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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE MARIA DO ROSÁRIO ABREU E SOUSA OLHARES VIAJANTES: PAI JOÃO, MÃE CECÍLIA São Paulo 2008

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

MARIA DO ROSÁRIO ABREU E SOUSA

OLHARES VIAJANTES: PAI JOÃO, MÃE CECÍLIA

São Paulo 2008

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

MARIA DO ROSÁRIO ABREU E SOUSA

OLHARES VIAJANTES: PAI JOÃO, MÃE CECÍLIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de a obtenção do título de Mestre em Letras

Orientadora: Profª. Drª. Marisa Phibert Lajolo

SÃO PAULO 2008

S725o Sousa, Maria do Rosário Abreu e Olhares viajantes: Pai João, Mãe Cecília. / Maria do Rosário

Abreu e Sousa. - - São Paulo, 2008. 146 p. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2008. Orientação: Profª Drª Marisa Philbert Lajolo.

Bibliografia: p.: 140 - 145

1. Linguagem poética. 2. Guimarães Rosa. 3.Cecília Meireles. 4. Epistolografia. 5. Crianças. I. Título.

CDD: 808.1

MARIA DO ROSÁRIO ABREU E SOUSA

OLHARES VIAJANTES: PAI JOÃO MÃE CECÍLIA

Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Letras

Aprovada em

Banca Examinadora

Profa Dra Marisa Philbert Lajolo – Orientadora

Profa Dra Maria Luiza Atik

Profa Dra Ana Maria Domingues de Oliveira

Minha mãe, “Rosinha minha canoa”

À Tia Dalva (in memoriam) que me ensinou a amar os livros.

À Profa Dra Marisa Lajolo, sempre doce e paciente.

A José Mindlin, pelo carinho que sempre me dedicou.

AGRADECIMENTOS

Ana Elisa, professora e amiga.

Kátia Pelle, sempre disponível para socorrer-me.

Márcio Bonon, amigo velho, de cartas trocadas pelo correio.

Zé Leo, amigo novo, de cartas trocadas pelo correio eletrônico.

Zédu Isabel Gasparini, pelos muitos livros compartilhados.

“A palavra tem canto e plumagem”

Guimarães Rosa, São Marcos.

“Elas se disseram, assim eles dois, coisas grandes

em palavras pequenas, ti a mim, me a ti, e tanto”

Guimarães Rosa, A partida do audaz navegante.

RESUMO

Esta dissertação discute a linguagem poética de cinco cartas selecionadas que os

escritores João Guimarães Rosa e Cecília Meireles escreveram para suas filhas nos

anos 1940, quando estas eram crianças, ou entravam nos primeiros anos da

adolescência. Reflete acerca do sucesso editorial da “escrita de si”. Apresenta

conceitos sobre epistolografia e sua importância para os estudos literários, bem

como discussões acerca do estatuto literário da carta. Questiona o peso dessas dez

cartas selecionadas para os estudos literários, relacionando-as aos diferentes

pontos de vista relatados anteriormente por diversos críticos e teóricos. Analisa a

linguagem poética das dez cartas selecionadas relacionando-as à obra dos dois

escritores. Conclui identificando lacunas na bibliografia sobre epistolografia,

especialmente naquela endereçada ou produzida para crianças.

Palavras-chave: Guimarães Rosa. Cecília Meireles. Epistolografia. Crianças.

Linguagem Poética.

ABSTRACT

This work discusses the poetic language of five selected letters that Guimarães Rosa

and Cecília Meireles wrote to their daughters, when they were child or teenagers,

during the 1940 years. It reflects about the success of the publication of letters of

famous writers. It presents concepts about epistolography, and its importance to the

literary studies as well as discussions if letters are or are not literature. It quests the

importance of these ten selected letters to the literary studies. It analyses the poetic

language of the selected letters, and it concludes identifying the lack of studies about

letters written to/by children

Key-words Guimarães Rosa. Cecília Meireles. Epistolography. Children. Poetic

Language.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................112 OBJETIVOS...........................................................................................................133 TRANSCRIÇÃO DO CORPUS: IMAGEM E TEXTO .............................................22

3.1 Cartas de Guimarães Rosa .............................................................................23

3.2 Cartas de Cecília Meireles...............................................................................29

4 EPISTOLOGRAFIA NO CONTEXTO DA “ESCRITA DE SI”................................415 EPISTOLOGRAFIA E LITERATURA ....................................................................566 O ESTATUTO LITERÁRIO DAS CARTAS SELECIONADAS ..............................707 O LÚDICO EM GUIMARÃES ROSA E EM CECÍLIA MEIRELES .........................84

7.1 Manifestações do lúdico: recriação dos nomes próprios .................................93

8 A LINGUAGEM POÉTICA NAS CARTAS DE PAI JOÃO E MÃE CECÍLIA .......1038.1 Cecília Meireles (Mãe Cecília) .......................................................................106

8.2 Guimarães Rosa (Pai João)...........................................................................122

CONCLUSÃO .........................................................................................................137REFERÊNCIAS.......................................................................................................140

Lista de tabelas

Tabela 1. Cartas publicadas de Guimarães Rosa às filhas .................... 14

Tabela 2. Cartas publicadas de Cecília Meireles às filhas ..................... 16

Tabela 3. Cartas selecionadas de Guimarães Rosa às filhas ................ 19

Tabela 4. Cartas selecionadas de Cecília Meireles às filhas .................. 20

1 INTRODUÇÃO

Esta dissertação inspirou-se na monografia apresentada no curso de pós-

graduação lato-sensu da Universidade Paulista, no ano de 2004, intitulada Ooó do

Vovô e os temas do universo rosiano: infância e humanizacão dos animais, que se

ocupou de cartas e cartões postais que Guimarães Rosa (1908-1967), endereçou às

netas, Beatriz e Vera Helena Tess, no período de 1966 até 1967, bem como

anotações que o escritor fazia sobre o modo de falar, os gestos e o comportamento

das meninas.

Todo esse material está publicado no livro Ooó do Vovo! (correspondência de

João Guimarães Rosa, vovô Joãozinho, com Vera e Beatriz Helen Tess)1.

A admiração por Rosa, romancista e contista, já antiga, somou-se à

curiosidade de saber como eram seus outros escritos, as anotações que ele fazia

em cadernos, ou em pedaços de papel, e que posteriormente seriam aproveitadas

em suas “estórias”.

O fato de as destinatárias serem crianças, pesou bastante na escolha do

corpus, uma vez que a infância aparece com freqüência na obra rosiana, haja vista

serem as crianças personagens principais de muitas de suas histórias, com

destaque para “Miguilim”. Pesou também o fato de Rosa jamais ter escrito um livro,

ou conto, direcionado às crianças.

Com relação ao número expressivo de publicações de cartas de artistas

consagrados, surgiu também a dúvida em saber se aqueles escritos eram ou não

literatura, em que medida aquelas cartas e anotações eram importantes para a

crítica literária, ou se a publicação de tais documentos devia-se apenas ao sucesso

de vendas que o tornar público a intimidade de um artista consagrado propicia.

1 São Paulo: Edusp; Belo Horizonte: Puc Minas; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2003.

12

A elaboração da monografia propiciou um primeiro contato com a

epistolografia, com a crítica genética, e confirmou a veracidade da constatação

expressa por Galvão; Gotlib (2000, p.9), da disparidade entre o grande número de

cartas de artistas, escritores, intelectuais, e o reduzido número de estudos sobre as

mesmas.

Algumas lacunas que ficaram nesta primeira pesquisa começaram a ser

respondidas neste segundo trabalho, como por exemplo, o lugar da epistolografia

nos estudos literários, e seu estatuto literário.

Por outro lado, a busca de um “arquivo da criação”, frustrado na primeira

pesquisa, começou a concretizar-se nesta.

13

2 OBJETIVOS

Com tais antecedentes, Pai João, Mãe Cecília, vai ocupar-se de algumas

cartas enviadas por Guimarães Rosa e por Cecília Meireles (1901-1964) a suas

filhas, respectivamente Vilma e Agnes, filhas do primeiro casamento de Guimarães

Rosa com Lygia Cabral Penna, e das meninas Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria

Fernanda, filhas de Cecília Meireles e do artista plástico Fernando Correia Dias.

Todas as cartas datam da década de 40 do século passado, quando tanto

Guimarães Rosa quanto Cecília Meireles passaram grandes temporadas fora do

Brasil. Era tempo de guerra e ela trabalhava como professora de Literatura Brasileira

na Universidade do Texas (Estados Unidos) e ele, como diplomata de carreira,

ocupava postos primeiro na Alemanha e depois na Colômbia.

As tabelas abaixo, organizando a correspondência de cada escritor para

suas filhas, permitem contextualizar no conjunto deste tipo de correspondência de

cada escritor, as cartas2 de que esta dissertação se ocupará.

2 Cartas extraídas dos livros: MEIRELES, Cecília. Três Marias de Cecília. Organização, apresentação e notas: Marcos Antonio de Moraes. São Paulo: Moderna, 2006 e ROSA, Vilma Guimarães. Relembramentos: João Guimarães Rosa, Meu Pai. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteia, 1999.

14

Tabela 1. Cartas publicadas de Guimarães Rosa às filhas GUIMARÃES ROSA

Cidade e país de origem Data Destinatária Outras

observações

Paris/França ? Vilma e Agnes Cartão Postal

Hamburgo/Alemanha 16/05/1938 Vilma Cartão Postal

Hamburgo/Alemanha 19/02/1941 Agnes Carta Datilografada

Lisboa/Portugal ?/06/1941 Vilma e Agnes Carta Manuscrita

Bogotá/Colômbia 16/09/1942 Vilma e Agnes Carta Manuscrita

? (presume-se país latino americano)

? (presume-se data próxima ao

natal)Vilma e Agnes Carta Datilografada

Bogotá/Colômbia ?/janeiro/1943 Vilma e Agnes Carta Datilografada

Bogotá/Colômbia Aniversário da Vilma Vilma Carta

(não há fac-símile)

Paris/França 03/09/1946 Vilma e Agnes Carta(não há fac-símile)

Paris/França 04/10/1949 Vilma Carta Datilografada

Paris/França 04/10/1949 Agnes Carta(não há fac-símile)

Paris/França 11/01/1950 VilmaCarta Manuscrita/

Timbre Ambassade Du Brèsil

Paris/França 29/05/1950 AgnesCarta Datilografada e Manuscrita/ Desenho

a mão

15

cont.Cidade e país de

origem Data Destinatária Outrasobservações

Paris/França 29/05/1950 VilmaCarta Datilografada e Manuscrita/ Desenho

a mão

Paris/França 19/08/1950 Vilma e Agnes Carta(não há fac-símile)

Paris/França ?/?/1951 Vilma e AgnesCarta Datilografada e Manuscrita/Desenhos

à Mão

Paris/França ? Vilma Bilhete – desenhos à mão

? 12/11/1965 Vilma Timbre Ministério das Relações Exteriores

Rio de Janeiro/Brasil 05/05/1952 Vilma Timbre Ministério Relações Exteriores

? ? Vilma Timbre Ministério das Relações Exteriores

Rio de Janeiro/Brasil 22/08/1942 Vilma e Agnes Bilhete / Timbre J. Guimarães Rosa

? ? Vilma Timbre Ministério das Relações Exteriores

Final

16

Tabela 2. Cartas publicadas de Cecília Meireles às filhas

CECÍLIA MEIRELES

Cidade e país de origem Data Destinatária Outras observações

Vitória/Brasil 1940 Maria Elvira, Maria

Mathilde Maria Fernanda

Carta Manuscrita

New Orleans/EUA 29/05/1940 Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Cartão Postal l

New Orleans/EUA 29/05/1940 Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Cartão Postal

Austin/EUA 08/06/1940 Maria-Mathilde Cartão Postal

Austin/EUA 09/06/1940 Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Cartão Postal

Austin/EUA 08/06/1940 Maria Elvira Cartão Postal

Austin/EUA 17/07/1940 Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Cartão Postal

San Antonio/EUA 21/07/1940 Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Cartão Postal

San Antonio/EUA 22/07/1940 Maria-Elvira Cartão Postal

Laredo/EUA 22/07/1940 Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Cartão Postal

17

cont.

Cidade e país de origem Data Destinatária Outras observações

Monterrey/México 24/071940Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Cartão Postal

San Antonio/EUA 02/08/1940 Maria Mathilde Carta Manuscrita

San Antonio/EUA 02/08/1940 Maria Fernanda Carta Manuscrita/ Desenhos à Mão

San Antonio/EUA 02/08/1940Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Carta Manuscrita Desenhos à Mão

Dallas/EUA 06/08/1940 Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Carta Manuscrita/ Desenhos

Tulsa/EUA 07/08/1940Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Cartão Postal

Tulsa/EUA ? Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Carta Manuscrita / Desenhos à mão

Saint Louis/EUA 10/08/1940Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Carta Manuscrita

Washington/EUA 13/ago/1940 Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Carta Manuscrita Timbre Hotel Ambassador /

Desenhos

New York/EUA 21/08/1940Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Cartão Postal

New York/EUA 21/08/1940Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Carta Manuscrita Desenhos

18

cont.Cidade e País de

OrigemData Destinatária Outras observações

Teresópolis/Brasil(?) 1942(?) Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Carta Datilografada e Manuscrita

Ouro Preto/Brasil Sem Data Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Cartão Postal

Montevidéu/Uruguai 08/06/1944 Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

CartaDatilografada

Pelotas/Brasil (?)/07/1944 Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Carta Datilografada

Barbacena/Brasill

26/11/1944

Maria Elvira, Maria Mathilde, Maria

Fernanda

Carta Datilografada

Belo Horizonte/Brasil 09/07/1947 Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Carta Manuscrita

Ouro Preto/Brasil 12/02/1948Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Carta Manuscrita

Final

O eixo norteador do critério de seleção das cartas, foi a época de sua escrita,

associado à idade das destinatárias, que deveriam ser crianças, ou estar ainda no

início da adolescência, a fim de que se possa discutir a linguagem a elas dirigida,

por dois autores, em cuja obra, a presença da infância é freqüente.

O objetivo desta dissertação é discutir a linguagem das cartas selecionadas,

relacionando-as à obra dos escritores, assim como discutir também, o peso dessa

correspondência nos estudos literários.

19

Nas duas tabelas abaixo, encontram-se as dez cartas selecionadas – cinco

de Guimarães Rosa, e outras cinco de Cecília Meireles – que serão discutidas

nessa dissertação. A coluna da esquerda indica a sigla pela qual item será

mencionado nesta dissertação.

Tabela 3. Cartas selecionadas de Guimarães Rosa às filhas

GUIMARÃES ROSALocal de origem Data Destinatária Outras

observações

GR1 Hamburgo 13/março/1940 Vilma CartaDatilografada

GR2 Hamburgo 19/fevereiro/1941 Agnes Carta

Datilografada

GR3 Bogotá 16/09/1942 Vilma e Agnes CartaManuscrita

GR4Presume-se país latino americano Vilma e Agnes Carta

Datilografada

GR5 Bogotá Janeiro/ 1943 Vilma e Agnes Carta

DatilografadaDesenho

20

Tabela 4. Cartas selecionadas de Cecília Meireles às filhas

CECÍLIA MEIRELES Local de origem Data Destinatária Outras

observações

CM1 Vitória 1940 Maria Elvira,

Maria Mathilde, Maria Fernanda

Carta Manuscrita

CM2 Austin O9/06/1940 Maria Elvira, Maria

Mathilde, Maria Fernanda

Cartão postal

CM3 San Antonio 02/08/1940 Maria Elvira Carta

Manuscrita/Desenhos

CM4 Dallas 06/08/1940 Maria Elvira, Maria

Mathilde,Maria Fernanda

Carta Manuscrita /Desenhos

CM5 TulsaMaria Elvira,

Maria Mathilde, Maria Fernanda

Carta Manuscrita / Desenhos

Nessa atividade epistolar, ambos os escritores ganham um inesperado traço

comum. Além de terem escrito prosa-poesia, consagrada por leitores e críticos: os

dois — nesta correspondência — fornecem material através do qual se pode refletir

sobre práticas de linguagem familiares e coloquiais a que se entregam escritores da

qualidade destes dois, cuja bibliografia elenca inúmeros prêmios e numerosas

edições de seus títulos, o que indica seu reconhecimento pela crítica e pelo público.

Guimarães Rosa, por exemplo, recebeu vários prêmios importantes, entre

eles o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras, com o livro Magma, em

1936. Foi agraciado, ainda, com os prêmios Machado de Assis, do Instituto Nacional

do Livro, e em 1962, a Academia Brasileira de Letras lhe confere o prêmio Machado

de Assis, pelo conjunto de sua obra. No ano seguinte, 1963, candidata-se à

Academia Brasileira de Letras e é eleito por unanimidade.

21

Cecília Meireles recebeu o prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de

Letras, em 1939, com o livro Viagem. Como tradutora, recebeu o prêmio

Tradução/Teatro, da Associação Paulista dos Críticos de Arte, e o prêmio Jabuti de

tradução de obra literária, da Câmara Brasileira do Livro. Recebeu ainda o título de

doctor honoris causa da Universidade de Deli. Foi agraciada postumamente, em

1965, pela Academia Brasileira de Letras, com o prêmio Machado de Assis pelo

conjunto de sua obra.

Das longas ausências dos dois escritores, brotaram cartas às filhas, cartas

estas plenas de olhares afetuosos, críticos, catárticos, lúdicos, bem humorados, e

como não poderia deixar de ser, poéticos.

22

3 TRANSCRIÇÃO DO CORPUS: IMAGEM E TEXTO

3.1

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Agn

es s

aber

iam

pro

nunc

iar:

“Witt

embe

rger

-Fae

hrha

us”.

Em

-fren

te d

a ca

sa h

á um

jard

im e

um

a pi

scin

a en

orm

e, o

nde

mor

am

duas

fóca

s m

ansa

s. E

las

bate

m p

alm

as, p

edin

do o

- com

ida.

A g

ente

co

mpr

a um

pra

to c

heio

de

hare

nque

s, e

vai

joga

ndo

os p

eixi

nhos

, que

el

as a

para

m n

o ar

, um

a u

m. E

torn

am a

bat

er p

alm

as, e

a m

exer

com

os

big

odes

, lat

indo

com

o ca

chor

rinho

s e

sara

cote

ando

o c

orpo

, gor

do e

ol

eoso

. E n

unca

est

ão s

em fo

me,

por

que

é in

saci

ável

o s

eu a

petit

e.

Tam

bém

, são

inte

ligen

tíssi

mas

,apr

ende

m fa

cilm

ente

toda

a s

orte

de

equi

libris

mo,

e já

vi m

esm

o um

a de

las

toca

r órg

ão, p

erfe

itam

ente

,

B

em, V

ilmin

ha, o

Pap

ái v

ai te

rmin

ar e

sta

carta

diz

endo

que

ele

vai

be

m, e

com

mui

tas

saud

ades

de

Voc

ê e

da A

gnes

, e m

anda

ndo,

par

a vo

cês

duas

, mui

tos

beijo

s e

abra

ços,

mui

tos,

mui

tos,

e m

ais

aind

a.

Pap

ai

GR

2H

ambu

rgo,

19

de fe

vere

iro d

e 19

41

Agn

ucha

, Dan

uchi

nha

do P

apai

. P

enso

que

, um

pou

co a

ntes

ou

uns

dias

dep

ois

do te

u an

iver

sário

, Voc

ê re

cebe

u a

min

ha c

arta

, com

os

para

bêns

e o

s ve

rsos

que

esc

revo

par

a fe

stej

ar

data

tão

impo

rtant

e. A

gora

eu

só e

scre

vo p

orqu

e es

tou

com

sau

dade

s da

P

atar

réca

, e, a

o es

crev

er, m

e pa

rece

est

ar c

hega

do u

m p

ouqu

inho

mai

s pe

rto

dela

. Voc

ê ta

mbé

m te

m s

auda

des

do P

apai

? M

uito

obr

igad

a pe

la c

artin

ha —

“tot

ó tu

tu ti

tio ti

tia v

ovó

vovô

uva

ovo

fita

...” —

qu

e ve

io ju

nto

com

a c

arta

de

Vilm

inha

, e q

ue tr

azia

des

enho

s co

lorid

os tã

o in

tere

ssan

tes.

Gos

tei m

uito

do

dese

nho

da c

asa,

com

cha

min

é e

fum

aça

mar

ron,

e d

o na

vio

de c

inco

and

ares

, enf

iado

den

tro d

e um

ped

aço

de m

ar,

mai

s az

ul d

o qu

e um

lápi

s az

ul...

Esc

reva

sem

pre,

bic

hinh

a m

inha

. S

ei q

ue V

ocê

já c

resc

eu m

uito

, já

ficou

moc

inha

, já

faz

prog

ress

os n

o C

olég

io, e

tc. M

as, p

ara

mim

, na

min

ha le

mbr

ança

, Voc

ê co

ntin

ua s

empr

e aq

uela

gar

otin

ha g

ordu

cha,

a m

ais

boni

ta d

e to

das

as m

enin

as d

o se

u ta

man

ho, e

a m

ais

boaz

inha

. A

quel

a A

gnuc

ha c

oraj

osa,

que

agu

ento

u ir,

a p

é,

com

o P

apai

, do

Flam

engo

à c

idad

e, s

ó pe

rden

do a

cal

ma

um in

stan

te, p

ara

quer

er p

egar

um

gat

o pr

eto,

à p

orta

de

uma

casa

, na

rua

Gon

çalv

es D

ias.

A

quel

a A

gnuc

ha q

ue e

mbr

ulha

va n

um le

nço

uma

bana

na d

esca

scad

a, p

ara

guar

dá-Ia

no

mei

o do

s br

inqu

edos

... E

que

tinh

a tra

nças

de

alem

ãzin

ha...

E

que

sabi

a lid

ar c

om o

radi

o, m

uito

dire

itinh

o...

E q

ue g

osta

va d

e fic

ar p

erto

do

Pap

ai, s

empr

e m

eiga

e g

entil

...M

as, q

ue ta

mbe

m, s

i a g

ente

se

desc

uida

va e

be

ijava

o n

ariz

inho

, em

cer

tas

époc

as, a

caba

va a

panh

ando

um

a gr

ippe

tre

men

da...

Si,

quan

do e

u vo

ltar a

o R

io, V

ocê

não

estiv

er g

osta

ndo

mui

to d

e m

im, e

não

qu

izer

ser

mai

s a

nam

orad

a do

Pap

ai, n

ós te

rem

os u

ma

brig

a m

uito

feia

! E

u ag

ora

esto

u co

nten

te, p

orqu

e te

nho

o re

trato

de

V o

cês

duas

, bem

per

to

de m

im, à

·min

ha m

esa

de c

abec

eira

. V o

cês

sorri

em p

ara

mim

, à n

oite

e p

ela

man

hã. E

às

veze

s há

até

um

a se

ssão

de

beijo

s. A

gora

tam

bem

. Mas

beijo

a

Agnu

chin

ha n

a te

sta,

bem

long

e do

nar

izin

ho, p

orqu

e ag

ora,

nês

te fi

m d

e in

vern

o, h

a m

uita

grip

pe p

or a

qui,

e, p

or v

ia d

as d

úvid

as, é

mel

hor t

er c

uida

do...

A

gora

, Dan

uchi

nha,

Ag-

nês,

Pat

arré

ca, m

enin

a de

our

o, q

uerid

inha

, pul

e pa

ra

mim

um a

braç

o, tã

o fo

rte e

com

prid

o co

mo

ning

uem

nun

ca d

eu.

N

ão s

e es

queç

a nu

nca

do Pap

ai.

GR

3

Bog

otá,

16,

IX-9

42.

Vilm

a e

Agn

ucha

, que

ridas

!

E

stou

com

um

a sa

udad

e en

orm

e do

s de

senh

os, d

os c

acoê

tes,

do

Dum

bo, d

a ta

rtaru

guin

ha, d

o el

evad

or, d

os a

lmoç

os n

o te

rraço

do

Pax

H

otel

, do

jôgo

do

loto

, das

can

ções

, dos

abr

aços

, dos

bei

jos,

de

tudo

- de

Voc

ês d

uas,

enf

im.

Que

ro q

ue V

ocês

me

escr

evam

, con

tand

o m

uita

s co

isas

, por

que

assi

m a

guen

tare

i mel

hor a

s sa

udad

es to

das.

A

quí f

az s

empr

e fri

o, u

m fr

io b

ravo

, que

com

eça

no d

ia Io d

e Ja

neiro

e a

caba

no

dia

31 d

e D

ezem

bro.

Os

hom

ens

pobr

es a

ndam

na

rua

com

um

a es

péci

e de

cob

erto

res,

fura

dos

para

pas

sar a

s ca

beça

s -

cham

am-s

e “r

uana

s”.

O c

afé-

pequ

eno

cham

a-se

“tin

to”;

o ca

fé-c

om-Ie

ite “p

eríc

o”; u

ma

cois

a m

uito

bôa

= “c

húsc

o” (t

xúsc

o!).

Par

a pe

rgun

tar a

alg

uém

si q

uer

tom

ar u

m c

afez

inho

, a g

ente

diz

: “Le

pro

voca

un

tinto

?...”

N

a B

oliv

ia, v

i reb

anho

s de

lham

as, p

asta

ndo.

Em

Aric

a, n

o C

hile

, av

iste

i-me

com

o O

cean

o P

acifi

co, e

mol

hei a

s m

ãos

na a

gua

do

mes

mo;

por

sin

al q

ue v

eiu

uma

onda

larg

a, e

mol

hou-

me

tam

bem

a

roup

a e

os s

apat

os. E

lá ta

mbe

m u

ns u

rubú

s de

cab

eça

verm

elha

, ch

amad

os “j

otes

”, ou

“gal

linaz

os”.

Voc

ês n

ão a

cham

eng

raça

do?

Os

nom

es d

e ci

dade

s aq

uí ta

mbe

m s

ão b

onito

s. P

or e

xem

plo,

al

gum

as: F

usag

asug

á, F

acat

ativ

á, Z

ipaq

uirá

, Cuc

utá,

etc

.

A

com

ida

não

é m

á, e

os

dôce

s e

as fr

utas

são

ótim

os.

as s

auda

des

é qu

e sã

o m

uita

s.

Man

dem

car

tas,

e d

esen

hos

boni

tos.

E a

Vilm

inha

dev

e co

mun

icar

-m

e ca

da c

acoê

te n

ovo,

poi

s go

sto

mui

to d

e ap

rend

er c

acoê

tes.

Tal

vez,

m

ais

tard

e, e

u es

crev

a um

dic

ioná

rio d

e ca

coêt

es, e

m c

olab

oraç

ão c

om

a V

ilma.

de s

air u

m li

vro

mui

to m

elan

cios

o.

Bem

, min

has

quer

idas

, pon

ho a

qui u

ma

quan

tidad

e m

uito

gra

nde

de a

braç

os, b

eijo

s, b

eijin

hos

e be

ijoca

s. E

todo

am

or e

o c

arin

ho d

o P

apae

.P

.S. —

Sin

ônim

o de

sau

dade

? =

Tris

teza

Sin

ônim

o de

rece

ber c

arta

das

filh

inha

s =

Ale

gria

!

GR

4

Que

rida

Vilm

a, q

uerid

a A

gnes

son

hei,

que

a V

ilmin

ha e

stav

a es

crev

endo

um

livr

o, e

a A

gnuc

ha

faze

ndo

as fi

gura

s pa

ra ê

le. O

títu

lo e

ra: “

CO

NV

ER

SAS

CO

M A

TA

RTA

RU

GA

”. M

uito

s ca

pítu

los

inte

ress

ante

s: 1

) Com

o fo

i que

a

Agn

es P

atar

reca

fico

u so

zinh

a no

Col

égio

, dep

ois

de p

erde

r o ô

mni

bus;

2)

com

o é

ruim

peg

ar-s

e ta

xi, q

uand

o se

atra

sa n

a ho

ra d

e ir

para

a

aula

; 3) p

orqu

e é

que

a V

italin

a ac

ha q

ue D

UM

BO

não

é m

ocin

ho d

e-ve

rdad

e, a

pesa

r de

ser h

erói

de

film

; 4) a

lmoç

o no

terra

ço, d

o P

ax-

Hot

el; 5

) tan

to V

ocês

man

dava

m o

Pap

ai p

ara

as a

ltura

s no

ele

vado

r do

Max

imus

, que

ele

aca

bou

voan

do p

arar

aqu

i, m

ais

alto

ain

da; 6

) po

rque

ser

á qu

e V

ocês

não

esc

reve

m u

ma

carti

nha

ao P

apai

?; 7

) po

rque

é q

ue o

Pap

ai g

osta

tant

o de

Voc

ês?.

.. (E

ste

são

os c

apítu

los

que

já e

stão

pro

ntos

. Mas

o li

vro

é m

aior

)

A

gora

, uns

sin

ônim

os, p

ara

não

me

esqu

ecer

e n

ão p

erde

r o

trein

o;

1

) Sin

ônim

o de

Vilm

a - Q

uerid

a do

Pap

ai;

2) s

inôn

imo

de A

gnes

- Q

uerid

a do

Pap

ai;

3) s

inôn

imo

de T

arta

ruga

- bi

chin

ho q

ue m

ora

dent

ro d

e um

a sa

bone

teira

;

4

) sin

ônim

o do

203

- cl

ube

do v

íspo

ra; p

omba

l dos

doi

s pa

ssar

inho

s do

Sio

n; p

alác

io d

os d

ois

apar

elho

s de

rádi

o; c

asa

do

elev

ador

per

igos

o;

5) s

inôn

imo

de P

apai

- pe

ssôa

que

tem

mui

tas

saud

ades

da;

V

ilmag

nes.

A

quí é

luga

r ond

e nã

o há

nad

a pa

ra s

e co

ntar

às

moc

inha

s. N

ada

de “m

elan

cios

o”, t

udo

“abo

boro

so” o

u “m

andi

ocos

o”. M

andi

oca

aquí

se

cham

a “Y

uca

” (yu

ca).

Min

ha fi

lha:

“Mi h

ija”,

mi h

ijita

(min

ha fi

lhin

ha),

fam

iliarm

ente

: “m

ijita”

...

F

eliz

e a

legr

e N

atal

e A

no-B

om, p

ara

Voc

ês!

Mui

tos

beijo

s, m

uito

s ab

raço

s, m

uita

s ca

nçõe

s, e

m v

ária

s lín

guas

.

”.

..Miro

nton

, miro

nton

, miro

ntai

ne!..

.”

D

e qu

em a

s sa

udad

es?

De

Vilm

a e

Agn

es...

Q

uem

est

á aq

ui s

ozin

ho?

...o

J

oãoz

inho

.

GR

5B

ogot

á, J

anei

ro d

e 19

43.

Que

rida

Agn

ucha

, – um

abr

aço,

ape

rtado

, de

para

bêns

, com

um

a po

rção

de

carin

hosa

s be

ijoca

s. Q

ue V

ocê

cres

ça, s

adia

, bon

ita,

inte

ligen

te e

bôa

, e g

osta

ndo

sem

pre

do P

apae

! (N

ão h

á pr

esen

tes,

ag

ora,

mas

fica

m a

pena

s ad

iado

s).

& Q

q (d

esen

ho) N

ão p

arec

em tr

ês g

atos

, num

a ga

iola

?...

Viv

a a

aniv

ersa

riant

e!...

O

utro

s be

ijos,

do

Pap

ai__

____

____

____

____

____

____

____

____

__

Vilm

inha

e A

gnuc

ha, q

uerid

as!

Mui

to o

brig

ado,

pel

as c

artin

has,

que

me

aleg

rara

m m

uitís

sim

o.

Vilm

inha

,o

pequ

eno

dici

onár

io, c

hinê

s es

tava

form

idáv

el! A

gora

, esp

ero

que

cont

inúe

s m

e m

anda

ndo,

de

vez

em q

uand

o, u

ma

carti

nha,

con

tand

o m

uita

coi

sa e

ngra

çada

. M

iront

on, m

iront

on, m

iront

aine

!.. .

Mui

tos

beijo

s e

abra

ços

e m

ais

carin

hos!

A

gnuc

ha,

gos

tei m

uito

do

dese

nho

da p

alm

eira

cor

cund

a (n

ão, d

escu

lpe,

I er

a um

a flô

r!), N

a pr

óxim

a ca

rta, m

ande

-me

um d

esen

ho d

o ôn

ibus

do

Col

égio

, com

Voc

ê e

a V

ilma

espi

ando

na

jane

la.

Abr

açoc

as e

bei

joca

s, s

ortid

as.

___

____

____

____

____

____

____

____

____

_

Fiq

uei m

uito

tris

te, p

or n

ão te

r hav

ido

bici

clet

as d

e P

apai

-Noe

l. Ta

mbé

m, b

icic

leta

é u

m b

rinqu

edo

perig

oso,

par

a m

enin

as b

onita

s.

Lem

bran

ças

para

Elô

e V

italin

a.

Com

o va

i a D

ona

Tarta

ruga

?

Joã

ozito