com o
negócio (tradicional ou de
impacto social)? (8)
(Meyer & Allen,
1997) Quais são os indicadores
considerados pelo RH de que
funcionários estão ou não
comprometidos? Há alguma ação
específica para os funcionários
envolvidos nas atividades de
P&D&I? (6)
Como ocorre, na prática, a
liderança de funcionários de
P&D&I com níveis de
comprometimento diferentes?
(9)
Que ações vigentes hoje, no
negócio (tradicional ou de
impacto social), te ajudam a
ser mais comprometido? (9)
Que características pessoais
você identifica nos funcionários
mais comprometidos e
envolvidos nas atividades de
P&D&I? (8)
Caso você tivesse que
deixar o negócio (tradicional
ou de impacto social) hoje,
como você se sentiria? (12)
Fonte: Elaborada pela autora.
57
Figura 16 - Matriz de Amarração e representação da categoria de análise “Fundamentos Estratégicos” e as dimensões “Missão, Visão, Valores e Estrutura”
Objetivo Geral: Compreender como o comprometimento das equipes de P&D&I contribui para a mobilização de recursos que fomentam a capacidade de inovação de negócios tradicionais e de impacto
social.
Objetivos Específicos: (a) caracterizar as dimensões (potencial, processo e resultado) da capacidade de inovação de negócios tradicionais e de impacto social; (b) mapear os componentes do
comprometimento (afetivo, instrumental ou normativo) das equipes de P&D&I de negócios tradicionais e de impacto social; e (c) verificar as similaridades e as distinções das contribuições do
comprometimento das equipes de P&D&I de negócios tradicionais e de impacto social.
Categorias
complementares
de análise
Dimensões Diretores Gerentes de RH Gerentes de P&D&I Funcionários que atuam nas
equipes de P&D&I Base conceitual
Fundamentos
estratégicos
Missão
Visão
Valores
Como você avalia a
associação entre a missão,
visão e valores do negócio
(tradicional e de impacto
social) e as ações de
pesquisa, desenvolvimento
e inovação (P&D&I)? (1)
Como os funcionários são
informados sobre a missão,
visão e valores do negócio
(tradicional ou com impacto
social)? Há alguma ação
específica para as atividades
de pesquisa, desenvolvimento
e inovação (P&D&I)? (1)
Como você avalia a
associação entre a missão,
visão e valores do negócio e
as ações de pesquisa,
desenvolvimento e inovação
(P&D&I)? (1)
De que forma a missão e
valores do negócio
(tradicional ou de impacto
social) influenciam no seu
comportamento diário? Você
pode dar um exemplo
prático? (1)
(Desmidt et al., 2011)
(Thompson Jr. &
Gamble, 2012)
(Lacombe & Tonelli,
2001)
Como o tipo de negócio
(missão, visão e valores) está
alinhado à definição e
descrição das atividades
realizadas pelos funcionários
de P&D&I? (2)
Estrutura
Há uma estrutura formal
(departamento) para as
atividades de P&D&I? Em
caso positivo, qual a sua
localização no
organograma? Em caso de
estrutura informal de
P&D&I, especificar como
as atividades são, portanto,
administradas. (2)
Há uma estrutura formal
(departamento) para as
atividades de P&D&I? Em
caso positivo, qual a sua
localização no organograma?
Em caso de estrutura informal
de P&D&I, especificar como
as atividades são, portanto,
administradas. (3)
Fonte: Elaborada pela autora.
58
Figura 17 - Matriz de Amarração e representação da categoria de análise “Gestão de pessoas” e as dimensões “Recrutamento e Seleção, Cargo e Salário, e Treinamento e
Desenvolvimento”
Objetivo Geral: Compreender como o comprometimento das equipes de P&D&I contribui para a mobilização de recursos que fomentam a capacidade de inovação de negócios tradicionais e de impacto
social.
Objetivos Específicos: (a) caracterizar as dimensões (potencial, processo e resultado) da capacidade de inovação de negócios tradicionais e de impacto social; (b) mapear os componentes do
comprometimento (afetivo, instrumental ou normativo) das equipes de P&D&I de negócios tradicionais e de impacto social; e (c) verificar as similaridades e as distinções das contribuições do
comprometimento das equipes de P&D&I de negócios tradicionais e de impacto social.
Categorias
centrais de
análise
Dimensões Diretores Gerentes de RH Gerentes de P&D&I Funcionários que atuam nas
equipes de P&D&I Base conceitual
Gestão de
Pessoas
Recrutamento e
Seleção
Na sua percepção, como
ocorrem as seguintes
associações:
a) Resultados da inovação
(tecnológica ou social) e
“remuneração” dos
funcionários envolvidos
nas atividades de
P&D&I?
b) Resultados da inovação
(tecnológica ou social) e
“reconhecimento” dos
funcionários envolvidos
nas atividades de
P&D&I?
c) Resultados dos projetos
de inovação (tecnológica
ou social) e
“comprometimento” dos
funcionários envolvidos
nas atividades de
P&D&I? (8)
Como é o processo de
recrutamento e seleção de
candidatos para as atividades
de P&D&I? (4)
Como se dá a identificação
das necessidades de
treinamento da equipe de
P&D&I? (4)
Se você fosse o responsável
pela contratação de um
ocupante para o seu cargo (ou
atividade) hoje, para qual
perfil técnico e
comportamental você daria
prioridade? (13)
(Lacombe & Tonelli,
2001)
(Thompson Jr. &
Gamble, 2012)
Cargo e Salário
Como o tipo de negócio
(missão, visão e valores) está
alinhado à definição e
descrição das atividades
realizadas pelos funcionários
de P&D&I? (2)
Treinamento e
Desenvolvimento
De que forma o RH articula o
treinamento dos funcionários
envolvidos nas atividades de
P&D&I, particularmente em
projetos de inovação que
envolvem o desenvolvimento
de novos produtos, processos
ou metodologias (tecnológicos
ou social)? (11)
Fonte: Elaborada pela autora.
59
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A BRAILE (BRAILE Biomédica) e o CREN (Centro de Recuperação e Estudos
Nutricionais) são os negócios caracterizados neste trabalho (Capítulo 4.1). A partir dos dados
coletados dessas empresas, foram analisadas as seguintes categorias: “Fundamentos
Estratégicos” (Capítulo 4.2), “Gestão de Pessoas” (Capítulo 4.3), “Capacidade de Inovação”
(Capítulo 4.4.) e, por fim, “Comprometimento” (Capítulo 4.5).
Vale destacar que a análise dos resultados teve apoio do software Atlas Ti., a partir da
criação de uma unidade hermenêutica (projeto de codificação), intitulada de “Comprometimento
em Equipes de P&D&I e a Capacidade de Inovação de Negócios Tradicionais e de Impacto
Social”; na qual os “Documentos primários”, ou seja, os “dados brutos” coletados pela
pesquisa de campo, foram inseridos.
As unidades de análise constituíram-se de dois negócios da área da saúde: um tradicional
(BRAILE); e o outro, de impacto social (CREN), conforme classificação SEBRAE (2017), sendo
o primeiro vencedor do prêmio FINEP de Inovação, em 2014; e o segundo, do Prêmio
Empreendedor Social, do Jornal Folha de São Paulo, em 2011.
A codificação dos dados no Atlas Ti. englobou 16 documentos primários, distribuídos da
seguinte forma: (a) duas entrevistas com gerente geral (um da BRAILE e outro do CREN); (b)
duas entrevistas com gerente de P&D&I (um da BRAILE e outro do CREN); (c) duas entrevistas
com gerente de RH (um da BRAILE e outro do CREN); (d) oito entrevistas com colaboradores de
P&D&I (quatro da BRAILE e quatro do CREN); e, por fim, (f) documentos organizacionais
sobre o desempenho dos funcionários e resultados das duas equipes de P&D&I (uma da BRAILE
e a outra do CREN).
Na finalização dessa etapa, chegou-se a um total de 819 citações vinculadas a 27 códigos,
ou seja, foram identificadas 819 evidências relacionadas aos componentes de análise do estudo.
Vale destacar que, dos 27 códigos evidenciados (componentes das categorias), 15 emergiram do
campo (códigos assinalados com asterisco) e 12 tinham sido previstos no modelo conceitual da
pesquisa (Capítulo 2.3) (Gráfico 1).
60
Gráfico 1 - Componentes analisados e suas evidências
119
53
33
81
36
25
21
6
25
53
24
13196
52
25
36
33
48
50
20
12
17
29
7111
Ausência de Comprometimento*Autoavaliação*
Cargo e Salário
Carreira*
Comprometimento Afetivo
Comprometimento de Equipes de P&D&I*
Comprometimento Instrumental
Comprometimento Normativo
Eficiência*
Envolvimento*
Estrutura e Estratégia de P&D&I
Feedback*
Flexibilidade*Formação da Equipe de P&D&I*Indicadores de Comprometimento*
Missão, Visão e Valores
Parceria*
Potencial de Inovação
Proatividade*
Processos
Reconhecimento*
Recrutamento e Seleção
Requisitos de Avaliação dos Resultado de
P&D&I
Responsabilidade*
Resultados
Treinamento e Desenvolvimento
Visão Sistêmica*
Gráfico 1. Componentes analisados e suas evidências.
Nota: Componentes (códigos) que emergiram do campo.
Fonte: Elaborado pela autora, com auxílio do software Atlas Ti.
Inicialmente, a partir do Atlas Ti., uma tabela de coocorrência, com todos os códigos
obtidos (no total de 27) foi gerada. Sua análise serviu tanto como base para o agrupamento feito, a
partir dos maiores níveis de coocorrência (células destacadas em azul, na Tabela 1), como indicou
a existência simultânea de unidades linguísticas em um mesmo contexto de análise (citações e/ou
fragmentos de texto que deram significado ao fenômeno).
Como exemplo, pode ser citado o maior nível de coocorrência entre os códigos
“Autoavaliação” e “Feedback” (0,10) (Tabela 1, Coluna 2), estudados mediante recuperação
dos dados brutos, isto é, das citações de ambos os códigos e, subsequentemente, agrupados, de
acordo com a ocorrência simultânea de unidades linguísticas, em um mesmo contexto de
análise.
Salienta-se que, para as demais colunas, adotou-se o mesmo critério de nivelamento e
categorização (Tabela 2), o que subsidiou as análises detalhadas nos Capítulos 4.2, 4.3, 4.4 e
4.5, bem como a proposição de um framework, representativo do significado de
comprometimento para as equipes de P&D&I, em negócios tradicionais e com impacto social
(Capítulo 5).
61
Tabela 1 - Coocorrência dos códigos
Códigos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27
1 Ausência de Comprometimento* 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
2 Autoavaliação* 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,10 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
3 Cargo e Salário 0,00 0,00 0,00 0,06 0,00 0,00 0,03 0,00 0,00 0,03 0,01 0,01 0,00 0,04 0,00 0,02 0,01 0,00 0,00 0,00 0,03 0,00 0,02 0,00 0,00 0,05 0,00
4 Carreira* 0,00 0,00 0,06 0,00 0,01 0,00 0,04 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,04 0,00 0,00 0,00 0,08 0,00
5 Comprometimento Afetivo 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,04 0,00 0,00 0,01 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,06 0,00 0,01 0,03 0,02 0,01 0,00 0,00 0,01 0,03 0,00 0,02
6 Comprometimento de Equipes de P&D&I* 0,00 0,00 0,00 0,00 0,04 0,00 0,02 0,04 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,06 0,00 0,01 0,02 0,00 0,06 0,03 0,00 0,02
7 Comprometimento Instrumental 0,00 0,00 0,03 0,04 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
8 Comprometimento Normativo 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,04 0,00 0,00 0,04 0,02 0,01 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,03 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00
9 Eficiência* 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,04 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
10 Envolvimento* 0,00 0,00 0,03 0,02 0,02 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,03 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,06
11 Estrutura e Estratégia de P&D&I 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,06 0,00 0,01 0,01 0,05 0,01 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00
12 Feedback* 0,00 0,10 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,03 0,00 0,00 0,01 0,00
13 Flexibilidade* 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,03 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00
14 Formação da Equipe de P&D&I* 0,00 0,00 0,04 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,06 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,03 0,00 0,00 0,02 0,00
15 Indicadores de Comprometimento* 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
16 Missão, Visão e Valores 0,00 0,00 0,02 0,00 0,06 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
17 Parceria* 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,02 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,06 0,00 0,02 0,00 0,00 0,02 0,08 0,00
18 Potencial de Inovação 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,05 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00
19 Proatividade* 0,00 0,00 0,00 0,00 0,03 0,06 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00
20 Processos 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,06 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00
21 Reconhecimento* 0,00 0,00 0,03 0,01 0,01 0,01 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,01 0,00
22 Recrutamento e Seleção 0,00 0,00 0,00 0,04 0,00 0,02 0,00 0,03 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
23 Requisitos de Avaliação dos Resultado de P&D&I 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,03 0,00 0,03 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
24 Responsabilidade* 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,06 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,04
25 Resultados 0,00 0,00 0,00 0,00 0,03 0,03 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00
26 Treinamento e Desenvolvimento 0,00 0,00 0,05 0,08 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,01 0,01 0,02 0,02 0,00 0,00 0,08 0,02 0,00 0,00 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
27 Visão Sistêmica* 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,02 0,00 0,00 0,00 0,06 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,04 0,00 0,00 0,00
Nota: *Novos componentes (códigos) que emergiram do campo.
Fonte: Elaborada pela autora, com auxílio do software Atlas Ti.
62
Tabela 2 - Agrupamento de códigos considerando os maiores níveis de coocorrência e as categorias de análise da
pesquisa
Categorias de
análise Componentes (códigos)
Grau de fundamentação
(quantidade de citações)
Fundamentos
Estratégicos
Autoavaliação* 9
Estrutura e Estratégia de P&D&I 53
Feedback* 24
Formação da Equipe de P&D&I* 19
Missão, Visão e Valores 52
Requisitos de Avaliação dos Resultado de P&D&I 12
Gestão de Pessoas
Cargo e Salário 53
Recrutamento e Seleção 20
Carreira* 33
Indicadores de Comprometimento* 6
Parceria* 25
Reconhecimento* 50
Treinamento e Desenvolvimento 71
Capacidade de
Inovação
Potencial de Inovação 36
Processos 48
Resultados 29
Comprometimento
Ausência de Comprometimento* 11
Comprometimento Afetivo 81
Comprometimento de Equipes de P&D&I 36
Comprometimento Instrumental 25
Comprometimento Normativo 21
Eficiência* 6
Envolvimento* 25
Flexibilidade* 13
Proatividade* 33
Responsabilidade* 17
Visão Sistêmica* 11
Nota: *Novos componentes (códigos) que emergiram do campo.
Fonte: Elaborada pela autora, com auxílio do software Atlas Ti.
4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS NEGÓCIOS
A BRAILE Biomédica, localizada em São José do Rio Preto, interior do estado de São
Paulo, é um avançado polo fabricante de produtos médico-cirúrgico-hospitalares, cuja missão
é aplicar ciência, inovação, liderança e tecnologia na criação e fabricação de produtos e
equipamentos médicos, nos segmentos cardiovascular, biológico e soluções; eletromédico,
endovascular e oncológico – frutos da tecnologia agregada, aplicada a outras áreas da
Medicina.
Fundada em 1977 pelo cirurgião cardiovascular, Prof. Dr. Domingos BRAILE,
precursor e idealizador, no Brasil, das válvulas cardíacas biológicas de pericárdio bovino, a
BRAILE é uma empresa familiar, com a participação ativa dos filhos e netos na direção do
negócio. Com status de empresa de pesquisa e fomento de tecnologia nacional, sendo um
centro de excelência na indústria médica brasileira, seus produtos são utilizados em cirurgias
63
cardíacas no Brasil e o no exterior, sobretudo por hospitais e médicos da rede pública de
saúde (como é o caso do Sistema Único de Saúde – SUS, em território nacional).
A BRAILE conta com um Centro de Pesquisas, cuja missão é estimular a geração e
disseminação de conhecimento e sua aplicação para benefício da população. São pesquisas
originadas no atendimento do próprio centro, bem como estudos clínico-multicêntricos,
nacionais e internacionais.
A empresa busca constantemente desenvolver produtos inovadores, criando novos
e/ou aprimorando os já existentes, a fim de aliar qualidade, durabilidade, resultado e custo
acessível. É o caso dos três lançamentos feitos nos últimos 24 meses, com desenvolvimento e
produção interna, que trouxeram melhorias tanto para os médicos como para os pacientes
finais. São eles: (1) nova versão do oxigenador de membranas, produzido na BRAILE há 14
anos. Esse é um modelo mais compacto, destinado a atender à exigência do mercado, com
quantidade menor de matéria-prima e maior eficiência, com destaque para a qualidade; (2)
nova versão da válvula cardíaca biológica que, por conta do processo de produção, teve sua
vida útil aumentada; e (3) novo cateter para liberação de válvula, via femoral.
O CREN, segundo negócio pesquisado, promove a recuperação e a educação
nutricional efetiva de crianças e adolescentes com desnutrição primária (leve, moderada ou
grave), sobrepeso e obesidade exógena. Isso é feito por meio de avaliação e triagem, em
comunidades pobres (busca ativa); atendimento ambulatorial interdisciplinar (medicina,
nutrição, psicologia e assistência social); e semi-internato (hospital-dia). A nutrição
satisfatória das pessoas atendidas é alcançada a partir de três pilares: Assistência, Pesquisa,
Formação e Multiplicação.
Criado em 1993, em continuidade do Projeto Favela, da Universidade Federal de São
Paulo (UNIFESP)/Escola Paulista de Medicina (EPM), voltado a famílias carentes, na região
da Vila Mariana, SP, o CREN inaugurou, em 2006, a Unidade Vila Jacuí, em São Miguel
Paulista, Zona Leste de São Paulo.
Com uma abordagem envolvendo a família, “mais de 50 mil pessoas” foram
beneficiadas pelo CREN, nas “duas unidades de São Paulo, em Jundiaí (SP) e nos diversos
locais nos quais foi replicada (Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Haiti, Honduras, Itália, México,
Moçambique, Peru etc.)” (Folha, 2017)
A Prefeitura é parceira da organização não governamental mantenedora do CREN, a
Associação para a Saúde/Núcleo Paulista (SALUS), por intermédio da Secretaria Municipal
de Educação, que repassa verbas para o seu funcionamento. O convênio prevê atendimento
educacional e nutricional de crianças na faixa etária de zero a cinco anos e onze meses de
64
idade, por uma equipe multidisciplinar, composta por médicos, enfermeiros, psicólogos e
educadores socais.
Para aprofundar a caracterização da BRAILE e do CREN, nos próximos Capítulos,
estão discutidos os componentes: Impacto (4.1.1), Investidores (4.1.2), Público-alvo (4.1.3) e
Área de Atuação (4.1.4), conforme classificação do Sebrae, adotada no trabalho, encerrando
com uma Figura-Síntese de tudo o que foi mencionado (Figura 18).
4.1.1 Impacto
Na BRAILE, os produtos impactam nos negócios e nas pessoas, desde o médico e
hospital, que adquirem as próteses e acessórios para uso nas cirurgias cardíacas, até o
paciente, que pode ter a sua vida melhorada e estendida por mais tempo e com qualidade.
Outro tipo de impacto é propiciado pelas parcerias com Universidades, para a
realização de pesquisas na área do negócio, bem como de publicações de nível nacional e
internacional, conduzidas, por vezes, pelos próprios membros da equipe de P&D&I ou por
alunos dos cursos de mestrado e doutorado das IES parceiras.
Apesar de ter como cultura vigente, desde a sua fundação, "salvar vidas" – frase
repetida várias vezes durante as entrevistas e perpetuada pelo Dr. Domingos, a BRAILE, que
é uma empresa privada, pode ser categorizada como Negócio Tradicional (NT), de acordo
com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) (2017), sendo
utilizada, por este trabalho, como parâmetro para classificação de tipo de negócio, pois sua
função social é gerar lucro (conceito econômico). Dessa forma, embora o portfólio da
BRAILE esteja voltado para a melhoria da qualidade de vida das pessoas cardíacas, quem
adquire seus produtos são os hospitais e médicos, numa relação comercial que visa ao ganho
das duas partes.
No CREN, o impacto é gerado diretamente no usuário final (crianças e adolescentes),
e é de fácil identificação, pois o peso corpóreo vai aumentando (quando há subnutrição) ou
diminuindo (no caso de obesidade), à medida que o tratamento prossegue. Por se tratar de
uma mudança de hábitos, multifatorial, a família deve ser envolvida e conscientizada (e,
talvez, esse seja o maior desafio da entidade); caso contrário, o resultado não se mantém,
porque o tratamento é interrompido. Busca-se, então, por intermédio de estratégias
apropriadas para cada caso, tornar o familiar parceiro e corresponsável pelo resultado obtido.
Os profissionais dos postos de saúde e estudantes desse segmento são também
impactados pelo CREN; hoje, com maior ênfase, nas proximidades da Vila Jacuí. Eles
65
recebem treinamento dos Agentes Sociais, para atuarem como "braços" da entidade,
realizando uma pré-triagem de crianças subnutridas e que estejam em situação de
vulnerabilidade.
As descobertas científicas do CREN se tornaram publicações amplamente utilizadas
no mundo acadêmico, uma vez que são disponibilizadas, gratuitamente, em sua biblioteca
virtual.
O impacto gerado pelo CREN, em alguns momentos, assemelha-se ao gerado pela
BRAILE, mesmo que por vias diferentes, visto que leva ao usuário final a melhoria na sua
qualidade de vida; além de ambos manterem parceria estreita com as universidades, o que
acaba gerando conhecimento científico nas duas especialidades que atuam.
Segundo a classificação do SEBRAE, os Negócios de Impacto Social (NIS) buscam
rentabilidade e lucros, mas com geração de impacto social. Essa categorização se aplica a
empresas do Segundo Setor – o setor privado, cujos produtos e/ou serviços são destinados a
suprir uma necessidade da população, não atendida ou atendida precariamente pelo governo,
como saúde, educação, moradia etc., mas com expectativa de lucro financeiro, como outro
produto qualquer.
O CREN é um negócio de impacto social, como descrito pelo Sebrae mas pertencente
ao Terceiro Setor: é uma Organização Não Governamental (ONG), que recebe verbas de
órgãos públicos e doações de pessoas jurídicas e/ou físicas, nacionais e internacionais. A sua
atividade contribui para diminuir uma das consequências da pobreza, que é a subnutrição
infantil. O seu foco não é obter lucros financeiros, mas resultados, a partir de uma gestão
eficiente, com profissionais especializados, pesquisa científica e parceiros atuantes na causa.
Isso é fundamental no Terceiro Setor, pois os "investidores" doam o seu dinheiro para
entidades idôneas, que demonstrem efetividade no alcance de suas metas, ocorrendo o mesmo
com o órgão público. Todos os entrevistados no CREN falaram de forma natural dos
"indicadores" de cada área que, consolidados, geram informações para a tomada de decisão
dos gestores.
4.1.2 Investidores
Na BRAILE, a decisão de investir ou não em um produto está relacionada à sua
aceitação no mercado e o retorno financeiro que ele pode trazer. “Produto pronto, em linha,
deve vender, não ficar na ‘prateleira’, pois é custo” – essa é a fala de um entrevistado da área
66
de P&D&I. Produtos novos devem ser implantados junto aos seus clientes (médicos e
hospitais), tendo os resultados financeiros e de efetividade do produto acompanhados.
Considerando a classificação do SEBRAE para os Negócios Tradicionais (NT), a
decisão de investimento desconsidera ou considera pouco o impacto social dos seus produtos
de linha ou inovações. No caso da BRAILE, apesar de desenvolver produtos que melhoram a
qualidade de vida do usuário final (paciente), a decisão de investir tempo e recursos em um
produto, ou mesmo de dar continuidade a um já existente, está atrelada ao retorno financeiro
que tal produto trará para a empresa. Por conta disso, os que representam baixo índice de
vendas são descontinuados; e pesquisas paralisadas, se houver baixa prioridade, no momento,
em detrimento de outros produtos de aceitação mais rápida.
No CREN, a escolha de investimento da verba pela gestão não tem relação econômica
direta, porque visa ao resultado, ao alcance da causa. Como exemplo, pode-se citar a tomada
de decisão de abertura da sua primeira Unidade nas redondezas da Vila Mariana, por conta da
proximidade com seu público-alvo, isto é, crianças em situação de vulnerabilidade. Passados
25 anos da fundação, a região não tem mais essa população-foco, agora localizada na periferia
da grande São Paulo; por isso, outra Unidade foi criada, a da Vila Jacuí, próxima ao seu novo
público.
O retorno financeiro, nesse caso, não é considerado para esse tipo de negócio, pois não
há venda de produto ou serviço. Essa realidade do CREN é aderente à classificação feita pelo
SEBRAE (2017), quando afirma que, nos NIS, a abrangência do impacto social é essencial à
escolha do projeto a ser financiado.
4.1.3 Público-alvo
Na BRAILE, o paciente é o usuário; mas, quem compra e paga o produto é um
hospital, público ou privado, representado pelos médicos, que constituem um público-alvo
mais intelectualizado, com poder de negociação. Isto é, essas instituições de saúde e seus
profissionais são as figuras intermediadoras, responsáveis por estabelecer a relação monetária
com a empresa.
No CREN, o público-alvo são as crianças subnutridas e os adolescentes; e os
intermediadores, nos últimos anos, têm sido os profissionais dos postos de saúde da Cidade
Ademar, que atendem à população da Vila Jacuí. Após treinamento com os Educadores
Sociais do CREN, eles fazem a primeira triagem dos casos: os mais simples, são orientados
67
conforme a metodologia do CREN, para cuja aplicação foram capacitados; e o mais graves,
são encaminhados para as Unidades de atendimento.
4.1.4 Área de atuação
A BRAILE é voltada à área tecnológica de desenvolvimento de produtos e afins para
as especialidades de cirurgias cardíacas. O principal produto são as válvulas e oxigenadores,
porém uma série de componentes utilizados durante os procedimentos também são criados,
fabricados e comercializados pela empresa, tais como: cateteres, endopróteses e cânulas.
O CREN atua na área de inovação social, prestando serviços para a identificação e
tratamento de adolescentes com obesidade e crianças subnutridas, em situação de
vulnerabilidade social, além de orientar os familiares.
A experiência de atendimento, no segmento, originou uma coleção de livros,
denominada “Vencendo a Desnutrição”, que é oferecida gratuitamente pelo site da entidade.
Abaixo, está uma síntese intracaso sobre a caracterização dos negócios analisados
(Figura 18).
Figura 18 - Síntese intracaso sobre a “Caracterização dos Negócios”
Caracterização dos
Negócios
Caso 1
BRAILE
Caso 2
CREN
Constatações
decorrentes da
discussão intracaso
Impacto
Melhorias para o médico,
na realização das cirurgias,
e para os pacientes, com
elevação da sobrevida;
Pesquisas científicas.
Diretamente na família e
em crianças e
adolescentes.
Postos de saúde, por meio
de triagem.
O impacto na melhoria
da qualidade de vida
reflete no usuário final
do NT e do NIS.
Ambos são negócios
que fomentam a
pesquisa científica.
Investidores
Retorno econômico
influencia decisão de
pesquisa, lançamento e/ou
continuidade do
desenvolvimento de
produtos.
Investe-se nos projetos
que mais colaboram com
o alcance dos objetivos
propostos pela entidade.
O foco é social e não
econômico.
O NT investigado
precisa obter resultado
econômico; e NIS,
resultado social.
Público-alvo
Médicos e hospitais, no
momento inicial; e
pacientes do SUS como
usuários finais.
Alunos de mestrados e
doutorados que participam
das pesquisas nas IES
parceiras.
A criança subnutrida, o
adolescente obeso e a
família, todos de regiões
periféricas. Profissionais
da saúde, parceiros no
processo; alunos dos
Cursos afins, que
participam das pesquisas
e treinamentos.
O usuário final dos
produtos da BRAILE
(na sua maioria) e dos
serviços do CREN
pertence à base da
pirâmide.
Áreas de atuação A BRAILE atua numa área
tecnológica, e está voltada
O CREN atua numa área
de inovação social,
Há, de fato, um
posicionamento de
68
ao desenvolvimento de
produtos e afins para as
especialidades de cirurgias
cardíacas.
desenvolvendo e
prestando serviços para
crianças e famílias em
situação de
vulnerabilidade.
áreas, quando se fala
em NT e NIS, sendo
que o primeiro está
voltado para área de
tecnologia e o segundo
para social,
prevalecendo a oferta
de serviços.
Fonte: Elaborada pela autora, a partir de dados obtidos por meio das entrevistas realizadas e dos documentos
analisados.
4.2 FUNDAMENTOS ESTRATÉGICOS
No Modelo Conceitual inicial (Capítulo 2.3), particularmente para a categoria
complementar “Fundamentos Estratégicos”, os componentes: Missão, Visão e Valores, e
Estrutura foram considerados. Na análise das entrevistas, todavia, por conta de coocorrências
representativas, novos componentes foram incluídos nesta seção de descrição dos resultados.
São eles: Requisitos de avaliação de resultados de P&D&I, Formação das equipes de
P&D&I, Feedback e Autoavaliação. A Estrutura, antes considerada, passou, então, a ser
classificada como Estrutura e Estratégia de P&D&I.
A rede baixo apresenta, pois, os seis componentes relacionados à categoria
complementar “Fundamentos Estratégicos” (Figura 19).
69
Figura 19 - Rede com os componentes relacionados à categoria “Fundamentos Estratégicos”
Fonte: Dados da pesquisa.
70
4.2.1 Missão, Visão e Valores
Saber qual o negócio, como ele vislumbra o futuro e que valores o nortearão são
definições básicas, necessárias à constituição formal de qualquer tipo de empreendimento
(significado que emergiu do campo).
A Missão da BRAILE é aplicar Ciência, Inovação, Liderança e Tecnologia na criação
e fabricação de produtos e equipamentos médicos. Sua Visão é ser uma empresa líder de
mercado, no Brasil, e referência internacional, em produtos e equipamentos médicos. Entre os
Valores da empresa, os Clientes são sua razão de existir; os Colaboradores, fundamentais ao
sucesso; a Integridade, que é representada pelo cumprimento das leis e princípios morais; os
Resultados, que geram valor para atender clientes e ter rentabilidade, além de assegurar
crescimento; a Excelência, por isso, a busca da inovação, “fazendo certo” desde a primeira
vez; a Execução, responsável pelo “fazer acontecer”, o compromisso pela palavra dada, a
resposta ágil e a realização das metas; e o Desenvolvimento Sustentável, que assegura
equilíbrio entre lucro econômico, exercício da cidadania, preservação da natureza e respeito
ao meio ambiente.
Na equipe de P&D&I da BRAILE, essas definições estão presentes tanto nas falas
como na atuação, conforme se verifica pelas respostas de cada um dos entrevistados. O Dr.
Domingos, fundador da empresa, segundo relatos, sempre se comportou de acordo com essas
premissas, reforçadas ao longo das reuniões periódicas nas quais o grupo participa.
No CREN, a Missão oficial da entidade, difundida por escrito, internamente, e por
meio do seu site, é: enfrentar a subnutrição e a obesidade, nutrindo corpo, mente e relações
para o desenvolvimento integral da pessoa e da família. Seus Valores são: retidão, respeito à
pessoa, adequação à realidade, valorização do repertório e “o fazer”.
A Visão do CREN é descrita por intermédio de declarações de “Nosso Ofício” e
“Nossa atuação”. O Ofício da entidade é educar, cuidar e nutrir para a vida; a atuação, a
nutrição adequada das pessoas atendidas, alcançada por meio de três pilares: Assistência,
Multiplicação, Pesquisa e Formação.
Na fala dos entrevistados, fica evidente o exercício constante da avaliação quanto ao
que está sendo praticado ou não, a fim de corresponder ao atendimento do proposto na Missão
da empresa. Há uma variável, notada nas entrevistas, mas que não está escrita na Missão: a
condição social da criança subnutrida, oriunda pos de situações de elevada vulnerabilidade.
Com base nessa variável, há 11 anos, e por meio de indicadores, foi possível constatar
que as crianças que frequentavam a Unidade de Vila Mariana não tinham mais esse perfil (de
71
elevada vulnerabilidade). Isso serviu de mote para desativar a Unidade para esse tipo de
atendimento, instalando-se numa comunidade na Zona Leste de São Paulo, a Vila Jacuí. Tal
mudança se deu, a fim de continuar atendendo à Missão definida para o negócio.
Abaixo, há trechos das entrevistas que sustentam as análises apresentadas, além de
uma visão de rede, com algumas citações, recuperadas a partir do software Atlas Ti. (Figura
20).
Atenção constante da entidade em melhorar o serviço, quer dizer, isso está escrito na Missão, Visão e
Valores, mas assim, além de estar escrito, tem uma conotação concreta do dia a dia da entidade pelo
fato de que a gente quer, da melhor formal possível, assistir as pessoas que a gente assiste. (Código 10
do CREN).
Nossa Missão está muito alinhada ao cotidiano e com as atividades. A gente parte da realidade. Uma
das premissas do CREN é olhar para a realidade. (Código 10 do CREN).
Então, a Missão aparece que está muito dentro das pessoas e fazem as pessoas se comprometerem com
a empresa. (Código 3, da BRAILE)
A atuação da BRAILE se caracteriza por ações que promovem a vida, asseguram o equilíbrio entre o
lucro econômico, o exercício da cidadania, a preservação da natureza e o respeito ao meio ambiente
(Código 3, da BRAILE).
Segundo Desmidt (2011), a declaração de missão, visão e valores favorece a empresa
e apresenta uma relação positiva, embora pequena, com as medidas de desempenho
organizacional, no que tange aos aspectos financeiros; a magnitude do relacionamento,
contudo, é influenciada pelas decisões de operacionalização (Figura 20).
Na BRAILE e no CREN, missão, visão e valores atuam como orientadores,
sinalizadores para o desempenho das equipes de P&D&I. Na BRAILE, as declarações são
constantemente relembradas por seu fundador e acolhidas por toda a equipe. No CREN, o
mesmo acontece, com ações da liderança superior, a fim de alinhar as tomadas de decisões à
missão da entidade (Figura 20).
Talvez, se não houvesse essas duas "figuras" dando "vida" aos enunciados, estes se
tornariam simples quadros na recepção, como acontece na maioria das empresas. A vibração e
o brilho nos olhos dos entrevistados, tanto na BRAILE como no CREN, atestam a
necessidade de coerência entre o discurso e a prática, por parte das autoridades maiores da
organização, para que ocorra, de fato, o que se escreve (Figura 20).
72
Figura 20 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Missão, Visão e Valores”
Fonte: Dados da pesquisa.
73
4.2.2 Estrutura e Estratégias de P&D&I
O potencial de inovação dos negócios está associado à estrutura de P&D&I
(significado que emergiu do campo).
Na BRAILE, esse departamento é composto por profissionais especializados, com
formação acadêmica de nível superior, pós-graduação e/ou mestrado, que ocupam as
seguintes funções: 1 Gerente de P&D&I e 4 Coordenadores de Área. A maioria está há mais
de 10 anos na empresa, tendo passado por funções hierárquicas inferiores, porém relacionadas
às que estão desempenhando hoje. As promoções recebidas se deram por desempenho e, ao
longo do tempo, houve a busca por especialização, seja com apoio da empresa, seja com
investimento pessoal. Além disso, há as parcerias com as IES do Brasil e do exterior, que
realizam estudos correlatos, e do Instituto Dr. Domingos BRAILE, também voltado à
pesquisa na área de especialidade da empresa.
No CREN, devido à característica do negócio, não há uma estrutura formal de
P&D&I, mas profissionais de formação variada, como: médicos, psicólogos, nutricionistas,
pedagogos, educadores físicos, entre outros, que desempenham funções equivalentes. Há,
também, parcerias com pesquisadores de universidades, para a realização de atividades de
pesquisa e desenvolvimento. O Comitê Científico oferece suporte acadêmico, por meio do
desenvolvimento de metodologias e assistência para avaliações do atendimento do CREN,
que envolve pesquisas junto aos pacientes e familiares; orientação de alunos de graduação e
pós-graduação; e a organização de seminários e workshops, em colaboração entre a equipe do
CREN e da UNIFESP.
Na sequência, estão reproduzidos trechos das entrevistas que ilustram a argumentação
acima, bem como uma visão de rede, com algumas citações, recuperadas a partir do software
Atlas Ti. (Figura 21).
Não é uma questão só de complementar, mas de ter espaços na estrutura que confirmem para o
colaborador que aquela coisa é importante, que precisa ser feita daquela forma. É aí o desafio maior.
(Código 8 do CREN).
Nossa equipe aumentou nas periferias. (Código 9, do CREN).
A área de P&D&I está em nível de gerência. (Código 1, da BRAILE).
Eu tenho uma equipe de 10 pessoas, uma equipe multifuncional. (Código 2, da BRAILE).
74
Figura 21 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Estrutura e Estratégia de P&D&I”
Fonte: Dados da pesquisa.
75
4.2.3 Autoavaliação
Entende-se como autoavaliação a avaliação sobre si mesmo, como forma de
autoconhecimento (significado que emergiu do campo).
O grau de cobrança e preocupação com o alinhamento do desempenho ao esperado
pela gestão do negócio é elevado dentro das equipes de P&D&I. Naturalmente, há recorrentes
autoavaliações, que dizem respeito a alguma não conformidade quanto aos resultados, ao
feedback de colegas ou do gestor, e mesmo uma preocupação pessoal perante as mudanças.
Esse comportamento foi identificado tanto na equipe de P&D&I da BRAILE como na
do CREN. Seguem trechos de falas dos entrevistados que evidenciam essa constatação, bem
como uma visão de rede, com algumas citações, recuperadas a partir do software Atlas Ti.
(Figura 22).
Eu cobro muito essa questão de comprometimento do pessoal que trabalha comigo. Muitas vezes com o
meu comprometimento mesmo. Eu sei que muitas vezes ninguém é 100%. (Código 2, da BRAILE)
Preciso ter uma noção de onde, às vezes, estou me dedicando, colocando minhas energias, o que preciso
melhorar, muito importante o feedback. (Código 5, da BRAILE)
O nosso nível de exigência vai aumentando um pouco e a gente vai ficando mais exigente, por se tratar
de um dinheiro tão suado. Hoje a gente trabalha numa ONG com baixa pobreza e aposta na educação.
Se eu não tenho um colaborador que tenha essa clareza, parece uma antítese, o paradoxo que a gente
vive aqui. (Código 9, do CREN)
76
Figura 22 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Autoavaliação”
Fonte. Dados da pesquisa.
77
4.2.4 Feedback
Trata-se de um parecer sobre um trabalho realizado; o retorno sobre o desempenho de
um colaborador; sua aplicação, portanto, é contributiva e orientadora (significado que emergiu
do campo).
Na BRAILE e no CREN, a cultura do dar e receber feedback entre os membros da
equipe de P&D&I já está estabelecida. A opinião de um terceiro, relevante ao processo, é
bem-vinda, pois sinaliza se o caminho adotado levará ao resultado esperado. Cuidados são
tomados ao se dar esse feedback sobre o comportamento, fato assim explicitado nas
entrevistas, pelas lideranças: “elogios são feitos em público e ajustes de atitudes, dados
reservados”. O feedback, feito na presença de todos, é relevante para o projeto e a equipe, por
isso, é uma prática constante e acolhida com satisfação.
Abaixo, estão trechos das respostas, dadas durante as entrevistas, que exemplificam
esse componente, bem como uma visão de rede, com algumas citações, recuperadas a partir
do software Atlas Ti. (Figura 23).
A gente pode falar de tudo com a pessoa, mas tem a maneira de falar, tem o jeito, tem a hora, e
começando, assim, pela S. Ela tem isso. (Código 14, do CREN)
A conversa, muitas vezes, o feedback é oportuno, ajuda muito as pessoas. Eu tento me policiar muito de
não dar o feedback na frente de mais de uma pessoa, porque acho que isso, muitas vezes, é ruim,
principalmente quando o feedback é para chamar a atenção. Todo feedback que é um elogio, eu procuro,
na maioria das vezes, fazer em público, para mostrar que uma atividade foi realizada com sucesso, e
mostrar também, que, olha, você está vendo? Faça, que também tem esse reconhecimento. (Código 4,
da BRAILE)
Meus feedbacks foram positivos até hoje (risos), mas às vezes alguns puxões de orelha, algumas coisas
que a gente precisa melhorar, mas eu recebo bem. Eu gosto porque também preciso ter uma noção de
onde, às vezes, estou me dedicando, colocando minhas energias, o que eu preciso melhorar; muito
importante o feedback. (Código5, da BRAILE)
Sempre positivo, seja feedback bom ou ruim, mas sempre sabe que é uma forma de você ter uma visão
externa, alguém está vendo o seu desempenho e como está tratando as atividades, e aceitar isso como
positivo, sempre positivo. (Código 2, da BRAILE)
78
Figura 23 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Feedback”
Fonte: Dados da pesquisa.
79
4.2.5 Formação da Equipe de P&D&I
Entende-se, para efeito deste trabalho, formação acadêmica da equipe de P&D&I
como associação ao potencial de inovação (significado que emergiu do campo).
Na BRAILE, todos os funcionários entrevistados da equipe de P&D&I possuem, no
mínimo, formação superior, sendo a maioria em Engenharia Mecânica ou curso específico,
relacionado à sua área de atuação, como Biofísica, por exemplo. Para eles, as inovações
requerem uma busca constante de informação e atualização; por isso, dois deles estão
cursando o Mestrado em Engenharia.
Abaixo, estão alguns trechos de entrevistas com a equipe da BRAILE, que ilustram
essa afirmação:
O pessoal tinha uma escolaridade mais baixa no passado. Foi por isso que acontecia também a
rotatividade. (Código 3, da BRAILE)
Sim, o caminho não é pegar o bom gestor e capacitar ele em eletrônica. O caminho é o contrário, o
caminho é pegar alguém que seja bom em eletrônica e tentar moldá-lo para fazer parte da gestão.
(Código 2, da BRAILE)
Agora a gente tem mais esse foco de pessoal de mestrado, doutorado, com inglês já fluente. (Código 3,
da BRAILE)
No CREN, a formação acadêmica da equipe de P&D&I é mais diversificada,
considerando os diversos fatores que influenciam a causa-fim, isto é, a nutrição. Por lidarem
com pessoas, as habilidades sociais, aliadas ao conhecimento técnico específico da função, é a
combinação ideal.
Abaixo, estão alguns trechos das entrevistas feitas com a equipe do CREN, para
exemplificar o enunciado acima, bem como uma visão de rede, com algumas citações,
recuperadas a partir do software Atlas Ti. (Figura 24)
Nutrição é multifatorial, então os trabalhos e as pesquisas não são feitos só por nutricionistas, tem
outros profissionais. (Código 10, do CREN)
Formação na vida, sei lá, exposta, isto ajuda, pode favorecer a inovação. (Código 8, do CREN)
A maioria são nutricionistas, têm também educador físico, psicólogos, enfim, são diversos (Código 10,
do CREN)
A composição das equipes de P&D&I, envolvidas na pesquisa da BRAILE e do
CREN, está, a seguir, discriminada:
80
Figura 24 - Composição da equipe de P&D&I da BRAILE
BRAILE
Posição Formação Idade Tempo de empresa
Anos
Gerente Administração, Engenharia Mecânica e MBA em
Gestão de projetos
36 16
Equipe 1 Biomedicina e Farmácia 62 35
Equipe 2 Engenharia Mecânica 42 18
Equipe 3 Engenharia Elétrica e Mestrado em Engenharia
(em andamento)
36 16
Equipe 4 Biofísica - Engenharia Mecânica (em andamento) 33 7
Fonte: Dados da pesquisa.
Figura 25 - Composição de Equipe de P&D&I do CREN
CREN
Posição Formação Idade Tempo de empresa
Anos
Gerente Medicina Pediátrica, Nutrologia, Doutorado 48 10
Equipe 1 Pedagogia, Mestrado 50 12
Equipe 2 Psicologia 33 6
Equipe 3 Técnico em Enfermagem 31 6
Equipe 4 1º Grau 52 9
Fonte: Dados da pesquisa.
81
Figura 26 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Formação da Equipe de P&D&I”
Fonte. Dados da pesquisa.
82
4.2.6 Requisitos de Avaliação dos Resultados de P&D&I
Os Requisitos de Avaliação dos Resultados de P&D&I indicam o potencial de
inovação da empresa (significado que emergiu do campo).
Na BRAILE, na etapa final, a avaliação dos resultados se dá pelo registro na ANVISA
ou a abertura do Cadastro, dependendo do produto; seguidos pela comercialização e pelo
protocolo de acompanhamento do produto no paciente. A empresa possui certificações ISO e
outras, inerentes ao tipo de atividade, que norteiam todo o processo.
No CREN, a avaliação é um pouco mais complexa, porque, embora seja evidente o
alcance do objetivo final – verificar se a criança recuperou peso e o adolescente o perdeu, as
etapas que antecedem essa constatação precisam ser devidamente monitoradas, pois envolvem
uma série de fatores favorecedores ou impeditivos do resultado. Os indicadores são os
norteadores da efetividade desses processos e todas as decisões adotadas pelo CREN
consideram seu resultado.
Abaixo, estão alguns trechos de entrevistas com a equipe de P&D&I da BRAILE e do
CREN, para ilustrar a explanação acima, bem como uma visão de rede, com algumas citações,
recuperadas a partir do software Atlas Ti. (Figura 27).
Existe uma sistematização do trabalho que vem dessa herança acadêmica da instituição. Então você tem
indicadores que você olha todo ano, então no ano de 2017 as crianças que estiveram ao menos x
consultas, quanto que evoluíram ou não evoluíram em relação ao estado nutricional? Ou, por exemplo,
quando eu falava que o psicólogo tinha quatro meses de fila de espera, como a gente lida com isso? A
gente vai contratar mais psicólogo ou vai pensar em alternativas? Então a instituição começou a
investir, a olhar. A própria pesquisa nasce de uma demanda e eu entendo isso como um feedback, como
um reconhecimento de um olhar que partiu de indicadores. (Código 11, do CREN)
Nos indicadores, a gente avalia a quantidade de visitas que foram feitas, porque a gente vai nas casas
das famílias e verifica qual o peso daquela criança, o peso no primeiro semestre e o peso no segundo
semestre, como está a gestão de alimentos daquela criança, qual o desenvolvimento pedagógico para
aquela criança, para a idade. (Código 10, do CREN)
Fazendo e avaliando os resultados é essa a dinâmica do CREN. Faz vinte e cinco anos que a gente foi
percebendo que coisas não funcionam. (Código 8 do CREN)
Registro na ANVISA e abertura de cadastro. (Código 1, da BRAILE)
83
Figura 27 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Requisitos de Avaliação dos Resultados de P&D&I”
Fonte: Dados da pesquisa.
84
Abaixo, é apresentada uma síntese intracaso, sobre a categoria complementar de
análise “Fundamentos Estratégicos” (Figura 28).
Figura 28 - Síntese intracaso da categoria complementar de análise “Fundamentos Estratégicos”
Categoria
complementar de
análise “Fundamentos
Estratégicos”
Caso 1
BRAILE
Caso 2
CREN
Constatações
decorrentes da
discussão intracaso
Missão
Aplicar Ciência, Inovação,
Liderança e Tecnologia na
criação e fabricação de
produtos e equipamentos
médicos.
Enfrentar a subnutrição e
a obesidade, nutrindo
corpo, mente e relações
para o desenvolvimento
integral da pessoa e da
família.
A Missão é considerada
nas tomadas de
decisões e
planejamento, tendo no
NT um cunho mais
tecnológico; e no NIS,
um cunho mais social.
Visão e Valores
Ser a empresa líder de
mercado no Brasil e
referência internacional em
produtos e equipamentos
médicos.
Retidão;
Respeito à pessoa;
Adequação à realidade;
Valorização do
repertório;
O “fazer com”.
Visão e Valores são
considerados nas
tomadas de decisões e
planejamento, sendo
que, no NT, a
prioridade é a liderança
de mercado; e no NIS, é
a geração colaborativa
de valor social.
Estrutura de P&D&I
Equipe própria, estrutura
formal tradicional (Gerente,
coordenador, projetista),
formação em Engenharia
mecânica, elétrica e de
produção.
A média do tempo de
empresa é de 15 anos.
Instituto Domingos Braile
faz pesquisa e mantém
parceria com universidades
e indústrias farmacêuticas.
Não há uma estrutura
formal de P&D&I, mas
profissionais da saúde e
de humanas, que
desempenham funções
correlatas, em regime de
CLT, parcerias e projetos
de pesquisa acadêmica.
Destaca-se, portanto, as
parcerias para realização
de atividades de P&D&I,
com pesquisadores de
universidades, postos de
saúde e hospitais.
O Comitê Técnico faz
interface com as
universidades.
Ambas consideram para
a inovação as
informações científicas
de parceiros, além das
informações e
conhecimentos obtidos
nos processos internos;
no entanto, destaca-se a
estrutura formal de
P&D&I, no NT, e a
estrutura informal e
aberta de P&D&I, do
NIS.
Autoavaliação (*)
Já faz parte da cultura da
área se autoavaliar com
frequência.
A autoavaliação é
estimulada por meio dos
diversos encontros
realizados.
No NT e no NIS, a
equipe de P&D&I
interpreta a
autoavaliação como um
processo natural.
Feedback (*)
Processo natural, com os
cuidados por parte do
gestor, quanto a falar em
público ou em particular,
dependendo do feedback.
Processo natural, com os
cuidados por parte do
gestor, quanto a falar em
público ou em particular,
dependendo do feedback.
O dinamismo na área e
a consciência de que o
olhar externo favorece
o acerto, faz o dar e
receber feedback um
processo natural no NT
e no NIS.
Formação da Equipe de
P&D&I (*)
Nível superior, com
especialização ou mestrado.
Formação na área de
humanas e da saúde,
alocados nas respectivas
A formação superior
relevante, com o NT
mais para o foco
85
expertises. técnico; e o NIS, para a
área de humanas e
saúde.
Requisitos de avaliação
dos resultados
Registro ANVISA e
percentual de vendas do
produto.
Indicadores de peso
versus altura das crianças
atendidas, bem como de
socialização e
envolvimento da família
dos pacientes assistidos.
São universos
diferentes, porém há
clareza de como se
avaliar e medir os
resultados alcançados.
No NT, destaca-se a
certificação dos
produtos e suas vendas;
já, no NIS, a
recuperação nutricional
e social dos pacientes e
suas respectivas
famílias.
Nota: *Novos componentes (códigos) não previstos inicialmente no modelo conceitual.
Fonte: Dados obtidos por meio das entrevistas realizadas e dos documentos analisados.
4.3 GESTÃO DE PESSOAS
Para analisar a categoria “Gestão de Pessoas” foram considerados, inicialmente, os
seguintes componentes: Recrutamento e Seleção; Cargos e Salários; Treinamento e
Desenvolvimento. Durante a codificação dos dados, outros componentes se destacaram e, por
isso, também foram englobados na análise a seguir, sendo eles: Carreira; Indicadores de
Comprometimento; Parceria; e Reconhecimento, representados pela figura de rede abaixo
(Figura 29).
86
Figura 29 - Rede com os componentes relacionados à categoria complementar “Gestão de Pessoas”
Fonte: Dados da pesquisa.
87
4.3.1 Recrutamento e Seleção
A cultura da empresa e o perfil do cargo exigem características específicas do
ocupante. Cabe a essa área atrair e selecionar aqueles que mais se adéquam à vaga e possam
atender às expectativas da empresa (significado que emergiu do campo).
Na BRAILE, devido à característica do tipo de produto desenvolvido, a equipe de
P&D&I precisa ter formação técnica, de nível superior (a maioria cursou Engenharia), com
um detalhe especial: que “gostem” da pesquisa científica e, por natureza, sejam motivados à
busca constante de melhorias, novos conhecimentos e de inovações. Segundo as palavras da
gestora de RH entrevistada, a rotatividade na área é praticamente inexistente, nos últimos
anos, em parte, como resultado de uma ação que começou por acaso e teve sucesso – trazer
mestrandos e doutorandos das universidades parceiras. Os funcionários "antigos" de casa, que
hoje ocupam cargos de coordenação na área de P&D&I, foram se atualizando, a partir do
momento que profissionais com maior qualificação começaram a ser admitidos. Motivados
pelo medo da concorrência e, também, pela oportunidade de serem promovidos, eles
buscaram complementar as suas qualificações para atenderem ao perfil esperado.
O grau de elevada motivação dos entrevistados foi visível, durante as entrevistas,
como pode ser verificado nos trechos das falas sinalizadas ao longo deste trabalho. Porém,
conseguir trazer a pessoa certa, para o cargo certo, por si só, não garante o resultado
satisfatório, tampouco a motivação. As demais variáveis – estilo de liderança, salário e
desenvolvimento, por exemplo, devem estar presentes; caso contrário, a desmotivação e a
rotatividade podem acontecer. Na BRAILE, segundo a gestora de RH, essa consciência e
preocupação já estão presentes na rotina de trabalho do RH.
No CREN, também devido à característica do negócio, o processo segue mais o
caminho do modelo tradicional, no que se refere a entrevistas, dinâmicas de grupo, sempre
considerando o perfil definido para o cargo. O gestor é o responsável por iniciar o processo de
busca pelos candidatos e realizar as demais etapas (entrevista e dinâmica), contando com
ajuda do RH, se necessário. Isso dá agilidade ao processo e aumenta a garantia de uma
seleção mais eficaz, pois é ele, o Gestor, que sabe as peculiaridades do cargo e, pela vivência,
consegue ver detalhes no candidato, indicativos de adequação ou não do perfil à vaga
disponibilizada. O Gestor desenvolve, ainda, mais uma competência – a de recrutar e
selecionar, bem como de se comprometer com o desenvolvimento do candidato por ele
escolhido.
88
Diferente da BRAILE, um componente importante no perfil do candidato do CREN,
além da formação técnica específica, é a habilidade social, o relacionamento com as pessoas,
a fim de verificar, principalmente, se as atribuições do cargo envolvem contato direto com as
crianças e suas famílias; ou, no caso dos Educadores, com os profissionais das UBS e escolas
parceiras.
Todas, da equipe de P&D&I entrevistadas, no CREN, falaram com o "coração" e
brilho nos olhos das suas atividades – um forte indicador da assertividade nos processos de
seleção, além das outras ações de gestão já mencionadas.
Na BRAILE e no CREN, a política de recrutamento interno ou de promoção de
funcionários por merecimento, é altamente motivadora, tanto para os que são aprovados como
para os demais, não participantes do processo, pois eles vislumbram a possibilidade de
crescimento na empresa, por conta do seu desempenho pessoal.
Abaixo, há trechos de respostas das entrevistas feitas com a equipe de P&D&I, que
ilustram o contexto citado acima e fornecem uma visão de rede, com algumas citações,
recuperadas a partir do software Atlas Ti. (Figura 30)
A gente contrata, respeitando fielmente os requisitos que têm que ter nessa descrição. A gente procura
já identificar talentos aí, porque a gente precisa investir para promover futuramente. (Código 3, da
BRAILE)
Na verdade, a gente começou fazendo uma parceria, um trabalho em parceria com a UNESP. Então eles
faziam este desenvolvimento lá. Depois nós trouxemos eles para cá; eles ficavam um pouco aqui, um
pouco lá. Depois eles acabaram sendo efetivados em tempo integral para BRAILE e hoje eles são
coordenadores. (Código 3, da BRAILE)
O responsável é sempre quem dá o start pelo processo; é sempre o responsável pela vaga. O
responsável pela vaga é o gestor do funcionário. Então se é uma vaga para a área de equipe de campo,
então a gerente dessa equipe é que starta o processo, ela pensa, então, ela starta nos vários meios, seja a
Catho, seja nas UBS, seja nos nossos contatos, a gente divulga também para os nossos funcionários se
inscreverem nos nossos processos internos ou divulgarem, ou indicarem outras pessoas que eles
conheçam e aí todo o processo, ele sempre é administrado por esse responsável pela vaga que a pessoa
vai ser contratada. (Código 10, do CREN)
Também algumas situações quando ocorrem oportunidades, a gente dá uma olhada no time, porque tem
algumas pessoas que se destacam muito e são tão comprometidas que a gente decide não fazer processo
interno e não abrir processo externo. A gente faz convite direto para a pessoa. Então, a gente já fez, não
são muitos casos, mas já fizemos alguns processos assim, especificamente por causa das características
daquela pessoa. Isso não é realmente o mais comum. (Código 10, do CREN)
Segundo Souza, Paixão e Souza (2011), a política de recrutamento e seleção pode ser
definida como uma atividade que procura atender às necessidades internas da organização,
mediante o emprego de métodos e técnicas específicas, criadas para atrair e escolher os
melhores candidatos.
Nos dois negócios estudados, BRAILE e CREN, existem políticas de recrutamento e
seleção definidas, que envolvem recrutamento interno e externo. As fontes e o recrutamento
89
externo são adequados ao perfil dos cargos (BRAILE em Universidades, CREN em diversos).
Há, também, métodos e técnicas específicas para cada segmento e, considerando a baixa
rotatividade e o elevado nível de motivação dos integrantes das equipes de P&D&I, estima-se
que as políticas sejam eficazes (Figura 30).
90
Figura 30 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Recrutamento e Seleção”
Fonte: Dados da pesquisa.
91
4.3.2 Cargo e Salário
A estrutura de cargos e salários deve estar adequada ao grau de exigências,
expectativas e resultados esperados pela empresa. O desequilíbrio, entre o que é oferecido e o
exigido, pode estabelecer uma fonte de conflitos de diversas naturezas, capaz de se refletir no
clima organizacional (significado que emergiu do campo).
Os departamentos de RH da BRAILE e do CREN são coordenados por profissionais
com formação superior, especializações e vivência anterior na área. Em suas falas, eles
deixaram evidente a preocupação das empresas quanto à política de salário praticada. Ambas
afirmaram que pesquisas de salário são feitas periodicamente, e os salários, pagos atualmente,
estão na faixa do mercado, sendo os cargos e suas descrições compatíveis com o que é
praticado.
Na sequência, estão trechos de entrevistas para ilustrar o enunciado, bem como
fornecer uma visão de rede, com algumas citações, recuperadas a partir do software Atlas Ti.
(Figura 31).
O CREN se mantém, é obvio, que uma instituição social tem muitas dificuldades no sentido de, não é
sempre que dá para manter o mesmo nível de tudo, mas hoje no CREN está dentro de um nível
adequado. Não é superior aos outros, mas o adequado ao que é a realidade social. (Código 12, do
CREN)
O salário tem que ser justo, sabe? Não vou praticar salários super baixos porque são apaixonados pela
instituição, porque não é justo, entendeu? Acho que a gente tem que partir da justiça. (Código 10, do
CREN)
Seria uma forma interessante de premiar quem está trazendo mais resultados para a empresa. Seria mais
interessante. Pode as mesmas pessoas fazendo as mesmas funções, porém alguém está buscando mais
informações lá fora e trazendo mais resultados para a empresa. Então se a empresa tivesse qualquer tipo
de premiação por produção, seria uma maneira de incentivar o funcionário cada vez mais a crescer e
buscar informações lá fora. (Código 6, da BRAILE)
Então, acho que a remuneração pode sim levar a pessoa a produzir mais. (Código 5, da BRAILE)
92
Figura 31 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Cargo e Salário”
Fonte: Dados da pesquisa.
93
4.3.3 Treinamento e Desenvolvimento
Para os negócios inovadores, a aquisição, troca e acúmulo do conhecimento interno e
externo são fundamentais. A capacitação técnica e comportamental, para a liderança e equipe,
é parte significativa desse contexto (significado que emergiu do campo).
Na BRAILE, a troca e acúmulo do conhecimento é parte da cultura da empresa,
propiciada por atividades internas: cursos regulares e encontros específicos para esse fim, bem
como atividades externas: visitas técnicas, congressos, cursos de especialização A liderança
de P&D&I participou de ações de treinamento e coaching para o aprimoramento de técnicas
na função de gestão de pessoas.
No CREN, há igual preocupação, sendo uma das modalidades de treinamento a que
ocorre no próprio cargo, on the job, com a figura do multiplicador, exercida pelo ex-ocupante
da função ou profissional conhecedor do assunto. Os encontros, que acontecem regularmente
(parada pedagógica ou multiprofissional), também são oportunidades de treinamento; e as
parcerias com universidades, oportunidades de reciclagem ou de formação nas áreas
específicas para os funcionários.
Tanto na BRAILE como no CREN, que mantêm relação estreita com o mundo
acadêmico, o conhecimento, sua aquisição, a troca e valorização já fazem parte do contexto
diário do negócio.
Na sequência, há trechos das falas dos entrevistados, que ilustram a colocação acima,
bem como estabelecem uma visão de rede, com algumas citações, recuperadas a partir do
software Atlas Ti. (Figura 32).
Relacionada ao desenvolvimento de produtos, a busca por treinamentos ou conhecimentos, a gente faz
muito mais junto dos médicos e parceiros que trabalham com a gente no desenvolvimento. Você está
trabalhando no desenvolvimento de um novo produto, alguma coisa, surgem algumas dúvidas
relacionadas à utilização do produto nesse meio; tem os médicos que trabalham com a gente, então,
quando a gente vai fazer reuniões, com eles, a gente entra no nível mais do detalhe de, não só da parte
técnica de como fazer o produto, mas utilizando o conhecimento deles para eles passarem para a gente a
importância dos detalhes que tem este produto que a gente está desenvolvendo. Então, esta é outra
forma que identifico a necessidade. (Código 4, da BRAILE)
Já chegamos a fazer grupo de estudos também, dos coordenadores e gerentes. Cada um apresenta um
tema para o outro. Ah, este grupo vai falar de administração estratégica, o outro vai falar de gestão de
pessoas. Então ia lá, tinha que estudar o tema, apresentar para o colega, então isso foi uma estratégia
bem legal, também para o pessoal sair da zona de conforto. E parar com aquela coisa de estrelismo.
Bem, eu tenho que estudar. Eu vou passar um tempo com fulano que sabe mais do que eu sobre isso.
Então aquele medo de se expor, isso quebrou um monte de barreiras, foi bem bacana. (Código 3, da
BRAILE)
Eu gosto muito quando a Gerente inscreve a gente em cursos relacionados à nossa área, então, para
mim, é ótimo, eu adoro porque é conhecimento, então, sempre a gente faz, pelo menos umas 4
capacitações por ano, relacionadas à área de saúde. Para mim, faz toda a diferença. (Código 14, do
CREN)
94
É, a gente tem um Plano anual de treinamento. Esse Plano anual contempla todos os treinamentos
obrigatórios para cada área. Então, a gente faz com que a pessoa esteja sempre estudando, participando
de treinamento, ouvindo ou revendo as políticas e os procedimentos da empresa porque é muito
importante que se siga o padrão, também para que a qualidade seja garantida. (Código 4, da BRAILE)
A parada multiprofissional, muitas vezes é utilizada como ambiente para treinamentos da equipe, mas
geralmente os treinamentos ocorrem com o responsável da área e com as pessoas que já atuam na área.
Então, com a contratação de ampliação da equipe, nós vamos aproveitar a expertise das pessoas que já
eram da área, para a gente receber e capacitar os novos, e então essa é a principal forma. Na medida em
que troca um funcionário ou área que também tinha um conhecimento naquela atividade, a gente faz um
cronograma para ele treinar e capacitar o colega, então é assim dentro de cada área. (Código 10, do
CREN)
95
Figura 32 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Treinamento e Desenvolvimento”
Fonte: Dados da pesquisa.
96
4.3.4 Carreira
A carreira envolve as alternativas e as decisões profissionais que conduzem um
indivíduo a uma determinada trajetória (significado que emergiu do campo).
Na BRAILE, não há um programa formal de carreira, porém, as pessoas que vão se
destacando por desempenho, comportamento e também pelos estudos, são promovidas a
cargos de maior responsabilidade. Na área de P&D&I, a grande maioria iniciou na empresa
em cargos menores e foi galgando postos com o passar dos anos. Os que vieram direto das
universidades, por meio das parcerias, também passaram por funções menores dentro da
própria área de P&D&I e, hoje, ocupam a posição de coordenação.
O CREN também não tem um plano de carreira formal, mas as promoções ocorrem
por desempenho, considerando a adequação do perfil da pessoa às vagas que vão surgindo. A
política de processo seletivo interno também faz com que o funcionário vislumbre o
desenvolvimento da sua carreira na entidade.
Abaixo, estão reproduzidos trechos das entrevistas feitas com a equipe e P&D&I das
duas entidades, para ilustrar a colocação acima, bem como proporcionar uma visão de rede,
com algumas citações, recuperadas a partir do software Atlas Ti. (Figura 33).
Mas a gente fica sempre atenta nas pessoas que se propõem a estudar, a se colocar sempre lá na frente;
então tem uns que não param mesmo: se dedicam ao inglês, ao espanhol, ao estudo, porque é uma área
que tem que estar sempre estudando, né? Tem algumas pessoas que se destacam porque já têm ali um
segundo idioma, uma formação boa e tal, essas pessoas acabam acelerando mais o crescimento dentro
da empresa. Acaba sendo que natural. (Código 3, da BRAILE)
O intuito é esse, né? É sempre melhorar, sempre crescer, tentar fazer o melhor, porque sei lá, aonde a
gente chegou até aqui foi construindo, estudando, inovando, acho que é por aí. (Código 7, da BRAILE)
Eu quero estudar mais, eu quero crescer mais, e eu quero crescer aqui. Eu tenho vontade de fazer
projetos junto com o CREN, de ir atrás, junto com o CREN, porque eu gosto desse trabalho, eu gosto do
que faço. (Código 12, do CREN)
Eu gosto do que faço, não penso em algo diferente do que eu faço aqui dentro. O CREN surge de uma
história com uma formação de um grupo, que fundou essa instituição e esse grupo foi a diretoria por
muitos anos. (Código 13, do CREN)
O meu plano é estudar para eu melhorar profissionalmente e ajudar o CREN também melhorar. (Código
14, do CREN)
97
Figura 33 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Carreira”
Fonte: Dados da pesquisa.
98
4.3.5 Indicadores de Comprometimento
Indicadores de comprometimento são elementos que possibilitam a identificação de
evidências de comprometimento, em equipes de P&D&I (significado que emergiu do campo).
Uma pergunta envolvendo o assunto foi feita às gestoras de RH dos dois negócios
pesquisados. Ambas informaram que não há um indicador específico para verificar
comprometimento, apenas os mais usuais, que são o índice de absenteísmo e turnover. Ambas
informaram que, nos indicadores mencionados, os funcionários da área de P&D&I
apresentam índices próximos de zero.
Nas duas empresas, o processo de avaliação de desempenho formal de funcionários
deixou de ser feito há alguns anos. Na BRAILE, em razão dos problemas financeiros,
acarretados pela falta de pagamento do Governo. Na ocasião, houve a necessidade de reduzir
o número de funcionários e fazer um remanejamento interno de funções e ocupantes. Hoje, a
situação está normalizada e, possivelmente, devem retomar o processo.
No CREN, a responsável pelo RH não implantou avaliação de desempenho formal por
não conhecer um modelo propício ao tipo ao negócio, que é do Terceiro Setor. Ela afirma que
o procedimento não é prioridade, no momento, mas oportunamente pretende pesquisar algo
adequado à dinâmica da instituição.
Considerando os relatos das equipes de P&D&I, o processo de avaliação de
desempenho já ocorre no dia a dia da empresa, com feedbacks apropriados, treinamento,
promoções, mesmo que não haja um formulário com data e critérios específicos para essa
finalidade.
Abaixo, são apresentados trechos das entrevistas com as profissionais de RH das duas
entidades, sobre Indicadores de Comprometimento, bem como uma visão de rede, com
algumas citações, recuperadas a partir do software Atlas Ti. (Figura 34).
A gente não tem indicador formal; ele é muito intuitivo. Eu tenho indicador de número de faltas, de
atestados, quando eu vejo que esse número está crescendo muito, eu chamo a gestora da unidade e falo
assim, olha precisamos ver o que está acontecendo com a sua unidade, por que tanta gente está ficando
doente? Por que todos esses atestados? A gente olha até o CID para ver qual o tipo de CID para
entender, depois para falar com a pessoa. Olha, o que está acontecendo? Mas é isso, a gente não tem
indicadores em RH que sinalizem esse comprometimento, não sei... Uma pergunta até para a gente
pensar, né? (Código 10, do CREN)
E a gente tem um turnover bem baixo, hoje, na área de P&D&I, e também é, a questão de absenteísmo
é bem baixa nessa área. Tem muitos problemas na produção, mas no P&D&I quase zero. (Código 3, da
BRAILE)
99
Figura 34 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Indicadores de Comprometimento”
Fonte: Dados da pesquisa.
100
4.3.6 Parceria
A parceria decorre da união de organizações e indivíduos para alcançar um objetivo
comum (significado que emergiu do campo).
A BRAILE, desde o seu início, atuou em parceria com médicos, hospitais e
universidades. Tais parcerias se mantêm até hoje, aprimoradas com a ida dos membros da
equipe de P&D&I às visitas médicas, aos procedimentos cirúrgicos e também aos congressos.
UNIFESP, USP e UNESP são universidades que mantêm estreito relacionamento com a
equipe de P&D&I; muitos desses contato, por meio do Instituto Domingos Braile.
No CREN, as parcerias também acontecem em grande número, porém em segmentos
diferentes, pois o tema central é a nutrição. Há parcerias com FAPESP, USP, UNESP e outras
instituições, para trabalhos de pesquisa e pela disponibilização de cursos de especialização à
equipe de funcionários do CREN; e parcerias com órgãos públicos, como a Secretaria da
Educação e da Saúde.
Na sequência, há trechos das falas dos entrevistados, que ilustram o contexto acima,
bem como fornecem uma visão de rede, com algumas citações, recuperadas a partir do
software Atlas Ti. (Figura 35).
Ou os próprios médicos, né? ah, eu tô presenciando umas cirurgias diariamente e estou vendo que tem
necessidade um produto para sanar tal problema, e hoje não tem nada que atenda. Vamos fazer alguma
coisa para isso? Então, aí, juntos, em parceria com os médicos, pra poder desenvolver o produto que
possa atender essa necessidade, então é sempre muita parceria com o pessoal de fora. (Código 3, da
BRAILE)
A gente fez uma parceria também com a Secretaria Municipal da Educação e nós oferecemos toda a
equipe pedagógica para o desenvolvimento dessa criança. Então, ao mesmo tempo em que ela tem o
atendimento de saúde, ela tem também o atendimento pedagógico. A gente tem toda a grade que ela
receberia se ela estivesse numa CEI e a gente complementa porque a gente tem outras atividades com as
crianças e as famílias. (estava suspensa essa parceria na época da entrevista). (Código 10, do CREN)
E tem uma universidade que está começando um trabalho assim, então a BRAILE trabalha muito em
parceria com a universidade em prol de desenvolver um produto, de melhorar algo, de trazer uma
solução diferente. (Código 4, da BRAILE)
Uma parceria ou na faculdade que quinzenalmente os nossos profissionais podem frequentar um curso
de neurologia. (Código 3, do CREN)
101
Figura 35 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Parceria”
Fonte: Dados da pesquisa.
102
4.3.7 Reconhecimento
Reconhecimento é o ato de considerar, de identificar as ações e o empenho da equipe
de P&D&I (significado que emergiu do campo).
Na BRAILE, os entrevistados da equipe de P&D&I manifestaram-se satisfeitos com o
reconhecimento que recebem da empresa. A maior incidência de respostas se deu sobre a
participação em congressos e feiras, com a apresentação de aulas ou a representação da
empresa junto ao público presente, geralmente médicos e funcionários de laboratórios.
Estar com os médicos, assistir aos procedimentos, com o uso dos produtos que o
colaborador ajudou a desenvolver, também foi apontado como algo motivador. A newsletter,
que existe desde a fundação da empresa, é outro canal citado como reconhecimento pelo
trabalho, pois todos os funcionários e pessoas que a recebem, ficam sabendo o que a área de
P&D&I está fazendo, quem foi para congressos, quais as pessoas promovidas, as que fizeram
visita à área de trabalho. O salário não foi apontado como fator de reconhecimento, mas um
deles afirmou que seria producente se houvesse algum tipo de bônus, como ocorre com a área
de vendas.
No CREN, as entrevistadas apontaram a questão do reconhecimento mais voltada para
os resultados no dia a dia, quando vêm uma criança recuperada, as oportunidades de
promoções e a possibilidade de fazer cursos nas instituições parceiras. O salário também não
foi citado como fator de reconhecimento; uma das entrevistadas destacou, nesse sentido, que o
maior reconhecimento é a liberdade e a confiança que ela recebe dos líderes da entidade.
Abaixo, estão trechos das entrevistas realizadas com a equipe, que evidenciam o
argumento acima apresentado, bem como uma visão de rede, com algumas citações,
recuperadas a partir do software Atlas Ti. (Figura 36).
À medida que a gente consegue ampliar a captação e garantir que o recurso entre, é justo também
reconhecer financeiramente as pessoas. (Código 10, do CREN)
A exposição dele em feiras internacionais, congresso, em que a gente apresenta os nossos produtos.
(Código 1, da BRAILE)
Existe uma relação direta entre o reconhecimento e inovação. (Código 4, da BRAILE)
Ter o espaço para expor isso em congressos, em trabalhos científicos, então quando a gente percebe que
tem um funcionário que gosta, então a gente coloca o nome dele para congressos. (Código 4 do CREN)
Esse respeito, a repercussão que ele ganha junto à sociedade médica é uma forma de satisfação pessoal,
de satisfação de carreira que a gente vê que faz a diferença também. (Código 1 da BRAILE)
Porque, para mim o maior reconhecimento é o impacto sobre a população, não é diretamente só para a
empresa. (Código12, do CREN)
103
Figura 36 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Reconhecimento”
Fonte: Dados da pesquisa.
104
Abaixo, está apresentada uma síntese intracaso sobre a categoria complementar de
análise “Gestão de Pessoas” (Figura 37).
Figura 37 - Síntese intracaso da categoria complementar de análise “Gestão de Pessoas”
Categorial
complementar de
análise “Gestão de
Pessoas”
Caso 1
BRAILE
Caso 2
CREN
Constatações
decorrentes da
discussão intracaso
Recrutamento e Seleção
Realizado nos cursos de
mestrados e doutorado das
universidades parceiras;
Promoções internas.
Recrutamento interno;
Busca no mercado
específico do cargo.
Valorização do capital
humano interno e
utilização de fontes
externas compatíveis
com a exigência do
cargo, no NT e no NIS.
Cargo e Salário
Atualizados de acordo com
os oferecidos pelo mercado;
Preocupação constante.
Atualizados de acordo
com os oferecidos pelo
mercado;
Preocupação constante;
Atrelado à captação.
No NT e no NIS, o
salário é interpretado
como fator de atração e
retenção de talentos.
Treinamento e
Desenvolvimento
Grande preocupação de
manter a equipe atualizada
e em desenvolvimento.
Grande preocupação de
manter a equipe
atualizada e em
desenvolvimento.
As ações de
treinamento ocorrem,
no NT e no NIS, a
partir de parcerias,
ações internas ou
visitas técnicas.
Carreira (*) Não há programa formal,
mas ocorre na prática.
Não há programa formal,
mas ocorre na prática.
As promoções ocorrem,
no NT e no NIS, a
partir da qualificação
do funcionário e seu
desempenho.
Indicadores de
Comprometimento (*)
Não há indicadores formais,
apenas os tradicionais:
absenteísmo e turnover.
Não há indicadores
formais, apenas os
tradicionais: absenteísmo
e turnover.
No NT e no NIS, são
adotados indicadores
formais e tradicionais,
incluindo absenteísmo e
turnover.
Parceria (*)
Desde a fundação, atuam
em parceria com
universidades, médicos e
laboratórios.
Parcerias com
universidades e órgãos
públicos da saúde e da
educação.
Grande ênfase na
parceria com
universidades e
instituições da saúde,
para pesquisas e
qualificação dos
funcionários, no NT e
no NIS.
Reconhecimento (*)
Exposição da imagem
diante de público
especializado é sentida
como reconhecimento e as
promoções também.
Liberdade de ação,
confiança, participação
em congressos, são
entendidos como fatores
de reconhecimento.
Ações que fortalecem a
autoestima no papel
pessoal e profissional,
atuam como fatores de
reconhecimento, no NT
e no NIS.
Nota: *Novos componentes (códigos) não previstos inicialmente no modelo conceitual.
Fonte: Dados obtidos por meio das entrevistas realizadas e dos documentos analisados.
105
4.4 CAPACIDADE DE INOVAÇÃO
Para analisar a categoria central “Capacidade de Inovação”, foram considerados os
seguintes componentes: Potencial de Inovação, Processo e Resultados, conforme a figura de
rede apresentada a seguir (Figura 38).
106
Figura 38 - Rede com os componentes relacionados à categoria central “Capacidade de Inovação”
Fonte: Dados da pesquisa.
107
4.4.1 Potencial de Inovação
O potencial de inovação envolve a liderança e o processo decisório; a estrutura
organizacional e a comunicação; a colaboração; a cultura; o clima organizacional; a
criatividade individual; e o know-how (significado que emergiu do campo).
Na BRAILE, o potencial de inovação é estimulado pela liderança empreendedora e
pela proatividade na resolução de conflitos. Ambas as iniciativas foram instituídas e
fortemente disseminadas pelo fundador da BRAILE e, hoje, preservadas e continuadas pelo
herdeiro de terceira geração, que assumiu recentemente a diretoria.
Com o afastamento recente do Dr. Domingos Braile, fundador, assumiu a direção do
negócio o seu neto, Rafael Braile, que tem 26 anos, é Engenheiro Mecânico e, desde pequeno,
acompanhava o avô e a mãe, médica, também diretora na BRAILE. A liderança
empreendedora de Rafael também inspira toda a empresa e a equipe de P&D&I, em especial.
Foi dele a iniciativa de propiciar aos funcionários internos da área de P&D&I a saída da
empresa para acompanhamento de médicos, no uso dos produtos criados em procedimentos
cirúrgicos e a oportunidade de representar a empresa em congressos e feiras. Ele permitiu que
os colaboradores estivessem no campo, lado a lado com os clientes, antecipando-se às
necessidades e também disseminando externamente os resultados da empresa em eventos.
Essas ações foram destacadas pelos entrevistados como relevantes ao comprometimento e
fomentadoras do potencial de inovação, tanto do ponto de vista da equipe de P&D&I, como
para a melhoria dos resultados de todo o negócio.
Sendo assim, os médicos atuam como parceiros de cocriação de inovações, por meio
de um processo de geração de conhecimentos. Segundo Akmam e Yimaz (2008), essa prática
colaborativa pode estimular o potencial de inovação de um negócio, por selecionar
corretamente as inovações que precisam ser feitas, aumentando as chances de eficiência e a
criatividade, além de reduzir os custos e o tempo de desenvolvimento da inovação.
Cabe pontuar que a dissertação de mestrado do Rafael (diretor da BRAILE), teve
como tema a cultura organizacional e ele, em conjunto com o orientador e um consultor,
aplicaram o modelo estudado na BRAILE, que até a ocasião, era detentora de uma
administração familiar, condição que a fazia perder competitividade. A série de alterações
empreendidas para profissionalizar a empresa, teve como meta a implantação de uma cultura
moderna, ágil, propícia à inovação. Reestruturações foram feitas, troca e promoções de
funcionários, qualificação gerencial, inclusive da própria família, incluindo a formalização do
processo de sucessão familiar, o que culminou na estrutura que hoje está em funcionamento.
108
Segundo Rafael e o gestor de RH, a segunda fase do processo se iniciará dentro do primeiro
semestre de 2018.
Segundo a gestora de RH, que está na empresa há 11 anos, e participou desses
processos de profissionalização, ocorridos por volta de 2012, quando a empresa passava por
uma séria crise financeira, decorrente da falta de pagamento do Governo, afirmou que a
transparência e o envolvimento de todos os funcionários foram premissas para administrar o
clima contextual. Newsletter, murais, reuniões presenciais para divulgação dos resultados
alcançados pela equipe de P&D&I, e o envolvimento das lideranças constituíram
instrumentos importantes nessa fase e, hoje, continuam sendo canais de comunicação ativos e
estimuladores do potencial de inovação.
Como a BRAILE é uma empresa nacional e concorre com grandes multinacionais da
saúde, a atividade de prospecção de tendências tecnológicas e de inovação é priorizada, o que
requer investimento próprio em P&D&I e pré-disposição ao risco. Nesse sentido, vale
ressaltar que a BRAILE prospecta tendências e informações em fontes externas, tais como
médicos, laboratórios e universidades; e usa os dados obtidos para fomentar a tomada de
decisão de inovações e tecnologias portadoras de futuro. Além das fontes externas de
conhecimento, destacam-se as práticas internas de alinhamento e a participação da equipe de
P&D&I (coordenadores de projetos, engenheiros, técnicos e projetistas), nas fases de
desenvolvimento, prototipagem e de experimentação do produto, com o propósito de
disseminação e troca de conhecimentos. Segundo Wang e Ellinger (2011), empresas que
possuem estrutura interna para aprendizagem, capaz de adquirir conhecimento com parcerias
e alianças estratégicas, terão mais conhecimento acumulado, o que lhes permitirá responder às
mudanças com inovações mais rápidas e superiores, se comparadas às outras empresas.
Destaca-se, ainda, que a premiação da BRAILE pela FINEP ocorreu em 2014 e a
empresa, hoje, está com capacidade inovadora restabelecida, conforme parâmetros da teoria
de Saunila e Ukko (2012), e os resultados alcançados em termos de desenvolvimento de
novos produtos (conforme descrito no Capítulo 4.4.3).
No CREN, o potencial de inovação também se faz presente; todavia, se na BRAILE, o
aspecto financeiro levou a uma mudança cultural, no CREN a motivação veio pela diminuição
do número de crianças atendidas, indicador que poderia levar a entidade a ter o recebimento
de verbas diminuídas ou até suspensas. Por volta do ano de 2006, analisando os indicadores, a
equipe diretiva tomou a decisão de transferir a Unidade de atendimento da Vila Mariana para
a Vila Jacuí, comunidade carente no extremo da Zona Leste de SP, cuja realidade estava mais
próxima da missão do CREN, que é cuidar da subnutrição de crianças em situação de
109
vulnerabilidade. Essa mudança exigiu a mobilização de parceiros, desde o contrato com a
prefeitura para repasse de verbas e construção, passando por contratação de profissionais
especializados na região, qualificação dos mesmos para lidar com uma realidade social até
então ausente, nos anos de atuação na Vila Mariana, e a conquista da confiança dos
moradores, na aquisição de novos hábitos alimentares e cuidados familiares primários com as
crianças.
Nos serviços prestados pelo CREN, o potencial de inovação é identificado no campo,
ou seja, a partir da identificação e do acompanhamento das necessidades dos sujeitos sociais,
particularmente de crianças subnutridas que vivem em regiões periféricas, incluindo suas
respectivas famílias. Segundo relato de uma entrevistada: “mães de crianças desnutridas
estimulam pouco as crianças, tem um fraco vínculo com essas crianças, então a gente precisa
ensinar essas mães a como cuidar do crescimento e do desenvolvimento de seus filhos”.
Além de problemas de ordem afetiva e materna, a subnutrição também guarda
associação com drogas, abuso e violência doméstica, representando, portanto, um contexto
potencial de inovação social, que demanda o deslocamento da equipe de atendimento até as
comunidades carentes para prospecção dos problemas in loco, bem como a formação de
equipes de saúde multidisciplinares, capazes de compreender e atacar o problema da
subnutrição infantil em periferias, considerando os seus múltiplos espectros físicos, psíquicos,
cognitivos e comportamentais.
Sobre a comunicação e colaboração interna, procurou-se dar transparência a todo o
processo e divulgar os resultados alcançados, a partir de newsletter, murais, reuniões e
atuação ativa das lideranças. O potencial de inovação no CREN fica evidente, segundo os
relatos dos entrevistados, na postura das lideranças diante dos assuntos que são tratados nas
reuniões, denominadas “Paradas Pedagógicas”. O monitoramento dos indicadores leva a
respostas rápidas, com sugestão de todos os envolvidos no assunto. A cultura de liderança
descentralizada, do envolvimento de todos na apresentação de ideias e como sujeitos na
implantação, foi verbalizada, em diversas entrevistas, como fator motivador.
Para Saunila e Ukko (2014), há dois tipos de recursos essenciais para as organizações
desenvolverem a capacidade de inovação: os tangíveis (pessoas, recursos financeiros, tempo
e equipamentos) e os intangíveis (culturas e práticas de liderança participativa, clima de
trabalho, desenvolvimento de know-how dos funcionários para a inovação, processos e
ferramentas para a gestão de ideias, fontes externas de conhecimento e desenvolvimento de
conhecimento individual).
110
Negócios de inovação social, de uma forma geral, apresentam escassez de recursos
tangíveis, por isso os intangíveis são otimizados e estão mais presentes nos processos de
inovação (Rosenbusch, Brinckmann, & Bausch, 2011).
No CREN, constatou-se essa situação: por depender de verbas e doações, a ênfase
quanto à inovação está nas práticas de liderança participativa e nos processos e ferramentas
para a gestão de ideias, que ocorrem a partir de reuniões regulares, pelos indicadores de
resultados estabelecidos e pelo clima organizacional, que advém dessas ações todas.
Abaixo, estão apresentados trechos das falas dos entrevistados, que ilustram o relato
acima, bem como uma visão de rede, com algumas citações, recuperadas a partir do software
Atlas Ti. (Figura 39).
A área de saúde muda muito rápido, e a gente tem que estar sempre antenado. (Código 3, da BRAILE).
A equipe está mais alinhada, então vamos fazer uma prototipagem, uma experimental. Então vai o
coordenador do projeto, eu vou junto, vai o pessoal do suporte técnico. Às vezes, vai até o projetista que
fez o desenho e que montou aquele produto. Então, durante a experimentação, está todo mundo
sabendo, então aquela questão lá de ter antes apenas uma pessoa que trazia a informação, agora já tem
mais usuários ali dentro, porque às vezes que tem que melhorar aquilo, porque aquilo não deu certo, ou
entender melhor, aquilo deu certo por causa disso. Então, esse envolvimento maior, principalmente das
pessoas que estão relacionadas a isso, contribuiu muito. (Código 4, da BRAILE)
Com a equipe da capacitação e do ambulatório também a gente conseguiu enxergar que, na verdade, as
pessoas não estavam chegando aqui porque não tinham mais crianças com esse problema da má
nutrição, mas não estavam chegando porque o serviço estava distante, porque as famílias, muitas
famílias de alta vulnerabilidade também elas têm algumas questões sociais que não permitiam que elas
chegassem aqui e aí a tomada de decisão foi: quem nós vamos atender no semi-internato? Qual é a
população? Quem é o perfil? (Código 10, do CREN)
Como abuso, a gente tem muitos casos de abuso nas crianças, muitos casos, muitos casos envolvidos
com conselho tutelar, e quando a gente começou, a gente estava preparado para trabalhar com nutrição,
agora a gente tá falando de outras coisas, né, então precisa capacitar a equipe nisso, e precisa ter um
conhecimento mais profundo do tema pra equipe poder lidar com isso. (Código 8, do CREN)
E tem uma prevalência de álcool, de droga, importante, 30% mais ou menos das famílias em conflito
com a lei, 40% das famílias têm alguém que está na cadeia. (Código 10, do CREN)
111
Figura 39 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Potencial de Inovação”
Fonte: Dados da pesquisa.
112
4.4.2 Processo
O processo envolve a identificação e análise de oportunidade, seleção de ideias e
desenvolvimento de tecnologias (significado que emergiu do campo).
Na BRAILE, esse passou a ser mais eficaz e rápido, a partir do momento que ocorreu
a implantação da política dos profissionais internos de P&D&I, que possibilitou que eles
fossem até os clientes e o mercado em si, conforme relato no Capítulo anterior. A empresa
continua investindo em equipamentos modernos e relevantes para pesquisas e
desenvolvimento dos produtos. As parcerias com universidades de ponta, por meio de
projetos de pesquisas, também são fatores favorecedores do desenvolvimento de produtos.
Um aspecto positivo apontado pelos entrevistados é a questão da comunicação e entrosamento
da equipe, nas reuniões constantes para a tomada de decisão. A postura "aberta" do Gerente
de P&D&I, que procura olhar as particularidades do perfil de cada membro da equipe,
também foi mencionada como fator que favorece o ambiente para as sugestões, as seleções de
ideias e o desenvolvimento do processo. Administrar a ansiedade e a necessidade de registrar
todas as etapas, também é um desafio, segundo um entrevistado, mas que entende isso como
algo necessário nesse tipo de negócio.
Na essência, o processo de inovação envolve pesquisa aplicada e desenvolvimento
experimental na BRAILE e, por fim, a busca da certificação (ANVISA); sendo assim, os
projetos de desenvolvimento de novos produtos requerem investimentos, gestão de riscos e
planos contingenciais para projetos não-exitosos, pois nem todo potencial de inovação
identificado, a priori, é de fato convertido de forma bem-sucedida em produto novo para o
mercado.
Vale destacar que, além do desenvolvimento de produtos padronizados, a BRAILE
também atende demandas específicas de médicos, hospitais e universidades, como é o caso do
desenvolvimento de endopróteses, que precisam ser customizadas ao biótipo do paciente (a
BRAILE, nesse caso, também atende às exigências dos órgãos reguladores e certificadores).
Segundo um dos entrevistados, “uma endoprótese customizada pela BRAILE é desenvolvida
em 20 dias, sendo que o mesmo produto importado demora 3 meses e tem um preço mais
elevado”.
No CREN, a preocupação com os processos de inovação guarda algumas semelhanças
com a BRAILE, porém são mais flexíveis, pelo próprio tipo de "serviço”. A identificação e
análise de oportunidades vão surgimento à medida que se olha para os indicadores de
atendimento e, principalmente, para o campo, que é o norteador central dos resultados no
113
CREN. Cada mudança, cada nova ideia, cada novo "serviço" requer uma série de ajustes,
como o que ocorreu na inauguração da Unidade da Vila Jacuí. O conhecimento de como lidar
com a nova realidade talvez tenha sido o ponto inicial para se estabelecer novos métodos de
intervenção social e definir outros indicadores de resultados, num ciclo constante.
A intervenção social, concebida como um processo de inovação, ocorre no campo, de
modo a conhecer a realidade e ter a percepção aguçada dos problemas sociais e seus múltiplos
espectros físicos, psíquicos, cognitivos e comportamentais. Posteriormente, um plano de ação
participativo é projetado e aplicado, a partir de tentativas e erros, ressaltando-se, com isso, a
importância da abertura para reconhecer o erro e tentar novamente.
Além do campo, destacam-se, também, o semi-internato e a cozinha experimental,
como contextos para o processo de inovação; em todos esses casos, há a atuação de uma
equipe multidisciplinar. Resgatando a fala de uma entrevistada: “a gente criou uma cozinha
experimental e a gente conversava com as crianças e cozinhava com elas, e aí não era só a
nutricionista, porque poderia ser uma pura oficina de educação nutricional, mas era a
nutricionista junto com a psicóloga, junto com a assistente social para discutir nutrição,
violência familiar e relacionamento”.
Toda intervenção social, conduzida pelo CREN, também é suportada por pesquisas
científicas, desenvolvidas em parcerias com professores e estudantes de universidades (USP,
UNESP, UNIFESP e FATESP). Como exemplo, pode-se mencionar o censo antropométrico
para levantamento do peso, estatura e perfil socioeconômico. Os resultados das pesquisas
desenvolvidas colaborativamente com pesquisadores externos, bem como os casos de
subnutrição mais graves, são debatidos em reuniões semanais, envolvendo os profissionais
com atuação externa (nas comunidades) e interna (unidades do CREN da Vila Mariana, Vila
Jacuí e Jundiaí).
Vale, portanto, destacar as ações distintivas do processo de inovação, no âmbito de
atuação do CREN, incluindo: (a) pesquisas científicas desenvolvidas em parceria com
universidades (como o censo antropométrico); (b) a visita domiciliar para busca ativa de
crianças desnutridas; e (c) intervenção no campo, no semi-internato e na cozinha
experimental. Ressalta-se que a diversificação da receita e as atividades de comunicação
interna e externa também são atividades que corroboram o processo de inovação, no âmbito
de atuação social do CREN.
Para Bignetti (2011), nos negócios de inovação social, a inovação é uma construção
social, de geração de soluções, dependente da trajetória. A concepção, o desenvolvimento e a
aplicação estão intimamente imbricados e são realizados por meio da relação e da cooperação
114
entre todos os atores envolvidos. Significa que há um processo de aprendizagem coletivo,
baseado no potencial dos indivíduos e dos grupos, que adquirem as capacidades necessárias
para realizar as transformações sociais.
No CREN, o processo de inovação se dá pela aprendizagem e pela intervenção social
coletiva, sendo fundamental a experiência e a vivência de cada funcionário e da equipe como
um todo, junto aos sujeitos sociais assistidos.
Abaixo, estão alguns trechos da fala dos entrevistados, que ilustram a colocação
acima, bem como uma visão de rede, com citações recuperadas a partir do software Atlas Ti.
(Figura 40).
Muitas vezes, você tem uma ideia ou o mercado tem uma necessidade. Você consegue desenvolver
rápido, fácil, testar, mas devido ao nosso segmento, isso tem certa rotina, uma sequência, que tem que
ser seguida, atendida, então isso leva certo tempo. (Código 4, da BRAILE)
Problema vai ser passado para a engenharia porque a gente tem produtos customizados. A gente tem os
de prateleiras, padrões, porém a gente faz uma endoprótese, por exemplo, específica para o caso do
paciente. Ele tem uma doença assim e a gente precisa construir um produto personalizado. Então o
suporte técnico passa essa necessidade para a engenharia. A engenharia vai, às vezes montar na
impressora 3D a artéria do paciente, faz a artéria dele lá, e para montar o produto exatamente para
aquele paciente. (Código 3, da BRAILE)
A gente conhece de engenharia, eles conhecem de medicina, da aplicação do produto, então surgindo
essa necessidade, a gente marca as reuniões, faz as visitas até eles, ou mesmo durante a experimentação
da prototipagem, dos testes dos produtos, a gente vai fazendo relatórios e vai levantando o que pode ser
melhorado. (Código 4, da BRAILE)
Inovação não é o fim, é o meio. (Código 9, do CREN)
A sustentabilidade também é outro ponto de inovação importante, a gente procura diversificar a receita,
então a gente tem a equipe de comunicação que vem cuidando muito da nossa imagem, né, a gente
também inova no momento que a gente aposta numa equipe de comunicação, se torna um elo
importante, buscando o Selo da Transparência, então que essa questão da sustentabilidade a gente vai
atrás de captação de recursos da pessoa física. (Código 9 , do CREN)
115
Figura 40 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Processo”
Fonte: Dados da pesquisa.
116
4.4.3 Resultado
O resultado é algo novo ou relativamente melhorado, que gere valor para a empresa e
seus stakeholders (significado que emergiu do campo).
Os resultados da BRAILE são mais fáceis de serem apurados do que os do CREN. Na
BRAILE, o lançamento de um produto leva um determinado tempo, desde a ideia inicial até a
sua disponibilização no mercado, estando pronto para uso e aprovado pelos órgãos
competentes.
No CREN, por sua vez, a avaliação dos resultados se dá a partir dos indicadores, tais
como o número de crianças que saíram da condição de subnutrição e de adolescentes que
deixaram a linha de obesidade prejudicial à saúde. Os stakeholders de uma ONG têm um
perfil diferente daquele envolvido em um negócio do segundo setor. São entidades ou órgãos
do governo que disponibilizam verbas para que a entidade atenda a uma causa proposta. O
que vai determinar a continuidade da parceria ou não é o percentual de abrangência e
resolução do problema originário da causa. Nesse sentido, ter resultados quantificáveis, fazer
uso racional da verba recebida, é o que faz a entidade se manter "viva".
O CREN, tem um histórico de resultados quantificáveis de atendimentos diretos e
indiretos, que justifica o seu destaque e reconhecimento. Produtos gerados para a população
ligada ao assunto nutricional (nutricionistas, médicos, psicólogos, agentes de saúde,
estudantes) são os livros e manuais que divulgam a metodologia utilizada pela entidade, fruto
dos seus 25 anos vivência. A difusão do conhecimento, por meio dos cursos e residências
oferecidas, também são destaques nos resultados da empresa.
Especificamente, sobre os resultados gerados pela BRAILE, em termos de
desenvolvimento de produtos, destacam-se: o novo oxigenador de membranas, um modelo
mais compacto, que demandou uma quantidade menor de matérias, otimizando o seu preço de
mercado; (b) a válvula cardíaca biológica, com vida útil ampliada (anticalcificante); e (c) a
válvula Inovare, expansível por balão, montada sobre um cateter, que entra a partir da femoral
e chega até o coração, para então fazer a liberação. Considerando esses projetos que analisei e
as entrevistas que fiz, nesses casos, das inovações que foram analisadas, constatamos que elas
guardam características de inovação frugal, ou seja, apresentam uma solução de rápida
disponibilização para o mercado; com facilidade e simplicidade de utilização por parte dos
usuários; com economia de recursos; resistente a falhas durante o uso; e com potencial de
escalabilidade em outros mercados e regiões (Zeschky, Widenmayer, & Gassmann, 2011;
Basu, Banerjee, & Sweeny, 2013). Entretanto, existem muitos outros produtos que não são.
117
Em relação aos resultados alcançados pelo CREN, destacam-se: (a) prestação de
serviços de saúde pública, em um prisma ampliado, envolvendo crianças e seu entorno
familiar; (b) publicações técnicas e científicas para disseminação do conhecimento gerado, a
partir das metodologias de intervenção desenvolvidas pelo CREN; e (c) formação,
capacitação e atuação de equipes multidisciplinares (médicos, enfermeiros, nutricionistas,
educadores físicos, pedagogos e psicólogos). Sendo assim, nota-se uma aderência desses
resultados ao conceito de inovação social, ou seja, de metodologias que possibilitam a
melhoria da qualidade de vida do outro e diminuem as desigualdades sociais (Farfus & Rocha,
2007).
A seguir, estão destacados trechos das entrevistas realizadas nas duas entidades, que
ilustram a argumentação acima, bem como uma visão de rede, com algumas citações,
recuperadas a partir do software Atlas Ti. (Figura 41).
Novo modelo para atender as exigências do mercado. Um modelo mais compacto, com uma quantidade
menor de matérias-primas e utilizando matérias-primas mais eficientes e melhores do que tem no
mercado. (Código 1, da BRAILE)
Desenvolvimento de válvulas cardíacas e, nos últimos 24 meses, nós lançamos uma nova versão da
válvula biológica, válvula cardíaca biológica, agora com tratamento que permite com que aumente a
vida útil da válvula. Tratamento que é feito durante o processo produtivo. (Código 1, da BRAILE)
Atendemos em todo o território nacional; hoje temos a capacidade de formação profissional, seja
daquele para graduação ou pós-graduação de medicina, de nutrição, das faculdades e as pós-graduações,
residentes e aqueles que já estão formados, como os agentes de saúde, que tem aí suas grandes
dificuldades de territórios, lá na ponta. Então eu acho essas como grandes inovações. (Código 8, do
CREN)
Então, eu acho isso maravilhoso, porque olhou pra além do quadradinho. Então eu acho que a pessoa
que é comprometida, ela inova mais do que os outros. A gente não está falando na inovação do
atendimento nutricional, a gente tá falando de inovação na relação, que depois resulta no melhor estado
nutricional. (Código 11, do CREN)
O CREN tem um número de produções científicas nesses 25 anos; a gente entende como de grande
valor as informações que são geradas, os dados que são gerados pelos atendimentos. Então facilitar a
coleta desses deixa esses dados mais limpos e corretos, gerar relatórios, tanto para as gerências das
Unidades, como para a produção de material científico, é a preocupação desde o início do CREN. O que
o sistema vem cuidando da tecnologia para que esse cuidado acompanhe o ritmo da tecnologia atual.
(Código 9, do CREN)
118
Figura 41 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao Componente “Resultados”
Fonte: Dados da pesquisa.
119
Abaixo, está a síntese intracaso da categoria central de análise “Capacidade de
Inovação" (Figura 42).
Figura 42 - Síntese intracaso da categoria central de análise “Capacidade de Inovação”
Categorial central de
análise “Capacidade de
Inovação”
Caso 1
BRAILE
Caso 2
CREN
Constatações
decorrentes da
discussão intracaso
Potencial de inovação
Liderança empreendedora
do fundador e do herdeiro
de terceira geração;
médicos atuam como
parceiros de cocriação de
inovações; profissionalizar
a empresa; qualificação
gerencial, inclusive da
própria família;
formalização do processo
de sucessão familiar;
disseminação de
conhecimentos, a partir de
newsletter, murais e
reuniões presenciais;
envolvimento das
lideranças nas decisões de
P&D&I; concorrência com
grandes multinacionais;
investimento próprio em
P&D&I; pré-disposição ao
risco; prospecção de
tendências e informações
em fontes externas e
internas; alinhamento e
participação da equipe de
P&D&I em todas as fases
de desenvolvimento do
produto.
Prospecção de tendências
e informações no campo,
a partir da identificação e
do acompanhamento das
necessidades dos sujeitos
sociais, particularmente
de crianças subnutridas,
que vivem em regiões
periféricas, incluindo suas
respectivas famílias.
Além de problemas de
ordem afetiva e materna,
o problema da
subnutrição também
guarda associação com
drogas, abuso e violência
doméstica, representado,
portanto, um contexto
potencial de inovação
social, que demanda o
deslocamento da equipe
para prospecção dos
problemas in loco, bem
como a formação de
equipes de saúde
multidisciplinares.
No NT, o potencial de
inovação é evidenciado
a partir de elementos
internos de liderança
empreendedora, de
profissionalização do
negócio, qualificação e
envolvimento das
lideranças e dos
liderados, bem como de
elementos externos,
relacionados à
cocriação de inovações
com parceiros e
concorrência com
grandes multinacionais.
Já, no NIS, o potencial
de inovação é
evidenciado
externamente, ou seja,
no campo, com vistas a
prospectar in loco os
diversos espectros dos
problemas sociais.
Processo
Estabelecimento de
parcerias com
universidades para
desenvolvimento de
pesquisas científicas e,
internamente, a realização
de pesquisa aplicada e
desenvolvimento
experimental e busca de
certificação (ANVISA),
resultando em produtos
padronizados ou
customizados.
Visita domiciliar para
busca ativa de crianças
desnutridas; intervenção
no campo, no semi-
internato e na cozinha
experimental, com vistas
a prospectar in loco os
diversos espectros dos
problemas sociais;
pesquisas científicas
desenvolvidas em
parceria com
universidades (como o
censo antropométrico);
diversificação da receita;
e atividades de
comunicação interna e
externa.
No NT, o processo de
inovação é evidenciado
a partir de elementos
internos de pesquisa
aplicada,
desenvolvimento
experimental e busca de
certificação (ANVISA),
resultando em produtos
padronizados ou
customizados, bem
como de elementos
colaborativos,
relacionados a parcerias
com universidades, para
desenvolvimento de
pesquisas científicas.
No NIS, o processo de
inovação é evidenciado
de forma colaborativa,
ou seja, com a visita
domiciliar para busca
120
ativa de crianças
desnutridas e com a
intervenção direta no
campo, no semi-
internato e na cozinha
experimental,
destacando-se, também,
as pesquisas científicas
desenvolvidas em
parceria com
universidades,
resultando em
metodologias de
intervenção de saúde
pública.
Resultado
(a) novo oxigenador de
membranas, um modelo
mais compacto, que
demandou uma quantidade
menor de matérias,
otimizando o seu preço de
mercado; (b) válvula
cardíaca biológica, com
vida útil ampliada
(anticalcificante); e (c)
válvula Inovare, expansível
por balão, montada sobre
um cateter, que entra a
partir da femoral e chega
até o coração, para então
fazer a liberação.
Esses projetos guardam
características de inovação
frugal, mas existem muitos
outros que não são.
(a) prestação de serviços
de saúde pública, em um
prisma ampliado,
envolvendo crianças e seu
entorno familiar; (b)
publicações técnicas e
científicas, para
disseminação do
conhecimento gerado, a
partir das metodologias
de intervenção
desenvolvidas pelo
CREN; e (c) formação,
capacitação e atuação de
equipes multidisciplinares
(médicos, enfermeiros,
nutricionistas, educadores
físicos, pedagogos e
psicólogos).
No NT, os resultados
alcançados estão
associados ao
desenvolvimento de
produtos médicos, que,
dentre os pesquisados,
guardam características
frugais, por apresentar
ampliação da vida útil,
economia de matéria-
prima, facilidade de uso
e preço atrativo. Já, no
NIS, os resultados
alcançados estão
associados ao
desenvolvimento de
metodologias de
intervenção de saúde
pública, a partir de um
espectro ampliado
(análise das condições
físicas, psíquicas,
cognitiva, e
comportamentais dos
envolvidos e de sua
família) (inovação
social).
Fonte: Dados obtidos por meio das entrevistas realizadas e dos documentos analisados.
4.5 COMPROMETIMENTO
No Modelo Conceitual (apresentado no Capítulo 2.3), foram consideradas os seguintes
componentes: Comprometimento Afetivo, Comprometimento Normativo, Comprometimento
Instrumental. Na codificação e análise dos dados, como coocorrência, surgiram mais oito
componentes, adicionados à presente análise, a saber: Ausência de Comprometimento,
Comprometimento de Equipe, Eficiência, Envolvimento, Flexibilidade, Proatividade,
Responsabilidade e Visão Sistêmica. A rede, a seguir, apresenta esses componentes (Figura
43).
121
Figura 43 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao Componente “Comprometimento"
Fonte. Dados da pesquisa.
122
4.5.1 Comprometimento Afetivo
O significado que emergiu do campo, Comprometimento Afetivo indicou a
possibilidade de caracterização por uma relação forte de identificação do indivíduo com a
organização, a partir de, pelo menos, três fatores: (1) estar disposto a exercer esforço
considerável em benefício da organização; (2) forte crença e aceitação dos objetivos e valores
da organização; e (3) forte desejo de se manter membro da organização.
O resultado das entrevistas deixa evidente, por intermédio das falas, a admiração, a
felicidade e motivação da equipe de P&D&I em relação ao trabalho e à empresa. Todos, sem
exceção, e por motivos diferentes, manifestaram grande prazer e orgulho em trabalhar nas
respectivas entidades.
Na BRAILE, o comprometimento é resultado da admiração e identificação com a
postura de paixão pela causa, por parte do seu fundador e presidente Dr. Domingos. A sua
vibração, persistência e foco contagiou e ainda contagia a equipe de P&D&I. O vínculo
emocional é forte; as experiências de crescimento na carreira e o sentido de pertencimento são
sentimentos perceptíveis nas falas dos entrevistados.
No CREN, o resultado foi o mesmo: todas as entrevistadas falaram com carinho,
admiração e prazer em atuar na entidade, porém motivadas pela causa e os resultados obtidos,
isto é, quando a criança recupera seu peso e as famílias mudam seus hábitos nutricionais. O
vinculo emocional também está presente na fala das entrevistadas.
A título de evidências empíricas, seguem trechos das entrevistas que suportam as
análises apresentadas, além de uma visão de rede, que representa algumas citações associadas
ao componente “comprometimento afetivo” (Figura 44):
Os valores da organização correspondem aos valores que eu tenho para mim e para a minha vida. Então,
não é que eu tenho que comprar esse valor, esse valor me corresponde. (código 11 do CREN)
O coleguismo. Foi a primeira empresa que trabalhei que realmente os colegas de trabalho são 100%, a
partir da Diretoria, sabe? É aquela coisa gostosa, quando você vai para o trabalho, você pode trabalhar
tranquila e feliz. (código 11, do CREN)
Eu acho que tem que ter um envolvimento da pessoa com aquela criança que eu tô falando, sei lá, tô
falando com uma criança que tem dificuldade de aprendizagem, eu não vou medir esforços, vou tentar
buscar alternativas. (código 11, do CREN)
O ambiente é muito bom, os colegas mesmo. Isso me deixa feliz em trabalhar aqui. A minha atividade
em si é muito prazerosa. Como eu sempre gostei de investigar, de coisas novas (código 5, da BRAILE)
A gente trabalha para salvar vidas, né? Então comprometimento vem. Por que você não faz assim? É
isso que a gente fala, não é uma pastelaria, ou outra coisa nesse sentido. O que a gente faz é salvar vidas
mesmo. Então, o produto que estamos fazendo vai ser colocado numa pessoa. De repente, pode até ser
uma pessoa da família, a gente nunca sabe, né? Por isso, precisa ser feito com comprometimento, né?
(código 7, da BRAILE)
A Inovação, vamos dizer, ela parte da ideia, da pesquisa, de estudo, e se você não estiver comprometido
com a causa, esperando que as coisas cheguem até você, e aí eu acho que você não está de acordo, não
123
está comprometido. A gente precisa por nós mesmos, é agir sempre: ação, estudar, procurar soluções,
porque as soluções não vêm até nós. Isso é uma forma de comprometimento com a inovação, com que a
chama de P&D&I, precisa de proatividade. (código 5, da BRAILE)
Segundo Mowday (1979), o comprometimento afetivo é desencadeado por
experiências anteriores de trabalho, especialmente aquelas que satisfizeram necessidades
psicológicas do indivíduo, levando-o a se sentir confortável dentro da organização e
competente em sua função. São indicadores do comprometimento afetivo: a felicidade do
indivíduo em dedicar o resto de sua carreira à organização, a percepção de que os problemas
organizacionais pertencem a ele, o forte senso de integração com a organização, o vínculo
emocional mantido com ela e o imenso significado pessoal proporcionado.
Na BRAILE, a maioria da equipe tem muitos anos de empresa, e os fatos,
considerando a teoria, demonstram que as suas necessidades psicológicas foram atendidas
nesse período, o que resulta no sentimento de pertencimento e satisfação apresentados.
Questionados sobre o que projetavam para as suas carreiras, todos os entrevistados afirmaram
pretender continuar na empresa, em cargos maiores ou nos atuais, mas com maior
abrangência, evidenciando total satisfação com a situação atual. Ressalta-se, com fins de
contextualização, que a estrutura atual de P&D&I era relativamente recente, na época da
pesquisa.
Outro indicador também confirmado é o fato do indivíduo perceber os problemas
organizacionais como sendo dele. A crise financeira enfrentada pela BRAILE, o afastamento
do Dr. Domingos, que está acamado, e até a venda frustrada de alguns produtos, sempre
estiveram presentes nas falas dos entrevistados, evidenciando o entendimento da seriedade
dos fatos, o impacto nos resultados da empresa e, por consequência, no seu dia a dia.
O último indicador também fortemente evidenciado nas falas dos entrevistados, refere-
se ao vínculo emocional mantido com a empresa e o imenso significado pessoal entre ambos.
A figura marcante e inspiradora do Dr. Domingos, a coerência entre suas palavras e ações
nessa área, levaram à equipe o desenvolvimento desse vínculo emocional com a empresa e a
causa em si (Figura 44).
No CREN, os indicadores também se confirmam, mas em intensidade e forma
diferentes. Todos os entrevistados têm clareza da importância dos resultados para se receber
verbas das parcerias e também doações. Os problemas da entidade são entendidos e sentidos
como sendo problemas pessoais de cada um, evidenciando um forte senso de integração com
a organização. O vínculo emocional manifestado nos entrevistados, apresenta um imenso
significado pessoal com a entidade, reforçado por duas variáveis: sentimento de
124
pertencimento ao negócio (ser informado, ter suas ideias consideradas, liberdade e confiança
no desempenho do trabalho, por exemplo) e o contato direto com a criança e o prazer de
poder influenciar no seu desenvolvimento (Figura 43).
O resultado da pesquisa mostrou elevada aderência com a teoria, pois na fala de todos
os entrevistados ficou explicitado o prazer que sentem em trabalhar em suas organizações,
pela identificação da causa, independentemente do tipo de negócio (fins econômicos ou
sociais). A BRAILE espera resultado financeiro (lucro), e o CREN, resultado em percentuais
de crianças e famílias recuperadas, que mudaram seus hábitos de nutrição. Outra constatação
nas entrevistas, que é aderente à teoria, é que todos os entrevistados tinham consciência e
praticavam o “fazer algo mais” em benefício da organização, quer no desempenho do seu
cargo ou no auxílio de colegas em outras áreas (Figura 43).
Observar como os indivíduos “percebem” o seu contexto organizacional é
fundamental para a formação de atitudes e comportamentos de trabalho (Rosen, Chang,
Johnson, & Levy, 2009). A percepção, ou seja, como o funcionário interpreta a ação da
empresa, influenciará a sua atitude (crença e decisão interna) e, consequentemente, o
comportamento a ser adotado (manifestação externa). Se a percepção for positiva, a
identificação é mais forte e a obtenção do comprometimento tem mais chance de ocorrer
(Ngo et al., 2013). Conseguir identificar, pois, as variáveis-chaves na ligação do trabalhador
com a organização (Aryee & Heng, 1990) é algo essencial. Isso pode ser motivado por:
aumento e/ou manutenção do volume de negócios (Mowday et al., 1979), qualidade do
desempenho (Koch & Steers, 1978; Mowday et al., 1979), diminuição do absenteísmo e
rotatividade (Steers, 1977).
125
Figura 44 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Comprometimento Afetivo”
Fonte: Dados da pesquisa.
126
4.5.2 Comprometimento Normativo
O sentimento de ser grato, de dever algo para a empresa, que lhe tira a liberdade
interna de sair da empresa, é a base do Comprometimento Normativo, segundo o significado
que emergiu do campo.
Nas entrevistas, surgiram falas que evidenciaram esse tipo de comprometimento: o
sentimento de gratidão para com a empresa, quer no apoio recebido para estudar, quer pelas
promoções de cargo ou mesmo pelo reconhecimento dos resultados. Porém, em nenhuma
delas ele foi manifestado como motivo para não deixar a empresa.
Conforme Rodrigues e Bastos (2013), comprometimento não é a permanência por
necessidade; a continuação no curso de ação devido à perda de investimentos, aos sacrifícios
pessoais ou à limitação de alternativas. Trata-se de um vínculo, estabelecido entre o indivíduo
e a organização, mas que não se inclui no conceito de comprometimento organizacional.
Na BRAILE, a média de tempo de empresa da equipe de P&D&I gira em torno de 13
anos. Alguns são filhos de funcionários que trabalharam na BRAILE e/ou entraram como
estagiários, o que gerou um vínculo emocional com o Dr. Domingos e, consequentemente,
com a empresa. O sentimento de pertencer, de lealdade e obrigação moral perante a empresa é
evidente na fala dos entrevistados; porém, eles permanecem na empresa por decisão própria e
não por se sentirem obrigados por um dever moral. Todos afirmaram que ficariam tristes se
tivessem que deixar a empresa, hoje.
No CREN, o Comprometimento Normativo se apresenta de forma diferente. A
possibilidade de fazer o bem para o outro, por meio do trabalho, gera um sentimento de
felicidade e gratidão. Outro motivo, segundo as entrevistadas, que gera lealdade, é a forma
como são tratadas por seus superiores imediatos. Todas disseram que ficariam tristes se
tivessem que deixar a empresa, hoje. Não houve evidências de que a permanência na entidade
se dê por dever moral.
Portanto, obrigação, dever moral e lealdade, base da teoria (Rodrigues & Bastos,
2013), não foram sentimentos manifestados pelos entrevistados. Gratidão, sim, mas, acima de
tudo, comprometimento com a missão da empresa (BRAILE) e a forma como são tratados
(CREN).
Para evidenciar essas argumentações, seguem alguns relatos dos entrevistados, bem
como uma visão de rede, com algumas citações, recuperadas a partir do software Atlas Ti.
(Figura 45).
127
Por tudo que já passei aqui, e fiquei aqui, eu acho que, hoje, isso aí não me atrairia nada. (código 7, da
BRAILE)
O Dr. Domingos sempre foi assim, né? Ele médico, cardiologista, junto com a mulher dele queria fazer
válvula. Usava o pericárdio de pele bovina. Ele resolveu montar uma empresa, porque não tinha
produto nacional, que é o produto mais em conta, para poder vender para o SUS, nesse patamar. Ai,
então, ele montou a empresa e começamos trabalhando com válvula cardíaca, então eu fui um dos
primeiros que começou a trabalhar com ele. (código 7, da BRAILE)
Eu tenho esse compromisso ético com a empresa, tipo tenho que encerrar esse projeto, essa atividade,
eu jamais deixaria essa atividade no meio do caminho, né? A não ser, óbvio, por decisão do outro lado,
por decisão do empregador, mas eu não deixaria. (código 2, da BRAILE)
Talvez eu traga um pouco da relação com o fundador da empresa. Ele sempre me deu muita liberdade
para desenvolvimento, sempre contribuiu muito com o meu trabalho, então é não só por dívida de
gratidão, mas sempre tem isso associado. (código 2 da BRAILE)
Estou aqui porque você tá aqui. Porque você orienta a gente, porque você dá essa liberdade pra gente,
porque você deixa a gente fazer as coisas como a gente deseja fazer e aposta junto para ver onda dá.
(código 11 do CREN)
De acordo com Meyer e Allen (1997), os indivíduos permanecem na organização
porque sentem que têm obrigação de retribuir tudo que receberam dela e de continuar na
organização por gratidão. Os indicadores dessa dimensão são: sentimento de obrigação do
indivíduo em permanecer na organização; o fato de não achar certo, mesmo sendo vantajoso
para ele, deixá-la naquele momento; o sentimento de culpa, caso isso aconteça; sua lealdade
perante ela.
Nos dois casos, tanto na BRAILE, como no CREN, o sentimento de gratidão está
presente em todos eles, mas não é o motivo que os faz continuarem trabalhando nessas
empresas. De uma forma geral, o que os motivam são o recebimento de um salário compatível
com o cargo/mercado, desenvolvimento na carreira profissional, sentirem-se relevantes no
alcance de uma causa: salvar vidas por meio de produtos ou orientação e cuidados nutricionais.
128
Figura 45 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Comprometimento Normativo”
Fonte: Dados da pesquisa.
129
4.5.3 Comprometimento Instrumental
O significado que emergiu do campo sobre Comprometimento Instrumental tem como
fator-chave a "necessidade". As pessoas permanecem na empresa pelos seguintes motivos:
investimento feito pelo indivíduo, posições alcançadas, salário, benefícios e falta de
alternativa no mercado.
Nas entrevistas, o sentimento de ter necessidade de trabalhar nas empresas estudadas,
por não terem opções no mercado não foi evidenciado; ao contrário, alguns chegaram a
receber convite para sair, mas não aceitaram. O motivo alegado para a não aceitação era o
ambiente do trabalho, tanto na área de P&D&I, como na empresa em geral.
Tanto na BRAILE como no CREN, manter os salários na faixa do mercado é
preocupação da área de RH e, na prática, isso ocorre. Por esse motivo, mesmo nas questões
que abordavam o tema salário, a maioria afirmou que as condições salariais estavam na média
do mercado e eles se sentiam satisfeitos.
Abaixo, estão trechos das falas dos entrevistados para sustentar a argumentação, bem
como proporcionar uma visão de rede, gerada a partir do software Atlas Ti. (Figura 46).
Olha, honestamente, quando a pessoa está comprometida, o fator mais importante não é o salário, e eu
demorei muito para aprender isso. (código 10, do CREN)
Remuneração, óbvio, isso faz parte da minha vida. (código 12, do CREN)
Para sair da empresa, a proposta tem que ser muito boa, não só pelo fator salário, mas pela posição que
eu conquistei aqui, o relacionamento que tenho aqui dentro, pelo meu projeto de vida. Então, é algo que
tem que ser muito melhor do que aqui. (código 6 da BRAILE)
É lógico, uma boa remuneração sempre ajuda a crescer mais, né, mas não acho que seja o ponto que faz
a diferença, não. (código 7, da BRAILE)
130
Figura 46 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Comprometimento Instrumental”
Fonte: Dados da pesquisa.
131
4.5.4 Comprometimento de Equipes de P&D&I
O significado que emergiu do campo sobre Comprometimento de Equipes de P&D&I
foi de que a dinâmica dessa área está associada ao trabalho em equipe e ao comprometimento
dos líderes e dos liderados, pois como cada um é responsável por uma parte do processo, se
não houver sinergia e envolvimento entre essas funções, o resultado poderá ser algo diferente
do esperado.
Tanto na BRAILE como no CREN, constatou-se, a partir das respostas dos
entrevistados, que o comprometimento se faz presente nas equipes e também na direção de
P&D&I. O desempenho das lideranças é reconhecido como fator gerador do
comprometimento das equipes, na medida em que estabelecem diretrizes, parâmetros para as
atividades e fazem o acompanhamento dos processos. A equipe sabe que caminho seguir, o
resultado e o padrão esperado. A causa (Missão) de ambas também têm um grande peso no
caminhar da equipe para a mesma direção.
Na sequência, estão trechos de entrevistas que evidenciam a argumentação acima, bem
como fornecem uma visão de rede, gerada a partir do software Altas Ti. (Figura 47).
Se você tem comprometimento com aquilo que você vai fazer, não tem nada que te impeça do serviço
sair bem feito. (código 14, do CREN)
Funcionário comprometido inova mais. Eu tenho duas pessoas aqui dentro, um nutricionista e um
educador físico, eles fizeram uma proposta para os adolescentes nas férias. (código 11, do CREN)
Eu tenho um elo com aquilo e eu quero que aquilo aconteça. E estou ali conectada com aquele objetivo.
(código 3, da BRAILE)
Quanto mais comprometimento ela tiver com o trabalho, mais a coisa vai sair, mais inovadora, mais
fácil vai atingir aquilo que a empresa, o nosso produto ou serviço tenha que fazer. (código 4, da
BRAILE)
Equipes cuja intenção é criar produtos de alto valor, requerem comando com
alinhamento do resultado (Katzenbach & Smith, 1993). Comprometimento em equipe, requer,
além disso, o cumprimento das suas atribuições, sendo que os membros devem ter um olhar
voltado para as melhorias, dar ideias e sugestões, estar aberto a feedbacks e saberem lidar com
frustrações e com limitações de tempo e material. Tanto na BRAILE como no CREN, a
existência do comprometimento em equipe ficou evidente na fala dos entrevistados, que
conhecem e valorizam as atribuições dos seus colegas, e o receber feedback já faz parte das
rotinas das duas empresas (Figura 47).
132
Figura 47 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Comprometimento de Equipes de P&D&I”
Fonte. Dados da pesquisa.
133
4.5.5 Ausência de Comprometimento
Essa categoria, inicialmente, não foi incluída no Modelo Conceitual, mas, ao se
analisar o resultado, surgiu um tipo de comprometimento para com o trabalho que não se
enquadrava em nenhum dos comprometimentos anteriores (afetivo, normativo e instrumental)
que é a Ausência de Comprometimento. No relato, os gestores entrevistados disseram o que
entendem por "ausência de comprometimento", chegam a citar comportamentos típicos que,
segundo o seu ponto de vista, indicam que a pessoa não está comprometida, porém, conforme
constatado durante a entrevista e também na compilação dos dados pelo Atlas Ti, não há
coocorrência desse componente com nenhum outro, ou seja, os entrevistados afirmam que
apesar de saberem o que significa "ausência de comprometimento", esse comportamento não
é manifestado por nenhum membro da sua equipe.
Nos trechos abaixo, parte da fala dos entrevistados é reproduzida, evidenciando essa
argumentação, bem como a visão de rede, gerada a partir do software Atlas Ti. (Figura 48).
Se eu preciso de um ventilador, por que vou deixar o recurso ir embora? Tem pessoas que eu vejo que
deu o horário, vai embora, ah, tenho que fazer A, B e C. Fez o A, B e o C não resolveu, eu fiz o meu
papel. (código 11, do CREN)
Se a pessoa começa a não atender, não começa a entregar, é aí a hora de reformular. (código 1 da
BRAILE)
Eu já tive funcionários não tão comprometidos. Esses funcionários não tão comprometidos, tinham
alguns problemas, e essas pessoas praticamente se escondiam ou elas estão ali e em determinado
momento, por exemplo, num momento ou outro, que eu precisasse ou que as pessoas estivessem vendo,
que eu estava precisando de apoio, uma hora extra, uma dedicação maior em alguma coisa, essas
pessoas não estão preocupadas com isso, são pessoas que realmente não se preocupam. (código 5 da
BRAILE)
Você começa a ver que não tem esse comprometimento, e aí é hora de dar oportunidade dele achar o
que gosta também, mudá-lo de setor internamente ou ir para o mercado buscar outra área que se
identifique mais. (código 1, da BRAILE)
Tanto na BRAILE como no CREN, os entrevistados, em resposta ao questionamento
sobre o tema, relacionam alguns comportamentos que, segundo seu entendimento, são
indicadores de que o profissional não está comprometimento com a empresa. Porém, apesar
de entenderem o que é "Ausência de comprometimento", afirmam não existir esse fenômeno
dentro da equipe de profissionais da área de P&D&I.
134
Figura 48 – Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Ausência de comprometimento”
Fonte: Dados da pesquisa.
135
4.5.6 Eficiência
Eficiência pode ser entendida como uma forma de comportamento do indivíduo que,
além de atingir seus objetivos, ainda o faz de modo a utilizar da melhor forma os seus
recursos, em um prazo adequado, seja economizando-o ou extraindo o total de seu potencial
(significado que emergiu do campo). Tanto na BRAILE como no CREN, o uso consciente dos
recursos pela equipe de P&D&I ficou evidente nos discursos dos entrevistados.
Na BRAILE, a equipe de P&D&I tem clareza da relação entre custo e benefício, e a
importância dos prazos. São profissionais com muitos anos de "casa" e acompanham de perto
a vida financeira da empresa. No CREN, a consciência por parte dos envolvidos também
existe; por ser uma ONG e a verba vir de parcerias e doações, o seu uso adequado é
primordial. Tanto na BRAILE como no CREN, reuniões frequentes são realizadas entre a
direção e a equipe, o que permite a todos ter conhecimento dos resultados do negócio e atuar
de forma a obter o máximo da eficiência.
Para ilustrar, abaixo está a transcrição de parte da fala dos entrevistados, indicando a
preocupação com a eficiência do grupo, além da visão de rede, gerada a partir do software
Atlas Ti. (Figura 49)
Eu tenho que usar recursos financeiros da instituição de uma maneira que o recurso seja efetivo. Então
eu vou perseguir essa meta. Não vou deixar o dinheiro escapar pelo ralo. (código 1, do CREN)
Dedicação de todos os colaboradores na busca constante da inovação e da excelência, fazendo certo da
primeira vez. (código 3, da BRAILE)
Então, a equipe precisa desse comprometimento, para conseguir entregar as coisas no prazo, porque
senão o projeto não sai do conceitual dele. (código 1, da BRAILE)
Segundo Mendez (2009), o conceito de eficiência, de forma geral, está relacionado à
melhor utilização dos recursos para atingir um objetivo. Tanto na BRAILE como no CREN,
portanto, a equipe de P&D&I têm consciência da relação custo x benefício dos produtos ou
serviços oferecidos (Figura 49).
136
Figura 49 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Eficiência”
Fonte: Dados da pesquisa.
137
4.5.7 Envolvimento
O significado, que emergiu do campo sobre envolvimento, diz respeito ao ato ou efeito
de engajar-se com os valores e atividades da organização.
Na BRAILE e no CREN, essa atitude de admiração e dedicação às suas atividades é
explícita nas falas dos entrevistados. A responsabilidade e a forma diferenciada com que
desempenham suas funções, demonstram o quão envolvidas estão as equipes com o negócio.
Abaixo, estão trechos de citações nas entrevistas, que ilustram a argumentação acima,
além de fornecer a visão de rede, gerada a partir do software Atlas Ti. (Figura 50).
A gente lida com crianças que vêm de uma classe bem baixa. Então eu procuro proporcionar o melhor
para elas, para que se sintam bem melhores aqui do que em suas casas. (código 13, do CREN)
Até nos próprios congressos, nós, envolvidos aqui com o desenvolvimento, damos aula, palestras, como
é o dia do desenvolvimento. Então, a BRAILE não coloca a gente como simples coadjuvantes. Ela
ressalta o profissional. Isso, para a carreira profissional de cada um, particularmente, é muito
importante, a gente acaba ganhando destaque. (Código 5, da BRAILE)
O que me deixa infeliz é quando a empresa produz e não consegue receber. (Entrevistado 7, da
BRAILE)
Uma vez por mês, elas fazem uma Parada Pedagógica; então, elas sempre informam o que está
acontecendo: se ganhou prêmios, se está participando de algum projeto. Sempre na Parada, ela dá
explicação, se perdeu, do que está acontecendo, entendeu? As mudanças, já tivemos muitas, né, sempre
assim, uma vez por mês tem uma Parada Pedagógica. Daí a gente participa; então, todo mundo
participa. (Código do 13, do CREN)
138
Figura 50 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Envolvimento”
Fonte: Dados da pesquisa.
139
4.5.8 Flexibilidade
O significado que emergiu do campo sobre flexibilidade envolve a capacidade de
realizar múltiplas atividades e ter a qualidade de compreender, aceitar ou assumir as ideias ou
pensamentos de outros indivíduos.
Na equipe de P&D&I da BRAILE, esse componente está presente, pois a ação de
inovar requer a atuação de várias áreas, com olhar específico de cada uma. Nos relatos dos
entrevistados, fica claro que as ideias e sugestões são bem-vindas e até estimuladas; afinal, é
um processo que envolve variadas expertises. O desempenho de múltiplas atividades, por
conseguinte, é, com isso, também confirmado.
No CREN, a flexibilidade está igualmente presente, mas por exigências diferentes,
uma vez que a atuação da maioria da equipe de P&D&I se dá diretamente com pessoas (as
crianças e as famílias) e, cada uma delas, traz uma necessidade própria, oriunda da sua
condição social e emocional. A capacidade de entender e atender essa demanda é uma forte
comprovação de flexibilidade e "jogo de cintura" (“nome” popular dessa competência). A
flexibilidade e a realização de múltiplas atividades são características do desempenho da
equipe de P&D&I, conforme indicado nos relatos das entrevistas realizadas.
Abaixo, estão reproduzidos trechos de citações dos entrevistados para ilustrar os
argumentos acima e a visão de rede, gerada a partir do software Atlas Ti. (Figura 51)
A gente tem total liberdade de estar buscando novas informações, novas técnicas, agregando novos
valores, novos conhecimentos durante os projetos. Ele dá esta liberdade para gente. (código 6, da
BRAILE)
O L. é muito, muito, muito aberto a opiniões. Isso favorece muito. Ele não é uma pessoa fechada, com
as ideias dele e acho o que favorece mesmo é que ele se coloca numa situação de igualdade. Então, a
gente se sente como parte daquilo. (Código 5, da BRAILE)
Uma área específica para isso é a forma como a gente se relaciona com cada pessoa, de ouvir a pessoa,
de atender a necessidade que a pessoa tem. O líder de cada área acolhe aquela necessidade e avalia. Não
havendo nenhum prejuízo maior, ele tem autonomia para decidir como atender. Se fugiu da regra, ela
conversa e pensamos numa alternativa. (Código 10, do CREN)
Abertura é fundamental para a inovação (Código 8, do CREN)
Classificada como uma competência comportamental, a flexibilidade é um
comportamento pessoal indicativo da capacidade de se relacionar com diferentes pessoas,
atividades e estratégias para atingir resultados (Rabaglio, 2010). Há aderência entre a teoria e
o comportamento dos membros das equipes de P&D&I da BRAILE e do CREN, resultado da
cultura de ambas as entidades, que estimulam e criam oportunidades para que haja
relacionamentos entre todos (Figura 51).
140
Figura 51 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Flexibilidade”
Fonte: Dados da pesquisa.
141
4.5.9 Proatividade
Entende-se como proatividade a identificação de oportunidades e comprometimento com as
mudanças, na busca de resultados positivos (significado que emergiu do campo).
Na BRAILE, a política de inovação tem como foco a proatividade, fato marcante pela
inquietação e paixão do seu fundador. Desde o início do negócio, segundo relatos dos entrevistados, o
Dr. Domingos tem, constantemente, estimulando ações para antecipar e identificar no mercado a
necessidade de novos produtos ou melhoria dos já existentes. Nos últimos anos, com a nova política
de atuação da equipe de P&D&I, que permite aos colaboradores assistirem procedimentos em
hospitais, realizar palestras e apresentações em congressos, conversar com médicos, segundo os
entrevistados, trouxe outro dinamismo para a área, ao perceber, de forma rápida e precisa, o que o
mercado sinalizava.
No CREN, a proatividade está igualmente presente, tanto por parte da equipe de P&D&I, no
dia a dia, como por parte da gestão da entidade. Por intermédio das reuniões, denominadas “Paradas
Pedagógicas”, as ações e ocorrências são discutidas e decisões tomadas, em caráter preventivo,
evidenciando-se aí a proatividade.
Tanto na BRAILE como no CREN, o conhecimento é buscado incessantemente, seja por
meio de pesquisa própria da equipe de P&D&I, seja em parcerias com universidades ou, ainda, pela
troca de experiências com profissionais ou especialistas na área. Abaixo, está a transcrição de trechos
das respostas dos entrevistados, que exemplificam a argumentação acima, além explicitar a visão de
rede gerada a partir do Atlas Ti. (Figura 52).
Ser uma pessoa proativa, porque a minha área exige isso, porque no mesmo momento que você está na sala de
aula, ajudando a professora, você tem que medicar, tem um ponto infeccionando. Então, assim, tem que ter
agilidade porque senão, não dá conta. (código 14, do CREN)
A gente tem uma visão de fazer o melhor. A gente está sempre estudando, se aperfeiçoando, buscando o que há de
novo no mercado; procura contato com os clientes, com os médicos, para saber o que há de mais moderno; e a
gente vai aprimorando o que nós já temos, e desenvolvendo novos produtos, observando o que o mercado está
pedindo. O ideal é sempre inovar. (código 7, da BRAILE)
Conexão com a totalidade, com a capacidade de olhar a totalidade, né, e de pensar com todos aqueles fatores, como
eu posso, tenho a liberdade de reorganizá-los para solucionar o problema. Então, também tem a ver com a dor de
um problema que me incomoda, de falar “putz”, mas isso aqui não pode ficar assim. Tem que arrumar uma
solução para esse negócio. (Entrevistada 8, do CREN)
Ativamente, eles vão buscando novos conceitos, novos conhecimentos. Costumam ser proativos nesse sentido, de
buscar conhecimento. (código 1, da BRAILE)
Indivíduos proativos têm a intenção de selecionar, criar e influenciar situações de trabalho,
aumentando a probabilidade de sucesso na carreira (Fuller & Marler, 2009). O resultado da pesquisa
junto aos dois negócios, evidencia aderência à teoria, pelos resultados obtidos e posições alcançadas
nas carreiras dos membros da equipe de P&D&I (Figura 52).
142
Figura 52 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Proatividade”
Fonte: Dados da pesquisa.
143
4.5.10 Responsabilidade
Responsabilidade, nesse contexto, é a conscientização do dever de arcar com as
consequências das atividades de P&D&I (significado que emergiu do campo).
Na BRAILE e no CREN, os profissionais de P&D&I têm consciência da sua
responsabilidade no processo, pois o produto ou serviço que realizam envolve vidas, seja na
colocação de uma válvula no coração de um paciente, seja no tratamento da subnutrição de uma
criança. Se um desses procedimentos falhar e/ou algum tipo de erro de orientação acontecer, pode
ser fatal para o paciente. Em suas falas, durante a entrevista, por diversas vezes, os entrevistados,
de uma forma ou de outra, evidenciaram o seu grau de consciência no que tange à
responsabilidade nas suas atividades.
Na sequência, para dar consistência às argumentações acima, trechos das respostas dos
entrevistados, bem como a visão de rede, gerada a partir do software Atlas Ti. (Figura 53) são
destacados.
A gente trabalha com um produto muito específico, que é salvar vidas e é diretamente usado na cirurgia,
então, por isso, que vem a responsabilidade. (código 6, da BRAILE)
Tudo que eu vou fazer, eu não tenho que pensar que é mais um produto que estou fazendo. É o produto que
pode ser usado por um parente meu, uma mãe, um tio e pode ser por qualquer outra pessoa. Então, a
responsabilidade é muito grande. (código 6, da BRAILE)
Preocupação de que as pessoas entendam a importância da contribuição delas no todo. É, eu não gosto da
palavra função. Eu prefiro responsabilidade. Qual é a minha responsabilidade? (código 8, do CREN)
Mas isso aqui não pode ficar assim, tem que arrumar uma solução para esse negócio. (código 8, do CREN)
Segundo Gouveia, Vasconcelos, Queiroga, França e Oliveira (2003), a responsabilidade
pode ser classificada em social e pessoal: na responsabilidade social, o indivíduo atua sem buscar
benefícios para si ou para as pessoas do seu grupo, estabelecendo a interação com outros; na
responsabilidade pessoal, há a busca por ajustes às normas estabelecidas por seus grupos de
pertencimento, a fim de conseguir a aprovação dos seus membros e, ao mesmo tempo, manter
uma imagem positiva diante de si mesmo e dos outros, contemplando a noção de um indivíduo
cumpridor daquilo a que se propõe.
Na BRAILE e no CREN, considerando as falas dos entrevistados, a equipe de P&D&I
atua com base na responsabilidade social, em que os interesses da organização estão acima dos
interesses pessoais. O foco está nos resultados da área como um todo, e não de um indivíduo em
particular. Essa consciência pode ser observada na fala de todos os entrevistados, tanto em um
como no outro negócio. As diferenças pessoais e suas expertises são consideradas, desde que
alinhadas ao alcance dos resultados (Figura 53).
144
Figura 53 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Responsabilidade”
Fonte: Dados da pesquisa.
145
4.5.11 Visão Sistêmica
Entenda-se, para fins deste trabalho, visão sistêmica como compreensão da
organização como um todo, integrando colaboradores e departamentos (significado que
emergiu do campo).
O esforço e estratégia para propiciar à equipe a visão do todo está presente tanto na
BRAILE como no CREN. Na BRAILE, além do estilo de liderança do Gerente de P&D&I
que, no dia a dia, direciona , desenvolve e acompanha o seu produto nas suas outras fases do
processo, há a estratégia adotada pelo seu Diretor Executivo, possibilitando à equipe de
P&D&I acompanhar in loco a utilização e divulgação dos seus produtos; seja conversando
com médicos, acompanhando uma cirurgia ou participando como palestrante em congressos.
Para isso, esse profissional, além do seu conhecimento da atividade, precisa ter uma visão de
toda a empresa, a fim de desempenhar essa função a contento no campo.
No CREN, a visão sistêmica é uma grande preocupação da Gerente Geral e, também,
de todos os Gestores de área. Por estarem dispersos, em bairros e/ou Unidades em diferentes
localidades, o alinhamento de assuntos e atualização das informações ocorrem durante as
Paradas Pedagógicas, que são mensais, com pauta variada e sobre os assuntos mais relevantes
ao grupo, segundo a fala dos entrevistados. Assim, ao final, todos ficam sabendo o que está
ocorrendo, o porquê de determinadas ações, os resultados, premiações, visitas, campanhas de
arrecadação, enfim, acabam tendo uma visão de tudo o que é pertinente ao grupo dentro da
instituição.
Na sequência, há trechos de relatos dos entrevistados para exemplificar a questão
desse componente no processo, bem como a visão de rede, gerada a partir do software Atlas Ti.
(Figura 54).
Então, hoje o que eu faço com muita frequência é colocar a pessoa que projetou e está trabalhando no
projeto juntos. Você projetou, montou ou fez o relatório, então eu preciso que você vá lá e acompanhe a
realização do teste. (Código 2, da BRAILE)
Outra coisa que tenho trazido é aproximar o pessoal do suporte técnico da BRAILE, junto ao
desenvolvimento, porque, afinal das contas, eles estão no campo, no centro cirúrgico, em contato com o
médico, vendo os produtos da concorrente muito mais vezes do que a gente, que está aqui dentro.
Então, aproximá-los ajuda a gente a reduzir o tempo de projeto e projetar as coisas mais rapidamente
para atender àquelas necessidades. (Código 2, da BRAILE)
Tem uma atenção aos gerentes de Unidade e aos outros gerentes, a que os nossos colaboradores (hoje,
temos quase 100 colaboradores), entendam as razões pelas quais eles fazem, né, e que se, em
determinado momento, não tá claro, a gente precisa retomar e se não está adequado, a gente precisa
inovar. (Código 8, do CREN)
Tem que olhar a totalidade dos fatores, considerar tudo, pra considerar as melhores decisões. (Código 1,
do CREN)
146
Segundo Rabaglio (2010), visão sistêmica é a capacidade que o funcionário tem de
visualizar o todo, fazendo análises parciais e totais para a tomada de decisão, que leva aos
resultados esperados.
O comportamento dos membros da equipe de P&D&I, tanto da BRAILE como do
CREN, evidenciou, por suas falas, que todos possuem essa visão, sendo uma das ações que
favoreceram essa competência as reuniões periódicas que a BRAILE realiza com a equipe, e o
CREN, por meio das Paradas Pedagógicas. Nesses encontros, os membros das equipes,
juntamente com o de outras áreas, são informados acerca dos assuntos relacionados ao
negócio, que estão acontecendo, as áreas envolvidas e os resultados esperados de cada um
(Figura 54).
147
Figura 54 - Visão de rede que representa algumas citações associadas ao componente “Visão Sistêmica”
Fonte: Dados da pesquisa.
148
Abaixo, está a síntese intracaso da categoria central de análise “Comprometimento em
Equipes de P&D&I” (Figura 55).
Figura 55 - Síntese intracaso da categoria central de análise “Comprometimento em Equipes de P&D&I”
Categoria central de
análise
“Comprometimento em
Equipes de P&D&I”
Caso 1
BRAILE
Caso 2
CREN
Constatações
decorrentes da
discussão intracaso
Comprometimento
afetivo
A equipe de P&D&I
apresentou elevado
comprometimento afetivo,
com forte identificação
emocional com a atividade,
a empresa e, em especial,
com seu fundador.
A equipe de P&D&I
apresentou elevado
comprometimento
afetivo, com forte
identificação perante a
causa, os resultados e a
gestão, como um todo.
A ligação emocional
com a empresa, gerada
pela identificação com
a causa, a atividade e a
gestão, leva à obtenção
do comprometimento
afetivo, no NT e no
NIS.
Comprometimento
normativo
Na equipe de P&D&I, a
gratidão pela empresa e seu
fundador está presente, mas
não é o único motivo que a
faz ficar. Sentir-se
valorizada, com
desenvolvimento
profissional, é um fator que
leva à permanência.
Não há obrigação de
ficar, mas uma
identificação com a
causa. A equipe de
P&D&I permanece pelo
prazer de atuar na
entidade e por se sentir
relevante no processo.
A obrigação de se
manter no negócio não
é o motivo da
permanência da equipe
de P&D&I no NT e no
NIS, apesar de haver
gratidão e lealdade à
causa e à empresa.
Comprometimento
instrumental
A equipe de P&D&I se
mantém na empresa por
desejo pessoal e não por
sentir que, se sair, sofrerá
custos dessa decisão.
A equipe de P&D&I se
mantém na empresa por
desejo pessoal e não por
sentir que haverá perdas
com o processo de saída.
A permanência no NT e
no NIS se dá por
identificação e não pelo
sentimento de perdas
envolvidas numa
eventual saída.
Ausência de
Comprometimento (*)
Gestores sabem o que
significa "ausência de
comprometimento" mas
afirmam não haver
manifestação desse
comportamento na equipe
de funcionários.
Gestores sabem o que
significa "ausência de
comprometimento" mas
afirmam não haver
manifestação desse
comportamento na equipe
de funcionários.
Gestores do NIS e NT
sabem o que significa
"ausência de
comprometimento, mas
afirmam não haver esse
comportamento nas
suas equipes.
Comprometimento de
equipes de P&D&I. (*)
A gestão de P&D&I e fluxo
de atividade estabelecida,
resulta em sinergia da
equipe e comprometimento
dos líderes e liderados.
Há elevado
comprometimento da
equipe de P&D&I, cuja
atuação se entrelaça com
as outras atividades de
monitoramento e de
atendimento da entidade.
Missão clara, gestão
alinhada, recursos,
qualificação, processos
e monitoramento
corroboram a obtenção
do comprometimento
da equipe de P&D&I,
no NT e no NIS.
Eficiência (*)
O uso racional do tempo
versus recurso está presente
na atuação da equipe de
P&D&I.
A equipe tem consciência
da utilização da verba de
forma racional e
assertiva.
É o resultado de
processos ajustados ao
propósito do NT e do
NIS, sendo eles
monitorados e
compartilhados com a
149
equipe de P&D&I.
Envolvimento (*)
Existe e é estimulado por
estratégias da empresa que
elevam o sentimento de
pertencimento do
funcionário (participar de
congressos, por exemplo).
Existe e é estimulado por
estratégias da empresa
que elevam o sentimento
de pertencimento do
funcionário (Parada
Pedagógica é uma delas).
É uma atitude
individual, estimulada
por ações do NT e NIS,
que promovem a
elevação da autoestima
e estimulam o prazer de
atuar.
Flexibilidade (*)
Alterar, mudar, aprimorar o
produto é rotina na área de
P&D&I.
Competência técnicas e
também relacionais são
demandas dos membros de
equipe de P&D&I, na sua
maioria, com formação em
Engenharia, acostumada a
trabalhar com projetos, que
envolvem várias etapas na
sua produção.
Lidar com pessoas requer
"jogo de cintura" do
profissional, pois não há
um padrão comum de
resposta, isto é, cada caso
é um caso.
A equipe de P&D&I,
composta por
profissionais com
formação na área de
humanas e saúde e, pela
própria natureza da
formação, apresentam
competências técnicas e
também relacionais.
Atitude pessoal de cada
profissional no NT e no
NIS requer alguns
fatores, tais como:
formação acadêmica do
membro da equipe;
estímulo e postura por
parte do gestor;
motivação pessoal; e
competências técnicas e
também relacionais.
Proatividade (*)
A inovação é premissa do
negócio, desde a sua
declaração de Missão e
exemplo de atuação do seu
fundador.
Estratégia e metodologia
para se avaliar os
resultados e mudar o que
não esteja alinhado entre
resultados e Missão.
Em ambos os casos, NT
e NIS, há uma cultura
aberta à mudança e à
inovação, com
metodologia e atuação
das lideranças
superiores.
Responsabilidade (*)
Salvar vidas é o lema
presente na mente de cada
membro da equipe de
P&D&I. Por isso, não pode
haver erro.
Um procedimento
nutricional, uma
orientação social para a
família, podem aproximar
ou afastar o paciente do
resultado buscado. A
forma "como" e o "que" a
equipe faz, nos detalhes,
refletem nesse resultado.
A responsabilidade é
uma atitude individual,
de identificação e amor
pela causa (NIS) ou em
detrimento da missão
do negócio (NT).
Visão Sistêmica (*)
P&D&I no campo,
acompanhando
procedimentos cirúrgicos
e/ou atuando em
congressos.
“Parada Pedagógica”,
com todos de P&D&I e
demais funcionários, com
todos os assuntos
relevante ao dia a dia da
instituição na pauta.
Política e estratégia da
alta direção favorecem
troca de informações e
obtenção e
disseminação de
conhecimentos internos
e externos, no NT e no
NIS.
Nota: *Novos componentes (códigos) não previstos inicialmente no modelo conceitual.
Fonte: Dados obtidos por meio das entrevistas realizadas e dos documentos analisados.
150
5 FRAMEWORK PROPOSITIVO
Os significados que emergiram do campo evidenciaram a prevalência do
comprometimento afetivo para a mobilização de recursos que fomentaram a capacidade de
inovação dos negócios estudados: BRAILE, como negócio tradicional; e CREN, como
negócio de impacto social.
Além do comprometimento e sua associação com a categoria capacidade de inovação,
os significados também remeteram à relação entre as categorias centrais e secundárias de
análise, incluindo os fundamentos estratégicos e as práticas de gestão de pessoas, o que
possibilitou a proposição de um Framework (Figura 56).
Antes da apresentação propriamente dita do Framework (figura 56), cabe retomar aqui
os recursos fomentadores da capacidade de inovação, considerados neste trabalho, com base
no modelo adotado de Saunila e Ukko (2012), que os classifica em três grandes grupos, com
algumas subdivisões. São eles: (1) Potencial de inovação: formado por fatores que afetam e
interferem na capacidade atual de inovação da empresa, podendo melhorá-la ou piorá-la; (2)
Processos de inovação: entendidos como os sistemas e atividades que auxiliam na utilização
do potencial de inovação da empresa; e (3) Resultados dos processos de inovação: por
exemplo, inovação de produto e/ou serviço.
Ainda em conformidade com Saunila e Ukko (2012), o potencial de inovação pode ser
representado por cinco categorias diferentes: (1) Liderança e processos decisórios; (2)
Estrutura organizacional e comunicação; (3) Colaboração; (4) Cultura e Clima organizacional;
e (5) Criatividade individual e Know-how.
O Processo de inovação é constituído pela identificação e análise de oportunidades,
seleção de ideias e desenvolvimento de tecnologia e inovações. Já, os resultados, incluem os
produtos e métodos inovadores desenvolvidos e, de fato, disponibilizados para o mercado e
para a sociedade.
Sendo assim, deve-se enfatizar que os sentimentos manifestados nas falas dos
entrevistados, tanto na BRAILE como no CREN, foram de admiração, forte identificação com
os objetivos e valores das organizações em que atuam; forte desejo de manter-se nela; bem
como disposição para exercer esforço considerável na busca de resultado inovadores,
alavancando, assim, a capacidade de inovação dos negócios. Esse conjunto de manifestações
foram aderentes ao modelo tridimensional de Meyer e Allen (1991), que os classificou como
comprometimento afetivo. Também se evidenciou os comprometimentos (normativo e
instrumental), porém a prevalência do afetivo se fez presente.
151
O comprometimento afetivo da equipe de P&D&I é, resultado de um sentimento de
pertencimento, de ser importante para alguém e/ou uma causa; algo que fez o desempenho
individual e a relação com os recursos organizacionais pró-inovação se alinharem de forma
mais exitosa.
Exemplo disso foi a questão da identificação e da análise de oportunidades, fato
crucial à tomada de decisão, ao potencial de inovação e ao aspecto de "o que"' e "como"
investir o dinheiro e o tempo em ambos os negócios investigados (NT e NIS).
No contato com o cliente (médicos e crianças), não há um roteiro pré-estabelecido de
perguntas a serem feitas, ou mesmo aspectos que devem ser observados por parte dos
funcionários, para identificação de oportunidades e necessidades de inovação. O grau de
profundidade no contato, na observação, na percepção de melhorias ou oportunidade de novos
produtos ou serviços, ocorre de forma diferente entre aquele que está ou não comprometido.
O funcionário comprometido tende a ter mais interesse no evento (seja ele social ou
tecnológico) do que aquele que não está comprometido afetivamente, ou seja, aquele que
apenas cumpre a sua função. O comprometido vai além do óbvio, faz perguntas pertinentes,
quer entender, pois tem interesse e desejo de, efetivamente, colher informações que tragam
oportunidade de inovação para o negócio, concebido, nesse momento, como "único" e que
deve ser explorado ao máximo, a fim de alavancar o potencial de inovação do negócio, como
consequência.
Outro exemplo foi a relação de colaboração entre a equipe de P&D&I. No negócio
tradicional, bem estruturado, com expertises complementares na sua composição, inseridos,
contudo, em um ambiente sem comprometimento afetivo: o clima que se apresenta, na
maioria das vezes, é de competição. Sendo assim, pode-se gastar energia lidando mais com os
conflitos do que com a pesquisa e a análise propriamente dita.
Na equipe de P&D&I com comprometimento afetivo, como constatado nos negócios
investigados, o outro foi visto como parceiro e não como concorrente. Todos estão ali para
atender à causa ou à missão do negócio, não havendo a preocupação de um superar o outro. A
concorrência sadia, por sua vez, presente nos negócios analisados estimulou a busca do
conhecimento e do aperfeiçoamento tecnológico como fator diferenciador.
A liderança foi outro recurso relevante como fomentador da capacidade de inovação
na análise feita, pois, além de ser a interface entre os níveis superiores e a equipe, também
promoveu a coordenação e a sistematização das atividades, com foco no resultado,
contratando, treinando e acompanhando a equipe de P&D&I. Nos dois negócios pesquisados,
BRAILE e CREN, os líderes não apenas manifestaram elevado comprometimento com o
152
cargo, conduzindo de maneira eficaz o seu papel - fato confirmado pelos resultados
alcançados e premiações recebidas, como também obtiveram a admiração, o respeito e
aceitação dos seus liderados, diretos e indiretos, que reconheceram a sua capacidade técnica e
comportamental na condução diária dos vários projetos sob sua responsabilidade. Em equipes
com baixo comprometimento afetivo, a liderança, geralmente, não é percebida como fator
facilitador da dinâmica diária, mas como dificultador.
A utilização do conhecimento especializado acumulado (know-how) no desempenho
da função foi outro fator considerado relevante à capacidade de inovação dos negócios
estudados. Uma equipe de P&D&I com elevado grau de comprometimento, que se identifica
com os valores do negócio em que atuam, a busca pelo conhecimento, tanto acadêmico
quanto prático, é feita de forma natural, por interesse e desejo pessoal. Obter isso, na sua
rotina profissional diária, com apoio da organização, seja participando de treinamentos
internos, de congressos, feiras e procedimentos cirúrgicos (BRAILE); seja cursando
especializações externas, fazendo parte de treinamentos internos e reuniões (CREN), foi um
dos motivos identificados como motivador para a permanência nos negócios investigados.
Sendo assim, foi possível concluir que, equipe com elevado grau de comprometimento
afetivo, tem prazer em aprender algo que possa auxiliá-la no desenvolvimento do seu
trabalho, pois a motivação é intrínseca e pessoal.
A cultura também foi significada pelos sujeitos sociais entrevistados como um recurso
incentivador da capacidade de inovação. Os dois casos estudados revelaram situações pouco
comuns na realidade dos negócios (exemplos, portanto, de casos raros), relevando a junção de
fatores que favorecem a inovação. Na BRAILE, a posição pessoal do seu fundador, Dr.
Domingos, deu clareza e direção ao que a empresa se propõe a fazer e como fazer: salvar
vidas nos procedimentos cirúrgicos cardíacos. No CREN, não há uma figura marcante, mas
uma causa e uma gestão competente e comprometida, necessária à continuidade da existência
da entidade. Essa cultura favoreceu o surgimento do comprometimento afetivo da equipe de
P&D&I. Vale ressaltar que não é por causa desse comprometimento que a cultura existe, mas
a sua manutenção só é possível se houver essa postura por parte dos funcionários.
Apesar de identificadas no campo evidências vinculadas aos três tipos de
comprometimento (afetivo, instrumental e normativo), ao interpretá-las de forma agregada,
foi possível inferir que: (a) o comprometimento instrumental não foi prevalecente nos
negócios investigados, apesar da presença de alguns de seus fatores descritores, tais como
tempo de trabalho elevado e posições alcançadas; (b) nessa mesma linha de interpretação,
contatou-se que o comprometimento normativo não foi preponderante nos negócios
153
investigados, pois o sentimento de querer sair e de sentir-se em dívida não foi identificado na
equipe de P&D&I de ambos os negócios investigados; e (c) o comprometimento afetivo, por
sua vez, foi o que prevaleceu, ou seja, aquele que, de fato, fomentou o desenvolvimento de
recursos promotores de capacidade de inovação nos negócios estudados, pois os líderes e
liderados, que integram a equipe de P&D&I, identificam-se com o negócio e suas atividades,
desejando manter essa relação, ou seja, eles querem o melhor para o negócio e para eles
também.
Sendo assim, a partir das conclusões agregadas da pesquisa, foi possível discorrer, a
partir de um nível propositivo mais elevado, acerca da coexistência desses tipos de
comprometimento (afetivo, normativo e instrumental), considerando os líderes e liderados que
integram a equipe de P&D&I de negócios tradicionais e com impacto social. Chegou-se à
conclusão, no entanto, que, mesmo coexistindo, sempre haverá a predominância de um dos
tipos. Com base no comprometimento prevalecente é que o líder ou liderado pautará,
predominantemente, os seus comportamentos e atitudes relativos ao desempenho das
atividades de P&D&I.
Adotando-se uma linguagem mais coloquial, pode-se dizer que líderes e liderados
integrantes da equipe de P&D&I "vestem a camisa do negócio", quando o comprometimento
afetivo é prevalecente, ou seja, há ligação emocional com a empresa, gerada pela
identificação com a causa, a atividade e a gestão. Já, quando o comprometimento normativo é
preponderante, eles "vestem a camisa do negócio", mas mantêm a deles por baixo, numa
analogia simples, dado que eles sentem gratidão por tudo o que receberam ou recebem e
sentem que devem retribuir; caso contrário, estarão em débito. O que os faz permanecer,
portanto, no negócio, são esses "tem que", ou seja, não é a paixão que os motiva, mas o
sentimento de gratidão. Por fim, quando o comprometimento instrumental é predominante, a
analogia poderia ser "veste a camisa da moda", isto é, líderes e liderados de P&D analisam o
custo da sua saída versus permanência, e o que for mais vantajoso, será assumido como
escolha.
O comprometimento afetivo por si só não produz resultados, ele atua como um gatilho
para a mobilização de recursos, um gatilho que promove a comunhão das 4 categorias
(comprometimento, capacidade de inovação, fundamentos estratégicos e gestão de pessoas), e
que de forma ciclica resultam dinamicamente em resultados de inovação.
Essa ciclicidade de mobilização, gera capacidade de inovação, que ativa o potencial de
inovação, ativa os processos de inovação e, por fim, resultados de inovação.
154
Os resultados de inovação quando vão para o mercado, vão para a sociedade, gera
ciclicamente novos comportamentos de vestir a camisa, de ir lá, como ocorre no CREN, da
equipe ir na comunidade, "in loco", ou o Engenheiro de Projeto de P&D&I da BRAILE
assistir um procedimento cirúrgico. É um processo que se retroalimenta, dentro das próprias
categorias.
Sintetizando, por fim, as contribuições do comprometimento de equipes de P&D&I
para a mobilização de recursos fomentadores da capacidade de inovação (potencial de
inovação, processos e resultados) dos negócios investigados, destacam-se: (a) otimização na
percepção de oportunidades de negócio (novos produtos ou serviços de intervenção social) e
do contato com os "clientes" e “sujeitos sociais” (médicos e crianças/família), ampliando o
potencial de inovação; (b) atuação, com elevado grau de colaboração, minimizando os
tradicionais conflitos entre os membros da equipe e alavancando o processo de inovação; (c)
manifestação de admiração, respeito e aceitação das lideranças, percebendo coerência, justiça,
capacitação técnica e comportamental na condução das atividades de P&D&I, o que facilita o
processo de inovação; (d) utilização do know-how adquirido a partir de parcerias externas
(médicos, hospitais e universidades), ampliando-o por meio da aquisição de novos
conhecimentos e experiências e, por fim, promovendo a escalabilidade dos resultados das
inovações geradas, sendo estas de natureza frugal no NT e de natureza social no NIS.
Desta forma, foi possível propor um framework (Figura 56) sobre o significado das
categorias comprometimento, capacidade de inovação, fundamentos estratégicos e gestão de
pessoas, enfatizando-se as distinções e similaridades de negócios tradicionais e de impacto
social.
155
Figura 56 - Framework sobre o significado do comprometimento para equipes de P&D&I, em negócios
tradicionais e com impacto social
INDICADORES
DE
DESEMPENHO
PARCERIA RECONHECIMENTO
CARREIRA
REQUISITOS DE
AVALIAÇÃO
FORMAÇÃO DA
EQUIPE DE
P&D&I
AUTOAVALIAÇÃO
FEEDBACK
EFICIÊNCIA
RESPONSABILIDADE
VISÃO
SISTÊMICA
PROATIVIDADE
FLEXIBILIDADE
AUSÊNCIA DE COMPROMETIMENTO
Nota: GP - Gestão de pessoas; FE - Fundamentos estratégicos; CI - Capacidade de inovação; CO -
Comprometimento de equipes de P&D&I; Categorias complementares de análise; Categorias centrais de análise;
*Novos componentes (códigos) que emergiram do campo.
Fonte: Dados da pesquisa.
156
Figura 57 - Framework sobre o significado do comprometimento para equipe de P&D&I em negócios
tradicionais e com impacto social (componentes das categorias centrais)
Componentes
(códigos) das
categorias centrais
Significados que emergiram do campo Síntese das constatações decorrentes da
discussão intracaso
Potencial de
Inovação
Envolve liderança e processo decisório;
estrutura organizacional e comunicação;
colaboração, cultura e clima organizacional;
criatividade individual e know-how.
No NT, o potencial de inovação é evidenciado
a partir de elementos internos de liderança
empreendedora, de profissionalização do
negócio e qualificação e envolvimento das
lideranças e dos liderados, bem como de
elementos externos relacionados à cocriação
de inovações com parceiros e concorrência
com grandes multinacionais. Já, no NIS, o
potencial de inovação é evidenciado
externamente, ou seja, no campo, com vistas a
prospectar in loco os diversos espectros dos
problemas sociais.
Processos
Envolve a identificação e análise de
oportunidades; seleção de ideias; e
desenvolvimento de tecnologias.
No NT, o processo de inovação é evidenciado
a partir de elementos internos de pesquisa
aplicada, desenvolvimento experimental e
busca de certificação (ANVISA), resultando
em produtos padronizados ou customizados,
bem como de elementos colaborativos,
relacionados a parcerias com universidades
para desenvolvimento de pesquisas científicas.
No NIS, o processo de inovação é evidenciado
de forma colaborativa, ou seja, com a visita
domiciliar para busca ativa de crianças
desnutridas e com a intervenção direta no
campo, no semi-internato e na cozinha
experimental, destacando-se também as
pesquisas científicas desenvolvidas em
parceria com universidades, resultando em
metodologias de intervenção de saúde pública.
Resultados
Algo novo ou relativamente melhorado, que
gere valor para a empresa e seus
stakeholders.
No NT, os resultados alcançados estão
associados ao desenvolvimento de produtos
médicos para o mercado com características
distintivas de ampliação da vida útil,
economia de matéria-prima, facilidade de uso
e preço atrativo (inovação frugal). Já, no NIS,
os resultados alcançados estão associados ao
desenvolvimento de metodologias de
intervenção de saúde pública, a partir de um
espectro ampliado (análise das condições
físicas, psíquicas, cognitivas e
comportamentais da criança e da sua família)
(inovação social).
Ausência de
Comprometimento*
Comportamento que evidenciam não
comprometimento ou descomprometida.
Os gestores do NT e NIS sabem como se
comporta uma pessoa descomprometida e
afirmam não haver a ocorrência desse tipo
de atitude dentro das suas equipes.
157
Comprometimento
Afetivo
Colaboradores com forte comprometimento
afetivo permanecem na organização, porque
eles querem (estado de desejo); sendo assim,
os principais fatores descritores são: a forte
crença e aceitação dos objetivos e valores da
organização; a percepção de que os
problemas organizacionais pertencem a ele;
o forte senso de integração com a
organização; o vínculo emocional mantido
com a organização; o imenso significado
pessoal proporcionado.
A ligação emocional com a empresa, gerada
pela identificação com a causa, a atividade e
a gestão, leva à obtenção do
comprometimento afetivo, no NT e no NIS.
O comprometimento afetivo por si só não
produz resultados, ele atua como um gatilho
para a mobilização de recursos, um gatilho
que promove a comunhão das 4 categorias
(comprometimento, capacidade de inovação,
fundamentos estratégicos e gestão de
pessoas), e que de forma ciclica resultam
dinamicamente em resultados de inovação.
Essa ciclicidade de mobilização, gera
capacidade de inovação, que ativa o potencial
de inovação, ativa os processos de inovação
e, por fim, resultados de inovação.
Comprometimento
de Equipes de
P&D&I
Significado de comprometimento em
equipes de P&D&I aborda tanto o
componente afetivo, como os componentes
normativo e instrumental do construto
comprometimento.
O tipo de comprometimento dominante é o
afetivo, porém componentes normativos
(seguir normas) e (vantagens) também estão
presentes.
Comprometimento
Instrumental
Colaboradores com forte comprometimento
instrumental permanecem, porque eles
precisam (estado de necessidade); sendo
assim, os principais fatores descritores são:
os investimentos feitos pelo indivíduo na
organização; a falta de alternativas de
empregos no mercado; as posições
alcançadas na organização; os privilégios
ocupacionais; os benefícios oferecidos; o
tempo de trabalho; e os planos de
aposentadoria.
Não há predominância desse tipo de
comprometimento no NIS e no NT, apesar
da presença de alguns fatores descritores,
como tempo de trabalho elevado e posições
alcançadas.
Comprometimento
Normativo
Colaboradores com forte comprometimento
normativo permanecem na organização,
porque eles sentem que são obrigados
(estado de obrigação); sendo assim, os
principais fatores descritores são: o fato de
não achar certo, mesmo sendo vantajoso
para ele, deixar a organização naquele
momento; o sentimento de culpa, caso
deixasse a organização; a lealdade do
indivíduo perante a organização; a obrigação
moral em relação às pessoas do trabalho; e o
sentimento de ter uma dívida com a
organização.
Não há predominância desse tipo de
comprometimento no NIS ou no NT. O
sentimento de querer sair e de sentir-se em
dívida não foi identificado nas equipes de
P&D&I.
Eficiência*
Além de atingir seus objetivos, a
organização ainda o faz de maneira a utilizar
da melhor forma os seus recursos, em um
prazo adequado, seja economizando-os ou
extraindo o total de seu potencial.
A equipe de P&D&I do NIS e do NT, com
comprometimento afetivo, procura fazer
certo da primeira vez, otimizando recursos,
materiais e tempo.
Envolvimento* Ato ou efeito de envolver-se com os valores
e atividades organizacionais.
A identificação com o negócio (NT) e a
causa (NIS) leva a equipe de P&D&I a atuar
norteada pelos valores organizacionais.
158
Flexibilidade*
Capacidade de realizar múltiplas atividades
e ter a qualidade de compreender, aceitar ou
assumir as ideias ou pensamentos de outros
indivíduos.
Tanto o NT como o NIS, por terem estrutura
de P&D&I enxuta, porém bem qualificada,
exigem que cada ocupante realize múltiplas
funções e aceite opiniões externas.
Proatividade*
Identificação de oportunidades e
comprometimento com a mudança,
buscando resultados positivos.
No NIS e no NT, a equipe de P&D&I
antecipa-se às necessidades, seja em
atuações externas (visitas), seja nos
encontros internos (reuniões).
Responsabilidade* Conscientização do dever de arcar com as
consequências das atividades de P&D&I.
As equipes de P&D&I do NT e do NIS
evidenciam consciência e maturidade para
atuar com responsabilidade nas suas funções
e nas relações internas e externas.
Visão Sistêmica* Compreender a organização como um todo,
integrando colaboradores e departamentos.
No NIS e no NT, as ações de treinamento,
reuniões internas e canais de comunicação
favorecem a visão sistêmica do negócio pela
equipe de P&D&I.
Nota: Categorias centrais de análise; *Novos componentes (códigos) que emergiram do campo.
Fonte: Dados da pesquisa.
159
Figura 58 - Framework sobre o significado do comprometimento para equipe de P&D&I em negócios
tradicionais e com impacto social (componentes das categorias secundárias)
Componentes
(códigos) das
categorias
secundárias
Significados que emergiram do campo Síntese das constatações decorrentes da
discussão intracaso
Autoavaliação* Avaliação sobre si mesmo, como forma de
buscar o autoconhecimento.
Os profissionais da equipe de P&D&I buscam
se aprimorar no aspecto profissional técnico e
comportamental.
Estrutura e Estratégia
de P&D&I
O potencial de inovação dos negócios está
associado à estrutura de P&D&I.
Ambos os negócios pesquisados possuem
estrutura e estratégia de P&D&I compatível
com os objetivos e tipo de negócio.
Feedback*
Trata-se do retorno sobre o desempenho de um
colaborador, proporcionando um parecer sobre o
trabalho realizado; sendo assim, sua aplicação é
contributiva e orientadora.
O processo de dar e receber feedback já faz
parte da cultura do NIS e do NT, em especial
na equipe de P&D&I.
Formação da Equipe
de P&D&I*
Formação acadêmica ou técnica da equipe de
P&D&I está associada ao potencial de inovação.
A formação acadêmica e técnica compatíveis
com o negócio e a realidades dos membros das
equipes de P&D&I do NT(Tecnologia) e do
NIS (Saúde e Humanas).
Missão Saber qual é o seu negócio, como a organização
quer ser conhecida e como alinhar o
comportamento de todos os envolvidos ao tipo
de estrutura são questionamentos fundamentais
ao funcionamento de qualquer tipo de negócio.
A partir dessas definições, todas as demais
práticas de P&D&I e GP devem ser definidas.
A missão, visão e valores são os fios
condutores das duas equipes de P&D&I, o que
as motivam a agir. No NT, o desenvolvimento
de produtos para salvar vidas (adquiridos pelos
médicos). No NIS, mudar o comportamento e
o estado nutricional de crianças.
Visão e Valores
Requisitos de
Avaliação dos
Resultado de P&D&I
São requisitos para se avaliar o potencial de
inovação dos resultados de P&D&I.
No NT, o patenteamento dos produtos, sua
comercialização e resultados positivos no uso
com os pacientes. No NIS, análise dos
indicadores de resultados, tais como: aumento
do peso, melhoria na socialização, no
aprendizado etc.
Cargo e Salário
A estrutura de cargos e salários deve estar
adequada ao grau de exigência, expectativa e
resultados esperados pela empresa. O
desequilíbrio entre o que é oferecido e o que é
exigido pode estabelecer uma fonte de conflitos
de diversas naturezas, capaz de se refletir no
clima organizacional.
A política de salário se mostrou adequada. Não
houve manifestação de insatisfação nesse
aspecto, por parte dos entrevistados do NIS ou
do NT.
Recrutamento e
Seleção
A cultura da empresa e perfil do cargo exigem
características específicas do seu ocupante. Cabe
a essa área atrair e selecionar aqueles que mais
se adéquam à vaga e possam atender às
expectativas da empresa.
No NT, recruta-se por intermédio de
universidades, com cursos afins, alunos de
mestrado ou doutorado, com perfil de
pesquisador. No NIS, busca-se em banco de
dados, entidades parcerias e fontes
tradicionais, dependendo do perfil do cargo.
Carreira*
Envolvem as alternativas e as decisões
profissionais que conduzem um indivíduo a uma
determinada trajetória profissional.
O desejo por desenvolver a carreira no
negócio, foi manifestado, e é consequência do
grau de acerto na escolha do candidato e
também da estrutura e clima existentes, que os
faz querer permanecer no negócio.
Indicadores de
Comprometimento*
São elementos que possibilitam a identificação
de evidências de comprometimento em equipes
de P&D&I.
Os indicadores tradicionais: percentual de
absenteísmo e turnover são quase inexistentes
no NIS e no NT, na área de P&D&I. O
lançamento de produtos (NT) e número de
crianças recuperadas (NIS) também são
indicadores de comprometimento, que eles
atendem.
160
Parceria* Decorre da união de organizações e indivíduos
para alcançar um objetivo comum.
Tanto o NIS como o NT têm parcerias com
universidades em projeto de pesquisa, bem
como para qualificação dos seus funcionários.
O NT mantém parcerias com médicos e
laboratórios. O conhecimento é fundamental
para a atuação da área de P&D&I
Reconhecimento* Ato de reconhecer o mérito da equipe de
P&D&I.
Em ambos os negócios, constatou-se que o
reconhecimento mais marcante é pelas ações
que fortalecem a autoimagem, como
divulgação dos resultados da área, no jornal
interno; a participação em eventos externos,
representando a empresa; a abertura para falar
e seus argumentos serem considerados.
O salário e as promoções também são um
instrumento de reconhecimento.
Treinamento e
Desenvolvimento
No contexto de negócios inovadores, a
aquisição, troca e acúmulo do conhecimento
interno e externo são fundamentais. A
capacitação técnica e comportamental, para
liderança e equipe, é parte significativa no
contexto de negócios inovadores.
Treinamento (para atuar hoje) e
desenvolvimento (preparo para funções
futuras) são praticados em ambos os negócios.
No NT, por cursos externos, internos,
apresentação de aulas em congressos etc. No
NIS, por cursos internos e externos e reuniões
periódicas, envolvendo todas as áreas.
Nota: Categorias complementares de análise; *Novos componentes (códigos) que emergiram do campo.
Fonte: Dados da pesquisa.
161
6 CONCLUSÕES
A partir da análise agregada dos resultados, foi possível validar a proposição central de
que capacidade de inovação e o comprometimento afetivo das equipes de P&D&I (categorias
centrais de análise) foram decisivas à diferenciação do negócio tradicional investigado
(BRAILE), pois alavancaram o desenvolvimento de inovações tecnológicas com
características frugais. Essas categorias foram também importantes para o negócio de impacto
social investigado (CREN), promovendo o valor social e, com ele, as inovações sociais.
Validou-se também a proposição secundária de que a gestão de pessoas e os fundamentos
estratégicos do NT e do NIS (categorias secundárias de análise) influenciaram a mobilização
interna de recursos pró-inovação e, consequentemente, estimularam o comprometimento
afetivo de equipes de P&D&I, potencializando, assim, a troca de conhecimentos tácitos e
explícitos e, também, a geração de inovações para o mercado e para a sociedade.
Vale destacar que o comprometimento afetivo por si só não produz resultados, ele atua
como um gatilho para a mobilização de recursos, um gatilho que promove a comunhão das 4
categorias (comprometimento, capacidade de inovação, fundamentos estratégicos e gestão de
pessoas), e que de forma cíclica resultam dinamicamente em resultados de inovação, que vã
para a sociedade e gera novos resultados e novos comportamentos.
Quanto à caracterização das dimensões (Potencial de Inovação, Processos e
Resultados) da capacidade de inovação de negócios tradicionais e de impacto social, um dos
objetivos específicos deste trabalho, observou-se características praticamente semelhantes, no
que diz respeito à relevância no processo; na prática diária, porém, devido às peculiaridades
dos negócios, houve algumas distinções.
A BRAILE (inovação tecnológica), cujo fim é econômico, obtido por meio do
desenvolvimento de produto que visa salvar vidas, exige uma estrutura organizacional
direcionada para as várias etapas do processo, desde a identificação da necessidade no
mercado, passando pelo desenvolvimento, fabricação e comercialização. Uma equipe de
P&D&I altamente especializada é necessária, sendo que a figura do mentor do negócio,
presente no dia a dia, influencia e mantém acesa a chama da ideologia que deu início ao
negócio. E, como se trata de uma empresa familiar, vale ressaltar que as novas gerações se
mostram dispostas a manter o modelo e seguir a ideologia do fundador da empresa.
No CREN (inovação social), cujo fim é alcançar melhoria social, a partir da saúde, a
liderança na gestão é um dos grandes diferenciais, pois requer rapidez na obtenção e uso das
informações para a tomada de decisões. O ser humano não é lógico e a criança menos
162
ainda,por isso uma enorme gama de fatores externos à entidade influenciam o resultado do
trabalho. Por este motivo, decisões quanto à estrutura, processos, equipe e parcerias, são
tomadas a partir da compilação dos dados obtidos em reuniões e os diversos indicadores de
resultados, estabelecidos em praticamente todos os departamentos. Medir, acompanhar e
ajustar, com base na realidade, ou seja, intervir no campo, é incumbência da liderança.
Quanto ao mapeamento dos componentes do comprometimento (afetivo, instrumental
ou normativo) das equipes de P&D&I em negócios tradicionais e de impacto social – outro
objetivo específico deste trabalho, o resultado obtido indicou a presença, na equipe de
P&D&I, do comprometimento afetivo, pois o sentimento que o funcionário da equipe mantém
com a empresa é de identificação com seus valores e objetivos, manifestando desejo de
continuar trabalhando nela por um longo período da sua vida. O desejar permanecer na
empresa e gostar do que faz também leva os seus membros a se comprometerem uns com os
outros, pois só assim alcançarão esse resultado, identificado nos dois tipos de negócios
pesquisados - BRAILE (inovação tecnológica) e CREN (inovação social).
No que tange à verificação das similaridades e as distinções das contribuições do
comprometimento das equipes de P&D&I em negócios tradicionais e de impacto social – o
último objetivo específico buscado, vale a pena discorrer, inicialmente, sobre o significado de
comprometimento. O verbo comprometer, no dicionário Michaelis, significa empenhar a
palavra; expor-se a alguma situação de risco; comprometer-se com alguma atitude, que requer
fatores externos para que, de fato, ocorram, tanto no aspecto racional como emocional. No
campo profissional, as variáveis para esse comprometimento envolvem: cultura e clima
organizacional, adequação de perfil ao cargo, salário compatível com a exigência, liderança
assertiva e democrática, reconhecimento e valorização pessoal, estrutura adequada para o
desempenho da tarefa, entre outras condições, que estabelecem o sentimento de
pertencimento.
Conforme descrito anteriormente, esses fatores estão presentes tanto na BRAILE
como no CREN. Por se tratarem de empresas ganhadoras de prêmios, voltadas à área da
saúde, com causas que sensibilizam os seus funcionários e a equipe de P&D&I, pode-se, de
alguma forma, aproximar as empresas. "Salvar vidas" é o lema da BRAILE e, de certo modo,
é a razão de existir do CREN, uma vez que é isso que a entidade operacionaliza no seu dia a
dia. Essa similaridade, todavia, não é um resultado comum de se encontrar em empresas de
uma forma geral, em especial naquelas com fins econômicos, pelo menos no grau identificado
na BRAILE.
163
6.1 CONTRIBUIÇÕES ADICIONAIS PARA O AVANÇO DO CONHECIMENTO
Adicionalmente, as contribuições para o avanço do conhecimento, também se devem à
apresentação de dados empíricos para desmistificar que negócios de impacto social não
precisam de uma estrutura organizacional estabelecida, como ocorre nos negócios tradicionais
(com fins lucrativos). Ter uma causa apenas não garante comprometimento e resultados. Pode
favorecer a atração de funcionário de P&D&I e demais áreas, apenas por isso, pois não há
garantia da obtenção do comprometimento. Além disso, é necessário ter estrutura, gestão,
indicadores, perfil versus salário compatível, enfim, os recursos tradicionais de uma empresa
com fins lucrativos.
Outra contribuição está na constatação de que salário, por si só, não é fator gerador de
comprometimento. Ele eleva as chances, se estiver compatível com o cargo, mercado e as
outras variáveis atendidas, tais como liderança, estrutura e reconhecimento.
Destacar a importância da atuação da área de comunicação na empresa é outra
contribuição desta pesquisa. Para divulgar os fatos que estão ocorrendo no negócio, há um
“canal” de alinhamento das áreas dos NT e NIS, o que fortalece o cumprimento da missão, o
alcance dos resultados e a superação dos desafios e dificuldades enfrentadas. Essas
informações beneficiam a equipe de P&D&I, elevando o moral dos funcionários da área que,
muitas vezes, leva meses para lançar algo novo. Tanto na BRAILE como no CREN, a área de
comunicação é considerada estratégica na busca de reconhecimento e de comprometimento, a
partir de inúmeras ações, entre elas newsletter, murais, jornais internos, intranet, divulgação
de resultados de clientes, parcerias e ações pontuais, direcionadas para toda a organização,
como as “Paradas Pedagógicas” do CREN, por exemplo.
6.2 CONTRIBUIÇÕES PRÁTICAS DA PESQUISA
No caso de negócios tradicionais, nem todos têm a chance de ter o seu fundador
presente na operação, direcionando a energia da equipe. Porém, é necessário e faz a diferença
ter essa função desempenhada por alguém, capaz de alinhar expectativas de atuação e
resultados da equipe de P&D&I. Ter uma missão clara, praticada pelos líderes, avivada na
mente dos liderados e ter seus correspondentes também alinhados (contratação de funcionário
no perfil, salário compatível, liderança inspiradora, dados de necessidades no mercado,
processos decisórios etc.) já eleva a chance de se obter o comprometimento afetivo da equipe
de P&D&I.
164
No caso do negócio de impacto social, há a mesma contribuição, mas com ênfase
menor à missão, pois, por característica, já há uma causa envolvida, e isso, por si só, mobiliza
a equipe de P&D&I. A contribuição prática aqui é destacada pelo papel da gestão, atendendo
a necessidade de se ter indicadores e sistematização dos dados apurados, para poder, assim,
orientar a tomada de decisões, que também é um aspecto de crucial importância. O tempo em
que os processos acontecem faz diferença, mas ações rápidas, sem consistência de
informações, não geram qualquer benefício; ao contrário disso, podem promover prejuízos ao
negócio. Dependendo do porte do negócio de impacto social, essas funções podem ser
negligenciadas, pois, historicamente, muitos não veem uma ONG como uma empresa formal,
tendendo a inseri-la no campo da informalidade. Evidenciar a necessidade de
profissionalização da estrutura nos negócios de impacto social, para que ele se sustente
financeiramente, atenda seu propósito, amplie seu escopo e atraia investimento é, também,
uma contribuição prática deste trabalho. O CREN evidencia com clareza essa sua distinção,
por isso a entidade é reconhecida com premiações nacionais e internacionais.
6.3 LIMITAÇÕES DA PESQUISA E PROPOSTAS DE ESTUDOS FUTUROS
Uma das limitações da pesquisa é o pequeno número de negócios tradicionais e de
impacto social investigados (um de cada tipo). Há, também, o fato de serem negócios que, a
princípio, já são diferenciados dos demais, em sua categoria, devido aos prêmios recebidos
(FINEP e Empreendedor Social), de destaque nos seus segmentos, evidenciado, com isso, a
sua distinção.
Outro aspecto limitador diz respeito ao fundador da BRAILE ser uma pessoa
diferenciada da maioria dos fundadores, presidentes ou acionistas de outras organizações, pois
se trata de uma pessoa que vivencia e dissemina uma causa, em seu negócio familiar – algo
que contagia a equipe e todos que o rodeiam no negócio, o que predispõe a equipe de P&D&I
a se preocupar com as ações estruturais necessárias ao alcance dos resultados.
Seria interessante, para contrapor essa última limitação, que a mesma pesquisa fosse
feita em uma empresa também no segmento da área de saúde, de base tecnológica, que não
fosse ganhadora de prêmios de inovação.
Outra sugestão é realizar a pesquisa em outros negócios de impacto social, em
segmentos diferentes, tais como educação, segurança e sustentabilidade, com demandas
sociais ainda negligenciadas, em países em desenvolvimento, como o Brasil.
165
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172
APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista (Fundador ou Diretor Executivo)
Perfil do entrevistado:
Nome, idade, cargo, atribuições, data de contratação, formação acadêmica e formação técnica
específica, estrutura da área de P&D, a quem responde diretamente.
E-mail:
Questões:
1. Como você avalia a associação entre a missão, visão e valores do negócio (tradicional e
com impacto social) e as ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D&I)?
2. Há uma estrutura formal (departamento) para as atividades de P&D&I? Em caso positivo,
qual a sua localização no organograma? Em caso de estrutura informal de P&D&I,
especificar como as atividades são, portanto, administradas.
3. Quais os requisitos considerados para avaliar o resultado das atividades de P&D&I (o que
é usado e como é feito?).
4. Nos últimos 24 meses, que projetos de inovação (tecnológica ou social) foram concluídos
com sucesso? Pode descrever brevemente o caso de maior destaque?
5. Em linhas gerais, como se dá a formação técnica e comportamental dos gestores e
funcionários de P&D&I que atuam no negócio (tradicional ou de impacto social)?
6. Na sua percepção, o que se entende por "comprometimento" e o que é feito para obter esse
comportamento por parte dos envolvidos (gestores e funcionários) nas atividades de
P&D&I?
7. Que características pessoais você identifica nos gestores e funcionários mais
comprometidos e envolvidos nas atividades de P&D&I?
8. Na sua percepção, como se dão as seguintes associações:
(a) resultados da inovação (tecnológica ou social) e “remuneração” dos envolvidos nas
atividades de P&D&I?
(b) resultados da inovação (tecnológica ou social) e “reconhecimento” dos envolvidos nas
atividades de P&D&I?
(c) resultados dos projetos de inovação (tecnológica ou social) e “comprometimento” dos
envolvidos nas atividades de P&D&I?
173
APÊNDICE B – Roteiro de Entrevista (Gestor de RH)
Caracterização do negócio (a ser obtido antecipadamente e complementado na entrevista)
Nome do negócio, data de fundação, localização, missão, visão, valores, estrutura
Organizacional e nº de funcionários.
Área de RH: posição no organograma, estrutura e número de funcionários.
Perfil do entrevistado
Nome, idade, cargo, atribuições, data de contratação, formação acadêmica e técnica específica
e posição hierárquica.
Questões:
1. Como os funcionários são informados sobre a missão, missão e valores do negócio
(tradicional ou com impacto social)? Há alguma ação específica para as atividades de
pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D&I).
2. Como o tipo de negócio (missão, visão e valores) está alinhado à definição e descrição
das atividades realizadas pelos funcionários de P&D&I?
3. Há uma estrutura formal (departamento) para as atividades de P&D&I? Em caso positivo,
qual a sua localização no organograma? Em caso de estrutura informal de P&D&I, especificar
como as atividades são, portanto, administradas.
4. Como é o processo de recrutamento e seleção de candidatos para as atividades de
P&D&I?
5. Na sua percepção, o que se entende por "comprometimento" e o que o RH faz para obter
esse comportamento por parte dos colaboradores envolvidos nas atividades de P&D&I?
6. Quais são os indicadores considerados pelo RH de que os funcionários estão ou não
comprometidos? Há alguma ação específica para os funcionários envolvidos nas atividades de
P&D&I?
7. Que práticas o RH adota para os funcionários sintam que seu trabalho é importante para o
negócio? Há alguma ação específica para os funcionários envolvidos nas atividades de
P&D&I?
8. Que canais de comunicação o RH utiliza para manter os funcionários de P&D&I
informados?
9. Como ocorrem as promoções (cargo e salário) e as ações de reconhecimento dos
funcionários envolvidos nas atividades de P&D&I?
174
10. Como o RH disponibiliza aos funcionários orientações em assuntos pessoais? Há alguma
ação específica para os funcionários envolvidos nas atividades de P&D&I?
11. De que forma o RH articula o treinamento dos funcionários envolvidos nas atividades de
P&D&I, particularmente em projetos de inovação que envolvem o desenvolvimento de novos
produtos, processos ou metodologias (tecnológicas ou sociais)?
12. Como a cultura do negócio (tradicional ou de impacto social) favorece as atividades de
P&D&I?
13. Como se dá a formação técnica e comportamental das lideranças de P&D&I que atuam no
negócio (tradicional ou de impacto social)?
14. Como é reconhecido o desempenho dos envolvidos nas atividades de P&D&I?
15. Na sua percepção, como se dão as seguintes associações:
(d) resultados da inovação (tecnológica ou social) e “remuneração” dos funcionários
envolvidos nas atividades de P&D&I?
(e) resultados da inovação (tecnológica ou social) e “reconhecimento” dos funcionários
envolvidos nas atividades de P&D&I?
(f) resultados dos projetos de inovação (tecnológica ou social) e “comprometimento” dos
funcionários envolvidos nas atividades de P&D&I?
175
APÊNDICE C – Roteiro de Entrevista (Gestor de P&D&I)
Perfil do entrevistado
Nome, idade, cargo, atribuições, data de contratação, formação acadêmica e formação técnica
específica, estrutura da área de P&D&I, a quem responde diretamente.
Questões:
1. Como você avalia a associação entre a missão, visão e valores do negócio e as ações de
pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D&I)?
2. Como a cultura do negócio (tradicional ou de impacto social) estimula o desempenho das
lideranças de P&D&I?
3. Nos últimos 24 meses, que projetos de inovação (tecnológica ou social) foram concluídos
com sucesso? Pode descrever brevemente o caso de maior destaque?
4. Como se dá a identificação das necessidades de treinamento da equipe de P&D&I?
5. Que práticas são adotadas para que o funcionário envolvido nas atividades de P&D sinta
que seu trabalho é importante para o negócio (tradicional ou de impacto social)?
6. Como é feito o processo de feedback de desempenho aos membros da equipe de P&D&I?
7. O que é comprometimento e como você identifica esse comportamento nos líderes e
funcionários de P&D&I?
8. Que características pessoais você identifica nos funcionários mais comprometidos e
envolvidos nas atividades de P&D&I?
9. Como ocorre na prática a liderança de funcionários de P&D&I com níveis de
comprometimento diferentes?
10. Na sua percepção, como se dão as seguintes associações:
(g) resultados da inovação (tecnológica ou social) e “remuneração” dos funcionários
envolvidos nas atividades de P&D&I?
(h) resultados da inovação (tecnológica ou social) e “reconhecimento” dos funcionários
envolvidos nas atividades de P&D&I?
(i) resultados dos projetos de inovação (tecnológica ou social) e “comprometimento” dos
funcionários envolvidos nas atividades de P&D&I?
176
APÊNDICE D – Roteiro de Entrevista (Funcionário que integram a equipe P&D&I)
Perfil do entrevistado
Nome, idade, cargo, atribuições, data de contratação, formação acadêmica e formação técnica
específica, posição na equipe, a quem responde diretamente.
E-mail:
Questões
1. De que forma a missão e valores do negócio (tradicional ou de impacto social)
influenciam no seu comportamento diário? Pode dar um exemplo prático?
2. Como se dá o reconhecimento da equipe de P&D&I e, particularmente, o seu quando da
finalização de um projeto de inovação (tecnológica ou social)?
3. Que ações da liderança do negócio (tradicional ou de impacto social) favorecem o seu
desempenho em P&D&I?
4. Como você se sente ao receber feedback sobre o seu desempenho em P&D&I?
5. Como você falaria do negócio (tradicional ou de impacto social) em que atua para uma
pessoa que não o conhecesse?
6. Como você avalia o seu salário (ou recompensas não monetárias) hoje comparando com o
mesmo cargo em outros negócios de porte e interesse semelhantes?
7. Como você visualiza a sua carreira profissional no negócio (tradicional ou de impacto
social)?
8. O que é comprometimento para você? Você se avalia como um funcionário comprometido
com o negócio (tradicional ou de impacto social)? Por qual motivo?
9. Que ações vigentes hoje no negócio (tradicional ou de impacto social) te ajudam a ser
mais comprometido?
10. Quais situações presentes no negócio (tradicional ou de impacto social) hoje te deixam
feliz em trabalhar nele? E que situação te deixam infeliz?
11. Caso recebesse uma proposta de trabalho, o que seria determinante para a sua não saída do
negócio (tradicional ou de impacto social)?
12. Caso você tivesse que deixar o negócio (tradicional ou de impacto social) hoje, como você
sentiria?
177
13. Se você fosse o responsável pela contratação de um novo ocupante para o seu cargo (ou
atividade) hoje, qual o perfil técnico e comportamental você daria prioridade?
14. Na sua percepção, como se dão as seguintes associações:
(a) resultados da inovação (tecnológica ou social) e “remuneração” dos funcionários
envolvidos nas atividades de P&D&I?
(b) resultados da inovação (tecnológica ou social) e “reconhecimento” dos funcionários
envolvidos nas atividades de P&D&I?
(c) resultados dos projetos de inovação (tecnológica ou social) e “comprometimento” dos
funcionários envolvidos nas atividades de P&D&I?
178
APÊNDICE E – Roteiro para a condução da pesquisa documental nas áreas de RH e P&D&I
ÁREA DE RH
Índice de frequência
Identificar o índice de frequência dos funcionários de P&B, por meio de relatórios específicos
da área de RH (controle de frequência), nos últimos 24 meses.
Avaliação de Desempenho
Conhecer os critérios utilizados para avaliação de desempenho utilizado para a equipe de
P&D.
Conhecer a “nota” obtida por cada funcionário da P&D nos últimos 24 meses.
ÁREA DE P&D
Conhecer projetos que a equipe participou, que foram ou não patenteados, nos últimos 24
meses.