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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU - FURB CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA FLORESTAL MANOELA DREWS DE AGUIAR ESTRUTURA DA PAISAGEM E COMPOSIÇÃO FUNCIONAL DE ESPÉCIES ARBÓREAS NA FLORESTA OMBRÓFILA DENSA DE SANTA CATARINA BLUMENAU, SC 2015

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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU - FURB

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA FLORESTAL

MANOELA DREWS DE AGUIAR

ESTRUTURA DA PAISAGEM E COMPOSIÇÃO FUNCIONAL DE ESPÉCIES

ARBÓREAS NA FLORESTA OMBRÓFILA DENSA DE SANTA CATARINA

BLUMENAU, SC

2015

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MANOELA DREWS DE AGUIAR

ESTRUTURA DA PAISAGEM E COMPOSIÇÃO FUNCIONAL DE ESPÉCIES

ARBÓREAS NA FLORESTA OMBRÓFILA DENSA DE SANTA CATARINA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Engenharia Florestal do Centro

de Ciências Tecnológicas da Universidade

Regional de Blumenau, como requisito parcial

para a obtenção do grau de Mestre em

Engenharia Florestal.

Prof. Dr. Alexander Christian Vibrans - Orientador

Prof. Dr. Pedro Higuchi - Co-orientador

BLUMENAU, SC

2015

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Ficha Catalográfica elaborada pela

Biblioteca Universitária da FURB

______________________________________________________________________

Aguiar, Manoela Drews de, 1990-

A282e Estrutura da paisagem e composição funcional de espécies arbóreas na Floresta

Ombrófila Densa de Santa Catarina / Manoela Drews de Aguiar. - 2015.

77 f. : il.

Orientador: Alexander C. Vibrans.

Co-orientador: Pedro Higuchi.

Dissertação (mestrado) - Universidade Regional de Blumenau,

Centro de Ciências Tecnológicas, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal.

Inclui bibliografia.

1. Florestas tropicais – Santa Catarina. 2. Florestas – Conservação – Santa Catarina. 3. Recursos

florestais – Santa Catarina. I. Vibrans, Alexander Christian. II. Higuchi, Pedro. III. Universidade

Regional de Blumenau. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal. III. Título.

CDD 634.9

______________________________________________________________________

4

5

Dedico este trabalho as duas pessoas mais importantes

da minha vida, meu pai Manoel Aguiar e minha mãe Traudi Aguiar.

Este trabalho só foi possível pela confiança deles em mim.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, agradeço de forma especial, por todos os ensinamentos, por não me

deixarem desistir nos momentos ruins, por sempre me apoiarem e confiarem em mim.

Agradeço ao Professor Dr. Alexander Christian Vibrans, que é um grande pesquisador

e com toda a paciência me trouxe grandes aprendizados. Ao Professor Dr. Pedro Higuchi, que

já em minha graduação colaborou com o meu crescimento como aluna e estudiosa. Estou para

conhecer alguém com a inteligência, paciência e carinho pelo que faz, como o professor Pedro.

Serei eternamente grata pela grande ajuda que me deu!

Agradeço também imensamente ao Inventário Florístico Florestal por ter

disponibilizado sua base de dados, bem como à Professora Dra. Sandra C. Müller pela cessão

dos dados dos atributos funcionais das espécies estudadas. Katia Zaninni pela atenção prestada

a mim para que os dados fossem corretamente disponibilizados.

Agradeço à Capes, pela concessão da bolsa que possibilitou a realização deste trabalho.

De forma indireta, mas extremamente importante, meu parceiro de todas as horas, André

Schollemberg, fez que todo o fardo do mestrado se tornasse mais leve, me ouvindo, me

aconselhando, me ajudando, se necessário, e fazendo com que me sentisse bem sempre.

Aos meus eternos amigos, Fabiana, Diego e Sabrina (Parças), que estiveram presentes

todo o tempo ao meu lado, verdadeiros amigos! Só quem já experimentou de uma verdadeira

amizade, sabe da importância dela para a felicidade.

Aos amigos que fiz durante essa caminhada, não foram poucos e foram muito especiais,

talvez alguns nem saibam de sua importância nesse período, mas foram essenciais. Menciono

aqui alguns. Murel (muito obrigada por ouvir meus desabafos incessantes!), Patrícia, Joanna,

Daiane, Laio (peça raríssima) e João. Ao povo muito disciplinado do laboratório, em especial

à Débora que me ajudou muito (a eterna anja do inventário!). Karine Souza, aquela pessoa que

você sabe que pode contar. Mario José Marques, Danielle Ramos, Gabrielle Beca e Francielle

Missio, são de uma solidariedade imensa!

Esse é o fim de mais uma etapa, a partir daqui não sei qual será o desenrolar das coisas,

mas sei da importância do que tive até aqui e das pessoas que fizeram parte dessa história.

Muito obrigada a todos!

7

“Ali lhe parece que o céu é mais transparente e que o sol luz com claridade nova. Oferece-se-

lhe aos olhos uma aprazível floresta de tão verdes e frondosas árvores composta, que alegra

a vista sua verdura.”

O engenheiro fidalgo D. Quixote da Mancha - Miguel de Cervantes Saavedra

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Processo de fragmentação da paisagem em relação ao tempo em função de mudanças no uso

do solo. Áreas em preto representam o habitat original e as áreas em branco representam a matriz. ....13

Figura 2: Representação de dois pontos, escolhidos aleatoriamente em uma paisagem, não pertencerem

a um mesmo fragmento, fornecido em probabilidade pela métrica DIVISION (Índice de Divisão da

Paisagem). ..............................................................................................................................................16

Figura 3: Grau de subdivisão da paisagem. Imagem A representando alta subdivisão e B baixa

subdivisão. ..............................................................................................................................................17

Figura 4: Mapa com a localização das 202 unidades amostrais referentes a Floresta Ombrófila Densa

(FOD), alocadas pelo Projeto Inventário Florístico-Florestal de Santa Catarina (IFFSC). ....................28

Figura 5: Conglomerado utilizado para a amostragem da vegetação catarinense pelo Inventário Florístico

Florestal de Santa Catarina. ....................................................................................................................29

Figura 6: Representação do buffer de 2,8 km de raio, utilizado para o cálculo das métricas de paisagem,

estando representados, o remanescente-foco (mancha), no qual está localizada a Unidade Amostral do

IFFSC, remanescentes florestais inseridos na área buffer e que compõem a classe floresta, e as áreas não

florestais e de estágio sucessional inicial, não considerados no estudo. ................................................30

Figura 7: Histograma do Número de Manchas (NP) e porcentagem de floresta nas 202 áreas analisadas

de Floresta Ombrófila Densa no Estado de Santa Catarina. ...................................................................36

Figura 8:Histogramas da área do remanescente-foco e da porcentagem de área núcleo (CAI) para a classe

floresta das 202 áreas analisadas na Floresta Ombrófila Densa no Estado de Santa Catarina. ..............36

Figura 9: Histogramas do índice de forma do remanescente-foco (Shape_Idx) e do índice médio de

forma (MSI) da classe floresta para as 202 áreas analisadas na Floresta Ombrófila Densa de Santa

Catarina. .................................................................................................................................................37

Figura 10: Histogramas do índice de divisão (DIVISION) expresso em porcentagem (%) para as 202

áreas analisadas na Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina. .........................................................37

Figura 11: Histogramas da distância do vizinho mais próximo de mesma classe (NNDist) para as 202

áreas analisadas na Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina. .........................................................38

Figura 12: Mapa com a localização das unidades amostrais classificadas em mais e menos fragmentadas

na Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina ....................................................................................39

Figura 13: Boxplots dos valores de cada métrica de paisagem, a nível de classe e mancha, analisadas na

Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina nos grupos mais e menos fragmentado. 1: Métricas de área

florestal; 2: métricas de borda; 3: métricas de divisão; 4: distância do vizinho mais próximo; 5: métricas

de forma. n = 202, *P <0,05, ***P<0,001, ns = não significativo. ........................................................41

Figura 14: Dendrograma para as vinte espécies arbóreas mais abundantes de 202 unidades amostrais

alocados na Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina, a partir dos atributos funcionais altura máxima,

área foliar específica, densidade da madeira, síndrome de dispersão, fenologia foliar, conteúdo de

matéria seca, nitrogênio e fósforo foliar. ................................................................................................43

Figura 15: Análise de correspondência entre os atributos fenologia foliar (dec = decídua, semi =

semidecídua, per = perene) e síndrome de dispersão (anem = anemocoria, zoo = zoocoria) e a associação

com os grupos funcionais. ......................................................................................................................45

Figura 16: Análise de componentes principais para ordenação dos grupos funcionais por meio dos

atributos área foliar específica (SLA), conteúdo de matéria seca foliar (LDMC), altura máxima (Hmáx),

densidade da madeira (SSD), conteúdo de nitrogênio e fósforo foliar (LNC e LPC). ...........................46

Figura 17: Mapa das microrregiões do Estado e localização das 86 unidades amostrais alocadas pelo

Projeto Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC) na Floresta Ombrófila Densa. Em

9

verde, a cobertura florestal remanescente de acordo com o mapa de uso do solo realizado pelo Projeto

de Proteção a Mata Atlântica em Santa Catarina (GEOAMBIENTE, 2008). ........................................58

Figura 18: Conglomerado utilizado para a amostragem da vegetação catarinense pelo Inventário

Florístico Florestal de Santa Catarina. ...................................................................................................59

Figura 19: Representação do buffer de 2,8 km de raio, utilizado para o cálculo das métricas de paisagem,

estando representados, o remanescente-foco, no qual está localizada a Unidade Amostral do IFSSC,

remanescentes florestais inseridos na área buffer e que compõem a classe floresta, e as áreas não

florestais e de estágio sucessional inicial, não considerados no estudo. ................................................61

Figura 20: Análise de Componentes Principais realizada a partir da matriz atributos médios por unidade

amostral (CWM), do conjunto de espécies mais abundantes da Floresta Ombrófila Densa de Santa

Catarina. SSD = densidade da madeira; LNC = conteúdo de nitrogênio foliar; SLA = área foliar

específica; LPC = conteúdo de fósforo foliar; LDMC = conteúdo de matéria seca foliar; hmáx = altura

máxima. ..................................................................................................................................................64

Figura 21: Gráfico do melhor modelo encontrado para explicação do Eixo 2 da Análise de Componentes

Principais (PCA), relacionado (p-value=0,0238) com a métrica DIVISION, que quantifica o grau de

subdivisão dos fragmentos florestais em uma dada paisagem, na Floresta Ombrófila Densa de Santa

Catarina. .................................................................................................................................................66

Figura 22: Estimativa de densidade de Kernel para a síndrome de dispersão zoocórica (1 – cinza claro)

e anemocórica (0 – cinza escuro) em relação à totalidade de bora –TE (A) e o índice médio de forma –

MSI (B). .................................................................................................................................................67

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Métricas de paisagem a nível de classe e a nível de mancha, com seus respectivos

significados e unidades de medida. .......................................................................................... 30

Tabela 2: Espécies arbóreas mais abundantes pertencentes à Floresta Ombrófila Densa do

Estado de Santa Catarina. ......................................................................................................... 31

Tabela 3: atributos funcionais observados com suas respectivas siglas, unidade de medida

(para variáveis quantitativas) e categorias (variáveis qualitativas) .......................................... 32

Tabela 4: Valores das métricas de paisagem a nível de classe e mancha, obtidos para 202

áreas analisadas na Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina. ........................................... 34

Tabela 5: Valores dos atributos funcionais obtidos das 20 espécies arbóreas mais abundantes

da Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina. ...................................................................... 42

Tabela 6: Análise de Variância para os atributos de área foliar específica (SLA), conteúdo de

matéria seca foliar (LDMC), altura máxima (Hmáx), densidade da madeira (SSD), conteúdo

de nitrogênio foliar (LNC) e conteúdo de fósforo foliar (LPC) por grupo funcional. ............. 44

Tabela 7: Frequências absolutas, com valores percentuais entre parênteses, por grupo

funcional para os atributos categóricos fenologia foliar e síndrome de dispersão, com os

resultados da análise da tabela de contingência........................................................................ 44

Tabela 8: Resultados dos modelos GLS para a abundância dos grupos funcionais. Somente o

melhor modelo de acordo com os valores de AIC são mostrados. São apresentados os

coeficientes estimados e os erros padrão. ................................................................................. 48

Tabela 9: Espécies arbóreas mais abundantes pertencentes à Floresta Ombrófila Densa do

Estado de Santa Catarina. ......................................................................................................... 59

Tabela 10: atributos funcionais observados com suas respectivas siglas, unidade de medida

(para variáveis quantitativas) e categorias (variáveis qualitativas) .......................................... 60

Tabela 11: Métricas de paisagem a nível de classe e a nível de mancha, com seus respectivos

significados e unidades de medida. .......................................................................................... 62

Tabela 12: Resultados da Análise de Componentes Principais (PCA) para os atributos

funcionais analisados, com a correlação das variáveis para os dois primeiros eixos da

ordenação. ................................................................................................................................. 64

Tabela 13: Resultados dos modelos lineares, usando o método dos mínimos quadrados

generalizados (GLS) para os dois primeiros eixos da Análise de Componentes Principais

(PCA) e para o índice de diversidade funcional RaoQ e modelos lineares generalizados

(GLM), com distribuição binomial, para a síndrome de dispersão. ......................................... 65

11

SUMÁRIO

RESUMO GERAL ___________________________________________________________________ 12

INTRODUÇÃO GERAL ______________________________________________________________ 13

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ___________________________________________________ 19

CAPÍTULO I

FLORESTA OMBRÓFILA DENSA DE SANTA CATARINA: A ESTRUTURA ESPACIAL DOS

REMANESCENTES FLORESTAIS E OS ATRIBUTOS FUNCIONAIS DAS ESPÉCIES

ARBÓREAS ________________________________________________________________________ 23

RESUMO __________________________________________________________________________ 23

ABSTRACT ________________________________________________________________________ 24

INTRODUÇÃO _____________________________________________________________________ 25

MATERIAL E MÉTODOS ___________________________________________________________ 26 ÁREA DE ESTUDO _____________________________________________________________________ 26

ESTRUTURA ESPACIAL DOS REMANESCENTES FLORESTAIS _______________________________________ 29

SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FUNCIONAL DAS ESPÉCIES ARBÓREAS _______________________________ 31

ANÁLISES REALIZADAS PARA O 1º OBJETIVO: DESCREVER A CONDIÇÃO DE FRAGMENTAÇÃO, APONTANDO AS

REGIÕES ONDE A FRAGMENTAÇÃO OCORREU DE FORMA MAIS INTENSA _____________________________ 32

ANÁLISES REALIZADAS PARA O 2º OBJETIVO: AGRUPAMENTO FUNCIONAL E AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DE

MÉTRICAS DA PAISAGEM SOBRE A ABUNDÂNCIA DOS GRUPOS FUNCIONAIS IDENTIFICADOS. ______________ 33

RESULTADOS E DISCUSSÃO _______________________________________________________ 34 ESTRUTURA DA PAISAGEM _______________________________________________________________ 34

CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS ANALISADAS EM MAIS E MENOS FRAGMENTADAS _________________________ 38

ATRIBUTOS FUNCIONAIS E ESTRATÉGIA DAS PLANTAS ___________________________________________ 41

RELAÇÃO ENTRE OS GRUPOS FUNCIONAIS E A ESTRUTURA DA PAISAGEM ____________________________ 47

CONCLUSÃO ______________________________________________________________________ 48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________________________ 49

CAPÍTULO II

A FRAGMENTAÇÃO COMO PREDITORA DE MUDANÇAS FUNCIONAIS DO COMPONENTE

ARBÓREO NA FLORESTA OMBRÓFILA DENSA DE SANTA CATARINA _________________ 53

RESUMO __________________________________________________________________________ 53

ABSTRACT ________________________________________________________________________ 54

INTRODUÇÃO _____________________________________________________________________ 54

MATERIAL E MÉTODOS ___________________________________________________________ 56 ÁREA DE ESTUDO _____________________________________________________________________ 56

SELEÇÃO DAS ESPÉCIES ________________________________________________________________ 57

CARACTERIZAÇÃO FUNCIONAL DAS ESPÉCIES ARBÓREAS ________________________________________ 60

ESTRUTURA DA PAISAGEM DOS REMANESCENTES FLORESTAIS ____________________________________ 60

ANÁLISES ESTATÍSTICAS_________________________________________________________________ 62

RESULTADOS _____________________________________________________________________ 63

DISCUSSÃO _______________________________________________________________________ 67

CONCLUSÃO ______________________________________________________________________ 70

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________________________ 70

CONSIDERAÇÕES FINAIS ___________________________________________________________ 75

APÊNDICE_________________________________________________________________________76

12

RESUMO GERAL

A fragmentação florestal causa diversas modificações na estrutura e composição de

comunidades vegetais. Atualmente, de forma mais aprofundada, estudos têm avaliado a

influência da fragmentação com uma perspectiva funcional das plantas em metacomunidades.

Este aprofundamento é essencial em ecossistemas de complexa biodiversidade e em acelerada

degradação, como é o caso das florestas tropicais. Dessa forma, neste trabalho, avaliou-se a

influência da estrutura espacial de remanescentes florestais sobre um conjunto de atributos

funcionais das espécies arbóreas mais abundantes da Floresta Ombrófila Densa de Santa

Catarina. A dissertação foi dividida em dois capítulos. O primeiro capítulo teve dois objetivos:

(i) descrever a condição de fragmentação da Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina,

apontando as regiões onde a fragmentação ocorreu de forma mais intensa, classificando-as em

mais e menos fragmentadas segundo as métricas de paisagem mais explicativas dos dados

funcionais; (ii) descrever os atributos funcionais das espécies arbóreas mais abundantes,

agrupando-as funcionalmente e avaliando a influência das métricas da paisagem sobre a

abundância dos grupos funcionais identificados. Para isso, avaliaram-se, de forma exploratória,

os dados de métricas de paisagem e de atributos funcionais, realizaram-se análises de

agrupamento, Análise de Variância (ANOVA), ordenações e regressão. Os resultados

indicaram diferentes graus de fragmentação na Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina,

com maior intensidade nas regiões Sul, Litoral Norte e Alto Vale do Itajaí. Também

identificaram-se diferentes estratégias de vida das espécies avaliadas para a ocupação de

habitats e para o desenvolvimento e sobrevivência. O segundo capítulo teve como objetivo

investigar a influência da estrutura espacial dos remanescentes florestais sobre os atributos

funcionais e a diversidade funcional do conjunto de espécies mais abundantes da Floresta

Ombrófila Densa de Santa Catarina. Para isso, calculou-se o índice de diversidade de RaoQ e

realizaram-se Análise de Componentes Principais e regressões. Os resultados indicaram que as

áreas mais fragmentadas (aquelas que ocorreram em paisagens mais subdivididas, com maior

quantidade de borda e com maior complexidade de forma) apresentaram alterações nos padrões

de dispersão, na densidade da madeira e no conteúdo de matéria seca foliar. Em contrapartida,

a diversidade funcional foi mantida nas diferentes intensidades de fragmentação. De forma

geral, concluiu-se que parâmetros estruturais da paisagem demonstram-se importantes na

explicação de alterações da composição funcional da Floresta Ombrófila Densa; estes

resultados são importantes para a construção de uma base teórica no gerenciamento da

configuração de habitats e da composição da paisagem em áreas fragmentadas.

Palavras-chave: Fragmentação florestal. Atributos funcionais. Diversidade funcional.

13

INTRODUÇÃO GERAL

A fragmentação de habitats naturais é uma das maiores ameaças à biodiversidade global,

impulsionando mudanças na composição e configuração das paisagens. O alto grau de

fragmentação na Floresta Atlântica, por exemplo, contribuiu para que mais de 80% de seus

fragmentos florestais apresentassem menos de 50 hectares (RIBEIRO et al., 2009), e, devido

ao seu alto endemismo e grande número de espécies ameaçadas de extinção, foi classificada

como um hotspot terrestre no final do século XX (MYERS et al., 2000).

O bioma está presente em 17 Estados da costa brasileira, originalmente cobria todo o

Estado de Santa Catarina, esse com extensão de 95.346,18 km² (VIBRANS et al, 2013), possui

atualmente 26.337,8 km² de floresta em seu território (VIBRANS et. al, 2013) e ocupa a quinta

colocação no ranking de desmatamento da Floresta Atlântica (SOS MATA ATLÂNTICA e

INPE, 2014).

O desmatamento das florestas provoca redução e fragmentação de habitats, dois

conceitos distintos que foram confundidos por muito tempo (FAHRIG, 2003). Entende-se

fragmentação como processo de subdivisão, em que uma grande área contínua é convertida em

pequenas manchas isoladas por uma matriz diferente do habitat original (Figura 1) (WILCOVE

et al. 1986; FAHRIG, 2003). Na redução de habitat pode ou não ocorrer subdivisão, porém há

inevitável perda de espécies, sendo todas as envolvidas prejudicadas. Na fragmentação as

consequências dependem do grupo funcional das espécies considerado, algumas espécies se

beneficiam, outras nem tanto (VILLARD e METZGER, 2014).

A divisão de uma grande área em pequenos fragmentos faz com que estes adquiram

condições ambientais diferentes, causando a redução significativa do fluxo de animais, pólen e

sementes e aumento dos casos de invasão biológica. Uma paisagem fragmentada, em função de

sua configuração espacial, ainda pode manter diversas populações de organismos, porém, a

partir de um certo grau de fragmentação, os efeitos tornam-se intensos e, às vezes, irreversíveis

(METZGER, 2008).

Fonte: Fahrig, 2003.

Figura 1: Processo de fragmentação da paisagem em relação ao tempo em função de mudanças no uso

do solo. Áreas em preto representam o habitat original e as áreas em branco representam a matriz.

14

O efeito mais evidente da fragmentação é a redução do tamanho populacional das

espécies mais sensíveis às novas condições bióticas e abióticas impostas, porém os efeitos não

são homogêneos para todas elas. De acordo com Chan-Dzul et al. (2011), “quando um

ecossistema experimenta uma forte perturbação, a taxa de recuperação dependerá do tipo,

frequência e intensidade da mesma, assim como a capacidade de resiliência do ecossistema”.

Viana e Tabanez (1996) colocam ainda que a intensidade desses efeitos sobre as populações

depende da biologia das espécies e também das características do fragmento na qual a

comunidade está inserida. As variações na abundância, riqueza e composição de espécies em

paisagens fragmentadas ocorrem principalmente porque as espécies apresentam características

ecológicas próprias que as fazem responder de maneira particular as alterações de seu habitat

(OLIFIERS e CERQUEIRA, 2006).

Os efeitos da fragmentação florestal foram objeto de estudo para muitos pesquisadores

no Brasil (TABARELLI et al., 1999; NUNES et al., 2003; NASCIMENTO e LAURANCE,

2006; TABARELLI et al., 2006; MACHADO et al., 2008; LAURANCE e VASCONCELOS,

2009; UZÊDA et al., 2011). As evidências científicas colocam a fragmentação como uma

importante causadora de mudanças que afetam, de forma diferenciada, a estrutura e a dinâmica

de ecossistemas florestais. Em outros termos, a fragmentação gera comunidades empobrecidas,

biossimplificadas e com pouca representatividade de espécies raras e/ou ameaçadas

(OLIVEIRA et al., 2004).

Os mais discutidos e preocupantes efeitos da fragmentação são: o aumento do efeito de

borda, causado pela maior área de contato com o ambiente externo (matriz), principal

provocador de alterações ambientais nos remanescentes (NASCIMENTO e LAURANCE,

2006), redução da conectividade funcional (indicada pelo deslocamento da fauna polinizadora

e dispersora) e estrutural dos fragmentos (METZGER, 2008). E ainda, tamanho, forma, grau de

isolamento, tipo de vizinhança e histórico de perturbações, são os principais fatores

mencionados por Viana et al. (1992), que afetam a dinâmica de fragmentos florestais e se

relacionam com importantes fenômenos biológicos.

Diferenças nas taxas de colonização refletem-se principalmente nos modos de dispersão

(METZGER, 2000). Espécies dispersadas pelo vento (anemocóricas) têm maior capacidade de

mover-se a maiores distâncias entre fragmentos florestais. Espécies zoocóricas dependem do

deslocamento de animais dispersores que, devido a vários fatores, podem estar ausentes ou em

baixo número, ou impedidos de deslocar-se pela matriz do entorno (SCARIOT et al., 2003).

15

A ecologia da paisagem, como um novo programa de pesquisa, tornou-se proeminente

dentro da ecologia, na década de 1980 (TURNER et al., 2001). Concentra-se no estudo da

influência da estrutura espacial (heterogeneidade espacial) sobre processos ecológicos, um

campo altamente interdisciplinar, que tem ajudado a compreender a magnitude dos efeitos de

atividades humanas sob populações de espécies vegetais e animais.

Forman e Godron (1986) definem Ecologia de Paisagem como o “estudo da estrutura,

função e dinâmica de áreas heterogêneas compostas por ecossistemas interativos”. A estrutura,

é, segundo Soares Filho (1998), um arranjo ou padrão espacial da paisagem, descrito pelos

tamanhos, formas, números e tipos de configurações dos ecossistemas, e que governa a

distribuição de energia, materiais e organismos.

A paisagem é composta por três tipos de elementos: manchas, corredores e matriz. As

manchas (do inglês patch) em uma paisagem, normalmente, representam ecossistemas

compostos por comunidades de animais e plantas (FORMAN e GODRON, 1986) e são

definidas como uma superfície não linear e relativamente reduzida e homogênea, numa

determinada escala, que difere em aparência de seu entorno (METZGER, 2003a). No âmbito

do geoprocessamento, uma mancha é representada por uma unidade em um mapa, formada por

um único polígono (no caso da representação vetorial), e recebem atributos nominais definidos

pelos tipos de elementos da paisagem que representam, como as florestas, os campos agrícolas,

reflorestamentos, dentre outros (SOARES FILHO, 1998). Alguns dos aspectos que

caracterizam a mancha são seu tamanho, número e forma. As mudanças de uso do solo

modificam estes aspectos, diminuindo o tamanho, alterando a forma, aumentando o número das

manchas e a distância entre elas, caracterizado como processo de fragmentação da paisagem

(SOARES FILHO, 1998). Os corredores são resumidamente definidos como sendo, uma área

homogênea, discreta e linear da paisagem, relativamente estreita, que difere das áreas vizinhas

(METZGER, 2001; TURNER et al., 2001). A matriz é o tipo de cobertura mais extenso em

uma paisagem, mais conectado e funcionalmente mais dominante, que determina a dinâmica da

paisagem (FORMAN, 1995). A matriz não seria um ambiente totalmente inóspito e, em geral,

possui baixa similaridade florística e fisionômica em relação à mancha (METZGER, 2008).

Para o estudo da influência da estrutura espacial sobre processos ecológicos é necessário

quantificar os padrões espaciais. Uma das formas de quantificação é utilizar as chamadas

métricas da paisagem (METZGER, 2003b).

Para Metzger (2003b), as métricas de paisagem são agrupadas em duas categorias: as de

composição e as de disposição. Os parâmetros de composição dão uma ideia de quais unidades

ou elementos estão presentes na paisagem, da riqueza dessa unidade, bem como da área por

16

elas ocupadas. Já, segundo o mesmo autor, os parâmetros de disposição vão quantificar o

arranjo das unidades e são utilizados para caracterizar as unidades em termos de bordas,

diversidade de contatos, grau de isolamento, conectividade, área e formato.

A fragmentação condiciona a um maior comprimento de borda, criando um novo

habitat, ambientalmente mais limitante e propício para espécies menos sensíveis às condições

de borda, resultando em um aumento dessas espécies e diminuição do habitat de espécies de

interior, o que não é desejável do ponto de vista da conservação. A quantidade de borda

influencia também na quantidade de área núcleo, que é a área efetiva de uma mancha ou

conjunto de manchas na paisagem. As métricas de área núcleo são consideradas medidas de

qualidade de um dado habitat e são medidas pela relação da área de habitat descontada a borda

e a área total.

A forma dos remanescentes está diretamente relacionada ao efeito de borda, pois quanto

mais complexa a forma, maior o efeito externo sobre o fragmento (exposição à luz e ao vento,

por exemplo) e maior o contato com a matriz. Neste sentido, determinadas métricas de paisagem

que quantificam a forma dos remanescentes na paisagem avaliam “a complexidade da forma

por meio da comparação com uma feição padrão” (LANG e BLASCHKE, 2009). Segundo os

mesmos autores, quanto mais a forma do fragmento desviar do padrão redondo, maior será o

índice de forma e maior é a complexidade dos fragmentos na paisagem.

As métricas que quantificam a divisão da paisagem (DIVISION - LANG e TIEDE,

2003) é definido como a probabilidade (%) de que dois locais escolhidos aleatoriamente em

uma paisagem sob investigação não estejam situados num mesmo fragmento remanescente

(Figura 2), e é calculado a partir da função de distribuição do tamanho das manchas

remanescentes (JAEGER, 2000).

Disponível em: www.umass.edu/landeco/teaching/landscape_ecology/schedule/chapter9_metrics.pdf

Figura 2: Representação de dois pontos, escolhidos aleatoriamente em uma paisagem, não pertencerem

a um mesmo fragmento, fornecido em probabilidade pela métrica DIVISION (Índice de Divisão da

Paisagem).

17

A

B

A importância das métricas de subdivisão está relacionada com a subdivisão das

populações, com a interrupção de continuidade de processos ecológicos e com a conectividade

da paisagem (Figura 3), e é o conceito central no estudo da fragmentação de habitats

(METZGER, 1999).

Disponível em: www.umass.edu/landeco/teaching/landscape_ecology/schedule/chapter9_metrics.pdf

Figura 3: Grau de subdivisão da paisagem. Imagem A representando alta subdivisão e B baixa

subdivisão.

Pelo estudo de Lavorel et al. (1997), já foram reconhecidas as mudanças no uso da terra

como uns dos principais promotores da mudança global (bióticas e abióticas), e devido às

crescentes perturbações de ambientes naturais, constatou-se que haveria a necessidade de

identificar grupos de organismos classificados com base na sua resposta a essas perturbações.

Atualmente, propõe-se o estudo funcional das plantas como um diferencial às análises

tradicionais da vegetação. Estes estudos analisam a vegetação por meio de um conjunto de

características intrínsecas das plantas, características estas que podem ser morfológicas,

fisiológicas ou fenológicas mensuráveis a nível de indivíduo, conhecidas como atributos

funcionais (VIOLLE et al., 2007).

Os atributos funcionais são manifestações das estratégias das plantas para ultrapassarem

filtros ambientais (filtros de seleção impostos pelas condições ambientais - clima,

luminosidade, encharcamento do solo, stress hídrico e etc.) e também competirem com as

espécies coexistentes. Estão envolvidas nas maneiras de adquirir, processar e investir os

recursos disponíveis (DÍAZ et al., 2004). Espécies com uma mesma estratégia de vida

costumam apresentar atributos semelhantes, interpretados como adaptações a determinados

padrões de uso de recursos (LAVOREL et al., 1997).

18

Pillar (1999) observou que o estudo das respostas vegetais às mudanças ambientais em

uma escala global não pode basear-se na unidade taxonômica de espécies, uma vez que a

maioria delas apresenta distribuição geográfica limitada. O uso de grupos funcionais pode,

nesse caso, otimizar a percepção entre vegetação e mudanças ambientais, já que grupos de

plantas com estratégias de vida similares apresentam uma resposta similar às variações

ambientais em qualquer escala (local à global) (CARNEIRO, 2013).

De fato, observa-se relações dos atributos fucionais com diferentes condições

ambientais nas comunidades vegetais (CUNNINGHAM et al., 1999; MÜLLER et al., 2007;

CASTRO et al., 2010; LIENIN e KLEYER, 2011). Quando determinadas essas relações,

contribuem para a compreensão sobre a amplitude dos nichos ecológicos das espécies árbóreas

em diversas escalas (MISSIO, 2014).

De acordo com Carneiro (2013), as limitações de recursos e as condições abióticas nas

bordas, resultantes da fragmentação florestal, agem como filtros ambientais restringindo a

variação nos atributos das plantas. O que resultaria, ainda, em uma menor diversidade funcional

e levaria a um comprometimento do funcionamento e da manutenção de processos nas

comunidades (MAYFIELD et al., 2005).

Existe ainda, o que os pesquisadores chamam de trade-off em atributos funcionais,

ocorrendo, nesse caso, um tipo de espectro de variação de atributos (LAMBERS e POOTER,

1992; WESTOBY et al., 2002; DÍAZ et al. 2004; WRIGHT et al., 2004; FALSTER e

WESTOBY, 2005; CHAVE et al., 2009). Um exemplo seria o trade-off entre aquisição e

conservação de recursos por parte das plantas, em que, em um extremo do espectro estariam

espécies com atributos que facilitam a aquisição dos recursos, trazendo vantagens em ambientes

ricos em recursos e de alta competição interespecífica. E no outro extremo estariam espécies

que apresentam limitações na aquisição e, por isso, conservam por mais tempo os recursos

assimilados, apresentando, por outro lado, crescimento lento, maior estoque e defesa. Seus

atributos garantem potencial para a sobrevivência em ambientes pobres em recursos e/ou com

alta taxa de predação, por exemplo.

A preocupação dos efeitos da redução de florestas sobre os organismos vivos e a real

necessidade de reverter à situação de biossimplificação dos ecossistemas de forma acertada,

foram algumas questões que fizeram com que, atualmente, ocorresse uma maior

conscientização de empresas e pessoas da importância de manter as florestas. Porém, mesmo

com os olhares voltados à conservação e recuperação ambiental, faltam estudos que mostrem

como a intensidade da fragmentação exerce efeito sobre as características ecológicas das

19

comunidades vegetais e animais, a fim de elaborar estratégias para manter o equilíbrio entre

exploração e conservação.

Nesse sentido, a oportunidade de utilização de dados coletados de forma sistemática e

homogênea em um grande espaço geográfico, que é o caso do Inventário Florístico Florestal de

Santa Catarina, e a possibilidade de contribuir com estudos dos efeitos da fragmentação florestal

utilizando um novo enfoque (as características funcionais arbóreas e a estrutura de fragmentos

florestais), foram as principais motivações para este trabalho.

O objetivo geral deste trabalho é encontrar evidências da influência da estrutura da

paisagem sob a diversidade e os atributos funcionais de espécies arbóreas mais abundantes da

Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina. Espera-se verificar influência direta em

diversidade e em atributos específicos, quando analisado um gradiente estrutural da paisagem.

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23

CAPÍTULO I

Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina: a estrutura espacial dos remanescentes

florestais e os atributos funcionais das espécies arbóreas

RESUMO

A fragmentação florestal é, atualmente, a principal causa de perda de biodiversidade em

florestas tropicais. As espécies arbóreas de mesma estratégia de vida, que compõem

metacomunidades florestais, podem ser agrupadas funcionalmente, o que otimiza a percepção

entre vegetação e mudanças ambientais. Os objetivos deste trabalho são (i) descrever a condição

de fragmentação da Floresta Ombrófila Densa (FOD) de Santa Catarina, apontando as regiões

onde a fragmentação ocorreu de forma mais intensa, classificando-as em mais e menos

fragmentadas segundo as métricas de paisagem mais explicativas dos dados funcionais; (ii)

agrupar funcionalmente as espécies arbóreas mais abundantes da FOD e avaliar a influência das

métricas da paisagem sobre a abundância dos grupos funcionais identificados. Para isso,

analisou-se, de forma exploratória, a estrutura da paisagem utilizando métricas de 202

remanescentes florestais amostrados pelo Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina

(IFFSC). Em seguida, foram determinadas as áreas mais e menos fragmentadas utilizando um

cluster construído com as métricas de paisagem mais explicativas dos dados funcionais. Para a

descrição dos atributos funcionais (altura máxima (hmáx), síndrome de dispersão, fenologia

foliar (FF), densidade da madeira (SSD), área foliar específica (SLA) e conteúdos de matéria

seca (LDMC), nitrogênio (LNC) e fósforo foliar (LPC)) foram selecionadas as 20 espécies

arbóreas mais abundantes da base de dados do IFFSC em toda área de estudo; para o

agrupamento funcional utilizou-se um dendrograma. Os modelos para estudar a influência das

métricas de paisagem na abundância dos grupos funcionais foram construídos por meio de GLS

e os melhores modelos selecionados pelo Critério de Informação de Akaike (AIC). Apesar dos

dados indicarem uma maior fragmentação nas microrregiões de Itajaí, Tubarão, Criciúma e

Ituporanga, os mesmos demonstram que, de forma geral, a área de FOD estudada ainda

apresenta uma paisagem com a presença de remanescentes grandes e conectados entre si. Por

meio da combinação dos atributos síndrome de dispersão, SLA, LDMC e FF foi possível

identificar quatro grupos funcionais com estratégias de vida distintas. A abundância do grupo

anemocóricas de intermediária eficiência na aquisição e conservação de recursos e de fenologia

foliar variada e do grupo zoocóricas aquisitivas perenifólias, foi significativamente afetada pela

estrutura da paisagem, ao contrário dos outros dois grupos (zoocóricas conservativas

perenifólias e zoocóricas de intermediária eficiência na aquisição e conservação de recursos e

de fenologia foliar variada) que mantiveram sua abundância independente das condições de

fragmentação.

Palavras-chave: Florestas tropicais. Fragmentação florestal. Métricas de paisagem.

24

ABSTRACT

Dense Ombrophylous Forest of Santa Catarina: the spatial structure of forest remnants

and functional traits of tree species. Forest fragmentation is currently the leading cause of

loss of biodiversity in tropical forests. Tree species of the same strategy of life, that make up

forest metacomunidades, can be grouped functionally, which optimizes the perception among

vegetation and environmental changes. Our objectives are twofold (i) to describe the

fragmentation of the Dense Ombrophylous Forest (FOD) of Santa Catarina, pointing out the

areas where fragmentation was more intense, classifying them into more and less fragmented

according to the landscape metrics that are explanatory of functional data; (ii) describe the

functional traits of the most abundant tree species on order to group them functionally and to

evaluate the influence of landscape metrics on the abundance of these functional groups.

Therefore, at an exploratory level, the landscape structure was described using metrics from

202 forest remnants sampled by Floristic and Forest Inventory of Santa Catarina. More and less

fragmented areas were identified by use of a cluster built with the most explanatory landscape

metrics of functional data. Functional traits like maximum height (hmax), dispersion syndrome,

leaf phenology (FF), wood density (SSD), specific leaf area (SLA), dry matter content (LDMC),

leaf nitrogen concentration (LNC) and leaf phosphorus concentration (LPC)) were extracted of

an existing database for the 20 most abundant tree species in the study area; the traits were

grouped by use of a dendrograma. The models used to study the influence of landscape metrics

on the abundance of functional groups were built by GLS, which allows the incorporation of

spatial structure; the best fitted models were selected by the Akaike Information Criterion

(AIC). Although the data indicate amore intense forest fragmentation in the regions of Itajaí,

Tubarão, Criciúma and Ituporanga, the data showed that, in general, the FOD study area still

presents a landscape with the presence of large and interconnected areas. Class metrics were

more significant for selecting traits than patch metrics, indicating that the structure of the set of

patches in a landscape is as important as the structure of a single patch for the functional

composition of communities. Combining the traits of dispersion syndrome, SLA, LDMC and

FF we identified four functional groups with different life strategies. The abundance of wind

dispersed of intermediate efficiency in the acquisition and conservation of resources and varied

leaf phenology group and zoochorous acquisitive evergreen group, was significantly affected

by landscape structure, unlike the other two groups (zoochorous conservative evergreen and

zoochorous intermediate efficiency acquisition and conservation of resources and varied leaf

phenology) that maintained their abundance independently of the fragmentation degree.

Keywords: Tropical forests. Forest fragmentation. Landscape metrics.

25

INTRODUÇÃO

O Estado de Santa Catarina com 95.346,18 km² de extensão está com todo o seu

território inserido no bioma Mata Atlântica. Sua cobertura florestal foi reduzida à 28,9% e está

em quinto lugar no ranking de desmatamento do bioma considerando os anos de 2012 e 2013,

segundo SOS Mata Atlântica e INPE (2014). No entanto, de acordo com os mesmos autores, é

o segundo Estado (que contempla o bioma) que possui maior área de remanescentes da Mata

Atlântica.

A mudança de uso do solo, com consequente fragmentação florestal, causa efeitos que

impedem o pleno desenvolvimento das florestas. Os mais discutidos e preocupantes efeitos da

fragmentação, de acordo com a literatura, são: a perda de diversidade genética (OLIFIERS e

CERQUEIRA, 2006); a redução do habitat e da interação com a fauna polinizadora e dispersora

(PARDINI et al., 2005; TABARELLI et al., 2006) e o efeito de borda, causado pela maior área

de contato com o ambiente externo (matriz), provocando o aumento da luminosidade e da

intensidade do vento, com aumento da temperatura e diminuição da umidade (MURCIA, 1995;

LAURANCE e VASCONCELOS, 2009). Logo, o tamanho, a forma, o número de fragmentos,

o tipo de vizinhança e demais características estruturais dos fragmentos em uma dada paisagem,

influenciarão no número de espécies capazes de sobreviver (VIANA et al., 1992).

O processamento e a interpretação de imagens de satélites e de fotografias aéreas são

técnicas que possibilitam uma análise mais criteriosa da paisagem e de seus componentes. Com

a utilização de métricas de paisagem é possível a quantificação das características estruturais

dos remanescentes florestais, por exemplo. Tornam-se então variáveis ambientais capazes de

explicar, por exemplo, variações na funcionalidade de metacomunidades vegetais.

No que diz respeito ao estudo da distribuição, diversidade e padrões de organização de

espécies arbóreas, atualmente propõe-se o estudo funcional das plantas como um diferencial às

medidas tradicionais de estudos da vegetação. Estes estudos analisam a vegetação por meio de

um conjunto de características intrínsecas das plantas (atributos funcionais), características

estas que podem ser morfológicas, fisiológicas ou fenológicas mensuráveis (VIOLLE et al.,

2007). As características estão envolvidas nas maneiras de adquirir, processar e investir os

recursos disponíveis (DÍAZ et al., 2004) e são manifestações das estratégias das plantas para

ultrapassarem filtros ambientais e competirem com outras espécies coexistentes.

Segundo Cianciaruso et al. (2009), informações de características funcionais das

espécies podem ser melhores que medidas tradicionais para muitas finalidades, permitem

comparações e generalizações significativas entre sítios com baixa afinidade taxonômica, já

26

que as espécies são analisadas por suas características e não por sua classificação taxonômica,

e ainda, identificar mais facilmente mudanças no ecossistema.

Em estudos recentes, focados principalmente em atributos reprodutivos e regenerativos

das plantas, encontrou-se a perda de riqueza e abundância de certos grupos funcionais, como

fator importante que influencia a funcionalidade dos ecossistemas (METZGER, 2000; GIRÃO

et al., 2007; LOPES et al., 2009; CARNEIRO, 2013; MAGNAGO et al., 2014).

Propõe-se no presente estudo uma análise de grupos funcionais que vão além destes

atributos, envolvendo também características foliares, de lenho e altura das plantas. Esperam-

se encontrar evidências de que a fragmentação florestal esteja atuando também sobre a seleção

de grupos que envolvam estratégias de captação e uso dos recursos (manifestos nas

características foliares e do lenho).

Ao considerar que (i) atributos funcionais estão associados às estratégias ecológicas,

que refletem o desempenho da planta às condições ambientais (REICH et al., 2003), (ii)

espécies podem ser agrupadas por compartilharem atributos similares (KEDDY, 1992), pois

apresentam respostas similares às mesmas variações ambientais, estabelecemos como hipótese

de trabalho que é possível detectar e quantificar os reflexos de diferentes graus de perturbação

do ambiente (na forma dos graus de fragmentação da paisagem) na abundância relativa dos

diferentes grupos na vegetação remanescente nestes ambientes. Considera-se que por meio

dessas análises criteriosas do papel dos atributos funcionais, seja possível entendermos melhor

as consequências das perturbações causadas pelo homem nas comunidades vegetais.

Os objetivos deste trabalho são (i) descrever a condição de fragmentação da Floresta

Ombrófila Densa (FOD) de Santa Catarina, apontando as regiões onde a fragmentação ocorreu

de forma mais intensa, classificando-as em mais e menos fragmentadas segundo as métricas de

paisagem mais explicativas dos dados funcionais; (ii) descrever os atributos funcionais das

espécies arbóreas mais abundantes, agrupando-as funcionalmente e avaliando a influência das

métricas da paisagem sobre a abundância dos grupos funcionais identificados.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estudo foi realizado na área de ocorrência de Floresta Ombrófila Densa no Estado de

Santa Catarina, delimitada segundo o mapeamento de Klein (1978). A fitofisionomia está

situada entre as coordenadas 25º 57’ 40’’ e 29º 19’ 13’’ de latitude sul e 48º 24’ e 21’’ e 50º

14’ 14’’ de longitude oeste, em que sua área territorial original é de 29.282,00 km² (KLEIN,

27

1978), correspondendo a aproximadamente 31% do Estado, e que, atualmente, devido a um

histórico processo de fragmentação, restam apenas 12.632,7 km² (VIBRANS et al., 2013). A

altitude nas regiões de ocorrência da FOD, varia de alguns metros acima do nível do mar, a

pouco mais de 1.000 metros em alguns pontos.

Nessa região predomina o clima temperado úmido de verão quente (Cfa) (KOTTEK et

al., 2006), sem um período seco definido. As temperaturas médias anuais, dependendo da

altitude e da influência oceânica, chegam ao mínimo de 16ºC e ao máximo de 22ºC (NIMER,

1990). A precipitação apresenta grande variação, com registros de 1.250 a 2.000 mm, sendo

mais abundante ao norte (NIMER, 1990). Em consideração aos solos da região, predominam

os Cambissolos e Argissolos nas encostas e Gleissolos e Organossolos nas planícies

(EMBRAPA, 2006).

Este trabalho conta com informações da base de dados do Inventário Florístico Florestal

de Santa Catarina para a FOD. Este levantamento teve início em setembro de 2009 e foi

concluído em agosto de 2010. Foram ao todo 202 unidades amostrais analisadas, alocadas a

partir de uma rede de pontos sistematizada (grades) de dimensão 10 x 10 km. Foram compiladas

a lista florística com a abundância das espécies e as coordenadas geográficas das unidades

amostrais.

A distribuição das unidades amostrais no Estado e a cobertura florestal remanescente da

Floresta Ombrófila Densa em Santa Catarina (de acordo com o mapa de uso do solo realizado

pelo Projeto de Proteção a Mata Atlântica em Santa Catarina - PPMA/FATMA-SC –

GEOAMBIENTE, 2008) estão representadas na Figura 4, atentando para a divisão do Estado

em suas microrregiões, consideradas na discussão dos dados.

28

Figura 4: Mapa com a localização das 202 unidades amostrais referentes a Floresta Ombrófila Densa

(FOD), alocadas pelo Projeto Inventário Florístico-Florestal de Santa Catarina (IFFSC).

Cada unidade amostral possui 4.000 m², sendo implantada a partir de um ponto central,

quatro subunidades de 1.000 m² cada, orientadas na direção Norte, Sul, Leste e Oeste, distantes

30 m do ponto central. Em cada subunidade, de 20 m x 50 m, foi realizado o levantamento de

todos os indivíduos com mais de 1,5 metros de altura e com Diâmetro à Altura do Peito, (medido

a 1,30 m do solo) superior ou igual a 10 cm (DAP ≥ 10 cm) (Figura 5) (VIBRANS et al., 2012).

29

Fonte: Vibrans et al., 2012

Figura 5: Conglomerado utilizado para a amostragem da vegetação catarinense pelo Inventário Florístico

Florestal de Santa Catarina.

Estrutura espacial dos remanescentes florestais

Para a análise da estrutura dos remanescentes florestais, quantificada por meio de

métricas de paisagem, foi utilizado o mapa temático elaborado pelo Projeto de Proteção à Mata

Atlântica em Santa Catarina (PPMA/FATMA-SC), com base em 53 imagens multiespectrais

SPOT-4 do ano de 2005 na escala 1:50.000 (GEOAMBIENTE, 2008). A área mínima

considerada no mapeamento foi de 2,5 ha e, do total de usos do solo classificados (12), foi

considerado para este trabalho somente a classe ‘florestas em estágio médio ou avançado e/ou

primárias’. As métricas foram calculadas com auxílio do Software ArcGis 10.0, utilizando a

extensão V-LATE 1.1 (Vector-based Landscape Analysis Tools Extension) (LANG e TIEDE,

2003).

As métricas da paisagem foram subdivididas em métricas de classe e de mancha

(remanescente-foco). Os remanescentes-foco foram considerados aqueles onde estão inseridas

as unidades amostrais do IFFSC e as métricas medidas fazem referência a suas áreas, áreas

núcleo, formas e proximidades da mancha mais próxima.

A fim de obter métricas a nível de classe, ou seja, que envolvam outros fragmentos na

paisagem, demarcou-se para cada unidade amostral uma área circular a partir do ponto central

da unidade amostral do IFFSC, na qual foram identificadas todas as florestas em estágio médio

ou avançado e/ou primárias presentes. Para a demarcação da área circular no ArcGis utilizou-

se um buffer no entorno do ponto central do conglomerado do IFFSC. A distância determinada

(raio do buffer) foi de 2,8 km, seguindo a proposta do estudo multi-temporal de Schaadt (2012),

sendo a área do respectivo buffer possível de ser avaliada utilizando cinco fotografias aéreas.

30

Assim, foram determinadas ao todo 11 métricas (de classe e de mancha) em 202 recortes de

paisagem (buffer), com área aproximada de 2.462 ha, cada um (Tabela 1, Figura 6). Adotou-se

como borda a faixa marginal de 50 m de largura em cada fragmento avaliado (MURCIA, 1995).

Fonte: figura baseada na de Bernardo, 2012.

Figura 6: Representação do buffer de 2,8 km de raio, utilizado para o cálculo das métricas de paisagem,

estando representados, o remanescente-foco (mancha), no qual está localizada a Unidade Amostral do

IFFSC, remanescentes florestais inseridos na área buffer e que compõem a classe floresta, e as áreas não

florestais e de estágio sucessional inicial, não considerados no estudo.

Tabela 1: Métricas de paisagem a nível de classe e a nível de mancha, com seus respectivos significados

e unidades de medida.

CLASSE

Categoria Sigla Definição Unidade

ÁREA CA Área da classe ha

ÁREA NÚCLEO CAI Índice de área núcleo %

FORMA MSI Índice médio de forma ---

BORDA ED Densidade de borda m/ha

TE Total de borda m

SUBDIVISÃO DIVISION Índice de Divisão da Paisagem %

NP Número de manchas ---

MANCHA

Categoria Sigla Definição Unidade

ÁREA Area Área do fragmento ha

31

ÁREA NÚCLEO Área Core Área núcleo do fragmento ha

FORMA Shape_Idx Índice de Forma ---

PROXIMIDADE NNDist Distância do Vizinho mais próximo m

Seleção e caracterização funcional das espécies arbóreas

Da lista de 656 espécies da tabela fitossociológica do IFFSC, selecionou-se para a

caracterização dos atributos funcionais somente as 20 espécies lenhosas (DAP ≥ 10 cm) mais

abundantes (Tabela 2). Optou-se pela exclusão de samambaias e palmeiras da análise, pois

introduziriam um outro tipo de variabilidade aos resultados, já que utilizam de estratégias

específicas para a ocupação de ambientes e acabariam mascarando os padrões da grande

maioria das espécies.

Tabela 2: Espécies arbóreas mais abundantes pertencentes à Floresta Ombrófila Densa do Estado de

Santa Catarina.

FAMÍLIA ESPÉCIE

ANACARDIACEAE Tapirira guianensis Aubl.

ANNONACEAE Guatteria australis A.St.-Hil.

APOCYNACEAE Aspidosperma australe Müll.Arg.

ASTERACEAE Piptocarpha axillaris (Less.) Baker

CLETHRACEAE Clethra scabra Pers.

ELAEOCARPACEAE Sloanea guianensis (Aubl.) Benth.

EUPHORBIACEAE Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg.

PERACEAE Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill.

LAURACEAE Nectandra oppositifolia Nees

MELASTOMATACEAE Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin

MELIACEAE Cabralea canjerana (Vell.) Mart.

Cedrela fissilis Vell.

NYCTAGINACEAE Guapira opposita (Vell.) Reitz

PHYLLANTHACEAE Hieronyma alchorneoides Allemão

RUBIACEAE Bathysa australis (A.St.-Hil.) K.Schum.

Psychotria vellosiana Benth.

SALICACEAE Casearia sylvestris Sw.

SAPINDACEAE Matayba intermedia Radlk.

Cupania vernalis Cambess.

URTICACEAE Cecropia glaziovii Snethl.

Dos oito atributos funcionais analisados neste trabalho (Tabela 3), cinco foram

considerados por Cornelissen et al. (2003) como sendo relacionados com respostas a distúrbios,

que são: altura máxima da planta (hmáx), densidade da madeira (SSD), síndrome de dispersão

(Dispersão), fenologia foliar (FF) e conteúdo de nitrogênio e fósforo foliar (LNC e LPC). Os

outros, que são área foliar específica (SLA) e conteúdo de matéria seca foliar (LDMC),

32

envolvidos mais diretamente com variáveis climáticas e de disponibilidade de recursos no solo,

foram selecionados por entendermos que, de alguma forma, podem ser influenciados pelas

mudanças abióticas causados pelo efeito de borda no fragmento.

Os valores médios dos atributos por espécies foram disponibilizados pelo Departamento

de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (Apêndice – Tabela 1).

Tabela 3: atributos funcionais observados com suas respectivas siglas, unidade de medida (para variáveis

quantitativas) e categorias (variáveis qualitativas)

Atributo Sigla Unidade Variável Categórica

Altura Máxima Hmáx m -

Densidade da Madeira SSD g/cm³ -

Síndrome de Dispersão Dispersão categórica 0 - Anemocórica

1 - Zoocórica

Fenologia Foliar FF categórica

0 - Decídua

1 - Semidecídua

2 – Perenifólia

Concentração de Nitrogênio Foliar LNC mg/g -

Concentração de Fósforo Foliar LPC mg/g -

Atributo Sigla Unidade Variável Categórica

Área Foliar Específica SLA mm²/mg -

Conteúdo de Matéria Seca Foliar LDMC mg/g -

Análises realizadas para o 1º objetivo: descrever a condição de fragmentação, apontando as

regiões onde a fragmentação ocorreu de forma mais intensa

Foram confeccionados histogramas das frequências de cada uma das onze métricas, a

fim de observar, de forma geral, em que condições de fragmentação se encontram os

remanescentes florestais da Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina. Os resultados foram

comparados com os do estudo de Schaadt (2012), que analisou a estrutura da paisagem na

Floresta Ombrófila Mista de Santa Catarina.

Uma matriz de atributos médios por unidade amostral, ponderada pela densidade de

espécies (community-weighted mean trait matrix - CWM) (GARNIER et al., 2004) utilizada

para a o cruzamento com variáveis ambientais, foi obtida pela multiplicação da matriz de

abundância relativa de espécies por Unidade Amostral (UA x espécies) com a matriz funcional

(espécies x atributos), esse processo foi realizado utilizando a função dbFD do pacote FD no

33

programa estatístico R. Dessa forma, cada linha da matriz CWM possui médias de determinado

atributo em cada comunidade.

Um cluster com as métricas mais explicativas dos dados funcionais (matriz CWM),

selecionadas por meio da Seleção Progressiva de Variáveis Explicativas (Forward Selection of

Explanatory Variables, utilizando o pacote packfor do programa R) (BLANCHET et al., 2008),

foi utilizado para a separação das áreas analisadas em mais e menos fragmentadas. Boxplots

foram construídos para melhor visualização da distribuição dos valores de métricas em cada

um dos dois grupos, e um teste t para identificação de existência de diferenças significativas.

Análises realizadas para o 2º objetivo: agrupamento funcional e avaliação da influência de

métricas da paisagem sobre a abundância dos grupos funcionais identificados.

Foram definidos grupos funcionais a partir de um dendrograma construído por meio do

algoritmo de Ward, com base nos atributos avaliados. Para isto, aplicou-se o método de Gower

(GOWER, 1971), para a construção de uma matriz de dissimilaridades dos atributos funcionais

entre as espécies, que posteriormente foi transformada em distância Euclidiana pelo método de

Cailliez (CAILLIEZ, 1983).

Uma Análise de Variância para cada um dos atributos funcionais por grupo funcional

foi realizada, a fim de se identificar quais atributos estiveram significativamente envolvidos na

separação dos grupos, seguido pelo teste Tukey para averiguação dos grupos que se diferiam

em tal atributo. As análises, a partir da confecção do dendrograma até aqui foram realizadas

com o auxílio do Programa R (R DEVELOPMENT CORE TEAM, 2014).

Uma tabela de contingência, conjuntamente com uma análise de correspondência foi

utilizada para a classificação dos grupos funcionais, neste caso, para os dados categóricos de

síndrome de dispersão e fenologia foliar. Em seguida, foi realizada uma Análise de

Componentes Principais (PCA) para avaliar a correlação dos grupos formados com cada um

dos atributos analisados neste trabalho. Para essas últimas análises foi utilizado o programa

PAST (Paleontological Statistcs) (HAMMER et al., 2001).

Para analisar a relação das métricas de paisagem com a abundância das espécies em

cada grupo funcional foram empregados modelos lineares, usando o método dos mínimos

quadrados generalizados (GLS - Generalized Least Squares model), com a incorporação da

dependência espacial quando necessário. Foi construído um modelo global, com todas as

variáveis, após a remoção daquelas colineares (Fator de Inflação da Variância: VIF < 10), e

testada a autocorrelação espacial dos resíduos do modelo, utilizando a função “spline.correlog”

34

no pacote ncf do programa estatístico R com 1000 permutações (BJORNSTAD, 2008).

Identificada a autocorrelação no modelo global, incorporou-se a estrutura espacial no modelo

e, com base nisso, identificou-se o melhor modelo pelo o critério de informação de Akaike

(AIC), utilizando a biblioteca MASS e o comando stepAIC.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Estrutura da paisagem

As áreas dos remanescentes-foco estudados variaram de 11,1 a 2461,8 ha, a maioria com

uma área superior a 900 ha, distanciados da mancha florestal mais próxima em, no máximo,

262,8 m (Tabela 4).

Ao nível de classe, o menor coeficiente de variação foi obtido para índice de área núcleo

(CAI) e, a nível de mancha, para índice de forma (Shape_Idx), o que indica que para os buffers

analisados, as áreas efetivas de floresta, ou seja, livres do efeito de borda, se diferenciam pouco

entre si. Já para os remanescentes-foco avaliados, a dispersão dos dados foi menor para a forma

dos fragmentos.

Ao nível de mancha, a maior dispersão de dados foi observada para a distância do

vizinho mais próximo (NNDist). A maior variação desta métrica pode ser explicado pelo fato

de, em alguns casos, os remanescentes-foco terem sido os únicos representantes de floresta no

buffer, não existindo assim manchas vizinhas, sendo atribuído valor zero à esta métrica. Em

20% das áreas, a mancha foco representou toda a classe floresta, com a métrica NP (número de

manchas) assumindo o valor um e a métrica Índice de Divisão da Paisagem (DIVISION) o valor

zero.

Tabela 4: Valores das métricas de paisagem a nível de classe e mancha, obtidos para 202 áreas analisadas

na Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina.

CLASSE

Categoria Sigla Definição Unidade Mínimo Máximo Média CV%*

ÁREA CA Área da classe ha 170,1 2461,8 1597,8 101,46

ÁREA NÚCLEO CAI Índice de área

núcleo % 29,9 96,45 74,91 19

FORMA MSI Índice médio de

forma --- 1,002 7,366 2,426 41

BORDA ED

Densidade de

borda m/ha 7,16 176,04 54,84 61,05

TE Total de borda m 17628,83 134545,5 72214,42 37,3

SUBDIVISÃO

DIVISION Índice de divisão

da paisagem --- 0 92,14 17,48 148,89

NP Número de

manchas --- 1 34 7,51 101,46

35

MANCHA

Categoria Sigla Definição Unidade Mínimo Máximo Média CV%*

ÁREA Area Área do

fragmento ha 11,1 2461,8 1458,6 48,5

ÁREA NÚCLEO Área Core Área núcleo do

fragmento ha 0,23 2374,42 1045,75 69,84

FORMA Shape_Idx Índice de forma

do fragmento --- 1,002 9,387 4,271 43,53

PROXIMIDADE NNDist

Distância do

vizinho mais

próximo

m 0 262,88 48,82 89,47

*CV%: Coeficiente de Variação expresso em porcentagem.

Os resultados evidenciariam que ainda existe a predominância de grandes

remanescentes de Floresta Ombrófila Densa no Estado. A maior parte das áreas avaliadas (72%)

apresentou remanescentes maiores do que 1.000 ha. Os remanescentes considerados médios

(>100 ha e <1000 ha) representaram 22% dos casos, e os pequenos remanescentes (<100 ha),

somente 6%.

Em 75% das áreas avaliadas, o número de manchas (NP) apresentou valores de 1 a 10.

Neste caso, a ocorrência de poucas manchas não indica a escassez de floresta, mas a existência

de grandes remanescentes que cobrem quase a totalidade do buffer. Este fato é evidenciado

também quando analisado a porcentagem de floresta no buffer (CA/área total do buffer*100),

em que 70% dos casos apresentaram mais da metade da área analisada coberta por florestas

(Figura 7).

O número de manchas variou de 1 a 34, sendo que somente 8% das áreas apresentaram

NP>20, sugerindo baixa segmentação da classe. No estudo de Schaadt (2012), que analisou as

mesmas métricas para a Floresta Ombrófila Mista, no Estado de Santa Catarina, o número de

manchas na mesma área de buffer variou de 1 a 45, com maior segmentação quando comparado

à FOD, sendo que cerca de 50% das áreas eram compostas por 5 a 19 fragmentos. Na Floresta

Ombrófila Densa, 55% das áreas pertencem a classe de 2 a 10 fragmentos.

36

Figura 7: Histograma do Número de Manchas (NP) e porcentagem de floresta nas 202 áreas analisadas

de Floresta Ombrófila Densa no Estado de Santa Catarina.

Em relação à área núcleo da mancha, ou seja, a área efetiva de floresta retiradas as

bordas, foi também um indicador de grandes florestas, sendo que, 10% dos remanescentes-foco

avaliados possuem mais de 2000 hectares de área núcleo, área pouco menor a área total do

buffer de 2.462 ha.

Por consequência dos grandes e muitos remanescentes, 95% dos buffers analisados

apresentaram a porcentagem de área núcleo da classe floresta (CAI) maior que 50%, ou seja,

grande porcentagem de área de interior, que podem apresentar condições abióticas menos

severas, importantes para a manutenção da biodiversidade (Figura 8).

Figura 8:Histogramas da área do remanescente-foco e da porcentagem de área núcleo (CAI) para a classe

floresta das 202 áreas analisadas na Floresta Ombrófila Densa no Estado de Santa Catarina.

A classe floresta apresentou forma pouco complexa, com 44% das áreas com MSI entre

1 e 2, o que indica fragmentos menos irregulares. Porém, ao se analisar o índice de forma para

os remanescentes-foco (Shape_Idx), este variou de manchas mais circulares, quando os valores

estão próximos a um, até manchas bastantes complexas em forma, quando os valores estão mais

distantes de um (Figura 9).

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

1 2 a 10 11 a 20 >20

Número de manchas - NP

0%

10%

20%

30%

40%

0-20 20-40 40-60 60-80 >80

Porcentagem de floresta

MANCHA CLASSE

37

Figura 9: Histogramas do índice de forma do remanescente-foco (Shape_Idx) e do índice médio de

forma (MSI) da classe floresta para as 202 áreas analisadas na Floresta Ombrófila Densa de Santa

Catarina.

Desconsiderando os casos em que a métrica DIVISION apresentou valor zero (20% dos

casos – primeira barra do histograma), em 44% das áreas avaliadas, DIVISION apresentou o

valor de até 10%, exibindo baixo grau de retalhamento. Em 15% das áreas, a métrica foi

superior a 50%, são consideradas, então, áreas de maior subdivisão, pois apresentam alta

probabilidade (>50%) de dois pontos escolhidos aleatoriamente na paisagem não pertencerem

a um mesmo remanescente (Figura 10).

A Floresta Ombrófila Mista, no estudo de Schaadt (2012), contou com 35% das áreas

com a métrica DIVISION superior a 50%. Neste contexto, uma maior porcentagem de casos de

alto retalhamento é encontrada na FOM, se comparado à FOD.

Figura 10: Histogramas do índice de divisão (DIVISION) expresso em porcentagem (%) para as 202

áreas analisadas na Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina.

O remanescente-foco esteve distante de seu vizinho mais próximo de mesma classe na

maioria dos casos (70%) em até 100 m, excluindo os 20% dos casos em que NNDist era igual

a zero, pois a delimitação do buffer incluía apenas o remanescente-foco (Figura 11). O maior

distanciamento (>100m) ocorreu em 9% das áreas analisadas, em que a maior distância

MANCHA CLASSE

0%

5%

10%

15%

20%

25%

0 0,1 a 1 1,1 a 5 5,1 a 10 10,1 a 20 20,1 a 50 > 50

Índice de divisão da paisagem - DIVISION (%)

38

encontrada foi de 262 m. O NNDist é uma métrica importante quando avaliada junto com outros

fatores específicos, como potencial de dispersão de semente ou da fauna pela paisagem, mas

nesse caso, apresentou valores pequenos de distanciamento, o que é, teoricamente, favorável

para a dinâmica de metapopulações.

Para a Floresta Ombrófila Mista, NNDist variou de 0 a aproximadamente 500 m, com

76% distanciado até 100 metros do seu vizinho mais próximo e 24% mais de 100 metros

(Schaadt, 2012). Observando mais uma vez a maior segmentação da FOM em relação à FOD.

Figura 11: Histogramas da distância do vizinho mais próximo de mesma classe (NNDist) para as 202

áreas analisadas na Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina.

Classificação das áreas analisadas em mais e menos fragmentadas

Na seleção progressiva das variáveis explicativas (Forward Selection), as métricas

DIVISION (p=0,003) e TE (p=0,046) foram selecionadas como as mais explicativas dos dados

funcionais. Dois grupos foram formados baseados nestas duas métricas, áreas definidas como

mais e menos fragmentadas, sendo atribuído 51 áreas para o grupo mais fragmentado e 151

áreas para o grupo menos fragmentado (Figura 12).

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

0 10 a 50 50 a 100 >100

Distância do vizinho mais próximo - NNDist (m)

39

Figura 12: Mapa com a localização das unidades amostrais classificadas em mais e menos fragmentadas

na Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina

A seleção dessas duas métricas como as mais explicativas foi coerente, se pensarmos na

sensibilidade das florestas úmidas, neste caso a Floresta Ombrófila Densa, às mudanças

abióticas de borda (SAMPAIO e SCARIOT, 2011), apresentando espécies adaptadas a uma

condição de maior umidade. Mais precisamente, na borda observa-se um acréscimo na

temperatura do ar e do solo, na velocidade do vento e no déficit de pressão de vapor (relacionada

com a capacidade de absorção de água pelo ar) e um decréscimo na umidade do ar e do solo, se

comparado com o interior da floresta (POHLMAN et al., 2009). Estas alterações

microclimáticas condicionam efeitos na fisiologia das plantas (HERBST et al., 2007), que

possuem sensíveis estratégias para controle de água em seu sistema (RODRIGUES et al., 2011).

Se considerarmos estes fatos, a pressão pela seleção de espécies menos sensíveis a alterações

ambientais é possivelmente mais significativa na FOD, já que apresenta espécies com

características funcionais condizentes a ambientes mais úmidos.

40

As 202 áreas avaliadas estavam distribuídas em 13 microrregiões do Estado, e 11 delas

tiveram pelo menos uma área classificada como mais fragmentada, com maior destaque para

Criciúma e Itajaí, com 67% das áreas avaliadas em condição de maior fragmentação, além de

Tubarão com 53% e Ituporanga com 44%. Esse fato pode ser causado pelo desenvolvimento

urbano, principalmente no caso da microrregião de Itajaí, e às atividades econômicas, como

mineração e agricultura, para as outras regiões. A microrregião de Tijucas teve 16 áreas

avaliadas, mas nenhuma pertencendo ao grupo mais fragmentado.

As áreas classificadas como menos fragmentadas estiveram localizadas principalmente

próximas a regiões de maior relevo (como é o caso das áreas do limite Sul da Floresta Ombrófila

Densa com a Floresta Ombrófila Mista) e também próximas e dentro de Unidades de

Conservação. As áreas florestais em relevo mais acidentado, ainda são as áreas mais protegidas,

porém, devido as já saturadas áreas planas - pela urbanização e atividades econômicas -, fazem

com que o avanço das atividades humanas em áreas de maior relevo seja cada vez mais intenso,

se não tomadas medidas para a sua proteção. Mostra-se também, mais uma vez, a importância

de Unidades de Conservação para a preservação de ecossistemas, favorecendo, por

consequência, as pesquisas científicas e a educação ambiental, importantes para o

conhecimento e conscientização.

Algo importante a ser considerado é a forma da classe (MSI), que para as áreas “menos

fragmentadas” apresentou maiores valores do que para as áreas menos fragmentadas. Verificou-

se que grandes remanescentes, permeados por outros usos do solo (áreas de avanço de

atividades antrópicas), há maior complexidade de forma e, consequentemente, maior contato

com a matriz. Em áreas mais fragmentadas, com atividades antrópicas já consolidadas, os

remanescentes eram menores e de formato mais regular (Figura 13). É característico de

paisagens com maior interferência humana, que os componentes da paisagem apresentem

formas geométricas definidas, como círculos, retângulos e/ou quadrados.

41

Figura 13: Boxplots dos valores de cada métrica de paisagem, a nível de classe e mancha, analisadas na

Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina nos grupos mais e menos fragmentado. 1: Métricas de área

florestal; 2: métricas de borda; 3: métricas de divisão; 4: distância do vizinho mais próximo; 5: métricas

de forma. n = 202, t = valor do teste t, *P <0,05, ***P<0,001, ns = não significativo.

Atributos funcionais e estratégia das plantas

As espécies selecionadas pertencem a 18 famílias botânicas e 20 gêneros distintos,

compreendendo duas espécies tardias (10%), 14 espécies secundárias (70%) e quatro pioneiras

(20%) (Apêndice). A abundância variou de 5,87 a 20,83 indivíduos por hectare, com a menor

abundância para a Cedrela fissilis e a maior para Alchornea triplinervia.

42

As vinte espécies representaram 33% dos indivíduos lenhosos e 36,7% da área basal

avaliada pelo IFFSC na Floresta Ombrófila Densa. Este percentual relativamente pequeno é

condizente com a quantidade de espécies com poucos indivíduos por hectare, característico

dessa fitofisionomia, em que as espécies com menos de 2 indivíduos/ha representaram 30% do

número total de indivíduos lenhosos levantados (VIBRANS et al, 2012).

Oito atributos, seis quantitativos e dois categóricos, foram analisados, com um

coeficiente de variação (CV) maior para SLA (46,76%) e para LPC (50,25%), devido,

principalmente, a espécies como Cedrela fissilis e Matayba intermedia, que apresentaram

valores altos nesses dois atributos, e Sloanea guianensis e Miconia cinnamomifolia com valores

mais baixos, o que sugere um aproveitamento da luz dissimilar entre as espécies mais

abundantes estudadas. Os demais atributos, hmáx, SSD, LDMC e LPC, apresentaram CV

menor que 28%. A altura máxima foi o atributo que apresentou menor coeficiente de variação

(14,4%) (Tabela 5).

Tabela 5: Valores dos atributos funcionais obtidos das 20 espécies arbóreas mais abundantes da Floresta

Ombrófila Densa de Santa Catarina.

Atributo Sigla Unidade Mínimo Máximo Média CV%

Altura Máxima hmáx m 20 33 25,18 14,4

Área Foliar Específica SLA mm²/mg 4,73 19,68 10 46,76

Densidade da Madeira SSD g/cm³ 0,41 0,84 0,62 21,95

Conteúdo de Matéria

Seca Foliar LDMC mg/g 229,2 521,6 364,5 21,85

Conteúdo de Nitrogênio

Foliar LNC mg/g 1,1 3,02 1,87 27,09

Conteúdo de Fósforo

Foliar LPC mg/g 0,06 0,33 0,14 50,25

* CV%: Coeficiente de Variação expresso em porcentagem.

Com o intuito de classificar as espécies em diferentes grupos funcionais, segundo seus

valores nos oito atributos analisados neste estudo, a análise de um dendrograma permitiu

identificar quatro grupos funcionais (Figura 14).

43

Figura 14: Dendrograma para as vinte espécies arbóreas mais abundantes de 202 unidades amostrais

alocados na Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina, a partir dos atributos funcionais altura máxima,

área foliar específica, densidade da madeira, síndrome de dispersão, fenologia foliar, conteúdo de

matéria seca, nitrogênio e fósforo foliar.

A primeira divisão se formou em função da síndrome de dispersão, diretamente

envolvidas com a capacidade de ocupação espacial das espécies (BUDKE et al., 2005), em que

Cedrela fissilis, Aspidosperma australe, Clethra scabra e Piptocarpha axillaris, são as quatro

espécies anemocórica dentre as 20 mais abundantes analisadas.

A altura máxima, densidade da madeira, LNC e LPC não foram úteis na separação dos

grupos, uma vez que, todos os grupos funcionais se encontram espécies com valores baixos,

intermediários e altos destes atributos. A SLA e o LDMC foram os responsáveis pelos outros

agrupamentos, de forma que a ANOVA identificou diferenças significativas (p<0,05) e o teste

Tukey identificou diferenças nos valores de SLA e LDMC entre o Grupo 2 (de menor SLA e

maior LDMC) e o Grupo 4 (maior SLA e menor LDMC), e entre estes e os outros dois grupos

(1 e 3) que apresentaram valores intermediários (Tabela 6).

Os atributos área foliar específica (SLA) e o conteúdo de matéria seca foliar (LDMC),

como importantes integrantes de um espectro econômico foliar (WRIGHT et al., 2004) e, neste

trabalho, principais responsáveis pela diferenciação entre os grupos de espécies mais

abundantes da FOD, podem ser considerados atributos-chave na estratégia de vida das espécies,

e sugerem a coexistência de espécies aquisitivas, eficientes na captura de nutrientes e luz e

44

espécies conservativas de baixa produtividade, com estratégias de conservação de água e

nutrientes (WRIGHT et al., 2004).

Tabela 6: Análise de Variância para os atributos de área foliar específica (SLA), conteúdo de matéria

seca foliar (LDMC), altura máxima (Hmáx), densidade da madeira (SSD), conteúdo de nitrogênio foliar

(LNC) e conteúdo de fósforo foliar (LPC) por grupo funcional.

Grupos

Funcionais SLA

(mm²/mg) LDMC (mg/g)

Hmáx (m)

SSD (g/cm³)

LNC (mg/g)

LPC (mg/g)

F=8,07

p=0,001

F=3,6

p=0,037

F=1,041

p=0,4

F=2,54

p=0,09

F=2,17

p=0,13

F=0,03

p=0,99

1 10,86 b 361,59 b 27,5 0,54 1,94 0,14

2 5,49 a 401,44 c 25 0,73 1,53 0,13

3 10,2 b 392,38 b 25,2 0,60 1,90 0,14

4 15,6 c 270,04 a 23 0,58 2,28 0,14

* Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey, α≤0,05.

As variáveis categóricas, fenologia foliar e agente dispersor, foram úteis ao mostrar

associações significativas (p<0,0001, nos dois casos) por meio da tabela de contingência

(Tabela 7).

Tabela 7: Frequências absolutas, com valores percentuais entre parênteses, por grupo funcional para os

atributos categóricos fenologia foliar e síndrome de dispersão, com os resultados da análise da tabela de

contingência.

Nº de

Espécies Grupo

1 Grupo

2 Grupo

3 Grupo

4 X² p

Fenologia

Foliar

Perenefólia 12 1 (8,3) 4 (33,3) 3 (25) 4 (33,3)

137,4 <0,0001 Semidecídua 6 2 (33,3) 2 (33,3) 2 (33,3) 0 (0)

Decídua 2 1 (50) 0 (0) 1 (50) 0 (0)

Nº de

Espécies Grupo

1 Grupo

2 Grupo

3 Grupo

4 X² p

Síndrome de

Dispersão

Anemocórica 4 4 (100) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 199,0

<

0,0001 Zoocórica 16 0 (0) 6 (37,5) 6 (37,5) 4 (25)

Uma análise de correspondência permitiu visualizar as associações dos atributos

categóricos com os grupos funcionais (Figura 15), com uma explicação de 93,72% da variação

encontrada (eixo 1: 77,83% e eixo 2: 15,89%). Ao longo do eixo 1, que foi o mais explicativo,

observa-se, em um extremo, associado a valores negativos, os grupos 2 e 4, formados

predominantemente por espécies zoocóricas e perenifólias. No outro extremo, associado a

valores positivos, ocorreu o Grupo 1, formado por espécies anemocóricas. O Grupo 3 ordenou-

45

Eixo 1

Eix

o 2

se entre os extremos, indicando que o mesmo encontra-se numa posição intermediária neste

gradiente funcional de atributos categóricos.

Figura 15: Análise de correspondência entre os atributos fenologia foliar (dec = decídua, semi =

semidecídua, per = perene) e síndrome de dispersão (anem = anemocoria, zoo = zoocoria) e a associação

com os grupos funcionais.

Quatro grupos funcionais, considerando as características mais importantes nessa

divisão, a síndrome de dispersão, a eficiência foliar na aquisição e conservação de nutrientes,

água e luz (SLA e LDMC) e a fenologia foliar, são sugeridos nesse estudo.

Grupo 1: anemocóricas de intermediária eficiência na aquisição e conservação de nutrientes,

água e luz (SLA�̅�: 10,8 mm²/mg; LDMC�̅�: 361,6 mg/g) e fenologia foliar variada

Grupo 2: zoocóricas, conservativas de folhas esclerófilas (SLA�̅�: 5,5 mm²/mg; LDMC�̅�: 401,4

mg/g) e perenifólias

Grupo 3: zoocóricas de intermediária eficiência na captura e conservação de nutrientes, água e

luz (SLA�̅�: 10,2 mm²/mg; LDMC�̅�: 392,38 mg/g) e fenologia foliar variada

Grupo 4: zoocóricas aquisitivas não esclerófilas (SLA�̅�: 15,6 mm²/mg; LDMC�̅�: 270 mg/g) e

perenifólias

A análise de componentes principais (PCA), realizado para a ordenação dos grupos

segundo as variáveis SLA, LDMC, hmáx, SSD, LNC e LPC (Figura 16), explicou 60% da

variação encontrada, no qual o eixo 1 (41,6%) separou as espécies que apresentam elevada SLA

46

e LNC e baixo LDMC, isto é, espécies com folha de vida mais curta e maior capacidade

fotossintética (WESTOBY et al. 2002), daquelas que geralmente estão associadas a ambientes

oligotróficos e com stress hídrico (menor SLA e LNC e alto LDMC) (ACKERLY et al., 2002),

de concentração elevada de compostos secundários na parede celular, protegendo contra fatores

abióticos e bióticos nocivos, mas prejudicando a taxa fotossintética da planta (LAMBERS e

POORTER, 1992).

O Grupo 4 apresentou um média de altura inferior aos outros três grupos (23 m) e forte

correlação com os atributos SLA e LNC. Este grupo podendo ser também denominado como

grupo de árvores frutíferas de sub-bosque, importante fonte de alimento para animais de hábito

terrícola.

Figura 16: Análise de componentes principais para ordenação dos grupos funcionais por meio dos

atributos área foliar específica (SLA), conteúdo de matéria seca foliar (LDMC), altura máxima (Hmáx),

densidade da madeira (SSD), conteúdo de nitrogênio e fósforo foliar (LNC e LPC).

O Grupo 2 ordenou-se ao lado negativo do primeiro eixo, com correlações positivas

com o conteúdo de matéria seca foliar – LDMC e com a densidade da madeira - SSD, com uma

estratégia voltada para a longevidade das folhas e resistência a fatores bióticos e abióticos

nocivos e em menor grau voltada para a capacidade fotossintética.

hmáx

SLA

LDMCSSD

LNC

LPC Cedr.fiss

Aspi.aust

Clet.scab

Pipt.axil

Mata.inte

Bath.aust

Mico.cinn

Sloa.guia

Nect.oppo

Pera.glab

Hier.alch

Alch.trip

Tapi.guia

Cupa.vern

Case.sylv

Guat.aust

Guap.oppo

Psyc.vell

Cabr.canj

Cecr.glaz

-2,4 -1,6 -0,8 0,8 1,6 2,4 3,2 4,0

Component 1

-2,0

-1,5

-1,0

-0,5

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

Co

mp

one

nt

2

47

O Grupo 3, de forma geral, apresentou valores intermediários em todos os atributos em

relação aos três outros grupos, não se destacando em nenhum quesito. Tapirira guianensis e

Alchornea triplinervia, pertencentes a este grupo, são conhecidas por serem espécies

generalistas e que se sobressaem em condições mais severas de perturbação. No cenário atual

de fragmentação, as mesmas são frequentes e abundantes na floresta Atlântica, como observado

por Oliveira et al. (2004).

O cedro (Cedrela fissilis) foi a espécie que mais se diferenciou dentre as 20 analisadas,

por apresentar uma estratégia de alta capacidade fotossintética, diferenciando-se das outras

espécies, principalmente, por apresentar alta SLA (19,68 mm²/mg), que correspondeu ao valor

máximo encontrado, e o que fez com que o Grupo 1, ao qual pertence, apresentasse, em média,

valores intermediários nos atributos foliares analisados. Se não considerada a Cedrela fissilis,

o grupo apresentaria uma baixa altura potencial e alta relação com o atributo LDMC. Por esse

motivo, o grupo parece estar mais caracterizado pela síndrome de dispersão anemocórica à qual

pertence, que pelos outros atributos considerados.

Outra espécie que merece destaque neste sentido é a Sloanea guianensis que, ao

contrário de C. fissilis, apresentou o menor valor para SLA e ainda o maior para LDMC,

indicando uma espécie esclerófila característica, de maior resistência e longevidade foliar.

Relação entre os grupos funcionais e a estrutura da paisagem

Os melhores modelos GLS selecionados pelo Critério de Informação de Akaike (AIC)

(Tabela 8) mostram que o Grupo 1 e 4 tem sua abundância influenciada significativamente pela

estrutura da paisagem, ao contrário dos grupos 3 e 2, que não apresentaram relação de sua

abundância com o gradiente estrutural da paisagem.

O Grupo 1 foi influenciado de forma significativa, com relações positivas, pela

complexidade de forma e área florestal total da paisagem (MSI e CA) e, com relações negativas,

pelo tamanho da área núcleo do remanescente. Como observado anteriormente, na classificação

das áreas em mais e menos fragmentadas, as áreas menos fragmentadas foram as que

apresentaram maior complexidade de forma (>MSI), o que leva a interpretação de que estas

paisagens mais naturais, que sofrem mais com o avanço das atividades antrópicas do que

paisagens já mais alteradas, são as áreas em que o Grupo 1 é mais presente.

O Grupo 4 foi positivamente influenciado pela área total de floresta na paisagem e pela

forma da mancha (Shape_Idx), o que demostra que o grupo de espécies zoocóricas de

capacidade fotossintética alta e perenifólias são mais abundantes em paisagens mais florestais

48

e em remanescentes de forma mais complexa. Um resultado semelhante foi encontrado no

trabalho de Metzger (2000), que identificou a influência da complexidade da borda e do

tamanho do fragmento para o grupo de espécies classificadas como tolerantes intermediárias à

sombra.

Tabela 8: Resultados dos modelos GLS para a abundância dos grupos funcionais. Somente o melhor

modelo de acordo com os valores de AIC são mostrados. São apresentados os coeficientes estimados e

os erros padrão.

Métricas de

Paisagem G1 G2 G3 G4

NP -- -- -- --

CA 0,007(0,003)* -- -- 0,004(0,001)*

MSI 4,64(0,77)*** -1,8(1,2) ns -- - 1,9 (1,1) ns

DIVISION -- -- -- --

Area core -0,005(0,002)* -- -- --

Shape_Idx -- -- -- 1,45 (0,6)* NP: número de manchas na paisagem; CA: área da classe floresta; MSI: Índice médio de forma; DIVISION: Índice

de divisão da paisagem; Area core: área núcleo da mancha; Shape_Idx: forma da mancha; G1: Grupo funcional 1

(anemocóricas de capacidade fotossintética média e fenologia foliar variada; G2: zoocóricas de capacidade

fotossintética baixa e perenifólias; G3: zoocóricas de capacidade fotossintética média e fenologia foliar variada;

G4: zoocóricas de capacidade fotossintética alta e perenifólias. Parâmetros positivos indicam efeitos positivos e

parâmetros negativos indicam efeitos negativos. n = 202, *P <0,05, ** P <0,01, ***P<0,001, ns = não significativo.

Influências significativas das métricas de paisagem também podem ser observadas nos

trabalhos de Metzger (2000) e Carneiro (2013). O primeiro focou seu estudo na influência da

estrutura da paisagem na riqueza de espécies zoocóricas e de síndrome de dispersão abiótica e

espécies tolerantes a sombra. Carneiro (2013), por sua vez, estudou características reprodutivas

das espécies. Os dois trabalhos indicaram importante influência da estrutura da paisagem na

seleção de grupos de espécies.

CONCLUSÃO

Apesar do histórico de fragmentação florestal, os resultados demonstraram que

predominaram para a Floresta Ombrófila Densa a existência de remanescentes florestais com

grandes extensões e espacialmente próximos de outras áreas florestais. Porém, este padrão não

ocorreu de forma homogênea em todas as microrregiões estudadas, de forma que as

microrregiões de Itajaí, Criciúma, Tubarão e Ituporanga, apresentaram os maiores níveis de

fragmentação no Estado, que pode estar envolvido com atividades econômicas da região e/ou

ao desenvolvimento urbano.

49

A quantidade de borda e o grau de subdivisão da paisagem foram métricas importantes

para a classificação das áreas analisadas em mais e menos fragmentadas, e o que sugere sua

relevância em alterações funcionais nas comunidades vegetais da Floresta Ombrófila Densa.

A classificação das espécies em quatro grupos funcionais com relação à área foliar

específica, ao conteúdo de matéria seca foliar, à síndrome de dispersão e à fenologia foliar,

sugere que estes grupos apresentam variação significativas nestes atributos e apresentam

diferentes estratégias de vida para a ocupação de habitats e para seu desenvolvimento e

sobrevivência. Em que a área florestal, a complexidade de forma da paisagem e dos

remanescentes-foco, aparentemente, desempenham papel fundamental na seleção de certos

grupos funcionais.

A estrutura da paisagem teoricamente afeta a dinâmica e a sobrevivência de populações

vegetais, alterando a capacidade de colonização e sucessão de certos grupos funcionais. Mas

este não é a único e, em muitos casos, nem o mais importante fator influente em estruturação

de comunidades. Estão envolvidos outros fatores físicos e bióticos como tipo de matriz do

entorno, intensidade de interferência humana, condições climáticas, predação e extinção de

animais. Aqui, ateve-se somente a parâmetros estruturais da paisagem, que, mesmo assim,

demonstraram quesito importante para consideração em estudos ecológicos.

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53

CAPÍTULO II

A fragmentação como preditora de mudanças funcionais do componente arbóreo na

Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina

RESUMO

Os impactos aos ambientes naturais são consequências inevitáveis das atividades humanas,

sendo a fragmentação florestal um de seus resultados. A severidade da fragmentação é

dependente de características estruturais dos fragmentos, influenciando na estrutura e

composição funcional de comunidades vegetais. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi

investigar a influência da estrutura de remanescentes florestais sobre os atributos funcionais e

a diversidade funcional do conjunto de espécies mais abundantes da Floresta Ombrófila Densa

de Santa Catarina. Para isso, a estrutura de 86 remanescentes florestais amostrados pelo

Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina foi quantificada por meio de métricas de

paisagem. A descrição dos atributos funcionais (altura máxima (hmáx), síndrome de dispersão,

densidade da madeira (SSD), área foliar específica (SLA) e conteúdos de matéria seca (LDMC),

nitrogênio (LNC) e fósforo foliar (LPC)) foi realizada para as 20 espécies arbóreas mais

abundantes em toda área de estudo. Para cada uma das unidades amostrais foram determinados

os atributos funcionais médios, ponderados pela densidade das espécies (community-weighted

mean trait matrix - CWM). Em seguida, a matriz CWM, com exceção da variável binária

(síndrome de dispersão), foi ordenada por meio de uma Análise de Componentes Principais

(PCA). Para a análise da diversidade funcional, foi utilizado o índice de Rao (Rao’s Quadratic

Entropy- RaoQ). A influência das métricas de paisagem sobre os atributos funcionais médios

das áreas, sintetizados pelos eixos da PCA, e sobre a diversidade funcional (RaoQ) foi

determinada por meio modelos lineares, usando o método GLS (Generalized Least Squares

model). Modelos globais foram construídos a partir de todas as variáveis explicativas (exceto

as colineares - Fator de Inflação da Variância: VIF < 10) e selecionados os melhores modelos

pelo critério de informação de Akaike (AIC). Para a síndrome de dispersão, utilizou-se modelos

lineares generalizados (GLM), com distribuição binomial, para cada uma das variáveis

explicativas, cujo a qualidade de ajuste verificada por meio do teste de Hosmer-Lemeshow. A

estrutura da paisagem influenciou de forma significativa as variações de atributos de dispersão,

densidade da madeira (SSD) e no conteúdo de matéria seca foliar (LDMC) nas comunidades

arbóreas. Porém, a diversidade funcional não foi influenciada pelas métricas de paisagem

analisadas. A intensidade de fragmentação foi um importante impulsionador na seleção de

atributos funcionais, envolvidos principalmente na aquisição e conservação de recursos, porém

não teve influência na diversidade funcional, pelo menos quando considerado o conjunto de

espécies e de atributos avaliados neste estudo.

Palavras-chave: Métricas de paisagem. Fragmentação florestal. Atributos funcionais. Modelos

lineares. Diversidade funcional.

54

ABSTRACT

The fragmentation as a predictor of functional changes on the arboreous component in

the Dense Ombrophylous Forest of Santa Catarina. Impacts on natural environments are

inevitable consequences of human activities and the forest fragmentation is one of its results.

The severity of fragmentation depends on structural features of fragments, which may influence

the structure and functional composition of plant communities. Thus, the aim of this study is to

investigate the influence of the remaining forest structure on the functional traits and functional

diversity of the most abundant tree species of the Dense Ombrophylous Forest of Santa

Catarina. Therefore, the structure of 86 forest remnants sampled by Floristic and Forest

Inventory of Santa Catarina was quantified by landscape metrics. The description of the

functional traits (maximum height (hmax), dispersion syndrome, wood density (SSD), specific

leaf area (SLA), leaf dry matter content (LDMC), leaf nitrogen concentration (LNC), leaf

phosphorus concentration (LPC)) was performed for the 20 most abundant tree species. For

each sample units we determined the mean functional traits, weighted by the density of the

species (community-weighted mean trait matrix - CWM). Then the CWM matrix, except for

the binary variable (dispersion syndrome), was ordered by a Principal Component Analysis

(PCA). For the analysis of functional diversity, we used the Rao index (Rao's Quadratic

Entropy- RaoQ). The influence of landscape metrics on mean functional traits of each areas,

synthesized by the PCA axes, and on functional diversity (RaoQ) was determined by linear

models using the method GLS (Generalized Least Squares model), with the incorporation of

dependence space, if necessary, from geostatistical models. Global models were built based on

all the explanatory variables (except the collinear - Variance Inflation Factor: VIF <10) and the

best fitted models were selected by the Akaike information Criterion (AIC). For the dispersion

syndrome, we used generalized linear models (GLM), with binomial distribution, for each of

the explanatory variables, whose goodness of fit was verified by the Hosmer-Lemeshow test.

The landscape structure significantly influenced the changes in dispersion traits, wood density

(SSD) and leaf dry matter content (LDMC) in tree communities. However, the functional

diversity was not influenced by the analyzed landscape metrics. As a results we conclude that

fragmentation may act on the selection of more generalist species, while the edge effect acts on

the selection of anemochoric species.

Keywords: Landscape metrics. Forest fragmentation. Functional traits. Linear models.

Functional diversity.

INTRODUÇÃO

A fragmentação de habitats naturais é considerada, atualmente, um importante problema

ambiental da atualidade, pois representa uma das principais causas de extinção de espécies,

alterando a composição, estrutura e funcionalidade de comunidades vegetais (METZGER,

2000; OLIVEIRA et al., 2004; LAURANCE et al., 2006; MAYFIELD et al., 2006; GIRÃO et

al., 2007; LIENIN e KLEYER, 2011).

São diversos os ecossistemas ameaçados pela fragmentação. A Floresta Atlântica, por

exemplo, que se estende por quase toda a costa oriental brasileira, considerada um hotspot

terrestre desde o final do século XX (MYERS et al., 2000), tem seu processo de fragmentação

acelerado por abrigar a maior parte da população brasileira e por concentrar atividades de

55

importância econômica para o país (VIANA e TABANEZ, 1996). Na região Sul, a Floresta

Ombrófila Densa, região fitoecológica que compõe o domínio da Floresta Atlântica, possui

pouco mais de 100 anos de histórico de ocupação por núcleos coloniais (GOULARTI FILHO,

2002). Desde então, ela vem cedendo espaço à expansão agrossilvipastoril e urbano, com

consequente fragmentação. A região é caracterizada pela alta umidade e complexidade de

associações de espécies, e necessita de estudos mais específicos para esclarecer como a

fragmentação influencia esses ambientes.

Os efeitos da fragmentação sobre as populações de organismos dependem, sob vários

aspectos, da biologia das espécies e também das características estruturais da paisagem e do

fragmento na qual a comunidade está inserida (VIANA e TABANEZ, 1996; METZGER,

2000). A criação de bordas entre floresta e matriz circundante provoca, em um primeiro

momento, alterações no microclima da floresta, que envolvem aumento na temperatura e na

intensidade do vento e diminuição da umidade (MURCIA, 1995). As espécies pioneiras são

beneficiadas pelas novas condições, pois apresentam um conjunto de características que

possibilitam a ocupação de áreas abertas de condições ambientais mais severas, e passam a ter

uma maior participação na comunidade, anteriormente restritas às áreas naturalmente

perturbadas. As espécies “tolerantes à sombra”, adaptadas aos interiores úmidos e sombreados

das florestas, são as mais prejudicadas nesse novo contexto (LAURANCE et al., 2006;

OLIVEIRA et al., 2004). Essas diversas modificações, influenciam também em efeitos

biológicos indiretos (MURCIA, 1995), os quais envolvem mudanças nas interações ecológicas

como herbivoria, polinização e dispersão de sementes (MURCIA, 1995; CUNNINGHAM,

2000; METZGER, 2000; GIRÃO et al., 2007), e são agravados com o aumento do isolamento

entre os remanescentes.

A fragmentação pode ser quantificada e descrita pelas mudanças das chamadas

“métricas” de paisagem, que começaram a ser frequentemente empregadas na Ecologia da

Paisagem para o estudo da estrutura, função e dinâmica de áreas heterogêneas compostas por

ecossistemas interativos (FORMAN e GODRON, 1986). Elas tornaram-se, então, variáveis

ambientais importantes para o estudo da influência da estrutura da paisagem sobre aspectos

ecológicos de comunidades fragmentadas.

No que diz respeito aos estudos ecológicos, de distribuição, diversidade e padrões de

organização de espécies arbóreas, foi proposto o estudo funcional das plantas. Esta abordagem

permite analisar a vegetação por meio de um conjunto de características intrínsecas (atributos

funcionais), que podem ser morfológicas, fisiológicas ou fenológicas mensuráveis (VIOLLE et

al., 2007). Elas constituem um importante meio de otimizar a percepção entre vegetação e

56

mudanças ambientais trazidas pela fragmentação, por estarem envolvidas com as maneiras das

plantas adquirirem, processarem e investirem os recursos disponíveis (DÍAZ et al., 2004). Elas

também são responsáveis pela performance das plantas frente as mudanças no ambiente

(LEBRIJA-TREJOS et al., 2010).

Ainda são escassos os estudos que envolvam características estruturais dos fragmentos

e atributos funcionais de plantas arbóreas em florestas tropicais. Pouco se sabe sobre a atuação

da intensidade de fragmentação de florestas tropicais úmidas na seleção de atributos funcionais

específicos. Sabe-se que as limitações quanto a disponibilidade de recursos e outras condições

abióticas adversas agem como filtros ambientais em comunidades fragmentadas e favorecem

estratégias específicas, principalmente as de retenção de recursos (LAVOREL et al., 2007;

MASON et al., 2013; HOLDAWAY et al., 2011). Os efeitos da fragmentação interferem ainda

no sucesso da dispersão por espécies zoocóricas, devido aos vários fatores que impedem o

deslocamento de animais dispersores, provocando sua ausência ou menor ocorrência

(METZGER, 2000). A atuação mais intensa de filtros ambientais em ambientes fragmentados

(KEDDY, 1992) pode, nesse caso, acarretar em uma menor diversidade funcional, o que levaria

um comprometimento do funcionamento e da manutenção de processos nas comunidades

(MAYFIELD et al., 2005).

Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo avaliar a influência da estrutura de

fragmentos florestais na paisagem sobre atributos funcionais e diversidade funcional do

conjunto de espécies mais abundantes da Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina, testando

as hipóteses de que (i) a intensidade da fragmentação, medida neste estudo, por meio de

métricas de paisagem, atua na seleção de diferentes estratégias, que são refletidas nos valores

dos atributos funcionais analisados, e (ii) na diminuição da diversidade funcional, em resposta

às alterações bióticas e abióticas causadas pela fragmentação de habitats.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estudo foi realizado na área de ocorrência de Floresta Ombrófila Densa no Estado de

Santa Catarina, delimitada segundo o mapeamento de Klein (1978). A fitofisionomia está

situada entre as coordenadas 25º 57’ 40’’ e 29º 19’ 13’’ de latitude sul e 48º 24’ e 21’’ e 50º

14’ 14’’ de longitude oeste, em que sua área territorial original é de 29.282,00 km² (KLEIN,

1978), correspondendo a aproximadamente 31% da área territorial do Estado, e que, atualmente,

devido a um histórico processo de fragmentação, restam apenas 12.632,7 km² (VIBRANS et

57

al., 2013a). A altitude nas regiões de ocorrência da FOD, varia de alguns metros acima do nível

do mar, a pouco mais de 1.000 metros em alguns pontos.

Nessa região predomina o clima temperado úmido de verão quente (Cfa) (KOTTEK et

al., 2006), sem um período seco definido. As temperaturas médias anuais, dependendo da

altitude e da influência oceânica, chegam ao mínimo de 16ºC e ao máximo de 22ºC (NIMER,

1990). A precipitação apresenta grande variação, com registros de 1.250 a 2.000 mm, sendo

mais abundante ao norte (NIMER, 1990). Em consideração aos solos da região, predominam

os Cambissolos e Argissolos nas encostas e Gleissolos e Organossolos nas planícies

(EMBRAPA, 2006).

Seleção das espécies

Os dados de abundância das espécies foram extraídos da base de dados do Inventário

Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC) (VIBRANS et al., 2013b), que possui 202

unidades amostrais levantadas em área de Floresta Ombrófila Densa, sendo utilizado para este

estudo 86 delas (Figura 17).

58

Figura 17: Mapa das microrregiões do Estado e localização das 86 unidades amostrais alocadas pelo

Projeto Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC) na Floresta Ombrófila Densa. Em

verde, a cobertura florestal remanescente de acordo com o mapa de uso do solo realizado pelo Projeto

de Proteção a Mata Atlântica em Santa Catarina (GEOAMBIENTE, 2008).

Cada unidade amostral possui 4.000 m², sendo implantada a partir de um ponto central,

quatro subunidades de 1.000 m² cada, orientadas na direção Norte, Sul, Leste e Oeste, distantes

30 m do ponto central. Em cada subunidade, de 20 m x 50 m, foi realizado o levantamento de

todos os indivíduos com mais de 1,5 metros de altura e com Diâmetro à Altura do Peito, (medido

a 1,30 m do solo) superior ou igual a 10 cm (DAP ≥ 10 cm) (Figura 18) (VIBRANS et al.,

2012).

59

Fonte: Vibrans et al., 2012.

Figura 18: Conglomerado utilizado para a amostragem da vegetação catarinense pelo Inventário

Florístico Florestal de Santa Catarina.

Da lista de 656 espécies da tabela fitossociológica do IFFSC, selecionou-se para a

caracterização dos atributos funcionais somente as 20 espécies lenhosas (DAP ≥ 10 cm) mais

abundantes, representando parte considerável da estrutura da floresta (Tabela 9). Optou-se pela

exclusão de samambaias e palmeiras da análise, pois introduziriam um outro tipo de

variabilidade aos resultados, já que utilizam de estratégias específicas para a ocupação de

ambientes e acabariam mascarando os padrões da grande maioria das espécies. Também foram

removidas das análises as unidades amostrais onde as espécies avaliadas foram pouco

representativas da comunidade como um todo (quando somam menos de 30% da abundância

relativa), mantendo-se, dessa forma, as 86 unidades amostrais mencionadas acima.

Tabela 9: Espécies arbóreas mais abundantes pertencentes à Floresta Ombrófila Densa do Estado de

Santa Catarina.

FAMÍLIA ESPÉCIE

ANACARDIACEAE Tapirira guianensis Aubl.

ANNONACEAE Guatteria australis A.St.-Hil.

APOCYNACEAE Aspidosperma australe Müll.Arg.

ASTERACEAE Piptocarpha axillaris (Less.) Baker

CLETHRACEAE Clethra scabra Pers.

ELAEOCARPACEAE Sloanea guianensis (Aubl.) Benth.

EUPHORBIACEAE Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg.

PERACEAE Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill.

LAURACEAE Nectandra oppositifolia Nees

MELASTOMATACEAE Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin

MELIACEAE Cabralea canjerana (Vell.) Mart.

Cedrela fissilis Vell.

60

NYCTAGINACEAE Guapira opposita (Vell.) Reitz

PHYLLANTHACEAE Hieronyma alchorneoides Allemão

RUBIACEAE Bathysa australis (A.St.-Hil.) K.Schum.

Psychotria vellosiana Benth.

SALICACEAE Casearia sylvestris Sw.

SAPINDACEAE Matayba intermedia Radlk.

Cupania vernalis Cambess.

URTICACEAE Cecropia glaziovii Snethl.

Caracterização funcional das espécies arbóreas

Dos sete atributos funcionais analisados neste trabalho, cinco, segundo Cornelissen et

al. (2003), estão relacionados com respostas a distúrbios, que são: altura máxima da planta

(hmáx), densidade da madeira (SSD), síndrome de dispersão (Dispersão) e conteúdo de

nitrogênio e fósforo foliar (LNC e LPC). Os outros, que são área foliar específica (SLA) e

conteúdo de matéria seca foliar (LDMC), envolvidos mais diretamente com variáveis climáticas

e de disponibilidade de recursos no solo, foram selecionados por entendermos que, de alguma

forma, respondem as mudanças abióticas do efeito de borda no fragmento (Tabela 10). Os dados

de atributos médios por espécie foram disponibilizados pelo Departamento de Ecologia da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (Apêndice – Tabela 1).

Tabela 10: atributos funcionais observados com suas respectivas siglas, unidade de medida (para

variáveis quantitativas) e categorias (variáveis qualitativas)

Atributos Sigla Unidade Variável Categórica

Altura Máxima Hmáx m -

Densidade da Madeira SSD g/cm³ -

Síndrome de Dispersão Dispersão Categórica 0 - Anemocórica

1 - Zoocórica

Concentração de Nitrogênio Foliar LNC mg/g -

Concentração de Fósforo Foliar LPC mg/g -

Área Foliar Específica SLA mm²/mg -

Conteúdo de Matéria Seca Foliar LDMC mg/g -

Estrutura da paisagem dos remanescentes florestais

Para a análise da estrutura dos remanescentes florestais, quantificada por meio de

métricas de paisagem, foi utilizado o mapa temático elaborado pelo Projeto de Proteção à Mata

Atlântica em Santa Catarina (PPMA/FATMA-SC), com base em imagens multiespectrais

SPOT-4 do ano de 2005 na escala 1:50.000 (GEOAMBIENTE, 2008). Foi considerado para

61

este trabalho somente a classificação ‘florestas em estágio médio ou avançado e/ou primárias’.

As métricas foram calculadas com auxílio do Software ArcGis 10.0, utilizando a extensão V-

LATE 1.1 (Vector-based Landscape Analysis Tools Extension) (LANG e TIEDE, 2003).

No ArcGis demarcou-se a partir do ponto central de cada unidade amostral (UA) uma

área circular (buffer) de 2,8 km de raio, seguindo a proposta de Schaadt (2012). Dentro da área

de aproximadamente 2.462 ha, delimitada pelo buffer no entorno das 86 unidades amostrais

todos os remanescentes mapeados das florestas em estágio médio ou avançado e ou primárias

foram identificados. As métricas de paisagem foram calculadas a nível de classe e de mancha,

em que a classe seria todo o conjunto de remanescentes presentes na paisagem (área do buffer)

e a mancha seria o remanescente-foco, onde está localizada a UA do IFFSC (Figura 19).

Fonte: figura baseada na de Bernardo, 2012.

Figura 19: Representação do buffer de 2,8 km de raio, utilizado para o cálculo das métricas de paisagem,

estando representados, o remanescente-foco, no qual está localizada a Unidade Amostral do IFSSC,

remanescentes florestais inseridos na área buffer e que compõem a classe floresta, e as áreas não

florestais e de estágio sucessional inicial, não considerados no estudo.

Todas as métricas consideradas neste trabalho estão descritas na Tabela 11,

categorizadas como métricas que se referem a área, área núcleo, forma, borda, subdivisão e

proximidade dos fragmentos; foram consideradas sete a nível de classe e quatro a nível de

62

mancha. Adotou-se como borda a faixa marginal de 50 m de largura em cada fragmento

avaliado (MURCIA, 1995).

Tabela 11: Métricas de paisagem a nível de classe e a nível de mancha, com seus respectivos significados

e unidades de medida.

CLASSE

Categoria Sigla Definição Unidade

ÁREA CA Área da classe ha

ÁREA NÚCLEO CAI Índice de área núcleo %

FORMA MSI Índice médio de forma ---

BORDA ED Densidade de borda m/ha

TE Total de borda m

SUBDIVISÃO DIVISION Índice de Divisão da Paisagem %

NP Número de manchas ---

MANCHA

Categoria Sigla Definição Unidade

ÁREA Area Área do fragmento ha

ÁREA NÚCLEO Área Core Área núcleo do fragmento ha

FORMA Shape_Idx Índice de Forma ---

PROXIMIDADE NNDist Distância do Vizinho mais próximo m

Análises estatísticas

Para cada uma das unidades amostrais foram determinados os atributos funcionais

médios, ponderados pela densidade das espécies (community-weighted mean trait matrix -

CWM) (GARNIER et al., 2004). Em seguida, com o propósito de identificar gradientes

associados às variações dos atributos funcionais entre as áreas, a matriz CWM, com exceção da

variável binária (síndrome de dispersão), foi ordenada por meio de uma Análise de

Componentes Principais (PCA). Para a análise da diversidade funcional, foi utilizado o índice

de Rao (BOTTA-DUKÁT, 2005) (Rao’s Quadratic Entropy- RaoQ). De acordo Weigelt et al.

(2008), o índice RaoQ é uma medida contínua da diversidade funcional, que inclui informações

sobre a regularidade da distribuição dos atributos funcionais dentro de uma comunidade, por

considerar a abundância das espécies em seu cálculo. Há um debate sobre a medida de

dissimilaridade apropriada para utilizar no cálculo de Rao (DE BELLO et al, 2013), para este

estudo foi utilizada, a distância de Gower (GOWER, 1971), recomendada quando utilizados

dados quantitativos e qualitativos simultaneamente (PAVOINE et al., 2009) e adequada para a

detecção de mudanças na diversidade funcional ao longo de gradientes ambientais (DE BELLO

et al., 2013).

63

A influência das métricas de paisagem sobre os atributos funcionais das áreas,

sintetizados pelos eixos da PCA, e sobre a diversidade funcional (RaoQ) foi determinada por

meio de modelos lineares, usando o método dos mínimos quadrados generalizados (GLS -

Generalized Least Squares model), com a incorporação da dependência espacial quando

necessário, a partir de modelos geoestatísticos. Para verificar a existência de autocorrelação

espacial nos resíduos foram utilizados correlogramas de Moran, com 1.000 permutações.

Modelos globais foram construídos a partir de todas as variáveis explicativas (exceto as

colineares - Fator de Inflação da Variância: VIF < 10) e selecionados os melhores modelos pelo

critério de informação de Akaike (AIC). Para a síndrome de dispersão, por ser representada por

dados binários, utilizou-se modelos lineares generalizados (GLM), com distribuição binomial,

para cada uma das variáveis explicativas, cujo a qualidade de ajuste dos melhores modelos

verificada por meio do teste de Hosmer-Lemeshow.

Todas as análises foram realizadas no R (R DEVELOPMENT CORE TEAM, 2014),

utilizando os pacotes FD (LALIBERTÉ e LEGENDRE, 2010; LALIBERTÉ e SHIPLEY,

2011), para a determinação da matriz CWM e do índice de RaoQ; Vegan (OKSANEN et al.,

2009) para a PCA; nlme (PINHEIRO et al., 2011) para a construção dos modelos, ncf

(BJORNSTAD, 2008), para a determinação da autocorrelação espacial dos resíduos dos

modelos; MASS, para seleção dos modelos por meio de AIC; e ResourceSelection (LELE,

2009; LELE e KEIM, 2006), para o teste de qualidade de ajuste de Hosmer-Lemeshow.

RESULTADOS

Os dois primeiros eixos da Análise de Componentes Principais realizada a partir da

matriz atributos médios por unidade amostral (CWM) (Tabela 12; Figura 20) explicaram

62,53% da variação encontrada (eixo 1: 39,26% e eixo 2: 23,27%). O primeiro eixo da

ordenação esteve negativamente correlacionado principalmente aos atributos área foliar

específica (SLA) e concentração de nitrogênio foliar (LNC), que por sua vez, estiveram

fortemente autocorrelacionadas. O eixo 1, interpretado como um gradiente associado sobretudo

a taxas fotossintéticas e de potencial de crescimento das espécies (WESTOBY et al. 2002),

segrega as áreas analisadas nas que apresentaram altos valores para os dois atributos no lado

negativo do eixo e nas que obtiveram os menores valores no lado positivo. O segundo eixo da

ordenação esteve fortemente correlacionado a densidade da madeira (SSD) e ao conteúdo de

matéria seca foliar (LDMC), que por sua vez estiveram negativamente correlacionadas. O eixo

2, interpretado como um gradiente de uso e capacidade de assimilação de recursos, divide o

64

quadrante superior com áreas com predominância de espécies de alta densidade da madeira e

baixa matéria seca foliar, e o quadrante inferior as áreas predominantemente ocupadas por

espécies de baixa densidade da madeira e alta matéria seca foliar.

Tabela 12: Resultados da Análise de Componentes Principais (PCA) para os atributos funcionais

analisados, com a correlação das variáveis para os dois primeiros eixos da ordenação.

VARIÁVEIS SIGLA EIXO PCA 1 EIXO PCA 2

Total de variação explicada --- 39,26% 23,27%

Altura Máxima hmáx 0,29 0,15

Área Foliar Específica SLA -0,92 0,01

Densidade da Madeira SSD 0,15 0,67

Conteúdo de Matéria Seca Foliar LDMC 0,4 -0,84

Conteúdo de Nitrogênio Foliar LNC -0,89 0,1

Conteúdo de Fósforo Foliar LPC -0,66 -0,45

Figura 20: Análise de Componentes Principais realizada a partir da matriz atributos médios por unidade

amostral (CWM), do conjunto de espécies mais abundantes da Floresta Ombrófila Densa de Santa

Catarina. SSD = densidade da madeira; LNC = conteúdo de nitrogênio foliar; SLA = área foliar

específica; LPC = conteúdo de fósforo foliar; LDMC = conteúdo de matéria seca foliar; hmáx = altura

máxima.

65

A relação inversa significativa (p=0,0008), porém fraca (r = -0,35) entre as variáveis

SLA e LDMC (por vezes referido como a densidade do tecido foliar), foi deparada também na

Análise de Componentes Principais. São atributos associados com um espectro econômico

foliar (leaf economics espectrum - DÍAZ et al. (2004)), partindo de uma estratégia de rápida

aquisição de recursos (alto SLA e baixo LDMC) até uma estratégia conservativa (baixo SLA e

alto LDMC) das plantas. Ao considerar a PCA realizada, SLA se relaciona fortemente com o

primeiro eixo de ordenação e o LDMC com o segundo eixo, e considerando os melhores

modelos para a explicação dos dois eixos (Tabela 13), o primeiro não foi significativamente

influenciado por nenhuma métrica de paisagem analisada. Por outro lado, o eixo 2, que diz

respeito a qualidade de fuste e estrutura foliar das espécies, apresentou correlação negativa com

o grau de divisão da paisagem (DIVISION) (Figura 21).

Tabela 13: Resultados dos modelos lineares, usando o método dos mínimos quadrados generalizados

(GLS) para os dois primeiros eixos da Análise de Componentes Principais (PCA) e para o índice de

diversidade funcional RaoQ e modelos lineares generalizados (GLM), com distribuição binomial, para

a síndrome de dispersão.

Variáveis Dependentes Variáveis

Explicativas Modelo Teste Coeficiente p

Eixo 1 PCA --- --- --- --- ---

Eixo 2 PCA DIVISION GLS t = -2,30 -0,001 0,0238

Diversidade Funcional

(RaoQ) --- --- --- --- ---

Síndrome de Dispersão TE GLM (binomial) z = -2,23 -0,12 0,03

Síndrome de Dispersão MSI GLM (binomial) z = -2,7 -0,002 0,007

DIVISION = índice de divisão da paisagem; TE= total de borda na paisagem; MSI = índice médio de forma da

classe

66

Figura 21: Gráfico do melhor modelo encontrado para explicação do Eixo 2 da Análise de Componentes

Principais (PCA), relacionado (p-value=0,0238) com a métrica DIVISION, que quantifica o grau de

subdivisão dos fragmentos florestais em uma dada paisagem, na Floresta Ombrófila Densa de Santa

Catarina.

Em relação à síndrome de dispersão, observa-se que apenas quatro unidades amostrais

apresentaram uma predominância de espécies anemocóricas, sendo a maioria, 84 áreas, com

maior representatividade de espécies classificadas como zoocóricas. Mesmo em pequeno

número na amostragem total, as unidades categorizadas como anemocóricas demostraram

relações positivas significativas com a totalidade de borda na paisagem (TE: p=0,02) e o índice

médio de forma da classe (MSI: p=0,007), essa última refere-se à complexidade de forma dos

remanescentes presentes na paisagem.

O teste de qualidade de ajuste de Hosmer e Lameshow mostrou que os modelos se

ajustaram adequadamente aos dados observados (X²TE = 0,3134, df TE =8, p TE = 1; X² MSI = 14,4,

df MSI = 8, p MSI = 0,07). Os modelos demonstraram que a probabilidade de anemocoria aumenta

com o aumento da borda, porém, a zoocoria mantém-se independente dessa condição. Já para

o índice médio de forma (MSI), observa-se um decréscimo da zoocoria e um acréscimo de

anemocoria quando o índice apresenta um valor superior a quatro, ou seja, quanto mais irregular

a forma dos remanescentes na paisagem maior a probabilidade de anemocoria (Figura 22).

67

Figura 22: Estimativa de densidade de Kernel para a síndrome de dispersão zoocórica (1 – cinza claro)

e anemocórica (0 – cinza escuro) em relação à totalidade de bora –TE (A) e o índice médio de forma –

MSI (B).

DISCUSSÃO

Os dois primeiros eixos da PCA sintetizaram dois aspectos relevantes das estratégias

ecológicas das espécies arbóreas mais abundantes da Floresta Ombrófila Densa em Santa

Catarina. Um primeiro aspecto, indicado pelo eixo 1 da ordenação, com explicação de 39,26%

da variação, esteve associado ao investimento em área foliar específica (SLA) e compostos

químicos foliares (LNC e LPC), que possibilitam maior taxa fotossintética e potencial de

crescimento à planta (LAMBERS e POORTER, 1992). A área foliar específica é considerada

um importante atributo que sintetiza um dos principais eixos de variação ecológica entre as

espécies (WESTOBY et al., 2002; DÍAZ et al., 2004), e está relacionada com a disponibilidade

de recursos (LIENIN e KLEYER, 2011). Na escala espacial considerada neste trabalho, não foi

encontrada nenhuma evidência significativa de associação dos atributos funcionais

representados pelo eixo 1 à estrutura da paisagem. Isto indica que estes estejam mais envolvidos

com outras variáveis não mensuradas nesse trabalho, como por exemplo, o tipo de matriz de

(A)

(B)

68

entorno (CARNEIRO, 2013), a intensidade de uso do solo e variáveis edáficas (CASTRO et

al., 2010; LIENIN e KLEYER, 2011), do que com o gradiente estrutural da paisagem.

O outro aspecto importante foi indicado pelo eixo 2 da ordenação, com explicação de

23,27% da variação; ele esteve associado à densidade da madeira (SSD) e ao conteúdo de

matéria seca foliar (LDMC). Variações destes atributos ao longo do eixo 2 foram

significativamente influenciados pela variável chave em estudos de fragmentação, o grau de

retalhamento da paisagem, que pode ser medido pelo índice de divisão da paisagem

(DIVISION). Dessa forma, os resultados encontrados indicam que a fragmentação, por si só,

represente um importante filtro na seleção de estratégias de aquisição e investimento dos

recursos pelas plantas.

Em locais de maior DIVISION ocorreu um favorecimento de um pequeno grupo de

espécies, porém de elevada abundância, com menor densidade da madeira e folhas de aspecto

mais coriáceo, como Tapirira guianensis e Alchornea triplinervia. Estas, por sua vez, são

espécies generalistas, amplamente distribuídas e diversos tipos de vegetação e comuns em

florestas mais jovens perturbadas pelo homem (OLIVEIRA et al., 2004; LIEBSCH et al., 2008).

Em áreas de menor DIVISION, por sua vez, as espécies Hieronyma alchorneoides (SSD: 0,7

g/cm³; LDMC: 274 mg/g) e Miconia cinnamomifolia (SSD: 0,73 g/cm³; LDMC: 316 mg/g)

foram as mais abundantes.

Dentre os efeitos da fragmentação florestal, o aumento da intensidade luminosa, a menor

umidade e a maior susceptibilidade ao ataque de herbívoros, fazem com que o ambiente

fragmentado torne-se mais “estressado” (CUNNINGHAM et al., 1999; LIENIN e KLEYER,

2011). Em consequência, as plantas que para mitigar os danos as suas células, protegem-nas

com alocação de compostos químicos de defesa, aumentando a esclerofilia das folhas (maior

LDMC); e aumentando também a resistência à perda de água e ataque de herbívoros (MONSON

e SMITH, 1982; TURNER, 1994; MUNGUÍA-ROSAS et al, 2014; ACKERLY et al., 2002;

SHIPLEY et al., 2006), têm maior aptidão em ambientes “estressados”.

No caso da densidade da madeira, observamos que espécies com menor densidade

mostraram-se importantes em locais de maior retalhamento da paisagem; isto sugere que o

menor investimento em lenho esteja envolvido com a maior capacidade das espécies na

ocupação de ambientes perturbados, facilitando seu desenvolvimento nestes locais com

alterações abióticas mais severas. No trabalho de Chave et al. (2009), os autores relacionam as

caraterísticas mecânicas da madeira com a resistência a distúrbios, sugerindo que o menor

investimento das plantas em densidade da madeira e o maior investimento em eficiência de

transporte de água e nutrientes (WRIGHT et al., 2007), garantem uma maior competitividade

69

para a planta, fazendo com que ela consiga ocupar mais rapidamente um determinado habitat.

O maior grau de subdivisão de paisagem parece causar, nesse caso, a seleção de um pequeno

conjunto dominante de espécies com menos carbono por unidade de biomassa (CHAVE et al.,

2009), fato observado também por Santos et al. (2008).

A pressão para a diferenciação de nicho entre as espécies coexistentes é menos intensa

em comunidades estressadas (MASON et al., 2013). Nesses casos, segundo o mesmo autor e

como observado também por Holdaway et al. (2011), são favorecidos os atributos que

aumentam o potencial para a aquisição e retenção de recursos limitantes.

A constatação de que paisagens mais fragmentadas selecionam espécies mais

conservadoras no quesito foliar, que investem em proteção foliar (aumento de compostos

orgânicos como fenóis, taninos e fibras – CUNNINGHAM et al., 1999), garantindo a

longevidade de suas folhas e que relativo ao seu lenho, a estratégia seja a eficiência no

transporte de água e nutrientes, nos leva a entender que nestes ambientes a escassez de água

seja um importante limiar para a seleção de estratégias (CUNNINGHAM et al., 1999; LIENIN

e KLEYER, 2011). No entanto, esta constatação necessitaria de estudos mais específicos.

O gradiente estrutural da paisagem observada, no entanto, parece não alterar a

diversidade funcional da vegetação, pelo menos quando são consideradas as 20 espécies mais

abundantes da Floresta Ombrófila Densa. Este resultado sugere que as diversas estratégias para

utilização dos recursos são mantidas, independentemente do grau de alteração da estrutura da

paisagem. Isto mostra que o conjunto de espécies analisado, possui estratégias de vida

adaptadas às diferentes configurações da paisagem, possuindo tais atributos que possibilitem

esse desempenho.

O incremento em borda e na complexidade de forma da paisagem (TE e MSI,

respectivamente) resultou em um incremento da abundância de espécies classificadas como

anemocóricas. No entanto, o incremento em borda não resultou em uma redução da importância

de espécies zoocóricas; o incremento na métrica MSI (complexidade de forma), por sua vez,

acarretou na diminuição da probabilidade de ocorrência de áreas ditas zoocóricas e no aumento

substancial da probabilidade de ocorrência de áreas ditas anemocóricas.

A maior ocorrência de espécies zoocóricas em florestas tropicais é resultado da forte

coevolução das plantas com os animais, porém, alterações nesse cenário foram percebidas com

a fragmentação da paisagem, como mostrado no estudo de Metzger (2000), que observou a falta

de conectividade entre fragmentos como fator que mais limitou a dispersão zoocórica.

70

Apesar de espécies anemocóricas serem mais comuns em fisionomias mais abertas,

como é o caso da Floresta Estacional Decidual no seu estado atual (LEYSER et al., 2009), a

fragmentação demonstrou-se uma importante força impulsionadora na seleção dessas espécies.

A impermeabilidade da matriz, a incapacidade de alguns animais de cruzarem áreas

abertas (VIANA e TABANEZ, 1996) e, ainda, a maior aptidão das espécies anemocóricas em

ambientes de maior intensidade de vento, resultam no favorecimento deste grupo de espécies e,

consequentemente, em implicações para a fauna e para a sucessão florestal. Já que, como

mencionado por Mayfield et al. (2005), as plantas são a principal fonte de alimento para muitos

animais, e os animais são importantes dispersores para muitas espécies de plantas nas florestas

tropicais.

CONCLUSÃO

Conclui-se que, na escala espacial considerada no presente trabalho, a quantidade de

borda, a intensidade de subdivisão da paisagem e a complexidade de forma do conjunto de

remanescentes em uma paisagem influenciaram de forma significativa as variações dos

atributos funcionas analisados nas diferentes áreas. Influenciando principalmente padrões de

dispersão, densidade da madeira (SSD) e conteúdo de matéria seca foliar (LDMC) nas

comunidades arbóreas. Por sua vez, a diversidade funcional não foi influenciada pelas métricas

da paisagem analisada.

Os processos de filtragem atuam em várias escalas espaciais, e os efeitos da

fragmentação florestal podem ser ainda pouco perceptíveis considerando o tempo de resposta

das espécies às alterações ambientais. Sem contar que a existência de uma espécie de maior

aptidão em ambientes naturais, ocorrendo em uma área degradada, não indica necessariamente

que ela seja tolerante aos efeitos da fragmentação, ela pode ser uma espécie remanescente da

fragmentação de seu habitat; mais sujeita ao desaparecimento do que as espécies de maior

aptidão nas condições bióticas e abióticas impostas pela fragmentação. Mesmo assim, foi

constatado prevalecimento de um grupo pequeno, mas abundante de espécies generalistas, com

menor densidade da madeira e folhas de aspecto coriáceo.

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75

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As análises realizadas, considerando a escala avaliada, demonstraram significativa

influência de alguns parâmetros estruturais da paisagem na seleção de estratégias das espécies,

aqueles envolvidos com efeito de borda e subdivisão. Isto leva a entender que estes fatores

sejam os principais impulsionadores das mudanças funcionais nas comunidades da Floresta

Ombrófila Densa, que por estarem interligados com alterações, como no microclima da floresta,

por exemplo, induzem a seleção de características que facilitam, principalmente, o acesso à

água e nutrientes.

Não foi identificada, no entanto, nenhuma alteração significativa na diversidade

funcional, que foi mantida nas diferentes intensidades de fragmentação. Este resultado fortalece

discussões sobre a importância dos pequenos fragmentos para a conservação da biodiversidade.

Estes podem garantir conexão funcional entre os remanescentes, que permite, por sua vez, o

fluxo gênico e, com isso, a manutenção das metacomunidades. Por outro lado, deve-se

considerar, que os efeitos da fragmentação florestal podem ser ainda pouco perceptíveis, tendo

em vista que o tempo de resposta das espécies às alterações ambientais pode ser mais longo do

que o período das nossas observações.

Teoricamente, a estrutura da paisagem afeta a dinâmica e a sobrevivência de populações

vegetais, alterando a capacidade de colonização e sucessão de certos grupos funcionais, mas

que não é a único e, em muitos casos, nem o mais importante fator responsável pela estruturação

de comunidades vegetais. Estão envolvidos outros fatores físicos, históricos e bióticos como o

tipo de matriz do entorno, a intensidade de interferência humana, as condições climáticas,

predação de propágulos e flutuação nas populações de plantas e animais.

É importante identificar os níveis mais críticos de fragmentação, aqueles em que há

alterações significativas, por exemplo, na funcionalidade e em processos nas comunidades

arbóreas, com aspectos estatísticos e teóricos concretos, para efetivamente coibir atividades

impactantes e recuperar áreas em estado crítico de fragmentação, melhorando, por exemplo, a

efetividade de corredores ecológicos na redução do efeito do isolamento entre manchas.

Correlacionar a estrutura espacial de remanescentes florestais com variáveis ecológicas

de metacomunidades, contribui para o desenvolvimento de uma base teórica para o

gerenciamento da configuração do habitat e da composição da paisagem em áreas

fragmentadas.

76

APÊNDICE

Tabela 1: Características funcionais das 20 espécies arbóreas mais abundantes amostradas na Floresta

Ombrófila Densa de Santa Catarina.

GE = grupo funcional, S = secundária, C = tardia/climáx, P = pioneira, FF = fenologia foliar, Dec =

decídua, Pere = perenifólia, Semi = semidecídua, SD = síndrome de dispersão, zoo = zoocoria, anemo

= anemocoria, hmáx = altura máxima, SLA = área foliar específica, LDMC = conteúdo de matéria seca

foliar, SSD = densidade da madeira, LNC = conteúdo de nitrogênio foliar e LPC = conteúdo de fósforo

foliar.

Espécie GE FF SDhmáx

(m)

SLA

(mm²/mg)

LDMC

(mg/g)

SSD

(g/cm³)

LNC

(mg/g)

LPC

(mg/g)

Alchornea triplinervia

(Spreng.) Müll.Arg.S Deci zoo 28 8,04 430,56 0,47 1,82 0,13

Aspidosperma australe

Müll.Arg.S Semi anemo 33 12,19 317,86 0,72 1,9 0,08

Bathysa australis (A.St.-

Hil.) K.Schum.C Pere zoo 20 4,79 292,03 0,64 2,15 0,1

Cabralea canjerana

(Vell.) Mart.S Pere zoo 25 16,64 313,78 0,54 2,11 0,15

Casearia sylvestris Sw. S Pere zoo 22 12,21 377,32 0,71 2,28 0,14

Cecropia glaziovii

Snethl.P Pere zoo 25 17,52 293,21 0,41 1,88 0,14

Cedrela fissilis Vell. S Deci anemo 30 19,68 330,07 0,49 3,02 0,3

Clethra scabra Pers. S Semi anemo 22 5,96 420,48 0,49 1,73 0,09

Cupania vernalis

Cambess.P Semi zoo 25 11,47 410,74 0,66 1,72 0,19

Guapira opposita (Vell.)

ReitzP Pere zoo 21 15,15 229,15 0,83 2,78 0,14

Guatteria australis A.St.-

Hil.P Pere zoo 20,5 12,17 418,68 0,59 2,17 0,11

Hieronyma

alchorneoides AllemãoS Semi zoo 30 8,43 274 0,69 1,69 0,12

Matayba intermedia

Radlk.S Semi zoo 23 5,89 408,15 0,84 1,16 0,33

Miconia

cinnamomifolia (DC.)

Naudin

S Pere zoo 26 4,75 315,65 0,73 1,38 0,06

Nectandra oppositifolia

NeesS Semi zoo 30 6 485,78 0,69 1,32 0,09

Pera glabrata (Schott)

Poepp. ex Baill.S Pere zoo 26 6,82 385,36 0,67 1,87 0,1

Piptocarpha axillaris

(Less.) BakerS Pere anemo 25 5,61 377,95 0,45 1,1 0,1

Psychotria vellosiana

Benth.S Pere zoo 21 13,08 244 0,52 2,36 0,12

Sloanea guianensis

(Aubl.) Benth.C Pere zoo 25 4,73 521,65 0,82 1,28 0,09

Tapirira guianensis

Aubl.S Pere zoo 26 8,89 442,98 0,45 1,7 0,13

77

Figura 1: Gráficos em ordem crescente dos valores dos atributos funcionais analisados para as vinte

espécies mais abundantes da Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina.