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UNIVERSIDADE PARANAENSE - UNIPAR
CURSO DE FARMÁCIA - UNIDADE UNIVERSITÁRIA TOLEDO
THANARA ZANETI DOS SANTOS VITORINO
AVALIAÇÃO DE ASPECTOS FÍSICO-QUÍMICOS, DE ROTULAGEM E DA
EFICÁCIA ANTIBACTERIANA DE SABONETES LÍQUIDOS ANTISSÉPTICOS
TOLEDO - PARANÁ
Novembro - 2018
THANARA ZANETI DOS SANTOS VITORINO
AVALIAÇÃO DE ASPECTOS FÍSICO-QUÍMICOS, DE ROTULAGEM E DA
EFICÁCIA ANTIBACTERIANA DE SABONETES LÍQUIDOS ANTISSÉPTICOS
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Banca Examinadora do curso
de Graduação em Farmácia da
Universidade Paranaense - UNIPAR -
Unidade Universitária Toledo, como
exigência parcial para obtenção do título de
Farmacêutico(a) Generalista, sob
orientação do Prof. Me. Douglas Rossi
Jesus.
TOLEDO - PARANÁ
2018
AVALIAÇÃO DE ASPECTOS FÍSICO-QUÍMICOS, DE ROTULAGEM E DA EFICÁCIA
ANTIBACTERIANA DE SABONETES LÍQUIDOS ANTISSÉPTICOS
Thanara Zaneti dos Santos Vitorino¹
Douglas Rossi Jesus²
¹Acadêmica do Curso de Farmácia da Universidade Paranaense - UNIPAR, Unidade Universitária
Toledo. Endereço: Rua Claudemir Silveira, 174, Centro, CEP: 85929-000, São Pedro do Iguaçu,
Paraná, Brasil. e-mail: [email protected]
²Farmacêutico e Professor adjunto da Universidade Paranaense - UNIPAR, Unidade Universitária
Toledo. Endereço: Avenida Parigot de Souza, 3636, Jardim Prada, CEP: 85903-170, Toledo,
Paraná, Brasil. e-mail: [email protected]
2
AVALIAÇÃO DE ASPECTOS FÍSICO-QUÍMICOS, DE ROTULAGEM E DA
EFICÁCIA ANTIBACTERIANA DE SABONETES LÍQUIDOS ANTISSÉPTICOS
Análise de sabonetes líquidos antissépticos
RESUMO: A utilização de sabonetes com ação antisséptica tem crescido consideravelmente
em função da preocupação da população com doenças causadas por contaminação
microbiológica. Com isso, têm surgido no mercado vários produtos garantindo a eliminação
de 99,9% das bactérias. Para possibilitar sua comercialização, são exigidos dos fabricantes
dados que atestem a qualidade, segurança, eficácia e a veracidade na rotulagem dos produtos.
Assim, este trabalho teve por objetivo realizar a avaliação dos parâmetros físico-químicos, de
rotulagem e eficácia antibacteriana em sabonetes líquidos antissépticos. Foram analisadas
nove marcas, identificadas de A a I. No quesito rotulagem, foi verificada a conformidade em
relação à legislação vigente. Quanto aos aspectos físico-químicos, foram realizados os testes
de pH, densidade, viscosidade, centrifugação e índice de espuma. Na análise microbiológica,
foi verificada a eficácia dos sabonetes quando aplicados sobre a bactéria Escherichia coli. Os
produtos analisados apresentaram características físico-químicas adequadas, exceto a amostra
G que demonstrou separação de fases no teste de centrifugação, indicando possíveis
alterações na estabilidade da formulação. Apenas três produtos inibiram o crescimento da
bactéria quando utilizada a amostra pura ou diluída a 80%. Em diluições maiores nenhum
produto causou inibição. O monitoramento de produtos de higiene é de extrema importância
para a saúde dos consumidores. Estando em conformidade com o que estabelece a legislação,
o produto pode ser utilizado de maneira segura, garantindo os benefícios que o consumidor
almeja encontrar ao adquirir o produto.
PALAVRAS-CHAVE: Sabonete antibacteriano, Rotulagem, Parâmetros físico-químicos,
Escherichia coli.
EVALUATION OF PHYSICAL-CHEMICAL ASPECTS, LABELING AND
ANTIBACTERIAL EFFICACY OF ANTI-PSYCHIC LIQUIDS
Analysis of antiseptic liquid soaps
ABSTRACT: The use of soaps with antiseptic action has grown considerably due to the
concern of the population with diseases caused by microbiological contamination. With this,
several products have appeared on the market guaranteeing the elimination of 99.9% of the
bacteria. In order to enable its commercialization, manufacturers are required to provide data
that certifies the quality, safety, efficacy and truthfulness of the labeling of products. Thus, the
objective of this work was to evaluate the physical-chemical parameters, labeling and
antibacterial efficacy in antiseptic liquid soaps. Nine brands were identified, identified from A
to I. In terms of labeling, compliance was verified in relation to the current legislation. As for
the physical-chemical aspects, the pH, density, viscosity, centrifugation and foam index tests
were performed. In the microbiological analysis, the effectiveness of the soaps when applied
on the bacterium Escherichia coli was verified. The analyzed products presented adequate
physicochemical characteristics, except for the G sample that demonstrated phase separation
in the centrifugation test, indicating possible changes in the stability of the formulation. Only
three products inhibited bacterial growth when using the pure or 80% diluted sample. At
higher dilutions no product caused inhibition. The monitoring of hygiene products is
extremely important for the health of consumers. In compliance with the legislation, the
product can be used safely, ensuring the benefits that the consumer wants to find when
purchasing the product.
KEYWORDS: Antibacterial soap, Labeling, Physico-chemical parameters, Escherichia coli.
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INTRODUÇÃO
Os produtos de higiene, cosméticos e perfumes são definidos como produtos de uso
externo, constituídos por substâncias naturais ou sintéticas, com a finalidade de limpar,
perfumar, corrigir odores, alterar a aparência, proteger e manter em bom estado (BRASIL,
2005). Dentre estes produtos, os sabonetes são os mais antigos a serem utilizados pelo
homem. Inicialmente eram produzidos com sebo de cabras e cinza de faia, e com a evolução
da indústria e das pesquisas foram empregadas novas técnicas de produção, com diferentes
compostos, resultando em sabonetes com características mais brandas e adequadas, tanto para
aplicações convencionais quanto cosméticas (JÚNIOR, 2011).
A ação de limpeza dos sabonetes é atribuída às propriedades detergentes de um sal
ácido de gordura obtido da reação entre a gordura e um álcali (GUIMARÃES, 2007). Sua
utilização para a lavagem das mãos pode remover a sujidade visível, substâncias orgânicas e a
flora transitória fracamente aderida à pele, mas vários estudos têm demonstrado que os muito
patógenos não são removidos (MARTINS, 2014).
A microbiota transitória, que coloniza a camada superficial da pele, consiste de
microrganismos não-patogênicos ou potencialmente patogênicos, tais como bactérias, fungos
e vírus, que raramente se multiplicam na pele. Essa microbiota, normalmente adquirida por
contato, sobrevive por curto período de tempo e é passível de remoção pela higienização
simples das mãos com água e sabonete, por meio de fricção mecânica (BRASIL, 2009).
Vários tipos de microrganismos podem ser encontrados transitoriamente nas mãos, os
mais comuns são bacilos Gram-negativos (Escherichia Coli e Pseudomonas spp., por
exemplo) e cocos Gram-positivos (como Staphylococcus spp.), alguns dos agentes bacterianos
que podem causar infecção hospitalar (MARTINS, 2014).
A microbiota residente, por sua vez, fica aderida a camadas mais profundas da pele e é
mais resistente à remoção através da higienização simples, apenas com água e sabonete
(BRASIL, 2009). Assim, com a finalidade de reduzir ou prevenir a contaminação bacteriana,
têm-se utilizado sabonetes antibacterianos, também chamados de antimicrobianos ou
antissépticos (MARTINS, 2014). Vários agentes antissépticos podem ser utilizados
associados a sabonetes para a higienização das mãos, como por exemplo a clorexidina,
polivinilpirrolidona-iodo (PVPI), triclosan e álcool (BRASIL, 2009).
A Escherichia coli é uma bactéria do grupo dos coliformes totais incluída no grupo dos
coliformes termotolerantes. Seu habitat é o trato intestinal de animais de sangue quente,
embora possa ser introduzido nos alimentos por fontes não fecais. São bastonetes Gram-
negativos, não esporulados, que fermentam a lactose dentro de 48 h. Pode ocasionar infecções
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intestinais (enteropatogênicas) ou extraintestinais, sendo considerada um comensal no
humano. Estima-se que a diarréia causada pela E. coli seja responsável por aproximadamente
2 milhões de mortes em crianças no mundo anualmente. Em pacientes imunocomprometidos a
E. coli pode causar diversas infecções oportunistas. Assim, a presença desta bactéria pode
oferecer um risco às pessoas e, dessa forma, ocasionar diversas patologias (ARAUJO, 2013).
A seleção de agentes antissépticos apropriados para formulações cosméticas deve
levar em consideração requisitos como sua eficácia em baixas concentrações; ter amplo
espectro de ação antimicrobiana; ter ação rápida; ter baixa ou nenhuma toxicidade; não
possuir absorção sistêmica; não causar hipersensibilidade, ressecamento, manchas, irritação,
corrosão ou fissuras; possuir odor agradável ou ausente; boa solubilidade; adequada
estabilidade química, para impedir sua decomposição por efeito da luz e calor; e ser de baixo
custo e de veiculação funcional em dispensadores ou embalagens de pronto uso (BRASIL,
2000).
A utilização de sabonetes com ação antisséptica tem se tornado cada vez mais comum
nas residências brasileiras, uma vez que as propagandas destes produtos garantem a
eliminação de 99,9% das bactérias presentes na pele e superfícies fixas (SILVA; SOUZA,
2015) e exaltam a importância do seu uso na prevenção de doenças causadas por
contaminação microbiológica (JUNIOR, 2011).
No Brasil, os produtos cosméticos são controlados pela Câmara Técnica de
Cosméticos da ANVISA (CATEC/ANVISA) e pela Resolução RDC nº 07, de 10 de fevereiro
de 2015. O controle é realizado desde a formulação inicial do produto até a logística
envolvida em seu transporte e sua manutenção ao consumidor final (BRASIL, 2004). Para sua
regularização e comercialização, são exigidos dados que atestem a qualidade, segurança,
eficácia e a idoneidade dos respectivos dizeres de rotulagem (BRASIL, 2015).
Através de testes de estabilidade é possível produzir informações sobre a
confiabilidade e segurança dos produtos. Nestes testes, devem ser avaliados parâmetros
organolépticos, como cor, odor, aspecto e sabor, quando aplicável; parâmetros físico-
químicos, como densidade, viscosidade, valor de pH, e em alguns casos, o monitoramento de
ingredientes da formulação; e parâmetros microbiológicos (contagem microbiana). As
propriedades e características determinadas nestes testes deverão se manter estáveis durante
toda a validade do produto (BRASIL, 2004).
De acordo com a Legislação, os produtos cosméticos são classificados em dois grupos
de acordo com o grau de risco que oferecem. Os critérios para esta classificação foram
definidos em função da probabilidade de ocorrência de efeitos não desejados devido ao uso
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inadequado do produto, sua finalidade de uso, formulação, áreas do corpo a que se destinam e
cuidados a serem observados quando utilizados. Os produtos de Grau 1 apresentam risco
mínimo e os produtos de Grau 2 apresentam um risco potencial (BRASIL, 2015).
De acordo com estes critérios, os sabonetes antissépticos foram classificados em
Produtos de Grau de Risco 2, devendo possuir indicações específicas, cujas características
exigem comprovação de segurança e/ou eficácia, bem como informações e cuidados, modo e
restrições de uso em seu rótulo (BRASIL, 2015).
Tendo em vista que a atividade antisséptica de determinada substância deve-se à sua
capacidade de impedir o crescimento, ou mesmo destruir os microrganismos-teste, a avaliação
da atividade antimicrobiana de potenciais agentes antissépticos torna-se possível. Esta
avaliação pode ser realizada pela técnica da inoculação em placa e também pela técnica de
microdiluição em poços (MIGLIATO, 2005).
Considerando que no mercado brasileiro o número de produtos com utilização de
agentes antibacterianos vem aumentando, torna-se relevante a realização deste estudo, que
almeja avaliar os aspectos físico-químicos, de rotulagem e a eficácia antibacteriana de nove
marcas de sabonetes líquidos antissépticos.
MATERIAL E MÉTODO
As análises foram efetuadas nos laboratórios de microbiologia e controle de qualidade
da Universidade Paranaense – UNIPAR e no laboratório de Controle de Qualidade da Vizeme
Cosméticos, ambos em Toledo – Paraná. Realizou-se a avaliação dos aspectos de rotulagem,
parâmetros físico-químicos e eficácia de sabonetes antibacterianos frente à bactéria
Escherichia coli.
Os parâmetros físico-químicos analisados foram: valores de pH, viscosidade, índice de
espuma, densidade e centrifugação e as características organolépticas.
Para a realização do estudo, foram adquiridos no comércio de Toledo - Paraná, nove
marcas de sabonete líquido antibacteriano. Todas as marcas possuem em seus rótulos a
informação de proteção antisséptica. Uma das amostras informa também a proteção contra
fungos.
Os produtos foram identificados por letras, preservando assim a imagem da empresa.
Os testes foram realizados em triplicata.
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Parâmetros físico-químicos
Análise Organoléptica
Os ensaios organolépticos são procedimentos utilizados para avaliar as características
de um produto, detectáveis pelos órgãos dos sentidos. Tem por objetivo, verificar alterações
como separação de fases, precipitação e turvação, possibilitando o reconhecimento primário
do produto (BRASIL, 2007).
As amostras foram observadas visualmente e classificadas quanto à cor em
transparente, perolado ou leitoso; quanto ao aspecto em viscoso ou fluido e quanto ao odor,
caso possuísse um odor característico, em agradável ou desagradável. Observou-se também a
homogeneidade e ausência de qualquer matéria sólida.
Determinação do pH
A determinação do pH foi realizada com as amostras em uma temperatura a 20oC. A
leitura foi feita empregando um pHmetro (Marca ION, modelo pH B500), cujo eletrodo foi
inserido diretamente na amostra retirada do frasco.
A leitura se deu em triplicata e a variação obtida entre as medidas não foi maior do
que 0,05, conforme preconiza a Farmacopéia Brasileira (BRASIL, 2010). Os valores de pH
foram expressos em média.
Determinação da viscosidade
A análise de viscosidade foi realizada no laboratório de Controle de Qualidade da
Vizeme Cosméticos, em Toledo - Paraná. Utilizou-se um viscosímetro rotacional da marca
Brookfield Model DV1.
A determinação da viscosidade por este método (reômetro de Brookfield) é realizada
através da medição da resistência ao movimento de rotação de eixos metálicos (spindle) ao
serem imersos na amostra líquida (BRASIL, 2010).
A viscosidade foi determinada em triplicata, utilizando o spindle #63, em rotação alta
(High) a 3 RPM. As amostras foram mantidas a temperatura ambiente.
A leitura foi realizada nos tempos de 15, 30 e 45 segundos. Os valores da viscosidade
de cada amostra foram determinados pela média dos valores obtidos nestes tempos.
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Determinação da Densidade
A determinação da densidade das amostras foi efetuada em picnômetro de 10 mL,
calibrado conforme a Farmacopéia Brasileira (BRASIL, 2010). Foi realizada a pesagem do
picnômetro vazio, com água e com a amostra. A água utilizada estava a temperatura de 20oC.
O cálculo foi realizado conforme descrito em Ferreira (2002). Para o cálculo da
densidade relativa foi utilizada a equação 1:
d(rel)= (M2 – M0) / (M1 – M0)
onde:
d(rel)= Densidade relativa
M0= Massa do picnômetro vazio
M1= Massa do picnômetro com água
M2= Massa do picnômetro com a amostra
Após determinada a densidade relativa, calculou-se a densidade do produto utilizando
o valor de 0,998203 para densidade da água a 20 oC:
d(prod)= 0,998203 x d(rel) + 0,0012
A cada pesagem, o picnômetro foi limpo e seco para evitar interferências. A amostra
foi colocada no picnômetro de forma a evitar a formação de bolhas.
Determinação do Índice de Espuma
Para a determinação do índice de espuma das amostras foram utilizadas provetas
graduadas de 100 mL. Utilizou-se 5 mL de amostra, completando o volume para 50 mL com
água destilada. Foi realizada agitação da proveta por 10 segundos e então, feita a leitura da
altura da espuma nos tempos de 0, 5, 15 e 30 minutos.
Centrifugação
De acordo com o Guia de estabilidade de produtos cosméticos, para a realização do
teste, as amostras devem ser centrifugadas em temperatura, tempo e velocidade padronizados.
Em seguida, procede-se a avaliação visual (BRASIL, 2004).
Assim, realizou-se a centrifugação das amostras por 30 minutos a uma velocidade de
2500 rpm em uma centrífuga Fanem Baby I (modelo 206 BL). Após o término do
procedimento, foi feita a análise visual, avaliando a formação ou não de sedimento, separação
de fases e formação de caking.
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Análise de Rotulagem
A análise de rotulagem dos produtos foi realizada de acordo com a RDC nº 07, de 10
de fevereiro de 2015, que dispõe sobre os requisitos obrigatórios para a regularização de
produtos de higiene pessoal, cosmético e perfumes.
Foram observados 13 itens obrigatórios de rotulagem, referentes à identificação
adequada do produto (sabonete antisséptico - Grau 2): nome do produto e grupo a que
pertence no caso de não estar implícito no nome; marca; número de registro do produto; lote
ou partida; prazo de validade; conteúdo; país de origem; fabricante ou importador; domicílio
do fabricante ou importador; modo de uso e advertências e restrições de uso (se necessário);
rotulagem específica (se necessário) e ingredientes e composição segundo o sistema INCI
(International Nomenclature Cosmetics Ingredients).
Avaliação Microbiológica
A atividade antibacteriana das formulações foi verificada qualitativamente por
inoculação em meio ágar MacConkey, com posterior incubação em estufa bacteriológica a
37ºC por 24 horas.
Foi utilizado o meio de cultura da marca Kasvi® e o microrganismo padrão Gram-
negativo Escherichia coli (ATCC 25922).
O meio de cultura desidratado foi preparado de acordo com as instruções descritas em
seu rótulo e esterilizado em autoclave a 121°C por 15 minutos. Foram então vertidos em
placas de Petri esterilizadas até a obtenção de uma camada de aproximadamente 3 mm a 4
mm (15 mL a 20 mL de ágar), para posterior utilização.
As amostras foram testadas em cinco concentrações distintas: 80%, 40%, 20%, 10% e
5%, diluídas em água destilada estéril, mas não foram autoclavadas para evitar possíveis
danos nas propriedades dos produtos quando expostos a alta temperatura.
Um disco do microrganismo liofilizado foi ressuspendido em caldo nutriente e então,
foi efetuado o ajuste com salina estéril (NaCl 0,9%) até a obtenção de turvação compatível
com a escala 0,5 de Mc Farland.
Para a semeadura das placas, foram adicionados 100 µL da suspensão de inóculo com
auxílio da alça de Drigalski, proporcionando completa absorção da amostra no ágar e logo
após, adicionou-se 1 mL da amostra diluída, também com o emprego da alça.
No controle positivo, adicionou-se apenas o inoculo e o meio, e para controle negativo
a amostra pura e o meio. Após a preparação, as placas foram incubadas por 24 horas em
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estufa bacteriológica a 36ºC (± 1ºC). As placas não foram invertidas durante a incubação para
garantir que o produto permanecesse em contato com o microrganismo inoculado. Todo o
procedimento foi realizado em triplicata.
Após esse período, foi realizada avaliação visual para identificar se houve ou não o
crescimento microbiano.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Parâmetros Físico-químicos
As análises físico-químicas são técnicas que consistem em determinar as
características de um produto (GOULART, 2010). Estas análises são de alta importância para
o controle de qualidade do produto final, podendo indicar problemas na estabilidade dos
ingredientes ou no processo de fabricação (BRASIL, 2004).
A partir destes estudos, assegura-se que os produtos atendam os padrões de qualidade
para produtos cosméticos estabelecidos pela Anvisa, que tem o papel institucional de
promover e proteger a saúde da população, garantindo a saúde e satisfação dos consumidores
(GOULART, 2010).
Análise Organoléptica
Na Tabela 1 pode ser observada a avaliação das características organolépticas das nove
amostras de sabonete líquido.
Tabela 1: Avaliação das características organolépticas dos sabonetes líquidos analisados.
Produtos Cor Odor Aspecto
A Rosa/Perolado Agradável Viscoso
B Transparente Menta/Agradável Viscoso
C Marrom/Perolado Agradável Viscoso
D Branco/Leitoso Agradável Viscoso
E Branco/Leitoso Erva
Doce/Agradável
Viscoso
F Transparente/Perolado Agradável Viscoso
G Transparente Agradável Fluido
H Amarelo/transparente Agradável Fluido
I Transparente Agradável Viscoso
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Em relação às características das amostras, pode-se observar que os aspectos variaram
conforme as marcas. Todas apresentaram aspectos agradáveis e adequados para um sabonete
líquido. As amostras diferiram muito no odor, tendo cada amostra seu odor característico de
acordo com sua formulação.
Quanto ao aspecto, a amostra G e H se apresentaram bem fluidas em relação às outras
amostras e a amostra I se apresentou a mais viscosa. A cor da amostra C mostrou-se menos
atrativa quando comparada com as outras amostras. Observou-se homogeneidade e ausência
de qualquer matéria sólida nas nove amostras.
De acordo com Bezerra (2016), as características organolépticas são padrões de
qualidade classificados como voluntários ou diferenciais, onde não há uma regulamentação
que padronize essas características. Assim, cada fabricante atribui ao seu produto o aspecto
que desejar, dando a ele características próprias, mas mantendo sempre o respeito à segurança
e eficácia do produto.
Apesar de não haver regulamentação, as características organolépticas da formulação
são muitas vezes um fator determinante na escolha do produto pelo usuário, visto que a
adesão se dá por aquele que possuir aspectos mais agradáveis. Para Cunha (2009), a
preferência geralmente é por formulações suaves, com boa espalhabilidade, que sejam
transferidas de recipiente com facilidade, que não deixem resíduos detectáveis e sejam
aderentes à área tratada sem tornar-se pegajosa ou de difícil remoção.
Na Tabela 2 estão dispostos os resultados para os teste de pH, viscosidade e densidade.
Para todos os ensaios a temperatura foi de 20°C.
Tabela 2: Parâmetros físico-químicos dos sabonetes líquidos analisados.
Produtos pH Viscosidade (cP) Densidade (g/mL)
A 4,28 ± 0,03 14533 1,014
B 4,74 ± 0,00 11266 1,019
C 4,65 ± 0,01 8013 1,020
D 7,59 ± 0,05 6786 1,010
E 6,24 ± 0,05 5706 1,010
F 4,95 ± 0,01 7360 1,021
G 7,10 ± 0,01 440 1,027
H 6,01 ± 0,03 440 1,030
I 4,07 ± 0,01 7466 1,029
As análises de pH foram realizadas em triplicata, utilizando-se como resultado final a
média dos três valores obtidos de cada amostra. Os valores de pH para as nove amostras
variaram de 4,07 (produto I) a 7,59 (produto D).
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As amostras C, E e F apresentam em seu rótulo a informação de pH
balanceado/compatível com a pele, nas outras seis amostras não há referência sobre o valor de
pH no rótulo.
Segundo Leonardi (2002), o pH da pele não é neutro, pois varia de acordo com a
região do corpo e também com a idade. Logo, considera entre 4,5 e 6,0 o pH fisiológico da
pele, responsável este, por executar a proteção bactericida e fungicida em sua superfície. De
acordo com Guimarães (2007), o pH da pele é naturalmente ácido, entre 4,0 e 6,0 e a
alcalinidade poderia causar irritação cutânea. Neste sentido, pode ser verificado que apenas as
amostras D, E e G apresentaram valores fora da faixa do pH fisiológico, mas permaneceram
próximos da neutralidade.
Mendes et al. (2015) ao avaliar o pH de 90 sabonetes em barra e líquidos, obteve um
total de 17 sabonetes antibacterianos, onde 14 eram em barra e 3 em apresentação líquida.
Todos os 14 sabonetes em barra apresentaram pH superior a 8,0; já entre os 3 líquidos, um
apresentou pH inferior a 5,0; um entre 5,0‐ 5,9 e um superior a 8,0. Apenas dois sabonetes
antibacterianos na forma líquida apresentaram pH próximo do fisiológico. Nos sabonetes
líquidos sem ação bacteriana (20 amostras), um apresentou pH inferior a 5,0; três entre 5,0-
5,9; nove entre 6,0-6,9 e sete entre 7,0-7,9.
A análise do pH da formulação é de extrema importância, visto que a sua variação
durante seu tempo de validade pode indicar alteração na estabilidade da formulação
(LEONARDI, 2002). Essa alteração pode causar irritações, pois uma vez alterado, o valor não
estará compatível com os componentes da fórmula, nem com o local de aplicação para o qual
o produto é indicado (AZZINI, 1999).
Os valores de viscosidade foram obtidos a partir da média das leituras realizadas nos
tempos de 15, 30 e 45 segundos. Os resultados foram expressos em centistokes e
demonstraram variação de 440 (produtos G e H) a 14533 (produto A), conforme consta na
Tabela 3. A diferença nos valores decorre da variação dos componentes utilizados na
formulação das marcas.
As amostras G e H foram as que se apresentaram fluidas quando analisadas
visualmente (Tabela 1), resultado este comprovado pela obtenção dos menores valores de
viscosidade entre as nove amostras, ambas com 440 cP.
A viscosidade é a medida de resistência do líquido em fluir. Assim, quanto maior a
viscosidade de um líquido, maior será a sua resistência. Ela pode interferir também no
espalhamento do produto sobre uma superfície, demonstrando-se então como uma
característica relevante no desenvolvimento de formulações, visto que uma menor viscosidade
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irá conferir ao produto uma maior facilidade de espalhamento nas mãos e também maior
facilidade na remoção no momento do enxágüe. Além disso, a concentração e o rendimento
do produto também estão relacionados com a viscosidade (SOUZA, et.al. 2007).
A densidade de uma formulação corresponde à relação entre a massa de uma
substância e o volume que ela ocupa (SILVA; SOUZA, 2015).
Segundo Ferreira (2010), a densidade dos shampoos e sabonetes líquidos pode ser
considerada em 1,010 e 1,020g/mL. Não houve diferença significativa nos valores obtidos nas
nove amostras, mesmo apresentando formulações diferentes. Os valores variaram de 1,010 a
1,030 g/mL, estando as amostras, F, G, H e I, acima do valor de referência encontrado na
literatura.
Na Tabela 3 estão dispostos os resultados obtidos na determinação do índice de
espuma das amostras.
Tabela 3: Determinação do índice de espuma (Altura em cm). Produtos Tempo 0 min. Tempo 5 min. Tempo 15 min. Tempo 30 min.
A 13 12,5 11,3 11
B 13,5 13 12,5 11
C 15 14 13,5 11,5
D 14 13,5 13 12
E 13,5 12,8 12,5 11
F 12,3 11,5 11,3 10,5
G 15,5 14,5 14 12,5
H 14 13,5 13 11
I 13,5 13 12,5 10
Foi realizada a leitura da altura da espuma nos tempos de 0, 5, 15 e 30 minutos após
10 segundos de agitação. Todos os produtos apresentaram boa capacidade de formação de
espuma.
A formação de espuma é diretamente proporcional à quantidade de tensoativos da
formulação (SILVA; SOUZA, 2015). Todas as formulações testadas possuem em comum a
utilização do tensoativo aniônico Lauril Éter Sulfato de Sódio em combinação com o
tensoativo não-iônico Cocoamido DEA e o tensoativo anfótero Cocoamido Propil Betaína.
Segundo o Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas, o Lauril Éter Sulfato de Sódio é
um dos tensoativos mais empregados na indústria cosmética e farmacêutica pelas suas
propriedades e versatilidade, sendo compatível com quase todos os outros tensoativos usados
em formulações. Possuiu um alto poder de detergência, espuma e limpeza (SBRT, 2007).
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A capacidade do produto em formar e manter espuma é de grande importância do
ponto de vista comercial, visto que muitas vezes o consumidor associa sua eficácia com a
quantidade de espuma formada (COUTO et al., 2007).
Para o teste de Centrifugação, os valores obtidos foram satisfatórios, exceto pela
amostra G, onde houve separação de fases após os 30 minutos de centrifugação (Figura 1). O
restante das formulações apresentou aspecto homogêneo, o que garante sua estabilidade física
sob este aspecto.
Figura 1: Amostra G - Separação de fases
Conforme Cronemberger (2015), a separação de fases na centrifugação indica que o
produto pode sofrer interferências na sua capacidade funcional e na sua estabilidade.
A centrifugação simula o aumento da força de gravidade sobre o produto, movendo
suas partículas para o interior. Com este aumento de força, a mobilidade das partículas
também aumenta e antecipa possíveis instabilidades que podem vir a ocorrer durante a
validade do produto. As partículas poderão ser observadas na forma de precipitação,
separação de fases, formação de sedimento compacto (caking) e coalescência, entre outras
(BRASIL, 2004).
Análise de Rotulagem
A RDC nº 07, de 10 de fevereiro de 2015, dispõe sobre os requisitos obrigatórios para
a regularização de produtos de higiene pessoal, cosmético e perfumes e classifica estes
produtos de acordo com seu grau de risco. De acordo com esta resolução, produtos que
possuem indicações específicas, cujas características exigem comprovação de segurança e/ou
14
eficácia, bem como informações e cuidados, modo e restrições de uso, são classificados como
produtos de Grau de Risco 2.
Objetivando a prevenção de agravos à saúde do consumidor, ficam estabelecidas na
Legislação vigente, todas as informações e indicações que devem conter no rótulo do produto
(DA GAMA et al, 2014). Diante disso, foi realizada a leitura dos rótulos dos produtos
utilizados conforme a Tabela 4.
Tabela 4. Produtos de Grau de Risco 2 analisados quanto ao parâmetro rotulagem.
Item A B C D E F G H I
1 - Nome do Produto x x x x x x x x x
2 – Marca x x x x x x x x x
3 - Número de Registro na Anvisa x x x x x x - - x
4 - Lote ou Partida x x x x x x x x x
5 - Prazo de Validade x x x x x x x x x
6 – Conteúdo x x x x x x x x x
7 - País de Origem x x x x x x x x x
8 - Fabricante/ Importador/ Titular x x x x x x x x x
9 - Domicílio do Fabricante/
Importador/Titular x x x x x x x x x
10 - Modo de uso x x x x x x x x x
11 - Advertências e Restrições de uso x x x x x x x x x
12 - Rotulagem Específica
13 - Ingredientes/ Composição n
x
n
x
n
x
n
x
n
x
n
x
n
x
n
x
n
x
Legenda: x, em acordo com a legislação; -, Desvio da legislação; n, não se aplica.
Todos os produtos avaliados são comercializados apenas na embalagem primária,
envoltório ou recipiente que se encontra em contato direto com os produtos. De acordo com a
RDC, quando não existir embalagem secundária, todas as informações necessárias quanto ao
produto devem estar na embalagem primária.
Entre os produtos de Grau de Risco 2 estão os protetores solares e bronzeadores,
produtos infantis, alisantes capilares, repelentes de insetos e géis antisséptico para as mãos.
Estes produtos estão sujeitos ao procedimento de registro na Anvisa, e para obter esse registro
é necessário que atendam os critérios estabelecidos em leis e a regulamentação específica.
Estes critérios visam minimizar eventuais riscos associados ao produto (BRASIL, 2015).
Nos produtos analisados, foi possível verificar que sete marcas continham o número do
processo e número de autorização de funcionamento (AFE) (produtos A, B, C, D, E, F e I) e
duas marcas (G e H) continham apenas o número do registro. De acordo com o Artigo 18 da
Resolução, deve conter na rotulagem dos produtos o número de Autorização de
15
Funcionamento da empresa - AFE e o número do processo na rotulagem do produto, gerado
no sistema da Anvisa, que corresponderá ao número de registro.
Para efetuar o registro de um produto junto à Anvisa, a empresa deve possuir a
Autorização de Funcionamento de Empresa (AFE), visto que o número de registro é derivado
do número da AFE (ANVISA, 2015). Assim, pode-se dizer que a empresa fabricante possui a
AFE, apenas não informou seu número no rótulo do produto.
De acordo com Rito (2014), o número de registro do produto é um dado que requer
atenção, pois é no momento do registro/notificação do produto junto à Anvisa que se
apresenta a documentação do produto (parâmetros físico-químicos, microbiológicos, entre
outros), atestando que a formulação cumpre os pré-requisitos de segurança e eficácia.
Packer (2017), ao analisar 665 rótulos de produtos cosméticos de Grau 1 e 2, relatou
que a maior parte estava de acordo com a legislação, porém, considerou preocupante as
inconformidades encontradas, visto que os maiores desvios estavam no modo de uso, registro
do produto, lote, prazo de validade, advertências e restrições de uso.
Quanto ao item “Ingredientes/composição”, todos os produtos analisados citaram em
seu rótulo as informações de acordo com sistema de nomenclatura INCI. De acordo com
Packer (2017), a utilização correta da nomenclatura traz vantagens para os consumidores e
para a comunidade científica, pois permite a identificação dos ingredientes de forma clara,
precisa e imediata em qualquer lugar do mundo.
Rito (2012), ao analisar 72 amostras de produtos de Grau 2, relatou que os principais
desvios observados foram relativos a notificação ou ao registro de produto, a falta da
categoria do produto no rótulo e a data de fabricação, concluindo que 94% dos produtos
avaliados apresentaram o rótulo em desacordo com a legislação brasileira vigente.
No geral, as nove marcas analisadas neste estudo apresentaram rótulos em acordo com
a legislação, não apresentando desvios graves, mas como visto, há registros na literatura que
demonstram que em muitas vezes, as informações contidas nos rótulos ainda são
insuficientes, sendo necessário o monitoramento e notificação dos desvios encontrados.
Avaliação Microbiológica
Visando desenvolver formulações mais atrativas e eficientes para o consumidor têm-se
empregado aditivos com funções diversas e específicas como anti-inflamatórios, antissépticos,
entre outros (SOUZA et al., 2007).
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Dentre os sabonetes estudados, quatro marcas utilizam o Triclosan como
antimicrobiano (D, E, G e H), três utilizam o Triclocarban (A, C e F), a marca B apresenta
extratos vegetais com ação antimicrobiana e a marca I utiliza os conservantes antimicrobianos
Metil isotiazolinona (MIT) e Cloro-metil isotiazolinona (CMIT). Apenas os produtos G e H
especificam no rótulo a porcentagem de antibacteriano contida na formulação (1% Triclosan).
Dentre todos os agentes antimicrobianos, o mais utilizado nas formulações é o
triclosan, um ativo sintético, desenvolvido em 1960, que apresenta-se como um pó cristalino,
solúvel em muitos solventes orgânicos (GARCIA, 2011). Em altas dosagens, demonstra
atividade bactericida com um amplo espectro de ação, o que ajuda a impedir a propagação dos
microrganismos, reduzindo o risco de infecções (GIARETTA et al., 2007). É comercialmente
conhecido como Irgasan DP-300 (BARBOSA, 2010).
De acordo com a lista positiva de conservantes autorizados pela Anvisa (BRASIL,
2012), o emprego do triclosan é indicado em concentrações de até 0,3% em preparações
destinadas ao contato permanente com a pele. Em fórmulas com tensoativos, que sofrerá
enxágüe após ser utilizada, é empregado em uma concentração de 0,4 a 2% (GUIMARÃES,
2007), como é o caso dos sabonetes líquidos.
Os conservantes cloro-metil isotiazolinona e metil isotiazolinona pertencem ao grupo
das isotiazolinonas. É miscível em água, propilenoglicol e álcool (MORSELLI, 2014).
Possuem como principais características o seu baixo preço e sua grande eficiência em baixas
concentrações contra bactérias Gram-positivas e negativas, fungos e algas. São amplamente
utilizadas em formulações cosméticas e produtos de limpeza em concentrações de 0,02-0,1%,
o que equivale 3-15 ppm (CHIRINOS et al., 2016).
O triclocarban (triclorocarbanilida) também chamado de TCC é amplamente utilizado
em produtos de cuidado pessoal. De acordo com a RDC nº 29, de 1 de Junho de 2012, sua
utilização é permitida em até 0,2% da formulação, podendo chegar em até 1,5% quando em
produtos destinados a serem enxaguados. É mais ativo contra bactérias Gram-positivas do que
contra Gram-negativas e fungos. Pouco usado na clínica, faz parte de sabonetes para
antissepsia de pele. Se estiver sujeito a altas temperaturas, decompõe-se, produzindo
cloroanilinas (ARÉVALO et al., 2001).
Na Tabela 5 pode-se observar os resultados obtidos nos teste de eficiência dos produtos
antibacterianos.
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Tabela 5: Eficácia antisséptica de sabonetes líquidos frente à Escherichia coli. Produtos Agente
antimicrobiano
C +
Controle
Positivo
C -
Controle
Negativo
D0
Amostra
pura
D1
Diluição a
80%
D2
Diluição a
40%
D3
Diluição a
20%
D4
Diluição a
10%
D5
Diluição a
5%
A Triclocarban + - + + + + + +
B Extratos
Vegetais
+ - + + + + + +
C Triclocarban + - + + + + + +
D Triclosan + - + + + + + +
E Triclosan + - + + + + + +
F Triclocarban + - + + + + + +
G Triclosan + - + - + + + +
H Triclosan + - - - + + + +
I MIT e CMIT + - - - + + + +
Legenda: -, Ausência de crescimento bacteriano; +, Presença de crescimento bacteriano.
Nos controles de crescimento, foi possível visualizar a mudança na coloração do meio
no controle positivo, comprovando assim a viabilidade dos organismos que foram utilizados
no teste. Nos controles negativos realizados para cada uma das amostras, não foram
identificados nenhum tipo de crescimento. Assim, os dois serviram como controle de
crescimento para a leitura das amostras testadas e suas diluições. Na Figura 2 é possível
perceber a diferença visual dos controles.
Figura 2: Controle + (lado esquerdo); Controle - (lado direito).
Analisando a Tabela 5, é possível verificar que através da técnica realizada, seis das
nove amostras de sabonetes não impediram o crescimento bacteriano em nenhuma das
concentrações testadas.
Nos produtos G, H e I, observou-se a inibição do crescimento bacteriano apenas
quando utilizada a amostra pura ou diluída a 80%. A partir da segunda diluição, a 40%, a
aplicação do produto não mostrou efetividade em nenhuma das formulações. Na Figura 3,
18
pode-se visualizar o aumento da turvação em maiores diluições, se aproximando da turvação
do controle positivo.
Figura 3: Placas após 24 horas de incubação.
Conforme já descrito, os sabonetes G e H possuem como agente antimicrobiano o
triclosan a 1%. Já o sabonete I, que também se mostrou eficiente em D0 e D1 apresenta a
combinação de metil isotiazolinona (MIT) e cloro-metil isotiazolinona (CMIT).
Silva (2015), ao analisar a eficiência de sabonetes, verificou a sensibilidade de
bactérias Escherichia coli em análise microbiológica utilizando formulações com
concentrações de triclosan equivalente a 0,5% e 1%. As bactérias foram sensíveis ao triclosan
a partir da menor Concentração Inibitória Mínima (CIM) (20 µg/mL). O autor concluiu que os
sabonetes contendo triclosan apresentaram atividade bactericida e não bacteriostática,
inibindo em 100% o crescimento dos micro-organismos testados, comprovando sua eficácia
antisséptica.
Em um estudo realizado por Oliveira et al. (2008), utilizando sabonete líquido com teor
de triclosan a 0,5%, também obtiveram inibição do crescimento bacteriano (Staphylococcus
aureus e Escherichia coli) a partir de 20 µg/mL, reforçando assim a efetividade do triclosan
nas concentrações 0,5 e 1% frente à micro-organismos Gram-positivos e Gram-negativos.
Giaretta et al. (2007), ao compararem sabonetes com três agentes antimicrobianos
diferentes, chegaram a obter uma inibição de 100% no crescimento dos microrganismos
testados com triclosan, entre eles a Escherichia coli.
Ao analisar menores concentrações, Silva (2015) relatou que o sabonete líquido
antibacteriano que segundo o fabricante continha 0,3 % de triclosan em sua formulação,
garantindo eliminar 99,9% das bactérias, não eliminou, nem sequer reduziu, qualquer
microrganismo usado no teste. Devido ao fato das formulações não apresentarem em seus
19
rótulos a concentração do antimicrobiano utilizado, pode-se considerar a hipótese, de que a
concentração de Triclosan utilizada pelas outras marcas podem ser inferiores à utilizada nas
formulações G e H, não sendo capaz de causar inibição bacteriana assim como no referido
estudo.
Costa et al. (2018) concluiu em seu estudo uma maior efetividade de sabonetes ao
serem utilizados em cepas de bactérias de S. aureus do que em bactérias E. coli. Ele verificou
também que a efetividade do sabonete aumentou quando utilizado a associação Triclosan-
Enxofre em relação ao Triclosan 1%, mas que o Triclosan 1% se mostrou mais efetivo do que
quando comparado com a associação Triclosan-Triclocarban.
CONCLUSÃO
Após análise da rotulagem dos produtos, pode-se verificar que os mesmos atendem as
especificações da RDC nº 07, de 10 de fevereiro de 2015. Através do cumprimento das
legislações, os consumidores terão seus direitos respeitados e poderão ter a garantia de que
estão adquirindo produtos com qualidade e segurança. Ao fornecer dados seguros e completos
em seus rótulos os riscos de irritação e acidentes podem ser diminuídos.
Em relação às análises físico-químicas, foi possível perceber diferenças nos resultados
analisados devido aos produtos possuírem formulações distintas. As amostras apresentaram
resultados satisfatórios, atentando apenas para a separação de fases do produto G no teste de
centrifugação, que pode indicar uma alteração na estabilidade.
Nas análises microbiológicas, apenas três produtos apresentaram capacidade de inibir o
crescimento da bactéria Escherichia coli. Esta inibição ocorreu quando utilizada a amostra
pura ou diluída a 80%. Para diluições superiores os resultados não foram satisfatórios em
nenhum dos produtos analisados. Cabe ressaltar que foram encontrados resultados
satisfatórios na literatura, havendo a necessidade de mais estudos quanto às concentrações de
agentes antimicrobianos utilizados.
20
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